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JOÃO PESSOA-PB
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JOÃO PESSOA-PB
2022
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BANCA EXAMINADORA
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Professor Dr. Wilson Honorato Aragão
PPGE/UFPB
(Orientador)
__________________________________________________________________________
_____________________________________________________________________
AGRADECIMENTOS
Agradeço a Deus, por ter me dado a serenidade e a tranquilidade para chegar a essa
etapa do meu percurso acadêmico.
Agradeço aos meus pais, Maria de Fátima Araújo Lopes e João Lopes da Silva, por cada
apoio, por terem me ajudado, pelo carinho a concluir essa etapa e por ser os meus
maiores exemplos de incentivadores.
As minhas irmãs, Apohena Araújo Lopes e Joana Elise, que estiveram comigo durante o
meu percurso acadêmico. Não esqueço cada palavra de carinho e o companheirismo.
A Ana Paula Lopes, Luiz Antônio Correia, João Paulo Lopes, Verônica Veríssimo e à
Dona Rita Lopes, pelo apoio, incentivos e conselhos no decorrer do processo desta
pesquisa. Às nossas Clarinha, Elisinha e Belzinha, por nos proporcionar momentos de
alegria e serenidade.
Ao meu orientador, Professor Doutor Wilson Honorato Aragão, por ter embarcado
nesse desafio comigo ao orientar esse trabalho em meio a uma pandemia, por cada
palavra de incentivo e por mostrar que é possível conduzir uma orientação, com rigor e
serenidade, mesmo num contexto tão adverso.
Aos Professores Doutores que compuseram a banca, Márcia Ângela da Silva Aguiar,
Luiz Fernandes Dourado, Maria de Nazaré Tavares Zenaide e Janine Marta Coelho
Rodrigues, que leram este trabalho e contribuíram para a sua avaliação. Além disso,
agradeço pelo conhecimento compartilhado tanto na qualificação quanto na defesa para
a entrega desta pesquisa.
Aos amigos Stefany, Osmar Hélio, Angélica, Ângela, Thayana Priscila Domingos,
Silmara Cássia Barbosa, Adjefferson Vieira, Melina Alves sou grata pelos
conhecimentos trocados e pelas reflexões que realizamos durante o meu percurso
acadêmico.
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Agradeço a D. Chica pelo carinho e pelo cuidado que teve comigo desde a graduação
até o meu doutoramento.
Às amigas Schirlene Sheila, Glageane Souza, Edna Cordeiro, Kiara Tatianny, Nayara
Tatianna e Glageane da Silva, que conheci durante a minha experiência como
professora substituta no Centro de Educação e Saúde (CES/UFCG) e com as quais
aprendi e compartilhei momentos vivenciados durante a pesquisa.
Somos o que fazemos, mas somos, principalmente, o que fazemos para mudar o que
somos.
(EDUARDO GALEANO).
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RESUMO
ABSTRACT
Intercultural dialogue and ethnic-racial relations in initial teacher education have been
incorporated into educational policies. In light of this reflection, this research has as its
general objective to analyze the obligation and implementation of intercultural
dialogues and ethnic-racial relations in the initial training of teachers and in
undergraduate courses at the Federal University of Paraíba – UFPB. The specific
objectives are: to identify, in the Pedagogical Course Projects (PPCs), how the
obligation of ethnic-racial relations and intercultural dialogue in educational policies is
established; analyze how coordinators and teachers of UFPB's degree courses are
implementing ethnic-racial relations and intercultural dialogue in initial teacher
education; evaluate how students are understanding the processes of insertion and
implementation of ethnic-racial relations and interculturality in UFPB's degree courses.
The study presents as a guiding question: how are interculturality and ethnic-racial
relations being inserted and implemented in undergraduate courses at UFPB?
Methodologically, it is a qualitative and quantitative research, documentary research
and field research carried out with course coordinators, professors who teach the
curricular components that discuss ethnic-racial relations and intercultural dialogue, and
students from the following courses: Literature (Portuguese, Spanish, English, French),
Classical Literature, Pedagogy with a deepening area in Field Education and Dance,
located on campus I, and Pedagogy, on campus IV. The instrument used in this
investigation was a semi-structured interview, a pedagogical letter and a questionnaire.
Data were analyzed based on Bardin's (2011) content analysis and the statistical method
of factor analysis. Furthermore, we are based on Paulo Freire's pedagogy. The results
obtained were: a characterization of the existing legislation that guides on the
mandatory issue of ethnic-racial relations and intercultural dialogue in the initial
training of teachers; the identification of successful pedagogical practices of the
professors, such as the pedagogical activities, such as the inventory, the making of
Abayomis dolls and exhibitions of actions developed in the Hall of Rectory of UFPB;
an assessment based on three dimensions (motivations to work with the theme of
intercultural dialogue and ethnic-racial relations, the subsidies provided by the
investigated courses and the importance attributed to the theme) of the process of
implementation of intercultural dialogue and ethnic-racial relations under the
perspective of undergraduate students; and others. These results contributed to realize
that ethnic-racial relations and intercultural dialogue need to be expanded in teacher
education courses through the incorporation of more curricular components, so that the
implementation of this theme can contribute to the formation of future teachers.
Furthermore, the more we intensify this debate, the more likely we are to have an anti-
racist and intercultural education.
RESUMEN
LISTA DE SIGLAS
LISTA DE FIGURAS
LISTA DE TABELAS
LISTA DE QUADRO
Quadro 23 – Medidas descritivas dos escores para a dimensão Motivação para trabalhar
com a temática .............................................................................................................. 171
Quadro 24 –Teste de hipótese de Kruskal-Wallis para os escores das dimensões ....... 172
Quadro 25 – Comparação dos cursos pelo teste de Dunn para a dimensão Importância
atribuída à temática ....................................................................................................... 172
Quadro 26 – Comparação dos cursos pelo teste de Dunn para a dimensão Subsídios
dados para trabalhar com temática ............................................................................... 173
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SUMÁRIO
INTRODUÇÃO ............................................................................................................ 21
2. PERCURSO TEÓRICO-METODOLÓGICO ADOTADO NA PESQUISA ..... 32
2.1 O DIÁLOGO INTERCULTURAL E AS RELAÇÕES ÉTNICO-RACIAIS À LUZ
DA PEDAGOGIA DE PAULO FREIRE ....................................................................... 32
2.1.1 Da colonialidade a educação decolonial e a sua contribuição para o diálogo
intercultural e as relações étnico-raciais ......................................................................... 32
2.1.2-Refletindo sobre o diálogo na perspectiva freireana e a sua relação para a
interculturalidade e as relações étnico-raciais ................................................................ 36
2.1.3 A contribuição da conscientização crítica para o diálogo intercultural e das
relações étnico-raciais..................................................................................................... 38
2.1.4 A influência do empoderamento do diálogo intercultural e das relações étnico-
raciais na formação inicial de professores ...................................................................... 41
2.2- DESENHO METODOLÓGICO ............................................................................. 47
2.2.1 Dialogando sobre a abordagem quali-quantitativa ou mista ................................. 47
2.2.2 Pesquisa Bibliográfica ........................................................................................... 49
2.2.3 Pesquisa Documental ............................................................................................. 49
2.2.3.1 Cursos de Licenciatura da UFPB que fizeram parte da pesquisa de campo....... 51
2.2.6.2 Questionário........................................................................................................ 66
INTRODUÇÃO
1
O GEPPF está sob coordenação das Professoras Doutoras Rita de Cassia Cavalcanti Porto e
Maria Zenaide Tavares.
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Pesquisa da Pedagogia de Paulo Freire, que não somente contribuiu para o meu
conhecimento em torno dos estudos sobre o autor, mas, sobretudo, fez-me enxergar
melhor as discussões no que diz respeito à formação inicial e continuada de professores
relacionadas a temáticas, como diversidade e política educacional, articuladas com a
pedagogia freireana. Além disso, o Grupo de Pesquisa Inclusão, Exclusão e
Diversidade, sob coordenação do Professor Doutor Wilson Honorato Aragão, trouxe
como contribuição a problemática das relações étnico-raciais e do diálogo intercultural
no processo formativo dos estudantes. Isso fez emergir, em mim, o desejo de investigar
as relações étnico-raciais em uma perspectiva intercultural, buscando perceber como
essas relações estão sendo efetivadas nas práticas educativas, a fim de se propiciar uma
educação pública mais digna, humana e que respeite as diferenças culturais.
Em 2018, fui aprovada em um concurso público para professora substituta da
Universidade Federal de Campina Grande (UFCG – Campus Cuité2), o que me
possibilitou observar que existe uma ausência do diálogo intercultural e das relações
étnico-raciais nos cursos de formação inicial de professores daquela instituição.
Concomitantemente à aprovação nesse concurso público, houve o meu ingresso no
doutorado pelo Programa de Pós-Graduação em Educação (PPGE/UFPB). Nesse
mesmo ano, houve a minha inserção como representante dos estudantes na Associação
Nacional pela Formação dos Profissionais da Educação (ANFOPE-2018-2020). A
minha inserção nesta entidade científica está contribuindo para a construção desta
pesquisa de doutoramento, pois ocorreu um maior aprofundamento acerca da
contribuição para a formação dos profissionais em educação, dentre os quais se inserem
os professores. A partir desta experiência profissional e devido ao fato de a minha vida
acadêmica ter se constituído na Universidade Federal da Paraíba (UFPB), ou seja, entre
graduação, mestrado, já finalizados, e doutorado em andamento, optamos por
desenvolver a pesquisa de doutoramento nesta instituição.
Com as conquistas de direitos, no plano internacional e nacional, o combate ao
racismo coloca-se para o campo das políticas educacionais. Neste sentido, tem-se o
2
A UFCG – Campus Cuité, constitui-se por “[...] 4 (quatro) unidades acadêmicas, sendo elas
de: Biologia e Química; Física e Matemática; Saúde, assim como Enfermagem. A Unidade
Acadêmica de Biologia e Química (UABQ) é composta pelas licenciaturas de Ciências
Biológicas e Química. A Unidade Acadêmica de Física e Matemática (UAFM) é composta
pelas licenciaturas de Física e Matemática. Os cursos que fazem parte da Unidade Acadêmica
de Saúde (UAS) são os bacharelados em Farmácia e Nutrição. Já a Unidade Acadêmica de
Enfermagem (UAENFE) é composta pelo curso de bacharelado em Enfermagem” (UFCG,
2019, p.1). A minha experiência profissional deu-se na Unidade Acadêmica de Física e
Matemática (UAFM).
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A Convenção Internacional sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação Racial
de 1965, ratificada e promulgada pelo Brasil em 1968, 65.810/1969, define a discriminação
racial como: “[...] qualquer distinção, exclusão restrição ou preferência baseadas em raça, cor,
descendência ou origem nacional ou étnica que tem por objetivo ou efeito anular ou restringir
o reconhecimento, gozo ou exercício num mesmo plano,( em igualdade de condição), de
direitos humanos e liberdades fundamentais no domínio político econômico, social, cultural ou
em qualquer outro domínio de vida pública” (ONU, 1965, p. 2).
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Sua reflexão e manifestação da sua insurgência política são, por sua vez, uma insurgência
epistêmica; epistêmico no campo para questionar, desafiar e confrontar as estruturas
dominantes do Estado, aquelas que apóiam o capitalismo e os interesses da oligarquia e do
mercado, também são válidas quando se recorre à lógica, racional e diferentes conceitos que
iluminam o pensamento do Estado. Estado e sociedade de uma maneira radicalmente diferente
(WALSH, 2008, p. 134, TRADUÇÃO LIVRE).
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A partir das leituras e da nossa própria vivência enquanto cidadãos, constatamos que
não podemos concordar com esta postura e/ou silenciamento nas políticas educacionais.
Na Constituição Federal de 1988, são apresentadas discussões em torno da
educação para as relações étnico-raciais, buscando a valorização e o reconhecimento da
cultura negra no nosso país (BRASIL, 1988). Sendo assim, investigar a
interculturalidade nas políticas educacionais e, sobretudo, nas práticas docentes é um
trabalho cada vez mais fomentado nas pesquisas desenvolvidas nos últimos anos no
Brasil.
Diante disso, a interculturalidade apresenta-se como pauta de discussão na Lei
de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDBEN – Lei nº 9.394/1996), em
especial, no art. 26, no qual se estabelece que:
[...] Nos estabelecimentos de Ensino Fundamental e de ensino médio,
públicos e privados, torna-se obrigatório o estudo da história e cultura
afro-brasileira e indígena. § 1o O conteúdo programático a que se
refere este artigo incluirá diversos aspectos da história e da cultura que
caracterizam a formação da população brasileira, a partir desses dois
grupos étnicos, tais como o estudo da história da África e dos
africanos, a luta dos negros e dos povos indígenas no Brasil, a cultura
negra e indígena brasileira e o negro e o índio na formação da
sociedade nacional, resgatando as suas contribuições nas áreas social,
econômica e política, pertinentes à história do Brasil. § 2o Os
conteúdos referentes à história e cultura afro-brasileira e dos povos
indígenas brasileiros serão ministrados no âmbito de todo o currículo
escolar, em especial nas áreas de educação artística e de literatura e
história brasileiras (BRASIL, 1996, p. 10).
5
[...] a denúncia das diferentes manifestações de discriminação racial presentes nas sociedades latino-
americanas [...] ” (CANDAU, 2013, p.148, TRADUÇÃO LIVRE).
28
torna-se necessária à medida que temos uma cultura escolar que está sendo inserida e
almeja por uma inserção, participação e reconhecimento no ambiente escolar. Além
disso, Walsh (2009) salienta a respeito do papel do Estado a fim de que as políticas
nacionais estejam presentes no cotidiano escolar. Portanto, entende-se que cada sujeito
possui a sua cultura caracterizada por suas particularidades e singularidades. Sendo
assim, para implantar-se na sociedade, tal cultura necessita de uma interação com outras
culturas para que seja constantemente inserida na sociedade.
Diante do exposto foi necessário um levantamento da produção acadêmica nos
níveis internacional, nacional e no Programa de Pós-Graduação em Educação
(PPGE/UFPB). Entendemos a importância desta investigação devido à necessidade de
conhecermos o que está sendo produzido acerca dos diálogos interculturais e das
relações étnico-raciais no campo da formação de professores, tendo havido, até mesmo,
uma contribuição para a elaboração dos instrumentos de pesquisa.
Destarte, organizamos esse levantamento da seguinte forma: em um primeiro
momento, um levantamento nos bancos de dados internacionais, tais como: Web of
Science6 e do Scielo entre os anos 2015 a 2021, devido às mudanças que envolvem a
obrigatoriedade e a implementação das relações étnico-raciais e do diálogo intercultural,
conforme foi apresentado no capítulo das políticas educacionais, e a influência do
diálogo intercultural e nas relações étnico-raciais.
No Scielo, encontramos apenas um trabalho intitulado “Ensino de História,
Diálogo Intercultural e Relações Étnico-Raciais” (desenvolvido no município de
Cachoeirinha, Rio Grande do Sul), de autoria de Carla Beatriz Meinerz, cujo objetivo é
analisar sobre o processo de implementação das leis 10.639/2003 e 11.645/2008. Já no
Web of Science, encontramos um trabalho intitulado “What brick should be used on the
wall: on the school curriculum and demonology as a constituent element of a religious
cultural trait in Brazil”7, cujo objetivo é analisar sobre o racismo religioso, as
implementações das legislações que foram mencionadas no decorrer desse trabalho.
Apesar de o artigo ter um debate de cunho religioso, apresenta uma defesa de que a
6
De acordo com a biblioteca da Universidade Federal de Brasília, a Web of Science caracteriza-
se por ser “[...] uma plataforma referencial de citações científicas projetada para apoiar
pesquisas científicas e acadêmicas com cobertura nas áreas de ciências, ciências sociais, artes
e humanidade” (UNB, 2018, p. 1).
7O título do artigo: “Que tijolo usar na parede: no currículo escolar e a demonologia como
elemento constituinte de um traço cultural religioso no Brasil” (TRADUÇÃO LIVRE).
29
8
O Programa de Pós-Graduação em Educação (PPGE/UFPB) que está vinculado ao Centro de
Educação (CE) da Universidade Federal da Paraíba (UFPB), oferta os cursos de Mestrado e
Doutorado e possui como linhas de pesquisa: Educação Popular, Ensino-Aprendizagem,
Políticas Educacionais, História da Educação e Estudos Culturais.
31
Neste momento, iremos nos deter nas categorias que foram selecionadas a partir
da pesquisa de campo realizada com os professores, os coordenadores e os estudantes de
licenciatura da UFPB. Além disso, autores que problematizam sobre acerca das
categorias de análise apontadas anteriormente. Desta forma, realizamos uma subdivisão
das categorias de análise por defender um entrelaçamento entre ambas e por estar nos
fundamentando teoricamente na Pedagogia de Paulo Freire, cujo diálogo não podemos
estudar sem estabelecer uma relação com a conscientização, com a práxis, com a
decolonialidade e o empoderamento, conforme explicitamos. Dessa forma, justificamos
cada categoria e a sua importância para a presente investigação.
Esse processo histórico em prol de uma pedagogia decolonial deu-se com base
nas Leis nº 10.639/2003, das resoluções, bem como na participação dos movimentos em
espaço acadêmicos e não acadêmicos, pois se observou a necessidade da união do
vínculo entre as universidades e a comunidade. Apesar de existir essa adesão entre esses
35
estabelecido entre aqueles que estão inseridos nesses espaços formativos. Assim, essa
discussão acerca do diálogo está presente no próximo tópico.
O diálogo é uma categoria que foi incorporada nessa investigação devido aos
seguintes motivos: em primeiro lugar, justificamos a partir da legislação que orienta
acerca do diálogo intercultural e das relações étnico-raciais, e o segundo motivo deu-se
com base nas entrevistas realizadas com os professores. Com base nesses argumentos,
apontamos a necessidade de aprofundá-la na perspectiva de Paulo Freire (1987,1993).
Compreendemos que a construção de um diálogo não se baseia em uma relação
vertical, mas devemos caracterizá-la como uma relação horizontal e com o mesmo
pensamento crítico da realidade. Dessa forma, sentimos a necessidade de aprofundá-la
devido à realização da nossa pesquisa de mestrado na qual verificamos como estava
ocorrendo a categoria diálogo nos Projetos Políticos Pedagógicos (PPP’s) de duas
escolas municipais. Diante disso, para a nossa pesquisa de doutoramento, a temática
das relações étnico-raciais e a do diálogo intercultural careciam dessa perspectiva
crítica, e isto vem ocorrendo por meio dos documentos que norteiam e orientam sobre a
obrigatoriedade dessa temática na formação inicial de professores. Nesse sentido,
Candau (2008, p.54) salienta que “[...] A perspectiva intercultural está orientada à
construção de uma sociedade democrática, plural, humana, que articule políticas de
igualdade com políticas de identidade [...]”. Dessa forma, o diálogo em uma perspectiva
freireana apresenta uma relação de reciprocidade com o outro sujeito, cujo objetivo é
uma transformação social.
Essa reciprocidade que é desejada pelas culturas ainda enfrenta um diálogo
resistente. Ou seja, apesar de termos as legislações, encontramos entraves para a sua
implementação na formação inicial de professores. Dessa forma, os pesquisadores e os
ativistas dos movimentos sociais devem assumir o seu protagonismo e reivindicar mais
espaço na formação de professores, e, ao mesmo tempo, devemos sinalizar que as
culturas precisam se fazer presentes na educação, sem nenhuma sobreposição e de
forma igualitária, conforme Candau (2013, p.151):
[...] La interculturalidad crítica quiere ser una propuesta ética y
política orientada a la construcción de sociedades democráticas que
articulen igualdad y reconocimiento de las diferencias culturales, bien
37
9 “[...] A interculturalidade crítica quer ser uma proposta ética e política voltada para a construção de
sociedades democráticas que articulem a igualdade e o reconhecimento das diferenças culturais, bem
como propor alternativas ao caráter monocultural e ocidentalizante dominante na maioria dos países do
continente” (CANDAU, 2013, p.151, TRADUÇÃO LIVRE).
38
Assim sendo, esse é o cidadão que precisamos formar nas nossas instituições de
ensino superior (IES’s) porque atuarão na educação básica. Desse modo, quando houver
uma formação docente que problematize acerca do nosso objeto de estudo, tem-se uma
educação antirracista e intercultural. Esse debate pode soar repetitivo, mas, diante do
levantamento bibliográfico, bem como as entrevistas realizadas durante a pesquisa de
campo, constata-se que precisamos avançar nessa discussão, tendo em vista, os avanços
feitos até o presente momento, a exemplo da Lei nº 10.639/2003, da Lei nº 11.645/2008,
a Resolução CNE/CP nº 2/2015 e a Resolução CONSEPE/UFPB nº 29/2020, que regem
a formação docente, as relações étnico-raciais e a interculturalidade. Acreditamos que
essas legislações se configuram elementos a ser estudados e publicizados entre os
estudantes de licenciatura. Freire (1979, p.42) afirma que:
41
[...] Os conteúdos indicados pela LDB ainda não fazem parte das
formações dos cursos de licenciatura e pedagogia de todas as
universidades brasileiras existindo, portanto, a necessidade de
formações complementares realizadas pelos sistemas de educação
A práxis é uma categoria que está presente em toda a obra de Paulo Freire e
baseia-se na ação-reflexão-ação. Ao estudarmos a práxis, também contamos com a
colaboração das demais categorias refletidas nesta investigação, pois precisamos de
cada uma para construir um debate sobre o diálogo intercultural e as relações étnico-
raciais na formação inicial de professores. É importante ressaltar que teoria e prática são
elementos indissociáveis, ou seja, não adianta teorizarmos se não concretizamos nossas
teorias, o que nos motiva a realizar esta pesquisa. Por isso, julgamos necessário
questionarmo-nos: será que a teoria e a prática estão contribuindo para o processo de
inserção e de implementação do diálogo intercultural e das relações étnico-raciais na
formação inicial de professores? Assim, compreendemos que o elemento da teoria está
indissociado da prática. Assim, Freire (1978, p.23) salienta que o conceito de práxis se
relaciona com “[...]nenhuma separação entre pensamento-linguagem e realidade
objetiva, daí que a leitura de um texto demande a "leitura” do contexto social a que se
refere [...]”. Essa leitura de mundo aliada com a tomada de consciência contribui para a
efetivação das práxis. Nessa direção, enquanto estávamos estudando os livros de Paulo
Freire, sentimos a necessidade de compreender como os professores e os coordenadores
estão (re)significando as suas práxis.
Isso nos faz lembrar o que Freire (1996, p. 12) ressalta, ao dizer que “[...] A
reflexão crítica sobre a prática se torna uma exigência da relação Teoria/Prática sem a
qual a teoria pode ir virando blablablá e a prática, ativismo”. Sendo assim, esse ativismo
perpassa pela contribuição dos movimentos sociais em torno da inserção e a
implementação do nosso objeto de investigação nas licenciaturas. Desse modo, a práxis
nos leva a questionar se, de fato, o diálogo intercultural e as relações étnico-raciais
ainda permanecem restritas aos componentes curriculares apresentados. Esperamos que
esta discussão tenha ultrapassado as áreas do ensino, reverberando em uma ampliação
para as áreas de pesquisa e extensão. Tal fato corrobora para que haja um
aprofundamento da temática na formação inicial de professors, no intuit de que estes
estudantes façam um trabalho de implementação no seu cotidiano, quando estiverem no
exercício da docência.
Compreendemos que esse processo acerca de uma práxis durante o processo
formativo dos estudantes necessita ser (re)pensado e refletido pelas coordenações,
professores e estudantes, a fim de que possamos analisar a realidade e buscar novos
encaminhamentos para a implementação das relações étnico-raciais e o diálogo
intercultural nas licenciaturas da Universidade Federal da Paraíba (UFPB). Freire (1996,
46
p.27) nos faz pensar que “[...] a prática docente crítica, implicante do pensar certo,
envolve o movimento dinâmico, dialético, entre o fazer e o pensar sobre o fazer [...]”.
Sinalizamos que a práxis não é construída de forma isolada, pois precisa da colaboração
de um pensamento crítico e a busca para se procurar os caminhos acerca da
implementação das relações étnico-raciais e do diálogo intercultural na formação inicial
de professores. Nesse sentido, tomando como exemplo a pesquisa em desenvolvimento,
compreendemos que a teoria apreendida nas licenciaturas deve caminhar com a prática,
ou seja, não existe uma relação verticalizada desse conteúdo durante o processo
formativo dos estudantes.
Além do mais, Moreira e Candau (2007, p.31) asseveram tornar-se:
[...] indispensável superar o “daltonismo cultural”, ainda bastante
presente nas escolas. O professor “daltônico cultural” é aquele que
não valoriza o “arco-íris de culturas” que encontra nas salas de aulas e
com que precisa trabalhar, não tirando, portanto, proveito da riqueza
que marca esse panorama
como a práxis foi incorporada a partir dos cursos de licenciaturas e das práticas
pedagógicas dos professores.
Ademais, acreditamos que precisamos realizar, a partir do nosso cotidiano, uma
autorreflexão da nossa prática, a fim de que possamos verificar se realmente estamos
contemplando estas temáticas. Além disso, quando este trabalho não é feito, faz-se
necessário buscar os caminhos para que haja essa implementação no campo
educacional, realizando-se um debate que deve ser problematizado na formação inicial
de professores (OLIVEIRA, 2013). Devemos, então, batalhar para que esta temática
seja inserida desde o primeiro período nas licenciaturas, possibilitando o combate de
uma formação fragmentada por meio de discussões que envolvam a temática da
diversidade. Ou seja, devemos refletir sobre a troca entre as diferentes culturas
(FIGUEROA, 2018), para que possamos ter uma formação que envolva as relações
étnico-raciais e interculturais.
deter a analisar sobre a pesquisa documental, pois a nossa investigação surgiu a partir
desse tipo de pesquisa.
10
A Resolução CONSEPE/UFPB foi ALTERADA Resolução nº 18/2018. Em seguida, alterada
Resolução nº 17/2018 e para modificada para Resolução nº 19/2018 e foi revogada pela
Resolução nº 29/2020.
51
até o citado ano, foram reestruturados dez PPCs, porém, tivemos que excluir o curso de
Física por ter sido reformulado o curso de Bacharelado, e a nossa investigação nesta
pesquisa de doutoramento ocorreu quanto às licenciaturas, conforme apresentado no
quadro 1.
Outra informação obtida por meio dessa análise dos PPCs foi a menção das
legislações que orientam a respeito da temática das relações étnico-raciais, como a
Resolução CNE/CP nº 01/2004, que estabelece as Diretrizes Curriculares Nacionais
para a Educação das Relações Étnico-Raciais e para o Ensino de História e Cultura
Afro-Brasileira e Africana. Conforme tal legislação,
11
O quadro com essas informações está presente no capítulo das políticas educacionais
54
Com relação aos aspectos de ensino, pesquisa e extensão, que são o tripé das
instituições de ensino superior, constatamos que a UFPB apresenta destaques com
cursos de graduação e de pós-graduação com conceitos de qualidade. Além disso, há a
contribuição do Reuni (Programa de Apoio a Planos de Reestruturação e Expansão das
55
Universidades Federais)12, que visa manter o acesso e permanência dos estudantes tanto
nos cursos de graduação quanto de pós-graduação desta instituição, conforme
informação obtidas por meio do site da UFPB, segundo o qual, no:
Conforme a descrição histórica feita sobre a UFPB e as suas atividades que são
desenvolvidas no cotidiano acadêmico, apontamos a necessidade de caracterizarmos os
cursos de licenciatura que tiveram os seus Projetos Pedagógicos de Cursos (PPCs)
reformulados desde o ano de 2017. Os cursos de graduação estão localizados nos campi
I e IV e envolvem as formações dos futuros professores. Ademais, são cursos que
funcionam nos horários diurnos e noturnos, além de possuírem mais de três mil horas de
carga horária, aspecto descrito na Resolução CNE/CP nº 02/2015, sendo todos os cursos
analisados presenciais e fundados a partir dos anos 1970, a exemplo do curso de
12
Para alcançar o objetivo, todas as universidades federais aderiram ao programa e
apresentaram, ao Ministério da Educação, planos de reestruturação, de acordo com a
orientação do Reuni. As ações preveem, além do aumento de vagas, medidas como a
ampliação ou abertura de cursos noturnos, o aumento do número de alunos por professor, a
redução do custo por aluno, a flexibilização de currículos e o combate à evasão (MEC,
2019).
56
A segunda personalidade escolhida foi Audre Lorde, por sua trajetória e ativismo
político e social em prol do seu reconhecimento da população negra nos Estados Unidos, e
os seus principais temas de reflexão foram sobre [...] amor, traição, nascimento, classe
social, idade, raça, sexualidade, gênero e saúde, haja vista que veio a falecer devido a
um câncer de mama (“AUDRE LORDE – GELEDÉS,” 2020). A professora justificou a
sua escolha por ser [...] uma autora que gosto, negra, de origem caribenha, é dos EUA,
lésbica, mãe, tem uma escrita que gosto muito (AUDRE LORDE, 2020).
A terceira personalidade indicada por um dos professores entrevistados foi Mãe
Olga do Alaketu, cujo nome era Olga Francisca Régis. Tornou-se mãe de santo aos 23
anos do terreiro de candomblé “Ilê Maroiá Láji” – o famoso “Terreiro do Alaketu”. Por
isso, a origem do seu nome. Dentre outras características, foi uma mulher que atuou no
combate à intolerância religiosa de matrizes africanas. A professora justificou essa
personalidade devido às seguintes razões:
13
Optamos por deixar as falas dos coordenadores de curso e dos professores que participaram da nossa
pesquisa de forma literal, incluindo os seus acertos e erros.
59
enfrentou os desafios de uma sociedade racista e num espaço que possui predominância
branca. Nesse sentido, a professora Mercedes Batista justifica a escolha dessa
personalidade quando aponta que:
[...] foi a primeira pessoa que me veio a cabeça, que foi uma
dançarina, coreografa e criadora do/.../ do/.../ da dança afro. Do
que a gente entende como dança afro dentro de uma concepção
mais moderna/.../ né?/.../ pra cena, pra teatro e tal. Eee/.../ tem
essa/.../ isso na década de 50, 60, e ela foi a primeira bailarina
negra do Teatro Municipal do Rio. Num é? Então ela teve essa
história do balé clássico e depois ela foi/.../ ééé/.../ estudou um
pouco com a Katherine Dunham, que é uma referência da dança
norte-am/.../ dança moderna norte-americana que/.../ que fazia
pesquisa negra/.../ né?/.../ mas de origem caribenha, acho. E
fazia pesquisas no Haiti, enfim, todas essas temáticas dessas
com matrizes afro.
após a leitura dos Projetos Pedagógicos de Curso (PPCs). Durante a aplicação dos
questionários, buscamos traçamos um perfil amostral dos estudantes. Porém,
justificamos que não conseguimos coletar as respostas dos estudantes dos cursos de
licenciatura Pedagogia/Campus IV devido ao fato de o componente curricular estar no
último semestre letivo. Ao mesmo tempo, agrupamos os estudantes de Letras (e suas
habilitações Inglês, Frances, Espanhol e Português) com os discentes de Letras
Clássicas, por pertencerem aos mesmo Centro de Ensino (CE).
Desse modo, observou-se que, com relação ao sexo, cerca de 86 (ou 58,90%)
se declararam do sexo feminino, enquanto 59 (ou 40,41%) pertencem ao sexo
masculino, e apenas uma pessoa (ou 0,68%) preferiu não definir o seu sexo. Em
seguida, solicitamos que os estudantes respondam sobre a sua idade. Destarte,
agrupamos nos seguintes grupos: 32 estudantes com 16 a 20 anos; 82 estudantes estão
na faixa etária dos 21 a 30 anos, cerca de 56, 16%. Na faixa etária de 31 a 35 anos,
tivemos como resposta 17 licenciandos (cerca de 11,64%), enquanto, acima de 35 anos,
obtivemos 14 respostas (cerca de 9, 59%), e um estudante (cerca de 0,68%) preferiu não
responder.
Quanto ao período dos estudantes que participaram da pesquisa, obtivemos as
seguintes respostas: no primeiro período, tivemos oito licenciandos (cerca de 5,48%);
no segundo, foram 12 (cerca de 8,22%); no terceiro período, contamos com seis
respostas (ou 4,11%); no quarto, obtiveram-se nove (cerca de 6,16%); no quinto
semestre, tivemos dez (6,85%); no sexto, houve a participação de 13 (cerca de 8,90%)
estudantes; no sétimo semestre, foram 14 (cerca de 9,59%); no oitavo, obtivemos 23
respostas ( cerca de 15,75%); no nono período, foram cinco (cerca de 3,42%); no
décimo semestre, foram cinco (cerca de 3,42%), e 41 estudantes preferiram não
responder a essa pergunta.
Com relação à cor ou raça, utilizamos as pesquisas desenvolvidas pelo Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), fazendo-se necessário mencionar que os
estudantes se autodeclararam com uma das raças elencadas pelo IBGE. Nesse sentido,
obtivemos os seguintes resultados: brancos foram 53 (cerca de 36,30%); pretos foram
32 respostas (cerca de 21,92%); pardos foram 56 (cerca de 38,36%) retornos; quatro
(cerca de 2,74%) se identificaram indígenas ou amarelos, e um (cerca de 0,68%)
estudante preferiu não responder a um dos itens.
64
14
Além disso, torna-se necessário mencionar que não conseguimos os questionários com os
estudantes de Pedagogia – Campus IV, pois os alunos que estão vinculados a esse currículo
estão no terceiro período, e o componente que trata sobre a temática das relações étnico-raciais e
o diálogo intercultural encontra-se no último período (nono semestre letivo).
15
Em conversa informal com os funcionários que trabalham na coordenação do curso de Letras-
Português, constatamos que eles são responsáveis pelos componentes curriculares dos demais
do curso de graduação em Letras, como: Espanhol, Inglês, Francês, enquanto o curso de Letras
Clássicos possui autonomia própria.
65
2.2.6.1 Entrevista
2.2.6.2 Questionário
16
Essa discussão foi aprofundada quando analisamos os Projetos Pedagógicos do Curso (PPCs)
dos cursos de licenciatura que fizeram parte do nosso campo de pesquisa.
67
p-value <0,05
17
Além disso, podemos apontar outros livros de Paulo Freire que trabalham sobre as cartas
pedagógicas, tais como: Pedagogia da Indignação: Cartas Pedagógicas e outros escritos
(2000) e Cartas a Cristina (1994).
18
A citada pesquisa apresentou como objetivo geral analisar a formação continuada de
professores (as) no município de João Pessoa à luz da proposição teórico-metodológica de
formação permanente em Paulo Freire (SANTOS, 2015, p. 20).
74
possibilitar uma maior liberdade para que o professor possa expor o seu pensamento,
bem como pode existir a possibilidade de uma reflexão crítica da realidade (FREIRE,
1987), ou seja, da sua prática pedagógica. Seguindo essa reflexão, acreditamos que
existe um
[...] poder das cartas de não nos deixar escapar do tempo da alteridade
- o formato remetente-destinatário em si já elucida isso; segundo, pelo
descentramento que o eu-remetente-destinatário produz na forma
como forçosamente, tanto quem escreve, quanto quem lê uma carta
está convocado para uma conversa sobre a própria interlocução na
presença/ausência de si ou na tradução/alegoria do outro (COSTA,
2013, p.90)
Com base nas justificativas acima, apontamos que esse foi o instrumento de
pesquisa que tivemos mais dificuldade de conseguir, pois obtivemos apenas duas cartas.
Apesar de ter adotado como estratégia realizar a solicitação desse material após a
finalização das entrevistas, pois era uma forma de ressaltarmos a sua importância para a
presente investigação. Sendo assim, observamos que os professores foram
surpreendidos com esse pedido por ser um meio de comunicação que não é muito
utilizado no atual contexto social. Embora esse pedido tivesse sido inesperado,
apontamos que conseguimos esse quantitativo devido aos seguintes motivos:
disponibilidade de tempo devido à sobrecarga de trabalho durante o período da
Universidade Federal da Paraíba (UFPB) e por causa do contexto psicológico dos
professores.
Diante desse contexto de crise sanitária que estamos vivendo, apontamos que o
instrumento da carta foi um recurso metodológico que tivemos mais dificuldade de
desenvolver, pois houve o retorno de duas cartas que foram das professoras Mãe Olga
do Alaketu e de Audre Lorde. Por outro lado, esse recurso significou conhecermos um
pouco mais sobre as professoras e o seu encontro com a temática das relações étnico-raciais
e o diálogo intercultural tanto na infância quanto na fase adulta como docente da UFPB.
Dessa forma, a carta pedagógica que obtivermos a partir da entrega dos
professores que estiverem ministrando os componentes curriculares relacionados ao
nosso objeto de estudo serão analisadas à luz da análise de conteúdo de Bardin (2011),
em especial, focando na investigação temática.
19
Silveira (2019, p. 30) salienta que “[...]Capitaneadas pela estabilização econômica, as
Políticas do Governo aprofundaram as reformas econômicas dentro de um receituário
econômico liberal, por alguns analistas considerado neoliberal, por outros, como liberal
reformista”.
20
O governo de Luís Inácio Lula da Silva [...] no primeiro mandato, empreendeu-se um ajuste
fiscal para resolver a herança dos governos FHC (dívida pública e empréstimos junto ao FMI),
sinalizando um receituário para acalmar o mercado, muito desconfiado do presidente por sua
militância pregressa como sindicalista. Foram estabelecidas metas anuais de superávit
primário e de inflação, mediante a manutenção de taxas elevadas de juros (SELIC/COPOM).
O crescimento do período se deveu a um cenário internacional favorável aos preços das
commodities e a China foi a grande compradora das exportações brasileiras (IBIDEM, p. 33).
83
Com base neste artigo, refletimos sobre o quanto a consciência crítica de Freire
(1969) se faz presente nesse momento. Acreditamos que o conhecimento histórico de
uma população se torna essencial para os demais povos; o que nos faz pensar, por
consequência, que as comunidades constituintes de nosso país devem saber a história
dos povos que contribuíram para a formação da referida nação.
Ainda no governo em questão, tivemos um intenso investimento no ensino
superior por meio da instituição do Programa Universidade para Todos (Prouni), que
direciona bolsas de estudos a instituições privadas, assim como do Reestruturação e
Expansão de Universidades Federais (Reuni), que contribuiu para a expansão e a
85
A nossa preocupação com esse novo cenário que está no Ensino superior
consiste no reconhecimento da cultura negra na formação inicial de professores, pois,
por mais que haja as legislações que tornam obrigatório esse debate, observamos que
essas medidas estão longe da realidade da formação docente. Acreditamos que devemos
ultrapassar o terreno do diálogo e partirmos para a prática, pois estamos com 16 anos da
aprovação da Lei nº 10.639/2003 e, ainda, encontramos investigações científicas que
apresentam como resultado o desconhecimento da citada lei durante a realização da
formação inicial e continuada dos professores.
Diante desse cenário, após observarmos as contribuições realizadas pelo governo
de Luís Inácio Lula da Silva no que diz respeito às políticas educacionais, seguindo a
linha política, veremos como se deu a contribuição do governo de Dilma Rousseff
(2011-2016) em torno do diálogo intercultural e das relações étnico-raciais. Em 2012,
foi instituida, por meio da Lei nº 12.711/2012, a política de cotas que direciona 50% das
vagas em instituições públicas para os estudantes negros. A partir da aprovação dessa
lei, constatamos um aumento no número de estudantes da cor negra, o que possibilitou a
formação de uma universidade com um caráter mais plural cultural.
Em 2014, houve a construção do atual Plano Nacional de Educação (PNE – Lei
nº 13005/2014)21, que se estrutura em 20 metas, voltadas para os níveis e as
modalidades de ensino. A partir da leitura desse documento, salientamos que iremos
21
Em 2001, tivemos a construção de um plano Nacional de Educação (Lei nº 10172/2001),
cujas metas estavam relacionadas à formação inicial de professores, bem como à continuada
para aqueles que estão no exercício da docência.
86
22
Com base no documento final da CONAPE, salientou-se que, a partir do “[...] Decreto de 26 de abril de
2017 e a Portaria 577 de 27 de abril de 2017, entretanto, o MEC desmontou a estrutura do FNE e da
CONAE, excluindo arbitrariamente de sua composição várias entidades representativas, o que
constituiu uma ruptura com a construção de políticas públicas para a educação baseadas no diálogo
entre o governo, a sociedade civil e os movimentos da educação. Na nova composição do FNE –
inaceitável não só pela forma autoritária e unilateral com que foi determinada, como também pelo seu
conteúdo – o MEC ampliou fortemente a representação governamental e empresarial e reduziu
drasticamente a participação da sociedade civil. A Portaria atribui ao Ministro da Educação a função de
definir quem vai compor o FNE e compromete a estrutura democrática do Fórum e seus procedimentos
pedagógicos, políticos e operacionais” (FNPE, 2018, p.6).
23
Esta secretaria proporciona o diálogo com o movimento social e o Ministério da Educação para atender
às exigências dos movimentos sociais que lutam pelo reconhecimento racial na sociedade.
88
24
Esse caso nos chamou a atenção devido à violência que João Alberto sofreu no supermercado
Carrefour (G1)
25
O menino Miguel caiu de um prédio luxuoso no Recife, Pernambuco.
90
26
Esse debate foi aprofundado no tópico dessa pesquisa de doutoramento que intitula-se “O Diálogo
Intercultural e as Relações Étnico-Raciais nas Licenciaturas da UFPB: uma Análise nos Projetos
Políticos Pedagógicos (PPC’S)” porque não podemos dissociar o posicionamento do Neabi/UFPB na
91
27
Apple (2003, p.13) afirma que: [...] estão comprometidos com mercado e com a liberdade enquanto “
opção individual”.
28
Os neoconservadores caracterizam-se pela [...] visão de um passado edênico e quer um retorno à
disciplina e ao saber tradicional” (APPLE, 2003, p.13).
29
Os populistas autoritários constituem-se pelos “[...] fundamentalistas religiosos e evangélicos
conservadores que querem um retorno a (seu) Deus em todas as instituições” (APPLE, 2003, p.13).
30
Com relação à nova classe média, vale salientar que são “[...] gerentes e de profissionais qualificados
[...]” (APPLE, 2003, p.13).
31
Segundo a Lei nº 10.639/2003 estabeleceu-se o dia 20 de novembro como o dia da Consciência Negra
93
segundo ponto a ser abordado baseia-se na luta do movimento negro em prol do seu
reconhecimento e a obrigatoriedade de trabalhar com essa temática em sala de aula.
Com base nessa prerrogativa, analisamos a interferência dos Movimentos Brasil
Livre (MBL) para o campo intercultural e as relações étnico-raciais. O MBL teve
destaque a partir das manifestações de 2016 e apresenta propostas para o campo da
educação, saúde, segurança pública, dentre outros aspectos. Para a educação, o
movimento defende a desburocratização da educação, a interferência do financiamento
dos empresários nas pesquisas científicas, dentre outras. O movimento teve raízes a
partir do movimento Estudantes pela Liberdade (EPL), de acordo com Casimiro (2016,
p.354), segundo o qual,
Portanto, essa é uma luta que não deve ser travada apenas pela população negra,
mas por cada cidadão brasileiro, a fim de que tenhamos uma educação intercultural
implementada no campo educacional. Nesse sentido, compreendemos que estamos
enfrentando uma forte onda neoconservadora, a exemplo dos grupos mencionados como
o MBL, Escola sem Partido dentre outros, no qual trabalhar com as temáticas das
relações étnico-raciais e do diálogo intercultural torna-se um ato de resistência. Além
disso, por acreditar que a formação inicial de professores seja um dos caminhos para
que se construa a sua implementação, torna-se necessário que façamos uma pequena
discussão.
A nossa inquietação acerca dessa pesquisa surgiu a partir dos debates oriundos
em eventos acadêmicos e reuniões de entidades científicas, como a ANFOPE
(Associação Nacional pela Formação dos Profissionais da Educação) e a ANPAE
(Associação Nacional de Política e Administração da Educação), que tem como
propósito contestar as alterações que vêm ocorrendo na Resolução CNE/CP nº 02/2015
(as Diretrizes Curriculares Nacionais para a formação inicial em nível superior – cursos
de licenciatura, cursos de formação pedagógica para graduados e cursos de segunda
licenciatura – e para a formação continuada). Durante os encontros mencionados,
constatamos que essas alterações podem interferir no nosso objeto de estudo e na
política educacional para a formação de professores. Sendo assim, compreendemos que
essas modificações nesse documento não vieram sem nenhuma justificativa, uma vez
que, por trás dessas mudanças, encontramos interesses de um grupo social com o
objetivo de fragmentar e descaracterizar a formação inicial de professores.
Com base nesse argumento, precisamos refletir acerca da política educacional
voltada para a formação de professores e em articulação com o diálogo intercultural,
assim como com as relações étnico-raciais. Para isso, necessitamos relembrar a
trajetória dessas políticas de formação de professores a partir dos anos 1990 e, em
seguida, analisarmos os papéis das entidades científicas, como ANPED (Associação
96
Por sua vez, o art. 13, especificamente o segundo inciso da Resolução CNE/CP
nº 02/2015, salienta a respeito da obrigatoriedade de um componente curricular
32
A meta 16 estabelece sobre a formação continuada dos professores.
33
A meta 17 determina sobre as políticas de valorização dos professores.
34
A meta 18 delibera sobre os planos de carreira dos professores.
99
relacionado à temática das relações étnico-raciais, como podemos observar nas palavras
abaixo:
Com base em Albino e Silva (2019, p.149), a Base Nacional Comum para a
formação de professores surgiu no:
1980, e não podemos deixar de mencionar a luta dos diferentes movimentos culturais
para que essa temática se concretize.
Em outro trecho, o documento afirma sobre a “[...] adoção de uma perspectiva
intercultural de valorização da história, da cultura e das artes nacionais, bem como das
contribuições das etnias que constituem a nacionalidade brasileira” (BRASIL, 2019,
p.5). Neste sentido, esse artigo ressalta o que estamos defendendo nesta pesquisa de
doutoramento a respeito da necessidade de trabalharmos com e entre as diferentes
culturas.
Diante disso, essa análise na Resolução CNE/CP nº 02/2019 tornou-se
necessária devido aos seguintes motivos: a Resolução CNE/CP nº 2/2015 tinha sido
recém-aprovada, e os cursos de graduação (licenciatura e bacharelado) estavam em
processo de reformulação curricular. Na UFPB, houve a primeira reformulação dos
PPCs em 2017, no caso do curso de Física (um curso de bacharelado), e, nas
licenciaturas, os projetos foram aprovados a partir dos anos de 2018. Nesse sentido,
outros cursos que estavam em processos de reformulação tiveram que retornar ao início
das discussões para que se adequassem à Resolução CNE/CP nº 2/2019 enquanto os
cursos de graduação precisam se ajustar até três anos, conforme dito anteriormente.
Além disso, criticamos esse documento, pois os cursos de graduação devem se adequar
à Base Nacional Comum Curricular (BNCC), e esse alinhamento precisa ser construído
entre aqueles que fazem parte das Instituições de Ensino (IES), ou seja, precisamos
implementar uma ação coletiva (FREIRE, 1987).
Outro ponto a ser problematizado consiste no posicionamento das principais
entidades cientificas a respeito da Resolução CNE/CP nº 02/2019. Sendo assim, a
Associação Nacional pela Formação dos Profissionais da Educação (Anfope) criticaram
esse documento, pois aponta uma indissocialidade entre a formação inicial e continuada
dos professores. Essa divisão contradiz a luta da citada entidade científica que defende a
necessidade de se trabalhar de forma conjunta a formação inicial e continuada docente.
A Associação Nacional de Política e Administração da Educação (ANPAE)
ressalta que esse documento significou “[...] a melhor forma de não enfrentar os
problemas reais da educação brasileira. Vemos um monstro emergir da lagoa, mais um,
que nos tomará tempo e ampliará a neblina em torno dos problemas da educação
brasileira que, de fato, podem e devem ser enfrentados.” (ANPAE, p. 1, 2020). Esse
posicionamento nos fez pensar nas máscaras em torno das políticas educacionais
voltadas para a formação de professores. Acreditamos que, ainda da aprovação desse
103
documento, deveria ter ocorrido uma consulta pública com os professores, a fim de que
analisem se a Resolução CNE/CP nº 2/2015 foi incorporada nos Projetos Pedagógicos
de Curso (PPCs) e como se deu a sua implementação nos cursos de licenciatura.
A Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Educação (Anped)
manifestou-se sobre a esse documento ao afirmar que:
surpreendeu durante a pesquisa de campo, conforme foi relatado por Mãe Olga do
Alaketu.
Outra importância desse acordo consiste no entendimento de que as relações
étnico-raciais e a interculturalidade não significa trabalharmos com apenas uma cultura
e de forma isolada, pois podemos inseri-la com a discussão dos direitos humanos,
conforme o próprio documento ratifica e a UFPB. Candau (2013, p.156) assevera a
respeito das consequências de se construir uma educação antirracista e intercultural que:
35[...]
deve favorecer a consciência da própria identidade cultural que, em geral, se dinamiza em
contraste com o Outro, o diferente. É, portanto, processos entrelaçados e entrelaçados. É
importante também ter em mente a advertência de que para ser autêntica a interculturalidade
deve promover o diálogo em pé de igualdade, e isso não deve ser dado como pressuposto, mas
sim favorecido pelo mesmo processo intercultural, empoderando grupos que precisam de um
maior afirmação de sua identidade, para que a igualdade possa ser construída e afirmada na
mesma interação intercultural Candau (2013, p.156).
107
Quadro 4 – Componentes Curriculares que orientam sobre as relações étnico-raciais e o diálogo intercultural nas licenciaturas da UFPB
Educação e 04 60 Optativa
Letras Relações étnico- Sem ementa
Licenciatura Em raciais e ensino de
Língua Espanhola história e cultura
afro-brasileira,
africana e indígena
Letras Educação das Estudo da História da África e dos Africanos. 04 60 Optativa
Licenciatura Em Relações Étnicos A luta dos negros no Brasil. História e cultura
Língua Francesa Raciais e para o negra brasileira. O negro na formação da
Ensino de História e sociedade nacional. Resgatando a contribuição
Cultura Afro- do povo negro nas áreas social, econômica e
Brasileira políticas pertinentes a História do Brasil.
Políticas de reparações, de reconhecimento e
valorização, de ações afirmativas. Ações
educativas de combate ao racismo e a
discriminações
Letras Relações Étnico- Sem ementa 04 60 Optativa
Licenciatura Em Raciais e Ensino de
Língua Inglesa História e Cultura
Afro-Brasileira,
Africana e Indígena
36
Durante a pesquisa de campo, encontramos componentes curriculares que dialogam sobre as
relações étnico-raciais e o diálogo intercultural e, infelizmente, não há professor para lecionar
esses componentes. Logo, os coordenadores justificaram que os Projetos Pedagógicos de
Curso estão sendo implementados no terceiro semestre dos cursos, ou seja, no início das
licenciaturas.
115
populações negra e indígena, dentre outros povos. De acordo com o mesmo documento,
existe a seguinte orientação:
[...] atuar em projetos educacionais na área da diversidade cultural,
trabalhando com grupos e comunidades quilombolas, indígenas,
ciganos, assentados, etc., no resgate, defesa e propagação das diversas
culturas, na formação de professores para atuarem com estas
comunidades e com a diversidade cultural (UFPB, 2018, p.7).
Professora Leda Maria Então, a/.../ de/.../ isso é pra todos os componentes da/.../
Martins curriculares. Cada um cuida do seu. Então o principal desafio é
que não se/.../ que essa necessidade que se expressa como
componente curricular, ela seja entendida como/.../ o
componente curricular devia ser um ponto de política maior,
educacional/.../ né?/.../ ética, das relações dentro da
universidade. E aí se expressa no componente a discussão
aprofundada, a leitura.
Professor Emílio Santiago E agora eu vou criar um outro grupo de pesquisa que é o grupo
de pesquisa: Em cena preta. E aí, a gente já começou um plano
de trabalho nesse grupo de pesquisa, tenho do/.../ a gente tem/.../
eu tenho dois bolsistas PIBICs. E aí um deles tá fazendo um
levantamento dos currículos das universidades do nordeste, de
artes cênicas/.../ né?/.../ de dança e teatro, pra analisar onde que
a cena preta, dança preta, o teatro preto tá inserido nos
currículos.
Professora Munanga Agora, pode, a gente pode trazer esses elementos. Por isso que
eu digo, a gente não transporta, a gente está transpondo esse
conhecimento para cá para a gente fazer à nossa cara. Então por
que que hoje nós estamos na interculturalidade. Hoje na filosofia
a gente está no decolonialismo, porque trazendo pensamentos
filosóficos da América Latina.
119
Professor Carlos Moore eu dei quatro temas: 1) a África para os gregos (a visão do grego
sobre o Egito e a Etiópia); 2) África para os Romanos (a visão
sobre Cartago e Alexandria); 3) Liberdade e escravidão na
antiguidade clássica; 4) Proto racismo. Eles estão descobrindo
essas informações. Eles estão retomando essas obras com o viés
crítico, que antes era só de admiração, de contemplação do
passado. Então, a primeira ideia da disciplina foi de dar todos
esses pontos e a ideia de rever com o olhar mais crítico.
Professor Fanon Não é só a raiz. É a raiz, o tronco e as folhas. [risos]. A grande
parte de nossos docentes tem essa formação eurocêntrica e
hegemônica e machista. A grande parte não tem essa formação
decolonialidade, nesse estilo eu tenho que desaprender para
aprender de novo. A formação de quem entra em concurso
público aqui, aprendeu, mas, não desaprendeu. O que o
profissional que é formado nesse contexto traz pra gente? O
eurocentrismo.
Fonte: Elaborado pela autora (2021)
[…] não passa nunca despercebida, dado que afecta o ser, modifica
fundamentalmente o ser, transforma os espectadores esmagados pela
falta do essencial em actores privilegiados, amarrados de maneira
120
37
[...] a interculturalidade é entendida como um processo e uma prática que tenta romper com a
história hegemônica de uma cultura dominante e subordinada – romper com a matriz colonial
e sua companheira: a mestiçagem como discurso de poder – para reforçar identidades
tradicionalmente excluídas e buscar espaços de autonomia (WALSH, 2009, p.49-50,
TRADUÇÃO LIVRE).
121
38Walsh (2013, p. 36-64, tradução livre): [...] as pedagogias descoloniais, portanto, não se
referem à leitura de um panteão de autores; nem são proclamados como um novo campo de
estudo ou paradigma crítico. São construídos de diferentes formas nas próprias lutas, como
necessidade de sustentar e compreender criticamente o que se está a enfrentar, contra o que se
deve resistir, levantar e agir, com que visões e horizontes diferentes, e com que práticas de
intervenção pró-ativa e insurgências, construção, criação e liberação
122
Professora Mercedes Mas também a gente precisa ter mais diálogo. Né? Porqueee/.../ a gente tá
Batista tendo experiências no Brasil inteiro de/.../ de pessoas/.../ééé/.../ que trazem
essas propostas muito interessantes, que querem reivindicar essas questões,
mas que tão engessando, colocando/.../ééé/.../ eu acho que deturpando a
ideia de apropriação cultural.
Professora Leda Eu acho que/.../ aaah/.../ a ge/.../ aaah/.../ principalmente a gente trabalha a
Maria Martins partir do reconhecimento e valorização da história pessoal. Então, ééé/.../
antes da gente apresentar os conceitos, e tal, a gente pede pra que cada um
busque reconhecer, na história da própria família, onde tá esse/.../ essa ponte
de diálogo com essas culturas reprimidas/
Olha, dentro do trabalho de aula, a gente se organiza muito em função da
troca de saberes/.../ né?/.../ então, não tem como não ter um diálogo/.../
né?/.../ Eeeee/.../ e faz parte disso, dialogar com os grupos de onde essas
danças vão. Então a gente vai a campo/.../ né?/.../a gente vai pro coco, ou a
gente traz uma Mestra Tina pra dança, tal/.../ dar aula aqui/.../né?/.../ Então a
gente estimula também um diálogo fora dos muros/.../ né?/.../
Professora Mãe Olga E teve um que ele perguntou se ele achava também importante esse
do Alaketu conteúdo. E a pessoa disse: “enquanto houver racismo, é importante e
deveria ser obrigatório”.
Professora Há mais ou menos 1 ou 2 anos houve uma alteração pela reitoria, pelo
Audre Lorde PRG, de incluir em todos os cursos, não somente licenciatura, mas
bacharelado, a temática. Então, isso é um passo importante. Ainda é
complicado... provavelmente não ta sendo feito da maneira como a
gente gostaria que fosse, que estivesse em todo currículo, que ela
aparecesse interligada com as outras disciplinas, os outros debates, mas
já é um passo a mais. Já foi pior.
Professor [...] eu acho que o que falta, e o que sempre faltou, é uma consciência
Emílio Santiago de que o racismo atravessa nossa experiência/.../ éé/.../ e um desejo de
modificar isso. É/.../ quando a gente tra/.../ trabalhar/.../ né?/.../ operar
com essa consciência de que o racismo tá entre a gente/.../ né?/.../ e de
que a gente precisa modificar isso, deseja modificar isso, a gente vai tá
trabalhando com uma educação antirracista, aumentando/.../ éé/.../
processos pedagógicos antirracistas
Professora Aqui é totalmente (inaudível) com uma profissão ele pode comprar a
Munanga sua liberdade, a escravidão não está superada. Só no final, mais de
duzentos anos de escravidão. Mas em resumo é isso aí. Eu tento traçar
essa relação de uma questão filosófica lá e trazer isso para cá. Isso aí, a
gente vai discutir sobre o texto que eu te falei. Aí eu trouxe o tempo
aqui, porque já tem uns três ou quatro semestres com esse texto. Aí tem
um texto aqui que eu tirei sobre a lei, essa lei de 2003 que traz a
questão, aí eu já apresento um texto pequeno atual, aí já colocar ele
para ler em sala de aula e vou puxando. Aí eu tenho que fazer essas
relações (inaudível) foi um que eu te falei que é uma carta, uma carta
de um judeu que ele deixou no campo de concentração nazista. Que
tem até Educação após Auschiwitz.
Professor [...] a meu ver está sendo contemplado, uma vez que eu como professor
Carlos Moore estou me empenhando bastante (já que não é minha área), estou me
interessando muito, em especial por que a gente conseguiu assuntos da
área que tocam o conhecimento específico do curso. Muitas vezes os
alunos reclamam que quando vão cursar alguma disciplina fora de outra
área, muitas vezes não tem uma conexão direta do conhecimento que
esta sendo passado pra ele e do conhecimento que ele busca, ou seja, do
mundo clássico. Mas, as vezes são duas realidades diferentes e o
vínculo não é estabelecido, e parece que as vezes ele não consegue ver
a relação por que as vezes o professor não é da área e não consegue
fazer esse link.
Professor É uma situação que se tem que avaliar no mundo... é uma questão de
Fanon despertar o interesse. Por exemplo, nós temos a resolução da
obrigatoriedade. Tem uma questão... muitos cursos tem licenciaturas: a
Educação Física, a Farmácia, a Química, a Física, a História. A grande
dificuldade é: qual o preparo desse grupo de docentes para trazer a
129
raciais. Conforme ressaltamos no decorrer dessa pesquisa, apontamos que essa lei
fortaleceu a obrigatoriedade e a implementação das relações étnico-raciais na seara
educacional. Compreendeu-se que a conscientização também está atrelada com a
necessidade de conhecermos o nosso processo histórico que foi e é marcado por
inúmeras tentativas de silenciar a população negra, por exemplo.
Esse processo de conscientização requer que a sociedade, no nosso caso, a
comunidade acadêmica esteja preparada e ressalte a importância de aumentarmos ou
trabalharmos de forma interdisciplinar a temática das relações étnico-raciais e da
interculturalidade, a fim de que tenhamos uma formação inicial de professores com um
caráter antirracista, a exemplo do que Rocha e Silva (2013, p.73) afirmam:
Professor Carlos Na maioria, os alunos da noite, são alunos mais maduros. Isso significa
Moore que eles são mais abertos ao debate e a princípio eles não debateram ou
foram contra pois eu geralmente trago os instrumentos, as resoluções,
para mostrar como é a formação de licenciatura e por que se cobra de
determinados assuntos. Para a questão de relações étnico raciais é um
de 2004, 2015 (obrigatoriedade), o PPC como foi pensado, e coloquei
para eles um material do MEC que é sobre as orientações e ações para o
ensino das relações étnicos raciais e a história, então sempre tento trazer
os contextos da licenciatura e dispositivos legais e o que pedem. Então,
acho que isso deixa claro que aquilo não é um acaso, não é uma escolha
133
que trabalhem com o objeto de estudo. Ademais, a professora Munanga faz uma crítica
à formação inicial de professores que incorpora um componente curricular o qual trata,
especificamente, sobre as relações étnico-raciais e o diálogo intercultural nos cursos de
licenciatura. Freire e Shor (2013, p.107) afirmam que “[...] A ideia é fazer da reflexão
crítica da sociedade uma atividade fundamental”. Nesse sentido, torna-se necessário
realizarmos uma análise crítica a respeito da situação e do espaço que o debate das
relações étnico-raciais e do diálogo intercultural possuem na matriz curricular dos
cursos de licenciatura. Compreendemos que esse processo não é fácil, mas precisa ser
feito para que o seu debate seja concretizado.
Com base nas reflexões do professor Carlos, ressalta-se que o empoderamento
deu-se a partir da consciência de classe, bem como de uma ação coletiva do movimento
negro que reivindicou a sua obrigatoriedade na formação inicial de professores.
Seguindo essa perspectiva de empoderamento sob a forma de implementar-se esse
debate por meio de componentes curriculares, o professor Fanon relatou sobre como
está induzindo o empoderamento na formação de professores a partir do entrelaçamento
da sua área de atuação com o conhecimento que precisa repassar para os estudantes do
curso que está lecionando.
A partir das entrevistas realizadas com os professores constatou-se que o
empoderamento dá-se à medida que tivermos a garantia de um maior espaço por meio
dos componentes curriculares e de professores que tenham desenvolvido pesquisa e/ou
estudado a respeito da temática das relações étnico-raciais e do diálogo intercultural na
formação inicial de professores. Além disso, torna-se importante que a consciência de
classe seja construída com e pelos estudantes, a exemplo de ações como o conhecimento
de pesquisadores em nível nacional que vem investigando sobre a temática, por meio de
componentes curriculares mencionados pelos professores entrevistados nessa pesquisa.
A quinta categoria de análise identificada nas entrevistas realizadas com os
professores foi a práxis. Compreendemos que, como docentes, precisamos (re) avaliar a
nossa prática pedagógica a fim de que possamos atingir a formação dos estudantes.
Quadro 9 – Presença da práxis nas entrevistas com os professores
PROFESSOR TRECHO DESTACADO DA ENTREVISTA
Professora Mãe Olga Do processo autoavaliativo, eu acho que eu ainda tenho muita coisa
do Alaketu a aprender, e algumas coisas que eu gostaria de fazer. Eu gostaria
de melhorar mais, muito mais, por exemplo cada vez eu fico louca,
estudando, estudando vou aqui, pego o livro ali, pego outra coisa,
num posso. TUDO que tá saindo de novidade, eu tô comprando.
Compro mais roupa não, é só livro, é tal/.../ é história da arte/.../
135
Professor Emílio Então /.../ É feito na prática, né? Eu vou trazendo matrizes de
Santiago movimento de culturas africanas, de disparidades afro-brasileiras.
Então, éé/.../ é um corpo em movimento com uma cara de dança
preta.
Professor Carlos [...] a maior dificuldade e o desafio é que não são todos os
Moore professores que se engajam, que compram essa ideia ou querem
essa formação. Quando eu comecei a trabalhar com instâncias
pedagógicas eu comecei a me envolver e participar. Há professores
que evitam e não sabem como isso funciona. Isso fica mais difícil:
convencer alguém que nem se propõe a ler esse tipo de material ou
a entender a lei. A dificuldade é entre os pares.
Professor Fanon Nos projetos que fiz parte da equipe, eram projetos de educação
sexual, ambiental e musical na escola, embora não tratem de
questões raciais no título, mas, eu fazia um recorte no trabalho
abordando essa questão e fazia essa aplicação. Eu utilizo
geralmente cientistas negros. A estratégia é não dialogar
diretamente, mas, levantando os dados, abordo a temática racial.
Na monitoria, por exemplo, fazia um questionário com os
estudantes e perguntava a cor, a religião e se conhecia a lei... e
dentro disso, passava o projeto discutindo com os estudantes como
a lei trabalha essa questão. Eu buscava fazer com que eles
dialogassem com Biologia. Eu tinha uma exigência pessoal de se
fazer no roll da reitoria. Eu tenho uma estratégia para trabalhar a
temática. Eu trabalho nas ciências biológicas a educação das
relações étnico raciais desde 2007 e ninguém reclamou a respeito
de algum processo de balbúrdia, ou que eu esteja fugindo do tema,
fazendo lavagem cerebral. Eu faço a exposição da lei e seus
desdobramentos, relacionados ao tema especifico. Então, desde
2007 eu venho realizando esse trabalho e com esse perfil.
Fonte: Elaborado pela autora (2021)
perspectiva intercultural. Além de entender que a práxis se dá com base nos estudos e
nas suas reflexões obtidas por meio da pesquisa. Com isso, entendemos que os
estudantes precisam se aproximar de escolas municipais e estaduais, conhecer as ações
desenvolvidas pelos professores. Freire (1996, p.22) assevera sobre “[...] discutir com os
alunos a razão de ser de alguns desses saberes em relação com o ensino dos
conteúdos[...]”. Além disso, torna-se necessário que esses conteúdos partam da
realidade dos estudantes, pois, no decorrer dessa pesquisa, foram coletados
questionários com os alunos de licenciaturas dos mencionados cursos de graduação que
se identificaram com a população negra e que precisam se reconhecer no seu espaço
formativo.
O professor Emílio Santiago ressaltou que a práxis está presente em sua prática
pedagógica por meio do conhecimento da história afro-brasileira. Ademais, os
professores precisam ter acesso aos pesquisadores que estão investigando acerca da
temática e as ações pedagógicas desenvolvidas pelos docentes. Essa mesma discussão
esteve presente na entrevista realizada com o professor Carlos Moore quando menciona
sobre as resistências que enfrentam ao buscar implementar o debate das relações étnico-
raciais e do diálogo intercultural. Fleuri (2014, p.94) sinaliza que “[...] entendem a
diversidade cultural na busca de incluir, subjugando, os grupos étnicos historicamente
colonizados[...]” e coaduna com o debate que estamos estabelecendo a partir das
entrevistas desses dois professores.
Por outro lado, o professor Munanga menciona e exemplifica os entraves ao
implementar o debate das práxis existentes para a implementação das relações étnico-
raciais e do diálogo intercultural na formação inicial de professores por meio do campo
da pesquisa. O citado professor mencionou as estratégias que passou a adotar para que
os seus projetos sejam aprovados, bem como a divulgação dos resultados obtidos por
essas pesquisas na UFPB, a exemplo da utilização de sinônimos que abordem sobre as
relações étnico-raciais e a interculturalidade na formação inicial de professores da
Universidade Federal da Paraíba (UFPB).
Diante disso, contatou-se que a práxis está presente na formação inicial dos
professores mediante o compartilhamento das experiências obtidas nos semestres
anteriores e por meio do estudo o qual oportuniza conhecer e pesquisar acerca das
práticas pedagógicas desenvolvidas pelos docentes, a fim de que possam implementar a
temática das relações étnico-raciais e do diálogo intercultural. Acreditamos que esse
seja um dos caminhos, e torna-se preciso exigir que os cursos de licenciatura tenham
137
se enviando uma carta (RAMOS, 2021). Nesse sentido, sinalizamos que as professoras
apresentaram esse envolvimento em suas cartas.
Diante disso, aponta-se que nos baseamos na pedagogia de Paulo Freire
(1987,1996) e nas mencionadas categorias de análise utilizadas nessa pesquisa,
conforme observamos nos quadros abaixo:
[...] diálogo crítico e libertador, por isto mesmo que supõe a ação, tem de ser
feito com os oprimidos, qualquer que seja o grau em que esteja a luta por sua
libertação. Não um diálogo às escâncaras, que provoca a fúria e a repressão
maior do opressor.
40 Oliveira e Candau (2013, p.293, tradução nossa) “[...] a importância de incluir a história do
negro nos currículos escolares, bem como o reconhecimento do caráter multiétnico da nação
brasileira. Essas discussões se intensificaram na década de 1990, quando o conceito de afro-
descendência começou a ganhar força como fator de mobilização social e como categoria
histórica definidora do pensamento étnico. Ao mesmo tempo, no mesmo período, a categoria
cultura, associada a categorias como identidade e etnia, tornou-se fundamental nas
discussões sobre currículo e educação em geral.”
142
41
Segundo a explicação feita pelo professor, o inventário consiste em um diário das atividades
que foram feitas pelos estudantes.
42
Vireira (2015, p.1) afirma que as bonecas de Abayoni consistem [...] para acalentar seus filhos
durante as terríveis viagens a bordo dos tumbeiros – navio de pequeno porte que realizava o
transporte de escravos entre África e Brasil – as mães africanas rasgavam retalhos de suas
saias e a partir deles criavam pequenas bonecas, feitas de tranças ou nós, que serviam como
amuleto de proteção. As bonecas, símbolo de resistência, ficaram conhecidas como Abayomi,
termo que significa ‘Encontro precioso’, em Iorubá, uma das maiores etnias do continente
africano cuja população habita parte da Nigéria, Benin, Togo e Costa do Marfim.
43
As bonecas Abayoni consistiram em uma das atividades pedagógicas desenvolvidas pela
professora Mãe Olga do Alaketu durante o semestre letivo. Sendo assim, no decorrer da
entrevista, ela mencionou a respeito da realização dessa atividade desenvolvida pelos
estudantes do período anterior, o que nos possibilitou tirar fotografias que se encontram em
anexo desse trabalho. A mesma solicitação foi feita para os professores Emílio Santiago e
Fanon sobre o inventário e a exposição do Hall da Reitoria, mas não foi disponível.
143
Esse capítulo visa analisar o ponto de vista dos coordenadores de curso acerca
do processo de implementação do debate das relações étnico-raciais e do diálogo
intercultural nos Projetos Pedagógicos de Curso. Justificamos que essas entrevistas
foram importantes para essa pesquisa devido ao papel dos coordenadores ao
sistematizar uma orientação feita pelo Ministério da Educação e da própria instituição a
que está vinculada. Nesse sentido, analisamos as entrevistas a partir das categorias de
análise que estão presentes na pedagogia de Paulo Freire e que foram estudadas nas
declarações dos professores da Universidade Federal da Paraíba.
A primeira categoria investigada nas falas dos coordenadores foi a
decolonialidade, que compreendemos sob a perspectiva de apontarmos sobre como se
deu a inserção da temática das relações étnico-raciais e do diálogo intercultural na
formação inicial de professores. Nesse sentido, torna-se necessário mencionar que o
processo de incorporação dos componentes curriculares deu-se nos Projetos
Pedagógicos de Curso a partir do seguinte processo: da colaboração do Núcleo Docente
Estruturante, dos coordenadores de curso e dos estudantes, situações ocorridas durante
as reuniões do colegiado de cada curso das licenciaturas. O Quadro 13 indica o que cada
coordenador(a) pensa com relação à decolonialidade, conforme se observa abaixo:
Quadro 13 – Presença da decolonialidade nas entrevistas com os coordenadores de curso
COORDENADOR (A) TRECHO DESTACADO DA ENTREVISTA
44
O Departamento de Língua de Sinais “[...] atende a 64 cursos presenciais (Licenciatura e
bacharelado) e 19 disciplinas no Letras Libras na modalidade EAD, exercendo assim, o
decreto nº 5.626/05 que regulamentou a Lei de Libras nº 10.436/02” (UFPB, 2018, p.1).
145
Dessa forma, o fato de termos as disciplinas que tratem sobre as relações étnico-
raciais e o diálogo intercultural na formação inicial de professores consiste em um
significativo avanço, mas a reivindicação da materialização desses componentes nas
práticas pedagógicas dos estudantes torna-se necessária. Compreendemos que a
contribuição dos movimentos sociais, bem como a busca por atender a uma exigência de
uma política educacional contribuem para esse processo. Desse modo, apesar de os
coordenadores sinalizarem a importância do debate das relações étnico-raciais e do
diálogo intercultural, houve uma sinalização a respeito de como foi inserida essa
temática nos PPCs, pois essa orientação veio de uma política educacional, mas não se
pensou em um diálogo sobre como fazê-lo na prática.
Daí a importância de compreendermos a respeito de como esse diálogo foi
construído durante o processo de reformulação curricular. A construção de um diálogo a
45
A exemplo do autor: TINHORÃO, J. Sons dos Negros no Brasil. Cantos, danças, folguedos, origens.
São Paulo: Ed. 34, 2008
146
CP – Campus IV Eu não acho que contempla nesse sentido. Mas penso que
contempla no sentido de que ele está proposto no programa, no
PPC. Só que pode ser que o aluno passe pelo curso e não estude
147
né?/.../ étnico-raciais.
CPC – Campus I Que é a optativa obrigatória que eles têm que fazer. Então, eu
digo que reivindicação não há, porque já existia no PPC. E na
reestruturação continuou. Até porque é lei. Né? Eee/.../ alias,
não é porque é lei. Né? A gente entende/.../ éé/.../ que é
essencial. Se você pegar, éé/.../ aaa/.../ o perfil, ééé/.../ dos
nossos egressos, uma das/.../ ééé/.../ um/.../ um/.../ um dos
objetivos que caracteriza esse perfil, é exatamente a
consciência/.../ ééé/.../ dessas/.../ da necessidade de se
trabalhar com a diversidade cultural.
CCB – Campus I [...] foi uma recomendação do Conselho Nacional de
Educação para que fosse incluída a temática ou como uma
disciplina ou inserida em uma disciplina existente. Mas, já
veio tarde.
CP – Campus IV Parte-se das resoluções existentes, carga horária mínima, os
aspectos legais para que seja feito a proposta e são esses
aspectos que conduzem muitas das discussões.
Fonte: Elaborado pela autora (2021)
46
Ademais, faz-se necessário mencionar que, nesse curso, esse componente curricular encontra-
se de forma optativa.
151
acreditam que esse debate não deve ser verticalizado e, sim, construído pelos
coordenadores, professores e estudantes.
Os discursos e experiências com elementos dessas categorias muito presentes
contribuem positivamente para que seja implementada com eficácia. Dessas
observações, duas inferências podem ser apresentadas acerca de cenários onde não há
um alinhamento nas atitudes e ações de coordenadores e professores das disciplinas que
abordam a temática: a primeira diz respeito à causa desse desalinhamento. Esse pode
ocorrer devido à insuficiência do diálogo quanto ao processo de inserção. Não se sabe
se as lacunas de diálogo existem porque há dificuldade de construir consensos sobre o
assunto ou se decorre da escassez da troca de informações sobre o assunto. Já a segunda
é relativa à consequência do desalinhamento. Se a ausência de elementos importantes
para a eficácia da inserção existe nas coordenações, então, a articulação dos docentes do
curso para trabalhar com a temática pode ser deficiente. Em um cenário onde essa
deficiência existe, o processo de inserção pode ser conduzido basicamente por aqueles
professores ligados às disciplinas que trabalham com a temática de forma isolada entre
esses e deles com os demais docentes do curso. A articulação da docência em torno da
temática pelas coordenações é importante para o processo de inserção. Essa articulação
tende a ser melhor se houver um alinhamento do discurso entre professores e
coordenadores.
158
48
A literatura especializada estabelece que modelos com KMO superior a 0,7 sugere uma
adequação suficiente para o modelo e que valores superiores a 0,8 indicam uma adequação
boa. Então, esse índice aponta para uma adequação.
161
Item 3 0,724 - -
Item 4 0,81 - -
Item 5 - - 0,734
Item 7 - - 0,814
Item 8 - 0,731 -
Item 9 - 0,716 -
Item 10 - 0,83 -
Item 11 - 0,777 -
Item 12 - 0,751 -
Item 14 0,833 - -
Item 17 0,665 - -
Item 19 0,891 - -
Item 20 0,753 - -
Item 21 0,539 - -
Item 24 - - 0,743
Fonte: Elaborado pela autora (2021)
164
Do Quadro 20, observa-se que a dimensão 1 é composta pelos itens 3, 4, 14, 17,
19, 20 e 21. Os itens que tiveram maiores valores de cargas fatoriais na dimensão 2
foram 8, 9, 10, 11 e 12. Na dimensão 3, os itens 5, 7 e 24 apresentaram os maiores
valores de cargas fatoriais.
Os itens 3,4,14, 17, 19 e 20 avaliam aspectos relacionados à importância que os
estudantes atribuem sobre o diálogo intercultural e as relações étnico-raciais. De fato,
eles foram alocados em uma mesma dimensão (Dimensão 1), a qual também incluiu o
item 21, planejado para estar na dimensão motivação, no intuito de trabalhar com a
temática. Esse item está transcrito no instrumento como: “Me interesso em conhecer
práticas pedagógicas exitosas sobre a temática na educação básica”. É um item que
também apresenta uma ligação semântica com a importância que o estudante atribui à
temática. Dessa forma, o aluno não declararia interesse em conhecer mais sobre relações
étnico-raciais e interculturalidade se não atribuísse importância.
Os itens 8, 9, 10, 11 e 12 foram concebidos para abordar os subsídios que o
curso fornece aos estudantes para trabalhar com a temática. Esses são os itens
pertencentes à Dimensão 2. Logo, essa será a interpretação atribuída a essa dimensão.
Os itens 5, 7 e 24 foram planejados para abordar aspectos ligados com a
motivação dos estudantes para trabalhar com a temática. Visto que esses foram os itens
presentes na Dimensão 3, entende-se que tenha esse significado. A categoria de
motivação para trabalhar com a temática está relacionada ao empoderamento porque
não é possível estar motivado se não há um aumento da percepção da capacidade de agir
nesse sentido. Logo, aqueles que apresentam alta motivação para trabalhar com a
temática só podem se sentir assim se entenderem que são capazes e se tiverem tal
desejo, ou seja, se estiverem empoderados quanto a atuar com a temática.
Portanto, as Dimensões 1, 2 e 3, respectivamente, agrupam itens referentes aos
aspectos importância atribuída, subsídios do curso para efetuar esse trabalho e
motivação para o trabalho com a temática. Respostas altas nos itens de uma mesma
dimensão sugerem uma tendência de avaliação naquela dimensão do questionário.
6.2.3 Modelo de análise fatorial confirmatória para avaliação empírica das dimensões da
versão final da proposta de questionário
165
O ajuste inicial desse modelo por meio da biblioteca lavaan apresentou todos os
índices de ajuste presentes na Tabela 1 adequados. Porém, apenas a associação entre
Motivação para trabalhar com a temática e Importância atribuída a essa foi significativa
enquanto a associação dessas dimensões com subsídios para trabalhar com a temática
49
Nesse sentido, faz-se necessário mencionar que os itens se referem as questões do
questionário e que foram excluídas dez perguntas após os testes de hipótese realizado para a
construção da análise fatorial exploratória.
166
não foi significativa. Por essa razão, foi feito um reajuste do modelo sem as ligações
que não foram significativas. Ao fazer esse reajuste, os índices de adequação do modelo
apresentados na Tabela 1 foram mantidos, indicando que o modelo era adequado.
Por fim, a Tabela 4 apresenta outro parâmetro do modelo, que são as variâncias.
Essas medidas indicam o quanto os itens tendem a variar por si. A variação é o nível de
discordância entre as respostas. Em um modelo de análise fatorial exploratória,
identificam-se dois tipos de medidas de variação. Sendo a covariância uma medida de
variação conjunta (que reflete a associação entre os itens) e a variância uma medida de
variação específica do item (que não é decorrente de associações). Ambas refletem
168
Número de estudantes 70 8 37 27
Fonte: Elaborado pela autora (2021)
O grupo de estudantes dos cursos de Licenciatura em Letras foi aquele que teve
maiores variações dos escores, sendo, assim, aquele no qual houve maior discordância
das respostas (observar os valores de desvio padrão no Quadro 21). Essas variações nas
respostas de cada grupo são importantes porque se busca no processo de implementação
da temática que não somente melhores avaliações sejam feitas, mas que não apresentem
muitas discordâncias neste sentido.
Na dimensão que trata sobre a avaliação dos subsídios dados pelo curso para o
trabalho com a temática, observa-se uma tendência a piores avaliações acerca do curso
por parte do grupo de estudantes de Ciências Biológicas (observar as medianas no
quadro 22). As melhores tendências de avaliação quanto a essa dimensão foram
efetuadas pelos estudantes do curso de Licenciatura em Dança (notar essa diferença
pelas medianas presentes no Quadro 22), embora tenha sido também para esse curso as
maiores diferenças observadas nas respostas (observada no desvio padrão também no
Quadro 22).
Quadro 22 – Medidas descritivas dos escores para a dimensão Subsídios dados pelo
curso para trabalhar com a temática
Curso
Parâmetro Ciências Pedagogia do
Dança Letras
Biológicas Campo
Mediana -0,0828 0,8766 0,4031 0,1399
Número de estudantes 70 8 37 27
Fonte: Elaborado pela autora (2021)
171
Número de estudantes 70 8 37 27
Fonte: Elaborado pela autora (2021)
Dança Letras
0,2633 Não
(0,1131) (0,1528)
fornecidos por aquele para trabalhar com a temática, como mostrado nos resultados do
teste de Dunn, presentes no Quadro 26. As respostas dos itens referentes a essa
dimensão para os participantes da pesquisa que eram de Pedagogia do Campo
apresentaram, em parte, semelhanças tanto com os cursos de Ciências Biológicas e
quanto aos alunos dos cursos de Letras e Dança.
Quadro 26 – Comparação dos cursos pelo teste de Dunn para a dimensão Subsídios
dados para trabalhar com temática
Valor p Há diferença
Cursos (mediana dos escores)
(Teste de Dunn) significativa?
Dança Letras
0,1554 Não
(0,8766) (0,4031)
daquele curso, verifica-se que essas não podem ser consideradas significativas (como
mostrado por meio dos resultados do teste de Dunn no Quadro 25). As respostas dos
alunos do curso de Dança nos itens do questionário ligados à motivação variaram mais
do que nos demais cursos (como mostrado pelo desvio padrão no Quadro 25).
Entre os estudantes do curso de Ciências Biológicas e aqueles de Letras e
Pedagogia do Campo, as diferenças quanto à motivação para trabalhar com a temática
foram significativas. Mesmo entre as respostas dos alunos dos dois cursos supracitados
houve diferenças significativas. O curso de Dança não apresentou diferenças
significativas com nenhum dos outros cursos. Assim, a ordem crescente da motivação
dos estudantes dos cursos com diferenças significativas nas respostas foi: Ciências
Biológicas, Letras e Pedagogia do Campo (todas essas comparações são baseadas nos
resultados do teste de Dunn, presentes no Quadro 25).
Então, das análises dos questionários baseadas nos escores do modelo de análise
fatorial exploratória, verificou-se que o grupo de estudantes do curso de Ciências
Biológicas apresentou as características mais distintas em relação aos estudantes dos
demais cursos. Todas as diferenças de tendência de respostas observadas em relação aos
alunos desse curso foram significativas, ou seja, mesmo admitindo que as respostas
variem, o curso de Licenciatura em Ciências Biológicas se contrasta em relação aos
demais na importância que os estudantes desse curso atribuem à temática, na avaliação
dos subsídios fornecidos para trabalhar com relações étnico-raciais e interculturalidade,
e na motivação para atuar com essa temática. Enquanto os alunos do curso atribuem
importância relativamente maior à temática, entendem que ele fornece menos recursos
para atuarem com a temática e se sentem menos motivados para o trabalho com ela.
O grupo de discentes do curso de Pedagogia do Campo se destacou quanto à
motivação para trabalhar com a temática, uma vez que se mostraram significativamente
mais motivados do que aqueles dos dois cursos investigados.
Os cursos de Letras, Dança e Pedagogia do Campo apresentaram mais
semelhanças nas respostas. Em qualquer das três dimensões avaliadas, Dança não
apresentou diferenças significativas em relação aos outros dois cursos. Entre as
licenciaturas em Letras e aquela de Pedagogia do Campo, as respostas somente foram
significativamente distintas quanto à motivação para trabalhar com a temática.
175
discussão acerca dos caminhos que podem contribuir para as relações étnico-raciais e o
diálogo, a fim de que possamos quebrar essa formação colonialista, caso venha
acontecer nas licenciaturas. Portanto, não só os docentes dos cursos de formação de
professores devem trabalhar pelos processos de conscientização e empoderamento, mas
também é importante que atuem para que essas licenciaturas tenham mais características
decoloniais.
A dimensão subsídios também apresenta uma ligação, embora parcial, com a
categoria práxis, a qual é um subsídio para se trabalhar com a temática. Então,
necessariamente, se há práxis sobre a temática, o curso disponibiliza, em algum nível,
subsídios. No entanto, essa ligação é parcial porque não necessariamente a presença de
subsídios para trabalhar com a temáticas implica que a práxis está presente, pois há
muitos tipos de subsídios que podem estar presentes no curso. Um subsídio somente é
práxis se for um ciclo contínuo de ações precedidas e sucedidas de reflexões ligadas
àquelas. Se o curso se apresentar bem avaliado quanto aos subsídios dados, é porque há
ações e atitudes relacionadas à implementação da temática, e a práxis pode ser uma
dessas, mas não necessariamente é um deles. De fato, um dos itens contemplados na
dimensão no questionário refere-se às práxis.
Devido à ligação entre os recursos dados pelo curso para o trabalho com a
temática e a categoria decolonial, também se infere que a práxis é um elemento
importante de decolonialidade no contexto das relações étnico-raciais e do diálogo
intercultural na formação de professores. Compreendemos que, a partir da
implementação de umas práxis que tenham como principais características, uma
educação voltada para a temática em estudo consiste em:
No entanto, como em qualquer outro subsídio dado pelo curso para trabalhar
com a temática, para que assim seja, a práxis precisa ser adaptada, ou seja, aplicada
diretamente para as relações étnico-raciais e interculturalidade na formação de
professores. Além disso, foi mencionou-se como válida para o diálogo a ligação das
práxis e da categoria de subsídios. A prática do diálogo sobre a temática é um subsídio
179
CONSCIENTIZAÇÃO IMPORTÂNCIA
NO PROCESSO DE ATRIBUÍDA À
IMPLEMENTAÇÃO TEMÁTICA
PRÁXIS NO
PROCESSO DE
IMPLEMENTAÇÃO
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O diálogo intercultural e as relações étnico-raciais na formação inicial de
professores vêm sendo construídos no cotidiano das políticas educacionais, a partir de
uma intensa mobilização de grupos sociais em torno da sua obrigatoriedade na seara
educacional. Compreendemos que pesquisar a respeito dessa temática no contexto
neoconservador que estamos vivendo torna-se um desafio a mais devido aos grupos
sociais e a uma extrema direita que está combatendo o fortalecimento e a expansão nas
licenciaturas da temática das relações étnico-raciais e do diálogo intercultural na
formação inicial. Por mais que os pesquisadores da área como Gomes (2017) e Walsh
(2009) afirmem sobre a necessidade de intensificarmos as relações étnico-raciais e o
diálogo intercultural como campo de pesquisa.
Diante desse cenário, surgiu o interesse de desenvolver essa pesquisa de
doutorado, por meio da linha de pesquisa “Políticas Educacionais”, cujo objetivo geral
foi analisar a obrigatoriedade e a implementação dos diálogos interculturais e das
relações étnico-raciais na formação inicial de professores e nos cursos de licenciatura da
Universidade Federal da Paraíba – UFPB. enquanto os objetivos específicos foram:
identificar, nos Projetos Pedagógicos de Curso, como está estabelecida a
obrigatoriedade das relações étnico-raciais e do diálogo intercultural nas políticas
educacionais; analisar como os coordenadores e professores dos cursos de licenciatura
da UFPB estão implementando as relações étnico-raciais e do diálogo intercultural na
formação inicial de professores; avaliar sobre como os estudantes estão compreendendo
os processos de inserção e de implementação das relações étnico-raciais e da
interculturalidade dos cursos de licenciatura da UFPB.
Metodologicamente, trata-se de uma pesquisa quali-quantitativa, bibliográfica,
documental e fruto da realização de uma pesquisa de campo com os coordenadores de
curso, professores e dos estudantes dos seguintes cursos: Letras (Inglês, Espanhol,
Frances, Português), Letras Clássicas, Pedagogia com área de aprofundamento na
Educação do Campo, Dança e Ciências Biológicas, ofertados no Campus I, e o curso de
Pedagogia localizado no Campus IV. Conforme justificado no segundo capítulo, esses
cursos foram analisamos devido às mudanças que vêm ocorrendo desde a aprovação da
Resolução CNE/CP nº 2/2015, que trata sobre a formação inicial de professores. Por sua
vez, esse documento foi revogado para a Resolução CNE/CP nº 2/2019. Além disso, os
Projetos Pedagógicos de Curso foram reformulados entre os anos de 2018 e 2019. Com
relação aos instrumentos de pesquisa, utilizamos as entrevistas com os coordenadores
183
REFERÊNCIAS
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19 fev. 2019.
APÊNDICE
DADOS DE IDENTIFICAÇÃO:
NOME(OPCIONAL):____________________________________________________
Componente Curricular:
____________________________________________________
PERGUNTAS:
DADOS DE IDENTIFICAÇÃO:
Coordenador(a) do Curso:_________________________________________________
UFPB – Campus______________
( ) 2 meses a 4 meses
( ) 5 meses a 6 meses
( ) 6 meses a 1 ano
( ) um ano e meio a dois anos
PERGUNTAS:
Venho, encarecidamente, solicitar que problematize, por meio desta carta, sobre
a inserção e a implementação do diálogo intercultural e as relações étnico-raciais em sua
prática pedagógica.
202
As afirmações seguintes são referentes a informações importantes para avaliação da eficácia da inserção do
diálogo intercultural e relações étnico-raciais em cursos de formação inicial de professores. Os itens
referem a aspectos associados ao grau de importância atribuída à temática, à motivação para utilizá-la e à
percepção sobre os subsídios fornecidos pelos cursos para se trabalhar com aquela. Leia atentamente e
decida sobre o grau de concordância com as afirmações de acordo com a escala apresentada:
1 2 3 4 5
Item Escala
5. Eu teria interesse de desenvolver um projeto Discordo Discordo Não concordo Concordo Concordo
Totalmente Parcialmente nem discordo Parcialmente Totalmente
relacionado à temática quando iniciar minha carreira
docente. 1 2 3 4 5
6. Os conhecimentos que foram adquiridos nos Discordo Discordo Não concordo Concordo Concordo
componentes curriculares que abordam a temática das Totalmente Parcialmente nem discordo Parcialmente Totalmente
relações étnico-raciais e das interações entre as culturas
contribuíram para a minha formação acerca do assunto. 1 2 3 4 5
203
Item Escala
8. Considero que o meu curso de licenciatura, ainda se Discordo Discordo Não concordo Concordo Concordo
caracteriza por priorizar conteúdos europeus em Totalmente Parcialmente nem discordo Parcialmente Totalmente
detrimento dos assuntos relacionados a cultura e raça
negra e de outros povos. 1 2 3 4 5
12. É perceptível que há uma inserção e uma Discordo Discordo Não concordo Concordo Concordo
Totalmente Parcialmente nem discordo Parcialmente Totalmente
implementação do diálogo intercultural e das relações
étnico-raciais na formação de professores no meu curso. 1 2 3 4 5
15. Eu acredito que essa temática precisa ter mais Discordo Discordo Não concordo Concordo Concordo
Totalmente Parcialmente nem discordo Parcialmente Totalmente
componentes curriculares relacionadas as interações entre
as culturas e as relações étnico-raciais. 1 2 3 4 5
204
Item Escala
#Cálculo do KMO
KMO(M)
#Mudando o tipo de objeto data frame para matriz, que é o formato requerido pelo
comando paf do pacote rela
dados.m=as.matrix(d2)
#Calculando o MSA
paf(dados.m)$MSA
maf
#Calculando as comunalidades
maf$communality
#Calculando os escores
escores = factor.scores(na.omit(d2),maf, method="Thurstone")
escores = escores$scores
#ETAPA 2
#Cálculo do KMO
KMO(M)
#Mudando o tipo de objeto data frame para matriz, que é o formato requerido pelo
comando paf do pacote rela
dados.m=as.matrix(d3)
#Calculando o MSA
paf(dados.m)$MSA
#Calculando as comunalidades
maf$communality
#Calculando os escores
escores = factor.scores(na.omit(d3),maf, method="Thurstone")
escores = escores$scores
#ETAPA 3
#Cálculo do KMO
KMO(M)
#Mudando o tipo de objeto data frame para matriz, que é o formato requerido pelo
comando paf do pacote rela
dados.m=as.matrix(d4)
#Calculando o MSA
paf(dados.m)$MSA
209
#Calculando as comunalidades
maf$communality
#Calculando os escores
escores = factor.scores(na.omit(d4),maf, method="Thurstone")
escores = escores$scores
_________________________________
Prof. Ms. Sawana Araújo Lopes de Souza
Pesquisador responsável
_________________________________
Participante da Pesquisa
Endereço do Pesquisador Responsável: Rua Benício ... , 601 – Bairro ... – João Pessoa-PB - CEP: 58.073-000 - Fones: 98709-0000 -
E-mail: carlos..........@outlook.com
E-mail do Comitê de Ética em Pesquisa do Centro de Ciências da Saúde da Universidade Federal da Paraíba: eticaccs@ccs.ufpb.br
– fone: (83) 3216-7791 – Fax: (83) 3216-7791
Endereço: Cidade Universitária – Campus I – Conj. Castelo Branco – CCS/UFPB – João Pessoa-PB - CEP 58.051-900
_________________________________
Pesquisador responsável
_________________________________
Testemunha
214
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Prof. Ms. Sawana Araújo Lopes de Souza
Pesquisador responsável
_________________________________
Participante da Pesquisa
ANEXO