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UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEARÁ

CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE


CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM EDUCAÇÃO AMBIENTAL

MIRELE CARINA HOLANDA DE ALMEIDA

EDUCAÇÃO AMBIENTAL: UMA PROPOSTA METODOLÓGICA PARA A


RESERVA EXTRATIVISTA DO BATOQUE, AQUIRAZ-CEARÁ

FORTALEZA- CEARÁ
2016
MIRELE CARINA HOLANDA DE ALMEIDA

EDUCAÇÃO AMBIENTAL: UMA PROPOSTA METODOLÓGICA PARA A RESERVA


EXTRATIVISTA DO BATOQUE, AQUIRAZ-CEARÁ

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado


ao Curso de Especialização em Educação
Ambiental do Centro de Ciências da Saúde da
Universidade Estadual do Ceará, como
requisito parcial à obtenção da certificação de
especialista em Educação Ambiental.

Orientadora: Prof.ª Dr.ª Maria do Céu de Lima

FORTALEZA- CEARÁ

2016
MIRELE CARINA HOLANDA DE ALMEIDA

EDUCAÇÃO AMBIENTAL: uma proposta metodológica para a Reserva Extrativista do


Batoque, Aquiraz-Ceará

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado


ao Curso de Especialização em Educação
Ambiental da Universidade Estadual do Ceará,
como requisito parcial à obtenção da
certificação de especialista em Educação
Ambiental.

Aprovada em:____/__________________/_________

BANCA EXAMINADORA

__________________________________________________
Profa Dra Maria do Céu de Lima (Orientadora)
Universidade Federal do Ceará- UFC

__________________________________________________
Prof. MSc. Crisanto Medeiros de Lima Ferreira
Universidade Estadual do Ceará- UECE

__________________________________________________
A Deus pela força nas batalhas da vida.
Aos meus pais, Manoel Joca de Almeida e
Antônia Holanda de Almeida, pela dedicação,
amor e ensinamentos.
AGRADECIMENTOS

A Deus, por todas as bênçãos e vitórias que me tem concedido.


À minha família pelo apoio diário e pelo incentivo.
À Prof.ª Dr.ª Maria do Céu de Lima (UFC) pela orientação, sabedoria e paciência.
Aos Profs. MSc. Crisanto Medeiros de Lima Ferreira e Dr. Oriel Herrera Bonilla pelas
contribuições à minha trajetória de formação.
À Universidade Estadual do Ceará por ter me acolhido e por oportunizar a minha formação e
qualificação profissional.
Aos colegas de trabalho pelo companheirismo.
“Se a educação sozinha não transforma a
sociedade, sem ela, tampouco, a sociedade
muda.”
(Paulo Freire)
RESUMO

A reflexão sobre as práticas de Educação Ambiental, em um contexto marcado pela


degradação do meio ambiente, cria uma necessária preocupação com a elaboração de ações
transformadoras nesse contexto. A Reserva Extrativista (RESEX) do Batoque, a primeira
dessa categoria criada no estado do Ceará e localizada no município de Aquiraz, é uma
Unidade de Conservação (UC) Federal de Uso Sustentável que vem enfrentando diversos
problemas socioambientais. Acredita-se que ações voltadas ao incentivo à participação da
população na busca de alternativas para minimizar tais problemas seja uma estratégia viável,
utilizando, para isso, a Educação Ambiental como subsídio para traçar ações que ajudem a
atingir tal propósito. A preocupação central foi elaborar uma proposta metodológica de
Educação Ambiental para adequar-se à realidade da RESEX do Batoque, tendo como base a
análise dos problemas socioambientais locais. Para a realização da investigação, além da
pesquisa bibliográfica (periódicos científicos, dissertações em nível de mestrado e teses de
doutorado, documentos oficiais e legislação específica), foi realizada pesquisa documental
junto ao órgão federal gestor da UC (ICMBio/MMA) e outros sites governamentais. Em
especial foram consideradas quatro fontes de dados secundários: 1) “Relatório das oficinas
para elaboração do perfil de beneficiários da RESEX do Batoque”; 2) Relatório de apoio ao
processo de identificação das famílias beneficiárias e diagnóstico socioprodutivo em
Unidades de Conservação Federais realizados na RESEX de 2014; 3) Infrações ambientais
registradas pela equipe gestora na RESEX do Batoque no período de 2007 a 2015, e 4)
Documentos produzidos pelo Instituto Chico Mendes de Conservação de Biodiversidade
sobre a RESEX. Após a análise, foi elaborada uma proposta metodológica de Educação
Ambiental sendo esta direcionada, preferencialmente, aos atores sociais considerados
prioritários (no caso, os moradores do Batoque), com formato e modo de execução
compatíveis com a realidade do lugar, com vistas à promoção do desenvolvimento de
capacidades necessárias à participação coletiva, organizada e qualificada dos sujeitos da ação
nas práticas de Educação Ambiental, visando que se avance no sentido de construir
alternativas para a conservação do meio ambiente e a implementação efetiva dessa Unidade
de Conservação de Uso Sustentável.

Palavras-chave: Educação Ambiental. Unidade de Conservação. Problemas ambientais.


Participação social.
ABSTRACT

To reflect upon environmental education, in a context marked by environmental degradation,


promotes a serious concern on the elaboration of transformative actions in this context.
Batoque Extractive Reserve (RESEX), the first of this category in Ceará State and located in
the city of Aquiraz, it is a Sustainable Use Conservation Unity (UC) that is facing many
socioenvironmental problems. It is believed that actions directed to stimulate community
participation on the search of alternatives to minimize such problems is a viable strategy,
using environmental education as an instrument to delineate actions that help to reach that
purpose. The central concern was to formulate an Environmental Education methodological
purpose that fits Batoque RESEX' reality, based on the analysis of local socioenvironmental
problems. For the research implementation, beyond bibliographic research (scientific journals,
master's dissertations and doctoral theses, official documents and specific legislation), a
documentary research was performed along with the federal institution that manages the UC
(ICMBio/MMA) as well as with other government sites. Four secondary data sources were
mainly used: 1) “Batoque RESEX Beneficiaries profile elaboration workshop's report”; 2)
Supportive report for the beneficiary families identification and socioproductive diagnostic in
Federal Conservation Unities carried out in the RESEX in 2014; 3) Environmental infractions
registered by the Batoque RESEX management team between 2007 an 2015, and 4)
Documents produced by Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade themed
on the RESEX. After the analysis, a methodological strategy for Environmental Education
was purposed, directed primarily to the Batoque's residents, who were considered the main
social actors, with an arrangement and execution way compatible with the place's reality,
aiming the improvement of skills needed for the organized and qualified collective
participation of subjects in the Environmental Education practices, aiming for the advances in
the development of alternatives for the environmental conservation and effective
implementation of this Sustainable Use Conservation Unity.

Keywords: Environmental Education. Conservation Unity. Environmental Problems. Social


Participation.
LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Figura 1- Mapa de localização e delimitação da RESEX do Batoque, Aquiraz-CE em relação


ao estado do Ceará ................................................................................................... 17
Figura 2- Delimitação das áreas protegidas: terra indígena Lagoa Encantada, Reserva
Extrativista do Batoque e Área de Proteção Ambiental do Balbino, respectivamente.
Em destaque na cor laranja, a área de sobreposição entre a RESEX do Batoque e a
terra indígena da Lagoa da Encantada ..................................................................... 18
Figura 3- Fluxograma do histórico de criação da Reserva extrativista do Batoque, Aquiraz-
Ceará ........................................................................................................................ 27
Figura 4- Carta imagem da proposta inicial de delimitação da RESEX do Batoque com a
inclusão da área marinha e sua área de entorno (10 km) ......................................... 28
Figura 5- Atividades produtivas dos grupos familiares da RESEX do Batoque ...................... 30
Figura 6- Quadro geral das principais ocupações dos responsáveis familiares e cônjuges
nativos na RESEX do Batoque ................................................................................ 32
Figura 7- Problemas ambientais que afetam a comunidade (nativos) da RESEX do Batoque,
município de Aquiraz-Ceará .................................................................................... 40
Figura 8- Destinação do lixo doméstico (nativos) da RESEX do Batoque .............................. 41
Figura 9- Percentual de ocorrências de infrações ambientais da RESEX do Batoque durante o
período de 2007 a 2014 ............................................................................................ 43
Figura 10- Localização da RESEX do Batoque, município de Aquiraz-Ceará, com
identificação geográfica das residências dos nativos e as casas de veraneio ........... 45
Figura 11- Gráfico da quantidade de nativos e veranistas autuados no período de 2007 a 2015
pelo ICMBio por realizarem construções irregulares .............................................. 46
Figura 12- Gráfico da quantidade de nativos e veranistas autuados no período de 2007 a 2015
pelo ICMBio por dificultarem ações de fiscalização ............................................... 47
Figura 13- Gráfico da quantidade de nativos e veranistas autuados no período de 2007 a 2015
pelo ICMBio por descumprimento de embargo de obra .......................................... 48
Figura 14- Gráfico da quantidade de nativos e veranistas autuados no período de 2007 a 2015
pelo ICMBio por danificar (desmatar) vegetação nativa sem autorização .............. 49
Figura 15- Gráfico da quantidade de nativos e veranistas autuados no período de 2007 a 2015
pelo ICMBio por deixar de atender a notificação ................................................... 50
Figura 16- Esquema de organização das linhas de ação ........................................................... 58
SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................. 12
1.1 METODOLOGIA DA PESQUISA: ........................................................................... 14
1.2 DELIMITAÇÃO E CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA DE PESQUISA ................... 15
1.3 UNIDADES DE CONSERVAÇÃO E EDUCAÇÃO AMBIENTAL: situando o
debate.......................................................................................................................... 19
1.4 A RESERVA EXTRATIVISTA DO BATOQUE: HISTÓRICO DE LUTA E
CRIAÇÃO .................................................................................................................. 23
1.5 GESTÃO COMPARTILHADA E CONFLITOS SOCIOAMBIENTAIS
EXISTENTES NA RESEX DO BATOQUE............................................................. 34
2 RESULTADOS E DISCUSSÃO..................................................................................... 39
2.1 PROBLEMAS AMBIENTAIS DA RESEX SOB A ÓTICA DOS NATIVOS: ......... 39
2.2 INFRAÇÕES AMBIENTAIS REGISTRADAS NA RESEX DO BATOQUE NO
PERÍODO DE 2007 A 2015 ....................................................................................... 42
2.2.1 Infrações ocasionadas por construções irregulares sem a devida autorização do
órgão ambiental competente (Artigo 66 do Decreto nº 6.514, de 22 de julho de
2008): ......................................................................................................................... 44
2.2.2 Infrações ocasionadas por dificultar a ação do poder público em ações de
fiscalização (Artigo 77 do Decreto nº 6.514, de 22 de julho de 2008): ................. 47
2.2.3 Infrações por descumprimento de embargo de obra (Artigo 79 do Decreto nº
6.514, de 22 de julho de 2008) .................................................................................. 47
2.2.4 Infrações por danificar (desmatar) vegetação nativa sem autorização do órgão
ambiental competente ............................................................................................. 48
2.2.5 Infrações por deixar de atender notificação (Artigo 80 do Decreto nº 6.514, de
22de julho de 2008): ................................................................................................. 49
2.3 PROPOSTA DE AÇÃO DE EDUCAÇÃO AMBIENTAL: desafios em pauta ......... 52
2.4 AÇÕES DE EDUCAÇÃO AMBIENTAL COMO ESTRATÉGIA PARA BUSCA DA
SUPERAÇÃO DOS PROBLEMAS AMBIENTAIS. ................................................ 53
2.5 O DESPERTAR DO SENTIMENTO DE PERTENCIMENTO ................................ 54
2.6 A PROPOSTA METODOLÓGICA DE EDUCAÇÃO AMBIENTAL PARA A
RESEX DO BATOQUE ............................................................................................. 55
2.6.1 Linha de ação: resgate da cultura local e sentimento de pertencimento ............. 59
2.6.2 Linha de ação: comunicação para educação ambiental ....................................... 60
2.6.3 Linha de ação: a educação no processo de gestão ambiental. .............................. 61
2.6.4 Linha de ação: incentivo à recuperação de áreas impactadas na RESEX do
Batoque por meio de parcerias com instituições de pesquisa. .............................. 62
2.6.5 Linha de ação: alternativas para a melhoria da qualidade de vida da
comunidade ............................................................................................................... 63
2.6.6 Linha de ação: a educação ambiental por meio do ensino formal. ...................... 64
2.6.7 Linha de ação: fortalecimento da gestão participativa na RESEX. .................... 66
2.6.8 Linha de ação: legislação ambiental aplicada à realidade local ........................... 67
2.7 MONITORAMENTO E AVALIAÇÃO DA PROPOSTA DE EDUCAÇÃO
AMBIENTAL ............................................................................................................. 68
3 CONSIDERAÇÕES FINAIS........................................................................................ ..69
REFERÊNCIAS ........................................................................................................ 71
APÊNDICES..............................................................................................................76
APÊNDICE A- PLANTA PLANIMÉTRICA DE SITUAÇÃO DAS ÁREAS
PROTEGIDAS: TERRA INDÍGENA LAGOA ENCANTADA, RESERVA
EXTRATIVISTA DO BATOQUE E ÁREA DE PROTEÇÃO AMBIENTAL DO
BALBINO...................................................................................................................77
APÊNDICE B- QUADRO ESQUEMÁTICO DAS CATEGORIAS DE UNIDADES
DE CONSERVAÇÃO ADOTADAS PELO SNUC....................................................78
APÊNDICE C- QUADRO-RESUMO RELACIONANDO AS LINHAS DE AÇÃO
AOS PROBLEMAS/CONFLITOS ABORDADOS NO TRABALHO......................79
12

1 INTRODUÇÃO

A Educação Ambiental assume um papel cada vez mais relevante frente à


problemática ambiental que vem se tornando preocupante em nível mundial. A partir dela,
surgem possibilidades de tomadas de decisões e medidas para a melhoria das condições
ambientais nos diferenciados contextos socioespaciais.
Um dos grandes desafios é entender que o ser humano é parte integrante de tal
contexto e que depende deste para a sua sobrevivência, tendo, portanto, a obrigação de cuidar
do meio ambiente, garantindo a sua sustentabilidade para as presentes e futuras gerações.
Porém, sabe-se o quão desafiadora é a implementação de práticas visando garantir o que
preceitua a Constituição Federal (1988) em seu Artigo 225:

Art. 225. Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de
uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder
Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e
futuras gerações (BRASIL, 1988).

A acelerada degradação ambiental ocasionada pelas ações voltadas ao crescimento


econômico assumiu proporções globais, principalmente nos países industrializados, nestes
com maior gravidade. A ideia de fonte inesgotável dos recursos naturais já não era mais tão
expressiva, frente à destruição que se estabeleceu. Dessa forma, os movimentos de proteção
ao meio ambiente começaram a se articular pondo em questão o modelo de sociedade
industrial. Diante da gravidade dos problemas ecológicos e pressionados pela sociedade civil,
a qual reagiu denunciando as agressões ao meio ambiente e à vida, os governos de vários
países foram, progressivamente, incorporando as questões ambientais na agenda política e
econômica, o que originou uma série de iniciativas. É a partir dessa problemática que surge o
reconhecimento de que seriam necessárias decisões políticas para superar a “crise ecológica”
(RAMOS, 1996).
Andrade, Tachizawa e Carvalho (2000 apud BORGES; TACHIBANA, 2005),
observam que:

[...] a internacionalização do movimento ambientalista ocorreu definitivamente no


século XX com a Conferência Científica da ONU sobre a Conservação e Utilização
de Recursos, em 1949, e com a Conferência sobre Biosfera, realizada em Paris, em
1968. Porém, os grandes marcos do despertar de uma consciência ecológica mundial
foi: a publicação do Relatório Limites do Crescimento, elaborado pelo Clube de
Roma e a Conferência de Estocolmo, em 1972 (I CNUMAD), que teve por objetivo
conscientizar os países sobre a importância da conservação ambiental como fator
fundamental para a manutenção da espécie humana. A palavra-chave em Estocolmo
foi poluição (BORGES; TACHIBANA, 2005, p. 5237).
13

Entre as inúmeras medidas adotadas, surge a educação ambiental como uma


proposta em nível internacional que emerge como uma das alternativas para a conscientização
e mudança de comportamento do ser humano com relação aos problemas ambientais.
Além da educação ambiental, outra estratégia do governo é a criação de áreas
protegidas, tais como as Unidades de Conservação (UC). Entretanto, além de criar essas áreas,
é necessário se pensar estrategicamente a gestão de tal modo que se alcancem os objetivos de
sua criação, bem como atendam aos princípios da conservação ambiental, principalmente nas
UC que se enquadram na categoria de Uso Sustentável, onde é permitida (com restrições) a
presença humana dentro dos seus limites.
Esta realidade motivou a proposição da investigação que ora é apresentada com
foco numa unidade de conservação federal de uso sustentável, a primeira dessa categoria
criada no estado do Ceará e que se localiza no município de Aquiraz, criada, na época, sob a
responsabilidade do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais
Renováveis-IBAMA: a Reserva Extrativista (RESEX) do Batoque, formalizada por meio do
Decreto s/n de 05 de junho de 2003. A partir do ano de 2009, a RESEX passou a ser gerida
pela recém-criada (na época) autarquia federal Instituto Chico Mendes de Conservação da
Biodiversidade-ICMBio1. A equipe do ICMBio que atualmente realiza a gestão da RESEX do
Batoque é composta por 05 (cinco) analistas ambientais, sendo a autora do presente trabalho
uma das componentes da equipe atual.
A RESEX do Batoque vem enfrentando diversos problemas e o entendimento que
orienta a atuação da equipe gestora é que os problemas ao serem identificados podem ser
minimizados ou superados com a colaboração e participação da comunidade que ocupa a UC,
buscando alternativas para minimizar tais problemas utilizando, para isso, a Educação
Ambiental como subsídio para traçar ações que atinjam tal objetivo.
Diante de tal contexto, o presente trabalho tem como objetivo geral: elaborar uma
proposta metodológica de educação ambiental que se adeque à realidade da Reserva
Extrativista do Batoque, tendo como base a análise dos problemas socioambientais locais.
Para viabilizar tal intento, foram definidos os seguintes objetivos específicos: 1) analisar as
informações relacionadas à realidade local obtidas no levantamento de famílias realizado pelo
ICMBio no ano de 2014, buscando subsídios sobre a percepção da comunidade local acerca
dos problemas ambientais da RESEX do Batoque; 2) analisar as infrações ambientais

1
O Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade-ICMBio foi criado em 28 de agosto de 2007,
conforme a Lei nº 11.516, de 28 de agosto de 2007. A partir de então, as atribuições de implantação, gestão,
proteção, fiscalização e monitoramento das unidades de conservação instituídas pela União passaram a ser de
responsabilidade dessa autarquia federal.
14

ocorridas na RESEX do Batoque durante o período de 2007 a 2015 para que sejam trabalhas
na proposta metodológica de Educação Ambiental; e 3) construir, com a participação da
equipe gestora, propostas de linhas de ação, avaliando a viabilidade de sua proposição ao
Conselho Deliberativo da Reserva Extrativista do Batoque posteriormente.

1.1 METODOLOGIA DA PESQUISA:

A obtenção de dados secundários sobre a Reserva Extrativista do Batoque foi


realizada por meio de pesquisa documental junto ao órgão federal gestor da UC, pesquisa em
sítios governamentais da internet. Também foi realizada a pesquisa bibliográfica e
documental, por meio da consulta a periódicos científicos, dissertações em nível de mestrado
e teses de doutorado, documentos oficiais e legislação específica.
Em seguida, foi realizada uma análise sobre as principais infrações ambientais
registradas na RESEX do Batoque no período de 2007 a 2015, as quais são resultantes de
ações de fiscalização realizadas pelo órgão gestor da área. Embora a RESEX tenha sido criada
em 2003, optou-se por analisar somente as autuações executadas pelo ICMBio, ou seja, a
partir de meados de 2007. Para o tratamento dos dados, foi utilizado o programa Excel
(Windows 2010) e criado gráficos específicos para cada categoria de infração.
Também foi analisado o Relatório de apoio ao processo de identificação das
famílias beneficiárias e diagnóstico socioprodutivo em Unidades de Conservação Federais2
realizado na RESEX, fruto de um Termo de Cooperação entre o ICMBio e a Universidade
Federal de Viçosa-UFV. Esse relatório foi produzido a partir das informações obtidas pelo
levantamento de dados de famílias em Unidades de Conservação realizado pelo ICMBio em
2014. Para analisar tal relatório, fez-se a opção por abordar apenas os resultados inerentes ao
grupo de famílias caracterizadas como “nativos”, tendo em vista que o outro grupo abordado
no relatório (veranistas) não contempla possíveis beneficiários da UC e não estão
cotidianamente na área de estudo. A abordagem, nesse caso, relacionou-se com a percepção
dessas famílias (nativos da RESEX do Batoque) sobre os problemas ambientais existentes na
UC, considerando que as contribuições da comunidade local é imprescindível para traçar uma
estratégia de Educação Ambiental eficaz. Complementarmente, também foi consultado o

2
Neste trabalho foi utilizada a versão preliminar do Relatório de apoio ao processo de identificação das famílias
beneficiárias e diagnóstico socioprodutivo em Unidades de Conservação Federais, tendo em vista que este
documento está sendo revisado e ainda não foi disponibilizada a versão final.
15

“Relatório das oficinas para elaboração do perfil de beneficiários da RESEX do Batoque” e


elencados os principais conflitos socioambientais.
Com relação ao universo amostral obtido no levantamento de famílias da RESEX
do Batoque, foram aplicados 262 (duzentos e sessenta e dois) questionários respondidos por
responsáveis familiares da população que reside permanentemente na RESEX, além de 100
(cem) questionários respondidos por responsáveis familiares de veranistas que possuem casas
de veraneio na área (ICMBio, 2014b).
Após a análise das informações obtidas, foi traçada uma proposta metodológica de
Educação Ambiental para a RESEX do Batoque, sendo esta direcionada, preferencialmente,
aos atores sociais3 considerados prioritários (no caso, os moradores do Batoque), com formato
e modo de execução compatíveis com a realidade do lugar, com vistas à promoção do
desenvolvimento de capacidades necessárias à participação coletiva, organizada e qualificada
dos sujeitos da ação nas práticas de Educação Ambiental.
As linhas de ação elaboradas pelo presente trabalho foram discutidas com a
equipe gestora da RESEX do Batoque e, posteriormente, poderão ser trabalhadas no âmbito
do Conselho Deliberativo com o propósito de que seja utilizado como base na elaboração do
Programa de Educação Ambiental da UC.
Este trabalho foi apresentado ao Conselho Deliberativo da RESEX do Batoque na
23° reunião ordinária, ocorrida no dia 10 de novembro de 2016, ocasião em que o conselho
foi unanimemente favorável à proposta metodológica.

1.2 DELIMITAÇÃO E CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA DE PESQUISA

A Reserva Extrativista (RESEX) do Batoque é uma Unidade de Conservação


Federal que se enquadra na categoria de Uso Sustentável, está localizada no município de
Aquiraz, litoral leste do estado do Ceará, distando 54 km da capital, Fortaleza, e possui uma
área de 601,05 hectares (Figura 1). Apresenta como limites: o Oceano Atlântico ao norte;
comunidade do Barro Preto ao oeste; município de Pindoretama ao sul e Área de Proteção
Ambiental do Balbino-Cascavel ao leste.
No limite leste da RESEX do Batoque está situada a Área de Preservação
Ambiental (APA) do Balbino, Unidade de Conservação municipal (também da categoria de

3
Entende-se por “atores sociais” o grupamento de pessoas, (coletivos) com formas de organização variadas e
características específicas, que distinguem um grupo de outro, seja a partir do ponto de vista dos seus
componentes (...), seja a partir do ponto vista de outros segmentos sociais ou da sociedade como um todo (...).
QUINTAS, José Silva. Introdução à Gestão Ambiental Pública. 2° ed. Revista.- Brasília: Ibama, 2006.
16

uso sustentável) situada no município de Cascavel-Ceará, criada pela Lei n° 479 de 21 de


setembro de 1988 e implementada pela Lei n° 662, de 22 de maio de 1993, possuindo 250
hectares de área territorial. Esta UC está a uma distância de 3 km de Caponga, Cascavel-CE e
cobre três quilômetros de extensão, sendo formada por restinga e planície fluviomarinha,
campos de dunas, lagoas interdunares, manguezal e praia (ALBUQUERQUE, 2012).
No limite oeste da RESEX do Batoque, está situada a terra indígena Lagoa
Encantada, da etnia Jenipapo-Kanindé, localizada no município de Aquiraz-Ceará, possuindo
uma área territorial de 1.731 hectares, cuja fase de procedimento encontra-se como
declarada4. A RESEX possui uma área de sobreposição com a terra indígena de
aproximadamente 97,8417 hectares (ver Figura 2 e Apêndice A). Essa área ainda resguarda
uma paisagem natural de grande beleza cênica com pouca interferência humana, sendo
composta por parte da lagoa do Batoque, o mangue do marisco, lagoas interdunares e dunas
fixas, semifixas e móveis.
Até o momento não há registro de conflitos de uso entre as comunidades de ambas
as áreas protegidas, ao contrário do que ocorre com outros casos semelhantes existentes no
Brasil. Conforme Abirached et al. (2010) existem 70 (setenta) casos de sobreposição de áreas
protegidas com terras indígenas e/ou com territórios quilombolas no Brasil. O autor entende
que “trata-se de conflitos territoriais que ora expõem um aparente antagonismo entre direitos
culturais e direitos ao meio ambiente, ora refletem a dificuldade de conciliar o uso e o manejo
sustentável de recursos naturais com preservação da biodiversidade in situ” (ABIRACHED et
al, 2010, p. 6).
Essa problemática é enfrentada principalmente em UC de Proteção Integral, a qual
não permite ocupação humana dentro de seus limites. Porém, também existem casos de UC de
Uso Sustentável que relata conflitos dessa natureza, como, por exemplo, a RESEX Tapajós-
Arapiuns no Pará que possui área de sobreposição com terras indígenas. Ambas as áreas
protegidas entram em conflito devido a problemas fundiários, onde de um lado os indígenas
reivindicavam a demarcação de suas terras e do outro lado a população extrativista tradicional
temendo a perda do seu território historicamente conquistado (VAZ FILHO, 2013).

4
Segundo a FUNAI, terras indígenas consideradas “declaradas” são terras que obtiveram a expedição da Portaria
Declaratória pelo Ministro da Justiça e estão autorizadas para serem demarcadas fisicamente, com a
materialização dos marcos e georreferenciamento. Fonte: FUNAI (Fundação Nacional do Índio). Pesquisa
realizada em ‘índios do Brasil”, por meio do link: http://www.funai.gov.br/index.php/indios-no-brasil/terras-
indigenas.
17

Figura 1- Mapa de localização e delimitação da RESEX do Batoque, Aquiraz-CE em relação ao estado do Ceará

Fonte: IBGE e ICMBio.


Elaborado pela autora e por Marcelo Geison dos Santos (2015).
18

Figura 2- Delimitação das áreas protegidas: terra indígena Lagoa Encantada, Reserva Extrativista do Batoque e Área de Proteção Ambiental do Balbino, respectivamente.
Em destaque na cor laranja, a área de sobreposição (97,8417 hectares) entre a RESEX do Batoque e a terra indígena da Lagoa da Encantada.

Fonte: ICMBio e SEMACE.


Organizado pela autora (2015).
19

1.3 UNIDADES DE CONSERVAÇÃO E EDUCAÇÃO AMBIENTAL: situando o debate.

Na literatura especializada a base dos conceitos nos ajudam a demarcar


entendimentos que balizam a compreensão de conceitos chave que se tem em consideração.
Em primeiro lugar é preciso caracterizar as Unidade de Conservação no Brasil, tendo em vista
que estas possuem um papel essencial na conservação da natureza5, principalmente nos dias
atuais em que a degradação ambiental6 assume escala global.
Segundo o Ministério do Meio Ambiente, as Unidades de Conservação são:
[...] espaços territoriais e seus recursos ambientais com características naturais
relevantes, que têm a função de assegurar a representatividade de amostras
significativas e ecologicamente viáveis das diferentes populações, habitats e
ecossistemas do território nacional e das águas jurisdicionais, preservando o
patrimônio biológico existente (Brasil, 2011, p.4).

Estas áreas estão sujeitas a normas específicas, sendo legalmente criadas pelos
governos federal, estaduais e municipais, após a realização de estudos técnicos das áreas de
interesse a se tornar uma UC, sempre quando necessário, é realizada a consulta à população.
De acordo com o Sistema Nacional de Unidades de Conservação da Natureza
(SNUC), as UC estão divididas em dois grandes grupos (ver Apêndice B):

Unidades de Proteção Integral: visam preservar a natureza em áreas com pouca ou


nenhuma ação humana, onde não se permite a utilização direta de recursos naturais.
São subdivididas em cinco categorias: Estação Ecológica, Reserva Biológica,
Parque Nacional, Monumento Natural e Refúgio da Vida Silvestre.
Unidades de Uso Sustentável: associam a conservação da natureza à utilização
controlada dos recursos naturais. São subdivididas em sete categorias: Área de
Proteção Ambiental, Área de Relevante Interesse Ecológico, Floresta Nacional,
Reserva Extrativista, Reserva de Fauna, Reserva de Desenvolvimento Sustentável e
Reserva Particular do Patrimônio Natural (BRASIL, 2008a, p.9).

No caso das UC de uso sustentável (categoria abordada nesse trabalho), estas


foram formadas com o intuito de solucionar os conflitos que existem entre diferentes grupos
sociais que ocupam e usufruem de tais áreas e a própria expectativa da proteção da natureza.

5
Conforme consta na Lei nº 9.985 de 18 de julho de 2000 que institui o Sistema Nacional de Unidades de
Conservação, o conceito de conservação da natureza é: “[...] o manejo do uso humano da natureza,
compreendendo a preservação, a manutenção, a utilização sustentável, a restauração e a recuperação do ambiente
natural, para que possa produzir o maior benefício, em bases sustentáveis, às atuais gerações, mantendo seu
potencial de satisfazer às necessidades e aspirações das gerações futuras, e garantindo a sobrevivência dos seres
vivos em geral;” (BRASIL, 2000) Disponível em: Diário Oficial da República Federativa do Brasil. Brasília, 19
de jul. 2000. Seção I. p. 12026-12027. 2000.

6
O termo degradação ambiental é descrito na Lei nº 6.938 de 31 de agosto de 1981 que institui a Política
Nacional de Meio Ambiente, artigo 3, inciso II como “degradação da qualidade ambiental, a alteração adversa
das características do meio ambiente.” (BRASIL, 1981) Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L6938.htm
20

Desse modo, nas Reservas de Desenvolvimento Sustentável e Reservas


Extrativistas (ambas de uso sustentável) é assegurada a permanência no território e o uso
sustentável dos recursos naturais de forma racional, mantendo o modo de vida das populações
tradicionais. Tal garantia tem extrema importância, considerando o respeito aos direitos dos
antigos ocupantes dessas áreas e cujas práticas contribuam para a conservação da
biodiversidade (BRASIL, 2008a).
Segundo o Decreto n° 6.040, de 07 de fevereiro de 2007, entende-se por povos e
comunidades tradicionais:

[...] grupos culturalmente diferenciados e que se reconhecem como tais, que


possuem formas próprias de organização social, que ocupam e usam territórios e
recursos naturais como condição para sua reprodução cultural, social, religiosa,
ancestral e econômica, utilizando conhecimentos, inovações e práticas gerados e
transmitidos pela tradição (BRASIL, 2007a).

Conforme disposto no referido Decreto, é garantido o território tradicional às


populações tradicionais, inciso I, do artigo 3°, o qual objetiva “garantir aos povos e
comunidades tradicionais seus territórios, e o acesso aos recursos naturais que
tradicionalmente utilizam para sua reprodução física, cultural e econômica.” (BRASIL,
2007a)
Muitas são as ferramentas que se utilizam para alcançar os objetivos que
contemplem a conservação ambiental aliada às garantias legais aos povos e comunidade
tradicionais no caso de UC de uso sustentável.
Segundo Jacobi (2003):

Refletir sobre a complexidade ambiental abre uma estimulante oportunidade para


compreender a gestação de novos atores sociais que se mobilizam para a apropriação
da natureza, para um processo educativo articulado e compromissado com a
sustentabilidade e a participação, apoiado numa lógica que privilegia o diálogo e a
interdependência de diferentes áreas de saber. Mas também questiona valores e
premissas que norteiam as práticas sociais prevalecentes, implicando mudança na
forma de pensar e transformação no conhecimento e nas práticas educativas
(JACOBI, 2003, p.191).

É nesse contexto que a educação ambiental deve ser praticada de forma a gerar
reflexões, mudanças de comportamentos com o comprometimento dos atores sociais visando
a participação na busca da sustentabilidade das UC. Adiante, serão expostos alguns dos
principais conceitos de Educação Ambiental.
21

A Educação Ambiental como estratégia reconhecida internacionalmente surge no


inicio da década de 70, do século XX:

A literatura traz registros da educação ambiental desde meados da década de 60, e


talvez ainda mais distante no tempo. Mas o reconhecimento internacional desse
fazer educativo, como uma estratégia para repensar e rever o desenvolvimento da
nossa sociedade, ganha maior significância em 1977, quando foi realizada a
Conferência Intergovernamental sobre Educação Ambiental, em Tbilisi, na Geórgia,
União Soviética. No documento oficial dessa conferência estão estabelecidos
finalidades, objetivos, princípios e estratégias para a promoção da Educação
Ambiental (EA). Representou também um momento importante para a consolidação
do PIEA (Programa Internacional de Educação Ambiental da Unesco), de 1975
(BRASIL, 2014, p.15).

Segundo Sato (1997), mundialmente, a definição mais conhecida da Educação


Ambiental é da Conferência de Tbilisi (1977):

A educação ambiental é um processo de reconhecimento de valores e clarificação de


conceitos, objetivando o desenvolvimento das habilidades e modificando as atitudes
em relação ao meio, para entender e apreciar as interrelações entre os seres
humanos, suas culturas e seus meios biofísicos. A educação ambiental também está
relacionada com a prática das tomadas de decisões e a ética que conduzem para a
melhoria da qualidade de vida (Conferência Intergovernamental de Tbilisi, 1977
apud SATO, 1997, p.86).

A Política Nacional de Educação Ambiental, instituída pela Lei 9.795/1999,


define a Educação Ambiental em seu Artigo 1°:

Entende-se por educação ambiental os processos por meio dos quais o indivíduo e a
coletividade constroem valores sociais, conhecimentos, habilidades, atitudes e
competências voltadas para a conservação do meio ambiente, bem de uso comum do
povo, essencial à sadia qualidade de vida e sua sustentabilidade (BRASIL, 1999).

Já Quintas (2008), define a Educação Ambiental no âmbito da gestão ambiental


pública como:
A Educação Ambiental deve proporcionar as condições para o desenvolvimento das
capacidades necessárias; para que grupos sociais, em diferentes contextos
socioambientais do país, intervenham, de modo qualificado tanto na gestão do uso
dos recursos ambientais quanto na concepção e aplicação de decisões que afetam a
qualidade do ambiente, seja físico-natural ou construído, ou seja, educação
ambiental como instrumento de participação e controle social na gestão ambiental
pública (QUINTAS, 2008, p.37).

No Brasil, surge no início dos anos 70 na esfera educativa se manifestando com


ações isoladas de escolas, pequenas ações da sociedade civil, ou até mesmo por meio de
alguns governos municipais e governos estaduais que passaram a desenvolver ações
educacionais voltadas à conservação, recuperação e melhoria do meio ambiente. No âmbito
do Governo Federal, tal processo se iniciou no ano de 1973 quando foi criada a Secretaria
Especial de Meio Ambiente (SEMA), vinculada ao Ministério do Interior, a qual foi
22

responsável por iniciativas de sensibilização para questões ambientais além da capacitação de


recursos humanos para tais objetivos (BRASIL, 2014).
Mais adiante, foi criada a Política Nacional de Meio Ambiente (PNMA), no ano
de 1981, por meio da Lei n°6.938 de 31 de agosto de 1981, a qual “dispõe sobre a Política
Nacional do Meio Ambiente, seus fins e mecanismos de formulação e aplicação, e dá outras
providências”. Por meio do PNMA, determinou-se como princípio a inclusão da educação
ambiental em todos os níveis de ensino, conforme estabelecido em seu inciso X, Artigo 2°:
“educação ambiental a todos os níveis de ensino, inclusive a educação da comunidade,
objetivando capacitá-la para participação ativa na defesa do meio ambiente.” (BRASIL, 1981)
Alguns anos depois, em 1988 a Constituição Federal também recomenda que a
educação ambiental seja promovida em todos os níveis de ensino, além da conscientização
pública para a preservação do meio ambiente.
Em 1992 no Fórum Global foi discutido o Tratado de Educação Ambiental para
Sociedades Sustentáveis e Responsabilidade Global, que se tornou um importante marco para
a educação ambiental no mundo, marcado pelo processo da globalização. Também nesse
mesmo ano o IBAMA instituiu em todas as suas superintendências regionais os Núcleos de
Educação Ambiental (NEA-IBAMA) e, ainda foi criado o Ministério do Meio Ambiente
(BRASIL, 2014).
Durante a Rio-92, foi elaborada, com a participação do MEC, a Carta Brasileira
para Educação Ambiental, reconhecendo a educação ambiental como importante meio para
viabilizar mecanismos para a sustentabilidade como estratégia de sobrevivência e melhoria da
qualidade de vida humana no planeta.
No ano de 1994 a Presidência da República cria o Programa Nacional de
Educação Ambiental (PRONEA), o qual previu três componentes: capacitação de gestores e
educadores, desenvolvimento de ações educativas, e desenvolvimento de instrumentos e
metodologias (BRASIL,2014).
Em 1997, com a aprovação dos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN), o tema
meio ambiente é proposto como tema transversal, apoiando a escola na elaboração do seu
projeto educativo oportunizando a inserção da questão ambiental como tema social urgente a
ser trabalhado no âmbito escolar.
Posteriormente, no ano de 1999, foi criada a Lei n° 9.795, de 27 de abril de 1999
que institui a Política Nacional de Educação Ambiental (PNEA), a qual considera em seu
Artigo 2° que “a educação ambiental é um componente essencial e permanente da educação
nacional, devendo estar presente, de forma articulada, em todos os níveis e modalidades do
23

processo educativo, em caráter formal e não-formal (BRASIL, 1999). Mais tarde, em junho de
2002, a PNEA foi regulamentada pelo Decreto n° 4.281, que define, entre outras coisas, a
composição e as competências do Órgão Gestor da PNEA lançando, assim, as bases para a sua
execução.
O Sistema Nacional de Unidades de Conservação-SNUC, criado em 2000, por
meio da Lei n° 9.985 de 18 de julho de 2000, estabeleceu critérios e normas para a criação,
implantação e gestão das unidades de conservação. O SNUC contempla (em seu inciso IV,
artigo 5°) como uma de suas diretrizes as práticas de educação ambiental, sendo estas
consideradas como atividades de gestão das unidades de conservação (BRASIL, 2000).
Em 2010, o Conselho Nacional do Meio Ambiente-CONAMA “estabelece
diretrizes para as campanhas, ações e projetos de Educação Ambiental”, conforme Lei n°
9.795, de 27 de abril de 1999, por meio da Resolução CONAMA n° 422, de 23 de março de
2010 (CONAMA, 2010).
Em 2012, o CONAMA publica a Recomendação nº 14, de 26 de abril de 2012,
indicando a adoção da Estratégia Nacional de Comunicação e Educação Ambiental em
Unidades de Conservação- ENCEA no âmbito de tais áreas protegidas:

Aos Órgãos e às entidades do Sistema Nacional do Meio Ambiente - SISNAMA,


bem como a quaisquer instituições públicas ou privadas, pessoas físicas e jurídicas,
que sejam responsáveis pela criação e gestão de unidades de conservação das
categorias que permitem atividades de educação ambiental em seu interior e no
entorno, que adotem como referência para o desenvolvimento de projetos e ações de
educação ambiental e comunicação a Estratégia Nacional de Comunicação e
Educação Ambiental em Unidades de Conservação – ENCEA [...] (CONAMA,
2012).
Diante do contexto exposto, o desafio atual é a implementação da educação
ambiental de forma eficaz e transformadora. Existe uma demanda atual para que a sociedade
esteja mais motivada e disposta a assumir um papel mais participativo, com a capacidade de
interagir e se preocupar com a problemática ambiental, buscando o entendimento que faz
parte de tal contexto.

1.4 A RESERVA EXTRATIVISTA DO BATOQUE: HISTÓRICO DE LUTA E CRIAÇÃO

O histórico de resistência das comunidades pesqueiras ocorreu em praticamente


todo o litoral cearense visando à conservação dos modos de vida tradicionais. Infelizmente,
sabe-se que nem todas obtiveram o mesmo êxito da comunidade do Batoque de
permanecerem em seu território vencendo a luta contra a especulação imobiliária e garantindo
que os seus modos de vida fossem preservados.
24

Lima (2006) ao descrever as estratégias de resistência das comunidades que se


territorializaram na zona costeira leste do Ceará, observa que o caso do Batoque se insere
nessa realidade:
“As lutas fazem parte da história das comunidades pesqueiras marítimas desde os
últimos anos da década de 1970. No início da década de 1990, conquistaram o
“status” de movimento ao reunirem-se em torno do propósito comum de garantir
condições essenciais à manutenção do modo de vida das comunidades pesqueiras
marítimas do litoral leste. Constituindo frentes de luta na terra e no mar, em razão
dos conflitos existentes com os diferentes grileiros e/ou especuladores imobiliários e
suas ameaças – geralmente relacionados à sobrevivência, à moradia, à conservação
ambiental e à permanência da pesca artesanal, inscrevem-se como sujeitos ativos na
história do Ceará. De modo especial, a luta pelo direito ao uso da terra, contra o
“turismo predador”, contra a destruição dos estoques pesqueiros e pela preservação
dos ecossistemas costeiros (a exemplo dos manguezais e lagoas, vitais à reprodução
de espécies marinhas...), têm motivado, em muitos momentos e lugares, confrontos
históricos.” (LIMA, 2006, p. 46).

Na década de 90, bem antes da criação da RESEX do Batoque, Juvêncio (1990


apud COELHO et al., 1999) já expressava a preocupação com o futuro do Batoque, caso não
fosse garantida a criação da UC:

Ao projetar-se um cenário futuro para esta área destinada a RESEX-BATOQUE,


pode-se antever da incursão imobiliária constante, que sem uma política de
conservação que garanta sustentabilidade tanto para os recursos naturais e
regulações ecológicas, como para a comunidade existente, vislumbram-se
certamente o mesmo destino do Batoque ao ocorrido em muitas outras áreas
similares no estado: degradação de dunas, perda de patrimônio genético, diminuição
de pescarias, desagregação social, uso inadequado dos recursos, quebra da relação
de uso por comunitários dos recursos e especulação imobiliária [...] (JUVÊNCIO,
1990 apud COELHO et al., 1999, p. 43).

Alguns autores relatam sobre o histórico de ocupação e luta para a criação da


RESEX (Ver Figura 3). No ano de 1860, a ocupação área se iniciou pela família Vitorino,
sendo que esta se instalou para desenvolver as atividades de pesca, pecuária extensiva e
coletar a tabuba (Typha dominguensis) abundante nas margens da lagoa. Na década de 1970 o
Sr. Antônio Sales Magalhães se tornou o reivindicante de toda área, inclusive onde estavam
assentadas as famílias, ao “comprar coqueiros”7 dos moradores (que pensavam estarem
vendendo a produção e não o direito à posse da terra) (LIMA, 2002).
Porém, sentindo-se dono das terras usadas pelo batoqueiros, deu início às
proibições, tais como a retirada e venda do coco, a realização da plantação de vazantes, até
chegar ao ponto de proibir a construção de casas pelos moradores. Enfim, a situação era

7
Os especuladores compravam os coqueiros das propriedades da população local e a fazia assinar um “papel”.
Essa era a estratégia para se apossarem das terras, onde posteriormente eram enviados capangas para expulsarem
os moradores informando que não eram mais donos das terras, pois assinaram um documento declarando isso.
25

dramática, pois os moradores passaram a perceber que perdiam o território historicamente


conquistado tendo em vista que o especulador tinha se apossado das terras usadas pelas
famílias que realizavam suas atividades produtivas, enviando capangas para vigiá-las
(BRAID, 2004). Tempos depois, outros especuladores também surgiram alegando serem
donos das terras historicamente ocupadas pela população nativa.
A população passou a ser ameaçada por tais especuladores, os quais pretendiam
expulsar os nativos da área. Foi nessa ocasião que as lideranças comunitárias do Batoque se
mobilizaram e criaram a Associação de Moradores no ano de 1989 com o apoio do Centro de
Defesa e Promoção dos Direitos Humanos da Arquidiocese de Fortaleza-CDPDH com o
intuito de lutarem pela permanência na área. No mesmo ano, com a continuidade da invasão e
comercialização das terras, a comunidade nativa promoveu uma Ação de Interdito Proibitório,
com o intuito de resguardar a integridade de sua posse. No processo que antecedeu a criação
da UC, a Associação de Moradores da Comunidade do Batoque encaminhou ao IBAMA, o
Ofício n°20/1998 solicitando a criação da RESEX e, também, informando que 132 (cento e
trinta e duas) famílias habitavam a área naquela época (BRAID, 2004).
Em 1999, a construtora Odebrecht planeja a instalação de um luxuoso complexo
hoteleiro em terrenos adquiridos de especuladores envolvendo terras dos nativos. Nesse
ínterim, o Ministério Público Federal (em maio de 1999) firma o Termo de Ajuste de Conduta,
mediando a situação entre os empreendedores e a comunidade nativa, envolvendo órgãos
governamentais (IBAMA, SEMACE e outros), sendo uma das condições estabelecidas a
criação da Reserva Extrativista do Batoque. Ainda no mesmo ano, foi firmado um acordo
reconhecendo aos nativos a posse das terras, além da desistência do grupo empresarial em
construir o resort por não ter conseguido a área pretendida e não ter provado a titularidade da
terra, ficando esta incorporada aos limites da Reserva Extrativista. Em junho do mesmo ano,
foi realizada a abertura de processo junto ao IBAMA para a criação da RESEX e, finalmente
em 2003, o IBAMA em parceria com o Centro Nacional de Populações Tradicionais-CNPT
providenciaram todos os trâmites necessários para a criação da UC (BRAID, 2004).
A proposta inicial de criação da RESEX do Batoque contemplava a inclusão da
área marinha em sua delimitação (Figura 4) com o intuito de garantir o uso sustentável de
seus recursos, pois no mar é onde a população tradicional realiza a sua principal atividade
extrativista, a pesca artesanal.
Segundo informações obtidas no processo de criação da RESEX, a proposta
inicial abrangia uma área de 7.085,67 hectares (6.484,62 hectares de lâmina d’água e 601,05
hectares de terra firme) (Processo IBAMA n° 02001.001531/2002-34, fl. 38). Entretanto, na
26

época não foi possível a inclusão da porção marinha, pois, segundo o Decreto 4.118 de 07 de
fevereiro de 2002, em seu artigo 31, inciso XX a competência para gerir as áreas marinhas é
do Ministério da Defesa e não do Ministério do Meio Ambiente (Brasil, 2002). O que se
conclui com a análise dos documentos apensados no processo é que naquela época ainda não
havia clareza sobre os trâmites legais para a cessão de área marinha ao órgão gestor da UC.
Para viabilizar a criação da UC, no período da comemoração do dia do meio
ambiente de 2003, foi decidido excluir a área marinha da delimitação da RESEX que passou a
contemplar apenas a porção continental (601,05 hectares). Optou-se, pelo menos, pela
garantia de parte do território para a população extrativista local e, posteriormente, dar-se-ia o
andamento ao processo de inclusão do mar em sua delimitação. Em resposta à nova proposta
de delimitação da UC, o Ministro de Estado da Defesa à época manifestou-se com o seguinte
posicionamento:

[...] A alteração da área compreendida pela Reserva do Batoque, ao final de seu


processo de criação, limitando-se em terrenos de marinha, significou uma
importante decisão pois, do contrário, a reserva extrativista recaindo sobre o mar
territorial, nas dimensões inicialmente pretendidas, poderia trazer sérias
consequências àquela região (Processo IBAMA n° 02001.001531/2002-34, fl. 150).

A RESEX do Batoque foi criada por meio do Decreto Federal S/N de 05 de junho
de 2003, com “os objetivos de assegurar o uso sustentável e a conservação dos recursos
naturais renováveis, protegendo os meios de vida e a cultura da população extrativista local.”
(BRASIL, 2003). Segundo o Ministério do Meio Ambiente, o município da UC (Aquiraz) está
incluído na célula MC-874 no mapa das áreas prioritárias para a conservação dos biomas
costeiro e marinho, cuja prioridade está classificada como “muito alta”8. Nesse contexto,
evidencia-se a importância na criação de áreas especialmente protegidas visando à
conservação do meio ambiente e, no caso do Batoque, também proteger os modos de vida da
população tradicional que ocupa historicamente aquele território.
O entendimento sobre a importância de inclusão da área marinha usada pela
comunidade esteja contemplada na delimitação da UC gerou a retomada dessa discussão.
Então, no ano de 2011 a equipe gestora da RESEX encaminhou, no âmbito do Instituto Chico
Mendes de Conservação da Biodiversidade (Processo ICMBio n° 02150.000093/2011-45),
solicitação da ampliação da RESEX para o mar. Entretanto, esta ação ainda não foi

8
Informação extraída do site do Ministério do Meio Ambiente, disponível em:
http://www.mma.gov.br/estruturas/chm/_arquivos/maparea.pdf.
27

concretizada. Porém, mesmo não sendo criada conforme planejada, a referida Unidade de
Conservação foi uma conquista da população nativa que conseguiu garantir a permanência em
seu território, frente às ameaças de especuladores.

Figura 3- Fluxograma do histórico de criação da Reserva extrativista do Batoque, Aquiraz-Ceará.

Fonte: Elaborado pela autora.


28

Figura 4- Carta imagem da proposta inicial de delimitação da RESEX do Batoque com a inclusão da área marinha e sua área de entorno (10 km).

Fonte: IBAMA, 2006.


29

Mesmo após a decretação da Reserva Extrativista, Braid (2004) em suas


observações alerta para as ameaças ainda existentes na área:

No caso específico da RESEX do Batoque, observa-se que o crescimento urbano, a


busca de lazer, a pesca predatória, bem como o desenvolvimento de infraestrutura
para o atendimento das exigências do mercado turístico conduzem ações em direção
àquela região, aliados ainda à questão da grande proximidade da reserva com a
capital, Fortaleza, deixando a unidade em constante pressão especulativa,
possibilitando a desagregação comunitária (BRAID, 2004, p. 63).

Por possuir grande beleza cênica resguardando as suas principais características


de conservação ambiental e devido à proximidade em relação à capital, o Batoque se torna um
grande atrativo turístico despertando o interesse de especuladores.
Diante desse contexto, foram sendo articuladas ações emergenciais que
contribuíssem com a garantia dos direitos dos batoqueiros, buscando o apoio de instituições
governamentais e não governamentais parceiras.

1.4.1. CARACTERIZAÇÃO DA POPULAÇÃO DA RESEX DO BATOQUE

Segundo informações do Levantamento de famílias realizado em 2014 pelo


ICMBio, a comunidade do Batoque possui 262 (duzentos e sessenta e duas) famílias que
residem permanentemente na UC, sendo estas compostas por pessoas que ocupam
historicamente a área (nativos) e, também, por pessoas de origens variadas (de regiões
circunvizinhas), mas que residem no local há anos, criando vínculos com o lugar. Além dessas
famílias, foram registradas 100 (cem) casas de “veranistas” no interior da RESEX, embora se
saiba que há um número ainda maior, visto que um número considerável de proprietários
desses imóveis não compareceu no momento da entrevista durante o trabalho de levantamento
em campo (ICMBio, 2014b).
O termo “nativo” é muito utilizado pelos moradores da RESEX do Batoque, os
quais tinham várias descrições para tal expressão, mas foi durante as Oficinas para definição
do perfil da família beneficiária da RESEX do Batoque que o ICMBio, em conjunto com os
grupos que representam a comunidade, em novembro de 2014, chegaram a um consenso e
definiram pela primeira vez que nativo é “a pessoa que nasceu na região abrangida pelos
municípios cearenses de Fortaleza, Aquiraz, Pindoretama e Cascavel, e logo veio morar na
RESEX Batoque, sendo que seus pais já eram moradores da UC.” Na mesma ocasião, foi
definido que veranista seria “a pessoa que adquiriu imóvel de veraneio (segunda residência)
dentro dos limites da RESEX do Batoque para fins de lazer” (ICMBIO, 2014a).
30

As principais atividades econômicas desenvolvidas pela população nativa do


Batoque são: pesca, artesanato, agricultura de subsistência, extrativismo, produção de
animais9, conforme se observa na Figura 5 elaborada de acordo com informações obtidas no
último levantamento de famílias10 realizado pelo Instituto Chico Mendes de Conservação da
Biodiversidade-ICMBio no ano de 2014.

Figura 5- Atividades produtivas dos grupos familiares da RESEX do Batoque

Fonte: ICMBio-UVF, 2014.

A atividade extrativista da pesca na Reserva Extrativista do Batoque está em


maior destaque, atingindo um percentual de 36,7%. A pesca artesanal é a principal atividade
desenvolvida pelas famílias que justificou a criação de uma Reserva Extrativista.
Além da pesca marinha, também existe a pesca de água doce, a qual é realizada
na lagoa do Batoque, nos mangues e nas lagoas intermitentes existentes na área, além da
pesca realizada na barra do Riacho Boa Vista, localizado no extremo leste da UC.

9
Nesse caso, considerou-se como produção de animais a criação de animais de pequeno e médio porte (aves,
equinos, suínos etc.).
10
Segundo o inciso VI, Art. 2°, Capítulo I, da Instrução Normativa do ICMBio n°35 de 27 de setembro de 2013,
o levantamento de dados sobre as famílias em Unidades de Conservação (UC) consiste na coleta de dados,
utilizando de formulário padrão do ICMBio, com foco na identificação das famílias que moram, ocupam e
utilizam as UC federais, beneficiárias ou não da Unidade. (ICMBio, 2013)
31

A atividade de produção (criação) de animais apresentou um percentual de


31,90% e a produção vegetal de 24,10%, sendo esta prática comum da comunidade nativa
caracterizada como agricultura de subsistência na modalidade de culturas de vazantes.
A modalidade de culturas de ciclo curto é a mais utilizada pela comunidade, cujos
principais produtos são: bata doce, milho, feijão, mandioca. O excedente é comercializado nas
comunidades circunvizinhas e, até mesmo, vendido para a CEASA-CE (Centrais de
Abastecimento do Ceará- S/A), conforme relatos dos próprios agricultores.
O extrativismo vegetal, com um percentual de 25,60%, é praticado pelos nativos
para consumo próprio e também para complementar a sua renda. Segundo BRAID (2004), a
coleta da castanha de caju complementa a renda do extrativista, além da coleta de outras
espécies coletadas, tais como: caju, cajuí, murici e tabuba (nome científico: Thypha
dominguensis, vegetação encontrada nas margens da lagoa utilizada para o artesanato).
Com 16, 40% de percentual, o artesanato também é uma atividade comum na UC,
onde se observa a produção de artigos provenientes da fibra da tabuba, como por exemplo, a
confecção de selas para montaria, cortinas, tapetes, bolsas etc. Também trabalham com a
confecção de artigos de crochê, labirinto, renda e bordado. Por último, a pecuária é outra
atividade também praticada com um percentual de 6,40%, embora não seja uma atividade
incentivada pelo órgão gestor a ser desenvolvida na RESEX.
O gado bovino é criado extensivamente ocasionando problemas pela pastagem em
locais frágeis, tais como os corredores de deflação (alagados e baixadas) e no manguezal
(BRAID, 2004).
Além das atividades já citadas, de uma forma geral a comunidade nativa exerce
outras ocupações, conforme se verifica na Figura 6, mais adiante. Observa-se que as
ocupações exercidas pelos responsáveis familiares e seus cônjuges que mais se destacam são
as de pescador, agricultor e dona de casa.
Porém, mesmo com a criação da Unidade de Conservação, os conflitos ainda não
tiveram um fim. A luta agora é pela implementação da UC, pelo resgate dos costumes
tradicionais e pelo despertar do sentimento de pertencimento que vem se perdendo ao longo
do tempo. Agrava-se a isso, a proximidade da capital, as influências externas e, até mesmo,
internas que acabam contribuindo para o processo de descaracterização do Batoque enquanto
Reserva Extrativista, tendo em vista que a quantidade de pessoas envolvidas na realização das
atividades e práticas culturais tradicionais vem diminuindo significativamente.
32

Figura 6- Quadro geral das principais ocupações dos responsáveis familiares e cônjuges
nativos na RESEX do Batoque.

Fonte: ICMBio-UFV, 2014.

Lima (2002) em suas observações de trabalho em campo pôde observar que:


[...] as transformações sociais ocorridas a partir da chegada dos veranistas, dos
turistas e empreendedores turísticos materializam-se na paisagem costeira cearense;
geralmente evidenciam o processo de segregação espacial; as segundas-residências
(os prédios de apartamentos, os sobrados e as mansões com altos muros), as cercas
(que passam a indicar a propriedade e/ou os marcos da grilagem de terra), as
construções destinadas aos empreendimentos turísticos (pousadas, hotéis e parques
aquáticos) e as barracas estilizadas, introduzem elementos estéticos que se
diferenciam do padrão tradicional da arquitetura local e do uso comunitário da terra
(LIMA, 2002, p. 68).

Além da descaracterização da paisagem das comunidades costeiras ocasionadas


pela chegada de veranistas, turistas e empreendedores turísticos, existem outras consequências
ainda mais graves, conforme ainda relata Lima (2002):
O veranismo e a urbanização turística tem contribuído, significativamente, para
colocar em dúvida a possibilidade de permanência do modo de vida das
comunidades pesqueiras marítimas do Ceará, pois coloca no e para o lugar a
perspectiva de modos de vida em “confronto”. (LIMA, 2002, p.73)

Rocha et al (2003) também concordam que:


[...] ao se instalar no território, a segunda residência traz consigo certos valores
culturais que dominam os já existentes no lugar, resultando em um processo de
aculturação e modificação do modo de vida e do cotidiano da comunidade. A
inserção de hábitos novos implica em mudança de pensamento e atitude; logo, a
terra antes necessária à moradia, à reprodução da vida, ao trabalho e à sobrevivência
da comunidade, ganha novo sentido e status de mercadoria” (ROCHA et al., 2003,
p.8).
33

Segundo a Instrução Normativa n° 35/2013- ICMBio, entende-se por perfil da


família beneficiária “a descrição das características que identificam a população tradicional de
cada Unidade de Conservação (UC), servindo como parâmetro para o reconhecimento da
família beneficiária da UC” (ICMBio, 2013).
Em trabalhos já realizados pela equipe do ICMBio e, recentemente, nas oficinas
realizadas para definição do perfil das famílias beneficiárias da RESEX do Batoque com o
grupo de jovens surgiu uma discussão sobre os modos de vida das comunidades tradicionais, e
foi unânime o entendimento de que os jovens presentes não se identificam com a RESEX, que
não pretendem viver das atividades extrativistas, como também não se enxergam como
população tradicional, e por tais motivos não aceitam a RESEX.
O sentimento de pertencimento da comunidade com relação à UC é praticamente
ausente, principalmente quando se dialoga com os mais jovens. Na opinião deles, acham que
estão vivendo numa grande mentira, pois não se identificam com a RESEX. Também
ressaltaram a necessidade de saírem da comunidade para almejarem um futuro melhor e não
se obrigarem a viver num modelo de UC que não traz alternativas de renda para os jovens
(ICMBIO, 2014a).
Tal fato gera muitas reflexões, tendo em vista que a atual população de
extrativistas do Batoque é composta por pessoas mais velhas e que não há interesse
expressivo dos jovens em aprender e viver segundo o modo de vida tradicional, realizando
atividades, tais como a arte da pesca, mariscagem, extrativismo vegetal, artesanato etc. Soma-
se a isso a escassez dos recursos pesqueiros e a falta de alternativas de renda, obrigando a
população a se deslocar para outros municípios em busca de emprego para garantir o sustento
de suas famílias.
Na realidade, o “êxodo” dos nativos já se inicia na educação formal quando os
jovens necessitam se deslocar para as cidades circunvizinhas e, até mesmo, para a capital para
concluírem os seus estudos, pois na RESEX só existe a Escola Municipal de Ensino
Fundamental do Batoque, a qual oferta apenas o ensino fundamental, o que obriga os alunos a
se deslocarem para outras escolas fora da UC. Por vezes, ao não enxergarem oportunidades no
local onde moram, planejam ir embora de seu lugar de origem para buscarem melhores
oportunidades. É raro encontrar algum jovem nativo que almeje viver das práticas
extrativistas, pois, além da escassez dos recursos naturais, também existe a desvalorização
desse tipo de trabalho e os incentivos de governo ainda são insuficientes.
Toda essa problemática é preocupante, tendo em vista que pode comprometer o
futuro da RESEX, a qual foi criada para beneficiar uma população tradicional que poderá não
34

mais existir em um futuro próximo devido à perda de identidade como integrante de grupo
culturalmente diferenciado que compõe uma população tradicional e que justificou a criação
da UC.

1.5 GESTÃO COMPARTILHADA E CONFLITOS SOCIOAMBIENTAIS EXISTENTES


NA RESEX DO BATOQUE

A Lei n° 9.985, de 18 de julho de 2000, a qual institui o Sistema Nacional de


Unidades de Conservação da Natureza (SNUC) orienta que sejam implementados diversos
instrumentos de gestão para que as Unidades de Conservação cumpram os seus objetivos de
criação e para que haja a gestão eficaz dessas áreas protegidas, muitos dos quais asseguram a
participação das populações locais nos modelos de gestão compartilhada.
Os instrumentos de gestão passaram garantir a participação dos vários segmentos
sociais, contribuindo para que as UC atinjam seus objetivos e possibilitem a conservação da
biodiversidade por meio da gestão participativa. Entre os instrumentos que garantem essa
participação, estão a implantação dos Conselhos, como espaços de reflexão e de tomada de
decisões, e a própria construção (e implementação) do Plano de Manejo.
As Reservas Extrativistas devem ser geridas por um Conselho Deliberativo, sendo
este presidido pelo órgão gestor da Unidade de Conservação (no caso, o ICMBio) e
constituído por representantes das populações tradicionais residentes na área, além de
representantes de órgãos públicos e organizações da sociedade civil (BRASIL, 2000).
O Conselho Deliberativo de RESEX é definido como o espaço legalmente
constituído de valorização, discussão, negociação, deliberação e gestão da Unidade de
Conservação e sua área de influência referente a questões sociais, econômicas, culturais e
ambientais. A tomada de decisões relacionadas à gestão da Reserva Extrativista ocorre no
âmbito do conselho deliberativo, é o que se define como gestão participativa. As reuniões
ocorrem periodicamente, conforme definido no regimento interno e são abertas ao público,
que por sua vez podem se posicionar, porém não tem poder de voto (ao contrário dos
conselheiros).
Na RESEX do Batoque o conselho deliberativo foi instituído em 24 de maio de
2012 e desde então tem se reunido periodicamente e participado de importantes tomadas de
decisões sobre a gestão da UC.
Apesar da garantia do território com a decretação da RESEX do Batoque, esta
ainda enfrenta outros problemas, tais como a degradação ambiental, a saída da população
mais jovem do seu local de origem para outras cidades em busca de melhorias de vida, já que
35

não desejam mais viver das práticas extrativistas, ocasionando inclusive o esquecimento da
cultura local.
Ao se planejar uma estratégia de futuro mais eficaz para o Batoque é necessária a
participação dos diversos segmentos que compõem a UC, buscando o entendimento de que
são parte da gestão da mesma. A importância da participação social nas estratégias de
conservação in situ é uma discussão que se fortaleceu e se ampliou ao longo das últimas
décadas. Tal perspectiva é visível no próprio Sistema Nacional de Unidades de Conservação
da Natureza-SNUC, o qual incorpora como uma de suas diretrizes “assegurar a participação
efetiva das populações locais na criação, implantação e gestão das unidades de conservação”
(Brasil, 2000). Além disso, o SNUC também traz como diretriz a importância de
implementação das práticas de Educação Ambiental para uma gestão efetiva das unidades de
conservação.
Contudo, o órgão gestor da Unidade ainda não implementou nenhuma prática de
Educação Ambiental continuada, apenas são realizadas ações pontuais na RESEX do Batoque,
não havendo um cronograma de ações contínuas com esse intuito.
De acordo com Brito (2008), além de problemas ambientais, a gestão das UC
envolve dificuldades de ordem social, econômica e principalmente política, o que em
geral ocasiona graves conflitos entre as populações locais e as ações dos responsáveis
pela administração.
Essa situação é vivenciada no Batoque, pois, embora a decretação da Reserva
Extrativista tenha sido uma vitória para a população nativa garantindo a sua permanência no
território, ainda existem diversos conflitos sobre a área que necessitam ser geridos.
Um dos principais conflitos diz respeito à questão fundiária, tendo em vista que as
áreas particulares incluídas nos limites da RESEX devem ser desapropriadas, de acordo com o
que dispõe a lei. Com isso, surgem outros conflitos envolvendo diversos interesses: o poder
público com a atribuição de realizar o processo de regularização fundiária, além de gerir a
área e implementar a UC, e de outro lado os possuidores de imóveis de veraneio que não
querem perder o vínculo com o lugar. Soma-se a essa problemática, a existência da população
nativa da área que, por sua vez, manifesta-se a favor da permanência dos veranistas na área,
fato que pôde ser comprovado durante as Oficinas para definição do perfil dos beneficiários
realizado em 2014, onde todos os grupos que representavam a comunidade votaram a favor da
inclusão dos veranistas como beneficiários da RESEX, algo que não possui previsão legal
(ICMBIO, 2014a).
36

Esse fato vem gerando conflito de gestão da área, tendo em vista que a UC foi
criada para contemplar uma população beneficiária específica e não prevê a permanência de
pessoas não beneficiárias em seus limites. Com o intuito de buscar alternativas para
minimizar tais problemas, foi criado em 2016 (no âmbito do ICMBio) um Grupo de Trabalho
(GT), composto por diversas instâncias do órgão, com a função de avaliar e construir junto
com a comunidade nativa possíveis cenários para a Reserva Extrativista do Batoque,
considerando a discussão do perfil de família beneficiária, a situação fundiária e de ocupação
da UC e a discussão com os atores envolvidos. O GT realizou uma série de encontros
(reuniões, assembleias, oficinas) com a comunidade do Batoque durante um período de 06
(seis) meses, até que em agosto de 2016 o perfil da família beneficiária da RESEX do
Batoque foi finalizado e aprovado pelos comunitários em assembleia. Atualmente a proposta
de perfil se encontra aguardando os trâmites legais para sua publicação no Diário Oficial da
União em portaria do Instituto Chico Mendes.
Outro conflito importante ligado à questão fundiária está relacionado à Ação Civil
Pública n°0006876-56.2011.4.05.8100 (ACP), iniciada em março de 2012, cujo autor é o
Ministério Público Federal e os réus são: ICMBio, União Federal, município de Aquiraz,
IBAMA, e os cartórios Florêncio (Aquiraz-CE) e Joaquim Pereira (Pindoretama-CE). A ACP
foi iniciada após a denúncia de venda de imóveis no interior da RESEX, inclusive praticada
pelos nativos, contrariando o disposto no §1°, artigo 18, da Lei 9.985, de 18 de julho de 2000:

A Reserva Extrativista é de domínio público, com uso concedido às populações


extrativistas tradicionais conforme o disposto no art. 23 desta Lei e em
regulamentação específica, sendo que as áreas particulares incluídas em seus limites
devem ser desapropriadas, de acordo com o que dispõe a lei (BRASIL, 2000).

Nessa ACP, o juiz federal determina, entre outras coisas, o seguinte:


a) Determina à ICMBio que se abstenha de outorgar quaisquer novas
autorizações para qualquer obra ou atividade realizada na área da RESEX
incompatível com os usos legais da RESEX do Batoque, abstendo-se, ainda, de
dar sequência à qualquer procedimento de autorização para licenciamento e, ainda, a
imposição de suspensão dos efeitos das autorizações porventura já outorgadas na
área para qualquer tipo de construção ou reforma incompatível com os usos legais
da RESEX (Processo MPF n° 0006876-56.2011.4.05.8100, fls. 453 e 454).

Dessa forma, o ICMBio ficou impedido de emitir autorização para qualquer tipo
de obra dentro dos limites da RESEX do Batoque desde 2012 até que sejam executadas todas
as exigências determinadas pela justiça federal e, assim, finalizado o processo.
Diante de tal situação, parte dos nativos e veranistas vem descumprindo ao que foi
estabelecido por determinação judicial, restando ao ICMBio tomar as providências cabíveis e,
consequentemente autuar aos que cometem a infração de realizar qualquer tipo de obra na
37

UC. Essa problemática é considerada pela equipe gestora um dos principais conflitos de
gestão, tendo em vista que a população nativa está impedida de construir ou reformar suas
residências e, dessa forma, responsabilizam o ICMBio por tal situação, onde na verdade o
órgão ambiental está apenas cumprindo uma determinação judicial em não emitir novas
autorizações para construção.
A inexistência do Acordo de Gestão da RESEX é outro fator que ocasiona
conflitos de uso e destinação do território, tendo em vista que nesse documento contém as
regras construídas e definidas pela população tradicional beneficiária da Unidade de
Conservação de Uso Sustentável quanto às atividades tradicionalmente praticadas, o manejo
dos recursos naturais, o uso e ocupação da área e a conservação ambiental, considerando- se a
legislação vigente (ICMBIO, 2012).
Os conflitos internos também ganham destaque, tendo em vista que em várias
situações as lideranças divergem de opinião e de posicionamento relacionadas ao interesse
comum dos nativos. Na RESEX funcionam duas associações: Associação Comunitária de
Moradores do Batoque e Associação de Pescadores e Marisqueiras da Reserva Extrativista do
Batoque, as quais possuem posicionamentos distintos e não costumam trabalhar em parceria.
A percepção que fica para quem está envolvido na gestão da UC é que essa forma de atuação
só leva ao enfraquecimento da própria comunidade nativa que deveria se unir em prol dos
interesses coletivos.
Embora a RESEX do Batoque tenha sido criada há mais de 12 (doze) anos, ainda
há um longo caminho a se trilhar em busca da conservação dos recursos naturais e da
conscientização da população local e dos demais que possuem algum tipo de vínculo com o
local. São perceptíveis os problemas ambientais que persistem e, alguns, até se agravam com
o passar dos anos, muitos dos quais poderiam ser minimizados com a colaboração da
comunidade residente na área.
Segundo Braid (2004), os principais problemas ambientais da RESEX são os
seguintes: destinação inadequada dos resíduos sólidos; desmatamentos sobre as dunas fixas
com fins agropecuários; pesca predatória na área de influência da UC com a utilização de
petrechos proibidos por legislação específica, comprometendo o potencial pesqueiro; o
avançado processo de deposição de sedimentos eólicos, causando o recobrimento de fossas de
lagoas intermitentes; erosão costeira, devido à construção de pequenos molhes de proteção da
orla marítima da praia da Caponga, a qual está situada a 8 km do Batoque; assoreamento das
margens da lagoa do Batoque, principal recurso hídrico da comunidade; ocupação
38

desordenada para fins de moradia ou segunda residência, situadas em campos de dunas


móveis, pós-praia, planície fluviolacustre na margem da lagoa.
A mesma autora também alerta para a poluição da praia, ocasionada
principalmente pela prática de turismo desordenado e ausência de ações efetivas de
conscientização dos visitantes e, também, moradores sobre a importância da conservação dos
recursos naturais; alteração da paisagem pela ação antrópica, ocasionando prejuízos ao valor
cênico da área (BRAID, 2004).
Além dos problemas já citados, ainda se destacam outros que, inclusive, foram
identificados pelo grupo de turismo do Batoque em uma Oficina realizada em 2013, a qual foi
organizada pelo ICMBio e Rede Tucum11: animais de grande porte soltos na RESEX,
ocasionando transtornos à toda a comunidade, além de causar danos ao meio ambiente;
poluição sonora, principalmente nos fins de semana e feriados quando se intensifica a
visitação de turistas na UC; ausência de saneamento básico; construção de fossas próximo aos
poços de abastecimento de água; queimada criminosa da vegetação que abrange as margens
da lagoa do Batoque, comprometendo a fauna e a flora local, além de pôr em risco a vida de
pessoas que habitam próximo à lagoa.
Além disso, durante as inúmeras ações do órgão gestor da área, tais como reuniões
do Conselho Deliberativo, fiscalizações, assembleias da comunidade, oficinas, ações pontuais
de Educação Ambiental e outras atividades, percebe-se que grande parte da comunidade
nativa daquela área não tem clareza sobre a Reserva Extrativista, o que essa categoria de
Unidade de Conservação representa, sobre o papel e atribuições do Instituto Chico Mendes na
UC, tampouco sobre os seus direitos e deveres por habitarem em uma área especialmente
protegida.
Nesse contexto, percebe-se claramente a necessidade de se lançar uma estratégia
que possa atuar de forma efetiva, participativa e transformadora a ser executada pelo ICMBio
juntamente com a comunidade nativa, comunidades do entorno da UC e parceiros (Prefeitura
municipal, Governo do Estado, ONG’s e outros).

11
A Rede Tucum é um projeto pioneiro de turismo comunitário no Ceará voltado para a construção de uma
relação entre sociedade, cultura e natureza que busque a sustentabilidade socioambiental. A Tucum é formada
por comunidades localizadas na zona costeira cearense e está sendo construída a muitas mãos. Atualmente, conta
com a participação de dez comunidades costeiras, entre indígenas, pescadores e moradores de assentamentos
rurais, dois pontos de hospedagem solidária em Fortaleza, além de três ONG's que fazem o apoio institucional à
rede - Instituto Terramar (Brasil), Associação Tremembé (Itália) e Fundação Amigos da Prainha do Canto Verde
(Suíça). Disponível em: http://fernjss.xpg.uol.com.br/tucum.html
39

2 RESULTADOS E DISCUSSÃO

Os resultados dessa pesquisa foram divididos em tópicos conforme segue, os


quais tiveram como base as fontes de dados secundários: 1) “Relatório das oficinas para
elaboração do perfil de beneficiários da RESEX do Batoque”; 2) Relatório de apoio ao
processo de identificação das famílias beneficiárias e diagnóstico socioprodutivo em
Unidades de Conservação Federais realizados na RESEX em 2014; 3) Infrações ambientais
registradas pela equipe gestora na RESEX do Batoque no período de 2007 a 2015; e 4)
Documentos produzidos pelo Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade
sobre a RESEX.

2.1 PROBLEMAS AMBIENTAIS DA RESEX SOB A ÓTICA DOS NATIVOS:

O presente tópico foi elaborado com base em informações obtidas pelo relatório
de apoio ao processo de Identificação das famílias beneficiárias e “Diagnóstico
socioprodutivo em Unidades de Conservação Federais”, fruto de um Termo de Cooperação
entre o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade - ICMBio e a Universidade
Federal de Viçosa. O relatório foi produzido a partir das informações obtidas pelo
levantamento de dados de famílias em Unidades de Conservação realizado pelo ICMBio em
2014, o qual consiste em “coleta de dados, utilizando de formulário padrão do ICMBio, com
foco na identificação das famílias que moram, ocupam e utilizam as Unidades de
Conservação Federais, beneficiárias ou não da Unidade.” (ICMBIO, 2013). Tal levantamento
busca, entre outras coisas, identificar essas famílias e seus modos de vida e trabalho para que
se torne possível gerir de forma mais eficaz essas UC e direcionar as políticas de governo que
lhes são de direito.
A seguir, serão expostos os resultados dos itens do questionário aplicado à
comunidade que englobam a questão ambiental de interesse para o presente trabalho (Figura
7). Vale ressaltar que serão analisados somente os itens dos questionários aplicados à
população nativa, a qual está cotidianamente na Unidade de Conservação e que é diretamente
afetada, ao contrário dos veranistas que frequentam a UC esporadicamente para fins de lazer.
40

Figura 7- Problemas ambientais que afetam a comunidade (nativos) da RESEX do Batoque,


município de Aquiraz-Ceará

Fonte: ICMBio-UFV, 2014.

Isso não quer dizer que os veranistas também não sejam afetados, porém, por não
estarem cotidianamente na UC e por não serem considerados população beneficiária da área,
optou-se por priorizar a população nativa.
Na figura 6, estão destacados os principais problemas ambientais da RESEX do
Batoque mencionados nos questionários. De acordo com a percepção da população nativa da
RESEX, os problemas ambientais mais citados por ordem de importância foram: queimadas,
lixo, poluição hídrica, desmatamento, pesca predatória, entre outros.
Destes, o problema ambiental que mais se destacou no questionário aplicado está
relacionado às queimadas, onde um percentual de 39,6% dos entrevistados consideraram
como o principal problema ambiental. Segundo informações da equipe gestora do ICMBio,
não há registros de queimadas frequentes na RESEX, entretanto, no ano de 2014 ocorreu uma
grande queimada que atingiu a maior parte da vegetação das margens da lagoa do Batoque,
com prejuízos ambientais que acarretaram na morte de animais, destruição da vegetação e
risco às famílias que habitam nas proximidades da lagoa. Infelizmente, não foi possível
identificar os responsáveis por tal crime, pois os nativos relataram que a queimada se iniciou
na madrugada sem que alguém tivesse visto e acreditam ter sido intencional. Esse fato ocorreu
no mês de março de 2014 e o levantamento de famílias ocorreu no mês de abril de 2014, o
que, talvez, justifique o grande número de pessoas terem citado as queimadas como principal
problema ambiental da RESEX do Batoque. Por outro lado, a comunidade do Batoque
41

também possui o hábito de queimar o lixo doméstico, o que pode gerar danos ambientais
quando pequenas faíscas se espalham atingindo outras áreas.
O problema do lixo foi apontado por um percentual de 18% dos entrevistados,
sendo um problema frequentemente discutido nas reuniões da UC, onde os nativos reclamam
da precariedade da coleta dos resíduos sólidos pela Prefeitura municipal de Aquiraz e, mesmo
a RESEX do Batoque possuindo três garis exclusivos para trabalhar na área, ainda assim o
lixo é um dos problemas que mais incomoda os moradores. Na Figura 8, pode-se observar que
apenas 53,7% dos moradores (no caso, nativos), são contemplados com a coleta dos resíduos
sólidos e, em média, 29,2% praticam a queima do lixo. Além disso, 14,6% dos entrevistados
informaram que enterram o lixo doméstico e apenas 2,6% realizam compostagem ou
reciclagem. Tal situação evidencia que o serviço público de coleta na RESEX ainda é precário
e que ainda não existem medidas alternativas eficazes para reciclagem dos resíduos, tampouco
ações efetivas de Educação Ambiental que contemple tal problemática.

Figura 8- Destinação do lixo doméstico (nativos) da RESEX do Batoque

Fonte: ICMBio-UFV, 2014

Com relação à poluição hídrica, problema relatado por 13,2% dos entrevistados, a
ação antrópica pode ser um dos principais fatores a comprometer a qualidade da água da lagoa
do Batoque, principal recurso hídrico da comunidade nativa. Segundo Oliveira (2006):
[...] Apesar de estar localizada em uma unidade de conservação ambiental, a Lagoa
do Batoque tem seu entorno bastante ocupado por residências, casas de veraneio e
áreas de plantio sendo, portanto, constantemente submetido a práticas que podem ser
prejudiciais à qualidade da água da mesma. Dentre estas atividades estão: a
pastagem, a prática agrícola com fertilizantes, o lançamento de efluentes líquidos
domésticos brutos, efluentes oriundos de uma fossa séptica do centro de saúde onde
são realizadas pequenas cirurgias e ainda a disposição de lixo diretamente na lagoa.
Nos últimos anos, tem sido observado o crescimento excessivo de macrófitas
42

aquáticas no corpo d’água e diminuição de sua área alagada, causando assoreamento


e perigo de posterior desaparecimento da lagoa. Tais fatores são possíveis
indicadores de estresse ecológico do sistema aquático (eutrofização) (OLIVEIRA,
2006, p.16).

Já com relação ao desmatamento relatado por 7,2% dos entrevistados, na RESEX


não tem sido expressivo, tendo em vista que em oito anos de gestão do ICMBio sobre a área
ocorreu somente uma autuação por infração ambiental relacionada ao desmatamento. Um
ponto mais importante e que merece maior destaque está relacionado à pesca predatória
(também citada pela comunidade como um problema ambiental da área por um percentual de
6,4%), considerando que a RESEX do Batoque não possui área marinha contemplada em sua
delimitação, o que limita a atuação direta do ICMBio em ações de fiscalização para o combate
a tal infração, que também se configura como crime ambiental.
O que também chama a atenção é que, para um percentual de 6,8% dos
entrevistados, não há problemas ambientais na UC, talvez por falta de entendimento sobre o
assunto, fato que pode ser observado quando um percentual de 0,8% informou que não sabe
sobre os problemas ambientais; 0,4% não informou e 0,4% citou a mineração (inexistente na
RESEX) como um problema. Outros fatores que também foram citados com menor
expressividade foram: contaminação do solo (2,8%); descaso em relação à lagoa (1,2%);
aumento da pecuária (0,8%); poluição sonora e lixo (0,8%); enchentes (0,4%); animais soltos
(0,4%); destruição das dunas (0,4%) e explorando os manguezais (0,4%).
De uma forma geral, os problemas ambientais da RESEX na opinião dos
moradores da área estão relacionados aos já citados por Braid (2004). Entretanto, nota-se que
poucos possuem uma percepção mais sistêmica ao associar a destruição dos mangues, das
dunas, ocupação desordenada das faixas de praia e das áreas de preservação permanente, além
de outros problemas ambientais que influenciam negativamente na Unidade de Conservação
e, consequentemente, a dinâmica da comunidade local.

2.2 INFRAÇÕES AMBIENTAIS REGISTRADAS NA RESEX DO BATOQUE NO


PERÍODO DE 2007 A 2015

As ações de proteção e fiscalização das UC federais são regulamentadas pelo


Decreto nº 6.514, de 22 de julho de 2008, o qual “dispõe sobre as infrações e sanções
administrativas ao meio ambiente, estabelece o processo administrativo federal para apuração
destas infrações, e dá outras providências.” De acordo com o referido Decreto, considera-se
infração administrativa ambiental “toda ação ou omissão que viole as regras jurídicas de uso,
gozo, promoção, proteção e recuperação do meio ambiente” (BRASIL, 2008b).
43

A análise das infrações ambientais ocorridas na RESEX do Batoque é de suma


importância para traçar uma estratégia de Educação Ambiental no sentido de informar à
população local, comunidades do entorno e demais pessoas que possuem vínculo com a UC
sobre as restrições de uso de uma RESEX, além de ressaltar a importância da conservação do
meio ambiente e quais as consequências para quem comete as infrações previstas na
legislação específica. Realizar tal análise permitirá que sejam elaboradas medidas preventivas
levando maiores informações aos que fazem uso da RESEX, visando à diminuição de
ocorrências de tais infrações. As informações sobre as infrações foram obtidas por meio de
consulta ao banco de dados de infrações ambientais da RESEX do Batoque.
Dessa forma, ao se realizar um levantamento sobre as principais infrações
administrativas ao meio ambiente dentro dos limites da RESEX do Batoque entre os anos de
2007 a 2015, foi elaborado um gráfico para destacar os índices de ocorrências das infrações,
conforme discriminado no gráfico abaixo (Figura 9):

Figura 9- Percentual de ocorrências de infrações ambientais da RESEX do Batoque durante o período


de 2007 a 2015

Fonte: Elaborado pela autora.


44

Ressalta-se que os valores das multas relacionadas às infrações são aplicados em


dobro, tendo em vista que foram cometidas dentro dos limites de UC, conforme prevê o
Artigo 93, do Decreto 6.514, de 22 de julho de 2008:
Art. 93. As infrações previstas neste Decreto, exceto as dispostas nesta Subseção,
quando forem cometidas ou afetarem unidade de conservação ou sua zona de
amortecimento, terão os valores de suas respectivas multas aplicadas em dobro,
ressalvados os casos em que a determinação de aumento do valor da multa seja
superior a este (BRASIL, 2008b).

2.2.1 Infrações ocasionadas por construções irregulares sem a devida autorização do órgão
ambiental competente (Artigo 66 do Decreto nº 6.514, de 22 de julho de 2008):

Art. 66. Construir, reformar, ampliar, instalar ou fazer funcionar estabelecimentos,


atividades, obras ou serviços utilizadores de recursos ambientais, considerados
efetiva ou potencialmente poluidores, sem licença ou autorização dos órgãos
ambientais competentes, em desacordo com a licença obtida ou contrariando as
normas legais e regulamentos pertinentes: (Redação dada pelo Decreto nº 6.686, de
2008).

Multa de R$ 500,00 (quinhentos reais) a R$ 10.000.000,00 (dez milhões de reais).

Parágrafo único. Incorre nas mesmas multas quem:

I - constrói, reforma, amplia, instala ou faz funcionar estabelecimento, obra ou


serviço sujeito a licenciamento ambiental localizado em unidade de conservação ou
em sua zona de amortecimento, ou em áreas de proteção de mananciais legalmente
estabelecidas, sem anuência do respectivo órgão gestor; e (Redação dada pelo
Decreto nº 6.686, de 2008).

II - deixa de atender a condicionantes estabelecidas na licença ambiental (BRASIL,


2008b).

Observou-se que na RESEX do Batoque as autuações por construções irregulares


sem a devida autorização do órgão ambiental competente se destacaram com o maior índice
de ocorrência praticado durante o período estudado, totalizando 71,87% do total de infrações.
Esse fato é considerado um dos mais preocupantes, tendo em vista que a ocupação
desordenada da Unidade de Conservação ocasiona diversos problemas ambientais, tais como
citados por Braid (2004):
A Vila do Batoque ocupa hoje uma área de aproximadamente 65, 21hectares, sendo
que parte desta área ocupa espaço com potencial frágil para fixação humana. A
fração que ocupa a faixa de pós-praia apresenta risco para ampliação ou até mesmo
manutenção, considerando que aquele local está submetido a forte ação dos ventos,
com profunda e intensificada movimentação de sedimentos, colocando em risco as
construções que estão na direção das correntes [...]. Além desta área de risco
iminente, há outra área também ocupada pelo núcleo residencial que está sob
conflito de uso, considerando que várias residências estão em distância inferior a
100 metros da lagoa do Batoque (BRAID, 2004, p. 216).

Vale salientar que a pesquisa de Braid foi realizada em 2004, um ano após a
criação da RESEX do Batoque evidenciando que os problemas gerados pela ocupação
45

desordenada são fatores históricos da área. Entretanto, mesmo com a decretação da Reserva
Extrativista e a constante fiscalização gerando autuações por parte dos órgãos competentes,
até os dias atuais esta problemática vem persistindo.
Em um futuro próximo, a população beneficiária daquela área não mais possuirá
espaço para construção de moradia para as futuras gerações, tendo em vista que a UC possui
uma área pequena (601,05 hectares) e bastante limitada quanto à ocupação, pois grande parte
dessa área não é edificável (Áreas de Preservação Permanente protegidas por lei), além de
existir uma quantidade considerável de casas de veraneio em toda a extensão da vila do
Batoque, conforme se observa na Figura 10, resultado do levantamento de dados de famílias
em Unidades de Conservação realizado pelo ICMBio em 2014. Além de ser considerada uma
prática incompatível com os objetivos de criação da RESEX, essas residências de veraneio
são significativamente maiores do que as residências dos nativos, ocupando espaços que
poderiam ser utilizados pela população beneficiária da UC. Além disso, existe na RESEX
mais de cem casas de veraneio, quase a metade do número de residências de moradores.
Enquanto não forem adotadas as providências voltadas à regularização fundiária, a
convivência e a garantia dos direitos em questão serão os principais desafios à gestão da UC.

Figura 10- Localização da RESEX do Batoque, município de Aquiraz-Ceará, com identificação geográfica
das residências dos nativos (pontos vermelhos) e as casas de veraneio (pontos azuis)

Fonte: ICMBio-UFV, 2014


46

O gráfico adiante (Figura 11) ilustra as infrações ocasionadas por construções


irregulares sem a devida autorização do órgão ambiental competente, comparando a
quantidade de nativos e veranistas que cometeram tal infração.
No ano de 2010 foram autuados 02 (dois) veranistas por construções irregulares sem a
devida autorização do órgão ambiental competente, igualmente no ano de 2011. Em 2012, ano
em que se iniciou a ACP, não houve registro de nenhuma autuação dessa natureza. Entretanto,
01 (um) nativo cometeu infração em 2013. Já em 2014, houve 01 (um) nativo e um veranista
autuados. Em 2015 foram registrados os maiores índices em comparação aos anos anteriores:
foram quatro nativos autuados, onze veranistas e um autor não identificado.
A situação está cada vez mais delicada, principalmente para os nativos da RESEX,
considerando que necessitam construir, reformar ou ampliar as suas moradias, mas se
encontram impedidos tendo em vista que a ACP continua em vigor.

Figura 11- Gráfico da quantidade de nativos e veranistas autuados (Y) no período de 2007 a
2015 (X) pelo ICMBio por realizarem construções irregulares. Observação: no período de 2007
a 2009 o ICMBio não realizou autuações, sendo estas executadas pelo IBAMA

Fonte: Elaborado pela autora.


47

2.2.2 Infrações ocasionadas por dificultar a ação do poder público em ações de fiscalização
(Artigo 77 do Decreto nº 6.514, de 22 de julho de 2008):
Art. 77. Obstar ou dificultar a ação do Poder Público no exercício de atividades de
fiscalização ambiental:
Multa de R$ 500,00 (quinhentos reais) a R$ 100.000,00 (cem mil reais) (BRASIL,
2008).

Esse tipo de infração ocorreu em um percentual equivalente a 9,37 % do total de


infrações e ocorreram no momento em que a equipe de fiscalização estava realizando vistoria
em construções irregulares sem a devida autorização do órgão ambiental competente.

Figura12- Gráfico da quantidade de nativos e veranistas autuados (Y) no período de 2007 a


2015 (X) pelo ICMBio por dificultarem ações de fiscalização. Observação: no período de 2007 a
2009 o ICMBio não realizou autuações, sendo estas executadas pelo IBAMA

Fonte: Elaborado pela autora.

O gráfico da Figura 12 caracteriza essa modalidade de infração separadamente.


Observa-se que em 2013 ocorreram 02 (duas) autuações dessa modalidade ocasionadas por
nativos e 01 (uma) autuação também relacionada a um nativo no ano de 2014.

2.2.3 Infrações por descumprimento de embargo de obra (Artigo 79 do Decreto nº 6.514, de


22 de julho de 2008):

Art. 79. Descumprir embargo de obra ou atividade e suas respectivas áreas:


Multa de R$ 10.000,00 (dez mil reais) a R$ 1.000.000,00 (um milhão de reais)
(BRASIL, 2008b).
48

Durante o período avaliado, o percentual de infrações dessa natureza ocorreu em


um total de 9,37 % e todas estão relacionadas a edificações irregulares já autuadas, conforme
descrito no item 2.2.1. e mesmo assim os autuados descumpriram o embargo e foram
novamente autuados. Entretanto, o valor para esse tipo de infração é bem mais elevado.
Já analisando essa modalidade de infração separadamente, tem-se no gráfico
abaixo (Figura13) que nos anos de 2013 e 2014 ocorreu a autuação de 01 (um) nativo em cada
ano e em 2015 houve 01 (um) veranista autuado por descumprimento de embargo de obra.

Figura13- Gráfico da quantidade de nativos e veranistas autuados (Y) no período de 2007 a 2015
(X) pelo ICMBio por descumprimento de embargo de obra. Observação: no período de 2007 a
2009 o ICMBio não realizou autuações, sendo estas executadas pelo IBAMA

Fonte: Elaborado pela autora.

2.2.4 Infrações por danificar (desmatar) vegetação nativa sem autorização do órgão
ambiental competente (Artigo 53 do Decreto nº 6.514, de 22 de julho de 2008):

Art. 53. Explorar ou danificar floresta ou qualquer tipo de vegetação nativa ou de


espécies nativas plantadas, localizada fora de área de reserva legal averbada, de
domínio público ou privado, sem aprovação prévia do órgão ambiental competente
ou em desacordo com a concedida:

Multa de R$ 300,00 (trezentos reais), por hectare ou fração, ou por unidade, estéreo,
quilo, mdc ou metro cúbico.

Parágrafo único. Incide nas mesmas penas quem deixa de cumprir a reposição
florestal obrigatória (BRASIL, 2008b).

Aproximadamente 3,12 % do total avaliado estão relacionados a esse tipo de


infração. Existe a ocorrência de denúncias que os desmatamentos são realizados com o
49

objetivo de venderem as terras para pessoas que não pertencem à comunidade construírem
casas de veraneio.
O gráfico abaixo (Figura 14) especifica a quantidade de infrações dessa natureza:
houve apenas 01 (uma) ocorrência em 2013 ocasionada por um nativo e nenhuma ocasionada
por veranistas.

Figura14- Gráfico da quantidade de nativos e veranistas autuados (Y) no período de 2007 a 2015 (X)
pelo ICMBio por danificar (desmatar) vegetação nativa sem autorização. Observação: no período de
2007 a 2009 o ICMBio não realizou autuações, sendo estas executadas pelo IBAMA.

Fonte: Elaborado pela autora.

2.2.5 Infrações por deixar de atender notificação (Artigo 80 do Decreto nº 6.514, de 22de
julho de 2008):

Art. 80. Deixar de atender a exigências legais ou regulamentares quando


devidamente notificado pela autoridade ambiental competente no prazo concedido,
visando à regularização, correção ou adoção de medidas de controle para cessar a
degradação ambiental: (Redação dada pelo Decreto nº 6.686, de 2008).

Multa de R$ 1.000,00 (mil reais) a R$ 1.000.000,00 (um milhão de reais) (BRASIL,


2008b).

Nesse último caso, observou-se que um percentual de 6,25 % das autuações foi
devido ao não atendimento de notificação. Esse recurso é utilizado pelo órgão fiscalizador
competente em ocasiões que são necessárias a regularização, correção ou adoção de medidas
de controle para cessar a degradação ambiental, conforme especificado no Artigo 80
supracitado.
50

O gráfico abaixo (Figura 15) especifica o período e quantidade de infrações dessa


natureza: houve 01 (uma) ocorrência em 2011 e 01 (uma) em 2012, ambas ocasionadas por
veranistas e nenhuma ocasionada por nativos.

Figura15- Gráfico da quantidade de nativos e veranistas autuados (Y) no período de 2007 a 2015
(X) pelo ICMBio por deixar de atender a notificação. Observação: no período de 2007 a 2009 o
ICMBio não realizou autuações, sendo estas executadas pelo IBAMA.

Fonte: Elaborado pela autora.

Conforme o Decreto nº 6.514, de 22 de julho de 2008, após a lavratura do auto de


infração, será aberto o prazo de defesa ao autuado (prazo de vinte dias após a ciência da
autuação), assegurando-se o contraditório e a ampla defesa. Em seguida, o auto de infração
será encaminhado à unidade administrativa responsável pela apuração da infração,
oportunidade em que se fará a autuação processual no prazo máximo de cinco dias úteis,
contados de seu recebimento, ressalvados os casos de força maior devidamente justificados.
Por último, o processo será encaminhado à instância julgadora, a qual publicará a relação
dos processos que entrarão na pauta de julgamento, para fins de apresentação de alegações
finais pelos interessados. Julgado o auto de infração, o autuado será notificado por via postal
com aviso de recebimento ou outro meio válido que assegure a certeza de sua ciência para
executar o pagamento da multa no prazo de 05 (cinco) dias, a partir do recebimento da
notificação, ou para apresentar recurso. Após a decisão da autoridade julgadora, o autuado
terá um prazo de 20 (vinte) dias para recurso, o qual será julgado pela autoridade superior
(BRASIL, 2008b).
51

O principal intuito em se analisar as ocorrências de infrações ambientais na RESEX


do Batoque é o de trabalhar a Educação Ambiental de forma mais expressiva visando um
melhor esclarecimento da população local sobre as infrações ambientais e suas consequências
negativas ao meio ambiente, além de alertar para as penalidades que incorrem a quem comete
tais atos. Também é estratégico que haja a articulação e mobilização entre os diferentes
sujeitos envolvidos com a gestão da UC (conselho deliberativo, comunidades do entorno,
lideranças locais, instituições parceiras etc.) para estabelecer diálogos de modo a possibilitar a
realização de ações transformadoras. Dessa forma, pode-se idealizar a execução de uma
proposta de informação/comunicação sobre a legislação ambiental de forma participativa.
Uma das diretrizes da ENCEA- Estratégia Nacional de Comunicação e Educação
Ambiental em Unidades de Conservação é justamente inserir a temática das UC nos processos
não-formais, conforme preconiza em sua diretriz n°4 (BRASIL, 2012). Além disso, no
subtópico 4.4. prevê “Promover maior integração entre ações de fiscalização e de Educação
Ambiental.” (BRASIL, 2012b). Nesse contexto, destaca-se a importância das ações de
fiscalização visando à proteção da Unidade de Conservação, mas também é proposto que haja
uma sensibilização e conscientização da população sobre a importância de conservação do
meio ambiente, integrando a Educação Ambiental e as ações de fiscalização. Dessa forma, “o
indivíduo e a coletividade constroem valores sociais, conhecimentos, habilidades, atitudes e
competências voltadas para a conservação do meio ambiente, bem de uso comum do povo,
essencial à sadia qualidade de vida e sua sustentabilidade.” (BRASIL, 1999)
A adoção da ENCEA como referência para o desenvolvimento de projetos e ações
de educação ambiental e comunicação é recomendada pelo CONAMA:

Aos Órgãos e às entidades do Sistema Nacional do Meio Ambiente - SISNAMA,


bem como a quaisquer instituições públicas ou privadas, pessoas físicas e jurídicas,
que sejam responsáveis pela criação e gestão de unidades de conservação das
categorias que permitem atividades de educação ambiental em seu interior e no
entorno, que adotem como referência para o desenvolvimento de projetos e ações de
educação ambiental e comunicação a Estratégia Nacional de Comunicação e
Educação Ambiental em Unidades de Conservação – ENCEA [...] (CONAMA,
2012).
52

2.3 PROPOSTA DE AÇÃO DE EDUCAÇÃO AMBIENTAL: desafios em pauta


Ao se pensar a construção de uma proposta participativa, é necessário levar em
consideração a visão dos próprios nativos sobre a problemática ambiental do meio onde
vivem. Conforme ressalta Loureiro (2004), os projetos de Educação Ambiental deveriam:
[...] estabelecer processos participativos de ação consciente e integrada, fortalecendo
o sentido de responsabilidade cidadã e de pertencimento a uma determinada
localidade. Afinal, em Educação todos são sujeitos da transformação individual e
coletiva, não podendo haver passividade diante do mundo. Ao pensarmos e
realizarmos uma Educação Ambiental crítica e emancipatória, voltada para a
democratização no acesso e apropriação dos bens naturais, para a gestão
participativa e o exercício da cidadania, capaz de levar os sujeitos a se recolocarem
no ambiente e a se ressignificarem enquanto natureza, resgatar o conceito de práxis
associado à educação torna-se fundamental (LOUREIRO, 2004, p.39).

O grande desafio dessa proposta certamente será mobilizar a comunidade a participar


de tal forma que se torne disposta a atuar sobre a realidade em que vivem, buscando
alternativas para a resolução dos problemas com o despertar do sentimento de
corresponsabilidade nesse processo.
Um dos pressupostos da Educação Ambiental é trabalhar os problemas específicos
de cada grupo social alvo da ação, principalmente quando se objetiva a gestão de unidades
territoriais demarcadas, porém, sem desassociar tais problemas das questões macrossociais em
que se inserem e à visão integradora do ambiente. Os grupos reagem de forma distinta frente à
percepção sobre o ambiente em que se inserem e interagem. É a partir da ação territorializada
dos diferentes atores sociais (cada um com sua visão distinta de necessidades, interesses e
percepções) que se consolidam os conflitos, acordos e diálogos pela apropriação e usos do
patrimônio natural e se realizam os processos educativos voltados para a gestão democrática
do ambiente (LOUREIRO, 2002 apud LOUREIRO, 2004).
É por meio do pensar coletivo, buscando entender o outro e seu ponto de vista,
que se constrói uma nova realidade ao se propor a mudança de valores, percepções e atitudes
em prol do meio ambiente:

A educação ambiental assume, assim, a sua parte no enfrentamento dessa crise


radicalizando seu compromisso com mudanças de valores, comportamentos,
sentimentos e atitudes, que deve se realizar junto à totalidade dos habitantes de cada
base territorial, de forma permanente, continuada e para todos. Uma educação que se
propõe a fomentar processos continuados que possibilitem o respeito à diversidade
biológica, cultural, étnica, juntamente com o fortalecimento da resistência da
sociedade a um modelo devastador das relações de seres humanos entre si e destes
com o meio ambiente (BRASIL, 2007b, p.14).
53

2.4 AÇÕES DE EDUCAÇÃO AMBIENTAL COMO ESTRATÉGIA PARA A


SUPERAÇÃO DOS PROBLEMAS AMBIENTAIS.

No processo de implementação da UC ações pontuais de Educação Ambiental


foram realizadas. Para tentar solucionar parte dos problemas ambientais a equipe do ICMBio
elaborou e submeteu, em 2010, um projeto que contemplava ações para a recuperação da
lagoa do Batoque ao Programa Petrobras Ambiental, o qual foi contemplado com um
patrocínio no valor de R$317.326,00 (trezentos dezessete mil, trezentos vinte e seis reais). O
projeto também contou com o apoio dos seguintes parceiros: Superintendência Estadual do
Meio Ambiente - SEMACE, Prefeitura Municipal de Aquiraz, Instituto do Meio Ambiente e
dos Recursos Naturais Renováveis-IBAMA e Associação Comunitária dos Moradores do
Batoque (proponente). O tema abordado no projeto foi escolhido pela comunidade durante
uma reunião com essa finalidade.
O período de realização do projeto foi do início de 2010 até meados de 2014, sendo
promovidas diversas oficinas de compostagem e artesanato (utilizando o excesso de vegetação
tabuba das imediações da Lagoa) para garantir alternativas de renda local. Foram construídos
canteiros biossépticos12 em oitenta casas mais próximas à lagoa, com a função de impedir que
dejetos domésticos fossem lançados sem tratamento na mesma; foram, também, produzidas e
plantadas cerca de 4.000 (quatro mil) mudas de plantas nativas para recuperar áreas
degradadas do seu entorno; placas de sinalização e informação visando à preservação
ambiental foram confeccionadas e inseridas próximo à lagoa. Além disso, foi criada uma
cartilha de divulgação das ações do projeto, além de um vídeo sobre as ações, o qual foi
distribuído para outras comunidades e representantes de órgãos ambientais. Também foram
confeccionados materiais de divulgação (cartilhas, folders, outdoor, camisetas, bonés, canetas,
blocos de anotações, jornal comunitário, spots de rádio, criação de blog do projeto e
divulgação na web) fortalecendo as práticas de Educação Ambiental na UC. Outra ação
importante do projeto foi a geração de emprego para três pessoas da comunidade nativa
(durante a vigência do projeto) para auxiliar nas ações do projeto, além de utilização de mão-
de-obra local para a construção dos biossépticos.

12
O canteiro biosséptico é um sistema completo, que associa a digestão anaeróbica (sem presença de
oxigênio) a um canteiro séptico que digere toda a matéria orgânica na zona de raízes das plantas em
conjunto com microrganismos aeróbicos (com a presença de oxigênio). A água é evapotranspirada, eliminando
totalmente qualquer tipo de resíduo, além de produzir biomassa viva.
Fonte: http://www.deolhonaagua.org.br/site/livro_e_cartilha/de_olho_na_agua_guia_de_referencia.pdf
54

Durante todo o período do projeto, também foi realizado o monitoramento


periódico da qualidade da água da lagoa do Batoque pela SEMACE e os dados coletados
foram compilados no formato de relatórios. A equipe gestora da RESEX considerou este
trabalho um importante passo para a gestão buscando alternativas para a recuperação do seu
principal recurso hídrico.
Tendo em vista a escassez de recursos públicos do próprio orçamento do ICMBio
para serem destinados às UC, a busca de patrocínios externos e o estabelecimento de parcerias
tem sido uma importante ferramenta para garantir ações nas áreas especialmente protegidas.

2.5 O DESPERTAR DO SENTIMENTO DE PERTENCIMENTO

O pertencimento é um dos princípios da ENCEA-Estratégia Nacional de


Comunicação e Educação Ambiental em Unidades de Conservação, a qual caracteriza como
um estímulo à identificação das pessoas com o território e a necessidade de resgatar nos
sujeitos da ação o sentimento de pertencer a um grupo, a um contexto sócio-político e cultural
definido e, assim, estimulá-los a interferir em suas realidades (BRASIL, 2012).
Tal fato pode ser observado nos processos pela criação e manutenção de Unidades
de Conservação, onde nos deparamos com testemunhos desse sentimento, haja vista que os
modos de vida e os saberes dos seus integrantes foram desenvolvidos historicamente naquele
lugar. Dessa forma, há a necessidade em se formar o consenso de que, para preservar os
modos de vida da população nativa, precisam sentir-se e serem reconhecidos como parte
integrante do todo, como “pertencendo” àquela região.
Uma parte da comunidade da RESEX do Batoque vem perdendo o sentimento de
pertencimento com o seu lugar de origem, pois os modos de vida local estão em
transformação, tendo em vista que a população jovem não demonstra interesse em viver da
pesca, agricultura, artesanato entre outras práticas culturais típicas das comunidades
pesqueiras. Esse fator é preocupante não apenas por ameaçar o sentido de existir a Reserva
Extrativista, mas também pelo fato de comprometer as potenciais ações de educação
ambiental que venham a ser desenvolvidas na área, levando-se em consideração o que
observou Grün (2008 apud COUSIN, 2013):
[...] para termos práticas mais ecologicamente orientadas precisaríamos nos ‘sentir
em algum lugar’, ‘estar em um lugar’, ter ‘a noção de lugar é um modo de
pertença ao mundo e é importante para nossa percepção primária e
interconexões com o mundo não-humano (GRÜN, 2008 apud COUSIN, 2013, p.
7).
55

É nesse contexto que se considera que o pertencimento ao lugar é essencial para


incentivar o planejamento de ações que permitam a sustentabilidade.
Corroborando com tal raciocínio, Pieper (2014) ressalta que:
As práticas mais ecologicamente orientadas demandam nos sujeitos o “sentir-se
em algum lugar” sendo que, tal sentimento ou noção de lugar como um modo de
pertencer ao mundo é de suma importância para nossa percepção primária e as
interconexões com o mundo não-humano. Por este entendimento, a visão
individualista e fragmentada do ser humano na sua relação natureza/homem,
aliada a sua desconexão com o pertencer a algum lugar, além de constituir-se
como uma de suas causas, também se transforma no principal obstáculo para
a superação da capacidade política de reverter os riscos ambientais e a exclusão
social (PIEPER; BEHLING; DOMINGUES, 2012, p.5).

Dessa forma, é imprescindível pensar em ações que venham a resgatar o


sentimento de pertencimento da população tradicional da RESEX do Batoque para que se
torne possível o sucesso na execução de ações de Educação Ambiental na UC. Além disso, a
relevância inerente à educação ambiental decorre, como vários estudos na área ambiental
demonstram, da importância que se atribui ao processo de sensibilização da população sobre
as questões ambientais e sociais, mas também da participação. Esta sensibilização passa,
necessariamente, pela transmissão de novos valores sociais e pela mudança de
comportamento social de todo o conjunto da sociedade.

2.6 A PROPOSTA METODOLÓGICA DE EDUCAÇÃO AMBIENTAL PARA A RESEX


DO BATOQUE

De acordo com a Primeira Conferência Intergovermamental sobre Educação


Ambiental realizada em 1977 em Tbilisi, a educação ambiental é considerada um processo
contínuo, pelo qual os indivíduos e a comunidade tomam consciência do meio ambiente e
adquirem os conhecimentos, os valores, as habilidades, as experiências e a determinação que
os tomam aptos a agir individual e coletivamente para resolver problemas ambientais
presentes e futuros (DIAS, 2000).
A educação ambiental é um dos instrumentos de gestão fundamentais no processo
de gestão ambiental, segundo o Programa Nacional de Educação Ambiental (PRONEA), o
qual propõe “o envolvimento e a participação social na proteção, recuperação e melhoria das
condições ambientais e de qualidade de vida.”(BRASIL, 2014, p.23)
56

Segundo Quintas (2002), a construção de uma proposta de Educação Ambiental


emancipatória e comprometida com o exercício da cidadania exige a explicitação de
pressupostos que fundamentem a prática, dentre os quais se destacam:
[...] a Educação no Processo de Gestão Ambiental deve proporcionar condições para
produção e aquisição de conhecimentos e habilidades, e o desenvolvimento de
atitudes visando à participação individual e coletiva:
 na gestão do uso dos recursos ambientais; e na concepção e aplicação das
decisões que afetam a qualidade dos meios físico, natural e sociocultural.
Os sujeitos da ação educativa devem ser, prioritariamente, segmentos sociais que são
afetados e onerados, de forma direta, pelo ato de gestão ambiental e dispõem de
menos condições para intervirem no processo decisório. (QUINTAS, 2002, p.19).

Seguindo a mesma linha de pensamento, é de suma importância a participação


comunitária de forma articulada e consciente na execução de ações de Educação Ambiental
para que estas sejam, de fato, eficazes. Também relata que a aprendizagem será mais
significativa se as ações estiverem relacionadas ao cotidiano de tais pessoas, conhecendo os
seus valores, problemas, objetivos e prioridades para que seja possível planejar uma ação com
maiores chances de sucesso (DIAS, 2000).
FUNDACIÓN...(2001 apud Loureiro 2004) destaca que se deve levar em
consideração alguns aspectos no planejamento pedagógico das atividades:

1. Reconhecer o problema como algo construído na dinâmica social e integrante da


realidade, suas causas, interesses e argumentos produzidos pelas partes envolvidas;
2. Explicitar os posicionamentos distintos e suas implicações sociais e políticas;
3. Saber se colocar no lugar do outro;
4. Ter o diálogo como princípio indissociável do processo;
5. Atacar o problema e não as pessoas em suas individualidades;
6. Assumir uma postura de cooperação, solidariedade e respeito;
7. Usar a criatividade e o conhecimento disponível para encontrar alternativas;
8. Estabelecer mecanismos de avaliação coletiva das alternativas criadas, a partir de
critérios definidos e aceitos consensualmente pelos atores sociais;
9. Negociar as bases que assegurem o cumprimento do que for acordado,
construindo o senso de responsabilidade e de convivência democrática
(FUNDACIÓN...2001 apud LOUREIRO, 2004, p.45).

Ao se pensar em uma proposta metodológica de Educação Ambiental para uma


determinada área, existem alguns questionamentos básicos que se sobressaem e que, de fato,
são o cerne da proposta: quem são os sujeitos da ação? De que maneira esse público será
atingido de tal forma que haja mudanças significativas em suas atitudes? Com quem contar?
Portanto, o primeiro passo é identificar os atores sociais diretamente atingidos
pelo contexto, do modo como são afetados, da sua situação em termos de organização, bem
como dos riscos e/ou danos visíveis sobre o meio físico-natural, buscando entender as causas
geradoras dos problemas. Dessa forma, será possível criar um espaço de participação social,
57

permitindo a compreensão do contexto local e a aproximação entre a UC e a população


inserida nessa área.
Analisando a problemática em que a RESEX do Batoque está inserida, percebe-se
que grande parte de seus problemas ambientais influenciam diretamente o cotidiano da
comunidade nativa comprometendo a qualidade de vida dessa população. A busca de
alternativas para solucionar tais problemas depende do engajamento dos órgãos competentes,
parcerias com instituições de pesquisa, mas também da participação ativa da comunidade.
Nesse contexto, ressalta-se a necessidade de se trabalhar a Educação Ambiental de forma
continuada para que cada indivíduo se sinta parte do processo de resolução dos problemas,
entendendo que a mudança de atitude pode influenciar na melhoria do espaço onde vive.
De acordo com a análise que foi realizada e com o histórico de criação da RESEX
do Batoque, foi possível elaborar uma proposta metodológica de Educação Ambiental para a
UC. A proposta inicial será a elaboração de ações imediatas com o intuito de se trabalhar a
temática ambiental com os nativos de forma continuada e, posteriormente, empoderá-los a
elaborar, junto com o órgão gestor e demais atores envolvidos no contexto da UC, um
Programa de Educação Ambiental voltado à realidade local.
A presente proposta metodológica pretende não somente fornecer informações
para a comunidade sobre o ambiente em que vivem, mas também despertá-los sobre a
problemática ambiental local, tornando-os sabedores de que sua ação individual e de sua
comunidade (coletiva) sempre interferem no meio em que vivem. Também é de extrema
importância que se esclareça sobre as especificidades e restrições existentes em uma Reserva
Extrativista baseadas na legislação vigente. É importante salientar que em toda ação realizada
numa comunidade é muito importante a ciência, a aprovação e a participação das lideranças
comunitárias, além de ser imprescindível a participação ativa do Conselho Deliberativo, o
qual compartilha a gestão com o órgão gestor da UC.
A participação é um processo que gera a interação entre diferentes atores sociais
na definição do espaço comum e do destino coletivo. “A participação é a promoção da
cidadania, a realização do sujeito histórico, o instrumento por excelência para a construção do
sentido de responsabilidade e de pertencimento a um grupo, classe, comunidade e local”
(BAUMAN, 2000 apud LOUREIRO, 2003, p.25).
58

Conforme se verifica na Figura 16, cada problemática identificada terá uma


abordagem no seguinte formato: linha de ação; objetivos; ações; estratégias; sugestões de
atividades e atores envolvidos.
Cada linha de ação foi elaborada para contemplar os problemas da RESEX do
Batoque relatados no presente trabalho. Foram definidos os seus objetivos para os quais foram
criadas ações específicas e, a partir destas, foram lançadas estratégias de execução com
sugestões de atividades. Todo o processo construído terá como foco principal os atores
envolvidos, os quais estão especificados em cada linha de ação, conforme segue adiante.

Figura 16- Esquema de organização das linhas de ação.

Fonte: Elaborado pela autora.


59

2.6.1 Linha de ação: resgate da cultura local e do sentimento de pertencimento

Objetivos:
a) Promover o resgate, a valorização e a preservação da cultura e das tradições
populares da comunidade do Batoque com a participação dos jovens e
lideranças integrando os saberes tradicionais e os conhecimentos técnico-
científicos;
b) Estimular e apoiar a criação e/ou o fortalecimento e formalização das
organizações de base das população tradicional, possibilitando o seu
“empoderamento” no processo de gestão da unidade.
c) Promover o encontro de gerações com o intuito de despertar o interesse dos
jovens em conhecer suas raízes culturais, fortalecendo o sentimento de
pertencimento.

Ações:
a) Propor e incentivar a realização de eventos culturais na comunidade;
b) Propor a criação de um museu cultural, resgatando a história da
comunidade que ocupa a UC;
c) Realizar em parceria com a escola e jovens atividades de pesquisa sobre a
culinária local, os festejos religiosos, o trabalho com a terra, modos de
vida, artesanato e manifestações culturais;
Estratégias:
a) Engajar as crianças e os jovens nas ações a serem executadas;
b) Apoiar eventos culturais já existentes na UC (Regata de Velas, por
exemplo) visando o fortalecimento e incentivo à prática dessas ações;
c) Sensibilizar os jovens, lideranças e Conselho Deliberativo a participarem
das ações.
Sugestões de atividades:
Resgate da história e da luta da comunidade utilizando metodologias específicas,
tais como linha do tempo, mapa falado, entre outros; realização de peças teatrais com diversas
temáticas: luta da comunidade para a criação da RESEX; exposição de fotos com as belezas
cênicas da área, o cotidiano da comunidade e a conservação do meio ambiente etc.; oficina
com os antigos moradores da região para resgatar o histórico da comunidade; oficina de
culinária com elaboração e degustação de receitas da própria comunidade; oficina de
60

artesanato; mostra de danças regionais; resgate da tradição religiosa; concursos de causos;


elaboração de um documentário sobre os aspectos da cultura local.
Atores envolvidos:
Jovens e lideranças do Batoque, conselho deliberativo e instituições parceiras.

2.6.2 Linha de ação: comunicação para educação ambiental


Objetivos:
a) Difundir informações sobre a RESEX do Batoque e a comunidade, abordando
temáticas ambientais, legislação ambiental, problemas locais e conscientização
da população que reside na RESEX e no seu entorno e demais envolvidos.
Ações:
a) Estimular e apoiar a veiculação de informações de caráter educativo sobre
meio ambiente, em linguagem acessível a todos, por intermédio dos possíveis
meios de comunicação;
b) Produzir o material didático sobre a RESEX com a participação da comunidade
local no processo;
c) Empregar os meios de comunicação como ferramenta para o intercâmbio de
experiências, métodos e ações de educação ambiental;
d) Buscar parcerias para custear a confecção do material produzido;
e) Disponibilizar o material produzido.

Estratégias:
a) Mobilizar a comunidade (em especial os jovens e o Conselho Deliberativo)
para elaborar o material didático;
b) Criar mecanismos eficientes e eficazes de distribuição do material.

Sugestões de atividades:
Realizar Oficinas participativas para elaboração do material didático, o qual deve
possuir linguagem acessível; realizar concurso de desenhos com a temática abordada para
serem utilizados na elaboração de uma cartilha; folders com temática ambiental etc.
Atores envolvidos:
A escola do Batoque e o Conselho Deliberativo da RESEX do Batoque, órgãos
governamentais e não governamentais que possuam influência sobre a área de abrangência.
61

Conscientizar, por meio de ações educativas, e difundir informações que


propiciem o entendimento sobre a importância dessas áreas para a conservação da
biodiversidade utilizando dos recursos de comunicação pressupõe o envolvimento e a
participação de todos os segmentos da sociedade e do poder público nos processos de criação
e de gestão de unidades de conservação.

2.6.3 Linha de ação: a educação no processo de gestão ambiental

Objetivos:
a) Construir valores sociais, conhecimento, participação responsável e eficaz na
prevenção e solução dos problemas socioambientais e na questão da qualidade
do meio ambiente.
Ações:
a) Elaborar e implementar a Agenda 21 local13, visando à conscientização,
sensibilização e mobilização da população para a execução de ações visando à
conservação ambiental;
b) Identificar parceiros para auxiliar na capacitação de profissionais, mobilização
e sensibilização;
c) Relacionar as ações ao cotidiano da comunidade local, conhecendo os seus
valores, problemas, objetivos e prioridades para que seja possível planejar uma
ação com maiores chances de sucesso;
d) Incentivar a participação das comunidades do entorno da RESEX, em especial
as lideranças da APA do Balbino e da Terra indígena Lagoa da Encantada.
Estratégias:
a) Incentivar a participação dos atores envolvidos demonstrando a importância do
trabalho para o futuro da RESEX;
b) Elaborar projetos exequíveis utilizando metodologias de gestão participativa;

13
A Agenda 21 Local é o processo de planejamento participativo de um determinado território que envolve a
implantação, ali, de um Fórum de Agenda 21. Composto por governo e sociedade civil, o Fórum é responsável
pela construção de um Plano Local de Desenvolvimento Sustentável, que estrutura as prioridades locais por meio
de projetos e ações de curto, médio e longo prazos. No Fórum são também definidos os meios de implementação
e as responsabilidades do governo e dos demais setores da sociedade local na implementação, acompanhamento
e revisão desses projetos e ações. (Fonte: http://www.mma.gov.br/index.php/responsabilidade-
socioambiental/agenda-21)
62

Sugestões de atividades:
Realizar reuniões em busca de parcerias com instituições de pesquisa e possíveis
instituições financiadoras de projetos; promover eventos, fóruns especializados e encontros
técnicos.
Público-alvo:
Comunidade da RESEX do Batoque e comunidades do entorno; conselho
deliberativo; órgãos governamentais e parceiros (ONG’s etc.).
A participação é um fator imprescindível para o sucesso da gestão de uma
Unidade de Conservação, principalmente da categoria de uso sustentável. O Conselho
Deliberativo é uma instância formal de gestão participativa, entretanto a presente linha de
ação propõe que seja ampliada a participação para os demais grupos da comunidade do
Batoque.

2.6.4 Linha de ação: incentivo à recuperação de áreas impactadas na RESEX do


Batoque

Objetivos:
a) Analisar as causas dos problemas socioambientais e não apenas os seus efeitos;
b) Incentivar a realização de pesquisas específicas que contribuam para a
recuperação dos recursos naturais impactados;
c) Buscar alternativas para a recuperação das áreas impactadas de forma
participativa;
d) Identificar junto com a comunidade as possíveis causas dos problemas
ambientais;
e) Possibilitar a divulgação e socialização do conhecimento.

Ações:
a) Fomentar pesquisas na RESEX do Batoque por meio de parcerias com
instituições de pesquisa;
b) Elaborar projetos específicos sobre o tema visando a recuperação das áreas
impactadas;
c) Chamar a comunidade para a responsabilidade na busca de alternativas para
solução de problemas principalmente relacionados ao lixo, queimadas e pesca
predatória.
63

Estratégias:
a) Buscar recursos técnicos, financeiros e humanos por meio de parcerias com
instituições de pesquisa.
b) Envolver a comunidade e representantes do entorno da UC no processo.

Sugestões de atividades:
Realizar oficinas com a comunidade e o Conselho Deliberativo para traçar
prioridades e estratégias de ação; realizar reuniões com instituições de pesquisas e discutir
sobre os problemas ambientais já identificados, buscando firmar parcerias com as mesmas;
realizar oficinas de reciclagem e palestras sobre os problemas ambientais; realizar Seminário
de Pesquisa com a temática com a participação da comunidade da RESEX do Batoque e
pesquisadores; buscar recursos para a execução das ações.
Atores envolvidos:
Instituições de ensino e pesquisa, órgãos governamentais, ONG’s e outras
instituições, comunidade do Batoque e comunidades do entorno.

2.6.5 Linha de ação: alternativas para a melhoria da qualidade de vida da comunidade

Objetivos:
a) Facilitar o acesso a programas de governos voltados às Reservas Extrativistas;
b) Buscar alternativas para a melhoria das condições de vida da comunidade da
RESEX do Batoque aliadas à conservação do meio ambiente;
c) Incentivar a participação dos beneficiários em ações de capacitação ambiental,
social, técnica e profissional;
d) Fortalecer as ações que visem o desenvolvimento socioambiental;

Ações:
a) Apoiar a comunidade da RESEX do Batoque no acesso aos Programas de
Governo direcionados às UC dessa categoria;
b) Incentivar a realização de atividades que visem à melhoria da qualidade de vida
da população local e à conservação do meio ambiente;
64

Estratégias:
a) Realizar mapeamento junto aos órgãos da esfera federal, estadual e municipal
sobre os programas de governo que possam beneficiar os moradores da
RESEX do Batoque;
b) Orientar a comunidade sobre tais programas, seus objetivos, benefícios e
exigências e incentivá-la a participar; promover capacitações para a
comunidade em parceria com instituições;
c) Auxiliar os beneficiários a acessarem os programas de governo, tais como:
PAA (Programa de Aquisição de Alimentos); PNAE (Programa Nacional de
Alimentação Escolar); Bolsa Verde; créditos do INCRA etc.

Sugestões de atividades:
Realizar mutirão em parceria com outros órgãos (Prefeitura de Aquiraz e INCRA ,
por exemplo) para regularização de documentos necessários para o acesso aos programas;
realizar reuniões com os grupos específicos para diagnosticar as dificuldades e a
disponibilização em acessar os programas; determinar um período para auxiliar os
interessados a elaborarem os projetos.
Atores envolvidos:
Comunidade do Batoque (principalmente pescadores, marisqueiras, artesãos e
agricultores); Associação de moradores e associação de pescadores da RESEX; órgãos
governamentais e outras instituições parceiras.

2.6.6 Linha de ação: a educação ambiental por meio do ensino formal com foco na
legislação ambiental

Objetivos:
a) Construir ações de Educação Ambiental em parceria com a Escola Municipal
de Ensino Fundamental (EMEF) do Batoque tendo como compromisso o
exercício da cidadania e participação social, reconhecidos como temas
transversais e interdisciplinares, envolvidos com a capacitação do corpo
docente e discente.
65

Ações:
a) Abordar a legislação ambiental no âmbito escolar;
b) Instrumentalizar a escola em metodologias para efetivar as ações ambientais
educativas, envolvendo a realidade local como temática a ser abordada (ensino
contextualizado);
c) Buscar parcerias para a realização de capacitações envolvendo professores e
alunos;
Estratégias:
a) Criação e disponibilização de dados relativos ao tema.
b) Capacitar os atores envolvidos utilizando estratégias de ensino-aprendizagem
que estimulem a criticidade, a autonomia e a intervenção dos grupos sociais no
processo de gestão da sociobiodiversidade.

Sugestões de atividades:
Imitação da mídia, a qual estimula os estudantes a produzirem sua própria versão
dos jornais, dos programas de TV e filmes com a temática ambiental. A depender do assunto a
ser abordado, os produtos podem ser distribuídos nas escolas e na comunidade; realização de
palestras, gincanas, teatro de fantoches etc. sobre o tema;
Solução de problemas, onde se considera que ensinar é apresentar problemas e
aprender é resolvê-los. O participante treina a sua capacidade de resolver problemas
apresentados, em seu contexto real;
Exploração do ambiente local, que prevê a utilização/exploração dos recursos
locais próximos para estudo, observações etc.
Atores envolvidos:
Corpo docente e discente da EMEF do Batoque.
A escola é uma das principais parceiras de projetos de Educação Ambiental por
proporcionar a multiplicação das práticas e dos saberes, sendo referência na formação
de opiniões e produção de conhecimentos, constituindo-se num espaço político e
pedagógico, de crescimento e desenvolvimento. Também é o espaço que proporciona a
formação de cidadãos sensíveis e responsáveis em relação à questão ambiental.
66

2.6.7 Linha de ação: fortalecimento da gestão participativa na RESEX

Objetivos:
a) Promover ações de incentivo à participação nas discussões do conselho criando
espaços de debate sobre estratégias de articulação social, visando à garantia da
participação da comunidade local nos processos decisórios;
b) Fortalecer o Conselho Deliberativo ressaltando a importância do seu papel na
gestão da RESEX.
Ações:
a) Realizar capacitações dos membros do conselho deliberativo de acordo com a
demanda levantada visando o fortalecimento de tal instância;
b) Desenvolver mecanismos eficazes de divulgação das ações do Conselho
Deliberativo e incentivo à participação das lideranças locais nas reuniões;
Estratégias:
a) Consultar os membros do Conselho sobre as demandas de capacitação.
b) Buscar uma maior aproximação dos membros do conselho que estão se
ausentando com frequência nas reuniões, ressaltando a importância da
participação no processo de decisão;
c) Estimular a participação dos grupos da comunidade local com o apoio dos
conselheiros.
Sugestões de atividades:
Aplicação de processos avaliativos para que os conselheiros expressem suas
opiniões, sugestões e insatisfações com relação ao Conselho e/ou à gestão da UC; realização
de capacitação sobre a legislação ambiental e sobre outros temas abordados com frequência
das reuniões, buscando a facilitação do entendimento com o uso de linguagem acessível e
aplicação de estudos de caso que envolvam o cotidiano da população local; realização de
momentos de lazer, dinâmicas e interações entre os membros para que se sintam mais
motivados; realização de intercâmbio com outras UC visando à troca de saberes e
experiências. divulgar os resultados e deliberações do conselho na comunidade com o apoio
dos conselheiros; elaborar material informativo sobre a importância do conselho deliberativo
para ser distribuído na comunidade com o objetivo de estimular uma maior participação da
comunidade nas reuniões.
Público-alvo:
Membros do Conselho Deliberativo da RESEX do Batoque e comunidade local.
67

2.6.8 Linha de ação: legislação ambiental aplicada à realidade local

Objetivos:
a) Promover estratégias de divulgação da legislação ambiental e conscientização
visando ao combate de infrações ambientais;
Ações:
a) Elaborar material de divulgação sobre legislação ambiental.
Estratégias:
a) Realizar ações de divulgação da legislação ambiental informando sobre as
restrições inerentes à RESEX que devem ser respeitadas.
b) Elaborar material educativo sobre o tema com o apoio da escola e do Conselho
Deliberativo.
Sugestões de atividades:
Realização de palestras, reuniões e outros meios de divulgação sobre a legislação
ambiental visando à diminuição de infrações dessa natureza, bem como conscientizar a
comunidade sobre o tema;
Realização de capacitações sobre a legislação ambiental e sobre outros temas
utilizados com frequência nas reuniões, buscando a facilitação do entendimento com o uso de
linguagem acessível e aplicação de estudos de caso que envolva o cotidiano da população
local; criar uma cartilha de linguagem acessível sobre a legislação ambiental.

Público-alvo:
Membros do Conselho Deliberativo da RESEX do Batoque e comunidade nativa.
Estas foram as principais linhas de atuação priorizadas de acordo com a análise da
problemática analisada neste trabalho. É importante ressaltar que a proposta se trata de uma
sugestão a ser trabalhada de forma participativa com a comunidade que ocupa a área da
RESEX do Batoque, fato primordial para o sucesso na execução de qualquer trabalho.
68

2.7 MONITORAMENTO E AVALIAÇÃO DA PROPOSTA DE EDUCAÇÃO


AMBIENTAL

Conforme previsto nos objetivos do Programa Nacional de Educação Ambiental-


PRONEA, é imprescindível que sejam criados mecanismos para a avaliação da execução das
ações previstas, avaliando a sua efetividade:
[...] acompanhar os desdobramentos dos programas de educação
ambiental, zelando pela coerência entre os princípios da educação
ambiental e a implementação das ações pelas instituições públicas
responsáveis (BRASIL, 2014, p.27).

Dessa forma, fica evidente a importância em produzir e aplicar ferramentas de


avaliação e monitoramento das ações de Educação Ambiental. Além disso, é de suma
importância a sistematização e disponibilização de informações sobre as experiências exitosas
para que estas sirvam de modelo a serem implementadas em outros locais.
O Quadro-resumo que consta no Apêndice A foi elaborado relacionando as linhas
de ação aos problemas/conflitos abordados no presente trabalho.
69

3 CONSIDERAÇÕES FINAIS

O presente trabalho foi apresentado ao Conselho Deliberativo da RESEX do


Batoque na 23° (vigésima terceira) reunião ordinária, ocorrida no dia 10 de novembro de
2016, ocasião em que o conselho foi unanimemente favorável à proposta metodológica desta
pesquisa. Este trabalho apresentou uma reflexão em torno das dificuldades e desafios para se
desenvolver ações de educação ambiental frente à problemática socioambiental no sentido de
oferecer alternativas para a formação de sujeitos que construam um futuro sustentável.
Percebe-se que, mesmo em uma Unidade de Conservação Federal, existem as
limitações, em vários aspectos, para se trabalhar ações de Educação Ambiental que já
deveriam fazer parte do cotidiano de gestão dessas áreas protegidas.
O cenário atual exige uma reflexão que se produz na relação entre as práticas
coletivas e os saberes (por vezes esquecidos) que criam identidades e valores comuns. A
Educação Ambiental é um importante instrumento para a implementação de Unidades de
Conservação, pois incentiva a participação e a comunicação social. Para isso, faz-se
necessária a implementação de propostas pedagógicas direcionadas à conscientização,
criticidade, construção de experiências capazes de promover e qualificar a participação e o
fortalecimento do sentimento de pertencimento, em especial de seus segmentos menos
favorecidos, no processo de gestão de áreas protegidas.
Por outro lado, a política de conservação por meio da criação e implementação de
UCs no Brasil enfrenta inúmeros desafios. Nesse contexto, entende-se que existe um longo
caminho a ser percorrido até que, de fato, a Educação Ambiental transformadora possa ser
desenvolvida na RESEX do Batoque de tal modo que haja a mobilização da comunidade,
envolvimento e compromisso para mudar o atual cenário. Além disso, é necessário e
emergencial que a referida Unidade de Conservação tenha os seus instrumentos de gestão
implementados, principalmente o Plano de Manejo14, pelo qual são estabelecidas as normas e

14
Após a criação de uma UC, o plano de manejo deve ser elaborado em um prazo máximo de cinco anos. Toda
UC deve ter um plano de manejo, que deve ser elaborado em função dos objetivos gerais pelos quais ela foi
criada. O plano de manejo é um documento consistente, elaborado a partir de diversos estudos, incluindo
diagnósticos do meio físico, biológico e social. Ele estabelece as normas, restrições para o uso, ações a serem
desenvolvidas e manejo dos recursos naturais da UC, seu entorno e, quando for o caso, os corredores ecológicos
a ela associados, podendo também incluir a implantação de estruturas físicas dentro da UC, visando minimizar
os impactos negativos sobre a UC, garantir a manutenção dos processos ecológicos e prevenir a simplificação
dos sistemas naturais. (Fonte: http://www.mma.gov.br/areas-protegidas/unidades-de-conservacao/plano-de-
manejo)
70

o zoneamento que devem definir o uso da área e o manejo dos recursos naturais e, até mesmo,
as definições de implantação de estruturas físicas necessárias à gestão da Unidade.
Outro ponto importante diz respeito à regularização fundiária ainda inexistente na
RESEX do Batoque, dificultando a efetiva implementação da UC, além da destinação de
recursos insuficientes para implantação e manutenção, que são tidos como um dos maiores
problemas e lacunas que dificultam a efetiva implementação das Unidades de
Conservação no Brasil.
Nesse contexto, acredita-se que a implementação de um programa de Educação
Ambiental na RESEX do Batoque será um importante passo para a mobilização da
comunidade local objetivando a conservação do meio ambiente e a implementação efetiva
dessa Unidade de Conservação.
Mesmo o presente trabalho ter sido feito considerando a experiência como
membro da equipe gestora considerando a análise de documentos que relatam atividades
realizadas na UC em que houve a grande participação da comunidade, certamente para a
implementação de uma proposta de educação ambiental é necessário um trabalho de
mobilização e envolvimento da comunidade para tal finalidade. As linhas de ação foram
propostas pelo autor, o que não impede de que sejam (re) definidas outras abordagens durante
um trabalho participativo.
71

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APÊNDICES
77
APÊNDICE A- Planta planimétrica de situação das áreas protegidas: terra indígena Lagoa Encantada, Reserva Extrativista do Batoque e Área de Proteção Ambiental do
Balbino. Também em destaque a área de sobreposição entre a RESEX do Batoque e a terra indígena da Lagoa da Encantada

Fonte: ICMBio e SEMACE. Elaborado pela autora e por Francisco Milton Holanda Neto (2015)
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APÊNDICE B- Quadro esquemático das categorias de Unidades de Conservação adotadas pelo SNUC.
VISITAÇÃO
CATEGORIA DA UC PESQUISA CONSELHO GESTOR ÁREA POPULAÇÃO RESIDENTE
PÚBLICA

Proibida, exceto quando


Permitida com autorização prévia, sujeita
ESTAÇÃO ECOLÓGICA com objetivos Conselho Consultivo De posse e domínio público Não permitido
à normas e restrições
educacionais
PROTEÇÃO INTEGRAL

Proibida, exceto quando


Permitida com autorização prévia, sujeita
RESERVA BIOLÓGICA com objetivos Conselho Consultivo De posse e domínio público Não permitido
à normas e restrições
educacionais

Permitida sob normas e Permitida com autorização prévia, sujeita


PARQUE NACIONAL Conselho Consultivo De posse e domínio público Não permitido
restrições à normas e restrições

MONUMENTO Permitida sob normas e Permitida com autorização prévia, sob


Conselho Consultivo Área pública e/ou privada Permitido
NATURAL restrições normas e restrições

REFÚGIO DE VIDA Permitida sob normas e Permitida com autorização prévia, sob
Conselho Consultivo Área pública e/ou privada Permitido
SILVESTRE restrições normas e restrições

ÁREA DE PROTEÇÃO Permitida sob normas e Permitida com autorização prévia, sob
Conselho Consultivo* Área pública ou privada Permitido
AMBIENTAL restrições normas e restrições

ÁREA DE RELEVANTE
Permitida sob normas e Permitida com autorização prévia, sob
INTERESSE Conselho Consultivo* Área pública ou privada Permitido
restrições normas e restrições
ECOLÓGICO

Permitida sob normas e Permitida e incentivada com autorização Permitido somente populações
FLORESTA NACIONAL Conselho Consultivo De posse e domínio público
USO SUSTENTÁVEL

restrições prévia, sob normas e restrições tradicionais

RESERVA Permitida sob normas e Permitido somente populações


Permitida sob normas e restrições Conselho Deliberativo De posse e domínio público
EXTRATIVISTA restrições tradicionais

Permitida sob normas e


RESERVA DE FAUNA Permitida sob normas e restrições * De posse e domínio público Não permitido
restrições

RESERVA DE Permitida e incentivada,


Permitido somente populações
DESENVOLVIMENTO obedecendo a normas e Permitida sob normas e restrições Conselho Deliberativo De domínio público
tradicionais
SUSTENTÁVEL restrições

RESERVA PARTICULAR Permitida com objetivos


DO PATRIMÔNIO turísticos, recreativos e Permitida sob normas e restrições * Área privada Permitido
NATURAL educacionais

*Categorias de UCs com Conselhos ainda não regulamentadas, porém o ICMBio está trabalhando na regulamentação da categoria.
Fonte: Sistema Nacional de Unidades de Conservação da Natureza-SNUC. Elaborado pela autora.
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APÊNDICE C- Quadro-resumo relacionando as linhas de ação aos problemas/conflitos abordados no trabalho


LINHA DE AÇÃO PROBLEMAS/CONFLITOS ABRANGIDOS
RESGATE DA CULTURA LOCAL E SENTIMENTO DE  Ausência de sentimento de pertencimento
PERTENCIMENTO  Conflitos internos (crise de lideranças)
 Comunidade desmobilizada
 Esquecimento dos costumes e tradições locais
COMUNICAÇÃO PARA EDUCAÇÃO AMBIENTAL  Inexistência de material de divulgação sobre a RESEX
 Informação insuficiente sobre a RESEX e suas particularidades
A EDUCAÇÃO NO PROCESSO DE GESTÃO AMBIENTAL  Dificuldade de implementação dos instrumentos de gestão
 Conflito entre a gestão da UC e comunidade
 Integração insuficiente com as comunidades do entorno da UC
INCENTIVO À RECUPERAÇÃO DE ÁREAS IMPACTADAS NA  Problemas ambientais da RESEX
RESEX DO BATOQUE POR MEIO DE PARCERIAS COM  Turismo desordenado
INSTITUIÇÕES
ALTERNATIVAS PARA A MELHORIA DA QUALIDADE DE VIDA  Falta de alternativas de renda
DA COMUNIDADE
A EDUCAÇÃO AMBIENTAL POR MEIO DO ENSINO FORMAL  Ausência de práticas de Educação Ambiental continuadas na UC
FORTALECIMENTO DA GESTÃO PARTICIPATIVA NA RESEX  Alguns membros do Conselho Deliberativos ausentes e participação da
comunidade insuficiente nas reuniões
 Acordo de Gestão ainda inexistente
LEGISLAÇÃO AMBIENTAL APLICADA À REALIDADE LOCAL  Infrações ambientais frequentes na UC
 Conflito ocasionado pelo descumprimento da ACP

Fonte: elaborado pela autora.

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