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A Competitividade da Indústria
Brasileira de Alumínio:
Avaliação e Perspectivas:
• James M. G. Weiss alumínio, vantagem competitiva, estrutura setorial, competi-
Pesquisador da Divisão de Economia e Engenharia de ção internacional.
Sistemas do IPT e Professor do Departamento de
Planejamento e Análise Econômica Aplicados à
Administração da EAESP/FGV.
* ABSTRACT: The aluminium industry is one of the most
competitive brazilian industrial sectors. It is respon~ible for
approximately 10% of the brazilian trade balan~e. FlVe com.-
panies compete in the domestic market and pnmary alur~ll-
* RESUMO: A indústria do alumínio é um dos setores mais nium accounts for almost 90% of the exports. The expanslOn
competitivos do país, sendo responsável por quase 10% do of this industry in the interna~io~al market was und~rtaken
saldo da balança comercial brasileira. Apenas cinco empresas in the context of energy scarciiu In developed couniries and
disputam o mercado doméstico e aproximadamente 90% das during a period of economic recession in Brazil. An analysis
exportações brasileiras são constituídas de metal primário. A of the determinants of national cOl1}petitive advanta~e. m,akes
expansão desta indústria no mercado internacional deu-se possible an understanding of the high. level of compeiiiitniu of
num contexto de escassez energética nos países industrializa- this industrial sector. Some important factors that can aftect
dos que coincide com um período de grande retração da econo- the competitive position of brazilian aluminium companies
mia brasileira. Através da análise dos determinantes das van- are also pointed out.
tagens comparativas nacionais, explicam-se as razões do ele-
vado grau de competitividade internacional alcan.çado por es-
te setor industrial. São também indicados alguns Importantes
* KEY WORDS: Aluminium, competitiveness, aluminium
industry, competitive advantage, structure of the industry,
fatores que poderão comprometer, no futuro, a competitivida- international competition.
de das empresas brasileiras de alumínio.
• Agradeço ao Eng. Raymundo Machado pelas informações fornecidas
* PALAVRAS-CHAVE: Alumínio, competitividade, setor de e ao Prof. Dr. [acques Marcovitch pelas valiosas sugestões.
A
indústria brasileira de alumínio pri- identificar e avaliar os determinantes da
mário é fortemente exportadora, competitividade internacional deste setor.
contribuindo de maneira significati- Para tanto, utiliza-se o frame-work propos-
va para o saldo positivo da balança comer- to por Porter', obtido a partir do estudo das
cial brasileira. Em 1990, o país exportou vantagens comparativas de dez países in-
1,16 bilhões de dólares (FOB) em alumínio dustrializados, líderes do mercado mun-
primário, ligas e produtos semimanufatu- dial de produtos industrializados.
rados de alumínio, tendo importado ape- A aplicação deste modelo a um dos seto-
nas 97 milhões de dólares destes produtos. res mais fortemente exportadores da eco-
A contribuição do setor de alumínio ao sal- nomia nacional tem por objetivo identificar
do positivo da balança comercial brasileira os determinantes da competitividade neste
foi de 1,06bilhões de dólares, ou seja, 9,6% caso, contribuindo para o debate sobre di-
do total. retrizes para o desenvolvimento econômi-
Uma avaliação mais aprofundada co nacional e para o delineamento de estra-
aponta, no entanto, vários fatores que têm tégias de ação de setores e/ou empresas
contribuído para o desenvolvimento dessa nacionais potencialmente competitivos.
indústria no Brasil, entre eles as tarifas de
energia elétrica subsidiadas e a disposição O CONTEXTO MUNDIAL DA INDÚSTRIA
dos países industrializados em deslocar DO ALUMíNIO
para o Terceiro Mundo a produção de ma-
térias-primas industriais fortemente po- A indústria do alumínio primário apre-
luidoras e/ ou consumidoras de energia. sentou um faturamento total de 35,1 bi-
No âmbito mundial, o setor de alumínio lhões de dólares em 1989.2 O volume de
primário caracteriza-se como uma indús- produção atingiu 17.980 mil toneladas,
tria madura, com taxa de crescimento de- 2,1 % superior à produção do ano anterior.'
clinante, excesso de capacidade instalada e Esse setor apresenta todas as caracterís-
sujeita a grandes oscilações nas cotações ticas de uma indústria global. As empresas
internacionais do produto. O elevado grau produtoras atuam internacionalmente, ex-
de rivalidade interna, característico de um traindo minério, refinando alumina, pro-
setor que atinge a maturidade, tem provo- duzindo alumínio e comercializando o
cado a retirada de muitos concorrentes im- metal na forma primária ou semitransfor-
portantes que, antes, disputavam esse mada, em países que apresentem condi-
mercado. Por outro lado, condições espe- ções locais favoráveis, seja em relação à
cíficas de fatores de produção têm facilita- disponibilidade de recursos naturais, seja
do a entrada de novos concorrentes, entre em relação a estruturas de subsídios e in-
eles as empresas brasileiras. centivos governamentais.
O alumínio primário é uma commodity O alumínio é, depois do silício, o metal
cotada nas principais Bolsas de Mercado- mais abundante na crosta terrestre. Além
rias do Mundo. Os produtores competem de abundante, o alumínio pode ser obtido
entre si racionalizando seus custos de pro- por um processo químico extremamente
dução de modo a maximizar as margens simples e conhecido: a redução eletrolítica
obtidas no negócio, uma vez que o preço do óxido de alumínio (alumina), o qual é 1. PORTER, Michael E. The
do produto resulta do balanço entre a ofer- refinado a partir da alumina hidratada im- Competitive Advantage of Na-
ta e a demanda mundiais. pura existente no minério de bauxita.' O tions. New York, The Free
Press, 1990.
O principal insumo para a produção de processo apresenta, no entanto, o inconve-
2. Estimativa baseada na cota-
alumínio é a energia elétrica que, embora niente de consumir grandes quantidades ção média do ano (US$
ainda seja abundante no Brasil, se torna a de energia elétrica, sendo esta uma das 1952.77 /t), levantada pela
cada dia mais escassa em função do cresci- principais razões do preço relativamente ABAL, multiplicada pela produ-
ção mundial do mesmo ano:
mento da demanda interna e da ausência elevado deste metal. 17.98_0 mil toneladas. ASSO-
de investimentos no setor de geração elé- Em virtude de suas propriedades físi- CIACAO BRASILEIRA DE ALU-
trica. Existe hoje, no país, uma tendência cas, o alumínio é um metal amplamente MINlO. Anuário Estatístico
ABAL.1989.
geral ao aumento de tarifas elétricas e/ ou utilizado como matéria-prima de inúme-
3. ALUMINIUM ASSOCIA-
limitação do consumo interno. Sendo a in- ros produtos industriais,. Basicamente, o TION. Aluminium statistical re-
dústria do alumínio altamente consumi- alumínio é um material maleável, dúctil, view 1989. Washington, 1990,
resistente à corrosão, de elevada conduti- 63p.
dora de energia elétrica, é de se esperar
uma sensível redução de sua posição com- vidade térmica e elétrica, além de ser mui- 4. UNITED STATES BUREAU
OF MINES. Mineral facts and
petitiva internacional à medida que o ce- to leve. Tais características justificam o uso problems. Washington, 1985,
nário de escassez energética se concretize. deste material em diversos segmentos in- bul, 675, 956 p.
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A COMPETITIVIDADE DA IND. BRASILEIRA DE ALUMíNIO
PROD. PRIMÁRIO
18000 ..~ _+ ~_._._-_._---j-- ....... _~
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PROD. SECUNDÁRIO
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62 64 66 68 70 72 74 76 78 80 82 84 86 88 90
(x1000
t)
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COTAÇÕES (US$/I)
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1500
1000
80 81 82 83 84 85 86 87 88 89 90
Fontes: ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE ALUMíNIO. Op. cit. (cotações); World Metal Statistics. Op. cit. (estoques)
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tendem a apresentar rendimentos próxi- Foi somente a partir de 1982 que o Brasil
mos de 13.750KWh/ tonelada produzida. se tomou exportador de alumínio, em par-
Trata-se de um setor profundamente te como conseqüência da maturação dos
heterogêneo, no qual, em todo o mundo, investimentos governamentais implemen-
instalações muito antigas coexistem com tados no âmbito do 11PND (1974-1978).
plantas de elevado grau de sofisticação Nesse contexto, em janeiro de 1982, entrou
tecnológica. Diversos fatores contribuem em operação a fábrica da Valesul Alumí-
para a operação de plantas tecnologica- nio S.A. (localizada em Santa Cruz, RJ),
mente defasadas, entre eles os subsídios empresa holding da Companhia Vale do
governamentais, a existência de fontes pri- Rio Doce, em associação com a Billiton. O
vilegiadas de energia elétrica, a longa vida projeto tivera início em 1975, durante o go-
útil das instalações e o elevado montante verno Geísel."
de capital requerido pelas instalações para O gráfico 3 apresenta a evolução da pro-
produção de alumínio. dução nacional, do consumo doméstico,
A estrutura de custos médios de produ- das exportações e das importações de alu-
ção de uma planta tecnologicamente mo- mínio entre 1975 e 1989. Verifica-se que a
derna de alumínio primário é apresentada grande expansão da indústria nacional se
na tabela 1.9 Verifica-se que 33,9% a 38,2% dá a partir de 1982, exatamente quando en-
dos custos de produção se referem à amorti- trou em operação a usina da Valesul, cuja
zação do capital. O custo de capital referen- produção anual era 92 mil t/ ano. Em 1984,
te a uma unidade de produção varia de a usina da Alumar (Alcoa + Billiton), loca-
3.750a 4.250dólares por tonelada de capaci- lizada em São Luís (MA), iniciou sua pro-
dade instalada. Considerando a escala de dução, fabricando 100 mil t/ ano. No ano
produção característica das fábricas moder- seguinte, a Albrás (CVRD + consórcio ja-
nas, em tomo de 100mil toneladas/ ano, ve- ponês) colocou em operação seu primeiro
rifica-se que uma fábrica nova de alumínio módulo de produção, fabricando 80 mil
primário representa um investimento da or- t/ano. Entre 1981 e 1985, a CBA (empresa
dem de 400 milhões de dólares. A atividade do grupo privado nacional Votorantim)
é, portanto, tipicamente capital-intensiva. também expandiu sua produção, passan-
No Brasil, a existência de plantas mo- do de 83 mil t/ano para 170 mil t/ano. De
dernas e antigas, produzindo conjunta- 1982 a 1988, a produção nacional de alumí-
mente, conduz a um coeficiente médio de nio mais do que triplicou, aumentando de
consumo energético igual a 15.700 261 mil t/ano para 875 mil t/ano."
KWh/tonelada de alumínio." As plantas A classificação das empresas brasilei-
mais modernas estão situadas na Região ras de alumínio, realizada pela revista
Norte do país e contam com tarifas de for- Exame, é apresentada na tabela 2. Verifica-
necimento de energia elétrica subsidiadas se que a liderança do setor, no Brasil, é dis-
pelo Governo. São elas a Albrás e a Alu- putada pela Alcoa e pela CBA. Esta tem si-
mar. A primeira, situada em Belém (PA), é . do, nos últimos anos, sistematicamente
uma joint-venture da Companhia Vale do eleita como a melhor do ano no setor de
Rio Doce com um consórcio de empresas metalurgia, que engloba as indústrias pro-
japonesas consumidoras de alumínio dutoras de metais não-ferrosos. Verifica-
(NAAC), e a segunda, situada em São Luís se a grande instabilidade do setor em rela-
(MA), é uma joint-venture entre as multina- ção à lucratividade das empresas. Em
cionais Alcoa (líder mundial do setor) e 1989, todas as cinco produtoras nacionais
Billiton (empresa do Grupo Shell), de alumínio primário apresentaram mar-
9. ADAMS, R. G. Competitive
economics and the manage-
gens satisfatórias de lucro. No ano seguin-
ment of structural change. In: BREVE HISTÓRICO DA INDÚSTRIA te, apenas a CBA conseguiu apresentar lu-
5th INTERNATIONAL ALUMI- DO ALUMíNIO NO BRASIL cro enquanto as demais tiveram prejuízos
NIUM CONFERENCE, Caracas,
30-31 novo 1988. significativos e grandes reduções em seus
10. ASSOÇIACÃO BRASILEIRA O Brasil é o quinto maior produtor patrimônios.
DE ALUMINIO. Op. cit. mundial de alumínio primário, tendo pro-
11. MACHADO, Raymundo C. duzido 930,6 mil toneladas em 1990. A OS DETERMINANTES DA
Apontamentos da história do produção de alumínio foi introduzida no VANTAGEM COMPETITIVA NACIONAL:
alumínio no Brasil. Ouro Preto, UM MODELO DE ANÁLISE
Fundação Gorceix, 1985, 61 Op. Brasil logo após a Segunda Guerra Mun-
12. Dado o caráter contínuo do
dial como parte do amplo processo de
processo de produção do alu- substituição de importações que caracteri- O comércio internacional está cada vez
mínio, a capacidade nominal de zou a economia brasileira no período. A mais fundado em economias de escala, li-
uma fábrica é praticamente derança tecnológica e produtos diferencia-
igual à produção, podendo in- produção voltava-se basicamente ao mer-
clusive superá-Ia. cado interno. dos. Neste contexto, apenas as empresas
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A COMPETITIVIDADE DA IND. BRASILEIRA DE ALUMíNIO
internacional dos setores econômicos ne- 13. PORTER, M.E. Op, cit,
capacitadas a produzir de acordo com es-
tas condições serão competitivas no mer- les sediados.
cado mundial. Porter", analisando as van- Empresas obtêm e mantêm vantagens
tagens comparativas dos países industria- comparativas através de aperfeiçoamento,
lizados, verificou que os padrões de com- inovação e desenvolvimento de novas tec-
petição, bem corno as fontes de vantagens nologias ou métodos envolvendo novos
comparativas, variam muito dependendo produtos, novas técnicas de produção, no-
dos setores industriais ou, mesmo, dos vas concepções de markeiing, identificação
segmentos industriais considerados. Por de novos grupos de clientes etc. O processo
outro lado, as condições econômicas espe- apresenta um caráter profundamente dinâ-
cíficas dos países considerados têm um pa- mico cuja natureza não é o equilíbrio, mas
pel determinante sobre a competitividade um contínuo estado de mudança. Assim
(x1000 t)
1000,,--~--~---o--,,--~--~--o---~~-------'------~------~
PROD.NACIONAl
900 . . · r , _ .. , ~ . ··-,---------·t ....·..··--:--··..··..
800 .i- + -r · .. ! [ , : i . .-- .~~_ ~ CONS.DOMÉSTICO
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IMPORTAÇÕES
EXPORTAÇÕES
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75 76 77 78 79 80 81
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A COMPET/TIVIDADE DA IND. BRASILEIRA DE ALUMíNIO
ra como as empresas locais são criadas, or- capita de alumínio no Brasil foi de apenas
ganizadas e geridas, bem como a natureza 2,67 Kg/hab./ ano, menos de um décimo do
da rivalidade entre estas empresas. De consumo norte-americano ou japonês. A
acordo com Porter, as empresas se aperfei- demanda interna extremamente fraca inibe
çoam quando são forçadas a enfrentar o desenvolvimento de elos mais complexos
uma concorrência local acirrada e quando da cadeia produtiva e mantém o país na po-
os governos estabelecem regulamentos e sição de exportador do metal primário.
padrões exigentes." O baixo nível de atividade industrial
que caracterizou a economia brasileira na
OS DETERMINANTES DA COMPETITIVIOADE década de 80 foi também um fator inibidor
INTERNACIONAL E O SETOR BRASILEIRO do consumo de alumínio no país. O consu-
DE ALUMíNIO PRIMÁRIO mo doméstico de alumínio expandiu-se de
356,8 t em 1980 para 392,7 t em 1989, ou se-
A aplicação do modelo de análise da ja, apenas 10% em toda uma década.
competitividade de Porter ao caso da in-
dústria brasileira de alumínio conduz a al- 3. Estrutura, estratégia e grau
gumas constatações que são discutidas a de rivalidade
seguir. Tratando-se de um processo de produ-
ção intensivo em capital, as empresas pro-
1. Condições de fatores de produção dutoras de alumínio são, em geral, verti-
O Brasil é um país rico em recursos na- calmente integradas, da extração de miné-
turais, entre os quais se encontram gran- rio à produção do metal primário. A tecno-
des jazidas de minério de bauxita com ele- logia de produção é internacionalmente
vado teor de alumínio. O país é um dos difundida e os ganhos de produtividade
maiores exportadores de bauxita do mun- são incrementais.
do. Além disso, a energia hidroelétrica é No interior do setor brasileiro de alumí-
relativamente abundante. A presença des- nio, o número de empresas é pequeno e o
ses dois insumos fundamentais para a pro- grau de rivalidade é baixo. Existem várias
dução de alumínio primário conduziu o joint-ventures entre as empresas para pro-
país à posição de destaque que ocupa entre dução de metal, alumina e minério, reve-
os produtores mundiais do produto. lando um relativo grau de cooperação en-
Por outro lado, a crise da dívida externa tre elas. Essas empresas se expandiram a
tem limitado, de forma determinante, o partir do programa de substituição de im-
acesso a fontes de financiamento de longo portações traçado pelo 11 PND, e se toma-
prazo requeridas por uma atividade in- ram exportadoras a partir de 1982, quando
dustrial intensiva em capital. A capacida- se acumularam grandes excedentes de
de instalada no país é basicamente resulta- produção, não absorvidos pelo mercado
do das inversões feitas no período anterior interno. No mercado externo, as empresas
à crise. Assim, o principal insumo para a brasileiras enfrentaram cotações declinan-
produção de alumínio (o capital) é, hoje, tes do produto (vide gráfico 2) e uma con-
extremamente escasso no país. juntura em que vários concorrentes inter-
A mão-de-obra, embora abundante e ba- nacionais se retiraram do setor, que, então,
rata no Brasil, é pouco relevante nesta ativi- atingia a maturidade.
dade que, como se viu, é capital-intensiva. No Brasil, as três maiores empresas do
A energia elétrica é ainda disponível, setor (Alcoa, CBA e Alcan) adotaram es-
mas os custos de geração são crescentes, tratégias de integração vertical, do minério
não apenas em virtude do custo de capital, ao metal primário, e deste aos semímanu-
como também das características físicas das faturados de alumínio, sendo as que siste-
bacias hídricas ainda inexploradas. As ba- maticamente apresentam melhores resul-
cias hídricas mais rentáveis do país já foram tados financeiros. A CBA, em particular,
aproveitadas e as que restaram apresentam adota uma política de geração própria de
custos de geração muito superiores aos das energia elétrica que a protege das ameaças
usinas hidrelétricas atualmente existentes. de racionamento ou de aumentos proibiti-
vos das tarifas elétricas: 60% do seu consu-
2. Demanda interna mo é gerado internamente. A Billiton e a
No Brasil, a demanda interna é não ape- Companhia Vale do Rio Doce são empre- 14. Idem ibidem, p.71.
nas limitada, como pouco exigente. Diver- sas de mineração que estabeleceram estra- 15. RUGERONI, L. World Mar-
sos estudos empíricos já mostraram que a tégias de integração para cima, de modo a ket Trends. In: 5th INTERNA-
TIONAl AlUMINIUM CONFE-
demanda por alumínio é função da renda produzirem o metal primário, de maior RENCE, Caracas, 30-31 novo
per capita nacional." Em 1989, o consumo per valor adicionado que o minério. A Billiton 1988.
ss
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A COMPETITIVIDADE DA IND. BRASILEIRA DE ALUMíNIO
2000
JAPÃO
EUA
1500
1000
500
75 76 77 78 79 80 81 82 83 84 85 86 87 88 89 90
Fonte: ALUMINIUM ASSOCIATION. Aluminium Statistical Review. Washington (vários anos).
57
RAE
1000 :-.- ------_ ..:-- -------.-}_. __ .-. ----.:- ._._ ... _-:-.
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Fonte: Aluminium Association, Aluminium Statistical Review Washington(vários anos),
Quadro 1: Posicionamento do setor brasileiro de alumínio frente aos determinantes da competitividade
• Falta de tecnologia
3. Estrutura, própria
• Integração do minério • Pequeno número
estratég ia, ao metal primário
rivalidade de empresas
• Plantas estatais
não integradas
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