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DIÁLOGOS E PRÁTICAS
EM DANÇA E EDUCAÇÃO
Organização Inês Bogéa e José Simões
COLEÇÃO PERCURSOS DA DANÇA
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COLEÇÃO PERCURSOS DA DANÇA
DIÁLOGOS E PRÁTICAS
EM DANÇA E EDUCAÇÃO
Organização Inês Bogéa e José Simões
Editora de conteúdo Keyla Barros
Marília Marton
Rachel Coser
Ivan Bernardelli
Kathya Maria Ayres de Godoy
Carolina Romano de Andrade
Jussara Xavier
Karla Dunder
Franciane Kanzelumuka Salgado de Paula
Elena Toscano
Inês Bogéa
José Simões
Adriana Celi Castelo Gomes
Cássia Navas
Flavio Lima
Luiz Fernando da Silva Anastácio
Marcela Benvegnu
2
SUMÁRIO
APRESENTAÇÃO 1. Marília Marton ....................................................................... 13
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ESTUDANTE DO CURSO REGULAR DE TEATRO MUSICAL | FOTO: GAL OPPIDO
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ESTUDANTE DO CURSO REGULAR DE TEATRO MUSICAL | FOTO: GAL OPPIDO
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ESTUDANTE DO CURSO REGULAR DE TEATRO MUSICAL | FOTO: GAL OPPIDO
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ESTUDANTE DO CURSO REGULAR DE TEATRO MUSICAL | FOTO: GAL OPPIDO
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ESTUDANTE DO CURSO REGULAR DE TEATRO MUSICAL | FOTO: GAL OPPIDO
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ESTUDANTE DO CURSO REGULAR DE TEATRO MUSICAL | FOTO: GAL OPPIDO
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ESTUDANTES DO CURSO REGULAR DE TEATRO MUSICAL | FOTO: GAL OPPIDO
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APRESENTAÇÃO
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mostrar todo o seu talento e amava cada espetáculo que par-
ticipava. Eu, por outro lado, tinha pavor de subir no palco
e o superei com o passar dos anos. Posteriormente, com 28
anos, voltei a dançar em um Centro Cultural, onde fiquei
por quatro anos e participei de espetáculos que ficarão sem-
pre guardados na minha memória.
A dança gera conexão e nos incentiva a ultrapassar os
nossos limites. Pode ser um hobby ou uma profissão, mas
sempre traz resultados positivos na vida de quem a pratica.
Além disso, ensina aos jovens como ter mais foco, persistên-
cia e determinação, elementos essenciais para alcançar so-
nhos e atingir as metas pessoais.
A São Paulo Escola de Dança proporciona um rico en-
contro entre professores e estudantes apaixonados que jun-
tam técnica, corpo e alma em movimentos arrebatadores.
Desde 2021, ano da criação, foram atendidos mais de mil es-
tudantes nos 20 Cursos de Extensão, realizados em formato
presencial e online, chegando em todo o Brasil. São 7 Cursos
Regulares e 4 Cursos Livres por ano. É um lugar de cons-
trução do conhecimento no campo da dança, onde todas as
pessoas são bem-vindas.
Na dança cabe todo mundo. Sigamos dançando.
14
15
INTRODUÇÃO
16
insights valiosos sobre a implementação dessa nova Escola,
revelando os Cursos Livres, explorando números, desafios e
processos formativos em dança. Também apresentamos as
estratégias e discussões que cercam a dança e a comunicação
no ambiente educacional da escola, além de temas relevan-
tes como a descentralização de histórias e historiografias, a
metodologia de formação nos Cursos Regulares e a incorpo-
ração da dramaturgia no ensino.
Este livro, disponível no site da São Paulo Escola de
Dança, oferece uma plataforma para aprofundar seu conhe-
cimento sobre a interseção da dança e da educação. Com
acesso gratuito, você está convidado a explorar as nuances,
desafios e conquistas que permeiam esses campos interliga-
dos. Além disso, o livro conta com imagens de vários fotógra-
fos retratando as aulas, os processos criativos e os estudantes
da Escola, trazendo à vida a essência dessa jornada artística e
educacional. Através desta obra inaugural, a Associação Pró-
-Dança convida você a dialogar e explorar conosco, enrique-
cendo sua compreensão sobre a dança como uma forma de
arte e um veículo de aprendizado profundo e transformador.
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ESTUDANTES DO CURSO REGULAR DE TÉCNICAS DA DANÇA MATUTINO | FOTO: GAL OPPIDO
ESTUDANTE DO CURSO REGULAR DE TÉCNICAS DA DANÇA MATUTINO | FOTO: GAL OPPIDO
ESTUDANTE DO CURSO REGULAR DE TÉCNICAS DA DANÇA MATUTINO | FOTO: GAL OPPIDO
ESTUDANTE DO CURSO REGULAR DE TÉCNICAS DA DANÇA MATUTINO | FOTO: GAL OPPIDO
ESTUDANTE DO CURSO REGULAR DE TÉCNICAS DA DANÇA MATUTINO | FOTO: GAL OPPIDO
ESTUDANTE DO CURSO REGULAR DE TÉCNICAS DA DANÇA MATUTINO | FOTO: GAL OPPIDO
ESTUDANTE DO CURSO REGULAR DE TÉCNICAS DA DANÇA MATUTINO | FOTO: GAL OPPIDO
ESTUDANTE DO CURSO REGULAR DE TÉCNICAS DA DANÇA MATUTINO | FOTO: GAL OPPIDO
ESTUDANTE DO CURSO REGULAR DE TÉCNICAS DA DANÇA MATUTINO | FOTO: GAL OPPIDO
ESTUDANTE DO CURSO REGULAR DE TÉCNICAS DA DANÇA MATUTINO | FOTO: GAL OPPIDO
ESTUDANTES DO CURSO REGULAR DE TÉCNICAS DA DANÇA MATUTINO | FOTO: GAL OPPIDO
DANÇAR ALÉM DOS MAPAS:
DESAFIOS PARA UM
MAPEAMENTO DE ESCOLAS
DE DANÇA NO ESTADO DE
SÃO PAULO
Ivan Bernardelli
29
entre as cidades de Santo André e São Paulo, os deslocamen-
tos entre os bairros de Vila Madalena, Bom Retiro e Barra
Funda eu fazia a pé ou de bicicleta, porque trabalhava num
escritório como horista e meu pagamento não era suficiente
para custear o combo ônibus + metrô. Naquela época, ainda
não havia o aplicativo Google Maps (criado em 2005) nem o
Waze (criado em 2006). Para me localizar na nova cidade,
entre bairros e espaços culturais, eu utilizava um mapa im-
presso que carregava na mochila.
30
DE FRANCE, PARIS. IN: MARQUES, ALFREDO PINHEIRO. A CARTOGRAFIA PORTUGUESA E A CONSTRUÇÃO
FONTE: LOPO HOMEM. MUNDUS NOVUS. IN: ATLAS MILLER, 1519, 59 X 41,5 CM. BIBLIOTHÈQUE NATIONALE
31
FONTE: LOPO HOMEM. TERRA BRASILIS. IN: ATLAS MILLER, 1519, 42X59 CM. FOLHA 5. BIBLIOTHÈQUE
NATIONALE DE FRANCE, PARIS.
32
MAPEAR A DANÇA
33
la formal, conservatórios, cursos profissionalizantes, cur-
sos técnicos, cursos de graduação em dança, congressos,
seminários, grupos ou companhias de dança, manifesta-
ções populares ou tradicionais, festivais de dança, oficinas,
workshops, programas de pós-graduação e projetos sociais.
Considerou ainda que as pessoas entrevistadas buscavam
formação continuada e qualificação em encontros, assis-
tindo espetáculos, DVDs, acessando a internet, YouTube,
palestras, intercâmbios e residências, livros e revistas, cur-
sos, oficinas, festivais, mostras e exposições, grupos de es-
tudo e seminários10.
Outra iniciativa que chama atenção (embora não
diga respeito à cidade ou ao Estado de São Paulo) é a
“Configuração da dança em Pernambuco: um mapea-
mento em rede”, projeto desenvolvido na Escola Superior
de Educação Física da Universidade de Pernambuco entre
2014 e 2018, financiado por um conjunto de instituições11,
que tinha como objetivo geral “descrever as configurações
da dança em Pernambuco, nas suas mais diversas manifes-
tações, relacionando-se com o ensino da dança nas esco-
las”12. A novidade desse mapeamento é que, além de pen-
10 MATOS, Lúcia;
sar um diagnóstico inédito da configuração da dança no
NUSBAUMER, Gisele.
Mapeamento da dança:
Estado de Pernambuco, apresentou seus resultados através
diagnóstico da dança
em oito capitais de cinco
de gráficos gerados em um programa desenvolvido espe-
regiões do Brasil, 2016. p.
1.569-1.573.
cialmente para o tratamento dos dados dessa investigação.
Segundo os pesquisadores, as informações demonstram
11 IC/UPE/CNPq; IC/
PFA/UPE; FUNCULTURA, as “relações de trocas e contatos que se estabeleciam entre
Secretaria de Cultura e
Governo do Estado de os fazedores das danças em seus processos de formação e
Pernambuco.
atuação para a criação, produção e fruição das danças”13.
12 GEHRES, Adriana Nessa pesquisa, foram considerados como espaços ou ati-
de Faria; SILVA, Ana
Carolina Marques da; SILVA, vidades de formação escolas de dança, grupos de dança,
Anne Karoline R. Pessoa
da; BRASILEIRO, Lívia ensino superior, projetos sociais, cursos livres, serviço so-
Tenório; OLIVÁN, Leandro;
CAMPELO, Raphaela B. cial autônomo, escola básica, práticas religiosas, cursos
França. Mapeamento em
rede das escolas de dança técnicos, entre outros.
e grupos de dança em
Pernambuco: Zona da Mata Nos gráficos gerados em tal pesquisa, os pontos azuis
e São Francisco, 2023. p. 2.
são as pessoas entrevistadas e as linhas cinzas são as conexões
13 Ibid, p. 3. entre elas, como vemos nas figuras abaixo:
34
Petrolina - atuação Petrolina - formação
FONTE: REDE DE FORMAÇÃO (DIR.) E REDE DE ATUAÇÃO (ESQ.) EM DANÇA DOS PARTICIPANTES DA PESQUISA DA CIDADE DE PALMARES.
IN: MAPEAMENTO EM REDE DAS ESCOLAS DE DANÇA E GRUPOS DE DANÇA EM PERNAMBUCO: ZONA DA MATA, AGRESTE, SERTÃO E SÃO
FRANCISCO, 2020, P. 22.
14 Para maiores
detalhes e resultados do
mapeamento, ver: GEHRES,
Adriana de Faria; SILVA, Ana
Carolina Marques da; SILVA,
Anne Karoline R. Pessoa
da; BRASILEIRO, Lívia
Tenório; OLIVÁN, Leandro;
CAMPELO, Raphaela
B.França. Mapeamento
em rede das escolas de
dança e grupos de dança
em Pernambuco: Zona da
Mata, Agreste, Sertão e
São Francisco. Relatório de
FONTE: REDE DE FORMAÇÃO (DIR.) E REDE DE ATUAÇÃO (ESQ.) EM DANÇA DOS PARTICIPANTES DA PESQUISA DA CIDADE DE PALMARES.
Pesquisa Universidade de IN: MAPEAMENTO EM REDE DAS ESCOLAS DE DANÇA E GRUPOS DE DANÇA EM PERNAMBUCO: ZONA DA MATA, AGRESTE, SERTÃO E SÃO
Pernambuco. Recife, 2020. FRANCISCO, 2020, P. 22.
35
PARA QUE PRODUZIR MAPEAMENTOS?
36
Muitas informações importantes aparecem nos resul-
tados dessas pesquisas realizadas, mas assim como o mapa,
o mapeamento também contém em si aquilo que ficou de
fora. Por mais abrangentes que sejam os meios de coleta dos
dados, por mais amplas as premissas para seu tratamento,
aquilo que fica de fora também acusa a realidade do mape-
amento. O critério de escolhas, quais perguntas são feitas,
o alcance das informações — se tal iniciativa chegou ao co-
nhecimento de determinado grupo ou indivíduo — são fa-
tores que interferem nos resultados.
É importante ter em vista que os mapeamentos podem
nascer obsoletos, uma vez que as pessoas, grupos, coletivos,
companhias e mesmo as instituições de dança estão em
constante dinâmica: novos espaços são inaugurados, ao passo
que antigos espaços mudam de sede, ou mesmo encerram
20 Jacques Rancière
propõe que a pergunta suas atividades; novos alunos matriculam-se e algumas
“onde estamos?” significa
duas coisas ao mesmo pessoas deixam de dançar.
tempo: “como podemos
caracterizar a situação em A questão que se coloca é que o mapeamento está impli-
que vivemos, pensamos e
agimos hoje”, mas também, cado com o tempo, além dos espaços e territórios. Além disso,
da mesma forma, “como a
percepção dessa situação o mapeamento conta com as premissas daqueles que o elabo-
nos obriga a reconsiderar
o enquadramento que raram, mas também depende daqueles que farão sua leitura:
usamos para ‘ver’ as coisas
e mapear situações, para ao se propor como uma prática que lida com subjetividades,
nos movermos dentro desta
estrutura ou escapar dela?”; e que almeja, inclusive, transformar criticamente a realidade,
ou, em outras palavras,
“como nos obriga a mudar ele exige uma leitura crítica de suas bases e de seus percursos.
nossa própria maneira de
determinar as coordenadas De toda forma, é importante compreender que os ma-
do aqui e agora?”. Ver:
VIEIRA, Luiz Antônio. peamentos são instrumentos importantíssimos para com-
Salto no escuro: práticas
artísticas de mapeamento preendermos onde estamos, o estado da dança em que nos
cognitivo, 2018, p. 30.
situamos, e como artistas, companhias e instituições que atu-
21 Nelson Brissac am em diferentes contextos estão envolvidos com os diversos
Peixoto analisa os limites
dos mapas e mapeamentos modos de fazer, pensar, manter, ampliar, difundir a dança e,
diante da informidade
dos processos que por fim, dançar20.
constituem o urbanismo e
o desenvolvimento urbano Então, seria possível pensar em um mapeamento que
das grandes metrópoles. É
a partir de uma comparação desse conta de forças, fluxos, potências, muitas vezes efême-
entre as premissas de
um mapeamento que dê ras, ao invés de formas e estruturas?21
conta de grandes escalas
e dinâmicas extremamente Para compreender uma iniciativa de mapeamento que
velozes, do ponto de vista do
urbanismo, que tomo como dê conta da multiplicidade de locais de transmissão, apren-
inspiração os estímulos à
reflexão que este filósofo dizado e compartilhamento de experiências de dança (talvez
propõe para mapeamentos
de outras ordens. as principais premissas do conceito de escola), é necessário
37
estabelecer critérios de inclusão, que por sua vez fabricam
seus duplos e opostos critérios de exclusão.
Que definição de escola seguir? Seria uma entidade
formalmente constituída (seja academia, clube, associação,
fundação, empresa MEI, empresa Ltda. etc.)? Estaria locali-
zada em algum espaço fixo, em algum espaço físico? Leva-
ríamos em conta as categorias definidas pelos mapeamen-
tos já realizados? Ou deveríamos extrapolar as fronteiras e
os limites da estrutura, considerando a perspectiva de que a
definição de escola acomodaria redes transversais, sistemas
instáveis, espaços informais e efêmeros?
Incluiríamos nesse mapeamento coreografias aprendi-
das nas aulas de Fit Dance nas academias? Estúdios de pole
dance? Consideraríamos o aprendizado na observação de pa-
res dançando gafieira em rodas de samba? Passos de forró
aprendidos no baile? Coreografias aprendidas pela internet
e improvisadas em shows de bandas pop? Coreografias do
aplicativo TikTok com suas notações coreográficas feitas com
emojis? Encontros espontâneos de grupos de dança country?
Passos de k-pop ou break dance aprendidos diante de vidros
espelhados no Centro Cultural São Paulo?
Seria o caso de tomarmos emprestada a consideração
de Nelson Brissac Peixoto, na qual propõe “considerar as
formas mais contemporâneas de entender os processos de
mapeamento, baseados na exploração intensiva e crítica de
múltiplas informações”22?
Se a definição de escola puder ser as intensas trocas
proporcionadas pela dança que potencializam a saúde e o
bem-estar do indivíduo, favorecem processos de desenvol-
vimento pessoal, promovem laços de comunidade, coleti-
vidade e redimensionam parâmetros de cidadania, além de
possibilitar uma formação profissional àqueles que desejam
trabalhar com dança, toda iniciativa de formação poderá ser
acolhida neste diagnóstico de forma não excludente.
Se o mapeamento pode ser um instrumento que fa-
cilita redes e conexões entre pessoas ao redor da linguagem
22 PEIXOTO, Nelson artística da dança, seria possível produzir um mapeamento
Brissac. Mapear um mundo
sem limites, 2005, n.p. permanente, sem um fim pressuposto e sem limites de inclu-
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são de categorias? Seria possível incluir experiências históri-
cas do passado e, eventualmente, acomodar propostas que
possam surgir no futuro?
Diversas iniciativas no Estado de São Paulo deixam
entrever, brevemente, a imensa base de dados com as quais
nos depararíamos em um mapeamento de escolas e espaços
de formação em dança. Como exemplo, o programa Fábri-
cas de Cultura, que inaugurou recentemente diversas novas
unidades em cidades do interior e litoral paulista; o Progra-
ma de Qualificação em Artes – Dança, que atende grupos de
diversos municípios do Estado; a Bienal Sesc de Dança, que
promove a cada dois anos processos formativos na cidade de
Campinas; as unidades do Sesc no Estado de São Paulo; as
universidades que mantêm cursos ou disciplinas de dança
em cursos de artes cênicas e educação física; as oficinas pro-
movidas nas unidades do SESI; as escolas públicas de dança,
como a São Paulo Escola de Dança (estadual), e também
Escola de Dança de São Paulo, Escola Livre de Dança de
Santos, Escola Livre de Dança de Santo André e Escola Ira-
cema Nogueira, de Araraquara (municipais), entre outras;
as diversas escolas de dança particulares e estúdios de balé,
de dança flamenca, dança indiana, danças ciganas, danças
árabes, danças africanas e afro-brasileiras, danças afro-ame-
ricanas, aulas de sapateado, jazz, academias de ginástica que
mantêm aulas de dança, os inúmeros projetos sociais que
mantêm atividades de dança; grupos, companhias e cole-
tivos; corpos de baile, espaços independentes que mantêm
cursos regulares; os diversos grupos de catira, de fandango,
os congados, os moçambiques, as companhias de folias de
reis; as academias de danças de salão, aulas nos Centros de
Tradições Gaúchas (CTGs) localizados no Estado, ensaios das
quadrilhas juninas com suas elaboradas coreografias, cursos
técnicos, mostras e festivais de dança, as rodas de capoeira,
as escolas de samba, as diversas comunidades tradicionais,
entre outras tantas experiências.
Por conta de minha formação profissional nômade ge-
ograficamente e “eclética” enquanto estilos de dança, com-
preendo que o trânsito entre diferentes experiências, estilos,
39
escolas e linguagens pode favorecer substancialmente aque-
les que desejam se profissionalizar, uma vez que, nos am-
bientes profissionais de dança (companhias, grupos, coleti-
vos, projetos, trabalhos, nas atividades como professores nas
próprias escolas e em todo o mercado de trabalho) há uma
busca permanente pela originalidade, invenção, criativida-
de, inovação e habilidade técnica, ou seja, pelo diferencial.
Um dos meus grandes mestres de dança me aconse-
lhou a conhecer e praticar variados estilos e todas as formas
que fossem possíveis, para que minha dança pudesse ser for-
mulada e “contaminada” a partir de diversas delas. O cisne
do meu sonho, então, voou por muitos cantos, pousou em
diferentes regiões e conheceu diferentes ambientes. Afinal,
os cisnes, como as outras aves, mapeiam constantemente o
território, mas nada se valem de mapas.
40
REFERÊNCIAS
41
Orientadora: Maria Claudia Alves Guimarães. 2022. 69p.
Trabalho de Conclusão de Curso (graduação) – Universida-
de Estadual de Campinas, Instituto de Artes, Campinas, SP.
Disponível em: https://hdl.handle.net/20.500.12733/8397.
Acesso em: 06 jul. 2023.
42
CONVITE À REFLEXÃO SOBRE
PROCESSOS FORMATIVOS
EM DANÇA
Kathya Maria
Ayres de Godoy
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Ao chamar de professor, adoto a perspectiva de um
profissional docente preocupado com a atualização dos sa-
beres que a docência exige (Tardif, 2006). Mas quem são
esses profissionais? Qual a formação desejada para eles? Essas
questões precisam ser colocadas para, então, refletir sobre o
que ensinar (currículo) e como ensinar (metodologias).
A formação do professor que atua com o ensino de
dança é bastante diversificada. No decorrer desses anos, pude
observar que pedagogos, professores especialistas em Arte
(Educação Artística, Artes Visuais, Artes Cênicas, Teatro e
Dança), educadores físicos e, ainda, outros licenciados de
outras áreas, ensinam dança no contexto da educação básica.
Não há uma única escolha ou percurso definido para
a formação dos professores de dança no Brasil. Esta pode
ser alcançada de muitas maneiras, entre as quais: na edu-
cação informal, no ensino superior, em escolas ou acade-
mias credenciadas pelo MEC (cursos técnicos), em cursos li-
vres (educação não formal), por meio de vivências práticas
com profissionais que possuem grande experiência no ramo,
23 MONTE, Fernanda
Christina de Souza
principalmente em academias não credenciadas23.
Guidarini. O processo de
formação dos professores
Esse tipo de formação de professor não formal encon-
de dança de Florianópolis.
2003. 147 f. Dissertação
tra amparo na lei dos artistas24, que menciona que quem
(Mestrado em Educação
Física) – Universidade
possui registro profissional de bailarino ou dançarino pode
Federal de Santa Catarina,
Florianópolis, 2003.
ministrar aulas de dança em academias ou escolas de dança25.
Disponível em: http://
repositorio.ufsc.br/xmlui/
Apesar de não haver um modelo único para a forma-
handle/123456789/85961.
ção profissional dos professores de dança, é importante lem-
24 BRASIL. Decreto nº brar que a formação específica do educador de dança para a
82.385, de 5 de outubro de
1978. Regulamenta a Lei nº escola formal ocorre nas licenciaturas em Dança.
6.533, de 24 de maio de
1978, que dispõe sobre as Tal formação se ampara nas leis que orientam a edu-
profissões de Artista e de
Técnico em Espetáculos cação brasileira como a Lei de Diretrizes e Bases da Educa-
de Diversões, e dá outras
providências. Brasília, ção Nacional – LDBEN (Brasil, 1996), em pareceres e diretri-
out. 1978.
zes curriculares para a formação de professores (1997, 2002,
25 Para obter o registro 2004) e, ainda, em documentos norteadores para a prática
de artista junto ao Ministério
do Trabalho, existem três profissional como a BNCC – Base Nacional Comum Curri-
caminhos: 1) apresentar um
diploma de nível superior cular (Brasil, 2017) e os currículos propostos pelos estados e
que comprove a atuação;
2) diploma de segundo municípios como as orientações didáticas do currículo da ci-
grau técnico; 3) atestado
de capacitação profissional dade de São Paulo (São Paulo, 2019). Vale explicar que cada
fornecido pelo sindicato
representativo da categoria. estado ou município tem documentos norteadores e cada
45
TERRITÓRIO CULTURAL COM O SINDDANÇA | FOTO: SAMIRA DANTAS
46
Por essas e outras mudanças na legislação e nos docu-
mentos, em alguns anos teremos mais profissionais especialis-
tas na escola; provavelmente não em número suficiente, já que
os processos de mudanças na educação demoram a acontecer.
É preciso colocar um outro aspecto que se liga direta-
mente às políticas públicas: os concursos para a contratação
de professores, embora muito diversificados no território na-
cional, não contemplam o concurso específico para profes-
sor de dança na maioria dos estados e municípios, cabendo
ao educador de arte trabalhar as quatro linguagens artísticas
(Dança, Teatro, Artes Visuais e Música), o que sabemos ser
impossível, ao pensar num ensino de qualidade. Esta é mais
uma faceta que requer muitas laudas para ser discutida a
contento. De maneira que trago uma questão: será que esses
profissionais, embora amparados legalmente para exercer o
ensino de dança, o fazem de maneira adequada a promover
o contato e o aprendizado da linguagem pelos educandos?
Essa questão tem o intuito de provocar a reflexão acer-
ca de identificar quais são os saberes específicos da lingua-
gem e de como favorecer as práticas pedagógicas a partir
deles. Para que isso ocorra, é preciso resgatar o conceito de
simetria invertida (Godoy 2003), aqui adaptado para o ensi-
no de dança.
Todos e todas passamos pelos bancos escolares em al-
gum momento de nossas vidas, ou seja, fomos estudantes. Isso
não significa que mesmo com excelentes avaliações e percur-
sos educacionais, construímos habilidades para o ensino dos
conhecimentos que adquirimos quando éramos estudantes.
Uma das qualidades de um bom professor é, sem dúvi-
da, saber ensinar. Isso requer apreender conceitos e transfor-
má-los em práticas pedagógicas eficazes no exercício de sua
profissão. Então, ele precisa desenvolver “modos/maneiras”
de ensinar, ou seja, deve existir uma didática para que a rela-
ção ensino e aprendizado se constitua. Falando dessa manei-
ra, parece fácil, mas não é.
A didática diz respeito a um conjunto de técnicas e
premissas que orientam o aprendizado e que podem quali-
ficar as práticas educativas. Pois bem, o estudante de dança
47
ESTUDANTES DO CURSO REGULAR DE MULTIMÍDIAS PARA DANÇA EM INTERCÂMBIO CULTURAL
| FOTO: SAMIRA DANTAS
48
corpo os saberes em dança (Godoy, 2020) pode favorecer o
caminho de tornar-se um professor qualificado de dança.
Sobre esse aspecto, abro mais uma fresta: considero
que o professor precisa decalcar os elementos constituintes
da linguagem da dança no seu corpo, vivenciá-los em proces-
so de experienciação plena. Quero dizer com isso que existe
a (in)corporação desses elementos (consciência do corpo –
todo e partes dele, concepção de espaço, tempos – internos
e externos, ritmos variados) entre os vários desdobramentos
deles para que a linguagem imprima, expresse, narre, exista
(Godoy, 2020, 2021, 2023).
Andrade (2016) destaca em sua tese de doutoramen-
to, a necessidade desse profissional ter oportunidades para
compreender a completude do seu corpo, do movimento e
da dança, pois essa experiência possibilita a valorização de si
e modifica sua prática pedagógica.
Diante dessas colocações, é possível afirmar que os
processos formativos são muitos, se cruzam e se instalam na
educação básica. Historicamente, o primeiro curso de gradu-
ação em dança foi criado em 1956, na Universidade Federal
da Bahia – UFBA. Inicialmente, era voltado para o dançari-
no e professor de dança, conferindo diplomas de Magistério
Elementar, Dançarino Profissional e Magistério Superior. De
lá para cá, segundo consulta no portal e-MEC (2023), hoje,
temos 50 cursos cadastrados e em funcionamento no Brasil.
Eles estão nos Institutos Federais de Ensino Superior – IFES,
nas Universidades Federais e Estaduais e nas Instituições de
Ensino Superior privadas – IES. Mas ainda não é o suficiente
para cobrir a demanda de profissionais para o ensino de dan-
ça na educação básica.
Os cursos superiores de Dança foram responsáveis por
uma mudança significativa no panorama da dança no Brasil.
Eles figuram em espaços específicos para a formação
profissional, não só no que tange à produção acadêmi-
ca e artística, mas na direção de discussões que apon-
tam o reconhecimento da Dança como linguagem
aliada às práticas reflexivas, a partir da percepção sobre
o processo de formação (Andrade, 2016, p. 109).
49
RESIDÊNCIA ARTÍSTICA COM A SÃO PAULO COMPANHIA DE DANÇA COM INÊS BOGÉA, FLAVIO LIMA,
FELIPE DO AMARAL | FOTO: CAMILO BARBOSA
50
rânea, o diálogo com a dança cênica e a ampliação dos
estudos sobre os povos originários, os afrodescendentes, a
diversidade das manifestações culturais que enlaçam con-
cepções estéticas e linguagens artísticas. Esses aspectos en-
volvem também as relações de ensino e aprendizado no in-
tuito de formar um profissional pesquisador de sua prática
para que consiga acompanhar o rápido ritmo de transfor-
mações artístico-pedagógicas, de modo a se manter atua-
lizado em seus saberes e fazeres, para atuar em diferentes
contextos e realidades.
Obviamente que existem outras questões que pautam
a implantação desses projetos pedagógicos como um cor-
po docente com aderência e capacidade para desenvolver tal
proposta, infraestrutura física, bons acervos, bolsas de es-
tudos e de permanência estudantil, coordenação e gestão
comprometidas, entre tantos outros pontos que garantem
tal exequibilidade.
De novo esbarramos nas políticas públicas de aces-
so etc. Mas o caráter inovador e a atenção aos documentos
como as Diretrizes Curriculares Nacionais – DCNs, entre ou-
tros que regem o ensino superior voltados para a formação
de professores, são contemplados com raras exceções. O per-
curso é longo, mas essas instituições têm coreografado com
labor e competência esses caminhos.
A dança está à vista em outros cursos de formação
inicial de professores. Isso não significa que tais cursos pre-
parem profissionais para atuar com dança na escola, porém
quando um artista da dança cruza sua formação técnica
e em espaços não formais e informais com um curso de
licenciatura, por exemplo, de Pedagogia ou Artes, que se
preocupa em apresentar a linguagem da dança aos gradu-
andos, pode ocorrer, em alguns casos, uma ampliação des-
ses saberes voltados ao ensino.
Ainda temos os processos de formação continuada,
como os Programas de Pós-Graduação Stricto Sensu aca-
dêmicos que se preocupam em aprofundar conhecimentos
por meio da pesquisa e investigação artística e os progra-
mas profissionais (mestrado e doutorado) que se voltam
51
ESTUDANTES DO CURSO REGULAR DE DANÇA E PERFORMANCE MATUTINO EM INTERCÂMBIO CULTURAL
| FOTO: SAMIRA DANTAS
52
Nos últimos anos, esses professores, pesquisadores e
estudantes têm participado de Encontros, Seminários, Con-
gressos e eventos destinados à discussão sobre essa formação
que são promovidos por Associações de Pesquisadores em
parcerias com as IES públicas e privadas e fomento como
FAPESP, CAPES e CNPq.
Ressalto dois exemplos neste sentido. O primeiro é da
Associação Nacional de Pesquisadores em Dança – ANDA,
que, desde 2008, incentiva, promove e divulga pesquisas
no campo da Dança. Ela possui comitês específicos como o
“Dança em Múltiplos Contextos Educacionais”, que acolhe
propostas metodológicas, processos criativos, reflexões pe-
dagógico-didáticas, críticas-analíticas das chamadas técni-
cas, práticas e métodos e suas ações vinculadas ao ensino e
aprendizagem de danças de todo e qualquer corpo, de toda
e qualquer identificação, seja qual for o contexto educacio-
nal; e o comitê “Formação em Dança”, que abriga a prática
da dança na educação básica (a dança na escola, os estágios
curriculares, as ações do PIBID e da Residência Pedagógica),
e processos artístico-pedagógicos em cursos técnicos, supe-
riores e demais espaços formativos, visando a formação do-
cente, artística e do artista docente – no ensino regular, em
projetos de extensão e pesquisa.
O segundo é a Associação Brasileira de Pesquisa e Pós-
-Graduação em Artes Cênicas – ABRACE, fundada em 1998, e
que, em um primeiro momento, criou o Grupo de trabalho
“Pesquisa de Dança no Brasil: Interpretação e Processo de
Criação” (1999 – 2003), que depois passou a se chamar “Pes-
quisa de Dança no Brasil: processos e investigações” (2004 –
2014) e, hoje, chama-se “Grupo de Pesquisadores em Dança
da ABRACE”. A nova denominação vislumbrou manter tanto
o caráter acolhedor, quanto a abertura para receber e reunir
pesquisadores de formações distintas, nos mais diferentes es-
tágios de suas trajetórias acadêmicas e artísticas, sem, con-
tudo, perder o foco e a coesão com a área da Dança e suas
interfaces mais diversas. Esses são espaços formativos que
também se atrelam às políticas públicas para a inserção da
dança na escola básica.
53
ESTUDANTES DO CURSO REGULAR DE DANÇA E PERFORMANCE MATUTINO EM INTERCÂMBIO CULTURAL.
| FOTO: SAMIRA DANTAS
54
dos, decalcados, (in)corporados por ela”30. Em vista disso,
imbuídos por essas impressões, pode ocorrer a transforma-
ção por meio das experiências. Para sermos atravessados
pela experiência, a dança precisa fazer sentido. Isso se dá
quando construímos significados, atribuímos referências,
reminiscências que conectamos ao nosso modo de ver a
dança. A partir disso, projetamos novas formas de agregá-
-la naquilo que identificamos como substantivo em nossas
vidas. Portanto, tais sensações tornam-se particulares, rela-
tivas e pessoais.
Esse olhar para o ensino de dança contribui para a
construção de algumas premissas, tais como: valorizar o sa-
ber docente; partir da prática para estabelecer relações com
os conhecimentos teóricos; orientar os professores a expe-
rienciar as mesmas vivências e procedimentos que utiliza-
ram/utilizarão com as crianças; valorizar o conhecimento
que o professor apresenta, a partir disso, e discutir a dança
em relação a um contexto amplo da educação, da realidade
local e da sociedade.
O ensino de dança, sob essa ótica, supõe um processo
de constante transformação e reflexão. As escolhas educacio-
nais se dão no decorrer de um período que não se finda; elas
harmonizam-se e desorganizam-se de acordo com o contex-
to que o professor encontra. E estão conectadas ao contexto
histórico, político, cultural e social em que os sujeitos da
dança na escola (professores, crianças e dirigentes de ensino)
estão inseridos.
A ideia é possibilitar que a dança seja disseminada
por meio da apropriação da linguagem, ou seja, transpor,
despertar, potencializar, oportunizar o compartilhamento
da experiência e extasiar-se diante da criação para construir
os saberes próprios da dança que com sua força motriz pro-
duz o encantamento dessa arte do movimento (Andrade;
Godoy, 2018).
Por fim, saliento que o cenário brasileiro apresenta re-
corrente alternância da Arte como prioridade nos segmentos
da educação básica. Fica o desafio de manutenção da dan-
30 Ibidem, p. 73. ça na escola como área significativa de conhecimento para
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ESTUDANTES DO CURSO REGULAR DE DANÇA E PERFORMANCE MATUTINO | FOTO: IARI DAVIES
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REFERÊNCIAS
57
C3%A3o%20CNE%2FCP%20n%C2%BA%201,M%C3%A-
9dio%20(EPTNM%2DForma%C3%A7%C3%A3o). Acesso
em: 26 set. 2023.
58
GODOY, Kathya Maria Ayres (org). Estudos e abordagens so-
bre metodologias de pesquisa e ensino: dança, arte e educa-
ção. 1. ed. Curitiba: Appris, 2021. v. 2.
59
SÃO PAULO. Secretaria Municipal de Educação. Coordenadoria
Pedagógica. Orientações didáticas do currículo da cidade:
Arte. 2. ed. São Paulo: SME/COPED, 2019. Disponível em: ht-
tps://acervodigital.sme.prefeitura.sp.gov.br/acervo/orientacoes-
-didaticas-do-curriculo-da-cidade-arte/. Acesso em: 26 set. 2023.
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ESTUDANTES DO CURSO REGULAR DE DANÇA E PERFORMANCE VESPERTINO | FOTO: GAL OPPIDO
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ESTUDANTES DO CURSO REGULAR DE DANÇA E PERFORMANCE VESPERTINO | FOTO: GAL OPPIDO
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ESTUDANTES DO CURSO REGULAR DE DANÇA E PERFORMANCE VESPERTINO | FOTO: GAL OPPIDO
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CONSTRUINDO CAMINHOS
PEDAGÓGICOS EM DANÇA
COM AS CRIANÇAS:
REFLEXÕES E DESAFIOS
Carolina Romano
de Andrade
Para iniciar esta reflexão que volta seus olhares para a dança na
infância, compartilho uma experiência que vivenciei em uma
formação de professores que despertou o meu interesse sobre
os modos de aprender da criança pequena31 (Brasil, 2017).
Ao final de uma série de encontros em que trabalhamos
um livro de histórias infantis e os fatores de movimento de
Laban (1978) – Fluência, Espaço, Peso e Tempo – como ins-
piração em um processo de criação de dança com as crianças,
resolvemos ampliar a experiência com uma proposta de frui-
ção de um espetáculo de dança, seguido de uma roda de con-
versa. No decorrer das discussões, as crianças compartilharam
suas observações, descrevendo uma variedade de elementos da
dança presentes no espetáculo que assistiram. Em particular,
enfatizaram a realização de movimentos em diferentes níveis
espaciais (alto, médio e baixo), conforme o que tinham apren-
dido em Laban (1978). Elas mencionaram que “as bailarinas
31 De acordo com a exploraram o chão em nível baixo, rastejando, e, em alguns
referência normativa da
Base Nacional Comum momentos, voaram para níveis mais altos”, fazendo referência
Curricular (BNCC) do
Ministério da Educação do aos saltos executados durante a apresentação.
Brasil, a expressão “criança
pequena” refere-se às Essa conversa despertou a minha percepção sobre a fa-
crianças de 4 anos a 5 anos
e 11 meses. cilidade com que os pequenos conseguiram se relacionar e
67
se expressar a respeito do espetáculo que presenciaram, uti-
lizando um vocabulário específico da dança. Eles não ape-
nas observaram e descreveram os movimentos, mas também
simbolizaram e estabeleceram conexões entre o que já co-
nheciam e o que apreciaram. Ficou claro, a partir dessa ex-
periência, que as crianças fruíram a dança, revelando uma
compreensão dos elementos dessa linguagem artística.
Refletindo sobre os encontros com as crianças, perce-
bi a necessidade de repensar minhas abordagens pedagógicas
em relação à dança. Dois aspectos se destacam nesse processo.
Primeiro, reconhecer e valorizar o conhecimento construído
pelos pequenos por meio de suas experiências em dança. Du-
rante essa vivência, pude observar que eles assimilam concei-
tos complexos da dança e compreendem seus significados de
forma profunda quando os vivenciam na prática.
Segundo, adotar uma abordagem pedagógica em dança
que esteja alinhada com a forma como as crianças apreendem e
compreendem o mundo ao seu redor. Isso envolve aspectos lú-
dicos, pautados nas interações e nas brincadeiras (Brasil, 2017),
que podem ser desdobradas em jogos, faz de conta e brincadei-
ras dançadas. Essas estratégias permitem explorar o imaginário
infantil por meio dos conhecimentos em dança, estimulando
a criatividade e estabelecendo um sentido para elas.
Considerando essas estratégias, meu objetivo com este
texto é discutir e apresentar a construção de um pensamen-
to em dança com as crianças, uma epistemologia da práti-
ca, procurando traçar um caminho pedagógico que aborde
os desafios em trabalhar dança com os pequenos. A fim de
atingir esse objetivo, o texto será dividido em três partes que
permitirão explorar os diferentes aspectos desse processo.
Na primeira parte, irei explorar o encontro com a in-
fância, um território repleto de incertezas. Nesse trecho,
apresentarei os principais conceitos relacionados à infância
e à criança, estabelecendo parâmetros para uma abordagem
epistemológica que volta seu olhar para a dança.
Na segunda parte, abordarei os desafios enfrentados
pelos professores de dança ao refletir sobre sua prática com
as crianças. Discutirei as questões que surgem e as dificulda-
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ESTUDANTES DO CURSO DE EXTENSÃO CULTURAL | FOTO: SAMIRA DANTAS
69
Almeida (2023). Esses estudos destacam artigos científicos,
anais dos principais eventos de dança e educação do país,
dissertações e teses acadêmicas que trazem como tema a dan-
ça com crianças.
Outrossim, é importante destacar o crescimento de
mostras e festivais de dança especialmente voltados para as
crianças. Um exemplo é o Festival Meia Ponta, que faz par-
te do Festival de Dança de Joinville (SC). Além desse, des-
taco a mostra de Dança “A Noite é uma Criança”, realizada
nas cidades de Florianópolis (SC), Joinville (SC), Curitiba
(PR), Porto Alegre (RS), Chapecó (SC) e Criciúma (SC), e
o Dança Criança Ceará (CE), entre outros que acontecem
pelo país.
Apesar do progressivo interesse nesse campo, ainda
existe a necessidade de estabelecer um olhar atento para a
infância, além de repensar práticas artísticas e pedagógicas
em dança que estejam de acordo com as especificidades
dos pequenos.
Para estabelecer um recorte epistemológico nas prá-
ticas de dança para crianças, é necessário compreender as
diversas concepções de infância e as formas singulares de ser
criança. É importante saber que dentro de uma mesma cul-
tura, é possível identificar diferentes formas de ser criança,
o que modifica os papéis atribuídos e a práxis adotada em
relação à dança e outras atividades.
Embora conhecimentos provenientes de áreas como
Psicologia, Antropologia, Sociologia e Medicina possam
oferecer subsídios para compreender aspectos comuns da
infância, é importante reconhecer que cada criança é úni-
ca em suas individualidades e diferenças (Brasil, 1998).
Nessa perspectiva, a infância não pode ser compreendida
como uma fase previsível do desenvolvimento humano, na
qual os pequenos apresentam comportamentos predefini-
dos em determinada faixa etária. Isso implica que não de-
vemos generalizar comportamentos ou experiências, uma
vez que cada criança possui suas próprias características e
particularidades que devem ser consideradas em um pro-
cesso educacional.
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ESTUDANTES DO CURSO DE EXTENSÃO CULTURAL | FOTO: SAMIRA DANTAS
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vam, narram, questionam e constroem sentidos sobre a
natureza e a sociedade por meio da dança. Além disso,
elas têm a oportunidade de explorar o conhecimento do
corpo, experimentar movimentos, expressar suas emoções
e se conectar com sua cultura e identidade. Ao estabele-
cer parâmetros para o ensino de dança com os pequenos,
é imprescindível valorizar sua voz e considerá-los como
participantes na construção de sua própria aprendizagem
em dança. Para isso, é necessário ouvir, abrir-se para rece-
ber a criança, compreendendo que seu modo de assimilar
o conhecimento ocorre por meio do brincar, que tem a
potência de estimular o imaginário infantil, permitindo
interações consistentes com outras crianças, adultos, es-
paços e materiais.
Essas interações que ocorrem na brincadeira podem
acontecer de algumas maneiras na dança. Por exemplo, em
um processo de observar o brincar livre e espontâneo das
crianças, o professor pode coletar algumas informações para
transformar essa brincadeira em jogo dançado com fins e
intencionalidade pedagógicas. Ao ver os pequenos pulando
corda, o professor pode criar um jogo que envolva saltos em
diferentes níveis, utilizando a corda como material e, poste-
riormente, propor que essa variação de saltos seja combina-
da em uma sequência dançada que se distribua pelo espaço e
que pode ser modificada de acordo com instruções e regras,
permitindo que a partir da brincadeira a criança crie novas
maneiras de saltar.
Nesse caso, vale reforçar a diferença entre a brinca-
deira e o jogo. A brincadeira costuma ser livre, sem um
objetivo definido, enquanto o jogo tem um objetivo final
a ser alcançado. Na dança, a improvisação é uma forma de
jogo, que pode ter como proposta estimular a imaginação
e a criação de movimentos. O professor pode estabelecer
regras para a improvisação, como explorar novos movi-
mentos, criar uma coreografia ou uma história dançada.
A improvisação em dança é uma prática que possui mui-
tos elementos de um jogo, especialmente pela sua natureza
experimental e imprevisível. Em alguns jogos de improvi-
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ESTUDANTES DO CURSO DE EXTENSÃO CULTURAL | FOTO: SAMIRA DANTAS
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OS DESAFIOS DO PROFESSOR DE DANÇA
E A REFLEXÃO SOBRE A PRÁTICA
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ESTUDANTES DO CURSO DE EXTENSÃO CULTURAL | FOTO: SAMIRA DANTAS
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lado, em uma abordagem tradicional, se o educador contro-
lar excessivamente o processo criativo, limitando a participa-
ção dos pequenos, pode diminuir a motivação, a capacidade
de expressão e a criatividade deles.
Outra concepção que apresento está baseada na Socio-
logia da Infância, que defende as relações interpessoais e cul-
turais no processo de aprendizado da criança. Essa perspecti-
va considera que a criança constrói suas relações por meio da
interação social com seus pares (outras crianças), os adultos e
o mundo, levando em conta a construção histórica, política,
social e cultural do contexto em que está inserida. Nesse en-
tendimento, a dança como uma expressão artística e cultu-
ral, oferece um ambiente propício para os pequenos criarem
e ampliarem seu repertório de movimento e exercitarem na
prática os papéis que ocupam dentro de um grupo social.
Além disso, quando ocorre a participação da criança em ma-
nifestações culturais, apresentações, festivais de dança, entre
outros, ela interage em grupos com diferentes organizações e
modos de dançar, enriquecendo a sua compreensão artística
e social sobre dança.
Ao refletir sobre as concepções que embasam o mode-
lo pedagógico adotado, o professor de dança pode encontrar
alternativas mais adequadas para sua práxis de dança com
crianças. Cada abordagem apresenta vantagens e desafios es-
pecíficos, e é fundamental que o educador de dança esteja
ciente das implicações de sua escolha. A prática docente em
dança deve ter uma intencionalidade pedagógica, funda-
mentada em um modelo educacional que busque atender às
necessidades e potencialidades das crianças. Isso requer um
olhar atento, uma capacidade de escuta por parte do profes-
sor, que precisa saber quando intervir, fornecer orientação e
incentivar a criação e interação social da criança, ao mesmo
tempo em que cultiva um ambiente seguro e instigante para
a aprendizagem.
Dessa forma, a análise sobre o modelo pedagógico se
torna um elemento essencial no processo de reflexão sobre
a prática do professor de dança. Ao repensar as abordagens
pedagógicas, considerando os desafios e as demandas especí-
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ESTUDANTES DO CURSO DE EXTENSÃO CULTURAL | FOTO: IARI DAVIES
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sos de criação. Dessa forma, os educadores podem adaptar
as temáticas da dança de acordo com as necessidades e os
interesses das crianças, estimulando sua expressão indivi-
dual e coletiva por meio da dança. Nesse sentido, é essen-
cial o professor construir um caminho metodológico que
se alinhe com os propósitos do contexto em que está inseri-
do a fim de permitir que a criança participe na construção
do seu conhecimento em dança.
Um dos primeiros passos nesse processo é o planeja-
mento, que deve ser um guia flexível, permitindo ajustes e
adaptações de acordo com as necessidades ao longo do pro-
cesso. É importante manter um diálogo constante com os
pequenos, ouvir suas opiniões, tornando o planejamento
um movimento colaborativo que atenda às expectativas e
potencialidades de todos os envolvidos na ação, professores,
crianças, gestores e comunidade.
A metodologia de ensino também deve ser detalhada no
planejamento, organizando estratégias e atividades que serão
utilizadas para alcançar os objetivos propostos. Pode-se incluir
aulas práticas de exploração do movimento, jogos de criação,
improvisações, estudos coreográficos e momentos de aprecia-
ção e discussão sobre diferentes formas de dança. A avalia-
ção deve ser considerada no planejamento, definindo critérios
para acompanhar o envolvimento das crianças. Isso pode in-
cluir observações em sala de aula, registro de participação in-
dividuais e coletivas, incluindo os momentos de apresentação
ou mostra do trabalho desenvolvido pelos pequenos.
Outro aspecto é a seleção dos elementos da linguagem
a serem abordados na prática pedagógica. Nesse sentido, des-
taco o que chamo de “temáticas da dança”, que são conteú-
dos essenciais para o trabalho de dança com as crianças. As
temáticas da dança são organizadas em três categorias prin-
cipais: corpo, fundamentos da dança e criação em dança.
No âmbito do Corpo, o foco é o conhecimento da
estrutura corporal e a consciência das diversas possibilida-
des de movimento que cada parte dele oferece. O corpo é o
elemento central na dança, é o brinquedo, pelo qual as ex-
pressões e experiências artísticas acontecem. Por isso, é in-
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ESTUDANTES DO CURSO DE EXTENSÃO CULTURAL | FOTO: MARCELO MACHADO
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No subeixo “Desafiando a gravidade”, as crianças podem
experimentar e compreender o movimento e as sensações de
peso do corpo. Propõe-se investir em jogos de equilíbrio com
giros, saltos e rolamentos, explorando diferentes formas de se
manter ou perder o equilíbrio. Além disso, elas podem explorar
os pontos de apoio do corpo, como pés, mãos, cotovelos, entre
outros. Durante essa exploração, é possível incentivar a imagi-
nação e o faz de conta, atribuindo um personagem, um animal
e sua qualidade de movimento a cada mudança de apoio.
Essas brincadeiras podem ser combinadas com ações
como correr, rolar, levantar, sentar-se e pular, permitindo
que as crianças percebam quais pontos de apoio o corpo uti-
liza durante as transições entre diferentes posições. O uso de
materiais como penas, lenços e bexigas pode proporcionar
vivências sensoriais que ajudam a compreender conceitos
como o peso leve. O trabalho em duplas pode ser utilizado
para explorar a resistência, o peso firme e o uso de alavancas,
compreendendo como o esqueleto e as articulações funcio-
nam para impulsionar o movimento.
No subeixo “Relações espaciais”, o foco são as interações,
as crianças têm a oportunidade de explorar e compreender seu
corpo em relação ao ambiente, a ocupação e o direcionamento
do espaço, bem como as relações com o mundo, outras crian-
ças ou objetos. Podem ser propostas atividades em que elas se
movimentem em diferentes direções, níveis e planos (Laban,
1978), descobrindo como o seu corpo se relaciona com o espa-
ço ao redor. Além disso, é interessante explorar a noção de dis-
tância e proximidade em relação às outras crianças, bem como
a utilização de objetos como aliados para produzir dança, que
podem englobar a criação no corpo das formas dos objetos ou
a trajetória que eles desenham no espaço.
No subeixo “Ritmo e relações de tempo”, o foco está
no uso do tempo na dança. As crianças são convidadas a
explorar o ritmo dos movimentos, trabalhando com acelera-
ções, desacelerações e pausas. Essa abordagem busca inves-
tigar as dinâmicas do movimento permitindo que elas co-
nheçam melhor o ritmo em seus corpos. É fundamental que
os pequenos compreendam o conceito de pulso, que é uma
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ESTUDANTES DO CURSO DE EXTENSÃO CULTURAL | FOTO: SAMIRA DANTAS
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ção em dança e apresentação”. Destaca-se, nele, a importân-
cia de incentivar a imaginação, a experimentação, a obser-
vação e a participação ativa das crianças na construção do
conhecimento em dança.
Ao longo do texto, já abordei alguns pontos desse eixo,
por meio do destaque aos jogos de criação e improvisação em
dança como atividades lúdicas. Esses jogos, como já mencio-
nado, estimulam a criatividade, a exploração do movimento
e a expressão artística das crianças, permitindo que elas de-
senvolvam suas próprias danças de forma autônoma.
No subeixo “Apreciando a dança”, destaco a impor-
tância de proporcionar oportunidades para os pequenos
assistirem a apresentações de dança e desenvolverem a sua
capacidade de apreciação estética. Por meio da apreciação,
eles ampliam o seu repertório de movimentos, identificam
as temáticas da dança abordadas nas aulas e a compreendem
como uma manifestação cultural presente na sociedade. É
fundamental que tanto as crianças quanto os professores se
apropriem dos vocabulários da dança, permitindo uma co-
municação mais rica e o aprofundamento do conhecimento
em dança por meio da apreciação estética.
No subeixo “Criação e apresentação”, valorizo a orien-
tação dos pequenos na criação de danças, promovendo mo-
mentos de partilha e apresentação das criações. Esses mo-
mentos proporcionam trocas e permitem a convergência
das dimensões estética, artística e cultural da dança com a
criança pequena. Ao abordar a criação, é essencial conside-
rar temas cativantes, como histórias, contos, elementos da
natureza e cultura popular, que despertem o interesse e a
curiosidade das crianças. Esses temas servem como fonte de
inspiração para explorar movimentos e expressões corporais,
permitindo que elas criem suas próprias danças e interpre-
tem diferentes personagens por meio do movimento.
A intenção do eixo “Criação em dança” é proporcio-
nar um ambiente propício para que as crianças se tornem
protagonistas de suas próprias danças, valorizando tanto o
processo de criação quanto a apresentação final, ampliando
sua compreensão e vivência da linguagem da dança.
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ESTUDANTES DO CURSO DE EXTENSÃO CULTURAL | FOTO: IARI DAVIES
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ESTUDANTES DO CURSO DE EXTENSÃO CULTURAL | FOTO: IARI DAVIES
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REFERÊNCIAS
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ESPAÇO URBANO COMO
PARCEIRO INTERATIVO
E TERRITÓRIO DE EXPERIÊNCIAS
PARA O CORPO NA DANÇA
Jussara Xavier
87
Diante de suas potências e seus limites, o corpo dança
para revelar outros conceitos de vida, mais próximos ao pa-
radoxo, mais distantes de lógicas normalizadoras. Ele busca
materializar uma singularidade, ao invés de almejar um pa-
drão ideal ou modelo corporal único.
Por que o contemporâneo precisa de outras corporei-
dades? Porque não lhe serve um corpo trivial, pronto,
único, determinado por modelos sensório-motores e
funções fixas. O contemporâneo busca a polivalên-
cia dos corpos, transitórios e indeterminados, capazes
de sensações multiplicadas e intensidades extremas.
Procura a constituição da diferença na mistura, na
variação, na potência. A proposta deste corpo é a de
compor novos movimentos, anunciar singularidades.
Trata-se de um corpo que contém uma multiplicida-
de de corpos virtuais, é não-óbvio, transformador do
tempo e espaço, perseguidor de uma outra dimensão,
desencadeador de novas percepções, fonte de todo tipo
de paradoxo (Xavier, 2012, p. 83).
Um projeto coreográfico e compositivo em dança
pressupõe um pensamento acerca do corpo (Louppe, 2012).
Se a dança contemporânea se afirma como acontecimento,
o acontecer no corpo implica a feitura de um processo que
busque criar e afirmar a diferença (no lugar da mera conser-
vação). Envolve, ainda, a recuperação e o alargamento do
desejo e das potências desse corpo. No decurso para a mani-
festação de outras corporeidades, o dançarino contemporâ-
neo prossegue em práticas de estranhamento e descoberta de
si. Tal conhecimento não preexiste, mas é atuado em experi-
ência, ou seja, percepção e cognição dependem das próprias
capacidades de ação. Pondero que tal interesse coincide com
a busca por ambientes estimulantes aos sentidos e às no-
vas interfaces que cooperem com a (re)descoberta do corpo.
Sendo assim, a opção de dançar em espaços urbanos coopera
com a proposta de não condicionar as atuações de um cor-
po, pois, como já dissemos, o corpo da dança contemporâ-
nea é pesquisa e prática para constituir de modo contínuo
um devir-outro.
88
Dentre as muitas variáveis compositivas atualizadas
pela dança contemporânea, sobressai o deslocamento dos
quadros instituídos para sua apresentação, sempre acompa-
nhado de mudanças perceptivas e relacionais, tanto dos ar-
tistas quanto do público. Um palco (considerando qualquer
um de seus tipos básicos: italiano, arena e semiarena) confi-
gura-se como um espaço geométrico, mensurável, com esca-
las e regras comuns. Na cultura clássica ocidental, a ocorrên-
cia da dança no palco é encerrada numa espécie de moldura
e compõe um corpo que tende a reproduzir linhas, formas
e trajetórias arquetípicas, a exemplo dos deslocamentos em
círculos e diagonais. Esse modo de organização e alinhamen-
to compõe, também, o corpo do espectador, pois sua memó-
ria visual e imaginária, bem como suas coordenadas percep-
tivas, estão habituadas a orientar-se a partir de um ponto de
vista único e centralizado (Louppe, 2012, p. 192-193).
De maneira crescente, o palco vem sendo reocupado e
reinventado para propor outras formas dinâmicas de expo-
sição e ocultação do corpo e, ainda, para produzir seus pró-
prios espaços. Transforma-se para comportar planos de ação
inusitados, como nas obras da diretora alemã Pina Bausch
(1940-2009) que converte a cena em ambientes diferencia-
dos para a dança como, por exemplo, uma plantação de cra-
vos (Nelken, 1982), um campo de terra (Das Frühlingsopfer,
1975), uma cafeteria (Café Müller, 1978), um salão de baile
(Kontakthof, 1978) e uma cidade em ruínas (Palermo, Paler-
mo, 1989). Sua proposta constrói um universo visual que ul-
trapassa o decorativo para atuar em coerência com o plano
do corpo em movimento, ou seja, o ambiente é ativo e mo-
dulado para integrar e habitar a própria ação de dançar. Ao
tratar especificamente da obra Café Müller, Louppe (2012,
p. 305) sublinha que a cenografia “desempenha um papel
de confinamento ou de obstáculo. Já não enquadra a dança,
mas obstrui-a, e pela acumulação revela uma perda: cadeiras
e mesas são armadilhas e zonas pantanosas de que nem os
seres nem o movimento se conseguem libertar”.
Em outras correntes de experimentações, abandona-se
completamente o palco e seus códigos, para formular danças
89
em sítios específicos ou espaços urbanos quaisquer, permi-
tindo, assim, a reinvenção incessante do corpo em seus diá-
logos materiais e simbólicos. Pondere que
[...] rua e cidade não são palcos, e sim territórios ati-
vos, politicamente instáveis, fisicamente dinâmicos,
dotados de força própria. Para quem trabalha com
arte ou performance na rua, um desafio dramatúrgico
primordial consiste em relacionar-se com essa força e
vontade ativas do espaço, sem entretanto, dedicar-se a
domá-la ou colonizá-la. A dificuldade reside sobretudo
em deixar abrir mão, de certa maneira, da autoria e da
previsibilidade do significado da obra que essa postura
demanda (Assumpção, 2015, p. 22-23).
O espaço urbano é comumente estabelecido como lo-
cal de convivência social. De acordo com Certeau (1999),
uma praça deixa de ser mero lugar (algo sem vida) para se
transformar em espaço (lugar praticado) quando ocupada
pelos pedestres e, assim, tornar-se espaço vivenciado, o qual
reflete as relações entre os homens e o mundo. O espaço é
qualificado pela atividade e pelo uso que permite, por suas
possibilidades de ação (Certeau, 1999).
Percebo a inserção de projetos de dança nos espaços ur-
banos como tentativas de dirigir a criação artística às coisas do
mundo e potencializar reflexões. Algumas danças em espaços
públicos funcionam enquanto espécies de confrontos, ofertas
de contato com o diferente, talvez alertas para o automatismo
social que marca a correria dos transeuntes no dia a dia. Dan-
çar em um espaço urbano colabora para desestabilizar a própria
definição da dança e colocar em questão o caráter das repre-
sentações artísticas. É, ainda, uma alternativa para interpelar
criticamente o mercado e o sistema de validação da dança.
Espaços urbanos funcionam como caminhos úteis
para encontrar outras poéticas cênicas e são especialmente
propícios à produção de dança como pesquisa e prática in-
vestigativa. A imprevisibilidade que lhe é característica fa-
cilita a realização de experiências transformadoras. Cabem,
também, para testar diferentes modos de relação entre ob-
servados-observadores.
90
Ao abalar ou anular a distância física entre palco e
plateia, a dança tende a se afastar de uma linguagem pré-
-fabricada e converter-se num acontecimento, compondo
uma relação de inserção, mais real e viva para os presen-
tes. Ao converter espectadores em participantes, produz
uma espécie de “situação social”, onde estes percebem o
quanto sua experiência depende de si mesmos e dos outros
(Lehmann, 2007, p. 173). Intensifica-se uma partilha de
energia (e não de uma comunicação na qual a informação
corre de um emissor a um receptor). Contudo, a fruição
sempre dependerá do nível de interesse e engajamento do
espectador, disponível ou não para ativar memórias, tecer
nexos, construir significados.
91
BAILARINA E COREÓGRAFA ERIKA ROSENDO EM MUDA, DE JUSSARA XAVIER | FOTO: CLAUDIA BAARTSCH
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BAILARINA E COREÓGRAFA ERIKA ROSENDO EM MUDA, DE JUSSARA XAVIER | FOTO: CLAUDIA BAARTSCH
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BAILARINA E COREÓGRAFA ERIKA ROSENDO EM MUDA, DE JUSSARA XAVIER | FOTO: CLAUDIA BAARTSCH
94
espaço investigado foi propositor de interferências e modifi-
cações, copartícipe da dança MUDA.
Espaços públicos são povoados por multiplicidades,
habitados por construções, sonoridades, pessoas, ações, ati-
tudes e vidas diversas. Territórios de encontros, experiências
cinestésicas e dramaturgias móveis que compõem uma dan-
ça/acontecimento. Nela, o corpo tende a se afastar de ca-
tegorizações, de princípios compositivos e práticas técnicas
universais. Ele busca empreender experimentações, deslocar
códigos e referências usuais, inventar parâmetros e desesta-
bilizar o já conhecido. Desabituar o corpo. Tensionar “seus
possíveis”. Questionar saberes e fazeres.
A escolha por dançar em espaços urbanos privilegia
a aventura do conhecimento e a diferença como potencial
instauradora de novas perspectivas. Um exercício de criação
de sintaxes singulares, que deseja permanecer apenas em um
estado aberto favorável à invenção e variabilidade.
95
REFERÊNCIAS
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ESTUDANTES DO CURSO REGULAR DE DANÇA E PERFORMANCE MATUTINO | FOTO: GAL OPPIDO
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ESTUDANTE DO CURSO REGULAR DE DANÇA E PERFORMANCE MATUTINO | FOTO: GAL OPPIDO
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ESTUDANTE DO CURSO REGULAR DE DANÇA E PERFORMANCE MATUTINO | FOTO: GAL OPPIDO
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ESTUDANTE DO CURSO REGULAR DE DANÇA E PERFORMANCE MATUTINO | FOTO: GAL OPPIDO
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ESTUDANTE DO CURSO REGULAR DE DANÇA E PERFORMANCE MATUTINO | FOTO: GAL OPPIDO
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ESTUDANTE DO CURSO REGULAR DE DANÇA E PERFORMANCE MATUTINO | FOTO: GAL OPPIDO
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ESTUDANTE DO CURSO REGULAR DE DANÇA E PERFORMANCE MATUTINO | GAL OPPIDO
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ESTUDANTE DO CURSO REGULAR DE DANÇA E PERFORMANCE MATUTINO | FOTO: GAL OPPIDO
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ESTUDANTES DO CURSO REGULAR DE DANÇA E PERFORMANCE MATUTINO | FOTO: GAL OPPIDO
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ESTUDANTES DO CURSO REGULAR DE DANÇA E PERFORMANCE MATUTINO | FOTO: GAL OPPIDO
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DANÇA SEM BARREIRAS
Karla Dunder
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UM INTRUSO NA DANÇA
109
COREOGRAFIA BEAUTIFUL PEOPLE, DE RUI HORTA, PARA O DANÇANDO COM A DIFERENÇA
| FOTO: JÚLIO SILVA CASTRO
MUDANÇA DE ROTA
110
O primeiro contato prático de Amoedo com dança
veio por meio das aulas com Ana Terra, bailarina, coreógrafa
e professora-doutora do Instituto de Artes. Depois, vieram
as experiências de contato e improvisação com a Cia. Nova
Dança, tradicional companhia de São Paulo para experimen-
tação em dança contemporânea.
Anos mais tarde, uma parceria importante foi com o
renomado coreógrafo argentino Luis Arrieta, para a criação
da coreografia Marnatal. Uma história que começa com a
parceria com Edson Claro.
Foi na especialização em psicofisiologia que Amoedo
conheceu o método Dança-Educação Física, desenvolvido
por Edson Claro na Universidade Federal do Rio Grande do
Norte – UFRN. Um método multidisciplinar e interdisciplinar,
que passa por vivências teórico-práticas. Dança e educação fí-
sica se completam e o bailarino tem uma consciência corporal
melhor, abrindo novas possibilidades para o corpo que dança.
O método tem como proposta desenvolver um trabalho cor-
poral voltado para a integração do indivíduo como um todo.
Ou seja, uma técnica educativa e formativa de base.
O contato com esse método foi um verdadeiro salto na
trajetória do futuro diretor artístico Henrique Amoedo. Sem
pensar duas vezes, a convite de Edson Claro, ele se mudou
para Natal (RN). A partir desse momento, a dança entrou
definitivamente em sua vida.
Foi na UFRN que ele vivenciou na prática a experiência
de trabalhar com um grupo de dança e bailarinos. Em 1995,
ao lado do parceiro e professor Edson Claro, nasceu na pós-
-graduação lato sensu Consciência Corporal da universidade
a Roda Viva Cia. de Dança, que inseriu no cenário da dança
bailarinos com deficiência. “Nunca tive o objetivo de criar
uma companhia de dança, eu queria auxiliar no processo
de reabilitação das pessoas com deficiência, as coisas foram
acontecendo”, recorda.
Em um primeiro momento, as atividades eram desen-
volvidas no Hospital Universitário para a aplicação do mé-
todo, mas logo seguiram para o departamento de artes da
UFRN. A Roda Viva Cia. de Dança, que teve trabalhos assi-
111
COREOGRAFIA ÔSS, DE MARLENE MONTEIRO FREITAS, PARA O DANÇANDO COM A DIFERENÇA
| FOTO: CARLOS FERNANDES
112
Como todo trabalho de pesquisa, o grupo enfrentou
situações diversas, erros e acertos. Foi o caso de um acidente
durante um dos ensaios, na tentativa de encontrar o me-
lhor movimento. “Estava tentando fazer com que o bailari-
no chegasse aonde eu considerava o ideal e naquele ‘só mais
um pouquinho’, ouvi um estalo. Entrei em pânico, soube
que havia quebrado um osso. Tomado pelo desespero, cha-
mei uma ambulância e acompanhei todo o procedimento
no hospital. Fiquei arrasado”.
Aprender a entender cada corpo e os seus limites foi
uma das maiores lições no trabalho da dança inclusiva. Como
resultado, a companhia foi a primeira a atingir a profissiona-
lização de pessoas com deficiência no Brasil.
Vieram os convites para participações em eventos seg-
mentados e não segmentados, na época termos pouco utili-
zados. Em 1997, a Roda Viva Cia. de Dança, representou o
Brasil no “I Festival Internacional de Dança em Cadeira de
Rodas”, em Boston, nos Estados Unidos.
113
COREOGRAFIA DOESDICON, DE TÂNIA CARVALHO, PARA O DANÇANDO COM A DIFERENÇA
| FOTO: PAULO PACHECO
114
Gulbenkian Ballet como diretora artística, indicou o colega
brasileiro para participar de um evento sobre dança terapia
que aconteceria no Espaço T, na cidade do Porto, ao norte do
país. O Espaço T é um lugar de integração social, um local de
acolhimento de grupos mais vulneráveis e inclusão.
“Não era exatamente a minha área atuar com dança
terapia, mas fui. Ali pude compartilhar toda a minha ex-
periência com a dança e o método que trabalhei com as
pessoas com deficiência – demonstrei como a arte é um
caminho de inclusão”.
O resultado veio rápido com um convite para dar
workshops sobre dança e inclusão na Ilha da Madeira. “Um
trabalho que me permitia apresentar as técnicas que aprendi
a usar ao longo da minha trajetória, ao mesmo tempo em
que me permitia continuar com o mestrado”.
Os workshops tinham duração de uma semana. A pro-
posta era trabalhar não só com pessoas com deficiência, mas
também com aquelas sem, de maneira inclusiva, respeitan-
do o tempo de cada um para o aprendizado. O trabalho foi
ganhando corpo até chegar ao Dançando com a Diferença.
Muito mais que uma companhia de dança inclusiva, a
proposta do grupo está em entender cada corpo de maneira
única, buscando extrair toda a potencialidade de cada um.
O trabalho tem como base o método Dança-Educação Físi-
ca, mas também traz elementos do contato-improvisação e
dos princípios propostos por Laban.
“O nosso trabalho começa muito antes das aulas. Tra-
balho a independência de cada um. Saber se organizar para
chegar no horário, saber arrumar uma mala, enfim, coisas
que vão refletir na maturidade de cada um”. Trabalhar com
as dificuldades de cada um durante as aulas e ensaios é uma
maneira de desenvolver habilidades e ganhos funcionais para
o dia a dia.
Coreógrafos brasileiros aceitaram o convite para criar es-
petáculos para a companhia, como Ivonice Satie e Edson Claro.
Ao mesmo tempo que apresentava as coreografias e
experiências na Ilha da Madeira, o diretor artístico busca-
va novos desafios para a companhia. “Mais uma vez, pre-
115
COREOGRAFIA DOESDICON, DE TÂNIA CARVALHO, PARA O DANÇANDO COM A DIFERENÇA
| FOTO: JOSÉ CALDEIRA
116
Rui Horta assinou Beautiful People, um trabalho pro-
fundo, que discute a inclusão seriamente. “Não se trata, pois,
simplesmente, de aceitar a diferença, mas antes de lidar e
conviver com as vontades que nos chegam do lado de lá do
espelho”, explica. Um espetáculo contundente, que “não es-
conde a deficiência, nem a embrulha em sentimentos de pie-
dade. De certo modo, aquilo que o coreógrafo faz é tornar
mais visível a brutalidade e a injustiça com que a sociedade
trata a pessoa com deficiência”.
117
COREOGRAFIA LEVANTA OS BRAÇOS COMO ANTENAS PARA O CÉU, DE CLARAANDERMATT, PARA O
DANÇANDO COM A DIFERENÇA | FOTO: JÚLIO SILVA CASTRO
118
que não é possível. Então, escolheu os mais jovens e o resul-
tado é lindo”.
Assim, a Dançando com a Diferença tem atraído a crí-
tica especializada, com um olhar sem condescendência sobre
esses corpos diferentes. “Mostramos que a dança inclusiva
tem o seu lugar no cenário cultural – uma mudança na His-
tória da Dança”.
119
REFERÊNCIAS
120
SABERES-FAZERES EM DANÇA
FIRMADOS NOS PONTOS
RISCADOS DO LEGADO
AFRICANO-BRASILEIRO
Franciane
Kanzelumuka
Salgado de Paula
122
nosso habitus sociocultural da presença viva da “cultura do
corpo”, “da dança” e “coreográfica” (Navas, 2017).
Em nossas experiências, o corpo é território que se faz
texto primordial para a criação do movimento, gesto e ação. Ele
é reflexo das relações e atravessamentos socioculturais presentes
nos contextos em que habitamos, nos inserimos e transitamos.
A este respeito, a professora e pesquisadora Cássia Navas (2017)
define separadamente cada categoria de “cultura” acima men-
cionada, nos fazendo identificar e perceber as particularidades
que existem no fazer gestual abarcado por cada uma delas.
É importante ressaltar que não há valorações
hierárquicas entre as três categorias e que elas podem nos
ajudar ou possibilitar que criemos delimitações entre estilos
de danças, mesmo que elas se borrem, tencionem ou se
cruzem; entre locais, territorialidades e as intenções do que
levam o surgimento delas.
A autora parte do pressuposto de que existem formas
específicas de mover-se e tais formas são orientadas por as-
pectos idiossincráticos, ligados às “maneiras cotidianas de
estar em movimento (ou em pausa), em redes onde se entre-
laçam ações, atitudes, comportamentos corporais, estabele-
cem-se dinâmicas de como o corpo se coloca em sociedade”
(Navas, 2017, p. 28). E esse sotaque, “jeito de corpo”, diria
respeito ao que a autora compreende por “cultura corporal”.
Já a “cultura da dança” abrigaria dois eixos de manifes-
tações em dança: um ligado às danças de tradições rurais, de
devoção, por vezes presentes no tecido urbano, organizadas
dentro do panorama de danças da cultura tradicional-po-
pular; e outro, chamado pela autora de “internacional-po-
pular”, que abrange as danças da cultura hip hop, danças
sociais, o funk, o vogue, compartilhadas em âmbito global
devido à indústria cultural e às redes sociais. Na categoria
de “cultura coreográfica”, a autora reúne todas as obras cujo
“objetivo precípuo é o de comunicar/representar/apresentar
a experiência humana a partir da construção da dança en-
quanto arte, difundida em teatros ou espaços que se tornam
cênicos por propostas de sua transformação em settings da
arte” (Navas, 2017, p. 26-27).
123
ESTUDANTES DO CURSO DE EXTENSÃO CULTURAL | FOTO: IARI DAVIES
124
Quase 100 anos após a criação da escola, faz-se impres-
cindível revisarmos as bibliografias ainda utilizadas para o
ensino da história da dança, da dança-educação e das plura-
lidades étnico-culturais sobre o ensino e a aprendizagem em
dança no Brasil, tanto no que diz respeito à profissionaliza-
ção de artistas da dança quanto a de artistas-educadores.
É preciso fazer o exercício de rever tais narrativas a
contrapelo da história. Afinal, desde muito antes do início
do século XX, a dança se faz encarnada neste território não
somente na presença dos povos originários e das populações
africanas que para cá foram trazidas, mas também por meio
34 A presente lei
estabeleceu as diretrizes
da colonização portuguesa, que se utilizou de manifestações
e bases na educação
nacional para a inclusão
cênicas nos processos da violência colonial para a conversão
no currículo oficial da
rede básica de ensino a
da população originária e africana.
obrigatoriedade da história
e cultura afro-brasileira e
Além disso, é fundamental desvelarmos como se tem
africana, alterando a Lei nº
9.394, de 20 de dezembro
estabelecido processos pedagógicos relacionados à dança cêni-
de 1996. Para mais detalhes
e informações sobre a Lei
ca em um espectro além dos sempre mencionados eixos Rio
10.639/03, acesse https://
www.planalto.gov.br/
de Janeiro-São Paulo-Minas Gerais. Por que não nos indagar
ccivil03/leis/2003/l10.639.
htm . Acesso em: 23 julho
sobre como documentar e apresentar histórias e experiências
2023.
de danças que estão além das narrativas burguesas e elitistas
35 A referida lei deste projeto de nação – ainda colonial – que segue apagando,
alterou a Lei nº 9.394,
de 20 de dezembro de marginalizando e exotizando, sob a égide do folclore, culturas
1996, e modificou a Lei
nº 10.639, de 9 de janeiro balizares para o que compreendemos como cultura brasilei-
de 2003, estabelecendo
como diretrizes e bases ra, mesmo com mudanças na legislação educacional do país,
da educação nacional,
a inclusão no currículo como as estabelecidas pelas Leis 10.639/0334 e 11.645/0835?
oficial da rede de ensino
a obrigatoriedade da Nossa assunção estética de que herdamos jeitos de cor-
temática “História e Cultura
Afro-Brasileira e Indígena”. pos africanizados, africano-brasileiros, afrodiaspóricos36, sin-
Além disso, enfatiza que
tais conteúdos devam estar copados num jogo entre o que foi estabelecido e reconheci-
presentes em áreas de
educação artística (todas do como “arte pela arte” e o que foi considerado como sendo
as linguagens) e histórias
brasileiras. Para mais do povo, arcaico-tradicional, naif, revela a cada dia que a
detalhes e informações
sobre a Lei 11.645/08, discussão “arte erudita” versus “arte popular” não dá con-
acesse https://www.planalto.
gov.br/ccivil03/ato2007- ta de compreender as perspectivas educacionais, estéticas e
2010/2008/lei/l11645.htm .
Acesso em: 23 jul. 2023. poéticas quando tratamos das danças afrodiaspóricas, sejam
as do campo da “cultura da dança”, sejam as que podem ser
36 Muitas são as
nomenclaturas para nos situadas no que é considerado “cultura coreográfica”. Afinal,
referirmos ao legado de
origem negro-africana que trânsitos artístico-culturais entre fazeres-saberes afrodiaspó-
se originou no processo de
escravização da população ricos e fazeres-saberes euro-ocidentais seguem em tensiona-
africana ao longo dos
séculos XVI, XVII, XVIII e XIX. mentos há séculos.
125
ESTUDANTES DO CURSO DE EXTENSÃO CULTURAL | FOTO: IARI DAVIES
126
múltiplas de poéticas referentes à Dança Afro e demais dan-
ças afrodiaspóricas ou danças negras.
Para que possamos dimensionar os movimentos pe-
dagógicos relacionados às aprendizagens de tais danças, to-
maremos como referências as experiências de dois artistas da
dança atuantes no Centro-Oeste brasileiro: Juliana Jardel39 e
Júlio César40. Suas narrativas orais fomentam caminhos para
a compreensão tanto das histórias das danças negras no Bra-
sil como de procedimentos pedagógicos de transmissão dos
saberes-fazeres africano-brasileiros do movimento, pois suas
formações se encontram no chão de aprendizagem das cul-
turas negras.
Foi numa sexta-feira fria, mas ensolarada, dia que em
respeito a “Oxalá, Lemba, Lissá, mãe, pai, avô, avó, pulsão
de criação e palavra, silêncio ante o que não se dança ou ante
a festa extrovertida do incompreensível”41 vestimos branco,
que se deu o meu encontro com a artista da dança, profes-
sora e pesquisadora Juliana Jardel e com o artista da dança,
39 Juliana Jardel
é o nome artístico, em
terapeuta corporal e professor Júlio César.
homenagem a seu irmão
(in memoriam), de Juliana
Assim, a narrativa a seguir foi elaborada a partir das
de Oliveira Ferreira (Goiânia
[GO], 1977). Criadora,
entrevistas realizadas com ambos, procurando evidenciar a
coreógrafa e intérprete
do Grupo Corpo Suspeito.
presença da dança em suas vidas e os caminhos percorridos
Licenciada em Dança,
mestra em Performances
com relação aos processos pedagógicos vivenciados e desen-
Culturais (bolsa FAPEG)
e doutoranda em
volvidos por eles. Por meio de suas memórias e de suas ge-
Antropologia Social,
todas formações pela
nealogias de formação artística, foi possível traçar um amplo
Universidade Federal de
Goiás – UFG. É integrante
espectro dos locais em que se deram suas relações de ensino
do LaGENTE – Laboratório
de Estudos de Gênero,
e aprendizagens em dança, em especial das danças negras,
Étnico-raciais
e Especialidades (UFG).
afrodiaspóricas. As experiências de vida e o modo como am-
bos os artistas tiveram sua iniciação na dança se aproximam:
40 Júlio César é o
nome artístico de Júlio em casa, em vivências comunitárias, em escolas de samba,
César Pereira (São Paulo
[SP], 1962). Arte-educador, no jazz dance, na dança contemporânea e balé, que expe-
coreógrafo, bailarino,
músico e terapeuta corporal. rienciaram em academias de dança.
Fundador e diretor artístico
da Companhia Experimental As escolas de samba, compreendidas como quilombos
de Dança Negra
Contemporânea Mário urbanos e espaços de aprendizagens de múltiplas linguagens
Gusmão (CEDANCOMG),
criada em 2007 em Brasília de conhecimento, são espaços onde se presentificam as ela-
(DF).
borações das experiências negras, na materialização da trans-
41 Fragmento de Oxalá disciplinaridade das mais diversas linguagens artísticas. As
um Dia, de Tiganá Santana
(2020). escolas de samba se configuram como espaços de formação
127
ESTUDANTES DO CURSO DE EXTENSÃO CULTURAL | FOTO: IARI DAVIES
128
tio Virgílio, fazia as fantasias de uma escola de samba
daqui de Goiânia, a Brasil Mulato, e minha família
sempre estava nessa escola, nós tínhamos a ala da nos-
sa família. Então, se tem um lugar mais formal que
comecei a dançar e entender que queria ser artista, foi
na escola de samba, neste lugar de muita parceria, de
muito cuidado. Aos oito, nove anos, comecei a fazer
jazz na escola em que estudava, em Aparecida de Goi-
ânia, pois fui criança na década de 1980, o auge do jazz
dance. Passava muito filme musical, onde apareciam
vários corpos negros e, na minha cabeça, eu tinha que
me mudar para os Estados Unidos para ser bailarina,
porque próximo a mim não tinha bailarinos. Muito
cedo entendi que queria ser artista. Comecei a fazer
jazz na escola com a professora Constância, que por
sorte era uma mulher negra, maranhense. Nessa épo-
ca, tinha o show do Juquinha no Teatro Goiânia. Acho
que fui uma vez assistir e da outra vez já fui competir.
Depois meu irmão, meu primo e eu começamos a via-
jar em uma caravana com ele [Juquinha], em que imi-
távamos a Banda Reflexus. Foi um momento muito
bacana, porque as letras da banda falavam, tratavam
de África. Acho que foi um dos momentos em que nós
começamos a questionar de uma forma mais precisa o
que era o continente africano, porque as letras traziam
isso com riqueza de potência, sem se tratar o continen-
te como lugar da escravidão (Juliana Jardel, fragmento
de entrevista concedida à autora, julho/2023).
Percebam como as experiências de Juliana Jardel e Jú-
lio César se aproximam, há semelhanças em suas respostas:
Eu iniciei com uma idade já avançada para a dança,
apesar de ser de família de artistas. Meu bisavô, em
São Paulo, era o Dionísio Barbosa, fundador da escola
de samba que se tornou a Camisa Verde e Branco. Na
época dele era o Cordão Verde e Branco, depois passou
para o meu tio Inocêncio, depois para o meu primo
Tobias e, agora, está nas mãos da minha prima Valéria.
Eu cresci neste ambiente artístico. Tinha muito baile
129
ESTUDANTES DO CURSO DE EXTENSÃO CULTURAL | FOTO: IARI DAVIES
130
zedoras da dança, pessoas que num circuito denominado de
“artes cênicas” ou de “dança profissional”, não são lembradas
como construtoras desse labor.
Júlio César iniciou seu processo de formação em dan-
ça aos 21 anos com Firmino dos Reis, professor de afro-
-jazz, numa academia de ginástica em São Mateus, Zona
Leste de São Paulo (SP), no final dos anos de 1980. Forma-
ção esta que se dá praticamente junto a sua iniciação como
arte-educador, quando começa a fazer uma série de cursos
de profissionalização para arte-educação pela Secretaria do
Menor de São Paulo.
Paralelamente a isso, ele seguiu fazendo muitas aulas
de dança e tendo encontros com grupos afros paulistas de
dança e música, como a Bandalá, que ensaiava na Escola de
Samba Unidos do Peruche. Nesse espaço dedicado ao sam-
ba, ele conhece seu primeiro professor de dança afro, Mar-
celo M’Dambi (in memorian), que fazia parte da Bandalá e
foi professor de toda uma geração de artistas paulistas das
danças negras. Nesse mesmo período, por volta dos anos de
1987/1988, ele conhece o bailarino e professor Firmino Pi-
tanga, que além de M’Dambi, é outro artista-educador de
referência para as danças negras paulistanas, formando mui-
tas gerações de artistas da dança e do teatro em São Paulo
desde sua chegada lá, em 1985.
Além de fazer aulas de dança negra contemporânea
com Firmino Pitanga, Júlio César passa a integrar a sua
Cia. Batá Kotô, como dançarino e músico, seguindo no
grupo, de forma intermitente, até meados de 1995. Outros
professores de danças negras com linhas distintas de tra-
balho também formaram Júlio, como Macalé dos Santos,
que ministrava oficinas no Sesc Carmo, e Wilson Santos,
que dava aulas de afro-jazz, dentre outros, incluindo pro-
fessoras e professores que ministravam aulas em torno do
estudo do movimento mais eurorreferenciado (trabalho de
Rudolf Laban, o contato-improvisação) e artes corporais
asiáticas, como o Kempô indiano.
No entanto, para Júlio César ter sido aluno e integran-
te da companhia de dança dirigida por Firmino Pitanga foi
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ESTUDANTES DO CURSO DE EXTENSÃO CULTURAL | FOTO: IARI DAVIES
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manifestações das danças negras em alguns estados do país,
como Minas Gerais e São Paulo.
Como arte-educador, Júlio César iniciou dando aulas
no Sesc Carmo, ainda no final dos anos de 1980 e início de
1990, substituindo Marcelo M’Dambi ocasionalmente. Ao
longo dos anos de 1990, ele pode ministrar aulas também
pela Secretaria do Menor e pela Secretaria de Cultura de São
Bernardo do Campo e Santo André, além de atuar em aca-
demias de dança. Ele faz ainda uma interessante reflexão de
como foi amadurecendo e encontrando sua especificidade
em dar aulas:
De vez em quando eu substituía meu professor, o Mar-
celo M’Dambi, e, a partir daí, fui criando segurança
no que estava aprendendo. No princípio, você é um
reprodutor daquilo que aprende, mas à medida que
fui amadurecendo, meu estilo foi se modificando, fui
colocando aquela pitada especial, o meu jeito de dar
aulas. Isso fez com que minha forma de trabalhar ga-
nhasse outra escala, outro olhar. Gosto muito do estilo
do Pitanga de trabalhar, a forma como ele passa a mo-
vimentação, a didática, acho muito rica. Quando ele
trabalha um contexto dos orixás, por exemplo, nem
sempre coloca a dança dos orixás, mas utiliza a energia
[deles] (Júlio César, fragmento de entrevista concedida
à autora, julho/2023).
Além de todo esse percurso, Júlio também traz um
repertório ligado às manifestações tradicionais-populares
brasileiras, pois integrou o grupo Abaçaí – Cultura e Arte,
fundado por Toninho Macedo. Dessa forma, foi elaborando
sua formação e seu modo de dar aulas de dança negra con-
temporânea nessa encruzilhada de fazeres-saberes.
Há 27 anos residindo em Brasília, ele vem desenvolven-
do seu trabalho em dança-arte-educação em projetos sociais,
como o Projeto Candanguinho, além disso, ministrou aulas
de dança na Faculdade Dulcina de Moraes e em projetos de
extensão realizados pela Universidade de Brasília – UnB. Em
confluência com artistas-professores-pesquisadores, como o
franco-senegalês Patrick Acogny, Júlio tem buscado desen-
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ESTUDANTES DO CURSO DE EXTENSÃO CULTURAL | FOTO: IARI DAVIES
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soas adultas no Centro de Dança do Distrito Federal, um
equipamento público, gerido pelo Governo da capital do
país, de grande relevância para a classe da dança de Brasília.
A presença de Júlio César no Centro de Dança e no Dis-
trito Federal tem contribuído para a difusão do fazer-saber
em danças afrodiaspóricas em parte do Centro-Oeste. Além
disso, ele é referência para toda uma geração de artistas e ar-
tistas-educadores do Distrito Federal e do entorno, quando
se trata de danças negras.
Artistas de gerações distintas e habitantes de territórios
geográficos que se aproximam, Juliana Jardel e Júlio César
são contemporâneos em seus fazeres em danças afrodiaspó-
ricas. Retornemos à história de Juliana.
Durante um interstício da infância para a adolescên-
cia, ela parou de dançar de forma sistematizada, formal. Seu
reencontro com a arte do movimento foi por meio do jazz,
aos 16 anos, nas aulas de um professor negro chamado Sér-
gio (in memoriam) e de aulas de dança contemporânea, na
Escola de Arte Veiga Valle, em Goiânia (GO). Porém, em
razão das dificuldades financeiras familiares, ela novamente
precisou parar de dançar, retornando e escolhendo a dança
definitivamente como profissão aos 26 anos. Nesse período,
voltou às aulas na mesma escola de arte e integrou o Nôma-
des Grupo de Dança, dirigido por Cristiane Santos.
Para além da dança, a capoeira também se fez presente
em sua vida. Seu pai foi capoeirista e ela conta que treinou
capoeira regional por muitos anos no grupo Bimba Meu
Mestre, com Mestre Onça e Marcão Tatu, no grupo Abadá,
e depois com Charme e Mestre Suíno, no grupo Candeias.
Nutrindo-se no prato onde a capoeira e o samba comem, é
importante referenciar toda a vivência dessa artista em uma
comunidade de matriz africana, pois ela é candomblecista.
E, assim, sua comunidade-terreiro também se faz como um
importante espaço de ensino-aprendizagem para a dança.
A formação de Juliana no âmbito do ensino formal
superior se deu na licenciatura em dança da Universidade
Federal de Goiás – UFG, onde realizou uma pesquisa de ini-
ciação científica sobre Maya Angelou e Ismael Ivo. Ela tam-
135
ESTUDANTES DO CURSO DE EXTENSÃO CULTURAL | FOTO: IARI DAVIES
136
as danças dos orixás. Por conta disso, a terminologia utili-
zada por ela é “dança afro-brasileira”. Ela acredita que essa
terminologia é apenas um modo de mostrar as possibilida-
des da diáspora africana através da dança. Ao longo de toda
sua trajetória e experiência pedagógica, ela foi mesclando as
danças dos orixás com outras referências de seu repertório
gestual e, assim, elaborando um método, por ela denomina-
do, de “Movimentos Atlânticos”.
Juliana, que nos últimos três anos tem atuado como
docente na licenciatura em Dança do Instituto Federal de
Goiás, na cidade de Aparecida de Goiânia (GO), comparti-
lha sua experiência na formação de docentes para a área da
dança, com relação a como tem se dado nessa instituição a
implementação da Lei 10.639/03:
No Instituto Federal de Goiás (IFG) em Aparecida de
Goiânia tem professores comprometidos com a Lei e
com a discussão étnico-racial. Lá, estamos montando o
NEABI (Núcleo de Estudos Afro-brasileiros e Indígenas)
e temos feito um bom trabalho. O melhor é que foi até
uma necessidade, a coordenação me procurou e me deu
algumas disciplinas relacionadas a questões étnico-ra-
ciais, porque a preocupação deles era ter uma disciplina
sobre a Lei 10.639 e não saber aplicar na escola: “como
vou montar uma dança e não ser racista ou reproduzir o
racismo?”. Peguei também uma disciplina de estudo de
caso de espetáculos e só trabalhei espetáculos de artistas
atuantes negros, com corpos negros em cena, para os
estudantes entenderem o que devem e não devem tra-
balhar na escola. Os alunos falaram: “sua disciplina nos
deu suporte no estágio”. Acredito que os alunos chega-
rão ao final do curso mais preparados e perderão o medo
[de tratar do assunto]. Eu falo para eles: “vocês têm que
errar aqui, porque lá fora, na escola, é mais complica-
do”. Mas vejo ainda uma resistência, um medo muito
grande, principalmente quando veem uma professora
negra. Mas eu digo: “falem, que se for ofensivo, se for
racista, eu vou dizer” (Juliana Jardel, fragmento de en-
trevista concedida à autora, julho/2023).
137
ESTUDANTES DO CURSO DE EXTENSÃO CULTURAL | FOTO: JOÃO ANSELMO
138
com conteúdos sobre africanidades para professores ne-
gros e negras.
Juliana Jardel e Júlio César reconhecem que ainda há de-
safios pelo caminho, desafios estes impostos pelo racismo, e que
há muito o que ser transformado para que as danças negras,
afrodiaspóricas sejam devidamente reconhecidas e valoradas.
Para Júlio, quando se está trabalhando com dança negra
contemporânea ou com dança afro em projetos sociais em re-
giões periféricas, por exemplo, a dificuldade ainda é mostrar
que a dança afro é arte e não religião. Ele conta que o racismo
religioso se faz presente nesses locais devido à forte presença
das religiões chamadas “cristãs”, que insistem em sempre asso-
ciar a cultura afro-brasileira e sua dança a aspectos negativos.
Com esse exemplo, podemos perceber que por mais
que a Lei 10.639/03 tenha como objetivo instituir na educa-
ção formal básica o ensino das histórias e culturas africanas
e afro-brasileiras, faz-se imprescindível sua reverberação em
espaços de ensino não formal de dança como forma de com-
bate ao racismo. Para isso, é necessária a formação adequada
de docentes que atuam em todos esses âmbitos educacio-
nais, para que possam trabalhar de maneira transdisciplinar
e transversalmente os conteúdos solicitados pela Lei e colo-
car em ação uma dança-educação antirracista.
As histórias das vivências em danças de Juliana Jardel e
Júlio César nos contam as singularidades em se atuar com as
danças negras, revelando também a concomitância existente
que há no ensino-aprendizagem das danças afrodiaspóricas:
prática, história e de saberes se dão no e pelo corpo.
Ambos os artistas-educadores se encontram na dança e
em seus processos de aprendizagem nas parecenças perpassa-
das pelas vivências comunitárias negras, nas escolas de samba,
na formação em jazz dance – dança negra que precisa ser lem-
brada de suas origens afrodiaspóricas – em sua infância e ju-
ventude. Por meio de suas trajetórias é possível entender que
nas danças afrodiaspóricas, as práticas etnoculturais/estéticas,
artísticas e artístico-pedagógicas caminham sempre juntas.
As experiências de modos de vida e vivências de artistas
negras e negros da dança, que estruturam seus fazeres artístico-
139
ESTUDANTES DO CURSO DE EXTENSÃO CULTURAL | FOTO: IARI DAVIES
140
REFERÊNCIAS
141
SILVA, Renata de Lima. Dança afro: popular ou moderna?.
In: X Semana Científica da Faculdade de Educação Física da
UFG, 2010, Goiânia. Anais eletrônicos. Goiânia: UFG, 2010.
Disponível em: https://files.cercomp.ufg.br/weby/up/258/o/
DanaAfro-popularoumoderna.pdf . Acesso em: 23 jul. 2023.
142
143
FIGURINO PARA DANÇA:
ENTRE A FORMAÇÃO
TÉCNICA E A PRÁTICA
Elena Toscano
144
um conjunto orgânico, os verdadeiros artistas são generosos
e sabem como fazer ressaltar não somente o trabalho deles
como também o dos colegas.
145
ESTUDANTES DO CURSO REGULAR DE FIGURINO NA DANÇA | FOTO: SAMIRA DANTAS
146
Desde o início do século XVI, teatros públicos estavam
sendo construídos em Veneza (1637), Roma (1652), Paris
(1660), Hamburgo (1678) e em outras cidades importantes.
Nesses locais, os espetáculos de balé eram combinados com
festividades de procissão e bailes de máscaras, e os trajes de
palco tornaram-se altamente decorados, feitos de materiais
caros. O traje básico para um dançarino era uma couraça
justa, geralmente brocada, saia curta drapeada e capacete de-
corado com penas. As dançarinas usavam túnicas de seda
opulentamente bordadas em várias camadas com franjas.
Componentes importantes do figurino eram as botas de
salto alto ou de cunha, para ambos os dançarinos, que cons-
tituíam os calçados característicos desse período.
A partir de 1550, a vestimenta romana clássica exerceu for-
te influência no design dos trajes, como o posicionamento dos
decotes e das cinturas. Além disso, as saias de seda eram volu-
mosas e o design dos penteados era baseado nos componentes
da vestimenta cotidiana, embora no palco os principais deta-
lhes fossem muitas vezes exagerados. Os vestidos dos dançari-
nos masculinos eram influenciados pelas armaduras romanas.
As cores típicas variavam entre cobre escuro, marrom e roxo.
Do século XVII em diante, sedas, cetins, tecidos bordados
com ouro verdadeiro e pedras preciosas aumentaram o nível
de decoração espetacular. Os trajes da corte continuaram a ser
o padrão para as artistas femininas, enquanto os dos dançari-
nos masculinos se transformaram em uma espécie de uniforme
embelezado com decoração simbólica para denotar caráter ou
ocupação – por exemplo, uma tesoura representava um alfaiate.
A primeira apresentação de balé russo foi encenada em
1675, quando adotaram os modelos de balé europeus. Em-
bora os trajes dos artistas masculinos permitissem total liber-
dade de movimento, as roupas pesadas e estruturas de apoio
das dançarinas impediam gestos graciosos. Os dançarinos
masculinos “en travesti” geralmente usavam saias na altura
do joelho. Os trajes luxuosamente decorados desse período
refletiam a glória da corte; os detalhes dos vestidos e das si-
lhuetas eram exagerados para serem visíveis e identificáveis
aos espectadores que os assistiam à distância.
147
ESTUDANTES DO CURSO REGULAR DE FIGURINO NA DANÇA | FOTO: CAMILO BARBOSA
148
do século XIX, os ideais do romantismo se refletiram nos
figurinos de palco femininos com a introdução de corpetes
justos, coroas florais e pérolas nos tecidos, além de colares
e pulseiras, enquanto o estilo neoclássico ainda dominava
o design dos trajes masculinos. Além disso, o papel da bai-
larina como dançarina estrela tornou-se mais importante,
e foi enfatizado com espartilhos justos, corpetes com joias
e adereços de cabeça opulentos. Em 1832, o tutu branco
com camadas de gaze de Marie Taglioni em “La Sylphide”
estabeleceu uma nova tendência, em que as silhuetas se
tornaram mais justas, revelando as pernas, e a coreografia
exigia que as bailarinas usassem sapatilhas de ponta o tem-
po todo. O balé russo continuou a se desenvolver no século
XIX, e escritores e compositores como Tolstói, Dostoiévski
e Tchaikovski mudaram o significado do balé por meio
da composição de produções narrativas. Os coreógrafos
do modelo clássico, como Marius Petipa, criaram balés de
contos de fadas, incluindo A Bela Adormecida (1890), O
Lago dos Cisnes (1895) e Raymonde (1898), tornando os tra-
jes de fantasia muito populares.
Na virada do século XX, os trajes foram reforma-
dos novamente sob a influência mais liberal do coreógra-
fo russo Michel Fokine. As saias das bailarinas mudaram
gradualmente para se tornarem tutus na altura do joelho,
projetados para mostrar o trabalho de ponta e os giros múl-
tiplos, que formavam o foco da prática da dança. A dan-
çarina Isadora Duncan libertou as bailarinas dos esparti-
lhos e introduziu uma silhueta natural revolucionária. O
empresário e produtor russo Sergei Diaghilev marcou essa
época com suas inovações criativas, e figurinistas profissio-
nais como Alexandre Benois e Léon Bakst demonstraram,
em espetáculos como Schéhérezade (1910), que a influência
do orientalismo havia se espalhado da moda para o palco
e vice-versa. De fato, estilistas como Jean Poiret já haviam
usado o formato de túnica, adotado pelos dançarinos na
era pré-guerra, e na década de 1920, os figurinistas atuali-
zaram os balés clássicos russos com túnicas exóticas e véus
enrolados ao corpo. As dançarinas vestiam túnicas soltas,
149
CURSO REGULAR DE FIGURINO NA DANÇA | FOTO: SAMIRA DANTAS
150
AS COISAS SE COMPLICAM... A IMPORTÂNCIA
DA COR E DOS TECIDOS
151
ESTUDANTE DO CURSO REGULAR DE FIGURINO NA DANÇA E PAULO PALLAS | FOTO: SAMIRA DANTAS
152
As primeiras manifestações de modelagem do vestuário
surgiram a partir do momento em que o homem descobriu a
técnica do curtimento das peles e da agulha de ossos. Ainda no
período Paleolítico, somente pouco antes do século 7 a.C., foi
descoberta a fibra. Precisamos também lembrar que os têxteis
viraram um negócio mundial: na China, foram difundindo-se
até expandirem para o subcontinente indiano e à África.
O tecido fez mover a economia da antiguidade. Pes-
quisas afirmam que a lã e a seda foram descobertas antes da
fibra de algodão, e todas as fibras estavam disponíveis no
subcontinente indiano. Os comerciantes árabes negociavam
esses tecidos e os exportavam para vários países europeus.
Com a revolução das fibras e dos tecidos de seda, criou-se
a Rota da Seda, que interconectava comerciantes da China,
do Egito, do subcontinente Indiano, das Arábias, da Pérsia
e de Roma com seus negócios têxteis. Com a versatilidade
proporcionada pelos tecidos, as pessoas passaram a criar suas
próprias roupas, com diferentes designs, e assim nasceu a era
clássica dos têxteis.
Aos poucos, as roupas e os tecidos foram desenvolvi-
dos. Muitas fibras novas, como vidro, bambu e outras fibras
artificiais, foram produzidas. Usando essas fibras, alguns te-
cidos exclusivos foram por sua vez criados, o que nos levou
a um novo mundo da moda que é realmente significativo e
maravilhoso. O processo é contínuo, está em andamento.
Em 100 anos, os tecidos de hoje serão história.
153
ESTUDANTE DO CURSO REGULAR DE FIGURINO NA DANÇA | FOTO: SAMIRA DANTAS
154
ência prática, uma sensibilidade que se afina com o tempo.
Sem dúvida, é preciso conhecer o caimento dos panos, a
elasticidade (que depende da percentagem de lycra) e che-
gar o mais perto possível da real composição do tecido. Isso
acontece com a experiência: ao tocar um pano “saberemos”
a composição e isso é muito importante, pois na luz de cena
as cores mudam. O que pensamos ser um belíssimo veludo
azul marinho, na luz daquela cena, vira marrom ou berinje-
la. Outra cor muito perigosa, por exemplo, é o vinho e suas
variações. Insisto nisso porque conhecer bem as cores, sua
história e, principalmente, o suporte material colorido nos
ajuda a fugir de perdas de tempo e de dinheiro. Sem falar do
estresse de ter que refazer algum procedimento.
CONCLUSÕES
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CURSO REGULAR DE FIGURINO NA DANÇA | FOTO: SAMIRA DANTAS
156
REFERÊNCIAS
157
PASTOUREAU, Michel; SIMONNET, Dominique. Il piccolo li-
bro dei colori. Milano: Ponte alle Grazie, 2006.
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ESTUDANTES DO CURSO REGULAR DE TÉCNICAS DA DANÇA VESPERTINO | FOTO: GAL OPPIDO
ESTUDANTE DO CURSO REGULAR DE TÉCNICAS DA DANÇA VESPERTINO | FOTO: GAL OPPIDO
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ESTUDANTE DO CURSO REGULAR DE TÉCNICAS DA DANÇA VESPERTINO | FOTO: GAL OPPIDO
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ESTUDANTE DO CURSO REGULAR DE TÉCNICAS DA DANÇA VESPERTINO | FOTO: GAL OPPIDO
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INÊS BOGÉA, DIRETORA ARTÍSTICA E EDUCACIONAL DA SPED | FOTO: GAL OPPIDO
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ESTUDANTES DO CURSO REGULAR DE TÉCNICAS DA DANÇA VESPERTINO | FOTO: GAL OPPIDO
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172
A DANÇA EM MÚLTIPLAS
DIMENSÕES: METODOLOGIA
E DESENHO INSTRUCIONAL DA
SÃO PAULO ESCOLA DE DANÇA
José Simões
e Inês Bogéa
173
dialogar e potencializar suas ações com base em um conjunto
de informações proporcionadas por essa convocação.
O desejo provocado se transformou em um documento/
mapa/projeto que se propôs a ser uma bússola, orientando o
planejamento, a gestão, o ensino-aprendizagem, a formação e a
avaliação da Escola e, por fim, corpos dançantes e atuantes em
distintas áreas do ecossistema da dança. Surgiu, então, a pro-
posta deste Projeto Pedagógico da São Paulo Escola de Dança.
Nele são apresentados os objetivos, diretrizes e metas da Escola
ao longo de um determinado período, no caso, de 2022 a 2026.
Neste artigo, apresentam-se as camadas que motiva-
ram e preencheram o antes e o depois do projeto escrito,
como uma arqueologia. Segundo Libâneo (2005, p. 345), “o
projeto é um documento que propõe uma direção política e
pedagógica para o trabalho escolar, formula metas, prevê as
ações, institui procedimentos e instrumentos de ação.”. Para
Vasconcellos, trata-se de:
[...] plano global da instituição. Pode ser entendido
como a sistematização, nunca definitiva, de um pro-
cesso de Planejamento Participativo, que se aperfeiçoa
e se concretiza na caminhada, que define claramente o
tipo de ação educativa que se quer realizar. É um ins-
trumento teórico-metodológico para a intervenção e
mudança da realidade. É um elemento de organização
e integração da atividade prática da instituição neste
processo de transformação (2014, p. 169).
A São Paulo Escola de Dança nasce com o propósito
de dar voz e espaço consistente para a reflexão, aprendizado e
troca de saberes, conectando a dança com todas as linguagens
artísticas e valorizando a diversidade e a identidade brasileira.
A escola se une a outros espaços de formação na área da dança
e outras instituições culturais e educacionais para ampliar as
possibilidades de inserção dos participantes no mercado de
trabalho. Tem sua sede na rua Mauá, no centro da cidade de
São Paulo, no 3º andar do edifício da Estrada de Ferro Soroca-
bana — edifício este que abriga a sede da Secretaria de Cultu-
ra, no mesmo complexo cultural composto pela Sala São Pau-
lo e a Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo. É também
174
ESTUDANTES DO CURSO REGULAR DANÇA E PERFORMANCE VESPERTINO NA ETAPA DE CRIAÇÃO ARTÍSTICA E ESTÉTICA (2023)
| FOTO: MARCOS ALONSO
175
a população de etnia negra ou indígena, promovendo, assim,
a inclusão e a diversidade. A implantação de mais equipamen-
tos culturais na área pode contribuir para a requalificação do
espaço urbano. Assim, o lugar ocupado pela Escola se relacio-
na com um conjunto de memórias da cidade de São Paulo.
Reconfigurar e ocupar o espaço é fundamental para este diá-
logo entre o passado e o presente proposto pela Escola.
A missão da Pró-Dança na Escola está em diálogo com
a cidade ao fomentar a formação de artistas conectados com o
mundo em que vivemos, dialogando com as diversas áreas do
conhecimento, abertos à experimentação, à troca de saberes
e à percepção de diversos pontos de vista. Busca valorizar as
fortes características locais, utilizando arte e educação como
elementos de transformação social, tendo em vista a promo-
ção do ensino/aprendizado da dança. Seu propósito essencial
consiste na formação de artistas/cidadãos com consciência re-
flexiva e, ao mesmo tempo, profissionais qualificados no cam-
po da dança, e se mantém atenta à necessidade de iniciativas
que democratizem o acesso da população à formação artística.
176
ESTUDANTES DO CURSO REGULAR DE DANÇA E PERFORMANCE MATUTINO | FOTO: SAMIRA DANTAS
177
CURSOS DE EXTENSÃO E CURSOS LIVRES:
CRIATIVIDADE, EXPRESSÃO, TROCA DE
CONHECIMENTOS, APRENDIZADOS E VIVÊNCIAS
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ESTUDANTES DO CURSO REGULAR DE TÉCNICAS DA DANÇA VESPERTINO | FOTO: CAMILO BARBOSA
179
Assim, a opção para nortear as ações foi dividir as re-
flexões em diretrizes já conhecidas na estruturação de proje-
tos pedagógicos. Buscou-se, portanto:
um conjunto de princípios e/ou diretrizes sócio-po-
líticos, epistemológicos e psicopedagógicos articu-
lados a uma estratégia técnico-operacional capaz de
reverter os princípios em passos e/ou procedimentos
orgânicos e sequenciados, que sirvam para orientar o
processo de ensino-aprendizagem em situações con-
cretas (Manfredi, 1993).
Esses fundamentos apresentados acima tornaram-se,
portanto, o ponto inicial das reflexões e da elaboração de
questões, considerando as articulações e dimensões sociopo-
líticas, epistemológicas e psicopedagógicas em diálogo com
o ecossistema da Dança.
Na dimensão sociopolítica, podemos nos perguntar
quem é, hoje, o artista de Dança? Como se dá o diálogo en-
tre a dança e a educação? Que formação contribuirá para a
inserção profissional do estudante no mundo da dança?
Na dimensão epistemológica, indagamos sobre a ma-
neira como geramos conhecimento no âmbito da dança, le-
vando em conta suas particularidades, em uma abordagem
dialética. Discutimos a relevância da teoria e suas implicações
no contexto de uma educação crítica em dança. Exploramos
os métodos de abordagem e reflexão dos conhecimentos pre-
sentes fora do ambiente acadêmico, bem como sua relação
com a produção de conhecimento na dança. Isso envolve a
seleção dos conteúdos que comporão o percurso educacio-
nal de ensino-aprendizagem.
Por fim, na dimensão psicopedagógica, emergem outras
questões relacionadas ao processo de aprendizagem: como
ocorrerá o processo de aprendizagem? Qual é o papel do in-
divíduo e de sua história no processo de formação? Qual é a
relevância da colaboração e do aprendizado no ambiente e
por meio do outro? Qual é a importância do artista enquan-
to educador? Como o repertório do estudante interage com
o repertório artístico e estético do educador, e como isso
impacta e influencia os processos de ensino-aprendizagem?
180
ESTUDANTES DO CURSO REGULAR DE DANÇA E PERFORMANCE VESPERTINO | FOTO: IARI DAVIES
181
rativa na qual docentes, artistas convidados, técnicos, especia-
listas e estudantes trabalham em conjunto, “de mãos dadas”,
em diferentes níveis de atuação, ao longo dos cursos regulares.
Essas diretrizes contribuíram na organização dos ima-
ginários e das subjetividades no mundo do trabalho da dan-
ça, o que potencializou a discussão e a construção coletiva de
apropriação dos conceitos envolvidos na estrutura do proje-
to pedagógico.
A partir destas diretrizes, estão associados os princípios
do saber-ser, saber-fazer e do saber-onde fazer, fato este que
fomenta a relação dialógica docente/estudante. Segundo Frei-
re, “não há docência sem discência, as duas se explicam, e seus
sujeitos, apesar das diferenças que os conotam, não se reduzem
à condição de objeto, um do outro. Quem ensina aprende ao
ensinar, e quem aprende ensina ao aprender” (2002, p. 25).
Para além do ser e do fazer, cabe reiterar o papel da Es-
cola no fomento e na discussão do lugar social dos estudantes/
artistas – o onde. Milton Santos aponta que “a inteligibilidade
do lugar passa pela compreensão do mundo e vice-versa, cla-
rificado pelas mediações da técnica, da política e do território,
seus agentes e processos, sem ceder ao erro dualista de reduzir
o lugar ao reflexo do global” (Santos, 2005, p. 155-164).
A proposta de metodologia de ensino não está somen-
te centrada no estudante, mas também nos diversos artistas,
docentes, produtores, comunicadores e interlocutores parti-
cipantes do mundo do trabalho. Não se trata de um professor
mediador. Destaca-se o seu papel formador — reconhece-se
todos os desafios associados a essa palavra, em razão de sua
polissemia. Nesse processo, não se renuncia à importância
da técnica e à sua relação com o ambiente profissional. É
proposto um tripé: estudante/formador/mundo do trabalho
no contexto da Dança.
Além das atividades cotidianas com a equipe da Esco-
la, os estudantes têm a oportunidade de experimentar, a cada
módulo, processos criativos e artísticos e de participar de in-
tercâmbios culturais e residências artísticas. Logo, isso amplia
a formação profissional dos alunos, uma vez que se permite
o contato com diversas perspectivas artísticas, o que pode in-
182
ESTUDANTES DO CURSO REGULAR DE PRODUÇÃO E GESTÃO CULTURAL, LUCAS GONZAGA E MONIQUE TOMAZI
| FOTO: SAMIRA DANTAS
183
Neste contexto, o ensino de dança não busca somente
fazer o estudante “saber algo”, mas promover o ensino-apren-
dizagem por meio de competências, apontando as fragili-
dades existentes para que os estudantes possam superá-las.
Em outras palavras, a metodologia busca que cada estudante
conheça o seu perfil cognitivo e, assim, seja capaz de valori-
zar as competências e habilidades cognitivas já existentes, ao
mesmo tempo, fomentando, motivando a busca por aquilo
que lhe falta.
O ensino ocorre em rede, construído em camadas in-
dividuais dos estudantes a partir da noção da experiência
vivida ao longo dos módulos no curso, aprendizados e trocas
de experiências com outros estudantes, professores, coorde-
nadores, superintendente, diretor, artistas convidados, entre
outros. Cada módulo é uma unidade de conhecimento com
começo, meio e fim, o que permite o ingresso do estudante
em qualquer um dos módulos. Além disso, é compreendido
como uma unidade de ensino autônoma, semestral, com ar-
ticulação interna organizada por componentes gerais e espe-
cíficos, que se integra numa proposta de ação para formação
profissional presente na escola. São estruturas importantes
no sistema, uma vez que são as unidades de conhecimento
que funcionam como uma estrutura/território formada por
lugares contíguos e em rede, com objetivos e procedimentos
previamente definidos. Mesmo que sejam concebidos para
serem partes autônomas, não são dissociados um do outro.
No processo formativo como um todo nos Cursos Regula-
res, o estudante deverá percorrer os quatro módulos. Cabe
a este organizar os saberes dos “módulos” realizados ou pro-
postos na construção do saber, destacando no processo de
ensino-aprendizagem a autonomia do estudante.
Compreender os determinantes da aprendizagem e
da metacognição leva o sujeito à autoaprendizagem,
onde a autoconsciência e a busca da superação das li-
mitações devem estar presentes no ato de aprender. Ao
aprendente cabe desenvolver a auto-observação para
despertar suas competências até então adormecidas,
superando seus receios e obstáculos (Beber, 2014).
184
ESTUDANTES DO CURSO REGULAR TÉCNICAS DA DANÇA VESPERTINO NA ETAPA DE CRIAÇÃO ARTÍSTICA E ESTÉTICA NA PRAÇA
JÚLIO PRESTES (2023)| FOTO: SAMIRA DANTAS
185
As atividades nos cursos não são somente uma com-
binação de condições técnicas e habilidades profissionais.
São, também, atividades sociais. Emergem da interação com
os outros, da convivência e da organização do equilíbrio
emocional e relacional. Esse aspecto da convivência é rele-
vante para as produções artísticas, pois na realização artística
está em jogo uma série de funções que se desdobram naquilo
que define como coletivo.
No trabalho artístico, a atividade não almeja apenas
o resultado do trabalho como uma operação técnica, mas
também um significado simbólico. De acordo com Dejours,
o reconhecimento é um dos principais expoentes simbólicos
no mundo do trabalho. Portanto, é do reconhecimento en-
tre pares que surge grande parte da satisfação na atividade.
Assim, os binômios: ensino e aprendizagem; arte e cul-
tura; dança e corporeidade; espaço e cidade, todos influen-
ciados pela metacognição, desdobram-se na criação de uma
metodologia singular para a formação em Dança.
O desafio que se coloca diante de todos durante o pro-
cesso de implantação e implementação da Escola é sistema-
tizar os resultados, rever os percursos, apontar as correções
formativas dos docentes que ainda estão habituados a pro-
cessos unicamente hierárquicos de formação; produzir dados
e informações que possam, ao longo do tempo, potencializar
e pavimentar as propostas e hipóteses metodológicas aqui
propostas na São Paulo Escola de Dança.
186
REFERÊNCIAS
187
188
CURSOS LIVRES, NÚMEROS,
DESAFIOS E PROCESSO
FORMATIVO EM DANÇA NA
SÃO PAULO ESCOLA DE DANÇA
Adriana Celi
Castelo Gomes
INTRODUÇÃO
189
mento de que a escrita acadêmica talvez não desse conta
de expressar camadas tão sensíveis, subjetivas e essenciais.
Apenas uma tentativa despretensiosa de compartilhar num
sopro poético um pouco da magnitude desse lugar chamado
São Paulo Escola de Dança.
Feita esta consideração, numa primeira reflexão, deve-
mos considerar que a construção dos saberes em dança44 na
cena contemporânea acontece de formas múltiplas, dialo-
gando diretamente com a pluralidade de corpos, ideias e ide-
ais. Tal multiplicidade nos permite analisar as diversas cama-
das dessa trama formativa, que se estabelece principalmente
por meio das políticas públicas de formação em dança.
Neste cenário, a São Paulo Escola de Dança já nasce
com um amplo escopo formativo pautado na diversidade e
na democratização do acesso aos processos de formação e
qualificação em dança. Para tal, a escola se estrutura em 4
eixos de atuação: Cursos Regulares, que têm como objeti-
vo oferecer formação em caráter técnico; Cursos Livres, que
promovem para a população em geral o acesso à linguagem
da dança; Cursos de Extensão Cultural, que têm como obje-
tivo contribuir para a criação, produção e discussão da dan-
ça; e Oportunidades e Projetos Especiais, que possibilitam
ações afirmativas e de oportunidade para estudantes de baixa
renda e/ou em vulnerabilidade social.
Feita esta introdução, neste capítulo direcionaremos
o olhar ao eixo dois – Cursos Livres –, um eixo essencial
e estruturante no cumprimento desse objetivo maior que é
democratizar o acesso aos processos formativos em dança.
190
ESTUDANTES DO CURSO LIVRE DE DANÇA CLÁSSICA | FOTO: JOÃO ANSELMO
191
o que impossibilitava a participação desses estudantes em ati-
vidades no contraturno escolar.
Diante desse cenário, ao final de 2022 a gestão da es-
cola traz como proposição a ampliação do escopo do públi-
co-alvo do eixo dois, implementando o projeto dos Cursos
Livres. Em linhas gerais, os Cursos Livres consistem em um
espaço artístico de vivências formativas que tem por objeti-
vo promover o acesso à linguagem da dança para a popula-
ção em geral. São indicados para o público de a partir de 13
anos de idade e desenvolvidos por meio dos cursos de Dança
Contemporânea, Dança Clássica, Danças Urbanas e Dança
de Salão. Nos quatro cursos, estão previstas também ativida-
des extracurriculares que visam ampliar as experiências artís-
ticas e pedagógicas dos estudantes. Os cursos são realizados
em dois semestres, tendo cada um 76 horas-aula.
Tal panorama nos dá subsídios para analisar outras tantas
camadas que não emergem a olhos nus, mas que são estrutu-
rantes nessa proposição artístico-pedagógica e estão alicerçadas,
fundamentalmente, na democratização do acesso à formação
em dança, principalmente no que tange à diversidade.
192
ESTUDANTES DO CURSO LIVRE DE DANÇA CONTEMPORÂNEA | FOTO: JOÃO ANSELMO
193
vidade de encerramento do semestre, que pode se configurar
em diferentes produções artísticas, principalmente pautadas
no tema gerador, e nos recortes dos processos vivenciados em
aula. Uma proposta que valoriza o processo, pautada na troca,
na experiência e na construção coletiva de saberes.
Traçado este panorama metodológico, é possível reco-
nhecer que os Cursos Livres almejam que o estudante possa
se tornar um agente transformador, tendo em vista que o ob-
jetivo não é a repetição mecânica de qualquer tipo de técnica
ou estilo, mas ter a oportunidade de ensinar ao corpo que,
nesses estilos de dança, há uma série de códigos, temas e sub-
temas culturalmente transversais que podem ser utilizados de
diferentes formas, e que o corpo pode assimilar esses códigos
e conhecimentos a fim de transformá-los em diversos saberes
em dança e para a vida. De acordo com Godoy (2016), são
os saberes a partir da vivência que, na dança, acontecem no
corpo do estudante. Segundo a autora, a partir do sentido da
experiência46 de Larrosa, o sujeito dançante se apropria, (in)
corpora (vive pelo corpo) o autoconhecimento para trans-
formar a vivência em experiência.
46 “A experiência, Entre o tangível e o intangível, entre desejos e neces-
a possibilidade de que
algo nos aconteça ou nos sidades, nesse lugar vulnerável e enriquecedor da experiên-
toque, requer um gesto
de interrupção, um gesto cia, e com um olhar muito atento à pluralidade e à garantia
que é quase impossível
nos tempos que nos do acesso aos diversos atores desse ecossistema da dança, os
correm: requer parar
para pensar, parar para Cursos Livres foram se desenhando nesse espaço de acolhi-
olhar, parar para escutar,
pensar mais devagar, e mento para os diferentes sujeitos da experiência em dança47.
escutar mais devagar,
parar para sentir, sentir Para que tal amplitude não fragilize o projeto pedagó-
mais devagar, demorar-se
nos detalhes, suspender gico da escola, permitindo que ele seja efetivo para um pú-
a opinião, suspender o
juízo, suspender a vontade, blico tão heterogêneo, foram se criando critérios dinâmicos,
suspender o automatismo
da ação, cultivar a atenção e principalmente no que se refere aos processos de seleção de
a delicadeza, abrir os olhos
e ouvidos, falar sobre o que estudantes. Assim, algumas premissas seletivas foram estipu-
nos acontece, aprender a
lentidão, escutar aos outro, ladas a partir de diretrizes da escola, de acordo com as carac-
cultivar a arte do encontro,
calar muito ter paciência, terísticas pedagógicas e de linguagem de cada curso ofertado.
dar-se tempo e espaço”
(Bondía, 2014, p. 25). Quanto às prerrogativas institucionais, é importante
pensarmos, num primeiro momento, que a São Paulo Es-
47 “Sujeito da
experiência em dança” cola de Dança, assumindo o papel de uma política pública
ou “sujeito dançante” se
referem às pessoas que estadual de formação para dança, pautada em perspectivas
vivenciam no corpo a
linguagem da dança. pedagógicas e artísticas contemporâneas, precisa trazer uma
194
ESTUDANTES DO CURSO LIVRE DE DANÇAS URBANAS | FOTO: SAMIRA DANTAS
195
e estético dos conteúdos ensinados e experiências vividas pe-
los estudantes não têm a relevância que deveriam ter (Mar-
ques, 2010).
Ainda sobre o processo de seleção de estudantes, em
contrapartida aos critérios priorizados em Dança Clássica
e Dança Contemporânea, nos cursos de Dança de Salão e
Danças Urbanas, questões como vivência prévia e desejo de
profissionalização atuam mais em segundo plano. Principal-
mente em relação à Dança de Salão, critérios como o dese-
jo de ter um primeiro contato com a dança e encontrar na
dança um lugar para saúde e socialização possuem maior
relevância. Outra questão central nesse contexto é que os
Cursos Livres trazem também como premissa disponibilizar,
prioritariamente, 50% das vagas a estudantes em contexto
de baixa renda ou em situação de vulnerabilidade social e/
ou relacional.
Sob a perspectiva da gestão, a instituição desses crité-
rios é uma tentativa de minimizar desigualdades e de otimi-
zar a metodologia e as potencialidades de cada curso, indo
de encontro às premissas e diretrizes institucionais da escola,
na busca de garantir uma formação de qualidade em dança
para esse universo de sujeitos dançantes.
NÚMEROS DA MuDança
196
ESTUDANTES DO CURSO LIVRE DE DANÇA DE SALÃO | FOTO: CAMILO BARBOSA
197
Tais números sinalizam a potência da reconfiguração
feita no eixo dois, com a implementação dos Cursos Livres,
em 2023, por parte da gestão educacional. Tal condução cor-
responde às ideias de Schön, na medida em que se avalia e
reflete sobre as próprias práticas profissionais até então ado-
tadas para que ocorra a tomada de consciência e modificação
visando novas ações (Andrade; Godoy, 2018). Com isso, a
implementação do projeto dos Cursos Livres perpassou tam-
bém pelo conceito de professor reflexivo trazido por Schön,
que constrói os seus saberes na relação com a ação, reflexão e
a volta à ação. A reflexão na ação é o saber que está presente
na tomada rápida de decisão em determinada situação, a fim
de solucionar um problema e reformular constantemente a
sua prática (Andrade; Godoy, 2018).
CONCLUSÃO
198
ESTUDANTES DOS CURSOS LIVRES NA JAM MULTILINGUAGENS | FOTO: SAMIRA DANTAS
199
REFERÊNCIAS
200
201
DESCONCENTRAR
E DESCENTRALIZAR:
HISTÓRIAS E HISTORIOGRAFIAS
Cássia Navas
202
fora de seus limites em território nacional ou alhures. Suas
obras permanecem concentradas em territorialidades pau-
listas, proeminentemente em topologias paulistanas, cujos
teatros e espaços cênicos recebem obras de várias partes do
país e do planeta.
Estudar estas obras – paulistas ou não – e as trajetórias
artísticas que as fizeram desembocar frente a plateias locais,
coreografias de hoje e de ontem, faz parte de um labor his-
toriográfico em dança da cidade e seu estado, sendo, mais
recentemente, construída a várias mãos.
Os resultados desse labor em historiografia/histó-
ria muito dificilmente chegam aos estudantes e mesmo
professores de dança, sendo necessário e fundamental que
eles melhor se espraiassem por muitas topologias core-
ográficas, gerando consensos e dissensos, reflexão e en-
tendimento de um campo. Enfim, faz-se necessário, cada
vez mais, difundir história e historiografias da dança para
além da história que se encarna nos espetáculos, criadores
e bailarinos.
Nesse sentido, em 2019, os pesquisadores brasileiros
Airton Tomazzoni (Centro Municipal de Dança de Por-
to Alegre), Arnaldo Alvarenga (UFMG), Arnaldo Siqueira
(UFPE), Beatriz Cerbino (UFF), Cássia Navas (UNICAMP),
Eliana Rodrigues (UFBa), Henrique Rochelle (Outra Dan-
ça/SP), Luciana Paludo (UFRGS), Rosa Primo (UFC) e Leonel
Brum (UFC) fundaram uma rede (ainda a se estruturar) para
aprofundar os trabalhos sobre o tema, a Rede de Pesquisa
CoreoHistória. O projeto surgiu a partir do seminário IDA-
-E-VOLTA (Bienal Internacional de Dança do Ceará/Teatro
Sérgio Cardoso, 2016), no ano do programa “Danse: Bré-
sil-France”, que também resultou no livro Dança, História,
Ensino e Pesquisa.
Tal preocupação, no entanto, não se restringe aos pes-
quisadores em dança no Brasil. O desafio das ações em his-
tória da dança se faz presente há algum tempo, em todo o
campo coreográfico mundial, como o apresentado no texto
que introduz a publicação L´histoire de la danse, repères dans
le cadre du diplôme d´État. Cahiers de la Pédagogie (Paris:
203
ESTUDANTES DO CURSO DE EXTENSÃO CULTURAL | FOTO: IARI DAVIES
204
valorizar seus saberes e dos demais artistas e métiers da dan-
ça, a partir de especificidades (no plural).
O crescimento da pesquisa em história e historiografia,
também fruto de uma maior presença de graduação em dan-
ça nas universidades do Brasil, vem resultando uma maior
quantidade de escritos no campo, alguns deles publicados
em pelo menos duas línguas: português e inglês. Com isso,
presencia-se uma maior descentralização de conteúdos vá-
rios, tornando, a conta-gotas, menos desconhecidas as traje-
tórias de artistas, companhias e histórias de formação, cria-
ção e difusão.
205
ESTUDANTES DO CURSO DE EXTENSÃO CULTURAL | FOTO: CAMILO BARBOSA
206
SÃO PAULO ESCOLA DE DANÇA:
HISTÓRIAS E HISTORIOGRAFIAS
207
ESTUDANTES DO CURSO DE EXTENSÃO CULTURAL | FOTO: SAMIRA DANTAS
208
MEIOS DE DESCENTRAR, PÓS-PANDEMIA
DE COVID-19
209
ESTUDANTES DO CURSO DE EXTENSÃO CULTURAL | FOTO: SAMIRA DANTAS
210
çamento de telas de computadores e smartphones, seguiam
cada aula.
Polos culturais estavam a conversar entre si, em diálo-
gos nos quais se visualizavam redes de vários nós, numa po-
rosidade de conhecimento em dança jamais construída antes
em nosso país, pelo menos até onde minha vista alcança.
Particularmente, a partir duma experiência de pes-
quisadora-professora de longa data, e conhecendo dança de
muitas partes do Brasil, me coloquei atenta a essas narrativas
descentradas de minha topologia laboratorial de pesquisa
cotidiana – a dança de muitas partes que acompanho mais
de perto em São Paulo.
A sensação era de alteridade, dum centro eu me des-
locava para outro centro, me sentindo em sua borda, em
seus entornos, tentando anotar o conteúdo desconhecido ou
o parcamente conhecido, em ondas de desconcentração de
conhecimento histórico de um campo no qual estruturo mi-
nha vocação e talento de pesquisadora.
Foi uma oportunidade não somente por mim aber-
ta, àquele momento ainda como coordenadora da Exten-
são Cultural da Escola, como também por aqueles que me
precederam e por estes e estas desta hora, como Inês Bogéa,
diretora artística e educacional da São Paulo Escola de Dan-
ça, aqui representando as múltiplas equipes, coordenações e
superintendências que mantêm essa escola em pé.
Uma experiência única em dezesseis encontros, em que
nos mirávamos em vários espelhos, repercutindo vários pon-
tos de vista, transitando em percursos duma topologia trans-
regional, transurbana e transestética, a partir da afirmação
das diferenças que nos separam, mas também da constatação
das similitudes, que deveriam nos unir em tempo em que tal
contexto nem sempre se torna evidente. O investimento na
descentralização veio a promover a desconcentração do co-
nhecimento sobre história e historiografias da dança, sobre a
dança em si.
Que esses movimentos possam fazer a diferença no fu-
turo próximo, a partir da dança, um campo que é uma das
riquezas da cultura atual brasileira. Que isso fique claramen-
211
ESTUDANTES DO CURSO DE EXTENSÃO CULTURAL | FOTO: IARI DAVIES
212
REFERÊNCIAS
213
NAVAS, Cássia. Leis para a dança do Brasil. In: Lições de Dan-
ça. Rio de Janeiro: Univercidade, 2005. n. 5.
SITE
214
PARTICIPAÇÃO DOS ESTUDANTES DOS CURSOS LIVRES DE DANÇA CLÁSSICA E DANÇAS URBANAS EM O QUEBRA-NOZES NO MUNDO DOS SONHOS DA SPCD | FOTO: MARCELO MACHADO
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ETAPA DE CRIAÇÃO ARTÍSTICA E ESTÉTICA NO SESC BOM RETIRO (2022) | FOTO: JOÃO ANSELMO
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ETAPA DE CRIAÇÃO ARTÍSTICA E ESTÉTICA NO SESC BOM RETIRO (2022) | FOTO: GIOVANNA BARALDI
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ETAPA DE CRIAÇÃO ARTÍSTICA E ESTÉTICA NO SESC BOM RETIRO (2022) | FOTO: JOÃO ANSELMO
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ETAPA DE CRIAÇÃO ARTÍSTICA E ESTÉTICA NO SESC BOM RETIRO (2022) | FOTO: JOÃO ANSELMO
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ETAPA DE CRIAÇÃO ARTÍSTICA E ESTÉTICA NO SESC BOM RETIRO (2022) | FOTO: GIOVANNA BARALDI
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ETAPA DE CRIAÇÃO ARTÍSTICA E ESTÉTICA NO SESC BOM RETIRO (2022) | FOTO: JOÃO ANSELMO
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ETAPA DE CRIAÇÃO ARTÍSTICA E ESTÉTICA NO SESC BOM RETIRO (2022) | FOTO: GIOVANNA BARALDI
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ETAPA DE CRIAÇÃO ARTÍSTICA E ESTÉTICA NO SESC BOM RETIRO (2022) | FOTO: GIOVANNA BARALDI
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ETAPA DE CRIAÇÃO ARTÍSTICA E ESTÉTICA NO SESC BOM RETIRO (2022) | FOTO: GABRIELA PINA E GIOVANNA BARALDI
224
225
PROCESSOS DE FORMAÇÃO
EM DANÇA NOS CURSOS
REGULARES DA SÃO PAULO
ESCOLA DE DANÇA
Flavio Lima
226
que o estudante toma mais consciência do seu corpo e reflete
sobre seu potencial artístico e técnico, desenvolve mais suas
capacidades de realizar a dança na descoberta de si mesmo
e do mundo que o cerca. É um processo de estudar a arte
da dança como uma manifestação artística que transforma
os estudantes em pensadores e fazedores de dança. Para o
artista da dança, o corpo não é só uma realidade biológica,
mas sim carregado de uma capacidade que, através da sua
corporalidade, repercute nas relações humanas e no campo
educativo. Por meio da dança, o bailarino(a)/dançarino(a)
procura encontrar seu espaço e tempo no mundo, na bus-
ca de uma corporeidade que dialogue com suas expectativas
e anseios artísticos, reconhecendo seu momento histórico
entre passado, presente e futuro, desenvolvendo-se a partir
do aprendizado das diferentes linguagens/técnicas de movi-
mento que aprende ao longo de sua formação.
Os cursos regulares de formação em dança da São Pau-
lo Escola de Dança oferecem oportunidades metodológicas
de estudos práticos e teóricos em dança como “Dança e Per-
formance”, “Técnicas de Dança” e “Teatro Musical”, entre
outros do ecossistema da dança, nos quais o estudante tem
a possibilidade de trabalhar com artistas da área, participar
de projetos artísticos ou realizar pesquisas e projetos práticos
no campo da dança.
Ao longo do curso, o estudante tem contato com di-
versas aulas de técnicas de dança que visam expandir o re-
pertório de movimentos, explorando diferentes abordagens,
assim como improvisação, composição coreográfica, dança
clássica, dança contemporânea, dança moderna, danças afro-
diaspóricas, entre outras linguagens da dança. Em relação às
bases teóricas, estão incluídas disciplinas que fornecem aos
estudantes uma compreensão dos fundamentos históricos,
culturais e estéticos da dança. Os componentes abordam te-
mas como a história da dança, análise de movimento, es-
tudos culturais e estéticos, anatomia e fisiologia aplicadas
à dança, entre outros conteúdos que dialogam com a con-
temporaneidade. Desse modo, é importante ressaltar que a
metodologia e a formação nos cursos de dança podem variar
227
ESTUDANTES DO CURSO REGULAR DE TÉCNICAS DA DANÇA VESPERTINO | FOTO: CAMILO BARBOSA
228
No decorrer dos módulos, os estudantes desenvolvem
seus conhecimentos e estudam a técnica, a precisão e a flui-
dez dos movimentos, por meio de exercícios específicos e
sequências coreográficas. Também se busca estimular a cons-
ciência corporal, coordenação motora, ganho de força mus-
cular e o alinhamento postural, aprimorando a qualidade
estética e propriedade nas técnicas de dança estudadas, além
de possibilitar uma compreensão teórica sobre a história da
dança e suas influências na dança contemporânea e moder-
na, explorando a expressão emocional, a conexão com a mú-
sica e a interpretação da dança.
Para o curso regular de Teatro Musical na São Paulo
Escola de Dança, são desenvolvidos ao longo dos módulos
estudos corporais por meio das técnicas de dança específicas
da área. Também são feitos estudos, a partir de uma gra-
de de conteúdos necessária à formação em teatro musical,
abordando de forma integrada as três principais áreas desse
segmento artístico: interpretação, canto e dança. Dessa for-
ma, o objetivo é desenvolver as habilidades de atuação do es-
tudante, aprimorando sua expressividade e conexão com os
personagens, por meio de exercícios de improvisação, análise
de texto e montagem de cenas, assim como capacitá-los na
técnica vocal, trabalhando a projeção, entonação e respira-
ção, a fim de que possam cantar e interpretar canções com
propriedade e emoção. Corporalmente, busca-se introduzir
os estudantes em diferentes técnicas de dança que fazem par-
te dos estudos em teatro musical, com ênfase na coordena-
ção motora, ritmo e expressão corporal, proporcionando co-
nhecimentos sobre produção teatral, cenografia e figurino,
permitindo-lhes compreender a dinâmica dos bastidores de
uma montagem teatral.
A metodologia do curso é baseada em uma abordagem
prática/teórica, participativa e colaborativa. A teoria é com-
binada com a prática, permitindo que os estudantes viven-
ciem situações reais de atuação no teatro musical. As aulas
são ministradas por profissionais com experiência no cam-
po da dança, música e teatro, garantindo uma aprendiza-
gem fundamentada e de qualidade nas diferentes linguagens
229
ESTUDANTES DO CURSO REGULAR TEATRO MUSICAL NA ETAPA DE CRIAÇÃO ARTÍSTICA E ESTÉTICA NA PRAÇA JÚLIO PRESTES
(2023) | FOTO: SAMIRA DANTAS
230
vimento de conhecimento a partir de movimentos e ideias,
explorando sua expressão artística e habilidades de compo-
sição, na produção de sentidos e significados do corpo para
a cena. Nos estudos da estrutura de movimento, a proposta
é desvelar sentidos na busca de uma corporeidade singular.
Ampliando a criatividade e as possibilidades de expressivi-
dade corporal para a cena, o curso regular de Dança e Per-
formance é um caminho de estudo que busca capacitar os
estudantes através da conexão entre dança e performance,
oferecendo a oportunidade de desenvolver suas habilidades
e competências artísticas, bem como a compreensão por
meio do movimento. Dessa maneira, o aluno é estimula-
do a desenvolver as habilidades técnicas de dança, incluindo
postura, flexibilidade, coordenação motora e domínio das
diferentes linguagens da dança; explorar a interpretação e a
performance no contexto da dança, compreendendo a ex-
pressão emocional e a comunicação com o público; além de
integrar a dança a outras formas de arte, como música, teatro
e artes visuais, enriquecendo a experiência da performance.
A troca de conhecimento entre estudantes e docentes
resulta no aprimoramento de suas habilidades e compreen-
são, aprofundando o entendimento das técnicas de dança,
expressão corporal e da performance, bem como potenciali-
zando sua capacidade de desenvolver uma dança singular. É
uma oportunidade para aprofundar seus conhecimentos em
dança, ampliar suas habilidades interpretativas e criativas, e
descobrir novas possibilidades de atuação artística na dança,
uma vez que os estudantes são encorajados a explorar sua
dança em conexão com a contemporaneidade.
O curso regular da São Paulo Escola de Dança é de-
senvolvido de forma modular, sendo dividido em quatro se-
mestres, e cada módulo tem estrutura com começo, meio e
fim, dividido em três etapas: O que nos Une, Criação Artís-
tica e Estética e Mundo do Trabalho. Na etapa O que nos
une, o estudante vivencia os conteúdos práticos e teóricos
pertinentes ao curso específico em que está estudando. São
temas que têm um diálogo direto com o universo da dança
no campo formativo, no contexto da contemporaneidade.
231
ESTUDANTES DO CURSO REGULAR DANÇA E PERFORMANCE MATUTINO NA ETAPA DE CRIAÇÃO ARTÍSTICA E ESTÉTICA NA PRAÇA
JÚLIO PRESTES (2023) | FOTO: SAMIRA DANTAS
232
criativo. O foco é proporcionar aos estudantes o aprimora-
mento de suas habilidades técnicas nas diferentes linguagens
da dança, desenvolvendo maior domínio dos movimentos e
maior consciência corporal, visando o desenvolvimento téc-
nico e artístico para uma atuação cênica mais consistente na
vida profissional.
A etapa O mundo do Trabalho é o momento em que
o estudante, além de dar continuidade aos estudos técnicos
e artísticos desenvolvidos nas etapas anteriores, reflete sobre
as experiências vivenciadas, compreende as relações de inte-
ração do seu lugar como intérprete, intérprete/colaborador e
intérprete/criador em relação ao coreógrafo, necessários para
o seu papel de atuação como artista da dança. Nesse sentido,
relaciona os conhecimentos desenvolvidos nessa etapa com
as possibilidades de atuação no mercado de trabalho. A par-
tir do que foi desenvolvido coreograficamente, o estudante
revisita o processo criativo com o propósito de aprender, a
partir das problemáticas surgidas na criação, para realizar a
reapresentação da obra coreográfica. É um processo forma-
tivo de reflexão e repetição onde se busca um olhar pedagó-
gico nas tarefas realizadas que serão somadas ao Seminário
Artístico Temático.
O Seminário Artístico Temático acontece concomi-
tantemente à etapa O Mundo do Trabalho. É um encontro
que reúne os estudantes de cada curso, para desenvolverem
projetos artísticos com o objetivo de apresentar e compar-
tilhar conhecimentos e experiências relacionados ao campo
da dança, promover a troca de ideias, fomentar o desenvol-
vimento artístico e incentivar a reflexão sobre questões ar-
tísticas contemporâneas e históricas, além de impulsionar o
diálogo crítico no campo da arte. Dessa maneira, os seminá-
rios podem abordar diversas áreas artísticas, como pintura,
escultura, fotografia, dança, teatro, música, literatura, cine-
ma, entre outras.
Os estudantes também podem participar de uma re-
sidência artística, um projeto que oferece a oportunidade
de vivenciar práticas artísticas e criativas desenvolvidas por
profissionais selecionados pela instituição, visando a troca
233
RESIDÊNCIA ARTÍSTICA "FLORESTA" DE THIAGO COHEN COM A PARTICIPAÇÃO DE ESTUDANTES DA SPED | FOTO: SAMIRA DANTAS
234
ESTUDANTES DO CURSO REGULAR DE DANÇA E PERFORMANCE MATUTINO | FOTO: IARI DAVIES
235
236
PERSPECTIVAS DE ENSINO EM
DRAMATURGIA NA SÃO PAULO
ESCOLA DE DANÇA
Luiz Fernando
da Silva Anastácio
237
de forma abrangente para a cultura. A partir das diversas
possibilidades de atuação no ramo artístico, fundamenta e
elabora a dança, de forma ética e estética, como um organis-
mo vivo a considerar a sua época.
A abordagem da Dramaturgia da Dança em um espa-
ço educacional implica observá-la como um conceito dinâ-
mico e em constante movimento, que vai além das noções
tradicionais de linguagem dramatúrgica. Neste sentido, a
Dramaturgia se constrói em um ambiente que gera fricções
regulares, dinâmicas, e que interagem com diversas realida-
des distintas. Embora o termo “Dramaturgia” seja originá-
rio do teatro, na dança ele se tornou mais evidente no final
da década de 1980, quando o pensamento da dança propôs
rupturas na concepção de cena, intérprete e público, asseme-
lhando-se a processos teatrais.
A presença da Dramaturgia na São Paulo Escola de
Dança promove uma reflexão aprofundada sobre os signi-
ficados subjacentes e as intenções por trás dos movimentos
coreográficos. Isso permite aos estudantes da área da dança
gerar sentidos e expressar suas emoções e narrativas de ma-
neira mais precisa e contundente. Através da compreensão
e incorporação da Dramaturgia, a dança transcende a mera
execução técnica e se torna uma poderosa forma de expres-
são artística, revelando-se um elemento essencial da arte dos
sentidos por meio do corpo em movimento, e utilizando
gestos, expressões faciais, espaço, tempo, sonoridades, obje-
tos cênicos, figurinos e tudo mais que possa criar uma expe-
riência estética completa.
No curso de Dramaturgia na São Paulo Escola de Dan-
ça é possível que o estudante desenvolva maneiras de criar
e organizar os signos da cena, o que torna possível com-
preender de, maneira direta, como esses signos estabelecem
atmosferas que tocam e despertam a imaginação. Na dan-
ça, os elementos que compõem a cena possuem uma forma
singular de se conectar e pensar a produção em arte, já que
o movimento é parte essencial para localizá-la como uma
episteme artística. Compreender tecnicamente que tudo em
uma obra pode se tornar um contexto dramatúrgico permi-
238
ESTUDANTE DO CURSO REGULAR DE DRAMATURGIA DA DANÇA | FOTO: CAMILO BARBOSA
239
área de conhecimento colabora diretamente com o coreó-
grafo e a equipe artística por meio da provisão de materiais e
insights que possam nutrir a criação e o desenvolvimento do
trabalho em dança.
De ordem prática, o Dramaturgista auxilia na seleção
de músicas, figurinos, cenários, iluminação, roteiro, narra-
tivas e outros elementos que compõem a obra coreográfica,
com o objetivo de criar uma atmosfera coerente com a pro-
posta artística, o que minimiza distanciamentos dos obje-
tivos iniciais. O estudante neste recorte do Dramaturgista,
desenvolverá um olhar crítico e contextualizado para a ela-
boração das possíveis criações, garantindo as possibilidades
interpretativas da obra e sendo um importante interlocutor
entre coreógrafo, intérprete, obra e público.
O estudo do papel do coreógrafo no curso de Dra-
maturgia na São Paulo Escola de Dança está ancorado em
uma localização extremamente importante, uma vez que
essa figura assume uma posição central na criação dos de-
senvolvimentos coreográficos. As coreografias são pilares que
solidificam os processos em dança tornando exequível a ela-
boração da obra. Com essa compreensão, o estudante passa
a desempenhar a função de mediador entre o subjetivo e o
objetivo, tornando possível que propostas de movimentos se
tornem materiais coreográficos, relacionando desde a prepa-
ração corporal como procedimento de criação, concepção e
estrutura das obras artísticas através da produção de movi-
mentos. Esse entendimento do papel do coreógrafo promo-
ve a capacidade de que o estudante consiga desenvolver, co-
ordenar e assessorar processos de criação, além das possíveis
relações com as afetações humanas produzidas no contato
diário com o intérprete.
O estudante, no âmbito coreográfico, desenvolve ha-
bilidades para desafiar os intérpretes a explorarem possibili-
dades de movimento, incentivando-os a alcançar qualidades
técnicas distintas, através das possibilidades da expressão ar-
tística. O coreógrafo desenvolve a capacidade de transmitir
suas ideias e conhecimentos para o outro. Sendo assim, é
fundamental o seu papel como um guia e mentor, inspiran-
240
ESTUDANTES DO CURSO REGULAR DE DRAMATURGIA DA DANÇA | FOTO: JOÃO ANSELMO
241
sobre liderança, gerenciamento eficiente de recursos e a ca-
pacidade de colaborar com diversos profissionais da equipe
de produção. O diretor é responsável por supervisionar todos
os aspectos técnicos, logísticos e administrativos, garantindo
que a visão artística seja realizada com excelência e dentro do
cronograma estabelecido em uma relação colaborativa.
Essa relação colaborativa permite ao estudante do cur-
so de Dramaturgia, a partir de conhecimentos estruturantes
que baseiam as áreas de conhecimento do curso, desenvolver
habilidades para potencializar sua formação artística de ma-
neira significativa. Ao participar ativamente dos processos
criativos em uma produção de dança, seja como assistente de
direção, seja como diretor colaborador, o estudante é imerso
em um ambiente dinâmico e estimulante, em que a inter-
secção entre a dramaturgia e a dança se torna palpável. Essa
experiência proporciona um espaço propício para explorar a
interação entre as intenções para a cena e o movimento, de-
safiando-o a compreender e transmitir narrativas por meio
do corpo em movimento.
A colaboração em montagens de dança amplia os ho-
rizontes do estudante, permitindo-lhe experimentar novas
abordagens criativas, técnicas de composições coreográficas
e desenvolvimentos de personagens através do movimento.
Além disso, o estudante tem a possibilidade de trabalhar em
equipe com profissionais que desenvolvem trabalhos core-
ográficos, vivenciando através da dança maneiras concretas
de atuação, no qual colabora com a capacidade de comuni-
cação, resolução de problemas e pensamento crítico. Essa
experiência vívida e colaborativa prepara o estudante de dra-
maturgia, uma vez que permite que ele compreenda as espe-
cificidades de atuação na área de dança e torne-se um agente
de transformação na cena artística contemporânea.
Na área de sonoplastia do curso de Dramaturgia, os
estudantes se sensibilizam a compreender as possibilidades
da música e dos sons como elementos fundamentais para a
dança. Os alunos desenvolvem habilidades auditivas aguça-
das e conhecimentos técnicos que lhes permitem criar uma
sinergia harmoniosa entre o movimento corporal e a trilha
242
ESTUDANTES DO CURSO REGULAR DE DRAMATURGIA DA DANÇA | FOTO: JOÃO ANSELMO
243
Podemos apontar que, metodologicamente, o curso de
Dramaturgia da São Paulo Escola de Dança está em um âm-
bito colaborativo tanto no que se refere ao ensino e apren-
dizado com as suas frentes de atuação quanto no fato de fo-
mentar para a área da dança a possibilidade de profissionais
mais capacitados que possam desenvolver de forma técnica
as funções na área de dança, enriquecendo seu ecossistema.
Ao promover a interação entre intérpretes, coreógra-
fos(as), músicos, musicistas, figurinistas e outros profissio-
nais envolvidos na produção de um espetáculo de dança, o
trabalho do estudante de Dramaturgia, de forma colabora-
tiva, estimula um ambiente de aprendizado enriquecedor e
criativo nessas relações coletivas. Os estudantes são incen-
tivados a compartilhar ideias, perspectivas e experiências, o
que fortalece a diversidade de abordagens artísticas e impul-
siona o aperfeiçoamento das práticas da dança.
Na Dramaturgia da Dança, o estudante tem oportu-
nidade de experimentar a criação através de diferentes es-
téticas, assimilando conhecimentos variados e aprimorando
suas habilidades de comunicação, negociação e repertório
em dança. Além disso, o trabalho em equipe reforça a capa-
cidade de adaptar-se a diferentes contextos e fortalece a con-
fiança na expressão individual e coletiva. Essa abordagem
colaborativa prepara o estudante para enfrentar os desafios
do mercado de trabalho, no qual a cooperação é essencial
para a criação de produções inovadoras e impactantes. Dessa
forma, o trabalho colaborativo não apenas enriquece o pro-
cesso de aprendizado em um curso de dança, mas também
prepara os estudantes para uma carreira bem-sucedida e sus-
tentável, impulsionando a arte da dança a novos patamares
de excelência e criatividade.
Na Dramaturgia da dança, o público é um elemento
vital que completa a experiência artística, tornando-se parte
do contexto no qual a obra está inserida por meio da sua inter-
pretação, percepção e conexão emocional. A interação entre o
público e os intérpretes cria um sentido único e efêmero, em
que as experiências se entrelaçam, gerando uma troca simbó-
lica de significados e sensações. Como diz Pina Bausch:
244
ESTUDANTES DO CURSO REGULAR DE DRAMATURGIA DA DANÇA | FOTO: SAMIRA DANTAS
245
ESTUDANTE DO CURSO REGULAR DE DRAMATURGIA DA DANÇA E DOCENTE THIAGO NEGRAXA | FOTO: CAMILO BARBOSA
246
247
POR UMA COMUNICAÇÃO QUE
DANÇA: A SÃO PAULO ESCOLA
DE DANÇA EM PERSPECTIVA
Marcela
Benvegnu
248
ou de gerir recursos, pessoas ou qualquer objeto que possa
ser administrado com alguma finalidade: seja em benefício
próprio ou de uma entidade, cujo objetivo é o crescimento,
estabelecido pela empresa por meio do esforço humano or-
ganizado. Mesmo entre os tipos mais conhecidos — gestão
de crise, de risco, artística, administrativa, financeira, de pes-
soas, de tempo, entre outras —, todas passam pela questão
da comunicação.
“Não existe gestão sem comunicação”, diz Daniel
Costa, administrador de empresas pós-graduado em Or-
ganizações, Gestão de Pessoas e Dinâmica dos Grupos e
autor de um livro cujo título é homônimo a esta citação.
“Para existir qualquer tipo de relacionamento, precisa ha-
ver, antes, comunicação entre aqueles que se relacionam”,
afirma (Costa, 2014, p. 45).
E aqui nos questionamos: se fala de dança para quem?
Muitas vezes a mensagem não chega ao seu receptor, por não
conter a própria informação a que e a quem se destina. “Co-
municação é o que os outros entendem para um grupo social
e só desta forma você a transforma em produto. A diferença
está na qualidade da informação, na qual forma também é
mensagem. Se comunicar é ouvir.” (Guanaes, 2020).
Nos comunicamos de múltiplas formas ao longo das
décadas. O digital entrou para ocupar um espaço inimagi-
nado, quase infinito em possibilidades, que dita novos com-
portamentos e consequentemente novas formas de comuni-
cação quase que diariamente. Se o telefone e o papel eram os
únicos modos de se entrar na casa de alguém há alguns anos,
hoje, são diversas as possibilidades de acesso. É o cliente
quem escolhe a forma como ele quer receber a informação, e
é por isso que a instituição deve estar preparada para figurar
em muitas plataformas, em diversos formatos comunicacio-
nais, com uma mensagem que tenha estratégia, estrutura,
clareza de entendimento e rapidez, para poder responder a
cada um das interações e no modo mais efetivo possível para
fazê-lo entender, ou seja, se fazer comunicar.
E quando se pensa em gestão de comunicação, é pre-
ciso pensar na construção da imagem, entendendo primor-
249
ESTUDANTES DO CURSO REGULAR DE DANÇA E PERFORMANCE VESPERTINO E MATUTINO E MULTIMÍDIAS PARA DANÇA
| FOTO: CAMILO BARBOSA
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sob o tema da iconofagia há décadas, afirma: “que alimen-
tar-se de imagens significa alimentar imagens, conferindo-
-lhes substância, emprestando-lhes os corpos. Significa en-
trar dentro delas.” (Baitello, 2011, p. 7).
Imagens vendem, singularizam, traduzem. Podem ser
construídas, e neste caso, precisam falar de dança e serem
reais para efetivar e comunicar a ação. E é preciso lembrar o
tempo todo que, muitas vezes, o receptor da mensagem não
tem o mesmo entendimento do emissor e assim a linguagem
deve ser ajustada. Grande parte da comunicação da dança
fala da dança para dança, quando se deveria falar de dança
para o todo: criando-se uma comunicação que dança, afinal,
uma marca de dança fala de dança.
O FUTURO DO PRESENTE
251
ESTUDANTES DO CURSO REGULAR DE MULTIMÍDIAS PARA DANÇA NA ETAPA DE CRIAÇÃO ARTÍSTICA E ESTÉTICA
| FOTO: CAMILO BARBOSA
252
Nossa estratégia de comunicação inicial nasceu em um
perfil no Instagram (@saopauloescoladedanca), em uma Es-
cola ainda sem estudantes, que precisava se conectar com
eles para criar o desejo de fazerem inscrição em um dos cin-
co Cursos de Extensão50 disponíveis e, ao mesmo tempo, de
se apresentar para o meio. Apesar de se ter um mundo de
oportunidades no online a nossa frente, foi preciso um tra-
balho praticamente artesanal, para se fazer existir e conhecer.
E se para atingir o grande público deve-se começar por um
espectador, foi pensando do micro para o macro, que esse
corpo foi sendo criado, ao lado da linguagem escrita, do tom
de cada texto, das imagens usadas e de processos comunica-
cionais que foram além das estratégias de relações públicas.
Estávamos no digital, mas também foi preciso ir a coletivos,
escolas, grupos de dança, comunidades, aldeias indígenas,
entre outros, para que pudéssemos nos apresentar e comuni-
car para que viemos.
A primeira ação em massa de divulgação gerou mais
de 600 inscritos — de 23 Estados do Brasil, 151 cidades e
de quatro países (Brasil, Portugal, Itália e Paraguai) — para
278 vagas, demonstrando um grande interesse do público
pelas atividades da Escola nos Cursos de Extensão ofereci-
dos. Começava-se ali, o início de uma relação com aqueles
que queriam “nos consumir” e que poderiam ser porta-vozes
da Escola para outros, um banco de dados, um mailing, e a
criação de estratégias de ampliação desse campo, para que
quando as inscrições dos Cursos Regulares se abrissem, pu-
déssemos ter uma base de contatos inicial e o mais impor-
tante: partimos sempre de uma comunicação humanizada,
que responde individualmente às solicitações, que nomina e
que sabe quem é o seu cliente. Hoje o Instagram da Escola
50 Os cursos de Extensão
da São Paulo Escola de Dança tem mais de 10 mil seguidores orgânicos.
tiveram início entre os dias
28 de março e 2 de abril de Vale dizer que qualquer ação de comunicação é uma so-
2022. Foram eles: 1. Corpo,
Memória e Ancestralidade; 2. matória. É o resultado das estratégias de gestão da área, somadas
Dança e Pedagogias: Histórias
e Atualidade; 3. História Já!; aos envolvidos, à oportunidade e à oferta. Times de comunica-
4. Intradanças: Dramaturgias
Transversais; 5. Danças: ção não trabalham sozinhos, não são responsáveis pelo sucesso
Técnicas, Métodos e Sistemas.
Os cursos Regulares e Livres ou pelo fracasso de uma atividade. São parte, integram um sis-
tiveram seu início em 1 de
agosto de 2022. tema que precisa de muitas pessoas para se fazer “dançar”.
253
ESTUDANTES DO CURSO REGULAR MULTIMÍDIAS PARA DANÇA NA ETAPA DE CRIAÇÃO ARTÍSTICA E ESTÉTICA (2023) | FOTO: MARCOS ALONSO
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UMA COMUNICAÇÃO QUE DANÇA
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ESTUDANTES DO CURSO REGULAR MULTIMÍDIAS PARA DANÇA E DRAMATURGIA NA DANÇA NA ETAPA DE CRIAÇÃO ARTÍSTICA E
ESTÉTICA (2023) | FOTO: MARCOS ALONSO
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ESTUDANTES DO CURSO REGULAR DE MULTIMÍDIAS PARA DANÇA | FOTO: JOÃO ANSELMO
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REFERÊNCIAS
SITES
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ESTUDANTES DO CURSO DE EXTENSÃO CULTURAL | FOTO: SAMIRA DANTAS
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RESIDÊNCIA ARTÍSTICA "PAISAGENS EXTRANHAS" DO COLETIVO ATRAVESSADAS COM A PARTICIPAÇÃO DE ESTUDANTES DA SPED | FOTO: CAMILO BARBOSA
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APRESENTAÇÃO DO PROJETO ESPECIAL EM DANÇA | FOTO: SAMIRA DANTAS
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APRESENTAÇÃO DO PROJETO ESPECIAL EM DANÇA | FOTO: SAMIRA DANTAS
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ESTUDANTES DO CURSO DE EXTENSÃO CULTURAL | FOTO: CHARLES LIMA
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ESTUDANTES DO CURSO DE EXTENSÃO CULTURAL | FOTO: SAMIRA DANTAS
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265
SOBRE OS AUTORES
266
José Simões é educador e pesquisador nas áreas da Sociologia
da Cultura, Ensino das Artes e Desenho Instrucional. Atual-
mente, é Superintendente Educacional da São Paulo Escola
de Dança e desenvolveu a proposta do modelo pedagógico da
escola, em parceria com Inês Bogéa. Graduado em Artes Cêni-
cas pela Unicamp (1992); mestre em Comunicação e Semióti-
ca PUC-SP (2001); doutor em Artes pela USP (2007) e pós-dou-
tor pelo Centro de Estudos Sociais/Universidade de Coimbra
(2010) e pela Fundação Carlos Chagas (2017). Coorganizador
do Léxico da Pedagogia do Teatro e do livro Cidade e Espetá-
culo: a cena teatral luso-brasileira contemporânea. Foi secretário
da Cultura e da Educação do município de Sorocaba, além de
professor, pesquisador, coordenador e responsável pela imple-
mentação do primeiro curso de licenciatura em Teatro Uni-
versitário da região metropolitana de Sorocaba. Foi professor
adjunto da Faculdade de Educação da UFMG. Em Portugal,
atuou como pesquisador e avaliador de projetos teatrais pela
Direção Regional de Cultura Centro-Coimbra (2008-2009).
267
Kathya Maria Ayres de Godoy é artista da dança, docente
formadora e pesquisadora. Atualmente, é docente sênior do
programa de Pós-Graduação em Artes/Processos criativos em
Dança do Instituto de Artes da UNESP. É formada pela Esco-
la Municipal de Bailado, pela Royal Academy of Dancing e
também mestra e doutora em Educação pela PUC-SP. Auto-
ra de livros sobre Arte e Educação e Metodologias voltadas à
pesquisa e ensino de Dança. Dirigiu o Grupo de dança En-
-Cenna do Tuca (1991/2003), foi diretora artística do Grupo
IAdança (2005/2017) e, desde 2019, dirige o Coletivo Híbrido,
que trabalha performance em dança e teatro, no qual também
atua como intérprete criadora. Coordenou o projeto Quinta
em Dança – ações artísticas e educativas na cidade de São Pau-
lo (2012 a 2017). Em 2021/22 dirigiu Jussara City – o paraíso
das enchentes (fomento ao teatro 2020), e ganhou o edital
nº39/21 de fomento a dança com a videoaula “O processo de
criação como uma possibilidade de ensinar dança”. É fun-
dadora e produtora executiva da Performarte Artes Cênicas e
Ensino de Dança Ltda (2019).
268
Jussara Xavier é artista da dança, pesquisadora, autora e or-
ganizadora de diversos livros sobre dança. Foi bailarina nos
grupos Raça Cia de Dança e Cena 11 Cia de Dança. Atual-
mente, é coordenadora da pós-graduação Especialização em
Linguagem e Poética da Dança da Universidade Regional de
Blumenau (FURB) e professora do curso de Licenciatura em
Dança da instituição. É pós-doutora em Filosofia pela Univer-
sidade Federal de Santa Catarina (UFSC); mestre em Artes, Co-
municação e Semiótica pela Pontifícia Universidade Católica
de São Paulo (PUC-SP); doutora em Teatro e Especialista em
Dança Cênica pela Universidade do Estado de Santa Catarina
(UDESC). Realizou a concepção e direção de diversos trabalhos
artísticos na área da dança e do teatro. Foi professora substituta
do curso Tecnologia em Produção Cênica na UFPR (2012-22)
e da Graduação em Teatro da UDESC (2011-16). Pesquisadora
do Programa Rumos Itaú Cultural Dança (SP, 2000 a 2009).
Gestora de projetos, Coordenadora técnica, Professora e Pro-
dutora na Escola do Teatro Bolshoi no Brasil (Joinville, 2001
a 2008). Atuou como coordenadora e curadora do Festival
Internacional Múltipla Dança, com 11 edições realizadas.
269
Franciane Kanzelumuka Salgado de Paula é artista da dan-
ça, docente e pesquisadora. Bacharel em Dança pela UNI-
CAMP e mestra e doutora em Artes pela UNESP. Integrante e
cofundadora da Nave Gris Cia Cênica. É pesquisadora do
Grupo Terreiro de Investigações Cênicas (CNPq/UNESP). Fez
parte da Será Quê? Cia de Dança, Cia. Teatro Dança Ivaldo
Bertazzo e da E² Cia. de Teatro e Dança. Atuou como do-
cente na Escola Livre de Dança de Santo André – ELD, na
Licenciatura em Dança da Faculdade Paulista de Artes – FPA
e como professora substituta na Licenciatura em Dança do
Instituto Federal de Brasília – Lidan/IFB. Coorganizadora
e coautora dos e-books “Acordar o chão: dramaturgias em
danças contemporâneas negras” e “Tatu tá cavucando: dez
anos de Grupo Terreiro de Investigações Cênicas: teatro,
ritual, brincadeiras e vadiagens”. Coautora do livro “Giro
epistemológico para uma educação antirracista”.
270
Adriana Celi Castelo Gomes é gestora cultural, artista da dança
e pesquisadora. Foi bailarina da Cia Independente de Dança
de São Paulo, sob a direção de Edson Santos, de 2006 a 2010.
Atualmente, é coordenadora de área dos Cursos Livres e de Ex-
tensão Cultural da São Paulo Escola de Dança. É mestra em
Arte-educação pelo Instituto de Artes da UNESP, graduada em
Educação Física pela FEFISA, graduada em Pedagogia e pós-gra-
duada em Dança e Consciência Corporal pela FMU, Linguagens
da Arte pela USP e Gestão e Políticas Culturais pela Universida-
de de Girona (Espanha) por meio da Cátedra UNESCO de Políti-
cas Culturais em cooperação com o Itaú Cultural. Formada em
Balé Clássico pela Pássaro de Fogo, estudou também na Escola
Municipal de Bailado de São Paulo. É pesquisadora no grupo de
pesquisa Estudos, Abordagens e Metodologias sobre Educação,
Arte e Dança, do IA UNESP sob a coordenação da Profª Dra.
Kathya Godoy. Ganhou diversos prêmios importantes como
coreógrafa e bailarina em festivais. É presidente fundadora do
Instituto Cultural Artevida.
272
Marcela Benvegnu é jornalista, pesquisadora de dança e ges-
tora. Atualmente, é Superintendente de Desenvolvimento
Institucional da Associação Pró-Dança, instituição gestora da
São Paulo Companhia de Dança e da São Paulo Escola de
Dança. É master em Mídia, Comunicação e Negócios pela
University of California (USA, 2017) e foi bolsista do progra-
ma de mentoria executiva da Harvard Business School (USA,
2019). É mestre em Comunicação e Semiótica pela PUC (críti-
ca de dança), pós-graduada em Estudos Contemporâneos em
Dança pela Universidade Federal da Bahia (UFBA) e em Ges-
tão de Negócios pelo Business Behavior Institute, de Chicago.
Foi coordenadora de Educativo e Comunicação (2009-2017)
e de Registro e Memória, da São Paulo Companhia de Dança
e consultora (2021). Atua como jurada, palestrante, crítica e
jornalista convidada em eventos no Brasil e exterior. Já minis-
trou palestras em instituições de ensino nos EUA, Inglaterra
e Portugal. É codiretora do Congresso Internacional de Jazz
Dance no Brasil desde 2009. É professora do curso de Pós-
-Graduação em Dança e Consciência Corporal na Universi-
dade Estácio de Sá e USC. Dirige a MB – Gestão de Imagem e
Comunicação para a Dança.
273
AUDIÇÃO PROJETO ESPECIAL EM DANÇA, FLAVIO LIMA | FOTO: SAMIRA DANTAS MESA DE DISCUSSÃO: CARNAVALIZAR A DANÇA, COM SIDNEY FRANÇA, YASKARA MANZINI E CÁSSIA NAVAS
| FOTO: JOÃO ANSELMO
274
CURSO REGULAR DE TEATRO MUSICAL, MARCELA BENVEGNU | FOTO: SAMIRA DANTAS CURSO LIVRE DANÇA DE SALÃO, JOSÉ SIMÕES E ADRIANA CELI | FOTO: JOÃO ANSELMO
275
PLANEJAMENTO EDUCACIONAL, JANUÁRIO RICARDO, LUIZ ANASTÁCIO, FLAVIO LIMA E INÊS BOGÉA ADRIANA CELI | FOTO: SAMIRA DANTAS
| FOTO: SAMIRA DANTAS
276
ESTUDANTES DO CURSO REGULAR DE DRAMATURGIA DA DANÇA, SAÍDA PEDAGÓGICA, LUIZ ANASTÁCIO E ANDRÉ TELES
| FOTO: SAMIRA DANTAS
PROJETO ESPECIAL EM DANÇA, ANDREIA YONASHIRO E INÊS BOGÉA | FOTO: SAMIRA DANTAS
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ESTUDANTES DO CURSO REGULAR DE DANÇA E PERFORMANCE MATUTINO NA ETAPA DE CRIAÇÃO ARTÍSTICA E ESTÉTICA (2023) | FOTO: MARCOS ALONSO
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ESTUDANTE DO CURSO REGULAR DE DANÇA E PERFORMANCE VESPERTINO NA ETAPA DE CRIAÇÃO ARTÍSTICA E ESTÉTICA (2023)| FOTO: MARCOS ALONSO
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ESTUDANTES DO CURSO REGULAR DE DANÇA E PERFORMANCE MATUTINO NA ETAPA DE CRIAÇÃO ARTÍSTICA E ESTÉTICA (2023) | FOTO: MARCOS ALONSO
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ESTUDANTE DO CURSO REGULAR DE DANÇA E PERFORMANCE VESPERTINO NA ETAPA DE CRIAÇÃO ARTÍSTICA E ESTÉTICA (2023) | FOTO: MARCOS ALONSO
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ESTUDANTES DO CURSO REGULAR DE DANÇA E PERFORMANCE MATUTINO NA ETAPA DE CRIAÇÃO ARTÍSTICA E ESTÉTICA (2023) | FOTO: FELIPE SANTOS
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ESTUDANTE DO CURSO REGULAR DE DANÇA E PERFORMANCE MATUTINO NA ETAPA DE CRIAÇÃO ARTÍSTICA E ESTÉTICA (2023) | FOTO: MARCOS ALONSO
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ESTUDANTES DO CURSO REGULAR DE TÉCNICAS DA DANÇA VESPERTINO NA ETAPA DE CRIAÇÃO ARTÍSTICA E ESTÉTICA (2023) | FOTO: MARCOS ALONSO
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ESTUDANTES DO CURSO REGULAR DE DANÇA E PERFORMANCE VESPERTINO NA ETAPA DE CRIAÇÃO ARTÍSTICA E ESTÉTICA (2023) | FOTO: MARCOS ALONSO
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ESTUDANTES DO CURSO REGULAR DE TÉCNICAS DA DANÇA MATUTINO NA ETAPA DE CRIAÇÃO ARTÍSTICA E ESTÉTICA (2023) | FOTO: FELIPE SANTOS
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ESTUDANTES DO CURSO REGULAR DE DANÇA E PERFORMANCE MATUTINO NA ETAPA DE CRIAÇÃO ARTÍSTICA E ESTÉTICA (2023) | FOTO: MARCOS ALONSO
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ESTUDANTE DO CURSO REGULAR DE DANÇA E PERFORMANCE MATUTINO NA ETAPA DE CRIAÇÃO ARTÍSTICA E ESTÉTICA (2023) | FOTO: MARCOS ALONSO
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ESTUDANTE DO CURSO REGULAR DE DANÇA E PERFORMANCE VESPERTINO NA ETAPA DE CRIAÇÃO ARTÍSTICA E ESTÉTICA (2023) | FOTO: MARCOS ALONSO
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ESTUDANTES DO CURSO REGULAR DE TÉCNICAS DA DANÇA MATUTINO NA ETAPA DE CRIAÇÃO ARTÍSTICA E ESTÉTICA (2023) | FOTO: FELIPE SANTOS
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ESTUDANTES DO CURSO REGULAR DE TÉCNICAS DA DANÇA MATUTINO E TEATRO MUSICAL NA ETAPA DE CRIAÇÃO ARTÍSTICA E ESTÉTICA (2023) | FOTO: FELIPE SANTOS
291
GOVERNO DO ESTADO DE SÃO PAULO SÃO PAULO ESCOLA DE DANÇA
Governador | Tarcísio de Freitas DIREÇÃO
Vice-Governador | Felício Ramuth Artística e Educacional | Inês Bogéa
Secretária de Estado | Marilia Marton Administrativa-Financeira | Pétrick Joseph Janofsky
Secretário Executivo | Marcelo Henrique de Assis Canonico Pontes
Chefe de Gabinete | Daniel Scheiblich Rodrigues
Coordenador da Unidade de Formação Cultural, SUPERINTENDÊNCIA
Bruna Attina Institucional e de Controladoria | José Galba de Aquino
Desenvolvimento Institucional | Marcela Benvegnu
Educacional | José Simões de Almeida Júnior
ASSOCIAÇÃO PRÓ-DANÇA –
ORGANIZAÇÃO SOCIAL DE CULTURA CURSOS REGULARES
Coordenação de Área | Junior Oliveira
CONSELHO DE ADMINISTRAÇÃO Coordenação do Curso (vespertino) | Flavio Lima
Presidente | Rachel Coser Coordenação do Curso (matutino) | Luiz Anastácio
Vice-Presidente | Maria do Carmo A. Sodré Mineiro Professores do Curso Dança e Performance | Dani
Membros | Adriana Celi Castelo Gomes, Alexandra Soares Barsoumian, Peticia Carvalho de Moraes, Ricardo
Olivares de De Viana, Dilma Souza Campos, Eduardo Alves Januario
Toledo Mesquita, Elisa Marsiaj Gomes, Eugênia Gorini Professores do Curso de Dramaturgia da Dança | André
Esmeraldo, Fernando José de Almeida, Flávia Fortuneé Teles, Paula Sales
de Picciotto Terpins, José Fernando Perez, Luciano Cury, Professores Curso Técnicas de Dança | Alexandre Robson
Maria Cristina Frias, Milton Coatti Filho, Priscilla Zogbi, B. Ferreira, Andreia Ferreira Yonashiro, Bianca Matta
Ricardo Campos Caiuby Ariani, Rodolfo Villela Marino, Professor do Curso de Figurino na Dança | Alexandre
Wilton de Souza Ormundo dos Anjos, Paulo Pallas
Professor do Curso Teatro Musical | Alex Maranhão,
CONSELHO FISCAL Tiago Kaltenbacher
Presidente | Helio Nogueira da Cruz Professores do Curso de Multimídias para Dança |
Membros | Iside Maria Labate Maiolini Mesquita, José Marcela Abi Karam, Luiz Gustavo Gomes Cardoso
Carlos de Souza, Eduarda Bueno (suplente) Professores do Curso Produção e Gestão Cultural |
Lucas Gonzaga Rosa, Monique Tomazi
CONSELHO CONSULTIVO Analistas Educacionais | Brenda Oliveira, Bruna Marques
Membros | Andrea Sandro Calabi, Dolores Prades, Eric
Alexander Klug, Flavia Regina de Souza Oliveira, Flávia CURSOS LIVRES E DE EXTENSÃO CULTURAL
Kolchraiber, João Gabriel Pennacchi, Jorj Petru Kalman, Coordenação de Área | Adriana Celi
José de Oliveira Costa, Leontina Gioconda Bordon, Curadores | Cássia Navas, Enoque Santos, Erika Novachi
Ricardo Uchoa Alves Lima, Walter Appel Professora de Dança Clássica | Marcela Paez
Professora de Dança Contemporânea | Miriam Druwe
ASSOCIADOS Professora de Danças Urbanas | Ciça Veronese
Alexandra Olivares de De Viana, Ana Grisanti de Moura, Professor de Dança de Salão | Luiz Renato de Melo Paz
Arnaldo Vuolo, Debora Duboc Garcia, Eduardo Toledo Analistas Educacionais | Jaqueline Santana,
Mesquita, Elisa Marsiaj Gomes, Eric Alexander Klug, Renaildes Cintra
Eugênia Gorini Esmeraldo, Fernando José de Almeida, Assistente Educacional | Gabriela Augusta Oliveira
Gioconda Bordon, Henri Philippe Reichstul, Inês Vieira
Bogéa, Jorj Petru Kalman, José de Oliveira Costa, José PRODUÇÃO, TERRITÓRIOS CULTURAIS,
Fernando Perez, Luca Baldovino, Luciano Cury, Lygia da PROJETOS E OPORTUNIDADES
Veiga Pereira Carramaschi | Maria do Carmo Abreu Sodré Coordenador de Área | Felipe do Amaral
Mineiro, Rachel Coser, Ricardo Campos Caiuby Ariani, Analista Educacional | Cristiane Maria Gomes
Ricardo Cavalieri Guimarães, Ricardo Uchoa Alves Lima, Produtoras | Rafaela Zavisch, Laura Tula
Rodolfo Villela Marino, Suzana Maria Salles França Pinto, Assistente de Produção | Ananda Vieira
Walter Appel Técnica de Som | Katheleen dos Santos Costa
Administrativa-Financeira | Pétrick Joseph Janofsky Técnico de Palco | Irom Daniel Pereira Dias
Canonico Pontes
ATENDIMENTO E APOIO ESCOLAR
Coordenadora | Esmeralda Gazal
Secretária Escolar | Naiane Cardoso dos Santos
Analista Educacional | Felipe da Silva
Assistentes Educacionais | Beatriz Vicente Soares, Coordenadora de Recursos Humanos | Karen Ricci
Calina Capitani, Ester Amanda Andrade, Gabriel dos Santos
Cassiano dos Santos, Sofia da Silva, Michele Viriato Coordenador de Compras | Carlos Soares
Assessora de Direção | Melinda Grienda Sliominas
EQUIPE MULTIDISCIPLINAR Assessores Executivos | Fernando Roberto
Assistente Social | Alessandra Felice Bertuce Gonzalez
Bibliotecária | Thais da Silva Vicente Analista Administrativo-Financeiro | Jeferson de
Pedagoga | Cintia Bianca de Almeida Souza Dias
Analista Contábil | Andreza Mendes
MEMÓRIA Arquivista | Priscilla Baptista Casas
Gerente | Charles Lima Assistentes Executivas | Roberta dos Santos Vieira,
Produtora | Bárbara Modenese Vanessa dos Santos Sampaio
Assistentes de Audiovisual | Camilo Andres Assistentes de Compras | Emerson Candido da Silva,
Munoz Barbosa, Iari Davies Samuel Lemos
Auxiliar de Audiovisual | Samira Silva Dantas Assistentes Administrativo-Financeiro | Alan Antonio
Querino, Dulce Catani Cesar Holanda, Edna Santana Bispo
DESENVOLVIMENTO INSTITUCIONAL Assistente Fiscal | Hueider Guerreiro
Analistas de Comunicação | Adoliran Medrado, Assistente de Departamento Pessoal | Leandro Aparecido
Dani Aoki, Maria Luiza Paulino, Renata Faila do Carmo
Analista de Mídias Sociais | Mariana Gonçalves Auxiliar Administrativo-Financeiro | Júlio da Silva
Auxiliar de Educativo | Shay Amora Encarregada de Limpeza | Neide dos Santos Nery
Diagramadores | Rafael Alves Silva Ortiz Rojas, Aprendizes | Ana Julia Figueira, Marco Antonio Dantas
Renata Gammaro Barbosa
Aprendiz | Lucia Beatriz Cardoso Santos COLABORADORES
Consultoria Jurídica | Bolonhini & Carvalho Sociedade
ADMINISTRAÇÃO de Advogados
Gerente Administrativo-Financeiro | Marcio Tanno Contabilidade | Quality Associados
Coordenador Administrativo-Financeiro | Anderson
Paulo de Brito
Diálogos e Práticas em Dança e Educação/ Bogéa, Inês; Simões, José (org.); texto: Gomes, Adriana
Celi Castelo; Andrade, Carolina Romano de; Navas, Cássia; Toscano, Elena; Lima, Flavio; Paula, Franciane
Kanzelumuka Salgado de; Bogéa, Inês; Bernardelli, Ivan; Simões, José; Xavier, Jussara; Dunder, Karla; Godoy,
Kathya Maria Ayres de; Anastácio, Luiz Fernando da Silva; Benvegnu, Marcela; ilustração: Junior, Acrides;
editora de conteúdo: Barros, Keyla; diagramação: Okuyama, Mayumi e Tegoshi, Juliana; - 1 ed. - São Paulo:
Pormenores Serviços Editoriais LTDA, 2023.
294 p.: il.
Texto bilíngue: Português/Inglês
ISBN: 978-85-65356-01-5
Formato PDF
1. Dança e Educação 2. Ensino de Dança 3. Currículo para Dança 4. São Paulo Escola de Dança. I. Bogéa,
Inês. II. Simões, José. III. Título
CDD: 372.5