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PERÍCIA CONTÁBIL

Autoria: Jorge da Silva Krening

UNIASSELVI-PÓS
Programa de Pós-Graduação EAD
CENTRO UNIVERSITÁRIO LEONARDO DA VINCI
Rodovia BR 470, Km 71, no 1.040, Bairro Benedito
Cx. P. 191 - 89.130-000 – INDAIAL/SC
Fone Fax: (47) 3281-9000/3281-9090

Reitor: Prof. Hermínio Kloch

Diretor UNIASSELVI-PÓS: Prof. Carlos Fabiano Fistarol

Coordenador da Pós-Graduação EAD: Prof.ª Cláudia Regina Pinto Michelli

Equipe Multidisciplinar da
Pós-Graduação EAD: Prof.ª Bárbara Pricila Franz
Prof.ª Cláudia Regina Pinto Michelli
Prof. Ivan Tesck

Revisão de Conteúdo: Fábio Darci Kowalski


Revisão Gramatical: Iara de Oliveira
Revisão Pedagógica: Bárbara Pricila Franz

Diagramação e Capa:
Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI

Copyright © UNIASSELVI 2017


Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri
UNIASSELVI – Indaial.

657.450
J92p Krening, Jorge da Silva
Perícia contábil / Jorge da Silva Krening. Indaial :
UNIASSELVI, 2017.
143 p. : il.

ISBN 978-85-69910-36-7

1. Perícia Contábil.
I. Centro Universitário Leonardo Da Vinci.
Me. Jorge da Silva Krening

Possui Mestrado em Controladoria pela


Universidade Presbiteriana Mackenzie. Especialista
em Auditoria e Perícia pela Universidade Federal do
Rio Grande do Sul e Graduação em Ciências Contábeis
pela Universidade Federal de Santa Maria. Profissional
especializado em auditoria e controladoria, com atuação
destacada na avaliação de riscos e controles internos.
Possuí comprovada experiência em auxiliar e subsidiar os
Risk Owners (donos do risco) nos processos de gestão de
riscos, monitorando os resultados, consolidando práticas,
metodologias e planos de ação por meio de reportes, além
de elaborar e disseminar políticas e normas internas em seus
diversos níveis. Tem vivência na elaboração e aplicação de
matrizes de riscos, conforme estrutura conceitual COSO
(Committee of Sponsoring Organizations). Além da vivência
em auditoria, tem experiência no planejamento, organização
e supervisão das atividades de contabilidade, coordenação
e implantação de diretrizes, metodologias e politicas
corporativas. Também atua como professor de Auditoria e
Contabilidade Avançada nos cursos de pós-graduação
do grupo UNIASSELVI. Possuí experiência em diversos
segmentos (comércio, indústria, prestação de serviço e
instituições financeiras).

Artigos completos publicados em periódicos:


IMONIANA, J.O.; KRENING, J. Adesão das Cooperativas
de Crédito à Framework de Controles Internos. Revista
Organizações em Contexto (Online)., v. 11, p. 571 -
601, 2015.

Capítulos de livros publicados:


KRENING, J. Identificação e avaliação dos riscos
de distorção relevante por meio de entendimento
da entidade e seu ambiente. In: PROCONTAB
Contabilidade. Auditoria independente. Porto
Alegre: Artmed Panamericana, 2016, v.3, p.
9-25.
Sumário
APRESENTAÇÃO...................................................................... 7

CAPÍTULO 1
Fundamentos da Perícia Contábil ........................................ 9

CAPÍTULO 2
Plano de Trabalho em Perícia Contábil ............................ 23

CAPÍTULO 3
Parecer e Laudos Periciais.................................................. 33

CAPÍTULO 4
Perícia Judicial....................................................................... 53

CAPÍTULO 5
Técnicas de Execução da Perícia........................................ 61

CAPÍTULO 6
Aplicação da Perícia Contábil............................................. 71

CAPÍTULO 7
Arbitragem..............................................................................79

CAPÍTULO 8
Normas Brasileiras Sobre a Perícia................................... 91

CAPÍTULO 9
Fraudes em Contabilidade...................................................101

CAPÍTULO 10
Instituto da Prova Pericial................................................ 117

CAPÍTULO 11
Perícia no Código Civil Brasileiro.................................... 127

CAPÍTULO 12
Casos Práticos de Perícia Contábil..................................135
APRESENTAÇÃO
Prezado(a) acadêmico(a), a partir deste momento você terá a oportunidade de
conhecer o que é perícia contábil. Trata-se de um tema de grande importância na
sua formação profissional, pois lhe dará a base necessária para que possa encontrar
excelentes oportunidades no mercado de trabalho. Isso depende apenas do seu
comprometimento com o estudo.

Serão abordados os aspectos introdutórios, nos quais buscaremos registrar


as regras da perícia atribuídas ao contador, a origem da perícia de âmbito geral e
o surgimento da perícia contábil no Brasil. Dando prosseguimento, buscaremos
identificar os objetivos, conceituar o sentido e, também, os elementos da perícia.
Trataremos, do mesmo modo, do perfil do profissional habilitado para o exercício da
perícia. Esforçamo-nos para conceituar e esclarecer que a tomada de decisão cabe
aos Juízes Estaduais e Federais, os quais conduzem os processos de acordo com o
Código de Processo Civil. Também procuramos esclarecer questões sobre o início e
as características da matéria pericial, fundamentos doutrinários, a ética profissional,
bases contextuais, exercício profissional, a função contábil e o perito.

Teremos por assunto uma abordagem histórica e as características que


levaram à realização da perícia, como classificação, requerimento e trabalhos
técnicos da contabilidade.

Para nos tornarmos afins de nossas atribuições, tornaremos evidente o


exercício profissional e ressaltaremos que, ao realizar uma perícia, podem ocorrer
irregularidades administrativas e irregularidades contábeis. No que diz respeito a
essas irregularidades, o assunto abordado deve ser demonstrado em um laudo
elaborado pelo profissional da área denominado de perito.

Por fim, versaremos sobre as fraudes em contabilidade e, também, sobre o


instituto da prova pericial. Daremos ênfase para a Lei n. 13.105/2015, responsável
por trazer novidades e mudanças significativas no que diz respeito à perícia, em
especial à perícia contábil.

Para melhor entendimento do tema, apresentaremos algumas situações para


ilustrar como se dá a aplicação da perícia, portanto, abordaremos, de forma breve e
sucinta, a perícia nas áreas trabalhista e bancária.

Com esta exposição, é possível percebermos a relevância desta matéria.


Desejo a você uma boa leitura e que este caderno lhe forneça subsídios para sua
aprendizagem. Bons estudos!

O autor.
C APÍTULO 1
Fundamentos da Perícia
Contábil

A partir da perspectiva do saber fazer, neste capítulo você terá os seguintes


objetivos de aprendizagem:

 Compreender os fundamentos e conceitos da Perícia Contábil de acordo com


a legislação vigente.

 Desenvolver os conhecimentos conceituais para utilização no campo da Perí-


cia Contábil.
Perícia Contábil

10
Capítulo 1 Fundamentos da Perícia Contábil

Contextualização
Para entendermos como se dá a aplicação prática da perícia contábil,
primeiramente devemos abordar os aspectos introdutórios, nos quais é
importante estudar as regras atribuídas ao perito-contador por meio das leis que
regulamentam a atividade, sua origem e principais objetivos e finalidades.

Este capítulo apresenta conteúdo atualizado e focado para os principais


fundamentos inerentes a este ramo do conhecimento, abordando, de forma breve,
aspectos históricos da perícia.

Procuramos trazer informações relevantes acerca da perícia judicial,


extrajudicial e arbitral e, sobre assuntos que ajudarão você, pós-graduando(a), a
ter maiores esclarecimentos sobre o tema, incluindo questões sobre o exercício
profissional, a função contábil e o perito. Com esta exposição é possível
percebermos a relevância desta matéria.

Desejo a você um bom estudo e que este capítulo lhe forneça subsídios para
sua aprendizagem.

Conceitos e Finalidades
Antes de falarmos em perícia contábil, primeiramente, faz-se necessário
entender e compreender o conceito mais generalista de perícia. Para levantamento
da prova pericial, objetivo principal da perícia, são necessários habilidades e
conhecimentos que recaem em áreas específicas (administração, engenharia,
medicina, contabilidade, etc.).

Portanto, podemos fundamentar a perícia contábil como um apanhado de


procedimentos técnico-científicos que objetivam dar suporte à uma instância
decisória, elementos de prova que servirão como subsídio para uma justa solução
do litígio ou constatação de fato. Isso se dará por meio de laudo pericial contábil
ou parecer técnico-contábil, que deverá estar em conformidade com as normas
jurídicas e profissionais e com a legislação específica no que for pertinente.

De maneira geral, perícia é o testemunho técnico, visando conhecer um


fato cuja existência não pode ser acertada ou juridicamente apresentada, se não
suportada em conhecimentos técnicos e científicos.

11
Perícia Contábil

A necessidade de se fazer uma perícia ocorre sempre que se


perícia é o
testemunho apresentam as seguintes características:
técnico, visando
conhecer um fato • Surge de um conflito latente e manifesto que se quer esclarecer.
cuja existência não
pode ser acertada • Constata prova ou demonstra veracidade de alguma situação, coisa
ou juridicamente
ou fato.
apresentada, se
não suportada em
conhecimentos • A perícia se fundamenta em requisitos técnicos, científicos, legais e
técnicos e profissionais.
científicos.
• Sua materialização deve ocorrer segundo forma especial, à instância
decisória, a transmissão da opinião técnica ou científica sobre a
verdade dos fatos, de modo que a verdade jurídica corresponda
àquela (BARBOZA, 2010).

Nas palavras de Sá (2005), a perícia contábil é a verificação de fatos


ligados ao patrimônio individualizado, visando oferecer opinião, mediante
questão proposta. Para tal opinião, realizam-se exames, vistorias, indagações,
investigações, avaliações, arbitramentos, em suma, todo e qualquer procedimento
necessário à opinião.

Breve Histórico
Historicamente, a perícia está intrinsicamente ligada à cultura dos povos
antigos, que foram responsáveis pela sua introdução. Vestígios de perícia são
encontrados, registrados, e documentados na civilização antiga do Egito, e,
também, na Grécia, um dos berços da sistematização dos conhecimentos jurídicos.

Naquela época, surgiu a figura dos especialistas em determinados campos do


conhecimento, visando realizar verificação e exames de determinadas situações.

Considerando o aspecto de tempo e espaço, entendemos ser importante


analisar o Quadro 1, que sintetiza, de forma objetiva, a cronologia histórica da
evolução da perícia contábil:

12
Capítulo 1 Fundamentos da Perícia Contábil

Quadro 1 – Cronologia histórica da perícia


Período Principais Acontecimentos
Primeiros sinais do uso da contabilidade e primeiros vestígios de perícias para
Ano 4000 a.C
agrimensura.
Claras referências da realização de perícias de levantamento de locais de morte
Ano 1248 a.C.
violenta na obra Si Yuan Lu, do Juiz Song Ts’Eu na China.
Vestígios de escritas de perícia no papiro Abbot, ao tempo do Imperador Adriano
Trajano Augusto. Corresponde a um autêntico laudo do médico Caio Minucio Valeria-
Ano 130 d.C
no, do burgo de Caranis, a propósito de ferimentos na cabeça recebidos por um
indivíduo chamado Mysthorion.
O Imperador Carlos Magno, nas Leis Capitulares, Sálicas e Germânicas, exigia a
Século VIII
interferência de médicos para analisar ocorrências de mortes violentas.
A partir do Século Grande desenvolvimento da perícia como instrumento de prova na Grécia, França,
XIII Inglaterra e Itália.
O Papa Gregório XI, nas Leis Decretais, determinava a realização de perícias médi-
Século XIV
cas para a comprovação de casos de impotência, aborto e lesões corporais.
A perícia surge regulamentada no Brasil pela Lei n. 556 de 25 de junho de 1850
– Código Comercial – que estabeleceu o Juízo Arbitral obrigatório nos casos de
No ano de 1850 abalroação de navios. Regulamento n. 737, de 25 de dezembro de 1850, sobre o
funcionamento do perito. Em matéria contábil, é escolhido o profissional formado em
aula de Comércio com posse da Carta de Habilitação.
Pela primeira vez, é utilizada a arbitragem na chamada ‘Questão Christie’, caso que
envolvia a detenção de oficiais da marinha britânica por autoridades policiais brasi-
No ano de 1863
leiras. A arbitragem, cujo laudo foi favorável ao Brasil, foi feita pelo Rei Leopoldo, da
Bélgica.
Revogado o Juízo Arbitral obrigatório pela Lei n. 1.350 (o juízo arbitral voluntário
No ano de 1866
permaneceu).
O governo brasileiro decreta lei sobre peritos contabilistas, estabelecendo suas
No ano de 1911
atribuições.
No ano de 1916 É aprovado o regulamento pronunciando-se sobre a perícia contábil.
Entra em vigor a Lei n. 3.071, de 1º de janeiro de 1916 – Código Civil, que tem trata
No ano de 1917
sobre a profissão do contador e, consequentemente, a perícia contábil.
Entra em vigor o Decreto Lei n. 1.608, de 18 de setembro de 1939. Definia a partici-
No ano de 1939 pação do perito nas ações judiciais, mais precisamente, no campo do direito civil e
comercial.
Entra em vigor o Decreto Lei n. 9.295 de 27 de maio de 1946, que define as atribui-
No ano de 1946
ções do Contador e do Guarda-livros, a legalização da perícia contábil.
Entra em vigor o Novo Código de Processo Civil, Lei n. 7.270, de 10 de dezembro de
No ano de 1973
1984. Estabeleceu-se que o perito necessitava de formação universitária.
O Conselho Federal de Contabilidade aprova as Resoluções CFC n. 1.243/09, que
No final do ano de
aprova a NBC TP 01- Perícia Contábil e a Resolução CFC n. 1.244/09, que aprova a
2009
NBC PP 01 – Perito Contábil.

Fonte: Manual de Procedimentos Periciais (2010).

13
Perícia Contábil

Em relação ao Brasil, Sá (2009) comenta que, embora as informações


ocorressem de forma precária, o que se sabe é que a perícia surgiu em um evento
da classe contábil em 1924, quando aconteceu o primeiro Congresso Brasileiro de
Contabilidade.

Magalhães et al. (2008) corroboram com Sá (2009) e citam que foi com
o advento do “segundo” Código de Processo Civil, criado pela Lei n. 5.869/73,
por meio das Leis Complementares atribuídas ao Código de Processo Civil,
que as perícias judiciais tiveram ampliada a sua legislação, ficando de forma
clara e aplicável. Neste contexto, foi inclusa a Legislação Trabalhista e o Direito
Comercial, que adotam a mesma metodologia que as jurisprudências de natureza
processual civil, ampliando a área atingida pela perícia.

Perito-Contador
A perícia contábil é de competência exclusiva do contador em situação regular
perante o Conselho Regional de Contabilidade de sua jurisdição. O Decreto-Lei
n. 9.295/46, que regulamenta a profissão de Contador, especificamente no seu
artigo 25, alínea “c”, deixa claras as prerrogativas e atribuições dos profissionais
da contabilidade em relação à perícia.

[...] as perícias contábeis ou extrajudiciais, revisão de balanços


e de haveres, revisão permanente ou periódica de escritas,
regulações judiciais ou extrajudiciais de avarias, grossos ou
comuns, assistência aos conselhos Fiscais das Sociedades
Anônimas e quaisquer outras atribuições de natureza técnica
conferidas por lei aos profissionais de contabilidade. (BRASIL,
1946).

Portanto, aquele que executa a perícia é chamado de perito. Este profissional


deverá possuir conhecimento e experiência específicos na questão determinada,
pois deverá emitir sua opinião técnica sobre a matéria examinada. É por meio dos
exames que o perito trará clareza suficiente, trazendo à tona a verdade de fatos
complexos sobre determinado assunto.

Barboza (2010) conceitua o profissional perito como um agente ativo da


perícia, uma pessoa entendida sobre determinado assunto, expert, que tem
como objetivo esclarecer os aspectos técnicos dos fatos, mediante elaboração
de exame, ou de vistoria, indagação, investigação, arbitramento, avaliação ou até
certificação.

Vários autores conceituam e vinculam o perito como profissional da


contabilidade, tendo a grande maioria entendimento semelhante ao exposto

14
Capítulo 1 Fundamentos da Perícia Contábil

pelo CFC (Conselho Federal de Contabilidade), por meio da NBC PP 01 – Perito


Contábil: “Perito é o contador, regularmente registrado em Conselho Regional
de Contabilidade, que exerce a atividade pericial de forma pessoal, devendo ser
profundo conhecedor, por suas qualidades e experiências, da matéria periciada”
(CFC, 2012, p. 24).

Portanto, perito não é profissão, mas sim o exercício de uma função dentro
de seus conhecimentos para acurar determinado fato no âmbito de domínio. Para
isso, a qualificação é fator indispensável.

Habilitação Profissional
De acordo com o item 7 da NBC TP 01, o perito deve comprovar sua
habilitação:

[...] como perito em contabilidade por intermédio de Certidão de


Regularidade Profissional emitida pelos Conselhos Regionais
de Contabilidade. O perito deve anexá-la no primeiro ato de
sua manifestação e na apresentação do laudo ou parecer
para atender ao disposto no Código de Processo Civil. É
permitida a utilização da certificação digital, em consonância
com a legislação vigente e as normas estabelecidas pela
Infraestrutura de Chaves Públicas Brasileiras – ICP-Brasil.
(NBC, 2015).

No âmbito geral, a habilitação profissional significa o conhecimento de


determinado assunto, que permite apresentar os fatos comprovadores da
realização de atos ilícitos, e permita às autoridades dirimir dúvidas pertinentes.
Para isso, é necessário comprovar sua habilitação, que segundo Sá (2009, p.
277), “devem o perito-contador e o perito-contador assistente, fazê-lo mediante
apresentação de certidão específica, cujo documento é emitido pelo Conselho
Regional de Contabilidade, de acordo com a forma a ser regulamentada pelo
Conselho Federal de Contabilidade”.

A referida certidão deverá ser juntada ao processo no primeiro momento que


o perito-contador, ou o perito-contador assistente se manifestarem nos autos,
ficando habilitados para o exercício da função pericial contábil.

O CRC de cada estado é o órgão que emite a DHP, a qual é fornecida ao


profissional da contabilidade que está em dia com suas obrigações profissionais,
através do acesso à internet, na página do CRC, de acordo com seu estado de
origem. Os conselhos regionais seguem padrões de acesso e consultas.

15
Perícia Contábil

Figura 1 – Exemplo acesso site do CRC SC

Fonte: CRCSC. Acesso em: 31 maio 2016.

Neste curso que você está iniciando, a UNIASSELVI


disponibiliza, na sua plataforma virtual de aprendizagem, um conjunto
de materiais que auxiliarão nos seus estudos. Acesse com seu login
e senha no site da instituição: <www.uniasselvipos.com.br>.

A declaração fornecida está demonstrada a seguir:

Figura 2 – Exemplo de declaração de regularidade profissional

Fonte: CRCSC. Acesso em: 01 jun. 2016.

16
Capítulo 1 Fundamentos da Perícia Contábil

Tipos de Perícia
De acordo com a área de atuação à qual ela é demandada, a perícia pode
ser classificada em quatro tipos. A forma de execução se dará em função do tipo,
que também implicará o produto final a ser apresentado (laudo ou parecer).

Alberto (2009) classifica essas modalidades de perícia como: (a) perícia


judicial; (b) perícia semijudicial; (c) perícia extrajudicial; (d) perícia arbitral.

Segue um pequeno resumo para que você possa entender o conceito e


finalidade de cada uma delas:

a) Perícia Judicial

Quando os usuários principais forem os agentes do Poder Judiciário. Estes


realizarão o requerimento, considerando as regras legais estabelecidas. A perícia
judicial se divide em: finalidade apontada pelo processo e prova ou arbitramento.

Portanto, a perícia judicial será prova quando, no processo de conhecimento


ou de liquidação por artigos, tiver o propósito de trazer a verdade real, demonstrável
científica ou tecnicamente, para subsidiar a decisão do julgador; e será arbitramento
quando determinada no processo de liquidação de sentença, tiver por objeto
quantificar a obrigação mediante critério técnico em que ela se constituir.

Você sabia que: A expressão perícia é derivada do latim peritia,


que significa conhecimento. Portanto, quando falamos em perícia
não podemos nos limitar a uma determinada área do conhecimento.
Como exemplo, podemos citar: peritos-engenheiros, peritos-médicos,
peritos-psicólogos, peritos-criminais, etc. O chamado perito-contador
é o profissional habilitado para lidar com questões e fatos ligados à
Ciência Contábil.

17
Perícia Contábil

b) Perícia Semijudicial

Realizada dentro da grandiosidade institucional do Estado, não afetando


o Poder Judiciário, e com finalidade principal de ser meio de prova nos
ordenamentos institucionais usuários.

A perícia semijudicial subdivide-se em: (I) policial (nos inquéritos); (II)


parlamentar (nas comissões parlamentares especiais); e (III) administrativo-
tributária (nos conselhos de contribuintes). Alberto (2009) ressalta que são
classificadas em semijudiciais porque as autoridades policiais, parlamentares ou
administrativas têm algum poder jurisdicional, e por estarem sujeitas às regras
legais e regimentais semelhantes às judiciais.

c) Perícia Extrajudicial

É aquela realizada fora do Estado e da esfera judicial, não submetível a uma


outra pessoa encarregada de arbitrar a matéria conflituosa, inclusive fora do juízo
arbitral. São subdivididas em:

• Demonstrativas: mostrar a veracidade ou não do fato;


• Discriminativas: levantar os termos justos do fato em que há dúvida do
quantum;
• Comprovativas: comprovar fraudes, desvios, simulações, etc.

Quantum é uma palavra empregada para designar uma


quantidade ou uma quantia indeterminada. Portanto, quantia em
pecúnia, pedido em condenação. QUANTUM DEBEATUR: O
quanto se deve. QUANTUM SATIS: O quanto suficiente. SI ET IN
QUANTUM: Agora e enquanto perdurar a mesma situação. Exemplo:
Se o quantum da pensão alimentícia for fixado judicialmente, qual o
prazo de prescrição?

d) Perícia Arbitral

É aquela que não se enquadra em nenhum dos conceitos acima. É realizada


no âmbito da instância decisória criada pelas partes envolvidas. Subdivide-se em
probante e decisória, de acordo com a destinação de funcionamento.

18
Capítulo 1 Fundamentos da Perícia Contábil

Nos capítulos 4 e 7, você encontra um maior detalhamento


sobre perícia judicial e arbitragem.

Nomenclatura (Dispositivos
Reguladores)
É importante salientar a necessidade da observação por parte dos peritos,
dos princípios, normas e padrões. Estes se designam para fornecer aos peritos
um referente profissional, buscando a uniformidade, segurança jurídica e a
previsibilidade em relação aos seus atos.

NOMENCLATURA DE DISPOSITIVOS REGULADORES

a) Princípios: fundamentos da ação da ciência sobre seu objeto


e seu objetivo. Dos princípios decorrem as normas e os padrões.
Caracterizam-se pela universalidade e generalidade. Os princípios
funcionam como parte estrutural na atividade pericial, para a
aplicação de regras para a condução da perícia.

b) Normas: são os indicativos comportamentais, envolvendo as


técnicas e a ética, obrigatórios na execução da ciência. Caracterizam-
se pela generalidade e especificidade e são obedientes aos
princípios. São mutáveis e adaptáveis à realidade do ambiente.

c) Padrões: também são comportamentos técnicos e éticos, mas


oriundos do resultado das ações dos profissionais daquela ciência.
Representam a práxis adotada, habitualmente ou comumente.

Fonte: Conselho Federal de Contabilidade (2009).

19
Perícia Contábil

Leis que Regulamentam a Prática da


Perícia
Os primórdios do Código de Processo Civil (CPC) em 1939, já trazia regras
relacionadas à perícia, mas foi com o surgimento do Conselho Federal de
Contabilidade, por meio do Decreto-Lei n. 9.295/46, que foi institucionalizada a
perícia contábil de fato. Ou seja, as atribuições legais estavam a cargo exclusivo
dos contadores diplomados.

Considerando que a perícia contábil está em crescente evolução, foi, no


entanto, com uma nova edição do Código de Processos Civil (CPC), por meio da
Lei n. 5.869/73, que “as perícias judiciárias foram agasalhadas com tratamento
mais cristalino” (HOOG, 2005).

Temos, também, a legislação trabalhista e o Direito Comercial (CC/2002),


incluídos no contexto da atividade pericial, da mesma forma que a jurisprudência
de natureza processual civil.

Em função do crescimento da importância da Perícia Contábil no Brasil, o


órgão máximo de fiscalização do exercício profissional do Contador, o CFC
(Conselho Federal de Contabilidade), tomou para si a responsabilidade de editar
as normas que regulamentam o tema.

No exercício de suas atribuições legais, o CFC aprovou as seguintes normas:

• NBC PP 01 – Perito Contábil (última atualização em 27 de fevereiro de


2015): norma que estabelece procedimentos inerentes à atuação do contador na
condição de perito.

• NBC TP 01 – Perícia Contábil (última atualização em 27 de fevereiro de


2015): norma que estabelece regras e procedimento técnico-científicos a serem
observados pelo perito, quando da elaboração da perícia contábil, no âmbito
judicial, extrajudicial, mediante o esclarecimento dos aspectos e dos fatos do litígio
por meio de exame, indagação, investigação, arbitramento, avaliação e
Devemos lembrar
certificação.
sempre que
toda atividade
profissional, dentre Devemos lembrar sempre que toda atividade profissional, dentre
outras a da perícia outras a da perícia contábil, está sujeita às normas legais e aos
contábil, está sujeita procedimentos específicos.
às normas legais e
aos procedimentos
específicos.

20
Capítulo 1 Fundamentos da Perícia Contábil

Atividades de Estudos:

1) Cite as características que justificam a necessidade de se fazer


uma perícia.
_____________________________________________________
_____________________________________________________
_____________________________________________________
_____________________________________________________
_____________________________________________________
_____________________________________________________

2) De acordo com a área de atuação a perícia pode ser classificada


em quatro tipos. Conceitue cada uma delas.
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_____________________________________________________
_____________________________________________________
_____________________________________________________
_____________________________________________________

Algumas Considerações
Neste capítulo, procuramos apresentar o conceito de perícia contábil de
acordo com a legislação em vigência. Além disso, entendemos que a perícia não
está limitada somente a uma área do conhecimento.

Abordamos os tipos de perícias e as nomenclaturas dos seus dispositivos


regulares, verificando que a perícia judicial ocorre quando realizada por
requerimento ou necessidade dos agentes do Poder Judiciário, devendo obedecer
às regras.

É importante lembrar sempre que somente o profissional de contabilidade


(contador) pode atuar como perito, em função do seu domínio técnico em áreas
como direito tributário, bancário, comercial, financeiro, penal, administrativo,
constitucional, previdenciário, ambiental, trabalhista e processual.

21
Perícia Contábil

No próximo capítulo, abordaremos a metodologia e procedimentos


empregados pelo perito-contador para criação de um plano de trabalho de perícia
contábil.

Referências
ALBERTO, Valder Luiz Palombo. Perícia contábil. 4. ed. São Paulo: Atlas, 2009.

BRASIL. Decreto-Lei n. 9.295, de 27 de maio de 1946. Cria o Conselho Federal


de Contabilidade, define as atribuições do Contador e do Guarda-livros, e dá
outras providências. Diário Oficial da União. Rio de Janeiro: 1946. Disponível
em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/Del9295.htm>. Acesso em:
20 jun. 2016.

BARBOZA, Jovi. Perícia contábil e arbitragem. Maringá: Editora Projus, 2010.

CFC - Conselho Federal de Contabilidade. Normas brasileiras de


contabilidade: perícia contábil: NBC TP 01 e NBC PP 01. Brasília: Conselho
Federal de Contabilidade, 2012. Disponível em: <http://goo.gl/5Zcb3n>. Acesso
em: 20 jun. 2016.

HOOG, Willian Alberto Zappa. Prova Pericial contábil: aspectos práticos &
fundamentais.
4. ed. Curitiba: Juruá, 2005.

MAGALHÃES, A. de Deus et al. Perícia Contábil: Uma Abordagem Teórica,


Ética, Legal, Processual e Operacional. 6. ed. São Paulo: Atlas, 2008.

NBC. Normas Brasileiras de Contabilidade. NBC TP 01, de 27 de fevereiro de


2015. Dá nova redação à NBC PP 01 – Perito Contábil. Disponível em: <http://
www.normaslegais.com.br/legislacao/nbc-pp-01-2015.htm>. Acesso em: 02 jun.
2016.

SÁ, Antônio Lopes de. Perícia Contábil. 10. ed. São Paulo: Atlas, 2009.

22
C APÍTULO 2
Plano de Trabalho em Perícia
Contábil

A partir da perspectiva do saber fazer, neste capítulo você terá os seguintes


objetivos de aprendizagem:

� Compreender a metodologia e os procedimentos empregados para criação de


um plano de trabalho em Perícia Contábil.

� Aplicar a metodologia para desenvolvimento do plano de trabalho.


Perícia Contábil

24
Capítulo 2 Plano de Trabalho em Perícia Contábil

Contextualização
Para melhor atingir seus objetivos, o perito-contador deve, primeiramente,
preocupar-se e destinar tempo para a estratégia do seu trabalho. Para isso, faz-se
necessário um plano de trabalho ou um planejamento.

O objetivo principal é identificar o objeto da perícia e definir o escopo e


procedimentos do trabalho a ser executado na busca da prova pericial, que servirá
como alicerce para fundamentar a proposta de honorários, visando justificar, com
máxima clareza e transparência possível ao Juiz, o tempo necessário de acordo
com a complexidade, diligências e equipe técnica, demais custos, etc. Portanto, é
necessário justificar o porquê dos custos em toda fase da perícia, ou seja, desde
a leitura dos autos, coleta de informações até a emissão do produto final, o laudo
pericial.

Um plano de trabalho bem elaborado consiste em evitar que o Juiz, por


exemplo, por ausência de legitimidade, acabe arbitrando um valor que não seja
suficiente para cobrir os custos diretos e indiretos da perícia.

Com esta exposição, é possível percebermos a relevância deste capítulo.


Desejo a você bom estudo e que este material lhe forneça subsídios para sua
aprendizagem.

Conceito de Plano de Trabalho


(Planejamento) O planejamento ou
plano de trabalho
O planejamento da perícia ou plano de trabalho é a fase da perícia é uma espécie
antes das pesquisas, cálculos e respostas aos quesitos. É nesta etapa de guia norteador
que o perito do juízo estabelece a metodologia dos procedimentos que consiste na
quantificação do
periciais a serem aplicados, elaborando-a a partir do conhecimento do
tempo necessário à
objeto da perícia. realização de cada
etapa da perícia,
De maneira geral, o planejamento ou plano de trabalho é uma na estimativa
espécie de guia norteador que consiste na quantificação do tempo do valor dos
necessário à realização de cada etapa da perícia, na estimativa do honorários, de uma
forma organizada,
valor dos honorários, de uma forma organizada, com as reflexões
com as reflexões
necessárias e as medidas que devem ser tomadas em cada quesito. necessárias e as
medidas que devem
Os itens de 42 a 45 da NBC TP 01 tratam sobre o cronograma do ser tomadas em
planejamento dos trabalhos periciais. O item 42 dispõe: cada quesito.

25
Perícia Contábil

O perito-contador deve levar em consideração que o


planejamento da perícia, quando for o caso, inicia-se antes
da elaboração da proposta de honorários, considerando-se
que, para apresentá-la ao juízo, árbitro ou às partes no caso
de perícia extrajudicial, há necessidade de se especificar
as etapas do trabalho a serem realizadas. Isto implica que
o perito-contador deve ter conhecimento prévio de todas as
etapas, salvo aquelas que somente serão identificadas quando
da execução da perícia [...] (CFC, 2012, p. 9).

Já o item 44 dispõe sobre as evidências que o cronograma de trabalho deve


prever.

No cronograma de trabalho, devem ficar evidenciados,


quando aplicáveis, todos os itens necessários à
execução da perícia, tais como: diligências a serem
realizadas, deslocamentos, necessidade de trabalho
de terceiros, pesquisas que serão feitas, elaboração
de cálculos e planilhas, respostas aos quesitos, prazo
para entrega do laudo e outros, de forma a assegurar
que todas as etapas necessárias à realização da perícia
sejam cumpridas (CFC, 2012, p. 10).

É na fase de planejamento que o perito deve atentar para dois aspectos


É na fase de fundamentais do processo: o que está sendo demandado e a época do
planejamento que o acontecimento dos fatos. Portanto, é fundamental a leitura da inicial, da
perito deve atentar contestação ou da impugnação, dos documentos juntados pelas partes
para dois aspectos e dos quesitos elaborados pelo juízo e pelas partes.
fundamentais do
processo: o que está
sendo demandado
e a época do
acontecimento dos
Requisitos para Criação
fatos. Portanto,
é fundamental a
de um Plano de Trabalho
(Planejamento)
leitura da inicial,
da contestação ou
da impugnação, Para se montar um plano de trabalho eficaz, é necessário
dos documentos estabelecer requisitos, de acordo com o tipo de perícia. São eles:
juntados pelas
partes e dos • Pleno conhecimento do processo, se for judicial, e o direcionamento
quesitos elaborados dos objetivos;
pelo juízo e pelas
partes. • Conhecimento de todos os fatos que motivam a perícia, inclusive, a
identificação do local de realização da perícia;

• Levantamento prévio dos recursos disponíveis para o exame;

26
Capítulo 2 Plano de Trabalho em Perícia Contábil

• Do prazo de execução das atividades em entregar o laudo ou parecer;

• Acessibilidade aos dados, através de diligências;

• Conhecer os peritos assistentes;

• Verificar a relevância e o valor da causa;

• Verificar o planejamento das horas despendidas para a execução do


trabalho pericial.

Em relação ao cumprimento do prazo determinado ou contratado


para realização dos trabalhos de perícia, o perito deve considerar em seus
planejamentos:

• Conteúdo da proposta de honorários apresentada pelo perito-


contador e aceita pelo juízo, pelo árbitro ou pelas partes, no
Sempre devemos
caso de perícia extrajudicial, ou pelo perito-contador assistente;
lembrar que o pleno
conhecimento das
• Prazo suficiente para solicitar e receber os documentos, bem
razões pelas quais
como para a execução e a entrega do trabalho;
a perícia se realiza
deve determinar a
• Programação de viagens, quando necessárias.
filosofia e a política
do plano de trabalho
Sempre devemos lembrar que o pleno conhecimento das razões
a ser elaborado
pelas quais a perícia se realiza deve determinar a filosofia e a política
como guia.
do plano de trabalho a ser elaborado como guia.

Você deve saber que: Sempre que novos fatores exigirem ou


recomendarem, deve acontecer a revisão e a atualização dos planos
de trabalho.

Finalizando o Plano de Trabalho


A finalização do plano de trabalho da perícia se dá quando o perito-contador
terminar as análises preliminares. Do momento da origem, quando for o caso, à
proposta de honorários (nos casos em que o juízo ou o árbitro não tenha fixado,
previamente, honorários definitivos), aos termos de diligências e aos programas
de trabalho.

27
Perícia Contábil

Quadro 2 – Modelo planejamento para perícia judicial


Fase Pré-Operacional
TEMPO PRAZO
ITEM ATIVIDADE AÇÕES
ESTIMADO REAL ESTIMADO REAL
Após receber a intimação do
Carga ou
juiz, quando for o caso, reti-
1 recebimento h h XX/XX/XX XX/XX/XX
rar o processo da Secretaria.
do processo

Conhecer os detalhes acerca


do objeto da perícia, reali-
Leitura do XX/XX/XX XX/XX/XX
2 zando a leitura e o estudo h h
processo
dos autos.

Após estudo e análise dos


autos, constatando-se
que há impedimento ou
suspeição, não havendo
XX/XX/XX XX/XX/XX
interesse do perito ou não h h
Aceitação, estando habilitado para fazer
3 ou não, da a perícia, devolver o proces-
perícia so justificando o motivo da
escusa.
Aceitando o encargo da
perícia, proceder ao plane-
h h XX/XX/XX XX/XX/XX
jamento.

Com base na relevância,


no vulto, no risco e na
complexidade dos serviços,
entre outros, estimar as
horas para cada fase do
Proposta de trabalho, considerando ainda XX/XX/XX XX/XX/XX
4 h h
honorários a qualificação do pessoal
que participará dos serviços,
o prazo para a entrega dos
trabalhos e a confecção de
laudos interdisciplinares.

Execução da perícia
Com base na documentação
existente nos autos, elaborar
o sumário dos autos, indican-
XX/XX/XX XX/XX/XX
5 Sumário do o tipo do documento e a h h
folha dos autos onde pode
ser encontrado.

28
Capítulo 2 Plano de Trabalho em Perícia Contábil

Uma vez aceita a partici-


pação do perito-assistente,
Assistentes
6 ajustar a forma de acesso
técnicos
dele aos trabalhos.

Com fundamento no
conteúdo do processo e
nos quesitos, preparar o(s)
termo(s) de diligência(s) XX/XX/XX XX/XX/XX
7 Diligências h h
necessário(s), no (s) qual (is)
será relacionada a documen-
tação ausente nos autos.

Programar as viagens quan-


8 Viagens do necessárias. h h XX/XX/XX XX/XX/XX

Com fundamento no con-


teúdo do processo, definir
Pesquisa as pesquisas, os estudos XX/XX/XX XX/XX/XX
9 h h
documental e o catálogo da legislação
pertinente.

Exame de documentos
h h XX/XX/XX XX/XX/XX
pertinentes à perícia.
Exame de livros contábeis,
h h XX/XX/XX XX/XX/XX
fiscais, societários e outros.
Análises contábeis a serem
h h XX/XX/XX XX/XX/XX
realizadas.
Entrevistas, vistorias,
indagações, investigações, h h XX/XX/XX XX/XX/XX
Programa
10 informações necessárias.
de trabalho
Laudos interdisciplinares e
h h XX/XX/XX XX/XX/XX
pareceres técnicos.
Cálculos, arbitramentos,
mensurações e avaliações a h h XX/XX/XX XX/XX/XX
serem elaborados.
Preparação e redação do
laudo pericial. h h XX/XX/XX XX/XX/XX

29
Perícia Contábil

Proceder a revisão final do


laudo para verificar eventuais
correções, bem como veri-
Revisões ficar se todos os apêndices XX/XX/XX XX/XX/XX
11 h h
técnicas e anexos citados no laudo
estão na ordem lógica e
corretamente enumerados.

Diante da expectativa de
não concluir o laudo no
prazo determinado pelo juiz,
requerer, antes do vencimen-
Prazo su- XX/XX/XX XX/XX/XX
12 to do prazo determinado, por h h
plementar
petição, prazo suplementar,
reprogramando o planeja-
mento.

Devolver os autos do proces-


Entrega so e peticionar, requerendo
do laudo a juntada do laudo e levan- XX/XX/XX XX/XX/XX
13 h h
pericial tamento ou arbitramento dos
contábil. honorários.

Fonte: Disponível em: <http://goo.gl/5Zcb3n>. Acesso em: 02 jun. 2016.

Atividades de Estudos:

1) O que é plano de trabalho de perícia?


_____________________________________________________
_____________________________________________________
_____________________________________________________
_____________________________________________________
_____________________________________________________
_____________________________________________________

2) Cite os requisitos para criação de um plano de trabalho de


perícia?
_____________________________________________________
_____________________________________________________
_____________________________________________________

30
Capítulo 2 Plano de Trabalho em Perícia Contábil

_____________________________________________________
_____________________________________________________
_____________________________________________________

Algumas Considerações
Neste capítulo, entendemos que o plano de trabalho da perícia é o ponto
de partida para o desenvolvimento do trabalho a ser executado. Baseia-se
diretamente na matéria pleiteada, constituindo-se em elemento base para a
remuneração, ou seja, os cálculos dos honorários, salvo quando estes forem
arbitrados pelo juiz.

É nesta fase que o perito deve atentar para dois aspectos fundamentais do
processo: o que está sendo demandado e a época do acontecimento dos fatos.
Portanto, é fundamental a leitura da inicial, da contestação ou da impugnação,
dos documentos juntados pelas partes e dos quesitos elaborados pelo juízo e
pelas partes.

Referências
CFC - Conselho Federal de Contabilidade. Normas brasileiras de
contabilidade: perícia contábil: NBC TP 01 e NBC PP 01. Brasília: Conselho
Federal de Contabilidade, 2012. Disponível em: <http://goo.gl/5Zcb3n>. Acesso
em: 20 jun. 2016.

NBC - Normas Brasileiras de Contabilidade. NBC TP 01 – Perícia Contábil.


Disponível em: <http:// http://portalcfc.org.br/wordpress/wp-Content/
uploads/2012/12/NBC_TP_01.pdf >. Acesso em: 02 jun. 2016.

31
Perícia Contábil

32
C APÍTULO 3
Parecer e Laudos Periciais

A partir da perspectiva do saber fazer, neste capítulo você terá os seguintes


objetivos de aprendizagem:

� Compreender os conceitos e a apresentação do parecer e dos laudos periciais.



� Desenvolver os conhecimentos básicos necessários para que o parecer
e os laudos periciais sejam apresentados de forma adequada.
Perícia Contábil

34
Capítulo 3 Parecer e Laudos Periciais

Contextualização
Como já vimos nos capítulos iniciais, um dos principais objetivos da perícia é o
esclarecimento de determinados fatos ou circunstâncias (judicial ou extrajudicial).
Essa comprovação se dá por meio dos chamados laudos ou pareceres. Dessa
forma, o laudo pericial contábil e o parecer pericial contábil têm por limite os
próprios objetivos da perícia deferida ou contratada.

Portanto, é de suma importância entender e compreender os conceitos de


laudo pericial contábil e o parecer pericial contábil. Esses são como documentos
escritos, nos quais os peritos devem registrar, de forma abrangente, o conteúdo da
perícia e particularizar os aspectos e as minudências que envolvam o seu objeto e
as buscas de elementos de prova necessários para a conclusão do seu trabalho.

Conceito de Laudo
Sá (2009) explica que o laudo é a informação que o perito produz sobre
determinado trabalho que realizou. Em outras palavras, o laudo é a opinião do
perito em que relata seu ponto de vista e emite justificativa, oferecendo as bases
ou os elementos de que fez uso.

A manifestação exata do perito sobre os fatos, de forma minuciosa, gera a


peça tecnológica denominada Laudo Pericial Contábil.

Conceitua Sá (2009, p. 42): “Laudo é uma palavra que provém da expressão


verbal latina substantivada laudare (laudo, laudare), no sentido de “[...] peça escrita,
‘pronunciar’, tal como a empregou Marco Túlio Cícero em Pro Murema na qual os
(75)”. Em outras palavras, explica o autor, laudo é um pronunciamento peritos contábeis
ou manifestação de um especialista sobre uma ou várias questões, que expõem, de forma
circunstanciada,
se submetem a sua apreciação.
as observações
e estudos que
Laudo foi conceituado por Alberto (2009, p. 108) como “[...] peça fizeram e registram
escrita, na qual os peritos contábeis expõem, de forma circunstanciada, as conclusões
as observações e estudos que fizeram e registram as conclusões fundamentadas da
fundamentadas da perícia”. perícia”.

Conforme Sá (2009, p. 11):

[...] os laudos podem ser: (I) isolados; ou, (II) de uma Junta ou
Colegiado de Peritos.
(I) Isolados: de um só perito.
(II) Junta ou Colegiado de Peritos: na perícia judicial são três

35
Perícia Contábil

ou mais peritos.
O laudo pode obedecer a critérios diferentes, depende de cada
caso.

Você sabia que: Dependendo do caso, os laudos são


acompanhados de anexos que demonstram ou provam as
conclusões. Ainda podem conter plantas, desenhos, fotografias,
balancetes, balanços, cópias do livro diário, relatórios gerenciais, etc.

Dependendo do caso, os laudos são acompanhados de anexos que


demonstram ou provam as conclusões. Assim, destaca-se a análise da síntese
feita em cada quesito.

Exemplo:

Quesito nº ... – A empresa ... no período de ... a ... utilizou-se de


suas reservas para aumentos de capital?
Resposta ao Quesito nº ... – No período referido, a empresa
destinou suas reservas para finalidades distintas, sendo, para fins de
aumento de capital, utilizados valores que montam ..., de acordo com
o demonstrado no anexo a esta perícia de nº ... onde se espelham
as datas, os valores, o registro das alterações contratuais na Junta
Comercial

Fonte: Sá (2009, p. 11).

Considerando que os anexos podem (às vezes) formar a parte mais volumosa
do trabalho, sobretudo nas perícias judiciais, é tolerável que o perito, ao verificar
a veracidade do anexo, apenas mencione: “como consta das folhas ... dos autos”.

Nas perícias administrativas, nas quais, muitas vezes, o que se busca


investigar é a fraude, os laudos passam a ter diferentes conotações, haja vista
que o importante não são os quesitos, mas sim as apurações de fatos. Nesse
caso, o perito passa a expor seu plano de trabalho, a matéria verificada, as
irregularidades detectadas, em quem recaiu a responsabilidade.

36
Capítulo 3 Parecer e Laudos Periciais

Independentemente do tipo de perícia, o laudo traz a opinião e é preciso que


tenha requisitos de qualidade. São requisitos de qualidade, segundo Sá (2009, p.
12):

1. identificação completa do caso (Processo nº , lugar, data,


partes envolvidas, etc.);
2. identificação do perito;
3. identificação da autoridade a que se destina;
4. se for o caso, qual a metodologia adotada;
5. identificação de quesito por quesito ou do caso sobre o qual
se opina;
6. resposta a cada um dos quesitos;
7. conclusões precisas sobre os quesitos;
8. anexos que comprovem os casos que merecem análises;
9. data e assinatura do perito.

Se, ao final, não for possível a conclusão, o perito dará sua negativa. Isto
pode acontecer nos casos de a matéria estar fora do alcance contábil, ou na falta
de convicção.

Se a conclusão só puder ser dada com ressalvas, estas deverão ser


expressas e bem identificadas.

No caso de a conclusão ser negativa, o perito deve sempre detalhar. Por


exemplo:

Exemplo:

Não pode este perito afirmar que o limite de depreciações


utilizado foi o adequado porque a empresa desde ... não possuía
seus registros de bens do imobilizado, nem os controlava de modo
a permitir a plena identificação, nem nos apresentou qualquer laudo
técnico que comprovasse a vida útil dos bens, apesar de solicitados,
conforme carta à diretoria de produção, de tal data, com a prova de
recebimento assinada pelo diretor ... em ... .

Fonte: Sá (2009, p. 12).

37
Perícia Contábil

Você sabia que: Uma resposta com apenas um NÃO não


qualificaria o laudo, gerando margens para dúvidas.

Sá (2009) destaca que, nos casos de avaliação, o perito precisa valer-


se de muitos elementos, como: fotografias, publicações, informes e até laudos
emitidos por outros especialistas. Nesse caso, o perito precisa explicar toda sua
metodologia e descrever a qualidade das fontes consultadas.

O perito não deve poupar explicações que justifiquem seu trabalho e que
ofereçam confiança aos que dele se vão utilizar.

Sá (2009) menciona que o laudo pericial é uma peça de alta responsabilidade,


assim entendida, uma prova que requer qualidade, devendo atender a requisitos
especiais que lhe são pertinentes, não podendo conter defeitos.

Para o seu melhor entendimento, apresentamos um modelo de laudo


elaborado por Sá (2009):

MODELO DE LAUDO

Em um processo judicial, um advogado precisa argumentar


sobre o valor de quotas da sociedade da qual seu cliente saiu; o
sócio egresso entende que foi prejudicado, e, inconformado, entrou
na justiça para discutir. O advogado sabe que pela lei o sócio tem
direito a receber o valor de suas quotas na forma que o contrato
estabelecia, mas não há conhecimentos contábeis suficientes para
atestar isto; o Juiz, por sua vez, sendo também advogado, não
dispõe de conhecimento especializado para julgar. Requer-se, então,
a um perito-contador sua opinião.

No processo, como é usual, formulam-se os quesitos ou


perguntas (tanto o “autor” como o “réu” podem formular, através de
seus advogados, tais quesitos).

O perito do juiz examina a questão e dá sua opinião através de


seu laudo.

Exemplo de laudo:

38
Capítulo 3 Parecer e Laudos Periciais

Exmo. Sr. Doutor

Juiz de Direito da ________Vara ________ da Comarca de


________

Antônio Lopes de Sá, perito nomeado e compromissado nos


autos do Processo de nº ________ em que são partes, como autores,
________ e como réus ________, requer a juntada de seu laudo
pericial contábil, concluído tempestivamente, cujo teor é o seguinte:

QUESITOS DOS AUTORES

1º O valor atribuído ao Patrimônio Líquido para efeito de


determinar o valor da sociedade ________ está correto?

Resposta do Perito: Conforme demonstramos no Anexo 01, que


fica fazendo parte integrante deste laudo, o valor atribuído de R$
________ pelos réus não está correto.

Militam contra a correção os itens 1 a 3 do Anexo 01, supra-


aludido, ou seja, não foram corretas as reavaliações dos bens do
Ativo Permanente, nem, como se demonstra nos itens 4 a 6, do
anexo 01 já referido, os valores imateriais de “fundo de comércio” ou
aviamento, como o previsto na cláusula ________ do contrato social
registrado sob nº ________ na Junta ________.

2º No entender do perito, qual o valor a ser atribuído às quotas


dos autores ________ pelas quotas que possuíam na sociedade
________?

Resposta do Perito: No entender deste perito e como se acha


demonstrado no Anexo nº 02, que fica fazendo parte integrante deste
laudo, o valor de Patrimônio Líquido Reavaliado, ao qual se agrega
o valor do aviamento, produz um total de R$________; calculando-
se o percentual de participação dos autores e que era de ______%,
o valor de suas quotas é de R$ ________ (itens 9 e 10 do Anexo nº
02).

QUESITOS DOS RÉUS

1º O valor de R$ ________ de Patrimônio Líquido do balanço


encerrado em ________ foi reavaliado para servir de base de cálculo
de quotas dos sócios ________ egressos?

39
Perícia Contábil

Resposta do Perito: Sim. Houve reavaliação, porém a mesma


deixou de incluir elementos, e outros os fez com insuficiência,
conforme está demonstrado no Anexo nº 01, apenso.

2º O Patrimônio Líquido Reavaliado foi, percentualmente,


atribuído como valor de resgate das quotas dos sócios egressos?

Resposta do Perito: Sim. Tal valor, todavia, como já foi


esclarecido, não é. Este perito o considera correto.

Valor correto seria, como respondeu este perito no presente


laudo, R$ ________ .

3º Entende o senhor perito que, diante da situação de juízo


verificada nos exercícios de ______ e ______, seria o caso de
calcular-se o valor de aviamento, conforme determina a cláusula
______ do contrato social?

Resposta do Perito: Entende este perito, conforme a melhor


doutrina contábil e de acordo com normas consagradas, que o valor
de aviamento se calcula sobre as “perspectivas de lucros” e não
sobre os resultados passados.

Em razão disto, como demonstra no Anexo nº 02, o aviamento


deve ser calculado e agregado ao valor de patrimônio líquido para
que se tenha o valor de cálculo a que se refere a cláusula ______ do
Contrato Social. Para reforço da opinião deste perito, em anexo de nº
03, relaciona as opiniões dos maiores mestres da atualidade sobre o
assunto.

Belo Horizonte, ________.


Antônio Lopes de Sá – Contador CRC 1086 MG

Fonte: Sá (2009, p. 42-43).

“Não existe um padrão de laudo, o que existem são formalidades que


compõem a estrutura dos mesmos”, explica Sá (2009, p. 44). Geralmente, a
estrutura deles deve ser composta dos seguintes elementos.

I. Prólogo do encaminhamento – assim entendida a


identificação e o pedido de anexação aos autos, conforme foi
visto no exemplo anterior. Por este motivo o laudo é dirigido ao

40
Capítulo 3 Parecer e Laudos Periciais

Juiz, identificada a Vara, a Comarca, o número do processo,


os autores e os réus, a natureza da ação, bem como o perito,
nas perícias judiciais. Nas perícias administrativas ou de outro
gênero, o laudo será encaminhado a quem o requereu e
identificada a razão.
II. Quesitos – nas perícias judiciais os quesitos são divididos
em: quesitos dos autores; e, quesitos dos réus. Nas perícias
administrativas os quesitos são identificados pelas áreas de
interesse que foram objeto de indagação (que podem ser
setores da empresa, grupo de pessoas, filiais, agente etc.).
III. Respostas – as respostas devem seguir-se aos quesitos,
conforme pode ser observado no exemplo apresentado acima.
IV. Assinatura do Perito.
V. Anexos – os anexos ilustram as respostas, para evitar que
se tornem longas demais, ou, então reforçam a opinião.
VI. Pareceres (se houver) – de outros especialistas ou de
notáveis profissionais podem ser requeridos para efeito de
reforço da opinião do perito ou até para suplementá-la e, nesse
caso, ficam apensos ao laudo (SÁ, 2009 p. 45).

Sempre devemos lembrar que o laudo pericial por si só não é garantia


de que a perícia atingiu o objetivo para o qual foi deferida. Para que o laudo
pericial possa satisfazer às necessidades da prova pericial, deve estar apoiado na
pesquisa e na investigação dos fatos, atributos fundamentais de sustentação da
perícia. Sem elas, o perito não conseguirá defender seu laudo e nem oferecer a
prova esperada para auxiliar a sentença do Juiz.

Você sabia que: De acordo com cada caso, a estrutura pode ser
ampliada, porém, o mínimo que deve conter é o que foi exposto.

Requisitos do Laudo
Para que um laudo possa classificar-se como de boa qualidade, Sá (2009)
explica que ele precisa atender, no mínimo, aos seguintes requisitos: (1)
objetividade; (2) rigor tecnológico; (3) concisão; (4) argumentação; (5) exatidão;
(6) clareza.

1. Objetividade: é um princípio que se estriba no preceito acolhido pelas


ciências, ou seja, a exclusão do julgamento em bases pessoais ou subjetivas.
Os princípios, as leis e as normas da contabilidade existem há milênios. A
caracterização como ciência se dá pelo fato da generalidade da aplicação

41
Perícia Contábil

do conhecimento. O que é objetivo é racional, explica SÁ (2009), e, no campo


tecnológico da perícia, deve inspirar-se na ciência contábil.

O perito não deve divagar, mas, de forma concreta, o laudo deve estar focado
na matéria, respeitando sua disciplina de conhecimentos.

Exemplo de resposta objetiva:

“As depreciações calculadas no exercício de ....... na base


percentual aplicada sobre o saldo das contas ....... não espelham a
realidade. Os valores deveriam ser R$.... R$.... R$.... Considerando-
se a vida útil dos bens relacionados no anexo nº.... e os laudos do
Instituto Tecnológico de ....... que a fixou.

Não ocorrendo fatores, outros como os de obsolescência,


sinistros etc. que possam vir a interromper a vida útil, a depreciação
deve limitar-se a uma razão que considere a vida útil e o valor para
se encontrarem as quotas de depreciação pertinentes.

Exemplo de resposta não objetiva:

“As depreciações parecem-se aceitáveis porque a empresa


naturalmente as calculou dentro de suas conveniências”.

Fonte: Sá (2009, p. 15).

Nesse caso, o perito precisa ater a questão à realidade e estar de acordo


com os parâmetros da contabilidade. Não deve utilizar-se de expressões do tipo
“parece-me”; o perito não deve emitir opiniões vagas e imprecisas em matéria
definida no conhecimento contábil, menciona SÁ (2009).

2. Rigor tecnológico: o laudo deve limitar-se ao que é reconhecido com da


especialidade. O rigor tecnológico expulso por si é subjetivo.

3. Concisão: exige que as respostas evitem o difuso. Um laudo deve evitar


palavras e argumentos inúteis ao caso, deve ser bem redigido, e precisa ater-se
ao assunto, e responder satisfatoriamente.

A concisão não deve excluir os argumentos.

42
Capítulo 3 Parecer e Laudos Periciais

Exemplo de resposta concisa inadequada.

Quesito: o valor dos estoques foi determinado corretamente no


exercício de ......?
Resposta: Não.

Exemplo de resposta concisa adequada.

Não. O valor dos materiais foi tomado apenas pelo preço da


fatura, sem considerar os demais custos de compra que devem
aumentar o custo dos materiais. “O anexo nº.... demonstra a
irregularidade. Além deste procedimento,

Ferir o que dispõe a lei ......, fere a Norma de Avaliação Contábil


do CFC nº .... e altera o resultado da empresa para menor”

Fonte: Sá (2009, p. 17).

Você sabia que: A parte colocada “entre aspas” representa


um acréscimo que não pode ser tomado como concisão, mas
completa objetivamente a orientação que o perito deve dar sobre as
consequências do fato.

4. Argumentação: deve o perito alegar porque concluiu ou em que se


baseou para apresentar a sua opinião. Quando as argumentações forem longas,
demandando a evocação de muitos argumentos, o perito pode utilizar-se de
anexo para discorrer sobre suas razões, tornando, dessa forma, mais concisa a
resposta.

Exemplificando o caso de anexo de argumentação, apresenta-se o modelo a


seguir:

43
Perícia Contábil

Resposta ao quesito nº 01 – o valor de aviamento não foi


considerado no cálculo de valor das quotas, mas faz parte do valor
de cessão de quotas e ações. Sobre a questão o anexo nº 01, que
fica fazendo parte deste laudo, apresenta as argumentações sobre
o assunto e faz citações às principais obras sobre a questão, com
opinião de valiosos luminares da contabilidade, e às normas editadas
a esse respeito.

Tal procedimento visa tornar mais prática a leitura e utilização


do laudo. A leitura do Anexo pode complementar razões, se for do
interesse dos advogados

Fonte: Adaptado de Sá (2009).

5. Exatidão: é condição essencial de um laudo, explica Sá (2009). O perito


não deve “supor”, mas só afirmar quando tem absoluta segurança sobre sua
opinião. Um laudo é uma opinião baseada em realidades inequívocas; se houver
insegurança para opinar, o perito deve abdicar, declarando impossibilidade para
responder.

Você sabia que: se o laudo se basear só em “depoimentos


de testemunhas” não é um laudo pericial contábil, porque falta
materialidade para concluir.

A exatidão de um laudo só acontece se as provas que conduzem à opinião


forem consistentes e obtidas por critérios eminentemente contábeis.

6. Clareza: a clareza é um requisito importantíssimo, uma vez que o laudo é


feito para terceiros, os quais não necessariamente são especialistas no assunto
e que também não possuem obrigação de entender a terminologia tecnológica e
científica da contabilidade. Ressalta Sá (2009, p. 47-48) que:

[....] a clareza envolve frases inequívocas


quanto a seu entendimento; deve
o perito evitar interpretações do que
afirma; deve afirmar claramente. Frases

44
Capítulo 3 Parecer e Laudos Periciais

vagas, de dupla interpretação, com abuso de terminologia


contábil específica, rebuscada demasiadamente em seu
vernáculo, impedem a clareza.

Dessa forma, é possível inferir que quando nos referimos à clareza, a


resposta a um quesito não deve gerar nova pergunta. A clareza considera que
uma resposta deve ser abrangente e completa dentro do que se pergunta.

Dentro do exposto, perguntamos: quando alguma pergunta estiver


incompleta, como deve agir o perito?

A esta pergunta, Sá (2009, p. 48) responde: “[...] algumas vezes, as perguntas


ao perito são incompletas, por desconhecimento contábil de quem as faz (por
isso é que o perito precisa conhecer as ‘razões’ dela”. Nesse caso, o perito pode
“complementar” sua resposta, dentro do tema.

Exemplo:

Quesito nº ... – O valor dos estoques foi determinado


corretamente no exercício de ...?

A resposta poderia ser apenas NÃO.

Isto seria responder sem perguntar.

Além de argumentar, pode o perito complementar:

Resposta: ... Além de tal procedimento ferir a lei ... art. ... § ...
fere a Norma de Contabilidade nº ... do ..... e provocou a redução do
lucro apurado no mesmo exercício.

Fonte: Sá (2009, p. 48).

Sá (2009) explica que a parte grifada em itálico (provocou) é a complementação


que ajuda o propósito da pergunta, embora não esteja contido nela.

O simples NÃO na resposta ao quesito denota má qualidade do laudo. O


objetivo do laudo é esclarecer e não apenas cumprir uma obrigação de resposta
da qual o profissional se desincumbe com um simples NÃO.

45
Perícia Contábil

A apresentação de uma resposta apenas negativa, conforme se exemplificou


anteriormente, responde, mas não esclarece o motivo. É parte integrante do dever
do profissional, como comportamento ético, exibir as razões de sua conclusão.

Conceito de Parecer
Com o advento da Lei n. 8.455/92, surgiu um novo tipo de laudo de
responsabilidade do assistente técnico, comenta Ornelas (2003).

Anteriormente, os assistentes técnicos costumavam oferecer seus trabalhos


técnicos denominando-os, nos casos de divergência, de Laudo Pericial Contábil.
Era considerado divergente ou parcialmente divergente, segundo o nível de
discordâncias técnicas observadas, em conformidade com o art. 431, do CPC
14, que explica: “se houver divergência entre o perito e os assistentes técnicos,
cada qual escreverá o laudo em separado, dando as razões em que se fundar”,
menciona Ornelas (2003, p. 104). Este dispositivo foi revogado a partir da citada
lei. Naquela época, este laudo era denominado também de Laudo Crítico.

Segundo a Lei n. 8.455/92, art. 433, o perito apresentará o laudo em


cartório, no prazo fixado pelo juiz, pelo menos vinte dias antes da audiência de
instrução e julgamento. Já o parágrafo único, que trata dos assistentes técnicos,
prevê que estes oferecerão seus pareceres no prazo comum de dez dias após a
apresentação do laudo, independentemente de intimação.

Atualmente, a legislação prevê que o perito, na função de assistente técnico,


é responsável pela oferta de parecer pericial contábil, isto é, por meio de trabalho
próprio, emite sua opinião técnica a respeito do laudo pericial contábil elaborado
pelo perito judicial, que pode ser crítica ou concordante.

Para Alberto (2009), parecer pericial contábil é uma espécie de laudo, no qual
o profissional discorre sobre determinada matéria, fazendo-o segundo as técnicas
e as abrangências periciais geradas por quem deles tenha de fazer uso para a
defesa de interesses próprios, ou para elucidar algum assunto, e o classifica em:
extrajudicial, judicial, e própria opinião.

Para o seu maior entendimento, utilizamos a abordagem de Alberto (2009),


que explica o significado de cada um dos itens:

• Extrajudicial: quando a parte necessita de opinião fundamentada de um


técnico sobre determinado assunto contábil, ou caso necessite dele para a
realização de um negócio.

46
Capítulo 3 Parecer e Laudos Periciais

• Judicial: pode ser gerado pela parte para instruir a inicial da ação
a ser proposta ou para servir de razões a contestar em ações que
esteja sofrendo, segundo admite o CPC – Comitê de Pronunciamentos
Contábeis.

• Própria Opinião: é o parecer técnico do assistente indicado pela parte para


uma perícia judicialmente determinada.

Segundo Ornelas (2003), o fato do assistente técnico gerar trabalho técnico


denominado de parecer pericial contábil, não o desobriga de tomar os mesmos
cuidados técnicos adotados pelo perito judicial, isto é, acompanhar as pesquisas
realizadas, desenvolver levantamentos específicos de seu interesse que suportem
o trabalho que oferece.

“O trabalho do assistente técnico não perde as características de laudo, à


medida que emite juízo técnico ou defende tese ou critério técnico divergente do
laudo pericial contábil oficial” (ORNELAS, 2003 p. 104). Por este motivo, deve
obedecer a algumas regras básicas assim denominadas: (a) resumo do laudo
oficial; (b) comentários técnicos ao laudo pericial contábil; (c) parecer pericial
contábil; (d) encerramento.

a) Resumo do laudo oficial – sintetiza toda a matéria técnica tal qual consta
do laudo pericial contábil gerado pelo perito judicial.

b) Comentários técnicos ao laudo pericial contábil – nesta regra, o assistente


técnico desenvolve toda a sua criatividade técnica, no sentido de realçar
os aspectos do laudo oficial, favoráveis às razões técnicas de quem o
indicou para a função. Destacará eventuais interpretações não adequadas
geradas pelo perito contábil. O assistente técnico deve ter cuidado
especial no uso da linguagem, não gerando elogios ou críticas de cunho
pessoal. Em outras palavras, deve manter-se neutro. O uso de linguagem
agressiva e ataques gratuitos, além de ferirem as normas de civilidade,
geralmente denunciam a ausência de bons e consistentes argumentos
técnicos e teóricos. Essa é a parte que considera todas as razões técnicas
necessárias para fundamentar sua opinião técnica, seu parecer técnico.

c) Parecer pericial contábil – nesta regra, o assistente técnico oferece sua


opinião técnica favorável, desfavorável, ou, parcialmente favorável, a
respeito do laudo pericial contábil que foi submetido a sua apreciação
técnica.

d) Encerramento – o encerramento do parecer é realizado nos mesmos


moldes do laudo pericial contábil, comentado no tópico anterior. Poderá

47
Perícia Contábil

ser feita a juntada de anexos que tenha elaborado e documentos que


tenha colhido.

Uma vez encerrados os trabalhos periciais, o parecer é encaminhado ao juiz


responsável pelo processo objeto da perícia contábil realizada, explica Ornelas
(2003).

O parecer pericial contábil contém uma página de apresentação em que


é identificado, a qual juiz deve ser dirigido o processo, sendo especificado o
processo e as respectivas partes, e, também, que se trata de parecer pericial
contábil.

Sugere Ornelas (2003) que o parecer não seja entregue no dia em que é
terminado.

Após o término, é importante deixá-lo em repouso por uns dois dias. Depois,
é recomendado fazer uma nova leitura do conteúdo do trabalho técnico, para
saber se mantém sua opinião.

Essa leitura é uma oportunidade de verificar eventuais erros ou equívocos,


este é o momento em que o perito avalia se sua peça contábil está clara aos
leitores ou usuários. Se o perito estiver seguro de tudo o que escreveu, e é aquilo
mesmo que irá apresentar, então, estará apto a sustentar seu trabalho técnico em
qualquer circunstância, e poderá entregá-lo.

O encaminhamento do parecer pericial contábil é feito mediante a entrega da


via original no protocolo central de cada ramo do Poder Judiciário, acompanhado
de uma segunda via, que será protocolada e ficará em seu poder como prova do
trabalho finalizado e entregue.

Sugere Ornelas (2003), que esta via seja guardada juntamente com os
demais documentos e provas utilizadas na execução do trabalho, para servir de
guia a eventual resposta às impugnações ou pedidos de esclarecimentos feitos
pelo juiz ou pelas partes.

O assistente técnico tem prazo de dez dias após a entrega do laudo pericial,
segundo a Lei n. 10.358/2001, para oferecer seu parecer pericial contábil sobre a
peça técnica oferecida pelo judicial, conforme dispõe o parágrafo único do art. 433.

Ressalta Ornelas (2003), que, segundo a Lei n. 5.584/70, parágrafo único


do art. 3º, o prazo do assistente técnico é o mesmo do perito, sob pena de seu
trabalho ser tirado dos autos. Na justiça do trabalho, esta prática é conjunta e

48
Capítulo 3 Parecer e Laudos Periciais

harmoniosa entre perito e assistente técnico. O perito não pode entregar o laudo
sem antes o assistente técnico ter preparado seu parecer pericial contábil.

As reações das partes face ao conteúdo do parecer pericial contábil do


assistente técnico poderão ser de concordância absoluta ou parcial, ou de
discordância absoluta ou parcial. Estas reações poderão vir acompanhadas de
pedido de esclarecimentos, que pode, ou não, ser aceito pelo juiz.

Você sabia que: nem sempre os comentários oferecidos referem-


se ao conteúdo. Muitas vezes, o objetivo do comentário é atingir a
pessoa do perito, a fim de sensibilizar o Juiz para a realização de
nova prova técnica, por outro profissional, geralmente quando o
resultado técnico é desfavorável à parte que critica.

Quando ocorre este tipo de situação, a primeira reação do perito será, na


petição de esclarecimentos, requerer ao juiz que mande riscar todas as palavras
ofensivas e injuriosas à honra e à dignidade do perito, nos termos do art. 15,
CPC. O art. 15 dispõe que “[...] é defeso às partes e seus advogados empregar
expressões injuriosas nos escritos apresentados no processo, cabendo ao juiz, de
ofício ou a requerimento do ofendido, mandar riscá-las”. Feito isso, passa, então,
a esclarecer os quesitos requeridos e deferidos.

É importante ressaltar que, nesse caso, antes de responder aos quesitos de


esclarecimentos, é necessário informar o juiz quanto à matéria nova e requerer
orientação do procedimento a ser adotado.

Neste curso, a UNIASSELVI disponibiliza na sua plataforma


virtual de aprendizagem um conjunto de materiais que irão auxiliar
nos seus estudos. Acesse com seu login e senha no site da
instituição: <www.uniasselvipos.com.br>.

49
Perícia Contábil

Atividades de Estudos:

1) O que é laudo pericial?


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2) Cite os requisitos mínimos de um laudo?


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3) O que é um parecer pericial contábil?


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4) Explique como se dá o encaminhamento do parecer pericial


contábil.
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50
Capítulo 3 Parecer e Laudos Periciais

Algumas Considerações
Neste capítulo, entendemos conceitos de laudo na visão de diferentes
autores. E, ainda, que não existe um modelo padrão de laudo, mas o que existe
são formalidades que compõem sua estrutura. Vimos que para que o laudo seja
classificado de boa qualidade, deve contemplar seis itens, assim denominados:
objetividade; rigor tecnológico; concisão; argumentação; exatidão e clareza.

Importante sempre atentar que o perito não deve divagar, utilizando-se de


expressões do tipo “parece-me”, mas deve posicionar-se de forma concreta, pois o
laudo deve estar focado na matéria, respeitando sua disciplina de conhecimentos.

Para enfatizar a conceituação do parecer pericial contábil, utilizamos as


ideias de Alberto (2009), o qual menciona que o parecer pericial contábil é uma
espécie de laudo, classificado em: extrajudicial, judicial e própria opinião.

Importante sempre lembrar que o encaminhamento do parecer pericial


contábil é considerada a etapa final da perícia. Isso acontece após o encerramento
dos trabalhos, quando, então, é entregue uma via original no protocolo central
de cada vara do Poder Judiciário, acompanhado de uma segunda via, que
será protocolada e ficará em poder do perito-assistente técnico, como prova da
realização e entrega.

Referências
ALBERTO, Valder Luiz Palombo. Perícia contábil. 4. ed. São Paulo: Atlas, 2009.

NBC - Normas Brasileiras de Contabilidade. NBC TP 01 – Perícia Contábil.


Disponível em: <http:// http://portalcfc.org.br/wordpress/wp-Content/
uploads/2012/12/NBC_TP_01.pdf >. Acesso em: 02 jun. 2016.

ORNELAS, Martinho Maurício Gomes de. Perícia contábil. 4. ed. São Paulo:
Atlas, 2003.

SÁ, Antonio Lopes de. Perícia contábil. 9. ed. São Paulo: Atlas, 2009.

51
Perícia Contábil

52
C APÍTULO 4
Perícia Judicial

A partir da perspectiva do saber fazer, neste capítulo você terá os seguintes


objetivos de aprendizagem:

� Compreender o conceito de perícia e perito judicial.

� Desenvolver os conhecimentos conceituais para utilização no campo da Perícia


Judicial e saber como se tornar um perito.
Perícia Contábil

54
Capítulo 4 Perícia Judicial

Contextualização
Conhecer quando ocorreu o surgimento da perícia no Brasil é de suma
importância. De acordo com Sá (2009), a perícia surgiu em um evento da
classe contábil, em 1924, em decorrência do primeiro Congresso Brasileiro de
Contabilidade. Na mesma ocasião, os profissionais tornaram oficial a necessidade
da chamada perícia judicial, cujos trabalhos seriam atribuídos privativamente aos
membros das Câmaras periciais, e que seriam fiscalizados pelos Conselhos de
Contabilidade no momento de sua criação. Outro item importante, decidido no
mesmo evento, foi a remuneração do trabalho do perito.

Também é necessário destacar a nomeação de perito judicial por parte do


juízo, que ocorre diante da necessidade do juiz de esclarecer dúvidas existentes
no processo judicial. O profissional nomeado deve ter domínio da matéria a ser
elucidada e ser de confiança do juiz.

Conceito de Perícia Judicial


A definição ou conceito de perícia ainda não está contemplada no Código de
Processo Civil, apesar de estabelecer normas e procedimentos processuais, bem
como as condições legais quanto à habilitação do profissional para o exercício da
Perícia Judicial.

Representa a perícia realizada dentro dos procedimentos processuais do


poder judiciário, por determinação, requerimento ou necessidade de seus agentes
ativos e se desenvolve ou se processa segundo regras legais específicas.

A perícia judicial é especifica e define-se pelo texto da lei, estabelecido pelo artigo
420 do Código de Processo Civil, na parte relativa ao processo de conhecimento: “a
prova pericial consiste em exame, vistoria e avaliação” (BRASIL, 1973).

Ela se motiva pelo fato de o juiz depender do conhecimento técnico ou


especializado de um profissional para poder decidir. Essas perícias podem ser:

• Oficiais: determinadas pelo juiz, sem requerimento das partes;


• Requeridas: determinadas pelo juiz, com requerimento das partes;
• Necessárias: quando a lei ou a natureza do fato impõe sua
realização;
• Facultativas: o juiz determina se houver conveniência;
• Perícias de presente: realizadas no curso do processo;

55
Perícia Contábil

• Perícias do futuro: são as cautelares preparatórias da ação principal.


Visam perpetuar fatos que podem desaparecer com o tempo.

As perícias judiciais têm origem numa ação judicial que tramita em juízo.

A perícia judicial, como o próprio nome está dizendo, tem fundamento numa
ação postulada em juízo, podendo ser determinada diretamente pelo juiz dirigente
do processo ou a ele requerida pelas partes em litígio. Nos processos judiciais
civis, além da rotina técnica de procedimentos, existe um cerimonial inerente ao
desenvolvimento regular do processo, sendo ele: indicação do perito judicial pelo
juiz, indicação de assistentes técnicos pelas partes, formulação de quesitos, por
meio dos quais as partes e o próprio juiz manifestam as dúvidas que desejam ver
esclarecidas pela perícia, o compromisso dos peritos e os prazos.

Podem ser requeridas pelas partes ou determinadas pelo próprio juiz.

Na perícia judicial, os exames são, na maioria das vezes,


Na perícia judicial,
os exames são, específicos e recaem sobre fatos que já se encontram em discussão no
na maioria das âmbito do processo.
vezes, específicos e
recaem sobre fatos Em qualquer dos casos, o juiz, ao determinar a perícia, nomeia
que já se encontram o perito do juízo e as partes indicam seus assistentes técnicos
em discussão no
(opcionalmente). Às vezes, uma das partes, ou ambas, deixa de indicar
âmbito do processo.
assistentes, declarando que se “louva” no perito do juízo.

Ao ser nomeado, o perito deve comparecer ao cartório e consultar os autos


do processo para avaliar seus honorários, o que deverá ser feito levando em
consideração alguns detalhes, tais como: vulto do trabalho a ser feito, grau de
dificuldade, local da diligência e despesas previstas. Calculado o total, deverá se
dirigir ao juiz, por meio de petição na qual exporá, com detalhes, os honorários
pretendidos, requerendo, também, o seu depósito para iniciar os trabalhos.

O perito deverá acompanhar o andamento do processo e, tão logo tenha


seus honorários depositados, retirará os autos do cartório por meio de carga, no
livro apropriado, em poder de funcionário indicado para isso.

De posse dos autos, o perito deverá imediatamente fazer um levantamento


de tudo que vai necessitar para seu trabalho (livros, documentos, etc.) e dirigir-
se à sede da empresa ou ao local da perícia, onde entrará em contato com o
interessado e com ele deixará por escrito a relação do que deseja, marcando dia e
hora de retorno. A relação por escrito deverá ser feita em duas vias. O perito trará
uma delas, devidamente assinada por quem a recebeu. No dia e hora marcada,
retornará para fazer a perícia.

56
Capítulo 4 Perícia Judicial

Há perícias de diversas modalidades, de acordo com as necessidades


processuais. As principais, no entanto, são:

• Nas varas cíveis: prestação de contas, avaliações patrimoniais,


litígios entre sócios, indenizações, avaliações de fundos de comércio,
renovatórios de locações e outras;

• Nas varas criminais: fraudes e vícios contábeis, adulterações de


lançamentos e registros, desfalques e alcances, apropriações indébitas e
outras;

• Nas varas de família: avaliação de pensões alimentícias, avaliações


patrimoniais e outras;

• Nas varas de órfãos e sucessões: apuração de haveres, prestação de


contas de inventariantes e outras;

• Na justiça do trabalho: indenizações de diversas modalidades, litígios


entre empregadores e empregados de diversas espécies;

• No tribunal marítimo: avarias simples e grossas, sinistros em geral;

• Nas varas de falências e concordatas: perícias falimentares em geral.

Você sabia que: As perícias judiciais ocorrem no âmbito da justiça


e todas as tramitações são fixadas no Código de Processo Civil,
constando todo o procedimento, de acordo com as normas legais.
Cada espécie de processo envolvendo as partes é enquadrada em um
dos vários ramos do direito, trabalho, família, falências, civis e outros.
Em todos os processos pode haver a necessidade de perito-contador.

Exigências para se Tornar um Perito


Judicial
Podemos conceituar perito judicial como o profissional habilitado e nomeado
pelo juiz para emitir sua opinião sobre questões técnicas de sua especialidade.

57
Perícia Contábil

Ressaltam Magalhães et al. (2008) que o profissional, para poder atuar como
perito, necessita ter nível universitário, ser inscrito no órgão de classe competente,
e, no caso do contador, este profissional deve ser inscrito no Conselho Regional
de Contabilidade do Estado onde estiver inserido, devendo comprovar sua
especialidade mediante certidão do órgão profissional em que estiver inscrito.

A lei processual denomina perito o profissional que é nomeado por iniciativa


do juiz, podendo, após este ato, as partes ou uma delas, indicar o assistente
técnico “Perito da arte”.

Wakim e Wakim (2012) entendem que o art. 145 do CPC considera o perito
como cientista, isto porque ele fornecerá ao condutor do litígio informações
técnicas e científicas que permitam ao juiz tomar sua decisão, e complementam
citando o que preveem os parágrafos 1º e 2º:

§ 1º Os peritos são escolhidos entre profissionais de nível uni-


versitário, devidamente inscritos no órgão de classe compe-
tente.

§ 2º Os peritos comprovarão sua especialidade na matéria so-


bre que deverão opinar, mediante certidão do órgão profission-
al em que estiverem inscritos.

Você sabia que: Até a alteração do Código de Processo Civil, que


ocorreu com a promulgação da Lei n. 8.455/92, perito ou assistente
técnico era nomeado para fazer perícia, o qual mencionava o que via
e o que constatava em suas investigações e o fazia com bases reais
e com absoluta intenção de justiça. Foi a partir desta alteração que
coube ao perito fazer a perícia, lavrar e assinar o laudo.

Definidas e interligadas as bases conceituais, objeto e objetivo da perícia, é


possível perceber que algumas das suas características devem compor o perfil do
profissional que atua ou pretende atuar nesse ramo de conhecimento. É exigível
e desejável que se conscientize da necessidade de discernir, analisar, julgar e
agregar sua personalidade, em grau de que lhe empreste autoridade moral natural
para o acatamento de seu trabalho, independentemente de atender aos aspectos
formais e relativos a ele.

Resumindo, é preciso ser ético em contraposição a ter ética, o que é


substancialmente diferente, pois ter é tão somente atender às regras formalmente

58
Capítulo 4 Perícia Judicial

expressas porque a elas está subjugado, enquanto ser é entender as regras,


formalizadas ou não, como uma atitude natural, intrínseca ao próprio ser, que só
quem é conscientizado pode ter.

Não basta ao perito a responsabilidade moral e intelectual. De acordo com o


Código do Processo Civil (CPC), o perito possui, também, responsabilidade civil
e criminal, delegado ao pagamento de indenização de prejuízos que causar por
dolo ou culpa, nos moldes do artigo 147 do CPC (BRASIL, 2002), o qual dispõe
que “o perito que, por dolo ou culpa, prestar informações inverídicas, responderá
pelos prejuízos que causar à parte, ficará inabilitado, por 2 (dois) anos, a
funcionar em outras perícias e incorrerá na sanção que a lei penal estabelecer“. A
responsabilidade, nesse caso, refere-se às informações inverídicas e a prejuízos
causados à parte, podendo ficar inabilitado de trabalhar em outras perícias por
dois anos.

Você sabia que: nem sempre os comentários oferecidos referem-


se ao conteúdo. Muitas vezes, o objetivo do comentário é atingir a
pessoa do perito, a fim de sensibilizar o Juiz para a realização de
nova prova técnica, por outro profissional, geralmente quando o
resultado técnico é desfavorável à parte que critica.

Neste curso, a UNIASSELVI disponibiliza em seu Ambiente


Virtual de Aprendizagem um conjunto de materiais que irão auxiliar
nos seus estudos. Acesse com seu login e senha no site da
instituição: <www.uniasselvipos.com.br/>.

Atividades de Estudos:

1) O que é perícia judicial?


_____________________________________________________
_____________________________________________________
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Perícia Contábil

2) Cite os principais requisitos para se tornar um perito judicial?


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_____________________________________________________
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Algumas Considerações
Neste capítulo, entendemos o conceito e a importância da perícia judicial,
que nasce da necessidade dos agentes ativos do poder judiciário, desenvolvendo-
se por meio de regras legais específicas.

O perito, seja judicial ou extrajudicial, é escolhido principalmente pela confiança


de quem indica e não necessariamente pela sua capacidade profissional.

A perícia é uma especialização que requer um universo diversificado de


conhecimentos, não bastando apenas o conhecimento acadêmico porque, na
perícia, o perito precisa enxergar onde não há luz, ler o que não está escrito e
encontrar o que parece não existir.

Referências
BRASIL. Lei n. 10.358, de 27 de dezembro de 2001. Altera dispositivos da
Lei nº 5.869, de 11 de janeiro de 1973 - Código de Processo Civil, relativos ao
processo de conhecimento. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/
leis/LEIS_2001/L10358.htm>. Acesso em: 08 jul. 2016.

MAGALHÃES, Antônio de Deus Farias, et al. Perícia contábil: uma abordagem


teórica, ética, legal, processual e operacional. 6. ed. São Paulo: Atlas, 2008.

SÁ, Antonio Lopes de. Perícia contábil. 9. ed. São Paulo: Atlas, 2009.

WAKIM, Vasconcelos Reis; WAKIM, Elizete Aparecida de Magalhães. Perícia


contábil e ambiental: fundamentação e prática. São Paulo: Atlas, 2012.

60
C APÍTULO 5
Técnicas de Execução da Perícia

A partir da perspectiva do saber fazer, neste capítulo você terá os seguintes


objetivos de aprendizagem:

� Compreender e entender as técnicas empregadas para execução da perícia.

� Desenvolver e aplicar os conhecimentos técnicos mais adequados para


execução da perícia.
Perícia Contábil

62
Capítulo 5 Técnicas de Execução da Perícia

Contextualização
Para a execução da perícia contábil, o profissional utiliza um conjunto
de procedimentos técnicos, como: pesquisa, diligências, levantamentos de
dados, análise, cálculos, por meio de exame, vistoria, indagação, investigação,
arbitramento, mensuração, avaliação e certificação.

A execução da perícia, quando incluir a utilização de equipe técnica, deve ser


realizada sob a orientação e supervisão do perito, que assume a responsabilidade
pelos trabalhos, devendo assegurar-se de que as pessoas contratadas estejam
profissionalmente capacitadas à execução.

Importante salientar a figura dos papéis de trabalho, que é a documentação


preparada pelo perito para a execução da perícia. Eles integram um processo
organizado de registro de provas, por intermédio de termos de diligência,
informações em papel, meios eletrônicos, plantas, desenhos, fotografias,
correspondências, depoimentos, notificações, declarações, comunicações ou
outros quaisquer meios de prova fornecidos e peças que assegurem o objetivo da
execução pericial.

Objetivo da Utilização de Técnicas


Para Execução da Perícia
A execução do trabalho pericial é realizada por meio de técnicas que
consideram os modos de operação decorrentes da própria ciência (ALBERTO,
2009).

De acordo com Sá (2009), os planos periciais possuem o conteúdo suficiente


para que a opinião seja transmitida pelo perito, de forma que satisfaça os que a
requereram. Não é possível padronizar, pois muitos são os casos que ocorrem.

O importante é que os planos sigam os itens que compõem o objeto de


indagação.

Exemplo:

Imaginemos uma perícia administrativa em que se examina a atuação do


chefe de almoxarifado.

Objetivo: saber se ele desviou materiais do estoque.

63
Perícia Contábil

Motivo: existe uma acusação de que o chefe tem vendido os mesmos


materiais a atravessadores, em proveito próprio, e, no último inventário feito, este
não conseguiu apurar diferenças.

Percepção: existe a possibilidade de manipulação nos registros de


movimentação.

Hipóteses básicas: compras registradas com entradas “a menor” ou saídas


“a maior”.

O plano deve girar em torno de tais verificações.

O conteúdo seria verificar as “entradas” contra as notas de compras e as


“saídas” contra as requisições e estas contra as ordens de produção. Isto porque,
partindo-se das notas fiscais de compras, se o registro de entrada foi “a menor”,
logo será apurado; partilhando-se das ordens de fabricação contra as notas de
requisições de estoques, deve-se, também, se houver, detectar a diferença. Isto
porque os “saldos” de cada item do estoque conferem com os “levantamentos
físicos” que foram realizados (SÁ, 2009).

O exemplo exposto menciona que o programa de trabalho do perito giraria


em torno dessas ocorrências.

Alberto (2009) dividiu as técnicas do trabalho pericial contábil em três: (1)


Técnicas preliminares; (2) Técnicas básicas e (3) Técnicas científicas.
Na aplicação prática
da Ciência Contábil,
1) Técnicas preliminares: compreende o objeto, o objetivo e as
da qual a perícia é
uma delas, devem diligências. Toda ciência tem seu objeto e seus princípios, e, também,
ser considerados sua adaptação aos métodos a serem expressados por meio da
os “modos metodologia própria da referida ciência. A ciência deve estar ligada à
de operação” aplicação prática e fundamentada em princípios, bem como deve utilizar
decorrentes da metodologia adequada a seu objeto e a seus objetivos.
própria ciência, que,
em outras palavras,
quer dizer que a Na aplicação prática da Ciência Contábil, da qual a perícia é uma
aplicação prática delas, devem ser considerados os “modos de operação” decorrentes
dos resultados da própria ciência, que, em outras palavras, quer dizer que a aplicação
das pesquisas das prática dos resultados das pesquisas das ciências se expressa através
ciências se expressa de técnicas desenvolvidas para abordar determinadas situações
através de técnicas
(ALBERTO, 2009).
desenvolvidas
para abordar
determinadas Como modus operandi, são mutáveis, a técnica não é a ciência,
situações mas é parte da aplicação desta ciência. Da técnica modus operandi
(ALBERTO, 2009). nasce a tecnologia modus faciendi.

64
Capítulo 5 Técnicas de Execução da Perícia

No caso da perícia, para que o laudo possa ser elaborado, o perito deve se
valer de técnicas usuais e especiais. As técnicas preliminares são:

a. Definir o objeto da perícia – neste caso, o perito deve procurar estabelecer


e definir o objeto pericial, haja vista que nem sempre o objeto está claro
para o usuário do serviço pericial.

b. Estabelecer, com base no objeto e demais elementos disponíveis, qual


o objetivo da perícia, ou seja, qual a finalidade para a qual está sendo
examinada determinada matéria. Esta finalidade, na maioria das vezes,
não está claramente estabelecida pelo usuário. Este procedimento é
importante, pois, dependendo da finalidade da perícia, deverá o perito
estabelecer a metodologia que empregará, ou, em suma, as técnicas de
abordagem que adotará. Trata-se da investigação em sentido lato sensu,
ou seja, investigar junto aos próprios autos ou conjunto de elementos que
lhe são submetidos.

c. Se o objeto e os objetivos tornarem necessária a pesquisa de campo, o


profissional deverá comparecer no local onde será efetuada a pesquisa,
ou, ainda, onde serão solicitados os documentos, ouvidas pessoas ou
efetuadas as medições ou reproduções da coisa, ou fato de qualquer
espécie (ALBERTO, 2009, p. 120).

Ressalta Alberto (2009, p. 26): “[...] é aconselhável que essa técnica


seja empregada com os cuidados devidos, devendo o perito lavrar termo
circunstanciado da solicitação, pesquisa ou verificação efetuada”.

A diligência é importante ato técnico para a realização do laudo. É por meio


deste ato que muitos atos, fatos e situações ocultos podem vir à tona. A disposição
mental apropriada do perito, sua observação e capacidade de apreensão são
fatores decisivos para o encaminhamento que terá o laudo propriamente dito.

2) Técnicas básicas: de acordo com Alberto (2009), técnicas básicas são:


exame, vistoria, indagação, investigação, arbitramento, avaliação e certificação.
Dependendo da finalidade da perícia solicitada, esta se valerá de técnicas
específicas. Ressalta o autor que não se pode confundir procedimentos técnicos
típicos da atividade pericial, com “espécies de perícia”.

3) Técnicas científicas: assim entendidas a análise e a síntese. Toda a técnica


pericial presume o emprego da metodologia científica, uma vez que só é possível
dizer que é perícia se houver o emprego de conhecimentos técnicos ou científicos
(ALBERTO, 2009).

65
Perícia Contábil

Todas as metodologias científicas, como lógica aplicada, resultado da


observação pura e simples, estão sustentadas pela análise e pela síntese, isto é,
pela decomposição do todo em partes. A ciência, ao ser aplicada, age na realidade
concreta, e a realidade com ela interage, de maneira que ao perito não é dado
desconhecer ou não perceber essa influência de bom argumentador da realidade
e da abstração da realidade.

Deve o profissional estar atento para poder agir conscientemente, conduzindo


com rigor científico a realização do trabalho pericial, de maneira que seu resultado
se afirme pela própria força de suas convicções e certezas (ALBERTO, 2009).

Para maior entendimento do assunto, Sá (2009) apresenta o seguinte


Programa de Trabalho Pericial, baseado no exemplo exposto no início deste tópico.

PROGRAMA DE TRABALHO PERICIAL

Empresa ............. Data ............ Inquérito administrativo nº ............. Perito .........


Local de Exame: Almoxarifado da fábrica ................. na cidade de .....................
Unidade .............................
Almoxarife Responsável Sr. .................. Auxiliares ............ e ................e ..........
Sistema de registro de estoques ............Último inventário físico em ..................

I – NOTAS DE COMPRAS

Confrontar as notas de compras do artigo ............ fornecedor .......... contra os registros


de estoques ......... código .......... no mês de .........................................
Aplicar o mesmo critério para os artigos ................. fornecedores .......................
Partir dos registros de estoques dos artigos ............... para as notas de compras
.................. dos fornecedores .................................

II – ORDENS DE FABRICAÇÃO

Partir das notas de fabricação nº ............. dos materiais .............. para o Registro dos
estoques códigos ......................
Partir dos estoques códigos .................. para as notas de fabricação nº .........
(listar todos os exames e destacar as discrepâncias encontradas).

No caso de perícia judicial, os programas seguem os quesitos, determinando-se, em


cada um, o que vai ser examinado.

Exemplificando:

66
Capítulo 5 Técnicas de Execução da Perícia

PROGRAMA DE TRABALHO PERICIAL

Processo nº ........ Vara ....... Juiz ........Partes: autores .......réus .........Data ...... Natureza
da ação .............Fórum de ......... Advogados: Autores .......Réus ........
Peritos ............. Do juiz .......... Do autor ................. Do réu ................. Compromisso em
............................. Prazo .............................

Quesito nº 1
Solicitar os livros Diário do período ............ a ...............
Verificar: Termos de abertura, rubricas nas páginas, nº registro ..........................
Verificar o estado de encadernação das listagens.
Verificar se contém as assinaturas do contabilista, dos proprietários.
Observar e relatar em que páginas estão lançados os demonstrativos contábeis de en-
cerramento dos exercícios de .......... e ..............
Solicitar os registros de Razão (listagens)
Destacar, por digitações, imprimindo a seguir, as contas de Razão relativas aos Srs.
.................................... e ........................... de .......................................

Quesito nº 2

Destacar do arquivo o contrato nº .............. entre ............ e............. de..............


Verificar se o destacado pela cláusula ........................ tem registro contábil pertinente
em ........................................
Realizar o mesmo procedimento em relação à cláusula ......................................

Quesito nº 3

Obter o total de registros de pagamentos da conta ..............................................


Observar se de ......... a ......... existem créditos na conta do Sr. ..........................
Confrontar tais registros com a conta bancária ....................................................

NOTA:
“Os planos periciais têm o conteúdo compatível com os objetos de exames, adaptan-
do-se tudo a cada caso na conformidade dos regimes contábeis e documentais e na-
tureza do serviço” (SÁ, 2009 p. 41).

67
Perícia Contábil

Conceitos de Exame, Vistoria,


Indagação, Investigação,
Arbitramento, Mensuração,
Avaliação e Certificação.
A maior parte das técnicas de perícia que apresentamos são comuns a todas
as espécies de perícia. Para melhor compreensão Alberto (2009) explica cada
uma das técnicas, a partir da conceituação das Normas Contábeis.

Exame: é a análise dos elementos constitutivos da matéria, que pode ser em


relação a um elemento qualquer (uma pessoa, um documento, um móvel, etc.).
Pressupõe a separação dos elementos da matéria examinada em tantas partes
quanto necessário for, para formar convicção sobre elas.

Vistoria: é o ato de verificar o documento redigido relativo ao objeto pericial


concreto (pessoa, máquina, documento, condições, ambientes, etc.). Em outras
palavras, é possível dizer que é apreensão do estado do objeto no momento do
exame e seu testemunho na instância usuária.

Indagação: é o documento pericial de obtenção do testemunho pessoal


daqueles que têm, ou deveriam ter, conhecimento dos fatos ou atos concernentes
à matéria periciada.

Investigação: a investigação é a pesquisa que busca trazer ao laudo que


está oculto por quaisquer circunstâncias. As manifestações que habitualmente
surgem são: astúcia, má-fé, fraude, malícia e outros procedimentos aéticos que
visam obscurecer a verdade.

Arbitramento: está relacionado à solução de controvérsia por critério técnico,


como constante das normas contábeis. Do ponto de vista estritamente pericial,
é a técnica de determinar valores por meio de procedimentos estatísticos, como
média, mediana, desvio-padrão, etc., e situações mensuráveis conhecidas,
utilizadas como parâmetro para se determinar o valor de situação capazes de
fundamentar o valor encontrável.

Avaliação: é a análise e identificação do valor de coisas, bens, direitos,


obrigações, despesas e receitas, por critério objetivo, calculável ou demonstrável.
É a constatação do valor real das coisas, ou de sua determinação por critério
comparativo direto, como pesquisas, valor de mercado, etc.

68
Capítulo 5 Técnicas de Execução da Perícia

Certificação: é a informação trazida ao laudo pelo perito com caráter


afirmativo, cuja autenticidade é reconhecida em função da fé pública atribuída ao
profissional. Tais informações podem ter naturezas diversas ou mesmo estarem
ligadas às técnicas de vistoria, indagação ou investigação.

Você sabia que: As técnicas de arbitramento e avaliação não se


aplicam a todas as perícias. Devem ser encaradas como técnicas
de mensuração de valor, e podem ser usadas por contadores ou
engenheiros, e outros, mas não podem ser usadas por médicos ou
grafotécnicos, por exemplo.

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Atividades de Estudos:

1) Cite e explique as técnicas do trabalho pericial contábil?


_____________________________________________________
_____________________________________________________
_____________________________________________________
_____________________________________________________
_____________________________________________________

2) Conceitue a técnica denominada de Exame?


_____________________________________________________
_____________________________________________________
_____________________________________________________
_____________________________________________________
_____________________________________________________
_____________________________________________________

69
Perícia Contábil

Algumas Considerações
Neste capítulo, entendemos a importância do emprego das técnicas de
execução da perícia. A execução do trabalho pericial é realizada por meio de
técnicas que consideram os modos de operação.

A equipe técnica que executará a perícia deve estar subordinada ao perito,


responsável pelo trabalho. É sua atribuição zelar pela capacitação profissional
dos envolvidos no trabalho.

Para melhor entendimento, foram apresentados alguns exemplos com a


intenção de situá-lo(a) em relação às diversas formas de execução da perícia.

Referências
ALBERTO, Valder Luiz Palombo. Perícia Contábil. 3. ed. São Paulo: Atlas, 2002.

SÁ, Antonio Lopes de. Perícia contábil. 9. ed. São Paulo: Atlas, 2009.

70
C APÍTULO 6
Aplicação da Perícia Contábil

A partir da perspectiva do saber fazer, neste capítulo você terá os seguintes


objetivos de aprendizagem:

� Compreender a aplicação da perícia contábil e situações onde é requisitada.

� Desenvolver a capacidade de identificar e aplicar a perícia contábil de acordo


com a necessidade ou demanda.
Perícia Contábil

72
Capítulo 6 Aplicação da Perícia Contábil

Contextualização
Nesta unidade, veremos as aplicações da perícia contábil, identificando em
quais situações ela é requisitada.

O campo de aplicação da perícia contábil é bastante amplo, abrangendo


desde os lançamentos contábeis diários até o valor patrimonial econômico e
contábil da empresa.

O poder judiciário, na figura do juiz, determinará as necessidades específicas


da perícia contábil, seja entre pessoas físicas ou jurídicas, nos vários ramos do
direito. Recentemente, o árbitro também tem se utilizado dos conhecimentos da
contabilidade em suas decisões.

A título de exemplos a respeito de situações onde a perícia contábil é


requisitada, indicamos abaixo três grupos, contendo assuntos que recorrem ao
conhecimento contábil: avaliações, verificações e apurações de haveres, na análise
de valores patrimoniais e no exame, análise e identificação de erros ou fraudes.

Avaliações, Verificações e
Apurações de Haveres
O processo judicial de exclusão, saída ou óbito de sócio, segundo
terminologia jurídica dada pela Lei n. 10.406/2002, conhecido pelo Novo Código
Civil, é tido como uma operação de: “resolução societária”. A resolução de uma
sociedade em relação ao sócio é uma forma diferente de dissolução, mantendo
assegurada a continuidade e a função social da empresa. Cabe ao sócio retirante
ou aos seus herdeiros o direito de recebimento dos seus haveres com base em
balanço patrimonial levantado especialmente com essa finalidade.

Segundo Ornelas (2003, p. 25), apuração de haveres “é o procedimento


judicial ordenado pelo magistrado, desenvolvido por perito em contabilidade,
que tem por meta a avaliação das quotas societárias, ou seja, mensuração da
participação societária do sócio dissidente, excluído, ou pré-morto em sociedades
contratuais”. Ou seja, é um processo de avaliação patrimonial para pagamento ou
reembolso de participação em uma sociedade, numa situação de discórdia entre
os sócios ou herdeiros do sócio falecido.

73
Perícia Contábil

Apuração de haveres é “o instrumento aplicado às hipóteses


Apuração de
haveres é “o de dissolução parcial das sociedades para se aquilatar o valor do
instrumento aplicado patrimônio social que caberia ao sócio que se retira”.
às hipóteses de
dissolução parcial A resolução societária é um meio encontrado pelos tribunais para
das sociedades para equacionar os princípios constitucionais da liberdade de associação e da
se aquilatar o valor
função social da propriedade que, por vezes, tornam-se incompatíveis.
do patrimônio social
que caberia ao sócio
que se retira”. Normalmente, nos casos de apuração de haveres, tem-se os
seguintes interessados: sócio remanescentes, sócio dissidente, sócio
excluído, herdeiros do sócio falecido, magistrado, advogado das partes, perito-
contador e seus assistentes técnicos. Os sócios remanescentes permanecem com
toda a estrutura operacional-financeira e têm o interesse em minimizar o valor da
empresa, diminuindo o desembolso a ser efetuado pela entidade, e evitando uma
provável descapitalização, que poderá levá-los a ter de realizar futuros aportes de
capital.

O sócio dissidente ou excluído, bem como os herdeiros do sócio falecido,


em geral, possuem interesses semelhantes, pois esperam maximizar o valor
da empresa no processo de apuração de haveres, recebendo, assim, um maior
volume de recursos. Entretanto, têm maior dificuldade em visualizar o valor da
empresa, pois as principais informações e os melhores instrumentos de avaliação
estão em poder dos sócios remanescentes.

Diante de uma situação de questionamento judicial, caberá ao Juiz de Direito


dirimir o caso, que deverá ser resolvido de maneira mais justa para todas as
partes interessadas. Entretanto, como o magistrado não possui conhecimento
suficiente para a avaliação de empresas, portanto, solicita o trabalho do perito-
contador para orientá-lo na questão.

Análise de Valores Patrimoniais


As ações trabalhistas acontecem quando empregados e empregadores, em
determinado momento, e, na grande maioria dos casos, no ato da rescisão contratual
de trabalho, desacordam entre si quanto ao entendimento pessoal ou coletivo dos
direitos que as leis que regem a relação empregado-empregador preceituam a este
respeito. Sentindo-se lesada, uma das partes propõe litígio à outra parte.

74
Capítulo 6 Aplicação da Perícia Contábil

Você sabia que: No decorrer da ação trabalhista, o juiz poderá


solicitar o auxílio de perito, conforme é determinado que a prova
pericial consiste em exame, vistoria ou avaliação.

De acordo com Alberto (2002, p. 112-113), a perícia contábil é ensejada


nos processos trabalhistas em duas ocasiões: na apuração de haveres dos
empregados retidos junto ao patrimônio dos empregadores, e na análise dos
valores patrimoniais dos empregadores, nas ações trabalhistas em que se discute
dissídios coletivos. Com relação às primeiras, temos:

Os haveres do trabalhador, transitoriamente retidos junto ao patrimônio do


empregador, não deixam, por isso, de ser haveres e como tal hão de ser apurados
por perícia contábil, notadamente quando se tratar de tornar líquidas sentenças
que concluíram pela obrigação de dar tais haveres ao reclamante.

Exame, Análise e Identificação de


Erros ou Fraudes
A perícia contábil é um instrumento indispensável na verificação de fraudes e
erros contábeis, pois realiza procedimentos, de acordo com as normas técnicas,
a fim de fundamentar o laudo pericial, tais como: o exame, que constitui a análise
de livros e documentos; a vistoria, que consiste na verificação e constatação
de situação, coisa ou fato, de forma circunstancial; a indagação, que trata de
obtenção de testemunho daqueles que têm ou que deveriam ter conhecimento
da matéria periciada; a investigação, que é a pesquisa visando trazer ao laudo
o que está oculto por quaisquer circunstancias; o arbitramento, que trata da
determinação de valores ou solução de controvérsias por critérios técnicos; a
avaliação, que consiste no ato de determinar valor das coisas, bens, direitos e
obrigações, despesas e receitas; e a certificação, que é a informação trazida ao
laudo pelo perito contábil, de caráter afirmativo, cuja autenticidade é reconhecida
pela fé pública atribuída ao profissional.

Num sentido amplo, uma fraude é um esquema ilícito ou de má-fé criado


para obter ganhos pessoais, apesar de ter, juridicamente, outros significados
legais mais específicos (os detalhes exatos divergem entre as jurisprudências).
Muitos embustes são fraudulentos, apesar de os que não são criados para obter
ganhos pessoais não são adequadamente descritos dessa maneira.

75
Perícia Contábil

Em Direito Penal, fraude é o crime ou ofensa de, de forma deliberada,


enganar outros com o propósito de prejudicá-los, usualmente para obter
propriedade ou serviços dele ou dela, de modo injusto. Fraude pode ser efetuada
por meio de auxílio de objetos e/ou documentos falsificados. Somente uma perícia
especializada, com larga experiência, pode conseguir identificar efetivamente
uma fraude bem elaborada ou um erro.

Se esta não for bem comprovada, com provas robustas e com a devida
fundamentação legal, que somente um perito judicial pode proporcionar ao
contratante; de nada adiantará registrar na delegacia uma queixa-crime, correndo
até o risco de sofrer um revés na justiça, pagando (indenizando), por mais absurdo
que seja, danos morais ao acusado ou responsável.

Você sabia que: Um parecer contábil elaborado e assinado por


um perito contábil é um instrumento fundamental para instruir uma
eventual ação penal e efetivamente obter êxito na condenação dos
efetivos responsáveis.

O advogado, a polícia ou mesmo o juiz, na maioria das vezes, não possui


conhecimento técnico específico da matéria em análise. Portanto, é necessário
o auxílio de um perito especializado em contabilidade para identificar eventuais
operações fraudulentas ou com erros. Existem duas situações diferentes: quando
o juiz nomeia um perito judicial, por assim julgar necessário, ou quando uma das
partes do processo julga oportuna e pede através de seus advogados ao juiz
que sejam anexados laudos técnicos, elaborados por assistentes técnicos. Isto
certamente proporcionará ao magistrado o olhar técnico imparcial, identificando a
fraude ou erro e enquadrando-a, se for o caso, no código penal.

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76
Capítulo 6 Aplicação da Perícia Contábil

Atividades de Estudos:

1) Conceitue apuração de haveres?


_____________________________________________________
_____________________________________________________
_____________________________________________________
_____________________________________________________
_____________________________________________________
_____________________________________________________

2) Explique como a perícia contábil é utilizada no exame, análise e


identificação de erro ou fraudes?
_____________________________________________________
_____________________________________________________
_____________________________________________________
_____________________________________________________
_____________________________________________________
_____________________________________________________

Algumas Considerações
Neste capítulo, entendemos algumas das principais aplicações da perícia
contábil. Discriminar os campos e as situações em que é possível a aplicação
da perícia contábil é tarefa que somente pode ser tomada em caráter de
exemplificação, pois inumeráveis são as situações em que a perícia pode atuar.

Também relevante e comum é a necessidade de se verificar, analisar ou


avaliar a certeza e correção de um determinado valor ou conjunto de valores, que
podem ser débitos ou créditos, receitas ou despesas.

A Perícia Contábil pode ser utilizada como forma para verificação, análise,
exame ou identificações de situações críticas da contabilidade, como as
envolvendo erros e fraudes.

Todas essas aplicações de perícia contábil, devemos ressaltar, podem


ocorrer na instância de inquérito, no processo judicial ou arbitral, ou, ainda,
extrajudicialmente.

77
Perícia Contábil

Referências
ALBERTO, Valder Luiz Palombo. Perícia Contábil. 3. ed. São Paulo: Atlas, 2002.

ORNELAS, Martinho Maurício Gomes de. Perícia contábil. 4. ed. São Paulo:
Atlas, 2003. Perícia contábil. 5. ed. São Paulo: Atlas, 2011

78
C APÍTULO 7
Arbitragem

A partir da perspectiva do saber fazer, neste capítulo você terá os seguintes


objetivos de aprendizagem:

� Compreender o conceito e a importância da arbitragem e suas convenções.

� Desenvolver os conhecimentos conceituais para atuação no campo da


arbitragem.
Perícia Contábil

80
Capítulo 7 Arbitragem

Contextualização
A cada instante, o homem é desafiado a romper com os limites e a resolver
problemas provocados pelas intensas mudanças havidas na sociedade. As
inovações representam as grandes conquistas humanas, que ocorrem num contexto
teórico formulado, amadurecido e desenvolvido no próprio exercício da prática.

Nesse contexto, o ambiente empresarial atual está marcado pela derrubada


de barreiras comerciais dentro de uma crescente globalização da economia. Todo
esse processo leva as empresas a uma adaptação às mudanças impostas por
esse mercado, fazendo com que o processo decisório seja mais rápido, mais
preciso e dinâmico.

Em qualquer empresa, a administração busca resolver seus impasses e conflitos


com mais ousadia e celeridade, pois a ênfase dada nessas resoluções dependerá do
sucesso de suas negociações com clientes, fornecedores, sócios e empregados.

Neste capítulo, estudaremos como a arbitragem é considerada uma forma de


solução rápida e amigável para os conflitos.

A arbitragem, democrática e legítima, é uma justiça capacitada e qualificada


cujo objetivo é solucionar conflitos patrimoniais diretamente relacionados ao
campo de atuação do profissional da contabilidade.

Origem e Conceito de Arbitragem


Desde os tempos mais remotos, buscamos apaziguar os problemas inerentes
aos conflitos.

As civilizações primitivas buscavam uma forma amigável de solução imparcial


por meio de árbitros (pessoas de confiança mútua em que as partes se louvavam
para resolver os seus conflitos). Esta interferência, em geral, recaía sobre os
sacerdotes, que garantiam soluções acertadas, de acordo com a vontade dos
deuses, em face de suas ligações com as divindades, ou, então, buscavam a
solução com os anciões (sábios), que conheciam os costumes do grupo social e
da comunidade a que pertenciam as partes. A decisão do árbitro pautava-se pelos
padrões acolhidos pela convicção coletiva, inclusive, pelos costumes.

A origem da arbitragem, como meio de composição de litígios, é bem anterior


à jurisdição pública. Isto nos permite dizer que a arbitragem foi norma primitiva de
justiça e que os primeiros juízes nada mais foram do que árbitros.

81
Perícia Contábil

A arbitragem no Brasil encontrava-se em desuso e a Lei n. 9.307/96 resgatou


de nossas instituições jurídicas o acordo de vontades por meio do qual as partes,
preferindo não se submeter à decisão judicial, confiam a árbitros a solução de
seus conflitos de interesses.

Porém os próprios interessados, mediante concessões mútuas, dirimem suas


controvérsias de comum acordo, transferindo a terceiros a solução, por não se
sentirem habilitados a resolvê-las pessoalmente. É um meio rápido e racional de
solução paralelo ao Poder Judiciário, tornando mais célere a aplicação da justiça.

A sentença, sendo condenatória, constitui título executivo e independente de


homologação. A inexistência da homologação judicial é um dos possíveis atrativos
do juízo arbitral, bem como o seu caráter sigiloso.

Nada impede que a sociedade se ampare em alternativas


mais baratas e rápidas, como a arbitragem, podendo, sempre que
necessário, recorrer ao poder público para obrigar os vencidos a
cumprirem a decisão proferida. E, de acordo com o parágrafo 1º
do artigo 4º da Lei n. 9.307/96 - Lei da Arbitragem, as relações de
negócios que tenham por objeto direitos patrimoniais disponíveis
facultam às partes estipular preventivamente que eventuais dúvidas
ou conflitos de interesses que venham a surgir durante a sua vigência,
sejam submetidos, preferencialmente, à decisão do Juízo Arbitral. Para
tal deliberação, inserir-se-á “Cláusula Compromissória” nos contratos.

Nesse contexto globalizado, o profissional deve estar


preparado mediante especialização, procurando sempre ampliar
os conhecimentos contábeis, como também em outras áreas,
para ocupar o espaço a ele destinado e atuar nesta nova forma
alternativa de solução de controvérsias e litígios, originados de
relações contratuais ou extracontratuais, originária da vontade das
partes. A possibilidade de maior rapidez na solução do conflito, a
especialização do árbitro das questões levadas à sua apreciação, o
menor custo e, também, o sigilo da questão em debate, principalmente
questões comerciais, muitas delas envolvendo segredos industriais
ou questões técnicas, são aspectos inerentes à decisão arbitral e ao
próprio negócio da empresa.

Fonte: Disponível em: <http://t.boletimjuridico.com.br/doutrina/


texto.asp?id=2456>. Acesso em: 20 set. 2016.

82
Capítulo 7 Arbitragem

Atualmente, a arbitragem está expressa como matéria dispositiva, em quase


todos os sistemas jurídicos existentes, e como modalidade de solução de litígios
com extensão em nível nacional e internacional.

Segundo Strenger (1998, p. 82), “Arbitragem é instância jurisdicional,


praticada em função de regime contratualmente estabelecido, para dirimir
controvérsias entre pessoas de direito privado e/ou público com procedimentos
próprios e, (sic) força executória perante tribunais estatais”.

Com base nessa definição, temos que a arbitragem está sempre configurada
por meio de um contrato, sendo, dessa forma, convencional o objeto arbitral.
O principal objetivo da escolha do julgamento por arbitragem é fugir ao
pronunciamento da Justiça comum, que, além de ser morosa e dispendiosa, pode
enveredar pelos caminhos da polêmica, desvirtuando os resultados práticos que
as partes esperam.

A arbitragem é uma forma de solução de conflitos por meio de árbitros


privados e substitui a jurisdição estatal. A inserção de cláusulas nos contratos,
objetivando ampliar o espaço de manobra que as partes poderão ter em caso de
conflito, é condição inerente à preservação dos pactos.

Genericamente, a arbitragem é convencionada mediante a Convenção de


Arbitragem, que compreende a “Cláusula Compromissória”, em que as partes
contratantes deliberam submeter os eventuais conflitos originados do contrato
à solução arbitral, podendo, também, iniciar-se mediante um ajuste celebrado
entre os contratantes para a submissão de uma questão já identificada à decisão
arbitral, o que se convencionou chamar de “compromisso arbitral”.

Importância da Perícia Dentro da


Arbitragem
Alberto (2009), ao explicar sobre a perícia contábil, ressaltou as distintas
espécies de perícia, que são identificáveis e definíveis segundo os ambientes em
que estão instadas a atuar, e que delinearão suas características intrínsecas e o
modus faciendi, para o perfeito atendimento do objeto. Os ambientes de atuação
que lhe definirão as características podem ser: ambiente judicial, ambiente
semijudicial, ambiente extrajudicial e o ambiente arbitral.

A perícia arbitral, de acordo com Alberto (2009), é aquela realizada no juízo


arbitral, cujo pedido decisório é criado pelas partes, não se enquadrando em

83
Perícia Contábil

nenhuma das outras espécies de perícia citadas, devido a suas características


especiais de atuar parcialmente como se judicial ou extrajudicial fosse. A perícia
arbitral subdivide-se em: probante (que prova) e decisória (que decide), de acordo
com que se destine a funcionar como meio de prova do juízo arbitral, como
subsidiadora da convicção do árbitro, ou é ela própria a arbitragem, ou seja,
funciona seu agente ativo como o próprio árbitro da discussão.

Você sabia que: as espécies de laudo não dependem


diretamente das espécies de perícias. Estão mais ligados aos
objetivos e procedimentos periciais empregados.

Laudo Arbitral
O laudo arbitral, segundo Alberto (2009), diverge, em parte, das
características gerais apontadas, pois a conclusão arbitral é uma decisão sobre a
questão proposta.

O laudo arbitral deverá utilizar-se da forma descritiva, isto é, deverá descrever


em forma de relatório, fundamentos e dispositivo final, que tem semelhança
apurada com as características de sentença judicial. O laudo arbitral é, assim, o
resultado do trabalho do árbitro, e esta função, em determinados casos, é mais
adequada aos peritos, razão pela qual é considerada de instância decisória e não
como atividade pericial.

Sentença Arbitral
Arenhart (2005), doutor em Direito Processual Civil, estudioso da área,
realizou estudos pertinentes à arbitragem e faz breves observações sobre o
procedimento arbitral, conforme segue.

O autor mencionado denomina de sentença arbitral o ato do árbitro ou do


tribunal arbitral decidir a discussão submetida à arbitragem. Este ato é em tudo
assimilado à sentença judicial, ressalvado, entretanto, de que não pode conter,
entre seus efeitos, qualquer expressão de imperium, por não se tratar de ato
estatal (ARENHART, 2005).

84
Capítulo 7 Arbitragem

O julgamento contido na sentença arbitral pode revestir-se de resultado positivo


não situado no exercício de imperium estatal. Neste caso, menciona Arenhart
(2005), a sentença pode ser declaratória, constitutiva ou condenatória, porém
jamais terá caráter de mando ou executivo. Ressalta, ainda, que esta classificação
tem em vista a eficácia preponderante da sentença, o que não impede que esta
decisão contenha mais de uma destas eficácias, nem que, havendo cumulação de
pedidos, possa esta sentença encaixar-se em mais de um destes tipos.

A sentença arbitral opera seus efeitos não apenas em relação às partes,


entre as quais é dada, mas, também, à semelhança do que ocorre com a sentença
judicial, e é impositiva frente aos sucessores das partes, conforme prevê o art. 31.

Para Szklarowsky (2008), a sentença arbitral condenatória constitui título


executivo judicial, assim como a sentença homologatória de transação ou de
conciliação, ainda que verse matéria não posta em juízo, ex vi do disposto nos
incisos III e VI, do artigo 584 do Código de Processo Civil, com a redação dada
pelo artigo 1º da Lei n. 10.358, de 27 de janeiro de 2001.

Arenhart (2005) ressalta que, do mesmo modo que ocorre com a sentença
judicial, pode a sentença arbitral operar efeitos, naturais e reflexos, em face de
terceiros, não podendo, porém, ser exigida em relação a estes, nem sendo tais
efeitos indiscutíveis para terceiros.

Novamente, Arenhart (2005) menciona que, com o objetivo de melhor


esclarecer esta ideia, utilize-se o exemplo a seguir apresentado:

[...] uma sentença arbitral que anule determinado contrato de


compra e venda não opera seus efeitos apenas em relação às
partes, mas também terceiros, que tivessem interesse indireto
no cumprimento daquele pacto, são indiretamente prejudica-
dos e frustrados com a decisão judicial, isto é, pessoas que uti-
lizariam o bem adquirido, credores que poderiam pretender o
crédito resultante da compra e venda etc.; a sentença arbitral,
portanto, surtiria efeitos também para estes terceiros, apenas
não admitindo que estes efeitos possam ser imutáveis ou in-
discutíveis para os terceiros que revelem possuir legitimidade
e interesse para discuti-los judicialmente.

Arenhart (2005) menciona que, em se tratando de sentença arbitral de


cunho condenatório, esta decisão constituirá título executivo, e, em caso de não
cumprimento voluntário do preceito, subsidiará o processo de execução na via
judicial conforme art. 31, in fine.

Continua Arenhart (2005) mencionando que a sentença arbitral também


poderá revestir-se de caráter meramente homologatório. Quando as partes, no

85
Perícia Contábil

curso da arbitragem, chegarem a algum acordo a respeito do litígio, poderão


elas solicitar ao árbitro, ou ao tribunal arbitral, a homologação desta transação
por sentença, mesmo para que se revista ela da eficácia de título executivo, à
semelhança da sentença arbitral condenatória.

A sentença arbitral deve ser promulgada no prazo previsto pela Convenção


de Arbitragem. Sendo omisso este pacto, o prazo para a sentença será de seis
meses, contados da instituição da arbitragem ou da substituição do árbitro, segundo
prevê o art. 23 do Código de Processo Civil. Uma vez que a parte interessada tenha
notificado o árbitro, concedendo-lhe prazo de dez dias para a entrega da sentença,
o descumprimento desse prazo acarretará a extinção do compromisso arbitral e,
consequentemente, a nulidade daquele julgamento, dispõe o art. 32, inciso VII. O
prazo poderá ser prorrogado por acordo entre as partes e o árbitro, tantas vezes
quantas corresponderem ao interesse dos litigantes.

De acordo com o art. 24 do Código de Processo Civil, exige a lei que a sentença
arbitral seja dada em documento escrito, que contenha inclusive os requisitos do art.
26. Assim, deverá esta sentença, de forma similar ao que ocorre com a sentença
judicial, conter relatório, fundamentação e dispositivo. Além de indicar a data e o
local em que tenha sido proferida, deve estar assinada pelo árbitro ou pelos árbitros
que a elaboraram. No relatório deve haver menção aos nomes dos litigantes, sendo
o espaço para que os árbitros apresentem uma síntese do litígio a eles submetido.
Na fundamentação da sentença arbitral, deverão os árbitros avaliar as questões
de fato e de direito componentes das razões do litígio, indicando as razões que
os levam a decidir de tal ou qual forma. É nesse momento que se estabelecem as
premissas do julgamento, com o exame dos argumentos trazidos pelas partes, das
provas produzidas e dos elementos relevantes para a formação do convencimento
dos árbitros, ressalta Arenhart (2005).

É ainda imposição da lei que na fundamentação seja expressa a menção de


que a decisão se funda em equidade, quando este for o caso, amparada no art.
26, inc. II. Estabelecidas as razões do julgamento, o próximo passo é o dispositivo
da sentença arbitral, que é o local em que os árbitros resolvem os pedidos que
lhes foram apresentados, oferecendo a solução à controvérsia sujeita à arbitragem.
Se necessário for, é nesse momento que se fixa o prazo para o cumprimento da
sentença arbitral pelas partes. Cabe ainda, na sentença arbitral, a decisão a respeito
das despesas e custos referentes à arbitragem. Compete aos árbitros imputar esta
responsabilidade às partes, segundo critérios de equidade ou segundo a previsão
contida na Convenção de Arbitragem, não havendo a obrigatoriedade de seguir-
se a disciplina prevista no Código de Processo Civil a esse respeito. Do mesmo
modo, havendo previsão na convenção de arbitragem sobre a questão, caberá
aos árbitros, na sentença arbitral, decidir a respeito de eventual litigância de má-fé,
impondo ao responsável as sanções contempladas no pacto.

86
Capítulo 7 Arbitragem

No caso de ser proferida por tribunal arbitral, a sentença arbitral é tomada


por maioria de votos, prevalecendo, no caso de dissidência invencível, o voto do
presidente do tribunal, conforme dispõe o art. 24, § 1º. O árbitro vencido poderá,
se assim entender necessário, declarar seu voto em separado, o que não alterará
a substância da decisão, nem terá repercussões em termos de resultado positivo
da decisão ou de impugnabilidade da sentença.

Uma vez concluída a sentença arbitral, será dada ciência às partes, por meio
do envio de cópia da decisão, pessoalmente, com recibo, por via postal ou por
qualquer outro meio de comunicação, desde que comprove o seu recebimento.

A partir desse processo, dar-se-á início ao prazo para o cumprimento da


decisão, que, uma vez descumprido, sujeitará o infrator à competente demanda
judicial executiva (ARENHART, 2005).

Ressalta Arenhart (2005) que a sentença arbitral não se sujeita a recurso


de qualquer espécie, nem a homologação judicial, conforme prevê o art. 18.
Entretanto, poderá a parte interessada requerer ao árbitro, ou ao tribunal arbitral,
no prazo de cinco dias, contados da ciência da sentença arbitral e comunicados ao
seu adversário, que corrija eventual erro material contido naquela decisão, ou, até
mesmo, que esclareça alguma obscuridade, dúvida ou contradição ali presente ou
mesmo supra possível omissão verificada. Essa situação, que se assemelha aos
embargos de declaração previstos na legislação processual comum, visa, como
pode ser observado, evitar a entrega de decisão defeituosa, que gere dificuldade
de cumprimento ou mesmo de entendimento pelas partes, e, eventualmente, pelo
Poder Judiciário, havendo a necessidade de sua execução ulterior.

Você sabia que: Se houver requerimento de esclarecimento/


retificação da sentença, deverão os árbitros a seu respeito pronunciar-
se em dez dias, aditando a sentença, se for o caso, e comunicando
as partes de forma idêntica à comunicação referente à sentença.

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87
Perícia Contábil

Atividades de Estudos:

1) Conceitue Arbitragem?
_____________________________________________________
_____________________________________________________
_____________________________________________________
_____________________________________________________
_____________________________________________________
_____________________________________________________

2) Conceitue laudo arbitral?


_____________________________________________________
_____________________________________________________
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_____________________________________________________
_____________________________________________________
_____________________________________________________

Algumas Considerações
Neste capítulo, entendemos que atividade profissional do perito-contador
está, atualmente, mais próxima da arbitragem, pois assim está determinando
o mercado, tanto na esfera do Judiciário quanto na esfera extrajudicial. Esta
afirmação tem por base a constante nomeação de profissionais para atuarem
como peritos-contadores para auxiliar como árbitros em processos judiciais,
nomeados pelo juiz, principalmente em processos na fase de liquidação de
sentença.

De forma natural, o contador que atua na área da perícia contábil, recebendo


de forma repetitiva o voto de confiança dos juízes e/ou das partes para a apuração
de haveres, atuará com muita familiaridade como árbitro.

A importância da perícia na arbitragem está tanto para auxiliar na solução


do conflito quanto na formação do árbitro, face aos seus conhecimentos técnicos
específicos sobre a matéria que envolve os direitos patrimoniais disponíveis e a
sua quantificação.

88
Capítulo 7 Arbitragem

O mercado de trabalho se amplia quando se vê a arbitragem como um


meio de decisão de litígios e, principalmente, de desafogo do Judiciário. Pode
o contador atuar como perito no processo, como assistente técnico de uma das
partes e, extrajudicialmente, como juiz arbitral ou como perito na arbitragem. A
prova pericial poderá ser determinada pelas partes interessadas, em função de
ser necessário o conhecimento contábil específico não afeto às partes julgadoras.

Abordar ou refletir sobre a importância da perícia na arbitragem é alertar para


um campo de atuação, que, também, deve ser valorizado pelo perito-contador,
pois a Reforma do Judiciário, que reduziu a atuação dos profissionais na área
da Justiça do Trabalho, trouxe muitas mudanças para os profissionais que atuam
neste segmento.

Referências
ALBERTO, Valder Luiz Palombo. Perícia contábil. 4. ed. São Paulo: Atlas, 2009.

ARENHART, Sérgio Cruz. Breves observações sobre o procedimento


arbitragem. Disponível em: <ufpr.academia.edu/SergioCruzArenhart>. Acesso
em: 16 ago. 2011

ORNELAS, Martinho Maurício Gomes de. Perícia contábil. 4. ed. São Paulo:
Atlas, 2003.

STRENGER, Irineu. Comentários à lei brasileira de arbitragem. São Paulo:


LTr, 1998.

SZKLAROWSKY, Leon Frejda. Sentença arbitral 2. Revista Prática Jurídica.


Editora Consulex, n. 44, de 30 de novembro de 2005.

89
Perícia Contábil

90
C APÍTULO 8
Normas Brasileiras Sobre a Perícia

A partir da perspectiva do saber fazer, neste capítulo você terá os seguintes


objetivos de aprendizagem:

� Compreender a estrutura das Normas Brasileiras de Contabilidade, com ênfase


na regulamentação da perícia contábil e do perito-contador.

� Aplicar as normas no âmbito dos trabalhos de perícia contábil.


Perícia Contábil

92
Capítulo 8 Normas Brasileiras Sobre a Perícia

Contextualização
Desde 1992 as normas periciais contábeis estão regulamentadas. Com a
nova estrutura normativa da classe contábil, promovida e aprovada pelo Conselho
Federal de Contabilidade (CFC), destacamos os dois normativos relacionados à
perícia contábil: NBC PP 01 e NBC TP 01.

Estas normas estabelecem critérios inerentes à atuação do contador na


condição de perito (NBC PP 01) e, ainda, regras e procedimentos técnico-
científicos a serem observados pelo perito (NBC TP 01) quando da elaboração
de perícia contábil, no âmbito judicial, extrajudicial, inclusive arbitral, mediante o
esclarecimento dos aspectos e dos fatos do litígio, por meio de exame, vistoria,
indagação, investigação, arbitramento, avaliação ou certificação.

Este capítulo é de suma importância para que possamos utilizar a


normatização de maneira adequada e, também, compreendamos melhor a
aplicação da perícia contábil.

Estrutura das Normas


No exercício da profissão contábil, devem ser observadas as Normas
Brasileiras de Contabilidade (NBC), que são um conjunto de regras e
procedimentos de conduta, as chamadas normas profissionais (NBCPs), bem
como a doutrina conceitual, os princípios, estrutura técnica e os procedimentos,
chamados de normas técnicas (NBC-Ts), a serem aplicados na realização dos
trabalhos previstos, e que são aprovados por resolução emitida pelo Conselho
Federal de Contabilidade (CFC), que, inclusive, foi atualizada pela Resolução
CFC n. 1.156/2009.

As NBC compreendem os códigos e normatizações abaixo:

• Código de Ética Profissional do Contabilista.


• Normas de Contabilidade.
• Normas de Auditoria Independente e de Asseguração.
• Normas de Auditoria Interna.
• Normas de Perícia Contábil.

Importante salientar que as NBC, principalmente depois de aprovada a Lei


n. 11.638/07, estão em processo de harmonização com as Normas Internacionais
de Contabilidade emitidas pelo IASB - Comitê Internacional de Normas de
Contabilidade, as Normas Internacionais de Auditoria e Asseguração e as

93
Perícia Contábil

Normas Internacionais de Contabilidade para o Setor Público emitidas pela IFAC -


Federação Internacional de Contadores.

Atualmente, com a evolução e padronização das normas internacionais de


contabilidade, o Conselho Federal de Contabilidade subdividiu as normas profissionais
e normas técnicas de acordo com sua especificidade, como vemos a seguir.

Estrutura das Normas Profissionais

• NBC-PG: normas gerais aplicadas aos profissionais da área


contábil.
• NBC-PA: normas aplicadas especificamente aos contadores
que atuam como auditor independente.
• NBC-PI: normas aplicadas especificamente aos contadores
que atuam como auditor interno.
• NBC-PP: são aplicadas especificamente aos contadores que
atuam como perito contábil.

Estrutura das Normas Técnicas

• NBC-TS: são as normas societárias convergentes com as Normas


Internacionais.
• NBC-TSP: normas ao Setor Público, convergentes com as Normas
Internacionais de Contabilidade para o Setor Público.
• NBC-TE: normas que não possuem Norma Internacional
correspondente, observando as NBC-TS.
• NBC-TA: são as normas de Auditoria convergentes com as Normas
Internacionais de Auditoria Independente (ISAs) emitidas pela Federação
Internacional de Contadores (IFAC).
• NBC-TR: são as normas de Revisão convergentes com as Normas
Internacionais de Revisão (ISREs) emitidas pela IFAC.
• NBC-TO: são as normas de Asseguração convergentes com as Normas
Internacionais de Asseguração (ISAEs) emitidas pela IFAC.
• NBC-TSC: são as normas para Serviços Correlatos convergentes com
as Normas Internacionais para Serviços Correlatos (ISRSs) emitidas pela
IFAC.

94
Capítulo 8 Normas Brasileiras Sobre a Perícia

• NBC-TI: são as normas aplicadas aos trabalhos de auditoria interna.


• NBC-TP: são as normas aplicadas aos trabalhos de perícia.

A inobservância das Normas Brasileiras de Contabilidade constitui


A inobservância das
infração disciplinar, sujeita às penalidades previstas nas alíneas “c”, Normas Brasileiras
“d” e “e” do art. 27 do Decreto-Lei n. 9.295/46, e, quando aplicável, ao de Contabilidade
Código de Ética Profissional do Contabilista. constitui infração
disciplinar, sujeita
Dada a relevância do tema Perícia Contábil, o Conselho Federal às penalidades
previstas nas
de Contabilidade, que é o órgão máximo de fiscalização do exercício
alíneas “c”, “d” e
profissional do Contador no Brasil, absorveu, também, a matéria “e” do art. 27 do
relativa à Perícia Contábil. Decreto-Lei n.
9.295/46, e, quando
A constante evolução e a crescente importância da perícia exigem aplicável, ao Código
atualização e aprimoramento das normas endereçadas à sua regência de Ética Profissional
do Contabilista.
para manter permanente justaposição e ajustamento entre o trabalho a
ser realizado e o modo ou o processo dessa realização.

O Conselho Federal de Contabilidade, no exercício de suas atribuições


legais e regimentais, por meio da Resolução n. 1.243, de 10 de dezembro de
2009, resolveu aprovar a NBC PP 01, que trata do Perito Contábil, a qual entrou
em vigor em 1º de janeiro de 2010. Esta norma foi revogada, obtendo uma nova
redação em 18 de março de 2015.

A NBC PP 01, que trata do Perito Contábil, quando se refere ao item 5 –


Competência Profissional, ressalta que, para o exercício da função deve manter:

Competência técnico-científica pressupõe ao perito manter adequado nível de


conhecimento da ciência contábil, das Normas Brasileiras de Contabilidade, das
técnicas contábeis, da legislação relativa à profissão contábil e aquelas aplicáveis
à atividade pericial, atualizando-se, permanentemente, mediante programas de
capacitação, treinamento, educação continuada e especialização.

E complementa que, para isso, o perito deve demonstrar capacidade para


pesquisar, examinar, analisar, fundamentar de forma sintética a prova no laudo
pericial contábil e/ou no parecer pericial contábil, quando se tratar do perito-
contador assistente.

95
Perícia Contábil

Você sabia que: Realizar seus trabalhos com a observância


da equidade significa que o perito-contador e o perito-contador
assistente devem atuar com igualdade de direitos, adotando os
preceitos legais técnicos inerentes à profissão contábil.

De acordo com Sá (2009), o espírito de solidariedade do perito-contador


e do perito-contador assistente não pode induzir, como também não justifica, a
participação ou ser conivente com erros ou atos infringentes às normas profissionais
e éticas que regem o exercício da profissão, devendo sempre buscar a verdade
fática, a fim de esclarecer o objeto da perícia de forma técnica e imparcial.

Quadro 3 - Resumo dos itens abordados na NBC PP 01


O perito deve comprovar sua habilitação como perito em conta-
bilidade por intermédio de Certidão de Regularidade Profissional
emitida pelos Conselhos Regionais de Contabilidade. O perito
HABILITAÇÃO deve anexá-la no primeiro ato de sua manifestação e na apresen-
PROFISSIONAL tação do laudo ou parecer para atender ao disposto no Código de
Processo Civil. É permitida a utilização da certificação digital, em
consonância com a legislação vigente e as normas estabelecidas
pela Infraestrutura de Chaves Públicas Brasileiras – ICP-Brasil.
Impedimento e suspeição são situações fáticas ou circunstanciais
que impossibilitam o perito de exercer, regularmente, suas fun-
ções ou realizar atividade pericial em processo judicial ou extraju-
IMPEDIMENTO E
dicial, inclusive arbitral. Os itens previstos nesta Norma explicitam
SUSPEIÇÃO
os conflitos de interesse motivadores dos impedimentos e das
suspeições a que está sujeito o perito nos termos da legislação
vigente e do Código de Ética Profissional do Contador.
O perito deve conhecer as responsabilidades sociais, éticas,
profissionais e legais às quais está sujeito no momento em que
RESPONSABILIDADE
aceita o encargo para a execução de perícias contábeis judiciais e
extrajudiciais, inclusive arbitral.
O termo “zelo”, para o perito, refere-se ao cuidado que ele deve
dispensar na execução de suas tarefas, em relação à sua condu-
ta, documentos, prazos, tratamento dispensado às autoridades,
ZELO PROFISSIONAL aos integrantes da lide e aos demais profissionais, de forma que
sua pessoa seja respeitada, seu trabalho levado a bom termo e,
consequentemente, o laudo pericial contábil e o parecer técnico-
-contábil dignos de fé pública

96
Capítulo 8 Normas Brasileiras Sobre a Perícia

O perito pode valer-se de especialistas de outras áreas para a


realização do trabalho, quando parte da matéria-objeto da perícia
UTILIZAÇÃO DE ESPE- assim o requeira. Se o perito utilizar informações de especialista,
CIALISTA inclusive se anexar documento emitido por especialista, o perito é
responsável por todas as informações contidas em seu laudo ou
parecer.
Na elaboração da proposta de honorários, o perito dever conside-
rar os seguintes fatores: a relevância, o vulto, o risco, a complexi-
HONORÁRIOS
dade, a quantidade de horas, o pessoal técnico, o prazo estabele-
cido e a forma de recebimento, entre outros fatores.
O perito deve prestar esclarecimentos sobre o conteúdo do laudo
pericial contábil ou do parecer técnico-contábil, em atendimento
à determinação do juiz ou árbitro que preside o feito, os quais
ESCLARECIMENTOS podem não ensejar novos honorários periciais, se forem apresen-
tados para obtenção de detalhes do trabalho realizado, uma vez
que as partes podem formulá-los com essa denominação, mas
serem quesitos suplementares.
1 – Escusa em perícia judicial;
2 – Renúncia em perícia arbitral;
3 – Renúncia em perícia extrajudicial;
MODELOS 4 – Renúncia à indicação em perícia judicial;
5 – Renúncia à indicação em perícia arbitral;
6 – Renúncia em assistência em perícia extrajudicial;
7 – Petição de honorários periciais contábeis;
Fonte: O autor.

Quadro 4 - Resumo dos itens abordados na NBC TP 01


Ao ser intimado para dar início aos trabalhos periciais, o perito do
juízo deve comunicar às partes e aos assistentes técnicos: a data
EXECUÇÃO
e o local de início da produção da prova pericial contábil, exceto
se designados pelo juízo.
Os procedimentos periciais contábeis visam fundamentar o laudo
pericial contábil e o parecer técnico-contábil e abrangem, total ou
PROCEDIMENTOS parcialmente, segundo a natureza e a complexidade da matéria,
exame, vistoria, indagação, investigação, arbitramento, mensura-
ção, avaliação e certificação.
O planejamento da perícia é a etapa do trabalho pericial que
antecede as diligências, pesquisas, cálculos e respostas aos
PLANEJAMENTO quesitos, na qual o perito do juízo estabelece a metodologia dos
procedimentos periciais a serem aplicados, elaborando-o a partir
do conhecimento do objeto da perícia.

97
Perícia Contábil

Termo de diligência é o instrumento por meio do qual o perito


TERMO DE DILIGÊNCIA solicita documentos, coisas, dados e informações necessárias à
elaboração do laudo pericial contábil e do parecer técnico-contábil.
O laudo pericial contábil e o parecer técnico-contábil são docu-
mentos escritos, nos quais os peritos devem registrar, de forma
LAUDO E PARECER
abrangente, o conteúdo da perícia e particularizar os aspectos e
PERICIAL CONTÁBIL
as minudências que envolvam o seu objeto e as buscas de ele-
mentos de prova necessários para a conclusão do seu trabalho.
1 – Termo de Diligência na Perícia Judicial;
2 – Termo de Diligência na Perícia Extrajudicial;
MODELOS
3 – Termo de Diligência na Perícia Arbitral;
4 – Planejamento para Perícia Judicial.
Fonte: O autor.

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Atividades de Estudos:

1) Como estão estruturadas as Normas Brasileiras de Contabilidade


(NBCs)?
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2) O que o ocorre em caso de inobservância das Normas Brasileiras


de Contabilidade?
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_____________________________________________________
_____________________________________________________
_____________________________________________________

98
Capítulo 8 Normas Brasileiras Sobre a Perícia

_____________________________________________________
_____________________________________________________

Algumas Considerações
Neste capítulo, você teve a oportunidade de conhecer a estruturação das
normas brasileiras de contabilidade e, em especial, as normas profissionais do
perito, a sua aplicação, competência profissional, enfim, a legislação necessária
para a prática da perícia contábil.

Vimos que as Normas Brasileiras de Contabilidade (NBC) são um conjunto


de regras e procedimentos de conduta, bem como as chamadas normas
profissionais (NBC-Ps), as quais tem como objetivo uma doutrina conceitual,
princípios, estrutura e normas técnica, a serem aplicados na realização dos
trabalhos previstos, e que são aprovadas por resolução emitidas pelo Conselho
Federal de Contabilidade (CFC).

Com a evolução e padronização das normas internacionais de contabilidade,


o Conselho Federal de Contabilidade subdividiu as normas profissionais e as
normas técnicas de acordo com suas especificidades.

As normas brasileiras de contabilidade estabelecem regras e procedimentos


técnico-científicos a serem observados pelo perito, quando da elaboração de
perícia contábil, no âmbito judicial, extrajudicial, inclusive arbitral, mediante o
esclarecimento dos aspectos e dos fatos do litígio por meio de exame, vistoria,
indagação, investigação, arbitramento, avaliação ou certificação.

Em relação ao perito-contador, as próprias Normas Brasileiras de


Contabilidade também se preocuparam em definir seu papel e atribuições. As
normas do perito estão regulamentadas desde 1992.

Portanto, o objetivo das Normas Brasileiras de Contabilidade é estabelecer


procedimentos inerentes à atuação do contador na condição de perito.

99
Perícia Contábil

Referências
CONSELHO FEDERAL DE CONTABILIDADE. Norma Brasileira de
Contabilidade - NBC PP 01, de 27 de fevereiro de 2015 – Dá nova redação à
NBC PP 01 - Perito Contábil. Disponível em: <http://www2.cfc.org.br/sisweb/sre/
detalhes_sre.aspx?Codigo=2015/NBCPP01>. Acesso em: 01 jul. 2016.

______. Norma Brasileira de Contabilidade - NBC TP 01, de 27 de fevereiro


de 2015 – Dá nova redação à NBC PP 01 - Perito Contábil. Disponível em:
<http://www2.cfc.org.br/sisweb/sre/detalhes_sre.aspx?Codigo=2015/NBCTP01>.
Acesso em: 01 jul. 2016.

SÁ, Antônio Lopes. Perícia contábil. 9. ed. São Paulo: Atlas, 2009.

100
C APÍTULO 9
Fraudes em Contabilidade

A partir da perspectiva do saber fazer, neste capítulo você terá os seguintes


objetivos de aprendizagem:

� Aplicar os conceitos de perícia para reconhecer os principais elementos


motivadores das fraudes em contabilidade.
Perícia Contábil

102
Capítulo 9 Fraudes em Contabilidade

Contextualização
Assuntos envolvendo fraudes têm marcado presença, tanto nas manchetes
dos meios de comunicação quanto no próprio meio corporativo em que
trabalhamos.

Quase sempre nos deparamos com o erro (incorreção, inexatidão), com


o engano (erro causado por descuido, falta de conhecimento específico ou
desatenção) e com o equívoco (interpretação ambígua). Todos poderão estar na
fronteira da fraude (ação praticada de má-fé).

Este capítulo é importante, pois abordaremos, a partir dos conceitos e de


algumas características das terminologias do tema, as suas possíveis causas.

O objetivo será abordar exemplos práticos de fraudes contábeis e como se


dá a atuação do perito nessas situações.

Conceito de Fraude Contábil


A ação econômico-administrativa desenvolve-se por manifestações volitivas
(vontade) da pessoa a quem esteja vinculada uma soma de interesses pecuniários
e, em processo do tempo, por agentes que aplicam suas técnicas especializadas
na consecução dos objetivos, procedendo em conformidade com as regras legais
e de acordo com as normas profissionais e observância ética.

Ocorre que, por deficiências técnicas, estados psíquicos ou falhas morais, os


fatos da administração não se apresentam com a necessária perfeição material,
ou infringem os preceitos legais e os ensinamentos éticos. Quando identificadas,
invocam na incriminação de seus causadores civil e/ou criminalmente.

A fraude por si só pode ser considerada como o ato de enganar ou burlar


em proveito próprio. A fraude não se presume, a princípio deve ser provada por
quem acusa, embora se admita a chamada prova por indícios ou circunstâncias.
São consideradas variantes de fraudes: furto, roubo, lesão, desfalque, estelionato,
falsificação.

Exemplos mais comuns:

• Adulterações de pesos e medidas;


• Substituição e subtração de mercadorias;
• Furtos nas transações;

103
Perícia Contábil

• Roubo e desvio de mercadorias e valores;


• Apropriação indébita;
• Falsificação de documentos;
• Faltas de caixa.

As irregularidades contábeis são frutos de irregularidades administrativas


e podem causar prejuízos. A organização contábil e respectivas escritas devem
assegurar e confirmar a regularidade administrativa. Os gestores depositam
justificada confiança nos serviços da contabilidade, acompanhando sua supervisão
nos aspectos administrativo e técnico, mas somente até onde o permitam seus
conhecimentos da matéria.

Seguem algumas possíveis causas das imperfeições contábeis:

• Grande volume de trabalho;


• Complexidade da matéria;
• Quaisquer fatores físicos ou psíquicos;
• Fraquezas de conhecimento;
• De boa-fé ou malícia e premeditação;
• Exigências técnicas e do indispensável rigor nas aplicações da
contabilidade.

Concorrem para a execução irregular da contabilidade (não


intencionais):

• Ausência ou deficiência de método de trabalho;


• Falta de dedicação;
• Precipitação;
• Falhas de origem física ou psíquica (inquietação, revolta,
desatenção, distração, fraquezas de memória, etc.);
• Negligência.

Sendo a contabilidade, por suas funções, uma forma de representação de


fatos, ela, como qualquer outra forma de expressão, não pode prestar-se às
aparências, figurando fatos inexistentes ou desvirtuados por artifícios, falsas

104
Capítulo 9 Fraudes em Contabilidade

situações, isto com o caráter de simulação, ou seja, a intenção de induzir a


interpretações que não condizem com a realidade, a verdade e a exatidão de
coisas e fatos.

Imperfeições Técnicas
A firma de contabilidade segue planos previamente elaborados e sua
execução é guiada por normas pré-determinadas. Planos incompletos ou
defeituosos são considerados possíveis causas das imperfeições.

Exemplo: normas deficientes ou mal orientadas; contas inadequadas e


impropriedades de titulações produzem confusão e induzem a interpretações
erradas; função de conta mal definida é causa de erros; síntese Indícios de fraude,
excessiva ou desdobramento desnecessário de contas produz pelas seguintes
dificuldades, obscurece ou complica o mecanismo contábil; livros que imperfeições:
não atendam às exigências de clareza e método; livros auxiliares em desordem geral
grande número; processo de escrituração que não obedece ao método na escrituração,
confusão e
racional, torna os registros obscuros; má redação ou deficiência de
atraso; ausência
histórico, palavras ou números ambíguos prejudicam o valor qualitativo de evidências;
da contabilidade. insuficiência
de quadratura;
Indícios de fraude, pelas seguintes imperfeições: desordem frequência
geral na escrituração, confusão e atraso; ausência de evidências; exagerada de
estornos.
insuficiência de quadratura; frequência exagerada de estornos.

Você sabia que: A boa guarda e conservação dos livros e


registros contábeis e o perfeito arquivo dos comprovantes são
requisitos irrecusáveis para sua valorização.

Negligência Profissional
O contador responsável pela contabilidade de uma firma está na obrigação
moral de manter a respectiva escrituração em boa ordem, “em dia”.

Exemplo: má guarda e má conservação dos livros; má apresentação de


trabalho; falta de asseio nos trabalhos e ausência ou atraso nas verificações;

105
Perícia Contábil

acúmulo de documentos para escriturar; omissões de conferência dos elementos;


omissões ou imperfeições de lançamentos.

Erros Técnicos e de Escrituração


Importante, primeiramente, é a distinção de erro substancial e formal.
Substancial é aquilo que se refere à essência e formal é referência à apresentação,
à expressão dos atributos das coisas. Em contabilidade, o erro é de substância ou
de conceito.

Quando se organiza plano de contas ou livros com impropriedades de


indicação ou defeitos de função, ou quando consideram, ou classificam fatos
de maneira que não significam a realidade ou verdade. Erro de forma é a
representação gráfica defeituosa ou viciada de fatos. Presume-se que todo o erro
é involuntário, qualificando-se como simulação, adulteração ou fraude, quando
intencional. Diz-se que o erro é de técnica quando a impropriedade ou inexatidão
contraria os PFC ou as formas racionais consagradas nos meios profissionais.
Deixar de registrar o endosso de uma letra cambial, por exemplo, seria um erro
técnico, substancial e involuntário.

Infrações
Não cumprir uma determinação administrativa e, principalmente, legal ou
cumpri-la parcialmente, com desvirtuamento ou deformação, é infringir normas ou
preceitos a serem observados pela contabilidade.

Exemplo: inobservância das formalidades expressas na legislação societária


e código comercial em relação aos livros e aos vícios de escrituração condenados
pelos mesmos diplomas legais; inobservância de normas e preceitos estatutários
e contratuais no registro das operações; inobservância da legislação tributária;
inobservância dos padrões e classificação de balanço quando impostos por lei
(S/A, banco, companhia de seguros, transportes aéreos, previdência privada,
entidades públicas, fundos, etc.).

Simulações
Quando coisas e fatos não correspondem à verdade, quando alguém
contraria normas e preceitos, ou quando são arquitetadas situações irreais e

106
Capítulo 9 Fraudes em Contabilidade

irregulares. São aqueles que não se verificaram ou com desvirtuação gráfica, ou


omissão de operações e negócios legítimos.

Exemplo: simulação de inventários; operações ou negócios; débitos e créditos;


despesas ou prejuízos; rendas ou lucros; distribuição indevida ou evitada de lucros;
de déficit ou superávit falsos; situações aparentes ou falsas de balanços.

Adulteração
Dentre as irregularidades contábeis, são apontadas como adulteração
não apenas o simples fato de alterar a escrituração em alguma de suas partes,
mas a emenda, a eliminação ou os acréscimos que alterem, propositadamente,
os registros. As alterações podem ser de contas, históricos, datas, quantias,
lançamentos ou peças contábeis já elaboradas.

Exemplo: adulteração de inventários; escrituração de livros; nos próprios


livros; em débitos; créditos; contas e subcontas de receitas e despesas; nos
resultados econômicos; nos balanços e peças que os acompanham.

Fraudes
Intenções de lesão de interesses alheios. São exemplos claros de fraudes:

• Falsificação de lançamentos nas falências;


• Falsas situações de contas;
• Reservas falsas;
• Lucros líquidos alterados;
• Erros de classificação de receita e despesa;
• Omissão de entradas de dinheiro;
• Repetição indevida das mesmas saídas de dinheiro.

Culpa Profissional
As imperfeições técnicas de organização e execução de contabilidade, as
negligências profissionais, os erros técnicos e de escrituração, bem como outras
irregularidades de escrita podem ser causa determinante ou concorrente, direta ou
indireta, de prejuízos materiais e morais em desfavor do dono de um patrimônio
ou de terceiros em relações comerciais: um inventário de mercadorias, uma

107
Perícia Contábil

verificação de caixa com os resultados inexatos podem ser causa de prejuízo; a


situação de um conta de terceiros em que seu saldo não corresponde à realidade
pode determinar operações ou liquidações prejudiciais; registro errado de uma
operação traz sempre inconvenientes: deixar de satisfazer uma obrigação no dia
de seu vencimento, devido a informação errônea da contabilidade, pode levar à
sua falência; às infrações à legislação comercial, na escrituração, prejudicam a
força probante desta; pagamentos indevidos ou antecipados, informados pela
contabilidade, acarretam prejuízo.

Estas irregularidades e das demais que a contabilidade induz a cometer


constituem culpa profissional, que deverá responder material ou moralmente
pelos danos que causar.

Responsabilidades Profisionais em
Caso de Fraude Contábil
Quer sejam involuntárias as falhas e culpas do contador, quer sejam
intencionais, quer ação de dolo ou fraude, o profissional sofre as respectivas
consequências, que se traduzem em perda de emprego, ressarcimento de
prejuízos ou responsabilidade criminal. No exercício de suas funções, o contador
tem responsabilidade profissional pelos atos irregulares que praticar.

Segundo a alínea “d”, do art. 27, da Lei n. 12.249/2010, aplica-se a pena de


suspensão do exercício da profissão àqueles que “dentro do âmbito de sua atuação
e no que se referir à parte técnica forem responsáveis por qualquer falsidade de
documentos que assinarem e pelas irregularidades de escrituração praticadas no
sentido de fraudar as rendas públicas”. A mesma lei, alínea “f”, prevê, inclusive, a
cassação do exercício profissional quando comprovada incapacidade técnica de
natureza grave, crime contra a ordem econômica e tributária.

Diferenças entre erro e fraude:

O QUE É ERRO?

Erro é um vício involuntário, de escrituração ou nas


demonstrações contábeis. É diferente da fraude que é voluntário. O
erro pode ser de essência ou de forma.

108
Capítulo 9 Fraudes em Contabilidade

Erros de essência: são inversões de números, de repetição


de registro, de transposição de saldos de contas, de classificação
de contas, de somas, etc. Os erros de essência tendem a ser mais
graves.

Erros de forma: são os registros de pagamentos feitos pelos


sócios, por meio de suas contas particulares, para a empresa, ou
vice-versa. Se os registros transacionaram somente pelo caixa, há
um erro de forma, porque o sócio depositou em sua conta e pagou
obrigação da empresa (nesta conta). O patrimônio dos sócios
(pessoa física) nunca deve se confundir com o patrimônio da
empresa (pessoa jurídica).

O QUE É FRAUDE?

Fraude é a lesão, o erro premeditado, feito propositadamente


para lesar alguém. Tanto nas perícias administrativas, judiciais,
quanto especiais, a fraude é sempre motivo de muito trabalho de
verificação.

“Detectada a fraude, pela gravidade que representa, deve ser


sempre relatada, se afetar a opinião requerida” (SÁ, 1994).

A perícia, quando está voltada para a localização de fraudes,


deve ter planos específicos, com cautelas que envolvem cuidados
especiais. Muitas perícias são realizadas para detectar fraude.

Você sabia que: Detectado o erro, o perito precisa procurar a


“origem” deste e as “causas”. Sendo o erro relevante, que influencie
substancialmente nas conclusões, deve ser evidenciado e declarada
a influência que provocou.

109
Perícia Contábil

Perícia Contábil e a Fraude Contábil


Para que você, acadêmico(a), tenha um conhecimento mais amplo, buscamos
um case, apresentado por Magalhães et al. (2008, p. 110-115), referente a uma
perícia extrajudicial, pertinente a uma Prestação de Contas de Administradores/
Procuradores, que descrevemos a seguir.

Inicialmente, apresentam-se o perito e as partes, conforme demonstrado no


item 1.

1 Apresentação

Identificação do perito: (..........)


Matéria Periciada: litígio entre outorgante e outorgados quando do encerramento da
gestão administrativa-comercial de empresa concessionária de derivados de petróleo.

Outorgante: Parte 1 (Contratante da Perícia Extrajudicial)


Parte 2 (Praticante do Ilícito)
Parte 3 (Praticante do Ilícito)

Síntese: Atendendo às condições expressas no CONTRATO DE SERVIÇOS DE


PERÍCIA CONTÁBIL EXTRAJUDICIAL, firmado em 31-07-x5, periciamos os registros
contábeis e os documentos que nos foram apresentados, mencionados na sequência:

Livros: Diário, n. (...) registrado na JCP/(...), sob n.(...), em 8-7-x5, fls. (...);
Registro de Entradas da Matriz, n. (...), fls. (...);
Registro de Saídas da Matriz, n. (...), fls. (...);
Registro de Apuração de ICMS da Matriz, n. (...), fls. (...);
Registro de Inventário da Matriz, n. (...), fls. (...)
Registro de Entradas da Filial de BF, n. (...), fls. (...);

Registro de Saídas da Filial de BF, n. (...), fls. (...);


Registro de Apuração de ICMS da Filial de BF, n. (...), fls. (...);
Registro de Inventário da Filial de BF, n. (...), fls. (...).
Documentos: Notas fiscais de compras e de vendas;
CMD (Controle de Movimento Diário de Combustíveis);
Extratos de Contas Correntes;
Canhotos de Cheques;
Ordens de Pagamento;

Recibos de Depósitos, dos seguintes bancos: BANCO 1, BANCO 2, BANCO 3, BANCO 4.

110
Capítulo 9 Fraudes em Contabilidade

De posse da documentação, os autores fazem uma explanação de como foram


desenvolvidos os trabalhos, conforme é apresentado no item 2.

2 Visão do conjunto

A perícia foi desenvolvida em todos os registros, aplicando-se os procedimentos usuais,


com aprofundamento específico nas áreas identificadas a seguir: disponibilidades,
estoques, compras e vendas, registros fiscais e registros contábeis.

2.1 Caixa e Equivalentes de Caixa

Nos exames efetuados nos controles auxiliares e facultativos das contas que registram
as disponibilidades, constataram-se as seguintes irregularidades:

a) Banco conta Movimento – BANCO 1


- Omissão de lançamentos contábeis de alguns fatos ocorridos nos meses de abril a
junho de 19x5;
- Encontramos na documentação cinco canhotos de talões de cheques pertencentes
a uma conta não identificada, cujas anotações envolvem operações comerciais
idênticas às da empresa periciada, por exemplo: o cheque nº 143891, no valor
de R$ 6.000.000,00 (seis milhões de reais), tendo como beneficiário um posto de
gasolina; o cheque nº 333103, no valor de R$ 3.000.000,00 (três milhões de reais),
também para pagamento de um posto; os cheques nº 143904 e 143907, todos ao
mesmo beneficiário.

b) Banco Conta Movimento – BANCO 2


- Omissão de lançamentos contábeis dos fatos ocorridos nos meses de abril a junho
de 19x5;
- Um comprovante de depósito em nome de outra empresa (...) Ltda., autenticado
com o número “055, de 13/FEV./x5”, no valor de R$ 5.000.000,00 (cinco milhões de
reais), foi encontrado junto aos comprovantes de depósitos bancários da empresa
periciada.

c) Banco Conta Movimento – BANCO 3


- Este sem registro de movimento em nome da empresa periciada, porém está
documentado um registro de lançamento a crédito, no extrato expedido pelo banco,
na conta da Outorgada: Parte 3 (PRATICANTE DO ILÍCITO), procuradora da
empresa periciada, no valor de R$ 38.000.000,00 (trinta e oito milhões de reais),
emitido em 01/02/x5.

2.2 Estoques, compras e vendas

111
Perícia Contábil

Nos exames desses controles, foram constatadas as seguintes irregularidades:

a) Estoques: MCD – Movimentação de Controle Diário de Combustíveis – foi constatada


omissão do registro da entrada de 9.800 (nove mil e oitocentos litros) de ÓLEO DIESEL,
adquiridos da fornecedora “[...] Distribuidora S/A”, conforme nota fiscal n. 29.301, no
valor de custo igual a R$ 10.923.570,00 (dez milhões, novecentas e vinte e três mil,
quinhentos e setenta reais).
b) Compras: no Registro de Entradas a NF n. 9.804, de “[...] e Representações de
Produtos Derivados de Petróleo Ltda.”, foi lançada com um erro de valor; R$ 3.000,00
(três mil reais), que representa uma saída fictícia de caixa.
c) Vendas: no exame dos talonários de notas fiscais e no registro de Saídas,
constatamos omissão de registro de vendas dos meses de ABRIL a MAIO/x5, da Filial
de BF, no valor de R$ 5.395.520,00 (cinco milhões, trezentos e noventa e cinco mil,
quinhentos e vinte reais) e mais uma diferença nas vendas do dia 10/março/x5 no valor
de R$ 549.000,00 (quinhentos e quarenta e nove mil reais), que comprovam omissão na
entrada de caixa, no valor de R$ 5.944 .520,00 (cinco milhões, novecentos e quarenta e
quatro mil, quinhentos e vinte reais).

2.3 Registros Fiscais

Os registros fiscais não estão revestidos das formalidades legais, pelas razões
enunciadas a seguir:

a) Registro de entradas da Matriz: erro de valor no lançamento da segunda linha às fls.


(...); rasuradas as fls. [...]; soma a lápis.
b) Registro de Saídas da Matriz: rasuradas as fls. [...]; somas a lápis.
c) Registro de Entradas da Filial de BF: rasuradas as fls. [...].
d) Registro de saídas da Filial de BF: o valor das vendas de MAR./x5 e ABRIL/x5
não conferem com os valores registrados no Registro de Apuração do ICMS para os
mesmos meses.

2.4 Registros contábeis

Os registros contábeis também não estão feitos em conformidade com a legislação


comercial e tributária, pelos motivos que enunciamos a seguir:

a) Omissão de lançamentos de fatos contábeis, principalmente, nas contas “Banco


Conta Movimento”, nos meses de ABRIL a JUNHO/x5.
b) Lançamento indevido a débito da conta “Venda de Lubrificantes isentos”, no valor
de R$ 12.480.640,00 (doze milhões, quatrocentos e oitenta mil, seiscentos e quarenta
reais), implicando erro de classificação da conta.
c) Lançamentos sintéticos da conta “Caixa” com ausência de Livro Caixa Analítico ou

112
Capítulo 9 Fraudes em Contabilidade

Boletins Diários de Caixa.


d) Alteração do sistema contábil utilizado, no curso da gestão administrativa, sem
justificativa de mudança.

3 comentários periciais (CONCLUSÕES)

As conclusões apresentadas são pela existência de:


(a) Fraudes e erros, efetivamente comprovados;
(b) Indícios de fraudes, que podem ser investigadas;
(c) Ausência de prestação de contas dos atos praticados pelos procuradores, na gestão
administrativa, a seguir especificados.

a) Fraudes e erros constatados:

Histórico R$
Compra de mercadoria sem a competente entrada do estoque, o que significa desvio
10.923.570
da mercadoria, NF n. 29.301.
Venda de mercadoria sem a competente entrada do valor recebido, NFVC n. 051 a 165. 5.393.520
Saída fictícia de caixa, por compra lançada com valor maior do que o real: valor
lançado R$ 695.935,00; valor correto conforme NF.9804 – R$ 692.935,00; diferença 3.000
encontrada
TOTAL 16.320.090

b) Indicios de Fraude

Histórico R$
Depósito em nome de outra empresa (...) Ltda., no Banco 3. 5.000.000
Depósito de grande valor em nome da Parte 3, procuradora da empresa periciada, no Banco 4. 38.000.000
TOTAL 43.000.000

c) Ausência de prestação de contas


- Não consta dos registros contábeis que os procuradores tenham prestado contas ao
deixarem a empresa; a Contabilidade registra elevados saldos de CAIXA, conforme
provam os balancetes dos últimos quatro meses, a saber:
Histórico R$
- MARÇO/x5 (nas duas filiais) 16.817.301
- ABRIL/x5 (matriz e filiais) 86.278.793
- MAIO/x5 (matriz e filiais) 78.331.986
- JUNHO/x5 (matriz e filiais) 80.144.048

113
Perícia Contábil

4 Documentos Probantes

Os documentos comprobatórios das irregularidades, fraudes e erros constatados, dos


indícios de fraudes e dos saldos de caixa, estão enumerados, a seguir:

a) Nota Fiscal n. 29.301, de “[...] Distribuidora S/A”;


b) Notas Fiscais de Venda a Consumidor n. 051 a 200:
c) Nota Fiscal n. 9.804, de “[...] Derivados de Petróleo Ltda.”;
d) Controles de Movimento Diário dos meses de FEV. a MAR./x5 das bombas de
GASOLINA, ÓLEO DIESEL e ÁLCOOL HIDRATADO;
e) RECIBO DE Depósito n. 998907, do BANCO 3;
f) Extrato de Conta Corrente, BANCO 4, emitido em 1-2-x5, conta em nome da Parte 3;
g) Talonários de cheques (canhotos), n. 143891 a 143900; 332371 a 332390; 332391 a
332410; 333101 a 333120; 833891 a 833910; 299911 a 299930 (conta não identificada);
h) Balancetes dos meses de março a junho de 19x5.

5 Recomendações

a) Seja o contabilista responsável pela Contabilidade da empresa convidado a


regularizar os registros contábeis, efetuando os lançamentos omitidos e reclassificando
os lançamentos incorretos, no prazo legal.

b) Sejam os procuradores, Parte 2 e Parte 3 (PRATICANTES DO ILÍCITO) convidamos


a prestar contas amigavelmente ou em juízo, se assim o preferirem, requerendo-se o
depoimento pessoal de cada um deles sobre os fatos não esclarecidos.
Fonte: Magalhães et al. (2008, p. 110-115)

Abaixo indicamos os aspectos mais relevantes desse caso:

a) Os atos preparatórios para a Perícia Extrajudicial são expressos no contrato,


portanto, diferentes daqueles usuais na Perícia Judicial, pois, nesse caso, o
perito não é nomeado pelo juiz, mas contratado pela(s) parte(s).
A apuração das
culpas, em qualquer b) Na Perícia Extrajudicial, podem ser elaborados quesitos ou não,
caso, é uma porém seguidas as regras básicas definidas no contrato.
indagação para fixar
responsabilidades
c) A essência da Perícia Extrajudicial está no exame do sistema contábil,
materiais ou morais.
Nesse caso, age dos livros e dos documentos que formam o suporte da escrita contábil e
a Perícia Contábil, dos atos da gestão social.
referindo-se às
situações e fatos ou d) A apresentação do Laudo da Perícia Extrajudicial deve ser feita
investigando-se as com observação da seguinte estrutura: introdução, visão do conjunto,
respectivas origens,
documentos e livros examinados, comentários periciais.
além de apurar os
efeitos materiais
que tenham A apuração das culpas, em qualquer caso, é uma indagação para fixar
prejudicado ou que responsabilidades materiais ou morais. Nesse caso, age a Perícia Contábil,
venham a prejudicar referindo-se às situações e fatos ou investigando-se as respectivas origens,
determinada além de apurar os efeitos materiais que tenham prejudicado ou que venham
situação patrimonial.
a prejudicar determinada situação patrimonial.
114
Capítulo 9 Fraudes em Contabilidade

Você sabia que: A consequência, no caso de fraude, é que cabe


ação pela responsabilidade criminal, além da civil nos processos
judiciais. Cabe ao perito, quando da investigação de tais casos, fixar
limites da obrigação pecuniária, justificando-os e comprovando-os.

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que irão auxiliar nos seus estudos. Acesse com seu login e senha no
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Atividades de Estudos:

1) Explique a origem das irregularidades contábeis.


_____________________________________________________
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2) Qual a diferença entre erro e fraude?


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115
Perícia Contábil

Algumas Considerações
No atual cenário da economia brasileira, em que os chamados crimes do
colarinho branco predominam, faz-se necessário cada vez mais o uso da perícia
para apuração das manipulações e uso indevido dos recursos.

Cabe recordar que a ação administrativa se desenvolve de acordo com os


fins a que se destina a massa patrimonial. A partir da prática de atos e realizando
fatos para esses fins, o administrador, colaboradores e prepostos, usam os bens
materiais a sua disposição e estabelecem relações de negócios com terceiros.

As ações administrativas, normalmente, tendem à vigilância patrimonial e à


defesa dos interesses dos investidores, sem ofensa aos terceiros. Em quaisquer
das manifestações das ações administrativas pode haver contaminação de
imperfeições, que perturbam a normalidade que deve predominar.

Nesse sentido, a contabilidade serve como um instrumento de mensuração


da performance e como fonte de informação aos usuários externos das empresas.
Entretanto, um dos principais objetivos da contabilidade, que é atuar como uma
espécie de camada de controle, vem sendo questionado devido à perda de
confiabilidade dos relatórios contábeis.

Referências
MAGALHÃES, Antonio de Deus Farias, et al. Perícia contábil: uma abordagem
teórica, ética, legal, processual e operacional. 6. ed. São Paulo: Atlas, 2008.

116
C APÍTULO 10
Instituto da Prova Pericial

A partir da perspectiva do saber fazer, neste capítulo você terá os seguintes


objetivos de aprendizagem:

� Entender e compreender a necessidade do perito em aprender noções


fundamentais quanto ao instituto da prova pericial.

� Aplicar as noções fundamentais quanto ao instituto da prova pericial.


Perícia Contábil

118
Capítulo 10 Instituto da Prova Pericial

Contextualização
Diante do que dispõe o Código de Processo Civil (BRASIL, 2003), em seu
art. 332, as provas periciais são consideradas “ [...] meios legais, [...] hábeis para
provar a verdade dos fatos, em que se fundamenta a ação ou a defesa”.

A Lei n. 11.690, de 9 de junho de 2008, introduziu relevantes modificações no


âmbito da prova pericial, com destaque para questões, como: convicção do juiz,
produção antecipada de prova, realização de diligências, prova ilícitas e provas
delas derivadas, provas inadmissíveis, desentranhamento de prova, corpo de
delito, falta de perito oficial, peritos não oficiais, assistente técnico, oitiva de perito,
encaminhamento de quesitos com antecedência, laudo complementar, parecer,
disponibilização do material probatório às partes, perícias complexas, designação
de mais um perito e designação de mais de um assistente técnico.

Principais Conceitos da Prova


Pericial
Segundo consta no art. 420, III do Código de Processo Civil (BRASIL,
2003), a prova pericial consiste em exame, vistoria ou avaliação, podendo o juiz
indeferir a perícia quando a prova do fato não depender do conhecimento especial
de técnico; quando for desnecessária em vista de outras provas produzidas ou
quando a verificação for impraticável.

Rezende (2009, p. 59) assim se manifestou a respeito da prova pericial:

É necessária, dada a complexidade ou a particularidade da


matéria debatida no processo. Inclusive para a formação de
convicção do juízo, informações técnicas especializadas são
imprescindíveis, posto que a todos os indivíduos é impossível
dominar, em profundidade, todas as áreas do conhecimento,
ainda mais aquelas eminentemente técnicas, cientificas e/ou
relativas a atividades especificas que precisam de maiores ver-
ificações (exemplo: questões atinentes à engenharia, tecnolo-
gia da informação, contabilidade, medicina etc.).

Você sabia que: Atuando como perito indicado pelo juízo ou


por indicação das partes, como assistente técnico, o contador deve
buscar a solução do conflito por meio da prova pericial.

119
Perícia Contábil

Perícia é o exame, com operação de ordem técnica, que leve a conclusões


sobre o estado de pessoa ou de coisa, ou o valor da coisa, em consequência de
algum ato ou fato. Tanto pode referir-se a erro, ou causa de dano, como o que do
erro resultou ou o valor do dano; e à própria ofensa a integridade física, moral ou
psíquica, ou ao estado físico ou psíquico da pessoa. A perícia é meio de prova.

Muitas vezes, a prova pericial se confunde com a própria


Muitas vezes, a
prova pericial se perícia, embora a primeira seja a verdade dos fatos e a segunda vise
confunde com a à busca dessa verdade, pois sem ela a perícia não obtém êxito e,
própria perícia, consequentemente, não contribui com a justiça nem com a sociedade.
embora a primeira
seja a verdade dos Como verdade, a prova esclarece fatos controversos, conduz as
fatos e a segunda
partes ao acordo e o Juiz à sentença. Contudo, mesmo estabelecida
vise à busca dessa
verdade, pois sem a verdade por meio da prova pericial, que também deve ser prova
ela a perícia não material dos fatos sobre os quais se estabeleceu a lide, ela poderá não
obtém êxito e, ser aceita como verdade absoluta por todas as partes envolvidas no
consequentemente, litígio.
não contribui com a
justiça nem com a
Infelizmente, em largos períodos de tempo, foram utilizadas
sociedade.
algumas “provas”, assim mesmo, entre aspas, que, na verdade, nada
provam, não passíveis de comparação com a prova pericial, por recaírem sobre
objeto ou com vícios inviabilizadores de se procurar e demonstrar a verdade – que
é o próprio objetivo do processo – de modo a fornecer elementos de convicção
aquele encarregado de efetuar a entrega da prestação jurisdicional.

A parte que discordar da prova terá o ônus de apresentar a contraprova. A


contraprova é a negação da prova e, por consequência, do laudo pericial que, até
então, era tido como documento fidedigno, portanto, portador da própria prova.

Documentos Probantes
Provas que já foram utilizadas em tempos antigos e as admitidas na
legislação brasileira, assim entendidas aquelas que buscam cumprir a função do
processo, que é a busca da verdade que se quer conhecer. Vejamos essas provas
e suas características no quadro que segue:

120
Capítulo 10 Instituto da Prova Pericial

Quadro 5 – Provas e suas características


A menos humana e ilógica das provas. Supondo que Deus não permitiria que
aquele que fosse inocente saísse ferido ou perdesse a vida. Uma das moda-
lidades consistia em determinar que o acusado segurasse um ferro em brasa
ORDÁLIAS
com as duas mãos, carregasse-o contando nove passos e o depositasse
suavemente no chão. Se desta proeza não resultasse nenhuma queimadura,
era o esperado sinal de que a acusação era improcedente.
Consistia na convocação de caráter divino das afirmações, como meio de
confirmação da verdade, isto é, as altas autoridades estatais ou eclesiásticas
JURAMENTO poderiam jurar invocando o nome de Deus. Curiosamente, esta “prova” era
dirigida contra as afirmações de quem dela não podia fazer uso (artesãos,
escravos servos, etc.).
Veio substituir as Ordálias, admitindo o detentor do poder de decisão que um
litígio pudesse ser efetivado pela realização de um combate. Os combatentes
poderiam ser os próprios oponentes em litígio ou estes representados por
DUELO JURÍDICO
especialistas. Aqui há o emprego da técnica, mas sem qualquer relação com
a verdade ou fato que se quer provar. A única perícia existente, no caso, é do
manejo eficiente das armas.
Na verdade, era um passo anterior ao testemunho, pois consistia num Atesta-
do de Inocência ou Declaração de mesmo cunho, passado por outras pesso-
COMPURGADORES as, reconhecidas como de reputação ilibada. Embora com vícios operacionais,
já que as pessoas capazes de atestar (classes média e aristocrática da
época) não estavam dispostas a testar sobre membros das classes inferiores.
É o resultante da interrogação das partes litigantes pelo condutor do processo
judicial. Relaciona-se com a perícia à medida que esta vier a recair sobre
DEPOIMENTO PESSOAL
matéria, a perícia não a desprezará totalmente. Está prevista no CPC, artigos
342, 343 e 347.
Podendo ser espontânea ou provocada. Quando a matéria já estiver solucio-
CONFISSÃO
nada pela confissão, então, dispensa a perícia quando recair no mesmo fato.
A perícia admitirá como verdadeiros fatos para os quais os documentos iriam
EXIBIÇÃO DE
fazer prova pericial dentro do laudo pericial.
DOCUMENTO

A prova pericial liga-se à prova documental, seja quando recai sobre o próprio
DOCUMENTO documento, ou quando se vale de documentos como embasadores do exame
pericial.
Esta espécie de prova, embora independente no processo judicial, pode
também vir a se ligar à prova pericial, como, por exemplo, quando é o próprio
TESTEMUNHO
perito que, no uso das faculdades que a lei lhe confere para trazer aos autos a
verdade real, ouve testemunhas ou obtém informações.
A prova pericial se inter-relaciona com as demais provas, em menor ou maior
PERÍCIA
grau.
Relaciona-se com perícia, quando o agente da inspeção (o Juiz) julgue, pela
INSPEÇÃO JUDICIAL
natureza do objeto sobre o qual recai o ato, deva ser assistido por perito.

Fonte: Manual de Procedimentos Periciais (2010, p. 21)

121
Perícia Contábil

Os artigos 378, 379 e 380 do Código de Processo Civil (BRASIL, 2003)


afirmam:

• Os livros contábeis são documentos fundamentais para uma busca de


prova pericial;

• Os livros comerciais provam contra o seu autor. É lícito ao comerciante,


todavia, demonstrar, por todos os meios permitidos em direito, que os
lançamentos não correspondem à verdade dos fatos;

• Os livros comerciais, que preencham os requisitos exigidos por lei, provam


também a favor do seu autor no litígio entre comerciantes;

• A escrituração contábil é indivisível: se dos fatos que resultam dos


lançamentos, uns são favoráveis ao interesse de seu autor e outros lhe
são contrários, ambos serão considerados em conjunto como unidade.

Esses livros poderão ser arrecadados em diligência para fazer


provas periciais contábeis. Normalmente são os seguintes:

• Livro Diário;
• Livro Razão;
• Livro de Apuração do Lucro Real – LALUR;
• Livros de Entradas, Saídas de Mercadorias e Apuração do
ICMS;
• Livro de Inventário;
• Livro de Controle de Estoques.

No entanto, cabe ao perito verificar a necessidade da exibição dos livros


comerciais e dos documentos que originaram a escrituração contábil e fiscal.
Todavia, a sociedade comercial não está obrigada a apresentar seus livros em
litígios de que não faça parte.

Prova pericial e verdade nos autos são palavras sinônimas. É a demonstração


que se faz – o modo – da existência, autenticidade e veracidade de um fato ou
ato. Juridicamente, é o meio de convencer o juízo da existência do fato em que se
baseia o direito do postulante.

122
Capítulo 10 Instituto da Prova Pericial

O perito, investido da função judicial de esclarecer os fatos, deverá


O perito, investido
coletar elementos, produzir cenários, realizar cálculos, utilizar a lógica, da função judicial de
efetuar diligência, tomar depoimento, bem como usar outros meios esclarecer os fatos,
lícitos que possam contribuir na produção da prova pericial. Por fim, deverá usar meios
esses mecanismos citados para a obtenção da prova são também lícitos que possam
denominados meios de prova. contribuir na
produção da prova
pericial.

Você sabia que: A prova pericial só é deferida pelo Juiz se este


sentir que há fatos não esclarecidos que sejam imprescindíveis
para o deslinde da lide, mesmo que não tenha sido solicitada pelas
partes e que estes fatos sejam de natureza técnica.

Prova pericial ou, simplesmente perícia, constitui um gênero probatório, cujas


espécies, nos termos do art. 420, são o exame, a vistoria, e a avaliação. A essas
espécies, é legítimo acrescer o arbitramento (Código Civil, art. 136, n. VII), que se
distingue das demais espécies.

Por exame pericial, no sentido estrito, ou simplesmente exame, entende-se


a inspeção, por meio de perito, sobre pessoa, coisa, móveis e semoventes, para
verificação de fatos ou circunstâncias que interessam à causa.

Vistoria é a mesma inspeção relativamente a imóveis. Dessa noção, decorre


que um e outra somente são praticáveis quando o objeto da perícia é de natureza
material, quer dizer, pode ser visto, ouvido, sentido e examinado pela inspeção.
Examinam-se pessoas, animais, coisas móveis, documentos, vistoriam-se imóveis.

Tratando-se de apurar o valor, em dinheiro, do objeto do litígio, de direitos ou


da obrigação demandada, a perícia toma o nome de arbitramento. Sua finalidade
é a estimação do valor, em moeda, de coisa, direitos ou obrigações.

Dá-se o nome de avaliação à mesma estimação do valor, em moeda, de


coisas, direitos ou obrigações, quando feita em inventário, partilhas ou processos
administrativos e nas execuções, para a estimação da coisa a partilhar ou penhorada.
Nesse caso, é bem a avaliação a determinação do justo preço de alguma coisa.

Embora não sendo jurisconsultos, a experiência e a pesquisa leva o perito contábil


a conhecer termos jurídicos que são muito utilizados em seus trabalhos periciais.

123
Perícia Contábil

Neste curso que você está iniciando, a UNIASSELVI disponibiliza


na sua plataforma virtual de aprendizagem um conjunto de materiais
que irão auxiliar nos seus estudos. Acesse com seu login e senha no
site da instituição: www.uniasselvipos.com.br

Atividades de Estudos:

1) Discorra sobre a importância da prova pericial.


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2) Quais livros poderão ser arrecadados em diligência para fazer


provas periciais contábeis?
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Algumas Considerações
Estudamos, neste capítulo, que a prova pericial se inter-relaciona com as
demais provas, em menor ou maior grau, podendo, ao recair na matéria sobre a
qual, em parte, as demais recaíram ou recairiam, ora esclarecer ou complementar
as provas já produzidas, ora torná-las como uma de suas premissas ou, ainda,
contrapor-se tecnicamente àquelas.

124
Capítulo 10 Instituto da Prova Pericial

Quando se tratar de matéria contábil, considerar-se-ão, ainda, as regras


técnicas e profissionais, como indicativos de conduta obrigatória emanadas das
NBCTP 01 – Perícia Contábil e NBC PP 01 – Perito Contábil de caráter cogente,
emanadas do poder disciplinador e regulador da profissão inerente ao Conselho
Federal de Contabilidade.

É importante sempre lembrar que prova pericial consiste em exame, vistoria


ou avaliação.

Outro aspecto a ser considerado é que o juiz indeferirá a perícia sempre


quando: a prova do fato não depender do conhecimento especial de técnico; for
desnecessária em vista de outras provas produzidas e a verificação for impraticável.

Referências
BRASIL. Código de Processo Civil. Brasília: Supremo Tribunal Federal. 2003.

125
Perícia Contábil

126
C APÍTULO 11
Perícia no Código Civil Brasileiro

A partir da perspectiva do saber fazer, neste capítulo você terá os seguintes


objetivos de aprendizagem:

� Desenvolver o conhecimento dos efeitos promovidos na perícia a partir da


reforma no Código Civil Brasileiro;

� Aplicação das alterações promovidas no âmbito dos trabalhos de perícia


contábil, de acordo com o novo Código Civil Brasileiro.
Perícia Contábil

128
Capítulo 11 Perícia no Código Civil Brasileiro

Contextualização
No Brasil, analisando os primeiros sinais do surgimento da perícia contábil,
observamos que o período remonta a 1939, quando o Código de Processo Civil
(promulgado pelo Decreto-Lei n. 1.608, de 18/09/1939, em seus arts. 57, 117,
129, 131, 132, 208, 254, 255, 256, 257, 267 e 268) descreveu, de maneira sucinta
e precisa, admitindo a perícia como prova de fato, que depende de conhecimento
especial, inclusive, expôs sobre o laudo, a recusa do perito, a substituição deste,
os esclarecimentos pelo perito em audiência, a indicação de assistentes técnicos,
as despesas com o ato e as penalidades aplicáveis por eventual ato ilícito ou dolo
do perito, explica Hoog (2010).

MAGALHÃES et al. (2008) corroboram com Hoog (2011) e mencionam que


foi com o segundo Código de Processo Civil, criado pela Lei n. 5.869/73, e com
as modificações atribuídas pelas Leis Complementares ao Código de Processo
Civil, que as perícias judiciais tiveram legislação ampla, clara e aplicável. Mas foi
em 2015, por meio da Lei nº.13.105, que mudanças mais significativas afetaram
a perícia de forma mais marcante e significativa. De forma sucinta e objetiva,
abordaremos essas mudanças nesse capítulo.

Mudanças na Perícia Promovidas


Pelo Novo Código Civil Brasileiro
A Lei n. 13.105 de 16/03/2015 traz novidades e mudanças significativas no
que diz respeito à perícia, em especial, à perícia contábil, por ser esta a mais
regulamentada dentre as de outras profissões regulamentadas.

Dentre as novidades se destacam:

• Obrigatoriedade da apresentação de proposta de honorários;

• Prova técnica simplificada;

• Perícia consensual;

• Opção da nomeação de órgãos técnico-científicos;

• Novo prazo para as partes indicarem assistente técnico e se manifestarem


sobre o laudo pericial;

129
Perícia Contábil

• Responsabilidade do perito nomeado de assegurar aos assistentes


técnicos das partes o acesso e o acompanhamento das diligências e dos
exames com prévia comunicação comprovada nos autos;

• Comunicar no prazo de 05 (cinco) dias às partes o início dos trabalhos


periciais e a restituição dos valores recebidos pelo trabalho não realizado.

Proposta de Honorários
A apresentação de proposta de honorários não era exigida no Código
Processual Civil (CPC) anterior, todavia, nos termos do inciso I do parágrafo 2º do
artigo 465 do novo CPC, o perito nomeado deve apresentá-la em 05 (cinco) dias,
acompanhada do seu currículo, com comprovação de especialização, e contatos
profissionais, em especial, o endereço eletrônico, para onde serão dirigidas as
intimações pessoais.

Necessário alertar que se esta for proposta de honorários periciais contábeis


deve seguir o que determinam os itens de 47 a 64 da NBC/PP­01.

É importante observar, ainda, as questões contidas nos


parágrafos 4º e 5º, quais sejam:

• Havendo honorário remanescente, ele será pago apenas


ao final da perícia, depois de entregue o laudo pericial e
prestados todos os esclarecimentos necessários pelo perito
do juízo e;
• Quando a perícia for inconclusiva ou deficiente, o juiz poderá
reduzir os honorários inicialmente arbitrados.

Prova Técnica Simplificada


O artigo 464 traz a prova técnica simplificada como substituta da prova
pericial, quando o ponto controvertido for de menor complexidade. Esta
prova consistirá apenas na inquirição de especialista, pelo juiz, sobre o ponto
controvertido da causa que demande especial conhecimento científico ou
técnico. Segundo especialistas, esta novidade poderia gerar confusão entre os

130
Capítulo 11 Perícia no Código Civil Brasileiro

profissionais, na medida em que não se identifique a diferença entre o perito


especializado nomeado pelo juiz para realizar a perícia e o especialista em
conhecimento científico ou técnico de menor complexidade para depor a respeito.

Perícia Consensual
O artigo 471 trata da perícia consensual, na qual as partes litigantes escolhem
e indicam, de comum acordo, o perito, em lugar da nomeação por parte do juízo,
desde que a causa possa ser resolvida por autocomposição. Especialistas acham
pouquíssimo provável que as partes em conflito consigam arrefecer os ânimos do
conflito, quebrem as arestas e venham consensualmente a indicar um perito comum.

Nomeação de Órgão Técnico ou


Científico
O parágrafo 1º do artigo 156 do Novo CPC prevê a nomeação de órgão
técnico ou científico como perito do juízo, o qual poderá ser indicado por
universidades, por conselhos de classe, pelo Ministério Público, pela Defensoria
Pública e pela Ordem dos Advogados do Brasil. A novidade aqui é a possibilidade
de pessoa jurídica também realizar a perícia e não mais apenas a pessoa física
do perito profissional legalmente habilitado.

Prazo Para Indicação de Assistentes


Em relação ao prazo para as partes indicarem assistente técnico, passou
de 5 (cinco) dias para 15 (quinze) dias. O mesmo aumento também ocorreu para
se manifestarem sobre o laudo pericial, que antes era de 10 (dez) dias. Essa
mudança foi considerada boa para as partes e seus patronos, pois ambos terão
mais tempo para buscar no mercado o profissional mais adequado para funcionar
como perito assistente e para elaborar o parecer pericial. Em relação ao laudo,
agora se tem mais uma semana de prazo.

131
Perícia Contábil

Você sabia que: Uma mudança importante e que acaba de


uma vez por todas com a dúvida da participação conjunta ou não
dos assistentes técnicos com o perito do Juízo é aquela insculpida
no parágrafo 2º do artigo 466, concomitante com artigo 474, que
obriga o perito nomeado a assegurar e comprovar a participação dos
assistentes técnicos.

Restituição dos Valores Recebidos


Outra mudança que se relaciona com os honorários periciais é a contida
no parágrafo 2º do artigo 468, a qual prevê que o perito substituído restitua em
15 (quinze) dias, os valores recebidos pelo trabalho não realizado, sob pena de
execução contra si.

Atividades de Estudos:

1) A Lei n. 13.105/2015 promoveu mudanças na perícia. Mencionar


a principais novidades que se destacam.
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2) Discorra sobre o tratamento dado no novo Código Processual


Civil (CPC) em relação a proposta de honorários.
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132
Capítulo 11 Perícia no Código Civil Brasileiro

Algumas Considerações
Neste capítulo, entendemos as mudanças recentes ocorridas na perícia, em
decorrência da atualização do Código Processual Civil (CPC) por meio da Lei n.
13.105/2015.

Percebemos que as mudanças deixaram mais claras algumas questões, que


antes geravam dúvidas e incertezas, tanto para as partes quanto para os peritos
técnicos.

Sem dúvidas, as modificações são no sentido de exigir uma cobrança e, ainda,


uma maior responsabilidade, conhecimento e zelo por parte dos profissionais que
labutam no ambiente pericial, em especial, o contábil.

Referências
BRASIL. Código de Processo Civil. Brasília: Supremo Tribunal Federal, 2015.

HOOG, Wilson Alberto Zappa. Prova Pericial Contábil: aspectos práticos e


fundamentais. 4. ed. Curitiba: Juruá, 2007.

MAGALHÂES, Antônio de Deus Farias et. al. Perícia Contábil nos Processos
Cível e Trabalhista: o valor informacional da contabilidade para o sistema
judiciário. São Paulo: Atlas, 2008.

133
Perícia Contábil

134
C APÍTULO 12
Casos Práticos de Perícia Contábil

A partir da perspectiva do saber fazer, neste capítulo você terá os seguintes


objetivos de aprendizagem:

� Analisar os casos práticos mais corriqueiros envolvendo a perícia contábil;

� Aplicar os conhecimentos conceituais através da análise de casos práticos de


perícia contábil.
Perícia Contábil

136
Capítulo 12 Casos Práticos de Perícia Contábil

Contextualização
Estudamos, nos demais capítulos, que a perícia pode ser realizada em
qualquer área científica, ou, até mesmo, em situações empíricas. É a natureza
do processo que a classificará, podendo ser de origem judicial, extrajudicial,
administrativa ou operacional.

No que tange à natureza dos fatos com que se depara, a perícia pode ser
classificada como criminal, contábil, médica, trabalhista, bancária entre outras.

É possível dizer que a perícia visa avaliar, verificar e analisar as situações,


coisas e fatos, e atinge as relações, efeitos e haveres patrimoniais. Sua
procedência acontece depois de estabelecido requerimento ou ofício, devendo
restringir-se especificamente ao objeto merecedor de análise. O objeto não pode
ser o objetivo da perícia, haja vista que o objeto se refere aos fatos de natureza
técnica, e o objetivo se destina a apresentar uma prova ou constatação, de forma
final e verdadeira.

Para melhor entendimento do tema, utilizaremos, neste capítulo, algumas


situações para ilustrar como se dá a aplicação da perícia.

Não podemos deixar de recordar que a perícia tem como objetivo a busca da
verdade real em determinado caso judicial, em que haja alguma dúvida voltada
para o julgador, sobre a ação judicial na qual consta um fato que é contestado pelo
réu, nascendo destes dois pontos de vista, “duas verdades”, as quais poderão ser
diferentes da verdade real, e cuja resposta somente poderá ser demonstrada ou
encontrada com a ajuda do perito, que deve agir com imparcialidade e se atentar
aos aspectos técnicos e científicos, que lhe qualificam para a tarefa.

Nesse capítulo, abordaremos de forma breve e sucinta a perícia nas áreas


trabalhista e bancária.

Perícia Trabalhista
Um empregado foi admitido pela empresa comercial Antunes & Saraiva Ltda.,
para atuar na função de serviços gerais, em 01/04/2006. Sua jornada de trabalho
na empresa é de segunda a sexta das 08h às 18h, com intervalo para descanso
e refeições de 02 horas, e, aos sábados, das 08h às 12h, perfazendo um total de
44 horas semanais.

137
Perícia Contábil

Em 01/05/2007, o empregado recebeu o Aviso de Dispensa do Empregador


sem justa causa, cientificando-o do fato e estabelecendo a data de 30/05/2007
como seu último dia de trabalho na empresa, data prevista para a rescisão
contratual e pagamento das verbas salariais devidas.

Na data em questão, na sede do sindicato da categoria, o empregado tomou


conhecimento dos valores que lhe seriam pagos, constantes da Rescisão de Contrato
de Trabalho, e considerou que a empresa não lhe pagou todas as verbas devidas.

Descrição Valor – R$
Aviso Prévio Trabalhado 440,00
Férias Integrais 440,00
1/3 Férias Integrais 146,67
Férias Proporcionais – 2/12 avos 73,33
1/3 Férias Proporcionais – 2/12 avos 24,44
13º. Salário – 5/12 avos 183,33
Sub-Total 1.307,77
FGTS – Maio/2007 35,20
FGTS – Férias Indenizadas e 13º. Salário 69,42
FGTS – Multa 40% (Saldo base R$ 433,04) 173,22
Total Bruto 1.585,61
INSS – Aviso Prévio 35,20
INSS – 13º. Salário 14,67
Total Líquido 1.535,74
Obs.: Saldo FGTS na data da dispensa do empregado Abril/07 – R$ 433,04

Isso posto, em 01/06/2007 dirigiu-se a um escritório de advocacia com o


objetivo de obter maiores informações quanto ao caso, e solicitar a interveniência
de profissional junto a Justiça do Trabalho para pleitear o pagamento das verbas
devidas.

Os dados a seguir discriminados, servem de base para a determinação das


verbas salariais contestadas:

• Salários de Abr./2006 a Mar./2007 – R$ 400,00 e de Abr./2007 e Maio/2007


– R$ 440,00;

• Horas extras mensais no período de Abr./2006 a Abr./2007 – 40 horas,


sendo 20 de segunda a sexta e 20 aos domingos e feriados, nunca pagas
pelo empregador, e registradas no cartão de ponto do empregado.

138
Capítulo 12 Casos Práticos de Perícia Contábil

O advogado do reclamante consubstanciou a petição inicial em 05/06/2007,


com base nos valores devidos de horas extras e demais verbas calculadas em
forma de reflexos, chegando a um montante global de R$ 5.000,00.

O jurídico da reclamada, em suas alegações, contestou a petição formulada


pelo advogado do reclamante, manifestando-se no sentido de tentar comprovar
a inexistência das horas extras, afirmando que a empresa trabalha apenas no
horário de funcionamento normal, e as possíveis excedentes foram compensadas
com folgas programadas.

Na audiência de conciliação e julgamento, ocorrida em 30/09/2007, não


houve acordo, motivo pelo qual o magistrado julgou a ação, considerando-a
procedente, nomeando um perito para emitir um Laudo Pericial – Cálculo de
Reclamação Trabalhista, para avaliar tecnicamente os valores devidos.

Você sabia que: Baseado nos dados fornecidos, o perito terá


plenas condições de realizar o cálculo dos valores devidos ao
reclamante e expor os resultados em um laudo pericial.

Perícia Bancária
Um determinado usuário de cartão de crédito utilizava normalmente o
citado instrumento creditício, comprando e pagando as faturas mensais nas
datas aprazadas. Em 15/10/2005, data de vencimento da fatura, o usuário,
apresentando problemas financeiros, deixou de quitá-la, pagando o valor mínimo
nela estabelecido, R$ 125,00 (cento e vinte e cinco reais). Em 15/11/2005 sua
fatura apresentava a seguinte situação:

Fatura – Vencimento 15/10/2005 – Encargos Mês: 12,9% Valores – R$


Valor da fatura anterior – 15/09/2005 0,00
Compras do mês 1.250,00
Valor pago em 15/10/2005 125
Saldo da Fatura em 15/10/2005 1.125,00

139
Perícia Contábil

Demonstrativo da fatura apresentada em 15/11/2005:

Fatura – Vencimento 15/11/2005 – Encargos Mês: 12,9% Valores – R$


Valor da fatura anterior – 15/10/2005 1.125,00
Valor pago em 15/10/2005 125
Encargos do Cartão 145,13
Saldo da Fatura em 15/11/2005 1.270,13

Em 15/11/2005, o usuário pagou parte do valor apresentado na fatura,


correspondente ao saldo devido, deduzidos os encargos debitados, no valor de
R$ 1.125,00 (hum mil cento e vinte e cinco reais).

Em 15/12/2005, a administradora enviou a fatura mensal, conforme a seguir:

Fatura – Vencimento 15/12/2005 – Encargos Mês: 12,9% Valores – R$


Valor da fatura anterior – 15/11/2005 1.270,13
Valor pago em 15/12/2005 1.125,00
Encargos do Cartão 18,72
Saldo da Fatura em 15/12/2005 163,85

O usuário tentou discutir com a administradora o saldo apresentado,


ponderando sobre o valor dos encargos cobrados sem êxito, deixando de
pagar os valores cobrados.

Durante o mês seguinte, o usuário utilizou normalmente seu cartão de crédito,


fazendo compras, e, em 15/01/2006, a administradora apresentou nova fatura de
cobrança, assim discriminada:

Fatura – Vencimento 15/01/2006 – Encargos Mês: 12,9% Valores – R$


Valor da fatura anterior – 15/12/2005 163,85
Valor pago em 15/12/2005 0,00
Encargos do Cartão 21,14
Compras do mês 1.150,00
Saldo da Fatura em 15/01/2006 1.334,99

Na data, o usuário pagou parcialmente o valor da fatura apresentada,


quitando em 15/01/2006 R$ 1.150,00 ( hum mil cento e cinquenta reais).

140
Capítulo 12 Casos Práticos de Perícia Contábil

Nos meses subsequentes, o usuário não utilizou seu cartão de crédito, nem
tampouco quitou os débitos apresentados, e as faturas mensais demonstraram a
seguinte situação:

Fatura – Vencimento 15/02/2006 – Encargos Mês: 12,9% Valores – R$


Valor da fatura anterior – 15/01/2006 184,99
Valor pago em 15/01/2006 0,00
Encargos do Cartão 23,86
Compras do mês 0,00
Saldo da Fatura em 15/02/2006 208,85

Fatura – Vencimento 15/03/2006 – Encargos Mês: 12,9% Valores – R$


Valor da fatura anterior – 15/02/2006 208,85
Valor pago em 15/02/2006 0,00
Encargos do Cartão 26,94
Compras do mês 0,00
Saldo da Fatura em 15/03/2006 235,79

Isso posto, preocupado com o crescimento de sua dívida, decidiu recorrer as


vias judiciais, na tentativa de solucionar o problema.

O jurídico contratado, após uma análise da situação, formulou uma petição


inicial com base no fato de a administradora de cartão de crédito não ser uma
instituição financeira, estando sujeita a aplicação de juros legais máximos
previstos pelo Código Civil – Art. 406 (Lei n. 10.406/02), o qual define que as
taxas de juros moratórios (legais), neles incluídas comissões de permanência e
quaisquer outras remunerações direta ou indiretamente referidas à concessão de
crédito, não poderão ser superiores ao cobrado pela Fazenda Nacional; cobrança
acima deste limite será conceituada como crime de usura, punido, em todas as
suas modalidades, nos termos que a lei determinar.

A capitalização dos juros, também verificada, só pode ocorrer anualmente


(artigo 591 do Código Civil), e a sua incidência fora do prazo legal indica a prática do
anatocismo (juros sobre juros), vedada pela citada lei, além da administradora ferir o
Código de Defesa do Consumidor, e alegar estar investida na cláusula de mandato.

Novamente o usuário tentou negociar os encargos cobrados junto à


administradora, não obtendo êxito.

141
Perícia Contábil

Você sabia que: Baseada nestes dispositivos legais, a petição


inicial ainda carecia de um laudo pericial, que informasse os cálculos
dos valores em litígio. Motivo pelo qual deverá ser solicitada para um
perito tal providência.

Atividades de Estudos:

1) Explique o significado do termo “duas verdades”, considerado do


ponto de vista da perícia?
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2) A perícia pode ser realizada em qualquer área? Justifique a sua


resposta.
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Algumas Considerações
Neste capítulo, abordamos situações de aplicação da perícia nas áreas
trabalhista e bancária. Em ambas as situações analisadas, o produto final do
trabalho pericial se dá através do laudo elaborado pelo perito, e deve refletir
de forma nítida e imparcial a verdade dos fatos técnicos analisados por este
profissional.

142
Capítulo 12 Casos Práticos de Perícia Contábil

Dessa forma, evidenciamos a crescente importância da perícia, mediante


a chamada verdade real. Igualmente, pode assumir forte influência na decisão
judicial quando auxilia o juízo a solucionar os litígios entre trabalhadores e
empregadores (perícia trabalhista), correntistas e instituições financeiras (perícia
bancária), salvo em hipóteses nas quais existam elementos nos autos para a
análise da questão sem a perícia.

Referências
ALBERTO, Valder Luiz Palombo. Perícia contábil. 4. ed. São Paulo: Atlas, 2009.

RIBEIRO, Eraldo Teixeira. Prática Trabalhista. 3. ed. São Paulo: Premier


Máxima, 2007. v. 2.

ORNELAS, Martinho Maurício Gomes de. Perícia contábil. 4. ed. São Paulo:
Atlas, 2003.

143

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