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Entrevista com Sr. H. P. S. – Psicologia do Envelhecimento

H. P. S. é um senhor de 79 anos, nascido em 15 de julho de 1941, em


Santa Izabel, localidade no interior do estado do Espírito Santo. Papalia &
Feldman (2013, p.572) afirmam o envelhecimento global da população e estima
que até 2040 a população de 65 anos ou mais poderá chegar a 1,3 bilhão.
Este local fica depois da cidade de Jerônimo Monteiro, perto de Burarama.
H. tem 3 irmãos, Z., atualmente já falecido, M. e V. As duas irmãs moram
atualmente em Vila Velha e ele, H., em Laranjeiras na Serra.
De sua infância relata que sua família morava em uma fazenda onde seu
pai era meeiro, trabalhando na plantação de milho, de arroz, de feijão, colheita
de café. Ele e o irmão mais novo participavam desse trabalho que considera
muito duro, carregando sacas de café da lavoura pra trazer pro terreiro,
quebrando milho e jogando na caçamba nas costas até ela encher. Sobre esse
fato ele se relembrou de uma ocasião que o pai “tinha sido mordido de cobra na
mão, um jaracussú e ele ficou muito mal, quase morreu”. Em função disso, ele e
o irmão mais novo passaram a noite a lavar 150 balaios de café e colocaram
para secar no terreiro. Segundo Cicirelli (1995, apud Papalia & Feldman, 2013)
Recordar as primeiras experiências compartilhadas torna-se mais frequente na
velhice; e isso pode ajudar a recapitular a vida e a colocar o significado dos
relacionamentos familiares em perspectiva. Descreve sua infância entre o
trabalho pesado da roça que começava por volta das 6 horas da manhã e os
jogos de futebol, todos os finais de semana, no campo que ficava ao lado de uma
venda grande em uma fazenda vizinha à distância de 1 hora e meia a pé.
De sua vida no interior disse ter muita coisa gostosa. Relembra ser o
companheiro de pescaria de sua vó paterna, chupar as mangas sentado nos
galhos da mangueira já lavadas pela chuva fina, andar a cavalo, o jogo de futebol
nos finais de semana. Morou nessa fazenda até os 15 anos aproximadamente.
Para estudar andava mais de 2 horas para chegar ao colégio, onde
conseguiu cursar até o 3º ano primário daquela época. O caminho era vencido
independente de chuva, poeira ou passando pelos pastos. A escola era na casa
da professora. No 3º ano só haviam 3 alunos, e os alunos das diversas séries
estudavam todos juntos no mesmo ambiente. Na época de prova a professora
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colocava os alunos do 3º ano cada um em um cômodo da casa: um na sala,


outro na varanda e outro na cozinha. Afirma que o que aprendeu naquela época,
o 1º grau completo de hoje não consegue.
Sua família vivia da meia da produção da roça e seu pai era barbeiro nos
finais de semana na venda grande. “Cortava cabelo do pessoal todo ali”. Por
causa da barbearia a família mudou-se para Cachoeiro. “A razão da gente mudar
pra Cachoeiro foi que ele conheceu um amigo em Cachoeiro, que era barbeiro
também, teve em Cachoeiro trabalhando com ele, e aí ele virou a cabeça do meu
pai pra meu pai ir trabalhar com ele, e meu pai trabalhou com ele muitos anos”.
“Saiu aquela mudança toda lá do interior pra cidade, os matutos na cidade”.
H. relembra do irmão mais novo, Z., já falecido a quase 20 anos em função
de um problema com diabetes. Cicirelli (1995, apud Papalia & Feldman, 2013),
diz que apesar da morte de um irmão ser compreendida como um evento normal
daquela etapa da vida, os sobreviventes podem sofrer intensamente e ficar
solitários ou deprimidos. A perda de um irmão representa não somente a perda
de alguém em quem se apoiar e uma mudança na constelação familiar, mas
talvez até uma perda parcial da identidade. Chorar a morte de um irmão significa
lamentar a integridade perdida da família original dentro da qual viemos a nos
conhecer, e isso pode também nos fazer lembrar a nossa própria proximidade
com a morte. “Ele não era muito cuidadoso com ele mesmo e no final das contas
teve que cortar até a perna”. Complementou dizendo: “O mais triste pra mim
dentro disso que eu que tive que autorizar pra cortar a perna, e conversar com
ele, conscientizar ele do que ele teria que fazer para viver mais uns 2 ou 3 ou 4
meses. E ele dizia pra mim assim: irmão, você que decide! Não é fácil, não!”
Sobre a vida em Cachoeiro, recorda que chegou da roça, ficou boiando
sem conhecer nada e tudo era diferente, mas logo arranjou um emprego numa
padaria para entregar pão, de bicicleta, e andou “aquelas ruas de Cachoeiro
toda”. Até hoje acha a cidade muito gostosa. Recordou de um acidente em 1958,
quando trabalhava nesta padaria, descendo a ladeira da Igreja que dava no
centro de Cachoeiro. Era um dia chuvoso e quando ele estava descendo um
ônibus o atingiu, pegando a roda traseira da bicicleta. Ele saiu rolando, indo parar
debaixo de um palanque, e saiu “sem nenhum arranhão e não me quebrou nada
porque Deus me guardou”. Relatou que o ônibus teve dificuldade de parar por
causa do freio no chão molhado e as pessoas saíram gritando do ônibus:
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“mataram o rapaz”, mas ele apenas se levantou, pegou a bicicleta e já estava


indo embora. Ele agradece a Deus por isso.
Em 1961 mudou-se para Vitória em função do trabalho. Uma fábrica de
calçados que funcionava em Jucutuquara enviou diretores até Cachoeiro para
buscar profissionais em uma outra fábrica de calçados, onde ele trabalhava na
ocasião montando calçado. Ele foi escolhido e mudou-se. “Vim e morei de vez
aqui”. Trabalhou vários anos nessa fábrica de Jucutuquara, trabalhou na
sapataria Jato na Rua 7 de setembro no Centro de Vitória, que era do mesmo
dono da fábrica.
Neste período de 66 a 67 que se casou com M. J. P. e H. relata que era
muito católico nessa época de sua vida e frequentava as missas no Convento
dominicalmente. Em um desses domingos após a missa, foi na lanchonete tomar
café e “eu vi e ela me viu, e a gente se entendeu”. Dois anos e meio depois eles
firmaram o compromisso de casamento, no dia 03 de junho, a 53 anos, “ela me
tolerando e eu tolerando-a”.
Sobre sua esposa M. J., o Sr. H. conta ser ela uma italiana cujo pai veio
fugido da Itália na época da guerra, para o Brasil, sendo ela nascida em Trento
naquele país. Ela veio pequenininha e aprendeu o português com facilidade. O
pai dela era professor. Quando se conheceram ele estava com 22 pra 23 anos e
ela com 19 pra 20 anos. “Agora estou com 79 e ela com 77. É uma vida e uma
vida longa, muitas lutas, muitas batalhas, mas muitas vitórias”. Para Orathinkal
e Vansteenwegen (2007, apud Papalia & Feldman 2013) casais que ainda estão
juntos na vida adulta tardia são mais propensos que os de meia-idade a
descrever seu casamento como mais satisfatório e com menos problemas de
ajustamento.
Ao ser pedido que contasse uma das vitórias, uma conquista, H. relatou
uma de quando tinha 17 anos dizendo que essa o marcou porque tinha risco de
vida e ele estava sozinho. “Eu chegar na beira dum rio, em época de enchente
pra atravessar o rio e a canoa está no meu lado. Ela tinha que estar do outro
lado pra pessoa vir me buscar. E eu tinha que atravessar. Eu nunca ter remado
e entrar naquela canoa, num rio cheio, muito cheio e conseguir chegar do outro
lado uns 50 metros além do porto, mas consegui. Foi uma aventura pesada.
Aquela ali foi risco de vida. Mas eu consegui. Deus estava comigo.” Ele entendeu
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isso como uma prova de saber que tinha responsabilidade pra chegar do outro
lado.
H. contou que tem com M. J. 3 filhos, sendo eles M., M. e H., a quem
chama de “minhas 3 jóias”. Relata que as filhas não deram muito trabalho e que
o filho nunca deu trabalho porque era muito obediente. Diz ter criado os filhos no
mesmo ritmo que o seu pai: duro. Tinha a regra com o filho de chegar 10h em
casa, e que este ligava quando precisava chegar em casa mais tarde por causa
de já ter passado o ônibus. “Eu falava: eu só fecho a porta quando você chegar”.
Ele agradece a Deus porque hoje entende ter 3 amigos. Relata o episódio de
sua enfermidade recente exemplificando o cuidado dos filhos para com ele. O
equilíbrio de mútuo auxílio que se estabelece entre os pais e seus filhos adultos
tende a mudar com o envelhecimento dos pais, tendo os filhos que prover uma
parcela maior de apoio (Bengtson, 1996 apud Papalia & Feldman 2013).
“Para você ter uma ideia a 60 e poucos dias atrás eu estive internado 27
dias, depois mais 7. Cada 24 horas era um deles que passava comigo 24 horas
no hospital. E todos eles trabalham, né? M. estuda e trabalha, minha filha M.
trabalha e é formada como pedagoga, a minha filha mais nova trabalha há quase
25 anos na Faesa. Ela trabalhava quase que a noite toda no computador sentada
no meu quarto do hospital. Então são 3 filhos, 3 amigos. Eu me sinto muito
honrado com os filhos que tenho porque todos estão formados. Eu não tenho
formação, só o 3º ano daquele tempo, mas todos formados.”
Descreve como “uma coisa gostosa” quando a família vai almoçar em
casa, que vão os netos e ao todo ficam 16 pessoas lá, que a esposa faz a comida
que cada um gosta “faz macarrão, feijão com linguiça, faz num sei o que, faz o
gosto de cada um”. Demonstra satisfação quando fala sobre a família espalhada
pela casa e a vó faz tudo para agradar a todo mundo e compra biscoitos pra
agradar a todos. Os netos já chegam pegando porque sabem onde ela guarda.
H. conta que tem 4 netas e 1 neto, ressaltando que uma delas que é filha
do M., está “chegando já formada a Médica” e a filha da filha “que é a B. que
está na Medicina na Ufes, já no terceiro ano”.
Sobre sua vida profissional, H. diz que “tem uma coisa que eu quero que
você registre.” Em seu relato descreve que trabalhou 12 anos na Casas
Giacomin, onde chegou a gerente depois de 3 anos; inaugurou uma loja da
Vitória Distribuidora de móveis na Reta da Penha e uma em Santa Mônica e
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nessa negociação a Giacomin vendeu uma loja para elas mas que a compra só
se realizaria se ele, H., fosse junto. H. se auto intitula “muito versátil” porque dali
conseguiu uma nova colocação junto à Clímax do Brasil para onde migrou sendo
o representante da mesma no Estado Espírito Santo e sul da Bahia,
permanecendo assim até 1992 quando esta foi encampada pela Prosdócimo
durante a crise de mercado. Por causa deste trabalho visitou e conheceu todas
as cidades do estado do ES e sul da Bahia indo até Porto Seguro. Depois disso
mudou de área de trabalho indo para a Fiat do Brasil ser supervisor de vendas.
Dali foi para a Wolkswagen onde trabalhou até maio deste ano durante a
pandemia, após 11 anos de trabalho junto à esta empresa. Foi dispensado por
causa da idade, fazendo parte do grupo de risco. H. relata que continuou
trabalhando de carteira assinada, com todos os direitos trabalhistas, mesmo
estando aposentado desde 1985. Contrariamente aos estereótipos relativos à
velhice, os trabalhadores de mais idade são muitas vezes mais produtivos que
os mais jovens. Embora possam trabalhar mais lentamente que estes, são mais
cuidadosos (Czaja e Sharit, 1998; Salthouse e Maurer, 1996; Treas, 1995 apud
Papalia & Feldman 2013). Diz sentir falta do trabalho e ter vontade de voltar a
trabalhar após passar a pandemia e ele melhorar da saúde. As palavras do chefe
do RH são seus motivadores: “o seu uniforme que você está devolvendo vai ficar
guardado porque você vai voltar pra trabalhar na empresa; todo mundo te quer”.
Apesar do tratamento de saúde, diz-se desgastado por estar a 7 meses dentro
de casa, mesmo que os filhos e amigos digam que ele já trabalhou muito na vida.
H. conta que saía de casa às 6:30h da manhã e retornava às 19h, vindo do
trabalho. Agora, ele com 79 anos e a esposa com 77, ele a faz ficar aborrecida,
ela o faz ficar aborrecido, e para acostumar-se com isso é muito difícil não ter
conflito.
Para ele no processo de se reinventar em função da pandemia é preciso
primeiro “ser temente a Deus porque Ele é o senhor de todas as coisas e Ele dá
pra gente a paciência que a gente precisa, a sabedoria que a gente precisa para
viver no dia a dia, principalmente um tolerar o outro, porque a vida de um casal
é um tolerar o outro, um saber falar e o outro saber ouvir pra poder a gente
vencer os obstáculos”. Seybold e Hill (2001, apud Papalia & Feldman, 2013 ) cita
que a religião parece ter um papel determinante de apoio para muitos idosos.
Possíveis explicações incluem o apoio social, o encorajamento a levar estilos de
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vida saudáveis, a percepção de uma medida de controle sobre a vida por meio
da oração, a criação de estados emocionais positivos, a redução do estresse e
a fé em Deus como forma de interpretação dos infortúnios.
Ao ser questionado sobre qual era a sua fé, disse fazer parte da Primeira
Igreja Batista em Laranjeiras a 39 anos, e que a fé é a base que o fortalece, que
ajudou a criar os filhos e que estes “estão no caminho compreendendo o que é
o futuro, sabendo que hoje nós temos que viver um dia de cada vez porque o
amanhã não nos pertence. Nós podemos deitar hoje e não acordar amanhã”.
Lawler-Rowe e Elliot (2009 apud Papalia & Feldman 2013) afirmam que muitos
estudos sugerem uma ligação positiva entre religião ou espiritualidade e saúde
Alguns eventos mundiais o marcaram. Citou a Copa do Mundo de 1958
quando ele já estava com 17 anos, e a Copa do Mundo de 1962 que o marcou
mais porque é vascaíno.
Sobre a época da ditadura citou a dureza da época, entre 60 e 64.
Recordou-se de quando se apresentou para o exército, mas que não passou na
prova por causa do seu tamanho. Na época precisava ter o tamanho mínimo de
1,68m para entrar e ele tinha 1,64m: “era a estatura de um soldado e eu não
tinha”. Lembrou-se da censura e que se tinha a necessidade de ter cuidado com
o que se falava, e que hoje ainda tem. Aponta que na época tinha muito chefe
de família que anoitecia em casa e era retirado de madrugada e nunca mais
aparecia.
H. coloca uma outra recordação muito triste que foi a perda da mãe.
Relata que ela tinha saúde frágil “coração crescido”, e no dia de Natal almoçaram
todos juntos na casa da irmã, indo embora às 15h. Às 17h ele recebeu um
telefonema relatando que ela tinha sido levada ao hospital e falecido. “Natal pra
mim tem essa marca”. Relata que ela era muito querida e tinha um apreço muito
grande por ele, seu primogênito. Exemplificou a partir disso o seu próprio
primogênito, o filho M., que passou a receber uma atenção especial por parte da
mãe a partir do momento que ficou diabético, a ponto das filhas dizerem que
“tudo que tem é pro M.” Contou que a “italiana é um pouco rigorosa”, e “sempre
fazia um pudim muito gostoso pra gente. Dessa data em diante nunca mais ela
fez nenhum pudim pra gente”.
Ao ser arguido sobre sua rotina atual disse ser o seu dia a dia nesses 7
meses de pandemia, ficar dentro do apartamento em um condomínio sem poder
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sair, em função do seu problema de saúde atual. O tratamento fez com que sua
imunidade caísse muito e ele não pode correr risco. A médica lhe pediu para não
sair, e em caso de necessidade usar máscara. Para as idas às consultas e
tratamentos os filhos o buscam em casa e o levam de volta. Fora essas saídas,
relata ficar em casa lendo a Bíblia, estudando, lendo revista, assistindo o jornal
e o futebol “hoje tem o Vasco pra mim ver, né?”.
H. relatou sua história atual em relação à saúde. Disse já lidar com um
enfisema pulmonar, fruto de uma pneumonia mal curada, a muitos anos.
Realizava caminhadas longas dentro do próprio condomínio. As chances de
permanecer saudável e fisicamente capaz em geral dependem das opções de
estilo de vida, principalmente em relação ao tabagismo e à prática de exercícios
(Vu et al., 2009 apud Papalia & Feldman, 2013, p. 587). Realizava o percurso de
6km diários sendo que no dia 03 de julho não se sentiu bem e não conseguiu
terminar. No dia seguinte também não conseguiu manter essa rotina. No
domingo, dia 05, foi almoçar na casa da filha que mora à distância de 10 a 12
minutos de caminhada, mas levou aproximadamente 40 minutos para fazer o
trecho, com muitas paradas para descansar. De lá ligou para o seu médico
pneumologista após o almoço e este o enviou para o CIAS, onde deu entrada no
dia 05 no fim da tarde e acabou por permanecer por 20 dias. Com os exames
realizados, chegou o diagnóstico de leucemia e “eu estou tratado é disso aí; ela
não tem cura não, tá? Ela tem tratamento. Por isso é que eu tenho que me cuidar.
Minha vida atual é curtir os filhos, os netos, genro, nora, e cuidar deu e da velha,
eu e da coroa”. Ele cobra que as netas liguem mais para conversar com ele
sendo que a neta mais nova acompanha todos os exames, busca os resultados
no laboratório e explica os resultados. Diz ter muita alegria e acha que já chegou
aonde tinha que chegar. H. cita as palavras da médica para ele: “o senhor é
muito forte, tem um pensamento muito forte, o senhor vai vencer o obstáculo”.
Adultos mais velhos em geral têm menos transtornos mentais e estão mais
felizes e satisfeitos com a vida que adultos mais jovens (Mroczek e Kolarz, 1998;
Wykle e Musil, 1993; Yang, 2008 apud Papalia & Feldman, 2013)
Em conversa com os filhos, H. relata que já lhes disse que, como pobres,
eles tinham tudo, moraram em lugares bons e com boa alimentação e nunca
precisaram comer “em uma lata de óleo de côco, atolado numa lama, plantando
arroz como eu já comi”.
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H. começou a perceber o peso da idade após a enfermidade sendo que


deu conta da sua 3ª idade a mais ou menos 3 anos. No seu local de trabalho o
gerente lhe dizia: “eu queria ter 5 igual você”. Ele era disposto e atendia às
empresas sem se prender ao espaço físico da loja para realizar as vendas. As
pessoas o percebiam como mais novo do que sua idade. Entende que a
enfermidade o deixou mais abatido mas não o derrubou, “os sonhos não
morreram”. Rowe e Kahn (1997 apud Papalia e Feldman, 2013) identificaram
três componentes principais do envelhecimento bem-sucedido sendo um deles
o tender a ter apoio social, emocional e material, o que contribui para a saúde
mental, enquanto permanecem ativos e produtivos, não se consideram velhos.
Ele realizava uma atividade a 29 anos mas que desde janeiro, em função
da saúde e também da pandemia, não consegue mais. Trata-se de visitar um
asilo de velhos localizado na ES-010, nas tardes dos 1os domingos de cada mês,
junto com os irmãos da igreja, e realizar a festa de natal no 1º domingo de
dezembro. H. relata que deixava de fazer um lazer com a esposa ou de tirar um
sono no domingo a tarde para estar lá nestes dias. Alguns pesquisadores
concentram-se na atividade produtiva, quer seja remunerada ou não, como a
chave para envelhecer bem. Destas visitas ele diz ter muitas lembranças boas e
outras tristes. Narrou que em um dessas visitas um senhor estava gritando no
quarto e ele foi até lá junto com outros irmãos da igreja. Este senhor estava
chamando pela filha que era uma dentista e a mais de um mês não ia vê-lo. Este
idoso veio a falecer naquela tarde segurando a sua mão e isto o machucou muito.
Como uma lembrança considerada muito boa foi o culto de Natal de 2019 pois
haviam 120 pessoas no local e puderam entregar presentes, kits de
necessidades pessoais e fazer uma festa no local.
H. contou que houveram 2 momentos muito felizes para ele em sua
história de vida. O primeiro foi o dia do seu casamento, no dia 03 de junho na
Igreja Consolação em Cachoeiro de Itapemirim. Ele e a esposa moravam em
Vitória, ela era de Baixo Guandu, e foram se casar na igreja onde seus pais
moravam, fazendo a festa na casa de sua mãe. Relata isto como muito marcante
para ele. O segundo relata como sendo o nascimento do seu primeiro filho M.
porque foi uma gestação difícil, sendo necessária a internação da esposa por 45
dias na maternidade tomando soro para sustentar a gravidez.
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Ao final da entrevista H. colocou que em sua vida mudou pouca coisa dos
70 anos para cá, seus hábitos mudaram pouco, apenas as questões
relacionadas à saúde mudaram um pouco mais.
A entrevistadora pediu que H. descrevesse sua vida em 3 palavras.
Começou lembrando de sua vinda para Vitória, sozinho, morar em república,
com aproximadamente 20 anos para trabalhar e enfrentar as dificuldades.
Considerou isso uma marca. Colocou como uma segunda marca ver os filhos
que tem hoje, seu crescimento tanto fisicamente, quanto moralmente e
estudando. Ele afirmou que isso marcou muito a sua vida.
H. possui um problema de audição devido ao envelhecimento e aos
trabalhos em indústria com excesso de barulhos altos. Segundo alguns estudos
com norte-americanos, Schoenborn e Heyman (2009 apud Papalia & Feldman,
2013) afirmam que deficiências auditivas aumentam com a idade e afetam 31,6%
dos norte-americanos entre 65 e 74 anos, e 62,1% daqueles com 85 anos ou
mais. Os homens estão mais propensos a ter perda de audição do que as
mulheres, e os brancos mais do que os negros.
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICA

PAPALIA, Diane E.; FELDMAN, Ruth D. DESENVOLVIMENTO HUMANO.


tradução: Carla Filomena Marques Pinto Vercesi... [et al.]; [revisão técnica:
Maria Cecília de Vilhena Moraes Silva... et al.]. – 12a. ed. – Porto Alegre:
AMGH, 2013

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