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MAPEAMENTO E ANÁLISE DOS DESMATAMENTOS NO BIOMA CERRADO PARA O


PERÍODO 2004-2005
Genival Fernandes Rocha1, Laerte Guimarães Ferreira1, Nilson Clementino Ferreira1, Manuel
Eduardo Ferreira1, Joana Carolina Silva Rocha1 (1Universidade Federal de Goiás, Instituto de
Estudos Sócio-Ambientais, Laboratório de Processamento de Imagens e Geoprocessamento,
Campus II, Goiânia, GO - www.ufg.br/lapig. e-mail: gfernandesr@gmail.com)

Termos para indexação: índice de vegetação, cobertura vegetal, MODIS

Introdução
O Bioma Cerrado que ocupa cerca de 205 milhões de hectares das regiões Centro-Oeste,
Sudeste, Sul e Nordeste do país (IBGE, 2004), é considerado a savana mais rica do mundo em
termos de biodiversidade (Eiten, 1994).
Por outro lado, o Cerrado, marcado por chapadões de topografia suave e solos bem
desenvolvidos, favoráveis à atividade agropecuária, é atualmente o bioma brasileiro que tem sofrido
a maior pressão em termos de uso e ocupação do solo. Levantamentos recentes, obtidos no âmbito
da iniciativa PROBIO (MMA/CNPq/BIRD/GEF), indicam que em pouco mais de quatro décadas,
26% e 10% do território compreendido pelo bioma Cerrado foram transformados em áreas de
pastagem cultivada e agricultura, respectivamente (Sano et al., 2008).
À este cenário de profundas modificações, o surgimento de novas commodities, como é o
caso da cana-de-açúcar (etanol), certamente traz novas incertezas e eventuais ameaças. Em fato, a
demanda internacional crescente por biocombustíveis pode retomar a grande fronteira agrícola que
caracterizou a região Centro-Oeste nas décadas de 1970 e 1980, em particular, a área core do
Cerrado, aparentemente consolidada e estabilizada (Ferreira et al., 2007a).
Assim, faz-se necessário o monitoramento sistemático da cobertura vegetal do bioma
Cerrado, com vistas a se acompanhar (e, sendo o caso, minimizar) o avanço do agronegócio,
principalmente àquele associado à indústria sucroalcooleira, sobre os remanescentes de Cerrado.
Uma iniciativa importante neste sentido, que merece destaque, é o Sistema Integrado de Alerta de
Desmatamentos (SIAD) (Ferreira et al., 2007b), desenvolvido pelo Laboratório de Processamento
de Imagens e Geoprocessamento da Universidade Federal de Goiás (LAPIG / UFG).
Neste estudo, apresenta-se os dados de desmatamentos mapeados com o uso do SIAD para o
período de 2004 a 2005. Em particular, analisou-se os padrões de distribuição espacial destes
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desmatamentos ao longo de toda a área compreendida pelo bioma Cerrado, buscando verificar a
existência de tendências e áreas críticas.

Material e Métodos
O mapeamento dos desmatamentos ocorridos no período de 2004 a 2005 teve por base a
comparação de imagens índices de vegetação MODIS (produto MOD13Q1), com resolução
espacial de 250 metros (Huete et al., 2002), obtidas na primeira quinzena do mês de outubro de
2004 e 2005, respectivamente. Ao todo, foram utilizadas cinco cenas do produto MOD13Q1 (Tiles:
h13/v09, h13/v10, h13/v11, h12/v10, h12/v11).
Através do SIAD, estas imagens foram automaticamente reprojetadas para coordenadas
geográficas, filtradas para nuvens, sombras e aerossóis residuais e articuladas em mosaico. Quanto a
detecção e delimitação vetorial dos supostos desmatamentos, utilizou-se o mapa do PROBIO (Sano
et al., 2008), com vistas a se mascarar as áreas já convertidas anteriormente, e foram considerados
um limiar de mudanças de 30% (i.e. diferença mínima entre os valores NDVI relativos as datas 1 e
2, respectivamente) e uma área mínima de 50 hectares.
Em uma etapa seguinte, os polígonos definidos pelo SIAD foram submetidos a uma
detalhada inspeção visual, com o objetivo de se identificar e/ou confirmar a natureza das mudanças
detectadas, isto é, separar os desmatamentos verdadeiros dos falsos desmatamentos, também
denominados falsos-positivos ou erros de comissão. Para este fim, foram adquiridas gratuitamente,
junto ao Instituto de Nacional de Pesquisas Espaciais, 550 cenas do Satélite Sino-Brasileiro de
Recursos Terrestres (CBERS II – CCD), sendo 275 cenas para 2004 e 275 para 2005, em relação às
quais (organizadas em mosaico e composição colorida) o shapefile gerado pelo SIAD foi
sobreposto e verificado (Figura 1).
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Figura 1. Polígono de mudança gerado pelo SIAD (em amarelo) sobreposto às composições
coloridas (RGB / MIR, NIR, Red) MODIS (outubro 2003 e 2004) e CBERS (setembro
2004 e outubro 2005).

Resultados e Discussão
Com base nos parâmetros utilizados no SIAD, para o período de 2004-2005, foram gerados
16.276 polígonos, correspondendo a um total de 28.019 km2 de mudanças na vegetação. Após o
processo de inspeção visual, o número de polígonos e de áreas efetivamente desmatadas foi
reduzido para 3.771 e 6.326 km2, respectivamente.
Especificamente, e tendo por base a inspeção visual dos polígonos de desmatamentos, os
dados foram classificados em cinco categorias principais: 6.326 Km2 de desmatamentos
(verdadeiros), 11954 Km2 de falsos positivos em áreas de drenagem, 179 Km2 de falsos positivos
devido à ocorrência de nuvens, 9.376 Km2 de falsos positivos devido à sazonalidade da cobertura
vegetal e 184 Km2 de falsos positivos em áreas de uso já consolidado.
Em relação aos 10 estados e Distrito Federal que compreendem o bioma Cerrado, a área total
desmatada (desmatamentos verdadeiros) e o percentual desmatado em relação à área de Cerrado em
cada estado são mostrados na Figura 2 e Tabela 1.
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Desmatamentos Verdadeiros

1500
1200
Área (km2)

900
600
300
0
MT BA PI MA TO MG MS GO SP PR DF
Estados

Figura 2 - Distribuição das áreas (km2) de desmatamentos detectados em cada Estado.

Tabela 1. Áreas (km2) de desmatamento por Estado entre os anos de 2004 e 2005.
DESMATAMENTOS BIOMA CERRADO
2
Área (km ) % de Cerrado % da área de % da área
Área (km2)
UF de Cerrado na área dos Cerrado desmatada no
Desmatada
nos Estados Estados nos Estados Cerrado
BA 1.380 151.353 27 7,42 0,067669
DF 0 5.802 100 0,28 0
GO 252 329.592 97 16,16 0,012357
MA 831 212.550 65 10,42 0,040749
MG 481 333.714 57 16,36 0,023586
MS 288 216.372 61 10,6 0,014122
MT 1.410 358.834 40 17,59 0,06914
PI 969 93.438 37 4,58 0,047516
PR 11 3.741 2 0,18 0,000539
SP 119 81.137 33 4 0,005835
TO 617 252.799 92 12,39 0,030255

O total de desmatamentos ocorridos e detectados pelo SIAD compreende 598 dos 1383
municípios existentes no bioma Cerrado. Vale ressaltar que 60% de todo o desmatamento
detectado se concentra em apenas 50 municípios (Figura 3).
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Figura 3. Distribuição do desmatamento ocorrido no período de 2004 a 2005, por município, no


Bioma Cerrado.

Conclusões
No período de 2004 a 2005, os desmatamentos do Bioma Cerrado, conforme os dados
gerados pelo SIAD, ocorreram em 597 municípios, sendo que 60% de todo o desmatamento
detectado está restrito a 50 municípios. A alta concentração dos desmatamos, ao mesmo tempo em
que exige análises Geográficas mais detalhas quanto aos seus motivos, favorece a adoção de
políticas imediatas (ex. moratória quanto aos processos de licenciamento), com rápido retorno no
ponto de vista ambiental.
Em relação aos falsos desmatamentos (erros de comissão), constata-se que estes tendem a
prevalecer entre as detecções, ainda que os dados utilizados pelo SIAD sejam filtrados. Da mesma
forma que para as detecções verdadeiras, os falsos desmatamentos apresentam um padrão de
distribuição heterogêneo, ainda que em geral associado aos desmatamentos verdadeiros.
A expectativa é de que os resultados alcançados neste trabalho sejam agora estendidos a
outras séries temporais, de tal forma que seja possível avaliar, juntamente com os padrões espaciais,
as tendências a médio e longo prazo de futuros desmatamentos.

Agradecimentos
Este trabalho foi desenvolvido no âmbito da parceria entre o Laboratório de Processamento
de Imagens e Geoprocessamento (LAPIG – UFG) e a Conservação Internacional (CI), a qual tem
por objetivo a análise dos padrões espaciais e temporais dos desmatamentos no bioma Cerrado no
período de 2000 a 2008. O primeiro, segundo e quarto autores são bolsistas do Conselho Nacional
de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), nas categorias de mestrado, produtividade
em pesquisa (IC) e doutorado, respectivamente.

Referências bibliográficas
EITEN, G. Vegetação do Cerrado. Pp. 17-73. In: M. N. Pinto (org.). Cerrado: Caracterização,
Ocupação e Perspectivas. Editora Universidade de Brasília, Brasília, p. 17-73, 1994.

FERREIRA, N. C.; MIZIARA, F.; RIBEIRO, N. V. Preço da terra em Goiás: pressupostos e


modelos. Boletim Goiano de Geografia, v. 27 n. 1, p. 47-62, 2007a.

FERREIRA, N. C.; FERREIRA JR., L. G.; HUETE, A. R; FERREIRA, M. E. An operational


deforestation mapping system using MODIS data and spatial context analysis. International
Journal of Remote Sensing, v. 28, p. 47-62, 2007 b.

HUETE, A. R.; MIURA, T.; DIDAN, K.; RODRIGUES, E. P.; GAO, X.; FERREIRA, L. G.
Overview of the radiometric and biophysical performance of the MODIS vegetation indices.
Remote Sensing of Environment, v. 83, n. 1-2, p. 195-213, 2002.

IBGE. Mapa de biomas do Brasil. Escala 1:5.000.000. Rio de Janeiro: IBGE, 2004. Disponível
em: http://mapas.ibge.gov.br/biomas2/viewer.htm. Acesso em: 10 fev. 2007.

SANO, E. E.; ROSA, R.; BRITO J. L.; FERREIRA, L. G. Mapeamento semidetalhado (escala de
1:250.000) da cobertura vegetal antrópica do bioma Cerrado. Pesquisa Agropecuária Brasileira,
v. 43, n. 1, p. 153-156, 2008.

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