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FORTALEZA- CEARÁ
2016
MIRELE CARINA HOLANDA DE ALMEIDA
FORTALEZA- CEARÁ
2016
MIRELE CARINA HOLANDA DE ALMEIDA
Aprovada em:____/__________________/_________
BANCA EXAMINADORA
__________________________________________________
Profa Dra Maria do Céu de Lima (Orientadora)
Universidade Federal do Ceará- UFC
__________________________________________________
Prof. MSc. Crisanto Medeiros de Lima Ferreira
Universidade Estadual do Ceará- UECE
__________________________________________________
A Deus pela força nas batalhas da vida.
Aos meus pais, Manoel Joca de Almeida e
Antônia Holanda de Almeida, pela dedicação,
amor e ensinamentos.
AGRADECIMENTOS
1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................. 12
1.1 METODOLOGIA DA PESQUISA: ........................................................................... 14
1.2 DELIMITAÇÃO E CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA DE PESQUISA ................... 15
1.3 UNIDADES DE CONSERVAÇÃO E EDUCAÇÃO AMBIENTAL: situando o
debate.......................................................................................................................... 19
1.4 A RESERVA EXTRATIVISTA DO BATOQUE: HISTÓRICO DE LUTA E
CRIAÇÃO .................................................................................................................. 23
1.5 GESTÃO COMPARTILHADA E CONFLITOS SOCIOAMBIENTAIS
EXISTENTES NA RESEX DO BATOQUE............................................................. 34
2 RESULTADOS E DISCUSSÃO..................................................................................... 39
2.1 PROBLEMAS AMBIENTAIS DA RESEX SOB A ÓTICA DOS NATIVOS: ......... 39
2.2 INFRAÇÕES AMBIENTAIS REGISTRADAS NA RESEX DO BATOQUE NO
PERÍODO DE 2007 A 2015 ....................................................................................... 42
2.2.1 Infrações ocasionadas por construções irregulares sem a devida autorização do
órgão ambiental competente (Artigo 66 do Decreto nº 6.514, de 22 de julho de
2008): ......................................................................................................................... 44
2.2.2 Infrações ocasionadas por dificultar a ação do poder público em ações de
fiscalização (Artigo 77 do Decreto nº 6.514, de 22 de julho de 2008): ................. 47
2.2.3 Infrações por descumprimento de embargo de obra (Artigo 79 do Decreto nº
6.514, de 22 de julho de 2008) .................................................................................. 47
2.2.4 Infrações por danificar (desmatar) vegetação nativa sem autorização do órgão
ambiental competente ............................................................................................. 48
2.2.5 Infrações por deixar de atender notificação (Artigo 80 do Decreto nº 6.514, de
22de julho de 2008): ................................................................................................. 49
2.3 PROPOSTA DE AÇÃO DE EDUCAÇÃO AMBIENTAL: desafios em pauta ......... 52
2.4 AÇÕES DE EDUCAÇÃO AMBIENTAL COMO ESTRATÉGIA PARA BUSCA DA
SUPERAÇÃO DOS PROBLEMAS AMBIENTAIS. ................................................ 53
2.5 O DESPERTAR DO SENTIMENTO DE PERTENCIMENTO ................................ 54
2.6 A PROPOSTA METODOLÓGICA DE EDUCAÇÃO AMBIENTAL PARA A
RESEX DO BATOQUE ............................................................................................. 55
2.6.1 Linha de ação: resgate da cultura local e sentimento de pertencimento ............. 59
2.6.2 Linha de ação: comunicação para educação ambiental ....................................... 60
2.6.3 Linha de ação: a educação no processo de gestão ambiental. .............................. 61
2.6.4 Linha de ação: incentivo à recuperação de áreas impactadas na RESEX do
Batoque por meio de parcerias com instituições de pesquisa. .............................. 62
2.6.5 Linha de ação: alternativas para a melhoria da qualidade de vida da
comunidade ............................................................................................................... 63
2.6.6 Linha de ação: a educação ambiental por meio do ensino formal. ...................... 64
2.6.7 Linha de ação: fortalecimento da gestão participativa na RESEX. .................... 66
2.6.8 Linha de ação: legislação ambiental aplicada à realidade local ........................... 67
2.7 MONITORAMENTO E AVALIAÇÃO DA PROPOSTA DE EDUCAÇÃO
AMBIENTAL ............................................................................................................. 68
3 CONSIDERAÇÕES FINAIS........................................................................................ ..69
REFERÊNCIAS ........................................................................................................ 71
APÊNDICES..............................................................................................................76
APÊNDICE A- PLANTA PLANIMÉTRICA DE SITUAÇÃO DAS ÁREAS
PROTEGIDAS: TERRA INDÍGENA LAGOA ENCANTADA, RESERVA
EXTRATIVISTA DO BATOQUE E ÁREA DE PROTEÇÃO AMBIENTAL DO
BALBINO...................................................................................................................77
APÊNDICE B- QUADRO ESQUEMÁTICO DAS CATEGORIAS DE UNIDADES
DE CONSERVAÇÃO ADOTADAS PELO SNUC....................................................78
APÊNDICE C- QUADRO-RESUMO RELACIONANDO AS LINHAS DE AÇÃO
AOS PROBLEMAS/CONFLITOS ABORDADOS NO TRABALHO......................79
12
1 INTRODUÇÃO
Art. 225. Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de
uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder
Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e
futuras gerações (BRASIL, 1988).
1
O Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade-ICMBio foi criado em 28 de agosto de 2007,
conforme a Lei nº 11.516, de 28 de agosto de 2007. A partir de então, as atribuições de implantação, gestão,
proteção, fiscalização e monitoramento das unidades de conservação instituídas pela União passaram a ser de
responsabilidade dessa autarquia federal.
14
ocorridas na RESEX do Batoque durante o período de 2007 a 2015 para que sejam trabalhas
na proposta metodológica de Educação Ambiental; e 3) construir, com a participação da
equipe gestora, propostas de linhas de ação, avaliando a viabilidade de sua proposição ao
Conselho Deliberativo da Reserva Extrativista do Batoque posteriormente.
2
Neste trabalho foi utilizada a versão preliminar do Relatório de apoio ao processo de identificação das famílias
beneficiárias e diagnóstico socioprodutivo em Unidades de Conservação Federais, tendo em vista que este
documento está sendo revisado e ainda não foi disponibilizada a versão final.
15
3
Entende-se por “atores sociais” o grupamento de pessoas, (coletivos) com formas de organização variadas e
características específicas, que distinguem um grupo de outro, seja a partir do ponto de vista dos seus
componentes (...), seja a partir do ponto vista de outros segmentos sociais ou da sociedade como um todo (...).
QUINTAS, José Silva. Introdução à Gestão Ambiental Pública. 2° ed. Revista.- Brasília: Ibama, 2006.
16
4
Segundo a FUNAI, terras indígenas consideradas “declaradas” são terras que obtiveram a expedição da Portaria
Declaratória pelo Ministro da Justiça e estão autorizadas para serem demarcadas fisicamente, com a
materialização dos marcos e georreferenciamento. Fonte: FUNAI (Fundação Nacional do Índio). Pesquisa
realizada em ‘índios do Brasil”, por meio do link: http://www.funai.gov.br/index.php/indios-no-brasil/terras-
indigenas.
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Figura 1- Mapa de localização e delimitação da RESEX do Batoque, Aquiraz-CE em relação ao estado do Ceará
Figura 2- Delimitação das áreas protegidas: terra indígena Lagoa Encantada, Reserva Extrativista do Batoque e Área de Proteção Ambiental do Balbino, respectivamente.
Em destaque na cor laranja, a área de sobreposição (97,8417 hectares) entre a RESEX do Batoque e a terra indígena da Lagoa da Encantada.
Estas áreas estão sujeitas a normas específicas, sendo legalmente criadas pelos
governos federal, estaduais e municipais, após a realização de estudos técnicos das áreas de
interesse a se tornar uma UC, sempre quando necessário, é realizada a consulta à população.
De acordo com o Sistema Nacional de Unidades de Conservação da Natureza
(SNUC), as UC estão divididas em dois grandes grupos (ver Apêndice B):
5
Conforme consta na Lei nº 9.985 de 18 de julho de 2000 que institui o Sistema Nacional de Unidades de
Conservação, o conceito de conservação da natureza é: “[...] o manejo do uso humano da natureza,
compreendendo a preservação, a manutenção, a utilização sustentável, a restauração e a recuperação do ambiente
natural, para que possa produzir o maior benefício, em bases sustentáveis, às atuais gerações, mantendo seu
potencial de satisfazer às necessidades e aspirações das gerações futuras, e garantindo a sobrevivência dos seres
vivos em geral;” (BRASIL, 2000) Disponível em: Diário Oficial da República Federativa do Brasil. Brasília, 19
de jul. 2000. Seção I. p. 12026-12027. 2000.
6
O termo degradação ambiental é descrito na Lei nº 6.938 de 31 de agosto de 1981 que institui a Política
Nacional de Meio Ambiente, artigo 3, inciso II como “degradação da qualidade ambiental, a alteração adversa
das características do meio ambiente.” (BRASIL, 1981) Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L6938.htm
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É nesse contexto que a educação ambiental deve ser praticada de forma a gerar
reflexões, mudanças de comportamentos com o comprometimento dos atores sociais visando
a participação na busca da sustentabilidade das UC. Adiante, serão expostos alguns dos
principais conceitos de Educação Ambiental.
21
Entende-se por educação ambiental os processos por meio dos quais o indivíduo e a
coletividade constroem valores sociais, conhecimentos, habilidades, atitudes e
competências voltadas para a conservação do meio ambiente, bem de uso comum do
povo, essencial à sadia qualidade de vida e sua sustentabilidade (BRASIL, 1999).
processo educativo, em caráter formal e não-formal (BRASIL, 1999). Mais tarde, em junho de
2002, a PNEA foi regulamentada pelo Decreto n° 4.281, que define, entre outras coisas, a
composição e as competências do Órgão Gestor da PNEA lançando, assim, as bases para a sua
execução.
O Sistema Nacional de Unidades de Conservação-SNUC, criado em 2000, por
meio da Lei n° 9.985 de 18 de julho de 2000, estabeleceu critérios e normas para a criação,
implantação e gestão das unidades de conservação. O SNUC contempla (em seu inciso IV,
artigo 5°) como uma de suas diretrizes as práticas de educação ambiental, sendo estas
consideradas como atividades de gestão das unidades de conservação (BRASIL, 2000).
Em 2010, o Conselho Nacional do Meio Ambiente-CONAMA “estabelece
diretrizes para as campanhas, ações e projetos de Educação Ambiental”, conforme Lei n°
9.795, de 27 de abril de 1999, por meio da Resolução CONAMA n° 422, de 23 de março de
2010 (CONAMA, 2010).
Em 2012, o CONAMA publica a Recomendação nº 14, de 26 de abril de 2012,
indicando a adoção da Estratégia Nacional de Comunicação e Educação Ambiental em
Unidades de Conservação- ENCEA no âmbito de tais áreas protegidas:
7
Os especuladores compravam os coqueiros das propriedades da população local e a fazia assinar um “papel”.
Essa era a estratégia para se apossarem das terras, onde posteriormente eram enviados capangas para expulsarem
os moradores informando que não eram mais donos das terras, pois assinaram um documento declarando isso.
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época não foi possível a inclusão da porção marinha, pois, segundo o Decreto 4.118 de 07 de
fevereiro de 2002, em seu artigo 31, inciso XX a competência para gerir as áreas marinhas é
do Ministério da Defesa e não do Ministério do Meio Ambiente (Brasil, 2002). O que se
conclui com a análise dos documentos apensados no processo é que naquela época ainda não
havia clareza sobre os trâmites legais para a cessão de área marinha ao órgão gestor da UC.
Para viabilizar a criação da UC, no período da comemoração do dia do meio
ambiente de 2003, foi decidido excluir a área marinha da delimitação da RESEX que passou a
contemplar apenas a porção continental (601,05 hectares). Optou-se, pelo menos, pela
garantia de parte do território para a população extrativista local e, posteriormente, dar-se-ia o
andamento ao processo de inclusão do mar em sua delimitação. Em resposta à nova proposta
de delimitação da UC, o Ministro de Estado da Defesa à época manifestou-se com o seguinte
posicionamento:
A RESEX do Batoque foi criada por meio do Decreto Federal S/N de 05 de junho
de 2003, com “os objetivos de assegurar o uso sustentável e a conservação dos recursos
naturais renováveis, protegendo os meios de vida e a cultura da população extrativista local.”
(BRASIL, 2003). Segundo o Ministério do Meio Ambiente, o município da UC (Aquiraz) está
incluído na célula MC-874 no mapa das áreas prioritárias para a conservação dos biomas
costeiro e marinho, cuja prioridade está classificada como “muito alta”8. Nesse contexto,
evidencia-se a importância na criação de áreas especialmente protegidas visando à
conservação do meio ambiente e, no caso do Batoque, também proteger os modos de vida da
população tradicional que ocupa historicamente aquele território.
O entendimento sobre a importância de inclusão da área marinha usada pela
comunidade esteja contemplada na delimitação da UC gerou a retomada dessa discussão.
Então, no ano de 2011 a equipe gestora da RESEX encaminhou, no âmbito do Instituto Chico
Mendes de Conservação da Biodiversidade (Processo ICMBio n° 02150.000093/2011-45),
solicitação da ampliação da RESEX para o mar. Entretanto, esta ação ainda não foi
8
Informação extraída do site do Ministério do Meio Ambiente, disponível em:
http://www.mma.gov.br/estruturas/chm/_arquivos/maparea.pdf.
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concretizada. Porém, mesmo não sendo criada conforme planejada, a referida Unidade de
Conservação foi uma conquista da população nativa que conseguiu garantir a permanência em
seu território, frente às ameaças de especuladores.
Figura 4- Carta imagem da proposta inicial de delimitação da RESEX do Batoque com a inclusão da área marinha e sua área de entorno (10 km).
9
Nesse caso, considerou-se como produção de animais a criação de animais de pequeno e médio porte (aves,
equinos, suínos etc.).
10
Segundo o inciso VI, Art. 2°, Capítulo I, da Instrução Normativa do ICMBio n°35 de 27 de setembro de 2013,
o levantamento de dados sobre as famílias em Unidades de Conservação (UC) consiste na coleta de dados,
utilizando de formulário padrão do ICMBio, com foco na identificação das famílias que moram, ocupam e
utilizam as UC federais, beneficiárias ou não da Unidade. (ICMBio, 2013)
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Figura 6- Quadro geral das principais ocupações dos responsáveis familiares e cônjuges
nativos na RESEX do Batoque.
mais existir em um futuro próximo devido à perda de identidade como integrante de grupo
culturalmente diferenciado que compõe uma população tradicional e que justificou a criação
da UC.
não desejam mais viver das práticas extrativistas, ocasionando inclusive o esquecimento da
cultura local.
Ao se planejar uma estratégia de futuro mais eficaz para o Batoque é necessária a
participação dos diversos segmentos que compõem a UC, buscando o entendimento de que
são parte da gestão da mesma. A importância da participação social nas estratégias de
conservação in situ é uma discussão que se fortaleceu e se ampliou ao longo das últimas
décadas. Tal perspectiva é visível no próprio Sistema Nacional de Unidades de Conservação
da Natureza-SNUC, o qual incorpora como uma de suas diretrizes “assegurar a participação
efetiva das populações locais na criação, implantação e gestão das unidades de conservação”
(Brasil, 2000). Além disso, o SNUC também traz como diretriz a importância de
implementação das práticas de Educação Ambiental para uma gestão efetiva das unidades de
conservação.
Contudo, o órgão gestor da Unidade ainda não implementou nenhuma prática de
Educação Ambiental continuada, apenas são realizadas ações pontuais na RESEX do Batoque,
não havendo um cronograma de ações contínuas com esse intuito.
De acordo com Brito (2008), além de problemas ambientais, a gestão das UC
envolve dificuldades de ordem social, econômica e principalmente política, o que em
geral ocasiona graves conflitos entre as populações locais e as ações dos responsáveis
pela administração.
Essa situação é vivenciada no Batoque, pois, embora a decretação da Reserva
Extrativista tenha sido uma vitória para a população nativa garantindo a sua permanência no
território, ainda existem diversos conflitos sobre a área que necessitam ser geridos.
Um dos principais conflitos diz respeito à questão fundiária, tendo em vista que as
áreas particulares incluídas nos limites da RESEX devem ser desapropriadas, de acordo com o
que dispõe a lei. Com isso, surgem outros conflitos envolvendo diversos interesses: o poder
público com a atribuição de realizar o processo de regularização fundiária, além de gerir a
área e implementar a UC, e de outro lado os possuidores de imóveis de veraneio que não
querem perder o vínculo com o lugar. Soma-se a essa problemática, a existência da população
nativa da área que, por sua vez, manifesta-se a favor da permanência dos veranistas na área,
fato que pôde ser comprovado durante as Oficinas para definição do perfil dos beneficiários
realizado em 2014, onde todos os grupos que representavam a comunidade votaram a favor da
inclusão dos veranistas como beneficiários da RESEX, algo que não possui previsão legal
(ICMBIO, 2014a).
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Esse fato vem gerando conflito de gestão da área, tendo em vista que a UC foi
criada para contemplar uma população beneficiária específica e não prevê a permanência de
pessoas não beneficiárias em seus limites. Com o intuito de buscar alternativas para
minimizar tais problemas, foi criado em 2016 (no âmbito do ICMBio) um Grupo de Trabalho
(GT), composto por diversas instâncias do órgão, com a função de avaliar e construir junto
com a comunidade nativa possíveis cenários para a Reserva Extrativista do Batoque,
considerando a discussão do perfil de família beneficiária, a situação fundiária e de ocupação
da UC e a discussão com os atores envolvidos. O GT realizou uma série de encontros
(reuniões, assembleias, oficinas) com a comunidade do Batoque durante um período de 06
(seis) meses, até que em agosto de 2016 o perfil da família beneficiária da RESEX do
Batoque foi finalizado e aprovado pelos comunitários em assembleia. Atualmente a proposta
de perfil se encontra aguardando os trâmites legais para sua publicação no Diário Oficial da
União em portaria do Instituto Chico Mendes.
Outro conflito importante ligado à questão fundiária está relacionado à Ação Civil
Pública n°0006876-56.2011.4.05.8100 (ACP), iniciada em março de 2012, cujo autor é o
Ministério Público Federal e os réus são: ICMBio, União Federal, município de Aquiraz,
IBAMA, e os cartórios Florêncio (Aquiraz-CE) e Joaquim Pereira (Pindoretama-CE). A ACP
foi iniciada após a denúncia de venda de imóveis no interior da RESEX, inclusive praticada
pelos nativos, contrariando o disposto no §1°, artigo 18, da Lei 9.985, de 18 de julho de 2000:
Dessa forma, o ICMBio ficou impedido de emitir autorização para qualquer tipo
de obra dentro dos limites da RESEX do Batoque desde 2012 até que sejam executadas todas
as exigências determinadas pela justiça federal e, assim, finalizado o processo.
Diante de tal situação, parte dos nativos e veranistas vem descumprindo ao que foi
estabelecido por determinação judicial, restando ao ICMBio tomar as providências cabíveis e,
consequentemente autuar aos que cometem a infração de realizar qualquer tipo de obra na
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UC. Essa problemática é considerada pela equipe gestora um dos principais conflitos de
gestão, tendo em vista que a população nativa está impedida de construir ou reformar suas
residências e, dessa forma, responsabilizam o ICMBio por tal situação, onde na verdade o
órgão ambiental está apenas cumprindo uma determinação judicial em não emitir novas
autorizações para construção.
A inexistência do Acordo de Gestão da RESEX é outro fator que ocasiona
conflitos de uso e destinação do território, tendo em vista que nesse documento contém as
regras construídas e definidas pela população tradicional beneficiária da Unidade de
Conservação de Uso Sustentável quanto às atividades tradicionalmente praticadas, o manejo
dos recursos naturais, o uso e ocupação da área e a conservação ambiental, considerando- se a
legislação vigente (ICMBIO, 2012).
Os conflitos internos também ganham destaque, tendo em vista que em várias
situações as lideranças divergem de opinião e de posicionamento relacionadas ao interesse
comum dos nativos. Na RESEX funcionam duas associações: Associação Comunitária de
Moradores do Batoque e Associação de Pescadores e Marisqueiras da Reserva Extrativista do
Batoque, as quais possuem posicionamentos distintos e não costumam trabalhar em parceria.
A percepção que fica para quem está envolvido na gestão da UC é que essa forma de atuação
só leva ao enfraquecimento da própria comunidade nativa que deveria se unir em prol dos
interesses coletivos.
Embora a RESEX do Batoque tenha sido criada há mais de 12 (doze) anos, ainda
há um longo caminho a se trilhar em busca da conservação dos recursos naturais e da
conscientização da população local e dos demais que possuem algum tipo de vínculo com o
local. São perceptíveis os problemas ambientais que persistem e, alguns, até se agravam com
o passar dos anos, muitos dos quais poderiam ser minimizados com a colaboração da
comunidade residente na área.
Segundo Braid (2004), os principais problemas ambientais da RESEX são os
seguintes: destinação inadequada dos resíduos sólidos; desmatamentos sobre as dunas fixas
com fins agropecuários; pesca predatória na área de influência da UC com a utilização de
petrechos proibidos por legislação específica, comprometendo o potencial pesqueiro; o
avançado processo de deposição de sedimentos eólicos, causando o recobrimento de fossas de
lagoas intermitentes; erosão costeira, devido à construção de pequenos molhes de proteção da
orla marítima da praia da Caponga, a qual está situada a 8 km do Batoque; assoreamento das
margens da lagoa do Batoque, principal recurso hídrico da comunidade; ocupação
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11
A Rede Tucum é um projeto pioneiro de turismo comunitário no Ceará voltado para a construção de uma
relação entre sociedade, cultura e natureza que busque a sustentabilidade socioambiental. A Tucum é formada
por comunidades localizadas na zona costeira cearense e está sendo construída a muitas mãos. Atualmente, conta
com a participação de dez comunidades costeiras, entre indígenas, pescadores e moradores de assentamentos
rurais, dois pontos de hospedagem solidária em Fortaleza, além de três ONG's que fazem o apoio institucional à
rede - Instituto Terramar (Brasil), Associação Tremembé (Itália) e Fundação Amigos da Prainha do Canto Verde
(Suíça). Disponível em: http://fernjss.xpg.uol.com.br/tucum.html
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2 RESULTADOS E DISCUSSÃO
O presente tópico foi elaborado com base em informações obtidas pelo relatório
de apoio ao processo de Identificação das famílias beneficiárias e “Diagnóstico
socioprodutivo em Unidades de Conservação Federais”, fruto de um Termo de Cooperação
entre o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade - ICMBio e a Universidade
Federal de Viçosa. O relatório foi produzido a partir das informações obtidas pelo
levantamento de dados de famílias em Unidades de Conservação realizado pelo ICMBio em
2014, o qual consiste em “coleta de dados, utilizando de formulário padrão do ICMBio, com
foco na identificação das famílias que moram, ocupam e utilizam as Unidades de
Conservação Federais, beneficiárias ou não da Unidade.” (ICMBIO, 2013). Tal levantamento
busca, entre outras coisas, identificar essas famílias e seus modos de vida e trabalho para que
se torne possível gerir de forma mais eficaz essas UC e direcionar as políticas de governo que
lhes são de direito.
A seguir, serão expostos os resultados dos itens do questionário aplicado à
comunidade que englobam a questão ambiental de interesse para o presente trabalho (Figura
7). Vale ressaltar que serão analisados somente os itens dos questionários aplicados à
população nativa, a qual está cotidianamente na Unidade de Conservação e que é diretamente
afetada, ao contrário dos veranistas que frequentam a UC esporadicamente para fins de lazer.
40
Isso não quer dizer que os veranistas também não sejam afetados, porém, por não
estarem cotidianamente na UC e por não serem considerados população beneficiária da área,
optou-se por priorizar a população nativa.
Na figura 6, estão destacados os principais problemas ambientais da RESEX do
Batoque mencionados nos questionários. De acordo com a percepção da população nativa da
RESEX, os problemas ambientais mais citados por ordem de importância foram: queimadas,
lixo, poluição hídrica, desmatamento, pesca predatória, entre outros.
Destes, o problema ambiental que mais se destacou no questionário aplicado está
relacionado às queimadas, onde um percentual de 39,6% dos entrevistados consideraram
como o principal problema ambiental. Segundo informações da equipe gestora do ICMBio,
não há registros de queimadas frequentes na RESEX, entretanto, no ano de 2014 ocorreu uma
grande queimada que atingiu a maior parte da vegetação das margens da lagoa do Batoque,
com prejuízos ambientais que acarretaram na morte de animais, destruição da vegetação e
risco às famílias que habitam nas proximidades da lagoa. Infelizmente, não foi possível
identificar os responsáveis por tal crime, pois os nativos relataram que a queimada se iniciou
na madrugada sem que alguém tivesse visto e acreditam ter sido intencional. Esse fato ocorreu
no mês de março de 2014 e o levantamento de famílias ocorreu no mês de abril de 2014, o
que, talvez, justifique o grande número de pessoas terem citado as queimadas como principal
problema ambiental da RESEX do Batoque. Por outro lado, a comunidade do Batoque
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também possui o hábito de queimar o lixo doméstico, o que pode gerar danos ambientais
quando pequenas faíscas se espalham atingindo outras áreas.
O problema do lixo foi apontado por um percentual de 18% dos entrevistados,
sendo um problema frequentemente discutido nas reuniões da UC, onde os nativos reclamam
da precariedade da coleta dos resíduos sólidos pela Prefeitura municipal de Aquiraz e, mesmo
a RESEX do Batoque possuindo três garis exclusivos para trabalhar na área, ainda assim o
lixo é um dos problemas que mais incomoda os moradores. Na Figura 8, pode-se observar que
apenas 53,7% dos moradores (no caso, nativos), são contemplados com a coleta dos resíduos
sólidos e, em média, 29,2% praticam a queima do lixo. Além disso, 14,6% dos entrevistados
informaram que enterram o lixo doméstico e apenas 2,6% realizam compostagem ou
reciclagem. Tal situação evidencia que o serviço público de coleta na RESEX ainda é precário
e que ainda não existem medidas alternativas eficazes para reciclagem dos resíduos, tampouco
ações efetivas de Educação Ambiental que contemple tal problemática.
Com relação à poluição hídrica, problema relatado por 13,2% dos entrevistados, a
ação antrópica pode ser um dos principais fatores a comprometer a qualidade da água da lagoa
do Batoque, principal recurso hídrico da comunidade nativa. Segundo Oliveira (2006):
[...] Apesar de estar localizada em uma unidade de conservação ambiental, a Lagoa
do Batoque tem seu entorno bastante ocupado por residências, casas de veraneio e
áreas de plantio sendo, portanto, constantemente submetido a práticas que podem ser
prejudiciais à qualidade da água da mesma. Dentre estas atividades estão: a
pastagem, a prática agrícola com fertilizantes, o lançamento de efluentes líquidos
domésticos brutos, efluentes oriundos de uma fossa séptica do centro de saúde onde
são realizadas pequenas cirurgias e ainda a disposição de lixo diretamente na lagoa.
Nos últimos anos, tem sido observado o crescimento excessivo de macrófitas
42
2.2.1 Infrações ocasionadas por construções irregulares sem a devida autorização do órgão
ambiental competente (Artigo 66 do Decreto nº 6.514, de 22 de julho de 2008):
Vale salientar que a pesquisa de Braid foi realizada em 2004, um ano após a
criação da RESEX do Batoque evidenciando que os problemas gerados pela ocupação
45
desordenada são fatores históricos da área. Entretanto, mesmo com a decretação da Reserva
Extrativista e a constante fiscalização gerando autuações por parte dos órgãos competentes,
até os dias atuais esta problemática vem persistindo.
Em um futuro próximo, a população beneficiária daquela área não mais possuirá
espaço para construção de moradia para as futuras gerações, tendo em vista que a UC possui
uma área pequena (601,05 hectares) e bastante limitada quanto à ocupação, pois grande parte
dessa área não é edificável (Áreas de Preservação Permanente protegidas por lei), além de
existir uma quantidade considerável de casas de veraneio em toda a extensão da vila do
Batoque, conforme se observa na Figura 10, resultado do levantamento de dados de famílias
em Unidades de Conservação realizado pelo ICMBio em 2014. Além de ser considerada uma
prática incompatível com os objetivos de criação da RESEX, essas residências de veraneio
são significativamente maiores do que as residências dos nativos, ocupando espaços que
poderiam ser utilizados pela população beneficiária da UC. Além disso, existe na RESEX
mais de cem casas de veraneio, quase a metade do número de residências de moradores.
Enquanto não forem adotadas as providências voltadas à regularização fundiária, a
convivência e a garantia dos direitos em questão serão os principais desafios à gestão da UC.
Figura 10- Localização da RESEX do Batoque, município de Aquiraz-Ceará, com identificação geográfica
das residências dos nativos (pontos vermelhos) e as casas de veraneio (pontos azuis)
Figura 11- Gráfico da quantidade de nativos e veranistas autuados (Y) no período de 2007 a
2015 (X) pelo ICMBio por realizarem construções irregulares. Observação: no período de 2007
a 2009 o ICMBio não realizou autuações, sendo estas executadas pelo IBAMA
2.2.2 Infrações ocasionadas por dificultar a ação do poder público em ações de fiscalização
(Artigo 77 do Decreto nº 6.514, de 22 de julho de 2008):
Art. 77. Obstar ou dificultar a ação do Poder Público no exercício de atividades de
fiscalização ambiental:
Multa de R$ 500,00 (quinhentos reais) a R$ 100.000,00 (cem mil reais) (BRASIL,
2008).
Figura13- Gráfico da quantidade de nativos e veranistas autuados (Y) no período de 2007 a 2015
(X) pelo ICMBio por descumprimento de embargo de obra. Observação: no período de 2007 a
2009 o ICMBio não realizou autuações, sendo estas executadas pelo IBAMA
2.2.4 Infrações por danificar (desmatar) vegetação nativa sem autorização do órgão
ambiental competente (Artigo 53 do Decreto nº 6.514, de 22 de julho de 2008):
Multa de R$ 300,00 (trezentos reais), por hectare ou fração, ou por unidade, estéreo,
quilo, mdc ou metro cúbico.
Parágrafo único. Incide nas mesmas penas quem deixa de cumprir a reposição
florestal obrigatória (BRASIL, 2008b).
objetivo de venderem as terras para pessoas que não pertencem à comunidade construírem
casas de veraneio.
O gráfico abaixo (Figura 14) especifica a quantidade de infrações dessa natureza:
houve apenas 01 (uma) ocorrência em 2013 ocasionada por um nativo e nenhuma ocasionada
por veranistas.
Figura14- Gráfico da quantidade de nativos e veranistas autuados (Y) no período de 2007 a 2015 (X)
pelo ICMBio por danificar (desmatar) vegetação nativa sem autorização. Observação: no período de
2007 a 2009 o ICMBio não realizou autuações, sendo estas executadas pelo IBAMA.
2.2.5 Infrações por deixar de atender notificação (Artigo 80 do Decreto nº 6.514, de 22de
julho de 2008):
Nesse último caso, observou-se que um percentual de 6,25 % das autuações foi
devido ao não atendimento de notificação. Esse recurso é utilizado pelo órgão fiscalizador
competente em ocasiões que são necessárias a regularização, correção ou adoção de medidas
de controle para cessar a degradação ambiental, conforme especificado no Artigo 80
supracitado.
50
Figura15- Gráfico da quantidade de nativos e veranistas autuados (Y) no período de 2007 a 2015
(X) pelo ICMBio por deixar de atender a notificação. Observação: no período de 2007 a 2009 o
ICMBio não realizou autuações, sendo estas executadas pelo IBAMA.
12
O canteiro biosséptico é um sistema completo, que associa a digestão anaeróbica (sem presença de
oxigênio) a um canteiro séptico que digere toda a matéria orgânica na zona de raízes das plantas em
conjunto com microrganismos aeróbicos (com a presença de oxigênio). A água é evapotranspirada, eliminando
totalmente qualquer tipo de resíduo, além de produzir biomassa viva.
Fonte: http://www.deolhonaagua.org.br/site/livro_e_cartilha/de_olho_na_agua_guia_de_referencia.pdf
54
Objetivos:
a) Promover o resgate, a valorização e a preservação da cultura e das tradições
populares da comunidade do Batoque com a participação dos jovens e
lideranças integrando os saberes tradicionais e os conhecimentos técnico-
científicos;
b) Estimular e apoiar a criação e/ou o fortalecimento e formalização das
organizações de base das população tradicional, possibilitando o seu
“empoderamento” no processo de gestão da unidade.
c) Promover o encontro de gerações com o intuito de despertar o interesse dos
jovens em conhecer suas raízes culturais, fortalecendo o sentimento de
pertencimento.
Ações:
a) Propor e incentivar a realização de eventos culturais na comunidade;
b) Propor a criação de um museu cultural, resgatando a história da
comunidade que ocupa a UC;
c) Realizar em parceria com a escola e jovens atividades de pesquisa sobre a
culinária local, os festejos religiosos, o trabalho com a terra, modos de
vida, artesanato e manifestações culturais;
Estratégias:
a) Engajar as crianças e os jovens nas ações a serem executadas;
b) Apoiar eventos culturais já existentes na UC (Regata de Velas, por
exemplo) visando o fortalecimento e incentivo à prática dessas ações;
c) Sensibilizar os jovens, lideranças e Conselho Deliberativo a participarem
das ações.
Sugestões de atividades:
Resgate da história e da luta da comunidade utilizando metodologias específicas,
tais como linha do tempo, mapa falado, entre outros; realização de peças teatrais com diversas
temáticas: luta da comunidade para a criação da RESEX; exposição de fotos com as belezas
cênicas da área, o cotidiano da comunidade e a conservação do meio ambiente etc.; oficina
com os antigos moradores da região para resgatar o histórico da comunidade; oficina de
culinária com elaboração e degustação de receitas da própria comunidade; oficina de
60
Estratégias:
a) Mobilizar a comunidade (em especial os jovens e o Conselho Deliberativo)
para elaborar o material didático;
b) Criar mecanismos eficientes e eficazes de distribuição do material.
Sugestões de atividades:
Realizar Oficinas participativas para elaboração do material didático, o qual deve
possuir linguagem acessível; realizar concurso de desenhos com a temática abordada para
serem utilizados na elaboração de uma cartilha; folders com temática ambiental etc.
Atores envolvidos:
A escola do Batoque e o Conselho Deliberativo da RESEX do Batoque, órgãos
governamentais e não governamentais que possuam influência sobre a área de abrangência.
61
Objetivos:
a) Construir valores sociais, conhecimento, participação responsável e eficaz na
prevenção e solução dos problemas socioambientais e na questão da qualidade
do meio ambiente.
Ações:
a) Elaborar e implementar a Agenda 21 local13, visando à conscientização,
sensibilização e mobilização da população para a execução de ações visando à
conservação ambiental;
b) Identificar parceiros para auxiliar na capacitação de profissionais, mobilização
e sensibilização;
c) Relacionar as ações ao cotidiano da comunidade local, conhecendo os seus
valores, problemas, objetivos e prioridades para que seja possível planejar uma
ação com maiores chances de sucesso;
d) Incentivar a participação das comunidades do entorno da RESEX, em especial
as lideranças da APA do Balbino e da Terra indígena Lagoa da Encantada.
Estratégias:
a) Incentivar a participação dos atores envolvidos demonstrando a importância do
trabalho para o futuro da RESEX;
b) Elaborar projetos exequíveis utilizando metodologias de gestão participativa;
13
A Agenda 21 Local é o processo de planejamento participativo de um determinado território que envolve a
implantação, ali, de um Fórum de Agenda 21. Composto por governo e sociedade civil, o Fórum é responsável
pela construção de um Plano Local de Desenvolvimento Sustentável, que estrutura as prioridades locais por meio
de projetos e ações de curto, médio e longo prazos. No Fórum são também definidos os meios de implementação
e as responsabilidades do governo e dos demais setores da sociedade local na implementação, acompanhamento
e revisão desses projetos e ações. (Fonte: http://www.mma.gov.br/index.php/responsabilidade-
socioambiental/agenda-21)
62
Sugestões de atividades:
Realizar reuniões em busca de parcerias com instituições de pesquisa e possíveis
instituições financiadoras de projetos; promover eventos, fóruns especializados e encontros
técnicos.
Público-alvo:
Comunidade da RESEX do Batoque e comunidades do entorno; conselho
deliberativo; órgãos governamentais e parceiros (ONG’s etc.).
A participação é um fator imprescindível para o sucesso da gestão de uma
Unidade de Conservação, principalmente da categoria de uso sustentável. O Conselho
Deliberativo é uma instância formal de gestão participativa, entretanto a presente linha de
ação propõe que seja ampliada a participação para os demais grupos da comunidade do
Batoque.
Objetivos:
a) Analisar as causas dos problemas socioambientais e não apenas os seus efeitos;
b) Incentivar a realização de pesquisas específicas que contribuam para a
recuperação dos recursos naturais impactados;
c) Buscar alternativas para a recuperação das áreas impactadas de forma
participativa;
d) Identificar junto com a comunidade as possíveis causas dos problemas
ambientais;
e) Possibilitar a divulgação e socialização do conhecimento.
Ações:
a) Fomentar pesquisas na RESEX do Batoque por meio de parcerias com
instituições de pesquisa;
b) Elaborar projetos específicos sobre o tema visando a recuperação das áreas
impactadas;
c) Chamar a comunidade para a responsabilidade na busca de alternativas para
solução de problemas principalmente relacionados ao lixo, queimadas e pesca
predatória.
63
Estratégias:
a) Buscar recursos técnicos, financeiros e humanos por meio de parcerias com
instituições de pesquisa.
b) Envolver a comunidade e representantes do entorno da UC no processo.
Sugestões de atividades:
Realizar oficinas com a comunidade e o Conselho Deliberativo para traçar
prioridades e estratégias de ação; realizar reuniões com instituições de pesquisas e discutir
sobre os problemas ambientais já identificados, buscando firmar parcerias com as mesmas;
realizar oficinas de reciclagem e palestras sobre os problemas ambientais; realizar Seminário
de Pesquisa com a temática com a participação da comunidade da RESEX do Batoque e
pesquisadores; buscar recursos para a execução das ações.
Atores envolvidos:
Instituições de ensino e pesquisa, órgãos governamentais, ONG’s e outras
instituições, comunidade do Batoque e comunidades do entorno.
Objetivos:
a) Facilitar o acesso a programas de governos voltados às Reservas Extrativistas;
b) Buscar alternativas para a melhoria das condições de vida da comunidade da
RESEX do Batoque aliadas à conservação do meio ambiente;
c) Incentivar a participação dos beneficiários em ações de capacitação ambiental,
social, técnica e profissional;
d) Fortalecer as ações que visem o desenvolvimento socioambiental;
Ações:
a) Apoiar a comunidade da RESEX do Batoque no acesso aos Programas de
Governo direcionados às UC dessa categoria;
b) Incentivar a realização de atividades que visem à melhoria da qualidade de vida
da população local e à conservação do meio ambiente;
64
Estratégias:
a) Realizar mapeamento junto aos órgãos da esfera federal, estadual e municipal
sobre os programas de governo que possam beneficiar os moradores da
RESEX do Batoque;
b) Orientar a comunidade sobre tais programas, seus objetivos, benefícios e
exigências e incentivá-la a participar; promover capacitações para a
comunidade em parceria com instituições;
c) Auxiliar os beneficiários a acessarem os programas de governo, tais como:
PAA (Programa de Aquisição de Alimentos); PNAE (Programa Nacional de
Alimentação Escolar); Bolsa Verde; créditos do INCRA etc.
Sugestões de atividades:
Realizar mutirão em parceria com outros órgãos (Prefeitura de Aquiraz e INCRA ,
por exemplo) para regularização de documentos necessários para o acesso aos programas;
realizar reuniões com os grupos específicos para diagnosticar as dificuldades e a
disponibilização em acessar os programas; determinar um período para auxiliar os
interessados a elaborarem os projetos.
Atores envolvidos:
Comunidade do Batoque (principalmente pescadores, marisqueiras, artesãos e
agricultores); Associação de moradores e associação de pescadores da RESEX; órgãos
governamentais e outras instituições parceiras.
2.6.6 Linha de ação: a educação ambiental por meio do ensino formal com foco na
legislação ambiental
Objetivos:
a) Construir ações de Educação Ambiental em parceria com a Escola Municipal
de Ensino Fundamental (EMEF) do Batoque tendo como compromisso o
exercício da cidadania e participação social, reconhecidos como temas
transversais e interdisciplinares, envolvidos com a capacitação do corpo
docente e discente.
65
Ações:
a) Abordar a legislação ambiental no âmbito escolar;
b) Instrumentalizar a escola em metodologias para efetivar as ações ambientais
educativas, envolvendo a realidade local como temática a ser abordada (ensino
contextualizado);
c) Buscar parcerias para a realização de capacitações envolvendo professores e
alunos;
Estratégias:
a) Criação e disponibilização de dados relativos ao tema.
b) Capacitar os atores envolvidos utilizando estratégias de ensino-aprendizagem
que estimulem a criticidade, a autonomia e a intervenção dos grupos sociais no
processo de gestão da sociobiodiversidade.
Sugestões de atividades:
Imitação da mídia, a qual estimula os estudantes a produzirem sua própria versão
dos jornais, dos programas de TV e filmes com a temática ambiental. A depender do assunto a
ser abordado, os produtos podem ser distribuídos nas escolas e na comunidade; realização de
palestras, gincanas, teatro de fantoches etc. sobre o tema;
Solução de problemas, onde se considera que ensinar é apresentar problemas e
aprender é resolvê-los. O participante treina a sua capacidade de resolver problemas
apresentados, em seu contexto real;
Exploração do ambiente local, que prevê a utilização/exploração dos recursos
locais próximos para estudo, observações etc.
Atores envolvidos:
Corpo docente e discente da EMEF do Batoque.
A escola é uma das principais parceiras de projetos de Educação Ambiental por
proporcionar a multiplicação das práticas e dos saberes, sendo referência na formação
de opiniões e produção de conhecimentos, constituindo-se num espaço político e
pedagógico, de crescimento e desenvolvimento. Também é o espaço que proporciona a
formação de cidadãos sensíveis e responsáveis em relação à questão ambiental.
66
Objetivos:
a) Promover ações de incentivo à participação nas discussões do conselho criando
espaços de debate sobre estratégias de articulação social, visando à garantia da
participação da comunidade local nos processos decisórios;
b) Fortalecer o Conselho Deliberativo ressaltando a importância do seu papel na
gestão da RESEX.
Ações:
a) Realizar capacitações dos membros do conselho deliberativo de acordo com a
demanda levantada visando o fortalecimento de tal instância;
b) Desenvolver mecanismos eficazes de divulgação das ações do Conselho
Deliberativo e incentivo à participação das lideranças locais nas reuniões;
Estratégias:
a) Consultar os membros do Conselho sobre as demandas de capacitação.
b) Buscar uma maior aproximação dos membros do conselho que estão se
ausentando com frequência nas reuniões, ressaltando a importância da
participação no processo de decisão;
c) Estimular a participação dos grupos da comunidade local com o apoio dos
conselheiros.
Sugestões de atividades:
Aplicação de processos avaliativos para que os conselheiros expressem suas
opiniões, sugestões e insatisfações com relação ao Conselho e/ou à gestão da UC; realização
de capacitação sobre a legislação ambiental e sobre outros temas abordados com frequência
das reuniões, buscando a facilitação do entendimento com o uso de linguagem acessível e
aplicação de estudos de caso que envolvam o cotidiano da população local; realização de
momentos de lazer, dinâmicas e interações entre os membros para que se sintam mais
motivados; realização de intercâmbio com outras UC visando à troca de saberes e
experiências. divulgar os resultados e deliberações do conselho na comunidade com o apoio
dos conselheiros; elaborar material informativo sobre a importância do conselho deliberativo
para ser distribuído na comunidade com o objetivo de estimular uma maior participação da
comunidade nas reuniões.
Público-alvo:
Membros do Conselho Deliberativo da RESEX do Batoque e comunidade local.
67
Objetivos:
a) Promover estratégias de divulgação da legislação ambiental e conscientização
visando ao combate de infrações ambientais;
Ações:
a) Elaborar material de divulgação sobre legislação ambiental.
Estratégias:
a) Realizar ações de divulgação da legislação ambiental informando sobre as
restrições inerentes à RESEX que devem ser respeitadas.
b) Elaborar material educativo sobre o tema com o apoio da escola e do Conselho
Deliberativo.
Sugestões de atividades:
Realização de palestras, reuniões e outros meios de divulgação sobre a legislação
ambiental visando à diminuição de infrações dessa natureza, bem como conscientizar a
comunidade sobre o tema;
Realização de capacitações sobre a legislação ambiental e sobre outros temas
utilizados com frequência nas reuniões, buscando a facilitação do entendimento com o uso de
linguagem acessível e aplicação de estudos de caso que envolva o cotidiano da população
local; criar uma cartilha de linguagem acessível sobre a legislação ambiental.
Público-alvo:
Membros do Conselho Deliberativo da RESEX do Batoque e comunidade nativa.
Estas foram as principais linhas de atuação priorizadas de acordo com a análise da
problemática analisada neste trabalho. É importante ressaltar que a proposta se trata de uma
sugestão a ser trabalhada de forma participativa com a comunidade que ocupa a área da
RESEX do Batoque, fato primordial para o sucesso na execução de qualquer trabalho.
68
3 CONSIDERAÇÕES FINAIS
14
Após a criação de uma UC, o plano de manejo deve ser elaborado em um prazo máximo de cinco anos. Toda
UC deve ter um plano de manejo, que deve ser elaborado em função dos objetivos gerais pelos quais ela foi
criada. O plano de manejo é um documento consistente, elaborado a partir de diversos estudos, incluindo
diagnósticos do meio físico, biológico e social. Ele estabelece as normas, restrições para o uso, ações a serem
desenvolvidas e manejo dos recursos naturais da UC, seu entorno e, quando for o caso, os corredores ecológicos
a ela associados, podendo também incluir a implantação de estruturas físicas dentro da UC, visando minimizar
os impactos negativos sobre a UC, garantir a manutenção dos processos ecológicos e prevenir a simplificação
dos sistemas naturais. (Fonte: http://www.mma.gov.br/areas-protegidas/unidades-de-conservacao/plano-de-
manejo)
70
o zoneamento que devem definir o uso da área e o manejo dos recursos naturais e, até mesmo,
as definições de implantação de estruturas físicas necessárias à gestão da Unidade.
Outro ponto importante diz respeito à regularização fundiária ainda inexistente na
RESEX do Batoque, dificultando a efetiva implementação da UC, além da destinação de
recursos insuficientes para implantação e manutenção, que são tidos como um dos maiores
problemas e lacunas que dificultam a efetiva implementação das Unidades de
Conservação no Brasil.
Nesse contexto, acredita-se que a implementação de um programa de Educação
Ambiental na RESEX do Batoque será um importante passo para a mobilização da
comunidade local objetivando a conservação do meio ambiente e a implementação efetiva
dessa Unidade de Conservação.
Mesmo o presente trabalho ter sido feito considerando a experiência como
membro da equipe gestora considerando a análise de documentos que relatam atividades
realizadas na UC em que houve a grande participação da comunidade, certamente para a
implementação de uma proposta de educação ambiental é necessário um trabalho de
mobilização e envolvimento da comunidade para tal finalidade. As linhas de ação foram
propostas pelo autor, o que não impede de que sejam (re) definidas outras abordagens durante
um trabalho participativo.
71
REFERÊNCIAS
BRASIL. Lei nº 6.938, de 31 de agosto de 1981. Dispõe sobre a Política Nacional do Meio
Ambiente, seus fins e mecanismos de formulação e aplicação, e dá outras providências.
Brasília. 1981. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L6938compilada.htm>. Acesso em: 20 mar. 2016.
_______. Lei n° 9.795, de 27 de abril de 1999. Dispõe sobre a educação ambiental, institui a
Política Nacional de Educação Ambiental e dá outras providências. Diário Oficial da União.
Brasília. 28 de ag. de 1999. Seção I. p. 1. 1999.
_______. Lei n. 9.985 de 18 de julho de 2000. Regulamenta o art. 225, § 1o, incisos I, II, III e
VII da Constituição Federal, institui o Sistema Nacional de Unidades de Conservação da
Natureza e dá outras providências. Diário Oficial da União. Brasília, 19 de jul. 2000. Seção
I. p. 12026-12027. 2000.
DIAS, Genebaldo Freire. Educação Ambiental: princípios e práticas- 6 ed. rev. e ampl. pelo
autor- São Paulo: Gaia, 2000. p. 216.
QUINTAS, José Silva. Por uma educação ambiental emancipatória: considerações sobre a
formação do educador para atuar no processo de gestão ambiental. In: QUINTAS, J.S. (Org).
Pensando e praticando a educação ambiental na gestão do meio ambiente. 2 ed., rev. e
ampl. - Brasília: IBAMA, 2002, p. 11-21.
ROCHA, Adriana Marques; LIMA, Luiz Cruz; CORIOLANO, Luiza Neide M. Teixeira. A
luta pelo direito à terra, cultura, turismo e desenvolvimento local: o caso de Batoque-
Aquiraz-CE. VIII SEMANA UNIVERSITÁRIA - UECE 2003, XII ENCONTRO DE
INICIAÇÃO CIENTÍFICA, Ciências Humanas. Fortaleza-CE. 2003.
SATO. Michèle. Educação para o ambiente amazônico. 1997. 246p. Tese (Doutorado em
Ecologia e Recursos Naturais). Universidade Federal de São Carlos, São Paulo, 1997.
APÊNDICES
77
APÊNDICE A- Planta planimétrica de situação das áreas protegidas: terra indígena Lagoa Encantada, Reserva Extrativista do Batoque e Área de Proteção Ambiental do
Balbino. Também em destaque a área de sobreposição entre a RESEX do Batoque e a terra indígena da Lagoa da Encantada
Fonte: ICMBio e SEMACE. Elaborado pela autora e por Francisco Milton Holanda Neto (2015)
78
APÊNDICE B- Quadro esquemático das categorias de Unidades de Conservação adotadas pelo SNUC.
VISITAÇÃO
CATEGORIA DA UC PESQUISA CONSELHO GESTOR ÁREA POPULAÇÃO RESIDENTE
PÚBLICA
REFÚGIO DE VIDA Permitida sob normas e Permitida com autorização prévia, sob
Conselho Consultivo Área pública e/ou privada Permitido
SILVESTRE restrições normas e restrições
ÁREA DE PROTEÇÃO Permitida sob normas e Permitida com autorização prévia, sob
Conselho Consultivo* Área pública ou privada Permitido
AMBIENTAL restrições normas e restrições
ÁREA DE RELEVANTE
Permitida sob normas e Permitida com autorização prévia, sob
INTERESSE Conselho Consultivo* Área pública ou privada Permitido
restrições normas e restrições
ECOLÓGICO
Permitida sob normas e Permitida e incentivada com autorização Permitido somente populações
FLORESTA NACIONAL Conselho Consultivo De posse e domínio público
USO SUSTENTÁVEL
*Categorias de UCs com Conselhos ainda não regulamentadas, porém o ICMBio está trabalhando na regulamentação da categoria.
Fonte: Sistema Nacional de Unidades de Conservação da Natureza-SNUC. Elaborado pela autora.
79