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Graus-dias acumulados e índice de área foliar para a cultura do melão

em Mossoró-RN
Vágna da Costa Pereira1, Ramon Yogo M. Vieira2, José Espinola Sobrinho3, Alexsandra
Duarte de Oliveira3, Edmilson G. Cavalcante Junior4, Bruno M. de Almeida4, Valéria P.
Borges5, Francisca Gleiciane da Silva2, Ítala Alves de Oliveira2
1
Aluna de graduação em agronomia, bolsista do PICI/UFERSA, Universidade Federal Rural do Semi-Árido,
Mossoró-RN, Fone(s): (84) 3315-1798. E-mail: vagna_jp@hotmail.com
2
Alunos de graduação, Universidade Federal Rural do Semi-Árido, Mossoró-RN.
3
Eng. Agrônomo, Professor(a). Doutor (a), DCAT/UFERSA, Mossoró-RN.
4
Mestrando em Irrigação e Drenagem, UFERSA, Mossoró-RN.
5
Doutoranda em Meteorologia, UFCG, Campina Grande-PB.

Accumulated degree days and leaf area index for the melon crop in
Mossoró-RN

ABSTRACT: The present study was conducted at Fazenda Pedra Preta, on Mossoró - RN,
with the objective of to quantify the sum of accumulated degree days and leaf area index in
the subperiods emergency-flowering, flowering - fruiting and fruiting - picking for the melon
crop cultivar Medellín. The phenological data were collected in the period from August 24 to
October 15, 2009. The temperature values used were obtained from a meteorological station
installed in the experimental area, were determined by the thermal sums of equations
proposed by Villa Nova et al. (1972), which found that on average are required 415 degree-
days accumulated to for melon complete its cycle until harvest, corresponding to a total of 52
days after planting. The leaf area index (LAI) and total dry mass were highly correlated with
the GDA for a second degree polynomial model.

KEYWORDS: Cucumis Melo, L., temperature air, sum thermal.

1. INTRODUÇÃO: O melão é uma olerícola pertencente à família Cucurbitácea, espécie


Cucumis Melo, L. Atualmente, é a oitava fruta mais produzida no mundo, está entre as dez
mais exportadas, com mercado internacional estimado em mais de 1,6 milhões de toneladas
por ano (CARVALHO, 2006). O estado do Rio Grande do Norte é considerado o maior
produtor e exportador de melão (Cucumis melo L.) do Brasil, se tornando uma das principais
culturas irrigadas do estado (Figueirêdo, 2007). Os processos fisiológicos responsáveis pelo
crescimento e produtividade das plantas cultivadas são diretamente influenciados pelos
fatores climáticos. O meloeiro é considerado uma planta exigente em termos de radiação solar
e temperatura. Crisóstomo et al.(2002) falam que entre os fatores climáticos que afetam
diretamente a cultura do meloeiro, o principal é a temperatura, tanto do ar quanto do solo, por
influenciar desde a germinação das sementes até a qualidade final do fruto, sendo a faixa
ótima de 20 a 30ºC. Um dos métodos utilizados para relacionar a temperatura do ar e o
desenvolvimento vegetal é o de graus-dia acumulados (GDA) que baseia-se na premissa de
que uma planta necessita de certa quantidade de energia, representada pela soma de graus
térmicos necessários, para completar determinada fase fenológica ou mesmo o seu ciclo total.
A sua aplicabilidade é indicada quando a temperatura é o grande fator determinante da taxa de
desenvolvimento, não existindo limitações de outros fatores ambientais para esse processo
(MORAIS et al., 2010). Um importante parâmetro de observação do desenvolvimento cultural
é o índice de área foliar (IAF), definido como a razão entre a área foliar de uma população de
plantas e a área de solo por ela ocupada. Frente à falta de informação na literatura sobre o
comportamento fisiológico do meloeiro associado às variações climáticas e visando contribuir
para melhor entendimento dos fatores envolvidos na relação planta-ambiente, este trabalho
teve como objetivo quantificar os graus-dia acumulados para diferentes subperíodos de
desenvolvimento e o índice de área foliar do meloeiro na presença de cobertura plástica
(cinza) do solo, em Mossoró-RN.

2. MATERIAL E MÉTODOS: O presente estudo foi conduzido na Fazenda Pedra Preta, em


Mossoró – RN (latitude; 5° 12’ 48’’ longitude 37° 18’ 44’’ W; altitude de 37 metros). De
acordo com a classificação climática de Köppen, o clima de Mossoró é do grupo BSwh’, isto
é, tropical semi-árido muito quente e com estação chuvosa no verão atrasando-se para o
outono, apresentando temperatura média de 27,4o C, precipitação pluviométrica anual muito
irregular,com média de 673,9 mm e umidade relativa do ar de 68,9% (CARMO FILHO e
OLIVEIRA, 1995). Os dados de temperatura do ar, mínimas e máximas foram obtidos da
estação meteorológica automática, instalada na área do experimento, durante o período de 24
de agosto a 15 de outubro de 2009. O experimento foi realizado em uma área de 5,0 ha,
cultivada com melão da variedade Medelín, com espaçamento de 2,0 m entre fileiras x 0,4 m
entre plantas. O sistema de irrigação utilizado foi por gotejamento sendo a cultura conduzida
sobre o mulch (cinza), colocado previamente nos camalhões, e os tratos culturais adotados
foram adubação, controle de pragas e doenças e manejo da irrigação. O crescimento da
cultura foi avaliado por meio de coletas que começaram no dia 08 de setembro de 2009, 15
dias após a emergência, e as coletas subseqüentes realizadas em intervalos de 7 dias, com
plantas sorteadas na área. Para se determinar a área foliar (AF), utilizou-se um integrador de
área, marca LI-COR, modelo LI-3100. O índice de área foliar foi calculado pela relação entre
AF e área útil de cada planta, sendo coletadas três plantas, com a finalidade de avaliar a
existência de variação entre as mesmas. Por ocasião da coleta, as plantas foram cortadas rente
ao solo e colocadas em sacos plástico, sendo posteriormente acondicionadas em isopor com
gelo e transportadas para o Laboratório do Departamento de Ciências Ambientais/UFERSA,
onde foram realizadas as análises, sendo o crescimento caracterizado pelo número de folhas
(NF) e área foliar (AF). A matéria seca total foi obtida por secagem e posterior pesagem de
caule, folha, flor e fruto, em balança com precisão de 0,01g. Os graus-dia acumulados (GDA)
da emergência (24/08/2009) até a colheita do melão (15/10/2009), foram determinados
utilizando a planilha eletrônica do Excel, a partir do estudo de caso entre temperaturas
máxima, mínima, base inferior e superior da cultura, que foi considerada como 16 e 35ºC
(SEED NEWS, 2000), e utilizadas de acordo com equações propostas por Villa Nova et al.
(1972).
CASO I – dias em que tN > tI e tX < tS

CASO II – dias em que tN ≤ tI e tX< tS

CASO III – dias em que tN > tI e tX > tS

CASO IV – dias em que tN ≤ tI e tX > tS


em que:
GD grau-dia acumulado desde a emergência até a colheita, em ºC dia;
tN temperatura mínima do dia; tX temperatura máxima do dia.
tI temperatura basal inferior da cultura, em ºC e
tS temperatura basal superior da cultura, em ºC.

3. RESULTADOS E DISCUSSÃO: A Figura 1 apresenta a variação de temperatura do ar


para o período analisado. Observa-se que os valores diários de temperatura máxima foram
inferiores a 35ºC, enquanto que não ocorreram temperaturas mínimas abaixo da temperatura
base. A temperatura média do ar durante todo o período estudado foi entorno de 25ºC.

40 T m ax T m in

35
Tem p er atur a (ºC)

30

25

20

15

10
236 241 246 251 256 261 266 271 276 281 286
Dia Juliano

Figura 1. Temperaturas máximas e mínimas durante o ciclo do melão.


A disponibilidade térmica no período estudado para o município de Mossoró-RN foi de
aproximadamente 1360 °C. A Tabela 1 apresenta os valores de graus-dias acumulados do
plantio até a primeira colheita do melão, totalizando 415 graus-dias acumulados (GDA)
durante o ciclo (52 dias). Segundo Oliveira et al. (2009) trabalhando com diferentes cultivares
de berinjela, na região de Seropédica-RJ, encontraram um total de 416 e 522 GDA para as
cultivares Ciça e Beriló respectivamente. A Figura 2 relaciona dias após o plantio com graus-
dia acumulados (GDA) e IAF da cultura do melão. No IAF, observou-se um decréscimo no
crescimento da planta após atingir seu valor máximo, que pode ser explicado devido ao inicio
da senescência da cultura. O valor máximo de IAF observado foi de 3,45 quando a cultura
estava com 45 após o plantio, resultado próximo encontrado por Costa et al. (2006) que foi de
4,56, tal diferença pode ser explicada no referido trabalho por estar relacionada com um
menor espaçamento utilizado entre plantas, que resulta em uma menor área útil de cada
planta. Morais et al. (2010) avaliando o IAF em diferentes cores de mulch, obtiveram um
valor máximo de 1,98 para a mesma cultura e condições climáticas, em um solo com
cobertura plástica amarela. A variação da matéria seca e do índice de área foliar da cultura do
melão, ajustados pelos modelos, encontram-se representados nas Figuras 3 e 4,
respectivamente, em função dos graus-dias (GDA). Observou-se elevada correlação entre as
variáveis analisadas com GDA, utilizando-se um modelo polinomial de segundo grau, que
segundo Oliveira et al. (2008) é o adequado para essa cultura. É possível verificar que houve
um crescimento exponencial da material seca até a primeira colheita, enquanto para o IAF
esse crescimento se deu até próximo aos 350 GDA com posterior decréscimo justificado pela
senescência foliar.
IAF GD A

4 600
3,5
500
3
400
2,5

GD A
IAF 2 300
1,5
200
1
100
0,5
0 0
10 15 17 24 31 38 45 52
DAP

Figura 2. Índice de Área Foliar e graus-dias em função do número de dias após o plantio para
a cultura do melão.

800 4
IAF = -4E-05GDA 2 + 0,0328GDA - 2,9822
700 MST = 0,0025GDA 2 + 0,962GDA - 144,13
3,5 R² = 0,9575
Ma tér ia sec a Total (g)

R² = 0,9768
Ìndi ce de Àr es fol iar

600 3
500 2,5
400 2
300 1,5
200 1
100 0,5
0 0
50 150 250 350 450 50 150 250 350 450
Graus-dia acumulado (°C) Graus-dia acumulado (°C)
Figura 3. Modelo ajustado para descrever Figura 4. Modelo ajustado para descrever
matéria seca total acumulada pelo meloeiro o IAF da cultura do melão em função de
em função de graus-dias acumulados. graus-dias acumulados.

Tabela 1. Graus-dia acumulados e número de dias correspondente para cada subperíodo do


melão, cultivar Medelin, em Mossoró-RN, 2009.

Subperíodos GDA DAP


Emergência-Floração 129,2 15
Floração-Frutificação 70,7 9
Frutificação-1ª Colheita 215,5 28
Total 415 52

4. CONCLUSÕES: Constatou-se que a localidade onde foi conduzido este estudo apresentou
disponibilidade térmica adequada ao bom desenvolvimento da cultura do melão. A soma
térmica ou graus-dias acumulados (GDA), necessários desde a emergência até a primeira
colheita, para o meloeiro, híbrido Medelín é de 415 GDA. O Índice de área foliar e matéria seca
do melão podem ser estimados a partir de modelos de relação com a temperatura média do ar,
através do acúmulo de graus-dias. O valor máximo do índice de área foliar encontrado foi de
3,45, alcançado aos 45 dias após o plantio.
5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:

CARMO FILHO F.; OLIVEIRA O. F. 1995. Mossoró: um município do semi-árido


nordestino, caracterização climática e aspecto florístico. Mossoró: ESAM, (Coleção
Mossoroense, Série B) 62p.
CARVALHO, L. C. C. de, Evapotranspiração e Coeficientes de Cultivo do Melão Sob
Diferentes Lâminas de Irrigação. 2006. 73 p. Tese (Mestrado em Irrigação e Drenagem),
CCA, UFC, Fortaleza-CE.
COSTA, C. C.; CECÍLIO FILHO, A. B.; REZENDE, B. L. A.; BARBOSA, J. C.
Crescimento e partição de assimilados em melão cantaloupe em função de concentrações de
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CRISÓSTOMO, L. A.; SANTOS, A. A.; FARIA, C. M. B.; SILVA, D. J.; FERNANDES,F.
A. M.; SANTOS, F. J. S.; CRISÓSTOMO, J. R.; FREITAS, J. A. D.; HOLANDA, J. S.;
CARDOSO, J. W.; COSTA, N. D. Adubação, irrigação, híbridos e práticas para o
meloeiro no Nordeste. Fortaleza: EMBRAPA, 2002, 22p. (Circular Técnica, 14).
FIGUEIRÊDO, V. B. et al. Análise de crescimento do melão orange flesh submetido a
diferentes níveis salinidade e doses nitrogênio. In XVII Congresso Nacional de Irrigação e
Drenagem. Anais..., Mossoró, RN, 2007. CD-Rom.
MORAIS, E. R. C. de. et al. Crescimento e produtividade do meloeiro Torreon influenciado
pela cobertura do solo. Acta Scientiarum. Agronomy. Maringá, v. 32, n. 2, p. 301-308,
2010.
OLIVEIRA, A. D. de.; et al. Graus dias acumulados para a berinjela em Seropédica-RJ. XVI
Congresso Brasileiro de Agrometeorologia. Anais... Belo Horizonte, MG. 2009, CD Rom.
OLIVEIRA, F. de. A. de. et al. Crescimento do meloeiro gália fertirrigado com diferentes
doses de nitrogênio e potássio. Revista Caatinga, Mossoró, v.21, n.3, p168-173,
julho/setembro de 2008.

VILLA NOVA, N.A. A. ET Al. Estimativa de graus dia acumulados acima de qualquer
temperatura base, em função das temperaturas máxima e mínima. São Paulo: Instituto de
Geografia, USP, 1972. 8p. (Caderno de ciência da terra, n.30).

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