Você está na página 1de 11

Fevereiro/2024

REALIZAÇÃO
FUNDAÇÃO DE APOIO À PESQUISA AGRÍCOLA – FUNDAG
COORDENADORIA DE ASSISTÊNCIA TÉCNICA INTEGRAL – CATI
AGÊNCIA PAULISTA DE TECNOLOGIA DOS AGRONEGÓCIOS – APTA
INSTITUTO AGRONÔMICO – IAC
CONDIÇÕES HIDROMETEOROLÓGICAS NO MÊS DE FEVEREIRO
DE 2024 NO ESTADO DE SÃO PAULO – BRASIL
Orivaldo Brunini (FUNDAG); Antoniane Arantes de O. Roque (CATI/SAA); Afonso Peche Filho
(IAC/APTA/SAA); Angélica Prela Pantano (IAC/APTA/SAA); Gabriel C. Blain (IAC/APTA/SAA); Paulo
Cesar Reco (APTA Regional/SAA); Elizandra C. Gomes (FUNDAG); Giselli A. Silva (FUNDAG);
Ricardo Aguilera (FUNDAG); David Noortwick (FUNDAG); Andrew P. C. Brunini (FUNDAG); João P.
de Carvalho (IAC/APTA); Marcelo Andriosi (FUNDAG); Romilson C. M. Yamamura (IAC/APTA).

Resumo – Observa-se que várias regiões apresentaram razoável índice de


precipitação, mas a variabilidade espacial continua. Embora com a diminuição do fator El
Niño, a restrição térmica ainda continua no Estado, com valores de temperatura máxima do
ar na casa dos 38ºC em muitas regiões. Fevereiro foi mês de anomalias negativas, ou seja,
o total registrado no mês em relação à média histórica foi menor em até 160mm, em
especial nas regiões oeste e noroeste, e mesmo em parte do Vale do Ribeira e do Vale do
Paranapanema. A variabilidade da precipitação é melhor observada pelos índices de seca
meteorológicos. Em escala anual e bienal, estes índices ainda não indicam restrições
hídricas, pois levam em conta o alto volume pluviométrico do início de 2023. Esta
variabilidade de precipitação, aliada às altas temperaturas, indicam que foi negativa a
relação entre a demanda evaporativa da atmosfera estimada pela Evapotranspiração
Potencial (ETP), e o total de precipitação (P) indicado por P-ETP, refletindo alto estresse
hídrico às culturas. Somente áreas manejadas com cobertura do solo e aplicação de
técnicas de manejo conservacionistas estão adaptadas aos extremos de temperatura
ocorridos.
HYDROMETEOROLOGICAL CONDITIONS IN THE MONTH OF FEBRUARY 2024
IN THE STATE OF SÃO PAULO – BRAZIL
Summary – It is observed that several regions presented a reasonable precipitation rate, but
spatial variability continues. Although the El Niño factor has decreased, thermal restrictions
still continue in the State, with maximum air temperatures around 38ºC in many regions.
February was a month of negative anomalies, that is, the total recorded in the month in
relation to the historical average was lower by up to 160mm, especially in the west and
northwest regions, and even in part of Vale do Ribeira and Vale do Paranapanema.
Precipitation variability is best observed by meteorological drought indices. On an annual and
biennial scale, these indices do not yet indicate water restrictions, as they take into account
the high rainfall volume at the beginning of 2023. This precipitation variability, combined with
high temperatures, indicates that the relationship between the estimated evaporative
demand of the atmosphere was negative by Potential Evapotranspiration (ETP), and total
precipitation (P) indicated by P-ETP, reflecting high water stress to crops. Only areas
managed with soil cover and application of conservation management techniques are
adapted to the temperature extremes that occur.
CONDICIONES HIDROMETEOROLÓGICAS EN EL MES DE FEBRERO DE 2024 EN EL
ESTADO DE SÃO PAULO – BRASIL
Resumen – Se observa que varias regiones presentaron una tasa de precipitación
razonable, pero continúa la variabilidad espacial. Aunque el factor El Niño ha disminuido,
aún continúan las restricciones térmicas en el Estado, con temperaturas máximas del aire
alrededor de los 38ºC en muchas regiones. Febrero fue un mes de anomalías negativas, es
decir, el total registrado en el mes con relación al promedio histórico fue inferior hasta en 160
mm, especialmente en las regiones oeste y noroeste, e incluso en parte de Vale do Ribeira y
Vale do Paranapanema. . La variabilidad de las precipitaciones se observa mejor mediante
los índices de sequía meteorológica. A escala anual y bienal, estos índices aún no indican
restricciones hídricas, ya que tienen en cuenta el alto volumen de precipitaciones a
principios de 2023. Esta variabilidad de las precipitaciones, combinada con las altas
temperaturas, indica que la relación entre la demanda evaporativa estimada de la atmósfera
fue negativa por Evapotranspiración Potencial (ETP), y la precipitación total (P) indicada por
P-ETP, reflejando alto estrés hídrico en los cultivos. Sólo las áreas manejadas con cobertura
de suelo y aplicación de técnicas de manejo de conservación se adaptan a las temperaturas
extremas que ocurren.

Revisor de texto: Carlos Augusto de Matos Bernardo


1. CLIMATOLOGIA DO MÊS DE FEVEREIRO
1.1 Aspectos Gerais
Embora com atenuação do fenômeno El Niño, o Estado de São Paulo continua
apresentando uma razoável variabilidade de precipitação pluviométrica, tanto no total
registrado em algumas regiões como na variabilidade espacial.
Estas análises somente foram possíveis por meio do conjunto de dados existentes
na rede meteorológica da Secretaria de Agricultura e Abastecimento (SAA), coordenada
pelo Centro de Informações Agrometeorológicas (Ciiagro), conforme termo de parecer
assinado entre SAA, Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios (APTA) − Instituto
Agronômico (IAC) e Coordenadoria de Assistência Técnica Integral (CATI). Se enfatiza a
necessidade de que os órgãos Gestores de Recursos Hídricos colaborem na manutenção
do sistema, que é importante ferramenta de gestão das políticas de recursos hídricos
paulistas.
A Figura 1a apresenta os valores médios do total de precipitação acumulada durante
o mês de fevereiro, destacando-se as precipitações acumuladas no litoral norte e litoral sul.
Em parte do território paulista, o total pluviométrico foi, na maioria das regiões, igual ou
inferior às médias históricas do mês, destacando a variabilidade espacial deste elemento,
apresentando anomalias negativas na quase totalidade do território, como destacado na
Figura 1b, evidenciando-se precipitação inferior ao esperado, com regiões chegando a
valores em até 160mm inferiores à média histórica.

(a) (b)
Figura 1 – Variação espacial do total de precipitação pluviométrica durante todo mês (a) e anomalia
do total pluviométrico (b) em fevereiro de 2024.

A análise das condições temporais da precipitação deve estar associada às análises


das temperaturas do ar, para se avaliarem possíveis efeitos sob as condicões de
desenvolvimento das culturas e, ainda, a demanda de irrigação, pois o total mensal de
chuvas pode mascarar efeitos negativos para culturas de sistema radicular mais superficial,
em curto espaço de tempo. A este aspecto devem-se considerar as altas temperaturas
registradas em fevereiro, com valores em até 2ºC acima da média, cuja visualização das
temperaturas máximas médias é via Figura 2c, e as temperaturas máximas absolutas via
Figura 2b, destacando-se a mancha de temperatura máxima média entre 34°C e 35°C no
oeste de São Paulo, e a maior parte do território paulista apresentando máximas absolutas
entre 34°C e 38°C.
Esta alta restrição térmica, representada pelas altas temperaturas máximas
indicadas, também foi observada com relação às temperaturas mínimas médias (Figura 2d)
e, em relação às temperaturas médias (Figura 2a), comprova-se o elevado valor da
temperatura do ar aumentando a demanda hídrica às culturas.
As regiões do centro-oeste paulista são as mais impactadas pelas elevadas
temperaturas, pelo seu caráter de valores absolutos e constância em número de dias.

(a) (b)

(c) (d)
Figura 2 – Variação da temperatura média do ar (a), da temperatura máxima absoluta deste elemento
(b), da temperatura máxima média (c) e da temperatura mínima média do ar (d) em fevereiro de 2024.

2- ANÁLISES DAS CARACTERÍSTICAS DE PRECIPITAÇÃO


O Índice Padronizado de Precipitação (SPI) e o Índice Padronizado de Precipitação-
Evapotranspiração (SPEI) são os quantificadores de seca mais utilizados no planeta. O
primeiro utiliza apenas a precipitação pluvial (P) em seus cálculos, ao passo que o segundo
utiliza a diferença entre a precipitação e a evapotranspiração potencial (P-ETP).
Ambos são métodos de base probabilística, recomendados pela Organização
Mundial de Meteorologia (OMM), que apresentam séries temporais distribuídas de acordo
com a distribuição normal padrão. Essa normalização no espaço e no tempo é resultante do
conceito de seca adotado por esses dois índices, que assume que essa adversidade ocorre
quando as condições climáticas vigentes, em determinada região e período, se encontram
significativamente abaixo do que seria, em termos climatológicos, esperado para aquela
região e período.
Assim, se um total de precipitação pluvial mensal for consideravelmente inferior a
seu valor mediano (histórico), o SPI apresentará valores negativos, indicando déficit regional
de precipitação e, potencialmente, um evento de seca. Quanto menor o valor do SPI (mais
negativo), mais severa é a seca. O SPEI pode ser interpretado de forma análoga ao SPI,
substituindo-se a precipitação pela P-ETP. Nesse ponto, torna-se importante ressaltar que,
por utilizar a evapotranspiração, o SPEI consegue quantificar o efeito da temperatura
atmosférica na intensidade de um evento de seca; já o SPI não apresenta essa capacidade.
A análise meteorológica da precipitação e sua anomalia, em escala temporal de 30
dias, ou seja, indicando o mês de fevereiro, são apresentadas nas Figuras 3a e 3b. A
variabilidade da precipitação pode ser quantificada pelo SPI e SPEI, porém, ressalta-se que
as altas temperaturas e seu efeito na demanda hidrica é melhor quantificada pelo SPEI.
Neste último, com as altas temperaturas registradas, a demanda evaporativa do ar é mais
elevada, portanto, maior ETP, refletindo mais adequadamente a restrição térmica e hídrica
conjuntamente. Com o abrandamento do El Niño, os valores diários de ETP foram
reduzidos, refletindo uma ligeira redução na ETP e consequentemente, os valores do SPEI
foram menos significativos (Figura 3).

(a) (b)
Figura 3 – Variação espacial do (a) SPI e do (b) SPEI, em escala mensal, referente ao mês de
fevereiro de 2024.

Ao se contabilizarem os efeitos acumulativos de três e seis meses, temos indicação


de restrição hídrica, em especial em escala temporal de seis meses, sendo ainda mais
subjetiva no caso do SPEI, refletindo as altas temperaturas as quais afetaram o território
paulista desde junho (Figura 4). Deve-se também considerar que os próximos meses serão
de continuidade do alto nível pluviométrico, porém existe confirmação de permanência de
alto valor de El Niño, que pode manter um alto nível de precipitação, permitindo a
manutenção das reservas hídricas, não sendo, porém, descartada a possibilidade de crises
hídricas em médio prazo.

(a) (b)

(c) (d)
Figura 4 – Variação espacial do SPI (a) e do SPEI (b), em escala trimestral, e SPI (c) e SPEI (d), em
escala semestral, todas referentes ao mês de fevereiro de 2024.

Destaca-se que a indicação de valores mais negativos do SPEI (moderadamente,


severamente e extremamente seco) reflete o alto estresse térmico e, consequentemente, a
alta demanda evaporativa da atmosfera, ocasionando altos valores de evapotranspiração
potencial.
Tanto o SPI quanto o SPEI podem ser calculados em diversas escalas temporais, a
fim de fornecer informações relevantes para a análise das chamadas secas meteorológicas
(definidas por valores de precipitação inferiores à normal climatológica), agrícolas
(caracterizadas por teores de umidade do solo insuficientes para atender às demandas
evapotranspirativas das culturas) e hidrológicas (conceituadas pelo baixo nível de
reservatórios hídricos).

2.1. Escala anual e bienal


O mês de fevereiro é caracterizado como de precipitações elevadas, em
continuidade ao mês de janeiro. Assim, somente com altos valores de precipitação podemos
indicar condições de excesso hídrico e favorecimento da recarga de reservatórios, e, ainda
neste caso, as escalas de nove meses, que trazem consigo a história hídrica de médio
prazo, que não tem sido favorável (Figuras 5a e 5b).

(a) (b)

(c) (d)

(e) (f)
Figura 5 – Variação espacial do SPI (a) e do SPEI (b), em escala de 9 meses, do SPI (c), e do SPEI
(d), em escala anual, e do SPI (e), e SPEI (f), em escala bienal, todas referentes ao mês de fevereiro
de 2024.
O SPI e o SPEI podem, de certo modo, ser utilizados para considerações
hidrológicas quando utilizados em escalas temporais superiores, como 12 e 24 meses,
sendo de grande importância para a avaliação do risco climático do tempo presente e,
posteriormente, da vulnerabilidade à mudança do clima, servindo, portanto, de elementos de
planejamento. As características de estresse hídrico pelo SPEI acompanham padrões
semelhantes ao SPI (Figuras 5c e 5d). O SPEI incorpora também a evapotranspiração, o
que, de certo modo, contabiliza a água que se torna disponível realmente ao sistema, pois
considera a precipitação, menos o que é retirado do sistema pela evapotranspiração.
As condições de seca hidrológica foram eliminadas para a quase totalidade do
território paulista, quando considerados os períodos de um e dois anos, combinados com a
evapotranspiração (SPEI), diminuindo a sobrecarga no uso dos recursos hídricos. Os dados
apresentados nas Figuras 5e e 5f, para escala de tempo de 24 meses, demonstram que há
tendência de recuperação do conforto hídrico, bem como de recuperação total dos
mananciais, e, caso o fenômeno El Niño permaneça, essa recuperação será
adequadamente atendida. Porém as variabilidades de precipitação que estão a afetar o
território paulista, somadas às altas temperaturas, podem indicar a necessidade de planos
de contenção para evitar crises hídricas.

3. EFEITOS AGROCLIMÁTICOS
O mês de fevereiro apresentou uma alta variabilidade pluviométrica em quase todo o
território paulista. Esta alta variabilidade de precipitação, combinada com as temperaturas
elevadas em cerca de 2ºC acima da média, tanto para as máximas quanto para a
temperatura mínima do ar, ocasionaram problemas para culturas de ciclo curto, como o
amendoim.
As altas temperaturas trazem consigo um reflexo da interação dos raios solares
(radiação eletromagnética) com a superfície, sendo esta um dos condicionantes para a
elevação da temperatura do ar. Assim, um solo agrícola com superfície vegetada, seja por
vegetação nativa, seja por culturas agrícolas, permite uma maior reflectância da energia
incidente, protegendo o solo de variações drásticas de temperatura.
A temperatura do solo é um importante parâmetro para avaliar a assertividade do
manejo do solo e das plantas. É o parâmetro que mede o desempenho do manejo adotado
pelos produtores rurais no controle das condições hidrotérmicas do solo. É um fator crítico
no controle de um grande número de atividades físico-químicas, biológicas e
microbiológicas, bem como todo movimento de água no interior do solo é governado em
grande parte pela amplitude térmica neste. Compreender como a temperatura do solo varia
no tempo e no espaço ajuda na tomada de decisões de manejo, ressaltando-se que
qualquer elevada flutuação pode resultar em sérios problemas e causar diversos danos às
espécies cultivadas.
Na agricultura de sequeiro, a temperatura tem influência preponderante na ecologia
do solo, interferindo significativamente nas relações de fatores abióticos (físicos ou
químicos) e bióticos (organismos vivos). Na agricultura irrigada, o regime térmico condiciona
a taxa de respiração no perfil, fator fundamental para a qualidade da produção agrícola e
para uma melhor gestão do conteúdo de água do solo.
O monitoramento do regime térmico do solo pode ser realizado a partir de medições
diretas (uso de termômetros no campo), ou usando métodos indiretos, como modelagem
matemática associada ao sensoriamento remoto. Na Figura 6a é apresentada a condição
de temperatura de palhada sobre efeito dos raios solares, com valores chegando a 46°C. Na
Figura 6b se apresenta condição de temperatura do solo coberto com palhada, havendo
uma diminuição de cerca de 13°C, mostrando-se assim a proteção ocasionada por palhada,
o que é amplificado pela proteção de culturas vivas sobre o solo, pela capacidade destas em
refletir o infravermelho próximo e o médio. Na Figura 6c, mostra-se o efeito da incidência
solar sobre solo descoberto, chegando a valores que podem superar o verificado de 47°C.
O regime térmico de um solo é determinado pelo aquecimento e resfriamento da
superfície. Durante o dia, a superfície se aquece, gerando um fluxo de calor para o interior.
Durante a noite, ocorre um fluxo inverso, com o resfriamento da superfície por emissão de
radiação terrestre.

(a) (b)

(c)
Figura 6 – Temperatura coletada sobre palhada (a), temperatura de solo coberto com palhada (b) e
temperatura de solo exposto (c). Fotos do Eng. Agr. Antonio Tuca Flores, coletadas com termômetro
laser digital e monitor climático às 14h.

O manejo da temperatura está intimamente relacionado com o tipo de solo, com a


textura, a estrutura e teor de matéria orgânica. Os solos arenosos tendem a apresentar
maiores amplitudes térmicas diárias nas camadas superficiais e menores em profundidade.
Os solos argilosos, por sua vez, apresentam maior eficiência na condução de calor, tendo
menor amplitude térmica diária.
Assim, áreas que estejam manejadas com a garantia de solos cobertos têm uma
maior capacidade de adaptação às condições extremas de temperatura e precipitação
expostas, permitindo melhores ambientes produtivos para as culturas agrícolas plantadas.
Na Figura 7, são apresentadas as temperaturas médias observadas para nove
localidades paulistas e o respectivo comparativo com a média climatológica da localidade
em fevereiro. Verificam-se a permanência de dias de elevada temperatura e os picos
ocorridos no final da primeira e última quinzena. Tais temperaturas elevadas impactaram
negativamente as explorações agropecuárias, somando-se ao já acumulado impacto
demonstrado em boletins anteriores e reforçando as condições críticas e de emergência
climática que trouxeram as quebras de safra em São Paulo.
Em ambientes tropicais, a qualidade da cobertura vegetal (morta ou viva) condiciona
a capacidade produtiva em função da estabilidade térmica da lavoura. Solos sem cobertura
ficam sujeitos a grandes variações térmicas diárias nas camadas superficiais, prejudicando
o desempenho fisiológico das plantas. Mesmo em solos cobertos, quando ocorre falta de
uniformidade e regularidade da “manta protetora”, a grande variabilidade térmica interfere
negativamente na otimização tecnológica, podendo comprometer a rentabilidade da lavoura.
Figura 7 – Temperatura média do ar (°C) e média climatológica em fevereiro de 2024
Ressalta-se que as altas temperaturas, em fevereiro, agregadas às registradas
desde junho, demonstram uma grave situação de demanda evaporativa, como os gráficos
da Figura 8 demonstram.

Figura 8 - Estimativa diária pelo método de Camargo e valores climatológicos médios em fevereiro de
2024.

Destaca-se que o impacto não foi somente o alto valor da temperatura média
comparada com a média climatológica do mês (Figura 7), cujos valores atuais foram de 1ºC
a 2,5ºC acima da média histórica, mas a evapotranspiração estimada, com valores
marcadamente acima da média climatológica do mês (Figura 8) e a constância de dias
seguidos destes eventos no mês.
Embora em grande parte do âmbito paulista o total de precipitação indique melhoria
nas condições para as culturas, deve-se ressaltar que será difícil recuperar a umidade do
solo necessária para o desenvolvimento da grande parte das culturas agrícolas, pois o
conjunto de estresse térmico ocorreu em fases críticas, como para soja e amendoim. A
estimativa da umidade média do perfil do solo até uma profundidade de 30cm é
apresentada, desde novembro, na Figura 9, a qual indica que a reserva hídrica não era
suficiente para atender à alta demanda hídrica imposta às culturas.
Os mapas apresentados na Figura 9 descrevem que, em média, desde novembro de
2023, pouca recuperação na reserva hídrica do solo foi observada. Importante o destaque
para trabalhos da SAA, de 1973, os quais mostram que uma condição de água disponível no
solo (AD), acima de 80%, condiciona a evapotranspiração real (ETR) como igual à
evapotranspiração potencial (ETP), porém, conforme a AD diminui, a ETR também diminui,
tendo-se valores de ETP duas vezes superiores à ETR para AD a 50%, e ETP três vezes
superiores à ETR, com AD em 40%. Os valores que indicam cm³ de água, por cm³ de solo,
são correlacionáveis com a Capacidade de Campo dos Solos, que pode variar de
0,28cm³/cm³ a 0,38 cm³/cm³, sendo a parte noroeste paulista acima de 0,25cm³/cm³ e a
região do Paranapanema e Pardo-Grande acima de 0,35cm³/cm³.
(a) (b)

(c) (d)
Figura 9 - Estimativa da umidade média do solo no perfil (de 0 a 30cm), no período de 11 a 15 de
novembro de 2023 (a); período de 11 a 15 de dezembro de 2023 (b); 11 a 15 de janeiro (c); e 11 a 15
de fevereiro de 2024 (d).

4. CONCLUSÕES
Fevereiro foi mês com temperaturas acima da média histórica e precipitação inferior
às médias em grande parte do território paulista. O fenômeno El Niño, embora em fase de
redução, ainda trouxe efeitos com elevadas temperaturas e impacto em estágios de
florescimento de culturas recém-plantadas, afetando ainda diversas culturas, em especial
soja e amendoim.
Há indicativos de continuidade de temperaturas elevadas, inclusive com formação de
ondas de calor, conforme modelo apresentado na Figura 10.

Figura 10 – Previsão do Instituto Nacional de Meteorologia (INMET), modelo COSMO (7x7km), para
a temperatura máxima do ar (°C) em 2m, para o dia 18 de março, baseado nas condições do dia 13
de março. Valores em graus Celsius.

Você também pode gostar