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Digital Devil Story 2:

Warrior Of The Demon City


Guerreiro Da Cidade Demoníaca

Autor: Aya Nishitani

Data: 31 de outubro de 1986

Tradução PTBR: R.Zel

Tradução em inglês: DDS Translations: An Introduction


Parte Um: O Retorno

Parte 1: Capítulo 1

Em Massachusetts, há uma antiga cidade portuária chamada Salem. No século XIX, ela floresceu
como um porto de pesca, mas seu destino flutuou junto com a indústria de pesca americana, e
atualmente menos de um décimo da população no ápice de sua prosperidade vivia lá, agora
ganhando uma existência miserável na indústria de processamento de alimentos. No centro da
cidade, o canal agora livre de barcos, cheio de água barrenta, deságua na baía. Ao longo deste canal,
os raios do sol de verão refletidos na tinta branca descascando as tábuas das velhas casas, relíquias
da cidade em tempos mais prósperos.

Em um quarteirão dessas casas havia um hotel barato de tijolos, construído antes da Primeira
Guerra Mundial, ainda de pé, apesar de não ter sido reformado nem uma vez. No segundo andar,
havia uma sala. Este quarto não tinha móveis além de uma cama e um telefone, e o único som que
se ouvia lá dentro era o barulho de um antigo compressor de ar-condicionado GE. O homem nesta
sala o ignorou, entretanto, e concentrou-se em trabalhar com o computador de mão em frente a
ele. Ele provavelmente tinha perto de cinquenta anos, vestia uma capa preta sobre um velho e
amarelado manto de linho e botas de couro usadas nos pés. Seu cabelo grisalho na altura dos
ombros combinava perfeitamente com o traje de feiticeiro medieval que ele usava.

O nome do homem era Isma Feed. Ele era o irmão mais novo de Charles Feed, o famoso
engenheiro e pesquisador mágico do ITM (Instituto Tecnológico de Massassuchetts. Ao contrário de
seu irmão mais velho, que fundou sua organização, JSI (Jardim Satanico Internacional) para que a
alquimia e a magia pudessem promover a ciência e a sociedade, o propósito na vida de Isma era
dominar a arte e a magia negra para fins nefastos. Pessoas que conheciam Isma tinham um medo
mortal dele. Para ter certeza, enquanto ele estava debruçado sobre a tela, seus olhos corriam pela
tela como os de um falcão, Isma certamente se assemelhava com um demônio no comportamento.

O computador portátil de Isma estava conectado à tomada do telefone e se comunicava com, a IA


do JSI, Craft, online. Examinando os dados mais recentes que Craft estava lhe dando, Isma estreitou
os olhos pensando, e seus dedos longos e ossudos bateram o teclado.

> ISSO É VERDADE?

> TALVEZ.

A inteligência artificial respondeu imediatamente.

"....."

Com uma respiração profunda, Isma cortou a conexão com a IA. "É difícil acreditar pelo valor
nominal, mas não parece haver qualquer dúvida de que um menino na Ásia realmente conseguiu
invocar um demônio com um computador." Enquanto murmurava, alguém bateu à porta.

"Entre." Desligando o computador de mão, Isma virou a cabeça em direção à porta, ainda
encostado no encosto da cadeira. Ao fazê-lo, o velho estalajadeiro abriu a porta com um sorriso
desajeitado e amargo no rosto.

"Por favor, desculpe-me. Há alguém aqui que insiste em vê-lo..."


Não deixando o velho terminar, um homem enorme e de olhar penetrante entrou na sala, fazendo
sinal para que o velho saísse com o cano de sua arma em punho.

"O grande mago Isma Feed. Finalmente encontrei você." A voz do homem estava carregada com
um ódio mal disfarçado.

"Você é... James, do FBI, não é? Aplaudo seus esforços em encontrar meu paradeiro, mas esta é
certamente uma maneira rude de me cumprimentar. Presumo que você pretenda me prender - sob
quais acusações, posso perguntar?" Isma se levantou lentamente, com um sorriso sarcástico no
rosto.

"Como você deve saber, não somos famosos por nossa sutileza no FBI. E se eu fosse citar todos e
cada um de seus crimes, levaria o dia todo." Apesar da força de suas palavras, a voz do homem
tremia levemente, como se estivesse sendo intimidado pelo olhar de Isma.

"Venha em silêncio. Eu não quero ter que arrastar seu cadáver por aí." Blefando, o homem
engatilhou a arma e apontou o cano para o peito de Isma.

"Bem, lidar com o seu cadáver não me incomodaria nem um pouco..." Os olhos azul-claros de Isma
brilharam com uma luz fria enquanto ele encarava o homem.

Apesar de sua vantagem aparentemente avassaladora na situação, o homem não conseguia falar e
simplesmente encarou Isma. O silêncio encheu a sala, e uma grande gota de suor escorria por sua
têmpora. Logo Isma começou a caminhar em direção ao homem, seu manto arrastava pelo chão
atrás dele como se estivesse limpando.

"Pare! Não chegue nem um passo mais perto!" Gritando com voz seca, o homem preparou sua
arma e deu um passo para trás.

"James, se você queria me enfrentar, deveria primeiramente ter chamado reforços. Claro, uma
pessoa ou três pessoas, o resultado ainda seria o mesmo."

Os olhos frios de Isma cintilaram. Ao fazê-lo, o cano da arma lentamente começou a se mover por
conta própria, varrendo a parede imunda como se para limpá-la.

O homem agarrou sua mão direita com a esquerda, tentando ao máximo pará-la. Mas como se
estivesse sendo torcida por uma mão poderosa e invisível, sua mão direita lenta, mas seguramente
apontou a arma para seu rosto.

"Pare, por favor, pare. Argh..." O gosto amargo e frio do cano da arma encheu sua boca, forçando
sua saliva e gritos garganta abaixo. Enquanto suas duas mãos lutavam entre si pelo controle da
arma, o homem se curvou para trás e olhou para o teto.

BANG!

O som baixo do tiro sacudiu a sala e o homem caiu para trás, derramando sangue e miolos no
chão pelo buraco na nuca.

"Joseph, como de costume, por favor, limpe depois." Dando uma olhada no corpo desfigurado,
Isma falou com o velho estalajadeiro encolhido no canto.

"Vou para o Japão. Dessa vez, pode ser uma longa viagem." Esmagando pedaços de cérebro e
sangue sob suas botas de couro, Isma desapareceu pela porta, deixando pegadas pretas
avermelhadas atrás de si.
Parte 1: Capítulo 2

Tóquio, Kuniritsu.

Agora nas férias de verão, a praça do Colégio Jusho estava vazia. O sol escaldante, agora um pouco
menos forte, iluminava silenciosamente o prédio. Como se tentassem evitar seus raios, donas de
casa e estudantes que caminhavam pelas fileiras de árvores gingko ao longo da avenida universitária
lançavam olhares curiosos em sua direção.

Uma semana atrás, a sala de informática da escola havia sido destruída e toda a turma que havia
estudado lá havia desaparecido.

"A classe inteira conspirou para destruir a instalação e depois fugiu para algum lugar." Essa foi a
explicação que sua instrutora, Ohara, deu. Mas ninguém poderia sequer imaginar a verdade por trás
do incidente, que era como um símbolo da crescente violência que acontecia dentro da escola.

Um dos alunos do último ano da escola, Nakajima Akemi, com sua bela aparência feminina, tinha a
tendência de ser objeto de ciúmes entre os outros alunos do sexo masculino. Abençoado com uma
habilidade de computação genial, Nakajima descobriu as semelhanças entre a teoria da computação
e a teoria mágica e conseguiu invocar os dados digitais do demônio Loki com seu computador.
Usando o poder de Loki, Nakajima tentou se vingar de outros alunos que o haviam prejudicado.
Vivendo dentro do computador da sala de informática como uma construção digital, Loki atendeu ao
desejo de Nakajima assumindo o controle dos alunos que assistiam às palestras lá.

Enquanto isso, em segredo, Loki conseguiu um corpo físico por conta própria, e Nakajima
começou a se tornar uma ameaça para ele. A bela professora Ohara, que havia sido dada a Loki
como uma oferenda, ficou encantada com o encanto do demônio e aprendeu a operar o programa
Demon Summoning no lugar de Nakajima. Logo Loki escapou do controle de Nakajima e se tornou
uma fera que começou a matar brutalmente. Sentindo uma profunda responsabilidade pelos
resultados causados por sua curiosidade e desejo de vingança, Nakajima convocou a besta
demoníaca Kerberos e desafiou Loki. Ele foi derrotado, mas um aliado improvável apareceu na
batalha.

Era a deusa japonesa Izanami, que possuía Shirasagi Yumiko, uma aluna transferida apaixonada
por Nakajima. Na batalha indescritivelmente dura, a sala de informática foi reduzida a ruínas. E
Izanami teletransportou os feridos Nakajima e Yumiko para Asuka, o local onde se encontrava sua
tumba. Loki também se dirigiu para Asuka em sua perseguição. Claro, ninguém poderia saber as
verdadeiras circunstâncias do incidente, e apenas os resultados superficiais chegaram à mídia de
uma maneira sensacionalista típica. "Elite destrói sala de aula e desaparece!" Isso, e títulos
semelhantes, eram os que estavam nas manchetes dos jornais semanais.
Até que a polícia concluísse a investigação, a sala de informática em questão estava interditada.
Embora destruída consideravelmente, um fedor difícil de suportar ainda flutuava pela sala cheia de
escombros. A sala de máquinas, milagrosamente intacta, separada do resto da sala de aula por um
vidro rachado, tinha uma figura suspeita à espreita. Unhas vermelhas profundas massageavam o
teclado do terminal. A luz do LED da unidade de disco piscou intensamente. Parecia estar copiando
um programa longo ou uma grande quantidade de dados. Quando a cópia terminou, preenchendo
dez grandes disquetes de oito polegadas, a mulher deu um suspiro de alívio.

"Professora Ohara, você já terminou?" Abrindo a porta com relutância, o zelador olhou ao redor
da área antes de enfiar a cabeça na sala de máquinas.

"Se eles descobrirem que eu deixei você entrar aqui, posso ter grandes problemas."

"Sinto muito. Terminarei em um minuto." Enquanto a mulher falava em tom anasalado, o zelador
puxou a cabeça para trás com relutância. Estalando suavemente a língua, ela voltou a digitar. Uma
mensagem exibida na tela.

> PROGRAMA "DEMON" APAGAR SIM OU NÃO?

O computador estava perguntando se ela queria ou não deletar um de seus programas.

> SIM

Entrando lentamente no comando, a mulher pressionou a tecla Return. Quando ela fez isso, as
fitas magnéticas do computador do servidor giraram e fizeram barulho sem emoção, antes de logo
pararem. Naquele instante, o programa Demon Summonig que Nakajima Akemi havia escrito
desapareceu sem deixar vestígios do sistema de computador do Colégio Jusho.

Descansando os cotovelos na cerca de concreto que cercava o prédio da escola, Isma Feed ficou
parado como uma sombra. Ele estava vestido como se estivesse em Massachusetts, envolto em um
manto preto sobre um manto de linho amarelado e usava botas de couro preto. Apesar de sua
aparência incomum, as pessoas que passavam por ele na rua pareciam não lhe dar atenção alguma.
Não era como se o estivessem evitando deliberadamente; ao contrário, era como se eles nem
percebessem que ele estava parado ali. Isma havia se cercado em um campo mágico. A capacidade
de esconder a presença de alguém com um campo mágico era considerada a especialidade dos
Onmyojis japoneses, mas suas raízes eram na verdade muito mais antigas e haviam sido dominadas
por antigos mágicos maias muito antes. Para Isma, que era descendente desses mesmos magos,
esconder sua presença era uma tarefa fácil. Mas seus olhos, voltados para o prédio da escola,
estavam cheios de descontentamento.

Eu não posso sentir nada. Parece não haver dúvidas de que o garoto chamado Nakajima invocou
um demônio, mas não consigo sentir nenhuma presença demoníaca...

Isma havia notado as semelhanças entre a teoria da computação e a teoria mágica anos atrás. Ele
pensou que a razão pela qual era tão difícil convocar demônios para o mundo humano era que se
tornava fácil para o clima e o campo magnético da Terra interferir no ambiente necessário para
realizar uma convocação com sucesso. Portanto, ele teorizou que, se fosse capaz de criar um forte
campo magnético dentro de um computador, seria possível eliminar as referidas influências externas
e, portanto, estava tentando fazer isso sozinho. No entanto, ao saber pelos bancos de dados do JSI
que um jovem no Japão já conseguiu fazer isso, ele imediatamente voou para Tóquio.

Parece que vou ter que reservar um tempo para procurar Nakajima Akemi por conta própria.
Decepcionado, Isma lentamente se virou e começou a se afastar, quando ouviu uma voz suplicante
dizer "Professor, por favor, mantenha tudo isso em segredo..." Virando-se, ele viu um homem de
meia-idade de aparência comum chamando uma mulher carregando uma bolsa grande. A mulher
acenou com a mão irritada e começou a caminhar em direção a Isma.

Ela era uma mulher muito sedutora. Seu belo corpo simétrico - que poderia facilmente ser o de
uma modelo - emanava charme feminino. Seu olhar quente, mas de alguma forma escuro, não podia
deixar de acender o desejo em qualquer homem que a visse. Mas isso não era tudo; Isma sentiu algo
em Ohara que despertou seus instintos de mago. Um sorriso se formou nos lábios de Isma enquanto
seus olhos viajavam para cima e para baixo em seu corpo.

Um demônio realmente VEIO ao mundo de Assiah. A vida demoníaca dentro do corpo daquela
mulher é a prova.

Isma piscou duas, três vezes ritmicamente. Talvez fosse um gesto para deixar cair o campo mágico
que o cercava, mas Ohara parou repentinamente como se atingida por um raio.

O amor de Ohara por Loki era especial. Ela havia sido dada como oferenda ao demônio Loki por
Nakajima Akemi em junho. Na época, o Loki digital fez amor com ela em um mundo virtual. A
voluptuosa Ohara não era estranha ao sexo, mas o êxtase intenso e quase fatal que ela sentia por
dormir com um demônio havia trazido a diabólica feminilidade inata dentro dela a seus extremos.
Logo Loki se materializou, ganhando a capacidade de tomar forma no mundo humano. Ohara
pertencia a ele de corpo e alma, e ela ficou grávida de seu filho. Mas depois de perseguir Nakajima
até Asuka para matá-lo, Loki aparentemente desapareceu da face da terra. Acreditando que seria
impossível para um demônio tão poderoso quanto Loki ser derrotado por uma pessoa tão fraca
quanto Nakajima, Ohara tentou usar o programa Demon Summoning repetidas vezes, mas não
obteve resposta de Loki. Em vez disso, o único que apareceu foi um demônio diferente chamando a
si mesmo de Set.

Além disso, a sala de informática ficou fora dos limites após o incidente ocorrido lá, então ela não
podia mais usar os computadores livremente. Finalmente Ohara copiou o programa Demon
Summoning, mas ela não tinha ideia de como e onde poderia executá-lo para encontrar Loki, e
enquanto pensava no que fazer a seguir, ela notou Isma e parou no meio do caminho.
"Yod, Heh, Vav, Heh." As palavras do feitiço que Loki lançou saíram dos lábios de Isma.
"Quem é você...?"
Ohara ficou encantada com os misteriosos olhos azuis e brilhantes desse estrangeiro vestido de
maneira estranha.

Isma fechou os olhos pela metade, sussurrou "Vamos" e silenciosamente começou a andar. Como
se estivesse sendo puxada por uma linha invisível, Ohara o seguiu.
Parte 1: Capítulo 3

Naquela noite, um homem entrou no Seito Plaza Hotel, um hotel entre os arranha-céus na saída
oeste da estação de Shinjuku, conhecido por receber um grande número de hóspedes estrangeiros.
Baixo, careca, de rosto vermelho, parecia deslocado. Mas seu corpo exalava uma energia brilhante, e
todos os outros convidados se viraram para ele como se combinado quando ele passou. Correndo
suavemente pelo saguão, o homem se dirigiu ao elevador.

Seu nome era Shimazaki Ryunosuke. Ele era um magnata infame, conhecido por sua astuta
compra e venda de conglomerados usando capital estrangeiro. Em um único dia, as mais de
trezentas empresas sob seu controle faturaram mais de 50 bilhões de ienes. Shimazaki também era
conhecido por ter conexões profundas com o atual partido político governante. Quem ele poderia
estar visitando aqui, sozinho e sem sua secretária? Cuspido pelo elevador quando ele parou no
décimo quinto andar, Shimazaki parou em frente à porta do quarto 1504.

"Loki é um demônio. Um demônio não pode morrer!" Shimazaki ouviu os gritos histéricos de uma
mulher e diminuiu um pouco a velocidade. Duvidoso, tirando um memorando do bolso e verificando
se ele estava no quarto certo, Shimazaki relutantemente bateu na porta.

Shimazaki conhecia Isma de antes e podia reconhecê-lo à primeira vista, e com apenas uma
saudação, assim que ele entrou na sala perguntou se era verdade ou não que um demônio
realmente havia sido convocado. Com um olhar ligeiramente ofendido no rosto, Isma repassou os
detalhes do que sabia e aprendera com Ohara.

"Então, em vez de Loki, um demônio chamado Set agora foi invocado?" A pergunta de Shimazaki
foi apressada e impaciente.

"Segundo a senhorita Ohara, parece que..." Isma olhou para trás enquanto falava. Ohara estava
tentando abrir a porta e sair.

"Aonde você está indo?" O olhar de Isma deteve Ohara no meio do caminho.

"Isso não é da sua conta agora, é?" O tom de Ohara era confrontador.

"Eu não vou permitir que você corra por conta própria e estrague as coisas. Fique bem aqui." Com
o olhar fixo em Ohara, Isma se moveu em direção a ela um passo de cada vez.

"Eu não recebo ordens de você!" Quando os olhos de Ohara se arregalaram enquanto ela falava,
as mãos grandes e ossudas de Isma a agarraram pela nuca.

"Exatamente o que você acha que pode fazer sozinho? É verdade, não temos certeza de que Loki
está morto. Mas mesmo se eu deixar você continuar a brincar com o programa Demon Summoning,
com seu conhecimento limitado de computador, você só acabaria sendo morta por Set!"

Rastejando no tapete, Ohara olhou para Isma com os olhos cheios de humilhação e perplexidade,
a nuca branca marcada com marcas preto-avermelhadas de seus dedos. Como se nada tivesse
acontecido, Isma se virou e continuou a falar com Shimazaki.

"Sr. Shimazaki, gostaria que se apressasse e preparasse um computador para mim."


"Claro, Saint. Vou preparar qualquer máquina que você quiser, seja um supercomputador IBM ou
um Cray 1. Em troca, se você puder me deixar usar o poder do demônio também..." Esfregando as
mãos, Shimazaki olhou para Isma.

Enquanto Isma respondia com um sorriso sarcástico, seus olhos se desviaram para Ohara, que
estava rastejando em direção à porta na tentativa de escapar.

"Você ainda não entendeu!?" Enquanto ele gritava, Isma entoou o feitiço "Yog-sothoth Ya Rubikay
Hara" em voz baixa.

Naquele instante, Ohara soltou um grito como um animal e rolou pelo chão, com as mãos
agarrando freneticamente a garganta. Suas unhas brilhantes e bem cuidadas afundaram na carne de
seu pescoço, e o sangue escorria das feridas.

"Ohara, a marca em seu pescoço não desaparecerá facilmente. Enquanto eu continuo lançando
meus feitiços, você sentirá uma dor apertada como se estivesse sendo pendurada na forca."

As palavras ásperas e impiedosas de Isma soaram como um eco distante para Ohara enquanto ela
se contorcia no chão em agonia.
Parte 1: Capítulo 4

Enquanto isso acontecia, Nakajima estava parado, sozinho na câmara mortuária de Izanami, bem
abaixo de Asuka. Depois de desfrutar de um breve reencontro com Yumiko, que havia sido trazida de
volta à vida pelo poder de Izanami, a deusa a tirou da terra de Yomi.

Como Yumiko havia sido atraída para a batalha contra os demônios contra sua vontade, Izanami
queria dar a ela a capacidade de se defender pelo menos. Enquanto isso, Nakajima recebeu ordens
de retornar ao mundo humano. Mas ainda sentindo a presença de Yumiko, ele relutou em sair da
sala e, enquanto refletia sobre isso, seus ouvidos começaram a zumbir levemente. Olhando para
cima, ele percebeu que em algum momento as paredes vermelhas da tumba haviam desaparecido e
que ele estava cercado por um vazio, quase como o espaço sideral.

O que está acontecendo?

De repente, a voz de Izanami soou em sua cabeça.

"Levante-se. E pense na pessoa que mais precisa de você. Volte para ela." Percebendo que
Izanami estava usando seu poder para devolvê-lo ao mundo humano, Nakajima imediatamente
imaginou Yumiko em sua mente. Imediatamente à sua frente, uma névoa branca girava e formava o
rosto de um humano.

"Yumiko!" Quando Nakajima gritou, o rosto se dissipou em uma névoa branca.

"Nakajima, tem alguém que precisa muito mais de você do que eu." A voz familiar de Yumiko
sussurrou uma repreensão em seus ouvidos.

Logo depois, ele ouviu outra voz familiar, gritando dolorosamente seu nome - "Akemi, Akemi".
Reflexivamente, Nakajima cobriu os ouvidos com as mãos. Mas a voz que o chamava tornou-se cada
vez mais alta, e Nakajima sentiu como se estivesse diminuindo à medida que a voz se tornava mais
alta. A névoa branca condensou-se novamente, no rosto de uma bela mulher que se parecia muito
com ele - sua mãe.

"Pare! Eu não quero ver você!" Nakajima gritou como uma criança petulante. A antipatia de
Nakajima por sua mãe, que quase nunca se importava com a família, pode ter sido forte o suficiente
para dominar completamente seu ego. Mas a névoa ondulante gradualmente começou a envolvê-lo.

"Não!" Enquanto Nakajima resistia desesperadamente, o movimento da névoa diminuiu


ligeiramente, e o lindo rosto de sua mãe olhou para ele com tristeza em seus olhos. Seu olhar gentil
abriu o coração do teimoso Nakajima como o desenrolar das cordas que prendem um corpo.

"Mãe..."

No minuto em que a palavra saiu de seus lábios, seu corpo tornou-se uma gota de condensação
em uma névoa e ele foi envolvido por uma sensação de puro êxtase. A névoa envolvendo Nakajima
moveu-se silenciosamente em direção ao vazio. Não havia distância ou tempo ali.

Eu quero ficar assim para sempre... Nakajima pensou.

Mas em algum momento ele percebeu uma imagem no nada. Os contornos das paredes brancas e a
iluminação de uma sala familiar se formaram, e o perfil de sua mãe entrou em seu campo de visão.

"Mãe..."
Quando Nakajima gritou reflexivamente, ele sentiu todo o sangue sendo puxado para fora de seu
corpo junto com uma sensação flutuante como se estivesse em um ambiente sem peso, e no
instante seguinte, seu corpo foi atingido por um choque de torção quando ele foi jogado em algum
lugar. Enquanto ele gemia e se sentava, ele já havia retornado ao mundo humano da câmara
mortuária de Izanami.

Um sofá familiar e um aparador estavam à sua frente. Lá, em sua antiga sala de estar, sua mãe
estava sentada, desanimada, enrolando os cabelos desgrenhados com os dedos, sem fazer um único
movimento para arrumá-los. Embora seu rosto parecesse tão jovem que muitas vezes ela era
confundida com a irmã mais velha de Nakajima, agora estava cheio de vincos e rugas, e ela parecia
quase vinte anos mais velha do que antes. Olhando para cima, a mãe de Nakajima o viu na frente
dela, e ela ficou boquiaberta com ele.

Assim que ela confirmou que aquele era mesmo seu filho, ela soltou um gemido como um grito de
angústia, correu para Nakajima e o abraçou loucamente, chorando o tempo todo.

Essa foi a primeira vez que Nakajima percebeu o quanto ele havia crescido mais alto do que sua
mãe. A diferença deve ter existido por vários anos, mas naquele período, morando com sua mãe
sem fazer o menor contato físico com ela, Nakajima realmente não a via como sua mãe no
verdadeiro sentido. Mas pela primeira vez ele estava começando a sentir essa realidade, e de
repente sentiu um grande amor por ela.

Enquanto dava tapinhas nas costas de sua mãe soluçante, Nakajima falou suavemente com ela.

"Me desculpe mamãe..."


Parte 1: Capítulo 5

Ao mesmo tempo em que Isma fazia seu primeiro encontro casual com Ohara, um estrangeiro
visitava o escritório do secretário-chefe do gabinete na propriedade do primeiro-ministro.

"Tudo bem, Richard. Farei o possível por seu amigo, Dr. Feed." O secretário-chefe do gabinete,
Fujita, desligou o telefone e, perplexo, olhou para o estrangeiro sentado em seu sofá com olhos
firmes por trás dos óculos. Pressionando um botão em seu interfone, ele deu uma ordem rápida -
"Envie Narukawa das Forças Especiais, Segunda Unidade" - e se levantou com um suspiro.

"Dr. Feed, acabei de aceitar um pedido do assessor do presidente Richard para atender às suas
necessidades."

"Obrigado." O homem branco alto e magro levantou-se apressadamente do sofá. Ele tinha cabelos
brancos imaculados e uma barba branca para combinar. Ele era Charles Feed, professor do ITM e
fundador do JSI.

"Não há necessidade de pressa - espere um minuto, Dr. Feed." Tentando conter seu convidado
com um sorriso desajeitado, Fujita sentou-se no sofá em frente ao de Feed.

"Por que alguém tão famoso como você se interessou por um relatório de pessoas desaparecidas
de uma escola aleatória em nosso país? Estou tendo problemas para entender por que alguém tão
importante quanto o assessor do presidente estaria se envolvendo nisso..."

"Mesmo se eu tentasse explicar o porquê, duvido que você acreditasse em mim."

Falando em um japonês impecável, a expressão de Feed se anuviou. Nesse momento, houve uma
batida na porta.

"Entre."

Enquanto Fujita se virava e dava sua ordem, um homem pequeno e delicado entrou na sala,
fechando a porta atrás de si.

"Deixe-me apresentá-lo a Narukawa do Serviço de Inteligência Você não será capaz de conduzir
uma investigação muito facilmente pelos canais oficiais da polícia. Quando este homem estiver com
você, posso garantir que você será capaz de ir aonde você precisar livremente."

Quando Fujita terminou sua apresentação, Narukawa estendeu sua mão direita em saudação.
Havia cicatrizes de queimaduras nas costas pálidas de sua mão.

"É um prazer, Sr. Narukawa." No instante em que Feed agarrou a mão de Narukawa, ele ergueu os
olhos como se um raio de eletricidade tivesse atravessado seu corpo.

"Narukawa é um mestre em todos os tipos de artes marciais. Ele também servirá muito bem como
seu guarda-costas." Com as palavras de Fujita, Narukawa olhou para Feed com um sorriso destemido
em seu rosto esguio.
Parte 1: Capítulo 6

O dia seguinte chegou. As fileiras de árvores de Musashino, banhadas pela luz escaldante do sol,
passavam em um movimento deslizante do lado de fora do Cadillac rumo em direção ao Colégio
Jusho.

"Este é todo o material que você tem sobre Nakajima Akemi?" Sentado no banco de trás do carro,
Feed falou com o detetive Iwama, de barba por fazer, sentado ao lado dele.

"Sim. Ele é apenas um estudante comum do ensino médio, então não há muito mais que
possamos encontrar sobre ele. Mas Dr. Feed, você realmente acha que Nakajima é o líder por trás de
todo o incidente?" O detetive Iwama não aprovava que esse americano, claramente algum tipo de
cientista, interferisse em sua investigação.

"De certa forma, imagino que ele seja realmente uma vítima. Mas ele certamente desempenhou
um papel muito importante no incidente."

"Você tem alguma evidência para provar isso?" A voz de Iwama mal escondia sua irritação.

Nós investigamos cada um dos alunos há muito tempo. É verdade que Nakajima Akemi parecia ser
um aluno incomum, mas não havia evidências de que ele tivesse tendências violentas. Os professores
também pareciam ter uma boa opinião sobre ele.

Mas Feed não estava prestando atenção à atitude de Iwama e, em vez disso, estava ocupado
folheando os materiais em suas mãos.

"Os registros que ele deixou no banco de dados online que eu gerencio são a prova. A hora em
que ocorreu o incidente no colégio Jusho foi..."

"No horário japonês, era 13 de julho, entre 10 e 12 da manhã", Narukawa, que dirigia, interveio
com uma voz sem emoção.

"Nesse exato momento, Nakajima estava tentando falar com a IA, Craft, localizada em meus
servidores em Arkham, em Massachusetts."

"O quê!? Se você tinha uma informação tão crítica, porque não nos contou antes... Não, desculpe,
desculpe a explosão. Presumo que você vai liberar essa informação para nós?"

"Estou aqui precisamente porque essa informação não é algo que possa ser divulgado tão
facilmente." A voz de Feed estava calma e serena.

"Mas isso é uma investigação..." Quando Iwama se inclinou reflexivamente à frente, o carro
diminuiu a velocidade repentinamente e ele caiu para a frente. O Cadillac preto parou em frente ao
portão do Colégio Jusho.

Iwama entrou na sala de informática acompanhado de Narukawa e Feed, fez uma careta com o
calor e o mau cheiro da sala e explicou a situação quando o incidente ocorreu.

"Então, você ainda não conseguiu identificar essa matéria?" Reunindo um pouco da substância
pegajosa grudada em alguns dos escombros em uma placa de petri com movimentos bem treinados,
Feed questionou o detetive.

"Infelizmente, ainda não..." O rosto de Iwama estava sombrio.


Naquele momento, um pequeno som de um transmissor tocou no braço de Narukawa.

"Parece que recebi uma mensagem do QG. Com licença por um momento." Como de costume,
Narukawa não mostrou desperdício em seus movimentos. O rosto do instrutor encarregado da sala
de informática espiava da sala de máquinas.

"Eu preparei o computador do servidor. Por favor, venha por aqui." O ar-condicionado ligou e o ar
frio finalmente começou a soprar pela sala que parecia uma sauna.

"Suas máquinas são IBMs, pelo que vejo." O Feed começou a analisar o conteúdo dos programas
no computador do servidor com a velocidade de alguém familiarizado com sua operação. Enquanto
seus dedos ossudos batiam nas teclas, uma enorme lista de programas preenchia a tela.

"'MATEMÁTICA 1.' Não é isso que eu quero!" Uma marca vermelha foi anexada ao programa que
ele estava analisando.

Pensando bem, provavelmente deveríamos ter checado o conteúdo do computador... Enquanto


olhava para Feed, absorto em seu trabalho no computador, com um olhar de esguelha, Iwama
secretamente se arrependeu de não ter feito isso antes.

"'LEITOR DE INGLÊS 2.' Também não é isso que eu quero!"

Os olhos de Feed continuaram a percorrer a lista de programas como um falcão, até que ele
finalmente abaixou os ombros com um suspiro.

"Talvez o programa que eu quero ver não esteja aqui. Pode ter sido anexado ao próprio sistema
operacional. Posso dar uma olhada no manual de operação deste sistema?"

"Se precisar do manual, a gente guarda na Sala dos Professores..." O professor responsável pela
sala de informática parecia perplexa.

"Espere. Espere um minuto aqui ..." Aparentemente descobrindo algo que ele havia esquecido,
Feed lançou um olhar inquieto para o professor e Iwama.

"Ninguém tocou neste sistema desde o incidente, certo?" Feed disse em um tom cético.

"Por uma questão de procedimento policial adequado, colocamos esta sala fora dos limites ..."
Não sendo capaz de responder diretamente à pergunta de Feed, Iwama olhou para o professor de
maneira acusatória.

Nesse exato momento, Narukawa, que havia entrado em algum momento, entregou um
memorando a Feed.

"Nakajima voltou."

No momento em que seus olhos leram o pedaço de papel, a expressão de Feed se iluminou.
Parte 1: Capítulo 7

Enquanto Feed estava no Colégio Jusho, um homem do Serviço de Inteligência que se


autodenomina Saga estava visitando o prédio de apartamentos de Nakajima no Bairro Suginami

Ele estava impecavelmente vestido e sua fala e maneirismos eram de um cavalheiro. Mas a mãe
de Nakajima, que atendeu à porta, nunca tinha ouvido falar de nenhuma organização chamada
Serviço de Inteligência antes. Pela aparência do homem, parecia que essa organização tinha muito
mais poder do que apenas a polícia. Como essas pessoas tinham qualquer ligação com o filho dela,
Akemi?

"Senhora, nós realmente precisamos de sua ajuda em nossa investigação. Pelo bem de Akemi
também..."

A mãe de Nakajima não ouviu nada de seu filho sobre o que aconteceu com ele na escola Jusho
naquele dia. Mas desde aquele dia em que ele praticamente se materializou do nada na sala de estar
deles, ela sentiu um calor nos olhos de Nakajima que não havia antes. Eram olhos gentis, cheios de
bondade que olhavam para ela em busca de ajuda e, no entanto, também estavam lá para protegê-
la. Ele não disse nada; em vez disso, ele apenas ficou sentado com ela depois que apareceu,
pensando profundamente em algo. Ela se esforçou para suprimir sua vontade de perguntar o que
havia acontecido com ele enquanto ele estava desaparecido. Por alguma razão, ela teve a sensação
de que Akemi iria para longe novamente se ela o fizesse. Finalmente, como se tivesse reunido seus
pensamentos, Akemi se levantou e se trancou em seu quarto, caindo em um sono profundo assim
que sua cabeça encostou no travesseiro. Mas isso foi o suficiente para sua mãe. A intuição de sua
própria mãe lhe dizia que ele havia passado por algo terrível naquela curta semana em que esteve
fora.

Não sei o que aconteceu com ele. Mas pelo menos Akemi não me abandonou. A mãe de Nakajima
sentiu um novo amor por seu filho do fundo do coração.

Não vou deixar ninguém ameaçar Akemi, independente de quem seja!

Sem saber o que fazer diante do olhar severo dessa mulher, o homem que se autodenominava
Saga procurou no bolso da camisa um maço de cigarros.

"Me desculpe, mas você poderia me emprestar um cinzeiro?"

No momento em que ele abriu a boca, a campainha tocou. A mãe de Nakajima imediatamente se
levantou e pegou o interfone pendurado na parede.

"...Sim. Seu colega acabou de chegar. Espere um minuto, vou deixá-lo entrar."

Franzindo os lábios como se estivesse tomando uma decisão, ela se dirigiu para o hall de entrada.
Sorrindo amargamente, o homem devolveu o cigarro à caixa e a seguiu.
Parte Dois: Acelerando

Parte 2: Capítulo 1

Situada entre a cidade de Musashino, na área metropolitana de Tóquio, e a cidade de Mitaka, há


uma área arborizada de 6.600 metros quadrados de tipos mistos de árvores chamada Floresta Soga.
Com uma densa vegetação de lariços e faias antigas crescendo em padrões irregulares, esta floresta
é um bom lugar para as crianças brincarem durante o dia.

No entanto, as crianças que brincam nessas matas nunca chegam perto do pântano cheio de
caniços verde-escuros e outras plantas aquáticas que fica num canto da mata. Mas isso não ocorre
apenas porque seus pais os proíbem terminantemente de qualquer tipo de brincadeira arriscada na
água. A aura misteriosa emitida pela velha casa delapidada de estilo ocidental que estava lá envolvia
todo o pântano, assustando todos que ousavam se aproximar.

A casa originalmente pertencia a um ex-criminoso de elite da Segunda Guerra Mundial, e o


infortúnio se abateu sobre todos os que a possuíam depois disso. Desde que a última família que ali
viveu foi brutalmente massacrada por assaltantes, ela ficou intocada, sem ninguém ousando se
mudar.

Era mais provável que a elevada sensibilidade de Isma como mágico o tivesse levado a escolher
esta mansão entre os lugares que Shimazaki havia proposto como um lugar para invocar o demônio.

As paredes de concreto frio do depósito subterrâneo estavam completamente expostas. Um


cheiro fraco e estranho exalava de um canto. A lâmpada fluorescente no teto iluminava a tinta
preto-avermelhada ainda não seca do símbolo bizarro pintado no chão. Era um padrão geométrico
misterioso, muito parecido com uma representação abstrata do olho de um pássaro. Em seu centro
havia um grande computador. Do computador estendia-se um cabo de cinco metros de
comprimento, conectando-se a um teclado e display no meio de um Hexagrama de Salomão.

"Os preparativos para a convocação de Set estão completos..." A voz fria de Isma ecoou nas
paredes de concreto enquanto ele encarava a tela. Pouco antes, aquela tela exibia pictogramas que
pareciam hieróglifos egípcios.

Shimazaki, que estava parado em um canto do Hexagrama de Salomão, lambeu os lábios e olhou
para a tela, seus olhos cheios de expectativa e inquietação ao mesmo tempo.

Os dedos ossudos de Isma começaram a bater nas teclas. O disco rígido soltou um gemido quando
começou a girar lentamente e um padrão ininteligível começou a piscar na tela. Logo a tela ficou
preta e, após um instante de silêncio, um terremoto retumbou, sacudindo os próprios alicerces da
mansão. Os olhos de Shimazaki percorreram a sala aterrorizados, mas Isma não deu sinais de prestar
atenção nele.

"Ele está aqui!" Enquanto Isma gritava, o chão ao redor do computador começou a rachar e uma
luz brilhante brilhou nas pequenas fissuras. Um miasma começou a vazar das rachaduras, mas o
interior do Hexagrama de Salomão foi protegido de ser afetado.

Atualmente, uma voz rouca e contorcida saiu dos alto-falantes.

"Quem me chama?"
"Eu sou teu romet, Isma Feed."

"Eu não conheço esse nome." A voz, soando como se ecoasse das entranhas do Inferno,
aterrorizou Shimazaki, que caiu no chão com medo, encolhendo-se atrás da cadeira de Isma.
Afastando cruelmente as mãos, Isma se levantou, como se desafiasse a exibição.

"Saiba que pretendo unir forças com você, filho de Nut, e conquistar o mundo de Assiah."

"..."

Por algum tempo, o silêncio encheu a sala.

O disco rígido começou a girar furiosamente, indicando que estava lidando com uma grande
quantidade de dados. Então a voz baixa ecoou pela sala novamente.

"O que você me oferece?"

"Qualquer coisa que você desejar. No entanto, apenas se você me emprestar seu poder."

"Você, um mero humano, se atreve a se considerar meu igual?"

"Realmente. Não há ninguém além de mim que possa te chamar para o mundo de Assiah."

"Que insolente..."

Quando o ar ao redor do computador começou a brilhar como se estivesse em uma névoa de


calor, uma onda devastadora atacou Isma. Diante da imensa força daquela onda de raiva, até Isma
deu um passo para trás. As vigas de ferro que sustentavam o teto dobraram-se como um arco, e os
tubos fluorescentes das lâmpadas estilhaçaram-se e caíram no chão como pó. Shimazaki caiu de
bruços no chão, com as mãos sobre a cabeça como se para protegê-la. Mas Isma não demonstrou
medo do computador e simplesmente continuou olhando para ele.

"Set, você acha que eu não sei o quanto você deseja o mundo de Assiah?" Ao som de sua voz
suave, o vento feroz diminuiu.

"Suas lendas ainda são conhecidas até hoje - como você matou seu irmão mais velho Osíris, como
virou todos os outros deuses liderados por Hórus contra você, e como você lutou contra todos eles e
sobreviveu - tudo para fazer o mundo de Assiah somente seu."

"Então, o que você quer dizer...?" Houve alguma hesitação na voz de Set.

"Eu tenho a tecnologia para quebrar as leis que prendem você e sua espécie. Unir forças comigo
seria muito benéfico para você também, não é?"

"Isma, ou quem quer que seja você, juro em nome de Nut firmar um contrato com você." A voz de
Set reverberou por toda a sala.

Para um demônio jurar em nome de um nível acima dele indicava um vínculo absoluto e
inquebrável. O rosto de Isma se iluminou com um sorriso vitorioso.

"Set, diga-me o que você deseja."

"Você jura não unir forças com nenhum demônio além de mim?"

"Muito bem. Se tu jurares a Nut não unir forças com nenhum humano além de mim."

O demônio Set e Isma começaram a entrar em detalhes para formar um contrato concreto.
Parte 2: Capítulo 2

Depois de retornar ao mundo material da câmara funerária de Izanami, Nakajima enfraqueceu


visivelmente e, sob a proteção do Serviço de Inteligência, ele foi internado no Hospital Kuniritsu-
Musashino, onde Charles Feed o interrogou.

"Acho que isso cobre tudo o que aconteceu, Dr. Feed." Sentando-se na cama, Nakajima falou com
uma voz cansada antes de ficar em silêncio. Seu rosto estava bonito como sempre, mas seu olhar
parecia um tanto vazio.

Sentado em frente a Nakajima, Feed percebeu o que estava acontecendo. Parte de sua psique se
recusa a despertar. Ele provavelmente não quer enfrentar o fato de que o demônio que ele convocou
matou todos os seus colegas de classe.

"Eu realmente não sei o que dizer... se ao menos eu estivesse na América quando você convocou o
demônio pela primeira vez e contatou Craft, isso nunca teria acontecido. No entanto, isso não muda
o fato de que você cometeu um crime grave. Se a lei pode ou não fazer alguma coisa sobre isso, no
entanto..." Feed olhou para Narukawa, que estava sentado em um canto da sala, ouvindo
atentamente.

"É difícil estabelecer qualquer prova de instigação de assassinato. Ele só pode ser acusado de uso
indevido de um computador."

Capturado pelo olhar de Feed enquanto olhava para o perfil de Nakajima, Narukawa deu uma
interpretação legal um tanto forçada da situação.

Algo parecia estranho sobre Nakajima; Narukawa sentiu uma sensação estranha, como se tivesse
encontrado um amante ou parente há muito perdido de quem havia se separado há muito tempo. A
princípio ele pensou que tinha apenas sido atingido pela aparência do menino, mas com o passar do
tempo, percebeu que era algo diferente, como um sentimento bizarro e antinatural de nostalgia.

Não consigo identificar, mas tenho certeza de que conheci esse garoto em algum lugar...

No entanto, não importa o quanto ele quebrasse a cabeça, Narukawa não conseguia pensar em
outro momento em que já tinha visto Nakajima antes.

"Eu nunca teria esperado que um gênio capaz de invocar demônios com um computador nascesse
aqui no Japão..." O murmúrio de Feed quebrou a estranha sensação de déjà-vu de Narukawa.

"Acho que é menos uma questão de minha habilidade e mais que as condições na cidade de
Tóquio sejam boas para convocar demônios. Tenho certeza de que existem muitos programas
escritos com o mesmo conceito no exterior, mas nunca ouvi falar de um exemplo de qualquer um
deles trabalhando." As palavras de Nakajima eram frias e controladas, como se ele estivesse falando
de outra pessoa.

"Na mesma nota, onde está o programa Demon Summoning agora?"

"Deve estar no computador servidor do Colégio Jusho..."

"Qual era o nome do arquivo?"

“É ‘DEMON’.”
Feed e Narukawa se entreolharam. Nakajima entendeu o significado de seu olhar
instantaneamente.

"Alguém deletou, não foi?"

"Quem além de você teria sido capaz de fazer isso?"

"Ohara, eu aposto."

Quando Nakajima respondeu, Narukawa interrompeu a conversa.

"Vou procurar logo Ohara. Não estou dizendo que acredito em tudo o que Nakajima está dizendo,
mas definitivamente parece que Ohara tem a chave para este quebra-cabeça."

Quase como se estivesse trocando de lugar com Narukawa quando ele abriu a porta do quarto, a
mãe de Nakajima olhou para dentro.

"Sr. Feed, já faz mais de uma hora. Akemi ainda não está bem. Será que posso pedir que volte
outra hora?"

Feed balançou a cabeça e falou com determinação. "Sinto muito, Sra. Nakajima, mas pelo bem do
seu filho, é importante que eu termine minha conversa com ele."

"Mãe, está tudo bem." Com a insistência do filho, a mãe de Nakajima saiu com ar de reprovação,
mas mesmo depois que ela saiu, sua silhueta no vidro fosco mostrava que ela estava tentando ouvir
a conversa.

Sorrindo amargamente, Feed falou em voz baixa diretamente no ouvido de Nakajima.

"Você vai trabalhar junto comigo, certo?"

"Sim claro."

"Então, por onde você acha que devemos começar?"

"...Hmm. Acho que a melhor coisa a fazer para começar seria reescrever o programa Demon
Summoning." Enquanto Nakajima sussurrava, havia uma espécie de vazio em sua expressão.

Parte 2: Capítulo 3

1º de agosto, meia-noite.

A sala de armazenamento subterrâneo parecia um pouco pequena agora, com o enorme


supercomputador que agora havia sido instalado lá. Isma estava fazendo grandes melhorias no
programa Demon Summoning que Ohara havia roubado. Claro, ele também tinha as habilidades dos
engenheiros de software sob o controle de Shimazaki à sua disposição. Ainda assim, materializar o
Set "digital" provou ser mais difícil do que o esperado.

"Saint, como está indo? Houve algum progresso?" A voz de Shimazaki soou um tanto impaciente.

"Este programa tem muitos defeitos! Invocar um demônio é um processo de duas etapas;
primeiro você precisa criar um campo magnético para invocá-lo e, em seguida, pode ajudar a dar-lhe
uma forma. No entanto, este programa completa o processo de forma confusa e complicada!"
"Mas o demônio chamado Loki não era capaz de tomar um corpo usando esse programa?"

" Set é muito mais poderoso do que Loki, a quantidade de dados necessária para processar é
gigantesca em comparação. "

Além disso, se você tentar executar o programa diretamente, os demônios de baixo escalão
misturam seus dados com Set, tornando ainda mais difícil fornecer a ele uma forma. Estou tentando
adicionar minhas próprias melhorias para lidar com os dados com mais eficiência, mas ainda não é
suficiente para dar um corpo a Set. De qualquer forma, para começar, vou tentar separar e
materializar esses demônios de baixo escalão primeiro."

Sentado no meio do Hexagrama de Salomão, Isma começou a digitar no teclado. A fita magnética
começou a estalar quando as bobinas começaram a girar e o visor começou a piscar
descontroladamente. Logo, um cheiro almiscarado encheu a sala.

"Yod, Heh, Vav, Heh." Quando a voz baixa soou, uma gota branca leitosa se formou no visor.

"Ah, finalmente!" Sem mover uma polegada, Isma e Shimazaki olharam para a tela. À medida que
a condensação aumentava até parecer cobrir a tela, ela deslizou para o chão. Duas minúsculas
cobras brancas, pequenas o suficiente para caber na palma da mão, começaram a deslizar pelo chão.
Quando Shimazaki começou a se curvar na direção deles, com uma expressão de suspeita no rosto,
Isma gritou com ele.

"Não chegue perto deles! Se você valoriza sua vida, claro!"

"O que são essas cobrinhas insignificantes?" Shimazaki perguntou, com clara insatisfação em sua
voz.

"São Apeps, serpentes venenosas que servem a Set."

"Que tipo de poder pequenas cobras como essas poderiam ter?"

"Apeps entram nos corpos dos humanos, dissolvem suas medulas espinhais com seu veneno e
então os substituem por seus próprios corpos, tornando-se o sistema nervoso da vítima e
controlando-os completamente."

"A-ah, é...?" Shimazaki engoliu em seco e deu um passo para trás.

"Apeps são como receptores que Set pode usar para controlar humanos a longa distância.
Dependendo de como são usados, eles podem ser mais úteis do que qualquer tipo de poder bruto,
não importa o quão grande..." Com os olhos semicerrados, como se estivesse olhando joias
preciosas, Isma observava as duas pequenas víboras ondulantes.

No segundo andar da mesma mansão, Ohara estava em um quarto de cerca de 15 metros


quadrados sem outros móveis além de uma cama. Abrindo as cortinas da janela, ela viu a lua
refletida na água entre os juncos do pântano. De frente para a lua, Ohara sussurrou.

"Loki...."

Ohara não tinha casa para onde voltar. De acordo com o relatório de um dos subordinados de
Shimazaki, eles estavam investigando a casa dela em conexão com o incidente no colégio Jusho.

Ninguém sabe a verdade. Não, mesmo que alguém contasse a eles, eles nunca acreditariam.

Como se respondesse ao seu chamado, o embrião dentro dela se moveu.


Um feto com menos de três meses como este geralmente chuta tanto? Posso estar dando à luz
uma criança com uma quantidade insondável de poder. Como é filho do Loki, tenho certeza que ele
será lindo....

Fechando as cortinas e afastando-se da janela, Ohara sentou-se na cama. Ficar sentada sozinha à
noite assim sempre fazia seus pensamentos se voltarem para Loki.

É difícil acreditar que apenas alguns meses atrás eu esperava me casar como uma pessoa normal.
Loki, onde você foi...

Sua intuição lhe disse que o demônio que ela amava estava morto. No entanto, ela não queria
admitir isso. Ela não podia acreditar que alguém no mundo pudesse substituir Loki.

Nakajima, Shirasagi, se vocês ainda estiverem vivos, eu vou fazer vocês sofrerem como eu sofri!

Ohara mordeu o lábio até sangrar. Embora ela não tivesse percebido quando isso aconteceu,
escamas verdes começaram a crescer nas costas da mão. Em algum momento, o poder demoníaco
começou a fluir pelo próprio corpo de Ohara.
Parte 2: Capítulo 4

Espremido entre muitos computadores e instrumentos eletrônicos, um quadro branco coberto de


fórmulas matemáticas de aparência complicada dominava uma sala no novíssimo Laboratório
Nacional de Pesquisa Elétrica (também conhecido como Electric Labs) atrás do Parque Shinjuku, em
Tóquio. Ao redor de uma mesa com um terminal, destacava-se visivelmente um círculo taumatúrgico
carmesim pintado no chão. Esta era a Sala do Projeto de Demon Banishment, construída pelo
Professor Feed a pedido direto do Secretário-Chefe do Gabinete. Claro, não havia como eles
nomearem oficialmente o projeto como "Demon Banishment", e um cartaz preso à porta dizia "Nova
Sala de Projeto IA", abreviação de "Inteligência Artificial".

Uma semana antes, tarde da noite, Feed visitou o secretário-chefe do gabinete, Fujita, junto com
Narukawa e o totalmente recuperado Nakajima. Enquanto contornava a culpa pessoal de Nakajima
no incidente, Feed explicou os detalhes da situação ao secretário - como Nakajima lutou com um
demônio convocado por um computador e como o incidente representava um perigo potencial para
o futuro.

No entanto, a resposta do secretário Fujita não foi nada complacente.

"Mesmo vindo de um brilhante cientista do ITM como você, não se pode esperar que eu acredite
em demônios." Atrás dos óculos, os olhos de Fujita exibiam uma expressão de surpresa e confusão.
"Bem, pelo menos, há muitas pessoas no governo dos Estados Unidos que acreditam nessa
possibilidade." Feed encolheu os ombros.

"Já estamos com pouca ajuda, e já indiquei nosso investigador de elite para ajudá-lo..." Fujita falou
sarcasticamente, mal escondendo sua irritação.

Narukawa, que havia permanecido em silêncio ouvindo até este ponto da conversa, falou de
repente.

"Nakajima, você poderia nos mostrar o Kerberos?"

"Claro."

Com movimentos hábeis, Nakajima puxou seu computador de mão e seus dedos começaram a
voar pelo teclado. Os pés de Fujita, que batiam impacientemente, pararam instantaneamente
quando uma estranha névoa começou a sair do visor de cristal líquido. Rapidamente a névoa se
condensou no contorno de uma besta de outro mundo. Quando um rugido violento sacudiu o
escritório, Fujita se viu encarando dois olhos como chamas.

"O que é...!?"

"Isso é um demônio, secretário Fujita. Embora esse demônio seja obediente, ferozmente leal a seu
mestre Nakajima."

Abalado pelo rugido de Kerberos, Fujita acenou com a mão como se estivesse tentando dizer "OK,
entendi!"

O primeiro trabalho do Projeto Demon Banishment foi recriar o Demon Summoning Program que
havia sido excluído do computador do servidor do colégio Jusho por alguém. Isso em si foi fácil para
Nakajima. Vários dias depois, enquanto Nakajima examinava o programa quase completo, linha por
linha, para verificá-lo, Feed gritou atrás dele.
"Como ele é comparado à versão antiga?"

"Parte das sub-rotinas da linguagem de máquina podem ser diferentes, mas, na maior parte,
devem ser as mesmas." A voz de Nakajima estava ligeiramente abatida. Pode ser que, no fundo, ele
não quisesse mais ter nenhuma associação com demônios.

"Quer tentar?" Entrando no círculo taumatúrgico vermelho pintado no chão com tinta à base de
sulfeto de mercúrio, Feed falou casualmente.

"OK."

Quando o computador foi iniciado, um odor almiscarado começou a encher a sala. Um estrondo
baixo encheu o prédio novo em folha e rachaduras surgiram nas paredes brancas.

"Se um demônio aparecer, eu cuidarei disso." Em sua mão direita, Feed segurava uma cruz
ornamentada. Percebendo a sinceridade do homem, Nakajima lançou um sorriso genuinamente
amigável em sua direção pela primeira vez. Mas o estrondo começou a diminuir e o cheiro
almiscarado começou a diminuir.

"Existe algum tipo de erro no programa?" Nakajima olhou para Feed como se procurasse uma
resposta.

"Acho que não. Pelo que acabei de ver, não há dúvida de que um campo magnético adequado
para invocar um demônio foi criado. Pode ser que a razão pela qual nenhum demônio apareceu foi
que ele pode ter aparecido no mundo Assiah através de um campo magnético diferente."

"Ainda há alguns detalhes sobre o mecanismo de invocação de demônios que eu realmente não
entendo ainda."

"Palavras incomuns, vindas do gênio que foi o primeiro a invocar com sucesso um demônio por
meio de um computador." Feed sorriu amplamente, mas sua expressão logo ficou séria quando ele
olhou diretamente para Nakajima.

"O último demônio a aparecer chamava a si mesmo de Set, correto?"

"Sim está certo."

"Embora seja muito perigoso tentar conjeturar o estado de coisas no mundo dos demônios com
base em nosso próprio conhecimento deste, minha teoria é que o mundo dos demônios é como um
conglomerado coloidal de incontáveis mini-universos, cada um centrado em torno de um demônio
poderoso. Provavelmente, com a morte de Loki, o mini-universo em contato com o Japão ou Tóquio
desapareceu, e o mini-universo de Set entrou para tomar seu lugar. A invocação de demônios está
apenas abrindo um ponto de contato entre os dois mundos ao mesmo tempo."

"Então, o que aconteceria se dois pontos de contato fossem abertos ao mesmo tempo?"

"O demônio decidiria onde queria aparecer. No entanto, existem alguns exemplos em registros
medievais de invocações de demônios que relatam que quando a diferença de força dos dois
campos magnéticos era grande o suficiente, o demônio seria puxado para o campo mais forte,
independentemente de para onde ele queria ir..."

Uma batida na porta interrompeu a explicação de Feed. Carregando uma pilha de livros grossos,
Narukawa fechou a porta atrás de si enquanto se aproximava dos dois.
"Existem cerca de 6.000 computadores na grande área metropolitana de Tóquio capazes de
invocar um demônio. Usando um grande número de investigadores, este é o número de locais que
poderiam ser pesquisados em detalhes em um mês."

Desde que o projeto foi oficialmente iniciado, enquanto continuava tentando rastrear Ohara,
Narukawa vinha investigando locais com computadores de tamanho médio ou maior instalados, de
olho em hardware capaz de invocar demônios.

"Entendo. Você fez algum progresso para encontrar Ohara?"

"Infelizmente, não. Porém, há algo que gostaria de lhe perguntar..." Baixando a voz, Narukawa
olhou para Feed.

"O que é?"


"Professor, você conhece um homem chamado Isma Feed?" No instante em que o professor ouviu
o nome, Nakajima notou sua expressão nublada.

"Onde você ouviu esse nome?"

"Recebemos um comunicado do FBI de que Isma entrou furtivamente no Japão."

"Isso é ruim. Como você sabe, na encarnação de uma serpente, Set era poderoso o suficiente para
enfrentar e lutar contra todos os deuses egípcios sozinho. Se Isma unisse forças com alguém como
ele... " Sem explicar quem era Isma, Feed virou-se para a janela e olhou para fora com olhos
desfocados.

Parte 2: Capítulo 5

No segundo andar do prédio de oito andares, próximo à residência oficial do presidente do


conselho de Nagatacho, ficava o escritório de um certo Ota Masaru, secretário-chefe do Partido
Liberal. Embora já passasse de uma hora da manhã, Ota estava sentado em sua cama em seu quarto
particular além do escritório, agarrado ao telefone como fazia há mais de uma hora. Ele vinha
perdendo muito sono pensando se a Lei de Proteção de Segredos Nacionais iria ou não passar ou
não. Seu rosto de papada de buldogue estava cheio de sinais de fadiga acumulada.

"Você mesmo defendeu a importância de aprovar a Lei de Proteção de Segredos Nacionais; seria
um desperdício mudar de ideia agora!" A voz de Ota soou um pouco rude.

"Agora que o presidente do comitê, Matoba, está contra o ato, não posso concordar com isso.
Tente entender a posição difícil em que estou agora." A voz do outro lado da linha também estava
cansada. A julgar pelo fato de ter mencionado o presidente do Comitê Matoba, o orador
provavelmente era um membro do Parlamento do Partido Social-Democrata.

"Fiz o meu melhor para convencer Matoba. Se isso não for suficiente, então a única coisa que
resta para você é tentar convencê-lo você mesmo. Tenho certeza de que Matoba não é
imperturbável, desde que você concorde com uma divisão de poder entre as duas partes". Dizendo
tudo o que queria, o alto-falante desligou.

"Droga!" Batendo o receptor no telefone, Ota caiu de costas na cama e esfregou as pálpebras.
Respirando fundo, seu estômago inchado se expandiu como o de um sapo.

Nesse exato momento, houve uma batida na porta.

"Está aberto." Bocejando enquanto falava, Ota não fez nenhum esforço para se virar em direção à
porta. Ele fez um som de clique quando se abriu, e um rosto vermelho com um sorriso claramente
insinuante apareceu pela porta.

Era Shimazaki Ryunosuke.

"Não sei o que você quer a esta hora, mas não estou exatamente de bom humor." Apoiando-se na
cama, Ota virou a cabeça para o homem, os ossos do pescoço estalando ao fazê-lo.

"Há algo que eu gostaria de lhe dizer." Os olhos de Shimazaki estavam iluminados.

"Eu adoraria ouvir outro de seus esquemas para ganhar mais dinheiro, mas este não é o
momento. Eu tenho que fazer essa lei ser aprovada."

"Tentando marcar tantos pontos quanto possível enquanto secretário-chefe, para que você possa
ser o primeiro na fila para o suculento cargo de presidente do partido quando ele ficar vago, não é?"

"Hmph!" Ota olhou para Shimazaki com desagrado em seus olhos esbugalhados. Mas ele não
mostrou nenhuma reação ao homem.

"Você não tem nada com que se preocupar. Afinal, o presidente do Comitê Matoba do Partido
Social-Democrata vai mudar de lado e começar a apoiar a Lei de Proteção de Segredos Nacionais."

"O que você acabou de dizer...!?"

Ota levantou-se e, como se fosse provocá-lo, Shimazaki permaneceu em silêncio por um tempo.

"Estou dizendo que se você deixar tudo comigo, colocarei o Partido Social-Democrata do seu
lado."

"Se isso é uma piada, não tem muita graça. Você tem algum tipo de plano?" A voz de Ota tremia.
Parte 2: Capítulo 6

O presidente do Comitê de longa data, Matoba, do Partido Social-Democrata, morava em uma


mansão em uma área residencial a cerca de dez minutos a pé de Ikegami Honmonji. O moderno
edifício de concreto armado atrás das ombreiras cobertas de videiras contrastava fortemente com
os edifícios tradicionais de estilo japonês ao seu redor.

Enquanto Shimazaki fazia uma visita a Ota, um homem alto carregando o que parecia ser uma
mala fina saiu de um Cedric preto estacionado perto do portão. O homem estava em excelente
forma, mas seu comportamento parecia um tanto agitado e ansioso. Entrando no beco e deslizando
para trás da mansão de Matoba, ele abriu a tampa da mala.

Aparentemente, aquela mala era na verdade um notebook.

Digitando no teclado com movimentos incertos, um cristal em forma de gota borrou a tela de
cristal líquido da máquina. Logo o cristal se transformou em um líquido branco leitoso, que se
derramou no chão aos pés do homem e assumiu a forma de um Apep, o lacaio de Set. Erguendo a
cabeça esguia, o Apep deu uma rápida olhada ao redor antes de desaparecer silenciosamente
dentro da mansão de concreto.

Naquele momento, Matoba estava tirando uma soneca no sofá-cama do escritório ao lado de sua
sala. As pesadas bolsas pretas sob seus olhos desmentiam sua exaustão, provavelmente devido a
seus esforços ininterruptos para unir seu partido e impedir que a Lei de Proteção de Segredos
Nacionais fosse aprovada. Aproveitando o fato de que o cenário mundial estava se tornando cada
vez mais uma guerra de informação, as restrições do ato indicavam claramente que o Partido Liberal
estava se voltando cada vez mais para a direita. Como presidente do Partido Social-Democrata, foi
difícil para Matoba deixar passar.

Uma brisa tranquila soprou na sala através do ar-condicionado que Matoba havia deixado ligado.
Sem perturbar o som daquela brisa, a cobra entrou no quarto pela fresta da porta. Ele levantou a
cabeça, como se estivesse se fixando em sua presa. Seus pequenos olhos vermelhos olhavam para a
forma levemente roncando e adormecida de Matoba. Balançando seu corpo rapidamente, a cobra
branca deslizou pelo chão, subindo sem esforço no sofá-cama e mergulhando na gola V da camiseta
de Matoba, claramente exposta por sua gravata desabotoada.

No instante seguinte, sem qualquer hesitação, a serpente pálida mordeu o estômago gordo que se
expandia e contraía exageradamente diante dela. Como uma broca afiada, o corpo esguio da cobra
abriu um túnel no intestino de Matoba. Como se não sentisse dor alguma, Matoba continuou
dormindo pacificamente.

Mais ou menos um minuto depois, Matoba de repente se afastou do sofá-cama como se uma
onda de eletricidade de alta voltagem estivesse passando por ele, e seu corpo começou a ter
espasmos descontrolados.

No entanto, parecia que o Apep havia recuperado o controle total de seu sistema nervoso, pois
logo começou a roncar novamente e caiu em um sono profundo. Estranhamente, a ferida em seu
estômago havia selado como se curada por algum tipo de remédio mágico. Apenas momentos
depois, o som leve de um Cedric ao longe podia ser ouvido se afastando da frente da mansão de
Matoba.
Na manhã seguinte, Ota, que dormia como uma pedra em seu escritório em Nagatacho, foi
acordado por um mensageiro.

"Já está na hora da sessão plenária de hoje?" Enquanto os olhos sonolentos de Ota procuravam
seus óculos, a voz excitada do mensageiro interrompeu.

"O presidente Matoba do Partido Social-Democrata declarou seu apoio à Lei de Proteção de
Segredos Nacionais em uma coletiva de imprensa esta manhã. Parabéns, secretário-chefe. Agora a
lei está praticamente aprovada."

"O que!?" Como se não tivesse acordado completamente de um sonho, Ota balançou a cabeça
furiosamente.
Parte Três: A Invocação de Set

Parte 3: Capítulo 1

Os ares-condicionados no porão da mansão zumbiam a todo vapor, absorvendo o ar da Floresta


Soga, úmido da chuva do dia anterior, e encharcando o quarto com umidade espessa. Totalmente
concentrado em seu trabalho no teclado, Isma ouviu o som de passos na escada e se virou irritado.
Shimazaki entrou na sala, seus dentes amarelos desenhados em um largo sorriso.

"Os Apeps estão trabalhando esplendidamente."

"Claro que estão. Mas não se esqueça - qualquer corpo que os Apeps possuam não durará dez
dias."

Ignorando o aviso de Isma, Yamazaki continuou falando. "Sabe, o secretário-chefe do Partido


Liberal disse que gostaria de conhecê-lo..."

"Não tenho interesse em políticos japoneses insignificantes."

As palavras de Isma deixaram Shimazaki perplexo. Ele simplesmente sorriu de forma insinuante,
mas não desanimado, caminhou atrás de Isma para dar uma olhada na tela do computador.

"O que você está fazendo agora?"

"Embora eu tenha conseguido dar forma aos Apeps de Set, isso é apenas o começo. Até que eu
consiga dar um corpo ao próprio Set, será impossível conquistar verdadeiramente o mundo de
Assiah."

"Você certamente colocou suas ambições no alto, Saint. Ah, a propósito..." Baixando a voz,
Shimazaki puxou uma cadeira próxima e sentou-se ao lado de Isma.

"Nakajima aparentemente retornou."

Isma parou de digitar no teclado.

"Então isso significa que ele realmente derrotou Loki."

"Provavelmente. Aliás, há algo nas informações que obtive sobre ele que tem me incomodado..."
Shimazaki aproximou-se ainda mais de Isma.

"Eu ouvi rumores de que um homem chamado Charles Feed se juntou a Nakajima e está
trabalhando com ele para desenvolver um plano para lutar contra os demônios. Quem é ele?"

"Ele é meu irmão." Falando com uma voz sem emoção, Feed começou a digitar novamente.

"Oh. Bem, isso é uma estranha coincidência..." Shimazaki descobriu isso por si mesmo há muito
tempo, mas fingiu que não sabia.

"De qualquer forma, gostaria do seu conselho sobre como lidar com a situação atual."

Enquanto Shimazaki falava, Isma afastou seus dedos ossudos do teclado e lentamente olhou para
cima.

"Mande Ohara atrás dele."


"Hã?" Sem entender o que Isma queria dizer, Shimazaki ficou com uma expressão de perplexidade
no rosto.

Isma riu e falou com uma voz fria e implacável. "Embora seja melhor descartar quaisquer
responsabilidades, gostaria de ter uma noção de suas habilidades primeiro. No momento, Ohara
está mostrando sinais de demonização. Ela também é muito descartável, tornando-a ideal para
testar seu poder. Você não concorda?"
Parte 3: Capítulo 2

Enquanto isso, Yumiko estava aprendendo a controlar seu próprio poder com Izanami, a deusa
que a trouxe para Yomi. Embora ela tenha vivido a vida de uma garota comum por dezessete anos,
Yumiko herdou a constituição de Izanami. Isso, junto com a instrução adepta da própria deusa,
permitiu que Yumiko aprendesse a extrair o insondável poder que dormia profundamente dentro
dela, pouco a pouco, em um período de tempo muito curto.

Ela estava atualmente no meio do treinamento para aproveitar o poder psíquico uma vez
possuído pelos deuses antigos. Com apenas um espaço de dois metros entre elas, duas paredes de
pedra, quase perpendiculares ao solo, se encaravam, elevando-se para o céu. Yumiko estava
flutuando no ar, como se passasse por aquela lacuna. Sua pele branca começou a brilhar cada vez
mais com um brilho púrpura fosforescente. Com um estrondo como um trovão, o brilho aumentou
de intensidade. Yumiko, envolta naquela luz misteriosa e cercada por uma aura dourada atrás dela,
parecia o semblante sorridente do Buda Miroku. Logo, como se ela mesma tivesse se transformado
em uma partícula de luz, o contorno de sua forma começou a borrar e ficar indistinto.

Silenciosamente, Yumiko ergueu a mão direita. As nuvens de luz que cercavam seu corpo
começaram a se condensar na ponta de seu dedo. Yumiko baixou o braço com força. Ao fazê-lo, a luz
lançada de seu dedo disparou como uma flecha através do rochedo.

Um imenso rugido ecoou e um brilhante pilar azul de chamas brilhou no céu. Yumiko observou a
rocha gigante com uma expressão quase bêbada em seus olhos enquanto ela lentamente se
desintegrava em nada, como se estivesse em um vídeo em câmera lenta. Mas como se Yumiko
sentisse algo, de repente seus olhos se nublaram e ela começou a mergulhar em direção ao solo
cerca de vinte metros abaixo como um pássaro cujas asas foram arrancadas.

"Cuidado!"

Poucos momentos antes de Yumiko atingir o chão, um poder invisível a pegou e a trouxe
lentamente para o chão como uma pena caindo vagarosamente.

"O que há com você!?" Izanami, que estava ajoelhada ao lado de Yumiko, falou com severidade.

"Se isso é o melhor que você pode fazer, não consigo imaginar quando poderei mandá-la de volta
ao mundo humano..."

A deusa percebeu que os olhos de Yumiko tremiam como se estivessem aterrorizados e suavizou
seu tom.

"Você viu alguma coisa, não viu?"

"Sim. Alguém perto de mim gritando, e o cheiro de sangue..." Yumiko respondeu com a voz fraca,
seus lábios pálidos tremendo, drenados de sangue.

"Era a voz de Nakajima?"

"Não... era a voz da minha mãe."

Yumiko olhou para o céu ansiosamente. Além do som do vento soprando no vale, tudo estava em
silêncio. Mas Yumiko tinha certeza de ter ouvido sua mãe gritar.
"Izanami, será que algo terrível aconteceu com minha mãe?" A voz de Yumiko estava cheia de
emoção.

Yumiko pode ter previsto algo no futuro. No entanto, também havia a possibilidade de que seu
desejo de retornar ao mundo humano estivesse inconscientemente causando-lhe alucinações.
Izanami teve problemas para decidir se deveria ou não a devolver ao mundo humano.

Com a instrução direta de Izanami, Yumiko ganhou domínio dos poderes psíquicos o suficiente
para enfrentar os demônios por conta própria. Mas sua mente ainda era a de uma colegial de
dezessete anos. Como o que aconteceu hoje, se sua determinação vacilasse, poderia ter
consequências desastrosas. Além disso, Yumiko estava confiando demais em seu sentido de visão ao
usar seus poderes.

Ainda assim, sua imaturidade não é um problema que possa ser resolvido com apenas um pouco
de treinamento curto. O desejo dessa garota de voltar para Nakajima está atrapalhando seu
julgamento. Se ela estivesse com ele, isso poderia realmente ajudar a consertar suas deficiências.

"Você quer voltar para o mundo humano?" Izanami sorriu gentilmente para Yumiko.
Parte 3: Capítulo 3

Usando um vestido colorido de estilo chinês, uma mulher caminhou rapidamente da estação West
Eifukuna na linha Inokashira, seguindo um caminho que corria ao longo dos trilhos do trem. Seus
olhos castanhos escuros brilhavam com uma luz fantasmagórica na escuridão, acentuando sua
beleza. Logo a mulher parou em frente a um prédio baixo coberto de ladrilhos brancos. O nome
"Sanzhi Electric Residences" foi gravado na placa na entrada do prédio. Embora fosse um dormitório
corporativo, era muito bem conservado e tinha a escala de um prédio de apartamentos de classe
alta. Luzes quentes vindas de várias janelas do prédio de três andares e o som suave dos
compressores de ar-condicionado refletiam a calma e relaxamento dos inquilinos lá dentro.

A mulher olhou com malícia para um canto do último andar do prédio.

Shirasagi Yumiko, é só você assistir. Vou massacrar toda a sua família.

Os olhos de Ohara brilharam com uma aura verde, revelando o poder demoníaco dentro dela. Ela
lembrou como Yumiko feriu seu amado Loki na sala de informática. Embora Yumiko estivesse
realmente possuída por Izanami quando ela lutou contra Loki, para Ohara era tudo a mesma coisa.

Se algo aconteceu com Loki, a culpa é de Yumiko - não há outra maneira de encarar isso.

O ódio de Ohara por Yumiko ultrapassou em muito o dela por Nakajima. Embora Isma a tivesse
instruído a matar Nakajima, Ohara sugeriu que seria melhor primeiro atraí-lo atacando a família de
Yumiko; embora o plano tivesse mérito, era o ódio de Ohara por Yumiko que estava realmente por
trás de sua proposta.

Tentando acalmar suas emoções, Ohara cerrou os olhos. Logo, a expressão sombria em seu rosto
desapareceu, para ser substituída por um sorriso. Respirando fundo, ela começou a subir as escadas.

Assim que a campainha ecoou pela segunda vez, a porta se abriu ligeiramente, trancada com uma
corrente, banhando o caminho de concreto do lado de fora com luz. Uma mulher olhou pela fresta
com desconfiança para esse visitante noturno.

"Meu nome é Harayama, e sou do colégio Jusho. Sobre Yumiko..." Ohara não podia arriscar usar
seu nome verdadeiro.

A porta se fechou por um momento, e então com o som da corrente sendo desatada, ela se abriu
com astúcia. Uma mulher gorda de meia-idade estava parada na frente de Ohara, olhando para ela
com ansiedade em seus olhos.

"Obrigado por se dar ao trabalho de vir aqui no meio da noite... você descobriu alguma coisa
nova?" A mulher dificilmente se parecia com Yumiko; suas pálpebras duplas eram praticamente a
única característica que os dois compartilhavam. Sua altura de apenas 150 centímetros e corpo
rechonchudo a faziam parecer jovial e agradável. Por um instante, a hostilidade de Ohara foi
atenuada.

"Não fique parado aí fora! Entre!" A voz parecia vir mais longe, da sala de estar, mas então um
homem bonito com cabelos grisalhos prateados olhou ao redor. No instante em que Ohara viu o
homem, ela viu a semelhança com Yumiko em sua boa aparência, acendendo as chamas do ódio
dentro dela. Ela sentiu as escamas sob sua espessa maquiagem endurecendo.
"Sinto muito, eu só fiquei muito animada. Por favor, entre." Fazendo sinal para Ohara entrar, a
mãe de Yumiko trancou a porta. O homem estava voltando para a sala quando ouviu um barulho
estranho vindo do hall de entrada e se virou.

A visitante estava de costas para ele, agachada como se fosse talvez tirar os sapatos, e sua esposa
estava olhando para ela com choque em seus olhos.

"Ei, o que há de errado?"

Mas, em vez de responder ao marido, a mulher simplesmente ficou boquiaberta e jorrou sangue
da profunda ferida em sua garganta.

"Heh, heh, heh".

A mulher de costas para ele começou a rir. O pai de Yumiko assistiu enquanto sua esposa, com a
garganta rasgada em dois, desabou lentamente no chão do hall de entrada, agora um mar de
sangue, com um olhar de descrença em seu rosto.

"Gah ha ha ha ha!" A risada da mulher se transformou em uma gargalhada.

"S-sua bastarda...!" O homem aos poucos percebeu a gravidade da situação.

No entanto, a mulher lentamente se levantou e se virou, e o rosto dela congelou o pai de Yumiko
em seu caminho. Seu rosto de bronze estava emoldurado por cabelos negros, sua boca carmesim
ligeiramente aberta, seus olhos prateados brilhando com loucura, olhando para ele. A própria Ohara
ficou surpresa com a força de sua transformação. No entanto, ela estava parcialmente embriagada
com o misterioso poder que ganhou com o sangue de Loki correndo em suas veias. Suas mãos,
cobertas de escamas roxas, agarraram a garganta do homem, e ela o ergueu sem esforço no ar.

O rosto do homem começou a ficar roxo. No entanto, seu instinto primitivo de sobrevivência não
estava morto e, como um camarão, seu corpo tremia, suas pernas chutavam. Murmurando, Ohara
apertou mais forte. "Isso mesmo, lute. Lute o mais forte e em vão que puder."

"Guagh!" Com uma voz bizarra que só poderia vir de uma laringe sendo fechada, o corpo do
homem teve espasmos e ficou mole.

Nesse momento, a campainha ecoou por todo o apartamento. Muito provavelmente, o irmão
mais novo de Yumiko voltou para casa. Lambendo o sangue negro de suas garras afiadas como
navalhas, Ohara sorriu com o momento fortuito da chegada.
Parte 3: Capítulo 4

Na noite do dia seguinte, a mãe de Nakajima estava ficando irritada com o atraso do filho.

Mesmo que ele esteja ajudando na investigação, não consigo imaginar que eles precisariam tanto
da ajuda dele...

Ela olhou para o relógio; já passava das oito horas. Recentemente, Nakajima passou muito tempo
com Feed. Isso era de se esperar; sem ele, não havia chance do Projeto Demon Banishment se
concretizar. Mas a mãe de Nakajima não tinha como saber a verdade por trás da situação. O
professor Charles Feed do ITM dando as caras. O Serviço de Inteligência semelhante às Forças
Especiais, está se envolvendo. Todos os sinais apontavam para o envolvimento de seu filho em
algum tipo de caso grave e importante. Embora sua principal preocupação fosse que seu filho se
saísse bem nos exames de admissão à faculdade na primavera seguinte, ela não estava em posição
de incomodá-lo com um assunto tão insignificante.

“Tenho certeza de que no ITM, Akemi será capaz de fazer pesquisas que beneficiarão o mundo
inteiro. Por favor, deixe-me providenciar sua matrícula.” Se não fosse pelo pedido do professor
Feed, que soou meio sério, agora poderia ter tido um grande desentendimento entre ela e seu filho.

A campainha tocou.

"Ele finalmente voltou."

Mas a voz levemente anasalada do interfone afirmou ser um orientador do Colégio Jusho.
Olhando para o espelho e ajeitando levemente o cabelo, a mãe de Nakajima abriu a porta. Uma
mulher graciosa e sorridente estava na frente dela.

Ela é realmente uma professora? Imagino que nenhum de seus alunos ousaria desobedecê-la...

Vestida com um vestido colorido, seu corpo flexível certamente não parecia ser o que se esperaria
de uma professora.

"Há algo que eu acho que deveria falar com você sobre Nakajima." Ohara sabia exatamente o que
dizer para ganhar a confiança de seu alvo. Embora um pouco confusa com sua aparência
exageradamente espalhafatosa, a mãe de Nakajima sorriu educadamente e se preparou de chinelos.

"O lugar está uma bagunça, mas, por favor, entre."

A expressão de Ohara endureceu por um instante enquanto ela observava a mãe de Nakajima se
virar.

Ela se parece exatamente com Nakajima Akemi...

Tentando controlar suas emoções em cascata, Ohara mordeu o lábio.

Diante da mãe de Nakajima no sofá, a professora fez um comentário inesperado.

"Meu nome é Ohara. Eu estava mentindo quando disse que era uma orientadora, então peço
desculpas por isso."

"Hã...?" A mãe de Nakajima inclinou a cabeça com desconfiança.


Os olhos de Ohara se estreitaram enquanto ela observava a mulher à sua frente.

"Deduzo pela sua expressão que você não sabe quem eu sou." Havia uma tensão desconfortável
no ar entre elas.

"Você realmente se parece muito com ele." Murmurando, Ohara sentiu as escamas de suas
bochechas endurecendo sob a maquiagem.

"Dê uma olhada nisto." Falando com uma voz contida, Ohara estendeu as mãos em direção à mãe
de Nakajima.

"O que é isso...!?"

Escamas verdes deslizavam lentamente para fora da pele branca de suas mãos.

"Seu amado Akemi foi quem me transformou nisso." Os olhos de Ohara queimaram com uma
chama prateada.

"O que você quer dizer?" Perplexa, a mãe de Nakajima falou estridentemente; mesmo que ela
quisesse se levantar, era como se seu corpo estivesse preso ao chão e ela não pudesse se mover.

Uma pequena cobra branca enfiou a cabeça para fora da bolsa que Ohara havia colocado no sofá.
Sua cabeça chata virou e seus olhos vermelhos se fixaram na mãe de Nakajima.

A mãe de Nakajima pôs-se de pé. "Ah! O que é essa coisa? Quem é você...?"

A cobra branca deslizou rapidamente pelo chão até seus pés e habilmente começou a deslizar por
sua perna esguia.
Parte 3: Capítulo 5

Na mesma noite, Yumiko voltou de Yomi para sua casa pela primeira vez em anos, apenas para ser
saudada pelo fedor de sangue. Ela ficou imóvel, olhando para as poças de sangue no hall de entrada.

Por que... quem fez isso...

Caindo no chão, suas mãos escorregaram no lago de sangue abaixo delas. Os cadáveres mutilados
de sua mãe, pai e irmão mais novo jaziam diante dela. Talvez ela estivesse paralisada pelo choque
avassalador de emoção, mas Yumiko estranhamente não derramou uma lágrima. De repente, a
imagem de um rosto de mulher sarcástica apareceu diante de seus olhos.

"Ohara!" Os sentidos sobrenaturais aguçados de Yumiko captaram a fraca energia residual de sua
mãe e a amplificaram para uma imagem nítida.

"Foi você, não foi, Ohara!" O campo de visão de Yumiko ficou vermelho, sua tristeza se
transformando em raiva. Quando ela recuperou seus sentidos, ela se viu caminhando para fora.

"Yumi! Quando você voltou?" A dona de casa ao lado tinha acabado de subir as escadas, mas ao
ver o sangue pingando das mãos de Yumiko, deixou cair a sacola de compras em estado de choque.

Mas como se nem visse a mulher, Yumiko passou por ela, descendo as escadas como se fosse
sonâmbula. Logo depois, ela ouviu um grito penetrante atrás dela. Muito provavelmente a dona de
casa pela qual ela havia acabado de passar olhou para o apartamento de Yumiko e viu o banho de
sangue lá. Para Yumiko, tudo parecia algo que aconteceu em um sonho ou em um mundo distante.

Por que eu vim para Tóquio? Se eu tivesse ficado em Sapporo nada disso teria acontecido comigo...
Yumiko viu as árvores à beira da estrada onde ela morava três meses antes em Hokkaido
sobrepostas às linhas de gingkos à sua frente.

Nakajima, se eu nunca tivesse te conhecido...

Yumiko imaginou as belas feições de Nakajima em sua mente. Amor, malícia, irritação. Um
turbilhão de emoções incontroláveis percorreu seu corpo. Incapaz de resistir, Yumiko se agachou ao
longo da estrada. No minuto em que ela pensou em Nakajima, as lágrimas começaram a fluir
incontrolavelmente de seus olhos. Uma criança próxima olhou para ela com desconfiança e fugiu em
estado de choque ao ver o sangue em suas roupas.

Tenho que encontrar Nakajima.

Com passos pesados, Yumiko começou a caminhar em direção à única conexão que lhe restava.
Parte 3: Capítulo 6

Já passava das 9:00; certamente não é cedo para voltar para casa para um estudante do ensino
médio. Enquanto Nakajima pressionava hesitantemente o botão do interfone, a porta se abriu,
como se estivesse esperando por ele.

"Desculpe, chegar tão tarde em casa. Professor Feed estava..." Sentindo uma estranha frieza no
olhar de sua mãe, Nakajima parou no meio da frase.

Esta não é a primeira vez que me atraso; por que ela está tão brava?

No entanto, a expressão de sua mãe logo se suavizou em um sorriso, e ela apontou para dentro.

"Há uma visita aqui que quer vê-lo."

"Para me ver?" Nakajima imaginou o rosto de Yumiko.

No entanto, a visão de um par de sapatos de salto alto no hall de entrada logo dissipou suas
esperanças.

"Quem é?"

"Ela diz que seu nome é Ohara."

"O QUE!?" Gritando, Nakajima disparou para a sala, sem sequer tirar os sapatos.

A mulher sentada no sofá de costas para ele lentamente se levantou e se virou para encará-lo.

"Quanto tempo, Nakajima."

A voz era familiar. O rosto coberto de escamas de bronze não era.

Nakajima se sentiu surreal, como se tivesse sido puxado para um pesadelo, e sentiu à vontade
sendo drenada de seu corpo.

"O que.... você está fazendo aqui!?" Nakajima finalmente conseguiu abrir a boca e falar.

"Estou aqui para matar você, é claro." Falando casualmente, um sorriso enlouquecido apareceu no
rosto de Ohara enquanto ela o atacava.

Com o sangue demoníaco fluindo em suas veias, transformando-a em um poderoso híbrido


demônio-humano, Ohara não era um oponente que Nakajima pudesse enfrentar de mãos vazias.

Sem nem mesmo mostrar sinais de resistência, Nakajima simplesmente deixou Ohara segurá-lo, o
que a fez baixar um pouco a guarda.

"O que há de errado, Nakajima? Você está tentando sugerir que não valho a pena ser morta!?"
Com desprezo, a respiração fétida de Ohara assaltou os sentidos de Nakajima. No entanto, ele não
vacilou.

Vou fazer você se arrepender de não ter aproveitado esta oportunidade para me matar...

Nakajima estava imaginando duas esferas azuis em sua mente. Eram esferas que ele havia
recebido em Yomi e foram usadas para invocar Hi-no-Kagutsuchi. Batendo as duas esferas em sua
mente juntas, elas emitiram uma chuva de faíscas e uma aura de bolhas cercou sua mão direita. De
repente, Nakajima estava segurando a Espada de Hi-no Kagutsuchi, que brilhava com uma luz
carmesim.

Sentindo o calor intenso, Ohara reflexivamente saltou para trás. Imediatamente a lâmina
carmesim desabou, cortando seu braço. Nakajima investiu contra Ohara, que havia sido jogada para
trás pela força do golpe, apunhalando a espada como se fosse acabar com ela. Mas ele não havia
treinado adequadamente com a espada de Hi-no-Kagutsuchi, e Ohara escapou de sua ponta por um
triz.

Naquele momento, Nakajima notou sua mãe em seu campo de visão, observando a batalha como
se estivesse possuída.

"Mãe, se esconda!"

Nakajima ficou preocupado; ele precisava levar sua mãe para fora com segurança antes que Ohara
a atacasse.

"Você também quer ser atravessada pela espada que derrotou Loki?" Parado entre sua mãe e
Ohara, Nakajima ameaçou seu oponente. Mas aquela frase reacendeu as chamas cada vez menores
do desejo de vingança de Ohara.

"Você matou Loki...!?" Segurando o braço ferido, Ohara cerrou os dentes e deu um passo para
trás.

"No minuto em que você me deixou pegar minha espada, você perdeu. Encare a realidade!"
Parecia haver quase um olhar de compaixão nos olhos de Nakajima, refletindo o brilho vermelho de
sua lâmina.

Porém, naquele momento, uma dor intensa atravessou seu braço direito. De todas as coisas, sua
mãe o esfaqueou por trás com uma faca de frutas. Embora Nakajima imediatamente tenha
empurrado sua mãe para longe reflexivamente, ele não conseguiu entender o que havia acontecido
e apenas ficou parado confuso, e naquele momento, Ohara, que havia deslizado para trás dele, o
agarrou em uma chave de braço.

"Sua mãe foi possuída por um demônio chamado Apep e está completamente sob meu controle.
Deixar você ser morto por sua própria mãe é o mínimo que posso fazer por você. Vamos, faça isso!"

Respondendo às ordens de Ohara, a mãe de Nakajima caminhou lentamente em direção ao filho,


brandindo sua faca de frutas.

"Mãe, por favor, pare!" Tentando se livrar do aperto de Ohara, Nakajima gritou
desesperadamente.

Naquele momento, Yumiko havia chegado ao prédio de Nakajima e estava prestes a apertar o
interfone quando sentiu uma presença estranha. Sem hesitar, ela colocou a mão na maçaneta e
concentrou todas as suas energias nela. Quando uma fumaça nociva encheu a área, o caro sistema
de fechadura de alta segurança derreteu e a maçaneta caiu no chão; Yumiko havia usado um
tremendo poder de combustão espontânea. Correndo para a casa de Nakajima sem tirar os sapatos,
Yumiko correu para a sala para ver Ohara segurando Nakajima em uma chave de braço, momentos
antes de ele ser esfaqueado por uma faca de prata.

"Nakajima, cuidado!"

"Espere!"
Os dois gritaram exatamente ao mesmo tempo.

Os olhos de Yumiko brilharam com uma luz ofuscante por um instante, e os braços da mãe
empunhando a faca de Nakajima explodiram em chamas. Em meros momentos, o fogo se espalhou,
envolvendo todo o seu corpo em chamas vermelhas, queimando-a enquanto ela gemia de dor.

Enquanto isso, Ohara havia escapado pela varanda.

"Mãe..." Sem perceber a cobra branca rastejando para fora do incêndio antes de se desintegrar no
ar, Nakajima apenas ficou boquiaberto enquanto observava sua mãe morrer, envolta em chamas.

"Yumiko..."

Finalmente Nakajima se virou, seus olhos vagando sem rumo.

"Você acabou de matar minha mãe..." A voz tensa de Nakajima partiu o coração de Yumiko.

Não, não pode ser...

Cobrindo o rosto com as mãos, Yumiko correu para fora.


Parte 3: Capítulo 7

Ohara conseguiu voltar para a Floresta Soga depois de escapar de seu corte quase mortal; ela
parou nas margens do pântano, respirando pesadamente. Cercada por juncos verde-escuros, a
superfície da água ondulava, refletindo partes da velha mansão em ruínas aqui e ali. Uma ferida
profunda como se cortada por um bisturi foi exposta abertamente no braço de Ohara onde ela havia
sido atingida pela espada de Hi-no-Kagutsuchi. No entanto, misteriosamente, havia muito pouco
sangue fluindo dele.

Ohara realmente não tinha nenhuma intenção de voltar para Isma. Mas havia algo na floresta
Soga que acalmou sua alma demoníaca. Sentada no tronco de um larício caído, ela sussurrou para si
mesma.

"Loki..."

Eu queria me vingar, mas no final nem consegui matar aquele que matou Loki...

Algo quente brotou nos olhos de Ohara e suas bochechas de bronze ficaram úmidas. Esperando
um pouco, a brisa noturna refrescou seu rosto bem formado, enxugando delicadamente aquelas
lágrimas.

Naquele momento, o rosto branco de uma garota entrou claramente no campo de visão de Ohara.

Pode ter sido o fato de que apenas o ódio estava mantendo Ohara indo que a fez perceber que
Yumiko a havia seguido sem querer depois de sair correndo da casa de Nakajima.

Você acabou de matar minha mãe... A voz de Nakajima ainda ecoava nos ouvidos de Yumiko.
Como se tentasse se livrar disso, Yumiko levantou lentamente a mão, olhando para Ohara com os
olhos cheios de lágrimas. O poder psíquico concedido a ela por Izanami certamente acabaria com ela
em um único ataque.

Mas Yumiko hesitou.

A professora Ohara também é uma vítima aqui. A mãe de Nakajima certamente também estava
possuída por um demônio. E eu...

"Heh, heh, heh". Como se tivesse lido a mente de Yumiko, Ohara cheirou seus dedos sangrentos,
reprimindo uma risadinha.

"Essa tola simpatia irá destrui-la. Dê uma olhada em meus dedos! Um pouco do sangue de sua
família ainda permanece neles!"

"Pare com isso!" Gritando, Yumiko fechou os olhos e balançou a mão.

Como se seguisse o arco daquela mão, o peito de Ohara foi rasgado e um jato de seu sangue
encharcou a área ao redor. Yumiko inconscientemente correu e puxou o corpo debilitado de Ohara,
que parecia quase enrolado em torno do tronco de lariço. Em um breve momento, todos os vestígios
de escamas desapareceram de seu rosto, e seus fantasmagóricos lábios brancos tremeram, como se
tentassem dizer algo.

Mas Yumiko não conseguia ouvir o que quer que ela estivesse tentando dizer. Lágrimas rolaram de
seu rosto e no rosto de Ohara. De repente, naquele instante, houve um estrondo vindo das margens
do pântano, e toda a área foi mergulhada em um miasma.
Parte 3: Capítulo 8

Naquele exato momento, na mansão do outro lado do pântano, as fitas magnéticas do


computador começaram a girar furiosamente ao lado de Isma, que estava sem dormir ou descansar,
analisando dados para dar um corpo a Set. O computador rejeitou todos os comandos que ele
digitou no teclado, e a tela começou a rolar rapidamente, como se uma enorme quantidade de
dados tivesse perdido o controle.

"O que está acontecendo!?"

Isma se levantou, e o concreto sob seus pés se abriu em rachaduras com um terrível som de rasgo.
Gotas de chama irromperam do cabeamento e o hexagrama inscrito no chão começou a ondular
como se estivesse vivo. O porão estava cheio de murmúrios de vozes sobrenaturais.

"Set!"

"Set vai nascer!"

"Ele finalmente vai nascer!"

Aramaico antigo, hebraico, grego... todas as vozes, independentemente das línguas em que
falavam, começaram a se misturar em uma cacofonia desordenada.

Nascer? O que eles querem dizer com nascer?

Isma conseguiu sair cambaleando. Lá, seus sentidos sobrenaturais detectaram um poder
demoníaco muito além de qualquer coisa que ele já havia experimentado antes de se reunir no lado
oposto do pântano.
Parte 3: Capítulo 9

Squelch.

Enquanto Ohara silenciosamente dava seu último suspiro nos braços de Yumiko, houve um som
terrível de carne se rasgando. Enquanto Yumiko jogava reflexivamente o corpo de Ohara no chão e
dava alguns passos para trás, um fluido corporal morno explodiu e voou em seu rosto.

"Ah!" Sentindo uma dor aguda em ambos os olhos, Yumiko caiu de joelhos.

Hya! Hya!

Uma voz gargalhando que soava como dedos raspando em um quadro-negro ecoou em seus
ouvidos. Sentindo algo inexplicavelmente agourento naquela voz, Yumiko se levantou em uma
posição pronta. No entanto, sem conseguir enxergar nada, Yumiko mal conseguia ter certeza de seu
equilíbrio, muito menos se defender de um atacante.

Momentos depois, uma enorme criatura contorcida semelhante a uma ameba rastejou para fora
da barriga rasgada de Ohara e gradualmente começou a flutuar no ar.

Um fedor quase insuportável pairava no ar. Incapaz de resistir, os joelhos de Yumiko dobraram e
ela começou a tossir incontrolavelmente.

Hya! Hya!

Yumiko disparou cegamente seu poder psíquico na direção da voz. Mas sua onda psíquica
simplesmente passou pela bolha gelatinosa, engolfando o larício atrás dela em chamas.

A bolha gradualmente flutuou bem acima da cabeça de Yumiko e, como se tivesse derretido de
repente, derramou-se por todo o corpo. Momentaneamente, a ameba tinha o corpo de Yumiko
inteiramente envolto em geléia translúcida e dois pontos de luz vermelha nele, claramente
sencientes, piscaram com satisfação.
Parte Quatro: Aquele que Chama

Parte 4: Capítulo 1

Uma semana se passou. Eram 22h no Parque Inogashira. Sendo a segunda quinzena de agosto, o
calor durante o dia estava mais forte do que nunca, mas era muito mais fácil de suportar a essa hora.

"Pare com isso, não aqui!" Uma voz nasal aguda e suplicante misturava-se com o chilrear das
cigarras.

A voz de um homem com a respiração pesada respondeu. "Ah, qual é, esse é o lugar perfeito!"

Pouco depois, a mulher percebeu que as cigarras haviam parado de cantar.

"Ei, tem alguém olhando?"

"Quem se importa? Deixe-os espiar!"

Enquanto os dois continuavam ignorando se os insetos estavam ou não fazendo barulho, uma
terceira voz, que se aproximava rapidamente, soou.

"Kerberos, certifique-se de que o rastro de Yumiko não tenha se dividido em duas direções
diferentes em algum lugar!"

A mulher ergueu os olhos surpresa e conteve um grito.

"Qual é o problema de repente!?" O homem de voz irritada olhou em volta e também ficou sem
palavras.

Um homem bonito com uma besta bizarra e gigantesca como um tigre estava vasculhando a
vegetação rasteira, procurando por algo. Parecia uma cena de filme. A mulher engoliu em seco, mas
depois de se recuperar do choque inicial, ficou claro que ela não estava focada na estranha besta,
mas sim na boa aparência do jovem. Olhando para frente e para trás entre ele e o homem
atualmente acariciando seus seios para comparar os dois, havia uma expressão de decepção clara
em seu rosto.

Independentemente do que acontecia entre o casal, Nakajima gradualmente subia a encosta à sua
frente, seguindo Kerberos, que caminhava cautelosamente, com o focinho espetado no ar como se
para absorver cada partícula de cheiro da atmosfera.

"Então é aqui que a trilha termina..." Murmurando para si mesmo, Nakajima abriu a caixa de seu
computador de mão. Pouco tempo depois, a besta demoníaca desapareceu como se sugada
diretamente para o pequeno visor de cristal líquido.
Parte 4: Capítulo 2

Na manhã seguinte, Nakajima e Feed estavam sentados na sala do Projeto Demon Banishment,
esperando a chegada de Narukawa. Ultimamente, o papel dos três homens no projeto havia
mudado. Nakajima era mais um guerreiro do que um programador neste momento. Durante o dia
ele passava seu tempo treinando com a espada de Hi-no-Kagutsuchi, e à noite ele fazia
reconhecimento com Kerberos para procurar qualquer vestígio de Yumiko. Enquanto Narukawa
trabalhava com a polícia para rastrear Ohara e Yumiko, ele também estava totalmente absorto em
rastrear computadores capazes de serem usados para invocar demônios. Como a operação era
ultrassecreta, era improvável que houvesse mais ajuda para ingressar no projeto. Enquanto liderava
a equipe como um todo, Feed estava imerso na escrita do programa Demon Banishment.

"Nakajima, você tem certeza de que não deveria deixar seu pai em LA saber sobre sua mãe?" Os
olhos avermelhados de Feed não saíram da tela quando ele fez a pergunta.

"Se eu o fizesse, meu pai provavelmente voltaria para o Japão. E ele poderia acabar como mais
uma baixa. Em retrospecto, fui tolo por não ter pensado na família de Yumiko e na minha..."

Nakajima olhou para Feed com uma expressão de conflito como ele nunca havia mostrado antes.
Para ele, a morte de sua mãe era difícil de separar de seu próprio destino; ela havia morrido nas
mãos de demônios que ele havia inicialmente chamado. Apenas o lembrava muito bem que ele
nunca estaria seguro até que aqueles demônios fossem derrotados.

Feed suspirou e salvou seu programa.

"Acabou, professor?"

"Por enquanto, sim. Se você tivesse feito a programação, aposto que teria terminado bem mais
rápido." Como se estivesse aliviado, Feed esticou seus músculos cansados.

"Acho que poderei ajudar pelo menos na depuração."

"Não, isso seria apenas uma perda de tempo para um guerreiro. Não se esqueça do Craft; ele pode
ajudar nesse aspecto." Mencionando a IA instalada em Massachusetts, Feed configurou seu modem.
Ele provavelmente pretendia enviar o programa para o Craft e fazer com que ele executasse os
retoques finais. Quando Feed começou a se comunicar com Craft, Narukawa invadiu a sala,
desculpando-se pelo atraso.

"Ao analisar alguns fios de cabelo deixados no local, pudemos determinar que foi Ohara quem
massacrou a família Shirasagi. A polícia está enlouquecendo. O incidente de pessoas desaparecidas
no Colégio Jusho ainda nem foi resolvido, e agora a família de um dos alunos desaparecidos foi
assassinada. Atualmente, temos 1.000 patrulheiros procurando por Ohara. Incapaz de conter sua
emoção, Narukawa deu seu relatório.

"Então, eles encontraram alguma pista?"

"Sim. Algumas pessoas a viram, mas... na noite dos assassinatos, várias testemunhas relataram tê-
la visto perto de Kichijoji e do Bairro Ota, então a busca está em total desordem no momento."

"Eu acho que o primeiro é mais provável. Dê uma olhada." Interrompendo, Nakajima apontou
para a tela ao lado dele. Na tela havia um mapa de Tóquio com várias linhas vermelhas desenhadas
nele.
"Pedi a Kerberos para tentar rastrear o caminho de Yumiko naquela noite. Depois de vir da casa
dela para a minha, ela partiu na direção de Musashino." Como se estivesse segurando a emoção,
Nakajima parou por um momento.

"Eu acho que Yumiko estava perseguindo Ohara. E logo depois disso, algo deve ter acontecido
com ela..."

"Mas Yumiko não possui um grande poder psíquico?"

"Tenho certeza de que a própria Ohara não teria sido um problema para ela. Mas se você levar em
conta o estado de espírito de Yumiko naquela noite..."

Nakajima não poderia dizer mais nada. Embora Yumiko tivesse salvado sua vida naquela noite, ele
ainda guardava um ressentimento incontrolável em relação a ela pelo que ela fez. Mas considerando
o que ela deve ter sentido quando veio vê-lo naquela noite, ele sentiu um pesar e uma afeição ainda
maiores por ela. Na verdade, sua participação direta no Projeto Demon Banishment neste ponto era
apenas para descobrir para onde ela havia ido.

"Hmm... não consigo entender por que alguém a teria visto em no Bairro Ota. Claro, se houver
algum tipo de organização por trás de tudo isso, posso ver como informações falsas podem ter se
espalhado para nos desviar do rastro ...Narukawa, há alguma chance de a Agência de Inteligência
poder ajudar? Eu sei que a força policial japonesa é excelente, mas acho que eles estão um pouco
fora de seu alcance aqui."

"Nossa principal tarefa é coletar informações do exterior. Com menos de 1% da mão de obra da
CIA, não podemos trabalhar também na coleta de informações domésticas." A resposta de
Narukawa não foi complacente.

"Além disso, acho um pouco precipitado dizer que isso é obra de uma organização em algum nível.
No mínimo, apenas ligando os pontos do que sabemos, parece perfeitamente plausível que tudo isso
tenha sido feito pelo ressentimento pessoal de Ohara."

Nesse exato momento, o som de um sinal vindo do modem ecoou pela sala.

"É da Craft."

"O Programa Demon Banishment acabou então?"

Como se atraído pelos outros dois que correram para o computador principal, Narukawa também
olhou para a tela.

"Quanto o programa Demon Banishment pode ajudar?"

"Se instalarmos este programa no sistema operacional de um computador, ele destruirá qualquer
demônio digital enviado a ele.

No momento, isso funcionará apenas como um mecanismo de autodefesa."

"Então o que você está dizendo é que nenhum demônio poderia ser convocado para um
computador com este programa nele?" Narukawa assentiu como se não tivesse certeza se havia
entendido ou não.
Parte 4: Capítulo 3

Na sala VIP do Akasaka Plaza Hotel, Ota do Partido Liberal estava conversando com Shimazaki. Ele
estava de bom humor; como resultado da aprovação bem-sucedida de um importante projeto de lei,
ele ascendeu rapidamente para se tornar uma estrela de seu partido. "Ouvi dizer que o presidente
Matoba sofreu uma morte bizarra - uma pena, não é?" Os avatares de Set, os Apeps, podiam possuir
humanos e controlá-los da maneira que desejassem. No entanto, por causa do veneno inato dos
Apeps, aqueles que estavam possuídos começariam a apodrecer por dentro. Foi assim que Matoba
morreu, embora Ota não tivesse como saber disso.

"Então, secretário-chefe, qual é o problema com o Novo Projeto de IA? Ele pode ser encerrado?"
Shimazaki olhou para Ota com descontentamento.

O Projeto IA, é claro, era o nome "oficial" do Projeto Demon Banishment.

"Certo. Bem, já que Fujita começou por conta própria, em teoria deveria ser perfeitamente
plausível inventar algum tipo de motivo forjado para desligá-lo, mas está sendo apoiado pelo
assessor americano do presidente. Nós não podemos simplesmente ignorar isso. Vamos, eu já
providenciei para que você consiga todos os contratos para o Projeto de Reconstrução da Capital;
não seja tão ganancioso." Observando Shimazaki como um falcão, Ota riu com vontade.

"Então, por que você está dando tanta importância a esse projeto de IA? Isso interfere nos seus
negócios de alguma forma?"

"Eu suponho que você poderia dizer isso." Shimazaki acendeu um cigarro.

"Fujita é um cliente difícil. Prefiro não o enfrentar, se possível." O rosto de Ota era severo
enquanto ele falava.

"Planejando anunciar sua candidatura à presidência do partido, então?"

"Pense o que quiser."

Os olhos de Shimazaki brilharam com astúcia. "Quais você acha que seriam suas chances?"

Atualmente dentro do Partido Liberal, Ota era considerado um forte candidato à presidência do
partido, mas sua facção tinha apenas um apoio moderado na Câmara dos Deputados, com seus
apoiadores lá ocupando assentos na casa dos 60 anos. Para que Ota ganhasse a eleição, ele
precisaria de outra facção para apoiá-lo ou esmagar completamente um de seus rivais. Portanto, era
natural que ele não quisesse enfrentar Fujita.

"Se ao menos Hamano me apoiasse nas eleições..." Ota encarou Shimazaki obstinadamente, como
se tentasse comunicar algo implícito. E como se ele entendesse completamente, Shimazaki assentiu.

"Tenho certeza de que as coisas vão acabar como você gostaria. Não há necessidade de se
preocupar."

"Eu nunca pedi para você fazer nada! Mesmo assim, desde quando você consegue exercer tanta
influência?" Ota fez a pergunta em voz baixa.

"Tenho certeza de que terei a chance de te contar algum dia."

Afinal, você poderá experimentá-lo diretamente por si mesmo eventualmente ...

Shimazaki mostrou seus dentes amarelos em um sorriso.


Parte 4: Capítulo 4

Eram 22h em Miyamaedaira, uma área residencial em Mitaka perto da floresta Soga.

Eu me pergunto se Akinao está estudando agora...

Os olhos grandes de Tanouchi Midori brilhavam como a heroína de uma história em quadrinhos
feminina, seu rosto esguio emoldurado por cabelos curtos. Embora as férias de verão estivessem
acabando, sua pele ainda era branca e macia. Parecia que as férias iriam acabar sem que ela tivesse
uma única chance de vestir um maiô.

Duvido que qualquer outro jovem de 17 anos tenha tido um verão tão chato.

Midori olhou pela janela com os olhos vidrados. Ela vinha prestando atenção nos exames de
admissão da faculdade, pensando que, mesmo que os perdesse um pouco, ainda poderia entrar em
uma escola particular decente de artes liberais. Deveria haver pelo menos um pouco de tempo para
ir à piscina. A razão pela qual ela não fez isso foi por respeito com o namorado, que estava
estudando para entrar na escola de engenharia da Universidade de Tóquio.

"Talvez eu devesse ligar para ele."

Ao se levantar, pensou ter ouvido algo.

"Hã?" Reflexivamente, Midori olhou para seu aparelho de som. Frequentemente, ela o deixava
ligado acidentalmente. Mas a energia estava desligada. Enquanto ela inclinava a cabeça em
confusão, ela ouviu novamente, mas muito mais claramente - uma voz ecoando em sua cabeça.

Venha, venha para mim...

"Quem está aí!?" Midori olhou ao redor da sala, uma expressão severa no rosto. A voz soou
novamente em sua cabeça.

Venha Midori....

O corpo de Midori virou-se naturalmente na direção da voz. Uma sensação inexplicável de êxtase,
difícil de resistir, a impulsionava para frente.

"OK." Com uma expressão de olhos vidrados no rosto, Midori assentiu. Quando ela saiu de seu
quarto, sua família estava esperando por ela no final da escada. Todos eles tinham uma expressão
estranha e sem vida em seus rostos, como se estivessem sonhando. No entanto, isso não pareceu
incomodar nem um pouco Midori.

"Vamos, Midori!" O irmão mais novo de Midori, que estava na terceira série, estava com a mão na
porta como se não pudesse esperar mais.

"Você vai de sandálias?" perguntou a mãe de Midori.

"Boa observação." Colocando seus saltos favoritos, Midori deixou o hall de entrada atrás de seu
irmão.

Ninguém da família sabia para onde estavam indo. Mas a voz em suas cabeças dizia que não havia
necessidade de dúvida.
Quase ao mesmo tempo, um par de braços suados agarrou a cintura de Yukiko em um
apartamento em Miyamaedaira.

"Vamos lá, não onde está claro!" Chorando de vergonha, ela empurrou seu namorado Tooru para
longe. Ela o conheceu há apenas duas semanas em uma viagem a Okinawa. Mesmo abraçados o dia
todo, eles nunca se cansavam.

Tenho a sensação de que poderia amá-lo para sempre... pensou Yukiko.

Ela era uma estudante universitária de 20 anos. Tooru ainda era um estudante do ensino médio e
um pouco irresponsável, mas tinha uma personalidade muito brilhante e sempre a fazia rir com suas
piadas. Mas mais do que isso, Yukiko gostava de sua aparência bonita.

"OK, vou apagar as luzes." Curvando-se a seus desejos, Tooru acendeu o interruptor de luz. Então
ele imediatamente a agarrou em um beijo.

Enquanto Yukiko murmurava "eu te amo" em sua mente, outra voz ecoou em sua cabeça.

Venha...

"Você disse alguma coisa, Tooru?"

"Eu ia te perguntar a mesma coisa!" Enquanto os dois se olhavam perplexos, a voz soou
novamente.

Venha....

Havia algo difícil de resistir naquela voz. Os dois se levantaram simultaneamente.

Uma enorme fila de pessoas seguia de Miyamaedaira em direção à Floresta Soga, aparentemente
sem fim. Os que estavam nela somavam quase dois mil.

Às 22h15, o oficial Nimura, de plantão em Miyamae, viu o primeiro membro do grupo se


aproximando.

O que diabos está acontecendo? Olhando para a enorme multidão se aproximando, Nimura coçou
a cabeça em confusão. Mães conduzindo seus filhos. Casais caminhando de mãos dadas. Havia até
alguns assalariados na fila, ainda de terno e gravata, parecendo ter parado para tomar um drinque
no caminho do trabalho para casa. Cada um deles era apenas um cidadão comum. Mas havia um ar
estranho na multidão que causava arrepios em qualquer espectador.

"Não parece que eles estão aqui para algum tipo de evento..."

Observando a procissão, Nimura percebeu que nem uma única pessoa estava falando. Sentindo
que havia algo errado nisso, Nimura contatou a estação e perguntou o que fazer.

Mas a resposta que ele obteve foi menos do que útil.

"Nesta época do ano eles provavelmente estão indo para algum festival Bon ou algo assim. Não
incomode a estação com assuntos triviais como este!" Irritado com o despachante, Nimura agarrou
o braço de um assalariado no final do cortejo e falou com ele.

"Com licença! Onde todos estão indo a esta hora da noite?"

Mas o homem não respondeu.


Nimura percebeu imediatamente que não estava sendo ignorado deliberadamente. Os olhos
vidrados do homem olhavam para a frente sem foco, e era como se ele nem percebesse o policial ao
seu lado.

Nimura falou com o menino na frente do assalariado, que parecia ser um estudante. Mas também
não houve resposta dele. O grupo simplesmente continuou a caminhar como um bando de
lemingues. Após alguns momentos de indecisão, Nimura resolveu entrar no final da fila.

Ele caminhou por talvez um pouco menos de uma hora. As residências tornaram-se cada vez mais
esparsas e, à medida que as lâmpadas da rua se distanciavam cada vez mais, uma névoa profunda
envolvia a incomum procissão. O fervor nos olhos da multidão ficou cada vez mais insano.

"Eles estão indo para a Floresta Soga...?"

Um fedor bizarro invadiu as narinas de Nimura. Era como um cheiro almiscarado, meio podre.
Inconscientemente, Nimura agarrou seu bastão da polícia e parou de andar. Dois metros à frente,
em meio a uma névoa densa demais para enxergar, os passos das pessoas tornavam-se cada vez
mais distantes.

Gradualmente, Nimura foi tomado por um terror arrepiante. Quando finalmente recomeçou a
andar, talvez fosse menos por causa de seu dever de policial e mais porque não queria ficar sozinho
no meio da neblina. Tropeçando e pisando em falso, Nimura correu à frente, várias vezes quase
colidindo com enormes lariços.

Logo a névoa se dissipou ligeiramente. E em contraste, o cheiro estranho ficou mais forte. Assim
que alcançou o final da linha, Nimura soltou um suspiro de alívio e se escondeu nas sombras de uma
grande árvore enquanto observava as pessoas começarem a formar um grande círculo. De algum
lugar no meio do círculo, ele ouviu as palavras de um encantamento sendo cantadas como um sutra.
Quando a voz se tornou audivelmente mais alta, a multidão de pessoas se prostrou no chão.

Quando Nimura viu pela primeira vez o que estava no centro do círculo de pessoas, ele teve que
usar toda a sua determinação para reprimir um grito. Uma garota completamente nua estava
amarrada em uma cruz de estilo egípcio em forma de T, que brilhava com uma luz prateada opaca.

É uma boneca?

Sua beleza parecia tão perfeita, que foi o primeiro pensamento que surgiu na cabeça de Nimura.
Mas seu rosto, que de vez em quando se contorcia em contorções de dor, desmentia o fato de que
ela era realmente uma humana. A garota estava envolta em um véu de uma substância transparente
e gelatinosa. Nimura observou que o véu ocasionalmente se contorcia como uma criatura viva.

Isso é real? Eles estão gravando um filme aqui ou algo assim?

Nimura sabia muito bem que estava tentando inventar desculpas para tentar conter o terror. Seu
corpo inteiro estava enraizado no local como se estivesse congelado. O som de sua respiração
assaltou seus ouvidos, quase soando ensurdecedoramente alto.

Que diabos está acontecendo...?

Há quanto tempo ele estava esperando lá? Uma hora?

Como parecia que o véu de gelatina ondulava ao redor da cabeça da garota, duas luzes vermelhas
começaram a piscar nele, quase como se estivessem enfeitando seus cabelos. Amarrada à cruz, a
garota contorceu a cabeça. Nimura percebeu que estava presa dentro do corpo de algum tipo de
criatura misteriosa que só poderia ser descrita como uma ameba gigantesca.

E aquela criatura sobrenatural estava se expandindo rapidamente. Os dois pontos vermelhos de


luz brilharam cada vez mais, antes de se tornarem dois olhos demoníacos que dispararam sobre a
área, brilhando. A substância gelatinosa já havia engolfado toda a cruz que a menina estava
amarrada também, e ainda estava ficando maior.

Naquele momento, Nimura notou um homem vestido com uma túnica preta parado atrás da cruz.
Mesmo à distância, as linhas em seu rosto delineavam claramente as feições de um estrangeiro. O
estranho encantamento semelhante a um sutra que ele ouvia vinha desse homem.

De repente, o encantamento parou. Silenciosamente, o homem ergueu a mão direita para o céu. E
como se estivesse na fila, o círculo mais interno de pessoas no círculo se levantou, rasgou suas
roupas, jogou-as de lado e começou a avançar em direção à cruz no meio. A ameba pulsava e
engolfava seus corpos nus. Naquele momento, suas expressões eram de puro êxtase.

O círculo começou a se desfazer. Irritados com a demora para se despir, todos eles disputaram
para serem os primeiros a serem absorvidos pelo véu dessa criatura sobrenatural - jovens e velhos,
homens e mulheres. A garota amarrada à cruz já havia sido completamente obscurecida pela
multidão. As pessoas subiam umas nas outras e Nimura pensou ter ouvido o som abafado de ossos
quebrando. À medida que todas as pessoas que compunham o círculo pareciam se transformar em
uma enorme montanha de corpos, as luzes atravessavam a membrana da ameba.

Um rugido baixo e estrondoso que parecia ter surgido das profundezas da terra soou, cortando o
último fio vazio da sanidade de Nimura. Toda a força fluiu para fora de suas pernas e ele caiu no
chão de costas; não sendo capaz de ficar de pé mesmo que tentasse, Nimura soltou um gemido
incompreensível enquanto começava a rastejar desesperadamente pelo chão, tentando com todas
as suas forças fugir o mais rápido possível.
Parte 4: Capítulo 5

Isma percebeu que a bizarra forma de vida que se arrancou da barriga de Ohara era um corpo
temporário para Set, que planejava tomar forma possuindo o filho de Loki.

De acordo com sua teoria, convocar um demônio por meio de um computador exigiria a criação
de um campo magnético com o qual invocar o demônio e o processamento dos dados do demônio a
serem materializados, os quais teriam que ser feitos praticamente ao mesmo tempo. Se o campo
magnético fosse fraco, o ponto de conexão entre o mundo do demônio e o mundo de Assiah se
estreitaria, restringindo a quantidade de dados que poderiam ser processados. Por outro lado, por
mais poderoso que fosse o campo magnético, a menos que os dados digitais pudessem ser
processados de forma rápida e concisa, o demônio nunca seria capaz de tomar forma. Era bem
possível que mesmo um supercomputador não fosse capaz de lidar com a enorme quantidade de
dados necessários para materializar um demônio de alto escalão.

Apesar disso, o demônio de alto escalão Set foi capaz de tomar forma no mundo de Assiah,
mesmo que fosse apenas em um corpo improvisado. Algo deve ter acrescentado muito poder ao
estabelecer o campo magnético necessário para uma invocação; isso, por sua vez, facilitaria as
restrições ao processamento de dados.

Isma estava convencido que de alguma forma foi Yumiko. Muito provavelmente, a alta
concentração de magnetita biológica dentro de seu corpo foi um fator importante na criação do
campo magnético para a convocação. A constituição divina que ela havia herdado de Izanami não
passava de uma gigantesca retenção daquela magnetita altamente concentrada. Embora escasso em
comparação com o de Yumiko, os humanos comuns também retinham alguma magnetita biológica.
Se o suficiente fosse coletado, poderia ser capaz de criar uma sobreposição permanente dos mundos
de Atziluth e Assiah inteiramente.

Portanto, já tendo firmado um contrato com Set, Isma emprestou seu poder para convocar muitas
pessoas e tentar criar uma torre de carne humana. E tudo estava acontecendo de acordo com o
planejado. Mesmo sabendo que os céus se partiram com um trovão terrível, e o servo mais
poderoso de Set, a grande serpente Typhon, ergueu sua cabeça no ar como se deslizasse por trás de
uma cortina negra, derrubando as árvores da Floresta Soga enquanto avançava.

"Typhon, bem-vindo. Respire fundo e respire o ar do mundo Assiah." Isma olhou gentilmente para
a enorme cobra. "Dê uma olhada, sua primeira vítima espera na sombra daquela árvore."

Quando Isma apontou para o bosque onde o oficial Nimura estava, Typhon desapareceu além das
árvores. Enquanto isso, Set havia se transformado em um gigantesco e vil pilar de carne, seus
sinistros olhos vermelhos brilhantes em seu pico disparando por toda a área.

A presença de Typhon é a prova de que o mundo que Set governa está começando a se fundir com
o mundo Assiah. Agora tudo o que resta é reunir mais magnetita biológica e solidificar a conexão...

Os olhos de Isma brilharam ainda mais de loucura.


Parte 4: Capítulo 6

Enquanto o oficial Nimura tentava rastejar para longe e escapar, o ar poluído ao seu redor
começou a girar em um círculo.

O que é isso! O que está acontecendo...

Ainda engatinhando, Nimura pôs a mão na pistola que trazia na cintura. Um estranho som
borbulhante foi audível acima dele no ar. Olhando para cima, ele ficou sem palavras e se esqueceu
de sacar sua arma. Uma enorme serpente, com suas escamas negras brilhando ao luar, tinha sua
boca vermelha bem aberta, a ponta de sua longa língua na ponta do seu nariz.

Parte 4: Capítulo 7

O som suave das unhas da geigi dedilhando as cordas de um shamisen vinha da Sala da Garça no
Pavilhão Takabayashi localizado em Akasaka. Sentados no chão de tatame, vários homens se
encaravam: Hamano, ministro das Relações Exteriores e assessor do presidente do Partido Liberal,
secretário-chefe do gabinete Fujita e secretário-chefe Ota. Os três homens pareciam sorrir e
conversar amigavelmente, mas o fato de seus pauzinhos mal terem tocado a comida à sua frente
desmentia a tensão que pesava no ar. Com um sopro, o som do Shamisen parou.

"Você poderia nos deixar sozinhos?" Olhando diretamente para Hamano, Ota falou com a geigi.
No momento em que ela saiu da sala, ele se curvou e falou novamente com uma voz dramática.

"Sr. Hamano, tenho um pedido de um homem para outro. Na eleição para presidente deste
outono, por favor, apoie minha candidatura. É claro que, depois de dois anos, entregarei as rédeas a
você. Nunca pedirei nada a você novamente enquanto eu viver; por favor, conceda o meu pedido."

"Bem, isso é uma pena. Fui informado de que o partido queria que eu fosse eleito primeiro-
ministro neste outono, mas sem o seu consentimento as coisas poderiam ficar complicadas." A
resposta de Hamano foi fria e pouco complacente.

"Então, basicamente, o que você está dizendo é que resolveremos isso na eleição?" O rosto de Ota
se anuviou de raiva.

"Vamos, vocês dois, não vamos nos empolgar agora..." Fujita interrompeu os homens.

"Sr. Hamano, Sr. Ota, qualquer um de vocês está perfeitamente qualificado para assumir o poder.
Bem, é claro, é verdade que minha facção teria muita influência sobre quem conseguirá a
presidência neste outono..." Em sua tentativa de apaziguar os homens, Fujita tirou os óculos e
esfregou lentamente a ponta do nariz. Cheios de impaciência, os olhares afiados de Ota e Hamano
se voltaram para a testa do composto Chefe do Gabinete.

Colocando os óculos, Fujita olhou de um lado para o outro, comparando os dois homens.

"No entanto ... o primeiro-ministro tem pensado que se sentiria melhor se Hamano vencesse
neste outono e depois Ota assumisse o cargo. Acho que seria melhor para o partido se Ota cedesse
por enquanto. "
Os lábios de Ota começaram a tremer com as palavras de Fujita. Nesse ponto, ele pensou que
Shimazaki havia conseguido de alguma forma persuadir esses dois políticos de peso.

"Sr. Ota, não se sinta mal. Não estou tentando forçá-lo, mas o primeiro-ministro indicou quem ele
gostaria que fosse seu sucessor direto." Enquanto a boca de Hamano continuava a dar desculpas, ele
começou a se levantar. Com o sangue fervendo de humilhação, Ota olhou fixamente para os pés do
outro homem.

Naquele momento, em sua visão periférica, ele viu uma forma branca disparar pela sala.

"Aah!"

De repente, Hamano gritou e curvou-se, seu rosto ficando roxo.

"Sr. Hamano, você está bem!?"

Enquanto Fujita corria para Hamano, Ota viu claramente uma pequena cobra branca enrolada na
perna do secretário-chefe do gabinete. Espantado, Ota virou-se e viu que a porta de correr do
quarto estava entreaberta; em sua sombra, ele notou o rosto de Shimazaki sorrindo psicoticamente
e um arrepio percorreu sua espinha.
Parte 4: Capítulo 8

No dia seguinte, os repórteres da seção Política do Tokyo Daily estavam alvoroçados com a notícia
de que Hamano Masahiro, ministro das Relações Exteriores, havia desistido das próximas eleições.

"Agora, onde diabos eu enfiei aquele arquivo sobre o ministro das Relações Exteriores Hamano?"
O jovem repórter Motoyama vasculhou uma verdadeira montanha de pastas pardas empilhadas em
sua mesa.

"Agora Ota é candidato a presidente", murmurou o veterano repórter Watanabe enquanto se


barbeava. O telefone à sua frente estava tocando, ignorado, sem parar.

Atrás de uma mesa, Imura entrou na conversa. "Aquele cara está em alta desde que aprovou a Lei
de Proteção de Segredos Nacionais."

"Você não acha que tudo isso foi Fujita basicamente dando sua aprovação a Ota em vista de sua
capacidade de fazer com que isso seja aprovado?" respondeu Watanabe.

"Então você acha que Hamano abandonou sua oferta assim que Ota conseguiu o apoio de Fujita?"

Enquanto os dois veteranos grisalhos conversavam entre si, Motoyama atendeu o telefone que
ainda tocava ao lado deles. Com um olhar cético no rosto, ele ouviu a voz do outro lado da linha por
um tempo antes de desligar com um breve "Você quer a seção da Sociedade para isso."

"E aí?" Watanabe fez a pergunta como se não estivesse muito interessado de uma forma ou de
outra.

"Ah, são apenas mais pessoas falando sobre recentes cadeias de desaparecimentos inexplicados
em massa na ala de Musashino. Mas provavelmente é só um monte de besteira."

"Pensando bem, ouvi dizer que Tanouchi em Econ não apareceu para trabalhar recentemente - ele
não mora na cidade de Mitaka?"

Sem pensar mais nos desaparecimentos, os dois repórteres saíram para entrevistar os políticos
que estavam a seu cargo.
Parte Cinco: Conflitos

Parte 5: Capítulo 1

Os raios do sol do meio-dia queimavam o interior da sala do Projeto Demon Banishment.

Narukawa, que estava afastado do Projeto por vários dias depois de ter sido chamado de volta
pelo secretário-chefe Fujita, parecia positivamente abatido ao se aproximar da mesa onde Nakajima
e Feed estavam discutindo sobre algo.

"Ah! Você finalmente voltou, Narukawa!" Feed levantou-se de seu assento e com os braços
separados, deu as boas-vindas a Narukawa quase como se fosse abraçá-lo.

"Enquanto você esteve fora, nós quase identificamos onde o demônio foi convocado. Se você
tivesse chegado mais tarde, teria sido tarde demais; Nakajima estava prestes a entrar de cabeça no
covil do demônio sozinho, e eu não seria capaz de detê-lo..."

Enquanto Feed falava, Narukawa olhou para Nakajima com uma expressão complicada no rosto.

"Você poderia me dizer onde fica esse ponto de invocação?"

Em resposta à pergunta de Narukawa, Feed silenciosamente apontou para o monitor próximo a


ele. Nela estava exposto um mapa de Tóquio, no meio do qual havia uma luz vermelha que piscava
intensamente.

"É uma área de cerca de dois quilômetros de diâmetro que se sobrepõe à cidade de Mikata e à
cidade de Musashino. Bem no centro dessa área, há uma área arborizada conhecida como Floresta
de Soga."

"Entendo... A propósito, professor, Nakajima, gostaria que vocês ouvissem com atenção o que
tenho a relatar." Entregando um arquivo para os dois, a voz de Narukawa soou estranhamente
impaciente quando ele começou a falar.

"Na semana passada, quase dez mil pessoas desapareceram de Tóquio, e essas são apenas as que
recebemos notificação. A maioria delas são residentes da cidade de Mitaka, cidade de Musashino e
distrito de Nerima, mas desde ontem tem havido notáveis desaparecimentos na cidade de Koganei e
no distrito de Suginami também. Nakajima, quando você estava explorando essas áreas, notou algo
fora do comum?"

"Percebi que não havia muitas pessoas lá fora, mas como estava saindo com Kerberos, tive que
sair na calada da noite e sempre presumi que esse era o motivo de não ter visto ninguem..."

"Ainda assim, dez mil pessoas..." Impressionado com o tamanho do número, Feed olhou e trocou
olhares com Nakajima.

"Houve áreas onde até 2.000 pessoas desapareceram completamente."

"Estou surpreso que não tenha saído em todos os noticiários", disse Nakajima.

"Temos feito tudo o que podemos para mantê-lo assim." Assim dizendo, Narukawa puxou uma
fotografia em preto e branco de seu bolso.

"Professor, você provavelmente já ouviu falar sobre isso. Esta é uma fotografia que foi tirada do
satélite espião do Extremo Oriente da América."
No centro da foto havia uma área que parecia estar cercada de nuvens. Feed suspirou quando ele
olhou para ele.

"Esta é quase a área exata que identificamos..."

"Esta fotografia parece duplamente exposta." Assim como Nakajima indicou, o centro da área em
questão parecia de fato como se houvesse duas paisagens diferentes sobrepostas uma à outra.

"Não posso explicar por que saiu assim, mas este é realmente o ponto conhecido como Floresta
Soga. Já enviamos vários agentes da estação para investigar a área..."

"Isso está fora do alcance deles", cuspiu Feed enquanto ajustava a foto na luz.

"Na verdade, como você disse, nenhum deles voltou. Parece que, assim que eles chegam perto da
Floresta Soga, seus rádios e sensores simplesmente desligam."

"Como o governo pretende proceder?"

"Bem..." Narukawa desviou o olhar.

"Qual é o problema?"

"Ontem, na reunião do gabinete, eles decidiram uma política de 'observar e esperar'."

"O que!?" Os cabelos brancos de Feed pareciam eriçados quando ele se aproximou de Narukawa.

"Eu irei persuadir o secretário-chefe do gabinete, Fujita. Não, melhor - quero falar diretamente
com o primeiro-ministro. Vejo que, a menos que explique em detalhes o perigo dos demônios, esses
políticos teimosos nunca vão perceber a gravidade da situação."

"Infelizmente, isto é, impossíve." Narukawa colocou suas mãos gentilmente no ombro de Feed.

"Essa não foi a única decisão que o gabinete tomou. Eles ordenaram que o Novo Projeto de IA -
em outras palavras, esse Projeto Demon Banishment - fosse extinguido a partir de hoje."

Por vários momentos, Feed ficou em silêncio, com a boca aberta. Ele não conseguia entender
exatamente o que Narukawa estava dizendo. Ou talvez fosse melhor dizer que não queria entender.
Logo, em resposta ao sorriso cínico que se formou no rosto de Nakajima, ele admitiu para si mesmo
o quão ruim a situação havia ficado e começou a falar furiosamente em uma mistura de inglês e
japonês misturados.

"Por que diabos ele quebrou sua promessa!? Por que aqueles políticos pensaram que eu vim para
o Japão pra começo de conversa!? Por mais arrogante que possa parecer para eu dizer isso, eu vim
para salvar este país de ser invadido por demônios! Eles não me dão as ferramentas ou mão de obra
de que preciso, e agora encerram o projeto em um momento tão crucial - o que eles estão
pensando!? Nakajima, venha comigo para a América. Tenho certeza de que meu país permitirá que
você use quaisquer ferramentas que precisarmos."

Sorrindo ligeiramente para o enfurecido Feed, Nakajima olhou ao redor da sala tensa e caótica.

"Obrigado, professor. Mas ainda tenho a responsabilidade de resgatar Yumiko. Tenho certeza de
que ela se machucou muito mais do que deveria com o que aconteceu com minha mãe; neste
momento, sou o único que pode salvá-la..."

"Maravilhoso. Vocês, japoneses, alguma vez agiram por qualquer outro motivo além do dever?"
"...Talvez o amor seja um tipo de dever." Talvez até pensando que seu próprio comentário fosse
um pouco cafona, Nakajima escondeu o rosto ao se virar e colocar a mão na maçaneta.

"Eu irei com você." A voz de Narukawa ecoou atrás de Nakajima.

"...?" Por um instante, Nakajima olhou para trás com ceticismo no rosto determinado de
Narukawa.

"Ainda sou um membro deste projeto", respondeu sem rodeios, sem acrescentar o E ainda me
sinto estranhamente conectado a você de alguma forma que ele estava pensando.

"Nossa, vocês dois são tão impacientes." Em algum momento, Feed tirou uma arma da gaveta de
sua mesa de aço.

"Uma Smith & Wesson aí, hein?... Se alguém soubesse que você tinha isso, o Projeto teria sido
extinguido imediatamente", disse Narukawa surpreso.

"Agora que o Projeto está programado para terminar de qualquer maneira, não há necessidade de
se segurar. Além disso, a munição nesta arma é um pouco 'especial'." Colocando a revista no bolso,
Feed sorriu maliciosamente.

O elevador expulsou os três homens para o estacionamento subterrâneo. Nakajima e Feed


começaram a caminhar em direção ao carro quando o braço de Narukawa disparou para detê-los.
Ao fazê-lo, Nakajima começou a olhar em volta com cautela, como se também tivesse sentido algo.

"Qual é o problema?" No meio de sua frase, Feed foi repentinamente empurrado para o lado por
Narukawa. Naquele instante, uma bala zuniu sobre a cabeça de Feed e se enterrou na parede de
concreto atrás dele, deixando um buraco.

"Parece que são as Forças Especiais do Serviço de Inteligência, mas não acredito que eles
realmente atiraram..." O segundo tiro passou pelo rosto de Narukawa.

Narukawa mergulhou atrás do Crown estacionado ao lado dele, puxando os outros dois homens
com ele. Sua mão já segurava um Walther PP Super.

"Sou Narukawa, da Segunda Unidade do Serviço de Inteligência. Você sabia disso quando atirou
em mim?"

Em resposta à sua pergunta, uma rajada de balas estilhaçou o para-brisa do Crown.

"Recebi ordens diretas do chefe. Não é nada pessoal."

"Eu conheço essa voz - Saga, é você, não é? Ouça-me!" Narukawa começou a se levantar, mas
Nakajima o puxou para baixo. Um instante depois, dezenas de balas voaram sobre suas cabeças.

"Não temos chance contra aquelas Berettas totalmente automáticas. E há pelo menos cinco
delas." Mesmo assim, Narukawa não soltou a Walther.

"Só estamos perdendo tempo lutando aqui!"

"Não há outra saída!" Antes que Narukawa expressasse completamente sua resposta irritada,
Nakajima havia digitado um comando em seu computador de mão.

"Kerberos, vá pegá-los. Mas tente não os matar."


A besta demoníaca que saltou da tela de cristal líquido deu um grande rugido e saltou sobre o
chão na direção dos tiros. Momentos depois, o estacionamento subterrâneo estava cheio de gritos
de dor e respingos de sangue.
Parte 5: Capítulo 2

O sol já estava na metade. O Corolla branco que Narukawa havia adquirido estava dirigindo para o
oeste pela Rodovia Ouma. Com medo de serem seguidos, ele escolheu este carro porque era o que
menos se destacava.

"Não parece que eles montaram nenhum posto de controle para nos procurar." Tentando animar
o abatido Narukawa, Feed falou com um tom otimista em sua voz.

"Se eles enviaram as forças especiais do SI (Serviço de Inteligência) atrás de nós, isso significa que
eles querem nos derrubar em segredo. No entanto..."

Com uma expressão como se fosse demais para ele aguentar, Narukawa passou o carro à sua
frente.

"O homem que liderava o grupo que nos atacou era Saga, um dos meus subordinados. Não
acredito que ele estaria mentindo. O que pode ter feito o secretário-chefe dar uma ordem tão
drástica..."

"Um demônio, provavelmente." Foi Nakajima quem falou do banco de trás.

"Você está dizendo que os demônios se infiltraram no governo?" Narukawa não pôde deixar de
levantar a voz.

"Veja como a mãe de Nakajima de repente ficou do lado de Ohara. Tudo faz sentido se um
demônio estava usando algum tipo de feitiço para controlá-la. não pode ser uma coincidência." A
voz de Feed revelava sinais claros de agitação.

"Eu simplesmente não posso acreditar." Narukawa suspirou. Pela primeira vez desde que o
conheceu, Nakajima sentiu a fraqueza do homem.

Mais ou menos na interseção entre a Rodovia Ouma e o Loop 8, a névoa começou a aumentar. O
número de carros na estrada também parecia diminuir significativamente.

"Sinto uma presença demoníaca nesta área também", relatou Nakajima ansiosamente, abrindo a
janela até a metade. "Não havia nada aqui quando eu explorei a área há dois dias..."

Enquanto os olhos de Narukawa disparavam para o espelho retrovisor, suas mãos ainda
segurando o volante, Nakajima colocou a cabeça para fora da janela e olhou para a calçada vazia,
deixando o vento soprar seu cabelo para trás.

Pouco tempo depois, o Corolla entrou na Avenida Inokashira. Sem luz, os prédios da área
pareciam uma cidade fantasma.

"Eu não acredito nisso," Nakajima murmurou para si mesmo. "Anteontem, este lugar estava
perfeitamente normal..."

Logo, envolto na névoa, Narukawa não teve escolha a não ser diminuir a velocidade do carro.

"Você não acha que seria mais rápido se nós descêssemos e andássemos?" Feed, impaciente
como sempre, parecia prestes a pular do carro a qualquer momento.

"Pode ser. Você não acha que deveria ficar no carro, professor?"
"Tenho certeza de que o que você quer dizer é que eu iria atrasá-los, mas de alguma forma não
vejo o time de apenas um herói, sua namorada sequestrada e um ajudante que não sabe nada sobre
demônios produzindo finais felizes."

Quando Narukawa parou o carro, Feed pegou o pente de sua S&W e mostrou a eles.

"Esta munição está cheia de sulfeto de mercúrio. Tenho certeza de que funcionará contra
demônios muito melhor do que sua arma..."

Narukawa mostrou os dentes em um sorriso e deu um tapa no ombro de Feed.

"Certo então. Vou correr se me der vontade."

Agora que estou extraoficialmente fora do SI, realmente não tenho nenhuma obrigação de
enfrentar algum demônio desconhecido, mas ainda assim... tudo o que posso dizer é que isso parece
destino, ou karma de uma vida anterior. Como se para manter sua ansiedade sob controle,
Narukawa considerou seu destino, que ele decidiu deixar entrelaçado com o de Nakajima.

A espessa névoa envolveu os três homens, que agora haviam deixado o carro para trás. Era
pesado e viscoso, e parecia a superfície de plantas em um pântano.

Com Kerberos, que havia sido convocado do computador portátil de Nakajima, no meio, os três
prosseguiram em direção à Floresta Soga. Usando apenas a luz das lâmpadas da rua como guia, eles
caminharam por cerca de uma hora. De repente, a névoa se dissipou e seus arredores ficaram
claramente visíveis.

Mas eram ambientes muito estranhos. No mínimo, eles não eram nada parecidos com qualquer
bairro de Tóquio que eles conheciam.

As fileiras de árvores de ginkgo ao longo da estrada, que normalmente cresciam apenas


ligeiramente, recebendo sustento apenas do dióxido de carbono no ar, pareciam muito mais
robustas do que se esperava; seus galhos se espalhavam em todas as direções e suas raízes grossas
se mostravam, rompendo o concreto da calçada. As fachadas dos prédios desertos eram cobertas
por espessas trepadeiras tropicais, algumas das quais poderosas o suficiente para quebrar janelas ou
até quebrar os próprios telhados das casas.

"O que está acontecendo aqui..." Nakajima foi o primeiro a falar surpreso, tendo estado aqui
apenas alguns dias atrás procurando por Yumiko.

"É quase como as antigas ruínas maias quando foram descobertas... Hã? O que há de errado?"
Feed olhou desconfiado para Narukawa, que estava apontando sua Walther direto para o ar.

"Olhe!"

O dedo trêmulo de Nakajima apontou para um pássaro esbranquiçado circulando em torno deles
acima da cabeça.

"O quê? É apenas um pássaro noturno."

"Olhe para o rosto dele, professor." Falando com uma voz calma e composta, Nakajima se voltou
para Narukawa.

O pássaro, que estava olhando para eles com olhos azuis brilhantes, claramente tinha o rosto de
uma mulher humana.
"É uma harpia. Já as vi várias vezes na Sibéria; é muito bonita, não é?"

Abaixando a guarda com a reação blasé de Feed, Narukawa baixou a pistola.

"Não é perigoso?"

"Ah, com certeza atacaria se tivesse oportunidade. Mas estamos seguros enquanto Kerberos
estiver conosco."

Como se tivesse ouvido a voz de Feed, a harpia balançou suas asas como se para enganar a besta
demoníaca e baixou sua altitude. Sem qualquer aviso, uma besta marrom saltou de entre as copas
das árvores e quebrou a asa do monstruoso pássaro com seu braço grosso. Pega de surpresa, a
harpia mergulhou no chão. Ao fazer isso, o monstro marrom semelhante a um macaco rapidamente
saltou para o chão e com suas presas afiadas mordeu o pescoço da harpia enquanto ela lutava para
se levantar.

Kyaaaeeh!

Gritando com uma voz estridente, a harpia bateu suas asas desesperadamente. Mas seu oponente
tinha uma vantagem sobre ela. Em instantes, seus braços grossos quebraram o pescoço da harpia
em um movimento rápido.

"Bem, agora temos a prova de que existe uma cadeia alimentar no mundo dos demônios," Feed
murmurou.

Arrastando o cadáver da harpia com ele, o macaco demônio subiu em uma árvore. Pouco antes de
entrar em uma casa coberta de videiras, ele se virou curioso e olhou para o grupo de Nakajima.O
olhar malicioso de seu único olho do seu rosto fortemente enrugado lançou-se ao redor, avaliando
os três. Ao fazer contato visual com Kerberos, fez um guincho símio e sumiu de vista.

"Ah, que coisa. Se continuar assim, não há como dizer o que pode nos atacar. Vamos para a
floresta agora. Somos alvo fácil aqui", disse Narukawa com uma voz surpresa enquanto voltava a si.

"Não, enquanto tivermos Kerberos conosco, teremos vantagem no chão. Se formos para a floresta
e formos atacados de cima, estamos perdidos."

Nakajima tinha razão, então Narukawa decidiu acompanhá-lo, e os três homens mais uma vez
seguiram lentamente pela calçada quebrada, tomando cuidado para não tropeçar nas pedras e
pedregulhos espalhados.

Estamos cercados.

Com a Floresta Soga diante de seus olhos, o sexto sentido de Narukawa estava zumbindo.
Kerberos abaixou a cabeça e se agachou em uma pose de luta. Nakajima também sentiu centenas de
olhos olhando para eles por entre as árvores. E aqueles olhos estavam cada vez mais próximos.

Gluf, Gluf

Gritando com uma voz que parecia vir de uma garganta estrangulada, um monstro apareceu da
escuridão. Parecia um humano, mas seu corpo estava coberto de escamas pretas brilhantes. Seus
olhos carmim salientes ardiam enquanto olhava para eles, e a lágrima vermelha em seu rosto que
era sua boca estava distorcida e medonha.

Outro. E outro. Como se fossem criaturas nascidas da própria escuridão, os monstros emergiram
da cobertura das árvores. Dominado pelo medo primitivo, Narukawa disparou sua Walther
repetidamente. A munição de nove milímetros enterrou-se nos estômagos das criaturas com um
som de respingos, e um líquido branco leitoso espesso escorria das feridas. Mas eles não hesitaram
nem um pouco e se aproximaram, com os braços estendidos à frente. Incapaz de suprimir sua
hostilidade por mais tempo, Kerberos atacou a multidão sem nenhum comando de Nakajima e, em
instantes, derrubou várias dezenas deles.

"Sr. Narukawa, volte!" Percebendo que não tinha escolha a não ser lutar, Nakajima imaginou as
duas esferas azuis em sua mente. Apenas por sua concentração, um turbilhão de chamas se formou
no ar e um momento depois a Espada de Hi-no-Kagutsuchi apareceu em sua mão direita. Segurando
seu punho, Nakajima cortou com a espada com um tremendo grito de guerra.

Os peitos dos monstros foram partidos em dois e, como uma onda sendo puxada de volta para o
mar, suas escamas desapareceram, deixando apenas a pele branca para trás. Assim como Ohara, até
recentemente esses monstros viviam como pessoas comuns. Apenas Set poderia tê-los
transformado em tais seres demoníacos.

"Malditos demônios..." Nakajima agarrou sua espada e mordeu os lábios, seus olhos cheios de
indescritível desolação. Olhando para Feed, Nakajima viu que ele estava disparando seu Smith &
Wesson repetidamente enquanto segurava sua cruz ornamentada. As balas de sulfeto de mecúrico
matavam instantaneamente os monstros que atingiam, porém mais delas erravam seus alvos do que
acertava.

"Professor, a batalha está apenas começando", gritou Nakajima. "Por favor, não desperdice sua
munição!"

Eu só vou ter que forçar meu caminho através deles... Assim que Nakajima traçou um plano, a
hostilidade desapareceu dos olhos dos monstros. Quando seus braços caíram para os lados, cada um
deles se virou e se arrastou de volta para as profundezas da floresta. Seus olhares vazios eram como
se estivessem todos em transe.

Nakajima se virou, assustado com um rosnado de Kerberos, e notou que Feed e Narukawa
também tinham um brilho estranho em seus olhos.

"Professor! Sr. Narukawa!"

Como se estivesse tentando cortar um fio invisível, Nakajima desferiu um golpe com a espada de
Hi-no-Kagutsuchi diante de seus olhos. De repente, voltando a si, os dois homens se entreolharam.

"Isso foi por pouco. Nós quase fomos enfeitiçados pelo demônio também." Estremecendo, Feed
abriu a trava de segurança de sua pistola e a colocou no bolso do casaco.

Seguindo as criaturas, os três continuaram na Floresta Soga, que agora era uma extensão do
Mundo Atziluth. Ocasionalmente, uma harpia sobrevoava, batendo as asas como se para zombar
deles. Logo a névoa se dissipou e, esperando por eles, havia uma cena bizarra, muito além de sua
imaginação.

"Isso é....!!" Ao mesmo tempo, os três gritaram de surpresa.

Ao lado da brilhante superfície listrada de vermelho e verde do pântano, uma enorme torre
carnuda se projetava dezenas de metros no céu. Uma a uma, o bando de criaturas foi subindo.
Aqueles que ficaram sem energia no caminho para cima foram sugados para o protoplasma ali
mesmo e absorvidos pela torre de carne. A superfície da torre estava coberta pelos corpos meio
quebrados das criaturas e incontáveis tentáculos contorcidos, o último dos quais dava a aparência
de um enorme organismo unicelular.

Feed e Narukawa se esqueceram e ficaram encantados com a visão repulsiva como se estivessem
possuídos. No entanto, Nakajima rapidamente os trouxe de volta aos seus sentidos e notou um
homem de cabelos prateados se aproximando, aparecendo por trás da sombra do pilar carnudo.
Nakajima teve a sensação de que reconhecia esse homem de algum lugar, e logo o grito de Feed
deixou claro o motivo.

"Então, você realmente estava por trás de tudo isso, Isma."

Então esse homem é Isma... irmão do professor Feed.

"Nakajima, não há necessidade de se segurar", gritou Feed, "enquanto ele viver, o mundo nunca
estará seguro!"

Isma sorriu friamente. A túnica negra que o envolvia balançava ao vento.

"Pegue-o, Kerberos!"

Por ordem de Nakajima, Kerberos atacou Isma, mas, de repente, saltou para longe como se tivesse
atingido uma parede invisível no ar.

"Ha ha ha!"

O corpo de Isma parecia flutuar no ar enquanto ele ria, e duas luzes incomuns apareceram a seus
pés. Coberto de escamas negras, a grande serpente negra Typhon olhou para Nakajima com seus
olhos dourados enquanto se elevava lentamente no ar com Isma cavalgando em suas costas, como
se a terra de repente tivesse dado à luz uma enorme árvore. Com sua cabeça quase estendida até a
altura total da torre de carne, a enorme serpente estremeceu e atacou Nakajima. A metade inferior
do corpo de Isma foi fundida com a de Typhon; talvez fosse outro tipo de fusão que o demônio
pudesse fazer além de sua habilidade inata de absorver a terra e o ar em seu próprio corpo.

A espada de Hi-no-Kagutsuchi não poderia fazer nada contra as escamas rígidas de Typhon.
Nakajima não teve escolha a não ser fugir, perseguido pela gargalhada de Isma.

"Você deve ter tido muita sorte por ter conseguido derrotar Loki assim! Pare de lutar e torne-se o
próximo sacrifício!"

Enquanto isso, Feed, percebendo a gravidade da situação, sussurrou algo para Narukawa
enquanto entregava sua pistola.

"O que quer que você esteja planejando, não vai funcionar, Charles!" gritou Isma do alto da
cabeça da serpente. "Vou comer você logo depois do Nakajima!"

Kerberos saltou para o ataque lateral, mas foi derrubado como uma bola de borracha pela cauda
em forma de chicote de Typhon.

"Morra, Nakajima!"

Segurando a Smith & Wesson com as duas mãos em uma posição de tiro e mirando na boca aberta
de Typhon enquanto ele atacava, Narukawa puxou o gatilho.
Por um instante, a grande serpente parou como se sentisse desconforto. Aproveitando a
oportunidade, Nakajima saltou e mergulhou a espada de Hi-no-Kagutsuchi em um de seus olhos
dourados.

GYAAAH!

Gritando, Typhon chicoteou e teve espasmos. Com espada e tudo, Nakajima foi jogado para o
lado, mas Kerberos saltou no ar e o pegou. Naquele momento, Nakajima teve a sensação de que
ouviu a voz de Yumiko de longe. Olhando ao redor em confusão, a imagem de Yumiko, amarrada a
uma cruz e se contorcendo em agonia, apareceu em sua mente. Muito provavelmente, Set havia
enviado a ele a imagem de seu estado atual como o núcleo de seu enorme corpo temporário
protoplasmático. Nakajima notou que um dos olhos em seu rosto adorável e aterrorizado estava
pingando sangue.

"Hah, hah, hah! Bravo jovem, não esqueça que Yumiko é prisioneira de Set!"

Não dê ouvidos a ele! Os demônios precisam do meu corpo! Eles nunca me matariam! A voz de
Yumiko gritou na mente de Nakajima, encorajando-o.

A voz risonha de Isma penetrou nos ouvidos de Nakajima. "De fato. A garota é necessária para
fundir este mundo e o mundo dos demônios. No entanto, mesmo que não possamos matá-la, ainda
podemos torturá-la com uma dor inimaginável."

Foi difícil para Nakajima suportar o terrível sentimento de culpa e autocensura que sentiu ao ver
Yumiko tentando freneticamente suportar a agonia. O olho restante de Yumiko começou a se encher
de lágrimas de sangue.

"Pare com isso!" Incapaz de resistir por mais tempo, Nakajima jogou de lado a espada de Hi-no-
Kagutsuchi e caiu de joelhos.

"Nakajima, acorde! Você não pode ouvi-los! Se você ceder, o que vai acontecer com este país? O
que vai acontecer com o mundo... "

Ouvindo Feed gritando a plenos pulmões chamando por Nakajima, Narukawa foi dominado e
socou o chão com o punho.

Esse tipo de coisa já aconteceu antes!

Por mais que tentasse, Narukawa não conseguia se livrar de uma sensação avassaladora de déjà
vu.

Devo ter algum tipo de poder. Algum tipo de poder para salvar aquele garoto! Alguém - Deus ou
Buda, não me importo - por favor, desperte meu poder! Esse poder certamente revelará minha
conexão com o garoto também...
Parte 5: Capítulo 3

Bem naquela época em Yomotsuhirasaka, Izanami olhou ansiosamente para o céu negro.

Sua conexão com o mundo humano dependia em grande parte dos sentidos de Yumiko; contanto
que ela fosse capturada por demônios, Izanami não poderia vê-lo, nem poderia possuir Yumiko para
salvá-la.

O movimento das estrelas era a única conexão entre o mundo humano e o submundo
remanescente. E a estrela de Nakajima estava ficando visivelmente mais fraca. A estrela de Yumiko,
bem ao lado dela, havia escurecido tanto que nem era visível sem apertar os olhos. Enquanto isso, a
sinistra estrela vermelha ao redor deles brilhava cada vez mais.

"O que aconteceu!? Eu não suporto isso. Mas eu não tenho o poder de afetar o mundo humano..."
Murmurando de irritação, os olhos de Izanami pararam em outra estrela próxima a eles, piscando
levemente.

"O que é isso...?"

Poderia ser outro deus reencarnado?

Ajoelhando-se, Izanami começou a orar freneticamente. "Eu não sei que deus você é, mas por
favor, desperte, pelo bem deles."

Como se em resposta à oração, a estrela começou a brilhar cada vez mais. Momentaneamente,
como uma supernova, sua luz iluminou aquela área do céu.
Parte 5: Capítulo 4

De repente, Narukawa estendeu os braços em direção ao céu e gritou.

"Alma da luz do céu e da terra, luz da lua, venha aqui para mim, Tsukuyomi!"

Feed virou em estado de choque.

"Então você finalmente perdeu." Isma também parou a serpente gigante, com a boca aberta e
pronta para engolir Nakajima, e se virou para encarar Narukawa.

Mas o estrondo dos céus e da terra que começou no instante seguinte apagou o sorriso
desdenhoso de seu rosto.

O céu está caindo, Nakajima pensou enquanto olhava para cima.

As estrelas no céu, que brilhavam muito mais do que o normal, tornaram-se uma única faixa de luz
e dispararam em direção a Narukawa, deixando uma cauda listrada atrás de si. Ou, pelo menos, foi o
que pareceu a Nakajima.

"Sr. Narukawa..."

Mas não era mais Narukawa que se levantava para lutar contra o demônio, mas sua identidade em
sua vida anterior, a do deus da lua Tsukuyomi. Sem esperar um momento, ele jogou a luz que estava
reunida em torno de sua mão direita na enorme cobra.

GYAAAAGH!

Como um bisturi a laser, a flecha de luz dividiu o corpo de Typhon em dois ao meio. Quando Isma
caiu no chão, Narukawa não mostrou piedade quando lançou outro ataque contra ele. Sem tempo
para lançar um feitiço defensivo, em um instante Isma foi envolto em chamas e, gritando de raiva e
dor, tentou agarrar Narukawa quando ele caiu no chão em uma pilha sem vida.

A visão lembrando-o da morte de sua mãe, Nakajima se encolheu quando um súbito choque
percorreu sua espinha. O ar ao seu redor se comprimiu de repente, e uma onda capaz de congelar o
corpo e a mente disparou pelo chão.

Por fim, Set decidiu lutar diretamente.

A superfície de sua membrana protoplasmática ondulou e, à medida que a torre de carne


ondulava, veio sobre a cabeça de Narukawa como um tsunami. Sem recuar um passo, Narukawa
disparou uma flecha de luz no pilar carnudo, que o penetrou profundamente com um som viscoso.
Mas isso parecia não ter causado nenhum dano a Set.

"Rápido! Rápido e fuja com Nakajima! Rápido, enquanto eu o seguro! Ele é um guerreiro
importante!" Narukawa gritou para Feed.

"...OK boa sorte!" Balançando a cabeça com pesar, Feed bateu na nuca de Nakajima com sua
pistola enquanto ele tentava correr e ajudar Narukawa.

"Kerberos, corra!" Colocando o corpo inconsciente de Nakajima nas costas de Kerberos com uma
velocidade surpreendente para um homem de sua idade, Feed saltou sobre a besta em seguida.

"Perdoe-me, Narukawa." Como se em resposta ao choro sufocado pelas lágrimas, saraivadas de


feixes de luz dispararam no corpo de Set de novo e de novo. Mas eles logo se tornaram cada vez
menos frequentes, e a Floresta Soga foi novamente cercada por um silêncio sinistro. O pilar carnudo
se contorceu triunfantemente no céu e aumentou a velocidade com que fundiu os mundos
demoníaco e humano. No centro daquela massa protoplásmica, Yumiko, amarrada à cruz egípcia,
chorava lágrimas de sangue.
Parte Seis: Cidade Demoníaca

Parte 6: Capítulo 1

"Não havia nada que pudéssemos ter feito. Se ele não tivesse se sacrificado para que pudéssemos
fugir, nenhum de nós estaria vivo agora." A voz de Feed parecia distante.

Sentado no sofá de couro macio, Nakajima finalmente abriu as pálpebras pesadas e olhou para
fora da janela meio acordado, meio adormecido. Em algum momento, os ferimentos em seus braços
e pernas foram enfaixados, mas ele não se lembrava de quem os havia tratado ou quando o fizeram.

Como se não soubessem que Musashino havia se transformado em uma cidade demoníaca, os
carros na rodovia passaram velozes, seus faróis formando um rio de luz. Por um breve momento,
Nakajima pensou ter visto o rosto sorridente de Narukawa que virou Tsukuyomi naquelas luzes.
Mais importante, Nakajima não conseguia entender por que Narukawa tinha ido tão longe para
protegê-lo, mesmo desafiando sua própria organização. Ele só conseguia pensar que havia algum
tipo de conexão entre eles que desafiava a lógica, muito parecido com sua própria conexão com
Yumiko. Tudo o que ele queria fazer agora era se apegar à esperança, porém, pequena, de que
Narukawa tivesse sobrevivido de alguma forma.

"Ei, onde estamos?" Nakajima abriu a boca como se algo tivesse acontecido com ele.

"Estamos na embaixada americana. Estamos seguros aqui." Quase logo após a resposta de Feed,
bateram na porta. Um senhor alto e idoso entrou na sala.

"Como está nosso convidado, professor?"

O rosto delicado e esguio do homem virou-se para Nakajima, e Nakajima percebeu que já havia
visto essa pessoa na televisão várias vezes antes. Era Blackwood, o embaixador dos Estados Unidos
no Japão.

"Ele parece muito melhor. Obrigado." Feed respondeu com uma expressão calma que Nakajima
nunca tinha visto no homem antes. Olhando para Feed falar tão casualmente com um importante
funcionário do governo americano e vislumbrar o quão amplo era o mundo do professor, Nakajima
sentiu uma pontada de solidão. Ele sabia melhor do que ninguém que não tinha um lugar ao qual
pertencesse no momento. Enquanto baixava a cabeça envergonhado, o Embaixador parecia ter
confundido isso com um momento de ansiedade e aproximou-se para apertar-lhe a mão.

"Está tudo bem. O professor Feed me contou tudo. Nunca entregaremos você ao governo japonês,
mesmo que eles o exijam." O japonês de Blackwood era impecável.

Nakajima não disse nada e pegou a mão quente do homem para cumprimentá-lo.

"A propósito, Embaixador, você conseguiu um jato?"

"Temos um F14 esperando. Ele partirá para os Estados Unidos amanhã às 8 horas."

"Obrigado, Embaixador."

"Não precisa me agradecer. Diga oi ao presidente por mim."

Como se esperasse que o embaixador desaparecesse atrás da porta, Nakajima falou com Feed.

"Você vai voltar para a América, professor?"

"Sim. Sobre isso..."


Feed sentou-se no sofá em frente a Nakajima e se inclinou para frente. Seus olhos estavam
brilhando como os de uma criança travessa.

"Eu finalmente descobri uma maneira infalível de banir o demônio."

"O que!?"

"Eu sei que é difícil de acreditar, mas isso é uma coisa certa. Lembra do que eu disse há pouco? Se
houver dois campos magnéticos que tentam invocar um demônio simultaneamente, se a diferença
em suas forças for grande o suficiente, o demônio automaticamente é puxado para o campo mais
forte. O que determina a intensidade do campo magnético?"

"A composição da atmosfera, a gravidade, a polaridade geomagnética... e o estado de espírito das


pessoas provavelmente também teriam um grande efeito."

"Você conseguiu. Eu não esperava nada menos do meu melhor aluno." Em algum momento, Feed
decidiu que Nakajima era seu aluno. Confuso, Nakajima balançou a cabeça com as palavras de Feed.

"Você não entende onde quero chegar? Aqui, tome um exemplo hipotético. O que você acha que
aconteceria se você pudesse criar um campo magnético que não tivesse interferência da atmosfera,
gravidade e geomagnetismo?"

"Bem, é claro, em teoria seria imensamente poderoso. Mas tentar criar artificialmente tal
ambiente levaria uma quantidade enorme de tempo e dinheiro, e..."

Como se tivesse pensado em algo, Nakajima parou no meio da frase.

"Entendi! No espaço sideral! Você vai usar um satélite!"

Feed acenou com a cabeça em satisfação.

“Não há como prever o que um demônio banido para o espaço sideral faria. Mas se pudéssemos
puxar Set para um satélite colocado em órbita de descarte, ele nunca mais seria capaz de se
intrometer na Terra enquanto o computador continuasse funcionando. Haveria muito tempo para
desenvolver uma arma capaz de eliminá-lo enquanto isso. Tenho que voltar aos Estados Unidos para
obter a aprovação do governo para usar um satélite em órbita estacionária.

"Existe um satélite com um computador poderoso o suficiente para invocar um demônio?"

"Claro. Meu país lançou um satélite em órbita estacionária geossíncrona a 135 graus leste como
base para controlar os futuros satélites SDI. Atualmente está operando apenas com 30% da
capacidade. Seria perfeito para invocar Set." A voz de Feed estava cheia de confiança.

"O que você vai fazer? Tentar enfrentar Set sozinho neste momento não seria nada além de tolice.
Eu acho que é melhor você ficar aqui até que tudo esteja resolvido..."

Como se estivesse perseguindo uma ilusão, os olhos de Nakajima se voltaram para a janela.

"Acho que seu plano tem uma chance muito alta de dar certo. Mas há algo que você esqueceu,
professor."

"O que?"

"Se você executar seu plano, o corpo temporário de Set, que atualmente está fundindo o mundo
humano com o mundo dos demônios, experimentará um tremendo choque quando seu ambiente
mudar repentinamente. Acho que seria seguro dizer que não haveria chance de salvar Yumiko, que
está atualmente dentro dele."

Feed ficou em silêncio.

"Vou lutar contra Set novamente. Mas antes disso, quero encontrar a deusa Izanami. Izanami
pode ter alguma sabedoria sobre o que fazer..."

"Então eu luto pela humanidade, e você luta pela sua namorada. Bem, tudo bem então."

Feed se levantou e ofereceu a mão a Nakajima.

Parte 6: Capítulo 2

No início da manhã seguinte, dois Cadillacs sob guarda pesada se afastaram da embaixada
americana envolta em névoa em direção ao oeste. Um deles foi para a Base Militar de Yokosuka e o
outro foi para o oeste pela via expressa Tomei. Um sedã preto tentou segui-los, mas talvez estivesse
com medo do guarda, pois silenciosamente deu meia-volta assim que os dois carros se separaram
para seguir para seus respectivos destinos.
Parte 6: Capítulo 3

Mais tarde naquela tarde, Shimazaki visitou o escritório de Ota em Nagatacho. Ainda sem saber
que Isma havia morrido, aproximou-se de Ota com ar de confiança.

"Agora você conseguiu, secretário-chefe. O professor Feed deixou o país!"

"Você disse que tudo o que queria era que o projeto dele fosse dissolvido, então qual é o
problema? Eu pensei que você ficaria satisfeito por ele ter decidido deixar o país por conta própria."

"Isso é verdade, mas aquele estudante do ensino médio Nakajima aparentemente desapareceu..."

"Ah, pare com isso! Você realmente acha que alguém da minha importância pode se incomodar
com algum estudante do ensino médio?" A voz de Ota estava carregada de irritação.

"Ele pode se tornar uma grande interferência em nosso plano."

"Nosso plano?" Ota olhou para Shimazaki com altivez.

"Eu não me lembro de ter pedido nada a você. Os eventos simplesmente viraram a meu favor, só
isso. Em vez de lidar com esse tipo de bobagem, os rumores das ocorrências bizarras no distrito de
Musashino se tornaram um problema real para o gabinete. Usando Fujita e Hamano, consegui evitar
que as coisas vazassem, mas se as coisas começarem a se espalhar para os 23 bairros, não podemos
simplesmente sentar e não fazer nada. É melhor você pedir ao seu precioso Saint parar de brincar de
demônio.”

"Farei o que puder..." Shimazaki respondeu com uma cara triste.

Sem Isma, ele não tinha poder algum; Shimazaki não conseguiu se aproximar da abertura para o
mundo dos demônios. Além disso, como ele não sabia quanto poder os demônios tinham, se Ota se
mostrasse corajoso, não havia nada que ele pudesse fazer para neutralizá-lo.

"Nesse ritmo, podemos apenas ter que usar o SDF." Observando a expressão de Shimazaki, Ota
falou como se estivesse tentando avaliar sua reação.

"Depois de tudo isso, você quer se opor aos demônios!?"

"Muito mesmo do melhor remédio vai fazer você ter uma overdose. Não me incomodaria nem um
pouco se os demônios simplesmente surgirem e desaparecerem."

"Se os demônios ouvissem você dizer algo assim..." Shimazaki estava claramente perdendo sua
compostura.

"Ah, não se preocupe. O que eu disser agora nunca sairá desta sala. De jeito nenhum..."

Mostrando os dentes em um sorriso, Ota estalou os dedos. Um homem alto que esperava na sala
ao lado se aproximou casualmente. Ota apontando com um movimento de cabeça, o homem
deslizou por trás de Shimazaki. Shimazaki enrijeceu reflexivamente e uma leve dor aguda disparou
em seu pescoço grosso.

"O que você está fazendo!?" Shimazaki saltou do sofá. "Eu não vou deixar ninguém tentar tirar
sarro de mim - nem mesmo você, Sr. Ota!"

No entanto, gotas gordurosas de suor já apareciam em seu rosto vermelho e suas pernas
começaram a tremer.
"Você vai morrer sem dor. Isso foi um anestésico que eles usam para executar prisioneiros no
Texas. Vá em frente, tire uma soneca... embora você nunca vá acordar."

"O que?" O corpo de Shimazaki caiu para frente enquanto ele mordia o lábio com força.

"OK, Kuroda. Deixo o resto com você. O Gabinete está esperando por mim."

Agindo como se nada tivesse acontecido, Ota saiu da sala, nem uma vez olhando para o cadáver
de Shimazaki esparramado no chão.
Parte 6: Capítulo 4

Em sua mansão, cerca de uma dúzia de repórteres se aglomeraram em torno do primeiro-ministro


Nakasone, que permaneceu impecavelmente vestido em um terno de negócios, apesar do calor do
verão.

"Primeiro-Ministro, sobre o que é essa reunião de emergência do gabinete?"

"Existe algum progresso em relação à eleição deste outono?"

Não havia fim para as perguntas dos repórteres. Mas havia uma expressão de irritação em cada
um de seus rostos. Os desaparecimentos em massa centrados no Bairro Musashino agora eram um
segredo aberto. Mas sob ordens estritas de silêncio, nenhum deles poderia perguntar nada sobre
isso.

"Eu só gostaria de ter as respostas que vocês estão procurando." Deixando este único comentário,
o primeiro-ministro desapareceu na sala do gabinete com uma expressão de dor no rosto.

"Eu estive esperando por você, primeiro-ministro." A voz rachada do secretário-chefe do gabinete,
Fujita, chamou Nakasone quando ele entrou na câmara do gabinete.

O primeiro-ministro olhou com dor para o rosto cansado do fiel servidor que havia motivado sua
ascensão ao poder.

Ele é quem tem insistido ferozmente em manter os desaparecimentos em segredo. Agora que as
coisas ficaram tão ruins quanto agora, não tenho escolha a não ser fazê-lo assumir a
responsabilidade.

Ter que fazer isso era um dos pesos na mente do primeiro-ministro. Ele não tinha como saber que
o secretário-chefe do gabinete estava possuído por um Apep.

"Ministro do Interior, informe sobre a situação."

"A partir das 10h desta manhã, o número de desaparecidos era de 42.500. As áreas atingidas se
espalharam para o Bairro Nerima e Bairro Suginami no Leste, e Cidade Koganei no Oeste. Medidas
imediatas devem ser tomadas." O Ministro de Assuntos Internos Hanashi, que havia sido proibido de
enviar qualquer equipe de busca, respondeu com uma voz irritada.

"Dê uma olhada na área agora." O ministro da Defesa, Kurihara, levantou-se e apertou um botão
na mesa.

A imagem das ruas da cidade de Musashino piscou em uma tela na frente deles.

"Esta é uma filmagem tirada de um de nossos VPRs. (Veículos Pilotados Remotamente)"

Desde que Set começou a caçar pessoas indiscriminadamente, o véu de névoa que cobria a área
começou a se dissipar cada vez mais, e o VPR enviou uma imagem clara dos arredores por dois
metros ao redor para a tela de cristal líquido. O distrito comercial perto da estação Kichijoji, o
grande cenário verde do Parque Inogashira e os bairros residenciais tranquilos passaram
rapidamente pela tela. A imagem parecia estranhamente pacífica, pois quase nada na tela estava se
movendo. Girando o dial com a mão, Kurihara ampliou a tela. Os raios do sol refletiam nos capôs dos
carros abandonados espalhados pela Avenida Inogashira. Gatos vagavam pela cidade livre de
humanos como se fossem seus donos.
"O que diabos está acontecendo?" Murmúrios irromperam na sala.

Logo o VPR começou a se mover para o oeste. De repente, parecia que o cenário na tela havia
mudado para uma selva tropical.

"Que diabo é isso?" Houve uma agitação em todo o gabinete.

Manipulando o dial, Kurihara ampliou ainda mais a câmera, e sua forma bizarra preencheu a tela.

A coisa úmida, viscosa e gelatinosa parecia ser um organismo unicelular imensamente enorme.
Estava claramente vivo, pois a membrana que envolvia seu núcleo central pulsava suavemente.
Silenciosamente, Kurihara moveu o VPR, girando-o em torno da criatura de outro mundo, que
parecia ser um arranha-céu de carne projetando-se no céu.

"Ei, isso não é um humano?"

Ninguém respondeu à exclamação de Nakasone. A estranheza do cenário surpreendeu a todos.


Uma linha de pessoas, centenas delas, saiu da floresta, avançando em direção à torre. Ao se
aproximarem, arrancaram as roupas e, nus, estenderam os braços à frente como sonâmbulos antes
de serem absorvidos pelo protoplasma. A gelatina transparente dissolveu seus corpos quase
instantaneamente, fundindo-os com o pedaço de carne que era seu núcleo.

"Secretário-Chefe do Gabinete, Ministro das Relações Exteriores Hamano, foram vocês dois que
sugeriram enfaticamente que cobríssemos isso, não...?" O orador foi o Ministro da Educação
Shiokawa. Mas até a voz do Ministro da Educação, amplamente conhecido por suas reclamações
enérgicas, soava seca e áspera.

"Este foi um desenvolvimento inesperado. Não havia nada que pudéssemos ter feito!" As palavras
não soaram como as do braço direito do primeiro-ministro, o homem tão conhecido por todos por
ser franco e honesto.

Ele ficou louco?

O pensamento estava na cabeça de todos quando o som de um telefone quebrou o silêncio.

"Eu lhe disse para desligar todas as ligações durante a reunião do gabinete, não importa quais
fossem!" O policial que atendeu o telefone falou em voz baixa, mas assim que ouviu o alto-falante
do outro lado, seu rosto perdeu a cor.

"Primeiro-ministro, temos um telefonema de emergência do presidente Reagan dos Estados


Unidos."

"O que é isso!?" Desconfiado, Nakasone pegou o telefone. Nakasone era famoso por ser o falante
de inglês mais fluente entre os políticos japoneses. Ainda assim, ele não pôde deixar de gritar "Não
acredito!" em japonês durante sua conversa com Reagan.

Nesse exato momento, houve um grito atrás dele. Quando Nakasone se virou, quase deixou cair o
telefone, esquecendo-se por um momento de que estava falando com o presidente.

Fujita e Hamano estavam gritando de tanto rir, mas sem emitir nenhum som. Seus rostos ficaram
cada vez mais roxos a cada momento. Sangue fresco jorrou de seus lábios, suas orelhas estouraram
e seus globos oculares, olhando vazios para o nada, estavam se expandindo como se estivessem
prestes a saltar das órbitas. Um cheiro horrível de podre impregnava a sala de reuniões.
"Deixe o SP e os paramédicos entrarem! Não deixe nada disso vazar para a mídia!" Ota, que
recobrou o juízo primeiro, ordenou ao oficial que atendera o telefone, que estava parado,
boquiaberto.

Bem, suponho que seja inevitável. Se esses dois morrerem aqui, ninguém mais saberá do meu
segredo. O maior desejo de Ota se tornou realidade.

As cabeças dos dois homens, cujos traços agora estavam distorcidos muito além do normal,
mancavam frouxamente e seus corpos se dissolviam em poças de lodo como frutas podres no chão.

No caos de pessoas correndo pela sala, nem uma única pessoa notou as duas pequenas cobras
brancas deslizando para fora dos agora dois corpos sem forma deitados em uma pilha no chão.

Enquanto isso, Ota ria por dentro, pois tudo parecia correr como ele havia planejado, mas no
instante seguinte, seu rosto se contorceu em uma expressão de terror.

Os olhos vermelhos das cobras o observavam atentamente.

"Aagh!"

Enquanto Ota reflexivamente dava alguns passos para trás, seus pés escorregaram no tapete
encharcado de sangue. Ele caiu no chão e as duas serpentes deslizaram rapidamente em direção à
sua cabeça.

Enquanto isso, o enorme pilar de carne continuou a aparecer na tela, embora ninguém mais o
estivesse observando. De repente, o ângulo da câmera mudou drasticamente. Parecia que a tela
inteira tremeu por um momento antes de ficar totalmente verde quando o fluxo de dados do VPR
parou.
Parte 6: Capítulo 5

Eram 15h do mesmo dia, em Asukamura, localizada na prefeitura de Nara. Banhado pelos raios
ardentes do sol, o verde das árvores era brilhante o suficiente para doer os olhos. Alegremente
inconscientes do que se passava na capital, os rostos dos caminhantes que trilhavam a estrada de
cascalho estavam encharcados de suor.

"Ei, quer ir para Ocadera em seguida?" A garota em idade universitária com o corte de cabelo
curto falou de forma persuasiva com o homem que a acompanhava.

"Ainda estamos muito longe do Hotel Tonomine. Se fizermos muitos desvios, o sol vai ser pôr
enquanto ainda estivermos nas montanhas." Tirando os óculos escuros, o homem apontou para as
montanhas próximas.

"Nós vamos ficar bem, o sol ainda está alto no céu. Ah, um carro."

Ao ouvir a voz da mulher, o homem moveu-se lentamente para sair do caminho.

"Hmph, um Cadillac no meio do mato como este? Gostaria que eles nos dessem uma carona."
Observando o carro arremessando o cascalho ao sair do local, o homem se virou e seguiu a mulher.

"Você pode me deixar sair aqui?" Nakajima falou com o homem negro que dirigia o carro assim
que viu a lápide de pedra. Abrindo a porta do carona quando assim que pararam, ele pisou no chão
de Asuka.

"Boa sorte!" O motorista mostrou os dentes brancos em um sorriso, então se virou, acenando com
a mão.

Estreitando os olhos e olhando para o cenário distante com profunda emoção, Nakajima suspirou
profundamente e começou a caminhar para o Monte Shirasagi. Os raios do sol levaram Nakajima a
uma sensação de surrealismo, como se seus pés não estivessem tocando o chão. Com esforço,
imaginando Yumiko presa dentro do pilar carnudo do corpo de Set, ele foi capaz de sair da estranha
sensação de volta ao mundo.

Será que realmente vou conseguir encontrar a Izanami de novo? A estrada daqui até Yomi deve ter
sido fechada há séculos!

Nakajima imaginou-se parado estupefato na sala de pedra, incapaz de encontrar o caminho para a
câmara mortuária de Izanami. Mesmo no instante em que ele pisou no monte Shirasagi, ele não
conseguia se convencer totalmente de que sua memória do mês anterior não era apenas uma
grande ilusão. Os vestígios da passagem de Kerberos anteriormente haviam sido completamente
ocultos pelo mato. Nakajima entrou no ar frio que soprava da entrada da tumba coberta por
Kumazasa. Ao ver o pequeno buraco de dentro da câmara mortuária de pedra de onde o frio estava
saindo, os olhos de Nakajima finalmente se iluminaram com um propósito.

Por várias horas, ele gradualmente desceu a longa passagem inclinada. No final do longo caminho
funerário, o relevo prateado marcando a câmara funerária de Izanami estava brilhando. Mas as
paredes tinham marcas claras contando a história de quão feroz foi a batalha com Loki. Os
fragmentos quebrados dos potes na sala estavam lá como antes.

Nakajima aproximou-se do estrado de granito branco. Pegando um pouco da pomada de um dos


poucos potes intactos, ele aspergiu sobre as cinzas em forma humana em sua superfície.
Com um sentimento de admiração, Nakajima juntou as palmas das mãos e fechou os olhos. Logo,
ao sentir o cheiro da pomada sendo soprado por uma brisa fresca, surgiu diante dele a forma
inconfundível da deusa Izanami.

"Eu estive esperando por você." Embora sua voz estivesse carregada com a gentileza de uma mãe
cumprimentando seu filho, Nakajima podia ouvir claramente a ansiedade nela.

Então Izanami não sabe exatamente o que está acontecendo no mundo humano ... Nakajima
explicou brevemente à deusa sobre seu breve reencontro com Yumiko, a batalha com Set e o
projeto Demon Banishment no qual Feed estava trabalhando secretamente.

"Sinto muito pelo que aconteceu com Tsukuyomi", disse Izanami enquanto Nakajima terminava
sua história.

"Tsukuyomi... você quer dizer Narukawa? Havia algum tipo de conexão profunda entre mim e
ele?"

"Tsukuyomi é o deus da luz do entardecer. Em uma vida anterior, ele foi um de seus filhos mais
poderosos."

Por um momento, os dois ficaram em silêncio. Nakajima sentiu uma profunda culpa por
Tsukuyomi, que havia sido morto por demônios sem nenhuma chance de ser glorificado em sua
reencarnação. Mas não havia tempo para ser retido pela tristeza.

"Izanami, se o teste do Professor Feed for bem-sucedido, o que acontecerá com Yumiko?" Isso
mais do que tudo é o que Nakajima queria saber.

"Nada assim foi tentado antes. Infelizmente, isso está além dos limites do meu conhecimento."
Izanami soltou um suspiro suave.

Sem qualquer outro tipo de plano de ação, se Feed conseguisse convencer o governo americano, o
programa Demon Summoning seria ativado no satélite em órbita de descarte dentro de um ou dois
dias. De alguma forma, Nakajima precisava resgatar Yumiko antes que isso acontecesse.

"Por favor, eu imploro, me dê o poder para derrotar Set. Mesmo que isso custe minha vida, não
me arrependo."

"Eu não tenho outro poder para lhe dar. No entanto..." Izanami, que hesitou por um momento, foi
pega de surpresa pela preocupação de Nakajima por Yumiko, e silenciosamente tirou o manto dela,
entregando-o a ele.

"Vista este manto. Com ele você ganhará a habilidade de correr pelos céus."

Desviando os olhos do puro e brilhante corpo nu de Izanami, Nakajima gentilmente pegou o


manto. Era leve como penas e tinha o calor da pele humana.

"Esse manto foi dado a mim por meu marido Izanagi. É também minha conexão com o mundo
humano. Se você pegar esse manto, talvez eu nunca mais possa aparecer no mundo humano
novamente. Nem mesmo ser capaz de possuir Yumiko. .."

Nakajima ficou rígido com as palavras inesperadas de Izanami.

"Mas essa também é a alma do Izanagi. Sinceramente, seria mais adequado se você o usasse."
A voz de Izanami tornou-se cada vez mais fraca. Olhando para cima timidamente, Nakajima viu sua
pele branca perder sua forma, como se derretesse na escuridão.

"Agora vá. Por favor, cuide de Yumiko..."

"Senhora Izanami!"

Quando Nakajima instintivamente estendeu sua mão, ela passou pelo corpo transparente
holográfico de Izanami e agarrou o ar. Apenas uma pequena quantidade de cinzas permaneceu em
suas mãos.
Parte 6: Capítulo 6

Era noite e as ruas de Kabukicho em Shinjuku estavam cheias de gente. Os becos que levavam à
entrada leste da estação de Shinjuku eram barulhentos com o som de várias músicas saindo dos
bares misturadas com vozes femininas encantadoras. À beira da estrada, um jovem assalariado dava
tapinhas nas costas de uma mulher bêbada, encurvada e vomitando. Ele parecia um pouco cansado,
mas parecia um pouco relutante em deixá-la.

Não era como se ninguém estivesse olhando; um taxista olhava para os dois com uma expressão
como se estivesse cansado de ver a mesma cena pela centésima vez.

Uma mulher de meia-idade com cabelos tingidos de vermelho se curvou ao lado do homem.

"Ei, senhor, você tem fogo?"

"Hã? Claro." Não se importando com quem era, apenas feliz que alguém o interrompeu, o homem
parecia um tanto aliviado enquanto segurava o isqueiro.

"Acenda-o para mim, por favor", disse a mulher.

O homem gentil não demonstrou nenhum sinal de raiva com o pedido desagradável, abriu o
isqueiro de 100 ienes e acendeu o cigarro da mulher. Soprando uma baforada de fumaça, ela olhou
para o rosto dele.

"Você é um cara muito legal. Por que não larga essa garota e vem comigo?" A ruiva lançou um
olhar hostil para a mulher ao seu lado, que ainda não havia parado de vomitar. O tabaco caiu de
seus dedos.

"Eu posso ouvir o chamado!" Ela se levantou, seus olhos brilhando de êxtase. Como se estivesse
seguindo seu exemplo, o jovem também fez.

"Tatsuya, onde você está indo?" Limpando o vômito dos lábios, a jovem, ainda agachada, olhou
para o homem.

Mas como se o namorado a tivesse esquecido completamente, ele começou a se afastar ao lado
da prostituta ruiva.

"O que há de errado com você, seu idiota!? Eu nunca mais vou sair com você!" Com a blusa ainda
aberta e o peito exposto, a mulher se levantou cambaleando.

Logo seus olhos também fitaram o vazio.

Para o oeste.

As pessoas começaram a andar silenciosamente.


Parte 6: Capítulo 7

Dentro da improvisada Base de Defesa da Capital montada no subsolo sob o Ministério da Defesa,
uma fila de pessoas com mais de 10 quilômetros de extensão é exibida na tela do vídeo. O VPR
estava transmitindo a situação no terreno perto do coração da cidade.

"Eles finalmente chegaram a Shinjuku!" As vozes dos ministros do gabinete estavam cheias de
profundo pavor.

"Vou deixar como proceder para você, Sr. Presidente. Por favor, deixe-me saber os resultados."
Terminando a última de suas várias conversas com o presidente Reagan, o primeiro-ministro
Nakasone desligou o telefone, com o rosto pálido.

"Os americanos já entraram em deliberações finais sobre o Projeto Demon Banishment. Em caso
de emergência, eles estão enviando a maior parte da 7ª Frota para o Japão, que já está a caminho.
Acabei de colocar a capital sob lei marcial. Ambos os aeroportos de Narita e Haneda serão fechados,
e eu gostaria de começar as instruções para evacuar a população para Tohoku ou Kansai o mais
rápido possível. Kurihara, como está a FAJ (Força de Autodefesa Japonesa)?"

"70.000 soldados FAJ terrestres, incluindo as unidades ranger, já foram mobilizados. Eles estão
trabalhando com equipes da tropa de choque para tentar separar aquela estranha fila de pessoas.

Como há uma grande chance de pegar civis no fogo cruzado a qualquer momento, estamos tendo
problemas para usar qualquer armamento pesado, mas estamos procurando uma chance de subir
para podermos atacar." A descrição do ministro da Defesa Kurihara sobre a situação foi calma e
composta.

"O único problema real é que mobilizar o FAJ mais rapidamente poderia antagonizar os russos.
Avistamentos de batedores do leste da Rússia aumentaram notavelmente."

"Já mandei um recado pelos canais diplomáticos para que saibam que nem nossas ações nem as
dos americanos têm qualquer hostilidade, mas..." O substituto interino do chanceler Hamano
interrompeu com voz fraca.

A massa contorcida da torre de carne, agora ainda maior, foi exibida na tela. Apenas Ota estava
olhando para aquela forma de vida sobrenatural, seus olhos cheios de adoração.
Parte 6: Capítulo 8

Os dados do VPR estavam sendo transmitidos em tempo real do Ministério da Defesa via satélite
militar americano para o Centro de Comando Espacial na Base da Força Aérea de Peterson, no
Colorado.

"O presidente decidiu em um nível básico apoiar o plano do Professor Feed." O assessor do
presidente, Richard falou enquanto olhava para o fenômeno bizarro que atacava Tóquio na tela. Em
frente à tela, um monitor foi instalado na extremidade da longa mesa de reunião retangular.
Sentados à mesa estavam o assessor Richard e o professor Feed, juntamente com o general Louis,
do CDEM (Comando de Defesa Espacial e de Mísseis), e Baker, o engenheiro que, em essência,
estava no controle da IED (Iniciativa Estratégica de Defesa).

O rosto preocupado do presidente Reagan exibido no monitor. O sistema de teleconferência na


Base Aérea de Peterson foi conectado diretamente à Casa Branca.

“Então, essencialmente, somos confrontados com a escolha de usar um satélite em órbita baixa,
um em órbita de descarte, ou se devemos tentar disparar um satélite totalmente fora da atração
gravitacional da Terra ao invocar o demônio”. Baker empurrou os óculos grossos para cima do nariz
com o dedo.

"Atualmente, temos apenas dois satélites capazes de convocar um demônio. O Sistema de Alerta
Antecipado de Satélites Satellite Hummingbird a uma altura de 8.000 quilômetros, ou o satélite Star
Scorpion, que está em órbita de descarte a uma altura de 35.000 quilômetros. No entanto, ambos os
satélites são importantes para a defesa do nosso país, e se algo acontecer a qualquer um deles, pode
causar grandes problemas em caso de guerra nuclear." O general Louis falou desinteressadamente.
"Claro, tudo isso seria discutível se a Força de Autodefesa Japonesa fosse capaz de resolver o
problema por conta própria..."

O assessor Richard apertou um botão em sua mão e um mapa de Tóquio apareceu na tela. Muitas
linhas pontilhadas verdes apontavam para uma grande cruz vermelha que estava situada um pouco
à esquerda do centro do mapa, uma indicação da localização de Set e das pessoas que se moviam
em sua direção. No monitor, o presidente Reagan virou-se para o lado, aparentemente olhando para
o mesmo diagrama sendo enviado para uma tela na Casa Branca.

"Para que a FAJ ataque Set diretamente, eles terão que impedir que os civis se aproximem dele.
No entanto, de acordo com as simulações da CIA, eles precisarão de pelo menos 300.000 soldados
para conseguir isso. O governo japonês pode mal reunir 100.000 soldados em torno da capital. Eles
teriam que obter ajuda externa primeiro." O assessor Richard estava insinuando claramente que as
forças armadas americanas teriam de se envolver.

"Então, senhores, qual satélite seria mais apropriado para usar?" O presidente falou do monitor.
Percebendo que de uma forma ou de outra seria forçado a perder um de seus satélites militares, o
general Louis olhou para o teto e suspirou.

Feed inclinou-se para o presidente no visor e falou. "Só há uma opção. Devemos usar o satélite em
órbita de descarte."

"Por quê?"
"Um satélite voando baixo passará sobre o espaço aéreo de outros países, incluindo os de inimigos
em potencial, e o potencial para um incidente internacional é muito grande caso quaisquer
consequências imprevistas venham da convocação do demônio para o satélite. Além disso, todos os
satélites em órbita baixa estão fadados a cair na Terra, e se não inventarmos um método para
destruir o demônio permanentemente, isso significaria convocá-lo à superfície mais uma vez. Lançar
um satélite para fora da órbita da Terra seria, obviamente, o ideal, mas levaria muito tempo para se
preparar. A cada minuto sentados aqui, cerca de 50 cidadãos de um país aliado estão sendo vítimas
dos esforços de Set para coletar Magnetita humana."

"Muito bem. Vou comunicar ao primeiro-ministro Nakasone nosso plano de usar o satélite em
órbita de descarte então. General Louis, você deve liderar a operação."

"Sim senhor!"

Primeiro um militar, Louis levantou-se para saudar.


Parte 6: Capítulo 9

Como se fosse dividir Tóquio em uma linha norte-sul, a tropa de choque, estacionada ao longo do
Loop 7, montou uma barricada espessa para tentar empurrar a fila de pessoas para Shinjuku. Aqui e
ali, jovens soldados podiam ser vistos se encolhendo ao ver a enorme fila de mais de 100.000
pessoas e recebendo gritos de seus superiores como resultado.

"Você pode usar gás lacrimogêneo se precisar. Faça o que puder para conter o fluxo de pessoas!"
Os escudos de duralumínio tentaram inutilmente repelir as pessoas. Aqueles que caíram após serem
derrubados pelos escudos foram pisoteados casualmente pelo próximo grupo atrás deles. Diante do
banho de sangue sem sentido, os soldados mais jovens tremeram de medo.

Além disso, em meio ao caos, alguns dos próprios homens do exército abandonaram seus postos e
se juntaram à linha, encantados com o chamado de Set. Ao mesmo tempo, as equipes de lançadores
de mísseis que aguardavam a ordem de abrir fogo deixaram seus veículos e se misturaram à
multidão de civis. Seus donos se foram, lança-chamas abandonados e mísseis terra-ar portáteis
espalhados pela calçada.

Enquanto estavam encantados com a aparência da enorme torre demoníaca em seus HUDs, o
Airborne da FAJ também parecia ter sido capturado pelo chamado de Set; incapazes de atacar, eles
mergulharam o nariz de suas aeronaves sem hesitar e caíram entre as árvores da floresta Soga.

Antes mesmo de ter a chance de descobrir se o armamento moderno funcionaria ou não contra
Set, os oficiais da Base de Defesa Capital não tiveram escolha a não ser reconhecer que não havia
mais ninguém para operá-lo.
Parte Sete: Para o Espaço

Parte 7: Capítulo 1

As kumazasas estavam molhadas com o orvalho da manhã. Quando Nakajima deixou o Monte
Shirasagi para trás, a expressão calma em seu rosto não mostrava nenhum traço da preocupação
que o havia marcado quando ele veio aqui para pedir a ajuda de Izanami. Virando-se uma última vez,
ele respirou fundo e pulou chão tão forte quanto pôde.

Seu corpo parecia leve como uma pena. Como se viesse à superfície das profundezas do oceano,
Nakajima flutuou no ar, seus braços empurrando em um movimento de natação. O vento batia em
seus ouvidos. Mas não era um grande uivo, mas um som confortável como o de um pano
esvoaçando na brisa.

Usando um braço para empurrar o ar para o lado e torcer o corpo, Nakajima começou a voar
paralelo ao solo. Abaixo dele, as tumbas de Ishibutai e os telhados de templos antigos pareciam
espalhados entre um panorama verde pálido. Saindo de Asuka, Nakajima seguiu em linha reta para o
leste. Logo, o brilho azul-escuro ofuscante da Baía de Ise se espalhou abaixo dele. Mais à frente, as
planícies de Nobi e os picos dos Alpes do Japão pareciam estar olhando para Nakajima voando
suavemente no céu.

A natureza deu à luz e matou milhões de vidas aqui...

Eras atrás, os deuses Izanami e Izanagi travaram uma grande luta. Naquele dia, Izanami jurou tirar
a vida de cem pessoas por dia e, em resposta, Izanagi jurou dar vida a duzentas pessoas por dia. Se
os deuses realmente tinham ou não algum interesse nas vidas ou mortes da raça humana,
certamente não havia conflito sobre se qualquer vida individual sobreviveu ou morreu.

Em tempos passados, Toyoashihara pode ter sido o país dos deuses. Mas o Japão atual foi criado
pelos esforços do povo e governado pelo povo. Seria difícil ver qualquer oportunidade para os deuses
interferirem.

E eu sou realmente a reencarnação de Izanagi? No mínimo, foi o que Izanami me disse. Mas eu
não quero ser um deus. Eu quero viver e morrer como pessoa...

Se Nakajima pudesse realmente se comparar a um deus, as coisas teriam sido muito mais fáceis
para ele. Então ele teria sido capaz de explicar o fato de que, porque o único programa que ele criou
fez com que sua mãe, a família de Yumiko e milhares - dezenas de milhares - de pessoas morressem
como um destino dado à raça humana pelos deuses. Os deuses simplesmente teriam dado um
julgamento cruel aos humanos que depositam muita fé em seu próprio poder, fazendo-os enfrentar
demônios produzidos pela tecnologia. Pareceria natural que os demônios destruíssem o mundo
humano, e depois que as pessoas tivessem visto o quão impotentes eram, então os deuses sempre
caprichosos interviriam e os salvariam expulsando os demônios.

Mesmo se eu realmente fosse a reencarnação de Izanagi, não poderia me tornar um deus. Eu só


criei aquele programa para me vingar de quem me machucou sem motivo. E agora estou usando
todo o poder que Izanami me deu para salvar Yumiko, a única pessoa que amo...

Ganhando altitude, Nakajima mergulhou nas nuvens. O ar fresco e frio acariciou sua bochecha.
Mais do que aceitar o fato de que seu ataque aos demônios era uma insistência obstinada em
resgatar Yumiko, Nakajima estava tentando manter sua identidade como pessoa. Mas,
ironicamente, Nakajima ainda não havia percebido que destruir muitos em favor de um indivíduo
também era um ato comum desses mesmos deuses sempre caprichosos. Além disso, desde o
momento em que vestiu o manto de Izanami, seu corpo começou a se transformar sutilmente de
dentro para fora.
Parte 7: Capítulo 2

Uma explosão ensurdecedora quebrou a concentração de Nakajima.

Um jato F-14 adornado com uma estrela mergulhou, cortando as nuvens. Nakajima de repente se
viu pairando sobre um campo de batalha. Abaixo dele havia uma visão de arrepiar os cabelos.

Um pedaço de carne inacreditavelmente grande, uma hedionda torre de carne crua, estava se
contorcendo lentamente. Sua membrana gelatinosa verde-clara e transparente estava se
expandindo avidamente em sua base. Vários longos rios negros corriam para ele. Não, o que
pareciam rios negros eram na verdade os cabelos das pessoas que se dirigiam para a torre. Dezenas
de milhares, centenas de milhares de pessoas arrancaram suas roupas e avançaram completamente
nuas.

Explosões rápidas ecoaram no ar. Os jatos F14 das FAJ embaralhados da 7ª frota estavam
atacando, visando o topo da torre para minimizar os ferimentos aos humanos abaixo. Uma chuva de
balas das metralhadoras de um helicóptero de ataque espalhou-se pelo ar. Embora essa munição
fosse capaz de penetrar na armadura do tanque, ela foi absorvida sem qualquer resistência no corpo
da criatura sobrenatural em constante expansão, como se estivesse rindo do ataque patético. Era
quase como se estivesse tentando provar que qualquer ataque contra ele seria inútil.

Nakajima imaginou as esferas azuis dentro de sua mente. Seu corpo estava envolto em um vento
escaldante, e então em sua mão direita ele agarrou a espada de Hi-no-Kagutsuchi. Segurando o
punho com as duas mãos e segurando-a para frente, Nakajima cortou o ar, avançando em direção ao
topo da torre.

GRAAAAGH!

O ataque de Nakajima parecia ter dado ao alvo um choque que ele não podia ignorar; o demônio
Set, anteriormente absorto em absorver humanos em seu próprio corpo, voltou sua atenção para
Nakajima e interrompeu seu controle mental das pessoas que ele estava manipulando. Como
resultado, as pessoas que avançavam em direção à torre foram repentinamente libertadas de seus
transes. Ao redor da torre, um oceano de protoplasma medonho se espalhava, suas paredes
gelatinosas desabando como um tsunami. Muito acima, os caças dispararam entre si e um
helicóptero de ataque caiu no chão em uma bola de fogo, tendo sido atingido por um ataque de Set.

A visão infernal agora diante das pessoas de repente trazidas de volta aos seus sentidos era
demais para eles lidarem. O instinto os dominou, e uma crueldade muito maior do que quando eles
foram controlados pelo demônio os possuiu, pois em seus esforços para se salvar eles cegamente
derrubaram os outros, pisoteando suas costas nuas e estômagos sob os pés. Em busca de novas
vítimas, um oceano de sangue e bile exalava um grande fedor.

Afinal, você realmente veio.

Já dentro da torre de carne, uma poderosa onda psíquica atacou a mente de Nakajima. Como se
tentasse se livrar da dor lancinante, Nakajima cortou sua espada ao redor. O interior do corpo de Set
foi rasgado pela espada de Hi-no-Kagutsuchi de forma surpreendentemente fácil.

O que você está cortando com tanta alegria são os corpos dos humanos que se tornaram parte de
mim. Corte-os até o conteúdo do seu coração.
A onda psíquica desdenhosa de Set parecia estar quase satisfeita por um oponente digno ter
aparecido.

Onde está Yumiko! Devolva-a!

Não houve resposta.

Em vez disso, parecia que o espaço na frente de Nakajima se abriu de repente e, com um som
doentio, surgiu um pântano de sangue fervente. Uma das bolhas pegajosas estourou e uma mão
humana se estendeu. Como se fosse uma deixa, um por um, humanos nus e curvados saíram
rastejando do pântano pingando sangue fresco.

Mate-nos, mate-nos! Acabe com a nossa angústia...

Ao saírem do pântano, eles puxaram a cabeça com uma das mãos pelos cabelos emaranhados de
sangue. Os rostos daqueles que avançavam, murmurando como se estivessem cantando um feitiço,
eram claramente os de Kondo, Takai... todos os colegas que haviam perdido suas vidas para o
demônio que Nakajima havia invocado, Loki.
Parte 7: Capítulo 3

Enquanto isso, no Centro de Comando da Força Aérea Americana de Colorado Springs, os mais de
2.000 pontos exibidos no mapa-múndi ocupando uma enorme tela de 50 pés não poderiam ter sido
suficientes. A Força de Defesa Espacial estava rastreando satélites chineses e soviéticos com 99,9%
de precisão. A Força de Defesa Espacial havia decidido que os 2.000 satélites apontados para a
superfície precisavam ser marcados, e isso provavelmente era menos de 40% deles.

Os pontos visivelmente móveis eram satélites de vigilância lançados em órbita baixa. Quanto mais
devagar eles se moviam, mais altas eram suas órbitas. Em intervalos de cinco graus, satélites em
órbita de descarte acima do Equador perto da América do Norte, Europa e Japão. Entre eles, o ponto
intermitente a 135 graus leste era o Star Scorpion.

O trabalho do Star Scorpion era capturar informações de lançamento de MBI( Míssil Balístico
Intercontinental) inimigo de satélites de vigilância recentes, calcular suas trajetórias, controlar
satélites de defesa e canhões de laser na superfície para interceptá-los e ordenar ataques
retaliatórios de submarinos nucleares. Era como uma torre de controle de defesa espacial. No
entanto, com o IED (Iniciativa Estratégica de Defesa) ainda não em plena capacidade, 70% de suas
habilidades permaneceram inativas enquanto o satélite flutuava no espaço.

"O Programa Demon Summoning controlará o computador do satélite apenas temporariamente.


Contanto que o demônio não destrua o satélite, você poderá usá-lo novamente", explicou o
professor Baker.

"Não tente me consolar. Mais importante, precisamos garantir que a notícia desse plano não vaze
para o Senado. Fazer com que o Senado reconheça a existência de demônios seria 100 vezes mais
difícil do que fazer com que aprovem a invasão da Nicarágua. E se aquele demônio invocado destruir
o satélite, eles vão gritar pelo desperdício de 2,5 bilhões de dólares que custou", respondeu o
general Louis, sempre atento às implicações políticas.

"2,5 bilhões de dólares não é nada. É verdade, o problema é apenas com um país, o Japão, agora,
mas é claro como o dia que, se o mundo demoníaco continuar se expandindo, o problema se
espalhará para a Ásia, Eurásia e, eventualmente, América do Norte. Este plano é a nossa última
tentativa de acabar com isso.”

Feed não conseguia esconder sua irritação.

"60 segundos e contando. 50, 40..." Começou a contagem regressiva para a entrega do programa.

"20, 10, 9, 8, 7"

"Pare! Um satélite de comunicação soviético está bloqueando o sinal!" gritou um general


assistindo a uma exibição circular no console.

A cor sumiu do rosto de Feed. Mas o general Louis apenas encolheu os ombros
despreocupadamente e disse: "Não se preocupe. É apenas a mesma velha reação."

"Dê-me o número do feixe de transmissão que estava bloqueado", disse a voz profissional de
outro general.

"Números de 2 a 40 e de 50 a 80."
"Pare os feixes correspondentes. Use apenas os feixes de número 41 a 49."

"Sim senhor."

A contagem regressiva para a transmissão recomeçou.

"...3, 2, 1, iniciando a transmissão!"

O computador do servidor começou a fazer ruídos. As mensagens que verificavam o status da


transmissão rolavam pelo visor uma após a outra.

"Transmissão do programa concluída. Pronto para aguardar." O centro de comando agitou-se em


comoção.

"OK, desligue as funções de retransmissão do Star Scorpion. O satélite substituto está 145 graus
leste, Mark V. Professor Feed, você pode iniciar o programa a qualquer momento." O general Louis
transferiu sua autoridade para Feed.

Segurando sua cruz ornamentada, o olhar de Feed saltou para a pequena tela. O VPR da FAJ ainda
estava enviando imagens da carnificina do Japão. O pilar de carne de Set já havia crescido até o
tamanho de uma pequena montanha e, a julgar por toda a cena, nenhum movimento semelhante ao
de qualquer coisa viva podia ser verificado.

Nakajima Akemi... Não te vejo desde antes de partir. Infelizmente não posso mais esperar. Tudo o
que posso fazer agora é rezar para que os deuses abençoem Yumiko. Cerrando o punho, ele não
tinha como saber que naquele momento Nakajima havia entrado no corpo de Set e estava lutando
nele.

"OK, inicie o programa!" As entranhas de Feed se agitaram quando ele gritou.

Naquele exato momento, 35.800 quilômetros acima do Equador, o Programa Demon Summoning
começou a funcionar dentro do Star Scorpion.
Parte 7: Capítulo 4

Sem qualquer aviso prévio, houve uma imensa mudança na atmosfera. À beira da exaustão em
sua luta contra as ondas psíquicas de Set, o espírito de Nakajima foi despedaçado por um estrondo
de baixa frequência imensamente poderoso. A multidão de zumbis que havia acabado de rastejar
para fora do lago de sangue agarrou suas têmporas com uma mão e a outra estendida no ar como se
buscasse ajuda, foram esmagados na curvatura do espaço.

Tudo estava sendo sugado pela tempestade de um campo magnético imenso.

Não consegui a tempo...

Uma nova onda de choque abalou os sentidos de Nakajima, e ele sabia que o plano de Feed havia
sido colocado em prática.

Yumiko...!

Nakajima já havia se resignado ao seu destino. Mesmo que Set fosse transportado para o espaço
como esperado, agora que ele era incapaz de resgatar Yumiko de dentro dele, a convicção de
compartilhar o destino dela em algum momento o dominou.

Tendo chegado a esta resolução, sua alma se sentiu leve.

Izanami, parece que terei que testar até o limite o poder que você me deu.

Como se abraçasse a lâmina da Espada de Hi-no-Kagutsuchi, Nakajima cruzou os braços sobre o


peito e se concentrou.
Parte 7: Capítulo 5

A enorme torre de carne lutou contra uma força tremenda que nunca havia experimentado antes.
Seu pico viscoso projetando-se para o céu pareceu endurecer de repente por um momento, e um
rugido terrível mais alto que um trovão rasgou o ar.

ZZBH, ZZBH, ZZBH

A atmosfera estremeceu e a base da torre de vários quilômetros de comprimento começou a


pairar no chão pouco a pouco. Cavando uma fenda grande o suficiente para engolir toda a floresta, o
enorme pilar de carne gradualmente flutuou para o céu, levando consigo as casas e as estradas de
asfalto enquanto era sugado por um vórtice de campo magnético como um redemoinho, um
tornado tingido de sangue e carne...

Em um ponto no céu, o vórtice se abriu no centro. Foi um rasgo dimensional, como uma grande
mancha de tinta numa pintura de um céu de verão.

A membrana protoplasmática da torre ondulava com a força imensamente poderosa que a


puxava.

Um flash de luz cegou temporariamente os olhos dos soldados da Força de Autodefesa que
ficaram boquiabertos com a visão, perplexos. No momento em que recuperaram a visão, não havia
nada acima deles, exceto um céu azul comum.
Parte 7: Capítulo 6

Acompanhado pelo brilho das estrelas, um espaço vazio sem fim cercou Nakajima. Abaixo de seus
pés, o globo azul brilhante girando sem parar olhou para ele. Demorou alguns momentos para ele
perceber que estava flutuando no espaço sideral. Nakajima descruzou os braços. Neles, ele segurava
a Espada de Hi-no-Kagutsuchi, emitindo um fio de luz na escuridão do espaço. Sua lâmina cintilou e
latejou, como se respondesse às dezenas de milhares de estrelas.

De repente, uma onda psíquica sinistra atingiu Nakajima por trás. Parecia que o manto de Izanami
lhe dera o poder de sobreviver e se mover no vácuo do espaço sideral. Balançando sua espada,
Nakajima se virou lentamente e encontrou seu campo de visão dominado por uma boca aberta e
vermelha.

Era o de uma serpente incompreensivelmente enorme. Embora o demônio possuísse apenas uma
forma temporária na superfície da terra, o efeito natural do poderoso campo magnético que o
forçou a ir para o espaço deu a Set um corpo completo.

As células solares de 60 pés de comprimento do Star Scorpion se espalham como asas. Agora uma
cobra gigante, as escamas verdes pálidas de Set brilhavam enquanto ele se enroscava em torno do
belo, porém funcional, satélite em órbita de descarte.

Parece que os humanos insignificantes tinham conhecimento suficiente para me convocar para
este espaço vazio. A voz ecoou na mente de Nakajima.

Mas os humanos logo perceberão sua loucura ao pensar que me baniram. Puxar este satélite
comigo para a superfície é uma tarefa fácil. E isso não é tudo. Dê uma olhada em todos os demônios
que foram convocados aqui no espaço!

Ao lado de Nakajima, várias coisas pálidas e brilhantes que pareciam capuzes flutuavam sem
rumo.

Em breve, eles assumirão corpos e buscarão refúgio seguro na Terra. O fim da era do domínio dos
tolos humanos sobre a terra não tardará. Nakajima, querendo ou não, você se tornou o cavaleiro que
toca a trombeta sinalizando o início do apocalipse. O único caminho que resta para você é deixar de
lado sua humanidade e trabalhar para mim. Seria uma pena matá-lo. Pense bem.

Ignorando Set, Nakajima concentrou toda a sua raiva na espada que segurava diretamente à sua
frente. O ambiente do espaço sideral que deu ao demônio um corpo também removeu todas as
restrições ao poder divino que ele havia recebido. A Espada de Hi-no-Kagutsuchi, agora uma espiral
de luz imensamente longa, desenhou um arco como o de um chicote emitindo luz vermelha e
desceu sobre o corpo da enorme serpente.

Tolo, você não valoriza sua vida. Set deu uma guinada para a frente.

Desviando-se das enormes presas de ataque da serpente, Nakajima foi envolvido por um miasma
como gelo. A Espada de Hi-no-Kagutsuchi já havia produzido muitas faíscas pálidas atingindo o corpo
da serpente enrolada no satélite. No entanto, as duras escamas não mostraram nenhum sinal de
lesão. Não apenas isso, mas os rostos feios e os tentáculos repugnantes de novos demônios em
materialização flutuavam como fantasmas no espaço ao seu redor.

As vozes barulhentas dos demônios foram amplificadas como se estivessem avançando sobre
Nakajima.
É melhor eu fazer algo rápido; Não tenho chance contra todos esses demônios se eles continuarem
se materializando...

Mesmo aqueles demônios que conseguiram se materializar completamente tiveram problemas


para manter sua existência no mundo de Assiah sem um poderoso campo magnético. Para Set, que
almejava uma invasão total da Terra, destruir Star Scorpion provavelmente seria um duro golpe. E
em contraste com Set, que não podia deixar o satélite, Nakajima parecia ter vantagem, sendo capaz
de voar para onde quisesse. No entanto, quanto mais a batalha prosseguia sem chegar a uma
conclusão, mais clara se tornava a diferença de poder latente entre os dois. A espada de Nakajima
parecia pesada em seus braços cansados, e até parecia estar perdendo gradualmente o brilho.

No entanto, ele não conseguia parar de lutar. Enquanto os demônios menores do mundo de Set
continuavam se contorcendo enquanto tentavam entrar no mundo de Assiah, uma voz
inconfundivelmente familiar ecoou na mente de Nakajima.

Nakajima! Estou aqui! Mire aqui!

Yumiko! É você!?

No instante em que Nakajima ouviu a voz, a Espada de Hi-no-Kagutsuchi recuperou o brilho como
uma nova quando rasgou o ar.

Apunhale sua espada na direção da minha voz!

Nakajima rapidamente notou um brilho pálido, branco e fosforescente em uma parte do enorme
corpo envolto em escamas da serpente.

Sim, estou dentro do demônio! Se atacarmos de dentro e de fora dele ao mesmo tempo, podemos
derrotar Set...

Guiado pela voz de Yumiko, Nakajima apunhalou sua lâmina em direção ao brilho fosforescente.
Mas um instante antes da ponta alcançá-lo, a cauda da cobra gigante derrubou a lâmina com força e
mandou Nakajima voando para longe. Virando-se e recuperando a compostura, o manto esvoaçando
atrás dele, Nakajima viu a forma ondulante de Set se desenrolando, como se nadasse pelo vácuo.

Garota tola! E pensar que você me deixaria saber que você ainda vive! Agora não preciso mais
depender dessa máquina irritante!

A cauda grossa de Set esmagou as asas de Star Scorpion. O satélite em órbita de descarte com
todo o seu conhecimento humano acumulado armazenado nele, exposto ao espaço como um
brinquedo quebrado, foi queimado em lixo de metal com um flash. Assim como o satélite, a
poderosa magnetita biológica de Yumiko formou um poderoso campo magnético capaz de invocar
um demônio. Enquanto ela vivesse dentro dele, Set não precisava mais depender do campo
magnético gerado pelo satélite. Nada poderia ter agradado mais a Set do que saber que ela ainda
estava viva.

Livre de suas restrições espaciais, Set agora podia voar livremente pelo espaço. Em um momento
ele parecia estar atacando com sua boca enorme e imunda, e no instante seguinte parecia
desaparecer no vácuo, reaparecendo para atacar com sua cauda grossa e pesada; esquivar-se
sozinho exigia toda a concentração de Nakajima.

No entanto, os movimentos de Set pareciam estar diminuindo. Olhando de perto, parecia que os
demônios menores se acumularam em um ponto do corpo da serpente gigante, agarrando-se a ela.
Agora que o satélite havia sido destruído, eles haviam perdido o campo magnético gerado
artificialmente e agora competiam entre si para se agarrar ao corpo de Set na tentativa de se
materializar neste mundo. Esquivando-se das presas do agora lento Set, Nakajima rapidamente
mergulhou sob o corpo da cobra.

Agora, Nakajima!

Encorajado pela voz de Yumiko, Nakajima apunhalou sua espada na multidão de demônios
menores.

SPLUTCH!

Por um instante, como se o tempo tivesse parado, os movimentos de Set cessaram. Como um
vidro grosso perfurado por uma bala, rachaduras começaram a se espalhar pelas escamas que
cobriam o corpo da enorme serpente, centralizando-se em torno da espada alojada em seu tronco.
Após um instante de silêncio, o corpo de Set quebrou em pequenos fragmentos e se dispersou no
espaço. Refletida na luz da espada, Yumiko flutuou no espaço, ainda amarrada à cruz egípcia,
flutuando em uma massa de fragmentos de escamas que pareciam flocos de neve.

Yumiko!

Enquanto Nakajima nadava ansiosamente pelo espaço, Yumiko se afastava cada vez mais de seu
campo de visão. O enxame de demônios menores tentando desesperadamente permanecer neste
mundo agarrou sua última esperança: Yumiko e a cruz à qual ela estava amarrada. Mas tendo usado
os últimos pedaços de seu poder para derrotar Set, Yumiko não tinha como lutar contra eles. Nesse
ritmo, ela seria puxada para o mundo dos demônios junto com eles.

Está tudo bem, Nakajima. É melhor assim... A voz de Yumiko ecoou na mente de Nakajima.

Não fale assim! Eu vou te salvar, apenas aguente firme!

Não! Por favor, não tente me salvar! Se eu for puxado para o mundo dos demônios com esses
demônios, nenhum demônio jamais voltará à Terra...

Espere! Espere!

Alimentado por uma determinação maior do que a dele para lutar contra Set, Nakajima superou a
distância entre ele e Yumiko. Quase ao alcance do braço, ele começou a balançar
descontroladamente a Espada de Hi-no-Kagutsuchi nos demônios agarrados a ela. Sua ponta roçou a
cruz, produzindo pálidas faíscas. Naquele momento, Nakajima pensou ter ouvido gritos de alegria
saindo da boca dos demônios.

Não, Nakajima! Neste momento, esta cruz está agindo como uma porta entre os mundos
demoníaco e humano. Se eu sair, aquela porta vai...

Yumiko não tinha como saber como os mundos demoníaco e humano estavam conectados. Mas
sua intuição lhe dizia que um enorme poder, claramente diferente do de Set, estava contido na cruz
à qual ela estava amarrada. Yumiko inconscientemente percebeu que coisas terríveis poderiam
acontecer se aquele poder terrível fosse liberado sobre a terra. E ela sentiu que, se morresse, essas
coisas seriam evitadas. Ela apostou sua vida nisso.

Mas Nakajima, concentrado inteiramente em Yumiko, não tinha como saber o que ela estava
sentindo.
"Eu escolho você entre os cinco bilhões de outros humanos!" Soltando um grito terrível, Nakajima
abraçou o corpo de Yumiko e cortou a cruz em dois com a Espada de Hi-no-Kagutsuchi.

O vácuo pareceu queimar até Nakajima. Um flash incrível brilhou por todo o espaço.

Ainda abraçados, os dois voaram pelo vácuo. O peito de Nakajima estava molhado com um fluxo
interminável de gotas quentes. Com as pálpebras bem fechadas, cobrindo os olhos esmagados por
Set, Yumiko acariciou a bochecha de Nakajima como se tentasse se lembrar dos contornos de seu
rosto. Seus lábios tremeram ligeiramente. Mesmo que ele não pudesse ouvir a voz dela, Nakajima
sabia o que aqueles lábios estavam tentando dizer.

Você realmente, você...

Outro par de lábios quentes os impediu de continuar. Ao lado do casal, várias estrelas cadentes
vermelhas cortam o espaço. Um soltou uma voz de alegria e outro soltou uma gargalhada. Foi uma
multidão de demônios que conseguiu passar pela porta aberta por um momento e tomar forma no
mundo humano. Mas logo aquela porta se fechou silenciosamente em meio aos ecos das maldições
dos demônios deixados para trás. Os dois corpos envoltos pelo manto de Izanami já estavam
próximos ao planeta azul.

Tradução PTBR: R.Zel

Obra original de Aya Nishitani.

Esta tradução foi feita de fã para fãs. Proibida a venda.

A versão na qual me baseei foi traduzida em inglês por Masakado em seu blog:
http://ddstranslation.blogspot.com/2007/01/part-1-chapter-1.html

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