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Pedro Calmon
1ª edição — outubro de 2023 — CEDET
Copyright © Herdeiros de Pedro Calmon
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Sob responsabilidade do editor, não foi adotado o Novo Acordo Ortográfico de 1990.
Editor:
Felipe Denardi
Preparação de texto:
Ulisses Trevisan Palhavan
Capa:
José Luiz Gozzo Sobrinho
Diagramação:
Maurício Amaral
Revisão de provas:
Natalia Ruggiero
Flávia Theodoro
Juliana Coralli
Victor Figueiredo
Os direitos desta edição pertencem ao
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Conselho editorial:
Adelice Godoy
César Kyn d’Ávila
Silvio Grimaldo de Camargo
INCORPORAÇÃO DO NORTE
DIOGO BOTELHO
A COSTA LÉS-OESTE
O CEARÁ
ODISSÉIA DE PERO COELHO
DOIS MISSIONÁRIOS
COCO E BALEIAS
HOLANDESES NA BAHIA
JUSTIÇA NOVA
A RELAÇÃO
GOVERNAÇÃO DO SUL
DECEPÇÃO DE D. FRANCISCO
A ADMINISTRAÇÃO DAS MINAS
II: MARANHÃO E PARÁ
FRANÇA EQUINOCIAL
NOBRES E FRADES
INTENÇÕES DO REI
SÃO LUÍS
A REAÇÃO
MARTIM SOARES MORENO
GASPAR DE SOUSA
A SEGUNDA MISSÃO
GUAXENDUBA
TRÉGUAS
O BANGALA
CAPITULAÇÃO
AFINAL O PARÁ!
PERNAMBUCO EM VEZ DA BAHIA
SANTO OFÍCIO
PRATA QUE NÃO SE ACHOU
III: A PRIMEIRA GUERRA DE HOLANDA
PRELIMINARES
MATIAS DE ALBUQUERQUE
GOVERNADOR E BISPO
COMPANHIA DAS ÍNDIAS
AUMENTOS DO BRASIL
COMÉRCIO E RENDAS
CRISTÃOS-NOVOS
A EXPEDIÇÃO
TOMADA DA BAHIA
REAÇÃO E ASSÉDIO
RECUPERAÇÃO DA CIDADE
RESTAURAÇÃO
CASTIGOS E FESTAS
DEVASTAÇÃO
IV: A SEGUNDA INVASÃO
PARAÍBA
RIO GRANDE
CEARÁ
MARANHÃO
PAR Á
CONQUISTA DO AMAZONAS
VI: O SUL EM 1630
JESUÍTAS NO PARAGUAI
O PRIMEIRO CHOQUE
SÃO PAULO... MIRIM
PARNAÍBA E TAUBATÉ
PIRES E CAMARGOS
O COLÉGIO
GUERRA DE CORSO
DESTRUIÇÃO
IMPUNIDADE
EXPULSÃO DOS JESUÍTAS DE SÃO PAULO
SEPARAÇÃO DAS CAPITANIAS DO SUL
REAÇÃO DOS PADRES
INQUIETAÇÃO CONSTANTE
VIII: UM IMPÉRIO EFÊMERO
AUMENTOS DA CIDADE-CAPITAL
D. PEDRO DA SILVA
SOCORROS DE ESPANHA
ATAQUE DE NASSAU À BAHIA
X: SOB O SIGNO DA RESTAURAÇÃO
A ACLAMAÇÃO NO RIO
SÃO PAULO E AMADOR BUENO
DESTITUIÇÃO DO VICE-REI
CONSELHO ULTRAMARINO
O JUIZ DO POVO
REPRESENTAÇÃO...
PRIVILÉGIOS BURGUESES
XII: A ÉPOCA DE NASSAU
DESLEALDADE...
A QUEDA DE ANGOLA
PERDA DO MARANHÃO
ESPLENDOR DA NOVA HOLANDA
PROSPERIDADE
OS ESCABINOS
JOÃO FERNANDES VIEIRA
RECONQUISTA DO MARANHÃO
DECLÍNIO
O PROBLEMA DAS DÍVIDAS
XIII: REINTEGRAÇÃO
A REBELIÃO GENERALIZADA
TEMPO E MAR
A ARMADA DE SEGISMUNDO
PENEDO E ITAPARICA
XV: RECUPERAÇÃO DO NORDESTE
NOVAS ESPERANÇAS
A SEGUNDA BATALHA
A COMPANHIA DE COMÉRCIO
A PRIMEIRA ESQUADRA
A ALIANÇA INGLESA
OPERAÇÕES FINAIS
A CAPITULAÇÃO
ENTRADA NO RECIFE
FEUDALISMO CONDENADO
XVII: O GOVERNO-GERAL E O SERTÃO
CREDULIDADE
MINAS FABULOSAS
A CASA DA TORRE
DESCOBRIMENTO DO PIAUÍ
MISSÕES DO SÃO FRANCISCO
PENETRAÇÃO
D. RODRIGO DE CASTELO BRANCO
XIX: BANDEIRAS DO PLANALTO
OUTROS TEMPOS
COMÉRCIO DE BUENOS AIRES
RAPOSO TAVARES
VACARIA
AGOSTINHO BARBALHO
NORTE E OESTE
XX: DOIS MITOS PROVIDENCIAIS
A ILUSÃO DO GOVERNADOR
A COSTA DO SUL
PARANAGUÁ
LAGUNA E SANTA CATARINA
CURITIBA
SABARABUÇU
CAPITANIA DO ESPÍRITO SANTO
ESMERALDAS DE FERNÃO DIAS
FIM DE D. RODRIGO
XXI: A COLÔNIA DO SACRAMENTO
TRIUNVIRATO PATRÍCIO
ROQUE DA COSTA
O REGIMENTO
SÉ ARQUIEPISCOPAL
CONVENTOS
OBRAS URBANAS
HIGIENE E DEFESA
XXIII: PROSPERAM AS CAPITANIAS
SERGIPE
AS ALAGOAS
RECIFE E OLINDA
RESTAURAÇÃO DA VILA ANTIGA
LUTA DE JURISDIÇÕES
BRITO FREIRE
O “XUMBERGA”
PARAÍBA
RIO GRANDE
CEARÁ
XXIV: OS JESUÍTAS NO NORTE
A ÁREA AMAZÔNICA
EM FAVOR DO ÍNDIO
VIEIRA NO MARANHÃO
A VOZ DA CATEQUESE
FLORESCEM AS MISSÕES
O CASO DE MARAJÓ
A RETIRADA DOS PADRES
PARTIDOS DA CORTE
ECONOMIA PRIMITIVA
REBELIÃO DOS MARANHENSES
A FRONTEIRA SETENTRIONAL
ANTÔNIO DE ALBUQUERQUE
O CAMINHO DA BAHIA
XXV: NEGROS E TAPUIAS
BRASIL EM ÁFRICA
NEGROS FUGIDOS
A LUTA INFINDÁVEL
DOMINGOS JORGE VELHO
A GUERRA DO AÇU
PAZES INESPERADAS
A DERROTA DOS QUILOMBOLAS
COMO ACABOU O ZUMBI
XXVI: OS “MALES DO BRASIL”
O “BRAÇO DE PRATA”
O CASO DO ALCAIDE
MARQUÊS DAS MINAS
A EPIDEMIA GRANDE
MATIAS DA CUNHA
CÂMARA COUTINHO
ALTERAÇÕES DA MOEDA
MOEDA PROVINCIAL
ALIMENTOS E JUSTIÇA
VIAGEM E MORTE DO ARCEBISPO
D. JOÃO FRANCO
XXVII: O GRANDE GOVERNO DE D. JOÃO DE LENCASTRO
O PREFERIDO DA TERRA
A CASA DA MOEDA
O SALITRE
VILAS E JUÍZES
XXVIII: MAGISTRADOS E GOVERNOS
PREDOMÍNIO DO BACHAREL
MARCHA PARA O ABSOLUTISMO
VEREADORES
CENTRALIZAÇÃO
ORDEM SERTANEJA
OS IRMÃOS VIEIRA
1700
XXIX: INÍCIO DO CICLO DO OURO
MINAS GERAIS
ARTUR DE SÁ
OS ARRAIAIS
O GUARDA-MOR
XXX: FORÇAS ECONÔMICAS
SUFICIÊNCIA
O INTERESSE DE PORTUGAL
PAU-BRASIL
AÇÚCAR
A ESCRAVATURA
TABACO
CRIAÇÃO DE GADO
ESPECIARIAS
DÍZIMOS DO ESTADO
XXXI: A CULTURA NO SÉCULO XVII
INICIAÇÃO LITERÁRIA
A LÍNGUA
O ENSINO
MAZOMBOS
FREI VICENTE
AS TRÊS CARACTERÍSTICAS
AUTORES
ANTÔNIO VIEIRA
GREGÓRIO DE MATOS
POETAS MENORES
ESTUDANTES
FRADES
ESCOLAS E LIVROS
CIÊNCIA
XXXII: ARTE SEISCENTISTA
ORIGINALIDADE IMPOSSÍVEL
O BARROCO
ARQUITETOS
SÍNTESE DO 2º SÉCULO
NOTAS DE RODAPÉ
APRESENTAÇÃO: PEDRO CALMON NÃO MERECIA,
NÃO MERECE E NÃO MERECERÁ NUNCA O DESPREZO
Toda pesquisa histórica anda sempre às voltas com a linha difusa entre
resgatar a experiência daqueles que viveram os fatos, interpelar seu sentido e
reconhecer nessa experiência seu caráter inconcluso. A historiografia examina
o ponto do contato da palavra com a realidade concreta do objeto examinado.
É um instrumento privilegiado de decifração do mundo. Encontrar o
verdadeiro sentido das palavras contidas em um texto é tarefa que se impõe a
qualquer historiador que deseja transformar em compreensão histórica o seu
estado inicial de incompreensão semântica. Historiar é uma atividade
intelectual, composta por tudo o que um historiador pode aprender: leituras e
convivências, por idas e vindas entre os documentos, alocação de seus
interesses intelectuais, um esforço de imaginação em fazer reviver o tempo
estudado. Qualquer historiador, para produzir bons significados sobre um
tempo irreversível, precisa de uma atenção constantemente voltada para os
múltiplos objetos que exprimem os vestígios esparsos do passado.
Sendo o Brasil uma realidade viva e humana, que sofre influências de toda a
sorte, não é anacrônico tentar compreendê-lo em uma perspectiva histórica
que dialogue com os dias que correm. Conhecer seus muitos eventos que
continuam presentes na agenda atual é uma forma de combinar as abordagens
cronológica e analítica. Se muitos são os eventos, contextos políticos e
culturais que assinalam esses mais de cinco séculos de existência nacional,
alguns traços insistem, teimosamente, em comparecer na agenda local. O
caminho da autoafirmação do pensamento brasileiro já está aberto, carecendo
apenas dos que continuem o trabalho dos desbravadores. É o caminho
palmilhado por Pedro Calmon, historiador de apurada pesquisa, dos maiores
e mais primorosos em língua portuguesa.
Devo a Pedro Calmon um dos estímulos mais decisivos para que a minha
formação cultural se processasse iluminada pelas luzes da história brasileira.
Pedro Calmon Moniz de Bittencourt, um típico baiano de exportação,1 não foi
somente um intelectual erudito, mas homem de ação e de muitas sugestões.
Foi Deputado Estadual e Federal, Reitor e Ministro. Como escritor, lega uma
obra notável, estruturada em três grandes áreas: literatura histórica, história e
direito.2 No primeiro grupo, incluem-se os mais divulgados dos seus livros,
por exemplo, O Rei Cavaleiro e a Vida de Castro Alves. Fazem parte da
segunda categoria os cinco volumes da História Geral do Brasil, os três da
História Social do Brasil e a sua grande obra História do Brasil. Na área do
direito, estão reunidos o Curso de Direito Constitucional e Curso de Teoria
Geral do Estado.
Thomas Giulliano16
Nomenclatura 17
Rios
CuchiguaráPurus
CaiariMadeira
ParanaíbaXingu
ParaupabaTocantins
Vicente PinzónOiapoque
JenipapoParu
GrandeJequitinhonha
IguaíJacuí
PiraíApa
Cidade
N. S.a de BelémBelém
S. Luís do MaranhãoS. Luís
S. Maria Madalena da Alagoa do Sul Marechal Deodoro
In dedicatória da
História da Província Santa Cruz,
de Pero de Magalhães Gandavo (1576).
I: ENTRE O CEARÁ E SÃO PAULO
INCORPORAÇÃO DO NORTE
Sucessor de D. Francisco de Sousa, o “das mantas”, absorvido em São Paulo pela pesquisa
do ouro — o Governador-geral Diogo Botelho fez diferente política. Não se deixou
fascinar pelas minas lendárias. Mais premente problema lhe pareceu a conquista da costa
leste-oeste a partir do Rio Grande, em cujos areais, vigiados pela Fortaleza dos Reis
Magos, parara a expansão portuguesa. Tinha também de defender o litoral freqüentado
pelos contrabandistas ingleses e franceses, aliados furtivos dos tapuias, um pouco por toda
parte. O Sul ficara bem seguro e governado. Faltava à colonização o resto do Norte, até a
bacia amazônica, aquém do meridiano de Tordesilhas (como em Lisboa se afirmava) e
antes que o estrangeiro lá se fixasse. Cumpria incorporá-lo sem demora à Coroa de
Portugal.
DIOGO BOTELHO
Mas, extinto no exílio o pretendente, aceitara, com igual correção, o serviço de Filipe ii.
Diz Frei Vicente do Salvador que, mal chegou à Bahia, mandou tirar o pelourinho da
frente do palácio, “lembrando-se que estivera já ao pé de outro para ser degolado por
seguir as partes do senhor D. Antônio, culpa que Sua Majestade lhe perdoou, por casar
com uma irmã de Pedro Álvares Pereira, que era secretário na corte”.20
A COSTA LÉS-OESTE
“Em procurar por terra o que por mar não alcançavam” (escreveu o Padre Vieira, em
1658), habituar-se-iam os missionários a mandar os correios através dos rios, “levando a
mãos, por entre o rolo do mar e a ressaca das ondas, sempre por costa bravíssima”,
pequenas canoas.
O CEARÁ
Com a recomendação de seguir por terra, formou Pero Coelho a sua expedição com
duzentos índios (tobajaras e petiguares)24 e os “línguas” Manuel Miranda, Pero Congatan,
Simão Nunes Correia, João Cid, João Vaz Tataperica, o francês Tuim Mirim, Martim
Soares Moreno, sobrinho do Sargento-mor Diogo de Campos Moreno, a quem este, “de
mui pequeno, havia mandado com Pero Coelho de Sousa para que, servindo naquela
entrada, aprendesse a língua dos índios e seus costumes”.
Tudo correu bem até a raiz da Serra de Ibiapaba e a foz do Camocim. Apareceram aí,
ferozes, os tapuias.25
Travou-se combate em 19 de janeiro de 1604. Tuim Mirim (talvez o “profeta”, que iludia
os índios, mencionado pelo Padre Claude d’Abbeville),26 conseguiu confabular com
alguns franceses, que lhe falaram de “uns mulatos e mamalucos crioulos da Bahia maiores
diabos que o principal com quem andavam”, a exigirem lhes entregassem Miranda e
Congatan, seus inimigos. Renovaram-se as hostilidades, com a derrota e fuga dos tapuias
e seus aliados. Dez prisioneiros franceses foram por Pero Coelho mandados para
Pernambuco. Não conseguiu porém ir adiante do Parnaíba (Punaré), limite da sua
avançada. Fora áspera a marcha, os soldados queriam parar, ameaçavam rebelar-se,
queixavam-se de fomes e fadigas. Cedeu. Se é lícito acreditar na história ouvida por
Claude d’Abbeville, morto Tuim Mirim, essa retirada deu aos índios de Ibiapaba a
impressão de que iam vencidos.27 Mas não era assim. Deixou à margem direita do Ceará
Simão Nunes com 45 homens, num arraial fortificado, e retrocedeu com os restantes para
a Paraíba, mas disposto a voltar com a família e nova tropa, a fim de instalar-se naqueles
montes — donde vigiaria o caminho do Maranhão e os tapuias “do corso”. O seu erro foi
medir mal as forças.
Realmente num caravelão se transportou para o fortim onde se fixara Simão Nunes.
Esperava encontrar um quartel bem provido e achou um grupo de esfarrapados soldados.
Queriam mudar-se para o Vale do Jaguaribe. Atendeu-os; e os transferiu para um sítio
ameno, onde pudessem ter as suas roças... Foi breve a esperança, pois a maioria desertou,
preferindo internar-se na selva a continuar a vida miserável no acampamento. Com uns
poucos estropiados e doentes, a mulher e cinco filhos, não podia o capitão construir nova
aldeia. Decidiu-se a vencer a pé a distância enorme entre aquele rio (que atravessou numa
jangada de raízes de mangue, à moda indiana)28 e o Forte dos Reis Magos. Tem o sabor de
uma página quinhentista, dos sofrimentos padecidos na África por náufragos heróicos —
a odisséia contada por Frei Vicente do Salvador.29 Pelas areias abrasadas de sol, mortos de
sede, encarnando ele a firmeza dos que jamais capitulam, em prantos D. Tomásia,
condenados todos à morte ignorada, entre as dunas altas e o mar, numa jornada sem fim
— aquilo se lhe afiguraria o Saará, sem sombra de palmeira nem pegadas de caravana,
deserto...
DOIS MISSIONÁRIOS
Tanto que chegou à Bahia, pediu Diogo de Meneses ao Provincial Fernão Cardim que
enviasse a Ibiapaba dois padres. Foram Francisco Pinto, bom lingüista, que missionara em
Sergipe e Pernambuco,31 e — moço de 28 anos — Luís Figueira, autor da segunda
gramática da língua brasílica.32
COCO E BALEIAS
Concluída a sua tarefa em Pernambuco, recolhera-se Diogo Botelho à Bahia, que parecia
renovada com a riqueza que trouxera o biscainho arpoador de baleias: a abundância do
azeite.
Revela uma certidão de 1614 que, do Regimento dado a Diogo Botelho, constavam duas
recomendações: empregar marinheiros biscainhos na pesca da baleia e fazer plantar, “por
toda costa”, palmeiras de coco, que também produziriam azeite. Cumpriu a ordem.
Datam do seu governo os coqueiros da Bahia, cuja cultura fracassara ao tempo de Gabriel
Soares (que lamentara a sua extinção);37 e a aventura de Pedro de Orecha. Com os seus
companheiros
começou a pescar, e ensinados os portugueses se tornou com elas (duas naus) carregadas, sem da pescaria pagar
direito algum: mas já hoje (1627) se paga e se arrenda, cada ano por parte de Sua Majestade a uma só pessoa, por
600$000 pouco mais ou menos, para lustro de ministros.38
No dizer de Pyrard de Laval (1610), “a mais rica pesca de baleias que há no mundo”.
Não valia apenas o lucro; importava a melhoria dos costumes. O azeite barato iluminava
a noite colonial. Sobretudo “os engenhos que trabalham toda a noite e, se houveram de
iluminar-se com azeite doce, o que se gasta e os negros lhe são muito afeiçoados, não
bastara todo o azeite do mundo”.39 Já não se comprava o de oliva, “tão caro e tão pouco”,
para o candeeiro do lar, para a lanterna da oficina, para aclarar o caminho na treva das
ruas perigosas: a fartura das baleias permitiu que a convivência noturna se prolongasse,
que o trabalho das moendas não se interrompesse, que as lâmpadas escoltassem, nas
saídas tardias, a gente vilareja. Foi um alívio e um socorro. Alimentou a candeia popular
durante dois séculos.
HOLANDESES NA BAHIA
É provável que o governador acorresse à Bahia para atender ao aviso del-rei (carta de 12
de dezembro de 1603), de que se aprestava em Holanda uma armada para investi-la.
JUSTIÇA NOVA
A RELAÇÃO
O lugar de escrivão dos agravos coube a Cristóvão Vieira Ravasco, antigo soldado e
marinheiro, que quatro anos servira na Bahia “de alferes de uma companhia, fazendo
algumas vezes o ofício de capitão”: instalou-se aí em 1614 com a família. A esta
circunstância deve-se ter vindo para o Brasil o menino Antônio Vieira seu filho (nascido
em 1608), destinado a ser a mais influente figura intelectual da colônia no século de que
tratamos.48
GOVERNAÇÃO DO SUL
D. Francisco de Sousa não desistira de suas esperanças mineiras. Bem fez por elas, em
Madri. Obteve — logo depois da nomeação de D. Diogo de Meneses — lhe fosse dada a
governação do Sul, separada do Norte, e abrangendo Espírito Santo, Rio de Janeiro e São
Vicente, de modo que, sem dependência de autoridade estranha, pudesse desenvolver a
pesquisa do ouro em São Paulo.49
A 2 de janeiro e 28 de março de 1608 concedeu-lhe el-rei privilégios análogos aos de
Gabriel Soares, e a isenção, quanto às minas, do outro governo do Brasil — a ponto de
considerar-se potentado sem igual na América Portuguesa se, de fato, achasse o que
procurava.
DECEPÇÃO DE D. FRANCISCO
Mas chegara em hora má. Não conseguiu o que pretendia. Falharam-lhe as pesquisas, se
é que as empreendeu. Venceu-o a moléstia. Agravou-lha a decepção: teve morte de
indigente, esse êmulo de Pizarro. O que de mais importante se sabe do seu governo é a
comissão dada ao filho, D. Antônio, para levar a el-rei amostras de metais (uma cruz e
uma espada do ouro das minas, segundo Frei Vicente do Salvador): viagem infeliz, porque
no mar o tomaram corsários, desaparecendo os penhores que transportava. Faleceu D.
Francisco em 11 de junho de 1611. Tão pobre — declarou um padre da Companhia, que o
assistiu — “que nem uma vela tinha para lhe meterem na mão, se a não mandara levar de
seu convento”.54 No dia seguinte D. Luís de Sousa, munido de codicilo, em que era
nomeado sucessor do pai, assumiu o governo.55 Por pouco tempo, aliás; porque o alvará
de 9 de abril do ano seguinte revogou o da separação das três capitanias, vindo, em
substituição de D. Diogo de Meneses, Gaspar de Sousa — em cujas mãos se unificou de
novo a administração colonial.
A ADMINISTRAÇÃO DAS MINAS
O lugar de administrador das minas do Sul tornou-se com isto apanágio dos
governadores do Rio de Janeiro e, particularmente, daquela família, que ia dar a Portugal
e domínios um grande general, filho de Martim, Salvador Correia de Sá e Benavides.
De resto, jazidas, quintos, potosis, mergulhavam agora na dúvida obscura dos sertanistas
desiludidos.
O breve governo de D. Luís de Sousa59 ficou assinalado por outra série de fatos: o
choque de paulistas e jesuítas espanhóis, que começavam a reduzir índios ao longo do
Paranapanema. Quando os sertanistas se atiram a depredar as reduções. Início de luta
indefinível e contínua, cujas despesas pagou a Companhia de Jesus.
FRANÇA EQUINOCIAL
Os três armaram outros tantos barcos, e, com alguns fidalgos, soldados, homens de
trabalho e quatro capuchinhos — deixaram festivamente o porto de Cancale, na Bretanha,
a 19 de março de 1612.
NOBRES E FRADES
INTENÇÕES DO REI
O adversário, porém, era menos o espanhol (e o português aliado aos tupis) do que a
opinião francesa, indisposta então — como depois — contra os projetos miríficos de
expansão ultramarina. “La plus belle mine que je sache, c’est du blé et du vin”, dizia Marc
Lescarbot, partidário das missões religiosas, que convertessem o gentio, não de
empreendimentos comerciais, que os exterminassem.75 O suave protesto de Ronsard (a
Villegagnon), a ironia de Montaigne, iniciando o elogio político da ingenuidade indígena,
com o comentário sobre o feliz selvagem, repontara no ceticismo de Sully, que achava os
seus patrícios sem “perseverança nem previdência” para a conservação de colônias
distantes.76 Tornaram-se impopulares. Só a Igreja (e Isaac de Razilly voltaria, em 1626, a
esta idéia)77 poderia justificá-las, salvando-as de um fatal descalabro. Este pensamento é
suficiente para compreendermos o da França Equinocial — logo abandonada, como
outrora a Antártica, aos próprios recursos — contrastado pela retumbância das proezas
evangélicas, dos capuchinhos, entre os índios dóceis do Maranhão.
SÃO LUÍS
Rumou a frota para a Ilha do Maranhão, entre os rios Itapicuru e Mearim, e aí, no
promontório dominando a baía de São Marcos, fundaram de Razilly e La Ravardière o
Forte de São Luís. O nome era em homenagem ao Rei de França.78 Construíram os
missionários a sua capela, com o auxílio pressuroso do gentio atraído por Charles Des
Vaux — e tudo correria razoavelmente, nessa terra verde e úmida, que era como a porta
do Brasil setentrional, se não aparecessem, vindos de Pernambuco e do Rio Grande, os
portugueses.
O sítio fora bem escolhido, tanto para a defesa como para o desenvolvimento da colônia,
litoral afora, para o Amazonas, através de Tapuitapera, Cumá e Caité. É crer que La
Ravardière explorasse a costa até a foz do grande rio (Pará) e aproveitasse a ocasião para
chamar as tribos por ali esparsas à fala com os franceses, contando-lhes histórias
abomináveis dos outros brancos (os perós) e dos índios vingativos que com eles andavam.
Teve tempo para preparar a resistência ao ataque inevitável.
A REAÇÃO
Acertara D. Diogo de Meneses, ao querer provar quanto antes aquela cobiçada região.79
Fê-la o Sargento-mor Diogo de Campos Moreno, por ordem do governador. Viu todo o
litoral. Reuniu os seus minuciosos mapas no Livro que dá razão do Estado do Brasil,
concluído em 1612.80
Observara a necessidade de serem criadas três capitanias: a primeira entre o Rio Grande
e o Ceará, a segunda em Camocim, a última no Maranhão. As ordens de 9 de outubro e 8
de novembro de 1612 adotaram o alvitre, mandando estabelecer os três núcleos do
povoamento que seriam as atalaias do Norte.81
E acolá deixara o sobrinho, Martim Soares Moreno. Foi isto providencial. Por iniciativa
deste principiaram os combates que poriam fora do país o intruso. Uma carta de 1º de
março de 1612 relata que, em companhia dos índios do chefe Jacaúna, irmão de Camarão
— petiguares do Rio Grande — e nu e tatuado como eles, apresou Martim Soares um
navio no Mucuripe (atual porto do Ceará), provavelmente no mesmo lugar onde Pero
Coelho instalara guarnição. Compreendeu que era indispensável fortificá-lo. O
governador mandou-lhe uma escolta de dez homens e um sacerdote. Fez o reduto e,
junto, a ermida de Nossa Senhora do Amparo. Surgiu assim Fortaleza, princípio desse
Ceará que, muito tempo, se limitou ao quartel de beira-mar, o Forte...82 E, tanto que soube
do desembarque de La Ravardière, correu a revoltar os tremembés (cannibaliers, chama-
lhes o Padre Yves d’Évreux), tapuias do Parnaíba, ou cariris que periodicamente faziam a
“guerra do caju”.83 Não fora esta manobra, e a reconquista seria consideravelmente mais
difícil. Alexandre de Moura reconheceu: foi quem “primeiro descobriu o Maranhão pela
banda de leste”.84
GASPAR DE SOUSA
Teve ordem para fixar-se em Pernambuco, donde melhor dirigiria a conquista da costa
leste-oeste. Em maio (1614) aí chegaram Diogo de Campos Moreno (cuja habilidade
militar supriria as deficiências de Jerônimo de Albuquerque)91 e o piloto Sebastião
Martins, prático daqueles mares. Trezentos portugueses (sob o comando de Diogo de
Campos) juntaram-se no Rio Grande a Albuquerque, com os seus duzentos índios: e
foram acampar na foz do Preá. Prevaleceu a opinião de que deviam fortificar-se junto a
melhor aguada — e próximo do inimigo. O Alferes Pedro Teixeira e o Soldado Antônio
Teixeira de Melo92 encarregaram-se desse reconhecimento, com o Piloto-mor Sebastião
Martins.93 Em conseqüência, deslocou-se a expedição para a Barra do Munim, e
deslizando ao longo do litoral, fundeou a leste da Ilha de São Luís, no sítio de
Guaxenduba. Aí o engenheiro Francisco de Frias levantou (de faxina e terra) o forte
hexagonal de Santa Maria — a cuja proteção se recolheriam os portugueses enquanto não
viessem acudir-lhes novos socorros de Pernambuco. Puseram-se astutamente na
defensiva.94
A SEGUNDA MISSÃO
GUAXENDUBA
TRÉGUAS
A disputa da terra não podia regular-se ali pela polidez européia. Interrompia-se a
campanha, mas não se desarmavam os pioneiros. Tanto que um dos grupos se sentisse
superior ao outro, sem atenção à política da corte distante — nem à letra do tratado —
retomaria a iniciativa: e aquele país úmido e quente. Foi o que sucedeu — com o auxílio
que Alexandre de Moura levou a Jerônimo de Albuquerque Maranhão (como passou a
chamar-se o capitão após a campanha).
O BANGALA
CAPITULAÇÃO
Ao contrário do que seria de esperar, a inação dos oficiais diante da praça francesa
ativara rixas e dissentimentos, partidários uns de Jerônimo de Albuquerque, outros de
Francisco Caldeira, a quem — em junho — obrigaram a ficar ali, por necessário à
segurança comum, quando, contristado, quisera regressar a Pernambuco. Nessa
oportunidade o próprio La Ravardière fora prevenido, para opor-se à partida de Caldeira,
considerando-se que o Albuquerque, entregue às suas inspirações pessoais, forçaria de
novo a luta... Alexandre de Moura fingiu não se aperceber logo dessa indisciplina, a que
não escapou, no Pará, o destemido Francisco Caldeira. Antes do mais, precisava pôr fora
do Brasil o intruso. Apalavrou-se com ele e intimou-o a render-se, em 2 e 3 de novembro.
No dia 4 o Forte de S. Luís era seu. Sem escaramuças, sem resistência, sem drama.
AFINAL O PARÁ!
Devia organizar três núcleos de povoamento, Ceará, Maranhão e Pará. Assim impediria
a surpresa de outras incursões estrangeiras e se lhes antecipava na foz do Amazonas, “que
esta en la demarcación del Serenísimo Rey de Portugal”, como reconhecera Orellana.105
Havia pressa nesta ocupação. Francisco Caldeira (após decisão tomada em junta que se
reuniu em 15 de dezembro), recebeu para isto regimento, no dia 22, e seguiu viagem pelo
Natal, com 150 homens e três embarcações. O mesmo hábil Antônio Vicente Cochado lhe
servia de piloto. O desígnio fora positivado: “A jornada do Gran-Pará e Rio das Amazonas
[...] e porque claramente se sabe que o Pará é uma das bocas do dito Rio das Amazonas da
banda de leste”.106 Os seus principais companheiros eram André Pereira Temudo (depois
capitão do Rio Grande), Antônio da Fonseca, Antônio Teixeira de Melo107 — cujo
afastamento do Maranhão correspondia a outra exigência: a paz entre portugueses. A
rivalidade que dividira os vencedores terminou com essa expedição, que, após dezoito
dias de viagem, a 10 de janeiro alcançou o sítio onde deu princípio à cidade de Belém.
Era dia de Santa Maria de Belém. Daí o nome de “Presépio”, dado ao fortim de madeira,
centro da cidade que Francisco Caldeira não tardou em fundar.
Conclui com dizer que em todo o Estado do Brasil não há nada em comparação deste...
E porque a matéria está pedindo que se acuda com toda a brevidade possível com socorro a Francisco Caldeira para se
fortificar e ir continuando o descobrimento das cousas daquele rio e conquista, e se conservar o ganhado, vos mando
[...] envieis ao dito Francisco Caldeira algum socorro de mantimentos, e munições e gente, porquanto deste porto de
Lisboa mando que também se envie um navio com o mesmo.109
“Para que do reino e dos Açores vá gente que povoe aquelas partes”.110
Nos entrementes saiu Martim Soares Moreno (como capitão de Gumá) a pacificar os
índios da costa, espantados e espalhados com a expulsão dos franceses; e Francisco de
Frias consertou o Forte de S. Luís — chamado agora de São Filipe. De Luís xiii a Filipe iii...
Transportou-se D. Luís de Sousa para o Recife112 ainda uma vez, a fim de melhor prover à
conquista do Norte.
Em carta de Madri, de 11 de abril de 1617, dizia el-rei: “Vos confio que assistireis às
cousas daquela conquista com o cuidado que pede para que vão muito adiante, pois a este
fim se encaminhou o mandar-vos que por ora residísseis em Pernambuco”. 113
SANTO OFÍCIO
Averiguou então (indo para isto com grande comitiva a São Cristóvão de Sergipe) o que
havia de verdade na promessa de Belchior Dias Moréia, de umas minas de prata que
deixariam longe o Potosi...
Aproveitou-se disto Duarte de Albuquerque Coelho para obter da corte de Madri, onde
sempre foi bem acolhido,128 que o governador-geral — deixando de incomodá-lo em
Olinda — ficasse definitivamente na Bahia — como aliás suplicavam os moradores desta
cidade.129 Assim não lhe invadiria a jurisdição de Pernambuco! Conta Fr. Vicente do
Salvador que Henrique Correia da Silva, nomeado para substituir D. Luís de Sousa,
desistiu alegando, “não havia de dar homenagem das terras que não podia ver como
estavam fortificadas, o que haviam mister para serem defendidas e governadas como
convém”. Mandou el-rei “Diogo de Mendonça Furtado, que havia vindo da Índia onde
estava casado, e andava requerendo na corte a satisfação de seus serviços”.130
PRELIMINARES
À medida que a colonização entrava as novas terras, o problema militar era mais difícil e
premente.
Martim de Sá, no Rio de Janeiro, tomara três batéis a uma esquadra flamenga que se
chegara à terra para refrescar.133 Matou 22, aprisionou 14, entre estes um Francisco
Duchs, bem tratado pelo capitão, que o enviou à Bahia, onde lhe fizeram a melhor
acolhida. Veremos o que disto resultou... Constantino de Menelau, capitão-mor do Rio de
Janeiro, assaltou por esse tempo uma partida de franceses que carregava pau-brasil no
Cabo Frio — e nesse lugar levantou um forte, destinado a evitar de futuro semelhantes
incursões.134
MATIAS DE ALBUQUERQUE
GOVERNADOR E BISPO
Sabia pela carta do rei, de 3 de agosto de 1622, que disto o notificara, avisando-o da
necessidade de fortificar a Bahia e outras praças.142 De fato a fortificou,
cercando-a pela parte da terra de vala de torrões; e porque a casa que servia de almazém, junto à da alfândega, estava
caída, começou a fazer outra no cabo da sua, para que o alto lhe ficasse servindo de galeria e o baixo de almazém [...].
Também começou a fazer a fortaleza do porto em um recife que fica um pouco apartado da praia, havendo provisão
de Sua Majestade para se fazer não só da imposição do vinho, que estava posto nesta Bahia, mas também da de
Pernambuco e Rio de Janeiro e que do dinheiro que recebem os mestres, não dos fretes, senão de outro que eles
introduzem chamado de avarias, que ordinariamente são duas patacas por caixa, desse quatro vinténs cada um para a
obra da fortaleza [...] e de que não pode tirar o louvor também do arquiteto Francisco de Frias que a traçou.143
Começou-se o Forte do Mar, posto no estado em que hoje se acha um século mais tarde.
“Um dos contraditores que houve da fortaleza sobredita foi o Bispo D. Marcos”. Dizia
(negando-se a benzer a primeira pedra), que principiada a obra, pararia a da Sé, apesar de
ter o governador reservado para esta 6 mil cruzados...144
Continuava na verdade “uma cidade aberta, e defendida de 80 soldados pagos, que não
passava deste número o seu presídio”. Tesouro rico porém mal seguro...
Viu-a por esse tempo Brás Garcia de Mascarenhas, o poeta-soldado de Viriato trágico,
então fugitivo, e a comerciar no Brasil:
Apesar de tormentas, calmarias,
Corsários e af lições de sangue e morte,
Entrei pela rainha das baías
Celebrado teatro de Mavorte.
Desta cidade ilustre em bizarrias,
Da nova Lusitânia nova corte,
Julguei que era o Brasil jardim sem muro,
Tesouro rico, porém mal seguro.
A idade de ouro inda então lembrava,
E a da prata, que nele florescia
Já com intercadências vacilava,
Porque perto a de ferro transluzia.
Se a muita gente pobre levantava,
Também a muita gente rica empobrecia,
Que é mal segura em quem compra e vende
Toda a riqueza que do mal depende.
[...]
Estando aqui, como trovão com raio,
Rompe a guerra estragando de repente
A cabeça do estado no mês de maio,
Infeliz ao repouso do Ocidente,
Sobressalto cruel, mortal desmaio,
Vai perturbando a paz de gente em gente
Branca, negra, gentia, moça e velha
Toda se espanta, e toda se aparelha.145
Vejamos as notícias que corriam desta lusa América e as facilidades que achou a Nova
Companhia para dela se apoderar.
AUMENTOS DO BRASIL
Aumentara sem dúvida, de Norte a Sul, esse Brasil de canaviais à beira-mar, de engenhos
grandes como aldeias, de vilas fortificadas em quatorze capitanias, das quais seis
continuavam de senhores particulares e oito pertenciam à Coroa. Falam melhor as cifras.
Os dízimos de três (Bahia, Pernambuco e Itamaracá), arrecadados em 1584 por 30 mil
cruzados, valiam, em 1609, 115.500. 150 Andavam em 81 mil, em 1614.151 Segundo o Livro
que dá razão do Estado do Brasil — de Diogo de Campos Moreno — podia a renda chegar
a um milhão, pois em 1602 “se arrendou todo o Estado junto em 105 mil cruzados e neste
ano de 1612 se arrendou só o governo de D. Diogo de Meneses em 125 mil”. De 44 mil era
o rendimento para el-rei, da Bahia, com as capitanias do Sul.152
O período da transformação situa-se, pois, entre 1580 e 1620. Havia em 1580 uns 117
engenhos. Agora (1618 ou 20) 235, no cálculo de Frei Luís de Sousa; um pouco mais tarde
— conforme o Códice de Castelo Melhor — 363.153
No ano de 623 havia entre o Rio de São Francisco e o Rio Grande, nas capitanias de Pernambuco e Paraíba, cerca de
137 engenhos, dos quais apenas 10 produziam 70 mil arrobas de açúcar, que somavam 3.500 caixas, pois cada caixa
continha 20 arrobas
Exagerou Pedro Teixeira Albernaz, a quem, em 1622, mandara el-rei descrever a costa
portuguesa: “Ha habido tiempo (em Viana) que echara a la mar doscientos navios que
venían cargados de azúcar y otras mercancías”.157 Entre 70 e 200, fiquemos com o
primeiro número, que se harmoniza com os do Códice de Castelo Melhor, que adiante
reproduzimos.
Substituía-se com isto o antigo sistema da moenda horizontal de dois rolos, menos
produtiva, ao tempo em que se descobria o processo de branquear o açúcar dando-lhe
superior qualidade. O que se fez “por experiência de uma galinha, que acertou de saltar
em uma fôrma com os pés cheios de barro, e ficando todo o mais açúcar pardo, viram só o
lugar da pegada ficar branco”. Continua Frei Vicente:
Por serem estes engenhos de três paus, a que chamam entrosas, de menos fábrica e custo, se desfizeram as outras
máquinas e se fizeram todos desta invenção e outros muitos de novo; pelo que no Rio de Janeiro onde até aquele
tempo se tratava mais de farinha para Angola que de açúcar, agora há já quarenta engenhos, na Bahia 50, em
Pernambuco cento, em Itamaracá 18 ou 20, e na Paraíba outros tantos.160
COMÉRCIO E RENDAS
O valor do comércio era por isso de 2 milhões de escudos na Bahia — na década de 1620.
Pernambuco valia mais: 2.500.000. Seguiam-se Paraíba (600 mil), Itamaracá (300 mil), Rio
de Janeiro (200 mil), Espírito Santo (60 mil). Carregavam anualmente, no Recife, 120
navios de 120 toneladas, na Bahia 80, somando 4.500.000 escudos a exportação dessas
duas capitanias.161
Em 1607 dava-se a receita do Brasil como menor que a despesa 351$867.162 Em 1628,
consoante Frei Luís de Sousa, os gastos alcançavam 59:487$164.163 Não informa quanto ao
rendimento.
Mas por Frei Nicolau de Oliveira sabemos que em 1615 fora de 54:400$000.164
Representava mais do que a Índia! Porque somente das três capitanias do Norte iam para
a metrópole
passando de quinhentas mil arrobas de açúcares que pagavam [...] de direito na alfândega de Lisboa, o branco e o
mascavado a 250 réis a arroba, e as panelas a 150 réis [...] de que, feita a soma, vem a importar à fazenda de Sua
Majestade mais de 300 mil cruzados, sem ele gastar nem despender na sustentação do Estado um só real de sua casa,
porquanto o rendimento dos dízimos, que se colhem na própria terra, basta para sua sustentação.165
Ou como diz Frei Nicolau de Oliveira: só para Lisboa iam todos os anos 25 mil caixas de
açúcar, fora encomendas particulares, de três e quatro arrobas;166 e “deste açúcar se paga
el-rei na saída do Brasil a 10% exceto aquele que vem por conta própria dos senhores dos
engenhos. E aqui pagam de direitos 20%”.167 A Coroa começava a reembolsar-se dos
gastos e prejuízos da América.
CRISTÃOS-NOVOS
Percebe-se por que Moerbeeck apresentou aos Estados-Gerais aquele sugestivo plano de
ataque sucessivo à Bahia e Pernambuco.172 Esclarecera-se com aventureiros do porte de
Francisco Duchs — o prisioneiro, que Martim de Sá tratara humanamente — acerca das
condições materiais e religiosas da colônia. Dele nos fala Frei Vicente do Salvador (a
propósito do desafio de Francisco Padilha durante as escaramuças, o cerco). “Desafiava o
capitão Francisco, que era o mais conhecido, por este (como já disse) é o que tomou
Martim de Sá no Rio de Janeiro e o mandou o Capitão-mor Constantino Menelau de lá a
esta cidade, onde esteve preso muito tempo”.173 Foi o guia da expedição de 1624. Na
rapidez com que se rendeu a praça, sem resistência seria, podemos ver o desabalado
derrotismo dos cristãos-novos que neutralizou a valentia do governador e entregou tudo à
discrição do inimigo.174 Assim em Pernambuco, seis anos depois.
A EXPEDIÇÃO
Diogo de Mendonça Furtado foi advertido a tempo,176 tanto que preveniu Martim de Sá
e chamou às armas os moradores do recôncavo, que se lhe apresentaram com agregados,
negros e índios. A demora da armada, na Ilha de São Vicente, descoroçoou-lhe os planos.
Em maio (quatro meses depois da partida dos navios, segundo as notícias de Holanda), já
não parecia crível que se destinassem à Bahia. Os capitães do recôncavo voltaram para os
seus sítios, encorajados, nesse ceticismo, pelo bispo, tão certo, como eles, de que o rebate
fora falso.
TOMADA DA BAHIA
A fortaleza nova sustentou o fogo enquanto lhe foi possível, socorrida de Lourenço de
Brito e Antônio de Mendonça e sua companhia, também muito desfalcada pelas
deserções. Retiraram-se os portugueses, deixando treze mortos e levando ferido o bravo
Lourenço de Brito. Pieter Heyn apoderou-se daquela situação e encravou as peças,
enquanto os navios bombardeavam a cidade, para aumentar-lhe o pavor da investida
desigual e imprevista. Uma bala de canhão matou o rico Pero Garcia na sua janela.179 Pelas
ruas circulou o terror pânico. Os holandeses já estavam no Mosteiro de São Bento,
defronte da porta da praça, mal sustentada por alguns soldados que se aproveitaram da
noite — noite confusa e aflita — para fazerem como os outros, largando os postos.
Fugiram todos. O bispo, que se reconciliou com o governador nessa triste manhã, e lhe
ofereceu uma companhia de clérigos para receber o invasor à mão armada, achou
preferível consumir as sagradas espécies da Sé e, sem tempo de esconder-lhe as alfaias,
refugiar-se no campo, com os cônegos e os servos. A gente boa, homens de haveres, os
escravos seguiram o mesmo caminho, aproveitando-se das portas do Carmo e do vale
abaixo da ermida de São Francisco. Atiraram-se para os lados de Itapoã.
O primeiro sítio de descanso da turba foragida foi a Quinta dos Padres; e porque
imaginassem em sua perseguição os hereges, arrancaram para o Rio Vermelho, cujas
águas rugiam em enchente que não permitia a passagem. Assim mesmo centenas de
pessoas — sempre supondo próximos os inimigos — tentaram vadear o rio, e morreram
muitas, na escuridão da noite, uma das mais terríveis de que houve memória na terra.
Ainda se chama “do Conselho” o monte no Rio Vermelho, junto do mar, onde os da
governação da Bahia se juntaram para combinar as primeiras providências defensivas.
REAÇÃO E ASSÉDIO
A orgia da soldadesca cessou dois dias depois com a chegada de Van Dorth, que assumiu
o governo da cidade.
Fora providencial para os fugitivos a retirada do bispo com o clero. Tinham chefe
natural: o velho D. Marcos, transfigurado pelo arrependimento. Responsável em parte
pela desgraça, como que se decidira a resgatá-la com a vida, num grande exemplo. Na
aldeia do Espírito Santo os oficiais da câmara (instalados aliás com o ouvidor-geral, na
fazenda dos beneditinos, em Itapoã) abriram as vias de sucessão de Diogo de Mendonça:
recaía em Matias de Albuquerque, governador de Pernambuco. Enquanto saía um
portador, para avisá-lo, “elegeu o povo e aclamou por seu capitão-mor” o bispo,183 que
nomeou coronéis Lourenço Cavalcanti de Albuquerque e Melchior Brandão.
Convocou os habitantes do recôncavo; vestiu uma armadura; e agiu com a energia dum
general experiente.
Foi o caso que o governador holandês saíra a ver a Fortaleza de São Filipe (em
Monserrate) e de regresso, afastando-se da escolta, com um trombeta por ordenança,
topou com os chefes de guerrilhas Francisco de Padilha e seu primo Francisco Ribeiro,184
que lhe acertaram com as escopetas. Derrubados Van Dorth e o trombeta, os dois capitães
os mataram à espada, momento em que chegavam os índios de Afonso Rodrigues, de
Cachoeira, que, como feras, se lançaram aos corpos, e lhes deceparam pés, mãos e cabeças.
Além do chefe perdido, significava a insegurança comum se ousassem sair do abrigo dos
muros — por toda parte salteados pelas escaramuças, em que se notabilizaram ágeis
cavaleiros com os negros e os tupis. Era — em regra — o assédio! Sucedeu a Van Dorth o
Major Albert Schouten, substituído no posto militar pelo irmão, Willem Schouten.
RECUPERAÇÃO DA CIDADE
RESTAURAÇÃO
Ordenou D. Fadrique que o cerco se fechasse do lado das Palmas (batendo de través
aquelas posições) e do Carmo, adiantando uma trincheira para defronte do colégio dos
padres.
Frei Vicente repete o cálculo de um curioso: para 2.510 balas lançadas pelos canhões
holandeses, 4.168 dos nossos... Aos primeiros, abalava a desorientação de comando.
Morrera, de seus excessos, Alberto Schouten, a quem substituiu o irmão Willem,
descuidado e tonto, incapaz de impor-se aos soldados, que, em 26 de abril, se
amotinaram, para escolher outro chefe. Willem Schouten foi ferido com uma alabarda e
aclamado, em seu lugar, o Capitão Johan Kijf. Debalde multiplicou-se este em
providências enérgicas. A armada de socorro não vinha e o bombardeio acabara por
desenganá-lo. Premido pelos comandados, consentiu em oferecer a capitulação. Tentou-a
mandando um tambor — em 29 de abril — com o pretexto de que ouvira a trombeta
espanhola como a convocar para conferência. D. Fadrique respondeu-lhe, que costumava
chamar pela voz dos canhões... Ato contínuo, os da bateria das Palmas se renderam aos
sitiantes.
Era o fim.
Enviou o General João Vicente de San Felice (que tanto avultou, nas campanhas
posteriores, com o título de Conde de Banholo) e Diogo Ruiz, para, juntamente com o
capitão-mor da esquadra Tristão de Mendonça e Lancerote da Franca,196 ultimarem a
captura dos vencidos. Foi tudo concertado a 30 de abril. Largariam armas, bandeiras,
petrechos e riquezas. Seriam repatriados nos seus navios com a roupa do corpo; não
combateriam contra Espanha até chegarem à Holanda; os oficiais conservariam as
espadas...
CASTIGOS E FESTAS
Começaram pelo desagravo da Igreja, com solene missa e sermão na Sé meio derruída;
terminaram com o castigo dos traidores. “Os portugueses que na cidade ficaram conosco
e pegaram em armas contra os seus próprios patrícios (diz Aldenburg), foram enforcados
no mercado verde junto do colégio”.198 À Senhora da Vitória Francisco de Barros — que
debalde tentara defender a Vila Velha — dedicou a capela que lá está.199 Muita literatura
se fez a respeito na Europa — em prosa e verso, sagrada e profana, graciosa e panegírica.200
Entre a comédia de Lope de Vega (El Brasil Restituido) e a tela de Frei Juan Bautista
Maino, que figura no Museu do Prado (apoteose de Filipe iv ao pé do triunfante Conde-
duque de Olivares),201 a restauração foi como um acontecimento mirífico, digno de
admiração universal.
DEVASTAÇÃO
Reergueu-se devagar a Bahia. Até 1645 a ameaça da guerra continuou a pesar sobre as
suas fracas defesas: e mal lhe chegava o tempo para recuperar-se da calamidade que a
devastara.
Foi um dos mais profícuos da colônia no século xvii. Organizou, fortificou, preveniu —
por nove anos, que coincidiram com a segunda invasão holandesa, a insegurança das
comunicações marítimas, a conseqüente desordem do comércio, nervosas providências de
defesa.
PIETER HEYN
Na batalha que se travou no Rio Pitanga, no dia 12, entre um daqueles barcos e os
flamengos, morreu — pelejando heroicamente — o Capitão Francisco Padilha.213
Dir-se-ia que Pieter Heyn fora ali vingar Johan van Dorth! Retirou-se definitivamente
em 14 de julho. Os lucros de sua expedição rapace e, sobretudo, a conquista da “frota da
prata”, que o celebrizou em setembro de 1628, rendendo-lhe 9 milhões de ducados,
compensaram os prejuízos de 1625 e habilitaram a Companhia das Índias para empresa
maior: a ocupação do Norte do Brasil.
ÍNDIOS REBELDES
Assentou, em junta, que a guerra seria dirigida por Antônio Rodrigues, de Cachoeira,
contra
entradas que faziam os índios levantados chamados da Santidade os quais por vezes deram nas fazendas e currais dos
moradores com mão armada, assim no Paraguaçu, no Aporá, e Maragogipe, como em Jaguaripe, chegando às casas
dos moradores, e mataram homens brancos, e negros, feriram outros, e mataram muito gado vacum, e ora
ultimamente deu em Jaguaripe [...] e destruíram o engenho de Nicolau Soares roubando-o de muita ferramenta.215
Como estivesse na cidade João Barbosa, prático das línguas indígenas da Paraíba e do
Rio Grande, foi incumbido de trazer dez casais de cada aldeia daquelas capitanias, que
repetissem a façanha do Zorobabé.
O capitão de Pernambuco, com efeito, fora ao reino dois anos antes pedir os
convenientes auxílios para segurar a sua terra, agora que a ameaça de inimigos era
veemente. Não obteve grande cousa: além daquela pólvora, doze artilheiros,218 cinqüenta
arcabuzes... Maior era o título (que se lhe conferiu em 24 de maio de 1630):
“Superintendente da guerra de Pernambuco e visitador e fortificador das capitanias do
Norte”.219 Praticamente, era nova divisão do Brasil em dois governos, entregue o
setentrional à influência do seu centro histórico, Olinda.
Sabia Filipe iv que os flamengos prefeririam desta vez o próprio Recife? Previa — isto
sim — uma guerra intermitente: tanto que ordenou só se fizesse daí por diante a
navegação em frotas protegidas por muitos navios de guerra, criando-se na Bahia Casa de
Contratação para taxar o açúcar, sobre o qual recairia o sustento desses comboios (carta
régia de 12 de julho de 1628).220 Ato contínuo, proibiu a vinda de embarcações menores
de 300 toneladas.221
A SEGUNDA INVESTIDA FLAMENGA
A Companhia das Índias Ocidentais preparou, em 1629, uma poderosa expedição para a
conquista do Norte do Brasil.
Já não lhe interessava a pilhagem: tinha vistas mais largas. Pretendia estabelecer-se
numa colônia de rendimento, desalojando os portugueses para o sul do São Francisco.
Não devia cobiçar a Bahia prevenida, fortificada e com permanente guarnição. Atraiu-a
Pernambuco — “mais rica de quantas ultramarinas o reino de Portugal tem”,222
indispensável para o domínio das capitanias adjacentes e a vigilância das comunicações
marítimas e, além disto, desapercebida para uma guerra verdadeira.
Nesse ano de 1629 recrudescera a luta com Espanha nas fronteiras holandesas, o que
retardou a partida da frota — de 35 naus, 15 iates, 13 chalupas e duas embarcações
capturadas, levando 3.780 marinheiros e 3.500 soldados. Morrera Pieter Heyn em
combate nas águas de Dunquerque. Por isto o comando foi dado a Hendrick
Corneliszoon Lonch. Os principais oficiais eram Pieter Adriaanszoon Ita, Joost van
Trappen, Jonkheer Diederik van Waerdenburch (este chefe da força de desembarque).
Largou a armada no verão; concentrou-se em São Vicente em dezembro; e a 13 de
fevereiro de 1630 defrontou Olinda.
Quatro dias antes chegara a Pernambuco um patacho de São Vicente com a notícia, que
mandava o governador da ilha, de que os holandeses não tardariam.223 Matias de
Albuquerque trabalhou febrilmente nos aprestos da defesa, ajudado do Capitão-mor
André Dias da Franca (que o substituíra na ausência), do Sargento-mor Pedro Correia da
Gama, enviado pelo governador-geral, e de outros soldados animosos.224 Fez rodear Recife
de uma linha dupla de paliçadas, obstruiu-lhe o porto afundando oito barcos, e estendeu
os canhões de que dispunha ao longo da praia de Olinda. Foram inteligentes as medidas
tomadas. Realmente o Almirante Lonch não pôde entrar o porto, que achou barrado.
Bombardeou de fora os fortes do Recife, enquanto Waerdenburch metia em terra ao norte
de Olinda (Pau Amarelo) uns 3 mil homens — em 15 de fevereiro — guiado na operação
por um judeu que morara muito tempo em Pernambuco, Antônio Dias Paparobalos.
Vibrou com isto o golpe de morte na resistência portuguesa.
O primeiro, em meio da confusão geral, tomou a si salvar armas e pólvora dos armazéns
de Olinda, e realmente, com imenso esforço, as conduziu em carros para fora da vila.
Com essas munições — disse Matias de Albuquerque — “me achei de quatro para cinco
meses, sendo contínuos os assaltos [...] e pelos efeitos se tinha por milagrosas tais
munições”. Também ao provedor se deve o voto, em junta de capitães, para a escolha do
sítio em que a defesa continuaria, como certificou o governador.231
Nos entrementes corriam ao socorro da costa o Padre Manuel de Morais com muitos
índios, Antônio Ribeiro de Lacerda, vindo de Ipojuca, Pedro de Albuquerque, de Vila
Formosa, Matias de Albuquerque Maranhão, da Paraíba. Os fortes sustentaram a luta até
2 de março. Capitularam honrosamente, obrigando-se a guarnição a não tomar armas
durante seis meses.232 Retirou o governador para um lugar eqüidistante de Olinda e
Recife, alto e defensável; denominou-o “Arraial de Bom Jesus”. Podia concentrar aí os
reforços do interior, dominar o rio e a várzea, e hostilizar com as guerrilhas, à maneira
dos da Bahia cinco anos antes, as partidas inimigas que se aventurassem pelos
descampados. Deu a Albuquerque Maranhão o comando da estância de Santo Amaro, a
Lourenço Cavalcanti a Goiana, a Luís Barbalho a Boa Vista (casas do rico João Velho
Barreto) e a Antônio Ribeiro de Lacerda a Ipojuca (Afogados).
A notícia da perda do Recife chegou a Portugal em 29 de abril. Não foi maior a emoção
causada pela desgraça de 1624. O governador do reino, D. Diogo de Castro, pediu a Filipe
iv fosse em pessoa assistir aos preparativos da armada restauradora: que se fazia mister a
influência del-rei, enquanto era tempo! Providência preliminar, expediu este a carta régia
de 11 de maio de 1630, a recomendar preces e penitências, pois via na calamidade sinais
de punição divina: e encolerizado contra os judeus, mandava ao Bispo Inquisidor desse
“exemplar castigo contra os hereges infiéis, com o castigo devido à sua perfídia”. Onde se
tem visto o espírito beato de Espanha deve descobrir-se também a represália política: em
Madri se considerava que os cristãos-novos conduziam os invasores pela mão... Feitas as
rezas, cuidou o governo de aprestar a esquadra, entregue a um chefe célebre: D. Antônio
de Oquendo, o “herói cantábrico”. Com ele vieram Duarte de Albuquerque, donatário de
Pernambuco, e o Conde de Banholo.
As perdas tinham sido igualmente pesadas: mas para o Brasil foi como se um irreparável
destroço tivesse mergulhado no oceano as quilhas portuguesas. Porque tomou Oquendo o
rumo das Antilhas, a fim de proteger a “frota da prata”; Thijssen reconduziu a salvamento
os seus barcos; e a próxima esquadra que mandou a corte de Madri chegou em 1635,
quando já nada restava do Arraial de Bom Jesus...
DEBILIDADE ESPANHOLA
De fato, a monarquia dos Filipes entrara numa fase de agitações e reveses que lhe
prenunciava a dissolução. Insurgiram-se os bascos contra as novas imposições. Esgotara-
se o tesouro régio. Praticamente as despesas eram feitas pelos comboios da América, que,
todos os anos, reabasteciam um erário exausto. Não havia dinheiro para manter em tão
apartadas regiões exércitos importantes: Flandres, Itália, Portugal, colônias. Agravavam as
finanças públicas os “juros” vendidos, os empréstimos, a burocracia, as classes
parasitárias, a deficiência agrícola, a falta de indústrias, os costumes suntuários, o
abandono dos campos. Sintomas de revolução alvoroçavam nobreza e povo na Biscaia, na
Catalunha, em Lisboa, Porto e Évora. O descontentamento crescera com os infortúnios
militares. Na hipótese de dominarem os holandeses o Atlântico, interceptando o comércio
marítimo, a ruína se completaria com a explosão dos regionalismos represados, o
desgosto da burguesia empobrecida. O resgate de Pernambuco tornara-se indispensável
para a política de Madri. Ao tempo em que destacara Oquendo para varrer do oceano os
flamengos, apelava para os contribuintes portugueses. Sem muito ouro não os
expulsariam! Houve grande venda de “juros”, autorizada em 20 de fevereiro de 1631.
Avocou a Coroa o monopólio do sal, de que não abriria mão mais tarde, pois se tornou
excelente fonte de renda. É de 6 de março de 32 a provisão mandando fosse o sal vendido
no Brasil sem aumento de preço pelo “estanco”, representado por uma junta em Lisboa e
pelo provedor das fazendas nas diversas capitanias.236 Mas, insucedida a esquadra de
Oquendo, reconhecia “a falta de caravelas e navios geral neste reino por se terem perdido
e tomado muitos”.237 Resignou-se o governo a permitir a vinda de navios estrangeiros, de
nações amigas, ao Brasil: e não soube atinar com os recursos para auxiliar Matias de
Albuquerque na sua estóica defensiva.
A CONQUISTA ESTENDE-SE
Não podendo reduzir o Arraial de Bom Jesus, fizeram os invasores por ampliar no litoral
a zona de ocupação.
Correu Matias de Albuquerque Maranhão ao Forte dos Reis Magos, no Rio Grande,
visado por uma expedição de Waerdenburch — logo em seguida — o que bastou para
impedi-la. O novo ataque foi ao Cabo de Santo Agostinho: mas aí estava Bento Maciel
Parente com sessenta soldados; socorrido de Francisco Gomes Pessoa, que comandava o
posto de Afogados, rechaçou o inimigo. Decidiu então Matias de Albuquerque, que não se
harmonizava bem com o Conde de Banholo, chefe dos reforços trazidos por D. Antônio
de Oquendo,240 destacá-lo para o cabo com o seu terço de 300 napolitanos. Banholo
levantou o Forte de Nazaré para resguardo do porto e pôs-se a vigiar essas praias, seguro
de que os holandeses desistiriam cedo daquela guerra morosa.
Outra não era a previsão dos defensores do Arraial. Empresa lucrativa, a do Brasil,
cessaria quando lhe faltassem os rendimentos que se pediam de Holanda. Os negociantes
queriam juros do seu capital, resultados prontos, boa presa. Não perseverariam numa
aventura perigosa que lhes devorasse as reservas e o principal. Em novembro, Olinda fora
incendiada e abandonada. Dir-se-ia que, arrasando a vila de Duarte Coelho, com belas
igrejas e casario antigo, derrubavam os padrões da colonização portuguesa, sepultados nas
próprias cinzas. Outro Brasil, o holandês, floresceria na Ilha de Antônio Vaz e no porto
do Recife! Neste, entretanto, havia apenas 576 pessoas civis e 421 negros...241 Uma
desolação! O método de campanha dos pernambucanos era o mais eficaz para esgotar a
paciência ao estrangeiro: sortidas, a coligação astuta dos moradores com os índios,
assaltos inesperados aos comboios que se arriscavam longe dos baluartes, guerrilhas e
escaramuças, em ferozes episódios de vingança...
E o remédio (escreveu a regência de Lisboa, em 16 de agosto de 1632) é irem as armadas de Vossa Majestade com
poder e força bastante a se defenderem no mar, e a sitiarem e tomarem a terra que ele, Matias de Albuquerque,
enquanto a vida lhe durar, assistirá a tudo o que naquela guerra se oferecer, suposto que com quase a metade dos
soldados enfermos e todos descalços e despidos, sem pagar de socorros, nem com que lhes poder dar de comer, sendo
impossível fazer, e sustentar guerra sem cabedal, e mais quando é tão trabalhosa, pronta e arriscada.242
PARAÍBA
Diz-nos Frei Luís de Sousa (1628): “Logo a capitania da Parayva (sic) muito importante
pelo porto e cidade Felipéa: tem já muytos engenhos, páo brasil, tintas, tabaco, algodão,
muyto linho e anil”.243 Subira a 600 mil escudos a estimativa do seu comércio anual (lê-se
de um papel do tempo): era a quarta parte da importância atribuída à Bahia...
À notícia do desembarque dos flamengos em Pau Amarelo mandou cem homens, sob o
comando de seu irmão Matias de Albuquerque Maranhão. Da Paraíba saíram as farinhas
que alimentaram o Arraial de Bom Jesus.245 Esperava, porém, um ataque formal.
Melhorou o Forte de Cabedelo ainda de madeira,246 e levantou outros dois na margem
oposta (Santo Antônio) e na Ilha da Restinga. Da frota de D. Antônio de Oquendo
recebeu, numa caravela, “duas companhias do Presídio Novo”,247 cujo capitão era Antônio
de Figueiredo de Vasconcelos. Assim se frustrou o primeiro assalto dos holandeses em 9
de dezembro de 1632. O Tenente-coronel Callenfels logrou apoderar-se das vizinhanças
de Cabedelo onde construiu uma trincheira.
Foi grande sucesso. O governo, em Lisboa, proclamou a sua alegria dando graças a Deus:
Por meio de sacrifícios e orações se Lhe peça que por sua misericórdia permita que esses sucessos se continuem e
levem adiante para que com seu favor se acabem de deitar daquelas partes os Hereges Rebeldes seus e meus, para que
as igrejas que têm ocupado tornem aos ministros católicos para se celebrarem nelas os mistérios da sua Santa Fé, e
assim ordenareis logo e do que nisso se fizer me dareis conta.249
RIO GRANDE
O Rio Grande era pouco mais do que a Fortaleza dos Reis Magos, ainda incompleta,
donde saíram os pioneiros da conquista lés-oeste. Em 1612 a cidade tinha
pobremente acomodados até 25 moradores brancos, fora da obrigação da fortaleza, e destes tem pelas roças e redes e
fazendas principiadas da capitania até 80 moradores, os quais (continua o Livro que dá razão do Estado) pediram
modo de governança e se lhes concedeu o ano de 611, pelo Governador D. Diogo de Meneses, o qual com parecer da
Relação elegeu o juiz, um vereador e escrivão da câmara, procurador do conselho e procurador dos índios.
CEARÁ
O ano de 1617 não fora propício ao patriarca. Aprisionado no mar pelos franceses,260
livrou-o o embaixador espanhol, e estava no reino em 1618. Recebeu mercê da capitania
do Ceará por dez anos (patente de 26 de maio de 1619), com dispensa de ir à Bahia prestar
juramento em mãos do governador.261 Em 4 de janeiro de 1621 o Conselho da Fazenda
julgou o seu pedido de um ordenado, que o ajudasse a viver. Gaspar de Sousa — com a
autoridade de antigo governador — opinou se lhe arbitrassem 300 a 400 cruzados, por ser
a capitania cousa de pouco proveito... Alegava Martim Soares em 22 de agosto: a
“povoação que vai fazer [...] por mandado de V. M. está muito falta de todos os
ornamentos para se poderem celebrar os ofícios divinos”; e pedia os objetos necessários e
a imagem de São Sebastião “que é orago ali”.262
MARANHÃO
Jorge de Lemos Bittencourt tivera licença (carta régia de 12 de abril de 1617), para pôr
ali duzentos casais de ilhéus. Trouxe-os a expedição cuja nau capitânia era de Simão
Estácio (que aportou em São Luís a 11 de abril de 19): homem de belas-letras, imprimiu
em Lisboa, em 1624, a “Relação sumária das cousas do Maranhão, escrita pelo Capitão
Symão Estacio da Sylveira, dirigida aos pobres deste reyno de Portugal” — de elogio ao
novo Estado e às riquezas que prometia.270
Segundo Fr. Antonio Vázquez de Espinosa (Compendio y Descripción de las Indias
Occidentales), ainda se apelidava de Todos os Santos a ilha, o forte tinha agora o
espanholíssimo nome de São Filipe e eram ao todo quinhentos vizinhos, os moradores
brancos que aí havia.271 Não se devia retardar, pois, a fundação do município, com a
eleição da câmara. Foram escolhidos primeiramente cinco eleitores (Rui de Sousa,
Capitão Pedro da Cunha, Álvaro Barbosa Mendonça, Sargento-mor Afonso Gonçalves
Ferreira e o Capitão Bento Maciel Parente). Os quatro primeiros eram da gente de
Bittencourt. Elegeram por sua vez juízes — Simão Estácio e Jorge da Costa Machado;
vereadores, Álvaro Barbosa e Sargento-mor Antônio Vaz Borba; Procurador Antônio
Simões. Instalou-se destarte a municipalidade maranhense.
Preferira el-rei destacar as novas conquistas do resto do Brasil, e criou, com as três
capitanias da costa lés-oeste, o “Estado do Maranhão” (carta régia de 13 de junho de
1621).
Francisco Coelho de Carvalho, mandado para esse governo, em 1623, ficara retido em
Pernambuco, a auxiliar a defesa, com Matias de Albuquerque: só se empossou em 3 de
setembro de 1625.
Tomara o alvitre de enviar do Recife um navio “com alguns velhos e mulheres” e quinze
franciscanos, cujo custódio se chamava Frei Cristóvão de Lisboa. Partiu em 12 de julho de
24. Dois frades detiveram-se no Ceará, a requerimento de Martim Soares. Chegaram os
mais a destino em 6 de agosto, e deram início ao convento que tanto avultaria na história
das missões. O custódio foi incansável. “Queimou muitos livros que achou dos franceses
hereges e muitas cartas de tocar”.272 E escreveu uma História de animais e aves do
Maranhão, estimável por seus numerosos desenhos.273
PAR Á
A história do Pará até 1621, quando Bento Maciel, provido no governo, lhe impôs uma
ordem estável, é caótica e brumosa.
Aliás não pudera afastar o perigo estrangeiro.279 Em 1623 estavam os holandeses de novo
fortificados em Muturu, nas margens do Xingu, e Gurupá. Para expulsá-los veio de
Lisboa, numa caravela, Luís Aranha de Vasconcelos (1623). A sua missão era mais
transcendente:
A descobrir e sondar o dito rio pelo Cabo Norte, por dizerem que por ali podia tirar a sua prata do Potosi com menos
gasto, e para este efeito lhe deu provisões para os capitães de Pernambuco, Rio Grande, Maranhão e Pará lhe darem
tudo o que fosse necessário. Em virtude das quais lhe deu Matias de Albuquerque uma lancha com 17 soldados e o
piloto Antônio Vicente (Cochado), mui experimentado em aquela navegação, lhe carregou na caravela 8 mil cruzados
de diversas sortes de fazendas por conta de Sua Majestade para a fortaleza do Pará que havia dois anos se não provia
com pagas nem algum socorro.280
No Pará, Bento Maciel lhe forneceu melhor lancha e trinta soldados. O comissário
franciscano Frei Antônio de Merciana mandou com eles o irmão, Frei Cristóvão de São
José, “tão respeitado dos índios que em poucos dias de navegação pelo rio acima lhe
ajuntou quarenta canoas com mais de mil frecheiros amigos”. Serviu-lhes de guia o
flamengo Nicolau — “que os índios haviam tomado no Pará, saindo-se de um forte que os
holandeses lá tinham”, e foi tão exato nos informes que se acercaram do reduto (Muturu),
defendido de centenas de índios aruãs (“gentio contrário ao nosso”). No primeiro
combate mais de duzentos foram mortos e o forte se rendeu. Capitulou a outra feitoria
holandesa, a dez léguas da primeira, e voltou Vasconcelos ao Pará, a fim de combinar com
Bento Maciel o ataque a dois fortes ingleses, mais abaixo. O capitão-mor já estava em
campo. Uniram-se os portugueses para a ação comum, destruindo ao mesmo tempo uma
nau e os acampamentos dos invasores.281
Em Belém refez o forte “de taipa de pilão” com baluarte e torreão, substituindo a obra de
madeira deixada por Francisco Caldeira de Castelo Branco. E a esperar uma esquadra
inimiga, pedira reforços urgentes para o reino. No Conselho de Estado falou o antigo
Governador Gaspar de Sousa — aliás pessoalmente interessado na conquista:
Que Bento Maciel não tem qualidade para naquele cargo ser respeitado, e assim convinha que a ida de Manuel de
Sousa d’Eça que lhe vai suceder se apressasse, por ser pessoa de qualidades e partes e bem recebido dos naturais,
levando em sua companhia munições, gente paga, e ordem para o capitão do Maranhão lhos tomar, de mais de que se
podia valer dos índios petiguares, que é gente de proveito para a conquista
enquanto Bento Maciel podia continuar a luta com holandeses ou ingleses, onde
estivessem.282
Manuel de Sousa d’Eça (que desde 1615 conhecia a região), investiu-se no cargo em 6 de
outubro de 1626.283 Retardou-se a combater os holandeses na Bahia. Revelara-se até aí
honesto e leal cavaleiro.
Não foi mais feliz do que Luís Aranha o Capitão-mor Luís do Rego Barros, primo do
governador: irritou os colonos, afrontou-lhes a rebeldia e teve de fugir para o Maranhão.
Elegeu o povo, em Belém, seu tio Antônio Cavalcanti de Albuquerque (que já governara
na ausência de Jácome Raimundo). Voltou porém Luís do Rego Barros: sublevou-se a
mesma gente, e desta vez o depôs. Passados dez meses — desvanecida a agitação —
recebeu-o pacificamente.288
CONQUISTA DO AMAZONAS
O reduto do Gurupá está para o devassamento do Amazonas como o colégio de São Paulo
para o do Tietê-Paraná.
Mas as excursões, rio acima, não foram de ordem a descortinar o alto Amazonas antes
que um acontecimento inesperado alarmasse os portugueses do Pará: a presença de
missionários de Quito, descidos dos Andes, nessa região virgem de contatos europeus.
A viagem, pois, foi-lhes inspirada pelo português: e apesar da oposição de Frei Laureano
de la Cruz, se meteram numa canoa cinco soldados castelhanos, Frei Domingo de Brieva e
Frei André de Toledo, com Francisco Fernandes e dois índios, a 17 de outubro de 1636.
Atingiram Guarupá em 5 de fevereiro de 37.
Comandava o forte João Pereira de Cáceres, que dispunha de vinte soldados. Sentiu a
importância daquela aventura, querendo que levassem em procissão a canoa à igreja, em
ação de graças; e remeteu-os, muito festejados, para Belém, donde passaram ao
Maranhão. Também Jácome Raimundo de Noronha — sucessor de Francisco Coelho —
não deixou sem conseqüências o feliz ensejo. Expediu para Madri Frei André de Toledo,
com cartas a el-rei, e designou o Capitão Pedro Teixeira para chefiar uma armada de
canoas que subiria os rios até onde fosse possível, demandando depois, sempre com Frei
Domingo de Brieva, as alturas de Quito, a reconhecer essa comunicação entre o Atlântico
e as minas do Peru. Se demorasse um pouco as providências para a viagem se arriscaria
Pedro Teixeira a não a realizar, pois em Espanha se teve medo à novidade e repugnância
por um itinerário que poderia lançar no Potosi os inimigos de Filipe iv...
A ameaça era comum e o inimigo esperado por toda parte. Renovam-se os velhos
baluartes, os capitães-mores convocam os moradores para a resistência ao corsário ou ao
tapuia seu aliado e as vilas conservam o aspecto fortalezado do tempo de Mem de Sá.
ESPÍRITO SANTO
Sabemos que Azevedo subiu o Rio Doce, deixando roteiro que no fim do século xvii
servia ainda aos sertanistas.296
Veremos como o Espírito Santo logrou novo donatário: e por pouco dinheiro (cap. xix).
RIO DE JANEIRO
Crescera o Rio de Janeiro. Embora arrendados apenas por 3 mil cruzados os dízimos, em
1609, subira a 200 mil o valor do comércio anual, e (com o novo sistema do fabrico, como
diz Fr. Vicente do Salvador), a 60 o número dos engenhos de açúcar.303
Julgara-se, é certo, que os holandeses prefeririam estabelecer-se na Guanabara. Ao saber
da expedição que armavam — em 1630 — mandara Matias de Albuquerque avisos a
Martim de Sá, que fortificou apressadamente o porto. Melhorou a bateria e os muros de
Santa Cruz e concentrou em São João, fronteira àquela, um sistema de três fortes (Santo
Inácio, São João e São Martinho).304 Podia com isto obstar à entrada da barra. Refazendo
os muros da cidadela (Morro do Castelo) garantia o núcleo principal da população, que,
em caso de perigo, contava com os dois mosteiros altos — São Bento e Santo Antônio —
para neles resistir.
DESCIDA DO MORRO
Justifica-se a tolerância régia: “Que os oficiais que em cada um ano se elegem na cidade
de São Sebastião do Rio de Janeiro para governo da cidade seja uma parte deles dos que
morarem na povoação e cidade que a princípio se edificou em cima”.315
SÃO VICENTE
Esse litoral ao sul do Rio de Janeiro era de dois donatários: D. Fernando de Faro e o
Conde de Monsanto. Pertenciam a este São Sebastião, São Vicente, Rio de São Francisco e
“terra alta de Santana” (Santa Catarina); e a D. Fernando: Ilha Grande, Itanhaém e
Cananéia. Vasto território, porém — à parte o núcleo vicentino pobre e de
desenvolvimento retardado, foi exatamente o litígio entre os donatários que lhe deu
notoriedade nos conselhos da Coroa: esperaria, para uma colonização intensa, que a
atenção del-rei se voltasse para a conquista da costa entre Paranaguá e a lagoa dos
Patos.318
AS TRÊS VILAS
As três vilas depois de São Vicente — Itanhaém, Iguape e Cananéia — não prosperaram
na primeira metade do século xvii. A primeira adquire importância em 1624: mas em
conseqüência daquela questão. Debatiam-na os descendentes de Martim e Pero Lopes de
Sousa — o Conde de Monsanto e a Condessa de Vimieiro. Teve ganho de causa
Monsanto; e a Condessa (representando a sucessão de Pero Lopes), passou a sede de sua
capitania (São Francisco do Sul e a Ilha de Santa Catarina) para Conceição de Itanhaém,319
assim com foros de principal, embora ornada de uma única igreja matriz. Os franciscanos
fizeram aí Convento de Santo Antônio. Iguape — que tinha também uma só igreja — se
animou no fim do século, com a jurisdição das minas de lavagem da Ribeira.320 Cananéia
limitava-se igualmente a uma igreja — ao tempo em que Paranaguá, ao sul, e Santos, ao
norte, floresciam em melhor fortuna.
OS PATOS
Abaixo ficava a costa dos carijós — guaranis — ou — entre o território dos arachãs (litoral
do Rio Grande) e Santa Catarina — dos Patos, com Paranaguá e São Francisco do Sul,
baías freqüentadas pelos barcos castelhanos, e Laguna, onde chegavam os traficantes, à
procura do índio Tubarão, péssimo sujeito, como diz, em 1605, o Padre Jerônimo
Rodrigues.321 Tubarão reatou o comércio de escravos do Bacharel de Cananéia,
contemporâneo das primeiras expedições. Parecia-se com o dos negros de Guiné no
regímen de resgates, no engodo ou na violência que sofriam os cativos, e na forma do
transporte marítimo. O jesuíta estranhou “haja religiosos que preguem no púlpito que são
os Patos gordos, e que bem se podem comer, e que haja prelado que mande cá navio a tal
resgate”.322
Em Laguna instalaram a sua missão por dois anos os padres empenhados na catequese
dos carijós e na repressão do tráfico. Mas não puderam com eles; e deixaram para mais
tarde o prosseguimento do seu piedoso trabalho. Em 1631 obteve Martim de Sá que o
Padre Antônio de Matos, provincial no Rio de Janeiro, destacasse os padres João de
Mendonça e Francisco de Morais, “para irem à missão dos Patos e Rio Grande, a descer
índios para as aldeias do Rio de Janeiro”.323
SANTOS
Fora do alcance dos canhões de tantos corsários que rondavam o oceano, representava,
em 1605 ou 1609, o receio dalguma agressão semelhante à de Cavendish: aliás o
aparecimento de Joris van Spilbergen, em 1615, defronte da vila que o recebeu com
heróicos propósitos de resistência — justificou a cautela.325 Diferente era a situação em
1640, quando — vindo da Bahia — Frei Manuel de Santa Maria lançou os fundamentos
do Convento de Santo Antônio, rente à água. Os beneditinos cuidaram de fazer, nas
proximidades, o seu mosteiro, em 1650.326 Demonstravam confiança; fixavam a povoação;
juntavam-lhe galas espirituais. Esse progresso interrompeu-se em 1665: quando a
epidemia de bexigas (que correu o Brasil litorâneo) matou um terço da gente santista, “a
ponto de ser fechado o caminho do mar e interrompida oficialmente a ligação de Santos
com São Paulo”. Passou a peste. Declinou também a vila — diminuída na lavoura,
empobrecida no comércio — em proveito das forças novas que então remodelaram a
fisionomia da colônia: o deslocamento para as minas de Paranaguá, o incremento das
expedições sertanistas, a mudança de numerosas famílias para as margens do Paraíba, o
ciclo do ouro.
O GRANDE DESERTO
Há documento, talvez da pena do Padre Vieira, que dá conta do vazio da terra — tão
poucos eram os portugueses no isolamento de suas cidades e de seus arraiais. Vinha na
frente a Bahia com 3 mil moradores brancos e o seu presídio enorme, de 2.500 soldados:
uma praça de armas. Tinha o Rio de Janeiro, para 2 mil moradores, 600 soldados; o
Maranhão reduzia-se a 400 habitantes; no Espírito Santo contavam-se 500; em São Paulo
não passavam de 700; chegavam a 200 em Santos; em São Sebastião, quando muito, 150;
Porto Seguro e Ilhéus davam cinqüenta, cada uma dessas capitanias humildes; podia-se
dizer próspera, Cananéia, com uma centena; mas definhava São Vicente, com vinte...327
JESUÍTAS NO PARAGUAI
Na bacia do Paraná formara-se a este tempo um novo valor social: a obra jesuítica de
organização e doutrina do gentio guarani.
Surgiu sem alarde esse império religioso cujas origens estão na viagem que, à custa do
Bispo de Tucumã, empreenderam os primeiros missionários em busca do sertão
paraguaio.
O prelado não pudera prever o progresso da catequese, tal como a orientaram os padres
Salóni, Ortega e Filds, levando ao Guairá a experiência das “reduções” da Bahia.328 Para
estes devia ser uma surpresa a facilidade com que se lhes submetiam os índios, a riqueza
dos seus campos, a adesão dos principais ao ensino brando e hábil dos sacerdotes
favorecidos das autoridades espanholas: o Adelantado Don Juan Torres de Vera, que os
recebera em 1588, Hernandarias de Saavedra, que os apoiou...
Duas cidades havia na “região de Guairá”: Ciudad Real (fundada em 1557, por Rui Dias
Melgarejo, na boca do Piquiri) e Vila Rica do Espírito Santo (criada pelo mesmo
povoador em 1570, na terra dos ibirajás, sessenta léguas adiante).329
Segundo o autor de La Argentina cerca de 200 mil índios habitavam vales, montanhas e
campos em torno de Vila Rica. Ambas as localidades arrastaram existência medíocre e em
1601 possuíam entre 50 e 100 moradores brancos. Decerto as alimentava o trânsito de
mercadores que demandavam Santa Catarina, vindos do Peru, fugindo ao itinerário de
Buenos Aires, mais longo, e indesejável dos que tinham por que se ocultar aos agentes do
fisco: os “peruleiros”. Os jesuítas nada quiseram das duas pobres cidades. Em 1603 alguns
soldados de Vila Rica visitaram São Paulo...330
Os padres Cataldino e Maceta, em 1610, foram construir a sua primeira aldeia, com a
invocação da Virgem de Loreto, no Paranapanema, confluência do Pirapó, onde,
virtualmente, terminava, ao sul, a campina paulista. Logo abaixo, a um quarto de légua,
fundaram San Inácio (1610). No ano imediato os padres Antônio Ruiz de Montoya,
natural de Lima, e Martín Javier Urtazu se uniram aos dois outros, e a zona das missões se
alargou pelos vales do Ivaí (Huaybay), Pirapó e Tibagi (Tibaxiba):331 era a ocupação
metódica.
O PRIMEIRO CHOQUE
Se a colonização espanhola subia em direção aos pinhais de São Paulo, conduzida pelos
missionários, em forma tranqüila, a expansão portuguesa descia até Guairá, impelida pela
cobiça dos apresadores de índios, cujo trabalho fora facilitado pela própria catequese.
Bem medíocre era a vila, cujo único edifício importante — claustro e templo —
pertencia aos padres que a fundaram. Crescera, com a chegada de frades do Carmo em
1591 e beneditinos em 1598. Mas a matriz continuava então de varas e palma,338 como um
largo tejupar, em contraste com a decência e largueza da igreja da Companhia.
“Era tão pequena que o edifício da cadeia, ficando junto ao Convento de São Francisco,
já se achava fora das ruas públicas. [...] Ocupava a área contida pelo colégio dos jesuítas,
hoje Palácio do Governo, pelos conventos de São Bento, São Francisco e Carmo”.339 Não
admira que Itu, Parnaíba e Taubaté disputassem por vezes a São Paulo (até 1720), a
primazia, de riqueza e cultura, naqueles tempos de dispersão “bandeirante” e simplicidade
vilareja.
Estimou um espanhol, que por ali passou em 1682, em “duas centenas de fogos” a
população de São Paulo, sendo as “habitações construídas à moda dos índios, e no meio
das quais avultavam as taipas do colégio e as da matriz e do Senado da Câmara, que ainda
estava coberto de palha”.340 E o Padre Vieira, em 1695: “Os ditos moradores” em todo o
distrito de São Paulo “são mais de dois mil”.341
PARNAÍBA E TAUBATÉ
O tipo feudal dessas prevenções, o seu caráter de lutas tribais, comandados os partidos
por bravios patriarcas — documenta-se no caso célebre de Pires e Camargos.
PIRES E CAMARGOS
Aludia ao latente estado de revolta — que no episódio dos Pires e Camargos pusera de
manifesto o poder das famílias desavindas: divididas por um ódio selvagem, porém
prontas à resistência comum contra os magistrados prepotentes, os jesuítas que falavam
da liberdade do gentio e os capitães-mores que pretendessem obstar-lhes as “bandeiras”
que o “desciam”.
Começara a guerra das duas famílias em 1640. No ano seguinte Pedro Taques (cunhado
de Fernão Dias Pais) foi morto por Fernão de Camargo, o “Tigre”. Os da parcialidade da
vítima se retiraram para Parnaíba em hostilidade aberta, não só à gente inimiga, como à
Vila de São Paulo.352 Reavivou-se a questão em 1653, em situação inversa: os Camargos
tiveram de ir pedir justiça à Bahia, pois os Pires se apoiavam no ouvidor-geral do Rio,
João Velho de Azevedo. Depois de ouvidor da vila, José Ortiz de Camargo obteve do
governo-geral ordem para ser reempossado e surgiu em São Paulo com “muita gente
branca armada além do gentio em armas”. Os jesuítas, com os demais “prelados religiosos
dos mosteiros” — num termo de concerto e composição, em 9 de janeiro de 1654 —
serviram de mediadores, para que retomasse o cargo, mas respeitando os “capítulos de
correição” deixados pelo ouvidor-geral (amigo dos Pires). Quem não concordou foi o
ouvidor-geral. Voltou zangadamente a São Paulo, abriu devassa sobre os tumultos e
crimes da facção dos Camargos, e a remeteria aos juízes da Bahia — o que seria o mesmo
que os indicar à pena de morte — se não interviesse o bom senso do Conde de Atouguia.
Ouviu os procuradores dos partidos (o dos Pires era o letrado Francisco Nunes de
Siqueira, o dos Camargos o próprio José Ortiz) e decretou que as duas famílias rivais
elegessem número igual de eleitores para a câmara (provisão de 24 de novembro de 1655).
Escreveu também (2 de outubro de 56) palavras suasórias aos vereadores de São Vicente e
São Paulo. Clementes, porém firmes. Que se pacificassem! O remédio não podia ser mais
razoável. Pois o motivo de se renovarem sempre as querelas era o governo do município
— que nele servissem “tantos oficiais de um bando como do outro, para que com essa
igualdade cessem as inquietações que de a não haver se acenderam naquele povo”.353
Aparece então Salvador Correia diferente do que se afigurara até aí aos paulistas ciosos
de sua autonomia e de suas armas: mensageiro duma disciplina oportuna e quase
sentimental. No tratado de conciliação se dizia que à míngua de entendimento entre os
capitães e seus aliados caíra a
vila no mais miserável estado que se podia considerar, porquanto a maior parte dos moradores a tinham desamparado
e se iam metendo no sertão e matos, fazendo novas povoações e domicílios, vivendo sem sossego mui atrasados e
diminutos em seus cabedais e lavouras.
O COLÉGIO
Mas a Real Cédula desse ano, mandando respeitar a liberdade dos índios, os achou
dispostos a cumprir a todo custo o dever apostólico.
GUERRA DE CORSO
Recrudesceram entretanto, em 1623, as atividades sertanistas. “Que esta vila (São Paulo)
estava despejada pelos moradores serem idos ao sertão”...367 Já no ano seguinte o retorno
dos holandeses às águas sul-americanas os obrigava a atender à defesa de Santos.
Folgaram com isto os guaranis. Até que lhes apareceu o governador do Paraguai, que fez
por terra comprida viagem, D. Luís de Céspedes Xeria.368 De passagem pelo Rio de Janeiro
se casara com uma sobrinha de Martim de Sá, filha do Capitão Gonçalo Correia de Sá que,
em 1626–32, governara São Vicente.369 Em Santos intimou os paulistas a não invadirem
terras de sua jurisdição. Mas o guia que lhe deram, para conduzir o comboio Tietê abaixo,
foi o famigerado Manuel Preto! Enlaçou-se destarte nos interesses portugueses e não fez
bom semblante aos jesuítas, que disto o acusaram. Empossou-se em Ciudad Real, a 8 de
novembro de 28. Logo, em carta para Madri, denunciou as atrocidades dos paulistas, e
como lhes temia a arremetida desdenhando as ordens do seu governo: “Lo saben y no lo
remedian”. D. Luís protegia-os — redargüiram os padres, lembrando ter ele recebido em
dote um engenho de açúcar, para o qual mandou logo centena de índios... Manuel Preto e
André Fernandes — (fundador de Santana de Parnaíba em 1625)370 que fora levar-lhe a
esposa até Guairá, em 1628, cometeram incríveis atentados contra as “reduções”. A
viagem de D. Vitória de Sá ao Paraguai — disseram os jesuítas — fora pretexto para estes
desaforos. Além de Fernandes, acompanhou-a
um primo da dita sua mulher, cavaleiro do hábito de Santiago, chamado Capitão Salvador de Sá e Benavides, o qual
trouxe mais de 30 soldados portugueses e dois frades com quem passou para a província do Rio da Prata com ciência e
consentimento do Governador D. Luís de Céspedes e o dito Capitão Salvador de Sá e sua prima vieram pelo rio
chamado Anembi sair nas reduções que têm os padres da Companhia de Jesus, donde fizeram a viagem até esta cidade
(Assunção).371
DESTRUIÇÃO
Uns novecentos brancos e 3 mil índios arrojaram-se de São Paulo “com bandeiras, como
se fossem levantados contra a Real Coroa”, dirigidos por Manuel Preto (“autor de todas
essas malocas”, disseram os padres373 e pelo português Antônio Raposo Tavares, cujos
principais ajudantes eram Antônio Pedroso, chefe da vanguarda, e Salvador Pires, da
retaguarda, Pedro Vaz de Barros, já nosso conhecido, Brás Leme e André Fernandes). Os
melhores homens da vila: dois vereadores, o procurador do conselho — a câmara em
peso! — filho e genro do ouvidor de São Paulo e Santana de Parnaíba, o respeitável
Amador Bueno da Ribeira, a quem D. Luís de Céspedes intimara a proibição dessas
incursões “de manera que en San Pablo, fuera de los viejos que por su vejez no podían ir,
apenas quedaran veinte y cinco hombres que pudiesen tomar armas”. Cruzaram o Tibaji
em 8 de setembro e acamparam atrás de paliçadas perto da aldeia de Encarnación.
Detiveram em seguida um grupo de catecúmenos, que colhia as suas folhas num erval, e
não os entregaram ao Padre Antônio Ruiz, que saíra a reclamá-los. Reuniram os padres
2.200 índios e se puseram a parlamentar, arrastando-se as discussões, sem um ato formal
de guerra, até 30 de janeiro seguinte. Agravou a situação o homizio dado pelos religiosos a
um “cacique” fugido do campo paulista. Um troço de mamelucos queimou a missão do
Padre Mola (San Antonio) e levou-lhe uns 2 mil silvícolas. Foi o sinal para piores
desatinos. Em 23 de março tomaram San Miguel, abandonada pelos padres, e logo Jesus
Maria, a ferro e fogo, insultando os sacerdotes, violando as igrejas, roubando tudo.
Em São Paulo, evidentemente, nada podiam fazer os dois religiosos, que viram,
consternados, a distribuição dos novos escravos pelas pessoas principais, e o próprio
governador, intimidado entre os sertanistas ufanos.374
IMPUNIDADE
Diogo Luís de Oliveira não mostrou boa vontade aos jesuítas. Confirmou a opinião de D.
Luís de Céspedes, que nenhum auxílio dele recebera para a sua viagem. Dizem que lhes
deu cartas, para que os mamelucos não voltassem a cometer os crimes habituais, porém
como não tivessem efeito, se recusou a ratificá-las, deixando-os impunes.376 Junta a
indiferença da Bahia à cumplicidade do Paraguai (D. Luís de Céspedes não socorreu as
missões nem perseguiu os invasores) — era como se gozassem os paulistas de liberdade
irrestrita.
Praticamente houve uma expansão territorial, partida de São Paulo, que empurrou a
gente de fala espanhola para a região dos Tapes (ou Missões, nome que conserva): e a área
de exploração sertanista se ampliou, com os campos outrora compreendidos na
“província de Guairá” e o “sertão de Patos”, seguidamente cruzados — após a destruição
de Ciudad Real e Vila Rica — por Fernão de Camargo e Luís Dias Pais (1635 ),381 ainda
Antônio Raposo (1636), Francisco Bueno (1637), Fernão Dias Pais e Domingos Cordeiro
(1638). Dessas expedições em direção ao Uruguai diremos adiante.
O conflito entre padres e mamelucos reavivou-se com o êxito da missão de dois — jesuítas
Montoya e Diaz Taño — a Madri e Roma, em 1637–9.
Certo, o governo espanhol não se comoveu somente com as razões apostólicas. Temeu
que os paulistas fossem adiante e pusessem em perigo os caminhos do Peru pelo Paraguai,
como, na década anterior, a presença de holandeses e ingleses no Amazonas ameaçara,
pelo Norte, as comunicações do Potosi. Em 1638, desviando-se dos Tapes, alcançaram a
província do Itatin, a oitenta léguas de Santa Cruz de la Sierra. Ponderou o Conselho de
Índias:
Si los cristianos nuevos de que esta sembrado todo el Perú, se dan la mano con los que ansí entran por el Itatin (judios
portugueses, holandeses y franceses) y estos com los indios chiriguanaes, la provincia del Paraguay está arriesgada,
pues de cuatro ciudades que tenía le faltan las tres y sólo queda la Asunción cuyos moradores apenas pueden
defenderse de los guaycurues, indios de guerra de sus contornos.382
Propôs medidas drásticas, sem esquecer a Inquisição, que devia tomar contas aos
“cristãos-novos”. El-rei contentou-se com muito menos. Aliás a restauração de Portugal,
no ano imediato, inutilizou as providências previstas, ou em começo de execução. O
Padre Ruiz de Montoya conseguiu a Real Cédula de 16 de setembro de 1638, que
autorizava o armamento do gentio aldeado, a fim de resistir — em ordem militar — aos
mamelucos.383 Ao Padre Taño não foi difícil obter de Urbano viii o Breve que revalidou,
no Brasil, a Bula de Paulo iii em favor dos índios peruanos — para que fossem
excomungados os escravizadores...384 Ambos os diplomas eram da maior importância.
Sobretudo o que permitia a arregimentação, em forma de guerra, dos catecúmenos, até aí
surpreendidos no seu ingênuo pacifismo pelos sertanistas.
As “milícias guaranis”, que falaram à imaginação dos filósofos do século xviii, surgiram
assim: lícitas, defensivas, confiadas ao senso organizador dos religiosos, logo temíveis,
pelo número e pelo valor.
É imaginar a emoção causada no Rio de Janeiro pela presença do Padre Taño, munido
do Breve pontifício.
Salvador Correia obstou a que a populaça atacasse o colégio, e, sob os seus auspícios, se
concertou o modus vivendi, segundo o qual os jesuítas só se imiscuiriam nas aldeias,
fechando os olhos aos índios que os moradores tivessem em casa, e exculpando-lhes as
injúrias.385
Juntaram-se em São Vicente os procuradores desta, e das vilas de São Paulo, Santos,
Santana de Parnaíba, Santana das Cruzes, Nossa Senhora da Conceição, Nossa Senhora
das Neves do Iguape e São João de Cananéia — e depois de acerbas queixas dos padres,
sem lhes esquecer o sebastianismo (“com juramentos que temos outro Rei vivo”),
concluíram por votar a expulsão “com protestação de nunca mais os admitir nela” num
prazo de seis dias.386
O golpe foi terrível para os sucessores de Anchieta contra quem se levantavam os filhos
da terra: Amador Bueno, Fernão Dias Pais, Prados, Lemes, Pires e Camargos. Quiseram
iludir a intimação. Houve nova “junta” em 7 de julho, e a 10 e 13, com tal alvoroço que o
Padre Reitor Nicolau Botelho deixou os bens do colégio (“currais, como fazendas,
moinhos, vinha e mais bens”), com um procurador (o vigário Pe. Manuel Nunes) e se
passou com os companheiros para a beira-mar, onde não prevaleciam as mesmas
hostilidades.
Os mamelucos não agiam às tontas. Certos da repressão, que não demoraria, foram
além. Negando qualquer conciliação com os missionários, na vereação de 17 de maio de
41,
requereu o dito Povo que se não mandassem farinhas nem mantimentos alguns ao Rio de Janeiro, e se fechasse o
caminho do mar, e comunicação que havia com a Vila de Santos, e se notificassem os senhores dos moinhos com
graves penas não moessem farinhas.
El-rei, é verdade, ordenara que se devolvesse aos padres o que era deles.390 E, de resposta
às reclamações dos paulistas, nomeara Salvador Correia governador e administrador-geral
das Minas de São Paulo (24 de setembro de 1643), para aquietá-los.391
Não esperaram a autorização régia para se armarem. O Provincial Pe. Diogo de Boroa
teve a iniciativa da primeira organização defensiva:
Deviam os padres mobilizar os seus neófitos, porquanto, diziam, não somente perigava a liberdade dos índios das
reduções, seus bens e sua vida, senão também a autoridade dos ministros do Evangelho, a qual não podia consentir
semelhantes devastações e pilhagens.
Deslocara-se o eixo das incursões do Vale do Paraná para o Paraguai e o Uruguai. Bateu
em retirada Manuel Pires — depois do fracassado ataque a São Francisco Xavier e São
Nicolau — deixando “mortos, feridos e afrontados a flor dos sertanistas de São Paulo e do
Brasil, inimigos declarados desta atormentada Cristandade e de seus doutrinadores”.399
INQUIETAÇÃO CONSTANTE
Não foram. Mais arrogantes se tornaram os paulistas com o ato do Marquês de Cascais,
donatário da capitania, que lhe transferiu a sede de São Vicente para a vila do planalto —
embora o governo-geral logo anulasse esse galardão.402 Não transigiam quanto ao índio,
braço de sua lavoura, lucro de suas “bandeiras”, pecúlio e ambição — na aventura
sertanista exacerbada pela procura das minas depois de 1674.
Fora dessa razão econômica — gostavam dos padres e não pretendiam largá-los.
Em 1684 a mesma câmara, infensa aos jesuítas, se comovia à idéia de que se preparavam
para sair da vila.
Os oficiais da câmara desta Vila de São Paulo que servimos este presente ano, os abaixo assinados com o bom deste
povo por nos haver vindo a notícia que vossas paternidades determinavam deixar este colégio para sempre, vimos a
esta casa do grande Patriarca Santo Inácio a requerer, como requeremos nós [...] que deponham o intento por serviço
de Deus porquanto se perderão as almas cristãs à falta de doutrina, crescerá a ignorância e a obsessão dos estudos,
ficará o gentio do Brasil sem a luz que a Companhia comunica.
As colônias americanas, por sinal, tinham a sua defesa no mistério que as envolvia,
dissimulando-lhes a geografia, os recursos naturais, os pontos fortificados e as povoações-
chave. Quem conhecesse (“saber de experiências feito”) esse segredo, cuidadosamente
preservado por espanhóis e portugueses, com facilidade lhes quebraria a resistência em
golpes rápidos. O exército inimigo carecia de “olhos”, para orientar-se no deserto.
Domingos Fernandes Calabar desempenhou o papel — incomparável — de guia e
conselheiro. Permitiu desembarques audazes, a tomada dos portos ao norte e ao sul da
capitania assolada, a desarticulação das guerrilhas, e, por fim, a vitória do estrangeiro.
CALABAR
Mandou devastar o litoral das Alagoas por seiscentos homens, embarcados em alguns
navios ao mando de Lichthardt: queimaram a Vila de Nossa Senhora da Conceição,
intentaram, sem sucesso, incendiar Santa Luzia (defendida pelo Capitão Antônio Lopes
Filgueiras, morto no combate), e regressaram com 250 caixas de açúcar e muitos toros de
pau-brasil.406 Tal êxito justificou mais larga jornada: a acometida do Rio Grande do Norte.
NA PARAÍBA
Menos feliz foi a segunda tentativa para a conquista da Paraíba. Esbarraram, mil
holandeses, na trincheira que fizera Antônio de Albuquerque, ajudado do Capitão
Lourenço de Brito Correia, apresado e solto tempos antes pelos invasores. Preferiram
tornar ao Cabo de Santo Agostinho. Provavelmente Matias de Albuquerque quis distrai-
los desse objetivo mandando Martim Soares Moreno tirotear com as avançadas do Recife,
para mostrar-lhes que estavam inseguros no próprio quartel-general. Mas não foi de
ordem a obstar a expedição. Desembarcaram em três pontos no cabo, apesar de
hostilizados vivamente de terra, e já por Matias de Albuquerque, que correra em socorro à
guarnição do Forte do Pontal de Nazaré comandada pelo Sargento-mor Pedro Correia da
Gama. Os flamengos não se arrojaram logo sobre esse reduto. Assentaram acampamentos
defronte, e cuidaram de avassalar a várzea de Ipojuca. Chegavam-lhes entretanto reforços
da Europa, com o Coronel Arciszewsky: graças às tropas frescas e bem equipadas podiam
desenvolver as operações em direção ao norte, visando aos pontos fracos da defesa —
experimentados na expedição anterior. Desta vez a Paraíba não se livrou deles.
Duas vezes esse valente Souto derrotou com os seus avisos os holandeses: nesta jornada
e, três anos depois, quando Nassau atacou a Bahia. Aí morreu, de espada em punho.
A esse tempo, destituído da chefia e obrigado a responder pelos reveses, que cobriam os
sucessos da sua campanha memorável, ia Albuquerque submeter-se em Lisboa a
demorado processo — do qual sairia desagravado pela parte grande que teve na
Restauração de Portugal.411
Resolveu abandonar a linha da costa, e, pelo sertão, voltou a Porto Calvo (19 de março)
onde se fixou, expedindo as guerrilhas ao mando de Francisco Rebelo, depois de
Henrique Dias, Camarão, João Lopes Barbalho, Sebastião do Souto e André Vidal de
Negreiros, em direção ao Cabo, aos arredores do Recife e à Paraíba, para que o inimigo
não tivesse repouso nos engenhos conquistados.
Veio Nassau.
UM ADMINISTRADOR: O CONDE DE NASSAU
Não se retardou.
Em 17 de fevereiro lançou sobre Porto Calvo417 3 mil soldados, 800 marinheiros, 600
índios e negros: a verdadeira ofensiva. Desconcertou-se Banholo. Para não se arriscar à
capitulação com toda a sua força, deixou na praça Miguel Giberton com uma guarnição,
expediu os melhores cabos para as margens do Comandatuba, a dificultarem a passagem
ao inimigo, e, sem o aguardar, bateu em retirada para Sergipe. Evidentemente abandonava
o campo e sacrificava Giberton: com treze dias de cerco este se rendeu honrosamente; e a
27 de março as vanguardas flamengas alcançavam o Rio de São Francisco. Entristeceu a
vitória do príncipe a morte, numa sortida, de seu sobrinho Henrique. Atingindo, porém,
o grande rio, dir-se-ia completa a conquista territorial: dera-lhe um limite, que podia ser
definitivo. Em Penedo fez construir o Forte Maurício.
Não perseguiu até São Cristóvão as tropas de Banholo em desordem, permitindo que se
recompusessem no caminho que de Sergipe ia ter à Casa da Torre; e deixou que a Bahia —
alvo subseqüente do seu ataque — se fortalecesse com este contingente veterano. O seu
revés, em abril de 38, resultou sobretudo desse erro, por onde começou o fracasso lento,
quiçá inevitável, do “Brasil Holandês”.
Por que não se fixou Banholo em São Cristóvão? Que importância se dava, a esta época,
à capitania real de Sergipe? Desbravada depois de 1590, tinha capitão nomeado pelo
governador-geral, muito gado e algum açúcar, salitre e algodão. Em 1609 o seu comércio
não aparecia na estimativa da costa do Brasil; mas três engenhos eram aí começo duma
colonização estável.418 Os rebanhos, entre o Rio Real e o São Francisco, constituíam-lhe a
riqueza dispersiva. Vaqueiros mamelucos, a serviço dos proprietários que residiam na
Bahia ou afazendavam junto à costa, antecipavam nos descampados — com os seus
“currais” — os núcleos dum povoamento tardo. Como no Rio Grande e na Paraíba,
tangidas as boiadas pelos “curraleiros” voltaria a terra ao abandono dos primeiros tempos
— quando atrás das “entradas” de caça ao gentio ficara a desolação da paisagem, ali e
acolá assinalada por uma “tapera”, de caboclos cujo rastro se perdera no deserto...
AUMENTOS DA CIDADE-CAPITAL
Advertido do perigo que corria a cidade, com os holandeses perto, e em sortidas pelo
litoral, mandou construir por Francisco de Frias uma trincheira, junto da ermida de Santo
Antônio, dalém do Carmo,419 um reduto no caminho da Vila Velha (depois “Forte de São
Pedro”), a vigia do Rio Vermelho, um “forte novo da praia”420 e, para a defesa da costa,
entre as vilas do Sul e a barra, o forte do morro de São Paulo.421 Criou o “Terço Novo”, em
1º de agosto de 1631.422
Fracos auxílios expediu para Pernambuco, por não dispor de mais de dois “terços” (este,
e o que deixara D. Fadrique de Toledo), insuficientes para a guarnição da praça.
Beneficiou-se ela — nos anos seguintes à ocupação do Recife — do preço alto do açúcar,
que fez aparecer no recôncavo uma série de novas fábricas. O comércio cresceu-lhe com o
desvio das frotas, do antigo itinerário de Pernambuco para a Bahia e o Rio de Janeiro. As
duas devastações de engenhos e canaviais, de Pieter Heyn, em 1627, e de Lichthardt, em
1610, não lograram abater essa economia florescente. Ressurgiu com rapidez. Estendeu-se
a toda a orla do golfo e penetrou os vales do Paraguaçu e do Jaguaripe. É de 1633, quando
Antônio Vieira dizia: “Uma das maiores escolas de Marte, que hoje tem o mundo, é a
nossa Bahia”423 — o convento franciscano de Sergipe do Conde.424 A fundação do
Convento de São Francisco do Paraguaçu — a duas léguas de São Tiago de Iguape — foi
deliberada em 1619.425 A prosperidade dos engenhos convizinhos e a caridade dos
moradores permitiam trabalhos desse porte, longe do núcleo urbano. Nem era só o açúcar
a fortuna da terra.
D. PEDRO DA SILVA
A manobra foi hábil. Desprezou o príncipe o antigo plano de investir a praça pela barra e
portas de São Bento, tropeçando nas obras de defesa: experimentou-lhe a resistência pelas
portas do Carmo, valendo-se do fácil acesso da montanha entre o Forte de São Filipe e
Água de Meninos, para ganhar ao mesmo tempo os altos fronteiros ao Colégio de Jesus e
o vale que deste lado separa das colinas à volta o núcleo urbano.441
Até o dia 20 ignoraram os portugueses o lugar do desembarque. Também se
desentendiam os capitães, reunidos por D. Pedro da Silva: para Banholo seria preferível
deixar que o príncipe tomasse a cidadela, para aí o encurralar, como em 1625; mas os
moradores se opunham, lembrando o prejuízo, das casas varejadas pelo herege, e como
estes se fortificariam, ao abrigo dos muros feitos para os afugentar... O sino da câmara
tocou a rebate. Talvez explodisse um motim. O Bispo D. Pedro da Silva e São Paio,442 o
governador e Duarte de Albuquerque apaziguaram os ânimos, prometendo que a cidade
se sustentaria.443 As tropas distribuíram-se em ordem a defender a trincheira em Santo
Antônio-além-do-Carmo: os veteranos de Pernambuco, o Terço Novo (do Mestre-de-
campo D. Fernando de Lodueña) e a gente de Luís Barbalho. O governador deu o
comando a Banholo. Na noite de 21 — após entrechoques de guardas avançadas — os
holandeses tentaram levar de vencida a trincheira. Advertidos por Barbalho, os nossos os
receberam com tal vigor que se converteu a arremetida num revés: duzentos ficaram no
campo...444 Mas o exército invasor caminhara ao longo da praia, conquistando os fortes de
Itapagipe e Novo (do Rosário), e entre 23 de abril e 2 de maio reconheceu o terreno
circunvizinho, para vibrar com segurança o golpe que podia ser decisivo. Não lograria
melhor êxito. Invencíveis nas guerrilhas, cercavam os seus chefes (o governador,
incansável nas suas providências, Banholo, Duarte de Albuquerque, Lourenço de Brito
Correia, os comandantes dos Terços, Lodueña, João de Araújo e Lacalche) famosos
“campanhistas” como Henrique Dias, Francisco Rabelo, Vidal de Negreiros, Camarão,
Sebastião do Souto, Barbalho. Este se fortificou numa elevação que protegia a estrada de
contorno por onde se vai à Quinta dos Padres (alto “do Barbalho”, desde então) e daí
observou o acampamento de Nassau.
A grande batalha, após muitos dias de bombardeio ineficaz,445 ocorreu ao cair a noite de
18 de maio.
A trincheira foi atacada pela escarpa de Água de Meninos e pela ladeira de Água Brusca.
Diz-nos o Padre Antônio Vieira:
Armada de infinita munição, de granadas e outros artifícios de fogo, que disparados incessantemente entre a
tempestade das cargas, alumiava a noite, atroavam o ar, e choviam raios sobre os que dentro e no alto da fortificação a
defendiam, presumindo os escaladores que, com estes aparatos de horror, sacudiriam dela os nossos, e franqueariam
os dificultosos passos por onde insistiam em subir, e pretendiam ganhar.446
Esse insucesso das armas de Orange pôs um paradeiro aos seus triunfos no Brasil. A
reconquista ia começar. Portugueses e espanhóis exultaram em júbilos patrióticos.
Assomou ao púlpito (13 de junho de 1638), para celebrar a glória dos soldados católicos,
um pregador moço e sábio que iniciara em 1634 no Recôncavo, a sua carreira de orador
sacro e pensador político: Antônio Vieira.449 A sua voz de insuperável eloqüência devia
repercutir na Europa, assegurar-lhe que o Brasil bem ou mal se libertaria sozinho dos
homens de outra fé: e com uma energia nova definia o espírito português — que no
Alentejo aprestava os homens bons para a revolução restauradora, prevista e inevitável.
É certo que, se mudasse de idéia, e deitasse na costa pernambucana a sua tropa, teria
acabado com o estado flamengo do Brasil. Mas ignorava os recursos de Nassau e o seu
roteiro fora traçado com seca exatidão. Surpreendeu-se — isto sim — da situação de
penúria em que achou a Bahia — ao assumir-lhe o governo em 23 de janeiro de 39.
Tomou-o, aliás, para o imenso trabalho de preparar a armada, apercebendo-a de tudo —
para o decisivo encontro. Pasmasse a corte!
Não havia “bastimentos”, nem em depósito nem a comprar, e nada do que a Vossa Majestade se tinha avisado
pertencente a seu real serviço; antes os soldados descontentes e por pagar, a Fazenda Real consumida e endividada em
mais de 15 mil cruzados, sem ter consignação de que me aproveitar, os armazéns sem armas, as fortificações
danificadas e caídas.455
Pediu gente para o Sul. Do Rio de Janeiro e de São Paulo lhe mandaram várias
companhias com alguns dos melhores cabos. Pela primeira vez iam medir-se os
sertanistas do planalto com o inimigo comum. Formavam uma boa tropa. Mas não
bastava.
Sobreveio então o desastre, infligido em parte pelos ventos contrários, em parte pela
audácia e habilidade do adversário.
Levava o Conde da Torre o plano de dar desembarque à tropa em Pau Amarelo — 2 mil
homens — que iriam sobre o Recife, enquanto os barcos lhe fechariam a barra,
estendendo em leque o bloqueio.
CATÁSTROFE
Caíram os retirantes sobre “800 flamengos e 400 índios, de que se degolaram mais de
quinhentos, na Goiana”, deram “numa casa-forte, a que os mais se retiraram”; no
engenho Salgado bateram 1.400, com furor incomparável; e abrindo caminho para as
Alagoas,470 rechaçaram os destacamentos sucessivos que ousaram tomar-lhes o passo.
O VICE-REI MONTALVÃO
Felizes sucessos consolaram os colonos, até aí tão castigados pela sorte adversa. O vice-
rei trouxera a fortuna! — festejou-o o jesuíta.478 Realmente, os “campanhistas” lograram
retomar o Rio Real em setembro. Falhara uma tentativa holandesa de ocupação de
Camamu, também o seu desembarque no Espírito Santo.479 Isto em outubro. Pois em
novembro
o incêndio das canas e assolação dos engenhos de Pernambuco;480 terrível guerra e a que mais desespera ao inimigo.
Em dezembro, embaixadores do mesmo neste porto a pedir tréguas, a oferecer partidos, a reconhecer a superioridade
de nossas armas, de que pouco antes tanto zombavam.
TRÉGUAS
O principal era a tranqüilidade, que ganhava o governador do Brasil holandês para a sua
obra administrativa, favoniando simultaneamente a diplomacia do seu país, empenhada
em separar Portugal da Espanha.
Vale a pena comparar com essa exclamação, de 1641, a sátira sebastianista de 1634, um
de seus primeiros sermões.486 “Em nome de Sua Majestade Filipe iv [...]. Viva pois o santo
e piedoso rei (que já é passado o ano de 40), viva e reine eternamente com Deus”.487 Que
na terra ficava “o invictíssimo monarca Filipe iv, o Grande”.488
Dois meses depois reconhecia com entusiasmo D. João iv e se preparava para pôr ao seu
serviço a mais engenhosa eloqüência que ainda floresceu na Igreja portuguesa!
D. JOÃO IV E A BAHIA
A ACLAMAÇÃO NO RIO
Em São Vicente, mal soube da novidade, o Capitão Luís Dias Leme aclamou D. João iv,
antecipando-se a São Paulo onde preponderavam influências dessemelhantes. Era “golpe
sensibilíssimo aos espanhóis que se achavam estabelecidos e casados na dita Vila de São
Paulo, para onde tinham concorrido não só da Europa, mas também das Índias
Ocidentais”,495 como os Rendons, seus parentes Buenos, outros aristocratas mais ligados a
castelhanos do Prata e do Peru do que a portugueses do litoral e de Lisboa. Sem maior
obstáculo, porém, anuíram os paulistas em 3 de abril.
O vereador mais velho Paulo do Amaral arvorou o dito pendão por três vezes, dizendo em cada uma Real, Real, Real
por el-Rei D. João o quarto de Portugal, respondendo a cada uma destas vozes todos os circunstantes com mil vivas e
júbilos.
O Capitão-mor João Luís Mafra presidiu à cerimônia com o vigário e a nobre gente,
como Antônio Raposo Tavares, o abade de São Bento, o guardião de São Francisco,
Fernão Dias Pais, Lourenço Castanho, João Raposo Bocarro.496
Disse o sermão gratulatório um frade franciscano, que em 1642 escreveu (da Bahia) a D.
João iv:
Achando-me presente à aclamação e juramento que por Vossa Majestade se fez na Vila de São Paulo, capitania de São
Vicente (aonde preguei o sermão daquele ato), tratando-se da instância que o castelhano havia de fazer sobre esse
reino, responderam muitos que, se quiser bulir com el-Rei Dom João nosso senhor, lhe tiraremos o brio com lhe
tomarmos o serro de Potosi. Ajunto a isso que ouvi dizer a um homem daquelas partes, grande sertanejo, que a
repartição que se fez no tempo do Imperador Carlos v à revelia de Portugal não foi direitamente pelo rumo, e ainda
assim fica parte do dito serro na Coroa de Portugal.497
Não sabemos se Frei Gaspar da Madre de Deus, que no-la referiu primeiro, narrou o
incidente segundo a notícia dessa patente, ou a tomou em abono do seu escrito. É possível
— em todo caso — que a “aclamação” de Bueno se tivesse dado não em abril, ao tratar-se
da aceitação de D. João iv, porém meses depois, durante o dissídio entre paulistas e
defensores dos jesuítas, que deixamos relatado. Foi uma revolução. Os moradores do
planalto interceptaram-lhe as comunicações com São Vicente e o Rio e prometeram
receber na ponta das armas Salvador Correia de Sá. Fizeram uma junta governativa, que
lhes dirigisse a defensiva, e é compreensível que, nesta extremidade, propusessem uma
solução radical: dariam a coroa ao mais venerável dos seus cabos, o honrado Amador
Bueno. Este — diz Frei Gaspar — vendo que se faltava à palavra leal e arriscava-se a
tranqüilidade comum, recusou com energia, e ante a coação, até ameaças e tumultos, se
refugiou no Mosteiro de São Bento, enquanto nas ruas lhe gritavam: “Viva Amador
Bueno nosso rei”.
O problema não era a rebeldia nativista, para separar São Paulo da América Portuguesa:
sim, a exclusão dos padres e a interferência do governador forasteiro, que os apoiava com
alardes temerosos. A pacificação — desistindo ele de repor com violência os missionários
— dissipou igualmente a agitação. E não se falou mais do estóico Bueno da Ribeira.
DESTITUIÇÃO DO VICE-REI
Sucedeu na Bahia uma alteração política semelhante às quedas de situação que se seguem,
nas cortes, à morte dos reis.
O Padre Francisco de Vilhena trouxera instruções confidenciais, em segunda caravela
que chegou à Bahia, para o caso de resistir Montalvão às ordens precedentes. De fato, dois
filhos deste tinham preferido ficar em Madri, fiéis a Filipe iv, e se temia que, a instâncias
deles e da Marquesa de Montalvão, o vice-rei, apoiado à guarnição espanhola, se
revoltasse contra a Restauração.500 Aclamado porém D. João iv, devera o jesuíta aguardar
novos recados de Lisboa. Fez o oposto. Emparceirou-se com os descontentes, ouviu-lhes
as vozes, correu à câmara, a apresentar os papéis que autorizavam a destituição do
marquês, e de tal arte que logo os vereadores concordaram em reconhecer o governo de
um triunvirato, em que entravam o Bispo D. Pedro, Luís Barbalho e o Provedor-mor
Lourenço de Brito Correia (16 de abril de 41).501
CONSELHO ULTRAMARINO
A revolução patriótica fora precipitada pelo mal-estar causado por uma agravação
contínua de impostos. Espanha começara a perder Portugal fintando-o, sem respeito à
pobreza do contribuinte e à crise do comércio. O 1º de dezembro de 1640 marcara por
isto dois acontecimentos: o advento do “rei natural” e a abolição dos tributos
impopulares. Foi um jubileu fiscal. No dia seguinte, porém, se sentiu que as guerras não se
fazem sem dinheiro e o reino devia sustentá-las com o vigor de que fosse capaz.
O JUIZ DO POVO
REPRESENTAÇÃO...
Reconheceu o rei, pois, o direito à representação, nas cortes do reino, dos povos de
Ultramar, e fixou em dois os delegados da primeira cidade elevada a essa honra, de dar
procuradores àquele parlamento, a cidade da Bahia. Equiparava-a, com isto, às da
metrópole.
Em duas reuniões de cortes, pelo menos, esteve presente: em 1641 (“era procurador
desta cidade Jerônimo Serrão, procurou este lugar no primeiro banco e se lhe concedeu”)
e em 1668 (“e se deu assento [...] no segundo banco”).518
PRIVILÉGIOS BURGUESES
Mas o Senado da Câmara (título que então se lhe deu) quis mais: o direito de ter lugar
permanente nas cortes, e “no primeiro banco”, a par das cidades antigas... Era então
procurador da Bahia (e por sinal que tão desleixado que não durou no cargo) o bacharel
Gregório de Matos. Naturalmente por ser o letrado brasileiro mais em evidência em
Lisboa, o poeta fora incumbido de advogar-lhe os interesses. Devia afirmar (recomendou
a Vereação em carta de 9 de março de 1673) que
este estado do Brasil é de grandeza e importância ao serviço de Vossa Alteza, e esta cidade cabeça dele, e lealmente tão
nascida do seu amor, como se viu na prontidão e alegria com que aceitou e celebrava a feliz aclamação do Rei D. João
iv.520
DESLEALDADE...
O próprio Tenente Paulo da Cunha Souto Maior, cuja cabeça fora posta a prêmio por
Nassau, teve salvo-conduto para se apresentar aos holandeses, que o receberam como
amigo. Em nome destes parlamentaram os conselheiros Van der Burgh e Nunin Olfers. E
enquanto conversavam, o comandante do Forte Maurício (no São Francisco) recebia
recados para sair para o Rio Real, onde se entrincheiraria. Esta, a fronteira da paz...
Grande, porém, foi a decepção dos portugueses, ao saberem que deixara o Recife a frota
de Cornelis Jol, para atacar São Tomé e Angola. Estranharam a partida dos navios.
Tranqüilizou-os o conde, dizendo que iam combater espanhóis (30 de maio).
Destinavam-se a arrebatar os mercados de negros do Sul da África — cortando aos portos
do Brasil o fornecimento de escravos. Angola primeiro; depois o Maranhão...
A QUEDA DE ANGOLA
Resistiu mal a guarnição de São Paulo de Luanda, que Pedro César de Meneses governava
sem as devidas cautelas: entregou-se à expedição de Cornelis Jol, em 25 de agosto de
1641.522
Desamparado dos pretos e para não cair em poder do invasor, retirou Pedro César para
os matos. Não sabia explicar a razão do assalto.
Até porque (alegou, protestando, por intermédio dos emissários que mandou ao
almirante holandês) estavam em bons termos os respectivos governos... Esperava ainda
que tudo se limitasse à pilhagem. Mas Cornelis Jol declarou a sua intenção de ocupar o
território. E sem preocupação quanto à resposta que lhe desse o tímido governador, dali
foi conquistar a Ilha de São Tomé, que tomou, após breve, mas renhido combate, em 11
de outubro. O que as balas portuguesas não fizeram, fez a peste, que logo dizimou os
flamengos, matando naquela região tórrida centenas de soldados e marinheiros, e o
próprio almirante — que lá ficou, sepultado na igreja matriz de São Tomé, vítima de uma
das mais cruéis rajadas epidêmicas de que há memória. Pinta-a Barleo com a vivacidade
dramática do seu estilo, chamando a atenção para os horrores da ilha insalubre; e a
inadaptação de seus patrícios a esses ares letais.523
“Angola, senhor (esbravejou Antônio Teles), está de todo perdida, e sem ela não tem V.
M. o Brasil”.525
PERDA DO MARANHÃO
Entendia Nassau que para segurar Pernambuco — com os engenhos — era preciso ter a
África — com os negros. Garantiria o fornecimento de braços e poderia, agora protegido
pela comunhão luso-holandesa, desfrutar a prosperidade de uma indústria sem igual em
domínios ultramarinos.
Governava aquela capitania o velho Bento Maciel Parente. Não contava com nenhuma
sortida dos “aliados” e vizinhos. Foi com assombro que viu entrar a barra — em 25 de
novembro de 41 — uma esquadra de treze navios de guerra, três bergantins e três
embarcações de comércio. Debalde os fortes se lhe opuseram com a sua artilharia.
Comandava a armada o terrível Lichthardt e o chefe da força expedicionária — uns mil
homens — era o Coronel Koin. Ninguém se atreveu a perturbar o desembarque. A dois
mensageiros do governador (o Provedor-mor Inácio do Rego Barreto e o Padre Lopo do
Couto) respondeu Koin, que gostaria de ver o tratado de paz a que se referiam. Bento
Maciel saiu da fortaleza para mostrar-lhes o papel, e da discussão resultou — ingênuo
ajuste! — que os holandeses se aboletariam na praça e não haveria luta, até chegarem
ordens claras das respectivas metrópoles. Assim se fez, porém de modo que as bandeiras
portuguesas foram substituídas pelas de Orange, e antes que os soldados, ludibriados,
pensassem num revide, se descartou deles o esperto inimigo mandando-os embora nuns
navios velhos. Parte da guarnição (que era de 130 homens), foi dar em São Cristóvão das
Antilhas, e o resto no Pará, enquanto Bento Maciel acabava tristemente a sua vida heróica.
Preso no dia imediato à burla, que lhe custara o Maranhão, foi enviado para o Rio
Grande, e daí, por terra, enfermo e humilhado, para o Recife. Morreu em meio da
jornada, aos 75 anos, “pobre e miserável”, diz Frei Manuel Calado...527
Esta última violência repercutiu em França e Holanda, tal a energia com que a censurou
o representante de D. João iv na Haia, Francisco de Andrade Leitão. Informou-o, aliás
pessoalmente, Inácio do Rego Barreto, mandado preso para esse país. As tréguas tinham
sido violadas. Os Estados-Gerais responderam que as conquistas eram legítimas; e
contentaram-se em prevenir Nassau sobre a vigência do tratado com Portugal. A ida do
plenipotenciário para o Congresso de Münster interrompeu-lhe neste ponto a negociação,
retomada em outras circunstâncias pelo sagaz Francisco de Sousa Coutinho.528
A guerra deveria continuar soturna e hábil, para que os acontecimentos americanos não
comprometessem a sorte da metrópole, a braços com a campanha da Restauração.
Era tempo de libertar-se o Brasil sem auxílios de fora e até parecendo que desobedecia a
D. João iv: para que Portugal, ajudado de Holanda, França, Inglaterra, fizesse frente às
forças de Madri e completasse, com as armas, a “prodigiosa” independência.
Distinguiu-se Nassau dos comissários da Companhia das Índias pelo caráter construtivo
do seu governo. Talvez tivesse o propósito de ficar em Pernambuco ou sonhasse com a
criação de um reino, cuja coroa faltava ao seu orgulho. Foi em tudo príncipe: ao contrário
da sordidez mercantil dos comissários, que especulavam em açúcar e arrecadavam
impostos, desdenhando a colonização e espezinhando os colonos. Em 1641 podia
contemplar afinal a sua obra, incipiente mas pretensiosa, naquele Recife que se
transformava.
Os mais ilustres, os pintores Franz Post e Albert Eckout,532 a quem juntamos o soldado,
que se mostrou bom desenhista, Zacarias Wagener.533 Cuidaram de documentar-se,
reproduzindo o que havia de característico no país: povo e costumes, paisagens com a
fauna e a botânica, colonos e índios, sem esquecer tapuias antropófagos e negros de
Guiné, os panoramas do São Francisco, Goiana, Olinda em ruínas e várzeas onde as casas-
grandes, de alta varanda, e os engenhos moentes continuavam a evocar o antigo
patriarcado. Centenas de desenhos, telas, estudos e esboços, gravados por excelentes
artistas holandeses, iriam revelar à Europa o Brasil, surpreendido nas cores cruas pelos
pincéis flamengos...
Que fale Nassau, ao oferecer a Luís xiv as pinturas brasileiras: “As ditas raridades
representam todo o Brasil em imagem, a saber, a nação e os habitantes do país,
quadrúpedes, pássaros, peixes, frutos e ervas, [...] também a situação do mesmo país,
cidades e fortalezas”.534
Sobre várias daquelas telas desenhou Desportes os seus cartões para as tapeçarias
francesas (Gobelins, 1689–90).
Foi essa iconografia que pôs em circulação (a começar pelo livro profusamente ilustrado
de Gaspar van Baerle) o retrato simbólico da América, com os tipos inéditos de
mestiçagem, a doçura dos campos bordados de canaviais, a surpresa dos seus aspectos de
convívio, guerra e paz, com certos pormenores de agreste beleza em que as pastorais do
século anterior se materializam em subúrbios amenos, vales risonhos e praias
desafogadas.
PROSPERIDADE
OS ESCABINOS
Destacara-se entre os senhores de engenho, por suas ligações com os flamengos, os seus
prósperos negócios, o seu temperamento de chefe, João Fernandes Vieira.
Mas sem aquele madeirense ambicioso e fino, casado numa das grandes famílias da
região (1613),550 senhor de cinco engenhos, um destes, o de São João, chave da várzea,
dominando o curso do Capibaribe — não se atearia em 1615 o esperado incêndio.
Sobravam motivos.
RECONQUISTA DO MARANHÃO
O primeiro sinal para a reação, depois das tréguas de 1641, partiu do Maranhão.
O portador dos recados pode ter sido André Vidal de Negreiros. Recolhera-se a Lisboa,
após o fracasso da expedição do Conde da Torre, que valentemente secundara na Paraíba,
e voltara com o Governador Antônio Teles, apresentando-se em seguida no Recife, a
título de confabular com Maurício de Nassau sobre a conquista de Angola.
No Maranhão, o jesuíta Lopo do Couto (que dirigia a Residência fundada pelo Padre
Luís Figueira) concitou os moradores à revolta. Tomou-lhes o comando seu sobrinho,
Antônio Moniz Barreiros, senhor de engenho e antigo capitão-mor da terra.551 Foi na
noite de 30 de setembro. Caíram sobre as guarnições espalhadas pelos engenhos, e as
prenderam. Dizimada uma força enviada ao seu encontro, correram a sitiar a cidade, onde
o resto dos inimigos se entrincheirou. Os socorros do Pará (113 soldados, 700 índios em
54 canoas) chegaram em 3 de janeiro.552 Mas os sitiados receberam gente e armas em sete
navios (15 de janeiro), ao mando do Tenente-coronel Hinderson (acabava de chegar da
tomada de Luanda), que investiu os quartéis dos rebeldes e os levou de vencida. Aí
morreu o Capitão-mor Moniz Barreiros,553 substituído no posto por Antônio Teixeira de
Melo, veterano das lutas de 1614–21. Não quis prolongar um combate desfavorável.
Repetiu a estratégia de 1624 e de 1631, na Bahia e em Pernambuco. Retirou para as
cercanias, onde as guerrilhas impediam o passo aos estrangeiros necessitados de víveres, e
esperou munições e homens do Pará.
Hinderson apelou para o Recife. Sem um exército considerável não poderia desmanchar
a armadilha em que se metera. Nassau não o ouviu. Pensava em deixar o governo e não
contava com os diretores da Companhia, mais mesquinhos, para novas remessas de tropa
e material. Porventura percebeu que o erro da ocupação temerária do Maranhão
importava outra aventura, de maior alcance, qual a conquista do Amazonas, que não
devia intentar sem forças superiores e em troco de um proveito remoto. E deixou que o
tenente-coronel, enfadado, destruísse a artilharia do forte e, em 28 de fevereiro de 1644,
embarcasse, com todo o seu séquito, para o Ceará, donde se passou ao Rio Grande.
No Ceará ficara Gedeon Morris com poucos soldados. Não demorou no posto. Os
índios, que tinham atraído os holandeses sete anos antes, não os toleraram mais. Talvez
fossem induzidos à rebelião pelos parentes da capitania vizinha. Assaltaram-nos à sua
maneira, e os exterminaram — como verificou um iate que, despercebido, ali aportou em
novembro de 1643.554
DECLÍNIO
Os moradores tudo fizeram para que ficasse em Pernambuco. Mas lhe chegara a
demissão pedida, e entre comoventes mostras de apreço embarcou na Paraíba a 22 de
maio de 1644. Repatriou-se completando o octênio de governo criador e inconfundível.
Aos três conselheiros secretos que lhe sucederam (Henrique Hamel, Van Billestrate, Baes)
ofereceu uma espécie de “testamento político”, com sisudos conselhos sobre o melhor
meio de dirigir aqueles povos. Apresentou em Holanda dois relatórios sobre as
necessidades do Brasil. E — de remate à aventura tropical — encomendou a Gaspar van
Baerle o livro, que lha perpetuasse.
Há uma frase do Padre Vieira, no “papel forte” (1647) possivelmente injusta, mas
informativa: “[...] e os principais (motivos) que a moveram (a rebelião pernambucana) foi
porque tinham tomado muito dinheiro aos holandeses e não puderam ou não lho
quiseram pagar: o que é muito diferente da razão que se alega”.556
Em 1644 atingiu o ponto culminante essa crise (de que Nieuhof dá o transunto,
publicando o contrato-tipo, de confissão e consolidação dos débitos, dos senhores de
engenho e lavradores da várzea), facilmente explicável.557 Ao começar 1645, subiam a
2.125.807 florins. À conta dos açúcares, adiantavam-lhes os mercadores (e por vezes os
funcionários da Companhia) os fornecimentos de que se sustentavam, sendo corrente o
juro de 2,5 até 3% ao mês (revela Nieuhof), que havia de comer — na liquidação — toda a
safra, pouco ficando (se alguma cousa ficasse) para o devedor.
A manobra era audaz. Num papel de 1643, que confirmou, em linhas gerais, no sermão
de 21 de agosto de 44, propôs a el-rei aceitasse os cristãos-novos e, com isto, deles privasse
a Holanda. O seu argumento foi oportunista: a tolerância, recomendada como ardil de
guerra, reforçaria a defesa do reino e lhe permitiria ter duas Companhias de comércio,
uma ocidental, outra oriental, com que protegesse as frotas do Brasil e da Índia. Pretendia,
pois, combater o inimigo católico com as armas do herege: as Companhias. Adaptando-
as, porém, à debilidade nacional, e aproveitando a lição da América. Chamasse D. João iv
os hebreus de Flandres que, naquele exílio, se vingavam do Santo Ofício, alimentando
com os seus capitais a conquista do Brasil: renasceria assim a armada dos bons tempos, a
fortuna dos bons reis! Infringia Vieira com o extraordinário alvitre os preconceitos,
sobretudo a mentalidade da nobreza e do clero, que se formara, de um século a esta parte,
agravada pelas represálias judaicas à perseguição na península. A própria Companhia de
Jesus alarmou-se com a vivacidade de suas opiniões. Nem esquecia a nobreza que uma das
justificativas da Restauração fora a benignidade de Filipe iv com os cristãos-novos, que,
afinal, sempre tinham achado ocasião de transigir com o monarca espanhol. Mas D. João
iv — calculista e silencioso — não lhe reprovou a sugestão.
OS JUDEUS
Levara Vieira da Bahia, não tenhamos dúvida, a sua idéia conciliatória acerca dos
israelitas.
Vimos como foi designado para representá-la. Elegera-o a classe mercantil (que se
opunha ao Marquês de Montalvão, suspeitado de espanholismo) como ao intérprete
desabusado dos interesses da terra, na linha portuguesa das velhas liberdades. Não o
quisessem favorável à Inquisição (da qual se conservava acolá recordação amarga) ou à
exclusão dos judeus, ele que se criara na cidade dominada por seu messianismo, seus
ressentimentos e suas mágoas. Das duas visitações do Santo Ofício (1591 e 1618) ficara-
lhe um rasto de queixas que se somavam às imediatas conseqüências de intolerância,
invasão holandesa, traição dos cristãos-novos, financiamento das guerras de Pernambuco
e Angola, calamidades que continuavam. Servia ao grosso comércio defendendo, em
Lisboa, os hebraizantes. Na Inglaterra pensava-se assim. E na França, onde um calvinista
escrevera o Rappel des Juifs... Concordara Cromwell com essa aliança, louvada dos
puritanos. Mas logicamente, estava o Padre Vieira inibido de advogar a restauração do
Brasil. Imaginou que para desarmar Holanda precisava fazer-lhe o jogo em Pernambuco,
aquietando-a com o reconhecimento da ocupação, tanto para que não passasse dali
(salvando-se o resto) como para que ajudasse Portugal, contra Espanha. Só não dizia que,
com esta manobra, atendia à Companhia das Índias Ocidentais em irremediável
decadência, e acudia ao dinheiro nela empatado.
O rico judeu português Gaspar Dias Ferreira desanimadamente propusera — pois lhe
iam mal os negócios, que vendesse por 3 milhões de cruzados a conquista. Sabemos que
no Recife prosperava a comunidade israelita (de cuja organização, Zur Israel, temos o
livro de atas).563 É fácil ligar a intensidade dessa influência à posição dirigente dos grupos
da mesma fé em Amsterdã e na Haia, para quem a liquidação pecuniária parecia mais
razoável do que a arriscada briga. Vieira foi mais longe. No “papel forte” — como diremos
— aconselhou em 1647 a restituição aos holandeses dos territórios retomados depois de
1645, antes que se unissem Holanda e Espanha, e a precária independência portuguesa se
perdesse numa guerra desproporcionada. Numa palavra: sobrepunha a consolidação da
Coroa às considerações ultramarinas; e entre dois perigos, o inimigo na América e o
inimigo no Alentejo, preferiu batê-lo aqui a incomodá-lo acolá. O pensamento era
perfeito. Dava hierarquia às angústias nacionais. Melhor fora libertar o reino, para
socorrer depois as possessões, do que a elas sacrificar a metrópole, sem as salvar... Perfeito
e abstrato. Irrespondível como silogismo, falhava como representação da realidade.
Esquecia duas ordens de acontecimentos, que puderam mais do que a inteligência e a
habilidade dos diplomatas: a autonomia dos destinos do Brasil, que, de qualquer modo, se
livraria da ocupação estrangeira; e a desvalia, já agora, da aliança holandesa, em face do
panorama internacional. Sem ela agüentar-se-ia Portugal; contra ela, Pernambuco.
A SURPRESA PERNAMBUCANA
O estupor causado pela rebelião está nesta passagem da carta de Vieira ao Marquês de
Niza:
Eu estava em uma cama sangrado dezesseis vezes, quando do Brasil me vieram as primeiras notícias do que se queria
intentar; e porque o impedimento me não permitia falar com S. M. e dizer-lhe pessoalmente o que entendia naquela
matéria, como quem tantos anos havia estado no Brasil, e sabia o que lá se pode, pedi a um prelado muito confidente
de S. M. lhe quisesse representar de minha parte o perigo e dificuldade desta empresa, e que o segurasse que era
impossível render-se a principal força, por mais que os de lá, enganados do desejo da liberdade, o prometessem; e
acrescentava que, ainda quando o Brasil se nos desse de graça, era matéria digna de muita ponderação ver se nos
convinha aceitá-lo com os encargos da guerra com Holanda, em tempo que tão embaraçados nos tem a de Castela;
porque são homens os holandeses com quem não só vizinhamos no Brasil, senão na Índia, na China, no Japão, em
Angola, e em todas as partes da terra e do mar, onde o seu poder é o maior do mundo. Estas e outras razões propus
àquele prelado, que não sei se as representou a S. M.; só sei que por nosso mal fui profeta, e queira Deus que aqui
parem os meus temores.564
Dizia agora respeito aos habitantes do Brasil, oprimidos, enfurecidos, mais fortes depois
de conhecerem o inimigo do que antes, quando lhe ignoravam os recursos.
ANDRÉ VIDAL
O plano traçado foi simples e engenhoso. Com 40 homens, o Capitão Antônio Dias
Cardoso (experimentado cabo de guerra) se uniria na várzea à gente armada por
Fernandes Vieira, enquanto se diria com fingida indignação — que fugira Henrique Dias
com os seus pretos a atacar por conta própria os holandeses. Para deter esses bandos
irresponsáveis sairia o Camarão, com o terço de índios... Iludir-se-iam os flamengos,
imaginando que da Bahia, em vez de açularem a revolta, tratavam de castigá-la: e um belo
dia, sem darem por isto, de surpresa, estariam cercados no Recife.
O MOVIMENTO
Acompanhado do Alferes Nicolau Aranha Pacheco,567 cumpriu André Vidal, com incrível
felicidade, a sua missão. Não somente visitou os senhores de engenho de Pernambuco e
da Paraíba, apalavrados com Fernandes Vieira para o levante, como lhes deu as
esperanças de pronta vitória. Deixou-o ajustado nas suas linhas gerais. Não faltou também
o governador com as providências prometidas. Com os seus 40 soldados foi Antônio Dias
Cardoso esconder-se “nos matos do engenho de Fernandes Vieira”. Em 31 de março —
tornando pública a sua preocupação — reuniu Antônio Teles as pessoas principais da
Bahia, para dizer que desertara Henrique Dias... Temia que molestasse os holandeses, com
quem desejava manter boas relações; e para que não o tomassem como desleal, a eles
escreveria comunicando a fuga e a rebeldia do negro!568
A este tempo começavam eles a desconfiar, tanto de Vieira como do fino governador
que pretendia adormecê-los com os seus juramentos de paz. Abriram os olhos com a carta
anônima que, em 30 de maio, lhes revelou toda a conjura. Prenderiam Vieira e alguns
outros potentados da várzea, ou seriam levados a fio de espada, numa espécie de “vésperas
sicilianas”.569
Já era tarde.
Quinze dias antes (15 de maio) se tinham juntado os conspiradores sob a chefia de João
Fernandes Vieira, e 23 deles assinaram uma ata, comprometendo-se, “em nome da
liberdade divina”, a verter o sangue pela reconquista. Marcaram o rompimento para o
próximo São João. Podiam contar com 300 armas de fogo, paus tostados, bordões de
quatro palmos... E a proteção de Deus.570
Estas diligências precipitaram a insurreição, que, marcada para o São João, teve de ser
antecipada para o Santo Antônio de 1645. Neste dia saíram armados do engenho de Luís
Brás Bezerra 150 moradores com Vieira à frente; uniram-se aos soldados de Antônio Dias,
que esperavam por este sinal; e instalaram-se na mata. Fugindo aos caminhos percorridos
pela tropa inimiga, afluíram — chamando mais gente — para as escarpas das Tabocas,
donde poderiam defender-se; e, dispostos a tudo, aguardaram nas alturas o ataque, que se
deu a 3 de agosto.
INTRIGAS E PLANOS
Mal se retirou a embaixada, concertou ele o plano, que redundaria na rápida restauração
do domínio português no Nordeste.
Reuniu os navios disponíveis (eram oito) sob o comando de Jerônimo Serrão de Paiva,
confiado cada um à experiência de um bom capitão;573 meteu a bordo os dois terços (1.800
homens) dos mestres-de-campo Martim Soares Moreno e André Vidal de Negreiros; e os
instruiu, para desembarcarem, como força que iria chamar à ordem e desarmar, se
necessário, os pernambucanos — ao sul do Cabo de Santo Agostinho, na enseada de
Tamandaré... A frota de Salvador Correia de Sá, de 37 velas, que acabava de fundear na
Bahia, em trânsito do Rio de Janeiro para Lisboa, daria à manobra uma providencial
cobertura.574
Dito e feito.
CONFRATERNIZAÇÃO
Se não tinham vindo com esta idéia, a partir de então não tiveram outra.
Para os rebeldes (a quem João Fernandes Vieira passava a comandar, conforme patentes
que lhe enviou Antônio Teles)580 — o auxílio era inestimável. Antônio Dias Cardoso dera-
lhes a forma militar. Fora o indispensável para a ação do monte das Tabocas. Vidal e
Moreno, com a infantaria da Bahia, davam-lhes o núcleo de forças regulares a que se
somariam, por elas enquadradas, as legiões bisonhas de Vieira (os habitantes em armas) e
as hordas de Camarão e Henrique Dias, sobretudo eficazes nas guerrilhas à maneira
indígena. O que começara como um levante, de senhores de engenho com parentes e
escravos, num desafio frenético, acabava em estilo de guerra civilizada, com a sua
disciplina, o seu plano de operações, a sua política, principalmente a sua unidade. O
resto... dependia da bravura daquela gente! A rendição incruenta de Serinhaém desarmou
a resistência de Santo Antônio do Cabo (Comandante Gaspar Van-der-Ley) e Pontal de
Nazaré (Hoogstraten). Pesaram no espírito destes oficiais os afetos domésticos. Observou-
se daí por diante a regra, de que aderiam sem constrangimento aos portugueses os
casados na terra (como Van-der-Ley, marido de D. Maria de Melo)581 ou os isolados dos
patrícios protestantes ou judeus, por serem católicos (como Hoogstraten).582 “Têm para
nós grande merecimento (escreveram a propósito deles os mestres-de-campo) da mesma
forma que todos os outros casados com portuguesas”.583 Passou Van-der-Ley de Santo
Antônio para o Pontal. Intimou-lhes Paulo da Cunha (vanguardeiro dos baianos, que
tratara antes com Hoogstraten) a negociação, reafirmando as promessas tentadoras que
lhe tinham sido feitas. Falou-se em preço: 18 mil florins...584 Era escusado o dinheiro (se
realmente entrou nas condições da rendição), porque por bem ou por mal entregariam a
praça, que estava na mesma situação de Serinhaém. Hoogstraten e Van-der-Ley
combinaram entregá-la com a cláusula, inesperada, de entrarem também para o serviço
de Portugal, com os que quisessem acompanhá-los! O estrondo dessa defecção (em que
visivelmente se dissolvia o exército flamengo) foi seguido do espanto que causou a derrota
de Henrique Haus na casa-forte do engenho de Isabel Gonçalves.
Este é o mesmo capitão que se incumbira de prender nas suas terras Fernandes Vieira.
Andava em buscas pela várzea com 600 soldados e duzentos índios. Era a tropa volante de
que se dispunha no Recife para a contra-ofensiva. Oficial destemido, dera-se à caçada dos
insurretos, com muitas ameaças de castigos e represálias; mas, insensatamente, sem
notícia do que ocorria no Cabo de Santo Agostinho e em Ipojuca — ignorando portanto
que contra ele marchavam milhares de homens — aquartelara na casa-forte, para
repousar... Na calada da noite investiu Vieira, atirou para dentro do sobrado os que
fugiam às suas armas, e mandou atear-lhe fogo. Foi a esta voz (já acumulada nos baixos da
casa a lenha para o incêndio) que capitulou Henrique Haus com 204 holandeses.
Mataram-lhe quatrocentos, e todos os seus índios...585
A REBELIÃO GENERALIZADA
Não se satisfez Jacó Rabi com a matança do Cunhaú. Cercou e prendeu no seu arraial os
moradores do Rio Grande, com a promessa de poupar-lhes a vida, e os entregou aos
índios de Antônio Paraupaba, êmulo de Poti,589 que os trucidaram com análoga
ferocidade.
TEMPO E MAR
E tornou-se cada vez mais grave o estado de cerco a que os rebeldes reduziam o Recife.
A ARMADA DE SEGISMUNDO
PENEDO E ITAPARICA
Tudo fez Antônio Teles para tirar Segismundo de Itaparica. Por último, arriscou a força
que havia à mão, 1.200 homens, sob o comando do Mestre-de-campo Francisco Rabelo (o
Rabelinho)601 com João de Araújo e Teodoro Hoogstraten. Chegaram às trincheiras da
ponta das Baleias; mas foram recebidos com tão nutrido fogo, que tiveram de recuar,
dizimados, deixando em campo mais de cem mortos. Estava entre eles o Rabelinho, cujo
corpo Frei Domingos, que os acompanhava, levou às costas... “Sobre este sucesso deve de
cair o enfadamento que Lanier escreve tem S. M. com Antônio Teles: se o houvera tirado,
escusaram-se estes e outros inconvenientes” — informou ainda o Padre Vieira,602
acentuando a imprudência do governador. Acabava culpado da provocação e do revés...
Vejamos qual o estado de espírito, por esse tempo, de D. João iv, ou antes, do seu
conselheiro íntimo, o Padre Antônio Vieira.
Estava o Padre Vieira a convalescer em Carcavelos, quando el-rei o chamou, para dar a
notícia de “ficar Segismundo fortificado em Taparica”.
M. que aquele negócio estava mui cru? Pois os que então o acharam cru, cozam-no
agora”.
TRANSES DIPLOMÁTICOS
O essencial era obstar a remessa de material e gente de Holanda, o que (pensava D. João
iv) o seu embaixador, Francisco de Sousa Coutinho, conseguiria dos Estados-Gerais,
protestando o seu desejo de jugular a rebelião, ao tempo em que os indenizaria de todos
os danos sofridos. Para auxiliar o diplomata na negociação, despachou quem lhe
penetrara o pensamento, e se habituara a justificá-lo com hábeis razões: o Padre Antônio
Vieira. Tinha além disto a vantagem de ser bem recebido dos judeus (pois os defendera na
corte com a sinceridade com que os cultivara na Bahia); e a condição implícita de
intermediário — entre eles, grandes capitalistas receosos de maiores prejuízos, e Portugal,
que deles necessitava. Embarcou para a França (1º de fevereiro de 46) e daí, com cartas
valiosas, para Haia, onde gastou três meses em conversações sutis.
É quando entra em cena o astuto Gaspar Dias Ferreira, cristão-novo que enriquecera no
Recife durante o domínio de Nassau e, seu amigo, o acompanhara à Holanda.
Deve-se ao seu entusiasmo pelo príncipe a obra de Barleo, Rerum per Octennium...
Naturalizado holandês, a 4 de fevereiro de 45, em 20 de julho do mesmo ano — inquieto e
sagaz — encaminhou a D. João iv, como se fora um milagroso remédio, a sua fórmula
comercial de matar a questão do Brasil: comprando-o. Raciocinava em termos contábeis.
Em perigo de perder tudo, a Companhia acabaria cedendo, por dinheiro... O problema
consistiria no preço. Coube ao Padre Vieira opinar a respeito. Que sim; que se dessem 3
milhões de cruzados em prestações de 500 e 600 mil, a troco de tudo aquilo...607 Nem se
dissesse que faltava moeda. Bastava perdoar aos judeus... O suborno de Holanda
começaria com a aliança da sinagoga. “Naquela república tudo é venal”.608
Entrou aí o ardil de Gaspar Dias. Por seu intermédio logrou o embaixador falar ao
conde. E tais promessas fez, que este exagerou as condições que impunha à Companhia, a
ponto de não poder ela retomá-lo a seu serviço. Satisfez-se, com a nomeação de Von
Schkoppe para o supremo comando — e aquela esquadra, que lhe custou enormes
sacrifícios. Conta-nos Vieira:
Ajuntaram-se a isto as despesas de muitos socorros particulares e de duas grandes armadas, a de Segismundo que
custou melhor de 33 tonéis de ouro, e a de Wit Wites609 que custou 47, que fazem da nossa moeda a soma de 4 milhões
de cruzados.610
D. João iv, por sua vez (não podendo expedir mais navios, além dos que levara o Conde
de Vila Pouca) mandou um general: Francisco Barreto.
O GENERAL
Antônio Teles voltou a Portugal no galeão Santa Margarida — que se perdeu (e com ele
o grande político dos acontecimentos que vimos descrevendo) na costa de Boarcos, num
naufrágio memorável.611
Fizera o rei constar que o castigaria. Talvez o próprio Teles viajasse com o peso desse
desgosto (apregoado pelos conselheiros que, como o Padre Vieira, lhe atribuíam as
calamidades, esquecendo os sucessos). Mas que se tratava de uma comédia — cujo
segredo possuíam os embaixadores na Haia e em Paris — não deixa dúvida a
correspondência de Sousa Coutinho.612 Seria condenado, para que corressem melhor as
negociações: e de fato premiado, tanto que se restaurasse Pernambuco... Sepultou-se no
oceano o seu mistério.
Temeu-se que se dividissem os rebeldes em grupos inconciliáveis. O jeito era enviar para
“aquela campanha mestre-de-campo-general e um auditor que governassem a guerra e
justiça”. Despachou o rei: “Parta Francisco Barreto”. Nomeado em 12 de fevereiro de 47,
partiu com o Dr. Simão Álvares de Lapenha, pernambucano e cunhado do Padre Vieira.613
Conhecia o país, soldado que fora da armada do Conde da Torre, alistado na retirada de
Luís Barbalho; e portara-se brilhantemente no Alentejo, “ilustre em sangue e espírito”
(elogiou-o D. Francisco Manuel)614 — com a vantagem de saber a sua arte. Era, no rigor
da palavra, um general.
Representaria enfim o rei na guerra de que sistematicamente se omitira.615
GUARARAPES
Chegou a armada do inimigo a 14 de março617 e preveniu toda a sua infantaria até 18 de abril, dia em que saiu à
campanha com seu exército, o qual constava de 5.200 infantes, 500 homens do mar, e 300 índios e tapuias; traziam em
todos seus batalhões 60 bandeiras, demais de um estandarte grande com armas das Províncias Unidas e Estados-
Gerais, cinco peças de artilharia, muitos víveres, munições e dinheiro. Governava este exército Segismundo Schkoppe
com seis coronéis, a saber, Haus, Van Elst, Hautyn, Pedro Keerweer, Van den Brande e Brinck.618
Costeou, passando o Afogados, pela Barreta, onde cercou e aniquilou um posto de cem
portugueses; e de rumo feito para Muribeca — levando nos embornais oito dias de
mantimentos, o que indicava a intenção de varrer a capitania até o Cabo de Santo
Agostinho — se atirou para o caminho coleante ao sopé dos montes Guararapes.
Tomara Barreto, como dissemos, a 16 de abril, a chefia dos rebeldes (2.200 homens); e
ao saber da saída de Schkoppe, convocou a conselho os mestres-de-campo, para deliberar
se o interceptariam, a despeito do seu poder. Decidiram que o esperassem naqueles
montes, junto aos quais teria de passar, pelo único caminho existente, apertado entre os
barrancos e o alagadiço. Deslocou Barreto a sua força (menos 300 homens que
continuaram nas estâncias do cerco) para o último dos outeiros, em direção do sul, e
arranchou na baixada, de modo a ficar escondida, só aparecendo ao inimigo quando já
estivesse, desabrigado, na lingüeta entre o pântano e as escarpas: e teve no dia seguinte (19
de abril) a iniciativa.
Continua o padre:
Entre os feridos foi um o General Segismundo. Entre os mortos o Coronel Hus, que era o mais antigo, e o Coronel
Vandennoven, e muitos capitães e oficiais até número de 50 [...]. Escrevem os do Recife que os portugueses estão
fortes como um muro (que é frase sua).
Exultava. “De maneira, senhor, que temos Pernambuco vitorioso, o Rio de Janeiro
socorrido, a Bahia com armada, Angola com a esquadra de Salvador Correia”.622
CONSEQÜÊNCIAS
Jamais teria aqueles meios de romper o adversário (com armada no porto e 6 mil
homens decididos, contra um exército desunido e atarantado); nem os experimentados
oficiais que lá ficaram, estendidos no campo, como o Coronel Haus (o mesmo da casa-
forte), o Major Claer, o Coronel Van Elst... Podia acusar-se de imprevidência não tendo
reconhecido o terreno em que ia lutar — e temeridade — nele entrando no escuro, com
todos os seus elementos. Sacrificara o melhor da sua gente numa ação intempestiva —
sem lograr movimentá-la conforme os rudimentos da estratégia — e dera com isto aos
rebeldes glória, ufania e vigor. Sobretudo entusiasmo.623 “A verdade é que só a Deus e à
Virgem Santíssima devemos esta vitória”, clamava Vidal de Negreiros.
Vissem aquela prodigiosa resistência, 24 horas quase sem comida, face voltada para o
inimigo reluzente de tanta armaria, flâmulas e insígnias! E os seus andrajos em contraste
com aquele esplendor de morriões, couraças, gibões coloridos e chapéus emplumados!
Saídos das brenhas por onde rastejavam índios e negros, de alcatéia ao europeu — vestiam
os farrapos das velhas roupas, enrolavam no pescoço grandes rosários, dispensavam
bandeiras, preferiam aos mosquetes e às pistolas a espada, e com ela ao sol vendiam caro a
vida... A vida e a terra.
NA EUROPA
Mas a situação piorara na Europa. Na verdade, acertava D. João iv: “Brevemente parece
que se gastará o socorro que foi de Holanda àquele estado, tempo era já de entenderem os
de Holanda que lhe não está bem a guerra”.624 Pactuara-se entretanto em Münster a paz
de Holanda e Espanha, de cujos artigos insidiosamente constava a restituição aos
flamengos das praças que possuíam no Brasil... Receoso de um ataque conjunto, chegara o
rei a premeditar (se acontecesse) o seu transporte para a Ilha Terceira, ficando ainda com
o Grão-Pará e o Maranhão...625 A idéia da transmigração (acariciada pelos príncipes da
casa de Bragança, sempre que a crise internacional os ameaçou) encorpara-se no espírito
fértil do Padre Vieira; e provavelmente se estampa naquele outro trecho de confidência:
“O roteiro que el-rei, que Deus tem, tinha prevenido, como tão prudente, para o caso de
semelhante tempestade e se achou depois de sua morte em uma gaveta secreta, rubricado
de sua real mão com três cruzes”.626 O jeito era antecipar a coação pela transação,
voltando-se às conversas da compra. Foi-se o Padre Vieira para Haia, a ver se incluía
Portugal no acordo, a troco do dinheiro que lhe exigissem. Já os holandeses não queriam
ouvir falar disto. Então — que se desse Pernambuco...627
Sousa Coutinho foi chamado a Lisboa.631 Não tardou a sobrevir, em 1650 — aliviando a
crise portuguesa — a discórdia anglo-flamenga. Quando os navios da Holanda tivessem
de deter-se no mar do Norte em luta com os de Inglaterra — estaria salvo Pernambuco.
RETOMADA DE ANGOLA
Enquanto iam e vinham os recados de Holanda sobre as pazes que não se faziam, e os
insurretos dominavam os campos de Pernambuco — entendera-se em Lisboa que se devia
recuperar Angola. A importância disto definiu-a o Padre Vieira em carta desse tempo:
“Sem negros não há Pernambuco, e sem Angola não há negros”.632 Também na Espanha,
tanto que ali se pensou em trocar o Infante D. Duarte, irmão de D. João iv, prisioneiro em
Milão, pela posse de Angola...
Mas como esta notícia chegasse aos ouvidos do real prisioneiro, teve ele indústria para minar os muros do castelo e,
por debaixo da terra, escreveu uma carta, que de Veneza veio a Haia, corte de Holanda (onde eu a li) e da Haia passou
a Lisboa. E que continha aquela carta? Dizer e protestar a S. M. o generoso infante, que nem um torrão de terra
conquistada com o sangue dos portugueses se desse pela sua liberdade, nem pela sua vida.633
Salvador Correia de Sá foi incumbido de restaurar as praças africanas com a frota do Rio
de Janeiro.
XVI: A EXPULSÃO
NOVAS ESPERANÇAS
Devia D. João falar aos mercadores da Haia outra linguagem. O eclipse da Companhia já
era o efeito de forças pujantes e novas — que retemperavam Portugal... e o Brasil.
Foi a do Coronel Van den Brande com 2.500 soldados. Prevalecendo-se da ausência das
naus portuguesas, entrou na Baía de Todos os Santos essa esquadra, aparelhada para
grandes façanhas, bordejou, lançando em terra várias patrulhas, que queimaram 23
engenhos, e consumada a represália — que espalhou o terror pela redondeza,643 saiu
impunemente, para o Recife.
Com 3.500 homens deixou o Coronel Brinck o Recife, a 17 de fevereiro (de 1649), e
dirigiu-se ainda uma vez para o sul, resolvido a vingar nos mesmos montes Guararapes a
derrota do seu general.
A SEGUNDA BATALHA
Corrigindo o erro de Segismundo, não arriscou por aquele perigoso caminho a sua tropa
em coluna de marcha, mas ganhou as alturas formando-a em linha de batalha ao abrigo
dos matos, a fim de que os contrários ficassem ao sol, indecisos quanto ao início da ação, e
descobrindo-se, se a ela se lançassem. Queria arrancá-los às dobras do terreno para os
envolver e destroçar em pleno campo. Os portugueses não lhe fizeram o jogo. Esperaram
que atacasse. Ordenou então o coronel a retirada — sem dar combate — e mal a sua gente
descia dos outeiros, para se recolher a quartéis, arrojou Barreto sobre ela cavalaria e
mosqueteiros. Surpreendidos, tentaram os flamengos recompor as fileiras: mas era tal o
ímpeto da acometida, que, levados de vencida, em confusão, se puseram em fuga. Morreu
ali o Coronel Brinck, com 173 oficiais e suboficiais. Contaram-se 855 mortos e 90
prisioneiros holandeses. A segunda batalha dos Guararapes foi mais cruel para eles do que
a primeira. Destruiu inapelavelmente a veleidade de reação do Alto Conselho do Recife; e
expôs o soldado luso-brasileiro à admiração da Europa.
Em carta para Haia, fez o Conselheiro Michel van Goch estas graves considerações:
A respeito do combate acima relatado, notei sobretudo duas particularidades que (em meu parecer) merecem muita
atenção: em primeiro lugar, as tropas do inimigo, saindo dos matos e de detrás dos pântanos e outros lugares, onde
têm a vantagem da posição, atacam sem ordem e em completa dispersão e se aplicam em romper diferentes quartéis.
Em segundo lugar, as tropas inimigas são ligeiras e ágeis para correrem adiante ou se afastarem; por causa de sua
crueldade inata são temíveis também; eles se compõem de brasilianos, tapuias, negros, mulatos, mamelucos, etc., todas
as nações do país; aliás, portugueses e italianos, que têm muita analogia com os naturais da terra quanto à sua
constituição, de maneira que atravessam e cruzam os matos e os pântanos, sobem aos montes, tão numerosos aqui, e
descem, e tudo isso com uma velocidade e agilidade, que são verdadeiramente notáveis; nós, ao contrário,
combatemos formados e colocados da maneira que se usa na mãe-pátria, e nossos homens são indolentes e fracos, de
modo algum afeitos à constituição do país, do que resulta que essas espécies de ataques com arma de fogo, como o de
que aqui trato, devem ter bom êxito inevitavelmente, e que, rechaçando os nossos batalhões e pondo-nos em fuga eles
nos matam maior número de soldados na perseguição do que no próprio combate; esta ocasião, aí de nós!, não fez
mais do que fornecer prova disso; aliás as peças de artilharia de campanha, não podendo ser disparadas sobre bandos
dispersos, tornaram-se inteiramente inúteis, ou, para melhor dizer, verdadeiras charruas para o nosso exército.644
Mesmo D. João iv entendeu que fora prodigioso: em carta a seu embaixador Nuno da
Cunha — de 8 de junho de 49.
Parece certo que quer Deus favorecer aqueles homens, porque assim o mostra sucesso tão prodigioso como este foi, e
o têm mostrado os passados, a Relação é a mesma que os holandeses imprimiram em Holanda porque do Brasil não
veio com tanta clareza que se vos possa remeter.645
A sua própria superioridade naval anulou-se pela escassez de provisões para os navios
do Almirante De With, assaz velhos e gastos para operações incessantes. De novo a
ameaça da fome perturbou a guarnição do Recife. Malquistado com o comando de terra,
retirou-se De With em novembro, abandonando a guerra, que dava por perdida.646 Todas
as censuras recaíam sobre a Companhia, que não mandava barcos, víveres, elementos
eficazes para a reconquista. Cometera o erro de restringir os auxílios, quando um esforço
mais enérgico lhe reforçaria os argumentos, nas discussões da Haia... Em Lisboa, sentiu-se
que o domínio do mar resolveria o problema.
A COMPANHIA DE COMÉRCIO
Por bem ou por mal, deviam os colonos sujeitar-se ao conchavo dos capitalistas de
Lisboa.
A PRIMEIRA ESQUADRA
A ALIANÇA INGLESA
Duas palavras sobre o funcionamento por esse tempo da velha e elástica aliança inglesa.
Cromwell malquistara-se com o Rei de Portugal pelo auxílio que este dava aos seus
adversários internos, os realistas. Dele não podia D. João iv esperar uma ajuda concreta.
Sobrevinda porém, com a rivalidade colonial, a luta com a Holanda, quando ainda
Portugal se defendia no Alentejo dos espanhóis, já a Inglaterra (e com ela a França)
impediria uma demonstração naval holandesa sobre Lisboa. Seria considerada como uma
ação de guerra favorável à Espanha; permitiria talvez que esta aniquilasse a monarquia
portuguesa; e o desequilíbrio de forças na Europa, causado por essa eventualidade, não
convinha aos governos de Londres e Paris. Obstados pois os flamengos de usar as suas
esquadras para intimidar Portugal, os negociantes de Lisboa se sentiram à vontade para
reforçar a Companhia, que os hostilizava, enquanto rolava na Haia, sonolenta, a
interminável conversação sobre a paz do Brasil.
Em 1652 sugeriam, otimistas, os mercadores lisboetas, que a sua frota fosse direito ao
Recife, e o tomasse de surpresa...
OPERAÇÕES FINAIS
O cerco fechara-se; e os três emissários que foram do Recife para expor na Holanda a
situação da praça, falavam com esperança de um acordo hábil, que pelo menos
resguardasse as propriedades ganhas na ocupação... Inevitável o naufrágio, tratavam dos
salvados. Demitiram-se os conselheiros Van Goch, Schoonenborch e Haecx. Desertavam
soldados, oficiais abandonavam os comandos, ruía o edifício montado em vinte anos de
administração incessante...656
A CAPITULAÇÃO
Decidiu-se enfim em Lisboa expedir diretamente, para render o Recife, terceira esquadra
da Companhia ainda sob a chefia de Pedro Jaques de Magalhães, como general: desta feita
64 navios mercantes e treze de guerra. Surgiu em 20 de dezembro de 1653 em frente ao
Recife. Mandou-lhe avisos Francisco Barreto, para que o general da armada fosse ter com
ele em Olinda, a fim de combinarem as operações.
Ali desembarcou Pedro Jaques com Francisco de Brito Freire, seu almirante657 —
recebido pelo “governador da guerra” e os três mestres-de-campo João Fernandes Vieira,
André Vidal de Negreiros e Francisco de Figueiroa.658
Barreto falou-lhe com firmeza: o momento era único para investirem as fortificações,
enquanto a Marinha obstruía o porto. Aceito o plano, Pedro Jaques tomou, com os seus
barcos, as águas do Recife e o exército, à ordem dos cabos veteranos, marchou sobre as
posições holandesas. Capitulou o Forte do Rego (15 de janeiro de 54). À margem
esquerda do Capibaribe rendeu-se, quatro dias depois, o de “Altenar” (com o Major
Berghen e 180 homens). O terço de André Vidal prosseguiu em direção ao Forte de Cinco
Pontas, cuja queda seria fatal à defesa do porto. Comandava-o Waulter van Loo, que, na
tarde de 23, saiu com uma carta para Francisco Barreto. Era o pedido de armistício. A
campina diante do forte, onde o general ouviu Van Loo, chamava-se “do Taborda” (nome
dum pescador que ali morara). Discutiram o ajuste, do lado dos portugueses o Auditor-
geral Francisco Álvares Moreira, Capitão-Secretário Manuel Gonçalves Correia e o
Capitão reformado Afonso de Albuquerque; pelos contrários, o Conselheiro Gilbert de
With, o presidente dos escabinos (vereadores) Huybrecht Brest e Van Loo. Uma
capitulação que honra o cavalheirismo dos vencedores e dos vencidos pôde ser assinada
na noite de 26 de janeiro de 1654; encerrando civilizadamente esse prolixo episódio,
reintegrou Pernambuco na comunidade luso-brasileira.
ENTRADA NO RECIFE
Assim se cumpriu.
Então o general se apeou e recebeu as chaves, ao som de salvas e clarins; a que se seguiu
a entrada na povoação. Para acentuar as suas disposições corteses Barreto visitou na sua
casa Segismundo e foi alojar-se nas do conselho, preparadas para hospedá-lo. Levou a sua
cordura ao requinte de conceder a Von Schkoppe e à esposa que carregassem o pau-brasil
correspondente aos bens que deixavam em terra — o que aumentou a suspeita de
venalidade que, na Holanda, atormentou o guerreiro infeliz. Determinou que os
flamengos ficassem em Olinda, dando-se-lhes 480 réis a cada um. Incorporou às suas
próprias fileiras os negros e índios, que até aí os acompanhavam. A tomadia cifrava-se em
quase 500 casas, logo concedidas ou alugadas a quem as requereu — 300 canhões,661 38
mil balas, 5 mil mosquetes, 2 mil arrobas de pólvora...
Filipe Bandeira de Melo662 teve o governo dos fortes do Sul. Francisco de Figueiroa
despachado para a Paraíba, já a encontrou em poder dos portugueses, pois o Tenente-
coronel Claes, fugindo do Recife, persuadira o Coronel Houthain a abandoná-la, largando
tudo. Os índios, avaliados em 4 mil, acreditaram nas notícias terríficas que corriam sobre
a vingança dos católicos,663 e correram a refugiar-se nas serras do Ceará. Itamaracá foi
ocupada pelo Capitão Manuel de Azevedo, e Álvaro de Azevedo Barreto, por mar,
reconheceu o abandono do Rio Grande pelo inimigo e ocupou o Ceará — que o Major
Garstman não teve dúvida em entregar-lhe.
Uma profunda modificação moral fora o vestígio deixado pela campanha, na marca dos
seus ásperos trabalhos, o seu legado: no ir e vir das marchas, ao calor das refregas, na
paixão dos levantes, na dor dos êxodos, na continuidade dos sacrifícios e na exaltação das
vitórias se compusera — em linhas inconfundíveis — um espírito nativista capaz de
independência, de reivindicações inesperadas, de afirmações definitivas. Pondo-se fora o
holandês metera-se no Brasil o brasileiro: é a sutil resultante de uma campanha
aparentemente concluída. “Porque estando estas capitanias bem fortificadas e povoadas,
tem V. A. nelas um grande império”, dizia em 1675 João Fernandes Vieira.664
FEUDALISMO CONDENADO
Mas a vitória não deixara de ser das armas reais, sem o auxílio, ou a ativa participação dos
donatários incapazes de defenderem contra uma potência estrangeira as pobres
capitanias. Era natural que D. João iv as quisesse para a Coroa, acabando, nesta
oportunidade, com o sistema obsoleto da administração particular, agravado pela incúria,
pela decadência, senão pelo abandono dos que deviam mantê-las.
Pelo mal que os donatários acodem a socorrer as capitanias que têm no Brasil, desejo dando-lhes equivalente
satisfação no reino incorporar as capitanias na Coroa; o conselho trate com eles esta matéria, entendendo a satisfação
que querem, tomando por notícia o que a capitania de cada um valerá no reino, abatidos os custos iníquos, com
advertência que não aceitando o que for justo (averiguando-se que são obrigados a provê-las e socorrê-las nas
ocasiões) se tomará para isso de suas fazendas o que for necessário
A guerra, pois, produzira o efeito de eliminar a propriedade dos grão-senhores que não
tinham podido proteger as suas terras e — pagando o que custava ao reino — anexá-las
aos reais domínios. Deveras, extremando o escrúpulo em negociações prolixas, não
formalizaria el-rei a anexação sem um arremedo de compra, cujo processo terminou um
século mais tarde. Em 1649, porém, dissera a grande palavra de centralização. Terminava
aí o tipo quinhentista da exploração privada da colônia. Acabava o regime dos capitães
independentes. Começava o sistema da direta administração.
O Sargento-mor Diogo de Oliveira Serpa (cabo de uma “entrada” em maio de 51)671 teve
o cargo de capitão-mor das Entradas dos Mocambos (14 de maio de 53): correspondia à
necessidade de dissolver os agrupamentos de negros fugidos, cada vez mais freqüentes.
Destarte fazia-se policiamento rural e normalizavam-se as comunicações, de começo
indispensáveis para o abastecimento da guerra de Pernambuco, depois para a expansão
povoadora em que a Casa da Torre se substituiria aos Adornos do Paraguaçu. A
“bandeira” destes, de 1651, não foi decisiva: tanto que, em 1654, o Conde de Atouguia os
mandou de novo, com dobradas forças, limpar o Vale do Jequiriçá e afastar do litoral o
perigo dos selvagens.
RESTABELECIMENTO DA RELAÇÃO
O restabelecimento da Relação do Brasil, por esse tempo, restituiu à Bahia a dignidade de
capital judiciária da América Portuguesa.
Não deixou Castelo Melhor o governo sem dar início a duas tarefas consideráveis: a
reforma da Ribeira, para que se construísse, talvez anualmente, um galeão de 700 a 800
toneladas (conforme ordem régia de 2 de dezembro de 50)676 e o prosseguimento das
obras do Forte do Mar, paralisadas desde 1625 (carta régia de 4 de outubro de 50)677 e que
eram pagas pela renda do Contrato das Baleias.
A Ribeira da Bahia tornou-se em breve uma das melhores oficinas náuticas da América.
O CONDE DE ATOUGUIA
PAULISTAS NO NORDESTE
Escreveu em 20 de setembro à Câmara de São Paulo, que lhe deferiu o pedido em sessão
de 8 de maio de 58.685 Mandou uns quinhentos homens, dos quais uma centena de índios
auxiliares, sob o comando de Domingos Rodrigues Calheiros.686
O desengano não durou muito. Com o recrudescimento das hostilidades não houve
senão chamá-los de novo, para empregarem nos campos do Aporá e em Cairu a sua
peculiar arte da guerra ao tapuia.
SEGREDO DA GUERRA
O segredo no-lo revela o Regimento, que em 1727 se deu a Pedro Leolino Mariz, por que
observasse as “regras paulistas” na campanha contra os índios do Jequitinhonha. Em
primeiro lugar, consistia na distinção entre “gentio de boa língua”, que costumava admitir
pombeiros, ou “intérpretes” que os “desciam” em paz, e de “línguas travadas”, ou tapuias,
sumariamente considerados inimigos. A aproximação dava-se com cautelas indígenas: “E
pela frase dos paulistas é dar albarrada”, acercando-se de rastos, “sem tosse nem espirros”,
até junto do inimigo, quando de repente, com um grito medonho, para apavorá-los, o
assaltavam.689 Reduzia-se a luta a uma caçada hábil, cujo momento decisivo resultava da
surpresa, a mostrar o agressor qualidades “mateiras” superiores ao adversário. Os
europeus jamais lograriam fazer cousa parecida. Usavam de tantos rumores, como se
marchassem ao encontro dum inimigo disposto a enfrentá-los — que os caboclos690 lhes
fugiam, com a presteza de bichos assustados... Zombavam deles. Sentenciou o Padre
Antônio Vieira: “[...] e esta guerra só a sabem fazer os moradores que conquistaram isto, e
não os que vêm de Portugal”.691
MELHORIAS
DOTE E PAZ
Diz Monsieur d’Ablancourt, nas Memórias, que debalde Luís xiv quisera convencer
Filipe iv da conveniência de reconhecer a independência portuguesa. Dada a obstinação
de Madri, e para não perder aquelas pazes, sacrificou o aliado. Aliás, isto mesmo resume o
artigo lx do “Tratado dos Pireneus”.699 O Marquês de Turenne tomou então a si proteger
Portugal, não, é claro, pelo interesse direto, da libertação deste, porém para não permitir
que a Espanha, esmagando-o, renovasse, com a união ibérica, o poderio que, sem demora,
dirigiria contra a França. Luís xiv não podia receber mais o embaixador de D. João iv,
Conde de Soure (D. João da Costa): pois Turenne o recolheu à casa; escolheu, para chefiar
um socorro, de seiscentos oficiais e soldados, o Conde-duque de Schomberg, um dos
melhores generais do tempo;700 e, com a indulgência do rei, que lhe aprovava a intenção,
não regateou ao emissário e ao governo de Lisboa todos os auxílios.701
Bom negócio, sem dúvida. Serenando a América, fazia esquecer o prejuízo do Oriente.
Mas dando-lhe em cheio o peso do resgate. Ficou-lhe o encargo de entrar todos os anos
com 120 mil cruzados para a paz e 20 mil para o dote, durante dezesseis anos. A Bahia
respondia por 80 mil, Pernambuco por 25, a Paraíba por 3, Itamaracá por 2, Espírito
Santo por mil, o Rio de Janeiro por 26, São Vicente por quatro, “reservando-se as
capitanias do Espírito Santo, Porto Seguro e Ilhéus por muito tênues” a completar “as
faltas da contribuição desta cidade”.703
Definhou a Companhia por outras causas: a principal, a mudança política que se seguiu
ao advento del-Rei D. Afonso vi — em 23 de junho de 1662.
Mas a Companhia continuou: “Que havendo mais de quarenta anos cessou a causa por
que foi instituída, é tão útil, importante e necessária, que ainda se conserva, e conservará
por muitos anos”.708 Conservou-se até 1720.
Até 1658 as viagens dos paulistas tinham sido episódicas, desconexas, na maioria
clandestinas, e por terras dos tupis aldeados. Queria-se agora reproduzir a política de D.
Francisco de Sousa e explorar os veios de ouro cujas notícias continuamente chegavam a
Portugal. A separação enfim das três capitanias — São Paulo, Rio de Janeiro e Espírito
Santo — para que Salvador Correia as governasse com poderes idênticos aos que tivera “o
das Manhas” (17 de setembro de 1658),709 importava a declaração de ser este o período das
minas.
Os céticos desenganavam-se, como o Padre Antônio Vieira, que, a falar dos índios,
aduzia: “São as minas certas deste estado, que a fama das de ouro e prata sempre foi
pretexto com que daqui se iam buscar as outras minas, que se acham nas veias dos índios
e nunca as houve nas da terra”.710 Salvador Correia, porém, não perdeu tempo. De
passagem, do reino para a sede de sua larga autoridade, nela se empossou na Bahia, a 2 de
setembro de 1659.711 Parou no Espírito Santo, para mandar o filho, João Correia de Sá
(com o título de governador para a descoberta das minas), à busca das esmeraldas de que
tanto ali se murmurava712 — e pôde subir a São Paulo,713 onde fora temido e odiado.
Venceu a sua constância: uma disciplina, algo incoerente, desarmou por enquanto os
moradores que acolhiam, esperançados, o governante respeitável que até aí lhes parecera
nefasto.
O caso dos Campos dos Goitacases e a revolta do Rio de Janeiro desenvolveram-se quase
simultaneamente.
PARAÍBA DO SUL
Entre o Espírito Santo e o Rio de Janeiro houve espaço para duas capitanias, Paraíba do
Sul, que no século anterior se malograra com o donatário Pero de Góis, e Cabo Frio, que
consistia em dois fortes construídos por Constantino de Menelau em 1615. Esta segunda
não cresceu.714 A outra exerceu larga influência sobre a vida econômica dos moradores do
Rio de Janeiro, graças aos campos e pastagens onde podiam ter gados inumeráveis — à
semelhança dos de Sergipe e do São Francisco.
Em 1614 um dos sete capitães povoadores fez doação de sua parte ao Convento do
Carmo. Em 1648 curiosa “escritura de composição” foi lavrada, com a divisão dos
“campos” em doze quinhões, ficando quatro e meio para os pioneiros e seus sucessores,
três para Salvador Correia, três para os jesuítas (tão estimados dele), um para seu parente
Pedro de Sousa Pereira e meio para os monges de São Bento, também protegidos do
general.716 Tal revisão dos títulos dados importava a reivindicação, pelos Sás, do território
descoberto, e provocou um choque inicial, com a gente que já apascentava acolá os seus
rebanhos e não se dispunha a reconhecer o usurpador.
Esta, para eximir-se à dependência, criou uma vila — em 1650 — com o beneplácito do
Ouvidor Dr. João Velho de Azevedo, que, premido pelos Sás, voltou atrás, e o negou.
O mais animoso dos “setenta moradores dos Campos” era o Capitão André Martins da
Palma, veterano da “recuperação de Angola”. Foi assassinado por quatro curraleiros, da
parcialidade oposta à fundação da vila. Correu o sogro da vítima à Bahia — chamava-se
Gaspar da Vide de Alvarenga — e obteve fosse o ajudante João Gomes Barroso com 25
soldados prender os criminosos — como determinou o Governador-geral Francisco
Barreto.717
Fez-se justiça, mas não inteiramente. Achava-se na Bahia que o direito estava com os
“campistas”:
Eles descobriram ali os campos que ocupava a nação dos goitacases, que eram os mais bárbaros e formidáveis do
Brasil: domesticaram muitos, facilitaram aquele trânsito por terra, enriqueceram a cidade do Rio de Janeiro com os
gados que entre eles se apascentam hoje e fizeram engrossar a fazenda de Vossa Majestade naquela praça.718
CAMPOS
Francisco Barreto, em carta a esse “governador eleito pelo povo do Rio de Janeiro” (25
de janeiro de 1661), concitou-o a “sacrificar-nos antes do que faltar à observância” das
ordens del-rei.732
MULATOS E MAMELUCOS
Como se perdeu a memória dos fatos que fizeram Salvador Correia (no bando que fez
apregoar em São Paulo, ao som de caixas, em 1º de janeiro de 61) usar pela primeira vez o
grave nome de “inconfidentes”, para os rebeldes à sua autoridade, é indispensável
pormenorizar-lhes o caráter popular, a arrogância nativista, o espírito agressivo, o alcance
político. Não se pense que foi uma agitação superficial que se extinguia com a deposição
dos Sás. Tomou logo o aspecto de um rompimento com as leis do reino, pois, não
contentes de eleger governador (Agostinho Barbalho) os insurretos constituíram “forma
de Parlamento” (disse no bando, indignadamente, Salvador Correia) com quatro pessoas
da nobreza, à frente destas Jerônimo Barbalho Bezerra, e quatro oficiais,733 assumindo essa
junta deliberativa a direção da revolta, enquanto (contaram os oficiais da câmara, em
abril) o “vulgacho”, sem perdoar “igrejas nem ministros eclesiásticos, [...] descompondo o
Prelado e a religião de São Bento e a Companhia”, sobretudo... “mulatos e mamaluquos”
— se descomedia em atrozes excessos.734 Isso de mamelucos e mulatos, em conjunção com
a nobreza (Governo Aristocrático, indica Salvador no Bando de 1º de janeiro) atesta a
generalização da desordem, que começava pelo desrespeito às casas religiosas mais ligadas
à “oligarquia” (beneditinos e jesuítas). Ia porém mais longe. Lourenço de Brito Correia
escreveu da Bahia (27 de abril de 61) que... “sendo-lhes necessário para sua conservação
fazerem-se mouros o hão de fazer”; e que se falava de comunicação deles com Buenos
Aires, num possível movimento que importaria a perda do Rio de Janeiro, entregue a
castelhanos!735 Ignora-se onde a realidade dos sentimentos e a intriga se cruzavam nessa
revelação assustada; mas é visível, da alarmada epístola ao rei, a dimensão perigosa que
aparentava o motim, transbordando (como em 1645 o levante pernambucano) de um
pronunciamento ocasional, para tomar a feição de... inconfidência. Inconfidentes ao
Serviço real — denunciou Salvador Correia.
REINCORPORAÇÃO DO SUL
Salvador Correia não foi mais feliz do que o pai e o avô no empreendimento das minas
que viera administrar. A este respeito resultou-lhe infrutífera a subida ao planalto.
Demitido do governo do Rio de Janeiro, ressonância, como se disse, das alterações que
não soubera evitar, ao mesmo tempo acabava a separação das três capitanias. Não houve
ato régio que as mandasse reincorporar. O governador-geral tomou a destituição de
Salvador Correia como fim disto. Já em 15 de julho de 1661 lamentara:
Desta última carta de V. S. fico com o último desengano de não haver mais minas que as de que V. S. me dá notícia:
porque se as houvera se não esconderiam à diligência, ao zelo e à despesa com que V. S. se empenhou em seu
descobrimento.743
Avisou também a Pedro de Melo que devia propor-lhe as nomeações militares, que
assinaria... Exatamente como fizera com André Vidal — numa definição de sua
autoridade superior.745
VICE-REI
Para substituir a Francisco Barreto746 — ansioso por voltar à pátria, que deixara em 1648
— foi nomeado o Conde de Óbidos.747 Trazia título novo: vice-rei do Brasil (a modo do
Marquês de Montalvão em 1640), igual ao que tivera na Índia.
Ato contínuo, expediu o Regimento que deviam seguir os capitães-mores das diversas
capitanias do Brasil (com a reafirmação de que, independentes umas das outras, “são
imediatas e sujeitas a este geral: por cujo respeito só dele [governo] há de aceitar o
capitão-mor as ordens”).750
CONSPIRAÇÃO OBSCURA
Sete culpados pelo menos apareceram: o chanceler da Relação Dr. Jorge Seco de
Macedo, o velho Coronel Lourenço de Brito Correia754 e seu filho Lourenço de Brito
Figueiredo, os capitães Francisco Teles de Meneses, Antônio de Queirós Cerqueira e
Paulo de Azevedo Coutinho, e o secretário de Estado Bernardo Vieira Ravasco.755
Não se sabe se a agitação foi um protesto — contra o homem que fazia grande
cerimonial em homenagem à rainha que auxiliara a depor — ou mais extenso
movimento.756 O delator, Capitão Damião Lençóis de Andrade, do terço do Mestre-de-
campo Álvaro de Azevedo (que não seria estranho à intriga), teve de prêmio a patente de
sargento-mor e a transferência para a metrópole.757 Dois anos depois — com a queda de
Afonso vi e a ascensão do Príncipe D. Pedro — ganhou Lourenço de Brito a provedoria da
Fazenda (1º de março de 1668).758
Sobreveio a epidemia das bexigas que de Pernambuco se alastrou então até o Rio de
Janeiro. Faltam cálculos aceitáveis da mortandade que fez. Foi a primeira moléstia
contagiosa que infestou estas terras onde não se estranhava a longevidade, de indígenas e
forasteiros.759 Pretende Rocha Pita que a lavoura quase se aniquilou, com a perda de
tantos braços.
Estêvão Ribeiro Baião Parente chegou à Bahia quando o seu imediato já se achava “nos
campos do Aporá, [...] com mais de 400 pessoas”,771 “entre brancos e índios, parte dos
conquistadores de São Paulo, [...] e parte que lhes uni da Bahia”. Lá se juntaram e foi
terrível a batida: assim também ao sul. Não ficou nos sertões de Ilhéus ou do Paraguaçu,
donde desciam para Cairu, agrupamento indígena hostil ou suspicaz.772 Recolheram-se os
paulistas à cidade com centenas de prisioneiros aí “vendidos por tão inferior preço que os
de melhor feição não passavam de 20 cruzados”.773 A sua ação acolá era de represália,
portanto mais cruel. Pelo Paraguaçu acima já se tratava de conquista, com lisonjeiras
promessas de terras pastoris, escravaria e outros benefícios.
AFONSO FURTADO
É provável que Estêvão Parente fizesse centro de suas operações a casa-forte da ponta do
Gurguéia (reconstrução talvez do primitivo acampamento de Gabriel Soares)778 e batesse
o gentio em várias direções, limpando a terra “infestada de maracases” até “a Serra do
Orobó”.779 O governador da Conquista voltou à Bahia triunfante, em 1ºde fevereiro de
1673: trazia 750 prisioneiros. “Haviam sido 1.500; o resto morrera pelo caminho de uma
quase peste”, escrevia a 9 de fevereiro o visconde ao capitão-mor de Sergipe João de
Munhoz. Extintas ficavam as aldeias principais dos bárbaros que tanto haviam
atemorizado os moradores do Recôncavo.780 Outras três aldeias de maracas tomou o
paulista, com 1.100 cativos, no mês de julho — enquanto Brás Rodrigues de Arzão
prosseguia noutros sítios a mesma guerra.781 Aberta a estrada de carros de Cachoeira ao
Aporá, Estêvão Baião fundou a Vila de Santo Antônio da Conquista782 como seu ponto
extremo e o governador-geral deu a campanha por concluída nessa fronteira. Iludia-se...
Os índios voltaram três anos depois.
CREDULIDADE
O Governador Afonso Furtado teve o mérito de sua obsessão, que era achar as minas que
transformariam o Brasil de colônia de povoamento em novo Potosi.
Não limitou o otimismo a uma certa região. Pagou o seu tributo às lendas velhas
mandando ver a prata do Muribeca, baldadamente rastreada por três gerações. Mas
acreditou nas possibilidades do Norte, do centro, do Sul do país, do litoral e do sertão, de
todos os seus climas; e deu a tais descobrimentos um entusiasmo às vezes pueril. A
credulidade perdeu-o...
MINAS FABULOSAS
Começou pelo Vale do São Francisco. Diziam-lhe haver ouro na Serra do Picaraçá, além
do salitre que convinha arrecadar à beira do caudal cujas origens talvez estivessem no
Peru...783 Nas incertezas da geografia, ou na facilidade com que admitia as histórias do
“Dorado”, corriam outros estímulos para uma ação vasta, em busca das encantadas
paragens. Foram explorar as jazidas do Picaraçá (e as nitreiras) João de Castro Fragoso e
Manuel da Silva Pacheco (carta de 1º de agosto de 1671). Porque se demorassem, José de
Barros lhes saiu ao encontro (carta de 20 de janeiro de 72). Escreveu em seguida o
governador a Antônio Correia de Morais (17 de janeiro de 72) para que investigasse as
minas que um homem da casa do Padre Antônio Pereira descobrira no Sento-Sé.784
A patente dada ao Capitão Bento Surrel (5 de abril de 72) para o “descobrimento das
minas do São Francisco”, voltando com ele Manuel da Silva Pacheco,786 liga-se tanto ao
caso do “homem do Padre Pereira”, que atualizara a lenda da prata de Belchior Dias, cujo
segredo possuía a Casa da Torre, como à investigação do salitre.
Foram baldadas as pesquisas de prata apesar dos velhos mamelucos e vaqueiros que
guiaram os sertanistas entre Sergipe, Itiúba, Jacobina e o Rio Salitre.787 Descobriram-se,
isto sim, ametistas e muito cristal de rocha que, embora sem valor comercial, teve grande
consumo na Bahia (segundo Rocha Pita) para pequenos presentes e enfeite das casas.
A CASA DA TORRE
O fracasso da “prata” pouco valia em face de tais alvíssaras: o interesse pelas “entradas”, a
todo custo, repelindo a indiada e fixando, ao longo de caminhos definitivos, núcleos
estáveis de povoamento.
Francisco Dias de Ávila, sucessor do Padre Antônio Pereira e senhor da Torre, teve o
encargo, em fevereiro de 73, de remover os índios “reduzidos” para as aldeias que se lhes
destinara.
DESCOBRIMENTO DO PIAUÍ
Por lá andara Francisco Dias d’Ávila com o tio Padre Antônio Pereira. De 1651 foi a
sesmaria que tiveram o padre e Garcia d’Ávila, “desde a primeira cachoeira que o Rio de
São Francisco faz indo por ele acima até a última aldeia dos cariguaçus”, onde viviam os
“rodelas”.789 Em 1659 vários moradores da Bahia obtinham sesmarias no Pajeú.790
Distinguira-se Domingos Rodrigues de Carvalho — antes de 1669 — pelas relações “com
os ‘rodelas’, ‘tamaquins’ e outras tribos do São Francisco”, como se vê de sua patente de
capitão da ordenança do distrito da Torre.791 Os “caiapós” estavam de pazes com os
brancos, tanto que se passara patente de alferes ao principal deles, Pedro de Barros.792 E
um português de Mafra, Domingos Afonso Sertão, se estabelecera quarenta léguas acima
de Juazeiro, na fazenda do “Sobrado”. Grande criador, ambicionava para os seus rebanhos
novas e extensas terras.
Francisco Dias d’Ávila combinou com esses pioneiros a entrada que fosse também
guerra de extermínio aos tapuias. Ficaram Domingos Afonso e Francisco Rodrigues de
Carvalho com o comando, cada um, de metade da força (patentes de 9 de julho e 28 de
agosto de 1674), cuja chefia assumiu Ávila, ajudado (no posto de sargento-mor) por
Domingos Rodrigues de Carvalho (patente de 5 de junho de 74). Compunha-se a
expedição de cem brancos, armados à custa do senhor da Torre, e um corpo de “rodelas”
(cariris) com o seu Capitão Francisco (patente de 24 de agosto). Investiram pela margem
direita do São Francisco. O sargento-mor destroçou logo uma frota de 60 canoas e 400
índios. Deixou para trás o Rio Verde, e, já por terreno virgem, alcançou, em fatigantes
jornadas, os campos do Piauí — prêmio e objetivo da arrancada.
Por esse tempo a colonização ganhou o Vale do São Francisco e embargou a ferocidade
das “bandeiras”.
PENETRAÇÃO
Estêvão Baião — em 1675 — recebeu comissão mais importante: era quando grandes
esperanças se ligavam à entrada de Fernão Dias Pais em busca do Sabarabuçu.
Em Portugal percebera-se que era chegado o momento das intensivas explorações das
minas que, um pouco por toda parte, se anunciavam no Brasil.
Não quis o príncipe repetir o erro de separar do Norte as capitanias do Sul: seguiu o
alvitre de Francisco de Brito Freire, mandando um administrador-geral que visse as minas
de Itabaiana. Foi D. Rodrigo de Castelo Branco, “única pessoa” que se achou no reino em
que concorressem as qualidades necessárias para se fiar dela “negócio de tanta
importância”, como se explicara da corte a Afonso Furtado e este ao capitão-mor de
Sergipe (17 de março de 1674).808
“Foi Deus servido trazer a ele D. Rodrigo de Castelo Branco que havia muitos anos
assistia nas minas do Peru e delas tem toda a inteligência [...] pessoa única que do Peru
veio ao reino”.809 Mas “ainda que tivera engenho nas Índias nem por isso era descobridor
de minas, penetrador de betas, nem temperador de prata”, declarou quem o conheceu,
Antônio Pais de Sande.810 Pedro Taques viu-o “fazer diferentes ensaios em várias pedras
que tirou da Serra de Tabaiana”, e “dos ditos ensaios tirou prata que mostrava bastante
entendimento” — para confirmar a autoridade que lhe atribuíam.
Eram seus companheiros o Capitão Jorge Soares de Macedo, seu primo-irmão, que
devia fazer a “fortificação no sítio das Minas, desenhando-a por sua experiência”,
portanto com as honras de engenheiro;811 João Vieira de Morais, provido na capitania de
Sergipe, Bento Surrel, Sebastião Lopes Grandio e Manuel Gomes Cardoso. A presença de
Bento Surrel na comitiva do administrador mostra que a sua tarefa se ligava às anteriores
pesquisas, em que lhe aparece o nome.812
Dois anos, porém, baldadamente D. Rodrigo bateu os sertões entre os rios Real e São
Francisco, à procura de prata que lá não havia. Gorou-se-lhe o trabalho, como sucedera
aos outros investigadores do roteiro de Belchior Dias Moréia...
Jorge Soares de Macedo passou-se ao reino em meado de 1676, “para dar a Sua Alteza a
certeza das Minas”. Daí a patente de 29 de novembro de 1677 para que fosse D. Rodrigo
exercer na “Repartição do Sul como administrador”, em Paranaguá ou Sabarabuçu, as
atividades que não mais deviam repetir-se no Nordeste.813
Informou Pedro Barbosa Leal (em 1725): da Bahia se transferiu para São Paulo,
“ambicioso então das notícias que corriam das esmeraldas, do ouro e da prata de
Sabarabuçu, onde o mataram, deixando na Bahia o Tenente-coronel Jorge Soares de
Macedo, seu cunhado, para ir examinar as minas de Jacobina”.
OUTROS TEMPOS
As incursões dos paulistas na zona jesuítica do Sul e do Sudoeste esperaram sete anos —
após a derrota de 1641 — para reproduzir as façanhas que tanto atemorizavam
missionários e catecúmenos. Complicavam-se com uma intenção política que não estivera
nos cálculos dos sertanistas — instintivos e rebeldes — da fase anterior. Em 1629, em 33 e
38, unidas as coroas, os paulistas que destruíam as “missões” eram apenas corsários do
sertão sem lei e sem fé, como diziam os padres: fugiam ao castigo, afrontavam-no, faziam
a “Rochela da América”, na frase de Brito Freire. Esse estilo ilícito de conquista
atormentara o governo hispano-luso e zombara, até aí, de ameaças e proibições. Mas a
guerra subseqüente à Restauração mudara a fisionomia das cousas. De Madri veio ordem
para interromper-se o comércio entre o Rio da Prata e o Brasil. Sentiram os mamelucos
chegada a oportunidade de corridas mais extensas: e pensaram no Paraguai, nos Andes,
no Peru, donde recebiam notícias freqüentes dos cristãos-novos portugueses que, através
de Córdoba e de Buenos Aires, nunca deixaram de negociar com os de São Vicente, do
Rio de Janeiro e da Bahia.
Até essa data tinham sido íntimas e vantajosas as relações entre as praças brasileiras e
Buenos Aires. Corria-lhes o comércio, aliás, por conta dos portugueses que às centenas se
tinham instalado na foz do Prata.814 Entre estes destaca-se — em 1607–12 — Melchior
Maciel, que fez várias viagens redondas, levando para a Bahia farinhas e couros (além da
prata peruana que naturalmente não aparece nos papéis aduaneiros) e voltando com
açúcares e escravos africanos.815 Mandara Diogo Botelho, em 1602, “se não tomasse
dinheiro a mercador nem a peruleiro e homens que vinham da Índia e do Peru”816 — sinal
de que eram muitos. “Soma grande de patacas de quatro e oito reales, e assim prata
lavrada” transportavam, de Buenos Aires, muitos peruleiros, escreveu em 1618 o autor
dos Diálogos das grandezas.817 Não admira a quantidade de prata amoedada que na Bahia
achou, em 1610, François Pyrard.818 A “principal cópia de moeda do Brasil”, informou o
governador-geral em 1652, “é da fábrica antiga do Peru, donde veio quando os navios
desta Coroa tinham o comércio do Rio da Prata”.819
Com efeito, expediu D. João iv, em 1642, duas ordens a Antônio Teles da Silva: “Uma
para se abster de todo ato de hostilidade contra os castelhanos do Rio da Prata, e outra
para procurar a introdução de seu comércio”.820 Para cumpri-las saiu da Bahia o navio de
Davi Ventura, para Buenos Aires: “Não logrou a jornada”. Os alvarás de 18 de março e 14
de abril de 1646 reforçaram a autorização, ampliada aos navios espanhóis que quisessem
ir à África Portuguesa, em busca de escravos. Valeu-se dela Domingos Vieira Veijão: foi
de Angola ao Prata, daí ao Brasil, em 1656;821 exultou o governador-geral com a esperança
“de se encher por aquela via Brasil e Portugal de prata”. Em 1659 surgiu na Bahia o
castelhano João Tomás Brum, a pedir licença para o mesmo tráfico.822 A Portugal
importava o afluxo da moeda de que carecia. O governo de Madri não voltou atrás:
insistiu na sua negativa. Os colonos, irritados, apelaram para a violência. Já em 1643 (21
de outubro), lembrava Salvador Correia de Sá a conveniência, para segurar tal negócio, de
“construir um forte próximo a Buenos Aires, na Chácara da Catalina, a cavaleiro do
riachuelo e da cidade”.823 O Padre Antônio Vieira, mais franco:
Também se pode intentar a conquista do Rio da Prata, de que antigamente recebíamos tão consideráveis proveitos
pelo comércio, e se podem conseguir ainda maiores, se ajudados dos de São Paulo marcharmos (como é muito fácil)
pela terra dentro, e conquistarmos algumas cidades sem defensa, e as minas de que elas e Espanha se enriquecem, cuja
prata por aquele caminho se pode trazer com muito menores despesas. [...] e para ver se este comércio se pode
renovar, uma das ordens que levou Salvador Correia, foi tomar aquele porto.824
RAPOSO TAVARES
O cabo da razzia de 1629 não mais procura os campos do Sul — a terra dos tapes e o
Uruguai. Vai direto ao Rio Paraná, visando às reduções de Mboimboi e Maracaju de
modo a sair no Paraguai e talvez “conquistar estas terras e fazer caminho para o Peru”
(avisara o Padre Barnabé Bonilha ao governador de Assunção). Os seus principais
auxiliares eram André Fernandes,826 Antônio Pereira de Azevedo, experimentado cabo
das lutas contra os holandeses, Gaspar Vaz Madeira: compunha-se a bandeira de 200
brancos e mamelucos (180 armas de fogo, disse o Padre Mansilla) e mais de mil índios. O
ataque dirigiu-se ao Itatim. Em Mboimboi o Padre Cristóvão de Arenas, que lhe resistiu,
foi aprisionado, em seguida libertado por um troço de guaranis, ocasião em que morreu o
Padre Árias.827 Os paulistas devastaram as aldeias ao longo do vale, como Teracani,
Maracaju, Bolaños, Xerez: e forçaram missionários e catecúmenos a um “êxodo igual ao
de Guairá e do Tape”. A reação, porém, não demorou. Tendo contra si forças regulares,
Raposo Tavares mudou inesperadamente de rumo, e empreendeu a viagem mais extensa
de que há memória nos anais desse sertanismo: subiu o Paraguai, alcançou o Guaporé,
divagou pela região ignota de Mato Grosso convizinha dos Andes, e desceu em canoas
(“como dos argonautas contam as fábulas”) o Rio Amazonas, quando já não havia
esperanças do seu regresso.828
Um tupi aprisionado confessou, que o intento era Buenos Aires, tomando o gentio aos
padres e ficando “señores de la tierra toda”. O governador do Paraguai expediu em
socorro daqueles os soldados que pôde juntar. Desencorajados pela resistência e prevendo
combates mais duros, os agressores bateram em retirada. Graças a isto a série de aldeias
dos dois vales, do Paraná e do Uruguai, e os agrupamentos da região do Itatim, volveram
à tranqüilidade antiga.
VACARIA
A designação genérica — Vacaria — ligava-se aos campos do Rio Grande entre a serra e
os Tapes, cujo roteiro não era mais segredo em São Paulo. Partia-se de Sorocaba. De São
Miguel do Paranapanema se seguia para as ruínas de São Xavier e Santo Inácio, donde se
navegava — em vinte dias de percurso — para o Rio Paraná. Descia-se este até o
Ivinheima. Remontava-se o Ivinheima e, nas vertentes, varadas as canoas, os sertanistas
rompiam por terra, à procura dos gados bravos ou “cimarrões”, espalhados, aos milhares,
pelas planuras: Vacaria. Em 1694 diria D. Francisco Naper de Lencastro que era
inesgotável, essa reserva de gados, e, com apenas dez cavalos, recolhera 700 reses...829 No
século imediato o itinerário fluvial seria abandonado graças à abertura do caminho que
une o Rio Pelotas aos “campos gerais” (caminho de tropas, cujos acampamentos se
transformaram em cidades) indo terminar em Sorocaba, principal feira de muares do
Brasil durante duzentos anos... O vazio produzido por essas incursões devia preencher-se
com a colonização efetiva, subseqüente à reinstalação da Colônia do Sacramento. Os
paulistas não pensavam em povoar: conquistavam. A Vacaria era como um depósito
comum, de rebanhos sem dono, acessível a todos os preadores, portugueses e castelhanos.
Importava-lhes mais o contato com os guaranis, as “missões” e o contrabando que baixava
do Peru. Ao alto dos Andes vão ter Lourenço Castanho, Pedro Vaz de Barros... Manuel
Dias da Silva e Francisco Pedroso Xavier encurtaram o raio de ação, batendo os sertões
entre a margem direita do Paraná e Vila Rica do Espírito Santo. Este último — em 1675–6
— renovou os assaltos, não mais às missões do Uruguai, porém do Rio Paraguai, entrou
em Vila Rica e iria mais longe se não acudissem tropas castelhanas, que o forçaram a
retirar, transpondo a Serra de Maracaju, até as divisas de São Paulo.830
AGOSTINHO BARBALHO
NORTE E OESTE
Não tiveram a mesma notoriedade as bandeiras que se lançaram para os Goiases, para o
norte em direção do Amazonas, ou para o médio São Francisco através dos serros que
Fernão Dias Pais transpôs em 1675–81.
O Padre Antônio de Araújo escreveu uma Relação dada pelo mesmo (Pero) Domingues
sobre a viagem que de São Paulo fez ao Rio de São Francisco, chamado também Pará —
bastante vaga para que se lhe perceba a insegurança do roteiro, porém suficiente para que
se saiba que por 1630 os mamelucos tinham descoberto o itinerário dos “amoipiras”, e o
São Francisco na sua parte média. “Pelo que se pode agora ter por alvitre dado do Céu
achar-se que da Vila de São Paulo se pode ir em canoa até aos portos dos amoipiras”.834
“Das vilas de São Paulo para o Rio de São Francisco descobriram os paulistas
antigamente um caminho a que chamavam Caminho Geral do Sertão”, diz um papel do
princípio do século seguinte: “Pelo qual entravam e cortando os vastos desertos que
mediam entre as ditas Vilas e o dito Rio nele fizeram várias conquistas de tapuias, e
passaram a outras, para os sertões, de diversas jurisdições, como foram Maranhão,
Pernambuco e Bahia”. Assim sucedera — em 1677 — a Domingos de Freitas de Azevedo,
“que veio de São Paulo pelo sertão do Rio de São Francisco donde foi desbaratado pelas
nações bárbaras, com que pelejou”, a contar “que da nascença do Rio Paraguaçu distante
60 léguas das Itapororocas havia algumas aldeias”.835 Uma vez chegados ao grande vale
procuravam algum dos caminhos que abrira a Casa da Torre. Exatamente para castigar os
anaiós do São Francisco escreveu o triunvirato da Bahia em fevereiro de 1677 a alguns
paulistas: “Chegou-se ao tempo em que é necessário rogar a V. M.ce para o mesmo que
em outro tempo se lhe proibia, que passar ao Rio de São Francisco [...] havendo eles
(anaiós) degolado e desbaratado já tão várias bandeiras de paulistas”.836 Para acabar com
os maus índios tinham plena liberdade de cruzar aquelas terras. Andava por aí Domingos
Jorge Velho. Igual roteiro serviu a Francisco Dias de Siqueira, para subir ao Piauí e
Maranhão, e a Matias Cardoso, em 1690, para passar-se ao Apodi e Piranhas.837
Aos Goiases — depois de 1670 — foram Bartolomeu Bueno de Siqueira, Luís Castanho
de Almeida,838 que lá morreu às mãos dos índios (1671), Antônio Soares Pais, que o
vingou, Manuel de Campos Bicudo e Bartolomeu Bueno da Silva, o maior deles,839 por
antonomásia o Anhangüera (1670–3). Descobriu Bicudo a Serra dos Martírios e explorou
parte do atual Mato Grosso: foi o trajeto que, em 1716, procurou de novo seu filho (e
companheiro em 73) Antônio de Campos Bicudo.840
A ILUSÃO DO GOVERNADOR
Tomado de entusiasmo, mandou logo o filho, João Furtado de Mendonça (o que seria
governador do Rio de Janeiro, 1685–8) “com algumas pessoas de distinção que em
aplauso da novidade quiseram naquela ocasião passar à corte a diversos fins”, dar conta a
el-rei do achado e das amostras. Naufragou porém o patacho, na costa de Peniche; salvou-
se João Furtado, sem as cartas e as barretas de prata; e chegou a Lisboa — pondo em
reforço das palavras a emoção da catástrofe — como portador de uma notícia que
ninguém mais poderia discutir. Apressou-se o governo em remeter para a Bahia as cousas
necessárias para a exploração do tesouro, ao tempo, entretanto, em que no sertão morreu
o sujeito que o revelara, não se sabendo mais nada de suas primícias...841
É verdade que mandara pelos ourives da terra examinar as pedras brutas, que
acompanhavam as barretas, e o resultado fora negativo. “E porque suponho haver sido
isto falta de ciência nos ourives”, preferia ficar com a alegria da certeza, sem o trabalho de
prová-la. Expediu sem demora o engenheiro Antônio Correia Pinto “a reconhecer toda
essa costa” do Sul — não fossem rondá-la corsários atraídos pelas minas! — e Brás
Rodrigues de Arzão,843 para cuidar do gentio necessário à eventual defesa...
Mas não havia prata! Esta procedia do Peru, donde os próprios paulistas a traziam, nas
suas viagens que duravam anos. O engodo — posto à calva pelo engenheiro845 — e o
naufrágio de João Furtado,846 encerraram melancolicamente o período do crédulo
governador-geral.
A COSTA DO SUL
Pedro de Cáceres obteve licença do governo geral em 1619 para povoar o Rio de São
Francisco e a Ilha de Santa Catarina, com a condição de não escravizar o gentio,847 como
faziam, por mar, os traficantes de São Vicente e do Rio de Janeiro.
Segunda concessão para esse povoamento foi dada pelas autoridades de São Paulo, em
1642, a Antônio Fernandes;848 mas em vão Salvador Correia de Sá pleiteou para si uma
capitania de cem léguas, abrangendo a lagoa dos Patos.849 Ganharam-na seus filhos
quando se tratou de preparar a conquista do Rio da Prata.
À mágica palavra, Duarte Correia Vasqueanes, que substituía o irmão no governo, enviou
do Rio de Janeiro Eleodoro Ébano como comissário das minas, e depois Pedro de Sousa
Pereira, provedor da Fazenda Real, e Mateus de Leão — para lhe dizerem da importância
das jazidas.850 Foi então — 1648 — fundada a Vila de Nossa Senhora do Rosário de
Paranaguá.851
sendo Lara
o que se intitula descobridor desta chamada mina, e houvera pedra de mais de um quintal, cujo rendimento foi
excessivo.852
Por uma relação de 1711 sabemos que era “uma grandiosa mina de ouro de beta”; e que
não fora mais explorada porque da expedição de Pedro de Sousa Pereira resultara a morte
trágica do mineiro espanhol que podia averiguá-la. É o episódio misterioso de D. Jaime,
ou apenas Jaime Commere, que (foi voz pública) ali acabou para não revelar o segredo:
lançou-o de um despenhadeiro um criado do provedor... Pelo menos imputaram-lhe o
crime em 1660, por ocasião do motim do Rio de Janeiro, informando a Câmara de São
Paulo:
Enquanto à morte do mineiro Jaime Commere suposto que a princípio a fama, como em outras cousas, publicou fora
violenta, todavia em contrário se praticou [...] indo a mudar, com o passo mais largo, o dito mineiro, de uma para
outra pedra [...] escorregara e, caindo se despenhara na cata ou alta cova que se fazia.853
Concitava o rei a enviar autoridade “sem dependência de outro ministro” para “atrair
com o agrado ou com a força os ânimos daqueles moradores, sediciosos e turbulentos.
Porque é a Rochela do Sul a capitania de São Paulo”.855
Esta desconfiança do almirante (sem acreditar nos “quintos” que levava) parece
justificar a acusação dos revoltosos fluminenses em 1660:
Queremos com toda a verdade representar a Sua Majestade entre outras cousas o procedimento com que o
administrador-geral Pedro de Sousa Pereira se tem havido nelas em razão dos estanques que há mandado fazer de
água ardente e vinho e outras fazendas, para com elas comprar ouro e mandar a Sua Majestade a título de que é
rendimento dos quintos.856
A prata não era de Paranaguá. Como vimos, Afonso Furtado pagou duramente o seu
otimismo; e caberia a D. Rodrigo de Castelo Branco a punição do principal culpado do
engodo.
Mas a intrujice teve o condão de atrair os portugueses para a costa além das “três vilas” e
atualizou o seu antigo propósito de dominá-la até a embocadura do Prata, antes que os
castelhanos voltassem a algum dos portos intermediários.
O ludíbrio — a prata de Paranaguá — provocou uma larga expansão territorial — a
Colônia do Sacramento.
Em 1691 já era Gaspar Galete de Andrade provedor das minas “de ouro” “de Pernaguá
com jurisdição nas que de novo se descobriram no Rio de São Francisco, Campos de
Guaratuba e todas as mais circunvizinhas que estão descobertas e se descobrirem”.863
Dez anos antes andara pela praia e pelo planalto o Padre Belchior de Pontes. Viu os
campos de Curitiba, fazendeiros isolados, com os gados, entre pinhais, e o Capitão
Salvador Jorge desenganado de descobrir ouro e sem poder voltar à sua Vila da Parnaíba
pelas dívidas que deixara.
Profetizou que
naquele Pinhão (assim explicam os naturais o seu outono) se havia de recolher. Acabada a missão, voltou o padre para
a Vila de Pernaguá, e saindo nesse tempo dois criminosos a refugiar-se nos desertos da Curitiba, entraram pelos matos
com tal felicidade, que, convertendo-se a desgraça em ventura, descobriram ouro. Com esta notícia acudiu o Capitão
Salvador Jorge, e em breve tempo tirou tanto, que, voltando para sua casa no tempo sinalado, pôde não só satisfazer
aos seus acredores, mas ainda ornar a sua casa com várias peças de ouro.864
CURITIBA
SABARABUÇU
Começa outro ciclo de penetração, pesquisas e conquista: o das serras além do Paraíba,
entre as escarpas da Mantiqueira e a região da mata paralela ao mar, maciço esse onde
vinte anos depois foram descobertas as minas gerais.
Filho de Pedro Dias Leme e Maria Leite, desde 1638 Fernão Dias devassava o deserto.
Naquele ano entrara os campos do Sul até as “missões”. Com índios arrebanhados adiante
do Paranapanema fundara uma aldeia (eram 4 ou 5 mil) à margem do Tietê (1661).
O topônimo (itaberá-uçu, serra reluzente) não se referia a ponto certo: era vago e
conjetural como a lagoa Manoa, do “Dorado”, Vapabuçu ou matriz dos rios, a “serra do
rei branco”, dos conquistadores do Rio da Prata, muitos outros nomes da geografia
fabulosa. Já Gandavo indicara, no sertão de Porto Seguro, “serra [...] mui formosa e
resplandecente”.871 Continuou, cem anos, a preocupar governos e sertanistas. Confundia-
se com a montanha de esmeraldas, que os Azevedos e os jesuítas tanto procuraram no
Espírito Santo. Escreveu o governador-geral a Fernão Dias (20 de outubro de 1671)
aceitando-lhe os serviços (“a grande estimação que fiz de ver o que V. M. escreveu a este
governo sobre o descobrimento que [...] sua custa das minas de Sabarabuçu e
esmeraldas”) e o informe: “Que estão da altura da capitania do Espírito Santo, que serão
ambas vizinhas”.872 Completou-o em 19 de fevereiro de 72:
E porque aqui se me disse que do pé das serras do Sabarabuçu há um rio navegável que se vai meter no de São
Francisco e que por ele abaixo se poderá conduzir mais brevemente a prata até junto a estas serras que ficam no
distrito da Bahia, chamadas Jacuabinas, e delas descer a esta praça.873
O tal afluente seria “o das Velhas”; e assim a Sabarabuçu da lenda a mesma Sabará de
trinta anos depois. Em 30 de outubro de 72 expediu Afonso Furtado a patente de
“Governador de toda a gente” que levasse ao “descobrimento das minas de prata e
esmeralda” — para o honrado paulista874 a quem o príncipe escreveu, encarecendo a
expedição.875 Saiu ele da vila a 21 de julho de 1674: tinha então 66 anos de idade876 e
sacrificava na grande aventura os seus bens de fortuna. Gastara nos preparativos 6 mil
cruzados. Levava “40 homens brancos”, um filho, quatro tropas de “moços” com a carga.
Mandara na frente o Capitão-mor Matias Cardoso, para o esperar “no serro” com as roças
necessárias.877 Tinha a certeza de achar o tesouro, capaz de fazer o Rei de Portugal o mais
rico, senão o mais poderoso do mundo... Deu a vida por essa idéia.
Se no Espírito Santo ficavam as minas, por que tão pouco valia então essa capitania,
decadente e muito pobre? Coube a um opulento morador da Bahia878 estimá-la
devidamente: o Coronel Francisco Gil de Araújo (ferido em 1638 na defesa da Bahia,
fidalgo de fartos haveres a quem o Padre Simão de Vasconcelos dedicou a Vida do
Venerável Pe. Joseph de Anchieta) — bastante inteligente para lhe prever a prosperidade e
suficientemente rico para comprá-la.879 Em 1674 deu por ela 40 mil cruzados ao
donatário, o Almotacé-mor Antônio Luís Gonçalves da Câmara Coutinho (depois
governador-geral), transação que foi confirmada pela carta régia de 18 de março de 1675.
O objetivo imediato da compra não podia ser senão a pesquisa dos metais:
Foi S. A. servido encarregar ultimamente ao donatário e governador da capitania do Espírito Santo, Francisco Gil de
Araújo, que mandasse fazer o descobrimento das minas das esmeraldas, querendo ele aceitar e fazer este serviço com
as mesmas cláusulas e mercês que S. A. havia passado a José Gonçalves de Oliveira.880
Não lhe faltaram índios do Rio de Janeiro, Cabo Frio e Porto Seguro para a entrada:
realmente nela “despendeu muito dinheiro, pois só nas entradas pelo Rio Doce se
gastaram mais de 12 mil cruzados e nas doze experiências que mandou fazer mais de 2
mil”.881 Andou nisso preliminarmente o entusiasmo de Afonso Furtado. O Espírito Santo
— graças a Fernão Dias e Francisco Gil — devia ser explorado do sertão para a costa e do
litoral para o interior, de modo a tomarem contato no alto Rio Doce as duas bandeiras,
paulista e baiana. Desta pouco se sabe. O negócio feito pelo novo donatário não lhe
remunerou o capital empregado: é verdade que mandou fundar engenhos, localizou
muitos casais de colonos, desenvolveu a agricultura na sua capitania. Falharam os seus
planos de “ouro e esmeraldas”. Fernão Dias teve sorte diferente.
— alegou depois este cabo.884 As roças da primeira espera foram talvez no Sumidouro do
Rio das Velhas; os outros arraiais, progressivamente fundados, Roça Grande, Tacambira,
Itamerendiba, Esmeraldas, Mato das Pedrarias e Serro Frio — segundo o depoimento de
Pedro Dias Pais Leme, em 1757.885 Durou-lhe a viagem oito anos. Abrangeu, em arco,
largo trecho do atual território das Minas Gerais, o Vale do Jequitinhonha, contra-
escarpas da Serra do Mar, possivelmente as cabeceiras do Rio Doce. Não deixava balizas,
senão taperas, dos acampamentos abandonados. Dilatava a conquista do solo sem os
resultados apetecidos, da pedraria ou da prata. Arrostou a perfídia dos índios esparsos (os
puris), as canseiras e a monotonia do sertão, o desgosto e a infidelidade de companheiros
enfurecidos pelo insucesso.
Conta Pedro Taques o caso do filho bastardo do “Governador das esmeraldas”, José
Pais, despeitado com a predileção em que este tinha o legítimo, Garcia Rodrigues Pais:
conspirou contra a vida do pai, para assim dissolver a bandeira. Sabendo disto, pela
denúncia de uma índia goianá, o velho sertanista não hesitou: prendeu os culpados e após
breve inquirição fez enforcar, à vista de todos, o perjuro — afirmando, com o castigo, a
sua autoridade severa e ilimitada...
Esgotados os recursos, Fernão Dias pediu à mulher, em São Paulo que vendesse tudo,
contanto que lhe enviasse o indispensável para a continuação da jornada — com o filho
Garcia Rodrigues e o genro Manuel Borba Gato.886 Os parentes exprobraram-lhe o
devaneio (“gastando nestos años el caudal con que se hallaba, era uno de los más ricos
daquella villa, sin que nadie le quisiese ayudar a este servicio en cosa alguna, antes a
embaraçarle y decir que estaba loco, pues gastaba los años y el caudal de sus hijos y mujer
en locuras, que no habian fin”).887 Mas a fiel matrona não lhe faltou. Prosseguiram as
diligências nas montanhas de Marcos de Azevedo (achando “os almocafres e mais
ferramentas de que se servira o dito para extrair as tais pedras que lá tinha deixado”).888
Munido de “pedras verdes transparentes” voltou ao Sumidouro do Rio das Velhas: aí,
“desamparado e sem confissão” (como atestou D. Rodrigo) morreu “de peste, e muita
parte dos seus índios e escravos”, imaginando ter em mãos esmeraldas finas, o tesouro
suspirado, a recompensa da sua terrível obstinação... Também se ignora a data do
falecimento: entre 27 de março e 26 de junho de 1681. Em Paraovuipeba D. Rodrigo de
Castelo Branco reconheceu o mérito de seus serviços, ao mesmo tempo tomando posse
das roças do Sumidouro e de Tacambira e das amostras de pedras verdes, que
honradamente lhe entregou Garcia Rodrigues: em 8 de outubro seguinte. Insiste na
dúvida: “[...] y me trujo a manifestar unas piedras verdes transparentes, decindo ser
esmeraldas y que el dicho su padre habia falecido longas jornadas deste arraial traziendo
en su compañia las dichas piedras”.889 Seguro é que os restos mortais do “Governador”
foram trasladados piedosamente para São Paulo e, com as devidas homenagens,
sepultados na igreja dos beneditinos, que ajudara a reconstruir.890
De fato, as pedras verdes não valiam a pena: porém o êxito da bandeira — exatamente a
que mais impressionou a imaginação dos brasileiros — não estava nesse tesouro
enganoso. Consistia na abertura do caminho geral, para as montanhas das Cataguás, além
da Mantiqueira (“descoberto igualmente por ele todo o país pelo serro de Sabarabuçu”).891
Descortinara o maciço central. Revelara as cabeceiras dos caudais que se atiram para a
costa, serpeando entre as barreiras e os espigões; as terras florestais que as altas serras
delimitam, os cabeços ferruginosos, as imprevistas formações geológicas, os cristais de
rocha e as cascalheiras de uma zona rica de todos os minérios... As Minas Gerais estavam
descobertas. O estóico capitão das esmeraldas revolucionou as abusões e as tradições do
sertanismo paulista: substituiu a “marcha para o Sul”, rumo das missões abundantes de
gentio dócil, pela “marcha para o Norte”, através dos campos de Taubaté, passando o
Paraíba e as gargantas da Mantiqueira. Puxou aqueles insaciáveis andarilhos para as terras
dobradas e ínvias dos puris, indicou-lhes a Sabarabuçu, que prometia incríveis riquezas, e
autorizou a lenda, de que prata e pedras finas fariam daquilo outro Peru.
Consta ser de 1689 a poesia, de rima camoniana, que se perdeu, salvando-se apenas as
quatro estâncias reproduzidas no século seguinte por Cláudio Manuel da Costa, no
“Fundamento histórico que serve de prólogo ao poema da Vila Rica”.892 Fala Pedro
Taques de Domingos Cardoso Coutinho, natural de Lamego (faleceu em São Paulo em
setembro de 1683), “excelente poeta e autor da Relação panegírica em oitava rima da vida
e ações do Governador Fernão Dias Pais, descobridor das esmeraldas”. Será este o nome
— e Diogo Grasson Tinoco pseudônimo?893 Dois cantores, contemporâneos da
memorável jornada?
FIM DE D. RODRIGO
D. Rodrigo de Castelo Branco não fora mais feliz no Sul — à procura de minas que não se
achavam, e de quem lhas indicasse.
Representava a Coroa, portanto o fisco, a lei severa, o interesse do Estado pelo trabalho
dos sertanistas que, por toda parte, o acolheram suspeitosos e de mau modo. Passou
primeiro pelo Rio de Janeiro (abril de 1678). Despachou aí João de Campos e Matos a
descobrimentos no sertão. Seguiu para Santos e subiu a São Paulo, recebido
respeitosamente pelos “homens bons” e resolvido a proibir novas expedições a
Sabarabuçu enquanto lá não fosse, para ver a maravilha. Enviou com efeito vários
sertanistas para fazerem as roças de que devia sustentar-se a tropa, no ano seguinte; deu o
auxílio necessário a D. Manuel Lobo, para a fundação da Colônia do Sacramento; e partiu
para as vilas do Sul, ao longo da costa.
Aconteceu o crime em 28 de agosto: “Lhe deram três tiros do mato e logo caíra morto”,
segundo a versão que o governador do Rio comunicou à corte.898
Correu que o criminoso fora o genro de Fernão Dias. Não há dúvida que — para eximir-
se ao processo ou por motivo correlato — se recolheu Borba Gato à região de
Guaratinguetá onde, em homizio que se lhe não perturbou, viveu silenciosamente quase
vinte anos. Ressurgiu, limpo de culpa, para juntar-se aos descobridores das Minas Gerais,
rico e lisonjeado, como fidalgo de grandes préstimos e experiência. Serviu de liame
pessoal entre o sonho das esmeraldas e o ciclo do ouro. Foi dos primeiros que arrancaram
ao sertão das Cataguás o seu segredo: provou que andava seguro de si, e não errara —
apesar de sua crença nas pedras verdes — o estóico paulista que lá deixara a vida.
Uma das disposições do tratado (art. 2º) exigia a recíproca restituição das praças
tomadas “durante a guerra”... Aparentemente eqüitativa, a cláusula beneficiava com
largueza Portugal e o Brasil. A expansão sertanista fora do meridiano de Tordesilhas
amparava-se, já aí, a um diploma internacional. Reconhecia-se (sem se pensar muito nisto
de parte de Castela) a ilegitimidade da ocupação apenas na vigência da guerra, ou de 1641
por diante. Não se discutiria, portanto, a da Amazônia (1639), ao longo do Tietê, e para o
sul e oeste (1627), incorporada destarte, tácita e formalmente, no patrimônio português.899
Portugal definia um interesse que não devia mais relegar, por inerente à sua política de
colonização e império: qual o de tirar da posse o direito (o claro direito de primeiro
ocupante) em vez de estribá-lo nos papéis de chancelaria, serôdios e controvertidos.
O UTI POSSIDETIS
Em 1675–8 ainda era aquilo domínio dos charruas intratáveis, os portos vagamente
conhecidos, o litoral sem vestígio de gente branca, e acessível, a região, do São Francisco
do Sul até a “banda oriental”, às incursões e aventuras de quem quisesse tomá-la.
Por que o longo descuido, de ambos os países, em anexar esse trecho do continente, que
correspondia aliás a um sertão percorrido pelas bandeiras, trilhado pelos missionários,
balizado pelas reduções dos jesuítas e sem mistérios — àquela altura do século — para os
homens de São Paulo e do Paraguai? O Peru — é a explicação — atraíra o povoamento
espanhol; e o caminho de Córdoba, até Buenos Aires, servia de escoadouro da “prata” dos
Andes. Exatamente a procurá-la (com o ouro de que se falava desde 1598) na costa abaixo
de São Vicente a colonização portuguesa atingira Paranaguá e as escarpas do planalto.
Para prosseguir precisava de um estímulo imediato — de que careciam os castelhanos de
Buenos Aires entretidos com a criação de gado, o comércio e a recovagem peruana. A
“prata” que enganou Afonso Furtado — sem convencer a corte de Lisboa, incutiu-lhe a
idéia900 de precipitar uma ocupação que tinha lógica e oportunidade. A oportunidade era a
salvaguarda das minas, caso existissem; e a lógica — a expansão do Brasil até um “limite
geográfico”, simétrico do Amazonas ao norte, a “fronteira natural” do Prata. Ao
engenheiro Antônio Correia em 1675 se cometera a tarefa de “reconhecer aquela costa,
sondar [...] fortificações que seriam necessárias para segurança das minas”.901 Foi o
engenheiro da nova colônia.
A nomeação de D. Manuel Lobo para governador do Rio de Janeiro deu começo à série
de providências militares para a criação da colônia.
AS DUAS EMPRESAS
D. Rodrigo de Castelo Branco (para “de uma vez” averiguar as minas) seguiu em 24 de
setembro.904 A 5 de agosto escrevia o primeiro, anunciando partir do Rio de Janeiro para a
diligência a que fora. Logo mandou o príncipe a D. Manuel Lobo, em 12 de novembro
(também de 1678):
Depois de tomar conta do governo do Rio de Janeiro desça ao Rio da Prata e na Ilha de São Gabriel forme as
fortificações necessárias, e uma nova colônia para que meus vassalos possam residir nela, e nas mais que se fizerem nas
terras ermas de meu domínio.905
A EXPEDIÇÃO
Foi Jorge Soares reconhecer a costa até Buenos Aires, mas não pôde desembarcar nas
ilhas de São Gabriel, tal a violência dos ventos; dali tornou para Santos, e de novo desceu
para Santa Catarina, com ordem de esperar D. Manuel Lobo. A este auxiliou grandemente
no Rio de Janeiro o Desembargador João da Rocha Pita, nomeado “sindicante das
províncias do Sul às maiores diligências que até aquele tempo se tinham oferecido”, como
diz o historiador seu sobrinho.906 “Embargou 14 barcos e sumacas que estavam nos portos
de Santos e São Vicente”,907 e que serviram para as viagens de Jorge Soares e do
governador. Da gente para o reforço da expedição e provisões necessárias se encarregou,
em São Paulo, o ativo D. Rodrigo. O próprio D. Manuel visitou a Vila de São Paulo com
esse desígnio. Compôs-se afinal o comboio de cinco embarcações, três charruas de fabrico
holandês, uma fragatinha e um patacho. A tropa regular não passava de duzentos
homens;908 porém muitos índios das aldeias paulistas a acompanhavam, formando tudo
uma força apreciável, proporcional à que poderia atacá-la, saindo de Buenos Aires.
Largou de Santos em 8 de dezembro de 1679.
NOVA COLÔNIA
A situação do fortim ali feito era aparentemente mais vantajosa que uma das ilhas do
estuário. Porém estava a indicar — ao mais despercebido da arte da guerra — a
precariedade da praça que se fundava. Facilmente podia ser assediada pelo lado do
continente, e varrida pela artilharia que se postasse na praia à direita e à esquerda, pois
nenhuma elevação a defendia ou isolava. Os portugueses aí se agüentariam enquanto
tivessem a proteção duma esquadra. Entregue aos seus próprios recursos a guarnição, não
demoraria a resistência. Faltar-lhe-ia sempre o domínio da terra adjacente — plana e
ilimitada; e um anteparo natural a que se apoiasse. Compreensível, o sítio, para uma
feitoria de comércio, só um excesso de confiança explica que o erigissem em cidadela. D.
Manuel Lobo começou mal a sua penosa tarefa: cometeu o erro (mais estranhável porque
os portugueses aproveitaram admiravelmente a topografia americana para as suas
povoações e fortalezas) de meter numa ponta de terra chã e escassa a sorte de sua
conquista, bem outra se a localizasse em Maldonado ou Montevidéu, como aliás
presumiam os espanhóis. Esse erro agravou-se com o tempo.
BUENOS AIRES
A QUEDA
Não convinha a D. José de Garro ter tantos portugueses juntos em cidade onde seus
patrícios eram maioria. Despachou logo para o Chile Jorge Soares de Macedo e desterrou
o infeliz governador para Córdoba. Os achaques, a melancolia e a idade de D. Manuel
Lobo não toleraram o clima e a penúria do desterro. Voltou para Buenos Aires e aí
faleceu, em 7 de janeiro de 1683.913
RESTITUIÇÃO
É claro que os eruditos delegados não chegaram, nos seu debates logo travados, a
conclusão alguma. Dir-se-ia que o debate era para isto mesmo. Em 12 de fevereiro de
1683 — o que mais importava — recebeu o governador do Rio de Janeiro Duarte Teixeira
Chaves a Colônia, em nome de Portugal915 e a fortificou,916 com quatro baluartes e
baterias, a ponto de, em Buenos Aires, se predizer (em 1699): “Será em breve como uma
das maiores povoações, e de pequena centelha não apagada nos princípios, passará a raio
que incendeie e devore toda a América”.917
TRIUNVIRATO PATRÍCIO
Faleceu Afonso Furtado na Bahia — de enfermidade que se lhe agravou com a dor moral,
de seus insucessos — em 26 de novembro de 1675.924 Determinou, in articulo mortis, lhe
sucedessem em triunvirato o chanceler da Relação (Desembargador Agostinho de
Azevedo Monteiro) o mestre-de-campo mais antigo (Álvaro de Azevedo) e o juiz mais
velho do Senado da Câmara (Antônio Guedes de Brito). Pela primeira vez em junta de
governo predominaram os naturais do Brasil,925 que foram todos três — quando, meses
depois, morreu o chanceler Monteiro, substituído pelo Desembargador Cristóvão de
Burgos, a quem já aludimos. Estiveram no poder até 15 de março de 78. Entregaram-no
ao Governador-geral Roque da Costa Barreto (Regimento de 23 de janeiro de 77; posse
naquele dia; e governou até 23 de maio de 1682).
ROQUE DA COSTA
O REGIMENTO
SÉ ARQUIEPISCOPAL
CONVENTOS
Dois anos depois os capuchinhos italianos (Fr. João Romano e Fr. Tomás de Sora)
fundaram o Hospício de Nossa Senhora da Piedade, transferido em seguida para os
capuchinhos franceses, já conhecidos na capitania.936
Em 1637 tinha sido arrematada a construção das calçadas.939 Então — para obviar à alta
do peixe — se decidira fosse vendido em tujupares (palhoças), a preço fixo, no Terreiro de
Jesus.940 É imaginar a humildade da Praça por esse tempo. Quarenta anos depois já se
espalhava pelas colinas adjacentes, sem respeito às “portas” (São Bento e Carmo) do limite
antigo. Chamou-se da Pólvora o campo junto do Desterro, porque aí mandou Roque da
Costa edificar, com quartel anexo, a Casa da Pólvora. Povoou-se com isto o caminho da
igreja nova de São Pedro ao arrabalde de Nazaré. Aí a Rua da Poeira, mencionada num
soneto de Gregório de Matos. Abre-se a “de baixo de São Bento” como definitiva saída da
cidade dos seus muros quinhentistas.941
A Francisco de Brito Freire, escreveu Vieira em 1691, que, se como “noutro tempo,
governando alguma armada, entrara no seu formoso porto, não a conhecera. Eu a
desconheci, quando depois de 40 anos de ausência a tornei a ver muito acrescentada e
enobrecida de casas”.942 E Gregório de Matos:
Haverá duzentos anos,
Nem tantos podem contar-se,
Que éreis uma pobre aldeia,
Hoje sois rica cidade.
Então vos pisavam índios,
E vos habitavam cafres,
Hoje chispais fidalguias,
E arrojais personagens.943
Solares, que figurariam bem em Lisboa, ostentam altas portadas,944 linhas clássicas,
como o de João de Matos à Ladeira da Praça (data: 1674)...945 O Arcebispo D. Frei João da
Madre de Deus mudou-se “para o novo palácio que comprara”,946 substituído, no começo
do século seguinte, pela mansão construída por D. Sebastião Monteiro da Vide.
Faz-se, por esse tempo, em pedra portuguesa (segundo o desenho de São Vicente de
Fora em Lisboa e da igreja dos jesuítas de Santarém), a igreja da Companhia.947 Ao
majestoso templo corresponde uma sacristia em estilo e beleza comparável às melhores do
século, adornada de retábulos “qu’ils m’ont dit être des meilleurs Maîtres d’Italie”
(segundo um viajante de 1702).948 Reedificam-se o Carmo e São Bento,949 a Misericórdia
(concluída no princípio do século seguinte), a Sé950 — da qual disse o mesmo estrangeiro:
“Je n’en sache en France qui puisse lui être comparée”.951 Referia-se certamente ao
tamanho e à imponência barroca dos seus altos balcões, dos seus vastos altares. A capela
de São Pedro Velho transforma-se em suntuosa matriz.952 As do Rosário (dos soldados)953
e da Palma (cedida em 1693 aos agostinianos)954 têm arte e nobreza. No Campo do
Desterro, Roque da Costa Barreto manda construir a Casa da Pólvora — que deu o nome
a esse arejado lugar.
Até aí o luxo se limitara a roupagem, sedas e enfeites com que se afidalgavam os colonos
— como lhes exprobrou, no Maranhão, o pregador:
Todos a trabalhar toda vida, ou na roça, ou na cana, ou no engenho, ou no tabacal: e este trabalho de toda a vida,
quem o leva? Não o levam os coches, nem as liteiras, nem os cavalos, nem os escudeiros, nem os pajens, nem os
lacaios, nem as tapeçarias, nem as pinturas, nem as baixelas, nem as jóias; pois em que se vai e despende toda a vida?
No triste farrapo com que saem à rua, e para isso se matam todo o ano.955
A vida correra sóbria, desataviada, rústica: e pelas ruas estreitas em vez de carruagens
(que não havia na Bahia em pleno século xviii) desfilavam as “serpentinas”, ou redes
suspensas de uma vara em ombros de negros, ao gosto indiano...956 As mulheres saíam a
furto, às madrugadas, para ouvir missa; e os sujeitos de prol só eram vistos naquelas
“tipóias”, seguidos de escravos. À noite os encapuçados, de espada sob o braço e guitarra,
pervagavam, perigosos, com os guarda-costas.957 Mas os tempos mudavam.
Outro francês, Froger, que passou pela Bahia em 1696, gabou-lhe a opulência dos
edifícios, sobretudo a igreja do colégio, mosteiros, sobrados e capelas.959
Casas de dois e três andares, paredes grossas, fachadas de cantaria, quase sempre enfeitadas por largas sacadas; telhas
por toda parte; não se viam tetos de materiais pobres. Largas as principais ruas, bem calçadas de pedras pequenas
HIGIENE E DEFESA
SERGIPE
AS ALAGOAS
A capitania de São Francisco, as Alagoas e o Rio de São Miguel formavam três distritos
unidos na jurisdição de um coronel das Ordenanças, Luís do Rego Barros, em 1674.973 A
primeira abrangia Penedo e o sertão da margem esquerda, que voltara a encher-se de
currais, a ponto de serem inumeráveis os gados — de ordinário transportados para a
Bahia — ao começar o século xviii. Pelo São Francisco acima, “até as povoações dos
Rodelas, e pelo Rio Panema acima, Comunati, Campos do Buíque, Campos de
Garanhuns”,974 se distanciavam os vaqueiros dos núcleos agrícolas de Porto Calvo e
Serinhaém, incluídos no ambiente social da “várzea”. Os engenhos de açúcar sofreram o
flagelo da “guerra dos Palmares”: só se libertaram da vizinhança e influência dos
Mocambos de 1694. A criação da comarca das Alagoas — separada de Olinda —
justificou-se em seguida pelo povoamento do território entre as Alagoas do Norte e Porto
Calvo e o porto de Penedo.975 Perto, no São Francisco, dando nome à cachoeira, havia em
1704 a “Tapera de Paulo Afonso”; e uma barca, no Juazeiro, servia aos viajantes...
RECIFE E OLINDA
Aprovou el-rei a mudança “do dito governador (Vidal) para a Vila de Olinda, sem
embargo de se fazer sem aprovação minha e encomendar-vos muito, como ora faço, que
com todo cuidado mandeis tratar da conservação do Recife”, onde ficava a alfândega, com
a infantaria.981
LUTA DE JURISDIÇÕES
Desavindos a propósito da transferência da sede do governo, entraram Barreto e Vidal em
luta aberta quanto às nomeações para os lugares da tropa. Competiam ao governador-
geral na Bahia, sustentava o primeiro; e queria, obstinado, o segundo que continuasse isso
na sua jurisdição. Como não se entendessem, decidiu abruptamente Barreto suspender
das suas funções André Vidal; e remeteu para substituí-lo (com ordem de recorrer às
armas se necessário) o Mestre-de-campo Nicolau Aranha Pacheco (o mesmo que lhe
servira de alferes no começo da guerra patriótica). O Desembargador Cristóvão de Burgos
foi encarregado de instaurar o respectivo processo. Prudente, o paraibano reconheceu a
autoridade do governador-geral, antes que a desinteligência descambasse para a rebelião;
e por sua vez a corte reprovou duramente a energia descompassada de Francisco Barreto.
Serviu o episódio para reafirmar a hierarquia administrativa, que sobrepunha aos
capitães-generais das capitanias o governador-geral do Brasil.982
BRITO FREIRE
O pretexto foi a permanência no porto de uma frota francesa de doze navios, procedente
da Ilha de São Lourenço, do mando do Marquês de Montevergue. Jerônimo de Mendonça
tratou bem os viajantes, com muitas festas, ao gosto do tempo e do lugar, isto é,
banquetes, cavalhadas e serenins. Vereadores e militares tomaram a cordialidade por
traição, vendo o propósito — ao que se espalhou — de meter estrangeiros na terra, e se
conluiaram, para depor o “Xumberga”, o juiz ordinário André de Barros Rego, Lourenço
Cavalcanti e João Ribeiro, membros da Câmara de Olinda, Domingos Dias Soeiro,
procurador desta, o secretário do governo Manuel Gonçalves Correia, João Batista Accioli
e João Gomes de Melo.
O vice-rei não mandou castigar o delito. Tendo a Câmara de Olinda tomado o governo,
à espera de quem fosse provido nele, nomeou André Vidal de Negreiros (empossou-se em
24 de janeiro de 1667)988 — como filho do país, que se faria obedecer dos revoltosos.
Aquietaram-se estes. Seis meses durou a administração apaziguadora do herói paraibano
substituído por Bernardo de Miranda Henriques (que governou até 28 de outubro de
1670).
S. diz sobre o médico, quatro há nesta cidade, são poucos para tão grande povo. Em
Pernambuco havia um, e por lhe não pagarem se veio também para a Bahia onde
morreu”.991
PARAÍBA
Mais depressa se reergueu a Paraíba, porque não a flagelaram, na zona litorânea, tapuias e
escravos fugidos, como no Rio Grande, no Ceará, nas Alagoas. Participava além disto da
dupla vantagem de ter engenhos de açúcar que voltaram a moer (dezessete antes da
guerra e em 1666 “dezessete, se não forem mais”)992 e campos excelentes para os gados
que os supriram — e a Pernambuco.
Um morador da Bahia, João Peixoto Viegas, logo em seguida à restauração obtivera seis
léguas em sesmaria e introduziu “grande quantidade de gado que mandou levar desta
capitania da Bahia” (por não haver naquela) “pela distância de 180 léguas, [...] no que fez
notável serviço e aumento às rendas de S. M. porque logo lhe ficou possível pelos bois dele
suplicante a lavoura e fábrica dos engenhos d’açúcar que se foram fazendo”.993 Aos
paraibanos não faltava orgulho nativista, com o sentimento da vitória recente. Para
premiá-los mandara Francisco Barreto a André Vidal, governador de Pernambuco, que
enviasse por guarnição à Paraíba duzentos soldados, mas naturais dela994 — numa
homenagem feita às suas tradições e aos seus sacrifícios. Governou-a em 1655 João
Fernandes Vieira. Para suceder-lhe foi um filho da terra, o velho Matias de Albuquerque
Maranhão995 — (1657–63). Substituiu-o outro capitão-mor brasileiro, João do Rego
Barros (1663–70). Prosperou assim a capitania. Os beneditinos tornaram para o seu
convento com Frei Paulo do Espírito Santo, em 9 de junho de 1655.996 Os jesuítas
fundaram a missão do Pilar, de índios cariris, em 1670. Dez anos depois criou a Coroa a
ouvidoria da Paraíba, com jurisdição sobre o Rio Grande e Itamaracá.997
RIO GRANDE
Ao largarem os holandeses o Rio Grande, pouco mais do que a Fortaleza dos Reis Magos
(“a melhor que tem o estado”)998 aí ficou de pé. Devastados ou desertos os currais, os
tapuias de novo na costa, as aldeias abandonadas, convidavam a um largo esforço de
repovoamento antes que os corsários estrangeiros se misturassem uma vez mais com os
janduís, seus aliados históricos.
“Para povoar essa capitania com mais brevidade”, mandou Francisco Barreto que
permanecessem junto à fortaleza oitenta casais de índios descidos do Ceará.999 Em 1655
ainda não se lhes dera sacerdote.1000 Os jesuítas voltaram.1001 Saíram do Vale do São
Francisco alguns pioneiros, Antônio d’Oliveira Ledo, irmãos e sócios1002 — seduzidos
pelos campos do Rio Grande onde os gados tinham mercado próximo (Paraíba e
Pernambuco) e pastagens incomparáveis. Descobriram o sertão. Fizeram os seus arraiais.
Também o Capitão Bento da Costa “se transportou para esta capitania do Rio Grande
com grande cópia do gado o qual tem sitiado em um sítio que está devoluto nos ribeiros
de uma lagoa chamada Papissara do sertão”.1003 Ao findar o século o governador-geral
lembrou ao de Pernambuco:
Sei eu (e vós me haveis de confessar) que dos gados do Rio Grande1004 se sustentam os povos dessa capitania e das
outras duas (Itamaracá e Paraíba); que da sua carne resulta o imposto que se paga para a infantaria; e de seu serviço a
permanência de todos os engenhos e canaviais de Pernambuco; e que dos açúcares que nela se lavram depende a carga
de frotas e o comércio mercantil; sem o que não se pode conservar essa praça: logo por precisa conclusão vem essa
capitania a ser a mais empenhada, ainda que as duas vizinhas se não percam, em se defender e conservar a do Rio
Grande, de que tão essencial dependência têm essas do Norte.1005
Razão havia para esse zelo. A guerra do Açu, ou revolta geral dos janduís (de que damos
notícia em capítulo à parte) fez supor a cumplicidade de piratas franceses, coincidente
aliás com o surto da colonização européia nas Guianas ameaçando as balizas portuguesas
da Amazônia. Exigiu uma concentração de reforços a lembrar a guerra aos petiguares do
Ouvidor Fernão da Silva e de Frutuoso Barbosa. Valeu por uma reconquista — 1687–94
— que abreviou as distâncias entre Pernambuco, ainda o centro da irradiação militar e
espiritual do Nordeste, e o Ceará e o Maranhão, até aí desligados do resto do Brasil.
Achou-se (1693) que os tapuias não serenariam sem a distribuição de arraiais de índios
de várias tribos — vindos do Ceará Grande — pelas margens do Jaguaribe e do Açu.
Custódio de Oliveira Ledo fundou o primeiro, Mamanguape, com cariris e piancós.1006
Seu irmão, Teodósio de Oliveira Ledo, incumbiu-se de outra “aldeia das Piranhas”.1007
Informou então o mestre-de-campo dos paulistas, Morais Navarro: “Esta capitania é tão
miserável que de Pernambuco lhe vai todos os anos farinha para o presídio que nela
tem”.1008 O Governador-geral D. João de Lencastro mandou-lhe da Bahia o Padre João
Guinzel, da Companhia, para aldear os tapuias do Açu1009 protegendo-os dos paulistas em
franco dissídio com o Capitão-mor Bernardo Vieira de Melo. Essa rusga, junta às
privações que arrostou o terço de Matias Cardoso e Morais Navarro, epilogou a ação
valorosa dos mamelucos de São Paulo naquela fronteira do Rio Grande.1010 Revelou
também a personalidade do “potentado” pernambucano, cujo nome de guerra, adquirido
na destruição dos Palmares, havia de ligar-se à primeira explosão nativista do século
seguinte: o conflito “dos mascates” (1710).
CEARÁ
O campo à volta pertencia à catequese prudente e tenaz dos jesuítas, a partir de 1656.
“Os padres da Companhia haviam reduzido uma grande quantidade de índios que
habitavam as terras da costa do Ceará, sobre o Rio Grande e mais de 200 léguas de
distância”.1013 O paulista Morais Navarro contou-lhes as aldeias, em 1694 — “Ceará
Grande tem Cabucaíva (Caucaia), Parangava, Paupina,1014 Peramirim, duas aldeias de
Jaguaribaras todas estas bem cheias de índios”. Três anos antes morrera o Padre Pedro
Pedrosa, após ter acomodado os tabajaras da serra do Ceará:1015 desses estabelecimentos
irradiaria a colonização metódica e pacífica.
Os jesuítas, atormentados nas aldeias da costa pelos soldados e capitães que lhes tiravam
os catecúmenos, expostos, além disto, à luta com os tapuias que lhas rondavam, em
intermitentes investidas (a “guerra do caju”) — preferiram limitar a área de seus trabalhos
à populosa Ibiapaba.1017 Aí construíram o primeiro hospício que se lhes concedeu no
Ceará (mandando el-rei, em 1721, dar-lhes para isto 6 mil cruzados). O segundo foi
Aquiraz — no século imediato, quando a capitania se beneficiou de um progresso geral.
A guerra dos janduís aproveitou ao Vale do Jaguaribe: porque foi invadido pelos gados
do Rio Grande tangidos pelos vaqueiros que fugiam à ferocidade do tapuia e à brutalidade
dos outros “senhores do sertão”.1018
Vale dizer que as fazendas de criação — depois que se aquietaram os índios — tiveram
acolá uma dupla origem: resultaram do êxodo dos moradores do Apodi, Piranhas,
Cunhaú; e, em progressão do Sul para o Norte, da expansão sertanista que, pelo rumo de
Pajeú e serra entre Pernambuco e Paraíba, partira do Rio de São Francisco com a Casa da
Torre.1019
A ÁREA AMAZÔNICA
Ao Norte forma-se com isto uma sociedade que, em alguns aspectos, lembra o Paraguai
jesuítico, e em que prepondera a influência tapuia, do gentio domesticado; enquanto no
Sul este vai desaparecendo, na eliminação gradual das “nações” dissolvidas.
Certo, a região amazônica, densamente ocupada por inúmeras tribos dóceis,1020 de ágeis
canoeiros protegidos pela vastidão do rio correntoso e ignoto, jamais poderia ser investida
por homens de guerra, encarniçados contra o nativo. A posse do vale exigia, preliminar, o
seu apoio, Não se concluiria sem a sua amizade. Requeria-lhe o préstimo de guia, de
conhecedor da natureza que assombrava o forasteiro, de dono dos seus segredos — no
labirinto dos igarapés serpeando pela selva inextricável. Bento Maciel e os companheiros,
na hora primeira da história do Pará, trucidaram, um pouco por toda parte, tapuias
espantadiços. O resultado foi limitar-se então a penetração portuguesa ao curso do rio,
onde as caravelas com facilidade destroçavam almadias indígenas: para desembarcar e
infiltrar-se pelas margens, tateando terra firme, necessitou da ajuda do padre e de sua
persuasão sobre os naturais, logo dispostos à conversão e serviço dos adventícios. A um
aceno do franciscano que acompanhava Luís Aranha de Vasconcelos,1021 centenas deles se
apresentaram — e, combatendo os aruãs, expulsaram de seus fortes e tabacais holandeses
e ingleses. Os europeus são sempre em número diminuto. A desproporção dos
povoadores para a largueza da conquista lembra os portugueses na Índia, em tempo de
Albuquerque: um troço de bravos em face de populações compactas e espantadas. A
pretensiosa cidade do Maranhão, sede do estado, em 1636 (segundo Bento Maciel
Parente) tinha 250 moradores e 60 soldados. Em 1660 não contava mais de 600
habitantes. E Belém, com 80 moradores e 50 soldados em 1636, trinta anos depois era
cidade de apenas 400 almas.1022
Quatro anos depois exultava o Padre Vieira: “O estado da missão, em suma, é ser ela a
maior em número de almas, e a mais disposta a receber os meios da salvação, de quantas
hoje tem a Igreja”.1027 “A maior empresa que tem a Companhia e porventura a mesma
Igreja, onde só o número das nações bastaram para assombrar o mundo”.1028
EM FAVOR DO ÍNDIO
O Padre Antônio Vieira empregou o seu valimento para que assim se fizesse. Foi o Pará
separado do Maranhão (provisão de 25 de fevereiro de 1652). Voltou Inácio do Rego para
Belém. Para substituir Magalhães veio Baltasar de Sousa Pereira. Traziam instruções para
obstarem aos resgates, impedindo a opressão dos índios pacíficos.
Nessa política — de suprimir a escravidão do gentio — definiam os jesuítas uma atitude
franca, corajosa em face da impiedade reinante no Brasil, previamente heróica. Teriam de
lutar; e lutaram.1029 De resto, amparados pela Coroa, continuavam a tarefa encetada pelo
Padre Luís Figueira. Di-lo Vieira: “Seguindo os desígnios do Padre Luís Figueira e as
ordens de S. M., em que manda que edifiquemos casas e igrejas nas três capitanias do
Maranhão, Pará e Gurupá”.1030
VIEIRA NO MARANHÃO
Não seguiu em 22 de setembro (1652) com a primeira turma de religiosos, solicitado pelos
interesses que ainda o prendiam a Lisboa, mas em 25 de novembro, contra a vontade,
premido pela ordem dos superiores e deixado ir por el-rei...1032 “Deus quis que com
vontade ou sem ela eu viesse. [...] Venceu Deus! Eu agora começo a ser religioso!”.
Chegou Vieira a São Luís em 26 de janeiro de 53. Ato contínuo fizeram os padres o seu
colégio, com a invocação de N. S.a da Luz, perto da fortaleza — dominando escrúpulos e
hostilidades dos moradores, que os receberam em tom de revolta. Iniciou-se a luta — com
os escravizadores de índios — no instante em que lá puseram o pé: “No mesmo dia em
que cheguei a ela, ouvindo os Roncadores, e vendo o seu tamanho, me moveram a riso,
como a ira”.1033 Vieira não receou ou evitou o conflito. Logo a 22 de maio assomou ao
púlpito para definir a doutrina: perdiam as almas os detentores de índios que os
exploravam na roça ou portas adentro. “Não há maior maldição numa casa, numa família,
que servir-se com suor e com sangue injusto. Tudo vai para trás: nenhuma cousa se logra,
tudo leva o diabo”. Nem valeria permissão régia em contrário: “El-rei poderá mandar que
os cativos sejam livres; mas que os livres sejam cativos, não chega lá sua jurisdição. Se tal
proposta fosse ao reino, as pedras da rua se haviam de levantar contra os homens do
Maranhão”. Exprobrou-lhes: “Ah, fazendas do Maranhão, que se esses mantos e essas
capas se torceram, haviam de lançar sangue!”. E pediu que os colonos se acomodassem à
regra de fazerem aprovar por uma junta as entradas que fossem ao sertão buscar índios
“em corda” ou “tomados em guerra justa”, os quais seriam distribuídos (“de sorte que
nesta forma todos os índios deste estado servirão aos portugueses”) mediante bem
humilde salário: “Duas varas deste pano” de algodão, “que valem dois tostões!”.1034
D. João iv entretanto, às primeiras reclamações dos maranhenses, expediu a provisão de
17 de outubro de 53, por que se considerassem cativos os índios apanhados em guerra
justificada ou resgates;1035 e mesmo o Padre João de Sotto Maior, reitor do novo colégio,
teve de assinar nos livros da câmara um termo, de como os missionários não se
envolveriam na questão de escravos e libertos.1036 Em Belém, onde chegou em 5 de
outubro, assumiu Vieira compromisso idêntico. Era compreensível: “[...] fundados todos
em serem os índios o único remédio e sustento dos moradores, que sem eles pereceriam”.
Mas fremia em irritação incontida: “O remédio que isto tem (e não há outro) é mandar V.
M. que nenhum governador ou capitão-mor possa lavrar tabaco nem outro algum gênero,
nem por si nem por interposta pessoa, nem ocupem nem repartam os índios”.1037 Não
transigia além do razoável: cativeiro justificado pela guerra, ou fosse de tribos adversas... E
enveredou rio acima com a bandeira chefiada pelo ferreiro Gaspar Cardoso — seu
primeiro contato com a selva e o selvagem.
Partimos para o Rio dos Tocantins, eu e outros três religiosos, todos sacerdotes teólogos e práticos na língua da terra, e
dois deles insignes nela. Navegamos pelo rio acima 250 léguas; chegamos ao lugar onde estavam os índios que íamos
buscar; e Gaspar Cardoso foi o que conforme o seu regimento governou sempre tudo.1038
Desceram uns mil caboclos, em parte divididos pelos soldados, reunidos os restantes na
aldeia de Morajuba, certamente — insinua Vieira — para trabalhar nas roças do capitão-
mor. Indispensável era proibir aos não-religiosos a entrada aos sertões, reservado o trato
do gentio aos padres, que cuidariam de juntá-los sem os maltratar ou corromper, e de
modo que fossem entregues aos lavradores apenas “os de corda”, ou condenados à morte
salvos pela intercessão dos missionários.1039
A VOZ DA CATEQUESE
Três dias depois embarcou ocultamente (diz na epígrafe do sermão) a advogar no reino as
medidas sem as quais fracassaria a missão, ou, mais claramente: “Fui a Portugal a buscar a
dita administração dos índios”.1041
E apertou tanto este ponto o Pe. Manuel Nunes, que estando eu duvidoso da jornada, me foi intimar ao cubículo que
tinha obrigação de o fazer sub peccato gravi. Assim o tinha também entendido o Pe. Luís Figueira, que foi buscar, e
trazia a dita administração. E assim o entenderam no Brasil tantos superiores, tantos homens santos, e o tem
confirmado, desde S. Inácio, todos os padres-gerais.1042
Não errou com a viagem. Deu-lhe o prestígio de outro sermão, na Capela Real, “vindo
da Missão do Maranhão onde achou as dificuldades que nele se apontam”: o da
Sexagésima. “Não me queixo, nem o digo, Senhor, pelos semeadores: só pela seara o digo,
só pela seara o sinto”. E comparou-se ao que, “mal logrados seus primeiros trabalhos, [...]
fosse muito depressa à casa a buscar alguns instrumentos, com que alimpar a terra das
pedras e dos espinhos”.1043
FLORESCEM AS MISSÕES
De resto, tinham agora o virtual monopólio das missões, cujo cérebro era Vieira,
apaixonado pelo seu ideal e disposto a realizá-lo sem demora. Apenas em Gurupá
soldados se amotinaram e expulsaram dois padres: André Vidal desterrou os culpados e
libertou numerosos índios.
E não limitava à Amazônia as suas vistas largas: “Da volta que faço para o Maranhão,
determino de enviar missão aos índios do Camuci e do Ceará, que estão para a parte do
sul, e é tanto o número deles como a necessidade que têm de doutrina”.1047
Não importava o martírio — se a messe era abundante: “São mui poucos já os que não
tenham notícia dos principais mistérios da nossa santa fé”.1048
Outra primazia:
[...] sendo o primeiro que abriu caminho por terra para a comunicação do Estado do Maranhão com o Ceará a cujo
exemplo o fez também o Governador André Vidal de Negreiros descendo o dito padre a socorrê-lo e acompanhá-lo
com os seus índios e mantimentos até a mesma capitania, instruindo e batizando os índios tabajaras e por sua direção
juraram vassalagem a V. M. no ano de 660 nas mãos do Padre Antônio Vieira.1049
O Padre Francisco Gonçalves, provincial que acabou de ser da província do Brasil, foi em missão ao Rio das
Amazonas e Rio Negro, que de ida e volta é viagem de mais de mil léguas, toda por baixo da linha Equinocial, no mais
ardente da Zona Tórrida. [...] [...] E já o ano passado se fez outra missão deste gênero aos mesmos rios, pelo Padre
Francisco Veloso, em que se resgataram e desceram outras tantas peças, em grande benefício e aumento do estado.
Um império em formação!
E assim como nas nossas primeiras conquistas se levantaram padrões das armas de Portugal em toda parte onde
chegavam os nossos descobridores; assim aqui se vão levantando os padrões da sagrada cruz, com que se vai tomando
posse destas terras por Cristo e para Cristo.
Enumera a seguir a missão a que foi o Padre Manuel Nunes, teólogo notável, “mui
prático e eloqüente na língua geral da terra”, com 45 soldados e 450 índios “de arco e
remo”, para castigar os ferozes “inheiguaras”: trouxe prisioneiros 240... E as que se
fizeram às regiões dos poquiguaras, dos tupinambás, reduzidos todos, com proveito da
gente do Pará, pois foram aldeados perto da cidade, culminadas pela pacificação do
terrível gentio da Ilha de Marajó.
O CASO DE MARAJÓ
Em 1658 o Governador Pedro de Melo (que sucedera a André Vidal despachado para
governar Pernambuco) entendeu que, na iminência de guerra com Holanda, de que se
falava no reino, constituíam os nheengaíbas um sério perigo. Cumpria matá-los todos.
Interveio Vieira, a pedir que se tentasse uma vez mais a catequese. Mandou com efeito,
naquele Natal, dois índios, com a notícia de que as leis vigentes proibiam o cativeiro e já
não havia razão para os ódios antigos. Voltaram com sete nheengaíbas, prontos para fazer
as pazes, em atenção ao “papel do padre grande”, de que lhes tinha antes chegado a fama.
Trocadas palavras de amizade, tornaram os embaixadores, dizendo que chamariam os
padres quando tivessem concluído uma povoação decente, com a sua igreja; e não
faltaram à promessa. Em agosto, dezenas de canoas levaram Vieira e outros portugueses a
Marajó e ali viram o crucifixo do Padre Sotto Maior, a par da alegria do gentio, que em
festas (“tocando buzinas e levantando pocemas, que são vozes de alegria”) mostraram a
“igreja que tinham feito de palma”.
Concebeu Vieira um modo impressionante de lhes fixar a lealdade: foi alinhar todos os
índios depois da missa, e fazê-los repetir, em coro, o juramento de fidelidade ao Rei de
Portugal.
Em 1665 a Ilha de Joanes (esta Marajó) era elevada a capitania e dada a Antônio de
Sousa de Macedo, tão conhecido por sua inteligente diplomacia como por seus agudos
pensamentos.1052
Não seria possível — a série de triunfos tranqüilos do “grande padre” — sem a ajuda
incondicional de governos enérgicos.1057 D. Pedro de Melo mereceu-lhe os mesmos
elogios feitos a André Vidal. Temia que outro de diverso estofo desse ouvidos aos
descontentes, impedisse a liberdade de ação à Companhia e de novo — o que seria pior!
— lançasse a dúvida em meio aos índios dóceis. Enganou-se. D. Pedro não teve pulso para
conter a revolta, latente todo esse tempo, e que afinal explodiu com uma fúria explicável.
Alçaram-se os moradores de São Luís contra o ditador religioso. Queriam mais do que a
retirada, das mãos dos jesuítas, do domínio temporal dos índios: a expulsão deles, à
maneira do que fizeram os paulistas. Estava Antônio Vieira no Pará. Acendera a cólera
dos maranhenses a divulgação de uma carta que escreveu ao bispo confessor da rainha, a
preveni-lo contra as queixas dos colonos. Caíra a carta em poder de um frade do Carmo
— pois naufragara o navio em que ia — e o resultado não se fez esperar. Tentou o
governador apenas com quatro criados — pois os soldados desapareceram — obstar à
invasão do colégio. Não o respeitaram, ou acabou concordando (pensou Vieira).1058 O
colégio foi varejado, e os padres arrastados à prisão (17 de maio de 1661).1059 Em Belém,
ao saber disto entabulou Vieira negociações com os vereadores, para os apartar da
rebelião. Era tarde. Em 17 de julho (1661) os paraenses elegeram um juiz do povo, à
semelhança do que se praticara no Maranhão, investiram o colégio, tomaram os padres e,
entre vexames e injúrias, os embarcaram, para que fossem contar em Lisboa as
indignações da colônia...1060
Objetos sacros, “alguns livros, catecismos, disciplinas, cilícios e uma tábua ou rede em
lugar de cama, porque as que levamos de cá se dedicaram a um hospital”.
PARTIDOS DA CORTE
Não escapou Vieira aos convites da intriga que dividia a corte, entre os partidários do
rei-menor e os que lhe combatiam as más companhias, a sua súcia de “valentes” e as
ambições que a manejavam.
Nomeou-se “o Padre Antônio Vieira da Companhia de Jesus insigníssimo pregador e
que o era de el-rei vindo havia poucos tempos expulso do Maranhão” para confessor do
Príncipe D. Pedro (em quem muitos viam o rei futuro, melhor que o irmão débil). “E
chegou a tanto a imaginação que el-rei se opôs com toda a força a que o Padre Antônio
Vieira fosse confessor, pois receava da viveza de seu engenho e traças maquinaria maiores
pensamentos”. Impediu a nomeação, mas ficou o padre entre os adversários da “súcia”, e
foi, com Cadaval, o Marquês de Gouveia, o Conde de Soure, dos que “assentaram
convinha a expulsão de Antônio de Conti e de outros sujeitos que el-rei favorecia”.1062 Em
conseqüência, ao ser proclamada a maioridade de Afonso vi, el-rei “mandou também
expedir decreto para que o Padre Antônio Vieira fosse desterrado cinqüenta léguas fora
da corte” (junho de 62).
Não durou, o governo frouxo de Afonso VI . Foi obrigado a mandar embora o ministro e
valido Conde de Castelo Melhor (9 de setembro de 1667). Casou, para agradar a corte de
França (que aliás propiciara o casamento de sua irmã com o rei de Inglaterra) — com a
caprichosa Mademoiselle d’Aumale, filha mais velha do Duque de Némours, Carlos
Amadeu de Sabóia. Esta união impossível (como provou o ruidoso “processo de nulidade
do casamento”, proposta pela rainha) precipitou a queda do trono, desacreditado pelas
desordens e intemperanças do pobre monarca, tachado de “tolo”, “mais incapaz”, “doente
e cheio de enfermidades”, portanto sem poder continuar soberano e... casado. Na verdade
a rainha se ligou ao príncipe D. Pedro, irmão do rei, para o destituir; e vendo ele que já
não contava com os principais da nobreza e, sobretudo, com o povo das ruas, em ameaças
de revolta, renunciou à coroa em 23 de novembro de 1667. Renunciou depois que a
rainha, com estrondo, fugiu da corte para se recolher ao convento da Esperança, de onde
iniciaria aquele terrível processo de anulação... Toda a conjura — acrescenta Racine,
talvez de ouvir dizer aos íntimos da rainha D. Maria Francisca, foi por ela empreendida
(com os conselhos do Conde de Schomberg) e “conduite par le P. Lami, jésuite, son
confesseur”.
Só voltou para morrer — no seu saudoso colégio da Bahia — em 1681. Não mais o
veriam no Maranhão, onde prevaleceu o interesse, com pouca religião, dos tabacais e
canaviais, lavrados pelos tapuias do resgate.
Rui Vaz de Sequeira (que em São Luís se empossou governador, a 26 de março de 62)
certificou como não tinha ordem contrária à expulsão dos jesuítas; e não tardou que o
Conde de Castelo Melhor, poderoso ministro de Afonso vi, desse ganho de causa aos
moradores, com a provisão de 12 de setembro do ano seguinte. Esta acabou com o
regímen instituído em 1652, quanto à administração e “descida” dos índios. Podiam as
câmaras — portanto os escravizadores — nomear os cabos das bandeiras, autorizar e
distribuir os resgates, pertencendo o espiritual, nessas entradas, a qualquer das ordens
religiosas existentes nas capitanias, como tanto pediam os franciscanos, excluídas elas, os
capitães-mores e os cabos, da partilha dos cativos.1064
Foi quando a revolta de Bequimão reforçou o poder real no Maranhão, que voltaram os
jesuítas. Mas somente em 1687.
ECONOMIA PRIMITIVA
Até 1680 se ressentiu o Norte do Brasil da rivalidade das câmaras do Maranhão e do Pará,
das dúvidas acerca da repartição dos índios resgatados, das divergências quanto à
autoridade eclesiástica que interviria nesse “tráfico”. A mesma lei era suspensa em São
Luís e aceita em Belém. Discordavam os principais, de uma e outra capitania, e não havia
ninguém contente, pois as ordens religiosas se queixavam igualmente de sua desvalia no
concerto dos assuntos espirituais, dezessete anos relegados a plano secundário.
Crescera em lavouras e comércio a terra, mas se conservava bem pobre a vida nas duas
cidades, principalmente no Maranhão, onde, em vez de dinheiro, corriam novelos de
algodão. “Novelas e novelos, são as duas moedas correntes nesta terra”.1065 Duas varas de
pano por mês eram a paga de um índio (em 1662); e tivera o Conselho Ultramarino de
ordenar que se firmasse o valor dos novelos, “enquanto se não procura outro meio de se
meter dinheiro nesse estado”.1066 Gregório de Matos achou-lhe graça:
Porque como em Maranhão
Mandam novelos à praça,
Assim vós por esta traça
Mandareis o algodão:
Haverá permutação,
Como ao princípio das gentes, [...]1067
Essa aflição inspirou — em 1680 — uma “grande junta sobre o remédio espiritual e
temporal do Maranhão, [...] clamando todos que o dito estado se vai perdendo e acabará
de todo se não lhe acudirem”. Foi preponderante aí a voz de Antônio Vieira:
Desejando e concordando todos em que os moradores deviam ser aliviados e ajudados com a maior despesa da
Fazenda Real que fosse possível, e a este fim tiraram os estanques e direitos, e se fez o contrato dos negros, que será o
maior e mais fundamental remédio, como tantas vezes proposto de lá e tão desejado, principalmente sendo os preços
moderados e os prazos muito largos.1068
Não havia ódio na rigorosa justiça de Gomes Freire. Cumpriu a lei; e não o desestimou a
gente da terra, tanto que as câmaras de São Luís e Belém encomendaram para Lisboa,
após a necessária licença, um seu retrato a óleo, primeira homenagem dessa espécie que lá
se fez. Percebeu que no fundo da inquietação reinante palpitavam interesses respeitáveis.
Não tripudiou sobre a vitória. Escreveu limpamente para a corte, que o estanco das
mercadorias era danoso ao país, e alguma concessão devera fazer-se no caso dos índios
para a agricultura. Colocou-se, eqüidistante, entre maranhenses e jesuítas — mandados de
volta aos seus colégios.1075 Devia acudir ao Pará, a braços com a invasão francesa, como
expusera Sá de Meneses a el-rei:
Acerca da entrada que faziam os franceses que assistiam na fortaleza de Caiena da parte do Norte nas terras do aruãs, e
passaram até às aldeias dos tucujus, pouco distante da fortaleza de Gurupá, a fazer escravos, até do gentio que com as
pazes estava domesticado.1076
A FRONTEIRA SETENTRIONAL
Tão rápidas providências surpreenderam os vizinhos, que esperavam encontrar, nos rios
e nas selvas amazônicas, apenas o gentio e algum esquivo canoeiro mamaluco. Em 30 de
junho (de 85) De Ferrolles teve de deter-se diante do fortim de Araguari. Tentou intimar-
lhe a rendição, mas à resposta do comandante, que o território era do Rei de Portugal, se
limitou a deixar a carta do governador de Caiena, La Barre,1078 que proclamava os direitos
de França, e se recolheu à sua feitoria.
ANTÔNIO DE ALBUQUERQUE
A questão com o Padre Samuel Fritz, que descera de Quito para catequizar os omáguas,
em 1689, ilustra essa política. O padre, a serviço de Castela, argumentava com a linha de
Tordesilhas e assegurava pertencer à Espanha a zona dos omáguas. Contestaram-lhe que
era de Portugal. Passou ao Pará, a entender-se com as autoridades: é a viagem descrita no
Diário da descida do Padre Samuel Fritz, missionário da Coroa de Castela no Rio Marañón, desde São Joaquim dos
Omáguas até a cidade do Grão-Pará, no ano de 1689; e volta do mesmo padre desde a dita cidade até a aldeia de
Laguna, cabeça das missões de Maynas no ano de 1681.1083
O CAMINHO DA BAHIA
BRASIL EM ÁFRICA
Reconquistada Angola, por todo aquele litoral se estendeu, voraz, o comércio de escravos.
Durante três anos e quatro meses — quantos governou — Salvador Correia aquietou a
terra com a sua administração enérgica. Fraca foi a resistência dos sobas a Bartolomeu de
Vasconcelos da Cunha e aos capitães que, depois dele, e com a mesma severidade, os
sujeitaram. Ficou lendária a Rainha Ginga,1085 com a sua glória de mulher ambiciosa e
valente, em cuja rebeldia se concentrou a oposição dos chefes negros a Portugal. O que as
armas não conseguiram, pôde a ganância, com a maliciosa invasão dos traficantes. Em
breve, era Angola uma dependência econômica do Brasil, obrigado a socorrê-la no perigo,
como a alimentava na paz: graças àquele próspero negócio.
A primeira expedição formal que da Bahia saiu em auxílio de Luanda foi dos capitães
Baltasar da Costa e Pedro do Couto Coelho,1086 em 1664. Temia-se um ataque de
espanhóis. Para a de 1671, que levou João de Velasco, foram recrutados, principalmente
em Cachoeira, até em Pernambuco, os vadios.1087 “Desterrando dessa capitania os
delinqüentes, enche aquele reino de soldados”. Faltavam cavalos; e a provisão real de 30
de junho de 1675 ordenou que os transportassem os negreiros.1088 Com essa carga
obrigatória, ajudavam a montar a tropa que lhes protegeria a pilhagem. Não admira que,
nesse andar, lá se estampasse, assim nas relações humanas como no feitio das povoações,
na doçura ou no pitoresco dos costumes, nas formas de trabalho, sobretudo no espírito
mestiço dos núcleos afro-lusitanos, a imagem sensual da civilização que do lado de cá se
formava. Com uma arrumação semelhante de categorias, a mesma religião mesclada,
como o resto, de cambiantes bárbaros, a agricultura de manutenção, com as roças de
mandioca e inhame, arraiais, casas, igrejas traçadas pelos mesmos modelos, toscos e
confortáveis.
Sente-se que os laços tênues que uniam os mercados angoleses a Lisboa se reforçam no
ir e vir dos barcos do Brasil, que os ligam — ligando a matéria-prima a seus centros de
consumo — os engenhos do Recôncavo, as praças ávidas de escravatura, as firmas
comerciais que a compravam a troco das utilidades caras aos príncipes pretos, o tabaco
em rolos, a cachaça, os búzios minúsculos, ferramentas e bugigangas... Nessa segunda
metade do século xvii, projeta-se na costa da África o tráfico desalmado, metódico,
tentacular, que consolidou a ocupação tranqüila abaixo do Níger, e, no século seguinte, se
instalou regaladamente no Golfo de Benim.
Iam com eles religiosos, magistrados, pessoas de qualidade deportadas por suas
culpas,1089 oficiais façanhosos e levas de soldados, facilmente convertidas em “descedores”
de nativos — como os paulistas no interior do Brasil. Começaram a criar no continente
fronteiro — com as humildes possibilidades de que dispuseram — a mais nova província
de Ultramar, já agora moldada pela experiência luso-americana, com o vigor e a
rusticidade das suas soluções desordenadas.
NEGROS FUGIDOS
Com as invasões holandesas, muitos pretos dos engenhos, fugindo a antigos e novos
senhores, se tinham internado por matos e serras, sem que se lhes soubesse a quantidade,
nem o lugar dos mocambos ou quilombos,1090 onde reverteram aos costumes de África.
Ajudava esse retorno à vida primitiva a semelhança da terra, nas selvas e montes do
Nordeste; e como os grupos se reconheciam pela língua (congos, angolas, benguelas,
cabindas), não lhes foi difícil formar — apartados por esse sentimento de origem —
outros tantos reinos negros, com os respectivos sobas, a um tempo feiticeiros, generais e
feitores, segundo o modelo das banzas africanas. À margem, pois, do conflito luso-
flamengo, entre Pernambuco e a Bahia, cresceu, no mistério dos sertões, uma forma
inesperada de colonização: a independência dos palmares.1091 Tendia a um
desenvolvimento ilimitado. Aqueles escravos evadidos tinham de olho os companheiros
das senzalas próximas: e por todos os meios lhes faziam chegar o convite. Desciam por
vezes, em estrondos de guerra, até as fazendas ao alcance do ataque: e nelas cevavam o
ódio. Escondiam-se em sítios inacessíveis; ou neles se fortificavam, zombando das
patrulhas que os caçavam pelo deserto. Ameaçavam as comunicações. Punham em perigo
as vilas. Lembravam — em 1671 — os tapuias, de um século atrás, quando deles se
defendiam os pioneiros da várzea.
Queria passar a Porto Calvo, para “fazer esta guerra”. Mas quem a fez foi, três anos
depois, o Governador D. Pedro de Almeida, pedindo a todas as câmaras socorros de
homens e munições: comandou a entrada Manuel Lopes (novembro de 1675).1094 Esta
logrou apreciáveis vantagens. Após 25 dias de marcha deu num arraial, desbaratado ao
termo de duas horas de combate; e aí acampou Manuel Lopes por cinco meses, sem se
animar todavia a bater os negros nos outros quilombos dissimulados na mata. Apresou
uma centena deles. D. Pedro de Almeida renovou a guerra em 1677, confiando-a a Fernão
Carrilho, experimentado pioneiro de Sergipe e do Vale do São Francisco. A ordem foi
para fundar arraial nos Palmares, a fim de irradiar daí as várias expedições punitivas,
como praticara Estêvão Baião no Paraguaçu.1095 Tal método “paulista” produziu
excelentes efeitos. Levou aliás Carrilho valentes cabos como Manuel Rodrigues Vieira,
veterano da guerra holandesa no São Francisco.1096 Dirigiu
um assalto com pouca gente, aprisionou 60 e matou muitos, em que entrou um potentado, e achando a gente de
guerra dos Palmares junta na de Zumbi fortificada e guarnecida com armas a investiu e escalou sem perda dos nossos
soldados, ficando aqueles bárbaros tão tímidos que, voltando com 180 homens brancos e índios sobre o seu poder, fez
arraial dentro da dita cerca aonde estavam os reis e os afugentou, deixando os mantimentos, e por espaço de 4 meses
que ali assistiu lhes fez grande dano aprisionando 17 negros, a rainha e 2 filhos do rei, matando-lhe 4 e quantidade de
soldados com o seu mestre-de-campo-general e alguns potentados e oficiais maiores pondo os mais em estado de
fome e apertos que os obrigou à minha obediência, obrando tudo à sua custa e gastando todo o seu cabedal com os
soldados, largando-lhes as presas para os animar, adquirindo com estes sucessos grandes aumentos à Fazenda Real,
dando-lhe de quintos 541$000 e granjeando o nome de restaurador daquelas capitanias por ficarem os moradores
delas quietos e livres (comemorou a carta régia de 30 de agosto de 1680).1097
A LUTA INFINDÁVEL
O triunfo era provisório. Realmente os negros enviaram ao Recife uma embaixada, de dez
principais, recebida com muitas demonstrações de alegria, como a firmar as pazes, e
foram premiados com sesmarias vastas os melhores sertanistas, a começar por Fernão
Carrilho, que teve vinte léguas, Manuel Lopes oito... Em 1679 havia urgência de outra
arremetida, comandada também por Fernão Carrilho, cujas instruções não admitiam
mais “condescender nas pazes”: devia levar os negros a ferro e fogo. Já em caminho achou
que tamanha severidade não se justificava, e tanto quis que se desse aos inimigos uma
oportunidade de pedir tréguas, como, antes de atacar, os intimou a largar os arraiais. Vale
dizer que procedeu como entre beligerantes, não como capitão do mato à caça de escravos
fugidos; e de tal sorte se indignou o governador que mandou destituí-lo e prendê-lo.
Como das outras vezes, o sucesso não foi completo. Evadiam-se, metendo-se nos matos;
mudavam-se para outras aldeias; voltavam; sem valor para uma resistência formal, tinham
a tenacidade e a astúcia dos tapuias... Lembrou-se Sotto Maior dos paulistas.
DOMINGOS JORGE VELHO
Encontrava-se então o sertanista entre o Poti e o Parnaíba, às voltas com o gentio que
ajudara a repelir para as bandas do Maranhão “em companhia da Casa da Torre”.1103 Não
se sabe quando começara essa obscura campanha, nem se a fez por conta própria, ou a
soldo dos senhores da Torre, interessados no extermínio dos índios “de corso”. Em 1704 a
viúva de Domingos Jorge alegou uma residência de 24 ou 25 anos em tais sertões. “E
assim tinham seus domicílios 24 ou 25 anos topando bandeiras”.1104 Se os contamos da
data do requerimento, temos um limite aceitável: 1679. Se o calculássemos de 1694 (ida
dos paulistas aos Palmares) acharíamos 1669, o que parece desmentido por documentos
como a carta de 1675, escrita aos “homens de São Paulo” pela junta de governo da Bahia:
“Chegou-se o tempo em que é necessário rogar a Vossa Mercê para o mesmo que em
outro tempo se lhe proibia, que é passar ao Rio de São Francisco com os mais sujeitos que
a este governo escreve”.1105 Aliás (corroborando a primeira convicção) era Domingos
Jorge quem, em 1694, falava de seus “dezesseis anos” de Piauí. A partir, pois, de 1678 ou
79.1106 Quatro anos antes, Francisco Dias d’Ávila e Domingos Afonso Sertão tinham
entrado o Piauí e o Canindé. É provável que os seguisse, indo instalar-se além — nas
terras sem dono do médio e baixo Parnaíba, que pediu em sesmaria no ajuste1107 feito com
o governador de Pernambuco, em 3 de março de 1687: “E as sesmarias que pretendem no
Rio dos Camarões e Parnaíba”.1108
Alguns de seus comandados foram de São Vicente e São Paulo.1110 Outros com ele
andavam. “Desci do Piagüí aonde eu estava aposentado”, alegou depois da vitória.1111
Alastrou-se, entretanto, no Rio Grande do Norte, a insurreição dos janduís, a mais furiosa
de quantas houve no Brasil seiscentista — prevista aliás desde a felonia desses tapuias na
descida para a Fortaleza dos Reis Magos, como aliados dos holandeses, sedentos de
sangue e afamados em tropelias inauditas.
PAZES INESPERADAS
Achou-se porém indispensável mais gente paulista, para a “guerra dos bárbaros do Rio
Grande cuja extinção total é a única defesa que segura de suas hostilidades aquela
capitania e todas as mais do Norte”, na severa linguagem do Arcebispo D. Fr. Manuel da
Ressurreição.
Veio Matias Cardoso de Almeida “pelo sertão chamado por ordem deste governo da
capitania de São Vicente ao Rio de São Francisco trazendo mais de cem homens brancos
com seus oficiais”,1121 entre estes Manuel Álvares de Morais Navarro, sargento-mor, e
João Amaro (veterano da entrada de 1674) no posto de capitão-mor. Com isto Domingos
Jorge ficou de mãos livres para atacar os Palmares. Revezaram-se no Nordeste esses
guerrilheiros famosos. “Governador absoluto” da guerra ao tapuia, Matias Cardoso foi
estabelecer-se (março de 1690) na Barra do Jaguaribe; Domingos Jorge, mestre-de-campo
do seu regimento, marchou para as Alagoas. Mas pouco fez o primeiro, sem forças para
uma guerra conclusiva.1122 O governador do Rio Grande (janeiro de 91) inquietou-se, saiu
a encontrar Matias Cardoso, e a luta se reacenderia se não sobreviesse a mais imprevista
das conciliações. Um português, João Pais Florião, tivera amores com a filha do maioral
Nhouguge, cunhado de Canindé, “rei” daqueles tapuias. Aproximou-se de novo dos
janduís e com palavras amigas alcançou que aceitassem a paz, mandando embaixada à
Bahia, dirigida pelo próprio Florião.1123 Recebeu-a o governador com festas e mimos (abril
de 92) e — tal como entre potências — pactuou com os “embaixadores” paz perpétua, em
solene papel, e cerimônias próprias.1124
O Canindé honrou a palavra dada. Mas morreu pouco depois, de maleitas, na aldeia,
perto da costa, para onde se mudara, no Rio Grande. Os índios, suspeitosos de capitães
mal-intencionados ou esquecidos da promessa, retomaram as armas, embora sem o
número ou o ímpeto do outro tempo. Em 1694 escreveu D. João de Lencastro a Agostinho
César de Andrade, segunda vez capitão-mor do Rio Grande: “A nação (janduí) depois de
estar amiga se rebelou, pela diferença que experimentou fora da liberdade com que V.
M.ce os tratava, e eles estimavam”.1125 O remédio seria aldeá-los, com o auxílio dos
jesuítas. Enquanto isto, Matias Cardoso os apertou, porém, sem fortuna: “Vendo nós a
falta de munições e mantimentos que nem lugar nos davam de buscar, nos foi necessário
retirarmo-nos para a capitania do Ceará Grande”, disse Morais Navarro.1126 Fernão
Carrilho fora governar o Ceará. Carta sua, de 26 de julho de 94, conta que, “retirando do
Rio Grande o mestre-de-campo e governador dos paulistas Matias Cardoso de Almeida,
no dito Jaguaribe, jurisdição desta capitania, feriram os ditos índios (paiacus, janduís, icós
e outros bárbaros de corso) ao mestre-de-campo, que vinha acompanhado com 180
homens, e lhe mataram um filho seu e três ou quatro mais da Companhia”. Para contê-los
nomeou capitão da infantaria Francisco Dias de Oliveira.1127 Apelou de novo o
governador-geral para as vilas de São Paulo, mandando que o Mestre-de-campo Morais
Navarro levantasse outro “terço de infantaria paga” (conforme as reais ordens).1128 A esse
tempo (1697) a rebelião dos selvagens se propagava pela costa. Em socorro dos
maranhenses, igualmente ameaçados, quis el-rei que fossem os capitães do Rio de São
Francisco com os seus índios.1129 Em 1699 campeava, ainda uma vez na fronteira do Rio
Grande, Morais Navarro: mas sem auxílio eficiente dos capitães da Paraíba, do Rio
Grande e do Ceará,1130 e a lutar, além disto, com as prevenções dos moradores, os
escrúpulos dos religiosos. Em 1701 o Terço dos Paulistas foi removido do Açu para o
“sertão que fica entre o Ceará e o Rio Parnaíba, [...] para fazer guerra aos rebeldes
tremembeses”.1131
Quem fizera tal obra? Superior à rusticidade dos quilombolas, trai a intervenção de
desertores, gente interessada na conservação deles ou antigos soldados pretos,1132 capazes
de assim afrontar um pequeno exército. Evidentemente com o seu punhado de
escopeteiros não poderia o paulista vencê-los. Chegaram-lhe, sucessivos, grupos de
moradores, mesmo algumas pessoas influentes de Olinda e Recife, e senhores de engenho
decididos a cooperar no último castigo dos bárbaros, comandados pelo Capitão-mor
Bernardo Vieira de Melo. Outros, chefiados pelo Sargento-mor Sebastião Dias, se
apresentaram; e destarte uma força numerosa começou, em 12 de janeiro de 1694, o cerco
dos Palmares. Consumiu 22 dias.
A tática de Domingos Jorge foi engenhosa. Construiu uma cerca oblíqua, que partia do
seu acampamento até alcançar a dos negros, fazendo-a de noite, e de modo a ir cobrindo o
avanço, sem que lho pudessem conter. Já quase completamente fechado por estoutra
linha, e à iminência de entregar-se por falta de mantimentos, o Zumbi tentou uma saída
desesperada, às duas da manhã de 5 de fevereiro. Com o seu povo se arremessou para
destroçar a cerca que o envolvia e ganhar o mato. Não logrou o intento tal a rapidez da
oposição que lhe apresentaram paulistas e pernambucanos, e impelidos para a borda do
abismo, junto ao qual estava a aldeia, lutaram na treva, precipitaram-se muitos daquelas
alturas e os demais, subjugados, caíram cativos, em poder de Bernardo Vieira de Melo e
Domingos Jorge. Levou o Zumbi duas balas, porém conseguiu fugir: só o mataram um
ano depois.
COMO ACABOU O ZUMBI
Que de epopéia há nesse epílogo de guerra que os documentos coevos não embelezam
— neles narrada como a punição de escravos indignos de piedade, sequer do tratamento
dispensado aos janduís “comedores de carne humana”? Em carta de 18 de fevereiro o
governador de Pernambuco explicou: “Aprisionaram muitos e outros se tornaram a
recolher, mas errando o caminho se despenhou grande parte deles de uma rocha tão alta
que se fizeram pedaços”. Era noite. Não podiam os brancos ver o sacrifício, ou avaliar-lhe
a grandeza. Apertados de encontro ao precipício, tiveram de escolher entre a escravidão e
a morte. Numerosos se arrojaram no espaço. A lenda errou quanto ao Zumbi. Não caiu,
como águia ferida, do topo do penhasco, desdenhando os perseguidores e dando aos de
sua raça um exemplo de altivez majestosa. A lenda (e Rocha Pita) fantasiou-lhe um fim
teatral. De fato, com duas balas no corpo e alguns sequazes se embrenhou no sertão. Foi
denunciado por “um mulato seu valido”,1133 que o vendeu a André Furtado de Mendonça,
cabo de um troço de paulistas.
O “BRAÇO DE PRATA”
Ao contrário do governo profícuo de Roque da Costa (que “se embarcou na mesma hora
em que entregou o bastão”, “mais pobre de fazenda e mais rico de opinião que muitos dos
seus antecessores”)1136 — foi desastrado o de Antônio de Sousa de Meneses, velho militar,
que perdera o braço direito num dos combates da armada do Conde da Torre à altura da
Paraíba, e o substituíra por um “de prata”, donde a alcunha, que lhe ficou. “Nos postos e
governos que exercera tinha mostrado mais valor que disposição”, sentenciou o Padre
Antônio Vieira, que, também velho, resolvido a isolar-se do convívio dos homens na
Quinta do Tanque, da Bahia, a esta cidade se passara, na frota de 1681.1137 Durante os seus
dois anos de governo infausto o “Braço de Prata” foi impopular, combatido pela melhor
gente e censurado por suas violências, a que não faltou o remate de um crime famoso.
Começou por querer evitar um abuso de que se queixava a justiça: o imemorial costume
de saírem à noite, embuçados nas suas capas, os moradores, de modo a serem contínuos
os delitos, impunes graças ao disfarce. Proibiu os “embuçados” e irritou a mocidade,
avisou Vieira, em carta de 23 de julho do mesmo ano: “E sobre se tirarem as capas aos
homens têm dito lindezas os poetas, sendo maior a novidade deste ano, nestes engenhos,
do que foi nos de açúcar”. A “terra é má de contentar”, confessava o padre. Açulou-lhe a
maledicência a galhofa de Gregório de Matos:
Quando desembarcaste da fragata
Meu dom Braço de Prata,
Cuidei que a esta cidade tonta e fátua
Mandava a Inquisição alguma estátua, [...]
O CASO DO ALCAIDE
Cometido o crime correram os assassinos para o colégio. Puderam ser presos João de
Couros Carneiro, Francisco Dias do Amaral, Manuel de Barros da Franca, Antônio de
Moura Bolim, os capitães Diogo de Sousa da Câmara e José Sanches del Poço, seus
amigos. Mas foram justificar-se em Lisboa Gonçalo Ravasco e Manuel de Barros. Quanto
a Antônio de Brito, foragido em Lisboa, deram-lhe gasalhado os jesuítas junto à Igreja de
São Roque.1139 À instância de Vieira, foi perdoado pelo irmão da vítima, e anistiado por el-
rei (1694) mediante intercessão do Papa,1140 como diz Fr. Jaboatão no seu Catálogo
genealógico.
O Marquês das Minas tinha motivos ilustres para amar o Brasil. O título lembrava-lhe o
bisavô, D. Francisco de Sousa, a quem fora prometido. Os ossos desse governador tinham
ficado em São Paulo. De D. Antônio de Sousa, seu filho, enviado com amostras de ouro
para o reino, proviera o 3º Conde do Prado e 1º Marquês das Minas, D. Francisco de
Sousa, notável na guerra e na política, mestre-de-campo nas lutas da Restauração e
embaixador em Roma. Casara-se a primeira vez com uma Montalvão e a segunda com a
filha do Conde da Torre. Destas núpcias nascera D. Antônio Luís de Sousa, 4º conde e 2º
marquês (1644–1721), educado na escola das armas consoante as tradições da família,
soldado valente na guerra da independência (de 1658 a 65), destinado a maior fortuna
após o governo do Brasil.1144 Exerceu-o com argúcia e brandura, apaziguando e provendo
com proverbial acerto.
Coincidiu, porém, com esse período a epidemia da “bicha”, que flagelou Pernambuco e
Bahia no verão de 1686 — a mais terrível que ainda se vira.
A EPIDEMIA GRANDE
A “bicha” era a febre amarela. Trouxera-a da Ilha de São Tomé para o Recife um brigue
negreiro. Abertas duas barricas com carnes salgadas logo morreram, como se vitimados
pelo ar empestado, dois marítimos; e o mal se espalhou pelo porto, pela Vila de Olinda e
seus arredores, sem haver medicina que o atalhasse. Verificou-se na Bahia o primeiro caso
da doença em abril. A sordície dos sobrados cujos porões andavam cheios de escravos da
África, o calor, as ruas sujas, a falta de higiene, agravada pelo número crescente de negros
mercadejados nos bairros da praia, favoreceram a expansão da epidemia, “novo gênero de
peste, nunca visto nem entendido dos médicos, de que já morreram dois”, como
participou Vieira ao Conde de Castanheira em 1º de julho de 86. Feria de preferência os
brancos, os menos adaptados ao clima. Dias houve em que morreram na cidade duzentas
pessoas. Seis desembargadores (entre estes João de Góis e Palma, os amigos do “Braço de
Prata”), a elite da milícia, doze jesuítas, tombaram quase simultaneamente, e “chegaram as
ruas da cidade a estar despovoadas, não só morrendo de vinte até trinta todos os dias, mas
não havendo casa em que não houvesse muitos enfermos, e em algumas todos”. “Não tem
sido menor a caridade e liberalidade, principalmente do Sr. Marquês das Minas, a quem
Deus tem pago de contado, preservando do mal assim a sua pessoa como a do conde seu
filho”.1145 Dera a um boticário autorização para fornecer à pobreza os remédios que
tivesse. Uma rica senhora, D. Francisca de Sande (viúva do Mestre-de-campo Nicolau
Aranha Pacheco),1146 transformara a sua casa em hospital, porque o da Misericórdia não
podia atender a todos os indigentes. Em 13 de junho faleceu o Arcebispo D. Fr. João da
Madre de Deus, de boa memória... Valeram-se os moradores, apavorados, duma imagem
de São Francisco Xavier que se venerava na igreja do colégio, e após procissão solene
quiseram que a câmara o tomasse por seu padroeiro: isto fez em 20 de julho, com a
aprovação del-rei (3 de março de 1687).1147
MATIAS DA CUNHA
Sucedeu ao Marquês das Minas no governo outro general das lutas do reino Matias da
Cunha, que já governava três anos o Rio de Janeiro, e se empossou na Bahia em 4 de
junho de 1687.1148 Logo embarcou o marquês de volta à corte. A bordo perdeu o filho, o
Conde do Prado, provavelmente da mesma peste, que enfrentava tantas vezes em terra, a
socorrer os doentes e a pobreza...1149 Sofreu o novo administrador piores injúrias dos
homens e da moléstia. De mais notável o que fez foi o socorro ao Rio Grande, reclamado
pelos moradores investidos dos tapuias — e de que na Bahia se ocupou solene junta de
teólogos, missionários e militares.1150 Recrudesceu, em 1688, a epidemia da “bicha”. A
frota nesse ano chegada perdeu muita gente. Faleceram dois desembargadores, outras
pessoas de prol, e por fim — depois de longa agonia — o governador, mas não antes de se
inteirar de um motim de soldados que quase abrasou a cidade.
O excessivo atraso dos soldos, o terror causado pela peste, a notícia de estar a morrer
Matias da Cunha, com a conseqüente ausência de autoridade, propiciaram a revolta da
tropa, “menos os cabos e oficiais maiores”. Cercaram a Casa da Pólvora, em 21 de
outubro, e intimaram a câmara a satisfazer-lhes as dívidas, sem o que se cobrariam pelas
próprias mãos.1151 Chegaram a interceptar os caminhos, roubar os transeuntes e
aterrorizar o povo. Angariou a câmara o numerário reclamado1152 e conseguiu o
Arcebispo D. Fr. Manuel da Ressurreição (chegara a 13 de maio de 88), com outros
homens influentes aquietá-los, evitando as prometidas depredações. Exigiram mais os
amotinados: que Matias da Cunha, agonizante, e o arcebispo assinassem o seu prévio
perdão. O governador teve ainda forças para assinar; e expirou.
CÂMARA COUTINHO
Seria título, ao contrário, para bem-querer a terra: serviu-a com rude justiça, muita
lucidez e atividade grande. Os tempos, sim, corriam desastrosos; e exigiam remédios
heróicos. “À fome que houve na Bahia no ano de 1691” dedicou o poeta amargos versos:
Toda a cidade derrota
Esta fome universal,
Uns dão a culpa total
À câmara, outros à frota [...]1157
Não havia, é certo, melhor negócio que o das cousas que os embarcadiços, nas frotas
anuais, vinham especular e vender ao Brasil. Na Arte de furtar se conta que 50$000 de
pano eram na Ilha da Madeira dados pelo dobro a essa gente, que também pelo dobro,
200$000, revendia e ganhava...1160 O pior, em tal giro, era a troca, da mercância de
Portugal por açúcar ou tabaco, de cotação variável em Lisboa. Sobrevindo o distúrbio da
produção, em 1682 ou 83, deram de preferir os patacos circulantes. A crise tornou-se —
de dinheiro. Obstada à evasão, volveriam a reputar-se os gêneros do Brasil, e a
prosperidade se seguiria à normalidade do trabalho. Não havia senão diferençar da moeda
da metrópole a da colônia. Fixar a segunda, abaixando-lhe o teor metálico, em relação à
primeira. Regenerar, por essa operação na aparência temerária, a finança do Brasil até aí
incerta e desnorteada.
Porque foi a moeda então o assunto predileto das queixas, dos estudos, da angústia dos
homens empenhados em melhorar a tribulada vida brasileira de 1691, vejamos as
alterações que sofrerá ela após a Restauração portuguesa.
ALTERAÇÕES DA MOEDA
A revolução de 1640 pesara sobre o meio circulante. Ouro e prata encareceram. Tornou-
se indispensável o reajuste, com o aumento de 20%, no mínimo, do numerário corrente.
Este, no Brasil, consistia principalmente em prata espanhola. Decidiu-se, em 1643, fosse
remarcada em oficinas monetárias, para isto estabelecidas no Rio de Janeiro, na Bahia e
no Maranhão (as patacas e meias patacas seriam carimbadas com uma coroa real e os
valores, 480 e 240 réis), tendo os moradores quatro meses de prazo para as apresentarem
às tais oficinas (alvará de 26 de fevereiro de 1643). À Fazenda Régia cabia, nessa operação,
o lucro de 25% (apostila de 10 de março). Logo a 3 de agosto vigorou para o Brasil o
aumento de 25 e 50% nas moedas de ouro e prata. Proíbe-se, em 1647, a circulação das
patacas da nova fábrica do Peru. O que então se teme é a entrada da moeda falsa. Para
obviá-la, e fixar o estalão legal, recebe o vice-rei, Conde de Óbidos, em 1662, ordem para
recunhar toda a moeda existente na colônia. No ano seguinte a pataca espanhola passa de
480 a 600 réis. Trabalham as casas de resselagem da Bahia, Pernambuco, Rio e São
Vicente. Um mês, como determinava o Regimento, para que se contramarcasse a moeda
exibida, é insuficiente para isto: o vice-rei dobra o prazo. Põe ordem na circulação
metálica, manda para Lisboa a grossa percentagem que tem o tesouro régio dessa elevação
de valores, uniformiza o dinheiro em curso. Mas fora deficiente a majoração. Renovou-se
para o ouro em 1668 (a peça de 4 cruzados passou então de 4$000, para 4$400), para a
prata em 1673 e 79 (25%). As providências subseqüentes referem-se ao cerceamento das
peças de ouro (1686), abuso que suscitou, em 1688, a ordem de marcação geral do
numerário.1161 Mas foi desastrosa a lei de 4 de agosto desse mesmo ano, que mandou
levantar de 20% ouro e prata no reino e conquistas. Contra esse acréscimo em aquém e
além-mar representaram D. Fr. Manuel da Ressurreição, as câmaras da Bahia, de
Pernambuco, do Rio de Janeiro, por fim o Governador Câmara Coutinho. Respondeu-
lhes el-rei (19 de março de 1690) reiterando os termos da dita lei. Generalizou-se, em
conseqüência, uma repulsa que poderia degenerar em revolta.
MOEDA PROVINCIAL
El-rei não remeteu os 2 milhões pedidos. Adotou solução mais prática e igualmente
benéfica. Criou a moeda provincial lavrada mesmo no Brasil. Por lei de 8 de março de
1694 levantou de 10% o valor do ouro e da prata que deviam correr na colônia, somados
aos 20% do aumento de 1688.1165 Tal diferença, entre a moeda no Brasil e na metrópole,
desencorajaria os traficantes, que vinham arrecadá-la nos nossos portos: logo a lei de 19
de dezembro de 95 proibiu que circulasse aqui o dinheiro feito para o reino. A Casa da
Moeda da Bahia — instalada nesse ano,1166 na Praça do Palácio, junto à Casa da Relação —
passou a amoedar a prata e o ouro que havia em giro (de ouro, 4$000, 2$000 e 1$000,
inscrição acrescida: Petrus ii D. G. Fort. Rex et Bras. D.; e de prata: 640, 320, 160, 80, 40 e
20 réis).1167
Coube a D. João de Lencastro, sucessor de Câmara Coutinho, presidir à abertura da
grande oficina de moedagem. Viu-lhe a importância quem tanto se batera pela
“nacionalização” da moeda. “A casa dela fica já em boa altura, com que o trato civil desta
República, que até agora parecia de bárbaros, começará a ser político”.1168
ALIMENTOS E JUSTIÇA
Saiu entretanto D. Fr. Manuel da Ressurreição a visitar — pela primeira vez — as vilas e
aldeias da sua arquidiocese, numa inspeção sublinhada de caridade.
Com efeito — lembrou um contemporâneo — partiu por mar, e chegou à Vila de Ilhéus. E depois de a ter visitado
com aquele fervoroso espírito, se pôs a caminho: e chegando ao Rio das Contas, que são mais de vinte léguas, por
longas praias e altas serranias, fez também sua costumada doutrina ao povo, e fruto a Deus. E daí se partiu para a Vila
de Camamu, que lhe ficava mais de quatorze léguas distante, por ásperos campos e rios caudalosos: aonde esteve mais
dias, pelo maior concurso de gente, e ter mais que fazer na sua visita, e Missão; porque nunca perdeu tempo, em que
se não visse visitar, crismar, pregar e ainda confessar: sendo em tudo incansável na Vinha do Senhor [...]. Dali passou
à Vila de Boipeba, que dista doze léguas, embarcando parte da jornada por mar em canoas, e parte por terra: fazendo o
mesmo fruto naquela vila. Dela se embarcou para a do Cairu por um dilatado rio, que tem mais de quatro léguas; na
qual foi recebido com mui aprazível gosto. Despediu-se dela para a Força do Morro; e daí se passou, por uma grande
praia, que tem mais de nove léguas, à Vila de Jaguaripe. E correndo muita parte das freguesias e igrejas deste
Recôncavo, caminhou tão apressado, como desejoso de chegar a este seminário; porque parece que corria, para chegar
ao fim, que tanto apetecia. Isto posso eu certificar, por lhe ter ouvido dizer, que ia descansar a Belém.1171
Poucos prelados foram aplaudidos e amados como esse, que deu o resto da vida a um
apostolado exaustivo e a concluiu na recente igreja rural onde floresciam as virtudes dum
exímio educador.
D. JOÃO FRANCO
Acabava de deixar, aliás, a diocese de Angola “porque a pesca, que fez já no Oriente, o
destinou para a do Meio-Dia”1174 — o que explica menos essa novidade. No desagrado do
governador encontrou o indício de que a terra lhe seria desfavorável. Há uma poesia de
Gregório de Matos com a epígrafe: “Retira-se o Arcebispo da Bahia para fora da cidade, a
divertir o sentimento pela desastrada morte de seu sobrinho, cuja pena o acompanhou até
que se retirou para Lisboa”. À semelhança do antecessor, procurou o retiro de Belém. Não
quis continuar no Brasil. Interrompeu o seu governo em 28 de agosto de 1700 —
recolhendo-se a Portugal.1175 Assinalou-o, porém, com a criação de numerosas paróquias:
Madre Deus, São Gonçalo da Vila de São Francisco, Cachoeira, São Gonçalo dos Campos,
Saubara, Itapororocas, Itapicuru de Cima, Santa Luzia do Piagüí, São Gonçalo de Sergipe
del-Rei, Santo Antônio e Almas de Itabaiana.
O PREFERIDO DA TERRA
A câmara da cidade (em 14 de julho de 92) pediu a el-rei concedesse mais um triênio de
governo-geral a Antônio Luís Gonçalves da Câmara Coutinho, porém, não sendo isto
possível, que lhe desse então por “sucessor a D. João de Lencastro, de cujos altos
procedimentos” tinham todos lisonjeira notícia.1177 Embora excepcional, a súplica (os
moradores a indicarem o representante de Sua Majestade) fundava-se em opinião severa e
ouvida. Veio, pois, o fidalgo, com muitas esperanças, grandes projetos e a solução dos
problemas mais penosos do tempo. Dir-se-ia milagre:
Chegou o Sr. D. João de Lencastro, e entrou nesta Bahia com todo o troço da frota com que saiu de Lisboa. No mesmo
dia com sua vinda se trocou a fome em fartura, a desconsolação em alegria, e até a morte, ordinária nestes meses, em
saúde, pagando Deus aos lavradores a esterilidade do ano em tão melhorada moeda. A casa dela fica já em boa
altura.1178
Nenhum outro governador construiu tanto. Tocou-lhe por sorte, é certo, o mais belo
decênio da evolução do Brasil colonial: quando os sonhos das minas, a miragem de todos
os seus antecessores, as promessas antigas se concretizaram — em descobrimentos
espantosos. Época de pacificação a ferro e fogo de tapuias e mocambos do Nordeste. Da
comunicação, pelos sertões, do Maranhão com a Bahia. Da fundação das vilas, da
reorganização da justiça, da moeda provincial, das frotas abundantes, dos intensos
aprestos da defesa dos portos — agora que as questões européias (a confusa sucessão
espanhola) ameaçavam estender à América as guerras do Velho Mundo.
Mandou pôr os fortes de Santo Antônio da Barra,1179 de Santa Maria e de São Diogo na última perfeição e melhor
forma, além de mandar fazer o Forte de Santo Antônio-além-do-Carmo, levantar o Ornaveque e reduto a cavaleiro
que defende as duas portas da cidade1180 e fabricar a nova Casa da Relação,1181 da Moeda e da Alfândega,1182 e reedificar
com mais largueza a casa da câmara e cadeia, como tudo se deixa ver nas suas inscrições, esculpidas; concorrendo
também com incessante desvelo e solícita aplicação para se acabar o formoso templo da Matriz (Sé).1183
A CASA DA MOEDA
Mas era indispensável fabricar pólvora na Bahia; e exportar salitre, se possível. Câmara
Coutinho tratara, em 1693, com o Coronel Francisco Dias d’Ávila — a cuja Casa pertencia
a região das minas — “a condução deste salitre pelos seus colonos e com seus bois e
cavalos, que são infinitos”, do São Francisco à cidade.1188 Para ver as nitreiras D. João de
Lencastro foi àquele sertão — entre 8 de setembro e 19 de novembro de 1695.1189
Acompanhou-o o Desembargador Belchior da Cunha Brochado.
Depois de D. Luís de Sousa, atrás das minas de pirata, nenhum outro governador cortara
ainda tabuleiros, caatingas1190 e serras do Nordeste, onde, recentes, os currais da Casa da
Torre atestavam a vitória do vaqueiro sobre o tapuia.
VILAS E JUÍZES
Dava com isto aos moradores um modo de tranqüilidade municipal capaz de juntá-los,
em lugares de bom comércio e convivência próspera, em vez das fazendas em que se
isolavam; e à aglomeração do Recôncavo, nos engenhos atulhados de escravatura,
respondia com um novo tipo de adaptação do homem à terra. A vila do alto sertão, tendo
por núcleo a igreja matriz e a feira de gado.
VEREADORES
CENTRALIZAÇÃO
Tendem a desaparecer os privilégios dos capitães nas suas capitanias invadidas pela
jurisdição dos governadores. Em 1664 é o próprio vice-rei, Conde de Óbidos, que expede
o regimento “das capitanias deste Estado”, com a declaração enfática de que nenhuma
obedeceria à outra, sua vizinha, mas, rigorosamente, a “este geral”, que lhes daria as
ordens.1206 Serve de exemplo a esse tipo de subordinação o conflito, que por pouco não se
converteu em luta armada, de Francisco Barreto e André Vidal de Negreiros, aquele
montado na autoridade de governador-geral, este escorado à tradição do governador de
Pernambuco, com poder largo e autônomo. Em 1677 Afonso Furtado (escrevendo à
Câmara de São Vicente), preveniu que não aceitasse provisão ou nomeação, ainda que de
Sua Alteza, “sem levar o cumpra-se deste governo”.1207 Narraremos as etapas dessa política
de unificação do país no século seguinte — até esbarrar no interesse metropolitano de
quebrantá-la em proveito da comunicação direta com a corte.
ORDEM SERTANEJA
A ordem rural foi atendida pela carta régia de 20 de janeiro de 1699, que mandou,
para se evitarem os exorbitantes excessos que nos sertões desta capitania se cometem, por falta de quem neles
administre justiça, criasse (o governador) em cada freguesia um capitão-mor e mais cabos de milícia, que
pontualmente executem as diligências da justiça.1208
Mas ali um ermitão na sua gruta chegou antes do capitão-mor com as suas ordenanças.
Chamou-se Francisco de Mendonça Mar, e Bom Jesus da Lapa o santuário que fundou.
Era um pintor português, ainda em 1688 empregado nas obras do palácio na Bahia, que
em 1691, incompatível com a vida da cidade, entrou penitentemente os sertões, indo
instalar-se, na volta do rio, na Lapa, onde um estranho monte devia sugerir-lhe a forma
estupenda de uma catedral. Realmente, com o calcário decomposto, lavrado em
profundos sulcos, cortado pelo desgaste em torreões e agulhas, como se a natureza
copiasse as rendilhadas verticais de uma igreja gótica, esconde aquele maciço um
admirável grotão, que parecia talhado e retalhado para os fervores do culto.1209 Lá se
enfurnou o beato, com a sua caridade e o seu apetite de isolamento e de oração, como a
adivinhar o drama das minas, o tumulto e a guerra que não tardariam, a furiosa contenda
de paulistas e emboabas. Do alto da sua rocha, via passar as canoas...
OS IRMÃOS VIEIRA
Apagou-se por aquele tempo (1697) a luz mais intensa das letras luso-americanas. Aos 89
anos, morreu na Bahia o Padre Antônio Vieira, com a circunstância de lhe sobreviver
apenas dois dias o irmão, secretário de Estado Bernardo Vieira Ravasco, cuja
personalidade irrequieta se associa em tantos episódios. Entre 1681, quando voltou ao
Brasil, e seus últimos dias, o incomparável pregador prestou serviços valiosos à colônia.
Após o governo tempestuoso do “Braço de Prata”, ressurgiu a sua influência, decisiva ao
tempo de Câmara Coutinho.
E enquanto ao Regimento para o governo dos índios, e com os moradores, me louvava Vossa Majestade que o fizesse
com a aprovação e conselho do Padre Antônio Vieira pela sua experiência e zelo que tem no serviço de Deus.1210
Assim fez. Colaborou na criação da Casa da Moeda, na reorganização das missões, nos
problemas do Estado, sem deixar de cumprir a ordem do Geral da Companhia para
reduzir a volume os sermões. Só não pôde concluir a Clavis Prophetarum, livro da velhice
— quando o vezo de descobrir o futuro e o gosto de vaticiná-lo o consolavam das ilusões
perdidas...1211
1700
Os últimos atos de D. João de Lencastro foram a expedição dos socorros da Índia, que
aprestou em 1700, a exploração de um caminho mais breve para as “minas gerais”, que
logo el-rei mandou fechar, e a criação da Vila de Caravelas (1701), cujos sertões
começavam a ser devassados pelos pesquisadores de ouro.1213
MINAS GERAIS
Deve ter acontecido pouco depois (se não há erro na história) o episódio do “mulato”,
prático em tais pesquisas, pois havia “estado nas minas de Paranaguá e Curitiba”, que —
diz Antonil —
indo ao sertão com alguns paulistas buscar índios e chegando ao serro do Tripuí desceu abaixo, para tomar água no
ribeiro a que chamam agora de Ouro Preto: e metendo a gamela na ribanceira para tirar a água e roçando-a pela
margem do rio, viu que nela depois ficaram uns granitos da cor do aço, sem saber o que eram, e nem os
companheiros.
Porventura já então o Tripuí era destino comum das bandeiras, que passaram a
orientar-se pela montanha, inconfundível, que o assinala: o Itacolomi (pedra da criança,
por ter, na cumeada, um penhasco). O Itacolomi foi como a porta encantada, o farol das
jazidas sem conta... Por 1695 o taubateano Salvador Fernandes Furtado atingiu o Ribeirão
do Carmo. Com Carlos Pedroso da Silveira (paulista) e Bartolomeu Bueno iniciou a
ocupação do território rico.
Foi Carlos Pedroso quem alcançou licença do governo do Rio de Janeiro para
estabelecer uma Casa de Fundição em Taubaté (janeiro de 1695), por el-rei confirmada
em 97. Tal oficina rústica, que exigia alguns funcionários e poucos ferros, para descontar
do ouro bruto os reais quintos (20%) e “cunhar” o restante, a fim de que pudesse circular,
com a marca que provava o pagamento do tributo — não correspondia a uma simples
esperança. Indicava duplamente a extração, que já se fazia, e o desejo do pioneiro, de não
se embaraçar no seu trabalho pela necessidade de levar o ouro ao Rio ou a São Paulo.
Pode representar também uma represália, do governador do Rio e da gente de Taubaté,
em divergência com os paulistas, amotinados contra a redução da moeda (1691 e 97).1223
ARTUR DE SÁ
Quando o governador se transferiu para São Paulo, a indagar dos descobertos, como el-rei
lhe encomendara1224 — podemos considerar inaugurado o “ciclo do ouro”.
OS ARRAIAIS
A melhor gente paulista irrompe pela Mantiqueira, transpõe os serros, já sem vestígios
de índios, ganha os acampamentos, esfervilhantes de mamalucos, e reconhece o prodígio.
A nobreza...
Vês os Pires, Camargos e Pedrosos,
Alvarengas, Godóis, Cabrais, Cardosos,
Lemes, Toledos, Pais, Guerras, Furtados,
E outros que primeiro assinalados
Se fizeram no arrojo da conquista.1231
O GUARDA-MOR
Essa nomeação preteria o filho de Fernão Dias. Escreveu em 1746 Pedro Dias Pais Leme:
Criou com o título de guarda-mor das Minas a um paulista por nome de Domingos da Silva Bueno. E era este o único
ministro que havia naqueles desertos, a quem incumbia as datas e repartições dos ribeiros e terras minerais, compor e
decidir as dúvidas que sobre elas se moviam na forma do dito Regimento (que levara D. Rodrigo de Castelo Branco).
Aprovou el-rei a invenção do cargo, mas nele proveu Garcia Rodrigues Pais, “guarda-
mor geral das Minas” in solidum, “primeiro por três anos e depois em propriedade e
sucessão para si e seu filho mais velho, a primeira por resolução de 15 de abril de 1702”, a
segunda por alvará de 27 de setembro de 1725...1235
É o período caótico da história das Minas, análogo ao das regiões de ouro e diamantes
em todos os climas do mundo, antes da disciplina severa e da fiscalização do Estado.
Prólogo indispensável de uma fase imprevista e espantosa da evolução do Brasil — em
1702 foi o deslumbramento. Em 1707 — o choque de paulistas e forasteiros.1237 Em 1711
— o começo de uma organização previdente e forte, destinada a impor a lei, a ressalvar os
rendimentos da Coroa e a substituir o tumulto sertanista pela estabilidade municipal.
SUFICIÊNCIA
Da misteriosa terra do pau de tingir (1500), das magras capitanias (1532) e das primícias
do açúcar (1545), passa à categoria de zona produtora das especiarias disputadas pelas
grandes potências — e entra com isto no sistema de equilíbrio mundial.
Percebe-se a razão.
Discutia-se antes (1618) o diferente valor para Portugal da Índia e do Brasil. Em 1607
rendera o pau-brasil apenas 10% da pimenta (60 para 600 mil cruzados). Já o homem dos
Diálogos das grandezas ressalva as esperanças americanas: “É mais rico e dá mais proveito
à fazenda de Sua Majestade do que toda a Índia”.1239 Os números convenciam.
Para ter a pimenta adiantava a Coroa 200 mil cruzados; e pouco ou nada lucrava do frete
das armadas, se, custando cada navio 40 mil cruzados, só produzia 3 contos.1240 Do açúcar,
porém, navegado em dois e não em seis meses de travessia, a alfândega de Lisboa (a 250
réis a arroba) recebia — das capitanias do Norte — 300 mil cruzados. Sobre 15 mil caixas,
estimou o Padre Vieira esses direitos em 114 mil cruzados, para 1647.1241 Gastavam-se no
reino, pois a colônia se contentava com a receita dos dízimos (cobrados em espécie ou na
fonte) e dois ou três contratos, como o das baleias.
Da cachaça (ou jeribita) se dizia, em 1693, “é só gênero que há nela (Bahia) para se levar
a Angola para resgate dos negros”.1245 E do açúcar, por 1663:
[...] invernou e retardou (a frota) quatro meses em chegar ao reino. Foi tal o aperto para acudir ao exército do Alentejo
que se remediou a falta de sua importância acrescentando a moeda a valia extrínseca de 100 por 100 em que hoje
está.1246
Sede e fome, do mel dos engenhos. Na verdade: a integração deles no ritmo vital da
metrópole.
Foi o que popularizou Daniel Defoe, a imaginar Robinson na sua roça no recôncavo e
depois, insatisfeito, indo pedir ao tráfico negreiro a fortuna desalmada...
Habituou-se, já então, o estrangeiro a considerar o Brasil o país ideal dos mais estimados
produtos, das raças misturadas, da madeira preciosa e das minas lendárias, a que não
faltava — componente da “utopia” — a perspectiva de paz filosófica, das missões
internadas no continente.
PAU-BRASIL
O pau-brasil não conserva o antigo valor (“co pau vermelho nota [...]”). Na balança
mercantil continuou a ser, seria até depois da independência, monopólio de resultados
medíocres, concedido ainda em arrendamento, à maneira primitiva (por dez anos a João
Nunes Correia e Luís Godim, a começar no São João de 1602, por 21.900 cruzados ao ano,
aliás por 63.900 em conjunto, segundo composição feita no ano seguinte)1247 — ou
explorado diretamente pela Coroa (assim após o insucesso do contrato, em 606, até
1617).1248 É no preço da arrematação que encontramos o demonstrativo da estabilidade (e
decadência) do negócio. Em 1647 calculou Vieira em 10 mil quintais a extração, o quintal
a cinco cruzados. Nesta base partia-se a meias o lucro, entre o Estado e o contratante.1249
Não pôde este suportar o encargo em 1606. Explica-se-lhe o desânimo pela dificuldade do
tráfico fora de alguns portos do Nordeste. Embaraçado pelos tapuias, bloqueado pelos
corsários, obstruído por infortúnios de toda sorte, nunca deu mais de 10 mil quintais. O
severo Regimento de 12 de dezembro de 16051250 garantiu essa produção com um duro
privilégio. Destacada a árvore da propriedade do solo (para constituir direito de
superfície)1251 — não podia ser abatida, desdobrada, transportada, vendida sem
autorização da Coroa, como “domínio do Estado” que era. As exceções proviriam da
mesma autoridade.
Houve interesse, por exemplo, em permitir aos moradores (assim no Espírito Santo)1252
a extração e a venda aos agentes do estanco, para que as frotas não voltassem sem carga,
senão lastro, indispensável à viagem.
AÇÚCAR
Tão valiosa foi, em 1636, a produção, que podia proclamar-se, eram “os dízimos do açúcar
dos ditos engenhos o maior nervo da guerra e da Fazenda [...] neste Estado”.1256 Entrara a
lei a protegê-los. Provisão de 1612 mandara que, em caso de serem executados, por
dívidas, os senhores de engenho, o fossem apenas até a metade das novidades, e os
lavradores de canas em dois terços.1257 O amparo às fábricas não esmoreceu ao findar o
século. Decidiu-se (em 1693),
os açúcares em nenhum caso se rematassem por seus credores, antes que estes por dois árbitros juramentados os
avaliassem, e conforme seu arbitramento avaliados 15 dias antes da partida da frota os recebessem seus credores.1258
Tendo Francisco de Brito Freire confessado insolvência, estipulou-se que seria o seu
engenho arrendado para se pagarem dos frutos os credores, em lugar da penhora e
extinção...1259 Compreendera a Coroa que a organização da indústria (nos múltiplos laços
de solidariedade entre a fábrica e a lavoura, o senhor e a clientela, a produção e o
comércio) lhe dava uma situação privilegiada — com que, distorcido o direito comum,
inaugurou o intervencionismo do Estado nessa região econômica. Não podendo
monopolizá-la (como o pau-brasil), defendeu-a, submetendo à ordem pública a ordem
privada, em nome do bem geral.
A crer nos Diálogos das grandezas,1267 exportavam aquelas capitanias (fora as do Sul)
500 mil arrobas. Não é demasiado o cálculo, se concorria a Bahia com 10 mil caixas e todo
o Brasil, em 1647 (como está no “Papel forte”, do Padre Vieira), com 22 a 25 mil. Nos
melhores anos do domínio holandês as remessas subiram a 2 milhões de arrobas. Mas ao
terminar o século, estimavam-se em 1.295 mil...
Tem-se a idéia de uma rotina debilitada, ora pela saturação, ora pela contingência
externa, que todavia estabilizou, ao longo do século, a vida dos engenhos, conservando-os
com a sua invariável capacidade de produção. Bastavam os escravos indispensáveis (desde
que alcançavam tão alto preço os novos, adquiridos com visível sacrifício, para
preencherem os desfalques da invalidez e da morte); contada em “tarefas”, palavra que
significa jornada de trabalho de um deles, era a terra escassa, apertada entre propriedades
que disputavam os veios de água e os restos de mata, sem espaço para o desdobramento
dos canaviais; e carecia o senhor de crédito para romper essas limitações, alargando a
indústria patriarcal e morosa. Dinheiro, adiantava-lho o comissário, com as mercadorias
do consumo, mas para a cobrança, com o gravame da usura, na primeira safra, o que
reduzia o negócio à permuta da despesa pela colheita. O próprio regime legal, que o
isentava da execução por dívidas, garantindo a integridade do engenho, afugentava o
dinheiro: e na sordidez dos empréstimos de prazo curto, os negociantes mereciam, não
raro, o epíteto que lhes deu Vieira: antes mercadores, agora inimigos e piratas.1268 Sorria
aos senhores o ganho substancial, quando (a despeito da quantidade, que pouco variava, e
da qualidade, que se repetia) as cotações, surpreendendo a praça, remuneravam
consoladoramente tribulações e esperanças. Foi o que sucedeu (e continuaria pelo tempo
adiante) por ocasião das guerras demoradas, que dobravam e triplicavam em Londres o
custo das especiarias. O preço enorme de 1645 a 55 corresponde à dificuldade da
navegação no Atlântico e ao conflito anglo-holandês. Em 1670 (dominando os ingleses o
oceano) caiu a níveis ínfimos. Arrastou-se, em muitos anos de depressão, até que o
reergueu a guerra da sucessão de Espanha, quando subiu de 800 para 1$600 e 1$800. A
Paz de Utrecht voltou a depreciar o açúcar luso-brasileiro, que atravessou de novo um
período melancólico de desinteresse, até a guerra dos sete anos, e, logo, a da
independência dos Estados Unidos.
A ESCRAVATURA
Segundo o “Papel forte”, de Vieira (1647), vinham 8 mil por ano.1273 Durante um
decênio do domínio holandês (1636–45), há notícia no Recife de 23.163 vendidos em
leilão.1274 Nos anos prósperos que se seguiram à expulsão do invasor, deve ter oscilado a
importação entre 10 e 20 mil. Não é excessivo calculá-la, para todo o século, em 200
mil,1275 terça parte do número que achamos para o século xviii.
Ficou um conto luso-bântu, que pinta a contradição daquela riqueza em face desta
iniqüidade.
Nesse conto das senzalas está dolorosamente resumido o ciclo do açúcar e do tráfico.
Não há, não podia haver unidade racial, na atabalhoada importação negreira extraída
dos leilões de beira-mar e das guerras predatórias. Os mais numerosos lotes eram
exatamente dos inimigos escravizados na luta ou dos povos submetidos aos sobas
sangüinários, donde a remessa, às vezes na mesma corrente ou libambo, de indivíduos de
religião e língua diferentes, odiando-se no cativeiro como se odiavam na floresta, sem
outras afinidades além do suplício e da cor. Os portugueses exploraram estas divergências,
misturando-os nas vendas feitas no Brasil,1279 para que — desencontrados — não
conspirassem contra os senhores.
O caso dos Palmares serve de exemplo às possibilidades da coesão bântu, no dia em que,
evadidos aos grupos, aqueles ágeis angoleses encontraram nas serras das Alagoas, com a
paisagem da terra natal, os estímulos da resistência coletiva. Não se entendiam com os
minas, detestavam os fulas islamizados do Golfo de Guiné, jamais se ligaram aos que,
arrojando-se do sertão para o litoral, tinham substituído as antigas populações ribeirinhas
e adoravam entidades desconhecidas. Conviviam com os parentes, desprezando os
estranhos.
Através deste, e das palavras angolanas que passaram à língua falada, verificamos a
predominância do bântu.
Nenhum outro idioma das senzalas contribuiu mais para a originalidade do vocabulário
colonial, ajustando-se à intimidade de casa adentro, aos sabores da cozinha, aos
pormenores do trabalho, às cousas rudes do campo, à ternura e à brutalidade da existência
vigiada pela tirania dos feitores, adoçada pela tolerância dos senhores, disciplinada e
civilizada pelos costumes.1286
TABACO
A surpresa econômica do século é o tabaco. “Se o açúcar do Brasil o tem dado a conhecer
a todos os reinos e províncias da Europa (escreve Antonil), o tabaco o tem feito muito
mais afamado em todas as quatro partes do mundo”.1287 De começo, era a “erva santa”,
espécie de panacéia no conceito ingênuo de Fr. Amador Arrais,1288 boa para várias
doenças (como em 1618 lembrava o autor dos Diálogos das grandezas),1289 de duvidosa
aceitação nos mercados. Verdade, “lavravam tabaco” os holandeses no Amazonas;1290 e em
1626 reclamava a Câmara da Bahia contra a imposição de um cruzado sobre rolo de
tabaco1291 — provavelmente de 8 arrobas. Mas a plantação intensiva é contemporânea da
segunda guerra holandesa. Diz Antonil que mandou um lavrador para Lisboa as suas
amostras, e encorajado pelas encomendas, não somente ele, como os vizinhos, e logo
grandes e pequenos, se puseram a semear, limpar, capar, desolhar, colher, secar, torcer e
enrolar a rica folha, em pouco tempo transformada, de fumo bebido pelos índios, em
vício, deleite e galanteria das cortes européias... Tratou-se de arrendar a exploração,
primeiro por 40$000, em seguida, a Inácio de Azevedo, por 60$000, em 1640 já por 10 mil
cruzados.1292 Valia o estanco em 1642 nada menos de 32 mil. Cessou o monopólio — ao
tempo em que, indignadamente, os governadores da Bahia censuravam os lavradores,
desinteressados da mandioca, alimento da tropa, para cuidarem do fumo, mania dos
colonos do Maranhão, segundo Vieira, em 16521293 e flagelo do Recôncavo, na opinião do
Conde de Atouguia, em 1656.1294 Não é de estranhar que saísse Baltasar dos Reis Barrenho
a arrancar a “erva santa” espalhada pelas redondezas de Ilhéus.1295 Queria-se farinha para
a subsistência — não o engodo da fumaça... O Conde da Torre chegou a ameaçar com
dois anos de degredo e cem cruzados de multa, além da perda do seu tabaco, os que
deixassem de plantar mandioca...1296 As exigências do comércio puderam mais do que as
iras do Estado. Este agarrou-se aos lucros do estanco, renovado, em 1659, por 64.700
cruzados,1297 fixado em 60 mil em 1670; e “de 1674 por diante foi rendendo 500 mil
cruzados até um milhão” (regista o Ano noticioso e histórico). Em 1670 (lê-se em
Monstruosidades do tempo e da fortuna), “levantou a malícia o mais desatinado
testemunho que se pode imaginar ao Contrato do Tabaco: queriam os particulares vender
sem dependência e com avanço, e divulgou-se que o tabaco dos estancos tinha
veneno”.1298 Brigavam a ganância e a opressão; ganhou a Fazenda. Subiu-lhe a receita,
meio século depois, a 2 milhões e duzentos mil.1299 Assombrava.
CRIAÇÃO DE GADO
Com as primeiras reses, e o seu deslocamento para as fazendas de Garcia d’Ávila (na
Bahia), esboça-se a invasão do Nordeste por um pastoreio desleixado e nômade, cujo
itinerário estava traçado em 1591. Alargou-se pelos campos de Sergipe (tomados aos
tapuias) e subiu o São Francisco (com a colaboração do gentio manso). Desdobrou-se —
forma natural de subsistência dos grupos esparsos — ao longo dos caminhos que iam às
Alagoas e a Pernambuco; e quando a Casa da Torre descobriu os do Piauí, em 1674, já
tinha perdido o caráter primitivo, de complemento da vida agrícola (indispensável o boi à
pequena economia) ou de atividade desordenada (dos pioneiros), para se converter numa
exploração senhorial. É o período dos grandes dominadores (Francisco Dias d’Ávila,
Antônio Guedes de Brito), em cujas terras imensas os vaqueiros, seus procuradores ou
clientes, trabalhando por conta deles ou a preço de arrendamento, retalharam as fazendas,
estabeleceram os currais, sistematizaram a criação e, nos prazos convenientes, reuniam as
boiadas, para a “descida”. Na estimativa de Antonil, havia, ao começar o século xviii, 500
mil cabeças de gado na Bahia, 800 mil em Pernambuco (seja, do São Francisco para o
norte) e 60 mil no Rio de Janeiro. Mais do que a carne dos açougues, as utilidades
próprias disso que se chamou a “civilização do couro”, a riqueza que refluía das feiras à
cidade, com o negócio dos rebanhos, importava a abertura das comunicações, com a
fixação de povoamento e a irrupção de forças intempestivas, somadas ao temperamento
aventureiro do imigrante. Plasmava-se na mestiçagem sertaneja, especificamente
mameluca, a figura agreste do fazendeiro — que diferia fundamentalmente do senhor de
engenho e do mercador ribeirinho; e ao seu lado se compôs, com equivalente
originalidade, o quadro rude da vida pastoril nas caatingas secas, investidas e
conquistadas pela sua tenacidade e pelo seu vigor.
ESPECIARIAS
A lembrança das drogas da Índia não saía, entretanto, da fantasia portuguesa. Pois não era
mais possível trazê-las de lá nas frotas de outrora, que pelo menos as experimentassem no
Brasil... A idéia da transplantação, apresentada em tom profético pelo Padre Vieira a D.
João iv,1301 luzia nos Diálogos das grandezas, de 1618. Com as analogias de solo e clima,
parecia simples: estendessem-se pelos serros da Bahia as árvores de canela e pimenta;
atirasse-se pelos vales úmidos desse Recôncavo a semente do benjoim e do cravo; em
concorrência ao açúcar, as especiarias mais raras!
Foi um sonho. Dele temos o vestígio opulento nos pomares e nas hortas que deixou,
adoçando, ornando e civilizando a paisagem indígena.
DÍZIMOS DO ESTADO
Do dinheiro dos dízimos, isto é, da décima parte das colheitas, disse Fr. Vicente do
Salvador, “é só o que cá se gasta a el-rei”.1305 Confirmam os Diálogos das grandezas: “O
rendimento dos dízimos que se colhem na própria terra bastam para sua sustentação”.1306
Medem-se altos e baixos da economia colonial por essa receita instável. Já lhe vimos os
números no primeiro período do século xvii. A partir de 1628 (alvará de 30 de agosto)
arrematavam-se em cada uma das capitanias, não mais em conjunto na Bahia. “Quando
havia muitos engenhos em Pernambuco, andavam os dízimos em 65 mil, os da Bahia em
40 mil [...] e hoje andam em 20”, informa um papel de 1662.1307 A fonte mais abundante
era o açúcar. Exatamente por ser fácil de cobrar. Armazenavam-se 25 mil caixas para
embarque. Duas mil e quinhentas cabiam ao contratante dos dízimos. Tendo arrendado
por 20 mil cruzados a arrecadação anual do imposto, e vendendo em tresdobro aquele
quinhão, o lucro era exagerado. Pelo menos disto se queixavam os mercadores. Em 1648,
valiam os dízimos na Bahia 70 mil cruzados. Em 1651 (o preço do açúcar acima das
previsões) 150 mil.1308 Oito anos manteve-se esta cifra.1309 Declinou (com a desvalorização
do açúcar) para 110 mil em 1671. Em 1690 (pelo mesmo efeito) não ia além de 86 mil.1310
Confessavam então a insolvência, uns após outros, três arrendatários. No tranqüilo
governo de D. João de Lencastro reanimou-se o mercado: e os dízimos (em 1696) subiam
a 150 mil cruzados.1311
À falta de índices de produção e circulação dos bens da terra, não há melhor, para lhe
marcar o progresso, oscilando entre as espoliações da depressão e o tempo bom, das
grandes safras e do dinheiro farto, numa linha de evolução em que não se percebe ainda o
ímpeto das iniciativas, sequer a coordenação das energias criadoras — que rebentaram no
princípio do século imediato, com o ciclo das minas.
INICIAÇÃO LITERÁRIA
Formou-se no século xvii uma cultura no Brasil que reflete — modestamente embora —
as ambições precoces da sociedade colonial.
A LÍNGUA
Até meado do século seguinte, o tupi ou língua geral persistia nos meios populares do
Maranhão:1313 assim em São Paulo, em Pernambuco, no Rio de Janeiro. Por esse motivo
topônimos de proveniência paulista (das bandeiras de mamelucos e portugueses) que
resultam dos descobrimentos no Brasil central são indígenas, como os primitivos,
arrolados por Gabriel Soares...
O ENSINO
Que os graus de mestres em artes, que publicamente dão e os privilégios de que gozam os graduados não são mais que
uma imitação dos das universidades, mas suficientes a se contentarem de os haver merecido, e parecer que os tinham
legítimos.1319
As aulas “eram públicas e eles (os padres) obrigados a ensinar nelas”, sem poderem “por
sua autoridade excluir a ninguém, fossem pardos ou mulatos”.1320 Esta última observação
decorreu de uma dúvida, que teve em 1688 o provincial. Alarmado com o número
crescente de pardos que se matriculavam, quis dificultar-lhes a entrada. Consultado o
Conselho Ultramarino, lembrou que nas universidades portuguesas não havia essa
discriminação de cores e raças: e mandou que continuasse a aceitar quantos estivessem
em condições de fazer os estudos. Arejavam-se1321 com conhecimentos úteis.1322
Essa retórica, por exemplo, no colégio do Rio de Janeiro por 1667 (quando aí estudou o
Padre Estanislau de Campos), “então se ensinava aos seculares promiscuamente com os
nossos mancebos em aulas públicas, e não em escolas particulares, como agora sucede”.1324
Destas foi exemplo (1686) o Seminário de Belém da Cachoeira, fundado pelo Padre
Alexandre de Gusmão — moralista apreciável — para educar meninos de fora da cidade e
instruí-los nas matérias básicas, com exclusão da filosofia.
MAZOMBOS
FREI VICENTE
Nascido na Bahia, filho de lavrador de canas, franciscano culto (a citar Camões, Barros,
Couto, os latinos) — conseguiu Frei Vicente do Salvador terminar, em 1627, a História do
Brasil, primeira digna do nome. Estimulou-o Manuel Severim de Faria, com a promessa
de lha imprimir.1328 Como então (após a recuperação de 1625) esfervilhavam escritos
sobre o “Brasil restaurado”, esperava que fosse acolhida com benevolência. Malogrou-se-
lhe o desejo, pois jazeu inédita (até 1886!) em meio à papelada da Torre do Tombo... E foi
pena. Se a tivessem conhecido Simão de Vasconcelos, Rocha Pita, Southey, não
transmitiriam à literatura histórica (e aos compêndios) lendas e deturpações que esse
texto repele. Como Gandavo e Soares, dedicou Fr. Vicente parte da obra à natureza,
prefácio obrigatório de um livro americano: as curiosidades da terra supriam com
vantagem as suas deficiências. Delineada a moldura agreste, encaixou-lhe com arte a
crônica dos governos, seguida dos episódios que testemunhou. Neste passo é, lealmente,
depoimento. De começo enerva-a o tom encomiástico da Prosopopéia (1601),
altiloqüente tanto nos Diálogos das grandezas (1618) como nas Notícias curiosas, do
jesuíta Vasconcelos (1662), gongórico na poesia de Botelho de Oliveira e na novela de
Runo Marques Pereira, delirante na prosa de Rocha Pita e de Loreto Couto. Mas em Fr.
Vicente não supera o razoável. Permite, isto sim, que através dessa insistência (em que os
escritores dos séculos i e ii se encontram) fixemos três aspectos da literatura colonial: o
naturalismo, a autonomia, o ditirambo.
AS TRÊS CARACTERÍSTICAS
Apenas se insurge o franciscano contra a preguiça dos patrícios (cap. ii); e ao extasiar-se
ante os panoramas edênicos não esquece — áspero censor — os defeitos da gente.
O livro de Vasconcelos sobre o Padre Almeida foi a “primeira obra que destas partes a
Companhia mandou à estampa” — em 1658.
Não se achou o que o “Doutor Diogo Gomes Carneiro, natural do Rio de Janeiro”, teria
escrito de história, consoante a nomeação de cronista com 200$000 de ordenado, pedida à
Coroa (1661) pelos “procuradores das capitanias do Estado do Brasil” — que queriam ver
em livro as cousas luso-americanas.
Proliferam, isto sim, os sermões, editados no reino pelas ordens ricas, pelas Irmandades,
pelos benfeitores destas — tão diferentes entretanto,1335 na pomposa retórica, da
eloqüência coruscante do Padre Vieira.
Deve situar-se entre os pedagogos do século, na linha dos teoristas mais lúcidos do
ensino religioso, com livros graves como a Escola de Belém (Évora, 1678), História do
predestinado peregrino (Évora, 1685), Arte de bem criar os filhos (Lisboa, 1685)... Fundou
o Seminário de Belém da Cachoeira, para experiência dos seus métodos1339
— e foi nesse colégio rural que fizeram os primeiros estudos dois rapazinhos, um deles
seu afilhado e homônimo. Seriam o secretário de D. João v e o inventor do aeróstato.
ANTÔNIO VIEIRA
Retratou-se ele num trecho melancólico de carta: “Não há maior comédia que a minha
vida; e quando quero ou chorar ou rir, admirar-me ou dar graças a Deus ou zombar do
mundo, não tenho mais que olhar para mim”.
Esta síntese joco-séria da existência — a que não faltou, num fracassado senso de
profecia, sua fraqueza, a impenitente vocação do serviço público, é facilmente
demonstrável pelos aspectos que lhe resumimos. Pertence à Europa e ao Brasil. Mais a
este — pela preferência que lhe deu, de vir terminá-la aqui, como se o ostracismo, na terra
da infância e da mocidade, fosse a restituição aos pátrios climas, consoladoramente.1342
GREGÓRIO DE MATOS
Dois, pelo menos, poliram em Coimbra a inspiração e ocupam o seu lugar na língua
portuguesa: o repentista Gregório de Matos e seu conterrâneo (ambos da Bahia) Manuel
Botelho de Oliveira.
Gregório é um dos mais discutidos sujeitos do tempo. Como não imprimiu livro (razão
por que, em 1705, Botelho de Oliveira se proclamou, com verdade, “o primeiro filho do
Brasil” que fazia “pública a suavidade do metro”)1344 — beneficia-se-lhe a fama de tudo o
que o povo lhe atribuiu. Desabusado satírico, de rima fácil, cantando-a à guitarra,
estourado, ferino, dissoluto, “boca do inferno”, saiu da universidade para Lisboa com este
renome. Figura entre os assuntos da Nova floresta, do Padre Manuel Bernardes, o que não
é honra pequena.1345 Também não se incomodou com as grandes; nem as alheias.
Mandaram-no para o Brasil, quase ironicamente, como desembargador da Relação
Eclesiástica, dignidade conegal incompatível (é claro) com os seus debochados costumes.
Perdeu-a; nem poupou, com a chocarrice atroz, governadores (o Braço de Prata, Antônio
Luís), a Sé e suas hierarquias, frades, conventos, nobreza, que tudo meteu à bulha nos
pasquins temíveis. Não foi porém um demolidor tonto. O ódio aos potentados
dissimulava-lhe a arte, as possibilidades líricas em que amor, misticismo e paisagem se
combinam a um elemento original da poesia: o brasileirismo. Entrincheira-se nele, no
americanismo ora jovial e erótico, ora crítico e agressivo. É o primeiro a empregar o
gentílico: Brasileiro! Tira ao linguajar das ruas, africano e tupi, o vocabulário de estalo:
Um calção de pindoba, a meia zorra,
Camisa de urucu, mantéu de arara,
Em lugar do cotó, arco e taquara,
Penacho de guarás, em vez de gorra.1346
Não tivessem dúvida, esse Éden era o Brasil — rematou o autor da História da América
Portuguesa (1730), numa sentença ressumante de sensualidade tropical.1353 Olhassem o
azul do céu, tanta flor e tanto fruto, cores e cousas da terra farta, com os enfeites e as jóias
da sua divina riqueza...1354 Não era apenas pródiga. Era única. “Em nenhuma outra região
se mostra o céu mais sereno, nem madruga mais bela a aurora; o sol em nenhum outro
hemisfério tem os raios tão dourados”.1355 “É enfim o Brasil terreal paraíso descoberto,
onde tem nascimento e curso os maiores rios; domina salutífero clima; influem benignos
astros, e respiram auras suavíssimas”.1356
“Se houvesse paraíso na terra, eu diria que agora o havia no Brasil” (escrevera em 1560 o
jesuíta Rui Pereira).1357
ESTUDANTES
Tão numerosos eram já os brasileiros em Coimbra (foram por vezes trezentos num
ano), que tinham padroeira e lhe prestavam homenagens: em 1718 o Padre Bartolomeu
Lourenço pregou na última tarde do tríduo encomendado pelos “acadêmicos
ultramarinos da universidade, em honra a Nossa Senhora do Desterro”...1367
FRADES
ESCOLAS E LIVROS
Fora das bibliotecas conventuais pouca leitura podia haver — e piedosa — a não ser de
livros de cavalaria — ou então Os lusíadas.
A um militar que lá morreu em 1678, acharam peças de roupa, armas, um bofete (arcaz)
e “um livro de Luís de Camões”.1374
O Padre Antônio da Fonseca, presidente do coro da Santa Casa, ali falecido em 1680,
deixou cousa de vinte volumes... Seria uma boa coleção.1375 Os “inventários” seiscentistas
de São Paulo só mencionam alguns devocionários...1376 As Obras espirituais de Fr. Luís de
Granada corriam em mãos devotas. Leu-as na Bahia o Capitão Antônio da Fonseca
Soares, e com emoção tal que se converteu em servo de Deus — para ressurgir,
franciscano, Fr. Antônio das Chagas...1377 Era ao tempo (1655–7) em que “em Monserrate
antártico”, subúrbio da mesma cidade, escrevia D. Francisco Manuel, desterrado e triste, o
segundo dos Apólogos dialogais, a segunda Epanáfora, o Hospital das letras, custando
“acreditar que um estudo crítico que necessitava da leitura prévia de tantos livros fosse
redigido lá, a não ser que o autor, que era amicíssimo dos jesuítas, se utilizasse da livraria
do colégio”.1378 Esta era opulenta mesmo no recente colégio do Maranhão: “Livraria temos
muito boa, e com poucos livros que venham do reino haverá todos os que se hão
mister”.1379
CIÊNCIA
Ninguém como esse médico do Recife vira tão lucidamente os problemas de higiene,
melhoria das condições urbanas e prevenção das epidemias. Para ele, provinha tudo dos
bairros sujos, dos contágios fáceis de evitar, da imundície alastrada pelas cidades...1384
Começa com isto a fixar-se um conceito de doenças tropicais — de que trataram (“o mal
de Luanda em Angola e na Bahia”) Aleixo de Abreu, em 1623, Zacuto Lusitano (1575–
642), Simão Pinheiro Morão (“bexigas e sarampos”), Luís Gomes Ferreira, Manuel Dias
Pimenta... Mandou el-rei em 1692 (apreciável progresso) que se tentasse anatomia na
Bahia, para “conferir a experiência que fizera um estrangeiro”.1385 Pelas medidas tomadas
em Pernambuco por sugestão dos doutores Ferreira da Rosa e Domingos Pereira, a mais
corajosa, o enterramento fora das igrejas,1386 sabemos que desafiaram os preconceitos
populares. Das suas próprias palavras repontam aliás essas superstições (“o ar pode viciar
pelos astros”),1387 com o prognóstico, “de muitas doenças malignas”, que vaticinava o
Padre Valentim Estancel,1388 apreensivo com a conjunção dos planetas.
ORIGINALIDADE IMPOSSÍVEL
Não podemos falar de arte brasileira no 2º século. Antes do ciclo do ouro (com as
necessidades do povo que instalava depressa os prósperos arraiais) e da condensação de
uma cultura própria nas cidades do litoral — artes e artistas vêm da metrópole, mostram-
se insensíveis ao ambiente, procuram reproduzir — a igreja, a casa, o convento, a fortaleza
que lá havia; transplantam, adaptam, copiam — sem originalidade nem audácia. Tem-se a
impressão do transporte, em que a viagem não tirasse a essa arquitetura, a esses elementos
decorativos, a esse tímido apetite de harmonia e beleza, nenhum de seus aspectos, frios e
exóticos. Parece que emigrava com o propósito patriótico de estampar no mundo novo a
imagem verídica de Portugal — com o mesmo traço, a mesma intenção moral, o senso
utilitário (isto é, prático e oportuno, sem o interesse da pompa nem a suntuosidade
ofuscante) peculiar à humildade rural, à pobreza urbana. Passou a linha equinocial o
povoador com a instituição civil (o município, as Ordenações do reino, a hierarquia, a
família) e a civilização material (fixada nos estilos singelos e arcaicos). A sua operação de
montagem das vilas consistiu em arrumar, segundo a ordem tradicional, as pedras que
trouxera, numeradas — protegendo-as com idêntica organização social. A Igreja
colaborou desde logo (e irresistivelmente) para que as formas não se deturpassem com a
mudança, e florescesse na América a expressão artística que acabava de dar ao santuário,
às efusões do culto, ao mosteiro.
O BARROCO
Não é possível delimitar épocas ao jesuítico (de que falamos) desataviado e geométrico
(Irmão Francisco Dias), ao barroco (fachada de empena em lugar do frontão retilíneo,
sem refolhos de arte, em contraste com o ornato interno) e ao apogeu desse estilo
curvilíneo e fragmentário, cuja evolução descritiva se embaraça nas retorcidas audácias do
rococó. Verifica-se, isto sim, que à medida que a sociedade prospera o amor do belo,
transitando da escultura mural (talha dourada comum ao barroco desde 1650) à
arquitetura, impõe os predicados gerais do gosto berniniano, borromínico,
churrigueresco. É na escultura dos retábulos, em seguida de tremós, molduras, portadas,
até (como em São Bento do Rio, que leva a data de 1694, antes de São Francisco da Bahia,
1720) de toda a nave, que o estilo se enraíza, desdobra o vigor pictórico, incendeia a
vocação dos artífices regionais, aceita-lhes a colaboração sentimental com a planta
científica dos engenheiros. Dá-lhes oportunidade. Os motivos se repetem — com a coluna
salomônica (do baldaquino de Bernini em São Pedro), folhas de parra, cachos de uvas,
pelicanos e querubins, na festiva multiplicação dos símbolos canônicos. Mas é na
arrumação, na licença do debuxo, na personalidade da execução, na cenografia que a
torêutica (de que se tornou expressão máxima Fr. Domingos da Conceição, beneditino,
natural de Matosinhos, no Porto) — resplandece e domina. O ofício permite, além disto, a
formação de escolas, em que se sucedem as gerações;1389 e daí irradiam para a pequena
indústria (marceneiros baianos, pernambucanos, maranhenses, fluminenses) famosos
fabricantes de mobílias, ourives da prata, entalhadores e santeiros inconfundíveis.1390
ARQUITETOS
Inicia-se com Francisco de Frias (em 1603) a série dos engenheiros que tanto edificaram
fortalezas como conventos e casas-grandes, que lhes levaram o selo da austeridade, da
solidez e da geometria, ou apenas do mau gosto — sem nada que lembrasse a liberdade,
ou a graça e a leveza do risco.1395 Era capaz de construir imponentes praças de armas como
dos Reis Magos, do Rio Grande ou, no penhasco diante da Bahia, a do Mar. Não lhe faltou
ciência para planejar a abadia beneditina do Rio de Janeiro — que o coloca entre os
mestres — notável pela conciliação do traço humilde do Irmão Francisco Dias (templo de
empena, emoldurado de cunhais de granito, rude na sua singeleza) com as Torres de
Terzi, independentes, mas articuladas com a harmonia do casarão mosteiral de beirais
solarengos, janelas quadradas, alpendre acolhedor e esse ar manso dos conventinhos
seiscentistas. Acoruchados em pirâmide, esquinados em pedra, rasgados em seteiras
(sineira e menagem) os campanários constituem um acessório enfático a conjugar-se com
o equilíbrio barroco do frontispício, naquelas igrejas hesitantes entre a severidade jesuítica
e a fantasia italiana desses arremates.
Sucede ao engenheiro Frias o monge Fr. Bernardo de São Bento (João Correia de Sousa),
no Rio de Janeiro, autor da ampliação do mosteiro e o mais erudito dos construtores de
então.1396 Familiarizara-se com as doutrinas de Sérlio e do “famoso Luís Serão” (sic), ou
seja, Luís Serrão Pimentel; e as Observações que deixou, inéditas, sobre as Obras
beneditinas, valem como um compêndio de Arquitetura, o primeiro que se conhece no
Brasil (diz-nos D. Clemente da Silva Nigra). Na Bahia, outro monge, Fr. Macário de São
João (espanhol, que trabalhou de 1650 a 1676) deu ao seu mosteiro e à respectiva igreja de
planta romana as atuais dimensões. Atribuem-se-lhe as da Santa Casa e do Convento de
Santa Teresa (cuja fachada romana, ao gosto de Vignola, só se vulgarizaria no século
seguinte).
Aos portos, todavia, vêm de Portugal as pedras lavradas, a forma artística, igrejas
inteiras, em pedaços de mármores alentejano ou lioz de Alcântara devidamente
numerados. Refere-se Gregório de Matos na Satírica1397 à frota que, em 1691,
[...] entrando co’a vela cheia,
O lastro que traz de areia,
Por lastro de açúcar troca.
Não trazia areia, mas pedra, corrige Vieira em carta do mesmo tempo: “Aqui chegou, e
dizem que carregada de pedraria, porque não trouxe mais que pedra”.1398 Isto é: pedra de
cantaria, e outra tanta aparelhada, para as construções da Cidade.
SÍNTESE DO 2º SÉCULO
Em 1700 a definição geográfica e econômica do Brasil se completara. Ganhara a sua
configuração no continente; e desenvolvera dispersiva e amplamente as forças sociais e
produtivas que no século precedente hesitavam no litoral, débeis e isoladas, entre a
barreira da serra marítima e a ameaça dos índios ferozes. Em 1600 a colonização parava
na Fortaleza dos Reis Magos, no Rio Grande, e ao Sul em Cananéia, aventurando-se
quando muito os traficantes de escravos carijós, nos barcos costeiros, a ir tomá-los entre
Laguna e os Patos. Mesmo no trecho de beira-mar, onde arranhavam os povoadores como
caranguejos — na ironia de Frei Vicente do Salvador — as tribos tapuias devastavam por
vezes os arraiais, até as vilas com as paliçadas e as igrejas, impedindo a penetração dos
sertões misteriosos, o acréscimo dos gados “curraleiros” e a ocupação das “sesmarias”
inutilmente concedidas. Assim no Recôncavo da Bahia à volta de Cachoeira até Cairu e
Porto Seguro, no estuário do Paraíba e Campos dos Goitacases... A irradiação sertanista,
partindo de São Paulo, dominara o Vale do Tietê, a região balizada pelo Paranapanema ao
sul e pela Mantiqueira ao norte: faltava-lhe, porém, a distribuição de núcleos urbanos, que
fixassem os mamelucos seminômades, e servissem de base e coordenação à conquista do
Oeste. Não tardou, ao raiar o século xvii, a expansão portuguesa até o Ceará, Maranhão,
Pará, e o Amazonas. Concluída na zona tórrida a grande empresa, perfez-se em sentido
austral, com a incorporação do território entre Itanhaém, Paranaguá, São Francisco e
Santa Catarina, acompanhada da instalação, na foz do Prata, da tribulada Colônia do
Sacramento. A área geográfica integralizara-se na direção do meridiano (que não era
mais, evidentemente, de Tordesilhas...); restava a delimitação das fronteiras que dependia
do conflito entre as entradas paulistas e os vizinhos castelhanos. Perde-se a noção da lei
antiga que vedava esse desbordamento. Os homens no Brasil têm a liberdade de
movimento de uma raça jovem e forte que se adestra na luta com o estrangeiro para em
seguida vencer a terra. É também o século das repulsas à mão armada: de franceses no
Maranhão, dos holandeses na Bahia e no Nordeste, vinte anos... As armas ratificam o
direito, onde ele preexistia: e o Brasil não se desagregou. Mas criam outros direitos: onde
o uti possidetis anulava a linha convencional, divisória, que nunca valeu no terreno, senão
nos mapas e nos debates jurídicos... Prosperam e crescem as cidades recentes. O comércio
anima-se e floresce. À saturação do açúcar se segue o surto de novas lavouras; mas a
pesquisa das minas — sonho persistente, por isso fecundo — não deixa em paz governos,
pioneiros, gerações. A terra ganha e aumenta: pois atrás de sua miragem os cabos das
bandeiras descobridoras, mesmo descobrindo apenas sertão, vislumbram paisagens
magníficas, regiões ricas, os caminhos do povoamento. O Vale do São Francisco polariza
no Nordeste essas incursões ambiciosas; o planalto paulista é a sua zona de dispersão; pela
própria costa, à notícia de ouro em Paranaguá, avançam rapidamente. Afinal as profecias
se confirmaram: e de Taubaté e Guaratinguetá os primeiros “mineiros” se lançaram para
as montanhas centrais.
2 A história foi a sua vocação, e o direito, sua realização profissional. Se a maioria dos seus livros é constituída de
obras de história, ou de literatura histórica, também, entre a extensa bibliografia, encontram-se numerosos e alentados
trabalhos sobre Direito, tais como Direito de propriedade, Reforma Constitucional da Bahia, A Federação e o Brasil,
Intervenção Federal, O desquite, Estado e o direito n’Os Lusíadas, Curso de Direito Constitucional Brasileiro, Curso de
Direito Público, Curso de Teoria Geral do Estado, História das idéias políticas.
3 Fez sua formação escolar no Colégio Antônio Vieira e depois no Ginásio Baiano, ambos em Salvador-ba.
4 No Conselho Federal de Cultura, quando Gilberto Freyre afirmava não ser católico, cortou Calmon: “Mas tem todas
as virtudes para sê-lo”.
5 Descendente de Francisco Calmon du Pin e Almeida, seu tetravô, ascendente de Miguel Calmon du Pin e Almeida,
Marquês de Abrantes, as raízes paternas de Pedro Calmon Moniz de Bittencourt remontam à província de Cahors, na
França, donde partiu para Portugal Bertrand Calmon, o primeiro deste sobrenome, cujo filho, já lusitano, João Calmon,
chegou à Bahia em 1655. O seu ramo materno, pelo casamento de seu pai, Pedro Calmon Freire de Bittencourt com
Maria Romana Moniz de Aragão Calmon de Bittencourt, sua prima, se prende a Egas Moniz.
6 Considero importante dar o destaque ao fato de que seus dois outros livros de ficção, O Thezouro de Belchior e
Malês: a insurreição das senzalas também se enraízam em sua terra natal. Em sua predominante produção de historiador,
do primeiro livro até a publicação póstuma Introdução e notas ao catálogo genealógico das principais famílias, de Frei
Antônio de Santa Maria Jaboatão, vários de seus outros livros também estão ligados à história de sua província: A
conquista: História das bandeiras baianas, O crime de Antônio Vieira, O Marquês de Abrantes, História da Casa da
Torre, A bala de ouro, História da Literatura Baiana, Castro Alves: O homem e a obra.
7 Sobrinho homônimo do Marquês de Abrantes, foi engenheiro e político brasileiro, correligionário de Rui Barbosa,
Ministro da Viação e Obras Públicas (1906–1909) e, posteriormente, Ministro da Agricultura, Indústria e Comércio
(1922–1926).
8 Ao mesmo tempo, para completar seu salário e colaborar com a família em Salvador, trabalhava à noite, na redação
da Gazeta de Notícias.
9 Essa Bahia onde, no espaço de 35 anos, fundaram-se duas academias, a dos Esquecidos (1725) e a dos Renascidos
(1759), nas quais figuram, na primeira, poetas menores e maiores, como Gonçalo Soares da França, satírico e repentista,
na linha de Gregório de Matos, João de Brito e Lima, sisudo e seco, com seus Poema Festivo e Poema Panegírico,
memorialistas como Inácio Barbosa Machado, autor dos Fatos Políticos e Militares, e historiadores como Sebastião da
Rocha Pita, autor da História da América Portuguesa; na segunda, figuram o poeta Ferrão Castello Branco, Pedro
Facques, com sua Nobiliarquia Paulistana, Frei Antônio de Santa Maria Jaboatão, com o Novo Orbe Seráfico, D. José de
Milares, com a História Militar do Brasil, José Antônio Caldas, com a Notícia Geral da Capitania da Bahia.
10 Estão entre eles: A bala de ouro, Brasil e América, Brasília, Catedral do Brasil, Castro Alves: O homem e a obra,
Compêndio de História da Literatura Brasileira, A conquista, O crime de Antônio Vieira, Espírito da Sociedade Colonial,
O Estado e o Direito n’Os Lusíadas, Estados Unidos de Leste a Oeste, Figuras de Azulejo, Franklin Dória, Barão de
Loreto, Gomes Carneiro, o General da República, História da Bahia, História da Casa da Torre, História da Civilização,
História da Civilização Brasileira, História da Faculdade Nacional de Direito, História da Fundação da Bahia, História da
Independência do Brasil, História da Literatura Baiana, História das idéias políticas, História de Pedro ii (5 volumes),
História Diplomática do Brasil, História do Brasil (7 volumes), História do Brasil na Poesia do Povo, História do
Ministério da Justiça, História Social do Brasil (3 volumes), José de Anchieta, o santo do Brasil, Malês, a insurreição das
senzalas, Espírito da Sociedade Imperial.
11 De acordo com Pedro Calmon Filho, também professor da Faculdade de Direito da ufrj, seu pai sempre quis ser
enterrado como professor, que foi o título que ele mais prezou em vida.
12 Segundo consta no livro Pedro Calmon: Vida e glória, organizado por Edivaldo Boaventura, não há conta do
número de estudantes baianos que Pedro Calmon acolheu no Rio de Janeiro e aos quais forneceu fosse uma palavra de
orientação, fosse uma providência junto a órgãos públicos, fosse, ainda, apoio material.
13 Entre dezenas de condecorações, tinha a Grã-Cruz das Ordens da Santa Sé, de Santiago, de Cristo, Educação
Pública e Infante D. Henrique, de Portugal; de San Martin, da Argentina; de Boyacá da Colômbia; de Rubén Dario, da
Nicarágua; da Espanha, da China Nacionalista, do México e do Paraguai; Grande Oficial do Chile, do Peru, da Alemanha,
da Suécia, da Grécia, da Itália e do Irã; Ordem do Mérito e ordens do Exército, Marinha e Aeronáutica do Brasil; e
comendador da Legião de Honra, da França.
16 Thomas Giulliano é pós-graduado em Literatura Brasileira pela pucrs, pós-graduado em História e Cultura Afro-
brasileira e Indígena pela uninter, graduado em História (licenciatura) pela pucrs, coordenador do livro Desconstruindo
Paulo Freire, autor dos livros Desconstruindo (ainda mais) Paulo Freire, O sofisma do Império e Machado de Assis:
escravidão e política, editor e consultor historiográfico do Clube Rebouças. Historiador agraciado com a Medalha da
Ordem do Mérito do Livro, fornecida pela Biblioteca Nacional — ne.
17 In Viriato, p. 171.
18 Não repetimos os nomes das vilas e cidades do século anterior. Os nomes que não foram citados, nos rios,
correspondem aos que mantêm a designação atual.
19 V. Rodolfo Garcia, nota a Varnhagen, História geral do Brasil, ii, p. 109, ed. integral. Neto de Diogo Botelho, o
velho, Júlio de Castilho, Lisboa antiga, ix, p. 254, Lisboa, 1937, que fora ferido e preso em Alcácer-Quebir; resgatado aos
mouros; em 1579 nomeado embaixador para outros resgates, Queirós Veloso, D. Sebastião, p. 417 Lisboa, 1935, seguiu a
parcialidade do Prior do Crato, D. Antônio, mas não é exato que estivesse entre os prisioneiros do combate da ponte de
Alcântara. Na tarde de 24 de agosto de 1580 — dia desse encontro — passou por Vila Franca com D. Antônio e centena
de cavaleiros, Damião Peres, O governo do Prior do Crato. Barcelos: 1929, p. 107. Quando chegou às margens do Lima,
diz Camilo: “D. Antônio tinha à volta de si como relíquias [...] Diogo Botelho”; Camilo Castelo Branco, Sentimentalismo
e história. Porto: 1897, p. 224. Homiziou-se em França. Figurou como testamenteiro do Prior do Crato, Camilo, D. Luís
de Portugal. Lisboa: 1896, p. 139. Faleceu o velho Diogo Botelho em Paris, a 23 de março de 1607, Miguel d’Antas, Les
Faux Don Sebastien, cit. por Júlio de Castilho, op. cit., ix, p. 141. Reabilitou-se o neto perante Filipe ii pelo casamento com
D. Mana Pereira, irmã do secretário da corte, Pedro Álvares Pereira, da casa dos Condes de Benavente. Foi mandado ao
Brasil a 20 de fevereiro de 1601. Das Confissões ao Santo Ofício, de 1618, ms. na Torre do Tombo, inéd., constam
acusações graves a seus costumes. Era filho de Francisco Botelho, capitão de Tânger e embaixador em Roma, e de D.
Brites de Castanheda, filha de castelhano. Deixou filho, Nuno Álvares Botelho, morto às mãos dos holandeses sendo
governador na Índia: este foi pai do 1° Conde de São Miguel, Pe. Antônio Carvalho da Costa, Corografia portuguesa.
Braga: 1862, 2ª ed., i, p. 397.
22 A ordem para a jornada de Pero Coelho foi dada pelo governador Diogo Botelho em reunião com os capitães-
mores de Pernambuco e da Paraíba, e o Sargento-mor Diogo de Campos Moreno, em Olinda, a 21 de janeiro de 1603,
Barão de Studart, in Revista do Instituto do Ceará, xxxvii, p. 166, onde o governador-geral continuava residindo em abril
de 1603, cf. Livro velho do Tombo de São Bento, Bahia, p. 360. O Regimento passado a Pero Coelho tem a mesma data da
reunião, Capistrano de Abreu, “Prolegômenos” à História do Brasil, de Fr. Vicente do Salvador, p. 255 (3ª ed.). O auto
sobre a expedição, com os objetivos — expulsão de franceses, investigação de minas, descobrimento da costa, in Rev. do
Inst. do Ceará. Fortaleza: 1912, xxvii, pp. 17 e ss.
23 Barão de Studart, Documentos para a história do Brasil e especialmente a do Ceará. Fortaleza: 1909, ii, p. 68.
25 V. Capistrano de Abreu, in Rev. do Inst. do Ceará, xviii, p. 67. Sobre as tribos da região, Pe. Théberge, Esboço
histórico sobre a Província do Ceará. Fortaleza: 1869, p. 4.
26 História da missão, p. 65. Na descrição do capuchinho se misturam a narrativa da expedição de Pero Coelho (“há
sete anos [...]”) e o martírio do Padre Pinto na deformada notícia dos tupinambás, a quem tanto impressionara o
“profeta”.
28 A jangada é, com o nome, da Índia, mons. Rodolfo Dalgado, Influência do vocabulário português em línguas
asiáticas. Coimbra: 1913, p. 91, citando Castanheda, Fernão Pinto, Diogo Do Couto.
30 Queremos insistir na etimologia lendo Gomes Eanes de Zurara, Crônica da Guiné, i, p. 95, Porto, 1937, “de Zaara”,
com o acento que põe João de Barros, Décadas, i, p. 12, ed. A. Baião, Lisboa, 1932: “Desertos da África a que eles chamam
saará”. “Boa de extremar da outra”, diz Zurara, “por razão das muitas areias que aí há” (ibid., ii, p. 94). Ceará vem de
Saará — concluímos.
32 Pe. Serafim Leite, ibid., ii, p. 552. A sua Arte da gramática foi publicada em 1687.
33 Fr. Vicente, ibid., p. 414. Sobre o sacrifício do Padre Pinto, Paulino Nogueira, Rev. do Inst. do Ceará, xvii, pp. 12 e
ss. Profetizara-o Anchieta em 1582. O pau de jucá com que o trucidaram foi levado para o colégio da Bahia e desapareceu
com a invasão holandesa, Studart, Revista, cit., xxxii, p. 171.
35 Studart, in Rev. do Inst. do Ceará, vol. cit., p. 177. Veja-se a carta do Pe. Figueira ao geral da Companhia, 1608,
Rev. do Inst. do Ceará, xvii, pp. 97–138. Em carta ao geral, de 26 de agosto de 1609, declarou “impossível efetuar-se por
ora” a missão do Maranhão, alegando distância, seca, rios, dificuldades da navegação pelo regímen dos ventos... Revista,
cit., p. 139. Figura nesse primeiro período da exploração da costa o florentino Baccio de Filicaia, que, após ter servido com
D. Francisco de Sousa, se empregou seis anos (1602–8) a “Scropriri e conquistari le provinzie de’ fiume Maragnone e
Amazone”, tendo em 1607 seu navio se desgarrado para a Antilha, donde passou a Portugal. Parece que voltou com D.
Francisco de Sousa, em 1609. V. docs. in A. Piccarolo, Um engenheiro italiano na descoberta das minas brasileiras. São
Paulo: 1931, p. 16.
36 O Pe. Figueira escreveu ao geral, da Bahia, 26 de agosto de 1609: “No Maranhão há muitos franceses que estão de
morada como estavam no Rio Grande [...]. E o menos mal que podem fazer aos nossos, é levarem-nos à França que cada
dia lhe vêm naus carregar de madeiras, pimenta, algodão, etc.”, Rev. do Inst. do Ceará, xvii, p. 140.
37 Descobrimos a referência (inédita) ao capítulo do regimento sobre os biscainhos e os coqueiros, num papel de 15
de dezembro de 1614, certidão ms. no Arq. Hist. Col., Lisboa, Papéis avulsos. Permite que datemos do governo de Diogo
Botelho (1602) o coqueiral típico da paisagem ribeirinha do Nordeste. Gabriel Soares dava como fracassado este plantio,
em virtude da doença que atacara o palmar incipiente, Trat. descr., p. 157, ed. Varnhagen, Rio, 1851, secando-o.
38 Fr. Vicente, op. cit., p. 397. Era sócio do contrato das baleias o francês, de Nantes, Julião Miguel, que passava por
espanhol, cf. Pyrard de Laval, Voyage, ii, p. 325 da edição portuguesa.
39 Fr. Vicente, ibid., p. 396. O contrato das baleias no Rio de Janeiro (ficou o nome: ponta da Armação) é de 1639 ou
1644, Vieira Fazenda, Rev. do Inst. Hist., cxlii, p. 394.
40 Documentação in nota xvi da secção xxiv da Hist. geral do Brasil, de Varnhagen, anotada por R. Garcia. Diogo
Moniz Teles, por exemplo, declarou que em 1604 “grossa armada de Holanda batera a cidade quarenta dias”, e “assistiu
sempre na sua estância com seus criados à sua custa acudindo ao Arraial do Rio Vermelho”, Livro de mercês gerais, n. 1,
1644, e códice 79, f. 173, ms. no Arq. Hist. Col., Lisboa. V. também Revista do Inst. Hist. Bras., lxxiii, parte i, p. 215; e Rev.
do Inst. Hist. da Bahia, n. 35, p. 61.
41 Sebastião de Carvalho, desembargador da Relação do Porto em 1607, depois em Lisboa, por fim, em 1634, do
Desembargo do Paço, v. Pe. Antônio Carvalho Costa, Corografia portuguesa, ii, p. 52, 2ª ed., faleceu em Lisboa em 1639.
Casou pela 3ª vez, em 1606, com D. Francisca Monteiro e ficou-lhe no Brasil descendência, de sobrenome Cavalcanti de
Lacerda, cf. Frei Jaboatão, Catálogo genealógico, tít. “Famílias de Pernambuco”. Foi bisavô do Marquês de Pombal.
42 Em carta de 1612, queixando-se do bispo, alude D. Diogo de Meneses à saída de Botelho malquistado com os
moradores: “Vindo aqui D. Francisco de Sousa das capitanias de baixo a se embarcar o persuadiu a que dessem calor a
embarcarem Diogo Botelho”, Anais da Bibl. Nac., lvii, p. 73. Sobre a descendência de D. Diogo de Meneses, v. Ementas de
habilitações de ordens militares no sec. xvii. Lisboa: 1931, p. 76.
43 Rodolfo Garcia, nota aos Diálogos das grandezas do Brasil, ed. da Acad. p. 168.
46 Francisco Leitão Ferreira, Alfabeto dos lentes. Coimbra: 1937, p. 282; e Pe. Antônio de Carvalho, Corografia
portuguesa. Braga: 1868, ii, p. 226.
48 Códice 1.192, f. 162, ms. no Arq. Hist. Col., Lisboa, inédito. Informação desconhecida dos biógrafos de Vieira.
Cristóvão Ravasco voltou à Bahia em 1609 e, para não mais a deixar, em 1614. Em 1618 eram advogados na Bahia os
licenciados Francisco Lopes Brandão, Filipe Tomás e Manuel Ferreira de Figueiredo (cristãos-novos) e Manuel Pacheco
de Sousa, Denunciações de 1618, publ. por Rodolfo Garcia, passim. Era engenheiro e arquiteto das obras del-rei,
Domingos da Rocha, Livro velho do Tombo de São Bento. Bahia: 1945, p. 43.
50 Foi provedor da alfândega da Bahia e chefe de grande família, cf. Frei Jaboatão, Cat. gen., p. 274; Documentos
históricos, xvii, pp. 250–1... Seu genro e sucessor na provedoria, Antônio de Brito de Castro (2 de abril de 1638): “Pai dos
Castros” de quem falaremos a propósito do governo do “Braço de prata”, em 1684.
51 Ementas de habilitações de ordens militares nos princípios do séc. xvii, p. 57. A carta supra, de D. Diogo de
Meneses, in Anais da Bibl. Nac., lvii, p. 54.
52 Foi para o Maranhão em 1615, com Alexandre de Moura, em 1622 passou a capitão no Rio das Amazonas, Fr.
Vicente do Salvador, op. cit., pp. 489 e 498.
53 Registo geral da câmara municipal de São Paulo. São Paulo: 1917, i, p. 170, ata de 7 de março de 1609.
55 Garcia, nota a Varnhagen, ii, p. 163. Ficou D. Luís no Brasil. Em Pernambuco, casou com uma filha do rico João
Pais, do Cabo: e lá morreu, op. cit., ii, p. 164. Foram estes os pais do Mestre-de-campo D. João de Sousa, fundador da
igreja e hospício do Paraíso, Rocha Pita, Hist. da Amér. Port., p. 52, ed. de 1880. O capitão espanhol Antônio Anasco
ouviu aos portugueses nesse ano dizer: “Que murió de un enojo (porque le troxeran nueva que su hijo que se llamava Don
Antonio le cojieron los ingleses enbiandole a la corte con cierto presente de oro a Su Majestad) e asi por la muerte de su
padre está governando el dicho don Luís”, Anais do Museu Paulista, i, p. 154. No museu do Instituto Arqueológico de
Pernambuco guarda-se a pedra de armas da sepultura de D. João de Sousa, que estava na igreja do engenho do Paraíso.
56 Pedro Taques, Informação sobre as minas de São Paulo, ed. A. Taunay, p. 82. Governou Martim de Sá a capitania
do Rio de Janeiro, de junho de 1602 a junho de 1608. Salvador Correia esteve em São Paulo em 1616, Registo geral da
câmara municipal de São Paulo, i, p. 220; deixou no seu lugar outro filho, Duarte Correia Vasqueanes, provedor das
minas... que não se achavam. Em 1639 requereu Salvador Correia de Sá e Benavides — e obteve — o cargo de
administrador das minas, Luís Norton, A dinastia dos Sás no Brasil. Lisboa: 1943, p. 38. O apelido Benavides era materno,
de D. Maria, filha de D. Manuel de Benavides, castelhano e corregedor de Cádis, casado com a inglesa D. Cecília de
Bruman e Mendoza, Ementas de habilitações de ordens militares nos princípios do séc. xvii, p. 78; também Clado Ribeiro
Lessa, Salvador Correia de Sá e Benavides. Lisboa: 1940, p. 12.
58 Ms., Livro 3º das leis, f. 97, Arq. Nac. da Torre do Tombo, Lisboa, inéd. Corresponde à consulta ao Conselho da
Fazenda sobre os insucessos de D. Francisco de Sousa e Salvador Correia, e os oferecimentos de Belchior Dias Moréia, P.
Calmon, O segredo das minas de prata. Rio: 1950, p. 33. No mesmo sentido, Regimento de 1644, a Salvador Correia, in
Rev. do Inst. Hist., tomo especial, i, p. 13 (1956).
62 Publicado por Charles de la Roncière, Histoire de la Marine Française. Paris: 1934, p. 54.
63 O problema da etimologia de Maranhão foi resumido por Benedito de Barros Vasconcelos, in Anais do iv
Congresso de História Nacional. Rio: 1950, ii, pp. 478–9. Tudo leva a crer que vem do espanhol maraña (emaranhado),
Marañón, que realmente desde o começo do século xvi este é o nome dado ao Amazonas no seu curso superior,
compreendendo-se que — rio de misteriosas riquezas — com ele confundissem os portugueses os que deságuam na baía
do Maranhão e ainda a foz do Amazonas “ou Grão-Pará”. Parece ter sido Luís de Melo da Silva quem denominou
Maranhão à barra onde naufragou, naquela costa incluída mais tarde na capitania de João de Barros. Poucas dúvidas
restam sobre a origem castelhana do topônimo, a que o Padre Antônio Vieira volveu, na ironia do trocadilho: “Este
maranhão é maranha”, carta ao Conde de Ericeira, 1689, Cartas, iii, p. 570 da ed. J. Lúcio. A verdade é que aos ouvidos
rudes soava como grande mar (hibridismo adotado pelos conquistadores, Grão-Pará, em vez de Paraguaçu, como nos
outros lugares do litoral), o que poderá explicar a sua aplicação àquela terra, tão distante do autêntico Marañón.
65 Jean Mocquet, Voyages en Afrique, Asie et Indes Occidentales. Paris: 1617, p. 69. Em 1612 o locotenente de Razilly
(que do Brasil regressara com alguns índios) era o Sr. De La Ravardière, ibid., p. 98.
66 O contrato de Daniel de la Touche, Sr. De La Ravardière e François de Razilly (irmão do famoso almirante Isaac de
Razilly, que aliás veremos metido na mesma aventura do Maranhão), é de 4 de outubro de 1610. Foi este o primeiro chefe
da expedição criadora da França Equinocial, cf. Ratification par Louis xiii du pouvoir donné à François de Razilly pour le
voyage des Indes, 5 septembre, 1611, ms. in Exposição de 1955, France et Brésil, p. 43.
67 D’Évreux e não d’Abbeville foi o superior, cf. F. Dénis, op. cit., p. xii, retificando Berredo, Anais Hist. do Estado do
Maranhão, liv. ii, n. 123.
68 Celebrizou-se o Padre Yves d’Évreux com a clássica Voyage dans le nord du Brésil fait durant les années 1613 et
1614, nova ed., de F. Dénis, 1864; e Claude d’Abbeville, Histoire de la Mission des Pères Capucins. Paris: 1614, ed. fac-
sim. de 1922, prefácio de Capistrano e notas de R. Garcia, trad. port. de Sérgio Milliet e notas de Garcia, São Paulo, 1945.
Sobre Yves d’Évreux (1577–643?), no século Simon Michelet, v. Dr. Semelaigne, Le P. Yves d’Évreux ou Essai de
Colonisation au Brésil, Paris, 1883; Pe. Edmond d’Alençon, Le Couvent des Capucins d’Évreux, Évreux, 1894; Gabriel
Marcel, “Le Père Yves d’Évreux”, in Journ. de la Soc. des Américanistes de Paris, t. iv, n. ii (1907), nota comentada de
Rodolfo Garcia.
70 Brief recueil des particularitez contenues aux lettres envoyées par Monsieur de Pezieu, Lyon, 1613 (copiamos o
exemplar existente em John Carter Brown University, Providence, U. S.). Figura este raro livro na Exposição de 1955,
France et Brésil, p. 45 (n. 62).
74 O Brief recueil, de Pezieu, impresso em Lyon, tem o caráter de apologética, para atrair a simpatia dos franceses que
quisessem associar-se à empresa.
80 Conhecemos dois exemplares, mss., no Instituto Histórico (Rio), completo, adquirido pelo Barão do Rio Branco, e
na Biblioteca Pública do Porto, de equivalente importância. Na Torre do Tombo achamos (1945) uma espécie de
rascunho da obra, com mapas em tinta negra, ou no esboço original. Sobre a autoria, Varnhagen, Hist. ger., ii, p. 140.
Parece que faleceu Diogo de Campos Moreno em 1619, quando aparecem diversos candidatos à sargentaria-mor, Arq.
Hist. Col., Lisboa, códice 32, p. 183, inéd. Seu sobrinho era o tenente do Forte do Rio Grande, Martim Soares Moreno,
primeira figura da conquista do Norte do Brasil. O Livro que dá razão, introd. e notas de Hélio Viana, foi publicado no
Recife, 1958.
81 Martim Soares, patriarca da civilização no Ceará, invocado por José de Alencar em Iracema, como o belo europeu
de quem se apaixonara a índia sublime — depois de três anos com os índios, em seguida à viagem de Pero Coelho servira
como tenente na guarnição do Rio Grande. Daí a amizade dos petiguares de Jacaúna (1609). Era pela quinta vez que
voltava ao Ceará, em 1611, Capistrano, Rev. do Inst. do Ceará, xviii, p. 59. Gabou-se de ter na luta com franceses e
holandeses degolado mais de duzentos... Aqueles não poderiam conhecê-lo: pintado e nu, qual um índio... Chegou em 20
de janeiro de 1612 ao Ceará, com seis soldados e um clérigo, donde a invocação de São Sebastião, para a igreja anexa ao
fortim. Era filho de Martim de Loures e de Paula Pereira (avós paternos, Francisco Annes e Brites Dias; maternos, João
Pereira e Inês Dias, todos naturais de Santiago de Cacém, “limpos e honrados, alguns lavradores”), cf. Ementas de
habilitações de ordens militares nos princípios do séc. xvii. Lisboa: Bibl. Nac., 1931, p. 65.
82 “O intento principal com que o dito presídio do Ceará se levantou foi para defender as aguadas e o comércio que
os franceses etc.”, carta de D. Luís de Sousa, 9 de setembro de 1617, Anais do Museu Paulista, iii, parte ii, p. 44.
84 Relatório de Alexandre de Moura, 1616, Anais da Bibl. Nac., xxvi, docs. comentados pelo Barão do Rio Branco;
também Pe. Yves d’Évreux, Voyage, etc., p. 34.
85 Docs. in Anais da Bibl. Nac., xxvi, p. 151; Fr. Francisco de N. S.a dos Prazeres, “Poranduba Maranhense”, Rev. do
Inst. Hist., xliv, parte i, p. 28, 1891.
86 Genealogia in Fr. Jaboatão, Cat. gen., p. 321; neto de Violante d’Eça, uma das órfãs mandadas à Bahia no governo
de D. Duarte da Costa, filho de Luís Alves de Espinha, de Ilhéus e Inês d’Eça... Confirma esta ascendência o requerimento
do próprio, Lisboa, 23 de dezembro de 1619, ms. no Arq. Hist. Col., Lisboa, inéd. Eça e não de Sá, como inadvertidamente
está em Fr. Vicente.
87 Ms. no Arq. Hist. Col., Lisboa, Maranhão, caixa n. 1; e Fr. Vicente, ibid., p. 419. V. ainda resumo biográfico (de
Sousa d’Eça), Garcia, nota a Varnhagen, Hist. ger., ii, pp. 208–9. Acrescentamos: de 1619 a 24 esteve detido em Lisboa,
muito pobre, e desse castigo passou a “capitão da conquista do Grão-Pará”, Arq. Hist. Col., ms. códice 35, f. 79 e passim.
Era aliás por pai e avô provedor da Fazenda na Paraíba, ms. no mesmo Arq. Hist., ms. 610 (requerimento).
88 V. códice ms. Correspondência de Gaspar de Sousa, um volume, ms., inéd., no Ministério das Relações Exteriores,
Rio. Aí a documentação essencial à sua biografia. Elogiou-o o Marquês de Castelo Rodrigo: “Sendo muitas pessoas
propostas para o cargo de mestre-de-campo do terço que foi a Flandres, se escusaram umas por outras e só o Sr. Gaspar
de Sousa aceitou o dito trabalho”. Foi (depois do governo no Brasil, tão louvado de Fr. Vicente do Salvador) do Conselho
de Estado do Reino. Pediu-o em 16 de julho de 1622: “Sobre um memorial de Gaspar de Sousa pedindo um título no
Maranhão, um lugar no Conselho de Estado e outras mercês”, Oliveira Lima, Relação dos manuscritos... no Museu
Britânico, p. 21, Rio, 1903. Em art. no Jornal do Comércio, Rio, 27 de setembro de 1930, outras referências biográficas.
90 D. Francisco Manuel de Melo, Epanáforas de vária história. Lisboa: 1676, p. 178. Terço — terça parte de um
regimento alemão (de Carlos v), unidade de infantaria em regra com dez companhias de cem homens.
91 Fr. Vicente, ibid., p. 467. De Diogo de Campos Moreno diz muito mal Gaspar de Sousa, carta de 15 de junho de
1615.
92 Livro de mercês gerais n. 2, ms. no Arq. Hist. Col., Lisboa, inéd. O futuro capitão-mor na revolução contra os
holandeses acompanhou Albuquerque a Guaxenduba e Maciel Parente ao descobrimento da serra de Teicoara e Cabema
do Rio Truí (Amazonas)...
94 Francisco de Frias fora despachado em 23 de janeiro de 1603 “a cousas de meu serviço sobre as fortificações das
fortalezas”, com 400 cruzados a correrem pelo almoxarife de Pernambuco, Docs. hist. Rio: 1930, xv, p. 155. Em 1606
mandou el-rei fortificar a Bahia, e fez ele plantas emendadas pelo engenheiro-mor de Espanha Tiburtio Espanochi,
Relação das praças... 1609, f. 26, ms. inéd. na Torre do Tombo. O autor desta Relação é Diogo de Campos Moreno (o
homem do Livro que dá razão do Estado do Brasil, 1612). Há notícia de ordenados que lhe foram pagos no Brasil até
1635. Até 1627 foi o engenheiro da colônia. Mandando-se vir de Pernambuco Marcos Ferreira, também muito capaz, o
motivo era estar “o engenheiro Francisco de Frias muito ocupado em outras fortificações e não poder assistir no mesmo
tempo a todas”. Deu a planta original do Mosteiro de São Bento do Rio, e dos fortes do mar (Bahia), Cabedelo, dos Reis
Magos (não sendo de desprezar a hipótese de ter, quanto a este, aproveitado o traço do Padre Sampères, seu arquiteto
primitivo). V. D. Clemente Maria da Silva Nigra, “Francisco de Frias”, in Revista do serviço do patrimônio histórico e
artístico nacional. Rio: 1945, n. 9, pp. 9 e ss.
95 Ferdinand Dénis, introd. a Yves d’Évreux, ibid., p. xvii. Devemos-lhe a notícia da missão do Padre Arcanjo.
96 Títulos que se atribuiu La Ravardière no acordo com Jerônimo de Albuquerque depois do combate de
Guaxenduba, Fr. Vicente, ibid., p. 474.
97 Diogo de Campos Moreno, carta a Gaspar de Sousa, in Correspondência deste, ms. no arq. do Min. das Rel. Ext.,
Rio.
98 A batalha foi descrita pelo próprio Jerônimo de Albuquerque, cf. certidão passada a favor de Antônio Teixeira de
Melo, doc. ms. no Arq. Hist. Col., inéd. Acometeram os franceses “com sete naus e 46 canoas lançando em terra 200
franceses mosqueteiros com passante de 2 mil índios tendo impedidas as barras para que não entrasse socorro, e
acometendo-os se lhes ganharam as trincheiras com morte de 120 franceses e de mil índios pondo-os em fugida
tomando-se-lhes as 46 canoas”. Foi Manuel de Sousa d’Eça quem levou a notícia ao governador-geral em Pernambuco,
ms. no Arq. Hist. Col., Requerimentos, n. 610–4, cópia da Sra. Luísa Fonseca. V. também Fr. Vicente, Hist. do Bras., p.
471.
99 Fr. Vicente, ibid., pp. 476–7. Gregório Fragoso morreu em França. Desaprovação do governador: Livro 1º do
governo do Brasil, p. 118.
100 Em Angola havia perigosa passagem que se chamava Bangala Ambota, apelido de um conquistador, “o qual,
conforme notícias, há seus descendentes em a cidade da Bahia, [...] ou este conquistador tomou desta paragem”, Antônio
de Oliveira de Codornega, História das guerras angolanas. Lisboa: 1943, iii, p. 143. Manuel de Araújo de Aragão, no
século seguinte, ainda tinha “por antonomásia o Bangala”, carta de 1721, Inácio Accioli, Mem. hist., vi, p. 22. Perpetua-lhe
a alcunha a rua, na Bahia, junto à Igreja da Palma, possivelmente de sua moradia. Traduzimos: bangala (bordão), ambote
(melhor), ou seja, o homem da boa bordoada, fama que deixara em África (e não mangue-la-bote, como indevidamente
escreveu Pyrard de Laval, Voyage, p. 563, Paris, 1615). V. sobre o étimo, Fr. Cannecattim, Observações gramaticais sobre
a língua bunda. Lisboa: 1859, p. 143, 2ª ed. E Fr. Vicente, Hist. do Bras., p. 482, com a anotação de Capistrano. Foi este
cronista que por primeiro descreveu o episódio. Confirma-o a carta da Câmara da Bahia que achamos no Arq. Hist. Col.
Lisboa; e devassa, Liv. 1º do Gov., p. 129.
101 Cartas da Câmara da Bahia, 13 de março de 1614, ms. no referido Arquivo. Também (além dos autores
mencionados na nota anterior), Pe. Simão de Vasconcelos, Vida do Ven. Pe. Joseph de Anchieta, dedicatória a Francisco
Gil de Araújo, descendente do herói. Não confundir com Baltasar Rebelo de Aragão, que cometeu grandes proezas em
Angola, no final do século xvi, cf. Elias Alexandre, História de Angola. Lisboa: 1937, i, p. 116.
102 Garcia, nota a Varnhagen, ii, p. 210, resume a intrincada bibliografia da expedição; e Fr. Vicente, ibid., p. 478.
Sobre as ordens de Madri diz o autor da História do Brasil: “Recebera (o governador) recado del-rei que lhe veio acerca
do Maranhão” e se passou a Pernambuco, viagem em que o acompanhou o próprio Fr. Vicente do Salvador.
103 Ambrósio Soares de Argôlo — lê-se no Livro de mercês gerais, in Arq. Hist. Col., Lisboa, cód. 32, f. 183, inéd.,
depois de ter servido em Moçambique e na Índia acompanhou ao Maranhão Alexandre de Moura e foi capitão do Forte
do Ceará, e em seguida de São Filipe em São Luís. Alegou que Hierônimo de Albuquerque lhe tivera ódio e o prendera a
ferros. Pediu promoção a sargento-mor. Gabou-se de ter feito cal de ostras. Alexandre de Moura, na “Relação”, Anais da
Bibl. Nac., xxvi, refere-se realmente à cal fabricada no Maranhão a esse tempo. Ficamos agora sabendo quem a fez.
Quanto ao roteiro de Manuel Gonçalves, da viagem de Moura, está mencionado nas Memórias de literatura portuguesa,
iii, 1798, Acad. das Ciências de Lisboa.
104 Dois docs. de La Ravardière, in Arq. Hist. Col., Lisboa, ms. inéd. Confirmam o que informa Berredo, Anais do
Maranhão, §410, e Serafim de Faria, cit. por Rodolfo Garcia, nota a Varnhagen, ii, p. 212. Em resumo: La Ravardière traiu
os companheiros de aventura. Mas, em seguida, voltou a servir à França, bom soldado e marinheiro, Ferdinand Dénis,
pref. a Yves d’Évreux, ibid., p. xlv. V. também Jean Mocquet, Relación de sus Seis Viajes (El Segundo al Marañón con el
Capitán Ravardière), 1617, na Bibliothèque Nationale de Paris, ou Voyages en Afrique, Asie, Indes Orieniales et
Occidentales; e docs. in Livro 1º do governo, pp. 117 e ss.
105 José Rumazo, La Región Amazónica del Ecuador en el Siglo xvi. Sevilha: 1946, cap. iv.
106 Manuel Barata, “A jornada de Francisco Caldeira Castelo Branco”, in Rev. do Inst. Hist. de São Paulo, ix, p. 433.
107 Mercês gerais, in Arq. Hist. Col., Lisboa. Disse ter servido oito meses na conquista do Pará. Aliás Alexandre de
Moura foi consultado no reino sobre as mercês pedidas por seus antigos soldados, Rev. do Inst. do Ceará, xxii, p. 320.
Destes releva citar Nuno da Cunha Botelho, quatro anos no Rio Grande, em 1624–5 soldado na guerra da Bahia, em
1627–34 sargento-mor no Rio Grande, Docs. hist., xv, p. 237. Do piloto diz Fr. Luís de Sousa: “É o maior rio que hoje se
sabe no mundo; foi o último descobrimento dele pelo piloto Vicente Cochado; e subiu até quatrocentas léguas”, Anais de
D. João iii. Lisboa: 1844, p. 452. Graças a ele se soube que o Grão-Pará e o rio por onde descera Orellana eram um só, J.
Lúcio d’Azevedo, Os jesuítas no Grão-Pará. Coimbra: 1900, p. 29. V. sua biografia, Frazão de Vasconcelos, Pilotos das
navegações portuguesas dos séculos xvi e xvii. Lisboa: 1942, pp. 16–7. Leia-se o relato dos primeiros trabalhos dos jesuítas
no Maranhão, Pe. Manuel Gomes, carta de 1621, Documentos dos arquivos portugueses que importam ao Brasil, n. 3.
108 Note-se que provinha o nome de lenda análoga à que, sobre a África, colhera João de Barros, Décadas, iii, p. 24,
Lisboa, 1777: “Grande rio do país das mulheres guerreiras”. Do Nuevo Descubrimiento del Rio Amazonas, do Padre
Cristobal de Acuña, Madri, 1641, n. lxxii, repetiu Rocha Pita, Hist. da Amér. Port., p. 42, a interpretação etimológica. Um
dos companheiros de Caldeira, o Capitão André Pereira, disse que os índios tinham cabelo comprido, como mulheres,
“de que pode ser nasceria o engano que dizem das Amazonas”, Varnhagen, Hist. ger., ii, p. 180. Esta a explicação
plausível: índios que ao longe deram a Orellana a impressão de serem as amazonas fabulosas.
109 Doc. in Anais do Museu Paulista. São Paulo: 1927, iii, parte ii, p. 41. No mesmo sentido, carta de 31 de outubro de
1616, ibid., p. 34.
111 O governador-geral nomeou adjunto do mesmo governo Diogo da Costa Machado, capitão do Forte de São
Filipe. Magoado, Antônio de Albuquerque (que governou de 10 de fevereiro de 18 a 8 de abril de 19), se passou ao reino.
Requereu — em 2 de maio de 1620 — soldo de 200$000 por ano, Livro de mercês gerais, ms. no Arq. Hist. Col., Lisboa.
As suas palavras desmentem a versão de que o pai mandara que o ajudassem no governo a modo de triunvirato, como
ordenou D. Luís de Sousa em 22 de março de 1619, Anais do Museu Paulista, iii, parte iii, p. 92. Regressou do reino
nomeado para capitão-mor da Paraíba. Outro filho de Jerônimo, Matias de Albuquerque Maranhão, v. Borges da
Fonseca, Nobiliarquia pernambucana, Anais da Bibl. Nac., xlvii, p. 11, por esse tempo apaziguava o gentio no litoral entre
o Maranhão e o Pará. — Em 1620 foi designado para governar o Maranhão D. Diogo de Cárcome, espanhol casado em
Lisboa: desistiu da viagem, e assim Diogo da Costa administrou por três anos. O códice 32 do liv. de Consultas da
Fazenda, f. 4, 1620, ms. no Arq. Hist. Col., contém a nomeação do castelhano.
112 O sucessor de Gaspar de Sousa empossou-se em 1º de janeiro de 1617, Garcia, nota a Varnhagen, v, p. 304. Foi o
primeiro governador-geral a embrenhar-se pelo interior. Esteve em São Cristóvão de Sergipe (com Martim de Sá e seu
filho Salvador Correia, Constantino de Menelau, o jovem Francisco Dias de Ávila), em 1619, a verificar pessoalmente a
verdade das minas de prata de Belchior Dias Moréia, cf. documentos que revelamos em: O segredo das minas de prata,
Rio, 1950.
113 Anais do Museu Paulista, iii, parte ii, p. 37. Fora residir em Pernambuco, “como se lhe tinha ordenado a respeito
da proximidade das conquistas”.
114 Livro de consultas, ms. no Arq. Hist. Col., Lisboa, inéd. Essas casas de pedra e cal ameaçavam cair ao tempo de
Diogo de Mendonça Furtado, Fr. Vicente do Salvador, História do Brasil, p. 507. Em 1623 estavam consertadas, assim “as
casas da Relação, contos e armazéns”, Docs. hist., xx, p. 48.
116 Anais do Museu Paulista, iii, parte ii, p. 42. Em 16 de fevereiro de 1619 estranhava el-rei que D. Luís de Sousa não
estivesse de volta à Bahia, Anais do Museu Paulista, cit., p. 89.
117 V. Livro de denunciações que se fizeram na visitação do Santo Ofício à cidade do Salvador, 1618, publ. por
Rodolfo Garcia, Anais da Biblioteca Nacional. Rio: 1936, xlix, p. 27. Na Torre do Tombo achamos o Livro das confissões
de 1618, considerado perdido. Vasco de Sousa Paredes, por data de 16 de março de 1619, foi mandado ir ao reino
comandando a armada. Tratou-se então da “criação no Brasil de um Tribunal do Santo Ofício”, Oliveira Lima,
Manuscritos... no Museu Britânico, p. 21, o que não teve seguimento. A nomeação de D. Marcos Teixeira para o bispado
foi para compensar essa tolerância. De fato, a Inquisição não levantou fogueira no Brasil, onde não chegou a fazer
executar as suas sentenças. Em 1610, diz-nos Pyrard de Laval, temia-se na Bahia a sua volta... Voltou em 1618. O Brasil,
como terra de degredo para penitenciados, aparece depois de 1632, ms. na Torre do Tombo, Santo Ofício.
119 P. Calmon, História da Casa da Torre. Rio: 1939, p. 48; e A conquista: história das bandeiras baianas. Rio: 1929, p.
61.
120 Anais do Museu Paulista, iii, parte ii, p. 42. Repetimos: onde se lê Moréia, leia-se Caramuru. Graças ao códice do
governo de D. Luís de Sousa, n. 1, a que aliás ligeiramente se reportou Robert Southey, ora na biblioteca do Itamarati
(Rio), podemos restaurar a verdade em torno das lendárias minas. Lá estão os originais do punho de Belchior Dias. Deste
Livro i do dito D. Luís, fez bela edição (1958) o Ministério do Exterior.
124 Albino Forjaz de Sampaio, Salvador Correia de Sá e Benavides. Lisboa: 1936, p. 7. A ata, que regista o insucesso
da pesquisa, traduzimo-la do manuscrito quase ilegível que se conserva naquele códice do Itamarati.
125 Belchior Dias Moréia, batizado em 1557, teria então 62 anos, Jaboatão, Cat. gen., tít. Caramuru, e Roque Luís,
Nobiliarquia, códice ms. na Bibl. Nac. Os códices que historiam o episódio (além do Livro 1º do governo de D. Luís de
Sousa, por nós referido), são do Coronel Pedro Barbosa Leal, ms. no Inst. Hist. e Geogr. Bras., 1725; e a carta de 1752 do
Coronel Pedro Leolino Mariz, Anais da Bibl. Nac., xxxi. Filho de Moréia (ou Caramuru) e uma índia, Robério Dias —
devido ao equívoco de Rocha Pita, que o apresenta como herói desta história — gozou muito tempo da desmedida fama
de ser o descobridor das minas de prata. A posteridade tomara o filho pelo pai. Pensamos ter elucidado satisfatoriamente
este enigma histórico na monografia, O segredo das minas de prata, Rio, 1950, tese de concurso à cadeira de história no
Colégio D. Pedro ii.
126 Ofício de Von Walbeck, de 1633, in nota de Garcia a Varnhagen, ii, p. 222.
127 João de Carvalho Maranhão, por exemplo, autor da História do naufrágio da Nau Conceição, em 1621, disse: “No
Brasil, indo por terra do Rio Grande até a Paraíba e Pernambuco, e daí à Bahia, estando em todos os lugares”, Viagens e
naufrágios célebres, publ. por Damião Peres. Porto: 1934, i, p. 84.
128 Em sucessão do pai, Jorge de Albuquerque foi confirmado na donataria em 2 de julho de 1603. Elevado a Conde
de Pernambuco por Filipe iii, em 1632, e Conde de Basto por seu casamento, Duarte de Albuquerque ficou com a
Espanha, em 1640, separando-se da pátria — e do irmão, Matias de Albuquerque, v. Sanches de Baena, Famílias titulares e
grandes de Portugal, i, p. 257. De um papel de Manuel Severim de Faria, de 1649: “Permitiu Deus que o Conde de
Vimioso, D. Francisco, perdesse a vida e a casa defendendo a liberdade de Portugal, e que o Conde de Basto e o Marquês
de Castelo Rodrigo ganhassem estes títulos entregando o mesmo reino [...] e a de Vimioso se restaurasse pela mesma valia
do Conde de Basto, que casou sua filha com D. Luís”, 7º conde, Camilo Castelo Branco, Noites de insônia. Porto: 1874, n.
7, p. 63.
129 Carta da câmara a el-rei, 13 de março de 1614, em que noticiou a desventura de Baltasar de Aragão, ms. no Arq.
Hist. Col., Papéis avulsos, Lisboa.
130 Fr. Vicente, ibid., pp. 494–5. O governador-geral queixou-se de desobediências de Matias de Albuquerque, cf.
carta régia de 10 de fevereiro de 1621, Anais do Museu Paulista, iii, parte ii, p. 115.
132 É pormenor desse interesse o número de refinarias de açúcar que havia na Holanda. Moerbeeck a elas se refere,
no opúsculo de 1623, que adiante citamos. Três em 1605, subiam a 40 em 1650, v. José Honório Rodrigues, nota à p. 36 da
dita memória. Também Von Lippmann, História do açúcar. Rio: 1942, ii, pp. 239 e ss., trad. Rodolfo Coutinho.
133 Era a esquadra de Joris van Spilbergen, que, em 1615, ia ao Pacífico, Varnhagen, ii, p. 226 e Frei Vicente, Hist. do
Bras., p. 491.
134 Ingleses e holandeses foram batidos em Cabo Frio por Constantino de Menelau, cf. carta deste de 1613, nota de
Garcia a Varnhagen, ii, p. 224. A franceses refere-se Frei Vicente, op. cit., p. 491; também Sousa Viterbo, Trabalhos
náuticos portugueses nos séculos xvi e xvii. Lisboa: 1898, p. 233. À rendição de uma nau-almirante holandesa em Cabo
Frio, entre 1618 e 22, alude a patente de João Garcia de Magalhães, Docs. hist., xxii, p. 71. Um desembarque de
holandeses, de três naus, no mesmo sítio, foi frustrado em 1630: morreram 130, patente de Luís Álvares Monterroyo,
Docs. hist., xviii, p. 402. Menelau pedira para servir no Rio de Janeiro em tempo de D. Francisco de Sousa, ms. no Jornal
do Comércio, 5 de outubro de 1930, comentado por Félix Pacheco. Tomé Pinheiro da Veiga em Fastigímia, Porto, 1911,
p. 195, no-lo apresenta em Madri, por 1606: “Meu compadre Constantino de Menelau [...]”, espirituoso e nobre. Jaboatão,
Catálogo genealógico, p. 204, diz que “Constantino de Menelau” foi o 4º marido de D. Felícia Lobo, na Bahia. O fato é que
por D. Diogo de Meneses fora nomeado capitão do Espírito Santo, 8 de fevereiro de 1609, v. Garcia, nota a Varnhagen,
op. cit., ii, p. 224 e Fr. Vicente, ibid., pp. 490 e 550.
135 Livro de mercês gerais n. 1, ms. no Arq. Hist. Col., Lisboa, inéd. Vê-se que não há razão para dizer que Matias era
capitão instituído pelo irmão Duarte, o donatário. A nomeação foi do rei. Chamava-se Paulo. Tomou o nome de Matias
de Albuquerque por ter sido beneficiado pelo parente, que fora vice-rei da Índia e assim se chamava, administrador do
morgado, cf. Braamcamp Freire, cit. na Hist. da col. port., iii, p. 197. Sobre o bravo capitão, v. mais, Hélio Viana, Matias
de Albuquerque. Rio: 1944, pp. 14 e ss.
137 Provedor em favor de D. Maria Figueira, 1659, Docs. hist., xxi, p. 226.
138 Prosopopéia, ed. da Academia Brasileira, p. 39. Conserva-se no Instituto Arqueológico Pernambucano o original
da “planta do forte real que Matias de Albuquerque mandou pôr no porto de Pernambuco em dezembro de 1629, pelo
arquiteto Cristóvão Álvares”.
140 Fr. Vicente, ibid., p. 495. Os dois “sobreviventes” seriam Antão de Mesquita e Rui Mendes de Abreu.
141 Licenciado em cânones, fora D. Marcos um dos inquisidores em Évora, em 1607, docs. mss. m Arq. Hist. Col.,
Lisboa; lente de Coimbra (1608–11), de Clementinas, depois cônego doutoral de Évora, 14 de março de 1611, Francisco
Leitão Ferreira, Alfabeto dos lentes da Insigne Universidade de Coimbra. Coimbra: 1937, p. 306. Em 1620 o vice-rei
remeteu ao Conselho da Fazenda a petição do Dr. Marcos Teixeira (sic) sobre as bulas em Roma da Igreja do Brasil e o
custo pela Real Fazenda pois S. M. recebe os dízimos dela, despacho de 11 de abril de 1620, Livro de mercês gerais, f. 48,
ms. no mesmo Arq. Hist. Col., também inéd. Partiu para assumir o bispado (vindo portanto pela segunda vez ao Brasil),
em novembro de 1622, Garcia, nota a Varnhagen, ibid., ii, p. 22.
142 Ms. no Arq. Hist. Col., Papéis avulsos, inéd. A carta refere-se aos estudos do engenheiro-mor Francisco de Frias.
Acompanha-a um parecer sobre a fortificação e a dificuldade de se encarregar Pero Garcia das obras.
143 Fr. Vicente, op. cit., p. 506. Sobre o imposto, representação dos procuradores de Pernambuco, 1623, ms. no Arq.
Hist. Col., Papéis avulsos. O pedreiro ou arquiteto dos paços do governo e da Relação era, em 1623, Antônio Jorge
Carrasco, Docs. hist., xx, p. 48.
144 Fr. Vicente, op. cit., loc. cit. Os fortes que tinham guarnição paga a este tempo eram: de Itapagipe (Capitão
Antônio de Crasto), este provido por D. Luís de Sousa, Docs. hist., xv, p. 11, e Santo Antônio. O primeiro é o mesmo São
Filipe, o outro, também chamado da Barra. Havia ainda o de Santo Alberto, Docs. hist., xv, p. 144, plataforma no colégio
com duas peças, cubelo às portas do Carmo, na praia de Baltasar Ferraz duas peças, Relação das praças, 1609, ms. na
Torre do Tombo. Em 1606, como dissemos, fora o engenheiro Frias incumbido de planejar a fortificação, custeada pela
renda do imposto dos vinhos. O engenheiro Tibúrcio Espanochi, que traçara fortaleza ao tempo de Diogo Botelho, cf.
Livro 1° do Governo do Brasil. Rio: 1958, p. 51.
145 Viriato trágico. Lisboa: 1846, canto ii, est. 165–71; a 1ª ed. é de 1699. Brás Garcia de Mascarenhas levou nove anos
ausente, como diz no poema, e regressou a Portugal com 33 anos (nasceu em 1596 e faleceu em 1656): chegara portanto
aos 24, ou fosse em 1620. Estava em Pernambuco ao rebentar a guerra e nela serviu. Tornou ao reino em 1629. Veremos
adiante a sua opinião sobre Olinda. A respeito de suas atividades no Brasil, onde enriqueceu comerciando, A. de
Vasconcelos, in Revista da Universidade de Coimbra. Coimbra: 1912, i, pp. 316 e ss. Perdeu-se o livro de versos que aqui
compôs, Ausências brasílicas.
146 V. Octave Noel, Histoire du Commerce du Monde. Paris: 1894, ii, p. 154; e por último, C. R. Boxer, The Dutch in
Brazil. Oxford: 1957, pp. 4 e ss.
147 Folheto de Amsterdã, 1623, Jan Andries Moerbeeck, Motivos por que a Companhia das Índias Ocidentais deve
tentar tirar ao Rei de Espanha a terra do Brasil, v. Catálogo Nassoviano, Anais da Bibl. Nac., li, p. 19. Publicou-o Brasil
açucareiro. Rio: março de 1942, p. 39. Aí se contém a crua explicação das conveniências da conquista, cujo principal lucro
seria o açúcar.
148 Vale a pena comparar o pensamento econômico de Usselinx com o do padre Vieira — de que falaremos — a
convencer o Rei de Portugal de que a sua América valeria o Oriente, bastando para tanto plantar no Brasil as drogas
asiáticas.
149 Depois de se exagerar a participação dos judeus na conquista holandesa (segundo a opinião contemporânea
refletida nos versos de Lope de Vega, adiante citados), agora se diz que foi bem menor, até mínima, conforme as pesquisas
arquivísticas (Wätjen, van Dillen) — v. C. R. Boxer, op. cit., pp. 10–1. Usselinx, por exemplo, era um emigrante calvinista
de Flandres... Mas não se pode achar esse traço, na sua extensa verdade, entre as provas documentais ou a contribuição
pública, dos israelitas sócios da Companhia. A influência consistia na dupla pressão, dos meios financeiros onde era
grande a sua autoridade, e dos deslocados, que davam toda sorte de informações sobre o Brasil. Dessa colaboração saiu
porventura o panfleto decisivo de Moerbeeck.
150 Códice de Castelo Melhor (ou Pernambuco), ms. na Biblioteca Nacional, Rio.
151 Dízimos da província do Brasil, ms. na Torre do Tombo, códice, fls. 26–7.
152 Livro que dá razão do Estado do Brasil, códice ms. no Inst. Hist. e Geogr. Bras. — Dividia-se a renda em 1601:
Pernambuco, 12.528; Itamaracá, 398; Paraíba, 255; Rio Grande, 225; Bahia, 19.732; Espírito Santo, 253; Ilhéus, 40; Porto
Seguro, 1.467. Sobre os dízimos em 1614, Carta da Bahia, de 22 de fevereiro de 1617, ms. no Arq. Hist. Col., Lisboa, inéd.;
e Livro 1º do governo do Brasil, p. 330.
153 Códice cit., segundo o qual os engenhos se distribuíam: Pernambuco, 150; Bahia, 80; Rio de Janeiro, 60; Paraíba,
24; Itamaracá, 18; São Vicente, 14; Ilhéus, 4; Rio Grande e Sergipe, 2.
154 “Lista de tudo que o Brasil produziu anualmente”, 1624, trad. do Pe. Agostinho Keijzers e José Honório
Rodrigues, Rio, 1942. É outro folheto de Jan Andries Moerbeeck, Brasil açucareiro, Rio, março de 1942.
157 Ms. no Escurial, citado por Jaime Cortesão, A geografia e a economia da Restauração. Lisboa: 1940, p. 73.
158 São Tomé chegou a produzir 400 mil arrobas, que davam carga a 20 navios, quando o gusano lhe devastou a
plantação, doc. de 1621, Luciano Cordeiro, Questões histórico-coloniais. Lisboa: 1935, i, p. 211. Quanto à Ilha da
Madeira, sofrerá a escassez de lenha (de que já falava João de Barros) e a peste do canavial (1502).
161 Códice de Castelo Melhor, ms. cit. Livro 1º do gov. do Brasil, p. 34.
165 Diálogos das grandezas do Brasil, ed. R. Garcia, p. 130. Roberto Simonsen explica: “Esses 300 mil cruzados
correspondem a 28 mil contos, em poder aquisitivo de hoje”, História econômica do Brasil, i, p. 154. O Padre Antônio
Vieira, em 1655, confirmou o cômputo: “Assim se tiram da Índia 500 mil cruzados, de Angola duzentos, do Brasil
trezentos, e até do pobre Maranhão mais do que vale todo ele”, Sermão do bom ladrão, v, p. 84, ed. de 1909.
166 Tais encomendas significam pagamentos feitos em mercadoria. É dos Diálogos das grandezas do Brasil o
informe: “De mais não há nenhum morador em todo este Estado tão desamparado que não tenha no reino algum parente
ou amigo, a quem possa mandar seus papéis dirigidos por apelação, e mandando juntamente com eles um caixão de
açúcar, basta para a sua despesa”, ed. Garcia, p. 57.
167 Livro das grandezas de Lisboa, p. 173. Só para Lisboa... Diz que em 1617 foram 26.413 caixas de 35 arrobas, ibid.,
p. 12.
168 Hermann Wätjen, O domínio colonial holandês no Brasil. São Paulo: 1938, p. 86, trad. de Uchoa Cavalcanti.
169 “Framengo: como em Portugal viciosamente são chamados, sem distinção, todos os estrangeiros”, D. Francisco
Manuel de Melo, Epanáforas, p. 267.
170 Denunciações, de 1618: “[...] de nação que é passado a Flandres”, p. 112. Diogo Gonçalves Lasso indo a Amsterdã
(1612), encontrara o licenciado Antônio de Velasco e Domingos Prestes, cristãos-velhos, e Manuel Homem, que lá se
fizera judeu e era casado na Bahia, ibid., p. 89. “Eram saídos de Flandres 4 ou 5 mil volumes de Bíblias em linguagem
castelha”, p. 43. Francisco Ribeiro, casado na Paraíba, “tem parentes judeus em Holanda”, carta régia de 1618, Anais do
Museu Paulista, iii, parte iii, p. 77.
172 Jan Andries Moerbeeck, Motivos por que a Companhia das Índias Ocidentais deve tentar tirar ao Rei de Espanha
a terra do Brasil, trad. do Pe. Agostinho Keijzers e José Honório Rodrigues, p. 19.
174 É aliás a tese da comédia de Lope de Vega, El Brasil Restituido, a que não faltou a idéia do “cavalo de Tróia”, v.
Comédias americanas, de Lope, p. 188, ed. de Buenos Aires, 1943, com prefácio de Menéndez y Pelayo. — Diz Netscher:
“Antes de sair ao mar os almirantes holandeses obtiveram sobre a situação política do Brasil informações as mais úteis
por intermédio dos judeus lá estabelecidos, e, que quase todos, desejavam ardentemente passar para a sujeição das
Províncias Unidas em virtude de sua tolerância em matéria religiosa”, op. cit., p. 14. No Museu Britânico: “Consultas del
aviso que envió Enrique Sinel de haber tenido parte los cristianos nuevos de la perdida de Bahia”, setembro de 1624,
Oliveira Lima, op. cit., p. 34. Quanto a Francisco Duchs, nascera na Inglaterra, diz Aldenburg, trad. de D. Clemente da
Silva Nigra, Anais do Arq. Públ. da Bahia, xxvi, p. 121.
175 Ao heróico Pieter Heyn chama Frei Vicente, Pero Peres, ibid., p. 511. O almirante “Jacon Vilguis (sic) era muito
velho” (Frei Vicente, ibid., p. 514), e “homem pacífico”.
176 Vieira, “Sermão de Reis”, 1641: “Antes de se tomar a Bahia duas barcas de pescar com cartas del-rei, que pela
novidade da embarcação fizeram o caso mais misterioso, e o aviso mais notório: um mês antes a mesma capitania da
armada holandesa sobre o morro [...] e nós com a praça aberta, sem fortificação”, Sermões, ed. de 1907, ii, p. 67.
177 Frei Vicente, op. cit., p. 510. Duas palavras sobre esses capitães. Gonçalo Bezerra de Mesquita, nomeado capitão
em 27 de novembro de 1609, já então tinha 17 anos de serviços de guerra no Brasil, Docs. hist., xiv, p. 490. Fora restituído
a uma das capitanias do presídio da Bahia em 1620, Anais do Museu Paulista, iii, parte ii, p. 111. Rui Carvalho (Pinheiro),
v. Jaboatão, op. cit., p. 284. Seu filho e homônimo figurou na campanha de 1638. Lourenço de Brito (Correia). V.
Jaboatão, Catálogo, cit. Figurou dignamente na segunda guerra holandesa. Foi provedor-mor da Fazenda e fez parte do
governo em 1641: um dos principais sujeitos da colônia. Distinguiu-se Vasco Carneiro na campanha subseqüente.
178 Este Francisco de Barros, provedor-mor da Fazenda, faleceu em novembro de 1625, sendo substituído no cargo
por Ventura de Frias Salazar, Docs. hist., xiv, p. 478. O Forte de Santo Antônio era comandado pelo tenente Salvador
Vieira, que fugiu para o sertão, donde não voltou, Livro velho do Tombo de São Bento, p. 243.
179 Casara-se Pedro Garcia com a viúva de Baltasar de Aragão, o Bangala. Era um dos mais ricos habitantes do país,
v. Denunciações da Bahia, ed. R. Garcia; e Jaboatão, Catálogo genealógico, citado.
180 Sobre o neto de Garcia d’Ávila, nossa História da Casa da Torre. Rio: Livraria José Olympio Editora, 1958, 2ª ed.
No Rio Vermelho houve arraial, como se vê de certidão de Antônio Teixeira, Docs. hist., xv, p. 78. A descrição da retirada,
na Ânua da Companhia, 1626, que é do Pe. Antônio Vieira. Ali os jesuítas tinham ermida desde 1556, cf. Nóbrega, Cartas
avulsas, p. 158, ed. da Acad. Bras. “A Torre de Garcia d’Ávila tem este nome por ter uma casa mais alta”, Vieira, “Papel
forte” (1647), in Obras escolhidas, Clássicos Sá da Costa, iii, p. 87.
181 Frei Vicente, ibid., p. 513; Wätjen, op. cit., p. 89. Mandados para Holanda foram estes e mais o Provincial dos
jesuítas, Domingos Coelho, e os padres João d’Oliva, Manuel Tendrero, Antônio de Matos e Gaspar Ferreira, o
negociante Pedro da Cunha, irmãos Manuel Martins, Antônio Rodrigues. Agostinho Coelho e Agostinho Luís, cf. gravura
holandesa, Garcia, nota a Varnhagen, ii, p. 260.
182 História Antipodum, 1631, trad. por D. Clemente da Silva Nigra, Anais do Arq. Públ. da Bahia, xxvi, p. 111.
183 V. Jaboatão, Cat. gen., p. 419. Em São Francisco de Itapoã (terra dada aos beneditinos por Garcia d’Ávila, o velho)
foi que o Ouvidor-geral Antão de Mesquita e os vereadores Brás da Costa e Diogo da Silva empossaram, a 24 de setembro
de 1624, o Capitão-general Francisco Nunes Marinho, Rev. do Arq. do Mun. da Bahia, n. 7, p. 170.
184 André Padilha e o filho Francisco pelejaram bravamente. Tivera o primeiro sesmaria de duas léguas junto da
cidade, em 1612, publ. do Arq. Nac., xxvii, p. 37. Sobre a genealogia, Jaboatão, ibid., pp. 175–6, aliás, omisso. Pensamos
que era Francisco Ribeiro, filho de Antônio Ribeiro e Maria de Argôlo.
185 V. Denunciações de 1618, ed. Garcia; Jaboatão, op. cit., p. 159. O seu engenho serviu de fortificações a Nassau em
1638. Era ainda vereador em 1641, Atas, mss. no Arq. Municipal da Bahia.
187 Francisco de Crasto, v. Jaboatão, ibid.; tinha sido escrivão da Misericórdia antes da invasão, Livro do Tombo, ms.
no arq. desta; vereador em 1629–30, Borges de Barbos, O Senado da Câmara da Bahia no século xvii, pp. 5 e 11, e vivia em
lodo, quando informou sobre os negócios antigos da Santa Casa, A. J. Damazio, Tombamento etc. Bahia: 1861, p. 68.
189 Como governador-geral do Brasil se assina Matias de Albuquerque, em 14 de novembro de 1625, ms. in Livro i
do Tombo de São Bento da Bahia. Invocando o mesmo título, passou a provisão de capitão-general a Francisco Nunes
Marinho d’Eça. Esta é de Olinda, 26 de julho de 1624 e vem na Revista do Arquivo do Município da Bahia, n. 7, fls. 169–
70, julho de 1901.
190 “Ainda que o Capitão-mor Francisco Nunes Marinho era velho”, Fr. Vicente, ibid., p. 542. Fora nomeado
provedor-mor da Fazenda do Estado do Brasil, por três anos e já aqui estava em 2 de maio de 1620, ms. no Arq. Hist. Col.,
Lisboa.
191 Foi sepultado na capela da Conceição do Engenho da cidade, Itapagipe de Cima, Garcia, nota a Varnhagen, ii, p.
235. Perdeu-se a memória desse túmulo.
192 Filho de Filipe de Moura, portanto neto de Filipe Cavalcanti e por sua mãe, de Jerônimo de Albuquerque,
Varnhagen, ibid., i, p. 489. Em 1639 cuidou D. Francisco de Moura da defesa de Angola. Foi despachado por alvará de 10
de setembro de 1624, com ordenado, “como teve Manuel Mascarenhas Homem e Alexandre de Moura”, Docs. hist., xv, p.
73. Deve ter falecido em 1641, ano em que o governador Conde de Óbidos, seu testamenteiro, reclamou o pagamento de
1:870$880, que lhe deviam de soldos do Brasil, Anais da Bibl. Nac., lviii, p. 253. A D. Francisco de Moura dedicou Diogo
Bernardes a carta vi, O Lima. Lisboa: 1623, ii, p. 32. Passara com ele à Bahia Filipe de Moura e Albuquerque, que foi
alcaide-mor em 1664, Docs. hist., xxi, p. 392.
193 Filho de Feliciano Coelho de Carvalho, era casado com D. Brites de Albuquerque, filha de Antônio Cavalcanti de
Albuquerque e Isabel de Góis, naturais de Pernambuco, Ementas de habilitações, Bibl. Nac., Lisboa, p. 33. Foi pai de
Antônio de Albuquerque Coelho, que também governou o Maranhão.
194 Conta o autor da Arte de furtar, ed. da Comp. Melhoramentos de São Paulo, p. 106, que “na restauração da Bahia
entregou o monarca 2 ou 3 milhões a D. Fadrique de Toledo para as despesas da guerra”. Sobre este, Duque de Alba,
Contribuición de España a la defensa de la civilización en America durante las guerras holandesas (conferência no Rio),
Madri, 1950 — com esclarecimento biográfico-genealógico.
196 Lancerote da Franca é tronco de grande família, pai dos capitães Afonso (que veio com Diogo Botelho, Docs.
hist., xv, p. 142) e André Dias da Franca, Jaboatão, ibid., p. 243. Estava na Bahia em 1617, Anais do Museu Paulista, iii, p.
68. Deu em Pernambuco notícia da armada restauradora, Fr. Vicente, op. cit., p. 569.
197 Sermam que pregou o Pe. Fr. Gaspar d’Assunção, da Ordem dos pregadores, na Sé da Bahia, na primeira missa
que se disse quando se deram as primeiras graças públicas, entrada a cidade, pela vitória alcançada aos holandeses a 1° de
maio de 1625, Lisboa, 1625, ex. da biblioteca do Sr. Antônio Alberto Marinho Duarte, de Lisboa, hoje do Estado.
198 Anais do Arq. Públ. da Bahia, xxvii, p. 139. Entre os prisioneiros católicos resgatados estava D. Francisco
Sarmiento, que fora governador de Potosi, tomado pelos holandeses com o navio e os bens, O Lima, Manuscritos, etc., p.
48.
199 Não há tradição de ser da Vitória (sobre os holandeses em 1625) a igreja desta invocação entre o Forte de São
Pedro e a Graça. Mas é positivo que a erigiu (ou à capela) o velho Francisco de Barros, pois isto se lê na lápide existente:
“Sepultura do Capitão Francisco de Barros, fundador desta capela e igreja, e de seus herdeiros, faleceu a 17 de novembro
de 1625”. Indevidamente interpretou-se o milésimo, como “1621”. Mas em 1624 Francisco de Barros não somente vivia,
como exortava a sua gente a lutar (Fr. Vicente do Salvador) e, em seguida à expulsão do inimigo, foi premiado com o
cargo de provedor-mor da Fazenda. Coincide com a data da pedra tumular a provisão, de 24 de novembro de 1625, que
nomeou, na vaga deixada pelo referido Capitão Francisco de Barros, de provedor-mor, Ventura de Frias Salazar, Docs.
hist., xiv, pp. 478–9. Gravura holandesa de 1624, que representa em perfil a cidade e arredores, indica a ermida de Santo
Antônio (além da Barra) sem aludir à Igreja da Vitória, de que aliás não fazem menção Gabriel Soares e os autores do
século anterior, reconhece Teodoro Sampaio, História da fundação da cidade do Salvador. Bahia: 1949, p. 278. O Padre
Vieira no “Sermão de Santo Antônio”, de 1638, portanto com o valor do testemunho, diz, “o primeiro templo que
levantou Portugal na Bahia, foi com o nome de Vitória” A versão corrente (a que nos referimos na Hist. da fundação da
Bahia, p. 101), dava-o como comemorativo da vitória sobre os índios, em 1555.
200 V. Tomás Tamayo de Vargas, Restauración de la Ciudad del Salvador, Madri, 1628 (fonte essencial para a
narração); D. Manuel de Meneses, “Recuperação da cidade da Bahia”, Rev. do Inst. Hist., xxii, pp. 357–527; Pe.
Bartolomeu Guerreiro, S. J., Jornada dos Vassalos... (com mapa da praça), Lisboa, 1625; Juan Antonio Correa, Perdida y
Restauración de la Bahia..., comédia em versos, 1625, Bibl. Nac. de Madri; Relação verdadeira de todo o procedido...,
Lisboa, 1625; Juan de Valencia y Guzmán, Compendio Historial de la Jornada del Brasil, Col. de Docs. Inéditos para a
Hist. de España, 1870; Bartolomé Rodríguez de Burgos, Relación de la Jornada..., Cádis, 1625; Avendano y Vilela,
Relaçam do dia em que as armadas, etc., Lisboa, 1625 (os últimos apontados por Maggs Bros., Biblioteca Americana, parte
iv, Londres, 1925). Em New York Library vimos La défaite navale de trois mil tant espagnols que portugais, mis et taillez
en pièces à la Baya..., Paris, 1625; na Biblioteca Nacional de Paris, D. Lorenzo Vander Hamen e León, Historia de la
Restauración de la Bahia, in História Tópica, ms. Até no México: Refriega que el Marqués de Vila Real, etc., México, 1626,
n. 117 do Catalogue 52, de H. P. Kraus, Nova York, 1949.
201 A comédia de Lope de Vega, in Obras completas, organizadas por Menéndez y Pelayo, tem a originalidade de
representar o Brasil, pela primeira vez, crê João Ribeiro, como um índio, v. Ivan Lins, Lope de Vega. Rio: 1935, p. 170.
Sobre as fontes da peça, Fidelino de Figueiredo, Rev. do Arq. Mun. de São Paulo, l, p. 26. A tela de Maino, a única sobre o
Brasil no Prado, alegórica, constitui respeitável documento sentimental.
202 Miralles, História militar do Brasil, p. 23. Mais três companhias havia em 1628, quando o governador reformou
quatro, Docs. hist., xv, p. 209. A patente do sargento-mor, Docs. hist., xiv, p. 474. Alguns dos capitães do Terço deixado
por D. Fadrique aparecem distintamente na guerra holandesa de Pernambuco. Em geral, foram aproveitados os que se
tinham destacado na retomada da praça, como Francisco Padilha, Manuel Gonçalves...
204 Anais do Arq. Públ. da Bahia, xiv, p. 7 (cit. de F. Borges de Barros). A receita dos dízimos indica o decréscimo: em
1626 (metade do rendimento antigo) 38.500 cruzados; 1628, 30.500; em 1633 (melhoria local, após a perda de
Pernambuco e do seu açúcar), 44 mil...
206 Atas da Câmara da Bahia. Bahia: 1945, i, p. 25. Ainda em 1629 o bispo pedia alfaias para a Sé, que fora saqueada,
Anais da Bibl. Nac., lvii, p. 89.
207 Docs. hist., xv, pp. 66–7. O Desembargador Antão de Mesquita ficou por ouvidor-geral. O autor dos Diálogos das
grandezas mostrara, em 1618, a inutilidade do tribunal. Há curiosa coincidência de razões entre este e Diogo do Couto, O
soldado prático, p. 157, ed. R. Lapa, censurando a Relação de Goa. Na terra, nada ficou da passagem dos invasores, a não
ser a abertura dos fossos, numa tentativa de cercar de água a colina da cidade, aliás infrutífera. O que deles se conserva é o
sino da câmara municipal (recolhido hoje ao museu do Estado), que tem o seguinte dístico: “Hendrick Wegewart de Inge
made-mi in Deventer anno 1615”. Foi certamente o sino por eles colocado na torre do paço municipal, que ali continuou,
conservado como um troféu — a convocar a população para os atos públicos.
208 É a data em que cessam os ordenados de D. Francisco de Moura, Docs. hist., xv, p. 76. Miralles diz: 27 de
dezembro, op. cit., p. 138. Diogo Luís fora mestre-de-campo em Flandres, Frei Vicente, op. cit., p. 614 e Garcia, nota a
Varnhagen, ii, pp. 244–5. Acrescenta D. Francisco Manuel: foi seis anos mestre-de-campo em Flandres e depois do
governo do Brasil mestre-de-campo-general na guerra de Espanha, contra a França, em 1637, “o primeiro que em Castela
com tal título capitaneou exércitos”, Epanáforas, p. 179. Na Bahia deu sepultura no Carmo a seu irmão, o morgado de
Oliveira, morto em 1625, Fr. Vicente do Salvador, op. cit., p. 615. Há na Biblioteca da Ajuda (Lisboa) queixa de Lourenço
de Brito Correia, “de vexações, opressões públicas, injustiças e roubos que Diogo Luís de Oliveira, governador do Brasil,
cometeu naquele estado”, in Brasília. Coimbra: 1942, i, p. 273.
209 Docs. hist., xv, p. 86. Foi Diogo Luís que pediu a vinda de D. Vasco, futuro Conde de Óbidos, Manuscritos... do
Museu Britânico, p. 23.
212 Anais do Museu Paulista, ii, parte ii, pp. 18–9. Do famoso corsário (1589–660) há no Museu de Amsterdã o
retrato de Jan Dermon Cool.
213 “E sendo mandado pelo Governador-geral Diogo Luís de Oliveira com a sua companhia a socorrer uns navios
que do porto se retiraram, indo a ele segunda vez uma esquadra holandesa, o ano de 1627 ser morto em um dos ditos
navios em defensão dele fazendo seu dever, e ficar sua mulher Joana Teles pobre com um filho e uma filha”, diz a prov. de
8 de janeiro de 1630. Concedeu à viúva de Francisco Padilha a tença de 40$000 cada ano, Docs. hist., xvi, p. 194, que
perdeu em 1634 por casar com João Borges de Escobar, escrivão do tesouro e depois da ouvidoria, Jaboatão, Cat. gen., p.
176.
214 Docs. hist., xv, p. 154. Superintendente das obras foi Francisco Pereira, Docs. hist., xv, p. 178, entre 1628 e 31.
Encarregado da pólvora, Francisco Alves, ibid., xv, p. 181.
220 Carta régia de 3 de junho de 1627 tratara do oferecimento de Tristão de Mendonça para armar 18 navios de
guarda às frotas, Anais do Museu Paulista, iii, parte ii, p. 122.
222 Frei Manuel Calado, O valeroso Lucideno, parte i, p. 8, Lisboa, oficina de Domingos Carneiro. E sobre este
cronista, José Antônio Gonsalves de Melo, Frei Manuel Calado do Salvador, Recife, 1954.
223 V. carta de Matias de Albuquerque, 18 de fevereiro de 1630, Garcia, nota a Varnhagen, ii, p. 337.
224 No Viriato trágico descreveu o poeta, que conheceu Pernambuco ao tempo da invasão: “Navegando sua costa
desejoso/ De saber estranhezas não sabidas,/ Naufrágio padeci tão lastimoso,/ Que entre muitos salvamos poucas vidas,/
Escarmentado mais que curioso,/ Tendo as colônias já reconhecidas,/ Na de Olinda parei, tendo a de Olinda/ Por maior,
por melhor e por mais linda” (op. cit., canto xv, est. 50). Camilo, Luta de gigantes, 5ª ed., p. 27, diz: “Brás Garcia, no posto
de alferes, militou nove anos, praticando singulares feitos de intrepidez”.
227 Era filho de Lancerote da Franca (como dissemos), de boa gente de Ceuta, Ementas de habilitações de ordens
militares. Lisboa: Bibl. Nac., p. 40.
228 Segundo Matias de Albuquerque, carta citada, os seus homens eram até mil a pé e 200 de cavalo, estimando em 4
a 5 mil os inimigos. Diz que ao ordenar o ataque à vanguarda que atravessava o rio lhe fugiram, ficando “alguma pouca
gente”. Esse derrotismo indica a desigualdade de sentimentos ao primeiro choque — como sucedera na Bahia. A
resistência apurou a fidelidade à terra, à religião e a Portugal dos verdadeiros “portugueses” — em ambas as capitanias.
229 Carta cit., Varnhagen, ii, p. 339.
231 Certidões in Magalhães Basto, Poeira dos arquivos. Porto: 1935, pp. 152–3.
232 O Capitão Antônio de Lima, comandante do Forte de São Jorge, foi preso, depois de entregue pelo inimigo, e
mandado processar na Bahia, cf. carta régia de 25 de outubro de 1630, Docs. hist., xv, p. 414. Há uma Relaçam verdadeira
e breve da tomada da Vila de Olinda e lugar do Recife na costa do Brasil pelos rebeldes de Holanda, tirada de uma carta
que escreveu um religioso de muita autoridade — consultamos o ex. de New York Library. Do mesmo ano é
Beschreibung — welcher gestalt die haupstatt dess Konigreichs Brasilien — Pernambuco — in America... von dem Herrn
Heinrich Cornelio Lonch, general zu Wasser und Land... 1630, ex. no Inst. Hist. e Arqueológico de Pernambuco
(primeiro histórico da capitulação).
233 600 portugueses e 200 castelhanos, sob o comando do Mestre-de-campo D. Cristóvão Mexia Bocanegra,
formaram o Terço Novo da Bahia, cf. prov. de 9 de set. de 1631, Docs. hist., xv, p. 458. Aí os nomes dos oficiais, alguns
notáveis depois, como o Sargento-mor D. Fernando de Luduenha, e Antônio de Brito de Castro. O Terço ia ser
embarcado para Flandres, D. Francisco Manuel, Epanáforas, p. 180. No Museu Britânico há um papel de 1630,
Inconbenientes que se ofrezen en la jornada y socorro de Pernambuco, O. Lima, op. cit., p. 69.
234 Nada mais falso do que a frase atribuída a Adrião Pater: “O oceano é o túmulo digno de um almirante batavo”. É
apenas literatura. Frei Rafael de Jesus: “[...] amortalhado na honra se sepultou vivo nas ondas”, Castrioto lusitano, p. 66,
Lisboa, 1679. “Envolto no estandarte [...]”, Frei Manuel Calado, O valeroso Lucideno, p. 13, teria dito: “Muy gran soldado
es D. Antônio de Oquendo”. Rocha Pita, op. cit., p. 181, repete os dois autores, e acrescenta: “[...] querendo poupar os
mausoléus, escondesse no profundo do oceano o seu cadáver”. Mas Frei Giuseppe di Santa Teresa inventou: “[...] si gettò
barbaramente nell’onde, dicendo che solo tutto l’Oceano era degno tumulo del suo invitto cuore”, Istoria delle Guerre del
Regno del Brasile, p. 115, Roma, 1698. Alphonse de Beauchamp coucluiu a frase completando o mito: “L’océan est le seul
tombeau digne d’un Amiral Batave!”, Hist. du Brésil, 1815, cit. por R. Gabola, nota a Varnhagen, ii, p. 342. Os autores
holandeses não contribuíram para a lenda...
235 Houve conselho no dia 13, decidindo-se mandar o galeão dos Prazeres Major, que fazia água, consertar na Bahia,
Docs. hist., xvi, p. 5. Este era fretado por 114$000 por mês, ibid., p. 6. Diz o licenciado Manuel de Morais, “Resposta que
deu, etc.”, Anais do Museu Paulista, i, parte ii, p. 17, que os galeões espanhóis não combateram devidamente por irem
muito carregados de caixas de açúcar.
236 Docs. hist., xvi, pp. 39–41. O preço fixo foi de $320 pela medida corrente, que era de dois alqueires, op. cit., p. 43.
237 Anais do Museu Paulista, iii, parte ii, p. 214. Proibiu-se depois que navegassem caravelas, por serem navios de
pouco armamento, devendo ir em seu lugar naus e galeões. O Padre Vieira vangloriou-se: “Fui eu a causa, de que, as
nossas caravelas se convertessem em tão poderosas e bem armadas naus, aconselhando D. João iv a queimar 39 que
estavam no Tejo”, Sermões, xiii, p. 350.
238 Itamaracá prosperara. Sabemos pelo Códice de Castelo Melhor, ms. cit., que em 1609 lá carregavam quatro
navios e o dízimo fora arrendado por 7 mil escudos, subindo a 300 mil cruzados o valor do seu comércio vinte anos
depois. Teria 18 engenhos. Custava à Coroa cada ano 605$840.
240 Varnhagen, op. cit., ii, p. 290. Banholo era homem de confiança del-rei e seu “observador” nessa guerra, tanto
que, constando a desavença, mandou (carta de 17 de março de 1632) “saiba Matias de Albuquerque por caminho
confidente e em direito que convém a meu serviço a conformidade”, Anais do Museu Paulista, iii, parte ii, p. 151. Noutra
ordem: “[...] e comunicando tudo com o Conde de Banholo”.
241 H. Wätjen, op. cit., p. 114. É pelos quadros de Franz Post que podemos ver o estado em que ficou Olinda, com as
igrejas destroçadas. Algumas conservam em parte a fachada primitiva. Assim a dos jesuítas (hoje seminário, restaurada
em 1661), a do Carmo...
242 Anais do Museu Paulista, iii, parte ii, p. 224. A bibliografia vulgarizada das lutas holandesas consiste nos livros de
Fr. Manuel Calado, O valeroso Lucideno, Lisboa, 1648 e 1668; Duarte de Albuquerque, Memórias diárias da guerra do
Brasil (que serviu a Francisco de Brito Freire para a História da guerra brasílica, 1675); D. Francisco Manuel, Epanáfora
quinta, 1660; Fr. Rafael de Jesus, Castrioto lusitano, 1679; Diogo Lopes de Santiago, História da guerra de Pernambuco,
Rev. do Inst. Hist., vol. 38 e Recife, 1943; Fr. Giuseppe di Santa Teresa, Istoria delle guerre..., 1699, sem originalidade; os
flamengos Gaspar van Baerle (Barlaeus), João Nieuhof, João de Laet, o borgonhês Pierre Moreau, Netscher (1853), o
nosso Varnhagen (1867), os modernos, entre estes Hermann Wätjen, citados em notas de pé de página, fora o
documentário de referência obrigatória, e as monografias que o valorizam, num acervo enorme.
243 Anais de D. João iii, cit. V. o resumo das condições do Brasil (1647), no “Papel forte”, do Padre Antônio Vieira,
Obras escolhidas, Clássicos Sá da Costa, iii, pp. 84–7.
245 Manuel Álvares Deus-Dará, filho de Antônio Álvares de La Penha, natural de Braga, empregara mais de 10 mil
cruzados em levar farinhas da Paraíba para o Arraial, por entre barcos inimigos, em 1630, Livro de mercês gerais, f. 350,
ms. no Arq. Hist. Col., Lisboa. Foi título que alegou para ter o filho, Simão Álvares, o lugar de provedor da Fazenda, como
diremos.
246 V. Anais da Bibl. Nac., li, p. 101. O forte é de 1616, Liv. 1º do Gov., citado. O atual de Santa Catarina tem sobre o
portal a pedra quebrada, em que ainda se lê a data da reconstrução, 1712. Infelizmente o mar destruiu parte dessa grande
obra, cujas ruínas suscitam admiração (como a vimos em julho de 1949).
248 João de Lira Tavares, Pontos de história pátria: Paraíba. Paraíba: 1912, p. 60.
249 Anais do Museu Paulista, iii, parte ii, p. 154. Há o opúsculo de Frei Paulo do Rosário, Lisboa, 1632: Relaçam breve
e verdadeira da memorável vitória que houve o capitão-mor de capitania de Paraíba, Antônio de Albuquerque dos
rebeldes de Holanda, que são vinte naus de guerra e vinte e sete lanchas: pretenderam ocupar esta praça de Sua Majestade,
trazendo nela para o efeito dois mil homens de guerra escolhidos afora gente do mar.
250 O Forte de Cabedelo, reconstruído em 1630, por Antônio de Albuquerque, Anais do Museu Paulista, iii, parte ii,
p. 139, tinha guarnição ordinária de 20 soldados, cf. a folha do Estado, de 1626, Docs. hist., xv, p. 52. A despesa da Paraíba
era então de 2:069$381 (vigário, capitão-mor, capitão do forte, provedor da Fazenda, etc.). Rendia 100 mil escudos. Os
dízimos tinham sido aí arrendados em 1609 por 80 mil cruzados, cf. Códice pernambucano, ms. na Bibl. Nac. (de 1627?).
Tinha no porto em média cinco navios carregando. E 24 engenhos de açúcar (o Pe. Cardim indicara apenas um).
251 V. carta do capitão-mor da Paraíba, 3 de janeiro de 1634, Anais do Museu Paulista, iii, parte ii, p. 125. O forte
defronte de Cabedelo foi feito a expensas de Domingos de Almeida, Anais do Museu Paulista, iii, parte ii, p. 207.
253 A. Tavares de Lira, Notas históricas sobre o Rio Grande do Norte. Rio: 1918, p. 108.
255 Em 1609 os dízimos do Rio Grande tinham sido arrendados por 500 cruzados: rendia a capitania 700 escudos,
Códice Pernambuco, ms. cit. — “Sem fazer menção da consignação que nas mesmas rendas da capitania da Paraíba tem a
do Rio Grande pelas folhas ordinárias”, prov. do governador-geral, 1633, Docs. hist., xvi, p. 88. — Sete ou oito aldeias e
uns 6 mil índios, havia no Rio Grande em 1607, visitados por dois jesuítas, cf. documento in Pe. Serafim Leite, Hist. da
Comp. de Jesus, i, p. 558.
256 Tavares de Lira, op. cit., p. 112. Leia-se, de João d’Albuquerque Maranhão, História da casa de Cunhaú, Recife,
1956; e de Luís da Câmara Cascudo, História do Rio Grande do Norte, Rio, 1955.
258 Gaspar Barleo, Hist. do Bras., sob o governo de Maurício de Nassau, p. 138; J. F. de Almeida Prado, Pernambuco
e as capitanias do Brasil. São Paulo: 1941, ii, p. 262.
259 Doc. de 1630, in Tavares de Lira, op. cit., p. 140. Sobre o capítulo, Luís da Câmara Cascudo, História do Rio
Grande do Norte, p. 59.
260 V. Eugène Guérin, Ango et ses Pilotes, p. 24 (cit. por Afrânio Peixoto, Martim Soares Moreno, p. 28).
261 Capistrano de Abreu, Rev. do Inst. do Ceará, xviii, p. 62. Domingos Lopes Lobo tinha sido nomeado capitão do
presídio do Ceará, 9 de setembro de 1617, Anais do Museu Paulista, iii, parte ii, p. 44. Diz João Carvalho Mascarenhas,
autor da relação do naufrágio da nau Conceição, 1627: “No Brasil, indo por terra do Rio Grande até a Paraíba e
Pernambuco, e daí à Bahia”, Viagens e naufrágios célebres. Porto: 1937, i, p. 84, ed. Damião Peres.
262 Livro de mercês gerais, ms. no Arq. Hist. Col., Lisboa. Só em 1654 “foi começada a construção da ermida da
fortaleza de N. S.a da Assunção”, Studart, Rev. do Inst. do Ceará, xxxvii, p. 187.
263 Fr. Luís de Sousa, op. cit., p. 452. Afrânio Peixoto, op. cit., p. 50, transcreve o parecer do Conselho da Fazenda,
1629, contrário ao pedido do capitão-mor para que o Ceará fosse desligado do Maranhão e unido ao Brasil.
265 Pedira que o Ceará fosse tirado do Estado do Maranhão passando para o do Brasil, o que se lhe indeferiu, em 20
de março de 1626, Códice 38, fls. 118–23, ms. no Arq. Hist. Col., cópia da Sra. Luísa Fonseca.
268 Em 1632 Domingos da Veiga isto previra, Anais do Museu Paulista, iii, parte ii, p. 204. E sobre o período,
Guilherme Studart, Datas e fatos para a história do Ceará, Fortaleza, 1896.
269 Docs. hist., xv, p. 58. O valor do comércio das três capitanias, Maranhão, Ceará e Pará, subia a 40 mil cruzados,
Códice Pernambuco, ms. cit.
271 Compendio y Descripción de las Indias Occidentales. Washington: Smithsonian Miscellaneous Collections, 1948,
p. 74.
273 Catálogo da exposição histórica da ocupação. Lisboa: 1937, i, p. 82. Fr. Vicente chama-lhe Pe. Cristóvão Serafim.
Era irmão de Manuel Serafim de Faria, v. J. Lúcio d’Azevedo, Os jesuítas no Grão-Pará, p. 45. Chegou a Bispo de Angola
(não assumindo porém as funções) e faleceu em Lisboa em 1652, Barbosa Machado, Bibl. lus., i, ed. de 1930. Do códice dá
notícia Luís de Pina, Brasília, i, p. 312 (reproduzindo-lhe várias estampas).
274 Eram quatro as capitanias do Maranhão em 1649: Ilha do Sol (Álvaro de Sousa), Cumã ou Tapuitapera (Antônio
Coelho de Carvalho), Cabo do Norte (Bento Maciel), Camutá (Francisco Coelho de Carvalho). Ms. no Arq. Hist. Col.,
Papéis avulsos, Lisboa.
275 A capitania do Caité (no Gurupi) já pertencia a Álvaro de Sousa, filho de Gaspar de Sousa, que a reivindicou,
razão por que, em 1633, o governador deu outra capitania nos confins do Pará (da primeira cachoeira do Tocantins às
terras dos Tapuiuçus) a Feliciano Coelho. A doação definitiva a Álvaro de Sousa foi de 3 de fevereiro de 1631. Em 1649
chamava-se da Ilha do Sol. Quanto a Tapuitapera (ou Cumã) foi confirmada por el-rei a 15 de março de 1639: o seu
titular, Antônio Coelho de Carvalho, se distinguiu como embaixador de D. João iv à corte de França, v. nossa nota a
Tácito português, de D. Fran cisco Manuel de Melo, ed. da Acad. Bras., p. 199. Prevaleceu o nome de Cumã; por fim,
Alcântara (1754). A vila 6 de 1648, Jerônimo de Viveiros, Alcântara. São Luís: 1950, p. 14. Gaspar de Sousa obtivera para o
filho aquela capitania como prêmio dos seus serviços na conquista do Norte — em 25 de maio de 1622. A do Cabo do
Norte, de Bento Maciel, foi-lhe concedida em 14 de junho de 1637. Propusera ele a criação antes de 1638, Varnhagen,
ibid., ii, p. 258, de outras capitanias. O ilustre Antônio de Sousa de Macedo ganhou a de Marajó (1655); Gaspar de Sousa
Freitas, do Xingu (1681).
276 Berredo, Anais históricos. Florença: 1905, 3ª ed., p. 254. Para incentivar a colonização mandou el-rei em 1636 que
os degredados, destinados à Ilha do Príncipe, fossem para o Maranhão, Anais da Bibl. Nac., lviii, p. 206. Desse ano é o
“Memorial que na corte de Madri fez Bento Maciel, governador do Maranhão, acerca da fortificação, socorro e mais
cousas importantes daquela conquista”, ibid., p. 209.
277 Manuel Barata, Efemérides paraenses, p. 144; e Garcia, nota a Varnhagen, v, p. 343. Cartas régias de 1619,
ordenando o socorro ao Pará, Anais do Museu Paulista, iii, parte iii, pp. 88–90.
278 De certidão de Bento Maciel Parente consta que o acompanhou “no descobrimento da serra Teicora, e [...] em
demanda das minas de ouro”, in Livro de mercês gerais, ms. no Arq. Hist. Col., Lisboa. A fé de ofício de Bento Maciel,
que se comparou a Fernão Cortez Garcia, nota a Varnhagen, ii, pp. 267–71.
279 Carta régia de 10 de janeiro de 1620 fala em navios ingleses e flamengos “com intento de cometerem a nova mina
desse estado”, Anais do Museu Paulista, iii, parte iii, p. 108. Referia-se ao Pará.
281 Frei Vicente, op. cit., p. 503. Luís Aranha de regresso a Portugal foi capturado pelos holandeses junto às
Bermudas e conseguiu fugir num pequeno bote. Voltou ao Pará como capitão-mor. Há uma consulta do Conselho da
Fazenda, 1624, “sobre o que Luís Aranha de Vasconcelos pede para ir acabar a conquista das Amazonas e fazer no grão-
rio delas uma fortaleza da parte do Norte”, Anais da Bibl. Nac., lviii, p. 60. Quanto ao piloto Antônio Vicente Cochado,
fez uma “descrição dos rios do Pará, Corimá e Amazonas, descoberto e sondado de mandado de S. M. por Antônio
Vicente, piloto de Pernambuco”. Merece as honras de verdadeiro descobridor, Frazão de Vasconcelos, Pilotos, etc., p. 17.
282 Doc. in Garcia, nota a Varnhagen, ii, p. 219. Alegou Bento Maciel, em 1630, ter conquistado doze províncias de
índios (Guajaijaras, Tupinambás, Tocantins, Nhuanas, Amaus, Mapuazes, Pacajares, Curupas, Maraiguis, Quanis,
Tapuiuçus, Tacares, Uguapes, Andurás e Pirapes) desde o Maranhão ao Amazonas... Antes de deixar o Pará deu a sua
casa aos carmelitas (1627) no mesmo ano em que os franciscanos começaram o seu Convento de Santo Antônio, Rev. do
Inst. Hist., lxxviii, p. 117. Em 1635 ousou pedir mil casais de índios em “administração e encomenda”, Anais da Bibl.
Nac., lviii, p. 181.
283 Estivera nomeado em 1620 mas não teve efeito, ms. no Arq. Hist. Col., já citado. Levara ao Pará o socorro de
1617. Diz-nos em doc. de 1618 que só havia ali quatro capuchos e nenhum clérigo de missa... Decidiu o Conselho da
Fazenda, 7 de junho de 1621, apelar para as várias ordens religiosas. Já Vázquez de Espinosa, ibid., p. 74, nos fala de dois
conventos, uma igreja, três ermidas, 60 vizinhos e 200 praças de guarnição do forte construído por Bento Maciel.
284 Informação de D. Diogo de Castro, 1632, Rev. do Inst. do Ceará, xxvi, p. 30.
285 V. Garcia, nota a Varnhagen, ii, pp. 271–2; Capistrano, “Prolegômenos” a Fr. Vicente, p. 461.
287 Varnhagen, op. cit., iii, p. 183; Artur C. F. Reis, A política de Portugal no Vale Amazônico. Belém: 1940, p. 41.
289 Pe. João Daniel, “Tesouro Descoberto”, Rev. do Inst. Hist., xii, p. 382. “Derradeira terra para a largada em busca
do desconhecido”, Raimundo Morais, À margem do livro de Agassiz. São Paulo: 1939, p. 35. Para os antecedentes, José
Rumazo, La Región Amazónica del Ecuador en el Siglo xvi. Sevilha: 1946, cap. xiv.
290 Frei Laureano de la Cruz, Nuevo Descubrimiento del Rio de Marañón, p. 37, 1878; Jimenez de la Espada, Viaje
del Capitán Pedro Texeira: Agua Arriba del Rio de las Amazonas, Madri, 1889; Pedro Calmon, Rev. do Inst. Hist.,
“Assembléia Pan-Americana de História”, ii, p. 101 (aí sintetizamos este episódio decisivo para a expansão portuguesa na
América). As fontes principais: Pe. José Maldonado, Relación del Descubrimiento, que serviu para o relato de Dr.
Domingo de Córdoba; Pe. Barnuevo, Relación Apologética; Fr. Laureano de la Cruz, Nuevo Descubrimiento, 1653;
Alonso de Rojas e Cristobal de Acuña, Descobrimentos do Rio Amazonas, trad. de C. de Melo Leitão, São Paulo, 1941.
291 O Pe. Vieira, “Sermão de São Pedro Nolasco”, Sermões, vi, p. 349, comemorou essa prioridade: “Só o estado do
Maranhão pode dar nova religião a Portugal, porque lhe deu a das Mercês”. V. também Garcia, nota a Varnhagen, iii, p.
194.
292 V. José Antônio de Plaza, Mem. para la Hist. de la Nueva Granada, p. 332; Antônio José Uribe, Colombia y el
Perú, Bogotá, 1931.
293 V. pp. 434 a 438 deste vol. Aí a referência aos donatários, Castanheiras em Ilhéus, Aveiros em Porto Seguro. Em
agosto de 1652 o Conde de Castelo Melhor, defendendo os direitos da Condessa de Castanheira (D. Helena de Sousa),
reclamou contra uma invasão de jurisdição da vizinha capitania, Docs. hist., iii, p. 182. A pobreza da primeira daquelas
capitanias exprime-se nesta frase do Arcebispo da Bahia, em 1689: “Toda a capitania dos Ilhéus não vale vendida, o que
Vossa Mercê quer (5 mil cruzados) que se lhe dê para livrá-la dos tapuias”, Docs. hist., xi, p. 152. Em 1695 informava o
chanceler da Relação da Bahia que só tinha dois engenhos, um dos jesuítas do Colégio de Santo Antão (Lisboa) e outro de
Manuel de Cerqueira; a Vila de Boipeba era pobríssima; a de Cairu “pouco mais avantajada”; Camamu, “a melhor de
todas”, porém o útil da vila, com 10 ou 12 léguas de costa, era dos jesuítas. Os dízimos em 1694 renderam “em dinheiro
20$000”, Arq. Hist. Col., cód. 252, inéd.
294 Carta de 22 de fevereiro de 1613, para o Governador Gaspar de Sousa, Paulo Prado, Paulística, p. 125. Foi em
1611, cf. provisão de 28 de junho de 1633, Docs. hist., xvi, p. 386. Em 1633 os jesuítas foram encarregados desse
descobrimento.
296 Informações das minas, Anais da Bibl. Nac., lvii, p. 167: “Por benefício de amizade que teve um índio natural
destas serras Marcos de Azeredo alcançou notícia destas esmeraldas, e guiado dele seguro na amizade, escoteiro se dispôs
a fazê-la, e desembaraçado das demoras, que hoje fazem as embarcações com que se intenta, efetivamente guiado em
breves dias a conseguiu, confessando porém que na imensidade das últimas serras esteve o guia perplexo na certeza e
demoroso na segurança”.
297 Fora condenado à morte em 1618 e fugira, Garcia, nota a Varnhagen, ii, p. 240. Mandou el-rei um
desembargador devassar na capitania a propósito dos negócios desse flamengo, Anais do Museu Paulista, iii, parte ii, p.
75. Parece que foi absolvido em 1620, Anais, cit., ibid., p. 112.
298 Frei Vicente do Salvador, op. cit., p. 566; e Vieira, Carta Ânua, de 1626.
301 Anais do Museu Paulista, iii, parte ii, p. 63. O alv. de 2 de fev. de 1618 deu-lhe o governo de São Vicente, por três
anos, Garcia, nota a Varnhagen, v, p. 353.
302 Livro de leis, f. 173, na Torre do Tombo, ms. Abrangia o Espírito Santo e São Vicente.
303 Códice Castelo Melhor, ms. na Bibl. Nac., citado. A despesa do Rio em 1616 foi de 1:806$520, Docs. hist., xv, p.
41. Não tem razão Pizarro ao dizer que o contrato dos dízimos para o Rio data de 1628, à vista do alv. de 30 de agosto, que
mandava arrematá-los em cada uma das capitanias pelos provedores, Vieira Fazenda, Rev. do Inst. Hist., n. 143, p. 423.
304 V. Anais da Bibl. Nac., lix, “Processo das despesas feitas por Martim de Sá” 1628–33, publ. por Rodolfo Garcia. O
Padre Antônio Vieira, em 1648, Cartas, i, p. 40, aconselhou ao Marquês de Niza dissesse em Paris que “o Rio de Janeiro é
a praça do Brasil que pode melhor que todas ser socorrida por terra, porque tem muitas aldeias vizinhas de índios vassalos
de S. M., e a cidade de Cabo Frio, que é de portugueses, e as vilas”.
305 O engenheiro Miguel de Lescolles em 1650 tratou de aperfeiçoar o sistema de fortificações e foi pelo Conde de
Castelo Melhor incumbido de fazer “a planta da praça com a perfeição possível, Docs. hist., xxxiii, p. 252. Este francês
viera para Portugal em 1643, para servir na província de Trás-os-Montes, Bol. do Arq. Hist. Militar, viii, p. 181, devendo
aditar-se aos apontamentos biográficos que dele há, a viagem ao Brasil. Deixou, manuscrito, Tratado de artilharia.
Repetimos: deve-se-lhe o traçado geométrico da cidade no núcleo primitivo (da baixa).
306 “Códice da Ajuda”, 1669, in Anais da Bibl. Nac., lvii, pp. 162–3.
307 Anais do Museu Paulista, iii, parte ii, p. 209. A Fortaleza de Santa Cruz tinha capitão Antônio de Faria, em 1633, e
São João, Pedro Martins Negrão. Docs. hist., xvi, pp. 153 e 342.
308 O autoritarismo de Martim (peculiar aos Sás), revelou-se no caso célebre do Ouvidor Paulo Pereira do Lago, que
ocupava o cargo desde 1630. O Governador-geral Diogo Luís, para quem apelou, a fim de declarar suspenso de funções o
magistrado, mandou que se passasse este à Bahia, entregando a ouvidoria ao Provedor Dr. Miguel de Cirne (que foi
substituí-lo). A câmara tomou o partido de Paulo Pereira; o capitão-mor empossou o substituto; e aquele, depois “de
andar pelos matos mais de dois anos, fez grandes despesas em ir ao reino”. Memorável foi a sentença do Desembargo do
Paço, 1644, condenando D. Leonor de Távora, viúva de Martim, a indenizá-lo, cf. Pegas, cit. por Varnhagen, op. cit., ii, p.
252. O seguinte ouvidor chamou-se Manuel da Costa Barros, Acórdãos e vereanças. Rio: 1935, p. 3.
309 Félix Ferreira, A Santa Casa da Misericórdia Fluminense. Rio: 1898, p. 130.
310 Salvador Correia de Sá e Benavides acabava de prestar grandes serviços, combatendo na província de Tucumã, no
Rio da Prata, a revolta dos calcaquies (1634–5). Empossou-se como alcaide do Rio de Janeiro em 3 de setembro de 1635,
Acórdãos e vereanças, p. 21. Em 18 de dez. deste mesmo ano a câmara fez com ele contrato para guarda e peso das caixas
de açúcar de modo a não sair nenhuma sem verificação, que rendia ao alcaide de 8 a 12 vinténs cada caixa, op. cit., p. 8.
Tomou posse do governo em 19 de setembro: “E logo pelo dito Rodrigo de Miranda Anriques foi feito desistência do dito
cargo nas mãos e poder de Salvador Correia de Sá”.
312 V. Augusto de Lima Júnior, Notícias históricas. Rio: 1935, p. 118 (cf. docs. no Arq. Hist. Col., Lisboa).
316 Era ouvidor por quatro anos, quando — em 10 de abril de 39 — se apresentou, provido nesse lugar, o licenciado
Simão Álvares de La Penha, a quem a câmara deu posse, apesar do protesto do primeiro, Acórdãos e vereanças, p. 31. Das
habilitações para o clero de Braga, Padres do arcebispado de Braga, p. 36, Lisboa, 1939, consta Simão Álvares, filho de
Manuel Álvares (de Palmeira, Braga, e morador no Brasil) e Aldonça Álvares de La Peña (de Viana), neto paterno de
Simão Álvares e Maria Dias, materno de Pedro Álvares de La Peña, vedor del-rei, natural do Porto, e Filipa Correia, de
Granada, Espanha. O processo é de 1623 e completa os informes de Frei Jaboatão, Cat. gen., tít. “De La Penha Deus
Dará”. Foi um dos grandes magistrados do Brasil seiscentista, como diremos, e cunhado do Padre Antônio Vieira.
317 Os dízimos da parte do Sul (Sergipe, Ilhéus, Porto Seguro, Rio de Janeiro, São Vicente e Cananéia), tinham sido
arrendados em 1609 por 36.200 cruzados: metade do valor do Norte. A despesa da capitania em 1616: 328$480! A
tendência para o êxodo, entretanto, fazia o Corregedor Amâncio Rebelo Coelho (9 de setembro de 1620), proibir saíssem
da vila os moradores para povoarem outras terras, Rev. do Inst. Hist. de São Paulo, v, p. 186.
318 É interessante notar que o donatário (assim o Marquês de Cascais para São Vicente, em 1648, v. Docs. hist.,
xxxiii, p. 249), nomeava o capitão-mor, porém dependendo de confirmação do governador-geral, sendo que “os
ouvidores da Repartição do Sul haviam usurpado quase a jurisdição toda ao mesmo donatário”. Este tinha senhoriagem
nominal, não mais o poder arbitrário dos primeiros capitães-mores das várias capitanias. Percebiam a redízima, gozavam
do privilégio de indicar o seu representante, e pouco mais.
319 Pedro Taques, História da capitania de São Vicente, p. 140 (e aí o histórico do litígio entre os donatários, que
terminou no final do século).
320 Pedro Taques, op. cit., p. 140. O Capitão Bernardo Rodrigues Bueno em 1660 fez a câmara declarar que fora seu
sogro, Francisco Álvares Marinho, quem edificou a vila em sítio definitivo, mais decente, Rev. do Inst. Hist. de São Paulo,
ix, p. 110. As povoações da costa, a partir do Rio de Janeiro: Angra dos Reis (“Vila de Ilha Grande”), Vila de Parati
(fundada em 1667 por Martim Correia Vasqueanes), Vila de Ubatuba, criada em 1637 e fundada pelo Capitão Jordão
Homem da Costa, adquiriram notoriedade e vulto com o descobrimento das Minas Gerais e o seu comércio (1700).
321 Pe. Serafim Leite, Novas cartas jesuíticas, p. 221. O nome — Tubarão — perdura numa localidade de Santa
Catarina, entre Laguna e Jaguaruna. Lembra outro índio, do mesmo nome, da Bahia primitiva, cf. Nóbrega, Cartas
avulsas, p. 161, ed. da Acad.
322 Pe. Serafim Leite, op. cit., p. 235. A alusão é ao prelado do Rio de Janeiro. Anais da Bibl. Nac., lix, p. 19. O Padre
Roque González encontrou em 1628 vestígios do comércio português com os índios do Rio Uruguai: “Me disseram os
índios, entravam portugueses, em navios pequenos, deixando os grandes em alto mar, para comerciar com eles”. Pe. L. G.
Jaeger, Os heróis de Caaró e Pirapó. Porto Alegre: 1940, p. 195.
323 Alv. de 27 de abril de 1618, Livro 1º de leis, f. 94, na Torre do Tombo, concede a Gonçalo da Costa de Almeida e
João Peres pescaria de pérolas entre a Ilha Grande, Paranaguá e Ilha de Santa Catarina, tudo “nas partes do Brasil”.
324 Francisco Martins dos Santos, História de santos. Santos: 1937, i, p. 265.
325 Joris van Spilbergen, um dos primeiros marinheiros de Holanda que estiveram nos mares orientais, comandava
uma esquadra de seis navios. Zarpou de Amsterdã em 8 de agosto de 1614. Do ataque a Santos nos dá completa notícia A.
Taunay, Na era das bandeiras. São Paulo: 1922, pp. 66–81. Da passagem pelo Cabo Frio dissemos no capítulo sobre o Rio
de Janeiro. Recebida hostilmente em Santos, a frota não pôde aí refrescar com a comodidade que esperava. Deu
desembarque no engenho do São Jorge dos Erasmos (o melhor da terra), realizou algumas presas, mas, ante a repulsa dos
moradores, bem armados, seguiu viagem para latitudes mais hospitaleiras. A abundância de frutas, notada em São
Vicente, confirma a animação agrícola que beneficiava então o litoral: duma vez os flamengos carregaram 8 mil laranjas e
limões.
326 F. Martins dos Santos, op. cit., i, pp. 267–8.
327 Ms. no Arq. Hist. Col., Lisboa, sobre recursos para a guerra à Holanda. Figura o Amazonas com 70 soldados, o
Pará com outros tantos, o Maranhão com 80, e tinha “Sergipe 50 palhoças”. Vizinhos, tinha a Ilha Grande 150, Cabo Frio,
12, a Vila de Santa Catarina (sic), 10 ou 20... Lembrava o autor dessa curiosa estatística que os paulistas tomassem o Rio
da Prata. É pois de 1645 a 50. Constitui um depoimento surpreendente, para dar a medida a este Brasil em formação.
328 Os padres idos da Bahia já encontraram em Córdoba do Tucumã dois jesuítas descidos do Peru, Francisco
Angulo e Alonso Barzana, em 1585, início portanto das atividades da Companhia no Paraguai, Pe. Serafim Leite, História
da Companhia de Jesus no Brasil. Lisboa: 1938, i, p. 348. O padre-geral, carta de 24 de janeiro de 1587, ordenou que a
nova missão pertencesse ao Peru, e como para acentuar mais a separação dos jesuítas do Brasil, autorizou em 1591 o
Provincial Pe. Beliarte a retirar de lá os seus padres. Três não quiseram voltar, Pe. Serafim Leite, op. cit., i, p. 349. O Pe.
Salóni faleceu em 1599. O Pe. Filds pediu, em 1601, ficasse a missão subordinada ao Brasil, dadas as difíceis comunicações
do Peru. O Pe. Tolosa, vice-provincial, apoiou essa súplica em 1604. O padre-geral resolveu o caso fundando a província
independente.
329 Ramón I. Cardozo, El Guairá: Historia de la Antigua Provincia. Buenos Aires: 1938, p. 154.
331 O Pe. Diego de Torres obteve do Visitador do Paraguai, em 11 de outubro de 1611, que os índios guaicurus de
Tibaxiba fossem isentos de serviço (encomenda), Anais do Museu Paulista, i, p. 446. O mesmo padre enviara em 1609 um
mapa da região, cf. G. Furlong, Cartografia jesuítica. Buenos Aires: 1938, i, p. 21. Em 1612 comegou o apostolado do Pe.
Roque González de Santa Cruz, em San Inácio, cuja igreja construiu: é reputado o “primeiro apóstolo do Rio Grande do
Sul”, Pe. Carlos Teschauer, Vida e obras de Roque González, para cujo território passou em 1626: fundou então a aldeia
de São Nicolau. Foi morto pelos índios no Caaró, em 1628.
332 Pe. Guillermo Furlong, Los Jesuítas y la Cultura Rioplatense. Montevidéu: 1933, p. 19.
333 Doc. in Anais do Museu Paulista, i, p. 149. Pedro Vaz de Barros fora capitão-mor de São Vicente em 1603–5, Rev.
do Inst. Hist. de São Paulo, v, p. 164.
334 Carta de 8 de janeiro de 1612, Anais do Museu Paulista, i, p. 157. Deu em resultado a carta régia de 25 de
fevereiro de 1614, que proibiu os agravos feitos às missões, cf. Pablo Pastells, e Afonso Taunay, Na era das bandeiras. São
Paulo: 1922, p. 91. O cabido de Ciudad Real queixou-se em 1612 que os mamelucos já haviam levado mais de 3 mil índios
em prejuízo da cidade. O resultado da representação do governador foi, sem dúvida, a correição que empreendeu, em
1614, o Desembargador Manuel Jácome Bravo, Rev. do Inst. Hist. de São Paulo, v, p. 182. Publicou-se em 1618: Diego de
Velasco, Advertencias... sobre el remedio de los excesos que se cometem por el puerto de Buenos Aires y puerto de San
Pablo y los inconvenientes que se siguen en no tomar remedio eficaz en cerrarlos, como V. M. siempre ha procurado (8
fls.), Sevilha, 1618. V. Magos Bras., Biblioteca Brasiliensis. Londres: 1930, p. 177.
337 Livro 3º de leis, f. 97, na Torre do Tombo, que citamos a propósito da prata de Belchior Dias.
338 Afonso Taunay, São Paulo nos primeiros anos. Tours: 1920, p. 51.
340 B. Calisto, Rev. do Inst. de São Paulo, xxi, p. 197. À humildade dos costumes, de que fala Frei Vicente do
Salvador, correspondia a míngua de utilidades. “Prova não há melhor, da pobreza do mobiliário, do que o famoso
incidente, ocorrido em 1620, de que dão conta as atas da municipalidade vulgarizadas por Taunay. É o caso da cama de
Gonçalo Pires, requisitada pela edilidade paulistana, para uso do ouvidor-geral, Dr. Amâncio Rebelo Coelho, vindo a São
Paulo em correição”, Alcântara Machado, Vida e morte do Bandeirante. São Paulo: 1929, p. 54.
342 Doc. in Rev. do Inst. Hist. Bras. Rio: 1956, tomo especial, i, p. 6. Sobre os múltiplos aspectos da bandeira, v.
Cassiano Ricardo, Marcha para Oeste: a influência da Bandeira na formação social e política do Brasil, pp. 407 e ss.). Aí a
exaustiva bibliografia da matéria. Quanto àqueles brasileirismos: caboclo é designação vulgar aceita por D. Francisco
Manuel de Melo, Epanáforas, p. 405 (da ed. de 1931). Pombeiro, de pombe ou pombo (A. de Assis Júnior, Dicionário
kimbundo-português, p. 354, Luanda; Elias Alexandre, História de Angola, i, p. 235, pumbeiro) é palavra transportada do
angolês para o guarani: “Pombero [...] es el genio de la noche”, H. Sánchez Quell, Estructura y Función del Paraguay
Colonial. Buenos Aires: 1956, p. 51.
344 Cônego Luís Castanho, Rev. do Inst. de São Paulo, xxxv, pp. 45 e 138.
345 Por esse tempo — 1650 — foi que Fernão Dias Pais começou a reconstruir o mosteiro beneditino de São Paulo,
até então uma ermida e quatro celas... V. A. Taunay, Anais do Museu Paulista, iv, p. 66. — Sobre as vilas, Pedro Taques,
Hist. da cap. de São Vicente, pp. 146 e ss.
346 V. carta de sesmaria de 12 léguas que lhes concedeu o governador-geral, 15 de novembro de 1668, Docs. hist.,
xxxi, pp. 254–7. Aí se menciona Camanducaia, com outros limites: Rio Jaguari, Batatais, Mogi Guaçu...
348 V. Guizard Filho, Rev. do Inst. Hist. de São Paulo, xxviii, p. 279.
349 A 1º de janeiro de 1645 realizou-se a primeira eleição municipal, cf. Pedro Taques, Hist. da cap. de São Vicente, p.
151. O livro de notas do tabelião de Taubaté iniciou-se em 1638, Guizard Filho, Revista do Arquivo Municipal de São
Paulo, i, p. 32. Jacareí é de 1652.
352 A. Taunay, Hist. geral das bandeiras paulistas, iii, p. 338; Anais do Museu Paulista, iv, p. 48; e História seiscentista
da Vila de São Paulo, ii (onde pormenoriza a notícia dessa “guerra civil”). Documentação de procedência baiana, Anais
do Museu Paulista, iii, pp. 233–71. A Ânua da Companhia de Jesus de 1637–9 informa que conflito houve, em que se
armaram 5 mil homens, Pe. Serafim Leite, “Os jesuítas do colégio de São Paulo na pacificação dos Pires e Camargos”, in
Rev. do Serv. Social, ano iv, dez. de 1944, p. 12 da separata.
353 A. Taunay, Anais do Museu Paulista, iv, p. 83. O governador (provisão de 24 de nov. de 1655) deu o processo
para a eleição. O ouvidor, com o escrivão da câmara, chamaria os homens bons e o povo, e todos elegeriam seis nomes
para eleitores, três dos Pires e três dos Camargos, contanto que não fossem “os cabeças dos bandos”. Os eleitos se
dividiriam em grupos e elegeriam na mesma proporção os cargos da câmara. Diz Pedro Taques: “Ficou sua provisão
servindo como de nova lei para as futuras eleições dos oficiais da câmara”. Sobre a devassa do Dr. João Velho de Azevedo,
v. Durval Pires de Lima, in Brasília, i, p. 231.
354 Taunay, ibid., iv, p. 95. Sobre o desenvolvimento da vila por todo o período, v. do mesmo autor, Hist. seiscentista
da Vila de São Paulo, citada.
355 Registo geral da Câmara de São Paulo, ii, p. 547; Pe. Serafim Leite, op. cit., p. 15; L. A. da Costa Pinto, Lutas de
família no Brasil. São Paulo: 1949, p. 116.
356 Confirmado pelo Conselho Ultramarino, 22 de maio de 1674, o perdão geral de modo a não poderem os
ouvidores do Rio de Janeiro devassar os crimes de Pires e Camargos.
357 Doc. in A. Toledo Pisa, Rev. do Inst. Hist. de São Paulo. iii, pp. 60–2. A real cédula de 10 de setembro de 1611, in
Documentos interessantes, iii, pp. 70–9.
358 Antônio Raposo foi pai de outro famoso sertanista, João Raposo Bocarro, v. Ermelino A. de Leão, Vultos do
passado paulista. São Paulo: 1923, p. 65.
359 Esse Raposo, natural de Beja, nasceu em 1598 e faleceu por volta de 1658, cf. Washington Luís, Rev. do Inst. Hist.
de São Paulo, ix, p. 502. Foi capitão-mor de São Vicente em 1622; casou-se na terra; em 1633 era juiz ordinário em São
Paulo e logo ouvidor em São Vicente. O governador-geral quis destituí-lo, mas foi mantido no cargo pelo ouvidor das
capitanias do Sul. Dele falaremos mais detidamente.
360 V. A. Ellis Júnior, Meio século de bandeirismo. São Paulo: 1938, p. 112.
361 Taunay, Na era das bandeiras, p. 87.
362 Anais da Bibl. Nac., lix, p. 33. Alvará de 22 de março de 1618. Sobre as expedições que iam ao porto de Patos e
localização deste (Santa Catarina), v. Pe. Luís Gonzaga Jaeger, As invasões bandeirantes no Rio Grande do Sul. Porto
Alegre: 1940, p. 27. Note-se que o governador do Rio da Prata achava, em 1616, que o remédio seria el-rei despovoar São
Paulo..., Anais do Museu Paulista, ii, parte ii, p. 9.
365 Real Cédula de 12 de setembro de 1628, Correa Luna, Campaña del Brasil. Buenos Aires: 1931, i, p. 8.
366 V. Hernan F. Gomez, Yapeyú. Buenos Aires: 1923, pp. 12–4. Quanto à cronologia das missões do Uruguai a
partir de 1626, Pe. Luís Gonzaga Jaeger, op. cit., p. 10. Deste autor, v. Os heróis do Caaró e Pirapó. Porto Alegre: 1940, p.
199.
367 Atas da Câmara de São Paulo, iii, p. 41; Ellis, op. cit., pp. 114–5.
368 Nomeado em 6 de fevereiro de 1625, saiu de Lisboa em 18 de abril de 26; levou vinte meses na Bahia; no Rio foi
bem recebido de Martim de Sá, Taunay, Na era das bandeiras, p. 104. — A Real Cédula de 12 de setembro de 1628 refere-
se a tropelias de paulistas de 1626–7.
369 Chamava-se D. Vitória de Sá. A sua pedra tumular (1660) é uma das mais notáveis da nave da abadia de São
Bento do Rio de Janeiro, da qual foi benfeitora, como seu primo Salvador Correia de Sá e Benavides. O marido espanhol
levou-a: “Señora tan principal como hermosa y virtuosa”, “Relación de los sucesos”, Anais do Museu Paulista, ii, parte ii,
p. 27.
372 V. A. Taunay, Índios! Ouro! Pedras!, pp. 6 e ss., São Paulo. Leia-se sobre as bandeiras a partir de 1628, primeiro
grande rush, a documentação espanhola in Anais do Museu Paulista, xiii, pp. 294 e ss.
373 V. Pedro Taques, Nobiliarquia, Rev. do Inst. Hist. Bras., tomo especial, ed. Taunay, p. 14. O Padre Maceta, carta
de 22 de julho de 1630, diz que morrera de flechas que lhe atiraram os índios, esse sertanista, Anais do Museu Paulista, ii,
parte ii, p. 264; A. Taunay, História geral das bandeiras paulistas, ii, p. 112.
374 V. Enrique de Gandía, Las Misiones Jesuiticas y los Bandeirantes Paulistas. Buenos Aires: 1936, p. 44.
375 Correa Luna, Campaña del Brasil, pp. 9–24. Outras cartas dos mesmos padres. Anais do Museu Paulista, ii, parte
ii.
380 Em 1771 o Capitão Francisco Lopes da Silva identificou o sítio de Vila Real pelas bananeiras e laranjeiras que
encontrou na mata, Rev. do Inst. Hist. de São Paulo, v, p. 193. A antiga província de Guairá se viesse até o mar
corresponderia ao estado do Paraná, e “abrangia o território banhado pelos rios Ivaí e Tibaji e seus afluentes”, Toledo
Pisa, Rev. do Inst. Hist. de São Paulo, iii, p. 35.
381 V. Luís Gonzaga Jaeger, As invasões bandeirantes no Rio Grande do Sul, p. 27.
382 Enrique de Gandía, Las Misiones Jesuiticas y los Bandeirantes Paulistas, p. 80.
383 Montoya publicou em Madri, durante a sua missão, os primeiros livros elucidativos do idioma guarani: Tesoro de
la Lengua Guaraní (1639), Arte y Vocabulário (1640), Catecismo e Conquista espiritual hecha por los religiosos, etc.,
trasladado este do guarani a português por Batista Caetano, Anais da Bibl. Nac., vi. V. Garcia, nota a Varnhagen, iii, p.
176.
384 Seria impossível resumir em nota a evolução das idéias jurídicas relativas ao índio — na literatura hispânica.
Evidentemente o libelo de Frei Bartolomeu de Las Casas contra os métodos bárbaros da conquista inspirou a outro
dominicano, Frei Francisco de Victoria, as suas teorias do direito natural dos aborígines, nas quais se vê a fundação do
direito internacional (V. Rodrigo Otávio, Les Sauvages Américains Devant le Droit. Paris: 1931, p. 43) em 1532. A Bula de
Paulo iii é de 37. Sobre a jurisprudência castelhana, Roberto Levillier, Don Francisco de Toledo. Madri: 1935, i, pp. 183 e
ss.
386 Rev. do Inst. Hist. e Geogr. de São Paulo, iii, p. 67. Em 1633 em vereação o povo de São Paulo fora convocado
para tirar os padres das aldeias, Rev. do Inst. Hist. de São Paulo, ix, p. 514. A carta régia do ano seguinte, que destituiu o
ouvidor e os vereadores de São Paulo, correspondeu a uma reparação feita aos jesuítas, op. cit., ix, p. 518.
387 Em lugar de Amador Bueno foram a Portugal Luís da Costa Cabral e Baltasar de Borba Gato, A. Toledo Pisa, Rev.
do Inst. de São Paulo, cit., iii, p. 87. Veja-se o capitulo relativo à aclamação de D. João iv e Amador Bueno.
388 O Pe. Serafim Leite esclareceu este ponto da biografia de Salvador. Em carta ao Geral da Companhia, do Rio, 2 de
junho de 1643, dizia de sua promessa de fundar um colégio, que não pudera ser nas minas por oposição dos paulistas. Em
10 de maio de dois dias antes de embarcar para Angola, escreveu de novo ao Geral, declarando que fora seu desejo entrar
para a Companhia... (Comunicado em sessão do Inst. Hist. e Geogr. Bras., 6 de setembro de 1939). Em setembro de 1659,
passando pela Bahia, apresentou-se como procurador do Colégio de Santo Antão para dirimir a contenda com a Santa
Casa a respeito do engenho legado pela filha de Mem de Sá, Antônio Joaquim Damazio, Tombamento dos bens imóveis
da Santa Casa. Bahia: 1862, p. 18.
389 D. João iv concedeu a Salvador os poderes que tinham tido D. Francisco de Sousa e Antônio de Salema, e como
almirante da costa do Sul e governador desta cidade se investiu em 9 de agosto de 1641, Acórdãos e vereanças, cit., pp.
46–7. Contudo fez-lhe ver que dependia do governador-geral, op. cit., p. 48.
391 Pedro Taques, Informação, etc., p. 84. Salvador pedira a el-rei licença para visitar “e pôr em sua perfeição as
minas de ouro” da capitania de São Vicente, “Consultas do Serviço Real”, Lisboa, 8 de agosto de 1641, ms. no Arq. Hist.
Col., cód. 30. Montalvão foi quem lembrou que devia ficar por substituto, no Rio, seu tio Duarte Correia Vasqueanes.
392 Minuta in Rev. do Inst. Hist., tomo especial, 1956, p. 14. Regimento de 7 de junho de 1644, Rev. do Inst. Hist., vol.
56, parte i, pp. 110–5. Os autores passam por cima do fato — a separação das capitanias em 1644, que convém elucidado.
A escritura de conciliação dos padres, cf. Carvalho Franco, op. cit., p. 145. V. carta do Conde de Atouguia, 30 de abril de
1655, Docs. hist., iv, p. 243; e consulta do Conselho Ultramarino, 1647, Rev. do Inst. Hist., tomo especial, 1956, p. 15,
contra cujas conclusões reclamou a Câmara de São Paulo a 15 de abril de 48 (Revista, cit., p. 20).
393 Pe. Luís Gonzaga Jaeger, op. cit., p. 36; Carvalho Franco, Bandeiras e bandeirantes de São Paulo, p. 67; Afonso
d’E. Taunay, História das bandeiras paulistas, i, p. 67, São Paulo, 1953.
397 O 2º Nenguiru (suposto Nicolau i, Rei do Paraguai, das publicações antijesuíticas do século xviii) foi o general das
forças guaranis ao tempo em que se feriu o conflito de 1752, Rodolfo Garcia, Anais da Bibl. Nac., lii, p. 401, “Documentos
Sobre o Tratado de 1750”. Era “superior de todos los pueblos de una y otra banda del Uruguay”. “Das brutas
escaramuças/ As artes e as artimanhas/ Foi o grande Languiru/ Que lh’ensinou” dizia o poema de São Sepé, transcrito,
segundo a tradição oral, por J. Simões Lopes Neto, Contos gauchescos e lendas do Sul. Porto Alegre: 1926, p. 307.
398 Doc. in Anais do Museu Paulista, xiii, p. 456 (aí a documentação espanhola do período).
399 “Relación de la guerra y victoria [...]”, Rev. do Inst. Hist. de São Paulo, x, pp. 529–52; e Pe. Luís Jaeger, ibid., p. 57.
Os padres habituavam todos “los pueblos a haceren sentinelas, alardes y ejercicios militares con que nuestros hijos se
animaban y ya no vian la hora de probar las manos”. V. polêmica sobre a inconveniência e a necessidade de armar os
índios, nos docs. de Sevilha, Anais do Museu Paulista, vol. cit., pp. 341 e ss.
402 Benedito Calisto, Rev. do Inst. Hist. de São Paulo, xxi, p. 191.
403 Reg., cit., iii, p. 421; A. Taunay, op. cit., iv, p. 281. A carta dos vereadores é de 18 de novembro de 1684.
404 O nome africano, Calabar, indica que o desertor era negro ou mulato, embora Frei Rafael de Jesus lhe chame
mameluco, Castrioto lusitano, p. 69. Sertanista experimentado, em 1627 procurara as minas de Belchior Dias com a gente
da Casa da Torre; ajudara Matias de Albuquerque na defesa do Arraial, onde fora ferido; e desertara em conseqüência de
vários crimes praticados... V. resumo biográfico de Varnhagen e R. Garcia, op. cit., ii, p. 343.
405 Vindo com D. Antônio de Oquendo, esse fidalgo espanhol é avoengo da família do seu apelido que existe no
Peru.
406 Regressaram a 9 de novembro de 33. V. Varnhagen, Hist. ger., ii, p. 306 e notas de Rodolfo Garcia.
407 Poti, Antônio Filipe Camarão, homônimo, talvez parente do que acompanhou os padres Pinto e Figueira à Serra
de Ibiapaba, era o principal dos petiguares. Recebeu, carta régia de 14 de maio de 1633, hábito de Cristo e tença de
40$000, com patente de capitão-mor desses índios, Garcia, nota a Varnhagen, ii, p. 309. Na carta citada el-rei reconhecia
que até o Ceará os índios respeitavam Camarão, Docs. hist., xvi, p. 466. Nascera aliás em Pernambuco, em 1601, cf.
Pereira da Costa, A naturalidade de D. Antônio Filipe Camarão, Recife, 1909. — Da aliança dos holandeses com os
tapuias nos diz o licenciado Manuel de Morais: “Domesticaram três nações destes bárbaros Tapuias e os têm servido e
ajudado muito na guerra [...] chamam-se estas nações Taretiius, Inqueriius e Cariris”, Anais do Museu Paulista, i, parte ii,
p. 129. Janduí era principal dos cariris e ligou o nome à mais feroz das tribos do Rio Grande — a da “guerra do Açu”, do
fim do século em apreço. — Morreu depois da primeira batalha dos Guararapes: “O Capitão-mor Camarão morreu um
dia destes e foi grande perda, fizemos-lhe as honras indo com tudo o que a capacidade desta campanha deu lugar e em seu
lugar se elegeu o seu sargento-mor que é sobrinho do morto”, carta de Filipe Bandeira de Melo, 19 de maio de 1648, ms.
no Arq. Hist. Col., Papéis avulsos. Uma dinastia militar: daquele foi filho Dom Sebastião Pinheiro Camarão, que, em
1720, cego e inválido, obteve que o posto de governador dos índios passasse ao filho Dom Antônio Domingos Camarão
Arcoverde, Docs. hist., xcix, pp. 109–10. Sobre a sua vida, v. José Antônio Gonsalves de Melo, D. Antônio Filipe Camarão,
Recife, 1954.
408 As más relações entre o capitão-mor e os moradores foram assunto da carta régia de 17 de março de 1632, Anais
do Museu Paulista, iii, parte ii, p. 152.
409 V. nota de Garcia a Varnhagen, ii, pp. 344–5; Oliveira Lima, Rev. do Inst. Hist. Bras., lxx; A. Taunay, Anais do
Museu Paulista, i, parte ii, p. 121. Aí o interessante trabalho em que o ex-padre defende a causa de Portugal mostrando a
insensatez da paz com a entrega de Pernambuco. — Saiu condenado pela Inquisição em 15 de dezembro de 1647.
410 V. Varnhagen, História das lutas com os holandeses no Brasil, liv. iv, pp. 164–8 (2ª ed., Bahia, 1955). Sobre
Cristóvão Arciszewsky — comandante, depois, da artilharia polonesa e herói das guerras da Europa Oriental — v.
biografia em 2 vols. de A. Kraushar, 1892, art. de José Honório Rodrigues, in Jornal do Comércio, Rio, 19 de maio de
1940, e art. de Tadeu Skowronski, in Correio da Manhã, Rio, 20 de setembro de 1956. Faleceu em 1656. Do Arraial saíram
Henrique Dias, cinco vezes ferido na campanha, João Fernandes Vieira... Guilherme Barbalho Bezerra das Índias passou à
Espanha, Docs. hist., xxvii, p. 3, como Luís Álvares Brandão, Docs. hist., xvii, p. 52, e franciscanos de Olinda e do Recife.
411 Albuquerque, logo em 1641 (11 de dezembro) foi nomeado para o Conselho de Guerra permanente ao lado do
Conde de Óbidos. Comandou primeiramente na fronteira do Alentejo. Herói da batalha de Montijo, de 1644, recebeu o
título de Conde de Alegrete.
412 Os cronistas Fr. Manuel Calado, Valeroso Lucideno, p. 33 e Fr. Rafael de Jesus, Castrioto lusitano, p. 128,
insinuam ter sido o general vítima de traição, alvejado pelas costas. Inverificável a versão, serve para acentuar a surpresa
dos historiadores em face do combate espantoso da Mata Redonda.
413 Nascido em 1575, Banholo tinha então 61 anos. V. Francisco Pettinati, O elemento italiano na formação do
Brasil. São Paulo: 1939, p. 197.
414 Os barcos apresados, entre 1623 e 36, em número de 547, tinham rendido 6.710.000 e os carregamentos pilhados,
30.309.736. Mas as despesas da Companhia com as suas frotas subiram, no mesmo prazo, a 45.183.430, Hermann Wätjen,
op. cit., pp. 138–9.
415 V. Jean Laet, L’Histoire du Nouveau Monde, ou Description des Indes Occidentales, Leide, 1640.
417 Banholo escrevera para a Bahia em 11 de fevereiro: “Esperava que o viessem sitiar com o novo socorro que ora
lhes veio de Holanda em que veio por general Enrique de Nassau (sic), filho bastardo do Príncipe de Orange”, Atas da
Câmara da Bahia, 1637, ms. cit.
419 Docs. hist., xv, p. 155; e Pe. Antônio Vieira, Por Brasil e Portugal: sermões. São Paulo: 1938, p. 38, nota,
comentados por Pedro Calmon.
421 Docs. hist., xv, p. 468. Foi nomeado almoxarife do forte, 11 de setembro de 1631, Francisco do Amaral. Em 1634
havia aí companhia de infantaria, Docs. hist., xvi, p. 206.
423 “Sermão na Conceição da Praia”, 1633, Serm. Porto: 1909, iv, 6; e J. Lúcio d’Azevedo, História de Antônio Vieira.
Lisboa: 1931, p. 39.
425 A primeira pedra do famoso convento foi lançada em 4 de fevereiro de 1654, Pedro Celestino da Silva, Anais do
Arq. Públ. da Bahia, xxvi, p. 427.
427 A expressão mata bicho ainda é encontrada entre os nativos do Congo Belga, como reminiscência do português
dos traficantes e da fascinação que exercia a aguardente para os negros, Matabich... Baron de Mandat-Grancey, La Révue
Hebdomadaire. Paris: fevereiro, 1900, iii, p. 193.
428 Ata da vereação de 14 de junho de 1656, Códice, ms. no Arq. Mun. da Bahia. Em 1693 o Governador Câmara
Coutinho pediu que se deixasse fabricar aguardente, como até aí, pois “é só o gênero que há nele para se levar à Angola”,
Rev. do Inst. Hist., lxxi, p. 104. Vinho de mel e aguardente, Atas da câmara, 1641, ii, p. 48, a sua proibição alvorotara os
soldados da praça... Mas a câmara teimava em extingui-la (em 1646), Atas, cit., ii, p. 312. Aí já se fala em “cachaça”,
africanismo que preponderou (cachaça e jeribita).
429 “Descrição da fazenda que o Colégio de Santo Antão, etc.”, Anais do Museu Paulista, iv, p. 794.
430 D. Pedro era genro de Fernão da Silva, alcaide de Silves, Sanches de Baena, Famílias titulares e grandes de
Portugal, ii, p. 480. Comandou uma nau da Índia em 1605, Simão Ferreira Pais, As famosas armadas, ed. do Ministério da
Marinha, p. 101. Sobre a sua descendência, Pe. Antônio Carvalho da Costa, Corografia portuguesa, ii, p. 356, 2ª ed. Diogo
Luís não foi devidamente recompensado. Diz-nos D. Francisco Manuel, Eco político, p. 12, Lisboa, 1645, que morreu em
Espanha, prisioneiro de Estado, depois de ter sido mestre-de-campo-general de Cantábria, etc.
431 V. provisão, Docs. hist., xvi, p. 282. Era de Lisboa, neto de venezianos e milaneses, Ementas de habilitações, p. 72,
irmão de Jerônimo, senhor do engenho Tibiri, na Paraíba. Casara em Pernambuco (onde foi provedor-mor) com D.
Beatriz Bandeira de Melo, cf. Borges da Fonseca, Nobil. Pern., ed. da Bibl. Nac., i, p. 184. Em 1632 fora indigitado para
capitão-mor da Paraíba. Além da relação dos combates na Bahia, de 1638 (adiante citada), escreveu Descrição das 1.038
léguas de terra do Estado do Brasil, da conquista do Maranhão e Grão-Pará, de que há versão alemã (na qual é chamado
Pedro Cudena), de Lessing, Brunswick, 1780. V. Varnhagen, ibid., ii, p. 287.
437 Patente de 14 de dezembro de 1636, registada na Bahia em 5 de junho de 37, Docs. hist., xvii, p. 54.
438 Patente de Barbalho, 30 de outubro de 36, registada em 31 de janeiro de 37. Chegou à Bahia com os 250 homens
em 16 de agosto de 37, Duarte de Albuquerque, Memórias diárias da guerra do Brasil, p. 146, Rio, 1855, da qual há 2ª ed.,
Recife, 1944. Patentes de seus companheiros, Docs. hist., xvii, pp. 5, 14, 22. Devia vir como comandante de quatro urcas,
cf. decisão do Conselho de Estado, 8 de março de 1636, ms. no Arq. Hist. Col., cód. 504, f. 168 v., mas a vice-rainha
nomeou o Capitão Bento do Rego.
439 Carta de Pedro de Cadena, de 29 de março de 1638, ms. no Arq. Hist. Col., doc. n. 802, inéd.
440 Prov. do governador, de 7 de fevereiro de 1637, fala da “Armada inimiga que se espera vir sitiar a esta Praça”,
Docs. hist., xvi, p. 418.
441 Há um precioso mapa fixando as posições de Nassau e dos defensores da cidade. É do holandês Vingboon,
certamente testemunha do desembarque. Vimo-lo no códice original, das cartas desse desenhista, trazido por José Higino
e ora no Instituto Arqueológico de Pernambuco (julho de 1949).
442 A. D. Marcos Teixeira sucedera o Bispo D. Miguel Pereira, que tomou posse por procuração em 19 de junho de
1626, e faleceu em Lisboa em 16 de agosto de 1630. Tinha parentes na Bahia, Frei Jaboatão, Cat. gen., cit. Cavalcantes, etc.
Seu sucessor, D. Pedro da Silva e São Paio, chegou à Bahia em 19 de maio de 1634 e aqui faleceu em 15 de abril de 1649.
443 Quanto aos moradores, em 23 de abril se quotizaram para oferecer aos soldados 15 mil cruzados a título de
animação, Atas da Câmara da Bahia, ms., Docs hist. do Arq. Mun., i, p. 358, 1945. Alegavam que o inimigo estava na
“roça do Padre Ribeiro e senhor de Itapagipe, e chegando já às nossas trincheiras [...]”
444 V. nosso estudo sobre o ataque à Bahia de 1638, Anais do Arq. Públ. da Bahia, xxvi, p. 206. Valioso informe é
uma carta de Henrique Moniz Teles, ms. publ. in Brasília, i, p. 554. Relata as depredações feitas no recôncavo, donde
tiraram mais de 2 mil negros.
445 Diz o Pe. Vieira que os holandeses dispararam 1.600 tiros; e Duarte de Albuquerque, Memórias diárias, p. 162 —
1.446 balas...
446 Sermão de Santo Antônio, 1638, pp. 93–128, ed. de 1638, que anotamos (p. 48, Por Brasil e Portugal).
447 V. Docs. hist., xviii, p. 84. O Capitão Paulo Cardoso de Vargas fez em cinco dias uma plataforma artilhada e teve a
idéia de pôr artilharia no adro da Sé, certidão de 1644, Arq. Hist. Col., Lisboa. Nisto seguia o exemplo dos holandeses em
1624.
448 De Pedro Cadena de Vilhasanti é a correspondência sobre a luta na Bahia, existente no Arq. Hist. Col., Lisboa, de
que nos deu as primícias o Pe. Serafim Leite, Páginas de história do Brasil, São Paulo, 1937, e publicou em 1941, sob o
título de Relação diária do cerco da Bahia, Lisboa. No mesmo ano de 38 se editou em Madri, Relación de la victoria que
alcanzaron las armas catolicas en la Bahia..., Catalogue of Spanish Books, Martinus Nijhoff, n. 803, Haia. Outros folhetos
sobre o sucesso, consultamos em New York Library: Relación verdadera de la gran victoria que han alcanzado en el Brasil
la gente de la Bahia, Sevilha, 1638; Relación verdadera y carta nueva por un artillero..., Bernardo Muñoz..., 1638.
449 De 1635 é o compêndio de filosofia de Vieira, que se lia no colégio da Bahia ainda no começo do século xix, cf.
Cônego Antônio Joaquim das Mercês, ms. de 1851, no Inst. Hist. da Bahia, n. 185, m. iii, ignorado de seus biógrafos.
450 José Cassiano Neves, in Ocidente. Lisboa: 1940, n. 30, p. 91; e Jardins e palácio dos Marqueses de Fronteira.
Lisboa: 1954, p. 79.
452 Instruções, ms. in códice Correspondência do Conde da Torre, inéd., hoje no Ministério das Relações Exteriores,
Rio. Transcreve R. Garcia, nota a Varnhagen, op. cit., ii, p. 412, o Regimento que trouxe o Conde da Torre, mas referente
apenas à administração financeira.
453 Carta de 21 de julho de 1638, Madri, ms. inéd., in Correspondência do Conde da Torre, códice mencionado.
454 É a crítica holandesa, Garcia, nota a Varnhagen, ibid., ii, p. 378, a que adere Varnhagen, porém com injustiça. Das
cartas do conde, na Bahia, se vê que trouxera os navios mal abastecidos, na esperança de encontrar na terra o suficiente, e
nada achando, tivera de demorar-se, até virem do Sul (e de Buenos Aires!) os gêneros encomendados. A culpa não foi
dele, mas da pressa (para socorrer a Bahia sitiada) com que partiu, iludido pela promessa dos recursos que na colônia
havia.
455 Carta in R. Garcia, nota a Varnhagen, ii, p. 422. Nos Livros da Câmara da Bahia (ms. no arq. desta) vemos que em
26 de janeiro (1639) se consignava a abundância de farinha do reino, existente com a chegada da frota... Entretanto em
abril o Conde da Torre, depois de proibir o plantio do tabaco, obrigava os moradores a tratarem de fabricar farinha de
mandioca — o que, vale dizer, deixou que se dispersassem os víveres necessários para a missão, a que vinha. Observe-se
que, “retirando-se o Conde de Banholo a esta praça, se uniu todo o governo militar, quando o Conde da Torre passou a
este estado, por capitão-general de mar e terra. Assim se conservou até o presente”, escreveu o Conde de Atouguia em
1655, Docs. hist., iv, p. 264.
456 Sobre o comércio com Buenos Aires a este tempo, R. de Lafuente Machain, Los Portugueses en Buenos Aires.
Buenos Aires: 1934, p. 108.
457 Eram os homens mais ricos do Brasil. Sobre Diogo de Aragão Pereira, genro de Baltasar de Aragão, P. Calmon,
Hist. da Casa da Torre, p. 121. Francisco Fernandes (da Ilha), sogro de Nicolau Aranha Pacheco, foi senhor da Ilha da
Maré, e benfeitor da Misericórdia da Bahia: aí o seu retrato, o mais antigo desta galeria. Mateus Lopes Franco, contratador
de dízimos, era senhor de engenho, além de mercador. Queimaram-lhe um engenho os holandeses em 1638, Duarte de
Albuquerque, Memórias diárias, ed. de 1638, p. 164. Antônio da Silva Pimentel, alcaide-mor da Bahia dezesseis anos, era
genro de Pero Garcia, morto em 1624, v. Frei Jaboatão, Cat. gen., tít. Silvas Pimentéis.
458 Francisco Pereira do Lago tem a notoriedade do morgado de Santa Bárbara — o principal da cidade baixa, na
Bahia — que fundou em 1641, Melo Morais, Crônica geral e minuciosa do Império do Brasil. Rio: 1879, p. 47. Arrendara
o contrato dos dízimos da Bahia em 1636–7, Docs. hist., xvii, p. 136. Em 1642 foi tenente-general da artilharia, Miralles,
op. cit., p. 45. No Cat. gen., citado, a sua descendência.
459 “Sermão da Santa Cruz”, pregado em 30 de maio de 1639 “estando na Bahia a armada real”, Por Brasil e Portugal,
p. 69. Tais os delitos, que as mulheres não podiam sair à habitual missa da madrugada, diz um relatório holandês, Rev. do
Inst. Arqueol. Pernambucano, v, pp. 21–2.
461 Entre os brasões da expedição figuravam D. Sancho Manuel, futuro Conde de Vila-Flor, Docs. hist., xviii, p. 135;
Antônio de Sousa de Meneses, que foi governador-geral, Varnhagen, História das lutas holandesas, p. 330; Francisco
Barreto, o Conde de Castelo Melhor, também futuros governadores-gerais do Brasil.
464 Serm., ix, p. 359. O índio Camarão, em companhia do Padre Afonso Ferreira, Docs. hist., xviii, p. 123, seguiram
por terra.
465 Gaspar Barleo, O Brasil holandês sob o Conde João Maurício de Nassau, edição do Ministério da Educação, p.
186.
467 Com o cunhado D. Francisco Rendon fora de São Paulo o Alferes Bartolomeu Bueno, filho de Amador Bueno; e
embarcou no galeão Jesus Maria, de Castela. Deu em São Domingos. Indo para o reino o tomaram os franceses, Livro de
mercês gerais, ms. no Arq. Hist. Col., Lisboa. O Capitão Antônio Raposo Tavares juntara-se ao Conde da Torre na Bahia,
com 150 paulistas, Docs. hist., xvii, p. 418, que formaram uma companhia incluída na infantaria espanhola.
468 Livro de atas da Câmara da Bahia. A última em que aparece o nome do Conde da Torre é de 1º de maio de 1640.
Montalvão empossou-se em 26 de maio, Miralles, ibid., p. 143.
469 Merecem ser citados os companheiros de Barbalho: Francisco Barreto, que seria o general da Restauração de
Pernambuco; Capitão Hilário Nunes de Matos, Docs. hist., xviii, p. 246; Amaro Velho de Cerqueira, Docs. hist., xx, p. 78;
Lourenço de Brito Correia, Docs. hist., xix, p. 470; Manuel de Hinojosa, Lourenço Cavalcanti de Albuquerque e Manuel
Camelo, adiante mencionados; Manuel Alves e Manuel de Araújo, Docs. hist., xxiv, pp. 223 e 295; Pedro Gomes, depois
mestre-de-campo, Docs. hist., xxv, p. 39; Manuel Carvalho Fialho, Docs. hist., xxx, p. 376, que perdeu dois irmãos na
retirada; Manuel Lopes, general na guerra dos Palmares, Melo, Biografias, etc., ii, pp. 170–2; Pedro de Oliveira, depois
ajudante no Rio, Docs. hist., xxi, p. 241; Pedro do Canto Coelho, Docs. hist., xxvi, p. 39; Francisco Pereira Guimarães,
Docs. hist., xxvi, p. 183 (foi capitão-mor do Rio Grande); Gregório Peixoto, Docs. hist., xxv, p. 335; Antônio de Andrade,
Anais do Arq. Públ. da Bahia, viii, p. 32; Ascenso da Silva, Docs. hist., xix, p. 352; Pedro de Miranda, Docs. hist., xix, p.
387. Do contingente paulista citam-se Antônio da Cunha Abreu, os irmãos Valentim e Luís Pedroso de Barros, outros a
que se refere J. P. Leite Cordeiro, São Paulo e a invasão holandesa. São Paulo: 1949, pp. 124 e ss.
470 Patente do Capitão Antônio de Andrade, Anais do Arq. Públ. da Bahia, viii, p. 33 (as demais patentes de
veteranos da retirada insistem na enumeração dos mesmos sucessos). Cousa digna de gregos, diz D. Francisco Manuel.
Epanáforas, também Fr. Manuel Calado, O valeroso Lucideno, pp. 73–4, Lisboa, 1668, Fr. Rafael de Jesus, Castrioto
lusitano, p. 165... Hierônimo de Hinojosa declarou que em Goiana degolara mais de 50 inimigos, Livro de mercês gerais,
ms. no Arq. Hist. Col., Lisboa. Lourenço Cavalcanti diz que na retirada lutavam “comendo cavalos e cachorros”, Livro 22
de mercês ger., ms. no mesmo arq., f. 545. E Manuel Camelo, Docs. hist., xxi, p. 296: “[...] no assalto que pelas 2 horas da
noite deu a 800 holandeses no engenho de Goiana de que se degolaram 500 flamengos; na investida que pelo romper
d’alva da mesma noite se fez a uma casa-forte em que se recolheram os que escaparam; no recontro que a 1.500
holandeses se teve no engenho do Salgado”. V. também Docs. hist., xx, p. 78.
471 Sermão pelo bom sucesso, etc., 10 ou 11 de maio de 1640, op. cit., p. 96.
473 Ficara no governo durante a ausência do conde, a partir de 21 de outubro de 1639, o Mestre-de-campo D. Vasco
Mascarenhas, Conde de Óbidos, por carta de 22 de dezembro de 36.
474 Sobrevindo a Restauração, em 1640, foi o conde que induziu o comandante da Fortaleza de São Julião da Barra,
D. Fernando de la Cueva, a entregá-la, Damião Peres, História de Portugal, vi, p. 9; e Consiglieri Sá Pereira, A restauração
vista de Espanha. Coimbra: 1933, pp. 85 e ss. D. Francisco Manuel escreveu-lhe uma das “cartas familiares”. Faleceu em 9
de agosto de 1651. Sobre a sua descendência, Pe. Antônio Carvalho da Costa, Corografia portuguesa. Braga: 1862, ii, p.
415, 2ª ed. O 2º Conde da Torre, seu filho, herói de Évora, em 1662, fundou a admirável Casa dos Marqueses de Fronteira,
em Lisboa. V. José Cassiano Neves, op. cit., p. 80.
476 Ao Conde de Linhares, em 1637, se oferecera já o título de vice-rei do Brasil, cf. Consiglieri Sá Pereira, op. cit., p.
50.
477 Mestre-de-campo, com Gaspar de Sousa, de um dos primeiros Terços que houve no reino, Epanáforas, p. 178.
Entrou em palácio a 23 de junho de 1640, cf. Livro de atas da Câmara da Bahia. Esta a data da posse?
478 O Padre Vieira, na festa da Visitação de Nossa Senhora, 2 de julho de 1640, saudou, do púlpito da Misericórdia, o
Marquês de Montalvão, Por Brasil e Portugal, p. 129. Este sermão por certo lhe deu a amizade do vice-rei, manifestada na
importante comissão com que foi a Portugal no ano seguinte.
479 A esquadra do Coronel Koin atacou Espírito Santo em 28–30 de outubro. Os moradores refugiaram-se no castelo
e mataram 60, ferindo 80 inimigos, Garcia, nota a Varnhagen, ii, p. 390. Verdadeiro milagre, cf. Jaboatão, Novo Orbe
Seráfico, i, p. 92. Vimos em New York Library, Traslado de una carta enbiada del Brasil a un caballero desta corte dandole
cuenta de las grandes victorias que han tenido las armas católicas de S. M. D. Filipe iv, N. S., governadas por D. Jorge
Mascarenhas, Conde de Castillo y Marqués de Montalvan, Madri, 1640.
480 Os capitães escolhidos para essa missão eram Henrique Dias e Paulo da Cunha, Fr. Rafael de Jesus, Castrioto
lusitano, p. 165. Das Atas da Câmara da Bahia consta entretanto que se fez junta em palácio, em novembro, sobre o
mocambo que devia ser atacado por Henrique Dias e a conveniência de levar padre, que soubesse a língua dos pretos
aquilombados. Teria Henrique Dias interpretado à sua maneira as instruções do vice-rei?
482 V. Rodrigues Cavaleiro, 1640, Richelieu e o Duque de Bragança. Lisboa: 1942, pp. 31 e ss.
483 V. Gio. Battista Birago, Delle historie memorabili che contiene delle sollevationi di stato de nostri tempi. Veneza:
1653, p. 107. Sobre a psicologia do ministro, Gregório Marañón, El Conde-duque de Olivares.
484 V. polêmica de Oliveira Martins e Camilo, sobre “Os jesuítas e a Restauração”, in Boêmia de espírito. Porto: 1920,
3ª ed.
485 “Sermão do Dia de Reis” (omitido na edição princeps), pregado a 6 de jan., 1641.
487 Referia-se o pregador ao verso do sapateiro Bandarra, trova lxxxvi, ed. de Barcelona, 1809: “Antes que cerrem
quarenta/ erguer-se-á a grão tormenta”. Ignorava que a 1º de dezembro de 40 se dera em Lisboa a revolução restauradora.
488 “Sermão”, citado; v. nosso Por Brasil e Portugal, p. 204, sermões de Vieira anotados, São Paulo, 1938.
489 Decisão de 3 de janeiro de 1641, “Consultas do Serviço Real”, cód. 30, ms. no Arq. Hist. Col., Lisboa, inéd.
490 Livro de atas. Bahia: 1949, ii, p. 9. V. Accioli, Mem. hist. e pol., ii, p. 21. No “Sermão das exéquias de D. João iv”,
p. 295, disse Vieira: “Apontou el-rei ao Brasil, e primeiro à cabeça, onde estavam dois terços de infantaria castelhana e um
de napolitanos, com um vice-rei tão beneficiado, de Castela; [...] pôs Deus a mão, veio a cabeça do Brasil, e após ela todos
os membros”.
491 Atas da câmara, 6 de abril de 1641: “Muito trabalho no apresto das festas que se fazem a el-rei”.
493 Atas, ii, p. 43. Manuel Maciel era acusado de ter ido pedir dinheiro para a viagem aos jesuítas, “per ordem do
Marquês de Montalvão”. Enquanto os outros preferiam Vieira, que falaria certamente pelos interesses da gente e do país.
Digladiavam-se surdamente os grupos: aquele, mais próximo dos espanhóis; este, esperançoso de autonomia e poder. Não
esqueçamos que na Europa pleiteou Vieira a liberdade de comércio e sobretudo a causa dos cristãos-novos (de quem se
fez destemido advogado), contra a intolerância.
494 Relaçam da aclamação que se fez na capitania do Rio de Janeiro do Estado do Brasil e nas mais do Sul, ao Senhor
Rey Dom João o iv, em Lisboa, por Jorge Rodrigues, ano de 1641 (nova estampa, por Francisco Morais, conservador da
sala do Brasil da Universidade de Coimbra, nesta cidade, em 1940, fac-similar). Também na Rev. do Inst. Hist., v, pp.
343–52. Esse folheto é de evidente defesa de Salvador Correia cujo espanholismo de mãe, esposa, cunhado, dera que
pensar, na Bahia e na corte. João Antônio Correia foi o emissário da notícia da aclamação a Portugal, e lá pediu o lugar de
juiz das avarias, Anais da Bibl. Nac., lviii, p. 227.
495 Fr. Gaspar da Madre de Deus, Memórias para a hist. da cap. de São Vicente, p. 240.
496 Registo geral da Câmara de São Paulo, vii, p. 251; e Afonso d’E. Taunay, História geral das bandeiras paulistas, iii,
p. 132.
497 Carta de 15 de janeiro de 1642, ms. in Arq. Hist. Col., Lisboa (que pela primeira vez divulgamos in O segredo das
minas de prata, p. 100).
498 O Conselho Ultramarino deliberou, 7 de maio de 1644, dar o hábito de São Bento com 12$000 de pensão ao
Alferes Amador Bueno, por seus serviços e “visto ser de utilidade seu pai em São Paulo por o descobrimento das minas de
que V. M. aí manda tratar”. É a única referência que desse tempo achamos ao “aclamado”, Livro de mercês gerais, ms., f.
208, Arq. Hist. Col., Lisboa.
499 Afonso Taunay, Hist. ger. das band. paul., iii, p. 109; cf. Frei Gaspar, op. cit., p. 245.
500 A Marquesa D. Francisca de Vilhena realmente concitou o marido a resistir, chamando de traição a revolta de 1º
de dezembro, carta de 6 de fev. de 41, José Caldas, História de um fogo-morto. Porto: 1903, p. 129, nota. No mesmo
sentido D. Pedro Mascarenhas escreveu ao pai, em 12 de fevereiro.
501 Miralles, op. cit., p. 144. Corrige neste passo Rocha Pita, a quem Varnhagen seguiu, Hist. ger., ii, pp. 395–6. D.
João iv nomeou o mesmo triunvirato, cf. carta de 4 de maio de 1641, transcrita por Fr. Jaboatão, Cat. gen., e endereçada a
Manuel Gonçalves de Barros.
502 Miralles, ibid., p. 144. Resume D. Francisco Manuel, Epanáforas, p. 179: “Este é aquele D. Jorge, que foi varão,
entre os nossos, assaz notável (e ainda entre os do mundo) pela desigualdade de fortunas que passou”. Viera D. Sancho
Manuel, depois Conde de Vila-Flor, na armada do Conde da Torre, cf. patente de 31 de outubro de 1639, Docs. hist., xviii,
pp. 135–7. Seria o maior general da última fase da guerra da Restauração. Luís da Silva Teles casou com uma filha de
Salvador Correia de Sá.
503 Conde de Ericeira, Portugal restaurado. Lisboa: 1751, i, p. 147. Confirma D. Francisco Manuel, Tácito português,
apógrafo na Bibl. Nac., ed. da Acad. Bras., 1940, que os triúnviros foram castigados. Lourenço de Brito foi preso para o
reino, Barbalho removido para o Rio de Janeiro. Aliás já estava indicado para governador do Rio, desde 1637, Docs. hist.,
xvii, p. 2. Seus filhos ali ficaram. Jerônimo Barbalho foi mandado degolar por Salvador Correia após um motim e
Agostinho Barbalho, governador, morreu quatro anos depois (1664), procurando as minas do Espírito Santo. A
descendência de Barbalho subsiste por sua filha, casada na Bahia com Antônio Ferreira de Sousa (Monizes).
505 É índice dessa gratidão a carta régia de 26 de outubro de 1645 que deu ao herdeiro do trono o título de príncipe
do Brasil. Foi o 1º D. Teodósio, e assim todos os herdeiros da coroa, até D. Pedro, filho de D. João vi (1817–22), príncipe
e, com a independência, Imperador do Brasil.
506 V. Pe. Vieira, “Sermão das exéquias de D. João iv”, Serm., xv, p. 293.
507 Livro de atas da Câmara da Bahia, 1641. Os dízimos da Bahia foram arrematados entre 1º de agosto de 1636 e 11
de junho seguinte por 20 contos. Representara um aumento de 7.500 cruzados sobre a arrematação de 1631, Docs. hist.,
xvii, p. 128. O arrendatário era Francisco Pereira do Lago, Docs. hist., xvii, p. 136, que em 1641 instituiu o morgadio de
Santa Bárbara, na cidade baixa, Melo Morais, Crônica geral. Rio: 1879, p. 47.
508 Os moradores pediram em 1649 a suspensão da vintena, Atas da câmara, iii, p. 89, que foi substituída pelo
imposto de meia pataca sobre canada de vinho e azeite de peixe.
511 Casa dos Vinte e Quatro chamava-se o Palácio dos Estaus em Lisboa, por ser a sede da representação dos
misteres, cada um destes com dois delegados eletivos. A Casa dos Vinte e Quatro foi criada em 1384 pelo Mestre de Avis
(D. João i), numa época de excitamento das paixões populares que tornara também necessária esta agremiação dos
ofícios. Em 1539 deu-lhes nova ordem. Graças a Virgílio Correia conhecemos os regimentos da Câmara de Lisboa, de
1572, v. J. Lúcio d’Azevedo, in História de Portugal. Barcelos: 1931, iii, pp. 659–61, dirigida por Damião Peres. Deste
regime deslizaram para a linguagem comum várias expressões significativas: mestre-de-obras, obra-prima (a da
aprovação dos oficiais), aprendizes ou obreiros... E — como diremos — a tradição dos santos protetores de cada
corporação, viva ainda hoje nos costumes luso-brasileiros. (De Virgílio Correia, Livro dos regimentos dos oficiais
mecânicos..., Coimbra, 1926.)
512 Eram estes misteres caldeireiro, correeiro, alfaiate, barbeiro, ourives, pedreiro, sapateiro, tanoeiro, marceneiro,
ferreiro, completando o número mais um barbeiro e um alfaiate, Atas, ii, pp. 16–7.
513 No Rio, pedira a câmara, em 1624, licença para eleger dois oficiais de misteres. Tinha quatro em 1661, com a
bandeira do respectivo santo, Vieira Fazenda, in Rev. do Inst. Hist., lxvi, pp. 152–8. Nas festas de 1622 as artes eram em
Lisboa “do lavrador, caçador, soldado, marinheiro, surgião, tecelão e ferreiro”, Sousa Viterbo, Artes e artistas em
Portugal. Lisboa: 1892, p. 261. Diremos como desapareceu esse sistema no Brasil, no século xviii. Nem podia durar, com a
absorção pelos escravos das atividades manuais.
514 Constantino Bayle, Los Cabildos Seculares en la América Española. Madri: 1952, pp. 234–5.
517 Ms. no Arq. Hist. Col., Bahia, Serviços de partes, n. 1527, inéd.
518 Documentos históricos do Arquivo Municipal, Cartas do Senado, i, pp. 118–9 Bahia, 1951.
519 V. Afonso Rui, op. cit., p. 196; Varnhagen, ibid., iii, p. 167.
520 Arq. Mun. da Bahia, Cartas do Senado, i, p. 118. Houve ainda cortes em Lisboa em 1674, 77, 79 e 97; v. Alfredo
Pimenta, Elementos de história de Portugal. Lisboa: 1936, p. 552. O episódio da procuradoria de Gregório de Matos não
era conhecido de seus biógrafos.
521 Carta ms. citada por Hernâni Cidade, in Anais do iv Congresso de História Nacional. Rio: 1951, xi, p. 39.
522 Falhara a tentativa de ocupação de Angola em 1627, Elias Alexandre da Silva Correia, História de Angola. Lisboa:
1937, i, p. 241. Pedro César em 1641 abandonou inexplicavelmente a cidade, ibid., i, p. 248, cuja tomada descreve Van
Baerle, O Brasil holandês..., p. 227. Esclarece honestamente Barleo que o Conselho Diretor da Companhia mandara
explorasse Nassau a revolução portuguesa, ampliando o domínio holandês, ibid., p. 225.
524 Carta de 6 de agosto de 1643, cf. Hernâni Cidade, Anais, cit., xi, p. 38.
525 Carta de Antônio Teles da Silva, 6 de agosto de 1643. Os holandeses alegavam “que os nossos no Maranhão se
tinham levantado com a sua gente que lá tinha, e degolando-os, o que souberam por via de um navio que havia três ou
quatro dias lhes tinha chegado de Pernambuco”, “Relação de dois jesuítas”, publ. por Eduardo Brasão, in Ocidente, n. 25,
p. 274.
526 Gedeon Morris, prisioneiro no Amazonas em 1628, em 1637 apresentara à Companhia os planos da conquista do
Maranhão e Pará, Capistrano de Abreu, Capítulos de história colonial, p. 161 da 2ª ed.; Garcia, nota a Varnhagen, ii, p.
430.
528 Eduardo Brasão, A restauração, p. 352. Sobre este, Hernâni Cidade, in Brasília. Coimbra: 1942, i, pp. 196–7.
529 Filho do “grande ministro” Luís da Silva e de D. Mariana de Alencastre — esclarece D. Francisco Manuel no
Tácito português — exercia o comando das armas no Alentejo, onde foi substituído por Joanne Mendes de Vasconcelos
muito apadrinhado por Montalvão. Antônio Teles recebeu como uma compensação o governo do Brasil. Figurara nos
acontecimentos da Restauração, em 1º de dezembro de 1640, e foi o único ferido nesse dia memorável, durante o assalto à
secretaria de Miguel de Vasconcelos. Trouxe regimento de 60 capítulos, datado de 16 de junho de 1642, códice ms. no
Arq. do Palácio do Conde dos Arcos, Lisboa, inéd.
530 Netscher, op. cit., p. 104. O sítio de Vrijburg é o do Palácio do Governo do Recife, na ponta norte da ilha, onde a
confluência dos rios e a vista de Olinda aumentam o interesse do lugar. O palácio foi poupado nos arrasamentos que se
fizeram em 1645. Parece que só lhe mutilaram as torres, bom alvo para a artilharia. Mas com torres ou sem elas, foi
aproveitado após a capitulação do invasor. “Vi a certidão que V. M.ce me remete do escrivão da Fazenda sobre o Quartel
das Torres em que moravam os governadores dessa capitania”, 1687, Docs. hist., x, p. 252. “Obra flamenga toda feita de
tijolos [...] e assim haver mister de as ditas torres rasar até o meio para ficarem no ponto das suas casas”, 1686, doc. citado
por Pereira da Costa, Anais pernambucanos, iv, p. 185. “Onde existia o palácio que hoje já não existe”, 1724, P. da Costa,
ibid., iv, p. 188. Foi reconstruído em modesta forma para Erário Régio.
531 Crê Pereira da Costa que parte do Palácio da Boa Vista (de que Franz Post dá o desenho divulgado no livro de
Barleo) foi aproveitado pelos carmelitas no convento, que lhe ocupou a antiga área.
532 Natural de Leide (1612–80) foi Franz Post o mais fiel intérprete, nas telas documentais, da natureza (com os
aspectos humanos) do Brasil holandês. De 44 delas nos dá reprodução fotográfica J. de Sousa-Leão, Frans Post, Recife,
1937 (v. também Garcia, nota a Varnhagen, ii, p. 373; Argeu Guimarães, Na Holanda com Franz Post, Rio, 1957). Possui
nove o Museu do Louvre, France et Brésil, pp. 50–1. Quanto ao outro pintor Thomas Thomsen, Albert Eckout: Ein
niederlandischer maler und sein göner Moritz der Brasilianer, Copenhague, 1938. No Museu Nacional de Copenhague,
sala Eckout, se guardam sete quadros grandes e dez pequenos, do artista, que trabalhou principalmente em 1643, sendo de
notar (anotamos na visita feita ao Museu, em 21 de julho de 1952) os retratos da bela africana, da mameluca de colar rico,
do menino e do chefe negro. D. Pedro ii fez copiar vários (para o Instituto Histórico). Lá se conservam alguns dos objetos
indígenas que serviram de modelo a Eckout, assim o nosso primeiro pintor-etnógrafo.
533 De Zacarias Wagener há desenhos em que predomina o pitoresco. Alemão, de Dresden, chegou a governador nas
Índias Holandesas (1614–68), v. O. Quelle, Zacharias Wagener und sein Brasilienwerk, in Ibero Amerikanisches Archiv.
Berlim: 1936, abril, n. 46. Não podemos incluí-lo entre os artistas da missão de Nassau. Foi amador e homem de armas.
534 Nassau retalhou o seu tesouro artístico, vendendo parte, em 1652, por 50 mil táleres, ao eleitor de Brandemburgo,
e dando outra, em 1679, a Luís xiv. V. Thomsen, op. cit., p. 177, e Mauritz der Brazilianer — Teutoonstelling — 7 de abril
– 17 de maio de 1953 — Haarlem (exposição de cujo comitê participou o ministro brasileiro J. de Sousa-Leão).
535 Traduzida por Mons. José Procópio de Magalhães, edição do Museu Paulista, São Paulo, 1942: História natural
do Brasil. A mais importante obra de história natural àquele tempo (Gudger), é título de glória para o primeiro naturalista
que no sentido moderno se ocupou da América, Carlos E. Chardon, Los Naturalistas en América Latina, p. 48, C. Trujillo,
1949. Segunda edição, 1658, enriquecida com as observações médicas de Piso e as astronômicas de Marcgrave, também
matemático e cartógrafo (cf. A. Taunay, pref. à trad. da Hist. nat., p. xxxiv), contém nos livros iii e iv a parte de
Marcgrave.
537 Traduzida por Mário Lobo Leal, História natural e médica da Índia Ocidental. Rio: Instituto Nacional do Livro,
1957, 5 livros.
538 Clássico holandês, reputado um dos grandes poetas da língua, dele reproduz Barleo dois discursos, op. cit., pp.
242 e 309.
540 V. José Antônio Gonsalves de Melo, Tempo dos flamengos, pp. 35 e ss.; C. R. Boxer, The Dutch in Brazil, cap. iv.
542 Carta de Alexandre de Sousa Freire, 28 de abril de 1669: “Vi a carta que V. S. me escreveu em 20 de janeiro
acompanhando a relação das fortalezas que há nessas capitanias: e a despesa que V. S. me diz se fez sempre com as ruínas,
que têm por serem as mais delas de torrão areento. E como a principal de todas é do Brum [...] estava o povo resolvido a
fabricá-la de pedra e cal”, Docs. hist., ix, p. 333. E em 19 de julho de 1670: “Recebi a carta de V. M.ce (engenheiro Antônio
Correia Pinto) com as plantas nova e velha da Fortaleza do Brum e estimei que tenha V. M.ce o merecimento de emendar
nela o que obraram os holandeses, etc.”, Docs. hist., ix, p. 372.
543 “Não é exagerado que se compute em mais de £15.000.000 o valor do açúcar distraído para os Países Baixos
durante a ocupação holandesa”. Cousa de £20 milhões, somando os demais efeitos mercantis, Roberto Simonsen, Hist.
econ. do Brasil, i, p. 181. Sobre o movimento em 1644, v. C. R. Boxer, ibid., pp. 277–9.
545 Henrique Henriques de Noronha, Nobiliário da Ilha da Madeira. Funchal: 1947, iii, p. 504. Este nobiliário não é
do fim do séc. xviii, mas de 1700, como se lê no frontispício do apógrafo.
546 V. José Antônio Gonsalves de Melo, João Fernandes Vieira. Recife: 1956, i, p. 15. “De uma mulher rameira a que
chamam a Benfeitinha e de um homem que lhe dão por pai, que foi ali degredado em título de ladrão”, doc. cit. pelo
mesmo autor, ibid., p. 15. Os papéis holandeses pormenorizam: “Sua mãe é uma negra e do seu pai não se sabe o
paradeiro”, ibid., p. 18. Já os portugueses, como Fr. Manuel Calado, aludem com respeito, “de nobre, ilustre e grave pai
nascido”, O valeroso Lucideno. Recife: 1942, pp. 122 e ss. O biógrafo duvida, com razão, do Nobiliário, no que se refere ao
nome primitivo, Francisco, trocado em João. Não há nenhuma confissão de Vieira, que aliás tanto escreveu de si, sobre a
razão ingênua ou maliciosa da mudança. A chave do mistério pode estar na circunstância de ser filho natural, egresso da
família, a adotar talvez o sobrenome da mãe pobre. O seu retrato no Castrioto lusitano aparece brasonado com as armas
de Ornelas e Monizes, Lima Breyner; e J. A. Gonsalves de Melo, ibid., p. 13: não é preciso mais, para confirmarmos a
paternidade. Porém sempre João Fernandes Vieira, o que parece implicar a ressalva da ilegitimidade.
547 Doc. in J. A. Gonsalves de Melo, ibid., i, p. 30.
548 Um dos raros vestígios deixados no Recife pelos holandeses (talvez por tolerância do próprio João Fernandes
Vieira, seu antigo sócio) é uma lembrança desse judeu flamengo. Consiste na estátua de um peregrino em pedra e o
dístico, Jacob Bish Ginea me — que estava na casa que fora dele à Rua da Cruz, casa que passou à propriedade de Vieira e
foi demolida quando da remodelação da cidade. Agora no Inst. Arqueológico Pernambucano. A figura (a indicar o sítio
da sinagoga ou a qualidade de rabino) ostenta um livro... Aliás a sinagoga daquela rua dos Judeus (da Cruz, em 1654) foi
dada por Francisco Barreto a Vieira, cf. Inventário das armas etc., p. 188, da 2ª ed.
550 Casou-se Vieira com D. Maria César, filha do madeirense Francisco Berenguer de Andrada e D. Joana de
Albuquerque, esta filha de Antônia da Rosa e Simoa, filha natural do velho Jerônimo de Albuquerque e Maria do Espírito
Santo Arcoverde (Borges da Fonseca, Nobiliarquia pernambucana, i, p. 465, ii, p. 227; Gonsalves de Melo, op. cit., i, p.
66). Leia-se também C. R. Boxer, The Dutch in Brazil, p. 105, passim.
551 Fr. Vicente, op. cit., p. 498; Pe. Serafim Leite, Hist. da Comp. de Jesus, iii, p. 112; Varnhagen, ibid., ii, p. 405.
552 Capitães: Pedro da Costa Favela, Bento Rodrigues de Oliveira (também naturais do Brasil) e Aires de Sousa
Chichorro.
553 Morreu de doença, não em combate (é o que se depreende dos docs. publ. pelo Pe. Serafim Leite, ibid., iii, p. 109).
555 V. Diogo Lopes de Santiago, História da guerra de Pernambuco e feitos memoráveis do Mestre-de-campo João
Fernandes Vieira. Recife: 1943, caps. xxv e xxvi, 2ª ed.
556 Obras escolhidas. Lisboa: Clássicos Sá da Costa, iii, p. 35, pref. e notas de Antônio Sérgio e Hernâni Cidade.
Também no papel de 1647 sobre a compra de Pernambuco, ibid., iii, p. 25.
557 Nieuhof, Memorável viagem marítima e terrestre ao Brasil, trad. de Moacir N. Vasconcelos, p. 88.
560 “Sermão de São Roque”, 1644, anotado na edição definitiva, Serm., viii, p. 79. — Veja-se Brasilische Gelt-Sack.
Waer in dat Klaerlijck vertoont wort waer dat de Participanten Van de West-Indische Comp. haer Geltl ghebleben is.
Gedruckt in Brasilien op’t Reciff in de Bree-Bijl, Anno 1647 (vimos os ex. da Livraria do Congresso, de Washington, e
John Brown Library). Dado como impresso no Recife; mas não consta houvesse tipografia holandesa no Brasil, Wätjen,
op. cit., p. 38; v. Lawrence C. Wroth, A History of the Printed Book. Nova York: 1938, p. 178. Informa-nos sobre os
contratos que a insurreição interrompera, nomeia os contratantes, e acusa João Fernandes Vieira de “grande traidor”.
Pedira em 1641 redução de sua dívida. O total ia a 38 mil florins. Saiu essa obra dos prelos de Holanda, Alfredo de
Carvalho, Anais da imprensa periódica pernambucana. Recife: 1908, p. 27.
561 Outra atitude de Vieira concordante com as doutrinas então correntes foi a sua apologia do 5º Império, que por
esse tempo Menasseh-ben-Israel pregava, como augúrio da pacificação messiânica, v. Julius H. Greenstone, The
Messianic Idea in Jewish History. Filadélfia: 1945, p. 218.
563 Mendes dos Remédios, Os judeus portugueses em Amsterdã. Coimbra: 1911, p. 52; Arnold Wiznitzer, in Anais da
Bibl. Nac., lxxiv, p. 216, 1953. Não esqueçamos que Gaspar Dias Ferreira também induziu Van Baerle a escrever o seu
livro. Estivera pela primeira vez no Brasil em 1618. Amigo de Nassau, ajudou a diplomacia portuguesa a demovê- lo de
nova comissão na América. V. também José Antônio Gonsalves de Melo, Tempo dos flamengos, pp. 295 e ss.; Arnold
Wiznitzer, The Minute Book of Congregations Zur Israel of Recife, vol. xlii de American Jewish Historical Society, 1953.
565 Ms. no Arq. Hist. Col., Lisboa, Papéis avulsos, inéd. O governador, para antecipar a agressão, dos 7 mil homens
que viriam na próxima frota, talvez sobre a Bahia, mandou desfechar a insurreição, que subterraneamente se preparava
no Nordeste.
566 Da patente do Mestre-de-campo Antônio Dias Cardoso, 4 de maio de 1650: “E na aclamação da liberdade
daquelas capitanias ser o sujeito que mais trabalhou descobrindo segredo às pessoas que lhe pareceu para o ajudarem”,
Docs. hist., xviii, p. 326. V. biografia que lhe dedicou José Antônio Gonsalves de Melo, Recife, 1954,
567 Das Ementas de habilitações, Bibl. Nac. de Lisboa: “Nicolau Aranha Pacheco filho de Pedro João Aranha e Clara
Fernandes de Faria; avós paternos João Fernandes Aranha e Brites d’Eça naturais de Regalados e Arcos de Val-de-Vez,
com fama cristãos-novos por esta parte, não teve efeito a mercê, em 19 de julho de 1644”, p. 90. Distinguira-se na defesa
da cidade contra Nassau, Miralles, ibid., p. 40. Chegou a ser nomeado governador de Pernambuco em 1658. Sua mulher
foi a benemérita D. Francisca de Sande, a quem alude Rocha Pita, Hist. da Amér. Port., p. 310. Sucedeu a Martim Soares
Moreno como mestre-de-campo, patente de 22 de abril de 1648, doc. ms. Arq. Hist. Col., Lisboa.
569 V. Joan Nieuhof, Memorável viagem marítima e terrestre ao Brasil, trad. de Moacir N. Vasconcelos, p. 108.
570 Fernandes Gama, Mem. hist. de Pernambuco. Recife: 1844, ii, p. 144.
571 Carta de João Fernandes Vieira, 30 de dezembro de 1645, Boletim do Arquivo Histórico Militar. Vila Nova de
Famalicão: 1943, xiii, p. 3. Prometera Vieira construir, se ganhasse a batalha, uma capela em honra da Senhora do
Desterro. Ganhou e cumpriu.
572 Joan Nieuhof, op. cit., p. 138. Confirma Diogo Lopes de Santiago, a propósito da rendição de Hoogstraten e
entrada para o serviço de Portugal no Forte de Nazaré.
573 Entre esses capitães: Pedro Duarte, que “acabou a vida de mau trato que padeceu na jornada”, Docs. hist., xxii, p.
41; Francisco Gil de Araújo, futuro donatário do Espírito Santo e poderoso sujeito da Bahia; Estêvão Pereira de Bacelar,
meirinho da Relação, Docs. hist., xxv, p. 99; Gaspar de Sousa de Carvalho, que chegou a sargento-mor, Docs. hist., xxxii,
p. 50; João Alves Soares, indicado na genealogia de Fr. Jaboatão, Rev. do Inst. Hist., li, p. 246, tio do homônimo escritor e
poeta.
574 V. Clado Ribeiro Lessa, Salvador Correia de Sá e Benavides. Rio: 1940, p. 38, passim; Diogo Lopes de Santiago,
História da guerra de Pernambuco, p. 362.
575 Publ. na Rev. do Inst. Arqueol. Pern., v, n. 34, pp. 86–9; e Garcia, nota a Varnhagen, Hist. ger., iii, p. 25.
576 Leia-se C. R. Boxer, Salvador de Sá and the Struggle for Brazil and Angola. Londres: 1952, pp. 208–9.
578 Cartas de el-Rei D. João iv ao Conde da Vidigueira. Lisboa: Acad. Port. da Hist., 1942, ii, p. 6. Esta
correspondência, divulgada pelo embaixador português em França, tinha por fim inocentar o rei fazendo recair a culpa de
resistência a suas instruções no governador (que não se fazia ouvir dos rebeldes) e destes (surdos às admoestações da
Coroa), na guerra por conta própria.
579 Diogo Lopes de Santiago, ibid., p. 340. E carta dos mestres-de-campo a Antônio Teles, in Cartas de D. João iv ao
Conde da Vidigueira, ii, p. 9, com tradução italiana, Successo della guerra de’ portoghesi sollevati in Pernambuco..., que
vimos em New York Library, col. Lenox.
580 A patente é de 6 de outubro de 1645, Calado, Valeroso Lucideno, pp. 247–54; Varnhagen, ibid., iii, p. 29.
581 D. Maria de Melo casou-se em segundas núpcias com João Batista Accioli, Borges da Fonseca, Nobil. Pern., in
Rev. do Inst. Arqueol. Pern., n. 65, p. 148. De Van-der-Ley descende a grande família deste apelido. V. Garcia, nota a
Varnhagen, ibid., iii, p. 34.
582 Nieuhof, op. cit., p. 198; Diogo Lopes de Santiago, ibid., p. 372.
584 P. N. Netscher, Les Hollandais au Brésil, p. 150. Hoogstraten assumiu o comando do batalhão holandês que
aderiu aos portugueses e esteve à frente do frustrado ataque a Itamaracá. Serviu lealmente. Foi confirmado no posto de
mestre-de-campo na Bahia. V. também Nieuhof, ibid., p. 189.
585 Diogo Lopes de Santiago, op. cit., p. 356. Foi considerável o armamento arrecadado. Ocorreu a 17 de agosto.
586 Diogo Lopes de Santiago, ibid., p. 384. Esse Tenente-coronel Haus foi mais tarde assassinado na Bahia. Em carta
ao governador de Pernambuco, 21 de abril de 1674, o da Bahia recomendou a prisão dos criminosos, “que mataram
Henrique Haus”, Docs. hist., x, p. 100. Sobre a rendição do Pontal, carta de Fernandes Vieira, 30 de dezembro de 1645.
587 Pero Poti fora, com Antônio Paraupaba, educado em Holanda, doc. cit. por José Antônio Gonsalves de Medo,
Tempo dos flamengos. Rio: 1947, p. 263. Chefiava os petiguares distribuídos pela Paraíba e Rio Grande, Nieuhof, ibid., p.
311. Tapuias eram os quiriris (ou janduís).
589 “Regedor dos brasilianos” na capitania do Rio Grande, acabou na Holanda, calvinista, com o nome ligado à
publicação de 1657, “Duas exposições ou demonstrações entregues aos muito poderosos senhores Estados-gerais por
Antônio Paraupaba”, José Antônio Gonsalves de Melo, op. cit., p. 265. Paraupaba ou antes Paraopeba, quiriri, talvez o
mesmo Waripeba, de Barleo (trad. port., p. 277), que lembra Baepeba, chefe quiriri de Sergipe, vencido por Cristóvão de
Barros.
590 Sobre a destruição da frota, Netscher, ibid., p. 150; Diogo Lopes de Santiago, ibid., p. 365.
591 São as moedas obsidionais (ou de necessidade) que primeiro se cunharam no Brasil. Nieuhof trata desse plano,
mas sem falar da fabricação de dinheiro, ibid., p. 247.
592 Nieuhof, ibid., p. 210; José Antônio Gonsalves de Melo, Tempo dos flamengos, p. 102, Rio, 1947: “A 17 (agosto)
começamos a demolir as casas da nova Maurícia”.
593 Netscher, ibid., p. 147. Chamavam-se os conselheiros (além de Schoonenborch), Michel van Goch, Simon van
Beaumont, Abraam Touwels e Hendrick Haecx, os dois últimos encarregados da tomada das contas da Companhia no
Brasil.
594 Nieuhof, ibid., p. 269. Sucedeu-lhe o Almirante Banckert, ou Joast van Trappen, que se notabilizara na batalha
das Dunas (1639).
595 Atas da Câmara da Bahia, ii, p. 291. Fez a câmara solene promessa de missa anual em honra de Santo Antônio.
597 Atas da câmara, ii, p. 328. Trata-se do forte real (sic) reedificado pelo Conde das Galveias, no século seguinte.
598 Das Baleias se chamou a ponta depois que João Francisco, em 1624, arrematou o respectivo contrato e aí se
instalou, “na mesma língua de terra em que hoje se acha edificada a cidade”, Ubaldo Osório, A Ilha de Itaparica. Bahia:
1928, p. 21. Descreve-a Fr. Vicente do Salvador: “Outros foram em uma nau à ponta da Ilha de Itaparica, chamada a
ponta da Cruz e, depois de carregarem de azeite ou graxa de baleia”, Hist. do Bras., p. 528. O Forte de São Lourenço foi
construído no local das trincheiras de Segismundo, “na ponta de Taparica”, Atas da câmara, ii, p. 382, ano de 1648, “de
torrão, e reedificado no começo do século imediato”, Brás do Amaral, nota a Accioli, Mem. hist., ii, p. 298.
599 A Câmara da Bahia aludiu ao “cerco” em que ficava, Atas da câmara, ii, p. 340, e mandou o vereador mais velho,
Domingos Barbosa de Araújo, representar a el-rei sobre esta situação. Aliás não chegou a viajar. Para auxiliar a armada
que viesse socorrê-la, subscreveram os moradores 50 mil cruzados, Atas, ii, p. 356.
600 Cartas do Padre Antônio Vieira. Coimbra: 1925, i, p. 246, ed. J. Lúcio d’Azevedo.
601 Fora comissário-geral da cavalaria e distinguira-se na defesa da Bahia contra Nassau, Docs. hist., xvii, p. 266.
603 A fome já era sensível na Bahia, Docs. hist., iii, p. 16, abastecida por mar, pois as farinhas eram das vilas do Sul,
razão por que Segismundo insistia em depredar as povoações do recôncavo, a fim de impedir que de lá saíssem os
suprimentos que não podiam atravessar a barra. O auxílio que o governador reclamou de São Paulo devia vir pelo sertão,
cartas de 8 e 21 de novembro de 1646. Levou-o o Capitão Antônio Pereira de Azevedo (200 paulistas e 2 mil índios),
Taques, Nobiliarquia, ed. A. Taunay, p. 259. V. carta do governador a D. João iv, 15 de dezembro de 1647, in Brasília, ii, p.
592. Além da ação de 10 de agosto, feriram-se na ilha várias sortidas, em que se destacou Bernardo Pereira Ravasco, irmão
do Padre Vieira, Garcia, nota a Varnhagen, iii, p. 55, Alberto Lamego, in O Jornal, Rio, 2 de fevereiro de 1930.
604 Carta ao Conde de Ericeira, 23 de maio de 1689, e J. Lúcio, op. cit., i, pp. 113–4. Aliás a capitania da Bahia
prometeu 200 mil cruzados para a armada, carta de Vila Pouca, fevereiro de 1648, Docs. hist., iii, p. 20. Este dinheiro foi
tomado aos moradores de porta em porta, Atas da Câmara da Bahia, iii, p. 10, e o bispo emprestou 58 mil cruzados para
os aprestos do regresso, quantia que se mandou pagar à sua sobrinha D. Micaela da Silva, em 1665, Docs. hist., xxii, p.
321.
606 Filho do mordomo-mor de Filipe iii, Luís da Silva Teles e neto materno do Conde de Vimieiro, pertenceu o de
Vila Pouca ao Conselho de Guerra, Pe. Antônio Carvalho da Costa, Corografia portuguesa, ii, p. 212. Passara à Índia duas
vezes. Foi capitão de Diu e general das armadas de alto bordo; e governou a Índia após a morte do Vice-rei Pedro da Silva,
até a chegada do Conde d’Aveiras. Depois do governo do Brasil, D. Antônio Caetano de Sousa, História genealógica da
Casa Real, v, p. 231, Lisboa, 1745, foi alferes-mor na coroação de Afonso vi e vice-rei da Índia em terceira viagem. Faleceu
a bordo, em 1657. O título de conde é de 1647, Sanches de Baena, ibid., ii, p. 757.
607 Garcia, nota a Varnhagen, iii, pp. 84–5, resumindo a Correspondência de Sousa Coutinho, ed. E. Prestage,
Coimbra, 1926. Sobre Gaspar Dias Ferreira, o amigo de Nassau (e de Barleo), curiosa figura de tratante internacional, v.
Pereira da Costa, Anais pernambucanos. Recife: 1952, iv, pp. 388–9. Lisboeta, em Pernambuco em 1618, casou com a filha
da viúva D. Isabel Cardoso, senhora de engenho, e aderindo aos holandeses, se beneficiou com o confisco de várias
propriedades, entre estas a do Mosteiro de São Bento da Paraíba... Condenado na Holanda como traidor, em 1646, fugiu
da prisão e foi acolher-se a Portugal, sob a proteção de D. João iv. Aí se achava em 1652.
611 José de Miralles, op. cit., p. 145; e D. Francisco Manuel, Epanáforas, p. 592.
612 Correspondência, pp. 160–1. Veja-se, aliás, a de Antônio Teles para D. João iv, ainda em dezembro de 47 e
janeiro de 48, em que mostra a sua alegria pelo insucesso de Segismundo, obrigado a largar Itaparica (Cartas de João iv ao
Marquês de Niza, citadas) — e não deixam supor o falado ressentimento do rei, contra o governador.
613 Filho de Manuel Alves, nasceu em Pernambuco, formou-se em 1633, Francisco Morais, Estudantes da
Universidade de Coimbra nascidos no Brasil, p. 15, Coimbra, 1949, casou com a irmã do Padre Vieira, D. Leonarda, e em
sua companhia, de um filho e quatro filhas, desapareceu num cruel naufrágio, Cartas, ed. J. Lúcio, ii, p. 247, em 1663.
Acrescentou ao nome Deus-Dará, Docs. hist., iv, p. 220.
614 Epanáforas, p. 592. Sobre o motim que precipitou a nomeação do general (contra Fernandes Vieira), Diogo Lopes
de Santiago, ibid., p. 542.
615 Nasceu em Callao, Peru, 1616, e faleceu em Lisboa em 1688, Garcia, nota a Varnhagen, iii, p. 108. “Havendo ido
servir àquela conquista (Brasil) como soldado particular e com as poucas assistências de um filho natural de pai não
demasiadamente rico”, diz Pedro Severim de Noronha em D. Afonso vi, ed. E. Brasão, p. 187. Reivindicou porém a quinta
da Quarteira alegando “foi sempre brasão maior de meus pais e avós”, Docs. hist., iv, p. 403. Não assinava Meneses, como
aparece no nome paterno, Anais da Bibl. Nac., lviii, p. 119. Há retrato seu na Galleria degli Uffizi, Florença, cuja cópia o
Visconde de Paraguaçu ofereceu à Câmara da Bahia. V. também P. Calmon, Francisco Barreto, Lisboa, 1940.
616 Em carta de 19 de maio de 1648 conta Filipe Bandeira de Melo (que viera com o general) a detenção e a fuga,
dizendo que o filho do carcereiro roubou as chaves ao pai, ms. no Arq. Hist. Col., Lisboa. Tomou-o Barreto sob a sua
proteção. Subiu Francisco de Brá aos maiores postos da hierarquia militar e casou na aristocracia baiana, Jaboatão, Cat.
gen., tít. de Brá. Era “de Roterdã, filho de Jaques de Brá natural da mesma cidade e D. Ana de Brá, da cidade de Nantes”,
Livro de irmãos da mis. da Bahia, termo de 24 de julho de 1674, ms. inéd. Barreto proclamou-o “instrumento da minha
liberdade”, Docs. hist., xix, p. 176. Foi alferes no Arraial de Bom Jesus, patente de 26 de outubro de 1652, capitão em 53,
Antônio Joaquim de Melo, Biografias de alguns poetas e homens ilustres da província de Pernambuco. Recife: 1856, i, pp.
112–3; sargento-mor, 27 de novembro de 68. Esteve nas duas batalhas dos Guararapes, Docs. hist., xxx. Aliou-se à família
Góis de Araújo, com numerosa descendência.
617 Carta de Francisco Barreto, considerada por Varnhagen, História das lutas com os holandeses no Brasil, p. 347 da
nova edição, Bahia, 1955, documento capital para o episódio, publ. também por Alberto Lamego, in Documentos dos
arquivos portugueses que importam ao Brasil, n. 2, e que preferimos ler na cópia que acompanha as Cartas de D. João iv
ao Conde da Vidigueira, ii, p. 258 (corrigindo vários enganos da transcrição de Varnhagen).
618 V. Varnhagen, Hist. do Bras., iii, p. 60.
619 A colocação paralela dos exércitos nos montes, um em frente ao outro (sendo dos portugueses a elevação onde
está, votiva, a Igreja da Senhora dos Prazeres), foi evidentemente em seguida ao primeiro desbarato da vanguarda
holandesa, quando, surpreendida, desfez a marcha em coluna e procurou espalhar-se, protegendo-se, pelas ladeiras. Não
se repetiu a manobra do monte das Tabocas: ao contrário, os flamengos tiveram momentaneamente a superioridade do
terreno — de que não puderam usar. André Vidal de Negreiros diz ter tido a iniciativa da vanguarda, carta de 12 de maio
de 1648, inédita, revelada por Virgínia Rau, in Brasília. Coimbra: 1955, ix, p. 346.
620 V. Diogo Lopes de Santiago, op. cit., p. 628. Da batalha há quadros sem exatidão histórica que se repetem,
datados de 1709 (da Câmara de Olinda, figurando Tabocas e Guararapes, hoje no Museu do Estado), 1787 (tetos da Igreja
da Conceição do Recife) e 1801 (tábuas do coro da Igreja da Senhora dos Prazeres de Guararapes, atualmente no Instituto
Arqueológico Pernambucano).
621 Mapas in R. Garcia, nota a Varnhagen, iii. pp. 76–8. Em carta a Salvador de Sá descreveu o governador-geral mais
ou menos o que Barreto mandara dizer ao rei, na citada carta. Quanto às perdas portuguesas, de 20 soldados pagos e 40
moradores, Docs. hist., iv, p. 435, segundo uma fonte, de 70 mortos e 300 feridos, conforme Bandeira de Melo, ms. cit.,
cifras que Barreto eleva e diminui para 80 e 400, respectivamente. Das bandeiras tomadas, guardou Barreto a dos estados
e enviou 19 para a Bahia. As outras, índios e pretos, não lhes dando importância, dilaceraram, “para bandas e outras
galas”, carta de Barreto, Cartas de D. João iv, ii, p. 260; e de Vidal de Negreiros in Brasília, ix, p. 347. Este diz que os
holandeses levavam libambos e grilhões, para prenderem os escravos retomados...
622 Vieira, Cartas, i, p. 222. Quanto a Henrique Haus, como dissemos, não morreu. Em 1674 foi assassinado na
Bahia.
623 No mesmo ano em Paris publicou-se, na Gazette, “Défaite des hollandais dans le Brésil”. Leia-se também General
Lobato Filho, As duas batalhas de Guararapes. Recife: 1939, pp. 11 e ss., com croquis.
625 Carta de Lanier (representante de França), 6 de agosto de 47, atribuindo (com razão) ao Padre Vieira a sugestão,
J. Lúcio d’Azevedo, O Padre Antônio Vieira julgado em documentos franceses. Coimbra: 1928, pp. 9–10.
626 Cartas, iii, p. 610. V. a contestação a Vieira do licenciado Manuel de Morais, Anais do Museu Paulista, i, pp. 123–
8.
628 V. Antônio Vieira, Obras escolhidas. Lisboa: Clássicos Sá da Costa iii, pp. 29 e ss., pref. e notas de Antônio Sérgio
e Hernâni Cidade.
630 V. Hernâni Cidade, no prefácio ao 3º vol. das Obras escolhidas do Pe. Vieira, citado, p. xxi.
631 V. Correspondência de Francisco de Sousa Coutinho, ii, p. 192. Correu que o embaixador, depois de prometer
entregar Pernambuco, escrevera ao rei: “V. M., Senhor, salve a sua honra desaprovando o que eu fiz em seu nome:
sacrifique a sua cabeça e não aquela praça”, Afrânio Peixoto, História do Brasil. Porto: 1940, p. 119. A versão está próxima
da verdade. Note-se que fracassadas as negociações de França e Holanda foi Vieira encarregado de agenciar em Roma o
casamento do príncipe herdeiro D. Teodósio com a Infanta Maria Teresa (depois mulher de Luís xiv), filha de Filipe iv de
Espanha — em 1650. Reunir-se-iam os reinos tendo Lisboa como capital... Dessa embaixada nos dá notícia no sermão de
1695 dedicado (na Bahia) ao primeiro filho del-Rei D. Pedro, Sermões, xv, p. 104. Quanto ao “papel forte”, resumiu-o
incompletamente Vieira na citada carta ao Conde de Ericeira, 23 de maio de 1689, dizendo que nunca pensara na entrega
do Brasil, tendo sido o rei que mandou pusesse por escrito o arrazoado..., J. Lúcio, ibid., i, pp. 155–6.
633 “Sermão de Ação de Graças”, 1695, Sermões, xv, p. 112. Esteve Vieira na Haia de 18 de abril a julho de 46, quando
pôde ler a patriótica missiva do infante (que morreu preso em Milão, em 1649).
635 Vereação de 2 de abril de 48. Disse Salvador ter despendido de seu 12 mil cruzados. Sobre a expedição, Luís
Norton, A dinastia dos Sás no Brasil, pp. 47 e ss. Gustavo Barroso, “O Brasil e a Restauração de Angola”, Anais da Acad.
Port. da Hist., vii, 1947; Arquivos de Angola, n. 8, pp. 119 e ss., outubro de 1944; e C. R. Boxer, op. cit., pp. 257 e ss.
636 C. R. Boxer, ibid., p. 256. Mas não destaca a parte essencial que teve na resolução de Salvador a ordem do
governador-geral, Docs. hist., iv, pp. 432–8.
638 Carta de Vila Pouca in Cartas de D. João iv ao Conde da Vidigueira. Bahia: 9 de janeiro de 48, ii, p. 238.
639 Em carta ao Embaixador Luís Pereira de Castro, explicou D. João iv: “Ordenei a Francisco de Souto Maior
quando o enviei a governar aquele reino escolhesse um porto com sítio a propósito para fundar uma cidade em que
estivesse e em que pudesse continuar seu governo como dantes se fazia em Luanda, fez ele diligência na conformidade
desta ordem, e fundou Quicombo”, Eduardo Brasão, A restauração, p. 358. Fica ao norte de Luanda.
640 Os que quiseram servir a Portugal (como em Pernambuco) foram aceitos, ata de 20 de agosto de 48, Arquivos de
Angola, n. 8, p. 31.
641 Elias Alexandre, História de Angola, i, p. 264; Silva Rego, ibid., carta do Pe. Antônio do Couto. Diz Camilo,
Serões de São Miguel de Seide, p. 78; “Na quinta do Ruivão, no teto repartido em muitos painéis, viam-se pintadas as
façanhas de Salvador Correia de Sá em guerra contra os holandeses antes e depois da restauração de 1640. O genealógico
Manuel de Sousa da Silva diz que as pinturas foram mandadas fazer por Manuel Correia de Lacerda que sucedeu na Casa
e Senhoria de Faralaens e aqui morreu em 13 de novembro de 1695”. O título de Visconde de Asseca que teve seu filho
Martim de Sá “levava referência aos serviços de Salvador, a quem as mercês não estiveram na medida dos trabalhos”.
Veremos que voltou a governar as capitanias do Sul (1659–62). Entre as publicações do centenário da restauração de
Angola, v. Discursos e alocuções, Luanda, 1948 e “Salvador Correia”, conf. lida na Sociedade de Geografia de Lisboa pelo
Visconde de Asseca (1907), Luanda, 1948.
642 Há curiosa gravura mostrando a recepção que a Rainha Ginga deu em 1622 em Luanda ao Governador João
Correia de Sousa, cf. Relation Historique de l’Ethiopie Occidentale, do Pe. Labat, Paris, 1732. Os seus estados, segundo
mapa de 1657, reproduzido na História da expansão portuguesa no mundo, iii, Lisboa, 1940, ficavam entre os reinos de
Mucoco e do Dongo, ou seja, no sertão angolês, chamado geralmente de Congo. V. Gastão de Sousa Dias, in Hist. da
expansão port., iii, pp. 206 e ss. Sobre a Rainha Ginga e o folclore, Pedro Calmon, História do Brasil na poesia do povo,
pp. 70–1, Rio (citando Gustavo Barroso, Ao som da viola, Rio, 1921) e Bocage, Poesias, i, p. 350, ed. Rebelo da Silva,
Lisboa, 1853, que lembrava: “Prole se aclama da Rainha Ginga”. Também Aires de Sá, Um dogma antigeográfico. Lisboa:
1928, p. 34. Ainda nas congadas do Ceará e de Minas Gerais se repete: “Veio matar rei meu senhor,/ Que mandou Rainha
Gino!”.
643 V. carta do Conde de Castelo Melhor, Docs. hist., iii, p. 38: “Quando tomei posse do governo e me achei com a
Fazenda Real no mais apertado extremo em que nunca se viu [...] na queima dos engenhos”. Sobre Cornelis van den
Brande — que lutou nas duas batalhas de Guararapes, v. C. R. Boxer, op. cit., pp. 264–5.
644 Rodolfo Garcia, nota a Varnhagen, Hist. ger., iii, p. 131. Sobre o pessimismo que continuava a existir em
Portugal, C. R. Boxer, ibid., p. 228.
645 Cartas de D. João iv, inéd., publ. por Eduardo Brasão, Revista dos Centenários, Lisboa, dezembro de 1939 (arq. da
Casa de Tarouca). A Francisco Barreto não escapara a importância de suas duas vitórias. Na igreja votiva de Guararapes
há a lápide seguinte, datada de 1656: “O mestre-de-campo-general do Estado do Brasil Francisco Barreto mandou em
ação de graças edificar à sua custa esta Capela à Virgem Senhora dos Prazeres com cujo favor alcançou neste lugar as duas
memoráveis vitórias contra o inimigo holandês, a primeira em 18 de abril de 1648 em domingo da Pascoela véspera da
dita Senhora, a segunda em 18 de fevereiro de 1649 em uma sexta-feira e ultimamente em 27 de janeiro de 1654 tomou o
Recife e todas as mais prassas que o inemigo pesuhiu 24 annos”. (Inscrição copiada no local, 2 de fevereiro de 1940). Em 4
de agosto de 1942 foram trasladados para esta igreja os restos de João Fernandes Vieira e de André Vidal de Negreiros,
cujas urnas tinham sido reconhecidas em 1939, v. Culto aos heróis dos Guararapes, Recife, 1942. O Serviço do Patrimônio
Histórico e Artístico Nacional, atendendo ao apelo do Instituto Arqueológico Pernambucano, mandou tombar a área da
batalha, com isto impedindo a desfiguração do terreno em volta da igreja. Observe-se que depois da segunda batalha
houve um motim contra o general, que mandou justiçar sete soldados, como escreveu ao rei em 1650, A. Lamego,
Mentiras históricas, p. 144.
649 Funcionou a Junta até 1720, quando a extinguiu D. João v, determinando que lhe fizesse as vezes o Conselho da
Fazenda, de modo a correr pelos armazéns da Coroa a armação das frotas, que passaram a constar de duas naus de guerra
para a Bahia, duas para o Rio de Janeiro, uma para Pernambuco, Rocha Pita, op. cit., p. 166.
651 Foi o 1º Visconde de Fonte Arcada: Mestre-de-campo-general, do Conselho de Guerra, General da Armada de
Sabóia, General da Armada do Mar Oceano, agraciado com altas mercês, v. Sanches de Baena, Famílias titulares, i, p. 595;
Pe. Antônio Carvalho de Sousa, Memórias dos grandes de Portugal, pp. 359 e ss.
652 V. D. Antônio Carvalho de Sousa, Memórias dos grandes de Portugal, pp. 359 e ss.
654 Miralles, op. cit., p. 146. Seu filho, o 3º conde, foi o grande ministro de Afonso vi, em cujo serviço entrara como
reposteiro-mor pelo casamento com uma sobrinha do Conde de Odemira, Vida del-Rei D. Afonso vi, Camilo, p. 23. Ao
sobreviver a Restauração estava o 2º conde em Cartagena, na América, para onde o lançara um temporal, vindo para o
Brasil, em 1640.
655 A luta que se feriu entre Holanda e Inglaterra (1650–1) não impediu a navegação flamenga para o Brasil (C. R.
Boxer, The Dutch in Brazil, p. 236), porém a tornou precária. Desde então, entre Portugal e os Estados-Gerais se levantou
a terceira força: a inglesa.
656 A última esperança estava nos corsários, que lograram apresar quatro navios da segunda frota da Companhia
Geral do Comércio, quando os principais esforços de Holanda se concentravam na guerra com os ingleses. Leia-se como
informação do que ocorria no Recife sitiado, Conferência sobre as Índias Ocidentais, de H. Overmeer, notas de Clado
Ribeiro Lessa, Rio; e a síntese de C. R. Boxer, op. cit., pp. 226–7.
657 A relação de Francisco de Brito Freire, divulgada por Virgínia Rau, vem in Brasília. Coimbra: 1955, ix, pp. 193–
205. Entre os capitães dessa frota restauradora estava João Calmão (sic), ibid., ix, p. 196, que em 1655 também figura entre
os passageiros da armada de Brito Freire (Viagem da armada da companhia do comércio e frotas do Estado do Brasil.
Lisboa: 1655, ed. Santos, 1950, por Costa e Silva Sobrinho, p. 19) — a mesma que trouxe, exilado, D. Francisco Manuel de
Melo, e é tronco da família deste apelido no Brasil. — O autor da História da guerra brasílica, Lisboa, 1676, Francisco de
Brito Freire, seria encarregado pelo Príncipe D. Pedro ii de levar preso à Ilha Terceira o rei deposto, D. Afonso vi. V.
biografia por M. Lopes de Almeida, in Brasília, ix, p. 137. Não deve confundir-se esse ilustre cabo-de-guerra com o
homônimo (aliás M. Lopes de Almeida indica essa duplicidade de nomes, in Brasília, ix, p. 133) neto de Estêvão de Brito
Freire, doc. in vol. cit., p. 179. No Catálogo genealógico de Fr. Jaboatão, tít. Britos Freires, desfaz-se a dúvida. É a respeito
da dilapidação dos bens deste, na Bahia, pelo filho Gaspar, que transcreve Pegas, Comment. ad Ord., xiii, lib. 3, pp. 41–2,
a carta régia, que fez jurisprudência, determinando o processo de pagamento aos credores sem prejuízo da movimentação
do engenho de açúcar (Também Anais da Bibl. Nac., Rio, v, p. 227).
658 D. Francisco Manuel, Epanáfora triunfante (ed. de 1676) noticia com primores de estilo as confabulações de
Olinda e os sucessos subseqüentes. Leia-se como documento-base a relação citada, de Francisco de Brito Freire.
659 De Pernambuco passaram-se muitos à Guiana, Antilhas, Nova Amsterdã. Imitaram em Surinam os processos
industriais do Brasil. V. J. Lúcio d’Azevedo, História dos cristãos-novos portugueses. Lisboa: 1922, p. 434.
661 Um desses canhões, com as iniciais da Companhia das Índias Ocidentais, e o dístico de Middleburg, está no
Museu Histórico Nacional (Rio). Conhecem-se mais dois, no Instituto Arqueológico e no Museu do Estado, Recife, v.
Inventário das armas e petrechos bélicos, etc., Recife, 1939 (reimpressão de opúsculo de 1838).
662 Natural de Pernambuco, serviu 15 anos na Armada Real e veio, como dissemos, adido à pessoa de Francisco
Barreto (patente de 20 de dezembro de 1646), Borges da Fonseca, Nobil. Pern., i, p. 185. Com ele foi preso e fugiu, dando-
nos, com sua carta de 19 de maio de 1648, a mais palpitante notícia dessas peripécias, ms. no Arq. Hist. Col., Lisboa,
Papéis avulsos. Sua irmã Maria de Melo foi mulher de Jerônimo Cadena de Vilhasanti, de quem diremos.
663 Cabedelo foi tomado por Ambrósio Luís de Lapenha, Docs. hist., xxi, p. 20.
664 Carta ao rei, 26 de junho de 1675, Bol. do Arq. Hist. Mil., xiii, p. 9.
665 Ms. no Arq. Hist. Col., Lisboa, Papéis avulsos, ms. inéd.
667 “Plataforma da Camboa, no distrito da Patatiba, uma das de mais importância que mandei fazer na boca dos rios
do Recôncavo”, patente de 20 de março de 1651, Documentos históricos, xxxi, p. 89.
670 Gaspar Rodrigues Adorno é filho de Afonso Rodrigues de Cachoeira, o herói das lutas de 1624–5, Jaboatão, Cat.
gen., p. 77. Os índios mataram-lhe um irmão em 1639, Pedro Calmon, História das bandeiras baianas, p. 85. Nasceu
Gaspar em 24 de junho de 1624, Aristides Milton, “Efemérides Cachoeiranas”, Rev. do Inst. Hist. da Bahia, n. 27, p. 73.
672 B. do Amaral, notas a Accioli, ii, p. 111. V. íntegra nos Anais do Arq. Públ. da Bahia, xv, pp. 5–21.
673 Carta de Castelo Melhor, 6 de abril de 52, Docs. hist., iii, pp. 155 e 160.
674 Rocha Pita, Hist. da Amér. Port., 2ª ed., p. 459. Foi homem de grande fortuna, Documentos históricos, xxiii, p.
126.
675 Carta de 24 de jan. de 1656, Códice Atouguia, ms. na Bibl. Nac. Como ouvidor foi Simão Álvares ao Rio de
Janeiro apurar as responsabilidades do levante contra Salvador Correia, Varnhagen, iii, p. 255. Morreu no mar, indo para
o reino com a mulher (irmã de Antônio Vieira) e seus filhos, como escreveu o jesuíta, em 1671: “Outro cunhado e outra
irmã com cinco filhos que ficaram sepultados no mar”, Cartas, i, p. 140. E em 14 de setembro de 1655, defendendo do
confisco, a título de empréstimo, os bens deixados pelo magistrado, Cartas, i, p. 341.
676 Há uma consulta do Conselho da Fazenda, de 1636, que nos revela “fragatas de guerra que estavam fabricando os
senhores de engenhos e lavradores” da Bahia, Anais da Bibl. Nac., lviii, p. 210. Sempre estiveram ativos os estaleiros do
Recôncavo. Mas, em carta de 26 de abril de 51, mandou o governador ao capitão-mor de São Vicente que lá fizesse o
galeão, Docs. hist., iii, p. 104. O primeiro mestre “da Ribeira que ora se forma” foi Pedro Gonçalves, 31 de julho de 1655,
Docs. hist., xviii, p. 405. Ensinou a sua arte aos hábeis operários baianos. Cantou Gregório de Matos “o famoso galeão São
João de Deus” ali construído, Obras, ii, p. 83.
677 No Forte de São Marcelo (do Mar) há a lápide comemorativa do fim das obras, no governo de Vasco Fernandes
César de Meneses, 1728. Conserva a arquitetura primitiva. Chamava-se então Nossa Senhora del Popolo, “que novamente
se fundou no surgidouro dos navios”, como diz o termo do Capitão Francisco Monteiro Bezerra em 1665, Livro de
posses, ms. no Arq. Públ. do estado da Bahia. Em 1664 o rendimento das Baleias já podia ter outra aplicação, B. do
Amaral, nota a Accioli, ii, p. 121. V. p. 1036.
678 8º Conde de Atouguia, v. Pe. Antônio Carvalho da Costa, Corografia portuguesa, iii, p. 105. Foi um dos filhos da
heroína D. Filipa de Vilhena: pela mãe armado para a Restauração, em 1640. Regressando ao reino tomou o partido de D.
Afonso vi, com o Conde de Castelo Melhor (filho) e o Bispo D. Sebastião César: o célebre “triunvirato”, de 1662. Ao favor
em que estava deveu certamente a carta régia de 23 de janeiro de 1665, que lhe mandou pagar 1:200$000 de propinas dos
contratos que deixara de receber como governador-geral”, Docs. hist., xxii, p. 90. O Regimento que trouxe para o governo
era idêntico ao de Antônio Teles da Silva e datado de 30 de outubro de 1653.
680 Dirigiu Pedro Gomes, tendo às suas ordens Gaspar Adorno, a abertura de uma estrada para o Orobó em 1657, P.
Calmon, História das bandeiras baianas, p. 86.
686 Chegou em 14 de outubro de 58. Calheiros era sujeito de sessenta anos, v. Afonso Taunay, História geral das
bandeiras paulistas, iv, p. 325. Seus segundos foram Fernando de Camargo e Bernardo Sanches de Aguiar. Sobre o
Regimento que lhe deu o governador, Anais do Museu Paulista, iii, p. 294; e P. Calmon, Hist. das band., p. 88. Antes de
Barreto, o Conde de Castelo Melhor — carta de 22 de maio de 1651 — quisera os serviços do paulista Francisco
Fernandes Preto “que em São Paulo foi muitas vezes ao sertão e é grande língua” e se achava em Boipeba, Docs. hist., iii,
p. 110.
688 Docs. hist., v, p. 170. Das “proezas” dos paulistas trata o Padre Vieira, Cartas, ii, p. 630. Os jesuítas conseguiram
aldear os paiaiases logo depois, Pe. Serafim Leite, Hist. da Comp. de Jesus, v, p. 279, Rio, 1945: aldeia de Camamu.
689 Cap. 28 do Regimento de 1727, in Códice Galveias, ms. na Bibl. Nac., Rio de Janeiro, inédito.
690 Já nas Epanáforas, p. 612 (edição de 1676) explicou o vocábulo D. Francisco Manuel: “Caboclos”, “assim chamam
uns a outros os índios da terra, e nós usamos o mesmo nome”. Alvará de 4 de abril de 1775 proibiu que se chamasse
caboucolos aos mestiços.
692 “Estes fortes da Bahia (que são umas plataformas mal fechadas e os melhores como são os do Terreiro do Paço de
Lisboa, e os costumam guardar esquadras de seis e quatro soldados) não são capazes de se arvorarem neles semelhantes
estandartes”, Docs. hist., iv, p. 253.
693 Docs. hist., iv, p. 225. V. também Waldemar Matos, A Fortaleza de Nossa Senhora del Popolo, Bahia, 1954.
694 Doc. de 1667, ms. no Arq. Hist. Col., Papéis avulsos, n. 2.215, inéd.
695 O palácio conservou a primitiva arquitetura, que lembra a do palácio dos Condes de Almada, em Lisboa, até
1890. A construção atual seguiu-se ao incêndio de 1912.
696 A nova arquitetura do Paço Municipal data de 1882 e o desfigurou. Na fachada, a lápide: “Reinando el-Rei D.
Afonso vi mandou fazer este edifício à custa da cidade Francisco Barreto do Conselho de Guerra e G. G. do Estado do
Brasil. 1660”. Indício de um período de grandes construções urbanas é outra pedra numa fachada à ladeira do Pau da
Bandeira, ali perto: “Louvado seja o Santíssimo Sacramento e a Imaculada Conceição da Virgem Senhora Nossa
Concebida sem Pecado Original. Ano 1658”. Provém esta inscrição da carta régia de 30 de junho de 1654, que mandou
pôr em todas as portas e entradas das cidades tal oferenda à Senhora da Conceição, Pe. Moreira das Neves, Revista dos
Centenários, n. 19, julho de 1940, Lisboa — invocação predileta de D. João iv na sua igreja de Vila Viçosa.
697 No local pedra comemorativa: “Reinando el-Rei D. Afonso vi se reformou este forte por mandado do capitão-
general deste estado Francisco Barreto. Ano 1659”. O engenheiro foi provavelmente o francês Pedro Gracin, que o
governador mandara vir do Recife em 1657, Docs. hist., xix, p. 246. Serviu como engenheiro do Estado do Brasil até 1660
(v. nota seguinte).
698 Na relação inédita de Francisco de Brito Freire sobre a restauração de Pernambuco, 1654, se lê: “Vinha Pedro
Gracin, francês de nação, em que concorriam todas aquelas partes, com intento de passar a descobrir as minas de
esmeraldas que se dizia haver no sertão de São Paulo”, Brasília, doc. comentado por Virgínia Rau. Coimbra: 1955, ix, p.
197. “O Capitão Pedro Garcim (sic) que serve de engenheiro [...] porquanto não tem esta Praça engenheiro de profissão
que possa suprir sua falta continuando com a obra do Forte do Mar que está principiada, porque a não ser esta de tanta
importância a este porto tivera concedido licença ao dito engenheiro para se ir para França donde é natural”. 3 de
setembro de 1659, Docs. hist., xx, p. 107. Serviu até 1660, ibid., xx, p. 309. Outro francês, Filipe Gitão (1647–57), vindo
com o Conde de Vila Pouca de Aguiar, foi seu antecessor na função. Pedro de Lescolles fizera em 1650 a planta do Rio de
Janeiro. A presença desses engenheiros inclui-se entre os auxílios dados pela França a D. João iv, na luta com a Espanha.
700 Sobre Schomberg em Portugal, v. também Henry Bordeaux, Marianna: La Religieuse Portugaise. Paris: 1934, pp.
71 e ss. Veremos, a propósito do governador de Pernambuco alcunhado de “Xumberga”, a notoriedade do general
tedesco.
701 Mémoires de Monsieur d’Ablancourt, envoyé de S. M. très-chrétienne Louis xiv en Portugal. Amsterdã: 1701, p.
6. “A despesa que el-Rei de França fazia com sua gente naquele ano de 664 chegava a 400 mil cruzados”, diz o autor de D.
Afonso vi, p. 218 (ed. E. Brasão), que assim confirma Voltaire, Siècle de Louis xiv. Paris: 1845, p. 87. Este manuscrito (D.
Afonso vi) publicado em 1940 por Eduardo Brasão, como sendo de Antônio de Sousa de Macedo (que com tal atribuição
estava na Biblioteca da Ajuda) é de Pedro Severim de Noronha, cf. Afonso Pena Júnior, Crítica de atribuição de um
manuscrito da Biblioteca da Ajuda. Rio: 1943, p. 71; e no mesmo sentido em Portugal, Gastão de Melo de Matos,
Panfletos do século xvii, pp. 89, 130 e 132.
702 Armando Marques, Aliança inglesa, p. 204; E. Brasão, op. cit., p. 373; Varnhagen, Hist. ger., iii, pp. 261–2; Carlos
Azevedo, in Rev. da Faculdade de Letras, Univ. de Lisboa, t. xxii, 1956, pp. 262 e ss.
703 Prov. de Francisco Barreto às capitanias, 1662, Docs. hist., iv, pp. 97–9. Fato curioso, o imposto não deixou mais
de ser cobrado, e persistia, depois da independência, em... 1830, Varnhagen, op. cit., iii, p. 264. O Senado da Câmara da
Bahia queixou-se em 8 de julho de 1693 de já ter pago a Cidade... 1.280.000 cruzados da Paz de Holanda, Livr. de atas,
ms., no Arq. Municipal da Bahia.
704 Docs. hist., vi, p. 229. Outra representação de Atouguia, ibid., vi, p. 242.
705 Na Bahia foram de início presos os Conti, o clérigo Bernardo Taveira e João de Matos, Docs. hist., vii, p. 92 e lxvi,
196; mas em seguida, beneficiados com 2 mil cruzados e tratamento obsequioso, Docs. hist., xxi, p. 8. Matos morreu aí
assassinado, Garcia, nota a Varnhagen, iii, p. 296. “Foi morto à traição por Jorge Seco de Macedo”, Docs. hist., lxvi, p. 289,
que veremos implicado na conjura de 1666, sobrinho do chanceler da Relação, Docs., cit., lxvi, p. 227.
707 D. Afonso vi, p. 81. A nova junta foi presidida pelo Conde de Atouguia, Deputado Antônio de Miranda
Henriques e Desembargador João Leite de Aguilar, pela nobreza, e João Guterres, Manuel Martins Medina, Gaspar
Gonçalves de Souto, pelo comércio, além de Manuel Ferreira, pelo povo (dec. de 23 de novembro de 1662).
708 Vieira, “Sermão de São Roque”, Sermões, viii, p. 80. A Companhia foi dissolvida por D. João v, em 1720.
709 Patente in Docs. hist., xx, p. 93 e doc. in L. Norton, A dinastia dos Sás, p. 62.
711 Brás do Amaral, nota a Accioli, ix, p. 120; Docs. hist., xx, p. 98. O mineiro Jaime Commere a esse tempo fez
pesquisas em São Paulo, porém teve morte desastrada, que os rebeldes do Rio, em 1660, imputaram aos Correias...
Quando escrevia as Notícias curiosas e necessárias das cousas do Brasil, diz o Pe. Simão de Vasconcelos, p. 60, Lisboa,
1668, Salvador Correia preparava a expedição do Espírito Santo.
712 Capitão da companhia que formou em Lisboa para acompanhar o pai, 16 de setembro de 1658, foi nomeado
governador para a descoberta das minas do Espírito Santo, 11 de março de 1660, Docs. hist., xxi, p. 41. Também Paulo
Prado, Paulística, p. 127. Esteve mais tarde na Índia, donde voltou preso, e homiziou-se em casa do Núncio, Vieira,
Cartas, iii, p. 319, ed. J. Lúcio.
713 O Conde de Óbidos, prov. de 15 de dezembro de 1663, notou que não se sabia do rendimento dos quintos do
ouro, em São Paulo, nem de sua escrita, Docs. hist., xxi, p. 256. Os rebeldes do Rio, em novembro de 1661, disseram que o
administrador-geral das minas, Pedro de Sousa Pereira, com os estancos de várias mercadorias, comprava ouro, para
mandá-lo a el-rei “com título de que era rendimento dos quintos”, Registo da Câmara de São Paulo, iii, p. 9.
714 Em 24 de setembro de 1658 escreveu o governador-geral: “As do Cabo Frio (donde também houve uma cidade,
que ou pelo clima, ou por outros acidentes, se não conservou) são hoje da Coroa”, Docs. hist., iv, p. 346. E em 1664, o
Conde de Óbidos: “Nela houve uma cidade de que não existem mais que as poucas casas que V. S. diz, tem, ruína a que
chegou pela invasão dos franceses e vizinhança dos bárbaros goitacases [...] e houve omissões em edificar”, Docs. hist., v,
pp. 27–8. Bernardo Vieira Ravasco foi alcaide-mor de Cabo Frio, 1664, Docs. hist., xxi, p. 282. Continuaram a ser
nomeados os capitães de infantaria da ordenança da cidade de Assunção do Cabo Frio, por exemplo, Docs. hist., xii, p.
184.
717 Alv. de 23 de maio de 1658, Docs. hist., iv, pp. 84–92. Os matadores eram Manuel Pinheiro Caldeira, Antônio da
Silva, Hierônimo Dias, Antônio Fernandes, Francisco de Arruda, cf. regimento que levou o ajudante. Tais documentos
completam a narrativa de Alberto Lamego. Aliás o Conde de Castelo Melhor, em carta de 25 de novembro de 1650, se
referia à fundação da vila e fazia votos “venha a ser uma muito grande cidade”, Docs. hist., v, p. 26. O Conde de Atouguia
nomeou o Capitão Palma, “capitão dos Campos dos Guytacazes”, 7 de dezembro de 1655, Docs. hist., xxxi, p. 180.
Confirmou-o Francisco Barreto, 18 de setembro de 57, Docs. hist., cit., p. 214.
718 Carta do Conde de Atouguia, 25 de janeiro de 1656, Docs. hist., iv, p. 282.
719 Docs. hist., iv, p. 346. Em carta de 1º de dez. de 1674, Afonso Furtado mandava libertar o ouvidor da Paraíba (sic)
preso no Rio, Docs. hist., x, p. 434. A capitania do Cabo Frio compreendia os Campos de Goitacases, Docs. hist., x, p. 435.
Pertencia-lhe também o distrito de Saquarema que teve capitão de infantaria em 1671, Docs. hist., xii, p. 185.
720 O 1º donatário, Visconde de Asseca, faleceu em 1674, sucedendo-lhe o filho, 2º visconde, Salvador Correia, cujo
tutor foi o general seu avô, A. Lamego, op. cit., i, p. 122. A este se seguiu, em 1692, o 3º visconde, Diogo Correia, que
vendeu a capitania, em 1710, ao Prior Duarte Teixeira Chaves.
722 Alberto Lamego Filho, A planície do solar e da senzala. Rio: 1934, p. 34.
723 “[...] Rio de Janeiro, que com a retirada dos moradores de Pernambuco se fizeram à beira-mar e pelos rios e
donde se acharam mais comodidades, engenhos de açúcar com que aquela capitania se fez maior e mais opulenta que
todas as deste Estado, que tem hoje 150 engenhos e se fora melhor governada fora mais grandiosa”, Petição de pessoas da
Bahia, 20 de junho de 1662, ms. in Arq. Hist. Col., Lisboa. Respondendo a este exemplo, retrucou Bernardo Vieira
Ravasco: “Pois basta [...] a experiência dos do Rio de Janeiro, donde enquanto não houve mais de 60 ou 70 engenhos se
embarcavam daquela capitania cada ano para Portugal 14 a 15 mil caixas de açúcar e depois que houve 150 ou 170 pouco
mais ou menos, não chegaram a fazer todos 9 mil”. Porque os canaviais não atendiam ao número de fábricas, ms. no
mesmo arq., Papéis avulsos, inéd.
724 Por morte de Salvador de Brito Pereira (1651), pai do beato João de Brito, hoje santo da Igreja — assumira o
governo Antônio Galvão, Docs. hist., xxxiii, p. 256: cuidou da defesa da praça, pois voltara a falar-se de ataque holandês.
Sucedeu-lhe D. Luís de Almeida (1650) e em 1656 Tome Correia de Alvarenga “na substituição de Lourenço de Brito
Correia que não tomou posse, Docs. hist., cit., p. 275. Assim interino, o primo de Salvador Correia (escreveu-lhe
Francisco Barreto, em 26 de fevereiro de 1658: “Com a falta de provisões de Lourenço de Brito Correia me resulta não
alterar esse governo até nova ordem de S. M”) passou a este o governo, em 1659, Docs. hist., xxxiii p. 285. Em 1656
revoltou-se o povo contra o aumento dos impostos, Rev. do Inst. Hist., tomo especial, i, p. 27 (1956).
725 Pedro de Sousa Pereira foi provedor da Misericórdia em 1675. Teve morte violenta, carta de 1693, Docs. hist.,
xxxiv, p. 188.
726 Sargento-mor por prov. de 7 de fevereiro de 1656, Docs. hist., xxi, p. 67.
728 Os amotinados de 1660 atribuíram o crime a Tomé Correia de Alvarenga e seu cunhado, que supliciaram
Jerônimo Camelo, portador das cartas de Costa Barros para um desembargador da Relação da Bahia, Alberto Lamego, A
terra Goitacá. Bruxelas: 1913, i, p. 75. A luta evidentemente travara-se em torno da permanência do governador interino,
que os adversários dos Sás queriam afastar: sabiam que ele guardava o lugar para o primo, ainda mais temido.
730 Agostinho Barbalho era o primogênito do Mestre-de-campo Luís Barbalho, Jaboatão, Cat. gen., p. 311. Soldado
desde 1633, acompanhara o pai ao Rio de Janeiro, e nos episódios de 1660–1, se mostrou homem de honra, leal a el-rei,
motivo por que o Conde de Óbidos o recomendou ao governador do Rio de Janeiro, em 4 de abril de 1665, como pessoa
da confiança de S. M., Docs. hist., v, pp. 48–9. Recebeu como prêmio a capitania da Ilha de Santa Catarina (provisão de 4
de fevereiro de 1664), como diremos.
731 Carta de Agostinho Barbalho ao governador-geral, 15 de dezembro de 1660, Docs. hist., v, p. 124.
732 Docs. hist., xxxiii, p. 286; descrição da “bernarda” em Vieira Fazenda, Rev. do Inst. Hist., cxlii, p. 498.
733 Pedro Taques, Informação sobre as minas de São Paulo, p. 92 (ed. A. Taunay); Registo geral da Câmara de São
Paulo, iii, p. 5.
734 Doc. transcrito por Luís Norton, A dinastia dos Sás. Lisboa: 1943, pp. 333–4.
736 Salvador dera como pretexto ir ver umas madeiras para o galeão que mandara fazer para el-rei na Ilha do
Governador (onde ficou o nome de Ponta do Galeão): o Padre Eterno, no depoimento do inglês Barlow o maior do
mundo, conforme O mercúrio português.
738 V. Alberto Lamego, op. cit. e A. Taunay, História geral das bandeiras paulistas, v, p. 302. Fr. Jaboatão,
confundindo Jerônimo e Agostinho Barbalho, Catálogo genealógico, p. 311, diz que o degolado foi este. Se parentes, era
distante o parentesco, v. Borges da Fonseca, Nobiliarquia pernambucana, i, p. 38; e Varnhagen, Hist. ger., v, p. 319.
739 Carta de 10 de maio de 1661, Docs. hist., v, p. 131. Em 10 de abril (tardiamente) escrevera Salvador ao rei pedindo
que se abrisse devassa, ms. na Bibl. pública do Porto, inéd. Agostinho Barbalho estava na Bahia em 29 de abril, Docs. hist.,
v, p. 129. O govenador-geral temia que a justiça da Bahia fosse parcial, Docs. hist., v, p. 136.
740 Empossou-se Melo em 29 de abril de 62, R. Garcia, nota a Varnhagen, v, p. 319; Docs. hist., v, p. 170. Em Lisboa,
“Luís da Silva Teles fora desterrado por ter tirado do navio em que viera do Brasil preso a um parente de seu sogro
Salvador Correia de Sá e Benavides”, D. Afonso vi, p. 45, ed. E. Brasão. Era Tomé Correia, cf. doc. in Luís Norton, ibid., p.
331. Este retornou ao Rio e foi em 1671 provedor da Misericórdia, cf. Félix Ferreira, A Santa Casa da Misericórdia
Fluminense. Rio: 1898, p. 112. Sobre os sucessos de 1660, Vieira Fazenda, Rev. do Inst. Hist., cxliii, pp. 20 e ss.
741 Prova o desfavor em que ficou Salvador Correia a dissolução da companhia de infantaria de seu filho João
Correia, Docs. hist., v, p. 170.
742 D. Afonso vi, pp. 147–8. Outro incidente que indica a prevenção del-Rei Afonso vi com os Sás foi o que sucedeu
ao se travarem de razões criados de João Conti e do próprio soberano e os de Martim Correia de Sá, 1º Visconde de
Asseca, filho do velho Salvador Correia, Catástrofe de Portugal na deposição de D. Afonso vi, 1669, v. Alberto Lamego, A
terra Goitacá, i, p. 84. Sobreviveu-lhe o general. Faleceu em 1688. Sepultado na sacristia dos carmelitas de Lisboa, a lápide
do seu túmulo dizia: “Aqui jaz Salvador Correa de Sá e Benavides, senhor do couto de Pena Boa e das vilas de
Tanquinhos, Arripiada e Asseca, restaurador da fé e de xpto nos reinos de Angola Congo Benguela São Tomé vencendo
os holandeses e comprou essa sacristia com missas e sufrágios perpétuos pede a quem ler este letreiro o encomende a
Deus”. Alberto Rangel em 1910 procurou em vão essa pedra, desaparecida com tantas outras relíquias desse tempo. V.
também José Maria Antônio Nogueira, Esparsos. Coimbra: 1934, pp. 518–30.
746 Chegou a Lisboa a 14 de novembro de 1663, com “cinco navios cuja principal carga de açúcar, tabaco e outras
drogas se dizia ser sua contando-se-lhe o cabedal por centos de mil cruzados e havendo ido servir àquela conquista como
soldado particular”, D. Afonso vi, p. 187. Ainda em 1687 era Francisco Barreto presidente da Junta do Comércio Geral, T.
do Tombo, Chanc. de D. Pedro ii, liv. 64, f. 230.
747 O palácio do Conde de Óbidos em Lisboa, sobre a rocha do seu nome, diz bem do fausto de D. Vasco. V. Portas
brasonadas de Lisboa, desenhos de Alberto Sousa, pref. de Júlio Dantas.
748 D. Afonso vi, ed. E. Brasão, pp. 52–3. O Conde de Óbidos empossou-se em 26 de junho de 1663. Vice-rei da
Índia, 1652–3 fora “lançado e embarcado pelos moradores de Goa a título de descontentamentos”, carta do rei, 18 de
agosto de 1654, in Um diplomata português da Restauração, Antônio da Silva e Sousa, p. 25, Bibl. Nac., Lisboa, 1940; e
Teixeira de Aragão, Descr. geral e hist. das moedas, iii, p. 234.
749 Documentos históricos, iv, p. 115. Lembrava a decisão do Marquês de Montalvão e depois de Antônio Teles da
Silva, para que nenhuma patente, provisão ou alvará del-rei ou donatário se executasse antes do “cumpra-se” dado pelo
governo-geral na Bahia. Em carta ao governador do Rio de Janeiro, de 23 de outubro, explicou; “Achei as cousas deste
estado tão demasiadamente confusas e a jurisdição deste governo tão sem limite despedaçada; que para se tornar a unir e
restituir o governo a aquele ser em que se deve conservar e que el-rei meu Senhor quer que o Brasil tenha, etc.”, Docs.
hist., v, p. 465.
750 Regimento de 1º de outubro de 1663, Docs. hist., iv, pp. 118–24; e Registo geral da Câmara de São Paulo, iii, pp.
137–41. Seguiu-se a 24 de outubro o Regimento para a cobrança do donativo do dote da rainha de Inglaterra e paz de
Holanda: consolidação das normas relativas à contabilidade do fisco no Brasil. Veio em seguida o Desembargador João de
Góis de Araújo, aliás natural da Bahia, “encarregado da arrecadação das dívidas da Fazenda Real”, prov. de 5 de abril de
1667, Docs. hist., xxiii, p. 231.
752 Docs. hist., ix, p. 221. No mesmo sentido, carta ao Capitão João Batista Pereira, ibid., p. 226. E para o capitão-mor
do Pará: “Sou afeiçoado do chocolate; e sobre esta razão menos importante assenta a principal de ser útil ao Brasil
transplantar-se a ele a fruta do cacau”, ibid., p. 227, prova de que já então se conhecia no Pará e no Maranhão, e
possivelmente é desse tempo o início da plantação na Bahia, onde se realizou a profecia do vice-rei: “Felicidade sua [...]”.
Histórico da respectiva lavoura, in Leo Zehntner, Le Cacaoyer dans l’État de Bahia. Berlim: 1914, p. 34. O Pe. João Filipe
Bettendorf levou em 1674 sementes do Pará para o Maranhão e tinha três anos depois 2 mil pés de cacau, Pe. Serafim
Leite, op. cit., iv, p. 159.
753 Docs. hist., vii, p. 248. Pregara nas exéquias o prior dos carmelitas, Fr. Joseph do Espírito Santo e dirigira a
música o licenciado Pe. Francisco Luís, Docs. hist., vii, p. 252.
754 Portaria de 8 de julho de 1666: “Foi recluso e preso (o Desembargador Jorge Seco) pela culpa que resultou da
devassa que pelo Juízo Eclesiástico se havia mandado tirar, em que saiu culpado na conjuração que Lourenço de Brito
Correia intentava”, Docs. hist., vii, p. 254. Em carta de 6 de agosto, Arq. Hist. Col., Papéis avulsos, deu o conde notícia a
el-rei do sucedido, enviando seis pessoas presas.
755 Portaria de 1º de janeiro de 1667: “Porquanto o Capitão Bernardo Vieira Ravasco [...] está impedido e preso há
mais de oito meses”, P. Calmon, O crime de Antônio Vieira, p. 111. O desfavor em que caíra o irmão do Padre Vieira é
sensível em vários documentos, Documentos históricos, lxvi, p. 166.
756 Frei Jaboatão, Cat. gen., p. 228, diz que a conjura era para prender o conde, e figuraram nela Francisco Teles de
Meneses, Lourenço de Brito, “o Queirós e Álvaro de Azevedo”. Meneses, mandado preso para o reino, voltou em
companhia do Governador Alexandre de Sousa Freire, em 1668. A provisão com que o rei integrou na patente de capitão,
de 3 de março de 1667, disse: “Desapossado dela sem culpa alguma o Conde de Óbidos pela presunção de um chamado
motim contra sua pessoa que se não provou”, Docs. hist., xxiii, p. 5. O Capitão Antônio de Queirós Cerqueira foi
restituído em 1668, Docs. hist., xxiii, p. 203.
757 Doc. in Brás do Amaral, nota a Accioli, ii, p. 129. — Haveria qualquer ligação entre o motim da Bahia e as
predições do Padre Vieira, recluso então em Coimbra e a responder perante o Santo Ofício — quanto ao ano de 666? V. J.
Lúcio, Hist. de Antônio Vieira, ii. — Damião de Lençóis teve, por sua mulher, filha do Coronel Francisco Pereira do Lago,
o famoso morgado de Santa Bárbara, na Bahia, Jaboatão, Cat. gen., tít. Pereiras do Lago. Sobre a sua carreira militar,
Docs. hist., iii, p. 196; Anais da Bibl. Nac., iv, p. 55; Miralles, Hist. mil., p. 45; Docs. hist., xxii, pp. 135–6.
758 Anais da Bibl. Nac., iv, p. 405. Bernardo Ravasco alcançou então justiça e favores, um dos quais a promessa de
que lhe sucederia no cargo de secretário seu filho Gonçalo Ravasco. Esse transtorno da fortuna indica a existência da
parcialidade, contrária à situação caída, e particularmente ao valido, Conde de Castelo Melhor. O Padre Vieira, no
panegírico da rainha, em 1668, Sermões, xiv, p. 359, dissera com severidade: “Então governava-nos quem não era rei; e
agora? Quem é mais que rei”.
760 Miralles, op. cit., p. 149; Accioli, op. cit., ii, p. 131. Sousa Freire fora governador da praça de Beja, mestre-de-
campo-general e ultimamente governador de Mazagão, cf. patente que o nomeou governador-geral do Brasil, de 15 de
maio de 1667, Docs. hist., xxiii, p. 7. Lisonjeou-o o poeta da Música do Parnaso, ed. da Academia, p. 165: “Em paga do
valor sempre aplaudido/ América governa venturosa”.
761 Em carta de 25 de maio de 1668, Alexandre de Sousa Freire avisou ao governador de Pernambuco: “[...] com
grande sentimento pela morte do General Francisco Correia da Silva que miseravelmente se perdeu com a sua nau em um
baixo uma légua desta cidade entrando os mais navios diante dele a salvamento e se afirma que se perderam mais de 500
pessoas escapando só 70 homens os mais deles marinheiros e um capitão aqui da terra. Morreu o Capitão Cristóvão da
Costa e os mais capitães e oficiais e pilotos e mestres”, Docs. hist., ix, p. 294. O naufrágio ocorreu nos parcéis do Rio
Vermelho, Docs. hist., vi, p. 92. O corpo do general foi recolhido pelo Mestre-de-campo Antônio Guedes de Brito e
sepultado na Igreja de São Francisco. Rocha Pita, que no-lo informa, engana-se, chamando João Correia da Silva o
governador nomeado, Hist. da Amér. Port., p. 274.
763 Patentes in Docs. hist., xxxi, p. 400, passim. Cartas do Conde de Óbidos com as mesmas prevenções, Docs. hist.,
vi, passim.
764 Em 25 de outubro de 1668 Francisco Barbosa Leal fora nomeado capitão do “distrito dos Campos do mesmo rio
da Cachoeira”, Docs. hist., xii, p. 5.
765 Assento tomado na reunião de 4 de março de 1669, Accioli, op. cit., ii, p. 32. O alferes chamava-se João de Uzeda
e Góis, P. Calmon, A conquista, p. 96.
766 Rocha Pita, op. cit., p. 276. O Capitão Manuel Barbosa de Mesquita Fidalgo da Casa del-Rei, acabava de servir na
Fortaleza de Nossa Senhora del Popolo (166), Docs. hist., xxii, p. 270. Foram mortas com o capitão 21 pessoas, Docs. hist.,
xxxi, p. 35.
768 Era do Porto, como sua filha Cecília Ribeiro, cf. Pe. Roque Luís Pais Leme da Câmara, Nobiliarquia, ms. na Bibl.
Nac. O governador-geral mandou dois barcos em que viesse de Santos, carta de 19 de set. de 1670, Docs. hist., vi, p. 1.488.
769 Cf. carta de Lisboa, 1682, sobre os serviços de Fernão Dias, Rev. do Arq. Públ. Mineiro, xix, p. 12. A Câmara da
Bahia, em ofício para el-rei, de 14 de agosto de 1671, comunicou a chegada dos paulistas, com quem despendera
10:724$800 até a partida para Cairu, Accioli, op. cit., ii, p. 132. Aliás cumpria o assentado em junta de 18 de julho de 1670,
Docs. hist., viii, p. 135.
771 Docs. hist., vi, p. 189. Partiram em 27 de agosto de 71, Docs. hist., ix, p. 434.
772 Em 18 de setembro de 1672 o governador retirou a pequena guarnição de Cairu, Docs. hist., viii, p. 109.
774 À partida e à chegada de Afonso Furtado dedicou sonetos Manuel Botelho de Oliveira, Música do Parnaso, ed. da
Acad. Bras., pp. 121–2. Trouxe Instruções, com 13 capítulos, datadas de 4 de março de 1671, códice ms. no arq. do Conde
dos Arcos, Lisboa, inéd.
775 Sousa Freire ficou mais um ano na Bahia, pois obteve, em 5 de agosto de 72, que se preferisse para carregar uma
sua fragata, Docs. hist., viii, p. 102. Patente do novo governador, Docs. hist., xxiv, p. 155. Tomou posse em 18 de maio, cf.
Livro de posses, ms. no Arq. Públ. da Bahia.
778 O Sr. Herman Kruse achou em setembro de 1939 a casa-forte da ponta do Guareiru cujas dimensões coincidem
com a de Gabriel Soares, descrita por Frei Vicente do Salvador. Em 6 de novembro de 1671 o governador mandara
Gaspar Dias, do Aporá, fintar os moradores, para que dessem cem alqueires de farinha “à gente da Conquista” na “casa-
forte”, Docs. hist., viii, p. 68. Precedera, pois, à “bandeira” de Estêvão Parente.
779 Cf. doc. cit. por A. Taunay, Hist. ger. das band. paul., v, p. 22.
780 Taunay, op. cit., v, p. 34. A prova da conquista está na sesmaria dada a Manuel de Hinojosa, “no boqueirão de
Guareiru até entestar no Rio de Paraguaçu”, 1673, Docs. hist., viii, p. 164.
781 Docs. hist., viii, p. 167. Arzão voltou a São Vicente “a uma diligência de grande importância”, em fins de 1674,
Docs. hist., viii, p. 205.
782 É a vila de João Amaro, Rocha Pita, op. cit., p. 282. O senhorio dela coube ao filho de Estêvão. “Pouco povoada
pela grande distância em que fica”, vendeu-a aquele ao Coronel Manuel de Araújo de Aragão, que obteve alvará del-rei
para ser capitão-mor a 7 de fevereiro de 1688, Docs. hist., xxix, p. 289.
783 “O São Francisco”, escreveu em pleno século xviii D. Domingos do Loreto Couto, “nasce das vertentes das
grandes serranias do Chile e Peru”, “Desagravos do Brasil”, Anais da Bibl. Nac., xxiv, p. 22. Uma consulta do Cons.
Ultram., 1698, era mais cautelosa: “Vai continuando o mesmo rio pelos sertões acima [...] que ainda hoje se ignora aonde
pára ou aonde principia”, Anais da Bibl. Nac., xxix, p. 24.
785 Docs. hist., p. 418. “V. M.ce me escreve que foi o primeiro descobridor das mesmas minas a que vou”, escreveu D.
João de Lencastro a Bento Surrel, 1694, Docs. hist., xxxviii, p. 328.
786 Docs. hist., xii, p. 210. É curioso lembrar que um tio de Afonso Furtado casou com a filha de D. Francisco de
Sousa, o “das manhas”, Pe. Antônio de Carvalho, Corografia portuguesa, ii, p. 369; evidentemente trouxera uma opinião
formada, sobre as minas... Veremos como lhe foi fatal; mas decisiva para os progressos do povoamento. Na Bahia teve a
devoção de N. S.a de Monserrate, como D. Francisco de Sousa: “[...] uma erisipela que me deu estando em Monserrate e
me não deixou acabar uma novena”, Docs. hist., x, p. 167. É o “Monserrate antártico” dos Apólogos, de D. Francisco
Manuel.
787 Dizia o Regimento de Roque da Costa, 1677, cap. 29; “O Governador Alexandre de Sousa Freire [...] me deu conta
terem-se descoberto as Minas de Salitre”, Docs. hist., vi, p. 380.
788 Pedro Calmon, História da Casa da Torre, p. 81. Podemos distinguir dos cariris do litoral ( janduís do Rio Grande
do Norte ou rodelas do baixo São Francisco) os jês do Piauí, a que pertenciam jeicós (vistos por Martius), entre os rios
Gurguéia e Itaim, e guegués (Vale do Alto Parnaíba), que parece serem os mesmos gurguéis ou gurguéias, do ramo Acroá,
v. Robert H. Lowie, in Handbook of South American Indians, i, pp. 477–517 (1946) e mapa, por Curt Nimuendajú. Que
não eram cariris os do Piauí, prova a hostilidade aos do São Francisco, aldeados sob a guarda da Casa da Torre. Na
conquista do novo território, como alhures, prevaleceu — manobrada pelo sertanista — a rivalidade natural das tribos
incompatíveis.
792 Em 23 de março de 1669, Docs. hist., xii, p. 22: “Os distritos desde o Xangô até o Sento-Sé e Jacobina estão sem
capitão e os moradores sem disciplina alguma”, foi a consideração exarada na patente do Capitão Domingos Rodrigues de
Carvalho, 4 de dez. de 1669, Docs. hist., xii, p. 70. Eram 45 os moradores de Jacobina; e um jesuíta fundou “aldeia de
nação Sapoia”, que em 1674 “com grande temor das tropas dos paulistas”, tendo por isto capitão, Docs. hist., xii, p. 306.
Somente no século seguinte, com os descobrimentos auríferos, Jacobina teria dignidade de vila. Jacobina... “Serra da
Jacuabina”, diz a Patente de Capitão de moradores naquelas “terras fronteiras do gentio bárbaro”, de 5 de abril de 1674,
Docs. hist., xii, p. 306, o que abona a etimologia proposta por Teodoro Sampaio, Rev. do Inst. Hist. da Bahia, vol. 54, p.
389: ya-cuâ-apina, lugar de cascalho limpo...
795 Patente de Lourenço de Matos, 16 de dez. de 75, Docs. hist., xii, p. 375: teve também a companhia de Jacobina, 17
de jan. de 1677, ibid., xii, p. 421. O morgado da Torre, em 1679, abrangia a margem do São Francisco entre o Rio Verde e
Penedo, Anais do Arq. Públ. da Bahia, xxi, p. 158.
796 Pat. de 1º de fevereiro de 1677, Docs. hist., xii, p. 428. Diz o Pe. Roque Luís: “Capitão-mor Francisco Dias de
Siqueira, natural e nº Cid. de S. P., chamado o Surdo, penetrou o sertão até a cidade do Maranhão, abriu a estrada para a
Bahia, e conquistou o Piauí com a Pat. dita. Potentado em arcos, fal. na Bahia com muito cabedal que herdou o juízo dos
ausentes”, Nobiliarquia, ms. na Bibl. Nac.
797 As grandes fazendas de Domingos Afonso passaram aos jesuítas e destes ao patrimônio nacional. O pioneiro
construiu (1704–11) o edifício do Noviciado da Companhia, hoje Colégio de São Joaquim. Sobre a participação de
Domingos Jorge Velho na conquista do Piauí, v. nota 19, (cap. xxv, “Negros e tapuias”, século xvii). Leia-se também
Carlos Eugênio Porto, Roteiro do Piauí. Rio: 1955, pp. 53 e ss.
798 V. descrição das capitanias, etc., Rev. do Inst. Hist., lxii, parte i, p. 83.
799 Rocha Pita, op. cit., p. 279: “Sendo do Piagui a maior parte do gado, que se gasta entre aqueles inumeráveis
habitadores e mineiros”.
800 V. Relation succinte et sincère de la mission du Pe. Martin de Nantes, prédicateur capucine, missionaire
apostolique dans le Brésil parmi les indiens appellés cariris. A Quimper chez Jean Serir, 1707. Aracapá dista 29 léguas de
Juazeiro e é eqüidistante da Cachoeira de Rodelas. Esses aramurus ajudaram os portugueses, contra os holandeses. Um
documento de 1794, relativo ao morgado de Antônio Gomes Ferrão, atesta que o seu bisavô, o Mestre-de-campo Pedro
Gomes, os comandara naquela guerra. — A aldeia dos aramurus foi mandada respeitar, a pedido do Pe. Audierne, em 23
de outubro de 1672, Docs. hist., viii, p. 117.
802 Patente de Manuel Homem de Almeida, Borges de Barros, Sertanistas e bandeirantes baianos, p. 140.
803 Consultas do Cons. Ultram., Bahia, ms. na Bibl. Nac. Em 1691 queixou-se o governador da decadência dessas
missões, que não aumentavam..., Rev. do Inst. Hist., lxxi, p. 43.
804 Ord. Reg., liv. 6, pp. 1.698–9, no Arq. Públ. da Bahia, ms. No século seguinte as aldeias dividiam-se: com os
franciscanos, Unhambu, Juazeiro, Pontal, Curral de Bois, Coripes, Sorobebé; e com os barbadinhos: Axará, Rodelas,
Pacatuba, Pambu, Varge, Uracapá, São Félix, Iraperá, São Pedro. O mesmo manuscrito, n. 3.757, de Marinha e Ultramar
(no Arquivo Histórico Colonial, Lisboa), descreve as condições da navegação de São Francisco, com a indicação de que se
tomava piloto na Fazenda do Sobrado, que foi de Domingos Afonso.
806 Pat. de 20 de outubro de 1677, Docs. hist., xiii, p. 17. A aldeia de Natuba não devia ser perturbada, pat. de 9 de
abril de 1678, Docs. hist., cit., p. 32.
807 Requerimento de João Amaro, 12 de jan. de 1696, Rev. do Inst. do Ceará, xxxvii, p. 46 (aí a folha de serviços de
pai e filho).
808 V. A. Taunay, Hist. geral, v, p. 330. A carta do príncipe informando sobre a missão de D. Rodrigo é de 28 de
junho de 1673. Da mesma data o alvará de nomeação. Docs. hist., xxv, p. 258. Pedro Taques dá o início dos trabalhos em
Itabaiana: 11 de julho de 1674, Taunay, ibid. De 28 do mesmo mês foi o Regimento que se lhe deu, códice ms. no arq. do
Conde dos Arcos, Lisboa, inéd. D. Rodrigo, fidalgo da casa real, era português, diz um dos testemunhos arrolados na
documentação publicada por Correa Luna, Campaña del Brasil, i, p. 78. Chamava-se sua mãe D. Catarina Correia
Galveia.
809 Carta do príncipe, 28 de junho de 1673, Docs. hist., lxviii, pp. 222–3.
812 Venceu Bento Surrel o soldo depois, de 1678 a 1685, Docs. hist., xxv, p. 263. Vivia na Bahia João Alvares
Coutinho, “com exercício de mais de vinte anos no reino do Peru”: mandou o príncipe acompanhasse a D. Rodrigo, carta
ao governador, 7 de dezembro de 1677, Docs. hist., xlvii, p. 247.
813 Apostila in Docs. hist., xxv, p. 266. Registada na Bahia em 17 de março de 1678. Jorge Soares levou como
ajudante-de-ordens João Carvalho Freire, patente de 22 de abril de 78, Docs. hist., xxvi, p. 388; e seguiu por terra, desde a
Bahia, Docs. hist., ibid., p. 291, em abril, enquanto D. Rodrigo só saiu em 24 de setembro do mesmo ano. É do Padre
Antônio Vieira o comentário: “Para as de Paranaguá se tem mandado novos ministros, que nada entendem daquele
mister, mas para si têm já descoberto e embolsado muita prata, pelos grandes salários que levam, com poderes sobre tudo
quanto há naquele estado”, Cartas, iii, p. 324, ed. J. Lúcio.
814 Em 1622, para 1.200 habitantes, Buenos Aires tinha 370 portugueses, R. de Lafuente Machain, Los Portugueses en
Buenos Aires. Buenos Aires: 1934, p. 86.
815 Os navios San Antonio, San Mateo, San Juan, Nuestra Señora de Nazareth ocupavam-se então desse tráfico, v.
Luis Enrique Azarola Gil, Los Maciel en la Historia del Plata. Buenos Aires: 1940, p. 28.
818 Voyage, etc., p. 545, Paris, 1615: “Je n’ai jamais vu pays ou l’argent soit si commun qu’il est en cet endroit du
Brésil, et y vient de la rivière de la Plata”.
819 Docs. hist., iii, p. 11. Toda essa moeda espanhola foi mandada contramarcar pelo alvará de 26 de fev. de 1643.
Nova contramarca se pôs à moeda do Peru, em 1652. A lei de 6 de junho de 1651 proibiu a circulação de patacos
peruanos, então muito falsificados.
820 Prov. de 1656 e 59. Salvador Correia propôs no Conselho de Guerra, em 17 de outubro de 1643, a abertura do
comércio com Buenos Aires, Luís Norton, in Brasília, ii, pp. 605 e ss.
825 A primeira notícia da invasão, que foi a 2 de novembro de 48, é do Pe. Mansilla, Taunay, Hist. geral, iii, p. 175.
Docs. in Anais do Museu Paulista, v, pp. 6 e ss., referem-se às invasões de 1647 e 48. “No ano de 649 partiram os
moradores de São Paulo”, disse Vieira, Cartas, i, pp. 408–9, ed. J. Lúcio d’Azevedo, que se referiu à bandeira de Antônio
Raposo Tavares. Dela fez completo estudo Jaime Cortesão, Raposo Tavares e a formação territorial do Brasil, Rio, 1958,
atribuindo-lhe planos transcendentes, conforme acreditava o Pe. Cristobal de Arenas, ibid., p. 285, e insinuara Vieira.
826 Acha Carvalho Franco que não é André Fernandes fundador da Paraíba, que fez testamento em 1641, op. cit., p.
86.
828 A. Taunay, Índios! Ouro! Pedras!. São Paulo: 1926, p. 12. Em carta de 1675, confirmou João Fernandes Vieira:
“Um capitão maior fulano Raposo, que entrou em São Paulo e saiu no Grão-Pará”, Bol. do Arq. Hist. mil., xiii, p. 9.
829 Anais da Bibl. Nac., doc. do Arq. Ultram., n. 1.888. Vacaria aparece nas “notícias utilíssimas à Coroa de Portugal
e suas possessões”, f. 695, Anais, cit., doc. 1.981.
830 A expedição de Pedroso Xavier constitui a mais avançada tentativa de aproximação portuguesa dos núcleos
castelhanos do Paraguai, e encareceu-a o capitão-general de São Paulo, em 1771, escrevendo ao governador do Paraguai
D. Carlos Morphy, Pereira Pinto, Apont. para o direito internacional, iii, p. 472; e Hildebrando Accioli, Limites do Brasil:
a fronteira com o Paraguai. São Paulo: 1938, p. 14.
831 Queixa anexa à carta do príncipe para D. Manuel Lobo, 23 de março de 1679, Documentos interessantes, Arq. do
Estado de São Paulo, xlvii, p. 25. Dessa incursão em Santa Cruz não nos fala Enrique de Gandía na sua História de Santa
Cruz de la Sierra, Buenos Aires, 1935. Mas o vice-rei do Peru confirmou: “[...] y con este ejercito llegando hasta la
población de Santa Cruz de la Sierra”, Docs. interessantes, cit., p. 27. Segundo o linhagista Pe. Roque Luís, Xavier “trouxe
cinco sinos da cidade da Concam, do Paraguai para S. P. e fal. a 19 de janeiro de 1680”.
832 Foi despachado em 21 de maio de 1664, Pedro Taques, Informações sobre as minas de São Paulo, p. 97. O Conde
de Óbidos, em carta ao governador do Rio, 4 de abril de 65, recomendou a empresa do “descobrimento das minas das
capitanias do Sul”, que se cometera a Barbalho, Docs. hist., vi, p. 48. Noutra (18 de dez. de 65, ao provedor da Fazenda no
Rio): “Ele (Barbalho) me escreve que de longe se haviam descoberto já pelos seus exploradores as serras das esmeraldas,
mas eu creio mais os desenganos que V. M. me dá de não haver no Brasil mais minas que o açúcar com as esperanças com
que eu fico de as descobrir”, ibid., p. 63. “Porque tudo isto de Agostinho Barbalho é um embeleco”, carta de 23 de
fevereiro de 64, ibid., p. 65. Por Pedro Taques sabemos que morreu no sertão do Espírito Santo, op. cit., p. 99. — V.
também Rev. do Inst. Hist., tomo especial, i, p. 30, 1956.
833 Pe. Serafim Leite, Jornal do Comércio, 5 de maio de 1935, “Uma grande bandeira paulista ignorada”.
834 Carvalho Franco, op. cit., p. 103.
837 Sobre Dias de Siqueira, A. Taunay, no Jornal do Comércio, 11 de maio de 1936. V. carta do governador-geral,
1693, Docs. hist., xxxiv, p. 86.
839 V. Basílio de Magalhães, Expansão geográfica do Brasil Colonial, 2ª ed., pp. 128–9. O Anhangüera mereceu o
apelido (diabo velho) pelo ardil de que se valeu com os goiases. Para amedrontá-los derramou aguardente no rio e ateou-
lhe fogo... Mas a primazia do embuste, segundo Pedro Taques, cabe a Francisco Pires Ribeiro.
840 Washington Luís, in Rev. do Inst. Hist. de São Paulo, viii, p. 98.
841 Rocha Pita, op. cit., pp. 282–4. O doc. seguinte mostra o equívoco de Calógeras, As minas do Brasil, p. 449 (v.
Taunay, Hist. ger., v, p. 327), que atribui a Melchior da Fonseca Saraiva o caso do capitão-mor de Paranaguá.
842 Docs. hist., vi, p. 282. Reforçava a crença... “por me haver escrito isto também Fernão Dias Pais que de uma libra
de pedra de Pernaguá que lhe fora à mão tirara trinta réis de prata do valor antigo. Mas ainda que não duvido da certeza
[...]”. É possível que a pressa em mandar o filho fosse o seu propósito de mostrar à corte que sem D. Rodrigo de Castelo
Branco as minas iam sendo descobertas. Quando partiu João Furtado, o administrador-geral minerava em Sergipe! Outra
carta, dizendo que Paranaguá seria o novo Potosi, foi do capitão de Santos, Sebastião Velho de Lima, de 30 de maio de
1674, Paulo Prado, Paulística, p. 123.
845 Antônio Correia Pinto, que morreu heroicamente na Colônia do Sacramento — servira primeiro, como
engenheiro, no Alentejo, e em 1670 em Pernambuco, tendo a patente de capitão ad honorem em 16 de outubro de 1674,
Docs. hist., xxvi, p. 265. A exaltação do governador documenta-se com este trecho de carta, para Frei João de Granica: “E
será justo que assim como muitos portugueses deram muitos milhões nas minas do Potosi, aos príncipes de Castela, dê
também um castelhano, muitos nas de Pernaguá ao de Portugal”, Docs. hist., x, p. 454.
846 De Roma, 14 de novembro de 1674, escreveu Vieira: “Obrigado dos corsários de Argel dera à costa um patacho
da Bahia, em que vinha o filho do Governador Afonso Furtado, o qual, com alguns outros, escapara do naufrágio,
havendo-se perdido as cartas, e tudo o mais que traziam, que eram principalmente as amostras de três minas novamente
descobertas naquele estado, uma de ouro, outra de prata, e a terceira de esmeraldas. [...] Parece que se pode assim coligir
de o governador, que é homem sisudo, mandar seu filho com este alvitre”, Cartas, iii, p. 120, ed. J. Lúcio d’Azevedo. V. a
carta do governador a Agostinho de Figueiredo, Docs. hist., x, pp. 446–7. “Fizeram dar à costa na altura da Ericeira e
milagrosamente saiu à praia (João Furtado de Mendonça) com vida para dar notícia a S. A. que seu pai por ele mandava
de se descobrirem... minas de prata e de esmeraldas”, Monstruosidades..., iv, p. 26.
847 Rev. do Inst. de São Paulo, v, p. 184. Em 30 de março de 1622 protestou a Câmara de São Vicente contra a ordem
de Martim de Sá, para descer “certa cópia de gente da Laguna e Vila de Santa Catarina”, “limites desta capitania”, Revista,
cit., v, p. 186.
849 V. Osvaldo R. Cabral, Laguna e outros ensaios. Florianópolis: 1939, p. 16; Alberto Lamego, A terra Goitacá, i, p.
62.
850 Romário Martins, História do Paraná, p. 258. Eleodoro morava no Rio de Janeiro, “cidadão desta cidade”, aí juiz
ordinário em 1637, Acórdãos e vereanças, cit., pp. 13–4. Segundo a Genealogia do Pe. Roque Pais Leme da Câmara, ms.
na Bibl. Nac., era genro do famoso Capitão-mor João Pereira de Sousa Botafogo, e natural de Viana, no reino. A viúva e
filhos de Duarte Correia Vasqueanes obtiveram sesmaria de dez léguas da Barra de Paranaguá para o sul, em 3 de outubro
de 1658, Rev. do Inst. Hist. de São Paulo, v, p. 191, e 30 léguas abaixo das capitanias do Conde de Monsanto e Condessa
de Vimieiro, em 30 de outubro do mesmo ano.
851 Pedro Taques, Hist. da capitania de São Vicente, ed. Taunay, p. 141; Afonso d’E. Taunay, História geral das
bandeiras paulistas. São Paulo: 1946, viii, pp. 325 e ss. V. “Informação de Ébano”, 1650, Rev. do Inst. Hist., tomo especial,
i, p. 20. A sua nomeação foi de 10 de setembro de 1648.
852 Doc. do Arq. Ultram., cit. por Dídio Costa, Subsídios para a história marítima do Brasil, ii, p. 258. É a esse ouro
que alude Vieira, na carta (lxvi, da edição de J. Lúcio, i), datada do Maranhão: “O ouro que se tira das minas de São Paulo
se põe todo em barretas em que se vai a cunhar, e dizem eles que, em fazendo barretadas a estes mesmos ministros com
estas barretas [...]”
853 V. A. Lamego, A terra Goitacá, ii, p. 473; A. Taunay, Hist. geral, v, p. 221.
854 O exame das pedras levadas por Brito Freire foi negativo (o que menos justifica o logro em que caiu depois o
Governador Afonso Furtado). Parece que se refere ao mesmo assunto a comunicação do marquês almirante para que não
se mandasse mais amostra, 1656, Docs. hist., xxi, p. 285. Um marinheiro português ouvido em Assunção, em 1657, disse
que a 7 léguas de São Paulo, em Ibiturum, e no porto de Paranaguá, “se labra y saca oro por todos los que quieren ir a
sacarlo porque son minas comunes para todos”, Taunay, Hist. geral, iii, p. 213.
855 Ms. “Sobre o bom governo e guerra do Brasil”, de Francisco de Brito Freire, na Bibl. da Ajuda, publ. por Eduardo
Brasão, Ocidente, ix, p. 259, maio de 1940. — Em 1663 foi nomeado administrador das minas de Parnaguá o provedor da
Fazenda do Rio de Janeiro, Diogo Carneiro, Docs. hist., xxi, p. 345.
857 Antônio Vieira dos Santos, Memórias hist., cron., etc., de Paranaguá. Curitiba: 1922, p. 15; R. Martins, História
do Paraná, p. 243.
858 Romário Martins, Curitiba de outrora e de hoje. São Paulo: 1923, p. 95; A. Taunay, História geral das bandeiras
paulistas, viii, p. 333.
859 V. patente, Docs. hist., xxv, p. 142. Era soldado desde 1641. Entrou no governo de São Vicente em 1666, Docs.
hist., vi, p. 68; e Rev. do Inst. Hist., tomo especial, i, p. 37, 1956.
862 Na mesma data mandou o governador entregar a Agostinho de Figueiredo “para benefício das minas de
Pernaguá uma arroba de azougue, dois quintais de ferro, dez libras de aço, dúzia e meia de picaretas, uma dúzia de pás,
etc.”, Docs. hist., viii, pp. 202–3. Era este um antigo soldado da Restauração, no reino, e recebera a patente de capitão-mor
de São Vicente, São Paulo e Sant’Ana (sic) em 17 de agosto de 1671, Docs. hist., xxv, p. 144. “Em seu testamento, aberto a
22 de junho de 1711, declarou ser morador em Curitiba há 40 anos, fato confirmado pelo Ouvidor Pardinho”, Francisco
Negrão, Boletim do Arquivo Municipal de Curitiba. Curitiba: 1924, vii, p. 29. Quanto ao ludíbrio da prata, fizera os
primeiros ensaios dela Fr. João de Granica, Docs. hist., xi, p. 20 e no reino D. Rodrigo de Castelo Branco, examinando as
amostras, achou prata. Roque Dias Pereira era dado como descobridor, Docs. hist., xi, p. 24. O provedor do Rio em 1675
quis suspender dos cargos os nomeados pelo governador-geral: a carta regia de 19 de março de 1676 mandou reintegrá-
los, Docs. hist., xxx, p. 242.
864 Pe. Manuel da Fonseca, Vida do Padre Belchior de Pontes, ed. Weiszflog Irmãos, p. 100 (a 1ª ed. é de 1752); aí a
primeira descrição do planalto paranaense. Salvador Jorge (Velho) minerou em 1678–80, Romário Martins, História do
Paraná, p. 298. Diz o linhagista Pe. Roque Luís: “Salvador Jorge Velho, natural de São Paulo, em 1642, fal. na Parnaíba em
1705. Descobridor das minas da Curitiba”.
865 A. Taunay, Anais do Museu Paulista, vii, p. 586. Em 1665 Agostinho Barbalho Bezerra mandara o licenciado
Clemente Martins de Matos tomar posse de Santa Catarina, Rev. do Inst. Hist., tomo especial, i, p. 35, 1956.
866 Osvaldo R. Cabral, Laguna, pp. 18–9, 1939. Dias Velho foi morto num desembarque de corsários holandeses em
1692, diz Pedro Taques; e Taunay, Hist. ger. das band. paul., viii, p. 374, corrigindo a data: 1689. Defendeu de espada e
broquel no templo (matriz do Desterro) as sagradas imagens, é o que comemora o genealogista, cf. docs. do Cart. de
Órfãos de São Paulo. A versão de Pedro Taques é convincente: que antes (1687) rendera Dias Velho um navio corsário
que arribara a Santa Catarina, tomando-lhe os valores, e matando alguma gente. Neste caso, o segundo vingou o
primeiro, desembarcando na praia de fora os ladrões do mar.
867 Carta régia para o gov. do Rio, 15 de março de 1689, mandou informar a respeito da expedição que Domingos de
Brito ia novamente empreender. Fracassara a primeira, quatorze anos antes. Dizia: “[...] a conquista da Laguna, terra
muito fértil e abundante de pescados e carnes e para a mais lavoura, com a vizinhança de Buenos Aires aonde entendia
haveria muitos descobrimentos”, Documentos interessantes, xlvii, p. 33. A povoação foi posta sob a proteção de Santo
Antônio, e a igreja começada em 1696, Osvaldo R. Cabral, ibid., p. 37. A primeira referência à pescaria na Laguna é de
1675, Docs. hist., x, p. 446.
868 Boletim do Arquivo Municipal de Curitiba, vii, p. 35, 1924; e Consulta do Conselho Ultramarino, 24 de dezembro
de 1694 (Rev. do Inst. Hist., tomo especial, i, pp. 53 e 272, 1956).
869 Pretendemos provar, O segredo das minas de prata, Rio, 1950, que o ciclo das esmeraldas (Minas Gerais) se liga
ao do nordeste (Belchior Dias), quando o Governador Afonso Furtado encarregou Fernão Dias Pais de pesquisar a prata
que houvesse ao sul da Jacobina, na direção de São Paulo, ou em Sabarabuçu. Em 1664 Sabarabuçu ficava nos sertões de
Paranaguá... (Rev. do Inst. Hist., tomo especial, i, p. 30, 1956).
872 Docs. hist., vi, p. 201; Taunay, Hist. ger. das band. paul., vi, p. 59.
877 Diz Taunay: “Nos 40 homens brancos, afora eu e meu filho” que partiram com Fernão Dias não há referências a
seu genro Manuel de Borba Gato e aos sertanistas conhecidos que o acompanharam como Antônio Gonçalves Filgueira e
Antônio do Prado Cunha, Francisco Pires Ribeiro. Talvez tivessem seguido antes, com o Capitão Matias Cardoso, Hist.
ger. das band. paul., vi, p. 87. Sobre este e a bandeira, Pedro Taques, Nobil. paul., ed. Taunay, i, p. 396.
879 Docs. hist., xvii, p. 333; Brito Freire, Hist. da guerra brasílica, p. 545; Garcia, nota a Varnhagen, iii, p. 299. Era
filho de Pedro Garcia, rico mercador, fornecedor do engenho do conde, a quem uma bala holandesa matara em 1624, e de
sua mulher D. Maria de Araújo, viúva de Baltasar de Aragão, o Bangala. Herdou de duas opulentas famílias, cujas terras
abrangiam boa parte do Recôncavo. Soldado desde 1635, faleceu em 1685. Na Catedral, a pedra tumular: “Hic jacet
Franciscus Gil de Araújo Praefecturae spes sancte Domine gubernator”. Grande protetor dessa igreja, dedicou-lhe Simão
de Vasconcelos a Vida de Anchieta (1674).
880 Carta do triunvirato da Bahia, 12 de junho de 1676, Docs. hist., xi, pp. 61–2.
881 A. Lamego, op. cit., i, pp. 148–51; Garcia, nota a Varnhagen, iii, p. 300.
886 Regressaram Matias Cardoso e outros cabos, deixando o “governador” com os parentes, Taunay, op. cit., vi, p.
107. Matias declarou, em 1688: “Depois de assistir 6 anos com o dito ‘governador’ se retirou com licença sua a livrar a
vida do período em que se achava gravemente enfermo, etc.”, Docs. hist., xxx, p. 9.
891 Informação de Pedro Dias, 1756, cf. A. Lamego, op. cit., p. 84. Pedro Taques identifica: Sabarabuçu, “hoje se
chama Sabará, que é Minas Gerais”, Nobiliarquia, cit., p. 396. Garcia Rodrigues Pais teve a patente de capitão da entrada
das esmeraldas em 23 de dezembro de 1683, Registo geral da Capitania de São Paulo, iii, p. 430, e Silva Leme, Genealogia
paulista. São Paulo: 1904, ii, p. 455.
892 Taunay, op. cit., vi, p. 122. Afrânio Peixoto reivindicou para Diogo Grasson o título de “primeiro épico” do Brasil,
Ensaios camonianos, p. 391, Coimbra, 1932, pois Bento Teixeira nasceu em Portugal. Também na Revista da Academia
Brasileira, n. 105, set. de 1930. Aliás, Luís dos Santos Vilhena cita uma estrofe do mesmo poema, Cartas Soteropolitanas,
ii, p. 677, ed. B. do Amaral. O caçador de esmeraldas, de Olavo Bilac, tem precursor, de 1689!
893 O nome do poeta (Diogo Grasson) não figura na documentação divulgada, da vida paulista no século xvii. É
possível que fosse pseudônimo: como Andreoni se chamou Antonil, Coutinho quis ser Tinoco... E onde a Relação em
oitava rima, de Domingos Cardoso Coutinho? Desconheceu-a Rocha Pita, que talvez aludisse a Fernão Dias na confusa
notícia do descobridor de minas que morrera no sertão, levando para o túmulo o segredo, Hist. da Amér. Port., p. 283.
Joseph Cardoso Coutinho (filho de Domingos?) era capitão-mor das entradas no Espírito Santo em 1701, Docs. hist., xi,
p. 287.
894 V. Taunay, op. cit., vi, p. 170. E Pedro Taques, Nobiliarquia, cit., pp. 400–1.
896 Taunay, ibid., vi, p. 181. Manuel de Lemos fora contratador da renda da aguardente na Vila de Santos, em 1644,
Anais do Arq. Públ. da Bahia, xxi, p. 196: “[...] e fazendo ausências às minas de Pernaguá”, se lhe concedera isenção de
subsídio devido.
897 Docs. hist., xxx. Outro companheiro de D. Rodrigo foi o Capitão João Carvalho Freire, Docs. hist., xxx, p. 323.
898 Paulo Prado, Paulística. São Paulo: 1925, p. 117; e Taunay, ibid. É tradição arraigada que D. Rodrigo morreu em
Sabará, no morro, que domina a cidade. Pedro Taques divulgou a versão duma queda: teria sido empurrado no abismo,
após troca de insultos com Borba Gato... Vimos que D. Jaime, morto em Paranaguá (1653), caiu, ou foi empurrado, de
uma cata ou penhasco... É evidente que esta última história, autêntica, gerou a outra, lendária. D. Rodrigo foi vítima dos
bacamartes de alguns sertanistas: três tiros. A mãe deste, Catarina Correia Galveia (“mãe herdeira de seu filho D. Rodrigo
de Castelo Branco”), requereu em 26 de março de 1688: “Que lhe mandara ele amostras de ouro”, códice do Cons.
Ultram., ms. no Arq. Hist. Col., Lisboa, inéd.
899 Carlos Correa Luna, Campaña del Brasil: Antecedentes Coloniales. Buenos Aires: 1931, i, xxxvii. Leia-se Jaime
Cortesão. Alexandre de Gusmão e o tratado de Madri. Rio: 1952, i.
900 O governo espanhol disse em 31 de dezembro de 1679: “Prevenciones que hacia el Gober. del Rio de Janeiro para
fundar una población [...] para la seguridad de beneficiar una mina de plata”. Correa Luna, op. cit., p. 86.
901 Docs. hist., xi, p. 65. Com o tenente do Mestre-de-campo-general João Tavares Roldão, o engenheiro foi
incorporar-se à entrada de D. Rodrigo, cf. carta de 10 de março de 1679, Docs. hist., xxxii, p. 122.
902 D. Manuel Lobo foi nomeado em 8 de outubro de 1678, Docs. hist., xxvii, p. 335 (aí a sua fé de ofício). V. também
Pe. Carvalho Costa, Corografia portuguesa, i, p. 368. O governador de Buenos Aires em 13 de junho de 1673 comunicara
à sua corte ter notícia do projeto de ocupação de Maldonado pelos portugueses, Correa Luna, op. cit., p. 32. Pe. Simão de
Vasconcelos, Notícias das cousas do Brasil, n. 65, alude aos marcos portugueses que tinham sido deixados em Maldonado
— e à posse até o Prata.
903 A patente foi passada em Lisboa, 30 de outubro de 1677, Docs. hist., xxvi, p. 376. Partia “para o descobrimento e
entabulamento das minas de Pernaguá e Sabarabuçu”, Docs. hist., cit., p. 387. As minuciosas instruções dadas a D.
Manuel Lobo são de 18 de novembro de 1678, Correa Luna, op. cit., p. 64.
905 Docs. hist., xxvii, p. 340. O engenheiro Antônio Correia Pinto, que havia de construir a Nova Colônia, foi
chamado de Paranaguá, pela carta régia de 4 de agosto de 1676, Livro 2° de Cartas Régias, ms. no Arq. Públ. da Bahia.
Sobre os antecedentes, v. Luis Enrique Azarola Gil, La Epopeya de Manuel Lobo. Buenos Aires: 1931, pp. 29–30.
906 Rocha Pita, Hist. da Amér. Port., p. 332: “Era este ministro natural de Pernambuco, das principais famílias
daquela província; fora enviado por el-rei, sendo ainda príncipe regente, por sindicante das províncias do Sul às maiores
diligências que até aquele tempo se tinham oferecido naquela região e com o poder mais amplo, que nela se concedera a
ministro algum; três anos e meio se empregou naquele serviço e el-rei o elegeu por governador do Rio de Janeiro, cargo
que não exerceu por se ter recolhido para a Relação da Bahia”. Também não aceitou o de conselheiro do Conselho
Ultramarino por não lhe permitir a idade passasse ao reino. Tomara posse na Relação em 17 de maio de 1678: na Bahia
faleceu em 1702. O historiador era filho de uma sua irmã, D. Brites.
907 Carta do governador do Paraguai ao de Buenos Aires, 22 de outubro de 1679, Correa Luna, op. cit., p. 78. Uma
charrua, de mercador francês domiciliado na Bahia, foi tomada por D. Manuel Lobo no Rio, Docs. hist., xxix, p. 240.
909 Doc. in Correa Luna, op. cit., p. 104. V. os nomes dos principais companheiros de D. Manuel Lobo in J. do Rego
Barros, ibid., p. 45.
910 A impossibilidade da defesa da Colônia do Sacramento (hoje cidade uruguaia de Colônia) é patente à primeira
vista, de quem a observe do Real de San Carlos, o lugar aliás onde acampou Ceballos no último dos cinco assédios que
sofreu a praga (como pudemos perceber visitando-a em 1936). Razão tinha o Ouvidor-geral Tomé de Almeida e Oliveira
ao propor a ocupação de Maldonado; Luis Enrique Azarola Gil, Los orígenes de Montevideo. Buenos Aires: 1933, p. 53. O
autor da “Informação do Estado do Brasil” (fins do séc. xvii): “Para se conservar a povoação do Sacramento houvera Sua
Majestade ter mandado fazer outra no Montevidéu e outra no cabo Negro”, Rev. do Inst. Hist., xxv, p. 473. E os
insucessos explicam o desânimo de Cunha Brochado, em 1725: “Não temos mais remédio que largar a Colônia que não
vale nada e não tem utilidade e serventia”, Caetano Beirão, Cartas da Rainha D. Mariana Vitória. Lisboa: 1931, i, lxxxviii.
912 V. o plano da “Fortaleza de San Gabriel”, Fernando Capurro, La Colonia del Sacramento, pl. n. 4.
913 V. J. do Rego Monteiro, op. cit., p. 89. Quanto a Jorge Soares de Macedo, em 26 de janeiro de 1700 foi nomeado
governador da fortaleza de Santos; em 2 de junho de 1701 mestre-de-campo na mesma vila; e em 1707 ainda os seus
serviços eram lembrados para ir às minas gerais, Carvalho Franco, op. cit., p. 170.
914 Comtesse d’Aulnoy, Mémoires de la Cour d’Espagne. Paris: 1876, p. 376, ed. revue par Mme C. Carey.
915 A carta régia de 7 de janeiro de 1682 mandou que, no Brasil, Duarte Teixeira Chaves fosse auxiliado com todo o
necessário para ir receber a Colônia do Sacramento, Docs. hist., xxix, p. 442. A rigorosa cobrança dos tributos atrasados,
no Rio de Janeiro, permitiu o melhor equipamento da expedição, distinguindo-se o Sargento-mor Luís Carneiro Filho,
que, na Colônia, em três dias construiu os armazéns, ibid., p. 65. Persistiu a proibição de comércio entre a Colônia e
Buenos Aires, como lamentava Vieira em 1692, Cartas, iii, p. 639, mas que não impediu o contrabando ou o comércio
clandestino; v. Luis Enrique Azarola Gil, Historia de la Colonia del Sacramento. Montevidéu: 1940, p. 65.
916 V. José Torre Revello, in Hist. de la Nación Argentina. Buenos Aires: 1937, iii, p. 548, dirigida por Ricardo
Levene.
917 Fernando Capurro, La Colonia del Sacramento. Montevidéu: 1928, p. 19. Em 1686 o Vigário Francisco de
Almeida Lara propunha-se a mandar povoar o “lugar da Vacaria” por um mineiro e 60 infantes “para se averiguar a
prata”, Docs. hist., xi, p. 126.
918 Garcia, nota a Varnhagen, v, p. 320. V. Pizarro e Araújo, Memórias históricas do Rio de Janeiro. Rio: Inst. Nac.
do Livro, 1946, iv, pp. 52 e ss.
919 Luís César foi governador da Angola e governador-geral do Brasil, Seu filho foi o 1º Conde de Sabugosa.
Deportou do Rio para Angola o poeta Tomas Pinto Brandão a quem em seguida protegeu, Pinto renascido, empenado e
desempenado, etc. Lisboa: 1732 p. 410.
920 Vieira, Cartas, iii, p. 489, ed. J. Lúcio. Quis o governador ir ver as minas de prata perto de Santa Cruz de la Sierra,
o que desaconselhou o governador-geral, Docs. hist., xi, p. 196. Ressentiu-se-lhe a saúde depois das duas viagens a São
Paulo. Morreu de ataque apoplético, Docs. hist., xi, p. 203.
921 Docs. hist., vol. cit.
922 A. Taunay, Rev. do Inst. Hist., cxliv, p. 405, resume o livro de Froger. A primeira descrição estrangeira do Rio? O
Prof. Charles Boxer (conf. no Rio, 1949) mostrou a precedência do jesuíta inglês Richard Flecknor, que chegou a esta
terra em 1648: “The pleasantest place in the world for natural landscape”. Com este começa o elogio universal à paisagem
“maravilhosa”.
923 Ainda em 1659 Bento da Rocha Gondim, contratador dos dízimos, por ter feito no Rio casas nobres, pedia ao
governador lhas garantisse, contra ocupação dos governadores da capitania... Docs. hist., xix, p. 468.
924 Foi sepultado no convento dos franciscanos, Rocha Pita, op. cit., p. 284. Seu filho Jorge Furtado casou na família
de Hohenlohe “que em título de conde tem soberania em Alemanha”. Gregório de Matos, Satírica, ii–11, 15, ed. da
Academia, comemorou em sonetos laudatórios o governador falecido.
925 Miralles, op. cit., p. 151. A Vereação obteve que se não fizesse a eleição anual, a fim de que Antônio Guedes de
Brito continuasse, até a nomeação do governador-geral, Rocha Pita, ibid. Sobre Álvaro de Azevedo, baiano, que combateu
em Flandres e Portugal, P. Calmon, História da Casa da Torre, p. 93. Antônio Guedes acumulou imenso patrimônio,
depois da Casa da Ponte, rival da Casa da Torre na expansão nordestina. A Câmara da Bahia representou em 14 de agosto
de 1671, Accioli, Mem., ii, p. 134, contra a proibição, que constara ter sido decretada, de serem desembargadores no Brasil
os filhos da terra. A conservação da junta “baiana” prova que o príncipe a ouviu! “O Governador Afonso Furtado deixou
nomeados os governadores que S. M. aprovou”, carta de Matias da Cunha, Docs. hist., x, p. 304. Esta informação deve
combinar-se com a de Bernardo Vieira Ravasco: que o Provedor Antônio Lopes Ulhoa quisera ser o sucessor, com a
intervenção do confessor do enfermo, porém o secretário, unido ao sobrinho do governador, Capitão Antônio de Sousa
Meneses (não confundir com o futuro governador-geral) obteve que se fizesse junta, de que resultou o triunvirato, A.
Lamego, Mentiras históricas, p. 65.
928 D. Afonso vi, pp. 250–1. Roque da Costa era de Serpa, Pe. Antônio de Carvalho, Corografia portuguesa, ii, p. 316.
A patente de nomeação de mestre-de-campo-general do Brasil com a mesma autoridade de governador — lhe enumera os
serviços de guerra, 22 de junho, de 1677, B. do Amaral, nota a Accioli, ii, p. 236. A viúva de Roque da Costa, filha do
Almirante D. Pedro de Almeida, casou com o secretário da guerra João Pereira da Cunha Ferraz, Gustavo de Mato
Sequeira, O Carmo e o Trindade. Lisboa: 1939, ii, p. 17.
930 O Governador D. Fernando José de Portugal anotou esse Regimento reparando nas alterações sobrevindas a
várias disposições, em 1804–5, Docs. hist., vi, pp. 312–466. Em 1655 tivera Regimento mais simples André Vidal,
nomeado para o Maranhão.
931 A lápide na capela-mor da Sé comemorava: “Sepultura de D. Estêvão dos Santos, do Conselho de Sua Majestade e
bispo deste Estado do Brasil falecido em 6 de julho de 672 em circunstâncias tão miraculosas em sua morte que
qualificaram a grande opinião das muitas virtudes que teve em sua vida”. — Em 11 de maio daquele ano pagara-se-lhe a
ajuda de custo de um conto de réis, Docs. hist., xxv, p. 59. V. Monstruosidades do tempo e da fortuna, iii, p. 43.
932 Prior da Igreja de Santa Engrácia e desembargador da Relação Eclesiástica, como um dos juízes nomeados pelo
cabido, em 1668, para anular o casamento de D. Afonso vi e D. Maria Francisca, figurou assim nos fatos que culminaram
no destronamento do rei, v. Camilo, Vida del-Rei D. Afonso vi, p. 103, 1ª ed.
933 Varnhagen, Hist., iii, p. 281. Um dos desembargadores nomeados foi o poeta Gregório de Matos, que pouco
tempo exerceu o cargo, Pedro Calmon, prefácio às Obras completas, de Gregório de Matos, vi, p. 37, ed. da Acad. Bras.
935 Rocha Pita, op. cit., p. 290. Os carmelitas em 1655 haviam “desistido do sítio e ermida de N. S.a do Desterro”,
Docs. hist., vii, p. 273. Sobre esta, v. Fr. Agostinho de Santa Maria, Santuário mariano, ix, p. 74. Aí fez Vieira o seu
primeiro sermão em 1633. E em 1639, o de Nossa Senhora da Conceição, para “os que vêm de tão longe a este deserto
trazidos pela devoção da Senhora do Desterro [...]”, Sermões, x, p. 218. Diz-nos Rocha Pita que havia começos de
convento e, ao saber-se na cidade da chegada das freiras, todos os pedreiros foram convocados, e em três dias puseram em
ordem a clausura, a que se recolheram. As primeiras baianas que entraram no Desterro foram Soror Marta de Cristo e sua
irmã Soror Leonor de Jesus. A primeira substituiu no abadessado Soror Margarida da Coluna que, com suas
companheiras, voltou para Portugal em 1686, deixando próspero o convento. Eram filhas de Salvador Correia
Vasqueanes e Margarida da Franca, Fr. Jaboatão, Catálogo genealógico, p. 246. Morreu Soror Marta aos 88 anos, em 1738,
“com fama de virtude”, Frei Jaboatão, Novo Orbe Seráfico, iii, p. 657. Dedicou-lhe Gregório de Matos um romance,
Obras, Graciosa, iii, p. 60.
936 Rocha Pita, op. cit., p. 294. Em 1705 foi mandado entregar o hospício aos capuchinhos italianos, titulares da
missão permanente instituída pela Sagrada Congregação da Propaganda Fidei, em 1709.
937 Docs. hist., viii, p. 93. A ordem foi revogada em 1691, Docs. hist., xxxii, p. 338.
938 Do aforamento a Diogo Lopes de Évora não tratam as Atas da câmara. Consta do Index das notas de vários
tabeliães de Lisboa, t. iii, p. 207, Lisboa, 1944 (Bibl. Nac.), revelando a data, 1627, o nome dos vereadores, Marcos da
Costa, Jerônimo de Burgos, etc. A licença do mestre Pedro Gonçalves de Matos (cf. Atas da câmara, i, p. 79) vem no Livr.
de atas, ii, p. 201, referente ao ano de 1643. Deste foi sobrinho e herdeiro o famoso João de Matos Aguiar, cuja fortuna
passou a constituir, em 1700, por verba testamentária, o patrimônio das recolhidas da Santa Casa, A. J. Damazio,
Tombamento dos bens imóveis da Santa Casa da Bahia. Bahia: 1862, p. 30.
939 Accioli, op. cit., ii, p. 131. — Calçadas ou ladeiras. Em Portugal ficou a primeira designação: calçadas. Lembra o
tempo em que só se pavimentavam as rampas, Atas da Câmara da Bahia, 1637, ms. no Arq. Municipal.
944 “Fiz eu algumas doutrinas domésticas em casas de portadas bem altas”, Vieira, Sermões, xiii, p. 174.
945 Edifício notável, porque aí funcionou a Assembléia Provincial, tinha soberba porta (e portais de granito com a
data, 1674) que hoje se vê no palácio da Saúde Pública, à Vitória (Bahia).
946 Gregório de Matos, Obras, ii, p. 73, soneto em homenagem a essa mudança. Provirá daí o nome de “Rua do
Bispo”, à que fica perpendicular à Rua do Colégio? Longos anos residiriam os bispos em Santo Antônio da Barra, cenóbio
com bela igreja, que pertencia à Mitra (como aliás se vê em mapa de Barleo: domus episcopalis). O palácio definitivo foi
feito ao começar o século seguinte, quando os Guedes de Brito construíram o “Paço do Saldanha” e o Chantre João
Calmon o solar a que alude Rocha Pita: “Aposentou-se (o Patriarca, em 1722) na casa do Reverendo Chantre João
Calmon, uma das mais suntuosas e bem paramentadas da cidade”, op. cit., p. 459.
947 As pedras de Alcântara vinham como lastro dos navios e várias foram as igrejas lavradas em Lisboa e apenas
armadas na Bahia: Colégio (hoje catedral), Ordem 3º de São Francisco (1704), Conceição da Praia (1724)... Na portaria
velha do Mosteiro de São Bento da Bahia é visível a numeração das pedras, que vinham aparelhadas.
948 Journal d’un voyage sur les costes d’Afrique, etc. Amsterdã: 1730, p. 240.
949 Foi arquiteto de São Bento, da Misericórdia, e talvez de Santa Teresa, o beneditino Frei Macário de São João, que
na Bahia faleceu em 3 de abril de 1676, cf. Dietário, ms. comentado por D. Clemente Maria da Silva Nigra.
950 V. Frei Agostinho de Santa Maria, op. cit., ix, p. 23: Docs. hist., viii, p. 141. Foi D. João de Lencastro quem
“acabou o Templo da Matriz”, Rocha Pita, ibid., p. 330.
951 Em 1691 a “Igreja de São Pedro Velho sita no arrabalde desta cidade” estava por concluir, visto “serem muito
pobres os fregueses dela”: deu el-rei o auxílio preciso para a terminação da obra, Docs. hist., xxxiii, p. 410.
953 É de 1621, cf. Frei Agostinho de Santa Maria, op. cit., André Cusaco, mestre-de-campo, irlandês de origem,
reconstruiu-a (1691) como capela predileta dos soldados.
954 Iniciada em 1630 pelo Alferes Francisco da Cruz Arrais, transformada em igreja por seus filhos (1670), cf. Frei
Agostinho de Santa Maria, op. cit. Sobre a instalação dos agostinianos, Anais do Arq. Públ. da Bahia, xiii, p. 176.
955 “Sermão de Santo Antônio”, no Maranhão, 1654.
956 “Os da Europa andam em liteiras e carroças; os da Ásia em palanquins; os da América em serpentinas. [...] Os da
Ásia e da América deitados e jazendo; os da Europa tirados por animais; os da Ásia e da América levados em ombros de
homens”. Vieira, “Sermão da 2ª Dominga da Quaresma”, 1652, Sermões, iii, p. 103, ed. de 1907.
957 “É notável o desaforo que hoje aqui há em matar com bacamartes e só com a demonstração exemplar do suplício
que se der aos culpados se poderá reprimir”, 1674, carta de Afonso Furtado, Docs. hist., x, p. 134.
958 Afonso d’E. Taunay, Rev. do Inst. Hist., cxliv, p. 272. Observa Taunay, que esse francês pode ter sido um
recopilador de notícias, ou pseudônimo... O livro é de 1722.
959 Taunay, Rev. cit., p. 291. A frota de De Gennes ancorou no porto da Bahia em 20 de junho de 1696.
961 Docs. hist., xxxii, p. 229. Câmara Coutinho, em 1691, queixou-se da falta de engenheiro e quis provar que a praça
não era suscetível de assédio, devendo confiar nos peitos dos soldados, não em fortalezas, inúteis, Rev. do Inst. Hist., lxxi,
p. 42. Previu que, cortado o abastecimento do mar e do sertão, não poderia manter-se.
962 V. Nuno Masques Pereira, O peregrino da América, ed. da Academia Brasileira, i, p. 62.
963 V. Fr. Tomás Margallo, Rev. do Inst. Hist. da Bahia, n. 54, p. 28.
964 Anais do Arq. Públ. da Bahia, viii, p. 11. Foi a epidemia da “bicha” que induziu à criação da vigilância sanitária
dos portos (inspeção dos navios no Brasil e em Portugal) e outros trabalhos que preconizam a higiene nestes climas.
969 Carta de 1º de julho de 1651, Docs. hist., iii, p. 124. A esse tempo cabia a Sergipe a obrigação de socorrer a
guarnição da Bahia com trezentas reses, Docs. hist., iii, p. 139.
970 Docs. hist., iii, p. 380. No mesmo volume estão as peças documentais relativas às alterações de 1656.
972 Obras, ed. da Acad. Bras., iv, p. 70. É comparar com o soneto sobre o Rio Grande do Sul no século xviii: “Tetos de
erva, paredes de pântano”. No códice de Évora, o soneto sobre Sergipe é atribuído a Gonçalo Soares, Brasília, i, p. 561, e
tem versos diferentes, lembrando glosas ao mesmo tema.
973 Antônio Joaquim de Melo, Biografia de João do Rego Barros, pp. 32–5. Em 1654 deixou o cargo de capitão-mor
das Alagoas André Gomes, substituído por Luís dos Santos, Docs. hist., xviii, p. 255.
975 Rocha Pita, op. cit., p. 352. Já em 1671 Alagoas podia fornecer 4 mil sírios de farinhas para a Bahia, Docs. hist., ix,
p. 428. O convento franciscano de Penedo, projetado em 1657, oratório em 1660, começou a ser levantado em 1682 e em
94 já podia abrigar os religiosos; tornou-se, à imagem do São Francisco, um marco de civilização, v. Frei Jaboatão, Novo
Orbe Seráfico. Rio: 1861, parte ii, ii, pp. 603–5. Da tapera de Paulo Afonso trata Docs. hist., xl, p. 125.
976 Os holandeses, desistindo do Brasil, agasalharam-se em outros climas. Não pôde Portugal evitar que lhe
tomassem Malabar e Coramendel, na Índia. Muitos judeus holandeses saíram de Pernambuco com escravos e sócios para
se estabelecerem na Guiana e nas Antilhas — onde criaram uma indústria açucareira semelhante à que tinham
abandonado. Com igual sistema de trabalho, o mesmo tipo de exploração rural, da várzea pernambucana, cf. Lippmann e
Sombart, J. Lúcio d’Azevedo, Épocas de Portugal econômico, p. 273. No Museu Britânico: memoriais de Manuel Martins
Domido (David Abramanel) judeu espanhol, arruinado com a capitulação do Recife, de 1654, em que pedia a Cromwell
acolhesse os judeus na Inglaterra, Oliveira Lima, op. cit., p. 33.
977 Fernando Pio, O Convento de Santo Antônio do Recife. Recife: 1939, p. 45.
978 V. Pereira da Costa, Anais pernambucanos. Recife: 1952, iii, p. 401. — Seguiram-se: 1672, hospício de São Filipe
Néri; 1678, Convento do Carmo; 1689, Igreja do Espírito Santo, dos jesuítas, junto do colégio; 1708, Conceição dos
oratorianos..., Sebastião de Vasconcelos Galvão, Dic. hist. geogr. e estat. de Pernambuco, 2ª ed., p. 30. A excelente capela
dos Terceiros é de 1696, Fernando Pio, A Ordem 3º de São Francisco do Recife e suas igrejas. Recife: 1938, p. 11. Em
Olinda, a restaurada igreja dos jesuítas, hoje do seminário, ostenta a data, sobre o altar-mor: 1667. O palácio dos
governadores, como diremos, foi de 1666.
979 Leia-se Pereira da Costa, op. cit., iii, pp. 352 e ss.
980 Carta de Barreto a Vidal de Negreiros, 15 de julho de 1657, Docs. hist., iv, p. 12. Dizia que a mudança para Olinda
destruiria o Recife, pois só havia gente para uma cidade. Aos “meios cavilosos” de Vidal aludiu em carta ao Mestre-de-
campo D. João de Sousa, Docs. hist., iv, p. 17, e submeteu o caso ao rei, Docs. hist., iv, p. 308, que o resolveu
conciliatoriamente: aprovou a mudança, mas sem abandonar o Recife.
981 Docs. hist., lxvi, p. 288. Interpretamos as letras que restam na pedra do palácio de Olinda conservada no Instituto
Arqueológico: “Aedif [...] as Vidal”.
982 Fernandes Gama, Mem. hist., iv, p. 18; Miralles, Hist. mil. do Bras., pp. 147–8; Docs. hist., iv, p. 369 (ordem para a
retirada dos ministros mandadas por Barreto), Anais do arquivo público da Bahia, xiii, p. 99 (patente de Nicolau Aranha),
Docs. hist., lxvi, p. 161 (estranheza da rainha), narração de Barreto (Boletim do Arquivo Histórico Militar. Vila Nova de
Famalicão: 1936 vi, pp. 148–55). O governador-geral manteve a sua competência de prover os postos da força paga.
983 Carta de 24 de junho de 1691, Cartas, ii, p. 323. Francisco de Brito ilustrou-se com a História da guerra brasílica
(por ele testemunhada no seu último episódio), Lisboa, 1676, decalcada aliás das Memórias diárias da guerra do Brasil, de
Duarte de Albuquerque Coelho. Recusou-se a obedecer ao Príncipe Regente D. Pedro quando o mandou conduzir o rei
deposto, D. Afonso vi, ao castelo da Ilha Terceira, e desgostoso se recolheu ao colégio dos jesuítas, onde o prendeu a
justiça. Mas por um mês apenas. Viveu em silêncio o resto da honrada existência. Faleceu em 8 de novembro de 1692,
Edgar Prestage, D. Francisco Manuel de Melo, p. 273.
984 Docs. hist., xi, p. 165. Carta da rainha, 26 de janeiro de 1662, declarou que Paraíba e Rio Grande “não podiam ser
nunca da jurisdição de Pernambuco”, Docs. hist., lxvi, p. 179. O Conde de Óbidos era primo do novo Governador
Jerônimo de Mendonça Furtado, e escreveu-lhe várias cartas, proibindo intervenção sua em Itamaracá. Note-se que
ambos exprimiam a política do reino (D. Afonso vi) e do Conde de Castelo Melhor, contrária à orientação da rainha-mãe
e seus ministros, cujo homem de confiança fora Francisco de Brito Freire. Mas o conde se queixou das desobediências do
parente e pediu o seu castigo, quando ele prendeu, e fez embarcar, o Ouvidor Manuel Dinis da Silva, cartas de outubro de
1664, Anais do Arq. Públ. da Bahia, viii, pp. 4–7.
985 Sobre Jerônimo de Mendonça Furtado, apelidado o “Xumberga”, por usar bigodes tufados à maneira do General
Schomberg, comandante das forças francesas que auxiliaram Portugal em 1660, v. Rodolfo Garcia, art. in Revista do
Brasil, julho de 1938. Diz-nos que o próprio Fernandes Vieira não devia estimar o governador, porque o irmão deste o
processava pelo pagamento de grossa quantia em mercadorias tomadas em Angola; e D. João de Sousa o aborrecia, por
sua interferência para que saldasse um compromisso em dinheiro. — O apelido “Xumberga” pode referir-se ao seu
“francesismo”. O Conde de Óbidos escreveu em 1664: “Me agradam mais os costumes da têmpera velha que os que o
vulgo chama de ‘xumberga’”, Docs. hist., xi, p. 215. E Monsieur d’Ablancourt, Mémoires, p. 382, Amsterdã, 1701, tanto se
imitara o forasteiro que houve aviso: “Que personne n’eut plus à l’avenir à vêtir ni à parer les Saints ni les Saintes à la
Schombergue”.
986 Os padres da Companhia, carmelitas, beneditinos e franciscanos aprovaram muito a mudança e trataram de
reerguer os seus conventos, cf. R. Garcia, Rev. cit. O “Xumberga” alegou que, por sua vez, levantara de novo o
recolhimento para mulheres, fundado outrora por Maria Rosa, viúva do Capitão Pedro Leitão. É o repovoamento de
Olinda. O Conde de Óbidos, em carta de 29 de janeiro de 1664, deu à Câmara de Olinda parabéns por ter el-rei aprovado
“a mudança do governo”, de Recife para aquela vila, Documentos históricos, ix, p. 147. Avisou disto o governador em
igual data, ibid., ix p. 156.
987 Rodolfo Garcia reporta-se ao livro de Souchu de Rennefort, Histoire des Indes Orientales, Leide, 1688, que
descreve a passagem de Montevergue pelo Brasil e a deposição do governador. Este continuou preso em Portugal, donde
fugiu para Espanha. Em 1674 entrou na conjura em favor do deposto Rei Afonso vi, e, condenado à morte, teve comutada
a pena em Desterro na Índia, fim obscuro de sua carreira atribulada, Fernandes Gama, Memórias, cit., iv, p. 20. Seu
irmão, Luís de Mendonça Furtado, estivera no Brasil em 1664, Docs. hist., vi, p. 17, e foi vice-rei da Índia, 1671 a 77.
Morreu em trânsito pela Bahia, Vieira, Cartas, iii, p. 407. V. também Monstruosidades, ii, p. 127 e iv, p. 78. A importância
de Fernandes Vieira pode aquilatar-se da carta que lhe mandou o Conde de Óbidos em 1664, Docs. hist., xi, p. 220. Era
chefe natural da reação: “Da carta de João Fernandes Vieira [...] se deixa bem ver”, Anais do Arq. Públ. da Bahia, viii, p. 6.
Possuía então 16 engenhos de açúcar (1668), Docs. hist., xxii, p. 291.
988 Em 30 de agosto, véspera da deposição do “Xumberga”, escrevera-lhe o Conde de Óbidos: “Que o que Vossa
Mercê me diz de estar com as esporas calçadas esperando por sucessor, creio que lhe não virá com a brevidade que Vossa
Mercê o espera, senão quando for gosto de Vossa Mercê”, Docs. hist., ix, p. 258. Nomeou André Vidal em 10 de
novembro de 1666: “Pois é minha esta escolha e nomeação” — comunicou-lhe. E à Câmara de Olinda: “Terão Vossas
Mercês entendido a eleição, que fiz em André Vidal de Negreiros, para o governo dessa capitania e das mais anexas;
porque fio dele, que em tudo o que tocar ao serviço del-rei, etc.”, Docs. hist., ix, pp. 264–5; e Pereira da Costa, Anais, iv, p.
9.
990 Inácio Accioli, Mem. Hist., ii, p. 28. Morreram mais de 3 mil pessoas, Nuno Marques Pereira, O peregrino da
América, ii, p. 112, ed. da Academia Brasileira.
992 Carta do Conde de Óbidos, 10 de outubro de 1666, Docs. hist., ix, p. 261, estranhando que os dízimos, que
tinham caído de 11 a 3 mil cruzados, continuassem assim reduzidos.
993 Docs. hist., xxi, p. 459, prov. de 1664. Descobrimos na Torre do Tombo o seu processo de habilitação no Santo
Ofício, de que foi familiar, a 2 de novembro de 1648, filho confirmado por S. M. do abade da Meadela, Fernão Peixoto
Viegas. Era genro do rico Cosme de Sá Peixoto.
995 Matias de Albuquerque casara no Rio, donde seguiu para a Paraíba, empossando-se a 17 de outubro de 1657, Fr.
Jaboatão, Cat. gen., tít. Albuquerques. Depois se retirou o velho soldado para o seu engenho de Cunhaú, no Rio Grande,
onde morreu. Seus filhos Afonso e Lopo de Albuquerque Maranhão foram sertanistas valorosos e quiseram — sem
resultado — descobrir ainda uma vez a prata de Belchior. V. Jaboatão, op. cit., quanto à prole que lhe ficou.
996 Cf. códice ms. no arq. do Mosteiro de São Bento de Olinda, publicado pelo Inst. Hist. Pern. em 1949. Em 1666
tomou posse da administração do Convento da Paraíba Frei João Gondim, Luís Pinto, Síntese histórica da Paraíba.
Paraíba: 1939, p. 36. V. em R. Garcia, nota a Varnhagen, v, p. 325, a nominata dos capitães-mores.
998 Carta do Conde de Óbidos, 10 de maio de 1664, Docs. hist., ix, p. 170.
999 Carta de 5 de abril de 1659, Docs. hist., iv, p. 23. O Capitão Antônio Vaz, cinco anos no governo da capitania,
logrou que voltassem 150 moradores, Docs. hist., xxv, p. 189.
1000 Docs. hist., iii, p. 264. Em 1658 havia navios holandeses a carregar pau-brasil, Docs. hist., iv, p. 353, motivo de
renovada vigilância.
1001 O Marquês das Minas, em 1684, mandou não fossem perturbadas as missões dos jesuítas, Docs. hist., x, p. 207.
1002 Sesmaria concedida em 1664 ao Alferes Sebastião Barbosa, sua irmã Maria, Antônio d’Oliveira Ledo, Alferes
Baltasar da Mota e Custódio de Oliveira Ledo, Docs. hist., xxi, pp. 429–33. O Conde de Óbidos mandou ao capitão-mor
da Paraíba que os auxiliasse, Docs. hist., ix, p. 242.
1004 Escreveu Matias da Cunha à Câmara de São Paulo, em 10 de março de 1688: “Acha-se a capitania do Rio Grande
tão oprimida dos bárbaros, que nela mataram o ano passado mais de cem pessoas, entre brancos e escravos, destruindo
mais de 30 mil cabeças de gado”, Docs. hist., xi, p. 139. Os dízimos da capitania, 800$000, em 1682, baixaram a 550$000,
Docs. hist., x, p. 197, e em 1684 não passavam de 700$000, Docs. hist., x, p. 200.
1007 Docs. hist., cit., p. 341. Sucedeu a Constantino de Oliveira, também seu irmão, cf. patente de 3 de novembro de
1694, Anais do Arq. Públ. da Bahia, i, p. 164, confirmada em 23 de agosto de 1698, Torre do Tombo, Chanc. de D. Pedro
ii, liv. 52, f. 58.
1009 Carta do padre, 29 de out. de 1699, Rev. do Inst. do Ceará, xxxvii, p. 133.
1010 O Sargento-mor Pedro Lelou (que acabara de governar o Ceará), disse Bernardo Vieira, induzira o Janduí a
unir-se aos paiacós, para irem à guerra contra os icós, porém o tuxaua revelou a intriga a Morais Navarro e com este
combinou um assalto aos paiacós, destruindo-os de surpresa..., carta de 17 de dez. de 1699, Rev. do Inst. do Ceará, vol.
cit., p. 139. O Bispo de Pernambuco excomungou o paulista. Defendeu-o José Barbosa Leal, carta de 20 de dez., dizendo
que os paiacós mortos eram inimigos, e não se confundiam com a tribo do mesmo nome “do rancho do tapuia Maticas
Paca que o Pe. João da Costa está instruindo na fé”, ibid., p. 143. Curioso é que Pedro Lelou faz a apologia do extermínio
dos bárbaros citando exemplos do México e do Peru...
1011 Studart, Rev. do Inst. do Ceará, xxxvii, p. 51. Por falta de oficiais de justiça os dízimos eram arrematados no Rio
Grande, Docs. hist., x, p. 211.
1012 Rev. cit., vol. cit., p. 76. O forte foi reconstruído em 1697, cf. Studart, Datas e fatos, p. 111. A fortaleza, cujos
restos ainda podem ser vistos, esta é de 1812, v. Afonso do Paço, Fortaleza de Nossa Senhora d’Assunção da capitania do
Ceará Grande. Coimbra: 1950, p. 15.
1013 Carta del-rei, 29 de janeiro de 1691, Rev. do Inst. do Ceará, cit., p. 23. Mandava que se desse aumento às
Missões.
1014 Caucaia, depois de 1759, chamou-se Soure; Parangava, Arronches; Paupina, Mecejana.
1017 Câmara Coutinho escreveu a el-rei, em 4 de julho de 1692: “Na Missão da serra do Ceará está assistindo nela o
Padre Manuel Pedroso, há tempos que não tenho notícias suas”, Docs. hist., xxxiv, p. 63. Por esse tempo o Pe. Estanislau
de Campos “chegou à província do Ceará, criada junto aos limites do Maranhão [...] os companheiros que naquela região
tinham um hospício de estreitas proporções”, Rev. do Inst. Hist., lii, p. 14. O hospício de Ibiapaba é de 1698–1721, e o de
Aquiraz, de 1727.
1019 Pe. Heliodoro Pires, in Anais do Arq. Públ. da Bahia, i, p. 250. A infiltração, proveniente da Bahia, teria seguido
da serra limítrofe (Pernambuco–Paraíba) o Piancó e alcançado o Piranhas, na década de 1680. A este movimento
pertencem os Oliveira Ledo, os vaqueiros de João Peixoto Viegas, etc. Sabemos agora que o gado do Rio Grande, com a
guerra do Açu, se deslocou para o Ceará. Mas outra penetração se deu pelo sul, com os gados do São Francisco tangidos
para melhores pastagens, como informa Antonil. Se dissermos que do Piauí os rebanhos também passaram ao Ceará,
teremos que por três lados essa capitania se beneficiou da metódica expansão pastoril, entre 1680 e 1725.
1020 “Não há gentios no mundo que menos repugnem à doutrina da fé, e mais facilmente a aceitem e recebam que
estes Brasis”, Vieira, “Sermão do Espírito Santo” (1657), Sermões, v, p. 330.
1022 V. Anais da Bibl. Nac., xxvi, p. 349. Maurício de Heriarte, Descrição do Estado do Maranhão, etc.; Garcia, nota a
Varnhagen, iii, pp. 211–7. A igreja dos mercedários, começada em 1640, inaugurou-se em tempo do Pe. Vieira (havia
então em Belém as da Senhora das Vitórias, do Carmo, do Desterro e da Luz), que aí fez o “Sermão de São Pedro
Nolasco”: “Não sei se notais o maior primor da arquitetura desta igreja [...] é ter por correspondência aquelas choupanas
de palha em que vivem os religiosos”, Sermões, vi, p. 350.
1023 Pe. Antônio Vieira, Cartas, i, p. 112. Em 1657, Sermões, iv, p. 69: “É possível que numa cidade tão nobre e
cabeça de um estado (Maranhão) não haja um hospital e que a Misericórdia não sirva mais que de enterrar os mortos?”.
1024 “Outros lhe chamem Rio das Almazonas; mas eu lhe chamo Rio das Almazinhas”. “Sermão da Primeira Oitava
da Páscoa”, 1656, Sermões, ed. cit., v, p. 232, àquele “grande mar do Rio das Amazonas”, Sermões, v, p. 350.
“Verdadeiramente é um mar doce, maior que o Mar Mediterrâneo”, ibid., v, p. 376.
1025 “Desde o mapa que, segundo a informação do cronista Bettendorf, Antônio Vieira tinha no colégio do Pará, até
o de Samuel Fritz, publicado em 1707 em Quito, os jesuítas foram os únicos cartógrafos do Amazonas”, J. Lúcio
d’Azevedo, História de Antônio Vieira, i, p. 311. A carta definitiva das missões é de 1753.
1026 Vieira, “Sermão da Epifania”, 1662. V. também a “Exortação primeira”, Sermões, v, p. 357, e “Sermão do
Espírito Santo”, cit.
1027 Carta de 1º de junho de 1656, Pe. Serafim Leite, Novas cartas jesuíticas, p. 254.
1029 V. Varnhagen, Hist. geral, iii, p. 200; J. Lúcio d’Azevedo, op. cit., p. 53.
1031 Diz Vieira, carta cit., Pe. Serafim Leite, op. cit., p. 257, que a Província do Brasil não consentiu na separação do
Maranhão: “Suspeitando-se que o Padre Luís Figueira a queria desunir, pelos impedimentos das guerras de Pernambuco,
a Província acudiu a isso em Roma e não o consentiu; e suposto que o Maranhão é tão parte da Província como São
Paulo, Espírito Santo, Ilhéus, Pernambuco e Rio de Janeiro e como a mesma Bahia, por que se não há de acudir ao
provimento destas casas?”. É que não havia na Bahia missionários disponíveis, como a S. M. respondeu, a 12 de setembro
de 1660, Francisco Barreto, Docs. hist., iv, p. 388.
1032 J. Lúcio, Hist. de Antônio Vieira, i, p. 206. A missão “fez-se por ordem do Padre-geral Francisco Piccolomini”,
Pe. Serafim Leite, Novas cartas, p. 304.
1034 “Sermão da Primeira Dominga da Quaresma”, 1653, Sermões, iii, p. 21, da ed. do Porto, 1901.
1035 Escreveu Vieira em 1657: “No ano de 1654 (aliás 53) por informação dos procuradores deste estado, se passou
uma lei com tantas larguezas, na matéria do cativeiro dos índios, que sendo Sua Majestade melhor informado se serviu
mandá-la revogar”, Cartas, i, p. 149.
1036 Berredo, Anais históricos do Maranhão, §972; Varnhagen, op. cit., iii, p. 200.
1040 Esta soberba oração incluiu-a Afrânio Peixoto entre Os melhores sermões de Vieira. Rio: 1933, pp. 131–67. Da
quinta dominga da Quaresma desse ano é a em que Vieira acusou: “De Maranhão, de murmurar, de verberar, de
maldizer, de malsinar, de mexericar, e sobretudo de mentir”, Sermões, iv, p. 146, ed. de 1909.
1041 V. J. Lúcio, Os jesuítas no Grão-Pará, p. 68. No Sermão de Epifania, 1662, esclareceu: “Consta autenticamente
nesta corte que no ano de 1655, vim eu a ela, só a buscar o remédio desta queixa, e a estabelecer (como levei estabelecido
por Provisões Reais) que todos os índios sem exceção servissem ao mesmo povo e o servissem sempre: e o modo, a
repartição e a igualdade, com o que o haviam de servir”.
1042 Carta de 24 de março de 1661, que agora divulga o Pe. Serafim Leite, op. cit., p. 304.
1043 O da Sexagésima é o primeiro escolhido por Afrânio Peixoto, para a coletânea d’Os melhores sermões, citada.
Referiu-se a ele Vieira, Cartas, iii, p. 135, ed. J. Lúcio, c. de 18 de dezembro de 1674, para dizer: “[...] como se o servirmos
aos índios fora servirmo-nos deles”.
1047 Do Pará, 8 de dezembro de 1655, Cartas, i, p. 138. E em 14 de dezembro, escrevendo ao secretário Pedro Vieira:
“Foi contudo necessária a autoridade do Governador André Vidal junta com algum rigor para que seculares e
eclesiásticos desistissem de alguns movimentos populares, com que queriam inquietar a paz e escurecer a verdade”. O
sermão da primeira oitava da Páscoa de 1656, Sermões, v, p. 204, dedicou-o Vieira à decepção dos moradores, com a volta
da expedição que debalde procurara minas de ouro... Proféticas palavras!
1048 Cartas, i, p. 145. Das cartas transcritas por J. Lúcio d’Azevedo, Cartas, iii, p. 730, passim, se vê que Vieira lutou
muitas vezes com a incompreensão de companheiros seus e os excessos do visitador, Padre Francisco Gonçalves, tais
“como de dar bastões e ginetas, e até hábitos de Cristo, publicamente na igreja em presença de portugueses”. O propósito
de Vieira era obstar a novos conflitos com o Estado. — Sobre a ocupação da terra, v. também Pe. Hafkemeyer, Revista do
Inst. Hist., Congr. Inst. de Hist. da América, v, 56, passim.
1049 Studart, “Documentos”, Revista do Inst. do Ceará, xxxvii, p. 21. O mesmo Padre Barbosa foi em 1675 “o que
empreendeu navegar em canoa a costa do Maranhão até o Ceará facilitando-a de sorte que está hoje corrente, indo dali à
Bahia donde enviou missionários”, Rev. cit., p. 22. Dela dissera Vieira em 1660: “Faço esta na Serra de Ibiapaba onde vim
acabar de visitar a missão. Levo comigo ao Padre Antônio Ribeiro e deixo em seu lugar ao Padre Pedro Pedrosa, que já
sabe bem a língua”, Cartas, iii, p. 729, ed. J. Lúcio.
1050 Vieira, Cartas, ed. J. Lúcio, i, pp. 550–2. V. também do Pe. Manuel Rodríguez, El Marañón y Amazonas: Historia
de los Descubrimientos, Madri, 1684.
1051 De 1654 é Relation du voyage des françois fait au cap de Nord en Amérique... sous la conduite de Monsieur De
Royville..., Paris.
1052 Carta de 23 de dez. de 1665. O filho do donatário, Luís Gonçalo Sousa de Macedo, foi feito barão da dita ilha,
título transformado em 1754, quando da incorporação dela à Coroa, em viscondado de Mesquitela, em favor do bisneto
de Sousa de Macedo. Este notável escritor ganhou ultimamente justa evidência com a tese que sustenta Afonso Pena
Júnior, A Autoria da “Arte de furtar”, 2 vols., de que saiu de sua pena política e sutil o livro erradamente atribuído ao
Padre Vieira no século seguinte. Graças à douta controvérsia a atenção da crítica se voltou ainda uma vez para um dos
espíritos mais claros e audazes de Portugal seiscentista, levemente ligado ao Brasil por essa doação de Marajó.
1053 Cartas, i, p. 169. No “Sermão da Epifania”, 1662, voltou Vieira a encarecer estes triunfos: “De maneira que a
estrela dos Magos em dois anos trouxe a Cristo três homens, e as nossas (missões) em meio ano quatro nações”.
1054 Vieira, “Relação da Missão da Serra de Ibiapaba”, Obras várias, ii, p. 84; e J. Lúcio d’Azevedo, Hist. de Antônio
Vieira, i, p. 320.
1055 “[...] capitão de infantaria indo por cabo da Tropa que o governador e capitão-geral daquele estado (Maranhão)
mandou na Missão que o Padre Antônio Vieira religioso da Companhia de Jesus visitador-geral das Missões daquela
Cristandade fez na era de 1660 à Serra de Ibiapaba, a dar forma à mesma Cristandade e aquietar os ânimos dos principais
que andavam alterados e se temia que com os índios pernambucanos que tinham seguido o serviço dos holandeses e na
Restauração de Pernambuco se haviam acolhido à mesma serra se separassem da obediência da Igreja e de Sua Majestade
[...]”, patente de Brás do Couto de Aguiar, 1666, Anais do Arq. Públ. da Bahia, viii, p. 34. Não há referência a este soldado
nos livros citados.
1056 J. Lúcio, op. cit., i, p. 325. O Padre Pedro Pedrosa em 1661 aquietou de novo esses índios, levantados,
“conduzindo para o Maranhão o principal, André Coroatai, com 400 almas de que se formou uma aldeia”, Studart,
“Documentos”, Revista do Inst. do Ceará, xxxvii, p. 21.
1057 El-rei mandara-lhe os decretos pedidos pelos jesuítas, para que os entregasse ao governador e aos prelados das
outras religiões, escreveu Vieira (ao Pe. Geral) em 1658, Pe. Serafim Leite, Novas cartas, p. 273.
1058 “Comigo tem o governador mais confiança, e tanta, que vindo ao Pará, me deu folhas de papel assinadas em
branco”, carta de Vieira, 1661, Pe. Serafim Leite, op. cit., p. 284. Depois, em 1662, que “D. Pedro assim na mesma junta
como em todo o tempo antecedente fez notáveis diligências por fazer verdadeiras as suspeitas que os padres tinham de
sua boa vontade”. “Um do povo lhe disse publicamente: se os lançamos fora, foi porque os criados de V. S. nos disseram
que assim o fizéssemos”, ibid., p. 315. A representação dos paraenses a Vieira, em 15 de janeiro de 1661, assinada pelos
vereadores, e a sua resposta, publica-as Berredo, Anais históricos do Estado do Maranhão. Florença: 1905, pp. 110–7.
1059 D. Pedro de Melo tentou, em 16 de maio, obter da Câmara do Pará que se contentasse com o confinamento dos
jesuítas, ms. no Arq. Hist. Col., Lisboa.
1060 É desse tempo (abril de 1662) carta de Francisco Barreto ao novo governador do Rio de Janeiro, Pedro de Melo
(não confundir com o do Maranhão), em que “lastima da diferença que há de vencer castelhanos e lidar com mazombos”,
Docs. hist., v, p. 146. Mazombos, brancos nascidos no Brasil, é palavra corrente neste, e no seguinte século, como se lê em
Nuno Marques Pereira, O peregrino da América, i, p. 59: “O Mazombinho canário [...]” (1727). Mas, no seu dicionário,
Morais a indica como termo injurioso.
1061 Em 25 de dezembro de 1661, teve Antônio Vieira vista dos papéis mandados pelos moradores do Maranhão,
para responder, ms. no Arq. Hist. Col., Lisboa.
1062 D. Afonso vi, ed. E. Brasão, pp. 30–2. O papel da expulsão dos Conti “de que dão por autor ao Padre Antônio
Vieira”, ibid., p. 34.
1063 Cartas, i, p. 175. Sobre as ocorrências do Amazonas — Maranhão, Pe. Bettendorf, “Crônica”, Rev. do Inst. Hist.,
vol. 72 (1909).
1064 Varnhagen, ibid., iii, pp. 246–7. Carta régia de 1688 mandou pagar aos jesuítas côngruas vencidas desde a data
da expulsão “sem culpa”, Docs. hist., xxix, p. 256. Venceu a campanha pertinaz dos padres. A justiça ajudou-os. Resume-
lhes as queixas Pedro Fernandes Monteiro, representação ao rei ouvida pelo Conselho Ultramarino, a 13 de setembro de
1663, ms. no Arq. Hist. Col., Lisboa. A praxe estabeleceu-se (repetiu Vieira, Cartas, ed. J. Lúcio, iii, p. 669), “se prova é de
cabelo corredio”, “em diferença dos etíopes”, o índio não podia continuar escravizado. Estabeleceu-se na “Relação da
Bahia e de todos os ouvidores e justiças do Brasil”.
1067 “Satírica”, Obras, ed. da Academia Brasileira, ii, p. 206. A sátira é à lei de 1686, que alterou novamente o valor da
moeda, no reino.
1069 Em 1660 pedira Vieira: “Necessitamos muito de tapanhunos (negros) que já temos pedido à província... Nesta
serra me deu o Padre Antônio Ribeiro por alvitre que o provedor da Fazenda de Pernambuco nos podia comprar lá estas
peças, e mandá-las no barco del-rei que vem todos os anos ao Ceará”, Cartas, iii, p. 733, ed. J. Lúcio.
1070 V., entre outras, carta régia de 27 de agosto de 1680, Docs. hist., xxix, p. 118.
1071 V. Varnhagen, Hist. ger., iii, pp. 307 e ss.; J. F. Lisboa, Obras, iii, pp. 418 e ss.
1072 Até o começo do século seguinte a produção açucareira do Maranhão era pequena e de inferior qualidade. Carta
régia de 6 de maio de 1706, mandando fossem mestres de açúcar da Bahia, disse “ser conveniente que no Estado do
Maranhão se obrem açúcares e estes sejam de igual bondade dos que se fazem no Brasil”, Anais do Arq. Públ. da Bahia, i,
p. 213.
1073 Carta de Vieira, 22 de julho de 1684: “De novo nos tornaram a lançar do Maranhão aqueles bons cristãos que, se
foram castigados da primeira vez e desterrados os principais moradores e alguns frades que os fomentam, não se
atreveriam a esta reincidência” Cartas, ed. J. Lúcio, iii, p. 490.
1074 Tomás Bequimão foi deportado para Pernambuco; esteve oito anos cativo dos mouros; vinte anos mais tarde,
perdoado, teve licença para descer cem casais de índios e estabelecer-se com lavoura do Maranhão. O delator Lázaro de
Melo acabou por se matar, num engenho, roído de remorsos. Em torno desses sucessos há literatura abundante, que
Varnhagen resume, op. cit., iii, pp. 311–2. Manuel Bequimão “morreu satisfeito”, diz na Relaçam histórica e política dos
tumultos que sucederam na cidade do Maranhão, Francisco Teixeira de Morais, 1692, códice n. 681, ms. da Academia das
Ciências de Lisboa, já publicado, Rev. do Inst. Hist., xl.
1075 Carta régia de 22 de março de 1687 ordenou ao governador-geral auxiliasse a restituição dos jesuítas ao
Maranhão, Docs. hist., lxviii, p. 151. Outra de 22 de março de 88 mandou que o governador-geral desse todo apoio a essa
volta, Docs. hist., x, p. 293.
1076 Carta régia de 20 de fev. de 1686, Garcia, nota a Varnhagen, iii, p. 313.
1077 A primeira fortificação no Araguari foi feita em 1660, por Pedro da Costa Favela. Francisco da Mota Falcão em
1673 subiu o Tocantins ao encontro dos paulistas Sebastião Pais de Barros e Pascoal Pais de Araújo, Artur César Ferreira
Reis, A política de Portugal no Vale Amazônico. Belém: 1940, p. 16. O forte que levantara em 1669 foi o primeiro alicerce
da cidade de Manaus, A. O. Ferreira Reis, História do Amazonas, p. 47. O mesmo autor, Manaus e outras vilas, pp. 30 e
ss., Manaus, 1935, aprecia as divergências quanto à data da fundação do forte.
1078 Le Febvre de la Barre, “La Description de la France Equinociale”, 1666, com belo mapa de Caiena, Maggs Bros.,
An Illustrated Catalogue... at the Library of the Congress. Washington: 1929, p. 29.
1079 Neto de Francisco e bisneto de Feliciano Coelho de Carvalho, Fr. Jaboatão, Cat. gen., tít. Arnau de Holanda, fez
Antônio de Albuquerque as armas na fronteira e foi governador da Beira Baixa e Olivença. Governou o Maranhão de
1685 a 1701, Garcia, nota a Varnhagen, v, p. 340. Tornou-se maior o seu nome em 1709–11, em São Paulo e Minas Gerais,
como veremos. Deste governo maranhense levou para o Sul a experiência dos assuntos brasileiros e o domínio da língua
tupi, que lhe permitiu saber o que diziam os paulistas, v. A. Taunay, Relatos sertanistas. São Paulo: 1953, p. 68.
1082 V. Damião Peres, A diplomacia portuguesa e a sucessão de Espanha (1700–4). Barcelos: 1931, p. 16; Calógeras,
A política exterior do império. Rio: 1927, i, p. 157; principalmente a Exposição apresentada pelo Barão do Rio Branco em
defesa dos direitos do Brasil, e a sentença arbitral do governo suíço, que dirimiu a pendência de limites com a França.
Sobre o memorial do embaixador francês em 1698, fundado nos precedentes, das companhias do tempo de Luís xiii, e
desastrada resposta que se lhe deu em Lisboa, há uma página irônica de José da Cunha Brochado, Mendes dos Remédios,
Memórias de José da Cunha Brochado. Coimbra: 1909, p. 34.
1083 George Edmundsen, Journal of the travels and labours of father Samuel Fritz, London, 1922 (o diário foi achado
em Évora em 1902). Publicou-o Rodolfo Garcia in Rev. do Inst. Bras., t. 81. Sobre o desenvolvimento da questão com o
Pe. Fritz, também Ferreira Reis, Hist. do Amazonas, pp. 69 e ss. O célebre mapa do Amazonas feito pelo padre (gravado
em Quito em 1707 pelo Pe. Juan de Nervaes, impresso pela primeira vez em Londres em 1712) é reputado
cronologicamente o melhor levantamento da bacia amazônica.
1084 Carta de D. João de Lencastro, 23 de junho de 1695, Docs. hist., xxxviii, p. 344. O emissário chegara a 19 de abril
de 95. Chamava-se Antônio da Cunha Sotto Maior. O segundo mensageiro foi o Sargento-mor Francisco dos Santos.
Sotto Maior, depois mestre-de-campo da conquista do Piauí, foi assassinado pelos tapuios em 1713, fato de largas
conseqüências, Frei Francisco de N. S.a dos Prazeres, “Poranduba Maranhense”, Rev. do Inst. Hist., t. liv, parte i, p. 99.
Note-se que Francisco Dias de Ávila “pelo roteiro que tem é conhecedor dos confins do Maranhão ”, patente de 2 de abril
de 1691, Anais do Arq. Públ. da Bahia, i, p. 131.
1088 Docs. hist. xxvi, p. 158; xxxiii, p. 403. “Valendo un uomo a cavallo per centinaia de negri”, Duarte Lopes &
Filippo Pigafetta, Relação do reino do Congo. Lisboa: 1949, p. 23, ed. fac-similar.
1089 V. Ch. de Lannoy et Van der Linden, Histoire de l’Expansion Coloniale des Peuples Européens. Bruxelas: 1907,
p. 223 (sobre o intercâmbio afro-brasileiro). A respeito da ocupação progressiva, síntese de Gastão Sousa Dias, História da
expansão portuguesa no mundo. Lisboa: 1940, iii, pp. 208–12; e sobretudo Cadornega, História das guerras angolanas.
Lisboa: Agência Geral das Colônias, 1685.
1090 De macamba, conguês, camaradas, na acepção de ajuntamento. Grupos de gente amiga, vocábulo que entra na
linguagem em princípios do século.
1091 A palavra é arcaísmo português. Equivalia a bosque e aldeamento indígena: “[...] palmar com muitos arvoredos”,
Roteiros portugueses da viagem de Lisboa à Índia. Lisboa: 1898, p. 55, publ. por G. Pereira. “Mocambos e palmares [...]”,
documento de 1659 (em Pernambuco ficou o primeiro vocábulo, para casebre, cabana de beira de praia).
1094 Acompanhara-a D. Sebastião Pinheiro Camarão, com os seus índios, “ao dano que se fez aos negros dos
Palmares em um Mocambo de mais de 2 mil cabeças que se pôs fogo dando-se no fim com mais de 6 mil de guerra em
uma força destacada que sendo investida depois de duas horas de peleja foram destruídos com muitos mortos e feridos e
pondo-se os mais em fugida, foram seguidos pelos mais agrestes matos do sertão e pelejando com eles segunda vez
receberam semelhante dano”, Docs. hist., xxix, p. 293. Sobre Manuel Lopes, soldado no Brasil desde 1635, v. José
Augusto, Famílias Seridoenses. Rio: 1940, pp. 62 e ss.
1097 Carta régia dando a recompensa de 80$000 nos dízimos dos Palmares a Feliciano Prudente, filho de Fernão
Carrilho, Docs. hist., xxix, p. 428. Alvará de Sua Alteza, de 10 de março de 1682, dispôs sobre os negros recapturados,
Docs. hist., xxxii, pp. 376–84.
1100 Comandava o “terço da gente negra de Pernambuco”, contra os Palmares, Domingos Rodrigues Carneiro,
Studart, “Documentos”, Rev. do Inst. do Ceará, xxxvii, p. 27.
1103 Documento pela primeira vez publicado por Pereira da Costa, e largamente debatido por Afonso Taunay,
História das bandeiras paulistas. São Paulo: 1928, iv, p. 340; e Barbosa Lima Sobrinho, Ensaio sobre o devassamento do
Piauí. Rio: 1929, p. 64.
1105 Docs. hist., xi, p. 71. Combina com o que escrevia Afonso Furtado em 25 de fevereiro de 1675, Docs. hist., x, p.
136, que não havia paulistas para irem aos Palmares, senão “quatro ou cinco”, “que todos os mais se recolheram acabada a
guerra para a sua capitania”.
1106 Doc. cit. por Ernesto Ennes, As guerras nos Palmares, p. 204. “O Domicílio que a poder de uma porfiada e
diuturna guerra contra o gentio brabo [...] de mais dezasseis anos nós tínhamos conquistado, povoado, lavrado e
plantado, com nossas criações”, 16 anos em 1694, 24 ou 25 em 1704. Este papel esclarece a ambigüidade do documento
revelado por Pereira da Costa.
1107 Ajuste firmado em Olinda, 3 de março de 1687, in Pereira da Costa, Anais pernambucanos, iv, p. 298, Recife,
1952, e comunicado ao rei pelo Governador João da Cunha Sotto Maior, em carta de 11 do mesmo mês, Ernesto Ennes,
op. cit., p. 169.
1108 Provavelmente na região onde está a capital piauiense. V. ainda, Documentação histórica pernambucana:
sesmarias. Recife: 1954, i, p. 119.
1110 Documentos citados por Barbosa Lima Sobrinho, ibid., pp. 73–5. Como há um lapso de tempo, entre 1685
(Domingos Jorge no Piauí) e 1689 (data dos papéis que se referem à vinda de São Paulo, por “ásperos e dilatados
sertões”), a conciliação desta notícia com a que dá o próprio bandeirante, de que desceu do Piauí (papel de 1694), só pode
ser feita considerando-se que vários dos seus oficiais tinham sido chamados de São Paulo para a empresa, e como afinal
todos eram de lá, parecia desnecessária a menção do tempo que gastaram no Piauí.
1111 Doc. in E. Ennes, op. cit., p. 206. Noutras palavras: os 150 brancos do terço de Domingos Jorge Velho eram
paulistas, mas do Piauí (portanto descidos do Piauí com ele) os 800 e tantos croazes e capiocrans (que erradamente
Ernesto Ennes traduz por “cupinharoms”), jês da zona do Rio Preto (cf. Teodoro Sampaio, que estudou os Kraô, ou
croazes), Estêvão Pinto, Os indígenas do Nordeste. São Paulo: 1935, i, p. 129. O gentílico aplicava-se aos canelas-finas,
índios do campo, confundindo os paulistas, com esses nomes vagos, as tribos, inimigas dos cariris do São Francisco
(aliados da Casa da Torre) e dos tupis (com eles vindos de São Paulo).
1112 Carta da rainha, 9 de janeiro de 1662, Docs. hist., lxvi, p. 177, mandando extinguir os janduís, para não se
tornarem “outros novos araucanos”.
1115 A. Tavares de Lira, Hist. do Rio Grande do Norte, e Taunay, ibid., vi, p. 315. Os janduís já usavam espingardas,
talvez fornecidas por piratas estrangeiros ou trocadas no Ceará, Docs. hist., x, p. 324. O Padre Vieira o diz: “Esta costa de
dois anos a esta parte anda infestada de corsários, particularmente franceses, dos quais alguns [...] ensinando os bárbaros
a manear as armas européias”, Cartas, ii, p. 289, de 1º de junho de 1687.
1118 Docs. hist., x, p. 275. Queixou-se o governador de que sendo 900 homens, só acompanharam os seus cabos
duzentos..., Docs. hist., x, p. 306.
1119 Mandou el-rei em 1692 que os tapuias aprisionados e vendidos como escravos fossem restituídos à liberdade,
Docs. hist., xxxiii, p. 344, revogando assim a autorização dada por Matias da Cunha.
1120 Docs. hist., x, p. 265; P. Calmon, História da Casa da Torre, p. 190. “E por lhe faltar pólvora e balas se retirara ao
seu arraial enquanto lhe chegava o socorro das armas e munições que lhe faltavam”, Docs. hist., x, p. 306. Morais Navarro
conta: “Como lhe foi faltando a pólvora se veio retirando para o seu arraial, e o vieram seguindo até o meio do caminho”,
Anais do Arq. Públ. da Bahia, i, p. 140.
1121 Patente de 6 de abril de 1690, Docs. hist., xxx, p. 8. Bernardo Vieira Ravasco foi quem lembrou ao arcebispo o
apelo aos paulistas, como declarou o prelado, A. Lamego, Mentiras históricas, p. 162.
1122 Em 1692 os paulistas começaram a desertar, queixando-se Matias Cardoso da falta de socorros, Docs. hist.,
xxxviii, p. 294. Revela Morais Navarro que foi forçado a retirar para o Ceará, Anais do Arq. Públ. da Bahia, i, p. 140. O
texto de Pedro Taques, Nobiliarquia, ed. Taunay, p. 415, é a propósito omisso e incorreto. Leia-se também Afonso d’E.
Taunay, História geral das bandeiras paulistas, viii, pp. 287 e ss.
1124 O “tratado”, in E. Ennes, op. cit., pp. 67–70, é de 10 de abril de 1692: uma peça típica. Alude à força dos janduís,
de 5 mil arcos. Aprovou-o el-rei; porém observou que daí por diante as guerras ao gentio deviam ser decididas por carta
régia, sempre que houvesse dilação possível, Docs. hist., xxxiv, p. 96.
1126 Docs. hist., xxxix, p. 19. Morais Navarro mostrou os inconvenientes do aldeamento, Anais do Arq. Públ. da
Bahia, i, p. 139. A sua folha de serviços, Rev. do Inst. do Ceará, xxxvii, pp. 62–8.
1127 Studart, “Documentos”, Rev. do Inst. do Ceará, xxxvii, p. 30. Em 1698 Matias Cardoso tinha currais no São
Francisco, da banda de Pernambuco, Docs. hist., xi, p. 267.
1128 Docs. hist., xi, p. 255. Em 26 de agosto de 1698 agradecia o governador-geral ao do Rio as providências sobre o
transporte dos paulistas, Docs. hist., xi, p. 266.
1131 Carta para o Sargento-mor José de Morais Navarro, 8 de abril de 1701, Docs. hist., xxxix, p. 139. Por essa ocasião
o mestre-de-campo foi preso para responder às acusações que lhe faziam de suas prepotências e malefícios.
1132 “Regular fortificação que dizem lhe fez um mouro que para eles fugiu”, carta do gov. de Pernambuco, Ennes,
ibid., p. 101.
1133 Carta, del-rei, 25 de agosto de 1696, Rev. do Inst. do Ceará, xxxvii, p. 55. André Furtado teve prêmio por “haver
morto e cortado a cabeça ao negro Zumbi”, ibid., p. 85.
1134 Zumbi — significa isto mesmo: principal divindade, espírito, senhor imortal... V. Nina Rodrigues, Os africanos
no Brasil, p. 140, 2ª ed.
1135 Carta de 14 de março de 1696, E. Ennes, op. cit., p. 104. Devemos assim à documentação do Arq. Hist. Col.,
Lisboa, nesse livro coligada, a versão real da campanha que tanto falou à imaginação brasileira. Oliveira Martins e Nina
Rodrigues chamaram aos Palmares — Tróia Negra. Inspiraram-se na romanesca narrativa de Rocha Pita, op. cit., p. 348.
Este criou o símbolo do Zumbi — e dos escravos que se lançavam ao abismo. Não admira que, no século xix, a literatura
“abolicionista” desse ao episódio a importância de epopéia da liberdade, de sublimação duma raça redimida no sacrifício
e na insubmissão. Castro Alves consagrou os seus últimos dias ao sonho de um poema dedicado aos Palmares... É
positiva, porém, a impressão causada, no reino e no resto do Brasil, pela resistência valorosa dos negros e sua destruição.
Já em 1684, Docs. hist., xxxii, p. 393, mandava el-rei que o governador-geral não permitisse nenhum excesso no castigo
dos escravos, “e que aqueles que o fizerem sejam obrigados a vendê-los a pessoas que lhes dêem bom trato”. Iniciou-se
com isto uma série de providências tendentes a acautelar a paz colonial pela melhoria do tratamento dos negros —
obstando a autoridade aos abusos e aos crimes de senhores cruéis.
1136 Carta do Padre Antônio Vieira, 23 de maio de 1682. Antônio de Sousa de Meneses empossou-se em 23 de maio
desse ano.
1137 V. Pedro Calmon, O crime de Antônio Vieira, p. 5, São Paulo. Nesse livrinho elucidamos o principal
acontecimento que perturbou a vida colonial no governo do “Braço de Prata”.
1138 Uma filha de André de Brito de Castro, e de D. Maria Francisca Leite, Leonor Maria, foi mulher de Alexandre de
Sousa Freire, mestre-de-campo e doutor em teologia, que governou o Maranhão (“mui versado na lição da Sagrada
Escritura”) e faleceu aos 70 anos, em 1740, Ano noticioso e histórico, ii, p. 120.
1139 Termo de familiar do Santo Ofício, 1686, ms. na Torre do Tombo, que divulgamos primeiro na História da Casa
da Torre.
1140 A culpa de Antônio de Brito é clara na confissão do próprio André de Brito de Castro, que escrevia em 31 de
julho de 1684: “Motivos tão particulares, apertados e necessários que meu irmão teve para este excesso”, carta a André
Lopes de Lavra, ms., inéd., comunicado por Clado Ribeiro Lessa. E Vieira: “Elas (as razões) nas leis da honra e do mundo,
e ainda segundo a natureza da conservação da própria vida, foram as mais justificadas”, Cartas, clxxv, ed. de 1886.
1141 Livro de Cartas Régias, ms. na Bibl. Nac. Inexplicavelmente, Gustavo de Matos Sequeira, e Luís Pastor de
Macedo, Nossa Lisboa, p. 45, Lisboa, dizem que o mataram os naturais no Brasil. Voltou para Portugal; e a Câmara da
Bahia pediu que visse os interesses dela na corte, Livro de correspondência, ms., inéd. O seu apelido, “Braço de Prata”,
perpetua-se no lugar do Poço do Bispo, arredores de Lisboa, onde morreu. Lá está a Estação do Braço de Prata, que
ninguém sabia (ao que consta) o que significa.
1142 Carta de Vieira ao Marquês de Gouveia, 5 de agosto de 1684; P. Calmon, O crime de Antônio Vieira, p. 53. A
consideração do marquês pelos jesuítas mostra-se na carta de 21 de dezembro de 1684 que escreveu ao governador do Rio
de Janeiro, Docs. hist., xi, p. 108.
1143 Gregório de Matos, Obras, ed. da Academia, ii, p. 99. É glosa à décima composta por Bernardo Vieira Ravasco.
As esperanças não se confirmaram completamente. “Os anos de 86, 87 e 88, em que houve grandes esterilidades de frutos
e muitas doenças”, importaram “perda e lesão enormíssima” para o contratador dos dízimos da Bahia, Docs. hist., xxx, p.
5.
1144 Sanches de Baena, Famílias titulares e grandes de Portugal, ii, p. 349. Dos maiores generais do seu tempo,
comandou a entrada dos portugueses em Madri, em 28 de junho de 1706, para aclamar Carlos iii — na “guerra de
sucessão de Espanha”.
1146 Filha de Francisco Fernandes da Ilha, portanto irmã de D. Maria de Sande, primeira mulher de Aires de Ornelas
de Vasconcelos, de quem diz o Nobiliário da Ilha da Madeira (Noronha, ibid., iii, p. 426), era genro desse “Francisco
Fernandes natural desta Ilha, cujo cabedal se reputava em 700 mil cruzados”. Benfeitor da Misericórdia, esta tem o seu
retrato, por sinal o mais antigo da galeria, no salão nobre; v. testamento em Livro do Tombo, ms. da Santa Casa da Bahia.
1147 Jaboatão, Novo Orbe Seráfico Brasileiro. Rio: 1858, i, p. 352. Que a “bicha” era a febre amarela (confirmam os
sintomas descritos na correspondência do tempo), já o deixaram dito Varnhagen, Hist. geral, ii, p. 787 da 2ª ed.; Brás do
Amaral, notas a Accioli; Dr. José Pereira Rego, Memórias históricas das epidemias da febre amarela e cólera-morbo que
têm reinado no Brasil. Rio: 1873, p. 8. Américo Pires de Lima apresenta dúvidas. Crê fosse o tabardilho, in Brasília.
Coimbra: 1950, v, p. 305. O primeiro livro publicado por médico colonial, João Ferreira da Rosa, Tratado único da
constituiçam pestilencial de Pernambuco, Lisboa, 1694, colige dados importantes para o estudo desse surto inicial do
vômito negro. Ficou endêmico. Em 1689 dele morreu o Governador Matias da Cunha. V. documentação in Brás do
Amaral, anotações às Memórias, de Accioli, ii, p. 245. Proveio de tais indagações a idéia da “visita da saúde nos navios”, a
partir de 1698, ibid., ii, p. 245, precedida da carta que os capitães dos barcos que iam do Brasil deveriam exibir ao
comandante da Torre de Belém na entrada de Lisboa, Rev. do Inst. Hist.,. lxxi, p. 37.
1149 Rocha Pita, op. cit., p. 312. Vários sonetos dedicou Gregório de Matos ao excelente fidalgo, Obras, ii, pp. 154–7,
Do prado mais ameno a flor mais pura...
1150 Cf. carta à Câmara de São Paulo, 10 de março de 1688, Docs. hist., xi, p. 140. Os moradores do Rio Grande
tinham enviado à Bahia o Vereador Manuel Duarte de Azevedo, Docs. hist., x, p. 253.
1151 Rocha Pita, op. cit., p. 317. Certidão passada por Francisco Lamberto diz que o motim foi a 21 de outubro,
durou duas noites e um dia e meio, no Campo da Pólvora, morrendo vinte e duas pessoas, certidão de 18 de junho de
1692, ms. no Arq. Hist. Col., Lisboa.
1152 Deve-se a Bernardo Vieira Ravasco em boa parte a quietação da praça, cf. doc. in Alberto Lamego, Mentiras
históricas, p. 67. Deram-se 8$000 de farda a cada soldado no Campo da Pólvora.
1153 “Pelo risco grande em que se viu este povo nas alterações que sucederam na doença e morte do Sr. Matias da
Cunha, me achei necessitado de aceitar este governo posto que com bem mágoa minha”, carta do arcebispo, 30 de
novembro de 1688, Docs. hist., x, p. 347. Verificou-se que o honrado governador deixara a uma filha natural, no reino,
nada mais além do soldo, prov. de 18 de maio de 1689, Livro de Prov., f. 172, Arq. Hist. Col., inéd., Lisboa.
1154 Mandou el-rei, carta de 4 de maio de 1690, informasse o governador “com todo o segredo” dos que
“culpavelmente se houveram neste motim, ou por serem agressores e fomentadores dele, ou pela omissão de o poderem
evitar e não fazerem”. Em resposta, Câmara Coutinho declarou que os amotinados tinham sido 300, e na maioria, de
medo ao castigo, desertaram. “Alguns que me constou prendi e mandei para fora, uns para Angola e outro para
Pernambuco. Só João da Silveira de Magalhães, que foi mouro, e está nesta praça por ordem de V. M. tenho preso na
enxovia desta cidade: porque foi cabeça desta alteração e o que dava as respostas aos cabos, quando os iam reduzir,
andando com uma espada e rodela capitaneando os levantados”, carta de 16 de junho de 91, Docs. hist., xxxii, pp. 335–7.
1155 Patente do novo governador, Docs. hist., xxx, p. 124. Era filho de Ambrósio de Aguiar Coutinho ii e neto de
Antônio Gonçalves Câmara e D. Maria de Castro, esta filha de Ambrósio de Aguiar Coutinho, Pe. Carvalho da Costa,
Corog. port., iii, cit., 5º donatário do Espírito Santo. V. nota 16, p. 440 do 2º vol. Foi almotacel-mor do reino e vice-rei da
Índia (1692–702). De regresso do Oriente, faleceu na Bahia e jaz na igreja dos jesuítas, Teixeira de Aragão, Descrição geral
e histórica das moedas. Lisboa: 1880, p. 272. E Noronha, Nobiliário da Ilha da Madeira, i, p. 123.
1156 Obras, iv, p. 94 e v, p. 174. “Prosápia do governador [...]. No sangue mameluco [...] mameluco em quarto grau”.
1158 Cartas, iii, p. 451. E Matias da Cunha, 19 de set. de 1687: a frota “quase toda foi a meia, por ser péssima a safra
dos açúcares”, Docs. hist., x, p. 252.
1159 Provisão de 3 de novembro de 1681, Docs. hist., xxx, p. 372. Em carta de 28 de agosto de 1689 declarou o
arcebispo: “Três anos há que têm quebrado os contratadores com dívidas de mais de 200 mil cruzados”, Docs. hist., x, pp.
374–5.
1160 Arte de furtar, Espelho de Enganos, etc., edição de Weiszflog Irmãos, p. 134. O autor é Antônio de Sousa de
Macedo, demonstrou Afonso Pena Júnior, A autoria da Arte de furtar, 2 vols., Rio, 1945; outra opinião surgiu como o
nome do jesuíta Pe. Manuel da Costa cf. Francisco Rodrigues, O autor da Arte de furtar: resolução de um antigo
problema, Lisboa, 1940; Mário Martins, Brotéria. Lisboa: 1940, lxxi, p. 134, ago–set.
1162 Carta de 29 de junho de 1691, Cartas, ii, p. 324. A Câmara da Bahia declarou: “O dinheiro, Senhor, que tem esta
praga não chega a um milhão”, Docs. hist., xxxiv, p. 73.
1164 Representação, cujo original está no British Museum, publicada agora nos Anais da Biblioteca Nacional, lvii, p.
151. Vieira comentou: “Este remédio que agora se propõe é um dos grandes acertos do governo do senhor almotacel-
mor”, 8 de julho de 1691. Note-se a coincidência de expressões que tais, nas cartas do padre e no papel do governador.
Aquele, 1º de julho: “E, porque teme o Brasil que haja alguns ministros empenhados nos mesmos interesses, que não
aprovem este meio, de zelo, inteireza e autoridade de V. Ex.a se espera principalmente o pronto efeito”, etc. E o
governador em 4 de julho: “Bem sei que há de V. M. encontrar assim em muitos ministros seus, como em muitos mais
homens de negócio, grandes dificuldades a esta resolução por lhes parecer que com ela se dará algum golpe em seus
próprios interesses; mas V. M. deve considerar com Deus e consigo”, etc., Anais, cit., p. 153. Botelho de Oliveira dedicou
uma poesia gratulatória ao governador por essa carta, Música do Parnaso, p. 107.
1166 Erigiu-a o Coronel Domingos Pires de Carvalho; ver P. Calmon, História da Casa da Torre, cit.
1167 “Et Brasiliae Dominus”. Sobre o numerário então lavrado, v. Saturnino de Pádua, Guia do colecionador de
moedas brasileiras. Rio: 1928, pp. 29–30. Foi superintendente da Casa da Moeda o Desembargador João da Rocha Pita,
Rocha Pita, op. cit., p. 332, e juiz da moeda José Ribeiro Rangel.
1169 Gregório de Matos comemorou, Obras, ii, pp. 109–21, o desembargador “na ocasião em que foi a Porto Seguro,
com 50 soldados, a prender 37 facinorosos, que faziam muitos desacatos”. Satirizou, de contínuo, a severidade do
governador e as execuções que ordenava. Sobre Dionísio d’Ávila Vareiro, v. carta de nomeação, 1689, Docs. hist., xxx, p.
187. Fora ouvidor-geral de Pernambuco. O próprio Câmara Coutinho disse: “Admirou a todos os que conhecem paulistas
embrenhados, donde são mais destros que os mesmos bichos [...] finalmente os trouxe à cadeia desta cidade em duas
sumacas”. Passavam de 36. Cinco sofreram pena de morte e os demais, de degredo para Angola, carta de 15 de julho de
1692, Docs. hist., xxxiii, p. 451.
1171 Nuno Marques Pereira, O peregrino da América, i, p. 68, ed. da Academia Brasileira, notas de Afrânio Peixoto,
Rodolfo Garcia e Pedro Calmon.
1172 Vieira, carta de 29 de junho de 1691. Jaz o arcebispo na igreja de Belém em lápide anônima no meio da nave,
entre as sepulturas do Pe. Alexandre de Gusmão (1724) e do Coronel Antônio de Aragão de Meneses (1740). Morreu “da
enfermidade do contágio”, escreveu o governador, c. de 19 de junho, Rev. do Inst. Hist., lxxi, p. 40: portanto, da “bicha”
reinante.
1173 Doc. ms. no Inst. Hist. Bras., liv. 42, n. 802. “À frota em que veio o pálio” do arcebispo, dedicou Gregório de
Matos um soneto, Obras, ii, p. 76: “Chegou o Pálio enfim, que de um Prelado,/ Que nos veio a medida do desejo/ Tão
merecido foi, como esperado”.
1178 Vieira, carta de 24 de julho de 1694, cit. Empossou-se em 22 de maio desse ano, Miralles, op. cit., pp. 157–8. Era
cunhado de Câmara Coutinho; Gregório de Matos dedicou umas décimas “A D. João de Lencastre, que, vindo do governo
de Angola por escala à Bahia, e estando nela hóspede do Governador Antônio Luís Gonçalves da Câmara Coutinho, seu
cunhado, em cujo desagrado se achava o Poeta, se queixou de que este o não houvesse visitado, pedindo-lhe que ao menos
lhe fizesse uma sátira por obséquio”, Obras, v, pp. 98–100. Sobre a sua genealogia, Pe. Carvalho da Costa, Corografia
portuguesa, i, p. 404. Botelho de Oliveira memorou em dois sonetos, op. cit., pp. 131–2, o naufrágio que ia sofrendo na
barra da Bahia, e a sua fé, levando aos ombros a imagem de N. S.a da Graça do seu templo ao Mosteiro de São Bento, em
procissão. Pôs em mãos da mesma imagem o seu bastão de governador — informa Frei Agostinho de Santa Maria. — A
carta de nomeação publicou-a Brás do Amaral, nota a Accioli, ii, p. 259; Docs. hist., lvi, p. 62. — Câmara Coutinho foi ser
vice-rei na Índia, e de volta, em 1701, faleceu na Bahia, Rocha Pita, op. cit., p. 363.
1179 Inscrição nessa fortaleza: “O muito alto e poderoso Rei D. Pedro ii houve por bem ordenar a D. João de
Lencastro, quando governou este Estado do Brasil, que mandasse edificar e acrescentar de novo esta fortaleza em 1696”.
1180 Em setembro de 1640 tinha sido arrematado o feitio das portas de São Bento, Atas da Câmara da Bahia, códice,
ms. no respectivo arq. A reforma constava do plano geral que executou o engenheiro José Pais Estêves, que de
Pernambuco passara à Bahia, em obediência às ordens del-rei, de 15 de março de 1692, B. do Amaral, nota a Accioli, ii, p.
261. “Os engenheiros dizem que esta fortificação (como parece do papel) se há de continuar pela planta que fez João
Coutinho. Esta se remeteu em tempo do Marquês das Minas para esse reino, donde está e neste estado não ficou
nenhuma cópia”, carta de Câmara Coutinho, 28 de junho de 1692, Docs. hist., xxxiv, pp. 22–3. Mandara-lhe el-rei fizesse
“de torrão” a fortificação da cidade. D. João de Lencastro fez executar os trabalhos.
1182 A Casa da Alfândega continuava na Praça do Palácio, onde a situara Tomé de Sousa em 1549. A ordem para a
construção do novo armazém na Ribeira é de 15 de dezembro de 1694, B. do Amaral, nota a Accioli, ii, p. 271. Estava
pronto em 1696. Contribuíram para ela os mercadores. Reconstruiu-se a alfândega em 1746.
1184 Doc. in B. do Amaral, nota a Accioli, ii, p. 291. Os estudantes teriam no mínimo 18 anos e continuariam o
estudo se, examinados, mostrassem “gênio para eles”. A mesma providência se tomou para o Maranhão, Garcia, nota a
Varnhagen, iii, p. 335. No Arquivo Histórico Colonial vimos álbuns de desenhos dessa escola de arquitetura, referentes à
década de 1770: atestam a eficácia do ensino e a aplicação dos aprendizes. — As aulas de “fortificação e arquitetura
militar” foram criadas em Lisboa em 1647, gênese da Academia Militar.
1185 O alv. de 2 de fev. de 1695 ordenara o transporte das moedas do Rio para a Bahia, onde seriam transformadas
em “provinciais”. Em carta de 14 de maio de 96, disse D. João de Lencastro (a Artur de Sá e Meneses, governador do Rio):
“Mui repetidas são as ordens que tenho mandado a essa capitania para na forma das de S. M. que Deus guarde vir o
dinheiro dela a esta cidade e converter-se na Casa de Moeda na ‘provincial’; e nenhuma teve efeito até o presente, pela
repugnância que esses moradores tiveram ao risco que podia ter no mar com os piratas e na terra com as distâncias dos
caminhos e passagens de caudalosos rios”, S. Sombra, op. cit., p. 107. A Pernambuco concedeu el-rei um ano de prazo.
Pela carta régia de 12 de janeiro de 1698 autorizou a transferência da Casa da Moeda para o Rio. E pela carta régia de 27
de novembro do mesmo ano explicou: “O lavor da Casa da Moeda no Rio de Janeiro seja feito durante um ano, findo o
qual ela seria fechada, passando-se os oficiais para a capitania de Pernambuco”.
1186 Na Bahia, 1694–7, foram cunhadas “provinciais”: ouro para a Bahia — 102:000$000; prata — 818:000$000; para
Pernambuco, ouro — 8 contos; prata — 428; total: 1.356 contos. Na Casa do Rio: ouro — 612:644$640; prata —
253:694$940; total: 866:339$580; Azevedo Coutinho, Apreciação do medalheiro da Casa da Moeda, p. 41.
1187 Foi estabelecida definitivamente no Rio em janeiro de 1703, S. Sombra, op. cit., p. 116. Em 1714 a Bahia teve de
novo Casa da Moeda, para cunhar as de ouro para o reino. Terceira Casa abriu-se em Minas Gerais em 1725, com igual
fim.
1189 Miralles, op. cit., p. 52. Descreve a viagem Rocha Pita, op. cit., pp. 337–8. O governador não dispensou os
informes do velho Bento Surrel, a quem escreveu em 5 de nov. de 1694, Docs. hist., xxxviii, p. 328.
1190 “E se os não topar até o Geremogabo (sic) embique a estrada da catinga do Rio de São Francisco”, ordem de 20
de janeiro de 1672, Docs. hist., iv, p. 165.
1191 P. Calmon, História da Casa da Torre, p. 106. O Coronel Pedro Barbosa Leal fez segunda viagem ao São
Francisco, e mandou para a Bahia algum salitre em fardos, de couro, Rocha Pita, op. cit., p. 338. Em carta de 18 de janeiro
de 1700, diz D. João de Lencastro, remetera a S. M. 132 arrobas e 30 libras o ano passado, e esperava mandar nesse 800
arrobas..., Docs. hist., xxxix, p. 112. A nomeação de Barbosa Leal para administrador da Fábrica de Salitre é de 17 de
setembro de 1697, Anais do Arq. Públ. da Bahia, i, p. 207. Um lustro depois — em 1703 — já pouco rendia a fábrica,
quase inútil..., Anais, cit., p. 209. Novas nitreiras foram descobertas em Morro do Chapéu, 1699, Anais do Arq. Públ. da
Bahia, xxi, p. 168.
1192 A carta régia de 27 de dez. de 93 mandara formasse “povoações daqueles moradores que se acham espalhados
nos sertões”, B. do Amaral, nota a Accioli, ii, p. 273.
1193 Jaguaripe era freguesia desde 1613, B. de Barros, Dicionário geogr. da Bahia, p. 254. Adiante, no rio do mesmo
nome, em 1649 se construíra a primeira capela de Nazaré (das Farinhas). A freguesia de Maragogipe desmembrou-se de
Jaguaripe em 1680.
1194 Termo de criação da vila, B. do Amaral, op. cit., ii, p. 266. Foi João Rodrigues Adorno, capitão da ordenança do
distrito de Cachoeira desde 1663, Docs. hist., xxi, p. 298, e principal proprietário ali, quem doou aos carmelitas o sítio
onde fundaram o seu convento (1688), e acordou com a câmara, em 1699, o preço de 900 réis por braça de terreno para a
edificação urbana, A. Milton, “Efemérides Cachoeiranas”, in Rev. do Inst. Hist. da Bahia, n. 20, p. 217.
1195 Daí o nome de Sergipe “do Conde”. No engenho do conde esteve a matriz da freguesia de N. S.a da Purificação,
trasladada em 1704 para o sítio de Santo Amaro, “Relação de 1757”, Arquivo Público — Terras da Bahia, ii, p. 32, Bahia,
1929.
1196 Luís dos Santos Vilhena, Cartas Soteropolitanas, ii, p. 311. A justiça aos poucos se completou: juiz de órfãos de
vara branca (isto é, togado), na Bahia, em 1729, divisão em varas do cível e do crime, 1742... Também Rocha Pita, op. cit.,
p. 311.
1197 São numerosos os bacharéis nascidos no Brasil, que aqui vieram exercer a magistratura. Leia-se Francisco
Morais, Estudantes da Universidade de Coimbra nascidos no Brasil, Lisboa, 1949, enumerando mais de 2 mil moços
brasileiros lá formados, dentre os quais muitos se distinguiram pela carreira forense.
1199 Fr. Luís de Sousa, D. Fr. Bartolomeu dos Mártires, liv. 3, p. 69. O juiz de fora era o de vila grande, em contraste
com o ordinário, ou de vara vermelha eleito pelo povo como membro do conselho, Antônio Caetano do Amaral,
Memórias para a história da legislação e costumes de Portugal. Porto: 1945, p. 171, ed. M. Lopes de Almeida e César
Pegado. Aquele nome, aliás, é o das Ordenações filipinas, i, 1º: juízes que de fora forem para as vilas...
1202 Rocha Pita, História da América Portuguesa, ed. Jackson, com prefácio e notas de P. Calmon, pp. 364–5. Aliás,
Rocha Pita fora o vereador que assistiu à posse do juiz de fora e, portanto, ao primeiro ato da supressão formal da
autonomia da câmara, Atas da Câmara da Bahia, vi, p. 303.
1208 Anais do Arq. Públ. da Bahia, xiii, p. 102. A nomeação dos capitães-mores cabia aos governadores; mas, pelo
alvará de 18 de outubro de 1709, passou à competência das câmaras, que, já no século antecedente, proviam as
companhias (com seus capitães) das diferentes localidades. As ordenanças constituem a milícia municipal, recrutada em
ocasiões extremas, mas sujeita a mostras periódicas, P. Calmon, Hist. da civ. bras., 4ª ed., p. 160.
1209 V. Pe. Turíbio Vilanova Segura, Bom Jesus da Lapa. São Paulo: 1937, p. 120; P. Calmon, nota ao Peregrino da
América, ii, pp. 48–9, ed. da Acad. Bras.
1214 Miralles, Hist. mil., p. 159: cita diversos nomes e diz que na Bahia embarcaram trezentos homens, alguns das
melhores famílias.
1215 O progresso das construções náuticas, na Bahia, muito deveu ao Governador Câmara Coutinho, v. cartas in Rev.
do Inst. Hist., lxxi, p. 71, e a Francisco Lamberto, nomeado provedor da Fazenda em 1682, depois de ter sido
superintendente da Fábrica dos Galeões da Ribeira da cidade do Porto, Docs. hist., xxviii, p. 59. O seu túmulo, na igreja
conventual de Santa Teresa, tem a inscrição seguinte (com a sua pedra de armas): “Jaz aqui o grande pecador Francisco
Lamberto indigno provedor-mor da Fazenda Real deste Estado e das mais ocupações que nela serviu do ano de 1682 até o
de 1704 em que faleceu pede a quem passar que se lembre de sua alma”.
1216 Carta de D. Rodrigo da Costa, 13 de agosto de 1702, Docs. hist., xxxiv, p. 226. O novo governador empossou-se
em 3 de julho desse ano, Livro de posse dos vice-reis, ms. no Arq. Públ. da Bahia. Era 2º filho do 3º Conde de Soure, D.
João da Costa, um dos maiores portugueses da geração de 1640. Bateu-se no Alentejo e governou a Madeira, o Brasil e a
Índia, cf. Pe. Antônio de Carvalho, Corografia portuguesa, iii, p. 85.
1217 Em 1682 Frei Pedro de Sousa fora examinar as pedras de prata da Serra de Biraçoiaba (Sorocaba), cf. Pedro
Taques, Nobiliarquia, ed. A. Taunay, i, p. 69. O governador do Rio, Antônio Pais de Sande, teve ordem para “a
averiguação das minas de ouro e prata de Parnaguá, Itabaiana e Sabarabuçu com amplíssima jurisdição”, 14 de janeiro de
1693, mas desistiu dela, Docs. hist., xxxiv, p. 127. Foi substituí-lo no governo o Mestre-de-campo André Cusaco, patente
in Docs. hist., lvi, pp. 157–8. O velho governador morreu pouco depois, Docs. hist., lvi, p. 170.
1218 “Memória Histórica”, Rev. do Arq. Públ. Mineiro, fase. 3º, 1897, 2ª ed., p. 427, Diogo Pereira Ribeiro de
Vasconcelos; “Breve descrição”, etc., Rev. do mesmo arquivo, ano vi, fase. iii e iv — relato seguido por Diogo de
Vasconcelos, Hist. antiga de Minas Gerais. Belo Horizonte: 1904 p. 94. Talvez se trate de Manuel Rodrigues de Arzão, o
velho, capitão de Santo Amaro de Virapuera em 1677, Docs. hist., xiii, p. 16, pai de Antônio, a quem el-rei escreveu em
1701. Nesta data encarregou o primeiro (e por seu falecimento o filho) de administrar as datas dos ribeiros (sic) que
pertenciam à Real Fazenda, Documentos interessantes, li, p. 17. Portanto se enganou Vasconcelos, dizendo que morreu
Arzão antes de 1694; também Silva Leme, que diz ter Antônio falecido em 1696, Genealogia paulista. São Paulo: 1903, i, p.
192. A história mineira de 1692–8 continua lacunosa e pouco elucidada à falta de documentos coevos. Prevaleceu, desde
Antonil, a tradição oral, errada em muitos casos.
1220 Carta de Bernardo Correia de Sousa Coutinho, Docs. hist., xi, p. 205.
1221 Docs. hist., xi, p. 191. Escrevendo ao Capitão Pedro Taques, em 5 de setembro de 1695, o governador queria
novas notícias das minas, Docs. hist., xi, p. 227. Mandou que fosse vê-las o ouvidor do Rio de Janeiro, Sebastião
Fernandes Correia, ibid., p. 228. E em 14 de maio de 96, a Artur de Sá e Meneses: “A fortuna reservou para, no tempo de
V. S., as oferecer descobertas com infalível evidência às reais esperanças de Sua Majestade”.
1222 Nomeado em 12 de janeiro de 1697, Artur de Sá tomou posse em 2 de julho de 97, e seguiu em 15 de outubro
para São Paulo, Garcia, nota a Varnhagen, v, p. 321. Em 18 de novembro de 1699 escreveu-lhe D. João de Lencastro: “Da
abundância de ouro que se tira nas minas (cuja fama há de ser mais crescida, na Europa) me faz presumir que possa haver
alguma nação pouco afeta à nossa”, Docs. hist., xi, p. 274. Um dos filhos de Carlos Pedroso da Silveira casou-se com
“Helena da Silva Rosa, natural de Taubaté, filha de Miguel de Sousa Silva [...]”, Silva Leme, op. cit., v, p. 509. Este, o
Miguel de Sousa a que se refere o texto?
1223 A Casa de Fundição de Taubaté “foi criada em 1698 e logo no mesmo ano foram presos dois indivíduos por
falsificadores de trabalhos dela. Reorganizada em 1701 e suspensa em 1704”, Saturnino de Pádua, Guia do colecionador
de moedas brasileiras. Rio: 1928, p. 72. De 1701 é a do Rio de Janeiro; de 1703, de Santos e Parati. A de São Paulo foi
reaberta em 1701. Sobre Carlos Pedroso, que faleceu em 1719, v. Silva Leme, op. cit., v, p. 509; e Carlos da Silveira, Revista
do Inst. Hist. de São Paulo, xxxi, p. 92. Félix Guizard Filho achou-lhe o testamento em Taubaté.
1225 Escreveu-lhe o governador-geral: “[...] me diz V. S. se recolhera com pouco fruto da primeira jornada a São
Paulo”, 26 de agosto de 98, Docs. hist., xi, p. 265.
1226 É de 30 de novembro de 1699 a carta que escreveu a D. João de Lencastro, do Rio das Velhas, Docs. hist., xi, p.
283: “Permitira algumas pessoas que vieram para esta praça e a outras que foram aos currais desta capitania, que
quintassem o ouro que traziam, [...] e que por falta de mantimentos se haviam retirado muitos mineiros [...] para voltar
em março, assim pelos mantimentos, que já deixavam plantados, como pelo gado que haviam mandado buscar aos
currais de Bahia e Pernambuco”. O governador-geral mandou descobrir os homens que levavam o ouro quintado.
Surpreendeu-se com a facilidade!
1227 A riqueza do Marquês de Fontes e Abrantes — protetor, em Lisboa, do Padre Bartolomeu Lourenço de Gusmão
— viera-lhe do tio, “Artur de Sá e Meneses, de nome tão celebrado nos fastos brasileiros. Governador do Maranhão e do
Rio de Janeiro [...] percorrera o distrito das minas de ouro que acabavam de ser descobertas. E esta viagem lhe valera
proventos fabulosos, tendo recebido dos mineradores pródigos, deslumbrados com o seu Eldorado, presentes de metal no
valor de 40 arrobas de ouro, quase 600 quilos, dizem os cronistas, 163.840 oitavas que corresponderiam a uns 200 contos
de réis ou sejam pelos valores de hoje uns 20 mil contos de réis senão mais”, A. Taunay, Anais do Museu Paulista, ix, p.
26. Rocha Pita diz: “Se recolheu para o seu governo levando mostras, que o podiam enriquecer”, op. cit., p. 357.
1228 Do testamento de Salvador Fernandes Furtado, de que obtivemos cópia, ms. no Arq. Arquidiocesano de
Mariana, Minas — de 24 de maio de 1725 — sabemos: era “natural da Vila de São Francisco das Chagas do Vale de
Taubaté, bispado do Rio de Janeiro, filho legítimo do Capitão Manuel Fernandes Pedro e de sua mulher Maria Cubas
naturais da cidade de São Paulo”.
1229 A capela do Padre Faria, presumivelmente de 1700, é a mais velha de Ouro Preto. De Antônio Dias se chama o
bairro baixo da cidade, freguesia à parte, com belo templo. Ouro Preto propriamente dita é a parte alta da cidade. V.
Tomás Brandão, Marília de Dirceu. Belo Horizonte: 1932, p. 84. A primeira missa dita pelo Padre Faria naquele sitio foi
em 24 de junho de 1698, Augusto de Lima Júnior, Visões do passado. Rio: 1934, p. 97.
1232 É o nome que vem na provisão de 17 de abril de 1701, do Sargento-mor Antônio da Rocha, Documentos
interessantes, li, p. 25; e Docs. hist., xl, p. 354.
1234 O primeiro Regimento que teve esse administrador — e portanto o que organizou o incipiente governo nas
Minas — levou a data de 17 de abril de 1702, Documentos interessantes, li, pp. 74–88. Foi guarda-mor (o primeiro das
Minas) em 1701, Pedro Taques, Nobiliarquia, ed. Taunay, p. 23. Em 1685 era Domingos da Silva Bueno capitão de cavalos
em São Paulo, Registo geral da câmara, iii, p. 493. Em 1709 foi juiz ordinário em São Paulo, Atas da câmara, viii, p. 182.
1236 Assim do Rio das Velhas: guarda-mor, Borba Gato; procurador, Capitão João Gago de Oliveira; escrivão,
Leonardo Nardes de Arzão; escrivão dos quintos, José de Seixas; tesoureiro, Tomás Ferreira de Sousa. De Tocambira:
guarda-mor, Antônio Soares Ferreira; escrivão, Antônio Gomes; procurador, Capitão Baltasar de Lemos Morais,
Documentos interessantes, li, p. 20. O livro i da receita da Fazenda Real de Serro do Frio e Tocambira “abriu-se em 15 de
março de 1702”, Rev. do Arq. Públ. Mineiro, ano vii, fase. iii e iv, pp. 939 e ss.
1237 Em 22 de setembro de 1700 escreveu D. João de Lencastro a Artur de Sá, que não permitisse entrarem os sertões
da Bahia (“que o Rio Verde, o Doce, o Pardo, o das Velhas e as cabeceiras do Espírito Santo, estão no distrito da Bahia”),
pois “tenho já mandado a estas partes, a fazer os tais descobrimentos”, Docs. hist., xi, p. 282.
1242 Sir Alfred C. Lyall, The Rise of the British Dominion in India. London: 1898, p. 21. Verifique-se que a
Companhia Inglesa das Índias, de 1601, passava a encarregar-se da conquista do Indostão, a exemplo da sua rival
holandesa, cujo florescimento pode ser medido pelos dividendos, em média de 18%, que conservou durante dois séculos,
Clive Day, The Policy and Administration of the Dutch in Java. Nova York: 1904, p. 71.
1245 Carta do governador, 12 de julho de 1693, Rev. do Inst. Hist., lxxi, p. 104. Carta régia de 24 de novembro de 95
mandou (em conseqüência) libertar o comércio e a exportação para Angola, pagando a de Pernambuco 1$600 por pipa de
saída e 3$600 de entrada.
1246 Doc. cit. por Wanderley Pinho, História de um engenho do Recôncavo. Rio: 1947, p. 201.
1247 Livro de toda Fazenda, por Luís de Figueiredo Falcão, ms. na Casa de Cadaval, Manuscritos..., publ. por Virgínia
Rau, i, p. 14 e na Torre do Tombo (onde antes o consultáramos). O contrato de 1602 foi reformado em 1603 e rescindido
em 1606.
1248 V. Bernardino José de Sousa, O pau-brasil na história nacional. São Paulo: 1939, p. 182.
1250 V. o Regimento, in Bernardino de Sousa, ibid., pp. 146–50. Foi lei até o século xix.
1251 Teixeira de Freitas, Consolidação das leis civis. Rio: 1861, p. 37. O estanco da venda do pau-brasil, deixando a
madeira de ser considerada do domínio do Estado, só terminou pela Lei n. 1.040, de 14 de setembro de 1859, art. 12.
1252 Prov. de 1662, Docs. hist., xx, p. 172. A frota de 1664 levou 12 quintais de pau-brasil, Mercúrio português,
novembro de 1664, Lisboa. Sobre as vicissitudes do sistema de arrendamento, v. citado livro de Bernardino José de Sousa.
1254 Docs. hist., xii, p. 112, e xvi, p. 112. Luís Vaz de Resende tinha o contrato em 1631, Anais da Bibl. Nac., lviii, p.
114.
1255 Ainda em 1823 figurou o pau-brasil no orçamento da nação, com a receita de 120 contos de réis, R. Simonsen,
op. cit., i, p. 101. Com as liberdades públicas expostas na Constituição do império (1824) e o pleno direito de propriedade,
o monopólio do Estado, quanto ao pau-brasil, se limitou naturalmente à venda e exportação, sendo reconhecido aos
donos da terra (Lei n. 243, de 30 de nov. de 1841) o exclusivo direito de extraí-lo. O governo passava a comprador, por
preço considerado justo (8$000 o quintal). O regime de estanco foi abolido pela Lei n. 1.040, de 14 de setembro de 1859,
quando, aliás, a descoberta das anilinas (industrializadas a partir de 1856) depreciara definitivamente o corante silvestre.
Figurou nos orçamentos do país (até 1875) em virtude do imposto de exportação, de 15%, a que ficava sujeito. Perde-se de
vista o pau-brasil no quadro econômico do império em 1876.
1257 Docs. hist., xxiv, p. 13. Confirmava a ordem do governador, de 31 de agosto de 1636, e provisão de 23 de
dezembro de 63, a que se seguiram as de 65 e 81.
1259 Docs. hist., xxiv, p. 194, decisão citada pelos praxistas como tipo de privilégio justificado pelo interesse de
preservar a unidade da fábrica, para que os credores não a reduzissem a fogo morto.
1262 Requerimento de Bernardo Vieira Ravasco, ms. no Arq. Hist. Col., Papéis avulsos, inéd., 8 de setembro de 1662.
Dá a lista dos engenhos apagados (“desfabricados”) e descreve as vicissitudes da indústria, prejudicada pela abertura de
novos engenhos. É a melhor página sobre a economia do período (1662).
1263 Carta de 1687, cit. por Wanderley Pinho, História de um engenho do Recôncavo, p. 199.
1268 Carta ao Marquês das Minas, Cartas, iii, p. 639. Sobre as vicissitudes da indústria v. Documentos para a história
do açúcar, ii, Engenho de Sergipe do Conde. Embora as contas não reflitam com exatidão o estado geral da lavoura, dada
a peculiaridade das despesas gerais, serve esse registo para a notícia dos preços, do reduzido lucro e da complexidade dos
gastos para a manutenção da fábrica.
1269 Leia-se a descrição que do engenho faz o Padre Vieira no sermão 14 do Rosário, dirigido aos “irmãos pretos”, J.
Lúcio d’Azevedo, História de Antônio Vieira, ii, p. 282: “Os etíopes ou ciclopes banhados em suor, tão negros como
robustos”.
1272 Afonso d’E. Taunay, Subsídios para a história do tráfico africano no Brasil. São Paulo: 1941, p. 109. Tanganhão,
mercador de escravos; tangomão (Sousa Viterbo) tanglomango, brasileirismo, certamente da mesma origem, bestruço,
avantesma, ou entidade perversa, no folclore afro-americano. V. Luís da Câmara Cascudo, Dicionário de folclore
brasileiro. Rio: 1954, p. 603.
1276 Frederico Mauro, in Revista da Faculdade de Letras, Universidade de Lisboa, xxii, 2ª série, n. 2, pp. 20 e ss., 1956.
1279 Luís dos Santos Vilhena, Cartas Soteropolitanas. Bahia: 1922, i, p. 136.
1280 Francisco de Lemos Coelho, Duas descrições seiscentistas da Guiné. Lisboa: Acad. Port. da Hist., 1953, pp. 99–
100, introd. Damião Peres. Na Bahia confirma-se que os jangadeiros do Rio Vermelho são nagôs (provavelmente
guineenses). De índios em jangada há referências primitivas, a começar pela carta de Caminha, v. Luís da Câmara
Cascudo, Jangada. Rio: 1957, p. 65; v. g., Fernão Cardim, Trat. da terra e gente do Bras., p. 75, o costume, afigura-se-nos,
mesclado de africano e tupi, com forte contribuição nagô, nos termos da descrição seiscentista de Lemos Coelho. Em
jangada já se pescava em Pernambuco ao tempo dos holandeses, como prova a evasão de Claes Claeszoon — em jangada
— do Recife, na véspera da capitulação, para informar as praças do Norte, C. R. Boxer, op. cit., p. 242.
1281 Edgar Prestage, D. Francisco Manuel de Melo, Coimbra, 1914, transcrevendo-lhe o soneto, “varia idéia estando
na América e perturbado no estudo por bailes de bárbaros”.
1283 “Calundus e feitiços”, Gregório de Matos, ibid., vol. cit. e loc. cit. Nuno Marques Pereira, O peregrino da
América, i, p. 130, Rio, 1939, ed. da Acad. Bras., diz “adjuntos e festas dos Calundus”.
1284 Nuno Marques Pereira, op. cit., i, p. 134, “pacto explícito”, do quimbundo, kigila, preceito, em português,
quizília.
1285 Macumba, cadeados, Fr. Cannecattim, Observações gramaticais..., 2ª ed., p. 102, extensão à idéia de cadeia
religiosa. Termo peculiar ao culto afro-indígena no Rio de Janeiro. Na Bahia: candomblé, onomatopéia nagô, usual ali e
no Prata.
1286 Mas é curioso observar que ainda em 1711 os minas valiam menos do que os angolas, cf. carta régia de 27 de
fevereiro, Pereira da Costa, Anais pernambucanos, v, p. 68.
1292 Ano noticioso e histórico, ii, p. 116; Francisco Antônio Correia, História econômica de Portugal. Lisboa: 1929,
p. 284.
1299 J. Lúcio d’Azevedo, Épocas de Portugal econômico, e E. Simonsen, ibid., ii, pp. 202–3.
1300 Docs. hist., xxxiii, p. 404. Mas em 1704 o governador-geral ainda mandava arrancar todo o tabaco plantado em
Maragogipe, Docs. hist., xl, p. 168, passim.
1301 Cartas, ii, p. 227. E Duarte Ribeiro de Macedo, Transplantação das frutas da Índia ao Brasil, 1675.
1309 Docs. hist., ix, p. 451; ix, p. 364; e lxvii, p. 260. Em Pernambuco os dízimos em 1671 chegavam a 52 mil cruzados
(isto é, a produção voltara a níveis equivalentes aos de 1618, antes da guerra holandesa). Em 1688 (persistindo a crise do
açúcar) valiam 40 mil, Docs. hist., x, p. 282. Em 1662, quando os senhores da Bahia falavam pela boca de Bernardo Vieira
Ravasco as suas dificuldades, andavam em 20 mil, os da Paraíba em 3 mil (em vez de 93 mil, seu limite anterior).
1311 Docs. hist., xxxviii, p. 371. Em 1691, subiam os dízimos da Bahia a 90 mil cruzados, para caírem em 1693 a 66
mil, Docs. hist., xxxiv, p. 123, reagindo, em curva ascendente, depois de 1695. Os motivos já foram ditos: a valorização do
açúcar em virtude da escassez na Inglaterra, e, logo, o conflito europeu da sucessão de Espanha.
1313 V. Teodoro Sampaio, O tupi na geografia nacional; e Artur Neiva, Estudos da língua nacional. São Paulo: 1940,
p. 274.
1314 Sermões, v, pp. 348–9.
1315 Os estudantes do colégio da Bahia tiveram o direito de ser considerados aprovados em um ano de filosofia na
Universidade de Coimbra (1675) e os de Olinda o mesmo requereram em 6 de agosto de 1681 (21 de novembro, ms. no
Arq. Hist. Col., Lisboa).
1318 Carta de 1658, Pe. Serafim Leite, Novas cartas jesuíticas, p. 212 Sobre o mesmo ensino em Portugal, Pe.
Francisco Rodrigues, História da Companhia de Jesus na assistência de Portugal. Porto: 1944, t. 3, i, pp. 69 e ss.
1319 Parecer do Conselho Ultramarino, 30 de janeiro de 1689, in Pe. Serafim Leite, Hist. da Comp. de Jesus, vii, p.
202–9.
1320 Carta de el-rei a Matias da Cunha, 5 de fev. de 1689, Docs. hist., lxviii, p. 212.
1321 Sirva de demonstração desta verdade a profusão de temas científicos e literários dos azulejos das salas de aula,
assim do colégio da Bahia (galeria da antiga biblioteca) como do colégio de Évora, onde têm realce os painéis do salão de
física, com alusão às invenções, inclusive de uma oficina de tecer, geografia e filosofia, belas-artes... (que ali vimos em
1945). Não nos admire achar-se o nome de Molière num dos azulejos jesuíticos da Bahia. A idéia dos compêndios com
estampas antecipa-se naquelas figuras de Évora, felizmente intactas, que descrevem a pedagogia dos padres, como se
fossem páginas de um livro ilustrado.
1322 Leia-se Domingos Maurício Gomes do Souto, “Balanço cultural dos jesuítas no Brasil”, in Brasília. Coimbra:
1955, ix, pp. 251–311.
1324 Vida do Pe. Estanislau de Campos (Roma, 1765), Rev. do Inst. Hist., lii, p. 10.
1325 “Como de ver um mazombo [...]”, Gregório de Matos, Sátira, Obras. Rio: Acad. Bras., 1930, iv, p. 206; “O
Mazombinho Canário [...]”, Nuno Marques Pereira, O peregrino da América. Rio: Acad. Bras., 1939, i, p. 59; Marcgrave,
Morais, no Dicionário, Varnhagen, Pereira da Costa, este in Anais pernambucanos, v, p. 220, fazendo antedatar para
1645, a propósito da Carreira dos Mazombos, em Pernambuco, o vocábulo de aparente origem angolana, que pode ser
corruptela de mozambique, mozambo.
1328 Vicente Rodrigues Palha, tomou o hábito em 1599 (Capistrano de Abreu, nota preliminar à História do Brasil.
São Paulo: 1931, p. xii, 3ª ed.), e vivia em 1634, Fr. Jaboatão, Catálogo genealógico, in Rev. do Inst. Hist., lii, p. 264. A
amizade de Severim viera-lhe do irmão, Fr. Cristóvão de Lisboa, referido na Hist., p. 612, custódio no Maranhão e
botânico. Enganou-se Capistrano, ao imaginar que vários capítulos do códice se extraviaram, razão por que os supriu com
excertos de Severim de Faria e de Fr. Antônio de Santa Maria, op. cit., p. 423. Estudamos na Torre do Tombo esse códice
original, que tem complemento inédito, Adições e emendas que se hão de pôr na minha história do Brasil, e Lembranças
para o Sr. Salvador de Sá. Consta o texto de dois tomos encadernados, cuja unidade é evidente. Está a merecer edição
crítica aliviada dos acréscimos indébitos e completada com as adições do autor. Tendo extratado essas notas (1945),
projetamos publicá-las um dia.
1329 Grandeza das capitanias do Brasil, é título de Domingos d’Abreu de Brito, 1592, ms. na Bibl. Nac. de Lisboa,
citado pelo Visconde de Paiva Manso, História do Congo, Lisboa, 1877. Publicou Fr. Nicolau de Oliveira, em 1594,
Grandezas de Lisboa. — Ao que Rodolfo Garcia disse dos Diálogos das grandezas do Brasil (dados à estampa na revista
Íris, Rio, 1848, na Rev. do Inst. Arqueol. Pernambucano, 1883–7, edição definitiva na Acad. Bras., 1930) acrescentamos
que desde 1572, alvarás de 24 de fev., ms. na Bibl. Nac. do Rio de Janeiro, figura Bento Dias de Santiago como contratante
de dízimos em Pernambuco. Ambrósio Fernandes Brandão, Brandônio do livro, era tesoureiro em Lisboa em 1604, cf.
Coleção Cronológica da Legisl. de defuntos, ausentes, etc., Rio, 1828. Ambos, Brandão e Álvares, cristãos-novos... como
Santiago, Denunciações da Bahia, pp. 518–20.
1330 Com gravura de Colin, em que Brasília aparece em forma de índia, e data, Bahia, 5 de dezembro de 1655 (ed. de
Lisboa, 1658). Da Vida de Anchieta, dedicada ao baiano Francisco Gil de Araújo, há edição do Instituto do Livro, Rio,
1943.
1331 D. Francisco Manuel cita Carneiro entre os políticos, Cartas familiares, p. 342, ed. Rodrigues Lapa. V. também
Garcia, nota a Varnhagen, Hist. ger., iii, p. 152.
1332 Laudelino Freire, in Rev. da língua portuguesa, Rio, jan. de 1924 (núm. dedicado ao Padre Antônio de Sá).
1333 Ramiz Galvão, “O púlpito no Brasil”, in Rev. do Inst. Hist., cxvi, p. 52; nossa História da literatura baiana, pp.
43–4. E Scriptores Provinciae Brasiliensis, Pe. Serafim Leite, Hist. da Comp. de Jesus no Brasil, i, p. 533.
1334 Assim, quanto a Fr. Eusébio de Matos, v. Afrânio Peixoto, Panorama da literatura brasileira. São Paulo: 1940, p.
124; nossa Hist. da lit. baiana, p. 29. Do irmão de Gregório de Matos, v. Orações fúnebres nas exéquias de... D. Estêvão
dos Santos, Lisboa, 1735; Ecce Homo, 1677, Sermões, 1694. Ainda está para ser inventariado o sermonário luso-
americano, o que só será possível nas bibliotecas de Braga e da Universidade de Coimbra. — O reparo de Vieira citado no
texto, in Pe. Serafim Leite, Novas cartas jesuíticas, p. 260.
1335 Não é o lugar para apreciarmos, com a evolução da cultura, os progressos da eloqüência na colônia. Mas é
preciso corrigir neste particular as sínteses da literatura que a têm relegado a plano secundário, por falta do material a que
aludimos na nota anterior. Exprime o gosto literário do tempo, as possibilidades que lhe dava o púlpito e seus limites
eventuais. Está para ser feito o respectivo inventário, que exige o estudo do imenso acervo das livrarias eclesiásticas.
1339 Desaveio-se com Vieira. “Que os Alexandristas prevalecessem contra os Vieiristas”, Cartas do Pe. Antônio
Vieira, iii, p. 581. O místico do Seminário de Belém revive na glória do afilhado que lhe levou o nome, Alexandre de
Gusmão. E no gênio de outro discípulo, irmão deste, Pe. Bartolomeu Lourenço.
1340 Vida e obra, apesar de miudamente estudadas, J. F. Lisboa, Gonzaga Cabral, J. Lúcio d’Azevedo, padres
Francisco Rodrigues e Serafim Leite, Hernâni Cidade, Ivan Lins, para não citar senão do século passado para cá —
provocam ainda pesquisas documentais que lhe revelam facetas obscuras e fascinantes. Os inéditos, além das Cartas, que
completam a edição em 3 tomos de J. Lúcio (de que preferentemente nos valemos, Coimbra, 1925) — a Claris
Prophetarum, de que há apógrafos (Pe. Serafim Leite, in Verbum, Rio, dez. de 1944, p. 267; e Hist. da Comp., iv, pp. 192 e
ss.), possuindo a Biblioteca Nacional do Rio o códice que foi do Pe. Canesdi, e do Santo Ofício de Lisboa — merecem
edição comentada. Os principais vão sendo divulgados eruditamente por Hernâni Cidade, Clássicos Sá da Costa, Lisboa.
Dos Sermões (ed. princeps, iniciada em Lisboa, 1679), temos a boa tiragem portuense, de 1911 e a fac-sim., de São Paulo,
1944. Anotamos os patrióticos (Col. Brasiliana, São Paulo, 1938); e dedicamos ao episódio menos claro de 1683, na Bahia,
um voluminho com algo novo, O crime de Antônio Vieira, São Paulo, 1930. Ao genial jesuíta prestou a Bahia belas
homenagens em 1897, por ocasião do 3º centenário do falecimento (volume especial do Inst. Hist.); daí a placa de
mármore aposta à fachada da sua igreja-catedral. Mas o Brasil ainda não lhe fez a estátua, comemorativa do espírito cívico
e do fulgor verbal. A sua figura é inseparável da história da eloqüência brasileira.
1342 Ver P. Calmon, O crime de Antônio Vieira, cap. i, São Paulo, 1930 — em que lhe sumariamos a biografia na
última fase brasileira. Crime, no caso, foi o do sobrinho, mas cujas conseqüências o governador desatinado lhe atirou aos
ombros, acusando-o de proteger e desculpar: crime de ser afeiçoado aos parentes, de quem foi desenganadamente
benfeitor. Profeta precário, entreteve-se Vieira em analisar as trovas de Bandarra, v. Cartas, i, p. 492... Não acertou nos
seus prognósticos de quem seria o verdadeiro D. Sebastião (ora D. João iv, ora Afonso vi...), o rei do quinto império...,
nem sequer quanto a ele próprio, pois em 1653 se dava como “neste último quartel da vida”, Cartas, i, p. 303 e a viveu
mais 45 anos!
1343 Ivan Lins, Aspectos do Padre Antônio Vieira, p. 312. V., deste esplêndido livro, o cap. 6 — sobre o filósofo e o
moralista.
1344 Manuel Botelho de Oliveira, Música do Parnaso. Rio: Academia Brasileira, 1929, p. 51 (a original é de Lisboa,
1705).
1345 Pe. Manuel Bernardes, Nova floresta. Lisboa: 1706, iv, p. 47.
1347 As Obras de Gregório de Matos foram publicadas pela Academia Brasileira, 6 vols., coleção Afrânio Peixoto,
Rio, 1929–33. Ao último ajuntamos uma notícia biográfica. Conserva-se inédito na Bibl. Nac. volume manuscrito,
impublicável, das eróticas. Esparsas, distribuem-se-lhe por vários códices, tanto na Universidade de Coimbra (cod. n.
399), sátiras (Boletim do Arquivo Histórico Militar, vi, p. 162, 1936), como na de Évora. Temos códice incompleto pelo
qual foi possível corrigir muitas das impressas na imperfeita edição da Academia, carente de crítica (aí se misturam às de
Gregório poesias de contemporâneos, como a Descrição de Sergipe, de Gonçalo Soares da Franca, cf. Brasília, i, p. 561,
Coimbra, numerosas traduções de Quevedo...). Biografaram-no, além do pernambucano Manuel Pereira Rabelo (que
identificamos como o presbítero Manuel Rebelo Pereira citado por Loreto Couto, Desagravos, etc., Anais da Bibl. Nac.,
xxv, p. 22) — Araripe Júnior, Gregório de Matos, Rio, 1910; P. Calmon, Obras de Gregório de Matos, ed. da Acad. Bras.,
vol. 6 (1933); Maria Del Cármen Barquiu, Gregório de Matos, México, 1946. Diz-se com razão que não é dono da maioria
dos versos compilados naquelas Obras. Mas é preciso insistir: foram coligidas livremente, por pessoas que as sabiam de
cor, e misturavam o próprio e o alheio. Ele mesmo, com espírito de sátira, certamente traduziu e aplicou às situações
locais muitas poesias famosas, ou populares, do Siglo de Oro. Não podemos esquecer, isto sim, que já o Padre Bernardes o
considerara um homem célebre...
1348 V. nossa História da literatura baiana, p. 53; aí, o repertório de autores e obras do período, conhecido por
“escola baiana”.
1349 “[...] clima bom entre todos”, Pe. Simão de Vasconcelos, Notícias curiosas e necessárias das cousas do Brasil.
Lisboa: 1668, p. 267.
1351 Império, cf. Gabriel Soares, Trat. descr., proêmio, tem o sentido camoniano, “No governo do império [...]”, Lus.,
x, p. 62, que é o de Antônio Ferreira, “O português império que assim toma [...]”, Poemas lusitanos, ii, p. 78, Col.
Clássicos Sá da Costa. Do Brasil sadio, em que se morria de velhice, falou Fr. Amador Arrais, Diálogos. Lisboa: 1846, pp.
303–5.
1352 Note-se a influência dessa ênfase em espíritos confusos, como o daquele herético Pedro de Rates Henequin que
esteve vinte anos no Brasil e morreu queimado pela Inquisição em Lisboa, em 1741, a dizer que o paraíso terreal ficava
nesta lusa América, Ernesto Ennes, in Rev. do Arq. Municipal de São Paulo, lxxxv, p. 190 (1942). Compare-se com o que
escreveu León Pinelo sobre o paraíso neste continente, o 5º Império, do Padre Vieira (e de Menasseh-ben-Israel) e o que
adiante citamos, de Rocha Pita.
1353 De Rocha Pita (1660–732) diremos no volume seguinte. Citamos a História da América Portuguesa, ed. da casa
Jackson, Rio, 1951, por nós prefaciada e anotada.
1354 Tornou-se proverbial o exagero nativista deste autor e a ele se referiu oportunamente Oliveira Lima, nos estudos
em Paris, sobre a civilização brasileira (1921). V. nossa História da lit. baiana, p. 53.
1360 Obras escolhidas, Col. Clássicos Sá da Costa, iii, p. 46 (publ. por Hernâni Cidade). Importa a contribuição
sentimental (e cultural) que tais livros, sobre o Brasil, trouxeram à definição da sua autonomia.
1361 Cartas do Senado (Documentos históricos do Arquivo Municipal). Bahia: 1952, ii, p. 106, passim. O que a Coroa
não dava, era o privilégio da Universidade de Évora (licenciatura em filosofia e doutorado em teologia) ao colégio da
Bahia, como pedira a respectiva câmara em 1674 e reiterara em 1681.
1362 Accioli, Mem. hist., i, p. 223. Correspondia a equiparação ao curso médio (bacharelado em ciências e letras).
Com o da Bahia podiam os estudantes galgar um ano na universidade. A Câmara de Olinda pediu (8 de agosto de 1680) e
obteve este favor (27 de novembro de 81).
1363 Obras, ii, p. 82. Vários sonetos de Franca, com os de Gregório de Matos, guardam-se em códice na biblioteca de
Évora, Brasília, i, pp. 561–4, que ali consultamos em 1945. É a maior porção de sua obra esparsa, quase perdida.
1364 Docs. hist., xxxi, p. 419. Foi mandada formar uma companhia de estudantes, em julho de 1672, Docs. hist., xii, p.
234.
1367 A. Taunay, Obras diversas de Bartolomeu Lourenço de Gusmão. São Paulo: 1934, p. 38.
1369 Docs. hist., iv, p. 437 e x, p. 255. Agitações em 1666: Docs. hist., vii, pp. 276–7, e viii. Doc. de 1781, os
franciscanos da Bahia alegaram que de 1656 a 1719 se observara no convento a alternativa, de guardiães portugueses e
brasileiros, sem reeleição, e se queixaram que depois de 1719 somente quatro naturais do Brasil tinham subido àquele
cargo, ms. no Arq. Hist. Col., Lisboa. Esta luta interna, de prioridades, sufocada nos assuntos conventuais, define a latente
hostilidade de mazombos e reinóis.
1371 Carta de Afonso Furtado, 11 de junho de 1673, Docs. hist., vi, p. 276. Quem fosse Fr. Poeira, diz a Crônica do
Mosteiro de São Bento de Olinda, por Fr. Miguel Arcanjo da Anunciação, p. 65, Pernambuco, 1940: o capelão do exército
Fr. João da Ressurreição, “vulgo Poeira, porque freqüentemente animava os soldados dizendo, tendo Deus nos corações, e
o mais vá tudo numa poeira”.
1372 Fr. Miguel Arcanjo da Anunciação, Crônica, cit., p. 71. E Docs. hist., x, p. 227. Americanos contra europeus...
1377 V. Frei Antônio das Chagas, Cartas espirituais, seleção, pref. e notas de M. Rodrigues Lapa, p. xiii, Lisboa. Para
Vieira, no Maranhão, “o tempo que sobeja, [...] levam-no os livros de Madre Teresa e outros de semelhante leitura”,
Cartas, i, p. 111.
1378 Edgar Prestage, D. Francisco Manuel de Melo. Coimbra: 1914, p. 285; “A maior e mais notável parte dos
Apólogos dialogais foi escrita ou acabada no Brasil”.
1379 Vieira, carta de 1662, Pe. Serafim Leite, Novas cartas, p. 295.
1380 Em 1634 chegara à Bahia o Dr. Francisco Vaz Cabral, físico-mor, a atender os reclamos da colônia: “Os
moradores da dita escreveram muitas cartas pedindo médico”, Docs. hist., xxvii, p. 387.
1382 V. Cartas, i, pp. 549 e ss., e em geral as sobre as missões do Maranhão e do Pará.
1384 Luís de Pina, Histoire de la Médicine Portugaise, Porto, 1934; M. Ferreira de Mira, História da medicina
portuguesa, p. 17; Pereira da Costa, Anais pernambucanos, iii, p. 35. Possui a Biblioteca Nacional, do Rio, um exemplar
do livro de Ferreira da Rosa, Lisboa, 1694.
1385 Rev. do Inst. Hist., lxxi, p. 80. Simão Pinheiro Morão clinicou em Pernambuco, de 1664 a 84, cf. Eduardo
Coelho, in Brasília, i, p. 362. O seu Tratado único das bexigas e sarampo, dedicado a D. João de Sousa, 6 de Lisboa, 1683
(reimpresso na Gazeta Médica de Lisboa, 1859), Pereira da Costa, Anais pernambucanos, iii, p. 33. Por esse tempo (1638),
não havia médico em São Paulo, Rev. do Inst. Hist., tomo especial, i, p. 11, 1956.
1386 Doc. cit. por Ernesto Ennes, As guerras dos Palmares, pp. 408–9. Veremos a agitação causada no país (1835–50)
pela questão dos sepultamentos fora das igrejas.
1388 V. Pe. Serafim Leite, ibid., viii, p. 208; as referências aos vaticínios de Estancel nas cartas de Vieira; doc. cit. por
E. Ennes, ibid., p. 459. Os versos satíricos de Gregório de Matos, que lembramos, in Obras, iv, p. 69.
1389 V. D. Clemente Maria da Silva Nigra, Construtores e artistas do Mosteiro de São Bento do Rio de Janeiro. Bahia:
1950, ii, pp. 40–1.
1391 V. comentários citados por Paulo P. Santos, O barroco e o jesuítico na arquitetura do Brasil. Rio: 1951, pp. 52–3.
1392 Germain Bazin, Histoire de l’Art. Paris: 1953, p. 281; J. B. Bury, in Portugal and Brazil. Oxford: 1953, p. 158,
edited by H. V. Livermore; Pál Kelemen, Baroque and Rococo in Latin America. Nova York: 1951, p. 240; Reinaldo dos
Santos, in As artes plásticas no Brasil. Rio: Instituição Larragoiti, 1952, p. 154.
1393 Pe. Serafim Leite, Hist. da Comp. de Jesus, ii, p. 597, Lisboa, 1938 — sobre o Irmão Francisco Dias. Como
arquitetura pré-barroca consideramos a dos jesuítas antes da influência de Filipe Terzi, no meado do século xvii.
1395 Discípulo de Nicolau de Frias e do cosmógrafo-mor João Batista Lavanha (diz Sousa Viterbo), cresceu a
importância do seu nome depois que se soube ser da sua autoria a planta de São Bento do Rio de Janeiro, D. Clemente
Maria da Silva Nigra, in Revista do serviço do patrimônio histórico e artístico nacional. Rio: 1945, n. 9, p. 9.
1396 V. Dom Clemente da Silva Nigra, Fr. Bernardo de São Bento, o Arquiteto Seiscentista do Rio de Janeiro. Bahia:
1950 (publicado em 1956), pp. 20–1; e Germain Bazin, L’Architecture Religieuse Baroque au Brésil. Paris: 1956, i, cap. iv.
O Mosteiro de São Bento é virtualmente obra desse admirável construtor, natural de Vila Real (1624–93). Quanto ao
mestre Serão (sic), trata-se do autor do Método lusitano de desenhar as fortificações, 1680, Luís Serrão Pimentel (v.
Inocêncio, Dic. Biobl., v, pp. 321–2).
1397 Gregório de Matos, Obras, ed. da Acad. Bras., xv, p. 197 (adaptação de Quevedo).
1398 Vieira, Cartas, iii, p. 631 (15 de julho de 1691). Em São Bento da Bahia tivemos ocasião de assinalar as pedras
numeradas. Pertencem a esse tipo, de igrejas que vieram para armar no Brasil, as da Companhia (Catedral) e da
Conceição da Praia. Nessa cidade e em São Luís do Maranhão a pavimentação urbana foi feita em parte com pedras
portuguesas, que lastreavam os barcos desde o tempo de Vieira e Gregório de Matos.