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18.

2 Propriedades da integral dupla 615

18.2 Propriedades da integral dupla


Teorema 18.3. Se f e g são funções de duas variáveis integráveis em um retân-
gulo Q, então a soma f + g é integrável em Q e
¨ ¨ ¨
( f (x, y) + g(x, y)) dxdy = f (x, y)dxdy + g(x, y)dxdy . (18.42)
Q Q Q

Demonstração. Seja P uma partição qualquer de Q e Qi j um sub-retângulo qual-


quer da partição P. Sabemos que se (x, y) 2 Qi j ,
min{ f (x, y) | (x, y) 2 Qi j }  f (x, y)  max{ f (x, y) | (x, y) 2 Qi j } , (18.43)
min{g(x, y) | (x, y) 2 Qi j }  g(x, y)  max{g(x, y) | (x, y) 2 Qi j } . (18.44)
Somando estas desigualdades (e omitindo o sub-retângulo Qi j ) temos que
min{ f (x, y)} + min{g(x, y)}  f (x, y) + g(x, y)  max{ f (x, y)} + max{g(x, y)} ,
portanto a soma f (x, y) + g(x, y) é limitada e
min{ f (x, y)} + min{g(x, y)}  min{ f (x, y) + g(x, y)} , (18.45)
max{ f (x, y)} + max{g(x, y)} max{ f (x, y) + g(x, y)} . (18.46)
A soma superior de f + g é dada por
n m
S( f + g, P) = Â Â max{ f (x, y) + g(x, y)}DxiDy j 
i=1 j=1
n m n m
  max{ f (x, y)}DxiDy j +   max{g(x, y)}DxiDy j . (18.47)
i=1 j=1 i=1 j=1

Portanto

S( f + g, P)  S( f , P) + S(g, P) . (18.48)

A soma inferior é dada por


n m
I( f + g, P) = Â Â min{ f (x, y) + g(x, y)}DxiDy j
i=1 j=1
n m n m
  min{ f (x, y)}DxiDy j +   min{g(x, y)}DxiDy j , (18.49)
i=1 j=1 i=1 j=1

ou seja,

I( f + g, P) I( f , P) + I(g, P) . (18.50)
616 Integrais de campos escalares

Consequentemente

S( f + g, P) I( f + g, P)  [S( f , P) I( f , P)] + [S(g, P) I(g, P)] (18.51)

Como f e g são integráveis, sabemos que para todo e > 0 existem partições P1 e
P2 tais que
e
S( f , P1 ) I( f , P1 ) < e (18.52)
2
e
S(g, P2 ) I(g, P2 ) < (18.53)
2
Seja P uma partição que refina P1 e P2 . Neste caso
e e
S( f +g, P) I( f +g, P)  [S( f , P1 ) I( f , P1 )]+[S(g, P2 ) I(g, P2 )] < + = e ,
2 2
(18.54)

o que prova que a soma f + g é integrável. Aplicando o limite em que n e m


tendem ao infinito na desigualdade

I( f , P) + I(g, P)  I( f + g, P)  S( f + g, P)  S( f , P) + S(g, P) (18.55)

percebemos que o termo da direita e da esquerda tendem às somas das integrais


de f e de g. De acordo com o teorema do confronto,
¨ ¨ ¨
( f (x, y) + g(x, y)) dxdy = f (x, y)dxdy + g(x, y)dxdy . (18.56)
Q Q Q

Teorema 18.4. Seja f : R2 ! R uma função integrável em um retângulo Q e seja


a um número real qualquer. Então a multiplicação por escalar a · f é integrável
em Q e
¨ ¨
a f (x, y)dxdy = a f (x, y)dxdy (18.57)
Q Q

Demonstração. Seja P uma partição qualquer de Q e Qi j algum sub-retângulo


desta partição. Se a 0,
min{a f (x, y) | (x, y) 2 Qi j } = a min{ f (x, y) | (x, y) 2 Qi j } , (18.58)
max{a f (x, y) | (x, y) 2 Qi j } = a max{ f (x, y) | (x, y) 2 Qi j } , (18.59)
enquanto se a < 0
min{a f (x, y) | (x, y) 2 Qi j } = a max{ f (x, y) | (x, y) 2 Qi j } , (18.60)
max{a f (x, y) | (x, y) 2 Qi j } = a min{ f (x, y) | (x, y) 2 Qi j } . (18.61)
18.2 Propriedades da integral dupla 617

Portanto a soma superior de a f (x, y) é dada por



aS( f , P) se a 0
S(a f , P) = (18.62)
aI( f , P) se a < 0
e a soma inferior por

aI( f , P) se a 0
I(a f , P) = (18.63)
aS( f , P) se a < 0
Para qualquer valor de a podemos escrever

S(a f , P) I(a f , P) = |a| (S( f , P) I( f , P)) . (18.64)

Como f é integrável em Q, para todo e > 0 existe alguma partição P de Q tal que
e
S( f , P) I( f , P) < . (18.65)
1 + |a|
Nesta partição temos que
e
S(a f , P) I(a f , P) < |a| <e, (18.66)
1 + |a|
o que prova que a f é integrável. A integral dupla é dada pelo limite de alguma
soma de Riemann,
¨ ¨
a f (x, y)dxdy = lim lim S(a f , P) = a f (x, y)dxdy (18.67)
n!• n!• Q

para qualquer valor de a.


Estes dois últimos teoremas provam que o conjunto de funções integráveis é
um espaço vetorial e a integral dupla é uma transformação linear.
Teorema 18.5 (Aditividade). Seja Q um retângulo que é a união de dois retângu-
los Q1 e Q2 . Se f é integrável nos dois retângulos Q1 e Q2 , então f é integrável
em Q e
¨ ¨ ¨
f (x, y)dxdy = f (x, y)dxdy + f (x, y)dxdy . (18.68)
Q Q1 Q2

Demonstração. Para todo e > 0 existem uma partição P1 de Q1 e uma partição P2


de Q2 tais que
e
S( f , P1 ) I( f , P1 ) < , (18.69)
2
e
S( f , P2 ) I( f , P2 ) < . (18.70)
2
618 Integrais de campos escalares

Seja P uma partição definida pela união das partições P1 e P2 , gerando assim
uma partição do retângulo Q. A soma superior de f sobre P pode ser escrita
como duas somatórias, uma que varre os sub-retângulos de P1 e outra que varre
os sub-retângulos de P2 . Portanto

S( f , P) = S( f , P1 ) + S( f , P2 ) . (18.71)

Pelo mesmo raciocínio temos que

I( f , P) = I( f , P1 ) + I( f , P2 ) (18.72)

e
e e
S( f , P) I( f , P) = (S( f , P1 ) I( f , P1 )) + (S( f , P2 ) I( f , P2 )) < + =e.
2 2
(18.73)

Portanto f é integrável em Q. Tomando o limite em que o número de partições


tende ao infinito na equação (18.71) temos
¨ ¨ ¨
f (x, y)dxdy = f (x, y)dxdy + f (x, y)dxdy . (18.74)
Q Q1 Q2

18.3 Cálculo de integrais duplas


A definição de integral é importante para entendermos o conceito de integral,
o que ele representa geometricamente e provar propriedades importantes, mas
evidentemente não é conveniente para calcular de fato a integral. No cálculo de
funções de uma variável vimos a definição de integral por somas de Riemann, mas
para calcular a integral utilizamos o teorema fundamental do cálculo, desde que a
função seja contínua e que alguma primitiva seja conhecida. Naturalmente existe
um teorema equivalente que nos permite calcular uma integral dupla em determi-
nadas condições. Nesta seção veremos os conceitos que levam a este algoritmo.
Na definição de integral é necessário que a função seja limitada no retângulo
Q. Sejam M( f , Q) e m( f , Q) os valores máximos e mínimos, respectivamente,
de f (x, y) no retângulo Q. O teorema de Weierstrass (teorema 17.6) garante a
existência destes números reais no caso de funções contínuas. A diferença entre
estes valores é chamada de oscilação.
Definição 18.3. A oscilação de uma função f limitada em um retângulo Q é defi-
nida como M( f , Q) m( f , Q).
18.3 Cálculo de integrais duplas 619

Teorema 18.6 (Teorema da continuidade uniforme). Seja f : R2 ! R uma função


contínua em um retângulo fechado Q = [a, b] ⇥ [c, d]. Para todo e > 0 existe uma
partição P de Q tal que a oscilação de f em cada sub-retângulo de P é menor que
e.
Demonstração. Esta demonstração é muito parecida com a demonstração do te-
orema de Weierstrass (teorema 17.6). Suponha que o oposto deste teorema é
verdade, ou seja, que existe algum e0 para o qual a oscilação de f em cada sub-
retângulo de qualquer partição P de Q é maior ou igual a e0 . Em outras palavras,
para qualquer partição P de Q existe algum sub-retângulo no qual a oscilação é
maior ou igual a e0 .
Seja P0 uma partição que divide o retângulo Q em apenas 1 sub-retângulo, isto
é, o único sub-retângulo de P0 é o próprio retângulo Q. Neste sub-retângulo a
oscilação de f é maior ou igual a e0 .
Seja P1 uma partição que divide Q em 4 sub-retângulos de mesma área.
Em algum sub-retângulo desta partição
y

temos que a oscilação de f deve ser


maior que e0 . Definimos [a1 , b1 ] ⇥
[c1 , d1 ] como o sub-retângulo mais pró-
d

ximo do ponto (a, c) no qual a oscilação


c =c
de f é maior ou igual a e0 .
x
a a b =b

Seja P2 um refinamento de P1 que divide cada sub-retângulo de P1 em 4 sub-


retângulos de mesma área, ou seja, P2 divide o retângulo original Q em 42 sub-
retângulos. O retângulo [a1 , b1 ] ⇥ [c1 , d1 ] definido anteriormente é dividido em 4
sub-retângulos.
Em algum destes novos sub-retângulos
y

a oscilação de f deve ser maior que


e0 , pois caso não fosse a oscilação de
[a1 , b1 ] ⇥ [c1 , d1 ] seria menor que e0 . De-
d2

c2

finimos [a2 , b2 ] ⇥ [c2 , d2 ] como o sub-


c

x
retângulo de [a1 , b1 ] ⇥ [c1 , d1 ] mais pró-
ximo do ponto (a, c) no qual a oscilação
a a2 b2 b

de f é maior ou igual a e0 .
Este processo pode ser repetido inúmeras vezes. A partição Pk é um refina-
mento da partição Pk 1 e em um destes retângulos, definido como [ak , bk ]⇥[ck , dk ],
a oscilação de f é maior ou igual a e0 . A área deste retângulo é Ak = (b a)(d 4n
c)
,
portanto é possível repetir este processo de modo que o retângulo [ak , bk ] ⇥ [ck , dk ]
seja arbitrariamente pequeno.
A sequência de retângulos [ak , bk ]⇥[ck , dk ] define uma sequência {a, a1 , a2 , a3 , . . .}
de números reais crescente, limitada superiormente por b e não vazia, portanto
existe um supremo a tal que k!•
lim ak = a. Temos também uma sequência {c, c1 , c2 , c3 , . . .}
620 Integrais de campos escalares

também crescente, limitada superiormente por d e não vazia, portanto existe outro
supremo g tal que k!•lim ck = g.
O ponto (a, g) é um elemento de Q. Se f é uma função contínua em Q, então
para todo e positivo existe alguma bola aberta B de raio d centrada em (a, g) tal
que
e
| f (x, y) f (a, g)| < (18.75)
2
para todo elemento (x, y) de Q pertencente a esta bola aberta. Podemos reescrever
esta desigualdade como
e e
f (a, g) < f (x, y) < f (a, g) + , (18.76)
2 2
portanto a oscilação de f nos elementos de Q contidos nesta bola aberta deve
satisfazer
⇣ e⌘ ⇣ e⌘
M( f , Q \ B) m( f , Q \ B)  f (a, g) + f (a, g) = e . (18.77)
2 2
Para todo d > 0 é possível encontrar um
y

retângulo [ak , bk ] ⇥ [ck , dk ] com k grande


o suficiente para que o retângulo esteja
γ
contido na bola aberta B. Neste retân-
gulo temos que a oscilação de f é maior
c

x
ou igual que um certo e0 .
a α b

No entanto este retângulo com oscilação maior ou igual a e0 está contido numa
bola aberta na qual a oscilação de f é menor que qualquer e positivo, o que é uma
contradição. Portanto a suposição de que para qualquer partiçãoo de Q existe
algum sub-retângulo no qual a oscilaçãoo é maior ou igual a e0 é falsa se a função
for contínua, demonstrando este teorema por contradição.
A consequência mais importante do teorema da continuidade uniforme é que
toda função contínua em um retângulo fechado é integrável.
Teorema 18.7. Se f : R2 ! R é contínua no retângulo fechado Q = [a, b] ⇥ [c, d],
então f é integrável em Q.
Demonstração. O teorema de Weierstrass (teorema 17.6) garante que f é limitada
em Q. Seja P uma partição qualquer de Q, Qi j um sub-retângulo qualquer de P.
Sejam Mi j e mi j os valores máximos e mínimos de f (x, y) em Qi j . A diferença
entre as somas de Riemann superior e inferior é dada por
n n n n
S( f , P) I( f , P) =   Mi j DxiDy j   mi j DxiDy j
i=1 j=1 i=1 j=1
n n
= ÂÂ Mi j mi j Dxi Dy j . (18.78)
i=1 j=1
18.3 Cálculo de integrais duplas 621

Pelo teorema da continuidade uniforme (teorema 18.6), para todo e > 0 existe
alguma partição P de Q tal que
e
Mi j mi j < (18.79)
(b a)(d c)

para qualquer valor de i e j. Nesta partição vale que


n n
e
S( f , P) I( f , P) < Â Â (b Dxi Dy j
i=1 j=1 a)(d c)
n n
e
c) Â Â
= Dxi Dy j = e , (18.80)
(b a)(d i=1 j=1

pois a soma das áreas dos sub-retângulos é igual à área de Q.


Este teorema mostra uma condição suficiente de integrabilidade, o que nos
permite calcular a integral dupla pelo limite de qualquer soma de Riemann, sem
a necessidade de testar se as somas superior e inferior tendem ao mesmo número
real, o que pode facilitar a conta mas ainda envolve limite de uma soma de Ri-
emann. O algoritmo que permite não utilizar somas de Riemann é semelhante
ao método desenvolvido para calcular volume de sólidos de revolução, mas agora
sem depender de simetrias do objeto em questão.

Figura 18.6: A superfície de cor preta possui área A(x̄).

Seja f : R2 ! R uma função positiva integrável no retângulo Q = [a, b]⇥[c, d].


Seja x̄ algum elemento do intervalo [a, b]. Seja C o segmento de reta que une (x̄, c)
a (x̄, d). A região com x = x̄ mantido constante acima do plano z = 0 abaixo da
622 Integrais de campos escalares

superfície z = f (x, y) com y variando de c a d é uma superfície vertical com área


A(x̄), como na figura 18.6.
Particionando o intervalo [a, b] definimos uma coleção estritamente crescente
de pontos {a = x0 , x1 , x2 , . . . , xn 1 , xn = b} e em cada um destes pontos podemos
calcular a área A(xi ) como já definido. Em cada sub-intervalo [xi 1 , xi ] podemos
aproximar o volume que queremos calcular por um sólido de área lateral A(xi ) e
espessura Dxi .

Figura 18.7: Em cada sub-intervalo [xi 1 , xi ] aproximamos o volume a ser calcu-


lado por A(xi )Dxi .

Desta forma aproximamos o volume que queremos calcular por


n
V ' Â A(xi )Dxi , (18.81)
i=1

que no limite em que o número de partições n tende ao infinito esperamos que


possa ser calculado por
ˆ b
V= A(x)dx , (18.82)
a

onde A(x) é a área definida no ponto x pela integral


ˆ d
A(x) = f (x, y)dxdy , (18.83)
c

onde x é mantido constante. Este algoritmo é provado pelo seguinte teorema.


18.3 Cálculo de integrais duplas 623

Teorema 18.8 (Teorema de Fubini). Seja f : R2 ! R uma função integrável em


um retângulo Q = [a, b] ⇥ [c, d]. Se para cada y 2 [c, d] fixo a integral unidimen-
sional
ˆ b
A(y) = f (x, y)dx (18.84)
a
existir e se a integral unidimensional
ˆ d
A(y)dy (18.85)
c
existir, então esta última integral é igual à integral dupla de f sobre Q, ou seja,
¨ ˆ d ˆ d "ˆ b #
f (x, y)dxdy = A(y)dy = f (x, y)dx dy . (18.86)
Q c c a

Da mesma forma, se a integral


ˆ d
A(x) = f (x, y)dy (18.87)
c
existir para todo x 2 [a, b] e se a integral unidimensional
ˆ b
A(x)dx (18.88)
a
existir, então
¨ ˆ b ˆ b "ˆ d
#
f (x, y)dxdy = A(x)dx = f (x, y)dy dx . (18.89)
Q a a c

Demonstração. Seja P uma partição que divide o retângulo Q em diversos sub-


retângulos Qi j . Sejam Mi j e mi j os valores máximos e mínimos de f em Qi j , com
i variando de 1 a n e j variando de 1 a m. A soma inferior de f sobre P é
" #
n m m n
I( f , P) =   mi j DxiDy j =  Dy j  mi j Dxi . (18.90)
i=1 j=1 j=1 i=1

Seja ȳ j um valor qualquer do intervalo


y

yj

[y j 1 , y j ]. Se o mínimo mi j ocorrer na
yj reta y = ȳ j , então
mij

mi j = min{ f (x, y) | (x, y) 2 Qi j }


yj-1
= min{ f (x, ȳ j ) | x 2 [xi 1 , xi ]} ,
xi-1 xi x

caso contrário
mi j < min{ f (x, ȳ j ) | x 2 [xi 1 , xi ]} . (18.91)
624 Integrais de campos escalares

De qualquer forma, para qualquer valor ȳ j temos que

mi j  min{ f (x, ȳ j ) | x 2 [xi 1 , xi ]} . (18.92)

Pelo mesmo argumento,

Mi j max{ f (x, ȳ j ) | x 2 [xi 1 , xi ]} . (18.93)

A soma inferior satisfaz a desigualdade


" #
m n
I( f , P)   Dy j  min{ f (x, ȳ j ) | x 2 [xi 1 , xi ]}Dxi (18.94)
j=1 i=1

e a soma superior satisfaz


" #
m n
S( f , P)  Dy j  max{ f (x, ȳ j ) | x 2 [xi 1 , xi ]}Dxi . (18.95)
j=1 i=1

Os termos entre colchetes são a soma inferior e a soma superior de uma função de
uma única variável f (x, ȳ j ) no intervalo [a, b], temos então a seguinte desigualdade

m ⇥ ⇤ m ⇥ ⇤
I( f (x, y), P)  Â Dy j I( f (x, ȳ j ), Px )  Â Dy j S( f (x, ȳ j ), Px )  S( f (x, y), P) .
j=1 j=1
(18.96)

Se a função f (x, ȳ j ) é integrável para todo ȳ j 2 [c, d], ou seja, se a condição im-
posta pela equação (18.84) no enunciado deste teorema for válida, então tomamos
o limite em que n ! • na desigualdade anterior e obtemos
m ⇥ ⇤
lim I( f (x, y), P) 
n!•
 Dy j A(ȳ j )  lim S( f (x, y), P) .
n!•
(18.97)
j=1

Este termo no meio da desigualdade anterior é uma soma de Riemann de uma


função de uma variável y pertencente ao intervalo [c, d]. Não podemos afirmar se
esta soma é superior ou inferior, mas se esta função A(y) for integrável, isto é, se
a condição imposta pela equação (18.85) for válida, então tomamos o limite em
que m ! • e obtemos
ˆ d
lim lim I( f (x, y), P)  A(y)dy  lim lim S( f (x, y), P) . (18.98)
m!• n!• c m!• n!•
18.3 Cálculo de integrais duplas 625

Por hipótese, f é integrável em Q, portanto os limites acima devem tender à inte-


gral dupla de f sobre Q, portanto pelo teorema do confronto temos que
¨ ˆ ˆ "ˆ d
#
d b
f (x, y)dxdy = A(y)dy = f (x, y)dx dy (18.99)
Q c c a

como queriámos demonstrar. A demonstração do algoritmo na ordem inversa é


semelhante.

Exemplo 18.4. Seja f (x, y) = 1 + x2 + y2 e Q = [1, 3] ⇥ [1, 2]. Integrando primeiro


na variável y temos

1 y=2
ˆ 2
A(x) = (1 + x + y )dy = y + x2 y + y3
2 2
1 3 y=1
✓ ◆ ✓ ◆
8 1 10
= 2 + 2x2 + 1 + x2 + = x2 + (18.100)
3 3 3
e
ˆ 3✓ ◆ 
3
10 1 3 10 x=3
ˆ
2
A(x)dx = x + dx = x + x
1 1 3 3 3 x=1
✓ ◆ ✓ ◆
27 30 1 10 46
= + + = . (18.101)
3 3 3 3 3
Como pode-se notar, este algoritmo é bem mais simples que calcular limites de
somas de Riemann.

Exemplo 18.5. Seja f (x, y) = x sen(y) yex e Q = [ 1, 1] ⇥ [0, p2 ]. Integrando


primeiro em relação a x temos
1  x=1 ✓ ◆
x2 1
ˆ
x x
A(y) = (x sen(y) ye )dx = sen(y) ye =y e , (18.102)
1 2 x= 1 e

p ✓ ◆ˆ p ✓ ◆ 2
1 1 p
¨ ˆ
2 2
f (x, y)dxdy = A(y)dy = e ydy = e . (18.103)
Q 0 e 0 e 8

Integrando primeiro em relação a y temos

p  y= p2 ✓ ◆
y2 x p2 x
ˆ
2
x
A(x) = (x sen(y) ye )dy = x cos(y) e = x e ,
0 2 y=0 8
(18.104)
626 Integrais de campos escalares

1 ✓ ◆  2 x=1 ✓ ◆ 2
p2 x x p2 x 1 p
¨ ˆ
f (x, y)dxdy = x e dx = e = e .
Q 1 8 2 2 x= 1 e 8
(18.105)

Como era de se esperar, o resultado é o mesmo não importa qual variável inte-
gramos primeiro. O resultado é negativo porque a função f (x, y) é negativa no
retângulo dado como pode ser visto na figura 18.8, e as somas de Riemann são
somas de elementos negativos.

Figura 18.8: O plano horizontal é o plano z = 0. A coordenada z da superfície


z = f (x, y) é negativa neste domínio.

Exemplo 18.6. Encontre o volume do sólido limitado superiormente pelo parabo-


loide elíptico x2 + 2y2 + z = 16, lateralmente pelos planos verticais x = 2 e y = 2
contido no primeiro octante do R3 .
18.3 Cálculo de integrais duplas 627

Figura 18.9: Região limitada pelo paraboloide elíptico.

O primeiro octante é a região em que x > 0, y > 0 e z > 0, portanto a região


descrita pode ser expressa por
R = (x, y, z) 2 R3 | 0  x  2, 0  y  2, 0  z  16 x2 2y2 .
As condições 0  x  2 e 0  y  2 são equivalentes a dizer que (x, y) 2 [0, 2] ⇥
[0, 2]. Então estamos interessados no volume abaixo da superfície z = 16 x2
2y2 no domínio Q = [0, 2] ⇥ [0, 2]. Aplicando o conceito de integral temos que
¨ ˆ 2ˆ 2
V= f (x, y)dxdy = 16 x2 2y2 dxdy . (18.106)
Q 2 2

Integrando primeiro em relação a x temos


ˆ 2  x=2
2 2 x3 8
A(y) = (16 x 2y )dx = 16x 2y2 x = 32 4y2 , (18.107)
0 3 x=0 3

2 ˆ 2✓ ◆
8
ˆ
2
V= A(y)dy = 32 4y dy
0 0 3
 y=2
8 4 3 16 32
= 32y y y = 64 = 48 . (18.108)
3 3 y=0 3 3
Integrando primeiro em relação a y calculamos
ˆ 2  y=2
2 3 16
A(x) = (16 x 2y )dy = 16y x2 y
2 2
y = 32 2x2 , (18.109)
0 3 y=0 3
628 Integrais de campos escalares

ˆ 2✓ ◆  x=2
2 16 2 3 16 16 32
V= 32 2x dx = 32x x x = 64 = 48 .
0 3 3 3 x=0 3 3
(18.110)
x2 y2
Exemplo 18.7. Seja f (x, y) = (x2 +y2 )2
e Q = [0, 1] ⇥ [0, 1]. Integrando primeiro
em relação a x temos
1  x=1
x2 y2 x 1
ˆ
A(y) = dx = = . (18.111)
0 (x2 + y2 )2 x + y2
2
x=0 1 + y2

1
1 p
¨ ˆ
y=1
f (x, y)dxdy = dy = [ arctan(y)]y=0 = . (18.112)
Q 0 1 + y2 4

Se integrarmos primeiro em relação a y encontramos


1  y=1
x2 y2 y 1
ˆ
A(x) = 2 2 2
dy = 2 = . (18.113)
0 (x + y ) x + y2 y=0 1 + x2

1
1 p
¨ ˆ
f (x, y)dxdy = dx = [arctan(x)]x=1
x=0 = . (18.114)
Q 0 1 + x2 4

Inicialmente parece que cometemos algum erro nas contas, pois chegamos
em resultados diferentes dependendo de qual variável integramos primeiro. O
erro neste caso foi utilizar ingenuamente o teorema de Fubini sem verificar se as
condições são válidas. Primeiro a função A(x) deve existir para todo x 2 [a, b].
Neste exemplo repetindo o cálculo de A(x) com mais cuidado temos
 y=1
y 1 0
A(x) = = . (18.115)
x + y2
2
y=0 1 + x2 02 + x2

Esta última fração não está definida em x = 0. Se substituirmos x = 0 antes de


calcularmos a integral encontramos
1 1
02 y2 1
ˆ ˆ
A(x = 0) = dy = dy (18.116)
0 (02 + y2 )2 0 y2

e esta função não é integrável neste intervalo. Mesmo a integral imprópria diverge.
18.3 Cálculo de integrais duplas 629

Além disso, a função f (x, y) não é limitada no retângulo Q. Em qualquer


partição deste retângulo as somas de Riemann superior e inferior não podem ser
calculadas e a integral dupla desta função não existe.
É uma curiosidade que o algoritmo do teorema de Fubini resulte em um nú-
mero real, e vários softwares de cálculo cometem este erro porque os programa-
dores implementam o algoritmo mas não testam se o algoritmo pode ser aplicado
na função dada, e de fato é papel do usuário da ferramenta saber se a ferramenta
pode ser utilizada ou não, por isso é tão importante entender as condições dos
teoremas e as demonstrações que justificam estas condições.
Teorema 18.9. Se f : R2 ! R é contínua em Q = [a, b] ⇥ [c, d], então f satisfaz
as condições do teorema de Fubini.
Demonstração. Pelo teorema 18.7, f é integrável.
Seja C o segmento de reta que une (a, ȳ) e (b, ȳ), que pode ser parametrizado
por um campo vetorial ~r(x) = (x, ȳ) com x 2 [a, b]. Como f é um campo escalar
contínuo em Q e~r é um campo vetorial contínuo em [a, b], a composição f (x, ȳ) =
f (~r(x)) é uma função de uma variável contínua em [a, b], portanto a integral
ˆ b
A(ȳ) = f (x, ȳ)dx (18.117)
a

existe para qualquer ȳ 2 [c, d].


Sejam y e y0 elementos quaisquer do intervalo [c, d].
ˆ b ˆ b ˆ b
A(y) A(y0 ) = f (x, y)dx f (x, y0 )dx = [ f (x, y) f (x, y0 )] dx .
a a a
(18.118)

Pela desigualdade triangular temos que


ˆ b ˆ b
|A(y) A(y0 )| = [ f (x, y) f (x, y0 )] dx  | f (x, y) f (x, y0 )| dx .
a a
(18.119)

Como f é contínua em Q, a diferença f (x, y) f (x, y0 ) com y e y0 fixos é


contínua no intervalo fechado [a, b], portanto é limitada. Existe x1 2 [a, b] tal que
| f (x, y) f (x, y0 )| < | f (x1 , y) f (x1 , y0 )| Portanto
ˆ b
|A(y) A(y0 )|  | f (x1 , y) f (x1 , y0 )| dx = | f (x1 , y) f (x1 , y0 )| (b a) .
a
(18.120)
630 Integrais de campos escalares

A função f (x1 , y) é a composição do campo escalar f com o campo vetorial


~r(y) = (x1 , y) com y 2 [c, d]. Logo f (x1 , y) é uma função de uma variável contínua
em [c, d]. Para todo e > 0 existe d > 0 tal que
e
| f (x1 , y) f (x1 , y0 )| < sempre que |y y0 | < d . (18.121)
b a
Neste caso, sempre que |y y0 | < d temos que
e
|A(y) A(y0 )|  | f (x1 , y) f (x1 , y0 )| (b a)  (b a) = e , (18.122)
b a
´d
ou seja, a função A(y) é contínua em [c, d] e portanto a integral c A(y)dy existe,
completando as condições do teorema de Fubini. O mesmo argumento prova que
´b
a A(x)dx existe.

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