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ESTUDO DA VARIAÇÃO MÁSSICA DE CORPOS-DE-PROVA DE

CONCRETO E ARGAMASSA DE CIMENTO PORTLAND SUBMETIDOS À


REAÇÃO ÁLCALI-AGREGADO (RAA)
STUDY OF MASS VARIATION OF CONCRETE AND PORTLAND MORTAR TEST
PIECES SUBMITTED TO ALKALI-AGGREGATE REACTION (AAR)

Camila Marçal Gobi (1) Kleber Franke Portella (2) Mariana D’Orey Gaivão Portella Bragança (3)
Emerson Luiz Alberti (4) Evandro de Mesquita Silva (5)

(1) Mestranda, Bacharel em Química – Institutos Lactec; Universidade Federal do Paraná


(2) Doutor, Departamento de Estruturas Civis – Institutos Lactec
(3) Doutora, Departamento de Estruturas Civis – Institutos Lactec
(4) Mestre, Centrais Elétricas do Rio Jordão - ELEJOR
(5) Técnico, Departamento de Estruturas Civis – Institutos Lactec
Institutos Lactec - BR-116, km 98, nº 8813, CEP 81531-980 - Jardim das Américas, Curitiba - PR

Resumo
A reação álcali-agregado (RAA) é um mecanismo de degradação que ocorre em diversas estruturas
de concreto submetidos a condições frequentes de umidade. De forma geral, trata-se de uma reação
fundamentada em interações químicas entre os minerais constituintes do agregado e os álcalis presentes no
cimento Portland, em presença de água. O produto formado é um gel sílico-alcalino que se expande na
presença de umidade e pode impulsionar processos de fissuração nas estruturas de concreto devido ao
aumento das tensões confinantes no interior dos poros do mesmo. O resultado são fissurações em forma de
mapa que expõem o concreto às adversidades do meio.
Dentre as metodologias conhecidas e utilizadas para investigação e diagnóstico da RAA, pode-se
mencionar a análise petrográfica do agregado; a microscopia eletrônica de varredura associada à
espectroscopia por energia dispersiva de raios X; e a avaliação envolvendo os ensaios laboratoriais
normatizados pela NBR 15577 (ABNT, 2008). Tomando como base a metodologia preconizada nesta
norma, a intenção deste trabalho foi estudar a relação entre a expansão experimentada pelos corpos-de-
prova ensaiados e a absorção de água por meio do monitoramento periódico da variação das massas das
amostras, uma vez que a variação dimensional dos CP’s nem sempre é determinante no diagnóstico da
RAA; e avaliar a sua utilização como um método de investigação desta reação deletéria.
Os resultados obtidos no estudo permitiram comprovar que o monitoramento da variação mássica
em CP’s de argamassa e concretos de cimento Portland sujeitos a RAA, pode ser utilizado de forma
complementar a metodologia normativa de avaliação da expansão de barras e prismas, no entanto, não
deve ser aplicado de forma isolada para diagnosticar este tipo de manifestação patológica.
Palavra-Chave: Reação álcali-agregado. Manifestação Patológica. Métodos de Investigação.

Abstract
Alkali-aggregate reaction (AAR) is a degradation mechanism that occurs in several concrete
structures subjected to frequent humidity conditions. In general, it is a reaction based on chemical
interactions among the mineral components of the aggregate and alkali present in Portland cement in the
presence of water. The product formed is a silicon-alkaline gel that expands in the presence of moisture and
promotes cracking processes in concrete structures due to increased confining stress within the pores of the
material. The result are cracks in the form of map that expose the interior of the concrete to environmental
adversities.
Among the known methodologies utilized for investigation and diagnosis of AAR, it can be mentioned
such as aggregate petrographic analysis, the scanning electron microscope associated with energy
dispersive spectroscopy X-ray and the evaluation of AAR involving standardized laboratory tests by NBR

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15577 (ABNT, 2008). Taking the methodologies present on that norm, this paper intends to study the relation
between the expansion experienced by these samples and water absorption by doing a periodic monitoring
of the sample mass variation, since the dimensional changes of said samples are not always key factors on
AAR diagnosis; and evaluate its usefulness as a research method for these reactions.
Results obtained in the study allow to check that mass variation monitoring in Portland cement
mortar and concrete subject to ARR, may be used as an additional methodology, along with the standardized
expansion analysis on bars and prisms; however, it must not be used as a stand-alone methodology to
diagnosis these kind of pathological manifestations.
Keywords: Alkali-aggregate reaction. Pathological manifestation. Investigation methods.

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1 Introdução
Por se tratar de um material de construção largamente utilizado em todo o mundo,
o concreto está sujeito a alterações distintas, de acordo com o ambiente em que está
inserido e com seus materiais constituintes. Com o progresso industrial, houve o aumento
da poluição urbana e as edificações passaram a ficar expostas a ambientes
desfavoráveis. Devido a este fato, com o passar do tempo, muitas construções
começaram a apresentar processos de degradação relacionados à qualidade e à
durabilidade, caracterizados pelo envelhecimento precoce dos materiais e dos sistemas
construtivos (POSSAN & DEMOLINER).
A reação álcali-agregado, RAA, é um dos processos de deterioração que interfere
na durabilidade do concreto. Este tipo de reação deletéria é comumente identificado em
estruturas de concreto em contato com a água, tais como: barragens, pontes e fundações.
Resumidamente, pode-se definir a RAA como uma reação química, onde alguns
constituintes do agregado reagem com os hidróxidos alcalinos que estão dissolvidos nas
soluções dos poros do concreto. O produto gerado nessa reação é um gel alcalino, que
na presença de umidade se expande e introduz tensões internas que eventualmente
causarão fissuras no concreto e afetarão algumas das suas propriedades mecânicas
(SILVA (2007)). Assim, por trazer tantos riscos às obras civis, e não havendo um método
eficiente na solução desse problema, quando instalado, a melhor solução técnico e
econômica para se combater a RAA é a prevenção (BAPTISTA et al. (2013)).
Dentre as várias metodologias para o diagnóstico da RAA, a mais comum é a
avaliação que envolve os ensaios laboratoriais normatizados pela NBR 15577 (ABNT,
2008). Estes permitem o diagnóstico desta reação patológica por meio do monitoramento
da expansão de CP’s submetidos a meios agressivos. Utilizando estes métodos, a
intenção deste trabalho foi estudar a relação entre a expansão experimentada pelos
corpos-de-prova ensaiados e a absorção de água por meio do monitoramento periódico
da variação das massas das amostras, uma vez que a variação dimensional dos CP’s
nem sempre é determinante no diagnóstico da RAA em sua fase incipiente,
principalmente em concretos, nos quais a presença de poros e vazios pode propiciar a
deposição inicial dos subprodutos formados; e avaliar a sua utilização como um método
de investigação desta reação deletéria.

2 Procedimento Experimental
Para o desenvolvimento da pesquisa, foram empregados os seguintes materiais: (i)
cimento Portland composto com fíler calcário, do tipo CPII-F 32, com resistência
característica de no mínimo 32 MPa, aos 28 dias; para intensificar a manifestação da RAA
nos ensaios; e (ii) agregados de rocha basáltica, potencialmente reativos.
Para dar início ao estudo, foi realizada a caracterização de ambos os materiais, a
fim de que fosse possível conhecer as propriedades específicas de cada um. Para os
agregados, a caracterização física, abrangeu ensaios conforme recomendações da
normatização técnica brasileira (NBR 6118, 2014); além destes, também foram feitas
análises complementares utilizando as técnicas de espectroscopia de fluorescência de
raios X (XRF) em amostras de pastilha fundida, a caracterização das fases químicas
presentes por difratometria de raios X (XRD) – utilizando amostras na forma de pó total
prensado - e a análise petrográfica em fragmentos de rocha, conforme diretrizes das
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normas NBR 7389-2 (ABNT, 2009) e NBR 15577-3 (ABNT, 2008). Para o cimento a
caracterização também se deu conforme recomendações da normatização técnica
brasileira (NBR 6118, 2014).

2.1 Estudo da reatividade - metodologia


A potencialidade reativa do agregado em argamassas e concretos de cimento
Portland foi avaliada por meio dos métodos propostos pela NBR 15577-5 (ABNT, 2008) e
NBR 15577-6 (ABNT, 2008). Para o ensaio de envelhecimento acelerado em barras de
argamassa, foram moldados três CP’s com traço fixo de 1: 2,25: 0,47 (cimento: areia:
relação água/cimento), utilizando a granulometria preconizada pela norma, e com
dimensões nominais de (25x25x285) mm. O método utilizado foi conforme as
recomendações determinadas pela NBR 15577-5 (ABNT, 2008), e a periodicidade das
leituras de expansão das barras nos 28 dias que se seguiram o ensaio foi de três vezes
na semana, como auxílio de um relógio comparador com precisão do milésimo de
milímetro.
Já, no ensaio de determinação da expansão em prismas de concreto, conforme
diretrizes da NBR 15577-6 (ABNT, 2008), foram realizadas as modificações: o cimento
utilizado no estudo foi o CP II-F 32, e não o cimento-padrão; e não houve separação das
frações graúdas e miúdas do agregado para avaliação separada da reatividade. A
modificação no ensaio se sucedeu com o intuito de intensificar as condições para
desenvolvimento da RAA nos concretos. Devido à alteração do cimento, foi necessária a
correção do teor de álcalis do CP II-F 32 para 1,25% de equivalente alcalino expresso em
Na2O, dissolvendo na água de amassamento, uma quantidade calculada de NaOH. Da
dosagem realizada para este ensaio foram gerados três prismas de concreto com
dimensões nominais de (75x75x285) mm e o traço unitário utilizado nesta foi 1: 1,78: 2,82:
0,45 (cimento: areia: brita: relação água/cimento). A partir desta etapa, o método utilizado
no ensaio prosseguiu, conforme determinado pela norma. As leituras subsequentes de
expansão ocorreram aos 7, 28, e 56 dias, seguido de leituras mensais dos 3 meses até os
12 meses de ensaio. Conforme recomendações da norma, (18 ± 2) h antes de cada
leitura, o recipiente onde os prismas foram armazenados foi retirado da estufa, e colocado
em câmara úmida; além disso, depois de cada leitura de expansão, os concretos foram
recolocados no balde de acondicionamento invertendo sua posição em relação ao período
de armazenamento anterior para que houvesse um revezamento das extremidades que
ficavam para cima. Nas FIGURAS 1 e 2, estão ilustradas as condições de ensaio para
cada um dos métodos.

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FIGURA 1 – CP’s de argamassa imersos FIGURA 2 – Prismas de concreto acondicionados
verticalmente na solução de NaOH 1 N a 80 verticalmente dentro do recipiente preparado para o
°C – Ensaio de envelhecimento acelerado ensaio – Ensaio de envelhecimento em longo prazo

2.2 Controle de massa


Além do controle das expansões experimentadas pelos CP’s de ambos os ensaios,
também foi realizado um acompanhamento da variação mássica destes, assim como
desenvolvido por BOUZABATA et al. (2012). Em seu estudo sobre a avaliação das
expansões provocadas pela reação álcali sílica, RAS, e pela formação de etringita tardia,
foi utilizado, além da já conhecida técnica de controle da variação dimensional dos CP’s, o
monitoramento da massa destes, como método complementar de acompanhamento da
evolução das reações.
Neste trabalho, as massas foram determinadas com a mesma periodicidade das
leituras de expansão, a fim de que fosse possível correlacionar os dados dos dois
parâmetros analisados.

3 Resultados e Discussões
3.1 Caracterização dos materiais
Os resultados da caracterização para os dois materiais utilizados na pesquisa
encontraram-se nas TABELAS 1 a 3, bem como nas FIGURAS 3 e 4.

TABELA 1 – Resultados dos ensaios físicos e químicos de caracterização do cimento CPII-F 32


Ensaios Químicos
Perda ao Resíduo Equivalente
Al2O3 SiO2 Fe2O3 CaO MgO SO3 CaO Livre
Fogo Insolúvel Alcalino
% % % % % % % % % %
4,19 18,55 2,74 61,96 3,19 2,63 4,68 0,73 1,15 0,67
Ensaios Físicos
Exp. à Massa Tempo de Pega Consis. Finura Resistência à Compressão
# 200 # 325
Quente Espec. Início Fim Normal Blaine 1 dia 3 dias 7 dias 28 dias
mm g/cm³ h:min h:min % cm²/g % % MPa MPa MPa MPa
0,00 3,11 04:10 05:00 26,5 3,120 1,20 11,60 14,6 31,2 35,9 43,0

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TABELA 2 – Resultados dos ensaios físicos de caracterização do agregado – Ensaios normatizados
Resultados
Ensaios
Agregado graúdo Agregado miúdo
Dimensão máxima característica (mm) 32 6,3
Módulo de finura 7,29 3,99
Teor de material pulverulento (%) 0,9 9,0
Massa específica, condição SSS (g/cm³) 2,90 2,91
Índice de forma 2,4 -
Absorção de água (%) - 1,1
Massa unitária no estado solto (kg/m³) 1510 1690
Índice e volume de vazios (%) 49,2 0,4

TABELA 3 – Resultados da caracterização química do agregado, por XRF


SiO2 (%) Al2O3 (%) Fe2O3 (%) CaO (%) MgO (%) K2O (%)
52,55 13,83 13,60 9,29 5,31 1,12
Na2O (%) TiO2 (%) MnO (%) P2O5 (%) *P.F. (%) Soma (%)
2,44 1,39 0,19 0,17 0,14 100,02
* P.F. = Perda ao fogo

FIGURA 3 – Micrografia obtida na análise petrográfica do agregado

FIGURA 4 – Difratograma obtido na caracterização mineralógica qualitativa do agregado, por XRD.

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Os resultados obtidos na caracterização do cimento ficaram em acordo com o
estabelecido pela normatização brasileira para cimento Portland composto, NBR 11578
(ABNT,1997). No entanto, o equivalente alcalino de 0,67% obtido para este cimento, pode
ser considerado um percentual alto no que se refere a um teor considerado seguro, de
0,60%, conforme a ACI Committee 221, para evitar a manifestação da RAA.
Em relação aos agregados, todos os resultados obtidos na caracterização física,
conforme as normativas, também estão de acordo com as recomendações. Na análise
por XRF, para caracterização química, é possível verificar que além da composição
predominante à base de SO2, outros dois óxidos estão presentes em maior quantidade:
Al2O3 e Fe2O3, com 13,8% e 13,6%, respectivamente. Além disso, os teores de álcalis
totais (Na2O e K2O), bem como o teor de Fe2O3, já mencionado, foram superiores a 1% e
devem ser considerados quanto à solubilidade para melhor avaliar a potencialidade
reativa deste agregado (QUARCIONI (2003)). Na análise petrográfica, foi possível
visualizar por meio da micrografia obtida, a presença de argilomineral (minerais
constituídos por silicatos hidratados de alumínio e ferro, que podem conter elementos
alcalinos (MINEROPAR)), de cor marrom a verde escuro preenchendo cavidades
irregulares intersticiais aos cristais de labradorita, ou plagioclásio ((Na,Ca)(Si,Al)4O8), e
augita ((Ca,Mg,Al)2(Si,Al)2O6). Estes mesmos minerais foram identificados na análise
difratométrica das fases mineralógicas presentes neste agregado, conforme comparação
no banco de dados do “International Centre for Diffraction Data” (ICDD).

3.2 Verificação da expansão e variação de massa dos CP’s ensaiados


Nas FIGURAS 5 a 8, estão mostradas as curvas de reatividade potencial para o
ensaio de envelhecimento acelerado e para o envelhecimento em longo prazo até a idade
de 150 dias; além das variações mássicas dos CP’s analisados em ambos os ensaios.

FIGURA 5 – Expansões individuais e média para o ensaio de avaliação da reatividade pelo método de
envelhecimento acelerado em barras de argamassa

FIGURA 6 – Variação mássica dos CP’s frente ao ensaio de verificação da reatividade pelo método
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acelerado em barras de argamassa

FIGURA 7 – Expansões individuais e média para o ensaio de avaliação da reatividade pelo método de
envelhecimento em longo prazo, em prismas de concreto

FIGURA 8 – Variação mássica dos CP’s frente ao ensaio de verificação da reatividade pelo método de
envelhecimento em longo prazo, em prismas de concreto

Na avaliação do potencial das argamassas pelo método acelerado, FIGURA 5, foi


possível verificar que, aos 16 dias de ensaio, o limite de 0,1% de expansão foi excedido
em, pelo menos, quatro vezes, o que permitiu classificar o agregado como reativo. Para o
estudo em prismas de concreto, em longo prazo, FIGURA 7, até os 150 dias de idade,
não foi verificada qualquer expansão. Ao contrário disso, o que ocorreu foi a retração dos
CP’s avaliados, uma vez que ainda estão em fase de amadurecimento. Conforme
determinação da norma de ensaio, aos 365 dias o limite de 0,04% não deve ser excedido,
para que o agregado seja considerado inócuo, e apropriado para o uso.
Quanto ao monitoramento da massa dos CP’s ensaiados, conforme apresentado
nas FIGURAS 6 e 8, foi observado um acréscimo desta durante o desenvolvimento de
ambos os ensaios, no entanto a maior variação é verificada nas primeiras idades das
barras de argamassa ensaiadas conforme a norma de avaliação da reatividade pelo
método acelerado.
Nas FIGURAS 9 e 10 estão detalhadas as variações de massa em relação às
medidas de expansão das amostras, para argamassa e concreto, respectivamente.

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FIGURA 9 – Relação entre a variação de massa e a expansão das barras de argamassa durante o
ensaio de envelhecimento acelerado

FIGURA 10 – Relação entre a variação de massa e a expansão dos prismas de concreto durante o
ensaio de envelhecimento em longo prazo

Com o objetivo de conhecer melhor o comportamento expansivo do gel de RAA,


HASPARYK (2005) realizou ensaios em CP’s de argamassa confeccionados com os
mesmos materiais, porém, um com a RAA já instalada e o outro não. A pesquisa
possibilitou a verificação de que as expansões foram diferentes, apesar da água
adsorvida pelas amostras ser semelhante. As diferenças identificadas, foram associadas
à adsorção de água pelo gel em conjunto com a expansão térmica, confirmando a
hipótese de expansão não apenas pelo intumescimento, mas principalmente pela
adsorção de água pelo gel já existente na amostra com RAA, que ao entrar em contato
com a água, se expande.
Conforme pode ser observado na FIGURA 9, para as argamassas, houve um
aumento da massa das barras de argamassa até aproximadamente os 14 dias de ensaio;
a partir desta idade, as variações diminuíram. Ainda, foi possível observar que as maiores
expansões dos CP’s aconteceram no mesmo período em que ocorreram as maiores
variações de massa, sugerindo que existe uma relação entre o comportamento das
expansões e a oscilação mássica das amostras ensaiadas. A explicação para este
comportamento, segundo HASPARYK (2005), pode estar relacionada a um efeito
combinado de absorção de água da argamassa, e a adsorção de água pelo gel formado
durante a exposição das mesmas em ambiente agressivo.
Para os concretos, na FIGURA 10, foi possível observar que, até os 150 dias de
ensaio, não houve expansão relativa. No entanto, foi possível verificar a variação de
massa dos prismas submetidos ao ensaio. Neste caso, o aumento de massa pode estar
relacionado com a ocorrência de RAA no interior destes prismas, com a formação e
acúmulo, até o presente momento, de subprodutos da reação nos poros e vazios do
material, o que não afetou a variação dimensional das amostras até a idade de 150 dias.
Esses resultados corroboraram tanto com os dados obtidos para o estudo com
argamassas (que diferiram devido à agressividade do meio de exposição e,
principalmente, da microestrutura dos materiais, com menos poros e vazios para esta),
quanto com os estudos desenvolvidos por BOUZABATA e colaboradores (2012), e
levantam a possibilidade de ampliação da metodologia para avaliação incipiente da RAA
em concretos, com o monitoramento adicional da variação mássica.

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4 Conclusão
Os resultados obtidos na presente pesquisa permitiram comprovar que o
monitoramento da variação mássica em corpos-de-prova de argamassa e concretos de
cimento Portland sujeitos a RAA pode ser utilizado, de forma complementar a metodologia
normativa de avaliação da expansão de barras e prismas. Para as argamassas, nas quais
o efeito de porosidade é desprezível, foi verificada uma relação direta entre a expansão
das barras e a variação de massa, o que comprovou a eficiência da técnica na medição
dos produtos formados, a despeito da saturação das barras. Para os concretos,
monitorados ao longo de 150 dias, o ensaio de variação dimensional poderia indicar a
ausência de reação, até o presente momento. Porém, uma vez que os produtos formados
tendem, inicialmente, a acumular-se nos poros e vazios, a expansão dos prismas pode
ocorrer apenas para idades mais avançadas, muito embora já haja formação inicial de gel,
identificada pela variação de massa.

5 Agradecimentos
Os autores agradecem à infraestrutura e apoios em recursos humanos e
financeiros à ELEJOR, projeto P&D 2945-0004/2013; à ANEEL; ao CNPq, Lei 8010/90,
principalmente à LI 14/3445028-1 DI_14/2190047-7; ao CNPq, Bolsa Produtividade em
Pesquisa 305718/2011-8; aos Institutos Lactec; e à Universidade Federal do
Paraná/PIPE.

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6 Referências
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BOUZABATA, H.; MULTON, S.; SELLIER, A.; & HOUARI, H.. Swellings due to alkali-
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POSSAN, E.; & DEMOLINER, C.A. Desempenho, durabilidade e vida útil das
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