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ISSN: 2525-8761
Wellington Mazer
Professor Doutor
Universidade Tecnológica Federal do Paraná – DACOC/UTFPR
R. Deputado Heitor Alencar Furtado, 5000, Curitiba, PR, Brazil
E-mail: wmazer@utfpr.edu.br
RESUMO
O ataque de matrizes cimentícias por íons sulfatos pode levar a uma redução da sua
resistência e durabilidade causando expansão, fissuras, perda da massa e rigidez.
Considerando a necessidade de se determinar a quantidade de sulfatos existente em
amostras de concretos e argamassas, este trabalho tem como objetivo verificar a
viabilidade da utilização da espectrofotometria, através da medição da absorbância, e da
potenciometria, pela medição de uma diferença de potencial elétrico, para determinação
do teor de sulfatos em matrizes cimentícias. Como parâmetro para essa pesquisa
utilizou-se o ALPHA Méthod 4500-SO42- para validar o método objeto deste estudo. No
experimento, foram utilizados dois tipos de corpos de prova, o primeiro, argamassa
convencional, moldado com CP V ARI, areia e um teor água / cimento de 0,5; o
segundo, concreto de ultra alto desempenho, moldado com CP V ARI, areia, sílica ativa,
pó de quartzo, aditivo e um teor água/ cimento de 0,22. Foi possível estabelecer uma
correlação alta entre os métodos de ensaio, indicando a viabilidade de utilização tanto
da espectrofotometria quanto da potenciometria, para a determinação do teor de sulfatos
em matrizes cimentícias.
aug. 2021
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ISSN: 2525-8761
ABSTRACT
The attack of cementitious matrices by sulphate ions can lead to a reduction in their
strength and durability, causing expansion, cracking, loss of mass and stiffness.
Considering the need to determine the amount of sulfates in concrete and mortar
samples, this work aims to verify the feasibility of using spectrophotometry, by
measuring absorbance, and potentiometry, by measuring an electrical potential
difference, to determine the content of sulfates in cementitious matrices. As a parameter
for this research, the ALPHA Méthod 4500-SO42- was used to validate the method object
of this study. In the experiment, two types of specimens were used, the first,
conventional mortar, molded with CP V ARI, sand and a water/cement content of 0.5;
the second, ultra high performance concrete, cast with CP V ARI, sand, silica fume,
quartz powder, chemical addimixture and a water/cement content of 0.22. It was
possible to establish a high correlation between the test methods, indicating the
feasibility of using both spectrophotometry and potentiometry to determine the content
of sulfates in cementitious matrices.
1 INTRODUÇÃO
A deterioração de matrizes cimentícias por sulfatos pode causar fissuras, perda
de resistência e redução no desempenho do material. Os íons sulfatos estão presentes
em solos, na água do mar, em águas subterrâneas, em efluentes industriais e nas próprias
adições do concreto. A intensidade do ataque dos sulfatos depende do tipo de cimento
utilizado, do pH da solução, da temperatura, da concentração e da solubilidade em meio
aquoso dos íons sulfatos. Quanto maior a solubilidade, maior será a quantidade de íons
liberados, e assim sendo, maior a amplitude de ataque. Os principais tipos de sulfatos
responsáveis por manifestações patológicas no concreto são o sulfato de cálcio (CaSO4),
o sulfato de sódio (Na2SO4) e o sulfato de magnésio (MgSO4). Considerando a
determinação da quantidade de sulfatos existente em matrizes cimentícias, este trabalho
estuda a viabilidade técnica da utilização da espectrofotometria a da potenciometria para
a quantificação de sulfatos em corpos de prova submetidos ao ataque, em laboratório,
por sulfato de magnésio, e compara os resultados obtidos por esses métodos com o
procedimento indicado pelo ALPHA Méthod 4500-SO42-, utilizando amostras de
argamassa convencional e de concreto de ultra alto desempenho.
Os sulfatos em matrizes cimentícias pode ter origem interna ou externa.
Internamente, os sulfatos podem originar-se de adições incorporadas ao cimento com o
propósito de controlar a pega, como é o caso da gipsita, bem como de materiais contidos
no clínquer – como os sulfatos alcalinos (arcanita (K2SO4), aftitalita (K3Na(SO4)2),
longbeinita (Ca2K2(SO4)3)) – e de soluções sólidas nos silicatos de cálcio. Podem surgir
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3Na2SO4+2(4CaO.Al2O3.19H2O)+14H2O→ 3CaO.Al2O3.3CaSO4.32H2O+
+2Al(OH)3+6NaOH (7)
2Na2SO4+3CaO.Al2O3.CaSO4.12H2O+2Ca(OH)2+2H2O→3CaO.Al2O3.3CaSO4.32H2
O+2NaOH (8)
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𝐼𝑂
log =𝐴=𝐾∗𝐿∗𝐶 (11)
𝐼
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ser ocupados pelos elétrons das moléculas. A absorção da radiação ocorre quando a
energia por ela transportada, que depende do comprimento de onda da radiação, é igual
à diferença entre dois níveis de energia da molécula, sendo a energia da radiação
transferida para a molécula. Como moléculas de diferentes substâncias possuem
diferentes níveis moleculares de energia, a absorção de energia das diversas substâncias
é diferente. (HAAR, 2007).
Desta forma, é possível verificar a intensidade de luz absorvida por uma
substância, em função dos comprimentos de onda da radiação, e construir uma curva
denominada “espectro de absorção” da substancia. Após a definição do espectro de
absorção da substância, é possível determinar a quantidade da substância existente em
uma solução. (HAAR, 2007).
Além da espectrofotometria, a potenciometria também pode ser utilizada porque
quando um metal está imerso em uma solução que contém seus próprios íons, instala-se
um potencial de eletrodo, cujo valor é dado pela equação de Nernst, apresentada na
Equação 12.
RT
E = E Θ + ( nF ) ln(aMn+ ) (12)
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2 MATERIAIS E MÉTODOS
2.1 MATERIAIS
2.1.1 Cimento
Para a execução dos corpos de prova foi utilizado o cimento CP-V ARI, cujas
propriedades físicas e químicas estão indicadas na Tabela 1.
2.1.2 Agregados
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2.2 MÉTODOS
Os ensaios foram realizados em corpos de prova de concreto convencional e concreto
de ultra alto desempenho.
2.2.1 Argamassa convencional (ACV)
Foram utilizados os corpos de prova moldados por Schiavini (2018), pelo fato
dos mesmos terem permanecidos 2 anos em solução de sulfato de magnésio, com traço
1:3 e relação água/cimento 0,5.
Os moldes utilizados possuíam diâmetro interno de 5 cm e altura de 10 cm. Cada
corpo de prova recebeu 4 camadas de argamassa e cada camada recebeu 30 golpes. Os
corpos de prova foram identificados e permaneceram 24 horas secando ao ar e então
foram colocados na câmara úmida onde permaneceram por 20 dias. Após os 20 dias
foram colocados em soluções contendo sulfatos de magnésio a uma concentração de
10% em massa de água (SCHIAVINI, 2018).
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𝑀𝑐𝑎𝑙𝑐𝑖𝑛𝑎𝑑𝑎 . 0,4116
%𝑆𝑂4 = . 100 (13)
𝑀𝑖𝑛𝑖𝑐𝑖𝑎𝑙
2.2.4 Espectrofotometria
O espectrofotômetro utilizado para medir a absorbância das amostras foi o IL-
593, que produz comprimentos de onda entre 190 nm à 1100 nm. Foram utilizados
cubetas de quartzo para os comprimentos de onda ultravioleta e cubetas de vidro para
os comprimentos de onda da luz visível. Antes de cada medição de absorbância de cada
amostra, em cada comprimento de onda, a leitura do equipamento foi calibrada com
água destilada para absorbância zero e em seguida efetuada a absorbância da solução
contendo sulfato. A fim de verificar qual comprimento de onda obtém o resultado mais
satisfatório foram feitas medições com os seguintes comprimentos de onda: 190 nm,
270 nm, 340 nm, 400 nm, 500 nm,700 nm e 1100 nm. Foram utilizadas as amostras após
a formação do precipitado de sulfato de Bário.
3.2.5 Potenciometria
Após a etapa de ocorrência da precipitação do sulfato de bário, do método da
ALPHA Method 4500 – SO42-, foi realizada a medição da diferença de potencial das
amostras utilizando-se um potenciômetro de bancada com eletrodo de íon seletivo de
calomelano. As amostras foram colocadas em um béquer e, então, dentro cada uma foi
colocado o eletrodo de calomelano ligado ao potenciômetro de bancada, para medir a
diferença de potencial. A medição foi feita quando o valor visto no aparelho se
estabilizou.
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3 RESULTADOS E DISCUSSÕES
3.1 TEOR DE SULFATOS
O teor de sulfatos foi calculado conforme os métodos acima descritos, levando
em consideração a massa calcinada e a massa inicial retirada das amostras, através da
seguinte equação:
De cada corpo de prova foram retiradas amostras de aproximadamente 2 g, cujos
valores dos teores de sulfato, calculados através do método ALPHA Method 4500 –
SO42, podem ser observados na Tabela 4.
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3.2 POTENCIOMETRIA
Considerando que o método Alpha Méthod 4500-SO42- forma um sal de sulfato
de bário que, por si só, conduz corrente elétrica, optou-se por realizar o ensaio de
potenciômetria para relacionar o teor de sulfatos e a diferença de potencial. Após a
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adição de cloreto de bário nas amostras – etapa do método Alpha Méthod 4500-SO42- –
, as mesmas foram colocadas em um béquer, onde o eletrodo de calomelano foi
introduzido para medir a diferença de potencial. Os resultados médios obtidos a partir
do potenciômetro com eletrodo de calomelano são apresentados na Tabela 5:
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3,50
R² = 0,9619
3,00
2,50
SO4 (%)
2,00
1,50
1,00
0,50
0,00
520 540 560 580 600 620 640
DDP (mV)
3.3 ESPECTROFOTOMETRIA
Após a adição de cloreto de bário nas amostras, etapa do método Alpha Méthod
4500-SO42-, elas foram colocadas em recipientes prismáticos e introduzidas no
espectrofotômetro. Foram feitas medições em 7 comprimentos de ondas diferentes,
englobando o ultravioleta e o visível, sendo eles 190 nm, 270 nm, 340 nm, 400 nm, 500
nm, 700 nm e 1100 nm. Os valores obtidos são apresentados na Tabela 6.
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0,140 R² = 0,9334
0,120
Absorbância (%)
0,100
0,080
0,060
0,040
0,020
0,000
0,00 0,50 1,00 1,50 2,00 2,50 3,00 3,50 4,00
SO4 (%)
Para o UHPC verifica-se uma homogeneidade dos resultados enquanto que para
os corpos de prova de argamassa vê-se uma pequena dispersão nos resultados, no
entanto a correlação entre os dois métodos de ensaio é alta, apresentando um valor para
R² de 0,9334, e ambos os métodos apresentam menores leituras (absorbância e teor de
SO4) para o UHPC.
A relação entre a absorbância para o comprimento de ondas de 400nm e a
diferença de potencial medida com eletrodo de calomelano é apresentado na Figura 4.
Figura 3: Relação entre absorbância e a diferença de potencial.
0,160
0,140
R² = 0,8172
0,120
Absorbância (%)
0,100
0,080
0,060
0,040
0,020
0,000
520 540 560 580 600 620 640
DDP (mV)
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4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
O presente estudo tem o objetivo de verificar a viabilidade da utilização dos
métodos da potenciometria e da espectrofotometria para a determinação do teor de
sulfatos em matrizes cimentícias, correlacionando os resultados destes ensaios com os
resultados de terminação do teor de sulfatos obtido pelo Alpha Method 4500-SO42. Para
isto, foram escolhidos dois materiais distintos, um UHPC e uma argamassa
convencional.
Foi possível constatar que os corpos de prova de concreto de ultra alto
desempenho, os quais permaneceram por 3 anos em solução de sulfato de magnésio,
apresentaram maior resistência ao ataque de sulfatos em comparação a corpos de prova
convencionais que permaneceram em solução por 2 anos. A partir disso é possível
verificar que o fator adições e relação água/ cimento é extremamente determinante na
resistência ao ataque por sulfatos.
A utilização da potenciometria com o eletrodo de calomelano se mostrou uma
técnica promissora para a determinação do teor de sulfatos, pois, quanto maior a
absorbância medida, maior foi a diferença de potencial observada, apresentando uma
forte correlação com os resultados obtidos pelo Alpha Method 4500-SO42.
Com a técnica da espectrofotometria foi possível observar que o comprimento
de onda de 400nm pôde ser comparado com os teores de sulfatos encontrados pelo Alpha
Method 4500-SO42, apresentando uma forte correlação.
Foi possível verificar que quanto maior o teor de sulfatos maior foi a absorbância
medida pelo espectrofotômetro e maior a diferença de potencial medida pela
potenciometria, deste modo, é possível verificar que as duas técnicas estudas se
apresentam promissoras para a determinação do teor de sulfatos em matrizes cimentícias
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REFERÊNCIAS
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Grande do Sul, 2009.
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íons sulfato em estruturas de concreto. Congresso Brasileiro de Engenharia Química.
Florianópolis, 2014.
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Press, 2003.
SUN, C.; CHEN, J.; ZHU, J.; ZHANG, M.; YE, J. A new diffusion model of sulfate
ions in concrete. Construction and Building Materials, 39, 39–45, 2013.
http://dx.doi.org/10.1016/j.conbuildmat.2012.05.022
VOEGEL, A. I., Análise Química Quantitativa. 5ª edição, LTC, Rio de Janeiro, 1992.
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