Você está na página 1de 14

o

INÍCIO
É necessário coragem para
iniciar a guerra
o
INÍCIO
É necessário coragem para
iniciar a guerra

Escrito por: Raianne Santos


Este livro é dedicado a:

Meus pais brasileiros e


minhas irmãs Tati e Thaís
FICHA TÉCNICA

Escritora
Raianne Santos

Revisão
Karen Alexandra
Ana Clara Cardoso

Coordenação e Supervisão
Glauce Menocci Mitunari

Diagramação
Waldete Rosa Oliveira

O Início 1ª parte 3. - edição 1 - 14 páginas


O
Início
A guerra começou quando eu nasci, em Belo
Horizonte, capital mineira.

Apesar de ser sede da terceira concentração


urbana mais populosa do país, era muito
pequena comparada ao tamanho do meu sonho.
Aos dois anos de idade já ouvia sobre os Estados
Unidos e quando minha mãe fazia aquela
pergunta clássica: “- O que você quer ser
quando crescer?” Desde os cinco anos a
resposta era firme: “Ser presidente dos EUA”.

Éramos uma família comum de classe média alta


em Belo Horizonte, proprietários da nossa própria
casa e sempre tirávamos férias duas vezes por
ano. Na roça tomávamos um cafezinho com pão
de queijo e leite direto da vaca, memórias da
minha infância que eu tenho e sempre
guardamos.

Meu pai deixava perceptível que não queria ter


uma filha mulher, porém somos três meninas na
minha casa e eu sou afilha do meio, ser menina e
do meio foram traços para eu me sentir ignorada,
a minha irmã mais velha apanhava e eu ficava - “o
que está acontecendo?"
4
E a minha irmã mais nova era a caçulinha, todo
mundo a tratava bem, era a mais amada. Quando
eu tinha sete anos de idade sabe o que a fuzileira
fez?

Na verdade, eu não era fuzileira, eu estava mais


para terrorista. Eu graduei de terrorista para
fuzileira. Eu estava passando as fraldas, não sei de
quem, e minha irmã pôs a mão na fralda para ver
se estava quente, eu peguei o ferro e coloquei em
cima da mão dela e até hoje ela tem uma cicatriz.

E toda vez que ela quer alguma coisa, por


exemplo: “- manda dinheiro”.
Após pedir ela mostra o punho e fala – “olha o que
você fez”. Aí eu mando.

Tudo estava perfeito até que um dia, enfrentamos


nosso primeiro inimigo: uma crise traumática na
economia proporcionada pelo governo Collor.
Meu pai foi demitido depois de ter trabalhado 23
anos como analista de sistemas para uma
empresa que chamava Expresso Informática.

Isso gerou um bloqueio muito grande no meu pai


biológico com relação à educação e eu não sabia
disso porque a minha mãe sempre nos preservou
dessa imagem, sempre nos fez entender que meu
pai brasileiro era um pai dedicado que cuidava de
nós.
5
Ela não deixava transbordar essa ausência e
essa depressão, por ele ter sido desligado da
empresa que ele se dedicou décadas sem
nenhum tipo de ônus e isso causou na família,
que era totalmente unida, prejuízos
psicológicos, afetivos e financeiros.

Isso estimulou meu pai a tomar a decisão de


imigrar para os Estados Unidos.

Meu pai chegou aos EUA com visto de turista e


trabalhou em subemprego e isso foi uma
situação muito traumatizante para ele também,
uma perda de identidade. Mas eu não sabia
disso porque eu tinha onze anos de idade.

Nesse momento eu percebi uma transição da


minha família onde a minha irmã, que é três
anos mais velha do que eu, tomava mais
responsabilidades dentro da casa, porque a
minha mãe virou uma mãe solteira mesmo
sendo casada, uma guerreira que aguentava as
barras.

Comecei a trabalhar com onze anos para uma


clínica de odontologia do meu primo que me
deu essa primeira oportunidade.

6
Digitava as etiquetas de endereçamento dos
clientes no computador dele para poder mandar
para os Correios, para fazer o marketing por
cartas e contas dos serviços prestados.

Eu trabalhava em casa, de home office. Recebia


alguns centavos por etiqueta digitada e aquilo me
deu uma noção de gestão financeira, de
trabalhar, ganhar meu próprio dinheiro e eu já
aprendi bem nova o que realmente era "earn
your keep," que quer dizer "receba seu sustento".

Essa primeira experiência me moldou para um


inicial processo de valorização.

“Do fruto de sua boca o homem se beneficia,


e o trabalho de suas mãos
será recompensado.”

Provérbios 12:14

7
Aquele sonho da infância ainda ardia em meu
coração, comecei a insistir com a minha mãe para
que eu fosse para os Estados Unidos e mentalizei
isso. Queria estudar em Harvard, depois de tanta
insistência minha mãe pegou o visto para mim no
consulado. Eu lembro que ela estava até doente
nesse dia, se sacrificou para ir ao Rio de Janeiro,
pegou o visto e falou: "- É isso mesmo que você
quer?".

Eu já estava bem decidida, sempre fui uma


pessoa muito decidida, nunca duvidei de
nada, sempre sabia o que eu queria e nesse
processo eu imigrei para os Estados Unidos.

8
Meu pai me falava com muita mágoa: – Dá todo o
seu dinheiro para mim que eu vou mandar para o
Brasil e investir para você, porque eu não quero
que você acabe do jeito que eu acabei!

Dessa forma ele me ensinava uma crença


limitante, a de que eu não precisava estudar,
porque ele estudou a vida inteira e não teve
nenhum êxito e assim pregava o ditado de que filho
de peixe, peixinho é.

Eu tive que ralar muito para desmistificar isso e


provar que filho de peixe pode ser o que quiser.

Então de início ele já instalou esse drive, de que a


escola não era uma coisa boa, mas como a minha
frequência já era mais elevada eu não deixei isso
me bloquear. Para eu conseguir estudar, minha
prima pegou meus documentos do Brasil, se
passou por minha mãe e me registrou no segundo
grau aqui nos Estados Unidos.

Comecei a estudar escondida do meu pai das


7h45min às 14h45min e às 15h30min ia para o
supermercado que trabalhava organizando as
prateleiras até as 20horas, horário que voltava para
casa.

9
Com 16 anos eu me vi trabalhando muito,
estudando muito e meu pai sempre bêbado e
estressado.

O dinheiro que eu ganhava era para pagar o


aluguel, porque meu pai falava que eu tinha que
aprender a virar, e a “dar meus pulos”.

Ele falava sempre assim, com muita raiva: "Dá


seus pulos" e isso me incomodava, mas eu
continuava perseverando.

Teve um dia que o questionei sobre esse


vocabulário e isso me resultou em uma violência
física muito séria e decidi que jamais me colocaria
naquela situação novamente e saí de casa.

Eu já estava trabalhando, economizando o meu


dinheiro, já tinha estabelecido uma linha de
crédito e já estava dirigindo (aqui nos Estados
Unidos você pode começar a dirigir com uma
licença temporária, com 16 anos). Então, aluguei
um apartamento que ficava em outra cidade, para
ficar longe de toda aquela violência causada pelo
meu pai, que não estava bem naquele momento.

10
Meu pai, já descontente e desacreditado com a
vida que levava nos EUA, decidiu voltar para o
Brasil quando eu tinha 17 anos. Então, no dia 24 de
dezembro, não sei de qual ano exatamente, creio
que foi 2003, ele decidiu voltar para o Brasil, nesse
momento eu o questionei, e falei: "- Mas eu sou
menor de idade, o senhor é responsável por mim".
“- Aprenda a se virar” - disse ele. Aqui, quando você
faz o segundo grau, você tem um conselheiro que
te guia para os seus projetos de
universidades e de carreira militar.

O filho americano não fica mais do que os 18 anos


com os pais, já é tradição deles ir para faculdade,
iniciar uma carreira trabalhando, qualquer tipo de
carreira que os tire da casa dos seus pais, isso é
ensinado desde pequeno.

Enquanto terminava meu colegiado e meu pai


biológico já tinha voltado para o Brasil, que conheci
o meu pai adotivo

Ele é Fuzileiro Naval, me passou alguns códigos e aos


poucos fui aprendendo e ficando cada vez mais
curiosa sobre esse mundo novo da fuzilaria, e nesse
momento eu já comecei a ficar interessada pelo
serviço
. militar.

11
Foi plantada essa semente e a cada história do meu pai
eu mentalizava-me dentro desse cenário. O que eu não
sabia é se seria só imaginação ou se tudo poderia se
tornar real...

12
'A BUSCA EM DAR O SEU MELHOR
NUNCA TERMINA'

www.alicefuzileira.com

SIGA @alicefuzileira

Você também pode gostar