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REALIZAÇÃO
FUNDAÇÃO DE APOIO À PESQUISA AGRÍCOLA – FUNDAG
COORDENADORIA DE ASSISTÊNCIA TÉCNICA INTEGRAL – CATI
AGÊNCIA PAULISTA DE TECNOLOGIA DOS AGRONEGÓCIOS – APTA
INSTITUTO AGRONÔMICO – IAC
CONDIÇÕES HIDROMETEOROLÓGICAS NO MÊS DE FEVEREIRO
DE 2024 NO ESTADO DE SÃO PAULO – BRASIL
Orivaldo Brunini (FUNDAG); Antoniane Arantes de O. Roque (CATI/SAA); Afonso Peche Filho
(IAC/APTA/SAA); Angélica Prela Pantano (IAC/APTA/SAA); Gabriel C. Blain (IAC/APTA/SAA); Paulo
Cesar Reco (APTA Regional/SAA); Elizandra C. Gomes (FUNDAG); Giselli A. Silva (FUNDAG);
Ricardo Aguilera (FUNDAG); David Noortwick (FUNDAG); Andrew P. C. Brunini (FUNDAG); João P.
de Carvalho (IAC/APTA); Marcelo Andriosi (FUNDAG); Romilson C. M. Yamamura (IAC/APTA).
(a) (b)
Figura 1 – Variação espacial do total de precipitação pluviométrica durante todo mês (a) e anomalia
do total pluviométrico (b) em fevereiro de 2024.
(a) (b)
(c) (d)
Figura 2 – Variação da temperatura média do ar (a), da temperatura máxima absoluta deste elemento
(b), da temperatura máxima média (c) e da temperatura mínima média do ar (d) em fevereiro de 2024.
(a) (b)
Figura 3 – Variação espacial do (a) SPI e do (b) SPEI, em escala mensal, referente ao mês de
fevereiro de 2024.
(a) (b)
(c) (d)
Figura 4 – Variação espacial do SPI (a) e do SPEI (b), em escala trimestral, e SPI (c) e SPEI (d), em
escala semestral, todas referentes ao mês de fevereiro de 2024.
(a) (b)
(c) (d)
(e) (f)
Figura 5 – Variação espacial do SPI (a) e do SPEI (b), em escala de 9 meses, do SPI (c), e do SPEI
(d), em escala anual, e do SPI (e), e SPEI (f), em escala bienal, todas referentes ao mês de fevereiro
de 2024.
O SPI e o SPEI podem, de certo modo, ser utilizados para considerações
hidrológicas quando utilizados em escalas temporais superiores, como 12 e 24 meses,
sendo de grande importância para a avaliação do risco climático do tempo presente e,
posteriormente, da vulnerabilidade à mudança do clima, servindo, portanto, de elementos de
planejamento. As características de estresse hídrico pelo SPEI acompanham padrões
semelhantes ao SPI (Figuras 5c e 5d). O SPEI incorpora também a evapotranspiração, o
que, de certo modo, contabiliza a água que se torna disponível realmente ao sistema, pois
considera a precipitação, menos o que é retirado do sistema pela evapotranspiração.
As condições de seca hidrológica foram eliminadas para a quase totalidade do
território paulista, quando considerados os períodos de um e dois anos, combinados com a
evapotranspiração (SPEI), diminuindo a sobrecarga no uso dos recursos hídricos. Os dados
apresentados nas Figuras 5e e 5f, para escala de tempo de 24 meses, demonstram que há
tendência de recuperação do conforto hídrico, bem como de recuperação total dos
mananciais, e, caso o fenômeno El Niño permaneça, essa recuperação será
adequadamente atendida. Porém as variabilidades de precipitação que estão a afetar o
território paulista, somadas às altas temperaturas, podem indicar a necessidade de planos
de contenção para evitar crises hídricas.
3. EFEITOS AGROCLIMÁTICOS
O mês de fevereiro apresentou uma alta variabilidade pluviométrica em quase todo o
território paulista. Esta alta variabilidade de precipitação, combinada com as temperaturas
elevadas em cerca de 2ºC acima da média, tanto para as máximas quanto para a
temperatura mínima do ar, ocasionaram problemas para culturas de ciclo curto, como o
amendoim.
As altas temperaturas trazem consigo um reflexo da interação dos raios solares
(radiação eletromagnética) com a superfície, sendo esta um dos condicionantes para a
elevação da temperatura do ar. Assim, um solo agrícola com superfície vegetada, seja por
vegetação nativa, seja por culturas agrícolas, permite uma maior reflectância da energia
incidente, protegendo o solo de variações drásticas de temperatura.
A temperatura do solo é um importante parâmetro para avaliar a assertividade do
manejo do solo e das plantas. É o parâmetro que mede o desempenho do manejo adotado
pelos produtores rurais no controle das condições hidrotérmicas do solo. É um fator crítico
no controle de um grande número de atividades físico-químicas, biológicas e
microbiológicas, bem como todo movimento de água no interior do solo é governado em
grande parte pela amplitude térmica neste. Compreender como a temperatura do solo varia
no tempo e no espaço ajuda na tomada de decisões de manejo, ressaltando-se que
qualquer elevada flutuação pode resultar em sérios problemas e causar diversos danos às
espécies cultivadas.
Na agricultura de sequeiro, a temperatura tem influência preponderante na ecologia
do solo, interferindo significativamente nas relações de fatores abióticos (físicos ou
químicos) e bióticos (organismos vivos). Na agricultura irrigada, o regime térmico condiciona
a taxa de respiração no perfil, fator fundamental para a qualidade da produção agrícola e
para uma melhor gestão do conteúdo de água do solo.
O monitoramento do regime térmico do solo pode ser realizado a partir de medições
diretas (uso de termômetros no campo), ou usando métodos indiretos, como modelagem
matemática associada ao sensoriamento remoto. Na Figura 6a é apresentada a condição
de temperatura de palhada sobre efeito dos raios solares, com valores chegando a 46°C. Na
Figura 6b se apresenta condição de temperatura do solo coberto com palhada, havendo
uma diminuição de cerca de 13°C, mostrando-se assim a proteção ocasionada por palhada,
o que é amplificado pela proteção de culturas vivas sobre o solo, pela capacidade destas em
refletir o infravermelho próximo e o médio. Na Figura 6c, mostra-se o efeito da incidência
solar sobre solo descoberto, chegando a valores que podem superar o verificado de 47°C.
O regime térmico de um solo é determinado pelo aquecimento e resfriamento da
superfície. Durante o dia, a superfície se aquece, gerando um fluxo de calor para o interior.
Durante a noite, ocorre um fluxo inverso, com o resfriamento da superfície por emissão de
radiação terrestre.
(a) (b)
(c)
Figura 6 – Temperatura coletada sobre palhada (a), temperatura de solo coberto com palhada (b) e
temperatura de solo exposto (c). Fotos do Eng. Agr. Antonio Tuca Flores, coletadas com termômetro
laser digital e monitor climático às 14h.
Figura 8 - Estimativa diária pelo método de Camargo e valores climatológicos médios em fevereiro de
2024.
Destaca-se que o impacto não foi somente o alto valor da temperatura média
comparada com a média climatológica do mês (Figura 7), cujos valores atuais foram de 1ºC
a 2,5ºC acima da média histórica, mas a evapotranspiração estimada, com valores
marcadamente acima da média climatológica do mês (Figura 8) e a constância de dias
seguidos destes eventos no mês.
Embora em grande parte do âmbito paulista o total de precipitação indique melhoria
nas condições para as culturas, deve-se ressaltar que será difícil recuperar a umidade do
solo necessária para o desenvolvimento da grande parte das culturas agrícolas, pois o
conjunto de estresse térmico ocorreu em fases críticas, como para soja e amendoim. A
estimativa da umidade média do perfil do solo até uma profundidade de 30cm é
apresentada, desde novembro, na Figura 9, a qual indica que a reserva hídrica não era
suficiente para atender à alta demanda hídrica imposta às culturas.
Os mapas apresentados na Figura 9 descrevem que, em média, desde novembro de
2023, pouca recuperação na reserva hídrica do solo foi observada. Importante o destaque
para trabalhos da SAA, de 1973, os quais mostram que uma condição de água disponível no
solo (AD), acima de 80%, condiciona a evapotranspiração real (ETR) como igual à
evapotranspiração potencial (ETP), porém, conforme a AD diminui, a ETR também diminui,
tendo-se valores de ETP duas vezes superiores à ETR para AD a 50%, e ETP três vezes
superiores à ETR, com AD em 40%. Os valores que indicam cm³ de água, por cm³ de solo,
são correlacionáveis com a Capacidade de Campo dos Solos, que pode variar de
0,28cm³/cm³ a 0,38 cm³/cm³, sendo a parte noroeste paulista acima de 0,25cm³/cm³ e a
região do Paranapanema e Pardo-Grande acima de 0,35cm³/cm³.
(a) (b)
(c) (d)
Figura 9 - Estimativa da umidade média do solo no perfil (de 0 a 30cm), no período de 11 a 15 de
novembro de 2023 (a); período de 11 a 15 de dezembro de 2023 (b); 11 a 15 de janeiro (c); e 11 a 15
de fevereiro de 2024 (d).
4. CONCLUSÕES
Fevereiro foi mês com temperaturas acima da média histórica e precipitação inferior
às médias em grande parte do território paulista. O fenômeno El Niño, embora em fase de
redução, ainda trouxe efeitos com elevadas temperaturas e impacto em estágios de
florescimento de culturas recém-plantadas, afetando ainda diversas culturas, em especial
soja e amendoim.
Há indicativos de continuidade de temperaturas elevadas, inclusive com formação de
ondas de calor, conforme modelo apresentado na Figura 10.
Figura 10 – Previsão do Instituto Nacional de Meteorologia (INMET), modelo COSMO (7x7km), para
a temperatura máxima do ar (°C) em 2m, para o dia 18 de março, baseado nas condições do dia 13
de março. Valores em graus Celsius.