POR ANGEL MCCOY, MATTHEW

MCFARLAND, JOSHUA MOSQUEIRA‐ASHEIM,

AARON ROSENBERG E LUCIEN SOULBAN
CRÉDITOS
Escrito por: Angel McCoy, Matthew McFarland,
Joshua Mosqueira­Asheim, Aaron Rosenberg e Lucien
Soulban
Material Adicional: Alan I. Kravit
Desenvolvido por: Justin Achilli
Editor: Carl Bowen
Diretor de Arte: Richard Thomas
Layout e Tipografia: Becky Jollensten
Arte Interior: Mike Danza, Troy Nixey e Christopher Shy
Arte da Capa: Christopher Shy
Design da Capa e Contracapa: Becky Jollensten
 Índice
Introdução: Algo Perverso Vem por este Caminho 6
Capítulo Um: Pecados da Moralidade 10
Capítulo Dois: Pecados da Sociedade 38
Capítulo Três: Pecados da Discrição 62
Capítulo Quatro: Pecados de Poder 84
Apêndice: Uma Conspiração de Pecadores 104
 ATRÁS DE TODA GRANDE FORTUNA HÁ UM CRIME.
— HONORÉ DE BALZAC

A heresia abunda nas noites modernas, seja decorrente da imoralidade ou da

amoralidade. Essas heresias, esses tabus, transcendem questões de fé. São crimes
cometidos nas horas mais sombrias por vilões, filhos egoístas de Caim. Para alguns, o
tabu é apenas uma transgressão contra a ordem social, enquanto, para outros, até
mesmo a menor violação do legado milenar dos Amaldiçoados é a questão mais grave,
merecedora da Morte Final. As heresias contidas aqui — os pecados do próprio
Sangue — assumem muitas formas. São Trilhas rápidos para o poder? São rebeliões
contra o costume antigo dos Amaldiçoados? São heresias contra a natureza perversa
dos Amaldiçoados — pecados cometidos em nome da redenção? Apenas uma resposta
é universalmente verdadeira: Estes segredos são renúncias abertas à cultura que cerca
os mortos­vivos. Bem­vindo ao caminho solitário.
 I ntrodução: A lg o
Perverso ve m p or
este Cam i nho
Um herege é um homem que vê com seus próprios olhos.
— Gotthold Ephraim Lessing
Para alguns Amaldiçoados, “meramente” ser
Amaldiçoado não é suficiente. Aqui nas Noites Finais, com o
mundo acelerando rapidamente em direção a uma Gehenna
aparentemente inevitável, tempos desesperados exigem
medidas desesperadas. Os Amaldiçoados patrocinam cultos,
negociam com entidades espirituais malévolas e adotam
anátemas como seus códigos de moralidade. Mas por quê?
É fácil descartar tais coisas como as ações de
Amaldiçoados “malvados”. É fácil aceitar que os
Amaldiçoados são a prole do Diabo, propensos à atrocidade e
inerentemente falhos. De fato, até certo ponto, essas coisas
são verdadeiras. Um Membro que não resiste à sua natureza
inevitavelmente se encontrará nas garras da Besta.
Obviamente, como a presença de seitas e sociedades
evidencia, nem todos os Amaldiçoados acabam
enlouquecidos pela sede, se levantando à noite apenas para
matar. Esses Amaldiçoados são os exemplares que se
elevaram acima de serem monstros — mesmo que
temporariamente. Esses Filhos de Caim provam que a
Maldição pode ser resistida enquanto se tem a força e a
vontade para mantê­la à distância. Esperançosamente, seus
personagens estão entre esses Membros.
Mas nem sempre é assim. O fatalismo cobra seu preço
de todos os Membros, e alguns carregam suas marcas mais
gravemente do que outros. Se o mundo está condenado,
esses Amaldiçoados raciocinam, por que resistir? Por que não
se entregar ao que você deseja? Sem a força de vontade para
se fortalecer contra a Besta, esses Membros se encontram
consumidos por ela. Filhos indolentes e sem propósito das
noites modernas muitas vezes ressentem a não­vida para a
qual foram arrastados, e os anciãos finalmente sucumbem ao
peso de incontáveis anos e estalam.
Introdução: Algo Perverso vem por este Caminho
7
E quanto àqueles, porém, que verdadeiramente se
colocam fora do mundo dos Membros. É uma coisa
aterrorizar sua fonte antes de se alimentar; é outra coisa
completamente diferente buscar ativamente o sabor
emocionante do Amaranto. Quando alguém rejeita os
costumes do mundo Cainita consciente e consistentemente,
ele se torna algo diferente de um Membro venal. Ele se torna
um Herege.
Fazendo Contar
É isso que torna Pecados de Sangue necessário. Estas
são as heresias que aqueles que estão comprometidos em
rejeitar a sociedade dos Membros observam. Qualquer um
pode ser iconoclasta; é preciso uma pessoa única para ser
devotamente diferente.
Para esse fim, este livro não é uma lista de vilões para
derrotar. Na escala moral cinzenta que o Vampiro observa,
esses Membros podem até estar certos em certas convicções,
mesmo que outras partes de seu credo sejam totalmente
aberrantes para o resto do mundo. Os jogos de Vampiro
mais complexos não têm mocinhos ou bandidos bem
definidos — cada Membro é avaliado pelos méritos de suas
ações individuais. O Sabá ainda mais voraz pode optar por
resgatar uma criança de um prédio em chamas. Um Toreador
asceta passando fome para negar a Besta e reduzir suas
predações sobre o rebanho mortal pode perder a força para
lutar contra a fome uma noite e deixar um casal recém­casado
encharcado em seu próprio sangue.
Mesmo após colocar um Membro em uma posição de
responsabilidade por suas próprias ações, o Vampiro também
é responsável pelas motivações desses personagens. Esse é o
ponto crucial da degeneração, da Humanidade e das Trilhas
da Sabedoria. Um personagem que simplesmente “não faz o
mal” não se torna mais “bom”. Uma personagem tem que
sentir remorso genuíno, para lutar seriamente contra o
animal dentro dela. Aquele Sabá que salvou a criança do fogo
— ele fez isso para preservar a vida dela, ou fez isso porque
deixá­la seria um desperdício de vitae que ele poderia ter para
si?
Estes são os tipos de situações que “Pecados do
Sangue” propõe. Esses inimigos não são personagens de
papelão para serem derrubados. Eles são personagens
pensantes e vitais que empreenderam alguma ação ou
filosofia que o resto da sociedade dos mortos­vivos rejeitou.
Aplique essas ideias gerais a personagens específicos. Deixe os
resultados que discutimos aqui serem os resultados dos
motivos que seus personagens específicos abrigam.
Pense nisso. Os antagonistas com os quais você povoa
suas histórias podem ser os anti­heróis convincentes de outra
crônica. Este livro é para jogadores e narradores. Não
queremos sugerir que cada personagem conheça todos os
segredos deste livro — longe disso. O que queremos dizer é
que um personagem de jogador que adota uma das filosofias
pode ser tão gratificante de retratar quanto um rival que
defende essa filosofia seria superar. Considere personagens
na tradição condenada de Doutor Fausto ou o nobre
sacrifício de Sidney Carton. Talvez um membro da coterie
queira buscar Golconda apesar (ou talvez devido a…) da
natureza perversa de seus companheiros. Talvez todos os
personagens sejam hereges, formando uma coterie em fuga
Pecados do Sangue
8
pela própria sobrevivência. Talvez eles formem o partido
justo, perseguindo o pária. Os elementos da história neste
livro funcionam para todos os lados da equação.
As Questões de
Escala e Frequência
Note que mesmo os motivos que levam um herege a
cometer seus delitos não compõem a soma desse
personagem. Se a estima de um Membro for alta o suficiente,
bem, talvez possamos perdoá­lo por seu gosto infeliz por vitae
morto­vivo. Se o príncipe mantém um domínio que não
coloca em risco as não­vidas dos Membros, realmente
importa que ele defenda os princípios da Trilha do Coração
Selvagem?
Assim como mencionamos antes, que essas heresias
não relegam automaticamente um Membro para a posição de
“cara mau a ser abatido”, nem sempre precisam ser o foco
central do personagem que as observa. Narradores e
jogadores (isto é, aqueles jogadores que podem ser confiáveis
para fazê­lo de forma responsável) devem se sentir livres para
usar essas ideias para completar personagens, ou usá­los como
pontos de construção para distinguir personagens uns dos
outros.
Um estudioso Membro treinado no Método Socrático
criará uma experiência radicalmente diferente do que um
estudioso Membro que se tornou autarca em um esforço para
se isolar na tradição gnóstica.
No entanto, estas práticas são consideradas heresias
por uma razão. Se cada Membro de uma cidade tivesse uma
ou mais dessas características, as características seriam parte
do status quo e não seriam realmente pecados. Narradores,
utilizem o conteúdo deste livro. Jogadores, não presumam
que vocês precisam de um desses aspectos para criar
personagens únicos.
Este livro é sobre conceitos sublimes. Essas raridades e
estranhezas surgem raramente (na melhor das hipóteses) na
não­vida de um Membro. Seu status está ligado a essa
raridade. Use­os apenas onde eles contribuem para um
personagem ou uma história. A Navalha de Occam se aplica
aqui. Se você pode alcançar o efeito de algo neste livro sem
realmente usar a mecânica dele (como com nossos estudiosos
mencionados anteriormente), então, por todos os meios, faça
isso. Narradores, vocês também podem usar esse tipo de coisa
para desarmar os sabe­tudo em seu grupo, caso os tenham.
Deixe­os assumir que o estudioso frio está na Trilha do
Coração Calcinado, depois revele mais tarde que ele
simplesmente tinha uma Humanidade muito baixa e uma
Besta muito astuta.
Mal! Mal
Levando em consideração todas essas informações,
lembre­se de que esses comportamentos são proscritos. Claro,
eles funcionam como falhas para protagonistas empáticos,
mas também funcionam como bons pilares para aqueles que
lutam no idioma dos temas de moralidade do Vampiro.
No entanto, lembre­se de que é muito fácil relegar
hereges aos papéis de bobos ou capangas. Não monte um
culto de sangue apenas para povoá­lo com uma série de
escravos genéricos e de olhos opacos. Se você quer um
estande de tiro, envie os personagens para a feira estadual e
deixe­os praticar com os rifles de ar.
Todas as filosofias e práticas neste livro se destinam a
serem usadas com personagens devotos. Conforme o tema da
moralidade, você terá personagens mais profundos, mais
críveis e mais valiosos se entender por que eles escolheram
fazer o que fazem. Como Narrador, fazer isso permite que
você desfoque a linha moral para os personagens dos
jogadores, que terão que considerar suas ações em vez de
pulverizar os capangas em uma reação instintiva de “inimigo”.
No final, porém, você é livre para tomar sua própria
decisão. Você não está fazendo nada de errado, desde que
você e seu grupo estejam se divertindo. Às vezes, bater nos
bandidos é uma diversão boa e à moda antiga, como cerveja e
pretzels. Faça o que quiseres será a totalidade deste livro.
COMO USAR
ESTE LIVRO
Este livro tenta não agrupar seus “pecadores” em um
todo anti empático. Dividimos os tabus em capítulos
distintos, tornando não apenas os pecados diferentes, mas
também aqueles que os cometem.
Capítulo Um: Pecados da Moralidade examina o
complexo código de ética dos Membros. Detalha algumas
novas Trilhas da Sabedoria e o que acontece quando a
moralidade de alguém se deteriora até o ponto de não
retorno, e dá uma olhada única — poderia haver outra? —
no exaltado estado da Golconda.
Introdução: Algo Perverso vem por este Caminho
9
Capítulo Dois: Pecados da Sociedade considera os
tabus sociais da raça de Caim. Considerações como seita e
aqueles que se recusam a se associar a eles, os autarcas, são
discutidos aqui. Além disso, o temido Amaranto recebe um
pouco de atenção, para aqueles Membros que não se
importam de saciar sua sede em seus companheiros na ânsia
de cumprir seus próprios legados.
Capítulo Três: Pecados da Discrição nos expõe
àqueles que quebram o Silêncio do Sangue para seus
próprios fins. Cultos — de rebanhos a heresias religiosas a um
bando de seguidores adoradores — são o tópico aqui, para
aqueles Membros que não querem enfrentar as Noites Finais
sozinhos.
Capítulo Quatro: Pecados do Poder inclui novas
Linhas e rituais de Taumaturgia Negra, bem como alguns
outros ritos secretos que, embora não sejam infernais por
natureza, certamente não cativariam seus praticantes aos seus
anciãos. Alguns novos sistemas mecânicos para jogadores e
narradores — novas Habilidades, Qualidades e Defeitos —
também são abordados.
Finalmente, o Apêndice: Uma Conspiração de
Pecadores nos apresenta a alguns Membro que levaram a
sério as heresias deste livro. De pequenas organizações a
confederações globais frouxas, parece que nenhum lugar está
a salvo da praga dos Membros ou de seus pecados.
UM BREVE LÉXICO
Ao discutir aqueles que quebrariam o contrato social
entendido dos Membros, surgem certas palavras únicas. Seja
objetivo ou carregado, o dicionário dos (e sobre) Membros é
tão evocativo quanto sua linguagem menos proibida. Os
Membros devem ter cuidado com quem usam esses termos.
Em alguns domínios temerosos, apenas saber sobre tais coisas
desagradáveis é uma maneira certa de chamar a atenção de
um xerife ou inquisidor.
Harmonista: Um seguidor da Trilha da Harmonia.
Internalista: Um seguidor da Trilha do Auto­Foco.
Suspiro: O estouro de percepção ou momento de
clareza que permite a um Amaldiçoado atingir Golconda. O
Suspiro é um teste final que determina se ela atinge ou não
esse objetivo.
Contaminado: Marcado pelo Diabo; em óbvia liga
com poderes demoníacos.
Implacável: Um seguidor da Trilha do Coração
Selvagem.
Brinde: O ato de “quebrar” um Membro, reduzindo
sua moralidade a zero e colocando­a sob controle da Besta;
quando um vampiro “desiste” dos últimos vestígios do
Homem.
Criatura: Um Membro cuja classificação de
Humanidade (ou Caminho) cai para zero. Embora a maioria
dos Membros suponha que tais criaturas sejam monstros
vorazes em frenesi constante, nem sempre é o caso. A Besta
de cada Cainita é diferente. Enquanto alguns são de fato
demônios furiosos, outros demonstram uma astúcia baixa ou
um instinto de sobrevivência praticado.
 Capítu lo Um:
Pecad os da
Mor alidade
Nenhum homem é um herói para si.
— Ray Bradbury, Algo perverso vem por aqui
Enquanto escrevo isto, ouço tiros lá fora. Imagino
que esteja a vários quarteirões de distância, mas nunca
tenho certeza. O som ecoa nos edifícios fedorentos desta
cidade, e os sons que ouço poderiam facilmente estar do
outro lado da rua. Onde quer que se originem,
significam o fim de uma vida.
Lembro­me de uma época em que a morte de um
ser humano fazia um pequeno som, um estertor mortal.
Há muitos anos que não ouço um som tão sonoro vindo
da garganta de um mortal moribundo. Só posso imaginar
que isso aconteça porque os humanos agora morrem em
tal número que o som do indivíduo se perde em meio ao
barulho geral. Não sei. Não sou estudioso nem filósofo.
Em vida, fui chamado de Neemias. Se eu tivesse
uma fraqueza, era paixão. Eu amava tanto minha esposa
e meu filho que às vezes chegava a doer. Eu não posso
explicar isso. Eu não conseguia explicar, mesmo quando
conseguia me lembrar da sensação, e ela está muito além
da minha memória.
Estou escrevendo tudo isso por um motivo muito
específico, e o leitor terá paciência comigo, espero. A
razão deste tratado, ensaio, divagação — o que você quiser
— ficará clara no final. Por enquanto, apenas leia e tente
entender. Garanto­lhe que não será fácil.
A título de preâmbulo, deixe­me afirmar que a
Besta e como se proteger de sua devastação é uma
preocupação de todos os Cainitas. Mesmo o mais
depravado entre os mortais é menos um monstro do que
o mais gentil — ou, na verdade, o mais contido — de nós.
Nas páginas que se seguem, tentarei explicar a
Capítulo Um: Pecados da Moralidade
11
mentalidade de um Cainita que renuncia à sua
humanidade por outra ética mais complexa. Também
abordarei o destino daqueles que perdem todo o controle
e se tornam escravos da Besta. A seção final e mais
importante deste trabalho… falará por si, eu acho.
Uma anedota antes de começarmos, a do meu
Abraço. Eu era pescador de profissão, assim como meu
pai antes de mim. Se eu tive um segundo amor, foi o mar.
Um belo dia, naveguei mais longe do que nunca e, ao pôr
do sol, encontrei­me num pedaço de terra que nunca
tinha visto antes. Encalhei meu pequeno barco e deitei­
me na areia para dormir, sem ter certeza se conseguiria
encontrar a Trilha de casa depois de escurecer.
Acordei com alguém mordendo minha garganta.
Sempre um homem forte e alerta, joguei meu agressor
no chão e me levantei. Ele recuperou os pés e mostrou as
presas. Sentei­me então. Eu sabia que ele era um monstro
e que não tinha chance de lutar com ele. Ele tomaria
meu sangue se quisesse, e tudo que eu podia fazer era
entregar minha alma a Deus. Eu fiz um pedido a ele, no
entanto. Pedi­lhe que levasse meu barco de volta para
minha família, para que meu filho pudesse sustentar
minha esposa.
Ele sentou­se ao meu lado, surpreso com minha
coragem e amor. Conversamos por horas e ele concluiu,
resumidamente, que meu coração estava muito cheio de
emoção e acabaria por me levar ao desgosto e ao
esquecimento. Antes que eu pudesse protestar (pois isso
é tudo que eu teria sido capaz de fazer), ele estava sobre
mim.
 “Tenho certeza, dado o meu provável público, que
não preciso relatar a sensação do Abraço. No entanto,
recontarei as últimas palavras que ouvi como um ser
humano, antes de ressurgir na próxima noite como um
dos Condenados.
‘Foi­se, foi­se a alma humana’, disse meu senhor. E,
oh Deus, como ele estava certo.
Quando a Humanidade
Não é Suficiente
Por bastante tempo após meu Abraço, permaneci,
para todos os propósitos moralísticos, humano. Não foi
até muito depois que comecei a seguir uma das chamadas
Trilhas da Sabedoria. Isso não é incomum, mesmo que
meu senhor há muito tempo tenha abandonado qualquer
visão que se assemelhasse mais ao humano. Naquelas
noites, As Trilhas da Sabedoria eram rudimentares no
melhor dos casos. A Camarilla e o Sabá não existiriam
por muitos anos, e o método de um Cainita de acorrentar
a Besta era frequentemente uma tarefa realizada sozinho.
A chave para manter a sanidade era geralmente uma
chave que um Cainita forjava para si.
Agora, no entanto, um Cainita que deseja, ou
simplesmente não tem escolha a não ser deixar sua
humanidade para trás, geralmente recebe instrução.
Então, o que então, o leitor pode muito bem perguntar, é
típico de um seguidor inicial da Trilha?
Normalmente, a idade é um fator. Um Cainita
normalmente mantém uma visão humana por alguns
anos após o Abraço, simplesmente porque a adaptação à
existência noturna, aliada ao horror draconiano da
política Cainita (a ironia do termo ‘Membros’ —
implicando como faz camaradagem e companheirismo —
nunca deixa de me divertir) é o suficiente para lidar. Mas
à medida que o Cainita envelhece, ele descobre que tudo
o que ele sabe está morrendo. Sua família mortal, se seu
senhor o instruiu bem, não sabe nada de sua
transformação e acredita que ele está morto. Qualquer
amigo que ele tinha entre os vivos há muito tempo o
esqueceu e seguiu com suas vidas. Conforme ele segue,
noite após noite, ele acabará matando. E esse é o ponto
de virada.
Consideremos, por um momento, os tabus que
todas as culturas do mundo têm em relação à morte.
Quer a experiência pretenda significar um julgamento
terrível seguido de sofrimento ou felicidade eterna, ou
uma viagem para outro lugar sem qualificadores como
dor ou prazer, a morte envolve remover um ser do
contato humano completamente e para sempre. Cada ser
humano que eu (por exemplo) matei não simplesmente
desapareceu sem deixar vestígios, mas deixou para trás
outros que choram, choram e, na maioria dos casos, se
perguntam para onde foi o seu ente querido. A primeira
vez que um humano morre sob as presas de um Cainita,
esse Cainita dorme mal no dia seguinte. Esse humano
nunca mais desfrutará de uma refeição, de uma
caminhada, de uma respiração. Ele se foi para sempre. A
Pecados do Sangue
12
imensa responsabilidade pelo que ele fez pesa muito sobre
os ombros de um Cainita.
Curiosamente, esse fardo não se agrava com
múltiplas vítimas, mas torna­se demasiado fácil de
suportar. Quanto mais mortais morrem para saciar a sede
de um Membro, mais fácil se torna. E à medida que a
humanidade se transforma, aos olhos do Cainita, em uma
turba de pessoas ambulantes e tagarelas, a Besta desperta
e se debate contra a mente do Cainita. Como leva tempo
para que a retidão moral de um Cainita caia tanto a
ponto de se tornar um problema perceptível
(particularmente se o Membro foi, em vida, um homem
de princípios), os jovens entre os Amaldiçoados são
raramente recrutados para seguir As Trilhas da Sabedoria.
Contudo, a simples depravação não é suficiente.
Uma coisa que todas as Trilhas têm em comum (pelo
menos os que estudei) é que os tolos não são bem­vindos
a percorrê­los. Qualquer idiota pode aprender a desfrutar
da matança, mas a força do intelecto necessária para
compreender um Caminho, mesmo um tão
enganosamente direto como a Trilha do Acordo
Honrado, está além de muitos Cainitas. Da mesma
forma, um tolo que acredita, mesmo enquanto sua carne
morta­viva se une após um ferimento, que nada além do
mundo físico importa e que não existe Deus ou deuses,
não tem a capacidade espiritual necessária para seguir um
Caminho. Aqueles que são degenerados, estúpidos ou
míopes muitas vezes acabam como um dos demônios
vorazes que discutirei em breve. Aqueles que estão perto
da loucura, mas ainda têm a presença de espírito para
fazer algo a respeito, entretanto, podem chamar a atenção
de um professor.
Trilhas na Camarilla
Antes de entrar em uma discussão sobre a natureza
desta instrução, convém considerar a diferença entre um
Membro da Camarilla que escolhe uma Trilha sobre os
preceitos mais familiares da moralidade humana e um
Membro Cainita do Sabá que faz o mesmo. Entre a
Espada de Caim, a moralidade humana é ridicularizada
abertamente. Afinal, argumenta o Sabá, os mortais são de
fato apenas gado, e suas vidas valem pouco. Por que,
então, os poderosos predadores deveriam procurar
emular suas presas, exceto como meio de atraí­las para
mais perto?
Uma boa pergunta, essa. A resposta é uma questão
de lógica. Quer eles escolham admitir ou não, todos os
Cainitas já foram mortais. Em sua negação dogmática da
humanidade, o Sabá acelera a Trilha para a Besta
consideravelmente. Portanto, torna­se necessário para um
Cainita do Sabá que não deseja se tornar um horror
incontrolável e sem mente seguir uma Trilha muito mais
cedo. (O Sabá, afinal, defende nominalmente a liberdade
de pensamento, e a Besta tira essa liberdade em pouco
tempo.) No Sabá, um professor pode abordar um
candidato promissor enquanto esse candidato ainda é um
Neófito. (Ancillae, descobri, são raros no Sabá.)
Na Camarilla, no entanto, um Neófito seguindo
um Trilha é extremamente raro. Na verdade, eu só ouvi
falar de um tal Vampiro na história do Camarilla, um
filósofo talentoso e alienista (o que agora seria chamado
de “psiquiatra”) Abraçado no Clã Toreador no final do
século XIX. Pelo que entendi, a combinação das
percepções intensificadas e do arrebatamento do Clã da
Rosa, além de seus próprios padrões de pensamento
obtusos, tornaram a compreensão e a moralidade normais
impossíveis. Dentro de cinco anos de seu Abraço, seu
senhor fez arranjos para ele receber tutoria na Trilha da
Morte e da Alma. O fato de seu senhor ser (e ainda é,
pelo que sei) membro do primogênito de uma grande
cidade poupou­lhe algum ridículo quando se soube que
ele praticava “necromancia”, mas não muito. Pelo que sei,
ele agora existe como um recluso, observando a
humanidade morrer ao seu redor, tomando notas e
assustando outros Vampiros com um fatalismo que
impressiona até os mortos­vivos.
Seguir uma Trilha na Camarilla, portanto, marca
definitivamente o praticante como uma espécie de
forasteiro e levanta questões sobre a influência do Sabá.
Isso faz bastante sentido, é claro, dado que a primeira
Tradição da Camarilla (e a única que fala da relação dos
Vampiros com os mortais) afirma que os Cainitas, os
predadores mortos­vivos da noite, devem se misturar com
esses mortais. Naturalmente, fazer isso exige uma
habilidade de se relacionar com os mortais, então muitos
Vampiros que, nas noites pré­Camarilla, poderiam
eventualmente ter sido instruídos em um caminho de
Capítulo Um: Pecados da Moralidade
13
moralidade adequado aos seus ideais ou encontrado seu
próprio caminho, agora se esforçam para permanecer
humanos, quando eles estão, de fato, muito longe de
serem humanos.
Então, para resumir a posição de um Membro da
Camarilla, caso ele decida seguir uma Trilha: Ele é
membro de uma seita que defende a moralidade humana
como uma forma de permanecer escondido entre os mortais
(e não por questões éticas reais). Essa seita é composta,
perdoe minha linguagem, por vampiros. Vampiros não
são humanos. No entanto, nosso hipotético Seguidor da
Trilha é ridicularizado, suspeito e muito provavelmente
interrogado longamente por tentar compreender e existir
nos limites de sua existência morta­viva — na verdade, por
se recusar a fingir ser algo que ele não é. Seria seguro,
então, afirmar que a maioria dos Membros da Camarilla
se iludem lindamente, embora eu tenha certeza de que tal
afirmação me marca como um herege.
O que tal Membro pode fazer para evitar
perseguição? Junte­se ao Sabá, naturalmente! No entanto,
não recomendo este método (por razões que discutirei em
breve). O que eu recomendo é que um Membro que
deseje disfarçar o fato de que ele não segue mais o mesmo
caminho moral que o rebanho simplesmente não faça
uma demonstração disso. Discussões espirituais e morais
não são totalmente incomuns entre os Membros (nossa
condição requer alguma especulação, pelo menos) e, de
fato, muitas das Trilhas da Sabedoria consideram o
conhecimento e sua busca sagrados. No entanto, muitos
deles também ensinam que guardar segredos é uma ideia
sábia. Embora tal seja o caso por uma série de razões, a
sobrevivência contínua é a melhor delas.
Isso significa que um seguidor da Trilha na
Camarilla deveria se tornar um recluso? De jeito nenhum.
Supõe­se que um Membro secreto tenha algo que vale a
pena esconder. A menos que a Trilha de alguém
especificamente impeça ou iniba o contato com outros, é
sábio participar dos jogos sociais noturnos que a
Camarilla tanto adora. Apareça no Elísio, torne­se parte
de um círculo, se desejar. Pareça honesto diante de seu
príncipe. Se a cidade em que você mora abriga algum
ancião anterior à Camarilla (e que ainda mostra seus
rostos no Elísio), uma visão da condição vampírica pode
realmente impressioná­los.
Se o segredo for revelado, por assim dizer, o
seguidor da Trilha exposto está em uma posição delicada.
Ele pode esperar visitas da Camarilla na forma de
Arcontes, perguntando educadamente onde o Membro
aprendeu seus preceitos éticos e se, de fato, ele ou seu
mentor é membro do Sabá. Sobre esse tópico, membros
do Sabá certamente vão querer saber por que um
Membro está praticando “seus” códigos morais (sim, a
Espada de Caim realmente é tão arrogante, descobri), e
eles podem enviar seus próprios investigadores. A
Camarilla é nada se não paranoica, e não sofre ilusões
hipócritas sobre se comportar com tolerância em relação
a tais “crenças alternativas”. Os anciãos, é claro,
provavelmente buscarão chantagem antes da perseguição,
se possível, mas essa é a natureza do Jyhad. Os anciãos
geralmente buscam chantagem antes de qualquer coisa
que possa beneficiá­los menos.
Se um Membro inumano (se não necessariamente
desumano) pode enganar seus companheiros
simplesmente se comportando “normalmente” ao redor
deles, o que dizer de enganar os próprios mortais? Como
um Membro evita a detecção (pois a Máscara é praticada
por Cainitas em todo o mundo, independentemente de
sua política) se ele está dedicado a um propósito mais
elevado do que a predação sutil? Às vezes, o mesmo
princípio se aplica: evite os mortais, mas quando se deve
interagir com eles, faça o seu melhor para se misturar.
Claro, seguidores de algumas Trilhas são mais capazes de
aderir a este princípio do que seguidores de outras
Trilhas. a Trilha do Coração Selvagem, por exemplo,
encoraja seus seguidores a não matar a menos que seja
absolutamente necessário (embora a razão da Besta para
exercer tal restrição seja bastante diferente da de um
Homem). a Trilha da Morte e da Alma, no entanto, incita
seus seguidores a matar a qualquer momento, se houver
ampla oportunidade para estudo. Algumas Trilhas
encorajam o contato com mortais; alguns consideram isso
um pecado. O Membro sábio é cauteloso. Os mortais
podem “sentir” a presença maligna da Besta naqueles que
seguem as Trilhas. Embora eles possam não saber
exatamente o que estão enfrentando, os mortais têm uma
habilidade incrível de saber que se trata de algum tipo de
predador.
Pecados do Sangue
14
Quando o ato de manter a própria natureza em
segredo das multidões da humanidade entra em conflito
com a reverência que se deve demonstrar ao seu
Caminho, é infelizmente a Trilha que geralmente dá. No
fundo, os Cainitas são criaturas egoístas. Pode­se
argumentar que o último ato de altruísmo é sofrer ou
morrer pelas próprias crenças. Muito, muito poucos
Cainitas estão dispostos a fazer isso. (Na verdade, a única
Trilha que eu conheço que defende o sacrifício honroso é
a Trilha do Acordo Honrado — a maioria dos outros
considera um pecado não proteger a não­vida de qualquer
maneira possível.) Mesmo que coexistir com mortais seja
desagradável para um Nodista, o grande número de
mortais torna isso inevitável às vezes. Embora o contato
constante com os mortais possa afastar o Nodista de seu
objetivo de ser mais parecido com Caim, a praticidade e a
moralidade nem sempre combinam bem. Embora seja
difícil evitar cometê­los perto de mortais, os “pecados”
estranhos de muitos das Trilhas da Sabedoria de fato
empurram o Cainita para mais perto da Besta. Portanto,
na tentativa de evitar ter que fazer uma escolha entre o
pecado e a sobrevivência, muitos Membros da Camarilla
usam carniçais e outros lacaios para realizar qualquer
negócio que exija contato mortal.
Trilhas no Sabá
Por outro lado, os Cainitas do Sabá abandonam a
humanidade muito mais prontamente. Isso se torna
problemático, pois há muito poucos mentores disponíveis
para um jovem Sabá à beira de perder a razão. Como eu
disse, a maioria dos Cainitas do Sabá são neófitos e
anciãos, e, como sempre, os anciãos têm pouco tempo
para instruir os neófitos. Suspeito que se as taxas de
sobrevivência geral do Sabá fossem mais altas, muitos
mais deles seguiriam As Trilhas da Sabedoria, e muito
menos cairiam para a Besta.
Mencionei anteriormente que mesmo se seguir
uma Trilha da Sabedoria é o único recurso que se tem
contra a Besta, evite ir ao Sabá para aprender. Uma razão
pela qual eu aconselho contra o Sabá é que, embora as
Trilhas sejam mais comuns lá do que na Camarilla, um
suplicante em potencial ainda deve procurar um patrono.
Tentar encontrar ajuda na Camarilla significa incorrer em
uma dívida de prestação, o que, embora inconveniente, é
muito preferível à dívida que se incorre ao encontrar
ajuda no Sabá. Antes que um Cainita do Sabá aceite um
estudante, esse estudante quase sempre deve ser membro
da seita. Portanto, em troca de ajuda para afastar a Besta,
concorda­se em renunciar à própria liberdade e juntar­se a
um exército fanático (que, ironicamente, afirma lutar pela
liberdade).
Dito isto, o Sabá certamente tem a maior
concentração de seguidores da Trilha, e daí? Poucos
anciões da seita permanecem fiéis aos preceitos humanos,
tenho certeza. Um dos princípios orientadores da seita é
abandonar toda pretensão de humanidade. Os Anciões
tiveram séculos para perceber isso, mas mesmo depois dos
rituais sangrentos e das verdades místicas que a Maldição
de Caim concede, os neófitos ainda acham que se tornar
 Quais Trilhas Funcionam?
Certas Trilhas, como Nehemiah menciona, são mais fáceis para vampiros da Camarilla seguir do
que outras.
• Trilha de Caim: Direciona seus seguidores a evitar mortais e diablerizar Membros que cultivam
sua Humanidade, não sendo uma escolha sábia para um personagem da Camarilla.
• Trilha dos Cathari: Um vampiro da Camarilla, agindo com cautela, pode seguir esta Trilha,
embora possa parecer carente de moralidade, especialmente nos níveis mais elevados.
• Trilha da Morte e da Alma: Necromantes, sem compaixão e letais, raramente se envolvem com a
Camarilla. Sua necessidade de estudar a morte, muitas vezes causando­a, atrai muita atenção. No entanto,
não é impossível, e desta Trilha, é provavelmente a mais adotada por um ancião que precisa de uma
bússola moral.
• Trilha das Revelações Malignas: Não são bem­vindos na Sabá nem na Camarilla, os Corruptores
se infiltram em ambas as seitas. (Isso não os torna mais viáveis como personagens para os jogadores,
exceto em certas crônicas.)
• Trilha do Coração Feral: Possivelmente a Trilha mais antiga (com exceção da Humanidade),
ainda é praticada por alguns anciões nominalmente da Camarilla e pode ser passada para Membros mais
jovens. No entanto, como a Trilha desdenha da política, um personagem Fera precisaria de um bom
motivo para se juntar a um coven.
• Trilha do Acordo Honrado: Embora seja considerada um pilar da Sabá, suas raízes antecedem a
seita. Portanto, ocasionalmente um Membro da Camarilla pode ser encontrado entre os Cavaleiros.
• Trilha de Lilith: Esta Trilha herética não é realmente endossada pela Sabá, e seus praticantes
estão mais preocupados com a iluminação do que a política das seitas. Além disso, o preceito da Trilha
contra matar torna a Camarilla uma escolha mais palatável para os Bahari do que a Espada de Caim.
(Afinal, os Lilins na Camarilla podem afirmar que o respeito pela vida os impede de matar e não serem
ridicularizados abertamente.) Como a Camarilla considera Caim e Lilith seres mitológicos, um Bahari
aberto provavelmente seria visto como um estudioso iludido, não um herege perigoso. Mesmo assim, o
fato de esta Trilha ser tão rara significa que poucos Membros da Camarilla ouvem falar, muito menos
praticam, a Trilha de Lilith.
• Trilha do Poder e da Voz Interior: Embora raramente, Membros praticam esta Trilha, sendo
comumente mantida apenas por anciões que podem apreciar plenamente suas nuances e verdades.
• Outras Trilhas: As Trilhas da Noite, Paradoxo e outras listadas em Vampiro: A Máscara são
praticadas principalmente pelos membros do clã que as defende. No entanto, membros ocasionais de
outros clãs (e, portanto, outras seitas) também seguem esses caminhos.

algo diferente de humano é uma tarefa bastante difícil.
Ah, eles fazem muito barulho por causa dos “sacos de
suco”, é claro. No entanto, vejo uma forte semelhança
entre eles e os adolescentes mortais que se gabam de não
ter medo de morrer enquanto se envolvem em
demonstrações de “frango” e outros passatempos
divertidos. Os jovens do Sabá falam, como dizem, de um
grande jogo, mas na maioria das vezes, eles devem engolir
o horror ao verem fontes penduradas em vigas. Quer o
horror resulte de uma preocupação persistente pela vida,
ou de um sentimento de “Pronto, mas pela graça de
Deus, eu vou”, ele deve ser evitado se o Sabá quiser
sobreviver à sua primeira década e não perder a cabeça.
Nenhum clã do Sabá tem maior ou menor
probabilidade de seguir um Caminho. Os Lasombra e os
Tzimisce, os fundadores e líderes da seita, cada um tem
suas próprias Trilhas“de estimação”, e em breve discutirei
isso mais detalhadamente. Em geral, a questão de saber se
um Cainita do Sabá pode ou não seguir uma Trilha,
depende em grande parte do indivíduo em questão.
Contanto que o Cainita seja competente e tenha boa
reputação com a seita, ele provavelmente poderá
encontrar alguém para ensiná­lo.
Uma vez que um Cainita começa a seguir um
Caminho, ele pode aprender a desdenhar outros Cainitas
que ainda se apegam à sua humanidade. Afinal, embora
eles apenas falem em se tornar verdadeiramente
desumanos, o Seguidor da Trilha tomou medidas em
direção a esse objetivo. Enquanto isso, seus companheiros
de bando ainda humanos (por assim dizer) podem
começar a vê­lo como arrogante e inescrutável. Os bandos
do Sabá se fragmentaram simplesmente porque um
membro se tornou tão comprometido com sua Trilha que
o propósito do bando foi interrompido.
Os Outros
Vários clãs seguem Trilhas criados para e por seus
membros. Embora eu não seja membro de tal clã, tive
oportunidades de estudar e conversar com vários desses
praticantes, e sinto que é do meu interesse relatar o que
aprendi sobre essas Trilhas.

Capítulo Um: Pecados da Moralidade

15
 A Trilha do Sangue
Os Assamitas passaram por sérias mudanças nas
últimas noites. Primeiro, a maldição deles caiu, e fiquei
desapontado ao ver que muitos deles voltaram às suas
sangrentas predações de noites passadas. No entanto, à
medida que o barulho daquela ocorrência começa a
diminuir, vejo que um número significativo de Assamitas
se juntou à Camarilla. Eu não prevejo, contudo, que isto
signifique um aumento significativo no número de
Dervixes que a Camarilla ostenta.
Até onde eu sei, a Trilha do Sangue é comumente
ensinado apenas àqueles Assamitas que alcançam
grandeza dentro do clã, convertendo ou tomando o
sangue de “infiéis”. Portanto, aqueles Sarracenos que
imigraram, por assim dizer, para a Camarilla,
provavelmente não trarão os preceitos da Trilha com eles.
Esta Trilha é raramente divulgado fora do grupo Assamita
com qualquer piedade. Seus seguidores não costumam
buscar convertidos não­Assamitas (mesmo que o código
de ética da Trilha faça provisões para tal), mas suspeito
que essa relutância seja mais porque os Assamitas são
egoístas do que porque querem excluir ativamente os
outros. Ele se assemelha mais a uma religião do que a
uma simples Trilha ética, como aqueles que cruzaram
Trilhas com um “devoto” Dervixe podem bem atestar.
A Trilha dos Ossos
Nas noites antes da Camarilla e do Sabá, pelo que
me lembro, outro clã detinha o manto do “Clã da Morte”
e praticava uma Trilha semelhante ao que alguns
Giovanni agora defendem. Como eu não me juntei à
política dos Membros (ou Cainitas) com qualquer
interesse real até depois que os Giovanni subiram para
sua posição atual, não tenho ideia de quão de perto sua
Trilha dos Ossos se assemelha ao seu predecessor. No
entanto, eu sei que esta Trilha é rara, mesmo no clã de
sua origem. Cainitas com interesses na morte que são tão
arraigados a ponto de exigir uma moralidade baseada nela
geralmente seguem a Trilha da Morte e da Alma, embora
os duas Trilhas sejam superficialmente semelhantes.
A Trilha da Noite
Embora existam rumores de que esta Trilha é
verdadeiramente antiga, descendente do ensino de Caim
(ou Lilith, dependendo do capricho do falante), ele é
confuso e difícil de seguir. Suspeito que foi iniciado por
jovens Lasombra por volta da época da Revolta
Anarquista. Como a Trilha dos Ossos, ele é rara, e é mais
comum entre uma mentalidade específica, bastante
pedestre (que os membros são monstros horríficos,
indomáveis que cumprem seu propósito alimentando­se
de mortais) do que dentro de qualquer clã específico.
Imagino que a única razão pela qual os jovens e
despossuídos Caitiff da Camarilla não tenham começado
a seguir esta Trilha é a falta de acessibilidade a eles.
A Trilha da Metamorfose
Acho esta Trilha fascinante. O preceito básico da
Trilha, tal como o entendo, é que a condição de morto­
vivo não é um fim, mas um passo na Trilha para uma
mudança final. É um pensamento interessante, mas se
Pecados do Sangue
16
considerarmos a fonte (cainitas que conseguem mudar
suas formas à vontade), certamente poderemos ver suas
raízes ideológicas. Pensamento positivo? Talvez.
Mas então, os Tzimisce são os únicos vampiros
comumente capazes de tais mudanças, então surge um
sentimento incômodo de que talvez eles saibam algo que
o resto de nós não sabemos. (O Clã da Besta é capaz de
mudar, até certo ponto, mas a mudança é a mesma todas
às vezes. Os Tzimisce, no entanto, são capazes de
mudanças limitadas apenas por sua habilidade ou
imaginação.) Os dons Cainitas especiais dos Tzimisce,
talvez o ímpeto para a Trilha da Metamorfose, parecem se
espalhar facilmente pelo contato com seu sangue; eu vi
bandos inteiros do Sabá demonstrarem seu
conhecimento. Então, por que, então, os Demônios
mantêm seu conhecimento tão cuidadosamente
escondido, quando a ferramenta da iluminação (como
eles a veem), a capacidade de mudar, é tão facilmente
disseminada?
A Trilha do Paradoxo
Confesso, sou um tanto desprezível pelos
seguidores deste Caminho. Vários deles me atacaram
uma vez em Ulm, aparentemente depois de me rastrear
por algum tempo. Eles falaram em “corrigir a maya” e que
meu “swadharma” era morrer em suas mãos. Eu escapei
com minha não­vida, mas consegui mais tarde isolar um
deles e extrair algum conhecimento dele. No final, eu o
deixei ir. Ao tentar me destruir, ele e seus companheiros
Shilmulo estavam tentando corrigir o que eles percebem
como um grande erro no ciclo kármico. Como eu lutei
contra eles e escapado, eles concluíram que devem ter
errado sobre meu propósito dentro dele.
Seja como for, esta Trilha não é praticado apenas
pelos Ravnos. Isso provavelmente é bom para a
sobrevivência da Trilha, dado a recente destruição da
maioria do clã. O Shilmulo com quem falei indicou que
às vezes membros de outros clãs abraçariam mortais que
eram capazes de entender o ciclo, e que, portanto, eram
bons candidatos para a Trilha do Paradoxo. Eu apontei
para ele que basear possíveis membros de uma Trilha
decididamente inumano no que esses membros
potenciais faziam como humanos era falacioso. Ele, como
muitos devotos de um sistema de crenças, não tinha uma
resposta para mim.
A Trilha de Tífon
Algumas Trilhas são filosofias, alguns são religiões.
A maioria das Trilhas adotadas por um determinado clã
são mais parecidos com religiões. A Trilha de Tífon é um
desses Trilhas.
Eu nunca ouvi falar de um Membro não­Setita
seguindo esta Trilha, e, dado que seu principal objetivo
parece ser preparar a Trilha para o retorno de seu deus,
não posso imaginar que exista alguém que o faça. As
principais virtudes da Trilha são a solidariedade e a
obediência, o que significa que os seguidores têm força de
propósito por trás de suas ações repreensíveis. Um
traficante de drogas que vende veneno para obter
conforto e status é compreensível, senão louvável. Um
traficante de drogas que vende veneno na tentativa de
angariar seguidores para um deus morto­vivo, entretanto,
deve ser temido (ou, se possível, queimado).
Seguindo Uma Trilha
Agora que vimos o que é necessário para seguir um
Caminho, o que isso pode fazer com a posição de um
Membro da Camarilla, a necessidade das Trilhas no Sabá
e a natureza das Trilhas mais familiares, talvez devêssemos
examinar o que significa seguir uma Trilha para qualquer
tipo de Cainita.
Primeiro de tudo, considere a noção de “pecado”.
Em meus dias de respiração, o maior pecado era adorar
um falso deus. De fato, a Torá está repleta de descrições
horríveis do que acontece com aqueles que insultam o
Único Acima. Algumas religiões proíbem o álcool,
algumas o sexo pré­matrimonial e assim por diante.
Um ateu sem dúvida ficaria surpreso e talvez
divertido com as várias atividades precluídas sob o título
de “pecado”. Muitas vezes, existe uma razão para a
atividade em questão ser declarada pecaminosa que não
tem nada a ver com a religião em questão. Por exemplo, o
costume de comer peixe às sextas­feiras remonta à Igreja
desejando dar um impulso à indústria da pesca (como
era), mas perguntar a qualquer professor de catolicismo a
razão da prática resultaria em uma resposta muito
diferente.
No entanto, muitos pecados derivam de tabus que
qualquer mortal acharia óbvios. Os atos de assassinato,
estupro, roubo e assim por diante pareceriam ser
“naturalmente errados”, independentemente da religião
em questão. Considere, então, que um seguidor do (por
exemplo) Trilha da Morte e da Alma considera o tabu
contra o assassinato tão deslocado quanto um pagão
moderno poderia considerar a abstinência de sexo de um
católico solteiro.
Da mesma forma, um adepto da Trilha de Caim
considera pecaminoso fazer amizade com um mortal. O
raciocínio para isso é suficientemente sólido se não
acontecer de ser um Nodista, mas para o resto do mundo,
tal tabu pode parecer condenado. Porque Caim, o
primeiro assassino, foi banido, e você busca emulá­lo,
você evita a população mortal? O Nodista responde
calmamente: “Sim”. Um seguidor da Trilha não pode
esperar que o mundo compartilhe as coisas que ele
considera sagradas ou profanas. De fato, apenas um
seguidor da mesma Trilha vai entender. Seguir uma
Trilha é uma escolha solitária, principalmente depois de
terminada a tutela inicial.
Consideremos, também, as dificuldades de seguir
uma Trilha versus permanecer “humanitário”, que são
apresentadas meramente pelo fato de os mortais ainda
controlarem o mundo. Os mortais fazem as leis de acordo
com suas crenças. Quando um Cainita abandona sua
humanitas, ele também frequentemente abandona as leis e
costumes mortais. Tendo sobrevivido o suficiente para ver
a lei e os costumes mudarem dramaticamente, posso dizer
com alguma segurança que tais coisas são tipicamente
transitórias. Isso não impede, no entanto, que as
Capítulo Um: Pecados da Moralidade
17
autoridades mortais investiguem assassinatos,
especialmente assassinatos com um toque “oculto”. E,
apesar da promessa dos Estados Unidos de que não
criarão nenhuma lei que impeça um cidadão de praticar
uma religião da sua escolha, duvido seriamente que tal
argumento absolva um arguido de uma acusação de
homicídio.
Meu ponto aqui é que os preceitos da humanidade
são frequentemente observados, muito parecido com
muitas religiões humanas, mais por inação e negação do
que por ação e aceitação. Um cristão pode sentir que está
seguindo sua religião se resistir à tentação da carne, mas
uma Besta que não caça quando as dores da fome atacam
— mesmo que as circunstâncias indiquem que a
abstinência pode ser mais segura — não está sendo fiel à
sua natureza fundamental. Como eu disse, muitas Trilhas
da Sabedoria consideram o estudo e o conhecimento
como sagrados. No entanto, não se pode adquirir
conhecimento simplesmente negando a ignorância. A
busca ativa, até mesmo agressiva, da ética de alguém é
algo que poucos mortais (especialmente os ocidentais)
estão preparados para empreender. Isso é especialmente
verdadeiro se a Trilha se baseia em conhecimento
esotérico que requer viagem, paciência e negociação para
adquirir. Muito mais simples brincar de ser mortal, evitar
fazer as coisas que, enquanto vivia, teria evitado.
Confortante, certamente, mas em última análise, fútil,
pois os preceitos da humanidade azedam depois que se
alcança o que teria sido o 200º aniversário do nascimento
de alguém e percebe­se que os mortais vão morrer, todos e
cada um deles, independentemente do que ou quem os
mata. Essa realização, por si só, marca um deslize em
direção à Besta, e é verdadeiramente inevitável.
Quando a Besta Vence
O deslize em direção à Besta termina de apenas
duas maneiras. Primeiro, o Cainita pode encontrar a
Morte Final. Isso é, desnecessário dizer, não é a primeira
escolha da maioria dos Cainitas. A única outra
possibilidade, no entanto, é ainda menos palatável: A
Besta vence e assume permanentemente.
A maioria dos jovens Cainitas nunca viu um dos
miseráveis cuja sanidade e identidade foram subjugadas.
Eles ouvem histórias de seus senhores, histórias de
membros que rondam a noite, alimentando­se de quem
quer que cruze suas Trilhas, eventualmente derrubados
como cães loucos por sua própria espécie ou por
caçadores. Essas histórias são essencialmente verdadeiras,
mas um tanto enganosas.
Na verdade, a maioria dos Membros que
sucumbem à Besta tornam­se nada mais do que brutos
irracionais. Na Grécia, os camponeses os chamavam de
vrykolakes. Os mortais os viam como monstros horríveis e
inchados, e conheciam inúmeros remédios populares para
matá­los ou incapacitá­los. Sementes de mostarda
espalhadas pela casa atrasariam tal criatura. Os Thorns
impediriam a entrada deles, pois eles tinham um medo
mortal deles. Agulhas enfiadas nas mãos (ou olhos, ou
estômago; as lendas variam, é claro) de um cadáver
imobilizaram os temidos vrykolakes. É claro que um
verdadeiro Cainita ignorou essas defesas mesquinhas,
alimentando­se de quem ele escolheu e não deixou
ninguém saber. No entanto, esses remédios pareciam
transformar realmente os vrykolakes vorazes.
Viajei pelo globo ao longo dos séculos e posso dizer
que uma coisa que quase todas as nações da Terra têm em
comum é uma lenda sobre vampiros. As formas reais,
capacidades e desejos dos mortos­vivos variam na lenda
de lugar para lugar: O vrykolakes grego tem pouca
semelhança com o langsuir malaio, além de sua dieta
comum. Como qualquer Cainita relativamente venerável
pode atestar, os mortais interpretam os fatos quase
voluntariamente, então não é surpresa que suas lendas
estejam longe da verdade, assim como a maioria de seus
amuletos preventivos. No entanto, no caso dos Cainitas
sem mente (referidos como “Criaturas” em alguns
círculos Cainitas mais velhos, e é essa denominação que
uso para eles aqui) a maioria desses encantos populares se
prova bastante útil. Uma rosa­da­montanha colocada no
peito de uma Criatura suíça imobiliza a criatura. Uma
estaca através do coração, debilitante para qualquer
Cainita, pode muito bem destruir uma Criatura (em vez
de simplesmente paralisá­la). Por que exatamente isso
ocorre? Ouvi várias teorias, algumas arcanas, algumas
científicas, mas nenhuma parece cobrir o fato de que,
independentemente da idade do Cainita ou da potência
de seu sangue antes de perder a mente para a Besta,
precauções supersticiosas mortais têm efeito total (ou pelo
menos algum efeito) em uma Criatura. Eu humildemente
submeto minha própria hipótese pessoal sobre o assunto.
Lembre­se, caro leitor, que eu não sou nem cientista, nem
estudioso. Meus dados são quase inteiramente tirados da
experiência pessoal e de fontes confiáveis.
(O leitor pode estar interessado em saber que a
palavra Criatura é usada para se referir a um horror
sobrenatural [raramente especificado mais adiante] ou
simplesmente a um ser humano. Não é sem uma certa
ironia, portanto, que um termo que engloba tanto o que
um Cainita era e é deveria ser atribuído às criaturas sujas
que são tão representativas da falha da busca dos
membros para lidar com sua mente humana.)
Assim como um Cainita perde sua sanidade para a
Besta, ele também perde sua vontade. Não me refiro aqui
ao ego, mas a anima, o instinto de busca que eleva os seres
pensantes (vivos e mortos­vivos) acima dos animais.
Acrescente a isso o fato de que os Cainitas são seres
inerentemente místicos (ou “sobrenaturais”, se preferir).
Somos capazes de feitos simplesmente fora dos domínios
da ciência (com todo o respeito ao eminente pesquisador,
Dr. Douglas Netchurch). À medida que a sanidade
desaparece, a vontade desaparece e tudo o que resta é o
instinto — e, por falta de um termo melhor, a maldição.
Criaturas são seres movidos pelo impulso primordial e
pela condenação divina, incapazes de ponderar sobre sua
maldição ou de realmente sofrer com ela. Portanto,
Aquele Acima abre a Trilha para que os remédios mortais
mantenham essas criaturas afugentam ou as destroem,
enviando­as para qualquer punição que as aguarde.
Pecados do Sangue
18
 Como prova adicional desta “teoria da intervenção
divina”, por assim dizer, apresento os de sangue fraco.
Agora circulam rumores de que esta “última geração” de
Cainitas é incapaz de gerar novos filhos, mas tais Cainitas
sofrem com a maldição de forma menos severa do que a
maioria. Eu ouvi histórias de Membros sobrevivendo aos
raios solares por longos períodos de tempo, de Membros
comendo e bebendo comida mortal e até mesmo de
Cainitas gerando filhos mortais. (Uma nota, no entanto:
esta ideia não é nova. Os sérvios tinham lendas de
criaturas chamadas dhampyr, que podiam lutar contra os
mortos­vivos quando ninguém mais podia vê­los. Uma
maneira bastante conveniente de ganhar dinheiro, como
se viu. O dhampyr luta o vampiro invisível, então cobra
uma taxa dos cidadãos dispensados. Mas estou
divagando.) Em qualquer caso, um traço comum (embora
de forma alguma universal) entre os filhotes de sangue
fraco desta noite é que a superstição comum muitas vezes
os afeta. Conheci pessoalmente um jovem Caitiff que se
sentiu impedido de cruzar uma ponte — assim como as
lendas antigas, que afirmam que os Amaldiçoados não
podem atravessar águas correntes por conta própria.
Mas, sem dúvida, o leitor percebe que, no caso dos
Cainitas de sangue fraco (mas ainda sãos), a superstição
parece poderosa, mas a maldição real imposta por Deus
(incluindo o medo da luz do sol e a capacidade de
consumir apenas sangue) parece aliviada. Por quê? É
minha convicção que esses membros de sangue fraco não
estão além da redenção, que existe uma maneira de
“voltar à vida”, por assim dizer, para esses infelizes.
Exatamente como essa redenção pode ser alcançada, eu
não tenho certeza. De qualquer forma, a redenção está
além da compreensão das Criaturas, e é para eles que
agora redireciono meu foco.
Não‐Vida Como Uma Criatura
Claro, eu só posso adivinhar. No entanto, todo Cainita
tem alguma indicação do que é ser um desses horrores sem
mente, pois todo Cainita sabe o que é cair na loucura. O
frenesi provocado pela fome ou raiva é quase certamente o
que uma Criatura sente constantemente.
Isso não quer dizer, no entanto, que toda Criatura
passa seu tempo cambaleando em busca de vítimas. Se
fosse esse o caso, a Máscara não teria se mantido firme
por tanto tempo. As Criaturas não são inteligentes de
forma alguma, mas lembre­se de que eles operam pelo
instinto mais básico de todos: a sobrevivência. Ao perder
sua vontade humana e alma, eles se tornaram predadores
mais verdadeiros do que qualquer Cainita ainda
consciente. Afinal, um predador nunca arrisca sua vida.
Ele não entra em uma luta que não acha que pode
ganhar. Ele se alimenta dos fracos e dos doentes, e —
apesar das histórias de esposas sobre gatos — não brinca
com sua comida. Os Cainitas fazem todas essas coisas,
sem dúvida para afastar o peso da eternidade. As
Criaturas, tendo perdido seu senso de tempo (afinal,
como um animal pode reconhecer a passagem do tempo?)
não sucumbem ao tédio, e assim evitam os emaranhados
políticos e sociais da existência Cainita.
Capítulo Um: Pecados da Moralidade
19
Esse padrão de existência bastante animalístico
ajuda muito a explicar como As Criaturas continuam a
existir nas noites modernas. Eles não frequentam, como
regra, os rebanhos humanos, pois claramente não são
mais humanos. Em vez disso, eles se esgueiram pelos
esgotos, vagam pelos bairros e guetos, evitando presas até
que seja hora de se alimentar. Então, eles escolhem uma
vítima, a imobilizam ou a matam imediatamente e se
alimentam à vontade. Eles não fazem nenhum esforço
para limpar depois de si, é claro, e é assim que muitas
vezes são descobertos. Uma expectativa de vida (por assim
dizer) de mais de um ano é otimista para um Criatura.
Mas existem exceções, é claro. Um homem (ou
mulher, suponho) que era de vontade forte e racional nos
primeiros estágios da não­vida pode se tornar um
Criatura muito perigoso de fato. Tal Criatura pode
experimentar “momentos de clareza” durante os quais
um vislumbre de consciência retorna. Habilidades
sofisticadas como a linguagem, é claro, são impossíveis de
recuperar, mas o Criatura pode muito bem se lembrar de
como atirar com uma arma, trancar uma porta ou até
mesmo ligar (se não dirigir) um carro. Como os
amnésicos, que tendem a lembrar habilidades físicas em
vez de rótulos verbais (ou seja, esquecem a palavra
“carro”, mas ainda retêm a habilidade de dirigir), As
Criaturas às vezes surpreendem os perseguidores ao
tomar ações que pareceriam além de sua capacidade de
compreensão. De fato, provavelmente é. Enquanto
perseguia uma Criatura uma vez na cidade de Nova
Iorque, fiquei muito surpreso quando minha presa pegou
a pistola do cinto do policial que havia se alimentado
recentemente e atirou em mim. No entanto, não acredito
que a Criatura tivesse alguma ideia real do que estava
tentando realizar; ela continuou atirando mesmo depois
que a pistola estava vazia, e quando me aproximei, ela
largou a pistola e atacou com as próprias mãos,
esquecendo completamente a arma.
Ocasionalmente me refiro às criaturas como os
“restos” dos Cainitas, mas exatamente o que resta? Como
afirmado, as memórias e habilidades às vezes permanecem
em fragmentos bastante irregulares. Uma criatura pode
ou não caçar em áreas familiares… Já vi casos em que
criaturas fugiram da cidade de sua não­vida anterior, bem
como casos em que a criatura assombrou o Curral de sua
cidade como um fantasma horrível. A personalidade
permanece em graus variados. Por exemplo, se um
Membro é, na não­vida “normal”, do tipo que gosta de
testar seus limites experimentando dor, a criatura em que
ela se torna pode muito bem obter um prazer estranho ao
lutar com sua presa, permitindo­lhe lutar contra ela por
um momento, antes de morder. Esse tipo de retenção de
personalidade, entretanto, não é de forma alguma algo
em que se possa apostar. Normalmente, a pessoa que a
criatura já foi é incluída, com apenas comportamentos
habituais ou vestigiais surgindo ocasionalmente.
Os dons de Caim, porém, são outra questão. Com
o tempo, tive oportunidades de estudar com membros de
vários clãs e, de fato, quando me são oferecidas bênçãos,
quase sempre recebo pagamento em instrução. Portanto,
sinto­me qualificado para discutir a mecânica
(metafisicamente falando) de várias tendências dos
mortos­vivos.
Por exemplo, o aspecto aprimorado dos membros
de carisma. Esta habilidade sedutora depende
principalmente da força da personalidade e da capacidade
de infligi­la aos outros. Uma das primeiras habilidades
que confere é o poder de assustar um agressor
simplesmente rosnando para ele (uma habilidade
excelente de se ter, eu poderia notar, quando se está
andando em bairros desagradáveis e não se deseja sujar as
mãos). Isso pareceria um recurso ideal para uma Criatura.
Pouca habilidade verdadeira é necessária, afinal, e o efeito
não é diferente de um gato fazendo seu pelo ficar de pé
para parecer maior e mais perigoso. Mas e as outras
habilidades sob este guarda­chuva sobrenatural? O poder
dos sedutores e líderes, nas mãos (e mais importante, na
mente) de uma Criatura? Como até mesmo o mais
ranzinza dos Neófitos sabe, os princípios básicos de
qualquer vantagem membros são os primeiros porque são
os mais simples de dominar. Mas eles são mais simples
apenas por causa do referencial: o Neófito está
aprendendo a flexionar novos músculos, por assim dizer,
e ele está aprendendo por uma combinação de instinto
transmitido pelo sangue e instrução. Por outro lado, a
acuidade “física” sobrenatural, embora comum apenas
para alguns clãs, é básica o suficiente para que qualquer
Cainita possa aprendê­la sem instrução. Uma Criatura
parece transcender o processo de aprendizagem
tradicional com relação a tais vantagens e exercer apenas
aquelas habilidades que auxiliam em sua sobrevivência
(daí, exibindo Olhar Aterrorizante enquanto nunca
aprende a produzir Fascínio).
Enquanto um Cainita ainda são é limitado pelo clã
e pelo professor com relação ao aprendizado de novos
poderes, um Criatura é limitado pelo clã (até certo ponto)
e pela necessidade. Dons mortos­vivos que não têm uso
prático para a Criatura desaparecem da memória quase
imediatamente, enquanto aqueles que auxiliam na
sobrevivência noturna se tornam aprimorados a níveis
perigosos.
Por exemplo, muitos anos atrás, no que é agora a
Eslovênia, tomei conhecimento de uma Criatura que
havia vagado para o campo e se estabelecido em uma
pequena vila. Os moradores (em sua maioria cristãos
devotos) viviam com medo do predador que às vezes se
infiltrava nas janelas de suas crianças. Claro, todo tipo de
superstição surgiu em torno dessa prática. Alguns
acreditavam que um demônio do Inferno havia vindo para
arrebatar a próxima geração de verdadeiros crentes.
Outros supunham que era o espírito malévolo de um
avarento falecido, e assim por diante. (Este avarento, é
claro, era um judeu. Tendo observado esse estereótipo de
minha antiga fé aparecer e se alastrar ao longo dos anos, às
vezes fico feliz que minhas paixões estejam amortecidas,
senão meus inimigos poderiam seguir os cadáveres de
fanáticos até minha porta…) Em um ponto, um viúvo de
outra forma bem respeitado foi acusado de licantropia, de
todas as coisas. O que nunca ocorreu aos habitantes da
Pecados do Sangue
20
cidade foi que essa criatura era um predador,
simplesmente buscando a presa mais fácil. As crianças
eram muito fracas para lutar, e raramente tinham força de
vontade suficiente para invocar a fé para salvá­las (o que
pode muito bem ter funcionado, lembrando o efeito
pronunciado da superstição nas Criaturas). Eu removi a
Criatura da vila e descobri sua antiga identidade: um
Toreador que recentemente fugiu de Zagreb. Após fazer
algumas perguntas e rastrear seus movimentos de volta
para aquela cidade, descobri que na época de sua
degeneração, ele havia caminhado entre os mortos­vivos
por pouco menos de dois séculos. Durante esse tempo,
ele dominou a arte dos sentidos sobrenaturais, a ponto de
poder ler os pensamentos daqueles ao seu redor. Da
mesma forma, ele aprendeu o segredo de convocar outros
a grandes distâncias, mas nunca cultivou a terceira
habilidade comum ao Clã da Rosa, nem adquiriu
nenhuma habilidade naqueles dons curiosos fora de seu
próprio clã.
No entanto, quando o rastreei, ele quase me
superou em velocidade, uma façanha que poucos podem
se gabar. Duas vezes eu o perdi nas sombras e tive que
recorrer à minha própria habilidade de aguçar meus
sentidos (mas fraca naquela época) para encontrá­lo.
Depois da caçada, me perguntei como era possível que
uma besta sem mente pudesse ter aprendido a arte da
invisibilidade, quando isso confunde muitos Cainitas
mais inteligentes (admito que levei quase um ano para
aprender o truque de desaparecer nas sombras). Então
descobri que o ex­Toreador havia atacado e se alimentado
de um Neófito Malkaviano antes de deixar Zagreb, e a
progressão se tornou clara.
A Criatura, ao perder os últimos vestígios de
humanidade, perdeu suas habilidades em visão
sobrenatural e carisma. Ele reteve apenas o que precisava
para sobreviver: a habilidade de aguçar os cinco sentidos
“naturais”. No entanto, a afinidade de seu clã pela
velocidade finalmente se realizou. Como estava “no
sangue”, por assim dizer, e necessário para sua
sobrevivência contínua, ele desenvolveu a habilidade
instintivamente. Então, ao se alimentar do Lunático, ele
se viu manifestando o poder da furtividade e aprimorou a
habilidade ao ponto de poder se infiltrar em uma
moradia mortal sem ser notado ou causar alarme. Isso era
tudo que a Criatura precisava para continuar sua não­
vida, e ele teria provavelmente continuado a predar as
crianças da vila até que a má sorte, caçadores ou alguma
força sobrenatural interviessem. Como acontece, suas
predações não deixaram os habitantes da cidade ilesos. A
vila permanece até esta noite (embora tenha crescido
consideravelmente, é claro), e os edifícios construídos na
década durante e após a besta andar entre eles são
notáveis porque poucos quartos têm janelas grandes o
suficiente para admitir algo maior do que um gato ou
perto o suficiente do chão para um homem poder
alcançar o peitoril pulando.
Caçando Criaturas
Um Cainita que caça Criaturas (e existem razões
para fazê­lo, como explicarei em breve) é melhor lembrar
que essas Criaturas existem em um estado semelhante ao
frenesi constante. Eles não sentem dor, e um ferimento que
não incapacita é geralmente ignorado. Um Cainita que teve
sangue poderoso durante sua não­vida “normal” não perde
potência ao se tornar uma criatura. Os restos despedaçados
de um Cainita removido apenas sete vezes de Caim é uma
criatura sete vezes removida dessa forma. Combine
quaisquer forças que a criatura tinha antes de sua queda
com sua astúcia animal e instintos de predador, e você terá
alguma ideia de que presa cautelosa ela pode ser.
Por exemplo, o medo do fogo e da luz do sol —
chamado de Rötschreck ultimamente — afeta As Criaturas
em um grau muito maior. Isso não sugere que As
Criaturas são covardes — novamente, eles são predadores,
e assim como um lobo foge dos sons e cheiros estranhos
do homem, uma Criatura foge do fogo com toda a sua
considerável força. Portanto, usar fogo para destruir uma
Criatura é possível, mas entenda que ele entrará em uma
fúria mortal e literalmente se despedaçará tentando
escapar. Por outro lado, um maçarico portátil é excelente
como um dispositivo de roteamento ao perseguir
Criaturas — você pode ter certeza de que eles fugirão do
fogo, não importa o quê. O único truque é acompanhar.
Outra precaução ao perseguir essas Criaturas deve
ser óbvia — a Máscara. Criaturas, é claro, não dão a
mínima para isso e invocarão seus dons mortos­vivos
abertamente, alimentar­se­ão de mortais, levantarão
carros ou qualquer outra coisa que sintam que devem
fazer para escapar de um caçador, não importa quem
esteja assistindo. Portanto, deve­se ter muito cuidado para
afastar As Criaturas de áreas povoadas, seja em direção à
água (novamente, a maioria deles se afasta dela) ou para
uma área fechada (qualquer prédio abandonado, ou
mesmo um negócio fechado — a ideia é restringir sua
liberdade de movimento). A maioria dos príncipes, se
informados de uma Criatura nos limites da cidade,
“emprestará” a um caçador a assistência de um ou mais
Neófitos. Às vezes, o algoz de uma cidade (se existir)
convocará Neófitos para o serviço. Embora isso possa
parecer um pouco excessivo — uma coterie inteira para
um louco animalista? — o leitor deve lembrar que o
caçador ou algoz não tem como avaliar o poder de uma
Criatura apenas olhando para ela. O Criatura poderia ser
os restos de um neófito, certamente — mas como
mencionei, o Criatura também poderia ser tudo o que
resta de um ancião poderoso.
Uma vez tive a oportunidade de conversar com um
Cainita que cometeu diablerie em uma Criatura. Antes
de sucumbir à Besta, a Criatura era um cristão devoto há
muitos anos, e de fato, essa fé era o último baluarte
contra a insanidade. Perguntei ao Cainita que consumiu a
Criatura se ela havia assimilado alguma das memórias da
Criatura (me levaram a acreditar que isso acontece com
os diableristas com bastante frequência). A sua respostas
foi a seguinte. O leitor deve lembrar que o que ela
“lembra” é muito provavelmente as últimas memórias do
Cainita quando ele perdeu a razão e se tornou uma
Criatura.
Capítulo Um: Pecados da Moralidade
21
“Eu me lembro de um poço. Abaixo de mim, um
poço. Meus pés cada um de um lado do poço. Eu me
lembro do poço ficando mais largo e algo no poço,
abaixo, gritando. Mais como um lamento, na verdade.
Como se estivesse com dor de fome. Não há motivo para
pensar em fome, mas acho que é por isso que ele uivou. E
então mudou, e eu me lembro de segurar uma escada ou
uma corda, e escorregar. E eu continuei tentando lembrar
as palavras da Ave Maria, mas continuei preso depois de
‘fruto do teu ventre, Jesus’. E então eu caí e o lamento
ficou mais alto. E então percebi que era eu lamentando.”
Não tenho ideia de quanto disso é exagero. Devo
relatar, em toda a justiça, que o diablerista em questão é
um Malkaviano, o que certamente me faz levar a história
com uma pitada de sal.
O próximo motivo comum para caçar Criaturas, e
o mais comumente citado como primário, é proteger a
Máscara. Membros humanos às vezes falam em proteger a
cidadania em geral desses horrores, mas isso, é claro, é
bobagem. Uma Criatura deixado à própria sorte será,
mais cedo ou mais tarde, descoberta pelo mundo mortal,
e Cainitas de certa idade sabem muito bem o que
acontece a seguir.
Alguns Cainitas caçam Criaturas por esporte. Essa
não é uma atitude que eu possa dizer que entendo. Um
caçador preparado (ou um grupo deles) geralmente é mais
do que um adversário para uma Criatura simplesmente
porque os caçadores podem esperar que a Criatura
responda a estímulos de uma certa maneira. O perigo
aqui é muito o mesmo que o dos humanos caçando um
grande gato. Se o gato decide que você é uma ameaça, ele
vai se esconder. Se você o encurralar, ele luta para
sobreviver. No entanto, a força das armas e da estratégia
geralmente prevalece, a menos que os caçadores tenham
julgado seriamente as capacidades de sua presa. Além
disso, felizmente, As Criaturas são bastante raras. A
maioria dos Membros nunca verá uma. Aqueles que o
fazem podem não ser capazes de distingui­la de outro
Membro, a menos que vejam evidências reveladoras de
seu estado mental deplorável.
A segurança dos Cainitas de uma cidade também é
uma preocupação. Destruir os “cães loucos” da sociedade
dos Membros é tão necessário para nós, quanto abater os
verdadeiros cães loucos, é para os mortais. Embora a
maioria das criaturas não tente se alimentar de Membros,
ocasionalmente alguém percebe que o sangue tirado de
sua própria espécie é mais satisfatório do que o de uma
presa mais fácil. Eu nunca ouvi falar de um Cainita sendo
diablerizado por uma criatura, mas isso certamente não
quer dizer que isso não poderia acontecer. Não tenho
ideia do efeito que isso pode ter sobre a criatura (e não é
um experimento que estou preparado para realizar), mas
suponho que isso possa conceder um momento de
lucidez à criatura ou, inversamente, empurrar a criatura
mais fundo nas profundezas da loucura.
A razão final e menos comum que conheço para caçar
e matar esses infelizes é a misericórdia. A perda da
consciência, da consciência que nos torna seres pensantes, é
uma das coisas mais assustadoras que posso imaginar.
Portanto, alguns de nós (sim, eu incluso) rastreamos os
infelizes Criaturas e acabamos com sua existência na
esperança de que eles conheçam alguma paz no além.
Grupos de Criaturas
Deixando a diablerie de lado, As Criaturas atacarão
outros Cainitas com a intenção de se alimentar se
sentirem que podem fazê­lo com segurança. Um Cainita
que demora em uma refeição pode de repente se
encontrar atingido por trás com um bastão (como
Criaturas inteligentes o suficiente para surpreender,
Cainitas são certamente inteligentes o suficiente para
empregar armas). Tais Criaturas “canibais” são mais raras
do que seus companheiros, já que os instintos de
predador garantem que eles se afastem de presas tão
capazes. No entanto, se duas ou mais Criaturas
conseguirem se encontrar, algo curioso pode acontecer.
Em vez de lutar, as criaturas podem se juntar em grupos
sociais análogos a matilhas de lobos.
Isso só faz sentido, considerando que As Criaturas
são descendentes de animais sociais. Eu observei esse
fenômeno pessoalmente apenas uma vez, mas tenho em
excelente autoridade que o caso que vi não era totalmente
atípico. Minha experiência em observar um grupo de
Criaturas em Detroit foi esta.
Eu estava na cidade caçando um c, os restos de
um Abraço em massa do Sabá. Ele havia fugido de
uma batalha com os Membros da Camarilla e escapado.
Esta Criatura não teria durado muito de qualquer
maneira — ele era muito flagrante sobre suas predações e
histórias de um “assassino canibal” já haviam começado
a surgir entre os pobres da cidade. Eu encontrei a besta e
comecei a desviá­la de áreas habitadas para que eu
pudesse me livrar dela.
Eu o conduzi em direção ao rio. Ao chegar às
margens, fiquei surpreso ao ver uma figura correndo em
direção à criatura. O recém­chegado correu com um passo
galopante que não me pareceu nada humano. Sendo
assim, decidi ver o que era o recém­chegado e como a
Criatura reagiria a ele (e vice­versa). Para minha surpresa,
os dois seres se avaliaram, e a criatura que eu estava
perseguindo abaixou a cabeça, aparentemente
reconhecendo o outro como seu superior. Os dois então
se viraram para mim. Não querendo perder esta
oportunidade única de estudo, fugi da área e voltei para
observar.
A segunda criatura era obviamente mais velha,
como pude ver pelas roupas esfarrapadas, e mais forte. Os
dois protegeram um ao outro e caçaram em conjunto.
Sempre que eles se alimentassem, entretanto, a criatura
dominante se alimentaria primeiro, assim como faz o
líder de uma matilha de lobos. Eu estaria interessado em
ver como uma terceira criatura teria afetado a hierarquia,
mas fui forçado a destruir os dois antes de atrair a atenção
do Sabá local ou de qualquer autoridade mortal. Posso
dizer, porém, que o jovem lutou comigo com toda a sua
(considerável) força quando viu que eu pretendia ferir seu
companheiro.
Pecados do Sangue
22
O fenômeno do grupo não é universal, no entanto.
Quando duas Criaturas se encontram, o resultado é pelo
menos tão provável que seja uma batalha acirrada entre
predadores competindo quanto é a formação de um
grupo social. Isso, também, é algo que testemunhei.
Enquanto viajava entre Nova Orleans e Nova
Ibéria, me perdi e fui forçado a dormir durante o dia em
um motel à beira da estrada. Acordei naquela noite com
algo arranhando meu braço enquanto eu descansava
debaixo da cama.
Após me extrair da minha (admitidamente
bastante tola) disposição para dormir, avaliei o intruso.
Era obviamente um Cainita, e sua aparência desgrenhada
e olhos opacos e semelhantes aos de um animal o
marcavam como uma Criatura. A única arma que eu
tinha à mão era uma pequena pistola, e duvido que teria
serventia para alguma coisa. Enquanto eu estava me
preparando para retardar a besta usando meus dons
temporais, outra criatura deformada entrou no quarto.
Embora eu não tivesse como adivinhar a linhagem
da primeira Criatura, a segunda era obviamente os restos
de um Gangrel. Seus olhos brilhavam de vermelho, ele
ostentava garras incrustadas de sangue, e tinha pelo
estranho e irregular em todo o tronco. Pensei por um
momento que essas Criaturas faziam parte de um grupo
(e estava começando a reconsiderar minhas opções)
quando a primeira Criatura se lançou no recém­chegado.
Quando ele fez isso, pude observar sulcos profundos em
suas costas — claramente esses dois infelizes haviam se
confrontado antes. Eles estavam mais interessados em
lutar um contra o outro do que me incomodar, então eu
não estava preocupado com minha segurança. No
entanto, eu queria ter certeza de que nenhum dos outros
hóspedes do motel os visse ou caísse vítima de sua fúria.
Cuidadosa e lentamente, eu os conduzi para o
pântano. Eles me ignoraram, exceto quando eu atacava
diretamente, e quando eu fazia isso, o que eu atacava
tentava fugir (considerando­se superado). Finalmente,
quando ambos os combatentes estavam exaustos e
feridos, consegui subjugá­los e estudá­los com mais
detalhes. Descobri que ambos, As Criaturas estavam
caçando na área, e cada um havia estado expandindo seu
próprio “território” até que as duas criaturas se
encontraram. Eles vinham caçando um ao outro desde
então, entrando em confronto quando se encontravam,
sem que nenhum deles ganhasse vantagem suficiente para
vencer.
Eu nunca descobri a identidade da Criatura
Gangrel, mas o outro acabou sendo um Ventrue e o filho
de uma harpia de Nova Orleans. Acontece que essa
harpia, como acontece, ofereceu para pagar
generosamente para manter a notícia do destino de seu
filho longe dos ouvidos de seus companheiros. Eu não
tinha desejo de me envolver com as harpias de qualquer
cidade, no entanto, e por isso recusei qualquer
recompensa pelo silêncio.
Cainitas de todos os tipos são raros, é claro, e
Criaturas ainda mais, o que significa que as chances de
 Narrando para Criaturas
As informações a seguir são destinadas a
Narradores que desejam usar criaturas em suas crônicas.
• Moralidade: Uma criatura é simplesmente um
Membro cuja Humanidade (ou outra moralidade) caiu
para zero. Como resultado, a Besta está constantemente
no comando do corpo. Como mencionado
anteriormente, esse comando não precisa ser um
massacre sangrento constante. A Besta pode certamente
ser astuta quando necessário, e é justamente esse baixo
senso animal de si que impede a criatura de
simplesmente se autodestruir mais cedo, como acontece
com a maioria dos Cainitas que sofrem o wassail.
• Sem dor: Criaturas não reconhecem dor de
ferimentos contusos ou letais, absorvendo tais
ferimentos com ­1 de dificuldade. Sofrem penalidades
de ferimento apenas se forem causados por fogo ou luz
solar, e mesmo assim, geralmente entram em frenesi (ou
Rötschreck) tão rapidamente que a dor não as
atrapalha.
• Disciplinas: Criaturas não aprendem
Disciplinas da mesma maneira que a maioria dos
Membros. Em vez disso, compreendem os conceitos
mais simples e úteis (para elas) da Disciplina em questão
— raramente acima do nível três. Por exemplo, uma
criatura desenvolvendo Ofuscação provavelmente
aprenderia apenas os dois primeiros níveis, pois o
terceiro é complexo demais para sua mente. As
Disciplinas físicas (Potência, Fortitude e Rapidez) não
têm limite máximo, exceto o máximo ditado pela
geração da criatura. Disciplinas fora do clã só podem ser
aprendidas se a criatura já tinha alguma habilidade na
Disciplina antes da degeneração, ou se consumir pelo
menos cinco pontos de sangue de um vampiro cujo clã
as exibe comumente
• Animalismo: Criaturas são quase impossíveis
de influenciar mental ou emocionalmente. Todos os
usos de Dominação e Presença (exceto Olhar
Aterrorizante) recebem um modificador de dificuldade
de +2.
• Aparência: Uma criatura pode ter uma
pontuação de Aparência não maior que 1. Criaturas
Nosferatu são frequentemente indistinguíveis de “Ratos
de Esgoto” normais, o que as torna ainda mais
perigosas.
• Memórias: O quanto uma criatura se lembra
depende de sua pontuação de Força de Vontade. Uma
criatura com Força de Vontade 3 ou menos se torna um
monstro sedento de sangue, incapaz de qualquer
estratégia ou razão real, caçando principalmente por
instinto animal. Uma criatura com uma pontuação de
Força de Vontade mais alta, no entanto, pode
realmente reter Habilidades. Para cada ponto de Força
de Vontade acima de 3, a criatura retém um ponto de
uma Habilidade dada. Por exemplo, um vampiro com
uma pontuação de Armas Brancas 3 e Força de
Vontade 5 retém dois pontos de Armas Brancas.
As Habilidades de Prontidão, Esportes, Briga,
Esquiva, Intimidação e Furtividade não são afetadas por
esta restrição. Como criaturas não têm Humanidade,
elas não podem possuir o Talento Empatia.
Capítulo Um: Pecados da Moralidade
23
Observe que algumas Habilidades são
inadequadas para criaturas, independentemente de sua
pontuação de Força de Vontade. Nenhuma criatura
reterá muito domínio em Acadêmicos ou Computação.
Da mesma forma, reter uma pontuação em Linguística
significa apenas que a criatura pode entender os
idiomas que conhecia antes (em oposição a realmente
falar).
• Natureza: A Natureza de um vampiro pode
influenciar seu comportamento como criatura. Em
geral, se a criatura não percebe sua não­vida em perigo
direto e não está com fome (seu reservatório de sangue
está mais de 3/4 cheio), ela perseguirá interesses
relacionados à sua antiga Natureza. Por exemplo, uma
criatura com Natureza de Arquiteto pode observar o
antigo mito de "contar grãos de arroz espalhados" ou
empilhar terra em torno de seu refúgio, enquanto uma
criatura Monstro matará repetidamente,
independentemente do quão cheio esteja seu
reservatório de sangue.
• Geração: Idade e potência do sangue não
mudam com a perda da Humanidade. Uma criatura
pode ser de qualquer idade ou geração. Criaturas mais
velhas não diferem muito no comportamento em
comparação com as mais jovens.
• Frenesi/Rötschreck: Criaturas verificam para
frenesi e Rötschreck com +3 de dificuldade. A maioria
foge de fogo ou luz solar sem tentar resistir ao medo
vermelho.
• Diablerie: Consumir a alma de uma criatura é
arriscado. Além da perda usual de Humanidade, o
diablerista deve imediatamente verificar para frenesi
(dificuldade 8). Pesadelos atormentam frequentemente
o diablerista por meses a seguir. Além disso, embora a
"onda" de diablerie ainda ocorra, a geração diminuída
tem um preço. Se a criatura for de geração menor que a
do diablerista, o jogador do diablerista deve rolar Força
de Vontade (dificuldade 7). Se obtiver sucesso, sua
geração diminui em um, mas ele ganha imediatamente
um transtorno (dependendo do gosto do Narrador – os
bestiais são mais apropriados). Criaturas só cometem
diablerie se a criatura em questão já o fez (antes de se
tornar uma criatura) e está sozinha e não perturbada.
• Superstição: Enquanto o narrador do texto
anterior exagera muito a vulnerabilidade aumentada de
uma criatura à superstição, muitas criaturas são de fato
afastadas por alho, cruzes ou outros "remédios
populares" se o usuário obtiver sucesso em uma rolagem
de Força de Vontade (dificuldade 8). Se o jogador do
usuário tiver Fé Verdadeira, a criatura recua
automaticamente e foge, se possível. Uma estaca no
coração não destruirá uma criatura, mas a paralisa
como de costume.
• Bandos de criaturas: Grupos de criaturas
ocasionalmente se comportam conforme declarado em
outro lugar no texto. O mais forte se torna uma espécie
de líder padrão, e o bando afeta tentativas rudimentares
de estratégia (acuando a presa como lobos, atacando em
massa, etc.). Criaturas mais fracas lutam até a Morte
Final para proteger o líder
encontrar um grupo ou uma disputa são extremamente
pequenas. No entanto, se algo acontece apenas uma vez
por século e alguém já viu a passagem de 15… bem, deixe­
me encerrar minha discussão sobre Criaturas dizendo
que, como todos os animais selvagens, eles são
imprevisíveis e perigosos, e (obviamente) não têm
limitações morais quando se trata de sobrevivência.
Outras Trilhas Para Golconda
Pareceria que Golconda é a extrapolação lógica da
humanitas para um Cainita. Mas e As Trilhas da
Sabedoria? Eles estão isentos de qualquer possibilidade de
redenção, simplesmente porque escolheram a Trilha que
melhor lhes convinha?
A resposta é não. No entanto, a possibilidade
reside, acredito eu, em abandonar a Trilha e redescobrir a
ética e a moralidade humanas. Este processo leva anos,
possivelmente décadas, e dado o caráter desumano de
muitas Trilhas, este objetivo pode ser inalcançável. No
entanto, o lado humano pode ser recuperado se o
vampiro for forte o suficiente para tentar.
Quanto àqueles Cainitas que tentam alcançar
Golconda (ou um estado semelhante) ao atingir o ápice
de sua Trilha particular, não tenho uma ideia verdadeira,
apenas suposições. Eu deveria pensar que algumas Trilhas
podem permitir isso com uma pequena mudança herética
na ética da Trilha, enquanto alguns outros (notavelmente
a Trilha da Metamorfose) parecem ter esse tipo de
transcendência em mente como um objetivo. No entanto,
a verdadeira Golconda vem de conquistar a Besta e
reparar os crimes de alguém, não de um estudo do que é
ser um monstro. Portanto, devo concluir que, embora
algum tipo de recompensa espere os seguidores das
Trilhas da Sabedoria, a recompensa não é a Trilha da
Misericórdia prometido por Gabriel.
À Introspecção
A Golconda é sugerida no Livro de Nod: “… pois
mesmo agora há um caminho aberto, uma estrada de
Misericórdia, e você deve chamar esta estrada da
Golconda. E conte isso a seus filhos, pois por esse
caminho eles poderão voltar a habitar na Luz.” Nesse
contexto, parece derivar diretamente de Deus. No
entanto, é importante notar que o “Deus” do Livro de
Nod é a mesma entidade que tanto os Judeus como os
Cristãos adoram (mesmo que eles próprios não admitam
esse ponto) e que alguns Cainitas (meu avô entre eles,
alegadamente) antecede até mesmo o judaísmo. Então, de
onde se originou a Golconda?
Falei uma vez com um membro do enigmático
Salubri. Estou ciente dos rumores que cercam o seu clã;
Também estou ciente de que muitos desses rumores
podem ser rastreados até os Tremere, e prefiro confiar na
experiência aos Bruxos. A discussão foi breve, mas a
Cainita expressou a opinião de que o fundador de seu clã
descobriu realmente a Golconda após extensas viagens
pelo Oriente Médio e Extremo Oriente. Como passei os
primeiros séculos de não­vida entre os Cainitas de
Jerusalém e dos países vizinhos e nunca ouvi falar de
Pecados do Sangue
24
Redenção?
Anteriormente, afirmei que a seção final
do meu manuscrito falaria por si. Também disse
que apenas duas opções existem para Cainitas
que desejam derrotar a Besta. Nessa última
afirmação, eu errei. Existe outro método:
Golconda.
Não consigo pronunciar a palavra acima
de um sussurro. Que eu ainda tenha tanta
reverência pela palavra — pelo conceito — pode
parecer risível para alguns, diante do meu...
Não, estou me adiantando. Devo separar
minhas experiências da verdade, desapegar­me
da emoção, como convém a um dos Impiedosos.
Muito bem, então. O leitor pode perguntar, “O
que é a Golconda?”
Mitos cercam a palavra. A maioria é
completamente falsa; alguns são apenas
equivocados. O que Golconda não é, no
entanto, é um estado de tolerância ou aceitação.
Um Cainita que alcançou Golconda não é, pela
moralidade humana convencional, “bom”,
“cuidadoso” ou “tolerante”. Golconda não é
para os de coração mole, pois a disciplina e
autopercepção que exige é fenomenal.
Golconda não é um estado alcançado
seguindo uma religião ou fé específica. Em
minhas viagens, ouvi um Cainita pregando que
o verdadeiro caminho para o perdão reside na
atenção devota aos Cinco Pilares do Islã, que
Alá perdoaria aqueles Cainitas que seguissem a
fé muçulmana e os recompensaria com
Golconda. Naquela noite, quebrei minha prática
usual de observância estrita com outros Cainitas
e discuti com ele. Como, perguntei, a fé
muçulmana poderia ser o caminho para o
perdão quando essa fé (como a maioria das
outras) era um produto da necessidade de
mudança social na sociedade mortal, e quando
muitos Cainitas (incluindo eu) antecediam a
incepção da religião por centenas de anos? Ele
não tinha resposta para mim, além do usual “Alá
assim o quer”. Embora eu não seja propenso a
surtos de emoção forte de qualquer tipo,
naquela noite fui tomado por nojo.
Da mesma forma, nenhuma seita ou clã
tem mais informações sobre Golconda do que
qualquer outro. Os misteriosos Inconnu são
rumores de perseguir a Golconda, mas também
são rumores de serem os últimos dos
Antediluvianos, um grupo de infernalistas
adoradores de demônios, guardiões da Gehenna e
assim por diante. Em todos os meus séculos de
não­vida, nunca vi ou ouvi falar de um membro
desse grupo estranho, e sou forçado a afirmar
que eles podem não existir de todo.
 Saulot ou de seu envolvimento com a Golconda, sou
forçado a duvidar da veracidade dessa afirmação. No
entanto, também sou forçado a admitir que a mulher que
fez a declaração demonstrava uma serenidade interior
muito superior à sua idade (confessou que era pouco mais
que uma recém­nascida). Sinto que a resposta não está na
espiritualidade, mas na ciência. Para cada ação, segue­se
uma reação igual e oposta. A ação do deslizamento de um
Cainita para a degradação, eventualmente terminando
em sua Morte Final ou em um breve e violento período
de wassail , tem sua reação no clamor da alma que partiu,
mas ainda existente, do Membro. A alma é imortal e
forte, mesmo que a Besta enfraqueça a mente do
Membro. Assim como a Besta tem o seu próprio fim em
mente — rendição completa aos instintos básicos — a alma
também tem um objetivo final, “habitar na Luz”.
Peço desculpas ao leitor. Muito do que precede é
minha própria filosofia, e não planejo ofender. Mas, ao
seguir a Golconda, a religião humana dogmática não tem
lugar. Não há textos sagrados para oferecer códigos de
comportamento pré­embalados, não há Pilares, não há
Mandamentos e raramente há professores. O passo mais
difícil no caminho para a Golconda (além, talvez, de ver a
Trilha ao todo) é o primeiro, porque o buscador caminha
por uma trilha perigosa, sozinho no escuro.
A escolha de dar esse primeiro passo é muitas vezes
feita sem conhecimento ou mesmo rumor da Golconda.
Afinal, a Camarilla a considera, na melhor das hipóteses,
uma alegoria e, na pior, um conto de fadas. O Sabá,
desnecessário dizer, despreza a própria ideia de penitência
e remorso em favor de liderar uma não­vida sem
arrependimentos. Mas às vezes, um Cainita vê algo que o
faz lembrar do que era ser mortal. Não precisa ser
significativo, mas de alguma forma, toca um coração
morto. Um casamento, um nascimento, uma morte, um
funeral, uma criança brincando — as possibilidades são
tão infinitas quanto as maneiras que os mortais
expressam suas emoções. O ponto é este: O Membro
lembra as emoções, mesmo que realmente as
experimentar esteja além de sua capacidade, e ele sente o
peso da morte e do tempo que mencionei na primeira
parte deste texto. Esse fardo esmaga os fracos. As últimas
memórias de uma Criatura podem muito bem incluir tal
momento, mas aqueles que são fortes o suficiente para
suportar a culpa, e honestos o suficiente para identificá­la,
se encontram agindo sobre ela. E essa ação é onde a
estrada para a redenção se torna rochosa.
A abnegação não, é algo fácil para os mortais e é
amplamente considerada virtuosa. O jejum, a abstinência
sexual e assim por diante são vistos como ferramentas
para nos aproximarmos do Todo­Poderoso. Tenho certeza
de que não preciso lembrar ao leitor os efeitos do jejum
sobre nós. A fome se torna maior do que podemos
suportar. E assim alimentar o cainita penitente é uma
provação; muitos desses Cainitas recorrem à sedução ou à
obtenção de vitae de fontes adormecidas, ou até mesmo à
alimentação de animais. De qualquer forma, um Membro
que busca a salvação deve evitar matar a todo custo,
mesmo em autodefesa. Tirar uma vida é um método
Capítulo Um: Pecados da Moralidade
25
seguro de perder todo o progresso em direção à Golconda
— e isso inclui assassinato por inação (o que significa que
os Cainitas que tentam encontrar a Golconda devem
cuidar cuidadosamente de seus associados).
A maioria dos Cainitas nunca avança o suficiente
no caminho para ver o que vem a seguir. Não matar
mortais parece estranho e desnecessário para muitos de
nós, e a mudança é difícil para os mortos­vivos. Mas um
Cainita que consegue descobre que mais do que simples
negação está envolvida. Um Membro buscando a
Golconda deve primeiro buscar expiação.
Expiação, absolvição, redenção, salvação e até o
conceito mais básico: perdão. Na vida, eu não tinha ideia
de como perdoar. Eu me lembrava de ofensas contra mim
por anos, e alimentava rancores estudiosamente. Como
tal, eu nunca esperava perdão, e minha esposa
frequentemente me surpreendia ao me conceder quando
eu ficava muito tempo no mar, quando eu apostava meus
ganhos e assim por diante. Eu não era um homem forte o
suficiente para perdoar.
Peço desculpas. Restam apenas algumas horas até o
amanhecer. Verei isso até o fim.
O suplicante deve expiar todos e quaisquer crimes
que cometeu. Isso pode, no caso de Cainitas mais jovens,
se estender aos pecados cometidos enquanto ele ainda era
mortal. De qualquer forma, a expiação assume muitas
formas. Talvez o Membro procure aqueles a quem
prejudicou e simplesmente confesse e peça desculpas.
Talvez ele busque corrigir o erro secretamente. Ou, se não
houver maneira possível de expiar diretamente um erro (o
Cainita se alimentou e matou alguém e o deixou, e ele
não tem como descobrir o nome da vítima), o suplicante
pode buscar prevenir crimes de natureza semelhante.
Novamente, observe que o Cainita não busca
expiar por causa da responsabilidade, seja para si ou para
um ser superior. O desejo de se arrepender deve ser
autônomo — o Membro deve sentir e demonstrar
verdadeiro remorso, caso contrário, nenhum progresso é
feito. Um Cainita que exibe tais comportamentos
abertamente chamam eventualmente a atenção de um
tutor. Se esse tutor escolhe se revelar é outra questão;
depende em grande parte se o tutor sente que o
suplicante se beneficiaria com a instrução, e de fato se o
suplicante tem alguma esperança de alcançar a Golconda.
Afinal, alcançar a Golconda requer negar os
impulsos e, assim, triunfar sobre a Besta. Não se permite
à Besta uma “liberdade controlada”, ela é subjugada. Isso
significa que um Cainita que não consegue controlar os
acessos de frenesi ou Rötschreck não é um candidato para
Golconda. O autocontrole é fundamental para atingir o
estado, assim como a autoconsciência — é preciso ser
capaz de se examinar honestamente e perguntar: “Posso
me controlar? Posso me negar? Posso me perdoar?” Não
são perguntas com respostas fáceis. O tutor pode escolher
fazer essas perguntas para o suplicante, para colocar o
buscador em situações onde ele será testado. No entanto,
em geral, a melhor lição que um tutor pode dar é uma de
esperança.
Pecados do Sangue
26
Afinal, a estrada é muitas vezes ingrata, e como os
tutores são raros e a estrada é muito pessoal, é muito
difícil perceber se algum progresso está sendo feito. Pelo
menos ao se violar uma regra, torna­se consciente disso
— a degeneração é muito mais fácil de rastrear do que a
redenção. Um tutor pode fornecer o benefício do
conforto e dar ao buscador algumas sugestões sobre para
onde ir a seguir.
No entanto, um aspirante a buscador deve ter
cuidado. A Golconda, como dito, é pessoal. O que pode
fazer um Cainita chorar de culpa pode não provocar
nenhuma reação real em outro. Por essa razão, os
tutores observam seus protegidos com muito cuidado
por algum tempo antes de se revelarem, se é que se
incomodam. Se um buscador anuncia que planeja buscar
a Golconda e é recompensado com um tutor quase
imediatamente, é mais provável que um ancião tenha
encontrado um peão disposto do que um Membro
iluminado tenha encontrado um discípulo.
E isso me leva a outra advertência sobre a busca
pela a Golconda: Evite a Jyhad. A Jyhad é apenas um
brinquedo para os antigos, uma distração da eternidade.
Um Cainita em busca da Golconda não pode se
permitir tais flertes. A luta com os anarquistas ou o
Sabá? A aquisição de Nova Iorque pela Camarilla? A
guerra entre os Membros e os estranhos Cataios na
Costa Oeste? Tudo isso não tem importância em
comparação com (por exemplo) um homem sendo
espancado até a morte por uma gangue em sua própria
cidade. Os Cainitas estão além das restrições sobre
matar no que diz respeito à Golconda (embora
certamente assassinato premeditado ainda seja
assassinato premeditado, e nem preciso mencionar que
a diablerie provavelmente proíbe qualquer chance de
alcançar a Golconda). Isso significa que o contato com
outros Cainitas é proibido? Não, não por si só, mas
considere os fatores. Se você passar algum tempo perto
de Cainitas que não estão tentando encontrar a
Golconda (e é raro que dois Membros tentem a estrada
juntos), você provavelmente terá que impedi­los de
matar. É igualmente provável que você se envolva no
tipo de absurdo pseudo­político tão comum na
existência noturna de nossa espécie, e isso serve apenas
para distraí­lo do assunto em questão. A Golconda é um
caminho que é melhor percorrer sozinho.
Mas, novamente, a maneira de se tornar forte não
é testar a si? E, se ao se associar com outros Cainitas,
encontrarmos esses testes, não poderia isso ser um
caminho para a redenção? Na verdade, tenho certeza
que sim. Um círculo de Membros (pois tentar alcançar a
Golconda enquanto manter uma participação ativa no
Sabá é provavelmente um teste muito grande)
certamente forneceria inúmeras oportunidades para
provar a fortaleza espiritual de alguém. Tal buscador
provavelmente precisaria estar em posição de impedir
qualquer atrocidade real que os outros desejassem
cometer, mas isso talvez pudesse ser mascarado por uma
lealdade excessivamente desenvolvida à Máscara. E essa
mesma Máscara fornece um componente necessário
para a Trilha para a Golconda — contato com a
humanidade — que se tornar autarcas pode inibir.
Afinal, os mortais têm a liberdade que aquele que
busca anseia. Eles têm seus impulsos básicos, é verdade,
mas seus impulsos básicos não os forçam a entrar em
fúria homicida e consumir o sangue de qualquer coisa
que esteja por perto. Os mortais são capazes de tais atos
definidores de altruísmo, às vezes na mesma hora em que
traem aqueles que amam. Essa dicotomia, tão
grosseiramente exagerada no nosso estado, é bastante
digna de estudo e talvez de emulação. Assim, o buscador
observa os mortais, tentando retornar a algo que se
aproxime do seu próprio estado humano.
Este foco na humanidade é uma das principais
razões pelas quais o Sabá detesta tanto a noção da
Golconda. Eles veem isso como uma regressão, como um
homem adulto vestindo panos e tentando voltar à
infância. Mas este realmente não é o caso. Um ser
humano nunca enfrenta as tentações que enfrentamos.
Os mortais têm suas próprias razões para serem fortes,
mas são tentados pela comida, pela ganância, pelo sexo e
assim por diante. Muitas das suas tentações, embora
repreensíveis em alguns lugares, raramente violam
Anexo
Entre estes papéis, o leitor encontrará uma carta
de um mentor para um suplicante. Por favor, trate­a
com cuidado.
Esta noite, testemunhei um grande
triunfo do espírito. Vi possibilidade em
você. Apesar de como a luta terminou,
você está no caminho certo.
Certamente, pode esperar que os
brutos ignorantes do Sabá reajam da
maneira que fizeram. Os caminhos que
seguem são deles; nós não buscamos
converter outros. Você os impediu de
massacrar aqueles mortais; você não
falhou simplesmente porque eles não
entenderam seu raciocínio.
Por favor, entenda: Não sinta
culpa ou vergonha por terminar suas
não­vidas. Não vou brincar de Deus e
dizer que eles mereciam, mas você agiu
verdadeira e honrosamente. Você os
avisou que se defenderia e sobre sua
idade. Eles deveriam ter fugido. Em
vez disso, atacaram. Por favor, Andy,
não sofra por eles. Você ainda tem
muito a fazer.
Lux Veritas,
—C.
Capítulo Um: Pecados da Moralidade
27
quaisquer tabus básicos. A nossa tentação, a nossa
necessidade — consumir o sangue dos vivos — faz
exatamente isso. É quase impossível manter a nossa
humanidade sem violar uma lei da humanidade tão inata e
tão sagrada que figura em quase todas as religiões do
mundo. E há o velho enigma da nossa existência: Sou uma
fera para não me tornar uma fera.
O buscador da Golconda responde a este enigma
com um sonoro “Não”.
Devemos sobreviver, sim. Devemos nos alimentar,
concedido. Mas não estamos destinados a nos tornar uma
besta para afastar a Besta. É por isso que os buscadores da
Golconda não matam, e de fato alguns até pedem
permissão para se alimentar de mortais antes de fazê­lo. A
chave para a Golconda reside em negar que a Besta tem
poder sobre o eu superior, e ceder ao enigma é uma vitória
para a Besta. É semelhante a dizer: “O Diabo me fez fazer
isso”, e enquanto a Besta é mais um fator na não­vida de
um Cainita do que algum demônio malévolo improvável é
na vida de um mortal, o fato é que o Cainita é totalmente
responsável pelas ações da Besta. Portanto, a única maneira
de realmente expiar é possuir a Besta e nunca sucumbir ao
frenesi, seja de fome, raiva ou medo. Não é impossível, mas
é a próxima coisa a isso.
Quando o buscador atinge esse nível de domínio do
eu, uma mudança o envolve. Sua vontade se torna quase
indomável; os truques mentais dos Ventrue, bem como as
manipulações emocionais dos Toreador e até mesmo a
habilidade Malkaviano de induzir insanidade afetam o
buscador apenas levemente. O buscador de forma alguma é
imune a esses poderes, mas ele é resistente a eles, pois sua
mente foi treinada para examinar e reexaminar suas ações
constantemente para qualquer indício de controle pela
Besta. Da mesma forma, os efeitos de qualquer vínculo de
sangue permanente são consideravelmente diminuídos. O
boato é que um buscador neste ponto pode realmente ser
liberto do vínculo se ele pedir ao seu regente pela liberdade,
honestamente e sem ameaça.
Quando o Membro expiou seus crimes, controlou a
Besta e aprendeu a fazer um entendimento final de si, as
partes mais fáceis da Golconda acabaram. Tudo o que
resta é o Suspiro. Este calvário determina o que o resto da
não­vida reserva para o buscador. E agora chegamos a um
lugar crítico neste texto.
Todos os Suspiros são provações intensamente
pessoais, feitas sob medida para os Membros que as
enfrentam. O objetivo deles é testar as áreas onde a alma do
Cainita é mais fraca. Quase sempre abordam algum aspecto
do clã do buscador. Um Lasombra em busca da Golconda
pode, como parte de seu Suspiro, ser forçado a olhar para
um espelho vazio e lutar para chegar a um acordo com o
que vê (ou não vê) nele. Mas o clã por si só é apenas parte
da jornada. Às vezes, a provação é física. A maioria dos
suplicantes sofre muita dor através do fogo ou da luz solar,
para testar sua força em manter a Besta afastada. Mas a
parte mais importante do Suspiro é a jornada para a própria
alma, a alma há muito falecida que acompanhou cada um
de nós até que nosso senhor a expulsou com sua vitae.
 Não posso te contar sobre outros fios comuns
entre Suspiros. Não existem. A experiência é destinada a
um ser sozinho. Me recuso a especular mais sobre que
tipo de teste qualquer Cainita pode suportar; eu não sou
nem filósofo, nem estudioso, e tal adivinhação está além
de mim. Só posso te contar, com qualquer clareza, de um
Suspiro.
O meu.
Eu não tinha tutor, não diretamente, então meus
passos no caminho para a Golconda foram desajeitados.
Todos os Cainitas devem superar uma aversão a sentir
culpa, seres egoístas que somos. O sangue do meu senhor
fez com que eu tivesse que superar um amortecimento de
todas as emoções. Tive que ultrapassar anos de
treinamento em pensar e observar em vez de sentir antes
que eu pudesse sequer começar a entender Golconda. Eu
tive que esquecer todo o meu “progresso” na Trilha do
Coração Selvagem, recuperar minha ética humana, antes
que qualquer progresso fosse possível.
Levei quase um século para fazer isso. Um século
de desaprendizado, de abstinência de matar qualquer
coisa viva ou não­viva (exceto Criaturas; expressei minhas
razões para caçá­los antes, e eu senti e sinto que o mundo
é um lugar melhor sem eles). Quando finalmente
consegui sentir algo novamente, foi uma culpa horrível e
debilitante, mais forte do que qualquer coisa que eu me
lembre de sentir desde meus dias de respiração. Por quase
um século mais, eu rastreei descendentes de minhas
vítimas, quando pude. Eu não pude explicar a eles
exatamente o que havia acontecido, mas dei direções para
os corpos daqueles que eu me lembrava. Financiei (e,
quando possível, participei) funerais. Eu não me
alimentei de vitae humano por várias décadas, e então
apenas por pura necessidade.
A Besta tem um domínio mais fraco sobre os do
meu clã do que a maioria, devido aos nossos corações
amortecidos. No entanto, a moralidade também é cara
para nós. Então, embora a parte mais difícil de alcançar a
Golconda para a maioria dos Cainitas possa ser dominar
a Besta, para mim foi encontrar minha humanidade.
Eu fiz. Como é outro assunto. Certamente não foi
um acontecimento que abriu meus olhos, mas,
lentamente, comecei a desejar o nascer do sol, o que não
acontecia desde que era recém­nascido. Minhas duas
atividades mais comuns, música e esgrima, ambas as quais
assumi por razões práticas (ou seja, aprimorar minha
destreza e coordenação, e autodefesa, respectivamente),
retomei com entusiasmo. Eu estava envolvido nessas
atividades pela realização que sentia ao aprender ou
dominar novas habilidades (ou simplesmente aprimorar
as antigas), em vez de sempre considerar a praticidade de
tais habilidades.
E finalmente, eu retomei a vela. Ah, a sensação de
boas­vindas que senti do mar quando, pela primeira vez
em quase três séculos, naveguei até ela em um barco de
um homem só!
Enquanto estava naquele barco, entrei no Suspiro.
Era muito parecido com sonhar, mas sem qualquer
Pecados do Sangue
28
esperança de acordar e ver que tudo estava como antes.
Eu sabia que, quando acordasse, o que acontecesse no
sonho me seguiria.
O sonho começou em Jerusalém, perto da minha
casa. Eu estava empurrando meu barco para o mar, e meu
filho veio correndo em minha direção. Ele pediu para ir
comigo. Eu já tinha visto essa cena antes, percebi; este era
o dia em que eu encalharia meu barco e me deitaria para
dormir nas areias, apenas para ser acordado por Ezra,
meu senhor. Se eu levasse meu filho comigo, quem sabe o
que Ezra poderia fazer? E ainda assim, se eu o recusasse,
minhas últimas lembranças dele (pois eu não voltei para
casa depois do Abraço) seriam dele desapontado e
magoado.
Pensei sobre isso, e então prometi a ele que estaria
em casa em breve, para me esperar. Era uma mentira,
verdade, mas uma mentira que o deixava feliz e ansioso.
Eu naveguei, ignorando as nuvens escuras no horizonte.
Isso deveria ter sido uma pista de que eu estava errado.
A água ficou agitada como naquele dia. O céu se
nublou conforme a noite se aproximava, e eu encalhei
meu barco em uma costa desconhecida. Deitei­me para
dormir, e descobri que não conseguia. Quando um ser
caminhou em minha direção, eu me levantei, esperando
ver Ezra. Em vez disso, vi a mim mesmo, de certa forma.
Eu me vi como me tornaria: vestido com um terno
caro, cabelo curto e salpicado, observando tudo com
serena observância. Meu futuro se aproximou e
perguntou por que eu havia escolhido daquela forma. Eu
respondi: “Para não decepcionar meu filho ao deixá­lo”.
Ele calmamente perguntou: “Não. Por que você foi
embora? E com isso, eu sabia que havia falhado.
O Suspiro é a chance final, a última oportunidade
para um Cainita corrigir os erros de sua não­vida. Pelo
menos foi para mim. Nada do que fiz, nem as criaturas
que destruí, nem a música que criei, nada disso seria igual
à felicidade que eu poderia ter dado ao meu filho e à
minha esposa se simplesmente não os tivesse deixado
naquela manhã fatídica. Como a decisão de me tornar
um Cainita não foi minha, a única maneira de corrigir
esse erro foi simbolicamente, no Suspiro. Mas eu não fiz.
Tomei meu Abraço como um fato imutável e, portanto,
deixei minha família e naveguei para minha perdição mais
uma vez.
Quando acordei, estava deitado no convés do
barco. O sol estava surgindo no horizonte, e eu senti uma
vontade de cumprimentá­lo. Obviamente, eu não fiz isso.
Dormi no barco naquele dia, naveguei de volta para a
costa naquela noite e comecei a contemplar o que fazer
com minha não­vida.
Seria, ao mesmo tempo, verdadeiro e uma amarga
falsidade afirmar que tive sorte. Verdade, eu sobrevivi ao
Suspiro com minha não­vida e sanidade intactas. Muitos
fracassos não são tão afortunados. Aqueles que falham ou
se transformam em cinzas ou se tornam uma espécie de
Criatura, mas sem o desejo de caçar. Eles simplesmente
vagam, perdidos em agonia, até que o sol acabe com sua
dor.
 Narrando o Suspiro
O Suspiro é o último passo no caminho para a
salvação e, como tal, pode exigir uma história
própria. Se apenas um personagem em um grupo
está buscando Golconda, talvez representações de
seus companheiros apareçam no Suspiro para testá­lo
ou guiá­lo. Nesse caso, o Narrador deve trabalhar
com os outros jogadores para garantir que eles
saibam quaisquer dicas que precisem dar ou ações
que seus personagens devam tomar. Os jogadores
também devem perceber que o Suspiro é uma
experiência pessoal destinada ao personagem que
busca Golconda. Esse personagem deve ser o foco
principal durante o Suspiro.
Então, o que acontece durante um Suspiro? O
Cainita confronta seu pior inimigo e luta até a
morte? O personagem encontra Deus e implora por
misericórdia? Há um símbolo ao estilo Santo Graal
que o Cainita deve encontrar? A resposta para todas
essas perguntas é..., sim, se isso for o que a história
exigir. No entanto, tenha algumas considerações de
história em mente.
Embora alguns Suspiros envolvam um desafio
físico, até mesmo este desafio é simbólico. Uma cena
de luta pode representar o triunfo de um Cainita
sobre a Besta, enquanto uma cena que o obriga a
suportar fogo ou luz solar pode ser construída para
testar sua resolução e fortaleza (não Fortitude). O
verdadeiro poder do Suspiro está na jornada interior
que o Cainita realiza.
O que exatamente acontece durante essa
jornada depende inteiramente das necessidades da
história. O Cainita quase certamente tem crimes que
precisam ser reparados ou arrependimentos que
precisa liberar, então traga­os à tona. Você pode
escolher dar ao jogador a chance de retificar
simbolicamente erros que seu personagem não tem
chance de consertar no “mundo real”. Você pode
optar, em vez disso, por apresentá­lo com um
problema totalmente novo baseado no que aprendeu
ao longo da busca por Golconda. O Cainita pode se
ver forçado a persuadir um grupo de mortais a ajudá­
lo sem o auxílio de Disciplinas, apelando para a
humanidade deles. Ele pode se encontrar
confrontado com os piores horrores que a
humanidade tem a oferecer.
Em qualquer evento, permita que o jogador
justifique suas ações antes de decidir se seu
personagem passa ou não no teste e alcança
Golconda. Não deve haver uma maneira "certa" e
"errada" de completar um Suspiro. Certamente, o
Narrador deve ter um objetivo final em mente, mas
se o jogador encontrar uma maneira de ter sucesso
durante o desafio que soe razoável para seu
personagem, não insista que a maneira que você
concebeu é o único caminho para a Golconda.
Capítulo Um: Pecados da Moralidade
29
Mas, por outro lado, eu não tive sucesso, e há
apenas uma chance em Golconda. Seguir em frente,
sabendo o que poderia ter sido — este é provavelmente o
pior tormento de todos, e eu já senti isso antes. As noites
após meu Abraço me viram espreitando fora de vista
enquanto minha família dormia, e eu desejava com a
paixão que eu poderia reunir que eu poderia vê­los
novamente à luz do dia, abraçá­los, ensinar meu filho a
velejar. Eu os vi novamente em meu Suspiro, e como
Orfeu, aquele doce olhar foi tudo o que tive antes que
minha própria falta de previsão me condenasse para
sempre.
Então, o que acontece com o Membro que
completa seu Suspiro com sucesso? Eu só sei que a Besta
perde seus dentes. A não­vida do Membro é para sempre
livre de frenesi por qualquer motivo. Eu também ouvi
dizer que a sede o atinge com muito menos frequência,
tão pouco quanto uma vez por mês, e que ele se torna
capaz de melhorar seu domínio dos dons de Caim muito
além do normal. Os requisitos de pureza continuam lá, é
claro: O Membro não pode se desviar de seus padrões
espirituais, mas sem a Besta, esses padrões são muito mais
fáceis de manter.
Alguns Cainitas que alcançaram esse estado
escolhem encontrar o amanhecer com suas almas
purificadas, mas a maioria permanece, ensinando,
viajando, corrigindo quaisquer erros que sintam que
precisam ser abordados. Alguns deixam toda a sociedade
e lideram suas não­vidas na natureza, embora como eles
lidam com os Lupinos.
Às vezes, eles gravitam em torno de um buscador,
quase por instinto, e ajudá­lo em seu próprio caminho.
Querido Deus, eu estava ansioso para fazer
exatamente isso. Ser pai novamente, mesmo que
vagamente. Nunca fui pai — lembro­me o suficiente da
paixão para nunca desejar a maldição da eternidade sem
emoções a ninguém — mas sinto falta de ser professor de
qualquer tipo. Bem, talvez este escrito eduque o leitor o
suficiente para iniciá­lo (ou ela) no caminho.
Sinceramente espero que sim.
Encerro este tratado agora. Falta uma hora e
cinquenta e dois minutos para o nascer do sol; tempo
suficiente para chegar às docas e navegar para leste.
Veja, embora tudo que ouvi e estudei indique que
não existe uma segunda chance para a Golconda, meu
Suspiro me ensinou o perigo de considerar qualquer coisa
como garantida. Então, vou considerar este meu segundo
Suspiro, de certa forma. Se eu for forte o suficiente para
suportar os raios do sol, para sofrer aquela dor e medo,
talvez eu mais uma vez “habite na Luz”.
Se não… talvez eu veja minha família novamente.
Qualquer eventualidade me enche de alegria. Não
desejo considerar as probabilidades, nem as implicações.
Já cansei da observação. Esta noite — hoje — eu atuo.
Deus irá comigo.
Para você, leitor, só posso me desculpar se este
escrito parecer incoerente ou improvável. Tenho certeza
de que um verdadeiro estudioso saberia como redigir tal
 ensaio, mas não sou um estudioso. Tenho certeza de que
um filósofo citaria as grandes mentes de todos os tempos
como apoio para seus pensamentos, mas não sou um
filósofo.
Eu permaneço, simplesmente,
Nehemiah,
Criança de Ezra,
Criança de Joshua,
Criança de Brujah

Trilhas da
Iluminação
Abaixo estão três Trilhas adicionais de Iluminação.
Nenhum desses Trilhas tem inúmeros seguidores em
qualquer seita. No entanto, ocasionalmente, um Neófito
surge com potencial suficiente para atrair um mentor de
um desses Trilhas.

A Trilha do
Coração Selvagem
“Não sinto raiva contra você, embora você tenha me
prejudicado. Não guardo rancor. No entanto, como
obviamente não posso confiar em você, não faz sentido
permitir a possibilidade de você me prejudicar novamente.
Você entende.”
— Nostoket, Gangrel da Mão Negra
Apelido: Implacável
Crenças Básicas: Um das Trilhas de escolha na
agora extinta “Verdadeira” Mão Negra, a Trilha do
Coração Selvagem valoriza a observação e o pensamento
lógico acima de tudo. Emoções fortes, argumentam os
Implacáveis, são para os falhos e acabam por turvar o
julgamento. Apenas dados concretos podem ser
confiáveis, e isso significa dados observados em primeira
mão. Ganhar a confiança de um Implacável é quase
impossível, pois eles consideram que as informações que
obtêm de outros são maculadas pelas percepções e
emoções desses outros. Mesmo que um seguidor da
Trilha do Coração Selvagem confie em alguém, ele confia
apenas que a pessoa não mentiria deliberadamente, o que
de forma alguma a torna uma fonte confiável.
A Trilha do Coração Selvagem se originou dentro
da estranha linhagem que afirma ser os descendentes
originais de Brujah. Lutando para se reconciliar com a
Besta, Brujah (segundo as lendas) decidiu que todas as
emoções, negativas ou não, estavam contaminadas pelo
toque da Besta e, portanto, eram as ações de qualquer
Cainita governado por suas emoções. Ao cortar a mente e
a alma da emoção — “queimando o coração” — Brujah
esperava encontrar alívio da Besta.
Os Implacáveis são cautelosos ao impor sua
moralidade aos outros. O que parece certo ou errado
pode parecer assim apenas porque o observador não
conhece a história completa. Portanto, se um seguidor
desta Trilha vê algo que percebe como imoral ou de outra

Pecados do Sangue
30
 Addendum

Vossa Graça, encontrei estes papéis exatamente onde sugeriu que

procurasse. O atendente do hotel parecia me esperar. Só posso supor que
este "Nehemiah" desejava que apenas você estivesse em posse de suas
últimas palavras. Julgando por uma história curiosa que ouvi no cais
ontem à noite, acredito que ele realmente navegou para seu fim. Dois
marinheiros falaram de um rumor que ouviram sobre um veleiro alugado
que à deriva chegou ao cais sem vestígios do homem que o locou. Tudo
que continha era uma fina camada de pó que parecia cinzas, uma
espada italiana (valor estimado quase 200.000 dólares americanos) e
um violino Stradivarius autêntico. (Tenho dados para estimar seu
valor, no entanto, se desejar que eu o adquira para você, farei o meu
melhor.) Ambos os itens mostram sinais de uso recente.
Por favor, escreva-me aos cuidados do hotel na Cidade do México
(acredito que tenha o endereço) e aconselhe-me sobre o que deseja que
seja feito com estas páginas, meu príncipe. Desejo deixar este país o mais
rápido possível.
Atenciosamente,
Adam

forma errado, ele tentará preveni­lo apenas se uma ação
imediata for necessária. Caso contrário, ele investiga,
aprende e então age, seguro de que sabe o suficiente para
fazê­lo. Uma ameaça contra ele pessoalmente, por mais
velada que seja, é tratada como real. Os Implacáveis não
gostam de pontas soltas ou insinuações sutis, e são
persistentes em rastrear inimigos não porque guardam
rancor, mas porque não desejam arriscar ter o inimigo
voltando para prejudicá­los mais tarde.
É desnecessário dizer que os Implacáveis detestam a
Besta. Sucumbir à fúria é considerado uma falha na
Trilha, assim como cair no Rötschreck. O simples fato de
que a Besta pode ser resistida indica aos Implacáveis que
ela deve ser resistida. Como poucos vampiros se lembram
do que acontece quando a Besta assume o controle,
nenhum conhecimento pode ser obtido dela que não seja
de segunda mão (e, portanto, contaminado).
Os Implacáveis tendem a ter memórias longas e
quase perfeitas. Eles prestam muita atenção ao que está
ao seu redor e são excelentes ouvintes. É claro que eles
empregam esses talentos na maioria para obter
informações que possam ser usadas em seu benefício mais
tarde. a Trilha valoriza o sigilo — se um inimigo não sabe
Capítulo Um: Pecados da Moralidade
31
nada sobre você, é provável que ele cometa erros ao agir
contra você. Alguns dos Implacáveis fazem um bom
negócio na venda de informações. Embora outros
Cainitas possam não saber da existência desta Trilha, eles
logo descobrem que seus seguidores são meticulosamente
minuciosos na coleta de dados.
A Ética da Trilha
• Não sinta emoção. Toda emoção é obscurecida
pela fúria da Besta e, portanto, mancha sua visão. Evite
especialmente o medo e a raiva, pois são as ferramentas
da Besta, e o amor, pois pode ser facilmente usado contra
você.
• Confie apenas no que você percebe. Se uma casa
é pintada de branco de um lado, você não pode assumir
que ela é branca do outro, pois você não pode percebê­la.
Lembre­se de que entre os Cainitas, até mesmo suas
percepções podem ser enganadas, então verifique tudo
duas e três vezes antes de tirar conclusões.
• Nunca perca a chance de aprender um segredo
sobre outro Cainita. Mesmo que você nunca tenha que
usar o segredo, simplesmente conhecê­lo ajudará você a
prever as reações do Cainita.
 • Não mate mortais desnecessariamente. Suas
emoções não são contaminadas pela Besta, e, portanto,
eles têm muito pelo que viver. Se um mortal se degenerou
ao ponto de se comportar como um Cainita dominado
pela Besta (assassinos em série, estupradores, glutões, etc.)
mate­o sem hesitação.
• Pense cuidadosamente antes de confiar em outro
Cainita, mesmo que em pequeno grau. Até mesmo outro
dos Implacáveis tem sua própria agenda, e pode conflitar
com a sua. Sempre seja cuidadoso para definir a natureza
de um relacionamento e nunca presuma honestidade ou
lealdade se tal nunca foi especificamente declarado. Da
mesma forma, você não tem motivo para mostrar essas
características aos outros, a menos que declare que o fará.
• Antes de tomar qualquer ação violenta, pergunte
a si se é realmente necessário. Como você se beneficiaria
da morte de outro? Se a resposta é simplesmente que isso
faria você se “sentir melhor”, você está sucumbindo aos
impulsos da Besta, e você deve deixar a situação
imediatamente.
Virtudes
A Trilha do Coração Selvagem usa as virtudes da
Convicção e do Autocontrole.
História
Como mencionado, esta Trilha foi pioneiro do
fundador do clã Brujah. No entanto, não foi codificado
como uma verdadeira Trilha até o século XIV, quando
um verdadeiro Brujah chamado Rathmonicus coletou as
crenças e práticas da linhagem em um códice chamado
Livro do Coração Vazio. Embora ele mesmo tenha sido
destruído durante a Revolta Anarquista, o livro
sobreviveu para ser re­copiado e passado entre os
membros do verdadeiro Brujah, Lasombra, Giovanni e
Toreador. Talvez três cópias do Livro do Coração Vazio
sobrevivam — certamente não mais — nas coleções dos
anciãos Implacáveis. Os Implacáveis não buscam
ativamente converter, e normalmente esperam para
abordar um candidato até que ela seja uma ancilla.
Práticas Atuais
Apenas um punhado de Cainitas segue a Trilha do
Coração Selvagem nos tempos modernos. Os Implacáveis
são quase invisíveis, já que sua ética requer paciência e
vigilância ao invés de ação extravagante, então, seu
número verdadeiro pode ser maior do que se acredita.
Quando dois dos Implacáveis se encontram, geralmente é
para comparar notas ou compartilhar (ou vender)
segredos, em vez de se envolver em um discurso filosófico.
Não há uma verdadeira organização entre os seguidores,
mas como existem tão poucos, a maioria dos Implacáveis
conhece o resto pelo menos pela reputação.
Práticas Atuais
Apenas um punhado de Cainitas segue a Trilha do
Coração Selvagem nas noites modernas. Os Implacáveis
são quase invisíveis, uma vez que sua ética exige vigilância
paciente em vez de ações extravagantes, portanto seu
Pecados do Sangue
32
número real pode ser maior do que se acredita. Quando
dois dos Implacáveis se encontram, geralmente é para
comparar notas ou para compartilhar (ou vender)
segredos, em vez de se envolverem em um discurso
filosófico. Não existe uma verdadeira organização entre os
seguidores, mas como existem tão poucos, a maioria dos
Implacáveis conhece os demais, pelo menos pela
reputação.
Descrição dos Seguidores
A maioria dos Implacáveis são observadores,
quase passivos. Eles ficam quietos no fundo da sala,
observando tudo o que acontece, ocasionalmente
fazendo anotações ou falando em um gravador. A
tecnologia moderna não assusta a maioria dos
Implacáveis, mesmo os mais velhos, pois eles dedicam
tempo para estudar e compreender novos dispositivos
em vez de evitá­los. Eles tendem a se vestir de maneira
elegante, mas simples, sem querer chamar a atenção.
Quando falam, fazem perguntas esclarecedoras ou
fazem declarações simples e óbvias.
A Trilha se originou com os Brujah Verdadeiros, e
muitos de seus seguidores são membros desta linhagem.
Ocasionalmente, Lasombra (às vezes antitribu) segue o
Caminho, assim como alguns Ventrue. A Trilha tem até
um modesto seguimento entre os Giovanni, embora
menos entre o ramo italiano do clã do que suas famílias
americanas e escocesas.
Seguindo a Trilha
Os Implacáveis reprimem completamente as
emoções. Eles raramente sorriem ou riem, mas entendem
o humor. Eles corrigirão gentilmente (ou não tão
gentilmente, dependendo das circunstâncias) um Cainita
que esteja errado sobre um assunto, mas nunca
contradizem opiniões e raramente discutem abstrações
como religião. Matar vem facilmente, pois a culpa é
ignorada ou suprimida, mas os Implacáveis não gostam de
matar que não envolva autodefesa ou livrar o mundo de
influências destrutivas. Eles consideram os vampiros
inerentemente destrutivos e normalmente têm poucos
escrúpulos em destruí­los. No entanto, eles percebem que
as repercussões de tais atos superam geralmente os
benefícios, e, além disso, os Implacáveis têm muito a
aprender com outros Cainitas. Alguns Implacáveis caçam
certos tipos de Cainitas (Sabá, Criaturas, infernalistas,
etc.) enquanto outros apenas observam e atacam quando
necessário.
Habilidades Comuns: Quase todos os Implacáveis
têm altos índices de Prontidão, por razões óbvias. Muitos
também são habilidosos em Investigação e Linguística.
Aqueles que lidam com outros Cainitas normalmente
têm altas classificações de Lábia. No entanto, vale
ressaltar que se um Implacável tem a oportunidade de
aprender uma Habilidade, ela geralmente o fará.
Portanto, não é incomum que um Cainita muito erudito
e pacífico nesta Trilha saiba manusear uma arma (ou até
mesmo uma arma mais anacrônica) com muita
habilidade.
 Disciplinas Preferidas: Auspícios é quase universal
entre os Implacáveis, independentemente de seu clã.
Quanto mais dados percebidos, mais conhecimento
adquirido. Muito Implacáveis também cultivam
Dominação (para persuadir a verdade de testemunhas
relutantes) e Animalismo (as bestas veem coisas que
humanos — e vampiros — não podem). Muitas vezes o
Cainita aprende uma das Disciplinas físicas, mais
frequentemente Fortitude, para auxiliar no combate, caso
se torne necessário. No entanto, como nas Habilidades,
um seguidor da Trilha do Coração Selvagem aprende o
que puder, então supor sobre as capacidades de um
Implacável pode ser fatal.
A Trilha do Auto‐Foco
Ninguém controla você. Nenhum Vaulderie ou
vínculo, nenhuma vontade de Cainita, exceto a sua.
Quando você aprende a acalmar sua mente e silenciar a
Besta, você verá isso.
— Juleidah, autarca
Apelido: Internalistas
Crenças Básicas: a Trilha do Auto­Foco se baseia
fortemente na filosofia oriental do wu wei, ou inação
consciente. Os Internalistas acreditam que tentativas
deliberadas de mudar o mundo ao seu redor resultam em
miséria e fracasso. Em essência, é preciso dominar a si
antes de reivindicar qualquer tipo de domínio do mundo.
Os Internalistas não são egoístas no sentido de que
Caminho do Coração Selvagem Hierarquia dos Pecados
Pontuação Orientação Moral
10 Fazer suposições de qualquer tipo
9 Depender de outros
8 Agir impulsivamente
7 Perder a oportunidade de aprender uma
nova habilidade ou Disciplina
6 Falhar em matar um mortal destrutivo
5 Falhar em acabar com uma ameaça sobrenatural
Explícita (se possível sem riscos excessivos)
4 Matar um mortal não destrutivo
3 Cair em frenesi ou Rötschreck
2 Explosão emocional
1 Sentir emoções fortes
Capítulo Um: Pecados da Moralidade
33
não se importam com os outros. Eles simplesmente
acreditam que se intrometer nos assuntos de outros seres
é desonroso e errado. É uma coisa, dizem os seguidores
da Trilha, ajudar alguém que pede ajuda, mas é outra
completamente diferente suportar dor ou perigo por
alguém.
Os seguidores desta Trilha também acreditam que
as respostas para todas as questões morais e espirituais
podem ser encontradas dentro de si. Nenhum professor
pode responder a uma pergunta para você. O melhor que
ela pode fazer é direcionar seu olhar para dentro, onde
reside a sabedoria. Como tal, alguns seguidores desta
Trilha podem afirmar que ele é um bom ponto de partida
para a Golconda. A maioria reconhece, no entanto, que
como a Golconda requer interação com o mundo ao redor
do buscador, a Trilha do Auto­Foco apenas iniciaria a
jornada do buscador.
Os internalistas colocam muita ênfase na existência
no momento, em vez de planejar demais para o futuro.
Como disse uma vez um mestre Zen: “Lave a louça para
lavar a louça”. Isto é, dizem os internalistas, ao executar
uma tarefa, conhecem apenas essa tarefa, não como ela os
afetará mais tarde, não se é boa ou má, mas simplesmente
completam­na e fazem­na bem. Fazer isso envolve saber o
que é uma tarefa e limpar a mente de distrações como a
fome ou os impulsos da Besta.
Contudo, os Internalistas não procuram eliminar ou
negar inteiramente a Besta. “As coisas são como são” é
Justificativa
Nunca se pode saber o suficiente.
Suas ações são as únicas que pode prever com certeza.
Observe, pense, calcule, considere e então aja.
Você nunca pode ter certeza de quais habilidades serão
necessárias, então aprenda o máximo possível.
Mortais são abençoados com emoções puras.
Aqueles que desperdiçam esse dom não o merecem.
Mortais merecem viver sem interferência sobrenatural.
No entanto, não vale a pena morrer por isso.
Existem fontes de vitae mais merecedoras da sua atenção.
Para aprender, você deve permanecer objetivo.
O que você sente é uma arma que seus inimigos podem
usar. Não lhes apresente essa arma.
A Besta sente. Você não. Negue a Besta, e ela definhará.
um axioma comum entre os seguidores deste Caminho, e
eles aceitam que a Besta deve poder vagar algumas vezes.
No entanto, existe um tempo e um lugar para o fazer, e
sucumbir à Besta em momentos inapropriados é
considerado vergonhoso para os Internalistas, uma vez
que sugere que eles não se conhecem verdadeiramente
como afirmam.
A Ética da Trilha
• O passado e o futuro são ilusões; na verdade,
existe apenas o agora. Existir apenas no momento.
• Conheça a si e entenda que a Besta é parte
desse eu. Saiba quando liberar a Besta e quando mantê­la
sob controle.
• Aprenda suas forças e fraquezas. Não seja como
o carpinteiro que, ao se deparar com uma árvore muito
grande e torcida para cortar, a chama de inútil. Em vez
disso, lembre­se de que a árvore era boa para dar sombra
e abrigo. Transforme suas fraquezas em forças sempre
que possível.
• A superconfiança é uma fraqueza e uma
presunção. Aqueles que se orgulham de sis estão
iludidos; sempre há alguém que pode humilhá­lo.
Aprenda a identificar essas pessoas e esteja disposto a
aprender com elas.
• Julgue os outros por ações, não por palavras. As
palavras podem ter muitos significados, mas a ação revela
a verdade.
• Aproveite e aprenda com os outros, mas lembre­
se de que você é o único responsável por si.
Virtudes
A Trilha do Auto­Foco se baseia nas virtudes da
Convicção e do Instinto.
História
A forma atual da Trilha do Auto­Foco remonta ao
século VI d.C., quando os Cainitas do Oriente Médio e
os vampiros asiáticos se encontraram e compartilharam
ideias. Essas ideias gradualmente evoluíram para uma
metodologia que lembra tanto o Taoismo quanto o
Budismo Zen, tornando­se acessível e útil para os
Cainitas. A “Verdadeira” Mão Negra trouxe esta Trilha
de volta para a Europa e mais tarde para as Américas,
mas ele encontra adeptos em todo o mundo. De fato, os
preceitos básicos da Trilha podem ser encontrados em
vários dos Dharmas agora praticados pelos Matusaléns.
Embora seja impopular entre os Cainitas
europeus, a Trilha do Auto­Foco tem um pequeno, mas
crescente, grupo de seguidores entre os Membros
americanos.
Práticas Atuais
Os Internalistas podem ensinar qualquer
estudante que demonstre promessa na filosofia taoista e
compreenda os preceitos básicos da Trilha. A idade
normalmente não é um fator, nem o clã ou a seita. A
ética da Trilha é suficientemente próxima da
Humanidade para que um Internalista possa existir
Pecados do Sangue
34
entre a Camarilla com pouco problema, enquanto no
Sabá, os seguidores são valorizados por sua introspecção
inteligente e natureza equilibrada. Como a própria
natureza da Trilha é solitária, os seguidores raramente têm
contato entre nós fora das relações de mentor­estudante.
Descrição dos Seguidores
Os Internalistas, como os Implacáveis, são
pacientes e perspicazes. No entanto, ao contrário dos
Implacáveis, eles julgam situações completamente
subjetivamente: como uma circunstância se relaciona com
eles é mais importante do que lembrar todos os detalhes
minuciosos.
A Trilha do Auto­Foco, também como o Coração
Selvagem, encoraja seus seguidores a aprender muitas
habilidades diferentes. O raciocínio é muito diferente, no
entanto. Enquanto os Implacáveis aprendem o que
podem na esperança de que possa ser útil, os Internalistas
aprendem habilidades que complementam ou contrastam
suas forças naturais, a fim de aprender mais sobre si.
Portanto, os Internalistas estudam esgrima e poesia,
caligrafia e artes marciais, tiro ao alvo e etiqueta. Os
Internalistas são sempre respeitosos com os outros, e
nunca presumiriam insultar ou desprezar alguém com
base em crenças, ou palavras. Se alguém age contra eles,
eles se defendem com ação mínima ou máxima, conforme
necessário. Um riacho, eles apontam, não precisa destruir
uma rocha para se mover ao redor dela.
Membros de quase qualquer clã ou seita podem
estudar a Trilha do Auto­Foco, desde que possam
encontrar um professor disposto.
Seguindo o Caminho
Um internalista passa algum tempo em meditação
todas as noites. Cada nova sensação — alimentar­se de
uma nova maneira, aprender uma nova habilidade, até
mesmo sofrer um ferimento de uma nova fonte — é
motivo para contemplação interior. Embora outros
Cainitas possam achar os Internalistas lentos e
excessivamente introspectivos, eles devem admitir que
um Internalista sabe exatamente o que é capaz de fazer e
não ultrapassa seus limites para se colocar em perigo.
Os internalistas acreditam em um propósito mais
elevado para o mundo, seja na forma de Deus, no
significado último, em uma Super­Alma ou em qualquer
ideal que alguém decida aplicar. Eles também acreditam
que a chave para compreender esse significado está dentro
deles, e que a crença lhes dá uma sensação de esperança
que poucos outras Trilhas podem proporcionar. Os
Seguidores da Trilha são honrados e respeitosos, mas
estão bastante dispostos a permitir que a Besta se enfureça
se isso for necessário.
Habilidades Comuns: Etiqueta, Briga (ou Artes
Marciais), Expressão (poesia ou pintura) — Os
Internalistas estudam qualquer coisa que ajude a entender
a si e a aprimorar forças ou diminuir fraquezas. Todos os
Internalistas eventualmente adquirem alguma habilidade
em Meditação, embora um iniciante na Trilha possa não
ter uma classificação real na Habilidade.
 Caminho do Altofoco Hierarquia dos Pecados
Pontuação Orientação Moral
10 Excesso de confiança
9 Preguiça mental ou física
8 Falha em tratar os outros como você mesmo Mostre os caminhos do respeito pelo exemplo.
seria tratado
7 Depender de outros
6 Manipular ou controlar os outros
(através de Disciplinas ou laço de sangue)
5 Lutar para superar uma fraqueza em vez de Luta cria conflito e te desvia do alinhamento
transformar fraqueza em força
4 Restringir a Besta desnecessariamente
3 Falhar em passar algum tempo todas
as noites em meditação
2 Permitir que forças externas o provoquem
em frenesi
1 Ser um escravo voluntário
Disciplinas Preferidas: A capacidade de deixar o
corpo e flutuar no éter é algo a que todos os
Internalistas aspiram, portanto, a maioria aprende
Auspícios, esperando alcançar esse nível. Outras
Disciplinas que dependem de mudar ou aumentar o eu
(como Rapidez, Fortitude, Metamorfose e Potência)
também são consideradas passatempos dignos.
Internalistas que aprendem Disciplinas manipuladoras
como Presença ou Dominação geralmente o fazem como
um exercício experiencial e não as empregam, exceto em
autodefesa.
A Trilha da Harmonia
“Eu não sou um monstro, eu sou um predador.
Qualquer coisa monstruosa na natureza de um Cainita já
estava presente antes do Abraço.”
Will Baker, reformador Brujah
Apelidos: Harmonistas
Crenças Básicas: Os Harmonistas não acreditam
que qualquer coisa que exista seja “antinatural”.
Simplesmente “ser” significa que um indivíduo ou
força tem um lugar. Isso inclui vampiros. Sim, o papel
do vampiro na ordem natural é um tanto desagradável,
mas então, o coelho sentiria provavelmente o mesmo
sobre a raposa. Os Harmonistas têm grande respeito
pela ordem natural e seu lugar dentro dela.
Claro, “ordem natural” é um tanto subjetiva. Se
os vampiros são destinados a serem predadores dos
humanos, eles devem manter a população mortal sob
controle? Se sim, eles não estão acompanhando os
Capítulo Um: Pecados da Moralidade
35
Justificativa
Conheça­se sem delírios ou ego.
Ao parar de contemplar a si mesmo, cessao aprendizado e
desenvolvimento.
Embora possam ser fortes, eles não podem saber o seu verdadeiro
propósito tanto quanto você não pode saber o deles.
Seres pensantes não são para você possuir.
com você mesmo.
A Besta é parte de você e exige foco.
Como um músculo, o autofoco enfraquece com a não utilização.
Você controla suas próprias ações.
Você deve agir como seu próprio mestre. Até ordens de
um professor devem ser questionadas.
tempos. Os Harmonistas mais velhos percebem que a
ordem natural está em constante estado de fluxo, e
então tentar “preservá­la” é uma noção artificial. Não
pode ser preservada, só pode ser observada e realizada. Os
primeiros preceitos da Trilha da Harmonia ensinam o
Cainita a proteger o mundo de perturbações indevidas,
que alguns interpretam como atenção à ecologia. À medida
que o Harmonista progride no Caminho, porém, ele
aprende que obedecer à ordem natural é, na verdade, uma
questão de caminhar na linha tênue entre saber quando
agir e quando deixar tudo de lado.
Os harmonistas também percebem que são
predadores na posição única de poderem identificar e
compreender as suas presas. No entanto, eles também
percebem que esse entendimento, se levado longe demais,
pode empurrá­los em direção à Besta — exatamente o que
acontece quando os vampiros tentam manter a
Humanidade como seu código moral. Portanto, os
Harmonistas têm uma consideração bastante elevada pelos
mortais — mas não tão elevada quanto eles próprios.
A Ética da Trilha
• “Mal” e “bom” são tentativas mortais de codificar
eventos. Eles não têm significado prático e não se aplicam à
sua não­vida.
• Os seres humanos podem ser fascinantes para
observar e até mesmo para brincar — a necessidade de
afastar o tédio é importante. No entanto, você não é mais
mortal, então não se deixe enganar acreditando que você é.
• O mundo está constantemente em um estado de
 mudança; nós não estamos. Adapte­se às mudanças do
mundo. É o nosso único meio de sobrevivência.
• Não suje seu refúgio. Isso significa que o
bairro em que você reside deve ser limpo e, se
necessário, defendido contra predadores rivais e
decadência.
• Somos a forma mais elevada de predador, pois
temos instintos humanos e habilidades de caça sobre­
humanas. Aperfeiçoe ambos, mas não deixe nenhum se
desenvolver excessivamente.
• A harmonia é alcançada quando cada aspecto
da existência cumpre seu papel. Como um Cainita, seu
papel é o de um caçador.
Virtudes
A Trilha da Harmonia se baseia nas virtudes da
Consciência e do Instinto.
História
Originalmente desenvolvido no início do século
XVIII nas Américas, a Trilha da Harmonia combinou
elementos das crenças e ideais dos nativos americanos
obtidos simplesmente observando o mundo e o
progresso da humanidade. a Trilha gozou de algum
favor no Sabá por um tempo, e então sofreu um
recente cisma com a seita. Os Harmonistas sentiram
que os métodos e fins finais do Sabá eram muito
destrutivos, tanto para o mundo quanto para os
membros individuais da seita. a Trilha se dividiu.
Alguns membros abraçaram seus lados bestiais e
redescobriram a Trilha do Coração Selvagem muito
mais antigo. A maioria dos Harmonistas “verdadeiros”
restantes pereceu, deixou o Sabá ou aprendeu a
reconciliar sua fé com a lealdade à seita (tipicamente
como nômades).
Práticas Atuais
Os harmonistas constroem seus refúgios onde
quer que se sintam seguros. A maioria evita cidades
dominadas pelo Sabá, a menos que ainda sejam
membros da seita. Alguns afirmam ser membros da
Camarilla, quer apoiem a seita ou não. Embora a
Trilha atraia mais escárnio do que hostilidade aberta
por parte da Camarilla, os Harmonistas aprenderam
ser simplesmente mais seguro permanecer quieto.
Harmonistas da mesma área geral se encontram
ocasionalmente, se estiverem cientes um do outro. Os
Jovens Harmonistas ocasionalmente influenciam
grupos de ativistas ecológicos. A maioria dos Cainitas
no Caminho, entretanto, logo aprende que não
importa quão “naturais” sejam as áreas rurais, o
território muitas vezes já está reivindicado. Um
predador inteligente respeita o território de um
predador mais forte, então os Harmonistas, apesar das
acusações de “abraçar árvores” por seus antigos irmãos
do Sabá, mantêm­se nas cidades.

Pecados do Sangue
36
Descrição dos Seguidores
É preciso um certo tipo de Cainita para seguir
este Caminho. Afinal, um vampiro verdadeiramente
bestial segue provavelmente o Coração Selvagem, um
humano retém sua Humanidade. A Trilha da
Harmonia existe para aqueles poucos Cainitas que
conseguem encontrar um equilíbrio entre os dois lados
e mantê­lo, interagindo com o mundo ao seu redor sem
se sentir culpado. À medida que os Harmonistas
progridem, eles percebem que os vampiros são menos
predadores e mais parasitas, e essa percepção torna
realmente a coexistência com os humanos mais fácil.
Os Harmonistas podem vir de quase qualquer clã,
mas são mais comuns entre os Gangrel, Nosferatu, Brujah
e Ravnos. Como sua Trilha coexiste bem com a
Humanidade (e como o Sabá sente que eles são
responsabilidades) há mais Harmonistas na Camarilla do
que em outras seitas nas noites modernas, mas mesmo
uma afirmação como essa é uma questão de escala.
Seguindo a Trilha
Ao contrário das Feras, que não têm senso de
misericórdia ou compaixão, os Harmonistas não
desprezam tais sentimentos. Afinal, os humanos os têm, e
a harmonia implica em manter tanto o lado humano
Caminho da Harmonia Hierarquia dos Pecados
Pontuação Orientação Moral
10 Tentar alterar o mundo natural
9 Indulgir na Jyhad ou ser excessiva­
mente eficaz em ser mortal
8 Falhar em caçar quando com fome
7 Crueldade ou bondade sem propósito
6 Não respeitar o domínio de um
vampiro mais forte
5 Permitir grande perturbação do mundo
4 Agir de forma excessiva humana ou bestial
3 Recusar­se a matar se necessário
2 Sentir­se culpado por matar quando necessário Todas as vidas terminam; melhor que terminem para te
1 Perturbar gravemente o mundo natural
(vandalismo, incêndio criminoso, etc.)
Capítulo Um: Pecados da Moralidade
37
quanto o lado bestial da natureza de alguém sob controle.
No entanto, se um Harmonista não se sente
misericordioso, ou se a situação parece exigir maldade, ela
fará o que for necessário. Essa atitude torna os
Harmonistas imprevisíveis; o vampiro que bebeu
suavemente de uma fonte e a deixou dormindo na
semana passada pode arrancar a garganta de outra pessoa
esta noite. No geral, no entanto, os Harmonistas estão
entre os Cainitas mais moderados, mesmo que sejam
apenas moderados devido ao equilíbrio dos extremos.
Habilidades Comuns: Como o “habitat natural”
do vampiro é a cidade, os Harmonistas provavelmente
adquirirão Conhecimento da Área, Segredos da Cidade e
Manha, para conhecer melhor seu território. A maioria
também tem classificações em Sobrevivência e Empatia
com Animais. Como se espera que os Harmonistas
mantenham algumas de suas mentalidades humanas, a
Empatia também é comum.
Disciplinas Preferidas: Animalismo é visto como
uma boa maneira de comungar com o mundo natural,
mas não é obrigatório. Muitos Harmonistas aprendem
Auspícios e Ofuscação (ambas boas ferramentas de
caçador) e/ou Presença (boas para atrair e se relacionar
com humanos).
Justificativa
O mundo não precisa da sua melhoria.
Não tente brincar de Deus.
Tanto as sociedades humanas quanto as Cainitas são des­
necessárias para nós.
A fome torna a harmonia impossível porque é uma
distração.
Ambas estão em sua natureza, mas não ajude ou prejudi­
que outros sem razão.
Predadores não procuram perigo.
Todas as coisas perturbam o mundo, simplesmente inte­
ragindo com ele. No entanto, fazê­lo deliberadamente é
um ataque a todas as coisas dentro do mundo.
Agir demais como humano dificulta matar quando ne­
cessário; agir demais como bestial torna isso fácil demais.
Melhor um mortal morto hoje do que um caçador de
bruxas vivo amanhã. No entanto, lembre­se de que
mesmo um mortal morto não passa despercebido; a
discrição é primordial.
alimentar do que de alguma maneira aleatória ou sem
sentido.
Você também tem que morar aqui.
 Capítu lo Dois:
Pecad os da
S o c i e da d e

As virtudes da sociedade são os vícios dos santos.

— Ralph Waldo Emerson, Círculos

Preso entre os grandes campos da Camarilla e do
Sabá, existe uma terra de ninguém povoada por Cainitas
deserdados e expatriados chamados anarquistas e autarcas.
Esses párias sociais podem protestar contra tais descrições,
mas o fato é que eles existem enquanto qualquer uma das
principais seitas os ignora em favor de destruir a outra.
Uma vez que os escudeiros do Sabá ou os pilares da
Camarilla decidem acabar com a existência desses párias,
poucos deles serão fortes o suficiente para resistir a se
tornarem cinzas. Felizmente, a Camarilla e o Sabá estão
frequentemente muito ocupados um com o outro para
lidar com o que consideram elementos rebeldes, então os
anarquistas, autarcas e desertores ocasionais presos entre a
sociedade dos Membros e Cainita existem por mérito de
adiamento. Eles não são nada para qualquer seita, mas um
incômodo perpétuo e um perigo ocasional.
Sabendo disso, o que leva os Cainitas a adotar esse
chamado estilo de vida? Por que arriscar uma
independência limitada, provocando dois adversários
igualmente potentes? As respostas dependem de quem você
perguntar. Alguns encolhem os ombros e afirmam que
gostam da emoção; outros lançam diatribes filosóficas e
políticas contra as duas principais seitas e afirmam que suas
ações são questões de escolha. Alguns poucos, no entanto,
admitem que não tinham alternativa. O destino abriu as
calças, e eles não puderam fazer nada além de se curvar e
aceitá­lo como um vampiro.
Os observadores da condição Cainita citam uma
variedade de razões pelas quais os Cainitas podem flutuar
nesta terra de ninguém social. A Camarilla ou o Sabá
forçaram muitos à margem por causa de desacordos
ideológicos, erros simples ou práticas inaceitáveis (uma
inclinação para a diablerie, saciar a sede em bebês, etc.).
Alguns entram nesta zona cinzenta por vontade própria
porque reconhecem suas ações como “peculiares” ou
discordam das filosofias de seus parentes de sangue. Outros
estão apenas passando sem nenhuma aliança particular
(Tio Tom para todos, mestre de nenhum).

Capítulo Dois: Pecados da Sociedade

39
Autarcas
Por definição, autarcas significa independente
ou autossuficiente, mas nas noites modernas, é muitas
vezes apenas outra maneira de dizer vítima. Enquanto
os mortais têm visões romantizadas de solitários como
rebeldes nobres e independentes se rebelando contra a
sociedade — roubando dos ricos para ajudar os pobres,
por assim dizer — a verdade é que Robin Hood nunca
mordeu o pescoço de Frei Tuck para um gole de vitae.
Autarcas são Cainitas, em primeiro lugar, e
independentemente de suas intenções, eles são tanto a
Besta quanto seus primos Camarilla e Sabá. Em
virtude de sua natureza solitária, talvez eles sejam
ainda mais o monstro do que alguém se importa em
admitir. Independentemente de qualquer ação que os
tenha depositado nas franjas da sociedade vampírica,
eles são bodes expiatórios convenientes para a seita
mais próxima, alvos fáceis para algum sangue jovem
procurando afiar suas presas, e camaradas para
poucos.
Para muitos autarcas, a Besta é uma
companheira constante, e sua voz se torna mais alta
com a solidão crescente. Alguns sucumbem a seus
impulsos, se entregando a uma fúria semelhante à
febre da cabana. Outros se ocupam com indulgências
que é melhor não explorar, enquanto um punhado
raro possui a espiritualidade ou a capacidade mental
para afastar noite após noite de uma existência
assombrada. Enlouquecer dificilmente é romântico,
então o que leva os Cainitas a esse estado de ser, o que
os mantém aqui, e o que todos pensam deles? As
respostas são muitas…
Os Sete Pecados Capitais
Um novo jargão entre alguns vampiros jovens é
“sete­P”, abreviação para os sete pecados capitais. A
prática começou na Sodoma das cidades, Nova Iorque,
entre os grupos do Sabá, e de alguma forma caiu no
uso dos neonatos com a queda da cidade. Os sete­P
homônimos são frequentemente causas para os jovens
Membros se tornarem autarcas, e o conceito atribui as
maneiras pelas quais esses Cainitas conseguiram se
extrair da aliança sectária por escolha ou tolice a um
dos sete pecados capitais.
• Orgulho — Poucos Cainitas emergem do
Abraço proclamando “Eu quero me tornar autarcas”.
Bem, talvez não intencionalmente. A loucura do
Abraço é que ele instila uma onda de poder
incomparável na experiência. Muitos Neófitos e crias
emergem da mudança mais fortes, mais elegantes e
mais mortais do que nunca. De repente, eles são os
leões da savana, a segundos de distância daquele
estouro de vigor que derruba suas presas de antílope.
A maioria dos jovens vampiros é inteligente o
suficiente para manter a boca fechada e reconhecer o
valor da experiência, idade ou garras de seu senhor.
Outros não são tão bem disciplinados, e superestimam
sua habilidade. Eles desaforam o padre do bando,
Pecados do Sangue
40
insultam uma harpia bem respeitada ou lançam um
olhar fatal para o xerife. Se tiverem sorte, alguém lhes
dá um tapa no pulso e eles aprendem a lição. Outras
vezes, a resposta é rápida e brutal, e o filhote, Neófito
ou até mesmo o respeitado Cainita se vê ostracizado
da sociedade do setor em um piscar de olhos mortais.
Muitos autarcas que devem seu banimento ao orgulho
não têm ninguém a culpar senão a si. Seus egos são
seus maiores adversários, e alguém decidiu fazer um
exemplo deles.
Semelhante a este destino estão aqueles Cainitas
teimosos cujo orgulho os leva ao exílio voluntário.
Talvez seus senhores ou mestres os tenham abusado
uma vez a mais, ou talvez o vampiro simplesmente
tenha se cansado de servir como um peão no Jyhad ou
como um soldado raso para a causa. Cainitas
orgulhosos muitas vezes se irritam facilmente
enquanto estão a serviço de outros, e desenvolvem
uma atitude de “nunca mais” antes de se aventurarem
por conta própria. Eles raramente permanecem
autarcas, no entanto. Parte do orgulho envolve uma
dose de egotismo, e a vaidade não pode sobreviver em
um vazio. Cainitas que sofreram sob o jugo de seus
senhores muitas vezes se juntam ao Movimento
Anarquista, enquanto aqueles que acreditam que o
setor nunca realmente apreciou suas contribuições
geralmente se tornam núcleos para cultos de
personalidade. Poucos retornam à segurança de seu
setor a menos que seja absolutamente necessário.
• Avareza — Um ancião iconoclasta do Clã
Brujah afirmou certa vez que a avareza era um
resquício da loucura mortal. Avareza implica ganância
desenfreada e descontrolada, que por sua vez implica
impaciência. Para criaturas que são virtualmente
eternas, a paciência costuma ser fundamental para a
sobrevivência. No entanto, alguns vampiros ainda
possuem uma escala de tempo mortal e querem tudo
agora. Avareza é aquele pecado desajeitado. Os
autarcas sobrecarregadas de impaciência muitas vezes
ganham adversários através das suas tentativas pesadas
de acumular riqueza, poder ou influência. Eles
mentem sem discrição, roubam sem habilidade e
praticam a Jyhad com a delicadeza de um bêbado. Ao
longo da Trilha, eles pisam demais e colhem uma
colheita vazia. Se a seita expulsa os autarcas porque ele
não justificava a Morte Final, ou se o pária escapou
antes que uma multidão de linchadores chegasse à sua
porta, pouco importa. Sua ganância provou ser
avassaladora e provavelmente ainda continua sendo
um obstáculo à sua existência. Esses autarcas nunca
podem ficar fora da não­vida da seita e tentam
continuamente exercer sua influência onde ela
permanece indesejada. Eles muitas vezes encontram
um fim rápido nas mãos de vampiros da seita ou de
outros autarcas que não querem que eles chamem a
atenção indesejada da Camarilla ou da hierarquia do
Sabá.
• Luxúria — A luxúria é perigosa, pois implica
que o Cainita não consegue controlar seu desejo de
possuir outra pessoa. Talvez o autarca anseie pelo
harém de belos carniçais do príncipe, ou ele não
consegue parar de pensar em torturar e alimentar os
idosos. Muito sobrecarregados com tais pensamentos
muitas vezes se exilam porque não há segredos entre os
Cainitas. Em uma sociedade onde os vampiros podem
sentir a intenção através da tonalidade das auras,
espionar uns aos outros sem serem vistos e ler mentes,
aqueles com desejos espontâneos sabem que suas
fantasias nunca são seguras. Já não conseguem proteger
os seus próprios pensamentos e percebem que o
isolamento pode ser a única esperança de verdadeira
privacidade. O complicado na sociedade Cainita é que
muitas vezes não é a paixão que se mostra embaraçosa,
mas a vergonha do indivíduo em relação aos seus
próprios desejos que é instrumental. A maioria dos
Cainitas não pensa duas vezes em amantes do mesmo
sexo, vícios ou fetiches. Para um Neófito que considera
suas atrações lésbicas, fixação nos pés ou necessidade
de ser humilhada publicamente um aspecto indesejado
de sua personalidade, no entanto, essas atividades
secretas agora se tornam sua vergonha pessoal e um
caminho para a chantagem. Não importa o que as
outras pessoas pensam; importa o que eles sabem. A
maioria dos Cainitas supera rapidamente seus
preconceitos mortais de comportamento aceitável, mas
alguns não conseguem ou sabem que sua seita nunca
tolerará suas atividades. Não há mais nada a fazer senão
isolar­se de outros vampiros e perseguir esses desejos
nas periferias da sociedade.
• Inveja — A inveja cobre uma gama de desejos,
seja o Cainita cobiçando a respeitada posição de
sacerdote do bando, a bela fonte de alimentação dos
Ventrue ou a riqueza de uma história de sucesso ponto
com ponto br. Dos pecados capitais, esse vício é
geralmente direcionado a um indivíduo ou alvo
específico. Autarcas deste tipo viram algo que não era
deles (seja uma pessoa, prestígio, influência, poder ou
capital), e tomaram todas as medidas para adquiri­lo
para si próprios, independentemente do custo… e
falharam. O Cainita sobreviveu apenas porque alguém
o deteve antes que ele fosse longe demais, ou porque
ele fugiu da destruição e continua fugindo. Em ambos
os casos, a sua ambição não é realizada, mas o seu
desejo permanece inflamado. Sua própria existência é
um lembrete de seus fracassos, e ele passa todas as
noites planejando e conspirando na esperança de se
vingar. Estes autarcas são muito perigosas, pois
compreendem os benefícios da paciência e do
planejamento. Concebem estratégias complexas, sempre
de olho no prêmio. Dos autarcas, aqueles expulsos por
este pecado são os que mais provavelmente monitoram
as atividades da seita local e se tornam indispensáveis
para Neófitos ou novatos ambiciosos, ou desatentos.
Eles querem que olhos, ouvidos e mãos atuem como
seus representantes e se movam onde não podem. Em
troca, os autarcas podem oferecer riqueza, informações,
segredos ou até mesmo treinamento nos dons dos
mortos­vivos.

Capítulo Dois: Pecados da Sociedade

41
 • Gula — Somente na sociedade da Camarilla
existem vícios como pecados de sangue; o Sabá
considera tais atividades um direito de sua existência
superior. Uma das muitas possibilidades aqui é que
os autarcas de alguma forma colocaram o rebanho
em perigo com muita frequência, alimentando­o até
a morte da fonte, alimentando­o
indiscriminadamente ou mantendo rebanhos
excessivamente grandes que arriscavam violar a
Máscara. Quando a notícia relata a história de uma
invasão a uma casa de crack, por exemplo, é possível
que o xerife ou príncipe tenha sancionado o ataque
porque um vampiro local retirou seu rebanho
daquela casa de crack em condições precárias e com
pouco interesse pela sobrevivência de suas fontes.
Não, a Camarilla não é universalmente tão
compassiva a ponto de resgatar “gado”, mas ela se
preocupa com a Máscara. Esses rebanhos precários
chamam invariavelmente a atenção dos serviços
sociais, do bem­estar infantil, da polícia, da DEA, do
FBI e de uma praga de equipes de notícias, então o
príncipe intervém antes que o assunto fique fora de
controle e garante que alguém acalme ou mate o
rebanho antes que as autoridades competentes
possam questioná­los. Novamente, a Camarilla
condena ao ostracismo o Membro responsável por
esta “situação desagradável”, ou ele foge.
Às vezes, porém, o autarca não é diretamente
responsável pela glutonaria. Recentemente, em Nova
Iorque, a vitória da Camarilla e algumas deserções
do Sabá trouxeram um excesso de Membros para a
cidade. O príncipe improvisado, o Nosferatu
Calebros, temia que o influxo violasse a proporção
de 100.000:1 de mortais para vampiros para práticas
seguras de alimentação, e ele criou patrulhas de
flagelo para expulsar os indesejáveis da cidade. No
topo da lista estavam os desertores do Sabá de
menor patente que sabiam que deixar a segurança de
Nova Iorque significaria sua destruição. Em vez
disso, eles desapareceram no subterrâneo de Nova
Iorque, tornando­se autarcas.
Em algumas circunstâncias, o chamado
“glutão” suporta auto expatriação porque se envolve
no ato repugnante de diablerie. Se ele cometeu uma
vez e espera que as veias negras desapareçam de sua
aura, ou se o ato se tornou um vício e o diablerista
não consegue mais se controlar, tornar­se autarcas é
muitas vezes a única maneira de proteger a verdade.
Infelizmente, tornar­se autarcas significa recuar da
sociedade dos mortos­vivos, às vezes
permanentemente e completamente, para que ex­
aliados e conhecidos não investiguem o paradeiro do
Membro. No entanto, os Cainitas do Sabá desfrutam
de alguma liberdade com o Amaranto, já que é um
dos despojos do Monomacia. O Sabá questiona as
lealdades dos membros que se envolvem em tais
atividades com muita facilidade. A diablerie é
viciante, e o Sabá quer que os Cainitas sejam servis
ao sangue de ninguém além de seu bando.
Pecados do Sangue
42
• Ira — A ira envolve crimes do momento,
muitas vezes mais próximos à Besta por natureza.
Embora a Camarilla e o Sabá apontem para os
autarcas como criaturas repugnantes e auto envolvidas
que se valorizam acima de todos os outros, o fato é
que qualquer um pode se tornar autarcas. Raramente
requer uma predisposição específica; precisa apenas de
um momento de raiva no lugar errado, na hora errada.
A ira no contexto dos Cainitas implica uma raiva
explosiva e avassaladora, até mesmo frenesi, por uma
variedade de razões. Embora certamente embaraçoso,
é raro, mas não inédito, para o vampiro enfurecido
arrancar o rosto do padre do bando ou de um colega
entre os Membros chocados no Elísio. No segundo em
que perde o controle, a Besta é suprema e o Cainita é
marcado para sempre por suas ações. Às vezes, as
autoridades infligem um castigo rápido e decisivo
porque o Cainita atacou alguém importante. Outras
vezes, o vampiro se torna autarcas após várias
demonstrações de baixo autocontrole. Infelizmente, os
Membros banidos devido a seus temperamentos ruins
nunca estão realmente sozinhos. As autoridades da
Camarilla podem usar este vampiro como um
exemplo, mas também mantêm um olhar atento sobre
os autarcas. Algo sobre sua queda da graça (como um
senhor influente, um príncipe leniente ou um aliado
entre o primogênito) não justificou sua destruição,
mas a Camarilla pode muito bem sancionar a
destruição se o autarca entrar em frenesi novamente —
tudo em nome da proteção do Máscara. Muitos
autarcas, que são exilados desta maneira, sabem que
estão sob vigilância. Alguém os observa, esperando
que eles entrem em frenesi para poderem justificar seu
assassinato. Alguém pode até tentar provocar os
autarcas, ou apenas matá­lo e mentir sobre as
circunstâncias.
• Preguiça — Ignorando por um momento a
conotação óbvia de preguiça, as acusações de preguiça
contra os Cainitas implicam que eles não estão
“seguindo a linha da seita” ou “promovendo seus
objetivos”. Isto é mais verdadeiro entre os bandos do
Sabá, que encorajam ativamente seus membros a
participarem dos ritos da seita e da causa sagrada.
Apesar dos Ritos de Criação, a adesão ao Sabá ainda
produz sua parcela de Cainitas “indignos” (conforme a
percepção da seita). Desistir de um Grupo de Guerra
ou de um duelo legítimo de Monomacia, permitir que
um traidor escape durante uma Caçada Selvagem,
confraternizar com o inimigo com muita frequência e
perder consistentemente em Jogos do Instinto são
falhas puníveis. Independentemente da causa, há
menos autarcas do Sabá por aí porque a seita destrói
seus erros ou permite que eles provoquem sua própria
destruição. Ao contrário da Camarilla, que transforma
fracassos em exemplos, o Sabá é muito menos
indulgente.
Para os Membros da Camarilla, casos em que
alguém se torna autarca através da “preguiça” são
raros, mas acontecem. A Camarilla recentemente
lançou uma Caçada de Sangue contra uma
proeminente ex­primogênita e anciã, Nosferatu, depois
que foi revelado que ela sabia sobre um coven do Sabá
se acumulando na cidade. Os Nosferatu,
compreensivelmente, desapareceram. Vários outros
Ratos de Esgoto vieram em sua defesa alegando que o
mais velho recebeu provavelmente a informação
confidencialmente e não poderia revelar sem trair
algum código de silêncio ou palavra de honra. Alguns
Nosferatu da Camarilla até insinuaram que não
ajudariam a destruir um dos seus por uma questão de
ética. O Círculo Interno resolveu o problema
imediatamente, enviando o Justicar Cock Robin e o
Arconte Federico DiPadua dos Nosferatu para cuidar
do assunto. Os dois acusaram vários Nosferatu de
serem cúmplices do mais velho, e permitiram que os
acusados se tornassem autarcas (em vez de sofrerem a
Morte Final) para conter qualquer dissidência interna.
A estratégia funcionou e os Nosferatu da Camarilla
agora estão jogando junto.
Outras Considerações
Embora os sete­P possam parecer uma maneira
fácil de quantificar os autarcas, a maioria dos Cainitas
tem dezenas de outras razões pelas quais eles podem se
tornar párias. Alguns são Abraçados em tal existência,
com seu senhor já odiado por uma seita (normalmente
a Camarilla). O Sabá acredita no bando acima do
senhor, com lealdade oferecida ao todo primeiro e ao
indivíduo por último. Eles são menos propensos a
condenar os filhos de um determinado Cainita, a
menos que ela siga os passos de seu senhor. Os
Membros da Camarilla, por outro lado, colocam o
ônus no senhor através da Quarta Tradição. Portanto,
enquanto o senhor é responsável pelas ações de seu
filho, alguns Membros também acreditam que a prole
carrega o fardo dos erros de seu senhor — trazendo
novamente uma nova definição para pecados do
sangue. Outros autarcas são os bastardos filhos de
Abraços ilegais (aqueles cometidos contra a Terceira
Tradição, ou feitos sem o reconhecimento, ou a
santidade de um Rito de Criação). Por qualquer
motivo, o senhor abandona esses “crias órfãos”,
deixando­os se defenderem sozinhos. Panders, algumas
coortes Caitiff ou anarquistas ocasionalmente adotam
esses autarcas e os apresentam a uma facção ou outra.
Apenas o raro vampiro órfão é forte, inteligente ou
sortudo o suficiente para permanecer autarcas por
qualquer período de tempo. Tanto a Camarilla quanto
o Sabá temem esses indivíduos fortes, no entanto, pois
entre eles pode estar o próximo Vlad Tepes, o mais
odiado de todos os autarcas.
Outro sub­segmento de autarcas inclui os
traidores, aqueles Membros ou Cainitas que
mudaram de lado antes que sua cidade caísse para a
incursão de outra seita ou sob alguma outra
circunstância terrível. Embora ambas as seitas
apreciem deserções de alto escalão ou ideológicas para
sua máquina de propaganda, raramente confiam em
Capítulo Dois: Pecados da Sociedade
43
alguém que traiu seus compatriotas e ideais porque
sua sobrevivência estava em perigo. Esses traidores são
heróis momentâneos pela noite que leva qualquer
seita a desfilá­los, depois são frequentemente
esquecidos e ignorados. Poucos bandos ou coteries
querem esses indivíduos como membros, e alguns
fazem questão de ensinar essa lição ao desertor. Em
alguns casos, tal Cainita se torna autarcas por
circunstância, desviando­se o suficiente da atividade
da seita para evitar a atenção, mas não o suficiente
para que o outro lado possa lidar facilmente com o
traidor. Esses autarcas orbitantes raramente
sobrevivem além de alguns anos, seja porque cometem
suicídio por causa do isolamento ou porque alguém
finalmente os destrói. Para mais informações, veja
“Mudança de Seitas”.
Nunca se esqueça de que enquanto alguns
Cainitas simplesmente caem entre as rachaduras,
outros pulam. Ambas as seitas têm seus méritos, mas a
não­vida com qualquer uma delas inclui algumas
possibilidades feias. O Sabá renuncia aos seus laços
mortais e se concentra em sua luta sagrada contra os
Antediluvianos, enquanto a Camarilla é um ninho de
manobras de poder bizantinas e apunhaladas políticas
em escalas inimagináveis pelas mentes dos mortais.
Alguns Cainitas não querem fazer parte de nenhum
mundo por qualquer motivo, e eles forjam seu próprio
caminho. Esta decisão é difícil, pois as seitas não
acreditam em verdadeira neutralidade quando se trata
de indivíduos. Alguém é ou um aliado em potencial,
ou um inimigo em potencial. Infelizmente para esses
autarcas, suas preferências e práticas os ostracizam
automaticamente, e se juntar a qualquer lado implica
sua destruição. Alguns Cainitas são puramente
mercenários, sem interesse em qualquer guerra ou
causa que os force a quebrar sua neutralidade. Outros
continuam fortemente ligados ao mundo mortal: um
Malkaviano que interpreta o messias para sua
comunidade de mortais para expiar sua “condição”,
um Tzimisce que se parece e age como uma criança
porque ele só pode se relacionar com crianças (mental
e fisicamente), um detetive Brujah que tem espiões
carniçais entre o departamento para ajudá­lo a conter
o crime local. Todos esses autarcas não podem
renunciar a algum aspecto de sua existência mortal,
então eles permanecem uma parte forte dela,
independentemente dos ditames de qualquer seita.
Muitos Cainitas erroneamente acreditam que se
tornar um vampiro lava todas as preocupações mortais
fora. A verdade, no entanto, é que os primeiros anos
(ou décadas…) são um período de ajuste. Um Cainita
não reconhece o peso da não­vida até que ela vê seus
amigos e família envelhecerem e morrerem. Um Cainita
não para de repente para de amar ou odiar tudo o que
ela fez em seus anos mortais. Tudo simplesmente
empalidece em comparação ao sangue, mas os laços
são fortes o suficiente para que alguns Cainitas se
tornem autarcas porque nunca poderão abandonar
suas vidas anteriores e seus entes queridos (pelo
menos não ainda). É a sua âncora fraca num mundo
verdadeiramente assustador.
Embora certamente não seja a última palavra
sobre o assunto, um corpo crescente de autarcas auto
exilados afastou­se das seitas porque a Gehenna se
aproxima. Reunindo­se ao redor das fogueiras dos cultos
da Gehenna, eles realizam uma variedade de ações.
Alguns temem o apocalipse e adoram esses anciões
Cainitas na esperança de sobreviver ao fim dos tempos.
Outros caçam os Antediluvianos e seus “servos” na
esperança de impedir sua ascensão. Nos extremos do
espectro estão os cultos do pacto suicida, os grupos de
busca da Golconda (para salvar suas almas antes que seja
tarde demais) e os sobreviventes Cainitas. A Jyhad está
chegando ao fim e todos sabem disso. Como eles se
comportam, entretanto, é a questão.
Passando as noites
Com a longevidade de muitas vidas mortais, é
talvez uma realidade trágica que os autarcas passem
suas não­vidas simplesmente sobrevivendo. Os
Membros não têm grupos de apoio ou mentores
prontos para guiar os autarcas além das pedras afiadas
de sua existência. Eles têm apenas tentativa, erro, dor
e a ameaça constante de destruição para servir de
professor. Esses excluídos aprendem suas lições
rapidamente, porque não existe tal coisa como um
autarca de raciocínio lento… ou pelo menos nenhum
Pecados do Sangue
44
sobreviveu até agora. Em vez disso, os autarcas devem
se adaptar e se tornar astutos. Mais importante ainda,
eles sabem quando obedecer às regras do jogo e
quando as jogar pela janela.
O que quer que tenha feito o Cainita se tornar
um excluído também o transformou no inimigo de
alguém; é uma inevitabilidade de viver entre monstros.
Poucos vampiros simplesmente desaparecem no
mundo sem causar ondulações em algum lugar. No
nível mais imediato, o inimigo pode ser uma pessoa ou
criatura específica a quem o autarca prejudicou. Em
uma escala maior, o excluído é antagonista de uma
seita inteira, muitas vezes por nada mais do que razão
de suspeita. Independentemente de o autarca saber ou
não de tais adversários, ele deve sempre acreditar que
alguém está tentando destruí­lo. É a única maneira de
continuar existindo.
A primeira regra que se percebe ao se tornar
autarca é que ela é imediatamente persona non grata,
da mesma forma que o antigo sistema de castas da
Índia tratava os Harijan (Intocáveis), e os ocidentais
ignoram seus sem­teto. Esses Cainitas são um
constrangimento infeliz para qualquer pessoa de maior
estação, e poucos indivíduos são mais baixos do que os
autarcas, exceto talvez pelo sujeito de uma Caçada de
Sangue. Até mesmo a visão da Camarilla dos
Nosferatu brilha em comparação com o tratamento
que dá a esses excluídos.
 No melhor dos casos, persona non grata é um
termo preciso, e os autarcas desfrutam — se essa for a
palavra adequada — de relativa privacidade, fora do
assédio ocasional nas mãos de novatos e Neófitos. Este
luxo existe apenas para os Cainitas que já foram
importantes na cena da seita local. A sua queda em
desgraça justificou a sua sentença, mas os anciãos
regionais não nutrem os autarcas sem má vontade ou
ódio, apenas piedade. Outros autarcas, contudo, não
têm tanta sorte. Benjamin Crayshaw, um pária
Toreador repatriado que já existiu nas periferias de
San Diego, descreveu suas experiências como
semelhantes ao tratamento dado pelos nazistas aos
judeus na década de 1930, antes da “Solução Final”. A
Camarilla e o Sabá defendem raramente a violência
aberta contra os autarcas (ou então eles próprios
teriam destruído os excluídos), mas também não
costumam repreender qualquer Cainita que os
prejudique. Autarcas viram seus refúgios serem
queimados, suas finanças e bens evaporarem
repentinamente, encontraram seu amado mortal
aqueles drenados (ou pior, Abraçados), receberam
ameaças de destruição e escaparam por pouco de
emboscadas.
Autarcas são frequentemente bodes expiatórios
convenientes para qualquer problema que afeta a seita.
Quando um membro é destruído, alguém grita
traidor, um Cainita rouba o refúgio comum, ou o
príncipe acorda de mau­humor, os autarcas se tornam
vítimas convenientes (e politicamente impotentes).
Eles não podem recorrer a ninguém. Os únicos
vampiros que se dispõem a estabelecer relações com os
autarcas sabem que eles são os bodes expiatórios
perfeitos se algo der errado. Ainda mais triste, os
autarcas percebem seu verdadeiro valor, mas que
escolha eles têm? Ninguém mais vai falar com eles, e
independentemente da rotina de “criatura solitária da
noite”, os Cainitas precisam de alguma — qualquer —
companhia. Muitos aceitam alianças que podem
funcionar contra eles porque já se passaram três anos
desde que alguém falou com eles, ou mais importante,
ouviu.
Alguns autarcas existem como nômades porque
é a única maneira de permanecer sãos, de continuar
existindo. Outros são caçados. Permanecer em um
lugar significa que todos sabem onde o pária faz seu
refúgio; uma noite alguém vai destruí­lo ou cravá­lo.
Ficar em um lugar limita as opções de fuga e recuo de
um Cainita. É apenas outra âncora que o retarda.
Como Emmet do Clã Nosferatu, autarcas nômades
viajam para cidades onde ninguém os conhece,
encontrando um conforto melancólico na companhia
dos outros, mesmo que temporariamente. Isso oferece
a eles uma sensação de controle sobre suas próprias
não­vidas, mesmo que seja tênue. O risco dessa prática
é se um Cainita descobre que o autarca o enganou
para abrigá­la. Um anfitrião enganado pode se tornar
hostil por ser feito de bobo por um vagabundo, ou ele
pode até mesmo cravar, ou destruir o pária. Afinal,
Capítulo Dois: Pecados da Sociedade
45
quem sentirá falta do autarca ou mesmo protestará
contra seu desaparecimento? Outros riscos incluem
encontrar Lupinos, ou mesmo cair para o número
crescente de caçadores que estão surgindo. Portanto, a
autarca busca refúgio em refúgios temporários e viaja
para diferentes cidades até que o conhecimento de seu
legado diminua o suficiente para se estabelecer em
algum lugar na obscuridade. Embora não esteja mais
perto de fazer aliados ou encontrar conforto, a autarca
detém pelo menos algum controle sobre sua existência,
não importa quão transitória ela seja.
Muitos vampiros têm a concepção errada de que
os autarcas existem em um estilo de vida quase
monástico e recluso. De alguma forma, seu isolamento
da seita lhes oferece tempo para contemplar questões
pessoais. Sua falta de responsabilidade lhes permite
buscar uma existência simples, quase idílica. Essa
suposição está tão longe da realidade quanto o próprio
batimento cardíaco de um Cainita. Tornar­se autarca é
um concurso noturno pela sobrevivência contra a
xenofobia, contra a denigração e contra a possibilidade
de destruição. Mesmo aqueles que são deixados à
própria sorte lutam contra a espiral decadente de sua
sanidade e humanidade. Os Cainitas afirmam ser
criaturas solitárias, mas é a Besta que tem natureza
solitária. Os Cainitas ainda carregam algum resquício
de humanidade — o suficiente para incutir neles a
necessidade de comunidade e fraternidade. Os autarcas
não possuem tal âncora. Sejam privados dessa
companhia ou suportando a falta dela por causa do
isolamento autoinfligido, o pária tem mais tempo para
contemplar os sussurros da Besta e suportar sua fome.
Poucos emergem intactos deste contínuo assédio.
Estilingues e flechas
da fortuna ultrajante
Dada a solidão e o isolamento suportados pelos
autarcas, é difícil acreditar que eles representam uma
ameaça para qualquer seita. No entanto, o Sabá e a
Camarilla estão muito cautelosos com esses párias. Eles
representam quantidades desconhecidas, elementos
sediciosos, uma fraqueza da seita e, às vezes, até mesmo
representam medos pessoais. As seitas têm suas razões
— algumas válidas, outras infundadas — mas o simples
fato de que os medos existem é suficiente para
despertar sua suspeita geral contra os autarcas.
Em um nível fundamental, tanto o Sabá quanto a
Camarilla desconfiam dos autarcas devido a seu
potencial para a rebelião. O exemplo das seitas para
ilustrar esse medo? Filho do Dragão, Vlad Tepes,
Drácula. As façanhas deste lendário Cainita são bem
contabilizadas por outras fontes; basta dizer que suas
ações e sua própria existência preocupam tanto a
Camarilla quanto o Sabá. Eles temem ele, e temem que
outro como ele possa surgir entre as fileiras dos autarcas
(ou seja, um Cainita potente fora de sua jurisdição e
influência). Nestas Noites Finais, o Sabá precisa de mais
do que apenas aliados poderosos.
 Esta seita deve garantir que os Antediluvianos
não possam manipular alguém como Drácula. A
Camarilla, no entanto, teme o surgimento de mais
uma força potente ou direcionada contra eles. Drácula
representa o máximo em ego, descartando as
Tradições da Camarilla para seus próprios prazeres. A
guerra contra o Sabá está cobrando seu preço, e a
Camarilla não pode se dar ao luxo de lutar em duas
frentes simultaneamente. Já a proliferação de cultos de
Gehenna os preocupa, e isso sobrecarrega seus
recursos e mão de obra. A aparição de um “messias”
carismático poderia facilmente enfraquecer sua base de
poder neste momento crucial. No entanto, se qualquer
lado massacrar os autarcas por medo, corre o risco de
alienar alguns dos clãs independentes, fazendo um
mártir de um líder de culto de pequena escala ou
galvanizando os autarcas.
As seitas também temem traidores à luz de
eventos recentes (a queda de Nova Iorque e Atlanta, a
destruição do Tremere antitribu e Ravnos, o
florescimento de cultos de Gehenna, etc.). Muitos
autarcas são ex­membros de uma ou ambas as seitas, e
eles podem carregar consigo segredos não
contabilizados. Tanto a Camarilla quanto o Sabá
caminham numa linha tênue entre diligência e
paranoia, mas mesmo eles não podem destruir todos
que cruzam a linha. As seitas reservam a Caçada
Selvagem e o Lextalionis para as ofensas mais graves.
Todos os outros suportam punição corporal, censura
e, raramente, excomunhão — abandono pela seita ou
uma declaração de anátema. Dadas as recentes perdas
para qualquer lado, no entanto, a Camarilla e o Sabá
defendem punições mais severas sobre o banimento
para evitar que segredos caiam nas mãos do inimigo.
Essa política pode diminuir o número de autarcas
existentes, mas nenhuma seita pode contabilizar
aqueles Cainitas que abandonam o acampamento
voluntariamente.
Além da própria seita, vampiros individuais
detestam e abusam dos autarcas por razões muito
pessoais: medo e ignorância. Parte disso se deve à
natureza exclusivista das seitas, bandos e covens, que
encorajam o tratamento xenófobo de forasteiros ou
daqueles considerados diferentes. A verdadeira razão
pela qual alguns Cainitas tratam os autarcas com
dureza, no entanto, é o medo sempre presente de que
eles próprios compartilhem o destino dos autarcas.
Muitos autarcas são vítimas de simples erros e falhas
que todos cometem. Todo Cainita entra em frenesi
em algum momento de sua existência; todo Membro
inevitavelmente ofende outro vampiro de maior ou
menor estação. A diferença entre um vampiro de seita
e um autarcas, no entanto, é que as circunstâncias
eram de alguma forma diferentes, e um conseguiu se
afastar de seu encontro enquanto o outro pagava por
isso. Saber que a não­vida pode ser tão aleatória, tão
brutal, em sua finalidade é uma lição assustadora.
Infelizmente para esses párias, os autarcas são uma
prova constante dessa desigualdade, e os Cainitas
Pecados do Sangue
46
preferem atacar essa imagem do que abordá­la. Os
autarcas são um aviso de que qualquer um pode cair
muito e rapidamente, e ninguém quer que essa
verdade seja mostrada em seu rosto.
Claro, poucos autarcas merecem essa
justificação ou piedade. Alguns Cainitas suportam
essa existência porque receberam sua punição. Eles
feriram, roubaram, estupraram ou cometeram algum
outro ato de violência, ou malícia contra sua própria
comunidade, e receberam a sentença adequada. Se o
indivíduo é autarca por escolha, no entanto, isso
desperta ainda mais suspeita. O que ela está
escondendo? Do que ela tem medo? Ela é realmente
uma espiã ou traidora? Nesse caso, Camarilla e Sabá se
sentem plenamente justificados em desvendar esse
mistério, tudo em nome da proteção de sua seita.
Como os autarcas raramente possuem qualquer
recurso para protestar contra seu tratamento ou levar
seu agressor à “justiça” fora de destruí­los, os vampiros
da seita raramente se preocupam com a retribuição
por vitimizar os autarcas.
No entanto, nem todos os autarcas são alvos
indefesos de assédio da seita. Ocasionalmente, um
príncipe da Camarilla ou um bispo do Sabá contrata
autarcas aptos e habilidosos para realizar suas ações
sórdidas. Com a recente “liberação” do Clã Assamita,
muitos anciões precisam de Cainitas para realizar
roubos, assassinatos e outros deveres sem fazer
perguntas. Autarcas são escolhas óbvias para tais
tarefas porque eles não têm nenhuma afiliação com a
seita local, eles têm mais a ganhar cooperando, e se
forem pegos, seu empregador pode negar toda a
afiliação. Os autarcas sabem que são descartáveis, mas
algumas oportunidades são muito lucrativas para
serem ignoradas. De fato, algumas párias conseguem
sobreviver através dessas empreitadas, preferindo a
autonomia do trabalho por contrato a jurar lealdade a
uma seita específica. Todos os autarcas contratados,
no entanto, reconhecem o risco de traição que
correm, mas a maioria acredita que pode evitar tais
destinos… ou então eles estão realmente desesperados.
Anarquistas
Igualdade, redistribuição de riqueza, liberdade
das algemas, do domínio dos anciões… todos esses
slogans soam igualitários e até nobres para o
sentimento mortal, mas a sociedade Cainita vê tais
máximas com a mesma virulência que o senador
McCarthy exibiu ao perseguir os chamados
“subversivos”. Essas são ideologias perigosas em
tempos perigosos, mas para os anarquistas, a mudança
deve acontecer agora, independentemente do custo.
Em muitos aspectos, suas demandas ecoam diferentes
movimentos de igualdade, incluindo sua impaciência
falha e a rejeição da reação potencial. Na superfície,
tal atrito invariavelmente se resume a conflitos
geracionais entre o status quo e os filhos que invejam
a riqueza de seus anciões (pelo menos para as
percepções dos anciões). Com os anarquistas e as
seitas, no entanto, esses medos estão mais enraizados
na experiência e nos medos modernos. Para o Sabá, os
anarquistas são uma multidão indireta e desordeira,
pronta para um ancião astuto para dirigir à sua
vontade, enquanto a Camarilla acredita que eles
ameaçam as próprias Tradições. Infelizmente, tais
conflitos nunca são sobre certo ou errado; eles estão
sempre sobre quem brada mais alto. Agora, o Sabá e
Camarilla parecem estar ganhando a partida, mas
algumas facções conservadoras dentro das seitas
também se perguntam se os anciões dos grandes clãs
se sentiam tão confiantes antes do Revolta Anarquista
virou a Idade Média.
Visões da Camarilla
A Camarilla baseia suas preocupações com os
anarquistas em ansiedades presentes, mas respalda
seus argumentos com experiência. Felizmente, essas
experiências servem como uma forma de
retrospectiva, dadas as experiências da Camarilla com
o Sabá, mas as cegas para as agendas e capacidades
atuais dos anarquistas mais modernos.
Dois eventos importantes na história de Cainita
giram em torno de conflitos baseados em geração,
começando com a destruição da Segunda Geração
pelas mãos de seus filhos Antediluvianos, e
continuando até a Revolta Anarquista, que
eventualmente viu a exterminação de vários
Matusaléns, dois Antediluvianos e centenas (se não
milhares) de Cainitas. Concedido, tais coisas como
Antediluvianos são amplamente diminuidas pela
Camarilla, mas histórias sobre eles são entendidas como
metafóricas pelo menos. Nestes casos, a metáfora
representa uma reviravolta significativa na história dos
Membros , provavelmente incorporando a morte de
muitos vampiros ou a destruição do fundador de uma
ninhada. O último evento, o batismo de sangue, deu
origem ao nascente Sabá, um espinho constante nos
flancos da Camarilla por mais de 500 anos. Dado que o
Movimento Anarquista contemporâneo tem algumas
semelhanças com a formação do Sabá, é seguro dizer que
a Camarilla não quer uma repetição desse incidente
histórico.
Atualmente, os anarquistas representam a
segunda maior ameaça ao destino manifesto da
Camarilla (fora o Sabá). Sabendo que os antigos Clãs
Lasombra e Tzimisce caíram quando falharam em
reconhecer seus problemas internos, a Camarilla está
tentando desesperadamente evitar outra Revolta
Anarquista e o fiasco da Convenção de Thorns. Além
disso, os anarquistas estão lentamente perdendo
terreno em seus redutos ao longo do litoral do
Pacífico graças aos Cataianos, levando alguns dentro
do Conselho Interno a declarar os anarquistas uma
ameaça em declínio. Outros, no entanto, temem uma
ressurgência anarquista, um impulso final, por assim
dizer, para restaurar sua luta política. Se tal coisa…
Capítulo Dois: Pecados da Sociedade
47
Além do viés histórico, e superficialmente,
aprincipal queixa da Camarilla com as políticas dos
anarquistas é a redistribuição de finanças, poder e
ativos — ou a oportunidade para tal, para ouvir os
anarquistas contarem. Tal redistribuição poderia
funcionar se todos tivessem sido Abraçados ao mesmo
tempo, mas o fato permanece que os Membros no
poder levaram séculos para acumular sua riqueza e
influência, e eles não estão dispostos a renunciar a
todo esse trabalho árduo. Por que eles deveriam
defender a igualdade para todos quando toda a sua
existência seguiu uma ordem hierárquica severa e
séculos de escravidão em direção a um único objetivo?
Não há paridade nesta existência, e apenas os mortais
acreditam que todos nascem iguais. Os Cainitas
entram nesta existência com vantagens e desvantagens
automáticas. É a natureza da Besta. A diferença na
potência do vitae sozinha estabelece uma geração
distante da próxima e estabelece uma ordem percebida
de supremacia legítima. A idade é o segundo fator que
distância o senhor da cria.
Para os Membros, os anarquistas são seus filhos
ciumentos e rebeldes que fazem birras quando não
conseguem o que querem. A Camarilla argumenta que
o poder e a riqueza vêm para aqueles que trabalham e
lutam por sua posição. Eles merecem o que têm, e
apreciam ainda mais o seu status por isso. Ganhar algo
sem fazer nada cria uma sociedade mais fraca,
ignorante de suas realizações. Isso recompensa os
preguiçosos. Curiosamente, esses argumentos são
apenas uma fachada e uma distração para a verdadeira,
mas não expressa preocupação da Camarilla: a ameaça
às próprias Tradições que fundaram a seita. O
chamado dos anarquistas por igualdade e pelo fim da
“tirania dos anciãos” vai contra a Tradição do
Domínio, a Tradição da Prole, a Tradição da
Responsabilidade e a Tradição da Hospitalidade. O
Movimento Anarquista é uma ameaça à Camarilla por
causa de suas demandas, e a seita sabe que os
anarquistas não aceitarão nada menos. Portanto, não
há negociação a ser feita ou aliança a ser formada. Os
anarquistas seguem um caminho e um estilo de vida
que a Camarilla não pode e não vai tolerar porque vai
contra tudo o que a seita se orgulha. A luta deles pela
igualdade, na visão da Camarilla, é um retorno à Idade
das Trevas, durante a qual as injustiças contra os
Cainitas e os mortais passavam despercebidas. A
Camarilla se recusa a voltar a esses tempos turbulentos,
e simplesmente se recusa a renunciar a suas conquistas
e ganhos.
Felizmente para os anarquistas, duas questões
estão atualmente a seu favor. A primeira é a sua
relação frouxa com os Gangrel, e a segunda é a sua
adesão a partes da Máscara. Primeiro, a Camarilla
perdeu aliados poderosos quando os Gangrel
partiram e os quer de volta por razões óbvias. Os
Gangrel, no entanto, misturam­se livremente com
os anarquistas devido aos seus gostos comuns pela
liberdade e pela oportunidade de determinar seus
próprios destinos, e isso significa que a Camarilla
deve tratar qualquer uma das facções com luvas de
pelica. Muitos relatos indicam que os Gangrel são o
clã mais numeroso entre os anarquistas, e sem
dúvida contribuem para a população Caitiff entre os
Gangrel também. O Conselho Interno sabe que não
pode arriscar subjugar os anarquistas abertamente
sem inadvertidamente ferir ou atrair os Gangrel para
a luta. O risco atualmente é muito grande e a divisão
entre os Gangrel e a Camarilla é muito recente.
Segundo, os anarquistas observam certos princípios
da Máscara, incluindo a necessidade de
permanecerem escondidos e demonstrarem
autocontrole ao se alimentarem, não matando
mortais. Esta reserva por si só torna os anarquistas
muito mais toleráveis que o Sabá, e mais simpáticos
para alguns anciões da Camarilla. Portanto, a
Camarilla atualmente defende uma relutante política
de laissez faire até que a situação mude com os
Gangrel, ou os anarquistas abandonem suas práticas
mais toleráveis.
Visões do Sabá
Toda a liberdade; nenhuma responsabilidade.
Para o Sabá, essa mistura é perigosa, talvez mais
perigosa do que a ingenuidade da Camarilla. Os
anarquistas são indisciplinados, sem direção e
perfeitos para manipulação nas mãos dos
Antediluvianos. Os medos da seita, no entanto, vão
muito além dessa justificativa simplista. Sim, a
Terceira Geração é uma ameaça iminente, e sim,
muitos vampiros estão despreparados para o conflito
iminente, mas os anarquistas também são um insulto
aos princípios fundamentais do Sabá. A Camarilla
teme uma potencial aliança entre as duas facções, mas
a verdade é que muitos dentro do Sabá não respeitam
o manifesto dos anarquistas. Alguns Irmãos e Irmãs
em Caim até consideram o nome dos rebeldes um
insulto ao espírito de sua própria luta pela liberdade.
O Sabá concorda com algumas das queixas da
Camarilla contra os anarquistas, embora certamente
não publicamente. A igualdade não pode existir
quando a potência do sangue diferencia
automaticamente um Cainita de outro, e qualquer
coisa obtida sem sacrifício não vale a pena. Além
disso, as queixas do Sabá contra os anarquistas
divergem radicalmente. O que a Camarilla chama de
“ganhar o seu sustento”, por exemplo, o Sabá chama
de sobrevivência do mais apto. Os dois podem parecer
semelhantes, mas sua abordagem para a questão difere
drasticamente.
O principal entre os princípios do Sabá é o
preceito de que apenas os fortes sobrevivem. Tudo em
sua existência envolve eliminar os fracos e fortalecer o
todo. O Rito de Criação garante que apenas os
intrépidos emergem do Abraço, mas também
endurece a mente e o coração do Neófito.
Posteriormente, a não­vida é uma série de Ritaes,
desafios e concursos que continuamente limpam o
Pecados do Sangue
48
jardim Cainita enquanto treinam os bandos para
responderem sem medo. Os mais velhos do Sabá já
enfrentaram Antediluvianos lendários e Matusaléns
grisalhos, então eles têm uma noção do que esperar
das Noites Finais. O novo Sabá, no entanto, não tem,
então os mais velhos assumem a responsabilidade de
educar, disciplinar e treinar seus companheiros de
bando mais jovens para a Gehenna — ou para as batalhas
que evitarão essa noite cruel. Os anarquistas, no
entanto, são um insulto a essa disciplina rigorosa e
treinamento. Para o Sabá, os anarquistas são
preguiçosos, fracos e, na maioria das vezes, indignos
do Abraço. Eles não se desafiam a melhorar e se
tornar mais fortes. Eles insultam o dom de Caim e
sua superioridade óbvia em favor de perseguir desejos
mortais de equidade.
Além disso, alguns dos elementos mais radicais
da Mão Negra temem que o novo Movimento
Anarquista seja uma tentativa de enfraquecer os
Cainitas em preparação para a chegada dos
Antediluvianos. O manifesto dos anarquistas torna os
vampiros suaves e dóceis, eliminando a necessidade
de luta. A Mão Negra acusa os anarquistas de
servirem aos Antigos ao tentarem desdentar e
desgarrar os Cainitas, transformando­os em ovelhas
para o abate. A facção Ultra­Conservadora, enquanto
apoia as afirmações da Mão Negra, também usa os
anarquistas para ilustrar os perigos do governo
descentralizado. Os Moderados, no entanto, contra­
argumentam os Ultra­Conservadores, dizendo que os
anarquistas representam o espírito de luta pela
independência que fomentou a Revolta Anarquista
original. Os Modernos reconhecem as deficiências
dos anarquistas atuais, mas acreditam que o Sabá
pode convertê­los na Espada de Caim. Alguns
Legalistas concordam, e defendem trazer estes
revolucionários para a seita, a fim de criar uma
Quinta Coluna dentro da Camarilla que irá minar
essa seita e dividi­la por dentro. Naturalmente, alguns
bandos legalistas especializados em “conversões de
campo” estão na vanguarda em Los Angeles e Las
Vegas, recrutando aqueles anarquistas que orbitam
muito longe do núcleo protetor de um círculo ou
gangue.
Independentemente dos acalorados debates
sobre os anarquistas, o Sabá, na totalidade, desaprova
aparentemente os métodos não direcionados e
indisciplinados do movimento. Assim como a
Camarilla, o Sabá baseia seus argumentos na história.
Ele cita a falha de Caim em estabelecer um reino
pacífico como a razão pela qual as tentativas de
igualdade dos anarquistas falharão, e usa a Revolta
Anarquista como prova de que a sobrevivência do
mais apto se mantém verdadeira. Um argumento
secundário a este ponto é o uso reverencial do Sabá
da Vaulderie e a ligação através do Vínculo, uma
prática criada durante a Revolta Anarquista para
quebrar as algemas dos anciãos e unificar o Sabá em
força de propósito. Anarquistas, muitos dos quais já
estão fugindo de laços de sangue e serviço servil a
seus senhores ou mestres anteriores, abominam a
Vaulderie, a menos que seja a única maneira de
escapar de suas obrigações presentes. O Vínculo é
uma infração às liberdades pessoais tão valorizadas
pelos anarquistas, e esse ressentimento ofende o senso
de fé do Sabá. A seita não considera o Vínculo uma
restrição. Em vez disso, acredita que o ritual fortalece
a causa da seita. A relutância dos anarquistas em
participar da Vaulderie é um insulto à fé da seita e
uma prova adicional de que os anarquistas são fracos
e desorientados.
Mudando de Seitas
Na não­vida de um vampiro, é difícil saber onde
se posicionar e em quem confiar. Mas os vampiros têm
suas próprias sociedades, suas próprias estruturas
políticas e suas próprias facções ideológicas. Duas
seitas, a Camarilla e o Sabá, dominam a cultura dos
Amaldiçoados, e apenas os poderosos, os imprudentes
e os sortudos conseguem evitar pertencer a uma delas.
A maioria dos Amaldiçoados deve escolher uma
apenas para sobreviver, e às vezes eles fazem uma
escolha que não lhes convém. Para quase todos os
Amaldiçoados, no entanto, não é uma escolha, pelo
menos inicialmente após o Abraço.
Não é impossível mudar de lado em algum
momento posterior — na verdade, em alguns aspectos,
a mudança é muito fácil. A Camarilla afirma que todo
Amaldiçoado já é um membro, e ingressar requer
pouco mais do que anunciar, interesse e disposição
para participar. O Sabá é menos presunçoso, mas
também aceita a maioria dos Cainitas — uma vez que
eles passaram por certos rituais de iniciação.
Claro, a não­vida nunca é verdadeiramente
simples, especialmente para um vampiro que já fez
parte da seita oposta. O desejo “padrão” de um
Neófito de se juntar à Camarilla é visto como
autêntica autopreservação, e às vezes como um
verdadeiro interesse em se juntar e defender a
“sociedade” vampírica. Para um membro estabelecido
do Sabá, no entanto, até mesmo um ato tão simples é
tratado com suspeita. O que o Sabá está tramando?
Por que está enviando um dos seus para espionar a
Camarilla? O que o Sabá tem a ganhar com isso?
Como e quando isso levará a um massacre, e quem é o
alvo? Afinal, os Cainitas do Sabá são demônios
sugadores de sangue no pior sentido — eles não têm
interesse nas Tradições que protegem os Amaldiçoados
da destruição nas mãos dos mortais justos.
Fora da Frigideira...
Por que um membro do Sabá escolheria se juntar
à Camarilla? Várias razões vêm à mente. Em primeiro
lugar, a Camarilla oferece proteção. Se um vampiro
estiver em uma cidade dominada pela Camarilla, ou
mesmo apenas em uma onde aquela seita seja forte, ele
poderá se apresentar ao príncipe. Se o príncipe o
aceitar, aquele vampiro deverá estar a salvo dos ataques
Capítulo Dois: Pecados da Sociedade
49
dos vampiros da Camarilla (pelo menos em teoria), e
ele poderá invocar seu novo príncipe e outros membros
da cidade para ajudá­lo a repelir a traição do Sabá
também. Tudo isso presumindo que o príncipe aceite
os Membros, é claro. Ao se apresentar, o fugitivo pode
estar convocando uma Caçada de Sangue sobre sua
própria cabeça e poupando aos agentes da Camarilla o
trabalho de ter que procurá­lo. Ou, se o príncipe
decidir manter as mãos limpas, ele pode simplesmente
rejeitar os Membros. O que acontece com um intruso
não alinhado preso dentro do território da Camarilla é
considerado autodefesa, uma resposta justificada em
uma Jyhad em andamento, e se lhe for negada proteção
ou asilo, a vítima se torna um alvo justo. A maioria dos
membros da Camarilla esperará até que estejam longe
de uma assembleia de mortos­vivos antes de agir de
acordo com esta regra não escrita, por uma questão de
civilidade.
Uma segunda razão para ingressar na Camarilla é
a liberdade. No Sabá, os Cainitas fazem parte de um
bando e fazem quase tudo com seus companheiros de
bando. Nenhum segredo é permitido e os interesses
pessoais são subjugados aos interesses do bando como
um todo (novamente, em teoria). Espera­se também que
os membros do Sabá participem de vários rituais, ritos
e passeios. A participação não está aberta à discussão —
sabe­se que bando arrastam membros relutantes e os
forçam a participar, a fim de manterem a sua própria
posição. Ironicamente, embora a Camarilla tenha mais
regras, é mais aberta. Os membros da Camarilla são
raramente obrigados a comparecer a reuniões ou
participar de atividades, exceto em ocasionais caçadas
de sangue ou convocações. Desde que prestem
homenagem ao príncipe ao entrar na cidade e
obedeçam às Tradições (o que muitas vezes significa
simplesmente defender a Máscara, não matar outros
vampiros e não fazer espetáculo de sis), os membros da
Camarilla são deixados à própria sorte. Para um
membro do Sabá, isso pode parecer o paraíso,
especialmente se ele ou ela tiver interesses fora dos
bandos e ambições que não sigam os planos e ações do
bando. O Sabá Inteligente pode até ver através da
noção indireta de liberdade de sua própria seita e optar
por se juntar à Camarilla para saborear a liberdade que
não está tão inextricavelmente ligada ao conflito
constante.
Outra razão para ingressar na Camarilla é a
ideologia. O Sabá desaprova os Antediluvianos e afirma
que a Camarilla é apenas um show de marionetes
cumprindo as ordens daqueles antigos. Muitos
membros do Sabá também acreditam em se separar da
humanidade, não em se esconder disto. A Camarilla
acredita numa coexistência tranquila com a
humanidade. Mudar do Sabá para a Camarilla afirma
sem palavras que os objetivos da Camarilla são mais
valiosos e viáveis do que os do Sabá, e que o futuro da
sociedade vampírica reside na paz e na cooperação (e
no sigilo). Dizer que isso está errado é um tapa óbvio
na cara do Sabá. É também um insulto direto aos
companheiros de bando e senhor do Cainita; algo que
é difícil de esconder ou ignorar.
(É importante notar que ingressar no Inconnu
não é considerado um ato de deserção por muitos
Membros. O Inconnu não é um lado oposto, é
considerado um grupo solto de vampiros que optaram
por não participar dos jogos políticos e das lutas pelo
poder. Não importa se essa retirada é um ato de
coragem, covardia ou tolice. Tornar­se um Inconnu é
um passo lateral e não uma reviravolta. Mas poucos
podem se juntar aos Inconnu. Seu número é pequeno,
seus convites são raros, e seus métodos são secretos.
Raramente vampiros individuais ganham sua atenção e
a oportunidade de se juntar a eles.)
A política também é uma questão. O Sabá tem
seus próprios jogos políticos, é claro — nenhuma grande
sociedade pode existir sem eles. Mas no Sabá, a maioria
dos jogos são abertos, disputas de vontade, força e
determinação, e tendem a terminar rápida e
violentamente. Na Camarilla, a política é longa e
prolongada, e ocasionalmente até exangue (em todos os
sentidos possíveis da palavra). Os membros do Sabá que
estão cansados dos constantes desafios físicos podem
desejar um desafio mais cerebral, e a Camarilla
certamente pode oferecer isso, com seus esquemas,
hierarquias e alianças distorcidas e emaranhadas.
Na verdade, os anciões do Sabá se envolvem em
tramas intrincadas, assim como os anciões da
Camarilla. Alguns até veem o conflito Sabá­Camarilla
como um elaborado jogo de xadrez, com os anciões de
ambos os lados comprometendo peões e torres para a
batalha. A diferença é que muitos membros da
Camarilla participam da política, mesmo que seja
apenas para sobreviver. Dentro do Sabá, geralmente
apenas os mais velhos têm o luxo e a segurança para
jogar tais jogos, e poucos sobrevivem o suficiente para
atingir essa idade e poder.
…Dentro do Fogo
Por que um membro da Camarilla escolheria
ingressar no Sabá? Novamente, uma resposta é a
liberdade, embora de um tipo diferente. Os Membros
da Camarilla passam grande parte de suas não­vidas
escondendo o que são, ocultando suas habilidades para
evitar perturbar a turba potencialmente mortal que é a
espécie mortal. O Sabá não vê sentido nesse engano.
Eles são o que são, predadores noturnos sobrenaturais,
e se orgulham disso. Após anos ou mesmo décadas de
esconderijo, é bom sair e se esforçar, reconhecer
abertamente a verdade da existência de um morto­vivo
e exibir com orgulho suas habilidades. Esta é uma isca
sedutora, e o Sabá a usa para seduzir os membros da
Camarilla, oferecendo­lhes a chance de deixarem de
lado o fingimento — de rejeitarem finalmente a mentira
de que eles ainda são humanos, e aceitarem a Besta
dentro de si.
Isso não quer dizer que o Sabá anuncie sua
presença e natureza ao mundo. Longe disso. O Sabá é
astuto e está bem ciente de que o número de pessoas é
Pecados do Sangue
50
contra ele. Mas muitos Sabás consideram a Máscara
ultrapassada e muito restritiva. Espera­se que os bandos
evitem exposição massiva, mas lhes é dada muito mais
liberdade de ação com os indivíduos, especialmente
porque eles podem optar por matar qualquer
testemunha posteriormente.
Outra atração do Sabá é o poder. A Camarilla
desaprova o uso aberto de habilidades vampíricas, já
que isso poderia alertar a humanidade sobre sua
existência e presença. O Sabá não tem tais escrúpulos.
Por que não usar as habilidades de alguém
abertamente? Tais habilidades fazem parte de sua
existência e foram obviamente concedidas para tornar
sua não­vida mais fácil (e mais agradável). E por que se
esconder dos humanos quando os Cainitas têm
potencial para subjugá­los? Os humanos são ovelhas,
fontes de alimento e entretenimento, mas nada mais —
por que se importar com o que pensam e com o que
podem fazer? Os humanos superam em número os
Cainitas, mas eles são fracos, frágeis e mortais, e se
algum dia se tornasse plausível equilibrar o campo de
batalha, os Filhos de Caim teriam uma vantagem
significativa.
Outra atração do Sabá é a política — ou a falta
dela. A Camarilla está repleta de políticas do pior tipo,
tramas intrincadas criadas por criaturas centenárias,
que estão dispostas a esperar séculos mais para que seus
planos se concretizem. Parece que os Membros da
Camarilla não podem dar um único passo sem entrar
em conflito com algum esquema ou plano, e devem
pesar cada palavra e ação cuidadosamente, para não
ofenderem o ancião errado ou arruinarem os planos do
círculo errado. No Sabá tudo é mais simples. O bando
está em primeiro lugar, e a política dentro de cada
tende a ser uma simples questão de quem lidera o
grupo e quem segue as ordens. O Sabá em si tem certos
objetivos, mas eles são objetivos abertos, não sutis e
ocultos, e gasta­se menos tempo conspirando e
planejando do que perseguindo ativamente seus
objetivos. Para aqueles Membros que passaram anos
enredados em planos detalhados, cercados por todos os
lados por considerações e contrapesos cuidadosos, é
bom poder se concentrar apenas no vento, no céu
noturno, no sangue e no cheiro do medo dos mortais.
No Sabá, os Cainitas sabem quem são seus inimigos, e
tais inimizades não duram muito — geralmente porque
um ou outro é destruído logo em seguida. Mas pelo
menos é aberto e rápido, e não é algo com que se
preocupar durante séculos a fio. Novamente, isso é
mais verdadeiro para os Neófitos do que para os
Anciões, mas poucos Sabás sobrevivem tanto tempo,
então eles têm poucos motivos para se preocupar com
essas coisas desagradáveis.
Inimigos Mútuos
Uma razão válida para ambos os campos é o
poder. Diferentes clãs e linhagens têm diferentes
habilidades, diferentes potenciais e diferentes segredos.
Certos clãs são tradicionalmente do Sabá, e outros são
tradicionalmente da Camarilla. Alguns deles podem se
tornar antitribu, mas certamente são difíceis de
localizar. Ao mudar para o outro lado, um vampiro
pode ganhar proximidade com novos poderes, poderes
que antes não estavam disponíveis para ele. Eles podem
estudar esses poderes e tentar dominá­los, aumentando
assim sua força pessoal. Muitos vampiros existem
apenas por poder e, para eles, a oportunidade de
crescer em força vale qualquer risco. Além disso, depois
de alguns séculos, a maioria dos vampiros fica atolada
em um certo nível político, à medida que aqueles ao
seu redor os relegam a certos papéis e tarefas. Sem
grandes convulsões, poderão nunca ultrapassar esse
nível. Não é diferente do “teto de vidro” mortal, com
uma grande diferença: dura para sempre. Ao mudar
para a outra seita, esses vampiros saem de sua rotina e
ganham a possibilidade de avançar ainda mais, porque
não estão mais presos no mesmo lugar de antes e não
são mais retidos pelas expectativas dos outros. Mesmo
que tenham que subir novamente ao nível anterior, será
muito mais fácil na segunda vez, visto que a sua força e
experiência são muito maiores do que antes.
Mas se a existência é tão boa do outro lado, por
que tão poucos vampiros trocam? Várias razões
impedem deserções em grande escala. Em primeiro
lugar, a fuga é necessária. Embora a Camarilla conceda
aos seus membros uma grande quantidade de
autonomia, ela traça o limite de quebrar as Tradições —
e ingressar no Sabá é equivalente a quebrar todas elas,
já que se o Cainita ainda não violou a Máscara, ele o
fará antes de se tornar um completo Cainita do Sabá.
(Pelo menos é o que dizem aos Neófitos, a fim de
aumentar sua hostilidade em relação ao Sabá.)
Demonstrar abertamente o desejo de desertar para o
Sabá é tolice e autodestrutivo. O Membro pode muito
bem ser levado sob custódia e “ajudado” a ver o erro de
tal caminho. Tal tratamento pode resultar na Morte
Final do Membro em questão, ou na destruição de sua
personalidade, mas para a Camarilla, isso é preferível à
alternativa. Membros fugitivos da Camarilla muitas
vezes também guardam segredos — informações de
chantagem que podem ser úteis mais tarde, se eles
precisarem lidar novamente com seus ex­aliados. É
muito mais seguro matar os fugitivos e enterrar esse
material para sempre, em vez de vigiar continuamente
por cima do ombro.
Desertar do Sabá tem seus próprios problemas. A
maior dificuldade é o bando. Cada membro do Sabá faz
parte de um pequeno bando e cada um bebe
regularmente o sangue dos outros para fortalecer seu
vínculo. Esse vínculo é mais que simbólico, é místico e
pode ser usado para chamar de volta o membro errante.
Se um membro do Sabá conseguir romper seu vínculo
com o bando, ele será verdadeiramente um pária e
poderá até ser caçado à vontade. Seus ex­companheiros
de bando serão os primeiros a procurá­lo e serão os
mais ávidos em rastreá­lo, para amenizar sua própria
traição. Membros do Sabá fora de um bando também
são vulneráveis. Eles se unem para proteção mútua, e

Capítulo Dois: Pecados da Sociedade

51
um Sabá solitário pode ser vítima não apenas de
estranhos, mas até mesmo de outro Sabá, que pode
provocar e atacar um indivíduo percebido como
solitário. Como as cidades dominadas pelo Sabá
costumam abrigar um grande número de bandos, tanto
fundadas quanto nômades, escapar desse ambiente com
a não­vida intacta pode exigir muita ousadia, sorte e
habilidade.
Fazendo a Ação
E se um vampiro escapar de sua antiga seita?
Em alguns casos, o próximo passo é procurar o
outro lado, o que é perigoso por si só. Seria mais
sensato procurar e juntar­se à oposição antes de partir,
mas como a deserção é uma questão de coragem,
muitos Membros — embora possam passar décadas
considerando a mudança — finalmente agem em um
momento de paixão morta­viva. Eles simplesmente
reúnem coragem e correm cegamente para o
desconhecido. Sabe­se que até os mais velhos traçam
planos elaborados para a sua deserção, apenas para os
deixarem de lado num momento de pânico e confiarem
na sua inteligência e força para sobreviver.
Para aqueles que pensam no futuro, planejar uma
não­vida com “o inimigo” deve ser feito com a maior
delicadeza. A pesquisa inicial sobre o assunto nada mais
é do que explorar a heresia. Se os aliados ou rivais de
alguém descobrirem as considerações do vampiro, ele
pode ficar sem escolha, ou pelo menos sem uma opção
atraente. Por esta razão, poucos vampiros realizam tais
assuntos casualmente. Renunciar à seita não é diferente
de renunciar à cidadania mortal — é um assunto grave e
deve ser feito com a máxima certeza.
Localizar a seita adversária não é particularmente
difícil — ambos os lados tendem a reivindicar território,
e os Membros em uma área sabem quem reivindica
quais domínios, bairros e cidades. Uma vez no
território apropriado, um Membro pode chamar
atenção para si. Fazer isso torna­se perigoso, no
entanto. Tanto os Cainitas do Sabá quanto os da
Camarilla são cautelosos com os recém­chegados e
tendem a questionar estranhos quanto à sua afiliação e
intenções. Os membros do Sabá podem atacar
estranhos à primeira vista, presumindo que alguém
desconhecido seja um inimigo. Os vampiros da
Camarilla são mais cautelosos, mas podem transmitir
seu próprio tipo de suspeita ou hostilidade a um
estranho se considerarem esse estranho uma ameaça.
Isto é especialmente verdade se eles decidirem que o
visitante é do Sabá e, portanto, pode ser desfeito sem
irritar o príncipe.
Um membro do Sabá em fuga deve chegar ao
príncipe da cidade, o que pode significar enfrentar um
desafio de servidores, guarda­costas e oficiais. Às vezes,
um desertor pode fazê­lo através de suborno ou
diplomacia, mas, mais frequentemente, isso exigirá
discrição e, muitas vezes, força bruta. Uma vez
concedida uma audiência (talvez a contragosto), o
vampiro deve convencer o príncipe a aceitar seu apelo
Pecados do Sangue
52
para se tornar um membro da Camarilla e um Membro
reconhecido do domínio do príncipe. É claro que o
aspirante a Membro não precisa fazer isso, mas
Membros não reconhecidos em qualquer domínio que
não seja o mais negligente são vistos, na melhor das
hipóteses, como autarcas…. Muitos príncipes
enfrentaram os agentes do Sabá em algum momento ou
outro, e podem não estar dispostos a receber tais
monstros em seu reino. É muito mais seguro matar um
cão raivoso do que abrigá­lo e tentar domesticá­lo. É
claro que os desertores também podem ser submetidos
a tortura. As informações sobre o inimigo são sempre
úteis, e os detalhes fornecidos gratuitamente são menos
confiáveis do que aqueles extraídos pela força.
Os Membros ainda contam sobre um Cainita que
desertou do Sabá. Ela massacrou seus próprios
companheiros de bando e dois outros bandos também,
lutou para sair do domínio do Sabá e entrar no
território da Camarilla, lutou para chegar ao refúgio do
príncipe, matando um punhado de membros da
Camarilla no processo. Quando ela chegou, ela forçou
o príncipe a conceder­lhe uma audiência, apenas para
jurar pacifismo eterno se ele a aceitasse em seus
domínios. Segundo alguns, desde então ela reivindicou
o título e o domínio daquele príncipe. De acordo com
outros, seus restos mortais foram espalhados pelos
cantos do domínio do príncipe, e seus dedos foram
dados às crianças de cada Membro que ela havia
matado.
De certa forma, fugir para o Sabá é mais seguro,
mas de outras maneiras, é mais perigoso. O Sabá não
tem príncipes, então aqueles que correm para o Sabá
não precisam lutar para chegar a uma figura central. O
apoio de um bispo ou arcebispo é preferível e pode
suavizar muitas dificuldades, mas inicialmente qualquer
líder de bando servirá. Entretanto, os bandos não
precisam se conter até que seu líder aceite um novo
membro. Cada bando pode decidir por si como tratar
um “visitante” e, se decidir destruir seu suposto colega,
ninguém precisa ficar sabendo. Se o recém­chegado for
um vampiro de idade, poder e/ou reputação, tal golpe
pode se tornar público, aumentando a reputação do
bando. Em casos de Cainitas particularmente potentes
ou de alto perfil, o vampiro desertor pode nem mesmo
se juntar a um bando, como é o caso de muitos anciões
da Espada de Caim. Embora seja improvável que uma
desertora assuma um lugar entre os prisci (ou mesmo
entre os bispos, após um desenvolvimento tão não
comprovado), ela pode acabar sendo nomeada
consultora de um cardeal ou templária de um
arcebispo. Poucos Membros da Camarilla de idade
avançada sequer considerariam ingressar no Sabá se
fosse um golpe tão grande à sua dignidade como vê­los
limpando o refúgio de um bando novata. Os bandos
podem torturar Membros mais jovens para obter
informações úteis e então diablerizá­los para roubar sua
força. Se um bando decidir poupar um recém­chegado,
seus membros podem optar por iniciá­lo eles próprios,
o que pode pegar um refugiado da Camarilla de
surpresa. A Camarilla é uma instituição social e as
iniciações são geralmente uma formalidade, baseada em
palavras e gestos tradicionais. O Sabá é um grupo de
guerra religioso, com cada bando sendo uma unidade de
combate dedicada, e a iniciação é muito real. Membros
em potencial, até mesmo calouros Abraçados por
membros do bando, podem ser submetidos a tortura e
degradação. Mas um ex­membro da Camarilla pode ter
que passar por muito mais, porque tem mais a provar.
Desde que sobrevivam à iniciação, tais Cainitas se
tornam membros plenos do bando, com toda a proteção
e direitos de todos os outros membros do bando.
Ao menos esta é a teoria. A realidade muitas
vezes é bem diferente. Os bandos do Sabá são unidas
como famílias, e a maioria é sábia em desconfiar de
estranhos. Qualquer novo membro seria tratado com
desconfiança até que esse membro provasse seu valor.
Mas a Camarilla é o inimigo, a antítese do Sabá. Seus
membros são fantoches dos anciões, na melhor das
hipóteses, e demônios mortais determinados a
enfraquecer os Cainitas para a própria Gehenna, na
pior das hipóteses. Ter um membro reformado da
Camarilla no bando é uma marca de distinção (por ter
“transformado” o inimigo), o que significa que os
bandos podem cobiçar essa honra, mas se o novo
membro for de fato um agente duplo, um espião ou
sabotador, todo o bando poderia sofrer por isso. A
melhor resposta é pressionar impiedosamente o novo
membro, quebrá­lo completamente e então subjugá­lo
totalmente. Se ele não tiver outra vontade senão a do
bando, e nenhuma identidade além do bando, ele não
poderá traí­la. Portanto, muitos vampiros desertores
podem achar a existência em um bando do Sabá muito
mais difícil do que qualquer outro membro do bando.
Eles não terão folga, nem margem de manobra, nem
clemência e, quando confrontados com o perigo,
poderão encontrar o resto do bando recuando e
observando para ver o que eles fazem. E se o novo
membro morrer a Morte Final porque o bando se
absteve de sua defesa? Então talvez ele tenha sido
sincero, e sua memória possa até ser honrada.
Os recém­reformados são tratados da mesma
forma na Camarilla, só que o tratamento é mais sutil.
Um Membro reconhecido pelo príncipe muitas vezes
deve suportar fofocas, provocações, insultos, desprezos
de todos os tipos e obstáculos em todas as direções. O
refúgio que ela escolheu de repente fica indisponível ou
inabitável, a presa que ela estava perseguindo é
subitamente assustada, alguém parecido com ela agora
é procurado pela polícia, casos exclusivos de Membros
se enchem pouco antes de ela chegar à porta, e ocorrem
outros flagrantes desprezos sociais. Em suma, um
desertor é geralmente tratado como um cidadão de
segunda classe, desprezado e que normalmente sofre o
pior de qualquer negócio. Ela tem que trabalhar mais
para provar seu valor, e mesmo um único erro é
justificativa suficiente para que ela não seja confiável e
indigna de confiança.
Alguns Membros têm pouco em termos de posses
Capítulo Dois: Pecados da Sociedade
53
— coisas materiais quebram e se transformam em
poeira, assim como os mortais, enquanto os vampiros
ainda permanecem. Portanto, os vampiros tendem a
valorizar as coisas que não podem se transformar em
pó, como experiência, poder, sabedoria e honra.
Estranhamente, em uma sociedade de predadores e
assassinos, a honra pessoal significa muito. Um
vampiro cuja palavra é boa é tratada com respeito e
admiração, e isso vale mais do que uma pintura
desbotada ou uma peça de mobiliário de obra­prima.
Mas quando um vampiro muda de lado, sua honra se
foi. Afinal, juntando­se inicialmente a uma seita, ele se
prometeu seguir os ideais e procedimentos dessa seita e,
ao sair, ele quebrou sua palavra. Pior ainda, ele não
deixou simplesmente essa seita, mas procurou e se
juntou ativamente à seita oposta, que o torna não
apenas desonroso, mas traidor. Os membros mais
jovens podem não ver nenhum significado nisso, mas
os vampiros mais antigos o reconhecem como um
grande golpe, um ataque cruel contra a autoimagem de
alguém e uma perda de valor incalculável. Também é
impossível recuperar completamente. Assim como uma
escultura quebrada pode ser reparada, mas sempre terá
rachaduras, um desertor sempre quebrará uma grande
promessa e, portanto, ele nunca pode ser totalmente
confiado.
De muitas maneiras, essa perda é pior em níveis
mais altos de classificação e poder. Neófitos pode ser
considerado crianças perdidas que foram influenciadas
por seguir a Trilha errado e agora se tornaram sábios o
suficiente para ver a verdade. Eles podem ser punidos
por seu erro e ridicularizados por sua fraqueza, mas, ao
mesmo tempo, podem ser homenageados por se
sentirem em seus sentidos. Até os Neófitos podem dizer
que, uma vez autorizados a ficar sem seu pai e tomar
suas próprias decisões, perceberam que o outro lado
não os atraiu e, portanto, optou por sair. Os vampiros
mais antigos não têm tal desculpa. É difícil afirmar que
os últimos 200 anos foram um erro descuidado que não
poderia ter sido retificado mais rapidamente. Os
anciãos também são tratados com mais medo e,
portanto, mais desconfiança. Um incipiente não pode
causar muito dano sozinho, mas um ancião poderoso
pode causar estragos e até colocar em risco os líderes da
seita. Também é mais difícil para um ancião escapar no
primeiro lugar. Em todas as situações mais
irreconciliáveis, sua seita original usará todos os meios
para convencê­la a ficar, ou, não, para destruí­la, em vez
de deixar seu poder, experiência e conhecimento irem
ao inimigo.
Uma desvantagem da deserção é que ela nunca
desaparece. Os vampiros podem sobreviver por
milênios, e se lembram claramente e ataques, mesmo
após séculos. Um vampiro que defende de uma seita
para o outro não deve esperar ter a ação esquecer com
o tempo. A única maneira de isso acontecer é se todos
que sabiam que a situação não existe mais — o que pode
explicar por que os vampiros não confiam em desertores.
Enquanto uma testemunha permanecer, o desertor
sempre pode carregar esse rótulo, e muitas vezes será a
primeira coisa que alguém ouve sobre ele, antes de
quaisquer pontos fortes, atos ou linhagem. O crachá do
desertor nunca mais e pode ser oculto, a menos que o
vampiro esteja disposto a criar uma nova identidade ou
começar de novo em algum lugar onde seu nome não
tenha sido ouvido.
Outro problema com a deserção é o custo de status.
Um incipiente não tem uma classificação a perder — ele
está no degrau inferior, independentemente. Um Neófito
pode ter que começar de novo, mas esse é um preço
pequeno a pagar, pois não é um grande passo atrás.
Também é razoável para um vampiro que ainda é jovem e
mal autossuficiente, se ajustar desde o início, para que ela
tenha uma melhor compreensão e apreciação por sua nova
situação. Mas para ancillae e anções ir à seita oposta pode
ter grandes consequências. Alguma classificação pode ser
concedida ao ingressar em sua nova seita, mas a maioria
dos ancillae e até alguns ançiões são despojados de estima
e são forçados a avançar do fundo mais uma vez. Isso é
embaraçoso e humilhante para os ancillae, mas é quase
indizível para os ançiões. Um parente de quinta geração
poderia consultar o próprio consultado após dois anos de
mortos­vivos. O ancião ainda pode ter seu poder e
recursos pessoais e até mesmo algum contato contínuo
com antigos aliados, mas os laços podem se tornar mais
tênues. As conexões feitas através da outra seita
certamente poderiam ser tensas, se não foram
completamente cortadas. Essa queda drástica de favor e
importância é frequentemente um teste deliberado da
força de vontade e do autocontrole do vampiro, mas
também serve como um lembrete de que honras e títulos
anteriores não significam nada na nova seita e que todo
pouco respeito deve ser conquistado.
Uma coisa que também deve ser considerada é a
rede social. Por todas as suas reivindicações de
desumanidade e maneiras solitárias, os vampiros ainda
socializam. Eles ainda interagem entre si e ainda formam
conhecidos. Tudo isso pode começar como alianças,
parcerias e acordos estratégicos, mas em muitos casos eles
evoluem para verdadeiras companhias, principalmente
porque os vampiros não podem compartilhar sua natureza
e suas preocupações com muitos outros. Dois anciãos
podem ser conhecidos por séculos, reunindo­se a cada
poucas décadas para recuperar o atraso, comparar notas e
simplesmente desfrutar da presença de um indivíduo que
pensa da mesma forma que valoriza as opiniões do outro.
Mas tudo pode desaparecer em um instante se o vampiro
mudar de lado. Os antigos camaradas não falam mais um
com o outro, não confiam mais um no outro, e o par mais
antigo e confiável pode repentinamente ser o rival mais
temido, aquele que conhece todos os refúgios escondidos e
todos os planos de backup. Por que os velhos conhecidos
se voltariam dessa maneira? Porque escolher uma seita
está declarando uma atitude em relação ao mundo, em
relação à existência e à humanidade, e mudar essa
atitude de repente significa mudar a pessoa também,
tornando­se uma nova personalidade com novos
interesses e novas atitudes.
Pecados do Sangue
54
Obviamente, pode levar décadas para construir
relacionamentos com outros vampiros e ainda mais se
for tratado como um estranho e um possível espião.
Particularmente porque cada desertor traz uma nova
lista de inimigos, os vampiros que não se incomodaram
com o conflito da seita antes, mas que agora têm um
motivo pessoal para se opor ao desertor e qualquer um
que esteja com ele. Não é de admirar que esses parentes
geralmente se encontrem sozinhos, isolados do próprio
grupo que desistiram muito de se juntar.
A maioria dos vampiros pertence a um clã, e o
clã é uma família extensa, o que significa que às vezes
pode ser uma fonte de informação, conselho ou ajuda.
Infelizmente, mesmo isso não é verdade para
desertores. A maioria dos clãs possui versões antitribu,
espelhar na seita oposta, e o clã e o antitribu geralmente
se desprezam. Deixando uma seita e se juntando a
outra, os vampiros e de frente para o seu antitribu ou
um dos raros antitribu reconciliados com o clã original.
De qualquer maneira, o desertor é mais uma vez um
pária, não totalmente entendido por esses semi­clã e
marcou um pária de outra direção. O vampiro também
é cortado de mais uma avenida possível de apoio,
deixando­lhe alguns outros lugares para virar.
Às vezes, vampiros, defeito em um grupo. Fazer
isso fornece uma rede de suporte integrada­aliados e
colegas de embalagem ainda têm um lote comum, e eles
ainda têm uma mente semelhante. Com os cainitas
para assistir às costas um do outro, as ameaças físicas
são menos um problema e os desafios podem ser
enfrentados em um grupo. Os grupos têm uma
desvantagem, no entanto — visibilidade. Um príncipe
ou um bispo Sabá não pode notar a partida de um
único incipiente, ou recém­nascido, mas nenhum dos
dois perderá provavelmente a partida de um grupo de
seis vampiros reconhecidos, e ambos podem sentir que
um exemplo é necessário antes que outros coteries
obtenham ideias. E, como a deserção geralmente é uma
escolha pessoal, quando um grupo inteiro defende,
outros suspeitam que algo mais esteja em ação. Talvez o
grupo teme que algo terrível esteja chegando e esteja
fugindo de um certo perigo, ou talvez tenha
informações valiosas sobre alguém e esteja
descontando­as. Pode ser que os membros do grupo
tenham algum tipo de plano para danificar seus ex­
aliados . Independentemente disso, o movimento de
um grupo inteiro é suficiente para atrair atenção, e de
repente o grupo pode se envolver em todos os lados por
“festas curiosas”.
O Preço da Escolha
O problema mais significativo da desertação é
queimar pontes. Não apenas é improvável que antigos
aliados se associem ao vampiro, mas seus antigos
contatos também podem ter desaparecido, e todos os
seus planos anteriores devem ser reconstruídos usando
sua nova estrutura. O Sabá muitas vezes exige que um
desertor corte todos os laços com o mundo mortal,
incluindo assessores e aliados de confiança, para
demonstrar sinceridade e comprometimento. Os
desertores raramente podem voltar. Um vampiro que
deixou a Camarilla, se juntou ao Sabá e depois
retornou à Camarilla seria considerado um espião ou
sabotador e provavelmente se tornaria alvo de uma
Caçada Selvagem e de uma Caçada de Sangue. Da
mesma forma, alguém retornando ao Sabá após ter se
juntado e depois deixado a Camarilla pode encontrar
seu antigo bando esperando para se vingar por ter
saído, e vários anciões desaprovadores esperando
quando ela terminar. A maioria dos vampiros pode
adotar uma nova seita apenas uma vez, se tanto. A
maioria não sobreviverá à troca uma segunda vez,
presumindo que sobreviverá à primeira, pois até então
sua traição será conhecida.
Uma das razões pelas quais ambos os lados são
tão cautelosos é a própria jyhad. A camarilha nega a
existência de coisas como antediluvianos,
considerando­os como apenas metáforas pelo mito da
criação do Membro, mas o sábado teme e os detesta.
Algumas Crianças da Noite e até alguns Neófitos
afirmam que os antediluvianos não existem mais, que
são apenas lendas e contos folclóricos. Os anciãos, no
entanto, acreditam fortemente, e alguns até viram os
monstruosos seres velhos. Se os ançiões girarem os
planos que abrangem séculos, as tramas dos
antediluvianos podem cobrir milênios, e qualquer um
pode ficar preso em fios desses esquemas. Defeito para
uma nova seita, deixando para trás o mundo inteiro, a
rede e a história, é um passo enorme e certamente um
afastamento radical do comportamento anterior. Por
que um vampiro se comportaria de repente dessa
maneira?
Talvez ele esteja sob a influência dos
Antediluvianos, apanhados na eterna jyhad, e essa ação
drástica é, em última análise, um movimento de xadrez
em algum conselho enorme. Mas se for esse o caso, o
vampiro é um peão e ele provavelmente tem várias
ações no futuro. O sábado queimaria seus próprios
membros que permitiria que um antediluviano
ganhasse a menor influência ou uma visão sobre eles, e
se um ex­membro de Camarilla aparecer na porta, é
mais seguro e mais fácil destruir o intruso do que correr
o risco de ser arrastado para o xadrez jogo. O Membro
Savvy vê todas as ações de seus companheiros como
parte de uma jyhad maior, mas se o autor do esquema
for um Antediluviano, até os ançiõs tremendo de medo.
Seria adequadamente torcido para um desses antigos
usar monstros do Sabá como suas ferramentas e seus
lacaios. A pior parte dessa consideração é que ela não é
verificável. Quem sabe o que os movimentos dos
antigos realmente fazem? Independentemente disso, a
paranoia que muitos vampiros sentem em relação à
jyhad são muito reais, mesmo que as fontes que se
mexem podem não ser.
Então, por que defeito? Os motivos já listados são
tecnicamente verdadeiros, mas desconfiança e suspeita
e ódio totalmente colori­las. Por fim, um vampiro muda
de lado por apenas três razões. Primeiro, ele está
Capítulo Dois: Pecados da Sociedade
55
iludido. Na verdade, ele acredita que o hype que ele foi
informado pela oposição, e ele muda os lados pensando
que sua existência se tornará melhor imediatamente e
que ele será recebido de braços abertos por seus novos
aliados e companheiros de seita. Esse vampiro
geralmente recebe um despertar rude, pois descobre
que os traidores raramente são bem­vindos, mesmo pela
seita em que desertaram. Segundo, um vampiro pode
não ter escolha a não ser sair. Ele fez coisas tão terríveis
que não é mais seguro para ele ficar em sua antiga seita.
No entanto, ele teme estar sozinho, então ele muda
para o outro lado. Este vampiro descobre que ele está
tão sozinho como sempre, talvez mais. Agora ele está
cercado por “aliados” que o olho constantemente,
esperando por um único erro, e ele é desconfiado e
evitado a cada passo, até que qualquer punição que ele
escapou comece a parecer mais atraente por ser familiar
e finito.
A razão mais comum que um vampiro defende é
moral ou político — ele simplesmente sente que sua
antiga seita está errada em sua abordagem e decide se
juntar à equipe “certa” imediatamente. Este vampiro
também está em revelações desagradáveis. Nem a
Camarilla, nem o Sabá tem uma atitude clara e
universal em relação ao mundo, e cada uma tem
centenas de variações, com novas versões aparecendo
toda vez que um novo vampiro se junta às fileiras, seja
através de abraços ou outros. Enquanto cada seita alega
uma ideologia que ela idealiza, essas filosofias vão
apenas como o membro individual as defende. Um
vampiro pode descobrir as coteries de camarilha mais
sanguessuga do que qualquer bando Sabá, ou espada de
manobra política de Caim que supere qualquer teia de
prestação de Camarilla por conspiração em
complexidade, duplicidade e pura egoísmo. Nenhum
dos lados tem uma opinião unified, sendo uma grande
variedade de mortos­vivos de mente semelhante.
Aqueles que se juntam à busca de clareza são confusos
com o grande número de opiniões e abordagens
diferentes em sua nova seita, e consternados ao saber
que é tão difícil e tão violento navegar seu novo lado
quanto navegar pelo antigo. Embora não seja impossível
se unir atrás da causa de uma determinada seita, é
extremamente difícil se tornar um modelo dessa causa,
mesmo para o mais princípio dos condenados.
Um pensamento é que os desertores podem pelo
menos encontrar consolo e apoiar com outros
desertores. Afinal, esses são outros parentes que
estavam originalmente do outro lado e optaram por
mudar de alianças. Eles entendem como é ter esse
histórico e essas atitudes anteriores, o que o desertor
sacrificou para fazer a transição e o quão difícil é se
encaixar e construir uma nova existência em um novo
ambiente estranho. Portanto, são as melhores pessoas
para falar e as com maior probabilidade de mostrar
entendimento e apoio.
Nem sempre é esse o caso. Na verdade, muitas
vezes é o oposto. Os traidores estão sempre sob
escrutínio, e sempre que dois ou mais deles se agrupam,
outros podem suspeitar que eles estão conspirando
contra sua nova família, colocando em ação qualquer
plano diabólico que eles traçaram antes de deixarem
sua verdadeira seita e fingirem mudar de lado.
Portanto, a maioria dos desertores evitam­se uns
aos outros para parecerem desinteressados e para
mostrarem lealdade aos seus novos pares. Na verdade,
uma das melhores maneiras de mostrar lealdade ao
seu novo lar é zombar do seu antigo lar e tornar a
existência miserável para qualquer pessoa de lá –
incluindo outros desertores. A existência pode se
tornar uma “disputa irritante” em grande escala, com
cada vampiro tentando superar os outros e, assim,
mostrar sua superioridade e lealdade. Isto muitas vezes
resulta em danos físicos ou mesmo na morte de um
ou mais desertores, mas os mais velhos raramente
intervêm. Talvez pensem que os mais sinceros
triunfarão, ou talvez simplesmente sintam que
ninguém sentirá falta de um punhado de traidores.
Independentemente disso, muitos permitem tal
conflito, e alguns até parecem gostar dele, observando
e comentando cada golpe como se estivessem
assistindo a um duelo de gladiadores.
Os desertores são muitas vezes impedidos de
ocupar cargos ou posições de poder, pelo menos
inicialmente, por receio de que possam abusar dessas
posições ou regressar à sua antiga seita com
informações comprometedoras. Os seus movimentos
também são por vezes monitorizados e quaisquer
irregularidades podem resultar em questionamentos
por príncipes ou bispos cautelosos. Na verdade,
espera­se muitas vezes que os desertores façam “visitas
sociais” aos de posição social, simplesmente como
uma forma de os lembrar da sua posição subserviente
e da gravidade de cruzar a sua nova seita.
Ironicamente, a maioria dos líderes vampíricos
conhece seus desertores melhor do que outros
vampiros menos controversos em seus domínios,
mesmo porque raramente têm motivos para vigiar,
ameaçar ou atormentar seus súditos.
Nem toda deserção é real. Alguns membros da
Camarilla “desertam” para o Sabá para se infiltrar
naquele acampamento e adquirir informações valiosas,
que eles podem então trazer de volta e usar para
avançarem, seu círculo e sua seita. Em ocasiões mais
raras, um vampiro do Sabá “se voltará” para a
Camarilla apenas para ver como a outra metade opera,
e talvez para interferir secretamente em tantos planos
quanto possível antes de voltar correndo para a
segurança do bando. Esses vampiros descobrem que a
deserção não é um jogo ou um ato casual — é
mortalmente sério. Para sobreviver à deserção, um
vampiro deve ter enorme resistência física e mental,
bem como um tremendo autocontrole. Voltar também
pode ser um problema. Em muitos casos, o vampiro
descobre que não pode deixar seu novo bando porque
o estratagema se tornou real e os laços são
vinculativos. Em outros, o vampiro descobre que sua
antiga seita não o quer mais de volta. Quem pode
Pecados do Sangue
56
garantir que a deserção não se tornou genuína e que o
vampiro não retornará agora como agente duplo (ou
mesmo triplo)? Mesmo que a deserção tenha sido
arranjada ou sugerida de antemão, a realidade pode
revelar­se muito diferente e os líderes têm uma forma
de mudar de ideias. O outro lado também pode
suspeitar de qualquer desertor cuja fuga lhes parecesse
muito fácil, de modo que a velha seita não pode
poupar o fugitivo de dificuldades — para que a
deserção pareça real, o perigo deve ser real. Esse
estratagema elaborado vale a pena? Para os poucos que
conseguem desertar, juntar­se ao outro lado e
regressar em segurança, sim. A informação que
fornecem pode ser inestimável, revelando muitos
planos e fraquezas do inimigo, e o prestígio e a estima
que recebem podem alterar dramaticamente a arena
política. Mas essa elevação tem um preço. Mesmo os
“falsos” traidores carregam um estigma, e quanto
melhor o seu engano, mais os seus antigos aliados se
perguntam quanto da sua atual lealdade é real e
quanto é também falsa. A seita para a qual eles
“desertaram” também pode ser um perigo. Nada é
pior do que ser feito de tolo, e se essa seita descobrir o
truque, o vampiro pode muito bem ser caçado durante
séculos por vingativos Cainitas. Ele também pode não
encontrar tanta proteção quanto esperava, de sua
verdadeira seita. Afinal, uma vez adquirida a
informação de que o vampiro não é mais útil, e as
responsabilidades potenciais devem ser removidos
antes que causem problemas adicionais.
Não‐Vida Nova?
Os líderes são muitas vezes deliberadamente
cruéis com os desertores, testando a sua lealdade e a
sua determinação. Alguns príncipes com mão de ferro
exigem um vínculo de sangue imediato de todos os
fugitivos do Sabá, e apenas parte da razão é a
influência correspondente sobre o fugitivo. A outra
razão é ver se o desertor suplicante ficará quieto para
tal tratamento. Os príncipes frequentemente
arquitetam situações para enfurecer seus novos
súditos, para que possam ver se o novo vampiro
consegue ou não permanecer calmo. Afinal, manter a
Máscara requer força de vontade e autocontrole, e o
Sabá é notoriamente fraco em ambas as frentes.
Portanto, ex­Sabá muitas vezes são alvo de piadas e
alvo de pegadinhas e até insultos, em um esforço para
incitá­los a trair a si.
O Sabá muitas vezes toma o rumo oposto. Um
líder local do Sabá também pode exigir um vínculo de
sangue, mas o novo membro deve estar vinculado a
seu bando de qualquer maneira. Alguns líderes do
Sabá podem criar situações para os novos membros,
mas com um objetivo muito diferente em mente. O
Sabá quer saber se o vampiro que está pedindo
admissão está em contato com sua Besta interior e
aprendeu como liberar essa Besta e “aproveitar a
onda” de seu frenesi. Antigos Cainitas da Camarilla
muitas vezes têm dificuldade com esse abandono e
podem se opor à pressão pela violência, mas em
última análise, é uma questão que deve ser respondida
por cada vampiro. O Cainita aceitou totalmente a
Besta interior e aceitou a existência como um morto­
vivo? Vampiros que mostram muita relutância não
pertencem ao Sabá, enquanto vampiros sem restrições
são proibidos de entrar na Camarilla para proteger a
Máscara. É também uma questão de perigo e
segurança, tanto do novo membro como daqueles que
o rodeiam. Um membro da Camarilla que luta
constantemente corre o risco de chamar a atenção de
pessoas de fora, enquanto um membro do Sabá que
não luta corre o risco de arrastar seu bando para baixo
e deixá­la sem apoio total. Os líderes consideram
sabiamente estes perigos primeiro, antes de apresentar
o novo membro aos seus novos companheiros de
bando.
Em alguns domínios do Sabá, é prática comum
matar de fome um novo desertor. A verdadeira
personalidade de um vampiro transparece após várias
noites de fome. Suas pretensões são eliminadas e surge
uma clara cadeia de prioridades. Alguns membros do
Sabá afirmam que nunca usam truques, preferindo
sempre a abordagem direta. A maioria dos membros
da Camarilla mantém pelo menos uma aparência de
civilidade, então forçar a queda da aparência é uma
ocasião rara, mas valiosa. Essa tática dá ao bispo ou ao
bando a chance de estudar o recém­chegado, de ver a
pessoa sob a elegância e as presas e de decidir se essa
pessoa vale o esforço e o risco envolvido. Também
permite que o bispo distribua o sustento como
recompensa, proporcionando mais uma ferramenta
para estabelecer o respeito e a compreensão do
desertor pela hierarquia de poder. Isto é
especialmente verdade porque a maioria dos vampiros
estabeleceu locais de alimentação, e se o desertor for
impedido de entrar nessas áreas privadas, a
necessidade de vitae aumenta drasticamente.
Os desertores correm um risco muito real de se
tornarem cachorrinhos, especialmente se forem velhos
e poderosos. Um príncipe pode ordenar que todos os
outros Membros evitem o desertor, e que nenhuma
outra fonte de sangue seja permitida (mesmo ao ponto
de “substituir” Membros que impedem ativamente o
desertor de alcançar ou participar de vitae), então o
vínculo de sangue do desertor com ele, garantindo sua
lealdade e conformidade. Assim, um membro do Sabá
de grande poder e influência pode ser reduzido a
pouco mais do que um babaca da Camarilla, dedicado
a um príncipe cruel e incapaz de agir contra ele.
Muitos desertores se destroem para evitar tal destino.
A velha frase sobre servir no Céu versus governar no
Inferno definitivamente se aplica, mas essa
compreensão às vezes chega tarde demais.
Por que, então, os desertores nunca aprendem?
Se a existência do outro lado é tão difícil, por que os
vampiros continuam a desertar? E por que as seitas
continuam a permitir isso? As deserções continuam
porque tais assuntos são mantidos em segredo.
Capítulo Dois: Pecados da Sociedade
57
Ninguém gosta de admitir que perdeu a fé e o apoio
de um membro outrora leal, e uma vez que um
vampiro deixa um grupo, ele geralmente é
considerado inexistente, e qualquer conversa sobre ele
é imediatamente reprimida ou conduzida em voz
baixa. Do lado receptor, as seitas muitas vezes resistem
ao impulso de se gabarem das suas novas aquisições
(particularmente perante a seita oponente). Para a
Camarilla isso atrapalha qualquer plano feito pelo
Sabá, já que é difícil prosseguir com uma infiltração
sem ter certeza de que o espião entrou nas instalações
com sucesso. Não anunciar o destino do desertor
pode paralisar ou até mesmo demolir uma conspiração
do Sabá, e essa confusão permite que a Camarilla
construa suas próprias contra­táticas. O Sabá
raramente chama atenção para tais assuntos por causa
do risco de represálias. Se a Camarilla quiser muito
esse desertor, ela pode atacar, e o Sabá prefere
escolher suas próprias batalhas. Mesmo que o desertor
seja um vampiro sem status real, permanece o risco de
que ele possa ser usado como exemplo (seja para o
lado que o “ganhou” ou para o lado que o
“recupera”), então o melhor curso de ação é ficar
quieto. A outra razão pela qual as deserções
continuam é que as iscas ainda existem. O sangue
sempre parece mais vermelho na outra vítima, e
membros descontentes de uma seita sempre se
perguntarão se os rumores sobre o outro lado são
verdadeiros e se suas chances seriam melhores. Como
sempre, a razão final e mais convincente continua
sendo que, apesar das dificuldades, alguns vampiros
realmente chegam a abraçar as filosofias da outra seita
— seja qual for a capacidade em que realmente as
observam — e fazem a transição por compromisso com
a ideologia.
A razão pela qual ambas as seitas permitem que
as deserções continuem, ou pelo menos permitem que
desertores se aproximem delas, é dupla. Primeiro, isso
lembra aos seus próprios membros que escolheram o
lado correto. (Afinal, os membros da oposição
continuam a pedir para aderir!) Isto aumenta o moral
e sugere que a outra seita é obstinada e ineficaz; o
partido “errado” na guerra ideológica. A segunda
razão é que os desertores fornecem uma fonte útil de
informação, porque mesmo que cheguem sem
segredos, ainda sabem sobre o tamanho, localização e
atividades recentes da sua antiga seita, e qualquer
informação pode ser usada contra a seita. A terceira
razão é dar o exemplo. O Sabá permite que os
desertores da Camarilla mostrem à Camarilla que a
porta está sempre aberta — qualquer Cainita que
sobreviver à iniciação pode se tornar o Sabá e se
juntar à luta. Da mesma forma, a Camarilla deseja
mostrar que qualquer membro do Sabá pode ser
redimido e devolvido ao rebanho — todos os Membros
são membros, se apenas desejarem admitir isso. Mas
as seitas também dão exemplos aos seus membros
através da forma como tratam os fugitivos. A Jyhad
acontece todas as noites e os traidores são tratados
como tal, por isso é perigoso deixar a lealdade
diminuir ou sugerir desvios das linhas partidárias
estabelecidas. Afinal, nenhum membro da Camarilla
quer ser tratado tão mal quanto trata o antigo Sabá, e
certamente o Sabá com sua violência e anarquia deve
ser ainda pior. E nenhum membro do Sabá quer ser
tratado da mesma forma que trata os ex­Membros,
especialmente em um labirinto tão manipulador e
fascinado pelo Antediluviano como a Camarilla.
Repugnante Diablerie
O Amaranto, mais conhecido como diablerie, é
uma das poucas palavras do vocabulário Cainita que
interrompe conversas e silencia salas inteiras. Isso
enche os mais velhos de um pavor compreensível, e os
Neófitos e calouros de uma curiosidade mórbida. É um
ato que vai além do simples assassinato, do qual não há
retorno ou indulto. É a profanação da humanidade
tanto para a vítima como para o agressor — a
condenação desenfreada e maliciosa do espírito de
alguém para sempre.
Diablerie é um medo herdado das noites em que
os Assamitas seguiram as hordas mongóis até os
portões da Europa Oriental, e a Revolta Anarquista
derrubou senhores, mestres e senhores de numerosos
feudos. A prática “nobre” de dar um amaranto à vítima
uma semana antes de sua destruição caiu na prática
mais bárbara de atacar a vítima como uma horda de
cães e despedaçá­la. Muitos anciões de ambas as seitas
lembram­se bem dessas noites bestiais, quer tenham
participado da carnificina ou tenham escapado dela.
Eles temem isso, lembrando­se de como aqueles tempos
depravados tinham um alcance quase semelhante ao da
Gehenna. Eles também percebem como a diablerie está
aumentando novamente, dada a recente libertação dos
Assamitas e o fatalismo desenfreado que alguns
Cainitas adotaram em face das Noites Finais.
A Camarilla denuncia tal ação por razões óbvias,
e até mesmo o Sabá aconselha sua prática apenas “com
moderação”. No topo da lista de razões pelas quais as
seitas temem, ou pelo menos são cautelosas, o
Amaranto estão as preocupações dos mais velhos e
daqueles com vitae potente. Mais abaixo na lista,
entretanto, o argumento contra a diablerie beira as
lendas e mitos orais Cainitas. Ninguém pode dizer com
certeza se alguns argumentos são verdadeiros ou não,
mas os anciões de qualquer uma das seitas sem dúvida
ajudam a propagar essas fábulas para seu próprio
benefício.
Os oponentes mais óbvios do Amaranto são os
anciões da Camarilla, os ancillae e até mesmo os
Neófitos de baixa geração que percebem que há pouco
que possam fazer contra um círculo de diableristas que
pretendem drenar seu sangue. A seita concorda, pois
com bandos de Assamitas e do Sabá à espreita, a
Camarilla não pode se dar ao luxo de perder os de
sangue forte para suas próprias crianças famintas.
Assim, a seita adota várias medidas para conter a
Pecados do Sangue
58
diablerie. Em primeiro lugar estão as punições mais
severas impostas sob a égide da Tradição da
Destruição, nas quais o príncipe, o xerife e o Algoz
podem recorrer a quaisquer meios necessários para
destruir os diableristas. No entanto, nem sempre é
esse o caso. Alguns príncipes percebem que se não
puderem impedir a prática do Amaranto, certamente
poderão direcioná­la para outro lugar, como contra
autarcas, alvos do Sabá ou qualquer pessoa sob caça de
sangue. Essa direção sutil aumenta as fileiras do
flagelo com possíveis diableristas esperando chegar
“mais perto de Caim”. Tal entusiasmo serve o príncipe
de duas maneiras: primeiro, coloca potenciais
agitadores na linha de fogo e, segundo, redireciona
esses bandidos para longe dos anciãos locais. A
Camarilla pode desaprovar tais práticas, mas
atualmente tem problemas maiores com que se
preocupar.
Além dos medos dos mais velhos e dos ancillae,
existe uma série de medos válidos e quantificáveis em
relação ao Amaranto lá fora: “Por favor, não me
machuque”. A Camarilla está justamente desconfiada
da natureza viciante deste ato, dado o já poderoso
domínio que sua vitae tem sobre todos os Membros e
seu eventual deslizamento em direção à Besta. Muitos
podem experimentar a diablerie uma vez e
simplesmente ir embora, mas cada indulgência com o
Amaranto depois da primeira se torna mais
inebriante. Os viciados mortais afirmam que o
primeiro barato é sempre o mais intenso e que ficam
viciados tentando recuperar a adrenalina inicial. Com
o Amaranto, o oposto é verdadeiro. A sensação de
drenar o outro é tão intensa que a memória não lhe
faz justiça. É um momento de felicidade absoluta que
deixa para trás uma saudade dolorosa, um vazio que a
Besta grita para ter preenchido. O Cainita lembra
daquele momento, até prova sua vítima, mas a
sensação é passageira. Se o diablerista desejar
recuperar o impulso inicial, ele deverá participar do
Amaranto novamente e, cada vez que o fizer, não
estará preparado para a intensidade da experiência. O
perigo dessa pressa é que o vampiro eventualmente
exista para destruir outros. A Besta exerce maior
controle sobre o ladino, roubando­lhe a humanidade,
a esperança e até mesmo a direção. Sem estas três
âncoras, qualquer pecado concebível, qualquer mal
concebível, é possível.
Ainda mais perigoso, a diablerie é a Trilha mais
rápido para cair nas garras da Besta. Os filósofos
vampíricos se perguntam se isso acontece porque o ato
não apenas rouba a alma condenada de outra pessoa,
oprimindo a esperança de redenção, mas porque
amplifica o rugido da Besta ao absorver também a
natureza selvagem da vítima. Independentemente
disso, cada ato de diablerie abre outro buraco no
centro moral do Membro, desestabilizando a já
desbotada sede da consciência do vampiro. Em suma,
o tolo morto­vivo torna­se mais bestial e ameaça a
Máscara com uma violência inevitável. O ego se rende
 ao impulso, e tanto o frenesi quanto a depravação
tornam­se mais fáceis, até mesmo confortáveis e
familiares. Logo a insanidade aparece e, novamente, a
Camarilla deve lidar com seus efeitos deletérios na
sociedade Cainita e na Máscara. Em suma, diablerie é
semelhante a cometer suicídio ao dirigir um carro
equipado com explosivos contra um prédio. O
diablerista eventualmente se destruirá e machucará ou
matará outras pessoas ao seu redor. No mínimo, a
Camarilla justifica assim as suas preocupações.
Em um nível político e puramente egoísta, a
Camarilla proíbe a diablerie porque dá à seita maior
influência sobre quem chega ao poder e quem
permanece nos escalões inferiores. Protege o status da
seita no mundo. Diablerie é uma solução rápida, um
meio de alcançar uma posição tácita em uma
sociedade onde o sangue faz o mundo girar. Aumenta
o acesso de um Membro a poderes melhor exercidos
com um mínimo de experiência e bom senso, o que
significa que a Camarilla não confia em certos
Membros com certas habilidades. Cada salto sucessivo
na geração também limita o número de Membros que
podem influenciar o ladino através de Disciplinas
como Dominação, o que significa que a Camarilla tem
menos pessoas que podem manter o diablerista na
linha. Em suma, a diablerie ameaça o status quo da
estrutura de poder existente. A Camarilla é social e
politicamente conservadora. Os Membros no poder
gostam de saber quem está ganhando influência, bens
ou aliados, e eles sabotam qualquer um que não esteja
de acordo com seus padrões ou crenças. Tudo faz
parte da Jyhad e é a razão pela qual os anarquistas só
conseguem encontrar expressão política através da
rebelião. Diablerie é um atalho, entretanto,
proporcionando o poder vampírico que os anciões da
Camarilla nunca tiveram a chance de conceder a sis
(através do Abraço, caçadas de sangue, etc.). É uma
afronta ao seu sentido de integridade, mesmo porque
não conseguem controlar a situação. Os vampiros não
se adaptam bem a mudanças repentinas. Isso os priva
de autoridade, e ser Membro significa segurar as
rédeas. Mais importante ainda, a Camarilla teme que
a diablerie ofereça aos Neófitos a chance de usurpar e
destruir os próprios anciões. Isso nunca deve
acontecer novamente.
Até mesmo o Sabá reconhece os perigos de
abusar da diablerie, dada a sua experiência com vitae,
mas quaisquer avisos desse tipo parecem mais
fortemente enraizados na superstição e na lenda
urbana. Para entender por que o Sabá teme a diablerie
em alguns níveis, é preciso primeiro entender por que
a seita aprova seu uso. O Sabá trata a diablerie como
um direito de guerra e um privilégio de superioridade.
A Diablerie não apenas garante a sobrevivência do
mais apto, mas também recompensa o vencedor com o
fruto final da conquista. A Espada de Caim também
acredita na praticidade por trás da diablerie, para
colmatar o potencial para uma geração enfraquecida.
Cada Cainita que perece cria uma perda, uma lacuna

Capítulo Dois: Pecados da Sociedade

59
entre os veteranos da seita e os calouros em potencial,
os últimos dos quais são agora uma geração mais
fracos do que poderiam ter sido. A Diablerie, num
sentido pragmático, garante que o Sabá não perca um
elo na cadeia de gerações. Isto dificilmente é uma
ameaça entre aqueles de sangue mais fraco, mas é uma
preocupação para vampiros de vitae mais poderosa.
Após a perda de Nova Iorque e a renovada agressão
dos Assamitas, o Sabá teme uma diminuição de suas
fileiras entre os escalões médio e superior. Portanto,
se eles caírem, então deixe seu sangue cair no Sabá e
fortalecê­lo.
Dito isto, um estigma crescente contra os
Cainitas que diablerizam oponentes duas ou mais
distantes na geração surgiu na seita. O Sabá considera
o avanço limitado na potência do sangue um
desperdício quando comparado ao ganho potencial e,
em vez disso, defende uma nova solução. Em alguns
duelos de Monomacia, os Cainitas lutam
normalmente, mas cada pessoa escolhe um “campeão”
que pode se beneficiar mais efetivamente da mudança
de geração (ao diablerizar o oponente) de forma mais
eficiente. Após o golpe mortal, o substituto comete
Amaranto. Mais tarde, alguns usam esta geração
melhorada para Abraçar uma criança (condenada), a
quem o vencedor do duelo de Monomacia então
diableriza. Nenhuma geração é perdida e dois filhos e
filhas em Caim se beneficiam dessa experiência.
Muitos calouros, no entanto, acham esse método
desagradável e até mesmo covarde, preferindo a
emoção de infligir eles próprios a Morte Final.
Independentemente da opinião individual do Cainita,
entretanto, esta é uma passagem quase certa de ida
para as garras da Besta através da degeneração. O Sabá
atualmente não tem restrições à Monomacia e não
pode seguir esta sugestão com qualquer força real.
Outra razão pela qual a diablerie é comum e até
esperada dos membros da seita é, na verdade, uma
resposta ao alardeado “tempo de sangue fraco” do
Livro de Nod. O Sabá se orgulha de sua imagem auto
ungida como um exército sagrado lutando contra as
Noites Finais, e elimina qualquer indício de que possa
estar contribuindo para as profecias finais. Portanto,
os Cainitas consideram ser de sangue mais fraco uma
vergonha, mesmo que o vampiro seja da 10ª ou 11ª
geração. Este estado está desconfortavelmente
próximo daqueles párias inacreditavelmente afastados
do progenitor. Muitos dentro da Espada de Caim,
portanto, se esforçam para fortalecer sua vitae, para
provar que não são portadores de sangue fraco através
de seus descendentes e netos. Alguns teorizam que é
por isso que o Sabá não explodiu numericamente.
Muitas das gerações mais fracas não Abraçam até que
seu sangue esteja mais forte.
Nada é unânime entre os vampiros, no entanto,
e alguns membros do Sabá, incluindo alguns que estão
entre a Inquisição, o Status Quo, os
Ultraconservadores e os Tzimisce do Velho Mundo,
estão lentamente se manifestando contra o uso
Pecados do Sangue
60
indisciplinado do Amaranto. Os argumentos variam,
mas a seita acredita que o Status Quo e os Tzimisce
do Velho Mundo argumentam contra a diablerie pela
mesma razão pela qual a Camarilla abomina seu uso:
ela ameaça a estrutura de poder existente. As
objecções da Inquisição, no entanto, são um
acontecimento recente, tal como as dos
ultraconservadores. As suas razões são potencialmente
mais horríveis, mas menos acadêmicas do que os
receios especulativos. A Inquisição e os
Ultraconservadores afirmam que a prática pode afetar
negativamente certas Trilhas da Sabedoria, citando
novamente o inevitável deslizamento em direção à
Besta para os seguidores da maioria das Trilhas.
A Inquisição argumenta que a diablerie é
aceitável através da Monomacia, mas a observância
repetida do Amaranto cria vício. Embora qualquer
dependência de substância enfraqueça o vampiro, a
diablerie corrói a ética do Cainita e muitas vezes se
torna uma força motriz por trás de suas ações. A causa
já não importa enquanto a violência servir a sua sede.
O medo da Inquisição não está neste curso de ação,
mas na preocupação de que uma vez que o Cainita
abandone todas as preocupações, exceto a satisfação
de seus desejos, o infernalismo raramente ficará muito
atrás. A Inquisição apoia esta afirmação com o
argumento duvidoso de que todos os infernalistas
destruídos descobertos até agora eram diableristas
habituais. A Inquisição questiona se o infernalismo
resultou no aumento do uso da diablerie, ou se o
envolvimento constante na diablerie provocou o
infernalismo. Outros Sabás, particularmente aqueles
da Mão Negra, são rápidos em descartar este ataque a
uma de suas principais convenções como sendo
tipicamente excessivamente zeloso. A Inquisição, no
entanto, promete estudar o assunto de perto, e não é a
primeira a manifestar as suas dúvidas relativamente à
diablerie.
As Trilhas da Sabedoria são métodos de
harmonizar a existência de alguém com a realidade da
Besta. São mais do que métodos de conduta; eles são
âncoras da alma e intrínsecos ao próprio ser do
Cainita. Os Ultraconservadores acreditam, e talvez
com algum mérito, que porque a diablerie é a inclusão
do sangue e da alma da vítima, os pontos fortes e
fracos inatos da vítima também se unem aos do
Cainita que comete o Amaranto. Se o vencedor for
fraco no Caminho, ou for vítima de uma ética mais
forte (ou conflitante), então o diablerista sofrerá com
dúvidas, hesitações e até mesmo desarmonia interna.
Ele pode questionar suas ações ou mudar
repentinamente de Trilha porque seu ego defende
uma questão, mas a alma consumida tenta seguir o
curso de menor resistência, sua Trilha anterior.
Algumas Trilhas são naturalmente resistentes a essa
manipulação, incluindo as Trilhas de Caim e do
Coração Selvagem, ambas as quais defendem a
compreensão e a apreciação da Besta. Há aceitação
deste canibalismo em ambos as Trilhas em virtude da
sua ética, pelo que se revela um baluarte contra a
“intrusão”. Aqueles que seguem a Trilha do Poder e
da Voz Interior, entretanto, confiam apenas em si. No
entanto, fazê­lo revela­se difícil quando sussurros e
sugestões contaminam o diálogo interno. Aqueles que
seguem a Trilha podem não cair, mas podem tropeçar
ou não conseguir alcançar níveis mais elevados de
compreensão e apreciação das verdades da Trilha.
Mais uma vez, porém, e tal como a Inquisição, os
ultraconservadores não têm provas para apoiar as suas
afirmações, pelo menos porque as suas suspeitas não
são quantificáveis ou facilmente provadas.
Capítulo Dois: Pecados da Sociedade
61
Todas as especulações relacionadas ao uso da
diablerie pelo Sabá não conseguiram convencer a seita
de que existe um perigo. A crença de que isso encoraja
o infernalismo, de que influencia As Trilhas da
Sabedoria, de que personalidades poderosas podem às
vezes dominar o infernalista, etc., não são afirmações
novas. O Sabá, no entanto, se recusa a ouvir apenas
porque a diablerie é uma herança tão forte quanto as
próprias Tradições dos Membros. Mais importante
ainda, admitir que o Amaranto é potencialmente
prejudicial significa que a Camarilla estava certa, e o
Sabá certamente se recusa a perder suas batalhas no
campo da convicção.
 Capítu lo Três:
Pecad os da
Discr ição

Conheço apenas uma liberdade, e essa é a liberdade da mente.

— Antoine de Saint­Exupéry

Sra.- pos se de u m a an ar quista chamada

to na eu,
Encontrei este docunma.enEla insistiu que não foi ela quem o escrev
Rose, perto de Santa Ao um aviso” do onipresente Smiling
mas que o pegou “com e, tam bé m n ão ac re dito que ele o tenhtea
ad não suficientemen
Jack. Se isso for verd um p ou co p et u la n te e
escrito, pois o tom é
histriônico. alh o de u m jo ve m M embro, ou pelo
o trab e à
Suspeito que este sejase parecer com tal. O conteúdo parec
menos projetado par
a
ra u m p ou co te n de ncioso, mas as
primeira vista infofo rmativo, embo te m en os n ob res do que isso.
rnece são ce rt am en
conotações que ele um C er tam en te é p ro p ag anda, mas se é
a cartilha?
Isso é um aviso ou ou experiente e enganoso, não sei dizer.
adolescente e sincero es co m m eu humor habitual.
in stru çõ
Aguardo suas Jarbeaux

Capítulo Três: Pecados da Discrição

63
 O que você diria se eu lhe dissesse que os
Membros têm um inimigo que, sem sombra de dúvida,
os deixará de joelhos? O que você pensaria se eu
sugerisse que nenhum Membro, não importa quão
poderoso ou antigo, poderia prever a superioridade
destrutiva deste adversário? Você pode acreditar em um
inimigo tão astuto e poderoso que nunca sofre o menor
ferimento? O pensamento te assusta?
“Topo da cadeia alimentar”, nos rotulamos.
Cinquenta anos atrás, eu poderia ter concordado de
todo o coração. Infelizmente, descobri outro que está
mais alto. Ele se empanturra de nós. Tem fome de carne
morta. Embora também ataque os vivos, nos consome
com mais regularidade. Nós, os Membros, a realeza da
noite. Suspeito que a nossa própria natureza nos torna
alvos fáceis.
Este monstro, o Destruidor, existe quer você
acredite nele ou não. Não muito diferente do monstro
debaixo da cama ou do armário, ele se torna um
perseguidor pessoal de suas vítimas. Assume as formas
mais insidiosas. Tem paciência. Ele espera e observa. Ele
estabelece sua influência com a gentileza de um amante,
colocando habilmente pedaços de si entre os pertences
do Membro até que nada permaneça intocado. Ele se
muda. Ele redecora. Ele espalha sua doença de senhor
para servo e de servo para servo. Ele cavalga o rei como
um demônio determinado à onipotência. Isso leva a
rainha a acreditar que controla seu próprio destino. Ele
mente.
Ao longo dos séculos, o monstro nutriu fortes
laços com a insanidade. Você deve tomar cuidado,
entretanto, para não confundir os dois. Poucas vítimas
começam loucas. Isso acontecerá mais tarde, quando o
Destruidor tiver atravessado a casca dura até as partes
mais macias de seu interior. A insanidade do Destruidor
é semelhante à sentida pelo esquizofrênico — uma
insanidade tão completa que a vítima nunca percebe
que algo deu terrivelmente errado. Na esquizofrenia, o
culpado come os vínculos com a realidade, uma célula
de cada vez. O Destruidor come tudo, uma célula de
cada vez. Não espere, entretanto, olhar para a presa do
Destruidor e ver a loucura. Às vezes, você vai. Na
maioria das vezes, você não vai.
O monstro tem muitos disfarces. Gosta
particularmente de se cercar de religião, ritual e pompa.
Faz isso para saciar seu desejo de justiça. Ele usa suas
próprias marcas de lógica e bom senso como medalhas
de guerra, bem merecidas e admiráveis. Ele se exibe
abertamente, sem medo de repercussão ou censura.
Nada pode tocá­lo. Somente os melhores, os astutos,
reconhecem o que é.
Muitos de nossa espécie acreditam que evoluíram
além da humanidade. Porque alcançamos uma
consciência mais natural, porque temos maior poder e
porque nos beneficiamos de uma longevidade
prolongada, certamente somos os seres superiores. Acho
isso divertido. Na verdade, não somos nada mais do que
crianças que tropeçaram num arsenal. Viramos nossas
armas uns contra os outros, tanto contra aliados quanto
Pecados do Sangue
64
contra inimigos, antes mesmo de percebermos o poder
que temos em nossas mãos. Nossos dedos apertam o
gatilho, às vezes com graça, às vezes com espasmos
violentos. As balas voam. Nossos companheiros caem
diante de nossos olhos e nos perguntamos: “O que
aconteceu?” Alguns de nós, crianças, olhamos para
nossas mãos traidoras, incrédulos. Alguns riem e
praticam um pouco mais, e se importam menos com
quem prejudicam.
Poucos de nós alcançamos verdadeiramente um
estado de paz com o que nos tornamos. Continuamos a
buscar as coisas que procurávamos como mortais.
Caminhamos pela noite, olhando por cima dos ombros
para tudo o que perdemos. Ansiamos por amor e
admiração… assim como os homens vivos. Por que
fazemos qualquer coisa que não seja para obter alguma
forma de aprovação de alguém… assim como os mortais?
Ainda sentimos que temos algo a provar... tal como os
mortais. Essa necessidade abre a porta para o
Destruidor.
Você conhece a indignação? Se sim, então você
conhece o cheiro do Destruidor. Você tem inimigos?
Você apoia uma causa? Você encontraria a Morte Final
por isso? Você esperaria que outros morressem com
você? Você exalta suas crenças para os outros? Você
recruta irmãos entre seus aliados? Você recruta seus
companheiros dentre seus irmãos na fé? Se sim, então
você conhece o cheiro do Destruidor. Certamente, ele
perseguiu você.
“Mas”, você diz. Mas o que? Mas todos deveriam
ter uma causa que defendem e apoiam? Mas, todos
deveriam ter uma agenda? Mas, todos devem defender
algo para não morrerem por nada?
É assim mesmo? Você pode querer reconsiderar.
O Destruidor nasce dentro de suas vítimas,
invisível e imaterial. Ela floresce porque as pessoas, vivas
e mortas, querem pertencer. Ela sabe que as pessoas
criam seus círculos e ampliam suas famílias para que não
tenham que passar o resto de suas eternidades sozinhas.
Eles procuram e criam seguidores, subordinados e
audiências, para poderem se sentir importantes. Eles
flexionam seus músculos políticos e sobrenaturais para
não terem que enfrentar que não são melhores que
ninguém, incluindo, para os Membros, os mortais dos
quais se alimentam.
Eu sugeriria, para fins de argumentação, que
fundamentalmente os Cainitas nada mais são do que
mortais com presas.
Ah, aposto que isso te incomodou. Você não
gosta de pensar que é igual ao gado do qual tira seu
sustento? Você acredita que as roupas fazem o homem…
ou os Membros? Você está fortemente envolvido no
poder dos mortos­vivos, não é? Você realmente acha que
isso o torna mais equilibrado emocional e mentalmente,
lhe dá uma inteligência superior, o torna
espiritualmente superior ou até mesmo melhora sua
aparência? Você me faz rir. Olhe para seus companheiros
Cainitas. Eles estão emocionalmente equilibrados?
Mentalmente? Espiritualmente? Claro que não. Mas
então, você também é melhor do que eles, não é? Claro
que você é.
O Destruidor ama pessoas cheias de
autoimportância e orgulho pecaminoso. O Destruidor
tem muitos nomes diferentes, você sabe. Às vezes, as
pessoas chamam isso de “megalomania”. Faz mais
sentido para você agora? Somente arrancando o próprio
coração é que se pode destruir o Destruidor. Somos
nossos próprios piores inimigos.
A Igreja do Ego
Até onde você iria para ganhar a adulação de seus
superiores, colegas ou subordinados? Você já sorriu e
concordou, mesmo discordando, apenas para evitar
conflitos? Você já fingiu sentir algo que não sente,
apenas para se encaixar? Você já percebeu que seus
valores mudaram para se adequar às pessoas ao seu
redor? Todos fazemos isso.
Não há nada de errado com você. Cada um de
nós apresenta as justificativas mais extravagantes para as
adaptações que fazemos para nos misturarmos com os
nossos camaradas. Tanto os mortais quanto os mortos­
vivos tornaram­se bastante adeptos dessas
racionalizações. Infelizmente, os predadores aprenderam
a tirar vantagem desta fraqueza humana em ambas as
populações.
Em inglês, temos uma palavra para este
fenômeno, uma palavra muitas vezes mal definida e com
peso negativo: culto. Diga em voz alta. Culto. Parece
sujo, não é? Isso chega desconfortavelmente à sua
língua? Culto.
Esta palavra passou a significar muitas coisas para
muitas pessoas diferentes. A maioria associa isso ao
satanismo, mas isso torna os cultos uma injustiça. Nem
todos os cultistas oram a Satanás. Alguns reverenciam
deuses ainda mais destrutivos.
Uma Introdução aos Cultos
Grupos de manipulação mental. Influências
sócio­psicológicas. Organizações exploradoras,
persuasores coercitivos, novas religiões… são todas seitas.
Muitos termos diferentes definem o mesmo.
É claro que muitos fatores diferenciam as seitas
das organizações legítimas. Você aprenderá em breve
como diferenciá­los. Por enquanto, mantenha em mente
que talvez as entidades sociais em que você passou a
confiar, a compreender e a considerar certas possam, na
verdade, ser os sapatos de cimento que o arrastarão para
o fundo do proverbial rio.
O Que Faz de um Culto, Um Culto?
Algumas organizações e acadêmicos anti e contra­
seitas reuniram listas de critérios para o que determina
uma seita. Você pode encontrar panfletos sobre eles em
toda a Internet e nas mesas finais dos centros de
aconselhamento. Ninguém parece pronto, contudo, a
comprometer­se com uma descrição definitiva do que
torna um grupo uma seita. Os educadores que escrevem
Capítulo Três: Pecados da Discrição
65
Observando Seitas
Todos já vimos os programas de TV, os
relatórios dramáticos e “imparciais” sobre o status
das seitas nos Estados Unidos, Europa e resto do
mundo. Se não, navegue pela Internet ou leia
revistas e os encontrará. Eles estão por toda parte,
disponíveis para compra em vídeo, pelo menos.
Seitas chamam atenção. Use palavras como
“secreto”, “misterioso” e “seita”, e poderá chamar
a atenção de uma nação inteira. “Seu filho está
em perigo?” O público devora e implora por mais.
Alguns sociólogos agora dedicam suas
carreiras a estudar o que chamam de “fenômeno
das seitas”. Não faz muito tempo, “especialistas
em seitas” começaram a aparecer, como
principalmente resultado da atenção da mídia
focada no caso Branch Davidian e no choque do
Heaven's Gate. Programas de notícias legítimos e
tabloides sensacionalistas adoram apresentar o
público com testemunhas especializadas. Isso lhes
confere credibilidade e traça uma linha clara
entre eles, o filme da semana e o sensacionalismo
praticado por seus concorrentes. Esses
especialistas autoproclamados, homens e
mulheres desajeitados com óculos grossos e a
melhor maquiagem de suas vidas, adoram criar
frases de psico baboseira multissílaba. Quem
pode culpá­los? Todos queremos nossos 15
minutos de fama. Todos queremos deixar nossa
marca. Chamamos isso de culto da desintegridade
jornalística? Talvez o culto das audiências.
Seitas atraem a mídia e estudiosos, não
apenas porque muitas seitas exibem
comportamentos socialmente rebeldes e
chocantes, mas também porque exalam aventura.
Aventura excita. Aulas de Psicologia Anormal
sempre têm mais alunos do que aulas de
Psicologia Infantil. Quem se importa com a idade
em que as crianças aprendem a andar ou a usar o
penico? Queremos saber sobre os serial killers, os
desviantes sexuais e os sectaristas. Queremos a
versão acadêmica de um show de horrores.
Conte­me novamente o que eles fizeram um ao
outro! O quê? Eles acreditavam em quê? As fotos
nos livros nos perturbam tanto que não
conseguimos parar de virar as páginas e olhar… e
olhar… e olhar…
Olhamos para as seitas e, embora nunca
admitamos, nos perguntamos como seria viver
com tanta convicção, fé abrangente e tão focados.
Sim, é preciso comprometimento para se afastar
da norma social e praticar uma “religião”
diferente. Claro, também é preciso
comprometimento para entrar na casa de alguém
em Hollywood e cortar uma atriz grávida de oito
meses.
estas coisas lembram­nos, ao longo das suas dissertações,
que fornecem estas listas evidentemente sem suporte
apenas como orientações. O termo “culto”, ao que
parece, refere­se a uma entidade teórica com a qual
comparamos grupos reais. Pegamos as informações que
temos sobre uma organização e as colocamos ao lado da
lista para ver até que ponto elas refletem umas às outras.
Os “especialistas” tornam­se ainda mais discutíveis ao
dizerem que não é possível extrair estereótipos
conclusivos da entidade teórica descrita pela lista,
porque sempre encontraremos
aqueles cultos que não se enquadram em um
estereótipo. Quão conveniente é uma brecha em sua
postura persecutória. Lembra­me da utilidade das
maneiras política e socialmente arbitrárias pelas quais os
príncipes tirânicos interpretam as Tradições.
Apesar da sua relutância em comprometer­se, sem
dúvida inspirada pela ameaça de um processo judicial,
estes “especialistas” produziram, na verdade algo de
valor. A lista de características do culto fornece um
trampolim para o primeiro lançamento no exame de
uma organização. Pense sobre suas próprias associações
enquanto você lê a lista.
Liderança carismática e poderosa. As seitas
sempre têm um único líder ou grupo de co­líderes que
dirigem a organização. Os membros dão a estes líderes o
seu apoio inquestionável. Embora os rostos possam
mudar, a existência de uma figura de proa não muda.
Este líder inspira admiração ou medo nos membros do
culto. Seguidores fazem fila para beije a bunda dessa
pessoa. Eles se curvam diante dele. Eles sussurram o
nome do líder como um aviso contra mau
comportamento. “É melhor ser bom, ou [insira o nome
da figura de autoridade] ficará chateado.” Soa familiar?
A maioria dos cultos tem uma organização
ditatorial, às vezes baseada num documento
reverenciado e não num líder real. Por exemplo, certas
para­religiões baseiam os seus princípios em documentos
religiosos. Outras organizações podem ter estatutos ou
tradições transmitidos através de numerosas gerações de
membros. Poucos simplesmente seguem um código de
cavalheirismo ou uma diretriz comportamental
igualmente ampla. A maioria tem regras muito mais
detalhadas que incluem a punição aplicada às violações.
Isolamento da família e amigos. Este requisito
para ser membro de um culto eventualmente surge,
embora possa levar algum tempo. Através de
manipulação, ameaças e, por vezes, sequestro total, a
organização remove­te de qualquer ligação com a tua
estrutura de apoio anterior. Isso separa você do seu
passado. Diz que você é diferente agora e nunca mais
poderá voltar atrás. Pode convencê­lo de que você é um
perigo para sua família e amigos. Pode até ameaçar você,
sua família ou seus amigos se você não interromper todo
contato. Soa familiar?
Controle. Um culto torna você imediatamente
impotente para controlar seu próprio destino. Você
insere uma hierarquia no nível mais baixo. A seita
Pecados do Sangue
66
garante que você entenda que sabe o que é melhor para
você. Ele diz que você deve aprender a funcionar de
acordo com suas regras ou fracassar. Para aderir, você
deve se dedicar a isso no primeiro final de semana,
semana, mês ou ano. Durante esse tempo, indica como
e onde comer, o que pensar, o que sentir, quem amar e
quando dormir. Ensina a existência de acordo com seus
princípios. Ele vincula você aos seus melhores interesses
e não lhe dá poder para mudar seu destino. Isso
intimida você. Isso aterroriza você. Isso te deixa fraco.
Soa familiar?
Técnicas de ajuste mental. Certas seitas utilizam
métodos que suprimem dúvidas entre seus seguidores.
Podem incluir táticas psicologicamente prejudiciais,
como meditação, isolamento, desconforto forçado,
cantos, sessões de denúncia, humilhação, horários de
trabalho exaustivos, exercícios repetitivos, sugestão
subliminar, modificação comportamental, reforço
positivo e negativo ou hipnose. Quando usadas em
combinação, estas técnicas — por vezes chamadas de
lavagem cerebral — alteram profundamente os processos
de pensamento das vítimas. Soa familiar?
Maior sugestionabilidade e subserviência. Uma
seita geralmente usa manipulação psicológica para
enfraquecer seus membros. Ele emprega táticas
específicas para torná­lo mais fácil de lidar. Ele ensina
essas táticas aos seus membros mais graduados. Sem
dúvida, não admite as suas técnicas de manipulação,
mas tem uma explicação arquitetonicamente sólida e
ideologicamente convincente para a necessidade das
tácticas. Soa familiar?
Pressão poderosa dos colegas. A culpa pode ser
uma emoção poderosa. As seitas contam com seus
membros para reforçar seus princípios. Se a sua
organização tiver um forte elemento de pressão dos
pares, poderá querer reexaminar a sua associação com
ela. Uma voz sozinha não tem o mesmo poder que
muitas vozes levantadas juntas. Os cultos entendem isso.
Eles encorajam os seus membros a “salvar” aqueles que
ainda não viram a luz. Além disso, as pessoas tendem a
gritar mais alto quando justificam as suas próprias ações.
As seitas também entendem isso e fazem um uso
excelente. “Ou você está conosco, ou contra nós. Se você
está contra nós, deve estar me criticando; nesse caso,
forçarei ainda mais minha posição. Eu não posso estar
errado. Você é.” A psicologia mais simples tem mais
poder entre as pessoas mais famintas de aceitação e
amor. Soa familiar?
Atitude elitista. Para que o grupo se justifique
perante os seus membros de uma forma credível e
duradoura, deve tocar na necessidade do indivíduo de se
sentir especial. Muitas pessoas ingressam em uma
organização apenas porque isso as faz sentir­se maiores
que a vida. Afirma­lhes ativamente que são mais fortes,
mais inteligentes ou de alguma forma melhores do que o
resto da população mundial. Um culto tece
cuidadosamente a sua própria identidade nos egos dos
seus membros. Desta forma, para o membro destruir o
culto, o membro deve destruir o seu próprio ego.
 Recrutamento. Muitas seitas incentivam um
processo de recrutamento que geralmente envolve a
aprovação de uma figura de autoridade. Especialmente
numa era de consciência, onde os anti e contra­cultos
concentraram a atenção negativa nos cultos, estas
organizações percebem o perigo de aceitar “uma
semente má”. Eles incentivam o recrutamento, mas nos
limites estabelecidos pela liderança.
Gestão de informações. Uma camada de sigilo
paira sobre qualquer culto. Talvez os responsáveis não
revelem suas identidades ou qualquer informação
pessoal sobre si. Eles podem ter níveis de divulgação. Se
você provar sua lealdade à organização, terá acesso a
diversos segredos. O culto pode minimizar a
importância do “mundo mundano”. Pode pregar que
nada importa além do que acontece dentro do culto, e
desencorajar ou mesmo proibir a discussão (ou
interesse em) eventos externos. Pode cortar o acesso à
informação relativa aos cuidados de saúde, às
repercussões das suas ações à medida que se manifestam
para além dos muros metafóricos do culto ou a
informações que indicariam aos seus membros como se
libertarem do culto. Talvez filtre informações sobre
outras opções e filosofias, proibindo os seus membros
de falar com qualquer pessoa que discorde das crenças
do culto.
Suspensão da individualidade. Numa seita, o
indivíduo representa toda a organização e deve sempre
Capítulo Três: Pecados da Discrição
67
agir no melhor interesse do grupo. Um culto deixará
bem claro que o indivíduo é substituível e até mesmo
dispensável, se o indivíduo deixar de defender os
interesses da organização, objetivos e valores. Um culto
incentiva um senso de “família” entre suas brasas. Cria a
sua mentalidade de nós contra eles como forma de
reduzir a importância do indivíduo e aumentar a
solidariedade. A maioria dos cultos não tem uma
estrutura democrática, porque cada voz individual não
conta para nada. O líder sabe intuitivamente o que o
corpo associativo precisa (embora talvez não o que
deseja) e fala por esse corpo. Uma seita pode até pregar
que, em algum momento, o membro terá que se
sacrificar por um bem maior.
Dependência total. Sem um pastor, as ovelhas
seriam, sem dúvida, vítimas dos lobos, ou pelo menos é
o que o pastor diz ao seu rebanho. Eles acreditam nele.
Uma seita apresenta um argumento sólido sobre por
que um membro estaria condenado ou amaldiçoado
sem o abrigo da seita. O culto ensina que somente ele
pode salvar o membro do fracasso certo, da infelicidade
ou até mesmo do Inferno eterno. Enquanto você estiver
no culto, você será um dos escolhidos de Deus, um dos
escolhidos de outro deus, no caminho rápido para a
riqueza, no caminho rápido para a saúde, seguro, a mãe
perfeita, o pai perfeito, o amante perfeito ou o que quer
que seja perfeito. Sem o culto, você não é nada. Você é
um perdedor com L maiúsculo.
 Táticas de medo. Às vezes, sem o culto, você não é
apenas um perdedor; você está morto. Algumas seitas não
fazem rodeios. Você fodeu tudo; você morre. Você os
deixa; você morre. Você os trai; você morre. Às vezes você
morre, sua família morre, seus amigos morrem e seu
terapeuta morre.
Fins elevados justificam quaisquer meios. Uma
seita ensina a seus membros, seja por instrução ou
exemplo, que pode quebrar qualquer lei humana ou divina
para atingir seus objetivos. Atos que um membro nunca
teria cometido antes de ingressar no culto de repente
tornam­se aceitáveis na nova estrutura de valores. Se olhou
no espelho ultimamente?
Dogma Diário
Agora que você conhece as características
fundamentais de um culto totalista ou destrutivo, daremos
uma olhada em como essas características podem ser
aplicadas, de forma geral, em muitos tipos diferentes de
cultos. Nem todos os cultos têm uma agenda relacionada a
Deus ou à Gehenna. Você pode achar surpreendente que
as seitas possam ter esquemas ancorados na política, na
psicoterapia, nos empreendimentos comerciais, no racismo
ou mesmo na crença em alienígenas. Crença em
alienígenas? Sim, crença em alienígenas. Leia.
Moeda Cúltica
Todo culto tem algo para vender. Deve ter um
“produto” para atrair associados. Deve fazer algum tipo de
promessa, geralmente relacionada a proporcionar ao
comprador uma vida melhor. Em alguns casos, promete
uma vida após a morte melhor.
Nem todas as seitas pretendem enganar seus
seguidores. Alguns líderes de seitas podem acreditar
Estatísticas de Cultos na America
Durante minha pesquisa, descobri mais
de 2.000 organizações suspeitas de serem
seitas. Uma seita pode ter de alguns a
milhares de membros. Pesquisas mostram que
de cinco a 10 milhões de americanos tiveram
contato direto com uma seita, e muitos se
juntaram a uma. Quase metade nunca soube
que suas organizações praticavam métodos
sectários. Encontrei uma referência não
comprovada sobre um estudo com 1.000
estudantes de ensino médio em São
Francisco. Segundo o estudo, 3% dos
estudantes relataram ser membros de uma
seita, e 54% foram abordados por
recrutadores de seitas. Outro estudo focado
em adultos em Montreal e São Francisco
reportou que 20% dos adultos pesquisados
aderiram a uma religião "nova" ou movimento
para­religioso.
Pecados do Sangue
68
sinceramente nos seus produtos. Eles podem não querer
enganar quando fazem suas promessas. Eles podem
realmente ter algo importante para contar às pessoas ou
podem simplesmente ter perdido a cabeça. Outros
procuram enganar propositalmente. Eles sabem que
estão vendendo ficção, fantasia e sonhos impossíveis.
Eles querem o que podem obter em troca de suas
promessas, sejam elas vazias ou não.
O que eles podem conseguir? Isso geralmente
depende do que eles desejam e da comercialização de
seus esquemas. Em alguns círculos, o dinheiro fica em
segundo plano. Em outros, trata­se de aumentar os
resultados financeiros. Entre os Membros, falamos
frequentemente sobre vitae para ser tomada, mas nem
sempre é esse o caso. Dê uma olhada em algumas dessas
moedas de culto e pense no passado. Você já pagou pelo
direito de pertencer a uma dessas moedas?
Dinheiro. Muitas organizações usam métodos de
culto com o único propósito de arrancar o máximo de
dinheiro possível de seus seguidores. Os líderes destes
grupos podem enganar e manipular propositadamente
os membros, a fim de encher as suas próprias carteiras,
ou podem ser genuínos sobre o dogma do culto, e
qualquer dinheiro que acumulem é a cereja do bolo.
Quão facilmente um tolo e seu dinheiro se
separam. Prometa a ele algo que ele deseja
desesperadamente e ele desembolsará tudo o que possui.
A salvação é um bom produto. Vender a salvação não
exige muito. Embale­o em enfeites atraentes, dê­lhe um
slogan atraente e encontre um porta­voz carismático
para promovê­lo. Os consumidores virão em massa, com
cartões de crédito nas mãos. A melhor parte de vender a
salvação é que seu cliente precisa morrer para descobrir
que você lhe vendeu um limão. Não se preocupe em
guardar o recibo.
Sangue. Nós, Membros, nos alimentamos de
sangue. Precisamos dele para sobreviver, assim como os
mortais precisam de comida, água ou ar. Precisamos
apenas de sangue. Os mortais muitas vezes se definem
com base em seus hábitos alimentares. Vegetarianos,
veganos, onívoros, homens e suas carnes vermelhas,
mulheres e seus chocolates, crianças e seus cereais.
Todos eles têm comida diretamente ligada às suas
identidades. Os Membros fazem o mesmo, só que eles
têm menos variedade devido à sua diversidade.
Você come crianças? Você chupa pato, vaca ou
gato em vez de tocar carne humana? Você se alimenta de
coisas recém­sexadas ou aprecia a estética dos aditivos
químicos fluindo nas veias? Você despreza o sujo? Você
anseia pelo indigno? Você mata quando se alimenta?
Você cultiva seu rebanho com cuidado? Você assume
uma postura moral cada vez que mergulha suas presas?
Você gosta da caça?
Quem é você? Diga­me como você se alimenta e
responderei essa pergunta para você.
Não podemos consumir nossa suculenta vitae, o
sangue que nos nutre, nas mesmas quantidades que
antes podíamos. Os números de Cainitas continuam a
aumentar — exponencialmente em alguns casos. A
sociedade Camarilla designa domínios de alimentação.
Coloca restrições sobre onde podemos caçar, com a
intenção de controlar o número de mortes que ocorrem
em qualquer local. Muitos cadáveres, muitos ataques de
“anemia” e o sábio príncipe começa a notar. Nossos
irmãos da Camarilla, de maneira típica de retenção anal,
organizam e dirigem nossa alimentação
hábitos em uma dança lindamente coreografada.
Ou assim eles gostariam de acreditar. Ventrue aqui,
Malkavianos ali, Brujah ali embaixo, Nosferatu
embaixo… e assim por diante. Nunca funciona tão bem
quanto eles esperam.
Até mesmo os seguidores do Sabá entendem os
perigos de deixar para trás um rastro óbvio de corpos.
Apesar de sua atitude despreocupada em relação ao
“rebanho de mortais” ou qualquer outra gíria
zombeteira que usem, eles sabem como se proteger. Se
não o fizessem, já teriam morrido há muito tempo.
Como cães que sabem que não devem cagar em suas
próprias tocas, o Sabá leva sua matança para domínios
vizinhos.
Os grupos anarquistas não se enquadram em
nenhum molde. Cada um deles é único. Aqueles que
fazem besteira e chamam a atenção da divisão de
homicídios local geralmente não sobrevivem o suficiente
para aprender a lição. Muito provavelmente, o
Esquadrão de Justiça da Camarilla irá caçar os
anarquistas muito antes que qualquer detetive possa
chegar perto deles. A Camarilla leva a sério suas
responsabilidades de policiamento autoimpostas.
Os princípios da oferta e da procura determinam
que, à medida que a procura aumenta enquanto a oferta
permanece a mesma ou diminui, o valor da mercadoria
aumenta. Resumindo: Tráfego de parentesco em sangue.
O sangue tornou­se um bem valioso.
Os cultos de sangue existem há milhares de anos.
Muitas culturas antigas acreditavam que poderiam
roubar a essência, o poder e a sabedoria de um homem,
simplesmente bebendo o seu sangue.
Poder. Quem não anseia por poder? Ninguém
que eu conheça. Todos carregamos dentro de nós o
desejo humano natural de manter o controle sobre
nossos próprios destinos e, às vezes, até sobre o destino
dos outros. Quanto mais do nosso ambiente tivermos à
nossa disposição, melhor nos sentiremos. Não é esse é o
caso?
Você encontrará dois tipos de maníacos por
controle no mundo: o tipo que tem um vício naquela
onda de sadismo quando os outros se curvam a seus pés,
e o tipo que se sente profundamente inseguro se não
tiver domínio completo sobre seus ambientes. Qualquer
tipo faz de tudo para adquirir e manter seu poder.
As hierarquias funcionam porque aqueles que
estão no topo distribuem o poder em porções cada vez
maiores. As pessoas sobem a escada, igualando poder ao
sucesso. Eles absorvem essas porções à medida que
sobem na hierarquia. Como cães selvagens, eles mantêm
Capítulo Três: Pecados da Discrição
69
O Corpo de Cristo
Em uma pequena cidade do Texas, uma antiga
igreja mexicana se ergue entre sondas de petróleo e
mato seco. Essa igreja atrai cerca de cem fiéis todo ano.
Os crentes peregrinam até a pequena igreja para
orar aos pés de Cristo. Nesta igreja, que não reivindica
nenhuma denominação específica, um crucifixo em
tamanho real pende na parede. O escultor tinha um
talento notável, até divino. Criou uma obra tão realista
que a figura de Cristo parece poder virar a cabeça.
De fato, pode e muitas vezes o faz. Pendurado
naquela cruz uma vez por ano, um Membro busca sua
própria salvação pessoal através da penitência a seu
Senhor, Deus. Todo ano, na mesma noite, seus
seguidores o pregam reverentemente na madeira. Seu
sangue flui sobre as pedras na base da cruz.
O Membro não se move uma vez crucificado.
Para todos os efeitos, parece morto ou irreal. Ainda
assim, muitos visitantes da igreja suspeitam que um
homem vivo desempenhe o papel da figura de Cristo,
respirando muito superficialmente como aqueles
manequins vivos contratados por lojas de
departamentos para suas vitrines. Isso não impede os
adoradores de virem olhar, orar, se espantar e balançar
a cabeça. Eles vêm, e depois, retornam com amigos e
familiares e companheiros de fé. Turistas, sozinhos ou
em excursões organizadas, param a caminho de Las
Vegas, para ver o Cristo circense.
Alguns olham fixamente porque acham o
modelo­Cristo insano, uma curiosidade ou uma farsa
divertida. Outros vêm realmente para adorar aos seus
pés, tendo testemunhado ou ouvido falar dos milagres
que ele realiza. “Ele pode ver atrás dos seus olhos. Ele
conhece seus segredos mais obscuros e julga seu
coração enquanto você se ajoelha diante dele.” Ele
levará os justos ao Céu? Muitos acreditam que sim.
Qual dízimo a igreja cobra do rebanho pelo
direito de se ajoelhar aos pés de um crucifixo real? Um
litro de sangue — cada peregrino deve doar um litro de
sangue. Assine os formulários apropriados e sente-se na
cadeira; uma enfermeira logo estará com você. Metade do
sangue vai para o hospital local. A outra metade vai
para a figura de Cristo.
Propositalmente, não mencionei detalhes sobre
localização e nome, nem mesmo clã, do Membro em
questão. Longe de mim colocar em risco sua pessoal,
busca religiosa. A Camarilla ainda não o notou e como
ele dança à beira da Máscara.
Esse Cristo adquiriu um corpo dedicado de
seguidores. Não duvido que representantes da
Camarilla enfrentariam mais de um servo fiel do
Senhor se tentassem roubar ou destruir a figura de
Cristo. Ouvi dizer que a insanidade é contagiosa. Em
uma pequena cidade no Texas, eu acho que você
encontrará a prova de que isso é verdade.
os olhos voltados para a fonte de seu alimento (poder),
atentos a quaisquer migalhas que caiam. Quando um
pedaço suculento cai, eles atacam. Às vezes, as brigas
acontecem. Feras concorrentes ficam feridas. Alguns
morrem.
Os líderes inteligentes distribuem esse poder com
cuidado. Eles recompensam a lealdade de seus
seguidores com responsabilidade e confiança. Eles criam
camadas dentro da organização e definem quais camadas
têm mais poder que outras. Líderes inteligentes, claro.
A merda flui ladeira abaixo. Todos queremos estar
o mais alto que pudermos naquela colina. O poder
cobra um preço alto e muitos pagam esse preço com
prazer.
Adulação. Não subestime o poder do ego.
Quando crianças — e sim, todos os Membros neste
mundo começaram no útero, nasceram de uma mulher,
tiveram que aprender hábitos de higiene e tiveram que
aprender a andar e falar — como crianças, ansiamos por
amor. Me ame! Me ame! Me ame! Talvez consigamos.
Talvez não. Os desejos nunca param. Eles podem evoluir
para algo mais adulto, neurótico ou psicótico, mas é
tudo uma questão de amor. Você não é ninguém se
ninguém te ama, como Dean Martin costumava cantar.
Por que tantas personalidades do esporte,
empresários, atores, políticos e outras figuras públicas
cedem tão facilmente à síndrome das estrelas do rock?
Porque a adulação tem uma garra viciante que segura e
não solta. Muitas vezes, um líder de seita não quer nada
mais do que se tornar o centro do mundo de seus
seguidores. Para permanecer membro do culto, você
deve adorar seu líder. Parece tão simples, não é? Um
preço tão barato sem muitas consequências, certo? É
barato, até você começar a considerar que às vezes
adoração equivale à degradação e sacrifício.
Além disso, em muitos desses tipos de culto, você
nem sempre pode simplesmente pedir a separação e ir
embora. Se você acordar uma noite e não sentir mais o
amor, poderá enfrentar a perseguição de seus colegas
cultistas, na melhor das hipóteses, e “acidentes”, na
pior.
Edição
Você pode achar surpreendente que os cultos
tenham uma variedade tão grande de sabores. Já
mencionei que eles variam conforme o que exigem no
pagamento e os métodos que utilizam. Agora, falemos
sobre o que eles estão vendendo com mais detalhes.
Como mencionei, todos os cultos têm algo para vender.
Para­religião. Nunca deixo de me surpreender
com as besteiras que pessoas carismáticas podem
transformar em religião. Todo mundo pergunta certas
coisas em suas vidas: Por que estou? Quem sou eu?
Quem é Deus? O que devo fazer? Como eu faço isso?
Quando devo parar? Encontre um líder atraente e bem­
falante que possa apresentar uma resposta, mesmo que
remotamente plausível, a essas perguntas, e você terá a
formação de um culto. Inferno, você nem precisa da
Pecados do Sangue
70
parte atraente — olhe para Jim Bakker. As pessoas são tão
ingênuas. Eles não querem pensar por si. Eles buscam no
dogma o nível de orientação que suas figuras parentais
lhes deram quando eram crianças. A responsabilidade é
uma merda, então passe a responsabilidade para o seu
deus ou para ancestrais alienígenas ou para o carma ou
para qualquer coisa que você escolha adorar. É legal
acreditar.
Ao mesmo tempo, não é legal criticar as crenças de
outra pessoa. Quando você começa a discutir e criticar as
religiões, você entra em um território que deixa algumas
pessoas desconfortáveis. Como alguém ousa criticar as
crenças religiosas de outra pessoa? Como sociedade, os
americanos têm bagagem sobrando
da juventude do país, durante o qual teve que lutar
pelo direito de adorar como quisesse. Os ideais
defendi­dos com tanta justiça naquela época
transformaram­se num obstáculo social. Onde você traça
o limite entre permitir que as pessoas adorem como bem
entendem e deixá­las escapar impunes de assassinato? O
politicamente correto está próximo da piedade? Ficar
parado e observar como uma Cientista Cristã permite
que seu filho morra por falta de transfusão? Sim. Porque
respeitamos o direito dos pais de adorar como bem
entenderem.
A América foi fundada com base no princípio da
liberdade religiosa. Será que estas novas religiões de culto
estão sob a égide protetora da Constituição? Claro que
sim — dentro do razoável. Contanto que eles não
infrinjam a lei… quero dizer, contanto que eles não sejam
pegos infringindo a lei, eles podem adorar Jeffrey Dahmer
com todo cuidado. Você encontrará muitas pessoas que
defendem veementemente o direito de uma pessoa
escolher ou inventar sua própria religião.
Os Estados Unidos assumiram uma posição
revolucionária em relação à liberdade religiosa e
permaneceram durante muito tempo como o único país a
fazê­lo. Algumas nações toleravam religiões minoritárias,
desde que o povo participasse em cerimônias públicas de
adoração ao deus aceite. Outras nações puniram a heresia
e a heterodoxia como traição. A Primeira Emenda da
Constituição dos Estados Unidos promete a cada
homem, mulher e criança a liberdade de escolher o seu
próprio estilo, local e modo de culto, dentro dos limites
da lei. Especificamente, proíbe a aprovação de leis “que
respeitem o estabelecimento da religião ou proíbam o seu
livre exercício”. Os EUA e outros países que adotam
filosofias de tolerância ou separação entre Igreja e Estado
tornaram­se jardins protegidos onde organizações neo­
religiosas podem germinar e florescer.
Os movimentos anti­seitas e contra­seitas
queixam­se de que as seitas se escondem atrás do
politicamente correto para praticarem comportamentos
desumanos e sem lei, tudo em nome da adoração dos seus
deuses. Eles maliciosamente chamam aqueles que
defendem as seitas de “apologistas das seitas”. Eles usam
o termo para descrever os sociólogos e acadêmicos que
examinam novas organizações religiosas, rotulam a
maioria como inofensivas e defende os direitos das
organizações à liberdade religiosa.
Para não esquecermos, alguns Membros chegaram
ao ponto de criar suas próprias religiões. Eles
desempenham o papel de messias, profeta ou até mesmo
deus. Não consigo pensar em melhor proteção contra a
lei e a mídia do que proclamar um grupo de “natureza
religiosa”. Desculpa muitas coisas, tais como práticas
ocultas, os chamados milagres, isolacionismo,
sobrevivência, alojamento em grupo e doações.
Se o público ouve falar de uma nova organização
religiosa que cresceu em torno de um médium talentoso
ou de um operador de milagres, reage de duas maneiras.
Ou acredita e quer aderir, ou desconsidera a veracidade
dos relatos e pensa que todos os membros da igreja
perderam a cabeça.
Séculos de exposição a uma maré constante de
potenciais salvadores, durante os quais inúmeras
religiões malucas surgiram e desapareceram,
dessensibilizaram o público. As organizações religiosas
manobram facilmente na sociedade moderna,
escolhendo os seus alvos, porque a maioria da população
as ignora. Para nossos propósitos, isso equivale a uma
Máscara natural. Ninguém, nem a Camarilla e nem
qualquer Membro em particular, pode levar o crédito
por este fenômeno. Encarar. A sociedade tornou­se
insensível às aberrações do mundo. Você acha que os
Amaldiçoados são desagradáveis? Veja como as pessoas
toleram os neonazistas. Eles têm o direito de desfilar e
de se reunir, como todos os outros. Veja os clubes de
BDSM onde “adultos que consentem” batem uns nos
outros, cortam uns aos outros, estupram uns aos outros
e enfiam agulhas de quinze centímetros de comprimento
nas partes carnudas uns dos outros. Isso é legal e aceito.
Veja os adultos consentidos envolvidos em cultos
bizarros que partilham abertamente sangue e adoram
em altares que lembram o sonho molhado de um gótico.
Até isso é legal… e aceito. Várias leis estaduais exigem
que você use cinto de segurança — para sua própria
proteção — mas você é livre para estragar sua vida de
uma infinidade de outras maneiras, desde que seja
adulto e desde que isso, seja realmente o que você
querer. Eu amo isso. Começamos a nos perguntar se a
Camarilla não é apenas um pouco superprotetora com a
Máscara, hein?
Psicoterapêutico. Antes e durante a década de
1950, muitos dos cultos no mundo tinham uma
inclinação religiosa. A década de 1960, no entanto, viu
o surgimento de grupos de autoajuda que se
concentravam mais nas filosofias modernas de
autorrealização, autorrealização e autopoliciamento.
Apesar do “eu” inerente a todos eles, estes cultos
diferiam pouco das para­religiões abusivas às quais se
assemelhavam. Grupos psicoterapêuticos usam palavras­
chave tiradas da psicologia em vez da religião. Eles
atendem aos autoindulgentes e egocêntricos. À medida
que o espírito rebelde da década de 1960 se espalhava,
as pessoas começaram a questionar tudo ao seu redor.
Eles já não confiavam no seu governo, na mídia, nos
Capítulo Três: Pecados da Discrição
71
Movimento de Identidade
O nome dessa nova religião, “Movimento de
Identidade Cristã”, confunde frequentemente as
pessoas, fazendo­as pensar que é apenas mais uma
denominação cristã, como Metodista ou Batista.
Essa confusão permite que seus líderes persigam
agendas de supremacia racial sob um véu de
religião. Na realidade, suas doutrinas afirmam que
os judeus descendem de Satanás e os verdadeiros
israelitas são as tribos de língua inglesa e
germânica. Acreditam ainda que negros, asiáticos
e outras minorias, exceto judeus, eram pré­Adão,
e, portanto, criações inferiores, não mais que
animais, sem almas.
Segundo os seguidores da teologia de
Identidade Cristã, Satanás seduziu Eva, e Eva deu
à luz Caim. De Caim vieram os judeus. Por seu
raciocínio, Satanás planeja destruir a pura raça
branca, atraindo outras raças, que eles chamam de
“povo lama”, para poluir sexualmente a raça
branca.
A vampira à frente de uma célula de
Identidade acredita que outros Membros Abraçam
a pura raça branca para contaminar o sangue. De
Caim vieram, bem, Cainitas. A mancha se
espalha. Poucos sabem de sua conexão com e
apoio ao Movimento de Identidade Cristã. No
entanto, ela ativamente defende entre seus clãs
uma maior discriminação ao Abraçar. Seus
próprios cria têm genes “apropriados” arianos.
ShriI Mahaja
A yogi senta­se de pernas cruzadas e medita
com uma audiência de seguidores impressionados
e inquestionáveis.
Ela prega sobre como criar crianças para
terem um lugar na perfeita vida após a morte. Ela
ensina que você deve bater nas crianças para
expulsar os espíritos que as possuem. Mau
comportamento, claro, resulta de possessão.
Adultos possuídos requerem ainda mais violência,
pois sua pele endureceu com os anos. Ela
supervisiona esses exorcismos com orgulho e
prazer, proclamando a alegria de libertar os
inocentes de seus fardos. Ela usa suas habilidades
telepáticas para descobrir duvidosos e seus
segredos. Ela os olha nos olhos e comanda os
fantasmas, espíritos malignos, a se revelarem
tremendo.
Eles a obedecem, toda vez. Seus seguidores a
reverenciam ainda mais. Ela coleta seus bens
materiais e lhes devolve a inocência em troca, tudo
sob o abrigo da Constituição Americana. Quem
acredita, acredita. Quem não, não. A Máscara
permanece precariamente intacta. Que linha
tênue esses autoproclamados messias caminham.
 seus médicos ou nos seus pais. Nenhuma dessas fontes
tinha qualquer explicação para a loucura do mundo.
Assim, as pessoas começaram a olhar para dentro em
busca de respostas para suas perguntas.
Donas de casa infelizes alimentavam o vício do
Valium. As pessoas liam livros de autoajuda e
participavam de seminários de fim de semana. Você os
viu em anuncios. Por US$ 700 e um fim de semana, você
pode aprender a ser mais eficaz no trabalho, na cama e
na vida. Os homens são de Marte. Mulheres são de
Vênus. Assuma o controle de sua vida. Ganhe mais
dinheiro do que você jamais sonhou ser possível.
Pratique os 12 passos para uma vida mais perfeita. Recite
os sete hábitos das pessoas altamente eficazes. Sorriso.
Alguns desses programas têm boas intenções. Eles
são tão legítimos e sinceros quanto qualquer médico de
cidade pequena. Outros, porém, espalham uma espessa
camada de respeitabilidade sobre um núcleo podre. Os
líderes destes grupos podem ter muitas razões para
formar o culto, mas, em última análise, assumem uma
atitude comercial. Você os verá vendendo fitas de áudio e
vídeo na televisão tarde da noite. Eles contam com seus
convertidos para divulgar seus seminários. Você terá
amigos recomendando que você venha para um retiro
caro de fim de semana, para seu próprio bem. Assim que
chegam lá, eles lenta e insidiosamente tentam assumir o
controle de sua vida. Eles usam táticas de isolamento
para quebrar rapidamente o seu ego. A partir daí, eles
preenchem o vazio que criaram com os seus próprios
chavões sobre o caminho para a saúde, a riqueza e a
felicidade. Eles se agradam de você. Eles se enraízam em
sua autoimagem. Eles elogiam você. Eles fazem você
acreditar que somente através de seus ensinamentos você
pode se tornar o melhor.
Após fisgar você, eles o enviam em busca de mais
vítimas. Eles pegam seu dinheiro, e muito dinheiro, e
fornecem uma linguagem totalmente nova para basear
sua identidade. O Realismo Estético, um grupo formado
em 1941, ensinou os membros a serem “completamente
justos”. O fundador e líder original, Eli Siegel,
estabeleceu a sua própria definição deste termo
extremamente ambíguo, uma definição que os membros
pensam que compreendem. Siegel também usou muitas
outras técnicas de culto para garantir seguidores leais
entre os membros. Ele tirou a própria vida em 1978
porque o mundo “se ressentia de sua grandeza”. Outros
intervieram para ocupar seu lugar à frente da
organização. Siegel foi martirizado.
É preciso admirar aquelas figuras sombrias que
pegaram no que Siegel construiu e transformaram­no
em algo útil para si próprios. Eles escolheram
cuidadosamente a próxima figura de proa, uma mulher,
para chorar por Siegel e apelar à sensibilidade dos
membros. Esta noite, a organização tem quase cem
seguidores, todos baseados na região de Nova Iorque.
Eles usam distintivos que dizem “Vítima da Imprensa”
em homenagem à crença de Siegel em uma conspiração
entre a imprensa para impedir que sua filosofia de

Pecados do Sangue
72
Realismo Estético se espalhasse. Os mestres das
marionetes desta organização destilaram o Realismo
Estético em algo que o público em geral pode engolir.
Como resultado, eles atraíram membros de todas as
esferas da vida. Em particular, eles apelam aos agitadores
da Broadway, aos atores, diretores e produtores com
influência. Eles também atraíram um político promissor
para a mistura. É claro que a maioria dos seus membros
trabalha como secretárias em escritórios, em Wall Street
e em toda a cidade. Nunca subestimar a importância
dessas engrenagens, no entanto. A secretária sabe tanto
ou mais sobre o que está acontecendo em seu escritório
do que seu próprio chefe. O poder nem sempre é tão
flagrante e vistoso.
Sexual. A Revolução Sexual fez grandes coisas
para os cultos. Amor livre, swing, orgias… tudo se
tornou aceito e até comum. Esta noite, eles chamam de
poliamorismo do amor livre, um termo que acho que
me lembra ironicamente a frase Pollyanna. Pessoas
poliamorosas têm relacionamentos abertos. Eles podem
compartilhar outros amantes ou ir livremente para
outras camas paralelas. Todo mundo gosta de uma boa
foda (bem, todo mundo que ainda está vivo…). Cultos
que não apenas ofereciam terapia para superar
problemas sexuais, mas também forneciam um local
para “prática”, tornaram­se extremamente populares.
Com o passar do tempo, esses cultos evoluíram
paralelamente à crescente tolerância da sociedade para
com todas as coisas sexuais. Os limites que eles
ultrapassaram nas primeiras noites, atacando
corajosamente a homossexualidade, o swing e a
escravidão, já não têm o mesmo apelo. A fronteira da
zona de conforto da sociedade mudou. Porque eles
permaneceram os grupos sexuais de vanguarda —
perdoem o trocadilho — ampliaram os limites do
comportamento aceito.
O sexo desempenha um papel tão importante na
vida de todos que não deveria surpreender ninguém que
a maioria dos cultos tenha algum tipo de aspecto sexual.
Ou todas as chicas do grupo se revezam com o líder
masculino, ou o culto dita quem pode fazer quem,
como, quando e onde. Muitas pessoas ingressam em
cultos simplesmente porque têm a sensação de que são
amadas. Grupos melindrosos atraem os solitários, os
rejeitados, os deprimidos, os perdidos e os excitados.
Certos cultos libertam você das inibições e da culpa que
lhe são impostas pelo resto da sociedade. Eles não
apenas lhe dão permissão para foder, mas também
fornecem parceiros que também têm permissão para
foder. Todos estão prontos, dispostos e capazes.
Arrebentar! Onde eu assino?
O problema surge quando a pressão dos colegas
começa a transformar insidiosamente o consentimento
em culpa e a culpa em coerção. Os grupos ultrapassam
os limites quando lhe dizem que há algo de errado com
você se você não quiser participar, tentam fazer você
pensar que tem a mente fechada ou é crítico e o acusam
de ser frígido e pouco esclarecido se resistir. Você não
gosta de compartilhar? Você deve ser um fantoche
Capítulo Três: Pecados da Discrição
73
fascista de direita que não consegue ter orgasmo. Se
quiser crescer e aprender, e se tornar iluminado, você
deve abrir suas asas e voar. Confie em mim.
Certo.
Político. Por exemplo, o movimento feminista
promoveu uma série de grupos radicais que atacam os
seus membros. Estas organizações utilizam métodos de
culto para isolar as mulheres dentro delas, impor
estruturas de crenças, quebrar o ego, desencorajar
pensamentos e conversas contrárias e até mesmo impor
violentamente a lealdade. O termo feminazi insulta
muitas mulheres, e com razão. Esses grupos existem,
mas não são saudáveis. Muitos têm um líder
amargurado e cheio de raiva, com carisma suficiente
para espalhar o seu ódio entre os seus seguidores. Estas
organizações escondem­se atrás de uma máscara de
questões de direitos humanos e, ao mesmo tempo,
desencorajam o pensamento livre e a individualidade
entre os seus próprios membros. Os membros estão
100% ou 100% excluídos da organização.
Outras organizações radicais têm a mesma
história. Os grupos ecoterroristas utilizam
frequentemente métodos extremos para doutrinar e
manter os seus membros. Não importa se eles estão na
extrema direita ou na esquerda — ambos usam táticas de
culto. Quer apoiem o racismo, o isolacionismo, o
territorialismo ou o ambientalismo, ainda são seitas. Os
métodos que eles usam contam a história real.
Algumas dessas organizações têm um Membro em
seu núcleo ou pelo menos entre eles. Um Ventrue
nazista ou Gangrel territorial que já viu muitas noites e
está muito fora de contato decide que pode resolver
todos os problemas do mundo. Ele decide pegar suas
visões antiquadas, formar uma equipe de ataque e
exercer alguma pressão sobre os políticos. Legal.
Infelizmente, para maníacos como esse, você não pode
simplesmente matar pessoas na sociedade de hoje, não
como era possível há centenas de anos. No entanto, você
pode subornar, chantagear e fazer lobby. Quanto maior
for a sua organização e quanto mais dinheiro você tiver,
mais influência você terá. Bem­vindo à política mundial.
Comercial. Embora organizações como a Amway
neguem veementemente o estatuto de culto, muitos
acadêmicos e ativistas anti­cultos acreditam que as
empresas de marketing multinível praticam realmente
métodos de culto para com os seus membros. Depois
que o governo proibiu os esquemas de pirâmide, o
marketing multinível correu para substituí­los. Nos
esquemas de pirâmide, você ganha mais dinheiro quanto
mais alto estiver na pirâmide. Teoricamente, o dinheiro
flui para cima e a pessoa que está no topo ganha um
pedaço do bolo de todos. Aqueles na camada inferior
ficam ferrados. Com o marketing multinível, os
planejadores conseguiram explorar uma lacuna que
torna as suas estruturas legais. Estranhamente, o
resultado permanece o mesmo. A pessoa que está no
topo ganha muito dinheiro. Aqueles que estão na parte
inferior enchem envelopes, na esperança de enganar
alguém para ocupar um novo nicho abaixo deles.
 Essas organizações incentivam o recrutamento
porque sabem que quanto mais pessoas abaixo de você
no totem, mais dinheiro você ganhará. Eles fazem com
que você se sinta um fracasso se não produzir, não
vender e não recrutar. Quer você venda vitaminas,
produtos domésticos, maquiagem ou revistas, você deve
usar seus próprios produtos porque ninguém confia em
um vendedor que não usa seus próprios produtos em
casa, e quanto mais você gasta em sua própria
mercadoria, mais dinheiro sobe na cadeia. É bastante
eficiente, na verdade, e nasce um otário a cada minuto.
As organizações de marketing multinível atraem
os Membros porque, uma vez implementada a estrutura,
o sistema em si requer pouca manutenção. Uma
aparição pública, mais ou menos duas vezes por ano,
satisfaz as massas. Esses eventos acontecem à noite,
porque a maioria dos vendedores de MLM também tem
empregos diurnos. Cada nível da hierarquia tem o seu
próprio movimento perpétuo porque as pessoas em cada
nível querem ganhar mais dinheiro. Se os vendedores
individuais trabalharem duro e aumentarem sua renda,
a renda daqueles que estão acima deles também
aumentará automaticamente. Assim, toda a estrutura é
autossustentável. Se um braço cair, outro cresce para
substituí­lo. Os Membros devem verificar
periodicamente os livros, praticar um pouco de
disciplina ou lançar pedaços de sabedoria para as
massas. Caso contrário, o fundador pode relaxar e
contar o seu dinheiro.
Alienígenas. Deixei o mais estranho para o final.
Você acreditaria se eu lhe dissesse que alguns Membros
realmente acreditam que vieram do espaço sideral? Você
já ouviu todas as teorias. Muitos grupos de cultos
diferentes acreditam em extraterrestres que visitaram a
Terra há milênios e que retornarão uma noite para
resgatar os irmãos que deixaram para trás.
A Sociedade Aetherius, por exemplo, acredita na
Grande Irmandade Branca, ou Irmão/Irmandade da
Luz, uma “organização multidimensional,
interplanetária e intergaláctica de seres que escolhem
servir o plano cósmico divino neste
universo” (Spiritweb, www. .spiritweb.org). A
organização acredita em Mestres Ascensionados, figuras
históricas que tiveram ligações com a Sociedade
Aetherius, incluindo Jesus, St. Germain, El Mor rya e
Senhor Buda. Eles também acreditam que, em 1954, um
homem chamado George King recebeu uma mensagem
durante um estado meditativo de ioga. O Mestre
Cósmico Aetherius falou com ele e disse­lhe que ele foi
nomeado a Voz do Parlamento Interplanetário, com
sede em Saturno, para a Terra.
Descrito como mistagogo, George King realiza
milagres. Ele “dominou” as “ciências” do Raja, Gnani e
Kundalini Yoga, que lhe permitem atingir
conscientemente o estado de Samadhi. É este poder que
permite a King se comunicar com seres de outras esferas
de energia espiritual. George King assumiu o nome de
Canal Mental Terrestre Primário para os Mestres
Cósmicos, enquanto seus seguidores lhe concederam o
Pecados do Sangue
74
título completo de Sir George King, OSP, PhD, ThD,
DD, Arcebispo Metropolitano das Igrejas Aetherius,
Príncipe Grão­Mestre do Místico. Ordem de São Pedro,
Sua Alteza Real o Príncipe De George King De Santori e
Presidente Fundador da Sociedade Aetherius.
A Sociedade Aetherius originou­se na Grã­
Bretanha, onde, em 1959, a BBC transmitiu King
enquanto estava em transe Samádico, canalizando a
sabedoria dos Grandes Mestres Cósmicos. Em 1960,
King estabeleceu um centro nos Estados Unidos. Você
consegue adivinhar onde? Hollywood. Claro. Desde
então, a Sociedade também abriu um centro em Detroit
e em todos os outros continentes do mundo.
King morreu em 1997. Durante sua vida, ele
recebeu mais de 600 transmissões dos Mestres
Cósmicos, incluindo uma expansão do Sermão da
Montanha do Mestre Jesus, agora residindo em Vênus.
Estranhamente, sua última transmissão ocorreu
aproximadamente 35 anos antes de sua morte, em 1961.
Ela veio do Senhor do Karma no Setor Seis de Marte e
explicou os passos que se deve dar na jornada em
direção à Consciência Cósmica.
Outra organização semelhante, conhecida como
Roda Cármica, acredita que uma civilização
extraterrestre mais avançada usa a Terra como prisão.
Envia criminosos à Terra para reciclagem. Depois que
uma pessoa tiver evoluído adequadamente, ela poderá
retornar ao Hub, uma comunidade centralizada
localizada a milhões de anos­luz de distância. Até então,
ela trabalha vida após vida de lições. Seres de outros
planetas retornam de tempos em tempos e vasculham as
almas encarceradas na Terra. Aqueles que provaram ser
dignos podem ascender ao Centro. Os membros da
Roda Cármica equiparam todo este processo ao conceito
cristão do Dia do Julgamento. Eles acreditam que a
Terra seja o Purgatório.
Falei com o verdadeiro líder desta organização.
Ele, um Toreador, mantém um perfil discreto e trabalha
principalmente através de seus parceiros, mas assume
um papel um tanto ativo na direção do culto. Ele prefere
seu nome de Hub, que ele afirma ser Santauri X,
e ele acredita que os Cainitas vêm de um planeta
distante. Ele acredita que eles cometeram crimes
horríveis para serem punidos no Purgatório. Além disso,
ele me disse que acredita que todas as pessoas na Terra
têm sangue Membro, que o Abraço meramente desperta
a vitae dentro de uma pessoa, que os Membros
reencarnam assim como os mortais, e que eles podem
aprender a despertar seus próprios poderes
sobrenaturais sem a ajuda. do Abraço. Durante minha
visita, ele me ofereceu uma demonstração disso.
Alguns de seus seguidores se ofereceram de bom
grado para o experimento. Eles meditaram e jejuaram
durante dois dias em preparação. Quando chegou a
hora, cada um deles bebeu uma mistura de seu próprio
sangue e veneno. Eles morreram acreditando que,
através da força de sua vontade, poderiam se tornar um
dos mortos­vivos ambulantes. Eles simplesmente
morreram. Santauri X, entristecido, garantiu­me que em
breve resolveriam o quebra­cabeça.
Cultos que Conhecemos
e Amamos
Acordar. Aqui vem a parte divertida. A lista de
cultos a seguir oferece uma visão geral daqueles que
falharam. Alguns deles tinham influência dos Membros,
governando­os, usando­os como fachada ou fechando­os.
Eu digo que eles falharam, mas alguns deles
permanecem intactos. Apesar dos finais atrozes de suas
histórias, alguns conseguiram negociar uma sequência.
Fique atento a eles enquanto eles começam a reconstruir
sua influência e membros. Talvez eles tenham aprendido
com seus erros. Talvez não. Que vítimas eles visarão na
próxima vez?
O Templo do Povo
Jim Jones acreditava em um holocausto nuclear
iminente que destruiria o mundo inteiro, exceto as
cidades de Ukiah, Califórnia, e Belo Horizonte, Brasil.
Ele acreditava que era a reencarnação de Jesus e Lênin,
renascido como membro da Klan para conduzir seu
povo à salvação. Ele os levou a Ukiah para esperar pelo
Armagedom e os chamou de Templo do Povo.
Eventualmente, ele ficou entediado em Ukiah e
desistiu do fim do mundo. Ele mudou seu grupo para
São Francisco. Lá, ele fez seu nome, recebendo muitos
prêmios humanitários e tornando­se presidente da
Autoridade de Habitação da cidade. Nos dias de folga,
ele e seu templo praticavam um ritual que ele chamava
de Noites Brancas, no qual se preparavam para protestar
contra o racismo e o fascismo cometendo suicídio em
massa.
A estranheza de Jim aumentou. Em 1977, ele
transferiu seus seguidores para a Guiana, na América do
Sul. Isolado na selva, ele perdeu todo o contato com a
realidade. Ele construiu sua comunidade perfeita,
chamada Jonestown, e gradualmente caiu cada vez mais
na insanidade.
Relatos de violações dos direitos humanos em
Jonestown chegaram ao Congresso dos EUA. Eles
enviaram o congressista Leo Ryan de São Francisco em
uma missão de investigação ao complexo da selva.
Durante a curta visita de Ryan, um dos seguidores de
Jones esfaqueou o congressista. Embora a lesão tenha
sido superficial, Ryan decidiu que havia chegado a hora
de partir. Ele levou sua equipe e 18 membros do templo
que também queriam retornar aos Estados Unidos e
dirigiu até a pista de pouso. Outros membros do culto o
seguiram. Na pista de pouso, abriram fogo contra o
parlamentar que estava partindo. Eles mataram Ryan,
três jornalistas e um dos membros que estavam saindo
do templo. Eles feriram outras 11 pessoas.
Jim sabia que havia chegado a hora de uma ação
drástica. Ele ordenou que seus seguidores fizessem um
tanque gigante de pó de suco sabor de uva misturado
com cianeto de potássio e tranquilizantes. Feito isso, ele
ordenou que bebessem dele. Todos eles fizeram. Mais de
Capítulo Três: Pecados da Discrição
75
900 pessoas morreram como resultado. As crianças
coaxaram primeiro — todas as 276. Os bebês tinham a
mistura venenosa esguichada na boca com seringas. Os
adultos foram em seguida. Embora a grande maioria
bebesse de boa vontade, alguns foram forçados a fazê­lo.
Os seguranças atiraram em quem tentou fugir ou
recusou a bebida. O próprio reverendo Jim Jones levou
uma bala na cabeça, embora ninguém saiba ao certo se
ele mesmo a colocou lá ou se outra pessoa nos fez o
favor.
Nos meses seguintes, outros membros e ex­
membros do Templo do Povo, localizado nos arredores
de Jonestown, também cometeram suicídio e
assassinato. Uma mãe cortou a garganta de seus três
filhos. Um ano depois, os críticos do Templo do Povo,
três ex­membros (Jeanne e Al Mills e sua filha Linda),
que faziam discursos sobre suas experiências no Templo
do Povo, foram mortos a tiros em sua casa.
O Templo do Povo é um testemunho do poder
da metodologia do culto. Alguns até acreditam que
uma agência do governo americano criou Jonestown
como um experimento de controle mental. Essa é uma
teoria interessante, não é? Ou talvez tenha sido alguma
outra organização realizando o experimento. Pense
nisso.
De qualquer forma, agora é a parte em que você
espera que eu implique algum Malkaviano frenético.
Desculpe desapontá­lo, mas isso foi puramente uma
coisa mortal. Eu incluí isso como uma lição prática.
Quer começar um culto? Encontre as pessoas, que estão
dispostas a beber Kool­Aid envenenado sob seu
comando. Em vez disso, alimente­os com seu sangue.
Existem pessoas por aí que são idiotas o suficiente para
fazer isso
Adventistas Davidianos do Sétimo Dia
A história de David Koresh e do Ramo
Davidiano, na verdade, começa muito antes, em meados
de 1800, quando um homem chamado William Miller
plantou as sementes que cresceriam na Igreja Adventista
do Sétimo Dia. Esta igreja previu a Segunda Vinda de
Cristo diversas vezes, e nelas todas estava errada. Seus
seguidores se prepararam, a cada vez, vendendo todos os
seus pertences e viajando até o local profetizado para
aguardar a chegada de Cristo. Cada vez, eles ficaram
desapontados e encontraram desculpas para explicar por
que isso não aconteceu. Finalmente, David Koresh
decidiu que Cristo não apareceria até que a igreja se
purificasse. Sua interpretação do puro proporcionou
momentos interessantes para os membros do grupo
Ramo Davidiano.
Intrigas políticas e jurídicas cercaram a facção
Waco dos Adventistas do Sétimo Dia. Um punhado de
profetas veio e foi. David Koresh (nascido Ver non
Howell) foi o Sétimo Anjo, ou profeta. Ele defendeu a
crença de que os membros da igreja devem purificar­se a
fim de preparar o caminho para a Segunda Vinda. Ele
impôs uma dieta especial aos seus seguidores que incluía
jejum enquanto ele próprio comia o que quisesse,
porque ele era o Sétimo Anjo e sabia que eles não
comiam. Koresh também tinha uma queda pelas esposas
de outros homens e pelas meninas. Ele próprio teve
várias “esposas”. Entre eles estavam Karen Doyle, de 13
anos, Michelle Jones (12), Robyn Bunds (17) e até 11
outras mulheres menores de idade. Koresh
supostamente descreveu seu “casamento” com Michelle
Jones desta forma: “Então eu vou até Michelle, certo, e
subo na cama com ela. Ela acha que estou tentando me
aquecer. Peguei sua calcinha para tirá­la. Ela não sabia o começando a se afastar. Obviamente, ele também
que eu estava fazendo, então ela lutou. Ela não sabia o
que eu estava tentando fazer com ela. Mas eu era muito
forte e estava fazendo isso por Deus. Eu contei a ela
sobre as profecias. Foi assim que ela se tornou minha
esposa.”
Toda a cena terminou mal quando o
Departamento de Álcool, Tabaco e Armas de Fogo
(BATF) começou a investigar Koresh. As tensões
aumentaram até que o BATF invadiu o complexo de
Waco em 28 de fevereiro de 1993. Quatro agentes da lei
morreram naquele dia. Seguiu­se um impasse entre o
FBI/BATF e mais de 100 homens, mulheres e crianças
adventistas do sétimo dia do Ramo Davidiano. O cerco
durou 51 dias. Terminou em 19 de abril de 1993, com a
morte de aproximadamente 86 pessoas em um incêndio
que varreu o complexo.
Poucas pessoas percebem há quanto tempo os
Adventistas do Sétimo Dia existem, nem percebem que
o culto continuou mesmo sem o seu Sétimo Anjo,
David Koresh. Eles encontraram um novo profeta para
liderá­los. O Oitavo Anjo prometeu conduzi­los à
verdadeira Segunda Vinda. Este profeta permanece em
segundo plano por enquanto, protegido entre os
membros da Igreja Adventista do Sétimo Dia, mas
chegará o dia em que o Oitavo Anjo conduzirá os
escolhidos mais uma vez ao Monte Carmelo para
aguardar “O Segundo Grande Despertar”.
Claro que ele vai.
Falum Gong
Em 1999, a China proibiu o culto do Falun Gong
e prendeu sistematicamente os seus membros. A seita,
acusada de matar mais de 1.400 pessoas, pratica uma
combinação de exercícios tradicionais em câmera lenta e
meditação. Incorpora aspectos do Budismo e do
Taoismo. Desde a sua fundação em 1992, o grupo
conquistou mais de cem milhões de seguidores em todo
o mundo. A maioria deles reside na China.
Contrariamente, o governo estima oficialmente que o
Falun Gong tem apenas cerca de dois milhões de
membros na China.
O tamanho da organização por si só representa
uma ameaça para o governo chinês. Num ambiente de
perseguição, onde o governo proíbe grupos de se
reunirem sem pré­aprovação, o culto tem realizado
vários protestos. Além disso, o culto apelou aos governos
internacionais por ajuda no estabelecimento dos seus
direitos humanos. Ambos os atos colocaram o culto em
desfavor do governo chinês.
Pecados do Sangue
76
A Ordem do Templo Solar
A longa e sórdida história deste culto europeu
chegou às notícias em 1994, quando 53 pessoas
cometeram simultaneamente homicídio e/ou suicídio
em vários locais da Suíça e do Canadá. Os dois líderes
da ordem foram listados entre os mortos. Luc Jouret e
Joseph di Mambro morreram na Suíça. Jouret pediu o
suicídio quando sua popularidade começou a diminuir.
Ele sentiu seu poder diminuindo e os membros
perdeu a cabeça. Num último e dramático movimento,
ele liderou o suicídio em massa.
O culto, que ainda existe, acredita que esses
violentos assassinatos­suicídios transportam os membros
para um novo lar na estrela Sirius. Para garantir a
viagem, as vítimas, incluindo algumas crianças, são
baleadas na cabeça, sufocadas com sacos plásticos na
cabeça ou envenenadas. No
Na época de seus suicídios, Luc Jouret e Joseph di
Mambro escreveram uma carta que afirmava que
estavam “deixando esta terra para encontrar uma nova
dimensão de verdade e absolvição, longe das hipocrisias
deste mundo”.
A Ordem tem suas origens nos Cavaleiros
Templários de fama medieval. Ao longo dos séculos, a
organização dos Cavaleiros Templários fraturou­se,
dividiu­se e evoluiu em muitas direções diferentes. Um
desses grupos dissidentes eventualmente se tornou a
Ordem do Templo Solar.
Pouco antes do Natal, em 1995, um segundo
ritual de suicídio em massa ocorreu num planalto nos
Alpes franceses. A polícia encontrou 16 corpos
carbonizados dispostos em formação de estrela, cada um
com os pés apontando para as cinzas de um incêndio.
Cada uma das vítimas morreu por esfaqueamento,
asfixia, tiro e/ou envenenamento. Muitas dessas vítimas
deixaram notas de suicídio. Um deles disse: “A morte
não existe. É pura ilusão. Que possamos, em nossa vida
interior, nos encontrar para sempre.” Isso não é
romântico? Porém, você deve sentir pena do campeão
francês de esqui, Jean Vuarnet, cuja esposa e filho
estavam entre as mortes naquele dia. Ainda mais corpos
apareceram em 1997, numa casa incendiada em St.
Casimir, Quebec. Quatro pessoas morreram naquele
incidente, seus corpos dispostos em forma de cruz. Os
membros deste grupo, no entanto, optaram por poupar
os filhos. De acordo com seus relatos, os adolescentes
descobriram que seus pais e amigos cultistas haviam
colocado tanques de propano e fogões elétricos no andar
principal da casa de dois andares. Eles estavam tentando
incendiar o lugar. Os adolescentes reclamaram e
imploraram para serem poupados. Os pais concordaram,
mas insistiram para que os filhos, Fanie (14 anos), Tom
(13) e Julien (16), tomassem remédios para dormir e
dormissem em uma oficina perto de casa. Alguém
poderia presumir que eles obrigaram as crianças a fazer
isso para que não pudessem pedir ajuda e impedir os
suicídios. Os três adolescentes foram dormir e, quando
acordaram, seus pais estavam mortos.
 Qualquer organização que descenda dos
Cavaleiros Templários, a menos que seja uma afirmação
totalmente superficial, tem raízes profundas na história,
no misticismo e no segredo. Vista de fora, a Ordem do
Templo Solar parece pouco mais do que a masturbação
narcisista dos seus líderes. Isto, no entanto, é apenas o
que aqueles que estão no poder querem que você
acredite. Olhe mais fundo e você provavelmente
encontrará seres antigos por trás do culto em si e dos
assassinatos de seus membros.
O Culto da Jambola
O Culto Jombola apareceu na Serra Leoa vários
meses após a assinatura de um acordo de paz entre o
governo federal e a Frente Revolucionária Unida em
1996. O culto teria matado mais de 30 pessoas, a fim de
promover a sua própria agenda política nos distritos do
sul de Bo, Pujehun e Bonthe.
Pa Santigie Murray Kawa, um residente da chefia
Lugbu em Bo, declarou: “Não temos certeza de quantas
pessoas foram mortas por membros de um culto que
claramente têm poderes sobrenaturais”. Os Jombola
possuem a capacidade de se transformar em certos tipos
de animais, como morcegos, cães e felinos. Muitos
residentes também afirmaram que a visão destes
Jombola transformados hipnotiza as suas vítimas.
As autoridades conseguiram prender um membro
do Culto Jombola. Esse jovem disse: “O nosso objectivo
é derrubar o governo e a milícia de caçadores locais æ
Kamajors æ e estamos fazendo isso não apenas pela
força das armas, mas através do poder das trevas.”
Aparentemente, os Jombola também usam artifícios
femininos tradicionais para vencer suas vítimas. O
mesmo cultista admitiu que “usamos as nossas mulheres
para dominar as vítimas masculinas, muitas vezes
sexualmente”.
Aum Shinri Kyo (Aum Verdade
Suprema)
O líder deste culto japonês, Shoko Asahara, exige
que seus seguidores o tratem como um “cravo vivo de
deus”. Cego e extremamente carismático, o cultista
liderou sua organização com grande sucesso,
acumulando um patrimônio líquido estimado entre
US$ 20 milhões e US$ 1 bilhão. Ele não abre espaço
para a insubordinação entre as fileiras da sua
organização e muitas vezes matou aqueles que se
rebelaram.
Asahara prega que matar traz bom carma. Através
de uma complexa distorção das filosofias budistas
tibetanas estabelecidas, ele afirma que sempre que uma
pessoa mata alguém, o assassino salva a vítima dos
horrores da vida quotidiana e impede­a de acumular
mais carma negativo. O assassino basicamente faz um
favor ao morto. Quão atencioso. Por causa de sua boa
ação, o assassino ganha algum tipo de redenção
espiritual. O culto também acredita que o mundo
acabará em breve e todos irão lucrar com suas reservas
de carma. Asahara tem algumas ideias erradas, mas o
Capítulo Três: Pecados da Discrição
77
que é incrível é que ele conseguiu convencer mais de 50
mil seguidores a seguirem sua filosofia radical.
Em 1995, os seguidores de Asahara detonaram
bombas de gás Sarin em algumas estações de metro de
Tóquio. O gás matou 12 pessoas e feriu mais de 5.500
outras. A polícia japonesa suspeita que eles tenham
iniciado um ataque semelhante em Matsumoto, ao
norte de Tóquio. Os gases nocivos libertados naquela
altura mataram sete pessoas e feriram 144. Além disso,
são suspeitos de matar ativistas anti­seitas que se
manifestaram contra eles e de conspirar para derrubar o
governo japonês.
O culto da Verdade Suprema Aum se assemelha a
um exército. Eles têm um enorme estoque de armas e os
meios para produzir em massa o gás nervoso mortal,
originalmente inventado pelos nazistas. A dada altura,
contrataram um físico russo para ajudá­los a desenvolver
uma bomba nuclear. Seu sucesso permanece
indeterminado. Depende de saber se eles realmente
conseguiram obter o urânio para armas necessário para
a produção da bomba.
Asahara estabeleceu­se como o líder indiscutível
do culto. Ele vende a água do banho para o prazer de
beber de seus seguidores. Ele afirma que a água tem
propriedades curativas e fortalecedoras. Embora o preço
não seja barato, os consumidores fazem fila para
consumir. Ele também vendeu outros subprodutos,
incluindo fios de cabelo e frascos de seu próprio sangue
(por aproximadamente US$ 8 mil cada). Seus seguidores
pagam taxas exorbitantes pelo privilégio de comunhão
durante os rituais de iniciação, quando bebem um
pouco do sangue de Asahara.
Asahara foi finalmente preso após o ataque com
gás no metrô de Tóquio. Ele desapareceu de sua cela
depois de apenas três noites de encarceramento. A
caçada humana continuou por semanas, mas eles nunca
encontraram o misterioso e enigmático visionário.
Conclusão
Você já se perguntou por que reservei um tempo
para mostrar alguns dos cultos do século passado? É
importante para a sua compreensão de todo o quadro.
O mundo nunca poderia ser tão simples como a
Camarilla e o Sabá gostariam que você pensasse. Cada
um desses cultos que descrevi, bem como aqueles
formados por Adolfo de Jesús Constanzo, Ervil
LeBaron, Charles Manson, Yahweh Ben Yahweh, Woo
Jong­min e Jeffrey Lundgren (para citar alguns), é um
microcosmo da sociedade dos Membros. Mesmo que
esses cultos não fossem liderados publicamente por um
da nossa espécie, mesmo que eles não tivessem sequer
um Membro à espreita fora da cena, eles tinham uma
lição valiosa que o Membro sábio poderia levar a sério.
A sociedade dos Amaldiçoados é um culto criado por
nós mesmos. Quer escolhamos fazer parte dela ou não, a
escolha em si é um reconhecimento de que tal coisa
existe.
Se examinarmos a diversidade dos diferentes
cultos, os seus métodos, as suas realizações e os seus
objetivos, descobriremos que nem todos os cultos
conseguem causar um enorme impacto no mundo. Não
se deixe enganar pela aparência, entretanto. Asahara,
por exemplo, construiu uma vasta rede de seguidores
que se estendia do Japão à Rússia e incluía bolsões em
vários outros países estratégicos. O que parece, à
primeira vista, nada mais do que um grupo de malucos
com muito dinheiro e muitas armas começa a fazer
algum sentido quando você se pergunta o que eles
realizaram. Pense nisso. O culto tinha milhões, senão
bilhões, de dólares. Teve acesso a um arsenal
impressionante. Tinha um físico nuclear disposto a
fabricar uma bomba atômica para ele. E o que eles
fizeram com toda aquela influência e poder de fogo?
Eles abastecem os metrôs e matam menos de 200
pessoas? Isso faz sentido para você? Ou você acha que
está vendo uma diversão, uma manobra ou alguma outra
distração inteligente do verdadeiro horror e perigo — e
utilidade — inerente ao culto? Quem você acha que
encobriu suas atividades reais? Asahara viveu há vários
séculos ou assim diz a história. Seu sangue continha um
poder que seus seguidores nunca poderiam ter
suspeitado. Quando Asahara desapareceu da prisão, ele
voltou ao seu antigo governo divino sobre seu culto e
agora trabalha nos bastidores. Por terem falhado
completamente em encontrá­lo, a polícia japonesa
acredita que ele esteja morto. O que você acha?
Esta é a lição que quero compartilhar. Você nunca
pode confiar na interpretação dos eventos pela mídia. Se
você encontrar uma seita, pode ter certeza de que não
possui todas as informações sobre as atividades dessa
seita. A insanidade acontece, mas não com a frequência
que a mídia e o sistema judicial gostariam que
acreditássemos. Quanto mais organizado e mais
poderoso um grupo se torna, menos provável é que os
líderes tenham perdido a cabeça. Olhe atentamente.
Veja novamente os cultos que descrevi. Deixe de lado os
seus preconceitos e pense nos seus líderes como
mentirosos sensatos e extremamente inteligentes que
apresentam uma imagem ao mundo enquanto exercem a
sua influência real para impor a sua vontade. Procure a
conspiração. Isso existe.
O nascimento de um Deus
Há algo particularmente sexy em como as pessoas
se vendem — mente, corpo e alma — a um único líder. A
dedicação exigida pelos cultistas ofusca a exigida pelos
votos de casamento. Você pode se divorciar de seu
cônjuge, e muitas pessoas o fazem. Um culto, no
entanto, torna­se tão profundamente enraizado na sua
psique, no seu ego e na sua vida que você deve arrancar
uma parte de si para escapar dele. Mesmo assim, você
nunca pode ter certeza de que seus colegas cultistas não
virão atrás de você e exigirão que você pague com a vida
por sua traição.
Das sombras da noite, onde os vampiros
espreitam, tramam, conspiram e planejam, a visão dos
cultos tem um apelo sedutor. Para realmente se destacar
no mundo, você precisa de recursos mortais. Você
Pecados do Sangue
78
precisa das abelhas­operárias para manter as coisas
funcionando perfeitamente enquanto a rainha engorda
com geleia real. Realisticamente, nenhum Membro pode
suportar tantos carniçais. Felizmente, ela não precisa
depender de carniçais. Ela pode selecionar alguns dos
mais importantes para receber seu vitae. Ela então usa
outros métodos para garantir a lealdade dos demais.
Gênesis
Alguns cultos surgem espontaneamente. Uma ideia
cuja hora chegou atrair adeptos. As pessoas reconhecem a
verdade e a sabedoria apropriadas à sua experiência. Às
vezes, um filósofo ou líder religioso apresenta um
conceito que soa verdadeiro para toda uma geração. Às
vezes, afeta apenas um pequeno número de pessoas
sedentas de sentido nas suas vidas. Formulário de grupos.
As pessoas conversam e compartilham. Eles fazem
networking. A notícia se espalha. Um líder emerge e sobe
ao topo. Nasce um culto.
De longe, porém, a grande maioria dos cultos
resulta dos planos cuidadosos de um líder inteligente. O
líder começa com um objetivo. Com esse objetivo em
mente, ele traça os caminhos pelos quais seus seguidores
percorrerão. Esses caminhos levam os cultistas a apoiar o
objetivo do líder. O líder dirige o crescimento do culto,
desde a germinação até o florescimento, desde as
primeiras reuniões em um vagão de trem abandonado
até uma ampla convocação em um centro de convenções.
Isto requer uma mente astuta e manipuladora, uma
mente política, para transformar uma população de
indivíduos em um grupo unido de engrenagens com
ideias semelhantes na máquina de culto. A propaganda
reorganiza as crenças, percepções, desejos e aspirações
dos membros até que se alinhem com as do líder.
Olhe ao redor nestas noites modernas — você não
concorda que as pessoas são inerentemente solitárias e
insatisfeitas? Se não fosse esse o caso, os cultos nunca se
desenvolveriam. Cada membro de cada seita quer
alguma coisa. O culto oferece algo ao membro, seja um
sentimento de pertencimento, uma promessa de
salvação, informações secretas, oportunidade financeira,
carinho no ego, sexo quente ou qualquer outra
vantagem. Inferno, alguns malucos até procuram os
Membros porque eles só querem ser alimentados. Uma
vez que todas as partes concordam com o produto e a
taxa para adquiri­lo, o culto se torna uma entidade viva,
autopropagada e regeneradora. Pode justificar suas ações
com a maior facilidade. Em muitos casos, pode
racionalizar até atos hediondos de aberração, desde a
violação legal ao adultério, do roubo ao contrabando, do
abuso emocional ao suicídio coagido, e do homicídio ao
homicídio em massa. A Camarilla é um exemplo perfeito
de um culto autorrenovável que aperfeiçoou a
capacidade de justificar cada ato e passo em falso através
da aplicação específica de suas leis.
Oh! Ah, lá vou eu, falando em voz alta o que
poucos ousam expressar. Que vergonha.
Seu Próprio Culto
Até agora, você sem dúvida já entendeu que uso o
termo “culto” em seu sentido mais amplo. Nem todo
culto tem um marionetista Cainita puxando os
cordelinhos. Numericamente falando, poucos o fazem,
na verdade. As possibilidades, no entanto, são infinitas.
Você já pensou no que poderia fazer se direcionasse seus
talentos para algo mais produtivo? Você já pensou em se
tornar o arquiteto de sua própria grandeza? Muitos sim.
Muitos o farão. Você prefere seguir ou vai liderar?
Eu lhe dei o histórico dos cultos. Você sabe o que
os torna cultos. Você sabe quais cultos existiram e
falharam. Em outras áreas da sua não­vida, você
provavelmente descobrirá cultos e sociedades secretas
que continuam a prosperar. Se você faz parte de uma
seita, você já faz parte de uma. O que mais você precisa?
Bem, se você quiser realmente mergulhar nas partes
mais sombrias da mente, você deve considerar a
possibilidade de se juntar a elas em seu desvio. Você já
considerou que finalidade pode servir para iniciar uma
seita? Para aliviar o peso dos séculos ou para construir
uma conspiração privada? A ideia de coagir massas de
mortais a adorarem aos seus pés, ou de cumprir suas
ordens como uma entidade amebiana, sem questionar,
não excita sua mente e o emociona? Faz o meu, eu
admito. Isso, mais do que tudo, me deixa ciente do
perigo. Esses viciados em poder. Isto valeria a pena?
Capítulo Três: Pecados da Discrição
79
Nesta seção, falarei sobre líderes de seitas e darei
algumas ideias sobre como iniciar sua própria
organização. Que tipo de pessoa pode criar um culto à
personalidade? Que recursos são necessários? Que
planejamento você deve fazer antes de empreender o
desenvolvimento de um culto?
O quê? Você acha que toda essa conversa sobre o
funcionamento interno do desenvolvimento do culto
suga o romance dele? Não se engane. Muito poucas
destas organizações têm uma origem espontânea nascida
da mente zelosa e inspirada de um messias. Se isso
acontecesse, você não estaria lendo isso. Você estaria por
aí vendendo sua filosofia, seguindo­a e ficando
lentamente louco dentro de seus limites. Presumo que,
já que você está aqui, queira saber como fazer isso
acontecer do ponto de vista cerebral. Eu posso te dizer
como fazer isso.
A outra metade, claro, é que, como cheguei até
aqui, não vou sair ileso disso. Foda­se. Se eles me
encontrarem, pelo menos terão algo pelo que me matar.
Escolha Uma Meta
Antes de fazer qualquer outra coisa, você precisa
saber por que deseja um culto. Qual é o propósito que
você deseja que ele sirva? Você tem que entender que
você assume um compromisso com a organização, assim
como seus seguidores estarão se comprometendo com
você.
 A menos que você escolha permanecer
completamente anônimo, o grande e poderoso Oz
escondido atrás da tela, então você corre o risco de seus
seguidores se voltarem contra você se você vacilar e
parecer traí­los. Não tentem isso levianamente, crianças.
Poderia tão facilmente explodir na sua cara quanto
deixar sua bunda confortável. O anonimato nem sempre
protege você também. Se você permanecer anônimo,
você abrirá mão de boa parte da influência direta sobre
a organização. Como Membros, é claro, você tem
maneiras de fazê­los se comportar — e não é a pressa
máxima? Mas cuidado. Você fará inimigos, e esses
inimigos também poderão ter vantagens sobrenaturais.
Então encontre sua causa. Você quer que seu
culto não faça nada além de te adorar, te dar sangue e
beijar sua bunda? Você quer que isso irrite seus
inimigos? Ferir seus inimigos? Você quer que isso lhe dê
muito dinheiro? Você quer criar grandes obras de arte
para seu prazer, como os escravos que construíram as
pirâmides? Você quer criar algo duradouro, uma obra de
arte feita a partir dos corpos flexíveis de seus seguidores?
Quando você pensa sobre isso, formar um culto
realmente se assemelha a moldar argila ou aplicar
camadas espessas de tinta a óleo. Você cria sua obra­
prima com as vidas, vontades e almas de seus seguidores.
Delicioso!
Todo artista, entretanto, começa com uma visão.
Você não pode começar com uma tela em branco,
aplicar tinta aleatoriamente e esperar dar um passo atrás
e descobrir que acidentalmente criou os maçons. Você
tem que ter uma ideia do que está tentando retratar. Isso
não quer dizer que a peça não evoluirá com o tempo e
potencialmente se tornará algo completamente diferente
da sua intenção original. Pode muito bem. No entanto,
você precisa ter uma posição inicial sólida para
fundamentar seu culto.
Escolha Um Líder
Você pode decidir subir ao púlpito e liderar seu
culto. Muitos sim. Você ficaria surpreso, talvez, com
quantos dos milhares e milhares de cultos no mundo
têm Membros na cabeceira de suas mesas. Você
realmente não acredita que todos os Amaldiçoados
pertencem à Camarilla ou ao Sabá, não é? Muitos ficam
desonestos. Quão ousados da parte deles, hein?
Voadores solitários que preferem se misturar com os
mortais que conheceram e amaram, e continuam a
conhecer, amar e comer. Por que se tornar apenas mais
um peixinho em um grande lago entre outros vampiros
quando você pode ser Netuno entre humanos fracos?
Boa pergunta.
Mortais. Muitos Membros escolhem um líder
mortal para representá­los no culto. Essa pessoa leva a
bala. Ela pode sair durante o dia e desvia a especulação
de bastardos intrometidos que procurariam cultistas (ou
Membros…) e bagunçariam seus negócios. Ela deve ter o
magnetismo pessoal para conseguir isso. Ela deve ser
charmosa, eloquente e autoritária, e deve lhe dar total
lealdade. Isso é fácil de gerenciar, é claro. Quando
chegar a hora, se for o que você deseja, ela poderá beber
Pecados do Sangue
80
a limonada misturada com cianeto junto com a maior
parte de seus membros e se tornar sua mártir. Então
você encontra outro líder para substituí­la. Você
reconstrói o culto depois que ela se foi, e a memória
dela fortalece os laços com os quais você mantém seus
cultistas.
Criança. Seu líder tem necessidades especiais? Ele
tem que produzir milagres? Você pode conseguir isso
Abraçando seu líder ou colocando uma criança existente
no comando. Em um ambiente isolado, longe de todos
os outros Membros, você pode ensinar ao seu filho
qualquer coisa que quiser, e ele acreditará. Você pode
abraçar a criança e incutir nela a crença de que ela é
Jesus reencarnado. Ele não saberá nada melhor. Você
terá o fantoche perfeito se o submeter ao vínculo de
sangue. Você se torna a voz de Deus para ele. Quão
lindo é isso?
Rebanhos, Coteries e Cultos
Você está se perguntando qual a diferença
entre uma coterie e um culto? Vê seu culto como
apenas um rebanho glorificado? Se isso é tudo o
que vê, está no negócio errado. Uma coterie une
Membros de ideias afins e às vezes nem tão afins
para atingir um determinado fim. A coterie pode
permanecer unida pela segurança, pois todos
sabem haver segurança em números. Pode
trabalhar em equipe contra uma ameaça. Seus
membros podem simplesmente gostar um do
outro. Um culto, por outro lado, raramente tem
mais de um Cainita, ou talvez dois, envolvidos. A
maioria dos membros geralmente não tem ideia
de que os Membros existem e nunca
considerariam chamar seu líder de vampiro. Eles
podem usar palavras como "místico" ou “psíquico”
ou “fazedor de milagres” ou até “messias”, mas
nunca lhes ocorreria chamar seu patrono de
aberração sugadora de sangue da noite.
Da mesma forma, um culto pode se tornar
um rebanho, e um rebanho pode se tornar um
culto. No entanto, se você quer nada mais do que
sangue do seu culto, então está subestimando seu
valor e se privando de uma ampla oportunidade.
As coisas jovens e bonitas no seu rebanho
inclinam seus pescoços para você e suspiram
enquanto você afunda seus dentes em sua
suculenta carne. As coisas jovens e bonitas do seu
culto podem fazer isso também, mas também
farão qualquer outra coisa que você tenha pedido
a eles, contanto que você tenha feito seu trabalho
como líder do culto. Eles matarão por você. Eles
roubarão bancos por você, se você der um bom
motivo para isso. Formar e manter um rebanho
exige um toque de boa aparência. Gerir um culto
exige astúcia.
 Entretanto, seu sucesso depende dessa criança.
Você deve se preparar para destruí­lo caso ele se torne um
risco. Você deve tomar muito cuidado para protegê­lo e
protegê­lo da influência de outros Membros. Mesmo isso,
porém, não deve ser muito difícil. Se você jogar suas
cartas corretamente, uma criança nunca terá qualquer
motivo para saber que outros Membros existem, muito
menos sua sociedade em expansão.
Aliados. Você preferiria um parceiro morto­vivo nesta
empreitada de culto? Você poderia. Talvez sua ideia tenha
surgido numa noite em que você e um conhecido
lamentavam a escassez de vitae nas noites modernas cada vez
mais paranoicas. Você não estava falando sério no início, mas
o a ideia começou a crescer em você. “E se…?” você refletiu.
Sua contraparte adorou a ideia. Para sua surpresa, as
discussões continuaram pelas próximas semanas, meses ou
até anos, até que uma noite você finalmente decidiu dar o
primeiro passo. Chegou a hora de decidir sobre um líder. Seu
colega queria assumir um papel mais público. Ele tem o
sorriso e o brilho nos olhos necessários para atrair seguidores.
Você prefere trabalhar fora da vista. Você discute a ideia de
que ambos serão líderes, iguais. Mas, o que você faz se, uma
noite, você discorda?
Em qualquer organização de culto, só existe espaço
para um cachorro grande. Macho ou fêmea alfa, uma
pessoa tem que dar a palavra final. Caso contrário,
divergências mesquinhas irão fragmentar o grupo.
Estabeleça sua hierarquia antecipadamente. Se for
necessário, elimine a outra metade no minuto em que os
problemas surgirem. Despache toda a concorrência. Não
importa se você está nos bastidores e ele é o centro do
palco. Você toma as decisões. Ele é dispensável. Nunca se
esqueça disso, ou sua obra­prima desmoronará em seus
ouvidos. Se ele fosse inteligente, ele já teria se livrado de
você também
Estabeleça seu Dogma
Você tem que construir a arquitetura de sua
filosofia particular. Este elemento­chave atrairá novos
membros para você e os manterá ao seu lado muito
depois de desdenharem você ou o líder escolhido. Você
pode optar por apresentar seu dogma como uma doutrina
religiosa, como um estatuto, como uma declaração de
missão corporativa, como psicologia terapêutica, como
filosofia política, como conhecimento oculto ou como
qualquer outro conjunto de regras que dite o que seus
seguidores acreditam e o que eles fazem. Tenha em mente
que o seu dogma, as suas regras, a sua religião, a sua
filosofia, seja o que for, devem estabelecer os limites
dentro dos quais os seus seguidores podem agir. Além
disso, tenha em mente que o seu dogma público pode
diferir muito da sua agenda secreta. Na verdade, você se
divertirá muito mais com seu culto, se for esse o caso.
Crença. No que você quer que seus cultistas
acreditem? Você quer que eles acreditem na divindade de
seu líder? Você quer que eles acreditem no fim inevitável
do mundo e de toda a vida? A Gehenna vem; pegue o
que puder enquanto pode? Ou você quer que eles
mantenham a esperança de que uma nave prateada desça
Capítulo Três: Pecados da Discrição
81
e os salve de seu destino? Você quer que eles continuem a
se esforçar para encontrar uma maneira de impedir o
apocalipse contra quaisquer probabilidades horríveis que
enfrentem? Você quer que eles acreditem que ninguém
no mundo inteiro poderia compreender e aceitar suas
diferenças? Você quer que eles acreditem que são
ignorantes, impotentes e indignos comparados a você,
para que nunca se levantem e se oponham a você? Você
tem tantas opções.
As crenças que você incute em seus seguidores
servem ao propósito de mantê­los subordinados,
mantendo­os sempre esperançosos de que a organização
possa salvá­los do pior da infelicidade da vida e
mantendo­os leais. Você pode envolvê­los em seu dedo
mínimo sem muito esforço se colocar a verdadeira
genialidade nos princípios fundamentais sobre os quais
constrói sua organização. Se você configurar tudo
corretamente, também não terá que trabalhar muito para
manter as coisas. Quanto mais estruturalmente sólida for
a sua “religião”, maior será a probabilidade de a
organização se tornar autossustentável. Teoricamente,
poderia continuar mesmo após a sua própria Morte Final,
ad infinitum. Deus me livre, é claro.
Problemas do Paraíso
“Mas”, você pergunta, “e a Máscara?” E quanto a
isso? De quem é esse dogma, afinal? De quem é a regra,
filosofia, declaração de missão corporativa ou o que quer
que seja? Não entrar em pânico. Deixe de lado suas
respostas pavlovianas. Eu entendo o raciocínio por trás da
Máscara, embora ela assuma um tom de paranoia quando
você começa a olhar em volta para todos os Membros que
andam na linha sem causar ao menos um piscar de olhos
por parte desses mortais supostamente perigosos. Uma
vez que você começa a se educar sobre o mundo fora da
Camarilla, você começa a perceber o quão enrugado
aquele traseiro da Camarilla realmente é. Então, você
começa a se perguntar por que é assim. Você realmente
não acredita que eles estejam tentando evitar uma
segunda Inquisição, não é? Você acha que eles estão
protegendo você? Ou faz mais sentido que tudo o que
fazem tenha um motivo egoísta por trás disso? Eu me
pergunto qual poderia ser esse motivo? Você cumpre as
ordens deles? Você adora seus líderes? Você joga os jogos
deles? Eu pensei assim.
Em todo o tempo que estudei o fenômeno do
culto, nunca encontrei um caso em que um Cainita
quebrasse a Máscara de forma a colocar todos os outros
Membros em perigo. Já vi artigos de jornais que falavam
de controle mental, PES, feitos de força, truques de
desaparecimento e até referências à licantropia. Li sobre
cultos de sangue e sacrifícios humanos. Nada disso faz
mais o mundo mortal piscar. Todos eles ficaram tão
insensíveis a isso que ou ignoram isso, incrédulos, ou
aceitam isso como um fato e olham para o outro lado. A
Camarilla não consegue encontrar e cobrir todos esses
vazamentos. Eles têm ajuda. Os próprios mortais
ergueram um escudo de descrença ou ambivalência
contra a estranheza que é a Maldição de Caim. Nestas
noites modernas, este escudo nos dá muito mais
liberdade para jogar.
A Mídia
Em 26 de março de 1997, 39 membros do culto de
web design Heaven’s Gate decidiram cometer suicídio em
massa. Este acontecimento, tão bizarro, atraiu a atenção
imediata da mídia. Equipes de filmagem invadiram o
gramado da casa no condado de San Diego, Califórnia.
Eles acessaram a Web para encontrar o site do culto e
compartilharam o link com o público. Eles engoliram o
vídeo das notas de suicídio e tiveram um dia cheio com
imagens dos corpos sendo retirados da casa da fazenda.
O suicídio em massa do Heaven’s Gate mudou
como a mídia abordava os cultos. Durante a cobertura
daquele evento, encontraram “especialistas” no assunto
de cultos e os entrevistaram. Cada novo especialista tinha
uma história mais sensacionalista para contar, assustando
os telespectadores com conversas sobre lavagem cerebral e
abuso. Quanto mais sombrias forem as informações
compartilhadas pelo especialista, melhores serão as
avaliações da emissora. Estranhamente, os especialistas
tiveram que se manifestar repentinamente. Eles não
existiam antes de 1997.
Desde Heaven’s Gate, a mídia mantém um olhar
atento às atividades de culto. Ele invadiu a área ao redor
do complexo Branch Davidian, esperando por alguma
chance de capturar a ação diante das câmeras. Os
Pecados do Sangue
82
Espaço Para Mais Um
Tem medo de acabar sozinho e solitário?
Receio de que ninguém compre sua ideia? Medo
de não ter seguidores? Não tenha. Não importa
quem você seja ou o que está pregando, você
encontrará alguém disposto a entrar na sua onda.
As pessoas são estúpidas. Querem pertencer.
Querem que alguém pense por elas. Você espalha
a mensagem que a grama é realmente vermelha,
mas a poluição a tornou verde, e isso é um sinal
do fim do mundo — você encontrará alguém para
gritar, “Amém! Abaixo a grama verde!” Você dá às
pessoas permissão para serem travessas, para
transar à vontade, brigar, matar, comer carne… e
elas te amarão por isso. Experimente.
noticiários televisivos investigaram diversas organizações,
fizeram­nas parecer seitas e exageraram completamente a
seriedade das atividades de um grupo. Eles investigam
grupos ocultistas, grupos de adoradores de Satanás e os
comparam com as atividades de formação de equipes dos
vendedores de suplementos. O públiveco absorve essas
coisas como se fosse um sorvete derretendo. Eles adoram,
e cada nova história, cada novo relato sensacionalista,
cada nova verdade ampliada os aproxima um passo do
entorpecimento ou da descrença.
 Três meninos morrem brutalmente na floresta,
amarrados e esfaqueados até a morte. Um júri ouve as
evidências e condena três homens pelos terríveis
assassinatos. Apesar disso, e apesar da crença da polícia de
que os homens cometeram o crime, um desses programas
de televisão fez uma exposição tendenciosa do crime e
conseguiu convencer muitas pessoas inteligentes de que o
júri havia condenado três homens inocentes. Em quem
você acredita? Até a situação de Waco tem os seus
apologistas. Como você pode perdoar um homem que
fodia crianças porque pensava que Deus lhe dissera para
fazer isso? Oh, não me considere hipócrita — você quer
que as pessoas sejam tão estúpidas, tão desesperadas para
acreditar. Eles são a chave para o sucesso do seu culto.
Você acha que pessoas inteligentes vão acreditar em você
quando você contar que é a reencarnação de um
sacerdote de sangue mesoamericano?
Movimentos anti
e contra‐cultos
Certas organizações assumiram a responsabilidade,
de uma forma muito semelhante a um culto, de se
oporem aos cultos em geral e em específico. Eles se
sentem profundamente obrigados a alertar a todos. Eles
trabalham principalmente através de voluntários que
aderiram às suas filosofias e que veem o valor nos
objetivos e princípios das organizações. Eles trabalham
diligentemente e com devoção à causa.
Estas organizações dedicam­se a educar outras
pessoas sobre as práticas do culto ou cultos. Alguns
gastam enormes somas de dinheiro doado imprimindo
panfletos que desmascaram os ensinamentos de uma
seita. Eles publicam jornais e revistas. Eles conduzem
intervenções. Eles criam sites aprofundados cujas funções
envolvem a construção de si e a destruição da
credibilidade do(s) culto(s). Os membros dessas
organizações, e quaisquer outras que tenham pelo menos
uma curiosidade mórbida passageira, reúnem­se em
conferências para discutir o estado atual e as futuras
ramificações do cultismo. Eles pontificam e
compartilham suas descobertas clínicas. Eles contam
histórias inspiradoras de como um determinado grupo os
“salvou” de seus cultos.
Esses grupos vêm em duas fórmulas básicas. As
organizações anti­seitas não fazem nenhuma tentativa de
substituir as crenças cultuais perdidas pelas suas próprias,
uma vez que elas arrancaram você das garras da morte
certa ou da jardinagem eterna. Eles só querem tirar você
da influência do culto. As organizações anti­seitas, por
outro lado, têm um lindo banquete de dogmas
preparado para você. Eles forçam você a alimentar sua
própria filosofia para reabastecer a barriga que
libertaram de qualquer alimento ideológico que tenha
sustentado você em seu culto. É tudo para o seu próprio
bem, é claro, assim como a lei que exige que você use o
cinto de segurança. Escusado será dizer que você deve
escolher seu remédio com mais cuidado do que escolheu
seu veneno.
Capítulo Três: Pecados da Discrição
83
A “A ntiga” Rede de Conscientização
sobre Cultos
Uma organização contrária a cultos certa vez
tomou ações fortes contra eles. Trabalharam duro
para educar o público sobre cultos. Infelizmente,
também pareciam usar métodos terroristas para
“resgatar” pessoas. Um jovem, Jason Scott,
processou a organização. Ele alegou que Rick Ross
o sequestrou de sua casa e o manteve cativo por
cinco dias para desprogramação. Tentaram fazer
com que renunciasse às crenças de sua igreja. A
mãe de Jason pagou Rick Ross, um
desprogramador profissional indicado pela rede,
para fazer isso com todos os seus três filhos. Jason
processou. Foi relatado que ele fez um acordo com
Ross por $5.000 relatados. Eventualmente, a
antiga Rede de Conscientização sobre Cultos foi
ordenada pelos tribunais a pagar a Jason $875.000
em danos reais e $ 1 milhão em danos punitivos.
A Igreja da Cientologia continuou a
perseguir Ross e a antiga Rede de Conscientização
sobre Cultos. A rede declarou falência em 1996.
Os ativos da CAN foram vendidos ao maior lance,
para pagar suas dívidas. Ironia do destino, um
membro da Igreja da Cientologia comprou o
nome, logotipo, caixa postal, número de telefone
da linha direta e outros ativos da Rede de
Conscientização sobre Cultos. O dinheiro para
comprar esses ativos veio de doações privadas, não
da própria igreja. O proprietário criou uma nova
corporação em 1997 chamada Fundação para a
Liberdade Religiosa e mudou a mensagem
transmitida pela antiga organização.
A Palavra Final
Você está começando a entender, não é? Sim.
Você vê a tolice do orgulho. Junte­se a mim em minha
cruzada. Agora, antes que seja tarde demais. Embora seu
coração possa não bater mais, ele pode sentir. Você é
especial. Somente aqueles entre nós que conseguem ver
o Destruidor como ele é podem mantê­lo afastado.
Devemos deter aqueles que querem nos arrastar com
eles para a Gehenna. Podemos reverter a putrefação da
nossa sociedade. Podemos cortar os membros doentes e
gangrenados. Podemos devolver o saldo. Conduzirei
vocês, todos vocês, através do fim do mundo para uma
nova noite. Você veio até mim porque vê o que os
outros não conseguem. Junte­se a mim. Siga­me para a
paz.
 Capítu lo Quatro:
Pecad os d o Poder
É a própria mente de um homem, e não seu inimigo ou inimigo, que o atrai para maus caminhos.
— Buda
Qual preço, potência? A capacidade de fazer o
que se quer sempre foi uma marca registrada da Jyhad,
com os Cainitas fechando acordos, forjando alianças,
rompendo alianças, esfaqueando uns aos outros pelas
costas, cometendo diablerie… a lista é infinita. Pode­se
dizer que o poder pessoal é o objetivo da Jyhad. Até
onde conhecemos os Antediluvianos, suas tramas
parecem colocá­los e os Membros que trabalham para
eles (intencionalmente ou não) uns contra os outros em
uma tentativa de sucesso final quando a Gehenna
chegar.
O único problema para muitos Membros em
relação à aquisição de poder é o tempo e o esforço
necessários para cultivá­lo. É fácil decidir aprender uma
variedade impressionante de Disciplinas, mas outra
coisa é encontrar alguém disposto a ensinar e dominar
as aplicações dos próprios poderes. Também pode levar
Capítulo Quatro: Pecados de Poder
85
o que parece uma eternidade para colher os benefícios
da influência, exigindo contato com aqueles que
fornecem a influência e talvez favores para convencê­los
a permitir que alguém use esse poder.
Não é de admirar, então, que alguns Membros
sigam o caminho rápido e sujo para obter poder. É a
eles que dedicamos este capítulo.
Como sempre, porém, entregaremos as palavras
padrão de advertência em relação ao infernalismo: use­
o com moderação. Personagens aliados ao Diabo
carecem de qualquer área moral cinzenta — eles se
alinharam com o mal. Esses personagens às vezes
constituem dilemas faustianos interessantes, mas, mais
frequentemente, são mais adequados para serem
antagonistas. Os Narradores não precisam permitir que
os personagens dos jogadores tenham acesso a esses
poderes.
Novas Linhas
da Taumaturgia
Negra
Tal como acontece com outras linhas de
Taumaturgia, quando o personagem deseja invocar um
poder, o jogador do taumaturgo deve testar Força de
Vontade com uma dificuldade igual ao nível do poder
+3 e gastar um ponto de sangue. Se o teste for bem­
sucedido, o poder entra em vigor de acordo com sua
descrição. Falhar no teste de Força de Vontade indica
que o poder não tem efeito. Uma falha crítica custa ao
taumaturgo um ponto permanente de Força de
Vontade.
Mais informações sobre a Taumaturgia Negra
(bem como longos avisos contra seu uso indevido)
podem ser encontradas no Guia do Sabá.
Opções do Narrador: O Preço
do Diabo
Essas Linhas da Taumaturgia Negra apresentam
uma opção única que os Narradores podem escolher
usar caso tais “milagres” demoníacos entrem em seu
jogo. Cada uma dessas linhas inclui um custo, cobrado
pelo demônio, que ensina ao taumaturgo esse
conhecimento proibido. Em vez de deixar aberto à
interpretação do Narrador, optamos por fazer o
pagamento do demônio diretamente, no que se refere
especificamente a linha. Narradores, sintam­se à
vontade para adaptar os custos para outras linhas ou
extirpá­las completamente. Como sempre, você tem a
palavra final, principalmente com os elementos do
cenário que devem assustar os personagens e os
jogadores.
A Linha da Dor
O desconforto físico alimenta esse caminho:
nas mãos certas, a Linha da Dor pode arrancar a
carne do corpo, quebrar ossos e romper órgãos
internos com um único olhar ou palavra. Infernalistas
que praticam essa linha, obtêm tanto prazer em
infligir dor quanto o sofrimento de suas vítimas. No
entanto, a dor também é um opiáceo — um vício que
exige que o taumaturgo se submeta a intensa tortura e
agonia. Somente alcançando as profundezas e
depredações do sadomasoquismo um taumaturgo
pode desbloquear o verdadeiro potencial desta arte
perversa. Rituais de cicatrizes e mutilações são
comuns entre os praticantes da Linha da Dor, que
caminham muitas vezes na linha tênue entre a
automutilação e a autodestruição.
Custo: Viciado em Dor
Ao aprender o terceiro nível desta linha, o
infernalista fica viciado em dor, necessitando dela
quase tanto quanto de vitae. Sempre que o taumaturgo
sofrer um único nível de dano, ele não fará nada para
impedir a origem do ferimento, a menos que o jogador
gaste um ponto de Força de Vontade. Porém, se o
Pecados do Sangue
86
personagem sofrer um único nível de saúde devido a
uma arma, ataque ou efeito que cause uma quantidade
variável de dano, ele não necessariamente terá que
resistir novamente. Observe que este efeito se aplica
apenas a um único nível de saúde. Um personagem não
ficará parado enquanto é atacado por um Gangrel cujo
jogador teve um desempenho ruim, por exemplo, nem
tentará forçosamente um atirador a atirar nele
novamente na esperança de sofrer apenas um nível de
dano de saúde.
O vício da dor é insidioso, entretanto. Aplica­se
aos poderes da Linha da Dor que exigem que o
taumaturgo inflija níveis de dano a si, mas apenas
quando o jogador falha em seu teste inicial de Força de
Vontade. Se for esse o caso, o taumaturgo continuará
infligindo o mesmo número de níveis de saúde que
sacrificou a cada turno até que o jogador gaste um
ponto de Força de Vontade.
O personagem irá satisfazer seu vício no máximo
três vezes consecutivas em cada situação. Observe que
um personagem não fará isso se isso o deixar
incapacitado.
Exemplo: Vaughan tenta evocar Estilhaçamento.
Antes de seu jogador testar Força de Vontade e gastar um
ponto de sangue, Vaughan quebra um dedo (um nível de
dano de saúde) para iniciar o lançamento. Quando chega
a hora de rolar, entretanto, o jogador falha no teste de
Força de Vontade. A cada turno seguinte, Vaughan,
perdido no meio da dor, continuará a infligir um nível de
dano a si, a menos que seu jogador gaste um ponto de
Força de Vontade. Ele continua assim até fazer isso mais
três vezes ou corre o risco de ficar incapacitado.
• A Numeração
Ossos quebrados, tortura e cicatrizes ritualísticas
são fontes de deleite para muitos na Linha da Dor. Os
taumaturgos que estudam essa linha devem primeiro
aprender como controlar e resistir aos seus instintos
para evitar a dor. Uma vez dominado, o
Entorpecimento permite ao infernalista explorar os
limites da dor sem ficar enfraquecido ou incapacitado
por ela. No entanto, ignorar os instintos da Besta para
evitar a dor fez com que muitos turges sombrios do
taumaturgo se destruíssem — literalmente reduzindo
seus corpos a cinzas.
Sistema: Para cada sucesso obtido no teste de
Força de Vontade, o taumaturgo pode ignorar a parada
de dados e a penalidade de movimento por um nível de
dano de vitalidade. Este efeito dura uma cena. O
Entorpecimento não funciona com penalidades de
ferimentos incorridos por dano agravado.
•• Angústia
Um taumaturgo na Linha da Dor pode inundar
seu alvo com sensações de dor sem precisar realmente
feri­lo. Embora as lesões não sejam reais, a dor é. Com
um simples toque, o taumaturgo pode deixar sua vítima
cambaleando em agonia a ponto de deixá­la
inconsciente ou até mesmo em coma devido ao choque.
 Sistema: O praticante precisa tocar seu alvo para
usar este poder (possivelmente exigindo um teste de
Briga, a critério do Narrador). Se o personagem fizer
isso, o jogador pode testar Força de Vontade e gastar
um ponto de sangue normalmente. Para cada sucesso, o
alvo sofre os dados penalidade de reserva associada à
perda do número equivalente de níveis de vitalidade
(começando com Ferido e não Ferido), mas ele não
sofre dano real. Quando usado contra mortais, nada
pode ser feito para parar a dor. Se o alvo ficar
Incapacitado, ele ficará inconsciente. Vampiros e
criaturas sobrenaturais podem tentar resistir testando
Força de Vontade. Cada sucesso neste teste cancela um
dos sucessos do taumaturgo. Um vampiro pode ficar
incapacitado por esta dor, mas isso não o forçará ao
torpor. Além disso, um ponto de sangue cura um nível
de “dano” de Angústia. Caso contrário, os efeitos da
Angústia duram uma cena.
••• Estilhaçamento
Neste nível, o taumaturgo pode quebrar ossos e
romper órgãos, incapacitando sua vítima. A cacofonia
resultante de fraturas expostas e órgãos rompidos são,
na maioria das vezes, os últimos sons que a vítima ouve.
Sistema: O taumaturgo pode usar este poder em
qualquer alvo dentro do campo de visão. Para invocar c,
ele deve sacrificar um nível de saúde para canalizar a
dor para o alvo. Depois que ele fizer isso, um ponto de
sangue e um teste bem­sucedido de Força de Vontade
completam o processo.
Para cada sucesso, o taumaturgo inflige um nível
de vitalidade de dano letal que não pode ser absorvido.
Os vampiros podem testar Força de Vontade para
resistir aos efeitos da Estilhaçamento; cada sucesso no
teste de Força de Vontade da vítima anula um sucesso
do taumaturgo. Além disso, criaturas com habilidade
para fazer isso (Membros, carniçais, etc.) podem gastar
pontos de sangue para curar o dano normalmente.
•••• Agonia Dentro
Este poder aterrorizante permite ao taumaturgo
criar gavinhas em forma de gancho a partir do próprio
sangue de seu alvo, que correm por suas veias e o
rasgam em pedaços. Em alguns casos extremos de uso
deste poder, as farpas de sangue rompem realmente a
carne da vítima, acabando com sua vida em uma
exibição sangrenta.
Sistema: Além do gasto de pontos de sangue e do
teste de Força de Vontade, este poder pode exigir que o
taumaturgo se machuque para criar as correntes de
sangue. Para cada nível de vitalidade de dano
contundente que o taumaturgo inflige a si (mínimo
um), o jogador pode adicionar um ao número total de
sucessos do teste de Força de Vontade. Este total é
então aplicado como dano letal à vítima, à medida que
os fios de sangue mordem e destroem a infeliz vítima
por dentro. Os mortais não podem absorver dano de
Agonia Dentro, e os vampiros podem usar apenas
Fortitude. Entretanto, é permitido ao alvo um teste de
Capítulo Quatro: Pecados de Poder
87
Força de Vontade com uma dificuldade igual a (6 + o
número de níveis de vitalidade que o taumaturgo
infligiu a si [máximo 10]). Para cada dois sucessos no
teste de Força de Vontade (arredondado para baixo),
reduza o dano da Agonia Interior em um.
••••• Cem Mortes
A expressão máxima da dor conhecida pelos
praticantes da linha da Dor, Cem Mortes dilacera a
vítima com incontáveis cortes profundos que curam e
reabrem constantemente. A dor deixa a vítima louca
antes de matá­la completamente.
Sistema: Cem Mortes exige que o taumaturgo
inflija a si um único ferimento agravado, alcançado
pelo jogador que obtiver sucesso em um teste de Força
de Vontade (dificuldade 6) primeiro. Se tiver sucesso, o
jogador pode testar Força de Vontade e gastar um
ponto de sangue para evocar Cem Mortes. Cada
sucesso inflige um nível de vitalidade de dano agravado
ao alvo, que só pode ser absorvido com Fortitude. A
dor debilita completamente o alvo, deixando­o chocado
pela dor e incapaz de fazer qualquer coisa, inclusive
curar a si, sem gastar um ponto de Força de Vontade.
Se a vítima não receber atenção médica ou alguma
forma de cura sobrenatural, ela sofrerá um nível de
saúde adicional de dano letal todas as noites para cada
nível não curado de dano agravado que permanecer.
A Linha do Prazer
A perversão é fácil para os vampiros, sendo
criaturas de fortes ecos emocionais e desejos mais
fortes, mas os praticantes da Linha do Prazer levam a
decadência a profundezas não naturais. Eles são mestres
em infectar os outros com sua própria indulgência e em
manipular seus desejos, levando­os a infernos
autodestrutivos de depravação.
O prazer proibido, muitas vezes alimentado pela
obsessão, culpa e auto aversão, é uma porta de entrada
para a corrupção, uma espiral descendente que
condena aqueles que a percorrem. Para piorar a
situação é que todos, desde as sedutoras Setitas até o
pregador local, mantêm desejos proibidos escondidos e
trancados profundamente dentro de si. Para o
taumaturgo, esses desejos se tornam uma ferramenta
com a qual dobrar a vontade dos outros às suas
próprias necessidades — seja por prazer, poder ou algo
menos definível.
Sussurra­se que os infernalistas Toreador e
Malkavianos criaram a Linha da Dor durante as orgias
de Roma, e que até hoje se reúnem em locais secretos
para satisfazer seus desejos desenfreados.
Custo: Desejos Saciados
Os praticantes infernalistas do Linha do Prazer
sacrificam mais do que suas almas para aprender este
caminho. Eles se abrem aos desejos mais básicos de
suas Bestas, criando seu poder a partir de sua fome não
natural. Para representar este efeito, todos os testes de
frenesi sofrem um modificador de dificuldade de +1
quando o taumaturgo atinge o terceiro nível no
caminho. Esta penalidade é cumulativa com outras
penalidades de frenesi. Brujah cuidado.
• Êxtase
O taumaturgo pode fazer o alvo sentir um prazer
intenso, adaptando a sensação desde a excitação sexual
geral até imitar a euforia da droga mais forte
disponível. Esse poder funciona independentemente
dos gostos do sujeito, simulando qualquer perversão ou
Efeitos Colaterais
A Linha do Prazer tem um efeito semelhante ao
de uma droga em suas vítimas. Elas podem se viciar em
seus efeitos e buscar qualquer oportunidade para se
entregarem novamente a ele. Cada vez que um
taumaturgo invoca com sucesso qualquer poder do
Linha do Prazer, o jogador do alvo deve jogar
Autocontrole (dificuldade 6) após os efeitos do poder
passarem. Se o jogador falhar na rolagem, o
personagem desenvolve a Pertubação Obsessivo/
Compulsivo (veja Vampiro: A Máscara p. 222) por um
número de semanas igual à classificação do nível do
poder usado. Durante este período, a vítima fará quase
qualquer coisa para experimentar a sensação
novamente — podendo não envolver necessariamente o
uso da Disciplina.
Pecados do Sangue
88
fetiche, ou estimulando prazeres mais simples e menos
complicados — quer a vítima consinta ou não.
Sistema: Êxtase requer um teste de Força de
Vontade somente se o taumaturgo usar este poder em
um alvo involuntário. Caso contrário, basta o contato
físico e um ponto de sangue. Uma vez sob os efeitos do
Êxtase, a vítima é inundada por sensações físicas tão
intensas que ela deve obter mais sucesso em um teste
de Raciocínio + Autocontrole (dificuldade 7) do que no
teste de Força de Vontade do jogador do taumaturgo
para fazer qualquer coisa, exceto se divertir. Este poder
dura enquanto o taumaturgo continuar a tocar o alvo.
Uma vez que o contato físico pare, o efeito se desgasta
ao longo de um número de turnos igual a (10 — a Força
de Vontade do alvo). Durante esse tempo, a vítima
permanece em um estado apaziguado e lento e sofre +1
de dificuldade em todas as ações.
Qualquer sensação que o taumaturgo tenha
usado se torna o foco da perturbação Obsessiva/
Compulsiva se o jogador da vítima falhar em seu teste
de Autocontrole.
•• Intrusão
A intrusão funciona como o Êxtase, porém, o
taumaturgo não precisa tocar o alvo. Ele pode
comunicar o prazer por meios telepáticos.
Sistema: A intrusão pode ser usada em qualquer
indivíduo dentro do campo de visão do taumaturgo. Se
tiver sucesso, o infernalista domina o indivíduo com
uma sensação física prazerosa de sua escolha (do
infernalista). Devido à natureza inesperada do prazer, a
vítima sofre um nível de dano contundente de saúde
para cada sucesso obtido no teste de Força de Vontade.
Observe que esse dano contundente não é “doloroso”
como tal. Reflete o sujeito sendo imediatamente
dominado pelo prazer.
Os mortais não podem absorver esse dano, mas
os vampiros podem resistir com um teste de Força de
Vontade (dificuldade 7) próprio. Cada sucesso anula
um nível de dano contundente.
Em todos os outros aspectos, este poder funciona
como o Êxtase, incluindo Força de Vontade e custos de
sangue, além de exigir um teste de Raciocínio +
Autocontrole (dificuldade 7) para ignorar o prazer por
tempo suficiente para realizar uma ação.
••• Guirlanda de Margaridas
Este poder orgástico permite ao taumaturgo
espalhar prazer para outras pessoas em cadeia. Cada
pessoa que o infernalista toca torna­se um vetor do
prazer escolhido, “infectando” qualquer pessoa com
quem ele entre em contato.
Sistema: A Corrente funciona exatamente como
o Êxtase, porém é necessário um teste de Força de
Vontade mesmo que o alvo concorde com seu uso.
Para cada sucesso, o taumaturgo pode espalhar a
sensação para outro alvo (na proporção de um por
turno), que então experimenta a mesma sensação.
Além disso, cada alvo pode afetar outro indivíduo
através do toque (a nova vítima pode fazer um teste de
Autocontrole para resistir). A Daisy Chain funciona
apenas se o taumaturgo permanecer dentro do campo
de visão das vítimas, ou até que um alvo resista com
sucesso, o que também encerra o “contágio” daquele
vetor específico.
•••• Morte
Este poder insidioso permite ao taumaturgo
deixar um indivíduo insensível às sensações físicas e até
mesmo à maioria das emoções. Enquanto sob o efeito
do Amortecimento, a vítima não pode sentir nada,
incluindo dor ou prazer. Para todos os efeitos, ele está
morto para toda e qualquer sensação. Ele existe como
se estivesse atordoado, consciente de ser incapaz de
sentir qualquer coisa e de fazer qualquer coisa a
respeito.
Sistema: Este poder requer o ponto de sangue
padrão e um teste de Força de Vontade. O alvo pode
resistir testando Força de Vontade (dificuldade igual à
Manipulação + Empatia do taumaturgo). Se o
taumaturgo obtiver mais sucessos, o Amortecimento
será bem­sucedido. Enquanto
ele está neste estado emocionalmente
entorpecido, a vítima não pode gastar pontos de Força
de Vontade e qualquer teste de Virtude tem dificuldade
+2. O número de sucessos obtidos determina a duração
do Amortecimento.
Capítulo Quatro: Pecados de Poder
89
1 sucesso Um turno
2 sucessos Uma hora
3 sucessos Um dia
4 sucessos Uma semana
5 sucessos Um mês
Este poder está isento de custo: desejos saciados
••••• O Jardim das Delícias
Terrestres
Com este poder, o taumaturgo pode dominar
totalmente uma vítima com prazer até torná­la
catatônica, existindo apenas em sua mente e
inconsciente de seu entorno imediato ou mesmo de seu
corpo físico.
Sistema: Para utilizar este poder, a vítima já deve
estar sob os efeitos do Êxtase. Uma vez atendido esse
critério, o jogador faz outro teste de Força de Vontade e
gasta um ponto de sangue adicional. Se este segundo
teste for bem­sucedido, o infernalista pode inundar a
vítima com prazer até que ela entre em coma, sua
mente entrando em um estado de sonho onde tudo o
que ela experimenta são visões e sensações de prazer.
Para resistir a esse poder, a vítima precisa obter mais
sucessos em um teste de Força de Vontade (dificuldade
8) do que o taumaturgo obteve na invocação. Lembre­
se, porém, que o alvo primeiro faz um teste de
Autocontrole conforme as regras do Êxtase antes
mesmo que esse poder se torne uma possibilidade.
Para cada noite que uma vítima estiver sob o
efeito deste poder, seu corpo sofrerá um nível de dano
contundente, a menos que a vítima esteja sendo tratada
em um hospital. Os vampiros podem resistir a esse
dano com Vigor (e Fortitude). Os sucessos determinam
a duração deste poder.
1 sucesso Uma noite
2 sucessos Três noites
3 sucessos Uma semana
4 sucessos Um mês
5 sucessos Um ano
Linha do Profanador
Poucas linhas da Taumaturgia Negra, exceto
talvez a Linha Tácita, são tão insultados quanto a linha
do Profanador. Sob os auspícios deste caminho, um
taumaturgo pode deformar e manchar outros tão
facilmente quanto um jardineiro pode fazer plantas
florescerem ou murcharem — até mesmo outros
infernalistas detestam a influência corruptora dos
profanadores. O ódio e o ciúme do taumaturgo pela
normalidade dos outros alimentam esta escola insidiosa
e perversa de Taumaturgia. Muitos infernalistas cruzam
a linha através do desejo de ver as pessoas se
degradarem — não as pervertendo através do prazer ou
do sofrimento — mas manchando as suas próprias
percepções e de tudo o que lhes é caro. Muitos
Inquisidores consideram esta trilha como uma variação
da Trilha da Corrupção mais tradicional, e eles
encarregam o agora extinto Tremere antitribu de criá­la.
O fato de continuar a existir e atrair novos praticantes
mesmo após o desaparecimento dos Feiticeiros do Sabá,
sugere que mais forças malignas estão em ação.
Custo: Ciúme
Os Profanadores são extremamente territoriais,
especialmente quando se trata de suas vítimas. Uma vez
que o taumaturgo usa a Linha do Profanador em um
indivíduo, ele se torna possessivo, até mesmo protetor
com suas vítimas. Como um senhor ou amante
superprotetor, o infernalista guarda sua vítima com
ciúme.
Se outro vampiro, ou mesmo mortal, tentar ferir,
seduzir, usar qualquer Disciplina ou até mesmo ajudar
a vítima enquanto estiver na presença do taumaturgo,
ele deverá ser bem­sucedido em um teste de
Autocontrole (dificuldade 7) para evitar que voe para
um estado possessivo de frenesi. Esta territorialidade
dura enquanto a vítima estiver sob o efeito de um
poder da linha ou o taumaturgo usar a Linha do
Profanador em outro alvo. Um ponto de Força de
Vontade pode ser gasto para anular o desejo de uma
cena.
• Chame a Fraqueza
Os Profanadores são predadores sociais hábeis,
capazes de supor as paixões e fraquezas de um
indivíduo ao se envolverem em conversas inúteis. A
partir de uma simples resposta ou de um gesto casual, o
profanador pode montar uma imagem mental completa
do indivíduo. O taumaturgo pode usar esta informação
para colocar a vítima sob seu domínio.
Sistema: Além do ponto de sangue e do teste de
Força de Vontade necessários para evocar Chamar a
Fraqueza, o profanador deve envolver a vítima em uma
conversa. Para cada sucesso, o taumaturgo pode fazer ao
Narrador uma única pergunta sobre o alvo, que então
deve ser respondida com sinceridade. As informações que
podem ser obtidas desta forma incluem, mas não estão
limitadas a, Natureza e Comportamento, níveis de Força
de Vontade, perturbações, laços de sangue e Virtudes que
o personagem observa — na verdade, qualquer aspecto
único do eu emocional ou moral do personagem.
Além disso, cada sucesso adiciona um ponto à
parada de dados do taumaturgo ao realizar qualquer
teste Social contra o alvo. Este aspecto de Chame a
Fraqueza dura uma cena inteira.
•• Contaminado
Com este poder, o profanador pode plantar a
semente da dúvida e da auto­aversão em um indivíduo,
infectando lentamente a vítima com vergonha e culpa.
Com um comentário ou ação oportuna, o taumaturgo
pode quebrar o ânimo da vítima, tornando­a oca e
vazia. Um artista terá vergonha do seu trabalho, a fé de
um padre vacilará e um príncipe poderá perder toda a
confiança. Uma vez sob o feitiço de Contaminado, a
vítima se torna uma ferramenta fácil para o profanador
se curvar em seus próprios fins.
Pecados do Sangue
90
Sistema: Maculado exige que o taumaturgo
primeiro use Chamar a Fraqueza para discernir a
qualidade mais apreciada da vítima. Pode ser algo
tangível, como um bem precioso, ou uma qualidade
intangível, como uma Característica, uma Habilidade
ou até mesmo uma característica menos quantificável.
O jogador então rola normalmente e o alvo pode
resistir com um teste de Força de Vontade (dificuldade
igual à do taumaturgo).
Manipulação + Lábia). Se o taumaturgo for bem­
sucedido, a vítima deverá gastar um ponto de Força de
Vontade para usar ou reconhecer a Característica, ou
qualidade em questão. Por exemplo, um artista deixará de
pintar, possivelmente levando­o à depressão, a menos que
gaste um ponto de Força de Vontade toda vez que pegar
um pincel. Da mesma forma, a súbita falta de fé de um
sacerdote pode levá­lo ao pecado, à medida que a sua
determinação moral é levada ao limite.
A duração de Maculado varia de acordo com o
número de sucessos que o taumaturgo obteve.
1 sucesso Uma cena
2 sucessos Uma noite
3 sucessos Uma semana
4 sucessos Um mês
5 sucessos Um ano
••• Degradação
Com este poder, o profanador não apenas
macula a fonte de orgulho de um indivíduo, mas
também pode causar mudanças drásticas de
personalidade. Uma vez sob o efeito da Degradação, a
vítima se torna uma pessoa totalmente nova,
irreconhecível para seus amigos e familiares e
governada por estranhas obsessões e desejos.
Sistema: A degradação permite que o profanador
altere a Natureza do alvo. Fazer isso tem o efeito
imediato de alterar a personalidade da vítima e como
ela recupera Força de Vontade. A maioria dos
infernalistas escolhe uma nova Natureza que é
contraditória à antiga do alvo, forçando o alvo a se
rebaixar para recuperar Força de Vontade.
Alternativamente, com Degradação, o
taumaturgo pode infectar a vítima com uma
perturbação da escolha do profanador.
O número de sucessos obtidos determina a
duração da Degradação.
1 sucesso Uma cena
2 sucessos Uma noite
3 sucessos Uma semana
4 sucessos Um mês
5 sucessos Um ano
•••• Alma Envenenada
Muito mais potente que a Degradação, a Alma
Envenenada remove quaisquer inibições morais ou
éticas de um indivíduo. Sem a necessidade de se
conformar aos costumes sociais, as vítimas da Alma
Envenenada sucumbem aos seus desejos mais básicos e
perversos, entregando­se ao estupro, assassinato, tortura
e outros crimes hediondos para provocar qualquer
resposta emocional em si, assim como faz um Membro
com baixa Humanidade. Alma Envenenada, como
outros poderes do Linha do Profanador, é sutil e
insidioso, embora os resultados raramente o sejam.
Sistema: O jogador gasta um ponto de sangue e
testa Força de Vontade normalmente. A vítima pode
resistir com um teste de Consciência (dificuldade igual
à Manipulação + Empatia do taumaturgo). Se tiver
sucesso, a vítima resiste. Se a vítima falhar, cada sucesso
obtido pelo infernalista reduz o nível de Humanidade
da vítima em um. O efeito ocorre na proporção de um
ponto de Humanidade perdido por noite.
Além disso, cada noite em que o nível de
Humanidade da vítima é afetado, ela é compelida a
cometer um pecado de acordo com seu novo nível de
Humanidade, a menos que gaste um ponto de Força de
Vontade. Além disso, o alvo incorre em quaisquer
penalidades associadas ao seu novo e menor valor de
Humanidade. Se reduzido a zero, a vítima se torna uma
fera irracional enquanto a Alma Envenenada
permanecer em vigor.
A duração da Espiral Descendente é baseada no
número de sucessos obtidos no teste de Força de
Vontade do taumaturgo.
1 sucesso Uma noite
2 sucessos Três noites
3 sucessos Uma semana
4 sucessos Um mês
5 sucessos Um ano
Este poder também afeta Membros que seguem
as Trilhas da Sabedoria.
••••• Flor Cancrosa
O taumaturgo pode transformar a perversão,
auto­aversão e culpa do alvo em um câncer físico que o
transforma em uma massa hedionda de furúnculos e
feridas ou o mata imediatamente. O efeito é
perturbador de testemunhar, pois a pele da vítima
irrompe literalmente com lacerações e úlceras que
exsudam um icor negro e maligno.
Sistema: O taumaturgo deve flagrar o alvo
praticando algum ato depravado (conforme
determinado por seu valor de Humanidade/Trilha). O
jogador então gasta um ponto de sangue e testa Força
de Vontade normalmente. Para cada sucesso, a vítima
sofre um nível de dano agravado na saúde. Além disso,
a vítima não pode curar esses ferimentos por um
número de noites igual aos sucessos do taumaturgo.
Linha Tácita
Muitos taumaturgos acreditam que a linha Tácita
é uma lenda, uma tagarelice supersticiosa gerada nos
sonhos confusos de absinto de floridos poetas mortais.
Até mesmo os Tremere o denunciam, não tendo
Capítulo Quatro: Pecados de Poder
91
encontrado nenhuma prova substancial de sua
existência — pelo menos é o que afirmam os Bruxos. A
mera menção desta linha muitas vezes faz com que
feiticeiros experientes apurem os ouvidos em muitos
domínios. Aqueles que conhecem a verdade, porém,
sabem que a Linha Tácita não é uma lenda.
Com o desaparecimento dos Tremere antitribu,
muitos consideraram a linha moribunda, praticado
apenas por alguns taumaturgos perturbados o
suficiente para trilhar a linha da heresia. No entanto,
um número perturbador de rumores envolvendo a
linha surgiu nos últimos anos. Felizmente (ou
infelizmente), muitos desses infernalistas já foram
destruídos, não por companheiros vampiros, mas por
caçadores de bruxas mortais.
Custo: lapso de memória
Infernalistas atraídos para a linha Tácita têm
fome de conhecimento — até o ponto de sacrificar sua
própria integridade mental. A linha tem uma
influência tão difundida e insidiosa sobre o infernalista
que começa a afetar sua psique, obscurecendo
memórias e fazendo lentamente o taumaturgo esquecer
o que ele já sabe em sua corrida desesperada para
aprender mais.
Para cada nível de domínio na Linha Tácita, o
infernalista perde mais memórias. Eventualmente, ele
esquece até quem ele era originalmente. Essa perda de
memória é tão total que mesmo relatos escritos do
taumaturgo, como diários e diários, não conseguem
desencadear quaisquer lembranças.
Para refletir esse efeito, sempre que o
personagem precisar usar um Conhecimento, sua
dificuldade aumenta em um para cada nível do
Caminho Tácita que ele possui, até um máximo de 10.
Ele simplesmente não consegue se lembrar dos pontos
mais delicados de seu vasto conhecimento. Se o valor
do Linha Tácita do personagem exceder sua Força de
Vontade, ele terá dificuldade em lembrar até mesmo
coisas sobre si, como seu clã, a localização de seu
refúgio ou até mesmo seu nome.
• Sussurros do Não Nascido
O infernalista se abre ao poder bruto da entropia
e, por alguns segundos, pode ouvir o que só pode ser
descrito como as vozes dos nascituros. Imediatamente,
um coro de vozes e gritos infantis inunda o taumaturgo,
que pode então discernir avisos ou obter informações da
cacofonia resultante.
Sistema: O jogador testa Força de Vontade e gasta
um ponto de sangue. Para cada sucesso, o jogador pode
decidir obter uma resposta para uma única pergunta, ou
receber uma premonição de perigo, ou uma combinação
dos dois.
Se usadas para obter informações, as “vozes”
podem articular apenas respostas aproximadas de não
mais que três a cinco palavras (os Narradores são
incentivados a serem tão vagos quanto desejarem), mas
parecem ser oniscientes.
 Os Narradores também devem ser enigmáticos,
pois os nascituros não têm motivos reais para se
preocuparem com o resultado dos problemas do mundo
dos vivos.
Se usado para premonições, Sussurros dos Não­
Nascidos dura uma cena. Durante este tempo, o jogador
pode subtrair um da dificuldade de um teste para cada
sucesso alcançado.
•• Escrevendo o Desconhecido
Entrando em um estado de transe, o taumaturgo
pode subconscientemente escrever o conteúdo de um
documento escrito — independentemente do idioma e
sem a necessidade de ver o original. Enquanto algo
estiver escrito, seja em pergaminho ou como dados
magnéticos em um disco rígido, não há como manter
isso em segredo do infernalista.
Sistema: Para o taumaturgo entrar em transe, ele
primeiro precisa saber a fonte da informação que deseja
transcrever (muitas vezes o nome do livro, autor de uma
carta ou nome do arquivo é suficiente) e o jogador deve
gastar o ponto de sangue e teste Força de Vontade. A
cópia raramente é exata e, a menos que o infernalista
tenha alguma habilidade em falsificação, o material
transcrito não se parecerá em nada com o original.
Mesmo isso não é suficiente em alguns casos, como uma
versão manuscrita de um documento de computador.
O número de sucessos determina a precisão da
transcrição.
1 sucesso Na maioria incompleto. Faltam muitas
frases e algumas palavras são substituídas por
outras de significado diferente; 20% de
precisão em relação ao documento original.
2 sucessos Vagamente completos; Taxa de preci­
são de 40 por cento.
3 sucessos Parcialmente concluído; Taxa de preci­
são de 60 por cento.
4 sucessos Quase completo; Taxa de precisão de
80 por cento.
5 sucessos Funcionais; 95 por cento concluído.
••• Pensamentos Sombrios
Este poder misterioso permite ao taumaturgo
espiar a sombra de qualquer pessoa e colher
informações sobre ela. Como diz o ditado, ninguém,
conhece alguém melhor do que a sua própria sombra.
Sistema: Evocar este poder requer o teste usual
de Ponto de Sangue e Força de Vontade. Além disso, o
taumaturgo precisa ficar à sombra de sua vítima
pretendida.
Quaisquer sucessos alcançados no teste de Força
de Vontade permitem ao taumaturgo olhar para o
passado do alvo, permitindo­lhe testemunhar quaisquer
ações ou pensamentos como se o infernalista estivesse
presente. Ela não será capaz de afetar o resultado dos
eventos, no entanto.
O número de sucessos determina quão longe no
tempo o taumaturgo pode olhar.
Pecados do Sangue
92
1 sucesso Uma noite
2 sucessos Três noites
3 sucessos Uma semana
4 sucessos Um mês
5 sucessos Um ano
•••• Fr agmentos do Esquecido
Com Fragmentos dos Esquecidos, o
infernalista pode transcrever informações mesmo que
a fonte não exista mais ou nunca tenha sido escrita.
Entrando em um estado semelhante ao Escrevendo o
Desconhecido, o infernalista pode escrever fragmentos
do Livro de Nod original, pintar as obras­primas
perdidas de DaVinci ou escrever cópias originais de
suas peças de Shakespeare.
Porém, como essas memórias esfarrapadas são
invariavelmente incompletas, sabe­se que o Inferno
“preenche as lacunas” quando acha adequado. Como
resultado, nenhuma informação gerada por este poder
deve ser totalmente confiável.
Então, novamente, se a pessoa a quem o
infernalista revela não conhece a fonte….
Sistema: Fragmentos dos Esquecidos funciona
da mesma forma que Escrever o Desconhecido, exceto
que o taumaturgo agora pode transcrever para o papel
qualquer documento escrito, mesmo que ele não
exista mais. No entanto, este poder não é tão preciso
quanto Escrever o Desconhecido. Embora Fragmentos
dos Esquecidos permita que o taumaturgo transcreva
documentos perdidos ou destruídos, os lacaios
infernais que fornecem as informações acabam
prejudicando o processo. O documento final, embora
próximo do original, é também extremamente
subjetivo e não totalmente preciso.
O número de sucessos no teste determina quão
preciso é o documento. O Narrador deve conduzir
este teste em segredo — como a informação não existe
mais, mesmo o taumaturgo não deve ter ideia de quais
partes dela pode confiar e quais não pode. Os
demônios desorientam, ocluem e mentem
abertamente sobre essas coisas, até mesmo para os
infernalistas. Além disso, os Narradores obviamente
terão que inventar algumas partes dessas informações
por conta própria.
1 sucesso Ocasionalmente distorções sensatas;
cinco por cento de precisão em relação ao
documento original.
2 sucessos Parcialmente inteligível; Taxa de pre­
cisão de 10 por cento.
3 sucessos Algumas partes formam frases com­
pletas; 15% de precisão.
4 sucessos Divagantes, mas em grande parte
convincentes; 25% de precisão.
5 sucessos Um leitor inteligente pode identifi­
car as mentiras pelo contexto; 50% de pre­
cisão.
Alternativamente, o taumaturgo pode usar
Fragmentos dos Esquecidos para escrever profecias ou
premonições sobre o futuro. Se usada desta maneira, a
profecia dá ao infernalista uma vaga impressão do que
poderia acontecer. O número de sucessos determina
quão clara é a profecia. A natureza da premonição é
novamente deixada ao critério do Narrador.
••••• Abandonado
Os poucos infernalistas que alcançaram este nível
conseguem literalmente fazer pessoas e coisas
desaparecerem do subconsciente coletivo. Embora o
taumaturgo não possa destruir o alvo fisicamente, ele
pode fazê­lo desaparecer da mente. Com Abandonado,
o taumaturgo altera percepções e memórias sobre
alguém ou algo a ponto de parecerem deixar de existir
sem realmente fazê­lo.
Sistema: Abandonado torna quase impossível
encontrar, lembrar ou até ver a pessoa, ou objeto em
questão. Além da mecânica normal de conjuração, o
jogador do taumaturgo deve gastar um ponto
permanente de Força de Vontade e sofrer uma perda
permanente de um nível de saúde, subsumindo o
legado da pessoa em uma ferida supurante.
Uma vez invocado este poder, qualquer um que
deseje interagir com o alvo de Abandonado deve
primeiro fazer um teste de Percepção + Ocultismo
(dificuldade [5 + 1 para cada sucesso do taumaturgo])
para fazê­lo. Se tiver sucesso, ele pode interagir com o
alvo de Abandonado
normalmente (como ter conversas, lembrar do
local do sujeito, etc.) pelo número de noites igual aos
sucessos no teste de Percepção + Ocultismo. Após este
período, o esquecimento de Abandonado retorna.
Se o taumaturgo usa este poder contra objetos
inanimados como pinturas ou esculturas, os objetos se
tornam praticamente impossíveis de encontrar, mesmo
à vista. Livros acumulam poeira nas prateleiras de
bibliotecas, ignorados por todos, inclusive seus
proprietários, ou ficam em enormes armazéns para
nunca mais serem lidos — ou até destruídos
involuntariamente como lixo desnecessário.
Se usado contra uma pessoa, Abandonado turva
as memórias e percepções das pessoas de modo que
todos esqueçam cada encontro com a vítima. A vítima
ainda existe e pode agir normalmente, mas uma vez
fora de vista, é esquecida. Mesmo que a vítima consiga
permanecer à vista, ela é frequentemente negligenciada
e ignorada. Esse efeito pode ter vantagens óbvias, mas
são superadas pelas desvantagens. Enquanto o servo do
príncipe pode ignorar o alvo, o motorista de ônibus
também pode.
Abandonado permanece em efeito até o
taumaturgo ser destruído, escolher terminar o efeito ou
invocar este poder em outro alvo. Se o taumaturgo
terminar o efeito, ele ressurge na noite seguinte com
seu complemento original de níveis de saúde. O
taumaturgo pode invocar Abandonado em apenas um
alvo por vez.
Capítulo Quatro: Pecados de Poder
93
Linha da Pestilência
Enquanto o ódio pode trazer um taumaturgo
para a Linha da Dor e o orgulho para a Linha Tácita, o
niilismo traz os desesperados e abandonados para o
Caminho da Peste. Um desejo subconsciente de
destruir tudo, até mesmo a si, leva os praticantes desta
arte a reverenciar tudo o que é vil e corrupto. Sob a
sujeira e a decadência, os praticantes do Caminho da
Pestilência anseiam pelo beijo final da morte, mas
muitas vezes são covardes demais para acabar com suas
próprias existências. Em vez disso, eles satisfazem seu
desejo infligindo dor e sofrimento aos outros —
matando­os através de doenças devastadoras, pragas e
cânceres nascidos da auto­aversão e miséria do próprio
taumaturgo.
Uma vez aprendido, A Linha da Pestilência
distorce as mentes e os corpos de seus praticantes. Eles
ficam apaixonados pela decadência e atraídos pelo
tormento. Como a carniça, eles migram para lugares
onde o desespero reina supremo, muito satisfeitos em
se entregarem à sua agonia. Eles esquecem tudo o que
antes lhes trouxe alegria, conseguindo apenas se
concentrar em seus desejos desperdiçadores. Seus
corpos também se tornam hospedeiros de diferentes
vírus e pragas. Este sinal revelador, conhecido como
Podridão, é quase impossível de esconder ou disfarçar —
empurrando ainda mais o taumaturgo para o subsolo.
Custo: A Podridão
Ao atingir o primeiro nível nesta linha, o
taumaturgo desenvolve o Defeito Mordida Infecciosa
(veja Vampiro: A Máscara p. 297), mas não ganha
pontos adicionais por isso. Uma vez que o taumaturgo
progride para o nível três e além, seu corpo fica
infestado de doenças e vírus — adquirindo o Defeito
Portador de Doenças (veja Vampiro: A Máscara p. 298)
sem nenhum ponto também. Em intervalos
indefinidos, uma nova doença se manifesta (tanto a
doença quanto a frequência ficam por conta do
Narrador), que é impossível de esconder, a menos que o
taumaturgo gaste um ponto de sangue todas as noites
para “curar” os sintomas temporariamente.
• Doença
Embora ele ainda seja apenas um estudante da
Linha da Pestilência, o taumaturgo com este poder
pode fazer sua vítima sucumbir aos sintomas que são
comuns entre muitas doenças. Com um simples toque,
a vítima pode desenvolver repentinamente febre,
calafrios, hemorragia interna, cólicas estomacais,
vômitos, náuseas e até feridas abertas.
Os efeitos nunca são duradouros, mas mesmo
assim são debilitantes e desagradáveis de experimentar.
Sistema: A doença exige que o taumaturgo toque
sua vítima. O jogador pode então rolar normalmente,
enquanto a vítima testa Vigor + Sobrevivência contra
um número alvo igual ao nível do Caminho da
Pestilência do taumaturgo + 3. Se a vítima obtiver mais
sucesso, a Doença não entra em vigor. Entretanto, se o
taumaturgo obtiver mais sucessos, cada sucesso subtrai
um dos Atributos Físicos ou Aparência da vítima, à
escolha do taumaturgo. Se algum Atributo Físico cair
abaixo de zero, a vítima fica inconsciente e permanece
acamada. Este poder pode afetar vampiros, mas eles
podem gastar um ponto de sangue para anular o efeito
da Doença. Cada ponto de sangue usado reduz a
penalidade do Atributo em um.
A doença não pode ser curada normalmente, mas
a vítima recupera um ponto em cada Atributo a cada
quatro horas.
•• Infecção
Neste estágio de compreensão, o taumaturgo
pode infectar os ferimentos da vítima, causando mais
ferimentos e até mesmo a morte. Com o encantamento
certo, os vermes penetrarão profundamente na carne, a
gangrena se instalará e outras complicações surgirão até
mesmo dos cortes mais incidentais. Entre os mortais, a
infecção geralmente significa uma sentença de morte —
mesmo com atenção médica moderna.
Sistema: Evocar o encantamento correto (e ter
sucesso no teste apropriado de Força de Vontade, bem
como gastar sangue) permite ao taumaturgo infectar
um ferimento normal. Contanto que a vítima tenha
sofrido um ferimento recentemente (seja contundente,
letal ou agravado), o taumaturgo pode usar Infecção
para causar um nível adicional de dano agravado por
Pecados do Sangue
94
ferimento individual. Os mortais não podem absorver
esse dano e apenas os vampiros com Fortitude podem
tentar resistir.
••• Miasma
Um taumaturgo tão avançado na Trilha da
Pestilência geralmente está cheio de inúmeras doenças e
feridas que lhe permitem exalar um gás nocivo pela
boca e poros. O miasma resultante afeta todas as
criaturas que respiram, enquanto os vampiros ficam
cegos por ele.
Sistema: Se o jogador gastar o ponto de sangue e
tiver sucesso no teste de Força de Vontade, o taumaturgo
exala uma nuvem de hálito doentio ao seu redor. A nuvem
dura um número de turnos igual ao nível de Vigor do
taumaturgo e se expande a uma taxa de um metro e meio
por turno. Os jogadores dos personagens pegos pelo
miasma devem fazer um teste de Vigor (dificuldade 6).
Aqueles que têm sucesso pouco podem fazer a não ser sair
da nuvem de miasma. Se falharem, todos os níveis de
dificuldade aumentam em um para cada sucesso obtido no
teste de Força de Vontade durante o turno. Além disso,
para cada dois sucessos obtidos pelo taumaturgo, aqueles
afetados pelo Miasma sofrem um nível de vitalidade de
dano contundente (arredondado para baixo). Este dano
pode ser absorvido com Vigor. Vampiros não sofrem dano.
Em vez disso, eles sofrem a penalidade de dificuldade se
falharem no teste de Vigor.
•••• Possessão Parasitária
Este poder estranho e enervante permite que o
taumaturgo assuma o controle de um organismo
infestado de doenças. Enquanto o alvo estiver sofrendo
de uma infecção viral ou outra infecção — até mesmo
algo tão inócuo como um resfriado comum — o
infernalista pode comandar o corpo do hospedeiro
como se fosse o seu próprio. O taumaturgo pode usar
Possessão Parasitária em qualquer organismo visível
(qualquer coisa, desde insetos até grandes mamíferos),
mas não está restrito a seres vivos. Com este poder, o
infernalista pode literalmente ressuscitar os mortos,
animando os parasitas que habitam as carcaças.
Sistema: Possessão Parasitária tem diversas
aplicações distintas, porém, todas requerem o ponto de
sangue padrão e um teste de Força de Vontade.
Geralmente, este poder permite ao taumaturgo assumir
o controle do corpo da vítima para realizar uma ação de
sua escolha. Se usado dessa maneira, cada sucesso se
traduz em uma única ação física que a vítima deve
realizar. O alvo pode resistir gastando um ponto de
Força de Vontade para anular uma ação forçada.
“Hospedeiros” mortos não podem gastar Força de
Vontade para resistir, mas os Membros podem.
Alternativamente, os infernalistas podem usar
este poder para invocar e comandar insetos pestilentos
e pequenos vermes. Cada sucesso determina o tamanho
do enxame chamado. Entretanto, o taumaturgo pode
emitir apenas comandos simples como atacar, comer
toda a comida ou morder.
1 sucesso Um pequeno animal (um rato), alguns
insetos
2 sucessos Um pequeno animal (um guaxinim),
um pequeno enxame (um cubo de 30 centímetros)
3 sucessos Um animal de tamanho médio (um
cachorro ou lobo), um enxame médio (um
cubo de um metro)
4 sucessos Um animal grande (um cavalo), um
enxame
grande (um cubo de um metro e meio)
5 sucessos Um animal enorme (um urso), uma
verdadeira praga de insetos.
Para mais informações sobre enxames, veja as
páginas 304–305 de Vampiro: A Máscara.
Finalmente, o taumaturgo pode animar um
único organismo morto, desde que seja hospedeiro de
insetos ou outros parasitas. Uma vez animado, o
taumaturgo pode emitir um comando único e simples,
que a carcaça segue até que a Possessão Parasitária
desapareça. Os sucessos determinam quanto tempo o
corpo permanece animado:
1 sucesso Um turno
2 sucessos Cinco minutos
3 sucessos Uma hora
4 sucessos Três horas
5 sucessos Até o nascer do sol
Capítulo Quatro: Pecados de Poder
95
••••• Vetor
O domínio da Linha da Pestilência concede ao
taumaturgo a habilidade de infectar um alvo com
qualquer doença virulenta. Uma vez infectada, a vítima
sucumbe ao vírus quase instantaneamente, exibindo
todos os sintomas e acompanhando a agonia em
questão de minutos.
Sistema: Vector é um poder devastador. Se tiver
sucesso, o taumaturgo infecta seu alvo com uma doença
de sua escolha, que então atormenta a vítima por um
período determinado pelos sucessos de Força de
Vontade do infernalista. As vítimas podem fazer um
teste de Vigor (dificuldade 8) ao contrair a doença.
Caso falhem, eles sucumbem aos efeitos acelerados da
doença, sofrendo uma série de níveis de saúde de dano
contundente igual aos sucessos totais do taumaturgo,
mais o que quer que a própria doença imponha ao
sofredor. Para os mortais, a morte é quase garantido
com Vector.
A doença transmitida por Vector tem uma
duração sobrenatural, portanto não é afetada por
remédios ou hospitalização, mas a ciência médica pode
permitir que os personagens curem os danos que
sofrem com ela. Disciplinas de Cura reduzirão os níveis
de dano à saúde, mas não há doença em si, a menos
que o usuário do efeito de cura saiba que a Disciplina
está em um nível mais alto do que o taumaturgo que
transmite o Vetor.
1 sucesso Uma noite
2 sucessos Um mês
3 sucessos Um ano
4 sucessos Sete anos
5 sucessos Permanentes
Jogadores de Cainitas podem adicionar Fortitude
à sua resistência em um teste. Caso seus personagens
falhem, eles contraem os sintomas da doença durante o
Vector, mas em vez de perderem níveis de saúde,
perdem pontos de sangue.
Por fim, existe a possibilidade de as testemunhas
e aqueles que entram em contacto com a vítima
contraírem a doença em questão e se tornarem
portadores. Qualquer ser vivo em um raio de 3 metros
deve fazer um teste de Vigor (dificuldade 6) ou contrair
a doença normalmente. Essas infecções “passivas” são
normais e podem ser curadas e tratadas como tal.
Outras
Formas Proibidas
Nem todos os poderes “heréticos” exercidos pelos
Membros são de natureza infernal. Alguns desses
presentes proibidos estão na lista negra por motivos
apresentados em outras partes deste livro. Alguns têm
graves repercussões sociais, alguns dependem de atos
restritos e outros são simplesmente tão estranhos que
perturbam os Membros que os observam.
Lembre­se, porém, de que a heresia sobrevive no
subsolo. Embora alguns Membros do mundo possam
 Sem Descanso Para os Maldosos
Para os Narradores que usam as regras
opcionais de preço para a Taumaturgia Negra,
sugerimos os seguintes preços para os caminhos
do Guia do Sabá. Aqueles que acharem esses
preços brandos são encorajados a torná­los tão
severos quanto desejarem. Afinal, o Diabo não
faz um acordo que não o favoreça no final.
Preço das Chamas do Inferno: Aura
Infernal Ao atingir o nível dois deste caminho, o
personagem sofre uma mudança em sua aura.
Imediatamente visível para quem usa Percepção
da Aura nele é uma chama verde sinistra. Essa
aura é visível para qualquer um que use esse
poder nele com sucesso, e não conta para a
quantidade normal de informações que o
personagem recebe de tais usos.
Preço da Linha de Phobos: Pesadelos As
próprias forças oníricas que o personagem usa
nos outros devastam sua mente enquanto ele
dorme. Qualquer personagem que aprenda este
caminho em qualquer nível adquire o Defeito
Pesadelos (veja p. 299 de Vampiro: A Máscara),
mas não recebe pontos adicionais por isso.
Preço de Comunicação Espiritual:
Arrogância Demasiado acostumados a ver a
vontade dos outros se erodir diante da própria,
aqueles que praticam este caminho sofrem os
efeitos da perturbação Megalomania (veja
Vampiro: A Máscara, p. 223) durante qualquer
cena em que os poderes deste caminho são
invocados.
ter testemunhado esses poderes ou ouvido falar deles, o
próprio fato de terem sido amplamente restringidos
significa que poucos tiveram contato real com eles.
Quando um Membro sussurra que o Ritual da Rosa
Amarga conquistou a desconfiança de todos os
Tremere, o príncipe, ele está dizendo isso mais por
boato do que por experiência pessoal. Mesmo assim, ele
provavelmente está dizendo isso para Membros que
nunca ouviram falar disso antes.
Rituais Taumatúrgicos
Para aqueles que são incapazes de distinguir entre
a Taumaturgia Negra e a Taumaturgia “normal” e não­
infernal dos Tremere, a diferença é provavelmente
discutível. Bruxaria é bruxaria, independentemente de
sua origem, e os efeitos desses rituais são tão
desagradáveis quanto os caminhos da feitiçaria infernal.
Rituais taumatúrgicos requerem um teste de
Inteligência + Ocultismo para serem invocados, com
dificuldade igual ao nível do ritual + 3 (máximo 9).
Apenas um sucesso é necessário, e uma falha crítica
Pecados do Sangue
96
significa uma falha catastrófica, como sempre. A menos
que especificado de outra forma, os rituais
taumatúrgicos levam cinco minutos por nível para
serem realizados.
Apesar do H arridan
(Ritual de Nível Dois)
As histórias das esposas de tempos menos
esclarecidos falavam da capacidade da bruxaria de
deixá­las estéreis, de roubar o fôlego das crianças e de
deixá­las sem filhos. Este ritual pode ser a origem de
algumas dessas histórias. Invocar este poder permite ao
taumaturgo interromper qualquer gravidez,
independentemente do seu estágio, desde que a criança
ainda não tenha nascido. O conjurador deve esmagar
um ovo de cobra em sua mão para que este ritual tenha
efeito.
Sistema: Este ritual deve ser realizado na
presença do alvo, embora ele não precise saber que o
taumaturgo está ali. A interrupção da gravidez é
confusa, óbvia e muitas vezes dolorosa para a ex­mãe.
Ritual da Rosa Amarga
(Ritual de Nível Três)
Embora este ritual tenha desaparecido quase
completamente do mundo, sua reputação faz dele uma
das armas mais temíveis no arsenal dos Tremere. O
Ritual da Rosa Amarga permite que vários Membros
obtenham o benefício de diablerizar um único vampiro.
Muitos ançiões temem, com razão, esse ritual; nada
encoraja mais um círculo sanguinário do que uma
chance de se aproximarem de Caim e a oportunidade
para todos eles fazerem isso ao mesmo tempo….
Desnecessário dizer que é quase impensável que alguém
ensine esse ritual a uma criança ou protegida, já que o
potencial de fazer com que ele se altere e a prejudique é
muito grande. Os estudiosos Tremere suspeitam que
talvez existam cerca de meia dúzia de transcrições deste
ritual fora da única cópia cuidadosamente guardada na
capela de Viena.
Sistema: A vítima da diablerie deve ter todos os
pontos de sangue drenados, exceto um único. Isso por
si só pode ser difícil, e os jogadores de vampiros que
bebem esse sangue dos Membros podem ter que fazer
um teste de Autocontrole (dificuldade 7) para deter seus
personagens no momento apropriado. Depois disso, o
coração da vítima deve ser cortado e moído até formar
uma pasta com um pilão e almofariz de mármore e
misturado com uma pequena quantidade de vinho
tinto. O taumaturgo adiciona a esta mistura um pouco
de cinza de uma estaca de amieiro queimada e meio
litro de água pura. Em relatos antigos deste ritual, a
“água pura” vem de um riacho na montanha, mas os
poucos relatos deste ritual usado nas noites modernas
indicam que mesmo água purificada da torneira ou
água destilada comprada em lojas também funcionam.
Cada personagem que desejar participar da
diablerie comunitária deve absorver a mistura.
 O jogador do personagem que está realizando o
ritual faz então o teste necessário. Se o teste for
bem­sucedido, o ritual funciona corretamente e vários
personagens podem diminuir sua geração. Se o ritual
falhar, a mistura é estéril e ninguém ganha nenhum
benefício (ou sofre qualquer prejuízo) da diablerie. Se o
teste falhar, a mistura se torna venenosa, infligindo três
ferimentos agravados não absorvíveis em cada Membro
que participou dela.
O número de Membros que podem se beneficiar
deste ritual é igual ao número de etapas de geração
entre o vampiro diablerizado e o vampiro da geração
mais baixa participante do ritual, mesmose não for ele
quem está realizando o ritual. Ou seja, se um vampiro
de oitava geração, um vampiro de 10ª geração e um
vampiro de 11ª geração usarem este ritual em um
vampiro de quinta geração, todos os três poderão se
beneficiar do ritual (já que a diferença entre as gerações
oito e cinco é três). Se o número de passos produzidos
pela diferença for menor que o número de vampiros
participantes do ritual, o Narrador deve diminuir
primeiro as gerações daqueles Membros com as
gerações mais altas até que todos os passos tenham sido
contabilizados. Por exemplo, se quatro vampiros
participarem do ritual e o diablerista da geração mais
baixa estiver a apenas dois passos da vítima, apenas os
dois Membros da geração mais alta ganhariam qualquer
benefício do ritual. Nenhum Membro pode ganhar
mais de um passo de geração através do uso deste ritual
ao mesmo tempo.
Qualquer um que participe do ritual sofre as
desvantagens da diablerie — perda de Humanidade,
veias na aura, etc. — mesmo que não tenha obtido
nenhum benefício com isso.
Um aspecto menos conhecido deste ritual é que
ele requer sangue excepcionalmente potente para ter
efeito. Parece que apenas os Matusaléns (e,
presumivelmente, os próprios Antediluvianos) possuem
vitae rica o suficiente para o ritual ter efeito. Alguns
relatos surgiram afirmando que o sangue de vampiros
da Sexta Geração funciona, mas todos esses Membros
eram de idade avançada, se não de geração
É claro que abundam os rumores sobre esta
Disciplina, desde os paranoicos até os credíveis.
Algumas fontes dizem que uma vitae particularmente
robusta pode diminuir a geração de um diablerista em
mais de um passo. Outros sugerem que uma variação
do ritual sempre produz um icor venenoso. Ainda outra
afirmação sugere um rito que permite que os pretensos
diableristas sejam “tomados” pelo ancião que eles
tolamente escolheram para saciar sua sede. Nenhum
desses rumores foi comprovado, mas as possíveis
repercussões ajudaram a manter este ritual suprimido —
o risco, no que diz respeito à maioria dos Membros,
supera em muito o benefício. Ainda assim, mais de um
Membro esteve disposto a fazer qualquer coisa para
fortalecer seu vínculo com o mítico Primeiro Vampiro.
Capítulo Quatro: Pecados de Poder
97
Apagar a Chama de Lambent
(Ritual de Nível Seis)
As origens deste ritual estão rodeadas de
mistério. Alguns afirmam que foi desenvolvido como
uma forma de censurar Tremere doentiamente
ambiciosos, enquanto outros sugerem que não é de
origem hermética, mas sim um dispositivo de
sobrevivência para Membros em áreas subpovoadas,
como os territórios maias onde foi descoberto pela
primeira vez. Outros ainda sugerem que é a penúltima
punição para a diablerie, mais eficaz que a Morte Final
porque deixa o sujeito com o conhecimento do poder
que ele já teve e do eco pálido que lhe resta depois que
este ritual o afeta. O ritual aumenta a geração de um
Membro para 13, independentemente de sua distância
original de Caim.
Sistema: Este ritual leva uma hora para ser
realizado. O taumaturgo deve desenhar um círculo com
uma mistura de seu próprio sangue e do alvo. O alvo
deve então ficar imóvel no centro do círculo por uma
hora inteira para que o ritual tenha efeito, o que requer
que o alvo seja estacado no caso de Membros
relutantes. Se o alvo estiver disposto, a dificuldade do
teste é 7, caso contrário é o normal 9 (nível ritual + 3).
Rituais de Feitiçaria
Koldúnica
As magias bruxas dos Tzimisce são praticamente
heresias por si. Ao invocar os espíritos de sua terra
natal — que alguns chamam de demônios — os
Demônios que são habilidosos o suficiente para serem
chamados de Koldun exercem sua vontade durante a
noite.
Os rituais de Feitiçaria Koldúnica exigem um
teste bem­sucedido de Inteligência + Koldunismo
(dificuldade 4 + o nível do ritual). Além disso, a menos
que especificado de outra forma, um feiticeiro que
utilize esses rituais deve usar um ponto de sangue ao
invocar os espíritos, embora não precise ser gasto dela
mesma.
Iluminação (Ritual de Nível Um)
Todas as coisas na natureza contêm algum tipo
de espírito, conhecido como lèleks (pronuncia­se LAH­
lek; húngaro para “espírito”). Os Feiticeiros Koldúnicos
devem primeiro ser capazes de reconhecer um espírito
da natureza antes que possam manipulá­lo para a
servidão adequadamente. Este ritual é realizado
frequentemente, reforçando assim a sintonia do Koldun
com a terra e a natureza. Muitos dos antigos kolduns
não confiavam simplesmente que sua sintonia com a
terra permaneceria intacta. Em vez disso, eles
dedicaram uma noite por semana para se reconectarem
completamente com os espíritos de sua terra. Esses
lèleks são mais reconhecidamente “sentidos” do que
percebidos visualmente. Um lèlek viajando com uma
brisa perto do koldun pode causar uma sensação estática
na nuca do feiticeiro. Árvores saudáveis podem
parecer ter um leve brilho verdejante em seus
troncos.
Independentemente da forma como ele
acredita perceber esses espíritos, o Koldun desperta
para um novo sentido após realizar este ritual.
Sistema: O jogador do koldun gasta um ponto
de sangue e faz o teste. Cada sucesso que ele acumula
aumenta a duração de sua sintonização com os
espíritos da natureza dos quatro elementos naturais.
1 sucesso Uma hora
2 sucessos Uma noite
3 sucessos Uma semana
4 sucessos Um mês
5 sucessos Um ano
Travessura de Mefistófeles
(Ritual de Nível Um)
Contos de velhas falam sobre os perigos
inerentes de permitir que um gato fique perto de
crianças dormindo, por medo de que ele sugue a alma
da criança. O koldun que realiza este ritual substancia
essas histórias ao recrutar qualquer pequeno felino
para seu serviço, já que o gato irá procurar qualquer
indivíduo adormecido que encontrar e extrair
misticamente um pouco de sua alma.
Sistema: O jogador faz um teste de ativação
normal. Ao alimentar um gato com um ponto de seu
sangue, o Koldun coloca o felino em servidão
temporária. Assim que o gato for alimentado com
sangue e o ritual for realizado, o gato procurará
imediatamente qualquer criança que esteja dormindo
na área. O gato então rastejará até o rosto da vítima e
extrairá misticamente um pouco de sua “essência”
espiritual. Esta essência irá canalizar através do gato,
agindo como um canal para o koldun, que então
ganhará temporariamente um ponto de Força de
Vontade que pode ser gasto a qualquer hora durante
a noite. Este ponto de Força de Vontade deve,
entretanto, ser gasto na mesma noite em que foi
roubado, caso contrário a “essência” se dissipará
misticamente e retornará ao seu legítimo dono. Cada
ponto de sangue gasto na alimentação do gato o
estimula a visitar outra vítima, resultando em outro
ponto temporário de Força de Vontade. A Força de
Vontade reunida desta forma não pode exceder a
Característica de Força de Vontade permanente do
koldun.
Alternativamente, o Koldun pode alimentar
vários gatos com um ponto de sangue, reduzindo
assim a quantidade de tempo que ele deve esperar
para um gato completar múltiplas tarefas.
Os Narradores podem decidir quanto tempo
leva para o felino caçar uma vítima adormecida
adequada. Uma criança que teve sua essência roubada
por três noites seguidas morre antes de acordar no
dia seguinte.
Pecados do Sangue
98
Serviço para Almas
(Ritual de Nível Dois)
Ao lançar este ritual, um Koldun chama a atenção
dos espíritos da natureza para sua pessoa, atraindo­os
oferecendo­lhes uma parte de sua própria essência. Esses
espíritos são vitais por si só e possuem poderes místicos
que não são facilmente definidos; eles são livres para agir
como quiserem. Se eles aceitarem a essência do Koldun,
eles serão obrigados a cumprir os deveres exigidos como
parte de um ritual de Feitiçaria Koldúnica. Caso
contrário, eles poderão vagar livremente para viver suas
vidas.
Sistema: O jogador do koldun gasta um ponto de
sangue e faz seu teste para despertar os espíritos de seu
ambiente natural e atrair sua atenção. Então o
conjurador realiza este ritual, gastando pelo menos mais
um ponto de sangue. Para cada ponto de sangue gasto,
ele pode vincular um espírito da natureza da terra à
servidão. Embora ocupem espaço em seu corpo (e,
portanto, contem para o reservatório máximo de
sangue), esses pontos de sangue permanecem “inertes”
dentro do corpo do Koldun e indisponíveis para ele. Ele
não pode usá­los para alimentar Disciplinas, curar
feridas, etc. enquanto pretender manter os espíritos da
natureza ligados a ele.
Os lèleks convocados pelo feiticeiro podem realizar
qualquer número de ações, mas normalmente não
podem afetar objetos físicos que não sejam aqueles que
habitam. Mesmo estes são singulares. O espírito de uma
árvore pode afetar apenas aquela árvore, em oposição a
todas as árvores. Na maioria das vezes, esses espíritos são
usados como espiões, emissários ou testemunhas de
algum pacto entre o Koldun e um espírito superior. Eles
permanecem vinculados ao Koldun enquanto durar seu
acordo original ou até que o Demônio decida aliviar os
leleks do dever, o que ocorrer primeiro. Nesse momento,
um lèlek se dispersará no ar noturno, absolvendo o
Koldun da vitae prometida.
Agonia murchante (Ritual de Nível
Dois)
Ao retirar o espírito de uma árvore doente e
induzi­lo ao corpo de um mortal ou Membro, o Koldun
infecta sua vítima com uma doença fisicamente
debilitante. Quando infectada, a vítima perderá peso,
causada pela esfoliação de uma substância espessa
semelhante à seiva de seus poros. O cabelo cairá e a pele
degenerará para um cinza acinzentado. Os ossos são mais
frágeis e a respiração é ofegante.
Sistema: O jogador do koldun gasta um ponto de
sangue e faz o teste apropriado enquanto o personagem
marca sua vítima com um glifo sangrento. Um espírito
que habita uma árvore doente é então induzido a fugir
da floresta moribunda e a construir seu novo lar dentro
da vítima marcada. Ao longo de uma noite, os efeitos
adversos desta doença terão efeito, fazendo com que a
vítima sofra 2 em todas as paradas de dados Físicos e
Sociais. O aflito também sofre um nível de dano por
contusão não absorvível devido à atrofia que o corpo
suporta. Este dano pode ser compensado através de
repouso ou gasto de sangue normalmente depois disso.
Os Membros são afetados de forma semelhante,
sofrendo tanto as penalidades em suas paradas de
dados Físicos e Sociais quanto os danos associados. Eles
também perdem um ponto de sangue adicional além do
ponto normal gasto no início da noite.
Agonia Definhante dura uma semana.
Nota: Embora mortais e Membros normalmente
não sejam afetados por espíritos da natureza, os lèlek
que infectam as vítimas são espíritos moribundos e não
se “juntam” a um hospedeiro, mas “invadem” sua
saúde, semelhante a um vírus.
Raze The Lelek (Ritual de Nível
Três)
Um Koldun que realiza este ritual pode destruir
objetos inanimados separando seus espíritos de suas
conchas materiais. Ao destruir o espírito de um objeto,
objetos como pilares de pedra se transformam em giz e
poeira, telefones celulares funcionam mal e se quebram
em uma pequena pilha de arame e plástico, além das
roupas, desgastarem­se e transforma­se em farrapos de
algodão e couro.
Sistema: Ao gastar o número apropriado de
pontos de sangue, um Koldun pode arrancar um
espírito de seu alojamento inanimado,
permanentemente. Ele pode fazer isso com qualquer
objeto dentro de sua linha de visão.
O número de sucessos que o jogador obtém
determina o grau de sucesso do Koldun e o tamanho do
objeto que ele pode destruir.
1 sucesso Uma caneta­tinteiro
2 sucessos Um telefone celular
3 sucessos Uma televisão
4 sucessos Um sofá
5 sucessos Um carro pequeno
Rumores de que o Ancião Koldun usou este
poder com grande efeito persistem, especialmente entre
os jovens Tzimisce, praticamente se tornando lendas ao
serem contadas. Uma dessas lendas envolve um
Demônio reduzindo o refúgio de um rival a xisto frágil,
enquanto outra sugere que um ciumento Tzimisce
transformou um amante desprezado em uma estátua de
sal antes que ela pudesse se voltar contra ele. Nenhuma
dessas histórias foi comprovada, entretanto.
Além da Parede da Morte
(Ritual de Nível Quatro)
Este ritual foi criado por um Koldun no final da
luta medieval contra os Bruxos, numa tentativa de
preservar o conhecimento possuído pelos feiticeiros
caídos. Após este ritual ser lançado sobre o cadáver de
um koldun recém­morto, seu espírito aparecerá para o
conjurador. Contanto que o Koldun esteja ciente das
feitiçarias específicas possuídas pelo recém­falecido, ele
Capítulo Quatro: Pecados de Poder
99
poderá convencê­lo a orientá­lo nesses Caminhos.
Sistema: O jogador gasta um ponto de sangue e
faz o teste necessário. Enquanto está sobre o corpo de
um koldun recentemente falecido e canta seu nome, o
conjurador invoca o espírito em sua presença. O koldun
deve ter conhecimento prévio sobre quais poderes o
espírito possuía quando ele próprio era um koldun
antes de pedir para ser orientado nos Caminhos. Em
um teste bem­sucedido, o espírito aceitará
relutantemente ser o mentor do koldun, desde que o
personagem seja explícito em sua pergunta e o jogador
tenha experiência suficiente para comprar o poder
específico. O espírito orientará o conjurador em apenas
um nível de um Caminho, mas, antes de passar para
seu descanso final, concederá conhecimento suficiente
do Caminho para que o koldun não precise mais de um
mentor para continuar sua progressão. Uma vez que o
espírito tenha completado sua tarefa, ele será banido da
existência e não estará mais acessível.
Um espírito será compelido a instruir o koldun
apenas em outros poderes da Feitiçaria Koldúnica e
seus rituais, não em outras Disciplinas. Nem revelará
outros conhecimentos.
Este poder não funciona em um alvo que tenha
sido diablerizado.
Visagem do Incubo
(Ritual de Nível Quatro)
Durante tempos menos progressistas, pensava­se
que as pessoas nascidas com defeitos ou anormalidades
eram tocadas por demônios e diabos enquanto estavam
no útero, por isso eram tratadas como párias. Da
mesma forma, os Tzimisce Koldun lançariam este ritual
como punição por crimes sexuais ou de roubo
cometidos por seus boiardos. O koldun seduz um de
seus espíritos da natureza aprisionados para distorcer as
características físicas de um mortal ou Membro,
distorcendo características faciais alongando o nariz,
arregalando os olhos, estendendo os dentes e o queixo.
O muco escorre livremente do nariz, a saliva escorre da
boca, furúnculos e marcas de varíola surgem por todo o
corpo, feridas abertas pingam uma secreção amarelada
e uma protuberância incha entre os ombros. Muito em
breve, a vítima se assemelha ao mais hediondo dos seres
mortais e é insultada pela sociedade.
Sistema: O ritual deve ser realizado na noite de
meia lua, e o koldun deve ingerir e gastar um ponto de
sangue de um javali, junto com um pedaço da pele da
vítima. Para cada sucesso obtido, a vítima sofrerá os
efeitos adversos do Incubus Visage durante uma fase da
lua, no máximo por outra fase de meia­lua. Os Atributos
Sociais da vítima caem a zero e ela ganha o Defeito:
Presença Sinistra (veja Vampiro: A Máscara, p. 302).
Fusão das Almas
(Ritual de Nível Quatro)
Antes de terem Revenantes à sua disposição, os
Tzimisce koldun aprenderam a amalgamar os carniçais e
os lèleks sob seu domínio, aumentando assim a destreza
física do carniçal. Muitos desses anfitriões carniçais
acabam com
personalidades múltiplas, características físicas
anormais ou são totalmente destruídos pelos rigores
perigosos da fusão com um espírito da natureza. Ainda
assim, eles são brutos eficientes, úteis para manter os
camponeses inquietos na linha e até mesmo para serem
usados nas noites modernas.
Sistema: O jogador faz seu teste e gasta um ponto
de sangue, cujo sangue é usado para marcar o carniçal.
Ao marcar um de seus carniçais com este ponto extra
de vitae vampírica, um Koldun atrai um espírito da
natureza para “se unir” ao carniçal. A Força, Destreza
ou Vigor de um carniçal pode ser aumentada para cada
espírito da natureza que se funde com ele, até um
máximo de três espíritos e três pontos. Atrair mais de
um espírito para um carniçal requer marcá­lo com mais
de um ponto de vitae vampírica. Mais do que três
espíritos da natureza tentando “juntar­se” a um carniçal
farão com que sua consciência seja afastada de seu
controle, e seu corpo se deformará e se transformará
em uma criatura semelhante a algo sem lugar na
natureza. Para cada lèlek além do terceiro usado para
aumentar o corpo do carniçal, o carniçal ganha uma
perturbação à escolha do Narrador ou perde um ponto
de Aparência, que dura tanto quanto o próprio
aprimoramento.
As Características de um carniçal podem ser
aumentadas acima e além do seu máximo normal de 5
com este ritual para 6 enquanto este ritual durar.
Este ritual dura uma noite para cada sucesso que
o jogador do koldun obtiver em seu teste de ativação.
Os mortais normais são incapazes de resistir a
esse tipo de processo de transformação. Não só o
sangue deles é fraco demais para sustentar o espírito
amalgamado, como o lèlek deformaria imediatamente o
físico da vítima, fazendo com que ela se transformasse
em um objeto inanimado na natureza. Os Membros
estão muito fora dos reinos da natureza para se
beneficiarem adequadamente da fusão do lèlek, então
este ritual não os afeta.
Salvador Elemental
(Ritual de Nível Cinco)
Durante o conflito secular com os Bruxos, alguns
Tzimisce Koldun precisavam desesperadamente de seus
lèleks para ajudar efetivamente na luta, e eles
eventualmente criaram este ritual para tornar isso
possível. Uma vez realizado este ritual, um espírito da
natureza se tornará físico, na forma de um elemento
animado da natureza. A forma mais comum que esses
espíritos assumiram foi a de golens de lama do
tamanho de um homem.
Quando nesta forma, o lèlek pode obedecer
apenas a comandos básicos de uma frase. Não demorou
muito depois que os Koldun criaram este ritual que os
Warlocks criaram sua própria forma de manipulação
Pecados do Sangue
100
elemental, que mais do que igualou as probabilidades
nesta rivalidade sangrenta.
Anos mais tarde, nas noites modernas, quando
este ritual foi redescoberto e realizado, o lèlek foi
rodeado por criações artificiais feitas pelo homem e
assumiu a forma de um grande golem de concreto, feito
de concreto, asfalto e vergalhões.
Sistema: Um espírito já empregado pelo Koldun
(através de algum outro ritual) assumirá prontamente
uma forma elemental depois que o conjurador sangrar
quatro pontos de vitae no objeto que deseja animar e o
jogador tiver sucesso no teste. Uma vez que o espírito
anima um elemento, ele responderá apenas a instruções
simples de uma frase do Koldun.
Um lèlek pode permanecer físico por uma única
noite antes de ser forçado a sair de seu estado
elemental e retornar ao mundo espiritual.
Abraçando o Demônio
(Ritual de Nível Seis)
Muitos séculos atrás, uma renomada raça de
Koldun era conhecida por negociar diretamente com
poderosos espíritos malignos e acabou sendo destruída
por essas criaturas indignas de confiança. Embora possa
parecer sem sentido arriscar a vida e a integridade física
para recrutar um demônio “verdadeiro” para seu
emprego, os benefícios colhidos pelos Koldun que não
foram despedaçados eclipsam quase totalmente esse
perigo. Seguindo esse modo de pensar, os Koldun das
noites modernas readaptaram esse ritual de conjuração
de demônios, exigindo o corpo de um Neófito recém­
morto, um que estivesse ligado ao sangue do
conjurador. Quando convocado, o demônio habita o
cadáver, removendo­o assim de seu elemento natural e
reduzindo seu poder geral. Fazer isso garante que o
demônio não terá poder suficiente para simplesmente
destruir o lançador por capricho. No entanto, o corpo
hospedeiro concede­lhe energias místicas suficientes
para realizar a maioria das tarefas “necessárias”.
Sistema: O conjurador deve primeiro sacrificar
um Neófito vinculado ao sangue. O vampiro iniciante
não pode ter passado mais de 20 anos como Membro
Traços Elementais Koldúnicos
Não importa qual forma elemental um espírito
da natureza assuma, desde um grande carvalho até uma
pedra antiga, ou águas turbulentas de um rio, seu
potencial permanece sempre o mesmo.
Força 4, Destreza 3, Vigor 5
Força de Vontade: 2, Níveis de Saúde: OK, OK,
OK, ­1, ­1, ­3, ­3, ­5, Banido
Ataques: Golpe corpo a corpo por 4 (não
considera Potência)
Disciplinas: Fortitude 2, Potência 2
Habilidades: Briga 2
 (caso contrário, o cadáver se decomporá muito
rapidamente para poder hospedar um demônio
adequadamente). Então o jogador do koldun faz sua
rolagem, gasta um ponto de sangue e lança este ritual,
enquanto canta o nome do demônio que deseja invocar.
O demônio, por sua vez, será retirado de seu reino
infernal e forçado a entrar no corpo recém­morto.
Enquanto o vampiro estivesse ligado ao sangue do Koldun
antes de ser destruído, o demônio invocado em seu corpo
não conseguirá desafiar prontamente seu mestre.
Uma vez dentro do corpo do recipiente, o
demônio pode realizar uma série de tarefas, desde atuar
como um guarda­costas eficiente até servir como um
mentor para ensinar novas Disciplinas. Possui todas as
características físicas (Atributos, Talentos, etc.) do
vampiro hospedeiro e todas as capacidades
sobrenaturais e mentais (Disciplinas, Atributos, etc.) do
demônio. Ele é considerado sujeito ao vínculo de
sangue e não pode prejudicar ativamente seu mestre,
embora quase certamente se ressinta dele.
O demônio ficará fisicamente fraco nas primeiras
noites após a invocação, à medida que se acostumar a
lidar com a situação sem todos os seus tremendos
poderes, e ficará restrito aos limites do corpo. Dentro
de uma semana, ele “crescerá” no corpo, fazendo com
que ele adquira características demoníacas. Seus
Atributos e poderes também podem aumentar com o
tempo (a critério do Narrador). Ao longo de um mês, o
corpo degenerará em um recipiente inadequado para o
demônio, causado em parte pela decomposição do
cadáver e por sua incapacidade de acomodar os poderes
crescentes do demônio. Depois de um mês desde a
invocação do demônio, o corpo do recipiente
desmoronará e a criatura será libertada de sua servidão
e imediatamente enviada de volta para onde se
originou.
Um demônio convocado para um corpo­
recipiente que não estava vinculado ao sangue antes de
ser morto pode consistentemente tentar se libertar de
seu período de servidão. O koldun deve fazer um teste
de Força de Vontade todas as noites em que o demônio
permanecer no corpo do recipiente. Embora uma falha
no teste faça com que o domínio do koldun sobre o
demônio diminua, liberando­o imediatamente de suas
correntes mortais, uma falha crítica terminará em um
conflito sangrento entre o demônio e o conjurador,
cujo resultado é quase certamente a favor do demônio.
Os vasos mortais são totalmente inadequados
para hospedar adequadamente um demônio por
qualquer período de tempo, e qualquer teste desta
restrição sempre resultará no corpo derretendo em
poças de carne e vísceras quase imediatamente após o
ritual ser realizado.
Feitiçaria Assamita
O próprio conceito de Feitiçaria Assamita é uma
heresia em alguns círculos. Ainda assim, algumas
práticas entre os Filhos de Haqim são mais utilizadas

Capítulo Quatro: Pecados de Poder

101
do que outras, na maioria porque essas outras caíram
em desuso sendo praticadas apenas em cabalas e células
escondidas em cantos esquecidos do mundo.
O sistema pelo qual os rituais da Feitiçaria
Assamita são realizados é semelhante ao da
Taumaturgia. O jogador testa Inteligência + Ocultismo
com uma dificuldade do nível do ritual + 3 (até um
máximo de 9). O sucesso traz o resultado desejado. A
falha indica que nada acontece. Antes de usar o ritual,
o feiticeiro deve participar do kalif garantidamente
(veja Blood Magic: Secrets of Thaumaturgy).
Maldição do Kafir (Ritual de Nível
Três)
Embora seu potencial esteja mais alinhado com
julgamento e furtividade, alguns Assamitas estão
dispostos a fazer qualquer coisa para cumprir seus
propósitos. Aqueles Assamitas da casta guerreira ou
assassina são conhecidos por usarem este ritual para se
fortalecerem diante de qualquer situação em que
possam se encontrar expostos a um combate aberto.
Através deste rito, o Assamita controla sua Besta e a
vira contra seu inimigo condenado.
Entre os Assamitas conservadores, este ritual é
desprezado porque permite que o Membro fique muito
próximo de sua Besta.
Sistema: O jogador faz o teste para ativar este
ritual e o personagem ingere fumaça ou sangue de kalif.
Se o Assamita entrar em frenesi como resultado do
combate, ele não precisa rolar para ver se consegue
mantê­lo sob controle; este ritual permite que ele
“aproveite a onda” do frenesi automaticamente,
conforme descrito em Virtude do Instinto na pág. 287
de Vampiro: A Máscara. Tal é o caso mesmo que o
Assamita não possua a Virtude Instinto. Isso funciona
apenas no primeiro combate que incita o frenesi após o
Assamita realizar o ritual. Se o Assamita não conseguir
entrar em frenesi de combate antes do final da noite, o
ritual expira com o nascer do sol.
O Senhor Impotente
(Ritual de Nível Quatro)
Não se sabe se este ritual foi desenvolvido como
uma punição ou como um aviso para os Assamitas
Neófitos. Independentemente de sua origem, este ritual
torna a vitae de um determinado Membro inerte para o
propósito de gerar novos vampiros. Usar este ritual
exige que o conjurador ingira o sangue kalif, e não
apenas inale a fumaça.
Sistema: O jogador faz sua rolagem e o
personagem ingere o sangue de um vaso sob a
influência de kalif. O assunto deve ser um descendente
do feiticeiro, ou o feiticeiro deve ter a presa, ou língua
do sujeito. Se o teste for bem­sucedido, o alvo é incapaz
de gerar crias por um ano e uma noite, ou até a Morte
Final do feiticeiro, o que ocorrer primeiro. As crias em
potencial sem sangue simplesmente morrerão se o
Membro tentar Abraçá­las.
Pecados do Sangue
102
Usar este ritual destrói a presa ou a língua assim
que o ritual for concluído. Se o ritual falhar, a presa ou
língua será destruída de qualquer maneira.
Da Garganta de Marduk
(Ritual de Nível Seis)
Este ritual, o meio sagrado pelo qual os ácaros
Assa reduziram sua geração enquanto estavam sob a
influência da maldição Tremere, caiu em desuso.
Alguns cultos do clã ainda o observam por humildade
ou hábito, e esses Membros estão entre os cismáticos e
os leais a ur­Shulgi, respectivamente.
Detalhes completos do ritual podem ser
encontrados na pág. 126 do Blood Magic: Secrets of
Thaumaturgy.
Qualidades e Defeitos
Abençoado
(7 Pontos. Qualidade Sobrenatural)
Você é favorecido por algum poder superior
enquanto o toque corrosivo do Inferno não o prejudica.
Você não é afetado pelos caminhos e rituais da
Taumaturgia Negra. Personagens com esta Qualidade
podem nunca aprender Taumaturgia Negra e são
afetados pela Taumaturgia “normal” como qualquer
outro personagem. Narradores, se um jogador quiser
obter esta Qualidade sem que ela se encaixe no
conceito do personagem ou sem qualquer razão
racional, expulsem o chiclete fedorento do jogo.
Alma Indomável
(7‐PT. Qualidade Sobrenatural)
No evento horrível de sua diablerie, o Membro
que comete o ato não ganha nenhum dos benefícios da
diablerie (geração, Disciplinas, etc.), mas sofre as
desvantagens (veias da aura, perda de Humanidade,
etc.). Obviamente, isso não vai adiantar muito, mas é
uma excelente maneira de dar um último “Vá se
ferrar!” para o seu assassino. E os membros do seu
antigo círculo sempre podem vingá­lo…. Um vampiro
com esta Qualidade nunca se tornará um espectro. Em
vez disso, ela vai para o além de incognoscível com sua
diablerie.
Marca do Diabo
(1‐ ou 7‐PT. Defeito Físico)
Em algum lugar do seu corpo, você tem uma
marca do Diabo. Por um lado, aparece como um
pedaço de pele escamosa, uma “garra de bruxa”, uma
marca semelhante ao Número da Besta ou algo
semelhante. Por sete pontos, você foi obviamente
desfigurado de uma forma diabólica — asas vestigiais,
joelhos dobrados para trás, cascos fendidos — que reduz
sua Aparência em um e sem dúvida levanta todo tipo
de questões. Como se isso já não fosse ruim o
suficiente, você atrairá muita atenção que pode
ameaçar a Máscara. Você pode aceitar este Defeito em
qualquer valor de ponto apenas se não tiver feito
nenhum pacto com o infernal. Se você lidou com
demônios, você vai ganhar isso sozinho. Se você pegar
esse Defeito e depois ganhar outra desfiguração através
de um caminhão com demônios, você deverá pagar o
valor em pontos com pontos de experiência o mais
rápido possível.
Besta Mimada
(Defeito Mental de 3 Pontos)
O que a Besta teve antes, ela quer de novo, e
quer agora. Sempre que o jogador precisa fazer um teste
de Força de Vontade para que seu personagem resista a
um desejo, ele o faz com apenas a quantidade de dados
Capítulo Quatro: Pecados de Poder
103
que possui em sua parada de Força de Vontade, em
oposição ao seu nível. Ou seja, ele testa sua Força de
Vontade atual em vez de sua Força de Vontade
permanente. Este Defeito pode ser particularmente
debilitante quando se trata de matar a fome, por
exemplo.
Besta Imperdoável
(4 Pontos. Defeito Mental)
A Besta deixa sua marca em você muito após ter
seguido seu curso e conquistado você. Se você alguma
vez sofrer uma falha crítica em um teste de
Autocontrole (ou Instinto) para resistir (ou aproveitar a
onda de) frenesi, você imediatamente adquire uma
perturbação compulsiva (veja Vampiro: A Máscara, p.
222, listado em Obsessivo/Compulsivo). O Narrador
deve determinar a natureza da compulsão específica, e
você pode de fato ganhar um amplo e variado espectro
de compulsões.
Pecados do Sangue
104
 Apên dice: Um a
Conspir ação de
Pecad ores

Pecar bravamente… Nunca teremos todos os fatos para fazer um julgamento perfeito, mas
com a ajuda da experiência básica devemos saltar corajosamente para o futuro.
— Russell R. McIntyre

O pecado não pode existir sem pecadores, e
cada grupo aqui saiu da “sociedade” vampírica para
perseguir um desfile interminável de vícios, objetivos e
agendas políticas evitados tanto pelo Sabá quanto pela
Camarilla. Alguns são dissidentes civis desinteressados
na mentalidade, muitas vezes negra ou branca de
qualquer uma das seitas, enquanto outros transportam
entidades sinistras que é melhor deixar para qualquer
inferno que a humanidade tenha esquecido.
A seguir está uma amostra dos grupos que
floresceram nas Noites Finais. Eles não são indicativos
de quaisquer novos atores poderosos prontos para
contestar o governo do Sabá ou da Camarilla, mas se
tivessem a chance, Justicares, Paladinos, Arcontes,
Juízes Inquisidores, Alastores e até mesmo Algozes
acabariam voluntariamente com tais heresias. Alguns
cultos representam uma ameaça ideológica, alguns um
obstáculo político e alguns… são apenas diferentes o
suficiente para assustar o status quo. No entanto, eles
Apêndice: Uma Conspiração dos Pecadores
105
não são simplesmente antagonistas descartáveis para
personagens que estão ansiosos para lutar; eles não são
bestas babando tentando reconstituir o Massacre de
Nanquim. Esses grupos são organizações inteligentes e
articuladas com agendas privadas e dedicadas. A
maioria não ameaçará os personagens que descobrirem
sua existência (pelo menos inicialmente). Em vez
disso, procuram compreensão, aliados e até conversos.
Eles são as ferramentas do Narrador para confrontar
os personagens com dilemas morais e soluções
alternativas, um meio de forçá­los a enfrentar e
questionar sua existência independentemente do
resultado.
Os Associados
Os membros do grupo Rosa Vermelha Sabá
pensaram que estavam sendo engraçados quando
agarraram Arnold Fleschner, o abraçaram e o
trancaram em um caminhão frigorífico com uma dúzia
de outros “recrutas” durante um Abraço em massa.
Eles nunca esperaram que ele sobrevivesse. Arnold era
um advogado elegante e caro no início dos anos 70,
que defendia os ricos e infames nos tribunais de
Detroit. Este defensor tímido era um tigre no tribunal,
que metodicamente destruía casos em que os seus
clientes eram acusados de agressão, furto, violação e
até homicídio. Os promotores o chamaram de
“culpado até que o cheque seja compensado” no estilo
justiça. Arnold era o alimento perfeito para a Espada
de Caim.
Escusado será dizer que as Rosas Vermelhas
ficaram de queixo caído quando Arnold saiu primeiro
do caminhão, tirou o pó de seu terno mutilado
indignado e exigiu saber o que estava acontecendo
enquanto fechava a porta na cabeça de uma mulher,
empurrando­a de volta para dentro. Desde aquela
época, o Lasombra Arnold tem sido membro do Sabá,
embora às vezes questionasse o porquê. A fé cega e o
fervor religioso da seita pareciam estranhos para ele, e
embora ele participasse da Vaulderie e de vários ritae,
ele nunca se sentiu conectado ao Sabá. As Rosas
Vermelhas, por sua vez, não conseguiram transformá­
lo mais em um monstro porque ele já era desapegado,
abrupto e “um peixe frio” pela descrição. Ele matava e
torturava com um interesse distraído e raramente
exibia qualquer compromisso emocional de uma
forma ou de outra fora da alimentação. Para ele a
existência parecia vazia.
Tudo isso mudou quando as Rosas Vermelhas
adotaram Marylenna, uma Tremere antitribu, após a
destruição de seu bando. Ninguém percebeu que
Marylenna era uma infernalista que sacrificou seus
companheiros de bando ao seu mestre demoníaco. Ela
não podia se dar ao luxo de matar mais Cainitas sem
levantar suspeitas, mas conseguiu colocar as Rosas
Vermelhas sob seu domínio satânico, membro por
membro, antes de finalmente chegar ao tímido
advogado. Arnold não era estúpido, entretanto, e
reconheceu a lenta mudança que estava atingindo seus
aliados. Em seu estilo inexpressivo, ele confrontou
Marylenna, não para condenar ou expor sua
corrupção, mas para compreender suas atividades
infernais. Encantada por encontrar um público
disposto (e pronta para destruí­lo no minuto em que
ele a traísse), Marylenna explicou seu encontro com
demônios e os pactos nos quais ela se envolveu em
troca de poder. Arnold imediatamente percebeu que
os demônios estavam entregando a Marylenna a ponta
curta da vara infernal e aconselhou­a sobre como lidar
com as negociações subsequentes. Em troca da ajuda e
experiência de Arnold em negociações contratuais,
Marylenna ensinou­lhe Taumaturgia Negra.
Arnold descobriu que, embora o infernalismo
não tivesse qualquer atrativo real para ele, a
perspectiva de pechinchar e negociar com os melhores
advogados, os demônios, era tão emocionante quanto
trabalhar novamente para um escritório de advocacia.
Arnald percebeu que ele sentia falta do desafio
intelectual de enfrentar oponentes de habilidades
Pecados do Sangue
106
iguais ou até maiores, e começou a aprender todas as
nuances da Taumaturgia Negra para melhor
representar as Rosas Vermelhas durante as
negociações. Porém, como Arnold estava sempre
negociando em nome de outra pessoa, ele descobriu
métodos para compensar seu próprio contato com o
anfitrião profano. Na verdade, até hoje ele justifica
seus serviços aos clientes como altruístas e necessários.
“Afinal”, afirma ele, “se alguém está disposto a
condenar suas almas para servir aos demônios, então
eu poderia muito bem ajudá­lo a fazer o melhor
acordo possível”. Poucos perceberam que Arnold
estava negociando acordos pelas costas….
Marylenna ensinou Taumaturgia Negra para
acólitos dispostos enquanto Arnold negociava em
nome deles, transformando as Rosas Vermelhas em
um empreendimento infernal. Durante a década
seguinte, Arnold reuniu ou abraçou outros advogados,
formando um grupo clandestino de conselheiros
qualificados em questões do Inferno. Chamando­se
privadamente de Associados, eles atuavam como
defensores itinerantes em nome dos clientes Cainitas
que não possuíam a habilidade de impedir ganhos
com demônios. O negócio estava indo bem por
enquanto, mas as coisas realmente melhoraram depois
que Marylenna e todos os Tremere antitribu
desapareceram. O que muitos consideraram uma
tragédia, os Associados viram como uma
oportunidade. Sem os Tremere antitribu, muitos
aspirantes a infernalistas não tinham a habilidade para
aprender novos caminhos Taumatúrgicos Sombrios ou
evitar as armadilhas que os demônios usavam contra
amadores. Os Associados perceberam que poderiam
aproveitar o vácuo deixado após o desaparecimento
dos Tremere antitribu. Sua clientela incluiria não
apenas infernalistas, mas também aqueles Cainitas que
não queriam o cheiro de enxofre da competição
demoníaca sobre eles. Os Associados atuariam como
conselheiros, intermediários e negociadores. Por uma
taxa mais alta, eles até negociariam em nome de
clientes (Cainitas e humanos) que não queriam
nenhuma conexão direta com a Taumaturgia Negra.
No curto espaço de tempo desde o
desaparecimento de Marylenna, o sócio sênior Arnold
and the Associates estabeleceu vários negócios fictícios
utilizando financiamento oculto de alguns dos seus
clientes mais antigos. O bando Rosa Vermelha ainda
existe e serve como fachada para os companheiros de
Arnold e suas negociações legítimas com o Sabá. Os
Associados, no entanto, agora mantêm “escritórios”
em Nova Iorque, Detroit, Las Vegas, Miami,
Washington e Atlantic City sob vários nomes,
incluindo Prescott & Childers Legal Services, Habbib
& Habbib Financial Advisors, Atlantic Union &
Partners e Madam Moon's Tarot. Leituras. Essas
empresas são corporações fictícias e empresas de
fachada, porém, com endereços falsos, mas linhas
telefônicas reais conectadas a secretárias eletrônicas
para quem ligar para elas. Os Associados acessam suas
mensagens por meio de vários pontos terminais e
respondem apenas àquelas precedidas por “[tal e tal]
me encaminhou para você”. Até mesmo os
pagamentos e financiamentos destas empresas são
tratados automaticamente através dos Swiss Home
Banks, com depósitos anônimos e um registo em papel
de informações falsas.
nomes. Revelou­se inestimável contra a
Inquisição, que sabe um pouco sobre os Associados,
mas não conseguiu localizá­los.
Enquanto isso, os associados lidam diretamente
apenas com seus clientes mais antigos, mais confiáveis
e mais ricos. Todos os outros descobrem seus serviços
por meio de rumores clandestinos e, mesmo assim,
têm sorte se tiverem um número de telefone. Embora
os Associados sejam muito cuidadosos para evitar a
Inquisição, o segredo também vem dos infernalistas
que mantêm seus contatos cuidadosamente guardados.
Sem o conhecimento de muitos, exceto Arnold e
seus principais parceiros, eles tiveram sucesso por uma
única razão: os demônios querem que eles pareçam
bem­sucedidos. A alma de um Cainita já está
condenada, mas a chance de redenção, por mais frágil
que seja, sempre existe. Os Infernalistas sacrificam essa
esperança em busca de seus poderes, acreditando que
o comércio é equitativo. A verdade está longe de ser
justa, mas a maioria dos Cainitas pelo menos possui
um instinto de autopreservação suficiente para que o
mero indício de condenação os assuste e os faça agir
pelo seguro. Os Associados, no entanto, oferecem um
caminho supostamente seguro para lidar com
demônios, prometendo absorver os riscos e perigos
das manchas infernais em nome de seus clientes, em
troca de uma taxa substancial. Esta oferta atrai mais
Cainitas da toca — certamente mais do que
normalmente praticariam o infernalismo — a maioria
dos quais pensa que o perigo de negociar com
demônios é assim diminuído. Este desenvolvimento
agrada à hierarquia do Inferno porque a verdade é que
qualquer acordo com o diabo, seja direto ou por
procuração, ainda resulta em condenação. Chama­se
intenção e o Inferno está construído sobre ela. A
diferença é que aqueles que lidam com os próprios
demônios sabem que abriram mão de sua existência.
Os outros nunca percebem isso até que seja tarde
demais.
Os Associados sabem dessa verdade porque
Arnold percebeu isso enquanto aprendia Taumaturgia
Negra. A única maneira de aplacar demônios, salvar a
própria pele e ainda ganhar mais poder é fazer de
alguém um tolo, um bode expiatório. Arnold mantém
sua corrupção infernal ao mínimo porque usa um
cordeiro sacrificial em seu lugar. Ao negociar como
procurador do cliente (chamemos de procuração), ele
estabelece qualquer contrato que desejar com
demônios em troca de oferecer poder aos clientes,
poupando sua existência e avançando sua habilidade
na Taumaturgia Negra. O contrato também permanece
válido porque nunca foram os demônios que
Apêndice: Uma Conspiração dos Pecadores
107
quebraram ou mentiram sobre as suas obrigações
contratuais com o cliente. Os associados fizeram, no
entanto.
Atualmente, os Associados contam com pouco
menos de uma dúzia de agentes, incluindo Arnold,
que reivindicam refúgios em toda a América do Norte;
somente eles lidam diretamente com negociações e
negociações infernais. Seu centro de operação é
Detroit, sede do bando Rosa Vermelha, mas eles não
limitam suas atividades apenas às cidades do Sabá.
Embora eles também lidem com os enclaves da
Camarilla, suas conexões limitadas com a seita
dificultam seus esforços atuais. Eles estão procurando
Membros simpáticos, crédulos ou mercenários para
servirem como novas incursões na seita. Dada a
experiência limitada da Camarilla com infernalistas,
os Associados estão considerando lidar exclusivamente
com Membros, mas Arnold e vários outros ainda se
consideram “leais” à Espada de Caim devido aos
esforços de propaganda eficazes tanto da Vaulderie
quanto do Sabá. Ainda assim, os Associados não
podem negar a atração de uma seita que carece de
uma força interna como a Inquisição para dificultar
suas atividades.
Servindo cada advogado estão três a quatro
executores do Sabá que carregam a mácula do Inferno
em graus variados. Todos esses braços direitos devem
aos Associados um grande benefício por ajudá­los a
negociar acordos difíceis ou salvá­los de cometerem
erros terríveis. Os responsáveis pela aplicação da lei
realizam verificações minuciosas dos antecedentes dos
potenciais clientes, atuam como intermediários dos
advogados nas primeiras reuniões e procedem a
pagamentos indevidos. Além disso, os executores
também eliminam clientes que exibem marcas
diabólicas e deformidades infernais, uma vez que tal
evidência direta de mácula infernal não refletiria bem
nos Associados que supostamente estão negociando
bons negócios em nome de terceiros. Destruir tais
manchas óbvias também priva a Inquisição de
potenciais testemunhas.
Abaixo dos executores estão batedores
periféricos — carniçais e mortais involuntários. Antes
da queda de Nova Iorque, os Associados haviam
recebido pagamento do bispo da cidade na forma de
oito Revenantes Zantosa. Esses carniçais fugiram do
massacre na propriedade de Nova Iorque que ceifou
mais de duas dúzias de seus familiares, e agora servem
ao bispo secretamente em troca de refúgio. Já
degenerados, tornaram­se alvos fáceis para mais
corrupção nas mãos dos seus patronos, e agora servem
os Associados na mesma capacidade. Os Revenantes
atuam como batedores em Washington, explorando
seu ponto fraco e ajudando os Associados a
determinar quais políticos estão prontos para serem
depenados. Ao contrário dos executores, esses
carniçais não sabem nada sobre os Associados e, em
vez disso, trabalham por meio de um manipulador. Os
Zantosas possuem pequenas manchas infernais, mas
dado o desdém existente do Sabá por eles, a seita pode
facilmente descartar suas peculiaridades como sua
típica endogamia.
Embora os Associados tenham tido muito
cuidado para evitar atenção, a Inquisição os conhece
pelo menos pelo nome. A princípio, os Juízes
Inquisidores investigadores acreditavam que a
sociedade infernal residia apenas em Detroit, mas suas
informações mais recentes indicam que os Associados
residem em vários enclaves do Sabá na América do
Norte. Esta informação preocupa os inquisidores, que
acreditam poder ter uma epidemia nas mãos. É claro
que a Inquisição deve conduzir a sua investigação sob
o máximo sigilo. Se os novatos do Sabá descobrissem
que os Associados ofereciam acordos com os infernais
“sem risco direto”, os Cainitas poderiam migrar para
os defensores do Inferno e arriscar a condenação
pessoal.
Serapis Ex Machina
A chegada do primeiro século do calendário
cristão foi supostamente significativa porque marcou o
nascimento de Jesus Cristo e a formação de uma nova
religião baseada na compaixão, na fé e na salvação. A
verdade, porém, é que o Cristianismo estava longe de
ser a primeira ou a última religião a defender esta ética
sob o disfarce do monoteísmo. A adoração da
divindade singular e suprema existia com a veneração
de Mitras (que encontrou acólitos em todo o Oriente
Médio e na Europa entre os hindus, romanos,
zaratustrianos e maniqueístas) e os iorubás que
veneravam o supremo Oludumare na África. Ambas as
religiões seguiram um sistema de moralidades fortes e
comportamento justo. Nem foi Cristo o único messias
da região, além de Moisés, Zaratustra e do falecido
Maomé. O primeiro século cristão também viu os
milagres de Apolônio de Tiana.
Apolônio de Tiana nasceu na Turquia na época
de Jesus e morreu em uma idade muito mais
venerável, entre 96 e 98 dC. Como Jesus, Apolônio
curou os enfermos e ressuscitou os mortos. Ele usava
cabelos compridos e viajava para o oeste, até a Itália, e
para o leste, até a Índia. Por onde viajou, estudou a
sabedoria e a cultura local. Ele adotou o pensamento
pitagórico enquanto explorava a Grécia e estudou o
budismo na Índia. Apolônio observou um regime
vegetariano estrito a ponto de se recusar a usar peles,
couro ou qualquer vestimenta de origem animal, e
evitou a Palestina porque os templos judaicos
derramavam sangue sacrificial em honra de Deus.
Mesmo na morte, Apolônio ascendeu ao céu, tal como
o messias cristão. Ao contrário de Cristo, porém,
Apolônio caiu misteriosamente no anonimato virtual,
quase esquecido pela história se não fosse pelo escritor
Filóstrato que compilou um relato de sua vida mais de
um século depois….
A organização chamada Serapis Ex Machina
começou com um grupo de autarcas que simplesmente
se reuniram para proteção mútua em meados dos anos

Pecados do Sangue
108
70. Cansados de fugir da quase destruição nas mãos
dos Lupinos e dos vampiros sectários excessivamente
ansiosos, um punhado de autarcas convergiu em torno
de Cyrus Benjamin, um pária Ventrue com um refúgio
em Hull, nos arredores da fortaleza da Camarilla em
Ottawa. Cyrus desfrutava da proteção do príncipe de
Ottawa por razões privadas, então ele era capaz de
existir com pouca interferência dos Membros locais
(com exceções ocasionais). O crescente círculo
autarquista gozava das mesmas considerações
enquanto permanecesse oculto, o que fez no interesse
da autopreservação. Cyrus suspeitava que o príncipe
tolerava esse acordo porque Hull fornecia a Ottawa
uma espécie de proteção contra excursões do Sabá de
Montreal e Toronto. Qualquer tentativa de infestar
Ottawa usaria Hull como base para “alistar” recrutas
do Sabá e fornecer um suprimento constante de
sangue. Cyrus e sua turma serviram de base para
atrasar o Sabá caso os Membros locais precisassem
recuar para Ottawa ou organizar um contra­ataque.
Embora Hull tenha sofrido ataques ocasionais,
Ottawa não foi verdadeiramente sitiada como Nova
Iorque. Cyrus e seus aliados autarcas, no entanto,
zombaram da inatividade e ficaram entediados com a
simples existência. Mais ainda, eles sabiam que
acabariam por esgotar os seus consideráveis recursos
reunidos. Lentamente, o grupo estendeu sua
influência sobre Hull. Suas atividades provaram ser
exercícios de sutileza para ver quanta riqueza ou poder
eles poderiam acumular através de paciência e
diligência. As primeiras experiências simples incluíram
subornar os políticos de Hull para que votassem de
uma determinada forma nos estatutos locais ou
desviar fundos de programas comunitários para as suas
contas. Logo, o grupo estabeleceu pequenas redes de
lavagem de dinheiro e fraudou dinheiro através de
esquemas imobiliários. Cada empreendimento
aumentou o escopo do seguinte e colocou mais
autarcas em contato com a célula de Cyrus.
Cyrus finalmente percebeu que Hull não
poderia mais apoiar o grupo e que se a Camarilla
soubesse de seus esquemas e do rebanho crescente,
lançaria um olhar desconfiado sobre eles. O grupo
precisava “comprar” a liberdade e encontrar um lugar
onde nenhuma das seitas incomodasse ou
atormentasse
isto. Depois de um considerável brainstorming,
o círculo finalmente chegou a uma cidade em
extinção, cujo empregador central havia partido, e
revitalizando seu comércio. Com o Acordo de Livre
Comércio da América do Norte, fazê­lo foi uma tarefa
fácil. Vários fabricantes de automóveis estavam a
encerrar as suas operações em pequenas cidades em
favor da abertura de fábricas mais baratas no México.
Carroll, Iowa, foi uma dessas “estatísticas”. A fábrica
local e o principal empregador da cidade fecharam
recentemente, sinalizando um êxodo em massa de
moradores locais para cidades e estados vizinhos.
Cyrus e sua comitiva escaparam de Hull
Apêndice: Uma Conspiração dos Pecadores
109
silenciosamente, quase levando a cidade à falência ao
desviar dinheiro dos cofres do governo.
Quando os autarcas chegaram a Iowa, Carroll
estava praticamente deserto. Os membros principais
instalaram­se, mas o restante esperou nas cidades e
vilas vizinhas porque o rebanho local nunca poderia
sustentá­los. Então, Cyrus e seus companheiros
dispersos começaram seu novo e altamente ambicioso
projeto… Serapis Ex Machina.
Esqueça os cultos dedicados aos sacerdotes
autocastradores de Cibele ou os mistérios de Ísis.
Serapis Ex Machina é a mãe de uma religião totalmente
nova e fabricada. Ciro escolheu o nome do deus greco­
egípcio Serápis, uma entidade fabricada pelos
governantes gregos do Egito, os Ptolomeus, que
construíram uma divindade comum que uniria os
egípcios e os gregos e manteria a ordem cívica.
Filósofos e poetas criaram Serápis estudando e depois
tomando emprestado um amplo campo de valores e
perspectivas para criar um tema unificador entre os
dois povos. Serápis era o monstro dos deuses de
Frankenstein. Com base nesta lição, Serapis Ex
Machina decidiu que a corporação definitiva era a
religião organizada. Cyrus cercou­se dos autarcas mais
brilhantes que pôde encontrar, combinando seu
conhecimento de negócios com a estética Toreador,
tato organizacional Lasombra, inspiração Malkaviana e
fé Nosferatu e perspicácia acadêmica. Estudaram e
debateram os pontos fortes e fracos das diferentes
religiões, na esperança de aprender com os seus erros.
As crenças desta noite, determinaram eles,
trabalhavam sob uma história de atrocidades, ódios e
interpretações distorcidas. Para estabelecer um apelo
de base ampla, no entanto, Serapis Ex Machina ainda
precisava de “Deus” para não alienar potenciais
adeptos. O que eles precisavam era de um messias
diferente, que já existisse e morresse, que poucos
pudessem questionar diretamente. Eles decidiram que
Apolônio de Tiana era uma figura messiânica perfeita,
uma vez que poucos registros existentes poderiam
contestar suas ações (ao contrário de Mitras) e porque
ele permaneceu intocado pela influência estabelecida
das instituições monolíticas do Cristianismo, do
Judaísmo ou do Islã. Apolônio também nasceu em 24
de dezembro, o que significa que os adeptos ainda
poderiam celebrar o Natal e continuar fazendo parte
das práticas cristãs. Além disso, a adoção da filosofia
budista, do vegetarianismo e da ioga (de acordo com o
culto) por Apolônio atrairia facilmente aqueles
interessados nas filosofias da Nova Era e do Extremo
Oriente. Através dos textos de Filóstrato, Ciro e sua
ninhada criaram então a Bíblia de Apolônio, completa
com numerosas contradições e frases obscuras para
fins de debate.
Serápis Ex Machina usou os seus ganhos ilícitos
para financiar a formação de vários templos e
mosteiros ao modo de vida de Apolónio através de
corporações fictícias com uma milha de profundidade.
O grupo até influenciou o padre da igreja sitiada de
Car roll a seguir Apolônio (através de visões e
“sugestões”), arrastando também consigo a dissidentes. Os habitantes da cidade fazem isso por
congregação de moradores desamparados da cidade.
Estes novos adeptos são agora funcionários e ministros
em formação da fé Apolloniun, e eventualmente
chefiarão os mosteiros e templos que estão a ser
construídos noutros locais. Alguns estão até mesmo
com destino a Nova Iorque e Los Angeles, onde
planejam abrir abrigos para adolescentes para desviar
almas perdidas para o templo principal em Carroll,
Iowa.
Exteriormente, a Igreja Apolloniun defende os
princípios fundamentais do Cristianismo. Até acolhe
Jesus como irmão e membro de uma longa linhagem
de messias, mas diz que Apolônio continuou onde
Cristo havia parado. Na verdade, os ministros recém­
ordenados desta fé até acreditam que Apolônio pode
ter sido o Cristo que retornou após a Ressurreição.
Atualmente, porém, a religião ainda está “em
construção” e a meses de se tornar pública. Ninguém
sabe ainda que isso existe. O plano de negócios de
Serapis Ex Machina é transformar os ensinamentos de
Apolônio em um novo tipo de crença que atenda às
necessidades do mundo moderno, com
confessionários pela linha direta 1­976, missa na
Internet oferecida por webcams, Bíblias em PDF, CDs
de donzelas do templo de Apolônio cantando,
videocassetes para Técnicas de Oração de Ioga de
Apolônio e livros de receitas veganas. O círculo de
Ciro já possui os direitos autorais dos termos
específicos de Apolônio e planeja lançar a religião por
meio de anúncios televisivos noturnos e blitzes de
anuncios. Nessa altura, os novos templos estarão
abertos, os sites da Internet estarão online e Carroll
estará pronto para receber o influxo de almas perdidas
que viajam para a boca da sabedoria. Em vez de tentar
“manipular” milhões ou criar cultos de sangue, Serapis
Ex Machina está nisto pelo dinheiro e pela
independência. Este é um negócio como qualquer
outro, e muitos Membros envolvidos no projeto em
todo o país não desejam se tornar deuses ou profetas.
Esta noite, a atmosfera de Carroll, Iowa, é tão
perturbadora quanto a serenidade débil antes de uma
tempestade. Vários canteiros de obras pontilham a
paisagem urbana, e os cidadãos que não se
converteram ficam de boca fechada. Muitos habitantes
da cidade se apaixonaram pela nova religião, em parte
por desespero, em parte por causa da promessa de
emprego e em parte por influência do estilo Cainita.
Os líderes comunitários, incluindo os ministros do
templo, passam por um vínculo de sangue, nem que
seja apenas para ajudar a manter os habitantes locais
na linha através de sua devoção. Os adoradores de
Apolónio não são violentos, mas ninguém quer
assustar os novos “investidores” que prometem
empregar pessoas independentemente das suas
afiliações religiosas. Alguns moradores acham
assustador o nascimento repentino desse culto, mas
ficam quietos para alimentar suas famílias. Cyrus nem
Pecados do Sangue
110
sequer levanta um dedo para silenciar quaisquer
ele por meio de pressões sociais. O Templo de
Apolônio ainda está em construção, mas a missa
acontece na igreja convertida. Dois armazéns da
antiga fábrica automotiva também contêm milhares
de caixas com produtos relacionados ao Apollonius,
de livros a videocassetes e CDs, todas prontas para
serem despachadas uma semana antes do lançamento.
Atualmente, Serapis Ex Machina reivindica a
fábrica automotiva abandonada como seu refúgio, e
os membros montaram armadilhas para qualquer
intruso. Devido a uma população de pouco mais de
10.000 pessoas, Cyrus exige que os outros quatro
Cainitas com ele saciem sua sede com sangue animal,
para que não sobrecarreguem o rebanho antes que ele
possa sustentá­los. Cyrus espera que, assim que a
religião for lançada, um número suficiente de pessoas
se junte a Carroll para apoiar os autarcas de lá.
Serapis Ex Machina já possui sua cota de
inimigos. O roubo do orçamento de Hull por Cyrus
não escapou à atenção do príncipe Nosferatu de
Ottawa. Infelizmente, aquele príncipe permitiu que os
autarcas Cyrus e seus companheiros se
movimentassem sem supervisão em Hull, o que
significa que o roubo reflete mal para ele. Em vez de
relatar o incidente ao Círculo Interno, o príncipe está
financiando voluntários para investigar o assunto
silenciosamente e encontrar Cyrus onde quer que ele
esteja escondido. Além disso, um membro da
Sociedade de Leopoldo ouviu recentemente sobre o
comportamento suspeito do padre de Carroll e de
toda a sua congregação. Dada a recente explosão de
cultos de sangue e heresias, a Sociedade está
investigando o assunto. Se o grupo simplesmente
descobre a presença de Ciro e de outros autarcas é
discutível, uma vez que os Cainitas não estão
assumindo posições de poder ou importância
espiritual. Eles estão nisso pelo negócio, não pela
adoração, o que poderia desanimar a Inquisição
mortal.
Como Carroll não está totalmente isolado do
mundo, alguns moradores da cidade estão tentando
converter parentes e amigos em outros lugares, apesar
dos pedidos de sigilo do templo principal neste
momento. Grupos de vigilância mortal preocupados
com atividades de culto estão ouvindo rumores sobre
esse comportamento semelhante a um culto, mas
essas organizações já estão ocupadas com relatórios
semelhantes de toda a América do Norte. A
Camarilla, entretanto, também vigia os cães de guarda
caso eles encontrem violações da Máscara. Embora
Carroll, Iowa, não garanta todo o peso investigativo
de juízes e Arcontes, a Camarilla está considerando
enviar um pequeno círculo de batedores para
determinar qualquer potencial envolvimento
vampírico. O que eles não percebem, entretanto, é
que Carroll em si mal sustenta cinco Membros, o que
significa que uma a três autarcas de Serapis Ex
Machina estão espalhadas por todas as cidades e vilas
vizinhas, agindo como sentinelas de alerta precoce.
Qualquer Membro ou Cainita procurando informações
sobre Carroll em um distrito adjacente provavelmente
atrairá a atenção de pelo menos uma sentinela,
permitindo que Cyrus e os outros se escondam.
Apesar de toda essa atenção, o maior inimigo de
Serapis Ex Machina é a sua própria ambição. Toda esta
preparação esvaziou os cofres do grupo, quase levando a
religião à falência meses antes do seu lançamento.
Cyrus e seus companheiros estão planejando vários
golpes menores para manter Serapis Ex Machina
operando por alguns meses, mas não têm tempo para
prosseguir com esses empreendimentos de maneira
sutil e diligente. Membros em cidades próximas podem
notar um Membro desconhecido se escondendo, e as
populações locais são pequenas o suficiente para que
qualquer novo Membro seja provavelmente
desconhecido. Até mesmo Membros em cidades
distantes de Carroll, mas conhecidos por suas finanças,
podem notar suas próprias influências e recursos
desafiados, canalizados de volta para... bem,
eventualmente Carroll. Em alguns casos, parece até que
alguém usou o Dominação de maneira descuidada para
simplesmente ordenar que as pessoas lhes fizessem
doações para uma organização ou outra — novamente,
todos voltaram para Carroll.
A Tapeçaria
Alguns segredos são um fardo terrível que
apenas alguns escolhidos podem carregar. O que
acontece, porém, quando até mesmo os portadores
do segredo ignoram a verdade que possuem?
Sinônimo da antiga Alexandria era a Grande
Biblioteca, o maior repositório de palavras escritas
no mundo antigo, bem como um centro de
aprendizagem. Fundada entre 300 e 290 a.C., o
alvará da Grande Biblioteca permitia­lhe revistar
todos os navios atracados no porto e descobrir e
copiar quaisquer textos originais. Em seguida,
devolveu essas cópias aos proprietários enquanto
armazenava os originais na Mouseion, ou biblioteca
principal.
Depois que Júlio César sitiou Alexandria e
quase destruiu 70.000 pergaminhos em um
incêndio, um grupo de Cainitas decidiu tomar
medidas adicionais para proteger os textos arcanos
mais valiosos. Após meses de debate, os Cainitas
Alexandrinos finalmente chegaram a um conjunto
de livros que consideraram importantes tanto para
os mortais quanto para os Cainitas. Essas obras
falavam de divindades sobrenaturais e de uma
escuridão iminente. Eles falaram da verdadeira face
do mundo e das entidades ctônicas que nadavam
abaixo dos mares da consciência. Por suas próprias
razões, os Cainitas escolheram obras que
acreditavam serem verdades graves e necessárias
para a sobrevivência futura. Então, com a ajuda dos
Apêndice: Uma Conspiração dos Pecadores
111
Tzimisce Koldun dos distantes Cárpatos, eles
desenvolveram um ritual para proteger esses
pergaminhos, ligando­os aos Cainitas saiti, guardiões
divinos. Os rituais garantiam que, caso certos textos­
chave do Mouseion caíssem em destruição, o
conteúdo daquele pergaminho específico se
manifestaria em um saiti para ser guardado em
segurança até o momento em que ela pudesse
transcrevê­los em outro lugar. Infelizmente, embora
os textos tenham permanecido protegidos de danos
por um tempo, cada desastre que assolou a cidade,
seja por invasores ou por tumultos locais, também
matou os raros saiti. Pior ainda, quando a Grande
Biblioteca sofreu a sua indignidade final em 624
d.C. às mãos dos muçulmanos e caiu nas chamas, os
textos destruídos não se manifestaram nos saiti que
sobreviveram à queda de Alexandria. Todo o
processo pareceu um fracasso, e a tentativa acabou
desaparecendo da memória da maioria dos Cainitas.
As coisas mudaram em 1978, quando o FBI
usou pela primeira vez um feixe de laser de argônio
para análise fina de impressões digitais, o que
ajudaria na identificação de resíduos de impressões
digitais antigas. Alguns Membros, no entanto,
temiam que esta técnica finalmente revelasse as
pegadas de um vampiro. Anteriormente, os Cainitas
raramente deixavam impressões completas, uma vez
que não secretavam resíduos oleosos normais em
mortais. O laser de argônio, no entanto, detectou
qualquer traço tênue normalmente invisível ao
procedimento operacional padrão da época.
Infelizmente, estes Membros preocupados não
puderam agir até o final dos anos 80, quando a
tecnologia informática facilitou a noção de crimes
remotos. O Inner Circle usou seus melhores hackers
(e até abraçou alguns para o trabalho) para se
infiltrar na Divisão de Identificação do FBI,
pesquisar quaisquer arquivos potencialmente
relacionados a violações do Masquerade e eliminar
as evidências. Foi um fracasso, uma vez que o FBI
manteve cópias dos dados armazenados, mas os
hackers descobriram uma série de investigações
federais separadas que tratavam de “impressões de
script” que tinham descoberto recentemente. O laser
de argônio mostrou­se sensível o suficiente para
detectar impressões digitais vampíricas, mas também
registrou vários casos em que as cristas da impressão
pareciam ser escritas compactadas. A resolução não
era alta o suficiente para determinar o texto real,
mas os infiltrados Membros presumiram que a
descoberta tinha grande significado. Os hackers
copiaram as informações semanas antes de a NSA
intervir e reivindicar jurisdição sob a égide geral: “É
uma questão de segurança nacional”.
O assunto chegou à atenção do Círculo
Interno, que encarregou os Tremere de investigar as
impressões incomuns, dada a facilidade daquele clã
com o arcano. Os Warlocks, por sua vez, passaram
anos rastreando qualquer informação relevante que
pudessem encontrar, pedindo benefícios e até
mesmo abordando secretamente facções simpáticas
entre o Sabá Nodista. Após considerável trabalho
investigativo, os Tremere finalmente encontraram
um Setita Alexandrino chamado Hussan que
conhecia partes da história através dos contos de seu
pai e avô. Posteriormente, os Tremere presumiram
que o ritual para proteger os pergaminhos
funcionava, mas de uma maneira indetectável para
os vampiros da época. A escrita não se manifestou
apenas em suas impressões digitais, mas quando um
saiti gerou uma criança, sua progênie também se
tornou saiti, assumindo a responsabilidade sem
saber. Esta característica, ao que parece, surgiu
graças aos Tzimisce Koldun, que supostamente
usaram algum componente de criação de carne na
criação do ritual. Esta transferência de obrigação
provou ser pior nas cidades do Sabá, onde o
descendente de um saiti enviaria a escrita para uma
multidão de descendentes. Na verdade, graças ao
Sabá, alguns pergaminhos sobreviveram até as noites
modernas, embora dezenas provavelmente tenham
morrido junto com o último Cainita de certas
linhagens saiti. Através de suas investigações, os
Tremere determinaram que esses “portadores”
possuíam informações há muito perdidas, e eles
estavam no processo de compilar um índice de
descendentes Alexandrinos na Camarilla quando
alguém roubou sua lista mestra. Eles nunca
determinaram quem fez isso.
Em outro lugar em 1996, os Membros de
Beirute estavam se recuperando de três décadas
difíceis de guerra. Entre os sobreviventes
endurecidos estava Sedirah Milhim, uma harpia dos
Membros locais, e proeminente entre os Mushakis
(Brujah) da cidade. Surpreendentemente, apesar do
conflito religioso que marcou o conflito, os
Membros de Beirute eram uma facção muito unida.
O conflito mortal degenerou em um turbilhão de
violência e logo ninguém sabia mais contra quem
eles estavam lutando. Ataques indiscriminados de
franco­atiradores e morteiros causaram estragos nas
vidas e nas não­vidas de todos, e quando os
israelenses entraram na confusão, o inferno
começou. Se os Membros tomassem partido
inicialmente, eles abandonariam essa estratégia em
favor de pactos de sobrevivência e não­agressão com
outros vampiros. Após a guerra, muitos Membros de
Beirute conheciam e tinham um respeito cauteloso
uns pelos outros, então quando vários vampiros
estranhos apareceram na cidade e se reportaram
diretamente ao príncipe da região, todos souberam
disso em uma hora. Quando Sedirah recebeu um
telefonema estranho do ajudante de campo do
príncipe dizendo­lhe para ir para a clandestinidade
agora e se esconder, ela o fez sem questionar.
A existência de Sedirah tornou­se
instantaneamente turbulenta, o que não era tarefa
fácil para alguém com sua experiência. O príncipe
Pecados do Sangue
112
lançou uma Caçada de Sangue para ela, a
contragosto e sem razão, e disse aos Membros locais
para cooperarem com os visitantes misteriosos e
enluvados. Sedirah conseguiu se esconder em
refúgios seguros que usou durante a guerra e, com a
ajuda de aliados que “ignoraram” seus possíveis
esconderijos, escapou dos visitantes que
eventualmente partiram. A Caçada de Sangue
continuou com alguns Membros locais e muitos
visitantes (que estavam ansiosos para cometer o
Amaranto) em seu rastro. Sedirah, entretanto,
possuía aliados suficientes para sobreviver aos meses
seguintes. Eventualmente, um Nosferatu visitante a
encontrou, mas não com a intenção de cometer
diablerie. O Rato do Esgoto, chamado Ethan Fouri,
contou a Sedirah sobre a estranha escrita que ela
trazia em suas impressões digitais e como ele
também as compartilhou. Os Tremere, embora não
tivessem o registro mestre de alvos Membros, ainda
possuíam informações suficientes para caçar
indivíduos­chave que eles sabiam serem saiti. Com a
bênção do Conselho Interno (que aparentemente
acreditava que os saiti carregavam informações
perigosas), os Tremere se aproximaram das cidades­
alvo e colocaram “portadores” confirmados (como
eles os chamavam) sob uma Caçada de Sangue
através do príncipe.
Os saiti, entretanto, não estavam sozinhos. O
“alguém” que roubou o registro mestre o fez depois
de perceber que ele também trazia a impressão do
roteiro. Embora os Tremere não soubessem nada
sobre ele, este patrono secreto alertou tantos saiti
quanto possível para desaparecerem no subsolo. Os
Tremere, no entanto, ainda o estavam vencendo em
alguns alvos, como no caso de Sedirah. Felizmente,
os Tremere têm tentado manter os assuntos discretos
abordando cada príncipe em particular. Se várias
cidades descobrissem repentinamente a enxurrada
de múltiplas caçadas de sangue, muitos poderiam
questionar os motivos. Portanto, os alvos deste
Lextalionis direcionado raramente aparecem em
registros fora da cidade, de modo que os
transportadores podem escapar da caça deixando
seus domínios e viajando para longe.
Com pouca escolha em seu destino, Sedirah e
Ethan viajaram pelo mundo nos últimos anos,
guiados pelas missivas de seus misteriosos patronos,
buscando outros como eles para proteção mútua,
tentando salvar esse conhecimento antigo que
supostamente os condenou. Eles não são o único
círculo saiti por aí, mas Sedirah e Ethan estão
fazendo os esforços mais concentrados para criar
uma rede de alianças com outras células e descobrir
a verdade. Infelizmente, eles não possuem a
perspicácia técnica para acessar equipamentos
sensíveis o suficiente para ler ou registrar a escrita
delicada (como microscópios eletrônicos e scanners a
laser), a menos que invadam um grande centro de
pesquisa ou um departamento de aplicação da lei
protegido e forcem alguém a ajudá­los. . Fazer isso,
entretanto, sem dúvida lhes renderia a atenção de
seus cães Tremere.
Atualmente, os círculos e saiti individuais estão
se reunindo na Grã­Bretanha, Alemanha, França e
América do Norte, onde têm a melhor chance de
encontrar o equipamento necessário para transcrever
toda a sua escrita impressa e traduzi­la de qualquer
língua antiga marcada nos pergaminhos originais. O
principal desafio de Sedirah e Ethan, além de serem
autarcas virtuais, é que, apesar de seus esforços para
unir e reunir os recursos dos saiti, muitos se recusam
a cooperar ou mesmo a se reunir com outros de sua
espécie. Alguns tolos encontraram a Morte Final ou
outros destinos menos finais, mas não mais
agradáveis, quando se entregaram ao príncipe local
em troca de clemência. Outros acreditam que podem
sobreviver por conta própria em vez de se juntarem a
um círculo e apresentarem aos Tremere um alvo fácil.
Vários são paranóicos demais para confiar mais em
alguém, e a maioria desses exemplos pertence à
Camarilla. Sedirah e Ethan relutam em considerar o
número de saiti do Sabá que nunca alcançarão.
Nenhum deles quer que o Sabá descubra o roteiro
por medo de que a seita descubra os segredos do saiti
e os use na guerra contra a Camarilla.
Ao contrário da maioria dos cultos, grupos e
organizações, os saiti estão isolados e mal conseguem
Apêndice: Uma Conspiração dos Pecadores
113
sobreviver. Os saiti não têm centro de operação, e os
dois líderes mais fortes, Sedirah e Ethan, estão
atualmente viajando pelos Estados Unidos
totalmente incógnitos. O patrono permanece um
mistério, mas ele mantém um arquivo digital privado
protegido por um firewall surpreendentemente
complexo (senha: saiti bennu, que é a transliteração
fonética do hieróglifo do Divino Guardião da Fênix).
O arquivo é pouco mais que uma atualização sobre
onde os caçadores Tremere estão concentrando seus
esforços, qualquer pista potencial sobre o significado
das passagens do roteiro e informações sobre
qualquer saiti atualmente sozinho que precise de
ajuda rápida. (Se alguém decide ajudar é outra
questão.) O patrono oferece acesso a este site apenas
quando um saiti passa à clandestinidade. Como ele se
mantém à frente dos Tremere, sabe qual saiti é um
traidor ou não (o que aconteceu), ou sabe sobre suas
atividades permanece desconhecido, mas o fato de
que ele pode fazer essas distinções significa que ele é
pelo menos um ancião, se não mais velho.
Sem o conhecimento de Sedirah ou dos outros
saiti, os misteriosos caçadores que ordenaram a
Caçada de Sangue inicial com a sanção do Conselho
Interno e discursaram contra os transportadores
através do Oriente Médio, América do Norte e
Europa não são realmente Tremere. Eles são seis
Alastores designados diretamente para este caso e,
embora possam não conduzir a caça sozinhos, eles
supervisionam a caça com a ajuda de capelas locais. A
maioria dos Tremere, incluindo a ordem dos
Pontífices, entretanto, nada sabe sobre o roteiro em si.
Os Alastores carregam o selo do Conselho Interno e
do Conselho Tremere dos Sete, o que significa que
eles têm carta branca ao solicitar assistência do clã dos
Bruxos. Poucos podem desafiar ou questionar sua
autoridade, exceto outro juiz ou Arconte. Esses
Alastores são excepcionalmente poderosos em termos
de poder e autoridade política, e o patrono saiti é um
deles. Sua própria proficiência com Taumaturgia
esconde suas cristas e sua posição mantém o outro
saiti seguro… por enquanto.
Os Filhos do Homem Frio
Este nome inócuo esconde um pequeno grupo
particularmente perigoso. Durante os anos 60, um
Cainita chamado William Loddard perseguiu os
membros de uma pequena comunidade da nova era.
Loddard era membro do Sabá até o resto de seu bando
morrer. Rumores entre o Sabá afirmam que Loddard
foi nomeado vigia e falhou em alertar os outros sobre
o perigo que se aproximava. Desde então, Loddard
tornou­se autarca e atacou apenas grupos. Ele
selecionava um grupo provável, geralmente pequeno e
isolado, e depois os observava durante meses,
escutando suas reuniões, espionando suas atividades
noturnas e aprendendo todos os seus hábitos, rotinas
e segredos. Em sua opinião, Loddard tornou­se
simbolicamente um membro do grupo, preenchendo o
vazio deixado pela morte de seu bando. Então,
quando Loddard se sentisse confortável como um
membro invisível da unidade, ele irromperia no meio
deles e mataria todos eles, completando o ciclo. Mas
desta vez, algo estranho aconteceu com ele. Enquanto
ouvia seu rebanho de futuras fontes falar sobre
religião, Loddard sentiu pena deles. O grupo consistia
de ateus e agnósticos, todos em busca de um propósito
mais elevado e de um sinal do divino, e todos estavam
ficando desiludidos, pois nada de milagroso jamais
lhes ocorrera. Ele descobriu uma simpatia pela
situação deles, semelhante às suas próprias reflexões
sobre o significado último da existência, e a dúvida
crescente deles correspondia ao seu próprio desespero
diante da perda repetida de sua pequena família, como
se cada vez que ele estivesse implorando por uma
intervenção que nunca aconteceu. . Uma noite,
Loddard ouviu uma reunião da comuna, realizada em
seu salão de reuniões. Ele observou enquanto os
líderes da comuna se voltavam para cada símbolo
religioso — eles tinham versões grandes de vários
símbolos importantes na parede, na esperança de que
estes concentrassem seus esforços e talvez atraíssem a
atenção das divindades em questão — e oravam por um
sinal. Algo estalou em Loddard, e ele saltou de seu
esconderijo, irrompeu na sala, arrancou da parede o
crucifixo do tamanho de um homem, rasgou­o em
pedaços e jogou­o de lado. Então ele se ergueu,
impressionando a comunidade, e anunciou: “Vocês
Pecados do Sangue
114
oraram pelo divino e eu respondi”. Metade da comuna
desmaiou. Vários tentaram fugir. Mas o restante caiu
de joelhos e agradeceu por finalmente aparecer diante
deles.
Naturalmente as coisas não ficaram tão simples.
Depois de acordar, muitos dos membros da comuna
recusaram­se a acreditar na afirmação de divindade de
Loddard. Muitos o acusaram de ser um charlatão,
enquanto outros alegaram que ele deveria ser algum
tipo de monstro, aproveitando­se de suas fraquezas
para obter poder sobre eles. Loddard matou o
primeiro desses incrédulos quebrando­lhe o pescoço e
atirando­o através de uma janela, mas percebeu que tal
violência não fortaleceria o seu caso. Em vez disso, ele
instruiu os membros da comuna a observá­lo de perto.
Um deles era estudante de medicina, e o jovem
rapidamente percebeu que Loddard não tinha pulso
nem batimento cardíaco. Essa constatação
surpreendeu os membros da comuna. Vários ainda
insistiam que ele era um monstro, mas os gritos de
charlatanismo desapareceram. Loddard reconheceu
suas preocupações e jurou que não machucaria
nenhum deles. Aqueles que desejassem partir eram
livres para fazê­lo, mas aqueles que desejassem ficar
eram bem­vindos, e ele jurou cuidar deles como um
pai amoroso faria com seus próprios filhos. Ele não
lhes contou sobre sua natureza vampírica, é claro. Em
vez disso, ele se autodenominava o Homem Frio e
afirmava ser uma criatura da natureza, o lado mais
sombrio do ciclo, que incluía morte e decadência e
levava ao renascimento. Loddard insistiu que queria
apenas proteger a comuna e anunciou que não exigiria
nada em troca além de amor, obediência e uma oferta
ocasional de sangue para aquecer seu corpo frio. Mas
em troca, ele lhes concederia seu sangue divino e seu
favor, e os guiaria para a redenção. Passaram­se
semanas até que os líderes da comuna chegassem a
uma decisão. Vários membros partiram e Loddard
permitiu que eles saíssem. A cada partida, porém, a fé
dos restantes ficava mais forte, pois o seu avatar havia
demonstrado a sua misericórdia e a sua honra. Por
fim, os líderes concordaram que o Homem Frio era
claramente divino e claramente benéfico. Os membros
restantes que duvidaram foram convidados a sair.
Quinze ficaram para trás e assim nasceram os Filhos
do Homem Frio.
O grupo agora cresceu para um tamanho
estranho, com 82 membros, todos carniçais de
Loddard. Eles acreditam fervorosamente na divindade
do Homem Frio e defenderão seu líder contra
qualquer um que o menospreze ou questione sua
existência. Loddard os instruiu a trazer outros crentes
até ele, para que ele possa extrair suas oferendas e
compartilhar com eles sua força divina. Ao longo das
décadas, ele passou a acreditar em seu próprio exagero
e agora pensa genuinamente em si como o Homem
Frio, deus e libertador.
O propósito do Homem Frio é simples – salvar
seus “filhos” e guiá­los para a vida eterna.
Infelizmente, a vida eterna não é domínio do Homem
Frio. Seu reino é a noite e sua força é um presente da
Mãe Terra e do Pai Morte. Portanto, seus Filhos são
instruídos a procurarem eles próprios a resposta,
vasculhando o corpo mortal em busca de qualquer
vestígio do divino e do milagroso. Os Filhos do
Homem Frio se distinguem por seus horários
noturnos, sua força incomum e sua falta de
proselitismo. Eles oferecem panfletos em várias lojas
(particularmente lojas new age e discotecas), mas não
pregam, não vão de porta em porta e não imploram a
alguém que venha à sua comuna. Somente as
verdadeiras crianças são bem­vindas na comuna, e elas
escolherão entrar sem serem forçadas a isso. Esta
táctica aparentemente funciona, pois o número de
Crianças está a crescer lentamente, e muitos dos
anarquistas na área do Norte da Califórnia conhecem­
nas.
Todos os Filhos do Homem Frio usam seu sigilo
— uma pequena réplica de mármore de seu rosto,
completo com olhos de rubi — mas, por outro lado,
eles usam qualquer tipo de roupa que quiserem. Os
Filhos do Homem Frio ainda habitam a mesma
comuna que moravam nos anos 60, localizado perto
de São José. O complexo expandiu­se para se adaptar
ao aumento do seu número e é agora em grande parte
auto­suficiente. Os membros viajam para San Jose
regularmente. Alguns têm empregos noturnos, outros
vendem frutas e legumes e artesanato em caminhões
de beira de estrada, e os restantes viajam pelas auto­
estradas em busca de outros Filhos e em busca de
milagres. Eles são insaciavelmente curiosos sobre
outras religiões, sobre curandeiros, sobre novas curas
surpreendentes ou sobre qualquer outra coisa que
traga uma sugestão de inexplicável. O próprio Homem
Frio fica em seu refúgio no complexo, onde as
Crianças construíram uma sala sem janelas nos fundos
da sala de reuniões para servir como sua câmara.
Durante o dia, ele descansa e “comunga com a
natureza”, recuperando as forças e pensando no
melhor caminho para os filhos. À noite, o Homem
Frio se levanta, concede uma bênção ao seu rebanho
e, em seguida, concede audiência a todas as Crianças
que desejam falar com ele. (Uma vez por mês, esta
bênção envolve tirar o sangue de cada uma das
Crianças e substituí­lo por um pouco do seu próprio
sangue, renovando assim o seu vínculo cíclico.) Ele
ouve os problemas das Crianças, oferece orientação e
transmite a sua força para aproximá­las do divino. Ele
também ouve as informações que eles coletaram na
noite anterior e aconselha quais histórias devem ser
investigadas e quais são apenas lendas urbanas ou
invenções completas.
Os Filhos do Homem Frio normalmente não
são perigosos. No entanto, se forem ameaçados, terão
permissão para se defenderem com força letal. Eles
também podem atacar qualquer pessoa que esteja
destruindo um evento potencialmente
“milagroso” (por exemplo, alguém agredindo um
Apêndice: Uma Conspiração dos Pecadores
115
“curandeiro pela fé” ou poluindo uma “fonte da
juventude”). Algumas Crianças são provocadas à
violência por insultos ao Homem Frio, mas isso só
acontece em situações extremas, pois as Crianças
foram ensinadas a ver outras opiniões com tolerância.
Os Filhos do Homem Frio são bem conhecidos
de outros grupos religiosos da região. As crianças
frequentam rotineiramente vários cultos, na esperança
de encontrar pistas de vida eterna. Eles tendem a ser
quietos, respeitosos e muito atenciosos durante os
cultos e sermões. Os Filhos do Homem Frio também
procuram proselitistas e ouvem pacientemente todos
os argumentos apresentados pelos possíveis
convertidos, sofrendo até mesmo diatribes prolixas e
aceitando cada fragmento perdido de literatura. No
entanto, a sua tolerância e atenção só se estendem até
certo ponto. Apesar da sua aceitação quase universal
de outras religiões, as Crianças consideram as
Testemunhas de Jeová como meros lavadores de
cérebros que estão interessados não, na verdade
religiosa, mas no controlo mundano e no poder
temporal. As Testemunhas, por sua vez, veem as
Crianças como cultistas, arrogantes e
condescendentes, que ignoram a verdade para
permanecerem envoltos em sua ilusão. Os dois grupos
se olham com antipatia, e algumas Testemunhas
carregam spray de pimenta para usar contra qualquer
criança particularmente fervorosa que possam
encontrar.
Claro, as Crianças têm a sua quota de inimigos
entre os Amaldiçoados. O Sabá local se diverte com a
presunção de Loddard e aplaude seu esquema para
criar um rebanho protetor de seguidores. A maioria
dos membros da Camarilla não conhece o Homem
Frio e seus Filhos (e daqueles que conhecem, poucos
percebem que o Homem Frio é um Cainita), mas os
poucos que sabem consideram isso uma violação
grosseira da Máscara. O príncipe de São Francisco (o
principado real mais próximo) está muito ocupado
lutando contra os Cataianos, e ele ignorou todos os
relatos sobre o Homem Frio, assumindo que o culto é
inofensivo e provavelmente dedicado a alguma
imagem esculpida. Outros vampiros na área estão mais
preocupados, mas poucos são tão tolos a ponto de
atacar um grupo tão grande de carniçais sem grande
apoio. O Homem Frio também alertou seus filhos
sobre os mortos­vivos, chamando­os de filhos
renegados do Pai Morte, seus meio­irmãos bastardos, e
afirmando que eles têm ciúmes de seu poder e
autoridade divina. A maioria das Crianças nunca
encontrou outro vampiro, mas aqueles que recuaram
rapidamente, seja para informar o Homem Frio ou
para retornar com um grupo maior.
Ultimamente, as Crianças tornaram­se mais
ativas em suas buscas, expandindo a área que
exploram e investigando até mesmo os rumores mais
selvagens e tênues. Eles também são mais insistentes
com as pessoas. Eles consideram até mesmo o menor
interesse como um acordo sincero e presumem que
uma escuta educada é indicativo do total apoio de
uma pessoa aos seus objetivos e métodos. Se o Homem
Frio intensificou a pressão para encontrar os seus
outros Filhos e alcançar a vida eterna, ou se os
próprios Filhos simplesmente veem a necessidade de
aumentar o seu número e acelerar o processo,
ninguém tem a certeza. Mas cada vez mais mortais
estão sendo atraídos para a comuna e estão saindo
como Crianças plenas, ligados ao Homem Frio por
laços de sangue.
A Besta Questiona
Existem mitos até mesmo entre criaturas
ocultas como os Membros, e um dos assuntos mais
antigos é a Golconda, um estado de transcendência
mística para os vampiros. As lendas afirmam que os
Membros que alcançaram a Golconda não são mais
subservientes à Besta, mas a controlam e encontram
equilíbrio com sua existência de mortos­vivos.
Poucos alcançaram tal equanimidade e menos ainda
falarão sobre isso. Golconda é uma meta alcançável
para alguns e um conto de fadas para a maioria.
Para a Besta Questiona, entretanto, é uma
busca sem fim e uma razão de existência.
Este grupo surgiu quando uma Membro
chamada Jenna Benjamin iniciou uma busca pela
Golconda, no século XVII. Jenna era membro da
Camarilla, um membro estimado dos Ventrue e uma
verdadeira conspiradora, disposta a sacrificar
qualquer um e todos pelo bem de suas próprias
ambições. Nada disso mudou, mas Jenna começou a
achar a Camarilla pequena e insular, com os
Membros sempre lutando contra seus apetites e
lutando contra sua raiva e medo. Jenna desejava ir,
além disso, tornar­se una com seus apetites, una com
sua raiva e seu medo, para ser mais forte do que
aqueles ao seu redor. Jenna nunca quis um
principado — muitas responsabilidades mundanas —
e ainda não queria, mas, ao mesmo tempo, não
conseguia mais tolerar a subserviência a príncipes
nomeados arbitrariamente ou mesmo a juízes. Então
ela deixou a Camarilla e seguiu sozinha, buscando o
caminho para o verdadeiro contentamento.
Duas décadas depois, Jenna encontrou um
Ravnos chamado Miguel. Miguel havia se afastado da
sociedade dos Membros e começou a vagar em busca
de algo que ele não conseguia nomear, mas que Jenna
reconheceu como Golconda conforme ela o viu. Ao se
conhecerem, os dois sentiram sua afinidade e
resolveram viajar juntos por um tempo. Enquanto
viajavam, Jenna e Miguel descobriram algo que
inibiria a sua capacidade de atingir o seu tão alardeado
objectivo: eles odiavam­se um ao outro. Cada atitude,
cada crença, cada método revelou­se diferente, quase
exatamente assim. Apesar do objetivo comum, os dois
não suportavam ficar juntos, então se separaram,
prometendo manter contato.
Ao longo dos anos que se seguiram, Jenna e
Miguel cooperaram em apenas uma coisa: encontrar
Pecados do Sangue
116
a Golconda. Eles perseguiram rumores e lendas,
compartilhando suas informações e pensamentos
sobre o próximo passo, e enquanto muitas pistas se
tornaram becos sem saída, outras levaram em
direções novas e inesperadas. De vez em quando,
encontravam outras pessoas com o mesmo objetivo,
e cada uma delas era bem­vinda para compartilhar
informações também. Alguns recusaram, mas outros
aceitaram, e as distâncias entre eles diminuíram
gradualmente. Os membros trabalharam juntos mais
estreitamente para agir com mais facilidade com base
em novas informações, até que finalmente todos os
buscadores estavam viajando juntos. E a Besta
Questiona tomou forma.
A Besta Questiona atualmente tem meia dúzia
de membros, e alguns outros mantêm contato com
ela. Ele viaja em grupo, movendo­se de um lugar
para outro, investigando a Golconda, procurando
aqueles Cainitas que supostamente a alcançaram,
caçando textos antigos que afirmam descrevê­la e
localizando lugares e artefatos que dizem incorporá­
la.
Ao se juntarem à Besta Questiona, a maioria
de seus Membros deixaram de lado seus antigos
preconceitos. A Golconda é mais importante do que
preocupações mesquinhas de clã ou seita. Um
Lasombra trabalha ao lado de um Ventrue sem
escrúpulos, e um Assamita se une a um Tremere se
isso ajudar a revelar informações importantes.
Afinal, a Golconda não é uma medalha ou uma
placa. Pode ser compartilhado por todos os
presentes, e se um membro da Besta Questiona
chegar à Golconda, espero que ele possa ajudar a
guiar os outros até lá. Isto não quer dizer que não
existam inimizades, mas são mais pessoais do que
culturais. Jenna e Miguel continuam a não gostar um
do outro, mas é porque discordam em tudo, não
porque um era um Ventrue da Camarilla e o outro
um Ravnos independente. As antigas linhas
partidárias não importam mais — elas foram
superadas. A Jyhad não é mais uma preocupação,
pois a Besta Buscadora espera adquirir
contentamento por sua existência. Se puderem fazê­
lo, poderão aceitar seu fim com equanimidade
sempre que ele ocorrer. Muitos deles também
sentem que os Antediluvianos não representarão
mais uma ameaça para eles e, portanto, a Gehenna
também está abaixo deles.
A maioria dos vampiros, é claro, não sabe nada
sobre a Besta Buscadora. Rumores existem, e um
punhado de anciões brincam às suas custas, mas
para outros, a Besta Buscadora é um mero conto
popular, ou talvez um símbolo de loucura e obsessão
vampírica. Aqueles que sabem que as histórias são
verdadeiras muitas vezes concordam. Afinal, a
Golconda é uma conquista muito pessoal, algo
baseado na atitude e na iluminação do próprio
indivíduo. Como um grupo poderia conseguir isso?
A própria noção de um grupo lutando juntos pela
revelação pessoal é ridícula, e alguns antigos aliados
dos membros da Besta Questiona tentaram explicar
isso aos seus pares equivocados, afirmando que um
esforço de grupo pode ser contraproducente para tal
empreendimento. Infelizmente, a Besta Questiona se
considera acima do conselho dos outros (a menos
que já tenham alcançado a Golconda) e acredita que
o esforço do grupo aumenta as chances de cada
membro do grupo. O grupo também não se
preocupa em se anunciar, sentindo que quem quiser
conhecê­los já terá ouvido falar deles, o que
contribui para a falta de atenção.
Uma exceção a esta onda de ignorância é um
par de Matusaléns que o culto abordou há quase um
século. Esses Matusaléns conhecem bem a Besta Em
Busca e a desprezam totalmente, por duas razões.
Primeiro, a Besta Questiona luta pela Golconda,
enquanto eles não o fazem — os Matusaléns buscam
o poder acima da paz, o domínio acima do
contentamento. Segundo, a Besta Questiona
interferiu em seus planos quando se aproximou
deles há muitos anos. Planos milenares para
combater a Jyhad foram perturbados pelas
investigações do pequeno bando, conspirações foram
descobertas e peças foram trocadas sem aviso, tudo
em nome do culto e às custas dos Matusaléns.
Portanto, este antigo par se opõe à Besta Questiona a
cada passo. Às vezes eles enviam Membros para
atormentar o grupo, mas outras vezes eles adotam
uma abordagem mais tortuosa. Eles plantam pistas
falsas para a Besta Questiona encontrar — pistas que
conduzem a um círculo sem fim para que o grupo
nunca possa escapar, nunca chegue a uma resposta e
nunca interfira em áreas críticas. Entre os
Matusaléns, enganar o culto tornou­se um jogo em
si, ver quem consegue distrair a Besta Questiona
cada vez mais.
Os outros Membros que conhecem a Besta
Questiona são os Inconnu. Os dois grupos são
semelhantes no sentido de que ambos se afastaram
da Jyhad, ambos têm os seus próprios interesses e
ambos não gostam de interferências externas. A
diferença é que os Inconnu geralmente evitam
outros vampiros e a sociedade vampírica para cuidar
de seus assuntos de maneira privada. Os Inconnu
não têm um objetivo definido ou interesse comum
além de permanecerem livres para perseguir os seus
próprios interesses. A Besta Questiona, por outro
lado, tem um propósito comum definido — alcançar
a Golconda. Sussurra­se que vários Inconnu já
alcançaram a Golconda, e a Besta Questiona
frequentemente procura esses vampiros para obter
informações e orientação. Embora a maioria dos
Inconnu não goste de tal alarde, alguns concordaram
em falar com o grupo. Tais discussões revelaram­se
inúteis, no entanto. A Besta Questiona tem uma
ideia muito definida do que é a Golconda e como
alcançá­la, e mesmo sendo informado de um
caminho diferente por alguém que já alcançou o
Apêndice: Uma Conspiração dos Pecadores
117
prêmio não consegue convencer seus membros a
mudar seus métodos.
A Besta Buscadora é perigosa, apesar de sua
desinteresse em assuntos menores, ou talvez por
causa disso. O grupo não hesitará em destruir
qualquer não­membro em seu caminho (incluindo
antigos aliados e amigos) caso seja necessário para
proteger um segredo ou desenterrar um. Apenas o
objetivo permanece; todos os outros laços são, em
última análise, sem sentido. Até mesmo a Máscara
poderia ser posta de lado, se isso se tornasse
necessário para a Golconda, e os mortais correm
tanto risco quanto os Membros.
A Sociedade de Darwin
Às vezes, o nome mais modesto pode esconder
o mais bizarro — e perigoso — dos grupos. A
Sociedade Darwin começou como uma organização
mortal, um clube universitário dedicado a debater a
filosofia social e a discutir o que realmente implicava
a “sobrevivência do teste de aptidão”. Então, uma
noite, um Malkaviano abraçou um dos membros, um
jovem estudante de graduação chamado Palmer
Ward. O Malkaviano invejou a inteligência de
Palmer e pensou que ele poderia se tornar um
protegido talentoso, uma vez que fosse devidamente
distorcido. Duas semanas depois, porém, os
Malkaviano não apareceram no local de encontro
designado. Passariam meses até que Palmer
descobrisse que seu senhor havia morrido em um
incêndio, possivelmente provocado pelo próprio
Malkaviano. Durante várias semanas, Palmer
sobreviveu sozinho. Ele era inteligente o suficiente
para evitar matar suas vítimas, para poder manter
sua existência em segredo enquanto ganhava força e
debatia seu próximo curso de ação.
Dois meses após seu desaparecimento, Palmer
voltou para seus velhos amigos da Sociedade Darwin.
Ele ignorou as perguntas sobre seu paradeiro,
afirmando apenas que vinha estudando a
sobrevivência em primeira mão. À medida que a
“Matusaléns?
Os dois Vampiros que se opõem especificamente
à Besta que Busca foram deixados sem nome
deliberadamente, para melhor se encaixarem em uma
crônica que possa se beneficiar da adição de um grupo
intrometido de Vampiros autojustos. Eles nem
precisam ser Matusaléns — podem ser quaisquer
Vampiros, que foram ofendidos ou tiveram seus planos
arruinados pela interferência da Besta que Busca.
Matusaléns são nomeados para dar ao pequeno culto
um papel no campo de Jyhad dos Antigos, mas fique à
vontade para torná­los portadores de uma mera
vingança, caso uma escala tão grande seja
desnecessária.”
noite avançava, Palmer voltou o debate para a questão
dos limites e restrições, incluindo a moral. Ele colocou
a questão: “Quando alguém deixa de lado a moral em
favor do pragmatismo?” Então, enquanto os outros
discutiam o assunto, ele agarrou o mais próximo de
seus antigos colegas e cravou as presas em seu pescoço.
Enquanto os outros observavam, atordoados demais
para se mover, Palmer abraçou a mulher. Então ele se
virou para o próximo da fila. Quando algum deles
pensou em agir, já era tarde demais.
Ao acordarem, os 12 calouros foram recebidos
por Palmer, que os informou que um verdadeiro teste
de sobrevivência havia começado, apenas quatro deles
teriam permissão para sobreviver à noite. O caos se
seguiu. Quando o sangue baixou, cinco ficaram de pé,
mas depois de uma rápida consulta, dois deles se
juntaram a outro, e então eram quatro.
Palmer apreciou o resultado e aplaudiu sua
criança sobrevivente. Ele e os seus quatro
descendentes restantes restabeleceram a Sociedade
Darwin, só que agora com um lado prático — a
sobrevivência para si próprios. O Sabá ouviu falar
deste pequeno banho de sangue e convidou o clube
para se juntar a eles. Como a força existia nos
números, a Sociedade concordou. Todos os cinco
sobreviveram à iniciação e se tornaram Sabá.
Mas depois de 10 anos, a Sociedade sentiu que
faltava alguma coisa. Os Cainitas ficaram mais fortes,
Pecados do Sangue
118
mais confortáveis com sua nova existência, e criaram
um pequeno nicho para si no meio do Sabá. No
entanto, suas chances de sobrevivência contínua eram
baixas devido à natureza caótica do próprio Sabá, suas
mudanças repentinas na liderança e aos crescentes
rumores de guerra entre o Sabá e a Camarilla que
havia sido planejada para a Costa Leste. Para garantir
a sobrevivência, uma vantagem revelou­se necessária.
A Sociedade debateu durante vários meses e chegou
finalmente a uma conclusão: Seria mais seguro entre a
Camarilla.
Sabendo que seria impossível esconder sua
deserção dos companheiros do Sabá, a Sociedade
deixou a cidade e mudou­se para outra cidade em
outro estado. Ele escolheu deliberadamente uma
cidade não universitária ao sul porque os estudantes
universitários frequentemente migravam para esses
lugares durante os intervalos das aulas, o que permitia
um disfarce perfeito para a chegada do próprio grupo
e também permitia que os vampiros de aparência
jovem se misturassem. Um domínio da Camarilla, e os
membros da Sociedade se apresentaram ao príncipe
local, alegando serem calouros. Eles deram nomes
falsos e não mencionaram sua sociedade ou localização
anterior. O grupo de jovens impressionou o príncipe
com seu vínculo estreito e aparente entusiasmo pela
adesão, e ele os reconheceu, concedendo permissão
para residir na cidade. Consequentemente, eles agora
eram considerados Camarilla. Os membros da
Sociedade também fizeram suas pesquisas sobre o
príncipe antes de se apresentarem, e aprenderam com
outros Membros da área que este príncipe em
particular mantinha uma atitude relaxada em relação
aos recém­chegados e ao movimento dentro da área.
Ele também não exigia laços de sangue de Membros
em seu domínio
Por 10 anos, a Sociedade Darwin continuou a
desempenhar o papel do círculo leal, embora um tanto
passivo, da Camarilla. O círculo evitou a política,
preferindo permanecer neutro e ignorando os jogos de
prestação, pois isso simplesmente criaria inimigos para
eles. Mas depois de uma década, os membros da
Sociedade Darwin decidiram que talvez estivessem
errados e que suas chances de sobrevivência eram
maiores com o Sabá. O raciocínio deles era que,
embora a Camarilla tivesse números maiores e mais
estrutura, o Sabá fornecia uma organização mais unida
e mais liberdade no comportamento de um bando. A
ameaça da política da Camarilla também crescia. Os
membros da Sociedade sabiam que não poderiam ficar
fora dessa arena para sempre e, uma vez forçados a
entrar na política, adquiririam inimigos dentro da
seita, além daqueles de fora. Portanto, eles retornaram
à sua cidade original e ficaram surpresos ao serem
recebidos com alívio pelo Sabá de lá. Aparentemente,
uma grande escaramuça ocorreu logo após sua partida,
e o Sabá presumiu que a Sociedade estava entre os
destruídos. Os membros da Sociedade rapidamente
alegaram ter sido feridos e forçados a passar os últimos
10 anos escondidos e se recuperando. Desde que eles
deixaram a área, nenhum relato surgiu sobre sua
passagem pela Camarilla, e a Sociedade encontrou­se
mais uma vez como um bando do Sabá em boa
situação.
Contudo, a Sociedade rapidamente percebeu
que precisaria tomar uma decisão. O Sabá provou
ser mais fervoroso e mais unido, mas menor em
número, e embora o movimento entre os locais fosse
aberto, a proximidade dos bandos significava que
todos sabiam o que todos estavam fazendo. A
Camarilla tinha mais membros e mais liberdade de
movimento dentro de cada domínio, mas laços mais
fracos e mais lutas políticas internas. Ambos os
lados tinham pontos fortes e fracos. Mas qual
ofereceu uma melhor chance de sobrevivência? Em
última análise, a Sociedade decidiu que a sua
melhor opção consistia em escolher ambos os lados.
Os Cainitas mencionaram o desejo de vagar pelo
campo, e vários meses depois, quando as aulas
terminaram, a Sociedade pegou a estrada. Eles
retornaram para a cidade da Camarilla por uma rota
tortuosa, bem a tempo para a escola de verão. O
príncipe perguntou por sua ausência, é claro, e os
Membros da Sociedade lhe contaram a verdade. Eles
estavam viajando para evitar ficarem muito
enraizados em um lugar e, portanto, inflexíveis.
Felizmente para eles, os membros da Sociedade
Apêndice: Uma Conspiração dos Pecadores
119
eram debatedores habilidosos e convenceram o
príncipe (que, honestamente, não ficou muito
preocupado).
Desde então, a Sociedade tem conduzido uma
dupla não­vida. A cada seis meses, ele muda de local.
Em um deles, os vampiros são membros nômades leais
do Sabá que ocasionalmente se estabelecem. No outro,
são Membros leais que por vezes realizam “viagens de
investigação” para os seus próprios fins. No Sabá, eles
são conhecidos como Sociedade Darwin. Para a
Camarilla, eles são apenas um círculo sem nome de
Malkavianos. Os dois locais são distantes o suficiente
para que apenas um outro vampiro tenha estado em
ambos — e ela sofreu um infeliz acidente em sua
primeira noite na cidade do Sabá, o que
convenientemente a impediu de reconhecer o círculo
da Camarilla que ela conheceu semanas antes. A
Sociedade está jogando um jogo perigoso. Se qualquer
um dos lados descobrir que é membro de uma seita
dupla, os Cainitas serão provavelmente considerados
traidores de ambas as seitas e caçados imediatamente.
Se ambos os lados souberem da duplicidade, a
Sociedade poderá ser atacada em duas frentes e não
terá porto seguro. Por enquanto, porém, o engano se
mantém.
Quando em território do Sabá, a Sociedade
Darwin se comporta como um bando adequado do
Sabá. Os membros atacam alegremente os mortais,
acendem fogueiras em comícios e até participam de
Jogos do Instinto intelectuais com um bando
amigavelmente rival de Tzimisce e Lasombra. Eles
também participam de reuniões de bando e ritae na
área. Quando está em sua cidade na Camarilla, a
Sociedade esconde sua verdadeira natureza, retirando
apenas sangue suficiente das vítimas para sobreviver e
explicar o ataque, defendendo a Máscara e
participando de quaisquer ações que o príncipe exija
(como a caça de sangue ocasional). Na verdade, os
membros da Sociedade ganharam uma reputação em
ambos os locais como ferozes defensores ideológicos
da sua (atual) seita. Argumentam fortemente a favor
do “dogma” e da metodologia da sua seita, saltam
sempre para se opor a qualquer outra seita que tenha
entrado e insistem que o único membro bom da
oposição (atual) é um membro verdadeiramente
morto. Eles fazem isso para autopreservação, é claro.
Apoiar a seita torna improvável que eles sejam
acusados de desertar, e os vampiros destruídos não
podem revelar seu segredo. Entretanto, a Sociedade
está a tornar­se especialista em ambos os lados,
aprendendo tudo o que pode sobre as duas seitas
principais. Fazer isso ajuda os membros a
desempenharem seu duplo papel de forma mais eficaz,
mas também lhes dá informações para negociar (ou
chantagear), se necessário.
A Sociedade Darwin não está interessada em
política. Realmente não importa qual lado vence. Seus
membros acreditam na existência dos Antediluvianos
e se preocupam com esses Antigos e seus planos, mas a
Sociedade sente que está se fortalecendo contra
qualquer eventualidade. Se a Gehenna ocorrer, ela
escolherá o lado mais forte no momento e, em última
análise, os membros se defenderão sozinhos dentro
desse grupo. A única coisa importante é a
sobrevivência contínua e, para sobreviver, farão tudo o
que for necessário. A única coisa que a Sociedade não
fará é vínculo de sangue com estranhos. Eles estão
dispostos a observar a Vaulderie como um bando, mas
serem forçados a responder a qualquer outra pessoa
limitaria suas opções, e eles usarão todos os truques e
táticas para evitar tal restrição.
Linha Vermelha
A Camarilla é uma sociedade com regras e
regulamentos, portanto, também possui infratores e
criminosos. A maioria dos crimes são menores e
punidos imediatamente com perda de prestígio, perda
de domínios ou áreas de caça, castigo físico, laços de
sangue ou possivelmente banimento. Alguns crimes,
no entanto, são demasiado graves para medidas
relativamente menores. Em particular, violar a
Máscara, quebrar duas ou mais Tradições, ou
diablerizar um companheiro Membro. Estes três
crimes são tão ofensivos que a maioria dos príncipes
pune aqueles que os cometem com caçadas de sangue.
Uma Caçada de Sangue é uma perseguição imediata e
completa por todos os Membros da Camarilla na área,
esperançosamente (para a parte prejudicada)
terminando na Morte Final do vampiro alvo. Às vezes,
porém, o alvo escapa. A Camarilla tem uma rede social
inegável na qual cada príncipe compartilha
informações vitais, e aqueles infratores que escapam
de uma Caçada de Sangue em uma área podem acabar
sendo alvos de outra, simplesmente como uma
cortesia de um príncipe para outro.
Não é de surpreender que os Membros sob uma
Caçada de Sangue sejam excluídos, até mesmo de
alguns grupos do Sabá. O perigo de uma retaliação em
grande escala da Camarilla é grande demais para ser
arriscado por um único Cainita. Muitos desses
vampiros desistiram, preferindo uma rápida Morte
Final a décadas de perseguição, mas outros não são tão
fáceis. Eles continuam a correr e se esconder, evitando
a perseguição a cada passo. No início do século 20, um
desses vampiros encontrou­se em Nova Orleans,
fugindo de uma multidão dirigida por Membros. Ao
dobrar uma esquina, no entanto, ela deu de cara com
outro Membro que estava fugindo da mesma
multidão. Os dois cooperaram na fuga da cidade
portuária e, passado o perigo, compararam notas. Para
sua surpresa, eles descobriram um vínculo comum —
ambos estavam sob caça de sangue. Certas
possibilidades se apresentaram imediatamente.
Os dois Membros permaneceram juntos,
viajando pelo mundo e ouvindo outros sinais de uma
Caçada de Sangue. Na África, encontraram um
Nosferatu escondido em um pântano. Na França, um
Tremere ladino fugiu da ira da Camarilla. Na
Pecados do Sangue
120
Austrália, um Lasombra quase cedeu ao desespero. A
cada vez, o grupo crescente convidava outros fugitivos
para se juntarem. Os objetivos dos fugitivos provaram
ser simples – sobrevivência, independência e amarga
vingança contra a Camarilla onde pudessem levá­la.
Em cada caso, o convidado aceitou a oferta do grupo.
O novo grupo se autodenominou Linha
Vermelha. Todo membro está sob uma Caçada de
Sangue, e todos eles desafiam abertamente a
Camarilla, mantendo sua independência. O Sabá
ofereceu a adesão a Linha Vermelha dezenas de vezes,
e todos os convites foram recusados. A Linha
Vermelha não está interessada em se tornar o Sabá ou
em ingressar em qualquer outra organização nesse
sentido. Os fugitivos eram todos membros de uma
seita ou de outra e gostam do fato de os seus únicos
limites serem as suas próprias preferências e o bom
senso. Muitos deles conhecem segredos sobre a
Camarilla e alguns de seus membros mais prestigiosos,
que eles expõem quando têm oportunidade. Outros
são simplesmente Membros poderosos que irritaram o
príncipe ou ancião errado, ou que se tornaram um
risco muito grande. Mas como unidade, a Linha
Vermelha é poderosa, mais forte do que qualquer
grupo que já encontrou, e a sua força reside na sua
liberdade e sentido de responsabilidade pessoal. A
Linha Vermelha se vê como uma comunidade de
expatriados, uma reunião de Cainitas que não
escolhem nem o Sabá nem a Camarilla e ainda assim
desejam interação social.
A Linha Vermelha tem uma trégua
desconfortável com o Sabá. Seus membros não se
juntarão ao Sabá, mas o Sabá os respeita e ainda não
forçou a questão. Claro, o Sabá também tem prazer
em ver a Camarilla confusa, e pode honestamente
alegar não ter envolvimento porque a Linha Vermelha
não é parte da Espada de Caim. A Camarilla, por sua
vez, tentou tudo o que sabia – caçadas de sangue,
feitiços, maldições, Alastores e até subornos. Nada
atenuou a inimizade da Linha Vermelha. Para a Linha
Vermelha não se trata de política – os ataques são
pessoais, uma vingança por terem sido caçados por
tanto tempo.
Os membros do Linha Vermelha mantêm todos
ou a maior parte de seus antigos vínculos. Aliados
pessoais, senhores, crias e outros contatos são mais
importantes do que nunca, pois fornecem aos
vampiros da Linha Vermelha informações valiosas e
avisos sobre caçadas de sangue iminentes e outras
retribuições. Na verdade, a Linha Vermelha busca
novos contatos com outros Membros, ampliando sua
rede para incluir qualquer pessoa disposta a deixá­los
sobreviver como estão. Desta forma, a Linha Vermelha
cresce, porque muitos contatos tornam­se aliados, e
alguns até foram persuadidos a juntar­se à Linha
Vermelha para escapar aos jogos de poder e às traições
das suas próprias seitas. O grupo mantém contato
frequente com seus membros distantes, muitas vezes
com notas escritas à mão em outros papéis e depois
enviadas pelo correio ou passadas para outro vampiro,
que então acrescenta qualquer informação nova e as
repassa novamente. Apesar de sua natureza informal,
essas “correntes” são muito populares e muitas vezes
fornecem a única fonte de informação em que os
membros do grupo podem confiar sobre as atividades
da Camarilla e do Sabá.
Ultimamente, o Linha Vermelha passou a
declarar suas próprias caçadas. Ele entrará em uma
área, terá como alvo um membro líder da Camarilla e
lançará uma campanha cruel de “justiça” até que esse
Membro morra. O Linha Vermelha até notifica cada
alvo com antecedência, enviando uma mensagem
dizendo que o Membro foi “Linha Vermelha”. Eles
desafiam a Camarilla a impedi­los de matar o alvo em
questão. Até agora, a Camarilla falhou em todas as
tentativas.
A Linha Vermelha observa a Máscara, mas
apenas para autopreservação. Os mortais são muito
numerosos e propensos ao fanatismo para serem
provocados a caçar Membros. A Linha Vermelha ignora
as outras Tradições, porém, vendo­as apenas como uma
forma de restrição da Camarilla.
A Linha Vermelha não tem localização fixa —
permanecer num local é perigoso e contraproducente.
O grupo está sempre em movimento. Os membros às
vezes vão ao território do Sabá para descansar e
planejar, já que o Sabá os deixa sozinhos e às vezes até
oferece ajuda na forma de sustento e informações
locais. Mas a Linha Vermelha nunca permanece por
muito tempo, pois fazê­lo seria sugerir a adesão ao Sabá,
o que enfraqueceria muitos de seus laços com membros
simpatizantes da Camarilla.
É difícil dizer quão grande é a Linha Vermelha.
Não tem uma lista formal e raramente passa um ano
sem que um novo membro se junte ou pelo menos um
antigo membro renuncie aos laços com a facção (ou
encontre a Morte Final). Originalmente, todo o grupo
votaria em cada candidato a novo membro, mas à
medida que a Linha Vermelha cresceu e se tornou
mais uma comunidade, a barreira de entrada
diminuiu. Tudo o que é necessário atualmente é ser
Membro e desejar escapar da Camarilla e do Sabá sob
pena de uma caçada sangrenta. Para alguns, essa fuga é
literal, enquanto para outros é apenas uma tentativa
de se afastar da politicagem e das batalhas ideológicas.
Aqueles Membros da Camarilla que monitoram tais
coisas acreditam que menos de 100 Cainitas afirmam
ser membros da Linha Vermelha, embora para alguns
isso signifique apenas que eles simpatizam com o
grupo e contribuem para a Linha Vermelha.
Os Inconnu não comentam a Linha Vermelha,
mas podem ver o grupo como uma versão mais jovem e
ativa da sua própria organização. Certamente a Linha
Vermelha admira os Inconnu por sua capacidade de
permanecer acima das disputas mesquinhas das seitas.
Entretanto, eles desaprovam a separação dos Inconnu
dos outros Membros.
Apêndice: Uma Conspiração dos Pecadores
121
Estão convencidos de que tal solidão só pode
levar a um maior distanciamento e a uma perda de
identidade e vitalidade.
O Clube da Emoção
Vampiros são tão sombrios. Eles andam pelas
boates, permanecendo nas sombras sob as escadas,
ostentando crinas longas e penteadas como se alguém
tivesse acabado de abraçar o cabelo de Fabio e parecendo
mais brancos que o Wonder Bread… pelo menos de
acordo com o Thrill Kill Club (TKC). “Inferno”, dizem
seus membros, “a não­vida é muito longa para desperdiçá­
la em alguma Máscara decrépita, ou lutar 'pela causa'. O
que importa a imortalidade se um Cainita não pode
correr alguns riscos, forçar os limites de sua natureza?” e
lembrar a si que ele está no limite por algum motivo?”
Qual é a solução, então? Contrarie o sistema, qualquer
um dos sistemas, e junte­se ao Thrill Kill Club. Para isso,
os autarcas do TKC sabem como mexer com a merda e
lutar contra o poder, tudo rindo enquanto dançam nas
Noites Finais. A Camarilla o considera um bando
anarquista ou um culto de crianças mimadas que só
querem causar estragos, mas o Thrill Kill Club é uma
gangue de vampiros em busca de um pouco de violência
competitiva. O que os separa do Sabá é que eles não estão
interessados na causa ou na organização paramilitar da
seita. O TKC é mais um clube de viciados em adrenalina
se os vampiros ainda bombeiam adrenalina.
O irreverente Thrill Kill Club é a encarnação
moderna de um clube social anterior ao século XX. Na
época, era mais conhecida como Salles d’Escrime ou
Escola de Esgrima, que oferecia treinamento normal no
manejo de lâminas e aulas rápidas para os não iniciados
que estavam prestes a travar seu primeiro duelo. Essas
escolas também serviam como locais para círculos de
cavalheiros. Antes da década de 1850, homens de honra e
posição em toda a América do Norte e na Europa
travaram duelos para resolver divergências, desrespeitos e
insultos diretos. Naquela época, tais desafios eram
privilégio de oficiais e nobres, mas, na virada do século, a
prática foi lentamente filtrada pelas classes médias. O
envolvimento nesta prática revelou­se uma aventura
arriscada para qualquer pessoa que não pertencesse à
pequena nobreza ou às forças armadas, e alguns juízes dos
escalões superiores da sociedade até prenderam plebeus
que venceram os seus duelos em detrimento da vida dos
seus oponentes. A aristocracia seguiu a sensibilidade e o
decoro vitorianos, resolvendo suas disputas por meio de
duelos de espadas e armas. Naturalmente, quando alguns
caíram no Abraço, eles levaram suas práticas para a não­
vida por hábito. A pompa e circunstância do duelo
varreram até mesmo a sociedade dos Membros da época,
e muitos vampiros resolveram suas discussões dessa
maneira. Eles viam o frenesi como um ato de mau gosto
dos bárbaros.
A Camarilla aprovava informalmente tais
atividades entre a nobreza de sua seita, ancillae e anciões,
desde que conduzissem seus duelos com as bênçãos do
príncipe do domínio. A Morte Final era rara e as trocas
duravam até o primeiro ferimento ou mesmo torpor. Por
outro lado, muitos príncipes infligiram as penalidades
mais severas a qualquer Neófito pego em duelo,
refletindo a disparidade presente na sociedade humana.
Esta contabilidade “nobre” revelou­se um breve
capricho, no entanto, a Camarilla proibiu sua prática
enquanto muitas nações europeias proibiam os duelos
durante o início do século XX. Infelizmente, os
vampiros não mudam facilmente, e alguns se recusaram
a abandonar a prática, pelo menos em particular. O
movimento passou à clandestinidade como uma espécie
de clube de luta de cavalheiros, apenas com floretes e
pistolas, e finalmente permitiu que os Neófitos se
juntassem quando as fileiras da velha guarda
diminuíram. Para os Neófitos convidados, era uma
grande honra juntar­se e conviver com os anciões e
ancillae que, de outra forma, poderiam ignorar o jovem
vampiro na maioria das circunstâncias. Foi uma
oportunidade para escaladores sociais e ambiciosos.
Com o tempo, a inclusão das gerações mais jovens
mudou a natureza das Salles d’Escrime clandestinas. Os
membros mais velhos pereceram ou perderam o
interesse, enquanto o influxo de Neófitos transformou a
sociedade em duelo em uma válvula de segurança onde
eles poderiam queimar a agressividade das Tradições
muitas vezes sufocantes da seita. Após a Segunda Guerra
Mundial, o grupo afastou­se dos duelos padrão e
perseguiu desafios emocionantes e empreendimentos
arriscados, muito parecidos com as sociedades de
exploração dos velhos cavalheiros da era colonial. Os
Membros do grupo derivavam do esporte viajando pelo
mundo e se colocando em perigo real. Os desafios
transformaram­se em competições, e as competições
tornaram­se corridas para vencer uns aos outros, fosse
para abater um leão com as mãos nuas num safári
noturno africano, para recolher insectos raros na mortal
floresta tropical amazônica ou para roubar jarros
canópicos de um túmulo egípcio. Infelizmente para a
sociedade, alguns membros da pequena nobreza que
partiram anos atrás finalmente traíram as atividades e
segredos do grupo para a Camarilla em uma tentativa de
obter favores e aumentar seu prestígio pessoal na
política local. As autoridades da seita atacaram seus
Neófitos desonestos de forma dura e decisiva, banindo
alguns, criando laços de sangue com outros e destruindo
um punhado apenas para provar que eles estavam
falando sério. Até cerca de duas décadas atrás, parecia
que o grupo havia morrido
“Alguns membros do Salles d’Escrime, exilados
por colocarem a Máscara em perigo, sobreviveram no
Estado Livre Anarquista, em Los Angeles. Até então,
eles haviam deturpado o nome original francês do clube
para Escola de Escaramuça.” Por algumas dezenas de
anos, Membros como Big Daddy Lopez e Widow Annie
mantiveram a Escola de Escaramuça ativa através de
pequenos desafios e desafios caseiros com outras
gangues para manter o espírito competitivo vital. Então,
uma noite nos anos 80, um bando do Sabá que se
autodenomina Mercy Killers fez uma visita aos dois
Pecados do Sangue
122
veteranos sob uma bandeira de trégua. O bando sabia
das competições e desafiou Big Daddy Lopez e Widow
Annie para um jogo de habilidade e muita ousadia. A
competição era para ver quem conseguia cruzar o país
primeiro até Nova Orleans, roubar o brinco de crucifixo
do príncipe Marcel que ele costumava usar e voltar para
Los Angeles. Na altura, Nova Orleans passava por
reformas políticas e o Príncipe Marcel lutava para
manter a sua base de poder intacta no meio de
mudanças de administração e de uma reestruturação
governamental massiva. Escusado será dizer que ele
estava preocupado. A Escola de Escaramuça concordou
com o concurso, e Lopez e Annie participaram ao lado
de suas próprias gangues.
A jornada pelos EUA revelou­se menos perigosa
do que cruzar os igarapés infestados de Lupinos ao redor
da cidade. Ambos os lados perderam membros, mas
ambos conseguiram chegar ao mal nomeado Big Easy.
Depois disso, o Príncipe Marcel destruiu pelo menos um
membro tolo da Escola de Escaramuça que tentou se
aproximar dele para arrancar seu brinco enquanto estava
Ofuscado. Os Mercy Killers, no entanto, provaram ser
muito mais astutos para um bando do Sabá. Eles
descobriram a predileção do príncipe por rapazes
bonitos e simplesmente prostituíram um de seus
membros bonitos com Marcel, que roubou o prêmio
enquanto eles se alimentavam um do outro. A viagem
de volta foi igualmente aventureira enquanto a Escola de
Escaramuça perseguia os Mercy Killers, tentando roubar
o prêmio antes que eles chegassem a Los Angeles.
Embora a Escola de Escaramuça tenha perdido a
competição, ela revigorou o antigo espírito aventureiro
do clube e infundiu­o com a irreverência e atitude
despreocupada do Sabá. Big Daddy Lopez e Widow
Annie organizaram competições cada vez mais
desafiadoras, ousadas e mortais, ampliando a amplitude,
duração e escopo de seus jogos. Alguns eram corridas
contra o tempo, enquanto outros eram corridas uns
contra os outros. Os concursos incluíam roubar uma
cruz gigante da Grace Cathedral em São Francisco (um
desafio que permaneceu não cumprido), conectar tinta
vermelha à linha de sprinklers de emergência no
Succubus Club de Chicago, acionar os alarmes de
incêndio (pronto) e participar de uma morte literal. caça
ao tesouro de celebridades (que o falecido Justicar
Petrodon interrompeu).
A Escola Skirmish caiu em desgraça com muitos
anarquistas de linha dura que pensavam que as
competições colocavam vidas mortas em perigo
desnecessariamente. As coisas ficaram mais acirradas
quando os Arcontes de Petrodon invadiram Los Angeles
tentando encontrar os Cainitas responsáveis por esses
jogos. Não ajudou o fato de muitas equipes terem
deixado seus grafites autógrafos nos locais de suas
façanhas para provar sua responsabilidade. O ancião
anarquista MacNeil exilou a Escola de Escaramuça do
Baronato dos Anjos, enquanto gangues rivais em áreas
remotas ameaçaram destruir o clube apenas para
impedir a investigação do Arconte. Big Daddy Lopez e a
viúva Annie deixaram Los Angeles rapidamente, mas a
Escola de Escaramuça estava crescendo rapidamente.
Membros mais novos agora estavam filmando suas
façanhas e vendendo cópias piratas para Vampiros
Neófitos e calouros do Sabá que vibravam indiretamente
através de seus irmãos e irmãs anarquistas. A Camarilla
ficou furiosa com esta violação da Máscara e ameaçou
punir severamente qualquer um que fosse pego
possuindo essas fitas piratas e Morte Final para qualquer
um que participasse. Com as questões domésticas
esquentando tão rapidamente, a Escola de Escaramuça
decidiu se tornar global com seu show, em lugares onde a
Máscara importava pouco e as autoridades mortais
tinham preocupações maiores em suas mãos (se é que
existiam).
A Escola de Escaramuça tornou­se uma sociedade
livre de Cainitas que viajavam de forma independente
para os pontos mais problemáticos do mundo, seja o
Líbano no final dos anos 80, a Bósnia nos anos 90 ou
qualquer outro lugar onde a opressão governamental, ou
a luta pela liberdade política tivessem levado. A Anistia
Internacional se contorcendo. Parte caça ao tesouro e
parte Síndrome do Barão Munchausen, as competições
estão abertas a qualquer vampiro, independentemente de
sua afiliação. O Cainita com a melhor história ou
lembrança vence. Sem que as salvaguardas norte­
americanas impedissem as suas atividades, no entanto, as
competições da Escola de Escaramuça tornaram­se
absolutamente mortais e perigosas. Suas façanhas mais
infames incluíram:
• Roubar diamantes de minas angolanas prote­
gidas pelos rebeldes e cainitas ultra violentos da União
Nacional para a Independência Total de Angola
(UNITA).
• Caça e escalpelamento de membros do Comando
Vermelho do Brasil e dos Carecas do Brasil (Skinheads do
Brasil), que estão entre os muitos grupos responsáveis
pelos espancamentos e assassinatos de crianças de rua,
judeus, negros e gays no Brasil.
• Encontrar o cadáver queimado de Pol Pot e
retornar com seu crânio (ninguém conseguiu ainda).
• Participar com os guerrilheiros da Frente
Revolucionária Unida (RUF) da Serra Leoa na devoração
ritualizada do coração ou do fígado de uma vítima. (O
que se espera de um exército cujas unidades são
oficialmente denominadas Burn House Unit, Cut Hands
Commando e Born Naked Squad, e cujos comandantes
incluem Betty Cut Hands e Dr. Blood?)
Embora alguns desafios possam parecer mais
simples do que outros, parte do concurso inclui viajar
para o país em questão, evitando os seus elementos
sobrenaturais (a maioria dos quais são muito
nacionalistas, ou pelo menos, protetores dos seus
domínios). Então, após participarem do concurso em si,
os competidores deverão sobreviver à viagem de volta para
casa enquanto lutam contra as demais equipes pelo
prêmio. Ao contrário do Sabá, não há vergonha em
renunciar a certos eventos ou mesmo deixar de completar
Apêndice: Uma Conspiração dos Pecadores
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o jogo. Além do direito de se gabar, o único benefício da
participação é gravar o evento e vendê­lo contrabandeado
para grupos do Sabá e entusiastas dos Membros por US$
1.000 a US$ 5.000 americanos. Fitas de explorações,
incluindo canibalismo na Serra Leoa e uma caça à pele de
lobisomem na ilha de Bougainvillea, no Pacífico (e
devastada pela guerra), foram arrematadas por 10 mil
dólares numa guerra de licitações online antes do eBay
fechar tudo.
Infelizmente para a Escola de Escaramuça, a
Camarilla apreendeu um grande volume de fitas, por isso
agora conhece os rostos de muitos membros. Como
resultado, Arcontes e Justicares conseguiram destruir
vários participantes nos últimos anos, incluindo Big
Daddy Lopez. Enfurecido com seu
destruição, a viúva Annie mudou o nome do grupo
para Thrill Kill Club em homenagem à memória de
Lopez, e ela aumentou a aposta. Já que a Camarilla
marcou muitos membros para destruição, o mais novo
desafio da Viúva Annie é ver quem consegue irritar a
Camarilla mais rápido e entrar na Lista Vermelha. Alguns
membros estão cautelosos com esse empreendimento,
mas o Thrill Kill Club viu um aumento no número de
membros para aquelas pessoas que estão de olho em um
certo anel de bronze: notoriedade. Alguns temem que o
Thrill Kill Club se transforme em outro London Hunt
Club para diableristas. A viúva Annie, no entanto, quer
ensinar à Camarilla uma lição sobre as diferenças entre se
divertir e ser uma verdadeira ameaça à sociedade.
O Thrill Kill Club não é centralizado, o que torna
mais difícil decapitar. A viúva Annie secretamente se
refugia em Barcelona, mas o grupo conta com pelo menos
34 membros regulares espalhados pela América do Norte
e do Sul e pela Europa. A estratégia da Lista Vermelha,
no entanto, trouxe uma pontuação adicional de Cainitas,
alguns dos quais já iniciaram suas campanhas de terror.
Justicares, Alastores e Arcontes da Camarilla estão
trabalhando horas extras para eliminar esta nova
competição pela raiz.
Nem todos participam de todos os desafios. Cada
jogo normalmente recebe uma dúzia de participantes ao
mesmo tempo, já que as competições são sempre abertas
para retardatários ou vampiros que gostam de aproveitar
o tempo. Atualmente, há uma lista de 30 “desafios” que
os competidores podem tentar, cinco dos quais
continuam concorrendo sem vencedores. Participar do
Thrill Kill Club é difícil, pois os membros passam
informações, histórias, fitas de vídeo e convites para
competições manual ou oralmente. Apenas os membros
mais confiáveis ganham o endereço de e­mail genérico e
falsificado da viúva Annie, e geralmente são eles que
apresentam novos membros ou contam aos participantes
sobre os jogos mais recentes. O método mais fácil de se
alistar no grupo, entretanto, é encontrar um Cainita com
cópias piratas de eventos passados e determinar seu
contato. Foi assim que a maioria dos membros se juntou
em primeiro lugar. Quando alguém compete em um jogo
e consegue provar isso, ele se torna membro.
 Até os condenados
têm Tabus
As regras dos Membros são muitas, variadas e
bizantinas. Não existem dois príncipes que interpretem
as Tradições da mesma forma; a traição de um bispo
pode ser o preço de outro. Ainda assim, mesmo em
sociedades tão precárias, as heresias surgem e por vezes
florescem. Da diablerie a códigos desumanos de
moralidade, alguns Membros chocam a sensibilidade de
seus companheiros.
Pecados do Sangue
Inclui:
• Diretrizes para diablerie, Golconda e outras condi­
ções exclusivamente Cainitas.
• Novas Trilhas da Sabedoria e poderes místicos
da Família.
• Inclui informações sobre como interpretar esses
hereges e caçá­los.