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ZONEAMANETO DA MAMONA NO CEARÁ SOB CENÁRIOS DE MUDANCAS

CLIMÁTICAS

Ismael de Oliveira Cavalcante 1; Joaquim Branco de Oliveira 2; Anderson Cândido Vieira 1; Mairton
Oliveira de Lima 1; Pedro Felipe Soares Lima 1
1Discente. Rodovia Iguatu / Várzea Alegre, km 05 s/n - Cajazeiras, Iguatu - CE, 63500-000. INSTITUTO

FEDEDERAL DE EDUCAÇÃO, CIÊNCIA E TECNOLOGIA DO CEARÁ - IFCE - CAMPUS IGUATU;


2Docente. Rodovia Iguatu / Várzea Alegre, km 05 s/n - Cajazeiras, Iguatu - CE, 63500-000. INSTITUTO

FEDEDERAL DE EDUCAÇÃO, CIÊNCIA E TECNOLOGIA DO CEARÁ - IFCE - CAMPUS IGUATU

RESUMO
A cultura da mamona,uma das mais importantes oleaginosas cultivadas no semiárido brasileiro e
geradora de renda, pode ser fortemente impactada pelas alterações climáticas. Em vista disso, esse
trabalho teve por objetivo simular o zoneamento da cultura da mamona para o Estado do Ceará,
considerando cenários otimista e pessimista. A temperatura do ar foi espacializada para o Ceará
através de regressão múltipla considerando a altitude, latitude e longitude. Foram construídos mapas
de chuva a partir da valores de chuva de postos da SUDENE e da ANA que foram utilizados para
determinação do balanço hídrico.Em ambos os cenários, pessimista e otimista, observa-se redução na
área zoneada para cultura. Em 2100 o Estado do Ceará se torna quase todo inapto no cenário mais
otimista e totalmente inapto no cenário pessimista.

PALAVRAS-CHAVE: Adaptabilidade; Mudanças climáticas; Mamona;;

INTRODUÇÃO
A região nordestina difere das demais regiões, principalmente em relação ao seu clima, em grande
parte semiárido, com estacionalidade climática e alta taxa de evapotranspiração, logo o regime de
chuvas anuais pode ser fator determinante de produtividade em cultivos diversos na região (Marengo
et al., 2016). A Região Nordeste possui experiência e tradição na produção de mamona devido ao seu
clima propício para o desenvolvimento da oleaginosa. Neste sentido, estudos climáticos são
importantes para dinamizar resultados positivos na produtividade, pois tais dados são baseados em
uma série de longos períodos de observações em estações meteorológicas de superfície,
automatizadas ou convencionais (Santos et al., 2016; Tostes et al., 2017).

O programa nacional de biodiesel estabeleceu o percentual de mistura de biodiesel ao diesel, gerando


mercado mais potencial para oleaginosas. A mamona, no nordeste semiárido surge como alternativa
de matéria prima à produção de biodieselespecialmente pela qualidade do óleo (PAULA JÚNIOR;
VENZON, 2007). Dentre os parâmetros climáticos, além da altitude, a temperatura do ar e o índice
de umidade são os mais importantes para o zoneamento das culturas (MONTEIRO, 2009).

O Painel Brasileiro de Mudanças Climáticas indica para o semiárido, incrementos de temperatura e


queda no total de chuvas com a ocorrência maior de eventos extremos (PBMC, 2012). Esse cenário
pode impactar negativamente levando a queda na área zoneada à cultura e afetando a renda
(PEREIRA; PAIVA, 2012).

OBJETIVOS
Esse trabalho teve por objetivo simular o zoneamento para cultura da mamona no estado do Ceará
considerando dois cenários de alterações climáticas, um cenário mais otimista - Cenário B1 e outro
mais pessimista Cenário A2, com o fim de fornecer subsídios a estratégias de mitigação e adaptação
da cultura.

MATERIAL E MÉTODOS
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O Ceará está localizado na região Nordeste do Brasil, limitando-se a Norte com o Oceano Atlântico;
ao Sul com o Estado de Pernambuco; a Leste com os Estados do Rio Grande do Norte e Paraíba e a
Oeste com o Estado do Piauí. Com 148.886,3 km², quase integralmente inserido no semiárido, limita-
se ao norte na ponta de Jericoacoara (? = 2° 47' 00'' S e λ = 40° 28' 54''), ao sul em Pena Forte (? =
07° 51' 30'' S e λ = 39º 05' 28'' W), ao leste na praia de Timbaú (? = 04° 49' 53'' S e λ = 37º 15' 11''
W) e a oeste pela Serra de Ibiapaba (? = 03° 22' 11'' S e λ = 41º 26' 10'' W). O clima predominante é
tropical quente semiárido com pequenas manchas de tropical quente subúmido e úmido e resquícios
de tropical subquente úmido localizados em superfícies topograficamente elevadas.

Foram simulados um cenário otimista (B1) e outro pessimista (A2) de temperatura e chuva com
intervalos até 2040, 2070 e 2100 (Tabela 1).

Tabela 1: Cenários de chuva e temperatura avaliados

Cenário* Período Temperatura Chuva

Normais 1961-1990 Normais Normais

B1 2040 +0,5 ºC -10%

B1 2070 +1,5 ºC -25%

B1 2100 +3,5 ºC -40%

A2 2040 +1,0 ºC -25%

A2 2070 +2,5 ºC -35%

A2 2100 +4,5 ºC -50%

*Fonte PBMC (2012)

A temperatura do ar foi estimada conforme procedimentos sugeridos por Oliveira et al. (2013).
(OLIVEIRA et al., 2013):

Ti - temperaturas normais médias mensais;

? - latitude da estação em graus e décimos;

h - modelo digital de elevação;

An - coeficientes da equação de regressão.

O índice de umidade (Iu) foi calculado a partir do balanço hídrico de Hídrico de Thronthwaite e
Mather conforme Vianello e Alves (2012)

Considerando que o índice de umidade (Iu) e a temperatura do ar contemplam os indicadores hídricos


e térmicos, foram gerados mapas desses parâmetros anuais os quais foram cruzados para obtenção
dos mapas de aptidão com o programa computacional Idrisi Selva®

Foram avaliadas três classes de aptidão: Apta, clima adequado sem nenhuma restrição; Restrita, clima
limitado por um dos indicadores e; Inapta, com o indicadores climáticos fora da faixa adequada ao
desenvolvimento (Tabela 2)

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Tabela 2: Cenários de chuva e temperatura avaliados

Classificação Temperatura* Índice de Umidade**

Apta 20ºC < Tm < 35oC -20 < Iu < 20

Restrita 14ºC < Tm < 20ºC e 35ºC < Tm < 40ºC -40 < Iu < -20 e Iu > 20

Inapta < 14ºC e Tm > 40ºC Iu < -40

Fonte: *MAPA (2021) e Monteiro (2009); ** Barros et al. (2012)

RESULTADOS E DISCUSSÃO
O Cenário B1 - No cenário mais otimista, nos anos de 2040 e 2070, ainda se percebe uma capacidade
produtiva devido as áreas de maior incidência de chuva, de acordo com o mapa de normais
climatológicas. Porém, se mantendo esses padrões climáticos previstos, para o ano de 2100, haverá
apenas uma região mínima para o cultivo de forma restrita.

O Cenário A2 - Nesse cenário que se apresenta como o menos favorável, 2040 e 2070, apresentam
uma pequena capacidade produtiva, também pelas áreas de maiores precipitações do Estado e para
2100, não se vislumbra nenhuma área apta para o cultivo de mamona, nem mesmo com restrições.

CONCLUSÃO
As mudanças climáticas são fatores preponderantes para a manutenção do cultivo da mamona no
estado do Ceará, tais cenários levantados devem servir de base para a tomada de decisões quanto aos
tipos de ações antrópicas que podem ser realizadas para que não se alcance a tais cenários.

REFERÊNCIAS
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