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Avaliação eletroquímica, dimensional e microestrutural de concretos de

cimento Portland sujeitos ao ataque interno combinado, por sulfatos e


reação álcali agregado
Electrochemical, dimensional and microstructural evaluation of Portland cement concretes
subjected to combined internal attack by sulfates and alkali aggregate reaction

Mariana d’Orey Gaivão Portella Bragança (1); Natália Carla Andreczevecz (2); Bruno Endo Ribeiro
(3); Camila Marçal Gobi (4); Kleber Franke Portella (5); Isabela Cristina de Oliveira (6)

(1) Pesquisador Doutor, Institutos Lactec, mariana.portella@lactec.org.br


(2) Bolsista Iniciação Tecnológia, Institutos Lactec/ UFPR, natalia.adreczevecz@lactec.org.br
(3) Técnico, Institutos Lactec, bruno.ribeiro@lactec.org.br
(4) Química, Institutos Lactec, Universidade Federal do Paraná; camila.gobi@lactec.org.br
(5) Pesquisador Doutor, Institutos Lactec, portella@lactec.org.br
(6) Engenheira Mestre, Companhia Paranaense de Energia; isabela.oliveira@copel.com
Rodovia BR-116, km 98, nº 8.813, J. das Américas, CEP: 81531-980, Curitiba – PR – Brasil
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Resumo
Em grandes obras da engenharia, a utilização de agregados contaminados por substâncias químicas à base
de íons sulfeto, sulfato ou ambos e com fases químicas reativas, em concretos de cimento Portland, podem
ser atribuídas às heterogeneidades dos materiais extraídos das pedreiras e às dificuldades de suas
caracterizações preliminares, seja por métodos destrutivos ou não. Assim, quando estes materiais estão
contidos no meio cimentício alcalino, úmido, e com diferentes taxas de oxigenação interna, vêm a contribuir
para a formação de subprodutos deletérios ou não ao meio, a partir de ataques químicos combinados, os
quais são de difícil identificação, se não por múltiplas técnicas analíticas. Assim, nesta pesquisa, foi
proposto o estudo da degradação de corpos de prova de concreto de cimento Portland armado,
contaminados por íons sulfato e com agregados potencialmente reativos, submetidos a um envelhecimento
acelerado em solução aquosa a 40 °C, por 360 dias, por espectroscopia de impedância eletroquímica, além
da variação dimensional e das análises micrográficas e química elementar, por microscopia eletrônica de
varredura com canhão de emissão de elétrons (FEG-SEM) e microssonda analítica de raios X, EDS. Os
resultados obtidos mostraram a viabilidade da utilização das técnicas propostas para a avaliação incipiente,
com o diagnóstico da ocorrência de alterações na matriz cimentícia do material. Trabalho desenvolvido no
âmbito do Programa de P&D ANEEL, projeto 6491-0301/2013.
Palavra-Chave: Reatividade; Espectroscopia de Impedância; MEV/EDS.

Abstract
In large buildings, the use of chemically contaminated aggregates by sulfide, sulfate or both and with reactive
mineral phases, in Portland cement concretes, can be attributed to the heterogeneities of materials extracted
from the quarries and to their preliminary characterization difficulties. Them, when these materials are
exposed to the humid alkaline cementitious environment and to different oxygenation rates, they contribute
to the formation of by-products that could be deleterious or not to the concrete, because of the combined
chemical attacks that it can induce. These reactions and their effects are difficult to identify without multiple
analytical techniques. In this research, it was studied the mechanisms of reinforced Portland cement
concrete degradation, induced by the use of reactive aggregates, by sulfates and alkali aggregate reaction,
by electrochemical impedance spectroscopy, as well as dimensional variation and micrographic analysis with
chemical analysis, by scanning electron microscopy with electron emission cannon (FEG-SEM) and X-ray
analytical microprobe, EDS. For that, the test specimens were subjected to an accelerated aging in aqueous
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solution at 40 °C for 360 days. The obtained results showed the feasibility of using the techniques proposed
for the incipient evaluation, with the diagnosis of morphological alterations in the cement matrix. This
research was developed in P&D ANEEL program, project 6491-0301/2013.
Keywords: Reactivity; Impedance Spectroscopy; SEM / EDS.

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1 Introdução
Entende-se por durabilidade a expectativa de vida de um determinado material, sob
condições ambientais. Especificamente para o concreto de cimento Portland, de acordo
com o “American Concrete Institute (ACI)”, representa a capacidade de resistir à ação de
intempéries, reação química, abrasão ou qualquer outro tipo de deterioração, sem perder
a sua funcionalidade e forma original (ACI COMMITTEE 201, 2008).
A pasta de cimento Portland, quando endurecida, é composta por diversos hidratos de
cálcio insolúveis, que se encontram em equilíbrio estável com a solução contida nos
poros, de pH entre 12,5 e 13,5. Assim, ambientes (macro ou microclimáticos) com pH
inferiores a estes podem ser considerados agressivos às estruturas de concreto,
especialmente quando o material apresenta porosidades ou quando o pH do agente é
inferior a 6 (por exemplo, águas com dióxido de carbono livre, íons sulfato e cloreto). Os
processos de deterioração do concreto que envolvem reações químicas estão
normalmente associados às interações entre os agentes agressivos, presentes tanto no
ambiente de exposição como, e principalmente, nos próprios materiais utilizados para a
dosagem (agregados, em sua maioria), e os constituintes da pasta de cimento (hidratos,
de forma geral, e a portlandita), levando a formação de compostos, no interior dos poros e
vazios, que tendem a crescer em volume, como é o caso dos géis de reação álcali
agregado (RAA). Formados, esses produtos tendem a exercer tensões trativas no interior
do concreto, com magnitudes de até 10 vezes àquelas suportadas pelo material, levando
à fissuração do mesmo (SCRIVENER, K. YOUNG, J, 1995; MEHTA, P. K. MONTEIRO, P.
J., 2008; RAJABIPOUR, F. GIANNINI, E. DUNANT, C. IDEKER, J. THOMAS, M., 2015).
O diagnóstico e o monitoramento da diminuição da durabilidade do concreto devido à
ocorrência destes processos, como é o caso das reações álcali agregado, normalmente
envolve a aplicação de ensaios laboratoriais, como módulo de elasticidade, microscopia
eletrônica de varredura, difratometria de raios X e avaliação da variação dimensional, com
a necessidade prévia de extração e preparo de corpos de prova (CP´s). Especificamente,
para o concreto armado, testes envolvendo métodos eletroquímicos para a análise do
potencial de circuito aberto e de resistência de polarização, bem como a técnica de
espectroscopia de impedância eletroquímica (EIS) têm sido utilizados, quando há a
exposição a íons cloreto e sulfato, para a caracterização de estruturas, mesmo em
campo, a partir do estudo e do monitoramento da variação da resistividade do material e
da taxa de corrosão do metal em determinados pontos da estrutura (FELIU, V.
GONZÁLEZ, J. ANDRADE, C. FELIU, S., 1998; GLASSER, F. MARCHAND, J. SAMSOM,
E., 2007; SERDAR, M. ZULJ, L. BJEGOVIC, D., 2013; BRAGANÇA, M. PORTELLA, K.
BONATO, M. MARINO, C., 2014).
Comparativamente, pode-se dizer que os mecanismos de deterioração da RAA são
similares aos do ataque por sulfatos, ocasionando a alteração das condições químicas e
microestruturais da pasta de cimento e culminando com a corrosão da armadura, devido à
fissuração e o consequente acesso de umidade e oxigênio na região da barra de aço
(RAJABIPOUR, F. GIANNINI, E. DUNANT, C. IDEKER, J. THOMAS, M., 2015; BU, Y.
WEISS, J., 2014). Assim, estima-se que, a partir de metodologias eletroquímicas, em
especial a EIS, seja possível efetuar o diagnóstico do concreto armado sujeito à RAA, de
forma incipiente e não destrutiva, proporcionando a avaliação inicial do material,

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previamente a extração de corpos-de-prova (CPs) e auxiliando no processo de tomada de
decisão acerca da manutenção preventiva.
Sendo assim, o objetivo deste trabalho foi avaliar, por espectroscopia de impedância
eletroquímica, a ocorrência de reação álcali agregado em corpos-de-prova de concreto
armado, preparados com agregados reativos e submetidos a condições de
envelhecimento acelerado, correlacionando os mecanismos cinéticos de deterioração
verificados com a expansão resultante e a alteração das propriedades químicas e
microestruturais da pasta de cimento Portland.

2 Programa Experimental
2.1 Caracterização dos Materiais
Para o desenvolvimento da pesquisa foram utilizados diversos materiais, cimento e
agregados, os quais foram caracterizados previamente às dosagens, conforme a
normatização técnica, além de ensaios complementares.
O cimento utilizado neste trabalho foi o CP II F 32 (cimento Portland composto com fíler
calcário), devido à ausência de adições reativas que pudessem alterar os processos de
ocorrência da reação álcali-agregado, além de ser um material de uso recorrente nas
diversas obras de engenharia. Este, foi caracterizado conforme as recomendações
normativas elencadas na NBR 11578:1991.
Como agregados, foram utilizados dois tipos de materiais para fins de comparação: (i) o
agregado artificial basáltico com reatividade potencial previamente avaliada em
laboratório (AB), que foi britado de modo a obterem-se duas frações distintas, para a
utilização nos diferentes traços de concreto e argamassa desenvolvidos: areia artificial e
brita zero; e (ii) areia quartzosa padrão (PAD), utilizada como referência nos estudos,
fornecida pelo Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT).
Especificamente o material AB foi caracterizado conforme as recomendações técnicas
elencadas na norma que especifica o uso geral em concretos (NBR 7211:2009). De modo
complementar, este foi ainda avaliado quanto à composição química elementar e fases
químicas e mineralógias presentes, pelas técnicas de espectroscopia de fluorescência de
raios X (XRF) em amostras de pastilha fundida, analisada no equipamento
Espectrofotômetro PANalytical Axios Max; e difratometria de raios X (XRD), utilizando
amostras na forma de pó total prensado em um equipamento de difração PANalytical
EMPYREAN, com radiação Cu-Kα, de comprimento de onda λ de 1,54051 Å, varredura
em 2θ entre 0° e 70°, tensão de 40 kV, corrente de 40 mA, passo de 0,001 s e com a
velocidade de passo igual a 0,002 p/s, sendo os minerais identificados por comparação no
banco de dados do “International Centre for Diffraction Data (ICDD)”. Ainda, foi realizada a
análise petrográfica em fragmentos de rocha, conforme diretrizes das normas NBR 7389-
2:2009 e NBR 15577-3:2008, por meio da caracterização mesoscópica de rocha
complementada por análise microscópica, da análise microscópica da seção delgada por
luz transmitida, do microscópio petrográfico Carl Zeiss – modelo AXIO Imager.A2m, pela
porcentagem mineralógica obtida por estimativa visual, e pelo sistema de captura e
tratamento de imagem AxioVision.

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2.2 Avaliação da Reatividade Álcali-Agregado
A avaliação da reatividade álcali-agregado de AB em concretos de cimento Portland foi
caracterizada por meio do ensaio normativo de prismas de concreto pelo método proposto
pela NBR 15577-6:2008. Para cada ensaio foram moldados quatro prismas de concreto,
seguindo os traços da norma, com a utilização dos agregados AB e REF e do cimento
CP-II F 32, conforme descrito na Tabela 1.

Tabela 1. Descrição dos traços e proporções dos materiais para a confecção dos prismas de concreto.
Cimento Agregado Agregado Adição
Amostra Descrição do traço a/c
(kg) miúdo (kg) graúdo (kg) NaOH (g)
agregado graúdo AB + agregado
F-133 3,53 6,26 9,93 1,59 26,3
miúdo REF + cimento CP-II F
agregado graúdo AB + agregado
F-154 4,00 7,10 11,27 1,80 29,9
miúdo AB + cimento CP-II F

De forma complementar aos prismas de concreto, foram moldados também CPs armados,
sendo utilizados eletrodos de aço carbono (CA-50) e de grafite, para a caracterização das
propriedades a partir de métodos eletroquímicos (com o acompanhamento dos processos
de envelhecimento acelerado), com metodologia similar ao exposto por Bragança e
colaboradores (2014). Previamente à moldagem, os eletrodos de aço foram lixados,
identificados, medidos (massa e dimensões) e parte de sua área foi protegida com fita
anticorrosiva de auto fusão, de modo a determinar a região de estudo dos mecanismos de
reação que ocorrem naquela interface entre a armadura e a argamassa. A área média
exposta para cada um dos CP’s foi de 0,643 m². O contato elétrico foi mantido a partir de
um fio de cobre (Figura 1).

Figura 1. Esquema experimental dos CP’s preparados para as análises eletroquímicas (BRAGANÇA, 2014).

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Dosados, os CPs armados foram mantidos em solução agressiva, juntamente com as
amostras prismáticas, conforme recomendação da NBR 15577-6:2008, por cerca de 360
dias. Ao longo do tempo de cura e do envelhecimento, estes foram caracterizados pela
técnica de espectroscopia de impedância eletroquímica, em acordo com a ASTM
G106:1989. As medições foram efetuadas com a aplicação de um sinal alternado de
amplitude de 25 mV, para um intervalo de frequência de 1 MHz a 0,05 Hz, em potencial
de circuito aberto (em torno de -250 mV, estabilizado por 60 s antes do início da
medição), sendo obtidos 7 pontos por década, em um sistema eletroquímico da marca
Ecochemie, modelo Autolab - PGSTAT-100, interfaceado com um computador para a
aquisição e registro dos dados. As medidas foram realizadas com os CP’s úmidos, após a
estabilização da temperatura ambiente (por 24 horas, em condições laboratoriais) em
relação a um eletrodo de referência de calomelano saturado, conforme arranjo
experimental apresentado na Figura 2.

Figura 2. Esquema da célula eletroquímica de medição utilizado para a análise por espectroscopia de
impedância (BRAGANÇA, 2014).

A análise dos espectros e a caracterização das amostras foi realizada com a observação
dos diagramas de Bode e do plano complexo (Nyquist) obtidos para cada tipo e intervalo
de envelhecimento. Nos diagramas, buscou-se caracterizar os mecanismos e as reações
desenvolvidas nas argamassas e concretos em análise, de acordo com a metodologia
estabelecida por CHRISTENSEN (1994) e desenvolvida por BRAGANÇA (2014).

2.3 Análise Microestrutural e Química Elementar


Após os 360 dias de exposição e estudo, os prismas de concreto avaliados foram
rompidos, sendo obtidas amostras da região central, para avaliação microestrutural e
química elementar. Estas, foram avaliadas em superfície de fratura, in natura (sem
metalização), sendo previamente limpas com acetona e secas em estufa a 40 °C (com
antecedência de, aproximadamente, 3 h das análises).
A análise microestrutural e química elementar foi realizada em microscópio eletrônico de
varredura com canhão de emissão de elétrons (FEG-SEM), marca TESCAN, modelo
MIRA 3, com detectores de elétrons espalhados e retroespalhados, SE e BSE,
microssonda analítica de raios X acoplada, EDS, em baixo vácuo.

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3 Resultados e Discussões
3.1 Caracterização dos Materiais
Os resultados obtidos para a caracterização físico-química do cimento indicaram
propriedades em acordo com os limites estabelecidos para uso em concreto.
Para os agregados AB, de forma geral, as propriedades também indicaram características
ideais para o uso em concreto, com exceção da reatividade álcali agregado, avaliada em
barras de argamassa, com o próprio CP II F-32, conforme apresentado na Figura 3.

0,8
Variação dimensional linear, %

0,6

0,4

0,2

Agregado AB
0,0

0 10 20 30
Tempo, dias
Figura 3. Resultado obtido para a caracterização da reatividade álcali agregado de AB, em barras de
argamassa, preparadas com o cimento CP II F-32.

Conforme pode ser verificado na Figura 3, os resultados de reatividade álcali agregado de


AB britado em areia artificial apresentaram valores superiores aos limites estabelecidos
pela norma NBR 15577:2008 já após quatro dias de avaliação, sendo a variação
dimensional linear do mesmo até 7 vezes superior ao determinado pela normativa, aos 30
dias de ensaio.
Pela análise petrográfica e de XRD, foi verificado que AB trata-se de rocha de tonalidade
cinza escuro, granulação fina, constituída por cristais ripiformes de plagioclásio, piroxênio,
e minerais metálicos anaédricos, possuindo textura fanerítica equigranular fina e estrutura
maciça, sem alteração superficial, porém com reatividade potencial devido a presença de
veios de argilomineral. A composição química de AB obtida por XRF está apresentada na
Tabela 2.

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Tabela 2. Caracterização química do agregado AB, por XRF.
SiO2(%) Al2O3(%) Fe2O3(%) CaO (%) MgO (%) K2O (%)
Amostra
52,55 13,83 13,60 9,29 5,31 1,12
agregado
Na2O (%) TiO2 (%) MnO (%) P2O5 (%) *P.F. (%) Soma (%)
AB
2,44 1,39 0,19 0,17 0,14 100,02
• P.F. = Perda ao fogo

Os resultados de caracterização química por XRF do agregado AB indicaram composição


predominante à base de dióxido de silício, seguido do óxido de alumínio, de ferro, de
cálcio e de magnésio, contendo menores concentrações de óxidos de sódio e potássio, os
quais também podem estar relacionados a reatividade potencial em meios cimentícios.

3.2 Avaliação da Reatividade Álcali-Agregado


Os resultados obtidos para a avaliação da reatividade álcali-agregado em prismas de
concreto, pelo acompanhamento da variação dimensional linear de traços preparados
com as fases fina e graúda de AB (F-154) ou apenas com a fase graúda de AB e miúda
de PAD (F-133), estão apresentados na Figura 4.

F - 133
0,02
F - 154

0,00
Variação dimensional linear, %

-0,02

-0,04

-0,06

-0,08

-0,10

-0,12
0 100 200 300 400

Tempo, dias

Figura 4. Resultado obtido para a caracterização da reatividade álcali agregado de AB, em prismas de
concreto, preparados com o cimento CP II F-32.

Conforme pode ser verificado pela Figura 4, muito embora os resultados de AB em barras
de argamassa preparadas com CP II F-32 indicassem elevada reatividade álcali-agregado
(Figura 3), mesmo após 360 dias de ensaio, não foram verificados processos de
expansão para os prismas de concreto. Para ambos os traços estudados, foram
verificados apenas processos de retração, que podem estar correlacionados aos
processos térmicos de conformação do material, uma vez que os envelhecimentos
propostos no ensaio normativo são executados a 40 °C. No entanto, foi possível verificar
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uma diferença entre os processos ocorrentes para os concretos preparados com as fases
fina e graúda de AB (F-154) ou apenas com a fase graúda de AB e miúda de PAD (F-
133), sendo obtidos valores de retração mais proeminentes para o segundo (F-133). Uma
vez que trata-se de concretos, é possível que a reação esteja ocorrendo, de forma mais
intensa para o traço F-154 devido à maior área superficial de agregado reativo com a
presença da fase fina de AB, com a formação e deposição de gel de RAA no interior dos
poros e vazios, sem alterar significativamente a variação dimensional linear dos prismas
até os 360 dias.
Esta ocorrência de processos diferenciados para os traços F-133 e F-154 também foi
verificada com os resultados obtidos por EIS, conforme apresentado nas Figuras 5 e 6.

F-133 = agregados miudo PAD + graudo AB

5
10
barra interface/ concreto interface/ concreto
camada passiva barra 7 dias
-80 camada passiva 91 dias
180 dias
270 dias
4 -60 360 dias
10
theta
|Z|

-40

3
10
-20

0
2
10
-3 -2 -1 0 1 2 3 4 5 6 -3 -2 -1 0 1 2 3 4 5 6
10 10 10 10 10 10 10 10 10 10 10 10 10 10 10 10 10 10 10 10
f/Hz (36) f/Hz (36)

F-154 = agregados miudo AB + graudo AB

5
10 interface/ 7 dias
barra interface/ concreto barra concreto
camada passiva -80
camada passiva 28 dias
91 dias
180 dias
360 dias
4 -60
10
theta
|Z|

-40

3
10
-20

0
2
10
-3 -2 -1 0 1 2 3 4 5 6 -3 -2 -1 0 1 2 3 4 5 6
10 10 10 10 10 10 10 10 10 10 10 10 10 10 10 10 10 10 10 10
f/Hz (36) f/Hz (36)

Figura 5. Diagramas de Bode (magnitude da impedância e ângulo de fase pela frequência) obtidos por EIS
para os prismas de concreto armado, mantidos em envelhecimento acelerado conforme normativas da NBR
15577-6:2008.

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F-133 = agregados miudo PAD + graudo AB
60000
35000

50000
30000

40000 25000

20000
30000
-Z''/Ohm

-Z''/Ohm
15000
20000 7 dias
10000 91 dias
180 dias
10000 270 dias
5000
360 dias
0 0

0 10000 20000 30000 40000 50000 60000 0 5000 10000 15000 20000 25000 30000 35000
Z'/Ohm Z'/Ohm

F-154 = agregados miudo AB + graudo AB


60000
35000

50000
30000

40000 25000

20000
30000
-Z''/Ohm
-Z''/Ohm

15000
20000 7 dias
10000 28 dias
91 dias
10000 180 dias
5000
360 dias
0 0

0 10000 20000 30000 40000 50000 60000 0 5000 10000 15000 20000 25000 30000 35000
Z'/Ohm Z'/Ohm
Figura 6. Diagramas de Nyquist (plano complexo, partes real e imaginária da impedância), com diferentes
detalhamentos, obtidos por EIS para os prismas de concreto armado, mantidos em envelhecimento
acelerado conforme normativas da NBR 15577-6:2008.

Conforme pode ser verificado nos gráficos apresentados nas Figuras 5 e 6,


comportamento eletroquímico dos concretos, apesar de similar para os dois traços,
apresentou diferenças pontuais. De forma geral, todos os concretos apresentaram
evolução das propriedades elétricas ao longo do tempo de cura, até cerca de 270 dias de
idade, sendo tal melhora mais proeminente para o traço F-133 (verificado na Figura 5,
magnitude da impedância, na região de mais elevadas frequências). Isso pode estar
relacionado ao estabelecimento da matriz de cimento homogênea, com a cura completa
dos hidratos e formação dos cristais. No entanto, para o traço F-154, a maior área
superficial do agregado reativo pode ter proporcionado a formação e deposição nos poros
de gel de RAA, o qual tende a apresentar menor resistência elétrica, sendo os valores
mantidos em um patamar inferior aos verificados para F-133. Ainda, tal formação inicial de

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gel pode promover a microfissuração da matriz cimentícia, não permitindo a evolução das
propriedades da pasta de cimento ao longo do tempo.
Tais diferenças de comportamento entre ambos os traços e que, para F-154 podem estar
correlacionadas à maior ocorrência de RAA, também foram verificadas para o ângulo de
fase, em regiões de frequências intermediárias (Figura 5), ou mesmo para o diagrama do
plano complexo (Figura 6). Para o primeiro, foi possível verificar uma evolução da
propriedade, ao longo do tempo, para frequências maiores, com o estabelecimento de
uma dupla camada entre a pasta de cimento e a barra, comprometida com processos
difusionais, com a manutenção do ângulo de fase em regiões próximas à 45°. Tais
processos podem estar correlacionados à microfissuração da matriz, provocada pela
formação de gel de RAA no interior dos poros e vazios, logo nas primeiras idades de
análise. Isso também foi verificado com a análise do diagrama do plano complexo (Figura
6), com a tendência à formação de uma reta ao infinito, característica da definição destes
processos difusionais. Os resultados obtidos foram analisados conforme estabelecido por
Serdar et al. (2013) e corroboraram o trabalho de Bragança et al. (2014), que estudou EIS
para o ataque por sulfatos.

3.3 Análise Microestrutural e Química Elementar


Os resultados obtidos pela análise microestrutural e química elementar dos prismas de
concreto após os 360 dias de envelhecimento estão apresentados na Figura 7.
Conforme pode ser verificado nas micrografias obtidas para os traços F-133 e F-154
(Figura 7), foi possível identificar alterações da matriz cimentícia, em região próxima ao
agregado (zona de transição da interface), com tendência à formação de gel em ambos.
No entanto, corroborando com os demais estudos desenvolvidos, para a amostra F-154
(Figura 7 (b)), foi possível caracterizar uma formação mais maciça de subprodutos da
reação, além da ocorrência de gretas nos agregados e microfissuração da pasta. Pela
análise elementar, verificou-se uma diminuição da concentração de cálcio, frente ao
silício, caracterizando a composição química típica de gel de RAA (sílico-cálcico).

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(a)

(b)

Figura 7. Análise microestrutural e química elementar obtida por SEM/EDS para os traços F-133 (a) e F-154
(b), após 360 dias de envelhecimento, conforme a NBR 15577-6:2008.

4 Conclusões
A avaliação da reatividade álcali agregado em prismas de concreto foi efetuada pela
análise de dois traços distintos, sendo um deles composto pelas fases fina e graúda de
material reativo (agregado AB, traço F-154) e outro apenas com a fase graúda deste (AB)
e miúda de agregado padrão (PAD, traço F-133). A caracterização dos processos de
reação, com a formação dos subprodutos foi identificada, com maior destaque, para os
concretos contendo ambas as fases (fina e graúda) do agregado reativo, o que
comprovou a influência da área superficial do material no estabelecimento de processos
de deterioração. No entanto, a ocorrência de reação e a formação do gel no interior dos
poros somente foi evidenciada por ensaios complementares, como a espectroscopia de
impedância eletroquímica e a microscopia eletrônica de varredura, uma vez que os
processos de retração térmica ocorrentes em ambos os traços, ao longo do ensaio
normativo, podem ter influenciado na obtenção de resultados falsos-positivo. Sendo
assim, concluiu-se a possibilidade de avaliação de tais mecanismos por EIS, de forma
complementar aos estudos de variação dimensional linear, com a obtenção de resultados
comparativos ao traço padrão em estágios incipientes da ocorrência de reação.

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5 Agradecimentos
Os autores agradecem à infraestrutura e ao apoio em recursos humanos e financiamento
à COPEL GeT projeto P&D 6491-0301/2013, à ANEEL, aos Institutos LACTEC, ao CNPq
Lei 8010/90 (LI 15/2187214-1; LI 14/4695814-5; LI 14/3410726-9), ao CNPq bolsa DT,
processo 302672/2016-8*, à Itambé Cimentos e à Universidade Federal do Paraná –
LAMIR, PPGECC e DCC.

6 Referências
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corrigida: 1997.

ABNT NBR 15577-2008 - Agregados – Reatividade álcali-agregado.

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