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Quadro Clínico das


Principais Doenças
Causadas pela
Chlamydia trachomatis
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Quadro Clínico das Principais Doenças
Causadas pela Chlamydia trachomatis

Autor:
Mauro Romero Leal Passos
Professor Adjunto Doutor, Chefe do Setor de DST e Coordenador do Programa de Pós-graduação em
DST, Universidade Federal Fluminense - Niterói - RJ.

Colaboradores:
Renata de Queiroz Varella
Especialista em DST, Setor de DST, Universidade Federal Fluminense.

Renato de Souza Bravo


Professor Adjunto Doutor da Disciplina de Ginecologia, Faculdade de Medicina da Universidade
Federal Fluminense

A
s doenças causadas pela Chlamydia trachomatis ga- O período de incubação varia de 7 a 21 dias. A
nham um significado muito especial, uma vez que suas sintomatologia básica é uretrite com secreção clara e mucóide,
complicações podem ser desastrosas para seu porta- raramente purulenta e abundante como na uretrite gonocócica,
dor, parceiro sexual e sistema de saúde de uma coletividade. acompanhada de disúria leve ou moderada. Em algumas si-
Além disso, um aspecto desafiador prende-se ao fato de, em tuações, o meato uretral encontra-se edemaciado, hiperemiado
muitos casos, passarem com poucos e até mesmo sem sinais e com alguma sensibilidade dolorosa ou de formigamento.
ou sintomas. Entretanto, muitos homens infectados pela clamídia são
Usando técnicas de biologia molecular, recentemente foi assintomáticos. Totalmente o contrário dos casos de uretrite
publicado um estudo avaliando a persistência de clamídia em por gonococo.
homens (uretra) e mulheres (canal cervical) que tiveram um
teste positivo e não receberam tratamento. Um segundo teste
foi efetuado e o resultado de persistência da bactéria foi de
80,6% em homens (29/36) e de 77,6% em mulheres (45/58).
Ficou mostrado pelo trabalho que, embora em cerca de
20% dos casos um segundo teste tenha dado negativo, a
permanência do patógeno na maioria absoluta dos casos re-
vela a importância dessa infecção.
A Chlamydia trachomatis pode acometer vários locais
do organismo, causando, assim, manifestações clínicas bem
diferentes. Dentre estes acometimentos, destacamos:

Uretrite/síndrome uretral aguda


Está bem estabelecido que 35% a 50% dos homens com
quadros de uretrites não gonocócicas possuem esta patologia É usualmente dito que a secreção por Chlamydia trachomatis é bem
causada pela Chlamydia trachomatis, adquirida de forma se- menor, mais aquosa e menos purulenta, causando menor desconforto
ao urinar. Na nossa experiência, não devemos confiar cegamente na
xual. Co-infecção de clamídia e gonococo varia de 15% a sintomatologia. Em muitos casos, pode ser infecção gonocócica crônica
35% em homens que relatam ter relação heterossexual. ou infecção dupla (clamídia + gonorréia).

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Com freqüência, pacientes apresentam quadro de ure- contrada em mais de 30% dos casos. Em muitas oportunida-
trite não-gonocócica, por clamídia, após episódio de uretrite des, a co-infecção, como em outras situações, com o
gonocócica. Possivelmente, estes pacientes adquiriram ambas gonococo, é significativa.
as infecções simultaneamente. Mas, devido aos períodos de
incubações distintos, a gonorréia exterioriza-se primeiro.
Como muitas das drogas usadas para o gonococo não atuam
em igual eficiência para a clamídia, a segunda infecção só
aparece semanas depois.
Já foi documentado que pacientes adultos jovens, sem
anormalidades anatômicas ou história de instrumentação
uretral, com relato de uretrite por clamídia recente, apresen-
taram quadro de epididimite. Clinicamente, a epididimite por
clamídia apresenta-se com aumento, hiperemia e dor em um
lado da bolsa escrotal. A febre, a inapetência e a dificuldade
de deambulação geralmente acompanham o quadro.

Caso de síndrome uretral aguda em mulher que apresentava, ainda,


tricomoníase, uretrocistocele e rotura perineal.

Cervicite
Grande parte das mulheres infectadas com clamídia no
colo uterino é oligossintomática. Para muitos autores, esses
poucos sintomas são designados de ausência de sintomas
(assintomáticos). Porém, parte expressiva das infectadas é
mesmo assintomática.
Clinicamente, o reconhecimento de cervicite por clamídia
depende de um alto índice de suspeição e exame cuidadoso
do colo uterino. Achados sugestivos de infecção por clamídia
Orquiepididimite por complicação de uretrite. Além da dor local, esses incluem friabilidade, secreção mucopurulenta, edema e área
pacientes também apresentam dificuldade de deambulação, mal-estar de ectopia. Ectopia cervical apenas não é um achado anor-
geral, febre e inapetência. O tratamento deve contemplar repouso físico. mal. Todavia, mucosa cervical muito congesta que sangra
com facilidade ao toque da zaragatoa (swab) na coleta de
Não está bem documentado que a clamídia seja um material endocervical, deve receber atenção redobrada.
agente de prostatite. Há estudo que indica sua participação; Muco cervical turvo ou purulento em mulher jovem se-
todavia, outros indicam resultados negativos da sua patoge- xualmente ativa pode ter outras causas, infecciosas ou não.
nicidade na próstata. Entretanto, pessoalmente, acredito que Porém, como já citado anteriormente, separata 1, os dados
esse agente tão insidioso possa, em determinadas condições, epidemiológicos atuais nos autorizam a incluir a pesquisa
ser agressivo nesse órgão. de clamídia na nossa rotina médica.
Alguns autores utilizam, em vez de uretrite, a denominação Infelizmente, a maioria das mulheres com infecção por
de síndrome uretral aguda, para classificarem um quadro de clamídia não podem ser distinguidas das mulheres não
espessamento da uretra, principalmente próximo ao colo vesical, infectadas através do exame clínico. Entretanto, os achados
ou grande sensibilidade uretral à palpação. Por vezes, ao se clínicos devem ser valorizados, e dados da anamnese, como
espremer (por ordenha) a uretra, da parte posterior para a ante- saber se o parceiro teve infecção uretral no passado recente,
rior, é possível detectar secreção purulenta (ou mucopurulenta) merecem especial atenção. Se tal resposta for positiva, a par-
no meato uretral de mulheres jovens. Com muita freqüência, o ceira sexual tem altas possibilidades de estar infectada por
quadro ainda é composto por disúria, urgência urinária e piúria, Chlamydia trachomatis.
porém com ausência de crescimento bacteriano em urinocultura.
Algumas mulheres chegam a ter seus quadros confundidos com Proctite
incontinência urinária de esforço e são, equivocadamente, en- Pessoas que praticam coito anal desprotegido com par-
caminhadas para cirurgias uroginecológicas. ceiros portadores de clamídia na uretra, podem desenvolver
Nestas situações, a Chlamydia trachomatis pode ser en- infecção na mucosa retal.

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rias do trato genital superior (acima do orifício interno do
colo uterino), incluindo qualquer combinação de endome-
trite, salpingite, abscesso tubovariano e pelviperitonite.
O propósito da nomeclatura é tornar a comunicação mais
fácil. O termo DIP engloba uma multiplicidade de entida-
des, cuja patogenia e seus resultados podem diferir signifi-
cativamente.
Germes sexualmente transmissíveis, especialmente
Chlamydia trachomatis e Neisseria gonorrhoeae são os mais
implicados; entretanto, bactérias da microbiota vaginal
(Gardnerella vaginalis, anaeróbios, bastonetes entéricos Gram-
negativos e Streptococcus agalactiae) podem causar tais in-
fecções. Não se deve esquecer que Mycoplasma hominis e
Quadro assim de mucoturvo, ectrópio, congestão e friabilidade do colo Ureaplasma urealyticum também podem ser os agentes in-
são sinais propícios para existência de infecção por clamídia, gonococo,
ureaplasma, entre outros. Definir a situação pela aparência clínica não é fecciosos.
seguro. O exame pode ser positivo para um agente, dois, três ou ne- Gonococo e clamídia são tidos como os patógenos pri-
nhum. Todavia, a história clínica e dados do parceiro sexual não devem mários, pois representam a primeira onda de invasão
ser esquecidos.
microbiológica das tubas uterinas. As lesões provocadas por
esses germes diminuem o potencial de defesa tubário, per-
A sintomatologia pode ser nenhuma, leve ou intensa. mitindo a invasão por outros, considerados como os
Todavia, é comum quando existe infecção retal o paciente patógenos secundários. O gonococo pode estar associado a
apresentar dor, hiperemia e secreção purulenta na região. outros microrganismos, mas é capaz, isoladamente, de cau-
Casos mais graves, que dependem da virulência da bac- sar a lesão primária e formar abscessos. Já a clamídia provo-
téria e da resposta imune do hospedeiro, quando evoluem ca lesões com tendência a cronicidade, evocando-se meca-
para proctocolite tornam-se uma complicação. nismos imunológicos para sua manutenção. Por esta razão,
Não raramente, existe co-infecção com o gonococo. é possível a presença de infecções assintomáticas por tal
bactéria. Nesta situação, o quadro clínico agudo e/ou for-
Bartholinite mação de abscessos dependeriam de invasão secundária de
O papel da Chlamydia trachomatis em casos de outros patógenos. Em última análise, na maioria dos casos
bartholinites não é de todo esclarecido. Há estudo em que, de salpingite consegue-se isolar mais de uma espécie
pesquisada na secreção do ducto da glândula de 30 pacien- bacteriana, confirmando um ambiente polimicrobiano.
tes com bartholinite, a clamídia foi encontrada em apenas
nove (30%). Destes casos, sete, ou seja, 78% tinham associa- Endometrite
ção com o gonococo. Mulheres portadoras de infecções por Chlamydia
Não se sabe ao certo a freqüência de clamídia partici- trachomatis durante o parto normal apresentam um risco
pando de bartholinite; contudo, sua investigação em tais
casos deve ser uma rotina.

Infecção do trato genital superior feminino


A Sociedade Internacional de Doenças Infecciosas em
Ginecologia e Obstetrícia, como parte de seu contínuo es-
forço para redefinição de “doença inflamatória pélvica - DIP”,
tem recomendado revisões das diretrizes dos Centros de
Controle de Doenças e Prevenção – CDC, dos Estados Uni-
dos da América, sobre o tratamento desta doença. Em publi-
cação de 2001, esta sociedade científica internacional reco-
mendou o uso do termo “infecção do trato genital superior -
ITGS” com designação do agente etiológico. Afirmam ainda
que o diagnóstico desta infecção deve incluir uma ênfase
sobre sintomas de doença oculta, recomendando o aumento
Esta é uma esquematização da disseminação da clamídia/gonococo do
do uso dos esfregaços endometriais para o diagnóstico. fundo de saco vaginal e principalmente do canal endocervical para as
A DIP compreende um espectro de desordens inflamató- tubas uterinas.

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cinco ou seis vezes maior de desenvolver febre intraparto ou uruguaio Stajano, em 1920. Somente dez anos mais tarde,
endometrite pós-parto 48 horas a um mês após o parto. Os 1930, Curtis relatou a presença de “cordas de violino”
sinais e sintomas são os mesmos de salpingite aguda. aderidas entre o fígado e a parede abdominal anterior. Em
1934, Fitz-Hugh, como Curtis, médico norte-americano,
Salpingite descreveu um trabalho sobre peritonite gonocócica aguda
Salpingite aguda, geralmente causada por germes sexual- no quadrante superior direito em mulheres que foram leva-
mente transmissíveis oriundos primariamente do trato genital das para laparotomia por suspeita de colecistite. Infelizmen-
baixo feminino, talvez seja uma das complicações mais se- te, a história médica esqueceu alguém e consagrou esses
veras (seqüelas e freqüência). Em geral, as bactérias ascen- achados com síndrome de Fitz-Hugh and Curtis. Tomarei a
dem do canal cervical ou fundo vaginal e acometem o liberdade de, a partir de agora, passar a denominá-la de
endométrio até atingirem as tubas uterinas. Já citamos que síndrome de Stajano, Curtis and Fitz-Hugh para tentar resga-
os principais agentes são clamídia e gonococo. tar a mémória de quem também teve valor nesse tema.
O quadro clínico dessas infecções, principalmente quan- Inicialmente, a ocorrência de periepatite com ou após
do causadas pela Chlamydia trachomatis, no trato genital salpingite era considerada complicação de infecção
feminino alto é inespecífico; mas pode ser grave, com febre, gonocócica. Todavia, estudos posteriores mostraram que a
dor pélvica, dispareunia, prostação e dor à mobilização periepatite associada à infecção clamidiana pode ser mais
uterina durante o toque vaginal bimanual. Toda esta comum do que a associada à gonocócica.
sintomatologia pode ter intensidade leve, moderada ou se- Esta patologia deve ser suspeitada em quadros de dor em
vera. Todavia, muitos casos passam de forma insidiosa, em hipocôndrio direito, acompanhada de náuseas ou vômitos,
que a paciente percebe o desconforto, mas o tolera com ra- febre com ausência de cálculos biliares e icterícia. Sinais de
zoável capacidade de resistência. peritonite generalizada podem estar presentes. Evidências de
A sintomatologia pode ou não acompanhar a agressão salpingite podem ou não existir, uma vez que o quadro de
tecidual. Tal agravo pode ser desde hiperemia e secreção periepatite nem sempre expressa uma disseminação imedia-
piogênica tubária até abscesso tubovariano íntegro ou roto. ta da infecção pélvica.
Com alguma freqüência, jovens mulheres não sobrevivem à
agressão de uma peritonite difusa que evolui para sépsis, prin- Oftalmia
cipalmente quando o diagnóstico e o tratamento são tardios. O tracoma endêmico (Chlamydia trachomatis sorotipo
Existindo outros problemas associados, como abortamento A) é uma causa comum de cegueira em populações carentes
(espontâneo ou provocado), perfuração uterina pós-curetagem, de países em desenvolvimento. Representa uma infecção
infecção por HIV ou outra doença crônica debilitante, a faci- ocular muito agressiva e não está ligada à atividade sexual.
lidade de um final feliz fica cada vez mais distante. Outros sorotipos de clamídia de acometimento ocu-
logenital podem desencadear, possivelmente por auto
inoculação, oftalmias no adulto. São geralmente auto-
limitantes e dificilmente acarretam graves seqüelas. Normal-
mente causam uma conjuntivite folicular, com leve ou mo-
derada secreção purulenta, que cedem com tratamentos orais
tradicionais.
A oftalmia mais freqüente acomete recém-nascidos e será
descrita no item Infecções perinatais.

Infecções perinatais
Na passagem pelo canal de parto, o recém-nascido pode
ficar exposto à infecção clamidiana, caso a mãe seja uma
portadora não-tratada durante a gravidez. Assim, as crian-
ças podem desenvolver quadro de conjuntivite purulenta,
que normalmente ocorre no período de uma a três semanas
Notar o grande abscesso tubário, complicação freqüente de infecção
por gonococo/clamídia após o nascimento. Por causa da relação parasita-hospe-
deiro (número de germes infectantes, virulência, traumas
no parto, higiene adequada...), cerca de 20% a 30% dessas
Periepatite crianças apresentam tal infecção. Como a co-infecção
Quem primeiro descreveu a presença de periepatite em clamídia-gonococo não é episódio raro, a sintomatologia
mulheres jovens com salpingites por gonococo foi o médico (tempo de incubação e intensidade) pode estar modifica-

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da. A mesma porcentagem de crianças também desenvol- multifocal (bico de regador). Nessa fase, mal-estar geral, tipo
verá pneumonia específica. gripe, pode correr.
A Chlamydia trachomatis é o agente infeccioso mais co- A fase crônica pode acometer os linfonodos pararretais,
mum de pneumonia nos primeiros meses de vida. Seu perío- causando estenose do reto.
do de incubação varia de dois a três meses levando a criança Nos genitais, masculino ou feminino, essas lesões po-
a não ganhar peso, com quadro geralmente afebril e tosse dem evoluir para estiomene (elefantíase com fístulas, drena-
não-produtiva. O estudo radiográfico do tórax é não-especí- gem de secreção purulenta e úlceras).
fico, mostrando apenas hiperinflação com infiltrado No diagnóstico diferencial devem-se considerar, principal-
intersticial difuso. Ao exame, observam-se taquipnéia e mente: cancro mole, sífilis, tuberculose ganglionar, para-
estertores pulmonares. coccidioidomicose ingüinal, doença de arranhadura de gato
(linforreticulose benigna) e doença de Hodgkin.

Complicação de cegueira pós-oftalmia neonatal. Na história há dados de


pré-natal sem exame ginecológico, mãe com corrimento vaginal, dor Quadro raríssimo atualmente: estiomene (elefantíase com fístulas genitais).
pélvica e pai com “infecçãozinha no pênis” na época da gravidez. Caracteriza a fase crônica genitorretal. Pode acometer cadeias linfáticas
profundas, causando estenose de reto.

Linfogranuloma venéreo
Também conhecido como linfogranuloma ingüinal ou Síndrome de Reiter
doença de Nicolas-Favre-Durand, apresenta na fase aguda A presença de Chlamydia trachomatis nos genitais foi
(síndrome genitoingüinal) adenite ingüinal inflamatória e associada, por ensaios sorológicos, à artropatia reativa da
dolorosa (bubão). A fase aguda pode evoluir com fistulização síndrome de Reiter. Esta síndrome consiste numa tríade clás-
sica de uretrite, conjuntivite e artrite.
O achado de partes de clamídia em material de aspirado
de articulações comprometidas de pacientes apresentando tal
artropatia, sugere que o quadro é uma complicação direta da
infecção inicial dos genitais (uretrite/cervicite).
A síndrome de Reiter pode ter ainda características
dermatológicas bem marcantes, como balanite/vulvite cir-
cinada, representada por placas eritematosas e descamativas
no pênis/vulva. Não raramente os portadores desta síndrome
apresentam também estomatites, uveítes e diarréia.

Câncer cervical
Testando 181 pacientes da Finlândia, Noruega e Suécia
com carcinoma cervical invasivo para clamídia, através
Embora seja essa uma observação clássica em casos de LGV, “sinal de de três métodos diferentes de sorologia, estudo bem docu-
bico de regador”, a sua ocorrência é rara. São múltiplos orifícios com mentado concluiu que Chlamydia trachomatis sorotipo G
halos de hiperemia iniciando a drenagem de material purulento. No mostrou-se fortemente associada com subseqüente desenvol-
meio do bubão é possível observar o “sinal de ombreira”, que significa
a fixação dos linfonodos, mais profundos, aderidos ao ligamento de
vimento de carcinoma de células escamosas do colo uterino.
Poupart fazendo uma vala. O estudo avaliou vários sorotipos de clamídia, documen-

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tando que também os sorotipos I e D estavam associados à nanceiros), com certeza, se justificam. Até porque, com mais
lesão maligna. Esse trabalho ainda evidenciou que a exposição freqüência, é apontada na literatura médica a multicau-
a mais de um sorotipo aumentou o risco para o câncer cervical. salidade (maior ou menor, potencializador ou desencadeador,
Um outro estudo produzido com materiais do Brasil e facilitador ou complicador) dos agravos à saúde humana.
das Filipinas, com 499 mulheres portadoras de câncer cervical
invasivo, demonstrou que o risco da patologia maligna esta- Uma vez que já discutimos os principais dados da
va maior quando a sorologia para clamídia estava reativa. epidemiologia, etiopatogenia e quadros clínicos das infec-
É possível que ainda seja muito cedo para clarificar essa ções por Chlamydia trachomatis, estamos aptos para, na pró-
associação. Todavia, a necessidade de mais estudos e mais xima publicação, apresentar as formas de diagnóstico, trata-
pessoas envolvidas é essencial. Os recursos (humanos e fi- mento, controle de cura e manejo do parceiro sexual.

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CÓD. 501152

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