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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE

SÃO PAULO
PUC-SP

ANDRÉ BORTOLINO DE MENDONÇA

A PERÍCIA CONTÁBIL TRIBUTÁRIA COMO ASPECTO A INFLUENCIAR AS


DECISÕES JUDICIAIS

MESTRADO EM CIÊNCIAS CONTÁBEIS E ATUARIAIS

São Paulo
2022
PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO
PUC-SP

ANDRÉ BORTOLINO DE MENDONÇA

A PERÍCIA CONTÁBIL TRIBUTÁRIA COMO ASPECTO A INFLUENCIAR AS


DECISÕES JUDICIAIS

MESTRADO EM CIÊNCIAS CONTÁBEIS E ATUARIAIS

Dissertação apresentada à Banca Examinadora da


Pontifícia Universidade Católica de São Paulo,
como exigência parcial para obtenção do título de
MESTRE em Ciências Contábeis e Atuariais sob
orientação do Prof. Dr. Sérgio Iudícibus.

São Paulo
2022
Banca Examinadora

____________________________________

____________________________________

____________________________________
Dedico esta dissertação de mestrado à minha esposa
Priscila e aos meus filhos Rafael e Maria Fernanda, a
minha maior razão de viver.
AGRADECIMENTOS

Quero deixar meus agradecimentos ao Professor Doutor Sérgio de Iudícibus, mestre incansável
e meu orientador, por todo o suporte e por fazer enxergar outros pontos de vista e,
principalmente, por me orientar com tanta didática para que fosse possível a conclusão desta
dissertação.

Ao Professor Dr. Marcos Severino da Silva Peters pelas sugestões e direcionamento da


pesquisa, parte essencial e complementar a este trabalho.

Ao Coordenador Prof. Dr. Fernando de Almeida Santos pela paciência em acomodar as diversas
demandas em período de Covid, sempre com uma educação magistral.

A Mestra e Professora Priscila Faricelli de Mendonça pela divisão dos pensamentos,


compartilhamento das ideias e objetivos do trabalho e todas as revisões realizadas, mesmo
diante dos dias incansáveis de trabalho.

Aos Magistrados das Execuções Fiscais Federais de São Paulo que contribuíram com a pesquisa
e incentivo ao tema. Apesar do escasso tempo disponível a eles diante das diversas demandas
do judiciário, não hesitaram em colaborar.

Ao Magistrado e Professor Paulo Conrado pela ajuda incontestável em todas as horas.

Aos Mestres Elizabeth Martos, Márcia de Souza Montanholi e José Paulo Giaquinto que me
abriram oportunidade na vida acadêmica e que me motivam a continuar.

À minha madrinha Mércia Xidieh Paulucci grande professora e que sempre me apoiou com sua
amizade e amor.

Aos meus pais Claudio e Sueli que mesmo diante das dificuldades que tiveram souberam me
mostrar os maiores valores da vida.

Aos meus irmãos Thiago Bortolino de Mendonça e Felipe Bortolino de Mendonça, contadores
na prática que sempre contribuíram com meu conhecimento.

Aos meus sogros Antonio Faricelli Filho e Marilu de Freitas Faricelli pela amizade, bate papos,
incentivo à pesquisa e discussão dos caminhos a seguir.

À minha cunhada, a grande mestra Patrícia Bacheschi Gomez de Lamadrid pelas discussões
acerca da metodologia a ser aplicada, contribuindo com sua experiência.

Aos mestres e Peritos Fernando Viana e Alessandra Ribas Secco, grandes mestres na perícia
que puderam me passar o caminho das pedras.

Aos colegas da PUC e aos peritos amigos.


“Não há desculpas para o caminho errado.”
(Mestrando)

“Se os nossos sonhos não assustam a gente, é porque


eles não são grandes o suficiente” (Gleice Cedraz em
“Coisa Mais linda” – Filme)

“Tu, o senhor Deus, és tudo o que tenho, meu futuro


está nas tuas mãos, tu diriges a minha vida” Salmo
16:5
MENDONÇA, André Bortolino de. A Perícia Contábil Tributária como Aspecto a
Influenciar as Decisões Judiciais. 2022. Dissertação (Mestrado em Ciências Contábeis,
Controladoria e Finanças) – Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, São Paulo, 2022.

RESUMO

A dissertação tem como objetivo validar a influência da Perícia Contábil como aspecto de prova
nas decisões judiciais tributárias. Busca-se responder como a Contabilidade pode influenciar
essas decisões, em razão da prejudicialidade entre questões contábeis e critérios legais relativos
à tributação. Para a realização da dissertação utilizou-se de pesquisa bibliográfica sobre
aspectos introdutórios ao tema. Analisou-se a legislação vigente sobre a questão das provas
civil e tributária, demonstrando a relação entre a Contabilidade, o Direito e, mais
especificamente, o Direito Tributário. Foi, ainda, realizada análise temática, com pesquisa
qualitativa, na qual foram entrevistados profissionais do judiciário (exclusivamente
Magistrados no âmbito federal tributário), a fim de se compreender qual a influência das
perícias em suas decisões. Para avaliação de resultados aplicou-se o método de análise temática
de Braun & Clarke para identificar temas e padrões de significado em um conjunto de dados
em relação a uma pergunta de pesquisa. Como contribuição, o presente estudo busca demonstrar
a influência da perícia contábil na sentença judicial tributária e apontar como a contabilidade
poderia ser mais utilizada como instrumento de prova por Contribuintes, Procuradorias e o
Judiciário. A pesquisa, ainda, poderá ser útil em Estados e Municípios brasileiros como objeto
de estudo e para comparação com outros tributos não estudados. Deverá contribuir a reflexão
dos profissionais da área contábil sobre a importância da Perícia Contábil no judiciário
brasileiro.

Palavras-chave: Contabilidade; Direito; Direito Tributário; Perícia Contábil Tributária;


Decisões Judiciais.
MENDONÇA, André Bortolino de. The Tax Accounting Expertise as an Influence Judicial
Decisions. 2022. Dissertation (Master's in Accounting, Controllership and Finance) – Pontifical
Catholic University of São Paulo, São Paulo, 2022.

ABSTRACT

The thesis aims to evaluate how Tax Accounting Expertise can be used in judicial tax decisions.
The purpose is to analyze how accounting can influence decisions, due to the weighting
between accounting issues and taxation. The thesis used bibliographic research on introductory
aspects to the theme. Also, analyzed the current legislation concerning civil and tax evidence,
demonstrating the relationship between Accounting, Law and, more specifically, Tax Law. In
addition, thematical analysis was used, in which judges in charge of federal tax disputes at Sao
Paulo Federal Court were interviewed on the influence of experts accounting analysis in their
judicial trial decisions. Braun & Clarke thematical analysis’ method was utilized to evaluate
themes and patterns of meaning in a set of data in relation to the research questions. Then, thesis
seeks to demonstrate the influence of accounting evidence of proof in judicial decisions,
showing how the accounting analysis of tax disputes shall be more frequently utilized by public
and private lawyers, and by the judiciary. The thesis can still be used in Brazilian States and
Cities in disputes involving other taxes beyond the federal mentioned in the study. The study
shall assist accountants to think about the importance of accounting analysis in the judicial
disputes.

Keywords: Accounting; Law; Tax law; Tax Accounting Expertise; Judicial Decisions
LISTA DE FIGURAS

Figura 1: Escrituração Contábil Fiscal (ECF) 36


Figura 2: Escrituração Contábil Fiscal (ECF) 36
Figura 3: Escrituração Contábil Fiscal (ECF) 37
Figura 4: Escrituração Contábil Fiscal (ECF) 37
Figura 5: Mapa mental das dificuldades para maior utilização da perícia contábil 52
Figura 6: Mapa mental dos benefícios da perícia contábil ao judiciário 53
LISTA DE QUADROS

Quadro 1: DRE e Lucro Real 31


Quadro 2: Lucro Presumido 31
Quadro 3: Lucro Arbitrado 32
Quadro 4: Simples Nacional 32
Quadro 5: Cumulativo - Apuração do PIS e COFINS 33
Quadro 6: Não Cumulativo - Apuração do PIS e COFINS 34
Quadro 7: Apuração do IPI 35
Quadro 8: Controle de Entrevistas 44
Quadro 9: Mapa de códigos 51
Quadro 10: Síntese das Entrevistas 54
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

CFC Conselho Federal de Contabilidade


CRC Conselho Regional de Contabilidade
CPC Comitê de Pronunciamentos Contábeis
RFB Receita Federal do Brasil
IFRS International Financial Reporting Standards
LALUR Livro de Apuração do Lucro Real
IRPJ Imposto de Renda Pessoa Jurídica
CSLL Contribuição Social sobre Lucro Líquido
PIS Programa de Integração Social
COFINS Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social
IPI Imposto sobre Produtos Industrializados
ECD Escrituração Contábil Digital
ECF Escrituração Contábil Fiscal
EFD Escrituração Fiscal Digital
CDA Certidão de Dívida Ativa
SPED Sistema Público de Escrituração Digital
SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO 14
1.1. Contextualização do tema 14
1.2. Delimitação do tema 14
1.3. Justificativa 15
1.4. Objetivos 16
1.4.1. Objetivo geral 16
1.4.2. Objetivo específico 16
1.5. Estrutura 16
2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA 18
2.1. A contabilidade e o direito 18
2.2. O direito contábil 19
2.2.1. O caráter informacional da contabilidade 19
2.3. A contabilidade e seus novos usuários 21
2.4. A contabilidade e sua influência no direito tributário 22
2.4.1. Contabilidade Societária, Fisco e Legislações 23
2.5. O Instituto da Prova no Processo Judicial Brasileiro 24
2.5.1. A prova civil 24
2.5.2. A prova tributária 25
2.6. A perícia contábil 26
2.7. A perícia tributária 27
2.7.1. A perícia tributária na fase administrativa 28
2.7.2. A perícia tributária na fase judicial 29
3. ASPECTOS PRÁTICOS (APURAÇÃO TRIBUTÁRIA, OBRIGAÇÕES
ACESSÓRIAS E DECISÕES EM PROCESSOS TRIBUTÁRIOS FUNDAMENTADA
POR ASPECTOS PERICIAIS) 30
3.1. Apuração tributária 30
3.1.1. Imposto de Renda da Pessoa Jurídica (IRPJ) e Contribuição Social sobre o Lucro
Líquido (CSLL) 30
3.1.2. Programa de Integração Social (PIS) e a Contribuição para o Financiamento da
Seguridade Social (COFINS) 32
3.1.3. Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) 34
3.2. Obrigações acessórias 35
3.3. Decisões em processos tributários fundamentada por aspectos periciais 38
4. METODOLOGIA 42
4.1. Delineamento da pesquisa 42
4.2. População 44
4.3. Instrumentos 44
4.4. Coleta de dados 45
4.5. Critérios de análise 45
5. RESULTADOS DA PESQUISA QUALITATIVA 46
5.1. Dificuldades para maior utilização da Perícia Contábil 46
5.1.1. Aspectos de ausência da solicitação de prova 46
5.1.2. Pagamento pericial 47
5.1.3. Não Ligação Obrigatória entre Direito Tributário e Contabilidade 47
5.1.4. Não relacionamento entre órgãos 48
5.2. Benefícios da perícia contábil ao judiciário 48
5.2.1. Ausência da informação contábil 48
5.2.2. Dependência da contabilidade para aspectos de prova 48
5.2.3. Elemento de prova / instrumento de suporte 49
5.2.4. Influência da perícia 49
6. CONSIDERAÇÕES FINAIS 55
REFERÊNCIAS 58
14

1. INTRODUÇÃO

1.1. Contextualização do tema

O presente estudo busca avaliar qual a influência da Perícia Contábil Tributária como
aspecto de prova a influenciar as decisões Judiciais.
A Perícia Contábil Tributária é um ramo da contabilidade no qual se deve atuar somente
peritos profissionais que tenham formação contábil. A perícia é amplamente utilizada em
processos judiciais que têm como pano de fundo disputas tributárias entre fiscos e contribuintes.

O perito é o profissional com conhecimento notório (Lei 6.404/76, art. 163, § 8°), é
experto que desenvolve a ciência contábil, cuja experiência profissional tem certa
publicidade no meio acadêmico e profissional, em especial pela publicação de obras
com valor doutrinário reconhecido pelo menos por um determinado estrato social, ou
seja, parcela da população que tem interesse no assunto; contador que tem notório
conhecimento da ciência e da política contábil; indivíduo que adquiriu vasto
conhecimento ou habilidade graças à experiência oriunda do estudo científico e da
prática extrajudicial e forense no exercício do múnus público de perito. (HOOG, 2011
p. 10).

Considerando que a Pericial Contábil Tributária não se resume apenas às disposições


contábeis, havendo a necessidade de conhecimento jurídico, este estudo avaliou as legislações
do Direito Civil, Processual Civil e Tributário que fundamentam o tema.
Como contribuição, o presente estudo busca demonstrar a influência da Perícia Contábil
na sentença judicial tributária e apontar o fato de que a contabilidade poderia ser mais utilizada
como instrumento de prova por Contribuintes, Procuradoria e Judiciário. Ainda que a pesquisa
possa ser utilizada em outros Estados brasileiros como objeto de estudo ou em São Paulo para
análise dos demais tributos da esfera estadual e municipal. Deverá ainda contribuir a reflexão
dos profissionais da área contábil sobre a importância da Perícia Contábil no judiciário
brasileiro.

1.2. Delimitação do tema

A pesquisa de campo foi limitada ao entendimento dos Magistrados de São Paulo do


Fórum das Execuções Fiscais Federais. Este Fórum possui 13 (treze) varas que atuam com
15

questões tributárias entre Contribuintes e União Federal em discussões que envolvam


exclusivamente processos tributários federais, tais como: o Imposto de Renda da Pessoa
Jurídica – IRPJ, Contribuição Social sobre Lucro Líquido – CSLL, Programa de Integração
Social – PIS, Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social – COFINS, Imposto
sobre Produto Industrializado – IPI e outros.
Não é objeto deste estudo o entendimento de Magistrados de outras áreas do direito, tais
como: Civil, Trabalhista e Penal, ou ainda, de outros fóruns da Justiça Federal em todo o Brasil.
O estudo está voltado exclusivamente à utilização pericial em processos judiciais
tributários, não envolvendo sua análise em âmbito administrativo.

1.3. Justificativa

A escolha do tema é resultado da atuação do mestrando como perito-contador desde


maio de 2018, que observou haver o requerimento de Perícias Contábeis nas demandas
tributárias autorizadas por magistrados para esclarecer questões que envolvam o conhecimento
contábil.
Na visão do mestrando, há indícios de que a Perícia poderia ser mais utilizada por
contribuintes e procuradorias públicas como instrumento a seu favor, haja vista a relevância e
importância que possui nas decisões prolatadas por Magistrados em casos tributários, objetos
do presente estudo.
O objetivo, assim, é validar a influência da Perícia Contábil como aspecto de prova para
influenciar as decisões judiciais tributárias. Busca-se responder como a Contabilidade pode
influenciar essas decisões, em razão da prejudicialidade entre questões contábeis e critérios
legais relativos à tributação.
Como contribuição, o presente estudo busca demonstrar a influência da Perícia Contábil
na sentença judicial tributária e apontar o fato de que a contabilidade poderia ser mais utilizada
como instrumento de prova por Contribuintes, Procuradoria e Judiciário. Esta pesquisa também
pretende ser útil em São Paulo, para análise dos demais tributos da esfera estadual e municipal
e, também, em outros Estados brasileiros como objeto de estudo. Deverá contribuir a reflexão
dos profissionais da área contábil sobre a importância da Perícia Contábil no judiciário
brasileiro.
16

1.4. Objetivos

1.4.1. Objetivo geral


A dissertação tem como objetivo geral validar a influência da Perícia Contábil como
aspecto de prova para influenciar as decisões judiciais tributárias no âmbito federal do Imposto
de Renda da Pessoa Jurídica – IRPJ, Contribuição Social sobre Lucro Líquido – CSLL,
Programa de Integração Social – PIS, Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social
– COFINS, Imposto sobre Produto Industrializado – IPI e outros. Busca-se responder como a
Contabilidade pode influenciar essas decisões, em razão da prejudicialidade entre questões
contábeis e critérios legais relativos à tributação.

1.4.2. Objetivo específico


O objetivo específico da pesquisa consiste em demonstrar em que medida a
contabilidade poderia ser mais utilizada por Contribuintes, Procuradorias Públicas e Judiciário,
exclusivamente no âmbito tributário federal, na compreensão de controvérsias fiscais
judicializadas para o Imposto de Renda da Pessoa Jurídica – IRPJ, Contribuição Social sobre
Lucro Líquido – CSLL, Programa de Integração Social – PIS, Contribuição para o
Financiamento da Seguridade Social – COFINS, Imposto sobre Produto Industrializado – IPI e
outros, apresentando os benefícios que as discussões tributárias absorvem da utilização de
perícias.

1.5. Estrutura

O estudo divide-se em três partes, a primeira com ênfase em demonstrar a relação entre
a contabilidade e o direito, bem como os aspectos periciais que envolvem a questão diante do
Código Civil, Código de Processo Civil e Código Tributário Nacional – CTN.
Na segunda parte, procurou-se relacionar a Contabilidade e o Direito Tributário através
da explicação das bases tributárias e obrigações acessórias. Adicionalmente, foram citadas
sentenças judiciais que embasaram suas decisões na análise pericial.
Na terceira e última parte, para que fosse possível um aprofundamento acerca da
utilização da Prova Pericial pelos Magistrados Federais da Comarca de São Paulo, atuantes no
17

Fórum das Execuções Fiscais de São Paulo, foram realizadas entrevistas com estes profissionais
com foco em compreender sobre a real influência das perícias em suas decisões.
18

2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

2.1. A contabilidade e o direito

O profissional contábil deve se ater às diversas disposições normativas que cuidam do


reconhecimento, mensuração e divulgação para que possa realizar a escrituração contábil.
As normas na Contabilidade são emitidas pelo Comitê de Pronunciamentos Contábeis
– CPC, pelo Conselho Federal de Contabilidade - CFC e pelos Conselhos Regionais de
Contabilidade – CRC, através de Pronunciamentos, Normas, Resoluções, Portarias,
Deliberações e outros. Esses normativos acabam instruindo diversos aspectos operacionais e
procedimentais da prática contábil.

Percebe-se que a resposta para essas questões passa, fundamentalmente, pelo


entendimento da relação entre a Contabilidade e o Direito. Isso ocorre uma vez que a
contabilidade é, também, alvo de regulação. Órgãos reguladores, dentro de uma
abordagem normativa, estabelecem as leis (princípios, normas, regras,
pronunciamentos técnicos, interpretações, instruções, deliberações, resoluções etc.)
que as empresas devem adotar. (MURCIA, 2010, p. 19-32)

Além desta normatização, deve-se mencionar que a contabilidade está vinculada a


diversas outras disposições legais que acabam por trazer obrigações a serem seguidas. Essas
disposições legais estão inseridas nas leis comerciais e societárias, trabalhistas, cíveis e
tributárias, ou seja, a contabilidade deve demonstrar os fatos ocorridos, mas estes devem estar
de acordo com as normas vigentes. Os contadores que executam e orientam os registros
contábeis “não podem descurar, visto que, de maneira direta ou indireta, elas influenciam na
composição do patrimônio das entidades, que se constitui em sua ocupação fundamental”
(GRECO; AREND, 2012, p. 06).
Portanto, a relação entre Contabilidade e Direito é evidente, fazendo com que aspectos
contábeis estejam intrinsicamente relacionados, seguindo disposições legais e normativas.
Por mais que tais ciências tenham andado por muito tempo separadas pelas mais
diversas razões, é fundamental que haja uma maior aproximação acadêmica e
profissional entre elas. (Pinto, 2019, p. 08).

As ciências existem para o bem. Elas buscam a verdade das coisas e, assim, são justas.
A busca da justiça não é privilégio, e sim, é comum a todas as ciências. Dentre elas a
Contabilidade. Logo, as ciências caminham de mãos dadas o tempo inteiro calçadas
numa verdade única, por esta razão elas dignificam o homem, seu criador, pois estão
acima dos interesses individuais.
19

Respondendo então a indagação que intitula este artigo, podemos confirmar que a
Contabilidade e o Direito sempre caminharão juntos (Pohlmann,1989, p. 01)

2.2. O direito contábil

Há autores que defendem haver um ramo do direito não especificamente difundido, a


saber, o Direito Contábil.
Fernandes (2013) expõe: Ao Direito Contábil cabe disciplinar o registro das operações
econômicas na escrituração, atribuindo as responsabilidades e as implicações jurídicas da
pessoa jurídica (detentora da Contabilidade) com os seus diversos stakeholders. Por
decorrência, nada do que se passa na, para e pela empresa fica despercebido ao Direito Contábil.
Fernandes (2013, p. 90 apud ANDRADE FILHO, 2010, p. 12)

… no Brasil, o Direito Contábil é formado pelo conjunto de normas jurídicas que


dispõem sobre a formação, elaboração e divulgação de demonstrativos contábeis, e
visam à tutela de diversos direitos dos usuários imediatos de tais informações (os
sócios ou acionistas) ou mediatos, como são os investidores potenciais.

Lopes e Martins (2012, p. 54) ensinam

A tradição legal afeta diretamente o tratamento contábil e sua operacionalização.


Como linha geral, percebemos que nos países que adotam o direito romano a
contabilidade sofre um processo de regulamentação muito intenso. O Brasil oferece
um bom exemplo desse fenômeno, pois a Lei 6.404/76, que regula a contabilidade das
sociedades anônimas e o plano de contas das instituições do sistema financeiro
nacional (COSIF), por exemplo.

Assim, a contabilidade não está associada apenas às disposições legais contidas no


Direito Societário, Trabalhista, Cível e Tributário, mas a diversos outros normativos que
regulam o funcionamento dos fatos relevantes sob perspectiva contábil, para que possa atender
seus objetivos.

2.2.1. O caráter informacional da contabilidade


A contabilidade como ciência está suportada por Postulados, Princípios e Convenções
contábeis, sendo estes pilares que propiciam caráter de confiabilidade de suas informações.
Os “postulados normativos em sua formulação, isto é, que prescrevem o que a
Contabilidade deveria fazer ou como deveria ser feita, deveriam ser explicitados e não
simplesmente presumidos por consenso geral ou acordo” (IUDICIBUS, 2021, p. 25).
20

Iudícibus, Martins e Gelbcke (2000, p. 47) ensinam que “os princípios constituem, de
fato, o núcleo central da estrutura contábil. Delimitam como a profissão irá, em largos traços,
posicionar-se diante da realidade social, econômica e institucional admitida pelos Postulados”.
Niyama e Silva (2013, p. 92) mencionam em seus estudos o fato de que “o Conselho
Federal de Contabilidade definiu que a observância dos princípios é obrigatória no exercício
profissional, constituindo condição que legitima as Normas Brasileiras de Contabilidade
(NBC)”.
Verifica-se, diante destas disposições, ser a Contabilidade não apenas um simples
instrumento de registro de informações econômicas e financeiras das empresas, mas uma
ciência pautada por conceitos e critérios pré-estabelecidos. O Caráter informacional da
contabilidade está vinculado ao respeito a certas determinações contidas em Postulados,
Princípios e Convenções para que lhes possam ser atribuídos caráter de confiabilidade e
transparência.
A moderna teoria contábil vem evidenciar que não há necessidade de uma conotação
jurídica, isto é, de personalidade jurídica para identificar-se uma entidade contábil. Uma
sociedade irregular (de fato) pode, perfeitamente, ser uma entidade contábil, destaca Marion
(2012, p. 149).
Nas lições de Marion sobre o Postulado da Continuidade tem-se que

... no caso de se detectar a impossibilidade de prosseguimento do empreendimento


(descontinuidade), por meio de dados esclarecedores (evidências, tais como prejuízos
constantes, liquidação extrajudicial etc.), o contador deverá informar aos usuários dos
relatórios contábeis tal situação” (2012, p. 151)

Niyama e Silva (2013, p. 101) ensinam, pelo princípio da competência, que as receitas
e as despesas devem ser incluídas no resultado do período, ou seja, no momento de sua
ocorrência, independentemente da sua movimentação financeira. Portanto, conforme o regime
de caixa, os fatos que afetam a contabilidade devem ser reconhecidos no momento de sua
ocorrência. Segundo esse regime, os efeitos das transações e outros eventos são reconhecidos
quando ocorrem e são lançados nos registros contábeis e reportados nas demonstrações
contábeis dos períodos a que se referem. (Marion, 2012, pp.159-160)
Niyama e Silva (2013, p. 96) alertam que “o Princípio da Oportunidade se refere ao
processo de mensuração e apresentação dos componentes patrimoniais para produzir
informações íntegras e tempestivas.”
21

Iudícibus aduz, ao explicar este princípio:

Este, exige a apreensão, o registro e o relato de todas as variações sofridas pelo


patrimônio de uma Entidade, no momento em que elas ocorrerem. Cumprido tal
preceito, chega-se ao acervo máximo de dados primários sobre o patrimônio, fonte de
todos os relatos, demonstrações e análises posteriores, ou seja, o princípio da
oportunidade é a base indispensável, a fidedignidade das informações sobre o
patrimônio da Entidade, relativas a um determinado período e com o emprego de
quaisquer procedimentos técnicos (2021, pp. 84-85).

Por esta avaliação pode se perceber que não adianta que os fatos estejam registrados de
modos diversos, estes devem obedecer às normas e critérios, devem estar representados apenas
por informações regulares para que possam gerar certeza e confiança aos usuários.

2.3. A contabilidade e seus novos usuários

O American Institute of Certified Accounts (AICPA) em estudo realizado 1973 já havia


publicado como afirmação geral que

…a função fundamental da Contabilidade (...) tem permanecido inalterada desde seus


primórdios. Sua finalidade é prover os usuários dos demonstrativos financeiros com
informações que os ajudarão a tomar decisões. Sem dúvida, tem havido mudanças
substanciais nos tipos de usuários e nas formas de informação que têm procurado.
(IUDICIBUS, 2021, p. 4)

O que se verifica nos livros de contabilidade é sempre a citação dos mesmos usuários
da contabilidade, quais sejam: pessoas físicas ou jurídicas, internos ou externos. Nos internos,
estão: diretores, gerentes, analistas e assistentes; e nos externos: acionistas, quotistas,
fornecedores, instituições financeiras, governo, sindicatos e outros. O fato é que, além destas
pessoas, quem vem se utilizando destas informações como usuários tem sido o judiciário,
aspecto constatado pelo mestrando em seu dia a dia como profissional Perito-Contador quando
da realização de suas perícias.
Essa utilização ocorre nas mais diversas formas e áreas, como por exemplo: a área civil,
quando os Magistrados buscam obter informações dos Lucros ou Prejuízos Acumulados do
período para análise de danos emergentes e lucros cessantes; a área penal quando se verifica a
ausência de registro de operações contábeis que podem concretizar crimes tributários; a área
societária, quando há necessidade de informação de receitas e despesas contidas nos balanços
patrimoniais para a realização da apuração de haveres, entre outras.
22

Na grande maioria das vezes, essas informações chegam ao judiciário mediante a


requisição de realização de prova pericial pelas partes, ou ainda, quando determinadas pelo
Juízo.
Segundo Santos (1952, p. 210), “é concedida, pela lei processual, a faculdade de
resolver, com a mais ampla liberdade, quanto à admissão da prova pericial. Mas essa liberdade
deve ser entendida e utilizada dentro de certos limites”.
Assim, os magistrados vêm adotando cada vez mais as informações contábeis como
aspecto de prova para suportar suas decisões.
Em estudo realizado na UNC School of Law (North Caroline) conclui-se “Contabilidade
é relevante na oitiva de testemunhas em audiências de processos judiciais, e também para a
compreensão e entendimentos sobre questões e problemas corporativos” (Graham, 1938, p. 20).
Tal assertiva não se mostra diferente quando o assunto é o Direito Tributário e suas decisões,
por exemplo: havendo dúvida se a base de cálculo de um determinado tributo declarado pelo
contribuinte atende ou não aos preceitos da legislação, os Magistrados vêm cada vez mais se
utilizando da contabilidade para sua validação, haja vista não possuírem o conhecimento
contábil necessário ao seu entendimento.
Experience esta, confirmada no mesmo estudo da UNC School of Law (North Caroline)
“a complexa legislação relativa a renda, herança, e outras formas de tributação, e a tendência
de diferentes estados adentrarem simultaneamente em certas questões reforça a importância de
um entendimento de contabilidade” (Graham, 1938, p. 20).

2.4. A contabilidade e sua influência no direito tributário

O Direito Tributário tem se mostrado cada vez mais fascinante, diante dos seus diversos
aspectos, que envolvem discussões entre o Fisco e o Contribuinte. Discute-se, na maior parte
das vezes, valores vultosos e, ainda, possui ampla conexão com a contabilidade.
Nesta área do direito, desde a década de 90 e após a promulgação da Constituição
Federal de 1988, deu espaço a grandes discussões jurídicas, ao passo que a
inconstitucionalidade da exigência de tributos foi muito discutida em seus mais diversos
aspectos.
Em adição às discussões de teses envolvendo as inconstitucionalidades dos tributos,
considerando a dependência que o direito tributário possui em relação aos aspectos contábeis e
também ao surgimento de novas leis tributárias, por exemplo: Lei 11.638/2007, Lei
23

11.941/2009, Lei 12.973/2015 e a criação de diversas obrigações acessórias de cunho contábil


e fiscal, tais quais: SPED, ECD, ECF, EFD e outras, advogados de contribuintes e procuradorias
públicas passaram a procurar na contabilidade outras formas de defesa de seus interesses.
Apesar da incidência do tributo decorrer de criação por lei específica, o fato é que ele
para sua formação (base de cálculo) decorre necessariamente de outras legislações e ainda,
obrigatoriamente da contabilidade para seu reconhecimento e determinação.
Fernandes aponta que,

[...] é bem verdade que a incidência tributária decorre, antes de tudo, da lei – trata-se
do exercício da legalidade, e os efeitos tributários dos fatos e eventos econômicos são
determinados pela legislação tributária, nos termos do artigo 109 do Código Tributário
Nacional – CTN. Por outro lado, a definição, o conteúdo e o alcance de institutos,
conceitos e formas de Direito privado não podem ser alterados pela legislação
tributária, devendo observar o quanto delineado pelo Direito Comercial lato sensu
(Societário, Contratos Comerciais etc.), responsável pela formalização jurídica da
atividade econômica, bem como pelo Direito Contábil, como estabelecido pelo artigo
110 do mesmo CTN. Portanto, a ordem natural das decisões a serem tomadas é:
definição da atividade econômica: formulação da roupagem jurídica (forma): registro
contábil (reconhecimento, mensuração); e, finalmente, identificação da incidência
tributária. (2013, p. 99-100)

Essa dependência é refletida por outros Autores.

No que tange especificamente à relação entre a contabilidade e a base de cálculo do


imposto sobre a renda, Casalta Nabais classifica em três os diversos modelos dessa
relação: (i) modelo de dependência total, no qual há coincidência entre lucro contábil
e fiscal; (ii) modelo de autonomia, em que os lucros contábil e fiscal são apurados de
formas completamente distintas; e (iii) modelo de dependência parcial, no qual o lucro
fiscal parte do lucro contábil, de forma que este último sofre ajustes para se chegar à
base de cálculo do imposto de renda (Pinto, 2019, p. 08)

Portanto, para a formação tributária o registro contábil é aspecto necessário à sua


conjectura, não podendo dela se dissociar.

2.4.1. Contabilidade Societária, Fisco e Legislações

Aspecto a mencionar como relevante foi o advento das Lei nº 11.638/07, da Medida
Provisória nº 449/08, que se converteu na Lei nº Lei 11.638/2007, Lei 11.941/2009 e Lei
12.973/2015, o que acabou por gerar uma revolução contábil.

A Contabilidade sempre foi muito influenciada pelos limites e critérios fiscais,


particularmente os da legislação de Imposto de Renda. Esse fato, ao mesmo tempo
que trouxe à Contabilidade algumas contribuições importantes e de bons efeitos,
limitou a evolução dos Princípios Fundamentais de Contabilidade ou, ao menos,
24

dificultou a adoção prática de princípios contábeis adequados, já que a Contabilidade


era feita pela maioria das empresas com base nos preceitos e formas de legislação
fiscal, os quais nem sempre se baseavam em critérios contábeis corretos. Felizmente,
e aqui cabe o nosso franco e enorme elogio à Receita Federal do Brasil, que auxiliou
de forma marcante na transposição desses problemas. A criação do Regime Tributário
de Transição (RTT) foi uma inestimável contribuição no sentido de que se pudesse
caminhar rumo à convergência internacional de contabilidade nos balanços
individuais sem que os aspectos tributários sejam descumpridos. (IUDÍCIBUS,
MARTINS E GELBCKE, 2013, p. 02)

Com a criação do Regime Tributário de Transição (RTT) buscou-se solucionar a


problemática societária criada junto a Lei das S.A que estipulava controles auxiliários a atender
as determinações fiscais.

Esse problema, que persistiu por muitos anos até o final de 2007, teve uma tentativa
de solução por meio da Lei das S.A. Essa solução foi preconizada pelo art. 177, já em
1976, que determina que a escrituração deve ser feita seguindo-se os preceitos da Lei
das Sociedades por Ações e os “princípios de contabilidade geralmente aceitos’’. Para
atender à legislação tributária, ou outras exigências feitas à empresa que determinem
critérios contábeis diferentes dos da Lei das Sociedades por Ações ou dos princípios
de contabilidade geralmente aceitos, devem ser adotados registros auxiliares à parte.
Tal disposição acabou por tornar a contabilidade independente e desvinculada de
legislações específicas, muitas vezes de cunho especificamente fiscal, sendo um
enorme avanço a independência da ciência contábil em relação às demais ciências, no
qual aqui procura vincular. (IUDÍCIBUS, MARTINS E GELBCKE, 2013, p. 02)

2.5. O Instituto da Prova no Processo Judicial Brasileiro

2.5.1. A prova civil


Ao elencar o instituto da prova, o Código Civil Brasileiro estipula os meios pelos quais
eles podem ser aceitos:

Art. 212. Salvo o negócio a que se impõe forma especial, o fato jurídico pode ser
provado mediante:
I - confissão;
II - documento;
III - testemunha;
IV - presunção;
V – perícia.

Da interpretação dos Incisos II e V é possível dizer que tanto a utilização de documentos


podem sustentar informações importantes e relevantes, quanto à aplicação pericial pode ser
considerada como prova a ser utilizada nos meios processuais.
O Código Civil, conforme o art. 226, sustenta que os livros e fichas dos empresários são
aspectos de prova para as sociedades: “Os livros e fichas dos empresários e sociedades provam
25

contra as pessoas a que pertencem, e, em seu favor, quando, escriturados sem vício extrínseco
ou intrínseco, forem confirmados por outros subsídios.”

Tomé (2008, p. 114) alerta que

a despeito do dispositivo no art. 226 do Código Civil, cuja literalidade aparenta


conferir caráter de prova plena aos documentos ali relacionados, essa modalidade de
prova documental, assim como qualquer outro meio probatório tributário, ostenta o
qualificativo da relatividade, podendo ser ilidida por prova contrária, demonstrando-
se a falsidade da escrituração, realizada de modo inadvertido ou proposital.”

No mesmo sentido, o Novo Código de Processo Civil, no Capítulo “Das Provas” impõe
em seu artigo 418 que as reproduções digitalizadas, ou seja, os livros empresariais, fazem prova
em favor do autor “Os livros empresariais que preencham os requisitos exigidos por lei provam
a favor de seu autor no litígio entre empresários.”

O mencionado diploma, assevera ainda em seu artigo 425 inciso VI:

Art. 425. Fazem a mesma prova que os originais:


VI – as reproduções digitalizadas de qualquer documento público ou particular, quando
juntadas aos autos pelos órgãos da justiça e seus auxiliares, pelo Ministério Público e seus
auxiliares, pela Defensoria Pública e seus auxiliares, pelas procuradorias, pelas repartições
públicas em geral e por advogados, ressalvada a alegação motivada e fundamentada de
adulteração.

Portanto, a disposição jurídica apoia-se na contabilidade como um dos aspectos de


prova, desde que estes estejam escriturados sem vícios extrínsecos ou intrínsecos.

2.5.2. A prova tributária


Na esfera tributária, tal questão pode ser avaliada sob dois aspectos, no âmbito
administrativo ou no âmbito judicial. No âmbito administrativo federal, os comandos jurídicos
que estipulam e regulam as relações dos contribuintes com o Fisco estão emanados no Decreto
70.235 de 1972, instrumento que disciplina o processo administrativo fiscal.
Em análise ao referido Decreto 70.235 de 1972, verifica-se que a exigência do crédito
tributário e aplicação de penalidade deverão ser instituídos por vários elementos, dentre eles a
“Prova”.
26

Art. 9° A exigência do crédito tributário e a aplicação de penalidade isolada serão


formalizados em autos de infração ou notificações de lançamento, distintos para cada tributo
ou penalidade, os quais deverão estar instruídos com todos os termos, depoimentos, laudos e
demais elementos de prova indispensáveis à comprovação do ilícito.

No sentido oposto, o contribuinte quando de sua defesa deverá também comprovar suas
alegações.
Art. 16º. A impugnação mencionará:
III - os motivos de fato e de direito em que se fundamenta, os pontos de discordância e as
razões e provas que possuir.
§ 4º A prova documental será apresentada na impugnação, precluindo o direito de o
impugnante fazê-lo em outro momento processual, a menos que:
a) fique demonstrada a impossibilidade de sua apresentação oportuna, por motivo de força
maior;
b) refira-se a fato ou a direito superveniente;
c) destine-se a contrapor fatos ou razões posteriormente trazidas aos autos.

Por outro lado, no âmbito judicial é possível identificar os aspectos de prova


dispostos no Código Tributário Nacional – CTN
Art. 149. O lançamento é efetuado e revisto de ofício pela autoridade administrativa nos
seguintes casos:
VIII - quando deva ser apreciado fato não conhecido ou não provado por ocasião do
lançamento anterior;

O Art. 195 do mesmo diploma informa que os livros obrigatórios da escrituração


comercial e fiscal são aptos à produção da prova tributária até que ocorra a prescrição dos
créditos tributários, período que deixa de ser possível a cobrança pela fiscalização.

Art. 195. Para os efeitos da legislação tributária, não têm aplicação quaisquer disposições
legais excludentes ou limitativas do direito de examinar mercadorias, livros, arquivos,
documentos, papéis e efeitos comerciais ou fiscais, dos comerciantes industriais ou
produtores, ou da obrigação destes de exibi-los.
Parágrafo único. Os livros obrigatórios de escrituração comercial e fiscal e os comprovantes
dos lançamentos neles efetuados serão conservados até que ocorra a prescrição dos créditos
tributários decorrentes das operações a que se refiram.

Assim, levando tais disposições até a contabilidade, poderia se afirmar que quando estes
documentos e registros forem avaliados por profissional especializado, poderão ser
instrumentos hábeis a serem utilizados como prova.

2.6. A perícia contábil

O Conselho Federal de Contabilidade por meio da Norma Brasileira de Contabilidade,


NBC TP 01 (R1) de 19 de março de 2020, define:
27

A perícia contábil é o conjunto de procedimentos técnico-científicos destinados a


levar à instância decisória elementos de prova necessários a subsidiar a justa solução
do litígio ou constatação de fato, mediante laudo pericial contábil e/ou parecer pericial
contábil, em conformidade com as normas jurídicas e profissionais e com a legislação
específica no que for pertinente.

A disposição em questão esclarece a função de Perito-contador perante o Conselho


Federal de Contabilidade – CFC como o profissional apto a produção da prova.
Para Alberto (1996), perícia contábil é “um instrumento técnico-científico, prova ou
demonstração, quanto a veracidade de situações, coisas ou fatos oriundos das relações efeitos e
haveres que fluem do patrimônio de quaisquer entidades”.
O perito possui total independência em relação à entidade periciada, além de ter plena
liberdade de juízo científico. Conforme Resolução CFC 1.244/09, o perito é o contador
regularmente registrado em Conselho Regional de Contabilidade, que exerce a atividade
pericial de forma pessoal, devendo ser profundo conhecedor, por suas qualidades e experiência,
da matéria periciada. A Lei Societária exige o notório conhecimento de perito, conforme
destaca Hoog (2012).
Vale ilustrar, trazendo Tomé (2008, p. 126), para quem “a realização de perícia é
necessária quando a complexidade da matéria demanda o exame de objetos por pessoas
especializadas”.
Uma perícia tem por objetivo demonstrar a verdade real dos fatos ou atos alegados,
aquilo sobre o qual incide um direito ou uma obrigação. Portanto, é elemento de prova, diferente
da auditoria, que é apenas uma opinião. A linguagem adotada nos laudos periciais deve ser
compatível com a capacidade de quem vai utilizar o laudo (HOOG, 2012).
Logo, a perícia contábil pode ser instrumento hábil à constituição da prova, bastando
para isto que ela seja realizada por profissional capaz de aplicar a técnica necessária ao
conhecimento dos fatos que se encontram discutidos naquela demanda.

2.7. A perícia tributária

Muitas demandas tributárias surgem devido à interpretação dada pela fiscalização


Federal, Estadual, Municipal ou Distrital na análise das legislações vigentes e diante das provas
e documentos fiscais apresentadas pelos Contribuintes.
28

Assim, o instrumento pericial é faculdade que pode também ser utilizada nas diversas
demandas tributárias (administrativas ou judiciais) ou, ainda, para que se possa avaliar riscos
tributários, caso não se tenha iniciado qualquer destas fases.

2.7.1. A perícia tributária na fase administrativa


O processo administrativo fiscal federal encontra-se regido pelo Decreto n. 70.235 de
1972. Sobre ele, Tomé (2008, p. 127) ensina que

A realização de prova pericial é inteiramente compatível com os processos


administrativos tributários, encontrado expressa previsão no Decreto n. 70.235/72.
Nos termos do seu art. 16, IV, quando o contribuinte tiver interesse na realização de
exames periciais, deve, além de requerê-los expressamente em sua peça impugnatória,
formular os quesitos pertinentes e, na mesma oportunidade, indicar seu assistente
técnico, com a respectiva qualificação e endereço. O pedido, portanto, há de ser
específico, não bastando efetuar mera referência ao assunto, de maneira genérica: é
preciso indicar, de modo pormenorizado, o elemento fático que se pretende ver
examinado.

De forma a ilustrar a questão em outras esferas, a Lei n. 13.457/2009 rege o processo


administrativo fiscal no Estado de São Paulo e em seu artigo 37 parágrafo 1º dispõe acerca da
utilização das perícias de forma implícita.

Artigo 37 - A defesa será apresentada na repartição pública competente, nela devendo


constar:
I - a autoridade a quem é dirigida;
II - a qualificação do autuado e a identificação do signatário;
III - as razões de fato e de direito sobre as quais se fundamenta.
§ 1º - A defesa deverá ser instruída com os documentos, demonstrativos e demais
elementos materiais destinados a comprovar as alegações feitas, inclusive laudos e
pareceres técnicos que o autuado entender necessários para o pleno esclarecimento da
matéria controvertida.

Assim, tal prerrogativa cabe ser requerida pelo contribuinte que possui interesse em
fazer esta prova já na esfera administrativa.
O fato da utilização deste artifício na fase administrativa poderá muito favorecer a
defesa do contribuinte, antecipando qualquer disposição de provas que venha a ser necessária,
caso o processo precise seguir para fase judicial.
29

2.7.2. A perícia tributária na fase judicial


O Direito Tributário tem como aspecto subsidiário as normas do Código de Processo
Civil – CPC. Corroborando suas disposições, havendo a fase pericial, esta estará pautada nos
aspectos sobre os quais dispõe o Código de Processo Civil (CPC).
Os Artigos 464 e 465 do Código de Processo Civil (CPC) dispõem:

Art. 464. A prova pericial consiste em exame, vistoria ou avaliação.


§ 1º O juiz indeferirá a perícia quando:
I – a prova do fato não depender de conhecimento especial de técnico;
II – for desnecessária em vista de outras provas produzidas;
III – a verificação for impraticável.
Art. 465. O juiz nomeará perito especializado no objeto da perícia e fixará de imediato
o prazo para a entrega do laudo.

Com base nos artigos referidos, havendo necessidade de esclarecimentos de ordem


técnica, magistrados responsáveis por questões tributárias podem utilizar deste recurso pericial
para amparar suas decisões.
30

3. ASPECTOS PRÁTICOS (APURAÇÃO TRIBUTÁRIA, OBRIGAÇÕES


ACESSÓRIAS E DECISÕES EM PROCESSOS TRIBUTÁRIOS
FUNDAMENTADA POR ASPECTOS PERICIAIS)

3.1. Apuração tributária

Para se que possa demonstrar a dependência do direito tributário com relação à


contabilidade, no que tange aos registros das receitas, despesas e outros documentos contábeis
ou fiscais que impactam as apurações tributárias, se faz necessário exemplificar aspectos de
cada tributo de forma individual.
Considerando que o objetivo deste estudo está voltado ao entendimento da utilização
pericial pelos Magistrados lotados no Fórum das Execuções Fiscais de São Paulo, que julgam
especificamente casos no âmbito tributário federal, exemplificar-se-á 5 (cinco) principais
tributos federais de maior complexidade baseado na legislação vigente: Imposto de Renda da
Pessoa Jurídica (IRPJ), Contribuição Social sobre Lucro Líquido (CSLL), Programa de
Integração Social (PIS), Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social (COFINS),
Imposto sobre Produto Industrializado (IPI) e Simples Nacional. Adicionalmente, será
apresentado exemplo de obrigação acessória relacionada a estes tributos.

3.1.1. Imposto de Renda da Pessoa Jurídica (IRPJ) e Contribuição Social sobre o Lucro
Líquido (CSLL)
O IRPJ e a CSLL são tributos de competência federal. Sua tributação se dá através de
três formas: Lucro Real, Lucro Presumido, Lucro Arbitrado e Simples Nacional.
Lucro Real é a única forma de tributação sobre o lucro das empresas, sendo apurado a
partir do resultado registrado na contabilidade. O Lucro Real é obtido após ajustes que
contemplam “receitas e despesas” que entram no “resultado contábil” e não são consideradas
no resultado fiscal e vice-versa, podendo ser compensados os prejuízos fiscais de períodos
anteriores. Ao fim, sobre este valor aplicam-se as alíquotas vigentes de cada tributo (quadro 1).
31

Quadro 1: DRE e Lucro Real


Demonstração do Resultado do Exercicio
Faturamento Bruto
(-) IPI no Faturamaneto Bruto
(=) Receita Bruta
(+) Receita de Vendas
(+) Receita de Serviços
(-) Tributos sobre Vendas e Serviços (Pis, Cofins, ICMS, ISS)
(-) Custo de Mercadorias e Serviços
(-) Despesas Operacionais
(-) Despesa de Contigência
(+) Receita Financeiras
Lucro Líquido
(-) Despesa IRPJ/CSLL Corrente
Lucro Líquido após Tributos

LALUR
(+) Adições
(-) Exclusões
LUCRO REAL
(-) Compensação de Prejuízo
LUCRO REAL após Compensação
(-) Despesa IRPJ
(-) Despesa CSLL
Fonte: Iudícibus; Martins; Gelbcke, 2013, p, 293.
Adaptado pelo autor.

Lucro Presumido é um regime de tributação que estima, ou melhor, presume o lucro que
será objeto de tributação. O lucro é apurado a partir de percentuais definidos em lei e que devem
ser aplicados sobre a “receita bruta auferida no período de apuração,” obtida pela empresa
(quadro 2).

Quadro 2: Lucro Presumido


Apuração IRPJ e CSLL
(+) Receita de Vendas
(+) Receita de Serviços
(+) Outras Receitas Não Operacionais

Percentual de presunção

(-) Despesa IRPJ/CSLL Corrente


Fonte: Iudícibus; Martins; Gelbcke, 2013, p. 293.
Adaptado pelo autor.
32

Lucro Arbitrado é a desconsideração dos números apresentados pela contabilidade. É


exigido normalmente quando a escrituração contábil é considerada imprestável pelo Fisco.
Apesar das informações contábeis não serem 100% utilizáveis, o fisco deverá tributar as receitas
baseado em documentos de prova, que podem ser notas fiscais, extratos bancários, livros fiscais
de entrada e saída de mercadorias, entre outros (quadro 3).

Quadro 3: Lucro Arbitrado


Apuração IRPJ e CSLL
(+) Receita de Vendas
(+) Receita de Serviços
(+) Outras Receitas Não Operacionais

Percentual de presunção

(-) Despesa IRPJ/CSLL Corrente


Fonte: Iudícibus; Martins; Gelbcke, 2013, p. 293.
Adaptado pelo autor.

O Simples Nacional é calculado com base na Receita Bruta anual da empresa, através
da aplicação da alíquota e da parcela dedutível indicadas nos Anexos do Simples Nacional
correspondente à atividade da empresa (quadro 4).

Quadro 4: Simples Nacional


Simples Nacional
Faturamento do mês

Aliquota efetiva

Simples a pagar
Fonte: Brasil, Receita Federal do Brasil.
Adaptada pelo autor.

3.1.2. Programa de Integração Social (PIS) e a Contribuição para o Financiamento da


Seguridade Social (COFINS)
O PIS e a COFINS são tributos de competência federal. Suas formas de tributação
podem se dar através de dois regimes de tributação, a modalidade Cumulativa ou a Não
cumulativa.
33

No regime Cumulativo (quadro 5), o contribuinte calcula a base que formará o valor
devido de acordo com suas “receitas” auferidas no mês (Faturamento), sem a possibilidade de
descontar créditos sobre os “custos e despesas” incorridas. Depois, aplica-se a alíquota devida
para cada tributo.

Quadro 5: Cumulativo - Apuração do PIS e COFINS


Apuração Pis e Cofins
(+) Receita de Vendas
(+) Receita de Serviços

Percentual de Tributação

(-) Despesa Pis / Cofins


Fonte: Iudícibus; Martins; Gelbcke, 2013, p. 293.
Adaptado pelo autor.

Na modalidade Não Cumulativa (quadro 6), o contribuinte calcula o valor devido a


partir de base apurada pela soma das suas “receitas” mensais, descontando os valores incorridos
com custos ou despesas no mesmo período (créditos). Depois, aplica-se a alíquota devida para
cada tributo.
34

Quadro 6: Não Cumulativo - Apuração do PIS e COFINS


Apuração Pis e Cofins
(+) Receita de Vendas
(+) Receita de Serviços

Percentual de Tributação

Pis e Cofins sobre Receitas (a)

(-) Despesas de Produtos para Revenda


(-) Despesas com Insumos
(-) Despesas com Energia

Percentual sobre Créditos

Pis e Cofins sobre créditos (b)

(-) Despesa Pis / Cofins (a) - (b)


Fonte: Iudícibus; Martins; Gelbcke, 2013, p.293.
Adaptado pelo autor.

3.1.3. Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI)


O IPI incide sobre qualquer operação que modifique a natureza, o funcionamento, o
acabamento, a apresentação ou a finalidade de um produto, ou o aperfeiçoe para o consumo.
Tem como fato gerador a saída do produto do estabelecimento industrial ou equiparado e
desembaraço aduaneiro de produtos de procedência estrangeira. O IPI é um imposto não-
cumulativo, o que significa que a legislação autoriza a apropriação de créditos, que serão
deduzidos do valor a recolher pelo contribuinte, de modo que o imposto incide sempre sobre o
valor agregado, conforme apresenta o quadro 7:
35

Quadro 7: Apuração do IPI


Apuração IPI
Valor da Mercadoria
Base de cálculo (Valor do Produto)

Percentual de Tributação

Valor do IPI devido (a)

(-) Despesas com Matéria Prima


(-) Despesas com Produto Intermediário
(-) Despesas com Matérial de Embalagem

Percentual sobre Créditos

IPI sobre créditos (b)

(-) Despesa IPI (a) - (b)


Fonte: Iudícibus; Martins; Gelbcke, 2013, p. 293.
Adaptado pelo autor.

Da análise das bases de cálculo destes tributos, verifica-se que as informações


necessárias à sua formação se encontram necessariamente registradas na contabilidade, ou seja,
são de âmbito contábil ou fiscal.

3.2. Obrigações acessórias

As obrigações acessórias são instrumentos auxiliares exigidos pelas autoridades fiscais


para coletar os dados referentes às operações das empresas. Esses dados são utilizados para
apurar os impostos, tributos, encargos e contribuições, que constituem a obrigação principal.
(Sevilha, 2021).
São, assim, obrigações que as empresas possuem da entrega de informações ao Fisco
Federal, Estadual e Municipal. Dentre essas obrigações estão as demonstrações contábeis e
fiscais dos contribuintes.
Para que se possa trazer um exemplo de obrigação acessória criada para que o
contribuinte forneça ao Fisco suas informações do IRPJ e da CSLL, cita-se a Escrituração
Contábil Fiscal (ECF) que veio substituir a antiga Declaração de Informações Econômico-
Fiscais da Pessoa Jurídica (DIPJ), a partir do ano-calendário 2014.
36

Destaca-se na ECF alguns exemplos, apresentados nas figuras 1 a 4, que podem


demonstrar a vinculação dos seus aspectos contábeis.
Figura 1: Programa de Escrituração Contábil Fiscal (ECF)

Fonte: Brasil, Receita Federal do Brasil.

Figura 2: Programa de Escrituração Contábil Fiscal (ECF)

Fonte: Brasil, Receita Federal do Brasil.


37

Figura 3: Programa de Escrituração Contábil Fiscal (ECF)

Fonte: Brasil, Receita Federal do Brasil.

Figura 4: Programa de Escrituração Contábil Fiscal (ECF)

Fonte: Brasil, Receita Federal do Brasil.


38

Da análise da obrigação acessória em referência, verifica-se que as informações


reportadas neste âmbito possuem natureza de ordem contábil ou fiscal, ou seja, mais uma
maneira de demonstrar a dependência entre direito tributário e contabilidade.

3.3. Decisões em processos tributários fundamentada por aspectos periciais

Para complementar os exemplos mencionados com o intuito de demonstrar a vinculação


entre a Contabilidade e o Direito Tributário, este estudo traz um levantamento de trechos de
sentenças de processos julgados no Fórum das Execuções Fiscais Federais de São Paulo que
tiveram como ferramenta aspectos contábeis e fiscais para manutenção da prova tributária.

Tributo: IRPJ
Decisão: Sentença
Natureza Processual: Embargos à Execução Fiscal

[...]
“Foi deferida a prova pericial contábil (fls. 179).

Veio o laudo pericial a fls. 291/309. Manifestação da embargante sobre a perícia a ID


6367598 e de seu assistente técnico a ID 36406256. Manifestação da embargada sobre
o laudo pericial da ID 58500432.
[...]
É o relatório. DECIDO
[...]
Isso não bastasse, a alocação, pela embargada, dos créditos da embargante, para a
quitação de débitos de IRPJ referentes a outubro e novembro de 1997 está comprovada
nos autos pelas “telas” referidas pelo órgão da SRF em seu parecer, que demonstram
que:

(i) os DARFs nos valores de R$ 2.813,50, R$ 23.406,03 e R$ 60.782,96 foram


alocados pela RFB para quitação de débito de IRPJ relativo a out/1997, no valor de
R$ 194.408.00 (fls. 235/237);
(ii) os DARFs nos valores de R$ 44.329,16 e R$ 6.857,67 foram alocados pela RFB
para quitação de débito de IRPJ relativo a nov/1997, no valor de R$ 202.281,49 (fls.
239/240).

De outra parte, as cópias da DCTF relativa ao 4º trimestre de 1997 (fls. 255/263)


demonstram que a alocação de créditos operada pela embargada obedeceu aos termos
postos pela própria embargante na declaração.

Esses dois pontos também foram confirmados pelo laudo pericial contábil, como tem-
se da resposta ao quesito 1:

“1. Cotejando os Comprovantes de Arrecadação acostados as fls. 118, 120, 122, 124
e 128 e as Informações lançadas na CDA (cf. cópias acostadas as fls. 119, 121, 123,
125, 127 e 129), informe o Sr. Perito se: (a) Os valores recolhidos sob o código "2362"
39

(IRPJ) correspondem aos débitos principais e respectivos períodos de apuração


apontados na CDA; Resposta: Os "Comprovantes de Arrecadação", às fis. 118, 120,
122, 124 e 128, cotejados com as informações lançadas na MA, correspondem aos
débitos do valor principal e respectivos períodos de apuração apontados na MA, às
fis. 34/47. Entretanto, os valores .... aos períodos de fevereiro/1997, março/1997,
maio/1997, junho/1997 e julho/1997 foram utilizadas conforme informações da
DCTF (fls. 255/263) e fls. 221 (resposta do ofício pela RFB) para compensação dos
períodos de outubro/1997 e novembro/1997 (vide anexo n'01).” (fls. 297)
(...)

Pelo exposto, JULGO PARCIALMENTE PROCEDENTES OS EMBARGOS, nos


termos da fundamentação, para declarar:
(Processo n. 0024319-37.2013.4.03.6182 – Justiça Federal – Execuções Fiscais de
São Paulo - Data:09/09/2021 / Publicado D.O. 18/11/2021)

A sentença é clara em citar que o Laudo Pericial Contábil confirmou haver comprovação
que os comprovantes de arrecadação apresentados (juntados ao processo) eram correspondentes
aos tributos em discussão, confirmando a importância da análise pericial a decisão.

Tributo: IRPJ
Decisão: Sentença
Natureza Processual: Embargos à Execução Fiscal

“A perícia realizada, associada aos documentos juntados, revela, com efeito, que as
objeções trazidas pela embargante — basicamente relacionadas à ideia de pagamento
— são inviáveis.

Os créditos em discussão, lembro de logo, foram constituídos por força de declaração


apresentada pela própria embargante. Recolhida parte do crédito declarado a título de
IRPJ (Certidão de Dívida Ativa 80.2.04.038665-94), dúvida não há de que o valor
respectivo foi deduzido do principal, daí resultando a substituição do título originário.

Por outro lado, vale salientar que a perícia efetivada in concreto, indo além da análise
da DCTE, tratou de confrontá-la com a DIPJ correlata, com o razão e com os
documentos de suporte produzidos pela contabilidade da embargante, trabalho que
permitiu a constatação, para ambas as inscrições, de que os recolhimentos trazidos
pela embargante não quitavam a integralidade dos valores exigidos. Esses valores
encontram-se especificados na resposta ao quesito 2 (fls. 377/9), ocasião em que foi
atestado, ademais de tudo, que parte dos pagamentos invocados pela embargante
alcançariam CNPJs diferentes. Nessa linha, ressalte-se que os recolhimentos de R$
459.377,09 e de R$ 184.040,58 declarados na DCTF da embargante foram
certificadamente vinculados a outras empresas, tudo a justificar seu não
reconhecimento.

Ex positis, julgo improcedentes os presentes embargos, mantendo intacta a pretensão


executória.”

(Processo n. 0032670-72.2008.403.6182 – Justiça Federal – Execuções Fiscais de São


Paulo - Data:03/03/2020 / Publicado D.O. 03/03/2020)
40

A sentença ao citar a Perícia acaba por não concordar com as alegações trazidas pelo
contribuinte em sua defesa, utilizando referido posicionamento para julgar improcedente o
processo em desfavor do contribuinte.

Tributo: PIS
Decisão: Sentença
Natureza Processual: Embargos à Execução Fiscal

“Laudo Pericial – fls. 290/312.

Esclarecimentos do perito às fls. 338/339.

Decido.

Na hipótese dos autos, a parte embargante, por intermédio das DCTFs referentes às
competências de julho a dezembro de 1997, formalizou, de ofício e por sua conta e
risco, a compensação do crédito tributário em cobrança na execução fiscal em apenso
com o que apurado nos autos do procedimento administrativo n. 108030.002276/96-
83, conforme relatado pelo senhor perito da seguinte forma:

“A resposta é negativa, não se encontram nos autos ou foram juntados posteriormente


quaisquer PERD/COMPs para a compensação dos referidos tributos lançados na CDA
em execução.” (Fls. 330 dos autos)
(...)

Nessa quadra, em que pese o “expert” do juízo ter concluído, em seu parecer técnico,
que a embargante detinha saldo de Pis a seu favor, é certo que a compensação não foi
formulada e homologada no âmbito administrativo por razões puramente imputáveis
ao contribuinte.......
(...)
Ante o exposto, JULGO EXTINTO O PROCESSO, SEM RESOLUÇÃO DO
MÉRITO.......
(Processo n. 0050815-40.2012.403.6182– Justiça Federal – Execuções Fiscais de São
Paulo - Data:18/02/2019 / Publicado D.O. 02/04/2019)

A sentença ao citar a conclusão pericial, acabou por decidir em desfavor do contribuinte


por aspectos que fogem ao escopo pericial, demonstrando haver casos que podem existir outras
interpretações que devem ser avaliadas pelo magistrado na tomada de sua decisão.

Através dos exemplos destes julgados constata-se que foram primordiais para a razão
de decidir dos casos concretos:
I. a origem das informações tributárias registrada na contabilidade e em aspectos fiscais
(obrigações acessórias);
II. a prova tributária associada à análise de um expert contábil;
41

III. a Perícia Tributária como ferramenta apta a influenciar as decisões judiciais.

Para poder avaliar com mais propriedade a relação entre o processo de tomada de
decisões judiciais nos casos tributários e a perícia contábil realizada em âmbito judicial, foi
realizada pesquisa de campo, a qual será retratada no capítulo subsequente.
42

4. METODOLOGIA

4.1. Delineamento da pesquisa

Como aspecto introdutório ao estudo, utilizou-se de pesquisa bibliográfica acerca do


tema para sustentar o argumento sobre a relação entre a contabilidade e o direito.
Depois, analisou-se a legislação vigente que normatiza a questão da prova civil e
tributária, utilizando-se das disposições do Código Civil, Código de Processo Civil e Código
Tributário Nacional.
Como segundo passo do estudo procurou-se explicar aspectos das apurações tributárias
de forma direta, como são calculados os tributos federais: IRPJ, CSLL, PIS, COFINS e IPI e o
registro em obrigações acessórias para que pudesse ficar demonstrado a vinculação entre a
Contabilidade e o Direito Tributário.
Adicionalmente, foi utilizada pesquisa documental para citação de decisões judiciais
que comprovam a vinculação entre a Contabilidade e o Direito Tributário, bem como a
utilização pericial como ferramenta à prova constituída. Ou seja, foram apresentadas a
importância e utilidade da perícia, bem como a intrínseca relação entre Direito Tributário e
Contabilidade, conforme capítulo 2. Ainda, exemplificou-se como as decisões judiciais de
controvérsias tributárias se pautam em perícia.
Nesse contexto, o estudo entende como relevante realizar pesquisa de campo, o que foi
feito a partir de entrevistas com Magistrados, que consiste em um público de acesso mais
restrito, com vistas a entender sua percepção sobre a importância da perícia contábil em suas
razões de decidir.
Desse modo, no terceiro e último passo do estudo, para aspectos de conclusão e análise
de resultados, foram entrevistadas pessoas do judiciário (exclusivamente Magistrados) para
colher informações subjetivas, tais como percepções e opiniões sobre a influência das perícias
em suas decisões. Sendo tal aspecto submetido ao comitê de ética. Assim, utilizou-se as
entrevistas como forma de coletar dados para a realização de pesquisa qualitativa.
A entrevista é um encontro entre duas pessoas, a fim de que uma delas obtenha
informações a respeito de determinado assunto, mediante uma conversação de natureza
profissional. É um procedimento utilizado na investigação social, para a coleta de dados ou para
43

ajudar no diagnóstico ou no tratamento de um problema social (MARCONI; LAKATOS,


2003).
O tipo de entrevista aplicado aos entrevistados foi de cunho padronizado ou estruturado:
é aquela em que o entrevistador segue um roteiro previamente estabelecido e as perguntas feitas
ao indivíduo são predeterminadas. Ela se realiza, de preferência, com pessoas selecionadas de
acordo com um planejamento (MARCONI; LAKATOS, 2003).
Como diretriz, as entrevistas foram organizadas em etapas:
− Etapa I – Contato inicial: o pesquisador entrou em contato com um Magistrado como
ponto focal, explicando a finalidade da pesquisa, alinhando a melhor forma a ser aplicada.
− Etapa II – Formulação de perguntas: As perguntas foram padronizadas obedecendo um
roteiro para que o entrevistado pudesse responder livremente.
− Etapa III – Registro das Respostas: As entrevistas ocorreram por meio da plataforma
Teams e foram gravadas com consentimento de todos os entrevistados, cientes que não
teriam seus nomes revelados (havendo apenas 1 (um) questionário recebido por e-mail).
Depois, realizou-se a transcrição das respostas usando as mesmas palavras ditas pelos
entrevistados, procurando evitar qualquer interpretação diferente daquilo que foi
respondido.
As entrevistas foram adaptadas, partindo-se dos três tipos básicos de entrevistas
descritos por Patton (2002), optando-se por questionário fechado e entrevista aberta
padronizada.
As questões estavam direcionadas para: 1 - relação entre Direito Tributário x
Contabilidade; 2 - utilização da Contabilidade no processo tributário; 3 - Utilização de Laudos
Contábeis nas decisões.
O questionário continha 5 (cinco) perguntas e as entrevistas foram realizadas no período
de janeiro a fevereiro de 2022. Conforme descrição no Quadro 8:
44

Quadro 8: Controle de Entrevistas


Número da Data da
Entrevista Entrevista Cargo Método Duração
1 14/01/2022 Juiz Teams 18m 23s
2 14/01/2022 Juiz Teams 19m 14s
3 17/01/2022 Juiz Teams 10m 46s
4 18/01/2022 Juiz Teams 7m 46s
5 18/01/2022 Juiz Teams 21m 01s
6 20/01/2022 Juiz Teams 16m 52s
7 28/01/2022 Juiz Teams 26m 33s
8 04/02/2022 Juiz Teams 11m 36s
9 16/02/2022 Juiz E-mail NA
NA = Não avaliado
Fonte: Dados do autor.

4.2. População

A população desta dissertação foca-se em pessoas que estão diretamente ligadas à


utilização da perícia contábil-tributária como instrumento de suporte para decisões judiciais no
âmbito federal.
A amostra realizada adotou como ponto focal o entendimento dos Magistrados lotados
no Fórum das Execuções Fiscais Federais de São Paulo. Os processos que ali tramitam
envolvem em sua grande maioria Execuções Fiscais e Embargos à Execução, voltadas às
questões de ordem tributária no âmbito federal.
O Fórum das Execuções Fiscais Federais de São Paulo é formado por 13 (treze) Varas
possuindo cada uma delas 1 (um) juiz titular. Foram entrevistados 09 (nove) juízes de um total
de 13 (treze), gerando um percentual de 69,2% (por cento) a validar a amostra realizada.

4.3. Instrumentos

Foram realizadas entrevistas com magistrados do Fórum das Execuções Fiscais Federais
São Paulo, lotados no Estado e Cidade de São Paulo, atuantes exclusivamente na área tributária
federal, que lidam com os casos concretos no dia a dia relacionados ao IRPJ, CSLL, PIS,
COFINS, IPI, SIMPLES e outros, visando auxiliar na solução da problemática proposta.
As perguntas do questionário foram elaboradas com base na experiência do mestrando
em suas atividades de perícia judicial tributária.
45

4.4. Coleta de dados

As entrevistas foram realizadas através do programa Teams e por e-mail (apenas 1(uma)
nesta última modalidade). Tal instrumentalização deve-se ao momento de pandemia de Covid-
19, que exigiu novas práticas, evitando-se o contato direito com o público no período.

4.5. Critérios de análise

Para avaliação, aplicou-se o método de análise temática que, segundo Braun & Clarke
(2013) “é um método para identificar temas e padrões de significado em um conjunto de dados
em relação a uma pergunta de pesquisa”
O ponto deste método é partir do registro das entrevistas por escrito e a cada trecho
atribuir um código, que é uma palavra ou expressão curta (palavra-chave / código) ou expressão
que capture a essência daquela fala.
A escolha dos códigos é subjetiva e reflete uma leitura possível dos dados, tendo em
vista os objetivos da pesquisa. O pesquisador então, juntando os códigos que se repetem entre
as entrevistas vai discernindo os grandes temas comuns. Consiste em um processo de trabalho
demorado e que exige uma boa dose de raciocínio abstrato e não-linear. Braun e Clarke (2013,
cap 7 a 13) propuseram uma sistematização desse processo em fases, que foram observadas
nesta pesquisa: i) transcrição das entrevistas e familiarização com o conjunto de dados; ii)
geração dos códigos iniciais; iii) criação dos temas iniciais; iv) revisão dos temas iniciais; v)
nomeação e definição dos temas e vi) redação do relatório final.
Assim, o produto final da análise das entrevistas é o Capítulo 5. Os relatos codificados
e mapas de códigos foram descritos nos itens 5.1 a 5.5 e as entrevistas se encontram
identificadas no Apêndice A.
46

5. RESULTADOS DA PESQUISA QUALITATIVA

Neste capítulo, são apresentados os resultados das entrevistas, destacando-se os aspectos


mais relevantes apontados pelas falas dos entrevistados e insights extraídos deles.
As entrevistas abertas trouxeram um volume grande de informações qualitativas não
estruturadas sobre as percepções, visões e opiniões dos entrevistados sobre a influência da
Perícia Contábil Tributária na prolação de suas decisões judiciais.
Os dados qualitativos foram tratados pelo método da análise temática, nos Itens 5.1 e
5.2. O mapa de códigos encontra-se no Quadro 9. Os principais temas identificados nas
entrevistas dos participantes serão apresentados nas Figuras 5 e 6. O conteúdo dos dados
qualitativos coletados encontram-se apresentados no Apêndice A.
É importante mencionar que os resultados desta pesquisa revelam tendências, mas não
têm relevância estatística.
Assim, comenta-se os principais resultados.

5.1. Dificuldades para maior utilização da Perícia Contábil

5.1.1. Aspectos de ausência da solicitação de prova


Como fator de entrave à maior utilização das Perícias Contábeis Tributárias como
instrumento para as decisões judiciais, os entrevistados trouxeram o não requerimento da
produção da prova pericial pelas partes, o que poderia ensejar o requerimento de ofício pelo
Magistrado.
Apesar de haver entendimento de que as regras processuais permitiriam essa
determinação, ainda que sendo discutível, argumentou-se que tal solicitação deve partir do
Contribuinte ou de quem pretende ter a prova produzida, pois do contrário, deverá haver grande
probabilidade de risco da perda deste direito a ser usufruído pelas partes.
De forma exemplificativa, “a legislação processual, prevê, autoriza que assim aconteça,
mas, eu particularmente acho que não é uma providência” (...) “eu acho que o juízo tem que ser
provocado neste aspecto”. (Conforme Apêndice A – Entrevistas)
47

Ainda que seja discutível haver ou não previsão expressa nos códigos legais ao
requerimento de ofício acerca da perícia, a grande maioria dos entrevistados entende que esta
proposição deveria partir do interessado.

5.1.2. Pagamento pericial


Outro fator que gera grande dificuldade para maior utilização da perícia, de acordo com
o que foi destacado pelos entrevistados, é o custo pericial.
Apesar de todas as opiniões serem no sentido favorável à necessidade do uso maior da
contabilidade, o que se verificou nas opiniões é que muitas vezes o solicitante não pretende
arcar com o custo pericial, deixando de utilizar da perícia em seu favor, fator citado pelos
entrevistados:
não há casos de justiça gratuita e pode haver o pagamento de sucumbência e os honorários
periciais encarecem o processo, o que acaba espantando o contribuinte” [...] Bem, eu acho
que sim, mas nós encontramos um grande problema na questão de utilizarmos da perícia,
porque essa perícia ter que ser paga e há uma resistência muito grande das partes, como do
fisco. (Conforme Apêndice A– Entrevistas)

Apesar das demandas tributárias envolverem casos com maior valor em discussão,
muitos contribuintes, advogados e procuradores públicos não querem ter o custo da perícia,
ainda que tal recurso possa ser um amparo para uma melhor decisão.

5.1.3. Não Ligação Obrigatória entre Direito Tributário e Contabilidade


Outro fator que deve ser avaliado é que nem todas as discussões tributárias envolvem
obrigatoriamente o uso da contabilidade.
Dentre os aspetos observados, o que seria importante destacar é que apesar da formação
dos tributos possuir certa dependência da contabilidade, para alguns entrevistados a
“contabilidade não é obrigatoriamente ligada ao direito tributário”, mas sim o Direito Tributário
que possui um caráter dependente “do conhecimento que vem da contabilidade”, “elemento
importantíssimo na tributação que é a base de cálculo, compreensão deste elemento” (Conforme
Apêndice A– Entrevistas)
Destaca-se nas entrevistas que o direito tributário deve

necessariamente ser interpretado à luz de outros aspectos que não os normativos e alguns
destes aspectos demandam a análise contábil [...] ele se usa da contabilidade para apurar
determinado tributo, analisar a escrituração e registros contábeis para verificar a incidência e
elementos de um tributo. (Conforme Apêndice A – Entrevistas)
48

Os entrevistados alertaram que quando há discussões do direito material que não


envolvam aspectos fáticos, ou ainda, questões meramente processuais, a contabilidade não
deverá resolver a questão, ficando a discussão somente no âmbito do Direito.

5.1.4. Não relacionamento entre órgãos


Alguns entrevistados entendem ser positivo cada vez mais uma maior interação entre os
órgãos contábeis (Conselho Federal de Contabilidade – CFC e Conselho Regional de
Contabilidade - CRC) e órgãos federais do judiciário, a fim de criar possibilidades maiores de
utilização da perícia contábil:

conversando com colegas às vezes se percebe até uma dificuldade para se nomear perito,
dificuldade de encontrar o perfil técnico que se adeque às necessidades, então poderia até ter
relação institucional entre poder judiciário e representantes de uma ordem de peritos, ou de
um grupo de peritos para que se haja mais colaboração no ambiente de processo tributário.
(Conforme Apêndice A– Entrevistas)

Eis uma sugestão bastante relevante que surgiu a partir da análise das entrevistas.

5.2. Benefícios da perícia contábil ao judiciário

5.2.1. Ausência da informação contábil


Aspecto fundamental para o uso da contabilidade é o fato de que todos os entrevistados
mencionaram não possuírem conhecimento contábil pleno adequado à resolução da matéria.
Os entrevistados responderam que

o suporte contábil é bastante importante, senão imprescindível em alguns casos”. E


concluem: “vejo que é impossível para nós, que não temos a informação técnica da
contabilidade, entender como ela é feita, de que forma ela vai interferir. (Conforme Apêndice
A – Entrevistas)

Com a nomeação de um expert, todos mencionaram que para os casos em que a


discussão se encontra baseada em aspectos fáticos e contábeis, existirá um suporte técnico
muito mais embasado para a prolação de suas decisões.

5.2.2. Dependência da contabilidade para aspectos de prova


Boa parte dos entrevistados mencionou que a formação da base de cálculo dos tributos
parte de aspectos da contabilidade, estando referidas informações obrigatoriamente registradas
49

na escrituração contábil das empresas: “ela depende às vezes de uma análise mais profunda de
uma escrituração contábil, de algum aspecto que não trazido ao processo, até porque, boa parte
da incidência de tributo ela é baseada nos registros contábeis feitas pela pessoa jurídica”
(Conforme Apêndice A – Entrevistas).
Portanto, sua necessidade torna-se pacífica para a qualidade das decisões judiciais
quando há o envolvimento dos aspectos fáticos, os quais carecem de análise técnica-contábil.

5.2.3. Elemento de prova / instrumento de suporte


Quando questionados se a contabilidade pode ou não ser um instrumento para suportar
as decisões judiciais, informaram que “não só é um instrumento, ela pode definir uma posição
a ser adotada no âmbito de uma sentença judicial”. E mais: “ela necessariamente vai influenciar
a minha decisão, porque se eu considero ela indispensável para esclarecimento de uma situação,
para definição se aquela hipótese de incidência está de fato ocorrendo” (Conforme Apêndice A
– Entrevistas).
De forma unânime, todos os entrevistados informaram que o Laudo Pericial Contábil,
quando este existiu, foi essencial à constituição de elemento probante e serviu como suporte
para embasar suas decisões, ainda que em desfavor ao solicitante.

5.2.4. Influência da perícia


Sobre o aspecto principal do estudo, quando questionados se os laudos contábeis tiveram
influência na prolação de suas sentenças, os entrevistados responderam que estes

influenciaram, foram analisados no ambiente de produção de prova para trazer


fundamentação e entendo que foram decisivos na prolação da sentença, como um todo,
entendo que não houve lacunas, em todos os momentos que a contabilidade eu deferia, o
resultado era adequado e utilizava ele como um instrumento para colaborar nas minhas
decisões. (Conforme Apêndice A – Entrevistas)

eu sempre levo em consideração a prova pericial como elemento relevante para definição da
situação, em maior ou menor grau, sim, influenciam muito, havendo perícia realizada vai
influenciar na prolação da sentença. (Conforme Apêndice A – Entrevistas)

sempre, sempre que existe prova pericial a sentença vai sofrer influência da prova pericial
...a minha lembrança é massivamente influenciaram, eu não consigo me lembrar de um caso
em que o contrário tenha acontecido, necessariamente, algum aspecto do que eu me lembro,
assim na sentença que foram produzidas, sempre faziam referência ao Laudo. (Conforme
Apêndice A– Entrevistas)
50

Apenas como aspecto adicional, os entrevistados não se lembraram de casos em que


havendo a existência de Laudo Pericial, este não teria sido utilizado no processo de tomada de
decisão, existindo apenas casos em que houve a necessidade de complementação ou
esclarecimentos pelo perito, mas que após complementação do laudo, as conclusões periciais
foram integralmente utilizadas em suas decisões judiciais.
Por fim, a questão da existência do Laudo Pericial Contábil foi confirmada como
instrumento extremamente relevante e imprescindível às decisões judiciais pelos entrevistados,
o que demonstra a sua real influência.
Confira-se (Conforme Apêndice A – Entrevistas):
− “então eu acho, se não tivesse o auxílio dos contadores peritos, a sentença fica muito mais
frágil”;
− “a perícia contábil consegue ir além daquilo que foi delimitado pelas partes”;
− “então, se não for matéria de direito e for realmente a questão de erro do fisco, o que pode
ocorrer, eu acho que a contabilidade neste caso é imprescindível”;
− “ela tem que trazer uma prova contundente, então a perícia, ela nos dá total embasamento
quando nestes casos a gente tem que decidir (...) olha, não tá correto”;
− “por isso que eu falei que o laudo contábil integrado ao direito material ele fecha a
instrução probatória para que a sentença tenha plena eficácia”.

Foram atribuídos temas e códigos através da metodologia da análise temática para


facilitação da análise de temas e padrões de significado em um conjunto de dados em relação a
uma pergunta de pesquisa (quadro 9).
51

Quadro 9: Mapa de códigos


1.Direito Tributário ligação com a
contabilidade Entrevistados
1 2 3456789
Compreensão X X X
Base de cálculo X X
Conhecimento da contabilidade X X X
Não obrigatoriedade X X
Direito Material XXX X
Segurança XXX X
2.Contabilidade instrumento para
decisões Entrevistados
1 2 3456789
Instrumento X X X X X X X X
Dar suporte X X
Elemento de prova X X X X X X X X
3.Magistrado deve instituir a prova
pericial - sem requerimento Entrevistados
1 2 3456789
Partes requeiram produção desta prova X X X X X X X
Associada ao processo tributário X
Prova Pericial XX
4. Laudos contábeis influenciaram na
prolação de suas sentenças Entrevistados
1 2 3456789
Sim X X X X X X X X
Prova Pericial X XX
Laudo Pericial X X X X X
5. Contabilidade poderia ser mais
utilizada nas decisões de processos
tributários Entrevistados
1 2 3456789
Sim X X X X X X X X
Dificuldade a nomeação X
Relação institucional X
Incentivar X X X
Pagamento pela Perícia X X X X X X
Expert X
Fonte: Braun; Clarke.2013, p. 175.
Adaptado pelo autor.
52

Ausência da Custo
Solicitação da Maior utilização da pericial
Prova Pericial Perícia Contábil

Unanimidade em Não
Não ligação
afirmação que a relacionamento
obrigatória
Perícia Contábil entre órgãos
entre Direito
deveria ser mais federais e CRC
Tributário e
utilizada* / CFC
Contabilidade

Figura 5: Mapa mental das dificuldades para maior utilização da perícia contábil
Fonte: Braun; Clarke.2013, p. 175.
Adaptado pelo autor.

Após a identificação dos principais temas apontados nas respostas dos entrevistados
com base no método da análise temática, destaca-se aqueles que foram apontados como de
maior dificuldade para uma maior utilização das perícias.
53

Dependência da
Ausência da
Contabilidade
informação
para aspectos de
contábil
base de cálculo
Benefícios da utilização
dos Laudos Contábeis

Elemento de Unanimidade em Influência


prova / afirmação que a Pericial
Instrumento Laudo Pericial
de suporte Contábil interfere
na prolação das
decisões*

Figura 6: Mapa mental dos benefícios da perícia contábil ao judiciário


Fonte: Braun; Clarke.2013, p. 175.
Adaptado pelo autor.

Após a identificação dos principais temas apontados nas respostas dos entrevistados
com base no método da análise temática, destaca-se aqueles que foram apontados como de
maior benefício ao judiciário através da utilização da perícia contábil pelo judiciário.
Abaixo informa-se a síntese as principais observações colhidas nas entrevistas
(Apêndice A).
54

Quadro 10: Síntese da Entrevistas


Entrevista / Assunto Pontos de Destaque
... mas dependente “sim do conhecimento que vem da contabilidade” ...
elemento importantíssimo na tributação que é a base de cálculo,
Base de Cálculo compreensão deste elemento.
necessariamente ser interpretado à luz de outros aspectos que não os
Direito Tributário normativos e algum destes aspectos demandam a análise contábil
não só é um instrumento, ela pode definir uma posição a ser adotada no
âmbito de uma sentença judicial...porque através dela a questão jurídica é
até relativamente simples...ela necessariamente vai influenciar a minha
decisão, porque se eu considero ela indispensável para esclarecimento de
uma situação, para definição se aquela hipótese de incidência, está de fato
Pericia Contábil ocorrendo.
é instrumento de conhecimento dos fatos, vem dar suporte à
Contabilidade fundamentação e, também, é um elemento de prova.

o suporte contábil é bastante importante, senão imprescindível em alguns


casos... vejo que é impossível para nós que não temos a informação técnica
Contabilidade da contabilidade, entender como ela é feita, de que forma ela vai interferir
a legislação processual, prevê, autoriza que assim aconteça, mas eu,
particularmente, acho que não é uma providência ... eu acho que o juízo tem
Pericia Contábil que ser provocado neste aspecto
vejo que é impossível para nós que não temos a informação técnica da
Contabilidade contabilidade, entender como ela é feita, de que forma ela vai interferir.

influenciaram, foram analisados no ambiente de produção de prova para


trazer fundamentação e entendo que foram decisivos na prolação da
sentença, como um todo, entendo que não houve lacunas, em todos os
momentos que a contabilidade eu deferia, o resultado era adequado e
utilizava ele como um instrumento para colaborar nas minhas decisões…
eu sempre levo em consideração a prova pericial como elemento relevante
para definição da situação, em maior ou menor grau, sim, influenciam muito,
havendo perícia realizada vai influenciar na prolação da sentença....Sempre,
sempre que existe prova pericial a sentença vai sofrer influência da prova
pericial...a minha lembrança é massivamente influenciaram, eu não consigo
me lembrar de um caso em que o contrário tenha acontecido,
necessariamente, algum aspecto do que eu me lembro, assim na sentença
Pericia Contábil que foram produzidas, sempre faziam referência ao Laudo.
a produção de prova pericial, análise de um perito seja indispensável para
resolução, eu entendo que aplicado àqueles princípios da verdade
material.... então eu acho, se não tivesse o auxílio dos contadores peritos, a
Laudo Perícial sentença fica muito mais frágil... a perícia contábil consegue ir além daquilo
Contábil que foi delimitado pelas partes.
boa parte da incidência de tributo ela é baseada nos registros contábeis
feitas pela pessoa jurídica... muitas vezes demanda intervenção contábil, de
Pericia Contábil conhecimento contábil que o juízo não tem...

Fonte: Elaborado pelo autor.


55

6. CONSIDERAÇÕES FINAIS
A dissertação teve como objetivo validar a influência da Perícia Contábil como aspecto
de prova para influenciar as decisões judiciais tributárias federais em São Paulo - Capital, em
razão da prejudicialidade entre questões contábeis e critérios legais relativos à tributação.
Neste aspecto verificou-se ser a contabilidade fundamentada por princípios. Por outro
lado, os instrumentos de prova estão especificados no Código Civil e no Código de Processo
Civil que aduzem os registros contábeis como instrumentos a serem utilizados.
O que é preciso destacar é que a formação dos tributos se mostra, exclusivamente,
dependente da contabilidade para sua apuração. Para alguns entrevistados, magistrados no
âmbito federal tributário em São Paulo, apesar do Direito Tributário não ser ligado
exclusivamente a contabilidade, ela é um instrumento importantíssimo na análise da tributação.
O que se percebe ao longo destes anos é uma migração da discussão sobre aspectos
materiais ligados somente a questões jurídicas para aquelas que envolvem questões fáticas, o
que no Direito Tributário prescindiria o uso da contabilidade para tal comprovação.
Assim, seria possível concluir que nas demandas tributárias federais em São Paulo –
Capital, que envolvam aspectos de análise prática das informações contábeis, a perícia contábil
é indispensável a decisão do magistrado.
Como mencionado pelos entrevistados, o direito tributário “usa da contabilidade para
apurar determinado tributo, analisar a escrituração e registros contábeis para verificar a
incidência e elementos de um tributo”.
O fato é que havendo discussões sobre aspectos operacionais, a perícia deve ser
requerida.
Às vezes a perícia não é requerida, para alguns magistrados isto impediria a sua
instituição de ofício. Para isto deverá o contribuinte fazer jus a esta faculdade no momento da
propositura de seu direito ou defesa, para que não venha a perder o direito de usar este
instrumento em seu favor.
Os entrevistados revelaram que a instituição da perícia contábil se mostra cada vez mais
necessária e eficaz a colaborar nas decisões das sentenças a ser proferidas que envolvem
aspectos operacionais e fáticos que se encontram registrados na contabilidade.
Sobre o aspecto principal do estudo, quando do questionamento aos entrevistados se os
laudos contábeis tiveram influência na prolação de suas sentenças, os benefícios percebidos
pelos magistrados nos casos que foram designadas a Perícia Contábil, se mostrou de forma
56

totalmente unânime e eficaz, de maneira que todos eles confirmaram a influência nas prolações
de suas decisões.
A questão da existência do Laudo Pericial Contábil foi confirmada como instrumento
extremamente relevante e imprescindível às decisões judiciais.
Como aspecto a ser mais valorizado nas Ciências Contábeis, através da Perícia Contábil,
quando questionados os entrevistados se a mesma poderia ser mais utilizada como instrumento
a colaborar nas decisões de processos tributários, mais uma vez as respostas apontam que sim,
deveria ser mais explorada.
Independente da dependência da contabilidade acerca da comprovação sobre os
aspectos de fato, nos casos em que se discutem estes aspectos no Direito Tributário, o autor
destaca ainda que esta dependência tende a aumentar, haja vista a informatização das
informações contábeis que ocorre a cada vez mais e que acabam gerando mais dificuldade
àqueles que não detém conhecimentos técnicos contábeis.
Quando da análise da base de cálculo, fato gerador, já se havia uma dependência do
Direito Tributário aos aspectos contábeis, esta só aumenta com a informatização das
informações contábeis: SPED, ECF, ECD, etc. fazendo com que esta dependência de
conhecimento fique cada vez maior.
Portanto, o presente estudo demonstrou que há influência da Perícia Contábil na
sentença judicial tributária federal em São Paulo – Capital e apontou como a contabilidade
poderia ser mais utilizada como instrumento de prova neste âmbito. A questão é que advogados,
procuradores, fisco e contribuintes precisam voltar suas atenções para o fato de que podem
utilizar a contabilidade em seu favor, seja através do requerimento da perícia contábil no curso
do processo judicial, ou em análises que a precedem, no âmbito administrativo através da
constituição de assistentes técnicos.
O estudo limitou-se ao entendimento dos Magistrados de São Paulo do Fórum das
Execuções Fiscais Federais que atuam com questões tributárias entre Contribuintes e União
Federal que envolvem exclusivamente processos tributários federais, tais como: o Imposto de
Renda da Pessoa Jurídica – IRPJ, Contribuição Social sobre Lucro Líquido – CSLL, Programa
de Integração Social – PIS, Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social –
COFINS, Imposto sobre Produto Industrializado – IPI e outros.
Este estudo poderá ser utilizado em Estados e Municípios brasileiros como objeto de
estudo e para comparação com outros tributos não estudados.
57

Como proposta de trabalho para o mestrando, este estudo poderá ser utilizado como
parâmetro em outros aspectos em que a Perícia Contábil possa vir a ser utilizada a colaborar
com advogados, procuradores, fisco e contribuintes, fato este que poderá ser concretizado caso
o Projeto de Lei n. 4.468/2000 - Arbitragem Tributária venha a ser aprovado pelo Congresso
Nacional.
Por fim, o estudo deverá contribuir a reflexão dos profissionais da área contábil sobre a
importância da Perícia Contábil no judiciário brasileiro.
58

REFERÊNCIAS

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e institui normas gerais de direito tributário aplicáveis à União, Estados e Municípios. Brasília,
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fiscal, e dá outras providências. Brasília, DF, 1972.

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BRASIL. Lei 11.638 de 28 de dezembro de 2007. Altera e revoga dispositivos da Lei no 6.404,
de 15 de dezembro de 1976, e da Lei no 6.385, de 7 de dezembro de 1976, e estende às
sociedades de grande porte disposições relativas à elaboração e divulgação de demonstrações
financeiras. Brasília, DF, 2007.

BRASIL. Lei 11.941 de 27 de maio de 2009. Altera a legislação tributária federal relativa ao
parcelamento ordinário de débitos tributários; concede remissão nos casos em que especifica;
institui regime tributário de transição... Brasília, DF, 2009a.

BRASIL. Lei n. 13.457 de 18 de março de 2009. Dispõe sobre o processo administrativo


tributário, decorrente de lançamento de ofício e dá outras providências. Brasília, DF. 2009b.

BRASIL. Lei 12.973 de 13 de maio de 2014. Altera a legislação tributária federal relativa ao
Imposto sobre a Renda das Pessoas Jurídicas - IRPJ, à Contribuição Social sobre o Lucro
Líquido - CSLL, à Contribuição para o PIS/Pasep e à Contribuição para o Financiamento da
Seguridade Social - Cofins; revoga o Regime Tributário de Transição - RTT, instituído pela Lei
nº 11.941, de 27 de maio de 2009; dispõe sobre a tributação da pessoa jurídica domiciliada no
Brasil, com relação ao acréscimo patrimonial decorrente de participação em lucros auferidos
no exterior por controladas e coligadas;... Brasília, DF, 2014.

BRASIL. Lei n° 13.105, de 16 de março de 2015. Código de Processo Civil. Brasília, DF,
2015.

BRASIL. Projeto de Lei n° 4.468, de 2020. Institui a Arbitragem Especial Tributária e dá


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em: <http://sped.rfb.gov.br/pagina/show/964>. Acesso em:

TOMÉ, Fabiana Del Padre. A prova no direito tributário. São Paulo: Noeses, 2005.
1

APÊNDICE A – Entrevistas

Questionário - Juiz 01 Códigos

1) Prezado Magistrado, você entende que o Direito Tributário está


obrigatoriamente ligado à contabilidade?

A resposta inicial é sim, a contabilidade ela ajuda a


Compreensão
compreensão de um elemento importantíssimo na tributação
que é a base de cálculo, e os desdobramentos que a base de
cálculo pode trazer na leitura do direito tributário em ambiente
de dúvida, leva a uma obrigatoriedade do conhecimento que
vem da contabilidade, a despeito do obrigatoriamente me trazer
uma certa dificuldade, porque pode ter situações em que a
Base de cálculo
compreensão destes elementos da base de cálculo, do efeito
final, da tributação, pode ser conhecido de uma maneira
aritmética, em boa parte dos casos que lida-se na justiça federal
no ambiente de execuções fiscais, mas numa síntese, eu
Conhecimento da
consideraria que o direito tributário está muito ligado à
contabilidade
contabilidade.

2) Prezado Magistrado, você entende que a contabilidade pode ser


um instrumento a suportar as decisões judiciais em sede de
prolação de sentença?

Entendo que sim, é instrumento de conhecimento dos fatos,


Instrumento
desta operação matemática e muito bem conhecida, digamos o
trabalho da contabilidade, ele vem dar suporte à
fundamentação e também é um elemento de prova, além do
conhecimento, ele traz prova, uma vez produzido o Laudo
Elemento de prova
Pericial e não só na prolação de sentença, às vezes em decisões
interlocutórias podem ser muito bem sustentadas pelo trabalho
da contabilidade, eu tenho alguns casos emblemáticos que o
acompanhamento do faturamento de empresas que serviriam
2

para suporte de penhoras, demandavam acompanhamento, em


Dar suporte
várias etapas da contabilidade, do perito judicial, então além de
entender muito importante para as decisões judiciais em sede
prolação de sentença, também em decisões interlocutórias no Importante
ambiente de execução fiscal.

3) Havendo dúvida acerca dos aspectos de prova para sustentar o


direito material tributário, este Magistrado entende que deverá
instituir a avaliação pericial independente do requerimento das
partes?

Sim, havendo a dúvida na produção de prova e se determinado


Partes requeiram produção
quesito não espancar ou sepultar, potencialmente, espancador
desta prova
da dúvida, não hesitaria em realizar uma avaliação ou instituir
quesito não apresentado pelas partes para completar o
requerimento de produção de prova. Eu prefiro que as partes
requeiram a produção desta prova, essa é a logica, mas eu
impulsionaria, num ambiente que verificasse a dúvida para
suprir a dúvida de fato ou a dúvida da matemática para eu
produzir uma decisão judicial.

4) Você entende que os laudos contábeis que foram apresentados


em sua Vara após a realização de Perícias influenciaram na
prolação de suas sentenças?

Sim, influenciaram, foram analisados no ambiente de produção Sim


de prova para trazer fundamentação e entendo que foram
decisivos na prolação da sentença, como um todo.

5) Você considera que a contabilidade através da Perícia Contábil


poderia ser mais utilizada como instrumento a colaborar nas
decisões de processos tributários? Por que?

Sim, na minha realidade esses anos trabalhando em execuções


fiscais, eu entendo que não houve lacunas, em todos os Sim

momentos que a contabilidade se fazia necessária, eu deferia, o


3

resultado era adequado e utilizava ele como um instrumento


para colaborar nas minhas decisões. Agora quando eu me
distancio da minha realidade da vara e tento ter uma visão um
pouco mais ampla, mais periférica do assunto eu imagino que
as perícias poderiam ser mais utilizada e da onde eu tiro essa
conclusão periférica, conversando com colegas às vezes se Dificuldades a nomeação
percebe até uma dificuldade para se nomear perito, dificuldade
de encontrar o perfil técnico que se adeque às necessidades,
então poderia até ter relação institucional entre poder judiciário Relação institucional
e representantes de uma ordem de peritos, ou de um grupo de
peritos para que se haja mais colaboração no ambiente de
processo tributário.

Questionário - Juiz 02 Códigos

7. Prezado Magistrado, você entende que o Direito Tributário está


obrigatoriamente ligado a contabilidade?

Me parece que não obrigatoriamente, a contabilidade


Não obrigatoriedade
eventualmente precisa ser analisada, é objeto de análise para
que você apure a incidência ou não de determinado tributo,
existe uma interligação, mas direito tributário é
complementarmente distinto da contabilidade, ele se usa da
contabilidade para apurar determinado tributo, analisar a Base de Cálculo
escrituração e registros contábeis para verificar a incidência e
elementos de um tributo, mas não necessariamente ligado
obrigatoriamente, o direito tributário as vezes precisa da
contabilidade para que você chegue aos elementos de
incidência ou não de um tributo… mas, determinados aspectos
do direito material podem ser analisados independentemente de Direito Material
uma análise contábil, não necessariamente demande uma
análise contábil.

8. Prezado Magistrado, você entende que a contabilidade pode ser um


instrumento a suportar as decisões judiciais em sede de prolação de
sentença?
4

Sim, em determinados casos a contabilidade não só é um


Instrumento
instrumento, ela pode definir uma posição a ser adotada no
âmbito de uma sentença judicial, determinada sentença não
prescinde de uma análise contábil para apurar incidência ou não
de tributo ou a correta apuração de uma base de cálculo ou
análise da situação de fato que se coloca, se a hipótese de Dar suporte
incidência está ali ou não, muitas decisões que proferi são
fundadas na análise contábil feita pelo perito, porque através
dela a questão jurídica é até relativamente simples, a
Direito material
complexidade é aplicar aquela hipótese concreta daquilo que
estamos analisando, nestes casos a perícia contábil é
indispensável à prolação de uma sentença.

9. Havendo dúvida acerca dos aspectos de prova para sustentar o


direito material tributário, este Magistrado entende que deverá
instituir a avaliação pericial independente do requerimento das
partes?

Em determinadas hipóteses eu entendo que sim, em uma


Partes requeiram produção
análise jurídico processual algumas situações dependem,
desta prova
normalmente da produção de uma prova, dependem do pedido
das partes a existência de requerimento de uma das partes é
relevante para o magistrado avaliar se a prova é necessária ou
não, sem o requerimento das partes em princípio a tendência é
nós magistrados julgarmos o caso sem a prova pericial, quando
verifico em determinada hipótese, independentemente de
pedido das partes, a produção de prova pericial, análise de um
perito seja indispensável para resolução, eu entendo que
aplicado aqueles princípios da verdade material, pode
determinar a designação de uma perícia de ofício pelo
magistrado, existem normas processuais que definem quem vai
pagar os honorários periciais quando não pedido pelas partes e
solicitada pelo juiz, se o próprio código vislumbra não vejo
porque não ser possível que essa avaliação pericial seja
realizada.
5

10. Você entende que os laudos contábeis que foram apresentados em


sua Vara após a realização de Perícias influenciaram na prolação de
suas sentenças?

Sim, quando eu considero a perícia relevante… Quando eu


Sim
cheguei algumas perícias foram marcadas pelo magistrado
anterior, quando eu designo eu parto do pressuposto que ela é
necessária, ela necessariamente vai influenciar a minha
decisão, porque se eu considero ela indispensável para
esclarecimento de uma situação, para definição se aquela
hipótese de incidência está de fato ocorrendo, eu considero a
perícia relevante, quando designo parto do pressuposto que ela
vai influenciar, em algumas situações por outros magistrados
considerei que a perícia não seria necessária, mas havendo uma Prova pericial
prova nos autos, independente do meu posicionamento eu
sempre levo em consideração a prova pericial como elemento
relevante para definição da situação, em maior ou menor grau,
sim, influenciam muito, havendo perícia realizada vai
influenciar na prolação da sentença.

11. Você considera que a contabilidade através da Perícia Contábil


poderia ser mais utilizada como instrumento a colaborar nas
decisões de processos tributários? Por que?

Sim, acho que sim, alguns magistrados em algumas situação


Sim
têm a tendência de solucionar a situação sobre o aspecto
jurídico, em alguns processos em análise de incidência ou não
de tributo, de exclusão ou não de base de cálculo tendem a se
pautar muito nas alegações da parte ou em determinados
documentos, mas eu acho que sim, eu tenho cada vez mais
procurado incentivar de certa forma esta análise contábil,
porque muitas situações, detalhes daquela incidência ou não do
tributo, ela depende às vezes de uma análise mais profunda de
uma escrituração contábil, de algum aspecto que não trazido ao
processo, até porque, boa parte da incidência de tributo ela é
6

baseada nos registros contábeis feitas pela pessoa jurídica,


então o que trazido ao processo é uma situação pronta por uma
das partes que é rebatida pela outra, mas aquilo é uma síntese
da situação que é colocada, quantas vezes a gente não marca
uma perícia contábil, primeiro ato do perito no processo e ele
pede uma complementação da documentação que foi juntada
Incentivar
ou uma vistoria para analisar in loco dos registros contábeis…
Quantas situações são percebidas, às vezes as partes mesmo
sequer trouxeram este tipo de análise ao processo, a perícia
contábil consegue ir além daquilo que foi delimitado pelas Base de cálculo
partes, então eu acho que sim, a perícia pode ser mais utilizada
para solução de processos e elaboração de sentenças, ela
colabora e aprofunda a análise daquela situação, e colabora
com princípio da verdade material, eu sempre tendo, quando
possível, quando o direito processual não me impede de fazer
isto, às vezes preciso definir com base na conduta das partes no
processo, em alguns casos a perícia contábil pode colaborar e
ser até mesmo imprescindível para solução de um caso
concreto.

Questionário - Juiz 03 Códigos

1) Prezado Magistrado, você entende que o Direito Tributário está


obrigatoriamente ligado a contabilidade?

Entendo que está ligado, mas não obrigatoriamente, há


Direito Material
questões, até várias, trazidas ao processo que restringe a
matéria de direito, mas quando a discussão envolve a técnica
contábil aí sim, seria obrigatoriamente.

2) Prezado Magistrado, você entende que a contabilidade pode ser


um instrumento a suportar as decisões judiciais em sede de
prolação de sentença?
7

Eu entendo que sim, como da resposta anterior, quando a


Dar suporte
questão posta no processo envolve a questão técnica, o suporte
contábil é bastante importante, senão imprescindível em alguns
casos.

3) Havendo dúvida acerca dos aspectos de prova para sustentar o


direito material tributário, este Magistrado entende que deverá
instituir a avaliação pericial independente do requerimento das
partes?

Sim, a resposta é positiva, há casos sim que a parte não se Partes requeiram produção
movimenta neste sentido, o juiz acaba de ofício tendo que desta prova

determinar a prova, que aliás é um problema, porque vem


a discussão dos honorários, a parte não quer pagar, não
pediu, mas é preciso em alguns casos que se faça… Na
verdade, quando eu determino a perícia contábil que quero
saber montantes de valores a restituir ou a pagar.

4) Você entende que os laudos contábeis que foram apresentados


em sua Vara após a realização de Perícias influenciaram na
prolação de suas sentenças?

Influencia sim, de qualquer forma é evidente que influi, há


Sim
situações em que a perícia contábil vai mostrar certas questões
que vão influenciar na conclusão jurídica, então em vários dos
casos influencia sim, o momento que se aclara contabilmente,
ajuda acaba de se formar a tese a ser adotada do ponto de vista
jurídico, positiva a resposta.

5) Você considera que a contabilidade através da Perícia contábil


poderia ser mais utilizada como instrumento a colaborar nas
decisões de processos tributários? Por que?

Eu não saberia definir sim ou não, se ela poderia ser mais Sim
utilizada como instrumento a colaborar, confesso não ver em
8

primeiro momento como se poderia ampliar a utilidade ou


utilização da perícia contábil, me parece o que tem sido feito, o
que se espera, razoável, ressalvados um ou outro laudo de
melhor qualidade, ampliar a utilização de modo abstrato eu
confesso para responder fico meio devendo, eu não teria essa
conclusão.

Questionário - Juiz 04 Códigos

1) Prezado Magistrado, você entende que o Direito Tributário está


obrigatoriamente ligado a contabilidade?

Na maioria das causas sim, eu entendo que existe uma ligação,


existe casos em que, até que deficiência do peticionamento das
partes a matéria acaba sendo exclusivamente de direito, e aí Direito material

você prescinde da perícia, vou dar um exemplo, o mais


corriqueiro, Embargante, o contribuinte alega a indevida
inclusão do ICMS na base de cálculo do PIS e COFINS, mas
não apresentam documentação nenhuma, não alegam o
montante do excesso, o que teria sido pago a maior, então neste
caso, a perícia se torna inócua pela deficiência da parte, porque
não existe o que periciar, nestes casos, eu acho que a gente pode
prescindir da análise contábil, mas se a petição inicial vem
acompanhada dos requisitos relacionados ao que seria o
excesso, onde houve a inclusão, aí sim eu acho que precisamos
da ajuda do perito contábil, sem dúvida.

2) Prezado Magistrado, você entende que a contabilidade pode ser


um instrumento a suportar as decisões judiciais em sede de
prolação de sentença?

Com certeza, quando nós temos uma alegação bem feita e uma
Instrumento
especificação do que seria o excesso ou aquilo que teria sido
recolhido indevidamente, eu como profissional do Direito, vejo
que é impossível para nós, que não temos a informação técnica
9

da contabilidade, entender como ela é feita, de que forma ela


Conhecimento da
vai interferir, ainda mais porque é comum que o contribuinte contabilidade
tenha uma visão que o favorece e o fisco não tenha uma visão
oposta, posso dizer, porque sou filha de contador, falo para ele,
não entendo nada, isto para mim é grego, e posso dar um
testemunho de quem não trabalhava com isto, toda a minha vida
na magistratura eu trabalhei com criminal, fiquei como
substituta, lá existia questão tributária, mas elas são mais
simples, acabava confundindo um pouco com aduaneiro, já Elemento de prova

estou aqui há 5 anos, para mim certas questões eram grego,


então eu acho, se não tivesse o auxílio dos contadores peritos,
a sentença fica muito mais frágil e tem vezes que a eu já fiz
substituições na vara, porque nem eu conseguia entender o que
o perito estava falando.

3) Havendo dúvida acerca dos aspectos de prova para sustentar o


direito material tributário, este Magistrado entende que deverá
instituir a avaliação pericial independente do requerimento das
partes?

Eu não costumo fazer isto, eu vim com esta ideia, porque a


gente fala juiz que é do criminal fica procurando pelo em ovo,
eu tinha esta ideia, eu tenho que descobrir o que é verdadeiro e
quando você tem uma causa criminal em que está em jogo o
direito de liberdade, aplicação de uma pena privativa, na
maioria das vezes, o que importa é que você descubra a
verdade, então o princípio da verdade real, ele informa todas as
suas decisões, aqui me parece que se haja no sentido diferente, Partes requeiram produção
que você só se utilize do trabalho do perito contábil quando o desta prova
contribuinte faz esta alegação de correção ou inexistência do
crédito tributário e pede a perícia, então muitas vezes, quando
peticionamento do contribuinte é falho, por ineficiência ou por
habilidade do profissional do Direito e não requer este tipo de
prova, eu não costumo designar de ofício.
10

4) Você entende que os laudos contábeis que foram apresentados


em sua Vara após a realização de Perícias influenciaram na
prolação de suas sentenças?

Sempre, sempre que existe prova pericial a sentença vai sofrer


Sim
influência da prova pericial, eu não me recordo de ter decidido
no sentido oposto àquilo que consta do laudo pericial, já houve
caso que eu pedi complemento para o perito, nestes casos em Prova pericial
que eu não me sentia, suficientemente convencida, mas decidir
contrariamente nunca aconteceu.

5) Você considera que a contabilidade através da Perícia contábil


poderia ser mais utilizada como instrumento a colaborar nas
decisões de processos tributários? Por que?

Sim com certeza, voltar aquele exemplo da base de cálculo do


Sim
PIS e COFINS, e tem a inclusão do ICMS na base de cálculo
de outros tributos é muito comum que as partes em Exceção de
Pré-Executividade, nos próprios autos da execução arguam
essa inclusão e o que eu, o meu posicionamento sempre é o
seguinte, não posso acolher, porque eu não tenho prova e só vai
conseguir aferir a inclusão se foi indevida mesmo com a análise
dos documentos, da documentação contábil da empresa por um
perito da área e já tive casos, muitos… que esta decisão foi
reformada para deferir o pedido da parte, aí a gente chega num
beco sem saída, porque você manda a fazenda fazer adequação,
ela fala eu já fiz, aí contribuinte fala não fez e fica nisto… fica
ilíquido, mesmo em embargos, se a parte não pede perícia, não
tem como deferir este tipo de pedido, porque vai ficar ilíquida
a decisão, então com certeza, acho que deveria ser mais
utilizada, por este motivo que eu te falei.

Questionário - Juiz 05 Códigos

1) Prezado Magistrado, você entende que o Direito Tributário está


obrigatoriamente ligado a contabilidade?
11

Obrigatoriamente, não. A gente, pelo menos na perspectiva do Não obrigatoriedade


judiciário, a gente está falando especificamente em
contencioso, acho que é possível visualizar dois planos, pelo
menos dois grandes planos, o da interpretação das normas em
si mesmo, questões que a gente costuma identificar puramente
de Direito e por outro lado, aí sim, a gente tem questões de fato
que muitas vezes dependem de interpretação contábil,
especificamente contábil e não jurídica, eu acho que o
obrigatoriamente colocado na pergunta me impõe dizer que
não, simplesmente não, mas com todas essas variáveis que eu Direito Material
estou falando, procurando falar de uma maneira bem sintética,
o Direito Tributário enquanto norma, ele pode perfeitamente
ser interpretado gerando inclusive dissídios que não conversam
com o fato propriamente dito, agora a gente tem por outro lado
as questões de fato que vão ser necessariamente interpretadas à
luz de outros aspectos que não os normativos e alguns destes
aspectos demandam a análise contábil.

2) Prezado Magistrado, você entende que a contabilidade pode ser


um instrumento a suportar as decisões judiciais em sede de
prolação de sentença?

Para essa questões que eu mencionei por último, que tratam de


aspectos fáticos, eu acredito que sim, ela pode, seguramente é
um instrumento que dá suporte para decisão, nestes aspectos,
então quando a gente está falando de um dissídio, um dissenso
sobre como interpretar um determinado fato, não há norma em
si, como interpretar um fato econômico, e aí teria depois o
enquadramento jurídico que eu acho que não é papel da
contabilidade fazer este tipo de enquadramento, pelo menos
não no ambiente do contencioso, mas a construção do fato,
identificação do fato econômico que é uma etapa precedente,
uma etapa anterior, ela muitas vezes se vale da contabilidade
para este tipo de avaliação. Eu partiria da perspectiva que tudo
é Direito material, sabe André, tanto o aspecto fático como
12

jurídico é material, quando a gente fala em Direito material,


Instrumento
você usa expressão normalmente para fazer a contraposição
com o Direito processual, questões de processo, questões
relacionadas ao funcionamento, à operação processual, aí tem
questões de nulidade, de legitimidade, de competência do juízo
que não têm nada que ver com o Direito material propriamente
dito, o Direito material, ele teria essas duas componentes, a
fática e a jurídica, muitas vezes o dissídio entre fisco e
contribuinte não envolve a interpretação do fato em si mesmo, Direito material
o fato nem se verificou, se tá falando de uma ação de natureza
preventiva, ainda não houve o fato, ainda não se deu o fato
jurídico tributário, fato econômico previsto na norma, isto é
uma questão de Direito material, que é puramente normativa,
agora tem aquelas questões de Direito material que operam
sobre o fato, além de impugnar a norma, o contribuinte
impugna a sua sujeição à norma, não por aspectos subjetivos
dele, o contribuinte, tem um instrumento que vai dar a base de
fundamentação às sentença neste aspecto, no aspecto do fato
jurídico, depois têm outros aspectos, eles estão ligados mesmo
à interpretação do Direito.

3) Havendo dúvida acerca dos aspectos de prova para sustentar o


direito material tributário, este Magistrado entende que deverá
instituir a avaliação pericial independente do requerimento das
partes?

Eu acho que teoricamente isto é possível, a legislação prevê, a


legislação processual prevê, autoriza que assim aconteça, mas
eu particularmente acho que não é uma providência, digamos
assim, saudável, quando a gente está falando de discussão
tributária. A legislação processual não é feita para o direito
tributário, ela é feita para tudo, a legislação processual é geral,
então quando a gente fala de produção de prova de ofício sem
requerimento das partes, isto de fato está autorizado na
legislação processual, mas ela não foi pensada para o Direito
13

tributário, então eu acho, André, que tem uma questão aí, que
envolve um pouco premissas do Direito administrativo, o ato
tributário, antes de ser tributário ele é administrativo, então a
administração pública produz o lançamento, ela tá produzindo
um ato administrativo, todos os atos produzidos pela
administração na intenção de chegar até o bolso do contribuinte
são atos administrativos e os atos, eles por presunção, são
legítimos, essa presunção legal é relativa, pode ser derrubada,
só que ela vai ser derrubada pelos meios previstos pelo sistema,
você não tem a propositura de uma ação discutindo tributos de
ofício, o contribuinte precisa provocar, então eu estou
imaginando que o contribuinte ajuizou uma ação, uma ação
anulatória, uma ação de embargos, dizendo que aquele ato
administrativo está equivocado, então ele está colocando em
cheque a presunção relativa que recobre o ato da administração,
ele está colocando em cheque, porque, se esses argumentos eles
são de cunho fático, não basta argumentar, eu tenho que provar
também, eu acho que a presunção que milita em favor do ato
administrativo, ela envolve não só a provocação do Partes requeiram produção
contribuinte, o ato de provocação, aquele que quer se insurgir, desta prova
o ato da propositura da ação, mas também a prática no bojo do
processo de todos os atos necessários, inclusive a provocação
da prova e no caso da prova pericial, eu acho que tem mais
relevância ainda, porque a prova pericial envolve um custo que
outras provas não envolvem, então eu acho que teoricamente a
resposta poderia ser positiva em função de autorização
normativa, mas eu acho que uma perícia não seria determinada
de ofício pelo juízo de início, eventualmente, o que eu posso
ter é uma coparticipação de ofício de juiz. Então, imagine o
seguinte, a parte, o contribuinte, pede a produção de prova
pericial para demonstrar o fato A, B, e C, ele apresenta lá os
quesitos dele, juízo olha para os quesitos, a prova tá aprovada
e aí ele complementa, ele acrescenta quesitos ou reescreve
algum quesito, aclara, aí eu tenho uma participação ativa do
juízo na produção da prova, mas é uma participação que é
coadjuvante, não é uma participação que a gente possa
14

qualificar como prova, determinada de ofício, eu faria só esta


ressalva, porque é diferente de outros ambientes, uma questão
de Direito de família, uma questão de Direito do consumidor,
o penal tem o código de processo penal, então, todos os outros
direitos eles se valem do código de processo civil e aí você tem
essa norma guarda-chuva que cobre tudo. Aí a gente tem que
particularizar as coisas, especialmente na questão do direito
público, e aí o direito tributário está incluído, a gente tem que
ter cautela em relação à questão da presunção, embora ela seja
relativa, ela tem que ser respeitada, eu acho que o juízo tem que
ser provocado neste aspecto.

4) Você entende que os laudos contábeis que foram apresentados


em sua Vara após a realização de Perícias influenciaram na
prolação de suas sentenças?

Assim, essa é uma questão que é mais opinativa. Eu teria


Sim
que fazer uma espécie de levantamento estatístico, mas a
minha lembrança é que massivamente, massivamente
influenciaram, eu não consigo me lembrar de um caso em
que o contrário tenha acontecido, necessariamente, algum
aspecto do que eu me lembro, assim nas sentenças que
foram produzidas, sempre faziam referência ao Laudo,
não importa se acolhendo ou rejeitando aquilo que o
sujeito que pediu a prova tá querendo, muitas vezes a
pessoa pede a produção da prova, mas é o contribuinte,
isto não significa que a prova vai chegar à conclusão que
ele quer, muitas vezes não chega, e eu tenho isto muito
marcado na minha memória, em grande medida os laudos Prova Pericial
não serem absolutamente convergentes para aquilo que o
contribuinte deseja e deles serem altamente
influenciadores da decisão final.
15

5) Você considera que a contabilidade através da Perícia contábil


poderia ser mais utilizada como instrumento a colaborar nas
decisões de processos tributários? Por que?

Eu acho que sim, porque justamente, muitos aspectos que


surgem no contencioso não são puramente normativos, as Sim

questões, lides, os litígios, elas não são apenas relacionados à


norma, é constitucional ou não é inconstitucional, a portaria é
legal ou ilegal, a gente vive tempos em que o contencioso de
tese jurídica, ele é muito menos presente, ao contrário do
contencioso sobre interpretação de fatos, fatos econômicos, é
muito mais relevante e a boa interpretação do fato econômico,
muitas vezes demanda intervenção contábil, de conhecimento
contábil que o juízo não tem, então poderia sim, poderia, eu
acho que essa é uma demanda que lamentavelmente não é
cumprida em função da inabilidade de grande parte dos
advogados que entram neste jogo, nesta matéria, como eu tinha
dito antes, eu não acho que seja possível jogar na mão do juízo
a responsabilidade pela construção do fato, pela reconstrução
do fato, já que a gente está falando de uma questão que vem
vestida de presunção de legitimidade, então cabe à parte
representada pelo advogado reconstruir o fato dentro do
processo e isto, obviamente, depende de certa afinidade do
advogado com as questões que ele está lidando, eu acho que é
a gente se ressente muito nos dias atuais, que a gente tem um
contencioso muito forte sobre fato, nem tanto sobre Direito, a
gente se ressente muito da falta de conhecimento mínimo sobre
as operações, os advogados, eu não estou falando, tirando como
juiz o corpo fora, que o juiz também tem, o advogado é o
primeiro que fala dentro do processo, ele que provoca a
movimentação, não falo que ele tem de conhecer contabilidade,
André, mas ele tem que conhecer a operação do cliente dele,
então assim, você está falando do que, de um varejista, de
alguém que trabalha com transporte aéreo, com exploração
mineral, todas essas atividades tem características próprias e
esse sujeito tem que conhecer isto, pra saber interpretar os fatos
16

sujeito à tributação do seu cliente e aí quando ele tem este tipo


de conhecimento ele sabe demandar a prova pericial contábil, a
contabilidade, porque ninguém é titular de conhecimento pleno
de nada, nem o advogado, nem contribuinte, nem o contador,
nem o juiz, todo mundo tem que estar amarrado, num mesmo,
consórcio intelectual e trazer os elementos, vou dizer como
perito contador você não tem conhecimento das operações, de
todas as operações possíveis, isto precisa ser revelado por
aquele que postula se o sujeito faz uma advocacia de repetição
de petições, obviamente que ele não vai ter conhecimento de
nada, então não vai demandar prova, de maneira apropriada, eu
acho que a prova pericial contábil ela poderia ser muito mais
demandada, e aí a gente poderia ir até além, saindo do plano do
processo judicial e indo para plano do processo administrativo
e grande parte das coisas se desembaraçariam no plano do
processo administrativo, nos tribunais administrativos, nas
delegacias de julgamento, no TIT, no CARF, e assim por diante
e que, infelizmente, a gente não chegou neste estado da arte
ainda, mas acredito que chegaremos.

Questionário - Juiz 06 Códigos

1) Prezado Magistrado, você entende que o Direito Tributário está


obrigatoriamente ligado a contabilidade?

Segurança
Entendo estar ligado, a contabilidade dá segurança, confere
celeridade para proferir um desfecho ao processo.

2) Prezado Magistrado, você entende que a contabilidade pode ser


um instrumento a suportar as decisões judiciais em sede de
prolação de sentença?
Instrumento

Sim, suplanta 99% das decisões, se envolver questões fáticas.


Elemento de prova

3) Havendo dúvida acerca dos aspectos de prova para sustentar o


Direito material tributário, este Magistrado entende que deverá
17

instituir a avaliação pericial independente do requerimento das


partes?

Entendo que o juiz inerte não pode, precisa ter o mínimo


Partes requeiram produção
desfecho, mas quem tem que fazer a prova são as partes, se desta prova
existe um mínimo de desfecho, entendo que tem que existir um
juiz proativo, mas a provocação tem que ser dar partes para que
evitemos o risco da imparcialidade.

4) Você entende que os laudos contábeis que foram apresentados


em sua Vara após a realização de Perícias influenciaram na
prolação de suas sentenças?
Sim
Sim, 99%. Se o perito conclui que é crível, me escoro nas
conclusões do expert.

5) Você considera que a contabilidade através da Perícia contábil


poderia ser mais utilizada como instrumento a colaborar nas
decisões de processos tributários? Por que?

Sim, ela poderia. Ocorre que nas execuções isto é muito


Sim
complicado, não há casos de justiça gratuita e pode haver o
pagamento de sucumbência e os honorários periciais
encarecem o processo, o que acaba espantando o contribuinte,
para mim a justiça federal deveria ter um setor especializado Pagamento pela Perícia
em perícias, para atender o lado jurisdicional.

Questionário - Juiz 07 Códigos

1) Prezado Magistrado, você entende que o Direito Tributário está


obrigatoriamente ligado a contabilidade?

Basicamente, conforme eu já havia iniciado, eu acho que


algumas questões dependem de entendimento legal do
magistrado que necessariamente não passaria pelo crivo da
contabilidade especificamente, mesmo porque eu entendo que
18

a CDA já tem uma legitimidade capaz, ela é tão rica forte em


Compreensão
elementos, para desconstituí-la eu entendo que há de ter uma
prova muito forte, então se não for matéria de Direito e for
Conhecimento da
realmente a questão de erro do fisco, o que pode ocorrer, eu contabilidade
acho que a contabilidade neste caso é imprescindível, então o
depende, que eu digo é no sentido de analisar o caso concreto e
Direito Material
ver, isto daqui pode ser, existiu algum fato ligado ao
processamento anterior da CDA que pode ter contaminado o
título?... É neste sentido.

2) Prezado Magistrado, você entende que a contabilidade pode ser


um instrumento a suportar as decisões judiciais em sede de
prolação de sentença?

Totalmente, eu acho que, eu verificando no caso concreto que


Instrumento
há necessidade de uma perícia contábil é nela em que a sentença
vai se basear, por isso a necessidade de ter um perito de bastante
confiança do juízo, que este perito tenha a liberdade de
consultar, de conversar com o magistrado, para que o processo
tenha uma direção, uma instrução, de forma a satisfazer toda as
partes do processo, não só o autor da ação como o réu também,
e o juiz neste sentido fica muito mais tranquilo para proferir sua Elemento de prova
decisão.

3) Havendo dúvida acerca dos aspectos de prova para sustentar o


direito material tributário, este Magistrado entende que deverá
instituir a avaliação pericial independente do requerimento das
partes?

Tudo depende do caso concreto, na maioria dos casos que eu


Partes requeiram produção
tenho visto, eu me restrinjo bem ao pedido das partes, porque desta prova
eu acho que magistrado não pode se sobrepor, determinando
prova, a não ser que, ele repute essencial para julgamento dele,
mas na matéria tributária, eu acho que a questão de Direito ela
é tão importante quanto a questão contábil, relativo àquele
direito argumentado, então veja, no caso concreto, vamos
19

estabelecer, posso exemplificar um caso, só para ilustrar,


recentemente nós tivemos a decisão do supremo acerca da
exclusão do ICMS na base de cálculo do PIS e da COFINS, e
aí os advogados, mesmo sem a decisão final proferida nos
Embargos de Declaração da decisão do Supremo, eles
entravam questionando o direito a esta exclusão. Bom, eles
entravam inicialmente, com Exceção de Pré-Executividade, aí
havia aquela controvérsia, por conta da decisão já se deferia, ou
iria para Embargos por necessidade de outras provas, porque a
Exceção de Pré-Executividade passou a ser, ter uma abertura,
que foi uma criação jurisprudencial lá atrás, e passou a ter uma
abertura muito grande, então começaram a ter verdadeiras
instruções processuais dentro da ação executiva, e isto era uma
dificuldade muito grande para o juiz discernir, o que era matéria
de direito, matéria de fato e acabava por alongar não só o
processo, como porque os embargos independem de garantia,
como a exceção, como a posterior interposição de Embargos à
Execução, depois de garantido o juízo, então com a Exceção de
Pré-executividade, eu tenho processo na minha Vara que as
exceções foram até o Supremo, e voltando à questão destes
embargos, algumas decisões foram no sentido de remeter nos
embargos por depender de provas e outras por decidir pela
exclusão, bom, enfim, agora está pacificada a questão, mas
enquanto não pacificar naquelas ações que foram remetidas
para Embargos à Execução Fiscal, o que competiria ao Autor,
quando ele propôs a inicial, ele trazer lá a relação dos valores
que ele recolheu, porque o ICMS é um tributo do Estado, então
existe aquela problema do estadual como do tributo federal, e
os advogados só alegavam para que a matéria de Direito fosse
analisada, aí o fisco propriamente dito, ele não tem, se eu
decidir em embargos na Exceção de Pré-Executividade, se eu
decidisse olha, exclua da base de cálculo e retifique a CDA, ele
não tinha como fazer isto, se tivesse um processo
administrativo fiscal, em sede administrativa para ele apurar,
depende das informações do executado, porque as informações
que são prestadas nas declarações, elas, eu acho que elas não
20

possibilitam o fisco a fazer estas deduções, tenho dúvidas e por


isso que aí entra a parte que em algumas questões a
contabilidade está totalmente associada ao processo tributário,
a execução judicial que muitas vezes nem o fisco, nem o juízo
têm condições de avaliar, um dado material. Então, por
exemplo, nestes casos, não bastaria eu só dizer olha, a decisão
do supremo está ok, deduza da base de cálculo, porque eu tenho
que saber quanto ele tem que deduzir, minha sentença tem que
ser líquida e certa, eu tenho que saber, ele prestou informação
ao fisco e fisco com base na informação dele que fez a
inscrição, pelo menos alguns que eu já analisei, eles vêm
destituídos de prova e a parte você manda especificar prova, e
a parte fala olha, eu quero julgamento antecipado da lide, e aí,
é ponto em que eu julgo improcedente os embargos dele por
falta de prova, não bem por falta de provas, ele não conseguiu
demonstrar que a CDA não estava adequada, ou seja, a Prova Pericial
presunção de legitimidade da CDA, ela não foi abalada por
conta da ausência das provas, que o ônus da prova é do autor,
então os advogados não gostam muito, quando a gente é muito
direto, muito positivo, porque o trabalho do advogado é muito
árduo, fazer esta prova não deve ser fácil, mas eles que
contratem um contador que faça todos estes cálculos, para falar
olha neste ponto a CDA está incorreta, porque ele acresceu isto,
não deveria...tal...tal. Agora, com a modulação dos efeitos
desta decisão do supremo, ficou um pouco mais fácil porque
nós temos um marco temporal, daquele marco para traz eu
esqueço, então a CDA está correta, agora do marco temporal
para cá, se ele não demonstrar que está distribuindo esta ação,
este fato jurídico, este tipo de tributação, se ele não estiver
discutindo este tipo de tributação, não me demonstrar e provar
que o fisco agiu indevidamente, ou não pedir prova neste
sentido a ação também não vai ser procedente para ele, então
quer dizer, eu acho que o rigor tem que ser de todas as partes,
às vezes a parte vai questionar um título que ele é
presumidamente ilegítimo, ela tem que trazer uma prova
contundente, então a perícia, ela nos dá total embasamento
21

quando nestes casos a gente tem que decidir olha, não tá


correto. Outro dia eu decidi uma ação em que houve a prova
pericial em que a pessoa se equivocou na hora da conversão da
UFIR para recolher o tributo, a ação foi parcialmente
procedente, porque ele não tinha recolhido totalmente, então
causa a irregularidade da CDA, então eu precisei de uma prova
pericial para verificar, realmente, o que aconteceu, houve um
Prova Pericial
erro de cálculo, porque a CDA não está OK, então neste sentido
a prova, ela tem uma grande influência no Direito material,
porque sem ela, a parte não vai conquistar a pretensão dela
senão fizer uma prova adequada.

4) Você entende que os laudos contábeis que foram apresentados


em sua Vara após a realização de Perícias influenciaram na
prolação de suas sentenças?

Muitas, quando eu verifico que a perícia não aborda com a Sim


profundidade necessária para eu estar plenamente convencida
e satisfeita com a prova, porque, veja, a prova é dirigida pela
teoria moderna, não é mais dirigida ao juiz pela teoria moderna
do processo, ainda é ao juiz porque ele que vai dizer, mas é
dirigida às partes, para que se esclareça o caso que está sendo
debatido, e aí esses laudos se revelam muito importantes,
porque eu tenho que entender o Direito e com base no Direito
que eu pretendo aplicar, verificar se aquele laudo me responde
Associada ao processo
as questões e isto é de suma importância, por isso que eu falei
tributário
que o laudo contábil integrado ao Direito material ele fecha a
instrução probatória para que a sentença tenha plena eficácia,
veja, não sou só eu que vou ler o processo, a gente não sabe até
onde, não viu que eu falei que foram até o Supremo, eu tenho
ações lá que as Exceções de Pré-Executividade foram até o
Supremo, então eu não sei quem vai ler aquele processo que
está sendo decidido por mim, então eu procuro fazer da melhor
forma, as coisas tem que ser encaixar de forma a fazer sentido
e estarem perfeitas para todos, porque nem todos vão ficar feliz
com a decisão, mas ela tem que ser dada e aí as partes têm o
22

direito de pedir a revisão no tribunal, mas eu acho que a


primeira análise do processo é fundamental para que em
segunda instância seja ratificado ou não aquela decisão.

5) Você considera que a contabilidade através da Perícia contábil


poderia ser mais utilizada como instrumento a colaborar nas
decisões de processos tributários? Por que?

Bem, eu acho que sim, mas nós encontramos um grande


Laudo Pericial
problema na questão de utilizarmos da perícia, porque essa
perícia tem que ser paga, e há uma resistência muito grande das
partes como do fisco. Quando o perito indica seus honorários,
eu estimo em tanto… aí sempre existe uma impugnação das
partes, é onde começa, aquela coisa demora, demora, demora,
porque um impugna, o outro fala não, tá bom, o outro fala eu
quero pagar parcial, eu quero perícia mas eu quero pagar
parcelado, então fazendo um paralelo com o Juizado Especial -
JEF, fazendo um paralelo com o JEF, lá nós tínhamos perícia
médica, então a especialidade do perito é de suma importância
para decisão do juiz, então por exemplo eu não posso, tinha
uma época de pandemia que as pessoas pediam auxílio doença,
eu não posso deferir o auxílio doença sem saber do médico se
a pessoa tem algum problema físico ou não, eu acho que este
raciocínio pode ser utilizado pela perícia contábil, mas eu
dependo das partes pedir, pedirem e também dependo que elas
paguem, porque muitas pedem perícia, aí você fixa os
honorários e a pessoa não paga, aí ele vai para julgamento,
porque ele nem sempre, ele não tem o intuito de provar mesmo,
a pessoa ter a certeza de que ela tem o direito, seria antiético da
minha parte aqui dizer algum exemplo, sem citar pessoas,
nomes, uma multa por exemplo, a multa decorre de um
determinado fato, e aí a pessoa embarga a execução, impugna
aquela multa e pede uma perícia não contábil, mas baseada no
que ela quer fazer nos fatos tal, com prova emprestada ou com
fato semelhante, ela quer fugir para poder conseguir uma prova
para procrastinar o processo, então aí que o juiz tem uma
23

barreira, bem fechada, que aprova, se atenha ao que está no


Pagamento pela Perícia
processo, porque quando é lavrado uma multa contra o
contribuinte, aquele fato é passível de intervenção na esfera
administrativa, ele pode fazer a prova dele lá, a não ser que ele
mostre algum vício muito evidente do processo administrativo
fiscal, ou coisa parecida, uma irregularidade insanável quanto
ao processamento, fora isto muito difícil uma prova para você,
vamos dizer, impugnar uma multa que é com base num fato
específico, eu acho que é um fato específico em lei, que já é
matéria, o ponto é mais de ordem jurídica do que probatória,
mas eu acho que tirando esta barreira de pagamento de perito,
eu acho que o nosso trabalho teria pelo menos 80% de sucesso,
se nós tivéssemos um perito subsidiando as nossas dúvidas, os
questionamentos específicos, hoje o que acontece no processo
de execução, as partes alegam, apresentam alguns documentos,
o fisco ele impugna aquela ação e apresenta o processo
administrativo fiscal, ou seja, o processo administrativo fiscal
ele tem fé pública, então a parte tem que tentar desconstituir
aquele processo administrativo fiscal e tentar mostrar onde está
a irregularidade, se de cálculo, ótimo, ou contábil, senão fica
muito difícil só a palavra de um contra o outro, existe um
contraditório efetivo nestes processos, mas eu vejo que muitos
processos é muito difícil da gente analisar sem o auxílio de um
expert no assunto, veja a especialidade dele para o juiz é difícil
Expert
se ele não tem o mínimo de instrução na área contábil, entender
o LALUR, entender todo o contexto que é feita a tributação da
empresa e a declaração que ela presta para o fisco, então
realmente a gente entender, mas quando as partes não pedem
prova e fica nesta questão de ah, eu disse isto, o outro eu disse
aquilo, então o juiz tem que decidir de alguma forma… Que às
vezes faz falta para a gente tirar dúvidas pelo menos, faz… É
uma especialidade muito relevante no Direito tributário…
Existe muito aquela questão, eu tinha uma lei, eu fui
beneficiado e agora eu estou excluindo, base de cálculo
negativa tal, é difícil, precisa de um perito mesmo em algumas
vezes, tem que conseguir se virar com material que temos, com
24

o que conseguimos verificar do processo, essa pessoa perdeu o


direito dela de pedir a prova, não tem o que fazer muito.

Questionário - Juiz 08 Códigos

1) Prezado Magistrado, você entende que o Direito Tributário está


obrigatoriamente ligado a contabilidade?

Acaba estando, o Direito tributário sim, não todo ele, mas uma
parcela significativa da tributação federal, ligada por exemplo
ao Lucro Real, que um conceito contábil e os outros conceitos
dos PIS e da COFINS sobre… esqueci agora o termo… mas
Base de Cálculo
que diz respeito à base de cálculo, se são despesas
imprescindíveis, tem um termo técnico que não me ocorre
agora, mas aquelas despesas dedutíveis, são aquelas, as
imprescindíveis para consecução do negócio, isto são conceitos
indeterminados, tanto é que, uma grande conflituosidade de PIS
e COFINS por conta desta base de cálculo que é fixada pelo
legislador em termos abstratos, mas cujo a concretude vai ser
distinta para cada negócio e, em cada negócio, a contabilidade,
nós esperamos que seja a contabilidade que vai espelhar essas
realidades, então o instrumento no qual o direito tributário vai
conhecer esta realidade empresarial é através da contabilidade,
já que normalmente faz análises documentais, com isto a
contabilidade e o Direito tributário, eles estão para muitos
tributos, umbilicalmente ligados, toda tributação indireta, ela
exige uma clareza muito grande para que as regras jurídicas
possam se fazer presente, fazer valer.

2) Prezado Magistrado, você entende que a contabilidade pode ser


um instrumento a suportar as decisões judiciais em sede de
prolação de sentença?
25

Com certeza, André, todas as vezes em que há perícia


Instrumento
contábil e, no nosso universo, elas não são raras, pelo
contrário, elas são frequentes, a sentença, pelo menos no
meu modo de ver, precisa fazer referência à perícia, do
contrário não teria sentido ter uma perícia, só teria sentido
ter uma pericial como instrumento de prova e como ela
Elemento de Prova
precisa ser declarada na sentença, pelo menos nas minhas,
nós procuramos acompanhar as conclusões periciais por
um motivo ou por outro.

3) Havendo dúvida acerca dos aspectos de prova para sustentar o


direito material tributário, este Magistrado entende que deverá
instituir a avaliação pericial independente do requerimento das
partes?

Particularmente não, como meu entendimento pessoal é


Partes requeiram produção
que o juiz deva julgar com elementos de prova que desta prova
estiverem nos autos, as partes têm oportunidade de
requererem provas antes da sentença, antes da fase
probatória que é uma espécie, para mim, de fase de
saneamento e cabe às partes requererem provas, e assim
eu vim conduzindo as minhas decisões, ou provavelmente
uns 20 anos até que o próprio TRF começou a.... eu fazia
Prova pericial
menção na sentença que entendia que análise demandaria
análise técnica (prova pericial), e uma das partes não se
interessou por realizar a prova, como ela não acreditasse
nesta própria prova… e o tribunal, uma vez no passado
reformava minhas sentenças, dizendo que a prova pericial
era necessária e tinha que mandar fazer, do meu ponto de
vista subjetivo, eu passei quando eu entendesse que a
prova pericial era essencial que as partes acabassem
requerendo, não requerendo, eu acabei determinando, mas
apresentando os seus quesitos, apresentando a
documentação necessária e pagando pela perícia, mas
26

registro, André, que não é sem algum grau de desconforto,


eu preferiria que as partes tomassem a inciativa e via a
ausência de iniciativa como fragilidade de argumentação,
mas me submeto às decisões do tribunal com naturalidade.

4) Você entende que os laudos contábeis que foram apresentados


em sua Vara após a realização de Perícias influenciaram na
prolação de suas sentenças?

Com certeza absoluta, senão não teria sentido realizar a prova,


Sim
sim sempre que tem prova pericial nos autos, ela reflete a
sentença, às vezes, André, eu não acolho integralmente a
análise, a conclusão do perito, eu não tenho formação contábil,
mas fiz curso quando antes da magistratura, curso de Laudo Pericial
contabilidade para profissionais não contadores e que me deu
um mínimo de conhecimento na contabilidade e quando eu não
me sinto convencido pelo perito, eu acabo não acompanhando
as conclusões, mas sempre que tem perícia ela é refletida na
sentença.

5) Você considera que a contabilidade através da Perícia Contábil


poderia ser mais utilizada como instrumento a colaborar nas
decisões de processos tributários? Por que?

Eu acho que não, porque nós já temos uma quantidade


significativa de perícias sendo realizada, talvez apenas naquele
pequeno universo que o magistrado, em que as partes não
requereram a perícia e o magistrado entendia que ela era
necessária e assim como eu mudei de opinião, talvez outros
colegas possam mudar de opinião também, nas hipóteses em
que a ausência da perícia não permitiu ao magistrado uma
conclusão mais segura, então ela passaria a solicitar mais
perícias, mas no geral não. Acho que nós temos um número de
perícias contábeis adequado.
27

Questionário - Juiz 09 Códigos

1) Prezado Magistrado, você entende que o Direito Tributário está


obrigatoriamente ligado a contabilidade?

Sim, nos aspectos quantitativos do fato gerador tributo. Base de Cálculo

2) Prezado Magistrado, você entende que a contabilidade pode ser


um instrumento a suportar as decisões judiciais em sede de
prolação de sentença?

Sim, quando pertinente este tipo de prova. Elemento de prova

3) Havendo dúvida acerca dos aspectos de prova para sustentar o


direito material tributário, este Magistrado entende que deverá
instituir a avaliação pericial independente do requerimento das
partes?
Sim

Sim.

4) Você entende que os laudos contábeis que foram apresentados


em sua Vara após a realização de Perícias influenciaram na
prolação de suas sentenças?

Sim
Certamente influenciaram.

5) Você considera que a contabilidade através da Perícia contábil


poderia ser mais utilizada como instrumento a colaborar nas
decisões de processos tributários? Por que?

Poderia. A razão da resposta é a seguinte: tenho observado Sim


casos em que a parte desiste prematuramente da prova,
sucumbindo por essa razão, apenas porque não quer antecipar
Pagamento pela Perícia
os custos da perícia.

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