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Curitiba
2019
2
CURITIBA
2019
3
CDU 77.03:502.131.1-055.2(043.3)
4
AGRADECIMENTOS
RESUMO
ABSTRACT
LISTA DE FIGURAS
FIGURA 79 - Carta do jogo da memória CRQ da Vila Esperança, que será utilizada 155
como material de educação ambiental
FIGURA 80 - Carta do jogo da memória CRQ da Vila Esperança, que será utilizada 156
como material de educação ambiental
FIGURA 81 - Carta do jogo da memória CRQ da Vila Esperança, que será utilizada 157
como material de educação ambiental
FIGURA 82 - Carta do jogo da memória CRQ da Vila Esperança, que será utilizada 158
como material de educação ambiental
FIGURA 83 - Carta do jogo da memória CRQ da Vila Esperança, que será utilizada 159
como material de educação ambiental
FIGURA 84 - Carta do jogo da memória CRQ da Vila Esperança, que será utilizada 160
como material de educação ambiental
FIGURA 85 – Fotografia da CRQ da Restinga que fará parte da exposição fotográfica 164
Olhar ancestral: memória e cultura quilombola.
FIGURA 86 - Fotografia da CRQ da Restinga que fará parte da exposição fotográfica 164
Olhar ancestral: memória e cultura quilombola.
FIGURA 87 - Fotografia da CRQ da Restinga que fará parte da exposição fotográfica 165
Olhar ancestral: memória e cultura quilombola.
FIGURA 88 - Fotografia da CRQ da Restinga que fará parte da exposição fotográfica 165
Olhar ancestral: memória e cultura quilombola.
FIGURA 89 - Fotografia da CRQ da Restinga que fará parte da exposição fotográfica 166
Olhar ancestral: memória e cultura quilombola.
FIGURA 90 - Fotografia da CRQ da Restinga que fará parte da exposição fotográfica 166
Olhar ancestral: memória e cultura quilombola.
FIGURA 91 - Fotografia da CRQ do Feixo que fará parte da exposição fotográfica 167
Olhar ancestral: memória e cultura quilombola.
FIGURA 92 - Fotografia da CRQ do Feixo que fará parte da exposição fotográfica 167
Olhar ancestral: memória e cultura quilombola.
FIGURA 93 - Fotografia da CRQ do Feixo que fará parte da exposição fotográfica 168
Olhar ancestral: memória e cultura quilombola
FIGURA 94 - Fotografia da CRQ do Feixo que fará parte da exposição fotográfica 169
Olhar ancestral: memória e cultura quilombola
FIGURA 95 - Fotografia da CRQ do Feixo que fará parte da exposição fotográfica 169
Olhar ancestral: memória e cultura quilombola
12
FIGURA 96 - Fotografia da CRQ do Feixo que fará parte da exposição fotográfica 170
Olhar ancestral: memória e cultura quilombola
FIGURA 97 - Fotografia da CRQ da Vila Esperança que fará parte da exposição 170
fotográfica Olhar ancestral: memória e cultura quilombola
FIGURA 98 - Fotografia da CRQ da Vila Esperança que fará parte da exposição 171
fotográfica Olhar ancestral: memória e cultura quilombola
FIGURA 99 - Fotografia da CRQ da Vila Esperança que fará parte da exposição 171
fotográfica Olhar ancestral: memória e cultura quilombola
FIGURA 100 - Fotografia da CRQ da Vila Esperança que fará parte da exposição 172
fotográfica Olhar ancestral: memória e cultura quilombola
FIGURA 101- Fotografia da CRQ da Vila Esperança que fará parte da exposição 173
fotográfica Olhar ancestral: memória e cultura quilombola
FIGURA 102 - Fotografia da CRQ da Vila Esperança que fará parte da exposição 173
fotográfica Olhar ancestral: memória e cultura quilombola
FIGURA 103 – Capa do fotolivro Olhar ancestral: memória e cultura quilombola 176
13
LISTA DE QUADROS
LISTA DE TABELAS
SUMÁRIO
1.1 INTRODUÇÃO 22
1.2 OBJETIVOS 23
1.2.1 Objetivo geral 23
1.2.2 Objetivos específicos 24
2 REVISÃO DE LITERATURA 25
2.1 Meio ambiente 25
2.2 Comunidades, grupos e populações tradicionais 27
2.3 Comunidades Remanescentes Quilombolas (CRQs) 30
2.3.1 Aspectos históricos da presença africana no Brasil 30
2.3.2. Aspectos culturais 34
2.3.3 As mulheres nas CRQs 35
2.3.4 As comunidades remanescentes quilombolas 36
2.3.5 Políticas públicas para CRQs 37
2.4 A Fotografia e a Antropologia Visual como ferramentas da Educação Ambiental 39
3 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS 48
3.1 Público da pesquisa 48
3.1.1 Critérios de inclusão 48
3.2 Pesquisa documental e tratamento de dados públicos 49
3.3 Coleta e análise de dados 49
3.3.1 Registros fotográficos 54
3.3.2 Educação Ambiental como estratégia metodológica 55
3.3.3 Exposição 57
3.3.4 Produção de recursos didáticos 57
4 RESULTADOS E DISCUSSÃO 58
4.1 Local da Pesquisa 58
4.2 As Comunidades Remanescentes Quilombolas 59
4.3 As Comunidades Remanescentes Quilombolas da Lapa - Pr 61
4.3.1 Preconceito e distinções sociais 64
17
APRESENTAÇÃO
Nas CRQs da Lapa encontrei casas muito parecidas com a casa da minha infância: o
café no bule, o cheiro de lenha, a cortina de chita. Sim, tem muitas outras coisas diferentes,
mas o respeito pela natureza, pelo meio ambiente e pelo outro é muito similar.
A pesquisa é um convite para entrarmos por meio da imagem no universo de mulheres
das Comunidades Remanescentes Quilombolas da Lapa e compreender a realidade feminina
dentro da comunidade num momento fundamental para o reconhecimento do valor da cultura
quilombola.
É dar valor ao sensível, ao artesanal, ao fogão a lenha esquentando o feijão, ao labor
delicado e forte produzido nas comunidades remanescentes quilombolas, que irradia a
esperança de dias melhores. A narrativa faz parte de histórias que busco agora, precisam ser
contadas, valorizadas e relembradas, para que sejam preservadas no tempo, demarquem a
história, demonstrando a resistência de um povo, cujos rostos e gestos, eternizados pelo
registro fotográfico, permanecerão guardados às gerações futuras.
21
1 INTRODUÇÃO
língua inglesa. Com a pesquisa das palavras-chave “Educação Ambiental”, foram encontrados
6210 artigos na base de dados Capes, 2077 na Greenfile e 551 na Business Source Premier.
Para “gênero e etnia”, na base de dados Capes, foram encontrados 3435 artigos; 64 na
Greenfile e 709 na Business Source Premier. A busca realizada com a palavra “mulheres”
levou a 36316 artigos na base de dados Capes, na Greenfile 4584 e 263822 na base Business
Source Premier. Já com as palavras-chave “fotografia” e “meio ambiente”, foram localizados
1051 artigos na base de dados Capes, 19 na Greenfile e 30 na base de dados Business Premie.
Com base nos resultados obtidos com a bibliometria, foram selecionados 28 artigos
em função da proximidade com o tema da pesquisa. Dos artigos selecionados, os principais
autores são: Lima (2014); Souzas (2015); Oliveira (2013); Souza e Lara (2011), Furtado,
Sucupira e Alves (2014) e Costa (2016) que, em seus trabalhos descrevem o que poderá ser
melhor identificado na descrição do referencial teórico.
A partir dos resultados obtidos com a pesquisa, foram elaborados materiais didáticos
distintos e definidas estratégias para sua utilização em ações de educação ambiental. Do
conjunto de recursos foram criados um jogo da memória, uma exposição itinerante e um
fotolivro. Com base na Lei nº 10.639, de 9 de janeiro de 2003, que alterou a Lei nº 9.394, de
20 de dezembro de 1996, que estabelece as diretrizes e bases da educação nacional, para
incluir no currículo oficial da Rede de Ensino a obrigatoriedade da temática "História e
Cultura Afro-Brasileira”. Foi criado o Jogo da Memória que busca, justamente, o
fortalecimento de iniciativas junto às CRQs.
1.2 OBJETIVOS
Construir material didático e estratégias metodológicas para seu uso, com vistas à
divulgação da condição feminina e da realidade socioambiental das comunidades
remanescentes quilombolas da Lapa - Paraná.
25
2. REVISÃO DE LITERATURA
A busca pela harmonia entre o ser humano e o meio ambiente faz parte do percurso
para o entendimento dos caminhos rumo ao desenvolvimento sustentável. Aliar mudanças
climáticas e diferenças culturais à harmônica vivência com o meio ambiente faz parte da
busca do gestor ambiental para uma melhor compreensão do mundo.
Possuir o olhar com sustentabilidade como paradigma para a qualidade de vida é
elemento indispensável nesse sentido. Da mesma forma, é necessário ter o olhar dirigido para
uma abordagem interdisciplinar e holística, com respeito à diversidade, unindo todas as áreas
do conhecimento científico e trabalhando em prol de sábios procedimentos para o
aproveitamento e uso dos recursos da natureza. O aproveitamento racional e a conservação da
natureza necessitam caminhar juntos. É preciso ter consciência para o uso produtivo e
racional dos recursos para que todas as atividades ligadas à economia estejam alicerçadas no
ambiente natural, sem que com isso prejudique ou destrua o meio ambiente (SACHS, 2002).
O bem-estar do ser humano e o desenvolvimento econômico dependem dos recursos
do planeta. Se a degradação ambiental permanecer, será impossível o desenvolvimento
sustentável. Os recursos da terra, se manejados de forma sustentada e eficiente, serão
suficientes para atender as necessidades de todos os seres vivos (DIAS, 2011).
Entende-se que a solução para o desenvolvimento envolve a educação, a organização,
a participação e o fortalecimento das pessoas, uma vez que o desenvolvimento sustentado é
concentrado nas pessoas e não na produção. Este precisa ser igualitário e agradável, pois, se
existe má distribuição de custos e benefícios durante um longo período, principalmente, se
submete parte da população ao estado crônico de pobreza, e o sistema social não pode ser
mantido (DIAS, 2011).
A dificuldade está na transformação do conhecimento dos povos sobre o ecossistema,
traduzido pelas etnociências, como ponto inicial para a invenção de uma moderna civilização
de biomassa, reposicionada em ponto diferente do progresso e do conhecimento da
humanidade (SACHS, 2002).
Comenta Dias (2011) que os processos de tomada de decisão produzem incertezas.
Portanto, é preciso avaliar os riscos e observar quando os resultados podem ser irreversíveis e
26
A decisão frente aos problemas ambientais envolve valores e ciência. Quanto mais a
tecnologia avança para a civilização humana, mais conhecimento será necessário na resolução
das questões ambientais. O conhecimento científico não é definitivo, necessita sempre da
evolução do conhecimento com novas análise de dados, hipóteses avaliadas e novas ideias
(BOTKLIN; KELLER, 2011).
A degradação da qualidade ambiental faz com que o ser humano reflita sobre sua
postura em relação ao aproveitamento dos recursos naturais. Esta preocupação é indispensável
para a melhoria do controle ambiental, o amadurecimento dos conceitos de desenvolvimento
sustentável e educação ambiental como caminhos para a percepção de problemas ambientais,
propondo soluções e análises críticas para a sustentabilidade.
Dentre os diferentes contextos geográficos de interesse ambiental, se encontram
também aqueles ocupados por populações tradicionais.
FIGURA 01 – Grupo de Vaqueanos fotografados por Claro Jansson, considerado o fotógrafo do Contestado.
Fonte: Tesser (2016).
A cultura precisa ser compreendida como campo simbólico, pois possibilita a leitura
de significações de seus atores por meio de signos, símbolos, valores e práticas. Nesse
aspecto, as comunidades passam a ser compreendidas pela sua estrutura, individualidade
própria e singularidade. Considera-se a conduta social do grupo em relação ao seu ambiente
natural (FURTADO; SUCUPIRA; ALVES, 2014).
A contribuição do negro como agente cultural inicialmente foi mais passiva que ativa,
marcada principalmente pela sua presença como trabalhador. Os negros foram obrigados a
35
SILVA; COSTA, 2008). Souza (2015) analisa a discriminação e o preconceito nas narrativas
de mulheres quilombolas da mesorregião centro-sul da Bahia.
A liderança assumida por mulheres em comunidades quilombolas é uma observação
importante para compreensão do grupo. Existe a necessidade do reconhecimento étnico e
racial como fator preponderante para a importância de uma luta política na demarcação de
terras quilombolas (LIMA, 2014).
Já na etnia matlatzinca, um dos povos tradicionais do México que mais tem sofrido
diminuição no último séculoo papel feminino também tem destaque. Nessa comunidade existe
um grupo de mulheres produtoras, na faixa etária de 33 a 70 anos, que se reúnem para
produzir vestidos tradicionais. O campesinato demonstra que atividades agrícolas
diversificadas garantem a preservação da biodiversidade. No campo de estudos feministas, o
empoderamento é uma das ferramentas analíticas mais importantes para o estudo de modelos
de gênero (RUBIO; BORDI; ORTIZ; MURO, 2017).
Diferentes estudos demonstram a importância da atuação feminina. Lima (2014)
comenta a definição do conceito de quilombo na atualidade, relacionando a trajetória de mulheres no
interior da Bahia. A autora enfatiza a importância da atuação feminina em comunidades quilombolas,
especificamente na Comunidade do Tucum (remanescente quilombola), localizada na região da
Chapada Diamantina, no município de Tanhaçu / BA. Lima acrescenta também a dificuldade
que é para as comunidades quilombolas afirmarem-se no contexto da escravidão e serem
descendentes diretos de escravizados africanos.
Nesse sentido, Souza (2015) aborda a questão da mulher quilombola na mesorregião
centro-sul da Bahia e os define como “os negros do sertão”.
Em face dos problemas enfrentados pelas mulheres nessas comunidades e no padrão
de vida que elas levam se entende como estratégia para o enfrentamento desses
empoderamento.
Comunidade quilombola é um grupo étnico que se autodefine com base nas relações
com a terra, seu uso, costumes e práticas culturais próprias (BRASIL, 2003). O
reconhecimento como comunidade quilombola exige mais que a autodefinição, exige que o
grupo esteja além do preconceito, unido como grupo social.
A importância de atualizar o conceito de quilombo deve-se à necessidade de estar além
do significado trivial fuga-resistência. A relação da sociedade escravocrata e escravos vai
muito além desse conceito. A produção científica contribuiu para a inclusão das solicitações
das comunidades afrorrurais como a definição de um segmento específico dos movimentos
sociais, influenciando na preparação da constituição de 1988 (SCHMITT; TURATTI;
CARVALHO, 2002).
No conteúdo da Lei Áurea, Brasil (1888), constam apenas dois artigos, curtos e
simples, alforriando a população negra. Retirados de suas terras, longe de suas famílias, num
país estranho, tratados como animais. O preconceito racial vem como sombra, marcando a
população pela cor de sua pele, seguidos por gerações.
As comunidades afrodescendentes trazem estas cicatrizes. Apresentam explicitamente
essas marcas em comunidades com significativa vulnerabilidade social. Quando um aperto de
mão é vago, quando o olhar é submisso e autoestima é tão baixa que não têm coragem de
impor um olhar altivo. Nesse caso, o direito ambiental surge com a força da gestão aliada à
educação ambiental. Propor alternativas para que essas populações compreendam seus
direitos. Compreendam e entendam a força histórica de suas populações.
[...] os rostos não manifestam opiniões, não criticam nem dizem outra coisa
senão: “É assim que somos na vida real e, se você não gostar, pouco me
importa, porque a vida é minha, e eu vivo como quiser. E que Deus abençoe
todos nós, quem sabe... se merecermos (KEROUAC, FRANK 2017).
processo possibilita a reflexão crítica e a avaliação para onde a pesquisa precisa evoluir
(FOX; CARUANA, 2014).
O fotógrafo tem responsabilidade na representação do mundo por meio da fotografia.
A representação pode possibilitar novas ideias e conceitos históricos aplicados à prática, e as
ideias teóricas podem fazer parte do processo da prática na pesquisa (FOX; CARUANA,
2014).
Segundo Fox e Caruana (2014), as fases da pesquisa em fotografia são:
1. Planejamento: caracteriza os estágios iniciais da pesquisa. É fundamental que
seja feita uma pesquisa de contexto histórico e exploração de teorias relevantes, o que será
avaliado como ponto positivo na justificativa para realização do trabalho fotográfico. A
pesquisa contextualiza, informa e determina as imagens finais do projeto fotográfico. A
capacidade na produção de uma proposta bem-sucedida é quesito fundamental para qualquer
profissão em fotografia. Durante o planejamento da pesquisa, é importante que o fotógrafo
defina a forma como o projeto fotográfico será finalizado: exposição, publicação, arte pública
ou nova possibilidade de apresentação. A plataforma decidida e o meio de apresentação irão
definir a abordagem da proposta. Orçamento e cronograma são relevantes como preparação
para a realização do projeto.
2. Desenvolvimento de ideias através da pesquisa: nesta fase, o fotógrafo
precisa visitar lugares e avaliar elementos que possam contribuir no processo da pesquisa. Ao
pesquisador cabe fazer entrevistas com possíveis personagens ou investigar lugares onde
existem fotografias: bibliotecas, museus, espaços culturais, galerias. A formação de repertório
imagético fortalece o olhar do fotógrafo na criação de narrativas. É preciso visitar, ouvir,
entrevistar ou ler, fazer atividades que possam agregar informação ao processo de produção
da pesquisa fotográfica. Conforme a evolução do projeto, o pesquisador perceberá que criou
um modelo que poderá ser utilizado em futuros projetos.
3. A prática como pesquisa: a prática na pesquisa precisa ser exploratória, e
busca definir o tema e avaliar se a pesquisa será realizada com imagens próprias ou não.
Durante a prática é fundamental que o fotógrafo perceba o que está fotografando,
considerando o significado das questões básicas da narrativa fotográfica:
3.1 quando, onde, como, por que e a que público é direcionado. Se haverá ou não
personagens na narrativa fotográfica e quem serão.
3.2 validar a experiência por meio das informações e projetos planejados.
43
Não existe tal obstáculo em fotolivros, pois possibilitam a percepção da realidade do artista
(FERNÁNDEZ, 2011).
O fotolivro é original do século XX, nasceu para pontuar a história dos livros e a
história da fotografia. Sua importância só aumenta e busca atender às necessidades dos
tempos atuais. O registro se torna importante, muitas vezes, pelos textos não serem capazes de
documentar com a mesma força que as imagens são apresentadas, como no Álbum histórico
gráfico, que retrata a Revolução Mexicana, ou como no caso do livro Candomblé, que
eterniza as imagens da polêmica reportagem fotográfica As Noivas dos Deuses Sanguinários,
com imagens de José Medeiros, veiculadas no jornal O Cruzeiro. O fotolivro de Medeiros foi
publicado seis anos depois da veiculação da matéria, com capa magnífica e encadernação com
cartonagem, pintada pelo irmão do fotógrafo Anísio Medeiros. O que era sensacionalista na
revista, tornou-se documentação no fotolivro, aliado à ciência e ao respeito (FERNÁNDEZ,
2011).
A imagem, hoje, está unida ao saber científico. Na antropologia, é utilizada como
suporte de pesquisa e também como meio de expressão e comunicação do comportamento
cultural. Na antropologia visual a imagem esclarece o saber científico e auxilia para a melhor
compreensão (ANDRADE, 2002).
As qualidades da imagem no seu uso em práticas de pesquisas sociais e humanas
incluem realismo, poder de evocação e precisão (na criação de um campo de investigação,
que responde quesitos autônomos de cientificidade). Atualmente, a literatura abundante,
dedicada há mais de vinte anos na consolidação de um conjunto de práticas de pesquisa
tornam a imagem como ferramenta fundamental. Justamente pela importância, é necessária
maior exigência na qualidade da fotografia quando utilizada como parte de um dispositivo de
pesquisa etnológica (DARBON, 2005).
À antropologia são conferidos os aspectos de ciência social, ciência humana e ciência
natural. As idéias de Beals e Hoijes são reconceituadas, classificando a antropologia como
elemento englobador de formas físicas, primitivas e atuais da sociedade, caracterizando assim
as manifestações culturais do homem. A antropologia permite este reconhecimento cultural,
em que se possibilita melhor compreensão da sociedade e, consequentemente, da própria
história da humanidade. A antropologia pouco se desenvolveu até o século XVIII. Entretanto,
esta ciência recebeu grandes contribuições de cronistas, viajantes, soldados, missionários e
comerciantes que visavam explorar um novo mundo de terras recém-descobertas, conhecendo
para detalhar, esmiuçar e contar as aventuras de viajantes errantes (MARCONI; PRESOTTO,
2001).
46
Vale lembrar que Laplantine (1991) cita a necessidade de apoiar a antropologia nas
demais artes, propondo múltiplas possibilidades de compreender o outro. A antropologia
visual permite melhor entendimento dos significados culturais, tornando as investigações e as
pesquisas mais completas. A diversidade de caminhos não exclui a fonte primordial da
antropologia, a observação, que é a matéria bruta para a pesquisa antropológica (ANDRADE,
2002).
A etnografia estuda grupos sociais e suas respectivas características sociais, culturais e
antropológicas. A utilização da fotografia como ferramenta na pesquisa etnográfica é definida
como uma fotoetnografia e pode ser inserida em publicações, exposições ou trabalhos
científicos, podendo ser considerada como objeto de pesquisa, estudo, ilustração e referencial
como compilação de dados de conhecimento. Também possibilita resgate e documentação
imagética de informações relacionadas a diferentes etnias. Na pesquisa de campo possibilita
ao pesquisador utilizar critérios de análise e interpretação para conceber um perfil etnológico
do grupo pesquisado (BONI; MORESCHI, 2007).
Importante considerar a experiência do fotógrafo envolvendo antropologia e do
pesquisador em conhecimento de técnicas fotográficas, desta forma evita-se a distorção na
coleta e objetivo da pesquisa. O etnólogo, pesquisador ou profissional de fotografia necessita
fazer a captação das imagens seguindo os preceitos antropológicos, tendo como ponto inicial
o estudo da comunidade a ser fotografada. É necessário conhecer bem a comunidade, já que o
resultado do estudo depende da inserção do pesquisador na comunidade. Observar a vida
cotidiana e estar atento além das aparências (BONI; MORESCHI, 2007).
A apresentação final do trabalho fotoetnográfico já deve ser planejada
antecipadamente pelo pesquisador, que precisa ir a campo com a montagem da exposição já
em mente. Dessa forma, o pesquisador construirá a narrativa visual com descrição visual
(ACHUTTI, 2004).
Com o objetivo da pesquisa e o planejamento do produto da pesquisa definidos, é o
momento de o pesquisador ir à campo e conhecer as comunidades que serão pesquisadas.
As comunidades remanescentes quilombolas do Feixo, Vila Esperança e Restinga
fazem parte da memória dos afrodescendentes do Estado. A melhor forma de valorizar e
buscar a história, é investigá-la pela imagem. Nesse aspecto, a fotografia documental valoriza
a memória, resguarda os rostos e traços das comunidades. Grava feições, traz a conhecimento
público esses olhares, comportamentos que podem ser analisados e incorporados a reflexões
ambientais.
47
3 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
dados coletados por meio de observação foram registrados em diário de campo. A figura
apresenta fluxograma da fase incial da pesquisa qualitativa.
A cada saída de campo, foram realizadas entrevistas informais com os atores sociais.
Durante as entrevistas, foi solicitada a autorização para a realização das fotografias e registro
de entrevistas (gravação de áudio). Após a autorização, mediante assinatura de Termo de
Consentimento Livre e Esclarecido (APÊNDICE C), a conversa foi gravada e foram clicadas
as imagens.
A coleta de dados se esgotou no momento em que ocorreu repetição de respostas e
procedimentos característicos. As entrevistas gravadas foram transcritas, buscando a descrição
objetiva, sistemática e quali-quantitativa do conteúdo dos depoimentos.
A segunda fase do processo de coleta e análise de dados, figura 3, abordou as
subcategorias (definidas na etapa anterior) se uniram as observações do pesquisador durante a
fase inicial da pesquisa, buscando-se construir o segundo instrumento de coleta de dados, a
entrevista semi-estruturada.
51
Entrevista semi-estruturada
Triangulação
Análise de dados
Caso único
Pesquisa
Produção
Se Exposição Se Fotolivro
Edição
A CRQ da Restinga possui 271 habitantes, foram entrevistadas 17,23% das mulheres
da comunidade. A Restinga, devido a importância e diferenciação das mulheres, na análise o
grupo foi separada das demais comunidades. A CRQ do Feixo e da Vila Esperança possuem
54
600 habitantes, sendo 49% mulheres. No Feixo foram entrevistadas 12 mulheres dos grupos
Pavão e Rincão, sendo este o maior núcleo no quesito número de habitantes, com a faixa
etária de 16 a 80 anos. Já na Vila Esperança foram entrevistadas 12 mulheres com a faixa
etária de 16 a 76 anos. Foram entrevistadas 8,60% do total de mulheres do Feixo e Vila
Esperança.
Como dinâmica foi utilizado o enfoque participativo, por meio de conversas informais,
que seguiram um roteiro preestabelecido e imagens colhidas em campo. O conteúdo
programático das conversas abordou as questões relacionadas às comunidades tradicionais
com ênfase direcionada a comunidades quilombolas, definição, história, legislação e direitos.
57
3.3.3 Exposição
4 RESULTADOS E DISCUSSÃO
FIGURA 07 - População negra e Comunidades Quilombolas do Paraná Fonte: ITCG - Instituto de Terras,
Cartografias e Geociências http://www.guiageo-parana.com/mapas/quilombolas.htm Acesso: 06/08/2017.
<=1 ano 68 35 33
> 1 e <= 6 anos 199 110 89
> 6 e <= 14 anos 379 191 188
> 14 e <= 18 anos 165 92 73
> 18 e <= 65 anos 797 400 397
> 65 anos 95 48 47
Total 1703 876 827
TABELA 01. Fonte: Base de Dados GTCM, 2008.
A realidade das CRQs do Paraná é similar à de outras CRQs já espalhas pelo todo o
país, ou seja, são comunidades carentes e que durante muito tempo foram ignoradas e
excluídas pelo poder público, necessitando a urgente implementação de políticas públicas que
façam a inclusão social (GTCM 2008).
As Comunidades Remanescentes Quilombolas do Feixo, Restinga e Vila Esperança,
localizadas no Município da Lapa, são comunidades afrorrurais que tiveram influência de
outras etnias e possuem forte influência e participação feminina. Mesmo localizadas dentro do
município, ficam a poucos quilômetros da área urbana e são separadas da cidade da Lapa, por
um pedágio, dificultando o acesso dos moradores ao centro da cidade.
Faziam parte da Fazenda Santa Amélia, de propriedade de Hipólito Alves de Araújo,
como pode ser observado na FIGURA 08. A população escravizada foi liberta antes da
promulgação da Lei Áurea, de 13 maio de 1888. Quando libertos, receberam as terras que já
cultivavam. As tradições dos antepassados foram mantidas até a chegada de imigrantes
italianos, russos, poloneses e alemães (PAULA, 2007). A figura 09 apresenta características
da senzala localizada nas dependências da fazenda.
62
FIGURA 08 – Casa da Fazenda Santa Amélia, atualmente é o Assentamento Contestado localizado na Lapa-Pr
O GTCM levantou dados referentes à documentação, tais como RG, CPF e título de
eleitor das CRQs do Estado do Paraná. Existe uma discrepância entre a quantidade de pessoas
das CRQs do Estado e a quantidade de pessoas que possuem a documentação, o que também
possibilita acesso políticas públicas voltadas a afrodescendentes. A média varia entre 46,29%
a 52% de remanescentes quilombolas quem possuem RG, CPF e/ou título de eleitor.
Durante a pesquisa, em uma reunião com moradores afrodescendentes da comunidade
do Feixo que foram selecionados para a obtenção de casas quilombolas, foi observada a
dificuldade de alguns moradores locais devido à ausência de documentação. Já que, para dar
continuidade ao processo de receber a casa quilombola, foi necessária a apresentação de
documentos pessoais.
A população das CRQs da Lapa é formada por agricultores com poucos recursos
financeiros e que sempre trabalharam para os fazendeiros da região. Com os olhos voltados
para os heróis da Lapa, os historiadores valorizaram as famílias mais ilustres e ícones
militares, deixando de lado os afrodescendentes. Antigos moradores lembram nomes que
contribuíram para a resistência à revolução federalista de 1894, mas a história renega os
cidadãos humildes (PAULA, 2007).
Em maio de 2018 foi realizado o “1° Encontro da Juventude da Lapa, intitulado
Direitos e Identidade” na CRQ do Feixo. O objetivo do evento foi apresentar e discutir a
identidade quilombola, unindo as três CRQs da Lapa: Restinga, Feixo e Vila Esperança.
Na abertura do evento, uma das participantes e também entrevistada da pesquisa
comentou as distinções sociais, bem como, aspectos relacionados ao preconceito, que
permeiam a vida de negros e afrodescendentes.
A gente trabalha a questão da história do livro, e então a gente que é do
Feixo, da Restinga e Vila Esperança, a gente estuda na Mariental, então a
gente sabe muito bem o que é isso. (...) Vamos trabalhar a história da África,
de uma forma muito negativa. A África é um continente extremamente pobre
e de pessoas negras, AIDS e fome, e não é isso. Na hora de falar por
exemplo de nossos ancestrais e de onde descendemos, de onde viemos, então
vem aquele orgulho, eu sou descendente de europeu, de alemães, e sabem
tudo. Fazem a árvore genealógica desde lá, e nós não fazemos isso. E por
que a gente não consegue? A gente precisa fazer este diálogo.
E com relação à representatividade nas escolas a gente vê, por exemplo, nos
murais, sempre são imagens para os brancos. Isso para nós como negros não
é produtivo. Sobre a cultura africana e dos afrodescendentes e possa levar
esses conhecimentos para as escolas e assim a gente não continue
perpetuando essa ideia de que somos inferiores. (Excerto de entrevista,
Mariana, mulher e estudante de ensino superior)
compreendida e sensibilize o país, que possui mais da metade da população formada por
negros e afrodescendentes.
De acordo com pesquisas desenvolvidas pelo GTCM (2008), as comunidades negras
paranaenses não possuem os seus direitos constitucionais garantidos no que se refere à saúde
e sofrem diariamente racismo ambiental, grande parte imposto por empresas estrangeiras do
ramo florestal. O racismo ambiental é caracterizado como referência a qualquer prática,
diretiva ou política que prejudique ou altere, de formas diferenciadas, voluntariamente ou
involuntariamente, as comunidades, grupos ou pessoas por razão de cor ou raça (GTCM
2008).
Diante disso, é necessário que a CRQ assuma a afrodescendência para possuir o direito
à regulamentação da terra. É o que foi instituído no Decreto nº 4.887, que discorre sobre a
regularização e titulação de territórios quilombolas. DIEGUES (2001) acentua a importância
do autorreconhecimento, a relação de identidade e de pertencer ao grupo social específico.
Atualmente, a CRQ do Feixo é a única CRQ da região a possuir escola, mesmo assim
somente com ensino fundamental. As CRQs da Vila Esperança e da Restinga não possuem
66
escolas. A distância das CRQs à escola varia entre 5 a 7 km, esta localizada em Mariental
(GTCM, 2008).
4.3.3 Saúde
As três CRQs (Feixo, Restinga e Vila Esperança) não possuem posto de saúde. As
comunidades citadas são atendidas pelo posto de saúde de Mariental, localizado entre 5 a 7
km de distância.
Segundo o GTCM, as doenças de maior incidência nas CRQs são o alcoolismo e a
hipertensão.
Distância
CRQ posto de saúde Distância hospital Doenças de maior incidência
5 a 7 km -
5ª. à 8ª. - 5 a 7 km
CRQ da Restinga Mariental Hipertensão e alcoolismo
5 a 7 km -
5ª. à 8ª. - 5 a 7 km
CRQ do Feixo Mariental Hipertensão e alcoolismo
a) Núcleo Rincão
b) Núcleo Maria Antonia
c) Núcleo Campina
d) Núcleo Pavão
CRQ do Feixo: Vila 5 a 7 km - 20 km (aprox.)
Esperança Mariental Lapa Não indicado
Segundo a técnica da Emater que atua nas CRQ da Lapa e conhece as diferenças entre
a Restinga, Feixo e Vila Esperança, a força feminina nas CRQs é muito grande e existem
distinções entre as mulheres e homens nas comunidades.
Havia recurso do governo para reforma de casa ou paiol. Os homens iam
pedir ou paiol ou no máximo (verba para reforma) do telhado e todas as
mulheres pediam um local coberto para o tanque, ligação de água com o
local onde o esgoto pudesse escorrer. Então é muito interessante
isso.(Excerto de entrevista, Técnica L.K.)
FIGURA 10 – Fotografia que serviu de inspiração para a pintura em acrílica sobre tela do artista plástico Ari
Vicentini, durante a fase da pesquisa na CRQ da Restinga
69
FIGURA 11 – Pintura em acrílica sobre tela do artista plástico Ari Vicentini, durante a fase da pesquisa na CRQ
da Restinga. Autor Ari Vicentini (2018)
Consta no relatório elaborado pelo GTCM (2008) o relato de Ana Maria Martins
Santana, descendente de escravos e moradora da comunidade. Nele, Ana Maria comenta que
herdou uma história de luta e resistência e que tentaram tirar sua mãe, Setembrina Caetano de
Lima, à força, mas a mãe tinha a documentação necessária comprovando a posse da terra. O
trabalho nas roças é feito por mulheres e homens, que cultivam milho e feijão em terras
arrendadas (GTCM 2008). Os relatos de moradoras apresentam a principal característica da
comunidade, a luta e a resistência, já que a Restinga, entre as três comunidades pesquisadas,
possui o diferencial de valorizar o passado histórico, o passado de afrodescendentes. Em
várias casas, de mulheres entrevistadas para a pesquisa, foram observados objetos que faziam
menção à afrodescendência, além de imagens de parentes ascendentes. A busca por esse
reconhecimento não vem apenas de um reconhecimento pela titularidade da terra, mas por um
orgulho e valorização da própria história.
Ao ser indagada sobre o desejo de residir em outra comunidade, uma das entrevistadas
assim comentou:
“Tenho mas não posso deixar minha irmã. Tem meus filhos, que vão estudar
e trabalhar, e a gente pensa em ir, mas daí a gente vai ficando, mas não tem
problema”. (Excerto de entrevista, Valdete, mulher, 53 anos)
71
4.4.2. Educação
Os dados coletados na Restinga indicam que 50,38% das mulheres possuem
documento de identidade, 51,88% das mulheres são inscritas no Cadastro de Pessoa Física
(CPF) e 48,87% têm título de eleitor. O índice mostra que o número médio das mulheres da
comunidade possui documentos, que também proporcionam o acesso à educação.
A CRQ da Restinga não possui escola, tal qual a CRQ da Vila Esperança. Em razão
disso, a Prefeitura Municipal da Lapa disponibiliza ônibus para o transporte das crianças. As
mães e/ou responsáveis acompanham as crianças até o ponto de ônibus e aguardam a chegada
ao veículo no retorno das aulas. O ponto de ônibus é localizado somente na entrada da
comunidade. É comum, no horário de ida e retorno da escola, encontrar mães caminhando em
grupos. As ruas não são asfaltadas (figura 12), o caminhar é tranquilo em dias de sol. Porém,
em dias de chuva, a areia e o barro dificultam o acesso, prejudicando a ida das crianças à
escola.
Segundo dados do GTCM (2008), 51,42% da população das CRQ da Lapa possui a
escolaridade no ensino fundamental das séries iniciais.
O grau de instrução, diante das informações coletadas pelo GTCM, é identificado em
51,88% das mulheres de primeira à quarta série; 18,80% das mulheres de quinta à oitava série
e 9,09% das mulheres com ensino médio, não informando se concluído ou não. Foi observado
pelo GTCM, na época da coleta de dados, a ausência de incidência de casos de analfabetismo,
pós-médio e terceiro grau.
“O estudo é difícil. Tem que sair fora para trabalhar”. (Excerto de entrevista,
Valdete, 53 anos, artesã)
principalmente o fato de a CRQ da Restinga não possuir escola e nem creche. A entrevistada é
técnica do meio ambiente, atua como professora e é formada em Direito.
4.4.3. Saúde
A CRQ da Restinga não possui posto de saúde. A comunidade é assistida pelo posto
de saúde de Mariental, localizado entre 5 a 7 km de distância, que atende à comunidade de
segunda à sexta-feira, das 8h às 16h e inclui o atendimento de assentados (próximo à CRQ
existe o Assentamento Contestado), geral e da escola do distrito.
“A maioria das casas tem esgoto a céu aberto, isto é um probleminha bastante
frequente por aqui”. (Excerto de entrevistada Dinorah)
74
O curso ocorreu em dois dias na casa de duas entrevistadas pela pesquisa, sendo mãe e
filha. No segundo dia (figura 13), após a finalização da construção da fossa, foi realizada pela
Emater uma palestra com imagens da utilização da fossa verde em outros locais e também
sobre sua importância na proteção do meio ambiente.
75
A maioria busca emprego fora porque aqui tem pouca renda, pouca opção de
emprego. Aqui na verdade só tem uma empresa que dá mais emprego para
toda a população da cidade, que é a Da Granja, o abatedouro de aves. Só que
agora com a crise, ela (a empresa) acabou mandando bastante gente embora.
Eu trabalhei lá 6 anos e fui uma das que foi mandada embora. Com esta
situação a gente acabou optando por plantar verdura orgânica, para gerar
uma renda por aqui mesmo, mas aqui mesmo no lugar é bastante complicada
76
Nossa ideia é buscar mercado fora. A gente procura um mercado tipo feira
em Curitiba, mas a nossa dificuldade é o transporte. Não tem veículo para
chegar até lá. No momento a gente tem um grupo, que é lá do Feixo, que a
gente participa, são 11 famílias. (Excerto de entrevista, Paulina, mulher, 31
anos, agricultora e estudante de curso superior)
“O único bem é a terra que a gente tem, então a gente planta, retira nosso
alimento porque é saudável. Uma alimentação saudável para nossa família,
não tem coisa melhor”. (Excerto de entrevista, Paulina, mulher, 31 anos, ,
agricultora e estudante de curso superior)
“Acho que é uma coisa que a gente priva muito, é conservar o meio
ambiente e o que a gente tem. Conservar o pouco que a gente tem”. (Excerto
de entrevista, Teodora, mulher, 36 anos e agricultora)
A beterraba orgânica produzida pela família, quando cozida permanece com cor forte,
o que distingue da beterraba produzida com agrotóxico que, quando cozida, perde a cor,
ficando quase transparente. Segundo ele, também é cultivado mel orgânico e a qualidade do
mel é prejudicada porque algumas abelhas vão para longe e acabam indo para plantações com
agrotóxicos.
79
Pois olha, é muito difícil da gente falar. Antigamente não existia esse
negócio de compra de terra. As pessoas indicavam um ponto de água boa.
Água para você não vai faltar, era assim. O cara chegava lá, se instalava um
tempo, depois ia para frente. Não existia negócio de terra – Irmão de uma
das entrevistadas da Restinga.)
No tempo que a gente morava aí, no lampiãozinho era difícil, não tinha
energia elétrica, nada. Hoje tá totalmente diferente. A primeira geração foi
sofrida. Ter que plantar feijãozinho, abóbora, batata para comer no mesmo
ano. Tinha que plantar pouquinho porque não adiantava, não tinha para
quem vender, – Irmão de uma das entrevistadas da Restinga.)
82
As mulheres da CRQ da Restinga produzem trabalhos manuais, tais como tricô, crochê
e artesanato, como pode ser observado nas figuras 18 e 19.
É interessante observar o estilo de vida nas CRQs, pois difere dos hábitos de quem
mora nos grandes centros urbanos. A percepção de mundo é mais ligada à terra, às raízes. A
composição dos espaços é aberta, livre. É perceptível a liberdade das crianças, que se sentem
livres, com muito espaço para correr e brincar, se relacionar com os cachorros, gatos, insetos.
Um dos comentários da entrevistada Carmela é que ela tem problemas na perna,
segundo ela, resquício do trabalho na lavoura e o consequente contato com o agrotóxico
utilizado. Após isso, os filhos não mais permitiram que a mãe cuidasse da plantação e a
orientaram que ficasse somente com atividades no interior da casa.
84
Carmela comenta que tem grande demanda de trabalho e conta com o auxílio de um
dos filhos que com ela reside. Ela cria galinhas e cuida da plantação. No terreno há plantação
de abóboras e no pomar, uma variedade significativa de frutas. Sobre suas atividades, assim a
entrevistada comenta:
Eu trabalho com artesanato e na terra. Mas faz alguns anos abriu uma ferida
na perna de arrancar feijão, onde tinha passado veneno. Ensopou a meia e
começou a arder. Desde aquele dia, durante alguns anos, as meninas não
deixaram mais eu cuidar da terra. Mas eu não deixo de plantar meus feijões
em casa, mas nada de veneno. A perna está feia que Deus o livre! Estourou
veia, o pé gigante, inchado. Estou proibida de estar sem meia. Gosto de fazer
tapete, crochê, gosto também de ensinar as meninas a fazer.
Na região da Restinga tem duas capelas católicas - uma de São Sebastião e outra de
São Benedito, e há uma igreja evangélica. Duas mulheres entrevistadas comentaram ser
evangélicas, frequentam a igreja localizada nas proximidades.
O difícil acesso aos serviços de saúde leva, algumas vezes, os moradores locais a optar
temporariamente por cuidados alternativos, principalmente a procura por benzedeiras.
“Pois eu não sei benzer, mas eu faço oração e as pessoas saram, ficam
melhor, alivia. Eu faço oração pra Deus, que dê alivio”, diz a
entrevistada Beatriz.
A sobrinha a corrige:
O irmão da entrevistada Beatriz acrescenta: ”Isso depende da fé, né... diz que a fé
remove montanha, mas eu não acredito muito”.
Eu sei que desenvolvi sem estudar e sem saber o que era espiritismo (...) Eu
não conhecia umbamda e não sabia o que era umbamda. Quando fui para
Curitiba meus patrões eram todos espíritas. Eles começaram a me levar e eu
não sabia o que era e tinha usado de umbamda. Eles chegavam lá e ficavam
tão alegres e diziam “a feiticeira chegou, a feiticeira chegou”. Eu não
gostava e ficava brava. Da outra vez eu disse que não ia mais, eles me
chamavam de feiticeira.
Beatriz continua a contar que saiu do centro espírita e começou a frequentar outro e
que ela não ficava em silêncio. Foi orientada, fez os trabalhos que foram passados e,
posteriormente, foi convidada a trabalhar na casa espírita.
Pensei, católica sou, de Deus eu sou, diz que Deus é um só, então aqui
também tem Deus, né?(...) desenvolvi lá com eles, gosto de lá, adoro meu
centro (...) Confio muito em Deus e na força divina. Mas sinceramente o que
é e o que não é, eu não procuro saber. Outro dia veio uma menina com dor
de dente, eu benzi e ela não precisou ir ao dentista. Eu confio muito em
Deus, para mim é Deus e mais nada. Se Deus não quiser, eu é que não posso
fazer nada, não adianta.
“Desde criança não fui acostumada a ir nas festas da Lapa, aí eu não tenho o
hábito de ir. Sou evangélica. A gente vai muito na própria igreja evangélica”.
A entrevistada Jacira quando questionada sobre o fato de não casar relata sobre a
falta de opções. Dentre suas escolhas da vida, a entrevistada comenta que priorizou o trabalho
e os estudos e diz:
“Nunca casei, nunca quis homem. Vivi minha vida trabalhando sozinha”.
86
Engraçado que quando a gente se encontra com essa identidade, a gente fica
mais forte, a gente se fortalece. Porque, por exemplo, nós que somos negros,
para a gente sempre está faltando alguma coisa, a nossa identidade nunca
está completa. Primeiro a gente adquire identidade e se reconhece como
negro, tem esse fortalecimento. Ser negro é você ter orgulho de sua cultura,
de toda sua história, entender que não é só a história contada nas escolas, que
os negros foram escravos e foram menos que os outros, porque é isso que a
escola ensina. (Excerto de entrevista, Mariana, 32 anos, solteira, com
graduação superior)
“Ser quilombola é sempre manter as tradições, né? Que nem agora estamos
fazendo bastante artesanato, que era fazido lá antigamente. Relembrando
também a cultura negra”.
“É o povo negro. De uma certa forma é uma cultura diferente mas pouco,
que não aparece muito, né, bem pouco, por exemplo, aqui no nosso lugar a
comunidade que o povo são. É diferente das outras”.
87
A entrevistada Carmela comentou que dorme entre uma e duas da manhã e acorda 6
horas da manhã. Dorme 5 horas por noite ou até menos. Trabalha durante o dia e estuda o
curso de Administração, à noite. É casada, tem uma filha de sete anos.
A comunidade já possuía uma Associação de Moradores. Em 2018, a Associação
tomou novo fôlego e aprovou um novo estatuto. A Associação é composta em sua maioria de
mulheres que trabalham com artes manuais, produzem artesanato e comercializam em feiras e
eventos. Participaram da Jornada de Agroecologia (como mostrado na figura 20), evento
organizado pelo Movimento Sem Terra (MST), comercializaram vários trabalhos e têm
agenda para participar de várias feiras em outros municípios, inclusive em Curitiba.
As culturas e sociedades tradicionais se caracterizam, na concepção de Diegues
(2001), pela valorização do trabalho artesanal, com reduzida separação social e técnica, sendo
o produtor como agente dominador do processo até o produto.
Emprego, há 80 anos atrás, não existia, era só fazenda, né! Hoje é muito
diferente, tem a parte agrícola que funciona muito bem. Irmão de Beatriz da
Restinga.
Sim, com certeza, desde sempre. Por exemplo, eu estudei na Mariental, que é
uma colônia de alemães e russos. Então a gente acaba identificando que a
gente é negro quando vai para estes locais, você começa a sentir que você é
diferente. Eu não sofria no começo, no primeiro e segundo ano. Eu até acho
que por eu ter uma mãe que ia muito na escola para ver como eu estava, não
sofria tanto, porque também eu era uma boa aluna, mas por parte dos outros
alunos tinha, tinha muito preconceito. Na escola ali até hoje tem muito
preconceito em relação à cor e outras etnias.(Excerto de entrevista, Mariana,
32 anos, solteira, com graduação superior)
“Nesse modelo não existe mais desse cadeado, agora é tudo diferente,
porque a corrente tão aqui dentro, ó a argola. Umas pessoas falavam
assim que não era bem ficar lembrando, mas é nossa
memória”.(Excerto de entrevista, Ana, mulher, 43 anos, casada e
artesã)
90
São afrodescendentes, mas não são negros, porque se meus netos forem
brancos, não vão sofrer racismo. Eles podem até se conhecer como
afrodescendentes, e conhecer a cultura negra, mas não podem se apresentar
como negros. Porque é o negro que sofre de racismo, dos estereótipos e os
estigmas. Eles não vão sofrer isso. Não vão nem saber o que é racismo. O
branco não sabe o que é racismo. Não vão passar por isso.(Excerto de
entrevista, Mariana, mulher, 32 anos, solteira, com graduação superior)
“Isso eu nem ligo, sabe? Para mim é tudo igual. Eu não me queixo de ser preta e gosto
de gente bem preta. Aqueles pretão, né, aqueles bem alto. Acho que nunca fui
chateada nem por branco nem por negro”.
buraco, o que não desmerece em nada a beleza do lugar. Um lugar tranquilo, com ares
campestres. Muitas casas de material, outras de madeira.
Cenas bucólicas, lugar silencioso com cheiro de campo. São poucos ou raros os
carros avistados pelo caminho. Das imagens que chamam à atenção: uma capelinha na beira
da rua, uma lembrança da passagem do monge Zé Maria pelo lugar e a antiga escola, hoje
desativada e ocupada pelo CRAS da Prefeitura da Lapa.
De portas e janelas abertas, como é comum de se perceber em comunidades pequenas
e unidas, somadas a afetuosidade e alegria da acolhida, é como os moradores recebem quem
vem de fora para o interior do Feixo, Vila Esperança ou Restinga. Após poucos encontros
com a comunidade, se é acolhido com falas que retratam a satisfação com a chegada do
visitante, como diz uma entrevistada, “Você já é de casa. Venha para passar o dia”. (Excerto
de entrevista, A, mulher, 77 anos, viúva e mãe de quinze filhos) e pode ser observado na
figura 26. No contato com o grupo, as horas vão passando e a vontade de ficar é natural pela
forma acolhedora com que recebem os visitantes e pela tranquilidade local.
95
A Vila Esperança é CRQ da região da Lapa com o menor número de habitantes. É aqui
apresentada juntamente com o Feixo, pois os documentos oficiais a inserem como uma
extensão dessa CRQ. Segundo dados do GTCM (2008), a comunidade possui 10 famílias, 74
habitantes. A estrada de acesso à comunidade não possui pavimentação. É de terra e pela
pouca conservação, apresenta muitos buracos. Por meio dela, chega-se a um vale, onde os
moradores construíram um campo de futebol, como pode ser observado na figura 29. O
espaço de lazer é valorizado pela comunidade por caracterizar-se em local de encontro e
manutenção de relações e vínculos.
Com formação recente, a Vila Esperança traz na história da sua fundação a usurpação
de terras e engano vestindo o assistencialismo. Segundo relatos dos entrevistados e
confirmados pelo levantamento do GTCM, um fazendeiro lindeiro negociou terras e propôs às
famílias remanescentes quilombolas permuta pelas terras por casas, em alvenaria e com
banheiros, com a documentação toda legalizada. As famílias entregaram suas terras, que eram
localizadas no Feixo e se mudaram para a Vila Esperança. Após a mudança descobriu-se que
98
as terras eram resultado de invasões e o fazendeiro não cumpriu a construção adequada das
casas nem o referente à documentação (GTCM 2008).
4.5.2. Educação
Dentre as três comunidades, a CRQ do Feixo é a única que possui escola, mesmo
assim somente de 1ª a 4ª série. Para o ensino de 5ª a 8ª série, é preciso se deslocar de 5 a 7 km
para estudar. É disponibilizado ônibus pela Prefeitura Municipal da Lapa para o transporte das
crianças. As mães e/ou responsáveis acompanham as crianças até o ponto de ônibus e
aguardam, também, a chegada o veículo.
Na Vila Esperança, o ponto de ônibus é localizado somente na entrada da comunidade,
em frente ao criadouro. É comum, no horário de ida e retorno à escola, encontrar mães
caminhando em grupos. As ruas não são asfaltadas, o caminhar é tranquilo em dias de sol.
Porém, em dias de chuva, a areia e o barro dificultam o acesso. Neste caso, a escolarização é
prejudicada pela dificuldade de acesso.
Observa-se que 56,27% das mulheres entrevistadas no Feixo possuem carteira de
identidade, 48,39 das mulheres estão inscritas no Cadastro de Pessoa Física (CPF) e 49,46%
99
possuem título de eleitor. O índice mostra que mais da metade das mulheres da comunidade
possuem documentação, que também proporcionam o acesso à educação.
Segundo dados do GTCM (2008), 51,42% da população das CRQ da Lapa possui a
escolaridade no ensino fundamental das séries iniciais.
O grau de instrução, diante das informações coletadas pelo GTCM, é identificado por
7,17% de analfabetismo entre as mulheres, 52,33% das mulheres com grau de instrução de
primeira a quarta série; 19% das mulheres de quinta a oitava série e 5% das mulheres com
ensino médio, não informando se concluído ou não. Foi observado pelo GTCM, na época da
coleta de dados, a ausência de incidência de casos de pós-médio e terceiro grau, como se pode
constatar pelos dados contidos na tabela 07.
4.5.3. Saúde
Ao contrário da CRQ do Feixo, a CRQ da Vila Esperança não possui posto de saúde.
A comunidade tem acesso a poucos serviços e, quando necessário, o atendimento mais
especializado somente é disponível na Lapa, como afirma uma das entrevistadas.
100
Não tem quase nada também. A gente gostaria que tivesse as coisas, mas não
tem nada. A gente gostaria de, para ter, tipo, tirar um sangue, a gente ir num
laboratório, porque é complicado pegar ônibus e ir até a Lapa para tirar
sangue essas coisas. Fazer exame essas coisas a gente gostaria de ter, mas
aqui não tem quase nada (Excerto de entrevista Isadora, 40, professora)
Os dados do GTCM, mesmo sendo de 2008, são trabalhados pela Prefeitura Municipal
da Lapa e pela Emater, que realiza constantes ações na CRQ do Feixo, desenvolvendo cursos
de capacitação e sensibilização ambiental. As ações são propostas pelos técnicos da Emater
ou pela comunidade.
A técnica Leila Klenk falou sobre a associação de moradores do Feixo. Segundo ela, a
associação é muito forte e participativa. Pois debate e toma iniciativas constantemente sobre
as condições de educação, saúde, relações de trabalho, cobra resultados e é mais politizada.
Leila Klenk também comentou que a Emater trabalha com a CRQ do Feixo desde 1998. Entre
os cursos ali realizados estão a transformação do alimento, produção de grãos, produção
orgânica, formação de compostagem, etc.
Num dos cursos de compostagem realizado no Feixo, uma das mulheres da
comunidade comentou: O problema aqui não é a compostagem, é a falta de luz. Nós não
podemos estudar ou sair de madrugada para trabalhar, pelo risco desta falta de luz. Segundo
Leila, a fala orientou suas ações, quando então prefeita do município da Lapa. A troca de
necessidades entre a Emater e a CRQ traz ganho para a CRQ e para a própria Emater.
A Vila Esperança apresenta grande vulnerabilidade social. As condições de
saneamento são precárias, mas, nem por isso menos bela e receptiva que as demais
comunidades visitadas. Está localizada a um quilômetro adiante da entrada do Feixo.
Esperança é muito mais que o nome do lugar, é o que a comunidade sente, ou seja, que o
poder público chegue até ali, com possibilidades de trabalho e melhores condições de vida, ou
a oferta de ações assistenciais.
O ambiente é constituído por raras casas de alvenaria e muitas de madeira, como pode
ser observado nas figuras 30,31 e 32. As casas são mais singelas, mas nem por isso, menos
acolhedoras. As casas, na sua maioria, têm piso de terra batida e são cobertas por telha.
101
FIGURA 32 – O ambiente na CRQ da Vila Esperança é constituído por casas em volta, raras de alvenaria e
muitas de madeira.
Eu quero muito que este lugar melhore. A gente não pode receber uma visita
aqui pra jogar no campinho ou pra uma festa. O nosso barzinho nem
banheiro tem. Isso é ruim e a gente tem vergonha. Eu pedi pro prefeito e ele
mandou as máquinas pra abrir mais o terreno. A gente quer muito construir
uma igreja lá em cima (Excerto de entrevista, líder comunitário),
FIGURA 33 – Imagem de São Benedito, santo protetor dos negros, localizada na Paróquia Imaculada Conceição
de Mariental, na Lapa
105
Numa das conversas com a técnica Leila Klenk falou sobre água e saneamento na
CRQ da Vila Esperança. Segundo ela, não tinha água tratada na comunidade em 2002.
Me lembro da Vila Esperança, que não tinha água em 2002, não tinha água
tratada, e rede de esgoto ainda não existe. É muito ruim. E as mulheres
através de um trabalho que nós fizemos, usando a metodologia da Emater,
que é o diagnóstico rural participativo. Nós fomos atrás e conseguimos que a
Sanepar fizesse uma extensão de água para aquela comunidade”. (Excerto de
entrevista, técnica L. K.)
Segundo relatos de entrevistadas, não havia luz nem água tratada na comunidade. As
mulheres lavavam roupas num rio dentro da comunidade. Atualmente esse rio está localizado
106
Nós vamos para roça. Aqui falta esgoto e água encanada. (Excerto de
entrevista, Keila, 60 anos, viúva).
A gente plantava feijão. Lembro que uma vez, colhi meio saco e queria
vender para comprar uma mesa com cadeiras para casa, mas meu
marido não quis. Preferiu comprar um animal para o ajudar na roça.
(Excerto de entrevista, Keila, 60 anos, viúva, mãe de 10 filhos).
109
FIGURA 37 – As mulheres atuaram no I Encontro Quilombola realizado na CRQ do Feixo, que uniu as três
CRQs da Lapa
Mesmo com dificuldades, antigamente havia mais emprego ligado à lavoura. Hoje as
dificuldades são maiores como afirmou a entrevistada.
Antigamente tinha mais emprego por aqui, agora tem pouco, por isso
o pessoal trabalha fora. Tem gente que sai às 4 horas para ir para
Contenda trabalhar.
Aqui não tinha fazenda, era tudo no arado, com cavalos. O trator tirou
muito trabalho das pessoas. Hoje o que está valendo é o estudo, sem
estudo não pega serviço. Os jovens agora querem ter independência,
não querem pedir tudo para os pais. (Excerto de entrevista, Denise, 60
anos, viúva)
FIGURA 39 - Trabalhos manuais são fontes de renda das mulheres da CRQ do Feixo
111
Dormimos cedo para acordar cedo. Tem criança para ir para a escola,
tem marmita para fazer para o marido.
de atividades do dia a dia e na manutenção de ritos e práticas, que contribuem nas questões
referentes à identidade e elementos étnico-raciais. As mulheres reúnem em si, crença, luta,
obstinação e paciência, valentia e coragem para a luta, tudo aliado à diplomacia com
habilidade e persistência. Vivem em muito do que trouxeram gerações anteriores, da mesma
forma como vivem e viverão seus descendentes (GOMES JUNIOR; SILVA; COSTA, 2008).
O ônibus de acesso a outros centros, seja à Lapa, Contenda ou Curitiba, não percorre a
comunidade. Vai somente até a entrada da comunidade.
A entrevistada Íris comenta que falta saneamento básico e que as fossas estão sempre
cheias. Segundo ela, para melhorar é importante o acesso da comunidade à estrada.
Ao serem perguntadas sobre as condições de vida na Vila Esperança, a entrevistada
Lorena, assim respondeu:
FIGURA 42 – O declive do acesso à comunidade dificulta o acesso de caminhões. O caminhão de lixo atende à
comunidade uma vez por semana
A guerra comentada pela entrevistada é o Cerco da Lapa, que ocorreu entre Maragatos
e Pica-paus. O Museu Histórico da Lapa, inaugurado em 2003, tem no acervo vários objetos e
115
narrativas que fortalecem as questões históricas do município sobre este evento. Ainda assim,
a presença do negro na história do Paraná é pouco difundida.
– É a pessoa que trabalha e constrói as coisas com o seu suor, que planta.
Quando morava com meus pais, chegamos a passar fome e, às vezes, não
tinha calçado. Depois que casei, melhorou. (Excerto de entrevista, Nina, 35
anos, casada e mãe de dois filhos)
Leila Klenk comentou que, logo no início, quando começou a trabalhar com a
comunidade do Feixo, um senhor disse que “foi a primeira vez que alguém chegou aqui no
Feixo perguntando o que nós queríamos, e sorrindo”. Leila acrescenta que essa situação a
marcou muito.
– Na verdade meu marido me deixou e nunca mais apareceu. Nunca mais foi
descobrido. Ele me deixou quando a Chiquinha tinha 6 meses. Tive cinco
filhos. Para criar eles, me ajudavam, pus na escola, no catecismo, o que eu
pude fazer. Nossa senhora! Tinha que trabalhar na roça. (Excerto de
entrevista, Denise, mulher, 80 anos)
– “Existe por parte das pessoas que rebaixam a gente por sermos
pobres”.
biofossa, das zonas de tratamento de raízes no esgoto. Uma das mulheres da CRQ da Restinga
comentou a necessidade de fazer o curso de biofossa na CRQ da Restinga.
E aí surgiu este curso. As mulheres foram atrás. Elas compraram, elas
começaram a entender de ligação hidráulica, que até então para elas era
desconhecido muito grande. Elas tinham a necessidade do tratamento de
esgoto, da qualidade de vida. Isso parte do feminino. Havia recurso do
governo para reforma de casa ou paiol. Os homens iam pedir ou paiol ou
reforma no máximo do telhado e todas as mulheres pediam um local coberto
para o tanque, ligação de água com o local onde o esgoto pudesse escorrer. É
muito interessante isso. Esse curso que aconteceu na Restinga, é fruto já de
um outro. Fruto também da Associação. (Excerto de entrevista, Técnica
Leila Klenk)
Bauman, por sua vez, ao tratar dos guetos e a relação com a separação étnico-racial,
afirma que se trata de oposição homogeneidade/heterogeneidade, uma forma de impor limites.
A entrevistada faz menção à Guerra do Contestado, onde ocorreu genocídio caboclo,
conforme foi comentado no filme Restos Mortais, Back (2012).
seguinte, o papel é colocado sobre o tecido dentro de uma prensa plana. O processo de
impressão ocorre por transfer, a impressão é passada para o tecido em altas temperaturas (no
caso, 200º C.).
Foi uma noite muito alegre em razão da festa, pelo retorno das imagens, por se
acharem bonitas e com cuidado especial com as imagens da exposição. A mostra da Restinga
122
foi a única que permaneceu por dois dias, sob os cuidados da Associação de Moradores da
Restinga e, na sequência, foram entregues às mulheres.
Foi realizado um teste preliminar dessa estratégia de educação ambiental quando foi
realizada a primeira devolutiva com as mulheres da Vila Esperança. Na ocasião, as primeiras
imagens foram expostas num varal fotográfico.
evento, como pode ser observado o convite virtual, figura 45. O Assentamento Contestado
está localizado dentro da antiga Fazenda Santa Amélia, local histórico. Os comentários
durante o evento fortaleceram a pesquisa, principalmente na questão histórica envolvendo a
fazenda Santa Amélia. Também foi observada o ponto de vista das mulheres sobre o resultado
parcial da pesquisa, como tendo aceitação por parte da comunidade e também como
ferramenta de sensibilização social para as questões das comunidades.
para uma nova imagem ao lado da fotografia impressa na exposição (figura 47) e receberam
as fotografias impressas, ao término da exposição, figura 46.
FIGURA 46- A exposição na Restinga fez parte da devolutiva de imagens às mulheres da comunidade.
iriam ser doadas. Elas posaram para uma nova imagem ao lado da fotografia impressa na
exposição e, ao término, receberam as fotografias impressas.
No momento em que as fotografias eram devolvidas as mulheres, foram observadas
as reações frente a fotografia e o que elas diziam sobre sua realidade. Esses dados serviam
para complementar os dados obtidos com as entrevistas realizadas, utilizados para a análise de
conteúdo, como pode ser observado nas figuras 50 e 51.
Antes do almoço fui até a casa da benzedeira da comunidade do Feixo para que ela
pudesse ver a exposição. Já que ela estava com problemas de saúde e mobilidade reduzida.
Fui buscá-la de carro e a trouxe para ver a mostra. Observar a sua reação frente as imagens,
resultado parcial da pesquisa. Reencontrou conhecidos e pessoas que não via há algum tempo.
Comentou a importância de outras mulheres na sua história. Ela observou as imagens e fez
comentários sobre a exposição.
Durante o dia do evento na CRQ do Feixo, várias devolutivas de imagens puderam
ser realizadas, como é mostrado nas figuras 51 e 52.
129
devolutiva é parte essencial do processo. É o momento em que o ator social devolve também
o ponto de vista frente ao trabalho do fotógrafo-pesquisador.
Após o início da colocação das imagens em tecido no varal fotográfico, as primeiras
mulheres se aproximaram. Enquanto continuava a colocar as imagens no varal, percebi os
primeiros sorrisos. Nos rostos uma alegria e também um misto de orgulho frente a outras
pessoas. Na exposição tinham apenas as imagens relacionadas às mulheres pesquisadas,
relações familiares, retratos, casas, etc. A CRQ da Vila Esperança se mostrou aberta para a
pesquisa.
descritas. Esses dados serviram para complementar os dados anteriormente obtidos por meio
de entrevistas.
Fui à casa de uma das entrevistadas durante o evento. Quando entrei, uma das
minhas imagens, que fez parte da primeira devolutiva impressa, estava num quadro
emoldurado pendurado na parede de madeira, junto a um salmo da bíblia, como pode ser visto
na figura 56. As imagens das devolutivas guardadas representam memórias da comunidade. A
fotografia documental servindo de referencial. A exposição devolutiva contou com a presença
das entrevistadas da comunidade, como pode ser observado na imagem 57.
133
No quadro, duas fotografias que haviam sido doadas na devolutiva: uma imagem da
mãe do ator social da narrativa e a fotografia da filha.
134
Com base nos resultados obtidos com a pesquisa, foram elaborados materiais didáticos
distintos e definidas estratégias para sua utilização em ações de educação ambiental. Para
tanto, foram selecionados imagens e temas geradores.
Do conjunto de recursos foram criados um jogo da memória, uma exposição itinerante
e um fotolivro. Tais recursos, vêm ao encontro do disposto no Decreto 4.887:
Com base na Lei nº 10.639, que alterou a Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996,
que estabelece as diretrizes e bases da educação nacional, para incluir no currículo oficial da
Rede de Ensino a obrigatoriedade da temática História e Cultura Afro-Brasileira, foi criado o
jogo da memória, que busca justamente o fortalecimento de iniciativas junto às CRQs.
Constituído por 56 cartas, das quais cada conjunto de 16 cartas (com imagens
duplicadas) impressas no tamanho 5,0 x 7,0 cm, retratam 8 características da realidade e
cultura de cada comunidade. Cada dupla de cartas é acompanhada por uma carta com textos e
indicação de temas para debates em grupo. O jogo é utilizado para estimular discussões sobre
os temas:
136
Para tanto, o jogo é acompanhado por um líder de grupo, também denominado agente
multiplicador, que abre a discussão sobre o tema, por meio da carta contendo o texto para
discussão ao serem relevadas as duplas de cartas pelos participantes.
Entende-se por multiplicador o agente, ou ator social,
A seguir, serão apresentadas as imagens das cartas e do texto base que constituem o
jogo.
FOTOS DO JOGO
Cartas imagéticas da CRQ da Restinga (Figuras 61 a 68)
137
4. Trabalho feminino
A presença feminina é marcante na organização de atividades do dia a dia e na
manutenção de ritos e práticas, que contribuem nas questões referentes à identidade e
elemento étnico-raciais (GOMES JUNIOR; SILVA; COSTA, 2008).
Como é a rotina de trabalho das mulheres da CRQ da Restinga? O que fazem?
141
5. Família
A mão de obra familiar é uma das características de populações tradicionais,
utilizando tecnologias de pouco impacto e derivadas de conhecimentos herdados de
pai para filho e de base sustentável (ARRUDA, 1999).
Todos os integrantes das famílias participam das atividades econômicas
(agricultura, pecuária, produção artesanal)? Que aspectos importantes descrevem
as famílias que vivem na CRQ da Restinga?
142
6. Comunidade
O fortalecimento advém da união em grupo. É a comunidade que acolhe (BAUMAN,
2001).
O que mantém unida a CRQ da Restinga? Quais as principais atividades comunitárias
(festas, trabalho, relações familiares) responsáveis pela união do grupo?
143
7. Meio ambiente
A busca pela harmonia entre o homem e o meio ambiente faz parte do caminho para a
compreensão direcionada ao desenvolvimento sustentável (SACHS, 2002).
Como isso pode ser feito dentro da CRQ da Restinga? Quais os principais problemas que
interferem no meio ambiente? Como poderiam ser solucionados?
144
8. Práticas sustentáveis
É preciso ter consciência para o uso produtivo e racional dos recursos para que todas as
atividades ligadas à economia estejam alicerçadas no ambiente natural, sem que com isso
prejudique ou destrua o meio ambiente (SACHS, 2002).
O que são práticas sustentáveis? De que forma é possível utilizar os recursos da natureza,
sem agredi-la? Como realizar práticas sustentáveis dentro da CRQ da Restinga?
145
FIGURA 69 – Carta do jogo da memória da CRQ do Feixo, que será utilizada como material de educação
ambiental
FIGURA 70 – Carta do jogo da memória da CRQ do Feixo, que será utilizada como material de educação
ambiental
FIGURA 71 – Carta do jogo da memória da CRQ do Feixo, que será utilizada como material de educação
ambiental
FIGURA 72 – Carta do jogo da memória da CRQ do Feixo, que será utilizada como material de educação
ambiental
4. Trabalho feminino
A presença feminina é marcante na organização de atividades do dia a dia e na
manutenção de ritos e práticas, que contribuem nas questões referentes à identidade e
elemento étnico-raciais (GOMES JUNIOR; SILVA; COSTA, 2008).
Em que as mulheres do Feixo trabalham? Como ocupam o tempo ao longo do dia?
149
FIGURA 73 – Carta do jogo da memória da CRQ do Feixo, que será utilizada como material de educação
ambiental
5. Família
A mão de obra familiar é uma das características de populações tradicionais, utilizando
tecnologias de pouco impacto e derivadas de conhecimentos herdados de pai para filho e
de base sustentável (ARRUDA, 1999).
Quais são as características das famílias na CRQ do Feixo?
150
FIGURA 74 – Carta do jogo da memória da CRQ do Feixo, que será utilizada como material de educação
ambiental
6. Comunidade
Comunidade quilombola é um grupo étnico que se autodefine com base nas relações com
a terra, seu uso, costumes e práticas culturais próprias (BRASIL, 2003). O fortalecimento
advém da união em grupo. É a comunidade que acolhe (BAUMAN, 2001).
O que pode ser feito para fortalecer a CRQ do Feixo?
151
FIGURA 75 – Carta do jogo da memória da CRQ do Feixo, que será utilizada como material de educação
ambiental
7. Meio ambiente
A busca pela harmonia entre o homem e o meio ambiente faz parte do caminho para a
compreensão direcionada ao desenvolvimento sustentável (SACHS, 2002).
Como isso pode ser feito dentro da CRQ do Feixo?
152
FIGURA 76 – Carta do jogo da memória da CRQ do Feixo, que será utilizada como material de educação
ambiental
8. Práticas sustentáveis
A sustentabilidade é a possibilidade de assegurar que futuras gerações tenham oportunidades
iguais de acesso aos recursos naturais ou que gerações futuras tenham acesso ao meio
ambiente não mais danificado que hoje. Ainda pode ser caracterizada como modelo de
desenvolvimento economicamente viável, justo e sem agressão ao meio ambiente
(BOTKLIN; KELLER, 2011). Para alcançá-la, é preciso ter consciência para o uso produtivo
e racional dos recursos para que todas as atividades ligadas à economia estejam alicerçadas no
ambiente natural, sem que com isso prejudique ou destrua o meio ambiente (SACHS, 2002).
Como realizar práticas sustentáveis dentro da CRQ do Feixo?
FIGURA 77 – Carta do jogo da memória da Vila Esperança, que será utilizada como material de educação
ambiental
FIGURA 78 – Carta do jogo da memória da Vila Esperança, que será utilizada como material de educação
ambiental
FIGURA 79 – Carta do jogo da memória da Vila Esperança, que será utilizada como material de educação
ambiental
FIGURA 80 – Carta do jogo da memória da Vila Esperança, que será utilizada como material de educação
ambiental
4. Trabalho feminino
A presença feminina é marcante na organização de atividades do dia a dia e na
manutenção de ritos e práticas, que contribuem nas questões referentes à identidade e
elemento étnico-raciais (GOMES JUNIOR; SILVA; COSTA, 2008).
Como é a rotina de trabalho das mulheres da CRQ da Vila Esperança? O que fazem?
157
FIGURA 81 – Carta do jogo da memória da Vila Esperança, que será utilizada como material de educação
ambiental
5. Família
A mão de obra familiar é uma das características de populações tradicionais,
utilizando tecnologias de pouco impacto e derivadas de conhecimentos herdados de
pai para filho e de base sustentável (ARRUDA, 1999).
Todos os integrantes das famílias participam das atividades econômicas (agricultura,
pecuária, produção artesanal?) Que aspectos importantes descrevem as famílias que
vivem na CRQ da Vila Esperança?
158
FIGURA 82 – Carta do jogo da memória da Vila Esperança, que será utilizada como material de educação
ambiental
6. Comunidade
O fortalecimento advém da união em grupo. É a comunidade que acolhe (BAUMAN,
2001).
O que mantém unida a CRQ da Vila Esperança? Quais as principais atividades
comunitárias (festas, trabalho, relações familiares) responsáveis pela união do grupo?
159
FIGURA 83 – Carta do jogo da memória da Vila Esperança, que será utilizada como material de educação
ambiental
7. Meio Ambiente
A busca pela harmonia entre o homem e o meio ambiente faz parte do caminho para a
compreensão direcionada ao desenvolvimento sustentável (SACHS, 2002).
Como isso pode ser feito dentro da CRQ da Vila Esperança? Quais os principais
problemas que interferem no meio ambiente? Como poderiam ser solucionados?
160
FIGURA 84 – Carta do jogo da memória da Vila Esperança, que será utilizada como material de educação
ambiental
8. Práticas Sustentáveis
É preciso ter consciência para o uso produtivo e racional dos recursos para que
todas as atividades ligadas à economia estejam alicerçadas no ambiente natural, sem
que com isso prejudique ou destrua o meio ambiente (SACHS, 2002).
O que são práticas sustentáveis? De que forma é possível utilizar os recursos da
natureza, sem agredi-la? Como realizar práticas sustentáveis dentro da CRQ da Vila
Esperança?
161
Sob o título Olhar ancestral: memória e cultura quilombola, a exposição final conta
com duas imagens impressas abordando a localização geográfica das três CRQs, importância
da escarpa devoniana e da mata atlântica e texto abordando a identidade quilombola.
A exposição apresenta no total 18 fotografias impressas em tecido poliéster, nos
tamanhos 130 X 90 cm e 150 X 100 cm, totalizando 18 fotografias e mais duas imagens
abordando questões ambientais, conforme se pode observar nas figuras 82 a 102.
Por meio de sua característica itinerante e da possibilidade de exposição a diferentes
condições climáticas, a mostra fotográfica cumpre seu papel educativo ao estimular o debate
em torno da problemática ambiental e da realidade vivenciada pelas comunidades
remanescentes quilombolas da Lapa. Para tanto, serão considerados os mesmos temas
geradores utilizados para a elaboração do jogo da memória:
1. Memória e cultura quilombola
2. Identidade e relações étnico-raciais
3. Gênero, papel e trabalho da mulher na comunidade quilombola
4. Família
5. Comunidade
6. Meio ambiente e práticas sustentáveis
(PR). São comunidades afrorrurais, que tiveram influência de outras etnias e possuem forte
influência e participação feminina.
O município recebe recursos do ICMS Ecológico em razão da existência na região de
Unidades de Conservação e áreas de manancial, como é o caso da Escarpa Devoniana, que
assegura a proteção do limite natural entre o Primeiro e Segundo Planaltos Paranaenses. Na
Lapa ocorre sobreposição de áreas com unidades de conservação ambiental e áreas de
mananciais de abastecimento, recebendo somente pelo maior índice, o de conservação.
Segundo dados da Fundação Palmares, existem mais de 3.500 comunidades
quilombolas com certidões expedidas no país e, segundo o GTCM, mais de 80 estão
localizadas no Paraná.
Historicamente, o estado do Paraná apresenta nos dados da população, indicativo de
afrodescendência. A miscigenação na população brasileira é caráter constitutivo da
diversidade cultural presente na identidade do povo brasileiro. De acordo com dados da
Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD, 2015), indivíduos pardos e negros
somam 53,92% da população brasileira. No município da Lapa, a raça negra totaliza 39,23%
da população. Esses dados demonstram a importância da pesquisa nas CRQs da Lapa, como
forma de voltar os olhos para a história, reconhecer o legado da cultura africana sobre a
população brasileira e compreender a história do país.
Faziam parte da Fazenda Santa Amélia, de propriedade de Hipólito Alves de Araújo.
A população das CRQs da Lapa é formada por agricultores com poucos recursos financeiros e
que sempre trabalharam para os fazendeiros da região.
Cenas bucólicas, lugar silencioso com cheiro de campo. São poucos ou raros os carros
avistados pelo caminho. De portas e janelas abertas, como é comum de se perceber em
comunidades pequenas e unidas, somadas a afetuosidade e a alegria da acolhida, é como os
moradores recebem quem vem de fora para o Feixo, Vila Esperança ou Restinga. Atualmente,
a CRQ do Feixo é a única da região a possuir escola, mesmo assim somente com ensino
fundamental. As CRQs da Vila Esperança e da Restinga não possuem escolas. Nenhuma das
comunidades possui posto de saúde e são atendidas pelo posto de saúde de Mariental,
localizado entre 5 a 7 km de distância.
As mulheres entrevistadas reafirmam sua identidade quilombola e, algumas delas
falam em seus relatos sobre a aquisição de uma herança histórica de luta e resistência. O
trabalho nas roças é feito por mulheres e homens, que cultivam milho e feijão em terras
arrendadas. Em várias casas, foram observados objetos que faziam menção a
afrodescendência, além de imagens de ascendentes. A busca por esse reconhecimento não
163
FIGURA 85 – Fotografia da CRQ da Restinga que fará parte da exposição fotográfica Olhar ancestral: memória
e cultura quilombola.
FIGURA 86 – Fotografia da CRQ da Restinga que fará parte da exposição fotográfica Olhar ancestral: memória
e cultura quilombola.
165
FIGURA 87 – Fotografia da CRQ da Restinga que fará parte da exposição fotográfica Olhar ancestral: memória
e cultura quilombola.
FIGURA 88 – Fotografia da CRQ da Restinga que fará parte da exposição Olhar ancestral: memória e cultura
quilombola.
166
FIGURA 89 – Fotografia da CRQ da Restinga que fará parte da exposição Olhar ancestral: memória e cultura
quilombola.
FIGURA 90 – Fotografia da CRQ da Restinga que fará parte da exposição fotográfica Olhar ancestral: memória
e cultura quilombola.
167
FIGURA 91 – Fotografia da CRQ do Feixo que fará parte da exposição fotográfica Olhar ancestral: memória e
cultura quilombola.
FIGURA 92 – Fotografia da CRQ do Feixo que fará parte da exposição fotográfica Olhar ancestral: memória e
cultura quilombola.
168
FIGURA 93 – Fotografia da CRQ do Feixo que fará parte da exposição fotográfica Olhar ancestral: memória e
cultura quilombola.
169
FIGURA 94 – Fotografia da CRQ do Feixo que fará parte da exposição fotográfica Olhar ancestral: memória e
cultura quilombola.
FIGURA 95 – Fotografia da CRQ do Feixo que fará parte da exposição fotográfica Olhar ancestral: memória e
cultura quilombola.
170
FIGURA 96 – Fotografia da CRQ do Feixo que fará parte da exposição fotográfica Olhar ancestral: memória e
cultura quilombola.
FIGURA 97 – Fotografia da CRQ da Vila Esperança que fará parte da exposição fotográfica Olhar ancestral:
memória e cultura quilombola.
171
FIGURA 98 – Fotografia da CRQ da Vila Esperança que fará parte da exposição fotográfica Olhar ancestral:
memória e cultura quilombola.
FIGURA 99– Fotografia da CRQ da Vila Esperança que fará parte da exposição fotográfica Olhar ancestral:
memória e cultura quilombola.
172
FIGURA 100 – Fotografia da CRQ da Vila Esperança que fará parte da exposição fotográfica Olhar ancestral:
memória e cultura quilombola.
173
FIGURA 101 – Fotografia da CRQ da Vila Esperança que fará parte da exposição fotográfica Olhar ancestral:
memória e cultura quilombola.
FIGURA 102 – Fotografia da CRQ da Vila Esperança que fará parte da exposição fotográfica Olhar ancestral:
memória e cultura quilombola.
174
5.3.1 Fotolivro
identifica uma CRQ). Os textos são breves, de fácil leitura e se utilizam do referencial teórico
apresentado nesta dissertação. Serão considerados os mesmos temas geradores utilizados para
a elaboração do jogo da memória e da exposição itinerante:
1. Memória e cultura quilombola
2. Identidade e relações étnico-raciais
3. Gênero, papel e trabalho da mulher na comunidade quilombola
4. Família
5. Comunidade
6. Meio ambiente e práticas sustentáveis
CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
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182
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FLICK, Uwe. Introdução à pesquisa qualitativa. 3. Ed. Porto Alegre: Artmed, 2009.
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SONTAG, Susan. Sobre fotografia. São Paulo: Companhia das Letras, 2004.
186
TESSER, Rosa Maria. Claro Jansson : O Fotógrafo do Contestado : um memorial aos 100
anos do conflito. Balneário Piçarras, SC : Ed. Da Autora, 2016.
APÊNDICE A
Declaro, ainda para todos os fins e efeitos de direito que da utilização das imagens para as
finalidades citadas acima não decorrerá qualquer tipo de ônus para a acima citada.
_______________________________________
Assinatura
188
APÊNDICE B
APÊNDICE C
Título da pesquisa: A Fotografia como ferramenta de sensibilização ambiental com mulheres das
comunidades remanescentes quilombolas da Lapa, Paraná. Instituição: Universidade Positivo
Você está sendo convidada a participar desta pesquisa, realizada no âmbito do programa de
pós-graduação em Gestão Ambiental da Universidade Positivo (Curitiba- PR), a qual tem como
objetivo construir uma proposta de sensibilização pela imagem (fotografia) junto a mulheres de
Comunidades Remanescentes Quilombolas da Lapa - Pr, sobre a importância da proteção e dos
cuidados ambientais, bem como sobre o seu papel nestes contextos e suas contribuições para
minimizar problemas.
Pretendo apresentar por meio de imagens e textos a realidade vivida por mulheres das
Comunidades Remanescentes Quilombolas localizadas na Lapa-Pr, bem como as condições
ambientais a que estão submetidas.
Sua participação consistirá na observação do pesquisador e em responder um questionário
acerca das questões de vida e questões ambientais da comunidade: o tempo de duração é de
aproximadamente vinte minutos; não haverá qualquer remuneração pela participação do sujeito na
pesquisa; haverá o sigilo da identidade dos participantes, salvo quando houver autorização expressa e
documentada para utilização de imagem. A metodologia da pesquisa também conta com a observação
participante direta e participação em rodas de conversas, com a duração de não mais de uma hora.
Como riscos, o entrevistado pode sentir possível desconforto causado pela participação durante as
entrevistas ou na observação; o participante possui direito de recusa e/ou desistência sem qualquer
penalidade; após a conclusão do estudo, o material será incorporado ao acervo da instituição a que o
pesquisador pertence; em caso de dúvida sobre a pesquisa, poderá entrar em contato com a
pesquisadora por e-mail Isabelle Soares Neri Vicentini (isabelleneri@gmail.com) ou pelo telefone (41)
99906-8423, ou com o professor orientador Mario Sergio Michaliszyn (telefone: (41) 3317-3452 / e-
mail: msmzyn@gmail.com), bem como no Comitê de Ética da Universidade Positivo – telefone: (041)
3317-3260 ou no endereço: Rua Pedro Viriato Parigot de Souza, 5300, Campo Comprido, Curitiba. Ou
com a Comissão Nacional de Ética em Pesquisa – CONEP – telefone: (061) 3315-5878 e (061) 3315-
5879 ou no endereço: Esplanada dos Ministérios, Bloco “G” – Edifício Anexo, Ala “B” – 1º andar,
sala 103B, Brasília/DF.
Declaro que fui devidamente esclarecido sobre a pesquisa e aceito participar. Para tanto,
assino o presente termo em duas vias. Uma via ficará comigo e a outra com o pesquisador
responsável.
Lapa – Paraná
__________________________________________________
[assinatura]
[NOME do participante]
__________________________________________________
Assinatura do pesquisador responsável
190
APÊNDICE D
ANEXO A