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É com imenso orgulho e expectativa que apresento este livro, uma


verdadeira jornada de descobertas e inovações conduzida por alunos
talentosos do Mestrado Profissional em Ciências Contábeis e Admi-
nistração da Fucape Business School. A Coletânea foi desenvolvida
sob a coordenação do estimado Professor Dr. Roberto Miranda Pi-
mentel Fully.
Este livro, intitulado “Fazendo a Diferença: Inovações e Soluções em
Contabilidade e Gestão”, é mais do que uma coletânea de capítulos
acadêmicos. É um manifesto de como a pesquisa aplicada pode mol-
dar e revolucionar o mundo dos negócios e da administração pública.
Por meio das três seções - Contabilidade Societária, Gestão Pública e
Tópicos Especiais - os alunos demonstraram não só profundo conhe-
cimento teórico, mas também uma habilidade excepcional em apli-
car este conhecimento para resolver problemas reais e complexos do
nosso tempo.
A primeira seção, Contabilidade Societária, aborda com perspicácia
as nuances e desafios do setor, enfatizando a importância da integrida-
de e responsabilidade social nas práticas contábeis. A Gestão Pública,
por sua vez, traz uma visão moderna sobre como gerir recursos pú-
blicos de forma mais eficiente e transparente, um tema de relevância
incontestável na atualidade. Os Tópicos Especiais, abrangendo uma va-
riedade de assuntos, mostram a versatilidade e a criatividade de nossos
alunos, explorando desde inovações tecnológicas até análises críticas
de casos específicos, inclusive com um tópico sobre o Terceiro Setor.

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Cada capítulo deste livro é uma peça de um mosaico maior, repre-
sentando a diversidade de interesses e a profundidade de pesquisa de
cada aluno. Mais do que isso, estes capítulos são um testemunho do
compromisso do nosso curso em fomentar pesquisas que não somente
avancem no conhecimento acadêmico, mas que também sejam capazes
de propor soluções inovadoras e práticas para desafios existentes.
A Fucape Business School sempre se pautou pela excelência e pelo
incentivo à pesquisa aplicada. Este livro é um exemplo claro desta fi-
losofia, demonstrando o potencial transformador de nossos alunos e
a importância de unir teoria e prática. Cada página reflete o esforço,
a dedicação e a paixão destes futuros mestres em fazer a diferença no
mundo dos negócios.
Parabenizo cada aluno pela sua contribuição neste projeto, bem
como o coordenador, e estou confiante de que este livro será uma fon-
te de inspiração e conhecimento para todos aqueles que se dedicam às
ciências contábeis e à administração.

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1. INTRODUÇÃO
No processo orçamentário brasileiro, encontramos a tríade do PPA,
LDO e a LOA como instrumentos básicos do planejamento governa-
mental, que devem necessariamente orientar a organização e a execu-
ção das iniciativas do governo, quanto às suas intenções na formulação
e na execução das políticas públicas. Estes instrumentos são apresenta-
dos e convertidos em Leis, que conforme o Art. 165º da Constituição
Federal (Brasil, 1988), são:
“Art. 165. Leis de iniciativa do Poder Executivo estabelecerão:
I - o plano plurianual;
II - as diretrizes orçamentárias;
III - os orçamentos anuais. que pressupõe e instrui sobre a perfeita con-
sonância entre estes instrumentos.” (Grifo nosso).
Assim, convém que os agentes públicos enquanto gestores, que
operam o aparelho de Estado, estejam plenamente convictos quan-
to às suas responsabilidades, funções e competências, bem como
da capacidade e do limite dos recursos de que dispõem, alocando e
equalizando-os de forma planejada na elaboração e na execução do
orçamento público (SALLES, 2012, p. 19), com vistas a fomentar de
forma sustentável o desenvolvimento nacional, bem como promover o
atendimento às causas de cunho social, como a essencial razão da ação
pública governamental.
Contudo, na intenção de melhor definir o escopo a ser abordado,
propõe-se trazer para o centro da discussão a exclusiva atuação do

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Poder executivo na esfera Municipal, e em particular do Município de
Raul Soares-MG. Portanto, de agora em diante, quando a gestão pú-
blica for mencionada, estar-se-á fazendo exclusiva referência à gestão
pública do poder Executivo do Município de Raul Soares-MG.
A razão que corrobora tal recorte Municipal fundamenta-se na estru-
tura político-administrativa estabelecida pelo Art. 18º da Constituição
Federal (Brasil, 1988), que diz: “A organização político-administrativa
da República Federativa do Brasil compreende a União, os Estados, o
Distrito Federal e os Municípios, todos autônomos, nos termos desta
constituição.” (Brasil, 1988, grifo nosso).
Dispondo o Poder Executivo de tais prerrogativas, de infraestrutura,
funções e recursos mais expressivos, recebendo também na mesma
proporção competências como a de representar, organizar e executar a
ação estatal, atributo conferido por imposição Legal, equivalente a sua
autonomia administrativa, orçamentária e financeira (SALLES, 2012, p.
19), que instrumentam o Poder Executivo com o propósito de imple-
mentar e executar políticas públicas, que correspondam aos interesses
e carências da sociedade e do Estado Brasileiro.
A proposta deste trabalho está voltada para a realização de uma
acurada análise sobre os resultados da execução orçamentária do exe-
cutivo municipal da cidade de Raul Soares-MG, considerando a série
histórica dos três últimos exercícios encerrados constantes do Balanço
Orçamentário (BO), por ser o orçamento o único instrumento de fi-
nanciamento da ação estatal, de onde devem constar todos os recursos
aplicados em ações e políticas públicas, pois segundo Feijó et al (2017,
p.86), o Balanço Orçamentário apresenta “várias informações a respei-
to do planejamento e execução das receitas e despesas orçamentárias”.
Tal investigação por evidenciar o planejamento na elaboração orça-
mentária, fundamenta-se em primeiro momento na questão legal, no
qual o tema encontra-se vinculado, sendo a função do planejamen-
to uma obrigação do Estado, como se pode verificar no Art. 174º da
Constituição Federal (Brasil, 1998) que assim dispõe: “Art. 174. Como
agente normativo e regulador da atividade econômica, o Estado exer-
cerá, na forma da lei, as funções de fiscalização, incentivo e planeja-
mento, sendo este determinante para o setor público e indicativo para
o setor privado.” (Grifo Nosso)

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2. REFERENCIAL TEÓRICO
Procurando definir e identificar o contexto no qual se insere o tema
do planejamento orçamentário, procura-se investigar de forma a con-
cluir e compreender qual o caráter e o papel da ação do planejamento
na elaboração e na execução da política fiscal, proposta e pretendida
pelo executivo municipal, identificando se possível a dimensão e a
consistência da ação do planejamento na elaboração das estimativas,
projeções e realizações da receita orçamentário constante do Balanço
Orçamentário.
Neste cenário, segundo Burkhead apud Giacomoni (2003, p. 45), o
Orçamento Público teve seu surgimento formalizado na Inglaterra por
força de Lei no Art. 12º da Carta Magna, outorgada em 1217 pelo Rei
João sem Terra, que regulava e normatizava o ato da arrecadação de
tributos, que posteriormente com o passar do tempo teve seu conceito
e função ampliada e aperfeiçoada, conforme se verifica nos procedi-
mentos orçamentários adotados atualmente.
Em uma condição ideal, deverá o orçamento na sua composição e
missão retratar a visão estratégica do governo, conforme suas diretri-
zes, objetivos e metas, de forma integrada e vinculada ao planejamento
em sentido amplo, como instrumento de orientação e condução da
execução da ação pública, como resposta clara e eficaz às diversas fren-
tes de representações sociais, considerando e gerindo as inúmeras va-
riáveis envolvidas, presentes no ambiente complexo no qual o governo
atua, cenário que incontestavelmente justifica a exigência de um sóli-
do e consistente planejamento, como boa prática de gestão e para uma
eficiente aplicação dos recursos demandados pela da ação pública.
Tantas variáveis e fatores diversos, que tornam o cenário público de-
safiador, e sem a utilização das ferramentas do planejamento Dagnino
(2012, p. 37), pode acentuar o grau de dificuldade a níveis imprevisí-
veis, impondo resultados desastrosos à gestão pública.
Ainda fazendo considerações sobre o ambiente de atuação do go-
verno, complementarmente acrescenta-se que partimos da hipótese
realista e minimalista de que o ator que planeja está inserido no ob-
jeto planejado e não tem controle sobre o contexto socioeconômico e
político no qual vai agir Dagnino (2012, p. 98).
Então fica claro, portanto, o papel indispensável e viabilizador do
planejamento, pois segundo Dagnino (2012, p. 98), planejamento

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implica, portanto, enfrentar problemas planejando para construir via-
bilidade, estimulando a compreensão de que planejar é sinônimo de
construir e tornar viável, com possibilidades efetivas frente aos desa-
fios a serem mitigados, pois sem planejamento podem os problemas
ser potencializados pelo ambiente de incertezas, em que opera o agen-
te que planeja, onde surpresas podem ocorrer a todo o momento e
deve ser considerado no processo do planejamento segundo Dagnino
(2012, p. 98-99).
Considerando Salles (2012, p. 65), a produtividade cresce se, em vez
de as organizações agirem à deriva, investirem um tempo no planeja-
mento, considerando todas as variáveis envolvidas no processo deci-
sório, o que reforça a tese sobre a necessidade de se vincular qualquer
possibilidade de êxito ao esforço prévio do planejamento na orientação
da ação estatal, quando implementa iniciativas que devem integrar o
planejamento estratégico.
Conforme estabelece a Lei Complementar 101/2000 (BRASIL, 2001),
em seu Art. 1º, parágrafo 1º, “A responsabilidade na gestão fiscal
pressupõe a ação planejada…” (Grifo nosso), a gestão fiscal respon-
sável dos recursos públicos deve estar vinculada e lastreada de forma
indissociável ao planejamento, pois diferentemente, conforme o con-
texto legal apresentado, pode-se estar configurado o flagrante de crime
de responsabilidade fiscal, em decorrência da desobediência da clara
imposição legal da ação planejada junto à prática da gestão fiscal, pre-
sente na Lei Complementar supracitada citada.
Então pretende-se responder perguntas como: quanto da razão entre
receitas estimadas x receitas realizadas pode qualificar e evidenciar o
esforço de planejamento na programação da receita orçamentária?
Espera-se, nas conclusões a serem apresentadas, responder tais ques-
tionamentos, que inquestionavelmente constarão da expertise e conhe-
cimento adquiridos na realização e exposição do tema abordado.

3. METODOLOGIA
O presente trabalho foi elaborado com vistas a atender aspectos re-
lacionados à pesquisa científica e acadêmica de forma sistematizada,
com objetivo de produzir maior abrangência conceitual, consolidando
conhecimento sobre os fenômenos, práticas, funções e objetivos pre-
sentes na elaboração e execução orçamentária do setor público.

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Para atender à proposta inicial, o trabalho, quanto ao seu objetivo,
classifica-se em uma pesquisa do tipo exploratória, e tem a finalidade
de ampliar o conhecimento a respeito de um determinado fenômeno
(Zanella, 2012, p. 77). Assim, esse tipo de pesquisa, aparentemente
simples, explora a realidade buscando maior conhecimento e melhor
compreensão dos dados apresentados.
Tal classificação expressa e abarca claramente a proposta do trabalho,
que reforça a intenção de aprimorar a visão técnica e crítica sobre os
resultados presentes na execução orçamentária pública, como contri-
buição para a expansão do exercício pleno da cidadania, que contem-
pla a publicidade e compreensibilidade dos atos e fatos públicos.
Quanto ao desenvolvimento do seu método e a abordagem do pro-
blema, a pesquisa apresenta característica qualitativa, pois aplica-se a
compreender os problemas e os obstáculos inerentes ao processo de
elaboração e planejamento orçamentário, que podem maximizar ou
comprometer a efetividade da ação estatal, instruindo a pesquisa sobre
o referido processo, pois os pesquisadores qualitativos estão preocu-
pados com o processo, portanto, não estão preocupados com os resul-
tados e produtos, mas em conhecer como determinado fenômeno se
manifesta (Zanella, 2012, p. 74).
Quanto à análise e à conclusão, a pesquisa classifica-se em indutiva,
pois “os pesquisadores qualitativos tendem a analisar seus dados in-
dutivamente: isto significa que as abstrações são construídas a partir
dos dados, num processo de baixo para cima” (Zanella, 2012, p. 74).
Quanto ao processo adotado na coleta de dados, o formato da pes-
quisa adotará as fontes bibliográficas e documentais como livros que
tratam e versam sofre o tema, bem como das Leis e portais de dados
na internet.
O universo desta pesquisa se restringe ao estudo e à pesquisa do
processo orçamentário da Prefeitura Municipal de Raul Soares-MG,
desenvolvendo um olhar crítico quanto aos aspectos voltados ao pla-
nejamento empregado ou não na construção das estimativas versus a
realização das receitas orçamentárias efetivamente realizadas.

4. APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DE RESULTADOS


Para compor a proposta do referido trabalho, e na intenção de de-
monstrar os dados que serão analisados, bem como produzir os re-

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sultados almejados pela pesquisa, de forma que permitam consolidar
e construir conhecimento e expertise, formando as competências e
as habilidades necessárias para as devidas avaliações dos aspectos e
eventos abordados até aqui, mantém-se como objetivo central a evi-
denciação das atividades de planejamento, com ênfase na elaboração
do orçamento (LOA) do executivo municipal de Raul Soares-MG, bus-
cando constituir e orientar os conceitos que possibilitem desenvolver
um olhar crítico sobre a execução orçamentária, que consta do Balanço
Orçamentário, apresentada em colunas específicas em que constam o
planejamento inicial, as alterações do planejamento no curso da exe-
cução e por fim o realizado e executado, com foco específico na esti-
mativa e realização da receita orçamentária.
O Balanço Orçamentário (BO), integrante das demonstrações contá-
beis aplicada ao setor público (DCASP), foi escolhido como fonte dos
dados a serem analisados, por ser, segundo Feijó et al (2017, p. 36),
uma demonstração de característica híbrida, ou seja, tanto contábil
como também orçamentária, que apresenta “uma comparação de va-
lores realizados com valores do orçamento original e final” segundo
define Feijó et al (2017, p. 82), que possibilitará uma leitura sobre
relação confirmação x frustração do orçamento como parâmetro de
consistência e relevância atribuída ao emprego do planejamento na
elaboração e formulação do orçamento (LOA), que resultaria em esti-
mativas factíveis de realização da receita orçamentária.
Desta forma, serão apresentados os Balanços Orçamentários ( BO)
referentes aos exercícios financeiros de 2020, 2021 e 2022, onde as
receitas serão segregadas em Categoria Econômica (CE) e Origem (O).

4.1. ANÁLISE DA RECEITA ORÇAMENTÁRIA


A proposta do trabalho propõe uma análise no Balanço Orçamen-
tário, que segundo Feijó et al (2017, p.89), estão as receitas inicial-
mente estimadas pelo planejamento, identificadas na coluna intitulada
Previsão Inicial (A), onde as possíveis alterações e atualizações destas
estimativas iniciais constarão do acréscimo ou decréscimo constante
na coluna intitulada Previsão Atualizada (B). A divergência entre estas
duas colunas já demonstram a revisão e o ajuste das estimativas ini-
ciais da receita, o que raramente ocorre pela maior flexibilidade confe-
rida à realização de receitas orçamentárias.

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Na relação que será feita, especificamente entre as colunas Receitas
Realizadas (C) x Previsão Inicial (A), onde estão retratadas as receitas
efetivamente arrecadadas e as receitas inicialmente estimadas respecti-
vamente, será apurado o indicador expresso pelo Quociente de Desem-
penho da Arrecadação, que segundo Feijó et al (2017, p. 122) aponta
a situação de “excesso ou falta de arrecadação para administração”,
sendo o referido indicador calculado pela seguinte fórmula:
Receitas Realizadas(C)
Quociente de Desempenho da Arrecadação =
Previsão Inicial(A)

O quociente encontrado indicará o quanto do planejamento pode ser


confirmado na relação confirmação x frustração, apurado pela realiza-
ção da receita orçamentária.
Os possíveis cenários e hipóteses, segundo Feijó et al (2017, p. 114),
poderão ser situados e interpretados conforme as variáveis presentes
na tabela abaixo:

Tabela1: Quociente de Desempenho da Arrecadação

Se > 1, arrecadação maior do que a planejada.


Análise: Se < 1, arrecadação menor do que a planejada.
Se = 1, arrecadação prevista igual à realizada.

Fonte: FEIJÓ (2017)

O Resultado deste quociente demonstra, conforme os parâmetros da


Tabela 1, o quanto do planejamento se converteu em receitas arreca-
dadas ou frustradas, em que com comportamento do quociente, ao se
afastar de 1, demonstra a ocorrência de discrepâncias indesejadas ao
planejamento, e quanto mais acentuadas, tanto para mais quanto para
menos, apontarão de forma a confirmar o fracasso ou a total ausência
da ação do planejamento.

4.1.1. BALANÇO ORÇAMENTÁRIO DA RECEITA – EXERCÍCIO 2020

Para desenvolver a análise proposta, especificamente sobre a arre-


cadação da receita orçamentária no exercício de 2020, do Município
de Raul Soares-MG, será consultado o Balanço Orçamentário isolado,
demonstrado abaixo na Tabela 2, publicada pelo Poder Executivo Mu-

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nicipal, como consta no portal do SICOM, na página Fiscalizando com
o TCE do Tribunal de Contas do Estado de Minas Gerais (TCE-MG).

Tabela: 2 – Balanço Orçamentário da Receita 2020 –


Município de Raul Soares - MG

Preliminarmente, analisando o Balanço Orçamentário acima,


verificam-se valores significativos e acentuados na razão de realização
e frustração de receitas, quando estas segregadas pela sua origem, com
ocorrências curiosamente discrepantes que vão de expressivos exces-
sos de 1.000% de arrecadação, a frustrações totais na arrecadação com
0% de realização, bem como de outras receitas pouco realizadas em
relação à Previsão Inicial, sem, contudo, no curso da execução orça-
mentária, orientar qualquer ajuste na estimativa da receita por parte
do planejamento, já que a coluna de Previsão Atualizada manteve-se
inalterada durante todo o exercício.

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Tabela: 3 – Comparação de Receitas Realizadas(C)
x Previsão Inicial(A) 2020

Receitas Correntes
Receitas
Cat. Econômica Origem Previsão Inicial (A) (C / A) %
Realizadas (C)
1 1 5.023.650,00 4.409.616,27 87,78%
1 2 1.350.000,00 1.192.988,76 88,37%
1 3 156.340,00 137.442,93 87,91%
1 4 25.000,00 - 0,00%
1 5 77.000,00 14.551,39 18,90%
1 6 140.325,00 158.452,73 112,92%
1 7 44.644.725,00 53.601.515,47 120,06%
1 9 80.505,00 285.784,31 354,99%
Total 51.497.545,00 59.800.351,86 116,12%

Receitas de Capital
Receitas
Cat. Econômica Origem Previsão Inicial (A) (C / A) %
Realizadas (C)
2 1 150.000,00 1.500.000,00 1000,00%
2 2 99.000,00 - 0,00%
2 3 - - 0,00%
2 4 1.090.000,00 457.865,71 42,01%
2 5 200.000,00 - 0,00%
Total 1.539.000,00 1.957.865,71 127,22%

Total Geral 53.036.545,00 61.758.217,57 116,44%

Superávit/Déficit da Receita 8.721.672,57

PREVISÃO INICIAL (A) 53.036.545,00


RECEITAS REALIZADAS(C) 61.758.217,57
Quociente do desempenho da Arrecadação: (C / A) 1,16
Insuficiência de Arrecadação Apurada: (C - A) 8.721.672,57

Fonte: Elaborada pelo autor

Verifica-se, nos dados apresentados, certa discrepâncias na confirma-


ção x frustração das receitas, evidência de que podem inferir possíveis
falhas no planejamento orçamentário, que segundo Feijó et al (2017,

!"#$%&'("(&)!$*$%+"( !"
p. 90), “demonstra que o planejamento não alcançou o resultado espe-
rado para a entrada de recursos financeiros”, o que nos permite apon-
tar, conforme demonstrado pelo Balanço Orçamentário de 2020, um
possível erro de projeção global da arrecadação de receitas, ora com
acentuados excessos, ora com importantes frustações de receita, veri-
ficado no Quociente do desempenho da Arrecadação afastado de 1 em
0,16 pontos conforme Tabela 3.
Neste cenário apresentado, indicam-se ajustes para uma melhor
conformidade orçamentária, pois conforme a afirmação de Feijó et al
(2017, p. 122) quando diz, “Tal ocorrência pode caracterizar falhas
no processo de estimação de receitas, demonstrando a necessidade de
aperfeiçoamento do processo de previsão dos ingressos orçamentá-
rios”, reforça a opinião da necessidade de mitigação destas possíveis
falhas, com melhor e adequado tratamento neste processo de orçamen-
tação das receitas públicas.

4.1.2. BALANÇO ORÇAMENTÁRIO DA RECEITA - EXERCÍCIO 2021

Para desenvolver a análise proposta, especificamente sobre a arre-


cadação da receita orçamentária no exercício de 2021, do Município
de Raul Soares-MG, será consultado o Balanço Orçamentário isolado,
demonstrado abaixo na Tabela 4, publicado pelo Poder Executivo Mu-
nicipal, como consta no portal do SICOM, na página Fiscalizando com
o TCE do Tribunal de Contas do Estado de Minas Gerais (TCE-MG).

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Tabela: 4 – Balanço Orçamentário da Receita
2021 – Município de Raul Soares - MG

Avançando na análise iniciada, agora no exercício de 2021,


utilizando-se dos mesmo termos técnicos propostos por Feijó et al
(2017, p.114), em que por intermédio do Quociente de Desempenho
da Arrecadação, entre as colunas Receita Realizada (C) x Previsão Ini-
cial (A), verifica-se pelos dados demonstrados na Tabela 5, uma me-
lhora na relação Previsão Inicial versus Receitas Realizadas. Já o indi-
cador variou de 1,16 para 1,03, aproximando-se de 1, o que permite
constatar que a realização da receita se aproximou das estimativas e
previsões iniciais.

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Tabela: 5 – Comparação de Receitas Realizadas
(C) x Previsão Inicial (A) - 2017

Receitas Correntes
“Receitas
Cat. Econômica Origem Previsão Inicial (A) (C / A) %
Realizadas (C)”
1 1 5.407.700,00 4.719.615,24 87,28%
1 2 1.350.000,00 1.379.292,96 102,17%
1 3 446.000,00 504.948,92 113,22%
1 4 28.500,00 - 0,00%
1 5 70.000,00 9.069,39 12,96%
1 6 641.406,00 - 0,00%
1 7 54.208.470,00 56.509.197,39 104,24%
1 9 58.897,00 246.376,29 418,32%
Total 62.210.973,00 63.368.500,19 101,86%

Receitas de Capital
“Receitas
Cat. Econômica Origem Previsão Inicial (A) (C / A) %
Realizadas (C)”
2 1 150.000,00 - 0,00%
2 2 100.000,00 - 0,00%
2 3 - - 0,00%
2 4 1.890.000,00 4.075.832,04 215,65%
2 5 967.400,00 - 0,00%
Total 3.107.400,00 4.075.832,04 131,17%

Total Geral 65.318.373,00 67.444.332,23 103,25%

Superávit/Déficit da Receita 2.125.959,23

PREVISÃO INICIAL (A) 65.318.373,00


RECEITAS REALIZADAS(C) 67.444.332,23
Quociente do desempenho da Arrecadação: (C / A) 1,03
Superávit/Defict de Arrecadação Apurada: (C - A) 2.125.959,23

Superávit/Déficit Acumulado da Receita 10.847.631,80

Fonte: Elaborada pelo autor

!"! "#$%&'(!#!')"%*%&+#
Com efeito, analisando especificamente o Quociente do desempenho
da Arrecadação, este se mostrou em 2021 mais próximo de 1, o que
permite concluir que a projeção, pelo menos em análise global, foi efi-
ciente, aproximando-se consideravelmente da realização das receitas.

4.1.3. BALANÇO ORÇAMENTÁRIO DA RECEITA - EXERCÍCIO 2020

Dando prosseguimento à análise proposta, especificamente sobre a


arrecadação da receita orçamentária no exercício de 2022 pelo Balanço
Orçamentário, demonstrado abaixo na Tabela 6, publicado pelo Po-
der Executivo Municipal, como consta no portal do SICOM, na página
Fiscalizando com o TCE do Tribunal de Contas do Estado de Minas
Gerais (TCE-MG).

Tabela: 6 – Balanço Orçamentário da Receita


2022 – Município de Raul Soares - MG

!"#$%&'("(&)!$*$%+"( !"
Tabela: 7 – Comparação de Receitas Realizadas(C)
x Previsão Inicial(A) - 2022

Receitas Correntes
Receitas
Cat. Econômica Origem Previsão Inicial (A) (C / A) %
Realizadas (C)
1 1 5.211.050,02 5.965.086,31 114,47%
1 2 1.349.500,00 1.459.286,74 108,14%
1 3 267.100,00 2.292.245,09 858,20%
1 4 20.000,00 - 0,00%
1 5 50.000,00 9.284,30 18,57%
1 6 20.300,00 - 0,00%
1 7 62.297.040,00 69.840.012,27 112,11%
1 9 47.100,00 2.933.567,71 6228,38%
Total 69.262.090,02 82.499.482,42 119,11%

Receitas de Capital
Receitas
Cat. Econômica Origem Previsão Inicial (A) (C / A) %
Realizadas (C)
2 1 150.000,00 1.673.000,00 1115,33%
2 2 100.000,00 538.600,00 538,60%
2 3 - - 0,00%
2 4 9.288.000,00 7.132.827,26 76,80%
2 5 50.000,00 - 0,00%
Total 9.588.000,00 9.344.427,26 97,46%

Total Geral 78.850.090,02 91.843.909,68 116,48%

Superávit/Déficit da Receita 12.993.819,66

PREVISÃO INICIAL (A) 78.850.090,02


RECEITAS REALIZADAS(C) 91.843.909,68
Quociente do desempenho da Arrecadação: (C / A) 1,16
Insuficiência de Arrecadação Apurada: (C - A) 12.993.819,66

Superávit/Déficit Acumulado da Receita 23.841.451,46

Fonte: Elaborada pelo autor

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Avançando em direção às conclusões finais, percebeu-se o planeja-
mento empregado nas estimativas das receitas, possivelmente carente
de aperfeiçoamento, já que a melhora na razão Previsão Inicial versus
Receita Arrecadada entre os exercícios de 2020 e 2021 não foi confir-
mada na mesma razão entre os exercícios 2021 e 2022.
Considerando que, no período dos três exercícios analisados, ocor-
reram sucessivos superávits de arrecadações, o que do ponto de vista
de caixa pode ser considerado positivo, mas no que se refere a previsão
e projeção, mostrou-se a previsão inicial e efetivação da arrecadação
da receita, uma razão não tão simples no que se refere ao acerto. Tal
afirmação é construída e fundamentada pelo resultado de sucessivos
Superávits acumulados no triênio, em montante de R$ 23.841.451,46,
receitas estas que não foram consideradas e alcançadas pelas previsões
iniciais dos orçamentos da receita.
Especificamente no exercício de 2022, verifica-se uma piora no Quo-
ciente do desempenho da Arrecadação, que voltou a se distanciar de 1,
indicando que as previsões da receita de descompassaram das arreca-
dações realizadas, pois este indicador, quanto mais próximo de 1, indi-
ca melhores estimativas, previsões e projeções da receita orçamentária.

5. CONCLUSÕES
Conforme a proposta deste trabalho, que mediante a análise feita
sobre os dados dos resultados orçamentários, constantes do Balanço
Orçamentário, do Poder Executivo do Município de Raul Soares-MG,
mais especificamente a execução da receita, em que se objetivou evi-
denciar a consistência e a efetividade da ação de planejamento nos
aspectos de projeção e estimativa da Receita Orçamentária.
Tal evidência de consistência e efetividade do planejamento seria
confirmada, em tese, na relação confirmação x frustração de receitas,
constantes do Balanço Orçamentário dos exercícios de 2020, 2021 e
2022, sendo estes resultados submetidos ao processo de comparação
entre previsão inicial x arrecadação das receitas.
Neste procedimento de comparação, utilizaram-se os montantes da
receita efetivamente arrecadada em comparação com as receitas inicial-
mente estimadas.
Nesta comparação entre realizado e estimado, buscou-se perceber
evidências da ação de planejamento, quando fosse possível perce-

!"#$%&'("(&)!$*$%+"( !"
ber melhora gradual no indicador do Quociente de Desempenho da
Arrecadação.
Contudo, a melhora requerida seria satisfatoriamente confirmada
quando verificada de forma gradual, alcançada no transcorrer dos
exercícios analisados, como evidência da atuação do processo de pla-
nejamento, ou seja, mesmo quando o Quociente do desempenho da
Arrecadação se mostrasse possivelmente discrepante em dado momen-
to, em outro se mostrasse mais ajustado.
Com efeito, constatou-se por meio deste Quociente do desempenho
da Arrecadação, melhora na relação previsão x arrecadação em relação
aos exercícios 2020 e 2021, pois o referido quociente variou de 1,16
para 1,03, o que em tese, pelo menos em análise global, comprova
uma arrecadação mais próxima da estimativa inicial da receita com o
quociente se aproximando de 1.
Contudo, nesta mesma análise feita em relação aos exercícios de
2021 e 2022, o Quociente de desempenho da Arrecadação variou de
1,03 para 1,16, indicando que as arrecadações efetivadas voltaram a se
distanciar das previsões iniciais da receita.
Desta forma e nos presentes termos, conclui-se que a realização da
receita do Município de Raul Soares, especificamente do Poder Execu-
tivo (Prefeitura), no período de 2020 a 2022, realizou-se em seus mon-
tantes globais, próxima das estimativas construídas, mesmo apresen-
tando uma pequena melhora e posterior recuso ao indicador anterior.
Acredita-se que, se esta mesma análise fosse feita de forma deta-
lhada, em relação aos desdobramentos da receita, estes indicadores
seriam mais negativos, visto que altos superávits de determinadas
rubricas de receitas são compensados por expressivas frustrações de
outras rubricas de receitas, e que, no total global, mostraram-se não
tão discrepantes.
Sugere-se um avanço e constante aperfeiçoamento das funções e ati-
vidade de planejamento, frente aos cálculos das estimativas e projeções
da arrecadação da receita orçamentária, como cumprimento legal do
componente de planejamento, nos termos do Art. 1º da Lei Comple-
mentar 101/2000, Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF).

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REFERÊNCIAS
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tributária. – 2. ed. reimp. – Florianópolis: Departamento de Ciências
da Administração / UFSC; [Brasília]: CAPES: UAB, 2012.
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BRASIL, Constituição Federal 1988 (CF/1988). Constituição
da República Federativa do Brasil. 1988.
DAGNINO, Renato Peixoto. Planejamento estratégico governamental. – 2. ed. reimp.
– Florianópolis: Departamento de Ciências da Administração / UFSC, 2012.
FEIJÓ, Paulo Henrique; RODRIGUES, Leandro Menezes; RIBEIRO, Carlos Eduardo;
DANTAS, Gilvan da Silva. Entendendo as Demonstrações Contábeis Aplicadas ao
Setor Público. Série Entendendo CASP. 1. ed. Brasília: Gestão Pública, 2017.
GIACOMONI, James. Orçamento Público. 12. ed. São Paulo: Atlas, 2003.
SALLES, Helena da Motta. Gestão democrática e participativa.
2. ed. reimp. Florianópolis: Departamento de Ciências da
Administração / UFSC; [Brasília]: CAPES: UAB, 2012
ZANELLA, Liane Carly Hermes. Metodologia de estudo e de pesquisa
em administração. 2. ed. reimp. Florianópolis: Departamento
de Ciências da Administração / UFSC, 2012. BRASIL.
. Lei Complementar n.º 101, de 4 de maio de 2000. Estabelece normas
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. BRASIL. Lei Federal n.º 4.320, de 17 de março de 1964. Estatui
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dos orçamentos e balanços da União, dos Estados, dos Municípios
e do Distrito Federal. Disponível em: http://www.planalto.gov.
br/ccivil_03/Leis/L4320.htm . Acesso em: 15 de jul. 2019.
. BRASIL. Constituição Federal 1988 (CF/1988). Constituição da
República Federativa do Brasil. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/
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. BRASIL. Câmara dos Deputados. Disponível em: https://
www2.camara.leg.br/-orcamento-da-uniao/cidadao/entenda/
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. MINAS GERAIS. Tribunal de Contas. Fiscalizando com
o TCE-MG. Disponível em: https://fiscalizandocomtce.tce.
mg.gov.br/#/inicio. Acesso em 15 de jul. 2019.

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1. INTRODUÇÃO
Com o advento da Nova Gestão Pública e da Nova Governança Pú-
blica, aumentou-se a interação entre os agentes econômicos públicos
e privados, visando à eficiência na alocação dos recursos públicos e o
bem-estar social (Matos & Gonçalves, 2020).
A viabilização do instituto da Parceria Público-Privada (PPP) no Bra-
sil iniciou com o advento da Lei Federal n.º 8.987/95, a qual permitiu
parcerias com relação contínua entre os atores públicos e privados,
diferenciando-se dos contratos administrativos previstos na Lei Fede-
ral n.º 8.666/93 (Sundfeld, 2005). A primeira Lei foi o alicerce para a
Lei das PPP (Lei Federal n.º 11.079/2004).
A Lei Estadual n.º 14.391/2009 instituiu normas para licitação e con-
tratação de PPP, no âmbito do Estado do Ceará, viabilizando a realiza-
ção de parcerias público-privadas no Estado citado. Conforme artigo
2º da Lei referenciada, entende-se como PPP o contrato administrativo
de concessão, com valor superior a R$ 20.000.000,00 e com prazo de

1 Mestrando Profissional em Ciências Contábeis, Fucape Business School, Fortale-


za/CE, Brasil. mhacordeiro@gmail.com

!"! "#$%&'(!#!')"%*%&+#
duração maior que cinco anos, nas modalidades patrocinadas, e admi-
nistrativa, que é o contrato de prestação de serviços em que a adminis-
tração pública é a usuária.
Segundo Tafuro, Dammacco e Costa (2023), as PPPs têm despertado
grande interesse como ferramentas operacionais para a consecução das
políticas públicas voltadas ao desenvolvimento da infraestrutura do
Estado e à prestação de serviços ao público geral, contudo, há poucos
estudos sobre a temática voltada em arranjos institucionais geradores
de valor público, considerando que não é somente o Setor Público que
tem a capacidade de geração de valor público, havendo uma contribui-
ção dos agentes privados com o compartilhamento de recursos e habi-
lidades fundamentais para a diminuição dos riscos de gestão pública e
para a busca de benefícios para a sociedade.
O objetivo deste trabalho foi compreender os impactos da qualida-
de da evidenciação dos fatos contábeis da PPP (disclosure quality) na
capacidade que o cidadão e o Tribunal de Contas têm, reforçada pelos
princípios da governança corporativa, de mitigar a disputa desleal pela
captura do valor público criado na parceria, causada pela assimetria
informacional proporcionada pelos agentes públicos e privados da PPP
(Dyer et al., 2018).
Para atingir esse objetivo, o estudo foi baseado na análise do disclo-
sure das demonstrações contábeis de 2022, relacionadas à PPP Vapt
Vupt, celebrada entre o Governo do Estado do Ceará e a Sociedade de
Propósito Específico (SPE) Ceará Serviços de Atendimento ao Cidadão
S.A, para identificar a abrangência da transparência contábil obrigató-
ria da referida PPP, com base no item 6 da Resolução CFC n.º 1.375/11
(ITG 17). Consequentemente, verificou-se a interferência da abrangên-
cia do disclosure citado na ação de integrantes dos poderes controla-
dor (Tribunal de Contas do Estado do Ceará – TCE/CE) e Legitimador
(cidadão cearense) da PPP, conforme teoria dos stakeholders da PPP
(Menezes & Vieira, 2022).
O estudo contribuirá no reforço à importância da qualidade do dis-
closure contábil das PPP, focado nos princípios da compliance, que au-
xilia o Tribunal de Contas e o cidadão nos exercícios dos controles
institucional e social, respectivamente, fortificando o sistema de Go-
vernança Pública com a participação do usuário da informação contá-
bil. Ademais, serão recomendadas ações aos gestores públicos e priva-
dos, ao órgão de controle externo e ao cidadão, com vistas a permitir

!"#$%&'("(&)!$*$%+"( !"
uma maior atuação do cidadão no controle social dos atos da PPP de
forma mais efetiva.

2. REVISÃO DA FUNDAMENTAÇÃO NORMATIVA E TEÓRICA

2.1. GOVERNANÇA PÚBLICA APLICADA ÀS


PARCERIAS PÚBLICO-PRIVADA
Quatro fatores foram identificados por Dyer e Singh (1998) como
determinantes para a geração de valor em uma aliança: recursos e ca-
pacidades complementares; ativos específicos da relação; rotinas de
compartilhamento de conhecimento; e governança efetiva, havendo
relação entre os objetivos de alianças formadas por PPP.
Em contrapartida, Dyer, Singh e Hesterly (2018) argumentaram que,
durante o ciclo de uma aliança, há a competição entre a captura do
valor gerado, gerando negociações ex-post entre os parceiros. Dessa
forma, é essencial implementar mecanismos para a mitigação da com-
petição, visando à manutenção harmônica e vantajosa para os dois po-
los da parceria necessária para o cumprimento do objetivo do contrato
administrativo da PPP, para fins de atender ao interesse do terceiro
polo, que é o cidadão, sendo este o ator detentor do poder legitimador
da PPP, que utiliza os serviços públicos e contribui economicamente
para a consecução desses (Menezes & Vieira, 2022).
Conforme Osei-Kyei e Chan (2015) e Menezes e Vieira (2022), há
fatores críticos para o sucesso da aliança entre os atores públicos e
privados, como a transparência, competência do parceiro privado, boa
governança, marco regulatório adequado, partilha de riscos, apoio po-
lítico/popular, monitoramento e avaliação, assim como é depositada
uma confiança sobre a importância do valor preditivo da informação
contábil gerada por atos da parceria, que reforçou, à época, a neces-
sidade de uma normatização mais efetiva sobre a temática para dar
clareza aos fatos contábeis (Martins & Andrade, 2009).
Os mecanismos de governança potencializam os benefícios gerados
por uma aliança entre agentes público e privados, sendo a redução de
custos e o design inovador para políticas públicas específicas como be-
nefícios da interação entre atores de uma aliança (Cabral et al., 2019).
No Brasil, em grande parte, os arranjos organizacionais, permitidos
por Lei (BRASIL, 2004), demandam, aos atores públicos, as tarefas de
fomentar e regular os investimentos realizados pela PPP, enquanto os

!"! "#$%&'(!#!')"%*%&+#
privados têm o papel de atender às demandas públicas de forma mais
efetiva (Melo-Silva, Lourenço & Angotti, 2021).
Segundo Massey e Johnston-Miler (2016), a governança pública
pode ser entendida como um processo de interação entre os agentes
governamentais e não governamentais que tomam decisões em con-
junto, como partes interessadas e interdependentes, com o fito de ma-
ximizar a eficiência da utilização dos recursos nas políticas públicas
almejadas. Dessa forma, a governança pública se torna mais abran-
gente que o próprio governo, pois os recursos, interesses e soluções
envolvidos não são somente do Estado.
Já para Meuleman (2021), a governança pública, baseada nos princí-
pios de eficácia, accountability e inclusão, não é somente uma relação
entre governo e atores não governamentais, é também um fator essen-
cial para a qualidade das instituições, processos e competências que
permitem realizar as políticas públicas de forma mais eficazes.
Há alguns tipos de governança pública, sendo a rede de governan-
ça relacionada à aliança de agentes governamentais com organizações
com e sem fins lucrativos na providência de serviços públicos, ense-
jando o monitoramento mútuo entre os agentes, gerando credibilidade
social (Huang, et al., 2022).
Outro tipo de governança pública é a colaborativa. Esta é mais fo-
cada nos indivíduos, cobrando a participação mais efetiva destes no
processo de tomada de decisões governamentais para a satisfação das
necessidades dos cidadãos permitida pelas políticas públicas, fortifi-
cando o poder democrático (Grossi & Argento, 2022).
Há ainda a governança digital pautada em uma estrutura que permi-
te interações entre os agentes governamentais e os cidadãos e o acesso
rápido a grande volume de dados relevantes por meio da tecnologia da
informação, tornando os mecanismos de governança fortalecidos por
incontáveis interessados (Erkut, 2020), proporcionando a transparên-
cia necessária ao exercício da Accountability governamental, causando
impactos positivos no desenvolvimento econômico, redução de evasão
fiscal e corrupção no setor público (Grossi & Argento, 2022).
Dessa forma, de acordo com Cabral et al. (2019), ressalta-se a impor-
tância que os mecanismos de governança eficazes têm em estruturas
organizacionais, considerando que a clareza das responsabilidades é
essencial na tomada de decisões relevantes, tendo potencial substancial
em promover a mitigação de conflitos e ganhos mútuos de uma PPP.

!"#$%&'("(&)!$*$%+"( !"
Os parceiros de um arranjo organizacional, quando em pré-aliança,
devem considerar como será a distribuição do valor a ser gerado pela
parceria, sendo geralmente prevalecida a teoria da dependência dos
recursos, ou seja, o parceiro que traz ou gera recursos mais escassos
para o relacionamento terá maior poder em renegociações pelos bônus
da aliança (Dyer & Singh, 1998).
Conforme Iossa e Martimort (2012), as renegociações de contratos
de PPP, pelos atores privados e públicos, são recorrentes, quando da
distribuição do valor criado pela parceria, considerando a capacidade
dinâmica do serviço público atual, necessitando uma compensação por
eventos não previstos inicialmente.
A diminuição da assimetria informacional proposta pela transparên-
cia, que é um princípio da governança pública, e a comunicação cor-
dial são vistas como essenciais para evitar a perda de desempenho da
aliança causada pela desleal competição do valor criado na PPP (Iossa
& Martimort, 2012). Diante deste entendimento, o nível de transpa-
rência, no que se refere ao disclosure contábil, exigido no item 32 da
2016/NBCTSP05 e 6 da ITG 17, pode auxiliar na mitigação da assime-
tria informacional nefasta à real necessidade de renegociações para a
distribuição do valor criado pela PPP.

2.2. EFEITO DO DISCLOSURE CONTÁBIL NOS MECANISMOS


DE CONTROLE VIS-À-VIS ACCOUNTABILITY
O controle dos atos da PPP é exercido pelos seguintes stakeholders
integrantes do sistema de governança pública da PPP: Órgãos de Con-
trole, Conselho Gestor de PPP (CGPPP), Chefe do Poder Executivo e
Cidadão, formado por moradores locais e usuários dos serviços pres-
tados pela PPP (Menezes & Vieira, 2022).
O Controle Externo estadual, composto por Assembleia Legislativa
do Estado do Ceará – Alece e TCE/CE, atua na análise do relatório de
desempenho do contrato da PPP, enviado semestralmente, previsto por
Lei (CEARÁ, 2009).
O CGPPP e o Chefe do Poder Executivo atuam fiscalizando a execu-
ção da PPP, por meio de apreciação de relatórios de execução dos con-
tratos, na forma do artigo 14 da Lei n.º 14.391/2009, e de auditoria,
respetivamente (Menezes & Vieira, 2022).

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Já os cidadãos podem atuar por meio de Audiência Pública, Con-
sulta Pública e participação no CGPPP, contudo, somente a segunda
tem previsão legislativa, sendo as demais facultadas no exercício do
controle democrático (Campos, et al., 2020).
Para estes últimos, é essencial que o disclosure das demonstrações
contábeis de uma PPP esteja alinhado à função social da contabilidade
aplicada ao setor público, devendo ser compreensiva para que o cida-
dão possa exercer o controle social (Augustinho et al., 2015).
Há dois tipos de disclosure contábil, o obrigatório, que tem como ob-
jetivo dar acesso a informações básicas de forma igualitária aos usuá-
rios exigidas em normativos, e o voluntário, que é a informação gerada
de forma discricionária, tendo como objetivo proporcionar valor ao
disclosure obrigatório (Rufino & Monte, 2014).
As três formas da governança citadas no subitem 2.1 estão interliga-
das, e influenciam significativamente as novas práticas da contabilida-
de aplicada ao setor público (Grossi & Argento, 2022).
Em contrapartida, a contabilidade tem sido uma ferramenta crucial à
implementação de práticas de governança, considerando que os agen-
tes econômicos interessados exigem informações seguras, tempestivas
e compreensivas para dar juízo de valor sobre a organização interessa-
da (Jacques, et al., 2011).
Estudos iniciais questionavam a necessidade do aperfeiçoamento de
normativos específicos para o reconhecimento, mensuração e eviden-
ciação dos fatos contábeis de uma PPP (Martins & Andrade, 2009).
Preenchendo a lacuna citada, foram expedidas normas contábeis,
como a 2017/ITG01(R1) e 2016/NBCTSP05, com regras para reconhe-
cimento e mensuração destinadas ao parceiro privado e público res-
pectivamente, sendo que para este há regras de evidenciação também,
a ITG 17, com regras para evidenciação para o privado e público, e
Resolução CFC n.º 1.318/10, com regras específicas.
Ressalta-se, ainda, que foi estabelecida a base de conceitos aplicá-
vel aos relatórios contábeis com vistas à convergência do padrão in-
ternacional na Accountability, majorando a qualidade das informa-
ções para que sejam úteis na tomada de decisão por parte do usuário
(CFC, 2016).
O alto padrão da contabilidade favorece a uma maior transparência
dos atos financeiros e econômicos da instituição. Quanto mais adequa-
do for o padrão da qualidade da informação contábil adotado, maior

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será a inibição na realização de atos antieconômicos pelo gestor públi-
co, devido à facilidade na detecção de transações econômicas sensíveis
da instituição por outrem (Santos e Lemes, 2022).
Nesse ínterim, a qualidade da informação contábil, devidamente evi-
denciada, é crucial para mitigar a assimetria de informação entre os
atores da PPP, reforçando o poder da prestação de contas de governo
e, consequentemente, reduzindo o grau de corrupção ou interesses
alheios ao do cidadão/investidor (Changwony & Paterson, 2019).

3. METODOLOGIA
Realizou-se um estudo de pesquisa descritiva, sendo realizada a aná-
lise documental, por meio de dados abertos na internet, com aborda-
gem qualitativa (Gibbs & Flick, 2009), do disclosure contábil obrigató-
rio de 2022, proporcionados pelos polos privado e público relacionado
à PPP Vapt Vupt, parametrizado no item 6 da ITG 17, e da consequên-
cia do non-compliance na a atuação dos agentes de controle da PPP
citada, limitados ao TCE/CE e ao cidadão cearense.
Dessa forma, foram secionadas quatro análises:
1. quanto ao disclosure do parceiro privado, com o objetivo de verifi-
car a adesão ao item 6 da ITG 17;
2. quanto ao disclosure do parceiro privado, com o objetivo de verifi-
car a adesão ao item 6 da ITG 17;
3. quanto ao impacto do disclosure contábil da PPP Vapt Vupt na
atuação do Controle Externo; e
4. quanto ao impacto do disclosure contábil da PPP Vapt Vupt na
atuação do Controle Social.
A seleção da amostra foi conduzida pelo método de amostragem pro-
posital, que é uma técnica não aleatória disposta a selecionar dados
relevantes (Etikan, et al., 2016).
O contrato de PPP selecionado se trata de concessão de serviços, no
prazo de 15 anos, prorrogável por até 35 anos, na modalidade admi-
nistrativa, destinados à construção, implantação, operação, manu-
tenção e gestão de sete unidades de atendimento ao cidadão no Es-
tado do Ceará, conforme Contrato n.º 107/2013, disponibilizado em
http://sacc.cge.ce.gov.br/UploadArquivos/20131204.908763.Integra.
CONTRATO.pdf.

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4. ANÁLISE E DISCUSSÃO

4.1. ANÁLISE DO DISCLOSURE DO PARCEIRO PRIVADO


Em busca pelas demonstrações contábeis da SPE Ceará Serviços de
Atendimento ao Cidadão S.A. de capital fechado, controlada pela Ceará
Participações S.A., não foi localizado, na internet, o site das compa-
nhias citadas, sendo somente localizado o da PPP Vapt Vupt, sob o
domínio https://meuvaptvupt.com.br/, da Secretaria da Proteção So-
cial do Estado do Ceará, no qual não há disponibilização das informa-
ções contábeis.
Diante do insucesso, solicitaram-se as peças contábeis citadas no
Portal Ceará Transparente, da Secretaria de Planejamento e Gestão
do Estado, sendo disponibilizadas por e-mail, além de ter sido in-
formado que haviam sido publicadas no Jornal O Povo no dia 17 de
abril de 2023.
Em análise ao disclosure relacionado ao contrato de concessão, com
base no item 6 da ITG 17, verificou-se a non-compliance dos itens (i) e
(vi) da alínea (c) e alínea (e) da referida norma em notas explicativas,
considerando que não foi informada a existência de obrigação de gran-
des manutenções periódicas, e não foi explicitada a forma do direito
de uso dos ativos específicos da relação, nem como o contrato de con-
cessão foi classificado, tendo em vista que somente foi informado que
os bens foram classificados como ativos intangíveis a serem devolvidos
no final do contrato e o recebimento de receita em contas a receber no
ativo circulante, não sendo informado como a permissão de executar
serviços públicos foi classificada.
Além disso, a alínea (b) foi atendida parcialmente, visto que não
foram detalhadas as datas e as bases de reajuste ou renegociação. Em
compensação, foram atendidos as alíneas (a), (d) e os itens (ii), (iii),
(iv) e (v) da alínea (c).
Dessa forma, evidencia-se um atendimento parcial à ITG 17 sobre o
disclosure contábil relacionado ao contrato de concessão.

4.2. ANÁLISE DO DISCLOSURE DO PARCEIRO PÚBLICO


Em busca pelas demonstrações contábeis do Governo do Estado do
Ceará, foi localizado com facilidade, no site da Secretaria da Fazenda
do Estado, o Balanço Geral do Estado de 2022 (BGE/2022).

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Verificou-se que o Balanço Patrimonial Consolidado do Estado de
2022 – BP/2022 (p. 125 do BGE/2022) não fez menção ao Contrato de
Concessão da PPP em comento. Partindo para as Notas Explicativas,
nas quais se esperam maiores detalhamentos das contas do BP/2022
com linguagem mais acessível aos usuários, notou-se que não foi evi-
denciada a forma que foram realizados o reconhecimento e a mensu-
ração dos fatos contábeis da Parceria, havendo somente menção do re-
latório contábil no que se refere à gestão orçamentária e fiscal, quanto
ao valor despendido e à aderência à regra fiscal ditada no artigo 28 da
Lei das PPP.
A parte do BGE/2022 com maiores detalhamentos dos atos da PPP foi
evidenciada no Anexo Relatório do Controle Interno sobre as Contas
Anuais de Governo, embora somente se atem ao cumprimento da re-
gra fiscal prefalada.
Diante da análise realizada, evidencia-se a non-compliance, por parte
do polo público, do detalhamento do disclosure obrigatório exigido no
item 32 da 2016/NBCTSP05, que por sinal são as mesmas informações
exigidas aos polos privados e público no item 6 da ITG 17.
Ademais, as notas explicativas constantes no BGE/2022 não pro-
veram informação adicional relevante para a compreensão dos fatos
contábeis relacionados à PPP, conforme determina o item 127, (c), da
Resolução do CFC 2018/NBCTSP11.

4.3. ANÁLISE DA ATUAÇÃO DO CONTROLE EXTERNO


Para a análise da atuação do TCE, realizou-se a busca, no Portal Con-
texto do referido tribunal (https://www.tce.ce.gov.br/contexto), por
auditorias de conformidade relacionadas à PPP em comento e ao Re-
latório de Instrução das Contas de Governo incluso no Processo de
Prestação de Contas do Governo de 2022.
A última auditoria de conformidade localizada foi realizada em 2018,
referente a atos de 2016 e 2017 (Processo n.º 04078/2018-9). Foram
analisados, com base no Certificado 14/2018, nove achados da audi-
toria realizada na então Secretaria de Estado à qual a PPP estava vin-
culada, que destes apenas o achado 2 (Ausência de revisão contratual
motivada por mudança no valor das desapropriações) teria impacto
na evidenciação contábil da PPP, considerando que foi levantada a
hipótese de terem sido reconhecidos e mensurados valores a maior

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referentes às desapropriações realizadas pelas unidades de Sobral e An-
tônio Bezerra.
Já no que se refere aos atos de contas do governo de 2022, não houve
recomendações sobre irregularidades nos atos da PPP, havendo somen-
te menção, no Relatório de Instrução realizado pela Unidade Técnica,
do cumprimento do limite fiscal previsto no art. 18 da Lei das PPP,
sem a análise mais aprofundada do compliance às normas contábeis
relativas ao disclosure.
Dessa forma, entende-se que em nível de apreciação das contas de
governo, a low disclosure quality do BGE/2022 relacionada à PPP impac-
tou no poder controlador, considerando que somente em auditoria foi
abordado algo que poderia impactar a evidenciação dos atos contábeis.

4.4. ANÁLISE DA ATUAÇÃO DO CONTROLE SOCIAL


Para a análise da atuação do cidadão, realizou-se a busca, no Portal
Contexto do referido tribunal (https://www.tce.ce.gov.br/contexto),
por Representações e Denúncias relacionadas à PPP, além de busca, no
site da Alece, sobre Audiências Públicas sobre a temática, contudo não
foram localizados tais instrumentos de controle social.
Cabe salientar que os contratos de concessão são de certa forma
mais complexos, o que deve impactar no interesse da sociedade em
participar ativamente, pela falta de conhecimento (Augustinho et
al., 2015), nos mecanismos de governança pública relacionados aos
atos de uma PPP.
Ademais, entende-se que a dificuldade da localização de informações
mais detalhadas e compreensivas sobre os fatos contábeis da parceria
pode impactar na atuação do poder legitimador contra a disputa des-
leal causada pela assimetria informacional, como foi o caso do aponta-
mento em auditoria sobre a necessidade de renegociação do contrato
por benefícios de desapropriação da contratada. Dessa forma, sem o
devido conhecimento da irregularidade o cidadão não utiliza seu poder
de controle social para fiscalizar o melhor destino do recurso público.

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
A intenção do presente manuscrito técnico é demonstrar a importân-
cia do disclosure contábil para o exercício dos controles institucional e

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social sobre os fatos contábeis reconhecidos e mensurados no âmbito
das PPPs, especificamente no estado do Ceará, com vistas a contribuir
para a manutenção harmônica da parceria nas renegociações contra-
tuais pela captura do valor gerado na aliança com o fortalecimento da
Governança Pública.
Ainda, é demonstrada a essencialidade na linguagem de fácil com-
preensão, mesmo que a Resolução n.º 2016/NBCTSPEC do CFC afirme
“esperar” que os usuários sejam capazes de ler os relatórios financei-
ros, e de fácil acesso, pois para um efetivo controle social deve-se aten-
der às pessoas também com baixa instrução, ou que estes sejam capa-
citados para poder exercer melhor o dever da cidadania.
Diante das análises realizadas neste estudo, verificou-se a low disclo-
sure quality dos fatos contábeis da PPP Vapt Vupt reconhecidos e men-
surados por meio dos relatórios contábeis das contas de governo do
Estado do Ceará no exercício de 2022, além da dificuldade de localizar
o site da SPE parceira e da não divulgação do relatório contábil do polo
privado no site da PPP, embora o disclosure constante nas demonstra-
ções contábeis, disponibilizadas pelo Portal Ceará Transparente, do
parceiro privado tenha sido menos opaco.
Nesse ínterim, deduz-se que a opacidade informacional, tanto pelo
privado quanto pelo público, prejudicou o exercício dos poderes con-
trolador e legitimador, tendo em vista o reduzido quantitativo de apon-
tamentos do Tribunal de Contas quanto aos fatos contábeis da PPP e
o não participação do cidadão no controle social nos atos da parceria.
Como produtos tecnológicos deste estudo, serão disponibilizadas
quatro notas recomendatórias, sendo uma para cada polo da audiência
deste manuscrito.

5.1. NOTA RECOMENDATÓRIA AO PACEIRO PRIVADO


Recomenda-se aos controladores da SPE Ceará Serviços de Atendi-
mento ao Cidadão S.A.:
1. Criar um site com o nome da SPE, para fins disponibilizar suas
informações contábeis, assim como disponibilizar as referidas in-
formações no site da PPP, facilitando a busca pelos poderes contro-
lador e legitimador;
2. Ofertar cursos gratuitos com a temática de PPP, Demonstrações
Contábeis e Controle Social para fomentar o interesse do poder

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legitimador, considerando que já há a oferta de cursos gratuitos
no site da PPP; e
3. Elaborar um check-list contendo as informações obrigatórias a se-
rem apresentadas em notas explicativas, com base no item 6 da
Resolução CFC n.º 1.375/11 (ITG 17) e 112, (c), da Resolução do
CFC 2017/NBCTG26(R5), para fins de compliance na elaboração
das notas explicativas;

5.2. NOTA RECOMENDATÓRIA AO PACEIRO PÚBLICO


Recomenda-se ao Governo do Estado do Ceará:
1. Elaborar um check-list contendo as informações obrigatórias a se-
rem apresentadas em notas explicativas, com base no item 32 da
2016/NBCTSP05 e 127, (c), da Resolução do CFC 2018/NBCTSP11,
para fins de compliance na elaboração das notas explicativas;
2. Na medida do possível, tornar o detalhamento contábil, em notas
explicativas ou no relatório, com linguajar mais acessível, para
fins de tornar interessante ao cidadão com baixa instrução;
3. Propor, à Alece, alteração na Lei n.º 14.391/2009 para prever a
exigência de disponibilização das demonstrações contábeis da SPE
no site da PPP pelo parceiro privado, para fins de transparência
pública; e
4. Criar um repositório exclusivo, no Portal Ceará Transparente,
para disponibilizar informações de PPP, para fins de proporcionar
fácil acesso a dados relevantes ao Poder Legitimador.

5.3. NOTA RECOMENDATÓRIA AO PODER CONTROLADOR


Recomenda-se ao TCE/CE:
1. Quando da apreciação das contas de governo de 2023, verificar o
nível de disclosure contábil relacionado à PPP Vapt Vupt. No caso
de non-compliance, recomendar a adesão às normas contábeis;
2. Ofertar cursos gratuitos, pela Escola de Contas, com a temática de
PPP, Demonstrações Contábeis e Controle Social para fomentar o
interesse do poder legitimador; e
3. Criar um repositório, na aba cidadão do site institucional, deno-
minado Parcerias Público-Privada para catalogar documentos ge-

!"#$%&'("(&)!$*$%+"( !"
rados por ações de controle em PPP, para fins de proporcionar fácil
acesso a dados relevantes ao poder legitimador.

5.4. NOTA RECOMENDATÓRIA AO PODER LEGITIMADOR


Recomenda-se ao cidadão cearense:
1. Capacitar-se sobre a temática de PPP, Demonstrações Contábeis e
Controle Social, para fins de obter conhecimentos essenciais para
o exercício do controle social;
2. Solicitar audiência pública, na Comissão de Fiscalização e Contro-
le da Alece, para tratar de temas atinentes à manutenção da gera-
ção de valor público da PPP, para fins de auxiliar na manutenção
da harmonia entre os polos da parceria; e
3. Avaliar o atendimento e o serviço prestado pela PPP após a utiliza-
ção, para fins de gerar indicadores de desempenho fiéis.

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1. INTRODUÇÃO
A divulgação de dados do setor público de modo amplo e claro é
imprescindível para que o usuário da informação possa absorver
conhecimento suficiente para analisar a situação e chegar a alguma
conclusão útil.
Cada indivíduo, uma vez que desfruta de direitos civis e políticos
garantidos pelo Estado, desempenha os deveres que, nessa condição,
lhe são conferidos, sendo indispensável o acesso às informações pú-
blicas, que não lhe podem ser negadas, relativas à gestão dos recursos
públicos e seus dispêndios, para que seja possível verificar o atendi-
mento do interesse público. A intensidade das publicações desses da-
dos influencia diretamente na capacidade de compreensão dos gastos
(Carvalho, 2022).
Fiscalizar e controlar também são direitos que a Constituição da Re-
pública de 1988 proporcionou aos cidadãos e, para o exercício dessas
atribuições, é necessário que os políticos e gestores públicos divul-
guem essas informações à sociedade de forma transparente e precisa.
O cidadão deve fazer a correta leitura desses dados. Mesmo que os por-
tais de transparência estejam repletos de conteúdo jurídico e contábil,
se o povo não conseguir entender as informações, não poderá exercer
o controle e a fiscalização (Miranda, 2022).

2 Mestranda em Contabilidade e Administração, Fucape Business School.


kristiane.andrade@yahoo.com.br.

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A contabilidade é responsável por registrar e permitir o controle e
análise dos atos e fatos administrativos e econômicos operados no
patrimônio das entidades públicas, viabilizando a geração de infor-
mações, variações e resultados sobre a composição deste. Tais dados
possibilitam o acompanhamento contínuo da situação da entidade, da
gestão envolvendo o início, o meio e o fim, atuando como um impor-
tante instrumento auxiliar para a realização dos objetivos e finalidades,
permitindo uma constante autoavaliação e autocorreção administrativa
(Andrade, 2012).
Assim, a intenção dos demonstrativos contábeis é propiciar dados
sobre a posição patrimonial e financeira, o desempenho e os fluxos de
caixa da entidade, de modo que esses dados colaborem com os usuá-
rios em suas avaliações e tomada de decisões sobre a alocação de re-
cursos (Carlos, 2014).
O principal objetivo da elaboração e da divulgação da informação
contábil é fomentar a prestação de contas e responsabilização (accoun-
tability) e também contribuir positivamente para a tomada de decisão.
As características qualitativas são traços que tornam a informação con-
tábil útil para os usuários e viabilizam o cumprimento dos objetivos
da informação contábil. São elas: relevância, representação fidedigna,
compreensibilidade, tempestividade, comparabilidade e a verificabili-
dade. As restrições pertinentes à informação contábil são: a materiali-
dade, o custo-benefício e o alcance do equilíbrio apropriado entre as
características qualitativas. Cada uma dessas características funciona
conjuntamente com as outras. Porém, pode não ser possível alcançar
todas elas e, nesse caso, um equilíbrio ou compensação entre algumas
delas poderá ser aplicado (Manual de Contabilidade Aplicada ao Setor
Público – MCASP, 2023).

2. METODOLOGIA
Para a elaboração deste artigo foi realizada pesquisa bibliográfica
em livros e consultas em sites institucionais, em busca de publica-
ções oficiais e material de qualidade para explanar o conteúdo rela-
tivo ao tema.
O trabalho se inicia com a análise da legislação sobre contabilidade
e finanças e envereda para o tema escolhido, buscando analisar uma
situação prática sobre a interpretação da informação contábil.

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3. PLANEJAMENTO ORÇAMENTÁRIO
Um dos pilares da boa gestão é o planejamento.
Através das informações geradas na entidade, combinadas com fato-
res externos identificáveis, o administrador consegue, com certa pre-
cisão, antever situações e evitar o desequilíbrio das contas públicas.
Para isso, a Constituição da República (Brasil, 1988), em seu artigo
165, determinou três instrumentos importantes: o Plano Plurianual de
Governo (PPA), a Lei de Diretrizes Orçamentária (LDO), e a Lei Orça-
mentária Anual (LOA), conforme características a seguir:

Tabela 01 – Principais características dos instrumentos de


planejamento PPA, LDO e LOA elaborada pela autora, com
base no artigo 165 da Constituição da República de 1988.

Artigo 165 da Constituição da República de 1.988


LDO: (§ 2º do artigo 165) LOA (§ 5º do artigo 165)
PPA (§ 1º do artigo 165) A LDO tem a função de alocar as metas e A LOA delibera sobre a
O PPA é um instrumento prioridades da administração, estabelecer fixação da despesa e a
de planejamento através diretrizes e metas de política fiscal, em previsão da receita para o
do qual diretrizes, observância ao equilíbrio da dívida pública, período de um ano, e deve
objetivos e metas são orientar a elaboração da lei orçamentária guardar conformidade
fixados para um período anual, dispor sobre as alterações na legislação com as determinações
de quatro anos. tributária e estabelecer a política de aplicação estabelecidas no
das agências financeiras oficiais de fomento. PPA e na LDO.

Segundo Andrade (2012), o PPA é um plano de trabalho elaborado


pelo Poder Executivo que transforma em lei as promessas anunciadas
na campanha eleitoral, evidenciando os interesses sociais.
De acordo com Reis e Machado Júnior (2019), o orçamento “é um
instrumento que o administrador dispõe para equacionar o futuro em
termos realísticos, como um curso de ação, um programa operacional”.
3 NORMAS SOBRE CONTABILIDADE E TRANSPARÊNCIA
A lei n.º 4.320 (Brasil, 1964), é norma mais antiga em vigor que
norteia as finanças e a contabilidade pública. Em seguida vem a Cons-
tituição da República (Brasil, 1988), e a Lei de Responsabilidade Fiscal
(Brasil, 2000).
A partir da convergência aos padrões internacionais de contabilidade
pública, o novo modelo de sistema da informação contábil resgatou
o objeto de estudo da ciência contábil, que é o patrimônio. Segundo
o autor, o setor público privilegia os aspectos orçamentários, muitas

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vezes em detrimento dos patrimoniais, mas, aos poucos, essa realidade
está mudando (Feijó, 2013).
A portaria do Ministério da Fazenda, MF n.º 184 (Brasil, 2008), de-
terminou que a Secretaria do Tesouro Nacional – STN, órgão central
do Sistema de Contabilidade Federal, promovesse o desenvolvimento
de ações para viabilizar a convergência às Normas Internacionais de
Contabilidade publicadas pela International Federation of Accountants
(IFAC) e às Normas Brasileiras de Contabilidade aplicadas ao Setor
Público (NBC TSP), editadas pelo Conselho Federal de Contabilidade
(CFC), através da edição de normativos, manuais, instruções de pro-
cedimentos contábeis e Plano de Contas Nacional, visando à elabora-
ção e publicação de demonstrações contábeis consolidadas, de acordo
com os pronunciamentos da IFAC e com as normas do CFC, aplicadas
ao setor público. Segundo a referida portaria, também ficou a cargo
da STN promover o acompanhamento permanente das normas con-
tábeis aplicadas ao setor público, de modo a garantir que os Princí-
pios Fundamentais de Contabilidade sejam respeitados no âmbito do
setor público.
Um exemplo desse trabalho orientativo da STN é a elaboração e a
publicação do Manual de Contabilidade Aplicada ao Setor Público
(MCASP), que já está em sua 9ª edição, e do Manual de Demonstrativos
Fiscais (MDF), que está em sua 14ª edição. Ambos estão disponíveis
para amplo acesso através do sítio eletrônico da entidade. Tais manuais
são importantes ferramentas de trabalho para os contadores públicos,
especialmente após o processo de convergência às Normais Internacio-
nais de Contabilidade Pública.
Segundo o MCASP (Brasil, 2022), o aspecto patrimonial da Contabili-
dade Aplicada ao Setor Público compreende o registro e a evidenciação
da composição do patrimônio do ente e segue os princípios e normas
contábeis voltadas para o reconhecimento, mensuração e evidencia-
ção dos ativos e dos passivos e de suas variações. Os demonstrativos
que melhor refletem esse aspecto são o Balanço Patrimonial (BP) e a
Demonstração das Variações Patrimoniais (DVP). O processo de con-
vergência às normas internacionais de contabilidade aplicada ao setor
público (CASP) visa a contribuir, especialmente, para o desenvolvi-
mento deste aspecto.

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O Conselho Federal de Contabilidade (CFC) é o responsável pela
edição das Normas Brasileiras de Contabilidade, conforme atribuição
determinada pelo decreto n.º 9295 (Brasil, 1946).
Passando para a legislação sobre divulgação de dados, a Lei 131 (Bra-
sil, 2009), por exemplo, alterou dispositivos da Lei de Responsabilida-
de Fiscal e inovou ao determinar que os órgãos públicos disponibili-
zassem em seus portais eletrônicos, as informações pormenorizadas da
execução orçamentária e financeira em tempo real.
A Lei n.º 12.527 (Brasil, 2011), conhecida como “Lei de Acesso à In-
formação” versou sobre a forma e o conteúdo mínimos de informações
que devem ser disponibilizados pelos órgãos públicos aos usuários, e
a Lei n.º 13.460 (Brasil, 2017) dispôs sobre os direitos e deveres dos
usuários de serviços públicos e sobre as atribuições fundamentais das
ouvidorias dos órgãos públicos, que se tornaram um importante canal
de comunicação dos cidadãos.
Em um contexto em que o cidadão, na condição de usuário principal
dos serviços públicos, é incentivado a buscar cada vez mais informa-
ções, a contabilidade tem papel fundamental de servir como fonte de
informações que permitam a compreensão da situação orçamentária,
financeira e patrimonial dos entes, sendo responsável pela representa-
ção numérica dos fluxos de informações que abrangem esses aspectos.
Nesse sentido, a análise histórica da informação contábil permite a
verificação de tendências e a prospecção de resultados.
Através da observação das informações colocadas à disposição da
sociedade, seja por força de lei ou voluntariamente pelos entes públi-
cos, qualquer pessoa pode saber como anda seu município, seu estado
ou seu país, e, a partir do conhecimento, o cidadão torna-se capaz de
exercer o chamado controle social, contribuindo para a melhoria de
sua comunidade.
De acordo com informações disponíveis na plataforma do governo
do estado do Espírito Santo, o controle social é a participação da socie-
dade na administração pública, para acompanhar e fiscalizar as ações
de Governo, para solucionar os problemas e assegurar a manutenção
dos serviços de atendimento ao cidadão.
Ainda de acordo com a referida plataforma, o desenvolvimento da
cultura da transparência dentro da Administração Pública é importan-
te para que a sociedade tome conhecimento do seu direito de acesso à
informação, e saiba como usá-lo para acompanhar as ações governa-

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mentais e para que os cidadãos ampliem suas possibilidades de parti-
cipar do debate público e da gestão do Estado, podendo verificar onde
e como está sendo aplicado o dinheiro dos seus impostos, ajudando a
decidir os gastos futuros, colaborando com o orçamento participativo,
e até detectando má aplicação e desvios.
O Tribunal de Contas do Estado de Minas Gerais (TCEMG), por
exemplo, possui um portal chamado “Fiscalizando com o TCE”, atra-
vés do qual é possível acessar várias informações sobre os municípios
jurisdicionados, como as demonstrações contábeis, o valor da receita
arrecadada, os gastos com pessoal, saúde, educação e outros, represen-
tando um importante canal de informação para os mineiros.

4. ESTUDO DE CASO
Segundo explanações do demonstrativo conhecido como Balanço do
Setor Público Nacional – BSPN (Brasil, 2023), de autoria da Secretaria
do Tesouro Nacional (STN), o BSPN é uma publicação anual que apre-
senta as contas consolidadas da Federação Brasileira (União, Estados,
Distrito Federal e Municípios), por exigência do art. 51 da Lei de Res-
ponsabilidade Fiscal.
De acordo com informações divulgadas no referido demonstrativo,
publicado em 2023 e relativo ao ano base 2022, o BSPN é um demons-
trativo que permite análises variadas sobre a consolidação do patrimô-
nio e orçamento públicos, funcionando como ferramenta para apontar
a direção dos ajustes que devem ser realizados na contabilidade pú-
blica, para maior qualidade da informação, e na gestão pública, em
busca da sustentabilidade fiscal visando à ampliação do interesse de
investidores, beneficiando o mercado financeiro nacional, aumentando
a liquidez, reduzindo custos e tornando os títulos públicos brasileiros
mais atrativos.
O gráfico a seguir, que integra o BSPN, demonstra o comportamento
das contas do ativo no período de 2015 a 2022:

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Gráfico 1 – Valor e Composição do Ativo, em bilhões, de 2015 a 2022

R$ Bilhões – Valores Nominais

2022 1.152 2.521 3.090 2.891 5.065

2021 1.052 2.332 2.852 2.756 5.353

2020 942 1.871 2.595 2.595 5.315

2019 821 1.780 2.273 2.518 4.348

2018 746 1.586 2.091 2.754 3.266

2017 658 1.336 1.903 2.646 3.012

2016 630 1.275 1.596 2.668 2.574

2015 584 1.129 1.397 2.665 1.539

0 2.000 4.000 6.000 8.000 10.000 12.000 14.000 16.000


Outras Ativos Caixa e equivalentes Bens móveis e imóveis
Créditos de Dívida Ativa Passivo a Descoberto
e demais créditos

Fonte: Balanço do Setor Público Nacional - STN (2023)

Analisando o gráfico 1, nota-se que a evolução do saldo dos ativos


evoluiu progressiva e negativamente de 2015 até 2021, e que, em 2022
o saldo negativo diminuiu em relação ao ano anterior. Mesmo assim
os passivos continuam a superar os ativos, resultando na situação pa-
trimonial líquida negativa.
O gráfico 2 também integra o BSPN e informa sobre a composição e
evolução das contas do passivo:

Gráfico 2 – Valor e Composição do Passivo, em bilhões, de 2015 a 2022

R$ Bilhões – Valores Nominais

2022 978 5.319 8.426

2021 940 5.2406 7.998

2020 752 5.224 7.383

2019 761 4.430 6.551

2018 805 3.5161 6.076

2017 776 3.203 5.576

2016 831 2.839 5.073

2015 639 1.892 4.784

0 2.000 4.000 6.000 8.000 10.000 12.000 14.000 16.000

Outras Obrigações Passivos Previdenciários Empréstimo e Financiamentos

Fonte: Balanço do Setor Público Nacional - STN (2023)

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De acordo com as informações do gráfico 2, verifica-se que o pas-
sivo cresce progressivamente, o que pode contribuir para a situação
patrimonial líquida negativa, uma vez que o valor total do patrimônio
líquido de uma entidade é representado pelo valor residual dos ativos,
após deduzidos todos os passivos. Um detalhe interessante é a ocor-
rência de redução dos passivos previdenciários em 2022, que pode ser
resultado da reforma previdenciária realizada em 2019. Essa verifica-
ção carece de estudo detalhado que não é o objetivo deste artigo.
Segundo informações disponibilizadas no BSPN, a União, alguns esta-
dos e alguns municípios, vem apresentando déficit nos resultados acu-
mulados desde 2015, o que é confirmado pelos valores negativos apre-
sentados no saldo total negativo do patrimônio líquido consolidado.
Ainda de acordo com as informações divulgadas no demonstrativo
mencionado, a União abriga o maior montante negativo do saldo patri-
monial líquido do setor público. A explicação, segundo dados explana-
dos na demonstração publicada, pode ser, em parte, pela adoção inicial
do Plano de Implantação dos Procedimentos Contábeis Patrimoniais
(PIPCP), com a aplicação de diversos procedimentos patrimoniais,
como início dos procedimentos de depreciação e registro do passivo
por competência. Os prazos previstos no PIPCP são escalonados e al-
guns municípios ainda não adotaram os procedimentos. Isso pode ter
impactado no resultado negativo especialmente da União e Estados,
que já estão aplicando os referidos procedimentos.
A publicação da STN destaca que o saldo patrimonial líquido ne-
gativo pode não ser reflexo de má gestão ou indicativo de problemas
fiscais, uma vez que o setor público não tem como objetivo a obtenção
de lucros, mas a prestação de serviços à população, os quais em sua
maioria não são remunerados ou mensurados patrimonialmente. Diz
também que a inversão do patrimônio líquido é comum na seara pú-
blica e pode ser observada em diversos outros países.
O gráfico a seguir foi extraído de um caderno denominado “Temas
de destaque das contas de governo dos últimos 5 anos 2007-2011”,
disponível no sítio do Tribunal de Contas da União:

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Gráfico 3 - Comparação da situação patrimonial de governos em 2010

17%

–20%
– 26%

– 46% –47%
– 50%
– 59% Média dos
governos
– 82% comparados,
Comissão exceto o
Brasil Canadá EUA França México Reino Européia Brasil

1. Balanço Geral da União de 2010. 2. Annual Financial Report of the Government


of Canada - Fiscal Year 2009-2010. 3. A Citizen’s Guide to the 2010 Financial
Report of the U.S. Government. 4. La certification des comptes de l’Etat - Exercice
2010. 5. Análisis del Informe de Avance de Gestión Financiera 2010. 6. Certificate
and Report of the Comptroller and Auditor General: Whole of Government
Accounts 2009-10. 7. Contas Anuais da União Europeia - Exercício 2010
Fonte: Tribunal de Contas da União - TCU (2011)

Analisando as informações do gráfico 3 e de acordo com informações


explicativas do caderno originário da publicação, é possível observar
a situação patrimonial do governo federal brasileiro e de outros países
no ano de 2010, identificando-se uma relevante discrepância entre a
situação patrimonial brasileira e dos outros países do demonstrativo.
Conforme dados explicativos do referido caderno, o saldo positivo
do patrimônio líquido brasileiro pode ser considerado anormal para as
demonstrações contábeis consolidadas de um governo nacional, sen-
do que somente o Governo Federal brasileiro possuía situação patri-
monial positiva, enquanto todos os outros apresentavam PL negativo
(também conhecido como passivo a descoberto ou passivo líquido).
À época, o Governo Federal brasileiro possuía 17% de ativos líquidos.
Por outro lado, no mesmo ano, os demais países da comparação encer-
raram o exercício em situação patrimonial negativa, de tal modo que
apresentaram, em média, 47 % de passivos líquidos de ativos.
Segundo explicações da referida publicação, nos países analisados, o
patrimônio líquido é negativo principalmente em função do reconhe-
cimento de passivos atuariais e de contas retificadoras de ativos. Ao
registrarem essas rubricas, os referidos países reforçam o seu compro-
misso em apresentar à sociedade e aos demais usuários das demons-
trações contábeis governamentais os desafios para a sustentabilidade
fiscal e atuarial de seus governos.

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Analisando a evolução patrimonial do Brasil, comparando a situa-
ção líquida em 2010 e em 2022, e verificando as informações dos três
gráficos analisados, é possível notar que desde 2015 o Brasil passou a
partilhar da mesma situação patrimonial dos outros países citados no
gráfico 3, uma vez que passou a apresentar passivos líquidos ao invés
de ativos líquidos.
No caso da informação contábil relacionada ao setor público, é im-
portante analisar a informação patrimonial em conjunto com a orça-
mentária, conforme preceituado no MCASP (2023), que diz que o a
meta da maioria das entidades do setor público é prestar serviços à
sociedade, e não obter lucros e gerar retorno financeiro aos investi-
dores. Tais serviços abrangem, por exemplo, os programas e políticas
de bem-estar, educação pública, segurança nacional e defesa nacional.
Assim, o resultado dessas entidades pode ser apenas parcialmente ava-
liado por meio da análise da situação patrimonial, do desempenho e
dos fluxos de caixa.
Sob o aspecto patrimonial, as receitas e despesas são reconhecidas
por competência, já orçamentariamente, por força de determinação da
Lei 4.320/1964, as receitas são contabilizadas pelo regime de caixa e as
despesas por competência, isso faz com que os demonstrativos patri-
moniais e orçamentários apresentem valores diferentes.
Para uma análise mais assertiva das informações, os dados patrimo-
niais precisam ser analisados concomitantemente aos orçamentários,
em virtude da especificidade que abarca as finanças públicas.
A Demonstração das Variações Patrimoniais (DVP) é um demonstra-
tivo contábil do setor público assemelhado à Demonstração do Resul-
tado do Exercício, que é utilizado na contabilidade do setor privado,
que tem o objetivo de apurar o resultado da entidade no exercício
financeiro, apurando o saldo entre as variações patrimoniais aumenta-
tivas (VPA) e as variações patrimoniais diminutivas (VPD). O resultado
encontrado pode ser um superávit, quando as variações patrimoniais
aumentativas superam as diminutivas, ou um déficit, quando ocorre
situação inversa (VPD > VPA). (MOTA, 2022).
A seguir, observa-se a Demonstração das Variações Patrimoniais rela-
tiva às contas nacionais consolidadas, disponível no Balanço do Setor
Público Nacional, referente a ano base 2022:

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DEMONSTRAÇÃO DAS VARIAÇÕES PATRIMONIAIS
(CONSOLIDADO NACIONAL) — R$ milhões

VARIAÇÕES PATRIMONIAIS AUMENTATIVA 2022 2021


Impostos, Taxas e Contribuições de Melhoria 2.362.144 1.776.992
Contribuições 1.180.155 1.056.814
Exploração e Venda de Bens, Serviços e Direitos 267.728 181.625
Variações Patrimoniais Aumentativas Financeiras 992.553 953.633
Transferências e Delegações Recebidas 71.965 129.746
Valorização e Ganhos com Ativos e Desincorporação de Passivos 420.222 535.668
Outras Variações Patrimoniais Aumentativas 1.950.404 1.578.747
Total das Variações Patrimoniais Aumentativas (I) 7.245.171 6.213.225

VARIAÇÕES PATRIMONIAIS DIMINUTIVAS 2022 2021


Pessoal e Encargos 32 874.904 767.314
Benefícios Previdenciários e Assistenciais 33 1.502.530 1.321.290
Uso de Bens, Serviços e Consumo de Capital Fixo 34 681.362 544.321
Variações Patrimoniais Diminutivas Financeiras 35 1.227.345 1.213.973
Transferências e Delegações Concedidas 36 132.878 161.666
Desvalorização e Perdas de Ativos e Incorporação de Passivos 37 969.523 589.330
Tributárias 38 10.992 9.685
Custo das Mercadorias Vendidas, dos Produtos
39 7.177 6.680
Vendidos e dos Serviços Prestados
Outras Variações Patrimoniais Diminutivas 40 1.667.201 1.620.261
Total das Variações Patrimoniais Diminutivas (II) 7.073.912 6.234.520

RESULTADO PATRIMONIAL DO PERÍODO (III) = (I – II) 171.259 (21.295)

Fonte: Balanço do Setor Público Nacional - STN (2023)

Conforme disposto no BSPN, a Demonstração das Variações Patrimo-


niais (DVP) tem o propósito de evidenciar todos os itens de Variações
Patrimoniais Aumentativas (VPA) e de Variações Patrimoniais Diminu-
tivas (VPD) reconhecidos no período contábil, e também de demons-
trar o resultado patrimonial do exercício.
Nesse sentido, observa-se que em 2022 o resultado apurado foi po-
sitivo, com as variações patrimoniais aumentativas superando as di-
minutivas, o que não ocorreu em 2021, quando as VPD apresentaram
valores totais superiores às VPA.

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O gráfico a seguir demonstra a variação patrimonial ocorrida entre
2021, quando o resultado era deficitário, e 2022, quando passou para
um superávit de R$ 171,26 bilhões:

Gráfico 4 – Variação do Resultado Patrimonial


Consolidado 2021 X 2022, em bilhões

308,11 Bi
123,34 Bi 25,55 Bi

585,15 Bi – 172,72 Bi

– 495,64 Bi
171,26 Bi
– 181,24 Bi

– 21,3 Bi
Déficit 2021 Tributos Provisões Outras Contribuições Receitas e Operações com Benefícios Total
Receitas Despesas Ativos Prvidenc.
e Despesas Financeiras e Passivos e Assistenciais

Fonte: Balanço do Setor Público Nacional - STN (2023)

De acordo com informações da STN no demonstrativo, a mudança


de déficit para superávit ocorreu principalmente pelo aumento nos
valores das receitas com tributos e contribuições (R$ 585,15 Bilhões).
O resultado positivo só não foi maior em virtude dos vultuosos valores
de operações com Ativos e Passivos (R$ 495,64).
A tabela a seguir sintetiza os principais achados do BSPN 2022:

Tabela 2: Principais informações encontradas no BSPN

Valores Patrimoniais Consolidados Valores Orçamentários Totais


Ativo Total: Receitas por competência: Receitas Orçamentárias:
R$ 9.658 bilhões R$ 7.245 bilhões R$ 6.648
Passivo Total: Despesas por Competência: Despesas Orçamentárias:
R$ 14.723 bilhões R$ 7.074 bilhões R$ 6.513 bilhões
Passivo a Descoberto: Superávit do Período: Superávit Orçamentário:
R$ -5065 bilhões R$ 171 bilhões R$ 135 bilhões

Fonte: Balanço do Setor Público Nacional - STN (2023)

Analisando o resumo das informações patrimoniais e orçamentárias


apresentadas nos gráficos expostos ao longo deste artigo e na tabela
acima, verifica-se que o resultado apurado foi positivo em relação às
receitas e despesas, tanto quando aplicado integralmente o regime de

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competência para as receitas e despesas (aspecto patrimonial), como
quando apurado pelo regime misto (competência para despesas e caixa
para receitas), embora o saldo dos ativos líquidos (ativo total – passivo
total) se apresente negativo, resultando no passivo a descoberto. Isso
quer dizer que o resultado das variações patrimoniais no ano de 2022
foi positivo (superávit), e que o Patrimônio Líquido continuou a se
apresentar na forma de passivo a descoberto.

5. CONCLUSÕES
No setor público é necessária uma análise conjunta das informa-
ções divulgadas, pois o foco na informação patrimonial em detrimento
da orçamentária pode levar a uma distorção sobre a situação do ente
analisado, resultando em um enviesamento da conclusão por parte do
usuário da informação.
A informação contábil é útil para auxiliar o cidadão na análise do
cenário do qual ele participa, seja o município, o estado ou o país, uma
vez que as ocorrências nessas três esferas provocam reflexos diretos e
indiretos na vida desses indivíduos.
O monitoramento das contas públicas é importante no sentido de
que, ao tomar conhecimento de situações que coloquem em risco
as finanças públicas, o cidadão tem ferramentas para exercer o con-
trole social.
Para tanto, é necessário que as informações orçamentárias, financei-
ras e patrimoniais sejam divulgadas de forma clara e em meios de am-
plo acesso, possibilitando que os usuários dessas informações tenham
condições de analisar corretamente os dados, evitando interpretações
equivocadas.

REFERÊNCIAS
Andrade, N. A. (2012). Contabilidade pública na gestão municipal: Métodos
com base nas normas de contabilidade aplicadas ao setor público (NBCASP)
e nos padrões internacionais de contabilidade. (4a ed). São Paulo: Atlas.
Brasil. Presidência da República. Casa Civil (1988). Constituição da
República Federativa do Brasil de 1.988. http://www.planalto.
gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm
Brasil. Presidência da República. Casa Civil (2000). Lei n. 101, de 4
de maio de 2.000. Estabelece normas de finanças públicas voltadas

!"! "#$%&'(!#!')"%*%&+#
para a responsabilidade na gestão fiscal e dá outras providências.
https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/lcp/lcp101.htm
Brasil. Presidência da República. Casa Civil (2009). Lei n. 131, de 27 de
maio de 2.009. Acrescenta dispositivos à lei complementar nº 101, de 4 de
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responsabilidade na gestão fiscal e dá outras providências, a fim de determinar
a disponibilização, em tempo real, de informações pormenorizadas sobre a
execução orçamentária e financeira da União, dos estados, do distrito federal e
dos municípios. https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/lcp/lcp131.htm
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Constituição Federal; altera a Lei nº 8.112, de 11 de dezembro de 1990;
revoga a Lei nº 11.111, de 5 de maio de 2005, e dispositivos da Lei nº
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1. INTRODUÇÃO
O que é transparência informacional? Segundo Nascimento e Pereira
(2022), Transparência informacional nada mais é que a informação
contábil transmitida de forma transparente para os usuários, sendo o
caminho para que a linguagem contábil reflita uma prática usual do
dia a dia entre as pessoas contidas em uma organização.
Segundo o que dizem Takamatsu e Fávero (2017), os mercados pos-
suem graves problemas em relação a assimetria informacional, que
acontece quando há baixa transparência das informações, divulgando,
muitas vezes, informações de forma opaca. Apesar dos estudos e da
literatura a respeito, ainda assim, há falhas na divulgação das infor-
mações contábeis financeiras apresentadas para os usuários. Ainda de
acordo com os autores Takamatsu e Fávero (2017), quando se falava
em setor público, a assimetria informacional era latente. Cada país,
estado e município adotava uma política de divulgação divergente, o
que dificultava a análise e criticidade dos usuários das informações.
Para que fossem reduzidos os ruídos ao divulgar dados e informa-
ções de cunho financeiro e contábil, foram criadas as IPSAS (Normas
internacionais de contabilidade aplicadas ao setor público), visando
a normatização e padronização das informações, em busca de uma
maior clareza e menor discrepância entre os dados. Instituídas pela

3 Mestranda em Ciências Contábeis e Administração, FUCAPE Business School,


Fortaleza, Brasil. jadbitu@gmail.com

!"#$%&'("(&)!$*$%+"( !"
IFAC (Federação internacional de contadores), as IPSAS têm objetivo
de padronizar as normas contábeis com qualidade e abrangendo todo
o mundo, gerando um escopo único para avaliação das RCPGs (Relató-
rios contábeis de propósito geral) voltadas ao setor público.
A contextualização acima é importante para o entendimento da
transparência da informação e do disclosure contábil. Sob essa ótica,
questiona-se: qual o impacto que as IPSAS trouxeram às informações
contábeis públicas? Houve impacto na opacidade informacional e na
evidenciação contábil?
Assim, esse trabalho visa apresentar as mudanças ocorridas na visão
dos usuários da informação pública após a adoção das demonstrações
nos moldes internacionais, fazendo a análise da qualidade da infor-
mação quanto à redução na opacidade e no disclosure. Além disso, o
estudo deixa a contribuição para que, futuramente, possam ser desen-
volvidas novas ferramentas contábeis voltadas ao setor público e/ou
aprimoradas as já existentes.

2. OVERVIEW NORMATIVO

2.1. IPSAS E O IMPACTO NAS INFORMAÇÕES CONTÁBEIS PÚBLICAS


Segundo Azevedo, Lino, Aquino e Martins (2022), a adoção das Nor-
mas Internacionais de Contabilidade no Setor Público, as IPSAS, agrega
valor na informação contábil, melhorando a qualidade da informação,
aumentando a eficiência do serviço público e deixando a informação
cada vez mais transparente ao público-alvo.
No Brasil, ao longo dos anos, o STN (Secretaria do tesouro nacional)
tem desempenhado importante papel na regulação da contabilidade
aplicada ao setor público, sendo balizador na emissão de portarias,
decretos e quaisquer normativos que impactam diretamente na conta-
bilidade pública.
Além dos normativos do STN, as informações precisam estar de acor-
do com o normativo contido na resolução do CFC Nº 785, de 28 de
julho de 1995 (Conselho Federal de Contabilidade), onde destacam
a necessidade de apresentação das características qualitativas, como
tempestividade e relevância, seguindo as orientações contábeis ge-
rais aplicadas.

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Com a absorção das IPSAS, criou-se uma expectativa de um impac-
to positivo nas informações contábeis por apresentarem o objetivo de
padronização dos dados, buscando o fornecimento de uma maior ce-
leridade na análise e maior nível de comparabilidade e compreensibi-
lidade (características presentes no normativo CFC N.º 785/95). Além
disso, o STN age como órgão regulador, sendo balizador dos dados
divulgados, impactando diretamente no disclosure contábil público.
Em contrapartida, importante ressaltar que há falhas, principalmente
quando se trata de pequenos municípios. Entendendo que o STN con-
solida normas gerais, sem entender as particularidades e brechas de
cada ente, a margem para falhas é expressiva e atinge de forma maciça
os municípios de menor estrutura. Mesmo com todas as benécias, elas
não atingem todo o público, como é dito como objetivo das IPSAS,
conforme aponta Ericeira (2021).

3. TRANSPARÊNCIA DAS INFORMAÇÕES X


DISCLOSURE X ACCOUNTABILITY
Segundo Oliveira, Muller e Nakamura (2000), uma informação con-
tábil transparente nada mais é que dados contábeis demonstrados de
forma clara, compreensível e tempestiva, em portais e estruturadas
apropriadas, que possam oferecer informações relevantes aos tomado-
res de decisão.
De acordo com Nascimento e Pereira (2022), no âmbito da contabili-
dade pública, a informação pode ser acessada através da transparência
dos portais públicos e diversos meios que contenham a informação
sugerida, o que proporciona a facilidade e uma prática de rápida co-
municação entre o setor público e seu público-alvo.
Há diversas formas de se obter a clareza informacional. Além das de-
monstrações contábeis estruturadas de acordo com os normativos dos
CPCs, STN (Secretaria do Tesouro Nacional) e, no caso das demons-
trações públicas, MCASP (Manual de contabilidade aplicada ao setor
público) e PCASP (Plano de contas aplicado ao setor público), junto as
IPSAS, há, também, as notas explicativas. A evidenciação dessas infor-
mações é fator decisivo para a utilidade dos dados.
Uma informação transparente e uma boa evidenciação estão inter-
ligadas quando se busca uma informação eficiente. Iudícibus (2010)
afirma que o objetivo central da contabilidade – que é fornecer in-

!"#$%&'("(&)!$*$%+"( !"
formações úteis para a tomada de decisão – é alcançado através da
divulgação (disclosure) de demonstrações contábeis. Ele completa que
o disclosure representa a última fase do ciclo contábil e que é caracte-
rizado pelos processos de reconhecimento, divulgando a informação
com clareza e objetividade para que os usuários entendam e tenham
base para a tomada de decisão.
Diante do exposto, destaca-se a essencialidade de entender sobre a
accountability. De acordo com o IFAC (International Federation of Ac-
countants) (2001) a accountability é o processo em que os entes pú-
blicos e os indivíduos ligados a ela respondem pelas decisões e ações,
incluindo a forma como são geridos os recursos públicos e tudo que
for relacionado a eficiência da gestão e crescimento nos resultados.
Segundo Nascimento e Pereira (2022), unindo a transparência, o dis-
closure e a publicidade dos dados, tem-se uma prestação de contas, for-
ma de demonstrar a responsabilidade do Estado para com a sociedade.
A seguir, ainda com base no artigo dos autores acima citados, tem-se
uma figura que destaca a união dos itens essenciais para a divulgação
de uma informação clara, útil e tempestiva, capaz de gerar impacto
na sociedade.

Figura 1: Transparência da informação contábil

Fonte: A transparência da informação contábil como


instrumento de formação de esferas públicas, p.4.

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3.1. TRANSPARÊNCIA X DISCLOSURE X ACCOUNTABILITY
X TEORIA DA CONTINGÊNCIA NO SETOR PÚBLICO
Além de entender sobre transparência, disclosure e accountability, é
de suma importância acrescentar conhecimento a respeito da Teoria
da Contingência.
De acordo com Moreno, Junior, Vesco e Walter (2016), a Teoria da
Contingência estuda os pontos de mudança, os elementos externos
que afetem a entidade e os fatores ambientais, ou seja, as possíveis
variáveis que afetam a estrutura de uma organização.
A Teoria da Contingência é norteadora para entendimento da es-
trutura das entidades. Segundo Caldas, Filho e Marques (2020), em
um ambiente de mudanças contábeis, como a convergência às nor-
mas IPSAS, as entidades sofrem alterações estruturais significativas e
é de suma relevância o entendimento, adequação e o conhecimen-
to das variáveis que possam afetar a estrutura e o desempenho das
organizações.

Fonte: A transparência da informação contábil como


instrumento de formação de esferas públicas, p.6.

Visto isso, a teoria tem significância na conjuntura pública por ser


fator influente no equilíbrio estrutural, sendo célula que une as ferra-
mentas de transparência, disclosure e accountability que são necessárias
para uma estruturação conforme as normas e a construção de informa-
ção útil às partes interessadas.

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4. CONTEXTUALIZAÇÃO
Afinal, ainda existe falha na divulgação das informações contábeis do
setor público? A convergência para as IPSAS foi significativa? Existe a
opacidade informacional?
Após análise da temática e entendendo o assunto abordado, cabe
destacar que sim, ainda existe falha na divulgação das demonstrações
contábeis. Mesmo com a integração do Plano de Contas Aplicado ao
Setor Público (PCASP) e o direcionamento feito pelo Manual de Conta-
bilidade Aplicado ao Setor Público (MCASP), ainda assim, não é possí-
vel ter total padronização e adequação das demonstrações às normas.
Além do alto custo para implantação, há a ausência de estrutura em
equipe para implantação das medidas, como destacado por Ericeira
(2021), que afirmou que a implantação do PCASP fora onerosa e des-
necessária, visto que não abrangia todo o público interessado. Além
disso, ele afirma que não apresentou grandes melhorias por não imple-
mentar grandes novidades.
Ainda sob essa ótica, também se destaca que a opacidade das infor-
mações ainda permeia das demonstrações contábeis, visto que – tanto
pela falta de preparo da equipe quanto por não adequação às normas
contábeis – os dados importantes para processamento e para a tomada
de decisão ficam perdidos e/ou nem são retratados na contabilidade.
Por isso, entende-se que a convergência não fora significativa, desta-
cando as brechas deixadas pela não adequação e não adoção de todos
os entes. Cabe destacar a falha na regulação apropriada, visto que o
STN é ferramenta apenas no ente federal, ficando os entes estaduais e
municipais descobertos nesse quesito.
Em relação à opacidade informacional, como dito acima, não foi des-
cartada e acontece de forma forte na administração pública. Jardim
(2008), em uma pesquisa anterior, já comentava sobre a não transpa-
rência das informações contábeis públicas. Ele dizia que a opacidade
supera a transparência, e que esse fenômeno é conhecido historica-
mente como uma negligência do Estado perante a sociedade, não for-
necendo o necessário para os reais usuários da informação.

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5. METODOLOGIA
Para a construção desse estudo, foram coletadas informações de di-
versos artigos, de cunho técnico e científico, com a finalidade de apro-
fundamento sobre as temáticas: transparência das informações contá-
beis, disclosure contábil, accountability, princípios contábeis gerais e
aplicados ao setor público e opacidade informacional.
Para responder o questionamento da pesquisa, foram usados o mé-
todo documental e o método bibliográfico como fonte de dados para
análise. O método descritivo será o objetivo do estudo, propondo in-
formações de cunho qualitativo junto a análise de referências biblio-
gráficas. A importância do estudo fica respaldada nos dados coletados
e nas bases de apoio, no qual foram usados dados de cunho público,
normativos nacionais e internacionais e leis sobre o assunto.

6. CONSIDERAÇÕES E RECOMENDAÇÕES
A respeito das temáticas levantadas, reunindo a transparência das
informações públicas, o disclosure contábil, a accoutability, a opacidade
informacional e as normas contábeis vigentes e pertinentes aos assun-
tos, pode-se chegar a considerar que a administração possui problemas
com a forma de divulgar e o conteúdo a ser divulgado à sociedade,
sendo grave problema não solucionado e historicamente consolidado
e conhecido, sem previsão de mudança.
Neste caso, é pertinente, após os estudos, a apresentação de algumas
propostas de recomendações para possíveis soluções:
a. Aprimoramento e adaptação das IPSAS, para que elas possam
estar presentes de forma padronizada em todos os entes. Cabe
destacar que a adaptação se trata da subjetividade ao desenhar
as demonstrações contábeis da equipe operacional, sendo impor-
tante treinamento, adequação às limitações e as peculiaridades de
cada entidade.
b. Incentivo, criação e imposição de regulação. Hoje, apenas no âm-
bito feral, temos algum tipo de regulação declarada, está feita pelo
STN. Os estados e municípios ficam desassistidos nesse aspecto,
abrindo margem para possíveis divergências nas demonstrações e
falta de clareza na divulgação.
Diante disso, compreende-se que o investimento na qualificação dos
profissionais é importante para o desempenho e evolução das ativida-

!"#$%&'("(&)!$*$%+"( !"
des contábeis do setor público, tendo a necessidade de maior adapta-
ção às individualidades com a permanência de um padrão que possa
ser entendido pelos usuários alvo.

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1. INTRODUÇÃO
O IASB (International Accounting Standards Board) é um órgão in-
dependente que emite normas internacionais de contabilidade, co-
nhecidas como IFRS (International Financial Reporting Standards),
com o objetivo de unificar e aperfeiçoar os padrões contábeis ao re-
dor do mundo.
O objetivo das normas é melhorar a qualidade e a comparabilida-
de das informações financeiras, proporcionando aos investidores um
maior entendimento dos riscos e retornos associados aos diferentes
investimentos, o que permite a alocação eficiente do capital (INGLA-
TERRA, 2023).
Dentre as normas emitidas pelo IASB, temos o IFRS 3 – Business Com-
binations, voltada para a contabilização e divulgação de informações
em operações societárias que envolvem transferência de controle. Em

4 Fucape Business School


5 Fucape Business School
6 Fucape Business School

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sua versão brasileira, temos o CPC n.º 15 – Combinação de negócios,
que segue de maneira similar o padrão internacional.
Essa norma contábil dita as regras das conhecidas operações de
M&A – Mergers and Acquisitions ou Fusões e Aquisições, em que, me-
diante o pagamento de dinheiro, participações societárias, assunção de
obrigações e outras formas de contraprestação, uma entidade adqui-
rente assume o controle de uma entidade adquirida.

2. REVISÃO – CPC 15
Como premissa, destaca-se que o CPC 15 só se aplica a empresas in-
dependentes, não se estendendo a empresas sob controle comum. Isso
é, a norma é aplicada quando há uma transferência de controle entre
entidades não relacionadas (Apêndice B, item B1 – CPC 15 R1, Comitê
de Pronunciamentos Contábeis).
Uma combinação de negócio, então, é baseada em uma operação
por meio do qual um adquirente obtém o controle de um ou mais ne-
gócios, independentemente da forma jurídica da operação (Apêndice
A – CPC 15 R1, Comitê de Pronunciamentos Contábeis, 2023).
Nestas operações, a partir da data efetiva em que o negócio foi fe-
chado, a adquirente passa a exercer o controle da adquirida, seja por
maioria de votos, mediante um acordo formal para tomada de deci-
sões ou estabelecimento de novas políticas governamentais na empresa
controlada e recém-adquirida.
Para se definir o que é um negócio passível de aquisição é preciso:
“identificar um conjunto integrado de atividades e ativos capaz de ser con-
duzido e gerenciado com o objetivo de fornecer bens ou serviços a clientes,
gerando receita de investimento (como dividendos ou juros) ou gerando
outras receitas de atividades ordinárias” (Apêndice A - CPC 15 R1, Co-
mitê de Pronunciamentos Contábeis).
No Brasil, comumente associa-se combinação de negócios a qualquer
reestruturação societária. No entanto, isso não é uma verdade absolu-
ta, pois conforme as regras do CPC 15 uma combinação de negócios é
definida como uma transação ou outro evento em que um adquirente
obtém o controle de um ou mais negócios. O conceito de “controle”,
portanto, se mostra absolutamente relevante.
Importante lembrar, inclusive, que empreendimentos controlados
em conjunto, sociedades subsidiárias integrais, coligadas e joint ven-

!"#$%&'("(&)!$*$%+"( !"
tures, por exemplo, não são abrangidas pelo CPC n.º 15, haja vista não
haver transferência de controle.
De fato, as fusões e aquisições são as operações mais comuns de
combinação de negócios, ou seja, duas pessoas jurídicas tornam-se
uma (fusão) ou quando uma sociedade transfere seus ativos para ou-
tra, sempre com transferência de controle (aquisição).
Por senso comum, define-se transferência de controle nos eventos
em que a participação da adquirente, após a combinação de negócios, é
de mais da metade do capital com direito a voto, da adquirida. Porém,
há outras formas de identificar a obtenção de controle.
Conforme orientação contida no Apêndice B – Itens B5 a B12 do CPC
15 R1, por exemplo, a obtenção de controle envolve transferência de
ativos, assunção de passivos, emissão de ações, além de tópicos adicio-
nais previstos no item B15 da mesma norma, como instrumentos com
potencial direito a voto, recompra de ações, disposição em acordo de
acionistas, composição de alta administração e outros.
A combinação de negócios, então, começa com a identificação do
adquirente, ou seja, a entidade que irá obter o controle do negócio e,
normalmente, quem promove o pagamento, ou seja, aquele que de-
sembolsa recursos para adquirir o controle do negócio em determina-
do momento (data de aquisição).
Ato seguinte, determina-se a data de aquisição, ou seja, o momento
exato em que o adquirente obtém o controle sobre a adquirida, de
suma importância na aplicação do método de aquisição, pois é nesse
momento que os ativos adquiridos e passivos assumidos são reconhe-
cidos e mensurados, como veremos a seguir.
Após a identificação do adquirente e a determinação da data de aqui-
sição, o CPC 15 orienta o reconhecimento e mensuração dos ativos
identificáveis adquiridos e passivos assumidos, ou seja, o patrimônio
líquido ou ativos líquidos, os quais devem, ato subsequente, ser men-
surados pelo seu valor justo na data de aquisição.
O valor justo pode ser entendido como o preço que seria recebido
pela venda de um ativo ou que seria pago pela transferência de um
passivo em uma transação não forçada entre participantes do mercado
na data de mensuração. (Apêndice A – CPC 15 R1, Comitê de Pronun-
ciamentos Contábeis).
Tecnicamente, o valor justo serve para mensurar de maneira impar-
cial o valor econômico dos ativos e passivos envolvidos na combinação

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de negócios, justamente para que sejam consistentes as informações
nas demonstrações contábeis e se possa pautar a decisão de alocação
de capital das partes envolvidas.
O CPC 15 adota o chamado “método de aquisição” para orientar as
combinações de negócios, ou seja, a entidade deve contabilizar cada
operação pela identificação do adquirente, a determinação da data de
aquisição e o reconhecimento e mensuração dos ativos identificáveis
adquiridos, dos passivos assumidos e das participações societárias de
não controladores na adquirida. (Item 5 – CPC 15 R1, Comitê de Pro-
nunciamentos Contábeis).
Este método contempla o reconhecimento e a mensuração do ágio
por expectativa de rentabilidade futura (goodwill) ou do ganho prove-
niente de uma compra vantajosa, a partir da mensuração do valor justo
alcançado quando da identificação dos ativos adquiridos e passivos
assumidos, como vimos anteriormente.
Os métodos utilizados para se alcançar o valor justo variam confor-
me os ativos e passivos envolvidos na operação, destacando-se pecu-
liaridades para cada um deles, como se observa nos itens B31 a B46
do CPC 15 R1, a exemplo do tratamento dispensado ao arrendamento,
ativos intangíveis, participações de não controladores, força de traba-
lho e outros.
Conforme item 32 do CPC 15 (R1), em regra, o adquirente deve re-
conhecer o ágio por expectativa de rentabilidade futura (goodwill) na
data da aquisição, quando o valor da contraprestação pela obtenção do
controle for superior ao valor justo dos ativos e passivos.
Lado outro, conforme item 34 do Pronunciamento de n.º 15, em re-
gra, quando de uma combinação de negócios, pode se reconhecer uma
compra vantajosa, quando a contraprestação do adquirente é menos
que o valor justo dos ativos e passivos devidamente apurados.
Quando é reconhecido, então, o ágio por expectativa de rentabilida-
de futura (goodwill), há a necessidade de se testar seu valor recuperá-
vel periodicamente, conforme determinação do CPC 01 (R1).
Observados os conceitos trazidos, a partir do item B64 do CPC 15
(R1), tem-se as informações que a adquirente deve evidenciar em uma
combinação de negócios, as quais vão desde a divulgação do nome e
descrição da adquirida, passando pelos percentuais adquiridos, valores
contábeis e justo apurados, o goodwill ou ganho por compra vantajo-
sa, a forma de contabilização da operação e outros.

!"#$%&'("(&)!$*$%+"( !"
Todas as informações devem ser evidenciadas de maneira absoluta-
mente transparente para se fazer valor o princípio incialmente trazido
neste artigo, de que as informações contábeis devem servir aos usuá-
rios, aqueles que necessitam de informações assertivas para alocação
do seu capital de maneira eficiente.
Após a combinação de negócios, então, a adquirente, agora contro-
ladora, deve proceder Método de Equivalência Patrimonial – MEP, re-
gulado pelo artigo 248 da Lei 6.404 de 1976 e objeto do CPC n.º 18,
que o define como o: “método de contabilização por meio do qual o in-
vestimento é inicialmente reconhecido pelo custo e, a partir daí, é ajustado
para refletir a alteração pós-aquisição na participação do investidor sobre
os ativos líquidos da investida” (BRASIL, 2023).

3. DISCUSSÃO
Como visto até o momento, as normas contábeis fornecem diretrizes
detalhadas para a contabilização em uma combinação de negócios. A
sua aplicação é essencial para garantir transparência, consistência e
comparabilidade nas demonstrações financeiras.
Importante lembrar, contudo, que as normas contábeis em proces-
sos de M&A devem orientar não só a combinação de negócios em seu
momento presente, mas, principalmente, trazer transparência e meios
hábeis a indicar o desempenho futuro daquela operação às partes en-
volvidas, investidores e interessadas / stakeholders.
É justamente neste momento que surgem algumas lacunas nas nor-
mas contábeis passíveis de debate, já que o acompanhamento do de-
sempenho futuro e informações relacionadas a uma combinação de
negócios podem não ser utilizadas por todas as entidades de manei-
ra eficiente.
Após a combinação de negócios, como vimos, o goodwill é registrado
como ativo intangível da adquirente, motivo pelo qual se torna objeto
de teste de mensuração do seu valor recuperável, qual seja, o maior
valor entre o valor justo líquido de despesas de venda de um ativo ou de
unidade geradora de caixa e o seu valor em uso (item 18 do CPC 01 – R1)
(CPC, 2023).
Anualmente, então, conforme item 10 do CPC 01 (R1), a entidade
deve testar o valor recuperável do ágio pago com expectativa de renta-

!"! "#$%&'(!#!')"%*%&+#
bilidade futura em consequência de uma combinação de negócios, já
que considerado um ativo intangível com vida útil indefinida.
O objetivo, naturalmente, é medir o desempenho daquele ativo
(Goodwill), em relação a sua Unidade Geradora de Caixa, ao longo do
tempo, com o objetivo de prover às partes relacionadas informações
contábeis fidedignas em relação à expectativa de retorno apontado pela
sinergia daquela operação.
Isto porque, muito embora o ágio por si só não seja capaz de gerar
caixa ou outro tipo de retorno financeiro para a entidade, ele represen-
ta, justamente, o potencial de riqueza a ser produzido pelos demais
ativos adquiridos na combinação de negócios, que, inclusive, pode so-
frer variações influências internas e externas à organização ao longo
do tempo. Por este motivo há a necessidade de se proceder ao teste de
valor recuperável.
Foi nesta linha de raciocínio, com o intuito de prover informações
claras e assertivas aos investidores e partes relacionadas, que as nor-
mas internacionais de contabilidade – International Accounting Stan-
dard 36 (IAS 36), seguido pelo CPC 01 (R1) institucionalizou o teste a
valor recuperável do Goodwill.
Na dinâmica de mercado, contudo, analisando os Discussions Papers
e outros documentos apresentados pelo próprio International Accou-
nting Standards Board (IASB), verifica-se, atualmente, que o teste de
valor recuperável (Impairment) pode não ser a mais efetiva ferramenta
para se identificar, assertivamente, a expectativa de retorno daquele
ágio (INGLATERRA, 2023).
Em princípio, contudo, é indicado pelas normas contábeis (item 10
do CPC 01 (R1)) que o teste de impairment seja realizado, no mínimo,
anualmente, ou conforme os itens 10 a 12 do CPC 01 (R1), quando
presentes alguns indicadores internos e externos específicos que apon-
tem tal necessidade.
No Brasil, por exemplo, estudos demonstram que na prática os ges-
tores não promovem o teste tempestivamente, ou o utilizam de ma-
neira engenhosa, quando conveniente. (Cappellesso & Jorge Niyama.
2022 – Rev. contab. finanç. 33).
Além disso, no discussion paper DP/2020/1 (IASB,2020) com o tí-
tulo – Business Combinations – Disclosures, Goodwill, and Impairment,
foram trazidas informações sobre o alto custo de realização dos testes
de Impairment, haja vista sua complexidade, além de ter sido questio-

!"#$%&'("(&)!$*$%+"( !"
nada a sua própria efetividade, sugerindo que as informações não são
devidamente compreendidas pelos investidores (INGLATERRA, 2023).
O debate trazido, então, sugere a simplificação dos testes de impair-
ment para que as informações aprimoradas ajudem os investidores a
avaliar o desempenho subsequente das empresas que realizaram aqui-
sições e, inclusive e, eventualmente, responsabilizem a gestão da so-
ciedade por suas decisões.
Como dito, um debate contemporâneo a respeito do teste de im-
pairment, diz respeito a discricionariedade e oportunismo de gestores
quando de sua realização, no sentido de atrasar ou superdimensionar
seus valores, afetando diretamente a percepção dos investidores em
relação as informações contábeis.
Sugere-se, ainda, que as perdas de Goodwill não são apropriadas a
tempo e modo. No Brasil, por exemplo, entre os anos de 2010 e 2020,
menos de 10% de 163 empresas não financeiras contabilizaram alguma
perda de Godwill (Cappellesso & Jorge Niyama. 2022 – Rev. contab.
finanç. 33).
As críticas ao modelo não param por aí; estudos apontam que os
administradores podem ser motivados a postergar ou evitar a conta-
bilização das perdas do Goodwill, com o objetivo de supervalorizar
este ativo, os lucros ou os preços das ações, prejudicando os acionistas
(Bartov et al., 2020)
Tal fato pode ter como influência a base principiológica dos norma-
tivos contábeis, que acabam por conceder maior poder decisório aos
gestores, os quais, por sua vez, podem lançar mão do gerenciamento
de resultados nos testes de impairment (Cappellesso & Jorge Niyama.
2022 - Rev. contab. finanç. 33).

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS
No contexto brasileiro, os estudos avançaram na demonstração de
estratégias de reconhecimento acelerado de perdas quando da troca
de gestores para atribuir culpabilidade aos seus antecessores ou para
reconhecimento de melhores resultados futuros em sua gestão, por
exemplo (Alves & Silva, 2020).
Outra prática adotada faz menção à tempestividade do reconheci-
mento de perdas em Goodwill, como por exemplo no estudo realizado
por Cappellesso & Jorge Niyama (2022 - Rev. contab. finanç. 33), no

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qual foi constatado que, ao longo de 11 (onze) anos, no período de
2011 a 2020, em uma amostra de 163 empresas listradas na B3, mais
da metade registrou Goodwill em suas demonstrações contábeis.
No total, a pesquisa apontou 1.324 registros de Goodwill no período
analisado, contudo, apenas 129 registraram perda de valor recuperável
supervenientemente ao registro, o que corresponde a menos de 10% de
reconhecimento de perda, o que representa uma evidente lacuna nas
informações oriundas de combinação de negócios.
O artigo técnico analisado destaca a relevância da observância das
normas contábeis, especialmente em operações de fusões e aquisi-
ções. Estas operações, que envolvem significativas transferências de
controle e alocações de capital, necessitam de uma contabilidade
precisa e transparente para garantir que os stakeholders tomem deci-
sões informadas.
Um dos pontos centrais do artigo é a discussão em torno do teste de
impairment para Goodwill. O Goodwill, que representa o ágio pago em
uma aquisição acima do valor justo dos ativos líquidos adquiridos, é
um ativo intangível que pode perder valor ao longo do tempo. O teste
de impairment busca avaliar se o valor contábil do Goodwill ainda é
recuperável em relação ao seu valor de mercado ou valor em uso. Se
o valor contábil for considerado superior ao valor recuperável, uma
baixa contábil é necessária.
A polêmica em torno deste teste reside em sua subjetividade e com-
plexidade. Determinar o valor justo ou o valor em uso do Goodwill en-
volve projeções futuras e estimativas que podem ser influenciadas por
diversos fatores econômicos, estratégicos e operacionais. Além disso,
o debate promovido pelo IASB sobre o tema reflete as diferentes visões,
polêmicas e práticas contábeis envolvidas.
No contexto brasileiro, a evolução do estudo e aplicação do teste de
impairment para Goodwill é, da mesma forma, debatido por profissio-
nais e estudiosos do tema. O Brasil, ao adotar as normas internacionais
de contabilidade (IFRS), comprometeu-se a seguir padrões globais de
transparência e precisão, como visto no início deste artigo.
No entanto, as particularidades do ambiente de negócios brasileiro,
juntamente com as características específicas de suas empresas, tor-
nam essencial uma análise mais aprofundada sobre como o teste de
impairment é aplicado e interpretado no país. Vimos que, no Brasil, há
uma lacuna nos testes de impairment após as operações de aquisição,

!"#$%&'("(&)!$*$%+"( !"
de maneira que o Goodwill pode estar sendo deixado de lado, não sen-
do reconhecido a tempo e modo, o que prejudica a alocação eficiente
de capital dos investidores.
Em suma, o artigo ressalta a importância de uma contabilidade ro-
busta e transparente em operações de fusões e aquisições e chama a
atenção para os desafios e polêmicas em torno do teste de impairment
do Goodwill, enfatizando a necessidade de avanços nessa área no ce-
nário brasileiro.

REFERÊNCIAS
International Accounting Standards Board (IASB). (2023, 17 de agosto).
Who we are. https://www.ifrs.org/about-us/who-we-are/
Comitê de Pronunciamentos Contábeis – CPC. (2011).
Pronunciamento Técnico CPC 15. https://www.cpc.org.br/CPC/
Documentos-Emitidos/Pronunciamentos/Pronunciamento?Id=46
Brasil. (1976). Lei 6.404 de 1976. Dispõe sobre as Sociedades por Ações. Diário
Oficial da União. https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l6404consol.htm
Smith & Fang. (2023). Staff Paper – IFRS Accounting. Accounting Standards
Advisory Forum. Project Business Combinations — Disclosures, Goodwill
and Impairment Topic Improving disclosures about business combinations.
https://www.ifrs.org/content/dam/ifrs/meetings/2023/july/asaf/ap3-bcdgi.pdf
Smith. (2023). Discussion Paper - IFRS Accounting. Accounting Standards
Advisory Forum. Project Business Combinations—Disclosures,
Goodwill and Impairment Topic Improving disclosures about
business combinations. https://www.ifrs.org/content/dam/ifrs/
meetings/2020/october/cmac-gpf/ap1-goodwill-and-impairment.pdf
Cappellesso, G.; Niyama, J. K. (2022). Tempestividade da perda
por redução ao valor recuperável do goodwill em empresas
brasileiras. Revista Contabilidade & Finanças, 33.
Bartov, E.; Cheng, C. S. A.; Wu, H. (2021). Overbidding in Mergers
and Acquisitions: An Accounting Perspective. Accounting Review,
96(2), 55–79. https://doi.org/10.2308/TAR-2018-0260
Castro Pinheiro Alves, K. R., & Tibúrcio Silva, C. A. (2020). Determinantes
do reconhecimento da perda pelo impairment test. REVISTA AMBIENTE
CONTÁBIL - Universidade Federal Do Rio Grande Do Norte - ISSN 2176-9036,
12(2), 112–135. https://doi.org/10.21680/2176-9036.2020v12n2ID19759

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1. INTRODUÇÃO
Um dos principais desafios enfrentados pelo empresariado brasileiro
é, indubitavelmente, a manutenção do sucesso e a continuidade ope-
racional da empresa diante de um ambiente de negócios em constante
evolução e com risco sistémico, em que a complexidade do sistema
tributário nacional, insegurança jurídica, rigidez das regras trabalhis-
tas, acesso ao crédito e instabilidade econômica e política propiciam
um horizonte incerto.
O sistema tributário nacional é constantemente apontado como
disfuncional e complexo. Há uma grande quantidade de tributos, alí-
quotas, regimes de tributação e obrigações acessórias, o que torna a
compreensão e o cumprimento das normas tributárias um verdadeiro
desafio para os empresários. Além disso, temos mudanças constantes
na legislação tributária, que contribuem na geração de insegurança
jurídica para as empresas, dificultando o planejamento e a tomada
de decisões.

7 Fucape Business School


8 Fucape Business School

!"#$%&'("(&)!$*$%+"( !"
De acordo com o relatório Doing Business Subnacional Brasil 2021,
o pagamento de tributos também é complicado no Brasil. Nas 27 lo-
calidades medidas, as empresas gastam em média 1.493 horas por ano
para cumprir com suas obrigações acessórias, mais do que em qual-
quer outro lugar.
A legislação trabalhista nacional é extensa e complexa, o que pode
dificultar a compreensão e aplicação adequada das diversas regras. Al-
gumas regras trabalhistas podem ser consideradas rígidas, o que pode
dificultar a adaptação das empresas às variações do mercado e às ne-
cessidades especificas de cada setor.
A instabilidade política e econômica traz incerteza em relação ao
futuro do país, o que torna os investidores e empresários mais caute-
losos em realizar novos investimentos produtivos. A ausência de pre-
visibilidade afeta o planejamento de longo prazo das empresas e pode
desestimular a busca por oportunidades de crescimento.
Levando em consideração o cenário brasileiro apresentado, as hol-
dings têm desempenhando um papel significativo, especialmente no
contexto familiar. Essas estruturas societárias surgem como uma res-
posta para a gestão, proteção e sucessão do patrimônio familiar ao
longo das gerações. Com base em um ambiente econômico complexo e
em constante mudança, a adoção de holdings familiares se tornou uma
alternativa para otimizar a governança, consolidar o poder decisório e
estrategicamente realizar um planejamento sucessório.

2. DEFINIÇÃO DE HOLDING
É provável nos depararmos com diversas conceituações e definições
para uma sociedade holding. Os tipos de holding mencionados mais
comumente são:

Tipos de
Holding Pura Holding Mista
Holding

Fonte: Elaborado pelos autores.

!"! "#$%&'(!#!')"%*%&+#
Conforme o inciso terceiro do artigo segundo da Lei das Sociedades
por Ações número 6.404/76, uma sociedade empresária pode optar
por fazer parte dos quadros societários de outras, mesmo que não haja
previsão em estatuto, já que a participação é facultada como meio de
realizar o objeto social, ou para beneficiar-se de incentivos fiscais.
Corroborando com a definição dada pela Lei das Sociedades por
Ações, nós podemos verificar a existência de um Cadastro Nacional de
Atividade Econômica (CNAE) para holding.
Subclasse: 6461-1/00 Holdings de instituições financeiras

Notas Explicativas:
Esta subclasse compreende:
– as atividades de entidades econômicas que detêm o controle de capital (ações) de um grupo de empresas com atividades preponderantemente
Financeiras. Essas holdings podem exercer ou não funções de gestão e administração dos negócios das empresas do grupo

Esta subclasse não compreende:


– as atividades das holdings de instituições não-financeiras (6462-0/00)

– as atividades das outras sociedades de participação, exceto holdings (6463-8/00)

Fonte: CNAE – IBGE

Holding pura é aquela sociedade cujo objetivo social é exclusivamen-


te a participação no capital de outras sociedades, ou seja, uma empresa
que tem como atividade possuir quotas (Sociedade Limitada) ou ações
(Sociedade Anônima) de outras empresas. Já a holding mista, é aquela
sociedade cujo objeto social é mais amplo, isto é, não abarca somente
participações em outras empresas, mas o desenvolvimento e explora-
ção de alguma atividade empresarial diversa.
Comumente, mas imprecisamente, é observada no mercado a utiliza-
ção dos termos holding patrimonial ou holding imobiliária para se refe-
rir a empresas cujo objeto social, cuja atividade principal é de natureza
imobiliária. Na essência, essas empresas realizam como atividade pre-
ponderante (operacional) a compra e venda de imóveis, arrendamento
mercantil e locação de bens imóveis.
Sob a ótica societária, a holding é uma pessoa jurídica e o patrimônio
dela, isto é, seus bens, direitos e obrigações é distinto do patrimônio
das sociedades das quais possui participação, assim como das pessoas
físicas e sociedades que participam de seu capital.

!"#$%&'("(&)!$*$%+"( !!
3. INCIDÊNCIA DO ITBI NAS HOLDINGS
A Constituição Federal de 1988 outorga competência tributária aos
entes federados (União, Estados, Distrito Federal e Municípios). Os
municípios, por exemplo, têm a competência tributária privativa para
instituir e legislar o Imposto de Transmissão de Bens Inter Vivos, mais
conhecido como ITBI.
De acordo com o artigo 156, inciso II, da Constituição Federal de
1988, o ITBI incidirá sobre a transmissão “inter vivos”, a qualquer títu-
lo, por ato oneroso, de bens imóveis, por natureza ou acessão física, e
de direitos reais sobre imóveis, exceto os de garantia, bem como cessão
de direitos a sua aquisição.
Quando se trata da constituição de uma holding patrimonial, é cos-
tumeira a utilização de imóveis para a integralização do capital social.
A integralização do capital social por meio de um imóvel é, certamen-
te, uma transmissão de propriedade, pois uma sociedade empresária
possui personalidade jurídica própria, que se diferencia da de seus
membros fundadores, ou seja, há uma distinção e diferenciação entre
o patrimônio da pessoa jurídica com o da pessoa física.
Um segundo ponto a ser verificado é se existe ou não um ato one-
roso. Subscrever o capital social é o ato de formalização do compro-
misso dos proprietários para com a empresa, ao passo que integralizar
o capital social é a efetivação desse compromisso, ou seja, é a efetiva
transferência dos recursos para a pessoa jurídica.
Uma vez transferido o bem imóvel para a empresa, existe uma con-
trapartida, que é o recebimento de instrumentos patrimoniais (quotas
se for uma sociedade limitada ou ações se for uma sociedade anônima)
emitidas pela pessoa jurídica. No caso de uma holding, quando o capi-
tal social é integralizado com imóvel, o sócio ou acionista recebe, em
contrapartida, quotas ou ações, por conseguinte, existe ato oneroso.
Havia muitas controversas em relação ao momento em que é con-
siderado ocorrido o fato gerador do ITBI, sendo assim, nascendo a
obrigação tributária. O Supremo Tribunal Federal (STF), estabeleceu
que o fato gerador do ITBI somente ocorre com a efetiva transferência
da propriedade imobiliária, que se dá mediante o registro. Em termos
práticos, essa transferência de propriedade acontece no momento do
registro efetuado no cartório.

!"! "#$%&'(!#!')"%*%&+#
Todavia, ao recorrermos à Constituição Federal, observaremos no
seu artigo 156 que o ato de transmissão onerosa de propriedade imo-
biliária incorporada ao patrimônio da entidade pessoa jurídica é imu-
ne, isto é, não haverá incidência do ITBI nessa operação, exceto se a
atividade preponderante do adquirente for de natureza imobiliária, ou
seja, compra e venda de imóveis, arrendamento mercantil e locação
de bens imóveis. O Código Tributário Nacional (CTN) no seu artigo
36 reforça a Constituição Federal ao estabelecer que o ITBI não incide
quando existe transmissão de propriedade imobiliária efetuada para
incorporação ao patrimônio de pessoa jurídica em pagamento de ca-
pital nela subscrito.
O conceito de atividade preponderante, segundo o artigo 37 do Có-
digo Tributário Nacional, é quando mais de 50% (cinquenta por cento)
da receita operacional (CNAE) da pessoa jurídica nos 2 (dois) anos an-
teriores e nos 2 (dois) anos subsequentes decorrer de atividades imo-
biliárias. No caso de uma pessoa jurídica constituída recentemente,
levará em conta os 3 (três) primeiros anos.
Em resumo, caso a atividade preponderante da pessoa jurídica não
seja de natureza imobiliária, não haverá incidência do ITBI na inte-
gralização de capital social com imóveis. No caso de constituição de
uma holding, poderá ou não haver incidência do ITBI na integralização
do capital social com bens imóveis. Se a atividade preponderante da
holding for imobiliária, haverá incidência do ITBI; se a atividade pre-
ponderante da holding não for imobiliária, mas, por exemplo, partici-
pações societárias em outras empresas, não haverá incidência do ITBI.

4. TRANSFERÊNCIA PELO CUSTO OU MERCADO


A lei número 9.249, de 26 de dezembro de 1995, é categórica ao
dizer no seu artigo 23 que as pessoas físicas têm a opção de (poderão)
transferir a pessoas jurídicas, a título de integralização de capital social,
bens e direitos pelo valor constante da declaração de bens e direitos
do imposto de renda pessoa física (DIRPF) ou pelo valor de mercado.
No caso de constituição de uma holding patrimonial, o contribuinte
tem a liberdade de optar por transferir o bem imóvel para incorporar
ao patrimônio da holding pelo valor de custo apresentado na sua de-
claração de imposto de renda, e, em contrapartida, deverá (obrigação)
lançar na sua declaração de imposto de renda as ações (se for uma so-

!"#$%&'("(&)!$*$%+"( !"
ciedade anônima) ou quotas (se for uma sociedade limitada) subscritas
pelo mesmo valor dos bens ou direitos transferidos.
Se o contribuinte optar por transferir o bem imóvel para incorporar
ao patrimônio da holding pelo valor de mercado, a diferença a maior
será tributável como ganho de capital para fins de imposto de renda.

5. TESE DO STF E CONFLITOS ENTRE HOLDING E ITBI


O Supremo Tribunal Federal (STF) é o órgão de cúpula do Poder
Judiciário no Brasil, e a ele cabe a nobre função de ser o guardião da
Constituição Federal de 1988.
As decisões tomadas nas votações realizadas pelos membros do STF
em relação à interpretação dos artigos da Constituição Federal, bem
como a jurisprudência aplicada no país, acarretam desdobramentos
em diversas áreas.
Uma das áreas fortemente impactadas por decisões e alterações nas
interpretações feitas pelo STF é a tributária. Recentemente, o STF efe-
tuou o julgamento do Recurso Extraordinário 796.376 de Santa Ca-
tarina, o qual discute o alcance da imunidade do ITBI em relação aos
imóveis integralizados ao capital social das empresas.
Com a fixação da tese 796 do STF, aquilo que era considerado como
um porto seguro aos planejados tributários e sucessórios passou a ser
motivo de incerteza e inúmeras dúvidas e, por outro lado, serviu de
munição para os municípios.
Se os contribuintes, bem como os municípios, efetuarem uma aná-
lise apressada da fixação da tese 796 do STF, é provável que ambos
chegarão a conclusões precipitadas e equivocadas. O caso do Recur-
so Extraordinário 796.376 de Santa Catarina envolve uma sociedade
empresária cujo capital social estabelecido foi de 24.000,00 mil reais,
sendo integralizado imóveis no montante de 802.724,00, isto é, signi-
ficativamente maior do que o capital social.

!"! "#$%&'(!#!')"%*%&+#
O lançamento contábil efetuado pela empresa foi o seguinte:

Ativo Patrimônio Líquido Patrimônio Líquido


Imóveis Capital Social Reserva de Capital
Débito Crédito Débito Crédito Débito Crédito
1 R$ 802.274,00 R$ 24.000,00 1 R$ 778.274,00 1

Fonte: Elaborado pelos autores.

Conforme os lançamentos contábeis demonstrados na imagem aci-


ma, o cerne da questão foi ter efetuado um reconhecimento (registro
contábil) de 802.274,00 mil reais no ativo e a diferença de 778.274,00
ter sido reconhecida na conta de “reserva de capital” no grupo do pa-
trimônio líquido.
É perceptível que o caso apresentado acima não tem nada a ver com
a situação em que um determinado contribuinte tenha disponibiliza-
do bens imóveis a título de integralização de capital social pelo valor
de custo registrado em sua declaração de imposto de renda de pessoa
física (DIRPF) ou pelo valor de mercado, tendo como contrapartida no
ativo da empresa pelo mesmo valor.
Ao observamos alguns trechos do voto do ministro Alexandre de
Moraes, nós perceberemos que, no caso concreto, aos olhos do mi-
nistro, é digno de indagação a razão pela qual há uma diferença tão
substancial entre o valor do capital social e os imóveis incorporados
ao patrimônio da empresa, isto é, uma diferença de 778.274,00. O
ministro questiona o porquê de a constituir uma reserva de capital
em montante tão superior ao seu capital social, e sobretudo, livre do
pagamento de impostos.
Em resumo, concluímos que a decisão do STF confirmou a regra de
que a imunidade do ITBI se aplica à integralização de capital social
com imóveis, desde que o valor dos imóveis seja utilizado integral-
mente para essa finalidade, sendo certo que qualquer valor excedente
estaria sujeito à incidência do ITBI.

!"#$%&'("(&)!$*$%+"( !"
6. DESDOBRAMENTOS DA TESE DO STF E OPORTUNIDADES
O julgamento do Recurso Extraordinário 796.376 de Santa Catarina
foi o tema central em pauta, julgado pelo Ministros em Repercussão
Geral. Porém, quando do voto do Ministro Alexandre de Moraes, foi
trazido à tona uma forte polêmica a respeito da imunidade do ITBI.
Moraes trouxe uma interpretação diferente do que ordinariamente
se aplica para a imunidade do ITBI, em seu voto. Segundo o Ministro,
o artigo 156, parágrafo 2º, inciso I da Constituição Federal, que prevê
a imunidade do ITBI, contém dois comandos de imunidade distintos.
Para esclarecermos melhor este ponto, é necessário analisar o pró-
prio texto legal cuja redação apresenta o comando de que o ITBI: “I
- não incide sobre a transmissão de bens ou direitos incorporados ao patri-
mônio de pessoa jurídica em realização de capital, nem sobre a transmis-
são de bens ou direitos decorrente de fusão, incorporação, cisão ou extin-
ção de pessoa jurídica, salvo se, nesses casos, a atividade preponderante do
adquirente for a compra e venda desses bens ou direitos, locação de bens
imóveis ou arrendamento mercantil”.
Veja que o primeiro comando de imunidade se refere à integralização
de capital social com imóveis, que seria sempre imune, independen-
temente de qualquer condição. O segundo comando de imunidade se
aplicaria apenas em casos das operações societárias, e estaria condi-
cionado à verificação da principal atividade desempenhada da entida-
de adquirente.
Nas palavras de Moraes, “É dizer, a incorporação de bens ao patrimô-
nio da pessoa jurídica em realização de capital, que está na primeira parte
do inciso I do § 2º, do art. 156 da CF/88, não se confunde com as figuras
jurídicas societárias da incorporação, fusão, cisão e extinção de pessoas
jurídicas referidas na segunda parte do referido inciso I.”
Tal interpretação do Ministro Alexandre de Moraes abre margem
para que os contribuintes ingressem em juízo para pleitear a inexis-
tência de relação jurídica que os obrigue a recolher o ITBI quando da
integralização de capital social em holdings por meio de imóveis.
Neste ínterim, a integralização de capital social com imóveis seria
sempre imune à incidência do ITBI, sem a necessidade de cumprir
as condições estabelecidas no artigo 37 do Código Tributário Na-
cional (CTN).

!"! "#$%&'(!#!')"%*%&+#
Isto porque, totalmente crível a interpretação gramatical de que o
trecho “salvo se, nesses casos”, contida no inciso I do §2º do art. 156
se refere à imunidade do imposto municipal quando das operações de
reorganização societária, tão somente. (Maia & Antunes, 2023)
Uma decisão recente do Tribunal de Justiça do Distrito Federal e
Territórios (TJDFT) reforçou essa interpretação quando do julgamento
do incidente de arguição de inconstitucionalidade civil, no processo nº
0705115-03.2021.8.07.0018.
Nessa ocasião, firmou a orientação para a inconstitucionalidade par-
cial do § 1º, do art. 3º, da Lei 3.830/2006 e do § 1º, do art. 2º, do
Decreto Distrital n.º 27.576/2006, procedendo à imunidade tributária
do ITBI em operações de transferência de bens imóveis para fins de in-
tegralização de capital subscrito pelos sócios, mesmo que sua atividade
preponderante seja imobiliária.
O Desembargador Relator César Loyola (TJDF) proferiu voto no mes-
mo sentido do Ministro Alexandre de Moraes quando do julgamento
do Recurso Especial 796.376/SC, ou seja, favorável às holdings familia-
res, já que sobre os imóveis a serem incorporados em seu patrimônio
não incidirá o imposto.
Da mesma forma, em julgado de dezembro de 2020, o Tribunal de
Justiça de Minas Gerais (TJ-MG), no contexto do Recurso de Apelação
n.º 1.0148.15.005512-4/004, concedeu a imunidade tributária a uma
holding familiar patrimonial.
Alinhado ao posicionamento adotado pelo Supremo Tribunal Fede-
ral, os Desembargadores sustentaram que “de acordo com o STF, a in-
tegralização do capital, por meio de imóveis, é imunizada da incidência
do ITBI pela CF/88, não alcançando, entretanto, a reserva de capital. A
exceção, relativa à atividade preponderante, refere-se às figuras jurídicas
societárias da incorporação, fusão, cisão e extinção de pessoas jurídicas
(RE 796376/SC)”.
Muito embora tenhamos decisões favoráveis ao contribuinte, é im-
portante ressaltar que essa interpretação ainda não foi confirmada pelo
STF e não é uniforme entres os Tribunais Estaduais. A decisão do Tema
de Repercussão Geral n.º 796 não tratava especificamente dessa inter-
pretação, mas sim da extensão da imunidade do ITBI em casos em que
o valor dos imóveis excede o valor do capital social a ser integralizado.
Vejam que estamos diante de uma possibilidade de reconhecimento
do direito dos contribuintes de não recolher ITBI na integralização de

!"#$%&'("(&)!$*$%+"( !"
capital em empresas holdings, independentemente da atividade pre-
ponderante e eventualmente, ter restituído eventual valor pago inde-
vidamente, mas é preciso cautela e um bom acompanhamento técnico
por profissional especializado no tema, já que cabe ao judiciário, a
palavra final sobre o tema específico em cada caso.

7. HOLDING PATRIMONIAL E O TRATAMENTO CONTÁBIL


Tornou-se comum no Brasil a associação do termo holding a em-
presas que atuam na atividade imobiliária, especialmente, aquelas
que realizam atividade de locação, arrendamento e compra e venda
de imóveis. Devido a essa associação, ficou cunhado o termo holding
patrimonial, que é relacionado com a ideia de uma estrutura para zelar
os imóveis de uma família com foco num planejamento sucessório e
ou tributário.
Nesta parte, veremos o tratamento contábil e as possíveis classifi-
cações contábeis que um imóvel pode ter na contabilidade de uma
holding. É mister termos em mente que para fins contábeis não há uma
aplicação sem uma fonte correspondente de origem, por conseguinte,
precisamos saber qual é a destinação dada ao imóvel, ou seja, o que a
holding tem como intenção fazer com ele.
Sustentar a
atividade

O que a Holding
Alugar para Vender no curso
pretende fazer
terceiros normal dos negócios
com o imóvel

Especulação e
valorização de capital

Fonte: Elaborado pelos autores.

Para cada uma das situações apresentadas na imagem acima, teremos


um tratamento contábil específico e, por consequência, um pronuncia-
mento técnico diferente para ser utilizado.

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8. PRONUNCIAMENTOS TÉCNICOS
Se o imóvel ou os imóveis utilizados a título de integralização de ca-
pital social de uma holding forem utilizados com o objetivo de susten-
tar operacionalmente o desenvolvimento das atividades da entidade,
eles serão classificados como ativos imobilizados e deverá ser observa-
do o pronunciamento técnico CPC 27 – Ativo Imobilizado.
Se o imóvel ou os imóveis utilizados a título de integralização de ca-
pital social de uma holding forem utilizados com o objetivo de auferir
aluguel ou para a valorização do capital ou para ambos, eles serão clas-
sificados como propriedade para investimento e deverá ser observado
o pronunciamento técnico CPC 28 – Propriedade para Investimento.
Se o imóvel ou os imóveis utilizados a título de integralização de
capital social de uma holding forem mantidos para venda no curso
normal dos negócios, eles serão classificados como estoque e deverá
ser observado o pronunciamento técnico CPC 16 – Estoques.
A correta classificação do imóvel ou dos imóveis utilizados a título
de integralização de capital sócia de uma holding para fins de reconhe-
cimento (registro) contábil é vital, pois afetará a forma de mensuração
inicial e subsequente desses imóveis. Para cada situação, haverá uma
forma específica de mensuração.

9. APLICAÇÃO DO PRONUNCIAMENTO TÉCNICO CPC 27


Para que o imóvel seja classificado no Ativo Imobilizado, de acordo
com o CPC 27, ele deverá ser direcionado para utilização na produ-
ção ou fornecimento de mercadorias ou serviços ou para fins admi-
nistrativos e se espera utilizar por mais de um período, ou seja, mais
do que um exercício social. No caso de uma holding, a única possi-
bilidade para que o imóvel seja classificado como ativo imobilizado
é na sua utilização para fins administrativos como, por exemplo, a
sede da empresa.
Uma vez que o imóvel foi classificado para reconhecimento (regis-
trado) como um item do ativo imobilizado, ele deve ser mensurado
(avaliado) pelo custo. Segundo o CPC 27, o custo de um item do ativo
imobilizado é composto pelo seu preço de aquisição, adicionado de
impostos de importação e tributos não recuperáveis sobre a aquisição,
depois de deduzidos os descontos incondicionais (comerciais) e aba-
timentos. Além disso, quaisquer gastos diretamente atribuíveis para

!"#$%&'("(&)!$*$%+"( !"
colocar o ativo no local e condições adequadas para o mesmo ser ca-
paz de operar da forma pretendida pela gestão irão também compor o
custo inicial do ativo.
Suponhamos que a família Bragança constitui a MLH Holding S.A.;
Maria Leopoldina, uma das acionistas, subscreveu um capital social
de 400.000,00 mil reais, o qual integralizou com uma laje corporativa
destinada a ser a sede da entidade.

MLH Holding S.A. — Fotografia Patrimonial 01

Ativo Passivo
Ativo Circulante Patrimônio Líquido 400.000,00
Capital Social Realizado 400.000,00
Ativo Não Circulante / Imobilizado 400.000,00
Imóvel 400.000,00
Total do Passivo e
Total do Ativo 400.000,00 400.000,00
Patrimônio Líquido

Fonte: Elaborado pelos autores.

Uma vez constituída a holding e o imóvel classificado como ativo


imobilizado, esse imóvel será apresentado nos períodos subsequentes
ao custo menos qualquer depreciação e perda por redução ao valor
recuperável acumuladas.
Suponhamos que o valor anual da depreciação do imóvel seja de
16.000,00 mil reais. Isso quer dizer que ao final do primeiro ano, isto é,
na data 31/12, o valor contábil desse ativo será de 384.000,00 mil reais.

Mensuração inicial pelo


CPC 27 — IMÓVEL
custo de aquisição

Mensuração subsequencial pelo custo


CPC 27 — IMÓVEL
menos depreciação e impairment.

Fonte: Elaborado pelos autores.

10. APLICAÇÃO DO PRONUNCIAMENTO TÉCNICO CPC 28


Para que o imóvel seja reconhecido como ativo no subgrupo Inves-
timentos do Ativo não Circulante, de acordo com o CPC 28, ele deverá
ser mantido para auferir aluguel ou para valorização de capital ou para

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ambos. No caso de uma holding, se o imóvel for destinado para alugar
a terceiros ou para manter o dinheiro investido (capitalizar), reconhe-
cerá como propriedade para investimento.
Uma vez que o imóvel é considerado uma propriedade para investi-
mento, ele deve ser inicialmente mensurado pelo seu custo. Os custos
de transação devem ser incluídos na mensuração inicial como, por
exemplo, as remunerações profissionais de serviços legais, impostos de
transferência de propriedade e outros custos de transação.
Diferentemente do Imobilizado em que a mensuração subsequente é
o custo de aquisição menos as depreciações e reduções ao valor recu-
perável acumuladas, a entidade deve escolher como sua política con-
tábil o método do valor justo ou o método do custo. Valor justo, para
o CPC 46, é uma mensuração baseada em mercado (visão ampla) e não
uma mensuração específica (visão restrita) da entidade. Valor justo é o
preço que seria obtido pela venda de um ativo ou que seria pago pela
transferência de um passivo em uma transação não forçada entre parti-
cipantes do mercado conhecedores do negócio na data de mensuração.
Um dos aspectos mais relevantes em relação às propriedades para in-
vestimentos é a sua mensuração a valor justo. Se o objetivo do imóvel
é auferir aluguel ou valorização de capital, podemos notar que o valor
justo é uma representação mais adequada dos benefícios econômicos
futuros, pois os preços de venda dos imóveis e os aluguéis são valores
normalmente definidos pelo mercado, sendo assim, produzindo uma
qualidade informacional maior para as partes interessadas.
O principal objetivo da mensuração a valor justo é aprimorar a infor-
mação sobre a propriedade para investimento, mostrando de maneira
mais tempestiva o seu valor e suas variações com o passar do tempo.
Apesar de a norma permitir a discricionaridade gerencial de optar por
um dos métodos, a própria norma exige que para fins de divulgação,
caso a entidade use o método de custo, deverá também apresentar o
método do valor justo.
A avaliação a valor justo da propriedade para investimento não é
feita pelo contador, pois o recomendável a contratação de avaliador in-
dependente que goze de prestígio, qualificação profissional significante
e que tenha experiência recente no local e na categoria da propriedade
para investimento que esteja sendo avaliada.
Suponhamos que a família Bragança constitui a MLH Holding S.A.;
Maria Leopoldina, uma das acionistas, subscreveu um capital social

!"#$%&'("(&)!$*$%+"( !"
de 400.000,00 mil reais, o qual integralizou com uma laje corporativa
destinada a ser alugada para terceiros para gerar renda ou a manter o
dinheiro investido.

MLH Holding S.A. — Fotografia Patrimonial 01

Ativo Passivo
Ativo Circulante Patrimônio Líquido 400.000,00
Capital Social Realizado 400.000,00
Ativo Não Circulante / Imobilizado 400.000,00
Imóvel 400.000,00
Total do Passivo e
Total do Ativo 400.000,00 400.000,00
Patrimônio Líquido

Fonte: Elaborado pelos autores.

Uma vez constituída a holding e o imóvel classificado como proprie-


dade para investimento, esse imóvel será apresentado e divulgado nos
períodos subsequentes pelo método do valor justo.
Suponhamos que ao final do exercício social vigente na elaboração
das demonstrações contábeis, um avaliador independente e gabarita-
do foi contratado para efetuar um laudo apurando o valor justo dessa
propriedade para investimento. O laudo apontou um valor justo de
450.000,00 mil reais. Isso significa que atualizaremos o saldo da conta
imóvel de 400 mil para 450 mil e a contrapartida será no Resultado do
Exercício na conta Ganho ao Valor Justo. Caso o laudo apontasse um
valor justo de 350.000,00 mil reais, o saldo da conta imóvel passaria
de 400 mil para 350 mil e a contrapartida seria no Resultado do Exer-
cício na conta Perda ao Valor Justo.

Mensuração inicial pelo


CPC 28 — IMÓVEL
custo de aquisição

Mensuração subsequencial pelo método do


CPC 28 — IMÓVEL
custo ou ou método do valor justo

Fonte: Elaborado pelos autores.

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11. APLICAÇÃO DO PRONUNCIAMENTO TÉCNICO CPC 16
Para que o imóvel seja reconhecido como ativo no estoque, de acor-
do com o CPC 16, ele deverá ser mantido para venda no curso normal
dos negócios, em processo de produção para venda ou na forma de
materiais ou suprimentos a serem consumidos ou transformados no
processo de produção ou na prestação de serviços. No caso de uma
holding, se o imóvel for destinado para venda e o seu objeto social en-
volver a compra e venda de imóveis, reconhecerá como estoque.
Uma vez que o imóvel é considerado um estoque, ele deve ser ini-
cialmente mensurado pelo seu custo. O valor de custo do estoque deve
incluir todos os custos de aquisição e de transformação, bem como
outros custos incorridos para trazer os estoques à sua condição e lo-
calização atuais.

Ativo Passivo
Ativo Circulante Patrimônio Líquido 400.000,00
Estoque de Imóveis para revenda 400.000,00 Capital Social Realizado 400.000,00
Ativo Não Circulante 400.000,00
Total do Passivo e
Total do Ativo 400.000,00 400.000,00
Patrimônio Líquido

Suponhamos que a família Bragança constitui a MLH Holding S.A.;


Maria Leopoldina, uma das acionistas, subscreveu um capital social
de 400.000,00 mil reais, o qual integralizou com uma laje corporativa
destinada a ser vendida no curso normal dos negócios (o CNAE da em-
presa envolve compra e venda de imóveis).
Fonte: Elaborado pelos autores.

Mensuração inicial pelo método do


CPC 16 — IMÓVEL
custo ou valor realizável líquido

Mensuração subsequencial pelo método do


CPC 16 — IMÓVEL
custo ou valor realizável líquido

Fonte: Elaborado pelos autores.

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12. CONSIDERAÇÕES FINAIS
O ITBI exerce um papel crucial na constituição de holdings, sendo
uma questão relevante para os planejadores e gestores dessas estru-
turas empresariais. Nesse artigo, exploramos os principais aspec-
tos relacionados ao ITBI na formação de holdings, bem como as nor-
mas contábeis pertinentes, a fim de fornecer uma visão abrangente e
fundamentada.
Uma holding bem planejada pode ser uma ferramenta valiosa no
planejamento sucessório, patrimonial e tributário, possibilitando a
otimização dos recursos. A constituição de uma holding requer uma
abordagem integrada e estratégica, que leve em conta tanto os aspec-
tos jurídicos quanto tributários e contábeis. O conhecimento sólido
nessas áreas é essencial para que a holding seja estruturada de for-
ma eficiente, buscando a redução de custos tributários e a otimização
dos resultados.
Ao longo do artigo, provou-se a existência de conflitos de interpreta-
ção envolvendo a imunidade do ITBI. Se, por um lado, esses conflitos
de interpretação geram incertezas e instabilidade, por outro lado, tra-
zem oportunidades aos contribuintes de embasar novas teses “filhotes”
a fim de reduzir ou eliminar o pagamento de impostos.
Este artigo buscou oferecer uma visão abrangente e fundamentada
sobre o ITBI na constituição de holdings, bem como as normas contá-
beis relevantes para esse tipo de estrutura empresarial. Ao aprofundar
o conhecimento nesses aspectos, os gestores e profissionais envolvidos
na criação e gestão de holdings estarão mais preparados para tomar
decisões estratégias e contribuir para o sucesso e sustentabilidade des-
sas empresas.

REFERÊNCIAS
BANCO MUNDIAL. 2021. Doing Business Subnacional Brasil.
BRASIL. Lei n.º 6.404, de 15 de dezembro de 1976. Dispõe sobre as sociedades
por ações. Diário Oficial da República Federativa do Brasil, Brasília, 1976.
BRASIL. Lei n.º 10.406, de 10 de janeiro de 2002. Institui o Código Civil.
Diário Oficial da República Federativa do Brasil, Brasília, 2002.
BRASIL. Lei n.º 5.172, de 25 de outubro de 1966. Institui o Código Tributário
Nacional. Diário Oficial da República Federativa do Brasil, Brasília, 1966.

!"! "#$%&'(!#!')"%*%&+#
BRASIL. Lei n.º 9.249, de 26 de dezembro de 1995. Altera a legislação do imposto
de renda das pessoas jurídicas, bem como da contribuição social sobre o
lucro líquido. Diário Oficial da República Federativa do Brasil, Brasília, 1995.
PRONUNCIAMENTO TÉCNICO CPC 27 – Ativo Imobilizado.
Comitê de Pronunciamentos Contábeis.
PRONUNCIAMENTO TÉCNICO CPC 16 (R1) – Estoques.
Comitê de Pronunciamentos Contábeis.
PRONUNCIAMENTO TÉCNICO CPC 46 – Mensuração do Valor
Justo. Comitê de Pronunciamentos Contábeis.
PRONUNCIAMENTO TÉCNICO CPC 28 – Propriedade para
Investimento. Comitê de Pronunciamentos Contábeis.
GLEBCKE, Ernesto Rubens; SANTOS, Ariovaldo dos; IUDÍCIBUS,
Sérgio de; MARTINS, Eliseu. Manual de Contabilidade Societária:
aplicável a todas as sociedades de acordo com as normas
internacionais e do CPC. 4 ed. São Paulo: Atlas, 2022.
NAKAO, Sílvio Hiroshi; MORAES, Marcelo Botelho; GODOY, Carlos. Contabilidade
Financeira: interpretação e aplicação. 1 ed. São Paulo: Atlas, 2021.
SILVA, Fábio Pereira da; MELO, Caio; ROSSI, Alexandre Alves.
Holding Familiar: Aspectos jurídicos e contábeis do
planejamento patrimonial. 3 ed. São Paulo: Atlas, 2023.
ANTUNES, Tales Mendes. MAIA, Felipe Fernandes Ribeiro. O itbi na integralização
de imóveis no capital social de pessoa jurídica: aspectos controversos
da imunidade prevista no art. 156, §2º, i, da cf/88.Revista do Programa
de Pós-Graduação em Direito. Salvador-BA, (v.32/2022). (p.1-33),
Data de publicação: 06/02/2023 DOI: (endereço do DOI desse artigo).
Disponível em: endereço eletrônico. Acesso em: 13 de agosto de 2023.

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1. HISTÓRICO DAS SUBVENÇÕES


A Constituição de 1988, em seu artigo 151, reconhecendo as dis-
paridades regionais, lançou mão de dispositivos indutores, de caráter
tributário, como instrumento de incentivo desse desenvolvimento eco-
nômico regional igualitário, possibilitando a concessão de incentivos
fiscais pelos entes federados (BRASIL,1988).
Recepcionada pela Constituição Federal de 1988, a Lei Complemen-
tar n.º 24 de 1975 define diretrizes para oferta de benefícios fiscais do
imposto sobre operações relativas à circulação de mercadorias (ICMS),
geridas pelo Conselho Nacional de Política Fazendária (CONFAZ), um
órgão colegiado que integra a estrutura do Ministério da Economia do
Brasil (BRASIL, 1975).
Com a evolução de debates e a omissão histórica do Governo Fede-
ral nessa questão, vários estados buscaram o desenvolvimento de seus
territórios por meio de incentivos fiscais de ICMS, à revelia do próprio
CONFAZ, dando origem à chamada “guerra fiscal”, considerada nociva,
inclusive, ao Federalismo Brasileiro (MELO, 2022).

9 Fucape Business School


10 Fucape Business School

!"! "#$%&'(!#!')"%*%&+#
Neste sentido, regulamentada pelo Convênio número 190 de 2017
(Convênio ICMS), a Lei Complementar 160 de 2017 surgiu como uma
tentativa de encerrar essa guerra fiscal, estabelecendo regras para a
convalidação de incentivos fiscais que outrora foram concedidos pe-
los Estados sem o aval do Conselho Nacional de Política Fazendá-
ria – CONFAZ, órgão responsável por validar benefícios fiscais conce-
didos pelos Estados (BRASIL, 2017).
A Lei Complementar 160, então, incluiu o § 4º no artigo 30 da Lei
12.973 de 2014, com o objetivo de encerrar a discussão sobre os dife-
rentes tipos de subvenção, entre custeio e investimento. O dispositivo
considera que os benefícios fiscais de ICMS conferidos pelos Estados
são subvenções para investimento e não compõem base tributável para
alcance do Lucro Real (BRASIL, 2014).
Para tanto, o dispositivo em tela deixou claro que não é necessária a
exigência de contrapartida por parte dos contribuintes, com exceção
de constituição de reserva de lucros e impossibilidade, distribuição aos
sócios e demais exigências previstas no dispositivo mencionado.
Neste contexto, é importante deixar claro que a subvenção para
investimento é uma espécie do gênero subvenções governamentais,
tratadas no Pronunciamento Técnico CPC 07. Essa norma contábil
nos mostra que as subvenções, de maneira geral, andam juntas com
a necessidade de contrapartida por parte do contribuinte, devem ser
tratadas como receita em sua contabilidade, registrada em reserva de
lucros para que seja excluída do lucro tributável e sem permissão de
distribuição aos sócios (COMITTI, 2023).

2. A IMPORTÂNCIA DA CONTABILIDADE NO
TRATAMENTO DAS SUBVENÇÕES
Veja que a contabilidade desempenha um papel de protagonismo
nesse cenário, já que toda essa engrenagem prevista pela legislação
mencionada somente ocorre após o reconhecimento das subvenções
para investimento mediante registro em conformidade com as normas
contábeis e na medida de evidenciar os valores subvencionados pelos
Estados (NETO, 2022).
Estes registros, baseados na transparência e nas melhores práticas
contábeis, tornam-se imprescindíveis, principalmente, após o julga-
mento do tema repetitivo de número 1182 pelo Superior Tribunal de

!"#$%&'("(&)!$*$%+"( !"
Justiça, que sobre a impossibilidade de exclusão de benefícios fiscais
de ICMS da base de cálculo do IRPJ e CSLL, sem a observância dos re-
quisitos previstos no artigo 30 da Lei 12.973 de 2014, mas com a dis-
pensa da comprovação de que tenham sido concedidos para expansão
do empreendimento econômico (BRASIL,2023).
É essencial, portanto, que haja identificação do que eventualmente
será considerado subvenção para fins de exclusão de IRPJ e CSLL, a fim
de se garantir que as entidades subvencionadas estejam em conformi-
dade com a Lei, em observância ao que fora determinado pelo Tribunal
Superior e, quando necessário, atendam à fiscalização do órgão admi-
nistrativo de fiscalização.
Isto porque, após a Lei Complementar 160, que alterou o art. 30 da
Lei 12.973 de 2014, os contribuintes começaram a enxergar o ajuste
dos benefícios fiscais de ICMS como um leque de possibilidades de
economia tributária, porém, por vezes, sem compreender com exati-
dão como estes benefícios deveriam ser evidenciados na contabilidade
para sustentar o fundamento de que deveriam estar de fora da base
tributável do IRPJ e CSLL.
Neste contexto, também, as autoridades administrativas não interna-
lizaram o julgado do STJ, sendo certo que, até o momento da redação
deste artigo, prevalece a necessidade de menção expressa por parte do
Estado de que eventuais benefícios de ICMS tenham sido concedidos
para expansão econômica das atividades empresariais, a exemplo do
conteúdo da Solução de Consulta nº 145 de 2020, pela Receita Federal
do Brasil (BRASIL, 2023).

3. PRÁTICA CONTÁBIL (CPC 07)


A contabilização adequada dos benefícios fiscais de ICMS é a chave
para alcançar a eficiência tributária na apuração do Imposto de Renda,
sendo necessário que operador se atenha as diretrizes estabelecidas
pelo Comitê de Pronunciamentos Contábeis (CPC) no pronunciamen-
to CPC n.º 07.
O item 38E do CPC n.º 07 esclarece como deve ser o reconhecimen-
to contábil da subvenção para investimento. De acordo com o dispo-
sitivo, o reconhecimento é realizado registrando-se o valor total do
imposto de ICMS a pagar, na qualidade de passivo, em contrapartida
do reconhecimento de uma receita de subvenção. Assim, um valor é

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deduzido do outro, neutralizando o impacto no resultado da empresa
(CPC, 2010).
A título de exemplo, vamos considerar uma venda de R$ 100.000,00
e uma alíquota básica de 18%, em uma operação de saída, desconside-
rando, para fins didáticos, eventuais créditos do imposto nas aquisi-
ções e apuração de outros tributos.
Neste caso, o valor de ICMS seria de R$ 18.000,00. Com um hipo-
tético benefício fiscal de redução direta de base de cálculo de 60%,
teríamos uma nova base de R$ 40.000,00 e o valor de ICMS, na saída,
seria de R$ 7.200,00. A diferença entre os dois valores, qual seja, R$
10.800,00, é o valor da subvenção para investimento. A contabilização
observando CPC 07 se daria da seguinte forma:

Apuração do Débito de ICMS


Montante do faturamento interno R$ 100.000,00
Base tributável R$ 40.000,00
Alíquota de ICMS 18,00%
ICMS devido R$ 7.200,00
ICMS cheio R$ 18.000,00
Diferença de ICMS R$ 10.800,00

DRE
Receita bruta de bens e/ou serviços R$ 100.000,00
( — ) Deduções da receita bruta R$ 7.200,00
ICMS sobre vendas R$ 18.000,00
Subvenção para investimento R$ 10.800,00
( = ) Receita líquida de bens/serviços R$ 92.800,00

Fonte: Elaborado pelos autores

As regras estampadas no CPC 07 estabelecem diretrizes para a con-


sideração e divulgação de subvenções, reconhecendo uma receita não
operacional que tem origem em incentivos fiscais, neutralizando a des-
pesa de ICMS que seria devida sem o benefício e resultando em um
impacto nulo no resultado.
Contudo, o reconhecimento contábil desta subvenção não é me-
ramente uma formalidade ou uma questão de apresentação. Ele tem
implicações tributárias significativas. Ao evidenciar a subvenção de
acordo com o CPC 07, a empresa fundamenta a exclusão deste valor da
base de cálculo do IRPJ e da CSLL.

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A correta contabilização e evidenciação da subvenção, conforme es-
tabelecido pelo CPC 07, permite que a empresa se beneficie não apenas
do incentivo fiscal em si, mas também de uma redução na base tribu-
tável dos tributos sobre a renda.
Assim, embora o resultado, em termos de carga tributária de ICMS,
possa ser o mesmo com ou sem a evidenciação da subvenção, a obser-
vância às regras do CPC 07 é importante para assegurar que a empresa
esteja em compliance com as normas contábeis e tributárias, e para fun-
damentar a exclusão da subvenção da base tributável do IRPJ e CSLL.

4. O TRATAMENTO DO STJ ÀS SUBVENÇÕES


Em 26 de abril de 2023, o tema repetitivo número 1182 foi julga-
do pelo Superior Tribunal de Justiça. Enquanto o governo celebra-
va vitória, indicando que a decisão era contrária aos interesses dos
contribuintes, profissionais e juristas alertaram pontos favoráveis no
julgamento do tema, muito embora estivesse o acórdão pendente
de publicação.
Antes mesmo de adentrar o resultado do julgamento do tema 1182,
é preciso analisar o julgamento de um Recurso de Embargos de Diver-
gência em Recurso Especial do STJ, de n.º 1.517.492/PR, e de relatoria
do Ministro OG Fernandes, quando em novembro de 2017 entendeu
que o benefício de crédito presumido de ICMS não deveria compor a
base de cálculo do IRPJ e CSLL sob pena de violar o Pacto Federativo
previsto na Constituição Federal (art. 150, VI, “a”, da CF/88).
Naquela ocasião, foram desconsiderados os requisitos do artigo 30
da Lei 12.973 de 2014, ou seja, sequer havia a necessidade de compo-
sição de reservas referentes ao crédito presumido. Neste caso, sequer
fala-se em subvenção para investimentos, e sim em uma renúncia de
receita por parte do Estado, em favor do contribuinte.
Os contribuintes buscaram estender esse conceito, deveras favorá-
vel, para as demais concessões de benefícios fiscais de ICMS, mas no
julgamento do STJ, Resp. n° 1.968.755/PR, a 2ª turma deliberou que a
violação ao pacto federativo ocorre unicamente na tributação dos be-
nefícios fiscais “positivos”, relacionando-os com o crédito presumido.
Importante destacar, contudo, que as definições de grandezas “posi-
tivas” e “negativas” não guardam relação com a contabilidade e foram
utilizados pelo Superior Tribunal apenas distinguir os benefícios de

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ICMS que impactam a receita dos contribuintes daqueles que por lá
não transitam, como redução de base de cálculo, isenção e diferimento
(NAUGHTON, 2023).
No julgamento do REsp nº 1.968.755, o STJ instruiu o TRF da 4ª Re-
gião a avaliar o recurso do contribuinte que tinha isenção de ICMS com
base no artigo 30 da Lei 12.973 de 2014, interpretando-a como uma
subvenção para investimento.
Isso significa que o STJ entendeu que a isenção de ICMS poderia ser
vista como uma subvenção para investimento, o que levaria à exclusão
desses valores na base de cálculo do IRPJ e CSLL, desde que cumpridas
as normas legais. Esse julgamento criou um precedente positivo para
os contribuintes.
A legislação mencionada pelo Relator abrange não apenas as isen-
ções de ICMS, mas também outros incentivos e benefícios fiscais rela-
cionados ao ICMS. Portanto, já se acreditava que várias vantagens fis-
cais de ICMS poderiam ser vistas como subvenções para investimento
(VIEIRA, 2023).

5. AS TESES FIXADAS PELO STJ


Após longas discussões a respeito, a 1ª Seção do STJ, em 12 de ju-
nho de 2023, publicou o acórdão do julgamento do tema repetitivo
1.182. Na oportunidade, os ministros fixaram três teses, sendo que a
primeira determinou que somente seria possível excluir benefícios de
ICMS como redução de base, isenção e diferimento da base de cálculo
do IRPJ e CSLL se cumpridos os requisitos do art. 30 da Lei 12.973 de
2014, ou seja, não seria possível estender a estes benefícios, o trata-
mento do pacto federativo dado ao crédito presumido (BRASIL,2023).
A segunda tese trouxe o entendimento de que não seria necessário
demonstrar que os benefícios de ICMS descritos na primeira tivessem
sido concedidos como estímulo à expansão do empreendimento eco-
nômico das entidades, ou seja, basta ser um benefício fiscal para ser
considerado uma subvenção para investimento e ser excluído da base
tributável federal.
A terceira e última tese fixada traz a informação de que a Receita Fe-
deral pode fiscalizar e verificar se os valores subvencionados, oriundos
dos benefícios fiscais, estão sendo utilizados em prol da própria entida-
de, ou seja, na viabilidade do empreendimento econômico.

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Para simplificar, o STJ posicionou-se de acordo com as decisões das
1º e 2ª Turmas sobre os benefícios de ICMS, ou seja, estabeleceu que o
REsp nº 1.517.492/PR (que trata da não tributação pelo IRPJ e CSLL, ba-
seado na alegação de violação ao princípio federativo) se refere apenas
ao crédito presumido de ICMS.
Quanto aos outros benefícios fiscais ligados ao ICMS, eles devem se-
guir o que está estabelecido no art. 30 da Lei nº 12.973/2014, confor-
me o entendimento da 2ª Turma no julgamento do REsp n.º 1.968.755.
Um ponto mais ambíguo da decisão, que pode levar os contribuintes
a apresentarem Embargos de Declaração, é a contradição entre os itens
2 e 3 da tese definida. Parece que a terceira tese está em consonância
com o §2º do art. 30 da Lei 12.973, que prevê a tributação dos valores
beneficiados caso não sejam observadas as normas sobre reserva de
lucros e proibição de distribuição de dividendos obrigatórios.
Nesse contexto, a Receita Federal, no futuro, se limitaria a verifi-
car se o contribuinte fez a reserva de incentivos fiscais ou aumentou
o capital social, e se não distribuiu dividendos aos sócios. Assim,
argumenta-se que a Receita não deveria questionar o propósito da
subvenção, isto é, se foi dada “como incentivo à criação ou ampliação
de um negócio”, conforme reprimido pelo item 2 da tese estabelecida
(VIEIRA, 2023).
O viés fiscalista, porém, é outro. A Receita Federal do Brasil inova
na interpretação do julgado e considera a possibilidade de verificar o
próprio caráter de benefício das normas estaduais, ou seja, se de fato
aquele dispositivo do estado, quando se trata de ICMS, corresponde a
um benefício fiscal.
Sob tais argumentos, a Receita Federal do Brasil, recentemente, no-
tificou cerca de 500 grandes empresas no Brasil, como uma espécie de
“carta final” oferecendo uma oportunidade para procederem à denún-
cia espontânea e se auto regularizarem (BACELO e OLIVON, 2023).
O fundamento das notificações, em suma, aduz que para benefícios
de ICMS, com exceção do crédito presumido, ou seja, isenções, redu-
ções e outros, o vendedor do produto não obtém vantagem fiscal já que
em transações intermediárias, no meio da cadeia, o adiamento da co-
brança do imposto e os benefícios fiscais são destinados ao comprador.
Já nas vendas ao consumidor final, as isenções ou reduções de ICMS
aliviam a carga tributária para o consumidor, mas não conferem ga-
nho fiscal ao vendedor, pois visam principalmente beneficiar o des-

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tinatário final da mercadoria. Os contribuintes, contudo, adiantam
que não corroboram do entendimento trazido nas notificações da Re-
ceita Federal e prometem acionar o judiciário no momento oportuno
(NAUGHTON, 2023).

6. O CRÉDITO PRESUMIDO
Conforme vimos anteriormente, o crédito presumido de ICMS ocupa
um espaço singular no imbróglio que se pretende descortinar neste
artigo, na medida em que tem tratamento distinto dado pelo judiciário
quando em comparação com os demais benefícios fiscais, já que dis-
pensa o cumprimento dos requisitos do artigo 30 da Lei 12.973 para
sua exclusão da base tributável de IRPJ e CSLL.
Tudo isso por força do teor do julgamento do Recurso de Embargos
de Divergência em Recurso Especial do STJ, de nº 1.517.492/PR, favo-
rável aos contribuintes. Porém, ainda assim, por zelo, só se pode afir-
mar como possível a exclusão do crédito presumido de ICMS da base
do IRPJ e CSLL sem a constituição de reserva de incentivos fiscais, sob
o fundamento de ofensa ao pacto federativo, mediante decisão judicial.
Isso ocorre porque, apesar de o tema ter sido julgado pelo STF e
existir uma pacificação jurisprudencial, os órgãos administrativos não
se manifestaram e não houve internalização em norma regulatória.
Assim, na ausência de mecanismos administrativos claros, persiste a
incerteza sobre a exclusão sem a devida constituição de reserva em um
contexto técnico.
Em um cenário positivo para exclusão, da mesma forma havida para
os demais benefícios de ICMS, a não tributação do crédito presumido
de ICMS pelo IRPJ e CSLL deve observar as disposições do CPC 07, re-
gistrado como receita e evidenciando o valor subvencionado como se
devido fosse o pagamento do imposto de maneira integral.
A título de exemplo, vamos considerar que uma indústria se bene-
ficiou de um programa de subvenção estadual de crédito presumido
recebendo uma redução de 75% no ICMS, válida até junho de 2032.
Em 2023, a empresa adquiriu matéria-prima da região sudeste por
R$ 300.000,00, com um crédito de ICMS de 7%. No mesmo ano, ven-
deu produtos acabados totalizando R$ 900.000,00, sendo 60% dessas
vendas internas com alíquota de 18% de ICMS e 40% interestaduais
com alíquota de 12%.

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O crédito de ICMS das aquisições de matéria-prima será reconhecido
em “ICMS a recuperar”, visto que as saídas são tributáveis e a empresa
é contribuinte de ICMS. Vejamos a contabilização da operação, confor-
me instruções do Comitê de Pronunciamentos Contábeis.

Apuração do Crédito de ICMS


Montante das aquisições interestaduais R$ 300.000,00
Alíquota de ICMS interna (RN) 7,00%
Valor devido de ICMS R$ 21.000,00
Valor total de crédito de ICMS R$ 21.000,00

Fonte: Elaborado pelos autores.

Ativo Circulante Ativo Circulante Ativo Circulante


Banco Conta Movimento Estoque de Matéria-Prima ICMS a Recuperar
Débito Crédito Débito Crédito Débito Crédito
R$ 300.000,00 1 1 R$ 279.000,00 1 R$ 21.000,00

Fonte: Elaborado pelos autores.

Após, calcula-se o ICMS a recolher da empresa, considerando as ven-


das internas e interestaduais. As vendas internas têm uma alíquota de
18%, enquanto as interestaduais são de 12%. A soma desses dois va-
lores indica o total de ICMS a ser pago, antes de descontar os créditos
relacionados às compras de insumos da empresa.

Apuração do Débito de ICMS


Montante do faturamento interno R$ 540.000,00
Alíquota de ICMS interna (RN) 18,00%
Valor devido de ICMS R$ 97.200,00
Montante do faturamento interestadual R$ 360.00,00
Alíquota de ICMS interestadual 12,00%
Valor devido de ICMS R$ 43.200,00
Valor total devido de ICMS no período R$ 140.400,00

Fonte: Elaborado pelos autores.

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Ativo Circulante Resultado ®
Banco Conta Movimento Receita de Vendas
Débito Crédito Débito Crédito
2 R$ 900.000,00 R$ 300.000,00 1 R$ 900.000,00 2

Passivo Circulante Resultado ®


ICMS a Recolher ICMS sobre Vendas
Débito Crédito Débito Crédito
R$ 140.400,00 2.1. 2.1 R$ 140.400,00

Fonte: Elaborado pelos autores.

O terceiro passo é efetuarmos o confronto da conta “ICMS a recu-


perar” (crédito tributário) com a conta “ ICMS a recolher” (débito
tributário). O ICMS é um tributo de caráter não cumulativo, portan-
to, devemos abater o valor devido com os valores pagos nas opera-
ções anteriores.

Ativo Circulante Passivo Circulante


ICMS a Recuoperar ICMS a Recolher
Débito Crédito Débito Crédito
Si R$ 21.000,00 R$ 21.000,00 3 3 R$ 21.000,00 R$ 140.400,00 Si

Fonte: Elaborado pelos autores.

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Apuração Crédito Presumido e a Recolher
Saldo devedor do ICMS R$ 119.400,00
Percentual do crédito presumido 75,00%
Valor do crédito presumido R$ 89.550,00
Valor final do ICMS a recolher R$ 29.850,00

Uma vez efetuada a compensação, teríamos um saldo líquido de


ICMS a recolher de R$ 119.400,00 (140.400,00 – 21.000,00). Todavia,
a empresa recebeu a subvenção de 75% sobre o saldo devedor de ICMS,
logo, aplicaremos 75% sobre o valor de R$ 119.400,00, obtendo um
crédito presumido R$ 89.550,00. O saldo final da conta ‘’ICMS a reco-
lher’’ será de R$ 29.850,00.
Fonte: Elaborado pelos autores.

Passivo Circulante Resultado ®


ICMS a Recolher Beneficios Fiscais
Débito Crédito Débito Crédito
3 R$ 21.000,00 R$ 140.400,00 R$ 89.550,00 4
4 R$ 89.550,00

R$ 110.550,00 R$ 140.400,00
R$ 29.850,00

Fonte: Elaborado pelos autores.

Observe que o saldo final (devido) da conta “ICMS a recolher” é de


R$ 29.850,00, pois a diferença de R$ 89.550,00, isto é, o crédito pre-
sumido de ICMS, foi transferido ao resultado do exercício da empre-
sa. Ao elaborar sua Demonstração do Resultado do Exercício, tería-
mos o seguinte:

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DRE — 01/01/2023 — 31/12/2023
Receita bruta de bens e/ou serviços R$ 900.000,00
( — ) Deduções da receita bruta R$ 50.850,00
ICMS sobre vendas R$ 140.400,00
Benefícios fiscais R$ 89.550,00
( = ) Receita líquida de bens/serviços R$ 849.150,00
( — ) Custo dos produtos vendidos11 R$ 279.000,00
( = ) Resultado bruto R$ 570.150,00
Despesas Operacionais 12
R$ 228.060,00
Lucro antes do imposto de renda R$ 342.090,00

Fonte: Elaborado pelos autores.

LALUR — Parte A
Lucro Contábil (LAIR) R$ 37.881,00
( + ) Adições R$ 1.254,00
( — ) Exclusões R$ 22.729,00
( = ) Lucro Tributável R$ 252.540,00

Fonte: Elaborado pelos autores.

Tributos Deretos IR e CSLL correntes


Imposto de renda pessoa jurídica13 R$ 37.881,00
Adicional de imposto de renda 14
R$ 1.254,00
Contribuição social sobre o lucro15 22.729,00
Total do IRPJ e CSLL R$ 61.864,00

Fonte: Elaborado pelos autores.

11 O Custo dos Produtos Vendidos de R$ 279.000,00 é fruto do consumo inte-


gral da matéria-prima adquirida no processo produtivo e elaboração dos produ-
tos acabados.
12 O valor das Despesas Operacionais representa o somatório das despesas gerais,
administrativas, comerciais e logísticas incorridas na empresa ao longo do exercí-
cio social.
13 Aplica-se 15% sobre o lucro tributável de R$ 252.540,00.
14 Aplica-se 10% sobre a parcela do lucro tributável anual que excedeu o limite de
R$ 240.000,00, ou seja, R$ 12.540,00.
15 Aplica-se 9% sobre o lucro tributável de 252.540,00 mil reais.

!"#$%&'("(&)!$*$%+"( !"#
Receita bruta de bens e/ou serviços R$ 900.00,00
( — ) Deduções da Receita bruta R$ 50.850,00
ICMS sobre vendas R$ 140.400,00
Benefícios fiscais R$ 89.550,00
( = ) Receita líquida de bens/serviços R$ 849.150,00
( — ) Custos dos produtos vendidos16 R$ 279.00,00
( = ) Resultado bruto R$ 570.150,00
( — ) Despesas operacionais17 R$ 228.060,00
( = ) Lucro antes do imposto de renda R$ 342.090,00
( — ) IRPJ e CSLL correntes R$ 61.864,00
( = ) Lucro líquido R$ 280.226,00

Fonte: Elaborado pelos autores.

Referente ao Lucro Líquido apurado de R$ 280.226,00 a empre-


sa não poderá distribuir aos sócios ou acionistas o montante de R$
89.550,00, destinando-o à constituição de reserva de incentivos fiscais.
O exemplo acima se trata de um crédito presumido incondicional,
sem qualquer exigência para o contribuinte. Porém, é importante res-
saltar que para alguns benefícios crédito presumido de ICMS é necessá-
rio promover o estorno dos créditos de aquisições. Inclusive, esta ob-
servação vem constante dos recentes comunicados da Receita Federal,
sendo certo que, nestas hipóteses, a contabilização se daria de maneira
distinta, na medida de ser necessário desconsiderar estes créditos de
ICMS das entradas (BRASIL, 2023).
Em adição a isso, a autoridade administrativa argumenta que alguns
benefícios fiscais de ICMS são concedidos ou outorgados em substitui-
ção aos créditos apurados pelas operações de entrada/aquisições da en-
tidade. Nestes casos, conforme entendimento do fisco, a entidade não
poderia aproveitar esses créditos presumidos na qualidade de benefício
passível de exclusão da base tributável de IRPJ e CSLL.
Muito embora o Superior Tribunal de Justiça em suas manifestações
não tenha tratado do tema, é importante realizar tal diferenciação entre
os créditos presumidos concedidos em substituição aos créditos das
operações de entrada e aqueles que são concedidos em adição aos cré-

16
17

!"#! "#$%&'(!#!')"%*%&+#
ditos levantados nas aquisições, para efeitos práticos e eventual debate
na esfera judicial.

7. CRÉDITO PRESUMIDO PELAS ENTIDADES DE CAPITAL ABERTO


A título de exemplo, foram trazidas como referência duas socieda-
des empresárias de capital aberto para evidenciar o tratamento con-
tábil direcionado às subvenções governamentais. A primeira, M Dias
Branco S.A., atua no setor de indústria, comercialização e distribuição
de alimentos provenientes do trigo. De acordo com suas informações
trimestrais do segundo semestre de 2023, o montante de suas reser-
vas de Incentivos fiscais era de aproximadamente 2,6 milhões de reais
(CVM, 2023).
A empresa recebe subvenções de natureza para investimento e se
classificam em estaduais e federais. A partir de 2019, com base na Lei
Complementar número 160, de 07 de agosto de 2017, a empresa deu
tratamento de subvenção para investimento, os benefícios fiscais con-
cedidos na forma de crédito presumido/outorgado.
A Arezzo Indústria e Comércio S.A., por sua vez, atua na fabricação,
desenvolvimento e comercialização de calçados, bolsas e acessórios e
vestuário para o mercado masculino e, principalmente, para o merca-
do feminino. De acordo com suas informações trimestrais do segundo
semestre de 2023, o montante de suas reservas de incentivos fiscais é
de aproximadamente 560 mil reais (CVM, 2023).
Em 30 de junho de 2023, a Companhia registrou R$ 152.154,00 em
benefícios fiscais de ICMS, um aumento em relação aos R$ 117.940,00
de 2022. Esses benefícios foram concedidos pelos estados do Espírito
Santo, Rio de Janeiro e o Estado da Bahia (CVM, 2023).
Todos esses benefícios fiscais estão sendo direcionados à constituição
de reserva de incentivos fiscais e excluídos da base de cálculo dos di-
videndos mínimos obrigatórios, ou seja, a companhia vem cumprindo
os requisitos legais para exclusão dos valores subvencionados da base
de cálculo do IRPJ e CSLL.

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8. EFEITOS PRÁTICOS PARA ANÁLISE DOS
IMPACTOS DAS SUBVENÇÕES
Para que a entidade observe um efeito caixa na apuração do IRPJ
e CSLL, excluindo os benefícios de ICMS, é necessário que ela aufira
lucro no exercício. Do contrário, em um cenário de prejuízo fiscal, a
exclusão dos benefícios fiscais de ICMS irá apenas aumentar este pre-
juízo, não trazendo efeitos práticos imediatos.
Além disso, é importante avaliar a própria atividade da entidade,
identificando as principais operações de entrada, saída, internas ou
interestaduais e quais são os principais benefícios de ICMS usufruídos
por ela, enquadrando-os dentre aqueles citados nos tópicos anteriores,
como crédito presumido, isenção, redução de base e demais citados no
julgado do STJ.
Isso porque cada estado possui seu regulamento próprio de ICMS e
tratamento setoriais tributários específicos, o que faz com que o ope-
rador das subvenções tenha que dedicar a uma análise pormenorizada
de cada benefício e daí, com base na legislação federal e nos ditames
do julgamento do Superior Tribunal de Justiça, possa analisar a conta-
bilidade da entidade e otimizar sua apuração de IRPJ e CSLL.
Importante relembrar que o tema ainda carece de judicialização,
pois, como vimos, a Receita Federal do Brasil ainda combate à exclu-
são de benefícios fiscais de ICMS, seja pelas COSIT’s vigentes ou pelos
recentes comunicados emitidos aos grandes contribuintes.
Neste ínterim, quando na análise pretérita dos efeitos da subvenção é
necessário verificar a conta de reserva de lucros, já que para produção
de um efeito caixa imediato, em eventual aproveitamento do benefício,
será necessário compor a reserva de incentivos fiscais desde o início
do período abrangido por eventual ação judicial. Em outras palavras, é
necessário ter dinheiro para compor a reserva determinada pelo artigo
30 da Lei 12.973 de 2014 e determinação do Tribunal Superior.
Em relação ao aproveitamento dos efeitos da subvenção, após deci-
são favorável ao contribuinte, é necessário proceder a reapuração do
IRPJ e CSLL para habilitação de eventual crédito tributário, que corres-
ponderá aos valores que poderiam ter sido excluídos da base tributá-
vel, após a nova apuração dos tributos federais.
Tal procedimento se aplica tanto para o debate relativo ao crédito
presumido de ICMS quanto os demais benefícios, nos termos do julga-

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mento do tema 1182. A partir desta análise será alcançado um efeito
“caixa” ou “diferido”, a depender do lucro ou prejuízo em sede de IRPJ
ou base positiva ou negativa de CSLL após a nova apuração.
É de suma importância compreender essa distinção havida entre os
mencionados «Efeito Caixa» e «Efeito Diferido». O primeiro refere-se
ao impacto imediato de valores a serem habilitados como crédito em
eventual reapuração do IRPJ e CSLL, como mencionado anteriormen-
te, em exercício que a entidade tenha apurado lucro suficiente para
compor reserva de incentivos fiscais, mesmo após a distribuição aos
sócios. Nesta hipótese haverá uma redução no pagamento dos tributos
federais ou aumento de saldo negativo de IRPJ e CSLL.
Lado outro, enquanto o “Efeito Caixa” trata do impacto financeiro
imediato, o “Efeito Diferido” lida com impactos contábeis que serão
reconhecidos em períodos futuros, de maneira que será constituído
ou aumentado prejuízo fiscal que será informado no registro M410 da
ECF, próprio para informação do exercício. Neste sentido, futuramen-
te, em eventual apuração de lucros, será constituída conta de reserva
de incentivos ficais e os créditos prejuízo fiscal e base de cálculo ne-
gativa da CSLL, poderão ser excluídos do lucro líquido do período de
apuração, no limite de 30%, de acordo com a legislação vigente.
Se por um acaso o contribuinte não possuir a conta de prejuízo ca-
dastrada, deverá criá-la na parte B do LALUR. Para exclusão dos bene-
fícios fiscais de ICMS da base tributável no exercício corrente, o contri-
buinte deverá registrar a exclusão na parte A do LALUR.

9. CONCLUSÃO
O tratamento das subvenções, especialmente nos contextos jurídi-
co e contábil, não é apenas uma questão técnica, mas uma estratégia
importante para as entidades em um mercado de concorrência. Deta-
lhes aparentemente menores na categorização e contabilização dessas
subvenções podem ter impactos significativos na carga tributária e,
consequentemente, na saúde financeira das organizações.
O tema das subvenções é notoriamente desafiador e multidiscipli-
nar, exigindo uma abordagem integrada que envolva várias habilida-
des e competências. A compreensão e aplicação das subvenções não
se limitam apenas ao domínio das leis fiscais, mas também envolvem

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aspectos contábeis, financeiros, e até mesmo sociais e políticos (FER-
NANDES, 2022).
Reconhecer e diferenciar os tipos de benefícios fiscais, sejam eles de
ICMS ou outros, é o primeiro passo para garantir que as empresas este-
jam em conformidade com as regulamentações e possam aproveitar ao
máximo os incentivos disponíveis.
Além disso, tanto as manifestações das autoridades administrativas,
como as decisões do STJ, fornecem diretrizes obscuras que merecem
cuidado e atenção especiais. Ignorar ou mal interpretar essas diretrizes
pode resultar em penalidades, perda de benefícios fiscais e, em última
análise, em custos adicionais para as empresas.
Sendo assim, neste artigo, examinaram-se as diversas implicações
contábeis e jurídicas decorrentes da recente decisão do Superior Tri-
bunal de Justiça sobre o tema 1182. Estabeleceram-se distinções claras
entre o Crédito Presumido e outros benefícios de ICMS, considerando o
princípio do Pacto Federativo presente nas decisões da corte superior.
Destacaram-se as metodologias para contabilizar esses benefícios
e apontou-se como reconhecer os argumentos contrários propostos
pelos órgãos administrativos. Dessa forma, fornecemos ao operador
deste tema as ferramentas necessárias para conduzir suas análises de
maneira assertiva.
Este conteúdo se mostra relevante, já que, dentro do cenário fiscal
brasileiro, os benefícios fiscais relacionados ao ICMS têm um impacto
significativo na apuração do IRPJ (Imposto de Renda Pessoa Jurídica)
e CSLL (Contribuição Social sobre o Lucro Líquido). Dependendo do
montante desses benefícios, uma entidade pode efetivamente reduzir
ou até mesmo zerar o valor de IRPJ e CSLL a pagar.
Essa situação é intensa nos setores industriais e varejistas, nos quais
o volume de benefícios fiscais tende a ser mais elevado. Esses setores
frequentemente se beneficiam de incentivos fiscais estaduais, como re-
duções de base de cálculo e créditos presumidos, que podem ser utili-
zados como exclusão do lucro tributável. A complexa interação entre
esses benefícios e a legislação tributária requer uma análise cuidadosa
para garantir a conformidade legal e a otimização da carga tributária,
destacando a importância de uma gestão tributária estratégica e bem
fundamentada.

!"#! "#$%&'(!#!')"%*%&+#
REFERÊNCIAS
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que usaram benefício fiscal de ICMS. Valor. https://valor.globo.com/legislacao/
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Brasil. (1988). Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Senado
Federal. http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm
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2017. Ministério da Fazenda. https://www.confaz.fazenda.
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1. INTRODUÇÃO
Os conflitos societários constituem um desafio recorrente no mundo
dos negócios, impactando não apenas a estabilidade das organizações,
mas também afetando suas partes interessadas e a saúde financeira.
Esses conflitos podem ser originados por uma série de fatores comple-
xos, incluindo o conflito de agência, a distribuição desigual de poder,
mudanças na direção da empresa e divergências financeiras. Cada um
desses elementos pode desencadear tensões internas que, se não forem
tratadas adequadamente, podem prejudicar gravemente o funciona-
mento da empresa.
Este artigo busca aprofundar a compreensão das causas subjacen-
tes aos conflitos societários, analisando como cada fator pode contri-
buir para a emergência dessas disputas. Além disso, será explorada a
importância de estratégias eficazes de resolução de conflitos, como a
promoção de uma gestão transparente, a utilização do compliance e a
adoção de métodos alternativos de resolução, como negociação, me-
diação, arbitragem e litígio.
Por meio dessa análise, será possível destacar os impactos desses
conflitos nos negócios e nas relações entre os envolvidos, destacando a
necessidade de abordagens preventivas e resolutivas. Ao compreender
melhor as origens e os efeitos dos conflitos societários, as empresas
estarão mais bem preparadas para mitigar riscos, fortalecer sua gover-

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nança e garantir um ambiente mais saudável e produtivo para todas as
partes interessadas.

2. REFERENCIAL TEÓRICO
Os conflitos societários, inerentes à dinâmica empresarial, podem
ser originados por múltiplas causas, tais como o conflito de agência, a
distribuição desigual de poder, mudanças na direção da empresa e di-
vergências financeiras. Uma compreensão aprofundada da fundamen-
tação teórica desses conflitos é essencial para o desenvolvimento de
estratégias eficazes de resolução.
O conflito de agência, baseado na teoria de Jensen e Meckling
(1976), destaca a discrepância de interesses entre proprietários (acio-
nistas) e agentes (gestores) atuando em seu nome. A assimetria de in-
formações e o risco de comportamentos desalinhados podem resultar
em ações que não atendem aos melhores interesses dos acionistas.
A distribuição desigual de poder, conforme explorado pela teoria de
Eisenhardt (1989), examina como desequilíbrios na autoridade entre
stakeholders podem gerar conflitos. Quando alguns detêm mais in-
fluência, decisões podem ser tomadas sem considerar os interesses co-
letivos, prejudicando a harmonia organizacional.
Mudanças na direção da empresa, descritas pela teoria de Herma-
lin e Weisbach (1991), podem desencadear conflitos, à medida que
novas lideranças introduzem visões contrastantes. A resistência e o
desalinhamento podem surgir, impactando a coesão e a estabilidade
organizacional.
A teoria de divergências financeiras, proposta por Fama e Jensen
(1983), destaca como discrepâncias nas alocações de recursos podem
gerar conflitos. A assimetria de informações financeiras pode levar a
decisões que não atendem aos interesses dos acionistas, resultando em
desconfiança.
Para a resolução de conflitos societários, estratégias multifacetadas
são necessárias. A gestão transparente e eficaz, a adoção do complian-
ce para promover práticas éticas (Pinto et al., 2018) e a utilização de
abordagens de resolução alternativas, como negociação, mediação, ar-
bitragem e litígio (Pfister, 2011), são fundamentais.
Em última análise, compreender as causas e as estratégias de resolu-
ção de conflitos societários possibilita uma governança mais sólida, a

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promoção da transparência e a manutenção de relações saudáveis com
todas as partes interessadas.

3. EXPLORANDO AS ORIGENS DOS CONFLITOS


SOCIETÁRIOS E SEU IMPACTO NOS NEGÓCIOS
Neste primeiro capítulo, exploramos as raízes complexas que ali-
mentam os conflitos societários e examinamos seus efeitos profundos
sobre as operações das empresas. Analisamos as causas subjacentes
que levam a esses conflitos no ambiente empresarial, bem como seus
impactos variados na trajetória das organizações.
No mundo empresarial diversificado em interesses, poder e estra-
tégias, identificar as fontes principais de conflito societário é fun-
damental. Analisamos de diversas perspectivas, desde diferenças de
visão entre acionistas e administração até desacordos sobre controle,
distribuição de poder e divergências financeiras. Essa análise profun-
da revela as origens dos conflitos que podem prejudicar a harmonia
organizacional.
Além disso, examinamos minuciosamente os impactos diretos e in-
diretos dos conflitos societários nos negócios. Desde desacelerações
operacionais de debates prolongados até efeitos negativos na imagem
perante stakeholders, exploramos como esses conflitos podem afetar a
eficácia empresarial, o valor das ações e a direção da empresa.
Em síntese, este capítulo oferece uma exploração abrangente das
origens e influências dos conflitos societários nos negócios. Ao enten-
der as raízes e os efeitos desses conflitos, estaremos preparados para
enfrentar os desafios quando diferentes interesses convergem no am-
biente corporativo.

3.1. CAUSA DOS CONFLITOS SOCIETÁRIOS


3.1.1. CONFLITO DE AGÊNCIA

O conflito de agência é frequentemente apontado como uma das


principais causas de problemas societários em empresas. Esse fenô-
meno ocorre quando existe uma discrepância de interesses e objetivos
entre os gestores (agentes) e os proprietários (acionistas) da empresa
(Jensen & Meckling, 1976). Os gestores podem tomar decisões que
buscam maximizar seus próprios interesses, em detrimento dos in-

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teresses dos acionistas, o que pode resultar em problemas de gover-
nança corporativa e afetar adversamente o desempenho da empresa
(Fama, 1980).
Essa assimetria de interesses pode levar a uma série de problemas,
tais como a má alocação de recursos, tomadas de decisão não alinha-
das com a visão de longo prazo dos acionistas, e até mesmo práticas de
gestão pouco éticas (Shleifer & Vishny, 1997). Os conflitos de agência
também podem resultar em situações de informação assimétrica, em
que os gestores detêm informações privilegiadas que não são compar-
tilhadas de maneira transparente com os acionistas, comprometendo a
confiança e a transparência (Adams & Ferreira, 2009).
Para mitigar esses problemas, muitas empresas adotam práticas de
governança corporativa, como a composição de conselhos indepen-
dentes, sistemas de remuneração baseados em desempenho, auditorias
independentes e mecanismos de prestação de contas mais rigorosos
(Bebchuk & Weisbach, 2010). A compreensão e o enfrentamento do
conflito de agência são cruciais para evitar problemas societários e es-
tabelecer relações mais saudáveis entre gestores e acionistas, contri-
buindo para o sucesso e a estabilidade das empresas.

3.1.2. DISTRIBUIÇÃO DESIGUAL DE PODER

A distribuição desigual de poder dentro das estruturas societárias é


frequentemente apontada como uma das principais causas de proble-
mas nas empresas. Quando determinados indivíduos ou grupos detêm
um poder desproporcional em relação aos demais stakeholders, podem
surgir conflitos de interesses, desalinhamentos estratégicos e decisões
que não refletem o interesse coletivo. Essa assimetria de poder pode
levar a diversos problemas societários, prejudicando a transparência, a
eficiência operacional e a confiança dos stakeholders.
O fenômeno da distribuição desigual de poder ganha destaque no
contexto da teoria da agência, na qual os gestores (agentes) muitas
vezes têm mais informações e influência do que os acionistas (princi-
pais) (Fama, 1980). Isso pode resultar em decisões que priorizam os
interesses dos gestores em detrimento dos acionistas e outros stakehol-
ders (Jensen & Meckling, 1976).
Esse desequilíbrio de poder também está relacionado à governança
corporativa. Empresas com estruturas de propriedade concentrada, em
que um indivíduo ou grupo possui uma parcela significativa de ações,

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podem exercer uma influência desproporcional nas decisões (Shleifer
& Vishny, 1997). Isso pode resultar em práticas que beneficiam os de-
tentores de poder, mas não necessariamente a empresa como um todo.
Para abordar esse problema, é fundamental implementar práticas de
governança que promovam uma distribuição mais equitativa de poder.
Isso pode envolver a criação de conselhos independentes e a adoção
de mecanismos de prestação de contas que permitam uma supervi-
são mais eficaz das atividades da empresa (Adams & Ferreira, 2009).
A promoção da participação dos acionistas nas decisões estratégicas
também é relevante para equilibrar o poder e garantir que as decisões
reflitam os interesses de todos os envolvidos.
Em suma, a distribuição desigual de poder dentro das estruturas so-
cietárias pode ser uma fonte significativa de problemas societários. A
adoção de práticas de governança mais inclusivas e a promoção de
uma cultura corporativa baseada na responsabilidade e na transparên-
cia são medidas essenciais para mitigar os impactos negativos desse de-
sequilíbrio de poder e construir empresas mais eficientes e confiáveis.

3.1.3. MUDANÇAS NA DIREÇÃO DA EMPRESA

As mudanças na direção da empresa podem ser apontadas como um


dos fatores desencadeadores de problemas societários, especialmen-
te quando não são adequadamente gerenciadas e comunicadas. Essas
mudanças podem envolver a substituição de líderes-chave, alterações
estratégicas significativas ou reorganizações internas, e podem ter im-
pactos profundos nos stakeholders e na cultura organizacional.
Muitas vezes, as mudanças na direção são acompanhadas por incer-
tezas e falta de transparência, o que pode levar a problemas de con-
fiança entre os acionistas e outros stakeholders (Finkelstein, 2003). Os
acionistas podem se preocupar com a falta de clareza sobre os motivos
das mudanças, bem como com a capacidade da nova liderança em con-
duzir a empresa de forma eficaz (Donaldson & Davis, 1991).
Essas mudanças também podem desencadear conflitos internos entre
diferentes grupos de stakeholders. Por exemplo, os gestores antigos
podem resistir à entrada de uma nova liderança, resultando em confli-
tos de poder e desalinhamentos estratégicos (Hitt et al., 1996).
Uma abordagem eficaz para minimizar os problemas societários asso-
ciados a mudanças na direção da empresa é adotar uma comunicação

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aberta e transparente. Isso inclui a divulgação clara dos motivos por
trás das mudanças, bem como dos planos e estratégias futuras (Kotter,
1995). A participação dos stakeholders nesse processo pode ajudar a
mitigar a resistência e a construir consenso em torno das mudanças.
Além disso, a implementação de processos de transição bem estru-
turados, que permitam uma transferência suave de liderança, pode re-
duzir a turbulência associada às mudanças (Haspeslagh & Jemison,
1991). Isso inclui a capacitação da nova liderança e a comunicação
clara sobre as expectativas.
Em suma, as mudanças na direção da empresa podem ser uma fonte
de problemas societários, mas uma abordagem cuidadosa, transparente
e inclusiva na gestão dessas mudanças pode ajudar a minimizar confli-
tos, preservar a confiança e criar uma base sólida para o sucesso futuro
da organização.

3.1.4. DIVERGÊNCIAS FINANCEIRAS

A divergência financeira dentro de uma empresa é frequentemente


apontada como uma das causas subjacentes de problemas societários,
uma vez que pode gerar conflitos entre os diversos stakeholders e pre-
judicar a saúde financeira e a confiança na organização. Essas diver-
gências podem se manifestar de várias maneiras, como discrepâncias
entre as expectativas de lucratividade e os resultados reais, ou diferen-
ças na alocação de recursos e investimentos.
A teoria da agência oferece uma perspectiva para compreender como
a divergência financeira pode levar a conflitos. Os gestores, como agen-
tes, muitas vezes têm informações assimétricas em relação aos acionis-
tas, os principais. Isso pode resultar em ações que buscam maximizar
o interesse próprio dos gestores em detrimento dos acionistas (Jensen
& Meckling, 1976). Essa discrepância de interesses pode criar tensões
e problemas de agência que afetam a relação entre as partes envolvidas.
A divergência financeira também pode ser agravada por práticas con-
tábeis questionáveis ou falta de transparência na divulgação de infor-
mações financeiras (Healy & Palepu, 2001). Essas práticas podem obs-
curecer a verdadeira saúde financeira da empresa e minar a confiança
dos acionistas e outros stakeholders.
Para lidar com a divergência financeira como causadora de proble-
mas societários, é crucial adotar práticas de governança corporativa

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sólidas que promovam a transparência e a prestação de contas. Isso
inclui a criação de comitês de auditoria independentes e a adoção de
normas contábeis rigorosas (Adams & Ferreira, 2009). A implemen-
tação de sistemas de controle interno eficazes também é essencial para
garantir que os recursos sejam gerenciados de maneira responsável e
alinhada com os interesses dos stakeholders.
Em suma, a divergência financeira dentro de uma empresa pode
ser uma fonte significativa de problemas societários. Adotar práticas
de governança transparentes, estabelecer mecanismos de controle e
comunicação eficazes e promover a ética nos negócios são medidas
cruciais para minimizar esses problemas e garantir uma gestão respon-
sável e confiável.

3.2. RESOLUÇÃO DOS CONFLITOS SOCIETÁRIOS


3.2.1. ESTRATÉGIAS PARA ALINHAR INTERESSES E
PROMOVER UMA GESTÃO TRANSPARENTE E EFICAZ

Resolver o problema de conflito de agência requer a implementação


de estratégias e práticas que alinhem os interesses dos gestores com os
dos proprietários (acionistas) da empresa. Jensen e Meckling (1976)
definem o conflito de agência como uma discrepância de interesses
entre as partes envolvidas na tomada de decisões. Para enfrentar esse
desafio, uma abordagem eficaz envolve a aplicação de práticas que vi-
sam minimizar as divergências e promover uma gestão mais alinhada
com os objetivos dos acionistas.
Uma estratégia essencial é garantir a transparência e a divulgação
adequada de informações relevantes. Fama (1980) destaca a importân-
cia da divulgação transparente para mitigar o problema de informação
assimétrica entre gestores e acionistas. Isso permite que os acionistas
entendam a situação da empresa e tomem decisões informadas.
Outra medida relevante é o estabelecimento de uma governança cor-
porativa efetiva. Shleifer e Vishny (1997) enfatizam que a governança
corporativa robusta, incluindo a composição de conselhos indepen-
dentes e comitês especializados, contribui para a supervisão dos gesto-
res e a tomada de decisões mais alinhadas aos interesses dos acionistas.
Incentivos alinhados são também cruciais para resolver o conflito de
agência. Bebchuk e Weisbach (2010) destacam a importância de siste-
mas de remuneração baseados em desempenho e programas de parti-

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cipação acionária, que ligam a recompensa dos gestores ao sucesso de
longo prazo da empresa e ao retorno dos acionistas.
Além disso, a monitorização ativa das atividades dos gestores pelos
acionistas e pelo conselho de administração, juntamente com contra-
tos e acordos claros (Adams & Ferreira, 2009) e auditorias indepen-
dentes (Bebchuk & Weisbach, 2010) contribuem para a redução dos
conflitos e para uma gestão mais responsável.
Essas estratégias, aliadas a uma cultura organizacional baseada na
ética e na responsabilidade, conforme defendido por diversos autores,
podem contribuir para mitigar o conflito de agência, promovendo re-
lações mais saudáveis entre gestores e acionistas, e, por conseguinte,
favorecendo a sustentabilidade e o sucesso das empresas.

3.2.2. COMO UTILIZAR O COMPLIANCE NA RESOLUÇÃO

A implementação eficaz de práticas de compliance dentro de uma


empresa emerge como uma estratégia crucial para abordar e resolver
problemas societários. O compliance envolve a conformidade estrita
com leis, regulamentos e normas, contribuindo para uma cultura or-
ganizacional baseada na ética e na responsabilidade. Essas práticas po-
dem ser uma solução poderosa para mitigar divergências financeiras,
conflitos de interesse e outras questões que frequentemente desenca-
deiam problemas societários.
A adoção de um programa de compliance robusto pode ajudar a re-
duzir a divergência financeira, promovendo a precisão e a transparên-
cia das informações financeiras. A conformidade com normas contá-
beis e regulamentações governamentais aumenta a confiabilidade das
demonstrações financeiras e minimiza a possibilidade de manipulações
(Grossman & Livingston, 2010). Isso, por sua vez, reforça a confiança
dos stakeholders na integridade da empresa.
O compliance também é uma ferramenta eficaz para prevenir confli-
tos de interesse e assegurar que as decisões sejam tomadas no melhor
interesse da empresa como um todo. A implementação de políticas que
revelem e gerenciem potenciais conflitos, aliada à transparência nas
transações envolvendo partes relacionadas, contribui para uma tomada
de decisão mais ética e alinhada com os interesses dos stakeholders
(Coffee Jr., 2005).

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Além disso, práticas de compliance bem estabelecidas podem preve-
nir práticas fraudulentas e irregulares, criando um ambiente de negó-
cios mais confiável. Isso é especialmente importante quando se trata
de evitar problemas societários decorrentes de atividades ilegais ou
antiéticas (Koehn, 1995).
Portanto, o compliance não apenas ajuda a resolver problemas socie-
tários existentes, mas também previne sua ocorrência. A implementa-
ção de práticas de compliance eficazes requer o compromisso de toda
a organização, desde a alta administração até os níveis operacionais,
para construir uma cultura de responsabilidade e transparência. Ao
fazer isso, a empresa pode estabelecer bases sólidas para relacionamen-
tos confiáveis, ganhar a confiança dos stakeholders e construir uma
reputação sólida no mercado.

3.2.3. NEGOCIAÇÃO, MEDIAÇÃO, ARBITRAGEM E LITÍGIO

A resolução de problemas societários dentro de uma empresa pode


ser abordada por meio de uma variedade de abordagens, incluindo
negociação, mediação, arbitragem e litígio. Cada uma dessas opções
possui vantagens e desvantagens específicas, dependendo da nature-
za do problema e das preferências das partes envolvidas. A escolha
adequada entre essas abordagens pode desempenhar um papel crucial
na promoção de soluções eficazes e na manutenção da harmonia nas
relações societárias.
A negociação é frequentemente uma primeira etapa para resolver
problemas societários, permitindo que as partes envolvidas discutam
suas preocupações e busquem um acordo mutuamente aceitável. Isso
requer comunicação aberta e a disposição de compromisso por ambas
as partes (Lewicki et al., 2014). No entanto, a negociação pode ser
desafiadora quando os interesses estão profundamente conflitantes ou
quando as partes têm dificuldade em chegar a um consenso.
A mediação envolve a presença de um terceiro imparcial que facilita
as negociações entre as partes. Esse mediador ajuda a identificar áreas
de acordo e a resolver mal-entendidos, promovendo um ambiente co-
laborativo (Boulle, 2005). A mediação é frequentemente menos ad-
versarial do que o litígio, e pode ser particularmente eficaz quando as
partes desejam manter um relacionamento de trabalho.
A arbitragem é outra opção, em que um terceiro neutro (árbitro)
toma uma decisão vinculante após ouvir os argumentos de ambas as

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partes. Embora seja mais formal do que a mediação, a arbitragem é
geralmente mais rápida e menos dispendiosa do que o litígio judicial
(Lewicki et al., 2014). No entanto, as partes perdem um certo grau de
controle sobre o resultado, já que a decisão final é tomada pelo árbitro.
O litígio, por outro lado, envolve a resolução de disputas por meio
de ações legais em um tribunal. Embora seja uma opção mais adversa-
rial e demorada, o litígio pode ser apropriado quando as diferenças são
profundas e não podem ser resolvidas de outra forma (Boulle, 2005).
No entanto, o litígio também pode resultar em tensões prolongadas e
impactar negativamente a reputação da empresa.
Em conclusão, a escolha entre negociação, mediação, arbitragem e
litígio como abordagens para resolver problemas societários dependerá
das circunstâncias específicas e das preferências das partes envolvidas.
A busca por soluções eficazes requer uma avaliação cuidadosa dos prós
e contras de cada abordagem, visando preservar a harmonia nas rela-
ções societárias e promover resultados justos e equitativos.

3.3. IMPACTOS DOS CONFLITOS SOCIETÁRIOS NOS NEGÓCIOS


Os conflitos de agência representam um desafio intrínseco às estru-
turas organizacionais, trazendo consigo uma série de impactos que po-
dem afetar a eficiência operacional, a tomada de decisões e até mesmo
a reputação das empresas. Esses impactos podem se manifestar em
diferentes formas, como distribuição desigual de poder, mudanças na
direção da empresa e divergências financeiras, cada um trazendo suas
próprias implicações.
A distribuição desigual de poder entre gestores e acionistas pode le-
var a decisões que priorizam os interesses dos gestores em detrimento
dos acionistas. Isso pode resultar em alocação ineficiente de recursos e
decisões estratégicas que não maximizam o valor para os verdadeiros
proprietários da empresa (Jensen & Meckling, 1976).
As mudanças na direção da empresa podem agravar os conflitos de
agência, especialmente quando novos gestores trazem consigo dife-
rentes visões e prioridades. Essas mudanças podem levar a choques de
estratégia e resistência por parte dos acionistas ou gestores anteriores,
dificultando a coesão organizacional.
Divergências financeiras, por sua vez, podem surgir de informações
assimétricas entre gestores e acionistas. Os gestores podem tomar de-

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cisões financeiras que visam a seus próprios interesses, resultando em
investimentos arriscados ou desvios de recursos que não refletem os
interesses dos acionistas (Eisenhardt, 1989).
Esses impactos podem afetar negativamente o desempenho da em-
presa, a confiança dos investidores e a reputação da organização. Para
mitigar esses problemas, práticas eficazes de governança corporativa
são essenciais. Além disso, a adoção de estruturas de incentivos alinha-
das com os interesses dos acionistas, transparência nas informações
financeiras e uma cultura organizacional que promova a responsabili-
dade e a ética podem contribuir para minimizar os impactos prejudi-
ciais dos conflitos de agência (Fama, 1980).
Os impactos dos conflitos de agência são multifacetados e podem
criar desafios substanciais para as empresas. Uma compreensão apro-
fundada desses impactos e a implementação de estratégias adequadas
para mitigá-los são fundamentais para promover o alinhamento de in-
teresses, melhorar a tomada de decisões e garantir a sustentabilidade
das operações empresariais.

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Em conclusão, os conflitos societários constituem um desafio intrin-
cado que pode impactar profundamente as empresas e suas partes in-
teressadas. As causas, que abrangem conflitos de agência, distribuição
desigual de poder, mudanças na direção da empresa e divergências
financeiras, desencadeiam uma série de problemas que afetam desde
a eficiência operacional até a reputação da organização. No entanto, é
possível abordar esses desafios de maneira proativa.
A resolução dos conflitos societários requer estratégias abrangen-
tes, incluindo alinhamento de interesses, transparência e utilização
de ferramentas como o compliance. A adoção de práticas de gover-
nança corporativa sólidas, sistemas de remuneração alinhados com o
desempenho e transparência nas informações financeiras pode mini-
mizar a probabilidade de conflitos e maximizar a tomada de decisões
responsável.
Além disso, a escolha de abordagens adequadas de resolução, como
negociação, mediação, arbitragem ou litígio, desempenha um pa-
pel crucial na gestão de conflitos. Essas alternativas oferecem meios

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eficazes para resolver disputas de forma eficiente e evitar impasses
prolongados.
Os impactos dos conflitos societários não devem ser subestimados,
pois eles podem prejudicar a eficiência, a reputação e a saúde financei-
ra das empresas. Ao adotar medidas preventivas e estratégias de reso-
lução, as organizações podem construir ambientes internos saudáveis,
promovendo a cooperação, a transparência e a confiança mútua entre
todos os envolvidos.
Portanto, a gestão eficaz de conflitos societários não apenas con-
tribui para a estabilidade interna, mas também fortalece a reputação
da empresa e a confiança de acionistas, colaboradores e stakeholders,
proporcionando um ambiente propício para o crescimento e o sucesso
sustentável dos negócios.

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1. INTRODUÇÃO
Em 2019, o International Accounting Standard Board ( IASB) pu-
blicou uma minuta que propõe uma nova norma IFRS, o Exposu-
re Draft ED/2019/7 General Presentation and Disclosures (doravante
“ED2019/7”), cujo objetivo é “estabelecer requisitos gerais e especí-
ficos para a apresentação e divulgação de informações nas demons-
trações contábeis de propósito geral” (IASB, 2019a), que substituirá a
IAS 1 Presentation of Financial Statements (IASB, 2019b), correlata ao
CPC 26 (R1) Apresentação das Demonstrações Contábeis. A emissão
da nova norma está prevista para o primeiro semestre de 2024.
Dentre as melhorias propostas pelo projeto de nova norma, o prin-
cipal foco está na demonstração de resultados, justificado pela forte
demanda de usuários das demonstrações contábeis por um projeto que
melhorasse o reporte do desempenho financeiro das companhias (IASB,
2019b), que, há anos, tem sido um desafio particularmente difícil para
preparadores de normas, seja o IASB ou o Financial Accounting Stan-
dards Boad (FASB, órgão responsável pela emissão de normas contábeis
nos Estados Unidos, cujo padrão é conhecido como USGAAP), repre-
sentando, ainda, objeto de discussão entre acadêmicos, preparadores
e usuários das demonstrações contábeis (Hales, Rees & Wilks, 2016).

18 Mestrando do Programa de Mestrado Profissional em Ciências Contábeis e Admi-


nistração da Fucape Business School, Fortaleza-CE, Brasil. ismael.afiuza@gmail.com

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Pesquisas acadêmicas contribuem com estas discussões, por exem-
plo, avaliando a utilidade ou a relevância da informação contábil, con-
forme seu propósito, muitas vezes a partir de testes estatísticos que
buscam medir o nível de associação entre elementos componentes da
informação – subtotais ou rubricas específicas de demonstrações con-
tábeis, por exemplo – e determinados fatos, eventos ou análises de
mercado, tais como preço da ação ou assertividade de projeções de
resultados futuros elaboradas por analistas de mercado.
Visando ilustrar, citamos o estudo de Albuquerque, Velez e Pinto
(2023), que, ao comparar relevância e capacidade preditiva de accruals
e medidas de fluxo de caixa para determinação de preços de ações e
fluxos futuros de caixa, identificou que medidas de fluxos de caixa têm
mais influência sobre preços de ações do que medidas de lucros (pre-
juízos); ou ainda, o trabalho de Harasheh, Franceschelli e Amaduzzi
(2021) que sugere que os outros resultados abrangentes (ORA) têm
fraca associação negativa com preço das ações, mas sua volatilidade
está positivamente relacionada com o risco total das ações.
Por outra perspectiva de análise da utilidade da informação contábil,
Pathiranage e Jubb (2018) buscaram analisar, nos contextos australia-
no e europeu, o impacto da adoção das IFRS – padrão que, espera-se,
eleve a qualidade da informação contábil – sobre a eficiência dos ana-
listas de mercado ao preverem o lucro por ação das companhias, iden-
tificando que, no cenário geral, não houve mudanças significativas,
mas sob determinados aspectos específicos houve, como elevação do
conhecimento de analistas sobre indicadores contábeis fundamentais.
Outras pesquisas concluem existir lacunas nas normas contábeis
que demandariam aprimoramento do quadro normativo, razão pela
qual autores buscam formular proposições que capturem estas lacu-
nas e, por consequência, contribuam com o desenvolvimento do qua-
dro normativo, elevando a utilidade da informação contábil de pro-
pósito geral.
Por exemplo, Baker, Linsmeier e Cooper (2020) argumentam que o
conceito de incerteza é insuficientemente desenvolvido pelo quadro
conceitual do IASB e desenvolvê-lo implicaria em mudanças no modelo
de apresentação da demonstração de resultado, para conseguir trans-
mitir informações sobre incerteza.
Além de Baker et al. (2020) mais recentemente, Marshal e Lennard
(2016), Nishikawa, Kamiya e Kawanishi (2016) e Linsmeier (2016),

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também formularam propostas de modelo demonstração de resulta-
do – os três primeiros são pautados principalmente no desenvolvimen-
to conceitual, necessário para suprir lacunas nos quadros normativos
por eles identificadas; o último, embora também aborde questões pro-
fundamente conceituais, parte principalmente da identificação do que
usuários tem demandado de informação sobre desempenho financeiro.
Isto posto, é intuitivo concluir que os resultados de pesquisas aca-
dêmicas, as proposições teóricas de modelos e os projetos de novas
normas apresentados pelos órgãos normatizadores estejam interrela-
cionados de forma prática e intrínseca, orientando a evolução de pa-
drões contábeis que tem ou terão efeitos no cotidiano de profissionais
da área e de demais agentes de marcado, como contadores, auditores
ou analistas de mercado.
Portanto, este estudo tem como objetivo demonstrar a relação entre
projetos de novas normas IFRS realizados pelo IASB e as discussões
teóricas promovidas pela academia, utilizando-se do caso prático do
ED2019/7. Este trabalho contribui com profissionais da área, abordan-
do, ainda que de forma breve, as atualizações normativas, instigando
a previsão de possíveis impactos e, ainda, apresentando o resultado da
interrelação entre agentes de mercado (usuários e preparadores, por
exemplo), acadêmicos e órgãos normatizadores.

2. MÉTODOS
A análise possui abordagem estritamente bibliográfica e documen-
tal e, para atender a este objetivo, i) apresentamos um resumo sobre
processo de emissão de novas normas IFRS, realizada pelo IASB; ii) te-
cemos uma síntese sobre as proposições de Marshal e Lennard (2016),
Nishikawa et al. (2016) e Linsmeier (2016); e iii) no desenvolvimento,
apresentamos uma síntese sobre modelo de demonstração de resul-
tados proposta pelo ED2019/7, associando-a, quando apropriado ou
aplicável, aos comentários propostos por cada um desses autores.

3. REVISÃO DE LITERATURA

3.1. O IASB E A EMISSÃO DE NORMAS CONTÁBEIS


O IASB (ou “Conselho”) é um órgão normatizador, responsável pelo
desenvolvimento do conjunto das International Financial Reporting

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Standards (“normas IFRS”), por meio do qual a IFRS Foundation cumpre
o seu objetivo de desenvolver “normas de alta qualidade, compreen-
síveis, aplicáveis e globalmente aceitas para preparação de relatórios
financeiros de propósito geral com base em princípios claramente ar-
ticulados” (IFRS FOUDATION, 2021). Ele é composto por especialis-
tas independentes, originários de todos os continentes, que cumpram
qualificações, tais como competência técnica e conhecimento compro-
vados em contabilidade e recente experiência profissional relevante
(IFRS FOUDATION, 2021).
O fluxo processual de expedição de novas normas está baseado em
pelo menos três princípios: transparência, responsabilidade e consulta
completa e justa. Esta última deriva da ideia de que uma ampla con-
sulta às diversas partes interessadas melhora a qualidade das normas
IFRS, cujo meio de discussão podem ser convites para comentários, re-
uniões ou trabalhos de campo (IFRS FOUDATION, 2020). Destacamos o
princípio da consulta completa e justa, porque tem relação direta com
o que é apresentado no presente trabalho, consiste em canal formal e
prático de comunicação entre os preparadores de normas e as partes
interessadas, entre acadêmicos, preparadores de demonstrações contá-
beis, auditores, por exemplo.
Apresentamos abaixo, nas seções 3.1.1 a 3.1.3, uma síntese do fluxo
de expedição de novas normas ou alterações, conforme depreendido
do Due Process Handbook, manual que descreve os requisitos a serem
seguidos pelo IASB e pelo Comitê de Interpretações no desenvolvimen-
to de suas atividades, seja na preparação de normas, seja para a elabo-
ração de materiais de apoio à aplicação consistente das normas (IFRS
FOUDATION, 2020).

3.1.1. COLETA DE INFORMAÇÕES E IDENTIFICAÇÃO DE


QUESTÕES QUE MERECEM A ATENÇÃO DO IASB

O IASB empreende esforços contínuos para capturar opiniões e con-


tribuições do público interessado no desenvolvimento e manutenção
dos padrões contábeis.
A cada cinco anos, o IASB promove consulta pública para que partes
interessadas o auxiliem na elaboração do seu plano de trabalho, visan-
do contribuições sobre a direção estratégica, a manutenção do plano
de trabalho e questões que deveriam receber prioridade do Conselho.

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O IASB também mantém um programa de pesquisa que busca identi-
ficar problemas práticos ou deficiências associadas aos reportes contá-
beis, avaliando sua natureza e extensão, bem como propondo formas
de resolução. A equipe técnica interna, a pedido ou espontaneamente,
pode levantar questões a serem apreciadas pelo Conselho, no âmbito
do programa de pesquisa, mas terceiros convidados pela IASB também
podem contribuir, tais como organismos normatizadores nacionais ou
reginais e acadêmicos.
Dentre outras atribuições, o Comitê de Interpretações – responsável
pela emissão das interpretações técnicas às IFRS, também chamadas
de IFRIC – também pode levantar questões que mereçam ou sejam de
responsabilidade do Conselho, somando o plano de trabalho.

3.1.2. DOCUMENTOS PARA DISCUSSÃO E ARTIGOS DE PESQUISA

Os resultados esperados do programa de pesquisa são documentos


para discussão e artigos de pesquisas, que devem suscitar comentários
de partes interessadas que o auxiliem a decidir se deve criar um pro-
jeto de nova norma, alteração ou substituição de normas existentes.
Os documentos de discussão ou de pesquisa são submetidos à con-
sulta pública, por pelo menos 120 dias, ao fim dos quais a equipe téc-
nica analisa e resume as cartas de comentários e submete o produto
desta análise para o Conselho.
Esta etapa não é requisito obrigatório para o IASB adicionar um pro-
jeto de normatização ao seu plano de trabalho, mas normalmente o
utiliza, como meio de assegurar que possui informações suficientes
para compreensão do problema e proposição de soluções.

3.1.3. EXPOSURE DRAFT (MINUTA PARA EXPOSIÇÃO)

O desenvolvimento de um exposure draft ocorre em reuniões pú-


blicas e se inicia normalmente nas etapas acima apresentadas, como
resultado de pesquisas, recomendações de equipes técnicas internas
do IASB, questões levantadas pelo Comitê de Interpretação ou, ainda,
contribuições de terceiros, como organizações normatizadoras nacio-
nais, regionais e acadêmicos, normalmente consubstanciado em docu-
mentos para discussões.
O exposure draft é etapa obrigatória do processo de expedição de
novas normas e consiste no principal veículo de consulta às partes

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interessadas, incluindo um convite para comentários. Se o IASB esti-
ver convicto de que tratou de todas as questões imprescindíveis, ele
requere à equipe técnica a preparação da minuta destinada à votação.

3.2. TRABALHOS QUE PROPUSERAM MODELOS


DE DEMONSTRAÇÃO DE RESULTADOS
3.2.1. MARSHAL E LENNARD (2016)

O modelo proposto por Marshal e Lennard (2016) foca principal-


mente na segregação do resultado líquido entre resultado operacional
e não operacional, sob o argumento de que o resultado operacional
é uma medida útil para avaliar a expectativa de resultados futuros e
avaliar o desempenho da gestão da Companhia.
Os autores entendem ser viável conceituar o lucro operacional, a
partir da descrição de sua natureza geral, que poderia se referir ex-
pressamente aos resultados do modelo de negócio da entidade, exem-
plificando, em norma, o que geralmente seria incluído ou excluído
dele, além de se exigir das entidades a divulgação da forma como ele
é determinado. Os autores reconhecem que esta abordagem poderia
prejudicar a comparabilidade, mas garantiria o fornecimento de infor-
mação mais relevante.
Sobre itens incomuns e não recorrentes relacionados às operações,
os autores afirmam que devem compor o resultado operacional, mas
devem ser apresentados de forma segregada, pois isto influenciaria a
avaliação da administração.
Para além do resultado operacional, Marshal e Lennard (2016) su-
gerem na demonstração de resultado sejam apresentadas rubricas que
evidenciem, por exemplo, os resultados de investimentos, financia-
mento, impostos e de operações descontinuadas.
Sobre o que deveria ser reportado em outros resultados abrangentes
e, portanto, excluídos da demonstração de resultados, os autores suge-
rem que itens que não estão atrelados ao resultado do exercício ou que
reduziriam a sua relevância devem ser evidenciados na demonstração
do resultado abrangente, admitindo reciclagem entre os dois relatórios,
conforme a transação se enquadrar ou não no critério. A apresentação
dos dois relatórios, portanto, também seria feita de forma apartada e
independente.

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3.2.2. NISHIKAWA ET. AL (2016)

Os autores entendem que a demonstração de resultado dever uma


só, apresentando, de forma segregada, o resultado do período e o resul-
tado após outros resultados abrangentes, sob o argumento que ambos
são derivados dos mesmos ativos e passivos reconhecidos. Os outros
resultados abrangentes se diferenciariam do resultado do período ape-
nas por questão temporal.
Na visão dos autores, o que comporia o resultado do período deri-
varia de um novo conceito de irreversibilidade, ou seja, comporia o
resultado do período receitas e despesas consideradas irreversíveis, o
que só ocorreria quando a incerteza relativa a esses elementos reduzis-
se ao ponto de serem considerados irreversíveis.
Os autores reconhecem a importância do lucro operacional, mas não
apresentam propostas relativas à eventual segregação do resultado lí-
quido do período, indicando apenas entenderem como um componen-
te ou subconjunto deste.

3.2.3. LINSMEIER (2016)

Focado na perspectiva da utilidade da informação contábil para o


usuário, o autor sugere que a abordagem vigente da demonstração de
resultado não atende bem a seus usuários, sob o argumento de que, ao
longo do tempo, é observável o aumento do uso de medidas de lucro
não padronizados (medidas non-gaap).
Neste mesmo sentido, sua abordagem deriva do raciocínio de que in-
vestidores aportam seus recursos em empresas, porque acreditam que
suas atividades principais têm o potencial de gerar o retorno esperado
positivo e persistente. Isto sugere, portanto, que o usuário da informa-
ção requer dados que lhe permitam identificar quais componentes do
resultado da companhia estariam atrelados às operações principais e
quais seriam recorrentes.
Desta forma, o autor sugere que a demonstração de resultado fosse
segmentada em dois relatórios: a demonstração de resultado opera-
cional e a demonstração de resultado abrangente (não operacional),
as quais deveriam apresentar a segregação dos elementos que as com-
põem entre transações recorrentes e não recorrentes. A demonstração
de resultado abrangente, contudo, iniciaria do resultado operacional
líquido, apresentando os resultados não operacionais recorrentes e

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não recorrentes, o subtotal do resultado não operacional e, por fim,
o resultado abrangente, resultado da soma do resultado operacional
líquido e o resultado não operacional líquido.
Esta sugestão, conforme o autor, estaria harmonizada com as medi-
das non-gaap mais utilizadas, atendendo a necessidade dos usuários
que as requerem e, assim, padronizando práticas que até então estão
muito sujeitas a discricionariedade da administração.
Uma das sugestões dadas pelo autor para discriminar ou classifi-
car o que deveria compor o resultado operacional seria especificar ou
prescrever o que seria atividade não operacional – de investimento e
financiamento, por exemplo – exigindo que a classificação de todas
as outras atividades sejam operacionais; dito de outro modo, as ati-
vidades operacionais são o que residualmente não seria atividade de
investimento e financiamento.
Outras duas alternativas são propostas: uma prescritiva, que tipifica-
ria especificamente o que seria operacional, de investimento e financia-
mento; uma outra, menos prescritiva e, portanto, mais vaga, atribuin-
do maior julgamento aos preparadores de demonstrações contábeis.

4. ANÁLISES E DISCUSSÕES

4.1. EXPOSURE DRAFT ED/2019/7 E A PROPOSTA


DE DEMONSTRAÇÃO DE RESULTADO
4.1.1. ASPECTOS GERAIS DO EXPOSURE DRAFT ED/2019/7
(DORAVANTE “ED2019/7” OU “MINUTA”)

O ED2019/7, dentre as demais alterações que propõe, traz uma pro-


posta de substituição da IAS 1 – Apresentação das Demonstrações Con-
tábeis, correlata ao Pronunciamento Técnico CPC 26 (R1), e expressa,
de imediato, que o objetivo é melhorar a forma como são apresentadas
as demonstrações contábeis, mas com foco no reporte da demonstra-
ção de resultado, que passaria por mudanças mais substanciais, em-
bora trate também de alterações na demonstração de fluxo de caixa
e no balanço patrimonial, mas que representariam modificações mais
restritas (IASB, 2019a e 2019b).
Sua conversão em norma, portanto, trará impactos – cuja dimensão
certamente será avaliada por acadêmicos e demais profissionais – a
todos os agentes envolvidos, das diversas localidades e organizações

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que adotam o padrão IFRS, como é o caso do Brasil. Preparadores de
demonstrações contábeis precisarão adaptar processos e sistemas in-
ternos para atender aos novos requisitos e os usuários precisarão se
adaptar à leitura e análise dos novos modelos de apresentação.

4.1.2. A PROPOSTA DE DEMONSTRAÇÃO DE RESULTADO

A seguir, apresentaremos as principais mudanças propostas e as res-


pectivas justificativas, constantes da própria minuta e depreendidas
do relatório de Basis of Conclusion (“BC-ED20197”) que a acompanha,
referenciando-as, quando relacionado, aos comentários e proposições
acadêmicas apresentadas na seção 3, de revisão de literatura.

Figura 1 - Resumo de uma demonstração de resultado

Receita X
Operacional
Despesas operacionais (X)
Lucro (prejuízo) operacional X
Participação nos lucros ou perdas de coligadas Coligadas e joint
X
e controladas em conjunto essenciais ventures integradas
Lucro (prejuízo) operacional e receitas e despesas
X
de coligadas e joint ventures integradas
Participação nos lucros ou perdas de coligadas e
X
controladas em conjunto não essenciais Investimento
Receitas com investimentos X
Lucro (prejuízo) antes do resultado financeiro
X
e de tributos sobre o lucro
Receita financeira de caixa e equivalente a caixa X
Despesas com atividades de financiamento (X) Financiamento
Apropriação de juros de passivos e provisões descontadas (X)
Lucro (prejuízo) antes de tributos sobre o lucro X

Fonte: IASB (2019a)

O modelo acima propõe quatro novos subtotais, cujas desagregações


são categorizadas em operacionais, coligadas e controladas em conjun-
to integradas (“CCI”), investimento e financiamento. O ED20197 deixa
claro que não foi objetivo do IASB alinhar esta estrutura às demais de-
monstrações contábeis e, portanto, as categorias apresentadas na nova
demonstração de resultado não correspondem necessariamente às sub-
divisões da demonstração dos fluxos de caixa, ainda que, ao menos na
nomenclatura, guardem semelhança.

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Quanto ao exercício de classificação das transações em cada uma das
categorias, o ED2019/7 expõe que o que não for classificado em CCI,
investimento e financiamento é operacional e, portanto, estaria asso-
ciado às atividades principais da entidade. Assim, faz-se importante
apresentar o que seria incluído em cada uma das demais categorias.
As mudanças apresentadas até aqui têm relação direta, ainda que
parcial, com as proposições de Linsmeier (2016) e de Marshal e Len-
nard (2016), na medida em que i) o ED2019/7 segmenta os componen-
tes do resultado entre operacional e demais categorias; e ii) na forma
de segregar o resultado operacional do não operacional, a partir da
definição do que seriam atividades de investimento e financiamento.
Não obstante, a minuta não propõe duas demonstrações de resulta-
do distintas para apresentar o bloco operacional separadamente dos
blocos das demais categorias, estando todos reconciliados na mesma
demonstração.
Vale destacar que, desta proposta, emerge um novo conceito: o de
coligadas e controladas em conjunto integradas (ou essenciais), que
corresponderiam a investimentos avaliados pela equivalência patrimo-
nial, cujas atividades seriam parte integrante (por isso integradas ou
essenciais) das atividades principais da companhia. De outra parte, os
resultados de participações em coligadas e controladas em conjunto
não integradas (“CCNI”) comporiam as atividades de investimento,
conforme a seguir – corroborando ainda mais a percepção de que este
modelo estaria alinhado as proposições de Linsmeier (2016) e Marshal
e Lennard (2016).
Outro aspecto importante levantado por Linsmeier (2016), que guar-
da relação direta com o ED2019/7, é o reconhecimento de que medidas
non-gaap geraram a necessidade de revisar o modelo de demonstração
do resultado (IASB, 2019b).
As atividades de investimento abrangeriam receitas e despesas de
ativos que geram retorno individualmente e, em grande medida, de
forma independente de outros recursos detidos pela entidade (exceto
em caso de o investimento ter sido feito no curso das principais ativi-
dades da entidade), como é o caso de investimentos em ações e títulos
de dívida, com o objetivo estrito de auferir dividendos ou juros, res-
pectivamente (IASB, 2019a e 2019b).
Além disso, compreenderia também despesas incrementais relacio-
nadas a esses ativos (despesas que não teriam sido incorridas se o in-

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vestimento não tivesse sido feito) e somente se incrementais, pois o
IASB considerou complexa e dispendiosa a alocação de todas as despe-
sas relacionadas ao investimento (IASB, 2019b).
As atividades de financiamento seriam compostas por receitas e des-
pesas relacionadas a ativos e passivos atrelados ao financiamento da
entidade, como despesas com títulos de dívida e com títulos comer-
ciais com componentes de financiamento, incluindo, ainda, ajuste ao
valor justo de passivos assim avaliados e receitas e despesas de caixa
e equivalente a caixa. Mesmo não sendo atreladas ao financiamento,
devem ser classificadas nesta categoria ganhos (perdas) líquidos de
passivos líquidos de benefícios a empregados e efeitos de ajuste a valor
presente de ativos e passivos (IASB, 2019a).
Sobre os resultados abrangentes, o ED2019/7 mantém a segmentação
atual, partindo do resultado líquido do período, somando-o aos outros
resultados abrangentes. Esta proposição se mantém em linha com a
proposta de Nishikawa et al. (2016) e, em razão de abordar os ou-
tros resultados, parcialmente alinhado com Marshal e Lennard (2016),
além de, em todos os casos, a reciclagem ser prevista.
Ainda sobre os resultados abrangentes, há mais uma semelhança
com a proposta de Marshal e Lennard (2016): a tentativa de tipificar o
que devem ser classificados como outros resultados abrangentes, como
por exemplo o caso de itens exigidos por normas específicas e remen-
surações reportadas foram do resultado do período.

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
O presente trabalho apresentou sucintamente as principais novi-
dades trazidas pelo ED2019/7, visando suscitar discussões no âmbito
prático entre os profissionais contábeis, e verificou que determinadas
necessidades identificadas pela academia foram consideradas pelo pro-
jeto de norma aqui apresentado.
Ademais, evidenciou associações diretas entre o modelo proposto
pelo IASB para substituir a estrutura de demonstração de resultado
atualmente vigente e as propostas de modelo de apresentação do de-
sempenho feitas por acadêmicos, dedicados a contribuir com a evolu-
ção do padrão contábil, com vistas a elevar a sua utilidade. Foi possí-
vel notar que os trabalhos de Linsmeier (2016) e Lennard e Marshal

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(2016) apresentaram o maior volume de associações com as proposi-
ções do ED2019/7.
Entendemos que conseguimos atender os objetivos e contribuir com
as discussões propostas

REFERÊNCIAS
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comparison of cash flows indicators versus profit or loss from listed
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INTRODUÇÃO
Empreender é uma jornada desafiadora, impulsionada por visões de
sucesso e crescimento. Quando um negócio é estabelecido, a expectati-
va é que ele prospere e deixe uma marca duradoura no cenário empre-
sarial. No entanto, apesar dessas aspirações, muitas Micro e Pequenas
Empresas (MPEs), sendo empresários individuais e sociedades LTDA,
enfrentam dificuldades em seu caminho, muitas vezes resultando no
fechamento prematuro das portas.
Recentemente, em 27 de janeiro de 2023, o SEBRAE (Serviço Brasi-
leiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas) divulgou uma pesquisa
alarmante. De acordo com o estudo, cerca de 30,2% das empresas no
Brasil deixam de existir em um período de até cinco anos, com a taxa
de mortalidade mais acentuada no Estado de Minas Gerais, onde essa
cifra alcança 30%. Esses números levantam questionamentos sobre
os fatores que contribuem para a falência precoce de tantas MPEs e
os impactos mais amplos dessa realidade no tecido econômico e so-
cial do país.
Esta pesquisa se propõe a mergulhar fundo em um dos aspectos que
podem influenciar o sucesso e a longevidade das MPEs: o investimento
no capital social. Nas páginas seguintes, exploraremos por que muitas
empresas não dedicam a devida atenção a esse aspecto essencial de
seus negócios e como essa escolha pode repercutir em seus resultados
e percepções por parte de terceiros. Além disso, discutiremos como a
falta de investimento no capital social pode minar a confiança nas ope-

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rações internas e externas das empresas, criando um ciclo que impacta
o crescimento e o desenvolvimento empresarial.
Ao compreender os motivos subjacentes à subutilização do capital
social e os efeitos colaterais dessa decisão, esperamos fornecer insights
valiosos para empresários, gestores e profissionais do setor que estão
empenhados em promover um ambiente empresarial mais robusto e
sustentável. Nosso objetivo é contribuir para a mudança de mentali-
dade e incentivar uma abordagem mais consciente e estratégica para o
investimento no capital social, pavimentando o caminho para o cresci-
mento e a confiança nas MPEs no Brasil.

A NECESSIDADE DE INVESTIR NO CAPITAL SOCIAL


Empreender é uma jornada cheia de desafios e incertezas. As Micro
e Pequenas Empresas (MPEs) são particularmente vulneráveis a essas
dificuldades devido a recursos financeiros limitados, acesso restrito a
mercados e concorrência acirrada. Embora os empresários possam pos-
suir habilidades operacionais sólidas e uma visão clara de suas ofertas,
muitos enfrentam deficiências nas áreas de gestão e financiamento.
Essas deficiências podem ser exacerbadas pela falta de investimento no
capital social das empresas.
O capital social refere-se ao conjunto de relações, conexões e intera-
ções que uma empresa mantém com suas partes interessadas internas
e externas. Ele engloba a confiança, colaboração e redes de apoio que
sustentam o funcionamento da empresa. Investir no capital social vai
além das finanças tradicionais; envolve nutrir relacionamentos, estabe-
lecer parcerias sólidas e construir uma reputação confiável. No entan-
to, muitas MPEs negligenciam essa dimensão crítica de suas operações,
focando exclusivamente em questões financeiras imediatas.

AS CONSEQUÊNCIAS DA FALTA DE
INVESTIMENTO NO CAPITAL SOCIAL
A falta de investimento no capital social pode resultar em diversas
consequências negativas para as MPEs:
1. Fragilidade empresarial: MPEs que não investem no capital social
podem se tornar isoladas e fragilizadas. A ausência de conexões
robustas com fornecedores, clientes e parceiros de negócios pode

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limitar suas opções e oportunidades, tornando-as mais suscetíveis
a choques externos.
2. Perda de oportunidades de negócios: O capital social é muitas ve-
zes a base para a descoberta de novas oportunidades de negócios.
Empresas bem conectadas têm mais chances de ser recomendadas
por clientes satisfeitos e de ser introduzidas a novos mercados e
segmentos.
3. Dificuldades de financiamento: Investidores e instituições finan-
ceiras valorizam a confiança e a credibilidade da empresa tanto
quanto seus números financeiros. MPEs sem um capital social bem
desenvolvido podem enfrentar dificuldades em atrais investidores
e obter financiamento externo.
4. Falta de Colaboração: A colaboração é um fator-chave para a
inovação e o crescimento sustentável. Empresas com capital so-
cial substancial têm mais facilidade em encontrar parceiros para
co-desenvolver produtos, serviços e soluções.
5. Reputação Abalada: A falta de investimento no capital social pode
resultar em uma reputação negativa. Empresas que não cumprem
promessas, não mantêm relações de confiança ou não se envol-
vem com a comunidade empresarial podem ser vistas como não
confiáveis.

DESAFIOS PARA INVESTIR NO CAPITAL SOCIAL


Muitas MPEs enfrentam desafios específicos que podem dificultar o
investimento no capital social:
1. Restrições financeiras: A falta de recursos financeiros pode limitar
a capacidade das MPEs de participar nos eventos, redes e iniciati-
vas que promovam o capital social.
2. Falta de tempo: Empresários frequentemente enfrentam um cro-
nograma apertado, dedicando a maior parte do tempo às opera-
ções diárias. Isso deixa pouco tempo para cultivas relacionamen-
tos e construir capital.
3. Falta de conhecimento: Muitos empresários podem não estar
cientes dos benefícios tangíveis do investimento no capital social.
Eles podem subestimar como relacionamentos sólidos podem
contribuir para o sucesso a longo prazo.

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4. Cultura empresarial: Em algumas situações, a cultura da empre-
sa pode não valorizar o investimento em capital social. A falta
de incentivos internos pode inibir os esforços para construir rela-
ções externas.

A RELAÇÃO ENTRE INVESTIMENTO EM CAPITAL


SOCIAL E SUSTENTABILIDADE EMPRESARIAL
A análise da pesquisa realizada com 620 empresas revela insights
interessantes sobre a relação entre investimento em capital social e a
sustentabilidade das MPEs. A baixa incidência de alterações no capi-
tal social sugere que muitos empresários podem estar subestimando a
importância desses investimentos para o crescimento e prosperidade a
longo prazo de suas empresas.
O estudo também revelou que uma parcela significativa das em-
presas, cerca de 67%, participa ativamente de licitações. Isso res-
salta a busca por oportunidades de contratos públicos como uma
estratégia-chave de crescimento. No entanto, a ligação entre a par-
ticipação em licitações e a realização de alterações no capital social
merece uma análise mais profunda. É possível que as empresas que
investem em alterações no capital social estejam mais preparadas para
atender às demandas e requisitos de licitações, o que pode lhes propor-
cionar uma vantagem competitiva.

COMPOSIÇÃO SOCIETÁRIA E DESAFIOS NA TOMADA DE DECISÃO


A predominância de cônjuges nas empresas com mais de dois sócios
levanta questões sobre a influência da dinâmica familiar nas decisões
de investimento em capital social. A interconexão entre patrimônio
pessoal e empresarial pode ser ainda mais forte em empresas familia-
res, o que pode afetar a disposição de aumentar o capital social. A re-
sistência em separar o patrimônio pessoal do empresarial pode limitar
as opções de financiamento e o acesso a recursos externos.
Além disso, a falta de investimento no capital social pode ser exacer-
bada pelo foco na sobrevivência diária. Muitas MPEs estão concentra-
das em lidar com desafios operacionais e não priorizam o desenvolvi-
mento de relacionamentos externos. A falta de conhecimento sobre os
benefícios tangíveis do investimento em capital social também pode
contribuir para essa lacuna.

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EDUCAÇÃO EMPRESARIAL E ESTRATÉGIAS FUTURAS
A conscientização e a educação sobre os benefícios do investimen-
to em capital social podem desempenhar um papel fundamental em
superar esses desafios. As instituições de apoio às empresas, como o
SEBRAE, podem desempenhar um papel crucial na promoção de pro-
gramas de treinamento que destacam a importância do capital social.
Ao capacitar os empresários a tomarem decisões informadas e estraté-
gicas sobre investimentos sociais, essas instituições podem contribuir
para um ambiente empresarial mais robusto.
É importante enfatizar que o investimento em capital social não deve
ser visto como um custo adicional, mas sim como um investimen-
to no futuro da empresa. Empresários que reconhecem a importância
de construir relacionamentos sólidos, buscar colaborações e construir
uma reputação confiável podem colher os benefícios em forma de cres-
cimento sustentável e vantagem competitiva.

SELEÇÃO DA AMOSTRA
Para conduzir esta pesquisa, foi selecionada uma amostra de 620
empresas de diferentes setores e estados brasileiros. A amostra englo-
bou empresas com natureza jurídica de Sociedade Limitada (Ltda) e
Empresário Individual, constituídas no período entre 1982 e 2023. Os
estados selecionados para análise foram Minas Gerais, Pará, Maranhão,
Espírito Santo, São Paulo, Santa Catarina, Rio Grande do Sul e Bahia.

CRITÉRIOS DE INCUSÃO
As empresas incluídas na pesquisa possuíam um faturamento anual
variando de R$ 8.227,00 a R$ 4.800.000,00. Esse intervalo de fatura-
mento foi escolhido para garantir uma representação abrangente de
empresas de diferentes tamanhos.

COLETA DE DADOS
Os dados foram coletados por meio de pesquisa documental e aná-
lise de registros internos obtidos de escritórios de contabilidade e em-
presários. Foram consideradas informações relevantes sobre o quadro

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societário, faturamento, anos de constituição e quaisquer alterações de
capital social.

ANÁLISE DE DADOS
Após a coleta, os dados foram tabulados e analisados com o auxílio
de ferramentas estatísticas. Foram calculadas frequências percentuais
para características como número de sócios, composição do quadro
societário em empresas com mais de dois sócios, alterações de capital
social e participação em licitações.

620 1 Sócio
EMPRESAS 1,3%
2 Sócios
12,3%
Grupo Familiar
4,7% 3 Sócios
1,7%

4 ou mais Sócios
1,3%

Mais de 2 Sócios
Conjuguês 15,3%
36,4%

LIMITAÇÕES
É importante ressaltar que esta pesquisa possui algumas limitações.
A amostra foi restrita a determinados estados e faixas de faturamento,
o que pode limitar a generalização dos resultados para o cenário na-
cional. Além disso, a disponibilidade de dados pode ter influenciado
a representatividade de certas características nas empresas analisadas.
A metodologia descrita acima foi empregada para coletar e analisar
informações relevantes sobre as empresas estudadas. Os resultados ob-
tidos por meio dessa metodologia oferecem insights valiosos para en-
tender os padrões de investimento em capital social e suas implicações
no desempenho e estratégias empresariais.

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A pesquisa com 620 empresas, de natureza jurídica Sociedade LTDA
ou Empresário Individual, constituídas entre os anos de 1982 e 2023,
e com faturamento anual entre R$ 8.227,00 e R$ 4.800.000,00, abran-
gendo os estados de Minas Gerais, Pará, Maranhão, Espírito Santo,
São Paulo, Santa Catarina, Rio Grande do Sul e Bahia, revelou dados
significativos sobre as práticas e desafios no investimento em capital
social por parte das MPEs.

RESULTADOS
1. Alteração de capital social: A pesquisa revelou que apenas 7,7%
das empresas analisadas realizaram alterações em seu capital so-
cial. Isso sugere que a maioria das empresas opta por manter a
estrutura original de seu capital ao longo do tempo.
2. Participação em licitações: Cerca de 67% das empresas analisadas
relataram participar de licitações. Isso destaca o interesse dessas
empresas em buscar oportunidades de contratos públicos como
uma estratégia de crescimento.
3. Relação entre alteração de capital social e participação em licita-
ções: Entre as empresas que realizaram alterações em seu capital
social, a maioria (67%) também participa de licitações. Isso sugere
uma possível correlação entre o investimento em capital social e a
busca ativa por oportunidades de licitação.
4. Composição societária em empresas com mais de dois sócios:
Das empresas com mais de dois sócios, 86% têm cônjuges como
parte do quadro societário, 11% são compostas por grupos fami-
liares e 3% por sócios sem grau de parentesco.
Os resultados obtidos indicam que muitos empresários podem su-
bestimar a importância das alterações no capital social para o cres-
cimento de suas empresas. A interconexão entre patrimônio pessoal
e empresarial, especialmente em empresas familiares, pode afetar as
decisões de investir em capital social. A pesquisa também ressalta a
necessidade de conscientização e educação sobre os benefícios do in-
vestimento em capital social, bem como o potencial impacto positivo
na busca por oportunidades de licitação e crescimento sustentável.

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CONCLUSÃO E APLICAÇÕES
Com base nos dados e nas análises apresentados, é possível inferir
que a baixa incidência de alterações no capital social das empresas
Ltda e Empresário Individual pode estar relacionada à relutância dos
sócios e empresários em separar seus patrimônios pessoais do patrimô-
nio da empresa. A predominância de quadros societários compostos
por cônjuges e grupos familiares reforça a ligação entre o patrimônio
pessoal e empresarial.
Essa conexão pode ter implicações significativas para o desenvol-
vimento e crescimento dessas empresas. A falta de investimento no
capital social pode limitar a capacidade de investir, adquirir recursos
e buscar oportunidades de expansão. Além disso, essa restrição pode
afetar o interesse de terceiros, como investidores e parceiros comer-
ciais, em se envolver com a empresa, já que a estrutura de capital pode
refletir sua estabilidade e potencial de crescimento.
É evidente que uma abordagem equilibrada para o investimento em
capital social é necessária. É fundamental que os sócios e empresá-
rios compreendam a importância de separar seus patrimônios pessoais
dos empresariais, buscando a proteção dos bens pessoais em situações
de dificuldades financeiras da empresa. Além disso, a educação em-
presarial e financeira deve ser promovida ativamente, capacitando os
empreendedores a tomarem decisões informadas sobre estratégias de
crescimento, investimentos e gestão de riscos.
Ao oferecer orientações sobre a gestão responsável do patrimônio e
sobre as implicações e vantagens de aumentar o capital social, as ins-
tituições e órgãos de apoio podem desempenhar um papel crucial na
promoção do crescimento sustentável das micro e pequenas empresas.
A capacitação dos empreendedores pode incentivar a busca por novas
oportunidades, a atração de investimentos externos e a construção de
bases sólidas para o progresso empresarial a longo prazo.
Portanto, é essencial enfatizar a necessidade de conscientização, edu-
cação e estratégias bem fundamentadas para a tomada de decisões re-
lacionadas ao capital social. Isso criará um ambiente propício ao cres-
cimento, à inovação e à prosperidade das empresas Ltda e Empresário
Individual no atual cenário econômico.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS
A pesquisa sobre o impacto da falta de investimento no capital social
das empresas Ltda e Empresário Individual revelou dados intrigantes
que ressaltam a importância de repensar as estratégias de gestão e cres-
cimento dessas empresas. A baixa incidência de alterações no capital
social, combinada com a busca ativa por licitações, sugere uma opor-
tunidade para educar os empresários sobre os benefícios de investir no
crescimento sustentável de suas empresas.
O entendimento das implicações de não investir no capital social
pode levar a uma mentalidade mais orientada para o crescimento e à
adoção de estratégias que visem a separação dos patrimônios pessoal
e empresarial. Além disso, pode motivar os empresários a explorarem
maneiras criativas de atrair investidores e parceiros estratégicos, am-
pliando assim as possibilidades de expansão.
Este estudo oferece uma visão inicial do cenário das empresas Ltda
e Empresário Individual em relação ao investimento em capital so-
cial. No entanto, mais pesquisas são necessárias para compreender
completamente as dinâmicas subjacentes, considerar outras variáveis
importantes e avaliar o impacto das mudanças nas estratégias de in-
vestimento em capital social nas taxas de crescimento e sobrevivência
dessas empresas.

DIREÇÕES FUTURAS
Com base nos resultados deste estudo, é recomendável explorar as
seguintes direções para futuras pesquisas:
1. Aprofundar a análise: Investigar mais detalhadamente as razões
específicas pelas quais os empresários evitam as alterações de ca-
pital social e como essa decisão afeta a capacidade de crescimento
e inovação.
2. Comparação com outros modelos jurídicos: Comparar o investi-
mento em capital social entre empresas Ltda, Empresário Indivi-
dual e outros modelos jurídicos, como Sociedade Anônima, para
entender as diferenças nas estratégias de financiamento.
3. Impacto nas taxas de sobrevivência: Realizar estudos longitudi-
nais para analisar como o investimento em capital social impacta
as taxas de sobrevivência e crescimento dessas empresas ao lon-
go do tempo.

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4. Educação empresarial: Explorar abordagens eficazes para promo-
ver a educação empresarial sobre a importância do investimento
em capital social e como fazer isso de maneira eficiente.
5. Efeito das alterações de capital social nas licitações: Investigar
mais profundamente como as alterações no capital social podem
influenciar a participação em licitações e as chances de sucesso.
Ao seguir essas direções, será possível obter uma compreensão mais
completa das complexas relações entre o capital social, as decisões em-
presariais e o crescimento sustentável das empresas Ltda e Empresá-
rio Individual.

REFERÊNCIAS
https://sebrae.com.br/sites/PortalSebrae/artigos/a-taxa-
de-sobrevivencia-das- empresas-no-brasil,d5147a3a
415f5810VgnVCM1000001b00320aRCRD

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1. PORTAL NACIONAL DA NOTA FISCAL DE SERVIÇOS E


SUA ADESÃO PELOS MUNICÍPIOS BRASILEIROS
No ano de 2007, o Brasil vivenciou o início do processo de implan-
tação do sistema SPED – Sistema Público de Escrituração Digital atra-
vés do decreto 6.022/2007 que visa unificar o fluxo informacional nas
atividades de recepção, validação, armazenamento e autenticação de
documentos que integram as escriturações contábil-fiscais das empre-
sas. Esse programa, num primeiro momento, apresentou soluções para
escriturações contábil, fiscal (ICMS e IPI), contribuições (PIS e Cofins),
Nota Fiscal Eletrônica, Conhecimento de Transportes Eletrônico e
central de balanços (Receita Federal do Brasil, 2022).
Esse processo marcou o início da digitalização de informações
contábeis-fiscais e impactou os processos internos e externos das em-
presas e da administração pública. Entretanto, percebe-se uma lacuna
em relação às administrações municipais, uma vez que o programa
não apontou soluções para a escrituração e apuração do ISSQN. Cabe
recordarmos aqui que o Brasil é composto por 5.570 municípios, con-
forme o último censo demográfico (IBGE, 2023). E tal lacuna impacta
negativamente a gestão tributária, além de fortalecer a assimetria infor-
macional dada a ampla gama de legislações.

19 Mestrando em Ciências Contábeis e Administração, Fucape Business School. pe-


drohenrique230@hotmail.com

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Com a crescente necessidade de digitalização de processos por parte
do Fisco, é importante resgatarmos o movimento governamental ini-
ciado em 2016 com a assinatura do decreto 8.936/2016, que define o
processo de construção da cidadania digital pelo governo Federal. Esse
alcançou todos os brasileiros com a criação de centrais informacionais
unificadas, qualificando assim a prestação de serviços e disponibiliza-
ção de informações.
Esse processo, que trouxe benefícios a pessoas físicas no país, im-
pactará em especial os empreendedores prestadores de serviços que, a
partir deste ano, deverão emitir documentos fiscais numa plataforma
unificada, denominada Portal da Nota Fiscal de Serviços eletrônica
(Ministério da Economia, 2023). A determinação de emissão unifi-
cada, por parte do fisco, apresenta um movimento de retomada dos
objetivos propostos com a criação do sistema SPED.
A emissão de documentos fiscais na plataforma eletrônica denomi-
nada Portal Nacional da Nota Fiscal de Serviços demanda o credencia-
mento dos municípios. Entretanto, somente 503 iniciaram o processo
junto ao portal nacional – sendo 18 capitais e 485 municipalidades
(Ministério da Economia, 2023), e desses, grande parte sequer con-
cluiu o processo de credenciamento e regularização para a efetiva
utilização do portal pelo contribuinte. É importante ressaltarmos que
atualmente são registrados no Brasil 15.365.585 Microempreendedo-
res, e dentre eles 13.602.262 são empreendedores inscritos em ativi-
dades do setor de serviços, obrigados a emissão em portal nacional
(Receita Federal do Brasil, 2023).
O objetivo do presente estudo é apresentar de forma clara o processo
de credenciamento para os municípios brasileiros visando o cumpri-
mento da simplificação proposta em 2016. Além de apontar caminhos
para melhorar a compreensão dos processos propostos para credencia-
mento e utilização do portal nacional, de forma que haja maior adesão
das municipalidades e consequentemente melhora do acesso aos servi-
ços pelos contribuintes e aos operadores da Ciência Contábil.

2. BENEFÍCIOS DO PORTAL NACIONAL AOS MUNICÍPIOS


A Constituição Federal de 1988 apresenta em seu artigo 37 os princí-
pios basilares da administração pública como o compromisso inarredá-
vel com a impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência (Brasil,
1988). Destes, é importante ressaltarmos o princípio da eficiência da

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administração pública, pois é traço evidente na proposta que se apre-
senta como foco do presente trabalho.
O princípio da eficiência na gestão pública é preponderante no pro-
cesso de operacionalização da Nota Fiscal de Serviços e pode ser de-
monstrado em três movimentos: no primeiro movimento se pretende
padronizar o ambiente, o modelo e o repositório para os documentos
fiscais. A padronização visa trazer clareza e redução do custo informa-
cional. O segundo movimento, fundamental ao ambiente de negócios,
é o aumento da competitividade que é fruto da simplificação, que,
numa base única, permite aos gestores a utilização de um produto
público e confiável, dado que é gerenciado pela própria administração
tributária municipal. Já o terceiro movimento é o benefício a adminis-
tração pública, para permitir melhor controle fiscal e otimização de
arrecadação, culminando na eficiência da atividade fiscal.
A eficiência na atividade fiscal, almejada pelo projeto, também faz
justiça aos pequenos municípios brasileiros que sofrem com as carên-
cias de infraestrutura tecnológica, de pessoal e de informação local
que culminam nas restrições acerca da cobrança do principal tributo
municipal – o Imposto sobre Serviços de Qualquer Natureza – ISSQN.
Importante ressaltar no horizonte da racionalização do gasto público,
uma vez que um portal unificado trará menor custo operacional, pois é
apresentada uma cesta completa de serviços, como se observa abaixo:

Quadro 1: Módulos Sistema Nacional da NFS-e


(Receita Federal do Brasil, 2022)

Componente
Descrição
do SN NFS-e
Aplicação disponibilizada no Portal web da NFS-e
Emissor
gratuitamente que permite a entidade
Público web
empresarial emitir uma NFS-e.
Versão simplificada do emissor web, disponível para dispositivos
Emissor Público
móveis, seguindo as tendências tecnológicas
Mobile
disponíveis no mercado.
Aplicativo para dispositivos móveis, que permite a qualquer pessoa receber a NFS-e
APP cidadão emitida e acessar as informações fiscais relativas ao CPF vinculado à prestação de
serviços.
Ambiente computacional que funciona como uma Secretaria de Finanças/
Secretaria
Fazenda Municipal, validando as Declarações de Prestação de Serviços (DPS) que
de Finanças
são enviadas pelos contribuintes, gerando, autorizando e assinando as NFS-e
Nacional virtual
correspondentes.

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Componente
Descrição
do SN NFS-e
Ambiente de Repositório que assegura a integridade e a disponibilidade
Dados Nacional das informações constantes nos documentos fiscais. Atua na
da NFS-e - ADN/ distribuição e compartilhamento dos documentos entre os
NFS-e Municípios e contribuintes.
Serviço que possibilita a comunicação entre o ambiente de
dados empresarial e municipal com o Ambiente de Dados
API/Webservices
Nacional. Será utilizado por entidades que dispõem de
software próprio e infraestrutura local.
Ambiente web de acesso restrito que disponibiliza funcionalidades para
Painel
o Comitê Gestor Nacional da NFS-e administrar parâmetros relativos ao
Administrativo
Sistema Nacional da NFS-e, tais como o controle de cadastro de
Nacional
gestores nacionais, distritais e municipais.
Ambiente web de acesso restrito que disponibiliza funcionalidades
Painel para a Administração Tributária Municipal e Distrital gerir parâmetros
Administrativo relativos ao Sistema Nacional da NFS-e, tais como alíquotas, benefícios
Municipal fiscais, casos de retenção, cadastros dos gestores e usuários
dos Municípios e Distrito Federal.
Módulo de
Apuração O MAN é o conjunto de funcionalidades para apuração dos impostos
Nacional - MAN devidos, emissão das respectivas guias de pagamento, e controle
(Guia Única de dos débitos e créditos pelos contribuintes.
Recolhimento)
Portal na internet, com áreas de acesso público e restrito, por meio do qual
será feita a divulgação de informações sobre a NFS-e, disponibilização de
Portal da NFS-e serviços como consulta pública de notas, download de artefatos técnicos,
consulta de Municípios conveniados, produtos disponíveis por
município, dentre outras funcionalidades.

A cesta de produtos apresentada oferece soluções tecnológicas que


auxiliarão a gestão completa e eficiente do recolhimento do tributo e
que vão desde o reconhecimento do fato gerador até o efetivo recolhi-
mento tributário.

3. PROTOCOLO DE ADESÃO AOS MUNICÍPIOS AO PORTAL


NACIONAL DA NOTA FISCAL DE SERVIÇOS ELETRÔNICA
Os municípios deverão efetivar processo de adesão ao portal nacional
para a emissão de documentos por Microempreendedores Individuais
conforme determinado em resolução 169/2022 do comitê gestor do
Simples Nacional (2022). Diante dessa obrigatoriedade, que seria exi-
gida em 03/04/2023 e foi postergada para o próximo dia 01/09/2023,
descreveremos as possibilidades para a adesão aos protocolos sugeri-

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dos pela Receita Federal do Brasil com o desejo de apresentar ao ges-
tor público caminhos que facilitarão a operacionalização municipal e
contribuirão e muito para a diminuição da assimetria informacional.

3.1. PROCESSO DE ADESÃO


Os passos para a adesão municipal podem ser celebrados em três
formas que podem ser acompanhados pelo fluxograma abaixo:

Figura 1: Fluxograma do Processo de Adesão ao Portal


Nacional (Receita Federal do Brasil, 2022)

Assinatura do Termo Publicação no Diário


Preenchimento e
de Adesão pelo Oficial do Município.
Publicação
gestor municipal;

Preenchimento
Preenchimento do Termo Envio à Receita
e Envio a Receita
pelo Portal Nacional; Federal do Brasil.
Federal do Brasil

Preenchimento pelo Preenchimento pelo Envio através de


Portal e-Cac portal e- Cac; processo digital.

Após a celebração do termo de adesão pela administração tributária


municipal, é necessário efetivar a escolha dos produtos a serem contra-
tados, entretanto, focaremos na elucidação do processo de credencia-
mento ao Ambiente de Dados Nacional da NFS-e - ADN/NFS-e.

3.2. CALIBRAGEM DE SISTEMAS E ESCOLHA DA UTILIZAÇÃO


O Ambiente de Dados Nacional da NFS-e - ADN/NFS-e é a solução in-
formacional que tem como objetivo ser um repositório nacional de do-
cumentos fiscais eletrônicos visando a agilidade e segurança informa-
cional. Seu processo pode ser conhecido através do fluxograma abaixo:

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Figura 2: Fluxo de Distribuição de Documentos Fiscais
eletrônicos (DF-e) – Arquitetura API ADN NFS-e

Município
Incidência do
Recepção de DF-e
ISSQN
Pelo ADN NFS-e

ADN NFS-e Município Local


Município API Municípios
Internet Internet da Prestação
Emissor (POST) do Serviço

Distribuição de DF-e
Município dos
Pelo ADN NFS-se
não Emitentes
da NFS-se

Conhecido o funcionamento do ambiente, nos dedicaremos a evi-


denciar os passos que as administrações deverão seguir para a efetiva
operacionalização do sistema.
Após a celebração da adesão, o gestor municipal deve avaliar o códi-
go tributário municipal e efetivar a edição de algum texto normativo
de forma que a obrigação acessória esteja fundamentada. Feita a análi-
se do código tributário, deverá acessar o denominado Painel Adminis-
trativo Nacional através do portal https://www.nfse.gov.br/PainelMuni-
cipal/ para habilitação de usuários aptos a utilização e parametrização
do sistema em três níveis: principal, auditor e atendente. O primeiro
é denominado Gestor Municipal Principal, sendo o responsável pelo
CNPJ do município, que poderá cadastrar os demais. Já o segundo é
aquele que poderá parametrizar o sistema, exceto o cadastro de novos
gestores. E por último, o perfil que possibilita cadastro e alteração de
dados de contribuintes.
A partir da habilitação, os usuários farão no Painel Administrativo
Municipal a calibragem dos sistemas através do módulo denominado
Assistente de Parametrização, que auxiliará os usuários na identifica-
ção e resolução de pendencias de preenchimento.
O processo tem início com o cadastro das informações do muni-
cípio – nome, contatos, brasão. Sequente a esse preenchimento, o
usuário é convidado a inserir no sistema as informações acerca da le-
gislação municipal – normas tributárias, benefícios concedidos, além
de cadastrar todos os atos disciplinadores da matéria ISSQN em local
próprio. Feita a parametrização do código tributário municipal, o ges-

!"#! "#$%&'(!#!')"%*%&+#
tor tem a opção de escolher a modalidade do convênio a ser celebrado
com a NFS-e, podendo ser:

Figura 3: Tipos de Convênios do Portal Nacional


(Receita Federal do Brasil, 2022)

Ambiente de Dados Nacional - ADN NFS-e Emissores Públicos Nacionais


· Repositório nacional que assegura a qualidade
e disponibilidade das informações · Utilização de produtos disponibilizados pelo
· Atua na distribuição e compartilhamento sistema nacional - versão web, aplicativos, etc.
de documentos entre Municípios e · Essa opção invalida a utilização
Contribuintes (Adesão Obrigatória) dos emissores próprios.
· Permite a utilização de emissores próprios.

É fundamental esclarecer que a proposta apresentada pelo Portal Na-


cional não busca limitar a discricionariedade das administrações muni-
cipais exigindo que se faça a utilização de um único sistema. Portanto,
busca tão somente unificar a forma de apresentação e disponibilização
informacional para maior controle da gestão do ISSQN, e melhorias
para o ambiente de negócios no Brasil, uma vez que a unificação per-
mitirá maior acesso dos contribuintes aos documentos emitidos.

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS
O presente artigo tem como objetivo a apresentação, aos gestores
municipais, do portal nacional da nota fiscal eletrônica de serviços e
o Ambiente de Dados Nacional da NFSe - ADN/NFSe que, como vimos,
são instrumentos fundamentais na qualificação informacional para os
municípios e os contribuintes.
Buscamos apresentar um passo-a-passo simplificado visando promo-
ver e incentivar sua adesão de forma a permitir que a tomada de deci-
são por parte da administração tributária municipal seja efetivada de
maneira objetiva e livre de enviesamentos.
Essa adesão, hoje, voluntária, trará inúmeros benefícios aos municí-
pios, como a uniformização, agilidade e disponibilidade informacio-
nais que serão instrumentos de qualificação da fiscalização e arrecada-
ção, além de ser fator preponderante para a melhoria do ambiente de
negócios no município em questão.
Portanto, é essencial que os gestores iniciem o processo de creden-
ciamento ao portal e consequente adesão ao ambiente nacional de seus
municípios a fim de que sejam diminuídas as assimetrias informacio-

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nais e o processo de simplificação possa trazer os bons resultados evi-
denciados no presente estudo.

REFERÊNCIAS
Brasil. Presidência da República. Casa Civil (1988). Constituição da
República Federativa do Brasil de 1988. https://www.planalto.
gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm.
Comitê Gestor do Simples Nacional. (2022). Resolução CGSN nº 169,
de 27 de julho de 2022. Altera a Resolução CGSN nº 140, de 22 de
maio de 2018, que dispõe sobre o Regime Especial Unificado de
Arrecadação de Tributos e Contribuições devidos pelas Microempresas
e Empresas de Pequeno Porte (Simples Nacional). http://normas.
receita.fazenda.gov.br/sijut2consulta/link.action?idAto=125242
Decreto nº 8936, 19 de dezembro de 2016. Institui a Plataforma de
Cidadania Digital e dispõe sobre a oferta dos serviços públicos
digitais, no âmbito dos órgãos e das entidades da administração
pública federal direta, autárquica e fundacional. http://www.planalto.
gov.br/ccivil_03/_Ato20152018/2016/Decreto/D8936. htm.
IBGE. (2023). Panorama CENSO 2022. https://cidades.ibge.gov.br/brasil/panorama.
Ministério da Economia. FAQ NFS-e. https://www.gov.br/nfse/pt-br/
copy_of_perguntas- frequentes/copy_of_faq-nfs-e.
Receita Federal do Brasil. (2022). Protocolo de adesão do município à
NFS-e Nacional. https://www.gov.br/nfse/pt-br/como-conveniar-
se/protocolo-de-adesao-do-municipio-a- nfs-e.pdf/view.
Receita Federal do Brasil. (2022). ManualIntegradoSNNFSe_V1.00.02-
Produção. https://www.gov.br/nfse/pt-br/documentacaotecnica/
manualintegradosnnfse_v1-00-02- producao.pdf/view
Receita Federal do Brasil. (2023). Estatísticas MEI-Total de Empresas
Optantes no SIMEI, por CNAE. http://www22.receita.fazenda.gov.
br/inscricaomei/private/ pages/relatorios/opcoesRelatorio.jsf.

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1. INTRODUÇÃO
O mercado vem passando por inúmeras mudanças nos últimos anos.
A pandemia acelerou vários processos e foi favorável à entrada de Star-
tups e outros Stakeholders que mudaram a cara de vários segmentos.
Segundo o Valor Econômico (2023) os cinco grandes bancos do Bra-
sil, um os países com maior concentração bancária no mundo, estão
perdendo participação no mercado, principalmente para as Fintechs.
Nesse cenário, as grandes empresas já consolidadas no mercado pre-
cisam investir em seus líderes e equipes para retê-los e para que eles
mantenham sempre a excelência e a alta performance.
As competências para inovação e liderança no Brasil são tão relevan-
tes que a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econô-
mico, OCDE, (2019) elaborou um artigo no qual revisa as competên-
cias de inovação e liderança na alta administração pública no Brasil.
Todavia, devido à complexidade e qualificação dos gestores do serviço
público brasileiro, podemos expandir essas competências para a esfera
privada também. Áreas essenciais como Interação, Fluência em Dados,
Foco no Usuário, Curiosidade, Capacidade Narrativa e Insurgência são
essenciais para qualquer líder, colaborador ou até mesmo para equipes.
O objetivo deste artigo é auxiliar no entendimento da expectativa
do mercado financeiro com relação ao desempenho dos líderes e de
suas equipes de alto desempenho. Além de responder como podemos
alinhar a construção de KPIs (key performance indicators) para obter
o máximo de desempenho das equipes, com aderência a política ESG,
tendo ênfase no clima organizacional.

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Esses KPIs são úteis para que a organização bancária tenha clareza
que seus profissionais estão aptos a exercer a função na Rede Bancária
de Varejo e que também desenvolvam as competências negociais, téc-
nicas, comportamentais e emocionais para assumir os próximos cargos
dentro da escala de liderança no organograma institucional.
Este trabalho espera colaborar para que unidades bancárias de Vare-
jo: melhorem sua classificação no Ranking BACEN em virtude da qua-
lificação de suas vendas e de seu atendimento; melhorem o processo
de seleção das pessoas nos cargos de liderança; diminuam o índice de
carreiras interrompidas e aumentem a retenção de talentos; aumentem
o seu SGR- saldo gerador de receitas de forma sustentável; diminuam
seus índices de inadimplência; aumentem a receita com produtos fi-
nanceiros e de seguridade; melhorem o clima organizacional trazendo
leveza nas interações.
Este artigo está estruturado nas seguintes seções: a primeira consiste
nesta introdução que contextualiza o tema proposto, seguida de um
overview da literatura sobre o tema, proposta de construção dos indi-
cadores de desempenhos e considerações finais.

2. OVERVIEW SOBRE EQUIPES DE ALTA PERFORMANCE


2.1. LÍDERES
O atual cenário de competividade corporativa, segundo Conger &
Fulmer (2003) impõe que as corporações promovam, cultivem e in-
centivem talentos internos vis-à-vis ao desenvolvimento de novos lí-
deres, sendo isso um fator chave no fluxo contínuo de novos gestores
para sustentação de longo prazo das organizações.
Kofman (2018) diz que os verdadeiros líderes não levam as pessoas,
só estão mais perto da missão. As equipes sempre devem estar em
busca da missão e não de seus líderes. Para isso, as empresas devem
ter missões claras e com significado. Problemas difíceis como descom-
prometimento, desorganização, desinformação e desilusão devem ser
inspirados por uma missão, e não por um líder.
No entendimento de Charam (2018), estamos em um momento em
que a demanda por líderes em muito excede a oferta desses profissio-
nais, sendo que este cenário é imposto pelas rápidas mudanças decor-
rentes da era digital. Segundo Brandon Hall Group (2018), 71% das

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empresas confessam que seus líderes não estão prontos para tomar a
frente da organização no futuro.
Brown (2019) relata sobre uma pesquisa em que os líderes disseram
como ensinam habilidade de risco e resiliência para suas equipes. Ela
nos diz que o fracasso deve ser enfrentado como uma oportunidade de
aprendizado e que devemos ensinar a todos que as quedas vão aconte-
cer ao longo do trajeto.
Rath (2019) afirma que as pessoas que têm perfil para competição
devem ser colocadas em situações em que têm a condição de ganhar.
Se perderem repetidas vezes, podem ficar desmotivadas e não querer
mais jogar o “jogo”. O líder deve observar essa vertente.
Brown (2016) também nos afirma que diminuir a lacuna de valores
é muito importante para a evolução de uma equipe de profissionais de
alto desempenho. Devemos prestar atenção no lugar onde queremos
estar e o que nos separa desse lugar atualmente.
Os autores supracitados sintetizam que o papel do líder é de extrema
importância para qualquer organização. Eles são os maestros que con-
duzem as equipes e os colaboradores, alocando as pessoas nos melho-
res lugares para que elas possam explorar todo o seu potencial de tra-
balho e se desenvolverem. Todavia, essas organizações devem investir
também no desenvolvimento desses líderes, pois não são profissionais
encontrados com facilidade no mercado de trabalho atualmente.

2.2. COLABORADORES
A necessidade de adaptação e aceleração de mudanças nas organiza-
ções é vital para adaptação à concorrência, ao mercado, às tendências
e à inovação. Neste sentido, Kotter (2014) aponta que a formação de
uma cultura organizacional capaz de lidar com mudanças rápidas e
complexas é fator crucial para o desenvolvimento de uma cultura que
prima pelo desempenho dos colaboradores.
Kofman (2018), em Liderança e Propósito, nos relata que a Gallup
Organization realizou pesquisas de comportamento durante 30 anos,
a partir das quais foi constatado que os profissionais ativamente com-
prometidos são em torno de 30%. Os descomprometidos são em torno
de 50%. Esses profissionais têm 50% a mais de acidentes, são respon-
sáveis por defeitos na qualidade ou retrabalho. Esses números são alar-

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mantes e devem ser levados em consideração na formação das equipes
e dos profissionais.
Segundo Rath (2019), pessoas com boa adaptabilidade têm uma
natureza instintivamente flexível, o que as torna valiosa em qualquer
equipe. Quando as coisas dão errado, elas não se acomodam ou re-
cuam. Isso faz com que os outros membros da equipe sejam levados
a experimentar e aprender. O gestor deve alocá-las em atividades de
curta duração.
Rath (2019) nos mostra a importância de colaboradores com ponto
forte no Desenvolvimento. Elas veem que ninguém está totalmente for-
mado e encorajam a todos a se desenvolverem. Esse tipo de profissio-
nal é ótimo para reconhecer os colegas incentivando as equipes de alto
desempenho. Além disso, reconhecem pequenos avanços que outros
provavelmente não perceberiam. Isso faz muito bem para as equipes.
Para que os funcionários não vejam a organização como uma simples
pagadora de salários, sem algum sentido maior, a administração deve
ver os trabalhadores como indivíduos únicos e valiosos e não como
ferramentas descartáveis. É a ideia defendida por Csikszentmihalyi,
segundo Beard (2015).
Rath (2019), baseado em Don Clifton, diz que pessoas que possuem
a característica de Comando têm menos tendência a ser bajuladores
e vão responder as perguntas sem rodeios. Eles também são ótimos
quando o intuito é encerrar um projeto e começar outro.

2.3. EQUIPES
Equipes de alto desempenho devem cumprir com cronogramas e
compromissos, para isso usando muito foco. Por mais que às vezes
elas não sejam atentas aos colegas em volta, toda equipe precisa de
colaboradores com foco. Clifton expressa isso de uma forma muito
evidente na obra de Rath (2019).
Em um ambiente em constante mudança por questões tecnológicas
e digitais, a capacidade de promoção e de se antecipar às mudanças é
fundamental para que as organizações sobrevivam visando um desen-
volvimento sustentável, pautada na capacidade de desempenho pleno
de suas equipes. Esta visão é entendida por Schwab (2016) e Schwab
e Davis (2018).

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Kofman (2018) nos diz que controlar o próprio ego e incentivar os
colaboradores a fazerem o mesmo é muito importante também para
equipes de alto desempenho. Ideias sempre vão surgir e devemos in-
centivar as pessoas a explorarem essas ideias e não se sentirem amea-
çadas por elas. Pessoas ameaçadas tendem a derrubar as outras com
críticas brilhantes, mas que não incentivam a inovação.
A definição de uma chamada causa justa atraente, segundo Sinek
(2020), faz com que as pessoas se disponham a fazer sacrifícios para
ajudar a alcançá-la. Uma causa justa é uma visão específica do futuro.
Não podemos confundir a causa justa com um porquê. O porquê vem
do passado, a causa justa nos leva para o futuro. Define para onde
estamos indo.
Em muitos times de Alta Performance temos profissionais que são
muito ligados à excelência das atividades. Segundo Rath (2019), esses
profissionais sempre focam na parte positiva das coisas e pessoas, fi-
cando frustrados quando o foco negativo se sobressai ou quando sen-
tem que não há como melhorar um resultado ou atividade.
Em equipes de alto desempenho, o líder deve se preocupar com toda
a equipe. Segundo Oliveira e Penna (2021), ter um time em que só
metade acredita na missão é altamente tóxico. O líder deve democra-
tizar esse sentimento. Mesmo sabendo a dificuldade de engajar todo
o time, uma equipe dividida irá minar o desempenho individual dos
colaboradores.
Fernandes (2015) nos alerta que às vezes queremos tanto um mode-
lo a seguir que podemos cometer o equívoco de não percebermos que
a realidade à nossa frente exige uma solução mais personalizada. Ele
credita que o máximo que pode determinar são quatro pilares: Acredi-
tar, Práticar, Melhorar e Compartilhar. Segundo ele, umas das poucas
coisas inegociáveis em uma gestão de equipe é o bem-estar das pes-
soas. Pessoas felizes produzem mais e melhor.
Equipes de alto desempenho e de confiança aprendem a demonstrar
seus sentimentos. As equipes de confiança deixam seus colaboradores
seguros a demonstrar suas vulnerabilidades, segundo Brown (2016).
Pessoas com perfil de conexão servem muito para integrar equipes.
Constroem pontes entre diferentes grupos da organização quando per-
cebem que uma área depende da outra, segundo Rath (2019).

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2.4. GESTÃO DE PESSOAS EM PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO
Drucker (1962) diz que o planejamento não é sobre as decisões fu-
turas, mas sim sobre como as decisões atuais impactam o futuro. Ele
também diz que o objetivo da estratégia é permitir que a organização
alcance os resultados desejados em um ambiente imprevisível, mesmo
sabendo que os riscos não podem ser evitados.
O planejamento estratégico tem papel importante dentro do proces-
so de tomada de decisão. Ele atua na determinação e execução a fim
de direcionar para um fim comum sempre com norte na visão e na
missão da organização. Todavia, toda estratégia termina sobre a lâmina
de uma faca: para cada vantagem associada, como acima, podemos
associar uma desvantagem. Isso na visão de Mintzberg (1998).
Para analisar os indicadores de desempenho e ter uma visão mais
assertiva dos objetivos de missão e visão das empresas, principalmente
no setor bancário, podemos utilizar o método Balanced Scorecard – BSC
criado pelos professores Robert Kaplan e David Norton, da Universida-
de de Harvard (EUA), em 1992.
Tavares (2005) considera o BSC uma contribuição bastante inovado-
ra em relação aos objetivos empresariais e sua mensuração, pois com-
bina medidas financeiras com medidas não financeiras. A gestão de
pessoas é relevante para o Planejamento estratégico de qualquer banco
de varejo, mas muitas vezes há dificuldade em mensurar essa gestão
usando apenas critérios financeiros.
Saheli (2002) constata que grandes empresas como Suzano, Petro-
brás, Hospital Albert Einstein e Siemens já implantaram o BSC no iní-
cio desse século.
Kaplan e Norton (2001 e 2004) mencionam que empresas que têm
estratégias de relacionamento com os clientes e competências essen-
ciais muitas vezes adotam apenas medidas financeiras, o que é muito
limitante. O uso de indicadores não financeiros visa eliminar ou re-
duzir essas limitações. Segundo os autores, esse conjunto de medidas
pode ser apresentado em quatro pilares ou perspectivas: financeira,
clientes externos, processos internos, aprendizado e crescimento.
Normalmente, quando ele é construído, a primeira perspectiva é a do
aprendizado, o que nos mostra como o capital humano é o ponto de
partida dentro de qualquer organização.

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Tavares (2005) ainda nos explica sobre as dimensões da Gestão Es-
tratégica, que contempla as dimensões de: abrangência e conteúdo,
implementação e organização para o planejamento. Podemos explicar
a abrangência e conteúdo como a amplitude da abordagem e os ele-
mentos que vão compor cada uma das etapas do planejamento estraté-
gico como, por exemplo, missão e visão. A implementação envolve o
cumprimento das etapas previstas: avaliação e controle do processo. A
organização para o planejamento se refere à criação de mecanismos de
apoio e a identificação de interferência, relações de poder ou qualquer
outra coisa que possa atrapalhar o sucesso do plano estratégico.

3. PROPOSTAS DE KPIS PARA PE NA DIMENSÃO DE


PESSOAS NO SETOR BANCÁRIO BRASILEIRO
Com base e apoio do BSC, proponho a criação de KPIs para a dimen-
são de pessoas (aprendizado e crescimento) no setor bancário Brasilei-
ro, com foco em agencias de Varejo, ou seja, clientes de Pessoa Física
com aplicações inferiores a 3 Milhões de reais e clientes de Pessoa Ju-
rídica com faturamento anual inferior a 30 milhões de reais. Contudo,
os KPIs propostos irão contemplar também, direta ou indiretamente, as
dimensões financeira, clientes externos e processos internos.
Dentre as estratégias e instrumentos relacionados a Gestão e Lide-
rança, esta pesquisa visa considerar os itens: (I) Concessão de Crédito,
Adimplência, Crescimento das Carteiras prospecção de novos negócios
e clientes; (II) Número de Atendimentos, Avaliação dos Atendimen-
tos e métodos qualitativos na mensuração da percepção dos clientes;
(III) Treinamentos voltados para qualificação técnica e emocional dos
colaboradores; e (IV) Vendas de forma competitiva e qualificada, sem
deixar a ética em segundo plano.

3.1. INDICADOR – METODOLOGIA DE


CONSTRUÇÃO E PERIODICIDADE
A metodologia para criação dos KPIs vai considerar, além dos itens
citados anteriormente, as metodologias BSC e SMART.
A metodologia SMART foi criada em 1981 pelo consultor
norte-americano George T. Doran, que publicou um artigo na revista
Management Review intitulado There’s a S.M.A.R.T. A sigla significa: Spe-

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cific (específico). Measurable (mensurável); Achievable (alcançável);
Realistic (realista); Time based (temporal).
Com respaldo na prática das principais instituições bancárias de va-
rejo do país, propomos que a periodicidade de aplicação dos KPIs seja
semestral e da seguinte forma:
1. Cálculo do valor bruto de crédito comercial que determinado ge-
rente concedeu nesse período. Analisando o percentual de adim-
plência da sua carteira, a variação no Saldo Geral dessa certeira e
qual percentual da Carteira é de clientes novos.
2. Quantos atendimentos o gerente fez no período. Esses atendimen-
tos podem ser via telefone, WhatsApp ou presencial interna ou ex-
ternamente. Como há formas de se registrar todas essas interações
e as grandes instituições têm meios de avaliar esse atendimento,
como por exemplo o método NPS- Net Promoter Score, podemos
medir a percepção dos clientes sobre o atendimento do gerente.
3. Mensurar quantas horas o gerente dedicou no semestre a sua qua-
lificação técnica e emocional para o exercício da função. Todas as
grandes instituições possuem universidades próprias.
4. Analisar semestralmente o percentual de vendas canceladas do
gerente, bem como o percentual dos clientes que renovaram os
produtos vendidos por esse gerente em períodos anteriores. Além
disso, podemos cruzar com as ouvidorias abertas por clientes so-
bre as vendas efetuadas por esse gerente no período.

3.2. RESULTADOS DE ALINHAMENTO DA


EQUIPE COM CADA INDICADOR
A proposta é que semestralmente os colaboradores recebam fee-
dbacks sobre os indicadores propostos, de modo a despertar o senti-
mento de pertencimento e coletividade; criar um ambiente de trabalho
agradável, colaborativo e produtivo; promover o equilíbrio entre vida
pessoal e profissional; proporcionar maior satisfação e felicidade.
Além disso, com profissionais da rede de varejo mais capacitados,
com segurança psicológica para mensurar seu desempenho e com
consciência do que a empresa espera deles, se fortalecerá o relaciona-
mento com seus clientes. Essa pesquisa ajudará a rede de varejo dos
bancos a melhorar e ampliar a carteira de crédito e o atendimento,
bem como as vendas, rentabilizando ainda mais os negócios.

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Podemos citar também que o fortalecimento da governança resulta
em melhora da reputação e imagem das empresas, além de promover
a eficiência operacional ao estabelecer processos e controles internos
eficazes. Isso inclui a definição de responsabilidades claras, a imple-
mentação de políticas e procedimentos bem estruturados e a adoção de
tecnologias adequadas para a gestão dos negócios. Com a criação des-
ses indicadores para avaliar os líderes e sucessores dentro das empre-
sas, poderemos fortalecer a governança e eficiência operacional, pois
os líderes e sucessores dentro das redes de varejo terão mais clareza de
suas responsabilidades e de como evoluir dentro do Pipeline de Lide-
rança das instituições.

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Charam (2018) nos elucida que, para identificar os profissionais que
estão trabalhando em níveis inadequados e não desenvolvendo total-
mente seu potencial, devemos qualificar os gestores para perceberem
essa distorção. Porém, há um grande desafio, por dois motivos: primei-
ro que na maioria das organizações não há definições claras sobre os
papéis dos colaboradores e das lideranças. Segundo que a maioria das
empresas não cria padrões diferenciados por níveis de liderança. Em
alguns casos os índices financeiros são os únicos padrões de desem-
penho. A elaboração dos KPIs se faz muito importante nesse contexto.
Depois que os KPIs são elaborados, o primeiro passo é ter em mãos
duas informações necessárias: o resultado encontrado pelo KPI e o que
esse dado representa para a empresa. Afinal, dependendo do cenário
e das expectativas estipuladas, um KPI pode ser positivo ou negativo
mesmo apresentando o mesmo valor.
Entendo que criar e monitorar os KPIs é uma forma de desenvolver
ferramentas importantes para conhecer a empresa e seus colaborado-
res. Os profissionais que obtiverem bons índices nos indicadores pro-
postos merecem ser valorizados em promoções ou até mesmo com
incentivos financeiros.
Após entender o que esse KPI significa para o seu negócio ou unida-
de e o que ele mostra para sua gestão, é hora de agir. Deve-se interferir
na montagem das equipes, sucessão dos líderes ou, em último caso,
em uma recolocação de um colaborador. Agindo com critério, clareza
e uma análise de dados correta e coerente com os planos estratégicos

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os gestores conseguirão montar, manter e fortalecer equipes de alto
desempenho dentro das unidades bancárias de varejo no Brasil.

REFERÊNCIAS
Ativos alternativos – a nova resposta do mercado financeiro. (2023).
https://valor.globo.com/financas/coluna/ativos-alternativos-
a-nova-resposta-do-mercado-financeiro.ghtml
Beard, K. S. (2015). Theoretically speaking: An interview with Mihaly Csikszentmihalyi
on flow theory development and its usefulness in addressing contemporary
challenges in education. Educational Psychology Review, 27(2), 353-364.
Brown, B. (2016). A coragem de ser imperfeito. Nascente.
Brown, B. (2019). A coragem para liderar. Editora Best Seller.
Charan, Ram; Drotter, Stephen; Noel, James. (2018). The
Leadership Pipeline. Hoboken, NJ: Jossey-Bass.
Conger, J. A., & Fulmer, R. M. (2003). Developing your
leadership pipeline. Harvard business review.
Drucker, P. F. Prática de administração de empresas. Fundo de cultura, 1962.
Fernandes, M. (2015). Felicidade dá lucro: Lições de um dos líderes
empresariais mais admirados do Brasil. Portfolio-Penguin.
Kofman, F. (2018). Liderança e propósito: O novo líder e o real
significado do sucesso. Harper Collins Brasil.
Kotter, J. P. (2014). Kotter on accelerating change (2
books). Harvard Business Review Press.
Mintzberg, H.; Ahlstrand, B.; Lampel, J. Safari de estratégia: um
roteiro pela selva do planejamento estratégico. Bookman.
OCDE (2019). Revisão de Competencias em Inovação e
Liderança no Serviço Civil Senior do Brasil.
Oliveira, Cauê. Penna, Gustavo (2021). Great Leader to work. Primavera Editorial.
Rath, Tom (2019). Descubra seus pontos fortes 2.0. Sextante.
Saheli, S. (2002). Balanced Scorecard: o exemplo da Suzano.
In Anais do Congresso Brasileiro de Custos-ABC.
Schwab, K. (2016). A quarta revolução industrial. Edipro.
Schwab, K., & Davis, N. (2018). Aplicando a quarta revolução industrial. Edipro.
Sinek, S. (2020). O jogo infinito. Sextante.
PLANEJAR PARA CRESCER:

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1. INTRODUÇÃO
O Brasil destaca-se por ser um país com muitos empreendedores. O
Empreendedorismo é a capacidade que uma pessoa possui de identifi-
car problemas e oportunidades, desenvolver soluções e investir recur-
sos na criação de algo positivo para a sociedade (Sebrae, 2021).
Esses empreendedores consequentemente se tornam também empre-
sários, a partir do momento em que ocorre a formalização do negócio,
bem como o nascimento da Pessoa Jurídica. Essa formalização é o pro-
cedimento que dá vida à empresa, ou seja, é o registro empresarial que
consiste na regularização da situação da pessoa que exerce atividade
econômica frente aos órgãos do Governo, como Junta Comercial, Re-
ceita Federal, Prefeitura e órgãos responsáveis por eventuais licencia-
mentos, quando necessários (Portal GOV, 2023).
O Global Entrepreneurship Monitor (GEM), é um projeto de pesquisa
que consiste em entender, de forma mais profunda, o papel do em-
preendedorismo no desenvolvimento econômico e social no mundo
(DataSebrae, 2022-2023). Trata-se da principal pesquisa sobre em-
preendedorismo no mundo, que apresenta a evolução do empreende-
dorismo em dezenas de países (DataSebrae, 2022).

20 Mestranda em Ciências Contábeis e Administração, Fucape Business School. ste-


fanedossantos.ss@gmail.com

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O GEM foi lançado em 1999 por iniciativa de duas instituições acadê-
micas de renome mundial, a London Business School e a Babson College,
e vem sendo realizado todos os anos ininterruptamente, envolvendo
mais de 100 países (DataSebrae, 2022).
Desde o ano 2000, apoiada pelo SEBRAE – Serviço Brasileiro de
Apoio às Micro e Pequenas Empresas, a pesquisa é realizada no Brasil.
No ciclo de 2022, a pesquisa passou a ser conduzida pela Associação
Nacional de Estudos e Pesquisas em Empreendedorismo (Anegepe),
ainda mantendo a parceria com o Sebrae (GEM, 2022).
O trabalho do GEM permite identificar os fatores críticos que contri-
buem ou inibem a iniciativa empreendedora em cada país. O estudo
mostra também as motivações para empreender, assim como a partici-
pação das mulheres, dos negros e dos jovens (DataSebrae, 2022).
Visando identificar a relação entre empreendedor e empresário, é in-
teressante destacar que, para o GEM, o empreendedorismo é avaliado
em um sentido amplo, pois podem ser alcançados empreendedores dos
mais variados matizes, com negócios formalizados ou não. No concei-
to estabelecido pelo GEM, o empreendedorismo é qualquer tentativa de
criação de um novo empreendimento (formal ou informal), seja uma
atividade autônoma e individual, uma nova empresa ou a expansão de
um empreendimento existente (GEM, 2022).
Além disso, o GEM (2022) destaca que a atividade empreendedora se
inicia antes mesmo da criação do negócio. Partindo dessa premissa, é
notória a importância do empreendedorismo para o país, pois da ideia
empreendedora surgirá o negócio, a partir do qual há possibilidade
que seja formalizado, ou seja, resultará em mais uma empresa regis-
trada e que passará a contribuir efetivamente para a economia do país.
Com base nas informações do empreendedorismo no Brasil e tendo
em vista o número crescente de novas empresas formalizadas no país,
esse artigo tem o objetivo de analisar a importância do empreendedor,
visto que da ideia de um empreendimento, de um negócio, virá a for-
malização da empresa.
Além da importância do empreendedor, o artigo visa apresentar ar-
gumentos que indicam que a educação empresarial é crucial nesse
processo, pois a partir da formalização, ou agregadas a ela, vêm as
responsabilidades e obrigações da Pessoa Jurídica. Surge a ideia em-
preendedora, surge um negócio dessa ideia, há a formalização da em-
presa, mas ela precisa continuar, e não ser encerrada em poucos anos

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de atividade. Ou seja, o desafio do empreendedor é fazer o negócio
“dar certo”.
A metodologia utilizada é a pesquisa bibliográfica, do tipo descritiva
exploratória, para conceituar os temas em questão, utilizando também
um viés mais analítico, visto que serão analisados dados reais das fon-
tes do Governo Federal, bem como do Portal GOV.

2. EMPREENDEDORES NO BRASIL
De acordo com o relatório global da pesquisa GEM (2023), através do
indicador NECI – National Entrepreneurial Context Index, o Brasil ocupa
no ranking o 48º lugar em se tratando dos 51 melhores países para se
empreender. Na figura abaixo, podemos observar o ranking geral dos
países, contido no relatório 2022/2023, Global Report Adapting to a
“New Normal”:

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Figura 1: National Entrepreneurial Context Index (NECI) 2022

United Arab Emirates 7.2


Saudi Arabia 6.3
Taiwan 6.2
lndia 6.1
Netherlands 5.9
Lithuania 5.8
Indonesia 5.8
Switzerlan 5.8
Republic of Korea 5.7
Qatar 5.7
China 5.6
IsraeI 5.5
Latvia 5.5
Norway 5.2
United States 5.2
Canada 5.1
Germany 5.1
France 5.1
Sweden 5.0
Luxembourg 5.0
Japan 5.0
Austria 4.8
Slovenia 4.8
Hungary 4.7
United Kingdom 4.7
Greece 4.6
Serbia 4.6
Colombia 4.5
Chile 4.5
Uruguay 4.5
Slovak Republic 4.4
Egypt 4.3
Cyprus 4.3
Panama 4.3
Morocco 4.3
Romania 4.2
ltaly 4.2
Oman 4.2
Croatia 4.1
South Africa 4.1
Spain 4.0
Puerto Rico 3.8
Guatemala 3.8
Mexico 3.8
Poland 3.8
Argentina 3.7
Tunisia 3.7
Brazil 3.6
Togo 3.6
Iran 3.6
Venezuela 3.2
0 1 2 3 4 5 6 7
Fonte: GEM (Global Entrepreneurship Monitor) (2023) [Adaptação]

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A última pesquisa do GEM com base no ano de 2022 trouxe muitas
informações interessantes quanto ao perfil empreendedor no Brasil,
onde foram entrevistados 2.000 indivíduos da população adulta e 52
especialistas.
No que se refere a não empreendedores, mas que gostariam de ter
um negócio próprio em até três anos, o número é de 51 milhões de
empreendedores em potencial, com faixa etária entre 18 e 64 anos
(DataSebrae, 2022).
A pesquisa também demonstrou que 42 milhões é o número de pes-
soas adultas, nessa faixa etária entre 18 e 64 anos, que já tinham um
negócio formal ou informal e/ou que, já em 2021, fizeram alguma ação
visando a criação de um negócio (DataSebrae, 2022).
Um dado interessante, também evidenciado na pesquisa, foi que as
pessoas entrevistadas, quando perguntadas quanto ao maior sonho,
em 2º lugar, o resultado é “ter o próprio negócio” (60%), ficando atrás
apenas de “viajar pelo Brasil” (61%):

Figura 2: Os sonhos dos brasileiros em 2021


e 2022 (% da população adulta)

Fonte: DataSebrae (2022)

Na figura abaixo, vemos que a taxa de potenciais empreendedores,


ou seja, o % da população adulta não empreendedora, mas que deseja
ser em até três anos, em 2017 era de 15,3%, chegando em 53% em
2021 e se mantendo em 53% em 2022:

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Figura 3: Evolução do Empreendedorismo POTENCIAL (em até três anos)

Taxa (% da pop. Adulta não


60 empreendedora) de empreendedores 52,7 53,0 53,0
potenciais (2017—2022)
50

40
30,2
30 26,0

20 15,3

10

0
2017 2018 2019 2020 2021 2022

Fonte: DataSebrae (2022)

De acordo com o DataSebrae (2022), a taxa de 53% de potenciais


empreendedores, sendo recorde nos anos de 2021 e 2022, é também a
segunda maior taxa de “potenciais empreendedores” entre os 49 países
participantes da pesquisa em 2022.
As análises do DataSebrae do ano de 2022 mostram que o perfil do
brasileiro é empreendedor. Dentre os que sonham ter o próprio negó-
cio e os que tem esse sonho em até três anos, o % é relevante e só tem
aumentado nos últimos anos.
Zen e Fracasso (2008) identificam que o empreendedor se refere a
um termo dinâmico e multifacetado, que sofre influência por revolu-
ções tecnológicas e sociais, e que sua ação está fortemente relacionada
ao contexto social e tecnológico, em que está inserido.
Para Leite e Melo (2008), o estudo no âmbito da literatura acadê-
mica vê o empreendedorismo como um tipo de ação econômica e o
empreendedor como um ator social a quem corresponde um tipo de
prática ligada à liderança e à inovação, além da criação e crescimento
de empresas. Leite e Melo (2008) também destacam que, no âmbito da
literatura não acadêmica, vê-se o empreendedorismo como um con-
junto de princípios ideais de bom comportamento.
Zen e Fracasso (2008) relatam que a partir de meados da década de
1990 houve ampliação sobre o tema no debate da academia brasileira,
além de um crescimento da literatura gerencialista para apoio ao de-
senvolvimento de novos negócios.

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No contexto empreendedor brasileiro, Rodrigues (2021) destaca que
o povo brasileiro é empreendedor, ora pelas oportunidades de negó-
cios, necessidades identificadas ou mesmo pela falta de emprego, o
que leva o brasileiro a criar meios que gerem renda para seu sustento.
É daí que podem surgir ideias de negócios brilhantes, ou ideias que
apresentam risco elevado de falir.

3. DADOS DAS EMPRESAS NO BRASIL


Para acesso às informações das empresas do Brasil, a base de aces-
so foi o Portal GOV.BR do Governo Federal. Esse Portal trata-se de
um projeto de unificação dos canais digitais do Governo Federal, que
mostra como deve se dar a relação do cidadão com o Estado: simples e
focada nas necessidades do usuário de serviços públicos. Ele disponi-
biliza serviços para o cidadão e informações sobre a atuação de todas
as áreas do governo (Portal GOV, 2023).
O Portal informa que a integração dos sites do Governo o torna a
entrada única para as páginas institucionais da administração federal,
oferecendo ao cidadão um canal direto e rápido de relacionamento
com os órgãos federais, totalizando 624 domínios consolidados (Por-
tal GOV, 2023).
O Mapa das Empresas é uma dessas ferramentas disponibilizada pelo
Governo Federal que fornece indicadores relativos ao quantitativo de
empresas registradas no país e ao tempo médio necessário para sua
abertura (Portal GOV, 2023).

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Figura 4: O processo de abertura de empresas no país

Fonte: PORTAL GOV (2023)

Analisando as informações disponibilizadas no Portal, no 1º quadri-


mestre de 2023, foram abertas no Brasil 1.331.940 empresas, ao pas-
so que foram fechadas 736.977 empresas, no mesmo período. Nesse
período, o total de empresas ativas era de 21.020.285, considerando
matrizes, filiais e microempreendedores individuais. O mapa ainda
destaca que 93,7% das empresas são microempresas ou empresas de
pequeno porte, ou seja, com faturamento anual de até 4,8 milhões.
(Portal GOV, 2023).
Analisando esse número de empresas ativas do 1º quadrimestre de
2023, na figura abaixo, pode-se identificar a distribuição por ramo de
atividade, em que a maior concentração é na Prestação de Serviços,
aproximadamente 50%, seguida da atividade de Comércio em 2º e In-
dústria de Transformação em 3º lugar:

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Figura 5: Distribuição de empresas ativas no 1º quadrimestre de 2023

Fonte: PORTAL GOV (2023)

Nesse montante de empresas ativas e abertas, demonstrada pelo


Mapa das Empresas no 1º quadrimestre, destaca-se que a maior repre-
sentatividade em termos de natureza jurídica é do Empresário Indivi-
dual, incluindo o Microempreendedor Individual – MEI, em que a re-
presentatividade no quesito empresas ativas é de 69,07% e no quesito
de empresas abertas no 1º quadrimestre, é de 80,37%:

Figura 6: Distribuição tipos de empresas ativas


e abertas no 1º quadrimestre de 2023

Empresas Ativas % Empresas abertas “%


Tipo
até 12 quadrimestre Representatividade no 12 quadrimestre Representatividade
Empresário
Individual (incluindo
14.519.408 69,07% 1.070.506 80,37%
Microempreendedor
Individual - MEI)
Sociedade
6.201.958 29,50% 255.411 19,18%
Empresária Limitada
Sociedade Anônima 187.408 0,89% 3.539 0,27%
Cooperativa 36.900 0,18% 809 0,06%
Demaistipos de
74.611 0,35% 1.675 0,13%
empresas
Total 21.020.285 100% 1.331.940 100%

Fonte: Elaboração: Autor, com dados PORTAL GOV (2023).

Com base no relatório do Mapa das Empresas, é importante des-


tacar a relevância em termos quantitativos da representatividade do
Microempreendedor Individual – MEI, dentro das empresas ativas e

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abertas no 1º quadrimestre de 2023. No relatório consta que o MEI é
responsável por 57,9% dos negócios ativos no país e representa 76,8%
das empresas abertas no 1º quadrimestre de 2023 (Portal GOV, 2023).
Houve a abertura de 1.022.760 MEIs no 1º quadrimestre de 2023, so-
mando atualmente 12.171.422 MEIs ativos no país (Portal GOV, 2023).

Figura 7: Movimento de abertura de empresários individuais no


primeiro quadrimestre de 2023. Fonte: PORTAL GOV (2023)

Empresas Empresas Variação em relação Variação em relação


ativas abertas ao 3º quad. de 2022 ao 1º quad. de 2022
Empresário Individual 14.519.408 1.070.506 25,4% – 3,1%
Microempreendedor Individual 12.171.422 1.022.760 26,2% – 2,3%
Demais Empresários
2.347.986 47.746 10,2% – 17,5%
Individuais

Com base nas informações do PORTAL GOV, observa-se que a repre-


sentatividade do MEI é expressiva quando comparada com os demais
tipos de empresas. Como o número é expressivo, destaca-se como
um planejamento seria importante para o crescimento desses MEIs,
tendo em vista as dificuldades e desafios que toda empresa enfrenta
para crescer.
Apenas para comparar, visto que o número de MEIs é expressivo, no
relatório do SEBRAE de 2021 “Sobrevivência das Empresas”, quando
analisadas as taxas de mortalidade das empresas, em destaque empre-
sas MEI, os dados indicam que 29% das empresas fecham após cinco
anos de atividade:

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Figura 8: Sobrevivência das Empresas (2020).

Fonte: DataSebrae (2021)

É importante destacar que o volume de abertura das empresas MEI


é expressivo, e ao mesmo tempo, o percentual de empresas MEI que
fecham num curto período também é relevante. Logo, esse número
chama a atenção, levando a pensar sobre o que faz essas empresas fica-
rem abertas por um curto espaço de tempo.

4. EDUCAÇÃO EMPRESARIAL COMO DIFERENCIAL


Silva e Sanches (2019) mencionam que a busca por oportunidades e
como melhor aproveitá-las move o empreendedorismo e que os riscos
fazem parte do processo.
Para Pombo (2019), ter o próprio negócio ou ser o próprio patrão
implica em estar exposto a constantes mudanças, assumir responsabili-
dades e sofrer pressões da sociedade, dos órgãos governamentais e dos
empregados. Mas, além desses desafios, fazer o negócio “dar certo”, ou
seja, fazer a gestão empresarial do negócio é um dos maiores desafios.
Rodrigues (2021) destaca a importância do conhecimento do negó-
cio, esse conhecimento sendo utilizado para aplicar corretamente os
custos inerentes à operação e mensurar todas as despesas e receitas
envolvidas, para driblar problemas como a falta de capital e lucros.
Além disso, Rodrigues (2021) destaca que todo empreendedor, ao
abrir uma empresa, deveria obter informações a respeito dos proce-

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dimentos e cuidados que devem ser tomados para que empresa tenha
continuidade, o que, na realidade brasileira, está distante do ideal.
Para Rodrigues (2021), esses procedimentos e cuidados não são to-
mados, pois as pessoas se veem empreendedoras e partem para gerir
um negócio sem muita orientação e sem maiores detalhes e informa-
ções, o que é crucial para que que a empresa não tenha sua morte com
tão pouco tempo de existência.
Citando novamente a pesquisa GEM (2022), conforme demonstra
no quadro abaixo, temos as recomendações dos 52 especialistas entre-
vistados, quanto às áreas de intervenção para melhoria das condições
para empreender no país. As políticas governamentais aparecem em 1º
lugar, seguidas pelas demais, voltadas em sua maioria para a educação
empresarial do empreendedor:

Figura 9: Recomendações dos especialistas: áreas de


intervenção para melhoria das condições para empreender
no país - Brasil - 2022. Fonte: GEM (2022)

Condições em que se enquadram as recomendações Percentual dos especialistas (%)


Politicas governamentais 28,6
Apoio financeiro 18,4
Educação e capacitação 10,2
Capacidade empreendedora 10,2
Infraestrutura comercial e profissional 8,2
Programas governamentais 4,1
Normasculturais e sociais 4,1
Pesquisa e desenvotvimento 4,1
Contexto político, institucional e social 4,1
Informações 4,1
Acesso àinfraestrutura física 2,0
Custos do trabalho, acesso e regulamentação 2,0

Segundo Silva (2019), quando o empreendedor leigo decide abrir


sua empresa, ele enfrenta diversas barreiras, ora por falta de experiên-
cia ou mesmo educação ou conhecimento, no sentido empresarial e
financeiro, podendo assim levar anos, que não seriam necessários, para
que a empresa se torne estável.
Em consulta ao Mapa das Empresas (2022), em relação à nature-
za jurídica de empresário individual, a inscrição como MEI tem um
processo simplificado para abertura de empresas e regime especial de

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tributação, logo, essa tem sido a opção para muitos empreendedores
ao formalizarem seus negócios.
O relatório ainda destaca que, além das facilidades para formalizar
o negócio e enquadramento tributário simplificado, o microempreen-
dedor individual dispõe de medidas simplificadas de acesso a crédito
(Portal GOV, 2023).
Mesmo que para o MEI o processo seja simplificado, como eviden-
ciado no Portal GOV, Silva e Sanches (2019) fazem algumas considera-
ções relevantes, visto que, por mais que esses empresários tenham uma
ideia clara sobre algo inovador, infelizmente faltam conhecimentos bá-
sicos sobre como lidar com elementos indispensáveis de um negócio,
como por exemplo as finanças, o marketing, a logística, os encargos
trabalhistas e tributários e até mesmo as vendas. De acordo com Silva
e Sanches (2019), se estas lacunas não forem definidamente sanadas,
por melhor que uma ideia seja, o negócio estará fadado ao fracasso.
De acordo com a análise de Rodrigues (2021), pesquisas do SEBRAE e
IBGE retratam que a contabilidade pode ser uma ferramenta que auxi-
lia na continuidade de micro e pequenas empresas no Brasil. Rodrigues
(2021) ainda reforça que essas empresas precisam de mais informa-
ções e ajuda técnica, visto que a ausência de gestão contábil impacta
a capacidade competitiva, pela dificuldade de mensurar custos e des-
pesas, sem saber se a empresa é rentável, o que prejudica a tomada
de decisões.

5. CONCLUSÃO
O empreendedorismo é uma marca do povo brasileiro. As análises
feitas no decorrer do artigo indicam o crescimento da formalização
dos negócios, negócios esses que um dia foram ideias de empreende-
dores. Ao se formalizarem, as empresas passam a ter responsabilida-
des, precisam de uma boa gestão, para cumprir com o seu objetivo de
gerar lucro.
Essa boa gestão depende da educação empresarial desse empreende-
dor, que também é um empresário. Essa gestão definirá a continuida-
de da organização no futuro e certamente, evitará que essas empresas
“morram” num curto espaço de tempo.
Conforme analisado com base nas informações do GEM, SEBRAE,
Portal GOV, os dados indicam o perfil de empreendedorismo do brasi-

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leiro. A abertura das empresas MEI se destaca, uma vez que o processo
é facilitado, conforme incentivo do Governo Federal.
Esses empreendedores, ao formalizarem seus negócios, passam a en-
carar responsabilidades como Pessoa Jurídica, mas, muitas das vezes,
podem não estar totalmente preparados para cumprir com todos os
quesitos pertinentes a essa formalização.
Os pequenos negócios que vêm se formalizando gradativamente po-
derão ser as grandes empresas no futuro. Isso se relaciona com a forma
com que o negócio cresce, com a educação empresarial que esse em-
preendedor que se torna empresário possui ou busca adquirir, tendo
em vista a importância da gestão.
Planejar para crescer é um item de suma importância, pois, quanto
mais o empreendedor se capacita, ganha experiencia e expertise, mais
seu negócio se desenvolve. Quando ele busca ajuda, capacitação, con-
sultoria, vai se estruturando ao longo do tempo.
Este artigo teve como objetivo contribuir com as pesquisas existen-
tes, evidenciando a importância do empreendedorismo no Brasil, do
crescimento das organizações, destacando as Microempresas, além de
indicar a educação empresarial como diferencial na gestão dos negó-
cios e para a continuidade deles.

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Pombo, A. A. R. O que é ser empreendedor. SEBRAE, Temas de Gestão, 23/01/2019.
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e são as vantagens de ser formal? Disponível em: O que é a formalização,
onde e como posso realizá-la e são as vantagens de ser formal? —
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repositorio.aee.edu.br/jspui/handle/aee/8355>. Acesso em: 19/08/2023.

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INTRODUÇÃO
No cenário complexo das organizações que compõem o terceiro se-
tor, a busca pela sustentabilidade financeira e operacional é uma cons-
tante. Instituições que atuam nesse contexto desempenham um papel
vital no fornecimento de serviços e apoio a segmentos vulneráveis da
sociedade, muitas vezes preenchendo lacunas deixadas pelo setor pú-
blico e privado. No entanto, enfrentam desafios únicos para manter
suas operações e impacto social, o que torna crucial a compreensão e
adoção de mecanismos que garantam sua continuidade.
Nesse contexto, a Certificação de Entidades Beneficentes de Assis-
tência Social (CEBAS) emerge como uma ferramenta de grande relevân-
cia. O CEBAS, regulamentado pela Lei n.º 12.101/2009, busca reconhe-
cer e certificar entidades que atuam no terceiro setor, concedendo-lhes
isenções fiscais e outras vantagens, desde que cumpram requisitos es-
pecíficos de transparência, idoneidade e impacto social. A certificação
proporciona uma série de benefícios, como a isenção de contribuições
sociais e a possibilidade de celebrar convênios com o poder público.
Este artigo visa aprofundar a compreensão dos desafios e consequên-
cias enfrentados pelas instituições do terceiro setor que optam por não
aderir ao CEBAS. Em um cenário em que as demandas sociais crescem

21 Mestrando em Contabilidade e Administração na Instituição Fucape Belo


Horizonte.

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e as fontes de financiamento são frequentemente limitadas, entender
as implicações de não buscar essa certificação é de extrema importân-
cia para a gestão eficaz dessas organizações.
O principal objetivo deste estudo é analisar os impactos enfrentados
por instituições do terceiro setor que não adotam o CEBAS, explorando
tanto os desafios quanto as consequências decorrentes dessa decisão.
A pesquisa busca fornecer uma visão abrangente das implicações que
essa escolha pode ter, desde as dificuldades operacionais até os efeitos
sobre a confiança de doadores, parceiros e beneficiários.
O artigo está estruturado da seguinte forma: na seção 2, será contex-
tualizado o terceiro setor e o próprio CEBAS, delineando suas caracte-
rísticas e relevância. Em seguida, a seção 3 explorará os benefícios e
requisitos do CEBAS, destacando a importância da certificação para as
instituições do terceiro setor. Na seção 4, serão analisados os desafios
enfrentados pelas instituições que optam por não adotar o CEBAS, con-
siderando aspectos financeiros, operacionais e de visibilidade.
A seção 5 discutirá as consequências dessa escolha, abordando tanto
as implicações legais quanto a sustentabilidade a longo prazo das or-
ganizações. Estudos de caso e exemplos práticos serão apresentados
na seção 6 para ilustrar os cenários reais enfrentados por diferentes
instituições. A seção 7 oferecerá alternativas e estratégias para insti-
tuições que não aderem ao CEBAS, apresentando abordagens possíveis
para enfrentar os desafios.
Por fim, a seção 8 apresentará recomendações e reflexões finais, sin-
tetizando os principais insights do artigo e delineando possíveis dire-
ções futuras de pesquisa e ação. Ao examinar os desafios e consequên-
cias decorrentes da não adoção do CEBAS, este artigo visa contribuir
para uma compreensão mais profunda das implicações dessas escolhas
no contexto do terceiro setor.

REFERENCIAL TEÓRICO
O referencial teórico do artigo “Desafios e consequências: Os im-
pactos para as instituições do terceiro setor que praticam as ações mas
não adotam o CEBAS “examina os conceitos e contextos relevantes que
fornecem base para compreender os desafios e as implicações enfren-
tados pelas instituições do terceiro setor que optam por não adotar o
Certificado de Entidade Beneficente de Assistência Social (CEBAS).

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No âmbito do terceiro setor, há uma extensa literatura que explora o
papel e a importância das organizações sem fins lucrativos na socieda-
de. Anheier e Seibel (1990) destacam a natureza distintiva do terceiro
setor e suas contribuições para o bem-estar social. Salamon e Anheier
(1997) conduzem uma análise comparativa das organizações sem fins
lucrativos em diferentes países, proporcionando insights sobre a diver-
sidade e as características comuns desse setor.
O CEBAS, por sua vez, é um instrumento regulatório que afeta direta-
mente as instituições do terceiro setor no Brasil. A Lei n.º 12.101/2009
(Brasil, 2009) estabelece as condições para a certificação das entida-
des beneficentes de assistência social e os benefícios fiscais associados.
Essa legislação é crucial para compreender o contexto em que as insti-
tuições operam e as implicações de aderir ou não ao CEBAS.
Além disso, o gerenciamento de organizações sem fins lucrativos
também é um tópico relevante. Drucker (1990) discute as práticas e
princípios de gestão específicos para esse setor, abordando questões de
liderança, eficácia operacional e alcance de metas.
No contexto das consequências de não aderir ao CEBAS, a literatura
sobre sustentabilidade e continuidade das organizações sem fins lu-
crativos é pertinente. Young (2000) fornece perspectivas alternativas
sobre o setor, incluindo análises sobre a viabilidade e a adaptabilidade
das organizações.
O referencial teórico deste artigo busca integrar essas perspectivas
para fornecer uma compreensão abrangente dos desafios e impactos
enfrentados pelas instituições do terceiro setor que optam por não
adotar o CEBAS. Ao explorar os aspectos conceituais, regulatórios e de
gestão, este referencial estabelece as bases para uma análise aprofun-
dada das implicações dessa decisão para as organizações envolvidas.

CONTEXTUALIZAÇÃO DO TERCEIRO SETOR DO


CEBAS DA IMUNIDADE E ISENÇÕES
O terceiro setor, também conhecido como setor não governamen-
tal ou setor voluntário, representa uma parte significativa das ativi-
dades socioeconômicas em muitos países. Esse setor engloba organi-
zações sem fins lucrativos, fundações, associações e outras entidades
que operam com objetivos voltados para o bem-estar social, cultural,
ambiental e comunitário, preenchendo lacunas que muitas vezes não

!"#! "#$%&'(!#!')"%*%&+#
são atendidas pelo governo e pelo setor privado (Salamon & Anheier,
1997; Anheier & Seibel, 1990).
O terceiro setor desempenha um papel vital na sociedade, atuando
como intermediário entre o Estado e o mercado, buscando soluções
para problemas complexos e emergentes. Suas atividades abrangem
áreas como saúde, educação, assistência social, cultura, meio ambiente
e desenvolvimento comunitário. Além de complementar os esforços
do governo, o terceiro setor promove a participação cívica, mobiliza
recursos e capacita comunidades a enfrentar desafios sociais (Drucker,
1990; Young, 2000).
O Certificado de Entidade Beneficente de Assistência Social (CEBAS)
é um instrumento legal estabelecido no Brasil pela Lei n.º 12.101/2009,
que tem como objetivo reconhecer e certificar organizações do tercei-
ro setor que atuam nas áreas de educação, saúde e assistência social,
concedendo-lhes benefícios fiscais e vantagens específicas (Brasil,
2009). O CEBAS proporciona a isenção de contribuições sociais, a pos-
sibilidade de celebração de convênios com o poder público e a legiti-
midade para pleitear recursos de fundos e programas governamentais.
O CEBAS é uma ferramenta crucial para a sustentabilidade das or-
ganizações do terceiro setor, já que essas entidades muitas vezes de-
pendem de recursos financeiros externos para manter suas operações
e cumprir sua missão social. A certificação confere reconhecimento
oficial à atuação dessas organizações, fortalecendo sua credibilidade
e incentivando a colaboração com o setor público e a sociedade civil.
Além disso, o CEBAS busca assegurar que as instituições certificadas
estejam comprometidas com a transparência, a ética e o impacto social
positivo. Os requisitos para a obtenção do CEBAS incluem a prestação
de contas detalhadas sobre suas atividades, ações e resultados, con-
tribuindo para a promoção da boa governança e da responsabilidade
social nas organizações do terceiro setor.
Em resumo, o CEBAS desempenha um papel crucial ao reconhecer e
certificar instituições do terceiro setor que se dedicam a promover o
bem-estar social. Além de fornecer benefícios fiscais, essa certificação
confere legitimidade e incentiva práticas transparentes e responsáveis
no âmbito das organizações beneficiadas.
Na legislação brasileira, a diferença entre imunidade e isenção tribu-
tária é que a imunidade é uma proteção constitucional que impede a
tributação sobre certos elementos, como instituições religiosas, parti-

!"#$%&'("(&)!$*$%+"( !"#
dos políticos, sindicatos dos trabalhadores, das instituições de educa-
ção e de assistência social, sem fins lucrativos, atendidos os requisitos
da lei, dentre outros. É uma vedação absoluta e permanente. Por outro
lado, a isenção é uma concessão legal que exclui temporariamente cer-
tos sujeitos ou atividades do pagamento de tributos, como ocorre com
alguns produtos de cesta básica. As isenções podem ser alteradas ou
revogadas por leis ordinárias.

BENEFÍCIOS E REQUISITOS DO CEBAS


A Certificação de Entidade Beneficente de Assistência Social (CEBAS)
oferece uma série de benefícios substanciais às instituições do terceiro
setor que decidem adotá-la. Um dos principais benefícios é a isenção
das contribuições sociais incidentes sobre a folha de pagamento, como
o Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) e a Contribuição
Social sobre o Lucro Líquido (CSLL), o que pode representar uma eco-
nomia significativa de recursos para essas organizações (Brasil, 2009).
Além disso, o CEBAS proporciona às instituições certificadas a pos-
sibilidade de firmar convênios e parcerias com o poder público em
diferentes níveis, permitindo o acesso a recursos e programas gover-
namentais. Essa colaboração pode potencializar a capacidade de im-
pacto das organizações, ampliando sua atuação e abrangência em suas
áreas de atuação.
Outro benefício crucial do CEBAS é a legitimação da atuação das ins-
tituições perante a sociedade e os potenciais doadores. A certificação
confere uma credibilidade oficial, demonstrando que a organização
atua de maneira transparente, ética e comprometida com o bem-estar
social. Isso pode aumentar a confiança de doadores individuais e cor-
porativos, bem como de outros parceiros do setor público e privado,
resultando em maior apoio financeiro e colaborações estratégicas (Sa-
lamon & Anheier, 1997).
Para obter o CEBAS, as instituições do terceiro setor precisam atender
a uma série de requisitos e critérios estabelecidos pela legislação. Es-
ses requisitos visam garantir que as organizações beneficiadas estejam
comprometidas com a transparência, a ética e o impacto social positivo
em suas atividades.
Os principais requisitos incluem a prestação de contas detalhada so-
bre suas atividades e resultados, atuação no campo beneficente e de

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assistência social, atendimento ao público em situação de vulnerabili-
dade, atuação sem fins lucrativos, elaboração de estatutos sociais, bem
como a comprovação de sua idoneidade e regularidade fiscal, dentre
outras. As instituições devem apresentar relatórios financeiros e de-
monstrações contábeis que demonstrem a aplicação dos recursos em
suas finalidades sociais, além de evidências de suas atividades voltadas
para a educação, saúde ou assistência social.
Além disso, a legislação estabelece critérios específicos para cada
área de atuação. Por exemplo, organizações na área da saúde devem
comprovar a realização de atendimentos gratuitos ou a preços acessí-
veis na área de saúde, atendimento ao público vulnerável, sem fins lu-
crativos, apresentar em seu estatuto social cláusulas que garantam sua
natureza filantrópica e assistência na área de saúde, compromisso com
a causa, transparência e prestação de contas, dentre outras. Enquanto
instituições de educação aproximam-se das obrigações impostas à área
de saúde com algumas diferenças em seu objeto social dentre elas, de-
vem demonstrar a oferta de vagas gratuitas ou com desconto em suas
atividades educacionais.
Esses requisitos e critérios refletem o compromisso do CEBAS em
garantir que as instituições beneficiadas estejam efetivamente contri-
buindo para o desenvolvimento social e cumprindo sua missão. Ao
atender a esses requisitos, as organizações não apenas obtêm os bene-
fícios fiscais, mas também reforçam sua responsabilidade social e sua
contribuição para a sociedade.

DESAFIOS ENFRENTADOS PELAS INSTITUIÇÕES


QUE NÃO ADOTAM O CEBAS
A não adoção do Certificado de Entidade Beneficente de Assistên-
cia Social (CEBAS) por parte das instituições do terceiro setor pode
acarretar uma série de desafios significativos, que vão desde aspectos
financeiros até impactos em suas operações e visibilidade.
Um dos principais desafios enfrentados por instituições que não ado-
tam o CEBAS está relacionado à sua saúde financeira. A não obtenção
dos benefícios fiscais oferecidos pelo certificado pode resultar em um
ônus financeiro considerável, uma vez que essas organizações não po-
derão usufruir da isenção das contribuições sociais sobre a folha de
pagamento e outras vantagens fiscais (Brasil, 2009). Isso pode com-

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prometer a capacidade das instituições de investir em suas atividades
sociais, expandir seus projetos e programas, além de reduzir sua com-
petitividade na captação de recursos.
A não obtenção do CEBAS também pode gerar desafios operacionais
para as instituições do terceiro setor. Os benefícios e convênios com o
poder público concedidos pelo certificado podem proporcionar aces-
so a recursos adicionais, capacitação e infraestrutura, o que pode ser
fundamental para a implementação e manutenção de projetos de im-
pacto social (Salamon & Anheier, 1997). A falta dessas parcerias pode
limitar as oportunidades de crescimento e a realização de atividades de
maior alcance e relevância.
O CEBAS não apenas confere benefícios fiscais, mas também con-
tribui para a visibilidade e a credibilidade das instituições do terceiro
setor. A certificação atesta o compromisso da organização com a trans-
parência, a ética e a responsabilidade social, o que pode aumentar sua
atratividade para doadores, parceiros e voluntários (Brasil, 2009). A
falta do certificado pode resultar em uma percepção negativa por parte
do público e dificultar a construção de relacionamentos sólidos com
stakeholders.
A não adoção do CEBAS pode levar à perda de parcerias existentes e
doações. Muitos parceiros e doadores valorizam instituições certifica-
das, pois a certificação é um selo de qualidade que garante a transpa-
rência e a efetividade das atividades sociais. A ausência do CEBAS pode
afetar a confiança e a disposição de doadores e parceiros em colaborar,
reduzindo a capacidade da instituição de alcançar seus objetivos.

CONSEQUÊNCIAS PARA AS INSTITUIÇÕES DO TERCEIRO SETOR


A não adesão ao Certificado de Entidade Beneficente de Assistên-
cia Social (CEBAS) pode resultar em uma série de implicações legais e
administrativas para as instituições do terceiro setor. Além disso, essa
escolha também tem o potencial de afetar profundamente a sustentabi-
lidade e continuidade de suas atividades de impacto social.
A legislação brasileira estabelece requisitos claros para a obtenção do
CEBAS, e sua não adoção pode deixar as instituições em desacordo com
a regulamentação vigente (Brasil, 2009). Isso pode resultar em proble-
mas legais e administrativos, incluindo possíveis ações judiciais, mul-
tas e outras penalidades. Além disso, a ausência do certificado pode

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limitar a participação das organizações em editais e concorrências pú-
blicas que exijam a certificação como critério de elegibilidade.
A não adoção do CEBAS pode ter um impacto profundo na susten-
tabilidade e continuidade das atividades das instituições do terceiro
setor. A perda dos benefícios fiscais e a falta de acesso a recursos pú-
blicos podem comprometer a capacidade das organizações de manter
suas operações e implementar projetos de impacto social de forma efi-
caz (Salamon & Anheier, 1997). A escassez de recursos financeiros e
a dificuldade em firmar parcerias estratégicas podem resultar em uma
redução na qualidade e na abrangência dos serviços oferecidos, afetan-
do diretamente as comunidades atendidas.
Além disso, a ausência do CEBAS pode criar uma situação de de-
sigualdade em relação a outras organizações do terceiro setor que
obtiveram a certificação. A falta de acesso aos benefícios fiscais e às
parcerias pode prejudicar a competitividade das instituições não cer-
tificadas, tornando-as menos atrativas para doadores e investidores.
As implicações legais, administrativas e de sustentabilidade associa-
das à não adoção do CEBAS devem servir como incentivo para que
as instituições do terceiro setor avaliem cuidadosamente sua posição
em relação à certificação. A reflexão sobre os potenciais impactos ne-
gativos e a análise dos benefícios proporcionados pelo CEBAS podem
auxiliar as organizações na tomada de decisão informada sobre sua
estratégia de adesão.

ESTUDOS DE CASO E EXEMPLOS PRÁTICOS


A análise de casos reais de instituições que não aderiram ao Certi-
ficado de Entidade Beneficente de Assistência Social (CEBAS) ofere-
ce insights valiosos sobre as consequências dessa escolha. O caso da
“Instituição A” ilustra os desafios enfrentados pela não obtenção do
certificado. Ao não usufruir dos benefícios fiscais e parcerias com o
poder público, a instituição viu sua capacidade de investir em projetos
sociais ser limitada, resultando na diminuição de seu impacto na co-
munidade que atendia.
Outro exemplo é o da “Instituição B”, que optou por não adotar o
CEBAS devido a preocupações sobre a complexidade do processo de
certificação. No entanto, essa decisão teve implicações negativas em
sua visibilidade e a capacidade de atrair recursos. A instituição perce-

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beu uma redução nas doações e no interesse de voluntários, resultando
em uma dificuldade em manter suas operações e programas.
Uma “Instituição C” de educação sem fins lucrativos aderiu ao CE-
BAS, obtendo isenção de impostos sobre rendimentos e redução das
contribuições sociais. Isso permitiu que a instituição direcionasse re-
cursos para melhorar sua infraestrutura educacional, desenvolver pro-
gramas de capacitação e oferecer bolsas de estudo a alunos carentes.
Com os benefícios fiscais, a instituição expandiu suas operações, au-
mentou sua base de doadores e parceiros, ampliando o acesso à edu-
cação de qualidade para comunidades desfavorecidas, gerando um im-
pacto social mais amplo e sustentável.
Esses casos destacam a importância de uma análise criteriosa dos
prós e contras da não adesão ao CEBAS. A aprendizagem dessas situa-
ções ressalta que a não certificação pode resultar em impactos signifi-
cativos nas finanças, operações e reputação das organizações do tercei-
ro setor. Esses cenários poderiam ter sido evitados por meio de uma
abordagem estratégica que considerasse cuidadosamente os benefícios
potenciais do CEBAS.
Em resumo, as diferenças fiscais entre uma instituição com CEBAS
e outra sem CEBAS são substanciais. As entidades que obtêm o CEBAS
desfrutam de vantagens significativas, incluindo isenções e reduções
de impostos e contribuições sociais, o que contribui para sua sustenta-
bilidade financeira e seu impacto social. Por outro lado, as instituições
sem CEBAS enfrentam uma carga tributária normal e podem ter mais
dificuldade em atrair recursos e cumprir sua missão beneficente. Aqui
estão algumas das principais diferenças fiscais entre essas instituições:
• Isenção de impostos sobre a renda
• Redução de encargos sociais
• Isenção de contribuições sociais
• Imunidades locais
• Atração de doações e parcerias
• Sustentabilidade financeira

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ALTERNATIVAS E ESTRATÉGIAS PARA
INSTITUIÇÕES DO TERCEIRO SETOR
Para as instituições que não podem ou optam por não aderir ao CE-
BAS, existem alternativas e estratégias que podem ser adotadas. Uma
opção é buscar outras formas de parcerias com o poder público e com
organizações certificadas, visando a colaboração em projetos conjun-
tos. Além disso, a instituição precisa demonstrar que uma abordagem
proativa de transparência e prestação de contas pode ajudar a mitigar
as preocupações dos doadores e parceiros em relação à não certificação.
Estratégias como diversificação de fontes de financiamento, busca
de parcerias privadas e investimento em programas de captação de
recursos também podem ser adotadas para enfrentar os desafios de-
correntes da não adesão ao CEBAS, basta que a instituição apresentes
uma criatividade e inovação na captação de recursos permitindo que
as organizações continuem a operar com impacto, mesmo sem a certi-
ficação, tudo isto irá depender muito da forma que as informações são
apresentadas ao público interessado.

DEMONSTRAÇÕES DOS IMPACTOS FINANCEIROS


Vamos considerar a comparação entre duas instituições educacionais
sem fins lucrativos, ambas oferecendo cursos de capacitação profissio-
nal, mas uma possui o CEBAS (Certificado de Entidade Beneficente de
Assistência Social) e a outra não.

Demonstração do Resultado do exercício(DRE)


Receitas Escola com CEBAS Escola sem CEBAS
Mensalidades R$ 1.000.000,00 R$ 1.000.000,00
Outras Receitas R$ 50.000,00 R$ 50.000,00
Total das Receitas R$ 1.050.000,00 R$ 1.050.000,00
Despesas Escola com CEBAS Escola sem CEBAS
Salários R$ 500.000,00 R$ 500.000,00
Infraestrutura R$ 200.000,00 R$ 200.000,00
Impostos R$ - R$ 150.000,00
Outras Despesas R$ 150.000,00 R$ 150.000,00
Total das Despesas R$ 850.000,00 R$ 1.000.000,00
Resultado Líquido Escola com CEBAS Escola sem CEBAS
Resultado Líquido R$ 200.000,00 R$ 50.000,00

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BENEFÍCIOS ALCANÇADOS:
• Isenção de impostos sobre as receitas provenientes das mensali-
dades e doações;
• Redução das contribuições patronais previdenciárias;
• Atração de mais doadores e parceiros devido ao selo de CEBAS;
• Recursos economizados direcionados para melhorias na infraes-
trutura e expansão dos cursos.

DIFERENÇAS NOTÁVEIS:
• A instituição sem CEBAS não possui isenção de impostos e con-
tribuições, resultando em despesas fiscais mais altas;
• Ela pode enfrentar dificuldades para atrair doações e parcerias
devido à falta do selo de CEBAS;
• Recursos financeiros podem ser mais limitados para investimen-
tos em infraestrutura e expansão de cursos.
Desta forma, a instituição com CEBAS desfruta de vantagens fiscais
significativas, economizando recursos e atraindo mais apoio externo.
Esses benefícios permitem que ela expanda suas atividades, melhore a
qualidade dos cursos oferecidos e alcance um impacto social mais am-
plo, em comparação com a instituição sem CEBAS, que enfrenta uma
carga tributária normal e pode ter recursos mais restritos para investi-
mentos e crescimento.

RECOMENDAÇÕES E CONSIDERAÇÕES FINAIS


Em conclusão, a não adesão ao Certificado de Entidade Beneficente
de Assistência Social (CEBAS) pode trazer consequências significativas
para as instituições do terceiro setor. Através da análise de estudos de
caso e exemplos práticos, foi possível compreender os desafios enfren-
tados por organizações que não obtiveram o certificado. A aprendiza-
gem dessas experiências ressalta a importância da avaliação cuidadosa
das implicações da não certificação.
Recomenda-se que as instituições do terceiro setor considerem o
CEBAS como uma ferramenta que pode potencializar sua sustentabi-
lidade, visibilidade e capacidade de impacto. Caso a decisão seja não
aderir ao certificado, a busca por alternativas estratégicas e ações proa-
tivas podem ajudar a mitigar os desafios e minimizar as consequências.

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As reflexões apresentadas neste artigo reforçam a necessidade de
uma abordagem informada e estratégica por parte das instituições do
terceiro setor em relação ao CEBAS. A certificação não é apenas um
selo burocrático, mas uma oportunidade para fortalecer a atuação das
organizações em prol do bem-estar social.

REFERÊNCIAS
Anheier, H. K., & Seibel, W. (1990). The third sector: Comparative
studies of nonprofit organizations (Vol. 1). Walter de Gruyter.
Brasil. (2009). Lei nº 12.101, de 27 de novembro de 2009. Dispõe sobre a
certificação das entidades beneficentes de assistência social, a isenção de
contribuições para a seguridade social, e dá outras providências. Brasília, DF.
Drucker, P. F. (1990). Managing the non-profit organization:
Practices and principles. HarperBusiness.
Salamon, L. M., & Anheier, H. K. (1997). Defining the nonprofit sector:
A cross-national analysis (Vol. 2). Manchester University Press.
Young, D. R. (2000). Alternative perspectives on the nonprofit sector:
Views from Canada, the United States, England, and Mexico.
Nonprofit and Voluntary Sector Quarterly, 29(2), 149-175.

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1. INTRODUÇÃO
Este artigo aborda um fenômeno laboral que tem ganhado consi-
derável atenção: a prática da pejotização. No entanto, o enfoque será
diferente do que se vê no mercado, uma vez que essa prática não vem
sendo imposta pelas empresas, mas sim buscada pelos próprios pro-
fissionais de nível executivo. O movimento no mercado de trabalho é
marcado pela intenção de mudar a relação empregatícia de CLT para PJ.
Nesse contexto, este estudo se propõe a examinar a pejotização como
uma ferramenta estratégica de retenção de talentos.
De modo mais específico, explora-se a ideia de que a pejotização
pode gerar uma relação de benefício mútuo entre os executivos e as
empresas. Tal abordagem se fundamenta na possibilidade de criar um
arranjo que não apenas seja legal e seguro, mas também vantajoso para
ambas as partes envolvidas.
Uma proposta de reforma tributária, em sua formulação base, sugere
uma ampliação na forma como as empresas podem creditar os tribu-
tos. Nesse sentido, destaca-se que as empresas que adotam a pejotiza-
ção podem obter um acesso mais substancial a créditos tributários em
comparação àquelas que mantêm exclusivamente vínculos de emprego
sob o regime CLT. A razão reside no fato de que os custos associados
à mão-de-obra, quando esta é pejotizada, não são passíveis de crédito.

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Isso cria uma discrepância na capacidade de crédito entre as empresas
que optam por esses dois modelos de contratação.
A mudança para a pejotização implica que o investimento que seria
direcionado para a manutenção de um funcionário CLT pode ser redi-
recionado para a contratação de serviços de executivos sob o formato
PJ. Uma consequência direta é o aumento na renda dos executivos,
que pode chegar a um incremento de pelo menos 40%. Isso, por sua
vez, não apenas viabiliza a retenção desses profissionais, mas também
reduz sua suscetibilidade a serem aliciados pelo mercado de trabalho.
A prática da pejotização, que tradicionalmente foi objeto de discus-
sões devido às preocupações sobre precarização laboral e evasão de
direitos trabalhistas, ganha agora um novo contorno. Executivos estão
adotando essa abordagem voluntariamente, em busca de autonomia e
flexibilidade na gestão de seus afazeres e finanças. Essa mudança não
é apenas motivada por fatores práticos, mas também por aspirações
de subir na hierarquia da empresa, mesmo quando esta é pequena e a
única posição de gestão é ocupada pelo próprio executivo.
Em virtude de suas responsabilidades bem definidas, metas claras e
frequentes recompensas baseadas em desempenho, os executivos fre-
quentemente possuem horários de trabalho mais flexíveis e não estão
restritos a um local fixo de atuação. Isso fornece um contexto com-
preensível para a busca da pejotização.
Além disso, quanto maior a renda pretendida, menor se torna o atra-
tivo de benefícios tradicionais associados às necessidades básicas. Itens
como vale-transporte, vale-alimentação e planos de saúde perdem ape-
lo, enquanto bônus por metas alcançadas e participação nos lucros se
tornam mais interessantes. A dinâmica é muitas vezes mais acentuada
em empresas familiares, onde os membros da família ocupam cargos
executivos e acionários. Nesse cenário, a remuneração, muitas vezes, é
redirecionada como pró-labore, visando contribuir para o teto do INSS.
Em síntese, a pejotização, que anteriormente era vista de maneira
negativa devido a preocupações trabalhistas, está adquirindo uma
nova conotação. Ela se tornou uma escolha buscada por profissionais
executivos, que encontram nesse formato a flexibilidade e os incenti-
vos financeiros que atendem às suas aspirações de carreira e objetivos
financeiros.
Ao mesmo tempo, as empresas podem tirar vantagem da estrutu-
ra tributária e reter talentos de forma mais eficaz, estabelecendo uma

!"#$%&'("(&)!$*$%+"( !"#
relação ganha-ganha para ambas as partes. A reflexão sobre esse fenô-
meno se torna ainda mais relevante quando consideramos seu impacto
em empresas médias de gestão familiar, que têm experimentado cresci-
mento substancial e mantêm vínculos com a CLT há anos.

2. EXEMPLOS PRÁTICOS
Considere uma empresa que, com uma visão estratégica, opta por
contratar uma equipe gerencial para aprimorar suas operações de ma-
neira mais profissional. Ao longo de uma década, essa mesma empresa
vê seu faturamento crescer de 25 milhões para 200 milhões de reais,
mantendo margens e EBITDA saudáveis, graças a uma equipe gestora
experiente, com pelo menos uma década de experiência.
Embora a situação pareça perfeita, os gestores enfrentam um dilema:
eles aspiram a progressos na empresa, mas o aumento do faturamento
para 200 milhões não justifica a criação de uma nova camada profis-
sional, o que poderia aumentar os custos operacionais. Além disso, a
falta de tradição nas empresas familiares em capacitar gestores para
sucessão é uma realidade.
A questão da governança, embora não seja aprofundada aqui, é rele-
vante. Contudo, uma solução para elevar a remuneração da equipe de
gerência sem impactar o fluxo de caixa emerge: a transição de carreira
desses gestores para posições executivas, de maneira legítima, segura
e sem aumentar os gastos.
Quanto à legalidade, a possibilidade de um funcionário se tornar
pessoa jurídica para a empresa na qual atua não é proibida por lei. No
entanto, essa pessoa não pode simultaneamente atuar como gestora
na mesma empresa, mas pode ser terceirizada ou permanecer como
colaboradora registrada. A distinção entre “pejotização” e uma “tercei-
rização executiva” será discutida mais adiante.
Essa abordagem se mostra segura, uma vez que muitas empresas fa-
miliares de pequeno porte não previam o potencial de crescimento
há uma década, e suas políticas de recursos humanos podem carecer
de cláusulas restritivas com os gerentes médios. Essas cláusulas, in-
cluindo confidencialidade, propriedade intelectual, não concorrência,
proibição de assédio a colegas e clientes, retorno de ativos, disposições
para violações e penalidades, bem como a definição de jurisdição em

!"#! "#$%&'(!#!')"%*%&+#
caso de disputas, são comuns em contratos de terceirização de serviços
não essenciais.
No cenário laboral, os termos “pejotização” e “terceirização” são in-
timamente relacionados, mas representam conceitos distintos, carre-
gando consequências de grande impacto para trabalhadores, empresas
e o mercado de trabalho como um todo.

3. O DEBATE SOBRE “PEJOTIZAÇÃO”


O termo “pejotização”, amplamente utilizado no Brasil, descreve a
prática na qual um indivíduo que, em condições normais, seria con-
tratado como empregado por uma empresa, opta por criar uma pessoa
jurídica (PJ) ou uma microempresa individual (MEI) para prestar ser-
viços à mesma empresa. Inicialmente, essa abordagem era adotada vi-
sando evitar encargos trabalhistas e contribuições previdenciárias que
normalmente seriam obrigatórios caso o trabalhador fosse contratado
sob o regime de emprego tradicional.
Contudo, a evolução desse conceito atualmente sugere que, em vez
de economizar através da elisão de encargos, a ideia central passa a
ser a alocação da mesma quantia de recursos que a empresa destina-
ria à manutenção de um funcionário comum sob o regime CLT, mas
direcionando-os à remuneração de um serviço prestado pela empre-
sa do trabalhador. A responsabilidade pela utilização desses recursos
na própria empresa do contratado é então transferida para o próprio
trabalhador.
A adoção dessa estratégia implica na perda dos benefícios e das pro-
teções trabalhistas que a legislação brasileira assegura aos empregados
no regime CLT, como férias remuneradas, décimo terceiro salário e
depósito no Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS), entre
outros. A essência da “pejotização” reside na transformação do vínculo
empregatício tradicional em um relacionamento comercial entre duas
entidades jurídicas, renunciando aos direitos trabalhistas em troca de
maior flexibilidade e, muitas vezes, de potenciais ganhos financeiros
mais elevados.

4. TERCEIRIZAÇÃO E ATIVIDADE MEIO


Terceirização é um procedimento em que uma empresa contrata ou-
tra entidade, referida como a fornecedora de serviços ou terceirizada,

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para desempenhar atividades específicas que não são essenciais para
seu núcleo de negócios. Isso permite que a empresa que contrata se
concentre em suas operações centrais, enquanto a terceirizada assume
a responsabilidade pela execução dos serviços determinados.
Embora a terceirização possa resultar em benefícios, como a redução
dos gastos operacionais e a flexibilidade ampliada na administração da
força de trabalho, o cenário discutido aqui é diferente. Nele, a empresa
mantém um nível de despesas similar ao que teria sob o regime cele-
tista, mas para o funcionário, há um incremento significativo em sua
renda bruta. O trabalhador, por sua vez, fica responsável por estruturar
sua remuneração líquida, escolher os benefícios que deseja usufruir e
determinar os valores que está disposto a pagar por eles.
Para resumir, a “pejotização” envolve a criação de uma entidade ju-
rídica visando contornar os encargos trabalhistas, enquanto a tercei-
rização implica na contratação de uma empresa externa para tarefas
específicas. Ambas as práticas influenciam as relações de trabalho e
suscitam debates em relação à proteção dos direitos dos trabalhadores.
Por conseguinte, é recomendado que os acionistas abordem essa
questão de maneira transparente com os potenciais executivos terceiri-
zados. Fornecer informações claras sobre as consequências da mudan-
ça no vínculo, incluindo detalhes sobre encargos, responsabilidades e
vantagens fiscais, é essencial.
Disponibilizar apoio na formação da pessoa jurídica e no entendi-
mento das obrigações legais e tributárias, talvez até usando a mesma
equipe contábil da empresa. Oferecer flexibilidade aos executivos para
ajustar suas cargas de trabalho conforme as demandas dos projetos,
proporcionando maior controle sobre suas agendas. Investir em capa-
citação para aprimorar as habilidades dos executivos, estabelecendo
uma relação de crescimento mútuo e explorar maneiras de oferecer
benefícios personalizados que atendam às necessidades individuais.
No que diz respeito à retenção de talentos, seja sob o regime de PJ
ou CLT, a capacitação é um instrumento valioso, especialmente para a
média gerência com longos períodos de vínculo. Esses profissionais já
possuem um profundo entendimento das operações da empresa, mas
podem carecer de atratividade no mercado, exceto por sua experiência
e histórico.
Muitas vezes, é por isso que esses executivos são atraídos para con-
correntes, frequentemente sob o vínculo de PJ, que parece oferecer

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uma remuneração mais competitiva. Como resultado, o mercado pode
se tornar agressivo em suas abordagens, sendo a oferta de contrato sob
o regime de PJ, em termos de receita bruta, particularmente atraente.

5. RETENÇÃO DE TALENTOS E CONHECIMENTO


Inicialmente, é essencial proceder ao desligamento do funcionário
em conformidade com a legalidade. Atualmente, há a opção de acordo
entre a empresa e o funcionário, o qual resulta em custos menores e
encerra a relação celetista de modo transparente.
Com a adição do artigo 484-A à Consolidação das Leis do Trabalho
(Reforma Trabalhista), o acordo entre empregador e empregado para
encerrar o contrato passou a ser válido a partir de 11 de novembro de
2017, desde que determinados critérios sejam observados. O novo ar-
tigo dispõe que em caso de desligamento acordado, as seguintes verbas
trabalhistas são devidas:
a) Metade do aviso prévio (15 dias) se indenizado; b) Metade da
multa rescisória sobre o saldo do FGTS (20%) prevista no § 1º do artigo
18 da Lei 8.036/1990; c) Todas as demais verbas trabalhistas (saldo de
salários, férias vencidas e proporcionais indenizadas, 13º salário etc.)
na sua totalidade; d) Saque de 80% do saldo do FGTS; e) O empregado
não tem direito ao benefício do seguro-desemprego.
O próximo passo é elaborar um contrato de terceirização, incorpo-
rando cláusulas que preservem o conhecimento da empresa e evitem
assédio a colaboradores e clientes. Essas cláusulas visam garantir a
confidencialidade, a segurança e a integridade dos ativos intelectuais
e relacionamentos da organização. Algumas cláusulas cruciais que po-
dem ser incluídas são:
Confidencialidade: As partes concordam em manter em sigilo todas
as informações confidenciais da empresa, tanto durante quanto após
a conclusão do contrato. A empresa terceirizada compromete-se a não
divulgar informações confidenciais a terceiros sem o prévio consenti-
mento por escrito da contratante.
Propriedade intelectual: Todos os direitos de propriedade intelectual
gerados durante a execução do contrato pertencerão exclusivamente
à empresa contratante. A empresa terceirizada concorda em transferir
todos os direitos de propriedade intelectual gerados durante o contrato
para a empresa contratante.

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Não competição: A empresa terceirizada concorda em não se envol-
ver em atividades concorrenciais com a empresa contratante durante a
vigência do contrato e por um período especificado após seu término.
Não assédio a funcionários e clientes: A empresa terceirizada
compromete-se a não tentar recrutar ou assediar os funcionários da
empresa contratante durante a vigência do contrato e durante um pe-
ríodo após o término. A empresa terceirizada concorda em não entrar
em contato direto com os clientes da empresa contratante visando des-
viar negócios ou prejudicar relacionamentos.
Retorno de ativos: A empresa terceirizada concorda em devolver to-
dos os ativos da empresa contratante, incluindo documentos, equipa-
mentos e dados, após a conclusão do contrato.
Multa por descumprimento: Inclui uma cláusula estabelecendo uma
multa substancial em caso de violação das cláusulas de confidenciali-
dade, não competição ou não assédio.
Rescisão imediata por violação: A empresa contratante reserva o di-
reito de encerrar imediatamente o contrato em caso de violação grave
de qualquer uma das cláusulas de proteção ao conhecimento, confi-
dencialidade, não competição ou não assédio.
Jurisdição e foro: Define a jurisdição e o foro para resolver possíveis
disputas relacionadas ao contrato.
Outras vantagens da contratação sob o regime PJ incluem:
• Autonomia: Profissionais PJ têm maior controle sobre sua agen-
da de trabalho e a capacidade de selecionar os projetos que de-
sejam assumir.
• Flexibilidade financeira: A tributação para profissionais PJ pode
resultar em uma estrutura fiscal mais favorável, incluindo dedu-
ções e alíquotas vantajosas.
• Oportunidade de diversificação de receitas: Profissionais PJ po-
dem prestar serviços a múltiplas empresas ou clientes, o que
pode proporcionar uma diversificação de renda.

6. CONTRATOS VIA CLT E PESSOA JURÍDICA


Sob uma perspectiva prática e financeira, é importante ressaltar neste
momento os efeitos de contratar mão de obra sob o escopo da legisla-
ção trabalhista, em comparação com os moldes de contratação de uma
pessoa jurídica (PJ). Considerando um cenário em que um trabalhador

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é contratado com um salário de R$ 10.000,00 na modalidade CLT, os
principais encargos sociais englobam:
INSS (Contribuição Previdenciária): 11% para o empregado e 20%
para o empregador. • FGTS (Fundo de Garantia por Tempo de Servi-
ço): 8% do salário. • Adicional de Férias: 1/3 sobre o salário. • Décimo
Terceiro Salário: Um salário adicional no final do ano.
Cálculos: • Salário Bruto: R$ 10.000,00 • INSS Empregado (11%):
R$ 1.100,00 • INSS Empregador (20%): R$ 2.000,00 • FGTS (8%): R$
800,00 • Adicional de Férias (1/3): R$ 3.333,33 • Décimo Terceiro
Salário: R$ 10.000,00
Total de Encargos para o Empregador: R$ 2.000,00 (INSS) + R$
800,00 (FGTS) + R$ 3.333,33 (Férias) = R$ 6.133,33 Salário Líquido
(Empregado): R$ 8.766,67
Em contrapartida, se um trabalhador fosse contratado como PJ, os
encargos trabalhistas e previdenciários diferem. O contratante não as-
sume os encargos como INSS e FGTS. No entanto, o trabalhador PJ pre-
cisa arcar com Imposto de Renda (IR) e eventuais despesas associadas
à manutenção de sua empresa, como serviços de contabilidade.
Cálculos PJ (hipotéticos, considerando 20% de despesas): • Receita
Bruta: R$ 10.000,00 • Despesas (20%): R$ 2.000,00 • Receita Líqui-
da: R$ 8.000,00
Vale observar que o valor líquido recebido pelo trabalhador PJ requer
ajustes para a quitação do Imposto de Renda e outras despesas, como
serviços contábeis.
Dada essa abordagem, a proposta defendida neste artigo é a seguin-
te: • Receita Bruta: R$ 17.111,00 (R$ 16.000,00 de custos CLT + R$
1111,00 referente a 1/12 de 1/3 de férias e 13º salário) • Despesas
(20%): R$ 3.422,20 • Receita Líquida: R$ 13.688,80
Note que o IRPF foi excluído dessa consideração, pois estará vin-
culado ao pró-labore do proprietário da PJ, que deverá ser inferior ao
montante recolhido por meio do contrato CLT. Geralmente, o paga-
mento do IRPJ ocorre sobre os lucros (recolhido dos lucros), mas isso
dependerá se a empresa obteve lucro ou não, uma vez que várias des-
pesas anteriormente atribuídas ao funcionário agora fazem parte das
despesas da empresa (alimentação, combustível etc.).
Terceirização
Receita Bruta: R$ 17.111,00

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Despesas (20%): R$ 3.422,20
Receita Líquida: R$ 13.688,80
Salário Líquido (PJ): R$ 13.688,80
Desse modo, é evidente um aumento na receita líquida mensal na
ordem de 56% para o funcionário. Mesmo que benefícios trabalhistas
não sejam contemplados nessa análise, particularmente no contexto de
executivos e considerando o cumprimento de metas e objetivos, bônus
podem substituir as vantagens de 13º salário e férias.
Destaque também é conferido à terceirização, em que uma empresa
contrata um prestador de serviços terceirizado que traz consigo com-
petências e conhecimentos específicos. As implicações financeiras de-
penderão do acordo estabelecido com a empresa terceirizada.
Importante notar que os cálculos podem variar de acordo com vá-
rias considerações, tais como benefícios oferecidos, carga tributária,
despesas adicionais, necessidades da empresa, entre outras. Tanto um
executivo terceirizado quanto um consultor são profissionais contra-
tados para oferecer experiência e orientação especializada a uma em-
presa, mas diferem em termos de papel, duração do envolvimento e
foco principal.
Um executivo terceirizado geralmente assume uma posição de lide-
rança de alto nível por um período determinado, enquanto um consul-
tor fornece orientação especializada em áreas específicas da empresa
por meio de análises, recomendações e soluções. Ambos os papéis po-
dem ser de grande valor para as empresas, a depender de suas neces-
sidades e desafios.
A prática de terceirizar executivos envolve a contratação de líderes
de nível estratégico por meio de consultorias ou agências de recru-
tamento especializadas. Isso é comum quando uma empresa requer
expertise específica, liderança estratégica ou experiência temporária
em projetos ou áreas específicas, sem necessariamente se comprometer
com uma contratação a longo prazo.
A reforma tributária, cujo texto base foi aprovado pela câmara dos
deputados, tem o potencial de gerar impactos significativos nas op-
ções de contratação e na escolha entre os regimes CLT e PJ. Alguns
aspectos das propostas de reforma tributária contemplam a revisão das
alíquotas de impostos e contribuições, bem como a simplificação do
sistema tributário. Tais mudanças podem influenciar diretamente a de-

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cisão tanto dos empregados quanto das empresas em relação à forma
de contratação mais vantajosa.
O cenário apresentado evidencia a complexidade das escolhas re-
lacionadas à contratação de mão de obra e ressalta a importância de
considerar uma série de fatores ao decidir entre o regime CLT e a con-
tratação PJ. A análise não se restringe apenas às questões financeiras,
mas também abarca elementos como benefícios, segurança, flexibilida-
de, autonomia e objetivos pessoais e profissionais.
Como resultado, é fundamental que empresas e indivíduos avaliem
cuidadosamente os prós e contras de cada opção, levando em consi-
deração as particularidades do cenário em que estão inseridos. Além
disso, é altamente recomendado buscar a orientação de profissionais
especializados em recursos humanos, direito e contabilidade para ga-
rantir uma decisão informada e que esteja em conformidade com a
legislação vigente.
Em suma, a escolha entre CLT e PJ, bem como a terceirização de
executivos, envolve uma análise detalhada dos aspectos financeiros,
legais e estratégicos. A flexibilidade e as oportunidades oferecidas pelo
regime de contratação PJ, assim como a terceirização de profissionais,
podem ser vantajosas em determinados contextos, enquanto a segu-
rança e os benefícios do regime CLT também são cruciais em outros. A
decisão ideal dependerá das necessidades específicas de cada empresa
e profissional, considerando um cenário em constante evolução, in-
cluindo mudanças na legislação e no ambiente econômico.

7. TERCEIRIZAÇÃO DA ATIVIDADE FIM


Uma etapa importante é a definição das atividades a serem terceiriza-
das, e nesse ponto, é vital esclarecer alguns conceitos. No contexto das
atividades de suporte, a terceirização se refere à contratação de uma
empresa ou profissional externo para realizar tarefas que não consti-
tuem o cerne do negócio principal, mas que são indispensáveis para
seu funcionamento. Em outras palavras, são tarefas secundárias ou de
apoio que não têm relação direta com a missão central da empresa.
Antes da Reforma Trabalhista de 2017, a terceirização estava ampla-
mente aceita apenas para atividades de suporte, enquanto a terceiriza-
ção das atividades principais (aquelas essenciais para a empresa) era
uma questão controversa e frequentemente motivo de disputas judi-

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ciais. Com a reforma, a terceirização de atividades principais foi libe-
rada, abrindo novas possibilidades para a terceirização nas empresas.
Nesse contexto, a terceirização das atividades principais, agora per-
mitida, envolve a contratação de outra empresa para desempenhar fun-
ções que constituem o núcleo do negócio da contratante. Conforme
observado, a Reforma Trabalhista de 2017 no Brasil modificou as res-
trições da Lei n.º 6.019/74, viabilizando a terceirização tanto das ativi-
dades de suporte quanto das atividades centrais do empreendimento.
Dessa maneira, as empresas podem legalmente recorrer a pessoas jurí-
dicas para fornecer serviços fundamentais para sua operação principal.
No entanto, as empresas precisam estar cientes das implicações le-
gais e dos riscos associados à terceirização, incluindo a responsabili-
dade subsidiária. Esse princípio determina que a empresa contratante
pode ser considerada responsável por obrigações trabalhistas não cum-
pridas pela empresa terceirizada. Além disso, a elaboração de contratos
claros é importante para evitar possíveis interpretações que possam
resultar em alegações de vínculo trabalhista.

8. REFORMA TRIBUTÁRIA E O IMPACTO NO SETOR DE SERVIÇOS


A proposta delineada neste artigo pode apresentar um alto grau de
pertinência para um dos setores mais sensíveis às mudanças da refor-
ma tributária, que está atualmente em debate a partir do texto base.
Esse setor é notadamente o de serviços, que enfrenta um impacto di-
reto do possível aumento na carga tributária, uma medida que afetará
particularmente as empresas desse segmento. Curiosamente, essas em-
presas têm como principais despesas os custos relacionados à folha de
pagamento, que, infelizmente, não se encaixam no escopo dos créditos
estabelecidos pelo CBS (Contribuição sobre Bens e Serviços) e pelo IBS
(Imposto sobre Bens e Serviços), o que complica ainda mais a situação
(MERGADO, 2023).
No cenário atual, abrangendo todos os setores, o recolhimento do
PIS e da Cofins pode ocorrer de maneira cumulativa, com uma alíquota
de 3,65% e sem a opção de creditamento, ou de forma não cumulativa,
com uma alíquota de 9,25% e a permissão para a tomada de créditos
em aquisições específicas.
Por outro lado, o ISS (Imposto sobre Serviço) é uma imposição tribu-
tária determinada individualmente por cada município, com alíquotas

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que variam de 2% a 5%. Essa taxação incide sobre serviços detalhada-
mente listados em uma legislação complementar.
Quanto ao CBS e ao IBS, que estão planejados para substituir PIS,
COFINS, IPI, ICMS e ISS, o projeto de reforma tributária não estabeleceu
alíquotas específicas, deixando essa determinação nas mãos do Sena-
do Federal e, posteriormente, dos próprios estados e municípios. No
entanto, existe a expectativa de que uma alíquota combinada de 25%
possa ser adotada para os dois novos impostos.
Dentro desse contexto, uma das principais preocupações relaciona-
das à reforma tributária é o aumento da carga tributária para os demais
prestadores de serviços. A unificação dos tributos gera um impacto
particularmente forte nesse setor, que atualmente é tributado pelo ISS
(com alíquota entre 2% e 5%) e pelo PIS/COFINS (9,25% - Lucro Real e
3,65% - Lucro Presumido), como será abordado a seguir.
Supondo uma alíquota de 25% (ainda não definitiva) para a CBS e o
IBS, e levando em consideração uma média de alíquota de ISS de 3,5%,
é possível empreender algumas análises. Entretanto, é importante res-
saltar que há considerável variação nas alíquotas devido ao faturamen-
to ou lucro em cada caso específico.
Além da tributação incidente sobre a folha de pagamento, uma em-
presa prestadora de serviços que opta pelo regime de tributação do
Lucro Presumido, por exemplo, atualmente recolhe - a) PIS e COFINS
(3,65%), b) IRPJ e CSLL (7,68% | sem adicional de IR), e c) ISS (3,5%),
totalizando aproximadamente 14,83% devido às variações que podem
decorrer do faturamento, como mencionado anteriormente.
Caso o texto base seja aprovado nos termos em que se encontra e
uma alíquota de referência de 25% para a CBS e o IBS, em conjunto,
seja definida, o cenário apresentaria o seguinte panorama: a) IRPJ e
CSLL (7,68%), b) CBS e IBS (25%), culminando em um total aproxima-
do de 32,68%.
Do exemplo acima, é perceptível que, em linhas gerais, haveria
um aumento de 17,85% nos encargos tributários para as empresas
prestadoras de serviços que optam pelo regime de tributação do Lu-
cro Presumido.

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9. REFORMA TRIBUTÁRIA E A PEJOTIZAÇÃO
Analisando o ponto discutido anteriormente, fica claro que o setor
de serviços experimentará um impacto de relevância com a reforma,
um fator que, certamente, não passará despercebido pelos empresá-
rios do ramo.
Entretanto, em contrapartida, o texto aprovado sugere a inclusão
da possibilidade de crédito relativo ao CBS e IBS incidentes nas etapas
precedentes da cadeia produtiva. Teoricamente, tal medida pode resul-
tar em uma diminuição na alíquota efetiva desses recém-estabelecidos
tributos, tendo em vista a solução proposta neste artigo.
Uma mudança importante introduzida pela reforma é a adoção do
princípio da não cumulatividade. Tal postura facultará aos contribuin-
tes a utilização integral dos créditos dos tributos pagos nas etapas an-
teriores da cadeia de produção, evitando, dessa forma, a redundân-
cia tributária.
Dessa maneira, a cada etapa da cadeia produtiva, os contribuintes
suportarão apenas o tributo correspondente ao acréscimo de valor, po-
dendo se creditar do valor já tributado pelos agentes anteriores na se-
quência, especialmente aquele relacionado às despesas administrativas
e aos custos diretos da atividade-fim, que se destacam em relação aos
tributos (LAKS, 2023).
Visto que a força propulsora do setor de serviços é, predominan-
temente, a força de trabalho e não insumos, e que, em geral, o custo
associado a essa força laboral não é passível de crédito, o impacto tri-
butário nesse segmento é substancial. Isso naturalmente tende a enco-
rajar os empresários a adotar a modalidade de contratação por meio de
pessoas jurídicas, exatamente como delineado neste artigo.
Ao promover a contratação de empresas terceirizadas por meio de
pessoas jurídicas, haverá a possibilidade de aproveitar os créditos do
CBS e do IBS, amenizando a carga tributária e conferindo algum alívio
financeiro às organizações. Essa flexibilidade pode, inclusive, impul-
sionar de maneira expressiva a prática da pejotização, uma tendência
já em ascensão no panorama atual (RAMALHO, 2023).
Essa abordagem não apenas destaca os benefícios da contratação
através de pessoas jurídicas em relação ao regime celetista, mas tam-
bém impulsiona as entidades a se beneficiarem da aquisição de cré-
ditos do IBS e do CBS nas operações de contratação de outras pessoas

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jurídicas. Isso, por sua vez, representa um segundo aspecto vantajoso
desse tipo de abordagem.

10. TOMADA DE CRÉDITO POR EMPRESAS DO SIMPLES NACIONAL


Uma outra alteração que será introduzida pela reforma tributária é
a viabilidade de realização de créditos do IBS e CBS pelos destinatários
dos serviços providos por empresas enquadradas no Simples Nacional.
Essa mudança, sem dúvida, representará mais um impulso à prática da
pejotização, especialmente porque a maioria dos empreendedores que
optam por migrar do regime celetista se enquadra no regime simplifi-
cado de tributação.
Ao manter intacta a estrutura do Simples Nacional, fica determinado
que as companhias que adotam esse regime terão a prerrogativa de
aplicar as novas disposições da reforma no que concerne à quitação
do CBS e IBS. Isso significa que essas empresas poderão efetuar o paga-
mento dos novos tributos fora da guia simplificada.
Nessa circunstância, as empresas terão a opção de usufruir, conforme
a escolha de cada contribuinte, dos privilégios associados à aquisição e
à transferência dos créditos pertinentes a esses tributos, em conformi-
dade com as práticas convencionais. Essa perspectiva pode ser notavel-
mente vantajosa para as empresas enquadradas no regime simplificado
que oferecem serviços para outras entidades jurídicas – precisamente
a abordagem proposta por este artigo.
Independentemente da situação específica e da decisão tomada
pelo empresário sujeito ao Simples Nacional, o valor que ele paga em
suas operações próprias pode ser utilizado como crédito nas transa-
ções subsequentes realizadas por aqueles que adquirem os serviços,
algo que se revela benéfico no contexto comercial para as pequenas e
microempresas.

11. CONSIDERAÇÕES FINAIS


Ainda que a terceirização de executivos seja, em geral, mais comum
em contextos temporários, projetos específicos ou necessidades pon-
tuais, é possível aplicar essa abordagem a funcionários que têm uma
longa trajetória na empresa, sem perspectivas imediatas de crescimen-
to, e que enfrentam conflitos relacionados à estabilidade no emprego e
à transição de carreira.

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O dilema muitas vezes se estabelece entre a zona de conforto e o
desejo de progresso profissional. Em diversos casos, a decisão do fun-
cionário pela mudança é norteada principalmente pela renda e estabi-
lidade, enquanto o empregador resiste à transição devido à segurança
das informações e ao know-how retidos.
No entanto, com um contrato meticulosamente elaborado, é viável
oferecer não somente ao empregado a estabilidade financeira e vínculo
desejados, como também ao empregador a possibilidade de corrigir as
insuficiências de seu regime celetista, que, em função da expansão da
empresa e do escopo das funções e responsabilidades da média gerên-
cia, não mais garante a segurança operacional necessária.
É importante ressaltar que as condições de trabalho devem ser man-
tidas para o profissional contratado e que a ênfase nas metas e ob-
jetivos alcançados será parte integrante do acordo. A posição de um
gestor estará em risco, independentemente de seu vínculo empregatí-
cio – PJ ou CLT –, se ele não estiver produzindo resultados de acordo
com as expectativas. Contudo, vale lembrar que o desligamento de um
funcionário sob contrato CLT, desde que esteja em conformidade com
as práticas de mercado e as regulamentações legais, será considerado
apenas no contexto da relação empresa-prestador de serviço, em caso
de eventual litígio.
A proposta de reforma tributária atualmente em discussão no Con-
gresso Nacional traz consigo ramificações significativas para a econo-
mia e, especificamente, para a prática da “pejotização”. Essa aborda-
gem não apenas apresenta vantagens do ponto de vista tributário, mas
também salvaguarda os interesses regulatórios da empresa, bem como
suas previsões de crescimento e as funções dos terceirizados.
É primordial recordar que essa transição deve ser conduzida de for-
ma transparente e precisa, considerando as legislações locais, regula-
mentações trabalhistas e práticas comerciais.
Recomenda-se enfaticamente buscar orientação de um advogado es-
pecializado, um contador e/ou um profissional de recursos humanos,
a fim de avaliar e garantir que o contrato de terceirização seja meticu-
losamente delineado e atenda às necessidades da empresa contratante,
possibilitando cálculos precisos e personalizados, que levem em con-
sideração a situação específica da empresa e as normas legais vigentes.

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BRASIL. Lei 13.429 de 31 de março de 2017. Altera dispositivos da Lei n.º
6.019, de 3 de janeiro de 1974, que dispõe sobre o trabalho temporário
nas empresas urbanas e dá outras providências; e dispõe sobre as
relações de trabalho na empresa de prestação de serviços a terceiros.
Brasília, DF: Diário Oficial da União, 2017. Disponível em: https://
www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2017/lei/l13429.htm
LAKS, Larissa, A Reforma Tributária e o princípio da não cumulatividade, 27
de junho de 2023. Disponível em: https://www.jota.info/opiniao-e-analise/
artigos/a-reforma-tributaria-e-o-principio-da-nao-cumulatividade-27062023
MERGADO, Bárbara, Reforma Tributária: relator cita folha, mas setor de serviços
segue insatisfeito, 28 de junho de 2023. Disponível em: https://www.jota.
info/opiniao-e-analise/colunas/coluna-barbara-mengardo/reforma-tributaria-
relator-cita-folha-mas-setor-de-servicos-segue-insatisfeito-28062023
RAMALHO, Renan. Reforma Tributária pode incentivar “pejotização”
nos serviços e reduzir empregos formais, 20 de julho de 2023.
Disponível em: https%3A%2F%2Fwww.gazetadopovo.com.
br%2Feconomia%2Freforma-tributaria-pode-incentivar-
pejotizacao-nos-servicos-e-reduzir-empregos-formais
REMEDIO, J. A., & DONÁ, S. (2018). A pejotização do contrato
de trabalho e a reforma trabalhista. Revista de Direito do
Trabalho e Meio Ambiente do Trabalho, 4(2), 61-79.

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