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net/publication/318378007
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empacotamento de partículas View project
All content following this page was uploaded by Ivanny Soares Gomes Cavaliere on 12 July 2017.
Cavaliere, Ivanny S.G. (1); Campos, Renan S. (2); Barbosa, Mônica P. (3); Castro, Alessandra L. (4)
Resumo
A indústria da construção civil vem causando grande impacto ambiental, tanto pela extração de recursos naturais,
quanto pela produção de resíduos de construção e demolição (RCD). Soluções de desenvolvimento sustentável visam
diminuir esse impacto através da reciclagem desses resíduos, onde os mesmos retornam à construção civil para serem
reutilizados na produção de concreto. Logo, o objetivo do presente trabalho é produzir concreto autoadensável (CAA)
utilizando agregados oriundos de RCD, a fim de serem analisadas comparativamente suas propriedades reológicas e
mecânicas. Para isso, o presente trabalho se dividirá em duas etapas: a primeira com produção de CAA, através do
método de Repette-Melo; e a segunda, com a dosagem do CAA fundamentada no conceito de empacotamento de
partículas. Em ambas as etapas, serão produzidas duas composições de concreto autoadensável: a primeira, com
emprego de agregados naturais, servindo-se de referência; a segunda, com substituição, na proporção de 20%, dos
agregados graúdo e miúdo natural por agregados reciclados. Devido à substituição dos agregados naturais pelos
reciclados, que apresentam grande porosidade, e consequentemente são mais absorventes, e, também, menor
resistência mecânica, houve uma redução nas propriedades mecânicas das misturas com substituições, quando
comparadas ao traço de referência. Contudo, com o emprego do conceito de empacotamento de partículas, foi possível
obter propriedades similares para os CAA’s produzidos com agregados reciclados quando comparados com o concreto
de referência.
Palavra-Chave: Concreto Autoadensável; Agregados reciclados; Resíduos de Construção e Demolição;
Empacotamento de Partículas; Sustentabilidade.
Abstract
The construction industry has caused great environmental impact, both in the extraction of natural resources, as in the
production of Construction and Demolition Waste (CDW). Solutions based on sustainable development aim to reduce the
impact by recycling the construction and demolition waste, where they return to the site of construction to be reused in
concrete production. Hence, the purpose of this research paper is to produce self-compacting concrete (SCC) using
CDW aggregates, in order to analyse comparatively their rheological and mechanical properties. To that end, this
research will be divided into two stages: the first, production of SCC based on the Method of Repette-Melo; and the
second, production of SCC based on the particle packing concepts. In both stages, two self-compacting concrete
compositions will be produced: the first, using natural aggregates, serving as concrete reference; and the second,
replacing natural fine and coarse aggregate for recycled aggregates in the ratio of 20%. Due to the replacement of
natural coarse aggregate by recycled aggregates, which have high porosity and consequently are more absorbent and
present less resistance, occurred a reduction in the mechanical properties of mixtures containing replacements when
compared to the reference concrete. However, with the use of particles packing concepts, it was possible to obtain
similar properties to SCC’s produced with recycled aggregates as compared to the reference concrete.
Keywords: Self-Compacting Concrete; Recycled Aggregates; Construction and Demolition Waste; Particle Packing;
Sustainability.
2. Programa Experimental
2.1 Seleção e Caracterização dos materiais
Foram utilizados, neste estudo, materiais disponíveis na região metropolitana de
Campinas/SP. As composições de CAA empregaram os seguintes materiais: cimento CP
II E 32, sílica ativa, pó de quartzo, areia média, areia fina, areia de britagem, brita 1,
pedrisco, agregados miúdos e graúdos reciclados de RCD, aditivo superplastificante à
base de policarboxilatos e água.
ANAIS DO 58º CONGRESSO BRASILEIRO DO CONCRETO - CBC2016 – 58CBC2016 2
A massa específica do cimento e das adições minerais foi determinada conforme a NBR
NM 23:2001 (ABNT, 2001). Na Tabela 1 são apresentadas a massa específica e o
diâmetro médio de cada material, obtido por granulometria a laser.
Mediante análise dos dados constantes na Tabela 3, pode-se verificar que os agregados
reciclados utilizados possuem composição com predominância de concreto, argamassa e
rochas, sendo, portanto, classificado como “Agregado de Resíduo de Concreto” (ARC),
conforme NBR 15116:2004 (ABNT, 2004). A referida norma ainda prescreve os seguintes
limites para o uso desses agregados na produção de concreto: absorção de água de, no
máximo, 7% para os agregados graúdos e de 12% para os miúdos; teor de pulverulentos
menor ou igual a 10% para a fração graúda e 15% para a miúda. Conforme pode ser visto
na Tabela 2, os agregados reciclados atendem às especificações apontadas pela NBR
15116:2004 (ABNT, 2004), sendo considerados adequados para uso na construção civil.
D q DSq
CPFT (%) 100 q
q
(Equação 1)
L
D D S
De acordo com Vanderlei (2004), para que os concretos apresentem boa capacidade de
escoamento recomenda-se que o valor do coeficiente de distribuição seja inferior a 0,30.
Valores de “q” próximos a 0,30 devem ser considerados para misturas adensadas sobre
vibração. Valores de “q” entre 0,20 e 0,25 conduzem a misturas autoadensáveis. Deste
modo, no presente trabalho o valor de “q” adotado foi igual a 0,25.
3. Resultados e Discussões
3.1 Dosagem
A dosagem da composição CAA-REF, estabelecida por Vita (2011), e do CAA-AGMR são
apresentadas na Tabela 4.
Figura 3 – Curvas granulométricas discretas dos materiais das misturas CAA-EMP-REF e CAA-EMP-AGMR.
Cabe salientar que o teor de água/materiais secos, igual a 10,14%, foi mantido constante
em todas as composições estudadas. A inserção da água de pré-molhagem seguiu as
recomendações da NBR 15116:2004 (ABNT, 2004), que prescreve que esta deve
corresponder a 80% da absorção de água dos agregados reciclados. Observa-se ainda
que houve a necessidade do ajuste do teor de aditivo superplastificante em todas as
misturas, exceto no CAA-REF, a fim de conferir as propriedades de autoadensabilidade
requeridas para os concretos produzidos com base no conceito de empacotamento de
partículas.
Conforme visto na Tabela 6, todas as composições atendem aos limites exigidos pela
NBR 15823-1:2010 (ABNT, 2010). Cabe destacar que todas as misturas se enquadraram
na classe SF1, perante o ensaio de espalhamento; na classificação VS1 e VF1, diante
dos ensaios de tempo de escoamento T500 e Funil V, respectivamente; e na classe PL2
de habilidade passante, em face do ensaio da Caixa L. Este fato demonstra que todos os
concretos produzidos apresentaram comportamento similar no estado fresco.
Por meio da análise dos dados da Tabela 7 e da Figura 4, observa-se que aos 7 dias
todas as composições, com exceção do CAA-EMP-AGMR, apresentam valores de
resistência à compressão similares, da ordem de 36 MPa. O mesmo comportamento pode
ser observado aos 28 dias de idade, sendo que as composições CAA-AGMR e CAA-
EMP-REF apresentaram valores médios ligeiramente inferiores ao exibido pela mistura de
referência.
Verifica-se, por meio da análise da Figura 5, que a resistência à tração por compressão
diametral das misturas estudadas apresenta comportamento bastante similar ao obtido no
ensaio de resistência à compressão axial. Tal fato já era esperado, pois segundo Mehta e
Monteiro (2014), as resistências à compressão e à tração estão intimamente
relacionadas, uma vez que à medida que a resistência à compressão aumenta, a
resistência à tração também aumenta, mas a uma velocidade decrescente. Os mesmos
autores ainda afirmam que a relação resistência à tração/compressão deve estar
compreendida no intervalo entre 7 e 11%. Nesse sentido, a relação resistência à
tração/resistência à compressão variou entre 9,16 e 9,92% nos concretos estudados.
Por meio da análise dos dados da Figura 6, é possível notar que não há diferença
significativa entre o módulo de elasticidade do CAA-REF e do CAA-EMP-REF. Essa
semelhança de resultados já era prevista, dado que a resistência à compressão dessas
misturas é similar. O traço CAA-EMP-AGMR apresentou redução na ordem de 23% no
módulo de elasticidade quando comparado ao CAA-REF e ao CAA-EMP-REF. O
desempenho inferior do CAA-EMP-AGMR perante aos demais traços é reflexo do uso de
agregados reciclados, dado que o módulo de elasticidade do concreto é dependente do
módulo de elasticidade dos agregados.
Por meio da análise da Figura 7, nota-se que a absorção de água das composições
avaliadas foi bastante similar, sendo a do CAA-REF ligeiramente inferior à dos demais
traços. A absorção de água do concreto pode ser relacionada com a sua qualidade: uma
absorção menor do que 3,0% indica um material de boa qualidade e baixa absorção;
concretos que apresentam índices de 3,0 a 5,0% são qualificados como de média
absorção e qualidade; os que possuem absorção de água superior a 5,0% são
Cabe destacar que diferentemente do que aconteceu nos ensaios mecânicos, a mistura
CAA-EMP-AGMR apresentou absorção de água similar à dos demais concretos. Tal fato
pode sugerir que, mesmo com a inserção de agregados mais porosos, a dosagem por
meio do conceito de empacotamento de partículas permitiu a melhoria na microestrutura
do material, resultando em um compósito com menor porosidade aberta e maior
refinamento dos poros. Resultados semelhantes foram obtidos por Campos et al. (2015),
na avaliação da absorção de água em concretos contendo agregados reciclados e
dosados por meio do conceito de empacotamento de partículas.
Nota-se, por meio da análise dos dados da Tabela 8, que todos os concretos ensaiados
apresentaram massa específica normal (entre 2000 e 2800 kg/m³), de acordo com a NBR
8953:2015 (ABNT, 2015). A redução da massa específica do CAA-EMP-AGMR, apesar
de pequena (4,56% em relação ao CAA-REF e 2,69% em comparação com o CAA-EMP-
REF), era esperada e se justifica pelo uso de agregados reciclados, que possuem menor
massa específica do que os agregados naturais. Tais resultados estão em concordância
com os obtidos por Grdic et al. (2010) e Pereira-de-Oliveira et al. (2014).
4. Conclusões
Em face dos resultados apresentados, é possível concluir que:
- o comportamento no estado fresco de todas as misturas foi similar, devido ao
ajuste de aditivo superplastificante e a pré-molhagem dos agregados reciclados;
- a substituição dos agregados naturais por agregados reciclados de RCD, no
percentual estudado, não afetou sensivelmente as propriedades mecânicas do CAA
dosado pelo método de Repette-Melo;
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- a dosagem do CAA por meio do conceito de empacotamento de partículas
permitiu a produção de concretos com menor teor de ligante;
- a incorporação de agregados reciclados no CAA-EMP-AGMR, dosado com base
no conceito de empacotamento de partículas, provocou redução das propriedades
mecânicas avaliadas em comparação aos demais concretos;
- a absorção de água, o índice de vazios e a massa específica do CAA-EMP-
AGMR foram semelhantes aos mesmos parâmetros dos demais concretos, o que sugere
melhoria na microestrutura do compósito, ocasionada pelo emprego do conceito de
empacomento de partículas na dosagem.
5. Agradecimentos
Os autores agradecem a Usina Recicladora de Hortolândia, a Holcim do Brasil e a Grace
Construction Products pela doação dos materiais utilizados nessa pesquisa e a ABCP
pela realização dos ensaios de granulometria a Laser. A primeira autora agradece ao
CNPq pela concessão de bolsa de iniciação científica. O segundo autor agradece a
CAPES, pelo auxílio financeiro.
6. Referências
ANGULO, S. C. Caracterização de agregados de resíduos de construção e
demolição reciclados e a influência de suas características no comportamento de
concretos. Tese de Doutorado, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2005.
KOU, S. C.; POON, C. S. Properties of self-compacting concrete prepared with coarse and
fine recycled concrete aggregates. Cement and Concrete Composites, v. 31, n. 9, p.
622-627, 2009.