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LIBELO DE DECLARAÇÃO DE NULIDADE MATRIMONIAL

I – Parte demandante:

Nome: Maria de Jesus Crucificado


Filiação: Antonio Carlos de Jesus e Maria Madalena de Jesus Crucificado.
Local de nascimento: Nova Iorque-SP.
Grau de instrução: Superior incompleto.
Profissão: Auxiliar de enfermagem.
Rua São João da Cruz, 45, bairro Monte Carmelo, CEP – 45000-900, Haifa-SP.
Religião: Católica praticante. Batizada em Nova Iorque-SP, na Paróquia Santa Teresinha,
em 12/12/1982.
O casamento realizou-se em 12/12/2009 na igreja de Nossa Senhora do Carmo em Haifa-
SP.

II – Parte demandada:

Nome: João de Deus


Filiação: Elias do Monte Horeb e Maria do Carmo Horeb.
Local de nascimento: João Ferreira-PE.
Grau de instrução: Superior completo.
Profissão: Professor.
Rua Santa Teresa de Jesus, 58, Jardim São José, CEP – 87999-000, João Ferreira-PE.
Religião: católico não praticante batizado na igreja São João no dia 17/08/1982 em João
Ferreira-PE.

Relatório dos fatos.

I – Preparação para o matrimônio.

Conheci João de Deus em Santos, estado de São Paulo, indo para um cruzeiro
marítimo. A viagem durou quinze dias, pois fomos até o Nordeste. Depois de dois dias
dentro do navio acabei conhecendo o João de Deus num jantar dançante. Eu estava já
um pouco embriagada quando João apareceu e me pediu para dançar com ele. Eu não
queria, mas ele insistiu e eu acabei aceitando. Conversamos um pouco, mas ainda não
sabia nem o nome dele. Algumas horas depois ele me levou para o quarto dele, onde
tivemos relações sexuais. Eu estava fora de mim mesma, pois como disse, estava
embriagada. Não sabia o que estava acontecendo.
Quatro dias depois é que fui me encontrar com João. Dessa vez eu estava sóbria e
queria conversar com ele com mais calma. Eu me sentia atraída por ele e queria conhecê-
lo melhor. Trocamos endereços e telefones e acabamos namorando naquela ocasião.
Contudo havia um empecilho para continuarmos o namoro: a distância. Ele morava em
Pernambuco e eu em São Paulo.
Quando acabou o cruzeiro marítimo, nos despedimos no porto de Santos e fomos
embora. Ele foi de avião para Pernambuco e eu de ônibus para Haifa, interior de São
Paulo. Nos primeiros dias ele me telefonava todos os dias. Ele sempre dizia que queria se
casar comigo. O nosso relacionamento estava mais sério, ainda que pelo telefone e pela
internet. Algum tempo depois descobri que estava grávida e quis fazer uma surpresa para
ele, indo até Pernambuco para dar a notícia. Eu estava muito contente e pensava que ele
também ficaria. Cheguei ao aeroporto de Recife e de lá peguei um ônibus para João
Ferreira. Quando cheguei à frente da casa dele eu telefonei para ele e disse que eu
estava lá. Ele ficou muito feliz me abraçou e me beijou. Sem muita conversa eu logo disse
que estava grávida. Essa notícia foi como um balde de água fria na cabeça dele. Ele disse
que o filho não era dele, mas para me deixar tranquila ele disse que faria um exame de
DNA para passar tudo a limpo e o nosso relacionamento acabaria ali mesmo. Fomos
numa clínica e realizamos o DNA. Ele até pagou a mais para que o exame saísse no
mesmo dia. Eu fiquei perplexa porque ele mudou totalmente o comportamento. Ele
parecia distante. Enfim, saiu o resultado e, para decepção dele, o filho realmente era dele.
Logo depois ele saiu, pegou um táxi e foi embora. Eu fui para a casa dele pensando que
ele estivesse lá, mas só estava o pai dele. Conversei com o pai dele. Contei toda a nossa
história e ele foi compreensivo e me levou para ficar na casa da irmã dele. Depois de
alguns dias João foi me encontrar, dizendo que estava atormentado e não tinha condições
financeiras de se casar, pois ele ainda morava com os pais. O pai dele, Elias do Monte
Horeb, disse que nos ajudaria. Então ele decidiu se casar comigo.

II – celebração do matrimônio.

Depois de tudo isso, retornei para Nova Iorque e fui falar com a minha mãe a
respeito de tudo o que havia acontecido. Eu não tinha falado para ela que iria para
Pernambuco. Apenas disse que iria visitar uma amiga no interior de São Paulo. Quando
falei com a minha mãe e disse que estava grávida, ela só faltou me matar. Saí de casa e
fui morar por um tempo em uma pensão. Liguei para João de Deus e disse que tinha
saído de casa e então ele me convidou para morar com ele em Pernambuco. No mesmo
dia fui para a estrada e peguei carona com os caminhoneiros, pois não tinha dinheiro para
ir de ônibus. Quando cheguei em João Ferreira os pais de João de Deus estavam
ansiosos por minha chegada. Eles tinham até preparado um quarto para mim e João. Fui
bem recebida naquela casa.
Um mês depois, quando já estava me adaptando eu e João fomos à paróquia para
saber o que precisava para se casar. O padre exigiu muitos documentos que eu não
tinha. Não queria dizer que havia fugido de casa porque tinha medo de o padre não
querer fazer o casamento. Então eu menti dizendo que a nossa casa em Haifa havia sido
queimada e que tinha perdido todos os documentos que ele tinha pedido. O padre então
nos auxiliou dizendo que tinha que pedir pelo menos a certidão de batismo na paróquia
que eu tinha sido batizada. Consegui entrar em contato com o padre da paróquia em
Nova Iorque e expliquei a situação. Então o padre me enviou por correio a certidão de
batismo e tudo se resolveu.
Fizemos o curso para o casamento num domingo à tarde. O João não queria
porque estava com planos de ir com os amigos ao campo de futebol. Eu insisti e ele foi,
mas não estava muito preocupado. A partir daquele momento senti que ele estava
naquele curso por obrigação, mas pensei que tudo era fantasia da minha cabeça.
No dia do casamento eu fiquei muito aflita porque o João atrasou trinta e cinco
minutos. Ele estava muito nervoso e não percebi que ele estava contente com o nosso
casamento. Ele mal pegou na minha mão quando estávamos diante do padre. Depois do
casamento fomos para a casa dos pais dele onde fizemos uma pequena festa. Ainda na
festa entramos em conflito. Eu fiquei brava porque ele estava bebendo muito e estava
agressivo. Ele me xingou dizendo que eu não mandava na vida dele. Naquele momento
percebi que tudo foi uma grande farsa. Comecei a chorar.

III – Vida matrimonial.

Algum tempo depois a nossa filha nasceu, mas ele era um pouco distante da
criança. Não percebia nenhum gesto de carinho. A cada dia ele se distanciava e um dia
ele foi trabalhar, mas não voltou, ficou à noite toda fora de casa. Ele havia saído com os
amigos depois do trabalho, ficou embriagado e se envolveu com uma moça que eu nem
sei o nome. Quem me contou foi um de seus amigos. Depois fui confirmar com ele e ele
me disse que era verdade, mas que só tinha beijado na boca a moça. Ele me jurou que
não foi nada mais além disso.
Fiquei totalmente desanimada porque havia passado oito meses do nosso
casamento e ele já tinha me traído. Fui conversar com o padre que havia feito o nosso
casamento. Senti a necessidade de falar com alguém. A vida religiosa eu nem praticava
mais. Não me sentia motivada porque não queria ir sozinha para a igreja. O meu marido
não se importava muito com isso. O padre me disse para tentar conversar, tentar resolver
isso, mas não quis.

IV – Separação.

Preferi me separar. No dia seguinte, pela manhã, saí de casa com a minha filha.
Fui para a casa de umas amigas minhas que ele não conhecia. Depois arrumei algum
dinheiro e fui tentar a vida em São Paulo e morar na casa de uns tios meus.
Hoje vivo sozinha, mas quero resolver a situação, caso eu venha a me casar
novamente. Do João eu não sei mais nada. Nem entrei mais em contato com ele. Apenas
sei que ele continua morando em Pernambuco.

Fundamentação do Direito da Igreja.

Tendo analisado os fatos concluímos que o matrimônio de Maria de Jesus e João


de Deus feriu Cân.1055, pois o cônjuge traiu a esposa. Não houve a coabitação, por isso
feriu o Cân. 1061 no §1.

Testemunhas:

1) Nome: Maria do Carmo Silva, avó paterna.


Endereço: Rua da paz, 9798 – São Paulo.
A Maria se casou muito rápido. Nem todo mundo da família conhecia o marido
dela. Ela me ligava falando que não estava feliz com ele e eu mesma dizia que ela tinha
que se separar.
2) Francisco de Assis, amigo.
Endereço: Rua Santa Clara, 97986 – João Ferreira-PE.

Conheci a Maria porque era amigo de João de Deus. Logo percebi que eles
estavam se casando no impulso, sem pensar muito. Para mim ele se casou com ela só
porque ela estava grávida.

3) Teresa de Jesus, irmã.


Endereço: Rua São João da Cruz, 45, bairro Monte Carmelo – Haifa-SP.

A minha irmã conheceu o João dentro de um navio e penso que ela estava num
conto de fadas, para mim era tudo muito romântico, mas sem amor verdadeiro. Além
disso, o João nunca ligou para saber como ela e sua filha estavam.

4) João Evangelista de Jesus Crucificado.


Endereço: Rua Monte Carmelo, 44 – São Paulo.

Eu conheci o marido de Maria e percebi que era muito imaturo para assumir um
casamento. Não sei por quê eles se casaram.

5) Alberto de Jerusalém, primo.


Endereço: Rua dos Carmelitas, 9348 – São Paulo.

Eu conheci por três dias a vida do casal quando eu fui visitar Maria em João
Ferreira. Os três dias que eu estive lá, vi que o João não ficava em casa. Ele estava de
férias e vivia com os amigos. A minha prima se queixava muito disso. Ele nem dava
atenção para Maria nem para a sua filha.
Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul
FACULDADE DE TEOLOGIA

LIBELO DE DECLARAÇÃO DE NULIDADE MATRIMONIAL

Acadêmico: Lucas Elias R. Almeida.


Prof: Teresa Benedetto.

Setembro de 2009

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