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ZONEAMANETO DA SOJA NO CEARÁ SOB CENÁRIOS DE MUDANCAS

CLIMÁTICAS

Ismael de Oliveira Cavalcante 1; Joaquim Branco de Oliveira 2; Anderson Cândido Vieira 1; Maria
Fernanda da Silva Vieira 1; Mateus Lima Silva 1; Mairton Oliveira de Lima 1
1Discente. Rodovia Iguatu - Várzea Alegre Km 05 Vila Cajazeiras Iguatu - CE CEP: 63500-000. INSTITUTO

FEDERAL DE EDUCAÇÃO, CIÊNCIA E TECNOLOGIA DO ESTADO DO CEARÁ - IFCE CAMPUS


IGUATU; 2Docente. Rodovia Iguatu - Várzea Alegre Km 05 Vila Cajazeiras Iguatu - CE CEP: 63500-000.
INSTITUTO FEDERAL DE EDUCAÇÃO, CIÊNCIA E TECNOLOGIA DO ESTADO DO CEARÁ - IFCE
CAMPUS IGUATU

RESUMO
Exigências térmicas, hídricas e, principalmente, fotoperiódicas determinam a adaptabilidade de
cultivares de soja em determinadas regiões. No estado do Ceará as condições apresentadas para o
cultivo dessa leguminosa são muito favoráveis, podendo contribuir para o aumento do volume da
produção nacional. É apresentado nesse trabalho, simulações de zoneamento do cultivo da soja no
estado do Ceará considerando dois cenários de alterações climáticas, um cenário mais otimista -
Cenário B1 e outro menos otimista Cenário A2, a fim de que se tenha conhecimento das condições
que se apresentarão para que se busque mitigar os problemas, em uma situação de cenário
desfavorável, e se obtenha um melhor desempenho nos cenários favoráveis.

PALAVRAS-CHAVE: Exigências; Adaptabilidade; Soja;;

INTRODUÇÃO
No Brasil, a soja é cultivada em todas as regiões do país (ROCHA et al., 2006). A recomendação de
cultivares adaptados à região com alta produção de grãos, proteína e óleo deve ser precedida por
análises em diferentes ambientes, uma vez que o desempenho do genótipo, tratando-se de caracteres
contínuos, resulta não só dos efeitos do genótipo, mas também dos efeitos de ambiente e da interação
genótipo x ambiente (G x E) (ALLARD; BRADSHAW, 1964; EBERHART; RUSSELL, 1966;
NUNES, R. P, 1998; CRUZ et al. 2004). Quando verificado a existência da interação significativa
entre genótipos e ambientes, utilizam-se técnicas para identificar genótipos adaptados e estáveis a
ambientes específicos. Segundo Eberhart e Russell (1966), a adaptabilidade refere-se à capacidade
dos genótipos apresentarem vantajosamente os estímulos do ambiente. Já o estudo da estabilidade
fenotípica permite sintetizar o enorme volume de informações obtido, caracterizando a capacidade
produtiva, a adaptação às variações de ambiente e a estabilidade de novos genótipos (RAIZER;
VENCOVSKY, 1999).

A adaptabilidade de cultivares de soja a determinadas regiões depende das exigências térmicas,


hídricas e, principalmente, fotoperiódicas. A sensibilidade ao fotoperíodo é uma característica
variável entre cultivares, nos quais, a faixa de adaptabilidade pode ser restrita ou ampla ao longo das
latitudes (SHIGIHARA; HAMAWAKI, 2005). Em razão disto, grande parte da área mundial
cultivada com essa cultura está localizada em latitudes maiores que 30º, onde prevalecem condições
de clima temperado. O Brasil representa uma exceção dentro desse contexto (ALMEIDA et al., 1999).
Os estados da região Nordeste que se destacam na produção deste grão são Bahia, Maranhão e Piauí,
no entanto, o Ceará apresenta condições muito favoráveis para o cultivo desta leguminosa e pode
contribuir nos próximos anos para aumentar o volume da produção nacional (OLIVEIRA FILHO,
2011).

OBJETIVOS
Esse trabalho visa apresentar simulações de zoneamento do cultivo da soja no estado do Ceará
considerando dois cenários de alterações climáticas, um cenário mais otimista - Cenário B1 e outro

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menos otimista Cenário A2, a fim de que se busque mitigar os problemas para uma situação de cenário
desfavorável.

MATERIAL E MÉTODOS
O estudo foi desenvolvido para o Estado do Ceará, localizado no nordeste brasileiro entre as latitudes
2,5° e 8° sul e longitudes 37° e 42° oeste. De acordo com a classificação climática de Koppen a área
de estudo apresenta três climas: BSh, Aw e Cw, com predominância do clima BSh (semiárido) em
80% da área.

Para que fosse possível a obtenção dos dados de precipitação pluviométrica, foram utilizados dados
de 294 estações, oriundos de postos pluviométricos e estações meteorológicas do Instituto Nacional
de Meteorologia (INMET) da Fundação Cearense de Meteorologia (FUNCEME) e da
Superintendência de Desenvolvimento do Nordeste (SUDENE), localizados no Estado do Ceará e em
estados vizinhos, para que fosse possível a interpolação (Figura 1). Para a simulação, foram utilizados
dois cenários, presentes no Tabela 1, onde B1 seria o mais otimista quando comparada com A2, que
prevê um aumento maior da temperatura e uma diminuição do número de chuvas.

A temperatura média do ar foi estimada e espacializada a partir de um modelo de regressão linear


múltipla tendo como variáveis dependente altitude, latitude e longitude conforme procedimentos
descritos por Oliveira et al. (2013).

Ti - temperaturas normais médias mensais;

λ - longitude da estação em graus e décimos;

? - latitude da estação em graus e décimos;

h - modelo digital de elevação;

An - coeficientes da equação de regressão.

Foram construídos mapas de zoneamentos considerando o cenário padrão a partir das normais
climatológicas de 1961-1990. Tanto o cenário otimista quanto o pessimista tiveram sofreram
alterações de temperatura e chuva (Tabela 1).

Tabela 1: Cenários de chuva e temperatura avaliados.

CENÁRIOS* PERÍODO TEMPERATURA CHUVA

Normais 1961-1990 Normais Normais

B1 2040 Até 2040 +0,5 °C -10%

B1 2070 2041 - 2070 +1,5 °C -25%

B1 2100 2071 - 2100 +3,5 °C -40%

A2 2040 Até 2040 +1,0 °C -25%

A2 2070 2041 - 2070 +2,5 °C -35%

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A2 2100 2070 - 2100 +4,5 °C -50%

*PBMC (2012)

Foram gerados mapas de temperatura e chuva para cada cenário, os quais foram cruzados para obter
os mapas de zoneamento por cenário estudado utilizando o programa Idrisi Selva©. Os mapas foram
categorizados em três classes de aptidão (Apta, Restrita e Inapta) de acordo com os índices propostos
para o caupi por Barros et al. (2012) e Andrade Júnior et al. (2002) e descritos no Tabela 2.

Tabela 2: Classes de aptidão

Aptidão Temperatura* Deficiência hídrica(**)

Apta 25 < Ta < 30 500 < Chv < 600

Restrita 15 < Ta < 25 e 30 < Ta < 35 400 < Chv < 500 e 600< Chv < 800

Inapta Ta< 15; Ta > 35 Chv <400; Chv > 800

Fonte: * FAO 33 E RAES, **EMBRAPA (2019)

RESULTADOS E DISCUSSÃO
Os cenários estudados apresentam mudanças que podem ser consideráveis, uma vez que a soja não é
uma cultura forte no estado do Ceará. Visto que em algumas situações a mudança climática pode ser
favorável para a implantação dessa cultura no estado.

O Cenário B1 - No cenário mais favorável, em 2040, percebe-se um aumento da área de cultivo na


periferia da área já cultivada, Sertão dos Inhamuns, para o ano de 2070 essa área periférica ganha
mais abrangência e para 2100, já é observado um cenário mais favorável em toda região central do
estado (Figura 1).

O Cenário A2 - No cenário menos favorável, em 2040 percebe-se a presença da cultura em todas as


regiões do estado, para o ano de 2070 apenas áreas da região norte e sul do estado serão propícias
para o cultivo, regiões essas que pelo mapa das aptidões atuais 1961-1990 são consideradas inaptas,
porém, para 2100, apenas a Região Norte do estado possuirá algumas áreas próprias tendo a maios
parte do estado como inaptas para o cultivo (Figura 1).

CONCLUSÃO
Em um cenário menos favorável para 2100 é que se identifica uma grande área inapta para o seu
cultivo, mesmo assim cerca de 50% da área do estado ainda se apresenta favorável ao cultivo com
restrições. Desta forma, pode-se concluir que é uma cultura a ser explorada, porém a longo prazo
precisa haver atenção para que sejam mitigados os riscos de inviabilidade em todo o território
estadual.

REFERÊNCIAS
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applied plant breeding. Crop Science, v. 4, n. 02, p. 503-507, 1964.

ALMEIDA, L. A.; KIIHL, R. A. S.; MIRANDA, M. A. C.; CAMPELO, G. J. A. Melhoramento da


soja para regiões de baixa latitude. In: Recursos genéticos e melhoramento de plantas para o
Nordeste brasileiro. Brasília: Embrapa Semiárido, 1999.
2452
CRUZ, C. D.; REGAZZI, A. J; CARNEIRO, P. C. S. Modelos biométricos aplicados ao
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DOORENBOS, J.; KASSAM, A. Yield response to water. Rome: FAO, 1979. 257 p. (Irrigation and
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v. 1, n. 05, p. 36-40, 1966.

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NUNES, R. P. Métodos para a Pesquisa Agronômica. Fortaleza: UFC/Centro de Ciências


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PAULA JÚNIOR, T. J.; VENZON, N. 101 culturas: manual de tecnologias agrícolas. Belo
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