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ZONEAMENTO AGRÍCOLA DE RISCO CLIMÁTICO PARA A CULTURA DO

MARACUJÁ NO ESTADO DO CEARÁ

Mairton Oliveira de Lima 1; Joaquim Branco de Oliveira 2; Anderson Cândido Vieira 1; Ismael de
Oliveira Cavalcante 1; Maria Fernanda da Silva Vieira 1
1Discente. Rodovia Iguatu - Várzea Alegre km 05 Vila Cajazeiras, Iguatu, Ceará. Instituto Federal de

Educação, Ciência e Tecnologia do Ceará; 2Docente. Rodovia Iguatu - Várzea Alegre km 05 Vila Cajazeiras,
Iguatu, Ceará. Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Ceará

RESUMO
O maracujá (Passiflora edulis) é uma cultura amplamente produzida na região nordeste do Brasil,
sendo o estado do Ceará um dos principais produtores do país. Assim, o presente trabalho teve como
objetivo realizar o Zoneamento Agrícola de Risco Climático (ZARC) em cenários de mudanças
climáticas para a cultura do maracujazeiro no Estado do Ceará. Para isso, dados de precipitação
pluviométrica e temperatura foram utilizados para simular dois cenários diferentes de mudanças
climáticas (B1 e A2). Consequentemente, foi possível verificar as alterações das três classes de
aptidão (apta, restrita e inapta) ao longo do tempo. Os resultados mostram que as mudanças climáticas
tendem a comprometer drasticamente a capacidade produtiva das áreas consideradas adequadas,
consequentemente aumentando as áreas impróprias para o cultivo do maracujazeiro já em 2040.

PALAVRAS-CHAVE: Mudanças climáticas; Fruticultura; Gestão de riscos;;

INTRODUÇÃO
De acordo com informações do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE, 2022), no ano
de 2021 a ocupação territorial de plantações de maracujá (Passiflora edulis) no Brasil correspondia a
45 mil hectares, sendo que 71,7 % desse total concentrava-se na região Nordeste, o estado do Ceará
é o segundo maior produtor do país com 7 mil hectares, ou seja, 22,8 % da área total. Em termos
estatísticos, o Ceará produziu 177.291 toneladas de maracujá, o equivalente a 25,9 % da produção
nacional, o rendimento médio da produção foi o terceiro maior do Brasil com 24.043 quilogramas
por hectare.

As projeções climáticas preveem importantes alterações nos padrões de temperatura e precipitação


para os biomas brasileiros, podendo influenciar a disponibilidade e a utilização dos recursos dos quais
dependem os meios de vida humanos (MAGRIN et al., 2014). O aquecimento adicional e a provável
redução dos índices pluviométricos devem desencadear e acelerar processos de desertificação,
aumentando ainda mais as áreas impróprias ao cultivo de várias espécies de vegetais agrícolas
(SANTOS et al., 2013).

Sabendo-se que as instabilidades climáticas são os principais eventos responsáveis pelas perdas na
agricultura nacional, foi realizado um estudo de caráter espaço-temporal, para a identificação das
áreas de maior risco para a agricultura brasileira, dando origem ao que hoje se conhece como Zarc,
programa transformado em política pública do governo federal e que indica para cada município o
que plantar, onde plantar e quando plantar (ASSAD et al., 2008). Com isso, o Zoneamento Agrícola
de Risco Climático (Zarc) apresenta-se como um importante instrumento para a mitigação de riscos
a produção agrícola da cultura do maracujá no Ceará frente aos inevitáveis cenários de mudanças
climáticas.

OBJETIVOS
Objetivou-se com esse trabalho realizar o Zoneamento Agrícola de Risco Climático (ZARC) da
cultura do maracujá no Ceará sob dois diferentes cenários de mudanças climáticas (B1 e A2).

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MATERIAL E MÉTODOS
O Ceará está localizado na região Nordeste do Brasil. Com área de 148.886,3 km², quase
integralmente inserido no semiárido. O clima predominante é tropical quente semiárido com pequenas
manchas de tropical quente subúmido e úmido e resquícios de tropical subquente úmido (IPECE,
2007).

As exigências de temperatura e chuva (Tabela 1) foram extraídas da metodologia de (FALEIRO e


JUNQUEIRA, 2016; MAPA, 2009; PAULA JÚNIOR e VENZON, 2007). Na análise foram avaliadas
três classes de aptidão agrícola, sendo elas: Apta, Restrita e Inapta. Foram consideradas as faixas de
temperatura média do ar anual (°C) e a precipitação pluviométrica anual (mm). Para estimativas das
temperaturas médias um modelo de regressão foi testado, com altitude, latitude e longitude como
variáveis independentes e a medida temperatura como a variável dependente, com base no modelo
quadrático geral de Oliveira, et al. (2013):

Onde:

Ti - Temperaturas normais médias mensais (i = 1, 2..., 12); e anual (i=13) estimadas

l - Longitude da estação (INMET) em graus e décimos (valores negativos);

j - Latitude da estação em graus e décimos (valores negativos);

h - Modelo digital de elevação;

Na - Coeficientes da equação de regressão.

Tabela 1: Classes de aptidão para a cultura do caju.

Temperatura Média (°C)* Precipitação Pluviométrica (mm)**


Aptidão

25 < Tm < 30 1200 < P > 1900


Apta

16 < Tm < 25
800 < P < 1200
Restrita
30 < Tm < 35

Tm < 16; Tm > 35 P < 800


Inapta

*MAPA, 2009; Paula Júnior e Venzon, 2007. **MAPA, 2009; Faleiro e Junqueiro 2016; Paula
Júnior e Venzon, 2007.

Os cenários abaixo são projeções feitas pelo Painel Brasileiro de Mudanças Climáticas (PBMC).
Onde os cenários B1 são os mais otimistas com menos emissão de carbono e menor incremento na
temperatura. Os cenários A2 são os mais pessimistas. Neles há maior emissão de carbono para
atmosfera e maior incremento na temperatura.

Tabela 2: Cenários de chuva e temperatura avaliados

Cenários* Período Temperatura Chuva

Normais 1961-1990 Normais Normais

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B1 2040 Até 2040 +0,5 °C -10%

B1 2070 2041 - 2070 +1,5 °C -25%

B1 2100 2071 - 2100 +3,5 °C -40%

A2 2040 Até 2040 +1,0 °C -25%

A2 2070 2041 - 2070 +2,5 °C -35%

A2 2100 2070 - 2100 +4,5 °C -50%

*PBMC (2012)

RESULTADOS E DISCUSSÃO
Ao verificar os resultados obtidos nos três cenários B1 referentes aos anos de 2040, 2070 e 2100 nota-
se que as classes de aptidão sofrem respectivamente as seguintes alterações na ocupação do território
estudado: Apta: 0,22 %, 0,0 %, 0,0 %. Restrita: 30,19 %, 8,42 %, 0,61 % e Inapta: 69,59 %, 91,58 %,
99,39 %.

Figura 1. Classes de aptidão com base no cenário B1.

Ao analisar os resultados obtidos nos três cenários A2 referentes aos anos de 2040, 2070 e 2100
verifica-se que as classes de aptidão sofrem respectivamente as seguintes alterações na ocupação do
território estudado: Apta: 0,02 %, 0,0 %, 0,0 %. Restrita: 15,57 %, 1,69 %, 0,06 % e Inapta: 84,41 %,
98,31 %, 99,94 %.

Com a elevação da temperatura o cultivo do maracujazeiro será drasticamente afetado, segundo


Faleiro e Junqueira (2016) temperaturas elevadas, principalmente durante a noite, inibem o
florescimento dessa espécie e quando essas altas temperaturas são aliadas à baixa umidade relativa

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do ar, não ocorre a fecundação das flores nem o vingamento dos frutos.

Figura 2. Classes de aptidão com base no cenário A2.

Análogo a este trabalho o estudo realizado por Bezerra et al. (2019) obteve resultados com base em
modelos de previsão de mudanças climáticas, em dois futuros cenários, sendo eles um moderado e
um pessimista, os mesmos constataram que as áreas propícias ao cultivo da cultura do maracujá serão
amplamente afetadas com as alterações no clima.

CONCLUSÃO
Conclui-se com as simulações apresentadas em ambos os cenários que já em 2040 o cultivo do
maracujá estará seriamente comprometido. Na progressão dos cenários a classe Inapta ocupa quase
que a totalidade do território estudado. Em condições naturais, a produção local de maracujá se
extinguiria.

REFERÊNCIAS
ASSAD, E. D. et al. Zoneamento agrícola de riscos climáticos do Brasil: base teórica, pesquisa e
desenvolvimento. Informe Agropecuário, v. 29, n. 246, p. 47-60, 2008. Disponível em:
https://encurtador.com.br/qDIQ1. Acesso em 26 ago. 2023.

BEZERRA, A. D. M. et al. Agricultural area losses and pollinator mismatch due to climate changes
endanger passion fruit production in the Neotropics. Agricultural systems, v. 169, p. 49-57, 2019.
Disponível em: https://doi.org/10.1016/j.agsy.2018.12.002. Acesso em 05 jun. 2023.

INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATISTICA (IBGE). Produção Agrícola


Municipal. Brasília, 2022. Disponível em: https://sidra.ibge.gov.br/pesquisa/pam/tabelas. Acesso
em 01 jun. 2023.

INSTITUTO DE PESQUISA E ESTRATÉGIA ECONÔMICA DO CEARÁ (IPECE). Ceará em


mapas: Informações georreferenciadas e especializadas para os 184 municípios cearenses.
Fortaleza, 2007. Disponível em: http://www2.ipece.ce.gov.br/atlas/. Acesso em 05 mar. 2021.

FALEIRO, F. G.; JUNQUEIRA, N. T. V. Maracujá: o produtor pergunta, a Embrapa responde.


Brasília: EMBRAPA, 2016. 341 p. (Coleção 500 Perguntas, 500 Respostas)

MAGRIN, G. et al. Central and South America. In: BARROS, V. R. et al. (Eds.). Climate Change
2014: Impacts, Adaptation, and Vulnerability. Part B: Regional Aspects. Contribution of Working
Group II to the Fifth Assessment Report of the Intergovernmental Panel on Climate Change.
Cambridge: Cambridge University Press, 2014.

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MINISTÉRIO DA AGRICULTURA PECUÁRIA E ABASTECIMENTO (MAPA). Portaria
389/2009: zoneamento agrícola para a cultura de maracujá no Estado do Ceará. Brasília: MAPA,
2011. 3 p.

OLIVEIRA, J. B.; ARRAES, F. D. D.; VIANA, P. C. Methodology for the spatialisation of a


reference evapotranspiration from SRTM data. Ciência Agronômica, v. 44, n. 3, p. 445-454, 2013.

PAINEL BRASILEIRO DE MUDANÇAS CLIMÁTICAS (PBMC). Sumário Executivo do


Volume 1: Base Científica das Mudanças Climáticas. Contribuição do Grupo de Trabalho 1 para o
1° Relatório de Avaliação Nacional do Painel Brasileiro de Mudanças Climáticas. Volume Especial
para a Rio+20. Rio de Janeiro, Brasil, 2012. 34 p.

PAULA JÚNIOR, T. J.; VENZON, N. 101 culturas: manual de tecnologias agrícolas. Belo
Horizonte: EPAMIG, 2007. 800 p.

SANTOS, A. M.; GALVÍNCIO, J. D. Mudanças climáticas e cenários de susceptibilidade


ambiental à desertificação em municípios do estado de Pernambuco. Observatorium: Revista
Eletrônica de Geografia, v. 5, n. 13, p. 66-83, 2013. Disponível em https://shre.ink/HO7L>. Acesso
em: 28 mai. 2023.

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ZONEAMENTO DA CULTURA DO ALGODÃO NO ESTADO DO CEARÁ DIANTE A
VARIAÇÃO CLIMÁTICA

Maria Fernanda da Silva Vieira 1; Joaquim Branco de Oliveira 2; Pedro Felipe Soares Lima 1,3; Mairton
Oliveira de Lima 1,4
1Discente . Iguatu. Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Ceará; 2Docente . Iguatu.

Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Ceará; 3Discente . Iguatu. Instituto Federal de
Educação, Ciência e Tecnologia do Ceará; 4Discente . Iguatu. Instituto Federal de Educação, Ciência e
Tecnologia do Ceará

RESUMO
O algodoeiro é uma cultura agrícola de suma importância em escala global, destacando-se por sua
notável capacidade de adaptação a regiões de clima semiárido. O objetivo principal deste trabalho
consiste em realizar o zoneamento da cultura do algodão herbáceo para o estado do Ceará, levando
em consideração os cenários otimista e pessimista de mudanças climáticas. A utilização de um
software de geoprocessamento se mostra essencial para a visualização dos dados coletados, enquanto
a classificação das diferentes zonas possibilita uma interpretação mais precisa dos resultados obtidos.
Tal metodologia desempenha um papel fundamental na tomada de decisões estratégicas no âmbito
do setor agrícola. Tanto no cenário mais otimista quanto no cenário mais pessimista, constatou-se que
a maior parte do estado do Ceará será considerada inadequada para o cultivo de algodão em regime
de sequeiro. Em um cenário mais pessimista, é estimado que, até o ano de 2100, aproximadamente
90% da área total do estado não apresentará condições adequadas para o cultivo de algodão em regime
de sequeiro.

PALAVRAS-CHAVE: Clima; Produção; Temperatura;;

INTRODUÇÃO
O cultivo do algodoeiro é estratégico para a economia do sertão nordestino, uma vez que a geração
de empregos diretos e indiretos é proeminente em diversas etapas das atividades de produção, desde
o beneficiamento a indústria têxtil. A cotonicultura exibe uma resiliência notável ao lidar com as
condições climáticas do semiárido, mesmo em face a sérias adversidades hídricas e temperaturas
elevadas, seu desempenho produtivo permanece excepcionalmente robusto, tornando-a uma cultivar
de grande valor para o estado do Ceará. A produtividade do algodão é influenciada por uma série de
fatores climáticos, sendo a temperatura a principal protagonista, é notório o seu poder de impactar
tanto o desenvolvimento vegetativo quanto reprodutivo dessa cultura. Portanto, faz-se necessário
monitorar constantemente suas oscilações para que as condições ideais sejam mantidas para que os
resultados maximizados. O zoneamento edafoclimático é uma análise complementar que leva em
consideração a potencialidade natural de uma região para determinada cultura. Além do clima, a
análise considera também aspectos edáficos e pedológicos, sendo, em geral, avaliados na mesma
escala do zoneamento agroclimático. Já o zoneamento agrícola de risco climático, utiliza funções
matemáticas e estatísticas para quantificar o risco de perda das lavouras, baseado em históricos de
eventos climáticos adversos. Com esse estudo detalhado, é possível tomar decisões mais precisas e
reduzir os riscos de perdas econômicas.

OBJETIVOS
Fazer o zoneamento para cultura do algodão herbáceo para o estado do Ceará, considerando os
cenários otimista e pessimista de alterações climáticas

MATERIAL E MÉTODOS

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