Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Toda vez que penso em começar a escrever, uma voz na minha cabeça vem dizer que alguém
irá invadir meus pensamentos. Isso causa um certo desânimo, já que não é nada legal ter os
seus pensamentos expostos sem consentimento. Porém hoje estou fazendo esse esforço, já
estou com o computador aberto mesmo, não custa nada abrir um arquivo em branco e
escrever. Organizar as palavras pra ver se elas organizam meus pensamentos, e tirar algum
proveito destas reflexões. Aliviar um pouco dessa angústia que é viver a vida e usar do que
aprendi como lição. Se escrever tem esse potencial então vamos ver do que serei capaz.
Impressiona como me subestimo. Desaprendi a escrever com medo de usarem do que penso
contra mim. A minha história foi assim, e a gente acaba se reprimindo pra sobreviver.
Não serei nada além de mim ao usar as palavras, tudo o que passar pela minha cabeça será
validado, não há como escapar de mim então é preciso criar esse ambiente saudável comigo
mesmo de algum jeito, mesmo depois de tanto tempo ainda continuo sem saber quem sou eu.
17/05 23:18
Estou cansado de arrependimentos! Não quero me arrepender de mais nada! Eu sei que já fiz
muita merda na vida, mas não dá pra viver de culpa. É pra matar alguém de dentro pra fora? Só
se for! Erros nada mais são além de lições que no momento a gente não percebe, e só aprende
depois que fez. Acontece, porém nem todo mundo está disposto a tolerar teus erros. Não vejo
empresas abertas a cobrir os erros, investir nos processos ou apostar no que não deu certo.
Não vejo pessoas abertas a se entenderem, investindo no diálogo ou apostando no
acolhimento. E eu, acabo agindo igual, exigindo experiência de quem não teve oportunidade.
Viver nesse mundo de exigências, onde ninguém está disposto a fazer, mas esperam que façam
por elas, é insano. Principalmente quando não é verbalizado, ou até mesmo quando não
entendem o que estão sentindo e só transmitem. Eu ajo assim. A única razão disso é por que
nunca me ensinaram. O que conheço é pelo que vi ou pelo que fiz de errado. Aliás, enxergo o
mundo mais pelo que há de errado, do que pelo que há de certo.
Meu ambiente foi assim, não estou livre de ser diferente. Sempre lutei contra isso e nunca
consegui me livrar. Sempre clamei por ajuda, mas ninguém consegue me escutar. Hoje tudo
que preciso é de silêncio e tempo pra processar e entender o que está acontecendo, mas no
planeta que habito, a calma é inimiga.
Aqui dentro e lá fora tudo é muito depressa, tudo deve se encontrar pronto, e isso acaba
comigo, sinto que não estou pronto. Com as armas que tenho não são o bastante para lutar e o
sentimento de inexperiência e despreparo arruínam qualquer confiança que construo.
Por isso, diante de todos estes argumentos eu me pergunto “pra que serve se sentir culpado?”
Pelo erro de praticar? Por tentar? Ser repreendido por algo não estar claro? Me arrepender das
ações na tentativa de dar certo, sem ao menos terem explicado. Isso é muito perverso.
Perverso até comigo mesmo, por que não tenho culpa de não terem dito, explicado, entendido,
dialogado, conscientizado, de não terem deixado claro algo que não foi verbalizado, algo que
não foi conversado de forma sensata. Eu não tenho o poder de adivinhar, muito menos as
manias e o estilo de vida de cada pessoa. Muito menos agir de diferentes formas para agradar
cada ambiente que eu me encontro.
Existe um grande compromisso nestes momentos com a gente que se faz necessário respeitar,
O de continuarmos sendo nós mesmos, com todos os nossos defeitos.
Nós temos que abraçar os nossos erros. Temos que acolher e apoiar o nosso lado sombrio.
Todas as pessoas tem o seu lado sombrio, proibido de acessar, tanto para outras pessoas
quanto para elas mesmas.
E uma sociedade que diariamente estimula as pessoas a inibirem suas fragilidades e
esconderem seus pontos fracos, continua sendo uma sociedade ambiciosa com o projeto de
individualizar, e eu digo isso com a garantia de quem nem eu estou fora deste padrão. E mesmo
tentando, é muito difícil ser capaz de sair sozinho. E se sair, fica sozinho.
Talvez o começo seja ser honesto sobre os nossos próprios sentimentos, e ser capaz de
expressá-lo primeiro para nós mesmos, depois explica-lo para quem quer que precise saber.
Eu preciso encontrar atividades no dia a dia que me ponham de frente com esse exercício de
processar o sentimento que estou passando e expressá-lo de forma branda. Me perguntar a
todo momento o que eu estou sentindo, e explicar para mim mesmo. Só assim eu escapo de
decisões mal feitas e dos sentimentos de arrependimento e de culpa que geram por essas
explosões emocionais que surgem de mim. Se faz necessário entender que processar as
emoções é momento de recolher-se, e depois de concluído, só o melhor momento é capaz de
pôr em pratica tudo aquilo que entendemos sobre a situação.
A partir de hoje tratarei o corpo humano como um computador, que a todo instante processa
as mais diversas emoções. Uma máquina que não para de processar o que sente, entretanto
nem todas são atualizadas, incapazes de traduzir o que sentem para outras máquinas. O mais
importante mesmo é eu saber o que sinto, e saber explicar sem chegar no limite da paciência,
por que se continuar assim, eu perco tudo. Devo me perguntar sempre, a todo instante “o que
estou sentindo?” “como estou com isso” mesmo que seja raiva, preciso entender por que sinto
raiva. Por que crio cenas de brigas na minha cabeça? Por que ainda ajo da mesma forma
agressiva e ríspida como se estivesse na casa da minha mãe? Devo convencer a mim mesmo
não estar mais vivendo aquele filme antigo e tenho que aproveitar deste tempo para entender
o que se passa comigo, pois nunca sei. Acredito que para se estar num bom caminho é preciso
que sabermos o que estamos sentindo e não só reproduzi-lo quando se sente, sem nenhum
filtro.
O que aconteceu hoje foi que: cometi um erro no delivery do trabalho, qual não foi bem visto
pela responsável, e ao invés de qualquer diálogo, ela simplesmente começou bater à porta do
lava-louça, bater os pratos e a me tratar mal - sendo que desde a primeira semana que
comecei a trabalhar, ela já demonstrava um grande mau humor, um esgotamento e um certo
cansaço, por isso quem trabalhasse com ela estava sujeito a esses maus-tratos-. Fiquei muito
irritado pelas atitudes dela, me deram mal-estar, como se eu não estivesse fazendo nada certo.
Se o incômodo dela foi por eu não ter pedido desculpas a cliente, ela tem razão. Porém vejo
que nem mesmo isso justifica qualquer comportamento passivo-agressiva, principalmente os
que não foram ditos referente aquele incômodo dela.
Não é justo pessoas com mais experiência na empresa exigirem que funcionários de poucos
meses tenham a mesma dinâmica que elas no ambiente de trabalho, adotando na cabeça que
os próximos tenham os mesmos comportamentos para todo tipo de ação que elas, é tolice.
Nem mesmo uma placa na vitrine podia estar diferente do que como de costume. Nem mesmo
na execução de tarefas. Ali existe um sistema de trabalho gerenciado pelos regimes da Lou Lou
que era seguido à risca pela Clara que passava a mensagem da forma como ela entendia,
porém nada disso era explicitamente falado. Então por terem me explicado a rotina do
restaurante conforme aconteciam as necessidades, muita coisa acabou faltando ser explicada e
por isso rolou um déficit de comunicação -deles – referente a expectativas, e mesmo tendo
habilidade de entender as tarefas de forma ágil, faltou compreensão e acolhimento quanto aos
meus erros e o meu tempo de experiência no lugar.
Quero tudo perfeito pra agora.
Quero acertar de primeira, sem medo.
Quero apostar tudo na hora.
Se não dar certo, eu paro no tempo.
Hoje na tentativa frustrante de dialogar, mais uma vez falhei em passar a mensagem. Tenho a
impressão que por mais que eu fale, ninguém entende o que digo. É preciso muito esforço para
ser compreendido e vivo levantando a voz pra entenderem. Gostaria muito que as coisas se
resolvessem de um modo mais sereno, tranquilo, ao invés de sempre lutar para validarem o
que sinto. Entretanto me pego outra vez erguendo a voz para me proteger. E do que?
Após uma longa conversa pelo telefone com minha terapeuta, vi no meu tom de voz as súplicas
por uma solução, percebi como tudo que se dirige a mim, aos meus comportamentos e
reflexos, uma forma de estar sempre em alerta.
Dentro de mim existe uma casa. Cheia de móveis, cheia de marcas. Histórias registradas pelas
ruínas de pedra e pelas memórias nostálgicas. Dentro de mim existe esta casa. Cheia de fome,
cheia de malas. Museu de história natural deste ser, decorado por lembranças e mágoas.
Dentro de mim existe um desejo. Transformar toda essa área. Em um lugar tranquilo para me
sentir tão seguro quando dentro de casa. Mas por mais que eu fuja dela, mais me perco
sentado na sala. Eu tenho as vozes, eu tenho os gritos, eu me tornei a própria casa.
Em qual momento da vida de fato me senti seguro? Talvez quando dormia entre os meus avós,
mas isso faz muito tempo, desde lá foi dissipando momentos de me sentir seguro de verdade.
De lá pra cá sempre me encontrei em estado de alerta. Sempre metido nas zonas de perigo.
Por um lado, isso me ensinou a ter coragem, em contrapartida continua interrompendo minha
forma de se relacionar.
Minha casa sempre foi a zona de perigo. Meus responsáveis foram negligentes ao cuidar.
Houve muita falta de orientação. A negligência nasce a partir dos acontecimentos da vida que
essas pessoas estavam ausentes, tornando a construção de laços insignificante e medíocre.
Esses acontecimentos refletem muito no que hoje me tornei. Entrando em contradição com
aquilo que eu quero ser, porém, com falta de ferramentas e trabalhando com o material que
tenho, o caminho fica um pouco mais distante. E é aí que tá o problema. Como vou obter as
ferramentas necessárias?
O mundo de fora e o mundo de dentro. Confesso me sentir bem mais seguro na rua do que
muitas vezes dentro de casa. Meu lar não tinha espaço para acolhimento, não havia abertura
para conversar sobre o que sentia, contudo havia muito tempo e espaço para demonstrar suas
emoções mais intensas da forma explosiva. Então momentos de expressar carinho, amor um
pelo o outro ou acolher vulnerabilidades eram escassos, enquanto alegrias e tristezas eram
desdenhadas, e o sentimentos de raiva e ódio eram os sentimentos que tenho a impressão de
serem os mais verdadeiros de experenciar na vida.
Portanto as zonas de perigo que me deixam em estado de alerta são zonas conectadas com
meu lado social, que envolva relacionamentos de qualquer espécie. Relacionamentos afetivos,
profissionais ou sociais, em todos há uma grande dificuldade na tolerância de suportar
qualquer emoção negativa externa sobre mim a fim de envergonhar e punir. Quem não viveria
em estado de alerta desse jeito? Com medo de ser castigado por errar, viver pelo medo de não
te amarem se não acertar o alvo. Quem vive bem se sentindo em perigo? Tendo os sonhos
interrompidos por gritos, e ameaça que acordavam toda a casa. Quem se sente pertencido
quando a boca de quem diz que ama é a mesma boca que me praguejou, e assim tirou toda
essência do que é o amor de quem sou.
Ao perguntar por que de tanto ódio, a resposta sempre era por que não lhe ensinaram a amar.
Rebatia dizendo poder darmos o que não tínhamos, mas a falta já se instalara, já havia criado
casca, construído casa, não dava pra preencher, quando eles só pensavam no que lhes faltava.
Queriam ter, mas não queriam dar. Queriam amor, mas não sabiam falar. E eu aprendi assim.
21/05 13:46
Os dias estão sendo muito desafiadores. Chegamos no limite. Da pra ver o quão cansado você
está, agora entendo das queixas de quando dizia sentir fazer de tudo para darmos certo. A
minha ingratidão não me deixava enxergar, tratar tudo como um problema não me deixava
escutar. Lembro de escrever dizendo querer te dar o que há de melhor em mim, e hoje em dia
vejo que falhei. Meu egoísmo nos trouxe aqui, no limite. Concluindo a mim mesmo, que nunca
serei digno de ser amado, dando razão pra se viver armado, por ser mais seguro. Pronto pra
apertar o gatilho e atirar ofensas que te machucam, que te causam danos. Meus ouvidos não
notaram o barulho das palavras que bombardeava em mim. E aqui estamos, no limite outra
vez. E foi no limite que tive o desprazer de me encontrar novamente, com aquilo tudo que eu
estava fazendo de errado. Agradeço por você me trazer de volta pra mim.
22/05 13:58
23/05 12:18
Hoje eu acordei mais compreensivo sobre as minhas e as necessidades do outro, é um grande
desafio estar consciente o tempo todo, mas é um trabalho que requer tempo e muito esforço.
O exercício de se manter no presente está sendo um professor em matéria de vida, ao ensinar
o valor de cada momento, das escolhas que decidimos individualmente, e de como isso tem –
particularmente falando – relação direta com meus sofrimentos.
23/06 22:52
Simbiose é não saber o que é seu. É se perder no outro. Homogêneo. Depois que misturado,
custa separar. Alguns já nasceram grudados, outros morrerão em conjunto. E por aí vai, essa
criatura que só existe graças aos retalhos. Enxergada pela obra dos pedaços. Uma associação
íntima estabelecida entre seres de espécies diferentes.