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isso como uma prova de saber que tinha responsabilidade pra chegar do outro
lado.
H. contou que tem com M. J. 3 filhos, sendo eles M., M. e H., a quem
chama de “minhas 3 jóias”. Relata que as filhas não deram muito trabalho e que
o filho nunca deu trabalho porque era muito obediente. Diz ter criado os filhos no
mesmo ritmo que o seu pai: duro. Tinha a regra com o filho de chegar 10h em
casa, e que este ligava quando precisava chegar em casa mais tarde por causa
de já ter passado o ônibus. “Eu falava: eu só fecho a porta quando você chegar”.
Ele agradece a Deus porque hoje entende ter 3 amigos. Relata o episódio de
sua enfermidade recente exemplificando o cuidado dos filhos para com ele. O
equilíbrio de mútuo auxílio que se estabelece entre os pais e seus filhos adultos
tende a mudar com o envelhecimento dos pais, tendo os filhos que prover uma
parcela maior de apoio (Bengtson, 1996 apud Papalia & Feldman 2013).
“Para você ter uma ideia a 60 e poucos dias atrás eu estive internado 27
dias, depois mais 7. Cada 24 horas era um deles que passava comigo 24 horas
no hospital. E todos eles trabalham, né? M. estuda e trabalha, minha filha M.
trabalha e é formada como pedagoga, a minha filha mais nova trabalha há quase
25 anos na Faesa. Ela trabalhava quase que a noite toda no computador sentada
no meu quarto do hospital. Então são 3 filhos, 3 amigos. Eu me sinto muito
honrado com os filhos que tenho porque todos estão formados. Eu não tenho
formação, só o 3º ano daquele tempo, mas todos formados.”
Descreve como “uma coisa gostosa” quando a família vai almoçar em
casa, que vão os netos e ao todo ficam 16 pessoas lá, que a esposa faz a comida
que cada um gosta “faz macarrão, feijão com linguiça, faz num sei o que, faz o
gosto de cada um”. Demonstra satisfação quando fala sobre a família espalhada
pela casa e a vó faz tudo para agradar a todo mundo e compra biscoitos pra
agradar a todos. Os netos já chegam pegando porque sabem onde ela guarda.
H. conta que tem 4 netas e 1 neto, ressaltando que uma delas que é filha
do M., está “chegando já formada a Médica” e a filha da filha “que é a B. que
está na Medicina na Ufes, já no terceiro ano”.
Sobre sua vida profissional, H. diz que “tem uma coisa que eu quero que
você registre.” Em seu relato descreve que trabalhou 12 anos na Casas
Giacomin, onde chegou a gerente depois de 3 anos; inaugurou uma loja da
Vitória Distribuidora de móveis na Reta da Penha e uma em Santa Mônica e
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nessa negociação a Giacomin vendeu uma loja para elas mas que a compra só
se realizaria se ele, H., fosse junto. H. se auto intitula “muito versátil” porque dali
conseguiu uma nova colocação junto à Clímax do Brasil para onde migrou sendo
o representante da mesma no Estado Espírito Santo e sul da Bahia,
permanecendo assim até 1992 quando esta foi encampada pela Prosdócimo
durante a crise de mercado. Por causa deste trabalho visitou e conheceu todas
as cidades do estado do ES e sul da Bahia indo até Porto Seguro. Depois disso
mudou de área de trabalho indo para a Fiat do Brasil ser supervisor de vendas.
Dali foi para a Wolkswagen onde trabalhou até maio deste ano durante a
pandemia, após 11 anos de trabalho junto à esta empresa. Foi dispensado por
causa da idade, fazendo parte do grupo de risco. H. relata que continuou
trabalhando de carteira assinada, com todos os direitos trabalhistas, mesmo
estando aposentado desde 1985. Contrariamente aos estereótipos relativos à
velhice, os trabalhadores de mais idade são muitas vezes mais produtivos que
os mais jovens. Embora possam trabalhar mais lentamente que estes, são mais
cuidadosos (Czaja e Sharit, 1998; Salthouse e Maurer, 1996; Treas, 1995 apud
Papalia & Feldman 2013). Diz sentir falta do trabalho e ter vontade de voltar a
trabalhar após passar a pandemia e ele melhorar da saúde. As palavras do chefe
do RH são seus motivadores: “o seu uniforme que você está devolvendo vai ficar
guardado porque você vai voltar pra trabalhar na empresa; todo mundo te quer”.
Apesar do tratamento de saúde, diz-se desgastado por estar a 7 meses dentro
de casa, mesmo que os filhos e amigos digam que ele já trabalhou muito na vida.
H. conta que saía de casa às 6:30h da manhã e retornava às 19h, vindo do
trabalho. Agora, ele com 79 anos e a esposa com 77, ele a faz ficar aborrecida,
ela o faz ficar aborrecido, e para acostumar-se com isso é muito difícil não ter
conflito.
Para ele no processo de se reinventar em função da pandemia é preciso
primeiro “ser temente a Deus porque Ele é o senhor de todas as coisas e Ele dá
pra gente a paciência que a gente precisa, a sabedoria que a gente precisa para
viver no dia a dia, principalmente um tolerar o outro, porque a vida de um casal
é um tolerar o outro, um saber falar e o outro saber ouvir pra poder a gente
vencer os obstáculos”. Seybold e Hill (2001, apud Papalia & Feldman, 2013 ) cita
que a religião parece ter um papel determinante de apoio para muitos idosos.
Possíveis explicações incluem o apoio social, o encorajamento a levar estilos de
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vida saudáveis, a percepção de uma medida de controle sobre a vida por meio
da oração, a criação de estados emocionais positivos, a redução do estresse e
a fé em Deus como forma de interpretação dos infortúnios.
Ao ser questionado sobre qual era a sua fé, disse fazer parte da Primeira
Igreja Batista em Laranjeiras a 39 anos, e que a fé é a base que o fortalece, que
ajudou a criar os filhos e que estes “estão no caminho compreendendo o que é
o futuro, sabendo que hoje nós temos que viver um dia de cada vez porque o
amanhã não nos pertence. Nós podemos deitar hoje e não acordar amanhã”.
Lawler-Rowe e Elliot (2009 apud Papalia & Feldman 2013) afirmam que muitos
estudos sugerem uma ligação positiva entre religião ou espiritualidade e saúde
Alguns eventos mundiais o marcaram. Citou a Copa do Mundo de 1958
quando ele já estava com 17 anos, e a Copa do Mundo de 1962 que o marcou
mais porque é vascaíno.
Sobre a época da ditadura citou a dureza da época, entre 60 e 64.
Recordou-se de quando se apresentou para o exército, mas que não passou na
prova por causa do seu tamanho. Na época precisava ter o tamanho mínimo de
1,68m para entrar e ele tinha 1,64m: “era a estatura de um soldado e eu não
tinha”. Lembrou-se da censura e que se tinha a necessidade de ter cuidado com
o que se falava, e que hoje ainda tem. Aponta que na época tinha muito chefe
de família que anoitecia em casa e era retirado de madrugada e nunca mais
aparecia.
H. coloca uma outra recordação muito triste que foi a perda da mãe.
Relata que ela tinha saúde frágil “coração crescido”, e no dia de Natal almoçaram
todos juntos na casa da irmã, indo embora às 15h. Às 17h ele recebeu um
telefonema relatando que ela tinha sido levada ao hospital e falecido. “Natal pra
mim tem essa marca”. Relata que ela era muito querida e tinha um apreço muito
grande por ele, seu primogênito. Exemplificou a partir disso o seu próprio
primogênito, o filho M., que passou a receber uma atenção especial por parte da
mãe a partir do momento que ficou diabético, a ponto das filhas dizerem que
“tudo que tem é pro M.” Contou que a “italiana é um pouco rigorosa”, e “sempre
fazia um pudim muito gostoso pra gente. Dessa data em diante nunca mais ela
fez nenhum pudim pra gente”.
Ao ser arguido sobre sua rotina atual disse ser o seu dia a dia nesses 7
meses de pandemia, ficar dentro do apartamento em um condomínio sem poder
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sair, em função do seu problema de saúde atual. O tratamento fez com que sua
imunidade caísse muito e ele não pode correr risco. A médica lhe pediu para não
sair, e em caso de necessidade usar máscara. Para as idas às consultas e
tratamentos os filhos o buscam em casa e o levam de volta. Fora essas saídas,
relata ficar em casa lendo a Bíblia, estudando, lendo revista, assistindo o jornal
e o futebol “hoje tem o Vasco pra mim ver, né?”.
H. relatou sua história atual em relação à saúde. Disse já lidar com um
enfisema pulmonar, fruto de uma pneumonia mal curada, a muitos anos.
Realizava caminhadas longas dentro do próprio condomínio. As chances de
permanecer saudável e fisicamente capaz em geral dependem das opções de
estilo de vida, principalmente em relação ao tabagismo e à prática de exercícios
(Vu et al., 2009 apud Papalia & Feldman, 2013, p. 587). Realizava o percurso de
6km diários sendo que no dia 03 de julho não se sentiu bem e não conseguiu
terminar. No dia seguinte também não conseguiu manter essa rotina. No
domingo, dia 05, foi almoçar na casa da filha que mora à distância de 10 a 12
minutos de caminhada, mas levou aproximadamente 40 minutos para fazer o
trecho, com muitas paradas para descansar. De lá ligou para o seu médico
pneumologista após o almoço e este o enviou para o CIAS, onde deu entrada no
dia 05 no fim da tarde e acabou por permanecer por 20 dias. Com os exames
realizados, chegou o diagnóstico de leucemia e “eu estou tratado é disso aí; ela
não tem cura não, tá? Ela tem tratamento. Por isso é que eu tenho que me cuidar.
Minha vida atual é curtir os filhos, os netos, genro, nora, e cuidar deu e da velha,
eu e da coroa”. Ele cobra que as netas liguem mais para conversar com ele
sendo que a neta mais nova acompanha todos os exames, busca os resultados
no laboratório e explica os resultados. Diz ter muita alegria e acha que já chegou
aonde tinha que chegar. H. cita as palavras da médica para ele: “o senhor é
muito forte, tem um pensamento muito forte, o senhor vai vencer o obstáculo”.
Adultos mais velhos em geral têm menos transtornos mentais e estão mais
felizes e satisfeitos com a vida que adultos mais jovens (Mroczek e Kolarz, 1998;
Wykle e Musil, 1993; Yang, 2008 apud Papalia & Feldman, 2013)
Em conversa com os filhos, H. relata que já lhes disse que, como pobres,
eles tinham tudo, moraram em lugares bons e com boa alimentação e nunca
precisaram comer “em uma lata de óleo de côco, atolado numa lama, plantando
arroz como eu já comi”.
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Ao final da entrevista H. colocou que em sua vida mudou pouca coisa dos
70 anos para cá, seus hábitos mudaram pouco, apenas as questões
relacionadas à saúde mudaram um pouco mais.
A entrevistadora pediu que H. descrevesse sua vida em 3 palavras.
Começou lembrando de sua vinda para Vitória, sozinho, morar em república,
com aproximadamente 20 anos para trabalhar e enfrentar as dificuldades.
Considerou isso uma marca. Colocou como uma segunda marca ver os filhos
que tem hoje, seu crescimento tanto fisicamente, quanto moralmente e
estudando. Ele afirmou que isso marcou muito a sua vida.
H. possui um problema de audição devido ao envelhecimento e aos
trabalhos em indústria com excesso de barulhos altos. Segundo alguns estudos
com norte-americanos, Schoenborn e Heyman (2009 apud Papalia & Feldman,
2013) afirmam que deficiências auditivas aumentam com a idade e afetam 31,6%
dos norte-americanos entre 65 e 74 anos, e 62,1% daqueles com 85 anos ou
mais. Os homens estão mais propensos a ter perda de audição do que as
mulheres, e os brancos mais do que os negros.
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICA