O conceito de risco é muito abrangente e de grande utilidade, podendo-se a ele
agregar potenciais sob a forma de probabilidades e de efeitos previsíveis da ocorrência de certos eventos, uma vez que não há como eliminá-los em todas as situações reconhecidas. É comum uma abordagem temática e espacialmente delimitada, circunscrita, do risco geológico. Para não estender desnecessariamente a questão, focalizemos algumas modalidades de risco de grande incidência no Brasil. O risco associado a escorregamentos não se limita à maior ou menor probabilidade de ocorrerem os respectivos eventos, e consequentemente às perdas materiais e humanas diretas, estas sim, afetadas por uma dada probabilidade, mas estende-se para aspectos funcionais (ou disfuncionais) dos assentamentos urbanos a que está associada a probabilidade de 100%. Com efeito, a mitigação do risco associado ao evento, levando aquela probabilidade a valores toleráveis, não torna a área funcionalmente eficiente porque continuam as pessoas sob o permanente estresse devido à disfunção residual, e portanto permanentemente menos produtivas. Por outro lado, o Poder Público também não 'dorme em paz' porque tem consciência das disfunções residuais e precisa manter aparatos de intervenção onerosos não apenas ali, mas também nas áreas a jusante.Uma área com fatores geológicos predisponentes significativos demanda aplicação de vultosos recursos à mesoestrutura para embasar respostas positivas a questões de planejamento, gestão de recursos, uso e ocupação. A questão da água, em perspectiva de gestão, é exposta a seguir. A água comporta (pelo menos) três dimensões de planejamento: suprimento, agente geodinâmico e geotécnico, veículo de poluentes e contaminantes. O planejamento da dimensão suprimento faz-se procurando atender às exigências de quantidade e de qualidade. A exigência de quantidade deve ser atendida nas condições mais críticas, vale dizer, ao término do período seco; a de qualidade, obedecendo às exigências de potabilidade. A gestão das demais dimensões é feita de forma totalmente improvisada, muitsa vezes sem possibilidade de controle das condições de chegada aos sistemas de escoamento pluvial. Duas razões concorrem para justificar que este planejamento seja feito a um só tempo, por um só ente: a primeira é que o suprimento ideal deve ajustar-se à demanda quantitativa e qualitativamente; a segunda é que a água pode transitar de uma dimensão para outra, mediante a implantação de ações bem planejadas. Se apenas parte da demanda exige condições de potabilidade que representam custos de tratamento e adução, não há por que manter, o tempo todo, o suprimento em tais condições. Este fato abre uma janela para a possibilidade de, em ocasiões propícias, prover parte do suprimento com água de qualidade, sem ser potável, adequada à demanda. [...] O uso bem planejado das águas subterrâneas, além de aliviar o campo, de onde se traz a água dos mananciais superficiais, tem várias outras vantagens para a gestão: do ponto de vista ambiental, tornando os aquíferos sedentos, amplia sua receptividade à infiltração, reduzindo, portanto, a ação geodinâmica destrutiva; a tiragem pode ser ampliada, nos limites técnicos recomendáveis, precisamente no período seco, de modo que haja compensação das carências superficiais nesse período; economia de produtos de tratamento e adução; e finalmente, e não menos importante, agrega-se sentido prático às exigências ambientais de proteção dos aquíferos.
Outra instância de risco está associada a inundações. Além de desrespeitar claramente
o domínio natural do rio, emparedando-o em leito artificial, a cidade bloqueia generalizadamente os acessos ao sistema geológico, praticamente anulando seu papel regulador do ciclo hidrológico (o que é, obviamente, muito mais grave nas regiões de relevo ondulado, em que, aos caudais torrenciais, está associada grande energia potencial inicial e cinética em seguida, de que decorre escasso tempo para que o fluxo rápido encontre as poucas frestas de acesso ao terreno, deixadas ao acaso). Em relação ao escoamento pluvial, o resultado desejado [imediato] para as intervenções implica, naturalmente, extinguir as inundações locais e combater a erosão e o assoreamento. Para esse objetivo, tem-se centrado esforço na melhoria e manutenção de dispositivos locais já implantados, bem como na ligação efetiva de sistemas isolados a montante com os coletores principais a jusante. Portanto, o resultado desejado centra-se na eficiência local[, mas seus desdobramentos regionais não devem ser desprezados]. Entre os efeitos colaterais positivos, citam-se a melhoria de aspectos visuais, de condições sanitárias, de capacidade de suporte para a mesoestrutura viária (dada pela contenção proporcionada pelas paredes do canal, em geral cortinas atirantadas com o reforço adicional dado pelas vigas localmente projetadas para suportar lajes de cobertura); melhoria das condições de suporte da baixa vertente por transferência do efeito estabilizador proveniente das estruturas citadas; melhorias funcionais permitindo o trânsito [generalizado] e ativação econômica ao longo do eixo da via, possibilitando condições melhores de moradia e de comércio na faixa marginal. Por outro lado, a remoção das rugosidades naturais ou mesmo antrópicas dessas faixas leva à ampliação, em termos absolutos, dos caudais escoados para idênticos eventos chuvosos, porque o escoamento mais rápido reduz a taxa de infiltração; esta mesma remoção de rugosidades e a consequente maior velocidade do fluxo provocam concentração mais rápida, significando que, para a vazão alcançar determinado valor crítico num ponto qualquer de um canal, o intervalo de tempo é menor que antes da execução da obra, ampliando-se a probabilidade de transbordamento. Ademais, a maior velocidade de escoamento provoca maior eficiência no transporte de caudal sólido, de modo que há um acréscimo na taxa de erosão a montante e de assoreamento nas faixas a jusante, reduzindo- se os volumes úteis dos canais e provocando inundações que, para chuvas idênticas, antes não ocorriam. A rigor, esse efeito colateral negativo, que pode repercutir a dezenas de quilômetros a jusante, significa transferência horizontal de sustentabilidade. Adicionalmente, e com frequência maior que a imaginada, pode ocorrer que trechos canalizados não comportem as vazões que antes passavam sem transbordamentos (para eventos chuvosos idênticos); isso significa que a sustentabilidade derivada dissipou-se e uma mesoestrutura deixou de atender a exigências funcionais para as quais for projetada e precisa ser refeita ou ampliada, em competição com outras necessidades diretamente reprodutoras de riqueza, como metrô, teatros etc. https://prefeitura.pbh.gov.br/obras-e-infraestrutura/informacoes/diretoria-de-gestao-de-aguas-urbanas/ cartas-de-inundacoes https://www.researchgate.net/publication/ 224857852_PINHEIRO_M_G_NAGHETTINI_M_C_Analise_Regional_de_Frequencia_e_Distribuica o_Temporal_das_Precipitacoes_Intensas_na_Regiao_Metropolitana_de_Belo_Horizonte_Revista_Bras ileira_de_Recursos_Hidricos_v_3_n_4_
Primeiras contribuições em avaliação de impactos cumulativos nas construções de hidrelétricas na Amazônia: um estudo bibliográfico dos efeitos cumulativos nas bacias hidrográficas