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Cláudio Marcelo Rodrigues Cordeiro

Perícia Contábil

IESDE Brasil S.A.


Curitiba
2011
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(Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)

Cordeiro, Cláudio Marcelo Rodrigues


Perícia contábil / Cláudio Marcelo Rodrigues
Cordeiro. -- Curitiba, PR : IESDE, 2011.

Bibliografia.

1. Auditoria 2. Contabilidade 3. Laudos periciais


4. Perícia contábil 5. Perícia contábil - Brasil
6. Peritos - Profissão I. Título.

11-08033 CDD-657.450981

Índices para catálogo sistemático:


1. Brasil : Perícia contábil : Contabilidade
657.450981

ISBN: 978-85-387-2454-4

Capa: IESDE Brasil S.A.


Imagem da capa: IESDE Brasil S.A.

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Batel – Curitiba – PR
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Cláudio Marcelo
Rodrigues Cordeiro
Mestre em Administração de Empresas e
Gestão Financeira pela Universidade de Extre-
madura/Espanha (UEX). Especialista em Didáti-
ca no Ensino Superior pelo Instituto Brasileiro de
Pós-Graduação e Extensão (IBPEX). Especialista
em Administração com Ênfase em Finanças, e
graduado em Ciências Contábeis pela Faculda-
de Católica de Administração e Economia (FAE).
Coordenador do curso de Ciências Contábeis
das Faculdades Integradas Santa Cruz de Curiti-
ba (FARESC). Professor de disciplinas voltadas à
área de Contabilidade na Universidade Positivo
(UP). Professor de pós-graduação voltada à área
de Contabilidade Internacional, Auditoria e Perí-
cia Contábil pelo IBPEX. Possui vasta experiência
acadêmica em assuntos relacionados às Ciên-
cias Sociais Aplicadas, atuando principalmente
nos seguintes temas: Contabilidade Internacio-
nal, Auditoria de Gestão, Auditoria Interna, Au-
ditoria Contábil, Perícia Contábil, Contabilidade
Criativa e Fraudes Contábeis. Possui experiência
profissional na área de auditoria interna e ex-
terna, obtida através de trabalhos em empresas
nacionais e multinacionais.
sumário
sumário Introdução e conceitos básicos de perícia
13 | Origem da perícia
14 | Histórico da perícia no Brasil
13

15 | Definição de perícia contábil


16 | Requisitos necessários para o desempenho da atividade pericial
19 | Perito do juiz e assistente técnico
26 | Principais diferenças entre o perito judicial e o assistente técnico
33
Diferenças entre o trabalho pericial e de auditoria
33 | Auditor e perito
34 | Objeto e finalidade da auditoria e da perícia
37 | Órgãos representativos da auditoria e da perícia
42 | Abrangência e profundidade dos trabalhos
43 | Usuários e a época de demanda dos trabalhos

Normas Brasileiras 51
de Contabilidade relacionadas à perícia
51 | Normas Brasileiras de Contabilidade
53 | Norma Brasileira de Contabilidade voltada para a profissão de perito
71
Espécies de perícia
71 | Ambientes diversos de perícia
71 | Perícia judicial
76 | Perícia semijudicial
78 | Perícia extrajudicial
mário

79 | Perícia arbitral
91
Ética, cidadania e perícia
91 | Ética geral
94 | Relacionamento da ética e a perícia contábil
100 | Perícia contábil e o código de ética profissional
Planejamento e execução 111
dos trabalhos em perícia contábil
111 | Planejamento dos trabalhos
114 | Etapas do planejamento do trabalho pericial
118 | Técnicas de execução dos trabalhos em perícia contábil
121 | Papéis de trabalho
137
Aplicações usuais da perícia contábil
137 | Aplicabilidade dos trabalhos periciais
138 | Apuração de haveres e análise de valores patrimoniais
149 | Formalidades da escrituração contábil
151 | Formalidades dos documentos
159
Fraudes na contabilidade e nos documentos
159 | Fraudes e erros
160 | Caracterização da fraude e do erro
163 | Fraudes na escrituração e em documentos
164 | Utilização da contabilidade para fins inadequados
166 | Fraudes possíveis no balanço patrimonial
172 | Fraudes possíveis na demonstração do resultado
sumário
sumário Laudos e pareceres periciais
181 | Importância do laudo e do parecer pericial
182 | Conceito do laudo e do parecer pericial
181

183 | Laudo e parecer pericial nas Normas Brasileiras de Contabilidade


185 | Prazo para a elaboração de laudo e parecer pericial
187 | Estrutura requerida na elaboração do laudo e do parecer pericial
191 | Exemplo hipotético de documentação e laudo pericial a partir de uma nomeação
em juízo
211
Remuneração do trabalho pericial
211 | Honorários em trabalhos periciais
220 | Honorários em perícia judicial
222 | Honorários em perícias semijudiciais, extrajudiciais e arbitrais
222 | Modelos diversos
mário
Apresentação
A Perícia Contábil é uma das áreas em que o

Perícia Contábil
bacharel em Ciências Contábeis poderá atuar, de
grande importância e com impacto direto na so-
ciedade e na vida das pessoas.
A atividade pericial enobrece e dignifica o pro-
fissional que a executa com ética e responsabili-
dade, trazendo luz para as pessoas que decidem a
melhor solução aos conflitos, pois o seu propósito
é a busca incessante da verdade.
A presente obra tem o propósito de trazer uma
visão panorâmica da perícia, desde aspectos rela-
cionados aos conceitos básicos, à legislação ati-
nente à profissão, além de demonstrar a operacio-
nalização da função pericial.
O livro está estruturado em 10 capítulos. No ca-
pítulo 1, apresentamos os fundamentos relativos à
perícia, demonstrando suas bases históricas, a le-
gislação relativa à perícia no Brasil, noções concei-
tuais, perfil desejado da pessoa que pretende atuar
nessa função, além de fazermos a diferenciação
entre o perito do juiz e o assistente técnico.
No capítulo 2, abordamos as principais dife-
renças que existem nos trabalhos executados pelo
perito, se comparados àqueles desempenhados
pelo auditor, conduzindo a nossa linha de racio-
cínio em relação a: objeto e finalidade, órgãos re-
presentativos dos peritos e dos auditores e suas
normas, abrangência e profundidade dos trabalhos
e usuários e época de demanda dos trabalhos.
No capítulo 3, tratamos sobre as Normas Bra-
sileiras de Contabilidade, que estão diretamen-
te relacionadas às atividades de perícia contábil,
abordando tanto aquelas voltadas para a área pro-
fissional, como as que tratam da pessoa que exerce
a função de perito contábil.
No capítulo 4, direcionamos estudos sobre as
diversas espécies de perícias que podem existir,
apresentando o ambiente em que estas se proces-
sam, as suas características, bem como a finalidade
a que se propõem.
O capítulo 5 é de fundamental importância,

Perícia Contábil
pois nele tratamos da relação existente entre a
ética, a cidadania e os trabalhos voltados para a
área de perícia contábil, com atenção especial
dada ao Código de Ética Profissional do Contador,
com as principais diretrizes emanadas do Conselho
Federal de Contabilidade.
No capítulo 6, abordamos a importância do pla-
nejamento para a adequada execução dos traba-
lhos em perícia contábil, indicando as fases em que
este ocorre, bem como os cuidados que o perito
deve ter em todas as etapas.
Em relação ao capítulo 7, discorremos sobre as
principais aplicações da perícia contábil, tanto para
questões envolvendo pessoas físicas como jurídi-
cas, direcionando nossos estudos para questões
que envolvam a avaliação e verificação de haveres,
e a análise de valores patrimoniais.
O capítulo 8 versa sobre a diferenciação que
existe entre o erro e a fraude, em que demons-
tramos situações que podem levar a ocorrências
dessas naturezas, tanto na contabilidade, como
também nos documentos que geram base para a
escrituração dos valores.
O capítulo 9 dedicamos para tratar da impor-
tância, do conceito, das características e dos con-
teúdos do laudo e do parecer pericial, em confor-
midade com regras estabelecidas pelo Código de
Processo Civil (CPC), e pelas Normas Brasileiras de
Contabilidade (NBC).
Finalizamos o livro com o capítulo 10, no qual
abordamos as formas de remuneração do trabalho
pericial, as bases para a formação dos honorários
profissionais, de acordo com as Normas Brasileiras
de Contabilidade que tratam desse tema.
Ao término de cada capítulo, existem leitu-
ras voltadas para a ampliação do conhecimento
dos leitores, sempre interligadas com os assun-
tos abordados, além de atividades de aplicação
que visam à assimilação e fixação dos conteúdos
desenvolvidos.
Dedicatória
Para meus pais, in memoriam, pela educação
e construção de bases sólidas de ética na minha
vida.
Aos meus familiares: Nara, esposa amada que
compartilha comigo anos de convivência, e aos
meus filhos Tainá e Vitor, razões da minha existên-
cia e luz no meu caminho.
Introdução e conceitos
básicos de perícia

Neste capítulo, abordaremos os fundamentos relativos à perícia, demons-


trando suas bases históricas, a legislação relativa à perícia no Brasil, noções
conceituais, perfil desejado da pessoa que pretende atuar nessa função; além
disso, faremos a diferenciação entre o perito do juiz e o assistente técnico.

Origem da perícia
O acúmulo de riquezas sempre foi um dos fatores que impulsionaram a
humanidade, desde os primórdios. Inicialmente, por uma questão de sobre-
vivência da própria espécie, e posteriormente por ambição, vaidade e até
mesmo ganância.

Na idade primitiva, os homens acumulavam riquezas estocando a caça


para os tempos mais difíceis, tendo uma provisão de alimentos para enfren-
tar condições climáticas desfavoráveis.

Com o passar dos anos, e com a criação da moeda, o acúmulo da riqueza


e seu controle foram sendo incorporados pela contabilidade, que passou a
ser uma técnica extremamente importante de registro do patrimônio das
pessoas.

O conceito clássico de patrimônio, segundo a visão da contabilidade, é o


conjunto de bens, direitos e obrigações, suscetíveis de avaliação econômica.
Esse patrimônio formado pelas pessoas ao longo dos anos sempre foi alvo
de disputas, brigas e desavenças.

Devido à formação de patrimônios individualizados, com o passar do


tempo, houve a necessidade da codificação dos direitos e das obrigações,
através de regulamentos e leis, destacando-se o direito romano, os quais em
grande parte eram voltados para distribuir a riqueza formada pelos cidadãos,
junto aos reis, através dos impostos e taxas.

Todavia, com a ambição exacerbada, muitas vezes formando o seu patri-


mônio em detrimento da honestidade e legalidade, cada vez mais as pesso-
as passaram a buscar por seus direitos, ingressando na justiça para resolver
polêmicas e controvérsias.
13
Introdução e conceitos básicos de perícia

De um lado o autor da reclamação, aquele que julga ter o seu direito lesado,
e do outro o réu, que é aquele que, em tese, lesou o direito de outrem. Para so-
lucionar esse conflito, o juiz tem a difícil e honrosa missão de decidir sobre qual
das partes tem razão, pois é impossível que em uma demanda judicial todos
os envolvidos estejam certos. Sempre alguém irá ganhar, e outro irá perder.
1
Documentação acosta- O juiz, entendendo que somente através da documentação acostada1 aos
da é aquela que as partes,
autor e réu, solicitam que autos pelas partes envolvidas não é o suficiente para uma justa e honesta
faça parte do processo,
de maneira a servir como decisão, poderá determinar a produção de novas provas, através de perícia.
subsídio para que o juiz
tenha pleno conhecimen-
to dos fatos que motiva- O objetivo da prova pericial é o de demonstrar a verdade, de maneira
ram a ação.
irrefutável e incontestável, a qual fará com que o magistrado tenha a plena
certeza de estar praticando a justiça, isenta de favorecimentos.

A possibilidade da realização da perícia para auxiliar a justiça não é um


fato recente, já que, de acordo com Martins, Anjos e Lima (2008, p. 51):
Observam-se indícios de perícia desde o início da civilização, entre os homens primitivos,
quando o líder desempenhava todos os papéis: de juiz, de legislador e executor. Existem
registros, na Índia, do surgimento do árbitro eleito pelas partes, que desempenhava o
papel de perito e juiz ao mesmo tempo. Também, encontram-se vestígios de perícia nos
antigos registros da Grécia e do Egito, com o surgimento das instituições jurídicas, área em
que já naquela época se recorria aos conhecimentos de pessoas especializadas. Porém, a
figura do perito, ainda que associada ao árbitro, ficou definida no Direito Romano primitivo,
no qual o laudo do perito constituía a própria sentença, somente sendo desvinculada da
figura do árbitro depois da Idade Média, com o desenvolvimento jurídico ocidental.

Do anteriormente exposto, percebe-se claramente a importância da perí-


cia como auxílio da justiça, a fim de que a decisão proferida pelos magistra-
dos esteja amparada por documentação produzida por pessoa especializa-
da, no caso, pelo perito.

De acordo com estudos realizados por Lopes de Sá (1994), a expressão


perícia advém do latim Peritia, que, em seu sentido próprio, tem o significado
de conhecimento (adquirido pela experiência), bem como experiência.
Assim, surge a primeira inferência que fazemos associando o termo perí-
cia a um expert, alguém que possui conhecimento acima do normal, acumu-
lado com a experiência de vida e a vivência profissional, de tal maneira que
dê a ele a condição do desempenho da função pericial.

Histórico da perícia no Brasil


Apesar de o Brasil ser um país com muitas demandas judiciais, a perícia
é uma atividade relativamente nova, tendo vagas citações a partir de 1939,
14
Introdução e conceitos básicos de perícia

através do Código de Processo Civil (CPC), no qual surgem as primeiras defi-


nições e conceitos básicos.

O fato que marcou definitivamente a perícia como uma atribuição do


contador se deu no ano de 1946, em que no dia 27 de maio houve a publi-
cação do Decreto-Lei 9.295, que criou o Conselho Federal de Contabilidade,
deixando claramente descrito que a perícia contábil é prerrogativa da pessoa
com formação em nível de terceiro grau, na função de contador. A profissão
do contador foi a primeira no Brasil a atribuir a atividade da perícia como
sendo de sua competência, motivo pelo qual possui resoluções específicas
que tratam detalhadamente dessa função.

Existem outros regramentos legais que favorecem o desenvolvimento e


a busca por definições e procedimentos da perícia, como a Lei 4.983/66, que
alterou uma parte da Lei 7.661/45, inerente à legislação falimentar, em que
atribui que o processo de falência deve ser acompanhado por um perito.

Temos ainda a alteração promovida no segundo Código de Processo Civil,


Lei 5.869/73, e as modificações promovidas pelas Leis 5.925/73, 7.270/84 e
8.455/92, a perícia obteve uma legislação ampla e regulamentada. Atual-
mente é citada no novo Código Civil, Lei 10.406/2002.

Acompanhando a necessidade de evolução da atividade pericial, recente-


mente o Conselho Federal de Contabilidade editou duas importantes resoluções,
sendo a Resolução CFC 1.243/2009, que aprovou a NBC TP 01 – Perícia Contábil
– e a Resolução CFC 1.244/2009, que aprovou a NBC PP 01 – Perito Contábil.

Definição de perícia contábil


Muitos autores procuram a definição do que é a perícia contábil, sendo
que utilizaremos alguns desses conceitos, citados a seguir, para nos ajudar
na interpretação do que venha a ser essa atividade. Para Hoog (2008, p. 50),
“[...] podemos conceituar a perícia como um serviço especializado, com bases
científicas, contábeis, fiscais e societárias, à qual se exige formação de nível
superior, e deslinda questões judiciais e extrajudiciais”.

Segundo o ponto de vista de Magalhães et al. (1998, p. 12),


A perícia pela óptica mais ampla, pode ser entendida como qualquer trabalho de natureza
específica, cujo rigor na execução seja profundo. Dessa maneira, pode haver perícia em
qualquer área científica ou até em determinadas situações empíricas.

15
Introdução e conceitos básicos de perícia

Voltado exclusivamente para a área de contabilidade, o saudoso profes-


sor Antônio Lopes de Sá (1994, p. 15) nos ensina:
Perícia contábil é a verificação de fatos ligados ao Patrimônio individualizado visando
oferecer opinião, mediante questões propostas. Para tal opinião, realizam-se exames,
vistorias, indagações, investigações, avaliações, arbitramento, em suma, todo e qualquer
procedimento necessário à opinião.

Baseado nesses conceitos, não resta dúvida quanto à especialização da


atribuição, que de fato é voltada para a pessoa física, que tenha profundos
conhecimentos sobre a área a ser periciada.

Tratando a matéria de natureza contábil, essa atribuição deverá ser de


responsabilidade do contador, o qual deverá estar devidamente registrado
em órgão de classe, no caso, junto ao Conselho Regional de Contabilida-
de, cumprindo com todos os requisitos, inclusive quanto ao pagamento da
anuidade.

Essa afirmativa é reforçada por Rosa (1999), que assegura que o não paga-
mento, pelo profissional, de anuidade devida a determinado órgão de classe
em que estiver registrado, o impedirá de realizar a perícia.

Naturalmente não é tarefa do magistrado fiscalizar se o perito nomeado


pagou ou não pagou a anuidade devida a determinado órgão de classe. Essa
tarefa é de competência do órgão fiscalizador da profissão.

Concluímos, ainda, que o juiz somente nomeará o perito contábil quando


julgar que o conhecimento técnico na área de contabilidade é importante
para que ele possua elementos comprobatórios, que o levem a decidir sobre
uma controvérsia que envolva o patrimônio, seja da pessoa física ou jurídica,
pois é esse (patrimônio) o campo de atuação da contabilidade.

Requisitos necessários para o


desempenho da atividade pericial
Vários são os requisitos necessários para o desempenho da atividade
pericial, independente da área em que ela esteja sendo solicitada; todavia,
procuramos relacionar alguns fatores preponderantes na formação do perfil,
desmembrando entre pessoais e profissionais.

16
Introdução e conceitos básicos de perícia

Pessoais
A honestidade, ética e o caráter irretocável deverão acompanhar a traje-
tória do perito em todas as fases de sua vida, pois a ele será confiada a possi-
bilidade de iluminar os juízes na melhor decisão de uma sentença.

Certamente, honestidade, ética e caráter deveriam ser virtudes presentes


em qualquer pessoa, ou profissão, todavia nos dias em que vivemos, em que
cada vez mais as pessoas estão perdendo esses atributos.

Se o indivíduo desejar assumir a nobre missão da perícia, deverá estar


convicto de que as virtudes descritas são essenciais para que seja exercido
um trabalho com o máximo zelo e dedicação.

A prática demonstra que muitas pessoas se aventuram a iniciar na perí-


cia como um “bico”, por estarem temporariamente sem emprego. Todavia,
devem ter em mente o quão gratificante será executar um trabalho reto, ili-
bado, sem vícios, de modo a fazer a justiça prosperar, auxiliando a trazer a
verdade aos autos.

A experiência de vida é de extrema importância na busca pela verdade,


em comparação ao que é falso, conforme nos ensina Zanna (2005, p. 46):
A correta distinção entre o que é verdadeiro e o que é falso, em uma dada circunstância
e momento, é fundamental para a credibilidade e prosseguimento do trabalho, e isto vai
depender do conhecimento que o indivíduo tem ou adquire sobre o fato ou objeto em
questão. Este conhecimento é a bagagem cultural que o indivíduo agrega com o tempo.
Assim, a verdade a respeito de determinado assunto dependerá de seu aprendizado e
experiência pessoal, sua cultura geral e do ambiente em que vive.

A experiência obtida pelo tempo é fundamental para formar um perito,


pois quanto mais conhecimentos agregados pela vivência, mais isso o aju-
dará a aplicar na atividade para a qual ele foi designado, sabendo tomar a
melhor decisão, o melhor caminho a seguir, diante das incertezas que podem
acompanhar a rotina da sua atividade.

A clareza e facilidade da utilização da escrita é outro fator de sucesso para


o perito, pois o produto de todo o seu trabalho deverá estar descrito em do-
cumentos produzidos no decorrer da sua missão.

O rigor e a metodologia da redação passam pelo respeito à gramática,


pois na documentação gerada pelo perito deve assegurar o adequado uso

17
Introdução e conceitos básicos de perícia

do vernáculo, deixando à margem termos inadequados da linguagem colo-


quial, uma vez que esta não é admitida no meio judiciário.

Profissionais
Particularmente para a consecução da perícia contábil, o indivíduo
deverá ter a formação em curso superior de Ciências Contábeis, com registro
ativo junto ao órgão regulador da profissão, no caso, o Conselho Regional de
Contabilidade.

O registro no CRC é condição básica para o exercício da perícia contábil,


todavia, não obstante essa obrigação da categoria, o indivíduo deverá estar
ciente de que a agregação do conhecimento, através do estudo, é funda-
mental para quem desejar militar nessa área.

Naturalmente, por ter o foco voltado à contabilidade, deverá ser um pro-


fundo conhecedor dessa ciência, e de como ela poderá provar fatos ocorri-
dos, pois sabemos que é na escrituração contábil que existe o maior banco
de informações.

Através da contabilidade, que é a base da perícia contábil, será possível


buscar fontes de provas por meio dos lançamentos, dos livros da escrituração
fiscal e contábil e da documentação que deu origem à formação dos saldos.

No que se refere aos itens anteriores, destacamos o seguinte comentário:


os cursos de Ciências Contábeis formam profissionais que, na sua maioria,
conseguem entender os lançamentos contábeis, compreendem as exigên-
cias para que uma escrituração seja revestida das formalidades exigidas
pelas leis e regulamentos; todavia, não ensinam técnicas para a detecção
mínima de autenticidade de documentos.

Sendo a documentação a base fundamental para a escrituração contábil,


entendemos que os profissionais que desejam trabalhar na área de perícia
contábil devem buscar esse conhecimento junto a entidades que possam
suprir essa deficiência dos bancos escolares.

O perito deverá ter o gosto pela leitura técnica, absorvendo novos con-
ceitos, metodologias e fundamentações que poderão respaldar as suas con-
clusões e convicções, pois a esse profissional não é admitida a incerteza, a
insegurança ou a aproximação.

18
Introdução e conceitos básicos de perícia

Necessariamente terá que estudar tópicos de outras disciplinas, que não


somente a contabilidade, pois estas permeiam os processos judiciais, no-
tadamente os usos e costumes da prática forense no Brasil, uma vez que é
nesse ambiente que a grande maioria das perícias ocorrem.

O conhecimento de finanças, matemática financeira, sistemas de infor-


mações e da espinhosa legislação tributária também contemplam o perfil
profissional necessário ao exercício da perícia contábil.

Assim, a educação continuada é essencial para a consecução do trabalho


pericial, pois, na área contábil, que envolve o patrimônio, inevitavelmente
abarcará operações nas quais o conhecimento múltiplo e a atualização cons-
tante são fatores primordiais para os peritos.

Ambos os requisitos, pessoais e profissionais, cunham o perito com perfil


adequado para o exercício da profissão. Um não menos importante do que o
outro, pois de nada adiantaria o indivíduo ter ética e honestidade, caracterís-
ticas pessoais, se não fosse um profundo estudioso e conhecedor da matéria
objeto da perícia, característica profissional.

A sinergia entre atributos pessoais e profissionais levam o perito a ter total


segurança sobre o que irá demonstrar em seus relatos, utilizando o rigor da
ciência contábil, pautado em padrões morais e éticos tão necessários a essa
atividade.

Perito do juiz e assistente técnico


A partir desta etapa, passaremos a abordar duas importantes atribuições
inerentes a uma demanda judicial, sempre que o juiz entender a necessida-
de da realização de uma perícia judicial.

A perícia judicial poderá ser requerida como meio de prova2, conside- 2


Conforme o artigo 212
da Lei 10.406/2002 –
rando ser este um dos fatores que motivam a realização do trabalho peri- Código Civil: “Salvo o ne-
gócio a que se impõe forma
cial, quando o magistrado julga ser de suma importância para formar a sua especial, o fato jurídico
pode ser provado median-
convicção. te: I - confissão; II - docu-
mento; III - testemunha; IV
- presunção; V - perícia.”
Sendo necessária a perícia, em uma demanda, além das funções do juiz
e dos advogados das partes, temos ainda o perito do juiz e, possivelmente, o
assistente técnico, sendo que a respeito destes discorreremos a seguir.

19
Introdução e conceitos básicos de perícia

Perito do juiz
O perito do juiz, ou perito judicial, é aquele que é nomeado pelo juiz para
auxiliá-lo durante uma demanda judicial, em que seja requerido o trabalho
de um especialista.

Essa nomeação encontra guarida no artigo 421 do CPC, Lei 5.869/73,


citado a seguir:
Art. 421. O juiz nomeará o perito, fixando de imediato o prazo para a entrega do laudo.

O perito do juiz, embora preste um serviço para o poder judiciário, não


é um funcionário público concursado, e sim um profissional liberal, devida-
mente habilitado para essa atividade, sendo escolhido livremente pelo juiz,
que a este transmite confiança e conhecimento.

O juiz procede com a nomeação de um perito, pois julga que determi-


nada ação demandará conhecimentos específicos de uma área, no caso a
contabilidade, e assim esse profissional (perito) estará vinculado a um deter-
minado processo, em particular.

Caberá ao perito o aceite se considerar que domina a matéria objeto da


discussão na justiça, ou, caso contrário, declarar a sua escusa, conforme arti-
gos 146 e 423 do CPC, referenciado a seguir:
Art. 146. O perito tem o dever de cumprir o ofício, no prazo que lhe assina a lei, empregando
toda a sua diligência; pode, todavia, escusar-se do encargo alegando motivo legítimo.

Parágrafo único. A escusa deve ser apresentada dentro de cinco dias contados da intimação
ou do impedimento superveniente, sob pena de se reputar renunciado o direito a alegá-la
(art. 423).

Art. 423. O perito pode escusar-se (art. 146), ou ser recusado por impedimento ou
suspeição (art. 138, III); ao aceitar a escusa ou julgar procedente a impugnação, o juiz
nomeará novo perito.

Em que pese à enorme honra que é ser indicado para auxiliar o magistra-
do em uma demanda judicial, na função de perito, devemos ter claramente
evidenciadas as nossas eventuais limitações para o aceite do trabalho, moti-
vado por fatores pessoais ou situações externas alheias à nossa vontade.

Escusa, impedimento e suspeição


A escusa (art. 423), o impedimento e suspeição (art. 138, §1.º) devem ocor-
rer em um prazo de até cinco dias da data da nomeação, conforme determina
o Código de Processo Civil.
20
Introdução e conceitos básicos de perícia

Em relação ao impedimento e à suspeição, destacamos o texto legal do


CPC, conforme a seguir:
Art. 138. [...]

§1.º A parte interessada deverá arguir o impedimento ou a suspeição, em petição


fundamentada e devidamente instruída, na primeira oportunidade em que lhe couber
falar nos autos; o juiz mandará processar o incidente em separado e sem suspensão da
causa, ouvindo o arguido no prazo de cinco (5) dias, facultando a prova quando necessária
e julgando o pedido.

O perito não poderá perder o prazo anteriormente referendado, pois, caso


contrário, não mais terá a possibilidade de utilizar o expediente da escusa,
impedimento e suspeição no decorrer do processo, estando obrigado a rea-
lizar a perícia para a qual foi nomeado.

Motivos para escusa


Normalmente, a escusa do trabalho pericial está vinculada a fatores pes-
soais que inibem a possibilidade da execução da tarefa em dado momento, o
que não quer dizer que futuramente o perito nomeado não pudesse execu-
tar a perícia. Entre os fatores que podem motivar a escusa, destacamos:

 incapacidade momentânea motivada por estado de saúde;

 excesso de trabalho, o que interferiria diretamente no prazo estipula-


do pelo juiz;

 estrutura do escritório de perícia não compatível com a complexidade


da causa a ser periciada;

 incapacidade técnica sobre o assunto principal da perícia.

Estudos realizados por Hoog (2008) nos alertam de que o fato de uma pe-
rícia estar abrangida pela justiça gratuita, por si só, não pode ser um motivo
de escusa do trabalho por parte do perito. Nesse caso, estaria o perito sujeito
a sanção moral, que é a mais severa que poderia existir, não sendo mais indi-
cado/nomeado para atuar em outros processos.

Do ponto de vista ético e filosófico, destacamos ainda que se a ele foi


dada a possibilidade de estudar Ciências Contábeis, acumulando conheci-
mentos úteis para a sociedade, não seria de todo justo se eximir de praticar
a justiça gratuita, pelo fato de especialmente em determinado trabalho não
receber honorários.

21
Introdução e conceitos básicos de perícia

Motivos para o impedimento e a suspeição


O impedimento e a suspeição normalmente ocorrem por fatores externos
e de terceiros, os quais podem vir a tirar a imparcialidade que deve balizar o
trabalho executado pelo perito, sendo que, nesse caso, deverá manifestar-se
ao juiz através de petição fundamentada, alegando tal situação.

Vários poderão ser os fatores que motivam o impedimento e a suspeição,


sendo que destacamos:

 relação profissional mantida pelo perito com qualquer das partes, den-
tro dos últimos cinco anos;

 possuir relação de amizade, ou inimizade, com os litigantes;

 possuir interesse direto ou indireto com o julgamento da causa;

 existência de parentesco próximo com uma das partes;

 quando o perito for parte do processo;

 quando o perito prestou depoimento como testemunha;

 quando no processo tiver postulado como advogado de uma das partes,


do seu cônjuge ou de parentes deste, ou de qualquer parente seu, con-
sanguíneo ou afim, em linha reta; ou linha colateral até o segundo grau.

Através da relação anterior, percebe-se que o impedimento e a suspeição


estão ligados a fatores éticos e morais, os quais devem ser preservados a
todo momento em um processo pericial, transcorrendo com a máxima lisura
e honestidade.

O perito, em não se declarando impedido ou suspeito e mesmo tendo


algum dos fatores relacionados anteriormente, certamente poderá macular
a sua imagem, pois não agirá com a total imparcialidade que deve conduzir
a tarefa ao longo do trabalho.

Não estando o perito judicial na condição de escusa, impedimento e sus-


peição, deverá realizar a tarefa no prazo estipulado pelo juiz, lembrando que
terá 20 dias, antes da audiência de instrução e julgamento, para entregar
em cartório um documento denominado de laudo, no qual constará todo o
trabalho executado, conforme determina o artigo 433 do CPC.

22
Introdução e conceitos básicos de perícia

Assistente técnico
O assistente técnico, ou perito da parte, é aquele que poderá ser indicado
pelas partes envolvidas em uma demanda judicial, encontrando da mesma
forma respaldo nos parágrafos 1.º e 2.º, artigo 421, da Lei 5.869/73 (CPC), os
quais transcrevemos a seguir:
Art. 421. [...]

§1.º Incumbe às partes, dentro em 5 (cinco) dias, contados da intimação do despacho de


nomeação do perito:

I - indicar o assistente técnico;

II - apresentar quesitos.

§2.º Quando a natureza do fato o permitir, a perícia poderá consistir apenas na inquirição
pelo juiz do perito e dos assistentes, por ocasião da audiência de instrução e julgamento a
respeito das coisas que houverem informalmente examinado ou avaliado.

Conforme consta no texto legal, o Código de Processo Civil assevera às


partes a possibilidade de indicação do assistente técnico, sendo uma libe-
ralidade dos litigantes a contratação desse profissional, não impondo que
necessariamente haja essa condição para o andamento da perícia.

Naturalmente que as mesmas prerrogativas que cabem ao perito judi-


cial cabem também ao assistente técnico, sendo que este deverá ter ilibada
conduta moral e ética, ser um profundo conhecedor da matéria que moti-
vou a perícia, e estar legalmente habilitado junto ao Conselho Regional de
Contabilidade.

Sendo indicado por um dos litigantes, a este deverá prestar serviço, es-
tudando profundamente o processo, e assessorando o advogado da parte
que o contratou, com estratégias pautadas na ética, na regulamentação e na
ciência contábil.

Não é o fato de ser contratado por uma das partes que fará com que o
assistente técnico haja com malícia, procedimentos amorais, ou infração ao
código de conduta da profissão contábil, ou leis específicas.

Deverá utilizar todo o seu conhecimento capturado com anos de estu-


dos e trabalhos, para que encontre o melhor caminho a percorrer na busca
incessante pela verdade, que, em última análise, é a direção que a justiça
persegue.

23
Introdução e conceitos básicos de perícia

Em consideração ao fato de que o assistente técnico é de confiança da


parte que o contratou, e não do juiz, aquele não está sujeito a impedimen-
to ou suspeição, uma vez que não faria sentido a parte suspeitar do perito
contratado.

Por esse fator, não raras são as situações em que o assistente técnico possa
ser inclusive o próprio contador de uma empresa que está em uma demanda
judicial, pois este possui as prerrogativas mínimas requeridas para o exercí-
cio da profissão, pelo menos no que diz respeito à formação acadêmica.

Caberia o questionamento sobre se esse contador estaria isento de inte-


resses em relação à demanda, o que, salvo melhor juízo, afronta a imparciali-
dade, uma vez que a prova pericial poderá ser buscada na contabilidade da
empresa, em que ele é o responsável pela escrituração.

Para Zanna (2005, p. 38 e 39), existem três fases em que o assistente técni-
co pode se desenvolver de forma sucessiva, ou apenas na primeira e última
delas, conforme relata:
1ª fase: ler, estudar e interpretar o processo para conhecer os termos da(s) controvérsia(s),
o(s) argumentos(s) das duas partes e inteirar-se da estratégia encetada pelo advogado a
quem serve; em seguida, reunir-se-á com ele para traçar um plano de ação pericial que
convenha aos interesses do cliente e convirja ao mesmo ponto defendido pelo advogado;

Enfatizamos que, embora o assistente técnico trabalhe incessantemente


para quem o contratou, e que a expectativa do contratante é sempre ganhar
a causa, ao analisar o processo pode ser que haja a avaliação da falta de base
científica e legal, do ponto de vista contábil, para a defesa do que se pre-
tende, nesse caso, cabe a franqueza e a lealdade com a justiça e a ciência,
expondo essas condições à parte contratante e ao advogado.

Agindo dessa maneira, o assistente técnico tomará uma posição neutra e


de imparcialidade na demanda judicial, contribuindo dessa forma para que
de fato a justiça seja cumprida.

Não faria sentido algum o assistente técnico distorcer as informações, ou


“direcionar” a perícia a favor de quem o contratou, mesmo que isso implicas-
se contrariedade à lealdade que deve existir em um processo pericial.
2ª fase: colocar-se à disposição do perito judicial para acompanhar as diligências e oferecer
seus préstimos para auxiliar o trabalho do colega. Esta ajuda, estes préstimos, poderão ser
aceitos ou não pelo colega. Isto dependerá do grau de confiança técnica e pessoal que
o expert depositar no assistente técnico. Quando ocorrer que nenhuma ajuda for aceita
pelo perito judicial, isto em nada desmerecerá a atuação do assistente técnico. (ZANNA,
2005, p. 38-39)

24
Introdução e conceitos básicos de perícia

É sempre importante, do ponto de vista de estratégia, oferecer ajuda ao


perito do juiz, até mesmo para entender a linha de conduta e raciocínio que
está sendo utilizada por ele. Caso o assistente técnico possa acompanhar
os trabalhos, irá formando também a sua linha de pensamento, no que diz
respeito ao desfecho da perícia.

Devemos evitar a guerra de vaidades e soberba que, muitas vezes, podem


acompanhar o indivíduo que milita nessa área, julgando-se com mais “poder”
por ter sido nomeado pelo juiz, em contraposição ao assistente técnico, que
não tem todo o aparato da justiça para ajudá-lo.

Devemos ter em mente que a sinergia e colaboração de ambos os profis-


sionais podem implicar a diminuição de esforços com a troca de opiniões e
impressões acerca do trabalho que está sendo executado.
3.ª fase: convergir ou divergir do laudo pericial contábil apresentado pelo perito Judicial,
apresentando, então, seu parecer convergente, divergente, ou parcialmente divergente,
no qual fará todas as críticas técnicas necessárias ao laudo que o colega juntou aos autos.
Apresentará os dados, as informações e as provas segundo seu ponto de vista técnico.
(ZANNA , 2005, p. 38-39)

Em uma possível contestação do trabalho realizado pelo perito judicial,


o assistente técnico teria apenas 10 dias da entrega do laudo pericial, con-
forme parágrafo único do artigo 433 do CPC, para fazer as suas contestações
em um documento denominado de parecer, e acompanhando o trabalho
traria maior segurança na emissão desse documento.

Por mais que essa razão fundamentasse a necessidade de interação entre


o perito judicial e o assistente técnico, em uma situação ideal, imaginada por
Zanna (2005), o perito do juiz deveria

 comunicar ao assistente técnico em qual data irá protocolar o laudo;

 encaminhar uma cópia do laudo para que o assistente técnico tome


conhecimento de forma célere sobre o conteúdo do documento;

 colocar-se à disposição do assistente técnico para esclarecer eventuais


pontos que não ficaram claros no laudo.

Como a função de perito e do assistente técnico são atribuições tempo-


rárias, um dia você é perito do juiz em uma demanda judicial, e em outra
oportunidade poderá ser assistente técnico, a mútua colaboração é essen-
cial para o desenvolvimento da profissão, e como extensão para a melhoria
da qualidade nos serviços prestados.

25
Introdução e conceitos básicos de perícia

Principais diferenças entre o perito


judicial e o assistente técnico
Para melhor assimilação das atribuições do perito judicial e do assistente
técnico, elaboramos uma tabela comparativa, destacando as principais dife-
renças existentes entre essas duas funções importantes dentro de um pro-
cesso judicial.

Cláudio Marcelo Rodrigues Cordeiro.


Perito judicial Assistente técnico
Profissional nomeado em juízo para auxiliar o
Profissional contratado pelas partes que estão
magistrado na busca da verdade sobre uma
envolvidas em uma demanda judicial.
demanda judicial.
Está no rol dos auxiliares da justiça, assim
Não encontra guarida na relação dos auxiliares
como o escrivão, o oficial de justiça, o deposi-
da justiça.
tário, o administrador e o intérprete.
Recebe seus honorários pelo desempenho da
sua função diretamente na justiça, normal-
Recebe seus honorários diretamente da parte
mente mediante alvará, sendo pagos pela
que o contratou, mediante regras estabeleci-
parte que solicitou a perícia, ou pela parte
das em contrato de prestação de serviço.
autora, caso tenha sido solicitada por ambas,
ou ainda determinada de ofício pelo juiz.
Ao final dos trabalhos, emite documento de- Ao final dos trabalhos, emite documento de-
nominado de laudo pericial, sendo que este nominado de parecer pericial, sendo que este
deve ser entregue com 20 dias da data da deve ser elaborado no prazo de 10 dias, após a
audiência. apresentação do laudo pericial.
Está sujeito a impedimento e suspeição, con-
forme determinação prevista no Código de Não está sujeito a impedimento ou suspeição.
Processo Civil.
Poderá solicitar a escusa dos trabalhos caso Poderá solicitar a recusa dos trabalhos caso jul-
julgue impossibilidade de execução da tarefa. gue impossibilidade de execução da tarefa.
Pessoa de confiança do juiz. Pessoa de confiança da parte que o contratou.
Pode assessorar o advogado da parte que o
Não tem vinculação direta com os advoga-
contratou traçando estratégias para a condu-
dos das partes, devendo prestar informações
ção do trabalho, dentro dos limites éticos e da
ao juiz que o nomeou.
ciência.

Conforme percebemos, fica notória a diferença entre o perito judicial e


o assistente técnico, com atribuições bastante distintas, especialmente no
que diz respeito a prazos, documentos emitidos e função dentro do proces-
so judicial.

O que fica evidente é a enorme responsabilidade e importância da tarefa


a ser executada por cada um deles, sendo uma nobre função colaborar com
a justiça e o exercício da verdade.

26
Introdução e conceitos básicos de perícia

Não podemos desmerecer nenhuma das atribuições, seja como assistente


técnico ou como perito judicial, achando que uma função é mais importante
do que a outra, pois ambos os profissionais que atuam no processo devem
colaborar entre si, e respeitar o outro colega.

O fundamental é que esses profissionais ajam com ética, imparcialidade,


zelo, dedicação e comprometimento com a ciência, pois é esta a base do
trabalho que deve pautar a perícia contábil.

Ampliando seus conhecimentos

Perícia contábil, aspectos filosóficos e práticos do


labor do perito, à luz do CPC
(HOOG, 2010)

Resumo:

Apresentamos uma breve opinião sobre a perícia contábil, nos aspectos


filosóficos e práticos do labor do perito, à luz do CPC. Buscando com isto deli-
near o labor do perito, procurando demonstrar a importância da observação
do momento oportuno da produção de prova documental e de quem é este
ônus. Procurando com isto afastar eventuais equívocos sobre a importante
função do perito-contador, que labuta como auxiliar do Juiz.

Palavras-chave:

Perícia contábil; produção de prova; exame pericial.

Desenvolvimento:

As provas são produzidas nos autos, para que o perito em contabilidade


faça o exame, artigo 420 do CPC, logo os documentos probantes são produzi-
dos pelos litigantes para o convencimento do perito, não sendo possível que
o perito venha a carrear aos autos os documentos probantes, pois não é a
sua função. A regra sobre a função do perito é clara, e conhecida dos juristas,
artigo 145 do CPC. Uma vez que cabe ao perito, que é tido como um dos auxi-
liares do juiz, artigo 139 do CPC, para assuntos de ciência e tecnologia; e não
para suprir eventuais inépcias da inicial ou contestação, “falta de documentos
que deem suporte às teses jurídicas defendidas”.

27
Introdução e conceitos básicos de perícia

Não é papel do perito produzir provas, isto cabe aos litigantes por força
dos artigos 297 e 396 do CPC. A nobre e imprescindível função do perito é a
de examinar os documentos probantes e sobre eles emitir o seu laudo, res-
pondendo os quesitos do Juiz e das partes, que versem sobre matéria contá-
bil, especificamente sobre ciência e tecnologia contabilística. Fazendo o seu
labor considerando a epiqueia contabilística e independência de juízo cien-
tífico. Devendo pautar as suas conclusões, além dos documentos analisados,
na teoria pura da contabilidade, utilizando para tal o método do raciocínio
contábil e a doutrina.

O entranhamento dos documentos antes do início da perícia é deveras


importante, pois as partes têm o direito de se manifestarem sobre tais do-
cumentos, aceitando-os ou impugnando-os, sendo isto de forma tácita ou
expressa, e, quiçá, carreando aos autos outros documentos tidos como con-
traprova, como previsto no artigo 397 do CPC, isto verte do prestígio à livre
defesa e ao contraditório, além do fato de que as partes têm que ter ciência
da existência e do uso nos autos desses documentos. Lembramos que em de-
corrência da juntada de documentos aos autos, o Juiz deve ouvir a outra parte
a respeito no prazo de cinco dias, por força do artigo 398 do CPC. E quando o
perito quebra este rito processual, pedindo documentos que, por uma lógica,
deveriam estar, mas não estão instruindo a inicial ou a contestação, reque-
rendo isto diretamente às partes para usar no exame como uma prova sem
que isto tenha passado pelo crivo do contraditório, e ciência das partes e do
juiz, usando estes documentos como se fosse uma prova produzida pelas
partes, a ser examinada pelo perito, cria a possibilidade de uma lamentável
pecha. Apesar da existência de tal pecha, o juiz poderá considerar válido o ato
mesmo realizado de modo diverso do rito processual aqui descrito, se alcan-
çar a finalidade relativa à demonstração da essência das verdades contidas na
peça inicial ou na contestação, por força do artigo 244 do CPC.

Todos têm a obrigação de colaborar com o descobrimento da verdade, artigo


339 do CPC, quer seja o autor ou o réu, inclusive terceiros por força do artigo 341
do CPC, porém ninguém é obrigado a produzir prova contra si mesmo, ou re-
velar informações ou documentos protegidos pelo sigilo profissional, por força
do artigo 347 do CPC. Mas cabe aos litigantes, artigos 282, 297 e 396 do CPC,
respeitando-se a atribuição do ônus da prova, providenciar que estes docu-
mentos probantes sejam juntados aos autos, com a inicial, contestação ou em
outro momento processual oportuno, artigo 397 do CPC. E na impossibilidade
de se entranhar aos autos tais documentos, devem os interessados na produção

28
Introdução e conceitos básicos de perícia

da prova, litigantes, e não o perito, providenciar as medidas judiciais cabíveis,


como um pedido de exibição de documentos, emissão de ofícios, quebra de
sigilo, entre outros meios legais disponíveis. Para fins da exibição de documen-
tos que se pretende o exame pelo perito, artigos 355 ao 363 do CPC.

E por derradeiro, assim como também pode o juiz, quando julgar neces-
sário, inspecionar coisas, artigos 440 a 442 do CPC, explicamos que o perito,
por força da lei, artigo 429 do CPC, pode eventualmente solicitar documentos
e informações que entenda necessários ao seu convencimento, (pode e não é
obrigado) tomando o cuidado para que isto, para que na ânsia de demonstrar
a importante verdade real, não venha a suprir falta de vontade de agir da parte,
ou documento inepto probante do pedido ou da contestação. Ou seja, o direito
ao uso das prerrogativas do artigo 429, por parte do perito, não pode ampliar
a quantidade de documentos que compõem a chamada “instrução probatória
do pedido ou da contestação”. Exemplos destas solicitações do perito são: as
memórias de cálculos, fórmulas matemáticas utilizadas nos cálculos, plano de
contas com a função e a técnica de funcionamento das contas, demonstrações
ou notas explicativas que clareiem atos ou fatos alegados ou escriturados nos
documentos juntados aos autos, além de ouvir pessoas sobre os fatos ou do-
cumentos examinados. E pode também o ilustre perito, se julgar necessário
ao melhor entendimento das respostas ofertadas, juntar ao seu laudo apensos
como fotografias, desenhos e outros como gráficos e planilhas.

Consideramos um ato profano tentar transformar o perito em um investi-


gante, buscador, organizador, produtor ou em um juntador de documentos
aos autos, pois isto é atípico à sua função, podendo, no entanto, o perito as-
sistente prestar tal auxílio ao seu cliente, desde que, no momento processual
adequado, ou seja, antes da instalação da perícia. O perito nomeado auxilia o
Juiz para os assuntos específicos da ciência da contabilidade, logo analisa as
provas com um juízo de independência científica, e não labuta em favor de
uma ou de ambas as partes na produção de provas.

Pelo exposto, é possível concluir, pela vital importância e necessidade


de se contratar um perito assistente para que em sintonia com o advogado,
seja providenciado tais documentos, e uma perfeita instrução documental
do pedido ou da contestação, com o máximo rigor e precisão, pois deles de-
pende o resultado da demanda. Com uma especial relevância, citamos que a
instrução documental probante tem respaldo também nos vultosos direitos
contidos e assegurados no artigo 427 do CPC.

29
Introdução e conceitos básicos de perícia

Atividades de aplicação
1. Disserte sobre os elementos essenciais para a formação do perfil do
perito.

2. Descreva sobre as principais diferenças existentes entre o perito judi-


cial e o assistente técnico, no que diz respeito à contratação da presta-
ção do serviço.

3. Segundo o Código de Processo Civil, diferencie os termos que envol-


vem a escusa e o impedimento em uma perícia judicial.

Referências
HOOG, Wilson Alberto Zappa. Prova Pericial Contábil. 6. ed. Curitiba: Juruá,
2008.

______. Perícia Contábil, Aspectos Filosóficos e Práticos do Labor do Perito, à


Luz do CPC. Publicado em: 25 out. 2010. Disponível em: <www.zappahoog.com.
br/view_artigos.asp?id=86>. Acesso em: 4 fev. 2011.

LOPES DE SÁ, Antônio. Perícia Contábil. São Paulo: Atlas, 1994.

MAGALHÃES, Antonio de Deus Farias et al. Perícia Contábil: uma abordagem te-
órica, ética, legal, processual e operacional. 2. ed. São Paulo: Atlas, 1998.

MARTINS, Joana D’Arc Medeiros; ANJOS, Luiz Carlos Marques; LIMA, Márcia Maria
Silva. O papel do perito-contador na solução de litígios judiciais – um estudo nas
varas cíveis de Maceió-AL. RBC – Revista Brasileira de Contabilidade, n. 172, p.
49-61, 2008. Conselho Federal de Contabilidade.

ROSA, Marcos Valls Feu. Perícia Judicial: teoria e prática. Porto Alegre: Safe,
1999.

ZANNA, Remo Dalla. Prática de Perícia Contábil. São Paulo: IOB Thomson, 2005.

30
Introdução e conceitos básicos de perícia

Gabarito
1. Para a formação do perfil adequado para o exercício dessa atividade,
é necessário o desenvolvimento tanto no plano pessoal, como no pro-
fissional. No plano pessoal, a honestidade, ética e o caráter irretocável
deverão acompanhar a trajetória do perito em todas as fases de sua
vida, pois a ele será confiada a possibilidade de iluminar os juízes na
melhor decisão de uma sentença. Já no plano profissional, o indivíduo
deverá ter a formação no curso superior de Ciências Contábeis, com
registro ativo junto ao órgão regulador da profissão, no caso, o Conse-
lho Regional de Contabilidade, além da educação continuada, que é
fundamental para a profissão.

2. O perito judicial e o assistente técnico são contratados de maneira


bastante diferentes para a execução do serviço. No que diz respeito
ao perito judicial, este é nomeado em juízo para auxiliar o magistrado
na busca da verdade sobre um determinado processo. Já no que diz
respeito aos assistentes técnicos, estes são contratados pelas partes
que estão envolvidas em uma demanda judicial, com o intuito de au-
xiliar os advogados na melhor condução da estratégia dos trabalhos,
sempre pautado em procedimentos éticos e na ciência.

3. Os termos escusa e impedimento estão vinculados a situações que


impediriam o perito de executar um trabalho com o máximo de zelo,
honestidade e imparcialidade. Normalmente, a escusa do trabalho pe-
ricial está vinculada a fatores pessoais que inibem a possibilidade da
execução da tarefa em dado momento. O impedimento normalmente
ocorre por fatores externos e de terceiros, os quais podem vir a tirar
a imparcialidade que deve balizar o trabalho executado pelo perito.
Havendo situações dessa natureza, em ambos os casos o perito deverá
manifestar-se ao juiz através de petição fundamentada, alegando tal
situação.

31
Diferenças entre o trabalho
pericial e de auditoria

Neste capítulo, abordaremos as principais diferenças que existem nos


trabalhos executados pelo perito, se comparados àqueles desempenhados
pelo auditor, conduzindo a nossa linha de raciocínio em relação a quatro di-
mensões principais, que são: objeto e finalidade, órgãos representativos dos
peritos e dos auditores e suas normas, abrangência e profundidade dos tra-
balhos e usuários e época de demanda dos trabalhos.

Auditor e perito
Considerando que esta obra está direcionada para a área de contabilidade,
naturalmente iremos abordar esse assunto sob o prisma dessa ciência, pois
não podemos perder de vista que podem existir pessoas desempenhando a
atividade de auditoria e perícia em outras áreas, que não necessariamente a
das ciências contábeis, como, por exemplo, na área da administração, econo-
mia, engenharia, medicina, somente para citar algumas delas.

O fato é que todas as vezes em que houver a necessidade da execução de


trabalhos de auditoria e de perícia, que envolvam a análise e os estudos do
patrimônio, essas tarefas devem ser executadas por pessoas legalmente ha-
bilitadas, sendo vedada a função a quem não possua o título de bacharel em
Ciências Contábeis.

O especialista na verificação do patrimônio, sem dúvida nenhuma, deve ser


aquela pessoa que domine essa área do conhecimento, pois é imprescindível
que seja um profundo conhecedor da contabilidade, pois é esta a ciência que
estuda o patrimônio.

Fazendo coro conosco, destacamos estudos realizados por Iudícibus e Marion


(2000), nos quais asseguram que o campo de atuação da contabilidade, ou o seu
objeto, é o patrimônio de qualquer entidade, seja de fins lucrativos ou não.

Dessa forma, direcionaremos as principais diferenças entre o perito e o


auditor contábil, entendendo que a nossa abordagem irá auxiliar àquelas
pessoas que têm a intenção de contratar o serviço de um profissional dessas
áreas, mas que, todavia, não têm a segurança sobre o que cada um executa,
tampouco sobre a abrangência e finalidade dos trabalhos.
33
Diferenças entre o trabalho pericial e de auditoria

Objeto e finalidade da auditoria e da perícia


Embora ambas as atividades, do auditor contábil e do perito contábil,
tenham por campo de atuação o patrimônio, é de suma importância o delinea-
mento do objeto e da finalidade dessas duas atribuições, as quais são conside-
radas como vitais para assegurar a transparência e veracidade das operações.

Objeto e finalidade da auditoria


Os trabalhos executados por profissionais de auditoria têm por objeto
análises e verificações sobre um conjunto de elementos que controlam o pa-
trimônio, os quais compreendem os registros e livros contábeis, documen-
tações internas e externas que demonstrem e comprovem a veracidade dos
atos de gestão.
1
Como técnica de conta- Sendo a auditoria uma das técnicas1 consagradas pela contabilidade para
bilidade além da auditoria,
temos a escrituração con-
tábil, as demonstrações
assegurar a adequada gestão do patrimônio, tanto qualitativa como quanti-
contábeis e a análise das
demonstrações contábeis.
tativamente, ela é de extrema importância quando os diversos usuários das
informações contábeis buscam a credibilidade e a confiabilidade sobre os
fatos registrados.

Colaborando com o delineamento do objeto da auditoria, citamos a


seguir Franco e Marra (2001, p. 30):
Se de um lado a auditoria auxilia o administrador, conformando os registros contábeis
e complementando os fins informativos da contabilidade, por outro fiscaliza a própria
administração, cujos erros, omissões e fraudes, podem ser por ela apontados. Assim, pode
a auditoria informar o administrador das faltas cometidas por seus subordinados, como
também denunciar aos titulares do patrimônio (acionistas e outros investidores) as faltas
cometidas pelo administrador. Por outro lado, se resguarda os titulares contra fraudes
de administradores, também salvaguarda os direitos dos credores do patrimônio contra
eventuais fraudes dos titulares do patrimônio.

Percebe-se anteriormente a grande importância que assume a técnica


da auditoria no controle e na segurança das informações do dia a dia das
organizações, transmitindo confiabilidade e segurança, tanto aos usuários
internos como externos, além do caráter da própria fiscalização.

De acordo com estudos realizados por Lopes de Sá (1998), várias são as


finalidades que levariam à contratação de serviços de auditoria, tendo por
destaque:

 indagações e determinações sobre o estado patrimonial e a gestão pú-


blica ou privada;

34
Diferenças entre o trabalho pericial e de auditoria

 indagações e determinações sobre o estado financeiro;

 descoberta de erros e fraudes;

 estudos gerais sobre aspectos especiais, tais como:

 exames de aspectos fiscais e legais;

 exames para a compra de uma empresa;

 exames para a determinação de bases de critérios de rateios;

 exames para a determinação de standards de custos;

 exames para a medida da eficiência do equipamento;

 exames para levantamentos de dados decorrentes de incêndios,


roubos etc.;

 exames para a reorganização da empresa;

 exames para financiamentos;

 exames para levantamentos de falências;

 exames para avaliação da política de compras e de vendas;

 exames para estudos de fusão, cisão e incorporação de empresas;

 exames para análises de custos;

 exames para subsidiarem parecer limitado;

 exames para avaliações dos estoques.

A relação anterior, que não é exaustiva, dá a dimensão do trabalho reali-


zado pelo auditor, podendo ser requerido nas mais variadas situações, tanto
aquelas decorrentes de verificações sobre os atos de gestão, até mesmo com
o fulcro de descoberta de fraudes praticadas pela administração, ou pelos
colaboradores.

Objeto e finalidade da perícia


Diferentemente da auditoria, que muitas vezes busca examinar o patri-
mônio sob a ótica da adequada administração, inclusive sugerindo o que
poderia se fazer para a melhoria dos controles e técnicas de gestão, em

35
Diferenças entre o trabalho pericial e de auditoria

trabalhos executados por peritos o objeto visa trazer, através da contabili-


dade, elementos que materialmente sejam importantes para “apresentar a
verdade”.

Destacamos que normalmente a perícia contábil se processa em ambien-


tes conflituosos, onde há a desavença e a desconfiança das pessoas em re-
lação a um determinado fato, uma operação, registro, dívida, bem, enfim, a
algo afeto ao patrimônio.

Nesse processo de discórdia, não é raro que passe pela justiça, em que
o campo de atuação da perícia é extremamente requerido, trazendo esse
profissional à sua contribuição técnica, sob o prisma da contabilidade, para
aqueles que são leigos na matéria.

Ornelas (2007, p. 35) contribui com importante esforço na tentativa de


delinear o objeto da perícia contábil, conforme transcrevemos a seguir:
A perícia contábil tem por objeto central os fatos ou questões contábeis relacionados com
a causa (aspecto patrimonial), as quais devem ser verificadas, e, por isso, são submetidas
à apreciação técnica do perito, que deve considerar, nessa apreciação, certos limites
essenciais, ou “características essenciais”. Independentemente dos procedimentos a
serem adotados, são caracteres essenciais da perícia contábil: a) limitação da matéria; b)
pronunciamento adstrito à questão ou questões propostas; c) meticuloso e eficiente exame
do campo prefixado; d) escrupulosa referência à matéria periciada; e) imparcialidade
absoluta de pronunciamento.

Conforme vimos anteriormente, a perícia contábil também tem como


objeto o patrimônio, todavia há a distinção no fato que motivou o trabalho
quando são requeridos serviços de auditores e de peritos, sendo que esses
últimos normalmente são requisitados na esfera judicial.

No que se refere à finalidade da contratação do perito contábil, Alberto


(2000, p. 51) aponta para distintas situações, as quais visam buscar:
 a informação fidedigna;

 a certificação, o exame e a análise do estado circunstancial do objeto;

 o esclarecimento e a eliminação das dúvidas suscitadas sobre o objeto;

 o fundamento científico da decisão;

 a formulação de uma opinião ou juízo técnico;

 a mensuração, a análise, a avaliação ou o arbitramento sobre o quantum monetário


do objeto;

 trazer à luz o que está oculto por inexatidão, erro, inverdade, má-fé, astúcia ou fraude.

36
Diferenças entre o trabalho pericial e de auditoria

Assim, percebemos que a perícia contábil busca iluminar a justiça, na-


queles assuntos relacionados à contabilidade, em que o julgador não teria
condições de tomar a melhor decisão sem a colaboração de uma pessoa que
tenha profundos conhecimentos técnicos na contabilidade, e suas manifes-
tações sobre o patrimônio.

Órgãos representativos
da auditoria e da perícia
Na área de contabilidade, aquelas pessoas que exercem a função de
perito e de auditor são possuidoras de reconhecida competência técnica e
profissional, sendo que essas atribuições são consideradas as mais nobres
da área.

Para atuação nas áreas de auditoria e de perícia contábil, é necessário que


a pessoa formada no curso de Ciências Contábeis tenha registro em alguns
órgãos, sejam eles normativos, corporativos, ou somente de atualização
sobre as práticas requeridas nessas funções.

Órgãos representativos dos auditores


A atividade de auditoria tem organismos muito peculiares de fiscalização
e congregação dos profissionais, sendo os que mais se destacam:

 CVM – Comissão de Valores Mobiliários;

 CFC – Conselho Federal de Contabilidade;

 CRC – Conselho Regional de Contabilidade;

 IBRACON – Instituto dos Auditores Independentes do Brasil;

 AUDIBRA – Instituto dos Auditores Internos do Brasil.

CVM, CFC e CRC


Se o auditor pretende executar trabalhos voltados para a área de merca-
do de capitais, ou seja, auditar empresas que possuem ações negociadas na
bolsa de valores, deverá ter o seu registro junto à CVM.

37
Diferenças entre o trabalho pericial e de auditoria

Para obter o registro na CVM, a pessoa deverá ser formada em Ciências


2
A partir de 2011, para obter Contábeis, possuir registro ativo junto ao CRC2, e realizar um exame de qua-
o registro junto ao CRC, além
de ser formado em Ciências lificação técnica, administrado pelo CFC.
Contábeis, deverá realizar o
exame de suficiência, com
acerto mínimo de 50% das
questões.
O Exame de Qualificação Técnica para registro no Cadastro Nacional de
Auditores Independentes (CNAI) do Conselho Federal de Contabilidade
(CFC), instituído pela NBC P 5, é um dos requisitos para a inscrição do Conta-
dor no CNAI, com vistas à atuação na área da Auditoria Independente.

IBRACON
O Instituto dos Auditores Independentes do Brasil é o organismo que tem
por finalidade regulamentar técnicas e procedimentos visando a moderni-
dade e atualização da auditoria. É voltado para a área de auditoria externa,
emitindo diversos pronunciamentos técnicos que servem como balizadores
para que o auditor realize as suas atividades cotidianas. O IBRACON auxilia
o CFC na administração do Exame de Qualificação Técnica para registro no
CNAI.

AUDIBRA
O Instituto dos Auditores Internos do Brasil é uma entidade voltada para
o aprimoramento e a evolução das técnicas e dos procedimentos inerentes à
auditoria interna, promovendo debates, discussões e apoio à pesquisa nessa
área. Esse instituto administra a realização de diversos testes internacionais
para qualificação da auditoria interna.

Relação das normas relativas à auditoria


No que se refere às normas de auditoria, estas contemplam o conjunto de
técnicas, procedimentos e rotinas necessárias para o exercício profissional
do auditor. São divididas entre normas profissionais de auditoria e técnicas
de auditoria.

Atualmente, o conjunto de normas técnicas e profissionais totalizam 40


normativas, a seguir relacionadas:

38
Diferenças entre o trabalho pericial e de auditoria

Nomenclatura Descrição da norma


Controle de Qualidade para Firmas (Pessoas Jurídicas e Físicas) de Auditores
NBC PA 01
Independentes.
NBC PA 02 Independência.
NBC PA 03 Revisão Externa da Qualidade pelos Pares.
NBC TA 01 Estrutura Conceitual para Trabalho de Asseguração.
Objetivos Gerais do Auditor Independente e a Condução da Auditoria em
NBC TA 200
Conformidade com Normas de Auditoria.
NBC TA 210 Concordância com os Termos do Trabalho de Auditoria.
NBC TA 220 Controle de Qualidade da Auditoria de Demonstrações Contábeis.
NBC TA 230 Documentação de Auditoria.
Responsabilidade do Auditor em Relação a Fraude, no Contexto da Auditoria
NBC TA 240
de Demonstrações Contábeis.
Consideração de Leis e Regulamentos na Auditoria de Demonstrações
NBC TA 250
Contábeis.
NBC TA 260 Comunicação com os Responsáveis pela Governança.
NBC TA 265 Comunicação de Deficiências do Controle Interno.
NBC TA 300 Planejamento da Auditoria de Demonstrações Contábeis.
Identificação e Avaliação dos Riscos de Distorção Relevante por meio do
NBC TA 315
Entendimento da Entidade e de seu Ambiente.
NBC TA 320 Materialidade no Planejamento e na Execução da Auditoria.
NBC TA 330 Resposta do Auditor aos Riscos Avaliados.
Considerações de Auditoria para a Entidade que Utiliza Organização
NBC TA 402
Prestadora de Serviços.
NBC TA 450 Avaliação das Distorções Identificadas durante a Auditoria.
NBC TA 500 Evidência de Auditoria.
NBC TA 501 Evidência de Auditoria – Considerações Específicas para Itens Selecionados.
NBC TA 505 Confirmações Externas.
NBC TA 510 Trabalhos Iniciais – Saldos Iniciais.
NBC TA 520 Procedimentos Analíticos.
NBC TA 530 Amostragem em Auditoria.
Auditoria de Estimativas Contábeis, Inclusive do Valor Justo, e Divulgações
NBC TA 540
Relacionadas.
NBC TA 550 Partes Relacionadas.
NBC TA 560 Eventos Subsequentes.
NBC TA 570 Continuidade Operacional.

39
Diferenças entre o trabalho pericial e de auditoria

Cláudio Marcelo Rodrigues Cordeiro.


Nomenclatura Descrição da norma
NBC TA 580 Representações Formais.
Considerações Especiais – Auditorias de Demonstrações Contábeis de
NBC TA 600
Grupos, Incluindo o Trabalho dos Auditores dos Componentes.
NBC TA 610 Utilização do Trabalho de Auditoria Interna.
NBC TA 620 Utilização do Trabalho de Especialistas.
Formação da Opinião e Emissão do Relatório do Auditor Independente so-
NBC TA 700
bre as Demonstrações Contábeis.
NBC TA 705 Modificações na Opinião do Auditor Independente.
Parágrafos de Ênfase e Parágrafos de Outros Assuntos no Relatório do
NBC TA 706
Auditor Independente.
Informações Comparativas – Valores Correspondentes e Demonstrações
NBC TA 710
Contábeis Comparativas.
Responsabilidade do Auditor em Relação a Outras Informações Incluídas em
NBC TA 720
Documentos que Contenham Demonstrações Contábeis Auditadas.
Considerações Especiais – Auditorias de Demonstrações Contábeis Elabora-
NBC TA 800 das de Acordo com Estruturas Conceituais de Contabilidade para Propósitos
Especiais.
Considerações Especiais – Auditoria de Quadros Isolados das Demonstrações
NBC TA 805 Contábeis e de Elementos, Contas ou Itens Específicos das Demonstrações Con-
tábeis.
Trabalhos para a Emissão de Relatório sobre Demonstrações Contábeis Con-
NBC TA 810
densadas.

Órgãos representativos dos peritos


Abordaremos, a partir deste ponto, quais são os órgãos representativos
da profissão de perito-contador, tanto os organismos fiscalizadores da ativi-
dade pericial, como aqueles voltados para a congregação de peritos através
de representatividade nacional.

CFC e CRC
Assim como na auditoria, também na perícia é necessário que o profissio-
nal esteja regular com a sua categoria profissional, inclusive com previsão no
Código de Processo Civil (CPC), conforme artigo 145:
Art. 145. Quando a prova do fato depender de conhecimento técnico ou científico, o juiz
será assistido por perito, segundo o disposto no art. 421.

40
Diferenças entre o trabalho pericial e de auditoria

§1.º Os peritos serão escolhidos entre profissionais de nível universitário, devidamente


inscritos no órgão de classe competente, respeitado o disposto no Capítulo Vl, seção Vll,
deste Código.

§2.º Os peritos comprovarão sua especialidade na matéria sobre que deverão opinar,
mediante certidão do órgão profissional em que estiverem inscritos.

§3.º Nas localidades onde não houver profissionais qualificados que preencham os
requisitos dos parágrafos anteriores, a indicação dos peritos será de livre escolha do juiz.

A inscrição no CRC é condição essencial para que a pessoa possa exercer


a função de perito contábil, pois, caso não haja o registro nesse órgão, estará
impedido de atuar.

Sescap e Fenacon
O Sescap, Sindicato das Empresas de Serviços Contábeis e das Empresas
de Assessoramento, Perícias, Informações e Pesquisas, é vinculado à Fenacon
(Federação Nacional das Empresas de Serviços Contábeis e das Empresas de
Assessoramento, Perícias, Informações e Pesquisas), em que possui diversas
câmaras.

Uma das câmaras diz respeito à perícia, tendo por função atender às ati-
vidades inerentes às empresas de serviços de perícias. Foi criada com a fina-
lidade de acompanhar as peculiaridades do setor, coletar reivindicações, su-
gerir serviços apropriados, apresentar sugestões e ajudar a resolver questões
que envolvem a categoria.

Essa vinculação ao Sescap não é obrigatória, todavia é importante para


o desenvolvimento da profissão, além de termos representatividade junto a
outros órgãos.

Relação das normas relativas à perícia


As normas de perícia representam o conjunto de técnicas, procedimentos
e rotinas necessárias para o adequado exercício profissional de perito.

O conjunto de normas a serem seguidas é emitido pelo CFC e possui al-


gumas letras que formam o seu sufixo, o qual explicamos a seguir:

 NBC PP – Normas Brasileiras de Contabilidade – Profissional de Perícia;

 NBC TP – Normas Brasileiras de Contabilidade – Técnica de Perícia.

41
Diferenças entre o trabalho pericial e de auditoria

São duas normas que se relacionam com a atividade de perícia contábil,


as quais destacamos a seguir:

Cláudio Marcelo
Rodrigues Cordeiro.
Nomenclatura Descrição da norma
NBC PP 01 Perito Contábil
NBC TP 01 Perícia Contábil

Há o respeito da categoria profissional aos peritos e auditores, dada a res-


ponsabilidade e o profundo conhecimento da área de contabilidade e suas
ramificações, além das normas técnicas e profissionais emitidas pelo Conse-
lho Federal de Contabilidade, com grande e extenso viés metodológico.

Abrangência e profundidade dos trabalhos


A abrangência e profundidade dos trabalhos executados por auditores é
bastante diferente daquela executada por peritos, em razão da própria fina-
lidade que demanda a contratação de um ou de outro profissional.

Passaremos a discorrer sobre como se processa a atividade do auditor e


do perito, no que diz respeito ao escopo e à abrangência dos trabalhos exe-
cutados por eles.

Na auditoria contábil
A atividade de auditoria, principalmente daquela voltada para as de-
monstrações financeiras, conhecida como auditoria externa/independente,
é executada normalmente em vários períodos durante o ano, abrangendo
um grande volume de operações processadas e contabilizadas.

Dada a abrangência requerida nos trabalhos de auditoria, em que são


validadas inúmeras operações, a profundidade dos exames não é extensa,
sendo que a auditoria trabalha com a materialidade, ou seja, examinando
aquele conjunto de operações que materialmente são representativas.

Assim, é pouco provável que a auditoria seja efetivada em 100% das


operações, pois, caso fosse feito dessa forma, os auditores perderiam muito
tempo nas empresas, e o resultado do seu trabalho teria pouca importância
do ponto de vista de agilidade da informação auditada.

42
Diferenças entre o trabalho pericial e de auditoria

A atividade de auditoria consagra a estatística como uma técnica impor-


tante para auxiliar nos exames, a partir do fato de que não é possível a ve-
rificação de todas as operações, os auditores se utilizam de técnicas como
amostragem, média, mediana, regressão linear, entre outras, de tal maneira
que diminua a possibilidade do auditor emitir opinião inadequada.

Na perícia contábil
No que diz respeito à perícia, como é um trabalho pontual que atende a
um fim específico em época certa e voltada para um objeto determinado,
tanto a abrangência como a profundidade é requerida.
Não há como o perito examinar por aproximação, com relativa certeza,
pois do trabalho dele resultará uma decisão do magistrado, ou das pessoas
que o contrataram, sendo que a abrangência e a profundidade devem ser na
totalidade das operações/processos que estão sendo periciados.
A perícia não consagra a estatística como uma técnica adequada, exceto
se necessária para ajudar o perito a formar a sua convicção sobre determi-
nado fato/operação. O ideal é não utilizar processos de amostragem, sendo
adequado o exame em 100% das transações examinadas.
O perito não deve perder de vista que existe um objeto claro a periciar,
como, por exemplo, em uma reclamatória trabalhista, deve enveredar todos
os seus esforços para concentrar o seu trabalho naquilo que demandou a
perícia, examinando todos os documentos necessários para auxiliar a trazer
a veracidade dos fatos.

Usuários e a época de demanda dos trabalhos


Relativamente aos usuários e à época de demanda dos trabalhos execu-
tados por auditores e por perito, também se mostra muito peculiar e com
diferenças importantes, que podem auxiliar os leigos a tomarem a decisão
sobre uma ou outra função.

Na auditoria contábil
A contratação do trabalho de um especialista, que é o auditor, tem por
finalidade atender a distintos públicos, porém podem ser classificados entre
usuários externos e usuários internos. As finalidades básicas de cada tipo de
usuário podem ser classificadas da seguinte forma:

43
Diferenças entre o trabalho pericial e de auditoria

 Quanto aos usuários externos:

 interesse dos acionistas;

 interesse dos financiadores;

 interesse do Estado;

 compra e fusões de empresas.

 Quanto aos usuários internos:

 interesse dos acionistas;

 interesse a estratégias de investimentos relevantes em projetos;

 investigação de fraudes;

 revisão de processos.

Sendo auditoria externa/independente, o serviço é demandado durante


o ano, com trabalhos preliminares, e concentrada entre o final e início do
ano subsequente, pois é nessa época que as demonstrações financeiras são
auditadas, requerendo o exame dos auditores.

Na auditoria interna, executada por colaboradores de uma empresa, a


demanda dos serviços é diluída durante o ano, sendo que esse profissional
executa trabalhos em épocas específicas, sobre processos operações pre-
determinados.

Na perícia contábil
Os usuários da perícia contábil normalmente estão voltados para a justi-
ça, mais especificamente os magistrados, que requerem o trabalho dos peri-
tos para os ajudarem a iluminarem a verdade.

Sendo uma perícia judicial, poderá haver a nomeação de perito, confor-


me prevê o artigo 421 do Código de Processo Civil, Lei 5.869 de 1973, citado
a seguir:
Art. 421. O juiz nomeará o perito, fixando de imediato o prazo para a entrega do laudo.

Nesse caso, obviamente será o juiz o usuário da informação coletada e


processada pelo perito judicial.

44
Diferenças entre o trabalho pericial e de auditoria

Ainda dentro da perícia judicial, pode cada uma das partes indicar assis-
tente técnico, ou perito da parte conforme o mesmo artigo 421, parágrafos
1.º e 2.º da Lei 5.859 de 1973, Código de Processo Civil, os quais transcreve-
mos a seguir:
§1.º Incumbe às partes, dentro em 5 (cinco) dias, contados da intimação do despacho de
nomeação do perito:

I - indicar o assistente técnico;

II - apresentar quesitos.

§2.º Quando a natureza do fato o permitir, a perícia poderá consistir apenas na inquirição
pelo juiz do perito e dos assistentes, por ocasião da audiência de instrução e julgamento a
respeito das coisas que houverem informalmente examinado ou avaliado.

Nessa situação, além da utilização das informações geradas pelos assis-


tentes técnicos que também são peritos, servir às partes que os contrataram
poderá ser também utilizado pelo juiz.

A demanda do trabalho do perito é de acordo com a nomeação feita


pelos juízes, com base nos processos que requerem a realização da perícia
judicial, portanto não há uma época específica, será necessária sempre que
requerida.

Sendo uma perícia fora do meio judiciário, que será demandada por
alguém que contratou o serviço do perito, também não há uma época espe-
cífica, transformando-se em um trabalho pontual e temporário.

Ampliando seus conhecimentos

Diferença entre auditoria e perícia contábil


(HOOG, 2011)

A perícia é a prova elucidativa dos fatos, já a auditoria é mais revisão, veri-


ficação, tende a ser necessidade constante repetindo-se de tempo em tempo,
com menos rigores metodológicos, pois se utiliza da amostragem. A perícia
repudia a amostragem como critério e tem caráter de eventualidade e só tra-
balha com o universo completo, em que a opinião é expressada com rigores
de 100 por cento de análise. Para melhor visualização, apresentamos as prin-
cipais características de auditoria e perícia:

45
Diferenças entre o trabalho pericial e de auditoria

A perícia tem em suas entranhas o status de conhecimento notório, trata-


do na Lei 9.457 de 5 de maio de 1997, que alterou a Lei 6.404/76 no seu artigo
163, parágrafo 8, que trata o profissional com o status de conhecimento notório
e necessário para apurar fatos. No mesmo ordenamento, parágrafo 4, temos
a figura contemporânea dos auditores independentes, para esclarecimentos
ou apuração de fatos específicos, que acreditamos ser o relatório ou parecer
de auditoria submetido à apreciação do conselho fiscal. Por isto, entendemos
que a lógica do conhecimento, experiência e carreira ou educação continua-
da, no sentido holístico, segue a lógica da formação acadêmica de: primeiro
contador, segundo auditor e a terceira e maior especialização, perito, pois só é
possível ser perito o profissional contador que domina as técnicas de audito-
rias, de perícia e tem algum domínio do direito tributário, bancário, comercial,
financeiro, penal, administrativo, constitucional, previdenciário, ambiental,
trabalhista e processual, condição desejada para se navegar no meio jurídico
como auxiliar do juízo. Naturalmente que este conhecimento também é bom
para o auditor, mas se exige com mais propriedade do perito, por ser este
junto com o juiz o provedor do equilíbrio da Justiça.

O status do perito também é elevado para a categoria de cientista, por força


do CPC, artigo 145, que trata do perito como sendo um cientista para assistir o
juízo em matérias de ciência e tecnologia.

A auditoria, também ramo da mesma árvore, contabilidade, tem como seu


destaque as revisões de procedimentos relativos às atividades de interesse
da CVM, pois a Lei 6.385/76, artigos 26 e 27, trata do assunto, enfatizando o
registro do profissional na CVM que está normalizando as condições que con-
sidera ideais para conceder o registro. Naturalmente é importante frisarmos
que este registro da CVM só é obrigatório quando a empresa auditada está
entre aquelas relacionadas na lei, ficando fora as auditorias de empresas que
não estejam negociando ações na bolsa e que não estejam operando com
valores mobiliários, como exemplo uma montadora de veículos automotores,
de capital fechado.

São duas atividades ótimas. Recomendamos estágios nas duas áreas antes
de decidir a carreira. Acreditamos que seguir as duas simultaneamente é muito
difícil, não impossível, pois ambas requerem estudos continuados e pesquisas
científicas. As duas bradam por constantes e eternas reciclagens.

Para uma melhor visualização, apresentamos as principais características


de auditoria e perícia na tabela a seguir.

46
Diferenças entre o trabalho pericial e de auditoria

Quadro 1 – Quadro comparativo entre auditoria e perícia contábil

Perícia Auditoria
Executada somente por pessoa física, profis- Pode ser executada tanto por pessoa
sional de nível universitário (CPC, art. 145). física quanto por jurídica.
A perícia serve a uma época, questionamento Tende à necessidade constante, como
específico, por exemplo, apuração de haveres exemplo: auditoria de balanço, repe-
na dissolução de sociedade. tindo-se anualmente.
A perícia se prende ao caráter científico de Auditoria se prende à continuidade de
uma prova com o objetivo de esclarecer con- uma gestão; parecer sobre atos e fatos
trovérsias. contábeis.
É específica, restrita aos quesitos e pontos Pode ser específica ou não; exemplo:
controvertidos, especificados pelo condutor auditoria de Recursos Humanos, ou
judicial. em toda empresa.
Sua análise é irrestrita e abrangente. Feita por amostragem.
Usuários do serviço. Usuários do serviço.
As partes e principalmente a justiça. Sócios, investidores, administradores.

Atividades de aplicação
1. Comente sobre a finalidade dos trabalhos executados por auditores,
se comparados com aqueles desempenhados por peritos contábeis.

2. Descreva as principais diferenças existentes entre o auditor e o perito


contábil, no que diz respeito à abrangência e profundidade dos traba-
lhos.

3. Há a necessidade de afiliação a alguma entidade para o exercício da


perícia contábil? Justifique a sua resposta.

Referências
ALBERTO, Valter Luiz Palombo. Perícia Contábil. 2. ed. São Paulo: Atlas, 2000.

BRASIL. Lei 5.869 de 11 de janeiro de 1973. Institui o Código de Processo Civil.


Disponível em: <www.planalto.gov.br/ccivil/leis/L5869.htm>. Acesso em: 28 fev.
2011.

47
Diferenças entre o trabalho pericial e de auditoria

FRANCO, Hilário; MARRA, Ernesto. Auditoria Contábil. 5. ed. São Paulo: Atlas,
2001.

HOOG, Wilson Alberto Zappa. Prova Pericial Contábil. 6. ed. Curitiba: Juruá,
2008.

______. Diferença entre Auditoria e Perícia Contábil. Disponível em: <www.


crcpr.org.br/publicacoes/downloads/revista133/diferenca.htm>. Acesso em: 18
fev. 2011.

IUDÍCIBUS, Sérgio de; MARION, José Carlos. Introdução à Teoria da Contabilida-


de: para o nível de graduação. 2. ed. São Paulo: Atlas, 2000.

LOPES DE SÁ, Antônio. Curso de Auditoria. 8. ed. São Paulo: Atlas, 1998.

ORNELAS, Martinho Maurício Gomes. Perícia Contábil. 4. ed. São Paulo: Atlas,
2007.

Gabarito
1. Há distinção na finalidade dos trabalhos executados por auditores e
por peritos contábeis, pois são atividades bastante diferenciadas em
relação aos seus propósitos. Várias são as finalidades que levariam à
contratação de serviços de auditoria, tendo por destaque: indagações
e determinações sobre o estado patrimonial e a gestão pública ou pri-
vada; indagações e determinações sobre o estado financeiro; desco-
berta de erros e fraudes; exames de aspectos fiscais e legais; exames
para a compra de uma empresa; somente para citar alguns exemplos.
Na contratação de serviços de perícia contábil, podem ser destacadas
as seguintes finalidades que buscam obter: a informação fidedigna; a
certificação, o exame e a análise do estado circunstancial do objeto; o
esclarecimento e a eliminação das dúvidas suscitadas sobre o objeto;
o fundamento científico da decisão; a formulação de uma opinião ou
juízo técnico; a mensuração, a análise, a avaliação ou o arbitramento
sobre o quantum monetário do objeto; entre outras.

2. De fato há distinção na abrangência e na profundidade dos trabalhos


executados por auditores, se comparados aos dos peritos contábeis.
Na auditoria, em que normalmente ocorre com mais frequência, há
maior abrangência dos trabalhos, porém sendo executados com me-
nor profundidade. É extremamente raro que uma auditoria se propo-

48
Diferenças entre o trabalho pericial e de auditoria

nha a verificar 100% das operações/processos de uma empresa, com


todas as suas ramificações. Já na perícia contábil, por ser uma atividade
pontual, com um objeto específico a periciar, a abrangência é menor,
pois naturalmente não despenderia esforços sobre aquelas operações
que não fazem parte do objeto periciado. Todavia, no que diz respei-
to à profundidade, na normalidade é verificado 100% das operações/
processos e todas as suas ramificações, inerentes a determinado obje-
to.

3. Para o exercício da atividade de perícia contábil, como obrigação é


necessário que a pessoa possua o título de bacharel em Ciências Con-
tábeis e naturalmente se registre junto à entidade fiscalizadora da
profissão, no caso, o CRC (Conselho Regional de Contabilidade). Tam-
bém é conveniente, não como obrigação, mas sim para a melhoria e
representatividade da profissão, que a pessoa tenha registro em enti-
dades que procuram estudar e colaborar para o crescimento da perí-
cia, como o Sescap, das empresas de serviços de assessoramento, que
é vinculado à Fenacon – Federação Nacional das Empresas de Serviços
Contábeis e das Empresas de Assessoramento, Perícias, Informações e
Pesquisas.

49
Normas Brasileiras de Contabilidade
relacionadas à perícia

Neste capítulo, abordaremos as Normas Brasileiras de Contabilidade, que


estão diretamente relacionadas às atividades de perícia contábil, abordando
tanto aquelas voltadas para a área profissional, como as que tratam da pessoa
que exerce a função de perito contábil.

Normas Brasileiras de Contabilidade


Em razão da necessidade crescente de harmonização da contabilidade aos
padrões mundiais, o CFC (Conselho Federal de Contabilidade) modernizou o
seu conjunto de normativas, buscando a convergência com os organismos
internacionais, conforme podemos constatar no artigo 1.º da Resolução CFC
1.328/20111, emitida em 18 de março de 2011, o qual dispõe sobre a estrutura 1
A resolução na íntegra
poderá ser lida através
das Normas Brasileiras de Contabilidade, reproduzido a seguir: do link: <www.cfc.org.br/
sisweb/sre/docs/RES_1328.
doc>.
Art. 1.º As Normas Brasileiras de Contabilidade editadas pelo Conselho Federal de
Contabilidade (CFC) devem seguir os mesmos padrões de elaboração e estilo utilizados nas
normas internacionais e compreendem as Normas propriamente ditas, as Interpretações
Técnicas e os Comunicados Técnicos.

Com a adequação do conjunto de Normas Brasileiras de Contabilidade, houve


a segregação entre normas técnicas e normas profissionais, sendo que as primei-
ras são destinadas à própria estruturação da contabilidade no Brasil, e as segun-
das são voltadas particularmente para três funções privativas dos contadores,
que são: auditoria independente, auditoria interna e perícia contábil.

De acordo com a resolução anteriormente descrita, as Normas Brasileiras


de Contabilidade de cunho “profissional” passam a ser estruturadas da se-
guinte maneira:
Cláudio Marcelo Rodrigues Cordeiro.

I – Geral São as Normas Brasileiras de Contabilidade aplicadas indistinta-


NBC PG mente a todos os profissionais de Contabilidade.

II – do Auditor Independente São as Normas Brasileiras de Contabilidade aplicadas, especifi-


camente, aos contadores que atuam como auditores indepen-
NBC PA dentes.
III – do Auditor Interno São as Normas Brasileiras de Contabilidade aplicadas especifica-
NBC PI mente aos contadores que atuam como auditores internos.

IV – do Perito São as Normas Brasileiras de Contabilidade aplicadas especifica-


NBC PP mente aos contadores que atuam como peritos contábeis.

51
Normas Brasileiras de Contabilidade relacionadas à perícia

No que se refere às normas brasileiras “técnicas”, a classificação é a


seguinte:

Cláudio Marcelo Rodrigues Cordeiro.


São as Normas Brasileiras de Contabilidade convergen-
I – Geral tes com as normas internacionais emitidas pela IFRS
Foundation; e as Normas Brasileiras de Contabilidade
NBC TG editadas por necessidades locais, sem equivalentes in-
ternacionais.
São as Normas Brasileiras de Contabilidade aplicadas ao
Setor Público, convergentes com as Normas Internacio-
nais de Contabilidade para o Setor Público, emitidas pela
II – do Setor Público NBC TSP International Federation of Accountants (IFAC); e as Nor-
mas Brasileiras de Contabilidade aplicadas ao Setor Pú-
blico editadas por necessidades locais, sem equivalentes
internacionais.
III – de Auditoria Independente São as Normas Brasileiras de Contabilidade aplicadas à
de Informação Contábil Histórica Auditoria convergentes com as Normas Internacionais
NBC TA de Auditoria Independente emitidas pela IFAC.

IV – de Revisão de Informação São as Normas Brasileiras de Contabilidade aplicadas à Re-


Contábil Histórica visão convergentes com as Normas Internacionais de Revi-
NBC TR são emitidas pela IFAC.

V – de Asseguração de Informa- São as Normas Brasileiras de Contabilidade aplicadas à


ção Não Histórica Asseguração convergentes com as Normas Internacio-
NBC TO nais de Asseguração, emitidas pela IFAC.

VI – de Serviço Correlato São as Normas Brasileiras de Contabilidade aplicadas aos


Serviços Correlatos convergentes com as Normas Inter-
NBC TSC nacionais para Serviços Correlatos, emitidas pela IFAC.
VII – de Auditoria Interna São as Normas Brasileiras de Contabilidade aplicáveis
NBC TI aos trabalhos de Auditoria Interna.

VIII – de Perícia São as Normas Brasileiras de Contabilidade aplicáveis


NBC TP aos trabalhos de Perícia.

São as Normas Brasileiras de Contabilidade aplicadas à


IX – de Auditoria Governamental Auditoria Governamental convergentes com as Normas
Internacionais de Auditoria Governamental, emitidas
NBC TAG pela Organização Internacional de Entidades Fiscaliza-
doras Superiores (INTOSAI).

Para a sequência dos nossos estudos, trataremos das Normas Brasileiras


de Contabilidade voltadas exclusivamente para a área de perícia contábil,
e nesse universo de normativas, duas dessas são relacionadas a essa área,
sendo uma profissional e uma técnica, que são:

 NBC PP 01 – Perito Contábil;

 NBC TP 01 – Perícia Contábil.

52
Normas Brasileiras de Contabilidade relacionadas à perícia

Essas duas normativas é que devem ser seguidas na íntegra para aque-
les profissionais que atuam ou pretendem atuar na área de perícia contábil
no Brasil, pois caso não sejam respeitadas poderá o profissional responder
por transgressão a padrões estabelecidos pelo órgão regulador da profissão
contábil, nesse caso, o Conselho Federal de Contabilidade.

Norma Brasileira de Contabilidade


voltada para a profissão de perito
De acordo com estudos realizados por Alberto (2000), o CFC (Conselho
Federal de Contabilidade) foi pioneiro no Brasil em estabelecer normas vol-
tadas para a área de perícia contábil, visando à preservação dos interesses
da sociedade.

Os estudos da regulamentação sobre perícia contábil iniciaram no final


de 1990, estendendo-se ao longo do ano de 1991, com audiências públicas
em 1992, sendo que nesse mesmo ano foram editadas, através das Reso-
luções, CFC 731 Normas Técnicas de Perícia Contábil (NBC T.13), e CFC 733
Normas Profissionais do Perito Contábil (NBC P.2), ambas emitidas em 22 de
outubro de 1992.

As referidas normas sofreram revisões e modificações por meio das Reso-


luções CFC 857 e CFC 858, em 21 de outubro de 1999.

Atualmente, houve nova reformulação na normativa de contabilidade,


voltada para o profissional que exerce a atividade de perito contábil, através
da Resolução CFC 1.244, de 10 de dezembro de 2009, que aprovou a NBC PP
01 – Perito Contábil.

No que se refere à norma de contabilidade inerente às técnicas de perí-


cia, também no dia 10 de dezembro de 2009, o Conselho Federal de Conta-
bilidade emitiu a Resolução CFC 1.243, que aprovou a NBC TP 01 – Perícia
Contábil.

NBC PP 01 – Perito Contábil2 2


A resolução na íntegra
poderá ser lida através
do link: <www.cfc.org.
br/sisweb/sre/docs/
Essa resolução foi separada em 14 (quatorze) tópicos, procurando infor- RES_1244.doc>.

mar aos profissionais de perícia os padrões pessoais necessários para o exer-


cício da profissão. Os tópicos tratados na resolução são os seguintes:

53
Normas Brasileiras de Contabilidade relacionadas à perícia

 objetivo;

 conceito;

 competência profissional;

 habilitação profissional;

 educação continuada;

 independência;

 impedimento e suspeição;

 sigilo;

 responsabilidade;

 zelo profissional;

 esclarecimentos;

 utilização de trabalho de especialista;

 honorários;

 modelos.

Objetivo
O objetivo primordial descrito nessa norma é de proporcionar procedi-
mentos voltados para a área de perícia, quando o contador exerce a função
de perito contábil. É extremamente importante a definição clara da função do
perito, regulamentada através de normativa do Conselho Federal de Contabi-
lidade, proporcionando padronização nos trabalhos.

Conceito
A normativa deixa muito claro que para o exercício da perícia contábil é
condição essencial estar legalmente registrado junto ao CFC, com profundos
conhecimentos da matéria que será periciada.

Faz importante segregação entre os diversos profissionais de perícia de


acordo com a natureza do trabalho, citando que o perito-contador nomeado
é o designado pelo juiz em perícia contábil judicial; o contratado é o que
atua em perícia contábil extrajudicial; e o escolhido é o que exerce sua função

54
Normas Brasileiras de Contabilidade relacionadas à perícia

em perícia contábil arbitral. Pode existir ainda o perito-contador assistente,


que é o contratado e indicado pela parte para atuar em perícias contábeis, em
processos judiciais e extrajudiciais, inclusive arbitral.

Competência profissional
Nessa normativa fica evidente que para o exercício da perícia contábil é
necessário que o profissional mantenha adequado nível de conhecimento
da ciência contábil, de normas brasileiras de contabilidade, além de assuntos
atinentes à legislação profissional, com atualização permanente.

A norma determina ainda que o profissional seja capaz de pesquisar, exa-


minar, analisar, sintetizar e fundamentar a prova no laudo pericial contábil e
no parecer pericial contábil, além de realizar seus trabalhos com a observân-
cia da equidade – significa que o perito-contador e o perito-contador assis-
tente devem atuar com igualdade de direitos, adotando os preceitos legais,
inerentes à profissão contábil.

Habilitação profissional
A normativa determina que tão logo o perito seja nomeado, contratado
ou indicado para a realização do trabalho pericial, deve comprovar sua habi-
litação profissional por intermédio da Declaração de Habilitação Profissional
– DHP. Para a emissão dessa declaração, é permitida a utilização da certifica-
ção digital, em consonância com a legislação vigente e as normas estabele-
cidas pela Infraestrutura de Chaves Públicas Brasileiras – ICP-Brasil.

Na regulamentação é mencionado que embora seja uma enorme honra e


satisfação realizar trabalhos periciais, o profissional que foi nomeado, contra-
tado ou escolhido deve escusar-se do encargo sempre que reconhecer não ter
competência técnica ou não dispor de estrutura profissional para desenvolvê-
-lo. Da mesma forma, caso o profissional seja indicado ou contratado para atuar
como perito-contador assistente, em processo extrajudicial, deverá recusar os
serviços sempre que reconhecer não estar capacitado a desenvolvê-los.

Educação continuada
Nesse ponto da norma, há a previsão de que a pessoa que exerça a ativida-
de de perito-contador deve comprovar, perante o Conselho Federal de Conta-
bilidade, a sua efetiva participação em programa de educação continuada.

55
Normas Brasileiras de Contabilidade relacionadas à perícia

Sob esse aspecto, louvamos a atitude do órgão regulamentar da profis-


são, pois para o exercício da atividade pericial existe a necessidade constante
de estudos e atualização, de forma a estar capacitado na área de contabilida-
de e suas ramificações.

Independência
Em relação à independência, a norma disciplina que o perito deve evitar
qualquer interferência que possa constrangê-lo no decorrer do seu trabalho,
de modo a comprometer sua imparcialidade.

Caso existam situações ou efeitos que possam comprometer a sua inde-


pendência, o perito deve denunciar tal evento, para a pessoa, ou órgão com-
petente. A condição de independência é essencial para que o profissional
execute a sua atividade livre de pressões de qualquer natureza.

Impedimento e suspeição
Na norma, há a definição de que possam existir situações que impossibi-
litam o perito de exercer a sua atividade, sejam em processos judiciais, extra-
judiciais, ou até mesmo arbitrais.

No que se refere ao impedimento, a normativa classifica entre legal e téc-


nico-científico. O impedimento legal está relacionado à perda da imparciali-
dade, motivada por situações tais como:

 se o perito for parte no processo;

 tiver sido arrolado como testemunha;

 tiver mantido nos últimos dois anos relação de trabalho com uma das
partes.

O impedimento motivado por questões técnico-científicas podem ser de-


correntes de:

 a matéria em litígio não ser de conhecimento técnico do perito;

 estrutura profissional precária não condizente com o trabalho.

A norma caracteriza ainda situações de suspeição, que são decorrentes de


situações que venham suscitar suspeição, em função da sua imparcialidade
ou independência. Entre as possibilidades de suspeição, são destacadas: caso

56
Normas Brasileiras de Contabilidade relacionadas à perícia

o perito contador seja amigo íntimo, ou inimigo capital de uma das partes,
tenha interesse no julgamento a favor de alguma das partes, podendo ainda
o perito declarar-se suspeito por motivo íntimo.

Sigilo
No que diz respeito ao sigilo, o perito-contador deve respeitar e assegu-
rar a confidencialidade da informação, podendo divulgá-la somente quando
requerido por imposição legal.

Como o perito contador trabalha com dados extremamente sigilosos,


as informações capturadas ao longo da perícia dizem respeito somente às
partes envolvidas e ao julgador da causa.

Responsabilidade
A norma reafirma a enorme responsabilidade que envolve o trabalho do
perito, destacando que esse profissional deve estar ciente dos reflexos so-
ciais, éticos, profissionais e legais que demandam no exercício da profissão.

São destacadas as responsabilidades civis com sanções para o profissio-


nal que exerce a função de perito-contador, as quais consistem em multa,
indenização e inabilitação, bem como penais, nas quais a legislação estabe-
lece penas de multa, detenção e reclusão para os profissionais que exercem
a atividade pericial que vierem a descumprir as normas legais.

Zelo profissional
Referente ao zelo profissional, a norma determina que o perito-contador
deve executar a sua função com o máximo cuidado, respeitando prazos, e
tendo atenção com todos os envolvidos no processo.

O mesmo zelo deverá ser dispensado aos documentos que o perito tem
em mãos, e aqueles que irá produzir, ao longo do trabalho, de maneira a
transparecer a sua credibilidade.

A norma estabelece ainda que o perito, ao contratar os serviços de profis-


sionais de outras profissões regulamentadas, deve certificar-se de que eles
se encontram em situação regular perante o seu conselho profissional, de
modo a zelar pela integridade e adequada habilitação dessas pessoas.

57
Normas Brasileiras de Contabilidade relacionadas à perícia

Esclarecimentos
Em relação aos esclarecimentos que se fizerem necessários, a norma es-
tabelece que em defesa de sua conduta profissional o perito deve prestar
todas as informações que compõem o laudo pericial contábil, ou o parecer
pericial contábil.

Esses esclarecimentos devem ser precedidos de determinação do juiz, ár-


bitro, ou a pedido das partes.

Utilização de trabalho de especialista


Nesse ponto da norma, é destacada a permissão ao perito-contador na
utilização de trabalhos de especialistas para aquelas situações que fogem do
conhecimento da área voltada para a contabilidade. São exemplos de traba-
lho de especialista: analista de sistema, atuário, tecnólogo, geólogo, especia-
lista em obras de artes e outros avaliadores.

Ressalta, ainda, que há a responsabilidade compartilhada no trabalho


pericial, toda vez em que são utilizados especialistas para opinar sobre de-
terminado fato, portanto alerta o perito-contador sobre a necessidade de
utilização de trabalhos especialistas de pessoas de extrema confiança.

Honorários
Nessa etapa da norma são estabelecidos os critérios adequados para a
formulação dos honorários periciais, os quais devem ser dimensionados
baseados, entre outros fatores, pela relevância, pelo vulto, pelo risco, pela
complexidade, pela quantidade de horas, pelo pessoal técnico, pelo prazo
estabelecido, pela forma de recebimento e pelos laudos interprofissionais.

A norma estabelece ainda que os honorários devem estar acompanhados


de proposta oficial, detalhando todas as etapas necessárias para o início, de-
senvolvimento e a conclusão dos trabalhos.

Há ainda a indicação de como deve ser realizado o recebimento dos ho-


norários e, caso necessário, como proceder ao levantamento dos valores,
caso estejam depositados em conta judicial.

58
Normas Brasileiras de Contabilidade relacionadas à perícia

Modelos
No final da norma, são apresentados 10 (dez) modelos de documentos
que podem nortear a confecção de escusa dos trabalhos, das petições diver-
sas, contratos de trabalhos, entre outros.

Esses modelos são importantes para padronizar o formato e a linguagem


que devem ser utilizados na confecção desses documentos.

3
NBC TP 01 – Perícia Contábil3 A resolução na íntegra
poderá ser lida através
do link: <www.cfc.org.
br/sisweb/sre/docs/
Essa resolução é composta por 8 (oito) grandes tópicos, os quais norteiam RES_1243.doc>.

os profissionais que atuam na área de perícia contábil em como exercerem a


atividade, na consecução operacional das tarefas.

Os grandes itens que compõem a resolução são os seguintes:

 objetivo;

 conceito;

 execução;

 procedimentos;

 planejamento;

 termo de diligência;

 laudo e parecer pericial contábil;

 modelos.

Objetivo
A referida norma tem como objetivo principal estabelecer regras e proce-
dimentos que devem ser aplicados quando são realizadas perícias contábeis,
em todos os âmbitos, para o adequado esclarecimento dos fatos ligados a
litígios.

A norma é particularmente importante para que o perito-contador possa


ter parâmetros muito seguros para a consecução do seu trabalho, seguindo
um rigor metodológico.

59
Normas Brasileiras de Contabilidade relacionadas à perícia

Conceito
Essa norma conceitua a perícia contábil como sendo um conjunto de
procedimentos técnicos e científicos que tem como objetivo subsidiar os
magistrados para a justa solução de conflitos, ou constatação de um fato,
mediante laudo ou parecer contábil.

Da mesma forma que ocorre na norma profissional, também aqui é refor-


çado que a prerrogativa da função de perito contábil é privativa de contador
devidamente registrado no Conselho Regional de Contabilidade.

Execução
Em relação à execução dos trabalhos, a norma faz o delineamento de
como deve ser a relação profissional entre o perito-contador assistente e o
perito-contador, para que haja a cooperação de ambos no desenvolvimento
da tarefa.

É recomendado que tão logo o perito-contador assistente tenha conhe-


cimento da perícia, faça contato com o perito-contador, colocando-se à dis-
posição para a execução conjunta da perícia.

Cita, ainda, que na recusa do trabalho conjunto por parte do perito-con-


tador, possa este deixar à disposição do perito contador assistente toda a do-
cumentação obtida e gerada no decorrer da perícia, indicando local e hora
para essa verificação.

Visando ao registro dos fatos, a norma estabelece que o perito deve


manter registros dos locais e das datas das diligências, nomes das pessoas
que os atenderem, livros e documentos ou coisas examinadas ou arreca-
dadas, dados e particularidades de interesse da perícia, rubricando a docu-
mentação examinada, quando julgarem necessário e possível, juntando o
elemento de prova original, cópia ou certidão.

Procedimentos
No que concerne aos procedimentos, a norma estabelece que estes são
voltados a fundamentar as conclusões a que o perito chegou, com vistas a
elaborar o laudo pericial contábil, ou o parecer contábil.

60
Normas Brasileiras de Contabilidade relacionadas à perícia

De acordo com a norma, os procedimentos de perícia contábil são classi-


ficados em 8 (oito) categorias, as quais citamos a seguir:

 O exame é a análise de livros, registros das transações e dos documentos.

 A vistoria é a diligência que objetiva a verificação e a constatação de


situação, coisa ou fato, de forma circunstancial.

 A indagação é a busca de informações mediante entrevista com co-


nhecedores do objeto, ou de fato relacionado à perícia.

 A investigação é a pesquisa que busca trazer ao laudo pericial contábil ou


parecer pericial contábil o que está oculto por quaisquer circunstâncias.

 O arbitramento é a determinação de valores ou a solução de controvér-


sia por critério técnico-científico.

 A mensuração é o ato de qualificação e quantificação física de coisas,


bens, direitos e obrigações.

 A avaliação é o ato de estabelecer o valor de coisas, bens, direitos, obri-


gações, despesas e receitas.

 A certificação é o ato de atestar a informação trazida ao laudo pericial


contábil pelo perito-contador, conferindo-lhe caráter de autenticidade
pela fé pública atribuída a esse profissional.

Esse conjunto de procedimentos é que trará a adequada segurança para


que o perito contábil possa expressar a materialização do seu trabalho, atra-
vés do laudo ou do parecer.

Planejamento
Na normativa, o planejamento tem destaque especial, pois é através
dele que o perito poderá estabelecer os procedimentos gerais dos exames
a serem executados no âmbito judicial, extrajudicial para o qual foi nome-
ado, indicado ou contratado, elaborando-o a partir do exame do objeto da
perícia.

O planejamento deve anteceder a fase de execução da perícia, em que


o profissional deverá estar atento em elencar todas as etapas dos trabalhos,
tendo por objetivos, destacados no item 33 da norma:

61
Normas Brasileiras de Contabilidade relacionadas à perícia

a) conhecer o objeto da perícia, a fim de permitir a adoção de procedimentos que con-


duzam à revelação da verdade, a qual subsidiará o juízo, o árbitro ou o interessado a
tomar a decisão a respeito da lide;

b) definir a natureza, a oportunidade e a extensão dos exames a serem realizados, em


consonância com o objeto da perícia, os termos constantes da nomeação, dos quesi-
tos ou da proposta de honorários oferecida pelo perito;

c) estabelecer condições para que o trabalho seja cumprido no prazo estabelecido;

d) identificar potenciais problemas e riscos que possam vir a ocorrer no andamento da


perícia;

e) identificar fatos que possam vir a ser importantes para a solução da demanda de for-
ma que não passem despercebidos ou não recebam a atenção necessária;

f ) identificar a legislação aplicável ao objeto da perícia.

Através da leitura atenta dos objetivos anteriormente relacionados, per-


cebemos a real importância do planejamento dos trabalhos periciais, sendo
praticamente impossível que o perito comece a realizar a sua função sem ter
o conhecimento de todas as circunstâncias e fatos que motivaram a realiza-
ção da perícia.

Além de todas as tarefas estarem formalmente descritas através de cro-


nograma, é estabelecido na norma que o planejamento da perícia deve evi-
denciar as etapas e as épocas em que serão executados os trabalhos, em
conformidade com o conteúdo da proposta de honorários a ser apresenta-
da, incluindo-se a supervisão e a revisão do próprio planejamento, os pro-
gramas de trabalho quando aplicáveis, até a entrega do laudo.

Termo de diligência
A norma em estudo determina que todas as vezes em que o perito solici-
tar documentos, coisas, dados, bem como quaisquer informações necessá-
rias à elaboração do laudo pericial contábil ou do parecer pericial contábil,
seja feito através de termo de diligência.

Esse documento denominado de termo de diligência deve ser redigido


pelo perito, e apresentado diretamente à parte, ao seu procurador, ou ao
terceiro, por qualquer meio escrito por que se possa documentar a sua entre-
ga, contendo minuciosamente a relação de tudo aquilo que ele julgar como
necessário para o bom andamento do seu trabalho.

Na norma é descrito que o documento deve ser direcionado ao diligen-


ciado, que é qualquer pessoa física ou jurídica, inclusive de direito público,
que tenha a posse de documentos, coisas, dados ou informações úteis e in-
62
Normas Brasileiras de Contabilidade relacionadas à perícia

dispensáveis para subsidiar a elaboração do laudo pericial contábil ou do


parecer pericial contábil, e que o destinatário, por decorrência legal ou de-
terminação de autoridade competente, esteja obrigado a fornecer elemen-
tos de prova.

Conforme consta no item 55 da norma, existe uma formatação dos itens


que devem compor o documento de termo de diligência, os quais citamos
a seguir:
a) identificação do diligenciado;

b) identificação das partes ou dos interessados, e, em se tratando de perícia judicial ou


arbitral, o número do processo, o tipo e o juízo em que tramita;

c) identificação do perito com indicação do número do registro profissional no Conselho


Regional de Contabilidade;

d) indicação de que está sendo elaborado nos termos do item 49 desta Norma;

e) indicação detalhada dos livros, documentos, coisas e demais elementos a serem peri-
ciados, consignando as datas e/ou períodos abrangidos, podendo identificar o quesito
a que se refere;

f ) indicação do prazo e do local para a exibição dos livros, documentos, coisas e elemen-
tos necessários à elaboração do laudo pericial contábil ou parecer pericial contábil,
devendo o prazo ser compatível com aquele concedido pelo juízo, contratante ou
convencionado pelas partes, considerada a quantidade de documentos, as informa-
ções necessárias, a estrutura organizacional do diligenciado e o local de guarda dos
documentos;

g) após atendidos os requisitos da alínea (e), quando o exame dos livros, documentos,
coisas e elementos, tiver de ser realizado junto à parte ou ao terceiro que detém em
seu poder tais provas, haverá a indicação da data e hora para sua efetivação; e

h) local, data e assinatura.

Há ainda na norma a previsão de que, caso ocorra à negativa da entrega


dos elementos de prova ou para a colaboração na busca da verdade, deve
o perito se reportar diretamente a quem o nomeou, contratou ou indicou,
narrando os fatos por meio de provas e solicitando as providências cabíveis
e necessárias, para que não seja imputada responsabilidade por omissão na
atividade profissional.

Laudo e parecer pericial contábil


Em relação ao laudo e ao parecer contábil, há a citação da definição na
norma como sendo os documentos escritos, nos quais os peritos devem re-
gistrar, de forma abrangente, o conteúdo da perícia e particularizar os aspec-
tos e as minudências que envolvam o seu objeto e as buscas de elementos
de prova necessários para a conclusão do seu trabalho.
63
Normas Brasileiras de Contabilidade relacionadas à perícia

Cuidados especiais devem ser empregados na redação desses documen-


tos, pois a linguagem adotada pelo perito deverá ser acessível aos interlocu-
tores, possibilitando aos julgadores e às partes da demanda conhecimento e
interpretação dos resultados obtidos nos trabalhos periciais contábeis.

É ressaltado na norma que tanto no laudo como no parecer o perito deve


utilizar de todo o seu esmero e técnica, uma vez que não devem conter do-
cumentos, coisas, e/ou informações que conduzam a duvidosa interpreta-
ção, para que não induza os julgadores e interessados a erro.

No que concerne à formatação do laudo ou parecer, o item 80 da norma


indica os requisitos mínimos, a seguir citados:
a) identificação do processo e das partes;

b) síntese do objeto da perícia;

c) metodologia adotada para os trabalhos periciais;

d) identificação das diligências realizadas;

e) transcrição e resposta aos quesitos: para o laudo pericial contábil;

f ) transcrição e resposta aos quesitos: para o parecer pericial contábil, onde houver di-
vergência, transcrição dos quesitos, respostas formuladas pelo perito-contador e as
respostas e comentários do perito-contador assistente;

g) conclusão;

h) anexos;

i) apêndices.

Destaca, ainda, que na possibilidade de assinatura em conjunto pelo perito-


-contador, e perito-contador assistente, há a responsabilidade solidária sobre
o documento, o que reforça a necessidade de cooperação e desenvolvimento
conjunto dos trabalhos, garantindo maior credibilidade nos trabalhos.

Modelos
4
Esses modelos podem ser Como último item da norma, são demonstrados 4 (quatro) modelos4 de
visualizados diretamente
na Resolução 1.243, através
do link: <www.cfc.org.br/
documentos que podem auxiliar os peritos na formatação de termos de dili-
sisweb/sre/detalhes_sre.
aspx?Codigo=2009/001243>.
gências e planejamento dos trabalhos periciais.

Os modelos são importantes para que haja consistência e padronização


nos documentos elaborados pelo perito, garantindo melhor qualidade tra-
zendo, por conseguinte, maior segurança aos trabalhos.

64
Normas Brasileiras de Contabilidade relacionadas à perícia

Após tratarmos das duas normas brasileiras de contabilidade voltadas


exclusivamente para a área de perícia contábil, podemos perceber a sua im-
portância como forma de proteção ao perito-contador, além de ser um guia
com as melhores práticas nessa atividade.

Com a emissão dessas normas, é possível uma maior fiscalização por parte
do órgão regulador da profissão contábil, verificando se os profissionais que
efetivamente atuam nessa área estão aplicando toda a técnica necessária,
além de respeito ético e profissional com os demais contadores.

Ampliando seus conhecimentos

Perícia contábil e o novo CPC


(FEMENICK, 2010)

Segundo levantamento efetuado por uma revista de grande circulação na-


cional, mais de 85 milhões de ações transitavam em todas as instâncias da
justiça brasileira no ano passado, sendo que uma em cada quatro delas são
casos antigos, que há anos estão perdidos em labirintos legais, aguardando
solução. A causa de tantos processos e tantas protelações nas decisões está
na forma como a justiça é processada em nosso país, é a formulação dos trâ-
mites estabelecida pelo Código do Processo Civil em mais de 1 200 artigos e
com cerca de 5 000 dispositivos, que entrou em vigor em 1974 e que já sofreu
centenas de alterações, impostas por dezenas de Leis.

Desde o ano passado, o Congresso Nacional estuda um Projeto de Lei que


institui um Novo Código do Processo Civil. Na noite do dia 15 passado, o ple-
nário do Senado Federal aprovou parecer do relator da matéria, senador Valter
Pereira, com cinco mudanças no texto original, entre elas a que determina que
“para elaboração de perícia, o juiz seja obrigado a nomear um perito-conta-
dor” e não somente fazer a “nomeação preferencial de um perito contabilista”.
O projeto será agora analisado pela Câmara dos Deputados.

A perícia contábil é um ramo da contabilidade que tem por finalidade emitir


um parecer sobre os registros e informes que compõem as demonstrações fi-
nanceiras e patrimoniais das empresas, sempre tendo por base a verdade en-
contrada nos autos ou por “pesquisas de campo”, realizadas por decorrência
de elementos neles encontrados. Para isso, o profissional deve realizar exame

65
Normas Brasileiras de Contabilidade relacionadas à perícia

e análise desses registros e dos fatos e atos que lhes deram origem. Essas
exigências pedem que o perito-contador tenha experiência, seja versado na
matéria, tenha reconhecida capacidade em trabalhos que envolvem patrimô-
nio, valor e gestão, em lides que envolvem sociedades empresárias. Todavia,
o perito-contador também se pronuncia em causas que envolvam pessoas
físicas, quando essas estão presentes em processos em que haja disputa por
patrimônio ou valor; como nos casos de herança, causas trabalhistas etc.

Por essas razões e outras, a importância do perito (contador e outros pro-


fissionais) é reconhecida tanto no artigo 139 do Código de Processo Civil em
vigor (Lei 5.869/73), como no artigo 119 do projeto que visa instituir o novo
Código (Projeto de Lei 166/2010), reconhecendo-o como auxiliar da justiça.

Antes mesmo da promulgação do Código em vigor, a perícia contábil foi


regulada pelo Decreto-Lei 9.295 de 27 de maio de 1946, que criou o Conselho
Federal de Contabilidade e definiu as atribuições do Contador. A alínea “c” do
artigo 25 define como prerrogativa do contador a realização de “perícias judi-
ciais ou extrajudiciais, revisão de balanços e de contas em geral, verificação de
haveres, revisão permanente ou periódica de escritas, regulações judiciais ou
extrajudiciais de avarias grossas ou comuns, assistência aos Conselhos Fiscais
das sociedades anônimas e quaisquer outras atribuições de natureza técnica,
conferidas por lei aos profissionais de contabilidade”.

Se a perícia contábil tem por função quantificar, mensurar, identificar,


avaliar, analisar, apurar e arbitrar direitos, bens e obrigações, os contadores
estão legalmente habilitados para realização de trabalhos periciais também
em processos que envolvam disputas financeiras e trabalhistas ou, ainda, que
necessitam da realização de cálculos para evidenciação de valores e patrimô-
nios. Assim, há um vasto campo de trabalho para os peritos-contadores nas
instâncias tanto da Justiça comum como nas áreas da chamada Justiça espe-
cializada; Justiça do Trabalho, Justiça Federal, por exemplo.

Atualmente, a perícia contábil é regida pela Norma Brasileira de Contabilida-


de TP 01, que diz que “a perícia contábil constitui o conjunto de procedimentos
técnico-científicos destinados a levar à instância decisória elementos de prova
necessários a subsidiar a justa solução do litígio ou constatação de um fato, me-
diante laudo pericial contábil e/ou parecer pericial contábil, em conformidade
com as normas jurídicas e profissionais, e a legislação específica no que for per-
tinente”, sempre embasado na veracidade de situações ou fatos.

66
Normas Brasileiras de Contabilidade relacionadas à perícia

Ora isso exige competência profissional – tanto do contador perito do juiz


como dos contadores peritos assistentes das partes – para pesquisar, exami-
nar, analisar, sintetizar e fundamentar as provas que devem substanciar os
laudos periciais. Daí a importância da constante e continuada atualização dos
conhecimentos dos profissionais que se dedicam à perícia contábil, tanto no
campo contábil propriamente dito, como em matérias que integram o exer-
cício da sua atividade; legislação relativa às causas dos processos que dão
origem às perícias.

Atividades de aplicação
1. Comente sobre como foi a evolução das Normas Brasileiras de Conta-
bilidade voltadas para a área de perícia contábil.

2. Descreva qual é o objetivo da Norma Brasileira de Contabilidade vol-


tada para a técnica de perícia, se comparada àquela relativa ao profis-
sional de perícia.

3. No que se refere à independência para o exercício profissional da pe-


rícia contábil, disserte sobre como deve ser a linha de conduta a ser
adotada pelo perito, baseado no que determina a norma.

Referências
ALBERTO, Valter Luiz Palombo. Perícia Contábil. 2. ed. São Paulo: Atlas, 2000.

CFC. Conselho Federal de Contabilidade. Resolução 1.243, de 10 de dezembro


de 2009. Aprovou a NBC TP 01 – Perícia Contábil. Disponível em: <www.cfc.org.
br/sisweb/sre/docs/RES_1243.doc>. Acesso em: 18 mar. 2011.

______. Resolução 1.244, de 10 de dezembro de 2009. Aprovou a NBC PP 01


– Perito Contábil. Disponível em: <www.cfc.org.br/sisweb/sre/docs/RES_1244.
doc>. Acesso em: 18 mar. 2011.

______. Resolução 1.328, de 17 de setembro de 2010. Aprovou a estrutura das


Normas Brasileiras de Contabilidade. Disponível em: <www.cfc.org.br/sisweb/sre/
docs/RES_1328.doc>. Acesso em: 18 mar. 2011.

67
Normas Brasileiras de Contabilidade relacionadas à perícia

FEMENICK, Tolilav R. Perícia Contábil e o Novo CPC. Publicado em: 26 dez. 2010.
Disponível em: <www.tomislav.com.br/artigos_imp.php?detalhe=&id=444&tit=P
ER%CDCIA%20CONT%C1BIL%20E%20O%20NOVO%20CPC>. Acesso em: 25 mar.
2011.

Gabarito
1. Os estudos da regulamentação sobre perícia contábil iniciaram no fi-
nal de 1990, estendendo-se ao longo do ano de 1991, com audiências
públicas em 1992, sendo que nesse mesmo ano foram editadas, atra-
vés das Resoluções, CFC 731 Normas Técnicas de Perícia Contábil (NBC
T.13), e CFC 733 Normas Profissionais do Perito Contábil (NBC P.2), am-
bas emitidas em 22 de outubro de 1992.

As referidas normas sofreram revisões e modificações por meio das


Resoluções CFC 857 e CFC 858, em 21 de outubro de 1999.

Atualmente, houve nova reformulação na normativa de contabilida-


de voltada para o profissional que exerce a atividade de perito contá-
bil, através da Resolução CFC 1.244, de 10 de dezembro de 2009, que
aprovou a NBC PP 01 – Perito Contábil.

No que se refere à norma de contabilidade inerente às técnicas de pe-


rícia, também no dia 10 de dezembro de 2009, o Conselho Federal de
Contabilidade emitiu a Resolução CFC 1.243, que aprovou a NBC PP
01 – Perícia Contábil.

2. A norma técnica de perícia tem por objetivo principal estabelecer re-


gras e procedimentos que devem ser aplicados quando são realizadas
perícias contábeis, em todos os âmbitos, para o adequado esclareci-
mento dos fatos ligados a litígios.

No que se refere à norma profissional de perícia, o objetivo é propor-


cionar procedimentos voltados para a área de perícia, quando o con-
tador exerce a função de perito contábil.

3. Em relação à independência, a norma disciplina que o perito deve evi-


tar qualquer interferência que possa constrangê-lo no decorrer do seu
trabalho, de modo a comprometer sua imparcialidade.

68
Normas Brasileiras de Contabilidade relacionadas à perícia

Caso existam situações ou efeitos que possam comprometer a sua


independência, o perito deve denunciar tal evento, para a pessoa ou
órgão competente. A condição de independência é essencial para que
o profissional execute a sua atividade livre de pressões de qualquer
natureza.

69
Espécies de perícia

Neste capítulo, abordaremos sobre as diversas espécies de perícias que


podem existir, apresentando o ambiente em que estas se processam, as suas
características, bem como a finalidade a que se propõem.

Ambientes diversos de perícia


Quando uma perícia é deferida, ou requerida, muitas podem ser as razões
e objetivos que levarão à indicação, ou contratação de um profissional espe-
cializado para realização dos trabalhos.

Vários são os motivos que podem vir a demandar a realização de um tra-


balho pericial, e em razão desse fato é de fundamental importância que seja
identificado o ambiente em que o mesmo será processado, pois as caracte-
rísticas, finalidades e a forma de atuação certamente variam de acordo com
a espécie de perícia.

No que se refere ao ambiente de atuação, exploraremos estudos realiza-


dos por Alberto (2000, p. 53), que cita:
Os ambientes de atuação que lhe definirão as características, podem ser, do ponto de
vista mais geral, o ambiente judicial, o ambiente semijudicial, o ambiente extrajudicial,
e o ambiente arbitral. Decorre, então, serem quatro as espécies de perícias detectáveis
segundo o raciocínio esposado: a perícia judicial, a perícia semijudicial, a perícia
extrajudicial, e a perícia arbitral.

Do exposto, podemos notar que os ambientes em que as perícias se pro-


cessam são bastante distintos, o que leva ao raciocínio de que a forma de
condução, os objetivos e finalidade tendem também a ser diversos, confor-
me abordagem mais delongada que faremos a seguir.

Perícia judicial
O termo perícia judicial já induz ao pensamento de que esta é realizada
sob a “proteção” do Poder Judiciário, portanto, revestida de todo o aparato
legal, com regras e leis específicas.

71
Espécies de perícia

Para que ocorra essa espécie de perícia, sempre deverá haver o requeri-
mento ou a necessidade, materializado por um pedido formal peticionado
ao magistrado atuante no Poder Judiciário, o qual poderá deferir ou indefe-
rir, conforme seu julgamento.

Nessa espécie de perícia, o juiz será assistido por um profissional denomi-


nado de perito, conforme assegura o artigo 145 do Código de Processo Civil,
citado a seguir:
Art. 145 Quando a prova do fato depender de conhecimento técnico ou científico, o juiz
será assistido por perito, segundo o disposto no art. 421.

§1.º Os peritos serão escolhidos entre profissionais de nível universitário, devidamente


inscritos no órgão de classe competente, respeitado o disposto no Capítulo Vl, seção Vll,
deste Código.

§2.º Os peritos comprovarão sua especialidade na matéria sobre que deverão opinar,
mediante certidão do órgão profissional em que estiverem inscritos.

§3.º Nas localidades onde não houver profissionais qualificados que preencham os
requisitos dos parágrafos anteriores, a indicação dos peritos será de livre escolha do juiz.

No artigo anteriormente exposto, fica evidente a importância do perito


no processo da perícia judicial, pois esse profissional será um auxiliar do ma-
gistrado, na busca incessante de provas que conduzam a um julgamento
isento de falhas/erros.

Essa espécie de perícia tem importância fundamental no processo judi-


cial, pois possui duas finalidades muito importantes, que são: servir como
meio de prova ou de arbitramento.

Perícia judicial como meio de prova


No que se refere à prova pericial, estudos realizados por Zanna (2005), ba-
seados no Código de Processo Civil, classificam esta em quatro modalidades,
quais sejam:

 O exame pericial: o qual voltado para a área de perícia contábil se


concentra no exame da escrituração, documentos, contratos, revisão
de cálculos e quaisquer atos praticados pelas pessoas envolvidas no
processo.

 A vistoria pericial: a qual consiste na verificação in loco de alguma coi-


sa ou objeto, normalmente máquinas, imóveis, estoques, entre outros.
Para essa atividade, é comum a participação de um engenheiro, princi-
72
Espécies de perícia

palmente se envolver imóveis ou maquinários. A finalidade dessa ati-


vidade é a verificação circunstancial do objeto periciado, constatando
o seu estado de conservação e utilização.

 O arbitramento: consiste em estimar valores a bens e direitos, através


de critérios técnicos. É normalmente aplicado quando a contabilidade
não inspira confiança na atribuição dos valores às contas contábeis. O
arbitramento poderá servir como subsídio ao juiz para determinar a
liquidação de sentença quando são arbitrados valores relacionados à
apuração de haveres em processos de inventários, afastamento de só-
cios, dissolução de sociedades, ou ainda na liquidação de sociedades.

 A avaliação: normalmente destinada à atribuição de valor para bens


e direitos que constam em relação de inventários, ou em processo de
execução de dívidas já vencidas, em que o credor tem a intenção de
tomar posse dos bens que lhe foram dados em garantia.

Do anteriormente exposto, percebemos a relevância e importância fun-


damental do trabalho pericial em processos judiciais, para que possa auxiliar
a decisão do juiz através de prova devidamente fundamentada.

Perícia judicial como arbitramento


A perícia judicial funcionará como arbitramento, quando o objeto pericia-
do não possuir consistência na atribuição do valor, seja através da contabili-
dade, ou de outra fonte em que não há a confiança necessária para validação
do patrimônio periciado.

O perito se valerá de técnicas específicas para determinar o arbitramento


dos valores, pois através do número identificado por esse profissional é que
embasará a liquidação da sentença proferida pelo magistrado.

Perícia judicial na área de contabilidade


Na área de perícia judicial contábil, vários poderão ser os trabalhos que de-
mandam oportunidades aos profissionais de contabilidade, sendo que estas
se processarão em fóruns diferentes, de acordo com a natureza das ações.

Estudos realizados por Figueiredo (2006) apontam para a possibilidade


da realização de perícias judiciais na área de contabilidade, voltada para a
área cível, na justiça estadual, federal e do trabalho.
73
Espécies de perícia

Na justiça estadual originam ações que colocam em discussões assuntos


estaduais, municipais e da iniciativa privada, com envolvimento da área de
contabilidade, conforme exemplos:

 dissoluções de sociedades, apuração de haveres, inventários;

 avaliações patrimoniais;

 cobrança indevida de tributos, chamada de “repetição de indébito”;

 revisões de contratos bancários, de compra e de venda, prestação de


serviços, buscando atualização dos valores.

Na justiça federal conflitos envolvendo a união, suas autarquias, funda-


ções em empresas públicas, os quais podem demandar litígios das seguintes
naturezas:

 Condenatórias em geral: normalmente nesses processos são requeri-


das perícias voltadas para apurações de valores decorrentes de ações
indenizatórias.

 Repetição de indébito: envolvendo cobrança de tributos federais de


forma indevida, seja pela inconstitucionalidade, ou alíquotas e bases
de cálculos inadequados.

 Previdenciárias: na sua grande maioria é motivada pela revisão dos


cálculos dos benefícios previdenciários.

 Ações contra bancos federais: normalmente relacionados à revisão


de contratos de empréstimos e financiamentos, e sistema financeiro
de habitação, voltado para a análise das cláusulas contratuais.

Na justiça do trabalho são originados grandes volumes de ações motiva-


dos por alegações de empregados contra a empresa que os contratou. As
ações originadas na justiça do trabalho, na sua normalidade, são voltadas
a alegações do reclamante contra a reclamada, por falta de pagamentos de
verbas rescisórias, na sua totalidade. Essas verbas rescisórias devem ser ana-
lisadas pelo perito à luz da CLT (Consolidação das Leis do Trabalho), consta-
tando se de fato houve a ausência de pagamento, ou pagamento a menor
em decorrência de cálculos indevidos efetuados na empresa.

74
Espécies de perícia

Cronologia da perícia judicial


Em razão de que essa espécie de perícia se processa junto ao Poder Judici-
ário, existe todo um ritual que determinará as fases cronológicas pelas quais
transcorrerão os trabalhos, dessa etapa inicial, de execução e finalização.

Passaremos a comentar sobre cada uma dessas etapas do trabalho de pe-


rícia judicial, expondo as peculiaridades delas.

Etapa inicial é aquela motivada por uma ação entre pessoas que estão
buscando os seus direitos junto ao Poder Judiciário, o que pressupõe que
haja conflito de opiniões entre os interessados, motivo pelo qual estão dis-
cutindo em justiça.

Nessa fase, a cronologia da perícia tende a ocorrer com as seguintes etapas:

 existirá a requisição da perícia ao juiz, por parte da pessoa interessada;

 ao juiz competirá avaliar se há a necessidade da perícia, ou não;

 existindo a necessidade da perícia, a mesma será deferida pelo juiz;

 após deferir a perícia judicial, o juiz escolherá o perito para auxiliá-lo;

 as partes envolvidas no processo poderão indicar os seus assistentes


técnicos, e formular quesitos para acompanhar o processo;

 após leitura e estudos dos autos, os peritos propõem honorários e, por


prudência, solicitam o depósito em juízo;

 o juiz normalmente estabelece prazo, local e hora para início.

Passada essa fase da perícia judicial, dará início à etapa de execução, que
consiste no efetivo trabalho realizado in loco pelo perito judicial, onde haverá
a seguinte sequência:

 realização de diligências por parte do perito, sendo que este se des-


locará até o local da perícia, ou solicitará que os documentos venham
até ele;

 execução da verificação analítica de todos os documentos, informa-


ções e dados que foram disponibilizados a ele;

75
Espécies de perícia

 elaboração do documento final de perícia com a exposição da maneira


que os trabalhos foram desenvolvidos, e as possíveis conclusões a que
o perito chegou. Esse documento recebe a denominação de Laudo Pe-
ricial.

Como última fase, existirá a etapa de finalização, que consistirá no fecha-


mento do trabalho pericial, e será precedida das etapas descritas a seguir:

 finalizado o Laudo Pericial, este deverá ser assinado pelo perito proto-
colado em cartório;

 estando os honorários depositados em juízo, os peritos solicitam o le-


vantamento dos valores;

 ficam os peritos à disposição da justiça para eventuais esclarecimen-


tos, desde que requeridos formalmente pelo juiz.

Percebemos, assim, todo o ritual que a perícia judicial requer, sendo que
em cada uma das etapas mencionadas existem prazos e formalidades a
serem cumpridas, sob os auspícios do Código de Processo Civil (CPC) e de
acordo com os ditames do Conselho Federal de Contabilidade (CFC), para
esse último, obviamente, desde que se trate de perícia judicial contábil.

Perícia semijudicial
Ao contrário da perícia judicial, que tem todo o aparato e a proteção dos
meios judiciários, na perícia semijudicial isso não ocorre, pois esta se proces-
sa em outro ambiente.

A perícia semijudicial é aquela que atua em uma instância intermediária,


ou seja, fora do Poder Judiciário, porém com algum tipo de resguardo/pro-
teção jurisdicional, como, por exemplo, dentro do aparato institucional do
Estado.

Nessa espécie de perícia há uma “força” relativa, pois embora não esteja
protegida pelo Poder Judiciário possui nas suas regras institucionais proce-
dimentos que se assemelham à perícia judicial.

De acordo com estudos realizados por Alberto (2000), existem três gran-
des classificações que podem representar a perícia semijudicial, que são:

76
Espécies de perícia

 nos inquéritos policiais;

 nas comissões parlamentares de inquéritos; e

 na esfera da administração pública tributária ou conselhos de contri-


buintes.

Essas perícias classificam-se como semijudiciais porque as autoridades


policiais, parlamentares ou administrativas não têm todo o Poder Judiciário
a protegê-las, ainda que tenham um poder adstrito (sujeito) a uma determi-
nada instância/jurisdição.

No que se refere à sistematização dessa espécie de perícia, enfatizamos


que a mesma tem um poder limitado a determinado organismo, entretanto
os resultados que se eventualmente obtenha não serão levados até as últi-
mas consequências, como ocorre na perícia judicial.

Assim, por exemplo, na perícia judicial, se forem constatados ilícitos no


processo por algumas das partes envolvidas, estas poderão responder de
forma cível e penal, o que significa dizer que, além de repararem o prejuízo
causado de forma monetária, poderiam ainda chegar à prisão.

Na perícia semijudicial, não há o mesmo rigor tratado anteriormente,


pois inúmeros são os problemas apurados através de CPIs, Comissões Par-
lamentares de Inquéritos, em que há a evidência dos desmandos, porém as
pessoas envolvidas dificilmente respondem de forma pecuniária e, mais im-
provável ainda, chegam à prisão, pois essa modalidade de perícia não tem o
poder para tal.

Não obstante se processe fora do Poder Judiciário, também nessa espécie


de perícia deverá existir o rigor do trabalho, e toda metodologia semelhante
àquela empregada na perícia judicial.

Na perícia semijudicial, os profissionais que atuarão nos trabalhos serão


contratados, e não nomeados, como ocorre na perícia judicial, processo este
que deveria ser transparente e cristalino para que efetivamente fossem exe-
cutados por pessoa de ilibada conduta moral e ética, o que, na prática, infe-
lizmente muitas vezes não ocorre.

Embora seja uma espécie de perícia que possa existir, não trataremos
com profundidade dessa modalidade, em razão de ser pouco demandada
na área de contabilidade.

77
Espécies de perícia

Perícia extrajudicial
Essa espécie de perícia diferencia-se das demais, pois está totalmente fora
do Poder Judiciário (pois se estivesse nesse meio seria uma perícia judicial), e
tampouco se processa sob jurisdições protegidas pelo Estado ou Município
(o que nesse caso seria uma perícia semijudicial).

Enfatizamos que a perícia extrajudicial é mais aplicável quando há um


conflito, mas não de forma litigiosa, pois havendo discussões que fogem à
racionalidade, é natural que as pessoas busquem a justiça para que seja re-
parado o eventual dano causado.

Na perícia extrajudicial, o que prevalece é a vontade legítima das partes na


solução de controvérsias, em que as partes envolvidas não têm a capacitação
técnica para tomar uma decisão de forma isolada, pois carecem de conheci-
mentos específicos, buscando um profissional competente que os auxilie.

Assim, a título de exemplo, imaginemos que em uma dissolução de socie-


dade, em que dois sócios tenham o firme propósito de se separarem, de forma
amigável, haveria a necessidade de contratação de um perito contábil, para
que este, através de exames e investigações sobre livros e documentos da área
de contabilidade, pudesse atribuir o valor das quotas a cada um deles.

No exemplo citado, se não houvesse a contratação de um perito contábil,


dificilmente o valor atribuído estaria adequado, uma vez que este possivel-
mente seria obtido somente através do que está registrado na contabilidade,
o que não é o mais adequado, pois lá estão, na sua maioria, avaliados a valor
histórico.

Nesse caso, o perito iria se basear nos dados contábeis, todavia extrapola-
ria os registrados, procurando identificar principalmente valores intangíveis
que não estariam na contabilidade, como o valor da marca da empresa, da
carteira de clientes, entre outros.

De acordo com Alberto (2000), na perícia extrajudicial há subdivisões em


conformidade com a finalidade para as quais são contratadas, sendo classifi-
cadas em: demonstrativas, discriminativas e comprobatórias.

Serão demonstrativas quando a finalidade é demonstrar, de forma inso-


fismável (indiscutível), a veracidade, ou não, do objeto da perícia contratada,
utilizando-se o perito de toda a técnica requerida para que não reste dúvida
às partes sobre o que foi periciado.

78
Espécies de perícia

As discriminativas são voltadas para o detalhamento do objeto periciado,


de forma a colocar para os interessados a pormenorização dos fatos consta-
tados, para que os envolvidos possam ter conforto e segurança na tomada
da melhor decisão que motivou o trabalho.

Por fim, as comprobatórias terão a finalidade de comprovar, através de


fatos e registros contábeis, eventuais distorções, erros, simulações, fraudes,
ou qualquer situação que fuja à normalidade das transações ocorridas sobre
o objeto periciado.

Nessa espécie de perícia, na qual o ideal é ser processada sem o litígio


entre as partes, seria prudente que o perito contratado gozasse de credibi-
lidade e confiança dos envolvidos, podendo assim conduzir o seu trabalho
com tranquilidade, tendo total acesso às informações, para que dessa forma
execute a sua função da melhor maneira possível.

Perícia arbitral
A perícia arbitral funciona como um mix entre a perícia judicial e a ex-
trajudicial, portanto não se enquadra diretamente em nenhuma das demais
espécies estudadas anteriormente.

Em função do Poder Judiciário estar abarrotado de processos, surgiu o


Juízo Arbitral como meio de celeridade para dar vazão aos inúmeros con-
flitos que são motivados diariamente, e que se não tivesse uma instância
anterior à justiça tradicional demandaria muito tempo para solução.

A perícia arbitral é voltada para aquelas situações em que o desejo das


partes envolvidas é pela rapidez, segurança e credibilidade para a conclusão
e o desfecho do litígio, com o rigor muito próximo àquele que seria obtido
no Poder Judiciário.

O instituto no qual existe a sustentação e segurança para que possa ser


desenvolvida a perícia arbitral é denominado de Arbitragem.

A etimologia da palavra “arbitragem” deriva do latim arbiter, que significa


juiz, jurado. Na linguagem jurídica, a arbitragem é um caminho alternativo ao
Poder Judiciário para resolver conflitos, em que as partes celebram em con-
trato ou através de um simples acordo que vão dispor do juízo arbitral para
resolver controvérsia existente ou eventual, em vez de buscar o Judiciário.

79
Espécies de perícia

A arbitragem no Brasil foi normatizada pela Lei 9.307 de 23 de setembro


de 1996, na qual institucionalizou no sistema brasileiro o juízo arbitral como a
instância adequada para resolver conflitos com maior rapidez e segurança.

Embora o instituto da arbitragem já existisse no Brasil anteriormente a


essa legislação, o mérito da lei foi dar modernidade e ficar próximo a padrões
internacionais de juízos arbitrais.

Para que efetivamente haja a solução dos potenciais conflitos através do


juízo arbitral, é de fundamental importância que previamente à discussão
as partes envolvidas já tenham um pré-acordo de que eventuais discussões
possam ser processadas através da arbitragem, existindo assim algo deno-
minado de “cláusula compromissória”.

A cláusula compromissória nasce no momento inicial do contrato princi-


pal, como medida de prevenção dos interessados com a intenção de assegu-
rar e garantir as partes de um eventual desentendimento futuro.

As partes, prevendo divergências futuras, remetem sua solução a árbitros


por elas indicados, que serão chamados para dirimir eventuais conflitos que
surgirem no transcurso natural das operações que foram pactuadas.

É recomendável que seja utilizada a cláusula compromissória detalhada


de maneira a conter as informações mínimas necessárias para dar início ao
procedimento arbitral, caso este seja necessário.

Essa cláusula deverá constar por escrito no próprio contrato ou em docu-


mento que se refira a ele, de maneira que as partes sejam cientificadas, atra-
vés das suas assinaturas, que será este o foro para discussão dos potenciais
conflitos.

Conforme estudos realizados por Ornelas (2007), a lei da arbitragem ins-


titucionalizada no Brasil possibilita a aceitação, no nosso país, de procedi-
mentos arbitrais internacionais, desde que as decisões arbitrais obtidas no
exterior sejam homologadas pelo Supremo Tribunal Federal.

A lei aludida promove, ainda, a denominada Arbitragem Institucional, re-


alizada por organismos especializados, nacionais ou estrangeiros, como Câ-
maras de Arbitragem vinculadas a Câmaras de Comércio, Tribunais Arbitrais
vinculados a órgãos do comércio e da indústria.

80
Espécies de perícia

Lei 9.307/96 – Lei da Arbitragem


Considerando que a fundamentação da perícia arbitral deverá ser com
base na Lei de Arbitragem, passaremos a discorrer sobre os principais pontos
da legislação que influenciarão diretamente na atuação do perito.

Logo no seu início, a lei define quem são aqueles que podem se utilizar da
arbitragem para fins de solução de conflitos, conforme artigo citado a seguir:
Art. 1.º As pessoas capazes de contratar poderão valer-se da arbitragem para dirimir
litígios relativos a direitos patrimoniais disponíveis.

Conforme definido na legislação, qualquer pessoa poderá se utilizar da


arbitragem desde que seja alguém capaz de contratar, o que pressupõe po-
tencialmente uma ampla gama de indivíduos, não trazendo na lei grandes
restrições.

De acordo com o que havíamos mencionado anteriormente, para que seja


exercida a possibilidade do juízo arbitral é fundamental que exista a cláusula
compromissória, conforme estabelece os artigos 3.º e 4.º, copiados a seguir:
Art. 3.º As partes interessadas podem submeter a solução de seus litígios ao juízo arbitral
mediante convenção de arbitragem, assim entendida a cláusula compromissória e o
compromisso arbitral.

Art. 4.º A cláusula compromissória é a convenção através da qual as partes em um


contrato comprometem-se a submeter à arbitragem os litígios que possam vir a surgir,
relativamente a tal contrato.

É através desses artigos que as partes estabelecerão as condições pelas


quais será regida a arbitragem e estarão concordando que os eventuais con-
flitos que surjam no decorrer da vigência do contrato possam ser resolvidos
através da arbitragem.

Conforme a legislação, para a efetivação da arbitragem há ainda a neces-


sidade da existência de um compromisso arbitral que é a convenção através
da qual as partes submetem um litígio à arbitragem de uma ou mais pesso-
as, podendo ser judicial ou extrajudicial.

O artigo 10 da lei determina os itens que deverão fazer parte do compro-


misso arbitral, sendo estes:
I - O nome, profissão, estado civil e domicílio das partes;

81
Espécies de perícia

II - O nome, profissão e domicílio do árbitro, ou dos árbitros, ou, se for o caso, a identificação
da entidade à qual as partes delegaram a indicação de árbitros;

III - A matéria que será objeto da arbitragem; e

IV - O lugar em que será proferida a sentença arbitral.

Existe ainda a previsão para que conste no termo de compromisso o local,


ou locais onde a arbitragem será desenvolvida, o prazo para a apresentação
da sentença arbitral, a declaração da responsabilidade pelo pagamento dos
honorários e das despesas com a arbitragem, além da fixação desses valores.

No que diz respeito às regras estabelecidas aos árbitros, a Lei de Arbitra-


gem prevê artigos específicos que vão do 13 ao 18, determinando as condi-
ções necessárias para que uma pessoa postule tal função.
1
A Lei 10.406 de 10 de
janeiro de 2002, que ins- De acordo com o artigo 13, para ser árbitro é necessário que o indivíduo
tituiu o Código Civil Bra-
sileiro, no livro I, título I, tenha confiança das partes, e que seja pessoa capaz1. Nos parágrafos que
capítulo I, artigos 1 a 4, es-
tabelece quem são as pes- seguem ao artigo existem importantes recomendações na escolha do árbi-
soas capazes e quem são
incapazes, conforme texto
legal abaixo reproduzido.
tro, como, por exemplo, que seja escolhido, sempre em número ímpar, que
haja um processo comum de escolha desse profissional, e que a função de
Art. 1.º Toda pessoa
é capaz de direitos e deve- árbitro seja desempenhada com imparcialidade, independência, competên-
res na ordem civil.
Art. 2.º A perso- cia, diligência e discrição.
nalidade civil da pessoa
começa do nascimento
com vida; mas a lei põe a Especificamente em relação a questões de imparcialidade e independên-
salvo, desde a concepção,
os direitos do nascituro. cia, no parágrafo 1.º do artigo 14, é determinado que a pessoa indicada para
Art. 3.º São abso-
lutamente incapazes de funcionar como árbitro tem o dever de revelar, antes da aceitação da função,
exercer pessoalmente os
atos da vida civil: qualquer fato que denote dúvida quanto à ausência desses pré-requisitos.
I - os menores de de-
zesseis anos;
II - os que, por en- Quanto ao status e à responsabilidade que o árbitro assume no juízo arbi-
fermidade ou deficiência
mental, não tiverem o
necessário discernimento
tral, os artigos 17 e 18 determinam:
para a prática desses atos;
III - os que, mesmo Art. 17. Os árbitros, quando no exercício de suas funções ou em razão delas, ficam
por causa transitória, não equiparados aos funcionários públicos, para os efeitos da legislação penal.
puderem exprimir sua
vontade.
Art. 4.º São inca- Art. 18. O árbitro é juiz de fato e de direito, e a sentença que proferir não fica sujeita a
pazes, relativamente a
certos atos, ou à maneira
recurso ou à homologação pelo Poder Judiciário.
de os exercer:
I - os maiores de
dezesseis e menores de
Fica patente a responsabilidade que a função arbitral tem nessa es-
dezoito anos;
II - os ébrios habitu-
pécie de perícia, com a equiparação a serventuários da justiça, com “po-
ais, os viciados em tóxicos,
e os que, por deficiência
deres de juiz”, sendo mais uma razão para que a pessoa escolhida seja
mental, tenham o discer-
nimento reduzido; realmente de total confiança das partes que a contrataram.
III - os excepcionais,
sem desenvolvimento
mental completo;
Os artigos 19 a 22 tratam do procedimento arbitral, estabelecendo parâ-
IV - os pródigos. metros que regem a condução efetiva da condução nos trabalhos.

82
Espécies de perícia

Escolhido(s) o(s) árbitro(s) e este(s) aceitando a nomeação, estará institu-


ído o procedimento arbitral, sendo que a parte que pretender arguir ques-
tões relativas à competência, suspeição ou ao impedimento do árbitro ou
dos árbitros, bem como nulidade, invalidade ou ineficácia da convenção de
arbitragem, deverá fazê-lo na primeira oportunidade que tiver de se mani-
festar, após a instituição da arbitragem.

A operacionalização da perícia arbitral, na qual o contador poderá atuar


como árbitro, operacionalmente muito se assemelha à perícia judicial, tendo
amplas prerrogativas para obter as provas necessárias para formar a sua
convicção, conforme assegura o artigo 22 e seus parágrafos, reproduzidos
a seguir:
Art. 22. Poderá o árbitro ou o Tribunal Arbitral tomar o depoimento das partes, ouvir
testemunhas e determinar a realização de perícias ou outras provas que julgar necessárias,
mediante requerimento das partes ou de ofício.

Parágrafo 1.º O depoimento das partes e das testemunhas será tomado em local, dia e
hora previamente comunicados, por escrito, e reduzido a termo, assinado pelo depoente,
ou a seu rogo, e pelos árbitros.

Parágrafo 2.º Em caso de desatendimento, sem justa causa, da convocação para


prestar depoimento pessoal, o árbitro ou o Tribunal Arbitral levará em consideração o
comportamento da parte faltosa, ao proferir sua sentença; se a ausência for de testemunha,
nas mesmas circunstâncias, poderá o árbitro ou o presidente do Tribunal Arbitral requerer
à autoridade judiciária que conduza a testemunha renitente, comprovando a existência
da convenção de arbitragem.

Parágrafo 3.º A revelia da parte não impedirá que seja proferida a sentença arbitral.

Parágrafo 4.º Ressalvado o disposto no parágrafo 2º.,havendo necessidade de medidas


coercitivas ou cautelares, os árbitros poderão solicitá-las ao órgão do Poder Judiciário que
seria, originariamente, competente para julgar a causa.

Parágrafo 5.º Se, durante o procedimento arbitral, um árbitro vier a ser substituído, fica a
critério do substituto repetir as provas já produzidas.

Relativamente ao documento que deverá ser gerado pelo árbitro, este é


denominado de sentença arbitral e encontra guarida no artigo 23 da lei, que
assegura o prazo para a entrega. Sendo o prazo estipulado pelas partes, o
documento deverá ser elaborado e entregue respeitando a data limite. Nada
tendo sido convencionado, o prazo para a apresentação da sentença é de
6 (seis) meses, contado da instituição da arbitragem ou da substituição do
árbitro.

Na elaboração da sentença arbitral, é fundamental que sejam respeitadas


regras de conteúdos mínimos, as quais estão descritas no artigo 26, repro-
duzidas a seguir:
83
Espécies de perícia

Art. 26. São requisitos obrigatórios da sentença arbitral:

I - o relatório, que conterá os nomes das partes e um resumo do litígio;

II - os fundamentos da decisão, onde serão analisadas as questões de fato e de direito,


mencionando-se, expressamente, se os árbitros julgaram por equidade;

III - o dispositivo, em que os árbitros resolverão as questões que lhes forem submetidas e
estabelecerão o prazo para o cumprimento da decisão, se for o caso; e

IV - a data e o lugar que foi proferida.

Podemos notar que em essência os itens que devem compor a sentença ar-
bitral estão muito próximos aos de uma sentença emitida no Poder Judiciário,
respeitando as formalidades necessárias do conteúdo desse documento.

No que diz respeito à responsabilidade pelo pagamento das custas e des-


pesas com a arbitragem, o artigo 27 determina que essa informação conste
na sentença arbitral, protegendo e resguardando, assim, todos os profissio-
nais envolvidos na tarefa.

A partir do momento em que é proferida a sentença arbitral, finda a ar-


bitragem, assegurando no artigo 29 da lei que o árbitro, ou o presidente do
Tribunal Arbitral, envie cópia da decisão às partes, por via postal ou por outro
meio qualquer de comunicação, mediante comprovação de recebimento,
ou, ainda, entregando-a diretamente às partes, mediante recibo.

A parte interessada, no prazo de 5 (cinco) dias do recebimento da notifi-


cação ou da ciência pessoal da sentença arbitral, e desde que comunique a
outra parte, poderá solicitar ao árbitro a correção de eventual erro material
na sentença, ou o esclarecimento de algum item que tenha ficado duvidoso
ou, conflituoso, conforme assegura o artigo 30 da lei.

No artigo 31, está exposto que a sentença arbitral produz para as partes
e seus sucessores os mesmos efeitos da sentença proferida pelo Poder Judi-
ciário, o que equivale a dizer que, mesmo que a pessoa entrasse na justiça
comum, após a arbitragem, dificilmente a decisão judicial seria diferente da
decisão arbitral.

Quanto à eventual nulidade da arbitragem, o artigo 32 determina as con-


dições para que houvesse a descaracterização da sentença arbitral, confor-
me segue:

84
Espécies de perícia

Art. 32. É nula a sentença arbitral se:

I - for nulo o compromisso;

II - emanou de quem não podia ser árbitro;

III - não contiver os requisitos do artigo 26 desta Lei;

IV - for proferida fora dos limites da convenção de arbitragem;

V - não decidir todo o litígio submetido à arbitragem;

VI - comprovado que foi proferida por prevaricação, concussão ou corrupção passiva;

VII - proferida fora do prazo, respeitado o disposto no artigo 12, inciso III, desta Lei; e

VIII - forem desrespeitados os princípios de que trata o artigo 21, parágrafo 2º., desta Lei.

A parte interessada poderá, ainda, protocolar proposta de nulidade de


sentença arbitral, num prazo de até 90 (noventa) dias após o recebimento da
notificação da sentença arbitral ou de seu aditamento, conforme previsto no
artigo 33 e seus parágrafos.

Por fim, os artigos 34 a 40 asseguram as condições necessárias para que haja


o reconhecimento e a execução de sentenças arbitrais estrangeiras, aqui no
Brasil. Para ser reconhecida ou executada no Brasil, a sentença arbitral estran-
geira está sujeita, unicamente, à homologação do Supremo Tribunal Federal.

Quanto ao procedimento para solicitar a homologação de sentença arbi-


tral estrangeira, o artigo 37 traz:
Art. 37. A homologação de sentença arbitral estrangeira será requerida pela parte
interessada, devendo a petição inicial conter as indicações da lei processual, conforme o
artigo 282 do Código de Processo Civil, e ser instruída, necessariamente, com:

I - o original da sentença arbitral ou uma cópia devidamente certificada, autenticada pelo


consulado brasileiro e acompanhada de tradução oficial;

II - o original da convenção de arbitragem ou cópia devidamente certificada, acompanhada


de tradução oficial.

Após toda exposição sobre a arbitragem, podemos perceber muitas


oportunidades de atuação do perito-contador, também nessa modalidade
de perícia, colocando à disposição da sociedade todo o seu repertório de
conhecimentos, quando a matéria em discussão envolver o patrimônio das
pessoas, pois é este o objeto da contabilidade.

85
Espécies de perícia

Ampliando seus conhecimentos

A execução da sentença arbitral


(PAGANO, 2007)

Inicialmente, faz-se relevante salientar que, sob a égide do Código de


Processo Civil, divergia a doutrina quanto à natureza jurídica do instituto da
arbitragem, defendendo alguns sua natureza privatista contratual (já que o
juízo arbitral proferia decisão que só se aperfeiçoava quando recebia a força e
autoridade do Estado, por intermédio da homologação do laudo, não sendo,
portanto, considerada atividade jurisdicional), enquanto outros defendiam
sua natureza jurisdicional (face à sua função primeira de compor conflitos).

Com o advento da Lei 9.307/96, tal discussão tornou-se superada, tendo


prevalecido o posicionamento daqueles que postulavam pela natureza juris-
dicional do instituto1, apesar da indiscutível natureza contratual da conven-
ção de arbitragem.

Realmente, sob o arrimo da Lei pretérita, a decisão arbitral necessitava da


força e da autoridade do Estado/Juiz, através da homologação do laudo, o que
retirava do Juízo arbitral a principal finalidade da atividade jurisdicional, qual
seja a de pacificação social, mediante o proferimento de decisões definitivas
sobre a matéria em conflito.

Com as modificações trazidas pela atual Lei de Arbitragem, a decisão ar-


bitral passou a produzir entre as partes e seus sucessores os mesmos efeitos
da sentença proferida pelos Órgãos do Poder Judiciário, destacando-se, nesse
particular, sua eficácia executiva (LArb: art. 31).

A Lei 9.307/96, ao denominar a decisão que põe fim ao processo arbitral,


afastou-se das legislações pretéritas, que sempre se valeram do nome laudo
arbitral, adotando a denominação sentença arbitral.

Provavelmente, tal opção tenha sido adotada com fincas a reforçar o dis-
posto na primeira parte do artigo 18 da Lei de Arbitragem, que, textualmente,
confere ao árbitro a condição de juiz de fato e de direito.

Disciplina o artigo 31 de referida lei que “A sentença arbitral produz entre


as partes e seus sucessores, os mesmos efeitos da sentença proferida pelos
órgãos do Poder Judiciário e, sendo condenatória, constitui título executivo.”

86
Espécies de perícia

Vislumbra-se no preceito anterior a grande inovação trazida pela LArb, face


à desnecessidade de homologação da sentença arbitral interna, para que esta
já produza efeitos de plano, inclusive como título executivo judicial.

Na esteira da Lei 9.307/96, dispõe o artigo 475-N do Código de Processo


Civil que são títulos executivos judiciais, entre outros, a sentença arbitral (art.
475-N, IV).

Como é cediço, com as inovações trazidas pela Lei 11.232/2005, a execução


de sentença deixou de tramitar em processo próprio (salvo execuções contra
a Fazenda Pública e execuções da obrigação de alimentos), passando a ser um
desdobramento (uma fase) do processo de conhecimento.

Advém daí a questão de como proceder à execução da sentença arbitral, haja


vista a inexistência de processo de conhecimento anterior, que permita que tal
cumprimento da sentença se desenvolva como mero desdobramento da fase
cognitiva.

Dessa feita, como primeiro passo, para fins de fixação da competência do


juízo no qual se desenvolverá a execução da sentença arbitral (art. 475-P do
CPC), é necessário que sejam observadas as regras de fixação de competência
previstas na legislação processual civil, notadamente as pertinentes à matéria,
ao território e ao valor da causa.

Fixada a competência do juízo, em se tratando de título ilíquido, indispen-


sável será a prévia liquidação da sentença, com respaldo nos artigos 475-A a
475-H do CPC.

Posteriormente, e nos autos da liquidação da sentença, será dado prossegui-


mento à fase de cumprimento de sentença, inclusive com a expedição de man-
dado de penhora e avaliação. Caberá ao devedor se opor à execução através da
impugnação, em observância ao disposto no artigo. 475-J, §1.°, do CPC.

Por outro lado, poderá a sentença arbitral determinar, de forma líquida, o


valor devido, motivo pelo qual inexistirá o procedimento de liquidação, ca-
bendo ao exequente iniciar diretamente a execução.

Deve ser ressaltado que, tanto no caso de liquidação da sentença arbitral,


quanto nos casos de sua execução direta (sentença líquida), necessária será a
“[...] instauração de um processo novo e não da simples continuidade do feito já em
curso, como se dá com os demais títulos arrolados nos incisos do art. 475-N. Há de

87
Espécies de perícia

se instaurar relação processual civil ex novo, ou seja, de forma originária, mediante


petição inicial e citação do devedor [...]” (THEODORO JÚNIOR, Humberto. Curso
de Direito Processual Civil. 39. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2006. p. 65. 2 v.).

Assim, conforme o caso, o devedor será citado para a liquidação, ou para


pagar em 15 (quinze) dias o quantum devido (CPC, art. 475-N, parágrafo único).

Na segunda hipótese, não realizando o pagamento, será expedido o man-


dado de penhora e avaliação, dando-se regular prosseguimento ao processo,
conforme artigo 475-J do CPC, cabendo ao executado se valer, como peça de
resistência, da impugnação (em que pese a Lei de Arbitragem fazer referência
aos embargos do devedor), ante as alterações trazidas pela Lei 11.232/2005.

1
Entre eles: Joel Dias Figueira Júnior, Irineu Strenger, Paulo de Tarso Santos, Sálvio de Figueiredo Teixeira, Cézar Fiuza, Hugo de Brito
Machado.

Atividades de aplicação
1. Descreva em que situação a perícia contábil poderá funcionar como
arbitramento em demandas judiciais.

2. Comente em quais situações poderá demandar a execução de trabalho


pericial que envolva a área de contabilidade, na esfera da Justiça Estadual.

3. Diferencie a perícia semijudicial, se comparada com a perícia extraju-


dicial, citando um exemplo prático de atuação de cada uma delas.

Referências
ALBERTO, Valter Luiz Palombo. Perícia Contábil. 2. ed. São Paulo: Atlas, 2000.

FIGUEIREDO, Sandoval N. O contador na função pericial e as fraudes contábeis.


RBC - Revista Brasileira de Contabilidade, n. 162, p. 45-55. Conselho Federal de
Contabilidade, 2006.

ORNELAS, Martinho Maurício Gomes. Perícia Contábil. 4. ed. São Paulo: Atlas, 2007.

PAGANO, Cláudio Miranda. A Execução da Sentença Arbitral. Jus navigandi, Te-


resina, ano 12, n. 1470, 11 jul. 2007. Disponível em: <http://jus.uol.com.br/revista/
texto/10136/a-execucao-da-sentenca-arbitral>. Acesso em: 1 abr. 2011.

ZANNA, Remo Dalla. Prática de Perícia Contábil. São Paulo: IOB Thomson, 2005.
88
Espécies de perícia

Gabarito
1. A perícia judicial funcionará como arbitramento, quando o objeto pe-
riciado não possui consistência na atribuição do valor, seja através da
contabilidade, ou de outra fonte em que não há a confiança necessária
para validação do patrimônio periciado.

O perito se valerá de técnicas específicas para determinar o arbitramen-


to dos valores, pois através do número identificado por esse profissional
é que embasará a liquidação da sentença proferida pelo magistrado.

2. Na justiça estadual, originam ações que colocam em discussões assun-


tos estaduais, municipais e da iniciativa privada, com envolvimento da
área de contabilidade, conforme exemplos:

 dissoluções de sociedades, apuração de haveres, inventários;

 avaliações patrimoniais;

 cobrança indevida de tributos, chamado de “repetição indébito”;

 revisões de contratos bancários, de compra e de venda, prestação


de serviços, buscando atualização dos valores.

3. A perícia semijudicial é aquela que atua em uma instância intermedi-


ária, ou seja, fora do Poder Judiciário, porém com algum tipo de res-
guardo/proteção jurisdicional, como, por exemplo, dentro do aparato
institucional do Estado, em CPIs, inquéritos policiais e conselho de
contribuintes.

A perícia extrajudicial tem por característica estar totalmente fora do


Poder Judiciário, sendo realizada por vontade própria das partes, para
opinar sobre um objeto que não é de conhecimento técnico dos solici-
tantes. Um exemplo poderia ser na dissolução de sociedades, em que
duas ou mais pessoas estejam partilhando o patrimônio da empresa,
onde seria contratado um perito para identificar qual seria o valor ade-
quado dessa divisão, envolvendo inclusive itens imateriais como mar-
ca da empresa e carteira de clientes.

89
Ética, cidadania e perícia

Neste capítulo, discorreremos sobre a relação existente entre a ética, a ci-


dadania e os trabalhos voltados para a área de perícia contábil, com atenção
especial dada ao Código de Ética Profissional do Contador, com as principais
diretrizes emanadas do Conselho Federal de Contabilidade.

Ética geral
Inúmeros são os conflitos éticos que acompanham a humanidade ao
longo dos anos, pois a palavra “ética” pode ter interpretações diferenciadas
de acordo com a formação, cultura, os valores, o ambiente e a necessidade
de cada indivíduo.

O que pode ser falta de ética para alguém, sob o ponto de vista de outra
pessoa é considerado normal, pois o entendimento tende a ser díspar entre
indivíduos com concepções e trajetória de vida diferente.

Vários filósofos e pensadores antigos e contemporâneos formaram ten-


tativas de conceitos, e denominações que pudessem explicar o que vem a
ser a ética e toda a sua complexidade, atitudes, sentimentos e manifestações
que a circundam.

Baseado em estudos realizados por Antônio Lopes de Sá (2009), faremos


breves incursões sobre pensamentos e ideias de filósofos que procuraram
tornar a “ética” algo em discussão constante, sem um fim e conceitos absolu-
tos, todavia proporcionaram à humanidade argumentos para que fosse pos-
sível compreender melhor esse assunto tão polêmico.

Thomas Hobbes
Esse filósofo inglês, com formação materialista, entendeu que a conduta e o
respeito são os principais fatores determinantes para a vida em liberdade, com
citações muito profundas nos capítulos XI e XIII, no seu mais famoso livro, deno-
minado de Leviatã (apud LOPES DE SÁ, 2009, p. 21), reproduzidas a seguir:
O medo da opressão predispõe os homens para antecipar-se, procurando ajuda na
associação, pois não há outra maneira de assegurar a vida e a liberdade.

Os homens não tiram prazer algum da companhia uns dos outros (e sim, pelo contrário,
enorme desprazer), quando não existe um poder capaz de manter a todos em respeito.
91
Ética, cidadania e perícia

Na formação das virtudes éticas, consideramos de extrema importância


as reflexões trazidas por Hobbes, pois no nosso entender a conduta é a linha
mestra para que tenhamos atitudes éticas em todos os momentos, sendo o
respeito às pessoas fundamental para que possamos desenvolver trabalhos
imparciais e íntegros, principalmente na área de perícia.

René Descartes
Foi um dos maiores pensadores do século XVII, com contribuições impor-
tantíssimas para áreas da matemática, também brindou a todos com lições
voltadas para a harmonia e as relações humanas, através do livro denomina-
do de As Paixões da Alma (1946).

Nessa obra, Descartes contribui com lições de vida, elencadas em artigos,


para dar a entender como se fosse uma lei, a direcionar o comportamento
que os indivíduos deveriam ter consigo e seus semelhantes.

Particularmente, um dos ensinamentos deixados por Descartes, que


ajudam na composição de atitudes éticas, diz respeito à prática da virtude,
explorada no artigo 153 da citada obra, em que escreveu:
Por isto creio que a verdadeira dignidade, a que faz que um homem se estime no mais alto
grau em que legitimamente pode estimar-se, consiste somente: parte em que o homem
saiba que a única coisa que verdadeiramente lhe pertence é a livre disposição de sua
vontade e que só deve ser elogiado ou censurado em razão de utilizar-se bem ou mal dela;
e a parte no intuito de bem usá-la, isto é, de não carecer jamais de vontade para praticar e
executar as coisas que julgue as melhores, ou seja, seguir perfeitamente a virtude. (apud
LOPES DE SÁ, 2009, p. 26)

A reflexão trazida por Descartes nos leva a acreditar que a ética deve estar
em sintonia com a vontade de fazer sempre da melhor maneira possível, uti-
lizando nas nossas virtudes para a prática do bem ao nosso semelhante.

Devemos incorporar na rotina diária do perito a vontade de sempre executar


o trabalho, aplicando virtudes que conquistamos ao longo da trajetória da nossa
formação profissional, livre de atitudes que possam desabonar a conduta ética.

Gottfried Wilhelm Leibniz


Na visão desse filósofo e matemático alemão, cada ser humano age como
se fosse um universo à parte, por suas próprias ideias e convicções, buscan-
do sempre uma composição com outros seres existentes.

92
Ética, cidadania e perícia

Por essa afirmação de Leibniz, é permitido entender como existe situa-


ções que chocam determinadas comunidades, e para outras acaba sendo
algo normal, embora contrário aos padrões convencionais de ética.
Em sua obra denominada de Novos Ensaios sobre o Entendimento Humano,
cita, por exemplo, tribos de caraíbas que castravam suas crianças para que
engordassem e depois as devoravam, e que para aquela sociedade/comu-
nidade esse fato não era digno de repúdio ou de revolta, ao contrário, era
perfeitamente aceitável no grupo.
Leibniz entende que os males são necessários para reforçar a necessidade
dos grandes bens, ou seja, não haveria como dignificarmos os atos de bon-
dades, se não houvesse uma contraposição de atos de maldade.
Ensina, ainda, que os limites de justiça nem sempre são assimiláveis pela
sociedade e que a conduta humana absolutamente justa termina por confli-
tar-se com aquela do grupo social, motivo pelo qual pode haver a transgres-
são à lei, quando há a imposição de um grupo social.
Do ponto de vista filosófico, isso pode servir para buscar explicativas que
transcendem condutas éticas e morais, como particularmente no Brasil a uti-
lização de crianças no tráfico de drogas, prostituições e tantas aberrações
que acontecem diariamente em nosso país.

David Hume
Segundo esse filósofo e historiador inglês, que escreveu a obra Investiga-
ções sobre o Entendimento Humano, o respeito à ética é necessário para que
haja a paz e a segurança da sociedade humana.
Tinha a convicção de que a instrução e a ciência eram vitais na construção
de uma sociedade conduzida pela virtuosidade, contudo a realidade ética da
sua época não era das mais adequadas, conforme ele mesmo citou na seção
VIII, parte I, da sua obra, reproduzida a seguir.
Embora se dê o devido peso e autoridades à virtude e à honra, nunca se espera das
multidões e dos partidos esse perfeito desinteresse que tantas vezes se nos procura
inculcar; de seus líderes muito raramente; e quase nunca dos indivíduos de categoria e
posição. (apud LOPES DE SÁ, 2009, p. 37)

O que causa espanto é que o pensamento anteriormente descrito nos


remete aos dias atuais, nos quais pouca coisa mudou em relação à virtude e à
honra, estando as pessoas cada vez mais individualistas e dispostas a levarem
vantagem em tudo.

93
Ética, cidadania e perícia

A falta de ética e o desrespeito à sociedade é um dos males que ainda


impera em todo o mundo, principalmente em relação aos homens públicos,
com a deslealdade, o desrespeito, a imoralidade ganhando destaque, o que
conduz ao raciocínio da falta de punição pelos desmandos.

Immanuel Kant
Kant, ilustre filósofo alemão, defende a liberdade como virtude necessá-
ria para o exercício da moral, e para que as pessoas possam ser felizes, o que,
segundo ele, contribui para que as pessoas não pratiquem atos antiéticos.

Atribui à razão exclusiva responsabilidade da origem das ações éticas e


admite que só existe valor quando o homem age sob impulso de uma von-
tade ética, e não de um dever ético.

Afirma que é através da liberdade que aflora o sentimento de justiça e a


sensação de felicidade, conforme citação que consta na primeira seção do
seu livro Fundamentação da Metafísica dos Costumes, reproduzida a seguir:
Assegurar cada qual sua própria felicidade é um dever, pois a ausência de contentamento
com seu próprio estado num torvelinho de muitos cuidados e no meio de necessidades
insatisfeitos poderia, facilmente tornar-se uma grande tentação para transgressão dos
deveres. (apud LOPES DE SÁ, 2009, p. 39)

Realmente podemos notar claramente que a insatisfação e o sentimento


de cerceamento da liberdade são fatores condicionantes para que as pesso-
as cometam ilícitos motivados pela transgressão aos valores éticos.

Pode parecer utópico, todavia a sensação de felicidade faz com que as


pessoas não estejam preocupadas com crimes, desavenças e contravenções
de qualquer natureza.

Relacionamento da ética e a perícia contábil


Quando há a realização de trabalhos voltados à perícia contábil, sempre
se espera o desenvolvimento das atividades, respeitando os padrões mais
rígidos de normas periciais, de modo a estarem livre de erros técnicos.

Tão importante quanto a técnica são as virtudes empregadas nos traba-


lhos periciais que permitam a construção de uma linha de conduta ética, tão
valorizada e defendida pelos filósofos e pensadores anteriormente citados.

94
Ética, cidadania e perícia

A ética na perícia se assemelha ao sangue fluindo em nossas veias, que,


estando límpido e puro, auxiliará de maneira vital para o funcionamento de
todo o nosso organismo.

A condução de trabalhos com ética é vital para que haja credibilidade no


trabalho executado pelo perito, e principalmente sobre os resultados que
terão efeito na sociedade, conforme nos alerta Magalhães et al. (1998, p. 12),
citado a seguir:
Ao executarmos uma perícia contábil, devemos levar em consideração os efeitos sociais
dela decorrentes, como, noutro exemplo, uma justa e honesta partilha de bens, em um
processo de inventário, cuja decisão do Juiz de Direito seja orientada pelo trabalho do
contador, nas funções de perito, propiciará bem-estar a todos os que têm interesse na
partilha.

De fato, através da perícia judicial contábil estaremos auxiliando o juiz na


justa e correta decisão, todavia se realizarmos trabalhos com falta de ética,
certamente induziremos a erros, como, por exemplo, valores indevidos, cál-
culos inadequados, pagamento de dívidas inexistentes, somente para citar
alguns.

De acordo com Cordeiro (1999), para que possamos entender o que


venha a ser ética, é necessário antes de mais nada observarmos a etimologia
da palavra, que vem do grego ethos-noss, que guarda estreita relação com o
termo “harmonia do pensamento”.

Estar em harmonia com o pensamento é não deixar que fatos estranhos


à matéria periciada influenciem a execução dos trabalhos, com o intuito de
beneficiar a terceiros, ou que possam induzir a erros.

Para Lopes de Sá (2009), em seu sentido de maior amplitude, a ética tem


sido entendida como a ciência da conduta humana perante o ser e seus
semelhantes.

Do exposto antes, percebemos que a ética está inserida nas relações hu-
manas, e que devemos adotar padrões de comportamento que nos levem
sempre a tomar decisões que não venham a nos prejudicar, tampouco aos
nossos semelhantes.

Através da postura e conduta ética, o perito poderá desempenhar a sua


nobre tarefa, para o bem da sociedade e da classe profissional a que ele per-
tence, trazendo respeitabilidade e confiança para quem necessita contratar
uma pessoa adequada para o desempenho das funções periciais.

95
Ética, cidadania e perícia

Postura ética e a perícia contábil


Agir com pensamento ético não é tarefa fácil nos dias atuais, em que as
pessoas estão mais preocupadas com o ter do que com o ser, e nos quais o
acúmulo de riquezas e a ostentação de uma condição de vida tranquila pre-
valecem em detrimento dos padrões éticos de conduta.

Para Cordeiro (1999), em um país como o Brasil, onde o que se divulga são
os desmandos, as operações ilícitas, a sonegação de informação, a corrupção,
entre outras anomalias, o respeito à ética por parte dos peritos reveste-se
de importância ainda maior, pois os seus serviços estão sendo contratados
por alguém que possui plena convicção da neutralidade e fidedignidade dos
fatos/transações apurados por esse profissional.

Como um doente que é mal diagnosticado, e que pode vir a morrer pela
negligência de um médico, também o patrimônio de uma empresa, ou de
uma pessoa física, podem ser pessimamente interpretados por peritos, e é
com essa responsabilidade, de não cometer “diagnósticos” errôneos, que
esse profissional deve desempenhar a função para a qual foi contratado com
o máximo de ética.

Especialmente na área de perícia contábil, Alberto (2000, p. 70) nos ilu-


mina com alguns lembretes fundamentais de como agir com o pensamento
ético e harmonioso, sendo estes:
a) Submeta tudo ao crivo da razão, com rigor lógico, evitando aceitar o aparentemente
verdadeiro como se verdadeiramente fosse. (ALBERTO, 2000, p. 70)

Sob esse aspecto, o trabalho pericial deve ser amplo e minucioso, verifi-
cando com profundidade todos os fatos, as operações e documentos rela-
tivos à demanda para a qual o profissional foi contratado, não podendo o
perito aceitar os fatos como eles são sem antes aplicar todo o rigor necessá-
rio para o exame completo do objeto periciado.
b) Não julgue ou opine, nunca, por aproximações. (ALBERTO, 2000, p. 70)

Diferentemente da auditoria que, em certas circunstâncias, poderá se uti-


lizar de critérios estatísticos na perícia, dificilmente se chegará a bons resul-
tados por aproximação.

O perito deve ter a mais absoluta certeza e convicção para poder desem-
penhar o seu trabalho com total isenção de erros, pois a ele não é permitida
a dúvida ou a incerteza.

96
Ética, cidadania e perícia

c) Nada presuma, pois ao cientista não é dado operar por presunção, mas sim deduzir a
verdade daquilo que examina. (ALBERTO, 2000, p. 70)

Pelo fato do trabalho de perícia contábil ser executado por uma pessoa
que acumulou anos de estudos e conhecimentos através de um curso deno-
minado de Ciências Contábeis, é baseado nessas experiências e na possibili-
dade de utilizar verdadeiramente a ciência que o perito deve fundamentar o
seu trabalho, sem presunção e sim com certeza.
d) Não tenha preconceitos em relação ao objeto periciado. (ALBERTO, 2000, p. 70)

Nesse ponto, é fundamental que o perito contábil não esteja revestido de


prejulgamentos e convicções já formuladas antes da realização do trabalho.

O preconceito é letal para aquelas pessoas que necessitam de liberdade


de pensamento para a execução da tarefa, pois pode induzir ao erro e a falsas
interpretações, que naturalmente atrapalharão o transcurso da perícia.

Dessa forma, se o perito executa trabalho em uma empresa que tem a tra-
dição de não honrar os seus compromissos, não deve o perito imaginar que
uma dívida é devida por ela, sem antes ter a certificação de que realmente
para aquela situação, em especial, não houve o pagamento, caso esteja atu-
ando em uma perícia em que uma parte alega que pagou, e a outra diz não
ter recebido, por exemplo.
e) Observe criteriosamente todas as condições psicoambientais em que o exame se dá.
(ALBERTO, 2000, p. 70)

Em razão da perícia normalmente se processar em um ambiente conflitu-


oso, é natural que o perito tenha o preparo psíquico para enfrentar adversi-
dades inerentes à situação periciada.

Imagine a área conflituosa que existe na separação de um casal motivada


por traições, mentiras e outros fatores que possam vir a causar mágoas e
ressentimentos. Se nessa situação ocorrer a realização da perícia, e que haja
a imperiosa necessidade do perito se reportar à parte que ingressou com o
pedido de separação, naturalmente as condições psicoambientais serão des-
favoráveis ao perito, devendo usar de toda a capacidade de convencimento
e destreza para evitar conflitos.
f ) Exerça a autocrítica com rigor e a crítica com benevolência. (ALBERTO, 2000, p. 70)

Esse é um ensinamento fundamental para o crescimento profissional


do perito, no qual o trabalho deve ser desenvolvido melhor a cada nova
perícia.

97
Ética, cidadania e perícia

O profissional da área de perícia deve se perguntar sempre:

Esse é o melhor trabalho que pude fazer?

Estou convencido de que dei o meu melhor na execução dessa tarefa?

A autocrítica funciona como uma reciclagem diária que devemos fazer,


para que haja a melhoria contínua e duradoura dos trabalhos periciais, ado-
tando a postura de que o último trabalho será sempre melhor do que o an-
terior, mas pior do que o que virá, assim evitará que o perito fique estagnado
no tempo, além de impedir a exacerbação do ego.

De forma contrária ao anteriormente apresentado, quando houver a


necessidade de criticar outra pessoa, que faça com cuidado e delicadeza,
lembrando que já há uma situação de fragilidade que naturalmente acom-
panha todo processo em que duas partes que já tiveram alguma relação, de
amizade, amor ou simplesmente comercial, se transforma em ódio, rancor,
ressentimento e mágoa, por conta de desavenças.
g) Não se arme intelectualmente imaginando o que vai encontrar ou acontecer. (ALBERTO,
2000, p. 70)

Conhecer sobre a empresa, ou pessoa física que terá envolvimento na pe-


rícia contábil é salutar, todavia o excesso de preocupação com o que poderá
advir no momento da perícia somente causa ansiedade e preocupação.

O aprofundamento nos trabalhos será requerido na leitura dos autos e


principalmente no momento da execução da perícia, evitando suposições e
fantasias previamente à execução da tarefa.
h) Dê a devida distância ao objeto periciado para não se confundir. (ALBERTO, 2000, p. 70)

A independência é uma das virtudes fundamentais na execução do traba-


lho pericial, por essa razão não é permitido ao perito o envolvimento afetivo,
monetário, ou qualquer interesse que seja com as pessoas que fazem parte
da perícia.

Quanto maior o distanciamento entre o objeto periciado e o perito, mais


salutar e livre de questionamentos será a perícia, pois não dará margem para
qualquer pessoa discutir a lisura com que transcorreu o trabalho, pelo menos
sob o prisma da imparcialidade.

98
Ética, cidadania e perícia

Cidadania e perícia contábil


O exercício da cidadania é aquele decorrente das pessoas poderem exer-
citar os seus direitos e cumprir com as suas obrigações, o que seria desejável
a qualquer cidadão de bem, que tenha senso de responsabilidade perante
a sociedade.

Embora o exercício da cidadania seja algo requerido a qualquer pessoa,


existem algumas funções em que esta se manifesta mais intensamente,
sendo solicitado de alguns “privilegiados”, que exerçam as suas atividades
para o bem da sociedade.

Várias são as profissões em que o exercício da cidadania se destaca, digni-


ficando o profissional que a exerce, e que passam despercebidos para muitos
de nós.

O que dizer do policial honesto, do bombeiro, e de tantas outras profis-


sões que arriscam a sua vida, com uma remuneração indigna, para salvar as
pessoas? Ou de um professor que com condições inadequadas, salário baixo
e grande volume de trabalho, se dedicam ao máximo no esforço de formar
pessoas de bem, que no futuro também poderão exercer a cidadania.

Temos diversos exemplos de pessoas que efetivamente praticam atos de


cidadania, como aqueles cidadãos que, se preocupam com seu semelhante,
ajudando-os a lutarem pelos seus direitos, obviamente de maneira ordeira e
pautada em conduta ética.

Para Alberto (2000), a perícia, por sua própria natureza, é um exercício


(ou deveria ser) pleno de cidadania, já que, ao dispor e ordenar direitos de
outrem, tem, ao mesmo tempo, o dever de fazê-lo com total isenção de
ânimo.

Ao perito é dada essa oportunidade de ação efetiva da cidadania, uma


vez que através do seu trabalho irá auxiliar o julgador, de modo a monitorá-
-lo com dados que lhe permitam tomar a decisão mais acertada.

Sendo o perito contábil requerido em uma demanda judicial, caberá a ele


realizar todo o trabalho buscando a verdade insofismável, estando convicto
de que na função pericial a cidadania será exercida todos os dias.

99
Ética, cidadania e perícia

Perícia contábil e o código de ética profissional


Em virtude da atividade de perito não ser dissociada da formação aca-
dêmica do contador, haja vista que para atuar na área a condição elementar
é que a pessoa seja bacharel em Ciências Contábeis, faz-se necessário o co-
nhecimento profundo do código de ética que rege a profissão.

O conhecimento do Código de Ética do Contador se reveste de funda-


mental importância, uma vez que a infração aos dispositivos ali contidos
pode levar à vedação quanto ao exercício da profissão.

O Código de Ética do Contador foi atualizado por dispositivos que cons-


tam na Resolução 1.307/2010, emitida pelo Conselho Federal de Contabili-
dade, em que houve adequação aos diversos artigos que compunham a Re-
1
Resolução que aprovou
originalmente o Código
solução 803/961, para atender à legislação da profissão contábil2.
de Ética do Contador.
2
Atualmente, a Legis- Toda a regência que consta ao longo do CEPC – Código de Ética Profis-
lação da Profissão Con-
tábil é regida pela Lei sional do Contador – é composta por 15 artigos, sendo que dedicaremos
12.249/2010, que alterou
o Decreto-Lei 9.295/46. atenção especial àqueles dispositivos que tratam da perícia contábil, objeto
de estudo neste livro.

No que diz respeito à perícia contábil, o Código de Ética Profissional do Con-


tador dedica o artigo 5.º exclusivamente para esse assunto, expondo diretrizes
de conduta para que seja respeitada a independência e a imparcialidade.

Reproduziremos a seguir o conteúdo do artigo 5.º, colocando o nosso co-


mentário acerca dos conteúdos ali descritos.
Art. 5.º O Contador, quando perito, assistente técnico, auditor ou árbitro, deverá:

I - recusar sua indicação quando reconheça não se achar capacitado em face da


especialização requerida;

A falta de conhecimento técnico sobre determinado assunto, e mesmo


assim aceitar a tarefa, é tipificado como infração ao código de ética, deno-
tando que o perito pode ter aceito o trabalho em razão de avaliar somente o
possível ganho que teria.

Em perícia, o potencial de ganho é uma armadilha, considerando que


normalmente os valores envolvidos são de grande monta, e que se a pessoa
só pensar na parte financeira, sem avaliar os riscos de uma opinião inade-
quada, sobre um assunto que não domina, de fato denota falta de ética com
a profissão.

100
Ética, cidadania e perícia

II - abster-se de interpretações tendenciosas sobre a matéria que constitui objeto de


perícia, mantendo absoluta independência moral e técnica na elaboração do respectivo
laudo;

Uma das bases da perícia contábil é a total isenção no processo, agindo o


profissional de forma independente, não direcionando o resultado do traba-
lho para determinado lado, pois não é ele o julgador da demanda.

A ausência de interpretação tendenciosa, em relação ao objeto da perícia,


nem sempre é algo fácil de exercer na prática, principalmente se a pessoa
estiver na função de assistente técnico, pois, na visão de quem contrata esse
profissional, imagina que atuará como “advogado de defesa”.

Em razão dessa interpretação errônea do contratante, devemos deixar


claro junto a quem nos contrata que os resultados decorrentes do nosso tra-
balho poderão influenciar de forma negativa no processo, desde que haja in-
coerências, inadequações e erros no que diz respeito à matéria contábil pe-
riciada, de modo a não criar falsas expectativas de que algo que está errado
seja revertido através da perícia.
III - abster-se de expender argumentos ou dar a conhecer sua convicção pessoal sobre
os direitos de quaisquer das partes interessadas, ou da justiça da causa em que estiver
servindo, mantendo seu laudo no âmbito técnico e limitado aos quesitos propostos;

Ao perito contábil cabe única e exclusivamente realizar o trabalho com


todo o zelo e a técnica necessários para o exercício da profissão, não dando
interpretações de cunho pessoal sobre a matéria periciada.

A convicção pessoal induz à parcialidade no processo, o que é extrema-


mente prejudicial ao livre julgamento dos fatos e acontecimentos que estão
envolvidos no entorno da perícia.

A decisão sobre o julgamento da causa, de quem tem direito, qual é o


ganhador, são atribuições afetas a quem tem o poder de julgar, que definiti-
vamente não cabe ao perito contábil, sendo este contratado para dar emba-
samento para a livre convicção do julgador.
IV - considerar com imparcialidade o pensamento exposto em laudo submetido à sua
apreciação;

Na apreciação do laudo elaborado por outrem, o perito deve estar com o


pensamento e com suas atitudes voltadas para a análise livre de preconcei-
tos e convicções preconcebidas, sendo completamente imparcial em relação
ao que foi relatado.

101
Ética, cidadania e perícia

Mesmo que o pensamento exposto por outro perito seja contrário à sua
linha de raciocínio, deve ser analisado com cuidado buscando verificar se há
fundamentação técnica e científica, que poderia inclusive alterar a sua forma
de interpretar os fatos decorrentes da perícia contábil.
V - mencionar obrigatoriamente fatos que conheça e repute em condições de exercer efeito
sobre peças contábeis objeto de seu trabalho, respeitado o disposto no inciso II do art. 2º;

O perito contábil não deve ser uma pessoa omissa, devendo revelar fatos
importantes quando for necessário para que o julgador tenha informações
adequadas para tomar a melhor decisão.

Essa revelação de informações deve ser exercida de maneira coerente,


uma vez que ao perito é exigido guardar sigilo sobre o que souber em razão
do exercício profissional lícito, inclusive no âmbito do serviço público, ressal-
vados os casos previstos em lei ou quando solicitado por autoridades com-
petentes, entre estas os Conselhos Regionais de Contabilidade, conforme
prevê o inciso II, do artigo 2, do CEPC.
VI - abster-se de dar parecer ou emitir opinião sem estar suficientemente informado e
munido de documentos;

O exercício da perícia requer que o profissional esteja suficientemente


embasado para expressar a sua opinião, obviamente desde que requerida,
com fundamentação e segurança.

As buscas de evidências que formaram a convicção do perito devem estar


suportadas em documentos e fontes de dados formais, não podendo realizar
o trabalho por aproximações.

Quando ao perito é dada a oportunidade de expressar a sua opinião, esta


deve ser formada com todo o cuidado, para que não paire dúvida, incerteza
e insegurança sobre aquilo que está sendo relatado.

Para o bom andamento do trabalho pericial, há que conhecer os procedi-


mentos necessários para que uma documentação, informação ou um teste-
munho tenham validade judicial.
VII - assinalar equívocos ou divergências que encontrar no que concerne à aplicação dos
Princípios de Contabilidade e Normas Brasileiras de Contabilidade editadas pelo CFC;

(Redação alterada pela Resolução CFC nº 1.307/10, de 09/12/2010)

Sendo o perito contábil um expert em contabilidade, naturalmente todas


as vezes que em seu trabalho se deparar com erros, omissões, fraudes, irre-

102
Ética, cidadania e perícia

gularidades, e tantas outras “anomalias contábeis”, deverá reportar em seus


documentos.
A base da perícia contábil se assenta sobre os livros que abrigam a escri-
turação dos atos e fatos que chegaram à contabilidade, estando estes em
sintonia com as definições estabelecidas pelo Conselho Federal de Contabi-
lidade, principalmente no que diz respeito às práticas contábeis.
Na avaliação da escrita contábil, o perito deve estar atento se esta atende
às formalidades intrínsecas e extrínsecas exigidas, como termos de abertu-
ra e encerramento, ausência de rasuras/borrões, páginas sequencialmente
enumeradas, encadernação dos livros, históricos completos que evidenciem
a essência da operação e assinaturas por pessoas competentes.
VIII - considerar-se impedido para emitir parecer ou elaborar laudos sobre peças contábeis,
observando as restrições contidas nas Normas Brasileiras de Contabilidade editadas pelo
Conselho Federal de Contabilidade;

Para a pessoa que nomeia, ou contrata o profissional de perícia contábil,


não é requerido que conheça sobre eventuais fatos que limite a capacidade
desse profissional atuar em determinada tarefa.
Constitui infração ao código de ética o perito aceitar trabalhos em que
esteja impedido de exercer a função.
Quanto ao impedimento, existem duas naturezas, o legal e o técnico-
-científico.

O impedimento legal está relacionado à perda da imparcialidade moti-


vada por situações tais como: se o perito for parte no processo, tiver sido
arrolado como testemunha, tiver mantido nos últimos dois anos relação de
trabalho com uma das partes.
O impedimento técnico-científico pode ser decorrente de: a matéria em
litígio não ser de conhecimento técnico do perito, estrutura profissional pre-
cária não condizente com o trabalho.
IX - atender à Fiscalização dos Conselhos Regionais de Contabilidade e Conselho Federal
de Contabilidade no sentido de colocar à disposição desses, sempre que solicitado, papéis
de trabalho, relatórios e outros documentos que deram origem e orientaram a execução
do seu trabalho.

Considerando que ao Conselho Federal de Contabilidade é atribuída a


fiscalização da profissão do contador, e sendo um perito contábil vinculado
a essa entidade, é natural que coloque à disposição desse organismo todos
os documentos gerados na função pericial.

103
Ética, cidadania e perícia

Esses documentos podem contribuir a favor, em casos de defesa da con-


duta, quando, por exemplo, alguém faz uma denúncia junto ao Conselho
Regional de Contabilidade, alegando que determinada pessoa agiu sem téc-
nica e de forma aética.

Conforme pode ser observado ao longo do artigo 5.º do CEPC, há uma série
de atos que podem fazer com que o perito-contador receba sanções do Conse-
lho Federal de Contabilidade, decorrentes de falta de ética, podendo em casos
extremos haver a perda do registro profissional junto à entidade de classe.

No Código de Ética do Contador, estão previstas três possíveis penalida-


des decorrentes das infrações cometidas, conforme disciplina o artigo 12,
citado a seguir:
Art. 12. A transgressão de preceito deste Código constitui infração ética, sancionada,
segundo a gravidade, com a aplicação de uma das seguintes penalidades:

I - advertência reservada;

II - censura reservada;

III - censura pública.

De acordo com o que foi apresentado, percebe-se que existem três pena-
lidades previstas, sendo que a sanção ao contador dependerá da gravidade
da infração cometida.

A primeira penalidade que consiste na advertência reservada tem por


principal função comunicar ao contador que ele cometeu uma infração ao
código de ética, todavia, não relevante, o que não o impediria da continui-
dade do exercício profissional, caso fosse corrigida/adequada à situação que
levou a essa transgressão.

A segunda penalidade, mais grave do que a primeira, geraria censura re-


servada, sendo comunicado ao contador sobre a infração, de forma pessoal e
confidencial, solicitando que regularizasse a situação que motivou a quebra
do código de ética, revertendo-se em condição essencial para a continuida-
de da atividade profissional.

A terceira penalidade, a mais grave de todas, no qual há a censura pública,


tem o intuito de comunicar abertamente à sociedade/interessados que de-
terminado contador está impedido do exercício profissional em decorrência
de infração grave ao código de ética.

104
Ética, cidadania e perícia

Obviamente que essa situação praticamente aniquila a possibilidade de o


perito continuar militando na carreira, uma vez que o principal “patrimônio”
que esse profissional tem é o nome que, uma vez maculado, certamente pre-
judicará a sua indicação/nomeação para novos trabalhos.

No que diz respeito às penalidades citadas, poderá haver aspectos atenu-


antes que amenizariam o impacto das sanções, tais como: ação desenvolvida
em defesa de prerrogativa profissional, ausência de punição ética anterior e
prestação de relevantes serviços à Contabilidade.

Há previsão no CEPC de existir fatores agravantes para a punição estabe-


lecida pelo Conselho Federal de Contabilidade, como aqueles decorrentes
de ação cometida que resulte em ato que denigra publicamente a imagem
do Profissional da Contabilidade, e punição ética anterior transitada em
julgado.

No julgamento das penalidades decorrentes de infrações ao código de


ética, os Conselhos Regionais de Contabilidade atuam como tribunais regio-
nais de ética e disciplina. O Conselho Federal de Contabilidade atua como
tribunal superior de ética e disciplina.

Ampliando seus conhecimentos

Perícia contábil e ética de peritos


(LOPES DE SÁ, 2005)

A perícia contábil na esfera judicial envolve um conjunto de contadores,


mas, pelo menos três: o do Juízo e dois assistentes.

Embora o Conselho Federal de Contabilidade tenha oferecido normas


sobre a questão, sugerindo cooperação e ditando linhas gerais de procedi-
mentos técnicos, como é axiomático, não entrou em detalhes éticos.

Isso porque evitou redundância, em razão de já existir um Código que es-


pecificamente dita as linhas gerais de comportamento humano do profissio-
nal e que se aplica de forma geral.

Como serviços podem gerar interesses antagônicos, e em geral estes exis-


tem, pois, se não houvesse, também não haveria razão para que réu e autor

105
Ética, cidadania e perícia

indicassem seus peritos, a situação pode gerar conflitos não só de opiniões,


mas, inclusive, de procedimentos humanos.

O ideal é que se mantenha respeito, ausência de vaidades pessoais e isen-


ção absoluta de ânimos, e sobre isso o Conselho Federal de Contabilidade
emitiu Resoluções.

Profissionais devem ser considerados como solidários nas tarefas, jamais


como adversários, ainda que as posições exijam óticas particulares de obser-
vação. Em todos os trabalhos, desde os mais simples até os mais complexos, a
rivalidade pode existir, assim como inveja e ambição.

Todos esses fatos referidos são vícios, fugindo à virtude exigível no desem-
penho profissional.

Como o perito do Juízo é virtualmente o Juiz, merece respeito como auto-


ridade e como tal deve ser tratado.

Por seu turno, o desempenho da aludida função é transitório ou tempo-


rário, enquanto a relação com os colegas permanece por toda a vida. Essa é
a justificativa fundamental da exigência de uma reciprocidade de respeitos e
considerações.

A discordância técnica, em ocorrendo, deve ser expressa de forma objetiva


e leal, nunca subjetiva ou guiada por fator emocional.

Quando, em um parecer, o perito assistente precisar utilizar-se de ressalvas


ao laudo do perito oficial, deve, portanto, fazê-las com elegância, respeito e
argumentação convincente e esclarecedora.

Sequer insinuações no sentido de atingir os demais peritos devem existir,


devendo o profissional restringir-se à matéria examinada e ao envolvimento
científico, legal e técnico da mesma.

O perito contábil não tem função judicante, nem de coisas, fatos ou pesso-
as, mas apenas a de opinar sobre matéria pertinente à sua especialização.

Divergências técnicas não devem implicar idiossincrasias.

O necessário, o ético na questão, estará sempre em uma cooperação res-


peitosa, em uma coparticipação que vise ao objetivo comum, e que é o de
suprir o juiz de opiniões claras e seguras para que delas possam defluir um
julgamento justo.

106
Ética, cidadania e perícia

Competição entre colegas quer com o objetivo de arregimentar serviços


de perícias, quer de desmerecer o trabalho do colega, é uma forma de evi-
denciar má qualidade humana, caráter falaz e obtuso, ferindo os princípios
elementares da Ética, sujeitando-se até e ainda ao risco da incompetência.

O tratamento dos assuntos periciais deve ser o “objetivo”, requerendo im-


parcialidade e respeito humano.

Atividades de aplicação
1. Disserte sobre como a ética interfere diretamente na condução dos
trabalhos voltados para a perícia contábil.

2. Em trabalhos relacionados à atividade de perícia contábil, existe uma


expressão que diz: nunca julgue, ou opine, por aproximação. Explique
qual é o significado dessa expressão.

3. Ocorrendo transgressões relativas aos dispositivos contidos no Códi-


go de Ética dos Contadores, explique a quais penalidades estes estão
sujeitos.

Referências
ALBERTO, Valter Luiz Palombo. Perícia Contábil. 2. ed. São Paulo: Atlas, 2000.

CORDEIRO, Cláudio Marcelo Rodrigues. Uma abordagem sobre a ética no desen-


volvimento de trabalhos de auditoria e de perícia contábil. Revista do Conselho
Regional de Contabilidade do Paraná, n. 123, p. 10-12. Conselho Regional de
Contabilidade, 1999.

Lopes DE SÁ, Antônio. Perícia Contábil e Ética dos Peritos. Revista Jus Vigilanti-
bus. Publicado em: 23 dez. 2005. Disponível em: <http://jusvi.com/artigos/19440>.
Acesso em: 21 abr. 2011.

______. Ética Profissional. 9. ed. São Paulo: Atlas, 2009.

MAGALHÃES, Antonio de Deus Farias et al. Perícia Contábil: uma abordagem te-
órica, ética, legal, processual e operacional. 2. ed. São Paulo: Atlas, 1998.

107
Ética, cidadania e perícia

Gabarito
1. A condução de trabalhos com ética é vital para que haja credibilidade
no trabalho executado pelo perito, e principalmente sobre os resulta-
dos que terão efeito na sociedade.

Através da perícia judicial contábil estaremos auxiliando o juiz na justa


e correta decisão, todavia se realizarmos trabalhos com falta de ética,
certamente induziremos a erros, como, por exemplo, valores indevi-
dos, cálculos inadequados, pagamento de dívidas inexistentes, entre
outras situações.

2. Diferentemente da auditoria que, em certas circunstâncias, poderá


se utilizar de critérios estatísticos na perícia dificilmente se chegará a
bons resultados por aproximação.

O perito deve ter a mais absoluta certeza e convicção para poder de-
sempenhar o seu trabalho com total isenção de erros, pois a ele não
é permitida a dúvida ou a incerteza, uma vez que seu trabalho infere
diretamente na decisão de alguém que está julgando.

3. A primeira penalidade que consiste na advertência reservada tem por


principal função comunicar ao contador que ele cometeu uma infra-
ção ao código de ética, todavia não relevante, o que não o impediria
da continuidade do exercício profissional, caso fosse corrigida/ade-
quada à situação que levou a essa transgressão.

A segunda penalidade, mais grave do que a primeira, geraria censura


reservada, sendo comunicado ao contador sobre a infração, de forma
pessoal e confidencial, solicitando que regularizasse a situação que
motivou a quebra do código de ética, revertendo-se em condição es-
sencial para a continuidade da atividade profissional.

A terceira penalidade, a mais grave de todas, na qual há a censura pú-


blica, tem o intuito de comunicar abertamente à sociedade/aos inte-
ressados que determinado contador está impedido do exercício pro-
fissional em decorrência de infração grave ao código de ética.

108
Planejamento e execução
dos trabalhos em perícia contábil

Neste capítulo, abordaremos a importância do planejamento para a ade-


quada execução dos trabalhos em perícia contábil, indicando as fases em
que este ocorre, bem como os cuidados que o perito deve ter em todas as
etapas.

Planejamento dos trabalhos


O planejamento em tudo que fazemos na nossa vida é essencial para que
possamos chegar ao caminho desejado, com método e direcionamento,
diminuindo as possibilidades de que algo de errado aconteça ao longo do
percurso.

Desde o momento em que temos discernimento e autonomia para to-


marmos decisões, iniciamos o planejamento da nossa vida, traçando rumos
de acordo com aquilo que acreditamos ser o mais adequado para o nosso
futuro. Assim, planejamos quando casar, quanto ter filhos, nossa profissão,
a aquisição de bens, enfim, uma infinidade de atos importantíssimos para o
rumo da nossa vida.

Imaginemos se para cada um dos atos de nossas vidas não fizéssemos


nenhum tipo de planejamento, ou de rota a seguir, estaríamos como o nave-
gante que se alça nos grandes mares sem dispor de cartas marítimas, ou ao
menos uma bússola.

Também na área de perícia necessitamos realizar o planejamento de tal


maneira que possamos realizar o trabalho com rigor, profundidade, e com o
mínimo de riscos possíveis.

Seria inadmissível, a quem deseja ingressar na função pericial, que sim-


plesmente executasse as tarefas sem um prévio planejamento dos trabalhos,
pois desde o momento da indicação, ou da nomeação, já se inicia a organiza-
ção, os métodos e o direcionamento do que será realizado.

111
Planejamento e execução dos trabalhos em perícia contábil

No planejamento da perícia contábil, devem estar contemplados os di-


versos locais onde serão desenvolvidas as atividades, e sobre esse enfoque
Zanna (2005) classifica que o perito poderá trabalhar:

 no cartório da vara judicial – para perícia judicial;

 no escritório do contratante – para perícia extrajudicial, semijudicial


ou arbitral;

 nos locais onde são coletados os indícios, as evidências e as provas;

 no escritório do perito.

Passaremos a discorrer sobre cada um desses locais, indicando os cuida-


dos que o perito deve ter no seu planejamento, de modo a desenvolver o
trabalho com integridade e profissionalismo.

No cartório da vara judicial


Nessa etapa dos trabalhos, significa que o perito foi nomeado judicial-
mente, ou tenha sido indicado, no caso dos assistentes técnicos. A nomea-
ção do perito poderá ocorrer de diversas maneiras, como, por exemplo: por
telefone, e-mail, carta com AR ou intimação, através de oficial da justiça.

Tão logo o perito tenha sido nomeado, ou indicado, deverá se dirigir junto
ao cartório da vara em que o processo está arquivado para fazer carga dos
autos, em livro próprio, e levá-lo para o seu escritório, dando início à prepa-
ração do seu planejamento.

De posse dos autos, deverá ler atentamente o seu conteúdo identificando


elementos essenciais para o desenvolvimento dos trabalhos como: motivo da
demanda, documentos anexados/apensados, local onde irá ser instaurada a
perícia, necessidade de outros profissionais e prazo para a execução da tarefa.

Nessa fase, será possível planejar também quando ocorrerão as diligên-


1
Ao final deste capítulo,
apresentamos modelo de
cias1, que consiste na etapa em que o perito se deslocará até o local onde
Termo de Diligência, que
é o documento no qual
será realizada a perícia, ou solicitará que toda a documentação esteja posta
o perito relaciona tudo
aquilo de que necessitará
para ele no dia, local e horário desejados.
para a consecução do seu
trabalho, indicando o dia,
local e horário que pre- Aceito o trabalho e o desenvolvendo sem impedimentos, ao final deverá
cisará para dar início aos
trabalhos. retornar ao cartório para a devolução dos autos, tomando o cuidado de ve-
rificar a baixa no livro em que ele havia assinado, no momento da carga do
processo.

112
Planejamento e execução dos trabalhos em perícia contábil

No escritório do contratante
Essa fase do trabalho somente acontece se a perícia for extrajudicial, se-
mijudicial, arbitral, ou se o perito estiver atuando na condição de assistente
técnico.

Muito provavelmente nessas condições o profissional tenha sido indica-


do porque goza de respeito e credibilidade dos contratantes, ou através de
indicação de alguém que já tenha se utilizado dos serviços do perito.

Da mesma maneira que ocorre no cartório, em que o perito tem acesso


à documentação de forma irrestrita, também aqui todas as informações
devem estar à disposição do perito, para que este execute o planejamento
adequado do seu trabalho.

O perito deve estar atento para que haja a compreensão completa do


motivo que gerou a perícia, e verificar se está capacitado para a execução
dos trabalhos, alertando desde logo ao seu contratante, que pautará a tarefa
de acordo com a técnica e os padrões éticos requeridos.

Estando inteirado de tudo aquilo que motivou a tarefa, e conhecendo a


documentação pertinente, iniciará o planejamento do seu trabalho, em que
recomendamos que seja elaborado um cronograma com as datas e tarefas a
serem cumpridas, de modo a priorizar aqueles itens mais importantes.

Por fim, é prudente a elaboração de um contrato de prestação de ser-


viços, pois diferentemente da perícia judicial que está amparada pela justi-
ça, no ambiente aqui citado não há a proteção do Estado, motivo pelo qual
a relação de trabalho deve ser regida com cláusulas claras devidamente
documentadas.

Nos locais onde são coletados os indícios,


as evidências e as provas
Como não há perícia sem que exista investigação documental e teste-
munhal, faz-se necessário o exame pericial nos locais onde são coletados os
indícios, as evidências e as provas.

Quando se trata de perícia na esfera judicial, há previsão legal da coleta


de material necessário para formar a convicção do perito, conforme discipli-
na o artigo 429 do Código de Processo Civil, citado a seguir.

113
Planejamento e execução dos trabalhos em perícia contábil

Para o desenvolvimento de sua função, podem o perito e os assistentes técnicos utilizar-se


de todos os meios necessários, ouvindo testemunhas, obtendo informações, solicitando
documentos que estejam em poder de parte ou em repartições públicas, bem como
instruir o laudo com plantas, desenhos, fotografias e outras quaisquer peças.

Como descrito antes, há uma variedade muito grande de documentos


que podem servir de provas e evidências buscadas pelo perito no decor-
rer do desempenho da sua função. O planejamento dos trabalhos nesse
campo de atuação, local onde os documentos estão dispostos, é de funda-
mental importância para que o perito possa embasar as suas conclusões e
observações.

Cabe ao perito identificar a documentação/informação necessária em


determinado período, sendo que em perícia contábil obviamente serão ob-
tidas na escrituração da contabilidade e em registros auxiliares.

No planejamento da busca das informações deve o perito relacionar an-


tecipadamente, através de termo de diligência, tudo aquilo que ele julga ne-
cessário que fique à sua disposição para iniciar efetivamente a perícia.

No escritório do perito
Por fim, o último local em que será executada a perícia é no escritório do
perito, onde este fará a revisão de toda a documentação juntada ao proces-
so, e iniciará a redação do Laudo Pericial.

Nessa fase do planejamento, é fundamental que o perito conte com


alguém que revise a redação do documento produzido por ele, pois de nada
adianta a aplicação de toda a técnica no decorrer dos trabalhos se esbarra na
redação do laudo, com textos confusos e não conclusivos.

É no escritório do perito que ele inicia e termina o trabalho, pois nesse


local dispõe de infraestrutura adequada para a guarda dos documentos, bi-
blioteca para pesquisas e equipe para auxiliá-lo em eventuais dúvidas susci-
tadas ao longo do trabalho.

Etapas do planejamento do trabalho pericial


A partir do momento em que o perito sabe que irá realizar a perícia, seja ela
judicial, semijudicial ou arbitral, deve traçar os rumos que conduzirão todo o
trabalho a ser desenvolvido ao longo da tarefa, iniciando o seu plano de tra-
balho, que, de acordo com Lopes de Sá (1994, p. 37), é “[...] a previsão, racional-

114
Planejamento e execução dos trabalhos em perícia contábil

mente organizada, para execução das tarefas, no sentido de garantir a qualida-


de dos serviços, pela redução dos riscos sobre a opinião ou resposta.“

A elaboração do plano de trabalho em perícia contábil depende de uma


série de ações, as quais são citadas por Lopes de Sá (1994), como sendo:
1. pleno conhecimento da questão (se for judicial, pleno conhecimento do processo);

2. pleno conhecimento de todos os fatos que motivam a tarefa;

3. levantamentos prévios dos recursos disponíveis para exame;

4. prazo ou tempo para execução das tarefas e entrega do laudo ou parecer;

5. acessibilidade aos dados (se depende de muitos locais, com deslocamento, burocra-
cias etc.);

6. pleno conhecimento dos sistemas contábeis adotados e confiabilidade de documen-


tação;

7. natureza de apoios, se necessários.

Passaremos a seguir a comentar as ações anteriormente elencadas, de


modo a tornar claro o que se busca em cada uma das etapas da construção
do plano de trabalho.

Pleno conhecimento da questão


Para que o perito contábil possa desempenhar a sua tarefa da melhor ma-
neira possível, é essencial que tenha o conhecimento profundo de tudo aquilo
que está gerando a realização do trabalho, seja como perícia judicial, ou nas
outras modalidades. Sendo perícia judicial, faz-se necessária a leitura porme-
norizada dos autos, buscando identificar as argumentações das partes envolvi-
das que motivaram a demanda, com a convicção de que o conteúdo do laudo
elaborado pelo perito tende a ser o de maior confiabilidade para o juiz.

O pleno conhecimento da questão permite ao perito ter acesso aos que-


2
sitos2 elaborados pelo juiz, e aos eventuais questionamentos desenvolvidos Quesitos são questiona-
mentos realizados na for-
pelas partes, tendo assim a mensuração da complexidade e tempo deman- ma de perguntas, em que
cabe ao perito respondê-
dados para a realização dos trabalhos. -los, de modo a esclarecer
as dúvidas de quem os
elaborou.

Pelo conhecimento de todos os fatos


que motivam a tarefa
É muito comum que em uma “briga”, seja ela judicial ou não, existam “ver-
dades” que, segundo quem acha que está certo, é a que ele acredita ser.

115
Planejamento e execução dos trabalhos em perícia contábil

Assim, pode existir a “verdade” do autor, a “verdade” do réu, mas o que


realmente deve prevalecer é a “verdade” dos fatos, obtida mediante todos os
exames necessários para formar a convicção do perito.

Quando duas ou mais pessoas estão brigando, estas acham que estão
com a razão, o que é impossível de ocorrer, pois alguém irá ganhar e outro
irá perder.

Sendo a perícia semijudicial, extrajudicial ou arbitral, é fundamental que


haja uma reunião, ou diversas reuniões, com as partes envolvidas de maneira
que o perito conheça profundamente todos os fatos que envolvem a tarefa,
evitando surpresas durante o andamento dos trabalhos.

Levantamento prévio dos recursos disponíveis


para exame
No planejamento do trabalho pericial, devem ser considerados os recur-
sos disponíveis que o perito terá em mãos para a execução da sua tarefa.

Seria muito difícil a realização de trabalhos periciais na área de contabi-


lidade em uma empresa que não tem a sua escrita contábil regular, ou que
haja uma série de contas sem conciliação.

Se a base para a realização dos exames periciais se assenta sobre a escri-


turação, em uma empresa que não possui controles internos confiáveis, a
perícia demandaria mais tempo, e com um grau maior de risco, fatores estes
que devem ser contemplados na fase de planejamento dos trabalhos.

Prazo para a execução das tarefas


Para que possamos realizar trabalhos com qualidade, atenção e livre de
erros, o fundamental é poder executar a tarefa com bastante prazo.

Em trabalhos periciais, nem sempre o prazo é grande, motivo pelo qual


há necessidade imperiosa de conhecer quanto tempo temos para realizar a
tarefa, antes de aceitá-la.

O estabelecimento dos prazos para a realização da perícia varia muito de


acordo com a sua espécie, sendo ela judicial, ou nas outras modalidades,
mas é comum a fixação do prazo por quem requereu ou solicitou a perícia.

116
Planejamento e execução dos trabalhos em perícia contábil

No que se refere ao prazo para desenvolvimento dos trabalhos na perícia


judicial, o Código de Processo Civil estabelece no artigo 433, e seu parágrafo
único, as seguintes datas:
Art. 433. O perito apresentará o laudo em cartório, no prazo fixado pelo juiz, pelo menos
20 (vinte) dias antes da audiência de instrução e julgamento.

Parágrafo único. Os assistentes técnicos oferecerão seus pareceres no prazo comum de 10


(dez) dias após a apresentação do laudo, independente da intimação.

Com isso, percebemos que de fato o prazo é uma das variáveis importan-
tes quando o perito contábil realiza o seu planejamento, com a premissa de
que quanto menos prazo houver maior será o risco ao qual o trabalho estará
exposto.

Acessibilidade aos dados


No processo da perícia contábil, o planejamento da acessibilidade dos
dados permite ao perito dimensionar se terá ou não dificuldades operacio-
nais em buscar determinadas informações.

Quando a contabilidade e outras áreas vitais para a perícia, como depar-


tamento financeiro, recursos humanos, entre outros, são centralizadas a ten-
dência é que o perito tenha maior facilidade em obter os dados desejados.

Por outro lado, em organizações que possuem muitas filiais, e onde os


departamentos são descentralizados, poderá dificultar o acesso aos dados
necessários para a realização da perícia, tendo muitas vezes que haver o des-
locamento do perito para outras cidades/regiões para a busca da informação
adequada.

Pleno conhecimento dos sistemas


contábeis adotados
Uma vez que são diversos os sistemas ofertados hoje no mercado, é inte-
ressante que o perito saiba previamente qual é o sistema contábil adotado
pela empresa.

Caso o sistema contábil adotado pela empresa seja vendido livremente


por empresas especializadas em software, o perito já terá uma linha de con-
dução dos trabalhos, considerando que não há grande divergência na lógica
dos sistemas disponíveis no mercado.
117
Planejamento e execução dos trabalhos em perícia contábil

Sendo o sistema desenvolvido internamente, o perito deve se inteirar


sobre como funciona a integração das informações, se por lote ou módulos
interligados, para poder decidir qual o melhor caminho a adotar.

Independente de ser desenvolvido internamente, ou por terceiros, no


planejamento dos trabalhos periciais o fundamental é que o perito possa
confiar nos dados processados pela empresa, desde a forma de alimentação
dessas informações até a sua saída.

Natureza de apoios
Esse item não é menos importante do que os demais no planejamento
dos trabalhos do perito, pois deverá ser dimensionada a possibilidade de
utilização de trabalhos de especialistas.

Os especialistas envolvidos podem ser de áreas como informática, esta-


tística, matemática, somente para citar alguns exemplos, em que poderão
auxiliar o perito na busca de dados e informações ao longo dos trabalhos.

Sabendo previamente dessas necessidades, o perito deverá elencar as


possíveis áreas em que será necessário o apoio de especialistas, bem como
relacionar os nomes das pessoas que poderão auxiliá-los.

Técnicas de execução
dos trabalhos em perícia contábil
Para que o trabalho do perito tenha segurança e confiabilidade, este se
utiliza de algumas técnicas de execução, consagradas pela literatura, e con-
tidas na NBC TP 01 – Perícia Contábil –, sendo estas o exame, a vistoria, a
indagação, a investigação, o arbitramento, a avaliação e a certificação.

Essas técnicas poderão ser aplicadas conjuntamente ou de forma isolada,


conforme as circunstâncias e necessidades de cada perícia.

A seguir, abordaremos as técnicas mencionadas, exemplificando o mo-


mento da sua utilização, bem como o que se busca na aplicação de cada
uma delas.

118
Planejamento e execução dos trabalhos em perícia contábil

Exame
É a análise dos elementos constitutivos da matéria, de modo a constatar
os fatos que fazem parte da perícia.

Pode ser em relação a diversos elementos que participam do objeto pe-


riciado, como, por exemplo: uma pessoa, um documento, um móvel, um re-
gistro, entre tantas outras situações.

O exame pode ser decomposto em várias partes, de tal maneira a formar


a convicção do perito de determinado fato ou circunstância que está sendo
verificado.

Especificamente em matéria contábil, o exame se dá na análise de livros, re-


gistros das transações e documentos pertinentes ao que foi contabilizado.

Vistoria
É o ato de verificação do estado circunstancial do objeto pericial concre-
to: pessoa, máquinas, documento, condições ambientais.

A vistoria é feita para que o perito busque a clareza de que determinado


item periciado de fato existe, e está revestido das características necessárias
para validação como algo real e verificável.

Assim, se o perito estiver realizando a verificação sobre um conjunto de


bens, como máquinas, por exemplo, além da certificação visual da existência
do item, deve ter condições de avaliar a sua funcionalidade.

No caso de exames sobre documentos, faz-se a vistoria com o intuito de


verificar se determinado documento é servível para o fim a que se pretendia,
revestido de todas as características para ser aceito como verdadeiro.

Indagação
É o ato pericial de obtenção do testemunho pessoal daqueles que têm
ou deveriam ter conhecimento dos fatos ou atos concernentes à matéria
periciada.

119
Planejamento e execução dos trabalhos em perícia contábil

Na indagação, busca-se conhecer as informações, mediante entrevista


com conhecedores do objeto ou de fato relacionado à perícia, de modo a
possibilitar ao perito formar a sua convicção sobre os acontecimentos que
cercam o trabalho.

A indagação é necessária para que o perito obtenha o testemunho das


pessoas, e que este seja revestido das formalidades requeridas pelo Poder
Judiciário, para que posteriormente possa ser utilizado como prova no
processo.

Investigação
É a pesquisa que busca trazer ao laudo pericial contábil ou parecer peri-
cial contábil o que está oculto por quaisquer circunstâncias.

No caso da perícia contábil, o que se busca é o esclarecimento de fatos


decorrentes de anomalias na contabilidade, como astúcia, má-fé, fraude, ma-
lícia e outros procedimentos aéticos que visam obscurecer a verdade.

Normalmente, esses fatos permeiam os registros contábeis quando uma


pessoa está mal-intencionada e procura levar vantagem sobre outra.

Arbitramento
É a técnica que permite determinar valores por procedimentos estatís-
ticos, como média, mediana, desvio padrão, quando não há condições de
obter informações adequadamente registradas na contabilidade.

Em trabalhos periciais, os critérios técnicos de arbitramento devem ser


fundamentados e demonstráveis, de modo a não gerar polêmicas, princi-
palmente se participarem da mesma tarefa outros peritos, pois, nesse caso,
cada um terá valores diferentes.

Em uma situação como esta, naturalmente trará maior segurança para


quem decidir sobre o resultado do trabalho aqueles cálculos que, embora
feitos de forma arbitrada, guardam demonstrações devidamente fundamen-
tadas por critérios técnico-científicos.

120
Planejamento e execução dos trabalhos em perícia contábil

Avaliação
É o ato de estabelecer o valor de coisas, bens, direitos, obrigações, despe-
sas e receitas, por critério puramente objetivo, calculável ou demonstrável.

Em perícia contábil, muitas vezes o valor que consta na contabilidade não


é o adequado para mensurar a correta avaliação de um determinado item.

Assim, por exemplo, itens que constam no imobilizado, que na contabili-


dade estariam registrados ao valor de custos, no momento da perícia deve-
riam estar avaliados a valor de mercado.

A avaliação normalmente é compartilhada com outros profissionais que


não da área contábil, como, por exemplo, engenheiros civis e industriais.

Certificação
É o ato de atestar a informação trazida ao laudo pericial contábil pelo pe-
rito-contador, conferindo-lhe caráter de autenticidade pela fé pública atribu-
ída a esse profissional.

Os documentos assinados pelo perito-contador estão revestidos de toda


segurança, pois são profissionais que gozam de reputação ilibada, não sendo
necessárias autenticidades de assinaturas.

Assim, o perito somente deve assinar um documento quando estiver con-


victo e com plena certeza de que as informações ali contidas são verdadei-
ras, livres de qualquer fraude, pois a certificação trazida por ele será confiada
pelas pessoas que utilizarão esse documento.

Papéis de trabalho
Considerando que a perícia contábil é revestida de muita formalidade e
que os resultados proporcionados por ela podem influir na decisão de pes-
soas, tirando o direito de uns e concedendo a outros, é de fundamental im-
portância que tudo aquilo que foi obtido durante a tarefa seja devidamente
registrado.

121
Planejamento e execução dos trabalhos em perícia contábil

Aos registros realizados denominamos de papéis de trabalho, os quais


devem ser conservados por cinco anos após a entrega do laudo, ou parecer,
ou dos esclarecimentos adicionais.

Não há um padrão rígido do estabelecimento de papéis de trabalho,


como existe na área de auditoria, por exemplo, todavia elencamos uma série
de informações, que, segundo o nosso entendimento, deveriam fazer parte
dessa documentação.

Apresentamos a seguir um formato de papel de trabalho, com as devidas


explicações sobre a forma de preenchimento.

122
Planejamento e execução dos trabalhos em perícia contábil

Modelo de papel de trabalho

IESDE Brasil S.A.

Cláudio Marcelo Rodrigues Cordeiro


CRC-PR 12345/O
Perito-Contador

(A) Registros Iniciais Horas Totais Alocadas

JCJ/Vara Número do Processo Data da Carga Prazo para Entrega

Reclamante/Autor

Reclamada/Ré

Assistente Reclamante Assistente Reclamada Início/Fim Horas Perito do Juiz

(B) Análises Iniciais dos Autos Horas Totais Alocadas

Admissão Demissão Data de Início Data de Término

Objeto da Perícia Contábil

Documentos nos Autos

Documentos Faltantes

123
Planejamento e execução dos trabalhos em perícia contábil

(C) Diligências Horas Totais Alocadas

Data de Início da Diligência Data de Término da Enviado para Produção Responsável


Diligência

Resultados e/ou Observações das Diligências

(D) Análises Complementares para o Laudo Horas Totais Alocadas

Coordenador/Subcoordenador da Célula Perito Contábil Orientador

Observações e Orientações

124
Planejamento e execução dos trabalhos em perícia contábil

(E) Levantamento de Dados/Definições de Anexos Horas Totais Alocadas

Definições dos Anexos

Levantamentos de Dados

(F) Análises, Sistemas e Programação Horas Totais Alocadas

Programas Básicos Criação e Geração de Planilhas

Observações Gerais

(G) Digitações e Operações em Computadores Horas Totais Alocadas

125
Planejamento e execução dos trabalhos em perícia contábil

Executor do Trabalho Lista de Programas Utilizados

(H) Redação do Laudo Pericial Contábil Horas Totais Alocadas

Orientador Executor Responsável

Orientações, fundamentos e observações

(I) Análises Finais Total de horas de conferências Total de horas de revisão e


montagem

(J) Impugnações Data da Carga Prazo para Esclarecimentos

Responsável pelos Esclarecimentos Resultados dos Esclarecimentos


( ) Mantido Totalmente ( ) Refeito Parcialmente
( ) Refeito

Fundamentos principais para manter ou refazer

(K) Resultado Final Data de Liquidação Honorários Recebidos (R$)

Arquivado em: Data Limite para Manter em Arquivo Outras Observações

126
Planejamento e execução dos trabalhos em perícia contábil

Preenchimento do papel de trabalho


 Registros Iniciais nos quais deve constar a identificação do caso, partes,
n.º do processo, data de carga em cartório, prazo para entrega do tra-
balho, se existem assistentes técnicos indicados, registrando as horas
correspondentes, inclusive de idas e vindas a cartório.
 Análises Iniciais em que são anotados os dados básicos e delimitadores da
ação pericial relativos ao caso, bem como uma síntese do objeto da perícia
contábil, quais documentos existem nos autos, e quais documentos ou ele-
mentos devem ser pesquisados, examinados ou investigados pela perícia.
 Diligências nas quais são registradas todas as ocorrências, os resulta-
dos ou observações que interessam à perícia.
 Análises Complementares para o laudo, nas quais o perito ou o coor-
denador do grupo estabelecerá as bases, critérios e dados que serão
considerados pela perícia para atingir a sua finalidade.
 Levantamentos de Dados/Definição, complemento do item anterior.
 Análises, Sistemas e Programação, em que será identificado quais os
programas e arquivos básicos que serão utilizados no caso, ou se há
necessidade de criação de outros a partir dos existentes.
 Digitação e Operação, refere-se a tarefas delegáveis e, como tais, per-
feitamente executáveis por auxiliares sob orientação do perito, mas
deverão, necessariamente, ser revistas pelo coordenador do grupo e
pelo próprio perito.
 Redação do Laudo Pericial Contábil é de baixa delegação, requerendo
acompanhamento rigoroso do perito nomeado, responsável técnico pelo
trabalho executado. Isso porque, embora mediante orientação de pesso-
al qualificado, o esboço geral da redação possa ser efetuado e executado,
e a redação final, bem como as respostas dos quesitos formulados pelas
partes ou pelo juízo, deve ser efetuada pelo perito contábil nomeado.
 Impugnações: tomarão por base o próprio papel de trabalho já elabo-
rado, e mesmo que haja a necessidade de consulta ao coordenador
do grupo, o item é indelegável, pois que é o próprio perito que deve
prestar os esclarecimentos necessários e, ao mesmo tempo, fazer um
controle da qualidade de seu trabalho, anotando os fundamentos para
aumentar ou refazer o laudo.
 Resultado Final: registrará a data limite para manter em arquivo, data
de liquidação, honorários recebidos e outras observações finais a res-
peito do trabalho. 127
Planejamento e execução dos trabalhos em perícia contábil

Modelo de termo de diligência

IESDE Brasil S.A.


Cláudio Marcelo Rodrigues Cordeiro
CRC-PR 12345/O
Perito-Contador

Termo de diligência

Autos:
Ação:
Autor/Requerente:
Réu/Requerido:

Em xx/xx/20XX, no exercício da função de Perito Judicial, honrosamente


nomeado pelo ilustre Dr. _____________, folhas 200, e a fim de proceder
às diligências e exames imprescindíveis à solução da prova pericial contá-
bil deferida, bem como oferecer resposta aos quesitos formulados, em con-
formidade com o art. 429 do Código de Processo Civil, solicito às Nome da
Empresa/Pessoa, as informações e documentos abaixo, que deverão estar
à disposição do perito em ____/____/20XX, às _____:____horas, nas depen-
dências da empresa acima nominada, no endereço: ____________________
________________________________________________________________.

1. Cópia autenticada das páginas do livro diário e do livro-razão do


período de xxx a yyyy, onde conste o registro das operações de
______________;

2. Cópia autenticada da nota fiscal n.º xxxx, da empresa zzzzzz, emitida


em yyyyyy;

3. Cópia autenticada.

Sendo necessárias outras informações ou documentos durante o exa-


me pericial, esse perito mantém a possibilidade de solicitá-las durante
o desenvolvimento do trabalho pericial.

128
Planejamento e execução dos trabalhos em perícia contábil

Para os devidos fins, lavro o presente Termo de Diligência, para que


valha na melhor forma do direito, com sustentação do Código de Pro-
cesso Civil, art. 429, e ofereço ao diligenciado a contrafé, que depois
de lido e aprovado, foi assinado pelo perito e pelo diligenciado Sr. (a)
___________________.

Curitiba, 20 de dezembro de 20XX

Cláudio Marcelo Rodrigues Cordeiro

CRC PR – 12345/O

Perito-Contador

Recebido por:

Data:

Assinatura:

Ampliando seus conhecimentos

Recorte da RESOLUÇÃO CFC 1.243/2009


(CFC, 2009)

A RESOLUÇÃO CFC 1.243/2009 aprovou a NBC TP 01 – Perícia Contábil. O


recorte diz respeito aos itens 31 a 45 da citada resolução que trata exclusiva-
mente de planejamento em trabalhos periciais.

PLANEJAMENTO

31. O planejamento da perícia é a etapa do trabalho pericial, que antecede


as diligências, pesquisas, cálculos e respostas aos quesitos, na qual o pe-
rito estabelece os procedimentos gerais dos exames a serem executa-
dos no âmbito judicial, extrajudicial para o qual foi nomeado, indicado
ou contratado, elaborando-o a partir do exame do objeto da perícia.

32. Enquanto o planejamento da perícia é um procedimento prévio abran-


gente que se propõe a estabelecer todas as etapas da perícia, o progra-
ma de trabalho é a especificação de cada etapa a ser realizada que deve
ser elaborada com base nos quesitos e/ou no objeto da perícia.

129
Planejamento e execução dos trabalhos em perícia contábil

Objetivos

33. Os objetivos do planejamento da perícia são:

a) conhecer o objeto da perícia, a fim de permitir a adoção de procedi-


mentos que conduzam à revelação da verdade, a qual subsidiará o
juízo, o árbitro ou o interessado a tomar a decisão a respeito da lide;

b) definir a natureza, a oportunidade e a extensão dos exames a serem


realizados, em consonância com o objeto da perícia, os termos cons-
tantes da nomeação, dos quesitos ou da proposta de honorários ofe-
recida pelo perito;

c) estabelecer condições para que o trabalho seja cumprido no prazo


estabelecido;

d) identificar potenciais problemas e riscos que possam vir a ocorrer no


andamento da perícia;

e) identificar fatos que possam vir a ser importantes para a solução da


demanda de forma que não passem despercebidos ou não recebam
a atenção necessária;

f ) identificar a legislação aplicável ao objeto da perícia;

g) estabelecer como ocorrerá a divisão das tarefas entre os membros


da equipe de trabalho, sempre que o perito necessitar de auxiliares;

h) facilitar a execução e a revisão dos trabalhos.

Desenvolvimento

34. Os documentos dos autos servem como suporte para obtenção das in-
formações necessárias à elaboração do planejamento da perícia.

35. Em caso de ser identificada a necessidade de realização de diligências, na


etapa de elaboração do planejamento, devem ser considerados, se não
declarada a preclusão de prova documental, a legislação aplicável, docu-
mentos, registros, livros contábeis, fiscais e societários, laudos e pareceres
já realizados e outras informações que forem identificadas como perti-
nentes para determinar a natureza do trabalho a ser executado.

130
Planejamento e execução dos trabalhos em perícia contábil

36. O planejamento da perícia deve ser mantido por qualquer meio de re-
gistro que facilite o entendimento dos procedimentos a serem adota-
dos e sirva de orientação adequada à execução do trabalho.

37. O planejamento deve ser revisado e atualizado sempre que fatos novos
surjam no decorrer da perícia.

38. O planejamento deve ser realizado pelo perito-contador, ainda que o


trabalho venha a ser realizado de forma conjunta com o perito-conta-
dor assistente, podendo este orientar-se no referido planejamento.

Riscos e custos

39. O perito, na fase de elaboração do planejamento, com vistas a elaborar


a proposta de honorários, deve avaliar os riscos decorrentes de respon-
sabilidade civil, despesas com pessoal e encargos sociais, depreciação
de equipamentos e despesas com manutenção do escritório.

Equipe técnica

40. Quando a perícia exigir a necessidade de utilização de trabalho de ter-


ceiros (equipe de apoio, trabalho de especialistas ou profissionais de
outras áreas de conhecimento), o planejamento deve prever a orienta-
ção e a supervisão do perito, que assumirá responsabilidade pelos tra-
balhos executados exclusivamente por sua equipe de apoio.

41. Quando a perícia exigir a utilização de perícias interdisciplinares ou tra-


balho de especialistas, estes devem estar devidamente registrados em
seus conselhos profissionais, quando aplicável, devendo o planejamen-
to contemplar tal necessidade.

Cronograma

42. O perito-contador deve levar em consideração que o planejamento da


perícia, quando for o caso, inicia-se antes da elaboração da proposta de
honorários, considerando-se que, para apresentá-la ao juízo, árbitro ou
às partes no caso de perícia extrajudicial, há necessidade de se especi-
ficar as etapas do trabalho a serem realizadas. Isto implica que o perito-
-contador deve ter conhecimento prévio de todas as etapas, salvo aque-
las que somente serão identificadas quando da execução da perícia, in-

131
Planejamento e execução dos trabalhos em perícia contábil

clusive a possibilidade da apresentação de quesitos suplementares, o


que será objeto do ajuste no planejamento.

43. O planejamento da perícia deve evidenciar as etapas e as épocas em


que serão executados os trabalhos, em conformidade com o conteúdo
da proposta de honorários a ser apresentada, incluindo-se a supervisão
e a revisão do próprio planejamento, os programas de trabalho quando
aplicáveis, até a entrega do laudo.

44. No cronograma de trabalho, devem ficar evidenciados, quando aplicáveis,


todos os itens necessários à execução da perícia, tais como: diligências a
serem realizadas, deslocamentos, necessidade de trabalho de terceiros,
pesquisas que serão feitas, elaboração de cálculos e planilhas, respostas
aos quesitos, prazo para entrega do laudo e outros, de forma a assegurar
que todas as etapas necessárias à realização da perícia sejam cumpridas.

45. Para cumprir o prazo determinado ou contratado para realização dos


trabalhos de perícia, o perito deve considerar em seus planejamentos,
quando aplicáveis, entre outros, os seguintes itens:

a) o conteúdo da proposta de honorários apresentada pelo perito-


-contador e aceita pelo juízo, pelo árbitro ou pelas partes no caso de
perícia extrajudicial ou pelo perito-contador assistente;

b) o prazo suficiente para solicitar e receber os documentos, bem como


para a execução e a entrega do trabalho;

c) a programação de viagens, quando necessárias.

Atividades de aplicação
1. Em quais locais pode ser desenvolvido o trabalho do perito contábil?
Comente em quais situações ocorreriam trabalhos nesses locais.

2. Disserte sobre a importância de que o perito contábil tenha pleno co-


nhecimento do que motivou a perícia, para o adequado planejamento
do seu trabalho.

3. Entre as diversas técnicas que envolvem o trabalho do perito, temos


o arbitramento. Sobre essa técnica, explique o que significa e como
pode ser aplicada em trabalhos periciais.

132
Planejamento e execução dos trabalhos em perícia contábil

Referências
CFC. Conselho Federal de Contabilidade. Resolução 1.243 de 10 de dezembro
de 2009, que aprovou a NBC TP 01 – Perícia Contábil. Disponível em: <www.cfc.
org.br/sisweb/sre/docs/RES_1243.doc>. Acesso em: 29 abr. 2011.

LOPES DE SÁ, Antônio. Perícia Contábil. São Paulo: Atlas, 1994.

ZANNA, Remo Dalla. Prática de Perícia Contábil. São Paulo: IOB Thomson, 2005.

Gabarito
1. O trabalho do perito contábil pode ser desenvolvido:

 no cartório da vara judicial, onde, nessa etapa, significa que o peri-


to foi nomeado judicialmente, ou tenha sido indicado, no caso dos
assistentes técnicos;

 no escritório do contratante, o qual somente aconteceria se a perícia


fosse extrajudicial, semijudicial, arbitral ou se o perito estivesse atu-
ando na condição de assistente técnico;

 nos locais onde são coletados os indícios, as evidências e as provas,


independente da natureza da perícia, pois seria um trabalho efeti-
vamente sobre os documentos que geraram o trabalho;

 no escritório do perito, onde seria feita a revisão de toda a documen-


tação juntada ao processo, e o início da redação do Laudo Pericial.

2. Para que o perito contábil possa desempenhar a sua tarefa da melhor


maneira possível, é essencial que tenha o conhecimento profundo de
tudo aquilo que está gerando a realização do trabalho, seja como pe-
rícia judicial, ou nas outras modalidades. Sendo perícia judicial, faz-
-se necessária a leitura pormenorizada dos autos buscando identificar
as argumentações das partes envolvidas que motivaram a demanda,
com a convicção de que o conteúdo do laudo elaborado pelo perito
tende a ser o de maior confiabilidade para o juiz, assim poderá plane-
jar adequadamente o seu trabalho.

133
Planejamento e execução dos trabalhos em perícia contábil

3. É a técnica que permite determinar valores por procedimentos esta-


tísticos, média, mediana, desvio padrão, quando não há condições de
obter informações adequadamente registradas na contabilidade.

Em trabalhos periciais, os critérios técnicos de arbitramento devem


ser fundamentados, e demonstráveis, de modo a não gerar polêmicas,
principalmente se participarem da mesma tarefa outros peritos, pois,
nesse caso, cada um terá valores diferentes.

134
Aplicações usuais
da perícia contábil

Neste capítulo, discorreremos sobre as principais aplicações da perícia


contábil, tanto para questões envolvendo pessoas físicas como jurídicas, di-
recionando nossos estudos para questões que envolvam a avaliação e verifi-
cação de haveres, e a análise de valores patrimoniais.

Aplicabilidade dos trabalhos periciais


O desenvolvimento de trabalhos na área de perícia, normalmente emerge
de questões que não são do domínio das pessoas que irão tomar a decisão
sobre determinado fato concreto que está em discussão.

Quando mencionamos a palavra discussão, gostaríamos de chamar a


atenção de que nem sempre possui o caráter de briga, embora na maioria
dos casos realmente as partes envolvidas decidem buscar seus direitos nos
tribunais.

Todavia, a discussão pode se dar em um ambiente salutar, livre dos incon-


venientes que toda briga judicial pode trazer, naturalmente, para esse nível
de tratamento, as pessoas devem ter um alto grau de maturidade, serenida-
de e respeito.

Independente do tipo de discussão, seja ela nos tribunais, ou de forma


amigável, existindo a carência de conhecimentos técnicos e específicos de
algo que envolva bens, direitos e obrigações, será necessário o auxílio de um
profissional denominado de perito.

O perito assumirá o papel da pessoa responsável por monitorar aqueles


que necessitam de informações diversas, para que possam tomar a melhor
decisão, sempre baseada por critérios técnicos.

Especialmente na área de contabilidade, a procura por pessoas que exer-


cem a atividade de perícia estará voltada fundamentalmente para questões
inerentes ao patrimônio que está em discussão, pois são os contadores
os profissionais que possuem o conhecimento necessário para auxiliar o
julgador.
137
Aplicações usuais da perícia contábil

Percebemos, assim, a vastidão da aplicabilidade de trabalhos na área de


perícia contábil, como bem descreve Alberto (2000, p. 112):
Discriminar os campos e as situações em que é possível a aplicação de perícia contábil é
tarefa que somente pode ser tomada em caráter de exemplificação, pois inumeráveis são as
situações em que a perícia pode atuar. Isto decorre do próprio caráter de abrangência que
pode ter a perícia e, no caso de perícia contábil, mais ainda, em face de, ao se manifestar
sobre situações, coisas ou fatos oriundos ou de natureza contábil, por extensão também
tem acepção ampla, como tem a própria Ciência Contábil.

Não é difícil imaginarmos quantas questões conflituosas envolvem os estu-


dos e os registros proporcionados pela contabilidade, e que no momento de
uma discussão seriam trazidas a lume para que houvesse uma justa e honesta
decisão que envolvesse o patrimônio das pessoas que estariam em conflito.

Centraremos nossos estudos basicamente em algumas questões passí-


veis de discussões que envolvem as apurações de haveres e análise voltadas
para valores patrimoniais.

Apuração de haveres e análise


de valores patrimoniais
A palavra haveres denota a riqueza que uma pessoa física ou jurídica
acumula ao longo da sua existência, sendo esta um potencial de conflito
entre aquelas pessoas interessadas na resolução dos valores que certamente
seriam elevados.

Em um conflito latente que envolva a apuração de haveres, termo mais


voltado para a área jurídica do que a área contábil, as pessoas envolvidas
acreditam que receberiam somente aquilo que em tese é positivo, que bene-
ficia a elas, como bens, propriedades, carros, ações, imóveis, entre outros.

Não obstante as riquezas que envolvem a apuração de haveres, a Ciência


Contábil nos ilumina com uma palavra mais abrangente, que é patrimônio,
sendo este o objeto de estudos da própria contabilidade.

Por patrimônio entende-se o conjunto de bens, direitos e obrigações que


uma pessoa pode acumular ao longo da sua existência, seja ela pessoa física
ou jurídica.

Segundo o nosso ponto de vista, o termo patrimônio é mais abrangente e


compreensível do que haveres, pois está vinculado inclusive no dia a dia das

138
Aplicações usuais da perícia contábil

pessoas, na própria declaração de imposto de renda que fazemos anualmen-


te, relacionando todos os nossos bens, direitos e obrigações.

Considerando que patrimônio é tudo aquilo que possuímos, favoravel-


mente, bens e direitos, ou desfavoravelmente obrigações, o que sobra é de-
nominado de patrimônio líquido.

Do exposto anteriormente, concluímos que na apuração de haveres


também as dívidas contemplam algo que poderia ser partilhado junto às pes-
soas que estariam em conflito, pois nem somente a parte positiva, bens e direi-
tos, mas também a parte negativa, obrigações, faria parte dessa apuração.

A perícia sobre análise de valores patrimoniais decorre da necessidade de


se verificar um determinado valor, ou conjunto de valores, que estão conti-
dos na escrituração contábil de uma organização, para que seja verificada a
sua existência, e a correta forma de mensuração.

Os valores patrimoniais auxiliam na formação da convicção do julgador,


pois é através da contabilidade que será possível determinar de forma física
e monetária o que compete a cada pessoa que questiona o valor dos bens,
direitos ou obrigações que fazem parte da escrituração mercantil de uma
organização.

Passaremos a discorrer sobre algumas perícias que podem ser deman-


dadas na apuração de haveres, ou na avaliação de valores patrimoniais, ex-
pondo a forma de condução da atividade pericial, e o que se busca em cada
uma delas.

Nas sociedades através de dissolução ou resolução


Quando duas ou mais pessoas acalentam o sonho de constituir uma so-
ciedade, naturalmente acreditam que os negócios, pensamentos, as atitu-
des e a filosofia são voltados para o bem comum, e que tanto a organização
como os donos terão prosperidade.

Todavia, ao longo da jornada, uma série de fatores pode contribuir para


que o pensamento inicial de prosperidade, continuidade e harmonia seja
aos poucos desfeito, e os sócios decidam, seja amigavelmente, de forma rara,
ou judicialmente, com maior habitualidade, pela dissolução ou resolução da
sociedade.

139
Aplicações usuais da perícia contábil

De acordo com estudos realizados por Hoog (2008, p. 249 e 250), fixados
no Código Civil, temos a seguinte distinção entre dissolução e resolução de
sociedades:
O ato de dissolução representa a decomposição da sociedade empresarial em relação a
sua vida pela extinção ou distrato do contrato social. Esse é obtido pelo vencimento de seu
prazo de duração ou sua liquidação. É regido pelo artigo 1.033 do Código Civil de 2002.

A resolução de sociedades, artigo 1.032, do CC/2002, em relação a um ou mais sócios é


uma decisão, deliberação ou a capacidade de resolver o direito de um sócio, minoritário
ou majoritário em relação ao conjunto de sociedade, pela apuração dos seus haveres [...]

Independente de ocorrer a dissolução ou a resolução da sociedade, haverá


a imperiosa necessidade da apuração dos haveres, ou como mais usualmen-
te é denominada, a apuração do patrimônio dos sócios.

A apuração do patrimônio se faz necessária para que haja a justa divi-


são de tudo aquilo que foi construído ao longo dos anos em que os sócios
trabalharam em harmonia, de tal maneira que não haja prejuízos ao sócio
retirante, ou ao que decide manter os negócios.

Considerando estudos realizados por Lopes de Sá (1994), em perícias vol-


tadas para a apuração de haveres que envolvem sociedades, o que se busca
é conhecer os créditos, e os débitos dos sócios, o valor patrimonial líquido
real que compete a cada um deles, as expectativas de lucros da sociedade,
desde que ela continue em pleno funcionamento, ou, caso contrário, haven-
do a liquidação da sociedade, deverá ser avaliada a expectativa de realização
do patrimônio através de valor justo.

Seja através de acordo consensual ou nos tribunais, entendemos que a


apuração do patrimônio é afeta ao profissional de perícia contábil, pois é
esta a pessoa capacitada para identificar junto à escrituração contábil as prá-
ticas usuais de perícia, e à Ciência Contábil qual seria o valor adequado que
pertence a cada sócio.

Quando a discussão alcança os tribunais, há uma nítida e clara descon-


fiança entre os sócios em relação àquele que faz gestão na sociedade, ima-
ginando que este procedeu à dilapidação do patrimônio, com o fulcro de
prejudicar seu, agora, ex-sócio.

O perito deverá ter muita habilidade na execução dos trabalhos, pois em


casos que envolvem sociedade, será solicitada a realização de um “balanço
de determinação”.

140
Aplicações usuais da perícia contábil

O balanço de determinação é requerido pelo juiz, em que deverão ser ex-


postos todos os bens, direitos e obrigações que constam no balanço comum,
acrescidos de ativos e passivos ocultos, independente da legislação contábil
ou fiscal.

Assim, um item que deveria compor o balanço de determinação seria,


por exemplo, o fundo empresarial, termo utilizado para designar um conjun-
to de ativos intangíveis que normalmente não estão compondo o balanço
comum, tais como: ponto comercial, carteira de clientes, tecnologia, know-
-how, capital intelectual, entre outros atributos.

Não raras são as vezes em que a execução de uma perícia envolvendo


a dissolução ou resolução de sociedades envolve a realização de trabalhos
conjuntos entre contadores, engenheiros, advogados, pois a apuração do
patrimônio de uma organização com diferentes negócios, grande volume
de operações/transações e vários bens, é tarefa deveras complexa.

Nas ações de alimentos


A origem da ação de alimentos normalmente está voltada para a deter-
minação do valor adequado e suficiente para que uma pessoa possa manter,
com um padrão digno e próximo do que possuía, aqueles pelos quais é le-
galmente responsável.

A ação de alimentos envolve cálculos, com base nos registros contábeis,


motivo pelo qual, nesse tipo de tarefa, o contador pode desenvolver o tra-
balho de perícia sozinho, ao contrário das ações que envolvem bens como
imóveis, veículos, máquinas, terrenos, em que é necessária a ajuda de outros
profissionais.

Nesse tipo de ação, com habitualidade envolve a separação de casais com


filhos, nos quais uma das pessoas, a que não possui renda, ou que tenha
renda muito inferior, fica com a guarda do(s) filho(s) do casal, e ingressa na
justiça pleiteando um valor mensal para custear as despesas do alimentado.

Pode ocorrer, ainda, em situações raras em que mesmo não havendo


filhos fique a clara interpretação e evidenciação de que um dos cônjuges
deixou de prosseguir nos seus estudos, ou no trabalho, para dar total e irres-
trito apoio ao outro cônjuge na ascensão profissional, e que no momento da
separação o que se “anulou” não teria condições morais e psicológicas para
ingressar no mercado de trabalho, logo, não teria como subsistir.
141
Aplicações usuais da perícia contábil

Pode existir a necessidade da realização da perícia, em situações em


que um dos cônjuges seja empresário, e possua vários bens e transações
de grande monta, onde demandaria trabalho minucioso sobre a escrita
contábil.

Quanto mais ascendente for a pessoa que construiu a riqueza, muito pro-
vavelmente terá diferentes tipos de bens, podendo alguns estarem registra-
dos na contabilidade e outros não.

Além dos bens, também as formas pelas quais a pessoa obtém recursos
para a manutenção da estrutura financeira que ostenta, podendo advir de
várias fontes como pró-labore, participações nos resultados, aluguéis, salários
indiretos (auxílio moradia, alimentação, educação, oferecidos pela empresa).

Em casos que envolvem a ação de alimentos, não são raras as situações em


que um dos cônjuges, prevendo a iminência da separação, inicia por “arquite-
tar” uma situação desfavorável a ele, como, por exemplo, transferindo bens a
terceiros, aumentando as despesas da empresa para dar a entender que os ne-
gócios não vão bem, abrindo contas-correntes em nome de outras pessoas.

Como todos os aspectos antes descritos envolvem basicamente patrimô-


nio, também nesse caso entendemos ser uma área de potencialidade para
execução de trabalhos periciais contábeis.

Os exames do perito contábil estariam centrados sobre a escrita contábil


da empresa na qual um dos cônjuges é o titular, além da escrituração das
possíveis empresas associadas, nas quais há controle ou participação.

Além da base escritural contábil, mereceria também destaque o acom-


panhamento do padrão de vida de um dos cônjuges em contraposição às
suas fontes de recursos, procurando evidências que pudessem caracterizar
omissões de receitas.

Havendo a caracterização da omissão de receitas, é perfeitamente per-


tinente que o perito contábil instrua os advogados a requererem junto ao
julgador a quebra do sigilo bancário, fiscal e telefônico, de tal maneira a ter
provas materiais sobre os desvios de riquezas.

Seria astuto ainda, da parte do perito, comparar a evolução do patrimô-


nio de um dos cônjuges em anos anteriores, em relação ao ano em que está
sendo discutida a separação litigiosa, tendo assim evidência de se houve ou
não a intenção de dilapidação do patrimônio.

142
Aplicações usuais da perícia contábil

Nas ações de inventários


Essa é uma área com uma grande potencialidade de realização de perí-
cia contábil, considerando que em ações de inventário, os herdeiros buscam
seus direitos em relação ao patrimônio do falecido.
Existe enorme possibilidade do inventário se “desenrolar” nos tribunais,
na medida em que haja mais de um herdeiro, e com um fator complicador,
se a pessoa que faleceu tiver mais de uma família, o que significa dizer, filhos
de pais diferentes.
Nesse caso, havendo filhos de pais diferentes, existe enorme chance de
brigas, discussões e mágoas, dependendo de como era a relação entre os
herdeiros, que culminam muitas vezes na justiça.
Quando um dos herdeiros trabalha efetivamente na empresa e outros que
nunca trabalharam, mas que agora, com o falecimento do progenitor, teriam
iguais direitos daquele que doou todo seu esforço para a projeção e o progresso
da organização, certamente essa situação demandaria batalhas nos tribunais.
Caso o de cujus seja proprietário de empresa, ou tenha participação em
várias organizações, inevitavelmente deveria ter requerida a perícia contábil
a fim de que houvesse o adequado levantamento do patrimônio.
No levantamento do patrimônio da pessoa falecida, uma parte das análi-
ses do perito se fundamentaria na escrituração contábil, com vistas em livros
e documentos que estariam de posse da empresa, além do levantamento
patrimonial da pessoa física.

Nas reclamatórias trabalhistas


Como todos sabem, a legislação trabalhista no Brasil é extremamente com-
plexa, e não são raras as vezes em que ocorrem interpretações dúbias, fazendo
com que em muitas situações a demanda somente se resolva na justiça.
Quando o empregado trabalha com empresas que remuneram de formas
diferentes, como salários variáveis, salários indiretos, participações nos resul-
tados, pagamentos baseados em metas, entre outras maneiras, há grande
possibilidade de acabar nos tribunais.
Temos, ainda, situações em que há a realização de um acordo informal
entre patrão e empregado, de que uma parte do salário seja pago via folha
de pagamento, e outra por fora.

143
Aplicações usuais da perícia contábil

No momento da rescisão, todas as situações antes expostas são trazidas à


baila, pois naturalmente o empregado se sentirá lesado por não ter recebido
tudo o que ele julga ter direito.
Para que o julgador tenha segurança em proferir a sentença, deverá exis-
tir um valor de liquidação, pois sem a determinação do valor, nem a pessoa
que deve saberia quanto tem que pagar, nem a pessoa que tem o direito ao
crédito saberia quanto tem a receber.
Dentre as possibilidades de atribuição de liquidação, destaca-se aquela
que é estabelecida através de cálculos, e aquela realizada via arbitramento.
No que diz respeito à liquidação por cálculos e por arbitramento, Pont
(2010, p. 36-37) nos ensina:
Seria feita a liquidação por cálculos quando o montante da condenação depender de
operações aritméticas. A liquidação por cálculos se inicia a partir do momento em que
a sentença transitar em julgado, ou que os recursos interpostos já foram objeto de
processamento e julgamento pelas instâncias próprias (TRT ou TST).
A liquidação de sentença será feita por arbitramento quando assim houver sido
determinado pela sentença ou ajustado pelas partes, ou quando a natureza do objeto
de liquidação o exigir. Arbitramento constitui, portanto, exame ou vistoria pericial, cuja
finalidade reside em apurar o quantum corresponde à obrigação que deve ser satisfeita
pelo devedor, e que exige conhecimento especializado de um perito cuja cognição técnica
ou científica foge à percepção comum.

Do exposto anteriormente, podemos perceber que tanto na liquidação


por cálculos como na por arbitramento, a participação de um perito é funda-
mental para que haja a adequada apuração do valor.
Não obstante a investigação pericial possa ser realizada por profissionais
das mais variadas formações, entendemos ser especialidade do perito contábil
uma vez que uma grande parcela das informações serão coletadas em livros
contábeis, como o livro-razão e o livro diário, além de exames sobre a folha de
pagamento e documentos gerados pela área de recursos humanos.
O contador tem grande habilidade e conhecimento das leis, regulamen-
tos e instruções que permeiam a área trabalhista, pois são eles que muitas
vezes fazem os cálculos da folha de pagamento das organizações, motivo
pelo qual estariam seguros para atuar nessa área.

Nas falências
O instituto da falência ocorre quando há a nítida incapacidade de uma
organização honrar os seus compromissos, em virtude de não dispor de di-
nheiro, tampouco crédito junto a terceiros.
144
Aplicações usuais da perícia contábil

A falência pode ocorrer por uma infinidade de situações, desde a incapa-


cidade de gestão das pessoas responsáveis pela administração da empresa,
por perda de contratos que garantam a sobrevivência da organização, por
avanço de novas tecnologias, ou ainda por infortúnios da natureza.

Os fatos antes relatados não induzem ao raciocínio da fraude, todavia a


falência poderá se processar por essa tortuosa via em que o objetivo é pre-
judicar os mais variados credores, como herdeiros, sócios, entidades finan-
ceiras e outros.

A falência poderá ser requerida por um dos credores, comerciante ou não,


pelo próprio devedor (autofalência), pelo espólio ou por aqueles que têm
direitos de sucessão, como o cônjuge sobrevivente e herdeiros.

Em uma etapa seguinte à requisição da falência, muitos serão os desdo-


bramentos contábeis, como o encerramento dos livros em cartório, para a
posterior realização do ativo, sempre acompanhados por pessoa competen-
te, evitando que se transforme em algo fraudulento, que venha a prejudicar
os vários interessados.

A massa falida, que é o acervo de ativos e passivos do falido, passará a ser


cuidada por uma pessoa denominada de síndico, cuja competência será a
de representar a massa falida, arrecadar os bens e os livros do falido, prestar
informações aos interessados, elaborar relatórios gerenciais, além de promo-
ver a liquidação.

Todas as etapas anteriores devem estar respaldadas na escrita contábil.


É importante mencionar que a contabilidade tem um papel crucial em
todo o processo, que obviamente deverá ser acompanhado por um perito-
-contador.

Sendo o contador um cientista que conhece profundamente sobre os


fatos contábeis, tanto aquele baseado na legislação e práticas adequadas de
escrituração, quanto os revestidos de fraudes, vícios, manipulações e tantas
outras anomalias que possam existir na contabilidade, é o profissional mais
adequado para investigar a lisura do processo que envolve a falência.

A perícia contábil é determinante em processos de falência, pois visa


proteger aos interesses dos diversos interessados, para que os mesmos não
sejam prejudicados em decorrência de simulações de insolvência por parte
do falido.

145
Aplicações usuais da perícia contábil

Nas indenizações por perdas


Existem diversos fatores que poderiam motivar ações judiciais de indeni-
zações, quando a pessoa se sentir lesada em determinados direitos, princi-
palmente causados por danos de terceiros.

Exemplos corriqueiros são indenizações ocasionadas por desapropria-


ções, e aquelas decorrentes de lucros cessantes.

Nas indenizações originadas através de desapropriações, que são atos do


poder público, que julga que determinado bem deve ser de utilização da
sociedade, “remunerando” o eventual dono do bem, por valor que julga sufi-
ciente para reparar o dano causado.

O problema é que na avaliação do poder público normalmente o valor


da indenização é inferior ao que efetivamente deveria ser, pois atendem
mais aos interesses políticos do que efetivamente aos interesses dos
proprietários.

Assim, pode ocorrer que a desapropriação atinja instalações que são


pontos comerciais, onde funcione uma empresa, e que nos cálculos da inde-
nização não estejam previstos lucros cessantes.

O lucro cessante seria o quanto a empresa deixou de ganhar por danos


causados por terceiros, em que as projeções e estudos realizados pelo perito
seriam baseados na contabilidade, na escrituração mercantil que a empresa
possuía, motivo pelo qual, naturalmente, o profissional capacitado para a re-
alização desses cálculos seria o perito-contador.

Nas prestações de contas


A prestação de contas deve existir sempre que alguém tenha o direito de
exigir que outra pessoa exponha de forma clara e transparente os atos prati-
cados por quem estava no comando de determinada organização.

Assim poderá haver prestação de contas na gestão de entidades sem fins


lucrativos, como associações, fundações, clubes, condomínios, como naquelas
que exercem atividades com o objetivo de lucro, como as empresas em geral.

De acordo com estudos realizados por Hoog (2008), os documentos rela-


tivos à prestação de contas devem ser sob a forma mercantil, artigo 917 do

146
Aplicações usuais da perícia contábil

CPC, em que os administradores são obrigados a darem contas justificadas


da sua administração.

Quando o referido código cita forma mercantil, está relacionado com a


contabilidade, ou seja, para a prestação de contas dos atos da administração
a base é contábil.

No que se refere à prestação de contas, estas podem inclusive ser solicita-


das pelos herdeiros, quando uma organização está sendo administrada por
um terceiro, de modo a ficarem cristalinos os atos de gestão.

Na prestação de contas, o que deve ser avaliado não é somente aquilo


que possa ter gerado fraudes, mas também os atos de uma gestão danosa e
desastrosa por pura falta de competência.

A respeito da gestão incompetente, Lopes de Sá (1994, p. 258) nos ensina:


“Como a “prestação de contas”, contabilmente, pressupõe a demonstração
de valores geridos por conta de terceiros, aos quais se deve satisfação, a re-
dução do valor patrimonial por má gestão, por má-fé, são danos à riqueza”.

Caberia no caso de análise da prestação de contas a avaliação sobre os


documentos que geraram os registros contábeis, buscando analisar se estes
se revestem das formalidades necessárias para suportar os registros das
transações.

Por fim, o perito-contador teria que se adequar à análise da prestação


de contas, de acordo com a natureza dos entes envolvidos, assim, se fossem
envolvidas entidades públicas, muito mais atenção demandaria, pois são no-
tórios os desvios de verbas que ocorrem em transações governamentais.

Novamente entendemos que a pessoa competente pela avaliação da


prestação de contas, com base em registros na contabilidade, é o perito-
-contador, pois é ele que possui os fundamentos necessários para fazer aná-
lise das demonstrações financeiras, observando como o gestor recebeu o
patrimônio que ele geriu, e como está entregando.

Entre as diversas etapas que contemplariam a análise mercantil da presta-


ção de contas, não poderia faltar o levantamento físico e monetário do patri-
mônio, o uso indevido e a dilapidação do patrimônio, e as possíveis fraudes
ocorridas como desvios de recursos, apropriações de bens e transações com
nítido favorecimento de pessoas ligadas aos gestores da organização.

147
Aplicações usuais da perícia contábil

Nos embargos à execução de despesas


e créditos tributários
A legislação fiscal no Brasil é especialmente detalhada no que diz respeito
aos eventuais créditos fiscais a que uma empresa, ou determinada operação,
dá direito, assim como naquelas despesas que podem ser deduzidas da apu-
ração da base de cálculo tributária.

O que para uma empresa poderá ser considerado como crédito tributário,
para outra não é aceito fiscalmente, além de haver a nítida caracterização
de que o tributo é decorrente de algo vinculado às operações da empresa,
como, por exemplo, os tributos relativos à aquisição de itens do estoque.

Também para as despesas existem interpretações distintas do que é con-


siderado dedutível da base de cálculo tributária, para empresas tributadas
com base no lucro real, de despesas, que embora ocorram com frequência
na empresa não seriam aceitas para fins de dedutibilidade do imposto de
renda e da contribuição social.

Em virtude da complexidade da legislação e do seu detalhamento, poderá


haver interpretações dúbias que geram demandas judiciais de órgãos fisca-
lizadores contra a empresa, alegando embargos sobre determinados valores
escriturados na empresa.

Como a base da contestação é sobre fatos contábeis, havendo a necessi-


dade de perícia, não há dúvida de que o profissional competente deverá ser
o perito contábil, pois através de exames da escrituração, conhecimento das
operações, e da legislação inerente à determinada entidade, poderá emitir
opinião técnica que auxiliará no julgamento sobre o aludido embargo.

Nas alegações de falta de entrega de mercadorias


Pode existir demanda judicial quando existir a alegação de uma parte di-
zendo que não houve a recepção de mercadorias, e a outra alegando que
efetivamente houve a entrega destas.

O conflito entre cliente e fornecedor pode ocorrer não somente em re-


lação à dita falta de entrega de mercadorias, mas também para produtos,
serviços, equipamentos, máquinas, especialmente quando há a entrega de
dinheiro antecipado para a entrega posterior de um bem ou serviço.

148
Aplicações usuais da perícia contábil

Na relação, nem sempre amigável, que envolve cliente e fornecedor vários


questionamentos podem ser feitos via judicial, conforme descreve Lopes de
Sá (1994):
a) Ausência total de entrega, tendo havido parte de pagamento pelo comprador;

b) Parte do prometido entregue, total pago e outra parte não entregue;

c) Várias entregas feitas, mas não todas e todo o pagamento feito pelo comprador já
realizado;

d) Todo pagamento feito pelo comprador e nenhuma mercadoria entregue etc.

Nas situações antes explicitadas, o exame pericial estaria voltado para


constatar através da perícia contábil, se todas as operações estavam regis-
tradas na contabilidade, acompanhadas por documentos adequados que
pudessem comprovar a veracidade das transações.

Análise sobre contratos, notas fiscais, conhecimentos de transporte que


pudessem comprovar a entrega dos bens, extratos bancários evidenciando
a entrada de recursos advindos de pagamentos do fornecedor, movimen-
tações nos estoques, seriam exemplos de verificações que competiriam ao
perito contábil.

Essas verificações seriam muito importantes para que o perito buscasse


identificar os eventuais prejuízos causados pela falta de entrega de um de-
terminado item, pois vários complicadores poderiam advir dessa situação,
como paralisação da atividade pela falta de matéria-prima, perda de clientes
pela não entrega de bens na época aprazada, aquisições de mercadorias por
preços muito acima do mercado, para atender a um pedido de urgência.

Formalidades da escrituração contábil


A escrituração contábil é extremamente importante para que uma empre-
sa tenha os registros de tudo aquilo que acontece em relação às suas opera-
ções do cotidiano, sendo possível ter o controle do patrimônio empresarial.

A contabilidade, sendo bem utilizada, é sem dúvida nenhuma o maior banco


de informações de que uma organização pode dispor, pois ali estarão registrados
todos os atos e fatos contábeis da empresa, de forma ordenada e organizada.

São vários os usuários interessados na manutenção clara e transparente


de toda a escrituração mercantil, tendo por destaque os proprietários, os in-
vestidores, as instituições financeiras, o governo, entre outros.

149
Aplicações usuais da perícia contábil

Para atender à sua finalidade, e servir de base confiável para os diversos


interessados, e entre eles poderá estar o próprio perito, a escrituração con-
tábil deve respeitar algumas regras e formalidades, para que se preste como
habilitada e fidedigna, assim destacamos:

 todas as operações devem ser registradas, sendo a escrituração indi-


visível, ou seja, as transações podem auxiliar os proprietários da com-
panhia, mas também prejudicá-los na medida em que incorram em
vícios;

 todas as operações e descrições devem ser no idioma e na moeda na-


cionais, evitando ao máximo a utilização de termos estrangeiros;

 toda a escrituração deve ser na forma mercantil, contabilizada na for-


ma de débitos e créditos de forma a possibilitar identificar as origens e
as aplicações dos recursos suportadas por plano de contas adequada-
mente estruturado;

 todas as operações devem ter históricos completos, os quais devem


ter a clareza da descrição da transação a que eles se referem;

 toda a escrituração deve preservar a ordem cronológica de dia, mês e


ano, embora seja possível a escrituração mensal;

 a escrituração deve estar livre de erros, borrões, rasuras, emendas, en-


trelinhas e intervalos em branco.

Quando o perito contábil se utilizar da escrituração mercantil para formar


a sua convicção, todos os itens antes qualificados devem ser observados,
para que seja possível identificar se a contabilidade da empresa é servível
para fins de obtenção de evidências periciais.

Deverá ser observada, ainda, se houve a encadernação, e numeração sequen-


cial das folhas que compõem os livros apresentados, tendo termos de abertura
e encerramento, e registro na Junta Comercial ou outro órgão, de acordo com a
característica do livro apresentado.

Em relação aos livros apresentados pela organização, os quais ficam tem-


porariamente sob a guarda do perito, devem ser entregues intactos para as
entidades, o que significa dizer que o perito não deve rasurar a escritura-
ção com marcações, códigos, ou qualquer identificação do trabalho que foi
executado.

150
Aplicações usuais da perícia contábil

Tendo tanta importância para o perito, a escrituração é fundamental para a


adequada realização da atividade pericial, todavia nem sempre a organização
apresenta a escrituração, ou, quando a faz, realiza de forma procrastinada.

Caso ocorra o fato anteriormente citado, no qual a organização não apre-


senta os livros quando solicitados, deve o perito direcionar petição a quem o
nomeou, solicitando que haja a apresentação dos livros na Justiça, de modo
a poder realizar a sua função da melhor maneira possível.

Formalidades dos documentos


Uma vez que todos os registros contábeis devem estar suportados por
documentação hábil, cabe ao perito identificar se são idôneos e fidedignos.

A formalização da documentação pressupõe que são autênticos, e guar-


dam relação direta com a operação contabilizada, sendo apresentados de
forma legível, sem rasuras ou borrões.

Sendo apresentados documentos fotocopiados, estes devem estar devi-


damente autenticados, por fonte externa, de tal maneira a trazer segurança
e confiabilidade ao perito.

Há ainda documentos gerados internamente por determinadas áreas da


empresa, para dar suporte a certas operações, como, por exemplo, requisi-
ções de materiais, recibos internos, autorizações para descontos, ordens de
compras, contratos de trabalho, entre outros.

No caso dos documentos gerados internamente, o essencial é que


também sejam revestidos de formalidades básicas, como, campos específi-
cos que identifiquem o autorizador da operação, a que ela se refere, além de
numeração que possibilite a rastreabilidade.

Quando exercida a verificação documental, é essencial constatar se


aquele documento está em nome da empresa, caracterizando que faz parte
das transações normais e usuais, pois documentos emitidos em nome de
terceiros, registrados na escrituração da empresa não estariam adequados.

Para documentos emitidos em outro idioma, e que tenham sido traduzi-


dos para o português, somente aceitar se tenha sido realizada por tradutor
juramentado, que é o profissional que goza de credibilidade na justiça para
essa situação.

151
Aplicações usuais da perícia contábil

Não sendo apresentados documentos, ou julgando que estes são insu-


ficientes para formar a convicção do perito, poderá ele se utilizar da técnica
denominada de “provas emprestadas”, que consiste em obter a documenta-
ção diretamente do emissor.

Quem milita na área contábil é profundo conhecedor dos tipos de docu-


mentos que suportam cada operação registrada, todavia Zanna (2005, p. 83
e 84) descreveu de forma muito didática transações que ocorrem na contabi-
lidade e quais documentos as suportam, conforme citamos a seguir:
a) na compra de materiais e serviços: notas fiscais/faturas e cupons fiscais;

b) no pagamento do pessoal: folha de pagamento e recibos de salários;

c) no pagamento de taxas, impostos e demais tributos: guias de recolhimento padroni-


zada pela autoridade governamental [...];

d) no pagamento de encargos sociais: guias de recolhimento padronizadas pela autori-


dade previdenciária [...];

e) serviços de autônomos: RPA recibo de pagamento de autônomo [...];

f ) quitação de dívidas comerciais: recibos fornecidos pelos credores, de preferência au-


tenticados mecanicamente [...];

g) quitação de dívidas trabalhistas: recibos assinados pelos empregados ou convênio


bancário para crédito do salário nas contas-correntes dos empregados [...].

Do exposto, percebemos a importância que tem a escrituração contábil


estar registrada através de documentos confiáveis, sendo função pericial
atestar a documentação que é apresentada a ele (o perito), buscando a cer-
tificação de autenticidade.

A documentação apresentada ao perito deverá ser solicitada por ele me-


diante formulário denominado de termo de diligência, no qual constará a re-
lação descritiva dos documentos, o período a que se referem, a data, local e
horário que gostaria que fosse posto à disposição do profissional de perícia.

Caso o perito se julgue incapacitado de verificar a autenticidade de de-


terminado documento, em razão de falta de experiência, ou conhecimento
técnico, poderá solicitar ao juiz que participe do trabalho um profissional
com o conhecimento de documentoscopia.

O profissional de documentoscopia possui formação técnica de tal maneira


que consegue identificar vários vícios que possam conter a documentação,
como envelhecimento através de reagentes químicos, raspagem e colagem.

152
Aplicações usuais da perícia contábil

Ampliando seus conhecimentos

Dissolução de S.A. extrajudicial


é mais fácil – disposição negocial
(REZENDE JUNIOR, 2011)

Os problemas com os quais se deparam os advogados que lidam com o


direito societário têm sua gênese, na grande maioria das vezes, na impossi-
bilidade de os sócios manterem-se associados. Problemas das mais diversas
naturezas levam pessoas que originalmente compartilhavam objetivos a se
tornarem opositores ferrenhos.

O desacerto entre os sócios pode acabar em demandas judiciais. No


âmbito das sociedades limitadas, as opções mais comuns são a exclusão de
sócio e a dissolução da sociedade. Na primeira, como o nome já anuncia,
busca-se a expulsão de um ou mais sócios, fundando-se em faltas graves no
cumprimento das obrigações sociais. Na segunda, o sócio interessado pode
pleitear o desfazimento da totalidade dos vínculos sociais (dissolução total)
ou apenas em relação a si (dissolução parcial). Por mais que essa divisão seja
bastante evidente, não é raro se ver uma sendo usada pela outra: a propo-
situra da ação de dissolução quando o que se pretende é a exclusão de um
sócio. E o que é pior, valendo-se do argumento da inviabilidade do convívio,
o que ganhou a pomposa designação de “quebra da affectio societatis”, mas
que pouquíssimo sentido tem para as relações societárias, como bem de-
monstrado por Erasmo Valladão Azevedo e Novaes França e Marcelo Vieira
von Adamek (In: Affectio Societatis: um conceito jurídico superado no mo-
derno direito societário pelo conceito de fim social. Direito Societário Con-
temporâneo I, São Paulo: Quartier Latin, 2009).

As sociedades anônimas, por sua vez, têm sua estrutura criada para a per-
manência. Os problemas pessoais entre os sócios, mais precisamente, acio-
nistas, não deveriam afetar a continuidade da vida da sociedade, na medida
em que há a livre negociação das ações. Contudo, cada vez mais ganha força
o entendimento jurisprudencial no sentido de que em sociedades anônimas
fechadas familiares, com pouca possibilidade de negociação das ações, é pos-
sível a dissolução (total ou parcial) por provocação de sócio.

153
Aplicações usuais da perícia contábil

De qualquer modo, vencidas as discussões a respeito do direito que se


evoca e sendo vitorioso o pleito, há de se seguir com a apuração dos haveres
do sócio que está se desligando da sociedade. A apuração é feita mediante
o levantamento de balanço especial de determinação cuja função é apontar
o efetivo valor patrimonial da sociedade no momento da dissolução. Para
tanto, nem sempre é suficiente um perito contábil, já que, dependendo do
acervo patrimonial da sociedade, é necessária a participação de profissionais
de outras áreas (por exemplo, de um perito engenheiro, de um perito em pro-
priedade industrial, de um economista etc.). Essas providências implicam dis-
pêndio de dinheiro e tempo.

E aí, no curso do processo, enquanto se aguarda a definição dos haveres,


as partes tendem a buscar medidas para efetivar ou proteger seus direitos (ou
os direitos que imaginam ter). Quem não está na administração da sociedade
move-se para apear quem lá se encontra. Quem alega receio de dilapidação
do patrimônio que responde pelo pagamento de seus haveres, tenta impedir
a alienação de bens do acervo e assim por diante.

No choque entre as partes, muitas vezes o juiz acaba por nomear um terceiro
para fiscalizar a administração ou, no extremo, para assumi-la. Não é preciso
muito esforço para ver que o futuro da sociedade é posto em risco: em merca-
dos cada vez mais competitivos, essas sociedades perdem o foco de seu negó-
cio para lidar com o problema deflagrado entre seus sócios. A quantidade de
energia dispensada na condução dessas situações deveria estar direcionada ao
negócio e acaba por deixar a sociedade um passo atrás de sua concorrência.

Vencidas essas etapas, o procedimento de apuração de haveres prestar-


-se-á a converter os direitos societários em uma obrigação pecuniária. Vale
dizer, o balanço especial de determinação indicará uma cifra a ser paga ao
sócio retirante por sua participação social. A partir de tal ponto, o ex-sócio
torna-se um credor da sociedade e terá à sua disposição os meios executivos
ordinários para a cobrança. O pagamento dos haveres deverá ser sempre em
espécie, não sendo possível compelir o ex-sócio a receber bens do ativo em
pagamento. Não há, também, grande espaço de manobra para programação
do desembolso, o que pode impactar diretamente a capacidade de a empresa
dar seguimento a seus negócios. Caso se pense em contar com a demora da
apuração, é de se lembrar que a incidência de juros moratórios sobre o valor
devido pode se tornar parte importante da conta a ser paga pela sociedade
ao final.

154
Aplicações usuais da perícia contábil

Há, como se vê, problemas de lado a lado, que comprometem ora os in-
teresses da sociedade e sócios remanescentes, ora os do sócio retirante.
Atentando-se para esses custos – nem sempre previsíveis –, as tentativas de
composição extrajudicial vêm se tornando prática cada vez mais usual nas
questões societárias.

Soluções extrajudiciais permitem a contenção desses variados riscos. O


problema intestino da sociedade, a depender do nível de maturidade dos
sócios, pode ficar contido em seus muros, evitando a fragilização do negócio.
Há plena liberdade de negociação: cabe aos envolvidos definir o valor dos
haveres, forma de pagamento, constituição de garantias e mesmo a utilização
de bens do acervo como forma de pagamento. A solução pode passar por
uma cisão da sociedade, com o consequente desmembramento do negócio e
reduzida implicação de ordem tributária.

As dúvidas quanto à avaliação de bens e direitos podem ser sanadas me-


diante a avaliação por terceiro que goze de confiança de todos. Não raro,
vê-se a realização de auditoria nas contas da sociedade como passo prévio à
efetiva negociação, como forma de trazer algum conforto ao grupo que não
se encontra na administração.

Os sócios podem, ainda, regrar a vida posterior ao fim do convívio social.


Cláusulas que regulem a concorrência e o sigilo das informações são pratica-
mente indispensáveis em tais situações. As falhas ou omissões que aí costu-
mam ocorrer ficam por conta da deficiente orientação na previsão dos efeitos
do negócio de separação.

Evidentemente, todas essas vantagens somente se materializarão se


houver disposição negocial por parte dos sócios. Se essa disposição faltar, o
Poder Judiciário será o pedregoso caminho a percorrer.

Atividades de aplicação
1. Escreva sobre o significado do termo “apuração de haveres” quando
são realizados trabalhos voltados para a área de perícia contábil.
2. Disserte sobre a importância da avaliação de valores patrimoniais quan-
do são realizados trabalhos voltados para a área de perícia contábil.
3. Explique como se daria o exame pericial em “ações de alimentos”, caso
um dos cônjuges fosse diretor, ou acionista de várias empresas.
155
Aplicações usuais da perícia contábil

Referências
ALBERTO, Valter Luiz Palombo. Perícia Contábil. 2. ed. São Paulo: Atlas, 2000.

HOOG, Wilson Alberto Zappa. Prova Pericial Contábil. 6. ed. Curitiba: Juruá,
2008.

LOPES DE SÁ, Antônio. Perícia Contábil. São Paulo: Atlas, 1994.

PONT, Juarez Varallo. Cálculos Judiciais Trabalhistas: teoria e prática. 13. ed.
Curitiba: Rósea Nigra, 2010.

REZENDE JUNIOR, Nelson Couto. Dissolução de S.A. extrajudicial é mais fácil


– disposição negocial. publicado em: 15 abr. 2011. Disponível em: <www.rocha-
peritos.com.br/arquivo-de-noticias/324-dissolucao-de-sa-extrajudicial-e-mais-
facil-disposicao-negocial.html>. Acesso em: 7 maio 2011.

ZANNA, Remo Dalla. Prática de Perícia Contábil. São Paulo: IOB Thomson, 2005.

Gabarito
1. A palavra haveres denota a riqueza que uma pessoa física ou jurídica
acumula ao longo da sua existência, sendo esta um potencial de con-
flito, entre aquelas pessoas interessadas na resolução dos valores que
certamente seriam elevados.

Em trabalhos de perícia contábil, a apuração de haveres estaria volta-


da para identificar o valor do patrimônio que está em discussão, seja
de uma pessoa física ou jurídica, procurando tornar a partilha desses
itens de forma justa e honesta.

2. A perícia sobre análise de valores patrimoniais decorre da necessida-


de de se verificar um determinado valor, ou conjunto de valores, que
estão contidos na escrituração contábil de uma organização, para que
seja verificada a sua existência, e a correta forma de mensuração.

Os valores patrimoniais auxiliam na formação da convicção do julga-


dor, pois é através da contabilidade que será possível determinar de
forma física e monetária o que compete a cada pessoa que questiona
o valor dos bens, direitos ou das obrigações que fazem parte da escri-
turação mercantil de uma organização.

156
Aplicações usuais da perícia contábil

3. Os exames do perito contábil estariam centrados sobre a escrita con-


tábil da empresa na qual um dos cônjuges é o titular, além da escritu-
ração das possíveis empresas associadas, nas quais há o controle ou a
participação.

Além da base escritural contábil, mereceria também destaque o acom-


panhamento do padrão de vida de um dos cônjuges em contraposi-
ção às suas fontes de recursos, procurando evidências que pudessem
caracterizar omissões de receitas.

Havendo a caracterização da omissão de receitas, é perfeitamente


pertinente que o perito contábil instrua os advogados a requererem,
junto ao julgador, a quebra do sigilo bancário, fiscal e telefônico, de tal
maneira a ter provas materiais sobre os desvios de riquezas.

157
Fraudes na contabilidade
e nos documentos

Neste capítulo, abordaremos a diferenciação que existe entre o erro e a


fraude, demonstrando situações que podem levar a ocorrências dessas na-
turezas, tanto na contabilidade como também nos documentos que geram
base para a escrituração dos valores.

Fraudes e erros
A fraude no Brasil é um grande fator de preocupação em todos os níveis,
seja no meio empresarial, na pessoa física, em entidades governamentais, ou
organizações sem fins lucrativos.

Diariamente temos informações de problemas decorrentes de fraudes


das mais diversas naturezas, que acabam culminando com o desgaste da
imagem, perda financeira, e até mesmo institucionalização da banalidade
da fraude.
1
Disponível em: <www.
De acordo com pesquisas realizadas anualmente pela Kroll , em conjunto
1 krollamericalatina.com/>.

com a Economist Intelligence Unit, o Brasil é o terceiro país em que as empre-


sas mais registram casos de perdas em decorrência de fraudes.

Vários são os fatores que favorecem as fraudes, como a perda dos valores
éticos e morais, necessidade de ostentação de riqueza, negligência nos con-
troles internos, oportunidade pela falta de controles, entre muitos outros.

Também o erro é algo relativamente normal de ocorrer, seja pela ausência


de experiência de quem está lidando com determinada situação, pela falta
de atenção, por não ter os recursos adequados, pela escassez de mão de
obra, somente para citar alguns exemplos.

Transportando a nossa linha de pensamento para o “universo” das pes-


soas, sejam elas físicas ou jurídicas, não é difícil percebermos que inúmeras
transações são realizadas, processadas e escrituradas todos os dias, o que
conduz ao raciocínio de que o erro e a fraude são perigos iminentes em
várias situações.

159
Fraudes na contabilidade e nos documentos

Como não podemos negar a existência dos erros e das fraudes em inúme-
ras transações, certamente é um fator de evolução na carreira do perito que
ele seja um profundo conhecedor das origens dos fatos que podem levar aos
erros e às fraudes.

Assim como um médico que necessita conhecer profundamente sobre a


patologia apresentada por um paciente, identificando a sua origem, causas,
prováveis sintomas, para mapear adequadamente a doença, e posterior-
mente indicar o melhor remédio, também o perito deve se aprofundar nos
estudos atinentes aos erros, e principalmente às fraudes.

Em muitas situações haverá a necessidade da contratação de um perito


contábil para investigar nas transações se há indícios de fraudes, pois, segun-
do quem o contrata, não tem a nítida distinção do que venha a ser o erro e
o que é fraude.

Há, assim, a necessidade de separar o erro da fraude, para que sejam to-
madas as medidas necessárias, assim como aplicadas as eventuais penalida-
des corretamente.

Caracterização da fraude e do erro


Muito embora tanto o erro como a fraude sejam nocivos ao patrimônio,
pois ambos geram desgastes nas transações/operações, cabe ao perito iden-
tificar se em determinada situação ocorreu o erro, ou a fraude, tarefa nem
tão simples de ser cumprida.

Há sutilezas muito particulares entre o erro e a fraude, as quais o perito


deve buscar incessantemente junto ao objeto, documento, ou transação in-
vestigados, usando toda a sua perspicácia e conhecimento.

Fraude
Nas transações que envolvem casos de fraudes, há a nítida intenção do
fraudador de tirar proveito da situação, em benefício próprio, tendo normal-
mente um planejamento antecipado.

Na fraude, há premeditação para que haja a ação de fraudar, assim o frau-


dador estuda antecipadamente sobre o ambiente, a pessoa, a transação em
que ele deseja levar proveito.

160
Fraudes na contabilidade e nos documentos

Não raras as vezes que na fraude existe o conluio entre pessoas, de sorte
que seja feito um longo planejamento principalmente quando os valores
envolvidos aumentam, e há a necessidade de envolver mais pessoas no es-
quema da fraude.

Conluio entre pessoas da área de compras, tesouraria e contabilidade, po-


deria ser um exemplo de uma fraude de difícil detecção, pois as operações
seriam omitidas, ou encobertadas por documentos fraudulentos, dificultan-
do a identificação da fraude.

A fraude é um delito, conceituado conforme estudos realizados por Lopes


de Sá e Hoog (2005, p. 18), citado a seguir:
Delito – fato que a lei declara de forma expressa como sendo punível por ser crime, do
tipo doloso como: conluio, roubo, fraude, estelionato, apropriação indevida de recursos,
ou qualquer tipo de crime contra a ordem tributária, a relação de consumo e o sistema
financeiro nacional.

Na caracterização da fraude, deverá o perito buscar evidências, fatos,


operações em que haja as indicações de proveito, conluio, premeditação,
com vistas a causar o dano a terceiros.

Sob o ponto de vista de detecção da fraude, a contabilidade poderá ser


aliada ou inimiga do perito, pois assim como pode auxiliar a identificar tran-
sações que envolvam fraudes, poderá também ocultá-las.

Entre as transações que poderiam ser caracterizadas como fraudes, Lopes


de Sá (1994) destaca: desvios de dinheiro, adulteração nos documentos, fal-
sificação nos documentos, despesas fictícias, desvios de mercadorias, entre
outros.

Sendo o perito um profundo conhecedor da fraude, e como ela se proces-


sa, não poderá depositar excesso de confiança em documentos, relatórios, e
na escrituração que lhe são entregues, devendo sempre estar alerta sobre
a possibilidade da sua ocorrência, mesmo em organizações que possuam
controles sofisticados.

Erro
No erro, em um primeiro momento não há a intenção da pessoa que erra
em tirar proveito, sendo considerada uma ação involuntária, sem intuito de
lesar alguém.

161
Fraudes na contabilidade e nos documentos

O ideal em qualquer situação seria que não houvesse o erro, todavia não
podemos ignorar que o erro faz parte até do aprendizado, pois, conforme o
dito popular: só erra quem faz.

Embora o erro não vise lesar alguém, não há dúvida que, dependendo da
sua gravidade, trará consequências indesejadas para o patrimônio, e certa-
mente causará prejuízos.

Imaginemos a situação em que um funcionário da área de contas a pagar


não tenha quitado uma determinada dívida, em razão de erro da imputa-
ção da data do vencimento. Certamente, nesse caso, haveria a cobrança de
multa, juros, com a consequente saída de recursos, causando prejuízos.

O erro se enquadra na categoria dos ilícitos, os quais foram definidos


conforme estudos conduzidos por Lopes de Sá e Hoog (2005, p. 18), como
sendo:
Ilícitos – atos proibidos por lei e prejudiciais à moral, à qualidade de vida, à função social
da propriedade e ao sossego público, tais como: erro, ignorância, desídia, imperícia,
omissão; também são considerados atos ilícitos os que violarem direitos ou causarem
dano material ou moral a outrem.

Conforme citação anterior, o erro é um ilícito culposo, causado principal-


mente pela falta de conhecimento, negligência e incapacidade, somente
para citar alguns exemplos causadores da sua ocorrência.

O erro pode ainda ser ocasionado pelo excesso de trabalho, com o número
reduzido de pessoas, em que a rotina favoreça a sua ocorrência pela ausên-
cia de revisões por parte de pessoas desvinculadas do processo.

Para evitar a ocorrência de erros, são fundamentais revisões constantes,


não por acaso há uma queda no nível de erros quando as pessoas têm a
sensação de que estão sendo controladas, seja através de sistemas, ou áreas
como a auditoria interna e a controladoria.

Entre algumas situações que em um primeiro momento indicam erros,


podemos citar: lançamentos em contas inadequadas, apuração deficiente
da base tributária, inversão de números e pagamentos em duplicidade, são
alguns exemplos.

A dificuldade na perícia é que embora as situações antes citadas possam


ser caracterizadas como erros, também, dependendo da intenção, poderão
ser entendidas como fraudes.

162
Fraudes na contabilidade e nos documentos

No caso de lançamentos em contas inadequadas, por exemplo, o que apa-


rentemente é um erro, se a intenção foi lesar alguém, é considerado uma fraude.
Um item de ativo que tenha sido classificado como despesa poderá ter a nítida
intenção de diminuir o resultado da empresa, para pagar menos impostos, caso
seja tributada pelo lucro real, o que poderia ser entendido como fraude fiscal.

Cabe ao perito monitorar o julgador com provas que possam iluminá-


-lo a chegar à conclusão de se houve a fraude ou o erro em determinada
transação, pois a gravidade da pena será diferenciada em uma ou em outra
situação.

Fraudes na escrituração e em documentos


Para o perito contábil, a contabilidade é vital no desempenho das suas
atividades, desde que seja merecedora de fé, e possua registros fidedignos
da totalidade das transações.

Sendo o trabalho executado em uma empresa que possua um ambien-


te saudável de controles internos, saldos conciliados e em dia, sistemas de
monitoramento das transações e auditorias periódicas, há uma sensação de
conforto para o perito.

Muito embora de fato todos os itens anteriores tranquilizem um pouco a


atuação do perito, ele não deve se olvidar de que possam ocorrer operações
em que haja a manipulação, o “espancamento” dos números e a ”produção”
de documentos, para que sejam apresentados saldos de acordo com as con-
veniências necessárias.

Não sendo a contabilidade um ramo das ciências exatas, há muitas inter-


pretações, julgamentos que ficam à mercê do contador, e que dependendo
da sua decisão poderão melhorar ou piorar os números, inclusive se utili-
zando da própria regulamentação deficitária sobre determinados assuntos,
passando a fazer “contabilidade criativa”. Definimos a contabilidade criativa
como: “Prática contábil que está no limite entre o que é permitido legalmen-
te, pelas próprias opções que as normas e leis estabelecem, e o que é consi-
derado fraude/manipulação, para lesar terceiros”. (CORDEIRO, 2003, p. 44)

Em decorrência das conveniências que possam mover a manipulação na


contabilidade por parte de quem a escritura, ou da própria direção de uma
organização, é que o perito deve estar atento e ligado na intenção.

163
Fraudes na contabilidade e nos documentos

Descobrir a intenção, mesmo que não escrita nos processos analisados


pelos peritos, é fundamental para o planejamento e preparo da perícia
contábil.

Assim, por exemplo, no caso de ser movida uma ação pelos acionistas mino-
ritários que questionam a imparcialidade na forma de apuração e distribuição
dos dividendos, o perito deve estar atento para a possibilidade de se ter havido
a manipulação na escrituração que levasse ao prejuízo dessas pessoas.

Ainda a título de exemplo, poderíamos citar uma situação em que os diri-


gentes que teriam a sua remuneração baseada no resultado, e não conseguin-
do melhorar o desempenho da organização, tivessem tomado a decisão de
2
Pelas atuais práticas contabilizar uma operação que, em essência, seria um leasing operacional2,
contábeis, as operações
de leasing operacional como sendo um leasing financeiro.
são contabilizadas direta-
mente na demonstração
do resultado, como des-
pesas, enquanto para as
Desse modo, o comportamento das pessoas e o reflexo que exercem
transações envolvendo o
leasing financeiro devem
na contabilidade devem ser levados em consideração no exame pericial,
ser registradas no ativo.
quando a base for a contabilidade, conforme nos alerta Jesus (2000, p. 30):
[...] a contabilidade é vista ainda como uma síntese de palavras e números deixando-se
de lado o comportamento das pessoas da organização. É uma ideia tremendamente
equivocada pois os contadores não trabalham de forma isolada. Não se poderia planejar
um sistema de informação contábil sem se levar em consideração os comportamentos
organizacionais.

Do exposto antes, percebemos que a contabilidade tende a ser a imagem


e semelhança dos seus dirigentes, ou seja, se agem com conduta ética, reta,
pautada em princípios e valores elevados de respeito com todos, também
assim será a contabilidade. No caso de dirigentes com péssimas condutas
3
Termo para se referir às
empresas com ações em morais, éticas, desrespeitosos com o disclosure3 das informações, também
bolsas de valores (capital
aberto) para que divul- assim irão agir na contabilidade, manipulando-a constantemente.
guem informações ao
mercado, buscando maior
ética e transparência nos
negócios.

Utilização da contabilidade
para fins inadequados
Na busca de diferentes objetivos perseguidos pela administração das
organizações, a contabilidade poderá servir como instrumento nefasto de
iludir, enganar, induzir as pessoas que dela se utilizam.

Desenvolvemos estudos voltados para identificar a relação entre os obje-


tivos perseguidos pelos dirigentes das organizações e os incentivos para con-
cretizá-los, cujos resultados, de maneira sintética, são apresentados a seguir:

164
Fraudes na contabilidade e nos documentos

(CORDEIRO, 2003, p. 44)


Objetivos
Incentivos para a empresa
perseguidos
Pressão da comunidade investidora para que a empresa se encontre
em uma situação ideal.
Exigência de responder adequadamente às expectativas do mercado
Melhorar a imagem geradas por prognósticos favoráveis.
apresentada Interesses em determinadas políticas de dividendos.
Desejo de obter recursos externos.
Necessidade de procura de “parceiros” para absorção da empresa.
Sistema de remuneração vinculado aos lucros.

Existência de uma clara preferência externa por comportamentos re-


gulares.
Efeito positivo da estabilidade na situação da empresa, com reflexo po-
Estabilizar a imagem sitivo na cotação das ações.
no decorrer dos anos
Benefícios nas políticas de dividendos em razão de ganhos menos os-
cilantes.
Preferência externa por perfis de riscos reduzidos.

Preferências por pagar poucos impostos.


Interesse em distribuir baixos níveis de resultados.
Existência de possibilidade de atribuir êxitos em anos posteriores.
Debilitar a imagem
demonstrada Sistemas de remunerações que se baseiam em aumentos salariais vin-
culados às melhoras conseguidas.
(big bath)
Dependência de tarifas máximas prescritas pelo Estado.
Interesse na obtenção de subvenções condicionadas à situação por
que atravessa a empresa.

Na tabela anterior é possível observar uma série de situações que leva-


riam à manipulação dos números, conduzindo à realização de trabalhos na
área de perícia contábil.

O perito, identificando a natureza da empresa, a relação dos seus dirigen-


tes com o mercado, e baseado em históricos de conduta, terá maiores con-
dições de realizar a sua tarefa com êxito, caso o trabalho esteja direcionado
para a constatação de possíveis fraudes.

As distorções provocadas por gestores mal-intencionados poderão ser


observadas por peritos contábeis que executem trabalhos em distintos am-
bientes, seja em perícias judiciais, semijudiciais, extrajudiciais, ou arbitrais,
quando envolvam um patrimônio em discussão.

A contabilidade especialmente poderá ser mal utilizada em situações


decorrentes de reclamatórias trabalhistas, ocultando verbas que seriam de
direito dos empregados reclamantes; prestação de contas de atos de gestão,
manipulando e distorcendo os valores de acordo com a conveniência, reso-

165
Fraudes na contabilidade e nos documentos

lução e dissolução de sociedades, na ocultação de passivos, e no aumento de


ativos, além de falências e na partilha de haveres.

Ainda que a posição e a forma de operar uma empresa constituam uma


única realidade, que deve ser representada fielmente através da informação
contábil, não devemos esquecer que uma mesma situação pode ser enten-
dida de distintas maneiras, de acordo com o que a observa, e de acordo com
quem produz os dados.

Fraudes possíveis no balanço patrimonial


No balanço patrimonial, pode apresentar uma série de possibilidades de
haver informações distorcidas, dependendo da intenção, ou melhor, má in-
tenção de quem as produz, registra e demonstra.

As fraudes no balanço patrimonial podem ter diferentes facetas, segundo


as conveniências do que se deseja demonstrar, em alguns momentos me-
lhorando a imagem, e em outros piorando.

Assim, por exemplo, imaginando que um empresário sem boa índole deseje
captar empréstimos bancários, e mesmo possuindo muitas dívidas tenderá a
ocultá-las, para que apresente uma imagem ao banco melhor do que seria a
realidade, de tal maneira que demonstrasse capacidade de pagamento.

O perito poderia se deparar, ainda, com a briga entre herdeiros por um


determinado patrimônio, como exemplo, uma empresa em que um dos
filhos a gerenciassem, e os outros não tivessem acesso à movimentação
diária. Sendo a pessoa mal-intencionada, poderia apresentar um passivo
muito maior do que a realidade, para induzir as pessoas a acreditarem que
a organização estivesse bastante comprometida com dívidas, de difícil liqui-
dação. Essa fraude tenderia a que os herdeiros não tivessem interesse por
uma empresa nessas condições.

Ainda no passivo, poderia haver uma fraude no sentido de demonstrar


ao público externo que a empresa estaria endividada no longo prazo, e não
tanto no curto prazo, bastando para isso transferir dívidas do passivo circu-
lante para o passivo não circulante. Nesse caso, entre estar endividado no
curto prazo e estar no longo prazo, o mais conveniente é ter tempo para
pagar, assim a manipulação citada daria a entender que a empresa teria um
“fôlego” maior para pagar seus compromissos.

166
Fraudes na contabilidade e nos documentos

No que se refere a curto e longo prazo, se olharmos para as contas do


ativo, haveria uma maior tendência de fraudes na transferência de valores
a realizar que estariam no ativo não circulante, para o ativo circulante. Essa
fraude teria a intenção de direcionar o raciocínio dos usuários da informação
contábil de que a empresa teria maior volume de recursos para receber no
curto prazo do que no longo prazo, o que naturalmente seria muito melhor.

Naturalmente, as fraudes dependem da intenção do fraudador, mas há


uma tendência de que as fraudes do ativo sejam representativas para au-
mentá-lo, enquanto que as fraudes do passivo são executadas para diminuí-
-lo, principalmente quando as demonstrações estão sendo preparadas para
a negociação da empresa.

O fato é que as fraudes no balanço patrimonial tanto podem partir dos


diretores da empresa quanto têm a intenção de lesar terceiros, como fisco,
acionistas minoritários, credores e herdeiros, como também pelos funcioná-
rios que tenham o propósito de obter vantagens financeiras.

Como explicamos anteriormente, se houver o conluio de diversos funcio-


nários na organização, e com a participação da contabilidade, a fraude tende
a perdurar e passar um longo tempo a ser descoberta, pois a escrituração irá
acobertar as transações fraudulentas que estão sendo realizadas.

Em um conluio entre um funcionário da tesouraria e a pessoa responsável


pela conciliação bancária, por exemplo, podem acontecer perdas financei-
ras vultosas sem que haja aparente irregularidade na contabilidade, uma vez
que os registros estarão sendo manipulados.

Passaremos a discorrer sobre algumas modalidades específicas de frau-


des que podem ocorrer em determinadas contas do balanço patrimonial,
em que a atenção completa do perito é fundamental.

Fraudes mais comuns no balanço patrimonial


No balanço patrimonial de uma organização, pelas próprias regras contábeis,
as contas estão dispostas segundo termo denominado de grau de liquidez.

A lógica do grau de liquidez é que as contas que serão transformadas


mais rapidamente em dinheiro, no momento da estruturação do balanço
patrimonial, terão prioridade sobre as demais, não é por acaso que a conta
caixa é a primeira a ser apresentada.

167
Fraudes na contabilidade e nos documentos

Essa estruturação decrescente de grau de liquidez faz com que muitas


fraudes ocorram no ativo circulante, pois são as contas com conversibilidade
mais rápida em dinheiro, que é o benefício que normalmente o fraudador
busca.

Um dos precursores do estudo das fraudes no Brasil foi o saudoso profes-


sor Antônio Lopes de Sá, quando, em 1964, já escrevia sobre esse assunto,
e de lá para cá pouca coisa mudou, ou seja, embora os sistemas tenham se
sofisticado, também os fraudadores se modernizaram, e continuam tirando
proveito da fragilidade nos controles das organizações, ou ingenuidade dos
seus gestores.

Seguindo a linha de raciocínio de Lopes de Sá (1994), trataremos de algu-


mas fraudes comuns do balanço patrimonial, complementando com o nosso
olhar sobre o assunto, explicando de forma condensada como normalmente
são operadas pelos fraudadores.

No que se refere às saídas de caixa, de forma fraudulenta,


destacam-se:

 Funcionários fantasmas: pessoas que somente fazem parte da folha


de pagamento nominalmente, todavia não exercem a função diária na
organização. Existe a implantação das pessoas na folha de pagamento,
gerando uma conta bancária, na qual são depositados mensalmente
valores que são transferidos para os fraudadores, fato muito comum
em empresas governamentais.

 Compras com notas frias ou notas calçadas: no caso da nota fria,


existe o documento muitas vezes de empresa real, todavia a operação
não existiu, assim sem recursos financeiros sobre trabalhos, mercado-
rias, produtos ou serviços, não realizados. No caso da nota calçada, há
diferentes valores em cada uma das vias da nota fiscal, de tal maneira
que a de maior valor seria destinada a acobertar saída financeira do
caixa aos fraudadores.

 Duplo lançamento de caixa: correspondendo a saídas de recursos


em duplicidade, com a reapresentação de documentos na tesouraria.
Assim, um dos pagamentos seria efetivado ao favorecido, e o outro
depositado na conta do fraudador.

168
Fraudes na contabilidade e nos documentos

 Descontos fictícios aos clientes: fraude que corresponderia à conces-


são de um desconto, denominado de fictício, pois nunca ocorreu. O
cliente pagaria o valor correto da dívida, sendo simulado o desconto
pela pessoa responsável pela tesouraria, em que o valor do desconto
não ingressaria no caixa, e sim na conta do fraudador.

 Pagamentos simulados de juros: nessa fraude, haveria a simulação


de que houve pagamentos em atraso aos diversos favorecidos, sain-
do recursos do caixa para tal fim, porém as quitações se realizaram na
data certa, sendo que o valor dos juros ficaria com o fraudador.

 Adulteração de documentos: consiste em alterar o valor de um de-


terminado documento, seja uma nota fiscal ou um recibo, em que se-
riam acrescentados valores. Assim, uma nota fiscal que teria o valor de
R$40,00, se for acrescentado o número 1 na frente do 40, ficaria com
140,00. Nesse caso, sairia R$100 a mais do caixa, indo parar nas mãos
do fraudador.

Quanto às fraudes frequentes no contas a receber, temos:


 Duplicatas vencidas a longa data mantidas no ativo: esse tipo de
fraude caracteriza a intenção de melhorar índices e demonstrar capa-
cidade de pagamento. Existe na legislação atual a possibilidade de a
empresa se utilizar dos valores que não foram pagos pelos clientes,
como uma perda, a qual é dedutível da base de cálculo dos impostos,
assim não teria o menor sentido a manutenção de valores vencidos a
longa data no ativo, a não ser com o intuito de ludibriar terceiros.

 Duplicatas emitidas sem venda: nessa fraude, a intenção possivel-


mente é a de descontar duplicatas junto a instituições financeiras.
A modalidade de operação financeira denominada de desconto de
duplicatas é muito utilizada por empresas que necessitam de capital
de giro, e não querem recorrer a empréstimos bancários. Nesse caso,
“produzem” duplicatas, sem a venda real, com o intuito de descontar o
valor dos títulos junto aos bancos.

 Recebimento de duplicata sem baixa: aqui há a intenção da pessoa


responsável pela tesouraria em embolsar o valor, e não depositá-lo na
conta-corrente da empresa. Não há a baixa em função do não depósito
na conta-corrente da empresa, ou quando há a baixa e é realizada de
forma dissimulada através do recebimento de outros valores.

169
Fraudes na contabilidade e nos documentos

No que diz respeito às fraudes nos estoques, podemos


mencionar:
 Supervalorização dos estoques: esse tipo de fraude está voltado para
operar transferência de recursos entre empresas, onde há a remessa
de estoques entre entidades de um mesmo grupo, ou com terceiros.
Quando supervaloriza o estoque, no momento da venda também o
faturamento estará a maior, fazendo com que haja entrada de recursos
em montante superior ao que seria o normal.

 Estoques obsoletos no ativo: para esse caso, a provável intenção se-


ria manter os estoques no ativo para melhorar o posicionamento so-
bre capacidade de pagamento, demonstrando de forma ilusória para
os usuários que a empresa tem mercadorias ou produtos para comer-
cialização, e fazer frente às dívidas.

 Substituição de mercadorias e produtos: fraude que ocorre quando


há o desvio de mercadorias e produtos, em que o fraudador sabe que a
organização faz algum tipo de inventário. Sabendo da existência da con-
tagem física, substitui mercadoria ou produto furtado por outro de igual
peso. Dificilmente em processos de inventário há a abertura das caixas
para conferência do conteúdo, o que favorece esse tipo de fraude.

 Entrada de estoques a menor: ocorrência de fraude que acontece com


certa frequência, em empresas que costumam não inventariar os seus
estoques. Nesse caso, o fraudador dá entrada no sistema pelas quanti-
dades e valores adequados, todavia subtrai os itens de estoque com a
intenção de vendê-los, não raras as vezes, em mercado paralelo.

 Baixa de estoques bons como sendo obsoletos: da mesma forma que


o item anterior, neste tipo de fraude a intenção e vender produtos ou
mercadorias boas em mercado paralelo. O fraudador efetua a baixa dos
estoques alegando que estes não têm realização por conta de estarem
obsoletos, todavia se encontram em perfeitas condições de utilização.

Quanto às fraudes comuns no imobilizado, comentamos:


 Aquisição fictícia de bens: típica fraude de quem deseja processar
saída de recursos do caixa, acobertada por operação normal de aquisi-
ção de imobilizado. Nessa fraude, além da saída do recurso, que prova-
velmente beneficiou o sócio da empresa, também contribui para frau-
170
Fraudes na contabilidade e nos documentos

dar o resultado, uma vez que a depreciação dos bens do imobilizado


afeta diretamente os lucros da empresa.

 Depreciações de bens obsoletos: também aqui a intenção seria a de


lesar o fisco, mantendo a depreciação sobre bens totalmente depre-
ciados, de tal maneira a diminuir o resultado, e pagar menos impos-
tos, especialmente se a forma de tributação da empresa for pelo lucro
real.

 Venda ruinosa de bens a partes relacionadas: a prática da venda


de bens por valor notoriamente inferior ao de mercado para partes
relacionadas, como diretores, empresas do mesmo grupo, ou até mes-
mo parentes, é uma fraude, pois prejudica o caixa da organização com
favorecimento externo.

 Ausência de baixa de sinistros: essa fraude teria a intenção de no-


vamente obter benefício fiscal via depreciação, de bens que não mais
existiriam em razão de que foram sinistrados.

 Benfeitoria registrada como despesa: a atual legislação ordena que


benfeitorias realizadas em bens da empresa que aumentem a vida útil
sejam registradas como imobilizado. A intenção de registrar como des-
pesa, ao invés de imobilizar, tem o nítido propósito de lesar o fisco.

Quanto às fraudes no passivo


No passivo, as contas são registradas para representar as obrigações que
a entidade tem com terceiros.

Há a possibilidade de um grande número de fraudes praticadas pelos em-


presários, de forma a demonstrar situações que lhes favoreçam em determi-
nado momento, ou que lhes prejudique.

As ocorrências mais comuns são:

 Superavaliação de passivos: nesse caso, o que se busca é demonstrar


uma situação de debilidade financeira, como, por exemplo, quando é
buscada a falência em uma empresa. Para aumentar as dívidas, são
contabilizadas através de notas frias, contratos fictícios, empréstimos a
sócios, operações que não são da empresa, somente para citar alguns
exemplos. Essa fraude é utilizada ainda em processos de inventários,
litígios entre os sócios e ação de alimentos.

171
Fraudes na contabilidade e nos documentos

 Subavaliação de passivos: contrariamente ao exposto anteriormente,


o que se deseja aqui é demonstrar uma situação de fortaleza financeira,
registrando apenas uma parte das dívidas reais da empresa. A fraude con-
sistiria em ocultar passivos relevantes, como contingências trabalhistas,
multas ambientais, dívidas tributárias. Essa fraude é utilizada quando se
deseja obter empréstimos bancários, captar sócios ou vender a empresa.

Em relação às fraudes no patrimônio líquido


Sendo o patrimônio líquido representado pelos capitais próprios, é
sempre saudável demonstrar grandeza de recursos nesse grupo de contas,
transmitindo aos usuários da informação contábil lastro para fazer frente às
operações da empresa.

Em razão da visibilidade que esse grupo de contas tem principalmente


para os investidores, há a tendência da ocorrência de fraudes para aumentar
o patrimônio líquido.

Uma das fraudes relativamente comum de ocorrer é a falsa integralização


de capital, que pode ser na forma de dinheiro, bens ou direitos. Assim, alguns
capitais só existem no papel, registrados no contrato ou estatuto social, sem
que nunca tenham ingressado na empresa.

Sócios laranjas, bens que nunca existiram, resultados que foram mani-
pulados, falsas constituições de reservas, são alguns exemplos de fraudes
que podem ocorrer nas contas que fazem parte do patrimônio líquido das
empresas.

Fraudes possíveis na demonstração do resultado


Estando a demonstração do resultado umbilicalmente ligada as transa-
ções que ocorrem no balanço patrimonial, todas as fraudes citadas anterior-
mente terão reflexos diretos no resultado da empresa, e caberá ao perito
avaliar os seus reflexos.

Com uma grande possibilidade de acerto, podemos afirmar que as prin-


cipais fraudes que ocorrem no resultado das empresas do Brasil têm a clara
intenção de diminuir os lucros com o fito de pagar menos impostos, natu-
ralmente se a empresa pagar impostos de renda e contribuição social com
base no lucro.

172
Fraudes na contabilidade e nos documentos

Para diminuir os resultados, os dirigentes das empresas tendem a aumen-


tar os gastos de forma fraudulenta, além de pagar menos impostos, para
iludir credores e controles de preços governamentais, majorando os custos.

Na majoração dos custos, há a fraude nos seus componentes, na qual o


fraudador aumenta os valores através de notas frias, baixas de matérias para
a produção, sem utilizá-los verdadeiramente, elevação de custos de trans-
portes, necessidade de armazenamentos, com pagamentos elevados, sem a
real necessidade.

Para que o perito possa avaliar a razoabilidade dos custos, seria de bom
alvitre o conhecimento do processo de produção, além da análise documen-
tal sobre todos os itens geradores de custos.

No que diz respeito à análise documental, seria de suma importância veri-


ficar se estes não apresentam vícios, como falsidade e adulteração.

A falsidade é a existência simbólica, ou seja, há o documento, mas não


há a transação. Como exemplo, podemos citar a nota fria, na qual existe o
documento, todavia não existe a transação.

A adulteração consiste em “alterar-se” um documento verdadeiro, de tran-


sação verdadeira. Citamos como exemplo acrescentar um número em nota
fiscal para aumentar o valor ou modificar um número, por exemplo, 1 para 7,
ou 3 para 8, ou 5 para 6 ou, em certos casos, acrescentando zeros.

Relativamente às despesas, a fraude mais comum é a imputação de gastos


pessoais na contabilidade da empresa, contrariando o princípio contábil da
competência. Com essa fraude, além do benefício próprio, pois com a despe-
sa registrada certamente haverá uma saída de caixa em que os recursos iriam
para o fraudador, ainda há a redução da base de cálculo do imposto de renda
e da contribuição social.

Além das fraudes que conduzem à redução do resultado, também po-


derão ocorrer transações e registros, nos quais a intenção do fraudador é
justamente o contrário, ou seja, aumentar os lucros.

Como na vida real não existe magia, e se uma empresa não consegue
vender mais, ou não reduz os seus custos e despesas, não há como aumentar
o resultado. Todavia, o fraudador sendo um conhecedor da contabilidade,
poderá ter a infeliz ideia de reconhecer receita de forma artificiosa, de ma-
neira a aumentar o lucro.

173
Fraudes na contabilidade e nos documentos

As vendas artificiosas são registradas através de documentos fraudulen-


tos, como notas superfaturadas, e contabilização de receitas apenas por pedi-
dos de vendas, sem que estas efetivamente houvessem sido concretizadas.

As vendas artificiosas também são conhecidas no jargão financeiro e con-


tábil, dos experts em detectá-las, como os peritos e os auditores, por vendas
infladas.

Outra forma de aumentar os resultados de forma fraudulenta, que não


seja através das vendas artificiosas, seria a ocultação das despesas e custos,
muitas vezes os conservando no ativo, para não causar suspeitas.

Dessa forma, valores que deveriam ser registrados como custos ou des-
pesas ficam registrados em contas dos ativos, como, por exemplo: gastos
com pesquisas de novos produtos; despesas com manutenção de máquinas
e equipamentos; custos contabilizados de mercadorias e produtos vendidos
sem dar baixa, contabilizados nos estoques.

As fraudes nos resultados para aumentá-los têm a intenção de um favo-


recimento próprio, que poderia ser a forma de remuneração dos dirigentes
de uma empresa baseada nos resultados crescentes que eles possam con-
seguir, ou ainda para captar novos investidores, ou até mesmo para a venda
da empresa.

As situações anteriormente citadas, tanto no balanço patrimonial como


na demonstração do resultado, são apenas alguns exemplos de fraudes cor-
riqueiras que podem acontecer no balanço patrimonial das empresas, onde
o perito deve ter a preocupação da potencialidade da sua ocorrência.

Sendo o perito um profundo conhecedor da contabilidade e de seus me-


andros, poderá identificar essas fraudes com sua astúcia e sapiência, utilizan-
do-se de toda a técnica adquirida com a experiência.

Ampliando seus conhecimentos

Crise internacional e as fraudes


(PARODI*, 2008)

Logo depois do colapso, ou quase colapso, de alguns dos maiores conglo-


merados financeiros dos Estados Unidos e do mundo, começaram a apare-

174
Fraudes na contabilidade e nos documentos

cer notícias sobre investigações conduzidas por autoridades americanas para


apurar suspeitas de fraudes cometidas por altos executivos, tanto de conglo-
merados quanto do mercado financeiro. Segundo muitos analistas, esse tipo
de fraude estaria entre as causas da atual situação de crise no mercado finan-
ceiro americano e mundial.

Pode-se pensar que é fácil, a esta altura, afirmar isso, mas era de se
esperar!

O governo Bush, ao longo dos anos, criou um ambiente favorável às frau-


des, desregulamentando, desmantelando os órgãos encarregados do contro-
le e da fiscalização, ignorando alertas e dúvidas e confiando demais no faro e
nas boas intenções das instituições financeiras e de seus executivos.

Um exemplo entre todos é o do FBI, que, desde o atentado de 11 de se-


tembro, viu seus recursos humanos e financeiros serem desviados sistemati-
camente das áreas de combate a crimes de ”colarinho branco” para áreas de
combate ao terrorismo e segurança nacional e, agora, não tem condição de
conduzir de forma eficiente as muitas investigações necessárias para averi-
guar as fraudes relacionadas com a crise financeira.

Em nível macro, o governo Bush fez exatamente o que, em qualquer em-


presa, um consultor em controle de riscos desaconselharia a fazer. Relaxar as
regras, reduzir os controles e confiar demasiadamente em poucos operado-
res, até mesmo em relação a questões fundamentais e críticas. Tudo isso cria
um ambiente favorável às fraudes. E, num ambiente favorável às fraudes, cedo
ou tarde, elas acabam acontecendo.

Existe, porém, um outro importante aspecto da crise internacional que até


o momento não foi devidamente levado em consideração e estudado. A crise
pode facilmente funcionar, pelo menos durante algum tempo, como um cata-
lisador para o aumento dos registros de fraudes nas empresas. Isso em função
de um conjunto de fatores que, por um lado, contribuem a criar um ambiente
favorável às fraudes, e por outro obriga as empresas, que já enfrentam nú-
meros vermelhos em seus balanços, a controlar melhor seu caixa e dar maior
atenção a qualquer possível situação de perda por fraudes (inclusive as mais
antigas).

Uma das principais consequências da crise, que contribui a gerar um am-


biente favorável às fraudes, é a desmotivação dos funcionários. O cenário

175
Fraudes na contabilidade e nos documentos

de demissões em massa, incertezas, reestruturações, redimensionamentos,


transferências, falências etc. faz com que funcionários anteriormente motiva-
dos e comprometidos passem a se sentir inseguros, desamparados e a viver
um sentimento de “cada um por si”. Com isso, aparecendo uma oportunidade
de fraudar a empresa, não será difícil que a acatem interpretando este ato
como algum tipo de “seguro” para seu futuro ou como um “ressarcimento” por
anos de dedicação. Ou seja, é altamente provável que, em consequência da
crise, haja um aumento real no número de novas ocorrências de fraudes nas
empresas.

Por outro lado as empresas vivem uma situação transitória na qual estão
passando de um estado de euforia, em que não era fundamental estruturar
eficientes sistemas de controle e prevenção de fraudes, pois os altos lucros
compensavam qualquer possível perda, para uma situação crítica de balanço
e lucratividade, em que qualquer perda assume uma importância relevante
e a gestão dos negócios e do caixa deve ser mais atenta. Situações de risco
ou potencial fraude, que antes, frequentemente, não recebiam grande aten-
ção, representam hoje, possivelmente o valor que faz a diferença entre ter ou
menos algum lucro.

As empresas, porém, de forma geral não estão bem estruturadas e prepa-


radas para prevenir as fraudes de maneira sistemática – aliás, outro fator de
incentivo para um ambiente favorável às novas fraudes. Portanto, até reverter
esta situação, deverão se limitar e concentrar na detecção, investigação e re-
pressão de casos pontuais, possivelmente de maior vulto e detectados graças
a denúncias, melhor fiscalização ou situações especiais.

Um bom exemplo é a recente descoberta da mega fraude de 50 bilhões de


dólares que o administrador de fundos americano Bernard Madoff andou pra-
ticando ao longo de muitos anos. Não por acaso foi desmascarada justamente
agora, em função da situação de crise que fez as empresas correrem atrás de
liquidez e fiscalizarem melhor seus negócios. Antes, durante anos, ninguém
precisou fiscalizar este grande e exclusivo investidor.

Acredito que seja de se esperar, nos próximos tempos, a descoberta de


mais casos de grandes fraudes, velhos e novos, em empresas de todos os ta-
manhos e setores.
* Lorenzo Parodi é autor do livro Manual das Fraudes e do site Monitor das Fraudes; titular da
cátedra de Detecção e Mensuração de Fraudes em Seguros da Academia Nacional de Seguros e
Previdência, membro do IBGC, sócio e diretor da Deall riscos e inteligência.

176
Fraudes na contabilidade e nos documentos

Atividades de aplicação
1. Faça a distinção conceitual entre o erro e a fraude em operações, bus-
cando a caracterização de cada um deles.

2. Em operações que envolvem as fraudes, não raras vezes há o con-


luio entre as pessoas. Explique como poderia se operacionalizar o
conluio em uma determinada situação.

3. Uma das fraudes relativamente comum de erros é a manutenção de


saldo de duplicatas, mesmo que estas tenham sido quitadas pelos
clientes. Explique por qual razão/intenção uma organização manteria
saldo nesta conta (duplicatas a receber).

Referências
CORDEIRO, Cláudio Marcelo Rodrigues. Contabilidade criativa: um estudo sobre a
sua caracterização. Revista do Conselho Regional de Contabilidade do Paraná,
n. 136, p. 43-47, 2003. RCRPR. 47, 2003. RCRPR.

JESUS, Fernando. Perícia e Investigação de Fraude. 2. ed. Goiânia: AB, 2000.

LOPES DE SÁ, Antônio. Perícia Contábil. São Paulo: Atlas, 1994.

LOPES DE SÁ, Antônio; HOOG, Wilson Alberto Zappa. Corrupção, Fraude e Con-
tabilidade. Curitiba: Juruá, 2005.

PARODI, Lorenzo. Crise internacional e as fraudes. Revista Consultor Jurídico,


26 dez. 2008. Disponível em: <www.conjur.com.br/2008-dez-26/crise_incentiva_
funcionarios_cometer_fraudes>. Acesso em: 27 maio 2011.

Gabarito
1. Nas transações que envolvem casos de fraudes, há a nítida intenção
do fraudador de tirar proveito da situação, em benefício próprio, ten-
do normalmente um planejamento antecipado.

Na fraude, há premeditação para que haja a ação de fraudar, assim


o fraudador estuda antecipadamente sobre o ambiente, a pessoa, a
transação em que ele deseja levar proveito.

177
Fraudes na contabilidade e nos documentos

No erro, em um primeiro momento, não há a intenção da pessoa que


erra em tirar proveito, sendo considerada uma ação involuntária, sem
intuito de lesar alguém.

Embora o erro não vise lesar alguém, não há dúvida de que dependen-
do da sua gravidade trará consequências indesejadas para o patrimô-
nio, e certamente causará prejuízos.

2. O conluio é um agregado de indivíduos que se unem com o objeti-


vo de tomar proveito de uma determinada situação, principalmente
quando os valores envolvidos aumentam, e há a necessidade de en-
volver mais pessoas no esquema da fraude.

Conluio entre pessoas da área de compras, tesouraria e contabilida-


de poderia ser um exemplo de uma fraude de difícil detecção, pois as
operações seriam omitidas, ou encobertadas por documentos fraudu-
lentos, dificultando a identificação da fraude.

3. Uma das possíveis intenções de manter o saldo na conta de duplicatas


a receber poderia ser para melhorar índices e demonstrar capacidade
de pagamento.

Existe na legislação atual a possibilidade de a empresa se utilizar dos


valores que não foram pagos pelos clientes, como uma perda, a qual
é dedutível da base de cálculo dos impostos, assim não teria o menor
sentido a manutenção de valores vencidos a longa data no ativo, a não
ser com o intuito de ludibriar terceiros.

178
Laudos e pareceres periciais

Neste capítulo, abordaremos a importância, o conceito, as características


e os conteúdos do laudo e do parecer pericial, em conformidade com regras
estabelecidas pelo Código de Processo Civil (CPC), e pelas Normas Brasileiras
de Contabilidade (NBC). Ao final, apresentaremos um exemplo prático da es-
truturação de um laudo pericial contábil.

Importância do laudo e do parecer pericial


Em todo trabalho desempenhado por profissionais com especialização
técnica, há um momento em que efetivamente é demonstrada toda a com-
petência, todo o zelo, esmero e conhecimento que fundamentam a ativida-
de realizada, chegando ao ápice da tarefa.

Em distintas profissões, o momento de transmitir a terceiros a técnica em-


pregada é diferente, porém visível para quem deles se utiliza.

Para um advogado, a fundamentação de uma ação, juntamente com a


argumentação, expõe a qualidade e o desempenho do profissional.

Para um professor, quando no final de suas aulas vê que o aluno absorveu


e, muitas vezes, aprimorou os conhecimentos ministrados, é fator de orgu-
lho sobre o desempenho da sua função.

Para um médico que após a cirurgia verifica que toda a técnica e todo o
conhecimento foram essenciais para salvar a vida de uma pessoa, tem a cer-
teza de que acertou no caminho escolhido para a profissão.

Assim, poderíamos ilustrar com infinitos exemplos de situações, ou fatos


que mostrariam a importância de determinadas profissões, expondo os re-
sultados alcançados de diferentes maneiras.

Na área de perícia contábil, também haverá um momento em que será


exigida toda a competência e técnica do profissional, atributos estes que
serão representados em documentos denominados de laudo e de parecer
pericial.

181
Laudos e pareceres periciais

De nada adiantaria se a pessoa que executa a atividade pericial fosse um


profundo conhecedor do assunto para o qual foi nomeado, ou contratado,
que tenha executado um excelente trabalho na fase de levantamento de
dados, se não tiver a capacidade de transformar tudo aquilo que viu, obser-
vou, constatou e investigou em algo concreto, descrito com rigor lógico.

O laudo e o parecer pericial passam a ser a “hora da verdade” para o perito,


pois será através desses documentos que conseguirá, ou não, transmitir ao
interessado todas as informações necessárias para que o usuário dessa peça
possa tomar uma decisão com confiança, segurança e baseado na verdade.

Através do laudo e do parecer pericial é possível segregar o excelente tra-


balho daquele realizado de maneira inadequada, sem bases e fundamentos
centrados na ciência da contabilidade.

Esses documentos são essenciais em trabalhos periciais, pois é através


deles que muitas vezes a justiça se faz cumprir, baseada nos valores apura-
dos e demonstrados pelo perito-contador.

Conceito do laudo e do parecer pericial


Para a condução do nosso raciocínio, utilizaremos o conceito de laudo e de
parecer pericial, à luz do Código de Processo Civil, bem como descrições conti-
das nas Normas Brasileiras de Contabilidade, que abordam o assunto.

Esse direcionamento é importante para que os leitores entendam que há


um regramento muito restrito na elaboração do laudo e do parecer pericial,
o qual deve ser seguido na íntegra por todas aquelas pessoas que preten-
dem ingressar na carreira pericial.

A elaboração de laudo e do parecer pericial sem a qualidade, formatação


e os conteúdos requeridos, podem levar à impugnação do trabalho desen-
volvido pelo perito, causando transtornos, tanto para o profissional que exe-
cutou o trabalho, tanto para quem o nomeou, ou contratou.

Laudo pericial
Laudo pericial contábil é o documento elaborado pelo perito-contador
nomeado em juízo, no qual demonstrará como foi a condução do seu traba-
lho, sua metodologia aplicada, bem como resultados alcançados, para auxi-
liar o magistrado na tomada de decisões sobre determinada demanda.

182
Laudos e pareceres periciais

No laudo pericial é que o profissional irá efetivamente expor como foi a


condução do seu trabalho e as conclusões a que o perito chegou, conforme
nos ensina Rosa (1999, p. 125):
Laudo, portanto, é a exposição da perícia realizada e seu resultado. Nele devem vir as
conclusões do perito sobre a perícia levada a efeito, precedidas, como é óbvio, da
respectiva fundamentação, ou seja, no laudo pericial o profissional que elaborou dá o
seu pronunciamento técnico sobre determinado fato ou ocorrência, manifestando suas
conclusões a respeito do assunto controvertido que foi submetido à apreciação.

Portanto, o laudo pericial é essencial e necessário em trabalhos de perícia


para que tudo o que foi observado e examinado venha a servir como guia
para fundamentar a tomada de decisão por parte do julgador.

Parecer pericial
Parecer pericial contábil é o documento elaborado pelo assistente técni-
co contratado pelas partes que estão envolvidas em uma demanda judicial,
ou em perícias extrajudiciais e arbitrais, nas quais o profissional demonstrará
como foi a condução do seu trabalho, metodologia aplicada, bem como os
pontos de discordância em relação ao laudo pericial, caso existam.

Sobre o conteúdo do parecer pericial, não cabe ao assistente técnico


buscar argumentos tendenciosos para o ganho da causa por parte de quem
o contratou, uma vez que ele não é advogado de defesa, como bem expõe
Hoog (2008, p. 197):
É na peça escrita que o perito-contador assistente revela de forma clara e objetiva o resultado
do seu trabalho [...] serve de subsídio ao patrono da parte contratante, como opinião
técnica científica contábil. A preparação do relatório é de exclusiva responsabilidade
do perito-contador assistente, onde estão incluídos somente os aspectos científicos
contábeis, pois a defesa não cabe ao assistente, e sim ao advogado.

Através do parecer pericial é a oportunidade de o perito-contador assis-


tente concordar ou expor as suas divergências em relação ao laudo pericial
contábil, sempre com respeito e educação com todos aqueles profissionais
que estão envolvidos na tarefa.

Laudo e parecer pericial nas


Normas Brasileiras de Contabilidade
Nas Normas Brasileiras de Contabilidade, mais precisamente na NBC TP 01
– Perícia Contábil –, há regulamentação rigorosa sobre apresentação, termino-

183
Laudos e pareceres periciais

logia, estrutura, entre outros temas relacionados, que tratam especificamente


sobre o laudo e parecer pericial, mais precisamente dos itens 57 a 88.

Passaremos a discorrer sobre alguns dos itens que estão contemplados na


norma, expondo os nossos comentários acerca dos conteúdos lá descritos.

Em conformidade com o item 60 da NBC TP 01 – Perícia Contábil:


O laudo pericial contábil e o parecer pericial contábil são orientados e conduzidos pelo
perito-contador e pelo perito-contador assistente, respectivamente, que adotarão
padrão próprio, respeitada a estrutura prevista nesta Norma. Neles devem ser registrados
de forma circunstanciada, clara e objetiva, sequencial e lógica, o objeto da perícia, os
estudos e observações realizadas, as diligências executadas para a busca de elementos
de prova necessários, a metodologia e critérios adotados, os resultados devidamente
fundamentados e as suas conclusões.

Pela redação anteriormente exposta, percebemos claramente que há a


necessidade de padronização do laudo e parecer pericial, contendo uma es-
truturação que leve a quem deles se utiliza, a saber como foi conduzida a
tarefa, além dos resultados a que o perito ou assistente técnico chegaram.

No passado não ficava clara a responsabilidade do perito e dos assistentes


técnicos colocarem as suas conclusões sobre o trabalho executado, no qual
muitos se limitavam a somente responder aos questionamentos realizados
por quem os nomeou, ou contratou.

No que se refere à forma de escrita que deve ser seguida por quem elabo-
ra laudos e pareceres periciais, a NBC TP 01 determina no seu item 62:
A linguagem adotada pelo perito deverá ser acessível aos interlocutores, possibilitando aos
julgadores e às partes da demanda conhecimento e interpretação dos resultados obtidos
nos trabalhos periciais contábeis. Devem ser utilizados termos técnicos e o texto conter
informações de forma clara. Os termos técnicos devem ser inseridos na redação do laudo
pericial contábil e do parecer pericial contábil, de modo a se obter uma redação técnica,
que qualifique o trabalho pericial, respeitadas as Normas Brasileiras de Contabilidade,
bem como a legislação de regência da profissão contábil.

Podemos observar que a normativa solicita que os peritos se utilizem de


termos técnicos para a elaboração dos laudos e pareceres, pois de fato esses
documentos são destinados a decisões importantíssimas que têm como
base a contabilidade, em que muitos termos e jargões específicos existem.

Todavia, não podemos nos esquecer de que tanto o laudo como o pa-
recer pericial são destinados a pessoas leigas em contabilidade, portanto o
desafio do perito consiste em redigir uma peça com conteúdo técnico, en-
tretanto que seja plenamente compreendido por aqueles que se utilizarão
desse documento.

184
Laudos e pareceres periciais

Embora os próprios juízes e advogados primem por termos rebuscados


da área do Direito, não raras vezes fazem crítica à forma como são redigidos
laudos e pareceres periciais.

O linguajar utilizado nos laudos e pareceres deve ser de fácil entendimen-


to por aqueles que se utilizarão desse documento, o que muitas vezes não
acontece, como relata Zanna (2005, p. 155):
Vocês, peritos, devem elaborar um laudo didático para que nós possamos entendê-lo com
facilidade por causa do acúmulo de processos com os quais trabalhamos todos os dias. Nós
não fomos treinados para entender de contabilidade e de economia. Nós entendemos de
leis e vocês devem nos ajudar em matéria contábil de forma a facilitar o nosso trabalho.

A mensagem anterior foi transmitida por um juiz para o perito, instruin-


do-o sobre como ele desejaria que fosse a redação do laudo pericial, transpa-
recendo que os outros laudos que ele já tinha lido não estavam com padrão
de linguagem acessível para quem é leigo em matéria contábil.

Quanto aos eventuais documentos que venham a fazer parte do laudo


ou do parecer pericial, a NBC TP 01, nos itens 74 e 75, apresenta distinção
conceitual entre o que venha a ser anexo e apêndice, citando:
74. Anexos: são documentos elaborados pelas partes ou terceiros com o intuito de com-
plementar a argumentação ou elementos de prova, arrecadados ou requisitados, pelo
perito durante as diligências.

75. Apêndices: são documentos elaborados pelo perito com o intuito de complementar a
argumentação ou elementos de prova.

Assim, se o perito ou assistente técnico se utilizam de documentos já exis-


tentes, coletados no decorrer do trabalho, estes são denominados de anexos,
todavia se os profissionais produzirem documentos, como planilhas de cálcu-
los, tabelas e gráficos demonstrativos, estes são denominados de apêndices.

Prazo para a elaboração


de laudo e parecer pericial
Na condução do seu exercício profissional, sempre o perito-contador ou o
assistente técnico devem dimensionar o tempo necessário para a execução
da tarefa, levando em consideração que no final deverão elaborar o laudo ou
o parecer pericial.

Portanto, o tempo passa a ser um fator de risco nas atividades periciais,


na medida em que quanto menor a quantidade de dias que tenhamos para

185
Laudos e pareceres periciais

executar a tarefa, maior será a probabilidade de incorrermos em erros, o que


não é desejável na nossa profissão.

Em perícias executadas junto a particulares, portanto fora da esfera judi-


cial, há a necessidade de acertarmos adequadamente o prazo da realização
do trabalho, bem como a data em que será requerido o resultado final dos
exames, materializado através do laudo pericial.

A definição da data de entrega do documento deverá fazer parte do pla-


nejamento do trabalho executado, de modo que não haja extrapolação da
data pactuada para entrega, exceto em razões alheias à vontade do perito,
como no caso de demora da entrega da documentação por parte da pessoa
que está sendo periciada.

Na perícia judicial, o fator tempo é ainda mais preocupante para o perito,


além de ser muito mais exigida a total atenção para não perder prazos, pois
a justiça costuma ser muito dura com quem desrespeita prazos.

No Código de Processo Civil (CPC), há a previsão da possibilidade do perito


solicitar prorrogação de prazo, caso conste que não haverá tempo hábil para
a conclusão do trabalho, conforme artigo 432:
Art. 432. Se o perito, por motivo justificado, não puder apresentar o laudo dentro do prazo,
o juiz conceder-lhe-á, por uma vez, prorrogação, segundo o seu prudente arbítrio.

Percebemos com isso que mesmo o perito solicitando a prorrogação do


prazo, naturalmente será o juiz que decidirá a concessão ou não da dilatação
das datas. Mesmo que o juiz decida prorrogar a data, no artigo fica nítido
que esse expediente poderá ser utilizado em apenas uma oportunidade.

O perito não pode deixar de cumprir os prazos, o que demanda muito


planejamento na consecução da sua tarefa, pois poderá denotar desleixo, ou
falta de capacitação, com a prorrogação de datas.

Caso haja a imperiosa necessidade de prorrogação do prazo, recomenda-


-se que se faça com relativa antecedência, em que o perito avalie a cada
passo do seu trabalho se conseguirá entregar o laudo pericial na data deter-
minada e, em caso negativo, que seja solicitada a dilatação da data, sempre
via petição judicial.

Quanto à data limite de entrega do laudo e do parecer pericial, esta nor-


malmente é definida pelo magistrado, todavia, se por alguma razão não
tenha essa data nos documentos do processo, os profissionais devem estar

186
Laudos e pareceres periciais

atentos ao que preceitua o Código de Processo Civil, no seu artigo 433, re-
produzido a seguir:
Art. 433. O perito apresentará o laudo em cartório, no prazo fixado pelo juiz, pelo menos
20 (vinte) dias antes da audiência de instrução e julgamento. (Redação dada pela Lei
8.455, de 24.8.1992).

Parágrafo único. Os assistentes técnicos oferecerão seus pareceres no prazo comum de


10 (dez) dias, após intimadas as partes da apresentação do laudo.(NR) (Redação da Lei No
10.358, de 27 de dezembro de 2001) Em vigor após 28 de março/2002.

(Redação anterior) – Parágrafo único. Os assistentes técnicos oferecerão seus pareceres


no prazo comum de 10 (dez) dias após a apresentação do laudo, independentemente de
intimação. (Redação dada pela Lei 8.455, de 24.8.1992).

Do exposto, notamos que os assistentes técnicos terão 10 dias para ler,


avaliar, estudar, concordar ou divergir do laudo pericial, para após analisar
possa emitir a sua opinião fundamentada através do parecer pericial.

Dependendo da complexidade da perícia, esse tempo será exíguo e arris-


cado, motivo pelo qual é sempre prudente e de bom senso que o assistente
técnico tão logo saiba da nomeação do perito judicial se ofereça para traba-
lhar conjuntamente, pois assim além de acompanhar o trabalho, sabendo da
linha de atuação e raciocínio do outro profissional, terá maior tempo para
preparar o seu documento.

Estrutura requerida na elaboração


do laudo e do parecer pericial
Considerando que o laudo ou o parecer pericial é um documento essen-
cialmente técnico, também deverá haver rigor na formatação destas peças,
respeitando as regras elementares de metodologia científica no que diz res-
peito a margens, fonte, cor e tamanho de letra.

No que se refere às margens, é recomendado que no lado esquerdo haja


espaço em torno de 3cm, considerando que possivelmente o documento
será arquivado junto ao processo, o que implica em dizer, se a margem es-
querda for muito próxima, informações importantes podem ficar “escondi-
das” quando se colocar grampos ou outra forma de arquivo.

Pelo mesmo motivo citado, é desejável que a numeração seja indicada


abaixo de forma centralizada, ou à direita, uma vez que é normal a utilização
do canto superior direito das páginas para que o escrivão numere as “folhas”
que compõem o processo.
187
Laudos e pareceres periciais

O tamanho do papel, usualmente, é o A4, por se tratar de documento padrão,


sendo importante que as perguntas e respostas estejam todas na mesma página,
evitando, assim, a quebra do raciocínio de quem está lendo o documento.

Quanto à fonte, as mais usuais acabam sendo a Arial e Times New Roman,
por se tratar de documentos técnicos, o que não quer dizer que fontes dife-
rentes das citadas estão proibidas; todavia, outros tipos de fontes somen-
te devem ser utilizadas quando se deseja enfatizar determinada situação,
sempre de forma moderada.

No que diz respeito ao tamanho da fonte, é recomendável utilizar a de


tamanho 12, pois apresenta um excelente padrão estético, com parágrafo de
1,5 pontos, para não tornar a leitura cansativa.

Tomando por base ensinamentos de Alberto (2000), apresentaremos a


sequência lógica que um laudo ou parecer pericial deve apresentar para que
sirva ao propósito de iluminar o julgador, com informações cientificamente
elaboradas que possam auxiliá-lo na sua decisão.

O laudo e o parecer devem conter, sempre que possível, os seguintes ele-


mentos na sua estruturação:

 abertura;

 considerações iniciais;

 determinação e descrição do objeto e objetivo da perícia;

 informação da necessidade ou não de diligências;

 exposição dos critérios, exames, e métodos empregados nos trabalhos;

 transcrição e respostas aos quesitos formulados;

 encerramento do laudo;

 anexos e apêndices (quando houver).

Discorreremos a seguir sobre os principais itens que devem estar em cada


elemento da estrutura do documento.

Abertura
 Indicar a quem a perícia é dirigida.

188
Laudos e pareceres periciais

 Identificação do processo ou origem da sua realização.

 Nome do perito, sua qualificação profissional, número de registro na


corporação profissional, declaração de observância da legislação pro-
cessual aplicável e das Normas Brasileiras de Perícia e a declaração da
espécie de laudo que se está apresentando.

Considerações iniciais
 Identificação de quando e por quem foi determinada ou solicitada a
perícia contábil.

 Referência à adoção das técnicas preliminares relativas ao exame dos


autos, das peças que lhe foram disponibilizadas judicialmente ou en-
tregues com a consulta e da necessidade ou não da realização de dili-
gências.

Exposição sobre o desenvolvimento dos trabalhos


 Determinação do objeto da prova pericial.

 Finalidade da realização da perícia.

 Não havendo necessidade de diligência, descrever quais os elementos


principais já abordados nos autos ou na consulta que foram objeto de
exame, análise ou verificação, e, se houve necessidade de diligência, como
estas se desenvolveram e quais os elementos pesquisados e vistoriados.

 Descrição e exposição das análises realizadas, das técnicas emprega-


das pela perícia, dos métodos empregados e dos raciocínios elabora-
dos e que permitam a conclusão pericial.

Considerações finais
 Formalização da síntese de qual ou quais foram as conclusões a que a
perícia chegou.

 Opinião técnica do perito a respeito da globalidade da matéria tratada.

 Síntese dos itens ou objetos parciais que foram objeto de apuração de


valores.

189
Laudos e pareceres periciais

 Condição de se destinar o laudo a dar liquidez à decisão ou servindo


de subsídio para a apreciação, judicial ou extrajudicial.

 Indicação se há ou não quesitos a serem respondidos.

Quesitos e respostas
 Transcritos e respondidos na ordem em que deram entrada nos autos
do processo, ou extrajudicialmente, segundo as datas de formulação.

 Transcritos tal como formulados, não se arvorando o perito em revisor


ou corretor de erros linguísticos eventualmente cometidos.

 Respondidos sequencialmente à transcrição de cada quesito, se possí-


vel mantendo a pergunta e a resposta na mesma página do laudo.

 Respondidos circunstancialmente, ou seja, atendendo à essência da


questão formulada, evitando-se o excesso de referências a outras par-
tes do laudo ou de seus anexos.

Encerramento do laudo
 Exposição formal de encerramento do trabalho pericial, sem, entretan-
to, dar a impressão de não admitir complementações ou esclarecimen-
tos futuros.

 Descrição da constituição física do laudo, como quantidades de pági-


nas, textos, anexos.

 Localidade e a data em que o laudo foi concluído.

 Assinatura do perito, bem como sua identificação: nome, qualificação


profissional, n.º de inscrição no CRC e sua função nos autos (perito do
juiz, assistente técnico).

Anexos/apêndices integrantes do laudo


 Anexos/apêndices demonstrativos das análises e apurações efetuadas
devem ser perfeitamente identificados, numerados e rubricados pelo
perito, e sua juntada deve ser sequencial e ordenada.

190
Laudos e pareceres periciais

 Também numerados e identificados são juntados ao laudo os docu-


mentos que, dentro dos que lhe serviram de base, o profissional con-
sidere como indispensáveis à ilustração e bom entendimento do tra-
balho técnico.

Exemplo hipotético de documentação e laudo


pericial a partir de uma nomeação em juízo
Considerando que na data de hoje 01/11/20X9 (fictícia), através de carta
registrada, você tenha conhecimento da sua nomeação em juízo para ser
o perito judicial de uma ação de separação judicial litigiosa com intuito de
apuração de valores para uma ação de alimentos, que terá como data de
audiência, o dia 20/12/20X9.

191
Laudos e pareceres periciais

DADOS DOS AUTOS:

Cartório : 1.ª Vara da Família da Comarca de Curitiba


N.º dos Autos : 20X9/01
Juiz : Dr. Carlos Monteiro Justo
Autora : Sra. Maria Silveira
Réu : Sr. José Augusto Silveira

Quesitos do juiz apenso aos autos

1.o Qual a retirada de pró-labore do Sr. José Augusto Silveira, nas empre-
sas de sua administração?

2.o Qual a participação social do Sr. José Augusto Silveira no capital social
da sociedade?

3.o Tem remuneração indireta por seu cargo de direção? Quais? Em quan-
to montaram tais remunerações no período dos últimos 24 meses?

4.o A participação percentual no capital das sociedades Cia. Silveira S.A. e Gru-
po Augusto Silveira S.A. alterou-se nos últimos três anos? Em quanto?

5.o Foram operadas transferências de capital do réu nos últimos três anos?
Em que montante? Para quem?

6.o Pela declaração de bens do réu, tem ele outras fontes de rendimentos?
Quais? Em quanto montaram nesses últimos três anos, considerando
os valores em moeda constante?

7.o O réu tem contas bancárias próprias? Em quais bancos? Os depósitos


feitos em suas contas coincidem com os rendimentos declarados?

8.o Os depósitos bancários são compatíveis com as fontes de rendimentos


apuradas?

9.o O padrão de vida do réu é condizente com as suas remunerações?

10.o Na opinião deste perito, qual deveria ser o valor justo mensal de paga-
mento de pensão alimentícia? Elaborado sobre qual base de cálculo?
Demonstre como foram apurados os valores.

Com base nos quesitos expostos, iremos simular de forma resumida algu-
mas rotinas e documentos para a consecução da perícia, a saber:
192
Laudos e pareceres periciais

a) petição judicial, concordando com a sua nomeação, estabelecendo


honorários em conformidade com valores estipulados por entidades
de classe;

b) termo de diligência, relacionando os documentos necessários para o


desenvolvimento da perícia;

c) petição solicitando a quebra do sigilo bancário e fiscal;

d) laudo judicial com todas as características exigidas;

e) petição judicial de entrega de laudo;

f ) petição judicial para levantamento de honorários.

193
Laudos e pareceres periciais

PETIÇÃO DE ACEITE E PROPOSTA DE HONORÁRIOS

Exmo. Dr. Juiz da 1.ª Vara da Família da Comarca de Curitiba

Autos: 20X9/01

Ação: Separação judicial litigiosa com intuito de apuração de valores para


uma ação de alimentos

Autora: Sra. Maria Silveira

Réu: Sr. José Augusto Silveira

Cláudio Marcelo Rodrigues Cordeiro, bacharel em Ciências Contábeis, Perito


Judicial nomeado no processo acima identificado, vem respeitosamente
aceitar o honroso encargo, ciente do processo, com estimativa inicial dos
honorários conforme Sicontiba – Sindicato dos Contabilistas de Curitiba, o
montante de R$8.560,00 (oito mil, quinhentos e sessenta reais), para respon-
der aos quesitos de número 1 a 10, os quais constam nas folhas 42 a 50 dos
autos acima indicados.

A composição da estimativa de honorários consta em quadro orçamentário


anexado a esta petição.

Diante do exposto requer:

– Face à extensão e detalhes dos trabalhos, solicito um prazo de 40 (quaren-


ta) dias para a entrega do trabalho, e que o mesmo inicie a partir da comuni-
cação do depósito dos honorários.

– Complementação dos honorários, caso o número de horas seja maior do


que o estimado.

Termos em que devolve os autos, pede juntada e deferimento.

Curitiba/PR, 2 de novembro de 20X9.

Cláudio Marcelo Rodrigues Cordeiro

Perito-Contador

CRC/PR 012345/O

194
Laudos e pareceres periciais

TERMO DE DILIGÊNCIA

Autos: 20X9/01

Ação: Separação judicial litigiosa com intuito de apuração de valores para


uma ação de alimentos

Autora: Sra. Maria Silveira

Réu: Sr. José Augusto Silveira

Em 01/11/20X9, no exercício da função de Perito Judicial, honrosamente no-


meado pelo Ilustríssimo juiz, Dr. Carlos Monteiro Justo, folhas 200, e a fim de
proceder às diligências e exames imprescindíveis à solução da prova peri-
cial contábil deferida, bem como oferecer resposta aos quesitos formulados,
em conformidade com o artigo 429 do Código de Processo Civil, solicito a
Sra. Maria Silveira e Sr. José Augusto Silveira as informações e documentos
abaixo, que deverão estar à disposição do perito em 15/11/20X9, às 8h00
horas, no escritório de perícia CMRC, endereço: Rua XV de Novembro, 270 –
Centro – Curitiba/PR.

1. Cópia autenticada de recibos de pró-labore dos últimos três anos do Sr.


José Augusto Silveira.

2. Cópia autenticada dos recibos de pagamento de remuneração indireta


dos últimos três anos.

3. Cópia autenticada do Estatuto Social e atas de alterações realizadas nos úl-


timos três anos das empresas Cia. Silveira S.A. e Grupo Augusto Silveira S.A.

4. Cópia autenticada de todas as páginas dos livros de registro e transferên-


cia de ações das empresas Cia. Silveira S.A. e Grupo Augusto Silveira S.A.

5. Recibo e declaração de IRPF dos Sr. José Augusto Silveira dos últimos três
anos.

6. Cópia de todos os extratos bancários do Sr. José Augusto Silveira dos últi-
mos três anos. Inclusive extratos de aplicação financeira.

Sendo necessárias outras informações ou documentos durante os nossos


exames periciais, este perito poderá solicitá-las durante o desenvolvimento
do trabalho pericial.

195
Laudos e pareceres periciais

Para os devidos fins, lavro o presente Termo de Diligência, para que valha
na melhor forma do direito, com sustentação do Código de Processo Civil,
artigo 429, e ofereço ao diligenciado a contrafé, que depois de lido e aprova-
do, foi assinado pelo perito e pelo diligenciado Sr. José Augusto Silveira.

Curitiba, 2 de novembro de 20X9

Cláudio Marcelo Rodrigues Cordeiro

Perito-Contador

CRC/PR 012345/O

Recebido por:

Data:

Assinatura:

196
Laudos e pareceres periciais

PETIÇÃO SOLICITANDO A QUEBRA DO SIGILO BANCÁRIO E FISCAL

Exmo. Dr. Juiz da 1.ª Vara da Família da Comarca de Curitiba

Autos: 20X9/01

Ação: Separação judicial litigiosa com intuito de apuração de valores para


uma ação de alimentos

Autora: Sra. Maria Silveira

Réu: Sr. José Augusto Silveira

O Sr. Perito, abaixo assinado, titular perito nomeado do processo n.º dos
autos: 20X9/01, no uso de suas atribuições e devidamente amparado nas
disposições constantes no art. 129, inc. I e VIII da Constituição Federal c/c art.
156 do Código de Processo Penal, vem, respeitosamente, requerer a quebra
dos sigilos bancário e fiscal do requerido Sr. José Augusto Silveira, pelos mo-
tivos de fato e de direito a seguir aduzidos.

DOS FATOS
Segundo consta das declarações tomadas nesta Promotoria de Justiça, nos
autos do Inquérito Civil Público 2009/01, apura valores para uma ação de
alimentos referente à separação judicial litigiosa solicitada pela Sra. Maria
Silveira, já qualificada para atender e responder aos quesitos do processo.

DO DIREITO
Como pode Vossa Excelência solicita verificação, haja vista envolver sigilo
bancário, estando o banco naturalmente impossibilitado de fornecer todas
as informações sobre o caso, desde que agora se trata de sigilo bancário en-
volvendo contas correntes de pessoas físicas.

DOS PEDIDOS
Em face da investigação necessária, requeremos o seguinte:

a) seja oficiado à Receita Federal para fornecer cópias das Declarações de


Renda do Sr. José Augusto Silveira, relativas aos três últimos exercícios
fiscais;

b) seja oficiado aos bancos em que o réu possui contas para fornecer os
extratos da movimentação bancária do Sr. José Augusto Silveira, dos úl-
timos três anos, em suas respectivas contas correntes ou de poupança;

197
Laudos e pareceres periciais

c) finalmente, seja oficiado aos Cartórios de Imóveis da Comarca de Curi-


tiba para informar sobre a existências de imóveis em nome do Sr. José
Augusto Silveira, bem como ao Detran/PR para informar os veículos
vendidos e adquiridos nos últimos três anos, em seu nome.

Nesses Termos,

Pede Deferimento.

Curitiba, 2 de novembro de 20X9

Cláudio Marcelo Rodrigues Cordeiro

Perito-Contador

CRC/PR 012345/O

198
Laudos e pareceres periciais

LAUDO PERICIAL CONTÁBIL

1.ª Vara da Família da Comarca de Curitiba.

Juiz: Dr. Carlos Monteiro Justo

Autora: Sra. Maria Silveira

Réu: Sr. José Augusto Silveira

Advogado da autora: Dr. José da Cruz

Réu: Sr. José Augusto Silveira

Advogado do Réu: Dr. Júlio Cardoso

Perito do Juiz: Dr. Cláudio Marcelo Rodrigues Cordeiro

Perito Assistente: Dr. Vitor Rodrigues

Ilustríssimo Dr. Carlos Monteiro Justo, juiz de direito da 1.ª Vara da Família
da Comarca de Curitiba

N.º dos Autos: 20X9/01

Cláudio Marcelo Rodrigues Cordeiro, contador legalmente habilitado a re-


alizar perícias judiciais de natureza contábil, conforme registro de número
012345/O do Conselho Regional de Contabilidade do Estado do Paraná, hon-
rosamente nomeado para o encargo de realizar a Prova Pericial Técnica nos
Autos do Processo em referência, vem, observados os termos dos artigos 421
a 423 do Código de Processo Civil e as Normas Brasileiras de Contabilidade,
especialmente as que tratam da Perícia e do Perito-Contábil (Resoluções CFC
1.243 e 1.244/2009), venia concessa, apresentar o resultado de seu trabalho,
consubstanciando pelo seguinte:

I. CONSIDERAÇÕES INICIAIS DA PERÍCIA

Ab initio, iniciando o cumprimento da determinação de Perícia Contábil exa-


rada à fs. 179, a perícia, nos termos dos itens que compõe a NBC. TP 01
(Normas Técnicas de Perícia Contábil) do Conselho Federal de Contabilidade,
examinou, do ponto de vista estritamente técnico, o conteúdo das diversas
peças dos autos, notadamente quanto à documentação a eles apensada,
constatando desse exame, que, para bem cumprir o encargo a si confiado, há
necessidade de obter outros elementos ou documentos, não sendo suficien-
1
tes aqueles constantes nos autos, para exarar1 o parecer pericial contábil. Exarar: registrar por es-
crito; lavrar.

199
Laudos e pareceres periciais

II. CONSIDERAÇÕES SOBRE O DESENVOLVIMENTO DOS TRABALHOS DA


PROVA PERICIAL CONTÁBIL

Para a necessária clareza, expomos adiante, de forma circunstanciada, a síntese


do objeto da perícia contábil, as observações e critérios utilizados, bem como
as conclusões, e o parecer técnico a que chegou a prova pericial, estas últimas,
ressalte-se, apresentadas como meio de auxiliar a decisão a ser prolatada.

III. OBJETO DA PROVA PERICIAL

Inicialmente, a citada e respeitável decisão que determinou a realização da


Prova Pericial Contábil feita nos seguintes termos:

“Os Autos já foram encaminhados à central de cálculos, estabelecendo apu-


ração de valores para uma ação de alimentos, sendo devolvidos com a suges-
tão de que fosse nomeado um perito-contábil para executar os cálculos de
natureza de ação de alimentos. Assim, Ad Cautelam, a V. Exa. acolheu a suges-
tão apresentada nomeando este perito, para proceder aos cálculos a fim de
dirimir todas as dúvidas.”

IV. DILIGÊNCIAS REALIZADAS

As diligências foram realizadas no próprio escritório deste perito, na Rua


XV de Novembro, 270, Curitiba/PR, juntamente com o assistente técnico
da parte Dr. Vitor Rodrigues, a partir do dia 15/11/X9, sendo consumidas 40
horas na avaliação e análise dos seguintes documentos:

1. Cópia autenticada de recibos de pró-labore dos últimos três anos do Sr.


José Augusto Silveira.

2. Cópia autenticada dos recibos de pagamento de remuneração indireta


dos últimos três anos.

3. Cópia autenticada do Estatuto Social e atas de alterações realizadas nos úl-


timos três anos das empresas Cia. Silveira S.A. e Grupo Augusto Silveira S.A.

4. Cópia autenticada de todas as páginas dos livros de registro e transferência


de ações das empresas que Cia. Silveira S.A. e Grupo Augusto Silveira S.A.

5. Recibo e declaração de IRPF dos Sr. José Augusto Silveira dos últimos três
anos.

6. Cópia de todos os extratos bancários do Sr. José Augusto Silveira dos últi-
mos três anos. Inclusive extratos de aplicação financeira.

200
Laudos e pareceres periciais

V. ROL DOS QUESITOS


1.º Qual a retirada de pró-labore do Sr. José Augusto Silveira, nas empresas
de sua administração?
Resposta: A retirada total do réu à título de pró-labore foi de R$360.000,00
nos últimos três anos, aproximadamente R$10.000,00 por mês, conforme
constatado nos recibos de pagamentos a nós disponibilizados, os quais
fazem parte de laudo, no anexo n.º 1.

2.º Qual a participação social do Sr. José Augusto Silveira no capital social da
sociedade?
Resposta: A participação do Sr. José Augusto Silveira no capital da empresa
Cia. Silveira S.A. é de 30% e na Grupo Augusto Silveira S.A. 20%, de acordo
com o que consta no estatuto social das companhias em suas páginas 10 e
12, respectivamente, conforme poderá ser observado no anexo n.º 2.

3.º Tem remuneração indireta por seu cargo de direção? Quais? Em quanto
montaram tais remunerações no período dos últimos 24 meses?
Resposta: O Sr. José Augusto Silveira não possui remuneração indireta; por-
tanto não há soma de valores, conforme pudemos observar através da análi-
se assentada sobre a escrituração contábil dos últimos três anos, comparan-
do-as com a folha de pagamento.

4.º A participação percentual no capital das sociedades Cia. Silveira S.A. e


Grupo Augusto Silveira S.A. alterou-se nos últimos três anos? Em quanto?
Resposta: O Sr. José Augusto Silveira aumentou sua participação no capital
da empresa Cia Silveira S.A. em 10% nos últimos três anos e na empresa Grupo
Augusto Silveira S.A. em 5%, conforme observamos nas alterações promovi-
das no estatuto social das companhias, nas páginas 3 e 5, respectivamente.

5.º Foram operadas transferências de capital do réu nos últimos três anos?
Em que montante? Para quem?
Resposta: Em conformidade com os relatórios emitidos pelo Detran/PR e
Cartórios de Imóveis da Comarca de Curitiba, o Sr. José Augusto Silveira não
alterou o montante de seu capital particular nos últimos três anos.

6.º Pela declaração de bens do réu, tem ele outras fontes de rendimentos?
Quais? Em quanto montaram nesses últimos três anos, considerando os va-
lores em moeda constante?
Resposta: De acordo com a análise sobre as declarações de pessoa física
entregues à Receita Federal, o Sr. José Augusto Silveira não tem outros rendi-
mentos além do seu pró-labore.

201
Laudos e pareceres periciais

7.º O réu tem contas bancárias próprias? Em quais bancos? Os depósitos


feitos em suas contas coincidem com os rendimentos declarados?
Resposta: Sim, o réu possui conta corrente no Banco do Brasil, Agência 0455,
conta corrente 9875-6, e esta possui apenas entradas referentes à sua remune-
ração das empresas que Cia. Silveira S.A. e Grupo Augusto Silveira S.A.

8.º Os depósitos bancários são compatíveis com as fontes de rendimentos


apuradas?
Resposta: Sim, conforme nossa observação sobre a movimentação que
consta nos extratos, durante os últimos três anos, os depósitos são apenas
referentes ao seu pró-labore das empresas.

9.º O padrão de vida do réu é condizente com as suas remunerações?


Resposta: De acordo com sua declaração de imposto de renda, o padrão de
vida do Sr. José Augusto Silveira é compatível.

10.º Na opinião deste perito, qual deveria ser o valor justo mensal de paga-
mento de pensão alimentícia? Elaborado sobre qual base de cálculo? De-
monstre como foram apurados os valores.
Resposta: De acordo com a análise documental, recomendo uma parcela de
30% do pró-labore do Sr. José Augusto Silveira a título de pensão alimentícia,
considerando se tratar este do único rendimento que o réu possui.

VI. CONCLUSÃO
Nada mais havendo a considerar, damos por encerrado o presente trabalho,
constituído em três fs. e dois anexos, devidamente rubricados e assinados,
e nos colocamos à disposição do juízo e das partes para os esclarecimentos
que porventura se tornem necessários, pela qual dou fé pública nas informa-
ções contábeis anexas ao laudo pericial.

Nestes Termos,

P. Deferimento.

Curitiba, 1 de dezembro de 20X9

Cláudio Marcelo Rodrigues Cordeiro

Perito-Contador

CRC/PR 012345/O

202
Laudos e pareceres periciais

PETIÇÃO DE ENTREGA DE LAUDO E SOLICITAÇÃO DE LEVANTAMENTO


DOS HONORÁRIOS

Exmo. Dr. Juiz da 1.ª Vara da Família da Comarca de Curitiba

Autos: 20X9/01

Ação: Separação judicial litigiosa com intuito de apuração de valores para


uma ação de alimentos

Autora: Sra. Maria Silveira

Réu: Sr. José Augusto Silveira

Cláudio Marcelo Rodrigues Cordeiro, bacharel em Ciências Contábeis, perito


judicial nomeado nos autos dos processos acima referenciados, requer a jun-
tada aos autos do laudo pericial, encerrado e lavrado em 1 de dezembro de
20X9, contendo 3 (três) páginas, impressas e rubricadas no anverso, com 2
(dois) anexos, também devidamente rubricados.

Ao mesmo tempo, dado o encerramento dos trabalhos, requer a liberação


do depósito dos honorários periciais, conforme despacho do item 10 à folha
200 dos autos (apresentado o laudo, expeça-se alvará em favor do perito).

Termos em que, devolvendo aos autos, pede juntada e deferimento.

Curitiba, 1 de dezembro de 20X9

Cláudio Marcelo Rodrigues Cordeiro

Perito-Contador

CRC/PR 012345/O

203
Laudos e pareceres periciais

Em que pese o exemplo demonstrado ser bastante simples, tivemos o


propósito de ilustrar algumas etapas anteriores e posteriores à elaboração
do laudo pericial, apresentando principalmente o rigor da estrutura desse
importante documento.

O laudo pericial deve ser redigido pelo próprio perito, tendo muita minú-
cia na conferência de todas as informações que nele constam, além de uma
revisão gramatical profunda, evitando erros ortográficos.

Por fim, é permitida a utilização de vários termos em latim, considerando


que as palavras neste idioma são comuns no meio judiciário, estando perfei-
tamente pertinentes quando tratar-se de perícia na esfera judicial.

Ampliando seus conhecimentos

Impertinência e perícia contábil


(LOPES DE SÁ, 2007)

Em tese, a opinião resulta de juízos formados na mente de quem os emite.

Ou seja, conhecimentos acumulados em nosso cérebro permitem-nos


especiais observações e conclusões, sob a ótica do que armazenamos em
informações.

Quando a opinião é, todavia, profissional, demanda um enfoque específico.

Para um leigo, para o homem comum, o juízo sobre um acontecimento


é formado apenas de elementos sensíveis ou emocionais, ou seja, é empíri-
co; para quem possui estudos e conhece as relações que conduzem sempre
a um determinado acontecimento, o juízo tem conotação científica, ou seja,
fundamenta-se na verdade.

O conhecimento empírico produz, portanto, opiniões “subjetivas”, ou seja,


vale só para uma pessoa ou um grupo de pessoas.

O conhecimento científico, entretanto, gera opiniões “objetivas”, válidas


universalmente (em todas as partes e em todos os tempos).

Como a produção de um “laudo pericial”, para fins judiciais, implica emis-


são de opinião técnica e científica, é impertinente tudo o que não se relacione
à capacidade legal do profissional incumbido de realizar a tarefa.

204
Laudos e pareceres periciais

Assim, o contador deve limitar-se à matéria “patrimonial” no que esta re-


presente o compreendido pela doutrina científica, normas técnicas e informa-
ções pertinentes, sob o ponto de vista da função que os bens desempenham
como suprimento de necessidades humanas.

Vocação natural, parte da estratégia das partes litigantes, todavia, é a de


obter o máximo de opiniões favoráveis, para isto, sugerindo através dos quesi-
tos autênticos pré-julgamentos, além de provocarem pronunciamentos sobre
fatos alheios aos limites da área profissional do contador.

Nesse particular, o perito necessita ter muita atenção, para não incorrer
nos erros de metodologia em seu trabalho, tendo sempre em mente que jul-
gamentos competem ao juiz.

A impertinência atinge, também, toda a condução em quesitos que leve a


opinar sem fundamento em realidade e que possa despertar o “subjetivo” ou
a prevalência deste sobre o “objetivo”.

Hipóteses, simulações, amostragens, são recursos que tendem a não apre-


sentar o inequívoco, logo sendo débil quanto à força probante que um laudo
precisa oferecer.

Imaginar que algo pudesse ter ocorrido desta ou daquela forma sem que
deveras tivesse possibilidade de ocorrer, e oferecer opinião sobre o inviável ou
apenas suposto, são fatos repudiáveis tecnicamente.

Ainda que seja requerida uma simulação, uma probabilidade de ocorrên-


cia, o perito deve negar-se a oferecê-la se não encontrar sustentação para que
o fato ocorra, a fim de não comprometer a sua opinião oferecendo “suposi-
ções”, “indícios”, em vez de “provas”.

[...]

Um perito contábil deve preocupar-se com a “realidade” e não com a “con-


jectura” de um fato que apenas poderia ser admitido como verdadeiro.

Para que se admitam alternativas de cálculos, de projeções de situa-


ções, necessário é que se tenha sólido fundamento na real possibilidade de
ocorrência.

Quando fatos estão em litígio, o contraditório estabelecido, nomeado o


perito contábil para opinar sobre o tema técnico, é preciso que não ocorra

205
Laudos e pareceres periciais

na mente do profissional favorecer ou contrariar a quem quer que seja, mas,


simplesmente, apoiar-se em algo convincente.

Não são os autos, pois, o campo de indagação preferencial do perito, mas,


sim, os registros e as documentações originais, assim como a busca da justi-
ficativa destes, posto que só o regime contábil tem condições de explicar e
informar sobre a dinâmica de determinados fenômenos.

Documento isolado é “meia verdade” se a matéria em apreço se relaciona


ao um curso de fato.

A busca do que é concreto, do que efetivamente necessita de prova, não se


limita a hipóteses e nem a documentos avulsos, mas, em muitos casos, a uma
indagação de maior profundidade que só se obtém com o exame direto dos
livros e arquivos; não fosse assim, não se convocaria um contador.

Impertinentes, pois, são todos os quesitos que sugerem a fuga da realida-


de, buscando em conjecturas apoiar teses das partes litigantes.

Atividades de aplicação
1. Explique qual é a importância, para o perito e para os julgadores, da
elaboração dos documentos denominados laudo pericial e parecer
pericial.

2. A norma brasileira de contabilidade que trata da perícia contábil re-


comenda a utilização de termos técnicos na redação do laudo e do
parecer pericial. Disserte sobre qual deve ser o limite de utilização dos
termos técnicos.

3. Existe prazo prescrito no Código de Processo Civil para a entrega do


laudo e do parecer pericial, os quais devem ser sempre respeitados.
Caso haja atraso na entrega do laudo ou do parecer pericial, há possi-
bilidade de prorrogação? Comente como deve ser a postura do perito
diante de tal situação.

206
Laudos e pareceres periciais

Referências
ALBERTO, Valter Luiz Palombo. Perícia Contábil. 2. ed. São Paulo: Atlas, 2000.

CFC – Conselho Federal de Contabilidade. Resolução 1.243, de 10 de dezem-


bro de 2009, que aprovou a NBC TP 01 – Perícia Contábil. Disponível em:
<www.cfc.org.br/sisweb/sre/docs/RES_1243.doc>. Acesso em: 1 jun. 2011.

HOOG, Wilson Alberto Zappa. Prova Pericial Contábil. 6. ed. Curitiba: Juruá,
2008.

LOPES DE SÁ, Antônio. Impertinência e Perícia Contábil. Publicado em: nov.


2007. Disponível em: <www.lopesdesa.com.br/>. Acesso em: 3 jun. 2011.

ROSA, Marcos Valls Feu. Perícia Judicial: teoria e prática. Porto Alegre: Safe, 1999.

ZANNA, Remo Dalla. Prática de Perícia Contábil. São Paulo: IOB Thomson, 2005.

Gabarito
1. O laudo e o parecer pericial passam a ser a “hora da verdade” para o
perito, pois será através desses documentos que conseguirá, ou não,
transmitir ao interessado todas as informações necessárias para que o
usuário desta peça possa tomar uma decisão com confiança, seguran-
ça e baseada na verdade.

Através do laudo e do parecer pericial, é possível segregar o excelente


trabalho daquele realizado de maneira inadequada, sem bases e fun-
damentos centrados na ciência da contabilidade.

2. Na NBC TP 01 Perícia Contábil, há a solicitação de que os peritos se


utilizem de termos técnicos para a elaboração dos laudos e pareceres,
pois, de fato, estes documentos são destinados a decisões importan-
tíssimas que têm por base a contabilidade, em que muitos termos e
jargões específicos existem.

Todavia, não podemos nos esquecer que tanto o laudo como o pare-
cer pericial são destinados a pessoas leigas em contabilidade, portan-
to, o desafio do perito consiste em redigir uma peça com conteúdo
técnico, entretanto que seja plenamente compreendido por aqueles
que se utilizarão deste documento.

207
Laudos e pareceres periciais

3. O perito não pode deixar de cumprir os prazos, o que demanda muito


planejamento na consecução da sua tarefa, pois poderá denotar des-
leixo ou falta de capacitação.

Caso haja a imperiosa necessidade de prorrogação do prazo, recomen-


da-se que se faça com relativa antecedência, em que o perito avalie
cada passo do seu trabalho, se conseguirá entregar o laudo pericial na
data determinada, e, em caso negativo, deverá ser solicitada a dilata-
ção da data, sempre via petição judicial.

208
Remuneração do trabalho pericial

Neste capítulo, abordaremos sobre as formas de remuneração do traba-


lho pericial, as bases para a formação dos honorários profissionais de acordo
com as Normas Brasileiras de Contabilidade que tratam deste tema, apresen-
tando ao final um modelo detalhado contemplando alguns itens que devem
ser levados em consideração no momento da estimativa dos valores.

Honorários em trabalhos periciais


A justa paga pela prestação de atividade de cunho científico e técnico,
como é o caso da perícia, está longe de ser tarefa fácil de determinar, pois
cada profissional deveria receber pelas qualidades que possui, pela capaci-
dade de execução das tarefas, pelo profissionalismo, pelo reconhecimento
do mercado, entre vários fatores.

Muitas vezes, escuto pessoas curiosas perguntando se profissionais da


área de perícia ganham bem, nesses momentos, fico sem resposta, pois
ganhar adequadamente é questão de foro íntimo. O que para uns pode ser
uma excelente remuneração, para outros não, e vice-versa.

Sob a minha ótica, cada pessoa sempre deve ganhar o que merece, assim,
quando é contratado um extraordinário médico, um excelente advogado,
um bom pedreiro, cada uma destas funções deveria receber por seus méri-
tos, sendo valorizado por conta de outros serviços já executados com com-
petência, pelo menos em teoria.

Também na perícia, a justa remuneração varia de acordo com a complexi-


dade, tempo e conhecimentos necessários para a realização da tarefa, assim
como deve ser em outras profissões, especialmente de prestação de servi-
ços, em que o valor que se paga, normalmente, não é baixo.

Quem paga, sempre acha que pagou demais, em contrapartida, quem


recebe, não raras as vezes, julga que não recebeu tanto quanto deveria, o
que torna a “negociação” dos honorários uma guerra de nervos entre as pes-
soas que se utilizam de prestadores de serviços.

211
Remuneração do trabalho pericial

Como se não bastasse a situação anteriormente relatada, na perícia judi-


cial contábil não podemos nos olvidar que existem pessoas discutindo sobre
o patrimônio, e que inevitavelmente alguém irá perder, e reside neste fato
um dos motivos pelos quais os honorários deveriam ser do conhecimento e
consentimento das partes, uma vez que os valores pagos aos peritos podem
fazer parte das custas dos processos, de acordo com jurisprudência comum
nos tribunais.

O fato é que na perícia judicial os peritos nomeados estão “protegidos”


pela força do Estado, sendo desnecessária a elaboração de contrato de pres-
tação de serviços, o que já não ocorre com os assistentes técnicos. Para os
assistentes técnicos que estejam envolvidos em perícias judiciais, recomen-
damos a elaboração de contrato de prestação de serviços, uma vez que o pa-
gamento caberá às partes que o contrataram, pelo menos em um primeiro
momento.

Nas perícias apartadas do Poder Judiciário, os honorários periciais sempre


devem ser estabelecidos mediante contrato, como em qualquer prestação
de serviços, indicando em cláusula específica o valor a ser pago, as datas do
pagamento, e eventuais atualizações monetárias, caso necessário.

Como medida de prudência e proteção, existem alguns critérios que esta-


belecem a forma pela qual os honorários devem ser estabelecidos, de modo
que o perito possa ter segurança sobre o valor por ele solicitado para a exe-
cução da função pericial, evitando amargar prejuízos decorrentes de plane-
jamento inadequado sobre o quanto vale determinado serviço.

Critérios para estimativa de honorários


Em linha com o estabelecido na Resolução do Conselho Federal de Con-
1
Disponível em: <www. tabilidade, 1.244/20091 – Perito Contábil, passaremos a discorrer sobre os
cfc.org.br>.
principais critérios que devem ser respeitados para que os honorários sejam
formulados de maneira profissional e técnica.

Na aludida resolução, os balizadores para o estabelecimento de hono-


rários encontram-se descritos dos itens 47 a 68, sendo que alguns destes
comentaremos a seguir.

212
Remuneração do trabalho pericial

No item 47 da resolução CFC 1.244/2009, está descrito: “Na elaboração


da proposta de honorários, o perito deve considerar os seguintes fatores: a
relevância, o vulto, o risco, a complexidade, a quantidade de horas, o pessoal
técnico, o prazo estabelecido, a forma de recebimento e os laudos interpro-
fissionais, entre outros fatores.”

Como podemos perceber, não é feita menção ao valor da causa, como


é de costume estar atrelada ao valor dos honorários dos advogados, assim
jamais devemos vincular os nossos honorários ao montante da ação que
está em discussão.

Conforme consta na normativa, nossos honorários devem ser dimensio-


nados, entre outros fatores, de acordo com a relevância, o vulto, a complexi-
dade, a quantidade de horas, o pessoal técnico, o prazo estabelecido, a forma
de recebimento e os laudos interpessoais.

A relevância
Como a perícia judicial é demandada para dirimir as dúvidas dos magis-
trados que terão impacto social, econômico e financeiro, o valor dos hono-
rários não pode provocar aviltamentos, que são remunerações indignas com
a classe contábil, principalmente em trabalhos técnico-científicos como os
requeridos na função pericial.

O vulto
Relaciona-se ao perito dimensionar o quanto terá de volume de trabalho,
em razão do objeto da perícia, analisando as áreas envolvidas na demanda,
bem como os conhecimentos que serão necessários empregar para que ao
final a tarefa seja adequadamente cumprida.

O risco
Como todo trabalho pericial pode envolver implicações de natureza civil,
penal e profissional, o perito deve analisar os riscos que envolvem a sua função,
considerando a magnitude daquilo que expressa em seu laudo. No momento da
elaboração dos honorários, ainda deve ser levado em consideração a forma com
que será recebido o valor e a possibilidade de não ser integralmente recebido.

213
Remuneração do trabalho pericial

A complexidade
Esse fator está relacionado à possível dificuldade a ser encontrada em
razão da exigência técnica requerida, principalmente quando se trata de
perícias judiciais sobre fato novo, onde o profissional não tem trabalhos
similares para comparabilidade da sua linha de atuação. A complexidade
está também vinculada a dificuldades que o profissional possa vir a ter
no decorrer do desempenho da sua função, motivado pela ausência de
documentos e evidências que amparem a fundamentação do seu laudo
pericial.

A quantidade de horas
Como os trabalhos profissionais de perícia na sua normalidade são di-
mensionados em razão de horas gastas na função, a quantidade estimada
para dispêndio na realização da tarefa será fator preponderante na formu-
lação dos honorários. A estimada de horas com relativa precisão somente é
possível a partir da leitura pormenorizada do processo e eventuais reuniões
com as partes envolvidas, para que o perito tenha segurança e conhecimen-
tos requeridos no dimensionamento do tempo que será necessário despen-
der no trabalho.

Análise das fases da perícia


Na proposta de honorário, devem ser estimadas horas que serão consumidas
em várias etapas que contemplam a atividade pericial, desde o seu início, sua
execução efetiva, além da fase conclusiva, conforme comentamos a seguir.

Na fase inicial
Deverá haver estimativa de honorários para diversas etapas que estarão
contemplando fase de conhecimento, interpretação e dimensionamento da
profundidade do trabalho que será executado.

Compreenderá, em um primeiro momento, a retirada e entrega dos autos,


2
Parágrafo único. A em que será necessário o deslocamento do perito até o local onde o proces-
escusa será apresentada
dentro de 5 (cinco) dias, so está arquivado, podendo ficar com as peças por um determinado período,
contados da intimação ou
do impedimento super- pois, de acordo com o artigo 1462, parágrafo único, do Código de Processo
veniente, sob pena de se
reputar renunciado o di-
reito a alegá-la (art. 423).
Civil, o perito tem até cinco dias para se escusar da tarefa.
(Redação dada pela Lei
8.455, de 24.8.1992).

214
Remuneração do trabalho pericial

Posteriormente à retirada dos autos, deverá ser dimensionada a quanti-


dade de horas gastas na leitura e interpretação do processo, para que o perito
entenda a complexidade, profundidade, e o nível de conhecimentos técni-
cos que serão requeridos.

Particularmente, acreditamos que esta etapa é crucial no processo de for-


mulação dos honorários, pois será somente através da leitura atenta de tudo
aquilo que está descrito e contido nos autos, é que o profissional poderá
julgar se está apto para a realização do trabalho, com qualidade, no tempo
determinado pelas pessoas que se utilizarão das suas conclusões.

Após leitura dos autos, deverão ser estimadas horas para a elaboração de
termos de diligências os quais são necessários para a arrecadação das provas
e documentos para a consecução da perícia. Nessa etapa, o perito deve di-
mensionar a quantidade de horas que serão necessárias para a comunicação
e entrega do termo de diligência para as partes, para terceiros e, eventual-
mente, para os assistentes técnicos.

Na fase de execução
Previamente, deverão ser estimadas horas que contemplarão a efetivação
da perícia com a realização de diligências, nessa fase o perito irá se deslocar
até o ambiente em que o trabalho será realizado.

Na estimativa de honorário deverá estar contemplada a possibilidade de


viagens, estadias e alimentação necessárias para a realização das diligências,
pois caso o perito não defina estas condições, serão pagas às suas expensas,
o que não seria o ideal, pois o profissional estará a trabalho em outras locali-
dades, sendo o correto que os gastos sejam custeados por quem o nomeou,
contratou ou indicou.

Concomitantemente às diligências, iniciará a pesquisa documental e


exames de livros contábeis, fiscais e societários, e quaisquer outros informes de
natureza contábil que subsidiarão a execução da perícia, sendo necessária a
estimada de horas que serão consumidas para essas tarefas.

Ainda na fase de execução, irá se processar a realização de planilhas de


cálculos, quadros, gráficos, simulações e análises de resultado, entre outros
itens que irão auxiliar na clareza e convicção da opinião do perito, fatos estes
que, embora de difícil dimensão prévia, devem ser estimados na formulação
dos honorários periciais.

215
Remuneração do trabalho pericial

Na fase conclusiva
Tão importante quanto às demais estimativas, também nessa fase o perito
deverá dimensionar as horas que serão consumidas para a leitura e interpre-
tação dos eventuais laudos interprofissionais requeridos no trabalho, além das
horas que serão despendidas na própria elaboração do seu laudo pericial.

Na elaboração do laudo pericial com qualidade a e precisão que são reque-


ridas, é fundamental que o perito estime horas que possibilitem a revisão de
todas as fundamentações que subsidiam as suas conclusões, evitando assim
riscos de colocar informações imprecisas e desconexas no seu documento.

Ao final, deverão ainda ser contempladas horas que serão gastas nas reu-
niões com os peritos-contadores assistentes, pois é sempre prudente e de bom
alvitre que exista a integração e interação entre todos os profissionais envol-
vidos, dando maior segurança às conclusões do perito.

O pessoal técnico
Dependendo da infraestrutura demandada, pode ser que o perito mante-
nha uma equipe de auxiliares, sob a sua orientação e responsabilidade, que
estejam envolvidos no trabalho. Naturalmente, como a remuneração dessas
pessoas estará a cargo do perito, na formulação do seu honorário deverá
estar contemplada essa possibilidade, para que o profissional nomeado, ou
contratado, não incorra em prejuízos, tendo que pagar seus auxiliares, com
valores que não sejam advindos dos honorários cobrados.

O prazo estabelecido
Nas perícias judiciais, o prazo estabelecido para a execução completa do
trabalho é fator primordial na formulação dos honorários, em razão de que
quanto menor a quantidade de dias para a perícia, maior será o risco, o que
demandará atenção total e dedicação exclusiva na tarefa. Naturalmente,
neste caso, o valor do honorário tende a ser maior do que em uma perícia
em que haja prazo estendido.

Também nas perícias fora do Poder Judiciário, o prazo tem fator importan-
te na formulação da proposta de honorários, na qual deverá ficar claramente
definida a data limite que as pessoas que contrataram o perito necessitam
do resultado do seu trabalho, e segue a mesma linha de conduta, quanto
menor o prazo, possivelmente maior será o honorário.
216
Remuneração do trabalho pericial

A forma de recebimento
No que diz respeito a este fator, deverá ficar claramente definido na pro-
posta dos honorários como o perito deseja recebê-los, seja na perícia judicial
ou fora dela.

Na perícia judicial, há a possibilidade de depósito em juízo para que o


perito inicie os trabalhos, tendo assim maior segurança de que venha a rece-
ber ao final, quando da entrega do laudo.

Nas demais perícias, a forma de recebimento deve ficar claramente de-


finida em contrato de prestação de serviços, sendo prudente o profissional
exigir a antecipação de uma parte da sua remuneração para custear as des-
pesas mais imediatas para a realização do trabalho, como deslocamentos,
alimentação, fotocópias, entre outros fatores.

Os laudos interprofissionais
Em relação à eventual possibilidade do envolvimento de outros profis-
sionais, que não da área contábil, que sejam contratados pelo perito para
emitir opinião técnica – tais como engenheiros, grafotécnicos, advogados,
somente para citar algumas profissões – haverá a necessidade de remune-
ração dessas pessoas. Nesse caso, no valor dos honorários estabelecidos
pelos peritos, devem estar contempladas as horas dos demais profissionais
que no transcorrer da perícia irão emitir os laudos interprofissionais, para
dar embasamento e sustentação ao laudo produzido pelo perito judicial.

No item 57 da resolução CFC 1.244/2009, há a seguinte redação: “O perito


deve elaborar a proposta de honorários estimando, quando possível, o
número de horas para a realização do trabalho, por etapa e por qualificação
dos profissionais (auxiliares, assistentes, seniores etc.)[...] “.

A descrição do item acima está vinculada à necessidade de que o perito


sempre apresente por escrito a sua proposta de honorários, deixando para
quem o nomeou, contratou ou indicou, de forma transparente e cristalina,
todos os critérios que foram utilizados na formulação do valor que deseja
receber para a execução da nobre função que lhe foi confiada.

Como podemos perceber acima, são várias as etapas que se seguem à


adequada formulação dos honorários profissionais e, naturalmente, não é
tarefa fácil para noviciados, pois estimar algo entes da execução, prevendo
as eventuais fases e suas implicações, requer experiência.
217
Remuneração do trabalho pericial

Em razão desse fato, recomendamos sempre que haja a discussão com


pessoas mais experientes antes de levar os honorários à apreciação daquelas
pessoas que nomearam, contrataram ou indicaram o perito.

Uma vez estimados inadequadamente os honorários, não seria pruden-


te, e nem profissional, alterar significativamente esses valores, pois poderá
transmitir para as demais pessoas a ausência de planejamento prévio e des-
conhecimento de todas as etapas da perícia.

No que se referem aos quesitos, que normalmente são necessários em


perícias, os itens 59 a 61 da resolução CFC 1.244/2009, estabelecem:
Quesitos suplementares

59. O perito deve ressaltar, em sua proposta de honorários, que esta não contempla os ho-
norários relativos a quesitos suplementares e, se estes forem formulados pelo juiz e/ou
pelas partes, pode haver incidência de honorários suplementares a serem requeridos,
observando os mesmos critérios adotados para elaboração da proposta anterior.

Este importante item deve fazer parte da proposta dos honorários, pois
normalmente são apresentados pelas partes, ou pelo juiz, novos quesitos
que não estavam originalmente no processo analisado pelo perito, o qual
serviu de base para a estimativa da sua remuneração.

Colocando essa ressalva logo no início, na formulação da proposta de ho-


norários, o perito estará protegido financeiramente, pois possibilitará rece-
ber pelo trabalho adicional que certamente será necessário para dar respos-
tas aos novos questionamentos.

Recomendamos sempre que esse item faça parte da petição ou do con-


trato de prestação de serviços, para que o perito tenha resguardo docu-
mental e possa receber remuneração adicional, caso tenham quesitos dessa
natureza.

No ingresso de novos quesitos ao trabalho pericial, que podem ou não


gerar novos honorários, o perito deve avaliar se estes são suplementares ou
apenas de esclarecimento, conforme se segue:
Quesitos de esclarecimentos

60. O oferecimento de respostas aos quesitos de esclarecimentos formulados pelo juiz e/


ou pelas partes podem não ensejar novos honorários periciais, se forem apresentados
para obtenção de detalhes do trabalho realizado.

218
Remuneração do trabalho pericial

61. O perito-contador deve analisar com zelo os quesitos de esclarecimentos, uma vez que
as partes podem formulá-los com essa denominação, mas serem quesitos suplemen-
tares, situação em que o trabalho deve ser remunerado na forma prevista no item 63.
Para tanto, o perito-contador poderá requerer honorários suplementares, justificando
o pleito, pela caracterização de quesito suplementar. (Resolução CFC 1.244/2009)

Conforme descrito nos itens anteriores, todos os cuidados devem ser re-
queridos pelo profissional, distinguindo os novos quesitos que são introdu-
zidos no processo, avaliando se irão demandar horas adicionais de execução
por conta de fatores que não estavam contemplados nos questionamentos
iniciais, ou se são apenas complementações às respostas dadas pelo perito,
as quais não ficaram claras para aquelas pessoas que se utilizarão do laudo.

No que diz respeito a como os honorários devem ser apresentados para


as pessoas que nomearam, indicaram ou contrataram os peritos, os itens 62
e 63 da resolução CFC 1.244/2009, trazem: “O perito-contador deve apre-
sentar sua proposta de honorários, devidamente fundamentada, ao juízo
ou contratante, podendo conter o orçamento ou este constituir--se em um
documento anexo. “.

Na esfera judicial, a proposta de honorários deverá estar fundamentada


através de petição3, onde estará claramente indicado o valor que o perito 3
Ao final deste capítulo,
apresentamos o modelo
deseja receber por seu trabalho, tendo o detalhamento em planilha4 que de- de petição de estimativa
de honorários.
monstre as etapas que serão desenvolvidas. 4
Ao final deste capítulo,
apresentamos o modelo
Sendo os honorários depositados em juízo, o perito deve requerer o le- de planilha detalhada de
estimativa de horas.
vantamento dos honorários5 periciais, na mesma petição em que solicita a 5
Ao final deste capítulo,
juntada do laudo pericial, aos autos, demonstrando, assim, que concluiu a apresentamos o modelo
de petição de entrega do
tarefa para a qual foi nomeado. laudo e levantamento de
honorários.

63. O perito-contador assistente deve explicitar a sua proposta no contrato que, obriga-
toriamente, celebrará com o seu cliente, observando as normas estabelecidas pelo
Conselho Federal de Contabilidade.

64. O perito-contador assistente deve estabelecer, mediante “Contrato Particular de Pres-


tação de Serviços Profissionais de Perícia Contábil”, o objeto, as obrigações das partes e
os honorários profissionais, podendo, para tanto, utilizar-se dos parâmetros estabele-
cidos nesta norma com relação aos honorários do perito-contador. O perito-contador
assistente deve adotar, no mínimo, o modelo constante nesta Norma referente ao seu
contrato de prestação de serviços.

Para os assistentes técnicos não há petição judicial, e sim a formulação


dos honorários através de contrato de prestação de serviços em que estejam
descritas todas as fases do trabalho.

219
Remuneração do trabalho pericial

O rigor descritivo deve ser igual àquele empregado pelo perito judicial,
assim como o valor dos honorários devem ser estabelecidos de acordo com
os critérios estudados até o presente momento, buscando respaldo nas
normas brasileiras de contabilidade.

Honorários em perícia judicial


Os honorários que serão pagos na perícia judicial dizem respeito à remu-
neração do perito do juiz e dos assistentes técnicos.

A peculiaridade na remuneração da perícia judicial é interessante, pois o juiz


é o principal “cliente” do perito, porém não será ele quem remunera o trabalho
executado, nem com seus recursos pessoais, nem tampouco com os recursos
do Estado, a menos que a perícia se processe através da “justiça gratuita”.

O Código de Processo Civil, Lei 5.869 de 1973, no seu artigo 33, estabele-
ce os seguintes critérios quanto a quem deverá honrar o compromisso pelo
pagamento dos profissionais de perícia envolvidos na demanda:
Art. 33. Cada parte pagará a remuneração do assistente técnico que houver indicado; a
do perito será paga pela parte que houver requerido o exame, ou pelo autor, quando
requerido por ambas as partes ou determinado de ofício pelo juiz.

Parágrafo único. O juiz poderá determinar que a parte responsável pelo pagamento dos
honorários do perito deposite em juízo o valor correspondente a essa remuneração. O
numerário, recolhido em depósito bancário à ordem do juízo e com correção monetária,
será entregue ao perito após a apresentação do laudo, facultada a sua liberação parcial,
quando necessária. (Incluído pela Lei 8.952, de 13.12.1994)

Naturalmente, como é de se esperar, já que o Código de Processo Civil


determina que a remuneração do perito seja efetuada por quem requereu o
exame, pelo autor ou determinada pelo juiz, aqueles que estão envolvidos
nas demandas tendem a não aceitar o possível valor estimado pelo perito,
alegando que são honorários muito altos, ainda mais com o risco de que,
perdendo a ação, este valor se reverta em “custas do processo”.

Portanto, existirá a estimativa de honorários, realizada pelo perito judicial,


fundamentada através de planilha descritiva com os elementos que justifi-
quem o valor da remuneração pretendida, tudo isso através de petição.

De acordo com Rosa (1999), após apresentada a estimativa de honorá-


rios periciais, caberia ao juiz submetê-la a apreciação das partes, para que
estas se manifestem, concordando ou discordando do valor pretendido pelo
profissional.
220
Remuneração do trabalho pericial

A divergência em relação à remuneração do perito, muitas vezes, é usada


até mesmo como estratégia de advogados com o intuito de procrastinar o
processo, ganhando tempo em favor do seu cliente.

Levar à apreciação das partes é atitude sensata e prudente dos magistra-


dos, conforme nos ensina Rosa (1999, p. 132):
Ouvidas as partes, o juiz arbitra, então, a seu critério, o valor dos honorários periciais, que
deverão ser, para o perito, condigno com o seu trabalho; para o juiz, compatível com o
valor da causa e com a justa remuneração do trabalho pericial; e, para a parte que deve
pagar, o menor possível.

Convenhamos que atender a todos os interesses descritos por Rosa (1990)


não é tarefa fácil, por essa razão, é que os honorários periciais devem ser
muito bem fundamentados e expostos através de demonstrativos que con-
templem as tarefas e etapas que serão desenvolvidas ao longo do trabalho.

Arbitrados os honorários pelo juiz, e constando na petição inicial, o ma-


gistrado ordenará que exista o depósito em juízo para garantir a justa remu-
neração do profissional de perícia.

Nos casos de perícias processadas na Justiça do Trabalho, na qual nor-


malmente, o autor da ação não possui recursos disponíveis – já que além
de perder o emprego necessita manter condignamente a sua condição de
cidadão –, provavelmente não disporá de valores imediatos para depósito
prévio, ou mesmo adiantamento, da remuneração do trabalho pericial.

Neste caso, mesmo o pagamento imediato posterior à entrega do laudo


será de difícil concretização, restando ao perito aguardar a liquidação da
ação, quando então será determinada a sucumbência para receber seus
honorários.

No que concerne à remuneração dos assistentes técnicos, embora em


um primeiro momento sejam pagas pelas partes que o contrataram, há a
previsão no Código de Processo Civil, Lei 5.869 de 1973, de que ao final sejam
reembolsadas pelo perdedor, ao ganhador, conforme artigos 19 e 20:
Art. 19. Salvo as disposições concernentes à justiça gratuita, cabe às partes prover as
despesas dos atos que realizam ou requerem no processo, antecipando-lhes o pagamento
desde o início até sentença final; e bem ainda, na execução, até a plena satisfação do
direito declarado pela sentença.

Art. 20. A sentença condenará o vencido a pagar ao vencedor as despesas que antecipou e
os honorários advocatícios. Esta verba honorária será devida, também, nos casos em que
o advogado funcionar em causa própria. (Redação dada pela Lei 6.355, de 1976)

221
Remuneração do trabalho pericial

§1.º O juiz, ao decidir qualquer incidente ou recurso, condenará nas despesas o vencido.
(Redação dada pela Lei 5.925, de 1.10.1973)

§2º As despesas abrangem não só as custas dos atos do processo, como também a
indenização de viagem, diária de testemunha e remuneração do assistente técnico.
(Redação dada pela Lei 5.925, de 1.10.1973)

De acordo com o exposto nos itens 19 e 20, a remuneração dos assistentes


técnicos funcionará como um “adiantamento” dos gastos pelas partes, já que
uma delas, com a mais absoluta certeza, perderá a causa, obrigando -se a re-
embolsar ao ganhador o valor despendido com os honorários do seu perito.

Honorários em perícias semijudiciais,


extrajudiciais e arbitrais
No que concerne a forma de pagamento dos honorários em perícias se-
mijudiciais, extrajudiciais e arbitrais, por se processarem apartadas do Poder
Judiciário, naturalmente é recomendado que as pessoas que irão trabalhar
nestes ambientes elaborem contrato de prestação de serviços.

No contrato deverá estar detalhadamente apresentado o escopo do tra-


balho, a forma de remuneração, a data limite para a entrega do parecer do
perito, além do detalhamento das atividades que serão executadas, discrimi-
nando as horas que serão consumidas em cada etapa.

O mesmo rigor requerido na estimativa de honorários feita pelo perito


judicial, também nas outras esferas deve ser seguido, de tal maneira que haja
segurança de atuação dos profissionais que atuam em perícias semijudiciais,
extrajudiciais e arbitrais.

Modelos diversos
Com o intuito de ilustrar os vários documentos padronizados em uma
perícia judicial, apresentamos a seguir a estrutura de formatação de alguns
deles, com destaque para:

 modelo de petição de aceite e proposta de honorários;

 modelo de estimativa de honorários;

 modelo de petição de entrega do laudo e levantamento de honorários.

222
Remuneração do trabalho pericial

MODELO DE PETIÇÃO DE ACEITE E PROPOSTA DE HONORÁRIOS

IESDE Brasil S.A.


Cláudio Marcelo Rodrigues Cordeiro
CRC-PR 12345/O
Perito-Contador

EXMO. DR. JUIZ DA ...

AUTOS:
AÇÃO:
EXEQUENTE:
EXECUTADO:

Cláudio Marcelo Rodrigues Cordeiro, bacharel em Ciências Contábeis, Perito


Judicial nomeado no processo acima identificado, vem respeitosamente aceitar
o honroso encargo, ciente do processo, com estimativa inicial dos honorários no
montante de R$20.000 (vinte mil reais), para responder aos quesitos de número
x a y, os quais constam nas folhas 30 a 35 dos autos acima indicados.
A composição da estimativa de honorários consta em quadro orçamentá-
rio anexado a esta petição.
Diante do exposto, requer, que:
1. Face à extensão e profundidade dos trabalhos, seja deferido o prazo
de xx dias para a entrega do trabalho, e que o mesmo inicie a partir da
comunicação do depósito dos honorários.
2. Seja possibilitada a complementação da estimativa de honorários,
após a conclusão dos trabalhos, caso o número de horas consumidas
seja superior às horas estimadas, ou haja apresentação de quesitos
suplementares tendo em vista que o requerido protestou por tal pos-
sibilidade, ou ainda, sejam apresentados quesitos por parte do reque-
rente, pois os honorários são em função do número de horas e essas
com mais quesitos, automaticamente, serão aumentadas.
Termos em que devolve os autos, pede juntada e deferimento.

Curitiba, 20 de novembro de 20X0.


Cláudio Marcelo Rodrigues Cordeiro
CRC- PR – 12345/O
Perito-Contador
223
Remuneração do trabalho pericial

MODELO DE ESTIMATIVA DE HONORÁRIOS

IESDE Brasil S.A.


Cláudio Marcelo Rodrigues Cordeiro
CRC-PR 12345/O
Perito-Contador

Demonstração da Estimativa de Custo/Orçamento dos Honorários Periciais


Escritório de Perícia CMRC – CRC n.º

Processo: XX/20X0
1) Custos Diretos
Vara: 16.º Vara cível
(a) Pessoal e Encargos
Autor(es):
Sociais
Réu(s):
Horas Valor Totais
Itens Estimadas Hora em
Aplicadas em R$ R$
Compromisso/Carga
Análise Autos/Documentos/Relatórios/Propostas
Visita para instalar perícia e solicitar documentos
Diligência e levantamentos de dados
Cálculos e elaboração de anexos
Redação do laudo
Digitação
Reuniões com assistentes técnicos
Montagem do laudo
Revisão/Assinatura/Entrega do Laudo
Subtotais
Encargos Sociais Agregados (%)
Total do item de pessoal
Valor Totais
Quantidade
(b) Material Aplicado Unitário em
Unitário
em R$ R$
Papéis de Trabalho
CD/pen-drive
Papéis, Laudo e Cópias

Total do item de material

Valor Totais
Horas Estimadas
2) Custos Indiretos Hora em
Aplicadas
em R$ R$

224
Remuneração do trabalho pericial

Custo hora do escritório em função dos custos


fixos mensais: Gastos de Infraestrutura:
Depreciação/Aluguéis/Água/Luz/Telefone/Se-
guro/Manutenção de Equipamentos/Impostos/
Transporte/Estacionamento/Periódicos/Biblioteca
etc.
3) Resumo
Custos Diretos
Em R$
Custos Indiretos
Total da Estimativa de Honorários Periciais

225
Remuneração do trabalho pericial

MODELO DE PETIÇÃO DE ENTREGA DE LAUDO E LEVANTAMENTO DE


HONORÁRIOS

IESDE Brasil S.A.


Cláudio Marcelo Rodrigues Cordeiro
CRC-PR 12345/O
Perito-Contador

EXMO. DR. JUIZ DA ....


AUTOS:
AÇÃO:
EXEQUENTE:
EXECUTADO:
Cláudio Marcelo Rodrigues Cordeiro, bacharel em Ciências Contábeis,
Perito Judicial nomeado nos autos dos processos acima referenciados, requer
a juntada aos autos do Laudo Pericial, encerrado e lavrado em xx de yyyyyyy
de 20X0, contendo 10 (dez) páginas, numeradas sequencialmente, impres-
sas e rubricadas no anverso, com 1 (um) apêndice, também devidamente
numerado e rubricado.

Outrossim, dado o encerramento dos trabalhos, requer a liberação do de-


pósito dos honorários periciais, conforme despacho do item 10 à folha 200
dos autos (apresentado o laudo, expeça-se alvará em favor do perito).

Termos em que, devolvendo aos autos, pede juntada e deferimento.

Curitiba, 20 de dezembro de 20X0


Cláudio Marcelo Rodrigues Cordeiro
CRC PR – 12345/O
Perito-Contador

226
Remuneração do trabalho pericial

Ampliando seus conhecimentos

Honorários de perícia
(FENACON, 2001)
Juízes sem parâmetros

A falta da apresentação de um planejamento detalhado do trabalho peri-


cial, incluindo planilha de custos justificada, é uma das principais dificuldades
enfrentadas pelos juízes no arbitramento de honorários de peritos judiciais.

A avaliação é do presidente da Associação Paulista de Magistrados – Apa-


magis, Artur Marques da Silva Filho, e está em consonância com a opinião de
peritos ouvidos na última edição da revista Fenacon em Serviços, em matéria
sobre o tema.

A reportagem mostrou que dificuldades como esta obrigam os juízes a


fixarem valores baseados em avaliação própria, muitas vezes não represen-
tando a remuneração justa pelo trabalho pericial. Segundo Marques, traba-
lho, grau de zelo do profissional, dificuldades, horas despendidas, encargos e
despesas, uso de fotografia ou algum outro exame, são aspectos importantes
para a fixação de honorários periciais compatíveis com a complexidade da
elaboração do laudo.

“Para que sejam fixados os honorários periciais e para que eles sejam o
mais próximo da realidade, o perito deveria apresentar um roteiro de horas
trabalhadas, as dificuldades que ele encontrou e a valoração do trabalho téc-
nico por ele apresentado, com base em algum paradigma”, confirma Marques.
Ou seja, uma planilha de custos clara que permita ao juiz encontrar dados
objetivos para a fixação dos honorários. “Do contrário passa a ser um critério
meramente subjetivo do juiz”, analisa.

Marques explica que, quanto mais elementos forem apresentados ao juiz,


mais facilidade ele terá para a fixação de honorários periciais. “Todas as impug-
nações que a gente percebe em matéria de recursos contra honorários peri-
ciais são exatamente pela falta de dados que permitam ao juiz dizer porque
os honorários periciais foram estabelecidos naquele valor. A falta de dados
impede que o juiz possa buscar justificativa”.

227
Remuneração do trabalho pericial

Tabela

O detalhamento é fundamental, pois cada área pericial pode exigir exames


específicos, impossíveis de serem previstos por um leigo. “Podemos encontrar
uma perícia de alta complexidade e outras fáceis de serem elaboradas. É fre-
quente o perito pedir às partes exames complementares, como o laboratorial
na hipótese de um laudo médico. Daí surge uma dificuldade a mais na fixação
de honorários”.

Na ausência de um parâmetro objetivo (não há norma jurídica que estabe-


leça um critério objetivo na fixação dos honorários periciais), a saída, muitas
vezes, é a estipulação de valores com base em tabelas elaboradas por enti-
dades representativas do segmento ou em parâmetros próprios do juiz. Nos
casos de ações envolvendo renovação ou revisional de aluguel, por exemplo,
o entendimento é que seja fixado um valor equivalente ao do aluguel novo
ou que será renovado.

Nos casos de honorários periciais médicos, explica Marques, alguns juízes


elaboram portarias com critérios de arbitramento equivalentes na mesma co-
marca, o que também vem ocorrendo com frequência nos casos dos juízes
de vara de Fazenda. Já as perícias grafotécnicas, de engenharia, arquitetura,
paisagismo e agronomia, há mais dificuldade para se estabelecer o valor, pois
nem sempre guardam correspondência.
Lei da Compensação

Outro “problema” enfrentado pelos peritos são os serviços prestados sem


correspondente remuneração, sobretudo nos casos de gratuidade judicial, nos
quais a pessoa se socorre no judiciário, mas não tem condições de manter a
causa. Neste caso, esclarece Marques, prevalece o critério da compensação. “O
perito trabalha em uma causa de justiça gratuita e o juiz vai indicá-lo ou nomeá-
lo em um caso que tenha uma repercussão econômica um pouco maior”.

Ainda assim, surge outra pedra no caminho do perito. Ele acumula gastos
durante a elaboração do laudo, mas só irá receber no final do processo. A so-
lução, segundo o presidente da Associação Paulista de Magistrados, é o perito
estimar o valor do trabalho a ser realizado e pedir ao juiz a fixação dos hono-
rários provisórios que se destinam às despesas, paga pela parte que requereu
a perícia, seja o autor ou réu. Se ambos reivindicaram a perícia, divide-se pela
metade. No final da ação, a parte que ganhar a causa é restituída do valor
pago, corrigida.

228
Remuneração do trabalho pericial

Artur Marques, que também é juiz do 2.º Tribunal de Alçada Cível do Estado
de São Paulo, comentou ainda a crítica feita pelo presidente da Associação
dos Peritos Contadores na Justiça do Estado do Rio Grande do Sul, Ubirajara
Lino Cardoso, de que há casos na Justiça do Trabalho em que advogados das
partes “negociam” a redução do honorário do perito em homologações de
acordos. Segundo o juiz, a negociação não é observada na Justiça Comum.
“Neste caso, toda vez que há acordo, é preciso que o perito concorde, porque
quem fixa os honorários periciais é o juiz. Não fica a critério das partes. Ou
seja, as partes não podem negociar.”
Falta conhecimento processual

A necessidade de conhecimento no campo processual por parte dos pe-


ritos também foi considerada importante pelo juiz. Segundo Marques, seria
conveniente, inclusive, a existência de disciplinas nas faculdades ou cursos es-
pecializados oferecidos pelas entidades de classe, que credenciassem os pro-
fissionais a trabalhar com perícia judicial. “Percebemos que há muita recusa
por parte de profissionais nomeados [...]; por algum motivo, a pessoa prefere
não trabalhar com a Justiça”.

Atividades de aplicação
1. Discorra sobre qual é a relação que existe entre o prazo estabelecido
para a realização das perícias judiciais, ou fora do Poder Judiciário, e a
formação dos honorários periciais.

2. Como forma de assegurar o recebimento dos honorários por tarefas ex-


tras dentro de uma perícia, descreva como deve ser a postura do perito
diante da inclusão de quesitos suplementares em um processo judicial.

3. No que concerne aos honorários e a forma de pagamento, explique


quais são os cuidados que o profissional deve ter na realização de pe-
rícia semijudicial, extrajudicial e arbitral.

Referências
CFC – Conselho Federal de Contabilidade. Resolução 1.244, de 10 de dezem-
bro de 2009, que aprovou a NBC PP 01 – Perito Contábil. Disponível em:
< www.cfc.org.br/sisweb/sre/docs/RES_1244.doc>. Acesso em: 17 jun. 2011.

229
Remuneração do trabalho pericial

FENACON. Honorários de perícia. Revista Fenacon em Serviços, n.o 63, mar.


2001. Disponível em: <www.fenacon.org.br/revista_fenacon/revista63/edicao63.
pdf.>. Acesso em: 13 jun. 2011.

ROSA, Marcos Valls Feu. Perícia Judicial: teoria e prática. Porto Alegre: Safe, 1999.

Gabarito
1. Nas perícias judiciais, o prazo estabelecido para a execução completa
do trabalho é fator primordial na formulação dos honorários, em razão
de que quanto menor a quantidade de dias para a perícia, maior será o
risco, o que demandará atenção total e dedicação exclusiva na tarefa.
Naturalmente, neste caso, o valor do honorário tende a ser maior do
que em uma perícia em que haja prazo estendido.

Também nas perícias fora do Poder Judiciário, o prazo é fator importan-


te na formulação da proposta de honorários, na qual deverá ficar clara-
mente definida a data limite que as pessoas que contrataram o perito
necessitam do resultado do seu trabalho, e segue a mesma linha de
conduta, quanto menor o prazo, possivelmente maior será o honorário.

2. O perito deve ressaltar, em sua proposta de honorários, que esta não


contempla os honorários relativos a quesitos suplementares e, se es-
tes forem formulados pelo juiz e/ou pelas partes, pode haver incidên-
cia de honorários suplementares a serem requeridos, observando os
mesmos critérios adotados para elaboração da proposta anterior.

Colocando essa ressalva logo no início, na formulação da proposta de


honorários, estará o perito protegido financeiramente, pois possibili-
tará receber pelo trabalho adicional que certamente será necessário
para dar respostas aos novos questionamentos

3. No que concerne a forma de pagamento dos honorários em perícias se-


mijudiciais, extrajudiciais e arbitrais, por se processarem apartadas do
Poder Judiciário, naturalmente é recomendado que as pessoas que irão
trabalhar nestes ambientes elaborem contrato de prestação de serviços.

No contrato deverá estar detalhadamente apresentado o escopo do tra-


balho, a forma de remuneração, a data limite para a entrega do parecer
do perito, além do detalhamento das atividades que serão executadas,
discriminando as horas que serão consumidas em cada etapa.

230
Anotações

231

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