Você está na página 1de 8

Boa tarde, pessoal.

Tudo bem com vocês?

Meu nome é João Guilherme Miquelão, neste momento tenho 22 anos. E é dia 28/04/2023.

Estou aqui para contar para vocês e para me relembrar a minha história.

Nasci no dia 15 de julho de 2000, neste período sou filho de um agricultar cujo nome é João
Rosinei Miquelão. E sou filho também de uma mulher incrível que neste momento é
farmacêutica e bioquímica, chamada de Ana Karina Melim Benthien. Tenho dois irmãos Luís
Gustavo Miquelão que tem 7 anos de diferença comigo e a Ana Gabriela que tem 2 anos de
diferença comigo, ambos mais velhos. Tornando-me o casula da família.

Morávamos em uma casa no centro da cidade, e tínhamos um sítio que meu pai herdou do
falecimento de minha vó.

Neste contexto, onde meu pai administrava terras e minha mãe era professora universitária. A
vida quase sempre foi marcada por muito trabalho e compromissos de ambos. E para ser bem
sincero, não lembro de tantas situações da minha infância quanto gostaria, afinal quando tinha
6 anos em 2006. Meus pais se separaram e viemos morar em Jaraguá do Sul em Santa Catarina.

O pouco que me lembro dessa época é algo ao qual se dissocia muito com a minha realidade
hoje e se dissocia muita com realidade das pessoas envolvidas nas histórias hoje, portanto não
tenho vergonha de contar essas histórias. Afinal todas as pessoas envolvidas evoluíram,
viveram, erraram, aprenderam e não são mais o que eram.

E digo isso porque meu pai, que neste período dos meus 6 primeiros anos era alguém muito
difícil de lidar. Lembro- me de várias situações aonde ele era agressivo conosco e com minha
mãe, não me lembro de agressões físicas. Mas lembro de várias e várias discussões que ele
teve onde minha mãe saia chorando e nós ficávamos sem saber o que fazer, afinal eu mesmo
tinha menos de 6 anos de idade e até ali era praticamente um papel em branco em que estava
vendo tudo pela primeira vez. Lembro que meu pai era muito agressivo e muitas vezes
descontava a raiva nas coisas e quebrava as coisas.

Vou lhes contar uma história.

Desde pequeno, gostava de jogar videogame. SEMPRE gostei e jogo até hoje inclusive.

Quando eu tinha uns 3 anos de idade eu sabia ligar, manusear e procurar na internet dos
computadores os joguinhos que eu gostava. Minha mãe sempre conta, que eu queria aprender
a digitar “Fliperama”. E dessa forma, conseguia colocar os joguinhos sem a ajuda de ninguém.

E na época, aquelas CPU’s brancas com monitores de tubo, teclado e mouse tudo branco. Onde
parecia que era tão malfeito que ficava tudo amarelado rapidamente. Era muito feio kkk.

E esses computadores, comparados aos que temos hoje simplesmente é como comparar uma
Porsche 911 ano 2023. Com um Ford T 1908. Não há comparação.

Mas a impaciência de uma pessoa dos anos 2000 e a impaciência de uma pessoa dos anos
2020’s. É bem parecido até.

Então me lembro bem desse dia em que voltei da escola e estava assistindo na TV um
programa que passava as 18:30. Acredito que era Ratinho, mas não tenho certeza. E sempre
que chegava da escola tinha uma mamadeira de leite com Nescau me aguardando quentinha
debaixo do micro-ondas. Peguei minha mamadeira, e fui para a frente da TV, me estiquei no
sofá e fiquei lá deitadão admirando o programa. E lembro bem que neste dia o meu pai estava
nervoso porque tinha que entregar algum documento, ou imprimir um documento e ele estava
com pressa e aquele computador não funcionava. Quando você ligava estes computadores
antigos aparecia uma tela azul com uma barra em amarelo e quando a barra era preenchida
até o fim o computador então iniciava e você poderia navegar. E muitas vezes demorava vários
e vários minutos para funcionar. Era sempre muito devagar. Meu pai naquele momento de
impaciência e explosão começou a gritar em casa que o computador erra horrível que não
funcionava e se me lembro corretamente ele disse que era por conta de que eu jogava jogos e
que estava estragando o computador. E nesses momentos normalmente ele explodia e não
havia o que segurava, era sempre uma gritaria de ódio com descontar em alguma coisa.
Naquele dia então o computador era a vítima e nós que estávamos ao redor também, ele se
levantou da cadeira e ao lado da mesa do computador tinha uma estante aonde ficava a TV
que eu e a Gabi minha irmã estávamos vendo com nossas mamadeiras. E de frente para a TV
tinha os sofás e ao lado o corredor que dava acesso a sala. Neste corredor estava minha tia
Nena e minha mãe tentando acalmá-lo e lembro da cena como se fosse agora. Ele se levantou
da cadeira, chutou a parte da frente da CPU, virou em direção a minha mãe e minha tia xingou
as duas e fez um looping onde ele chutou o computador, xingou elas e chutou o computador e
xingou elas umas três vezes. E eu com meus 3,4 ou 5 anos fiquei em choque paralisado com
aquela situação em que eu me via e obviamente como criança que me sentina impotente e
sem entender o que estava acontecendo. Lembro-me inclusive de ameaças de agressão contra
a minha tia e minha mãe, mas não lembro de ele ter agredido elas fisicamente.

Várias vezes esse tipo de ação ocorreu, lembro também de uma tarde de domingo em que
todos nós lá de casa estávamos em um dia calmo, tranquilo e brincando na mesa da cozinha
junto aos meus pais e eles brincando juntamente conosco. Isto já era em 2006, lembro porque
era a discussão de quem ficaria com a cozinha de casa que era uma cozinha planejada de
granito preto e bem cara, neste ponto eles já estavam se separando e minha mãe queria trazer
a cozinha para Jaraguá e meu pai gostaria de ficar com a cozinha também. E o mais difícil de
entender é que nessas discussões era sempre o meu pai brigando e falando alto e minha mãe
tentando de forma mais polida discutir e argumentar. E esse brigando e falando alto era
sempre em tom de autoridade e de imperatividade. E lembro o quanto isso machucava minha
mãe, nossa casa tinha um espaço ao lado onde tinha um portão que dava acesso a parte de
trás da casa e me lembro como se fosse hoje. Após essa briga deles ele saiu de casa, cantando
pneu de carro e ela foi para fora neste portãozinho e começou a chorar sozinha e em silencio.
Eu sempre tive o tato para essas coisas, sempre vi as reações dela. Sempre vi o quanto ela
sofria com isso porque desde o tempo que nasci esse tipo de situação ocorria e eu via o quanto
isso perturbava eu e meus irmãos e obviamente a toxicidade do relacionamento deles.

Por conta desse tipo de história ao final de 2006, minha mãe alugou um apartamento em
Jaraguá do sul em santa Catarina, aonde meu Tio Cláudio e minha tinha Cris, que é irmã gêmea
da minha mãe moravam.

E um novo capítulo começou para nós neste momento. Mas antes de entrar neste outro
assunto e dar prosseguimento nesta história, quero pontuar a seguinte questão.

Até este momento eu pontuei apenas o lado ruim que fez ele e minha mãe se separarem, mas
ele era uma boa pessoal. Tratava os filhos bem e era carinhoso também. Lembro que era
neném e ele me colocava aos domingos de manhã em cima do barrigão dele, e eu como era
pequeno e não tinha peso ficava deitado com ele ali ou sentado na barriga dele e ficávamos
assistindo formula 1, a corrida tooooda juntos. Lembro também das milhares de vezes que
fomos no sítio juntos e ele me mostrava e me ensinava coisas que até hoje me lembro, valores
que reverberavam do meu vô, para o meu pai e depois pra mim também.

Ele não é um monstro, mas foi um homem que naquela época não era um bom esposo, e
devido ao relacionamento ruim que ele tinha com a minha mãe, não era um bom ambiente o
que piorava todos os aspectos de todas as pessoas da casa.

Entendendo essa dinâmica de relacionamentos, um ambiente ruim traz o pior de todos os


envolvidos. Um ambiente excelente traz o melhor de todos os envolvidos. E neste caso,
estávamos em um contexto ruim. Eu com minha infância, meus pais adultos e meus irmãos
crianças. Todos consumidos pelo ambiente e pela dinâmica que ali estava. E a culpa é de
quem? É principalmente dele que infelizmente não aprendeu a controlar o próprio
temperamento cedo e ocasionou para ele uma ferida que até hoje dita o comportamento dele.

Mas ao menos com a experiencia de vida ele aprendeu a se portar, a se controlar com muito
mais eficácia e hoje eu tenho o prazer de ter alguém muito inteligente, parceiro, sábio como
pai.

Preciso deixar registrado essa admiração, para que vocês entendam o contexto de onde ele se
insere também no meu emocional. Sempre amei ele muito e sempre sofri demais por ter ele
longe, não entendi o que era uma separação. E sempre tive muitos problemas com todos por
causa disso. Ele que estava ali no meu dia sempre comigo, de repente só falava por telefone e
via 2 ou 3 vezes por ano. O que pra uma criança é extremamente complexo, ainda mais pra
alguém que amadureceu bem mais cedo que a média e que observava comportamentos nos
adultos e não tinha a noção do que era, mas conseguia discernir o que estava certo ou errado.

A separação

Em janeiro de 2007 já era um morador catarinense. E nesta nova casa que na verdade era um
apartamento de 3 quartos estavam morando minha mãe, minha irmã em um quarto e eu e
meu irmão mais velho no outro. Sempre dividimos o quarto até ali, então não tínhamos
problema com isso. Eu e meus irmãos sofremos de diferentes formas esta separação, acredito
que meu irmão se impactou muito devido a ele ter 13 anos na época, ter amigos na escola no
paraná, ele competia em competições de cavalo na época e sempre ganhava, era um excelente
montador. Tinha já uma vida se criando em Apucarana, e essa mudança fez com que aflorasse
nele um rebelde, um indignado com o rumo que as coisas tomaram. Meu irmão assim como
meu pai sempre foi muito gentil e carinhoso pelo que sempre me lembro. Mas naquele ano de
2007, ele estava transtornado. Lembro que ele já tinha com 13 anos cerca de 1,72 de altura.
Algo assim, então ele já era grande e forte nesta época, e me lembro de um dia após o almoço,
chegamos da escola e eu queria jogar videogame, tinha um Playstation 1 na época, e meu
videogame ficava no quarto onde nós 2 dormíamos. Ele queria dormir e eu queria jogar e
então ele me expulsou de nosso quarto e disse que ia dormir e que não queria eu
incomodando por perto, coisa normal de irmãos até aí. E eu como uma “boa criança” contei a
minha mãe que interveio e entrou no quarto e me deixou jogar e fez com que ele aceitasse
dormir comigo ali no videogame, mas obviamente a história não para por aqui. Em dado
momento, não sei bem ao certo o que aconteceu. Se ele não conseguia dormir porque eu
estava fazendo barulho ou algo assim, mas ele levantou e brigou comigo a respeito da situação
que estava ocorrendo e minha mãe novamente teve de intervir, e ele a empurrou. Não foi um
super empurrão que ela poderia cair ou algo assim, estou tentando passar a realidade do que
me lembro, foi mais algo tipo um “empurrãozinho”. Ela ficou muito indignada, neste ponto eu
já devia estar chorando e vendo aquilo, e me lembro bem que ela falou pra ele. “Sou sua mãe,
você vai me empurrar? Está louco?” Algo neste sentido, e ele recuou obviamente e ela brigou
com ele naquela situação. E aquilo para mim me marcou porque, ele passou de um limite que
é a agressão física, por mais leve que tenha sido e foi. Não se encosta em uma mulher nem
com uma flor. E aquele ano foi marcado por diversas confusões com ele. Ele estava mesmo fora
de si e então ao fim do ano letivo, se mudou para o meu pai. E ficou com ele até hoje.

Nossa vida então, eu e minha irmã juntos com a minha mãe. Meu irmão e meu pai a 8 ou 9
horas de viagem de carro. Eles ao norte do paraná e eu no norte de Santa Catarina.

Nesse contexto, uma criança de 7 para 8 anos de idade não conseguiria lidar com a situação de
forma lógica e emocionalmente sólida.

Então no início de 2008. Novamente uma nova vida. Eu estava na segunda séria do ensino
fundamental 1. Era um ótimo aluno. Não pegava recuperação, nem tinha problemas com as
coisas da escola.

Esqueci de citar, mas em todo este tempo, desde que eu tinha uns 3 anos até 2008 eu tinha um
super companheiro que me acompanhava, seu nome era FRED. Era meu cachorro da raça
Yorkshire que dormia comigo e que eu amava com todo meu coração, era meu fiel escudeiro e
estava sempre em volta de nós. A vida nos tirou a possibilidade de ter este cachorro e eu nunca
esquecerei dele. Meu primeiro cachorro, eu podia gritar de qualquer lugar da casa o nome
dele, ele vinha correndo até mim abanando o rabinho e a gente deitava no chão e rolava. Um
detalhe sobre ele, eu era o único que podia abraçar minha mãe, ele protegia ela e ninguém em
casa podia fazer isso além de mim. Foi o melhor amigo que tive neste período. Infelizmente ele
era também um grande fujão e latidor, no nosso apartamento em Jaraguá do sul ele
incomodava demais e fomos obrigados pelo condomínio a vender ele por míseros 100 reais.
Lembro até hoje dele indo embora.

Voltando a minha linha do tempo então, em 2008, começamos mais um ano letivo...

Do ano de 2008 até 2012 não tenho muitas memórias e não me recordo de grandes
acontecimentos em minha vida, mas o que posso concluir é que cresci de alguma forma
estagnado pelos acontecimentos anteriores a este período e que desenvolvi uma espécie de
“síndrome do intermediador”. Esta “Síndrome do intermediador” como vou dar o nome, me
colocou em uma posição aonde eu sempre prestava muita atenção a conflitos e queria
intermediá-los a ponto de dar um fim ao conflito e este fim deveria ser sempre positivo. A
relação que isso tem com a minha vida era o fato de eu ter 6 anos na separação de meus pais e
acreditar que poderia mediar um casamento e faze-los reatar. O que eu não sabia na época
eram as complicações que existem nos relacionamentos matrimoniais e ainda mais quando se
envolve 3 filhos e todas as complexidades da vida de casado que meus pais tinham. O que isso
afeta a minha vida? Tudo.

Essa “síndrome do intermediador” é algo fácil de explicar no sentido de que eu me posicionava


sempre de forma a apaziguar as situações. Mas as consequências que tiveram na minha vida
não são da mesma forma simples.
Acredito que no lado ruim, me trouxe uma estagnação mental da qual eu inconscientemente
procurava situações para apaziguar ao invés de me preocupar com o meu próprio
desenvolvimento ou fazer como uma criança e simplesmente brincar. Me deixava ocupado com
coisas que apenas iam fazer o tempo passar, mas que não necessariamente preenchiam minha
atenção, como ver TV. Eu passava dias vendo TV, mas a TV era o foco secundário, eu estava
focado mesmo nas conversas que aconteciam ao redor e se de alguma forma surgiria uma
oportunidade de intermediar alguma situação. E acho que neste período de 2008 até 2012 eu
basicamente só passei o tempo e não fiz nada que me lembro, tanto que na minha cabeça é
como se fosse uma lacuna. Consigo me lembrar dessa forma de pensar, mas não de
acontecimentos!

E por outro lado está “síndrome” me trouxe coisas positivas também. Me trouxe uma
capacidade de observação fora do padrão e que me ajuda constantemente até hoje. Muitas
vezes eu me noto aprendendo coisas bem mais rápido do que a média simplesmente porque
eu consigo ver alguém fazendo e me visualizar fazendo igual. Neste paragrafo com relação a
aprendizado eu não gostaria de ser mal interpretado e julgado por arrogante. Mas de fato, a
capacidade de observação bem aguçada traz com ela a atenção nos detalhes e te faz um
aprendiz melhor e a melhor parte é que não há gasto de energia superior, acontece de forma
natural e gostaria de explicar isso com um exemplo:

Vamos imaginar que vamos fazer um churrasco e neste churrasco tem várias pessoas, mas
vamos se ater a 3 principais pessoas. O primeiro é churrasqueiro contratado que é um homem
que faz churrasco de forma perfeita! Esse cara sabe o que está fazendo e é extremamente
caprichoso no próprio oficio. Por segundo temos um jovem de 15 anos com alta capacidade de
observação, porém nunca fez um churrasco. E por fim, um jovem de 15 anos que tem baixa
capacidade de observação e que também nunca fez um churrasco. Lembrando que o interesse
neste caso é igual entre os dois jovens e a atenção está voltada a rodinha de conversa, a
comida e ao momento em si. Nenhum dos dois está focado em como fazer um churrasco e eles
serão nosso foco de atenção neste momento.

Agora vamos imaginar que neste churrasco está acontecendo os preparativos para a carne, o
churrasqueiro coloca o carvão, faz a montagem para que o fogo pegue melhor, joga álcool para
acender o fogo, corta a carne, salga, faz o tempero e organiza as coisas para que a comida saia
perfeita.

Aquele que tem a ALTA capacidade vai conseguir SEM ESFORÇO ver o passo a passo do
churrasqueiro, vai conseguir ver alguns detalhes, como foi cortado e salgado a carne. Quanto
álcool ou como foi disperso o álcool dentro da churrasqueira. Se o Churrasqueiro apenas jogou
lá dentro um pouco virando o vidro de álcool ou se ele molhou um papel com álcool e jogou lá
dentro da churrasqueira. Ele focado na conversa com as outras pessoas, mas tendo em seu
campo de visão o churrasqueiro, será capaz de observar mesmo que inconscientemente alguns
detalhes do que o churrasqueiro fez.

Por outro lado, aquele jovem que tem BAIXA capacidade de observação, que pode estar na
mesma posição inclusive com a mesma visão do jovem de alta capacidade. Se ele não aplicar
esforço e atenção, ele não conseguirá ver quase nenhum detalhe. Talvez ele veja apenas o
churrasqueiro jogando o carvão de forma aleatória, ou apenas como foi feito o corte em uma
fatia de carne.

Então a comparação é: após o churrasco a pessoa com ALTA capacidade de observação SEM
esforço vai conseguir capturar detalhes e aprender mais com o meio que ela está inserida do
que a pessoa com BAIXA CAPACIDADE que PRECISA aplicar esforço para aprender. Porque no
fim, ambas estavam focadas na pessoa com quem estavam conversando ou na bebida que
estavam bebendo ou focadas em alguma situação especifica. Mas a pessoa com ALTA
capacidade de observação tem uma atenção inconscientemente mais dispersa no ambiente e
consegue capturar muitos mais detalhes do seu entorno sem necessariamente perder a
atenção no que está fazendo.

E agora vamos imaginar que se passaram alguns dias e ambos os jovens decidem fazer um
churrasco. A probabilidade de que aquele com alta capacidade de observação faça um
churrasco mais parecido com o churrasqueiro profissional é muito maior do que o outro
menino com baixa capacidade. Simplesmente pelo fato de que a experiência adquirida pelo
observador é maior na mesma situação.

Então a conclusão é: Ter uma característica observadora faz você ser mais eficiente em termos
de experiência, você aprende mais com as situações porque consegue visualizar um espectro
maior de coisas ao mesmo tempo, ao passo em que o gasto de energia e a atenção continuam
focadas em uma coisa só.

E o inverso é verdadeiro também. Não ter a capacidade de observação faz com que a pessoa
tenha uma experiência um pouco mais limitada, logo seu desenvolvimento tem que ser com
maior gasto de energia e foco. O que transforma esta pessoa, que deixando claro é igualmente
capaz de atingir objetivos, em alguém que tem primeiras vezes pouco efetivas e que
necessitam de mais esforço para atingir altas competências em habilidades.

No fim, esta “síndrome do intermediador” me fez um homem de grande capacidade de


observação e por conta disso sinto que já fiz um pouco de tudo e que de tudo entendo alguma
coisa ou já ouvi falar sobre. E isso não me faz superior a alguém ou mais experiente em uma
gama de assuntos, mas quando se trata de situações adversas em que precisamos ser atentos
aos detalhes para perceber coisas importantes sobre pessoas ou coisas. O mais observador
será mais efetivo e tomará decisões mais assertivas.

Um desvio fora do padrão

Em 2012, eu com a minha característica mental herdada dos últimos anos de vida e situações
que até então tinham gerado minhas experiências, fiz uma descoberta interessante. Descobri o
mundo dos videogames e a diversão que era aquele mundo chamado Minecraft. Não mais
precisei ver TV porque agora tinha o poder de fazer o meu mundo no minecraft e deixa-lo da
forma como eu imaginava e então ao invés de ter a atenção voltada a TV eu poderia de fato
criar um novo mundo dentro de um jogo e ficar imerso por horas a fio lá dentro. E conforme o
passar do tempo, comecei a desenvolver e aprender mais do jogo até o momento em que
descobri os servidores e que poderia jogar online. Naquele momento foi o inicio de uma nova
fase da minha vida, descobri os servidores de Hunger Games. A competitividade, a nova fase
instaurada no Youtube e tudo o que eu vi depois me viciaram ao ponto de eu jogar 12 horas
por dia ininterruptamente com meus amigos. Durante quase 2 anos.
Mas me viciaram porque quando eu descobri o mundo online eu inconscientemente descobri
que poderia ser quem quisesse e que ali ninguém me julgaria, eu criei uma nova identidade e
passei a me reconhecer por ela. O João não era alguém legal naquele momento, ele ficava
preso a questões de família ainda e preso ao passado e tinha uma dificuldade tremenda para
socializar com pessoas da mesma idade na escola e não tinha o MENOR interesse por coisas da
escola, matemática, história ou afins... Era uma vida completamente chata e sem sentido, não
entendia o que estava fazendo indo para a escola e aquilo me induzia a uma mudança que eu
sabia que precisava, uma fuga e eu tinha encontrado e feito dela a melhor parte da minha vida
até aquele momento. Então, a minha nova vida online tinha tomado parte de quem eu era, no
online eu tinha amigos que estavam alinhados comigo e gostavam de jogar e fazer as mesmas
coisas o dia todo e que gostavam da minha nova personalidade. Na vida real eu achava que
não tinha ninguém e que tudo era uma perda de tempo, no online eu não tinha preocupações,
só divertimento e eu era quem eu quisesse.

Nesse contexto fiquei 2 anos afastando tudo o que fosse possível da vida real e me imergindo o
máximo possível na vida online, como resultado, no fim do segundo ano que era 2014 e eu
estava na 8° série eu reprovei na escola devido a minha vida online que não convergia e nem
tinha nenhuma preocupação com a vida real.

E essa foi a melhor coisa que poderia ter acontecido da minha vida.

Reprovar na escola para mim foi simplesmente a coisa mais importante que aconteceu na
minha vida até o ano de 2014, porque simplesmente o efeito desta reprovação foi a devolução
das rédeas da minha vida. Foi a volta do João para o mundo real.

E neste contexto o que aconteceu foi que eu estudava numa escola que se chamava jangada.
Os amigos que eu tinha no Jangada foram afastados por mim ao longo de 2 anos, e no fim eu
estava meio sozinho e depressivo por não ter amigos e nem um bom convívio na sala, todo
mundo me conhecia e sabia que eu estava imerso na vida online, e ao mesmo tempo ninguém
entendia o porquê eu era tão indiferente com as coisas da vida real. A verdade é que eu era um
super rebelde e extremamente difícil de lidar quando estava fora do jogo, era respondão e não
ligava para ninguém. Como resultado, não tinha amigos e ainda me zuavam por ser assim,
então a bola de neve só aumentava na vida real.

E quando eu reprovei na escola, minha mãe me disse que o objetivo de vida dela comigo era
que eu tivesse educação, estudo e soubesse tratar as mulheres como elas merecem. Com este
objetivo em mente, ela me colocou em uma escola melhor que o Jangada que naquele
momento era o Marista São Luís.

Nessa escola, eu pude aproveitar do mesmo fenômeno de que eu tinha aproveitado dois anos
antes no mundo online que era CRIAR uma nova identidade e começar de novo. E assim eu o
fiz, lembro que no primeiro dia que eu estava iniciando no marista eu pensei: “bom, aqui vou
fazer diferente e vou ser quem eu quiser”. Porque eu entendia que não poderia continuar a ser
zuado e naquela bola de neve depressiva que eu estava.

E o que aconteceu no fim é que desde o primeiro dia eu fui super bem recebido pelo pessoal
da minha sala naquele momento, o Marista tinha uma cultura de escola mais focada no
desenvolvimento pessoal e isso refletia nos alunos de forma gritante. Todo mundo era mais
empático, mais tranquilo ao lidar com a diversidade e de uma forma geral todo mundo me
aceitou super bem. Um agradecimento especial aqui ao Leonardo Marcarini e a Gabriella
Tavares, que naquele ano foram as pessoas que mais tiveram a bondade de me inserir no meio
da galera e que me ajudaram muito a me desenvolver com os conceitos básicos de
comunicação.

Imagina um moleque de 14 anos que fazia pelo menos 2 que estava dentro de uma caverna. Eu
era um desastre em comunicação com o pessoal que era um ano mais novo que eu no Marista.
Mas a piazada acho que percebeu isso e me ajudaram muito. Fora que na minha sala do
marista tinha uns outros 3 reprovados e uns 3 da minha idade que eram atrasados na minha
escola. Então era uma sala bem diversificada. O que foi ótimo para mim.

Então ali desenvolvi o começo das minhas amizades e me recuperei um pouquinho do atraso
que eu estava em relação a maturidade e também em desenvolvimento pessoal.

E eu vi isso acontecendo diariamente. E o mais importante de tudo era que toda a galera da
minha sala jogava os mesmos jogos que eu, e então eu aprendi a flutuar entre os mundos e
consegui juntar as minhas personalidades que até ali eram duas coisas 100% distintas.

E neste ano de 2015 a minha vida começou diferente e agora o João voltou e começou a existir
de novo. Dessa vez no mundo real.

Relembrando então.

Até 2012 eu era o Joãozinho e a minha vida foi pautada pelos acontecimentos da separação
dos meus pais e não muito mais do que isso.

De 2012 - 2014 eu atendi pelo pseudônimo JokeXD7 e apenas este.

E 2015 então eu aprendi a flutuar entre o Joãozinho que era o filho e irmão em casa, o JokeXD7
que era o mito dos games e surgiu uma nova personalidade que era o Miquelão que era a
forma como eu atendia na vida real no marista. E dali prafrente o Miquelão foi tomando forma.

Importante relembrar também que tudo o que me afetava anteriormente continuou, mas
agora de uma forma em que esta separação e flutuação me permitia controlar algumas coisas
em alguns momentos e a maturidade foi me dando mais entendimento e poder sobre as
minhas questões.

Nosso próximo capitulo será a formação do Miquelão.

Você também pode gostar