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ISSN:
2219685-4
Santa Maria – RS, Maio 2016
Apoiadores:
INTRODUÇÃO
A educação tem como cenário principal a escola, isto é o espaço no qual se deve
favorecer a todos os cidadãos o acesso ao conhecimento e o desenvolvimento de
competências, ou seja, a possibilidade de apreensão do conhecimento historicamente
produzido pela humanidade e de sua utilização no exercício efetivo da cidadania. Pois é
REFERÊNCIAS
INTRODUÇÃO
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No Brasil, o conceito de qualidade dos serviços públicos foi sendo reconfigurado
a partir de meados da década de 90, quando o governo federal brasileiro, com vistas a
atender às exigências de organismos multilaterais em troca de empréstimos, optou por
implementar o Plano Diretor da Reforma do Aparelho do Estado (PDRAE) (BRASIL,
1995). Seu objetivo era o de garantir a abertura econômica e comercial do país.
Intensificou-se assim a inserção dos valores mercantis no contexto público brasileiro e a
1
Este artigo apresenta conteúdos da dissertação de mestrado intitulada "Política de remuneração variável
por desempenho docente: as reações e vivências dos professores da prefeitura municipal do Rio de
Janeiro" (FEUFF, 2013), escrita por Simone Torres Evangelista.
melhores condições de vida. Para o filósofo italiano Antonio Gramsci (1981), a educação
de qualidade é aquela que possibilita a hegemonia das camadas populares.
Já o Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF, 2007) considera que a
qualidade da educação é definida por sete indicadores: ambiente educativo adequado,
prática pedagógica refletida pelo professor e avaliação da aprendizagem como um
processo, foco no ensino e aprendizagem da leitura e da escrita como prioridade, gestão
escolar democrática, formação adequada e boas condições de trabalho dos profissionais
da escola, ambiente físico escolar adequado, acesso e permanência dos alunos na escola.
2
Avaliação em larga escala que se propôs a monitorar a qualidade da educação básica à distância.
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3 O Compromisso Todos pela Educação foi firmado entre a União, Estados, Distrito Federal e Municípios através do Decreto Federal nº 6.094 de 2007 e tem como
objetivo contribuir para que o país consiga garantir educação de qualidade para todos os brasileiros.
4
Decreto Federal que prevê o regime de colaboração com Municípios, Distrito Federal e Estados,
mediante programas e ações de assistência técnica e financeira, visando a mobilização social pela
melhoria da qualidade da educação básica.
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“Um sistema formal de accountability consiste em mensurar e codificar padrões de resultados e prever
determinadas consequências quando se atingem ou não esses resultados. Por isso, a informação é
crescentemente quantitativa e os métodos de mensuração são estandardizados” (HOFFER, 2000 apud
AFONSO, 2009, p. 18).
6
São conteúdos mínimos extraídos dos Parâmetros Curriculares Nacionais e que servirão para a
elaboração das questões que comporão a Prova Brasil. Entretanto, não englobam todo o currículo
escolar por se tratar apenas de um recorte feito com base naquilo que pode ser aferido (INEP, 2011).
7
A subjetividade é um sistema organizador do mundo interno que cria linhas de fuga para produzir novos
mundos possíveis. É uma composição, um trabalho de criação, invenção e fabricação de outros
modos de vida a partir de seus processos de singularidade e do mundo externo do sujeito (DELEUZE;
GUATTARI, 1996).
Como não poderia deixar de ser, muitos professores resistem em adotar o currículo
mínimo presente nas apostilas e expressam isso fazendo duras críticas. A professora C
expressou a seguinte opinião acerca do apostilamento no contexto escolar:
É uma caixinha de molde. Acho que mudou muito a rotina porque os
professores pararam de pesquisar coisas, já vem tudo ali. Só se trabalha
8 Estratégia que consiste na preparação de materiais por equipes técnicas e alheias ao ambiente escolar. Tais materiais definem quais os objetivos, métodos e
conteúdos a serem trabalhados pelos professores, com vistas a preparar os alunos para as provas nacionais.
Nesse caso, fica evidente que essa política vem conduzindo ao treinamento de
professores e alunos, instaurando um ambiente de grande controle e cobrança por
resultados, inclusive por parte dos companheiros de profissão. Em outras palavras, essa
política utiliza o medo, a culpa e a ansiedade por resultados como elementos de
autocontrole que impulsionam os professores a aderirem e, muitas vezes, naturalizarem
mudanças tão significativas. O entusiasmo da professora E demonstra o entusiasmo pelo
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resultado do IDEB:
Foi muito gratificante quando a direção da escola colocou uma faixa no
portão mostrando para a comunidade a colocação da escola no ranking
da CRE e do município. Isso nos dá orgulho porque mostra o quanto
trabalhamos e o quanto nossa escola é boa. Muitas escolas morrem de
inveja, né?
O que eles querem é uma estatística melhor, um número maior e não melhorar o
ensino (Professora I).
Agora, você tem uma pressão muito grande em relação aos números e aí você
tem uma incompatibilidade louca, porque, se por um lado, existe uma cobrança
pedagógica de que você tenha um olhar pro aluno na hora da avaliação, por outro
você tem uma cobrança real em que aquela turma tenha x número de alunos com
notas a partir de tal pontuação. Então é algo que é complicadíssimo (Professora
J).
Por mais que você tenha uma filosofia pessoal, que você tenha consciência de seu
trabalho, a verdade é que isso precisa ser validado de alguma forma. E qual é a
forma de validar? São essas benditas provas. Então você acaba, por mais que não
acredite nisso, tendo que buscar um equilíbrio entre aquilo que você acredita, sem
descartar totalmente o outro lado, porque isso vai influenciar na visão de como
aquela comunidade enxerga você (Professora K).
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
FREIRE, Paulo. Pedagogia do oprimido. 42. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2005.
MORIN, Edgar. Os setes saberes necessários à educação do futuro. São Paulo: Cortez;
Brasília: UNESCO, 2000.
MORWOOD, James. (Ed.). The Pocket Oxford Latin Dictionary. New York: Oxford
NETO, João L. H. Avaliação Externa: a utilização dos resultados do Saeb 2003 na gestão
do sistema público de ensino fundamental no Distrito Federal. 2006. Dissertação
(Mestrado em Educação) - Universidade de Brasília, Faculdade de Educação, UNB,
Distrito Federal.
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Resumo
Antes, existiam Professores, que se reconheciam dentro de uma mesma classe,
que “pertenciam” e juntos lutavam por seus direitos. Aos poucos foram surgindo diversas
categorias de trabalhadores na educação: Terceirizados, professores da rede privada,
pública, horista, adjunto, titular, substituto, visitante, responsável, tutor, instrutor,
monitor, entre tantas outras possibilidades. Essa divisão foi trazendo a ideia de
diferenciação de direitos, distanciamento e disputas entre profissionais que acabam tendo
a mesma atividade fim o que favorece o distanciamento entre trabalhadores, inclusive na
educação. Quanto mais divisões mais disputa e menos solidariedade. A solidariedade
entre os trabalhadores é sem dúvida essencial para que sejam conquistadas as mudanças
necessárias nas relações de trabalho. O presente artigo pretende apontar a importância
dessa solidariedade para a conquista de direitos, bem como algumas instituições ou
instrumentos que favorecem ou não o desenvolvimento dessa solidariedade: os sindicatos,
as greves e as mídias. Foi feita uma revisão bibliográfica e uma análise em dois sites | 39
representativos de profissionais de educação em Minas Gerais,Brasil. Conclui-se que é
preciso que as diversas “categorias de profissionais” se conheçam,se percebam, respeitem
as diferenças e aproximações e as possibilidades de lutas de cada categoria e a partir daí
desenvolvam a solidariedade entre eles.
Abstrat
Before, there were teachers who were recognized within the same class,
which "belonged" and together fought for their rights. Gradually they began to emerge
various categories of workers in education: Outsourced, private school teachers, public,
hourly, associate, holder, substitute, guest, charge, tutor, trainer, monitor, among many
other possibilities. This division was bringing the rights of differentiating idea, distance
and disputes between professionals that end up having the same core activity which favors
the gap between workers, including education. More divisions lead to more dispute and
less solidarity.Solidarity among workers is certainly essential for them to be conquered
essential changes in labor relations. This article aims to point out the importance of
solidarity for the achievement of rights, as well as some institutions or instruments that
favor or not the development of this solidarity: trade unions, strikes and the media. A
literature review and an analysis in two representative websites of education professionals
in Minas Gerais,Brasil was made. In conclusion, it is necessary that the various
"professional class" are known, see themselves, respect the differences and approaches
and possibilities of struggles in each category and from there develop solidarity among
them.
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http://www.ambientevirtual.org.br/fichas-de-estudo/ficha-76-solidariedade-entre-trabalhadores-dsi-21/
muito importante e que tem ao longo da história favorecido o alcance de vários benefícios
Foi feita uma busca usando-se as palavras chave no site de busca Google :
sindicato de professores rede publica mg e sindicato de professores rede privada mg e foi
GREVE COMO INSTRUMENTO DE LUTA INFORMADOS NA BARRA HISTÓRIA DOS SINDICATOS ABAIXO
CITADOS
SINDUTE SINPRO
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http://www.diagnostico.mg.gov.br/situacoes/educacao data do acesso outubro de 2015
Total de dias de greve-792 dias em 36 anos Total de dias de greve informados 168 em 82 anos
Hoje existem inúmeras configurações nas relações laborais inclusive nas escolas,
além dos setores administrativos, pedagógicos, existem dentro dos setores as categorias
criadas e recriadas a cada dia como, por exemplo: terceirizados, professores da rede
privada, professores da rede publica municipal, da rede pública estadual, professor
horista, adjunto, titular, substituto, visitante, responsável, tutor, instrutor, monitor,
autônomos, os sem emprego-com empresa os PJ (pessoa jurídica), os trabalhadores
sazonais, entre tantas outras possibilidades como anteriormente citado. Cada uma dessas
categorias é regida por contratos trabalhistas e legislações que cada vez oferecem menos
segurança aos que dela participam. Existem correntes que acreditam que o emprego está
acabando todos passarão a ser autônomos. As tutelas serão extintas e somente o lucro terá
poder. Com isso cada vez mais tem ficado difícil os movimentos de luta e de resistência
e o mais importante é que tudo isso tem acontecido de forma silenciosa, a maioria dos
próprios trabalhadores não tem percebido essas transformações.
Para que os trabalhadores consigam vencer e resistir a esta empreitada será
fundamental que as diferenças entre as diversas categorias sejam superadas e que eles se
unam no sentido de conquistar justiça social e distribuição justa de riquezas.
3-Considerações finais | 50
Referências Bibliográficas
Arquidiocese de Campinas.http://www.ambientevirtual.org.br/fichas-de-estudo/ficha-
76-solidariedade-entre-trabalhadores-dsi-21/
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Resumo: Este texto apresenta resultados parciais da pesquisa Trabalho e saúde das
professoras de Educação Infantil das escolas públicas municipais da região sul do Rio
Grande do Sul em relação às licenças de saúde e ao consumo de medicamentos na rotina
de trabalho de professoras e auxiliares que atuam em Escolas Municipais de Educação
Infantil de 16 cidades do estado do Rio Grande do Sul, entre os anos 2012 e 2014. Os
dados foram coletados por dois instrumentos: o Questionário sobre o Conteúdo do
Trabalho (Job Content Questionnaire – JCQ) e o Questionário Complementar. Os dados
indicam que 40,95% das respondentes tiraram licença no período citado e 46,6% utilizam
medicamentos no processo de trabalho. Tais percentuais, sob um universo de 622
respondentes, apontam que parte significativa da categoria encontra-se com problemas de
saúde, pois experimenta um processo de trabalho com altas exigências psicológicas e
inúmeras demandas que extrapolam o processo educativo na Educação Infantil.
INTRODUÇÃO
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Na sequência da pesquisa, que ocorrerá no primeiro semestre de 2016, serão realizadas entrevistas
semiestruturadas com as professoras e as auxiliares das EMEIs.
Professoras e Auxiliares
Professoras
Quadro 2 – Professoras
Quadro 3 – Auxiliares
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Conclusões
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Não se ignora que são múltiplos os fatores e as condições de trabalho que levam
ao adoecimento das professoras e auxiliares, tais como: aumento do número de crianças
por sala de aula, salas pequenas, prédios inadequados, ausência ou baixa qualidade de
materiais didáticos, pátios abandonados ou malcuidados, baixos salários, longas jornadas
de trabalho, etc.
Dentro desse quadro, não soa estranho o percentual de licenças de saúde no
período, tampouco o consumo de medicamentos por parte das profissionais da educação,
indicando que essa categoria parece andar na contramão da ideia de que o trabalho é um
REFERÊNCIAS
Resumo:
1. Introdução
Nas últimas décadas a educação básica pública brasileira deu um importante salto
quantitativo. A expansão ganhou força com a Emenda Constitucional n. 14, de 12 de setembro de
1996, que em seu artigo 2º dá nova redação aos incisos I e II do artigo 208 da Constituição Federal,
tornando o ensino fundamental obrigatório e gratuito, assegurada, inclusive, sua oferta gratuita
para todos os que a ele não tiveram acesso na idade própria. E, ainda, em seu artigo 3º, destaca
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que os Municípios atuarão prioritariamente no ensino fundamental e na educação infantil
(COSTA e OLIVEIRA, 2011).
Nessa mesma direção, a redação do artigo 5º altera o artigo 60 do Ato das Disposições
Constitucionais Transitórias (ADCT), permitindo a criação do Fundo de Desenvolvimento e
Manutenção do Ensino Fundamental e Valorização do Magistério (FUNDEF). Estavam criadas
as condições para a ampliação da matrícula na segunda etapa da educação básica e na dependência
administrativa municipal. Criadas as condições, a matrícula nas redes municipais de ensino em
2010, atingiu um total de 16.921.822 (BRASIL, 2010).
E é nesta duplicidade de intenções que o sistema apostilado é visto como aliado do capital,
contribuindo com a padronização dos serviços oferecidos pelas escolas (ADRIÃO, GARCIA,
BORGHI, ARELARO, 2009) e, sobretudo, com a criação de uma nova identidade docente
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(HYPOLITO, 2010), alinhada a consolidação da nova pedagogia da hegemonia (NEVES, 2010).
O trabalho docente é regulado pela ação do Estado (HYPOLITO, 2010), este conforme
Marx ressaltava no “Manifesto do Partido Comunista”, foi criado para servir aos interesses da
burguesia. Logo, a Burguesia por intermédio do Estado, acaba por ditar o conteúdo e a forma do
trabalho que seja funcional ao capital. O estudo de Adriana Turmino (2010), aponta a relação do
discurso da “auto-ajuda” e a “(con)formação” do trabalhador de um novo tipo, um tipo funcional
ao capital, discurso que difunde a idéia do poder do individuo na resolução dos problemas, fato
que contribui para a consolidação da hegemonia burguesa. Práticas difundidas por esse tipo de
discurso fazem parte de um projeto social hegemônico, onde o empresariado está constantemente
organizando suas práticas na sociedade civil e na aparelhagem Estatal.
Neste sentido, definir que identidade profissional o magistério deve assumir, como os
professores devem se comportar, quais problemas práticos e como devem ser solucionados, é uma
das formas de garantir condições necessárias para a normatização do que deve ser a docência para
o modelo gerencial. Segundo (HYPOLITO, 2010) é um processo mesmo de fabricação de
Nessa perspectiva, estudar o trabalho do professor que leciona na escola pública é, antes
de tudo, buscar elementos que demonstrem as condições postas pelo Estado para que este
profissional desempenhe sua função no sistema capitalista. Sendo, portanto, necessário, ir à
realidade do professor no interior da escola pública, para compreender se as condições oferecidas
possibilitam que ele realize seu trabalho, tendo em vista a apropriação e compreensão, por parte
dos alunos, dos conteúdos historicamente produzidos pela humanidade, para que os processos
educacionais funcionem como mediadores da emancipação humana, e para que assim as práticas
sociais colaborem com o movimento de superação da sociedade capitalista, cuja finalidade é a
exploração dos indivíduos para acumular mais riqueza e mais capital. Sendo assim, foram
realizadas entrevistas semi-estruturadas, com oito professores da rede municipal de ensino, na
cidade de Imbituba.
De acordo com Cury (1992), a educação e sua análise devem ter seu inicio numa
totalidade histórica e social, manifestando essa totalidade ao mesmo tempo em que participa de
sua produção. “A educação então não reproduz as relações de classe, mas estas se fazem presentes
na educação, articulando-a com a totalidade” (CURY, 1992, p.14). Para esse autor, no elenco de
categorias metodológicas existe a necessidade de “colocá-las numa relação historicizante, isto é,
toda produção social, no seu mais amplo sentido, é determinada pelas condições sociais que
caracterizam uma sociedade, no nosso caso, a capitalista” (CURY, 1992, p.14). Ao optar pelo
trabalho com categoria, faz-se necessário entender que algumas categorias são anteriores e
originárias de outras, também sendo mutuamente implicadas, entre elas, contradição, totalidade,
mediação, reprodução e hegemonia. Dentre essas elegeu-se a categoria da contradição como
central na análise.
Sendo a educação parte da prática social ela também é contraditória nos seus elementos.
O capitalismo necessita de processos educativos que o subsidie a encobrir os processos de
apropriação do excedente, então a burguesia busca ao longo dos tempos diferentes formas
educativas que possibilite sua manutenção. A educação pode contribuir para a reprodução do
capital, mas pode opor-se como meio de transformação da sociedade, ela é a expressão da luta de | 67
classes (CURY, 1992).
Entre os sujeitos sete eram do sexo feminino e apenas um do sexo masculino, realidade
está que vai de encontro com o perfil traçado pela pesquisa “Trabalho Docente na Educação
Básica em Santa Catarina”, onde 82% dos entrevistados eram do sexo feminino. Em relação ao
tempo de trabalho com educação a maioria exerce a docência há mais de dez anos, fato que pode
contribuir para uma reflexão crítica sobre as questões que afetaram o trabalho docente ao longo
dos anos. A forma de contrato dos sujeitos é bem variada, divididos entre concursados e
temporários (ACT).
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Uma das condições necessárias, ainda que não suficiente, para que o trabalho docente se
realize são as condições que toda a estrutura da escola deve proporcionar ao professor,
independente de que disciplina este lecione. São indispensáveis que sejam oferecidas condições
adequadas para que o professor realize seu trabalho na direção de sua humanização e que não seja
explorado.
Os homens fazem sua própria história, mas não a fazem segundo sua livre
vontade; não a fazem sob circunstâncias de sua escolha e sim sob aquelas com
que se defrontam diretamente, legadas e transmitidas pelo passado (Marx,
2006, p. 15). | 69
As falas apontam indícios de uma escola pública levada adiante pelos trabalhadores que
lá estão. Pois com pouco subsídio financeiro e técnico, estes não encontram as condições de
trabalho necessárias para conduzir seus alunos à “socialização” do conhecimento sistematizado,
uma vez que “para existir a escola não basta a existência do saber sistematizado. É necessário
viabilizar as condições de sua transmissão e assimilação” (Saviani 2005, p. 18).
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Entende-se por Estado: a União e seus entes federados, ou seja, os estados, os municípios e o Distrito
Federal.
Com a universalização da educação básica o Estado teria que mexer em seu cofre, ou seja,
aumentar a parcela do PIB destinada à educação, que de acordo com Saviani (2006), para que
possamos pensar em qualidade social não pode ser inferior a 8%, no entanto, o Brasil aplicou
entre 4,9 % e 5% do PIB entre 2000 e 2010 (INEP, 2010).
As falas remetem aos reflexos da reforma educacional pós Jomtien implantadas no Brasil
e as novas regulações das políticas educacionais por elas trazidas. É nítido que os docentes foram
vitimados por todo esse processo. A busca da ampliação da matrícula nas duas últimas etapas da
educação básica fez parte do plano do Estado articulado com a “promoção da equidade social,
buscando a redução das desigualdades sociais, por meio da oferta educativa às populações em
situação vulnerável” (Assunção & Oliveira, 2009, p. 350). Entretanto, tal empreendimento se fez
sem os investimentos necessários a uma educação de qualidade social.
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Termo usado por Dias-da-Silva, para explicar o atual caos enfrentado pelos alunos das escolas públicas.
14
Termo usado por Helena Freitas para explicar a defasagem teórica que afeta a prática docente.
Nunca na história a escola pública teve tantas e distintas funções. Para dar conta acaba
flexibilizando o currículo. Uma suposta banalização curricular está presente nas escolas. Falta
clareza na definição do que é curricular e o que é extracurricular. Ao considerar que tudo o que é
trabalhado na escola é currículo “se apaga a diferença entre curricular e extracurricular, então
tudo acaba adquirindo o mesmo peso; e abre-se caminho para toda sorte de tergiversações,
invenções e confusões que terminam por descaracterizar o trabalho escolar” (Saviani, 2005, p.
16). A escola pode estar facilmente sendo “contaminada” com inúmeras atribuições que não
condizem com sua função, e desta forma o principal pode facilmente ceder lugar ao secundário,
ou seja, a razão de ser da escola é deslocada para âmbito dos acessórios.
Não é demais lembrar que este fenômeno pode ser facilmente observado no
dia-a-dia das escolas. Dou apenas um exemplo: o ano letivo começa na
segunda quinzena de fevereiro e já em março temos a Semana da Revolução; | 71
em seguida, a Semana Santa; depois, a Semana das Mães, as Festas Juninas,
A Semana dos Soldados, Semana do Folclore, Semana da Pátria, Jogos da
Primavera, Semana da Criança, Semana do Índio, Semana da Asa etc., e neste
momento já estamos em Novembro. O ano letivo encerra-se e estamos diante
da seguinte constatação: Fez-se de tudo na escola; encontrou-se tempo para
toda espécie de comemoração, mas muito pouco tempo foi destinado ao
processo de transmissão-assimilação de conhecimentos sistematizados. Isto
quer dizer que se perdeu de vista a atividade nuclear da escola, isto é, a
transmissão dos instrumentos de acesso ao saber elaborado (Saviani, 2005, p.
16).
Para que empresas privadas atuem no espaço público, é necessário que o Estado autorize.
De acordo com Arelaro (2009), três iniciativas legais são fundamentais para que tal intento
aconteça.
A primeira iniciativa diz respeito a admissão da PEC n. 233, em sua versão original
encaminhada ao Congresso pelo governo federal, a qual previa que a faixa etária de 0 a 3 anos de
idade não se constituiria prioridade do Estado, e deveria desenvolver-se a partir de iniciativas da
sociedade civil em parceria com o mesmo.
Estas não são as únicas iniciativas, mas acredita-se que sejam as principais, e que
possibilitaram a criação de outras. A Emenda Constitucional n. 14, que por sua vez, é oriunda da
PEC n. 233, que cria o Fundef em 1996, e que, acabou por municipalizar o Ensino Fundamental
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no Brasil, em especial as séries iniciais, em cerca de 70% de suas matriculas, “prefeituralizando”
sua gestão e a responsabilizando por sua manutenção (ARELARO, 2008). As prefeituras recebem
esta incumbência, mas na maioria das vezes, a precariedade técnico-operacional encontrada,
sobretudo, naquelas de pequeno porte, as levam a formarem parcerias com a iniciativa privada.
6. Algumas considerações:
As falas sugerem que, a relação entre a esfera pública e a esfera privada existente no setor
educacional, materializada nos sistemas apostilados institui novas regulações sobre o trabalho
15
Acredita-se que a intensificação naquele período histórico deu-se em virtude da redução da jornada de
trabalho. Pois, “a redução da jornada cria de inicio a condição subjetiva para intensificar o trabalho,
capacitando o trabalhador a empregar mais força num tempo dado” (Marx 1998, p. 470).
7. Referências:
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Debate. São Paulo: Xamã, 2008.
ADRIÃO, T.; PERONI, V. (Org). O Público e o Privado na Educação: Interfaces entre Estado
e Sociedade. São Paulo: Xamã, 2005.
ADRIÃO, T.; ARELARO, L.R.G.; BORGHI, R.; GARCIA, T. Uma Modalidade Peculiar de
Privatização da Educação Pública: A Aquisição de “Sistemas de Ensino” por Municípios
Paulistas. In: Interfaces entre o Público e o Privado para a Oferta Educacional: Desafios
Contemporâneos. Educação & Sociedade. Campinas, v. 30, n.108, p. 799 a 818, out. 2009.
ARELARO, L.R.G. Formulação e Implementação das Políticas Públicas em Educação e as
Parcerias Público-Privadas: Impasse Democrático ou Mistificação Política? Educação &
Sociedade. Campinas, v. 28, n.100, p. 899 a 919, out. 2007.
| 75
ASSUNÇÃO, A. A.; OLIVEIRA, D. A. A intensificação do trabalho e saúde dos professores.
Educação & Sociedade, v. 107, p. 77-99, 2009.
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Senado, 1988.
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Anísio Teixeira (INEP). Resumo Técnico – Censo Escolar. Brasília, 2010. Disponível em:
<http://www.inep.gov.br>. Acesso em: 13 de fevereiro de 2016.
CURY, Carlos Roberto Jamil. Um novo movimento da Educação Privada. In Thereza Adrião
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para o debate. São Paulo: Xamã, 2008.
| 76
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58, p. 31-34, 2006.
MARX, Karl & ENGELS, Friedrich. A ideologia alemã. 6. ed. São Paulo: Hucitec, 2007.
MARX, Karl; ENGELS, Friedrich. O Manifesto Comunista. 17.ed. Rio de Janeiro: Paz
e Terra, 1998.
MÉSZÁROS, István. Educação para além do capital. Tradução Isa Tavares. 2. ed. São Paulo:
Boitempo, 2008. (Mundo do trabalho).
NEVES, Lúcia Maria Wanderley. A direita para o social e a esquerda para o capital:
intelectuais da nova pedagogia da hegemonia no Brasil. São Paulo: Xamã, 2010.
SAVIANI, Dermeval. Da Nova LDB ao Plano Nacional de Educação: Por uma outra política
educacional. 2. Ed. Campinas, SP: Autores Associados, 1999.
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Introdução
A formação inicial e continuada do docente tem sido o foco de muitas analises e
discussões de pesquisadores e, também, de propostas de políticas públicas no sentido de
que essa formação se efetive com qualidade. Considerando a ideia de formação enquanto
processo que acontece ao longo da vida do sujeito na interação com seu meio cultural, a
formação docente também acontece, conforme Zabalza (2004), quando nosso discurso
interage com o discurso alheio que modifica e reconstrói o que está instituído.
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Professora gestora e supervisora do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação à Docência (PIBID –
Pedagogia/UFSM) na Escola de Educação Infantil Aracy Trindade Caurio da Rede Municipal de
Santa Maria – RS; Especialista em Gestão Educacional e Mestre em Educação pela Universidade
Federal de Santa Maria – UFSM.
Para Prestes (1996), a escola é resultante dos processos de evolução social, logo,
surge vinculado ao mundo vivido, das interações e da cultura. Para a autora, a estruturação
da educação escolar, acadêmica acabou por desvincular-se das relações sociais entre os
sujeitos comuns no mundo social fora dela criando sua própria cultura, excessivamente
formal e técnica. Segundo Prestes (idem), a relação dialógica, entendida enquanto
participação e compartilhamento das ideias entre os sujeitos, exigindo respeito às
diferenças culturais, éticas e também teóricas, deve orientar a ação pedagógica e resgatar
sua função de formador do sujeito. Nas palavras da autora,
Isso tem validade para as diferentes instancias do processo pedagógico, seja no
plano da relação-aluno, seja no plano da definição da política educacional, da
administração e da relação com outras áreas do conhecimento científico. A
educação escolar precisa fazer valer as formas de vida que possam dar sentido
à formação do sujeito racional, ou seja, garantir os processos de reprodução
cultural e de formação da identidade. (PRESTES, p. 108, 1996)
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A escola tanto quanto a universidade implicam diretamente em promover a
aprendizagem de seus sujeitos educandos. Ainda para Prestes (1996), torna-se necessário
um constante revisão crítica quanto a responsabilidade pedagógica, tanto das instituições
quanto de seus profissionais, de promover condições favoráveis para que a aprendizagem
aconteça com capacidade crítica sobre os próprios conhecimentos científicos,
promovendo, também, a capacidade discursiva daqueles que aprendem. A capacidade
discursivo-crítica traz a possibilidade de participação nas discussões públicas, não apenas
perante as questões acadêmicas, mas, também, éticas, políticas e sociais na formação dos
sujeitos.
O jovem, ao escolher o curso que poderá consolidar sua futura profissão, o faz
influenciado por seus valores, pelas situações enfrentadas em seu meio sociocultural,
como também, desafiado pelos questionamentos acerca do mundo vivido com o intuito | 82
de buscar conhecimento e respostas que possam dar-lhe a competência necessária para
intervir e orientar as ações em seu campo de atuação. Para Marques (2000), o exercício
da profissão, no mundo atual, exige formação específica e formal articulada nas
dimensões ética e política e que se iniciam na Educação Básica. A dimensão ética que diz
respeito a participação de cada um no processo, e a dimensão política que configura as
práticas sociais e o conhecimentos necessários para a compreensão do mundo. Nas
palavras do autor,
As profissões são formas de os homens viverem juntos seus projetos
interdependentes de vida e de trabalho, teias de ralações sobre as quais, como
num pano de fundo, os profissionais desenvolvem suas próprias trajetórias
Algumas mudanças favoráveis acontecerem ao longo dos anos para que o Curso
de Pedagogia ampliasse sua experiência na formação de docentes para trabalhar tanto
com crianças quanto com jovens e adultos (Aguiar, 2006). Essas mudanças foram
impulsionadas, principalmente, por movimentos e protestos de educadores diante da
realidade educacional e pela própria exigência das mudanças que foram ocorrendo na
Para Marques (2000) a visão fragmentada entre teoria e prática nos programas
dos cursos de licenciatura precisa ser superada. O estágio colocado ao final do curso acaba
sendo entendido como avaliação final ou complementação profissional. Para o autor,
teoria e prática são dois conhecimentos que se alimentam um do outro, não podem ser
dissociáveis nem no ensino escolar, nem na atuação profissional. A integração entre teoria | 86
e prática precisa acontecer ao longo de todo o curso de formação. Nas palavras do autor,
Não se fará ensino de relevância social através de práticas superficialmente
induzidas, de práticas provocadas ou realizadas em contextos alheios às
experiências de vida e trabalho dos alunos ou ao contexto em que
possivelmente exercerão sua profissão. Nem através de práticas parcializadas,
descontínuas e aleatórias, de práticas pontuais ou exclusivas de determinados
momentos ou espaços. (MARQUES, idem, p. 93)
O PIBID tem como base legal a Lei 9.394/1996, a Lei nº 12.796/2013 sendo que
sua divulgação aconteceu no Diário Oficial da União (DOU) de 25 de junho de 2010,
instituído sob o decreto de nº 7.219. A Portaria de nº 096 /2013, atualiza e aperfeiçoa a
normas do Programa, revogando a portaria de nº 260/2010. De acordo com as normas
do PIBID, entre seus objetivos está a inserção dos licenciandos no cotidiano das escolas
públicas, proporcionando-lhes a participação nas experiências da docência, no
conhecimento e na interação com a cultura própria da escola em todos os seus setores.
Outro objetivo relevante está em contribuir para articulação entre teoria e prática
importantes na formação de qualidade para os futuros docentes.
Considerações finais
Diante de um mundo em constante mudança, a formação docente assume o
caráter de permanente renovação. Os programas que tem essa formação como objetivo,
precisam considerar a experiência gestada no exercício da profissão para depois retornar
ao espaço da ação pedagógica com outros elementos, com a motivação renovada
promovendo o diálogo entre teoria e prática. O PIBID tem sido apontado, conforme
pesquisas recentes, como um programa com efetivos resultados na formação docente,
inicial e continuada, como também, de influência positiva na rotina das escolas. A (re)
aproximação entre universidade e escola provoca o desafio de repensar teorias e práticas
numa relação dialógica.
Referências bibliográficas
ABBAGNANO, Nicola. Dicionário de Filosofia.4ª ed. São Paulo: Martins Fontes, 2000.
Tradução da 1ª edição brasileira coordenada e revista por Alfredo Bosi; revisão da
tradução dos novos textos Ivone Castilho Benedetti.
___. Parecer nº3 de 2006 . Diretrizes Curriculares Nacionais pra o Curso de Pedagogia.
Disponível em http://portal.mec.gov.br/cne.
___. Resolução nº1 de 18 de maio de 2006. Diretrizes Curriculares Nacionais pra o Curso
de Pedagogia. Disponível em http://portal.mec.gov.br/cne.
DEMO, Pedro. Educar pela pesquisa. 8ª ed. Campinas: Editora Autores Associados,
2007. Coleção Educação Contemporânea.
JARDILINO,José Rubens Lima. OLIVERI,Andressa Maris Rezende. Revista Entrever
[online], Florianópolis, vol.3, nº 4, p 237-249, jan./jun. 2013. A formação continuada de
professores no âmbito do PIBID na região dos Inconfidentes (MG).
ZABALZA, Miguel A.O ensino universitário: seu cenário e seus protagonistas. Porto
Alegre: Artmed, 2004. Tradução Ernani Rosa.
| 91
17
Conselho Federal de Educação Física e Conselho Regional de Educação Física.
1. METODOLOGIA
O presente trabalho caracteriza-se como um estudo de caso (Lüdke & André, | 94
1986). Este estudo de caso é um estudo da complexidade, que tem como objetivo o
entendimento das peculiaridades dos cursos de formação em EF da instituição, de uma
realidade situada historicamente, a qual possui um valor em si mesmo por ser particular
e única.
18
Compreender o conhecimento subjetivo significa, neste trabalho, o ponto de vista pessoal, individual,
sentimento e sensações dos egressos da Educação Física que retornam a formação inicial. Porém,
nossas análises estão fundadas nas análises objetivas, concretas deste trabalho.
pode ser entendida com o seguinte conceito “significa agrupar elementos, idéias ou
expressões em torno de um conceito capaz de abranger tudo isso” (p.70). Para a análise e
discussão dos resultados, serviram de base as leis e categorias metodológicas da dialética
materialista: quantidade e qualidade, luta de classes, abstrato e concreto, lógico e
histórico.
2. O TRABALHO, SUAS TRANSFORMAÇÕES E A RELAÇÃO COM A
EDUCAÇÃO FÍSICA
19
Para Nozaki (2003, p. 2), a noção de mundo de trabalho analisa os “aspectos centrais e estruturais a cerca
das relações de confronto entre capital e trabalho que determinam justamente o campo e o mercado de
trabalho”.
| 97
20
Fordismo: Criado pelo norte-americano Henry Ford em 1914, é um processo de trabalho baseado no
modelo de produção em massa, cujas principais características eram: redução dos custos; divisão das
funções de trabalho; trabalho em cadeia, repetitivo e contínuo, através de linhas de montagem;
especialização técnica, visando produção em série de produtos mais homogênios. Esses elementos
geram uma alienação do trabalhador no processo de produção.
21
Taylorismo: Criado por Frederick Winslow Taylor, cujo processo de trabalho caracterizava-se pela
fragmentação das funções do trabalho, presença de um gerente supervisor e gratificação pela produção
em menor tempo.
22
O modelo de trabalho Toyotista é baseado em mecanismos flexíveis do trabalho atual. A partir de Faria
(2004), trabalhar-se-á cooperação gerencial, os círculos de controle de qualidade (CQC), os quais
constroem grupos de trabalho responsáveis por corrigir ou tomar providências em relação à produtividade
e reformulações desenvolvidas nas matrizes japonesas que atingiram os objetivos de aumentar a qualidade
e produtividade e baixar o custo da produção.
Esta situação já vinha sendo denunciada por autores que discutem a fragmentação
da formação a partir do conhecimento, como Taffarel (2012, p.6) que nos diz que “as
lacunas na formação dizem respeito à negação do conhecimento”, desqualificando o
professor em sua formação acadêmica, rebaixando a formação omnilateral e privilegiando
a divisão social do trabalho na formação inicial.
Os relatos dos professores demonstram que formação inicial esta atrelada as
necessidades de terminada parte da sociedade, em especial as ambições do sistema
CREF/CONFEF. A divisão da EF restringe o campo de atuação, mantém os professores
refém de competências aplicadas ao mercado de trabalho e promove a realização do
registro no conselho da categoria. A formação fragmentada abdica os trabalhadores de
pensar as necessidades da sociedade de forma ampliada em favor do trabalhador que
reproduz o estabelecido na sociedade atual.
Na perspectiva de uma crítica a formação voltada aos nichos de mercado, uma
expressão contundente apresentada pelos estudantes foi a necessidade de vincular a
formação inicial às necessidades do mundo do trabalho. Observamos, através da análise
qualitativa, que alguns egressos têm a percepção da formação fragmentada, do trabalho
independente e desarticulado entre as disciplinas como também do distanciamento dos
dois Cursos Educação Física da realidade concreta.
Sobre este aspecto, Taffarel (2006, p. 93) faz uma reflexão, questionando “em que
bases deve-se formar professores para uma realidade complexa e contraditória que exige
a formação humana na perspectiva da omnilateralidade, da emancipação humana e da
transformação social”.
Quando apresentamos os objetivos do desenvolvimento desta pesquisa
observamos que a tese defendida para a divisão entre Licenciatura e Bacharelado é
desenvolver as competências para que o profissional sinta-se seguro para atuar no
mercado de trabalho. Nesse sentido é necessário observar, na análise qualitativa, que uma
das causas da divisão da formação também vem a ser a necessidade do retorno ao Curso,
ou seja, o próprio mercado de trabalho da Educação Física.
Embora um dos professores expresse que a formação inicial tenha proporcionado | 101
alcançar os objetivos pretendidos: “Eu me senti preparada, mas foi por buscar os projetos
de extensão que a Universidade proporciona e na participação de grupos de estudo”
{...}(Professor F, bacharelado), a questão legal, relacionadas à Resolução que institui as
Diretrizes Curriculares Nacionais para os Cursos de Graduação em Educação Física, os
impede de atuar.
“(...) aí eu voltei e fiz o reingresso, mas por causa de motivo, digamos assim,
uma estabilidade financeira, porque o bacharel são poucos os concursos
públicos que tem né, pra bacharel. E pra licenciatura tem mais. E se eu um dia
quiser voltar para a minha cidade, provavelmente seria como professora de
E;
“Pra complementar a graduação né, porque não pode atuar, por exemplo, em
academia e centros de treinamentos sem ter o bacharelado e eu sempre fui pra
esse lado então tem que complementar pra poder atuar legalmente.” (Professor
I, licenciatura)
Neste sentido, Souza, Fuchs & Ramos (2014, p.20) afirmam que quando a área da
Educação Física se apropriou da legislação para elaborar suas diretrizes curriculares,
prevaleceram concepções de Conhecimento e de Mundo/Mercado do trabalho, aderindo,
deste modo “a uma determinada visão de conhecimento e de perfil profissional”. Para os
autores, a lei não limita o licenciado a atuar somente no âmbito escolar, porém “o
entendimento equivocado desta questão acarretou em uma lógica formativa, nesses
últimos dez anos de fragmentação do conhecimento” (p.21).
Durante a análise qualitativa, algumas respostas dadas pelos entrevistados nos
remetem às falas de autores como Both (2011) e Nozaki (2004) que nos dizem que as
atuais mudanças no mundo do trabalho vêm ampliando o desemprego e a precarização do
mesmo, no que diz respeito aos salários, condições de trabalho e terceirização dos
serviços. Neste sentido, os profissionais da área de Educação Física estão sendo
desvalorizados, tendo de trabalhar em mais de um local para garantir o seu sustento ou
ampliar o tempo de permanência no local de trabalho para garantir o emprego.
“Me formei em bacharel, fiquei dois anos contratada em uma academia aqui
em Santa Maria, carteira assinada. Pedi demissão ano passado, final do ano
passado. Foi mais por desgaste, muitas horas, era tipo faz tudo. Eu fazia 10
horas, as vezes até 12 horas. Porque tipo, pra ti ganhar um salário bom... com
bastante trabalho, o que eu ganhava era em cima daquela parte do responsável
técnico, sabe? Daí não era de acordo com o piso, era de acordo com o | 102
responsável. (...) Fixo na carteira era 8 horas, daí as vezes eu fazia 10, 12 horas
por dia. Daí, comecei a cansar...” (Professor B, bacharelado)
“Em relação a cursar os dois cursos (...) Eu queria dizer que é perda de tempo,
sabe? É, eu acho que tipo, quando é tudo novidade, o professor vai colocando
e tu diz amém, só que a partir de um certo ponto tu começa a ser mais crítico e
tu vê que está bem precário, eu acho que as pessoas tinham que ter mais noção
que eles estão formando futuros profissionais.” (Professor F, bacharelado)
“Na formação de um professor de Educação Física (...) eu acho que tem que
abranger no momento inicial. Depois você tem que ver o que realmente tem
afinidade e aí afunilar mais pra frente (...) eu acho que tem que fazer um
currículo pra cinco anos, aproveitar mais os horários aqui dentro, dá pra fazer
uma formação bem feita em cinco anos.” (Professor A, bacharelado)
MARX, Karl. O capital: crítica da economia política. Livro 1, v. 1, 13 ed. Rio de Janeiro:
Bertand Brasil, 1989.
MARX, Karl. O Capital: Crítica da economia política: livro I 28ª ed. – Rio de Janeiro:
Civilização Brasileira, 2011.
Resumo: O presente artigo tem como objetivo relatar (as vivências) a partir de
observações e do estágio curricular do oitavo semestre do curso diurno de Pedagogia,
quais os principais desafios, implicações e dificuldades que o professor pode encontrar
para transformar sua sala de aula em um ambiente alfabetizador utilizando a ludicidade
como ferramenta. Buscar o conceito e o que significa construir em uma sala de aula um
ambiente que seja voltado para a construção da leitura e escrita, de maneira lúdica,
levando em consideração elementos que vão agregar para que tal construção aconteça,
serão alvo desta pesquisa. Para desenvolver e buscar informações que nos levassem a
entender, como poderia ser construído em uma sala de aula um ambiente alfabetizador,
tal ambiente, que propiciasse para as crianças momentos de aprendizagem da linguagem
oral e escrita. Para tanto, fez-se uso de caderno de relatos de observações, de práticas
durante o estágio, entrevista com uma professora alfabetizadora, entremeando com uma
pesquisa bibliográfica. A professora relata na entrevista, os seus desafios e como ela faz
para transformar sua sala de aula em um ambiente alfabetizador onde as brincadeiras e
jogos possam estar presentes.
Resumo
1 Pressupostos iniciais
23
Estudo da obra de Marx através dele próprio, conservando a integridade de sua teoria.
que por ser social, expressa dentro das suas possibilidades objetivas as determinações
políticas e ideológicas dominantes em uma sociedade. Celli Taffarel (2010) no artigo
“Contribuição ao debate sobre o trabalho pedagógico na Educação Física” relata que a
cultura corporal é a essência da intervenção profissional da Educação Física e reflete o
trabalho pedagógico em diferentes instâncias: gestão (escola), avaliação (sala de aula). O
atendimento desses pontos proporcionaria a inserção do “princípio da pesquisa ao
trabalho escolar, o que significa que o conteúdo do ensino consiste em armar o educando
para a luta e a criação de uma nova sociedade” (p.32).
5 Pressupostos conclusivos
6 Referências
INTRODUÇÃO
| 126
2. OS ORGANISMOS INTERNACIONAIS COMO INDUTORES DAS
POLÍTICAS PÚBLICAS NO BRASIL
Deste modo, tais políticas exigidas pelo Banco Mundial seguem, ou estão definidas
conforme a ideologia e hegemonia econômica neoliberal. Essa ideologia econômica é | 127
diretamente inserida na lógica das ações políticas de países menos favorecidos, os quais
necessitam “consentir” e “aceitar” imposições a fim da viabilização de recursos
financeiros. Assim, as políticas públicas são pensadas a partir da intervenção desses
organismos internacionais, sendo que, os estados nacionais necessitam possuir
capacidade de financiamento, nem que para isso seja necessário abrir mão de
particularidades importantes de seu país.
O documento do Banco Mundial revela que o mesmo vem ampliando suas funções
técnicas e financeiras, assumindo cada vez mais o papel político, em que, como Silva
[...] as políticas para a educação pública são resultantes, em primeiro lugar, das
imposições das instituições internacionais, particularmente do Banco Mundial,
nas prescrições socioeducacionais, não apenas pelo montante financeiro de que
dispõe, mas pela capacidade de gerenciar e manipular o consentimento dos
governados; em segundo lugar, resultam da capacidade de as entidades,
associações, organizações e sindicatos avançarem na direção almejada pelas
forças social opositoras; e em terceiro, das práticas pedagógicas inventadas, no
interior de uma escola pública, em que se conjugam histórias de vida,
identidades, valores, concepções teóricas, culturas e saberes.
O que demonstra as prioridades que devem ser seguidas das políticas públicas para
o cumprimentos das normas estabelecidas pelo Banco Mundial, ficando em terceiro e
último lugar aqui citado, a prática pedagógica alicerçada pela identidade e saberes
construídos durante os anos pela população local que é a que utiliza o espaço escolar e
constrói uma história junto com o mesmo.
Referente a relação do governo brasileiro com os gestores do Banco Internacional
de Reconstrução e Desenvolvimento-BIRD ou Banco Mundial têm sido de conflitos,
hierárquicos e por consequência, quase sempre, de subordinação desde a aprovação de
seu primeiro empréstimo em 1946, no valor de 75 milhões de dólares. Nessas duas últimas
décadas, foram aprovados empréstimos destinados ao ensino fundamental para as regiões
sul, sudeste, nordeste e centro-oeste (SILVA, 2002). Segundo Fonseca (2015, p. 2), o
| 128
BIRD em relação ao setor público brasileiro atua como:
Deste modo, podemos identificar que a divisão de papéis entre o FMI e o BIRD
vem sofrendo modificações, e que o BIRD vem ampliando suas funções e exercendo,
cada vez mais, uma dominação perante aos países em desenvolvimento, atuando como
órgão político central, coordenando de certo modo, o processo global de
desenvolvimento. Para tanto, o Banco Mundial, vem elaborando documentos políticos,
em que destaca a área da política econômica e social, sinalizando uma relação com as
nações-membros.
Nesse jogo de interesses econômicos e políticos presente na conjuntura do Banco
Mundial, os Estados Unidos possui maior poder sobre o BIRD, já que é o único país que
| 129
possui o poder de veto de qualquer decisão, pois possui um número majoritário na cúpula
das instituições multilaterais, o que permite ao mesmo manter poder de dominação sobre
os Estados da Américo Latina. Isto se deu, segundo Silva (2002, p. 42), “[...] pela prática
da intervenção e da subordinação construída ao longo dos anos e escamoteada sob a forma
financeira de assistência econômica, de programas de combate e aliviamento da pobreza,
sob condições predeterminadas e com cobranças de juros crescentes”.
Os Estados Unidos é visto pelo Brasil, e demais países em desenvolvimento, como
uma potência mundial tanto econômica, como política, deste modo, muitas políticas
Eu estava cada vez mais ressentida tanto com o movimento para escolha
escolar como pelo movimento de responsabilização. Eu estava começando a
ver o lado ruim de ambos e compreender que não eram soluções para nossos
dilemas educacionais. Enquanto assistia aos movimentos ganharem força pelo
país, concluí que o currículo e o ensino eram bem mais importantes do que a
escolha e a responsabilização. (RAVITCH, 2011, p. 27)
O Brasil hoje, está passando pela mesma ilusão de que a autora relata, achando
que o mundo empresarial poderá comandar a educação. Estamos implantando políticas
fracassadas dos Estados Unidos por entender aquele país como um exemplo de gestão a
ser seguido, sem ao menos estudarmos de forma aprofundada as suas políticas e os
resultados que as mesmas obtiveram. | 130
A política de responsabilização, já implantada em alguns estados do nosso país,
demostra uma preocupação no resultado de uma avaliação, que irá resultar no salário de
seus professores e nos recursos que a escola irá ganhar, e não na aprendizagem dos alunos.
Para alcançar um resultado positivo, os professores, muitas vezes, priorizar as disciplinas
que são avaliadas, que no caso são as disciplinas de português e matemática (o plano
“Nenhuma Criança Fica para Trás” do governo George W. Bush dos Estados Unidos
também avalia apenas das duas disciplinas e possui uma política de responsabilização
muito parecida), ficando o aprendizado dos alunos nas demais disciplinas prejudicado,
Segundo o que o documento nos trás, podemos identificar que a política com
lógica empresarial é relatada como algo que já deu certo, mas que na prática não há
evidências concretas de uma experiência de grande porte em relação à lógica empresarial
que tenha funcionado no Brasil, a não ser a dos Estados Unidos, em que fundações criadas
por empreendedores bem-sucedidos que desejavam transformar a educação americana,
em que a própria Diane Ravitch relata a política como uma experiência fracassada, que
desestruturou o sistema escolar sem trazer benefícios ao ensino, já que a educação era
pensada com vistas ao econômico e ao sistema mercadológico.
Diste dessas evidências, podemos identificar o quanto o Brasil é influenciado nas
| 131
suas políticas públicas pelo país norte americano. É um mercado de legislações que pouco
se analisa os resultados possíveis de serem alcançados em nosso país. Na apresentação
do livro lançado no Brasil de Diane Ravitch, José Clóvis de Azevedo faz um importante
comentário a este respeito, destacando o poder do mercado e da economia sobre a
educação, dizendo que:
Além dos organismos locais terem que enfrentar a influência dos organismos
internacionais, eles enfrentam também o poder central de dentro do nosso país, o que é
importante para haver uma organização da educação em território nacional, mas que por | 132
vezes, impede o poder educacional local de agir conforme a sua realidade e obter
resultados mais significativos para a população ali inserida.
O Brasil diante da incorporação de elementos da agenda educacional global e
manifestando as particularidades locais, vem acelerando o processo que Vieira (2011)
chama de “descentralização que vem do centro”, em que há uma falsa autonomia dos
agentes do poder local que na realidade são controlados pelo poder central referente às
políticas e a gestão educacional e escolar.
É importante destacar que o poder local é o espaço em que o cidadão tem voz e vez,
em que possui direitos e deveres, e é por este local de democracia que a população precisa
CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
VIEIRA, Sofia Lerche. Poder local e educação no Brasil: dimensões e tensões. 2011.
RESUMO
O presente estudo tem como objetivo desenvolver reflexões preliminares sobre o
panorama e as interfaces inerentes ao processo de mundialização do capital e a
Internacionalização da Educação Superior, desenvolvidas a partir das reestruturações da
teoria liberal na história da economia capitalista. Para tanto, utilizou-se da tradição
marxiana como método de investigação, no sentido de se aproximar da totalidade do
fenômeno, buscando ainda revelar as contradições sobre o objeto estudo. Desta forma, o
estudo desenvolve reflexões sobre a teoria liberal e sua reestruturação ao longo da história
e sua interface com processo de desenvolvimento da Internacionalização da Educação
Superior em curso na atualidade, situando nesse contexto alguns indicativos sobre a
realidade brasileira. Os resultados revelam que existem relações estruturais entre os dois
fenômenos, mas que sofrem modificações mediadas pelos diferentes sujeitos sociais.
Palavras-chave: Liberalismo, Mundialização do Capital e Internacionalização do
Ensino Superior.
INTRODUÇÃO
Para tratar sobre a reestruturação da teoria liberal ao longo dos anos partiremos
do pressuposto de que é um fenômeno que compõe a história da sociedade moderna,
portanto, está presente em nosso contexto sócio-histórico, determinando nossa vida, até
que um novo processo revolucionário “contra-hegemônico” (oriundo da classe
trabalhadora) derrube suas muralhas, destrua suas estruturas e elimine sua “hegemonia”.
Para isso é necessário compreender que o liberalismo não se constitui mais na atualidade
como ele surgiu (liberalismo clássico), pois é um fenômeno que passa ao longo da história
da sociedade moderna, adaptando-se às novas dinâmicas sociais e econômicas até chegar
ao que hoje se conveniou denominar de “neoliberalismo”.
O liberalismo tem sua gênese no processo de contraposição ao feudalismo, ao
medievalismo e ao absolutismo no período da baixa idade média (entre os séculos XI e
XV), tempo histórico em que inicia o desenvolvimento do empirismo, do racionalismo, | 139
da reforma religiosa, do antropocentrismo, além do surgimento dos burgos, do comércio
e das cidades (ORSO, 2007), dinâmica que problematizou o sistema feudal (o antigo
sistema inibia o desenvolvimento econômico) e que contribuiu para a elaboração de uma
nova concepção filosófica sobre a organização social. Essa nova ordem passa a ser
baseada na necessidade do indivíduo de garantir sua liberdade, até então presa aos
costumes e às autoridades, em que os esforços individuais poderiam produzir novas
formas de atividades econômicas.
A base da ideologia liberal “encontra-se radicada principalmente na propriedade
privada dos meios de produção, na competição, na concorrência, no individualismo, e na
defesa da liberdade de consciência e do livre mercado” (ORSO, 2007, p. 165). Desta
24
Para Gramsci (2006) a “sociedade civil” é indissociável dos aparelhos privados de hegemonia – as
formas concretas de organização de visões de mundo, da consciência social, de formas de ser, de
sociabilidade e de cultura, adequadas aos interesses hegemônicos (burgueses), para o autor seu conceito
é inseparável da noção de totalidade, isto é, da luta entre as classes sociais, e integra sua reflexão sobre
o Estado ampliado.
25
Para Gramsci (2006) o intelectual orgânico é aquele que provém de sua classe social de origem e a ela
mantém-se vinculado ao atuar como porta-voz da ideologia e interesse de classe.
26
Termos da língua francesa que significam, literalmente, “deixai fazer, deixai ir, deixai passar”.
27
Keynes propôs a constituição de uma Câmara de Compensações Internacionais, que emitiria uma
moeda bancária, denominada “bancor”, a qual as moedas nacionais estariam subordinadas. Dessa
forma, facilitaria o crédito aos países que apresentassem déficits, ao passo que os superavitários
compensariam o crédito. Com isso o economista almejava impedir os ajustamentos deflacionários e
manter as economias nacionais no pleno-emprego. Já White propôs a criação de um Banco de
Reconstrução e Desenvolvimento e de um Fundo de Estabilização das Nações Unidas, que seriam as
sementes embrionárias do Banco Mundial e do Fundo Monetário Internacional. Sua estratégia visava a
liberalização progressiva do comércio internacional, por meio da redução das barreiras tarifárias
(SAMPSON, 1981, p. 76).
28
Criado nos Estados Unidos, pelo então secretário de Estado George Marshall, foi um plano econômico
cujo principal objetivo era possibilitar a reconstrução dos países capitalistas da Europa após a Segunda
Guerra Mundial, por meio de ajuda financeira. A ajuda foi feita, principalmente, por meio de
empréstimos financeiros, com o intuito de fortalecer o capitalismo e a hegemonia dos Estados Unidos
no contexto da Guerra Fria. O Plano foi colocado em operação em 1947.
29
Em português significa “Estado de bem-estar social” ou “Estado social” e se caracteriza como uma | 142
organização política e econômica que coloca o Estado como agente de promoção social e organizador
da economia, para tanto, passa a estender alguns direitos sociais aos trabalhadores, principalmente nas
áreas de educação, saúde, infraestrutura, seguridade social, etc.
30
Segundo Orso (2007) , na lógica keynesiana o Estado deve ter um papel fundamental no estímulo à
economia, principalmente em momentos de crise e recessão econômica. Para ele, a intervenção do
Estado deve se dar no cumprimento de uma política que interfira na economia para que não haja
crescimento e descontrole da inflação.
31
Estiveram na origem da crise econômica no início dos anos 70: a desvalorização do dólar americano,
que servia de referência a todas as economias ocidentais desde a década de 40 e o aumento do preço do
petróleo pelos países árabes membros da Organização dos Países Exportadores de Petróleo
(OPEP). A Europa entra numa fase denominada de “estagflação”, isto é, uma combinação de uma
recessão com o aumento da inflação que causou inúmeras falências e a crise nas indústrias tradicionais
que contribuíram para a Revolução Industrial. Como consequência, instalou-se uma crise em escala
mundial, em que a produção industrial mundial diminuiu e houve um aumento generalizado dos preços
dos produtos.
32
Isso porque, segundo Antunes (2004, p. 132), “o produto específico do processo capitalista de produção
– a mais-valia – é gerado somente pela troca com o trabalho produtivo”.
33
Termo de origem grega (oligos, poucos + polens, vender) que na economia política é utilizado para
determinar uma forma evoluída de monopólio, no qual um grupo de empresas ou governos promove o
domínio de determinada oferta de produtos e/ou serviços.
No Brasil, o Programa Ciência Sem Fronteiras é a política pública que mais está
relacionada a esse modelo de Internacionalização na Educação Superior, pois está
direcionado a concessão de bolsas para alunos de graduação e pós-graduação,
exclusivamente às áreas das ciências e tecnologias, com a finalidade de manter contato
com sistemas educacionais competitivos em relação à tecnologia e inovação 35. O
programa projetou a concessão de 101 mil bolsas até o ano de 2014 sendo que desse
montante 75 mil seriam oriundos de recursos públicos e 26 mil concedidos pela iniciativa
privada. De acordo com as análises de Castro e Silva (2015), o programa deixa claro em
seus objetivos que está em conformidade com as políticas neoliberais, as quais visam
formar um trabalhador polivalente, inovador, competitivo e empreendedor, ou seja, um
trabalhador formado aos moldes do atual modo de produção.
Analisando os dados fornecidos no site do INEP, Castro e Silva (2015)
identificaram que até o ano de 2015 foram implementadas 77.806 bolsas, sendo que a
área da engenharia e demais áreas tecnológicas absorveram 34.491 bolsas, seguida pela
área da biologia, ciência e da saúde com 13.598, indústria criativa com 6.415, ciências
exatas e da terra com 6.124, computação e tecnologia da informação com 4.855, produção
agrícola sustentável com 2.821, biotecnologia com 1.880, fármacos com 1.631,
biodiversidade e bioprospecção com 1.142, as outras dez áreas absorveram abaixo de mil | 148
bolsas e que juntas somam 4.849 bolsas.
Como se pode perceber há uma supervalorização para as áreas de conhecimentos
ligados à ciência e à tecnologia, é como se os conhecimentos ligados às ciências sociais
não fossem importantes para o desenvolvimento social, político e econômico de uma
nação, uma concepção limitada de desenvolvimento científico e econômico, haja vista
que a preocupação está na formação técnica e instrumental dos sujeitos. Outras estratégias
34
Órgão ligado à Organização Mundial do Comércio (OMC), cuja sigla em inglês é General Agreement
on Trade and Service (Acordo de Comércio e Serviços).
35
No site do MEC encontramos a informação que o programa foi instituído pelo Decreto nº 7.642, de
dezembro de 2011, no qual apresenta a proposta de intercâmbio e mobilidade com vistas a
consolidação, expansão e internacionalização da ciência e tecnologia, buscando ampliar a inovação e a
competitividade do Brasil.
CONSIDERAÇÕES PRELIMINARES
Diante do que foi tratado neste artigo, entendemos que teoria liberal constituída
historicamente na origem da sociedade moderna e que hoje assume proporções mundiais
é imperialista, tal qual descrito por Lênin em 1987, quando relaciona esse contexto de
domínio as seguintes características: a concentração da produção e do capital originando | 149
os monopólios; a fusão do capital bancário e industrial criando o capital financeiro; a
exportação de capitais; a formação de uniões internacionais monopolistas partilhando o
mundo; o termo da partilha territorial entre as grandes potências capitalistas. Todavia,
não podemos considerar essas características como um processo hegemonicamente puro
e imutável.
Nesse sentido, compreendemos, a partir do estudo preliminar, que o panorama
sobre os fenômenos investigados nos revela relações políticas e filosóficas existentes
entre o processo de mundialização do capital (determinado pela teoria liberal) e o
desenvolvimento da Internacionalização da Educação Superior, nas quais se constituem
36
O ensino superior horizonte 2030.
37
Antecedentes e Critérios para a elaboração de Políticas docentes na América Latina e Caribe.
| 152
38
Mestre em Educação e Formação Humana pela Faculdade de Educação da Universidade do Estado de
Minas Gerais (daniels.braga@yahoo.com.br)
39
Mestranda em Educação e Formação Humana pela Faculdade de Educação da Universidade do Estado
de Minas Gerais (franceline.rodrigues30@hotmail.com)
Essa situação se agrava mais ao se analisar a tabela sobre os professores dos anos
finais do ensino fundamental quanto as licenciaturas em relação a área em que atuam. De
acordo com os dados, somente 68% dos professores dos anos finais do Ensino
Fundamental de Ribeirão das Neves tem formação em licenciatura na área em que atuam.
Sendo assim, quanto à formação, para cumprir satisfatoriamente a Meta 15 do
Plano Nacional de Educação o município de Ribeirão das Neves deverá até o final de
| 162
2016, ampliar o número de professores com curso superior em 17,8% (730 professores)
e adequar 36% dos anos finais do Ensino Fundamental (269 professores) para a
licenciatura adequada a sua área de atuação.
A formação continuada também representa um grande desafio para a educação no
município de Ribeirão das Neves. A meta 16 do PME estipula
Formar, em nível de pós-graduação, 50% dos professores da Educação Básica,
até o último ano de vigência deste PNE, e garantir a todos (as) os (as)
profissionais da Educação Básica formação continuada em sua área de atuação,
considerando as necessidades, demandas e contextualizações dos sistemas de
ensino. (RIBEIRÃO DAS NEVES, 2015)
Ou seja, para cumprir a estratégia traçada, seria necessário realizar uma política
efetiva de concursos públicos, retomando os patamares anteriores a 2013, conforme a
tabela.
Considerações Finais
A promulgação da Lei 13005/14 que implementou o Plano Nacional de Educação
inaugurou um novo ciclo de debates sobre as políticas públicas educacionais no país.
Construído com participação ativa de parcela significativa da sociedade civil organizada
e alvo de disputas entre grupos de interesses diversos, as metas e estratégias do PNE se
apresentam como síntese das demandas históricas acumuladas da educação. Um dos seus
elementos centrais é a questão da valorização dos profissionais da educação, sobretudo
dos professores, questão essa que envolve diretamente 4 das 20 metas do plano.
Essa centralidade reflete tanto as produções acadêmicas que discutem a
necessidade de professores com formação inicial de qualidade, remuneração condizente
com a relevância social da profissão e com vencimentos médios próximos aos de outros
profissionais com formação equivalente, carreira, boas condições de vida e de trabalho;
quanto as reivindicações do movimento de professores, em seus sindicatos e associações
docentes. Da mesma forma, as metas referentes à valorização docente caminham no
sentido das elaborações legislativas que nas últimas décadas, pós-constituição de 1988
visam garantir direitos a estes trabalhadores.
Entretanto, como fruto de uma intensa clivagem de grupos sociais, muitas vezes
de interesses opostos, o Plano tramitou por mais de quatro anos, tendo como principal
ponto de tensão, de onde sairiam os recursos que garantiriam que todas as metas e
estratégias seriam cumpridas. A culminância do texto na Meta 20, com a garantia de
investimentos equivalentes a 10% do PIB, sem consenso entre os grupos quanto a | 165
destinação exclusivamente pública, reforçou a hipótese de que, como sua antecessora, a
Lei 10.172 de 9 de janeiro de 2001, o novo PNE poderia nascer destinado a ser “letra
morta”. Para evitar esse destino, tanto o governo federal, quanto parte dos movimentos
sociais, buscaram construir mecanismos para acompanhar se as metas e estratégias
estavam sendo cumpridas nos estados e nos municípios, entes federados que de fato são
responsáveis pela educação básica.
O Plano Municipal Decenal de Educação de Ribeirão das Neves acompanhou o
texto do PNE no tocante a construção das metas e estratégias, mas sua materialidade tinha
Referências
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Maria Cancella e VIEIRA, Lívia Fraga. DICIONÁRIO: trabalho, profissão e condição docente. Belo | 166
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carreiras e vencimentos dos servidores da área de educação e cultura de Ribeirão das Neves, estabelece
normas de enquadramento, institui novas tabelas de vencimentos e dá novas providências.
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públicos da área de educação do município de Ribeirão das Neves.
| 167
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Plano Nacional de Educação. Revista Educação e Políticas em Debate – v. 3, n.2 – ago./dez. 2014
INTRODUÇÃO | 168
O PNE de 2001 (Lei nº 10.172, de 9/1/2001) foi uma política pública que
pretendeu garantir as disposições legais contidas no artigo 214 da Constituição Federal | 171
de 1988 e das disposições transitórias da LDBN de 1996 (art. 87, parágrafo 1º) ao
preconizar que a União deveria encaminhar ao Congresso Nacional a proposta do PNE
(DOURADO, 2010). Foi aprovado após três anos de tramitação e debate no Congresso
Nacional, “[...] um texto com amplo e detalhado diagnóstico da realidade educacional
brasileira, estabelecendo objetivos e prioridades, dividido em níveis, etapas e
modalidades educacionais, com sete artigos e aproximadamente 286 metas [...]” (DALLA
CORTE, TORMES, TEIXEIRA e SILVA, 2015, p, 107).
2 2 2
1 1 1
[...] demasiado reiterar a necessária criação de CME e SME, tendo por base a
concepção sistêmica de educação democrática e, nesse sentido, para que tanto
o Conselho de Educação e o Sistema de Ensino sejam fortalecidos, não basta
investimento massivo em formação continuada de conselheiros, o que se
enfatiza relevante, mas sobretudo é indispensável que tais instâncias se
constituam autônomos e com boas condições de trabalho para os seus
partícipes (DALLA CORTE, TORMES, TEIXEIRA e SILVA, 2015, p. 123).
Não se pode deixar de mencionar que os CME, bem como seus conselheiros são
elementos centrais na concretização do princípio da gestão democrática na educação local
uma vez que, além de suas atividades cartoriais e burocráticas, chamam a comunidade a
debater e analisar o cenário educacional local. Nesse sentido, processos de formação
continuada como o Pró-Conselho são relevantes como uma ferramenta para qualificar e
subsidiar esses debates.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O que se pode perceber através dos dados coletados, ainda que seja um recorte
pequeno do universo total de cursistas do Pró-Conselho/UFSM, que os pesquisados
demonstram compreender a importância do CME na construção e fiscalização dos planos
locais de educação, bem como entendem que esses colegiados ajudam a efetivar o
princípio constitucional da gestão democrática. Nesse contexto, verifica-se que cursos de | 181
formação como o Pró-Conselho são importantes fontes de conhecimento, de reflexão e
de [re] construção do conhecimento sobre as funções e atribuições dos conselheiros
municipais de educação e que contribuem para o fortalecimento e [re] articulação dos
CME.
Além disso, foi possível perceber que os PNE, apesar da diferença temporal,
mantiveram os conceitos de participação social, de fortalecimento dos CME e da
qualificação desses órgãos colegiados de maneira que possam desempenhar suas funções
com qualidade. Em se tratando das funções do CME dos municípios que são sistema,
REFERÊNCIAS
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do Brasil, Brasília, DF. Disponível em: <
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/leis_2001/l10172.htm>. Acesso em: 15 de jan.
2016.
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Brasília, 2006. Disponível em: <
http://portal.mec.gov.br/cne/arquivos/pdf/pceb042_06.pdf>. Acesso em: 04 nov. 2015.
| 183
INTRODUÇÃO
Essa produção está vinculada a uma pesquisa fomentada pelo Programa Fundo de
Incentivo à pesquisa da Pró-Reitoria de Pós Graduação e Pesquisa – FIPE JR/UFSM, da | 184
Universidade Federal de Santa Maria, tendo como intuito de problematizar discussões
abordadas pelo Grupo Estudos e Pesquisas Elos/Cnpq/UFSM41, levando em
consideração o contexto da Rede Municipal de Ensino de Santa Maria – RS. Desta forma,
inter-relaciona discussões alusivas ao processo de [re]construção dos Projetos Político-
Pedagógicos (PPP), bem como as orientações, percepções e assessoramento da Secretaria
Municipal de Educação (SMED) e do Conselho Municipal de Educação de Santa Maria
41
Disponível em: <http://w3.ufsm.br/elos/>
Desta forma, a valorização dos profissionais e demais envolvidos nas instituições | 192
contribui para o processo de democratização dos formatos de participação, já que não
basta participar de estudos, reuniões e assembleias para ajudar a pensar e tomar decisões,
é preciso assumir a responsabilidade de consecução da proposta que está sendo pensada
e planejada pelo coletivo. Portanto, o processo educacional e de democratização poderá
refletir em resultados qualitativos se os envolvidos tenham consciência que são
[co]responsáveis pelo mesmo.
| 193
CONCLUSÕES
REFERÊNCIAS
BRASIL. LDBEN. Lei nº. 9.394/96 – Lei de Diretrizes e Bases da Educação
Nacional. Disponível em: <www.planalto.gov.br> Acesso em: 20 de jan. de 2016.
____. Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília, DF: Senado, 1988.
Disponível em: <www.planalto.gov.br>. Acesso em: 19 de jan. de 2016.
____. Ministério da Educação. Diretrizes Curriculares Nacionais para o Ensino
Fundamental. 2010 Disponível em: <HTTPH//portal.mec.gov.br> Acesso em: 19 de
jan. de 2016.
RESUMO: Este artigo decorre de uma pesquisa realizada no Estado do Maranhão, cujo
objetivo foi o de analisar o processo de implantação do Plano de Ações Articuladas (PAR)
em municípios maranhenses, no período de 2007 a 2011. Discute a política educacional
do Plano de Desenvolvimento da Educação (PDE), no âmbito do qual o Plano de Ações
Articuladas (PAR) se constitui o planejamento estratégico que põe em prática ações que
visam garantir a consecução das 28 diretrizes instituídas no Plano. Em sua especificidade,
analisa a implantação do PAR na rede pública de ensino de São Luís/MA, com o interesse
de identificar se as ações de formação continuada de professores contribuem para a
melhoria da qualidade da educação básica nesse município. O estudo apoia-se em autores
que tratam da temática, entre os quais Fonseca e Oliveira (2010); Freitas (2007);
Imbernón (2006); Krawczik (2008); Saviani (2009); Tardif (2007), além de documentos
oficiais. A análise gira em torno das categorias: participação; e, contribuições da
formação continuada do PAR para a melhoria da qualidade da educação, tentando
responder à seguinte questão: a formação continuada de professores contribui para a
melhoria da qualidade da educação da sistema público de ensino de São Luís?
Introdução | 200
É assim que se constitui o PDE, um plano plurianual42, tendo sua primeira fase
de implantação no período que compreende 2008/2011. Reúne 52 ações que cobrem todas
as áreas de atuação do MEC e incidem sobre uma série de aspectos nos diferentes níveis
42
A Constituição de 1988 determina a obrigatoriedade de elaboração de um plano plurianual de quatro
anos (inclui o primeiro ano de mandato do sucessor para evitar descontinuidades).
Considerações finais
O estudo concluiu que mesmo nas escolas bem avaliadas no Ideb não existe uma
relação linear da atual política de formação continuada do PAR com a efetiva qualificação
do trabalho docente nem para o rendimento escolar e para a qualidade social da educação.
Questões levantadas pelos professores e gestores escolares, como: recursos, materiais e
didáticos, não oferecidos ou disponibilizados de forma insuficiente aos professores;
instalações das escolas e das salas de aula, geralmente inapropriadas para a realização do
trabalho escolar; ausência da família na vida escolar dos estudantes, geralmente
relacionada a pouca interação entre Semed/escola/família; formação continuada, em
grande medida, fora de sintonia com as reais necessidades de professores e gestores
escolares (quando existe); além de outras, representam um gargalo naquilo que as escolas
oferecem, refletindo sua qualidade operativa. Outra constatação da pesquisa é a de que
existe uma preocupação dos gestores em elevar do Ideb das escolas da sua rede ensino.
Outros depoimentos colhidos junto aos docentes e até junto aos gestores escolares
confirmam essa assertiva, o que, por si, desqualifica o objetivo concreto de qualquer
proposta voltada para a formação continuada de professores, qual seja de elevar o
| 212
universo de conhecimentos desses profissionais de modo a potencializar suas qualidades
formativas levando em conta fatores históricos e sociais que configuram a realidade
educacional, particularmente dos direitos constitucionais de uma educação pública de
qualidade àqueles que dependem da escola pública para garantir direitos sociais de
inserção aos modos produtivos e culturais que presidem a sociedade do atual século.
A análise atenta e cuidadosa dos depoimentos, assim como a observação acurada
das condições do atendimento escolar oferecem elementos para concluir que a formação
continuada no formato do PAR visa, excessivamente, colocar a escola na esteira das
Referências
KRAWCZYK, Nora Rut. O PDE: novo modo de regulação estatal? Campinas, Cadernos
de Pesquisa, v. 38, n. 135, p. 797-815. Set./dez. 2008.
NÓVOA, Antônio. As organizações escolares em análise. Lisboa: Don Quixote, 1995.
SAVIANI, Dermeval. PDE – Plano de Desenvolvimento da Educação: uma análise
crítica da política do MEC. Campinas: Editores Associados, 2009. (coleção Polêmicas do
nosso tempo, 99).
TARDIF, Maurice. Saberes Docentes e Formação Profissional. 8ed. Petrópolis: Vozes,
2007.
| 214
CONSIDERAÇÕES INICIAIS
[...] o caráter histórico das políticas educacionais remete, por sua vez, à
necessidade de analisá-las com base no contexto nacional e internacional em
que se inserem, das demandas de diferentes âmbitos a que procuram responder
e da própria evolução das tradições educativas em que elas são desenhadas e
postas em prática (GATTI, BARRETTO E ANDRÉ, 2011, p. 31).
| 216
Esta seção analisa, a partir de um contexto nacional, os aspectos históricos da
Avaliação em Larga Escala, à luz dos processos pelos quais tal política pública
educacional perpassou.
43
A equidade assume função importante ao ser compreendida, em seu conceito amplo, como coirmã da
justiça, embora equidade e justiça não sejam “absolutamente idênticas nem geneticamente diferentes”
(ARISTÓTELES, 1999, 2003). John Rawls (1997), filósofo político norte americano, elaborou uma teoria
da justiça conhecida como “justiça como equidade”. A equidade, portanto, pode ser vista como uma forma
de tratar as diferenças de forma diferente para então possibilitar uma determinada igualdade. Equidade
conduz ao exercício de certas desigualdades para o bem comum.
44
Embora o SAEB tenha se iniciado anos antes, em 1994 é que ele foi formalmente instituído por meio da
Portaria nº 1.795, de 27 de dezembro.
| 219
45
A avaliação da Educação Básica, que se reduzia ao SAEB, amostral, focado em competências em leitura
e matemática, passa a contar, em 1998, com outro instrumento, agora instituído com o objetivo de verificar
o comportamento de saída do Ensino Médio, o Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM). “Este extrapola
o objetivo de avaliar as aprendizagens realizadas pelos concluintes do Ensino Médio no momento em que
subsidia a engrenagem organizada nacionalmente para o ingresso no sistema federal de Educação Superior
pública, substituindo, em muitos casos, a prática do vestibular como forma de seleção para o ingresso no
Ensino Superior” (WERLE, 2011, p. 776).
46
De acordo com Werle (2011, p. 777), o Programme International Student Assessment (Pisa) avalia jovens
de 15 anos, no final da escolaridade obrigatória, qualquer que seja o tipo de escola em que estudem, focando
temas que estes jovens necessitarão no futuro e avaliando como os jovens operam com os conhecimentos
e aprendizagens. O conteúdo corresponde às áreas da leitura, matemática e ciências. “O Pisa é uma prova
que é aplicada a cada três anos, com um enfoque dominante em cada aplicação: em 2000 a ênfase esteve
na leitura; em 2003, na matemática; em 2006, em ciências; em 2009, novamente na leitura”. Entretanto, “o
Pisa não objetiva [...] medir o alcance da formação geral moderna ou delinear o perfil de um currículo
internacional” (AMARAL, 2008, p. 38 apud WERLE, 2011, p. 777).
47
O IDEB foi criado pelo INEP, órgão vinculado ao MEC, em 2007. A meta para os Anos Iniciais do Ensino
Fundamental é atingir um IDEB igual a 6,0 em 2021, ano do bicentenário da Independência (BRASIL,
2011, 2014). Para maiores informações, consultar: http://portal.inep.gov.br/web/portal-ideb/portal-
ideb.
Neste quesito, podemos nos apropriar de Uema (2003) ao mencionar que é preciso
fazer a ponte entre a avaliação e a ação. Não basta informar ou iniciar um processo de
reflexão na escola sobre problemas ou deficiências pelos quais ela passa, sem colocar à
sua disposição os recursos de que precisa para superar suas dificuldades, pois, nesse caso,
a avaliação tende a exercer somente o papel inútil de testemunha e não de agente
transformador da realidade.
Diante disso, frisamos a importância de avaliar para onde vão e o que é feito com
os resultados obtidos nas Avaliações em Larga Escala, quando estes retornam até as
escolas, pois, segundo Penin e Martínez (2009), apurar os usos da avaliação, comparar
resultados e comportamentos da entrada dos alunos em cada situação e em cada contexto
social e institucional, torna-se fundamental para não homogenizar processos que são de
fato diferentes.
Precisamos nos importar com a realidade dentro de cada uma das nossas escolas | 223
e deletar percepções insignificantes que, por vezes, traçamos acerca do governo e de
outras instâncias governamentais e/ou multilaterais; afinal, o trabalho desenvolvido no
dia a dia na escola é que vai retratar se o aluno, de fato, aprendeu, independentemente de
uma prova padronizada.
A qualidade e a equidade educacionais podem ser alcançadas por meio de uma
gama de fatores, a considerar desde as instâncias governamentais e/ou transnacionais, as
quais representam o espaço macro das políticas públicas, até o chão das escolas, as quais
retratam os espaços micropolíticos da educação. Ao falar nas escolas, é preciso reprisar
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
CONSIDERAÇÕES INICIAIS
48
Segundo Coelho (2009, p. 88), o Estado de bem-estar social sucede o Estado liberal, intervindo por meio
de políticas públicas no mercado, a fim de assegurar aos seus cidadãos um patamar mínimo de igualdade
social e um padrão mínimo de bem-estar.
49
Aqui se faz uma reflexão, indagando: será que a educação “promovia” desigualdade social, apenas no
tempo verbal do passado?
[...] agudizados por las reformas de las últimas décadas”, além de ajudar a
garantir o cumprimento do direito à educação para todos e todas: “articular
uma estrategia educativa nacional, superar las desigualdades y respetar las
particularidades de los estados subnacionales [...].
Ainda, segundo o autor (2011, p. 129), “[...] cabe perguntarnos quién garantiza el | 234
50
Palavra que se refere ao “distanciamento” entre o proclamado e o praticado, no caso das políticas
educacionais, de acordo com Stephen Ball em entrevista à Sanny Silva da Rosa (2013).
[...] como todo ser humano, tende a realizar prática imitativa, reiterativa, uma
vez que esta é a forma legítima de estar e se relacionar com o mundo.
Entretanto, para conseguir avançar na práxis criadora e reflexiva, necessita ter
plena consciência de sua ação, ou seja, precisa ter clareza “do que faz”, “para
que faz”, “por que faz” e “como faz”. Esse fenômeno se relaciona aos
significados e sentidos constituídos pelos professores em atividade.
51
Não é pretensão deste texto, alargar a discussão acerca de aspectos referentes ao Estado, mas cabe frisar
que vivenciamos uma minimização do seu papel como ente executor de políticas públicas– o qual, passa a
assumir um papel predominantemente regulador –, em consequência às inúmeras reformas educacionais
latino-americanas. Neste cenário, é possível dizer, ancorando-nos nos pressupostos de Assunção e Carneiro
(2012), que as políticas públicas (e aqui falamos das políticas públicas educacionais, focando a formação
de professores) passaram a ser elaboradas de forma centralizada e padronizada e, por isso,
descontextualizadas da realidade das escolas, às quais deveriam atentar. Ainda, merece destaque a questão
das influências dos organismos internacionais, os quais ficam a cargo das decisões mais importantes da
educação e em sua maioria, não são capazes de traçar um diagnóstico coerente de cada realidade de modo
a atender a todas as esferas envolvidas nos processos educacionais, em especial, à construção de políticas
para a formação de professores.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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Fontes, s/d.
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americano em tempos de globalização. In: Revista Eletrônica Direito e Política, Itajaí,
v.2, n.3, 3º quadrimestre de 2007.
INTRODUÇÃO
| 244
Atuando como bolsistas IC e coordenadora do Grupo de Estudos e Pesquisas sobre
Trabalho, Educação e Políticas Públicas – Kairós – UFSM, em estudos anteriores
realizamos estudos sobre a Análise de Conteúdo (AC) a fim de aplicá-la como
metodologia de análise das publicações do grupo. Porém, notamos que algumas análises
a AC não fora suficientes para analisar os materiais com profundidade. Diante disso,
iniciamos nossos estudos sobre a AD com o objetivo de melhorar a análise de entrevistas
Assim sendo, o método da análise de conteúdo tem como base duas fronteiras: de
um lado a fronteira da linguística tradicional e do outro o locus da interpretação, do
sentido das palavras – a hermenêutica. Segundo Campos (2004):
Se o caminho escolhido voltasse para o caminho da linguística tradicional, a
análise do conteúdo abarcará os métodos lógicos estéticos, onde se busca os
aspectos formais típicos do autor ou texto. Nesse território, o estudo dos efeitos
De acordo com os estudos de Campos (2004), está evidente que os dois métodos
de análise (conteúdo e discurso) possuem diferenças quanto a sua aplicação na pesquisa.
Entendemos, então, que a AC trabalha com o conteúdo do texto, sem preocupar-se com
sentidos e efeitos de sentidos imbricados pelo texto, já a Análise de Discurso (AD) está
focada nos sentidos dos discursos que tecem o texto.
destacar a teoria que concebe a língua como um sistema de signos (SAUSSURE, 1970).
Já a AD concebe a linguagem como mediadora entre o ser humano e a realidade social.
Esta mediação, ocorre através do discurso, forma pela qual o ser humano dá significado
ao mundo e ao mesmo tempo significa-se. Se o discurso é assim concebido, ele é, também,
o que torna possível a permanência e a continuidade, quanto o deslocamento e a
transformação do ser humano e da realidade em que está inserido. (ORLANDI, 2003).
Orlandi (2007) entende que o discurso é um processo complexo em que sujeitos e
produção de sentidos se constituem, ambos afetados pela história e não se referem a
Categoria:
Valorização dos profissionais do Magistério
Propomos para este artigo analisar o enfoque dado pelo PNE à valorização dos
profissionais do magistério tendo como metodologia análise a partir da AC como
realizado anteriormente e, também, pela AD, nosso foco a seguir. Sendo assim,
focalizamos a análise das formações discursivas que estão relacionadas aos discursos
sobre valorização dos profissionais do magistério entendendo que ao tratar-se de
valorização estamos relacionando formações discursivas/ideológicas que possam
entender a ação de “valorizar” de acordo com seus interesses, sejam eles sociais, políticos, | 254
econômicos, culturais.
Concordamos com Pêcheux (1995, p. 160) que entende a Formação Discursiva
como “aquilo que, numa conjuntura dada, determinada pelo estado de luta de classes,
determina o que pode e deve ser dito (articulado sob a forma de uma arenga, de um
sermão, de um panfleto, de uma exposição, de um programa, etc.)”, pois ao enunciar o
sujeito estará falando de uma determinada FD, marcando uma posição de sujeito e
constituindo uma identidade enunciativa no momento em que se posiciona. Nossa análise,
então, partirá de entender os discursos sobre valorização dos profissionais do magistério
CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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| 257
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coordenadora. Porto Alegre (RS): UFRGS; 2001. p.57.
| 258
INTRODUÇÃO
Segundo Belloni (2012, p. 85), uma das questões centrais na EaD diz respeito ao
papel do professor nessa modalidade, uma vez que este profissional é chamado a
desempenhar múltiplas funções para as quais não foi preparado. À questão “quem ensina
a distância?”, Belloni nos lembra que, para Keegan (1983), na EaD é a instituição quem
ensina.
Nesta modalidade de ensino, cuja natureza é complexa, em que a preparação de
uma “aula”/conteúdo/material se faz por várias pessoas e de modo fragmentado e
segmentado, além de dividido no tempo e no espaço, várias pessoas desempenham tarefas
direta ou indiretamente ligadas ao ensino, respaldadas pela dimensão institucional, que
deverá ser a responsável por sistematizar, articular e gerenciar tais ações a fim de
assegurar que o trabalho seja realizado de forma coletiva e cooperativa. Trata-se, portanto,
do que a autora chama de “transformação do professor de uma entidade individual em
uma entidade coletiva”.
Mas quem é esta entidade coletiva? Como ultrapassar a dimensão institucional
definida por Belloni, dando visibilidade aos sujeitos que desempenham tais papéis? Mill
(2010) avança nesta direção ao procurar responder a questão “quem é o docente da EaD?”.
Para este autor, esse trabalho, ao contrário do que se dá em uma sala de aula presencial,
não é realizado por uma única pessoa, que se encarrega de todo o processo de formação;
pelo contrário, um número diversificado de profissionais desempenha funções distintas,
tornando o processo altamente fragmentado e especializado, constrangido pelo desenho | 263
institucional, que definirá as bases sob as quais o processo se estruturará 55. Assim, na
EaD, não há docência mas polidocência.
É nos termos da polidocência que se compreende a constituição da equipe de
profissionais que atuam no PNEG/UFOP:
55
Dentre estas funções podem-se destacar as mais recorrentes: planejamento pedagógico do curso;
elaboração de documentos; seleção e organização de materiais para disciplinas; distribuição e montagem
dos materiais no ambiente virtual de aprendizagem (AVA); gestão da equipe de formação; gestão das
turmas/polos, além do suporte acadêmico, administrativo e tecnológico.
Equipe de apoio técnico (na UFOP e no polo): integram esta equipe os profissionais de apoio
técnico-administrativo, como as secretarias acadêmica e administrativa da UFOP, além da
secretaria do polo de apoio presencial.
| 264
Como se pode observar, em uma equipe polidocente a responsabilidade pelas
atividades é compartilhada e distribuída entre seus membros, que carregam consigo
saberes, experiências, valores e percepções distintas em relação ao trabalho docente. Esse
fazer coletivo que caracteriza a docência virtual apresenta, obviamente, suas tensões e
contradições. É preciso, então, compreender as condições em que o trabalho polidocente
é realizado na prática, ou seja, como os diversos saberes docentes se processam e
ressignificam na EaD e se constituem no que poderíamos chamar de saber polidocente.
A gente é uma pessoa só, então todo aquele conhecimento anterior que você já
tem como professor com certeza acrescenta. Os retornos que eu dou aos meus
alunos têm muito do conhecimento já adquirido, do presencial ou do outro
curso [a distância] que eu já fiz. Se eu fosse uma pessoa que não tem
experiência nenhuma como docente ou nenhuma bagagem de conhecimento
anterior, tenho certeza que teria muito mais dificuldade nessa mediação com o
aluno (ENTREVISTADO A).
Eu acho que até essa questão da interação com o aluno, da forma de reconhecer
as dificuldades que os alunos têm (...) porque normalmente, na faculdade, por
exemplo, a gente trabalha a noite, os alunos trabalham o dia inteiro, [é preciso]
ter esse reconhecimento que as pessoas são completamente diferentes , alguns
vão dar mais conta que os outros, uns vão demandar mais orientação do que
outros (ENTREVISTADO C).
Seguindo nessa direção, para que essa adaptação aconteça, é necessário que os
professores de turma mobilizem constantemente o “estoque” de saberes que carregam ao
longo de sua trajetória docente. Pimenta (2005) considera que os professores reelaboram
os seus saberes em confronto com suas experiências práticas vivenciadas no cotidiano de
seu trabalho, sendo que “é nesse confronto e num processo coletivo de troca de
experiências e práticas que os professores vão constituindo seus saberes como praticum, | 266
ou seja, aquele que constantemente reflete na e sobre a prática” (p. 29). Essa reflexão na
e sobre a prática foi percebida quando os entrevistados reconheceram que também foram
formados pelo PNEG, o que contribuiu para que pudessem ressignificar suas percepções
sobre a gestão escolar e sobre o trabalho dos diretores.
Por mais que a gente seja da área da educação, eu acho que um curso voltado
para gestão, eu sempre fiz parte da equipe de gestão da escola, mas meio que
por acaso. A gente tem reunião de equipe, a gente decide muitas coisas da
escola, mas muito sem embasamento, então eu achei que ter lido todos os
textos foi fundamental. Algumas coisas eu achava interessante. Ter
acompanhado [a turma] foi fundamental (ENTREVISTADO C).
Eu gosto da equipe, parece até que eu estou falando que eu estou gravando para
o curso, mas não, é porque eu gosto mesmo da equipe, e aí eu percebo que
todos os momentos são de aprendizagem, de troca. Eu acho que é mais efetivo
na sala de interações pedagógica porque é um espaço que a gente pode acessar
o tempo inteiro (ENTREVISTADO D).
Às vezes eu percebo até melhor [a EaD] porque as pessoas são mais objetivas
na hora de discutir. A todo o momento a gente está conectado, então surgiu
uma dúvida, surgiu alguma sugestão que pode ser comum e que pode ser boa
para todo mundo, está lá na sala de interação pedagógica. Então o tempo inteiro
a gente está interagindo, trocando ideia (ENTREVISTADO D).
Eu tenho a minha dificuldade pela minha idade. Não sou da era da tecnologia.
Apanho um pouco, mas de vez em quando a gente tem contato com as outras
professoras, a gente pede socorro (ENTREVISTADO C).
CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
| 274
Resumo: O presente artigo trata-se de uma análise inicial da política de avaliação externa
denominada Sistema Estadual de Avaliação Participativa do Rio Grande do Sul –
SEAP/RS e suas interposições quanto participação ou valorização docente. No que diz
respeito a esta política de avaliação, são destacadas suas característica distintas das
demais na medida em que se propõe a contextualizar a instituição de ensino ao invés de
classificar, além disso, promover uma avaliação participativa envolvendo todos os
segmentos escolares, inclusive os professores, num processo de auto reflexão. Como
material empírico foi analisada documentos legais de formulação e implementação da
política, bem como, a analise das transcrições de entrevistas com dez escolas públicas do
estado do RS que compuseram uma amostragem no levantamento do grupo de avaliadores
externos da UFRGS sobre a avaliação externa proposta no estado do RS através da
Secretaria de Educação do Estado – SEDUC. Dentre as várias possibilidades se destacam
potencialidades e desafios desta política como mais uma versão de avaliação externa e
suas implicações na visão dos profissionais da educação.
Palavras-chaves: Política de avaliação externa; participação e valorização docente.
Introdução
Organismos internacionais e, principalmente, instituições multilaterais de
financiamento a políticas de desenvolvimento e sociais, atentam para a necessidade de se | 275
construir sociedades com melhores índices de crescimento para que se fortaleça a lógica
capitalista-industrial que visa produção e consumo. Para alcançar estes objetivos, a
educação assume um papel importante na formação de indivíduos produtivos,
competentes e economicamente ativos.
Frente a isto é inegável que a educação ocupa papel de destaque no cenário
político, seja nos períodos eleitorais como pauta de campanha, seja na formulação ou
implementação de políticas públicas. É claro que não se trata de algo que vem ocorrendo
por acaso. Nas últimas décadas, as atenções tem se voltado à educação como peça chave
Assim, um novo modelo de gestão pública emerge com apelos cada vez mais
fortes pela transparência e eficiência dos serviços prestados pelo Estado aos seus
cidadãos. Portanto, sistemas de regulação vêm se tornando “indispensáveis” na visão dos
administradores públicos, apelando a instrumentos que muitas vezes situam as
instituições em níveis de qualidade.
Para tanto, os governos têm empregado esforços no sentido de desenvolver
critérios, ferramentas, dentre outros recursos, que visam avaliar instituições e serviços
públicos ligados à educação. Porém, muitas vezes esta prática incorre numa prerrogativa
do imensurável, ou seja, transformar em números um contexto complexo como é o
processo de ensino e aprendizagem, considerando que neste meio está imersa uma série
de outros entrelaçamentos da vida cultural, social e econômica parcialmente ou
| 276
dificilmente passível de representação numérica56.
Nesta lógica, no Brasil, a avaliação externa de larga escala tem sido adotada nas
três esferas de governo (federal, estadual e municipal), investindo-se em políticas
56
O índice de desenvolvimento da educação básica (IDEB), criado em 2007, é um exemplo de indicador
que utiliza dados de avaliações externas de rendimento dos estudantes, além das taxas de aprovação, para
mensurar em números as realidades diversas instituições de ensino no Brasil. Numa escala que vai de zero
a dez, avalia a qualidade da educação, com base em duas fontes: a aprovação final obtida através de censo
escolar e a média de desempenho dos estudantes em língua portuguesa e matemática, por meio, de provas
aplicadas a níveis/etapas de ensino especificas que vai dos anos iniciais ao ensino superior. Os resultados
desta avaliação são expressos em valores/ índices numéricos.
57
As avaliações realizadas pelo INEP/MEC são: Provinha Brasil, aplicada aos alunos de primeira
série/segundo ano do ensino fundamental; Prova Brasil, para os alunos da quarta série/quinto ano e
oitava série/nono ano do ensino fundamental; a Avaliação Nacional da Educação Básica (ANEB),
aplicada em amostra de alunos de quarta série/quinto ano do ensino fundamental e terceira série do
ensino médio; a Avaliação Nacional da Alfabetização (ANA), para alunos do terceiro ano do ensino
fundamental; o Enem, para alunos egressos do ensino médio. Na composição do IDEB, são levadas em
conta as notas da Prova Brasil para o ensino fundamental e da ANEB para o ensino médio.
As práticas de avaliação que vem sendo adotadas em larga escala ainda estão
fortemente atreladas a parâmetros quantitativos e esses se estendem ao trabalho docente,
na medida, em que associam a qualidade institucional à produção e, no caso das
academias, à publicação. Faz parte deste quadro o estabelecimento de rankings das
instituições de ensino, mensuradas por notas obtidas através de exames externos:
Sob a urgência de melhoria da qualidade da educação básica, a política
nacional de avaliação sofre incrementos consideráveis, no decorrer da primeira
década dos anos de 2000, do que certamente decorrem repercussões nos
currículos, na formação docente e na própria avaliação do desempenho dos
professores, concebida, sobretudo, em função dos resultados de rendimento
dos alunos. (GATTI; BARRETTO;ANDRÉ, 2011, p.40)
Assim como ocorreu na maior parte dos países desenvolvidos e em toda a América
Latina (AFONSO, 2000; RAVELA, 2000 apud GATTI; BARRETTO; ANDRÉ, 2011 p.
39), aqui no Brasil desde a década de 1990 vêm sendo desenvolvidos políticas que visam
| 278
avaliar a educação centralizando no Estado uma espécie de controle sobre o currículo e o
aproveitamento escolar.
O Sistema de Avaliação da Educação Básica (Saeb), criado pelo MEC em 1990,
inaugura esta prática, após uma reforma educacional que, por meio de um referencial
curricular nacional, organiza o ensino por competências. O Saeb contempla uma
avaliação amostral a cada dois anos em todo o território nacional, com vistas a oferecer
uma medida evolutiva da qualidade do ensino.
Seguindo esta lógica, outras modalidades de avaliação em larga escala foram
também criadas pelo MEC, na década de 2000: o Exame Nacional do Ensino Médio
58
Esse sistema foi concebido a partir do módulo Plano de Ações Articuladas (PAR) no Sistema de
Monitoramento, Execução e Controle do Ministério da Educação (SIMEC). O MEC permitiu à Companhia
de Processamento de Dados do Estado do Rio Grande do Sul (PROCERGS) customizar o módulo PAR do
SIMEC para o SEAP/RS.
59
Indicadores são questões que são respondidos por meio da atribuição de uma espécie de nota que vai de
1 a 5 sendo um a situação precária e cinco a ideal incluindo a opção Não Se Aplica (NSA) para as
situações em a instituição não se enquadra, além disso, para cada indicador é necessário acrescentar
uma justificativa que se trata de um registro por escrito.
60
Esta dimensão avalia especificamente questões relacionadas aos alunos como aprovação e taxa de
permanência dos alunos, atendimento especializado em sala de recursos, alimentação escolar e
transporte escolar.
61
Estes vinte indicadores avaliam desde o planejamento individual e suas relações com o PPP e os
instrumentos legais da educação até a prática pedagógica, avaliativa, participação no ambiente escolar
e formação continuada. Buscam mensurar o rendimento e a qualidade do trabalho pedagógico
utilizando os mesmos critérios de descritores com pontuação de um a cinco, como foi feita na avaliação
institucional. Dois integrantes da comissão, um representando a direção e outro do grupo de professores
faz esta avaliação com cada professor individualmente, sempre na presença do professor avaliado.
A prática de avaliar não é uma novidade para os professores, visto que é parte
integrada do trabalho pedagógico desenvolvido tanto na sala de aula como na própria
escola. Porém, o que causa estranhamentos são os modelos de avaliação externa
62
Muitos pesquisadores dos sistemas de avaliação de larga escala argumentam que é impossível que uma
prova padrão possa contemplar os múltiplos contextos escolares, ainda mais em nível federal, dadas as
dimensões territoriais gigantescas e com uma diversidade social, econômica histórica e cultural como é
caso do Brasil.
63
A avaliação emancipatória na visão pedagógica, segundo muitos autores como Paulo Freire, Jussara
Hoffman, entre outros defendem que a avaliação deve mensurar a construção das aprendizagens
considerando todo o seu contexto, partindo sempre do próprio aluno, dos seus conhecimentos prévios e
nunca de um padrão comum ou da comparação entre alunos. Os docentes são encorajados a se desprender
das práticas de avaliações tradicionais que mensuram e quantificam os alunos. É o que apresenta Hoffmann
(2003 p. 27) quando se refere ao processo avaliativo tradicional: “A adoção de conceitos, significa maior
amplitude em termos de representação, evitando o estigma da precisão e da arbitrariedade. O emprego de
notas reforça um mecanismo de competição e seleção na escola”.
Referências bibliográficas
AFONSO, Janela Almerindo. Estado políticas educacionais e obsessão avaliativa.
Contrapontos, vol.7, nº1, p.11-22, Itajaí, jan/abr, 2007.
GATTI, Bernadete Angelina. BARRETO, Elba Siqueira de Sá. ANDRÉ, Eliza Dalmazo
de Afonso. Políticas docentes no Brasil: um estado da arte. Unesco/MEC, Brasília, 2011.
GIL, Juca. NETTO, Franciele Nepomuceno. MEDEIROS, Isabel Letícia Pedroso de. O
plano de carreira do magistério em Porto Alegre: reflexões à luz do ordenamento jurídico
nacional pós 1988. Educação em Foco, Minas Gerais, Ano 15, nº 19, p. 163-187, 2012.
INTRODUÇÃO
poder público. Foi uma longa caminhada até os dias de hoje, onde as creches passaram
de instituições assistencialistas para instituições educacionais, tornando-se EMEI –
Escola Municipal de Educação Infantil.
METODOLOGIA
Serão também, realizadas entrevistas, com três professoras de uma EMEI e com
duas representantes da Secretaria Municipal de Educação e Cultura de uma cidade do
interior do Rio Grande do Sul, pois esse método trará a oportunidade de perceber como
cada sujeito participante vê a sua realidade. (DUARTE, 2014). Como forma de analisar
os dados produzidos, será utilizada a análise de conteúdo, que embasado em Bardin
(2011, p. 500) diz que essa maneira de analisar permite “conhecer aquilo que está por de
traz das palavras”.
Pertença, segundo o dicionário Michaellis on line, significa “aquilo que faz parte
de alguma coisa”, dessa forma, encontram-se as EMEI’s, que deixaram de pertencer ao
setor assistencialista e, passaram a pertencer aos órgãos educacionais. Uma transição que
até hoje, ainda precisa se autoafirmar, encontrando-se na busca pela sua pertença, que,
embora, firmada pela lei seja do setor educacional, ainda configuram-se características
assistencialistas. Encontram-se nesse “meio termo”, professores que vivem essa crise,
pois sabem exatamente a pertença da instituição que trabalham, mas precisam reafirmá-
la a cada dia, dessa forma, “negociam suas identidades em meio a um conjunto de
variáveis como a história familiar e pessoal, as condições de trabalho e ocupacionais, os
discursos que de algum modo falam do que são e de suas funções.” (GARCIA,
HYPOLITO e VIEIRA, 2005, p. 48).
A partir desse viés, o trabalho pedagógico nas EMEI’s vem de forma a
consolidar a sua pertença, se fazendo práxis, que “é a essência do trabalho profissional
dos professores e, nessa perspectiva, torna-se científica, por isso, metódica, sistemática,
hermeneuticamente elaborada e teoricamente sustentada.” (RIBAS e FERREIRA, 2014,
p. 136), se autoafirmando através de elementos de ordem individual e coletiva.
O trabalho pedagógico nas EMEI’s se faz primordial, pois segundo as Diretrizes
Curriculares Nacionais para a educação infantil, a criança é
sujeito histórico e de direitos que, nas interações, relações e práticas cotidianas
que vivencia, constrói sua identidade pessoal e coletiva, brinca, imagina,
fantasia, deseja, aprende, observa, experimenta, narra, questiona e constrói | 292
sentidos sobre a natureza e a sociedade, produzindo cultura. (BRASIL, 2010,
p. 12).
A educação infantil, nessa perspectiva, propicia a convivência e a troca de
experiências com outras crianças, valorizando e compreendendo cada fase do
desenvolvimento infantil, entretanto, muitas vezes, pelas características próprias da faixa
etária das crianças que se encontram nas EMEI’s, esse trabalho pedagógico, precisa
também estimular a autonomia e independência de atitudes simples, do dia-a-dia, como
alimentar-se sozinho, por exemplo, o que acaba, muitas vezes, não sendo visto como
“tarefa” de escola, reforçando a visão apenas do cuidar.
O primeiro passo, para a conquista do direito à educação infantil, foi dado com
a Constituição Federal em 1988 que, em seu artigo 208 diz que é “o dever do Estado com
a educação será efetivado mediante a garantia de (...) atendimento em creche64 e pré-
escola às crianças de zero a seis anos de idade” (Artigo 208, inciso IV da Constituição
Federal de 1988). Entretanto, as creches ainda seguiam assistencialistas, com
profissionais sem a habilitação necessária para realizar o atendimento educacional.
64
Creche, aqui, refere-se ao atendimento de crianças de 0 a 3 anos de idade e, não a dimensão
assistencialista que antes denominava creche as Escolas Municipais de Educação Infantil.
RESULTADOS
CONCLUSÕES
REFERENCIAS
| 299
65
Previsto na lei nº 8.745, de 9 de dezembro de 1993.
66
GOMES, T. O professor-monitor e suas implicações no trabalho docente na rede pública de ensino de
alagoas. In: Seminário Internacional da Rede Estrado, 15, 2014, Salvador. Anais... Salvador: UNEB, 2014.
Figura 1
Representação dos estados que não possuem informações sobre a contratação de professores temporários
| 305
Tabela 2
Distribuição dos processo seletivo por ano 2013-2015
Ano SEE
Acre, Amazonas, Distrito Federal, Espírito Santos, Mato Grosso, Mato Grosso
2014
do Sul, Minas Gerais, Rondônia, Santa Catarina
Tabela 3
Hora-aula dos professores temporários sem graduação
Hora-aula Curso Hora-aula Curso Superior
SEE
Superior Incompleto
Sobre isso, Ferreira (2013) aponta o fator econômico como determinante deste
fenômeno de contratação precária, uma vez que a admissão de funcionários temporários
torna-se mais econômica para o Estado em longo prazo, já que estes profissionais
geralmente não têm acesso a planos de carreira, progressões e gratificações. Com isso:
Desse modo, ao pesquisar os salários que estavam sendo ofertados nos processos
seletivos, foi constatada uma variação considerável da remuneração desses profissionais
entre as regiões analisadas, como apresentado a seguir através do valor da hora-aula
referente ao curso superior completo (Figura 2):
Figura 2
Hora/aula-atividade por unidade federativa
| 308
Amapá (R$ 21,35)
Espírito Santo (R$ 19,82)
Amazonas (R$ 18,53)
R.G. do Norte (R$ 16,77)
Pará (R$ 16,66)
Bahia (R$ 15,79)
Alagoas (R$ 15)
Rio de Janeiro (R$ 14,69)
Paraná (R$ 13,74)
Roraima (R$ 13,58)
Distrito Federal (R$ 13,4)
Ceará (R$ 13,25)
Rondônia (R$ 12,6)
Maranhão (R$ 11,87)
Piauí (R$ 10,64)
VIII ENCONTRO
Pernambuco (R$ 8,49) BRASILEIRO DA RED ESTRADO
TRABALHO GoiásDOCENTE
(R$ 8,17) E PNE: desafios à valorização profissional
04, 05 e 06 de abril de 2016
Universidade Federal de Santa Maria – Santa Maria - RS
Fonte: sites oficiais das Secretarias Estaduais de Educação
67
Secretarias que não disponibilizaram o valor do salário dos professores temporários no edital: Acre,
Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Rio Grande do Sul e Santa Catarina.
68
BRASIL. Piso salarial do magistério é de R$ 1.917,78. O reajuste em janeiro deste ano foi de 13,01%.
Disponível em: <http://portal.mec.gov.br/piso-salarial-de-professores?id=21042.> Acesso: 05/01/2016.
69
Segundo Brasil (1999), o curso normal médio possui a função habilitadora de formar “docentes
para atuar na educação infantil e nos anos iniciais do ensino fundamental, tendo como perspectiva o
atendimento a crianças, jovens e adultos, acrescendo-se às especificidades de cada um desses grupos
[...] Assim, além de assegurar titulação específica que habilita, o curso tem também a validade do
ensino médio brasileiro, para eventual prosseguimento de estudos” (p.20).
CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
ANTUNES, Ricardo (Org.) Riqueza e miséria do trabalho no Brasil II. 1. ed. São
Paulo: Boitempo, 2013.
BRASIL. Piso salarial do magistério é de R$ 1.917,78. O reajuste em janeiro deste
ano foi de 13,01%. Disponível em: <http://portal.mec.gov.br/piso-salarial-de-
professores?id=21042.> Acesso: 05/01/2016.
________. Lei nº 11.738, de 16 de julho de 2008. Piso salarial para o magistério
público da educação básica. Brasília: MEC, 2008.
________. Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996. Diretrizes e bases da educação
nacional. Brasília: MEC, 1996.
________. Parecer 01/99. Diretrizes Curriculares Nacionais para a formação de
Professores na Modalidade Normal em Nível Médio. Brasília: MEC, 1999.
________. Parecer nº 18/2012. Implantação da Lei nº 11.738/2008. Brasília: MEC,
2012.
FERREIRA, D. Os professores temporários da educação básica da rede pública estadual do
paraná: a flexibilização das contratações e os impactos sobre as condições de trabalho docente.
In: Seminário Internacional de Pinhais, 5, 2013, Pinhais. Anais. Pinhais: SEMED, 2010.
| 311
GOMES, T. O professor-monitor e suas implicações no trabalho docente na rede pública
de ensino de alagoas. In: Seminário Internacional da Rede Estrado, 15, 2014, Salvador.
Anais. Salvador: UNEB, 2014.
LINHART, D. Modernização e precarização da vida no trabalho. In: ANTUNES, R.
(Org.) Riqueza e miséria do trabalho no Brasil. São Paulo: Boitempo, 2006.
LORENÇÃO, F. Professores temporários e o trabalho docente. In: Seminários de
Pesquisa em Ciências Humanas, 8, 2010, Londrina. Anais. Londrina: UEL, 2010.
INTRODUÇÃO
A organização na carreira, de acordo com Abreu & Balzano (2001), é feita por
distribuição dos cargos efetivos em classes, significa os degraus da carreira, que configura
o conjunto de cargos iguais em responsabilidades e vencimentos.
[...] A passagem de uma classe para outra constitui uma forma de
progressão conhecida como promoção. Assim, progressão significa
qualquer mudança de posição na carreira, e promoção implica mudança
de classe. Por outro lado, a organização da carreira deve constituir meio
de incentivo ao servidor, para que adquira novos níveis de escolaridade
e busque atualização, experiência profissional e aperfeiçoamento de seu
trabalho. Para o servidor, a carreira constitui direito à progressão
profissional regulamentada, e ele pode ocupar sucessivas posições em
graus crescentes de importância, remuneração e responsabilidades
(idem, p. 220-221)
| 317
Na Lei nº 7.442/2010 a carreira corresponde ao conjunto de classes e níveis que
definem a evolução funcional e remuneratória do servidor (profissional da educação), de
acordo com a complexidade de atribuições e grau de responsabilidade (PARÁ, 2010).
A estrutura da carreira dos professores na Lei do PCCR/PA é definida em classes,
determinadas de acordo com a formação/titulação apresentada pelo profissional e
desdobram-se em doze níveis, definidos de “A” a “L”. Representa o valor do vencimento-
base fixado para a classe, seria o crescimento funcional do servidor no plano e/ou na
carreira (PARÁ, 2010).
Quando se privilegia alguns em detrimento de outros, o governo, que foi autor das
| 323
regulamentações iniciais do plano, propicia a desmotivação do professor em exercer sua
função o que entra em desacordo com um dos princípios do PCCR que deve promover a
motivação e retenção dos profissionais da educação que não respondem somente a um
estímulo monetário, mas a um conjunto que envolve formação inicial e continuada,
melhores condições de trabalho, progressão na carreira.
No momento em que os governantes se apoderam de tal preceito meritocrático, se
desresponsabilizam com a qualidade da educação, que passa a ser de responsabilidade
apenas do professor: centralidade do trabalho docente. O Estado regula a qualidade por
meio do trabalho do professor, com ênfase na avaliação de desempenho, assim, não cabe
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Consideramos que as políticas de formação e de valorização do magistério no
Estado do Pará não estão articuladas, são descontínuas na medida em que o PCCR não
estimula ou valoriza o esforço por maior qualificação.
Evidenciamos que a existência de uma carreira é condição e garantia da
profissionalização dos trabalhadores da educação. Neste caso, a profissionalização dos
docentes significa levar em consideração a identidade do professor, pois como já
evidenciamos em momentos anteriores, essa discussão está dentro da atual conjuntura
educacional mundial e nacional.
O discurso da valorização e da garantia de formação de qualidade tem sua
| 324
validade, porém, a forma como ela está acontecendo compromete em demasia a formação
e a qualidade da mesma. Incentivar o professor à formação não é somente para fazer
cursos rápidos como lato sensu, que são cursos de especialização, não que esses não
possam ser feitos, mas que o governo incentive também que os docentes se formem em
cursos como de mestrado e doutorado, com direito à licença remunerada, bolsas e
garantias salariais, o que não constatamos nesse PCCR, pois mesmo a licença remunerada
que já era prevista no Estatuto do Magistério de 1986 é um direito parcial, na medida em
que o professor perde direitos na remuneração ao sair para licença estudo.
REFERÊNCIAS
ABREU, Diana Cristina de. Carreira e perfil do profissional da educação na rede
municipal de ensino de Curitiba: história e impacto da política brasileira de valorização
do magistério. Dissertação (Mestrado em Educação) - Universidade Federal do Paraná,
Curitiba, 2008.
| 325
ABREU, Mariza Vasques de & BALZANO, Sônia. Progressão na carreira do Magistério
e avaliação de desempenho. In: RODRIGUES, Maristela Marques & GIÁGIO, Mónica
(Org.). Guia de Consulta para o Programa de Apoio aos Secretários Municipais de
Educação – PRASEM. Brasília: FUNDESCOLA/MEC, 2001.
CASSETTARI, Nathalia . Pagamento por performance na educação básica. In: 31ª Anual
da Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Educação, 2008, Caxambu. 31ª
Reunião Anual da ANPED, 2008. v. 1. p. 1-15. Disponível
em:<http://www.anped.org.br/reunioes/31ra/1trabalho/GT05-4496--Int.pdf>. Acesso: 06
ago. 2010.
NÓVOA, Antônio (Org.). Vidas de professores. 2. ed. Cidade do Porto: Porto, 1995.
PARÁ. Gabinete da Governadora. Lei nº 7.442, de 2 de julho de 2010. Dispõe sobre o
Plano de cargos, Carreira e Remuneração dos Profissionais da Educação Básica da Rede
Estadual de Ensino do Estado do Pará e dá outras providencias. Diário Oficial nº 31. 700.
Pará, 2010.
| 326
SOUZA, Michele Borges de. Política de valorização dos profissionais da educação básica
na rede estadual de ensino do Pará. 2012. Dissertação (Mestrado) – Universidade Federal
do Pará. Instituto de Ciências da Educação. Programação de Pós-Graduação em
Educação, Belém, 2012.
| 327
RESUMO: Este texto apresenta uma análise específica sobre a Pedagogia, enquanto uma
Ciência Praxiológica. E foi construído a partir de uma pesquisa bibliográfica, com vistas
ao diálogo entre concepções teóricas, sob uma perspectiva histórica. Assim, tem por
finalidade abordar questões de ordem teórica que se referem à compreensão histórica
referente à Pedagogia, para então refletir sobre do trabalho de pedagogo(a) na atualidade,
sob o contexto histórico e político da educação brasileira. Tal estudo esteve orientado a
abordagem teórica e metodológica do materialismo histórico e dialético, por entender que
esta é a fonte mais coerente para apreender a realidade sob um processo dinâmico que
considera a prática social como práxis, sendo um critério de verdade na produção do
conhecimento, concebendo a ativa intervenção dos sujeitos na formação da política e da
própria História. A aprendizagem, ora expressa neste texto, se torna significativa em
relação as compreensões sobre o contexto e as perspectivas da realização do trabalho
deste trabalhador, o(a) pedagogo(a).
CONSIDERAÇÕES INICIAIS
70
Considerando, portanto, que a sociedade não está dada e que a realidade é dinâmica, marcada pela
oposição de contrários em conflito constante, Konder (2009) caracteriza a dialética como modo de
pensar, e que na acepção proposta por Marx, “precisa estar sempre disposta a questionar a si mesma, a
se reformular em seus próprios fundamentos, para não se desligar do fluxo da história” (KONDER,
2009, p. 40)
71
Projetos desenvolvidos pelo Kairós, em específico “O Curso de Pedagogia nas IES do Estado do Rio
Grande do Sul e a perspectiva da ciência da educação: convergências e divergências” financiado pelo
CNPq, conforme Edital 03/2009. E outro projeto: “O curso de pedagogia e as multifaces do
trabalho/emprego na área da educação: análises, perspectivas e desafios”, este também com
financiamento FIPE/UFSM, Pibic/CNPq, Probic/FAPERGS.
72
Entende-se a Práxis dentro do contexto da filosofia marxista, para designar atividade, ação material do
ser humano social, elemento não só de interpretação, mas de transformação, práxis no “seu sentido
como atividade real, objetiva, material do homem que só é homem como ser social prático, não pode
ser conseguido através do retorno ao ponto de vista da consciência comum” (VÁZQUEZ, 2011, p. 30).
[...] a partir de Marx e Engels não é mais possível falar de educação sem
estar referindo-se à realidade socioeconômica e à luta de classe que a
caracteriza e sustenta. Não mais caberá à pedagogia se uma atividade
neutra nem idealista. Quando me refiro à pedagogia marxista, estarei
reportando-me a uma pedagogia que absorve em seu fazer social a
dialeticidade da realidade sócio-histórica, apoiando-me nas bases
teóricas lançadas por Marx e Engels e por seus continuadores pós 1900.
(FRANCO, 2008, p. 45)
Tal perspectiva de teor crítico está apropriada fundamentalmente na dialética
como o aporte teórico e metodológico necessário para construção de sua epistemologia,
na sua efetividade como ciência, sob uma função eminentemente política, a partir da
Considerações Finais
A título de conclusão deste artigo, vale ressaltar que se tratam de
compreensões em processo de construção, as quais estão sujeitas ao trato dialético. Uma
vez que, há de se reconhecer que estão imbricadas às discussões sobre trabalho e a
formação de pedagogos(os), muitos dilemas da sociedade capitalista. Pairam
historicamente sob este contexto questões problemáticas, que explicitam certa confusão
em torno da Pedagogia, no que se refere à sua identidade epistemológica e profissional,
associada comumente ao curso a formação de professores e ao trabalho do(a) pedagogo(a)
como professor(a). Há de se considerar a existência de relações entre a Pedagogia e o
trabalho dos(as) pedagogos(as), estes vistos tradicionalmente como os teóricos-práticos
da educação, pois o trabalho deste profissional trata de conjugar teoria e prática a partir
de sua própria ação, uma vez que esta constitui significado mediante um enraizamento
político, social e histórico.
Contudo, a partir dos estudos realizados, é necessário pensar sobre a
construção da Pedagogia como uma ciência da educação que objetiva a reflexão e
transformação da práxis na totalidade histórica da sociedade. Assim, considerando a
Ciência Pedagógica, entendida como uma ciência da práxis educativa, os pedagogos têm
seu trabalho interpelado e implicado pelos processos políticos e socioeconômicos vividos | 341
REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BRASIL. Ministério da Educação. Resolução DCNE/CP nº 1/2006 Diretrizes
| 343
| 344
INTRODUÇÃO: COMEÇANDO O DIÁLOGO
Como esse curso foi organizado de modo a contemplar o que está disposto nas
Diretrizes Curriculares Nacionais para o curso de Pedagogia, ao ler o Projeto Político-
Pedagógico do curso, observamos que a ênfase é a docência. Sendo assim, o curso
direciona a formação para a atuação na docência em Educação Infantil, nos Anos Iniciais
do Ensino Fundamental e na Educação de Jovens e Adultos (EJA), possuindo como
objetivo:
73
Ambiente Virtual de Aprendizagem.
| 351
O curso de Pedagogia EAD da UFSM está organizado em dois estágios
supervisionados, sendo no 7º semestre o Estágio Supervisionado em Educação Infantil e
no 8º semestre o Estágio Supervisionado nos Anos Iniciais do Ensino Fundamental. Cada
estágio deve ser realizado nas escolas conveniadas ao curso, possuindo uma carga horária
de 150 horas, compondo um total de 300 horas, de acordo com as DCNs.
Também de acordo com as Diretrizes Nacionais para o Curso de Pedagogia, o Art.
7º, inciso IV, define que o “estágio curricular a ser realizado, ao longo do curso, de modo
a assegurar aos graduandos experiência de exercício profissional, em ambientes escolares
Com esses excertos, foi possível perceber a relevância do estágio nos cursos de
formação inicial de professores. Pois, o estágio permite o exercício teórico e prático, a
partir do momento em que possibilita ao acadêmico a vivência na docência, se realizando
uma leitura pedagógica do que se vivencia, problematizando a realidade educacional,
diante aos fundamentos estudados no decorrer do curso. Segundo Pimenta e Lima (2004,
p. 129), “o estágio se configura, para quem já exerce o magistério, como espaço de
reflexão de suas práticas, a partir das teorias, de formação contínua, de ressignificação de
seus saberes docentes e de produção de conhecimentos”.
Assim, destacamos que o estágio é uma possibilidade de vivências e experiências
na sala de aula, pois permite aos acadêmicos o enfrentamento de desafios da docência e
do contexto escolar, estes que só poderão ser compreendidos se o acadêmico estiver na
escola.
| 357
(IN) CONCLUSÕES
REFERÊNCIAS
FREIRE, Paulo. Professora sim, tia não: cartas a quem ousa ensinar. 25 ed. Rio de
Janeiro: Paz e Terra, 2015.
| 359
Resumo
O trabalho discute questões relacionadas as condições de trabalho docente das
Professoras-mediadoras que atuam no Programa Ensino Médio com Intermediação
Tecnológica (EMItec) em meio rurais, na cidade de São Sebastião do Passé, na Região
Metropolitana de Salvador, cuja proposta é atender os alunos que estão no Ensino Médio
e moram em regiões de difícil acesso. Adotamos princípios teórico-metodológicos da
pesquisa (auto)biográfica, mediante a utilização de entrevista narrativa, a fim de
apresentar o perfil biográfico das colaboradoras, aspectos relacionados ao percurso
formativo e as condições de trabalho subsidiam a prática docente no contexto do referido
programa. A partir das contribuições teóricos de Hypolito (2012) e Oliveira e Viera
(2012), objetiva-se discutir questões que envolvem o trabalho docente, como: condições
de formação, formas de contratação, carreira e remuneração, condições físicas, materiais
e subjetivas do trabalho. A discussão amplia-se na vertente da intensificação do trabalho
docente, com ênfase na análise de aspectos voltados para a ampliação da jornada de
trabalho, condições materiais, estruturais e pedagógicas que não se restringem, apenas,
ao local de trabalho, mas também aos aspectos ligados à profissionalização.
Palavras Chaves: Trabalho docente; Condições de trabalho; Professoras-mediadoras.
| 360
O texto desdobra-se como ação da pesquisa Multisseriação e trabalho docente:
diferenças, cotidiano escolar e ritos de passagem, financiada pela Fundação de Amparo
à Pesquisa do Estado da Bahia (Fapesb), no âmbito do Edital 028/2012 – Prática
Pedagógicas Inovadoras em Escolas Públicas e do MCTI/CNPq, Chamada Universal n.
14/2014, desenvolvida em regime de colaboração entre o sob a coordenação do Grupo
de Pesquisa (Auto)biografia, Formação e História Oral, da Universidade do Estado da
Bahia (Grafho/Uneb), em parceria com os seguintes grupos: Diversidade, Narrativas e
Formação (Diverso/Uneb); Educação do Campo e Contemporaneidade (Uneb);
74
Aulas ao vivo, no formato de videoconferências, realizadas diariamente durante toda a semana e
ministradas por dois professores especialistas. Disponível em: httt://www.fbb.org.br/tecnologiasocial.
75
Escola estadual instituída dentro da parceria Estado e Município, como responsável pelos alunos do
EMITec que estão nos anexos, sendo que todo provimento para esses alunos são disponibilizados por
essa instituição escolar.
76
Anexo compreende a escola vinculada a uma escola matriz, da rede municipal, de Ensino Fundamental I
e II disponibilizada pelo Programa.
77
Os excertos utilizados no texto correspondem aos fragmentos das entrevistas narrativas realizadas com
Ana Amaral, ingressou no início do Programa, em 2011, narra que teve uma
formação aligeirada com fim instrutivo e técnico, limitando-se à orientação de como
funcionam os instrumentos tecnológicos, ficando em detrimento orientações pedagógicas
que seriam fundamentais para o entendimento de uma especificidade de ensino em um
contexto rural, pautada na intermediação tecnológica. Do mesmo modo, a narrativa de
Ana Amaral, evidencia aligeiramento na formação e ausências de discussões políticas e
epistemológicas sobre o programa, o que tem implicado nas condições de trabalho, na
condição de professora-mediadora.
Tal questão é problematizada por Nóvoa (1999), ao discutir sobre a formação
docente, ao apresentar aspectos históricos relacionados ao aumento das exigências que
são feitas ao professor, quando lhe é pedido que assuma um número cada vez maior de
responsabilidades. A tarefa do professor não se restringe apenas a questões cognitivas,
vez que suas funções vão além da disciplina que leciona, ou da formação específica, sendo
este um facilitador da aprendizagem, pedagogo eficaz, organizador do trabalho de grupo.
Além do ensino, cuida do equilíbrio psicológico e afetivo dos alunos, da integração social
e da educação sexual, somados à atenção aos alunos especiais integrados na sala de aula.
| 364
Tais exigências exigem do professor explicitar seus valores e objetivos
educativos, de forma que as mudanças de papel e as transformações contextuais nas
relações interpessoais fomentam o ato de repensar a formação docente das professoras-
mediadoras, partindo do pressuposto apontado por Nóvoa (1999), ao considerar que no
79
Nas abordagens descritivas, segundo Nóvoa (1999), considera-se que o êxito na docência depende de uma
atuação correta do professor, que responde ao conjunto de condicionantes que influem na interação
professor-aluno; quando os professores principiantes enfrentam as suas primeiras dificuldades, põem
em questão a sua atuação e passam, então, em revista os possíveis erros na sua forma de enfrentar a
situação, mas não começam desde logo e pôr-se em causa a si mesmos.
Figura 1 - Sala do Anexo - Escola Municipal Professor Edgar Santos Distrito Maracangalha
como garantia a aquisição de um ambiente propício para que sejam efetivadas as aulas
com Intermediação Tecnológica, sendo desenvolvido pela integração de aulas baseadas
em tecnologias da informática e aulas com dominância da comunicação convencional de
base oral e escrita.
As professoras-mediadoras afirmam em suas narrativas já terem ficado com
frequência uma semana inteira sem transmissão, exigindo ações alternativas, não
previstas no programa, para que pudessem continuar com o trabalho docente. Nestas
situações as professoras, geralmente, dirigem-se à cidade para fazer cópias de materiais
[...] os desafios que a gente enfrenta é que às vezes que o sinal aqui é
ruim. Como eu tô te dizendo os meninos estão fazendo prova agora,
mas a gente tem que liberar, eu tenho que levar em consideração alguns
fatores. A semana passada nós não tivemos aula porque faltou energia.
Eles são dependentes da tecnologia! Então sem energia não tem aula a
aula não repete, as aulas elas são alistadas numeradas e elas não voltam,
elas não têm retrocesso, ai tem uma revisão, mas no dia da revisão por
acaso o sistema não abre, nós não conseguimos abrir via satélite o
IPTV, ele não abre, então o que é que a gente faz? Não tem aula (ANA
CRISTINA, 2015).
REFERÊNCIAS
BAHIA. Portaria nº 424. Implanta em Unidades Escolares da Rede Pública Estadual de
Ensino o Programa Ensino Médio com Intermediação Tecnológica. Salvador, Bahia –
Diário Oficial do Estado da Bahia - 22 e 23 de janeiro de 2011 Ano - XCV · Nº 20.468
e 20.469.
BRASIL. Ministério da Educação e do Desporto. Lei de Diretrizes e Bases da Educação
Nacional – LDBEN nº 9.394 de 20/12/1996. Brasília, DF: Ministério da Educação, 1996.
HYPOLITO, Álvaro Moreira. Trabalho Docente na Educação Básica no Brasil: as
condições de trabalho. In.: OLIVEIRA, Dalila Andrade; VIEIRA, Lívia Fraga (Org).
| 374
Trabalho na educação básica; a condição docente em sete estados brasileiros. Belo
Horizonte: Fino Traço, 2012, p. 211-230.
IPTV. Serviço Multimídia de Banda Larga para Inclusão Social. Disponível em:
<http:www.iptv.br>. Acesso em: 02 out. 2015.
JOSSO, Marie Christine. Experiências de Vida e Formação. São Paulo: Cortez, 2000.
MOREIRA, Roberto José. (Org.). Identidades Sociais: ruralidades no Brasil
contemporâneo. Rio de Janeiro: DP&A, 2005.
NÓVOA, António. (Org). Profissão Professor. Porto: Porto Editora, 1999.
OLIVEIRA, Dalila Andrade; VIEIRA, Lívia Fraga. Condições de trabalho docente: uma
análise a partir de dados de sete estados brasileiros. In: OLIVEIRA, Dalila Andrade;
| 375
Resumo: Este artigo envolve diferentes temas interligados: diversidade cultural, cultura
indígena, educação musical e contexto escolar. Tem o objetivo de relatar uma experiência
de trabalho docente atuante na educação integral do projeto Cidade Escola,
especificamente, o processo envolvido no desenvolvimento de uma proposta relacionada
com a temática indígena durante uma atividade da oficina Educação Musical da EMEF
Timbaúva, Porto Alegre. Os autores que embasam o relato tratam de estudos sobre
conhecimento musical, relações entre diversidade, educação musical e escola. Como
resultados da atividade observa-se que possibilitou o estudo mais aprofundado dos
elementos musicais da cultura indígena, principalmente, de uma aldeia Mbyá-Guarani da
região metropolitana de Porto Alegre, sua história, além de conhecer o imaginário sonoro
dos estudantes sobre a cultura indígena e auxiliar a ampliar o universo cultural e
conhecimento musical dos mesmos.
Palavras-chave: diversidade cultural, cultura indígena, educação musical na escola
INTRODUÇÃO
“Yvy Porã Porau e o Rio de Mel” é um livro infanto-juvenil escrito por Ângela
Hofmann. Conta a história de uma aldeia indígena próxima de seu fim. Simplesmente, as
mulheres não engravidavam mais, as plantações não eram férteis, o número de pessoas
deste povoado era cada vez mais escasso. Até que um dia, uma mulher desta aldeia teve
um sonho, um sonho que mudaria o futuro dos indígenas de Yvy Porã Porau. A própria
autora me contou que esta história não foi real, mas foi inspirada em seus estudos sobre
a cultura indígena. O livro é recheado de palavras em tupi-guarani. Ao final tem um
glossário com as traduções. | 376
Durante o primeiro semestre do ano letivo de 2015 a biblioteca da escola adquiriu
diversos exemplares do livro, o que possibilitaria um trabalho com várias turmas,
simultaneamente. A EMEF Timbaúva, localizada na zona norte de Porto Alegre, tem
como característica realizar projetos que envolvam todos os estudantes da escola e entre
eles estão os desenvolvido pela equipe de professores responsáveis pela biblioteca. Dentre
os projetos educacionais da biblioteca, existe um que visa receber visitas de autores de
livros infanto-juvenis, as quais são, carinhosamente, organizadas pelas professoras. Foi
assim, durante as organizações para a próxima visita de autor à nossa escola, que os
CONCLUSÕES
Após a imersão bibliográfica na cultura Mbyá-Guarani foi possível a compreensão
de alguns fatos da história de Ângela Hofmann. Um deles é o significado inerente ao
nascimento de uma criança para a cultura Mbyá-Guarani: “O nascimento de uma mitã
(criança) representa a aprovação pelos deuses do modo de ser Mbyá, e uma mitã que canta
REFERÊNCIAS
ALMEIDA, Berenice de; PUCCI, Magda. A floresta canta!: uma expedição sonora por
terras indígenas do Brasil. São Paulo: Peirópolis, 2014.
KLEBER, Magali. Projetos sociais e educação musical. In: SOUZA, Jusamara (Org.).
Aprender e Ensinar Música no Cotidiano. Porto Alegre: Sulina, 2008.
LUCAS, Maria Elizabeth; STEIN, Marília (Orgs.). Yvý Poty, Yva’á/Flores e Frutos
da Terra: cantos e danças tradicionais Mbyá-Guarani. Porto Alegre: Iphan/Grupo de
Estudos Musicais/PPGMUS/UFRGS, 2009. Inclui CD com músicas.
PENNA, Maura. Poéticas musicais e práticas sociais: reflexões sobre a educação | 386
musical diante da diversidade. In: Música(s) e seu ensino. Porto Alegre: Sulina, 2012.
| 387
Resumo
O presente artigo tem como objetivo discutir algumas das possíveis implicações do Pacto
Nacional pela Alfabetização na Idade Certa – PNAIC no trabalho docente. Considera-se
que o PNAIC é um desdobramento das políticas de regulação educacional empreendidas
por um modelo estatal, denominado por alguns estudiosos de Estado-avaliador. Para
tanto, debate-se os dados preliminares coletados em 2015, para fins de pesquisa no curso
de doutorado, que tem como objetivo geral as possíveis implicações que o PNAIC traz
para o trabalho docente. Para realização do estudo, o qual tem abordagem qualitativa,
selecionou-se a rede pública de ensino do Distrito Federal (DF). No presente artigo,
busca-se refletir a partir da percepções de professoras alfabetizadoras da Secretaria de
Estado de Educação do DF, as possíveis incidências deste programas no seu trabalho e o
quanto elas se sentem responsabilizadas por alcançar resultados nas avaliações externas.
Os resultados debatidos revelam que o PNAIC interfere no trabalho docente, imputando
a responsabilidade pelo desempenho de estudantes, das instituições e do próprio sistema
às docentes.
Considerações iniciais
O presente trabalho descreve e analisa os dados preliminares da pesquisa | 388
empreendida no âmbito do curso de doutorado, do Programa Pós-Graduação em Política
Social, da Universidade de Brasília (UnB), coletados entre os meses de novembro e
dezembro de 2015. Em geral, o estudo tem como objetivo investigar como o Pacto
Nacional pela Alfabetização na Idade Certa (PNAIC), instituído pela Portaria Ministerial
nº 867, de 4 de julho de 2012, traz implicações para o trabalho docente, à medida em que
se configura como estratégia de um modelo de regulação da política educacional, o qual
se configurou a partir do fortalecimento do chamado “Estado avaliador”. O recorte para
a realização da pesquisa se dá nos anos iniciais do Ensino Fundamental (EF), visto que
80
Conforme o Art. 32, § 1º, da LDB, Lei 9394, de 1996, é facultado aos sistemas de ensino desdobrar o
Ensino Fundamental – EF em ciclos. A Resolução nº 7, de dezembro de 2010, em seu Art. 30, afirma que
os três primeiros anos do EF devem assegurar a alfabetização e o letramento. No Distrito Federal,
denomina-se este três primeiros anos do EF Bloco Inicial de Alfabetização (BIA).
81
O Saeb foi criado em 1990, como uma avaliação amostral, para coletar informações sobre a realidade da
educação básica brasileira. Os resultados divulgados retratavam o Brasil, suas regiões, unidades da
federação e redes estadual e municipal, não sendo possível apresentar dados por município ou escola.
82
De acordo com o Censo Escolar 2014, INEP/MEC, no Brasil, dentre os docentes que atuam nos anos
iniciais do Ensino Fundamental 83% são mulheres. No DF temos 91% de mulheres nesta etapa do ensino.
Frente a estes dados, optamos por utilizar em nosso projeto o gênero feminino, assim, nos reportaremos
a professoras, alfabetizadoras, educadoras, entre outras trabalhadoras da educação.
83
A referência do ano de 2022 está relacionada à comemoração do bicentenário da independência do Brasil.
84
Essa avaliação diferencia-se das demais até então aplicadas no âmbito do Saeb, visto que não é
centralizada no governo federal e não há a obrigatoriedade de divulgação de resultados. O MEC distribui
um Kit para as secretarias de educação, para que distribuam para escolas e podem organizar a aplicação.
85
Conforme Portaria nº 867, de 4 de julho de 2012, as instituições de Educação Superior ministram o curso
de formação às orientadoras de estudo que formarão as professoras com tempos diferentes (200 horas de
curso para o orientador de estudo e 120 horas para o professor - destinatário e sujeito de todo programa).
Na SEE/DF são orientadoras de estudo professoras da própria rede de ensino que atuam nos Centros de
Referência para os Anos Iniciais do Ensino Fundamental – CRAI.
86
A SEE/DF conta com a parceria da Universidade de Brasília.
87
A escala Likert é uma escala psicométrica, geralmente destinada a medir opiniões e atitudes. Para sua
construção, optou-se por fazer uso de diferenciais semânticos, o que indica que as expressões
utilizadas variam de sentido gradativamente num contínuum que são apresentados variando
qualitativamente em grau, desde o mais baixo nível ao mais elevado (SANCHES, MEIRELES,
SORDI, 2011).
Considerações Finais
A partir do debate empreendido neste texto, compreende-se que o PNAIC em seus
quatro eixos de ação, trata a relação formação, trabalho docente e avaliação como
estratégica para atingir melhores resultados nas avaliações nacionais, como é o caso da
ANA, Prova Brasil, Provinha Brasil e, por sua vez, do próprio IDEB.
| 400
É certo que as avaliações contribuíram para as estratégias do Estado, com o
propósito de aperfeiçoar as políticas de melhorias na educação. No entanto, o problema
é que o eixo condutor das ações estão no seu foco econômico, em detrimento do caráter
político das instituições escolares. Isso denota que as ações do Estado-avaliador não
pretende solucionar ou debater as desigualdades existentes entre os vários grupos
atendidos pelas escolas. Isto fica evidente ao se estabelecer uma “idade certa” para a
alfabetização sem se quer debater com as escolas e docentes.
Referências
ANDERSON, Perry. Balanço do neoliberalismo. In: SADER, Emir e GENTILI, Pablo (Orgs.).
Pós-neoliberalismo: as políticas sociais e o Estado democrático. Rio de Janeiro: Paz e Terra,
1995.
ANTUNES, R. Os sentidos do Trabalho: ensaios sobre a afirmação e a negação do trabalho.
São Paulo: Boitempo, 2009.
AFONSO, Almerindo Janela. Avaliação educacional: regulação e emancipação. São Paulo:
Cortez, 2005.
_____. Mudanças no Estado-avaliador: comparativismo internacional e teoria da modernização
revisitada. Revista Brasileira de Educação, vol.18, no.53, p.267-284, abr.-jun., 2013.
Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/rbedu/v18n53/02.pdf. Acesso em: 10 de jan. de 2015.
BARROSO, João. O Estado e a educação: a regulação transnacional, a regulação nacional e a
regulação local. In: BARROSO, João (Org). A regulação das políticas públicas de educação:
espaço, dinâmicas e actores. Coimbra: EDUCA; UI&DCE, 2006, p. 41-70.
BEHRING, Elaine Rossetti; BOCHETTI, Ivanete. Política social: fundamentos e história. 5. ed.
São Paulo: Cortez, 2008.
BONAMINO, Alícia M. C. de.; SOUSA, Sandra Zákia. Três gerações de avaliação da educação
básica no Brasil: interfaces com o currículo da/na escola. Educação e Pesquisa, São Paulo, v. 38,
n. 2, p. 373-388, abr./jun., 2012.
BRASIL. Lei nº 10.172, de 9 de janeiro de 2001. Aprova o Plano Nacional de Educação. Diário
Oficial da União, DF, 10 jan., 2001
BRASIL. MEC. Portaria nº 931, de 21 de março de 2005. Instituir o Sistema de Avaliação da
Educação Básica – SAEB, que será composto por dois processos de avaliação: a Avaliação
Nacional da Educação Básica – ANEB, e a Avaliação Nacional do Rendimento Escolar –
ANRESC. Diário Oficial da União, Brasília, Seção 1, p. 17, n. 55, 22 mar. 2005. | 401
_____. Portaria nº 867, de 4 de julho de 2012. Institui o Pacto Nacional pela Alfabetiza- ção na
Idade Certa e as ações do Pacto e define suas diretrizes gerais. Diário Oficial da União, n. 129,
quinta-feira, 5 de julho de 2012. Disponível em: <http://pacto.mec.gov.br/images/pdf/ port_867_
040712.pdf>. Acesso em: 14 set. 2015.
_____. Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira – Inep. Portaria
normativa nº 482, de 07 de junho de 2013. Dispõe sobre o Sistema de Avaliação da Educação
Básica - SAEB. Diário Oficial da União, n°109, de 10 de junho de 2013.
_____. Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira – Inep. Portaria
Normativa nº 10, de 26 de abril de 2007. Fica instituída a Avaliação de Alfabetização "Provinha
Brasil", a ser estruturada pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais "Anísio
Teixeira" – INEP. Diário Oficial da União de 26 de abril de 2007.
| 403
Resumo: A literatura sobre a profissão docente traz à tona a complexa temática referente
ao seu processo de profissionalização. Tal situação liga-se a duas questões que se
complementam e possuem vários desdobramentos: primeiro, a natureza do trabalho
docente (vocação/missão ou serviço público estatal) e a segunda, as mudanças no cenário
socioeconômico da América Latina que vem afetando as relações de trabalho e tem se
configurado na precarização do trabalho docente. O presente texto visa articular algumas
das reflexões atuais sobre a Profissão docente na América Latina com uma pesquisa
efetivada em 2012 com professores (as) da rede municipal de ensino da cidade de
Tocantinópolis – TO, objetivando perceber similitudes e diferenças entre um contexto
micro e o panorama mundial em relação a escolha e satisfação na profissão. A literatura
de referência lembra que a profissão em pauta tem um viés político, logo, a construção de
saída para os dilemas inerentes ao cotidiano docente está na construção coletiva de
alternativas, que passa pela sua organização enquanto categoria profissional.
INTRODUÇÃO
O exercício da profissão docente na América Latina, ao longo de sua trajetória
histórica e social é demarcado pela heterogeneidade e subjetividade dos profissionais que
exercem o magistério. Ancorado em uma pesquisa que desenvolveu em quatro países
| 404
latinos (Brasil, Uruguai, Argentina e Peru) Fanfani (2005), considera que a unanimidade
não é uma regra no mundo da docência, mas é possível perceber algumas similaridades
no contexto latino-americano. Trata-se de uma profissão onde numericamente prevalece
as mulheres, especialmente no nível primário; permite uma inserção mais rápida no
mercado de trabalho, em alguns casos antes mesmo de concluir a formação inicial;
compõem-se de profissionais que na sua maioria a exercem como única atividade
remunerada e que diferentemente do que se poderia pensar não desejam dedicar-se a outra
profissão; constituindo ainda, especialmente no caso do Brasil, um mecanismo de
mobilidade social.
88 Passaremos a usar o termo somente no feminino em virtude dos respondentes da pesquisa serem todas
do sexo feminino, fator característico da profissão, especialmente nos níveis da Educação Infantil e
Ensino Fundamental.
89
Tal denominação faz referência ao desenho geográfico que delimita as fronteiras do estado por dois
importantes rios do país: Tocantins e Araguaia.
90
Cf. http://www.qedu.org.br/cidade/4252-tocantinopolis/censo-escolar?year=2014
91 A respeito das duas primeiras dimensões ver LOCATELLI, Cleomar; LOCATELLI, Arinalda S.
O financiamento para o ensino público municipal e seus impactos junto aos professores. Revista
Interfaces da Educação, Paranaíba, v.4, n.11, p.161-181, 2013.
a) A escolha da profissão
58,73%
60,00%
39,68%
40,00%
Total
20,00%
1,59%
0,00%
Branco Não sim
92 A pesquisa foi realizada nos estados do Espírito Santo, Goiás, Minas Gerais, Pará, Paraná, Rio Grande
do Norte e Santa Catarina, no período de setembro a dezembro de 2009. Sendo entrevistados 8.795
sujeitos docentes da Educação Básica, deste total 1.838 eram sujeitos docentes da Educação Infantil. E
teve como objetivo analisar o trabalho docente nas suas dimensões constitutivas, identificando seus
atores, o que fazem e em que condições se realiza o trabalho nas escolas de Educação Básica da rede
pública e conveniada tendo como finalidade subsidiar a elaboração de políticas públicas no Brasil.
(GESTRADO, 2010)
71,43%
80,00%
60,00%
40,00%
15,87% 12,70% Total
20,00%
0,00%
Realizado Não realizado Realizado em
parte
| 414
21,62%
8,11%
Gráfico 3 - Sobre a realização das professoras que disseram ter escolhido a profissão
Fonte: Aplicação de questionários (2012)
20,00%
8,00%
Gráfico 4 - Sobre a realização das professoras que disseram não terem escolhido a
profissão.
Fonte: Aplicação de questionários (2012)
REFERÊNCIAS
ANTUNES, R. (org.) A dialética do trabalho: escritos de Marx e Engels. São Paulo:
Expressão Popular, 2004.
TARTUCE, Gisela Lobo et. al. Alunos do ensino médio e atratividade da carreira
docente no Brasil. Cadernos de Pesquisa, v. 40, n. 140, p. 445-477, maio/ago. 2010.
SOUTO, Romélia Mara Alves; PAIVA, Paulo Henrique Apipe Avelar de. A pouca
atratividade da carreira docente: um estudo sobre o exercício da profissão entre egressos
de uma Licenciatura em Matemática. Pro-Posições, v. 24, n. 1, p. 201-224, jan./abr.
2013.
TARTUCE, Gisela Lobo et. al. Alunos do ensino médio e atratividade da carreira
docente no Brasil. Cadernos de Pesquisa, v. 40, n. 140, p. 445-477, maio/ago. 2010.
VEZUB, Lea Fernanda. Notas para pensar una genealogía de la formación permanente
del profesorado en Argentina. Revista Mexicana de Investigación Educativa, v. 14, n.
42, p. 911-937, jul./sept. 2009.
| 418
INTRODUÇÃO
DESENVOLVIMENTO | 419
Conforme o quadro teórico em que está inserido este trabalho, o ISD, para analisar
o trabalho docente tem-se que diferenciar os três tipos de trabalho: prescrito;
representado; real. Segundo os preceitos teóricos do ISD, o exame do chamado trabalho
prescrito “constitui-se como uma representação do que deve ser o trabalho, que é anterior
à sua realização efetiva; portanto, os projetos didáticos, os programas, os manuais e as
seqüências pertencem a esse nível” (Bronckart, 2009 p.208).
É valido ressaltar que todo o material que acompanha o RC deveria ser repassado
a todas as escolas da Rede Estadual do Rio Grande do Sul (Proposta Curricular/2009).
Desse modo, o caráter de modelo coletivo de representação do trabalho do professor no | 420
Estado, perpassado por esse material, foi o orientador das atividades e do conceito de
professor que os órgãos governamentais esperavam naquele momento.
Essa distribuição dos papeis aos actantes do Lições se deve ao fato de que este
documento oficial e como tal deve apresentar um caráter argumentativo. Isso porque, o
material quer que os professores da rede estadual gaúcha venham a aderir os Referencias
Curriculares, o Caderno do Professor e o Caderno do aluno como proposta válida para | 421
seu agir em sala de aula. Isso pode ser observado até mesmo no modo como o próprio
material se apresenta, como sendo algo de suma importância para o bom desempenho do
professor em sala de aula, revelando, assim, a intenção do produtor de conseguir a adesão
do destinatário – docente – ao posicionamento defendido por ele.
Isso porque, conforme defende Pessoa (2009) o uso do livro didático pode “não
só limitar as possibilidades de ação do professor, como também comprometer as próprias
perspectivas de análise e compreensão do ensino, de suas finalidades educativas e de sua
função social” (PESSOA, 2009, p.54). Silva (1996) também tece esclarecimentos acerca
da significação do livro didático e para ele o
Pessoa (2009) ainda ressalta a imagem de professor que esse tipo de material
pode apresentar. Para ela, as “vantagens” trazidas pelo livro didático para o professor,
acabam indicando quem é esse professor. O docente que usa o livro didático seria aquele
que “não tem tempo de preparar suas aulas, que não tem capacidade de produzir material
utilizado em sala de aula, não conhece teorias, abordagens e pesquisas recentes da área
de ensino e aprendizagem e precisa de segurança”. (PESSOA, 2009, p. 54)
Silva (1996) é mais enfático quanto a essa questão da significância, do papel que
o livro didático pode exercer no agir do professor enquanto sujeito dono de seu fazer e
através de metáforas explica que | 422
[...] para uma boa parcela dos professores brasileiros, o livro didático
se apresenta como uma insubstituível muleta. Na sua falta ou ausência,
não se caminha cognitivamente na medida em que não há substância
para ensinar. Coxos por formação e/ou mutilados pelo ingrato dia-a-dia
do magistério, resta a esses professores engolir e reproduzir a idéia de
que sem a adoção do livro didático não há como orientar a
aprendizagem. Muletadas e muleteiros se misturam no processo...
(SILVA, 1996, p.8)
Richter (2208) postula que um sistema endógeno, que é de certa forma mais
organizado, cria e gera esses componentes de modo a “blindá-los” contra intromissão de
sistemas externos. Para Richter (2008), o sistema enxógeno, como é menos organizado,
é mais suscetível à multiplicidade de vozes, uma vez que é constituído “de fora para
dentro”.
Essa questão da exogenia do agir docente é uma das fragilidades desta questão do
professorar. Segundo Richter (2008), o trabalho docente sofre fortemente a influência de
outros discursos, que não os da própria classe. O mais instigante disto é que o professor
é a base da pirâmide do sistema simbólico, é ele na condição de não-emancipado quem
forma as outras profissões. Quanto a essa problemática específica da profissão docente,
Richter e Garcia esclarecem:
Ademais, até mesmo as prescrições ao que parecem são um tanto quanto vagas e
imprecisas. Adam elenca três propriedades enunciativas centrais dessas prescrições. A
primeira delas é que essas prescrições são produzidas por especialistas em um
determinado domínio e sua presença enunciativa é apagada. A segunda é que eles
se referem a um destinatário (ou agente das ações prescritas) através de formas
abertas que podem facilmente ser ocupada por qualquer leitor-usuário como, por
exemplo, o uso de expressões como você, nós/ a gente, seguido de verbo no infinitivo.
A terceira propriedade é que tais textos parecem ser regidos por uma espécie de contrato
É possível, desse modo, fazer uma relação do fato de que o material objetiva uma
inserção dos professores no Projeto de renovação curricular como o de que ele busca
também convencê-los das vantagens ali oferecidas. Segundo esclarece Bronckart (2009),
a partir de estudos já realizados sobre o trabalho prescrito, esses documentos apresentam
uma lógica que pode ser sintetizada do seguinte modo:
Desse modo, o professor tem de ser participante “ativo” de seu agir professoral,
deve ter um conhecimento teórico que lhe capacite a saber discernir e digerir os materiais
Assim, para que haja uma mudança no quadro educacional é necessário que
ocorra, entre outras mudanças, um processo de busca pela autonomia do professor, de
modo que ele seja especialista de seu agir. Isso porque, “o melhor dos livros didáticos não
pode competir com o professor: ele, mais do que qualquer livro, sabe quais os aspectos
do conhecimento falam mais perto a seus alunos, que modalidades de exercício e que tipo
de atividade respondem mais fundo em sua classe” (LAJOLO, 1996, p. 6). Consoante a
isso, Bronckart (2008) nos apresenta o que se espera do professor a partir da visão do
ISD:
CONCLUSÃO
REFERÊNCIAS
BAKHTIN, M. M. Para uma filosofia do ato responsável. São Carlos: Pedro & João,
2010. | 429
| 431
INTRODUÇÃO
O trabalho docente é uma categoria bastante complexa a qual, com o passar do
tempo, alcança novas dimensões e, assim, sua análise não se exaure, por mais abrangentes
e diversas que sejam as pesquisas voltadas para ele. Para além da sala de aula ou do
processo formal de ensino, o trabalho docente pode ser definido “como todo ato de
realização no processo educativo” (OLIVEIRA, 2010), compreendendo as atividades e as | 432
93
O perfil da RMEBH abrange um total de 165.533 alunos da educação básica, 190 escolas municipais e
127 UMEIS, totalizando 317 instituições municipais. As escolas que atendem ao Programa Escola
Integrada são 173, sendo 64.481 alunos atendidos. Quanto ao quadro de pessoal, há 10.739 professores
municipais, 4.873 professores para a educação infantil e 115 pedagogos. (Fonte: GPLI/GEOE -
Levantamento mensal da Gerência de Comunicação Social/SMED. Dados atualizados em 31/10/2015.
Pedagógico.
O processo de avaliação, em linhas gerais, constitui-se, inicialmente, com a
construção do diagnóstico, cujo objetivo é investigar os conhecimentos que o aluno traz
à sala de aula, como ele os utiliza em seu grupo, quais as formas culturalmente
constituídas para construí-los. Em seguida, a avaliação assume o caráter de continuidade,
visando ao acompanhamento das aquisições sucessivas do aluno, assim como um aspecto
formador, buscando identificar os sucessos, as dificuldades e os erros no percurso.
94
Márcio Lacerda, empresário e político do Partido Socialista Brasileiro (PSB), exerceu seu primeiro
mandato, como Prefeito de Belo Horizonte, entre 1º de janeiro de 2009 a 31 de dezembro de 2012. Reeleito,
encontra-se em exercício desde 1º de janeiro de 2013.
95
As demais áreas de resultado são: Cidade Saudável, Cidade com Mobilidade, Cidade Segura,
Prosperidade, Modernidade, Cidade com todas as Vilas Vivas, Cidade Compartilhada, Cidade Sustentável,
Cidade de Todos, Cultura e Integração Metropolitana.
96
https://bhmetaseresultados.pbh.gov.br
97
O Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (IDEB) foi criado pelo Inep em 2007 e reúne, em um
só indicador, dois conceitos: fluxo escolar e médias de desempenho nas avaliações. O indicador é calculado
a partir dos dados sobre aprovação escolar, obtidos no Censo Escolar, e médias de desempenho nas
avaliações do Inep, o Saeb- para as unidades da federação e para o país, e a Prova Brasil- para os municípios.
E as avaliações externas:
Têm como objetivo realizar um diagnóstico do sistema educacional a partir do
desempenho dos estudantes em testes padronizados, visando ao monitoramento
da aprendizagem para orientar a escola na construção de seu currículo e subsidiar
a formulação ou reformulação das políticas educacionais da RMEBH (Belo
Horizonte, 2014, p. 62).
| 438
IMPLICAÇÕES SOBRE O TRABALHO DOCENTE
A reestruturação do trabalho docente, nas últimas décadas, ocasionada pelas
políticas educacionais neoliberais apresentam certa homogeneidade nas prioridades em
torno da eficiência, profissionalização e gestão na maioria dos países da América Latina.
Tais reformas impostas pelos organismos internacionais propagam a desqualificação
política e profissional dos professores de educação básica.
A centralidade atribuída à profissionalização e ao gerencialismo visa ampliar o
controle sobre a categoria do magistério e sua potencial capacidade de opor-se às reformas
e ao Estado, colocando em risco a capacidade destas políticas de promoverem justiça
É nesse sentido que os autores destacam que é preciso investigar os usos efetivos
dessas ferramentas, como são recebidas e traduzidas pelos atores locais, pois existem
distâncias entre as realidades e os modelos teóricos da accountability que precisam ser
exploradas.
| 442
CONSIDERAÇÕES
Uma análise mais próxima do caso de Belo Horizonte torna-se importante e
significativa, tendo em vista a dimensão e os resultados alcançados pela rede municipal.
É certo que a complexidade da escola diante de atuais políticas educacionais, a
multiplicidade de processos de regulação e a demanda crescente por melhoria da
qualidade da educação apontam a necessidade de novas pesquisas acadêmicas sobre a
educação pública.
Evidencia-se a primordialidade de pesquisas sobre trabalho e docência no
contexto das reformas neoliberais da década de 1990 que acarretaram profundas
REFERÊNCIAS
| 444
INTRODUÇÃO
(2009) afirma haver uma renovação da educação no que diz respeito ao seu espaço,
trazendo o conceito público da educação. A escola ao se dizer democrática e participativa
deve prioritariamente estabelecer uma relação com todos os sujeitos da comunidade
escolar, recuperando a cultura da associação e do cooperativismo.
A gestão escolar democrática e participativa compõe um rol de elementos que a
caracterizam assim, entre eles o projeto político pedagógico, o organização do espaço
escolar, o trabalho pedagógico e o processo formativo dos docentes. Esses elementos se
relacionam e fazem parte de todo, sendo diferente do que a soma das suas partes. Libâneo
CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
| 456
INTRODUÇÃO
Introduz-se este tópico apresentando uma esquematização, sob um viés teórico e | 458
98 Compreende-se que não há ensino sem aprendizagem, tampouco aprendizagem sem ensino. Isso
porque a apropriação do conhecimento ocorre à medida que se estabelece interação entre interlocutores, os
quais se constituem autores e coautores desse processo. Diante disso, como fundamentos epistemológicos
da performance docente, embasa-se na Educação Dialógico-Problematizadora freireana e na Teoria da Rede
de Mediadores de base latouriana. Tais aportes teóricos validam a argumentação de que ensinar e aprender
são ações indissociáveis, constituídas na relação de seres híbridos: “humanos e não-humanos inteiramente
Essa abertura diz respeito as quatro liberdades dos REA, oriundas das discussões
de Wiley, Gibson e Recker, estabelecidas desde 2002, as quais abordam a utilização e a
reutilização dos recursos educacionais em diferentes contextos, considerando as quatro
ações: reuse, review, remix e redistribute. Entretanto, David Wiley, Lane Fischer e John
Hilton III, pesquisadores do Open Education Group, avançaram nas pesquisas sobre REA
incluindo uma quinta liberdade: a de reter o material. Assim, temos
(www.opencontent.org):
Reter - o direito de fazer e guardar cópias próprias do conteúdo (por exemplo, download,
duplicar, armazenar e gerenciar);
Reutilizar - o direito de usar o conteúdo de várias formas (por exemplo, em uma classe,
em um grupo de estudo, em um site, em um vídeo);
Rever - o direito de adaptar, ajustar, modificar ou alterar o conteúdo em si (por
exemplo, traduzir o conteúdo para outro idioma);
Remix - o direito de combinar o conteúdo original ou revisado com outro conteúdo
aberto para criar algo novo (por exemplo, incorporar o conteúdo em criações
personalizadas);
Redistribuir - o direito de compartilhar cópias do conteúdo original, suas revisões, ou
seus remixes com os outros (por exemplo, dar uma cópia do conteúdo a um amigo).
Diante disso, em 2001, como uma das iniciativas precursoras do movimento
REA, foi criado o Creative Commons - projeto de licenciamento de obras que contempla
licenças mais permissivas. As licenças do Creative Commons, especificamente as que
| 460
permitem ampla divulgação e modificação dos materiais publicados, mantêm os direitos
autorais de quem produziu a obra original e potencializam o compartilhamento da
produção científica com a sociedade. Isso possibilita a apropriação dos materiais
disponíveis na rede, para utilização e adaptação em diferentes contextos.
Entretanto, algumas limitações podem ser elencadas quando se avalia as
especificidades de cada tipo de licença contido no projeto. Algumas licenças permitem
somente o acesso aos recursos publicados, o que, de fato, é um avanço em termos de
compartilhamento, mas essas opções impedem o processo de remixagem desses
Atribuição (by): permite que outros distribuam, remixem, adaptem ou criem obras
derivadas, mesmo que para uso com fins comerciais, contanto que seja dado crédito pela
criação original.
Atribuição – Compartilhamento pela mesma Licença (by-sa): permite que outros remixem,
adaptem, e criem obras derivadas ainda que para fins comerciais, contanto que o crédito seja
atribuído ao autor e que essas obras sejam licenciadas sob os mesmos termos.
Atribuição – Não a Obras Derivadas (by-nd): permite a redistribuição e o uso para fins
comerciais e não comerciais, contanto que a obra seja redistribuída sem modificações e
completa, e que os créditos sejam atribuídos ao autor.
Atribuição – Uso Não Comercial (by-nc): permite que outros remixem, adaptem, e criem
obras derivadas sobre a obra licenciada, sendo vedado o uso com fins comerciais.
Atribuição – Uso Não Comercial – Não a Obras Derivadas (by-nc-nd): permite que
outros façam download das obras licenciadas e as compartilhem, contanto que mencionem o
autor, mas sem poder modificar a obra de nenhuma forma, nem utilizá-la para fins
comerciais.
Como movimentos contrários aos REA, Pretto (2012) aponta alguns projetos de
leis como SOPA (Stop Online Piracy Act), PIPA (Protect IP Act) e Lei Azeredo, os quais
criminalizam o compartilhamento na internet, definindo-o, num viés pejorativo, como
ação de copiar e colar. Todavia, compartilhar é potencializar a criação, a remixagem dos
materiais para produzir conhecimentos. Essas ações além de promoverem a multiplicação
das práticas pedagógicas, superam a produção em série e possibilitam adequar os
materiais para potencializar ensino-aprendizagem em diferentes contextos. Nessa
concepção, Starobinas (2012, p. 124) ressalta que
| 468
Considerações finais
Referências
BRASIL. Câmara dos Deputados. Projeto de Lei do Plano Nacional de Educação (PNE
2011/2020) No 8.035. Brasília, 2010. Disponível em:
<http://pt.slideshare.net/reabr/plano-nacional-de-educao-13605920> Acesso em: 18 jan.
2016.
DOS SANTOS, Andreia. Educação aberta: histórico, práticas e o contexto dos recursos
educacionais abertos. In: SANTANA; Bianca, ROSSINI, Carolina e PRETTO, Nelson De
Lucca (Organizadores). Recursos Educacionais Abertos: práticas colaborativas
políticas públicas.1. ed., 1 imp. – Salvador: Edufba; São Paulo: Casa da Cultura Digital.
2012. Disponível em: <http://livrorea.net.br>. Acesso em: 18 jan. 2016.
FREIRE, Paulo. Pedagogia do oprimido. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1987. | 471
RESUMO
Este artigo aborda o exercício do gestor escolar frente aos desafios e o antagonismo
vivenciado pelos diretores e vice-diretores da rede estadual de educação da Bahia, no
processo de trabalho, refletindo sobre o acúmulo de papeis que o Estado propõe baseado
nos interesses hegemônicos. Tem, também, a intenção de levar o entendimento sobre a
mudança laboral abrupta: de professor para gestor escolar, tornando-se relevante
compreender a dimensão do trabalho, frente às múltiplas e antagônicas atribuições do seu
cargo para além do papel burocrático de constantes e relevantes interações com o corpo
docente para uma gestão harmoniosa e exequível. Ademais, o artigo busca provocar
inquietações e múltiplos olhares partindo do ambiente de trabalho e as condições deste
trabalho.
INTRODUÇÃO
políticas, a gestão escolar permanece com gaps (lacunas) conceituais. Partindo dessa
ausência de reflexões acerca do papel do gestor escolar, comunga-se com a afirmação de
Karl Marx (1986p.4) “nada é mais aborrecedor e árido do que o lócus communis (lugar
comum) disfarçado”. Ou seja, o tema proposto nesse artigo é, ainda, pouco discutido.
Engels (1980, p. 350), brilhantemente explicou, ao refletir sobre o discurso de Karl Marx,
antes de qualquer tentativa de fazer política, religião, arte ou ciência, o ser precisa ter
condições para sobrevivência, logo a economia do pais deve se organizar para garantir a
condição de vida para os seus cidadãos e neste caminho cria-se a relação da
interdependência por diversas esferas sociais e a escola neste cenário não pode ser
enxergada como base estruturante de uma determinada sociedade, mas como uma
organização que vive numa relação dialética de causa e efeito.
| 474
Partindo da dialética de causa e efeito, as novas formas de trabalho e sistema produtivo
são elementos de manutenção do capitalismo e as classes predominantes ditam o “modus
operandi”. No sentido de exemplificar e fundamentar, basta analisar o cotidiano escolar
a forma de contratação dos profissionais, educadores horistas (a lógica é trabalhar mais
para se ter uma renda que se possa viver dignamente), celetista, dedicação exclusiva ou
no regime, perverso, do REDA, que é completamente contraditório aos direitos
trabalhistas (e realizada nem sempre por caráter emergencial), além dos educadores, os
trabalhadores que atuam no ambiente escolar como os serventes, porteiros, vigias e as
O termo ”trabalho docente decente” é na verdade uma provocação, pois traz elementos
de ambiguidade e atende ao âmago do professor, o que se acredita de um trabalho docente
e decente como: exercício estimulante e pensante, construtivista, onde é frequente o
empoderamento a novas práticas pedagógicas sem ônus, apoio psicossocial, condições
estruturais para a execução do trabalho, espaço para atividades de qualidade de vida,
remuneração que atenda suas necessidades, suporte e apoio às intervenções em sala de
aula e relação harmoniosa entre todos os indivíduos. Talvez este seja o maior desafio do
gestor escolar e também a sua frustração, provocador da sensação de impotência, levando
ao estresse ocupacional, síndrome de bournout, depressão e tantas outras doenças. Neste
sentido, o gestor quando não consegue satisfazer ou realizar o seu papel com afinco perde
o total estimulo pelo labor, levando a não compreender o significado e identidade da
tarefa, intuindo o papel apenas normativo e desvencilhando o desafio de ser
transformador. Para os indivíduos que possuem pensamentos igualitários, almejam uma
sociedade sem diferenças, engajados por lutas sociais, haverá, indubitavelmente, um
sofrimento inenarrável, onde seu corpo físico e condição mental padecerão.
| 475
A qualidade da gestão não é mensurável por fatores universais, não há “receita de bolo”
que funcione nas organizações, pois dependem das determinações sociais que conduzem
o ambiente, pois não há intervenções, planejamento estratégico, ações coletivas sem
analisar o cenário e o público que está envolvido. Vislumbra-se uma gestão alicerçada na
racionalidade, impessoalidade, buscando a eficiência a partir de ações efetivas,
satisfazendo as necessidades sociais. O sentimento de pertencimento dos envolvidos é
estimulado a partir da postura do gestor frente aos desafios organizacionais, no sentido
de coordenar esforços em prol da comunidade, sem interesses pessoais ou políticos.
Por estas e outras inquietações que se torna essencial a produção de estudos em torno do
gestor escolar na perspectiva de provocar novos olhares para a necessidade real dos
trabalhadores da educação, o que deveria ser tratado como prioridade de ações pública,
pois sem educação o país não desenvolve e não há política macroeconômica que consiga
estabilidade sem o item mais importante: educação.
2. OBJETIVOS
| 476
3. MÉTODOS
Para elaboração deste artigo foi realizado uma revisão integrativa, começando por
levantamento bibliográfico no campo da gestão escolar, análise de dados secundários e
experiência vivenciada.
Zelando pelo o rigor cientifico, foram realizadas buscas de artigos publicados na Elsevier,
Lilacs, BVS, Ebsco Host, repositório Scientific Electronic Library Online (Scielo). Foram
4. RESULTADOS E DISCUSSÕES
O local mais apropriado para buscar conhecimentos e educação moral e cívica é na escola,
as crianças começam a ter contato com o espaço que está inserido e será estimulada a
aprender a conviver, compartilhar e transformar-se em cidadão produtivo. Torna-se
| 477
essencial o papel de alguém para organizar a rotina escolar, surge então, o Gestor Escolar,
conhecido como Diretor ou Vice-Diretor e a forma de eleição do gestor escolar na rede
pública abarcam características peculiares. Na década de 1980, as formas mais usuais de
seleção eram: 1) diretor livremente indicado pelos poderes públicos (estados e
municípios); 2) diretor de carreira; 3) diretor aprovado em concurso público; 4) diretor
indicado por listas tríplices ou sêxtuplas; 5) eleição direta para diretor” Dourado, (2001a).
Diversos autores que claramente vincula a imagem do gestor com quem o indicou, quase
sempre um político ou alguém influente das Secretarias de Educação, logo, nesse caso “o
papel do diretor, ao prescindir do respaldo da comunidade escolar caracteriza-se como
instrumentalizador de práticas autoritárias, evidenciando forte ingerência do Estado na
gestão escolar”, Dourado( 2001b). Souza (2007, p, 166), traz a seguinte reflexão:
Essa forma não confere ao eleito a capacidade para assumir o cargo, afinal para qualquer
cargo, é preciso atender o perfil, posto as demandas técnicas que requerem conhecimento
prévio, prevalecendo a relação pessoal, tanto na admissão quanto na demissão do mesmo
indivíduo.
A gestão escolar tornou-se muito mais complexa com a diretiva legal da democracia.
Existe um plano com metas que determinam o que deve acontecer, independente das
varáveis socioculturais e dos recursos. O princípio constitucional da gestão escolar
democrática de 1988 foi assegurado pela Lei nº 9.394/96 que instituiu a Gestão
Democrática do Ensino Público no Brasil. Surge, então, a Lei das Diretrizes e Bases da
Educação Nacional, conhecida como LDB, que introduziu “um novo tipo de organização
escolar, calcado nos princípios da democracia, autonomia e construção coletiva, em
oposição ao caráter centralizador e burocrático que vinha conduzindo este campo
(Drabach e Mousquer, 2009, p. 259)”.
Na pesquisa (vide quadro abaixo) realizada sobre o trabalho do gestor escolar, verificou-
se que poucos artigos foram encontrados, demonstrando a necessidade do estudo sobre o
tema, com destaque para à saúde e a condição de trabalho deste trabalhador polivalente.
| 479
De forma mais detalhada e aproximando o entendimento acerca das atividades do gestor, | 480
faz-se necessário buscar elementos para completa análise sobre as atribuições e
divergências deste profissional da educação. Segundo o Regimento Escolar da Secretária
Estadual de Educação do Estado da Bahia publicado em 2011, destaca-se abaixo alguns
pontos cruciais para compreensão sobre a complexidade do cargo:
Em seu art. 16, diz que “A direção é o órgão executivo responsável pela gestão da
unidade escolar, competindo-lhe atividades de caráter técnico-pedagógico,
Sobre o aspecto pedagógico, entre outras coisas: “fazer cumprir os dias letivos e horas
de aula estabelecida na legislação vigente; acompanhar e avaliar os planos, programas
e projetos voltados para o desenvolvimento do sistema e da rede de ensino e de escola,
em relação a aspectos pedagógicos, administrativos, financeiros, de pessoal e de
recursos materiais”.
Em relação ao cumprimento sobre os dias letivos, o gestor tem que gerenciar diversas
variáveis, tais como: greve dos professores, dos terceirizados e a violência, muitas vezes,
param suas atividades, consequência do “toque de recolher”, comunidades vulneráveis a
violência e ao tráfico de drogas e a ausência da Ronda Escolar. Com a relação à greve dos
professores são reivindicações sobre melhores condições de trabalho e remuneração. A
greve dos terceirizados, são salários atrasados por diversos meses, as atividades fins são
essenciais para a manutenção do ambiente: segurança, alimentação e limpeza. Existe,
também, um alto absenteísmo nas escolas, devido ao trabalho exaustivo dos professores
que em sua maioria precisa trabalhar em outras instituições para complementar a renda
familiar.
Os gestores e toda sua equipe passam por situações de risco, uma vez que a violência vem
ganhando destaque na fase juvenil oriunda de diversos fatores que dependem da realidade
social, psicológica e econômica e que tem como mola propulsora a injustiça social, o
| 481
racismo, desemprego e o desajuste familiar. O que favorece para o aumento da violência
é a insegurança também das ruas, a presença do trafico e consumo de drogas e ausência
do corpo efetivo da Ronda Escolar. Ambiente composto por eventos de violência dentro
e fora da escola que acaba impactando na rotina.
Como o diretor da escola pode trabalhar com afinco, se debruçar em ações planejadas,
com limitações orçamentárias e excesso de normas que impedem intervenções em prol
da melhoria de trabalho tanto dele quanto de sua equipe?
Uma grande contribuição que reforça a complexidade de gerir uma escola pública
confirma em muitos estudos realizados na Bahia, por meio de parceria entre o Sindicato
dos Professores da Rede Particular de Ensino, CONTEE, Universidade Estadual de Feira
de Santana (UEFS) e Universidade Federal da Bahia (UFBA), revelaram significativo
processo de desgaste físico e mental dos docentes (ARAÚJO et al., 2003; ARAÚJO &
CARVALHO, 2009).
Neste contexto, confirma-se então, a necessidade de formação densa para o gestor escolar.
Libâneo (2004), afirma ser essencial o desenvolvimento de estrutura adequada,
facilitadora de uma cultura favorável a mudanças e à participação, exigindo a busca de
um perfil de gestor escolar, com habilidades técnicas, humanas e conceituais. Um
profissional que também tenha clareza de suas atribuições enquanto gestor escolar, gestor
de pessoas e articulador social. Torna-se, então, uma condição sine qua non a formação
desses gestores, pois há uma gama de diversidade de saberes que não são compreendidas
apenas com a sua formação docente. Afirma Santos (2002, p.2):
Observa-se que as ações do gestor escolar devem ir além dos muros das escolas, isso de
fato, é essencial para a qualidade e manutenção do ambiente saudável pelos pais,
professores e alunos, tornando-se elementar a articulação com a família e sociedade, ainda
contido em suas responsabilidades e atribuições, segundo o mesmo Regimento, destaca-
se: articular e integrar a unidade escolar com a família e a comunidade; informar pai e
mãe, conviventes ou não com seus filhos, e, se for o caso, os responsáveis legais, sobre a
É frequente a ausência de informação aos gestores sobre os instrumentos sociais, por isso,
agem de forma intuitiva sobre relações que envolvem relações sobre e da comunidade em
que estão inseridos, os gestores, atendem pais de alunos e alunos em situações de riscos
e acolhem utilizando a escuta individualizada e aconselhando dentro do possível. O gestor
neste momento não é um burocrata, se “transforma” em psicólogo ou assistente social e
sofre com a realidade local.
5. CONCLUSÃO
O ambiente escolar é dinâmico, plural e com muitas concepções de mundo distintos, | 486
arraigadas pela história, valores e cultura da comunidade que está inserida. É na escola e
com os professores que a criança começa a compreender o que ser ele é, deseja ser no
mundo e a conviver com as diferenças. Este ambiente não pode ser comparado com uma
empresa privada, com metas estabelecidas e indicadores precisos, pois demanda de
olhares reflexivos, pontuais e qualitativos sobre o ambiente educacional. É neste cenário
que entra o gestor escolar e seus pares, responsáveis pela qualidade educacional, nutrindo
os alunos de conhecimento e fomentando ações de transformação através da educação.
Indubitavelmente, não depende apenas da vontade e ideologia, existem variáveis
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ARAUJO, TM; Carvalho, FM. Condições de trabalho docente e saúde na Bahia: estudos
epidemiológicos. Educação & Sociedade, v. 30, p. 427-449, 2009.
ARAUJO, TM; Reis, E.J.F.B dos; Carvalho, F.M.; Porto, L.A.; Reis I.C.; Andrade, J.M.
de. Fatores associados a alterações vocais em professoras. Cadernos de Saúde Pública
(FIOCRUZ), v. 24, p. 1229-1238, 2008.
ARAUJO, TM. Estresse e saúde no trabalho docente. Revista de Educação CEAP, v. 16,
p. 9-15, 2008.
LIBANEO, José Carlos. Organização e Gestão da Escola: teoria e prática. 5ª. ed.
Goiânia: Alternativa, 2004.
SANTOS, dos Clóvis Roberto. O gestor escolar de uma escola em mudança. Thomson,
Pioneira. São Paulo. 2002.
1 INTRODUÇÃO
| 490
Essa produção do Programa de Licenciatura – PROLICEN da Universidade
Federal de Santa Maria (UFSM) está relacionada a pesquisas de um Observatório de
Educação (OBEDUC) da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior
(CAPES), voltado para as “Interlocuções entre políticas públicas e ações pedagógicas:
limites e possibilidades”, o qual é desenvolvido pelo Grupo de Pesquisa Elos/CNPq da
UFSM.
O interesse em abordar este tema se refere, justamente, por percebermos a
dificuldade que as comunidades escolares tem quanto a fundamentar, articular e organizar
A partir do PPP, a escola pode tornar-se para os/as profissionais do ensino, para
as crianças, os pais e/ou responsáveis, o prolongamento do projeto de vida de todos.
“Antes de educar, nós, educadores, nos perguntamos para que sociedade, para que país, | 493
para que mundo queremos educar. Essas são as perguntas principais que um projeto
pedagógico responde. Daí a sua dimensão essencialmente política” (GADOTTI, 2000, p.
03). Ou seja, não se constrói um projeto sem uma direção política, dessa maneira todo
projeto pedagógico da escola é também político.
O PPP da escola é sempre um processo inconcluso, em vista dos objetivos que
permanecem no âmbito escolar, e isso nos leva a compreender o significado das três
palavras que Gonçalves e Abdulmassh (2001) conceituaram: projeto – pois demanda
planejamento para que se possam atender as dimensões política e pedagógica que lhe são
100%
80%
60%
40%
20%
80% 20%
0% 0 0
Não participativo
Participativo em parte
Participativo
Fonte: Entrevista Prolicen 2014
Professores/as
Funcionários/as | 496
Pais e/ou responsáveis
Crianças
De acordo com os gráficos acima, 80% das gestoras afirmaram que o processo foi
participativo, somente uma das gestoras salientou que existem dificuldades quanto aos
pais e/ou responsáveis compareceram na escola para participar desse processo. Na
entrevista cabe indicar que 40% das gestoras sinalizaram que as crianças também
[...] ela se pergunta sobre si mesma, sobre seu papel como instituição numa
sociedade pós-moderna e pós-industrial, caracterizada pela globalização da
economia e das comunicações, pela informatização da sociedade, pelo
pluralismo político, pela emergência do poder local. Nessa sociedade cresce a
reivindicação pela autonomia contra toda forma de uniformização; cresce o
desejo de afirmação da singularidade de cada região, de cada língua etc. A
multiculturalidade é a marca mais significativa do nosso tempo.
| 497
| 498
Fonte: Entrevista Prolicen 2014
Como principais desafios foram sinalizados o tempo escolar por 80% das gestoras
e a participação da comunidade escolar em 60%. Sabemos que a mobilização da
comunidade é importante para se alcançar os objetivos, sendo preciso estruturar
estratégias para que o tempo escolar seja organizado e produtivo, visto que momentos de
planejamentos e reuniões existem, mas nem sempre esse horário é bem aproveitado pela
comunidade escolar.
[...] a entrega da primeira versão dos PPPs foi agendada para 2012, com entrega
da segunda versão para dezembro de 2012. Os ajustes pelas escolas
aconteceram de janeiro 2013 a junho de 2014, sendo que em dezembro de 2014
das 22 escolas da Educação Infantil, oito estavam com os PPPs pendentes”.
(Assessora CMESM).
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Os resultados desse projeto possibilitaram a reflexão teórico-prática, em especial
sob o enfoque crítico-reflexivo acerca dos limites e as possibilidades presentes quanto a
importância e abrangência do projeto político-pedagógico para a cultura organizacional
da escola e sua relação com o Conselho Municipal de Educação e a Secretaria de
REFERÊNCIAS
PADILHA, Paulo Roberto. Caminho para uma escola cidadã mais bela, prazerosa e
aprendente. Revista Pátio, Ano VII, n. 25, p.12-15, fev./abr. 2003.
THIOLLENT, Michel. Metodologia da Pesquisa - ação. 11.ed. São Paulo: Cortez, 2000.
| 505
Resumo: O presente texto tem por compromisso central chamar a atenção para a
dimensão ontológica do trabalho na configuração da existencialidade humana, e, a seguir,
demonstrar como se manifesta a reversão dessa especificidade da sua natureza pelas
formas modernas de alienação e precarização das condições laborativas. Paralelamente a
esse compromisso, a ideia é destacar que a recomposição do trabalho em bases mais
dignamente humanas não se faz, nas condições globais do capitalismo contemporâneo,
sem uma Pedagogia da classe trabalhadora. E essa questão fica remetida a constituição
de novos saberes docentes formados no seio das necessidades formativas dos
trabalhadores.
Palavras-chave: ontologia; trabalho; educação dos trabalhadores
Notas introdutórias
O presente texto tem por compromisso central chamar a atenção para a dimensão
ontológica do trabalho na configuração da existencialidade humana, e, a seguir,
demonstrar como se manifesta a reversão dessa especificidade da sua natureza pelas
formas modernas de alienação e precarização das condições laborativas. Paralelamente a
esse compromisso, a ideia é destacar que a recomposição do trabalho em bases mais
dignamente humanas não se faz, nas condições globais do capitalismo contemporâneo,
sem uma Pedagogia da classe trabalhadora. E essa questão fica remetida a constituição
de novos saberes docentes formados no seio das necessidades formativas dos
trabalhadores. Nesse sentido, o texto em questão se dirige especialmente para os
professores que trabalham na educação profissional e na educação de jovens e adultos. A | 506
justificativa desse estudo está amparada na convicção de que a educação daqueles que
vivem do trabalho, requer a corporificação de novos saberes da docência (de cunho ético-
político) situados nas características peculiares dessa modalidade de ensino, seja no
campo formal ou informal.
Mas foi a recusa dos operários à submissão de formas opressivas do trabalho, | 512
principalmente ao longo do século XX, que permitiu amainar as condições
desumanizantes do sistema fabril e a lograr mais direitos para o trabalhador. Esse
movimento que se estendeu dos anos 30 aos 80, especialmente pela intervenção do estado
na política econômica, permitiu um conjunto de direitos mínimos aos trabalhadores, os
quais alcançaram certa estabilidade e a possibilidade de provisão e organização do futuro.
Tratava-se do nascimento da sociedade salarial, caracterizada por Robert Castel (1997)
como um período no qual foi possível criar um campo de leis que vigiavam a exploração
do trabalho humano, sobretudo pela garantia de um corpus de direitos situados no âmbito
pedagógico daquilo que Freire (2001) abordou como sendo a expulsão da sombra do
opressor introjetada no ser do oprimido. A extensão dessa atividade fica submetida a
recuperação do ser do homem pelo auto reconhecimento do seu trabalho como ação
produtora de cultura, e, portanto, de sentido para si e para os outros.
d) vocação ontológica do ser mais
Muito mais do que em qualquer outro nível de educação ou proposta educativa,
uma pedagogia ou saber docente que pretende se situar nas necessidades formativas dos
trabalhadores, precisa reconhecer, antes de qualquer coisa, que a situação dos
REFERÊNCIAS
CASTEL, Robert. As armadilhas da exclusão. In: Vários autores. Desigualdade e a
questão social. São Paulo: EDUC, 1997.
| 521
Resumo: O presente trabalho tem como objetivo principal discutir acerca da importância
do estudo sobre a memória e patrimônio de Comunidades Negras Rurais existentes no
município de Pelotas-RS pelos educadores que atendem essas mesmas Comunidades nas
escolas de educação básica. Segundos estudos empíricos, desta pesquisadora, apesar da
recente legislação em relação à educação quilombola, não há uma orientação nas escolas
municipais de educação básica sobre o assunto que coloque efetivamente em prática
conteúdos relacionados ao patrimônio cultural quilombola das Comunidades Negras
Rurais que existem em nossa Cidade. Ao longo deste texto pretendemos considerar
brevemente aspectos sobre esse patrimônio cultural bem como discutir acerca da
importância de se trabalhar com esse conteúdo à fim de valorizar a cultura local e o
sentimento de pertença dos mesmos o que poderá sobremaneira ter como resultado uma
relação com questões de identidade Comunitária.
Palavras-chave: educação, quilombola, legislação.
INTRODUÇÃO
99
Conforme RESOLUÇÃO Nº 8, DE 20 DE NOVEMBRO DE 2012 que define Diretrizes Curriculares
Nacionais para a Educação Escolar Quilombola na Educação Básica.
100
Sobre o uso do termo “minoritários”, ver Appadurai (2009).
Contexto Histórico:
Em Pelotas no extremo sul do Brasil, no Estado do Rio Grande do Sul, durante o
século XIX, a principal atividade econômica foi a charqueadora. Foram mais de 20
charqueadas, segundo relatos do botânico Auguste de Saint-Hilaire(1974)101. Ainda
segundo este pesquisador, a Cidade era aprazível e “Os víveres consumidos na região
vêm em grande parte da Serra dos Tapes, situada a 4 léguas de S. Francisco102, onde o
solo é fértil, produzindo fartamente o milho, o feijão e mormente o trigo”. (SAINT-
HILAIRE, 1974, p. 69).
Abaixo a localização da Cidade em relação ao Estado do Rio Grande do Sul e ao
Brasil ( figura 1) e em seguida (figura 2) utilizamos o mapa da Pesquisadora Ester
Gutierrez para demonstrar o local de maior concentração das charqueadas estabelecidas
em Pelotas durante século XIX, o Arroio Pelotas:
| 523
101
Auguste de SAINT- HILAIRE , esteve em viagem ao Brasil entre os anos de 1816 e 1822, publicando o
Livro: Voyage à Rio Grande do Sul —BRÉSIL — 1820-1821, [Orleáns, 1887],em francês ainda no
século XIX, foi traduzido por Leonam de Azeredo Penna e publicado em 1935(1ªed.) e em 1939(2ª
ed.). A edição utilizada por esta autora data de 1974.
102
Ao escrever São Francisco, o autor está se referindo à mesma região onde hoje está localizada a Cidade
de Pelotas, pois a mesma teve o nome de Freguesia de São Francisco de Paula, fundada em 07 de Julho
de 1812 por iniciativa do padre Pedro Pereira de Mesquita, foi elevada à categoria de Vila em 07 de
abril de 1832. Três anos depois o Presidente da Província, Antônio Rodrigues Fernandes Braga,
outorgou à Vila os foros de cidade, com o nome de Pelotas, sugestão dada pelo Deputado Francisco
Xavier Pereira. O nome originou-se das embarcações de varas de corticeira forradas de couro, usadas
para a travessia dos rios na época das charqueadas, conforme
http://www.pelotas.com.br/cidade_historia/pelotas_historia.htm acessado em 26.01.2016.
| 524
103
Figura 2: Mapa das charqueadas nas margens do Arroio Pelotas
Fonte: Gutierrez,1993, 123.
103
Segundo Gutierrez, 1993, as charqueadas foram estabelecidas às margens dos Arroios Pelotas, Santa
Bárbara, Moreira e Canal São Gonçalo, sendo o Arroio Pelotas o que teve maior concentração das
mesmas.
104
A Revolução Farroupilha ocorreu entre 1835 e 1845, conflito entre a elite gaúcha composta basicamente
de estancieiros e charqueadores que lutavam contra o Império. Inicialmente buscavam que o charque | 526
gaúcho tivesse proteção em relação às taxas e comercialização no que se refere ao charque Platino;
após, o movimento tomou o objetivo da independência da Província Gaúcha em relação ao Império
brasileiro.
105
As informações sobre o Quilombo de Manuel Padeiro são encontradas nas atas da Câmara Municipal de
Pelotas, nas correspondências das autoridades policiais e dos vereadores para a Capital, e no Processo
Crime contra Mariano, quilombola do grupo de Manuel Padeiro, que se encontra no Arquivo Público
do Estado do Rio Grande do Sul - APERGS. Nestes documentos as referências são de apenas alguns
homens “mal feitores”, entretanto, na memória coletiva das comunidades negras rurais da atualidade,
este grupo trabalhava como sentinelas que vigiavam as tropas que vinham da Cidade em atividades de
perseguição. Os mesmos tinham como objetivo avisar as famílias para se esconderem nos morros e
cavernas existentes na região.
106
Para aprofundar seus conhecimentos sobre o assunto ler na integra a dissertação: Entre
esquecimentos e silêncios: Manuel Padeiro e a memória da escravidão no distrito de Quilombo, Pelotas,
RS. Disponível em: http://www2.ufpel.edu.br/ich/ppgmp/v03-01/wp-content/uploads/2015/04/Cristiane-
Bartz.pdf acesso em 26.01.2016.
107
Atualmente existem na zona rural de Pelotas, três Comunidades negras rurais: Alto do Caixão,
Comunidade do Algodão e Vó Elvira reconhecidas pela Fundação Cultural Palmares.
108
Esta lei foi substituída pela Lei 11645/2008 para incluir o estudo da história e da cultura indígena.
109
Grifos desta pesquisadora.
As fotos acima mostram que o terreno é íngreme, sendo que em alguns trechos da
estrada existem muitos buracos e pedras, o que dificulta o acesso, principalmente em
épocas de chuva. O ônibus não entra nesta estrada e no jornal Diário Popular de
25/04/2010 existe o relato de que uma moradora perdeu o bebê, pois não foi possível o
acesso do carro na sua moradia.
Podemos perceber que a agricultura praticada rende pouca quantidade e requer
muita dedicação, tendo em vista os acidentes geológicos. Segundo os ensinamentos de
Dona E. L.110, moradora local, as terras entre as pedras são mais férteis; entretanto, não
se pode plantar grande quantidade, nem plantas grandes nem certas qualidades.
Geralmente, nas propriedades, encontramos alfaces, couves, abóboras e ervas de chá.
O Sr. A. V. e Dona I. V. N., irmãos, filhos do Patriarca fundador do Quilombo P. | 530
V., são os moradores mais antigos da Comunidade, e ainda mantêm sua horta, inclusive
plantando uma erva chamada arruda,111 (v. Figura 9) a qual ele costuma ir vender no
Centro Urbano. A arruda exala um cheiro forte, e é utilizada em rituais de benzimento,
tanto em pessoas quanto em residências. Muitos têm por costume usar um galho desta
planta atrás da orelha. Quanto a suas propriedades medicinais essa planta pode ser usada
110
Optamos por preservar a identidade de nossos interlocutores.
111
A comunidade hoje se declara em sua maioria Evangélica ou Católica. Entretanto, podemos visualizar
nas propriedades ervas de cheiro e chás que remetem a uma ancestralidade rural, afro-indígena.
Figura 5: Pé de arruda
Fonte: acervo da pesquisadora
| 531
Figura 6: Pedra no início do caminho que leva ao Morro do Quinongongo 112 localizado na
Comunidade Negra Rural do Algodão
112
Este Morro tem cerca de 380 metros de altitude. De um lado podemos visualizar a Cidade de Pelotas e
de outro a Cidade de Canguçu. Segundo relatos orais, o Morro era um dos territórios utilizados como
mirante e esconderijo, pois ele possui tuneis e caminhos que levam ao seu pé por onde passa o Arroio
Quilombo.
Considerações Finais:
Reconhecer-se Remanescente Quilombola não é um processo simples e tranquilo.
Durante muito tempo, Quilombo foi sinônimo de transgressão da ordem social. Terra de
fugitivos, de escravos que não queriam trabalhar!
Estudos recentes abordam a categoria Remanescente de Quilombo numa
perspectiva étnico-cultural, utilizando o termo Comunidades Negras Rurais, onde os
saberes-fazeres ligados à terra que compõem as práticas de sobrevivência dos indivíduos
tornam legítimo o processo de reconhecimento. Tais conhecimentos, que constituem o
patrimônio imaterial dos grupos, incluem a prática da agricultura familiar, o uso de | 533
113
Dados recolhidos durante a pesquisa de campo para elaboração da dissertação desta pesquisadora.
Referências
Bibliografia
Endereços Eletrônicos
História de Pelotas, http://www.pelotas.com.br/cidade_historia/pelotas_historia.htm | 535
acessado em 26.01.2016.
Localização da Cidade de Pelotas,
https://www.google.com.br/search?q=pelotas+rio+grande+do+sul&newwindow=1&biw
=1093&bih=508&source=lnms&tbm=isch&sa=X&ved=0ahUKEwiq7suriMjKAhWC6
CYKHROBBgwQ_AUICCgC#imgdii=yADgPR-EaOleUM%3A%3ByADgPR-
EaOleUM%3A%3Bp50npd69EwpMjM%3A&imgrc=yADgPR-EaOleUM%3A acesso
em 26.01.2016
Entrevistas
INTRODUÇÃO
A partir destes dados pode-se afirmar que existe público para a EJA no RS e que
se deve investir em políticas públicas para a faixa etária dos 18 a 29 anos, bem como os
trabalhadores acima dessa faixa e os idosos. Da mesma forma deve-se investir em
programas de EJA para o público do campo como ilustra a Tabela 2, para a população
economicamente mais pobre (Tabela 3) e para as pessoas da raça negra (Tabela 4):
| 539
As estratégias da meta 8 são claras e dão conta das ações necessárias para atrair
os jovens, adultos e idosos para a escolarização:
A Meta 8 ancora-se em seis estratégias que devem orientar as políticas
públicas, de forma a garantir ações em áreas como: a correção de fluxo; a
ampliação dos programas de educação de jovens e adultos; o acesso gratuito
aos exames de certificação da conclusão do ensino fundamental e médio; o
acompanhamento do acesso à escola dos grupos populacionais considerados;
o apoio aos entes federativos para a garantir a de frequência e a busca ativa de
jovens fora da escola pertencentes aos segmentos populacionais em situação
de vulnerabilidade social, sem prejuízo de outras ações. (BRASIL/INEP, 2015,
| 540
p.138)
114
Por alfabetização entende-se “a apropriação do sistema de escrita, que pressupõe a compreensão do
princípio alfabético, indispensável ao domínio da leitura e da escrita (Brasil. Inep, 2013). Com base em | 541
discussões acadêmicas recentes, destaca-se a necessidade de se considerar a ideia de alfabetização
articulada à de letramento, porque se entende que o processo de apreensão do código alfabético deva
ser associado à compreensão dos significados e seus usos sociais em diferentes contextos. Mesmo com
as divergências existentes a respeito dos conceitos relativos aos processos de alfabetização e
letramento, é possível afirmar que um indivíduo alfabetizado não será aquele que domina apenas
rudimentos da leitura e da escrita e/ou alguns significados numéricos, mas aquele que é capaz de fazer
uso da língua escrita e dos conceitos matemáticos em diferentes contextos (Brasil. MEC, 2012).”
(BRASIL/INEP, 2015, p. 160)
115
Para compreender o analfabetismo funcional considera-se “alfabetizada funcional a pessoa capaz de
utilizar a leitura e escrita para fazer frente às demandas de seu contexto social e usar essas habilidades
para continuar aprendendo e se desenvolvendo ao longo da vida” (IPM, 2005). A partir dessa
conceituação, na década de 1990, o IBGE passou a apresentar os índices de analfabetismo funcional,
baseando-se no número de séries escolares concluídas. De acordo com o critério adotado pelo Instituto,
são analfabetas funcionais todas as pessoas com menos de 4 anos de escolaridade. [atualmente os 5
primeiros anos de estudo]. (BRASIL/INEP, 2015, p. 160)
| 542
| 543
É importante registrar neste sentido, que essas estratégias são vistas como uma
grande conquista para o desenvolvimento da política de EP integrada à EJA. Isto porque
O PROEJA NO RS
Com o objetivo de ser uma estratégia para aumentar a escolaridade dos jovens,
adultos e idosos investir em uma política de integração da EJA com a Educação
Profissional é fundamental. Isso porque “propiciar a esse público o acesso a serviços e
produtos culturais de que até então foram privados, respeitando os saberes construídos
em suas trajetórias, permitindo a organização da reflexão e de estruturação de
possibilidades de interferências na realidade é fator de democratização e justiça
distributiva” (BRASIL, 2007, p. 6). Da mesma forma, o aumento de instituições federais
com vocação para ofertar cursos de PROEJA ou para fazer parcerias foi significativo até
o ano de 2014. A seguir gráfico representando este crescimento:
116 A professora Maria Margarida Machado (2009) reconhece a presença dos fóruns de EJA do
Brasil nos últimos treze anos, como “organização social, com seus limites e suas
potencialidades de atuação e mediação na constituição dessa modalidade como política
pública” (p. 19-20). O que resultou dessa mistura de pessoas e instituições que atuam em
EJA, tanto no campo dos governos como no campo dos movimentos e instituições não
governamentais, é o que se chama hoje fóruns de EJA do Brasil. A questão central que se
apresenta hoje na pauta política dos fóruns de EJA no Brasil parece ser a luta pela EJA como
direito à educação (ibidem).
Portanto, por meio dos fóruns de EJA e das pessoas que militam pelo PROEJA
conclama-se pelo aumento da oferta do PROEJA no RS passando dos atuais 1,3% de
matrículas aos 25% alcançando a Meta 10 e seguindo a orientação da Lei 11.741/2008
que prevê a integração das ações da EJA com a educação profissional.
Com base nas três metas do PNE 2014-2024 analisadas neste artigo com foco na
política de EJA percebe-se que três pontos se entrecruzam que são como acolher e atender
a diversidade presente no público da EJA, como alcançar os níveis de alfabetização e
vencer o analfabetismo funcional e como atingir a meta de integração da Educação
Básica com a Educação Profissional? | 547
As metas são audaciosas, o público existe e o que se espera é que se constitua uma
política que alie educação e trabalho e que mais do que índices chegue-se em 2024 com
profissionais com grandes experiências pedagógicas junto aos sujeitos jovens, adultos e
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A meta 8 do PNE visa elevar para 12 anos de estudo a população brasileira que
atualmente é de 9, 8 anos. O RS precisa aumentar dois anos que atualmente a média é 10
anos de estudo. Esta meta reforça a necessidade de construir uma política de Ensino
Médio para a EJA, políticas interligadas com o Ensino Fundamental e que resgatam a
população do campo, quilombolas e pessoas economicamente mais pobres.
Na mesma lógica para alcançar a meta 9 de elevar a taxa de alfabetização e
derrotar o analfabetismo absoluto e funcional é necessário o desenvolvimento de um
grande movimento de alfabetização e de acesso ao Ensino Fundamental as pessoas jovens,
adultas e idosas. Reduzir e erradicar são metas significativas e que exigem um trabalho
conjunto e uma perspectiva pedagógica coerente com as necessidades dos sujeitos.
Os grandes desafios são, portanto, a integração dos sistemas e uma política de
formação do professor e a meta 10 entra como estratégia para a efetivação da política de
formação e escolarização de jovens e adultos. O caminho para a construção dessa
proposta no país “é investir no trabalho pedagógico na Educação Profissional, investir no
| 549
trabalho dos professores, um trabalho coletivo que se efetiva na práxis das políticas, na
realidade, e que gera ações, relações e transformações nas instituições e, por
consequência, promove transformações nos sujeitos” (MARASCHIN, 2015, p. 284).
Para isso, é importante construir um laboratório de acompanhamento das metas e
incentivar a organização dos sujeitos que tiveram negado historicamente o direito a
escolarização e a profissionalização. A modalidade Educação de Jovens e Adultos tem
tudo para se desenvolver em termos legais, no entanto é preciso ser assumida por todos
os governos, reivindicada pela população e principalmente ser assumida a partir de uma
REFERÊNCIAS
| 551
INTRODUÇÃO
117 Resultado das pesquisas: “Direitos dos Professores comprometidos? Uma análise à luz da Prova do Mérito no
Estado de São Paulo” , de caráter documental e orientada pela Profª Drª Selma Venco, na Faculdade de Educação
da Universidade Estadual de Campinas ; e, Pesquisa financiada CNPq, a quem agradecemos pelo financiamento,
Processo n. nº 408885/2013-0. Jovens estudantes-professores no estado de São Paulo: fiel retrato das
precariedades objetiva e subjetiva?, coordenação Profª Drª Selma Venco.
118
Norma que impunha um intervalo de 200 dias entre uma contratação e outra do mesmo professor.
Tanto o Estatuto do Magistério, em seu art. 12, quanto a Lei 10.261/68, em seu
artigo 14, estabelecem que para provimento de cargo público, é necessário ser aprovado
em concurso público. Contudo, o plano de carreira para os aprovados e/ou integrantes do
quadro do magistério paulista, somente foi aprovado em 1997, pela Lei Complementar n.
836 de 30 de dezembro de 1997.
Apreende-se que tal Lei de 1997 fere a anterior publicada em 1968 (no.10.261),
que dispõe que será considerado efetivo exercício os dias que o servidor estiver afastado
pelas hipóteses do art. 78. Enquanto a Lei 10.261/68, elenca dezesseis casos de faltas
computadas como efetivo exercício para todos os efeitos legais, a de 1997 não elenca a
possibilidade de falta a ser contada como efetivo exercício, por exemplo, a licença por
falecimento de pessoa da família.
A PROVA DO MÉRITO
119 A modalidade de avaliação é feita a cada ano, de acordo com Comissão organizadora. Essa Lei não
estabelece quais seriam os requisitos que podem nortear a escolha da modalidade de prova.
120
De acordo com a Decreto 55.217/09: Artigo 6º - Para atendimento ao previsto no item 3 do § 1º do
artigo 3º deste decreto, entende-se como tempo mínimo de permanência, o período em que o
servidor estiver classificado na mesma unidade de ensino ou administrativa do cargo ou função-
atividade em que concorre à promoção, há pelo menos 80% (oitenta por cento) do tempo fixado
como interstício exigido para cada faixa, correspondente a 1.168 (um mil cento e sessenta e oito) dias
para a promoção da faixa 1 para a faixa 2 ou 876 (oitocentos e setenta e seis) dias nas faixas
subsequentes.
§ 1º - Na promoção da faixa 1 para a faixa 2 poderão ser computados para fins de tempo de permanência
os dias de exercício em que o servidor permanecer numa mesma unidade de ensino ou administrativa,
considerando-se qualquer das unidades registradas no cadastro funcional do servidor.
§ 2º - Na promoção da faixa 2 para a faixa 3 e subsequentes, a alteração da unidade de ensino ou
administrativa de classificação no período do interstício fixado para a promoção interromperá o
cômputo do tempo de permanência, reiniciando sua contabilização a partir do exercício na nova
unidade, observando-se o registro existente no cadastro funcional do servidor, no momento da | 557
promoção.
§ 3º - No cômputo do tempo de permanência de que trata o “caput” deste artigo, não serão
consideradas as transferências e remoções ocorridas a critério da Administração.
§ 4º - O servidor ocupante de função-atividade docente que permanecer no mesmo campo de atuação
em que se encontra no momento da promoção, poderá computar para o tempo de permanência, na
mesma unidade de ensino ou administrativa, os períodos que mediaram entre as admissões e dispensas,
deduzindo-se os períodos de interrupção de exercício.
§ 5º - Os integrantes do Quadro do Magistério afastados junto a CEEJA - Centro Estadual de Educação
de Jovens e Adultos ou a Centro de Estudo de Línguas - CEL e os designados nos termos do artigo 22
da Lei Complementar nº 444, de 27 de dezembro de 1985, para exercer cargo da respectiva classe e/ou
de mesma denominação deverão, para concorrer à promoção, contabilizar o tempo de permanência na
unidade de ensino ou administrativa de destino.
§ 6º - Os servidores readaptados com sede de exercício diversa da unidade de ensino ou administrativa
de classificação, deverão contabilizar o tempo de permanência na unidade de exercício para concorrer
à promoção.
Considera como efetivo tempo de serviço: Interrompe o efetivo tempo Não contam como
Art. 78... de serviço para fins de assiduidade para fins de
I. férias; ascensão na carreira: ascensão na carreira, todo
II- casamento, até 8 (oito) dias; i – se afastado para tipo de falta, com exceção
III- Falecimento do cônjuge, filhos, pais e prestação de serviços em de:
irmãos até 8(oito) dias; empresa, fundação ou férias, licença à gestante,
IV- falecimento dos avós, netos, sogros, do autarquia; licença- paternidade,
padrasto, madrasta, até 2(dois) dias; ii – para prestar serviço em licença por adoção,
V – serviços obrigatórios por lei; outro órgão de Poder do serviços obrigatórios
VI – licença quando acidentado no exercício Estado ou outra secretaria; (eleição, exército...) e
de suas atribuições ou atacado de doença iv – afastado para outras licença por acidente de
profissional; atividades que não o trabalho.
VII – licença à funcionária gestante; magistério;
VIII – Licenciamento compulsório, nos iii – licenciado para
121
termos do art. 206 ; tratamento de saúde, por
XIX – licença Prêmio; mais de seis meses,
X – faltas abonadas nos termos no parágrafo referente a: doença do
122
1º do art. 110, observados os limites ali próprio funcionário
fixados; (acidente ou doença
XI – missão ou estudo dentro do Estado, em profissional, no exercício | 558
outros pontos do território nacional ou no da docência; tratamento de
estrangeiro nos termos do art. 68123; saúde; acompanhamento
XIII – afastamento por processo do cônjuge ou parentes até
administrativo, se o funcionário for segundo grau (a qual os
declarado inocente ou se a pena imposta for vencimentos são reduzidos
121
Em caso de doença transmissível.
122
“as faltas ao serviço, até no máximo 6 (seis)por ano, não excedendo a uma por mês, em razão de moléstia
ou outro motivo relevante, poderão ser abonadas pelo superior imediato, a requerimento do funcionário,
no primeiro dia útil subsequente ai da falta.”.
123
A interesse do serviço público, com autorização do Governador.
Assim, apenas 20% do total do quadro de magistério, tidos como aptos, poderão
eventualmente receber a promoção da carreira. Considera-se, portanto, que a prova do
mérito passa a ser mera expectativa de promoção, pois após a avaliação (alcance dos | 559
pontos mínimos por faixa de cargo) outros requisitos passam a vigorar:
124
Lei Complementar estadual nº 1.097, de 27 de outubro de 2009, Institui o sistema de promoção para os
integrantes do Quadro do Magistério da Secretaria da Educação e dá outras providências. Publicada no
Diário Oficial do Estado de São Paulo em 27 de outubro de 2009.
Decreto nº 55.217, de 21 de Dezembro de 2009. Regulamenta a Lei Complementar nº 1.097, de 27 de
outubro de 2009, que institui o sistema de promoção para os integrantes do Quadro do Magistério da
Secretaria da Educação e dá outras providências. Publicada no Diário Oficial do Estado de São Paulo em
21 de dezembro de 2009.
Lei Complementar nº 836 de 30 de dezembro de 1997. Institui o Plano de Carreira, Vencimentos e Salários
para os Integrantes do Quadro de Magistério da Secretaria da Educação. Publicada na Assessoria Técnico-
Legislativa, aos 30 de dezembro de 1997.
O servidor que não se inserir nos 20% que receberam a promoção poderá
participar novamente da prova, mas seguindo continuamente as restrições estabelecidas
para realizá-la.
As medidas tomadas pelo governo do estado de São Paulo, norteadas pela Nova
Gestão Pública, tem viabilizado a precariedade subjetiva entre os professores (VENCO,
2014, 2016). Os abismos criados entre professores efetivos e temporários, a limitação de
direitos, as pressões pelo cumprimento de metas tem resultado em um processo de
competição entre colegas e alimentando desagregação na categoria (MATTOS, 2012).
125
Lei do Piso (n o 11738 de 16/07/2008)
A presente análise nos remete aos desdobramentos que tais medidas estão tendo
no comportamento dos docentes. Frente aos baixos salários um aumento de 10,5% não
pode ser desprezado, mas para lográ-lo é preciso abrir mão dos direitos, da participação
em greves e usufruindo a licença médica quando necessária.
Constata-se, assim, que para alcançar os êxitos propugnados pela Nova Gestão
Pública, os docentes devem abrir mão dos seus direitos. Assim, a política educacional
paulista traz a sua contribuição para possibilidades de adoecimento e enfraquecimento
político dessa categoria profissional.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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gestão pública para a América Latina. 1998. Disponível em | 561
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permanent instability of neo-liberal reform. Educ. Soc. [online]. 2015, vol.36, n.132
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<http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0101-
73302015000300743&lng=pt&nrm=iso>. ISSN 1678-
4626. http://dx.doi.org/10.1590/ES0101-73302015152454
HAYEK, F.A. O caminho da servidão. São Paulo : Instituto Ludwig von Mises Brasil,
2010.
SÃO PAULO. Lei n° 10.261, de 28/10/1968. Dispõe sobre o Estatuto dos Funcionários
Públicos Civis do Estado. Publicada no Diário Oficial do Estado de São Paulo em 28 de
outubro de 1968.
______ Lei Complementar estadual nº 1.097, de 27 de outubro de 2009, Institui o sistema | 562
de promoção para os integrantes do Quadro do Magistério da Secretaria da Educação e
dá outras providências. Publicada no Diário Oficial do Estado de São Paulo em 27 de
outubro de 2009.
| 563
Resumo: O presente trabalho tem por objetivo analisar trajetórias da profissão docente
na universidade pública e privada de professoras no Equador, a base teórica para a
abordagem é a Análise de Discurso (AD) fundada por Michael Pêcheux na década de
1960, desenvolvida e reconfigurada depois pelo mesmo autor e outros que contribuíram
com esta proposta. A metodologia está compreendida numa prática de análise de discurso
a partir de entrevistas realizadas através de um formulário digital, encaminhadas a
professoras universitárias equatorianas com trajetória no exercício profissional em
relação ao tempo e as funções, com experiência de trabalho em universidade pública e
privada. Ao longo do trabalho desenvolvo a análise me apoiando com a caixa de conceitos
de Análise de Discurso Pêcheuxtiana, este referencial teórico basicamente consiste nas
seguintes noções: sujeito, sentido, discurso, ideologia, língua e história. Porém, são outros
conceitos que ampliam e aprofundam este quadro teórico. As questões desenvolvidas no
formulário, as quais compõem este documento são: as considerações das professoras
universitárias respeito a seus inícios na carreira, funções, crises profissionais, condição
salarial e prestigio social e diferencias baseadas em gênero no exercício profissional.
Finalmente, coloco algumas conclusões respeito às informações analisadas e ao marco
teórico trabalhado.
Palavras-chave: análise de discurso, mulheres, profissão docente na universidade.
INTRODUÇÃO
[...] se o sujeito de Foucault (2009a: 107) “é uma posição que pode ser ocupada por qualquer
individuo, de modo alternado”, nos diversos enunciados produzidos em situações diversas, o
sujeito de Pêcheux, por sua vez, se constitui no processo de interpelação, sendo “capturado”
pelas determinações históricas que 'o falam' antes que ele fale de si mesmo. (Santos, 2013. p.
223).
[...] mais do que o sujeito, interessam as posições sujeito, uma vez que o sujeito é pensado
discursivamente como uma posição entre outras [...] O sujeito do discurso, em sua relação com | 566
a língua, estabelece um processo de constituição mútua, constituindo-se e constituindo-a no seio
dos acontecimentos histórico-sociais. (Ferreira, 2003. p. 192)
Na primeira dimensão, trata-se das formas “especiais” de relações sociais (eixo relacional), no
segundo caso trata-se das formas de temporalidade (eixo biográfico). Essas dimensões
“relacionais” e “biográficas” da identificação combinam-se para definir o que chamo de formas
identitárias, formas sociais de identificação dos indivíduos em relação com os outros e na
duração de uma vida. (Dubar. 2009. p. 17).
En mis inicios me sentía insegura, porque mi docencia es más por vocación y cariño [...] pero
como siempre me ha gustado ser docente traté de hacerlo de la mejor manera que creí en ese
tiempo con mis clases magistrales, preparándome de antemano para dar lo mejor de mí, además
con audiencia de mucho alumnado que me veía de pies a cabeza y me observaba con atención y
respeto por un lado y con sonrisas y bullicios por otro. (Rita, 2016).
[...] As formas identitárias no sentido definido [...] (configurações Eu-Nós) e tais como podem
ser referidas no campo das atividades de trabalho remuneradas [...] identidades de atores num
sistema de ação [...] tipos de trajetória no decorrer da vida de trabalho [...] As identidades
profissionais são maneiras socialmente reconhecidas, de os indivíduos se identificarem uns aos
outros no campo do trabalho e do emprego. (Dubar, 2009. p. 117-118).
La segunda ocasión, que es en estos últimos años , por las evidentes dificultades para enfrentar
desde la academia, el proyecto de sometimiento a la universidad pública de los países
dependientes, desde los centros de poder de la globalización; proyecto que en el Ecuador se
consolida con la aprobación de una Ley de Educación Superior, la implementación de políticas
de Estado y el fortalecimiento de una nueva estructura de ordenamiento (sometimiento) que ha
repercutido en la eliminación de principios universitarios sustantivos [...]”(Manuela, 2016).
Além disso, a crise mesmo que institucional é também profissional, assim como
acrescenta o Prof. Boaventura de Sousa Santos: “A liberdade acadêmica é vista como um
obstáculo à empresarização da universidade e à responsabilização da universidade ante
| 572
as empresas que pretendem os seus serviços.” (Santos, 2010. p. 32). Então, as funções
profissionais se vêm afetadas em todas suas ações, como na função da pesquisa
mencionada pela professora:
Crisis profesional porque es evidente que la investigación hoy está sujeta a los intereses de un
gobierno y no se desarrolla en la perspectiva de que la universidad contribuya a través de la
investigación y la generación de conocimientos a la solución estratégica de los problemas del
país [...] (Manuela, 2016).
Sí, algunas veces [...] cada vez quiero implementar nuevas tecnologías, nuevas formas
didácticas, innovar, crear conocimientos nuevos y me he sentido que estoy fallando y que no he
podido lograr lo que he querido, aunque por otro lado las calificaciones de mis alumnos hacen
que me motive y siento que estoy yendo bien. (Rita, 2016)
Para sobreviver, as universidades têm de estar ao serviço destas duas ideias mestras – sociedade
de informação e economia baseada no conhecimento – e para isso têm de ser elas próprias
transformadas por dentro, por via das tecnologias da informação e da comunicação e dos novos
tipos de gestão e de relação entre trabalhadores de conhecimento e entre estes e os utilizadores
ou consumidores. (Santos, 2010. p. 30).
| 574
Existe un nuevo ordenamiento respecto de lo que significa la carrera docente, se hace un
excesivo énfasis en la meritocracia [...] no es una garantía para un mejoramiento en el papel de
docente. También hay que analizar este tema en el contexto general del proyecto globalizador
para las universidades, pues ahora, "ha mejorado" el perfil académico de la planta docente de
todas las universidades del país, pero casi es nula la acción crítica y propositiva de la misma
frente a los problemas universitarios. (Manuela, 2016).
Creo que la universidad privada donde imparto mis clases paga bien, exige, pero también hay
buena retribución en especial para las profesoras a tiempo completo, las de tiempo parcial no
tenemos ciertos incentivos, pero también es de acuerdo a la ley de nuestro país. (Rita, 2016).
Professoras foram vistas, em diferentes momentos, como solteironas ou “tias”, como gentis
normalistas, habilidosas alfabetizadoras, modelo de virtude, trabalhadoras da educação;
professores homens foram apresentados como bondosos orientadores espirituais ou como
severos educadores, sábios mestres, exemplos de cidadãos [...] (Louro, 1997, p.100).
CONCLUSÕES
Vou me referir primeiro à tarefa de analista de discurso. Considero que a parte
mais difícil e desafiante para a elaboração do trabalho de AD é manter sempre presente a
diferenciação entre: estar interpretando o que as pessoas dizem respeito a um tema e
analisar os discursos apoiando-se com a caixa de conceitos da AD e todo o referencial
teórico existente. O exercício que se faz com a subjetividade é muito rico, sem perder de
vista a materialidade do discurso.
| 577
Coloco em destaque os diferentes lugares (forma-sujeito), preocupações e
circunstâncias que fazem que cada professora assuma sua trajetória desde distintas
condições de produção dos seus discursos. Questões diferenciadas como o projeto político
pedagógico das instituições universitárias e a sua função na sala de aula refletem tais
lugares, que ao longo do trabalho ressaltam.
Nos inícios, o concurso de méritos e a vocação, foi o mais relevante, nas funções
a coordenação e a docência, fazendo ênfase ao enfrentar visões androcêntricas e a
heterogeneidade do discurso que se mostra com a polifonia do mesmo, conceito
REFERÊNCIAS
BRANDÃO, Helena Nagamine. Introdução à análise de discurso. 2. ed. Campinas, São
Paulo: Editora da UNICAMP, 2004.
DUBAR, Claude. A Crise das Identidades: A Interpretação de uma mutação. São Paulo:
Editora da Universidade de São Paulo, 2009.
FERREIRA, Maria Cristina Leandro. O caráter singular da língua na análise de discurso. | 578
Organon – Discurso, língua e memória, Instituto de Letras, Universidade Federal do Rio
Grande do Sul, v. 17, n. 35, 2003, p. 189-200. Disponível em:
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0de%20discurso..pdf
SANTOS, Sonia Sueli Berti. Pêcheux. In: OLIVEIRA, Luciano Amaral (org.). Estudos
do Discurso: perspectivas teóricas. 1 ed. São Paulo: Parábola, 2013. p. 209-233.
SPIES, Joseane; FISS, Dóris Maria Luzzardi. Identidades docentes, charges e crise do/no
magistério: efeitos de sentidos. Revista Reflexão e Ação, Santa Cruz do Sul, v.23, n.1,
p.100-131, jan./jun. 2015. Disponível em:
http://online.unisc.br/seer/index.php/reflex/article/view/5637
| 579
RESUMO
Este texto é um recorte da pesquisa de mestrado em Educação que está sendo realizada
na Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul e se encontra no âmbito do Observatório
da Educação (OBEDUC/CAPES). Por meio da revisão bibliográfica buscamos fazer uma
reflexão acerca da formação do professor para trabalhar a temática da violência escolar
como tema transversal. Ressaltamos a importância da reorganização da escola em um
trabalho coletivo e interdisciplinar e da necessidade da formação docente para
desenvolver a temática que vem interferindo de forma negativa no processo de ensino e
de aprendizagem, bem como nas relações interpessoais e de amizade dentro da escola.
Concluímos que escola precisa se reorganizar de forma a atender as novas demandas da
sociedade contemporânea; assim como a formação docente seja capaz de refletir sobre a
fragmentação de conteúdos para uma trabalho coletivo, de respeito à diversidade e
comprometida com o desenvolvimento da sociabilidade, do respeito e da melhoria das
relações interpessoais estabelecidas na escola e no processo formativo.
Palavras-chave: Formação docente. Violência. Temas transversais
INTRODUÇÃO
A escola como instituição que faz parte da estrutura social está sujeita a
interferências das transformações sociais e dos sujeitos que a constituem. Assim, a
| 582
violência que permeia a sociedade vem ganhando espaço dentro das escolas, despertando
preocupação e atenção de estudiosos, autoridades e comunidade escolar.
As notícias que retratam a ocorrência da violência no espaço escolar são
recorrentes, principalmente em jornais televisivos e sites jornalísticos na internet. Dentre
os vários acontecimentos apresentamos alguns que ocorrem na realidade escolar brasileira
como brigas entre colegas de escola por motivos de namoro, fatos referindo-se a agressões
sofridas por diretores e professores por aplicarem regras e exigirem mais disciplina entre
os alunos. Depredação do espaço escolar por meio de pichações, quebra de carteiras,
Neste sentido, faz-se necessária uma formação docente em que o professor esteja
atento ao desenvolvimento intelectual, cognitivo do aluno, porém, sem deixar de lado
| 587
outras dimensões que contribuem para a humanização da pessoa, em seus aspectos
afetivos, éticos e sociais. Além de desenvolver a capacidade do trabalho coletivo e
interdisciplinar, rompendo com a fragmentação de áreas e conteúdos.
Para Royer (2002, p. 25), a escola e todos que dela fazem parte têm um papel
| 589
fundamental na prevenção e no tratamento da violência; todavia, o professor ganha
destaque, pois
CONCLUSÕES
REFERÊNCIAS
ABRAMOVAY, Miriam et. al. Violência nas escolas. Brasília: UNESCO.
Coordenação DST/ AIDS do Ministério da Saúde. Secretaria de Estado dos Direitos
Humanos do Ministério da justiça, CNPQ, Instituto Ayrton Senna, UNAIDS, Banco
Mundial, USAID, Fundação Ford, CONSED, UNDIME, 2002.
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Temas transversais em educação: bases para uma formação integral. Trad. Claudia
Schinlling. São Paulo. Ática, 2003.
| 593
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formação integral. Trad. Claudia Schinlling. São Paulo. Ática, 2003.
YUS, Rafael. Temas transversais: em busca de uma nova escola. Trad. Ernani F. Rosa.
Porto Alegre: Artmed, 1998.
| 594
INTRODUÇÃO
126
Os dados foram parte da entrevista realizada para elaboração do trabalho de conclusão de curso da
licenciada Ilana Gatti, a quem agradecemos a autorização para uso das respostas.
Por que profissionais que tiveram formação acadêmica em outras áreas tornaram-
se professores? Quais as circunstâncias da vida que levaram a essa escolha? Que outras
vidas se entrecruzam às suas e influenciaram essa opção profissional? Essas foram
questões que orientaram a entrevista buscando compreender como o “outro” influencia a
escolha da profissão e o trabalho docente.
| 597
O “outro” é uma categoria referenciada nos pressupostos da psicologia sócio-
histórica, especialmente Vyotsky e Wallon, que defende que o homem se constitui
humano por meio das relações que estabelece com os outros. Assim, as interações que o
professor iniciante estabelece com as pessoas com as quais convive – seus professores,
colegas, estudantes, gestores - provocam construções e transformações no seu modo de
pensar e de agir, contribuindo para a constituição da docência, já que esse processo não
ocorre no vazio, mas permeado de relações sociais. Isso forma a subjetividade docente
que, segundo Burnier et al (2007) está marcada pelas experiências vividas pelos
indivíduos ao longo de suas vidas, pelos discursos, pelas instituições e grupos aos quais
Essa escolha nunca é muito fácil, na verdade não é uma decisão muito racional, ela vai
acontecendo um pouco por escolha e um pouco por acidente de percurso também. A ideia de
ser professor foi se concretizando no meu primeiro trabalho depois do mestrado, onde eu achei
que seria um trabalho de extensão, onde iria trabalhar com projetos, algo assim. Na primeira
atividade me vi numa sala de aula, e com isso por conta própria tive que buscar informações,
porque Agronomia é bacharelado e não tem formação pedagógica, não tem nada, e a partir do
estudo de alguns autores da pedagogia comecei a gostar cada vez mais da área da docência e fui
me vendo como professor e aos longos dos anos fui me constituindo como docente.
(...) quando me formei a ideia era trabalhar no campo, fiz isso durante meio ano e durante esse
tempo iniciei a especialização e vi que tinha muito que estudar ainda e optei por fazer o mestrado.
Entrando no mestrado acabei me encantando pela vida acadêmica e pela pesquisa e por isso
optei por continuar no mestrado, e a ideia ainda é fazer um doutorado para seguir na área
acadêmica. (P2)
Isso foi quando eu estava fazendo mestrado, então tínhamos um grupo de pesquisa,
(...) e às vezes tínhamos que dar aula, palestra, discutir sobre determinado tema e foi
| 598
durante esse período que vi que era gratificante poder ensinar para alguém alguma
coisa, foi devido a esse processo que eu decidi ser professor. (P4)
(...) eu sempre quis ser professora, me sinto muito bem em sala de aula, durante a
própria graduação me sentia muito bem apresentando trabalhos, seminários. Não sei,
acho que tenho dom da docência, eu gosto (P3)
Acredito que esse foi um sonho de infância (....) E também a consciência de que a educação
ainda se constitui no melhor caminho para conduzir a melhoria da qualidade de vida das
pessoas e como forma de aprendizagem para novas vivências observacionais [...] (P6).
[...] acho que meu orientador do doutorado que me possibilitou a oportunidade de trabalhar à
disciplina dele, de dois anos, que foi fundamental, porque até tinha uma experiência anterior, mas
não era muito continuado, não era aquilo de fazer a gestão da turma desde a chamada até a
publicação das notas finais, cuidar as faltas, programar os conteúdos (P1).
Várias pessoas, todas as pessoas que contribuíram no mestrado, que me ajudaram a concluir | 599
esta etapa. Elas foram muito importantes para mim e são professores, então eu me espelho neles
até hoje e eles que são o meu exemplo, eles que me incentivaram e incentivam sendo exemplo de
professores profissionais pra mim (P 2).
Quem marcou bastante em relação como ser professor foi meu orientador de
doutorado, ele tinha uma boa regência até de convivência com os orientados, era
bem diferente do que tinha presenciado no mestrado (P4).
Minha mãe. Tenho exemplo de casa, minha mãe é professora alfabetizadora, alfabetiza
e fez um tempo de curso de pedagogia então ela sempre me incentivou. E o meu sogro
também é professor aposentado universitário então a gente conversa muito e são de
casa os dois exemplos que eu tenho e que me estimularam a ingressar e permanecer
no magistério (P3).
Meu filho, no caso agora, até por acreditar que possa ser um bom profissional no futuro. Então
na mesma forma que eu passo conhecimento espero que os professores também passem da
mesma forma pra ele (P7).
Por familiar, sim teria a minha mãe, que era professora, mas só que por ela eu não seria
professor. Ela era professora do primeiro e segundo graus e se estressava
bastante (P 4).
a) Os professores referenciais
Desde sua tenra infância e especialmente nos cursos de formação profissional (da
graduação ao mestrado/doutorado) todos os entrevistados afirmaram que tiveram contato
com professores que tornaram-se parâmetros, modelos a serem seguidos, conforme
evidenciam os depoimentos anteriores e alguns que reproduzimos a seguir:
[...] tem um professor que considero que mais me marcou, que é um professor na UFSC, onde
eu fiz o mestrado. Interessante que a formação dele é toda nas ciências naturais, é agrônomo com
mestrado e doutorado em física do solo. Com o passar dos anos, a experiência docente dele foi
transformando-o num filósofo, sendo que as aulas dele era no sentido de fazer as pessoas
refletirem muito sobre aquilo que estavam estudando, não tinha muito a ver com o conteúdo
em si, o conteúdo vinha junto, mas o mais importante era o exercício da reflexão [...] ( P1).
[...] durante a faculdade alguns que ministravam as disciplinas que eu mais gostava, que tinha
mais afinidade, e o professor que me orientou durante o mestrado é até hoje uma referência
pra mim como professor e como orientador (P2).
Era um professor mais exigente, que são os que mais nos marcam. Talvez no primeiro
momento podemos até não gostar, mas são pessoas que lembramos muito mais. Pela
exigência dele e vivência que tinha, ele era muito bom, explicava muito bem, e
questão de prática também tinha bastante, acho que isso contribuiu bastante (P4).
[...] tenho lembranças muito boas da professora lá no primário. Eu era meio vadio e
ela me instigava a trabalhar, me instigava bastante, puxava mais do que eu achava
que era capaz, foi aí que comecei a ver que eu tinha condições. Depois no ensino
médio, no técnico tinha um professor que também me marcou, porque eu sempre na | 601
malandragem e ele me dizendo assim “tu é malandro porque tu quer, tu tem condições
de ser melhor”. Ele te instigava e eu ia. São professores assim que me marcaram
até para a conduta profissional e algumas coisas pra frente (P5).
Aponto meu orientador da graduação e mestrado como meu grande mentor, sempre
contribuindo de forma muito significativa para o meu aprendizado tanto como aluna como
quanto docente. Pelo dinamismo e pelo despertar que causam no aluno, pelo fomento à
curiosidade e pela capacidade de instigar o aluno a ver através dos conteúdos ministrados em
sala de aula, ou seja, aqueles que proporcionaram um aprendizado para a vida. As orientações dele
foram de vital importância, sempre quando iniciamos um novo caminho temos muitas dúvidas
e insegurança, ter alguém que nos indique um caminho ou que nos dê algumas orientações
básicas é muito encorajador (P6).
No caso desse meu professor orientador ele tem um método meio rígido, ele queria que eu
seguisse da mesma forma como ele trabalhava à disciplina. Fiz isso na primeira vez e não gostei,
porque sou diferente dele. A partir do segundo semestre adaptei o modo de trabalhar com minhas
características, com isso senti que houve uma melhora (P1).
[...] tem aqueles que eu não gostava, que não concordava os métodos didáticos de
ensinar. Então procuro não fazer igual, procuro não trazer para meus alunos o que eu
não gostava de meus professores (P3).
b) Os colegas/pares
Cada turma tem uma identidade, então procuro conversar com os colegas que também trabalham
nessas turmas pra ver como eles sentem à turma, como eles avaliam os alunos, quem são os alunos
que tem liderança, ou seja, sobre comportamento das turmas. [...]. Busco ajuda nos colegas no
sentido de tentar dialogar, pedir como eles estão se sentindo pra ver se minhas sensações são
parecidas com as deles, tento planejar atividades em conjunto, eu que trabalho a disciplina de
solo e o professor (... ) trabalha climatologia e como são áreas muito afins, tentamos trabalhar
coisas parecidas (P1)
Assim, converso com outros professores atualmente, inclusive trabalho com várias disciplinas e
encontro bastante dificuldade na busca de material e como ministrar essas aulas da melhor
forma para os alunos. Então busco pessoas mais experientes que estão acostumadas a ministrar
aulas e trabalharam com algumas disciplinas que estou trabalhando pra me ajudar, sobre qual a
melhor forma ou a mais didática para passar aquele conteúdo para os alunos. Sim, pego
materiais emprestado, buscar outras aulas de outros anos para basear minha aula (P2)
Desde material didático de sala de aula porque, como sou substituta, dou muitas
cadeiras diferentes, então às vezes tem disciplina que não tenho material, busco com
meus colegas e às vezes até conselho em relação a comportamento em sala de aula
(P3).
A gente sempre troca informações, por exemplo, no nosso núcleo de zootecnia sempre
trocamos informações, com relação a visita técnica, com relação a aula, material de
aula, então sempre estamos trocando informações (P4).
Eu gosto muito de discutir. Na Instituição dentro da nossa área tem os NIEPES que são
os núcleos das disciplinas, eu discuto bastante com o (...), a (...) e o (...) sobre atuação,
de como preparar uma aula, material, de que forma posso conseguir esse material
já que eles estão mais tempo nesse caminho (P5).
Na troca de ideias com colegas em relação às turmas e também ao conteúdo a ser trabalhado.
Por exemplo: numa disciplina que eu dou pra uma turma um colega dá para uma turma do mesmo
nível e a gente procura conduzir da mesma forma, mesmo padrão de aula, troca de material.... | 603
(P7)
[...] lá durante o mestrado eram orientações muito boas, pertinentes com relação aos conteúdos
que eu tinha que ministrar e de que forma ministrar. Aqui com relação aos coordenadores eles
Não, eu não tive orientações de como conduzir minhas aulas, eles te dão a ementa,
te dão orientações de como o Campus espera que você faça, como se fosse um
manual de atividades com teus direitos e deveres dentro da Instituição (P5)
Um entrevistado (P6) não identificou o coordenador do seu curso atual, mas fez
referência ao orientador da dissertação de mestrado e os demais (três) responderam:
Como meu primeiro emprego na área da docência está sendo aqui, desde que entrei
tive essa orientação tanto dos coordenadores dos cursos em que trabalho quanto
do coordenador geral. Essas orientações são extremamente importantes para mim, por
estar sendo meu primeiro emprego como docente, então fico muito feliz nesse
sentido por eu ter acesso a essas orientações por parte de quem realmente tem
que orientar. Então para mim foi importante e como é meu primeiro emprego vou levar
pro resto da vida essas orientações recebidas. Tive orientação de como dar aula, com
relação a material onde procurar, onde achar [...]. Então eles me orientaram bastante,
também comportamento em sala de aula com relação a alguns pequenos
problemas que poderíamos ter e também dar aula para o técnico são os alunos
adolescentes, então alguns cuidados nessa questão eles me instruíram (P3).
As primeiras orientações foram em relação às turmas, como elas são, se eram mais fáceis ou
mais difíceis de trabalhar, em relação ao número de alunos em sala de aula, como conduzir as
aulas, se tinha a necessidade de ser mais duro ou mais brando com essa turma, foram essas as
orientações. Elas ajudaram bastante no início das atividades, até por não ter tanta experiência
em sala de aula, ajudou muito assim na forma daquele impacto inicial com a turma. (P7).
Quanto aos demais gestores, quatro entrevistados (P2, P3, P6, P7) disseram não
ter tido nenhuma orientação por parte deles e três confirmaram ter recebido:
Aqui no Instituto, trabalhando aqui tem o manual do professor, que nos deram, onde tem
algumas orientações, mas não tem muita cobrança, um manual bem geral de como proceder
aqui no Instituto, sobre as aulas especificamente, não (P1).
O único local que trabalhei foi aqui. Logo que entrei o (...) nos ofereceu o manual do
professor, e nós lemos e tiramos as dúvidas com ele, fora isso, mais nada (P4).
[...] os alunos interferem muito. Na primeira experiência que trabalhei, e foi aos extremos: eu
trabalhava com professores da rede estadual e municipal, mas também fazia oficinas com
crianças, então eu trabalhava com pessoas de uma certa idade, formados, e também com
criança e comecei a perceber que trabalhar com crianças era melhor. Quando fui fazer
[...] eu acho que os alunos são quem mais interferem no nosso trabalho, de várias maneiras
inclusive. Quando a gente é aluno não tem tanta consciência do trabalho que o professor tem
por trás de estar ali em sala de aula. Ele teve que preparar a aula, estudar, se dedicar e o alunos
às vezes não dão importância para isso. Então ele está pouco ligando: dorme, conversa, não se
interessa pela aula, e para o professor isso é bastante ruim. Inclusive em prova quanto vejo
que os alunos vão mal fico bastante chateada, gostaria que meus alunos sempre fossem bem, mas
também é uma forma de nós avaliarmos nossa forma de ensino. Penso que se eles estão indo
mal, se a grande maioria está indo mal, o problema talvez não seja com eles e seja comigo.
Então me ajudam a monitorar a forma como estou passando o conhecimento e, por exemplo,
alunos que interagem com aula, tornam a aula bem melhor, bem mais agradável mais
produtiva e isso ajuda tanto no meu aprendizado quanto no deles.
Em relação aos alunos isso vai muito das vivências. Porque tem dias que entro na sala
de aula e dá vontade de voltar pra casa, porque tu prepara a aula e não saí nem a
metade do que tu pensa, aí tu olha tem um aluno dormindo. E pensa: é meu o
Os alunos tem um papel positivo naquelas turmas que se mostram mais interessadas e
negativa nas que não tem dedicação parece que exclusiva no estudo naquele momento. [...]
você acaba mudando quando tem uma participação maior em sala de aula, vê que o pessoal está
dedicado e com certeza tua aula é melhor do que quando não tem a participação dos alunos (P7).
O ponto positivo é quando a gente vê, não é muitas vezes, a descoberta do aluno, é uma coisa
fascinante, porque descobrir algo novo nos marca, nos chama atenção, raríssimas vezes isso
acontece, mas quando acontece fica bem claro e é talvez uns dos momentos mais gratificantes
que tem na carreira docente, pra mim. Quando eles aprendem a ver o mundo de uma forma
diferente que eles não estavam acostumados a ver. Quanto às bagunças, é relativo, às vezes
eu procuro fazer sempre a mea culpa: o que tenho feito pra modificar isso, se eles não estão
gostando da minha aula é porque ela não está boa mesmo [...] (P1).
| 608
O positivo foi como aconteceu agora, tive que, por uma questão de ajustes de
horários, deixar aulas de três turmas do técnico e agora eles me encontraram
dizendo “professora, volta!”. Então isso é legal, porque mostra que gostavam de
mim. Ano passado comecei a dar aula e já fui convidada para ser homenageada por
uma turma do técnico. Isso achei um reconhecimento do meu trabalho, da minha
dedicação com eles (P3).
Positivo é encontrar a grande maioria dos alunos que enxerga a importância da sala de aula e
estar presente aqui, sabem que é uma grande chance na vida profissional deles (P7).
Quanto a aspecto negativo, não tem nada. Tem algumas coisas que acontecem em sala de aula, e
às vezes acaba até te irritando com algum aluno, algo assim, mas nada que “não isso aqui vai
me fazer deixar de ser professor, não”, nunca tive nenhum problema [...]. Tem alguns tratos
que eu faço dentro da sala de aula, tem que ser cumprido até o final: celular é proibido, se
tocar vai pagar um bombom. Uns por estarem bagunçando eu digo: vai dar uma caminhadinha
na rua, baixa um pouquinho a adrenalina e depois volta (P5).
Acredito que é cada vez mais difícil ser/estar professor. Os alunos tem muitas influências
externas ou apelos tecnológicos para se entreter do que estar prestando atenção na aula. Estão
desinteressados na aula ou em aprender, a maior preocupação é notas e faltas (P6).
Conclusões
As pesquisas sobre professores iniciantes, realizadas geralmente com licenciados,
apontaram algumas características que marcam esse período. Uma delas é o chamado
choque de realidade, quando o professor que cursou a licenciatura enfrenta a sala de aula
e percebe que há divergências entre o que ele pensava sobre a atividade docente e o que
de fato ocorre. No caso dos professores da educação profissional não parece haver tal
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desenvolvimento profissional. In NOVOA, António. (org.) Vidas de Professores. 2 ed.
Porto: Porto Editora, 1995, p. 63-78.
| 611
INTRODUÇÃO
127
No período de 1909 a 2002 havia 140 escolas técnicas no Brasil. Entre 2003 a 2014 foram adicionadas
214 escolas a esse número, além de outras escolas que foram federalizadas. Atualmente há 562 escolas
em atividade no país formando a Rede Federal de Educação Profissional, Científica e Tecnológica
(RFEPCT). A Rede Federal conta, além dos 38 Institutos Federais, com outras escolas que não aderiram
ao modelo de IF, tais como dois CEFETs, 25 escolas vinculadas a Universidades, o Colégio Pedro II e
uma Universidade Tecnológica.
128
http://michaelis.uol.com.br/
129 Apesar da lei de criação dos Institutos Federais datar de 2008, sua publicação aconteceu em dezembro
daquele ano, sendo a legislação formalmente posta em prática a partir de 2009. Esse marco temporal é
importante, pois é na lei de criação dos IFs que consta pela primeira vez o termo “verticalização” como
uma característica dos Institutos Federais.
CONCLUSÕES
REFERÊNCIAS
| 626
Choque
Minhas mãos tremem. Minhas pernas balançam. Meu coração acelera e está
disparado. Sinto muito calor. Aumento a velocidade do ar condicionado e diminuo a
temperatura. Já são mais de 22h00. Deve ser culpa ainda do cansaço. Não faz muito tempo
que cheguei em casa após mais uma noite de aulas. Ou não. Sentado em frente ao monitor
do computador leio:
Prof
Conforme informação do Coordenador do Curso Dois, Prof Rosa, não consta
seu comparecimento em sala de aula para lecionar as disciplinas Bananas - 2ª
e 4ª feiras, 18:20 as 20:00 e Maçãs - 2ª e 4ª feiras, 16:30 as 18:10, ficando os
discentes do Curso – Campus 2 sem aula, por mais uma semana.
Dessa forma, solicito que assumas de imediato as disciplinas para as quais foi
designado e que compareça nesta 2ª-feira ao Gabinete da Direção da Faculdade
para assinar recebimento deste memorando abaixo reproduzido.
O e-mail tem o título ‘Falta às aulas’ e acabo de recebê-lo de Girassol, Chefe de
Departamento, com cópia para Cravo, Diretor da Faculdade, Margarida, Vice-Diretora e
também para Rosa, coordenador de outro curso.
Ao terminar de ler o e-mail, reparo que há um arquivo em anexo: o tal memorando
assinado pelo Chefe Girassol e endereçado a todos os copiados no e-mail. Não recebi | 631
nenhuma ligação telefônica, e-mail, ou qualquer outra forma de contato, nem de Girassol,
nem de Rosa, nem de Cravo ou mesmo de Margarida para saber se eu estava indo às aulas
ou não. Tampouco perguntando qualquer outra coisa. Simplesmente abri meu e-mail e
recebi esse documento. Como podem me acusar de algo sem nunca sequer ter checado
comigo as informações? E ainda por cima elaborarem e assinarem um documento oficial
me imputando faltas e sendo copiado para a Direção e Vice-Direção?
O início na UNIV
Eu teria imenso prazer em começar minha história na UNIV a partir da liberação
por parte da universidade da qual eu estava saindo e de minha chegada oficial à
instituição, mas algumas coisas aconteceram.
Enquanto o processo de minha transferência tramitava, fui várias vezes à UNIV
para dar uma satisfação sobre seu andamento e para tentar agilizá-lo ao máximo. Em uma
dessas visitas, encontrei Cravo, então chefe de departamento, e Girassol, coordenador de
curso à época. Ambos haviam sido meus professores quando da minha graduação.
Girassol queria que eu entrasse em sala de aula imediatamente.
- Como assim? Não posso... ainda estou lecionando na outra universidade, e além
disso ainda sou funcionário de outra universidade, dedicação exclusiva. Como vou
começar simultaneamente a lecionar aqui?
- Precisamos de você. Aqui tem um monte de professores substitutos que entram
em sala até mesmo antes de assinar o contrato.
- Bem, se você aceita isso como coordenador...
- Há há há ... imagina se a pessoa for esperar tudo certinho, a coisa não vai
| 633
funcionar.
- Esse não me parece um jeito correto de ‘funcionar’. Se eles aceitam isso, ok, eu
não aceito e não farei isso de jeito nenhum. A partir do momento em que minha
transferência for efetivada e publicada e a outra universidade me liberar, estarei aqui, mas
fazer esse tipo de coisa nem pensar.
Se eu não me valorizar, quem irá? Onde está a preocupação com a pessoa? E se
sofro um acidente indo para lá? Que cobertura eu tenho? Que sensibilidade! E que
pressão! Desde antes mesmo de eu entrar!
Reconhecimento
À Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro (FAPERJ) pelo
apoio financeiro que contribuiu para a elaboração deste trabalho.
Referências
ADAMS, Tony; HOLMAN JONES, Stacy; ELLIS, Carolyn. Autoethnography. New
| 642
York: Oxford University Press, 2015.
BOSSLE, Fabiano; MOLINA NETO, Vicente. No “olho do furacão”: uma autoetnografia
em uma escola da rede municipal de ensino de Porto Alegre. Rev. Bras. Cienc. Esporte,
Campinas, v. 31, n. 1, p. 131-146, set 2009.
BOSS AC. Alguém me ouviu (mantém-te firme). Intérpretes: Boss AC e Mariza. In:
BOSS AC. Preto no branco. Lisboa: Farol, 2009, CD, Faixa 9.
DELEUZE, Gilles. Conversações. São Paulo: Ed. 34, 1992.
radcbil@gmail.com
Daiany Rossetto (IFRS Campus Sertão)
131
daianyrossetto@gmail.com
132
Ana Sara Castaman (IFRS Campus Sertão)
ana.castaman@sertao.ifrs.edu.br
130
Especialista em Auditoria, Perícia e Contabilidade Gerencial na Universidade do Contestado – Campus
Concórdia (SC). Acadêmica do Curso de Pós-Graduação em Teorias e Metodologias da Educação do
Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Sul (IFRS) – Campus Sertão.
131
Tecnóloga em Agronegócio pelo IFRS – Campus Sertão (RS). Acadêmica do Curso de Pós-Graduação
em Teorias e Metodologias da Educação do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do
Rio Grande do Sul (IFRS) – Campus Sertão.
132
Doutora em Educação pela UNISINOS/RS. Docente no Instituto Federal de Educação, Ciência e
Tecnologia do Rio Grande do Sul – Campus Sertão. Líder do Grupo de Pesquisa de Políticas Públicas
e Formação de Professores para a Educação Básica e Profissional.
[... busco mostrar aos alunos que aquilo que as pessoas julgam difícil e chato, é uma questão de como se
vê, fazendo das aulas uma realidade do aluno].
[Fazer parte dessa política de levar conhecimento e qualificação para nossos jovens terem uma nova
perspectiva de vida no exercício da cidadania].
Fonte: Questionários e entrevistas da pesquisa (2014).
O discurso pedagógico e a instituição centram-se nos processos de subjetivação
dos estudantes. De forma individualizada, tais atos ocorrem por convicções que regulam
a conduta humana. Esses princípios constituem o perfil do profissional da educação,
devido às disciplinas estudadas durante o curso, que servem pra fundamentar as práticas
educativas com o intuito de construir o educador. Em Foucault estabelece que “por vezes,
contêm a fabricação do sujeito docente como mais possibilidades das relações de poder e de
saber que se movimentam nesses processos.” (VEIGA-NETO, 2011, p. 91)
Segundo os depoimentos pesquisados, torna-se essencial na vida profissional de
um docente aprimorar-se e atualizar-se incessantemente, pois, tais qualificações
essenciais para que se proporcione conexão entre o saber e o conhecimento. Na busca
pela educação, temos o compromisso de trabalhar coletivamente, fazendo com que os
alunos reflitam e ajam sobre sua própria realidade, alterando assim a sua história, pois | 656
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A composição de um professor justifica-se diante das possíveis inter-relações,
pois ao mesmo tempo em que reordena sua conduta - seu jeito de pensar, ver e agir -
REFERÊNCIAS
BRASIL. Decreto Federal 2.208, de 17 de abril de 1997. Regulamenta o § 2º do art. 36
e os arts. 39 a 42 da Lei Federal nº 9.394/96, que estabelece as Diretrizes e Bases da
Educação Nacional. Portal Ministério da Educação e Cultura. Disponível em: | 657
<http://portal.mec.gov.br/setec/arquivos/pdf/DF2208_97.pdf>. Acesso em: 08 dez.
2015.
| 659
Nesse sentido, a Meta 15, Estratégia 15.3, que trata da iniciação à docência, impõe
a demanda de criar mecanismos de incluir todos os licenciandos em programa desta
natureza, assim como estreitar a parceria com as escolas, lócus de formação docente.
Implica também ter orientadores para esses licenciandos, bem como avaliar
constantemente as ações realizadas como de iniciação à docência. Além disso, demanda
refletir sobre as diversas dimensões do trabalho docente, pois a iniciação à docência não
se caracteriza somente como a hora da prática, mas sim de reflexão dos anseios, dúvidas,
dilemas dos licenciandos.
Assim, cursos de licenciatura e PIBID são espaços formativos importantes para
aprendizagem da docência. O programa PIBID não isenta os cursos de licenciatura de
desenvolverem atividades de iniciação à docência; as ações desses dois espaços
formativos devem estar interligadas. Ou seja, devemos repensar a concepção de que cabe
aos componentes curriculares dos cursos de licenciatura a parte teórica da formação
docente e aos estágios curriculares e ao PIBID a parte prática da formação inicial de
professores.
Partindo desse pressuposto, o objetivo deste trabalho é compreender as relações | 662
que se estabelecem entre atividades de iniciação à docência desenvolvidas nos cursos de
licenciatura e àquelas desenvolvidas nos projetos por área do PIBID (Subprojetos).
METODOLOGIA DE TRABALHO
Ah, tem todo o tipo de relação, tanto relações positivas quanto negativas, até o
próprio questionar-se sobre alguns conteúdos, algumas disciplinas, né, não vou
dizer quais, mas se colocam em xeque algumas dessas questões (BCA07).
133
Neste texto utilizaremos códigos para não identificar aqueles que concederam as informações para esta
pesquisa. Assim, Coordenadores de Área entrevistados serão nomeados como “BCA” e os Bolsistas de
Iniciação à Docência, como participaram de Grupos Focais, serão reportados como (GF).
Eles dizem: “mas porque os professores não fazem isso? Porque as coisas não
são aplicadas assim?”. Aí eu digo que na realidade as coisas não são postas da
maneira como estão nos livros porque os professores nossos, eles não
receberam formação adequada para o desenvolvimento daquelas atividades.
São professores que (...) são formados para pesquisar na fronteira avançada da
área do conhecimento, sem formação complementar no âmbito pedagógico.
(BCA09).
Eles sempre trazem a referência ao curso, mas eles dizem: “Olha, lá eu tive o
conteúdo, mas é a primeira vez que estou tendo a oportunidade de pensar
aquele conteúdo em uma realidade” (BCA10).
Percebe-se, por essa declaração, uma mobilização por parte dos bolsistas de
iniciação à docência para a discussão de assuntos relacionados à formação de professores,
tanto no dia a dia do curso, nas aulas, como também em eventos que reúnem grande
número de alunos que cursam alguma Licenciatura, como por exemplo, as Semanas
Acadêmicas. Não podemos afirmar que essa mobilização por parte dos alunos está
trazendo impactos consideráveis na formação inicial desses futuros professores, mas,
certamente, é um passo importante para alcançar uma articulação, de fato, entre curso de | 666
licenciatura e PIBID.
Para os bolsistas de iniciação à docência, há pouca relação entre ações
desenvolvidas em cursos de licenciatura e em Subprojetos PIBID. Três dos quatro grupos
estabelecem relações de comparação entre o curso e o PIBID, identificando as lacunas
vivenciadas no curso. É importante ressaltar que os coordenadores de área também
percebem esse tipo de relação. Vejamos abaixo algumas das declarações desses
licenciandos bolsistas:
(...) parece que tem uma distância muito grande entre o sistema escolar básico
e o sistema superior. É muito diferente um do outro (GF02).
Eu acho que é muito distanciado aqui com a realidade da escola, tudo o que a
gente estuda é teoria, na hora da prática, é outra coisa totalmente diferente
(GF02).
A maior lacuna do curso é essa distância que está ocorrendo entre a prática e a
teoria, que aqui no nosso curso é grande (...). Tem matérias que a gente faz que
não são levadas em conta questões importantes da prática, que a gente que
conhece a realidade sabe (GF03).
Para esse grupo, as aprendizagens obtidas no curso estão sendo úteis para o
planejamento de atividades didáticas, como por exemplo, a aprendizagem que obtiveram
nas disciplinas de pesquisa, na medida em que agora é preciso pesquisar para elaborar os
CONSIDERAÇÕES FINAIS
INTRODUÇÃO | 672
“A formação assume papel que transcende o ensino que pretende uma mera
atualização científica, pedagógica e didática e se transforma na possibilidade
de criar espaços de participação, reflexão e formação para que as pessoas
aprendam e se adaptem para poder conviver com a mudança e a incerteza.”
(IMBERNÓN, 2011, p.15)
Desenvolvemos tal pesquisa, pois acreditamos que seja a Formação Inicial a etapa
fundamental para que o profissional desenvolva capacidades reflexivas e abra caminho
para uma verdadeira mudança na autonomia e identidade profissional.
METODOLOGIA
134
REVISTA BRASILEIRA DE PESQUISA EM EDUCAÇÃO EM CIÊNCIAS. Capa. São Paulo, 2015. Disponível em:
<http://revistas.if.usp.br/rbpec>. Acesso em 25 de jan. de 2016.
RESULTADOS E CONTATAÇÕES
Com isso, de acordo com o critério Ano de Publicação, a maioria dos artigos
encontrados foram publicados no ano 2001 (N=5, 38,4%), seguido de 2004 (N=2, 15,4%)
e 2012 (N=2, 15,4%), os anos de 2008, 2009, 2010 e 2014 apresentaram somente um
trabalho em cada ano (7,7%). Mostrado assim, que esse assunto vem sendo tratado a
algum tempo, porém sem a constância e o crescimento de discussões de que a temática
necessita.
135
Plano Nacional de Educação, Brasília: Senado Federal, UNESCO. Disponível em:
<http://unesdoc.unesco.org/images/0013/001324/132452porb.pdf> Acesso em 17 de fev. de 2016
Após isso, analisamos o Tipo de Amostra encontrada nos artigos. Constatamos | 677
que, com exceção de um artigo que fez uso de documentos, todas as pesquisas foram
realizadas com alunos de Licenciatura. Em sua grande maioria, aparecem os alunos de
Ciências Biológicas (N=7, 35%), seguido de Física (N=2, 10%), e Ciências Naturais e
Biologia/Geologia apresentando um trabalho cada um (N=1, 5%), alguns trabalhos não
falaram a quais cursos os alunos pertenciam (N=3, 15%), alunos de mestrado também
participaram de pesquisas (N=2, 10%) e em quatro artigos ocorreu a participação de
Professores da Educação Básica (N=4, 20%).
Verificamos, também, que dos 33 autores, 30 (N=30, 91%) são professores e | 678
alunos de Instituições de Ensino Superior e somente três (N=3, 9,0%) dos autores são
professores de Instituições da Rede Básica de Ensino. Demonstra-nos assim, que as
pesquisas científicas geralmente são desenvolvidas nas Instituições de Ensino Superior,
sem grande participação, colaboração e conhecimento dos Professores do Educação
Básica. Com isso, de acordo com Lima (2003), a universidade deve estar presente
constantemente na comunidade, proporcionando trocas de experiências, conhecimentos,
valores e ideias, fazendo com que a comunidade se sinta pertencente, se identifique como
Por fim, o último critério a ser analisado, Modelo de Colaboração, tem como | 679
objetivo constatar se os trabalhos foram produzidos Interinstitucional ou Intra-
institucional, ou seja, se os artigos foram desenvolvidos em parceria, entre duas ou mais
instituições, ou se foi produzido somente por uma instituição. Com base nisso,
constatamos que sete artigos apresentaram trabalhos Intra-institucionais (53,8%) e seis
Interinstitucionais (46,2%).
Esses dados refletem os vínculos que estão ocorrendo entre pesquisadores, que
advêm de encontros em congressos, bancas de trabalhos, grupos de estudo, cursos e entre
outros. Sendo assim, “essas e outras formas de trabalho colaborativo contribuem para
EIXOS TEMÁTICOS
Explicaremos, a seguir, cada uma das análises realizadas nos artigos selecionados.
PROFISSIONALIZAÇÃO DOCENTE
Este eixo temático é composto por nove artigos, correspondendo a 69%. A fim de
organizarmos melhor a nossa análise vimos a necessidade de desenvolver subcategorias,
a saber: (A) Metodologia e Estratégias de Ensino; (B) Formação de Professores e a
IDENTIDADE PROFISSIONAL
[...] a tutoria pode contribuir para uma transformação, ou seja uma mudança
do estado de imitação para o de autogestão. Para isto, é preciso haver uma
reciprocidade entre o(a) professor(a) tutor(a) e o(a) principiante- estagiário(a).
(ROSA; MEDEIROS; SHIMABUKURO, s/p, 2001)
CONSIDERAÇÕES FINAIS
De acordo com isso, Romanowski & Ens (2006, p.39), mencionam que o Estado
da Arte “[...] não se restringem a identificar a produção, mas analisá-la, categorizá-la e
revelar os múltiplos enfoques e perspectivas”. Em vista disso, constatamos que por meio
dessa categorização foi possível perceber a dimensão das pesquisas com foco na temática | 684
em questão, assim como, dentre outras, a diversa abrangência das regiões e das
instituições dos autores.
Através da pesquisa verificamos que existem inúmeras relações que podem ser
realizadas a partir do tema Formação Inicial de Professores e o Ensino de
Ciências/Biologia, tanto no grau de aprimoramento de metodologia, quanto no processo
de identidade do professor e no reconhecimento da importância da tutoria. O que ressalta
a relevância que o presente estudo possui, pois ainda há campo para essa temática,
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BAROLLI, E.; FRANZONI, M.; VILLANI, A.; FREITAS, D.. A crônica da disciplina:
uma experiência na formação de professores de ciências. Revista Brasileira de
Pesquisa em Educação em Ciências, v.1, n.3, p.136-148, 2001. ISSN 1984-2686.
Disponível em: http://revistas.if.usp.br/rbpec/article/view/196/181. Acesso em:
20.jan.2016.
HARRES, J.; ROCHA, L.; HENZ, T.. O que pensam os professores sobre o que
pensam os alunos. Uma pesquisa em diferentes estágios de formação no caso das
concepções sobre a forma da terra. Revista Brasileira de Pesquisa em Educação
em Ciências, v.1, n.2, 2001. ISSN 1984-2686. Disponível em:
http://revistas.if.usp.br/rbpec/article/view/202/186. Acesso em: 20.jan.2016.
IMBERNÓN, F.. Formação docente e profissional: formar‐se para a mudança e a
incerteza. 9.ed., v.14., São Paulo: Cortez Editora, 2011. ISBN 978-85-249-1630-4.
MORAES, R.. Uma tempestade de luz: a compreensão possibilitada pela análise textual
discursiva. Ciência & Educação, v.9, n.2, p.191-211, 2003. ISSN 1980-850X.
SEVERINO, A. J.. Metodologia do trabalho científico. 23.ed. rev.e atual. São Paulo:
Cortez, 2007. ISBN 978-85-249-1311-2.
| 688
INTRODUÇÃO
| 690
136
Sistema de produção em série com pouca variação, pois dessa forma reduziria os gastos. Para tanto,
Henry Ford criou uma esteira rolante, a qual possibilitou produção em grande escala, e Taylor
concebeu sua técnica que permitiu que cada trabalhador executasse somente uma parte do todo.
(KURZ,1993, p. 236)
137
Modelo de produção com rígidos critérios: redução dos “estoques”, seja no setor maquinário, na força
de trabalho ou no tempo de operação. Investimento ao máximo nas instalações das empresas a partir de
inovações organizacionais, desde a hierarquia de cargos e salários até as atividades desempenhadas em cada
posto de trabalho. (MONDEN, 1984)
138
Capacidade de ofertar diferentes tipos de produtos e serviços num curto período de tempo, mantendo-
se ou não a larga escala. (OLIVEIRA, 1996)
139
Redução de custos do retrabalho, eliminando-se falhas em processo (OLIVEIRA, 1996)
140
Preços obtidos não apenas pela qualidade e flexibilidade, mas pelo enxugamento, ou seja, a redução de
toda capacidade ociosa em termos de equipamentos e força de trabalho. (OLIVEIRA, 1996)
141
Exigência no momento, na quantidade e nas características exatamente estipuladas pela clientela, sem
gerar atrasos, tampouco estoques. (OLIVEIRA, 1996)
Hoje têm máquinas que não são mais o trabalho que você tinha antes.
Um torneiro, antigamente, ele catava uma peça bruta, ele tinha que
trabalhar, lapidar até chegar numa ferramenta. Hoje, as máquinas, os
tornos, são todos automáticos, então você aprende com mais facilidade,
você opera apertando o botão. Então, não é mais aquele serviço
artesanal que era, você catar uma peça e construir ela. 142(ANTUNES,
2013, p. 170)
142
Marcos Augusto (nome fictício), trabalhador da esfera da produção da American Company do Brasil;
entrevista realizada em 2006, por Ricardo Antunes.
143
Sobre a Terceira Revolução Industrial: ver Coutinho (1992).
O Brasil, nos anos 1980 e 1990, assim como outros países periféricos da América
Latina, sofreram com a herança da neoliberalização iniciada nos países de capitalismo
avançado. A renegociação da dívida externa com os setores financeiros acarretou o
desenvolvimento de um novo projeto social, o qual visou estratégias para o fortalecimento
da nova reestruturação do trabalho, do livre comércio e o livre mercado, das privatizações,
entre outras características desse regime de governo.
Segundo Leher (1999a) a partir dos anos de 1980 a crise de endividamento dos | 692
144
O Bolsa Família prevê o combate à fome, à emancipação sustentada das famílias que vivem em
situação de pobreza e extrema pobreza e o combate à pobreza como objetivos principais. Disponível
em: <http://portal.mec.gov.br/acoes-e-programas> Acesso em: 10/10/2015.
145
O Programa tem como objetivo contribuir especificamente para a re-inserção do jovem nas atividades
escolares, a identificação de oportunidades de trabalho e sua qualificação inicial para o exercício
profissional. <http://portal.mec.gov.br/acoes-e-programas> Acesso em: 10/10/2015.
146
É um programa que prevê o oferecimento de bolsas de estudo integrais e parciais (50%) em
instituições privadas de educação superior, em cursos de graduação e sequenciais de formação
específica, a estudantes brasileiros sem diploma de nível superior. <http://portal.mec.gov.br/acoes-e-
programas> Acesso em: 10/10/2015.
147
e-Proinfo (2001); Gestar II (2004); Rede Nacional de Formação Continuada de Professores (2004);
Proinfantil (2006); Pró-letramento (2006); Plano Nacional de Formação de Professores da Educação
Básica – Parfor (2009); Formação no Pacto Nacional pela Alfabetização na Idade Certa (2012).
(BRASIL, __)
148
TV Escola (1995); Portal do professor; Salto para o futuro; Banco Internacional de Objetos
Educacionais (BIOE); Domínio Público; Guia de Tecnologias (2009). (BRASIL__)
149
Disponivel em <http://portal.mec.gov.br/acoes-e-programas> Acesso em: 10/10/2015.
150
Iniciação à docência – para estudantes de licenciatura.Valor: R$ 400,00 (quatrocentos reais).
Supervisão – para professores de escola pública da educação básica. Valor: 765,00 (setecentos e
sessenta e cinco reais).
Coordenação de área – para professores da licenciatura que coordenam subprojetos. Valor: 1.400,00
(um mil e quatrocentos reais).
Coordenação de área de gestão de processos educacionais – para o professor da licenciatura que auxilia
na gestão do projeto na IES. Valor: R$ 1.400,00 (um mil e quatrocentos reais).
Coordenação institucional – para o professor da licenciatura que coordena o projeto Pibid na IES.
Valor: R$ 1.500,00 (um mil e quinhentos reais). (BRASIL, 2013)
que já possuem o Pibid e desejam sua ampliação e para IES novas que queiram
implementar o Pibid em sua instituição.
Edital nº 61/2013 CAPES, de 02 de agosto de 2013: para instituições públicas
comunitárias e privadas com bolsistas do ProUni;
151
Disponível em: http://www.capes.gov.br/images/stories/download/bolsas/1892014-relatorio-
PIBID.pdf. Acesso em: 15/10/2015.
152
Disponível em: http://www.capes.gov.br/images/stories/download/bolsas/1892014-relatorio-
PIBID.pdf. Acesso em: 15/10/2015.
privadas.
Desse modo, tais informações reforçam o caráter da implementação do PIBID
como produto de um contexto que almeja a formação para uma nova organização do
trabalho, e que, a partir da dependência e subordinação de setores financeiro que detém a
hegemonia política, determinam “todo andar da carruagem”. No entanto, na mesma
medida em que o Programa demonstra esse caráter dependente e conservador, também
153
Disponível em: http://www.capes.gov.br/images/stories/download/bolsas/1892014-relatorio-
PIBID.pdf. Acesso em: 15/10/2015.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA
ANTUNES, R. Riqueza e miséria do trabalho no Brasil II. 1ª Ed. São Paulo: Boitempo,
2013. p. 170.
KURZ, R. O Colapso da Modernização. 3ª. ed., São Paulo: Paz e Terra. 1993, p. 236.
MARTINS, Ângela Maria Souza. Dos Anos Dourados aos Anos de Zinco: análise
histórico-cultural da formação do educador do Instituto de Educação do Rio de Janeiro.
1996. Tese (Doutorado) – Universidade Federal do Rio de Janeiro. Faculdade de
Educação, 1996.
| 704
Resumo: Este artigo apresenta os resultados de uma pesquisa bibliográfica que teve como
objetivo verificar, nas produções acadêmicas, o estado da arte sobre o trabalho
pedagógico e o uso das tecnologias na educação. Para tanto, foram identificados,
categorizados e analisados os trabalhos publicados nos Anais do Workshop de
Informática na Escola (WIE 2015), evento anual que integra pesquisadores da Informática
na Educação e professores das escolas, desde 1995. Como instrumento metodológico
adotamos a análise de conteúdo, buscando identificar, a partir das categorias escolhidas,
as mais citadas. Os resultados apontaram que dentre o universo de cento e cinquenta e
sete trabalhos submetidos ao WIE 2015, apenas oito abordavam a formação de
professores e o uso das tecnologias; e que diretamente ligado ao tema do trabalho, nenhum
artigo foi encontrado.
INTRODUÇÃO
Segundo Teruya e Moraes (2009, p. 303) “A utilização de computadores na
educação brasileira já era pensada na década de 1970” e se intensificou nas décadas de
80 e 90, a fim de atender a demanda da sociedade tecnológica digital globalizada.
O processo de informatização das escolas teve início com a criação do Programa
Nacional de Informática na Educação - PROINFO com o objetivo de “promover o uso
pedagógico das tecnologias de informação e comunicação nas redes públicas de educação
básica” (BRASIL, 1997). Com a publicação do Decreto 6.300, de 12 de dezembro de
| 705
2007 ― instituindo os objetivos do PROINFO ― ficou estabelecido, em seu Artigo 4º,
parágrafo II, um regime de colaboração entre a União e os Estados, Distrito Federal e
municípios, mediante adesão, sendo responsabilidades destes “viabilizar e incentivar a
capacitação de professores e outros agentes educacionais para utilização pedagógica das
tecnologias da informação e comunicação” (BRASIL, 2007).
Mobilizaram-se, então, esses entes federados para dar cumprimento ao que
norteava a Lei e logo os recursos tecnológicos e seu uso na educação passaram a ser alvo
de estudos e pesquisas por parte das universidades, visando, entre outros objetivos,
adaptar o currículo de formação inicial e continuada no sentido de proporcionar aos
REFERENCIAL TEÓRICO
Em nenhum outro momento da história as tecnologias trouxeram modificações tão
diversas e tão rapidamente como nos dias atuais. O impacto dessa revolução tecnológica
na sociedade contemporânea globalizada vem causando profundas alterações nas relações
sociais e no modo de produção capitalista. Essas transformações interferiram nas mais
[...] não é o acesso à tecnologia que promoverá a inclusão, mas sim, a forma
como essa tecnologia vai atender às necessidades da sociedade e comunidades
locais, com uma apropriação crítica, pois o papel mais importante do processo
de inclusão digital deve ser a sua utilidade social. É preciso pensar na
contribuição para um desenvolvimento contínuo e sustentável, com a melhoria
da qualidade do padrão de vida da população, através da redução das
desigualdades sociais e econômicas (SCHWARZELMÜLLER, 2005).
[...] es un mapa que nos permite continuar caminando; un estado del arte es
también una posibilidad de hilvanar discursos que en una primera mirada se
presentan como discontinuos o contradictorios. En un estado del arte está
presente la posibilidad de contribuir a la teoría y a la práctica de algo (1999, p.
145)154.
154
[...] é um mapa que nos permite continuar caminhando; um estado da arte é também uma possibilidade de tecer discursos que à
primeira vista se apresentam como descontínuos ou contraditórios. Em um estado da arte está presente a possibilidade de
contribuir para a teoria e prática de algo. (Tradução nossa).
DESENVOLVIMENTO METODOLÓGICO
Adotamos para o tratamento dos dados, a análise de conteúdo baseado em Moraes,
que destaca, “A análise de conteúdo constitui uma metodologia de pesquisa usada para
descrever e interpretar o conteúdo de toda classe de documentos e textos (1999, p. 8). A
análise foi realizada através de uma revisão bibliográfica com o objetivo de destacar o | 710
Trabalho Pedagógico e o Uso das Tecnologias na Educação.
Seguindo os procedimentos anteriormente’ elencados ― importantes para a
organização do processo de filtro, seleção e análise ― iniciamos a seleção dos artigos
observando os títulos e as palavras-chaves dos trabalhos publicados que tratassem de:
formação de professores para o uso das tecnologias, trabalho pedagógico, uso de
tecnologias na educação, docência, uso das TICs na educação. Em um segundo momento
realizamos a leitura dos resumos para identificar, nesse item do trabalho, algo relacionado
as categorias que elencamos como critério. O banco de dados foi o site dos anais do
No evento deste ano (2015), o WIE recebeu um total de 157 submissões das quais
foram selecionados e publicados 67 (sessenta e sete) artigos, distribuídos entre três
subtemas: Relatos de Experiência de uso de Tecnologias Digitais de Informação e
Comunicação (TDIC) na Educação; Formação de Recursos Humanos para o Uso das
Tecnologias Digitais de Informação e Comunicação (TDIC) na Educação e Impactos das
Tecnologias Digitais de Informação e Comunicação (TDIC) na sociedade.
Esse evento acontece anualmente sob a organização da Comissão Especial de
Informática na educação e tem como objetivo divulgar iniciativas nacionais e
internacionais de aplicação das Tecnologias da Informação e da Comunicação nas
Escolas.
| 711
Tabela 1
Tabela 2
Categorias eleitas
Categorias Quantidade
Formação de professores 4
Uso das TICs na Educação 7
Trabalho pedagógico 0
CONSIDERAÇÕES
Após análise do Workshop de Informática na Escola (WIE), concluímos que
dentre os 157 trabalhos apresentados em 2015, apenas oito tratavam sobre temas
relacionados à formação de professores e o uso das tecnologias na educação. Com relação | 714
ao tema “Trabalho pedagógico” não identificamos nenhuma submissão. De uma forma
geral os trabalhos apontam que o uso das tecnologias para fins pedagógicos ainda não é
devidamente explorado e que se faz necessário mais investimentos, no âmbito das
políticas públicas, para a formação de professores. Sabemos que juntamente com a falta
de fluência tecnológico-pedagógica dos professores há outros problemas que perpassam
a educação e que refletem diretamente a pouca ou inexistente utilização desses recursos
de forma pedagógica.
ABSTRACT: This article presents the results of a literature review that aimed to verify,
in academic productions, state of the art on the pedagogical work and the use of
technology in education. To this end, have been identified, categorized and analyzed the
studies published in Proceedings of the Workshop de Informática na Escola (WIE 2015),
an annual event which includes researchers in Education and teachers of schools, since
1995. We adopted, as a methodological instrument, the content analysis in order to
identify, based on the chosen categories, the most cited. The results showed that among
the universe of a hundred and fifty-seven papers submitted to WIE 2015, only eight were
related to the training of teachers and the use of technologies; and directly linked to the
theme of this work, no product was found.
REFERÊNCIAS
ALMEIDA, M. E. B. Tecnologia na Escola: Criação de Redes de Conhecimentos.
18.07.2008. Disponível em: <http://webeduc.mec.gov.br/midiaseducacao/material/
introdutorio/popups/m1_e2_pop_TecnologiaNaEscola.html>. Acesso em 27 jan. 2016.
CBIE & LACLO. Anais do 21º Workshop de Informática na Escola (WIE 2015)
FRIZZO, Giovanni Felipe Ernst; FERREIRA, Liliana Soares; RIBAS, João Francisco
Magno. A relação trabalho-educação na organização do trabalho pedagógico da
escola capitalista. Educação (UFSM), v. 38, n. 3, p. 553-564, 2013. Disponível em:
<http://cascavel.ufsm.br/revistas/ojs-
2.2.2/index.php/reveducacao/article/view/8987/pdf>.
Acesso em: 12 nov. 2015.
LIBÂNEO, José Carlos. Adeus professor, adeus professora? Novas exigências | 716
educacionais e profissão docente. 7.ed. São Paulo: Cortez, 2003. (Coleção Questões da
Nossa Época; v.67).
MORAES, Roque. Análise de conteúdo. Revista Educação, Porto Alegre, v. 22, n. 37,
p. 7-32, 1999. Disponível em: <http://cliente.argo.com.br/~mgos/analise_de_conteudo_
moraes.html>. Acesso em: 24 out. 2015.
| 717
sistêmica, o panorama de qualidade, tanto dos cursos quanto das instituições de Educação
Superior no Brasil, e, de forma indireta, do trabalho docente. O destaque desta avaliação
no país está relacionado à ideia de gerar uma forma de assegurar a qualidade da educação
oferecida. Essa preocupação é apontada pela própria Comissão Especial de Avaliação da
Educação Superior (CEA)155 no caderno dos Sinais lançado em setembro de 2003 e posto
em avaliação por diferentes segmentos da Educação Superior. Neste material se evidencia
155
A Comissão Especial de Avaliação da Educação Superior foi instalada pelo ministro da educação,
Cristovam Buarque, a qual foi presidida pelo professor José Dias Sobrinho (Unicamp).
com ênfase nos resultados ou produtos dos sistemas educativos” (AFONSO, 2005, p.49).
É neste contexto de reconfiguração do papel do Estado que a avaliação externa aparece
como forma estratégica de gerar produtos, adotando uma concepção neopositivista, na
qual os indicadores mensuráveis aparecem como verdades inquestionáveis.
Para Ball (2004) se organiza no setor público o incentivo aos valores dos negócios
e a “moralidade utilitária” que atuam para destruir os valores da ética profissional. É,
nesse contexto, que vale questionar quais decisões e objetivos envolvem a avaliação da
Educação Superior no país? Pois, a necessidade da avaliação sistêmica é inquestionável,
o que se indaga é o sentido incorporado por ela. Para Freitas (2007, p.974) o sentido da
avaliação em larga escala deveria ser, preferencialmente, a “avaliação das próprias
políticas públicas” de educação e não da instituição em si como vem ocorrendo.
Entretanto, o mesmo autor, enfatiza que a crítica ao modelo vigente não pode ser
entendido como defesa da não avaliação. É necessário, inclusive, garantir que todos os
envolvidos com a educação desenvolvam efetivamente seu trabalho com compromisso, | 724
garantindo uma educação pública de qualidade para todos, ou seja, o Poder Público é
obrigado a ‘regular’ para intervir em uma parcela do serviço público que não se engaja
com o trabalho oferecido a sociedade. Isto não significa que o seu papel fique restrito a
esta função, mas que declare a responsabilidade partilhada dos resultados entre governo
e instituições e apresente os fatores que ficam ocultos no atual processo de avaliação em
larga escala, como a diferença social historicamente construída em nosso país (FREITAS,
2007) e que cabe a ele intervir.
| 725
A composição de um governo historicamente de esquerda fez coadunar posições
apontando inicialmente a reestruturação dos diferentes setores, dentre eles o educacional.
Assim, se a indicação da Comissão Especial de Avaliação (2003) destacava as bases para
uma nova proposta de avaliação da Educação Superior Brasileira, em 2004 tivemos a
oficialização dos Sinaes com características, ainda que peculiares, que não se diferenciava
significativamente da lógica avaliativa presente no país até aquela data, ao contrário,
surpreendia pelo aprofundamento das políticas liberais da era FHC agora sob o governo
de Lula. Como aponta Freitas (2007, p.966) os que nele votaram esperavam, “já no
O uso dos índices segundo Rothen (2011) fundamenta-se em dois aspectos: eles
simplificam realidades complexas e a sua legitimidade baseia-se no caráter técnico dos
órgãos que fazem a medição, neste caso, o Inep. A acentuada utilização dos índices
representa a permanência da visão de neutralidade da avaliação.
A constituição de indicadores que garantam a competição entre as instituições de
Ensino Superior marcam a proposta da Reforma do Estado, o qual assume o papel de
realizar e publicar índices. O próprio Estado garante que o mercado funcione com
parâmetros que permitam a concorrência e a decisão de escolha dos “consumidores”.
Para Catani, Oliveira e Dourado (2004, p.251) a avaliação vem adquirindo forte
centralidade no movimento de reestruturação da educação superior, “desencadeando
alterações substantiva no padrão de regulação, gestão e controle da produção do trabalho
acadêmica.” Se contextualiza um tempo em que os Centros de Excelência se limitam a
Considerações finais
Nesse entremeio o próprio trabalho coletivo é prejudicado, visto que todos estão | 730
individualmente voltados para as suas produções (artigos - se possível Qualis A –,
relatórios de pesquisa e novas solicitações de bolsa). Esse percurso teve forte influencia
da avaliação dos programas de pós-graduação, que buscam atingir as “metas” da Capes
para se manterem com uma boa pontuação. Os professores passam a ter suas pesquisas e
produções reguladas, o que afeta a autônima tão cara à Universidade. A avaliação externa
permite que o Estado modifique e direcione as práticas e subjetividades das instituições
e dos professores sem um confronto direto, mas sim de forma sutil e camuflada pelo
discurso da qualidade.
Referências
AFONSO, Almerindo Janela. Avaliação educacional: regulação e emancipação: para
uma sociologia das políticas avaliativas contemporâneas. São Paulo: Cortez, 2005.
SILVA JUNIOR, João dos Reis e SGUISSARDI, Valdemar. A nova lei de educação
superior: fortalecimento do setor público e regulação do privado/mercantil ou
continuidade da privatização e mercantilização do público? Rev. Bras. Educ. 2005.
INTRODUÇÃO
156
Desse ponto em diante, as estudantes investigadas serão nomeadas como colaboradoras do estudo.
157
Projeto registrado no Gabinete de Projetos sob o número 037545, intitulado “Experiências corporais na
infância e suas relações com a formação de professores para a Educação Infantil”, desenvolvido no
Grupo Pátio de Estudos Qualitativos sobre Formação de Professores e Prática Pedagógica em Educação
Física.
158
Para isso foi adotado o uso de um Termo de Compromisso Livre e Esclarecido (TCLE) entregue a cada
colaboradora e assinado pelas mesmas.
JUSTIFICATIVA
Entendemos por meio desta investigação que a carência de vagas, assim bem
como de modo geral a desigualdade no atendimento, resulta em uma das formas de
violência contra crianças, uma vez que, estas não deixam de ser excluídas, de um direito
que deveria ser-lhes assegurado, que é a educação. Mais do que isso nos intriga/ aflige é
forma como estas questões são tratadas, pelos sistemas educacionais e órgãos
| 737
competentes os quais tratam a questão, embora também reconheçamos que hajam
instituições as quais façam o possível e não meçam esforços para assegurar tal direito.
DESENVOLVIMENTO
Ao longo da história podemos observar diferentes entendimentos sobre o
fenômeno da infância e, decorrente disso, a criança tem ocupado diferentes posições na
sociedade ocidental. Estamos considerando o entendimento de criança de modo amplo
pois, o tratamento dado a ela apresenta nuanças específicas em diferentes culturas.
Segundo Postman (1999, p. 51), ao separarmos o mundo adulto do mundo das crianças,
No que diz respeito ao papel e condição da criança em nossa sociedade, Gomes | 738
(2013, p. 205) cita que:
Tais papéis estão modificando-se: a criança pequena é hoje compreendida
como um ser com capacidades, sujeito de direitos desde a gestação no útero
materno, um ser produtor de culturas, já não um “infante” que precisa da voz
do outro, do adulto, para fazer-se perceber socialmente.
Na afirmativa acima nos fica claro a importância da criação de espaços para debate
e reconhecimento destas transformações as quais acontecem em nossas sociedades, como
podemos perceber a família assim como outras instituições sociais também passam por
grandes mudanças, inclusive em relação aos papéis de homem, de mulher e de criança
que também se inserem na ordem do dia-a-dia, como já lembrava a autora.
Ao longo deste projeto será realizada uma ampla análise de como tem ocorrido as
relações/ interações sociais por meio do movimentar-se, partindo de que o mesmo
também é parte do outro estado, em que o “não movimentar-se” também tem sido
| 739
compreendido como experiência, também presentes no processo de desenvolvimento dos
sujeitos. Mais do que isso, em todas experiências as quais experimentamos em um dado
tempo, e também levando em conta os diferentes contextos que essas experiências
ocorrem, de um sujeito para outro, ou do “eu” em interação com o “outro” nas mais
diversas instâncias sociais, sabemos que estas últimas são frutos das relações sociais as
quais são construídas ao longo de nossas vidas.
De acordo com Belloni (2009, p.81), o pensamento não está presente na cabeça
de um indivíduo como algo inato, mas é uma construção que se dá por meio das interações
sociais, as quais são atividades materiais, individual e coletivamente constituídas e
159
Idem as Tics mencionadas na apresentação da obra de Belloni (2009), utilizada como referência neste
trabalho, considerando “tecnologias da informação e comunicação” (TIC), as seguintes mídias:
Televisão e suas variante (Videocassete, DVD, antena aberta, por assinatura); jogos de vídeo
(videogames) e de computador; máquinas fotográficas e filmadoras de vídeo; ipods, MP3; telefones
celulares; e redes telemáticas. Quando dizemos “mídias de massa” nos referimos principalmente à
televisão e ao rádio.
A história de vida da própria Josso (2004) nos pode auxiliar na compreensão dessa
abordagem de formação quando, segunde a própria autora, na escola básica ela não se
interessava pelas aulas e se aborrecia, exceto quando havia entre ela e algum (a) professor
(a) uma relação de afetividade, havia uma enorme capacidade de implicar-se nas aulas,
tirando boas notas e até fazer mais do que a professora pedia, num sentido de esforçar-se
e empenhar-se no aprendizado. A partir disto poderiam surgir mais perguntas a serem
respondidas, por exemplo como desenvolver a criatividade no pensar e no fazer sem a
imaginação? Ou ainda, através da imaginação é possível atribuir e/ extrair valor
formativo? Além destas outras como por exemplo, a imaginação poderia auxiliar na
capacidade comunicativa? Seria possível o desenvolvimento de habilidades
instrumentais, mentais/ afetivas, relacionais e sociais por meio do incentivo à imaginação
através do brincar? Enfim são muitas perguntas as quais muitas vezes podem passar
despercebidas na situação do brincar.
Por assim dizer pensando em experiências, lembremos de Larrosa (2002), P. 21: | 741
“Experiência é o que nos passa, o que nos acontece, o que nos toca. Não o que se passa,
não o que acontece, ou o que toca.” O brincar deveria ser pensado nesta perspectiva de
experiência, pois a experiência sendo “algo como uma superfície sensível que aquilo que
acontece afeta de algum modo, produz alguns efeitos, inscreve algumas marcas, deixa
alguns vestígios, alguns efeitos, como já lembrado por Larrosa.
Sobre o quanto é importante a curiosidade se manter viva na criança, já conforme
citado, por Kunz (2015), P.103 a criança é por natureza curiosa, tem desejo de conhecer,
tocar e experimentar. Por vezes tenho me perguntado o que se passa com a curiosidade
“No âmbito desse processo à docência não é encarada como uma profissão,
podendo vir em evidências mais a questão da proletarização. Cabe lembrar que
no momento atual, apesar de médicos, advogados, ou engenheiros terem
autonomia profissional, código de ética, corpo de conhecimento, entre outras
Deixo claro que mais tarde sustentarei nas páginas que seguem aquilo que vejo
como possíveis respostas para tais perguntas, que muito nos inquieta como educadores.
Onde as relações sociais promovem experiências as quais ocorrem por relações desiguais
no sentido de negar aquilo que se entende por necessidades do ser humano, entendemos
que as escolas, assim como os professores (as) de alguma forma entrarão em conflito com
a juventude, e principalmente com a infância que aqui muito nos interessa como foco de
estudo. Como podemos perceber os novos meios de entretenimento, somados as TICs,
nos tem mostrado que o brincar de outrora não será mais o mesmo, quando relacionado
ao brincar da atualidade.
O brincar em meio a esse emaranhado de circunstâncias, passa a ter um aspecto
semelhante a ideia de que se tem de lúdico, como se o lúdico não propiciasse
conhecimentos, ambos têm sido compreendidos como um vazio, algo sem importância
para o desenvolvimento das crianças. A gratuidade do brincar acaba, muitas vezes, sendo
solapada por um processo de pedagogização do mesmo através de seu uso, direcionado,
como recurso pedagógico em função de aprendizagens consideradas produtivas por seu
caráter funcional.
Poucas são as disciplinas que abordam a infância no (CEFD/UFSM), conforme
estudo de Brum (2014, p 8,9), menos da metade das disciplinas da grade curricular do
curso de Educação Física/Licenciatura da UFSM se referem a termos específicos para o
trabalho com a Educação Física nos anos inicias, estes dados são encontrados através de
uma análise do PPP do referido centro citado acima. Mesmo que no Estado do Rio Grande
do Sul, não esteja prevista a presença de professor de (EF) nas turmas de (EI) entendemos | 743
que o direito à cultura corporal não deva ser negada aos anos inicias, pois este trato com
a (EI) inviabiliza o desenvolvimento através de distintas experiências, até mesmo pelo
brincar o qual deve ser considerado.
A escolha dos (as) formandos (as) participantes foi pautada por estarem prestes a
exercerem sua profissão nas escolas, justo pelo fato de já terem vivenciado o currículo
em quase sua total formação acadêmica. Ser criança, viver experiências diferentes,
Dessa maneira o que esperamos com os objetivos de nosso trabalho é aprender | 745
uns com os outros, tendo consciência de construções de diversas identidades, por meio de
nossos sonhos, condutas, pelos nossos hábitos os quais também construímos ao longo de
nossas vidas. A citação acima nos deixa evidente que o sentido hermenêutico se constitui
de interpretações, e relações que podem se estabelecer entre as diferentes formas de ser,
estar, pensar e conviver num mundo histórico, social e cultural.
Muitas vezes ao longo de nosso percurso formativo pessoal e profissional é
preciso identificar as singularidades e pluralidades que as identidades possam apresentar
as quais também se formam, querendo ou não nós nos formamos, para não dizer que não
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Portanto, por meio desta pesquisa, enfatizamos que o brincar durante a infância das
pedagogas entrevistadas de modo geral não foi contemplado na escola, de uma forma | 746
livre e espontânea. O movimento corporal nas escolas por onde estudaram ao longo de
suas infâncias seja por meio do brincar, ou não, foi desconsiderado como via de
conhecimento a qual promove aprendizagens. Sendo que a alfabetização foi marcante em
grande parte dos casos investigados estado presente nas narrativas das colaboradoras.
Em contrapartida, nota-se pelas quatro falas, que o brincar está ganhando mais
espaço no meio escolar, fato observado por meio dos relatos relacionados as suas atuações
nas instituições de EI, porém percebe-se no presente momento que o brincar não tem sido
abordado nas instituições de ensino superior em sua total importância. Em diálogo com
REFERÊNCIAS
BELLONI, Maria Luiza. O que é Sociologia da Infância/Maria Luiza Belloni. –
Campinas, SP: Autores Associados, 2009. (Acadêmico de Bolso).
CRAIDY & KAERCHER. Educação Infantil: Para que te quero? / Organizado por
Carmem Maria Craidy e Gládis Elise P. da Silva Kaercher – Porto Alegre: Artmed, 2001.
ROCHA, Maria Sílvia Pinto de Moura Librandi. Não Brinco Mais: a (des)contrução do
Brincar no Cotidiano Educacional/ Maria Sílvia Pinto de Moura Librandi da Rocha. – 2
Ed. Ver. – Ijuí: Editora Unijuí, 2005. (Coleção fronteiras da Educação).
| 749
Resumo
Dessa forma, o estudo de Santos (2011) teve como objetivo compreender como os
professores sem formação para a docência mobilizam seus saberes e quais as implicações
para a formação continuada do professor reflexivo-crítico. Contudo, chega à conclusão
de que o professor bacharel dos cursos investigados se baseia mais por uma racionalidade
Sínteses e considerações
Referências bibliográficas
| 762
UNESP/FC
mjsfer@fc.unesp.br
Resumo
160
É importante registrar que a função já existia na rede estadual, mas, antes de 1996, estava limitada a
projetos específicos da pasta da Educação, tais como o Ciclo Básico, CEFAM e Escola Padrão
(Fernandes, 2004)
161
As escolas da rede estadual paulista estão vinculadas às Diretorias Regionais de Ensino as quais
apresentam Núcleos Pedagógicos que funcionam como polos de divulgação e acompanhamento das
políticas internas da Secretaria.
162
Pela importância do termo “pedagógico” na constituição e identidade da função, utilizamos ao longo do
texto a denominação PCP, mesmo após as alterações legais.
O que inicialmente era uma hipótese que levantávamos (Fernandes, 2012), foi de fato
se efetivando nas diretrizes legais, uma vez que foi possível, posteriormente, identificarmos
como atribuição específica do coordenador de área “substituir, em situações excepcionais, os
professores da escola em suas ausências e impedimentos legais de curta duração, exceto quando
se tratar de aulas da disciplina de Educação Física” e “responder pela direção da unidade escolar,
em caráter excepcional e somente em termos operacionais, em ocasional ausência do Vice-
Diretor, nos períodos em que o Diretor estiver atuando como agente difusor e multiplicador do
modelo pedagógico da respectiva escola” (São Paulo, 2015b).
Consideramos que tais alterações são graves ataques à coordenação pedagógica, pois,
além de retirarem parte de um tempo já insuficiente que deveria ser voltado para a organização
e formação do trabalho coletivo, estabeleceram como atribuições atividades diretamente
relacionadas à docência e à direção escolar. No caso específico da docência, identificamos o
risco eminente do PCP assumir uma situação precária como professor volante, ocupando as
horas destinadas às funções pedagógicas para trabalhar com conteúdos diversos à formação
inicial.
Registramos que estudos já realizados na rede paulista (Santos, 2016; Barbosa, 2011;
Aranha, 2007) indicaram o elevado número de professores que se ausentavam recorrentemente
das atividades docentes pelos mais diversos motivos, exigindo a atuação diária de professores
substitutos, sempre em número menor que as ausências. Santos (2016), apresentou dados
alarmantes acerca destas ausências dos professores. Ao considerar dados do sindicato oficial, a
referida autora apontou que no ano de 2010, durante seis meses, 19 mil professores saíram em | 767
licença médica, sem contar as faltas diárias (abonadas, justificadas etc.). Levando-se em conta
dados desta natureza, inferirmos que o professor coordenador pedagógico (muitas vezes
concursado e com vários anos de trabalho na docência) poderia vir a ser um professor precário
exercendo um trabalho decorrente de uma situação histórica para a qual o Estado não tem
criado alternativas viáveis. Desta forma, entendemos que abriram-se brechas legais para que o
já denominado “faz tudo” ou “Bombril” assumisse novas atribuições “tapando buracos”
estruturais na rede pública paulista.
Mas, se essas atribuições nos chamaram atenção, outras também não poderiam
A partir da Resolução 88/2007, publicada como parte do Programa São Paulo faz
Escola, a coordenação pedagógica deu uma grande guinada do ponto de vista legal no
sentido de afinar-se às medidas reformistas. Neste ano, inclusive, foi aprovada a Lei
Complementar nº 1018, ironicamente no dia destinado aos professores, que “instituiu a
Gratificação de Função aos servidores”. Ou seja, os integrantes de classes de docentes
do Quadro do Magistério, que estivessem em exercício nas unidades escolares designados
como professores coordenadores receberiam a partir daquele momento a importância
percentual de 15% sobre a escala de vencimentos. Apesar de parecer uma forma de
valorização da função, a criação da gratificação contribuiu para reestabelecer a combatida
hierarquia na rede pública de ensino e o enquadramento do trabalho a partir da maior
aproximação entre a coordenação pedagógica e os órgãos centrais e intermediários da | 768
SEE/SP. A carreira aberta que, desde 1985, com a aprovação do Estatuto do Magistério,
tornava possível aos professores assumirem a coordenação pedagógica sem alteração
salarial (a variação dava-se apenas pelo maior número de horas trabalhadas) era defendida
pelo sindicato como forma de democratização das relações de trabalho, combatendo a já
existente diferença entre executores e executantes que era tão marcante na rede estadual.
Em estudo voltado para a análise do programa “São Paulo faz Escola”, Rodrigues (2011)
identificou o papel de monitoramento direto e indireto dos PCPs junto aos professores dos anos
iniciais, cerceando a autonomia docente:
Dada a proximidade com o trabalho realizado nas escolas pelos professores, os PCPs
passaram a ser, sob o ponto de vista legal, os “olhos e ouvidos do rei”, facilitando “o papel de
monitoramento do Estado, que governa à distância - governando sem governo” (Ball, 2005, p.
548). Num claro movimento de controle e monitoramento das escolas para implantação do
currículo oficial e obtenção de índices de desempenho nas avaliações externas, as reformas
gerencialistas e performáticas se apropriaram da função, reduzindo os espaços
tradicionalmente marcados pela autonomia e atuação ativa dos PCPs. Se nas resoluções iniciais
(28/1996 e 76/1997) o foco do trabalho era a elaboração e desenvolvimento do projeto político
pedagógico definido a partir do diagnóstico da própria escola, passou, com o tempo, a ser o
atendimento às determinações estabelecidas externamente. Desta forma, os espaços de
desenvolvimento profissional e fortalecimento da autonomia escolar foram não só reduzidos,
mas também controlados de fora para dentro.
163
HTPC – Hora de Trabalho Pedagógico Coletivo.
164
ATPC – Aula de Trabalho Pedagógico Coletivo.
165
É importante registrar que os ocupantes da função são sempre professores que não receberam uma
preparação específica para atuação na coordenação pedagógica. As pesquisas que realizamos
(Fernandes, 2008 e 2012) indicaram claramente que a formação continuada oferecida pela SEE/SP
aproximou-se mais de uma “deformação”, já que nestes momentos os PCPs são estimulados a seguir
preceitos da Secretaria.
166
No Estado de São Paulo a supervisão é um cargo lotado nas Diretorias Regionais de Ensino e os
supervisores são responsáveis pelo acompanhamento das atividades pedagógicas em várias unidades
escolares ligadas às DEs.
Considerações Finais
Referências
SÃO PAULO (Estado). Secretaria de Estado da Educação. Estatuto do Magistério. São Paulo, SP,
1985.
SÃO PAULO. Sindicato dos Professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo. Caderno de
Formação. São Paulo, SP, nº 0 (zero), 1996c. p. 3-8.
| 776
SÃO PAULO (Estado). Secretaria de Estado da Educação. Resolução SE nº 76/1997.
Dispõe sobre o processo de seleção, escolha e designação de docente para exercer as
funções de Professor Coordenador, em escolas da rede estadual de ensino. SP, 1997.
SÃO PAULO (Estado). Secretaria de Estado da Educação. Caderno do Gestor. SP, 2007b.
SÃO PAULO (Estado). Secretaria de Estado da Educação. Uma nova agenda para a educação
pública. SP, 2007b.
Resumo:
Considerando a temática central do VIII Encontro Brasileiro da Rede Estrado, apresento
um apanhado das políticas de formação inicial de professores no Brasil, destacando a
importância da articulação teoria-prática e identificando a forma como essa articulação
se apresenta em diferentes períodos. A discussão converge para a reflexão em torno de
espaços de educação não formal e popular, como espaços possíveis de desenvolvimento
de práticas que auxiliem na formação de professores, com base em estudiosos como Freire
(1987), Freitas (2010), Gohn (2011), Pereira e Pereira (2010), apresento aspectos
históricos e legais da formação inicial de professores no Brasil, mudanças geradas por
novas propostas de organização da Educação Básica e suas implicações nos processos de
formação de professores, com base nos estudos de Saviani (2009), Gatti (2010 e 2012) e
Dourado (2015), além da legislação conexa. Inicialmente, apresentarei alguns dados
históricos relativos à Formação inicial e continuada de Professores, a seguir, abordarei
questões relativas às características e potencialidades das práticas educativas em
educação popular e educação não formal, com o objetivo de identificar de que forma esses
espaços podem ser auxiliares na formação de professores. Finalmente, serão tecidas as
considerações finais, levando-se em conta o que foi discutido ao longo do texto.
Palavras-chave: Formação de Professores; Educação não formal; Educação Popular.
INTRODUÇÃO
167
O método Lancaster estava pautado na oralidade, na repetição e na memorização.
A identidade docente brasileira, cabe ressaltar, está marcada fortemente por uma
tradição disciplinar, o que acarreta resistências a soluções e propostas curriculares com
caráter interdisciplinar, apesar de ações com essas características já tenham sido
Além das diretrizes que são sinalizadoras de busca de maior organicidade para
a educação nacional no decênio 2014/2024, o PNE apresenta 20 metas e várias
estratégias que englobam a educação básica e a educação superior, em suas
etapas e modalidades, a discussão sobre qualidade, avaliação, gestão,
financiamento educacional e valorização dos profissionais da educação.
(DOURADO, 2015, p. 301)
Essa política articula-se com uma das metas do PNE – a meta 12, que “prevê a
ampliação efetiva de vagas na educação superior, definindo que 40% destas vagas
deverão ser oferecidas pelo setor público” (p. 302).
Um grande avanço em direção à consolidação da Política Nacional de Formação
de Professores foi iniciado com a aprovação das novas Diretrizes Curriculares Nacionais
(DCNs), aprovadas pelo Conselho Pleno do Conselho Nacional de Educação - CP/CNE.
168
Grifo nosso.
A Educação Popular pode ser caracterizada como uma prática educativa que
valoriza saberes não acadêmicos e promove o estímulo à emancipação pessoal dos
educandos. Uma das principais características de um educador popular é a ação
pedagógica pautada na problematização, reflexão e combate de mecanismos opressores,
sem colocar em momento algum o educando em posição subalterna, valorizando seus
conhecimentos prévios.
A pesquisa em torno da educação popular também tem se intensificado e há alguns
estudos que relacionam as práticas educativas oriundas da Educação popular ao ensino
CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
________. Lei nº 5.692, de 11 de Agosto de 1971 Fixa Diretrizes e Bases para o ensino
de 1° e 2º graus, e dá outras providências. Disponível em:
<http://www2.camara.leg.br/legin/fed/lei/1970-1979/lei-5692-11-agosto-1971-357752-
publicacaooriginal-1-pl.html>. Acesso em: 21 dez. 2015.
DOURADO, Luiz Fernandes. Diretrizes curriculares nacionais para a formação inicial e | 793
continuada dos profissionais do magistério da educação básica: concepções e desafios.
Educação & Sociedade, Campinas, v. 36, nº. 131, p. 299-324, abr.-jun. 2015.
Disponível em:< httpwww.scielo.brpdfesv36n1311678-4626-es-36-131-00299.pdf>.
Acesso em 17 dez. 2015.
FREIRE, P. Pedagogia do oprimido. 17. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1987.
FREITAS, Ana Lúcia Souza de; MACHADO, Maria Elisabete. Formação com
educadores/as e os desafios da práxis da Educação Popular na Universidade. Educação,
Porto Alegre, v. 33, p. 137-144, 2010
Resumo
Esse artigo é um recorte de um trabalho maior, que foi realizado com cinco
acadêmicas do 8º semestre de um Curso de Licenciatura em Pedagogia, de uma
Universidade Federal gaúcha. A pesquisa teve como objetivo investigar quais os sentidos
de trabalho, evidenciados nos discursos das acadêmicas. Para a pesquisa, optou-se pela
metodologia de cunho qualitativo, realizando-se um estudo, em que foram feitas
entrevistas semiestruturadas, e, posteriormente, a análise de conteúdo de todas as
respostas, entendidas como discursos das interlocutoras acerca de suas compreensões
sobre o trabalho dos pedagogos. Percebeu-se que os sentidos de trabalho como vocação
estão presentes nos discursos das acadêmicas entrevistadas e que suas justificativas são
as mais diversas, desde “o exemplo familiar” até “sempre quis ser”, incluindo “por eu
gostar de crianças”. Desta forma, compreendeu-se que as acadêmicas veem a profissão
de pedagoga com um sentido romântico, percebendo o seu trabalho como o de uma
“segunda mãe”, alguém que tem uma missão social a cumprir.
1. INTRODUÇÃO
É visivelmente perceptível, que a mulher não foi aceita pela maioria dos
professores homens como uma “vocacionada”, mas sim um sujeito que estaria ocupando
o seu lugar pelo fato de que este não mais lhe servia, pois não estaria recebendo o que
realmente “merecera”. Com tais argumentações, percebe-se que a mulher não foi
chamada para ser professora aleatoriamente ou simplesmente pelo fato de ser
“vocacionada”, mas por ser um sujeito menos reconhecido no campo do trabalho,
consequência de um processo social e econômico. Assim, o Estado utilizou desse discurso
de “vocacionada” para unir o útil e o agradável: não deixaria a sociedade sem educação,
A busca pelo saber não deve se deter apenas nos estudantes. Há necessidade de o
professor deve querer aprender com o estudante, não se prender apenas em “transmitir”
algo. A produção do conhecimento acontece em uma socialização, na qual professores e
estudantes aprendem de forma conjunta, pois não existe saber acabado.
Ainda pensando nos elementos fundamentais do trabalho de professora pedagoga,
existem outros que também são importantes e que apareceram nos discursos das
acadêmicas. A criatividade, vontade e confiança, devem estar presentes no dia a dia. Não
se deve deixar abater, aceitar e acomodar diante dos desafios que a rotina reserva. Sendo
assim, a importância do “gostar do que faz” e a “dedicação” do trabalho são elementos,
fatores, que irão fazer ou não a diferença. Se for professora e pedagoga que preferem
fazer o mesmo sempre, sem incentivar e motivar os estudantes, o trabalho será cumprido
apenas e com pouco ou nenhum significado para os envolvidos:
A3 - “(Silêncio) Ah! Primeiramente a pessoa tem que gostar do que faz.
Segundo, eu acho que, a responsabilidade, que, que uma profissão exige, da
Pedagogia no caso, é, é acima de qualquer outra profissão. Hãm, além da
responsabilidade, de gostar do que faz, eu acho que ela tem que ter dedicação
e empenho, porque são muitos os percalços que a, que um pedagogo enfrenta
hoje. Desde a questão salarial, desde da, da jornada de trabalho. Então, eu acho
que tem que gostar mesmo, do que faz.”
A4 - “Acho que dedicação, ao que tu vai, ao teu trabalho. O, o afeto com as
crianças que é o principal, a relação com eles, e o teu respeito por eles e com
a tua profissão”.
REFERÊNCIAS
| 810
IDEIAS INTRODUTÓRIAS
Esta pesquisa é financiada pela CAPES – Coordenação de Aperfeiçoamento de
Pessoal de Nível Superior. Está vinculada à pesquisa Aprendendo a Profissão:
professores em início de carreira, as dificuldades e descobertas do trabalho pedagógico
no cotidiano escolar, do GEPFAPe – Grupo de Estudos e Pesquisas sobre a Formação e
Atuação de Professores/Pedagogos, financiada pelo CNPq – Conselho Nacional de
169
Dados coletados no próprio site da SEDF: < http://www.se.df.gov.br >.
IDEIAS CONCLUSIVAS
Problematizamos a formação de professores neotecnicista – com base nas
competências, em um sistema aligeirado, com a intenção de se formar um quantitativo
REFERENCIAS
CUNHA, M. I. Pedagogia universitária : energias emancipatórias em tempos neoliberais.
Araraquara: Junqueira e Marin Editores, 2006.
______. O Capital: crítica da economia política [Vol. I, capítulo V e VIII; Vol. II,
capítulo XIV]. Tradução de Reginaldo Sant’ana. 33 ed. Rio de Janeiro: Civilização
Brasileira, 2014.
MORAES, Maria Célia Marcondes de; e TORRIGLIA, Patrícia Laura. Sentidos de ser
docente e da construção de seu conhecimento. In: MORAES, Maria Célia Marcondes de
| 826
| 827
ESTIVALETE, Emerson Bianchini. IFC – Campus Rio do Sul, SC; Aluno de Doutorado
no PPGEdu da PUCRS. Bolsista CAPES/PROEX. E-mail:
emersonestivalete@gmail.com
Resumo: Este trabalho tem o propósito de abordar ideias sugerindo possíveis reflexões no
sentido da valorização da profissionalização pedagógica na carreira docente do magistério
público federal. O campo de investigação se compôs dos depoimentos de dois grupos de
interlocutores, os quais totalizaram quatorze participantes. A coleta de dados estendeu-se de
agosto de 2012 a outubro de 2013, mediante observação participante, análise documental e
entrevista semiestruturada. Os dados foram analisados através de Análise Textual Discursiva,
conforme ensinam Moraes e Galiazzi (2011) e resultaram em seis categorias, das quais somente
duas são aqui exploradas. Os achados da pesquisa apontaram para a necessidade de valorização
da profissionalização pedagógica dos servidores públicos docentes na carreira do ensino básico,
técnico e tecnológico da rede federal como forma de melhorar a qualidade a partir do
aprofundamento da compreensão das especificidades do campo da educação quando do seu
embricamento com as diferentes áreas do saber.
Introdução | 828
O presente resumo expandido é resultado, em parte, do estudo que deu origem a uma
dissertação de mestrado defendida em 2014, no Programa de Pós-Graduação em Educação da
PUCRS, cujo objeto de análise foi o currículo integrado170, suas proposições legais e seus efeitos
170
Para Santomé (1998, p. 112), a denominação de currículo integrado pode resolver a dicotomia e/ou o
debate colocado na hora de optar por uma denominação do currículo que por sua vez integre os
argumentos que justificam a globalização e os que procedem da análise de defesa de maior parcela de
interdisciplinaridade no conhecimento e da mobilização das inter-relações sociais e políticas. A isso me
permito agregar a possibilidade de pensar um currículo que leve em consideração os sujeitos para os quais
se volta, considerando suas vivências pessoais, sociais, culturais e, no nosso caso específico, de trabalho.
Objetivo
Atentar para a necessidade da profissionalização pedagógica do docente, especialmente
para o ensino técnico de nível médio de modo que, a partir do reconhecimento da importância
desses saberes para a profissão, no sentido da aproximação entre teoria e prática possa-se
vislumbrar melhora da qualidade nos processos de ensino e aprendizagem.
Referencial Teórico
Quando nos propomos refletir sobre a educação, muitos são os pontos que merecem
relevo na análise, porém, a qualidade173 tem se mostrado um dos temas mais discutidos,
principalmente quando levamos em conta seu contexto mais contemporâneo, marcado pelas
tentativas governamentais, através de políticas públicas, de ampliar o acesso à educação e a | 829
permanência nas Instituições tanto em âmbito privado, através de bolsas e financiamentos,
quanto público com a criação e ampliação das Instituições Federais de Ensino.
171
Entre outras questões que mobilizaram a pesquisa, busquei entender de que forma acontecia essa
integração anunciada no nome do curso.
172
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2008/lei/l11892.htm acesso em: 10/12/2015
173
Alinhado a Rios (2010, p. 64), entende-se neste estudo que “o conceito de qualidade é totalizante,
abrangente e multidimensional. É social e historicamente determinado, porque emerge em uma
realidade específica de um contexto concreto. Portanto, uma análise crítica da qualidade deverá
considerar todos esses aspectos, articulando aqueles de ordem técnica e pedagógica aos de caráter
político-ideológico”.
174
A substituição da expressão “formação continuada de professores” para “formação continuada com
professores” (grifo do autor) é uma tentativa de valorização do trabalho coletivo e solidário que deve
ser a marca de toda e qualquer atividade na escola. Penso que nos encontros de formação o grupo de
educadores necessita da mútua colaboração tanto para o estudo teórico quanto para a reflexão sobre
práticas. Há que avançar na antiga postura através da qual um especialista “ensina” aos demais
professores o que devem fazer, como deve ser feito e quando deve ser feito, mediante prescrições que,
na maioria das vezes, não encontram sustentação nas atividades cotidianas realizadas em sala de aula .
175
Segundo Santos e Duboc (2005, p. 4) “a profissionalidade se constrói na relação com o campo semântico
das formas de expressão das identidades e das construções, nas trocas sociais e simbólicas estabelecidas
entre os sujeitos. Constitui-se pela autonomia que exerce na escola, diante de seu trabalho; pela
responsabilidade de sua formação permanente; pela capacidade de aprender e refletir sobre sua ação”.
Metodologia
Nas últimas décadas, os estudos de caso têm ganhado significado cada vez mais
relevante no campo da educação. Dessa forma, essa modalidade de pesquisa tornou-se
viável diante das particularidades do objeto, bem como a complexidade que um tema
educacional representa numa investigação.
Ao analisar os tipos de estudo de caso, optei pelo etnográfico que, em que pese ter
surgido recentemente em pesquisas no campo da educação, propõe, entre outras formas, | 831
Resultados
O estudo constatou ausência de formação pedagógica ou fragilidades que contribuem
consideravelmente para minar a qualidade dos processos de ensino e aprendizagem quando a
prática educativa esta ancorada na tradição reprodutivista do senso comum e não se deixa
iluminar pela teoria que se faz presente no processo de profissionalização do docente. Ao
examinarmos as categorias que emergiram das análises dos dados coletados, o resultado
encontrado aponta para inexistência ou dificuldade na articulação entre a teoria pedagógica e a
prática educativa na medida em que a profissionalização docente deixa de ser valorizada assim
com também, equivocadamente, despreza-se o contínuo processo formativo pedagógico ao
longo de toda a carreira docente. A retomada dessas discussões no sentido do reconhecimento
do seu valor pelos gestores e professores que ministram aulas nas diferentes áreas do saber tem
se configurado num dos grandes desafios para o enfrentamento da docência quando se busca
um trabalho de excelência.
Conclusão
Pelo exposto, o que se espera é que as ideias aqui colocadas auxiliem nas reflexões
acerca da importância da profissionalização docente em âmbito pedagógico, no sentido de que
a formação inicial e continuada possam oferecer condições para o aumento do senso de
pertencimento do profissional ao campo educativo e com isso oportunizar condições | 832
diferenciadas de acesso à qualidade face ao aprofundamento dos conhecimentos específicos da
área pedagógica e suas relações com as diferentes áreas do saber representadas pelos diversos
componentes que integram o currículo.
Referências
ANDRÉ, Marli E. D. Afonso de. Estudo de caso em Pesquisa e Avaliação Educacional. Brasília:
Liber, 2008.
BRASIL, Lei 11.892 de 29/12/2008. Disponível em http://www4.planalto .gov.br/legislação
| 833
INTRODUÇÃO
Este estudo é fruto das reflexões sobre a temática trabalho pedagógico produzidas
pelo Grupo de Estudos Praxiológicos (GEP-Brasil) e Grupo de Estudos e Pesquisas sobre
Trabalho, Educação, Políticas Públicas (KAIRÓS). O trabalho pedagógico tem como
marco teórico o Materialismo Histórico Dialético, que considera o trabalho como
fundante do ser humano, sendo entendido na educação como princípio educativo,
materializado na escola pelo trabalho dos professores.
O trabalho pedagógico tem como características a Formação Omnilateral; processo
crítico de apropriação do conhecimento; a relação dialética entre o individual e o coletivo; | 835
orienta-se pelos pares dialéticos objetivo/avaliação e conteúdo/método; prática social tem
por finalidade a produção do conhecimento que visa a transformação social e a
emancipação humana; práxis pedagógica como essência do trabalho do professor na
escola (KONDER, 1981; MANACORDA, 1991; TAFFAREL, 1993; PISTRAK, 2000;
DUARTE, 2003; SAVIANI, 2006; FREITAS, 2012; ; FRIZZO, 2008, 2012; MARX,
2011; RIBAS; FERREIRA, 2014).
Dentre estes elementos do trabalho pedagógico percebe-se a práxis como
componente central. Sánchez Vázquez (2011) afirma que a práxis não é somente uma
FILOSOFIA DA PRÁXIS
Para Sánchez Vázquez (2011, p. 221) “Toda práxis é uma atividade, mas nem toda
| 836
atividade é práxis”. A atividade é compreendida como um conjunto de atos que se
articulam, estruturam num processo de totalidade, na qual possibilita uma ação do sujeito
com intuito de transformar uma matéria, ou seja, a atividade é sempre ativa. A atividade
humana sempre deve estar adequada a uma finalidade, e somente existe porque o ser
humano é produtor de sua consciência. A transformação da matéria parte sempre do ideal
e seu produto é real. A atividade apresenta características como: objetiva, material,
transformadora e adequada a fins (SÁNCHEZ VÁZQUEZ, 2011).
Um dos primeiros entendimentos e associações que fazem da práxis é a relação
entre teoria e prática. É importante ressaltar que a práxis vai além dessa relação, mas
É uma práxis de segunda mão que não produz uma nova realidade; não provoca
uma mudança qualitativa na realidade presente, não transforma
“criadoramente”, ainda que contribua para ampliar a área do já criado e,
portanto, para multiplicar quantitativamente uma mudança qualitativa já
produzida. Não cria; não faz emergir uma nova realidade humana, e nisso
reside sua limitação e sua inferioridade com respeito à práxis criadora.
| 838
Contudo, esse lado negativo não exclui um lado positivo que é, como
acabamos de mostrar, ampliar o já criado (SÁNCHEZ VÁZQUEZ, 2011, p.
277).
Ou seja, de nada adianta ao proletariado ter esse alto grau de consciência se ele
não agir praticamente, e no caso não basta apenas destruir as máquinas, essa mudança vai
CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
SEVERINO, Antônio, Joaquim. Metodologia do trabalho científico. 23. Ed. São Paulo:
Cortez, 2007. | 842
KONDER, Leandro. O que é dialética? 25. Ed. São Paulo: Editora Basiliense, 1981.
RIBAS, João Francisco Magno; FERREIRA, Liliana Soares. (Org.). SOUZA, Maristela
da Silva; RIBAS, João Francisco Magno; CALHEIROS, Vicente Cabrera. Conhecimento
e Educação Física: no movimento das mudanças no mundo do trabalho. Editora UFSM,
2015, p.
| 843
Resumo:
Uma das estratégias estabelecidas pelo novo Plano Nacional de Educação (PNE) é a
formulação e implementação da Base Nacional Comum (BNC) para melhorar a educação
básica. Até o momento, a elaboração e a futura aplicação dessa ‘base’ é polêmica e divide
opiniões entre pesquisadores, docentes, e políticos em todo o país. Porém, não se pode
deixar de mencionar a lógica mercadológica que hoje domina a política e a sociedade e
que também invade os meios acadêmicos, influenciando a formulação de políticas
públicas e a concepção de perspectivas de gestão do Estado e de administração da
educação. Independentemente da opinião de gestores e especialistas sobre a elaboração
da BNC, é consenso entre eles que um documento dessa natureza terá impacto na
formação docente. Futuras transformações no alicerce curricular da educação básica
brasileira trará alguns reflexos não apenas no conteúdo a ser aprendido, mas também na
orientação da formação inicial e continuada de professores, que demanda um debate com
toda a sociedade. Será que a busca da homogeneização curricular associada a uma
avaliação educacional regulamentar e sufocante tanto para os alunos e para os professores
é a fórmula para promover a educação de qualidade com equidade no Brasil?
INTRODUÇÃO
| 844
| 846
O texto da ‘base’, por ser um documento ainda em processo de construção, é o
início para incitar a discussão sobre o currículo que se tem e o que currículo que se quer
no Brasil. Porém, dentre os vários desafios a ser enfrentados pela base, destacamos alguns
que consideramos serem fundamentais para o prosseguimento e finalização desse
documento: como a BNC irá se articular com questões, tais como, a avaliação em larga
escala, a produção de material didático e a formação de professores.
Logo após a determinação oficial de uma base nacional comum, é possível inferir
que, também, surgirão mudanças nas avaliações nacionais (ANA, Prova Brasil e ENEM)
CONCLUSÕES
(...) não há prática educativa sem conteúdo, quer dizer, sem objeto de
conhecimento a ser ensinado pelo educador e apreendido, para poder
ser aprendido pelo educando. Isto porque a prática educativa é
naturalmente gnosiológica e não é possível conhecer nada a não ser que
nada se substantive e vire objeto a ser conhecido, portanto vire
conteúdo. A questão fundamental é política. Tem que ver com: que
conteúdos ensinar, a quem e a favor de que e de quem, contra quê,
como ensinar. Tem que ver com quem decide sobre que conteúdos
ensinar, que participação têm os estudantes, os pais, os professores, os
movimentos populares na discussão em torno da organização dos
conteúdos programáticos.
REFERÊNCIAS
| 851
INTRODUÇÃO
DESENVOLVIMENTO
A presença dos organismos internacionais e suas diretrizes tem sido uma marca
nas atuais reformas educacionais, que preveem uma formação voltada para as
necessidades do mercado e que implementam uma lógica empresarial no campo
educacional. Hypolito (2010, p. 1339) aponta que os modelos de gestão são adequados
para a consecução dessas políticas, todos dedicados a formas regulativas do trabalho | 855
docente, do currículo e da gestão escolar. Com isso, modelos gerencialistas baseados nos
conceitos de eficiência, eficácia, produtividade e avaliação penetram nas políticas
educacionais com repercussão na gestão escolar, no trabalho docente e no currículo.
Na abordagem gerencialista, o currículo fica submetido às exigências dos
sistemas de avaliação e aos materiais didáticos pré-estabelecidos, desconsiderando o
contexto escolar e as particularidades dos alunos, já “[...] o trabalho dos professores torna-
se extremamente padronizado, racionalizado e policiado” (APPLE, 2003, p. 62).
Além disso, a tradição curricular tem em um de seus pontos centrais a
disciplinaridade, pois, apesar de todas as transformações ocorridas na natureza e extensão
da produção do conhecimento, o currículo continua fundamentalmente centrado em
disciplinas tradicionais. Nesse sentido, a disciplinaridade não só é a tradução lógica e
176 Bernstein considera uma disciplina um discurso separado, especializado, com seu
próprio campo intelectual de textos, práticas, regras de admissão, modos de exame e
princípios de distribuição de sucesso e privilégios. O autor acrescenta ainda que elas são
orientadas para o seu próprio desenvolvimento e não para aplicações fora delas mesmo
(BERNSTEIN, 1990, p. 218).
[...] a questão não é sobre a possível certeza de ser sempre vigiado, como ocorre
no panóptico. [...] trata-se, ao contrário, da incerteza e da instabilidade de ser
julgado de diferentes maneiras, por diferentes meios, por meio de diferentes
agentes; para atender [...] o fluxo de demandas, expectativas e indicadores em
constante mudança que nos fazem continuamente responsáveis e
constantemente registrados. [...] esta é a base do princípio da incerteza e da
inevitabilidade; é uma receita para a insegurança ontológica, que coloca
questões tais como: estamos fazendo o suficiente? Estamos fazendo a coisa
certa? Nosso desempenho será satisfatório? (BALL, 2010, p. 39).
Nessa perspectiva, concorda-se com Garcia quando a autora afirma que estamos
diante de um processo em que “o trabalho docente está se transformando em uma
ocupação flexível que se caracteriza por habilidades de cunho eminentemente
instrumental” (GARCIA, 2010, p. 234). O que, ainda em acordo com a autora, corrobora | 858
com a tese de Freitas, que defende ser este um processo de desprofissionalização docente.
Segundo ela, “[...] essa tendência se expressa na medida em que o documento oficial
privilegia centralmente a avaliação e a certificação de competências, enfatiza habilidades
e conteúdos de cunho eminentemente instrumental relacionados à gestão do ensino e da
sala de aula”. (apud GARCIA, 2010).
Com base neste modelo performativo de formação docente, percebe-se a
ausência do sentido de profissionalismo, em que, segundo Ball, individualmente, mais
uma vez, fabricamos a nós mesmos, na tentativa de nos articular dentro dos jogos
representacionais de competição, intensificação e qualidade (2010, p. 39).
Tais práticas estão atreladas a um processo de autonomia imaginada, o que irá
garantir maior controle e adesão por parte do professorado às políticas de
CONCLUSÃO
Diante do exposto cabem algumas preocupações sobre as pesquisas em torno do
currículo e do trabalho docente: como lidar com os limites do determinismo econômico
em última instância? Como não ficar desesperançoso frente aos imperativos das políticas
neoconservadoras e neoliberais? Como romper com a imobilidade e a incapacidade de
agência, modificando, assim, nossos currículos e nossas escolas? Conforme Lopes e
Macedo, “[…] se a diferença habita todos os processos culturais, também habita os
processos curriculares, de forma associada aos discursos homogeneizantes e opressivos,
mas não como mera oposição ao homogêneo, em um novo par binário (LOPES;
MACEDO, 2011, p. 181).
Assim, os processos de regulação/emancipação, reprodução/resistência,
opressão/emancipação não se configuram como polos opostos entre os quais transita a
produção curricular. Além do que não se pode considerar que o currículo seja construído
de forma linear. Trata-se de uma luta por hegemonia em um campo contestado que requer
contínua negociação de sentidos. Através do embate discursivo protagonizado pelos
professores é que serão fundamentadas as propostas para o currículo que se quer na
escola.
Há que se garantir esse lugar de protagonismo (agência) considerando que os
antagonismos são inerentes ao diálogo. A esse respeito Hall afirma
Nesse viés de compreensão o poder não se define como algo tão evidentemente
identificável, mas como lugar de negociação e ambivalência. Assim, apresenta-se a noção
de currículo com a qual se identifica este trabalho. No entendimento do termo como lugar
de enunciação que envolve a produção de variados significados que são oriundos tanto da
tradição como das novas ações discursivas. Isso inclui condições de produção variadas e
se dá num movimento contínuo de construção curricular. Superando-se a prática
dicotômica entre currículo escrito e currículo implementado.
A partir daí o currículo passa a ser entendido como uma “[…] tarefa política,
como uma prática que envolve momentos enunciatórios, vários sujeitos, díspares
REFERÊNCIAS
| 861
INTRODUÇÃO
Vários estudos têm mostrado que o trabalho docente vem sendo permeado por
precarização, baixos salários, desvalorização profissional, sobrecarga de trabalho e
estresse, sendo estes dois últimos consequências da intensificação do trabalho, um
fenômeno já tratado em estudos de Silva (2004), Leda (2006), Assunção e Oliveira
(2009), Mota Júnior e Maués (2010), entre outros. Os professores do magistério superior
estiveram sujeitos, nos últimos tempos, a um processo de intensificação cada vez maior | 862
177
Ação Direta de Inconstitucionalidade n.1923/98, ajuizada em dezembro de 1998 pelo PT e PDT, buscava
a inconstitucionalidade da Lei 9.637/98, que viera dispor sobre a qualificação de entidades privadas
como “organizações sociais”.
No âmbito das IFES – Instituições Federais de Ensino Superior – tomo aqui dois
exemplos de regulação que trouxeram implicações diretas e imediatas à intensificação
do trabalho docente: a GED e o REUNI.
De caráter produtivista, a Gratificação de Estímulo à Docência (GED) foi
instituída pela lei 9.678/98, no governo FHC, e estabelecia que só teriam direito à
gratificação em seu valor integral os docentes que atingissem 120 pontos, contabilizados
em relação a uma série de atividades acadêmicas, mas principalmente à quantidade de
horas em sala de aula. Isso motivou muitos professores a aumentarem o número de aulas-
hora ministradas por semana, de modo a atingir a pontuação integral (BOSI, 2007). A
GED estabeleceu um sistema em que o docente ficava refém dessa gratificação para
aumentar seu salário; criou a competição entre os pares, pois “[...] para obter os pontos, a
disputa por horas era tão intensa que, independentemente de sua especialidade, o docente
queria pegar qualquer aula para pontuar” (LISBOA, 2013, p.38). O movimento docente
organizado conseguiu acabar com a GED, que agora parece ameaçar voltar em outra
roupagem. | 867
Outra regulação sofrida pelas IFES foi o REUNI. Por meio do Decreto 6.096 de
abril de 2007, o governo Lula criou o Programa de Apoio a Planos de Reestruturação e
Expansão das Universidades Federais – REUNI, que estabelece uma série de metas,
dentre as quais constam a redução de taxas de evasão, ocupação das vagas ociosas,
aumento de número de vagas de ingresso, ampliação da mobilidade estudantil e a
circulação de estudantes entre instituições, cursos e programas de educação superior,
diversificação das modalidades de graduação e ampliação das políticas de inclusão e
assistência estudantil (MAUÉS, 2008). A autora, em artigo que trata do trabalho docente
Essas políticas foram apenas dois exemplos das regulações sofridas pelo ensino
superior, trazendo intensificação ao trabalho docente. Sobre esse fenômeno, Maués
(2010) diz que a intensificação de trabalho – expressa por aumento de atividades, maior
número de turmas por professor e turmas cheias – vem produzindo sofrimento aos sujeitos
envolvidos que se veem pressionados a aderir ao modelo mercantilizado de universidade,
que atende, entre outros, à “cultura da produtividade” e a busca de recursos para “manter”
suas pesquisas e, por vezes, as unidades acadêmicas, enfim, “[...] a precarização, a
intensificação, o sofrimento, o adoecimento são expressões hoje que permeiam a vida do
trabalhador docente” (p.10).
No Brasil, o trabalho docente tem sido permeado, nas últimas décadas, por condições
desfavoráveis que geram a insatisfação da categoria, uma insatisfação que resultará em um
sentimento que pode ser entendido como um dos sintomas do chamado “mal-estar docente”,
expressão cunhada pelo pesquisador espanhol José Manuel Esteve (LAPO; BUENO, 2003).
Considerações Finais
Não obstante a oposição e resistência coletiva a todo este quadro de implicações, sua
reversão tem sido difícil, mas não impossível, haja vista a retirada, em abril de 2015, das
Referências
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metabolismo social do trabalho e a precarização do homem que trabalha. Disponível em:
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BOSI, Antonio de P. Precarização do trabalho docente nas instituições de ensino superior | 872
do Brasil nesses últimos 25 anos. In: Educação e Sociedade, Campinas, vol. 28, n. 101,
p. 1503-1523, set./dez. 2007 1511. Disponível em
http://www.scielo.br/pdf/es/v28n101/a1228101. Acesso em out. 2014.
LEDA, Denise Bessa. Trabalho docente no ensino superior sob o contexto das relações
sociais capitalistas. In: Anais da 29ª reunião anual da ANPED. 2006. Disponível em
http://29reuniao.anped.org.br/trabalhos/trabalho/GT11-1979--Int.pdf. Acesso em out.
2014.
TONET, Ivo: Universidade pública: o sentido da nossa luta. In: ______. Educação
contra o capital. Maceió, EDUFAL, 2007. p. 87-93.
| 874
Nathana Fernandes
Universidade Federal de Santa Maria
nathanafernandes.nf@hotmail.com
Resumo:
O presente trabalho, realizado com apoio do Programa Observatório da Educação, da
Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior – CAPES/Brasil, tem
como objetivo analisar o conteúdo do atual Plano Nacional de Educação (PNE) e as metas
referentes a Educação Infantil, especialmente o que se refere à efetivação do acesso à
educação infantil de qualidade. A metodologia proposta contempla uma abordagem
quanti-qualitativa e análise documental das políticas públicas educacionais atuais para a
Educação Infantil, bem como o documento do Plano Nacional de Educação (PNE) e as
inter-relacionados com os dados estatístico-educacionais do Censo da Educação Básica
referentes a Educação Infantil (INEP, 2014). A base teórica do presente trabalho está
fundamentada em estudos de Kuhlmann Jr. (1998) trazendo aspectos da infância e
Educação Infantil, abordado historicamente os conceitos da mesma, em relação as
políticas públicas que foram surgindo para a infância, Kramer (2011) tratando da política
do pré-escolar no Brasil e suas máscaras em torno da política pública e Rizzo (2003)
dialogando sobre os aspectos de organização, currículo, montagem e funcionamento das | 875
creches, entre outros autores. Para tanto, espera-se compreender as necessidades e
melhoramentos analisados e apontados nos dados do Censo Escolar (INEP, 2014) através
das políticas públicas vigentes no Brasil, a fim de contribuir para as demais pesquisas,
nas quais, serão utilizados os dados como sustentação e constatação das interlocuções
com a realidade da Educação Infantil.
178
Este trabalho foi orientado por Rosane Carneiro Sarturi, Professora Associada I do Departamento de
Administração Escolar da Universidade Federal de Santa Maria. Professora do Programa de Pós-graduação
em Educação, Linha de Pesquisa 2: Práticas escolares e políticas públicas – LP2. Coordenadora do projeto
Interlocuções Entre Políticas Públicas e Ações Pedagógicas: Limites e Possibilidades - Observatório da
Educação OBEDUC/CAPES. rcsarturi@gmail.com
A Educação Infantil (EI), primeira etapa da educação básica brasileira, nas últimas
décadas, passou por diversas reformulações, modificações na faixa etária que atende e na
obrigatoriedade do ensino. Desde a promulgação da Lei 9.394 - Lei de Diretrizes e Bases
(LDB) de 20 de dezembro de 1996 (BRASIL, 1996), a Educação Infantil passa a ser vista
como efetivamente uma etapa da educação básica, tornando-se obrigatória a partir da
sanção da Lei 12.796, de 04 de abril de 2013 (BRASIL, 2013).
O Plano Nacional de Educação (PNE), lei no 10.172, de 9 de janeiro de 2001.com
validade de dez anos, a partir do reconhecimento de que “[...] os progressos nesse campo
necessitam de esforços continuados e coordenados, que não alcançam resultados em
prazo curto” o que leva a necessidade de um plano que seja compromisso de Estado e não
apenas de um governo. O PNE definiu como seu objetivo e meta a “elaboração de
diretrizes nacionais e de padrões mínimos de infra-estrutura, para as instituições de
Educação Infantil” (2001, p. 65), tendo como pressuposto aspectos quantitativos e
qualitativos.
O PNE define também que a qualidade do ensino só poderá ocorrer se houver a
valorização dos profissionais do magistério, a qual só será alcançada por meio de uma
política global capaz de articular a formação inicial, as condições de trabalho, o salário,
a carreira e a formação continuada. Assim, a melhoria da qualidade da educação básica
depende da formação de seus docentes, o que decorre diretamente das oportunidades
oferecidas a eles. A melhoria na qualidade da formação dos professores com nível
superior, por sua vez, está condicionada à qualidade da escolarização que lhes foi | 876
METODOLOGIA
A metodologia proposta contempla uma abordagem mista, ou seja, quanti-
qualitativa, através da análise documental das políticas públicas educacionais atuais para
a educação infantil.
Segundo Triviños (1987), a pesquisa qualitativa permite analisar os aspectos
implícitos ao desenvolvimento das práticas organizacionais e a abordagem descritiva é
praticada quando o que se pretende buscar é o conhecimento de determinadas
informações, sendo este um método capaz de descrever com exatidão os fatos e
fenômenos de determinada realidade. Já a pesquisa quantitativa, segundo Richardson
(1989) oportuniza maior confiabilidade aos resultados ao estabelecer uma estrutura
definida ao respondente, diminuindo, deste modo, a heterogeneidade dos dados. De
acordo com Vergara (2006), a pesquisa quantitativa busca mensurar os dados e
generalizar os resultados para a população estudada.
Desse modo, a metodologia será baseada na relação dos dados estatísticos
educacionais do Censo da Educação Básica, Educação Infantil, creche e pré-escola de
2007 a 2013, com os dados estatísticos do Censo demográfico do Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatístico (IBGE) com dados de crianças de zero a cinco anos, dos anos de
2007 a 2010, visto que nos anos de 2011 a 2013 ainda não há dados disponíveis,
embasando-se na análise bibliográfica do conceito de qualidade (DOURADO, 2007) e
| 877
suas relações com as políticas de educação infantil no Brasil.
Como base de dados, o censo escolar do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas
Educacionais Anísio Teixeira (INEP) (BRASIL, 2014). Espera-se que Para gerar seus
dados e estudos educacionais o Inep realiza levantamentos estatísticos e avaliativos em
todos os níveis e modalidades de ensino, promove encontros para discutir os temas
educacionais e disponibiliza também outras fontes de consulta sobre educação.
Quadro 1 – Redação da meta de atendimento na educação infantil, Brasil, PNE 2001–2011 e PNE
2014–2024. Fonte: Lei 10.172/2001 e Lei 13.005/2014 .
na Constituição. Como veremos, nesse ponto a inovação do PNE aparece nas estratégias
a serem adotadas para alcançar a universalização pretendida. Com relação à meta final de
atendimento das crianças até 3 anos de idade, agora a ser alcançada até 2024, manteve-se
o mesmo texto do PNE 2001–2011. Com isso, prorrogou-se esse objetivo por mais 13
anos.
[...] a análise da(s) política(s) de educação requer uma compreensão que não
se contenta com o estudo das ações que emanam do Poder Público em suas
diferentes esferas (União, Estados, Municípios). Esta deve alcançar a escola e
seus agentes e, num movimento de ida e volta, procurar apreender como as
idéias se materializam em ações, traduzindo-se, ou não, na gestão educacional
e escolar (VIEIRA, 2007, p. 58).
Refletir e dialogar sobre a importância das políticas que estão sendo instituídas
dentro das escolas e através disto, propor novos planejamentos para conseguir atender a
demanda de crianças que aumentará com a nova legislação, é um caminho que pode ser
seguido quando o assunto é buscar alternativas que permitam visualizar melhorias na
educação e na qualidade de ensino.
| 883
Conclusão
A partir do objetivo analisar o conteúdo do atual Plano Nacional de Educação
(PNE) e as metas referentes a Educação Infantil, especialmente o que se refere à
efetivação do acesso à educação infantil de qualidade. Não há a possibilidade de pensar
a qualidade na educação, aqui especificamente na educação infantil sem considerar o
contexto escolar: estrutura física das instituições, aspectos culturais da comunidade
escolar e formação de professores.
7 Referências
BRASIL, Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Lei 9.394/96. Brasília: MEC,
1996.
CURY, Jamil. Direito à educação: direito à igualdade, direito à diferença. In: Cadernos
de Pesquisa. São Paulo, Fundação Carlos Chagas, n. 116, julho/2002, p. 245-262.
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bom começo. Em Aberto/Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais. v
18, n.73. Brasília, 2001. p.11-28.
KUHLMANN JR., M. Infância e Educação Infantil: uma abordagem histórica. Porto | 886
Alegre: Mediação, 1998.
OLIVEIRA, R.; ARAÚJO, G. Qualidade do ensino: uma nova dimensão da luta pelo
direito à educação. In: Revista Brasileira de Educação, [S.l.], n.28, p. 05-23, jan./abr.
2005.
RICHARDSON, R. J. Pesquisa social: Métodos e técnicas. 3 ed. São Paulo: Atlas, 1999.
| 887
Introdução
Os primeiros estudos sobre as repercussões do trabalho na saúde dos professores
e professoras surgiram na década de 80. No Brasil aparecem no final da década de 90,
quando se elevou consideravelmente a prevalência de problemas de saúde do
professorado, ocasionando o aumento das solicitações de licenças de saúde. Anterior a
esse período a maioria dos estudos dedicados à saúde do trabalhador estavam focados em
outras atividades laborais. (APPLE, 1997; CARLOTTO, 2002; DELCOR, N., S. et.al,
2004; GASPARINI et.al, 2005 & ARAUJO et.al., 2008). Essa emergência de estudos
justifica-se pela necessidade de estudar as relações entre o conflito para adequaram-se as
situações de trabalho educacional, na sua maioria conflituosa e pouco favorável, e as
tentativas de atenuar os efeitos prejudiciais dessa condição sobre a saúde.
| 888
Para atuar na Educação Infantil, no Brasil, a Lei de Diretrizes e Bases da Educação
Nacional (LDBEN 9394/96) trouxe um conjunto de exigências, como a integração ao
sistema de ensino até o ano de 1999. Para tanto os novos cargos para atuar no magistério
exigiam formação: para o cargo de monitor ou auxiliar, a exigência era a conclusão do
Ensino Médio. As professoras precisavam comprovar a conclusão do Curso Normal e as
administradoras de creches, que passaram a ser diretoras, possuir o Curso de Pedagogia.
Uma década depois que a Educação Infantil foi transformada em política pública,
e quatro anos após a criação do Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação
Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação (FUNDEB) – 2006 –, se fez
Mal-estar docente
José Esteve (1999) cunhou o termo - mal estar docente - para designar o conjunto
de consequências negativas que afetariam o professorado a partir da ação combinada das
condições psicológicas e sociais em que se exerce a docência. Para este autor, as
repercussões psicológicas do mal-estar docente, percorrem uma ampla escala que inclui
sentimentos de desconcerto e insatisfação ante os problemas reais da prática do
magistério, em franca contradição com a imagem ideal do que é ser professor e o que
gostariam de realizar; desenvolvimento de esquemas de inibição, como forma de cortar a
implicação pessoal no trabalho realizado; pedidos de transferência de escola para fugir de
situações conflitivas; desejo de abandonar a docência; absentismo trabalhista como
mecanismo para cortar a tensão acumulada;, esgotamento e cansaço físico permanente;
depreciação do ego, depressão e auto culpabilização ante a incapacidade para melhorar o
ensino.
A combinação desse conjunto de consequências negativas psicológicas e sociais
em que se exerce a docência afetam o cotidiano do professorado e com o passar do tempo
conduz a um desgaste emocional e físico, estranhamento de seu lugar de trabalho, seus
colegas, seus estudantes e sua profissão. Nesse sentido, de acordo com Vieira (2009), o
consumo de medicamentos apresenta-se como uma alternativa pela busca de reequilíbrio
e readaptação frente às intensas exigências das atividades educativas, as inúmeras
| 889
demandas e a falta de suporte social. Os docentes buscam, nos medicamentos, prescritos
ou não, fórmulas que produzam disposição e energia para enfrentar a rotina diária, não
somente na escola, mas em casa e em outros espaços sociais que atravessam a profissão
docente e a vida privada. Não são poucas as pesquisas e os discursos governamentais que
relacionam o absenteísmo docente à qualidade dos sistemas educacionais de muitas
regiões do Brasil, o que afeta sobre maneira o trabalho docente e tem sérias implicações
com a qualidade da educação.
Não se trata de considerar o trabalho docente como naturalmente relacionado ao
adoecimento do professorado, mas mostrar que nas atuais condições de trabalho, como
Origem do estudo
Ser professora da Educação Infantil é relativamente novo, pois as creches
municipais foram substituídas pelas Escolas de Educação Infantil através do Decreto
4003/1999 do prefeito municipal.
Na cidade de Pelotas, Rio Grande do Sul, Brasil foi realizada uma pesquisa com
todas as professoras e professores da rede municipal (VIEIRA et.al., 2009) que teve como
objetivo analisar o processo de trabalho docente e a repercussão sobre a saúde de todas
as professoras da rede pública municipal. Esse estudo encontrou serem as professoras da
Educação Infantil as que mais solicitaram licença de saúde, sendo os transtornos
psiquiátricos menores os que aparecem em primeiro lugar como motivo de afastamento.
Nesse sentido, para entender a complexidade do trabalho das professoras dessa
modalidade, realizou-se um novo estudo apenas com as professoras de Educação Infantil
da cidade de Pelotas (VIEIRA, 2012). O estudo indicou que as professoras da Educação
Infantil, em termos de saúde, parecem andar na contramão da ideia de que o trabalho é
um elemento fundamental para fazer com que as pessoas se sintam úteis e importantes –
um sentimento sadio de pertencer e de contribuir para a sociedade. Um novo
estudo (VIEIRA ET.AL.,2012) tem como foco todas as cidades que compõem o polo
regional de Educação Infantil da zona Sul do Estado do Rio Grande do Sul, totalizando
16 cidades: Arroio Grande, Arroio do Padre, Canguçu, Capão do Leão, Cerrito, Herval,
| 891
Cristal, Jaguarão, Morro Redondo, Pedro Osório, Pelotas, Pinheiro Machado, Piratini,
Santana da Boa Vista, São Lourenço do Sul e Turuçu, divididas em microrregiões de
acordo com a localização geográfica.
O trabalho aqui apresentado é parte da pesquisa citada anteriormente (VIEIRA,
2012). A mesma encontra-se em andamento e nesse artigo trazemos alguns resultados a
partir dos dados coletados até o momento. Para o presente artigo, optou-se por apresentar
os resultados parciais de três cidades: Arroio Grande, Jaguarão e Herval. Sobre essas
cidades encontrou-se uma rede de Ensino distante do que é proposto pela Lei de Diretrizes
e Bases (LDB/96) Neste cenário encontraram-se estruturas físicas inadequadas e
As cidades do Estudo
A cidade de Jaguarão localiza-se no extremo sul do país e faz fronteira com a
cidade Uruguaia de Rio Branco. O município fica às margens do Rio Jaguarão, que liga
os dois países. Sua população estimada é de 30.000 habitantes. A economia é baseada na
pecuária, agricultura com a predominância da cultura de arroz e comércio diversificado.
Possui uma Universidade Federal e duas Instituições Federais de Ensino Médio, a
Rede Estadual é composta de oito escolas e a Rede Municipal de Ensino Fundamental de
sete escolas. Jaguarão conta com sete escolas públicas de Educação Infantil.
Herval localiza-se na região Sudeste e está próxima à fronteira com o Uruguai. O
nome é uma referência à grande quantidade de ervais nativos existentes na região. A
população da cidade é de 6757 habitantes (IBGE, 2010). Possui uma Escola Estadual e
uma Escola Municipal de Ensino Fundamental. No que diz respeito à Educação Infantil,
Herval conta com uma escola, sendo ela uma escola padrão do Governo Federal.
O município de Arroio Grande localiza-se entre as cidades de Herval e Jaguarão
e, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE – estima-se que
o número de habitantes seja de 18.368. A economia baseia-se na agricultura, tendo como
principais cultivos arroz e soja e na pecuária destaca-se a criação de bovinos e ovinos.
Arroio Grande conta com seis Escolas Estaduais, três Escolas Municipais de Ensino
Fundamental e três escolas de Educação Infantil.
| 892
Metodologia
A pesquisa da qual faz parte este estudo, se desenvolveu adotando procedimentos
quantitativos e qualitativos. Para este trabalho, utilizamos a dimensão quantitativa. Nessa
medida, atualizamos o banco de dados da pesquisa anterior (VIEIRA ET.AL, 2012) com
informações sociodemográficas, funcionais e médicas das professoras que atuam na
Educação Infantil do município de Pelotas. Aplicamos, nas cidades do estudo, o
instrumento Job Content Questionnaire (JCQ) (KARASEK, 1979), traduzido para o
Português como Questionário sobre Conteúdo do Trabalho.
Resultados
A pesquisa está em andamento, portanto, os resultados aqui apresentados são
preliminares. Nas três cidades deste estudo encontramos os seguintes dados: Na cidade
de Arroio Grande existem três escolas de Educação Infantil nas quais 16 professoras estão
em sala de aula. Em Herval há somente uma Escola de Educação Infantil e 06 professores
exercem a função. No município de Jaguarão existem sete Escolas de Educação Infantil
e 18 professoras trabalham nessas instituições.
Todas as professoras dessas cidades fizeram parte do estudo.. O número de
mulheres representa a maioria absoluta, totalizando 38 no total. A média de idade dessas
mulheres, assim nos referiremos por ser maioria, é de 37 anos e sete meses. Dessas, 18
são casadas, 16 são solteiras e as demais com outras situações conjugais.
Em relação à escolaridade, mais da metade (21) é Pós-graduada, 14 possuem
| 893
Curso Superior Completo, quatro estão possuem o Ensino Superior incompleto uma tem
Ensino Médio Completo.
Referente aos problemas de saúde, sete professoras tiraram licença de saúde no
período de janeiro de 2012 a junho de 2014. Os principais problemas apontados foram:
doenças do aparelho Respiratório, viroses, problemas ósseos, vocais e emocionais. Uma
professora afastou-se por motivo de Licença maternidade.
Em relação aos dados obtidos através do JCQ, no que diz respeito à autoridade
decisória, as professoras quando perguntadas se tinham influência significativa sobre as
decisões tomadas na escola, responderam, em sua maioria 60% e 12,5% (concordo e
representada pelo modelo demanda controle (MDC), destas três cidades, encontramos os
seguintes resultados:
Arroio Grande:
Nesta cidade, as professoras ocupam destacadamente o Quadrante 1 (alta exigência)
78,6%, enquanto 14,3% ocupam o Quadrante 2 (trabalho ativo) e ainda 7,1%o Quadrante
3 (baixa exigência). Neste caso o percentual da Diagonal A aumenta ainda mais: 85,7%,
um número muito significativo indicando assim, um alto risco de adoecimento e pouca
Herval:
Em Herval, as professoras ocupam 50% do Quadrante 1 – Alta Exigência –,seguido por
33,3% no Quadrante 2 – Trabalho Ativo – e 16,7% no Quadrante 3 – BaixaExigência. O
Quadrante 4 – Trabalho Passivo – não contém nenhum sujeito. Seguindo o modelo, 66,7%
das professoras encontram-se na diagonal A, apresentando risco de adoecimento e pouca
possibilidade de desenvolver novos padrões de comportamento.
| 896
Referências Bibliográficas
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nos discursos oficiais da revista “Nova Escola”. Anais da V ANPED- SUL Pesquisa em
educação e compromisso social. Curitiba: PUC-PR, v.1, p.1-15.
APPLE, Michael (1995). Trabalho docente e textos: economia política das relações de
classe e gênero. Porto Alegre, Artes Médicas.
ARAÚJO, Tânia, Maria, CERQUEIRA, Cláudia, ARAÚJO, Edna (2003). Estress
ocupacional e saúde: contribuições do Modelo Demanda-Controle. Ciênc. Saúde
Coletiva. Vol.8 no 4. São Paulo.
ARAÚJO, Tânia Maria e Karasek, R. (2008). Validity and reliability of the job content
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| 899
3048/99.
BRASIL Organização Internacional do trabalho disponível em www.oitbrasil.org.br.
Página consultada em 25 de agosto de 2015.
BRASIL. Fundação Carlos Chagas, Ministério da Educação, Banco Internacional do
Desenvolvimento. Educação Infantil no Brasil. Análise quantitativa e qualitativa. São
Paulo: FCC/MEC/BID, novembro, 2010.
BRASIL. Lei 9394/96. Lei de Diretrizes e Bases da Educação, Brasília, 1996.
| 901
INTRODUÇÃO
A Educação passa por muitos desafios, políticos, econômicos e sociais em todos | 902
os seus segmentos. Diante desta premissa, a Educação Superior também vem sendo algo
de muitas contradições, principalmente ao que concerne sobre o processo de ensino-
aprendizagem nos cursos de graduação.
A formação docente não poderia deixar de ser foco nos debates e discussões
acadêmicas por diversos autores e tema de pesquisas, principalmente nos cursos em que
o corpo docente é formado, basicamente, por bacharéis oriundos de diversas áreas do
conhecimento, como o Curso de Medicina de uma universidade pública, localizada na
| 904
1 - PROFESSORES BACHARÉIS NO ENSINO SUPERIOR
A educação superior é foco de muitas discussões, principalmente no que concerne
à formação do professor. Para isso, muitos autores estão na linha de frente desse debate,
como Fernandes (1998), Masetto (1998), Therrien (2012), Behrens (1998), Gaeta (2012),
D’Ávila (2012). A princípio, precisamos entender quem são os profissionais da educação
que atuam no ensino superior. Para Therrien (2012, p. 111-112), esse profissional pode
ser assim destacado:
apresentar o docente como profissional de educação supõe vê-lo como detentor
de três requisitos fundamentais ao exercício de uma profissão na qual se lida
com seres humanos. Esta ótica contempla um sujeito que domina saberes, que
2 - IDENTIDADE DOCENTE
Para discutir sobre identidade docente, partiremos das falas dos gestores, ao serem
indagados sobre como avaliam as dificuldades encontradas ao longo da atuação em que
estiveram no curso.
Uma das grandes dificuldades encontradas é a falta de identificação do médico
como docente.
Ao ser questionado pela pesquisadora sobre como ele (gestor) percebia essa
dificuldade, mencionou que:
Pelas faltas, pelas ausências de alguns professores no horário de aula, talvez,
pouca importância que às vezes ele dá para a docência, deixando-a um pouco
de lado, ficando muito mais com a parte técnica. (G4)
3 - Profissionalização da docência
CONCLUSÕES
Consideramos que muito ainda há de ser discutido, pois o processo de elaboração
do conhecimento é complexo, bem como o tema discutido e os resultados são
desafiadores para a própria Universidade. | 915
REFERÊNCIAS
ALMEIDA, Maria Isabel. Formação do professor do ensino superior: desafios e
políticas institucionais. São Paulo: Cortez, 2012. (Coleção docência em formação: Ensino
Superior / coordenação Selma Garrido Pimenta)
BAGNATO, Maria Helena Salgado. MONTEIRO, Maria Inês. Perspectivas
interdisciplinares e rizomáticas na formação dos profissionais da
saúde.<http://www.revista.epsjv.fiocruz.br/upload/revistas/r140.pdf>. Acesso 29 de out.
2012.
BEHRENS, Marilda Aparecida. A formação pedagógica e os desafios do mundo
moderno. In: MASETTO, Marcos (Org.).Docência na universidade. 11. ed. Campinas,
SP: Papirus, 1998. (Coleção Práxis)
CONTRERAS, José. Autonomia de professores. Tradução: Sandra Trabucco
Valenzuela; revisão técnica, apresentação e notas à edição brasileira Selma Garrido
Pimenta. São Paulo: Cortez, 2002.
| 916
CUNHA, Maria Isabel da. A universidade: desafios políticos e epistemológicos. In:___.
(Org.) Pedagogia universitária: energias emancipatórias em tempos neoliberais.
Araraquara, SP: Junqueira & Marin. 2006.
D’ÁVILA, Cristina Maria; SONNEVILE, Jaques. Trilhas percorridas na formação de
professores: da epistemologia da prática à fenomenologia existencial. In: VEIGA, Ilma
Passos Alencastro. ; D’AVILA, Cristina (Orgs.). Profissão docente: novos sentidos,
novas perspectivas. Campinas, São Paulo: Papirus, 2008.
D’ÁVILA, Cristina Maria. Didática: a arte de formar professores no contexto
universitário. In: VEIGA, Ilma Passos Alencastro; D’ÁVILA, Cristina Maria (Orgs.).
| 918
Resumo: Este texto aborda uma questão fundamental para a educação escolar: entendê-
la como eminentemente social, um modo de sociedade dentro de outra sociedade, maior
e mais complexa, a sociedade capitalista. E, como tal, constituída por sujeitos, em um
movimento do individual para o coletivo. Esses sujeitos na escola se apresentam
conforme sua posição em relação ao conhecimento. Na comunidade escolar dois grupos
destacam-se na realização do trabalho pedagógico, os sujeitos-professores e os sujeitos-
estudantes e, na relação que estabelecem entre si, produzem ou não conhecimento. Neste
contexto, escolheu-se pensar sobre a condição de sujeito dos professores e os impactos
sobre o trabalho pedagógico que realizam, já que cada sujeito se impõe com a sua forma
de ser, parte de princípios e leis culturais os quais estruturam seu espaço e tempo, e o fato
é que tudo tem efeito sobre nós, efeito como instrumentalização para novas elaborações,
novas instituições simbólicas, imaginárias e reais. O objetivo é aprofundar conceitos de
sujeito aplicados ao trabalho pedagógico na escola. Este texto trata-se de um estudo, uma
sistematização de leituras e argumentos já elaborados com o intuito de registrar esses
argumentos e, desse modo, planejar a continuidade de estudos sobre o tema.
Palavras-chave: Sujeito; Professor; Trabalho pedagógico.
INTRODUÇÃO
179
Acadêmica do Curso de Pedagogia (UFSM) e do Curso de Psicologia (UNIFRA); bolsista
PIBIC/CNPq do Kairós- Grupo de Estudos e Pesquisas sobre Trabalho, Políticas Públicas e Educação
– UFSM; julianacarvalhoguedes@gmail.com
180
Graduando em Filosofia Licenciatura; Mestrando em Educação no Programa de Pós-graduação em
Educação da UFSM; participante do Kairós- Grupo de Estudos e Pesquisas sobre Trabalho, Políticas
Públicas e Educação – UFSM; marcoscorrea.filosofia@gmail.com.
181
Doutora em Educação; Professora do Programa de Pós-graduação em Educação e do Mestrado em
Educação Profissional e Tecnológica da UFSM; líder do Kairós- Grupo de Estudos e Pesquisas sobre
Trabalho, Políticas Públicas e Educação – UFSM; Bolsista Produtividade CNPq.
anaililferreira@yahoo.com.br
Essa é a pergunta que tem orientado nosso trabalho. Tem-se discutido o trabalho
dos professores, tratando-os como sujeitos. Porém, o que se diz quando se afirma que os
professores são ou deveriam ser “sujeitos do seu trabalho”. O que é um sujeito e o que o
diferencia, semanticamente, e a partir daí com todas as implicações decorrentes, de um
indivíduo ou de um ser humano. Entende-se, primeiramente, que a diferença básica não
está no ser em si, mas na sua relação com o entorno. Inicia-se, portanto, por afirmar que
se entende que o sujeito o é ou não é por sua pertença à cultura.
| 922
Ao propor uma diferença dos indivíduos “puros no sentido dos ideológicos”, onde
se pode vincular ao sujeito certas características como que em uma base fixa; Marx
qualifica o sujeito como produto e produtor de sua realidade efetiva. Esta concepção
reconhece o desejo como uma construção histórica que determinada pelos sujeitos
determina também dialeticamente este.
Poder-se-ia, desse modo, afirmar, com a Psicanálise de Freud, que há um “sujeito
do desejo e com a filosofia de Kant, que há um “sujeito da razão”. Quanto ao primeiro,
ser sujeito, conforme depreende-se da Psicanálise, é estar perpassado pelo desejo, o qual
se constitui na e pela linguagem, no e pelo (O)outro. Desejo que designa, entre outros
O SUJEITO E O TRABALHO
Portanto, é crível que não se seja máquinas, há algo de subjetivo nas ações que se
pratica, ou talvez, seja este algo o grande responsável por essas ações. Mas, o que se faz
sintoma na atualidade, ou então, o que “toma” o sujeito na contemporaneidade? Podem
ser os fatos históricos e suas consequências que delineiam formas e características de uma
época, de um tempo, ou ainda, de um momento, já que as mudanças ocorrem mais
rapidamente na atualidade.
Nesse sentido, um indivíduo torna-se sujeito na medida em que aceita e ocupa seu
lugar social. Ou seja, na relação entre o eu e a “ordem”, a moral, as leis. De todo,
representar-se é poder ser aquilo que se constitui no decorrer das relações, na apropriação
da realidade naturalmente peculiar em uma determina época ou período, sendo esta
peculiaridade somente possível nos trâmites da cultura.
O objeto não é mais resultado do trabalho humano, de sua arte, de seus anseios.
Na contemporaneidade, é o objeto que organiza o trabalho e as relações de produção. A
Pedagogia tradicional possui participação direta na cultura de valorização do objeto, pois
passa de um trabalho pedagógico com ênfase no sujeito para a ênfase no objeto. Um
objeto que representa o saber, o que lhe confere o poder de organizar um currículo, de
articular os caminhos a serem seguidos. Vê-se que o que se lança é um discurso de ideal,
de algo a ser descoberto, ou, em outras palavras, o que rege o social é a busca pela
compreensão do objeto que contempla a verdade sobre o mundo. Não é o ser humano que
possui a saída para os problemas, e sim, o objeto. O saber depende do objeto, isto é, é ele
| 927
que revela a verdade, sendo que atrás desta verdade todos nós necessitamos correr. O
objeto escolhido define o que é para saber. Desta forma não há nenhuma relação entre o
artesão e o aprendiz já que a relação fundamental é de cada um com seu objeto. Os
professores não são mais que um meio, enquanto o estudante entra a formar parte da
categoria de instrumento:
[...] Mas o que interessa em tudo isso é esse deslocamento que se produz
da importância do sujeito como transmissor de um saber, para esse lugar
do objeto como detentor de um saber e que, então, obriga o conjunto
dos sujeitos, dos indivíduos, a acoplar-se às novas formas de trabalho.
(JERUSALINSKI, 2000, p. 42)
CONSIDERAÇÕES FINAIS
As considerações aqui apresentadas sobre a relação entre sujeito e trabalho
formam uma aproximação inicial desta temática. Dado a complexidade e as
possibilidades de abordagem sobre o tema, consideramos este texto como um produto | 929
introdutório nestes estudos a fim de subsidiar maiores incursões futuras. Neste mesmo
sentido a relação entre o trabalho dos professores como processo para efetivação
consciente de seu trabalho pedagógico é fruto, pois, de determinadas condições histórico
sociais produzidas por pessoas em determinadas classes; este fato, por sua vez implica
diretamente na formação destes sujeitos no contexto do trabalho nas escolas.
Os sujeitos concretos, isto é, professoras e professores; seus desejos e
principalmente, seus discursos sobre o trabalho que desempenham configuram um campo
fértil para a análise das reais condições que determinam a Educação no país. São, sem
REFERÊNCIAS
ANTUNES, R. Os sentidos do trabalho – Ensaio sobre a afirmação e a negação do
trabalho. 7ª reimpressão. São Paulo: Boitempo Editorial. 2005
BERTÃO, F. R. B. M; HASHIMOTO, F.”Entre o desejo e o sofrimento psíquico no
trabalho: um estudo de caso com professora de educação infantil”. In: Psicologia em
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516-14982002000200001 - not (acessado em 10 de fevereiro de 2016).
RESUMO
Este artigo é resultado de uma pesquisa que trata sobre o trabalho docente precário, utilizando de
narrativas de professoras-monitoras de uma escola estadual do 1º ao 5º ano situada no município
de Maceió/AL. O objetivo desse texto é debater especificamente o tema das professoras
contratadas na forma de Monitoras, em um contexto político neoliberal e de reestruturação
produtiva, intensificada a partir dos anos 90 no Brasil. Nosso foco foi analisar o impacto causado
na profissão docente e na qualidade do ensino das professoras-Monitoras participantes da
pesquisa, com esse tipo de contratação temporária, uma estratégia utilizada pelo governo estadual
de Alagoas para suprir a carência de docentes nas escolas públicas estaduais. A restruturação
produtiva, incluindo suas mazelas, tais como subemprego, terceirizações, desemprego e contrato
temporário predominaram no país a partir desse período. No caso da educação pública do Estado
de Alagoas, se configuraram na contratação das Monitoras, afetando seu desempenho e sua
inserção profissional no espaço escolar onde atuam.
Neste sentido, o IBGE contribui para camuflar os danos sociais causados pelas
políticas neoliberais. Por ser uma instituição pública de domínio federal que trabalha com | 933
pesquisas e estatísticas, produz discursos de verdade que dissemina e causa efeitos na
sociedade brasileira. Assim, o IBGE poderia estar contribuindo para a concretização de
políticas que defendem o encolhimento/enfraquecimento do Estado, atendendo, em parte,
as disposições que também interessam ao ideário neoliberal, ao produzir discursos de
verdade que tendem a reforçar a ampliação do subproletariado do mercado informal
(HORTA, 2001, p.22).
É fato que a descentralização e a privatização aumentaram o acesso à educação
escolar, como por exemplo, a construção de escolas em várias comunidades, porém
As Monitoras
Este aspecto nos mostra que a profissão docente, só pode ser desempenhada por
um profissional com formação acadêmica na área, pois se trata de um campo de trabalho
especifico e que lida com um determinado público, as crianças. O que merece ser
destacado aqui é o elevado nível de qualificação dessas monitoras.
A maioria das professoras/monitoras entrevistadas trabalhava unicamente como
monitoras. Somente uma delas trabalhava em outra escola da rede particular. O salário de
monitora é mínimo e ainda há desconto para o INSS. Elas não tinham direito ao 13º
terceiro e só recebiam por dia trabalhado, ou seja, só receberiam o salário integral se | 936
cumprissem com a carga horária total durante o ano letivo. Duas das seis monitoras
entrevistadas disseram que era sua primeira experiência profissional como professora.
Todas as outras já exerceram a profissão, seja na rede pública, seja na privada.
Prosseguimos perguntando sobre as suas perspectivas profissionais após seu
trabalho na monitoria. As monitoras demonstraram clareza sobre o trabalho precário em
que estavam inseridas, uma vez que eram contratadas via seleção e não efetivas via
concurso público.
182
Dados obtidos através do PPP (Projeto Político Pedagógico) da escola pesquisada.
Tardif (2005, p55) lembra que a escola “como lugar de trabalho, ela não é apenas
um espaço físico, mas também um espaço social que define como o trabalho dos
professores é repartido e realizado, como é planejado, supervisionado, remunerado e visto
por outros”. (TARDIF, 2005, p.55).
Já sobre a questão da organização da sala de aula, o autor denomina como classe,
Então, concordando com o autor, entendemos que uma aula afeta diretamente a
relação professor e aluno. Além disso, temos também a relação do ensino e da
aprendizagem. Neste sentido, Popkewitz (2001, p.27) destaca que “o ensino e a
aprendizagem (os dois estão ligados) produzem uma individualidade autogovernada. Os
efeitos do conhecimento exibido no currículo “fazem” as regras que definem e resolvem
os problemas pessoais”. Portanto, a relação professor e aluno estão intrinsecamente
ligadas no processo contínuo durante ano letivo escolar, sabendo que tanto professor
Algumas considerações
Referências:
DAL ROSSO, Sadi. Fragmentação sindical. Educar em Revista, Curitiba, Brasil, n. 48,
p. 39-52, abr./jun. 2013. Editora UFPR. Disponível em:
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NEVES, Magda de Almeida. Trabalho, exclusão social e direitos. In: HORTA, Carlos
Roberto e CARVALHO, Augusto Alves. (Orgs). Globalização, trabalho e desemprego:
processos de inserção, desinserção e reinserção: enfoque internacional. Belo
Horizonte: C/Arte, 2001. p. 48-57.
TARDIF, Maurice. O trabalho docente: elementos para uma teoria da docência como
profissão de interações humanas. Maurice Tardif, Claude Lessard. (Orgs); tradução de
João Batista Kreuch. – Petrópolis, RJ: Vozes, 2005.
RESUMO:
O artigo “Por que é tão difícil implementar, no currículo dos cursos de licenciaturas das
Universidades brasileiras, uma educação antirracista?” é parte das reflexões dos autores
acerca do processo de implementação da disciplina de Educação Étnico-Racial no Ensino
Superior, dando cumprimento às exigências das Diretrizes Curriculares Nacionais para os Cursos
de Formação de Professores, conforme a Resolução do CNE/CP02/2015, tendo como referência
a pesquisa empírica realizada no decorrer do mestrado, sobre a relação entre capital cultural e
consciência racial de professoras negras residentes em Santa Maria/RS, complementada por
pesquisa bibliográfica. A Educação das Relações Étnico-Raciais em Instituições de Ensino
Superior está prevista no §1º da Lei 10.639/03, ficando na competência das referidas Instituições
a formação das futuras professoras. Nosso objetivo é demonstrar que velhos conceitos racistas
persistem no mundo acadêmico, impedindo a implementação de uma educação antirracista. A
questão norteadora que desejamos responder é em que medida concepções racistas que vicejaram
no final dos séculos XIX e início do XX poderão influenciar cursos superiores de licenciatura a
não adotarem a disciplina de Educação das Relações-Raciais ou Diversidade Racial?
Palavras chaves: Racismo; relações étnico-raciais; educação antirracista
A União dos Homens de Cor – UHC, criada em Porto Alegre, em 1943, tinha por
finalidade, no prazo de 10 anos, erradicar o analfabetismo entre os negros e prestar assistência
social a jovens estudantes negros, mantendo-os em cursos superiores, através da oferta de roupa, | 947
alimentação, livros para que pudessem concluir seus estudos, registra Domingues (2009, p.979).
O Movimento Social Negro (MSN) tem toda sua história ligada à luta contra o racismo e
a discriminação e, a “Frente Negra Brasileira” (FNB), primeira organização negra com
abrangência nacional, nos anos 30, fundou uma escola visando estimular o aluno negro ingressar
no ensino superior, registra Ribeiro (2001, p. 32). Desde essa época os Movimentos Sociais
Negros vêm indicando a necessidade de o Estado brasileiro garantir políticas públicas, com uma
educação democrática e inclusiva, desenvolvendo conteúdos referentes à história da África, dos
africanos, da contribuição dos negros na formação sociedade nacional, sua influência na cultura, | 948
nas artes, nas letras, na música, na literatura e assim por diante. Essas reivindicações, 70 anos
depois, passaram a ser atendidas com a homologação da Lei Federal 10.639/03, que obriga o
Ensino da História e da Cultura Africana e Afro-Brasileira no sistema nacional de ensino,
conteúdo a ser ministrado no currículo escolar, em especial, nas áreas de artes, literatura e história.
Cinco anos depois, a legislação definiu comportamento semelhante para os conteúdos referentes
à história e cultura dos povos indígenas, com aprovação da Lei 11.645/08, destacando-se ainda a
inclusão no calendário escolar do Dia Nacional da Consciência Negra, 20 de novembro, a partir
de 2003.
183
Para maiores informações é interessante ler a introdução do Parecer 2/2015 onde consta o histórico
desta caminhada e o nome dos conselheiros das Câmaras de Educação Básica e Educação Superior.
- “Mas tem que ser a S, porque a S, ela é negra”! Sabe, ficou uma (...) Eu me
lembro que as crianças brigavam.
-“Mas pode ser qualquer um”! e ninguém queria. Aí acabou sendo(...) mas que
eu não queria também que ela me pintasse, eu queria me aparecer, da cor da
minha pele, mesmo, né! Não!Daí eles disseram assim:
- Não, professora, tem que pintar ela, mais preta ainda, pra ser a mãe, ne - gra!
Isso aí, eu nunca esqueci! Aí, a ideia da professora! Ela realmente, ela me pintou
de tinta guache, me pintou toda: braço, rosto, tudo. (...). Não (lembro o que senti),
eu só lembro que eu não queria me pintar. Porque eu tinha 7 anos, primeiro ano!
Eu não queria que me pintassem. E a condição de negritude! Eu queria mostrar
a cor da minha pele, e eu não! eles queriam que eu fosse mais negra (risos)”.
Professora nº 2 (DUTRA, 2012, p.117).
A aluna teve sua identidade violada, pois foi o grupo que a classificou como negra e, por | 952
não ter a pele, como imaginavam, a professora ainda a pintou com tinta guache, talvez numa
referência ao velho blackface americano ou ao riso Y’abon banania francês184, em que passavam
carvão de cortiça em personagens negros ou não, sempre com uma visão estereotipada.
184
Black face se refere a atores brancos, coloridos com carvão para representarem personagens negros, de
forma estereotipada, de gozação. A expressão y’abon banania refere-se ao rótulo publicitários
criados no início do século XX, por De Andreis para uma farinha de banana açucarada, em que
aparecia um soldado senegalês com um amplo sorriso abestalhado, denunciado por Senghor em 1940
no prefácio do poema Hóstias Negras.
185
Nascimento (2003, p. 216) na nota de roda pé 7 cita algumas pesquisadoras, como: Patto, 1993; | 953
Gomes, 1995; Silva, C. D., 1995; Lima e Romão, 1997; Cavalleiro, 2000, etc.
186
Ver: https://www.youtube.com/watch?v=15bUmKFWxnw&feature=youtu.be&t=1m7s
Tema Racismo - Testes com crianças negras. Encontrado em:
http://www.recantodasletras.com.br/artigos/4097954 Acessado em: 13/01/2016.
187
Ação judicial ajuizada pelo pai da estudante Linda Brown(8 anos) que teve sua matrícula negada em
uma escola pública para brancos, em Topeka. A escola baseava-se numa decisão da Suprema Corte de
1892 que negava aos negros o direito viajar no mesmo vagão de trem dos brancos, baseada na doutrina
do separados mas iguais. Encontrado em: https://jus.com.br/artigos/11777/a-luta-em-defesa-da-
igualdade-e-das-liberdades-publicas-no-direito-norte-americano Acessado em 13/01/2016.
Se deixarmos a problemática racial que afeta crianças e formos para o outro extremo do
iceberg, procurando o mundo adulto, encontraremos as reflexões do professor José Jorge de
Carvalho da UnB (2005-2006, p.90), que passou uma década tratando do racismo brasileiro, sem
perceber, conforme suas próprias palavras, que não tinha nem colegas, nem alunos negros,
concluindo que as teorias e interpretações raciais no Brasil, sempre foram racializadas. Nossas
universidades negaram ou dificultaram o acesso de pensadores negros, sendo alguns ilustres
desconhecidos até a bem pouco tempo, como foi o caso do sociólogo piauiense Clovis Moura,
que negou a noção de passividade do escravizado propagada por Gilberto Freyre, demonstrando
sua capacidade de resistência à escravidão nos quilombos. Do geógrafo baiano Milton Santos,
especialista em estudos sobre urbanização do Terceiro Mundo, trabalhou com Noam Chomsky, e
ao tentar ingressar na Universidade da Bahia, teve sua inscrição cancelada, precisando inclusive
recorrer à justiça. Milton Santos continua um ilustre desconhecido no Brasil, porém um cidadão
do mundo. Por fim, citamos o historiador e escritor carioca Joel Rufino recentemente falecido,
uma referência nos estudos sobre cultura africana, professor de literatura da UFRJ; o antropólogo
congolês Kabengele Munanga, esse mais conhecido, por atuar em pesquisas de temas atinentes à
educação e racismo.
As teorizações a respeito do negro feitas por pensadores brancos correm o risco de uma
visão unilateral do intelectual branco, como a emitida por Celso Furtado, na obra Formação
Econômica do Brasil, em que apresenta o negro inferiorizado intelectualmente, e responsável pelo
| 954
atraso econômico do país. Sendo Celso Furtado uma autoridade econômica, mesmo sem ter
realizado qualquer pesquisa que o avalizasse falar sobre desenvolvimento mental de homens
negros, afirma ter o negro fraqueza mental e suas teses são leitura obrigatória, nos cursos de
Ciências Sociais, pelo menos na UnB, ressalta Santos (2015, p. 664). Com uma visão
brancocêntrica, baseada na hierarquização dos seres humanos, o professor universitário legitima
pensamentos racialistas. No mesmo viés, Santos (2015,p. 663) refere uma entrevista do Ex-
Ministro da Fazenda Delfim Neto, professor Emérito da Faculdade de Economia e Administração
188
Conferir em: https://www.youtube.com/watch?v=CkcpROCiolA
De acordo com Delfim Neto, trabalhadoras domésticas são ainda animálias, como eram
denominadas as escravizadas, e com todo seu conhecimento, prevê, acertadamente, o fim dessa
categoria. Para entender o pensamento de Delfim, devemos lembrar que até início do século XX
teorias racialistas e teses eugenistas ,com base no determinismo racial e evolucionismo social e
cultural, influenciaram fortemente o pensamento acadêmico brasileiro, como as elaborações do
Dr. Nina Rodrigues, médico-legista, psiquiatra e criminologista, responsável por consolidar no
Brasil uma ciência (medicina/psiquiatria/psicologia) embasadas na medicina social e na teoria da
degenerescência, que vinculavaa loucura com crime, e a criminalidade com a raça, consolidando,
segundo Nascimento (2003, p.169), ao estereótipo racista não apenas do “crioulo doido”, como
do negro degenerado criminoso, graças à influencia lombrosiana do Dr. Rodrigues. Segundo ele,
negros eram “degradados” natos cuja condição racial já configurava um “desvio doentio”, em
respeito ao padrão de normalidade do branco.
Oliveira Vianna outro pensador, seguidor das teses do determinismo racial, de Lombroso,
defendia que do tipo físico do indivíduo, podia-se inferir as predisposições patológicas,
temperamento e inteligência. Ao avaliar “o valor mental do negro”, afirmava que este não tinha
condições de competir com as raças brancas ou amarelas, dizendo que era o que a observação e
os resultados das pesquisas de “psycologia experimental” pareciam confirmar, sem jamais ter
| 955
feito qualquer pesquisa sobre a “mente dos negros”, registra Nascimento (2013, p.173).
Se esse era o pensamento dos homens que faziam ciência, na época, imaginemos o quanto
o atendimento terapêutico psicológico bebeu nessas fontes! Na pesquisa sobre o Hospício
Juquery, instituição pioneira em psiquiatria no país, fundado por Franco da Rocha, Maria
Clementina Pereira da Cunha, trouxe dados reveladores: a população do manicômio era
predominantemente negra e os prontuários, estavam praticamente em branco, onde apareciam
informações sobre o fenótipo racial do paciente, considerados fonte de degeneração: “possuía os
estigmas de degeneração física comuns de sua raça: lábios grossos, nariz esborrachado, seios
enormes, pés chatos, um perfeito tipo de símio”. Assim foi diagnosticada, Martha, C., negra,
Mais tarde, esse tipo de encaminhamento foi sendo barrado, as Universidades assumiram
seu protagonismo contribuindo com pesquisas e debates, formando-se uma nova geração de
docentes e pesquisadores; houve avanços e hoje, vivemos a fase da inclusão. Nas Universidades
a palavra de ordem é acessibilidade, o Ensino de LIBRAS189 acontece, barreiras físicas são
removidas, construção de rampas para cadeirantes e pistas com identificadores para deficientes
visuais são pensadas. Porém ainda faltam remover as barreiras invisíveis do preconceito e do
racismo, em especial da resistência para trabalhar com a diversidade e implementar as
determinações da Resolução CNE 02/2015.
189
Língua Brasileira de Sinais.
190
A autora se refere a ações que resultam em tratamento desigual, violação de direitos e julgamentos
negativos em virtude da etnia ou origem da pessoa.
Porque estamos tratando de educação das relações raciais? Porque é preciso enfrentar o
discurso racista na escola e em sala de aula. Logo ali, escondida em um canto está Mariana. Ela
foi chamada de macaca por um colega. E daí? Como o professor deve agir? Outro educando não
foi convidado para as festinhas de aniversários e outro, passa isolado, não consegue estabelecer
vínculos com os colegas, apresentando os trabalhos, que deveriam ser realizados, em grupo,
sempre individualmente, com alguma desculpa; além de haver um grupo que costuma empregar
apelidos. Como administrar tudo isso?
A Educação das Relações Étnico-Raciais serve para isso, para o estudante dos cursos de
licenciatura entender que educação e escola sempre foi valor para as famílias negras e que
princípios do racismo biológico, do determinismo racial e evolucionismo social e cultural
continuam alimentando concepções acadêmicas sobre negros, como a fraqueza para os estudos,
a pouca habilidade de pensamento formal, a tendência à criminalidade, à patologias de cunho
psicológico como doenças mentais, loucura, idiotia, e assim por diante. Não é por acaso que a
maioria da população carcerária é negra, nem é acidental o genocídio da juventude negra
brasileira: ambos os dramas são alimentados por teses evolucionistas e/ou deterministas e a
disciplina de Educação das Relações de Étnico-Raciais precisa debater, analisar e realizar
pesquisas de extensão com os alunos para termos esperança em reverter esse cenário.
A Educação das Relações Raciais possibilitará também que se analise a política de cotas
sob as luzes do princípio da justiça social e da equidade, revertendo-se o problema da
| 957
invisibilidade do negro nos nossos cursos superiores, em especial ainda, em cursos de pós-
graduação. Ainda falta remover as barreiras invisíveis do preconceito e do racismo, em especial
as resistências para trabalhar com a diversidade e implementar as determinações da Resolução
CNE 02/2015.
A disciplina de Educação das Relações Raciais vai servir inclusive para questionarmos a
branquitude das nossas Universidades! “A nossa educação é branca e colonizada”.
REFERÊNCIAS
FONSECA, Marcos Vinícius da; Santana, Patrícia de Souza Maria; VERAS, Cristiana
Vianna; JUNQUEIRA, Eliane Botelho; SILVA, Julio Costa; SILVA, Petronilha Beatriz
Gonçalves; PINTO, Regina Pahim (ORG). Negro e educação: presença do negro no
sistema educacional brasileiro. São Paulo, 2001. Anped, Ação Educativa.
GOMES, Nilma Lino. Trajetórias escolares, corpo negro e cabelo crespo: reprodução de
estereótipos ou ressignificação cultural? Revista Brasileira de Educação, São Paulo, p. 40-51,
set/out/nov/dez. 2002.
INTRODUÇÃO
Segundo Ball (2002, p.5), “as tecnologias políticas da reforma da educação não
são simplesmente veículos para a mudança técnica e estrutural das organizações, mas
também mecanismos para ‘reformar’ professores e para mudar o que significa ser
professor”.
De acordo com Hypolito (2010, p.1341), o trabalho docente sofre as implicações
dessas tecnologias políticas da reforma:
existe uma identidade docente fixa, pois o trabalho docente não se encontra dissociado
dos conhecimentos constituídos durante a vida e as experiências no ambiente escolar.
Nesse sentido, a identidade docente pode ser compreendida como uma construção
social marcada por múltiplos fatores, como as histórias de vida, as condições de trabalho,
o imaginário sobre a profissão e os discursos sobre os docentes e a escola (GARCIA;
HYPOLITO; VIEIRA, 2005). Nessa perspectiva, destaca-se o lugar que o professor
ocupa na sociedade e o processo de constituição da identidade. Reconhecer e compartilhar
os saberes e fazeres na construção das propostas de ensino-aprendizagem significativas,
CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
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Tradução de Tomaz Tadeu da Silva. Cadernos de Pesquisa, São Paulo, n. 60, 3-14.1987.
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MOREIRA, Antonio e TADEU Tomaz (Orgs.), Currículo, cultura e sociedade. 12. ed. São
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sem Fronteira, v.1, n.2, p.99-116. 2001.
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políticas públicas de educação de jovens e adultos. Educação e Pesquisa, São Paulo, p. 321-338,
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fabricação da docência. Educação e Pesquisa, São Paulo v.31, n.1.p. 45‐56. 2005.
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1354, 2010.
SOUSA, Sandra. Possíveis impactos das políticas de avaliação no currículo escolar. Cadernos
de Pesquisa, n. 119, p. 175-190, 2003. | 974
Resumo:
Este artigo é parte de um estudo do Grupo de Pesquisa Elos da Universidade Federal de
Santa Maria realizada com apoio do Programa Observatório da Educação (OBEDUC), da
Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior – CAPES/Brasil. O objetivo é
analisar o processo de implantação das políticas de formação continuada de professores nas
estruturas simbólicas, considerando os valores, saberes e linguagens em relação às apropriações
didáticas para mediações no uso das Tecnologias de Informação e Comunicação – TIC. Este
trabalho é de cunho quanti-qualitativo e analisa dados coletados por meio de questionários,
conversas e observações nas relações com os sujeitos da pesquisa, professores e jovens do
Instituto Estadual de Educação Vicente Dutra, bem como analise de documentos legais, dados
estatísticos do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisa – INEP e autores relacionados à temática.
Concluiu-se que as políticas e processos previstos para o sistema educacional, que estão na
legislação, nem sempre encontram-se imbricadas no contexto educacional, desencadeando
| 975
problemas sociais em comunidades brasileiras, bem como em relação ao projeto político-
pedagógico em suas articulações com as concepções de juventude e direito à qualidade social da
educação.
| 981
100
38,2 37,6
32,4 Brasil
29,6
28,2 26,6
31,1
29,5 RS
0 28,2
Brasil VICENTE DUTRA
2012 2013
2014
Diretrizes Curriculares Nacionais Gerais São elementos constitutivos para a operacionalização destas Diretrizes ...
2010 para a Educação Básica /Art. 42 à 60 o professor e o programa de formação docente.
O Professor e a Formação Inicial e Continuada
O Pacto Nacional Pelo Fortalecimento do ..Compromisso com a valorização da formação continuada dos
2013 Ensino Médio/Art.1 professores e coordenadores pedagógicos que atuam no ensino médio
público...
Documento Orientador das Ações de ...promover a valorização da formação continuada dos professores e
Formação Continuada de Professores e coordenadores pedagógicos que atuam no Ensino Médio público...
2014 Coordenadores Pedagógicos do Ensino
Médio em 2014/ Íntegra
10 Desafios do Ensino Médio no Brasil Para ...valorizar os (as) profissionais do magistério das redes públicas de
2014 Garantir o Direito de Aprender de educação básica de forma a equiparar seu rendimento médio ao dos
Adolescentes de 15 a 17 Anos (P.41; 89) (as) demais profissionais com escolaridade equivalente
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em Escolas de Ensino Médio no Brasil. Ab. 2012. Disponível em:
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Belo Horizonte. UFMG, 2014. p. 101-134.
| 990
INTRODUÇÃO
Diversos autores, com diferentes perspectivas, têm dedicado atenção ao
planejamento no processo educativo formal. Gauthier (2014), por exemplo, aponta que o
trabalho do professor é mediado por duas grandes funções: a gestão de classe e a gestão
da aprendizagem. A função pedagógica da gestão de aprendizagem diz respeito a todos
191
Está pesquisa foi financiada pelo Programa das Licenciaturas da Universidade Federal de Santa Maria
(PROLICEM/UFSM) , sob a orientação da Profª Drª Elizara Carolina Marin.
METODOLOGIA
Este estudo insere-se na perspectiva da pesquisa exploratória que, de acordo com
Deslandes (2007), consiste na produção do projeto de pesquisa e de todos os
procedimentos necessários para a entrada em campo. Segundo Marin (2006), esse
primeiro contato exploratório possibilita diversos encaminhamentos em termos de
recortes de pesquisa.
192
O critério de seleção dos BID foi de estar vinculado ao subprojeto a no mínimo dois semestres, este
recorte justifica-se pela experiência desenvolvida pelos mesmos na escola. Tendo em vista, que cada
subprojeto atua em três escolas, foram selecionados dois BID de cada escola, totalizando 12 BID. O
semestre que os BID estão cursando varia do 1° ao 8°.
193
Participam das reuniões os coordenadores, supervisores e bolsistas de iniciação a docência. As reuniões
tem em média à duração de 3 horas.
Libâneo (2013) assinala que o planejamento não se restringe a sala de aula, ele vai
além, está ligado a exigências socais e também as experiências dos alunos. Portanto, ao
planejar os BID necessitam atentar ao contexto escolar e social dos alunos e da escola.
Participam da elaboração e desenvolvimento do planejamento os coordenadores,
supervisores e bolsistas, todavia com ações diferentes, mas complementares.
“O professor lá da escola auxilia nas reuniões, dando dicas.
Como ele já conhece a turma, ele diz: talvez isso aqui não vai
funcionar, porque a turma é mais agitada ou menos. E o
Coordenador atua de uma forma mais geral, mais ampla, falando
mais sobre as abordagens, como que tem utilizado dentro do
plano de aula” (BID11 AF)
que se pretende.
Historicamente o planejamento de ensino na Educação Física escolar, possui
fragilidades, centrado num rol de atividades a ser desenvolvidas, isolado dos demais
aspectos que evolvem o trabalho pedagógico – método, objetivos, avaliação – e muitas
vezes se resume ao cumprimento de obrigações burocráticas, todavia no contexto do
subprojeto PIBID Educação Física o planejamento tem assumido relevância nas reuniões
e na prática pedagógica dos BID.
| 1004
INTRODUÇÃO
FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
194
Para maiores informações sobre este Programa, consultar o site
http://www.cienciasemfronetiras.gov.br/web/csf/o-programa.
Sendo assim, após a explicitação dos princípios teóricos que norteiam esse
estudo, a seguir, serão apresentados os procedimentos metodológicos adotados para a
realização do mesmo.
METODOLOGIA
Apresento, a seguir, a análise dos textos escritos pelas participantes deste estudo,
destacando as percepções mais recorrentes na maioria desses textos que versam sobre: 1)
a escola pública municipal e 2) o futuro profissional do professor de LI de escola pública
municipal de ensino básico.
Os excertos, a seguir, foram destacados dos textos escritos realizados pelas
participantes: Paula, Ana e Beatriz195, cujo tema era: “Eu, professora de LI”.
195
Os nomes são fictícios, com o intuito de preservar a identidade das participantes deste estudo.
196
Os excertos foram transcritos sem nenhuma alteração quanto à forma ou ao conteúdo.
197
Grifo da autora.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Esse trabalho revelou algumas percepções recorrentes nos textos analisados, tais
como: a imensa dificuldade de se trabalhar na escola pública, relatada pelas participantes
desse estudo, tornando-se evidente quando Paula menciona que, em determinados
momentos, falta motivação para exercer a sua atividade profissional. Podemos perceber
REFERÊNCIAS
_____. Quem precisa da identidade? In: SILVA, Tomaz Tadeu da (org.). Identidade e
diferença: a perspectiva dos estudos culturais. Traduzido por Tomaz Tadeu da Silva. 3.
ed. Petrópolis: Vozes, 2004. p. 103-133.
SILVA, Tomaz Tadeu da. A produção social da identidade e da diferença. In: SILVA,
Tomaz Tadeu da (org.). Identidade e diferença: a perspectiva dos estudos culturais. 3.
ed. Traduzido por Tomaz Tadeu da Silva. Petrópolis: Vozes, 2004. p. 73-102.
| 1017
2013 Global teacher status index. Varkey GEMS Foundation, 2013. Disponível em
<https://www.varkeygemsfoundation.org/sites/default/files/documents/2013GlobalTeac
herStatusIndex.pdf>. Acesso em: 15 out. 2013.
Cleomar Locatelli
Universidade Federal do Tocantins (UFT)
E-mail: locatelli@uft.edu.br
Resumo:
O presente estudo, sobre o professor do ensino superior, tem como objetivo analisar a
composição e as transformações do trabalho docente na última década, considerando as
mudanças que ocorrem no mundo do trabalho em função dos interesses econômicos e
políticos dominantes. Do ponto de vista teórico, apresenta-se algumas definições
conceituais sobre a reestruturação produtiva e sobre os processos de regulação (ou
reformas educacionais), no propósito de discutir sobre a realidade do trabalho de forma
geral e do trabalho docente em especial. Do ponto de vista empírico levantam-se alguns
dados referentes ao quadro de professores do ensino superior no Brasil, observando o
ocorrido na última década, mais precisamente entre 2003 e 2013. Constata-se que as
condições atuais do trabalho docente no ensino superior continuam fortemente
impactadas pelas transformações do mundo do trabalho e que, em suas particularidades e
singularidades residem contradições próprias de um setor com objetivos e finalidades não
necessariamente alinhadas às regras do mercado.
Palavras-chave: Reestruturação produtiva. Trabalho docente.
INTRODUÇÃO
198
Embora não seja o foco principal de nossa discussão no momento, ressaltamos que a designação desse
modelo de regulação como “pós-burocrático” não nos parece adequado. A aceitação de tal designação
como paradigma resultante da emergência de novas orientações, em parte, é aceitar que referenciais
como o “Estado avaliador” e “Quase mercado”, entre outros, levariam à desburocratização dos sistemas
de ensino, sejam eles públicos ou privados, algo que não consideramos factível quando consideramos
que a burocracia, acima de tudo, tem um papel fundamental nas manutenções das relações de poder. E
que o modo de produção capitalista não pode prescindir da burocracia, tendo em vista a necessidade
do cálculo e da previsibilidade que são seus fundamentos principias.
Em sua análise, a autora chama atenção para uma consequência dos professores
não terem tempo para preparação de aulas, para estudos e pesquisas, que é a apresentação
de uma prática que não condiz com o discurso, onde se exige uma postura dos estudantes
que ele mesmo não pratica. Ao mesmo tempo em que esses mesmos professores são
pressionados para a obtenção de títulos, melhorando a qualificação. Mas como fazer isso
numa realidade de tempo extremamente escasso e de poucos recursos pessoais? As
alternativas tem sido, em muitos casos, procurar cursos de pós-graduação à distância, nos
finais de semanas e nas férias, quando não, oferecidos por instituições estrangeiras sem o
reconhecimento do órgão competente no Brasil. A autora cita ainda práticas
inescrupulosas que vão surgindo entre os professes, como a organização de grupos para
elaboração de trabalhos, que serão apresentados em eventos ou publicados em periódicos
como se todos tivessem participado da elaboração, devido à pressão por apresentar
produtividade, ou no caso de professores que aceitam elaborar trabalhos acadêmicos,
como resenhas, artigos e monografias como uma forma de aumentar sua renda.
Em fim, como se percebe, do ponto de vista dos princípios da educação ou de um | 1024
comportamento ético profissional, no caso do professor, levando-se ao extremo esse
comportamento requerido pelo trabalhador dos tempos atuais, vamos encontrar situações
extremas que no médio ou longo prazo constituirão problemas evidentes para os
indivíduos e para a sociedade. De forma que se torna necessário compreender e
reconhecer as especificidades do campo educacional que em grande medida não se
coadunam aos princípios do mercado.
De modo geral podemos observar que, com exceção dos Centros de Educação
Tecnológica, em todas as outras formas de organização acadêmica a relação
matrícula/função docente, nos dez anos em estudo aumentou, sendo mais acentuada nos
centros universitários e nas faculdades integradas. No primeiro a diferença observada em
2013 foi de 3,7 pontos e no segundo de 1,1 em relação a 2003. Já no âmbito das
universidades podemos notar uma modificação bem menor, de 15,5 em 2003 para 15,8
em 2013, uma diferença para maior de 0,3 pontos.
Importante destacar ainda que em 2003 os professores estavam assim distribuídos:
59% em universidades, 29% em faculdades, 10,15% em centros universitários e 1,75%
em centros tecnológicos de educação. Já em 2013, observamos a seguinte composição:
53% em universidades, 32,70% faculdades, 10,30% centros universitários e 4% centros
tecnológicos de educação. Percebemos que em termos percentuais, durante estes 10 anos,
houve redução do número de professores em universidade e aumento nas faculdades, | 1028
centros universitários e centros tecnológicos de educação. Sendo que as faculdades e os
centros universitário em sua grande maioria pertencentes a iniciativa privada e as
universidades os centros tecnológicos em sua maioria ao setor público.
Qual o significado desses dados para a determinação de uma relação adequada de
alunos por professor no ensino superior? O que esses números nos dizem sobre as formas
de organização acadêmica e as pressões do mercado sobre a educação? Em que medida
se pode relacionar, qualidade de ensino e condições de trabalho docente com as formas
de organização acadêmica, considerando as diferenças na relação matrícula/função
docente em cada uma?
Essas e outras questões, relacionadas às mudanças recentes no ensino superior
brasileiro merecem atenção e podem contribuir de forma significativa para que possamos
avaliar os avanços do processo de reestruturação produtiva, ou pós-fordismo no conjunto
das determinações do trabalho docente na universidade.
| 1031
Resumo: Este artigo analisa as percepções e influências acerca dos projetos pedagógicos
de curso (PPC) e a relação teoria-prática dos professores dos cursos de Licenciatura em
Ciências Naturais e Matemática na modalidade de Educação a Distância nos Institutos
Federais no Brasil. O método de investigação foi organizado em três momentos e
constituiu-se de: (a) localizar, entre todos os Institutos Federais de Educação, Ciência e
Tecnologia do Brasil, os cursos objeto da pesquisa; (b) analisar os ordenamentos das
instituições ofertantes destes cursos; (c) analisar, cotejar e refletir, por meio da análise
ideográfica e nomotética, os olhares acerca dos projetos pedagógicos de curso como
fenômeno em questão. A partir das análises realizadas, foram observadas, seis ideias
nucleares: (a) PPC é levado em consideração mas não é o único elemento norteador; (b)
PPC direciona as ações do curso; (c) PPC direciona as ações do curso porém está mal
elaborado (d); desconhecimento do PPC; (e) PPC mal elaborado; e (f) PPC não é levado
em consideração. Sendo assim, entende que é urgente e necessário que as discussões
acerca dos nortes referenciados nos PPC e suas repercussões na formação dos estudantes
sejam abraçados como princípio fundamental para a construção de processos críticos de
formação de professores.
Palavras-chave: Formação de Professores; Educação a Distância; Projeto Pedagógico de
Curso.
INTRODUÇÃO
| 1032
Os debates acerca da formação de professores por meio da modalidade de
Educação a Distância (EAD) vem, nos últimos anos, sendo incluídos nas agendas das
Instituições de Ensino Superior (IES), seja pela urgência da modalidade ou forjados pelas
políticas públicas e pelas necessidades e contradições que cercam os cursos de
Licenciatura no Brasil.
Tendo como foco a formação de professores por meio da modalidade de EAD no
contexto dos Institutos Federais de Educação, Ciência e Tecnologia (IFs), destaca-se a
complexidade da tarefa, dado o volume de discussões que a subjazem. Quando os IFs
METODOLOGIA
ALGUNS RESULTADOS
O Projeto Político fornece um mapa para nortear nossa ação, mas se você
entende um projeto político como o germe de processo em andamento. Ele é
dinamicamente influenciado pelas particularidades das várias comunidades
discentes envolvidas. (PF37, PM37).
Sem sombra de dúvidas o PPC é fundamental para dar clareza e discernimento | 1037
sobre os caminhos que os profissionais envolvidos no processo ensino-
aprendizagem sigam. Sobre minha prática, acredito que a organizo de modo
a seguir o que foi pensado, sem deixar de lado os saberes que adquiri durante
estes anos de experiência. (T44).
Observa-se, nas falas acima que o PPC é reconhecido como instrumento norteador
| 1038
dos processos de ensino-aprendizagem, indiferentemente da modalidade de ensino em
que se atua. Também cabe o destaque as observações de que alguns 'outros' elementos
também carecem de um olhar mais apurado, já que, para os sujeitos da pesquisa, são
complementares para a garantia de um processo formativa crítico e consciente.
Entende-se que a elaboração do projeto pedagógico é o ponto de referência para a
construção da identidade de um curso e é também a base para a formação de cidadãos
críticos, profissionais éticos e qualificados. Frente a essas exigências Vasconcellos (1995,
p. 143), destaca que o PPC, enquanto instrumento teórico-metodológico, “visa ajudar a
enfrentar os desafios do cotidiano da escola, só que de uma forma refletida, consciente,
Um bom plano de curso pode ser o sul para qualquer curso, e a distância a
importância é igual. A organização com os prazos é de fundamental
importância. Tudo o que for marcado precisa se realizar, senão cai no
descrédito. Porém, o projeto político está diretamente ligado às questões
econômicas, muitas vezes por questões de logísticas ou por falta de repasse do
governo. Não tínhamos passagens para ir até ao polo e nem diária, já
aconteceu de irmos aos polos, no interior do Estado, como recursos próprios,
e alguns casos não nos foi ressarcido.(PF5, T5).
Por fim, as duas últimas ideias nucleares, embora apareçam em menor quantidade
nas falas, encaminham nossas reflexões para a preocupação com a formação dos
| 1040
estudantes dos cursos de Licenciatura em Ciências Naturais e Matemática na modalidade
de Educação a Distância nos Institutos Federais no Brasil. São elas: 'desconhecimento
do PPC' e 'PPC não é levado em consideração'
O PPC não influencia em minha prática pedagógica. Até porque na IES onde
atuo eu desconheço este instrumento. Na escola onde leciono no Ensino
Fundamental também não o conheço. Minhas práticas são influenciadas
através do convívio com outros colegas professores. Observando posturas
favoráveis ao ensino e aprendizagem. Além da influência que tive enquanto
aluna, muitas vezes levamos para a sala de aula a metodologia que fomos
formados. (T42).
A maior parte das vezes o PPP do curso é deixado de lado no dia a dia.(PF33,
PM33, G2).
realizada.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
| 1044
A resposta pode parecer óbvia para alguns, mas, muitas pessoas, principalmente
aquelas que ainda acreditam no mito da democracia racial, guardam ressalvas e dúvidas
sobre essa necessidade. Existe, na sociedade brasileira, um processo de negação do
racismo. A crença numa suposta igualdade racial, em que pessoas de diferentes etnias
convivem harmoniosamente, com liberdades e oportunidades iguais para todos e todas,
acaba por mascarar o racismo estrutural, institucional e interpessoal explícito que
permeia todas as esferas da nossa vida.
Mesmo o Brasil sendo o país com a segunda maior população negra do mundo
e, segundo dados do IBGE de 2014, tendo 54% de sua população composta por negros
(pretos e pardos), as desigualdades raciais são contundentes e persistentes na sociedade
brasileira. As estatísticas200 mostram que os negros são as maiores vítimas da
violência e os que mais sofrem com a pobreza no país. A população negra tem pouca
representatividade nas esferas políticas, e afrodescendentes raramente ocupam cargos
ligados a chefias. Cabe mencionar ainda, no universo midiático e publicitário, o
racismo, a exclusão e a invisibilidade em relação ao negro, cuja representatividade
é quantitativamente desproporcional ao número de negros no país.
escola tem papel fundamental. Na medida em que é, por dever de ofício, a instituição
responsável pela formação do cidadão, ela precisa estar em sintonia com as políticas
públicas destinadas a garantir e instituir, conforme reza a Constituição Brasileira (1988),
em seu Preâmbulo,
200
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Pesquisa Nacional de Amostra por Domicílios –
PNAD: Síntese de Indicadores 2014. Disponível em
http://www.ibge.gov.br/home/presidencia/noticias/imprensa/ppts/00000024052411102015241013178
959.pdf
O MEC adota três abordagens quando trata das políticas públicas para a
implantação da Lei 10.639/03. A primeira pauta-se pelo binômio inclusão/exclusão, que
usa a abordagem socioeconômica desconsiderando especificidades culturais. A segunda
trata das ações afirmativas ou discriminação positiva, isto é, selecionar pessoas que
A Lei 10.639/03 vem para atender uma demanda do Movimento Negro desde a
abolição, pois a realidade da escola brasileira nunca atendeu as demandas dos povos
marginalizados no processo colonial e que ainda hoje vivem a margem da sociedade. No
entanto, a efetivação da lei encontrou uma série de obstáculos que fazem com que ela | 1049
ainda hoje, 13 anos após sua promulgação, tenha dificuldade para sair do papel.
Infelizmente, as Leis 11.645/08 a Lei 10.639/03 encontram-se ainda no âmbito das
discussões e do relato de algumas experiências de professores militantes e simpatizantes
da causa.
| 1050
Uma experiência metodológica de reconhecimento da diversidade na
escola: o caso da Escola Estadual de Educação Básica Irmão José Otão
201
“Em linhas bem gerais, uma abordagem filosófica afroperspectivista é pluralista, reconhece diversos
territórios epistêmicos, é empenhada em avaliar perspectivas e analisar métodos distintos. Tem uma
preocupação especial para a reabilitação e o incentivo de trabalhos africanos e afrodiaspóricos em prol
da desconstrução do racismo epistêmico antinegro e da ampliação de alternativas para uma sociedade
intercultural e não hierarquizada.” (NOGUERA, 2014, p. 68)
“Produção artística, gerada pelo teatro, música, história, arte ativista e direitos
humanos; Interação e construção do trabalho pelo grupo de educandos e
educadores; Discussão, confronto, entendimento e respeito entre todos os
| 1054
componentes, pois os temas desenvolvidos estão presentes na turma; e
Protagonismo, autoconfiança, empoderamento, possibilidade de sonhar e
realizar; Politização, informação, cultura, tomada de decisão, reação ao aqui
e agora (atitude), através do processo teatral; é Introdução e respeito à cultura
do educando”.
“Nossa colega (...) sugeriu e achamos que tinha tudo haver com a peça, pois
a música é clara quando expande o sentimento do negro, quando mostra o
preconceito, mas também escolhemos porque ela também é clara quando diz
que o negro tem orgulho da sua cor.”
| 1056
O processo de desnaturalização, estranhamento e sensibilização é uma via de mão
dupla que atinge tanto professores quanto alunos e causa efeitos imprevisíveis. A
experiência realizada demonstrou as dificuldades impostas a nós mesmos e, muitas
vezes, por nós mesmos, pois é difícil para um docente se desatrelar de manuais, diários,
planos cartesianos, “conteudismo”. O rompimento com os velhos métodos desacomoda,
provoca e desafia o professor a navegar em novas águas, mas o resultado extrapola a sala
de aula.
O resultado mais significativo, que salta aos olhos do mais meticuloso etnógrafo,
está no brilho dos olhos dos educandos e na sua fala:
Referências bibliográficas:
ARROYO, Miguel G. Da escola carente à escola possível. São Paulo: Loyola, 1986.
BARBOSA, Wilson do Nascimento. Cultura Negra e dominação. São Leopoldo: Ed
Unisinos. 2002.
BORGES, L. P. C. ; CASTRO, Paula Almeida de ; MATTOS, C. L. G. . A diversidade
cultural e os processos de inclusão/exclusão: desafios para uma educação de qualidade.
In: IX Congresso Nacional de Educação - EDUCERE e o III Encontro Sul Brasileiro
de Psicopedagogia - ESBP- ABPp, 2009, Curitiba. Anais do IX Congresso Nacional de
Educação. Curitiba: Champagnat, 2009. p. 3751-3758.
BRASIL. Lei Federal nº 10.639, de 09 de Janeiro de 2003. | 1057
BRASIL. Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação das Relações Étnico-
Racias e para o Ensino de História e Cultura Afro-Brasileira e africana. 2004.
BRASIL. Estatuto da Igualdade Racial. 2010.
BRASIL. Plano Nacional de Implementação das Diretrizes Curriculares Nacionais
para Educação das Relações Étnico-Raciais e para o Ensino de História e Cultura
Afrobrasileira e Africana. 2013.
ENGELMANN, Wilson. Princípio da Igualdade. São Leopoldo. Ed. Sinodal. 2008.
FANON, Frantz. Os condenados da terra. 2ª Ed. Rio de Janeiro. Civilização Brasileira.
1979.
IBGE 2010. http://censo2010.ibge.gov.br/resultados.html. Acessado em 30 de outubro de
2015.
| 1058
RESUMO
| 1059
1. Introdução
202
Mestre em Educação, atualmente é aluna do Programa de Pós-graduação em Educação Brasileira no
CEDU/UFAL, onde desenvolve sua pesquisa de doutorado na linha de história e política da educação. É
membro do grupo de pesquisa sobre Estado, Políticas Sociais e Educação Brasileira (GEPE). Bolsista da
CAPES. E-mail: ninecardeal@hotmail.com.
203
Professora Doutora leciona no Curso de Pedagogia e no Programa de Pós-Graduação em Educação
Brasileira no Centro de Educação (CEDU/UFAL). É a líder do grupo de pesquisa sobre Estado,
Políticas Sociais e Educação Brasileira (GEPE). E-mail: elionend@uol.com.br.
Assim como se esclarece que nem tudo que não é governamental é de fato uma
ONG, ratifica-se que o Terceiro Setor não se resume as ONGs. Observa-se, ainda, que
tais organizações têm acompanhado o fenômeno do crescimento do Terceiro Setor como
nenhuma outra organização que o compõe tem feito.
Sobre a conceituação do Terceiro Setor, a Associação Brasileira das Organizações
Não Governamentais (ABONG) o descreve como sendo um universo de instituições que
se reconhecem como distintas do Estado. Cabe diante desse universo, o delineamento
específico das ONGs de acordo com as suas ações.
Quanto ao desenvolvimento de suas ações ratifica-se que elas não podem
substituir ou se sobrepor àquelas geridas pelo poder público estatal. As ONGs não podem
perder de vista a característica primordial do seu trabalho, que se constitui na construção
de um elo político no que tange à prestação de serviços envolvendo o Estado e as
populações locais. Nesse caminho da parceira, acredita-se que as ONGs têm procurado
manter uma postura crítica diante das problemáticas sociais. O que revela que tais
instituições, apesar das mudanças que sofreram em sua trajetória histórica, desenvolvem
um trabalho regido pela luta democrática.
Em tal sentido, nesta pesquisa trabalha-se com o seguinte conceito de ONG: é uma
instituição comprometida com uma função de atuar como agente democrática de
desenvolvimento político e social, desempenhando um papel de caráter público diante da
| 1063
sociedade civil.
Tendo em vista que esses processos educativos eram desenvolvidos no âmbito não
formal, aqui especificamente nas organizações não governamentais, cabe uma reflexão
sobre esse campo de desenvolvimento de aprendizagens e troca de saberes (GOHN,
2010).
As organizações não governamentais estão inseridas no campo da educação não
formal. Diante disso, é preciso de acordo com Gohn (2010), autora que tem contribuído
para o diálogo sobre os processos educativos não escolarizados, caracterizar brevemente
os outros campos educativos, sendo eles: o da educação formal e o da educação informal.
Tal caracterização possibilita o esclarecimento acerca dos espaços em que se realizam os
processos educativos, da forma como o trabalho educativo é realizado e ainda permite
conhecer a atuação dos mediadores de tais processos.
Sobre os espaços onde se desenvolvem ações educativas Gohn escreve:
Na educação formal estes espaços são os do território das escolas, das
instituições regulamentadas por lei, certificadoras, organizadas segundo | 1064
diretrizes nacionais. Na educação não formal, os espaços educativos
localizam-se em territórios que acompanham as trajetórias de vida dos
grupos e indivíduos, fora das escolas, em locais informais, locais onde
há processos interativos intencionais. Já a educação informal tem seus
espaços educativos demarcados por referências de nacionalidade,
localidade, idade, sexo, religião, etnia etc. (GOHN, 2010, p. 17).
Assim como por vezes o conceito de educação não formal tem sido confundido, a
sua finalidade ainda não tem sido amplamente discutida a ponto da academia e da própria
sociedade compreender o que tencionam as organizações que atuam por meio da
Percebe-se que os processos formativos nesses espaços não são pensados somente
a partir da perspectiva dos educandos, portanto, consideram as questões que se voltam à
formação dos educadores envolvidos. Os processos educativos não formais
desenvolvidos tanto na Paz e Amor, quanto na Semeador têm contribuído de forma
relevante em diversos sentidos. A respeito dessa contribuição, a partir da entrevista | 1069
realizada com vinte educadores, sendo dez de cada ONG,identificou-se suas impressões.
O trabalho da instituição tem agregado à minha vida saberes muito
específicos que tem contribuído para o meu desenvolvimento enquanto
sujeito, enquanto educadora, e educanda. Porque aqui eu tenho
aprendido muito, com as vivências, com as posturas, com os colegas e
ainda mais com as crianças e adolescentes (Educador 5).
Antes eu não tinha cuidado no trato com as crianças. Mudou meu jeito
de olhar e falar aqui na minha vida pessoal (Educador 11).
204
Nomes fictícios. Usamos tais expedientes no sentido de preservar a identidade e a privacidade dos
sujeitos envolvidos na pesquisa.
educadores, enquanto cidadãos, que exercem a sua cidadania, e que, portanto, percebem
a importância de sua participação ao se engajar nas questões de interesse social.
O trabalho desenvolvido na instituição tem ajudado a minha
compreensão de mundo e de sociedade. Tenho aprendido muito mais
do que tenho ensinado. Hoje, percebo que as questões sociais estão
presentes em todo processo educativo. E daí a importância de tratar
essas questões para desenvolver ainda mais a educação. (Educador 8)
O conhecimento crítico em torno das questões sociais tem possibilitado que esses
sujeitos mais do que se posicionem, se envolvam nas lutas pelos direitos sociais, que
tomem a frente, que se desenvolvam enquanto educadores comprometidos em realizar
uma prática para a transformação social. Neste sentido, os processos educativos
desenvolvidos nesses espaços desempenham um papel importante junto a essa formação
de sujeitos preocupados com a dimensão política, econômica e social, e comprometidos
com a transformação de determinada realidade.
As possibilidades para o trabalho docente são ampliadas no cenário das ONGs e
dialogam de forma mais orgânica com as questões sociais. Os educadores nesses espaços
desenvolvem a sua identidade profissional ao passo que se caracterizam enquanto
interventores sociais, sujeitos que vivenciam processos que influenciam na criticidade e
humanização de suas formações e atuações.
O trabalho docente nesses espaços não é percebido, nesse estudo, a partir da
perspectiva de precarização ou mercantilização da educação. Pelo contrário, é observado
a partir da possibilidade de valorização dos sujeitos docentes quanto o desenvolvimento
de seus papéis na tessitura social. Visto que, não é salutar que a presença de tais
profissionais se limite aos muros e bancas escolares, em meio a uma diversidade de
organismos sociais nos quais o trabalho docente desempenha papel preponderante para o
desenvolvimento político, econômico, social e, sobretudo, humano.
FREIRE, P. Educação como prática da liberdade. Editora: Paz e Terra, Rio de Janeiro,
1969.
| 1073
Introdução
Este trabalho foi financiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa de Minas Gerais
- Fapemig e pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico –
Cnpq. Compõe o universo de uma pesquisa coletiva que desenvolveu pelo grupo de
professores pesquisadores da Linha Estado, Política e Gestão do Programa de Pós-
graduação em Educação da Universidade Federal de Uberlândia, viculando-se a uma
pesquisa, também de âmbito nacional, denominada Avaliação do Plano de Ações
Articuladas (PAR): um estudo em municípios dos estados do Rio Grande do Norte,
Pará e Minas Gerais no período de 2007 a 2011, originando um observatório da
educação. Tem como objetivo analisar o dispositivo legal PAR (Plano de Ações
Articuladas) do governo federal, como mecanismo indutor de mudanças na gestão
educacional nos sistemas/redes de ensino e nas unidades escolares em Minas Gerais.
Dentro desta pesquisa macro, este estudo buscou analisar a relação do Plano de
Ações Articuladas (PAR) e a Rede de Formação continuada de Professores em Educação
Especial da Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização, Diversidade e Inclusão, | 1074
por meio da Diretoria de Políticas de Educação Especial do MEC (Secadi/Dpee/MEC).
As questões basilares do estudo foram: Quais as concepções de educação inclusiva
e de educação especial presente nas políticas e práticas educacionais dos municípios lócus
do estudo na região do Triangulo Mineiro, contidas nos projetos financiados por recursos
financeiros decorrentes do PAR? De que maneira as demandas por formação continuada
de professores originarias do PAR, nestes municípios, foram atendidas pelos cursos da
Rede de Formação de Professores em Educação Especial no período entre 2008 a 2013?
205
Dados disponibilizados na página eletrônica do Ministério da Educação. Consultado em 17 de junho de
2010.
206
Atualmente a SEESP se tornou a Diretoria de Políticas de Educação Especial, ligada a Secretária de
Educação Continuada, Alfabetização, Diversidade e Inclusão – Dpee/Secadi/MEC
207
Torna-se importante diferenciar os dois conceitos, considerado por alguns como sinônimos. Entende-se
por inclusão educacional, o movimento de garantia do direito de todos os cidadãos brasileiros à
escolarização. Educação Especial é uma modalidade de ensino, de natureza complementar e suplementar,
que perpassa todos os níveis e modalidades de ensino, garantindo as condições necessárias à escolarização
das pessoas com deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e altas habilidades/superdotação.
208
Dados sobre o município de Uberlândia . Disponível em http://www.uberlandia.mg.gov.br/. Dados sobre
os estabelecimentos de ensino. Disponível em http://sreuberlandia.educacao.mg.gov.br Dados gerais
sobre a cidade. Disponível em http://www.ibge.gov.br Dados sobre o PAR. Disponível em
http://simec.mec.gov.br/cte/relatoriopublico/principal.php
de ensino, esse espaço vem se constituindo como principal lócus responsável pelo seu
processo de escolarização. Considerando ainda que a formação inicial não consegue
responder a esta demanda, pois os currículos quando abordam esta temática o fazem de
forma reduzida210, a realidade encontrada gera preocupação, pois não se trata apenas de
5 Não foi possível identificar nos cursos se estes pertencem a rede estadual ou municipal, pois os mesmos
não informaram o Código do Inep da Escola.
210
A formação inicial de grande parte destes profissionais, dos municípios lócus, deste estudo ocorre nas
redes particulares de ensino, uma pequena parte na Universidade Federal de Uberlândia, campus de
Uberlândia e Ituiutaba/MG instituições nas quais seus projetos pedagógicos não sofreram grandes
alterações no sentido de garantir uma formação que abarque os aspectos necessários à escolarização do
211
Nos micros dados do Inep se encontrou registro apenas de 2011 e 2012.
Considerações finais
O desafio que assumido com este estudo foi em partes conseguido, considerando
que sua relevância se encontrava justamente no fato de procurar compreender os sentidos
que a formação continuada de professores para a escolarização das pessoas com público
Referências
| 1089
INTRODUÇÃO
É sabido que a formação docente não se encerra ao final da graduação, muito pelo
contrário, essa é a etapa inicial da formação, e se estende ao longo da sua vida
Para que possam ocorrer efetivas mudanças na educação faz-se necessário que as
instituições de ensino (escolas, universidades) reavaliem suas ações, para cumprir
satisfatoriamente sua função social, que além de orientar para a cidadania, e para o mundo
do trabalho, é transmitir os conhecimentos historicamente produzidos. Porém a mera
transmissão de informações, não garante aprendizagens. É tarefa do professor oportunizar
A cada ano, a cada geração de educandos que chegam à escola para aprender
formalmente os conhecimentos historicamente acumulados, percebe-se que estas
instituições não conseguem cumprir a sua função satisfatoriamente, seja devido à falta de
preparo de seus profissionais, seja pela falta de autonomia das instituições, falta de
adequação das políticas públicas, ou desmotivação/desilusão dos educandos e da
comunidade escolar em buscar e exigir uma educação de qualidade para seus filhos.
Mesmo envolvida com uma série de funções predeterminadas, as escolas tem certo
grau de autonomia para realizar o seu trabalho cotidiano, para desenvolver seu projeto
junto à comunidade local. O termo autonomia significa, segundo o dicionário Aurélio | 1092
“1.Faculdade de se governar por si mesmo. 2. Direito ou faculdade que tem uma nação
de se reger por leis próprias.” (2010,p. 81). A escola além de estar subordinada a
legislação federal e estadual, tem autonomia de elaborar normas e leis próprias que a
regem e a amparam. Estas são construídas pela comunidade escolar e documentadas no
Regimento Escolar.
Nas escolas, o ambiente que oferece maior autonomia para o professor é a sala de
aula. Nela o professor tem a oportunidade de desenvolver o seu trabalho fundamentado
em conhecimentos didáticos e pedagógicos que possui, e utilizando-se de diferentes
A escola é o melhor ambiente para refletir sobre a prática docente, pois junto com
seus pares, os professores têm oportunidade de buscar formas de superação de
necessidades/dificuldades. Melhorando com isso, suas práticas pedagógicas.
O lugar, do ponto de vista geográfico descreve uma posição, mas, também uma
experiência humana, sobre a qual carregamos determinados valores. Cada lugar tem suas
próprias características, o que o torna diferente de outros lugares. Ele pode mudar com o
tempo, dependendo das relações humanas que ali se estabelecem, por isso da importância
e conhecê-lo, para preservá-lo ou reconstruí-lo.
Cada grupo teve participação mais efetiva em uma das etapas do trabalho,
conforme mencionado acima. Um dos grupos elaborou um mapa que contemplou as vilas
Outro grupo de alunos, coletou os endereços dos alunos das turmas da escola,
desde os alunos do 6º Ano do Ensino Fundamental ao 3º Ano do Ensino Médio, para que
pudessem ser identificados no mapa construído. Para coletar informações sobre endereço
dos alunos dos Anos Iniciais do E.F.(1º ao 5º), precisaram recorrer a secretaria da escola.
Tendo em vista que essa parcela dos alunos ainda são pequenos e muitos não sabiam
dizer/escrever o seu endereço.
CONCLUSÃO
REFERÊNCIAS
NÓVOA, António. Diz-me como ensinas, dir-te-ei quem és e vice-versa. In.: FAZENDA,
Ivani. (Org.). A pesquisa em educação e as transformações do conhecimento.
Campinas, SP: Papirus, 1995.
TARDIF, Maurice, LESSARD, Clause. O trabalho docente: elementos para uma teoria
da docência como profissão de interações humanas.Trad 7ed. Petrópolis: Vozes, 2012.
RESUMO:
O estudo trata de questões referentes à inserção dos professores de artes nas escolares a partir da
implantação da Lei 12.287/2010 que determina a obrigatoriedade da disciplina de artes nos currículos
escolares. A discussão parte de pesquisa realizada sobre a área nas escolas da 8º Coordenadoria de
Educação do Estado do RS entre 2011/2012, que instigou a retomada no ano de 2015. Em cuja análise
pode-se observar as alternativas encontradas pelo Estado do RS para a inserção da mesma nos currículos
após 2011 e os profissionais que a ministram. A pesquisa qualitativa foi usada com o objetivo de
contextualizar a realidade das escolas, tendo como aportes a documentação dos concursos de 2001, 2005,
2012 e 2013 para professores de artes da 8º Coordenadoria e o material coletado junto à mesma sobre os
profissionais que ministram a disciplina. A pesquisa mostrou que nos últimos anos, através dos concursos
realizados, alguns/novos professores de arte se inseriram nas escolas públicas do Estado do RS, mas a
forma como é organizada a disciplina, carga horária e horas/aula dificultam o trabalho desses
profissionais, mesmo quando buscam alternativas para uma educação de qualidade.
Introdução
A Arte Educação Brasileira desde o início da colonização foi usada como instrumento
| 1100
para educar e evangelizar. O seu reconhecimento e inserção no contexto educacional Brasileiro
se deu lentamente, uma vez que, somente na década de 1970 o ensino das artes e da cultura foi
implantada como Lei que regia sua obrigatoriedade nas escolas. Na década seguinte tiveram início
os primeiros estudos sobre a educação em artes e pesquisas referentes às novas metodologias que
contribuíram com seu ensino. Nesse período a disciplina começou a ter um maior
comprometimento com a cultura e a história da arte, pois até então, o principal compromisso era
o do desenvolvimento da expressão pessoal (BARBOSA, 2002). Assim, sua inserção no ensino
básico vem se concretizando no decorrer das últimas décadas. Nesse contexto, juntamente à
implantação da Lei de Diretrizes e Bases (LDB), Lei 9.394/96 (BRASIL, 2010), foi instituída a
arte como componente curricular nas escolas de educação básica. Nesse mesmo período foram
A implantação e estudo do PCNs, assim como de Leis que visam à inserção das artes nos
espaços escolares têm instigado a pensar como essas políticas são desenvolvidas na prática e sua
influência na atualidade, na inserção das artes e dos arte/educadores. Premissa que tem como base
as autoras Barbosa (2002) e Fuzarri e Ferraz (2001, 2004) que abordam sobre a docência em artes.
As quais me permitem traçar analogias com a docência nas escolas da Rede Estadual de Educação
do Estado do Rio Grande do Sul213. Estudos que possibilitam tratar sobre a educação em artes, o
papel e a realidade dos docentes nas escolas. Como a inserção dos professores de artes se dá na
prática, a qual diz respeito aos processos que possibilitam sua incoração nas escolas, turmas e
horas/aulas da disciplina com relação a carga horária.
212
No decorrer do artigo irei usar a abreviatura PCNs artes para tratar dos Parâmetros Curriculares
Nacionais/artes.
213
O nome do Estado será citado com a abreviatura RS.
214
No decorrer do texto usarei a abreviatura de 8ª Coordenadoria para tratar da 8ª Coordenadoria de
Educação do Estado do RS.
Ou seja, uma prática que tinha a função de auxiliar na distração em relação às outras
disciplinas. No início da década de 1980, enfatizaram-se pesquisas sobre a arte educação, suas
práticas e como era trabalhada nas escolas, reafirmando, desse modo, a realidade, ou seja, que as
artes não eram trabalhadas como disciplina obrigatória, uma vez que, eram poucos os
profissionais formados em artes que haviam se inserido nas escolas brasileiras. Na maior parte
das instituições de ensino quem ministrava a disciplina eram professores de outras áreas que não
tinham formação para exercer a função de arte/educadores. Os poucos professores da área, que
estavam inseridos nas escolas, tinham a incumbência de desenvolver um trabalho direcionado ao
campo artístico como um todo (artes visuais, teatro, dança e música). Como consequência do
restrito número de docentes da área nas instituições a prática/metodologia que passou a
predominar como atividade nas aulas de artes foi a do desenho estereotipado, trabalhos dedicados
a datas comemorativas, desenho livre e de decoração das escolas. Os quais não auxiliavam na
formação do educando em artes, mas ao contrário, em muitos casos, contribuíram para a
desvalorização das artes.
| 1103
Diante dessa realidade, objetivando por mudanças no ensino das artes nas escolas
brasileiras que, na década de 1980, Ana Mae Barbosa juntamente com arte educadores
desenvolveram a Proposta Triangular que teve como base os estudos feitos por Eisner nos Estados
Unidos, o qual criou a DBAE (Arte-Educação Baseada em Disciplinas), que definia como
metodologia a produção, a crítica, a História e a Estética da arte nas escolas americanas (EISNER,
2001). Essas quatro operações foram codificadas por Barbosa, na arte educação brasileira, por
meio da Proposta Triangular, em três subdivisões que orientavam os trabalhos de artes nas
escolas, que eram a articulação pela ênfase na interação entre o fazer e a leitura da obra de arte
(apreciação interpretativa) e a contextualização histórica, social, antropológica e/ou estética da
A Lei 9.394/96 (BRASIL, 2011), estabeleceu em seu Art. 26, § 2º, “O ensino da arte
constituirá componente curricular obrigatório nos diversos níveis da educação básica, de forma a
promover o desenvolvimento cultural dos alunos”. Com a implantação da Lei as instituições
criaram um espaço restrito à disciplina, sem muita valorização, com uma carga horária mínima
no Ensino Fundamental, de uma a duas horas/aulas semanais, e na maioria das escolas de Ensino
Médio, uma hora/aula restrita ao primeiro ano. Uma vez que a Lei não determina que a disciplina
de artes devasse ser inserida em todas as séries/anos, mas nos níveis de Educação Infantil, Ensino
Fundamental e Médio mantendo, de certo modo, o que já vinha ocorrendo até então.
Professores de artes: Leis versus realidade nas escolas da Rede Pública do Estado do RS
215
Cada hora aula equivale entre 40 e 50min. dependendo da organização dos horários de cada instituição.
216
As quais trabalhavam nas três escolas da rede Estadual de Santa Maria, Escola Estadual de Educação
Básica Augusto Ruschi, Escola Estadual de Educação Básica Érico Veríssimo e Escola Estadual de
Educação Básica Coronel Pilar; com turmas de Ensino Fundamental e Médio. As observações se
limitaram a turmas de 1° e 2° anos do Ensino Médio.
217
Concursos anteriores a 2001 não tem registro no site da Coordenadoria de Educação do Estado do RS.
218
Fonte: http://www.educacao.rs.gov.br/pse/html/conc_magisterio.jsp?ACAO=acao4 – 22/03/2002;
15/04/2002; 05/06/2002; 04/07/2002; 13/03/2003; 29/04/2003. O concurso teve validade até fevereiro
de 2006, período onde houve listas de nomeações de professores de outras áreas, mas não de artes.
219
Nas listas de nomeações não é possível averiguar a formação especifica na área das artes.
220
Fonte: http://www.educacao.rs.gov.br/pse/html/noticias_det.jsp?PAG=741&ID=1143
221
Fonte: http://www.educacao.rs.gov.br/pse/html/conc_magisterio.jsp?ACAO=acao4 - 22/05/2007;
222
Fonte: https://www.pciconcursos.com.br/concurso/seduc-secretaria-de-estado-da-educacao-rs-10000-
vagas
223
Fonte: http://www.educacao.rs.gov.br/dados/conc_mag_edital_20120201_02.pdf
224
Fonte: http://zerohora.clicrbs.com.br/pdf/13459873.pdf
225
Fonte: http://g1.globo.com/rs/rio-grande-do-sul/noticia/2012/05/lista-dos-aprovados-no-concurso-do-
magisterio-no-rs-e-divulgada.html.
226
Fonte: http://www.educacao.rs.gov.br/dados/conc_mag_edital_20130227_02.pdf.
227
Fonte: http://www.fdrh.rs.gov.br/upload/20131022083913final_geral.pdf
228
Somente dois desses nomeados não assumiram. Informações obtidas diretamente com os concursados.
Considerações finais
| 1112
229
Informação fornecida pela funcionaria da 8ª Coordenadoria, mas que ainda não está registrada no quadro.
No que concerne às Leis, pode-se constatar que há prioridade a sua implantação, para
depois se “analisar” como se dará sua inserção na prática e as consequências que as mesmas
acarretam. Referente à inserção das linguagens das artes no contexto escolar, a Lei foi implantada; | 1113
no entanto, de fato não há um corpo docente especializado para trabalhar em todos os campos de
abrangência no curriculo escolar, resultando em incertezas sobre sua implantação na íntegra nas
escolas e de um professor por turma que é o responsável por todas às áreas mesmo sem possuir
formação.
Referencias
BARBOSA, Ana Mae (org.). Inquietações e mudanças no ensino da arte. 2 ed. São Paulo:
Cortez, 2002.
FUSARI, M. F. R.; FERRAZ, M. H. C. T. Arte na educação escolar. São Paulo: Cortez, 2001.
| 1115
Resumo: O texto tem por objetivo tecer reflexões acerca de uma pesquisa que está em
andamento no curso de Doutorado em Educação do Programa de Pós-Graduação em
Educação do Centro de Educação da Universidade Federal de Educação –
PPGE/CE/UFSM. O foco é investigar a constituição de lugar e/ou lugares da Música no
curso de Pedagogia diurno da UFSM. A abordagem metodológica da pesquisa é
qualitativa, tendo como método o estudo de caso. Participarão da pesquisa professores
egressos e efetivos do curso de Pedagogia da UFSM que também terá a produção de dados
em análise documental. O referencial teórico-metodológico está sendo orientado pela
abordagem do ciclo de políticas (BALL, et. al., 1992). Os dados parciais, apresentados
no momento, consistem na análise documental realizada a partir de contextos do ciclo de
política: contexto de influência e produção do texto das Diretrizes Curriculares Nacionais
para Cursos de Pedagogia - DCNP (2006) e da análise do contexto de produção do texto
do Projeto Político-Pedagógico do curso de Pedagogia da UFSM (2007). Por fim, destaca-
se que pesquisa encontra-se na fase de produção das entrevistas semiestruturadas que
serão desenvolvidas com os professores.
INTRODUÇÃO
O artigo apresenta reflexões acerca de uma pesquisa que está sendo desenvolvida | 1116
no curso de Doutorado em Educação, junto ao Programa de Pós-Graduação em Educação
da Universidade Federal de Santa Maria – UFSM, na linha de pesquisa Educação e Artes,
e, vincula-se ao grupo de pesquisa Formação, Ação e Pesquisa em Educação Musical –
FAPEM.
230
A partir dos estudos de Cunha (2008) e Schwan (2009) delineia-se que “[...] lugar se constitui quando
atribuímos sentido aos espaços, ou seja, reconhecemos a sua legitimidade para localizar ações,
expectativas, esperanças e possibilidades” (CUNHA, 2008, p. 184). Assim sendo, compreende-se lugar
como um conjunto de relações que significam, tocam, mobilizam os sujeitos que estão imersos em
determinados espaços. Dessa maneira, entende-se que a Música ocupa um espaço na matriz curricular
do curso de Pedagogia diurno da UFSM, porém sua constituição de lugar no Curso vai se configurar a
medida que a dimensão humana, os sujeitos que fazem parte desse Curso, atribuem sentido para “este
espaço” da matriz curricular, desse modo irá se constituir como lugar de reconhecimento e pertença
(CUNHA, 2008 e SCHWAN, 2009). | 1117
231
Por lugares compreende-se as ocupações diferenciadas da Música no Curso, além da institucionalizada
na matriz curricular, sendo que a Música pode ser percebida em outros momentos e movimentos
formativos além daqueles institucionalizados no currículo com as duas disciplinas.
232
Este termo foi cunhado por Diniz-Pereira (2008), o qual compreende que a formação em nível superior
é empreendida como acadêmico-profissional, pois a formação inicial ocorre desde o momento que
adentramos no espaço escolar, nos primeiros anos de escolarização.
233
As DCNP (2006) trazem em seu art. 5 as diversas áreas do conhecimento que os egressos dos cursos de
Pedagogia precisaram atuar, dentre elas fica destacado o campo das Artes com as suas linguagens
específicas que são Música, Teatro, dança, Artes Visuais.
234
A presente Lei institui a obrigatoriedade da Música nas escolas de Educação Básica, a qual alterou o art.
26, inserindo § 6º na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional – LDB. Embora essa Lei não se
refira diretamente ao Ensino Superior, compreendendo que ela de algum modo poderá orientar as
práticas pedagógicas e curriculares nos cursos de Pedagogia no país. Destaco isso por entender que a
formação de professores em nível superior é o ponto de intersecção entre as políticas educacionais
formuladas para este nível de ensino e as políticas educacionais e práticas a serem desenvolvidas na
Educação Básica.
235
Essa expressão “atores” é utilizada por Ball (2009a) e faz parte da abordagem do ciclo de políticas.
236
Para um conhecimento e aprofundamento das ideias de Ball, sugiro pesquisas nos links, disponíveis em:
<http://www.pitangui.uepg.br/gppepe/>, no <http://www.curriculo-uerj.pro.br/> e no
<http://gepeto.ced.ufsc.br/>. Acessados em 25 de fevereiro de 2015.
237
As questões foram elaboradas a partir das indagações tecidas por Mainardes (2006, p. 66-67), o qual traz
problematizações específicas para cada contexto da Abordagem do ciclo de Políticas.
REFERÊNCIAS
BALL, Stephen.; BOWE, Richard.; GOLD, Anne. Reforming education & changing
schools: case studies in policy sociology. London: Routledge, 1992.
COSTA, Rita de Cassia Dais. O Proeja para além da retórica: um estudo de caso sobre
a trajetória da implementação do programa no campus de Charqueadas. Dissertação
(Mestrado em Educação). Programa de Pós-Graduação em Educação. Universidade
Federal do Rio de Janeiro – UFRJ, Rio de Janeiro, 2009.
CORREA, Aruna Noal. ”Programa LEM: tocar e cantar”: um estudo sobre sua
inserção no processo músico-formativo de unidocentes da Pedagogia/UFSM. Dissertação
(Mestrado em Educação) Programa de Pós-Graduação em Educação, Universidade
Federal de Santa Maria – UFSM, Santa Maria/RS, 2008.
DUSO Ana Paula; SUDBRACK Edite Maria. Políticas educacionais: textos, contextos e
práticas – possíveis interfaces. Vivências, vol.6, n.11, out./2010, p.65-80.
SHIROMA, Eneida Oto; CAMPOS Roselane Fatima Campos; GARCIA, Rosalba Maria
Cardoso. Conversão das “almas” pela liturgia da palavra: uma análise do discurso do
movimento Todos pela Educação. In: BALL, S.J.; MAINARDES, J. (org.). Políticas
educacionais: questões e dilemas. São Paulo: Cortez, 2011.
| 1131
Resumo: O presente texto tem a intenção de discutir estratégias de formação continuada à luz
dos saberes docentes que devem ser mobilizados no processo educativo em Engenharia. Num
sentido amplo o termo saberes docentes representa o conjunto de conhecimentos que integram a
prática profissional dos professores. Contemplam, resumidamente, o conhecimento específico
da área que vai ser ensinada, o saber da ciência da educação e da própria prática docente.
Alicerçado na compreensão de que para ser docente universitário é necessário vivenciar processos
específicos de formação para o magistério superior, os saberes docentes se apresentam como uma
possibilidade para que professores engenheiros gerenciem suas carreiras com vistas a uma
educação mais integradora, reflexiva, crítica e libertadora. Afinal, para ser professor num curso
de Engenharia não basta dominar os aspectos técnicos da profissão. É preciso, também, conhecer
e utilizar metodologias e procedimentos didático-pedagógicos estruturados, consistentes,
conscientes e constantemente atualizados.
Palavras-chave: Educação Tecnológica; Saberes docentes; Professor Engenheiro.
INTRODUÇÃO
A educação tecnológica vem sendo refletida, há muitos anos, nos trabalhos de Walter
Bazzo (BAZZO, 2008; BAZZO et al. 2014a; BAZZO et al. 2014b; BAZZO, 2015),
engenheiro mecânico que se dedica a pesquisas no âmbito da educação tecnológica, mais
especificamente à educação em Engenharia. À frente do NEPET238 – Núcleo de Estudos
e Pesquisas em Educação Tecnológica – tem disponibilizado importantes reflexões acerca
das implicações da tecnologia na sociedade contemporânea. Seus trabalhos têm pensando
a educação tecnológica no âmbito do binômio desenvolvimento humano e progresso
| 1133
tecnológico.
Bazzo et al. (2014b, p. 13), destaca o baixo número de professores das áreas
tecnológicas com formação didático-pedagógica. Credita isso ao atual sistema de ensino,
as instituições formativas e aos próprios professores que, muitas vezes, desconsideram
tais reflexões. Conclui que nos atuais moldes da educação tecnológica se estabelece um
“círculo vicioso” uma vez que os profissionais formados em tal realidade e que atuam
como professores “perpetuam não só os aspectos positivos necessários à manutenção do
238 http://nepet.ufsc.br/
240 Encontro Nacional de Didática e Prática de Ensino (ENDIPE) e Associação Nacional de Pós-
Graduação e Pesquisa em Educação (ANPEd).
disciplinas científicas; para o autor, o professor não os produz, mas, para ensinar, extrai
o saber produzido; o saber disciplinar refere-se ao conhecimento do conteúdo a ser
transmitido.
b) Saberes curriculares: saberes selecionados e organizados nos programas
escolares, que servem de guia para o planejamento do trabalho do professor.
c) Saberes das ciências da educação: saberes profissionais específicos ligados às
questões do ofício da docência, do próprio sistema escolar.
REFERÊNCIAS
| 1144
1 INTRODUÇÃO
| 1145
O tema escolhido para essa investigação241 é decorrência de um estudo que foi
realizado pelo grupo de pesquisa Kairós242, do 2° semestre de 2012 até a metade do ano
de 2013. Participou-se do mesmo durante todo o tempo de sua realização, como bolsista
de Iniciação Científica. A partir de estudos realizados acerca do trabalho dos professores
e sua pertença profissional, surgiram muitas dúvidas pelo assunto em questão.
241
Trabalho orientado pela Profª Drª Liliana Soares Ferreira – UFSM.
242
Grupo de Pesquisas e Estudos sobre Trabalho, Educação e Políticas Públicas.
1.1 Metodologia
2 DESENVOLVIMENTO
2.1 Conceitos de autoestima e sua relação com o trabalho do professor
Diante de acontecimentos que envolvem violência física e verbal, que algumas
professoras e professores vivenciam nas diferentes escolas espalhadas pelo Brasil, acaba
| 1147
que o resultado destes fatos é o desânimo do professor em relação a seu trabalho. Como
se não bastassem estes fatos, há também as condições físicas precárias em que alguns
professores vivenciam diariamente nas instituições de ensino em que trabalham. Portanto,
o professor fica com sua autoestima extremamente abalada, e isso interfere diretamente
no seu trabalho frente ao estudante, comprometendo sua excelência como produtor de
conhecimento e o modo como o professor se enxerga dentro da sociedade.
Segundo Mosquera (p. 55, 1984), “a autoestima responde ao tipo de apreço,
consideração, amizade e, digamos assim, benevolência, que a pessoa tem para consigo
mesmo”. Mosquera (p. 56, 1984) ainda se refere a dois tipos de autoestima: positiva e
[...] a infância constitui uma realidade que começa a ganhar contornos a partir
dos séculos XVI e XVII. [...] As mudanças de sensibilidade que se começam a
verificar a partir do Renascimento tendem a deferir a integração no mundo
adulto cada vez mais tarde e, a marcar, com fronteiras bem definidas, o tempo
da infância, progressivamente ligado ao conceito da aprendizagem e de
escolarização. Importa, no entanto, sublinhar que se tratou de um movimento
extremamente lento, inicialmente bastante circunscrito às classes mais
abastadas (1997, p. 44).
| 1149
Esta atenção à infância, apesar de ainda muito crua, já é um avanço frente às
considerações que havia com as crianças, consideradas, anteriormente aos séculos XVI,
por Rousseau, como “adulto em miniatura”.
Com o crescimento das cidades, resultado da migração para a zona urbana, inicia-
se, então, iniciativas de proteção à infância.
As instituições pré-escolares, como denominadas antigamente, surgiram a partir
da segunda metade do século XIX, na Europa, como uma medida assistencial, abarcando
aspectos como a alimentação e habitação dos trabalhadores e dos pobres. Nesta mesma
época, iniciaram as creches, para crianças de 0 a 3 anos, apresentadas de maneira
De acordo com este novo contexto de infância, não mais voltado à criança como
ser não diferenciado do adulto, mas sim como sujeito em desenvolvimento intenso que
faz um movimento entre o ser e o querer, mediado pelas interações sociais e
simbolicamente onde a criança se apropria das práticas culturais e se constitui delas,
formando sua singularidade.
na escola, mas sobre sua idade, formação e carga horária trabalhada na escola.
A segunda parte do questionário, com questões discursivas, visava em fazer a
pedagoga entrevistada a refletir e escrever sobre o seu trabalho perante crianças pequenas,
ou seja, abrangendo o educar e o cuidar, prática pedagógica esta que, por muitas pessoas,
ainda ocorrem separadamente. A primeira pergunta discursiva feita foi: “Como você
compreende o seu trabalho pedagógico dentro de sala de aula com crianças tão
pequenas?”.
A professora pode ter sobrinhos e por isso é tia da mesma forma que qualquer
tia pode ensinar, pode ser professora, por isso, trabalhar com alunos. Isto não
significa, porém, que a tarefa de ensinar transforme a professora em tia de seus
alunos da mesma forma como uma tia qualquer não se converte em professora
de seus sobrinhos só por ser tia deles. Ensinar é profissão que envolve certa
que era no início do ano, até o final, é extremamente gratificante. As dificuldades ficam
enquadradas em alguns comportamentos infantis, na adaptação, onde as crianças ainda
não sentem confiança na professora, e isso deixa a pedagoga um pouco abalada e em
como falar de algum acontecimento negativo que aconteceu na escola para os pais. Além
disso, uma pedagoga relatou que entende a sua carga horária semanal como um grande
empecilho na hora de aprimorar seus conhecimentos teóricos acerca da turma que
trabalha.
No geral, é perceptível que a maior preocupação das pedagogas varia entre como
as crianças vão ficar no ambiente escolar, se vão se adaptar ao novo espaço e as novas
regras e de como os pais vão interpretar ao serem chamados à escola para conversar sobre
alguma mudança de comportamento, geralmente negativa, de seus filhos.
A professora D, por outro lado, escreveu que suas dificuldades perpassam o
planejamento e o tempo livre para ler e estudar sobre os assuntos que trata na escola,
referente às crianças: “Dificuldades- com planejamentos práticos e que realmente
contemplem o desenvolvimento infantil [...]” e “[...] em conciliar o horário de trabalho
com a vida pessoal pois sempre há muito para desenvolver fora da escola”.
As facilidades que as pedagogas relataram tem ligação direta com o
relacionamento com as crianças:
| 1157
A professora E relata que: “As facilidades é que eles são abertos a todas as
novidades, são carinhosos, felizes, autênticos. [...] as crianças são abertas a tudo que é
novo e que nos faz bem”. Neste seguimento, a professora D complementa que “o
relacionamento com bebês é mais próximo, mais afetivo, os vínculos que se estabelecem
são sinceros [...]”.
Através das escritas das professoras, pode-se inferir que as categorias de trabalho,
criança, família (pais) e vínculo estão muito presentes em seus discursos, e que aparecem
e reaparecem em perguntas diferentes, mas quase que com o mesmo sentido.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
| 1158
Nesse trabalho, portanto, foi realizada uma pesquisa bibliográfica para um maior
aprofundamento acerca dos assuntos apresentados ao longo do texto, ou seja: A
autoestima, os conceitos de diferentes autores e a relação que esta condição psicológica
tem na prática docente; Uma contextualização sobre a Educação Infantil, primeira etapa
da Educação Básica, seus desafios e a relação de educar e cuidar; Por fim, a análise de
dados que foram produzidos através de um questionário e, posteriormente, a análise de
categorias criadas a partir destes dados.
A escolha deste tema, ou seja, da autoestima de pedagogas no espaço escolar,
surgiu no decorrer do ano a partir de vivências em escolas de Educação Infantil. Pensar,
REFERÊNCIAS
ÁVILA, Maria José Figueiredo. As professoras de Crianças Pequenininhas e o Cuidar e
Educar. Um estudo sobre as práticas educativas em um CEMEI de Campinas/SP. | 1159
Dissertação (Mestrado Educação) UNICAMP.2002.
FREIRE, P. Professora sim, tia não – cartas a quem ousa ensinar. OLHO d’água, 1997.
| 1160
INTRODUÇÃO
O artigo tem como objetivo apresentar o marco regulatório da implementação dos
planos de cargos e carreiras no Brasil e as políticas de formação continuada de professores
para tanto foi realizado uma descrição da organização do Estado Neoliberal nos anos de 1990
que definem dominantemente a primeira década do século XXI. Essa discussão é relevante
| 1162
na medida que acrescenta elementos para a análise teórica do objeto de estudo que analisa
a formação continuada dos professores como um mecanismo de valorização dos
trabalhadores da educação mediante a implantação e implementação dos Planos de
Cargos e Carreira dos profissionais de educação no país.
A compreensão dos acontecimentos históricos que ocasionaram mudanças na
organização do Estado e no modo de produção capitalista no Brasil são relevantes para
investigação do objeto pesquisado. O procedimento metodológico utilizado partiu de uma
revisão bibliográfica com o intuito de realizar uma caracterização histórica da década de
1990 período marcado pela ideologia neoliberal no Brasil e dos anos 2000 que segue com
243
O neoliberalismo nasceu logo depois da II Guerra Mundial, na região da Europa e da
América do Norte onde imperava o capitalismo. Foi uma reação teórica e política veemente
contra o Estado intervencionista e de bem-estar. Seu texto de origem é O Caminho da
Servidão, de Friedrich Hayek, escrito já em 1944. (ANDERSON, 1995, p. 9)
(FREITAS, 2002)
Posteriormente, a vigência do sistema capitalista pós-década de 1990 no início
do século XXI, segundo Frigotto (2011) ocorre um movimento de mudança na conjuntura
brasileira e especificamente no campo educacional, mas não há mudança no tecido
estrutural que rompa com o modo de produção
Desta forma, surgiram novas normas para regulamentar os sistemas de ensino no
país. A lei que instituiu o Fundo de Desenvolvimento do Ensino Fundamental (FUNDEF)
mediante a Lei Nº 9.424, de 24 de dezembro de 1996, que entre outras disposições destaca
244
Os programas de formação continuada estão descritos na página da internet do MEC.
Disponível em: http://portal.mec.gov.br/formacao Acesso em: 30 jan 2016
(FREITAS, 2002).
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A instituição do princípio da valorização do magistério a partir de 1988 vai além da
discussão salarial, ela a transcende e se inter-relaciona ao atendimento de vários outros
fatores dinâmicos e complexos, nos quais se sustentam as deliberações da sociedade do
capital.
REFERÊNCIAS
ANDERSON, Perry. “Balanço do neoliberalismo”. In: SADER, E. & GENTILI, P.
(Org.). Pós-neoliberalismo: as políticas sociais e o Estado democrático. Rio de Janeiro,
Paz e Terra, 1995.
| 1176
Resumo: Esta pesquisa tem por objetivo analisar as possibilidades de práxis pedagógica
com o conteúdo jogo a partir da infraestrutura disponível para Educação Física Escolar.
Para tal realizou-se observação dos espaços e materiais didáticos de quatro escolas, sendo
duas públicas e duas privadas de Santa Maria- RS, bem como entrevista semi-estruturada
com os docentes do componente curricular Educação Física que atuam no Ensino Médio
dessas instituições e os gestores das mesmas. Tornou-se evidente que a infraestrutura
disponível para as aulas de Educação Física denota uma concepção esportivista, que
contribui para submissão da práxis pedagógica com jogo à prática esportiva, bem como à
negação das especificidades desse conteúdo, principalmente no Ensino Médio e Anos
Finais do Ensino Fundamental.
Palavras-chave: Infraestrutura; Práxis Pedagógica; Jogo;
INTRODUÇÃO
245
Projeto financiado pelo Programa de Licenciatura da Universidade Federal de Santa Maria
(PROLICEN/UFSM) sob orientação da Profª Drª Elizara Carolina Marin.
Lançamos mão de Soares, et al. (1992), por compreender a Educação Física como
o componente curricular com o dever de socializar o conhecimento histórico produzido
na dimensão do movimento humano, que supera os reducionismos até então difundidos
uma vez que, considera o Homem um ser portador de uma cultura corporal. Tal dimensão
cultural é tomada como uma área de conhecimento que tematiza o movimento humano | 1178
como forma de expressão através de práticas corporais como o jogo, o esporte, a dança,
a ginástica e a capoeira.
Assim a Educação Física Escolar (EFE) por tratar da cultura corporal socialmente
produzida, diferencia-se, em grande medida, dos demais componentes curriculares, em
função de que a apropriação do seu conhecimento, esclarecem Soares et al. (1992, p. 64),
“supõe a adequação de instrumentos teóricos e práticos (...)". Ou seja, supõe também
experimentação, movimentação, interação com o outro, com o espaço e com materiais
específicos e diversos.
METODOLOGIA
| 1179
A presente pesquisa designou-se sob as características da abordagem qualitativa,
na qual fizemos uso do trabalho de campo que, segundo Mynaio (2007, p.61) “permite a
aproximação do pesquisador da realidade sobre a qual formulou uma pergunta”. A
observação dos espaços e recursos materiais apresentou-se como um procedimento
metodológico pertinente que permitirá compreender o cenário da infraestrutura da Escola
para a Educação Física.
O contexto de investigação se deu em quatro escolas, sendo duas delas Privadas e
as outras duas Estaduais, na cidade de Santa Maria – RS. Todas as instituições atendiam
246
A verba para a construção do ginásio já foi aprovada, todavia a Secretaria Estadual de Educação precisa
encaminhar a documentação necessária para o Ministério da Educação, para liberação da verba.
247
Como a Escola não possui ginásio, o Diretor da Escola aluga um ginásio próximo a Escola para as aulas
de Educação Física, e o valor é dividido entre os alunos. Somente participam dessas aulas aqueles que
têm condições de pagar o valor estabelecido, os demais participam das aulas de Educação Física
realizadas no espaço disponível na escola. Cabe ressaltar que a Educação Física é organizada no
formato de clubes esportivos, e os alunos optam pelo clube e pelo local das aulas (ginásio ou na escola).
Desse modo fica evidente o sucateamento das escolas da Rede Pública de Ensino
e a falta de investimentos. Conforme pesquisa divulgada pelo Centro dos Professores do
Rio Grande do Sul (CPERS, 2010) a falta de verba para a infraestrutura é o maior
empecilho, repercutindo na insatisfação de 57,9% dos envolvidos no processo educativo
nas escolas. A pesquisa também aponta que o item pior avaliado é o espaço esportivo,
quadras e ginásios, como o recurso de maior carência.
Em relação aos materiais didáticos pedagógicos há uma grande disparidade entre
as Escolas, enquanto nas Escolas Azul e Verde os professores de Educação Física têm a
sua disposição diversos materiais didáticos para o uso em aula, tais como: bolas, cones, | 1183
cordas, bambolês, pneus, perna de pau, tacos, tatames, jogos de boliche, pé-de-lata, tênis
de mesa, conjunto de bocha, chinelões, material para atletismo, jogos de tabuleiro e
colchonetes. As Escolas Laranja e Branca contam com uma diversidade menor, e os
materiais didáticos estão relacionados à prática das modalidades esportivas, sobretudo o
vôlei, handebol, basquete e futsal.
Neste sentido, observamos que a qualificação da infraestrutura também tem
relação com o dos docentes na Gestão Escolar para além da sala de aula. Por meio da
formulação e inserção em projetos que valorizem a Educação Física Escolar e
“Bolas, que a gente usa muito a questão da bola para com relação ao
jogo (desporto). Arcos, cones, são os materiais que geralmente nós
precisamos de um ano para o outro” - Prof. José, Escola Verde
Ainda que o jogo esteja presente nas aulas de Educação Física no Ensino Médio
como um conteúdo desvinculado do esportivo e da produção cultural, observamos que o
trabalho pedagógico com o mesmo se destina a poucas aulas em relação aos demais
conteúdos e está estritamente relacionado ao programa do Exame Nacional do Ensino | 1186
Médio (ENEM),
“A gente trabalhou recentemente com os jogos tradicionais gaúchos que
cada grupo ficou responsável por trazer um jogo pra mostrar pra turma.
Foi bem interessante a atividade, eles trouxeram vários tipo de jogos. A
gente trabalha nesse sentido, assim não só de trazer, mas deles também
trazerem os jogos deles.” - Prof. João, Escola Azul.
Em consonância, Soares et. al. (2012) e Elkonin (2009) demonstram que através
das intencionalidades presentes no jogo os homens, sejam crianças ou adultos, modificam
e reconstroem a realidade social nas quais estão inseridos, uma vez que a criatividade e a
representatividade do ato de jogar variam de acordo com cada contexto. Deste modo o
| 1187
jogo se torna um elemento cultural da humanidade, afinal ele é passado através das
gerações e transformado pelas mesmas, a fim de possibilitar a práxis pedagógica, entre a
teoria atrelada ao seu desenvolvimento e a realidade representada através dele.
Ribas e Ferreira (2014) assinalam que o trabalho dos professores não deve ser
reduzido a uma prática pedagógica desvinculada de um projeto pedagógico
transformador. Desta forma, encontramos na práxis pedagógica uma atividade individual
e coletiva dotada de intencionalidade, que busca a mediação do conhecimento a fim de
causar uma reflexão transformadora.
Desta maneira corroboramos com Darido e Rangel (2005) quando apontam que a
facilidade em trabalhar o jogo no ambiente escolar se dá pela possibilidade de adaptação
e construção de espaços e materiais que possibilitam a vivência, a transformação e a
criação dos jogos durante as aulas de Educação Física. Também acreditamos que para
que este processo ocorra é necessário que haja diversidade nos materiais e nos espaços, a
fim de assegurar a qualidade do ensino de todos os conteúdos relativos a Educação Física.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
| 1188
A educação é um ato conjugado com um ideal político e social, que tem por função
socializar os conhecimentos produzidos historicamente pela humanidade. Neste cenário
a Educação Física aparece como um componente curricular obrigatório, que cumpre com
a apropriação daqueles conteúdos correspondentes à cultura corporal humana, e em
decorrência disso necessita de uma especificidade quanto aos materiais, espaços e à
infraestrutura.
Os espaços e materiais devem ser tomados sob uma dimensão social, pois estes
são apropriados pelos alunos e contribuem na abordagem de determinados conteúdos.
Entretanto, a subordinação das escolas e, consequentemente, da Educação Física aos
REFERÊNCIAS
Resumo: O presente trabalho tem por objetivo apresentar o resultado de estudos sobre a
formação continuada de professores desenvolvida por meio de projeto de extensão.
Abordamos primeiramente as mudanças na educação na década de 1990 no Brasil,
oriundas das determinações dos Organismos internacionais no mencionado período.
Discorremos sobre as bases legais da educação brasileira, em específico a Lei de
Diretrizes e Base da Educação Nacional (LDBEN) 9.394/96 e o que determina esta lei
sobre os princípios da gestão democrática, a importância da elaboração do Projeto Político
Pedagógico, a participação da comunidade na escola e formação continuada de
professores de forma a atender as necessidades que emergem no interior da própria escola.
Na sequência relatamos como se deu a formação continuada de professores nas
instituições envolvidas como parte do resultado do projeto desenvolvido pelos
professores alunos do Plano de Desenvolvimento Educacional (PDE) no Estado do
Paraná em consonância com o projeto de extensão.
INTRODUÇÃO
| 1192
Discutir a formação continuada de professores na atual conjuntura das políticas
educacionais se faz necessário diante do que fora estabelecido pelas bases legais da
educação brasileira, bem como das necessidades que emergem no cotidiano escolar frente
a realidade em que cada instituição encontra-se inserida.
Bem sabemos da importância da relação da Universidade com a Educação
Básica no que concerne a formação docente por meio dos cursos de licenciaturas.
Sabemos ainda do papel da universidade em estabelecer relação com a sociedade em
preparar para o trabalho e para o exercício da cidadania. Cabe, pois à instituição de ensino
superior instigar o pensar dos docentes numa perspectiva que os leva a refletir sobre a
O Projeto Político Pedagógico na escola pública não pode ser considerado apenas
a organização de atividades planejadas, mas sim partir do pressuposto que este documento
sustenta toda a organização de gestão da escola. Para este fim, parte da realidade estudada
na busca de transformar esta realidade com ações que perpassam todas as instâncias da
escola. Insere professores, gestores, profissionais da educação, pais e responsáveis e
248
Programa de Desenvolvimento Educacional – PDE, O PDE é uma política pública de Estado
regulamentado pela Lei Complementar nº 130, de 14 de julho de 2010, pela qual se estabelece o diálogo
entre os professores do ensino superior e os da educação básica da rede pública do Estado do Paraná, por
meio de atividades teórico-práticas orientadas. Este Programa visa como resultado a produção de
conhecimento e mudanças qualitativas na prática escolar da escola pública paranaense. Os trabalhos aqui
citados foram realizados no ano de 2015, pelas alunas ingressantes no PDE em 2014.
249
As entrevistas realizadas pelos professores PDE com os participantes da formação continuada não
foram utilizadas neste trabalho por pertencerem a Secretaria Estadual de Educação do Paraná.
CONSIDERAÇÕES
| 1202
REFERÊNCIAS
LIBÂNEO, Luiz Carlos. OLIVEIRA, João Ferreira de; TOSCHI, Mirza Seabra.
Educação escolar: políticas, estrutura e organização. 6. ed. São Paulo: Cortez, 2008.
TONET, Ivo. Método científico: uma abordagem ontológica. São Paulo: Instituto
Lukács, 2013.
Resumo: Este artigo tem como objetivo analisar a produção de currículo pelos docentes
do Instituto Federal Farroupilha em relação à humanização do sujeito, considerando as
novas políticas educacionais brasileiras. Ou seja, compreender a produção de currículo e
os efeitos dos projetos educacionais na humanização do sujeito, visto que, percebe-se que
tais ações seguem sendo desenvolvidas à luz das políticas neoliberais. Todavia, a
educação é uma prática humana usada para manutenção ou transformação social e com a
“missão de formar cidadãos críticos, autônomos e empreendedores, comprometidos com
o desenvolvimento sustentável e um papel ativo na sociedade em prol do coletivo” é que
foi criado, em 2008, o IF Farroupilha. Atuando em vários níveis e modalidades de ensino,
ocupa espaços fundamentais na constituição do desenvolvimento local e regional, por
isso, devendo ir além da educação para o mercado de trabalho. A educação profissional
tem o trabalho como princípio educativo, e, para tal, a intervenção social deve ser
percebida como prática pedagógica, entrelaçando homem – cultura – tecnologia. Logo,
percebe-se que o professor é fundamental, pois é ele quem vai nortear o trabalho em sala
de aula. Trabalho que será desenvolvido conforme seu próprio entendimento em relação
ao seu papel, sua função dentro da Instituição.
INTRODUÇÃO
A educação é uma prática humana usada para manutenção ou transformação
social. Sendo direcionada por uma determinada concepção teórica que ordena os
elementos para a prática educacional (LUCKESI, 2011).
Desse modo,
| 1204
as instituições escolares são um elemento a mais na produção e reprodução de
discursos discriminatórios; mas, na medida em que estes institutos têm o
encargo social de educar, eles podem e devem desempenhar um papel muito
mais ativo como espaço de resistência e denúncia dos discursos e das práticas
que continuam a legitimar a marginalização no mundo de hoje e, em particular,
dentro de seus muros (TORRES, 2010, p.227).
DESENVOLVIMENTO
| 1206
Vivemos em um tempo, no qual novos valores, costumes, regras, etc., dividem
espaços com velhos hábitos que “naturalmente” são considerados corretos, e por isso,
muitas vezes, inquestionáveis no cotidiano social. A educação não se difere desse
contexto e muitas de suas antigas concepções ainda se fazem presente no cotidiano escolar
e são pouco questionadas por seus integrantes.
Concepções defendidas pelos conservadores que
exige mais disciplina nas instituições e salas de aula, e que insiste na
aprendizagem de conteúdos culturais reinterpretados a partir de concepções
muito tradicionais do saber, em grande parte para tentar construir identidades
pessoais que não questionem velhos e classistas modelos de sociedade. Essas
mesmas políticas, porém, não farão nada para promover o desenvolvimento de
Porém, é importante lembrar que a palavra currículo tem sido também utilizada
para indicar ações e efeitos não explicitados nos planos e propostas educacionais, ou seja,
CONCLUSÃO
A educação foi sendo modificada ao longo dos tempos, e essas transformações
trouxeram um novo tempo e novas esperanças para a sociedade, especialmente para os
menos favorecidos. Novos princípios educacionais prometem mudanças, novas práticas
e instituições com objetivos de fazer da educação uma ferramenta visando não só o
conhecimento, mas também justiça social e, consequentemente, uma sociedade mais
igual.
continuaremos vivendo em uma sociedade onde o mérito é o discurso utilizado pela classe
dominante para, disfarçadamente, justificar o descaso pelas minorias e as desigualdades
sociais, inclusive dentro dos Institutos Federais.
REFERÊNCIAS
ASSMANN, Hugo. Reencantar a educação: rumo à sociedade aprendente. 10 ed.
Petrópoles, Rio de Janeiro: Vozes, 2007.
GIROUX, Henry A. Atos impuros: a prática política dos estudos culturais. Trad:
Ronaldo Cataldo Costa. Porto Alegre: Artmed, 2003.
TARDIF, Maurice. Saberes docentes e formação profissional. 13ª ed. Petrópolis, RJ:
Vozes, 2012.
| 1215
INTRODUÇÃO
Evidenciou-se que o contexto da Instituição, bem como seus atores, não foram
considerados para orientar a construção dos Currículos. As ideias e formato adotados
foram copiados de uma realidade alhures, mais precisamente da Europa (Bolonha) e uma
mistura com a experiência brasileira da Universidade Federal da Bahia UFBA. Antes dos
cursos existirem, organizou-se uma equipe, com apenas um professor de cada curso, para
elaboração da proposta curricular. Como matriz epistêmica, citaram vários autores como
Edgar Morin e Ivani Fazenda, o que sugeria a teoria da complexidade como corrente
filosófica orientadora. Entretanto, são citados, no PPP, vários autores de outras correntes,
explicitando, na verdade, um grande ecletismo teórico.
Neste prisma, constatamos que na política educacional brasileira, traduzida pela
atual Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional de 1996, bem como nos textos
legais que a regulamentam, percebe-se a incorporação de tendências diversas, com fontes
teóricas diferentes, algumas vezes até contraditórias, procurando legitimar discursos e
posições presentes na academia e direcionando para interesses e finalidades que são
definidas para a educação. (MATOS, 2006, p.02)
Destarte, acreditamos não ser promissor construírem-se Currículos ou técnicas
sofisticadas, desprovidos do necessário investimento na capacitação do professor,
somados à sua valorização profissional e boas condições de trabalho. Outrossim, a
"formação técnica não pode ser desvinculada da formação político-pedagógica". | 1221
As ideias de Pimenta e Anastasiou também estão em destaque, uma vez que, nessa
concepção, "ensino e aprendizagem são processos indissociáveis, pois a aprendizagem é
consequência do bom ensino". (PPP, 2007, p. 54).
E a formação humanística e pedagógica, também está garantida no projeto e na
prática?
Quanto à formação pedagógica pode-se dizer que nem na proposta
inicial houve avanços, pois ficou com o formato da maioria das
licenciaturas do país. Poucas disciplinas e poucos professores
Embora a proposta era dita inovadora, percebemos que houve muito mais
resistência à materialização da proposta do que apoio à sua realização plena. A temática
de um Currículo, sua orientação filosófica, recursos e infraestrutura, a formação dos
professores e perspectivas metodológicas fazem parte de um todo, mais ainda, de um
projeto político pedagógico que deverá ser construído coletivamente em cada espaço de
educação. Constata-se, ainda, que não adianta produzirem-se Currículos ou técnicas
sofisticadas sem o devido investimento na capacitação do professor, na sua valorização
profissional ou na sua formação técnica, a qual não pode ser desvinculada de sua
| 1223
formação político-pedagógica. (PORTO, 2002)
Dando sequência ao nosso trabalho de investigação, questionamos se "a proposta
curricular apresentava coerência com sua materialização na prática pedagógica"
| 1224
Observamos que alguns professores, advindos de uma formação orientada pelo
positivismo, por isso com disciplinas isoladas e fragmentadas, avaliação classificatória,
voltada para a formação do bacharel, rejeitam essa proposta de formação mais humanista,
que exige diálogo, intercâmbios e integração entre os conteúdos.
Outra questão séria, confirmada pelos depoentes, é que a maioria dos professores
rejeitou a proposta dita "inovadora", bem como a formação pedagógica. Defendem uma
formação com maior peso nas disciplinas específicas, voltados para a formação do
bacharel.
Formar professores bem formados é uma exigência para se alcançar uma educação
| 1227
pública de qualidade e acessível a toda população brasileira. E, como disse Saviani (2014,
p.104) o foco da melhoria da educação pública está na defesa de que "[...] a qualidade
será assegurada pela instituição de um sólido Sistema Nacional de Educação operado
segundo metas claras definidas no Plano Nacional de Educação, que também deverá
garantir os meios pelos quais as referidas metas serão atingidas."
Por isso subsidiados pelas ideias de Saviani (2014) defendemos a premissa de que
não bastam as leis, é preciso oferecer meios como recursos, apoios e condições para que
elas se concretizem, de fato.
Conclusões
REFERÊNCIAS:
PIMENTA, S.G. Professor reflexivo: construindo uma crítica. In: PIMENTA, S.G.;
GHEDIN, E. (Orgs) Professor Reflexivo no Brasil: gênese e crítica de um conceito. São
Paulo: Cortez, 2002.
SAVIANI, D. Plano Nacional de Educação PNE 2014-2024. Teor integral conforme edição
extra do Diário Oficial da União de 26.06.2014. Campinas, SP: Autores Associados. 2014.
(Coleção Polêmicas do Nosso Tempo)
______.Sistema Nacional de Educação e Plano Nacional de Educação: significado,
controvérsias e perspectivas. Campinas, SP: autores Associados, 2014. (Coleção Polêmicas do
Nosso Tempo)TEORIA E PRÁTICA NA FORMAÇÃO DE PROFESSORES DE COMPUTAÇÃO:
ARTICULAÇÃO DE SABERES NOS COMPONENTES CURRICULARES
RESUMO: O presente artigo visa discutir a relação teoria e prática na formação docente, mais
especificamente dos licenciandos em computação. Esse estudo primeiramente estabelece um diálogo com
a legislação que trata da temática já apresentada e de uma breve análise do Projeto Pedagógico do Curso
(PPC) no que tange a Prática enquanto Componente Curricular no esforço em identificar aspectos que
marcam uma maior aproximação da escola de educação básica e a criação de uma identidade do professor
de computação. Assim, o objetivo é compreender de que modo se articula a relação teoria e prática a partir
de um relato de experiência da Prática enquanto Componente Curricular, que foi coordenada pelos
professores das disciplinas de Linguagem de Programação I e de Metodologia Cientifica.
1 Considerações Iniciais
O presente artigo visa discutir a relação teoria e prática na formação docente, mais
especificamente dos licenciandos em computação250. Nesse sentido, esse estudo
primeiramente estabelece um diálogo com a legislação que trata da temática já
apresentada e de uma breve análise do Projeto Pedagógico do Curso (PPC) no que tange
a Prática enquanto Componente Curricular no esforço em identificar aspectos que
marcam uma maior aproximação da escola de educação básica e a criação de uma
identidade do professor de computação. Assim, o objetivo é compreender de que modo
se articula a relação teoria e prática a partir de um relato de experiência da Prática
enquanto Componente Curricular, que foi coordenada pelos professores das disciplinas
de Linguagem de Programação I e de Metodologia Cientifica 251. Utilizou-se uma
abordagem qualitativa para compreender e analisar a experiência produzida, como | 1231
250
O curso de Licenciatura em Computação do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia
Farroupilha (IF Farroupilha) atende à Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, ao Decreto n° 3276
de 06 de dezembro de 1999, que dispõe sobre formação em nível superior de professores para atuar na
Educação Básica. Bem como, responde a uma demanda de novos profissionais para trabalhar o ensino da
computação de forma interdisciplinar e na inclusão digital para que diferentes disciplinas se apropriem das
tecnologias digitais como uma ferramenta cognitiva (JONASSEN, 2007), privilegiando uma formação
integral e pensamento crítico nos sujeitos, para realizarem uma transformação da realidade social,
principalmente da escola e da universidade.
251
Ambos autores desse texto.
252
Essa divisão entre professores-pesquisadores e acadêmicos-pesquisadores é desenvolvida por Zeichner
(1998) nos chama a atenção para o desenvolvimento de novos espaços de formação de professores em que
priorizem a formação de um professor-pesquisador critico e reflexivo. Essa questão é aprofundada em um
texto intitulado “A constituição de espaços de formação para interlocução entre pesquisadores‐acadêmicos
e professores‐pesquisadores”, de autoria de Adão Caron Cambraia e Cristhian Moreira Brum apresentado
na X ANPED SUL, Florianópolis, Outubro de 2014.
253
Conforme Resolução CNE/CP 02/2002.
254
No decorrer do texto ao se referenciar ao Componente Curricular Articulador da Licenciatura em
Computação utilizaremos a sigla PEC – Prática do Ensino da Computação.
255
O relato reflexivo foi facilitado devido a sistematização e interação realizada em uma rede social de
aprendizagem (www.edmodo.com). Nessa ficou registrado as atividades desenvolvidas, as dúvidas dos
Mas há dois aspectos no Art. 61 que precisam ser destacados: a relação entre teoria e
prática e o aproveitamento da experiência anterior. Aprendizagens significativas, que
257
O relato reflexivo foi facilitado devido a sistematização e interação realizada em uma rede social de
aprendizagem (www.edmodo.com). Nessa ficou registrado as atividades desenvolvidas, as dúvidas dos
alunos, a evolução do componente articulador, o programa e o cronograma de estudos propostos. Esse
ambiente virtual faz parte de um espaço de formação chamado DPDLIC – Desenvolvimento
Profissional Docente na Licenciatura em Computação. Mais informações sobre o DPDLiC ver
Cambraia, Bender (2014).
Para cumprir com esse objetivo, se propôs interlocuções nas escolas: 1) visita
na escola para registro fotográfico da interação proporcionada nos espaços imersos em
tecnologias (laboratórios de informática, salas de aula com tablets, etc); 2) Fotocópia do
Projeto Político Pedagógico (PPP) da escola; 3) Aplicação de questionário com diretor
para entender como o PPP está sendo construído e se não existe alguma referência em
relação a tecnologias, propor um exercício de indagar os docentes da instituição sobre
como contemplar esse tema no PPP; 4) Construção de um artigo sobre o que foi
| 1240
vivenciado na escola e sobre a percepção dos professores sobre a importância do uso de
tecnologia em sala de aula.
Como atividade inicial, foi realizada uma leitura coletiva de um texto intitulado
“Projeto Político Pedagógico da escola: uma construção coletiva” de Ilma Passos de
Alencastro Veiga. Nesta leitura se passou a compreender o significado do PPP na escola,
seu propósito e princípios norteadores. Durante a leitura, a discussão foi marcada pelo
entendimento de que esse documento é algo construído de forma democrática, por todos
os envolvidos com a comunidade escolar: professores, alunos, funcionários e pais. Trata-
Esse debate também perpassou pelo ciberespaço, permitindo aos colegas ler as
preocupações de seus pares e contribuir com novas ideias, pois em quase todas as
disciplinas do curso, os professores utilizam recursos tecnológicos para tornar a sala de
aula mais comunicacional (SILVA, 2001). Trata-se de desenvolver um trabalho com as
TD de forma que os futuros professores percebam a importância dessas tecnologias no
âmbito educacional e evitem assim uma incorporação de tecnologias apenas pela
novidade de seu uso.
258
Diversas discussões permearam a construção do conhecimento, como por exemplo, em relação a
possibilidades de que as escolas disponibilizassem o documento na biblioteca, bem como promovessem
discussões em diferentes momentos com a comunidade escolar para possibilitar uma reconstrução
democrática desse material.
5 Considerações Finais
259
Mais informações sobre a utilização do Scratch na educação básica ver: CAMBRAIA, Adão Caron;
OLIVEIRA, M. A. F. . Learning to program: a game or a boogeyman. In: 2nd International Conference on
Design and Modeling in Science, Education, and Tecnology, 2012, Orlando, Florida, USA. Multi-
Conference on Complexity, Informatics ans Cybernetics, 2012.
RISKE, M. A. ; WINCK, J. A. ; CAMBRAIA, Adão Caron ; FINK, M. ; AVOZANI, M. . CLUBE DE
PROGRAMAÇÃO NAS ESCOLAS: novas perspectivas para o ensino da computação. In:
SEMINÁRIO INSTITUCIONAL DO PIBID IF FARROUPILHA, 2014, São Vicente do Sul.
Arquitetando saberes e fazeres da/na docência. Santa Maria: IF Farroupilha, 2014.
6 Referências
ARANHA, Antônia Vitória Soares; SOUZA, João Valdir Alvez de. As licenciaturas na
atualidades: nova crise? Educar em Revista. Curitiba, n. 50, p 60-86, out./Dez. 2013,
Editora UFPR.
BARTH, Britt-Mari. O saber em construção: para uma pedagogia da compreensão.
Lisboa: Instituto Piaget, 1993.
Bell, T.; Witten, I. e Fellows, M. (2011). “Computer Science Unplugged – Ensinando
Ciência da Computação sem o uso do Computador”. Tradução de Luciano Porto
Barreto, 2011. Disponível em: http://csunplugged.org/. Acesso em 03/10/2015.
BRASIL. Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Lei nº 9.394/1996, de 20 de dezembro
de 1996. Estabelece as diretrizes e bases da educação nacional. Diário Oficial da União.
Brasília, DF, 23 dez. 1996.
____. Conselho Nacional de Educação. Parecer CNE/CP n. 09 de 08 de maio de 2001.
Institui as diretrizes curriculares nacionais para a formação de professores da educação
básica, em nível superior, curso de licenciatura, de graduação plena. Brasília, DF, 2001.
CIAVATTA, Maria; RAMOS, Marise. A “era das diretrizes”: a disputa pelo projeto de | 1245
educação dos mais pobres. Revista Brasileira de Educação. Vol. 17, n. 49, jan. - abr.
2012.
DIAS, Rosanne Evangelista; LOPES, Alice Casimiro. Competências na formação de
professores no Brasil: O que não (há) de novo. Educação & Sociedade. Campinas,
vol.24, n. 85, p. 1155-1177, dez. 2003.
IF FARROUPILHA. Projeto Político Pedagógico de Curso da Licenciatura em
Computação 2014 . Acessado em http://www.as.iffarroupilha.edu.br, dia 20/02/2016, as
20 hs.
MALDANER, Otavio A. A Pós ‐ Graduação e a Formação do Educador Químico:
tendências e perspectivas. In: ROSA,M. I. P.; ROSSI, A. V (Orgs). Educação Química
no Brasil: Memórias, políticas e tendências. Campinas, SP: Editora Átomo, 2008.
| 1246
RESUMO: O presente estudo trata de uma pesquisa que respondeu a seguinte questão: Como a formação
continuada do professor reflete em sua prática cotidiana? Essa indagação procurou desvelar as concepções
a respeito da formação continuada e sua implicação na docência e na valorização do trabalho docente dos
colaboradores pontos significativos abordados pelo Plano Nacional de Educação. Os colaboradores fazem
parte de uma escola estadual de Santa Maria/RS. O movimento metodológico foi permeado por escutas e
discussões relacionadas à valorização das práticas educativas desenvolvidas por esses sujeitos bem como
revelar a da docência através de encontros nos quais os saberes dos professores foram a matéria-prima
dessas discussões. Fiz uso de uma abordagem qualitativa, permeada por pesquisa ação. Verificou-se como
a formação continuada ocorria e como era percebida pelos envolvidos como forma democrática de auxiliar
na emancipação social dos sujeitos e em sua docência, além da valorização do trabalho docente. Dessa
maneira era necessário primar pelo reconhecimento dos espaços formativos e sua qualificação para que se
tornassem locais de trocas e de vivências, organizados de forma adequada ao ambiente escolar no qual
educadores e educandos pudessem vir a constituírem os saberes que na escola circulam.
Palavras-chave: Formação; Docência; Valorização.
INÍCIO DA CONVERSA
Basear esse estudo em uma temática na qual a escola dá o principal aporte teórico
relacionando-o diretamente com a prática produzida nesse espaço demandou leituras
sensíveis carregadas de significado para esse local e para quem colaborou com essa
escrita. A relação com as políticas públicas e com a Lei 13005/14 e suas metas e estratégia
para implantação, entre outras coisas, relacionadas à formação inicial e continuada
assegurando-as, tendo em vista a valorização docente e a tendência de as estratégias
| 1247
poderem ser esquecidas ao longo da vigência do Plano Nacional de Educação (PNE), pois
precisam ultrapassar a morosidade e buscar a plena implantação da lei e do plano
educacional, um desafio a ser superado.
Educacional UFSM da autora desse artigo, intitulada: “Gestão Escolar e a Formação Continuada no
Cotidiano da Escola” orientada pelo professor Doutor Vantoir Roberto Brancher.
*Pedagoga pela Universidade Federal de Santa Maria. Especialista em PROEJA- Instituto Federal
Farroupilha/São Vicente do Sul e UFRGS Especialista em Gestão Educacional – UFSM. Professora
dos Anos Iniciais no Instituto Estadual de Educação Olavo Bilac.
A busca por esse tecido em alguns momentos não pareceu evidente, mas
aconteceu no convívio diário e nas palavras ouvidas e silenciadas por aqueles que se
envolveram no processo dessa pesquisa. Esse cotidiano esteve permeado pelo outro,
diverso, ao mesmo tempo plural e singular com a docência que mediou as relações de
trocas e de possibilidades à renovação do conhecimento.
Essa renovação ocorreu a partir da convivência e do aprendizado com outros
educadores e do reconhecimento de si através do outro. Oliveira (2001, p.29-30) avança
| 1248
em sua concepção, quando afirma que “ [...] é preciso uma outra escrita para além da já
aprendida, [...] uma escrita com múltiplas linguagens, [...] não linear e que teça múltiplos
fios, que pergunte antes de dar respostas. ” O múltiplo olhar, aquele que pode revelar ao
indagar e que buscou o entrelaçar dos trajetos dos autores dessa pesquisa, que pode
261
Cotidiano segundo Inês Barbosa de Oliveira e Paulo Sgarbi (2008, p.69) [...] campo no qual as
estruturas se efetivam, sempre com as possibilidades e circunstâncias de cada espaçotempo. Se
reconhecemos [...] a impotência e a efetividade dos saberespoderes tecidos cotidianamente pelos
diferentes sujeitos sociais, temos como reconhecer a relevância social e política desses mesmos
saberespoderes para os fazeres emancipatórios.
[...] Estar no mundo sem fazer história, sem por ela ser feito, sem fazer cultura,
sem “tratar” sua própria presença no mundo, sem sonhar, sem cantar, sem
musicar, sem pintar, sem cuidar da terra, das águas, sem usar as mãos, sem
esculpir, sem filosofar, sem pontos de vista sobre o mundo, sem fazer ciência,
ou teologia, sem assombro em face do mistério, sem aprender, sem ensinar,
sem ideias de formação, sem politizar não é possível.
A escola tem que ser reconhecida por aqueles que a organizam. Se a escola está
organizada e essa organização é conhecida, na qual cada um participa efetivamente das
coisas e das relações que ali acontecem essas podem ser ampliadas a favor da constituição
desse local.
Essa forma de obter dados através da entrevista teve como objetivo a aproximação
com o colaborador e o reconhecimento de seu pensamento em relação à formação
262
As práticas afetuais constroem redes de relações que se estruturam a partir do “sentimento de
pertença”, em função de uma “ética específica”. (Michel Maffesoli, 2006)
263
Colaborador 1: Coordenadora pedagógica dos Anos Iniciais e Vice diretora geral. Formada em Letras,
tem o curso normal e possui especialização em Educação Infantil e Gestão Escolar. Atualmente tem
23 anos de magistério.
264
Colaborador 2: Coordenadora pedagógica geral e professora de inglês. Formada em Letras e
Geografia. Possui especialização em Metodologia da Língua Portuguesa, Inglesa e Literaturas,
Literatura Brasileira e Pedagogia Gestora. Atualmente com 31 anos de magistério.
265
Colaborador 3: Professora Anos Iniciais. Formada em Pedagogia Séries Iniciais e especializanda em
Psicopedagogia. Atualmente tem 9 anos de magistério.
Na ocasião em que se faz essa retrospectiva para buscar onde nasceu a vontade de
tornar-se professor, se vasculha os lugares da memória e as identificações pessoais e
profissionais afloram. O fato é que em algum lugar, guardado na lembrança existe a figura | 1257
de um professor o qual é lembrado e também influencia na formação continuada.
O lugar/escola deveria ser um local de encontros, de trocas, de práticas
partilhadas. Ele sofre com a burocracia exigida pela sociedade. Padece sem a autonomia
e a participação democrática necessárias aos processos de reestruturação (que devem ser
constantes e flexíveis) do ambiente escolar e demandam uma reflexão consistente da
prática realizada por esses educadores.
É evidente que existe uma urgência em repensar a forma como a formação
continuada ocorre nos locais onde os saberes circulam. Rever o como e o que se trabalhar
Essa visão de formação continuada tendo como base a instituição onde o professor
está e os problemas da sala de aula, as dificuldades surgidas no cotidiano de seu trabalho,
significa a formação com base no próprio trabalho. A formação continuada e realizada a
partir de um planejamento amplo e sistematizado pode vir a ser importante para o
desenvolvimento da educação.
O Plano Nacional de Educação (2014-2024) traz em seu texto os desafios
relacionados a formação dos professores. Tanto a inicial quanto a continuada. Uma
formação para além dos muros escolares, formalizando questões de pós-graduação,
ampliando o número de matrículas em mestrados e doutorados, mas para isso retoma-se
os planos de carreira, pois os mesmos precisam se adequar a perspectiva dos professores
em relação a remuneração.
Os colaboradores da pesquisa possuíam um conceito em relação à formação
continuada dos educadores como processo consistente, constituinte do ser educador
fazedor e produtor de saberes quanto do local em que ele trabalha. A formação está
imbricada na vida do educador.
Adentrar no mundo do trabalho do educador é saber que como afirma Tardif
(2002, p. 11):
[...] que é impossível compreender a natureza do saber dos professores sem
| 1258
colocá-lo em íntima relação com que os professores, nos espaços de trabalho
cotidianos, são, fazem, pensam e dizem. [...] o saber dos professores depende,
por um lado das condições concretas nas quais o trabalho deles se realiza, por
outro, da personalidade e da experiência profissional dos próprios professores.
A INCONCLUSÃO DO PERCURSO
Referências
ANDRÉ, Marli Eliza Dalmazo Afonso de. Etnografia da prática escolar. 4. ed.
Campinas: Papirus, 1993.
FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. 50. | 1261
ed. Rio de Janeiro: Paz e
Terra, 2015.
__________. Pedagogia da esperança: um encontro com a pedagogia do oprimido. 21.
ed. São Paulo: Paz e Terra, 2014.
BRASIL, Lei nº 13005, de 25 de junho de 2014.
BRASIL. Plano Nacional de Educação (PNE). Plano Nacional de Educação 2014-2024
[recurso eletrônico] : Lei nº 13.005, de 25 de junho de 2014, que aprova o Plano Nacional
de Educação.
OLIVEIRA, Inês Barbosa de. ALVES, Nilda. (Orgs.). Pesquisa no/do cotidiano das
escolas. Sobre redes de saberes. Rio de Janeiro: DP&A, 2001.
INTRODUÇÃO.
Este estudo se interessa pelas políticas docentes escolares brasileiras,
especificamente, daqueles atuantes na fase da Educação Básica obrigatória que
compreende da Educação Infantil ao Ensino Médio.
Parte do pressuposto de que pesquisar políticas educativas no contexto social em
que acontecem aponta compreensões da realidade, potencializando subsídios para
democratização da educação e sua extensão ao corpo social.
Em uma sociedade no seio de projetos de classe em disputa importa conhecer seus
compromissos sociais, inclusive educacionais. Sobretudo, haja vista que o emblema
capitalista busca se validar pelo mote capital através da tomada do trabalho e da
humanidade da imensa maioria dos homens, pautando na escolarização um meio para
isso.
| 1263
Os estudos político-educacionais têm registrado o enlace entre capital e Estado,
com este último assumindo papel legitimador do programa capitalista 266 não apenas via
privatização ou mercantilização direta, mas por meio de parcerias público-privadas,
incutindo a lógica mercantil na provisão pública, inclusive, escolar (PERONI, 2010).
A pesquisa levada a efeito delineou os desdobramentos do “Pacto Nacional pelo
Fortalecimento do Ensino Médio” (PNEM). Política docente enquanto “Curso de
Formação Continuada para Professores” (MEC, 2013, p.2) para rediscussão das práticas
266
Para aprofundar o tema do papel do Estado na normatização do projeto capitalista, veja-se Wood (2014).
METODOLOGIA.
Adotou-se um olhar sociológico do professor, assumindo-o dentro de
particularidades trabalhistas e atravessamentos microescolares e macro-conjunturais
(OLIVEIRA, 2004). A linha de Ball (2009) aponta uma proposta perspicaz para
investigações das relações macro e micro das políticas educacionais e a ação dos
professores neste entremeio, especialmente, observando aspectos de democratização e
justiça social. Apresenta, para tanto, a ideia do “ciclo” analítico composto por cinco
contextos majoritários de ação política: (1) da prática, (2) da produção; (3) de influência;
(4) dos resultados/efeitos e (5) da estratégia política (BALL e MAINARDES, 2011).
Ball (2009) assemelha o processo de uma política à atuação em uma peça teatral,
onde se têm as palavras do texto que devem ser transformadas em ação, e os professores
são os atores principais: os protagonistas. Segundo Mainardes (2006), políticas podem
ser consideradas regimes de verdade e nelas, apenas algumas vozes serem consideradas
e legitimadas. Então, um discurso não é simplesmente o que “parece ser” e o que se “vê”
em sua superfície. Discursos são interdependentes de história, poder e interesses. Uma
política, consequentemente, não é, pois, um discurso harmônico ou neutro, e sim um
| 1264
produto e produtor de orientações, travados dentro do liame das políticas educacional e,
sobretudo, docente.
Nesta tônica, propôs-se uma reflexão da política do PNEM sobre as práticas
docentes no chão-escolar, apreendendo dados e relacionando-os através de fontes
documentais em três instâncias: apontamentos teóricos do PNEM; dados de pesquisas; e
ofícios da Secretaria de Educação do Estado do RS (SEDUC/RS) e do Sindicato do
Centro dos Professores do RS (CPERS).
267
Conforme ilustrou o CPERS 15º núcleo (2015), educadores das instituições de ensino superior, das
secretarias educacionais e os professores cursistas do PNEM recebem bolsas mensais, em sete grupos: R$
2 mil para o coordenador-geral da instituição de ensino superior; R$ 1,4 mil para o coordenador-adjunto da
instituição de ensino superior; R$ 1,2 mil para o supervisor; R$ 1,1 mil para o formador da instituição de
ensino superior; R$ 1,1 mil para o professor formador regional do pacto nos estados e Distrito Federal; R$
765 para o orientador de estudo; R$ 200 para o professor cursista e para o orientador pedagógico da escola.
CONCLUSÃO.
Esta foi uma pesquisa que se propôs a investigar o campo político-docente,
sobretudo, escolar por incluírem-se neste espaço os agentes basilares do ensino básico e
obrigatório nacional. Dos quais, as práticas configuram pedagogias que formam sujeitos
e sociedade. Que para o programa capitalista constituem-se através de vias como
individualidade e competitividade, meritocracia e eficácia, etc. em detrimento a
princípios de cooperação, coletividade, igualdade e socialização.
O trabalho docente foi uma latente categoria analítica, uma vez o professor perfilar
como trabalhador social. A partir do diagnóstico das bases do PNEM, iniciativa federal
de formação para professores, observou-se anunciações de protagonismo e emancipação
docente, a partir da afirmação de um “pacto”. No entanto, no estudo da efetividade
política no chão-escolar do RS foram delatados desvios, prioritariamente, face à falta de
“pilares” de sustentação para o desfrute pleno do curso pelos professores.
O que se mostrou claro é que o magistério público seduz-se por projetos
| 1273
formativos em grau como o PNEM que propõem incrementos salariais. Contudo, ações
desta medida acabam frustrando-os densamente ao verem-se impedidos de realizar a
formação com qualidade, gerando sentimentos de mal-estar do seu eu profissional ao
pessoal. Manifestam-se, até mesmo, posturas antiéticas e sabotagens (de avaliações, dos
tempos de dedicação pedidos e dos encontros, etc) para ganhar as bolsas de “dinheiro”.
Afinal, elas tornam-se, por certo, os verdadeiros motivos para continuidade no curso.
Foi possível identificar o PNEM como instrumento funcional de
autointensificação (OLIVEIRA, 2004), segundo vertente responsabilitória de docentes e
escolas ao passo da desresponsabilização governante. Estratégia, essa, que tem sido uma
REFERÊNCIAS:
ANTUNES, Ricardo. Mesa redonda: Mercado informal, empregabilidade e
cooperativismo: as transformações das relações de trabalho no mundo contemporâneo.
Cadernos de Psicologia Social do Trabalho, v. 2, nº 1, p. 55-72, 1999.
CPERS, 15º núcleo. Pacto Nacional pelo Fortalecimento do Ensino Médio. Disponível
em http://www.cpers15nucleo.com.br/site/index.php?acess=7&id=300. Acesso em
25/03/2015.
| 1277
Educação (CNE) no ano de 2002. O principal objetivo de tais mudanças era fortalecer os
conhecimentos da área da licenciatura, pois os professores formados nos cursos
unificados, durante a formação inicial, pouco adquiriam experiência na área da Educação
Básica.
Em relação ao Curso de Bacharelado em EF estudado, as justificativas
apresentadas para a sua criação estão aparadas legalmente na Resolução CNE/CES
07/2004 e no Parecer CNE/CES 058/2004. Nesse sentido, Morschbancher (2012), coloca
que naquele momento histórico a divisão do Curso justificou-se pela crescente expansão
268
Conselho Federal de Educação Física e Conselho Regional de Educação Física.
3- METODOLOGIA
| 1280
O presente trabalho caracteriza-se como um estudo de caso (Lüdke & André,
1986). Este estudo de caso é um estudo da complexidade, que tem como objetivo o
entendimento das peculiaridades dos cursos de formação em EF da instituição, de uma
realidade situada historicamente, a qual possui um valor em si mesmo por ser particular
e única.
269
Compreender o conhecimento subjetivo significa, neste trabalho, o ponto de vista pessoal, individual,
sentimento e sensações dos egressos da Educação Física que retornam a formação inicial. Porém,
nossas análises estão fundadas nas análises objetivas, concretas deste trabalho.
pode ser entendida com o seguinte conceito “significa agrupar elementos, idéias ou
expressões em torno de um conceito capaz de abranger tudo isso” (p.70). Para a análise e
discussão dos resultados, serviram de base as leis e categorias metodológicas da dialética
materialista: quantidade e qualidade, luta de classes, abstrato e concreto, lógico e
histórico.
4- O TRABALHO, SUAS TRANSFORMAÇÕES E A RELAÇÃO COM A
EDUCAÇÃO FÍSICA
270
Para Nozaki (2003, p. 2), a noção de mundo de trabalho analisa os “aspectos centrais e estruturais a
cerca das relações de confronto entre capital e trabalho que determinam justamente o campo e o mercado
de trabalho”.
| 1283
271
Fordismo: Criado pelo norte-americano Henry Ford em 1914, é um processo de trabalho baseado no
modelo de produção em massa, cujas principais características eram: redução dos custos; divisão das
funções de trabalho; trabalho em cadeia, repetitivo e contínuo, através de linhas de montagem;
especialização técnica, visando produção em série de produtos mais homogênios. Esses elementos
geram uma alienação do trabalhador no processo de produção.
272
Taylorismo: Criado por Frederick Winslow Taylor, cujo processo de trabalho caracterizava-se pela
fragmentação das funções do trabalho, presença de um gerente supervisor e gratificação pela produção
em menor tempo.
273
O modelo de trabalho Toyotista é baseado em mecanismos flexíveis do trabalho atual. A partir de Faria
(2004), trabalhar-se-á cooperação gerencial, os círculos de controle de qualidade (CQC), os quais
constroem grupos de trabalho responsáveis por corrigir ou tomar providências em relação à produtividade
e reformulações desenvolvidas nas matrizes japonesas que atingiram os objetivos de aumentar a qualidade
e produtividade e baixar o custo da produção.
Esta situação já vinha sendo denunciada por autores que discutem a fragmentação
da formação a partir do conhecimento, como Taffarel (2012, p.6) que nos diz que “as
lacunas na formação dizem respeito à negação do conhecimento”, desqualificando o
professor em sua formação acadêmica, rebaixando a formação omnilateral e privilegiando
a divisão social do trabalho na formação inicial.
Os relatos dos professores demonstram que formação inicial esta atrelada as
necessidades de terminada parte da sociedade, em especial as ambições do sistema
CREF/CONFEF. A divisão da EF restringe o campo de atuação, mantém os professores
refém de competências aplicadas ao mercado de trabalho e promove a realização do
registro no conselho da categoria. A formação fragmentada abdica os trabalhadores de
pensar as necessidades da sociedade de forma ampliada em favor do trabalhador que
reproduz o estabelecido na sociedade atual.
Na perspectiva de uma crítica a formação voltada aos nichos de mercado, uma
expressão contundente apresentada pelos estudantes foi a necessidade de vincular a
formação inicial às necessidades do mundo do trabalho. Observamos, através da análise
qualitativa, que alguns egressos têm a percepção da formação fragmentada, do trabalho
independente e desarticulado entre as disciplinas como também do distanciamento dos
dois Cursos Educação Física da realidade concreta.
Sobre este aspecto, Taffarel (2006, p. 93) faz uma reflexão, questionando “em que
bases deve-se formar professores para uma realidade complexa e contraditória que exige
a formação humana na perspectiva da omnilateralidade, da emancipação humana e da
transformação social”.
Quando apresentamos os objetivos do desenvolvimento desta pesquisa
observamos que a tese defendida para a divisão entre Licenciatura e Bacharelado é
desenvolver as competências para que o profissional sinta-se seguro para atuar no
mercado de trabalho. Nesse sentido é necessário observar, na análise qualitativa, que uma
das causas da divisão da formação também vem a ser a necessidade do retorno ao Curso,
ou seja, o próprio mercado de trabalho da Educação Física.
Embora um dos professores expresse que a formação inicial tenha proporcionado
alcançar os objetivos pretendidos: “Eu me senti preparada, mas foi por buscar os projetos
de extensão que a Universidade proporciona e na participação de grupos de estudo” | 1287
E;
Neste sentido, Souza, Fuchs & Ramos (2014, p.20) afirmam que quando a área da
Educação Física se apropriou da legislação para elaborar suas diretrizes curriculares,
prevaleceram concepções de Conhecimento e de Mundo/Mercado do trabalho, aderindo,
deste modo “a uma determinada visão de conhecimento e de perfil profissional”. Para os
autores, a lei não limita o licenciado a atuar somente no âmbito escolar, porém “o
entendimento equivocado desta questão acarretou em uma lógica formativa, nesses
últimos dez anos de fragmentação do conhecimento” (p.21).
Durante a análise qualitativa, algumas respostas dadas pelos entrevistados nos
remetem às falas de autores como Both (2011) e Nozaki (2004) que nos dizem que as
atuais mudanças no mundo do trabalho vêm ampliando o desemprego e a precarização do
mesmo, no que diz respeito aos salários, condições de trabalho e terceirização dos
serviços. Neste sentido, os profissionais da área de Educação Física estão sendo
desvalorizados, tendo de trabalhar em mais de um local para garantir o seu sustento ou
ampliar o tempo de permanência no local de trabalho para garantir o emprego.
“Me formei em bacharel, fiquei dois anos contratada em uma academia aqui
em Santa Maria, carteira assinada. Pedi demissão ano passado, final do ano
passado. Foi mais por desgaste, muitas horas, era tipo faz tudo. Eu fazia 10
horas, as vezes até 12 horas. Porque tipo, pra ti ganhar um salário bom... com
bastante trabalho, o que eu ganhava era em cima daquela parte do responsável
técnico, sabe? Daí não era de acordo com o piso, era de acordo com o
responsável. (...) Fixo na carteira era 8 horas, daí as vezes eu fazia 10, 12 horas
por dia. Daí, comecei a cansar...” (Professor B, bacharelado)
| 1288
Neste contexto de perda da centralidade da Educação Física como componente
curricular da Escola, esta vem estendendo cada vez mais a sua atuação em um espaço
não-escolar. Por este motivo, os Cursos de formação vêm passando por um processo de
reestruturação curricular, em que se tem como desfecho a formação de profissionais que
atuarão nessa esfera. Esse processo se constitui numa importante mediação entre a
Educação Física e as novas necessidades do mundo do trabalho.
Em relação ao retorno ao Curso percebemos um sentimento de descontentamento
da maioria dos egressos, pois estes retornaram para complementar sua formação inicial e
obter a certificação para atuar no mercado de trabalho, porém, quando recomeçam as
“Em relação a cursar os dois cursos (...) Eu queria dizer que é perda de tempo,
sabe? É, eu acho que tipo, quando é tudo novidade, o professor vai colocando
e tu diz amém, só que a partir de um certo ponto tu começa a ser mais crítico e
tu vê que está bem precário, eu acho que as pessoas tinham que ter mais noção
que eles estão formando futuros profissionais.” (Professor F, bacharelado)
| 1289
“Na formação de um professor de Educação Física (...) eu acho que tem que
abranger no momento inicial. Depois você tem que ver o que realmente tem
afinidade e aí afunilar mais pra frente (...) eu acho que tem que fazer um
currículo pra cinco anos, aproveitar mais os horários aqui dentro, dá pra fazer
uma formação bem feita em cinco anos.” (Professor A, bacharelado)
MARX, Karl. O capital: crítica da economia política. Livro 1, v. 1, 13 ed. Rio de Janeiro:
Bertand Brasil, 1989.
MARX, Karl. O Capital: Crítica da economia política: livro I 28ª ed. – Rio de Janeiro:
Civilização Brasileira, 2011.
Resumo: A escola do campo e a formação continuada dos professores que nela atuam é
a temática que permeia este trabalho. O que pretendemos é apresentar a roda de conversa
como uma ferramenta na prática da formação continuada de professores de escolas do
campo a partir da experiência possibilitada pela pesquisa com as professoras de
Miradouro – Minas Gerais. Para isso, abordaremos a definição de campo como território
material e imaterial, entendendo-o não apenas como um espaço geográfico de produção
agrícola ou de gestão do Estado, mas um espaço onde se revelam as dimensões da vida
humana, na cultura, na política, na economia e no convívio social. A educação nesse
contexto deve ser tratada de modo mais amplo, voltada aos interesses e ao
desenvolvimento social, cultural e econômico destas populações. Introduzimos as rodas
de conversa mostrando seu caráter participativo, tornando o ato de organizar a rotina de
trabalho e momentos de estudo e reflexões sobre questões pessoais e profissionais uma
construção coletiva onde todos constituem papel ativo e fundamental. A dinâmica da roda
de conversas configurou-se num momento efetivo de formação continuada, onde foi
possível, dentre outros desdobramentos, o fortalecimento da identidade de professores da
escola do campo.
Palavras-chave: Campo. Educação do Campo. Formação de Professores. | 1293
PALAVRAS INTRODUTÓRIAS
274
“A construção da escola pública do campo: fuxicando o cotidiano com as professoras nas escolas da
rede pública municipal na cidade de Miradouro - MG”. Pesquisa realizada na cidade de Miradouro -
MG com o apoio da Fapemig entre 2010 e 2013.(SOUZA, D.L. & RIBEIRO, S., 2013)
Essa reflexão faz-se necessária porque os docentes que atuam no campo precisam
ter uma formação que, além dos aspectos inerentes a sua prática, compreendam as
peculiaridades do campo e da escola deste espaço. Que campo é esse? Que escola? Como
pode ser configurada a prática de formação continuada no próprio lócus de trabalho?
Como uma possibilidade para trabalhar questões como essas, queremos destacar
aqui a prática das rodas de conversas, devido a multiplicidade de caminhos que ela nos
permite andar.
Rio transmite vida. É contínuo, mas pode ser sinuoso. Tem momentos
que ele pode ser mais agitado, (...) mais calmo. Pode ter pedras.
Cachoeiras. Grandes quedas. (Falas entrepostas).
Na sequência, foi sugerido que cada participante pensasse no rio relacionando-o a
três momentos da sua vida escolar e representasse através de desenhos, símbolos,
palavras, frases, além do relato oral que seria gravado em vídeo.
Tive uma professora que me marcou muito... que talvez fez eu ter esse
sonho de ser professora um dia (Prof. Eliciane).
Aqui eu coloquei umas pedrinhas porque foi muito difícil pra estudar,
desde menina, de primeiro ao quarto ano até que não porque tinha as
escolas na zona rural. Depois eu andava de bicicleta pra ir na escola e
tive que morar na casa da minha avó aqui em Miradouro. (...) Todo
mundo falava: Ah, se eu fosse você não faria isso, porque são muitas
barreiras, mas eu consegui (Prof. Flávia).
Outras histórias elucidaram as limitações de se iniciar a carreira nas escolas do
campo de outros tempos - e em alguns locais ainda hoje - onde uma ou duas professoras
desempenhavam todos os papéis na escola.
Tive uma professora que me marcou muito... que talvez fez eu ter esse
sonho de ser professora um dia (Prof. Eliciane).
Algumas tiveram a experiência de estudar em escola urbana quando crianças
mesmo morando no campo, e enfrentaram as dificuldades inerentes a uma época de
escassez e abandono às pessoas que viviam no campo.
| 1303
Aqui eu coloquei umas pedrinhas porque foi muito difícil pra estudar,
desde menina, de primeiro ao quarto ano até que não porque tinha as
escolas na zona rural. Depois eu andava de bicicleta pra ir na escola e
tive que morar na casa da minha avó aqui em Miradouro. (...) Todo
mundo falava: Ah, se eu fosse você não faria isso, porque são muitas
barreiras, mas eu consegui (Prof. Flávia).
Outras histórias elucidaram as limitações de se iniciar a carreira nas escolas do
campo de outros tempos - e em alguns locais ainda hoje - onde uma ou duas professoras
desempenhavam todos os papéis na escola.
Numa visão mais ampla, podemos dizer que a partir destas experiências estão
sendo explicitados outros conhecimentos que foram marginalizados durante muito tempo,
considerados insignificantes numa sociedade urbana e industrial. Ao dar visibilidade a
vozes que foram silenciadas, um paradigma histórico está sendo redesenhado, os saberes
do campo, e em especial, das professoras que também são sujeitos desse espaço estão
aparecendo e podem configurar uma nova maneira de ver esses personagens e esse
cenário.
REFERÊNCIAS
ARROYO, Miguel G.; FERNANDES, Bernardo Mançano. A educação básica e o
movimento social do campo. Brasília DF: Articulação nacional por uma educação básica
do campo, 1999. Coleção por uma educação básica do campo nº 2.
RIBEIRO, SZ
imone. Quem faz a educação? Narrativas, conhecimentos e táticas de professoras da
escola pública. Curitiba: Appris: 2016.
| 1306