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Recife
2016
UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO
CENTRO DE ARTES E COMUNICAÇÃO
DEPARTAMENTO DE COMUNICAÇÃO SOCIAL
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM COMUNICAÇÃO
Recife
2016
Catalogação na fonte
Bibliotecário Jonas Lucas Vieira, CRB4-1204
BANCA EXAMINADORA
_______________________________________________________
Profa. Dra. Isaltina Gomes (Orientadora)
Universidade Federal de Pernambuco
_______________________________________________________
Prof. Dr. Jeder Janotti Jr.
Universidade Federal de Pernambuco
_______________________________________________________
Prof. Dr. Rodrigo Carreiro
Universidade Federal de Pernambuco
_______________________________________________________
Profa. Dra. Sonia Aguiar Lopes
Universidade Federal de Sergipe
_______________________________________________________
Prof. Dr. Diego Andres Salcedo
Universidade Federal de Pernambuco
Este trabalho é dedicado aos grandes amores da
minha vida: Sonia, Sofia, Lúcia, Cau e Normando,
meu saudoso pai.
AGRADECIMENTOS
Mesmo correndo o risco de esquecimento, gostaria de registrar minha gratidão àqueles que
manifestaram estímulo, confiança e apoio ao longo dessa caminhada.
À professora Isaltina pela confiança, generosidade, paciência e cuidado na orientação desta
tese, e por me inserir em um grupo de jovens pesquisadores que ainda acreditam na produção
de um conhecimento científico indispensável à minimização das desigualdades, sobretudo das
injustiças ambientais. Foram valiosas e encorajadoras as provocações e questionamentos tão
marcantes em nossas reuniões!
À professora Anabela Carvalho pela determinação e empenho tão marcantes em suas
investigações no campo da comunicação ambiental, sou grato pela valiosa acolhida na UMinho.
Aos professores do PPGCOM pelas importantes contribuições acadêmicas e pela dedicação e
cooperação manifestadas, mesmos após encerrado o convício durante as disciplinas.
Aos colegas de disciplinas com os quais compartilhei momentos de dúvidas e descobertas,
especialmente Karolina Calado, Luis Celestino, Natalia Flores e Robério Coutinho, os quais
“misteriosamente” se tornaram amigos para toda uma vida.
À secretaria do PPGCOM, Cláudia, Roberta e Zé, sempre atenciosos e prestativos com as
minhas demandas – sem vocês os ritos burocráticos me atropelariam.
À CAPES cuja bolsa de pesquisa permitiu a realização do estágio doutoral no exterior.
À PROPESQ por todo o empenho em viabilizar a implementação da bolsa.
À minha família, pela paciência, incentivo e confiança, sobretudo pela compreensão diante da
ausência que tantas vezes se fez necessária. Minha pequena Sofia, que mesmo tão jovem
participou dessa jornada, embarcando em meus planos sem qualquer chance de recusa – as
animações nos aproximaram ainda mais. Lúcia, minha mãe, sempre tão perto de mim mesmo
quando estávamos separados por milhares de quilômetros de distância. Meu irmão Cláudio,
pelas calorosas discussões políticas – foram pausas forçadas, mas valiosas!
A Sonia Cristina, minha amiga, esposa e parceira! Sem o seu amor, atenção, incentivo e
compreensão essa tese seria um desafio ainda maior. Obrigado por toda a paciência nos
momentos de maior tensão e ... por me resgatar da informática!
À professora Sônia Aguiar pela generosidade com que compartilha suas experiências e
conhecimento. Pela coragem que orienta sua luta por uma universidade mais justa e atuante. E
por me apresentar o fascinante campo da Comunicação Ambiental.
A Suzana Amado, criadora e diretora do festival Filmambiente, pela disponibilidade em
colaborar com a pesquisa.
Aos amigos de longa data: Janisson, Abelardo, Guilherme, Cissa, Meire, Lucas, Bia, Ana, Iris,
Marcão, Carlos, Lino e João Dantas. Não são muitos, mas são os que mereço!
Ao professor Milton Menezes por me apresentar ao mundo acadêmico!
Finalmente, agradeço a todos os animadores, afinal, são as animações a razão desse trabalho.
“Não existe mais algo como a natureza – esse outro mundo que
não é negócio, arte ou desjejum, agora não é mais outro
mundo, e nada mais resta além de nós.”
Bill Mckibben.
RESUMO
TABELA 01: Alinhamento dos discursos ambientais Dryzek (2004) e Corbett (2006) ............... 142
TABELA 02: Fases da Animação Ambiental: caracterização de 1960 a 2006 ............................ 167
TABELA 20: Animações “não ambientais” veiculadas nos festivais contemplados (2002-
2013) .......................................................................................................................................... 281
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO .......................................................................................................................... 14
Justificativa da escolha do objeto de estudo ................................................................................ 18
Entendendo as escolhas metodológicas ..................................................................................... 19
A estrutura da tese ....................................................................................................................... 30
INTRODUÇÃO
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acerca do ambiente? Assume-se, portanto, como objetivo geral, analisar as representações dos
discursos ambientais no cinema de animação nacional, nomeadamente nas produções em
curta metragem de caráter independente e autoral, de forma a compreender as relações de
sentido estabelecidas sobre a natureza e sua problemática. Quanto aos objetivos específicos,
pretendemos: 1) Identificar e caracterizar as animações brasileiras veiculadas nos festivais
contemplados pela pesquisa, levando-se em consideração: (i) aspectos autorais; (ii) aspectos
técnicos; (iii) aspectos da inserção nos festivais; (iv) aspectos da narrativa ambiental; (v)
elementos discursivos; 2) Analisar os discursos ambientais a partir de suas estratégias de
representação e significação do ambiente e de suas problemáticas nas animações
contempladas; 3) Analisar a filiação dos discursos ambientais representados nas animações a
partir das tipologias teóricas que categorizam os paradigmas dominantes e insurgentes.
De forma geral, a tese aqui proposta reconhece que é na vertente autoral e
independente da animação, dada à sua liberdade e autonomia criativa, que as questões
ambientais encontram um contexto mais favorável à representação de perspectivas com teor
contestatório, constituindo, dessa forma, uma oposição àquelas de caráter reformistas no que
concerne às problemáticas relacionadas ao meio ambiente. Assim, diferentemente das
produções do cinema de animação hegemônico, essa vertente animada estaria desvinculada da
lógica comercial em que a temática ambiental se traduz enquanto estratégia de sucesso de
público, sobretudo quando tais produções estão fortemente relacionadas à comercialização de
produtos licenciados, comprometidas e dependentes em relação ao consumo, um dos
principais aspectos contestados pelos movimentos ambientalistas. Dessa forma, destituída
destes constrangimentos, consideramos que a animação autoral e independente desponta com
maior potencialidade crítica, seja para a reconhecimento dos atores sociais em suas
responsabilidades ambientais, seja na compreensão da dimensão e dos impactos das mais
diversas problemáticas ai inseridas, e até mesmo na propositura de enfrentamento.
Nesse sentido, este estudo se apoia na convergência das abordagens de discurso
ambiental estabelecidas por Dryzek (2004) e Corbett (2006), em que esse discurso é
compreendido como uma visão de mundo, compartilhada entre indivíduos, que orienta
significados, percepções e atitudes sobre o mundo natural e sobre as diversas questões
relacionadas. Assim, entendemos, conforme Cox (2010), que é a comunicação ambiental
midiática uma relevante arena de produção, circulação e consumo de uma diversidade de
mensagens sobre o meio ambiente, sobretudo de forma a legitimar apropriações do mundo
natural alinhadas aos interesses dos mais diversos atores sociais (políticos, corporações,
grupos ambientalistas, cientistas, dentre outros).
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Ao tratar dos discursos ambientais, Dryzek (2004) considera que: (i) cada discurso
ambiental reconhece o mundo a partir de entidades específicas, pois enquanto alguns
identificam o mundo natural a partir de ecossistemas, outros apenas o consideram como um
conjunto de recursos a ser explorado; (ii) os discursos ambientais também estabelecem quais
relações entre as entidades naturais e sociais são tidas como “naturais”, sejam elas entre o
homem e o meio ambiente, dos homens entre si, ou entre as entidades do mundo natural.
Dessa forma, considera que essas relações podem estabelecer e legitimar hierarquias diversas,
seja entre gêneros, espécies ou mesmo no âmbito do poder político. Por exemplo, entre os
diferentes discursos, a natureza ou a sociedade podem ser reconhecidas a partir da cooperação
ou da competição pela sobrevivência, por recursos etc. (iii) as histórias estabelecidas pelos
discursos ambientais também consideram os atores ou agentes, sejam eles seres humanos ou
suas instituições, sejam a natureza e suas entidades. E os atores sociais estão sempre
relacionados a suas motivações e interesses em relação ao meio ambiente; (iv) finalmente, os
discursos ambientais se apoiam em metáforas para buscar legitimidade e aceitação na arena
ambiental (planeta terra como “espaçonave”, “natureza como uma máquina destinada ao
homem”, “natureza como organismo vivo”, “natureza como fonte de bondade”, “natureza
dotada de inteligência”). São, conforme o autor, dispositivos retóricos, uma vez que almejam
a persuasão, juntamente com as mais diversas estratégias de apelo, a exemplo do apelo à
sensibilização sobre os direitos dos animais, à crítica à sociedade industrial, à valorização do
modo pastoral (natureza bucólica e romântica), à valorização de histórias apocalípticas, à
vilanização de determinados atores sociais em detrimento da celebração de outros (povos
nativos x sociedade moderna). Para ele, isso resulta em quatro elementos estruturantes das
histórias sobre o ambiente: as entidades naturais e sociais reconhecidas ou construídas pelos
discursos (árvores, animais, água, solos, rios, cidades, camada de ozônio, clima, indústrias,
grupos sociais, indivíduos etc); as premissas sobre as relações estabelecidas entre essas
entidades (homem em competição com o mundo natural, natureza como um sistema de
cooperação, superioridade da espécie humana etc); os agentes sociais ou naturais e suas
motivações (atores sociais, entidades naturais); as metáforas e os dispositivos retóricos
(estratégias persuasivas).
Portanto, a animação, tratada aqui enquanto discurso, é compreendida como um
produto cultural que ganha cada vez mais relevância, tornando-se proeminente, para os
objetivos desta pesquisa, compreender o alinhamento de seus discursos ambientais com
aqueles que perpassam as práticas sociais vigentes. Assim, reconhecendo que esses “textos
animados” se vinculam a um determinado discurso ambiental, ou mesmo a um conjunto deles,
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almejamos compreender quais discursos são legitimados e/ou contestados pelas animações
ambientais que compõem o corpus desta pesquisa.
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três importantes festivais internacionais de meio ambiente, tornando visível também uma
reflexão sobre esses espaços que em si comportam instrumentos de fala.
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realizada a primeira edição do FICA, festival sediado na cidade de Goiás. Nesse sentido,
procuramos, inicialmente, delimitar uma amostra de animações representativas de todas as
edições dos festivais, portanto, do período compreendido entre os anos de 1999 e 2014,
quando da finalização da coleta de dados. Além dessa amplitude temporal, também
almejávamos definir um corpus constituído por todas as animações veiculadas nesses festivais.
Para tanto, recorremos a uma pesquisa documental, em que os sites dos festivais3, assim como
os relatórios de trabalho disponibilizados, foram tomados como fontes primárias para a
identificação das animações exibidas, e também para uma compreensão acerca da circulação
das mesmas (premiações, menção honrosa, mostras contempladas etc).
No caso do Filmambiente, o mais recente dos festivais, no próprio site oficial4 foi
possível localizar informações sobre as obras selecionadas e premiadas em cada uma de suas
edições, todas elas realizadas na cidade do Rio de Janeiro. Em relação ao FICA5, os relatórios
de atividades disponibilizados não permitiram a identificação das obras selecionadas. Foi
preciso recorrer a fontes secundárias, sobretudo sites de notícias em que foram publicadas
notas e matérias a respeito do festival, uma vez que no site oficial do evento não
identificamos a programação, nem mesmo relatórios, de todas as suas edições. Quanto ao
FestCineAmazonia 6 , festival sediado na cidade de Porto Velho, a identificação da
programação foi ainda mais problemática, uma vez que os relatórios de atividades não foram
localizados no site oficial, mas na plataforma de compartilhamento de conteúdo ISSUU7, após
consultas a partir do motor de busca do Google. Nesse caso, mesmo recorrendo a fontes
secundárias, apenas foi possível identificar as obras selecionadas a partir de sua 5ª edição,
ocorrida em 2007, exceto a edição de 2009, cujo relatório de atividades não estava disponível
quando da coleta de dados. Em síntese, a cobertura temporal dessa primeira amostra abrangeu
as 16 edições do FICA (1999 a 2014), as 4 edições do Filmambiente (2011-2014) e somente 7
das 12 edições do FestCineAmazonia (2007 a 2013), uma vez que a edição de 2014 fora
realizada em novembro, portanto, após encerramento da coleta de dados da pesquisa.
3
Consideramos aqui não somente os websites oficiais, mas também os perfis e fanpages disponibilizadas em
plataformas sociais como Facebook. Além disso, também privilegiamos contato via e-mail oficial dos festivais
de forma a identificarmos como maior segurança os dados relativos às programações dos eventos em suas
diversas edições, sobretudo com o intuito de obtermos cópias das animações. Contudo, apenas no caso do
Filmambiente tivemos um feedback, que, nesse caso, sinalizava acerca das restrições de direitos de veiculação e
distribuição das animações inscritas e selecionadas.
4
Ver www.filmambiente.com
5
Ver http://fica.art.br/
6
Ver www.cineamazonia.com e também em issuu.com/festcineamazonia
7
ISSU é uma plataforma de distribuição de conteúdo digital, nomeadamente publicações editoriais,
acadêmicas e de caráter técnico. Ver mais em https://issuu.com
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Convém destacar que esta pesquisa documental permitiu somente a identificação das
animações selecionadas e exibidas nos festivais, uma vez que esses filmes não foram
localizados para exibição nos sites oficiais8 dos eventos. Tornou-se então necessária a adoção
de estratégias para “aquisição” das mesmas. Assim, quando possível, privilegiamos o contato
direto (via e-mail) com os produtores realizadores das animações, alguns do quais nos
enviaram links e senhas de acesso9 para download das obras. Contudo, na maioria dos casos,
foi preciso recorrer às plataformas de vídeo Youtube10 e Vimeo11 para localizar as produções.
Essa primeira tentativa de delimitação da amostra resultou na identificação de 96
animações (produções brasileiras, majoritariamente em curta metragem) veiculadas nos
festivais contemplados, considerando, inclusive, aquelas exibidas em mostras de caráter não
competitivo. Contudo, onze dessas animações não foram localizadas para download12 de
modo que uma primeira amostra em potencial fora constituída por 85 obras, as quais foram
previamente analisadas - submetidas a uma triagem de forma a observarmos sua adequação ao
referencial teórico sobre animação adotado e, sobretudo, sua vinculação à temática ambiental
propriamente dita. Durante essa etapa, várias produções foram descartadas, o que, finalmente,
resultou, no corpus de pesquisa. Na verdade, esse filtro teórico e conceitual foi decisivo para
considerarmos apenas obras que atribuem centralidade e relevância aos aspectos e entidades
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Ambos os festivais possuem canais de vídeo no Youtube em que constam reportagens, clipes e vinhetas sobre
as edições e eventos realizados. Contudo, nesses canais, ou mesmo nos sites oficiais dos festivais, não
localizamos as animações que foram veiculadas em suas mostras.
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No contexto desta pesquisa foi inusitado constatar que os festivais contemplados não disponibilizam as
animações para o acesso do público em geral através de seus websites, nem mesmo incluem links de acesso para
repositórios mantidos pelos autores das produções. Na verdade, vários destes filmes não são disponibilizados
para acesso público pelos seus realizadores, sendo então necessária, para o desenvolvimento desta pesquisa, a
obtenção prévia de senhas de acesso para as plataformas de vídeo em que se encontram hospedadas, mediante
justificativa de interesse etc. Um dos motivos alegados é a preservação dos direitos de exibição decorrente de
interesses por contratos com emissoras de tv. Aqui, notamos uma contradição em ambos os casos: como
contemplar um tema de interesse público e que exige, sobretudo, a ação plena da sociedade para seu
enfrentamento, tornando esses discursos inacessíveis a considerável parcela de indivíduos?
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O Youtube, criado em 2005, é uma plataforma de compartilhamento de vídeos que conecta pessoas ao redor
do mundo. Embora seja adotado para distribuição de conteúdo audiovisual por produtores integrados ao mercado
e também por anunciantes, é a produção amadora que constitui a maior parte do seu acervo. Segundo estatísticas
de acesso do próprio Youtube, a plataforma conta com mais de 1 bilhão de usuários e o total de visualizações
diárias ultrapassa essa quantidade. Ver mais em http://www.youtube.com/yt/press/pt-BR/statistics.html
11
O Vimeo surgiu em 2004 com o objetivo de promover a divulgação de produções audiovisuais
independentes. Dada a essa origem, a plataforma é privilegiada por profissionais e técnicos da área para a
circulação e comercialização de suas obras, contando com um amplo acerco de documentários e de curtas
experimentais. Assim como o Youtube, a plataforma oferece vídeo sob demanda, os quais podem ser assistidos
mediante pagamento. Ver mais em https://vimeo.com
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Até o período de encerramento de coleta do corpus, as animações Na linha do Horizonte (IV FICA, 2004),
Zoo (VIII FICA), A Origem das Espécies (XIV FICA, 2012), Da banca para fora (VIII FestCineAmazonia,
2010), Engole ou Cospervilha (XI FestCineAmazonia, 2013), Luzes Da Madrugada (III FICA, 2001), Ser
Humano (VIII FestCineAmazonia, 2010), Solitário Não Quer Solidão (XI FestCineAmazonia, 2013),
Soterópolis de Ruy (IX FestCineAmazonia, 2011), Um Passo Para Frente e Dois para Trás (VII FICA, 2005) e
Viagem na Chuva (XVI FICA, 2014) não foram localizadas nas principais plataformas de compartilhamento de
vídeo, ou, conforme o caso, não foram remetidas por e-mail pelos seus realizadores/produtores.
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É a noção gramsciniana de hegemonia que sustenta a perspectiva teórico-metodológica desse trabalho. Nesse
contexto, hegemonia desponta como poder exercido por uma determinada classe social sobre a sociedade como
um todo, assegurado através do consenso e da liderança nas esferas política, ideológica e cultural. Trata-se,
portanto, de um poder exercido, sobretudo, através da influência ideológica. Além disso, tal poder é instável e
necessita atuar constantemente na construção de alianças dada a emergência de pontos críticos que ameaçam as
relações de dominação e subordinação - a ideologia dominante. No plano midiático, onde encontra-se inserido
este trabalho, essa perspectiva gramsciniana orienta as noções de discurso hegemônico (aquele empenhado em
assegurar a hegemonia estabelecida, a ordem do poder e da dominação), contra-hegemônico (aquele que se
orienta pela tensão direta com o discurso hegemônico, opondo-se ao mesmo, reivindicando mudanças nesta
ordem hegemônica - de poder) e não-hegemônico (aquele que não necessariamente configura um confronto
com a ordem de poder estabelecida, embora ofereça alternativas no contexto social relacionado). Ver mais em
Gruppi (1978).
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A estrutura da tese
O trabalho foi estruturado em quatro capítulos. O primeiro, intitulado Bases para uma
compreensão da natureza e da degradação do ambiente, teve como objetivo discutir
transformações nos dignificados da natureza e as implicações da degradação ambiental nas
sociedades modernas. Para tanto, inserimos de início um debate sobre o conceito de natureza,
trazendo as contribuições da filosofia de Rousseau, Foucault, Descartes e Heidegger. A partir
desses autores, evidencia-se a polissemia do termo e como este foi marcado por profundas
mudanças nas relações entre o homem e o meio ambiente. O debate da noção de natureza
segue examinando a tradição ambiental de sociedades que adotam valores e atitudes
alternativos ao modelo ambiental ocidental, a exemplo da China, Japão e África. O capítulo
finaliza com algumas abordagens sociológicas a respeito das causas estruturais da degradação
ambiental nas sociedades ocidentais modernas.
No segundo capítulo, Comunicação ambiental e discursos sobre a natureza, fez-se
uma análise acerca da representação da natureza a partir da comunicação ambiental. No
primeiro momento, situamos o campo e a prática da comunicação ambiental, tomando como
referência Jurin, Roush e Danter (2010) e Cox e Depoe (2015). O texto segue com um debate
sobre a relação entre meio ambiente e as diversas áreas específicas da comunicação,
destacando trabalhos voltados para o jornalismo (CORBETT, 2006, HANSEN, 2010,
HANNIGAN, 2009, DRYZEK, 2004, COX, 2010), entre outros; para a publicidade
(CORBETT, 2006; HANSEN, 2010); e para o cinema (INGRAM, 2010; MACDONALD,
2004; IVAKHIV, 2008). Finaliza-se o capítulo abordando as tipologias dos discursos
ambientais de Dryzek (2004) e de Corbett (2006), entrecruzando com a análise de discurso de
Fairclough (2001) e de Maingueneau (1984).
O terceiro capítulo, A comunicação ambiental no cinema de animação, foi
desenvolvido com o objetivo de evidenciar a questão ambiental no caso particular do cinema
animado. Aqui iniciamos o debate mostrando a animação como um produto cultural,
enfatizando seus aspectos conceituais, seu valor e sua potencialidade estética e discursiva,
além da sua perspectiva comercial (predominantemente hegemônica), autoral e experimental.
Neste ponto, as contribuições teóricas mais importantes foram de Wells (2003; 2006), Stabile
e Harrison (2003), Lucena (2005), Furniss (2007), Nogueira (2010) e Denis (2010). Focando
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Ao longo desta tese distinguimos as noções de natureza e de meio ambiente. Adotamos natureza como
sinônimo de mundo natural, considerando sua autonomia e suas mais diversas entidades e relações, já o meio
ambiente ganha sentido em um contexto político, transitando nos diferentes discursos relacionados à apropriação
e/ou defesa do mundo natural, ou seja, na disputa pela representação da própria natureza. Contudo, sempre que
possível, fazemos uso indistinto dos termos, deixando a cargo do contexto evidenciar o sentido adotado.
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natureza, ele reconhece as demais espécies como seus semelhantes, evitando que fossem
inutilmente maltratadas. Apesar dessa integração, o homem natural é diferenciado por sua
capacidade de raciocínio e de aperfeiçoamento. Mais organizado, encontrava maior vantagem
de sobrevivência no mundo natural, muito embora não constituísse um estado de conflito com
as demais espécies. Assim, observamos que a natureza rousseauneana é marcada pela
integração e identificação entre homem e demais seres. Na ausência de separação
homem/mundo natural, este não era temido, nem despontava como espetacular ou utilitário.
A constatação da incompatibilidade entre a sociedade e a manutenção da harmonia do
homem com o mundo natural é um dos pilares que sustenta o pessimismo de Rousseau (2012).
Conforme o autor, os vícios e as paixões sociais corrompem nossa relação com a natureza,
privilegiando o sentimento de amor, comprometendo o sentimento de piedade natural com as
demais espécies. O fim da natureza essencial é o fim da própria harmonia, do respeito aos
demais seres, e do senso de identificação com um todo. A natureza rousseauneana, em
oposição aos dogmas e à racionalidade social, é, antes de tudo, um estado que orienta a
virtude humana.
Observamos que no desenvolvimento da noção de natureza essencial, Rousseau
(2012) vai situá-la como causa estrutural da harmonia e igualdade entre os homens e destes
com o mundo natural. De forma contrária, é a sociedade que surge como causa estrutural das
desigualdades sociais e da supremacia do homem sobre o mundo natural (o que mais tarde
viria a ser considerado como degradação do ambiente). Assim, foi diferenciando-se dos
demais animais que o homem fragilizou a harmonia natural e “[...] tornou-se com o tempo o
senhor de uns, o flagelo de outros” (ROUSSEAU, 2012, p. 82). A sociedade, sob essa
perspectiva, é então um projeto de consagração da superioridade humana sobre as demais
espécies, apoiada pela instituição da propriedade privada, pelo desenvolvimento da
comunicação e da linguagem.
É importante ressaltar que a crítica rousseauneana sobre a corrupção da natureza
essencial não deve ser confundida com uma nostalgia prescritiva de uma volta a um estágio
anterior de existência humana precedente à vida social moderna. Mais do que isso, o que
ganha relevo no autor são as contribuições que podem resultar de uma maior integração do
homem ao mundo natural. Aspectos como a propriedade privada, os sistemas de
reconhecimento e de consideração alheia como parâmetro de distinção social, a sujeição do
homem às suas mais diversas necessidades, o seu domínio sobre seus semelhantes e a
centralidade da vida na aquisição de bens, poder, beleza, habilidade e mérito, são todos
atribuídos ao afastamento do homem moderno da natureza essencial. Além disso, Rousseau
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impensável. Nesse sentido, o domínio da natureza pela ciência e seu valor utilitário ganhou
em Descartes um verdadeiro alicerce, cuja orientação inicial para fins coletivos fora, mais
tarde, subvertida pelas sociedades capitalistas industriais, traduzindo-se um contexto de uma
vasta degradação do ambiente e desigualdades sociais.
O sentido utilitário atribuído à natureza a partir do primado da ciência e da técnica,
observada enquanto abandono da natureza essencial e da bondade funcional rousseauneana,
intensificou o projeto da dominação do homem sobre o mundo natural. Em Martin Heidegger
observamos uma reflexão crítica e contundente sobre essa problemática relação homem e
natureza, em que a técnica ocidental desponta como causa estrutural da degradação do
ambiente. Conforme defende Foltz (2000), no pensamento do filósofo alemão é possível
observarmos uma vanguarda na compreensão da crise ambiental que viria rapidamente se
manifestar como principal ameaça à humanidade.
Ainda conforme Foltz (2000), em Heidegger a crise ambiental traduz a relação homem
e natureza na cultura ocidental. A degradação do ambiente é atribuída ao estatuto da
tecnologia que impera nas sociedades industriais e que orienta a revelação (uma forma de
veridicção na ótica foucaultiana) e a compreensão do mundo, definindo os “modos de ser” da
natureza. Dessa forma, a tecnologia, herança cartesiana, representa a celebração da retirada do
homem da natureza, seu confinamento a um sentido de extração e de rendimento. Diante da
legitimação da técnica enquanto controle e domínio da natureza, as sociedades apenas
reconhecem o mundo decorrente da construção humana.
Heidegger (2002) observa a ciência como “ataque à natureza” orientado pela
objetividade e pela calculabilidade da investigação científica. Essa natureza revelada pela
tecnologia e pela ciência torna-se apenas um recurso permanentemente disponível à
exploração, e as consequências desse “ataque” Heidegger vai denominar de devastação
ambiental. Portanto, para o autor, a auto emergência da natureza (Physis), sua habilidade em
emergir por si própria, escapa ao desvendamento por parte da tecnologia e da ciência moderna,
sendo por estas ameaçadas.
Heidegger (2004) define a terra como o lugar da Physis, onde emergem as coisas
naturais e também as criações humanas, ignorando a separação e a oposição entre o natural e
o social. Contudo, assegura que o domínio tecnológico do mundo implica uma rede de
significação e de veridicção (um discurso) de uma natureza utilitária e instrumental que
ignora a Physis e orienta a forma como estabelecemos nosso envolvimento com o mundo que
nos cerca (meio envolvente) através do pensamento ocidental. É nessa perspectiva que
Heidegger (1992) vai estabelecer seu estatuto da natureza, reconhecendo os seguintes
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sentidos: a natureza vista como simples presença das coisas naturais e que é transformada em
dados objetivos pela ciência (natureza objetiva); a natureza útil para uma determinada
finalidade humana e que assume um sentido de produção e eficiência tecnológica (natureza
produtiva); a natureza independente e autônoma que manifesta seus mais diversos fenômenos,
despertando uma contemplação estética, moral e espiritual (natureza primordial). Para o
filósofo alemão, cada um desses significados traduz o tipo de preocupação e de envolvimento
estabelecidos com o mundo natural.
De acordo com Foltz (2000), esses diferentes sentidos de natureza são cuidadosamente
elaborados ao longo da obra de Heidegger. Em linhas gerais, a natureza objetiva é aquela
“atacada” pela investigação científica e que é pulverizada enquanto objeto de investigação.
Assim constituída, a natureza é dissolvida em representações matemáticas, reconhecida pela
ciência quando de sua visibilidade enquanto evento científico objetivo e desprovida de
qualquer outro sentido ou envolvimento. Corresponde à natureza cartesiana que emana da
teoria científica e que por ela é sistematizada. Heidegger (2002) adverte acerca das limitações
das ciências naturais modernas para superar essa concepção de natureza, ultrapassando as
projeções científicas em direção ao reconhecimento de sua existência autônoma.
A noção de natureza produtiva ou tecnológica consiste na compreensão da natureza
enquanto fonte de recursos. Trata-se de uma natureza sempre presente e à disposição, cujo
acesso deve ser constante e em favor dos interesses humanos, daí ser muda e indiferente a
auto emergência. Nesse contexto, a tecnologia desponta como uma séria ameaça ao tornar-se
discurso hegemônico de revelação do mundo, orientando a relação homem e natureza. Para
Heidegger (2002), a tecnologia, quando privilegia um sentido de recursos e fonte de matérias-
primas, tanto nos afasta da natureza como ofusca outros possíveis significados e
envolvimento.
De acordo com Foltz (2000), Heidegger define a natureza primordial reconhecendo
seu sentido poético associado à constituição de cenários e paisagens românticas, mas que
somente é revelada na tristeza de sua perda. Em certa medida a natureza primordial se
confunde com a natureza perdida, mas seu significado é mais amplo pois corresponde à
natureza estética com a qual estabelecemos sentimentos e identidade, por isso se aproxima da
natureza essencial de Rousseau. Diante da degradação ambiental, Heidegger assinala a
natureza primordial como a natureza prioritária, ressaltando sua relevância enquanto
envolvimento anterior à emergência dos sentidos objetivo e produtivo. Contudo, adverte que
somente a arte (o conhecimento não científico), e não a tecnologia e a ciência, constitui uma
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forma de revelação capaz de estabelecer uma “habitação da terra” que seja mais próxima da
natureza primordial.
Observamos que a proposta heideggeriana de “habitar a terra”, fundada em sua noção
de natureza primordial, traduz uma perspectiva ambiental profunda e de caráter poético.
Conforme ressaltado por Foltz (2000), ela reivindica a emergência de uma natureza pátria, em
que suas paisagens assumem significados diversos e decorrentes da proximidade e do
envolvimento dos seus habitantes. Heidegger (2002) sugere um reconhecimento sagrado (não
teológico) da natureza, sobretudo da Physis como origem de uma pluralidade de fenômenos.
Dessa forma, a morada ou habitação na natureza compreende uma convivência com o planeta
pautada no cuidado e no envolvimento, onde o ser humano é, em essência, aquele que mora
sobre a terra. Assim, ser é morar, e esta morada deve ser percebida como um estada
permanente que deve ser assegurada pela vigilância, pelo cuidado e pela conservação da
natureza. Para Heidegger (2002), morar sobre a terra significa salvá-la, por isso entende que
as soluções de salvação (reciclagem, replantio etc) decorrentes do domínio tecnológico são
tentativas que visam tão somente ampliar o próprio domínio tecnológico sobre a natureza.
Alinhado com essa perspectiva, Gonçalves (2006) assinala como um paradoxo assumir que a
lógica promotora da crise ambiental, pautada no pragmatismo, imediatismo, na produtividade
e na eficácia, desponte como promotora de mudanças substanciais na relação homem e
natureza.
Convém ainda observar que a morada e a habitação filosófica da natureza reivindica
uma nova noção de ethos que ultrapasse o sentido de hábito ou de costume e assuma um
sentido de comportamento poético perante os demais seres e entidades. Amplia-se, portanto, a
noção de ética moderna para além do humano de forma a abarcar todas as entidades naturais,
uma vez que a ética moderna resultou na falência da natureza. Para Heidegger (2002), o
ambiente deve ser percebido como a parte do mundo que se faz mais próxima do homem, e
não apenas como objeto de investigação e curiosidade. Nesse projeto, o poético defendido
pelo filósofo alemão é uma oposição ao tecnológico e científico, conforme adverte Foltz
(2000), e é indispensável à consciência ecológica – a poesia é mais verdadeira que a ciência.
Heidegger não rejeita a tecnologia, mas reivindica sua reorientação de forma a estabelecer
novas relações com a natureza a partir do poético e da sensibilidade, tarefa cara ao
ambientalismo vigente.
A perspectiva do sistema-Terra, resultante dos desdobramentos da natureza cartesiana
a luz da ciência contemporânea, inclusive no contexto da ecologia, mostra-se compatível com
a noção de natureza objetiva apresentada por Heidegger. Allègre (1993) observa que a
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inscrito, submetido às suas regras, elas também abrigam a natureza como ambiente
envolvente e utilitário (BOURG, 1993). Para o autor, esse antropocentrismo de cunho prático
se apoia na compreensão de uma natureza utilitária, mas há um antropocentrismo especulativo
que compreende uma dimensão cultural em que a centralidade humana é destituída apenas
através de construções discursivas.
Diante desse reconhecimento da inexistência de culturas plenamente não
antropocêntricas, convém então reconhecermos que algumas formas de antropocentrismo
tornaram-se mais ameaçadoras para o meio ambiente. Para Bourg (1993), não se trata apenas
das sociedades industriais modernas, uma vez que diversas civilizações ancestrais
empreenderam profundos impactos no ambiente: desflorestamento na China Antiga;
desertificação da Grécia Antiga; desflorestamento do Líbano em função de sua demanda por
navios de guerra; desertificação da Mesopotâmia em decorrência de seu sistema de irrigação;
desflorestamento empreendido pelos Maias etc. São todos exemplos que remontam a
degradação ambiental à Antiguidade, muito embora decorrentes da ignorância das
consequências ambientais em povos desprovidos de uma consciência de centralidade humana.
Acerca das sociedades modernas, em que são observados os maiores prejuízos à
relação homem e natureza, trata-se, conforme já assinalado anteriormente, de um contexto
antropocêntrico particular. Conforme Gonçalves (2006), o cartesianismo foi decisivo para a
supremacia do homem sobre a natureza, permitindo às sociedades modernas engendraram sua
organização social em função da centralidade da produção material regida pela lógica
capitalista pautada na intensa apropriação dos recursos naturais (natureza como objeto de
produção). Consequentemente, a interferência humana no equilíbrio do planeta - domínio da
biosfera a partir da ciência - suscitou a percepção das próprias limitações humanas e, ao invés
de libertar-se da natureza, o homem a transformou em um encargo, assumindo a
responsabilidade de assegurar os sistemas de regulação do planeta (BOURG, 1993).
Nesse sentido, observamos as sociedades contemporâneas a partir de um
antropocentrismo reflexivo, em que a ampliação do domínio do homem sobre a natureza foi
reveladora das próprias limitações desse domínio, uma vez que a degradação do ambiente
também resultou em ameaça a própria existência humana. Para Bourg (1993), apesar desse
contexto acentuar a necessidade de prudência na relação com a natureza, na cultura ocidental,
face a absoluta centralidade humana, ela permanece relegada à condição de recurso disponível.
Sob a ótica das reinvindicações ecológicas, esse contexto de degradação ambiental
traduz, sob a perspectiva dos movimentos ambientalistas, o resgate de aspectos culturais de
sociedades anteriores, sobretudo no que concerne à solidariedade com a natureza, de forma a
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frágil dentre eles. E é diante dessa fragilidade que surge o temor perante uma natureza
misteriosa. De uma maneira geral, no continente africano não havia uma ideia de
supremacia do homem sobre o mundo natural uma vez que este era percebido como moradia,
abrigo e garantia de sobrevivência. Dessa forma, destituído de um sentido utilitário da
natureza, o homem africano primava pela comunhão, uma “[...] sabedoria que recomendava o
¨princípio de realidade¨, impondo a coexistência, a solidariedade, a comunhão, em resumo, a
vida em simbiose com o ambiente.” (DABIRÉ, 1993, p. 93). Daí decorre a visão mítica e
religiosa da natureza que vigorava entre os mais diversos povos do continente.
Convém ressaltar que na mitologia africana a criação humana decorre da natureza,
pois o homem surge da terra, de onde é retirado e concebido. Essa origem lhe confere
parentesco com o mundo natural e assegura o seu mais elevado respeito. Por extensão, esse
respeito à terra se aplica à natureza como um todo, tanto ao reino animal como ao vegetal, e
também aos demais homens. Além disso, esse sistema de parentesco entre homem e natureza
se manifestava através de um totemismo em que determinadas espécies despontavam como
verdadeiros tabus e desfrutavam de status sagrado. Dabiré (1993) ressalta que a
heterogeneidade do totemismo entre as numerosas tribos africanas foi decisiva para a
preservação de inúmeras espécies. Conforme o autor, o totemismo impunha uma deontologia
da caça que impedia o abate excessivo, favorecia a preservação de fêmeas em gestação e
também estabelecia uma sacralização de determinadas espécies de árvores - a não obediência
desta deontologia estava sujeita a penalizações por parte da natureza, sempre vigilante e
severa. Observamos que a força dessa mitologia impunha o respeito à natureza enquanto
convicção ideológica na cultura africana, em que o homem tornando-se responsável pela
desordem quando interferia drasticamente no meio, empenhava-se por assegurar a harmonia
natural temendo à revolta da natureza.
Acerca da natureza na tradição chinesa, Gentelle (1993) ressalta não haver distinção
em relação à ideia de sociedade. Trata-se da noção de cosmos, uma unidade marcada pela
alternância de fenômenos, em que a natureza é espontânea e desprovida de um criador. Essa
alternância compreende a noção de fluxo e ciclo, e envolve a ideia de movimento ao invés de
mera repetição de eventos. Assim, na natureza chinesa todos os fenômenos estão inscritos
nessa alternância, correlacionados entre si, tais como o dia e a noite, as estações do ano etc.
Além disso, essa alternância também reconhece haver uma transição entre os estágios
extremos que delimitam tais fenômenos, estabelecendo uma noção de natureza que
compreende ciclos infinitos e imutáveis e que são favoráveis ao homem.
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exercícios espirituais.” (MEDDEB, 1993, p.83). Portanto, na contemplação dos jardins torna-
se possível acessar a epifania da Criação, a partir da percepção dos movimentos naturais.
Convém ressaltar que o Alcorão não estabelece apenas o direito de usufruto da
natureza. Nele, esse direito está associado ao sentido de dever e compromisso com a Criação
e que se traduz em um senso de governo em favor da natureza. Conforme Meddeb (1993),
trata-se de reconhecer uma vinculação moral do homem à Criação Divina que orienta sua
interferência no mundo natural, muito embora a natureza assuma um caráter metafísico,
destituída de autonomia, criada para servir ao homem. Portanto, essa natureza essencial à vida
humana é simultaneamente sagrada e utilitária. Nesse sentido, os cataclismos não são
observados apenas como fenômenos naturais, mas, sobretudo, percebidos como
consequências do desregramento da ação humana no cuidado com a natureza.
Na antiga tradição hindu3 a oposição natureza e cultura não se manifesta tal qual
ocorre nas sociedades ocidentais, conforme revela Galey (1993). A noção de casta, basilar
nestas sociedades, aplica-se não somente ao contexto social, mas se estende a todo o domínio
da natureza, envolvendo tanto a vida vegetal, animal e humana. Na verdade, a denominação
das castas sociais resulta da hierarquização do mundo natural, e, segundo o autor, os nomes e
apelidos das castas superiores estão relacionados aos animais e metais mais prestigiados,
enquanto as inferiores adotam nomes de minerais e das cores escuras. Apesar dessa
hierarquização, o autor ressalta que o hinduísmo parece superar a distinção entre natureza e
cultura ao considerar indistintamente a existência da fauna, da flora e das realizações humanas,
enquanto processo de alternância e simultaneidade entre sujeito e objeto. Assim, são ambos
decorrentes da retração e da expansão que perpassam os fluxos do universo interligando os
homens à natureza.
Na índia, observamos que a relação homem e natureza mostra-se bastante complexa,
uma vez que não se trata de uma concepção de oposição entre estes. Para Galey (1993), dada
a sua particularidade, nem a perspectiva totêmica (tomar espécies naturais para empreender
uma reordenação social), nem o animismo (dotar a natureza de valores e atitudes
antropocêntricas) se mostram pertinentes à sua compreensão. Dessa forma, adverte que o
movimento Chipko 4 , em que mulheres abraçavam árvores para reivindicar proteção às
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Referimo-nos aqui às atitudes sobre o meio ambiente, considerando, conforme Selin e Kalland (2003), que
havia uma visão religiosa de mundo que integrava sociedades humanas e natureza em uma mesma ordem
cosmológica, denominada de “Thou”, semelhante às perspectivas da China antiga e dos povos aborígenes. De
forma geral, considerava que todas as entidades do mundo manifestavam a presença divina. Conforme os autores,
essa perspectiva eco teológica Hindu é pouco evidente no contexto atual da Índia.
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Trata-se de um movimento de resistência pacífica criado em 1973 para combater a devastação das florestas
do Himalaia, cuja estratégia de seus participantes residia em, juntos, abraçarem árvores para impedir sua
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florestas e à vida selvagem do Himalaia, e que ficou bastante conhecido nos anos 1980, não
deve ser compreendido como a expressão de surgimento de uma perspectiva ecológica recente.
Ao invés disso, o que emerge e ganha visibilidade é própria tradição hindu, em sua
particularidade de orientação da existência, da integração entre cultura e natureza.
As tradições apresentadas anteriormente são reveladoras de relações “harmoniosas”
entre homem e natureza que orientaram as culturas de diversos povos antigos. Nelas,
observamos que as percepções cosmológica, religiosa ou mesmo utilitária da natureza, nos
contextos socioculturais estabelecidos, reivindicavam algum tipo de cuidado e
responsabilidade no envolvimento e na interferência do homem no mundo natural. Nesse
contexto, as sociedades ocidentais modernas são, de forma geral, assinaladas como aquelas
em que essa responsabilidade com o mundo natural (a natureza primordial heideggeriana) fora
negligenciada em decorrência do privilégio por uma natureza utilitária (objetiva e produtiva),
exclusivamente destinada à exploração humana, plenamente destituída de subjetividade -
reivindicação crucial na filosofia ambiental de Guattari (1990).
Assim, considerando a natureza como uma construção cultural relevante à orientação
das relações sociais e da produção material de uma sociedade (GONÇALVES, 2006),
observamos que o binômio capitalismo/industrialismo traduz uma compreensão cultural de
natureza (valores, crenças e atitudes) que resulta e legitima, apesar das contestações dos
movimentos ambientalistas, profundas transformações no ambiente. Conforme Bourg (1993),
a expansão dessa perspectiva ocidental de natureza empreendeu profundas alterações em
sociedades cujas tradições comportavam uma maior integração entre homem e o meio.
Embora nossa discussão acerca da causa estrutural da degradação do ambiente nas sociedades
industriais modernas seja realizada na seção seguinte, observaremos, a seguir, que a
ocidentalização do mundo é assinalada por diversos autores como responsável pelo abandono
dessas tradições ambientais.
Pons, P. (1993) observa que o sentimento da natureza na tradição cultural japonesa
não impediu sua intensa degradação frente ao crescimento econômico do país assistido na
década de 1960 e que privilegiou uma ocupação do território japonês marcada pelo
desequilíbrio ecológico e pela poluição, sobretudo das áreas costeiras. Conforme o autor, a
natureza ainda assume posição relevante no imaginário japonês, mas sua cultura é atualmente
ambígua no que diz respeito à relação a ser estabelecida com o meio ambiente. Enquanto o
derrubada. Contudo, esta estratégia não deve ser tomada como reflexo do ambientalismo moderno ocidental,
uma vez que remonta ao século XVIII, quando mulheres de uma comunidade tribal situada em Rajasthan, na
Índia, foram cortadas juntamente com as árvores que abraçavam no sentido de impedir sua derrubada. Contudo,
foi o movimento recente que ganhou visibilidade internacional. Ver mais em Selin e Kalland (2003).
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plano cultural manifesta esse apego estético a uma natureza representada por elementos
selecionados do ambiente natural, elaborada em imagens abstratas e subjetivas que cristalizam
um conjunto de convenções, o cotidiano é marcado por uma relação extremamente predatória.
Assim, há uma coexistência de uma natureza harmoniosa tradicional, agora confinada no
plano cultural, com uma natureza objetiva, de ordem prática e disponível enquanto recurso,
em que se consolida uma intensa degradação.
Trata-se, de acordo com Pons, P. (1993), de um apego seletivo ao mundo natural que
decorre de um contexto marcado pela intensa adoção de tecnologias ocidentais de produção e
que implica privilégio pela defesa de uma natureza culturalmente construída em detrimento da
proteção da natureza ecológica, de existência material. Esse avanço da degradação do
ambiente que emana da expansão do capitalismo no Japão é ofuscado pela celebração de uma
natureza harmoniosa, aliada à noção de que o sacrifício do mundo natural é indispensável
para assegurar a permanência da espécie humana. Dessa forma, segundo o autor, a cultura
japonesa manifesta uma “consciência vacilante” face à destruição da natureza. Embora essa
destruição assuma um sentido de fatalidade para as vítimas diretas da degradação ambiental,
ela é encarada com apatia pela população em geral. Por um lado a fatalidade decorre do
conflito direto entre a tradição e a percepção da violação do equilíbrio do ambiente, por outro,
a apatia está relacionada à dependência da sociedade em relação aos próprios empreendedores
da destruição do ambiente, os geradores de emprego e riquezas para a prosperidade da nação
japonesa. Apesar disso, foi nesse contexto que emergiu a consciência ecológica japonesa face
à industrialização do país, alicerçada em uma herança de resistências camponesas e com forte
apelo moral.
Em relação ao abandono da natureza que vigorava na tradição africana, é importante
observar que foi o projeto ocidental de exploração da África que impulsionou esse abandono,
ofuscando toda uma mitologia ambientalmente favorável. Dabiré (1993) observa que
mudanças drásticas na cultura africana decorreram dessa sujeição à ocidentalização. Dessa
forma, a mudança cultural dos africanos, atendendo às imposições de uma ordem civilizadora,
privilegiou a supremacia da racionalidade humana sobre o mundo natural resultando numa
visão utilitária da natureza que consagrou o abandono da deontologia natural e do caráter
simbiótico que prevaleceu. Na África, o triunfo da ciência e da técnica empreendido pela
colonização foram os propulsores da uma nova ideologia no continente, marcada pela intensa
apropriação e transformação da natureza.
É importante ressaltar que a transformação da relação homem e natureza no contexto
africano era indispensável para assegurar uma exploração (colonial e pós-colonial) dos seus
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A Revolução Russa, deflagrada em outubro de 1917 sob a liderança de Lenin, culmina com a implantação do
regime socialista no país e, consequentemente, com a implantação da URSS (União das Repúblicas Socialistas
Soviéticas). De uma forma geral, a principal característica deste regime foi a centralidade (monopólio) do poder
no partido comunista tendo como objetivo o estabelecimento da justiça, da igualdade a partir do fim da
propriedade privada e da exploração capitalista. Após a Segunda Guerra Mundial, essa perspectiva se expandiu
pela Europa oriental, na China, em Cuba e também em países asiáticos. Durante o Regime Comunista a URSS
assistiu a um elevado crescimento industrial, despontando como potência mundial frente aos Estados Unidos. O
Regime vigorou até o início da década de 1990 e durante este período teve como lideranças Stalin, Khrushchov,
Brejnev, Andopov, Chernenko e Mikhail Gorbachev. Foi sob o comando deste último governo que ocorreu o
desmembramento da URSS e fim do regime na Rússia. Ver mais em Groppo (2008).
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A respeito da colonização australiana, aos olhos dos colonos ingleses sua natureza
mostrava-se totalmente hostil e estranha, tanto estética como espiritualmente. Nesse contexto,
a colonização da Austrália resultou na sujeição completa da natureza e dos aborígenes nativos
aos anseios europeus, pois “[...] tratava-se de um inimigo que era preciso dominar e, se
necessário, destruir. Havia necessidade de transformar um ambiente improdutivo, logo, algo
ilegítimo, em fonte de lucros.” (PONS, X., 1993, p.110). Portanto, esse projeto de domínio de
uma natureza estranha ao colonizador relegava por completo o modo de vida dos povos
aborígenes, sobretudo no que diz respeito à sua relação de interdependência com a natureza.
A tradição ambiental nativa, marcada por um saber-fazer tradicional que, embora orientasse
uma intensa atividade sobre o meio natural e fosse desprovida da noção de preservação,
mostrava-se mais comedida e respeitosa com os equilíbrios naturais. Assim, conforme
defende o autor, não era somente a paisagem natural que se mostrava estranha ao colono,
despertando-lhe horror e melancolia, mas também a própria concepção nativa de uma
natureza religiosa e espiritual que assegurava a integração entre o homem aborígene e o seu
meio.
De acordo com Pons, X. (1993), esse conflito histórico, marcado pela tirania dos
colonizadores ocidentais diante de uma natureza que lhes era estranha e desafiadora e de uma
tradição aborígene fortemente relacionada ao ambiente, orientou à formação de uma cultura
australiana “pouco sentimental” (PONS, X., 1993, p. 107) em relação à natureza – a Austrália
mesmo contando com uma das mais baixas densidades demográfica do mundo empreendeu
uma intensa degradação do seu ambiente. Nesse contexto, a consciência ecológica, a
percepção da intensidade e da gravidade desta degradação decorrente do acelerado
desenvolvimento econômico ao qual fora submetido o país, é um fenômeno recente. De
acordo com o autor, esse processo de conscientização ecológica observa a crise ambiental
como consequência do abandono da tradição aborígene em favor de valores ocidentais.
Consequentemente, ele reivindica um resgate dessas tradições principalmente como reação às
imposições da indústria da exploração mineral (ferro, urânio e bauxita) sobre as tribos
remanescentes. Assim, o apego espiritual e os valores ambientais dos aborígenes tornaram-se
referências no enfrentamento ecológico australiano.
No que diz respeito às transformações na noção de natureza na Rússia, Mandrillon
(1993) observa que a concepção tradicional de natureza remonta aos antigos povos eslavos e
estava associada à uma complexa cosmologia pagã que orientava uma harmonia (simbiose
primordial) entre o homem e o meio, em que a natureza era compreendida como o seu reino.
Conforme o autor, essa tradição fora rompida com o avanço do cristianismo no século X,
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social. Tratava-se de uma crítica estrutural dirigida ao sistema e sua visão desenvolvimentista
e, conforme Mandrillon (1993), norteava um ecologismo com forte conotação de resistência
moral, mas que fora sufocado pela ditadura em 1964. Contudo, esse movimento avançou na
década de 1970, denunciando a ocidentalização da Rússia em suas múltiplas dimensões: o
fracasso político do socialismo; o comprometimento da identidade russa a partir do abandono
da antiga visão do campo e da ordem natural; os impactos ambientais promovidos por
projetos de intervenção militares. Assim, a fragmentação da URSS favoreceu a expansão do
ecologismo russo em diversos grupos e associações, muito embora o eco nacionalismo daí
resultante mostrou-se debilitado (MANDRILLON, 1993).
Finalmente, observamos a tradição ambiental norte americana a partir do processo de
colonização dos Estados Unidos da América. Da mesma forma que na Austrália, o contato do
colono inglês com a natureza norte americana também suscitou estranhamento. Contudo, no
contexto da colonização dos Estados Unidos houve uma “reconversão do homem pela
natureza” (CONAN, 1993, p. 190), suscitando mudanças substanciais nos hábitos do colono
inglês de forma que o espírito americano nasceu desse contato com uma “nova” natureza.
Para os primeiros colonos (século XVII) a natureza selvagem americana apresentava-se
oposta à visão edênica propaganda na Inglaterra, constituindo um desafio a ser conquistado e
domesticado mediante trabalho intenso. Nessa percepção puritana a natureza selvagem era
ameaçadora à integridade moral do homem e sua conquista era observada como condição para
a “salvação”.
Aliada a essa prescrição religiosa que orientava a conquista da natureza selvagem, o
contexto norte americano mostra-se relevante para assegurar os ideais de igualdade e
independência tão ameaçados pelo desenvolvimento da Inglaterra. É nesse contexto que o
autor observa que o mundo natural influenciou decisivamente à formação da consciência
americana de modo que a pastoral americana decorreu da valorização da vida rural, sobretudo,
como alternativa à problemática vida urbana. Para Conan (1993), os índios nativos, embora
reconhecidos por sua crueldade e violência, contribuíram para a cultura americana quando do
reconhecimento de suas virtudes no cuidado com a natureza. Assim, a pastoral americana
abrigou uma noção ambivalente de natureza, ora utilitária e disponível ao domínio do homem,
ora sagrada e indispensável ao alcance da pureza moral. De forma geral, observamos que a
inserção e a relevância da natureza na constituição cultural americana também persistiram
durante o período de crescimento das cidades e o vigor de uma dinâmica social marcada pelo
estatuto da técnica e da racionalidade.
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Nesse contexto, emergiu um apelo nostálgico que, conforme o autor, culminou com a
invenção de uma cultura amplamente estimulada pela estética da paisagem, sobretudo na arte
americana, e que fora consolidada pela literatura. Assim, na cultura nacional a estética do
sublime e do pitoresco (uma natureza apreciável na arte, mas não na realidade objetiva)
consagrou o mito da pastoral americana. Mas, apesar dessa celebração de uma natureza
destinada ao reestabelecimento moral do homem americano, o que fora enaltecido foi a
necessidade de sua conquista visando a uma aproximação com o Deus criador. Esse situação
favoreceu o surgimento da escola filosófica transcendental, liderada por Henry David Thoreau,
que conferiu um aspecto metafísico à relação homem e natureza, afirmando que o contato
irrestrito com o mundo natural favorecia à compreensão dos princípios gerais do universo.
Contudo, de acordo com Conan (1993) essa admiração religiosa da paisagem não suscitou
críticas ao estatuto da técnica, defendendo-a como necessária à interação com as leis divinas.
A expansão da cultura visual da paisagem também foi decisiva para a consolidação
simbólica da natureza na cultura americana. O rio Hudson, as cataratas do Niágara e os
parques nacionais de Yellowstone e Yosemite são exemplos dessa simbologia, que apesar de
inicialmente destinados ao encontro com o sublime, terminaram por viabilizar uma
exploração da natureza destinada ao turismo de entretenimento. Assim, apesar da relevância
da natureza na cultura de paisagem americana ela não impediu um contexto de degradação
ambiental. Por outro lado, Conan (1993) observa que essa cultura visual também estimulou
ideais de conservação e de equilíbrio da natureza, orientando uma exploração racional dos
seus recursos e também a criação de reservas naturais (Yosemite em 1864 e Yellowstone em
1870). Além disso, suscitou uma oposição à exploração utilitária da natureza e ao progresso
técnico, culminando com movimentos ecológicos com forte reivindicação do resgate da
percepção tradicional de natureza sagrada e divina (ecologia profunda, relação ambiental dos
índios nativos da América etc).
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foram empreendidas pelas sociedades capitalistas agrárias, é importante observar que foi sob
esta perspectiva de natureza que a interferência humana sobre o ambiente assumiu proporções
e implicações sem precedentes.
Dessa forma, diferentemente do envolvimento e da integração entre homem e
ambiente que orientava o significado da natureza em diversas tradições ambientais, a natureza
utilitária foi decisiva para o projeto das sociedades modernas, marcadas pela intensa produção
industrial, por hábitos de consumo e modos de vida que resultaram em um contexto em que
Mckibben (1990) vai identificar o fim da natureza. Ou seja, com sua retirada do mundo
natural, o homem estabeleceu uma série de transformações no ambiente de forma a alterar e
comprometer a integridade do sistema-Terra, resultando na morte semântica da noção de
ambiente autônomo independente. Conforme o autor, o domínio absoluto do homem moderno
sobre a natureza incorreu em sua nova significação - a natureza não é mais independente, pois
agora é suscetível à ação humana; a natureza não é mais previsível (sua compreensão
matemática), pois sua regularidade fora comprometida por fenômenos como as mudanças do
clima, a redução da camada de ozônio etc.
Para observamos as causas estruturais da degradação ambiental nas sociedades
industriais modernas, recorremos à sociologia, e de forma mais específica à sociologia
ambiental, no sentido de compreendermos as condições primeiras que orientaram a
apropriação utilitária da natureza em tais sociedades. Ao invés de nos determos nas causas
diretas da degradação ambiente (uso do automóvel, produção de resíduos sólidos, lançamento
de externalidades nos rios etc) nos voltamos para uma compreensão social da degradação do
ambiente. Assim, apoiamo-nos em Goldblatt (1996) e Hannigan (2009) em suas análises da
discussão acerca da crise ambiental na teoria social clássica. Recorremos também a alguns
dos teóricos sociais contemporâneos celebrados por sua contribuição para o debate ambiental,
a exemplo de Giddens, Gorz, Habermas e Beck e, finalmente, discutimos a problemática do
ambiente a partir da sociologia ambiental, guiando-nos por autores como Redclift e Woodgate
(2000), Hannigan (2009), Dunlap (2000) e Buttel (2000), entre outros.
Para iniciar, convém ressaltar que apesar de suas limitações, a teoria social clássica
manifestou uma dimensão ambiental relevante para o debate contemporâneo. Conforme
Goldblatt (1996) e Hannigan (2009), esta dimensão ambiental nos trabalhos dos teóricos
clássicos da sociologia foi negligenciada pela maior parte das análises seguintes de suas obras.
Contudo, para os autores, é importante perceber que Durkheim, Weber e Marx afastaram-se
dos determinismos geográficos e biológicos em suas análises sobre os fenômenos sociais,
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atores sociais privilegiados em um contexto marcado pela crença ilimitada nos progressos da
própria ciência.
Apesar do interesse reduzido pela degradação do ambiente, a obra de Karl Marx, entre
os teóricos clássicos, é aquela de maior relevância ao pensamento ambiental contemporâneo.
Para Hannigan (2009), Marx observa o capitalismo e sua expansão como promotores de
alienação das pessoas em relação ao mundo e à natureza, causador de doenças, da
superpopulação, do desgaste dos solos em função da agricultura mecanizada etc, e que
deveria ser substituído por uma outra ordem social. Dessa forma, o marxismo oferece
relevantes contribuições à compreensão da atual crise ecológica, sobretudo em função de sua
crítica à expansão capitalista e de seu reconhecimento da necessidade de se estabelecer uma
relação metabólica entre a sociedade e natureza. Defende-se que Marx tanto reconhece e
valoriza essa interdependência orgânica como também denuncia o capitalismo como
empreendedor do afastamento do homem da natureza. Assim, é a teoria marxista que sinaliza
que nas sociedades capitalistas a economia política legitima a degradação ambiental em favor
do acúmulo de riquezas e do crescimento econômico. Portanto, Marx, além de pioneiro
defensor de uma agricultura orgânica, desponta como teórico sociológico que aproximou o
pensamento da sociologia para as questões ecológicas.
Goldblatt (1996), diferentemente de Hannigan (2009), atribui a Weber as maiores
limitações quanto às questões ambientais, uma vez que apesar de evidenciar impactos
ecológicos decorrentes do nomadismo e da produção agrária, seu interesse recaiu sobre a
propriedade e à produção. Dessa forma, em Marx e Durkheim são reconhecidas maior clareza
acerca das interações entre a sociedade e a natureza, sobretudo pela ênfase atribuída à
economia e à demografia em suas obras. Conforme o autor, a noção de economia de Marx
compreende a transformação do mundo natural através da produção material.
Ainda de acordo com Goldblatt (1996), Marx e Durkheim revelaram que a sociedade
industrial moderna não enfrentou constrangimentos quanto aos limites ambientais. Assim,
com eles observamos que o capitalismo industrial, em sua fase inicial, assegurou um
desenvolvimento econômico empreendendo profundas transformações na organização social e
também no meio ambiente, mas os impactos ambientais dos métodos de produção não
constituiriam uma problemática para o seu avanço. Marx reconheceu ameaças como o
esgotamento dos solos e o uso intensivo dos recursos naturais, mas foram os
constrangimentos decorrentes da organização social em curso que constituíram a principal
pauta da teoria social marxista e não as questões ecológicas. Para Goldblatt (1996), apesar
desse reduzido interesse teórico pela relação sociedade e ambiente, foi Marx, entre os teóricos
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consequências da degradação ambiental não estão confinadas em uma mesma região, o autor
torna evidente a assimetria entre processos sociais e degradação. Assim, na perspectiva do
autor, a modernidade (economia capitalista mundial) pode ser compreendida como um
contexto marcado por diferenças políticas e econômicas que configuram as consequências
ecológicas atuais e que resultam em uma assimetria quanto ao poder de degradação e o poder
de enfrentamento de suas consequências entre as nações.
Em linhas gerais, para Giddens (1991), o industrialismo globalizado é responsável
pela degradação ambiental na modernidade. Consequentemente, observa-se que a
Globalização estabelece impactos não apenas na esfera econômica e produtiva, mas sobretudo
na vida cotidiana, quando a intensificação da degradação do ambiente resulta na apreensão do
mundo moderno como um contexto de graves riscos e ameaças ecológicas. Assim, a
degradação do ambiente traduz, acima de tudo, os impactos das inovações tecnológicas
estabelecidas no interior da produção industrial nas sociedades modernas.
Em Gorz (1980) a degradação ambiental nas sociedades modernas está associada à
economia política pós-industrial6, caracterizada pelo empenho dos sistemas políticos em
assegurar o crescimento da produção industrial, o consumo e o acúmulo de riquezas.
Defende-se que esta lógica de crescimento da produção, que também fora internalizada por
economias socialistas como a China e a Rússia, orienta-se exclusivamente por interesses
econômicos, mas termina por ser incapaz de assegurar a prosperidade a longo prazo e também
o equilíbrio ecológico. Gorz (1985) é contundente ao ressaltar que o capitalismo nem
manifesta uma orientação moral nem reconhece limites do mundo natural.
Sob a perspectiva da economia política observada por Gorz (1980) a degradação do
ambiente também é fortemente influenciada pela dimensão cultural das sociedades ocidentais
pós-industriais. Conforme o autor, não é apenas a elevação da produção industrial que ameaça
a natureza, mas também o aumento nos níveis de consumo que caracteriza os estilos de vidas
destas sociedades. Dessa forma, a esfera do consumo desponta como fator relevante para o
agravamento da crise ambiental, orientando-nos a perceber que o enfrentamento desta crise
não passa apenas pela imposição de mudanças na dinâmica produtiva, mas pela adoção de
mudanças no plano cultural de forma a estabelecer uma reorientação moral tanto em relação
ao consumo quanto à vida política.
6
Andre Gorz ressalta os impactos da tecnologia na produção capitalista, sobretudo as implicações decorrentes
da revolução do micro chip e da informática. A esse contexto marcado por profundas alterações no mercado de
trabalho, na organização e no controle da produção, em que a inovação tecnológica desponta como elemento de
transformação social, o autor denomina de sociedade pós-industrial. Ver mais em Gorz (1980).
64
65
Nesse contexto, a degradação ambiental pode ser observada como uma das patologias da
modernidade quando do privilegio ao desenvolvimento capitalista e do consequente impacto
da política e da economia sobre o meio ambiente, sobretudo legitimada pela cultura
decorrente do mundo da vida racionalizado. Em Habermas é a racionalidade capitalista a
causa estrutural da degradação ambiental, não o industrialismo como o desponta em Gorz e
Giddens.
A perspectiva da Sociedade de Risco de Beck (2010) desponta como uma das mais
influentes abordagens sociológicas contemporâneas acerca da degradação do ambiente. Para
Beck (2010), as sociedades contemporâneas são caracterizadas por um contexto de riscos e
ameaças decorrentes da intensa industrialização. Trata-se de uma modernidade reflexiva, pois
as transformações tecnológicas que orientam o crescimento econômico se revelam
responsáveis pela degradação ambiental, introduzindo riscos de alcance global e com elevada
toxidade (destruição da camada de ozônio, mudanças climáticas etc). Assim, as sociedades de
risco são marcadas pela percepção de perigos e ameaças provenientes da ação humana sobre o
planeta, um contexto complexo em função das dificuldades de mensuração e previsibilidade
acerca de tais ameaças. Contudo, há uma invisibilidade social quanto ao reconhecimento e
associação das origens, consequências e agentes promotores dos riscos, e também sérias
limitações na capacidade dos sistemas legais de responsabilização e punição. Na verdade,
para Beck (2010), é a ciência que assume centralidade na interpretação e enfrentamento
(oferecendo alternativas tecnológicas) diante desta complexidade dos riscos na modernidade
reflexiva, uma vez que ela também desponta como responsável pela degradação do ambiente
(ao impulsionar o desenvolvimento tecnológico).
É interessante observar que Beck (2010) analisa a economia política da modernidade a
partir das noções de irresponsabilidade organizada e explosividade social do perigo. O autor
considera que o Estado, incapaz de enfrentar a dinâmica capitalista e sua orientação pautada
nos riscos e na insegurança social, se esforça por negar a degradação ambiental,
empreendendo uma legislação ambiental abrangente, mas desinteressada (ou incapaz) em
atribuir responsabilidades. Dada a essa irresponsabilidade generalizada, a ineficiência dos
sistemas jurídicos-políticos constitui um mecanismo decisivo para assegurar a invisibilidade
social dos riscos em sua complexidade. Além disso, a ocorrência de problemas ecológicos
com abrangência global resulta em ameaça à estabilidade social, afetando atitudes e
comportamentos, sobretudo em decorrência de catástrofes ambientais (Chernobyl, Love Canal
etc). Assim, essa explosividade social dos perigos expõe a fragilidade do Estado em assegurar
um contexto de segurança. Em linhas gerais, em Beck (Sociedade de Risco) é a economia
66
67
com as demais reivindicações por políticas da vida em favor de uma nova estruturação social
pautada na realização pessoal e na reformulação dos modos de viver modernos.
Em Gorz (1980) não emerge uma discussão capaz de revelar acerca da política do
ambiente nas sociedades modernas (pós-industriais). Contudo, apesar de atribuir às
instituições estatais a gestão e o enfrentamento da crise ambiental, ignorando assim a
emergência do poder dos movimentos políticos contestatórios, Gorz (1985) vai defender uma
reorientação da produção e do trabalho a partir de uma perspectiva social e não apenas
econômica. Este desafio cultural, que desponta como ponto crucial em determinados
discursos do movimento ambientalista contemporâneo, consiste no estabelecimento de um
novo significado para as noções de riqueza, bem estar e consumo, de forma a minimizar a
degradação do ambiente mediante reformulação moral e cultural.
Em Habermas (1981), os movimentos sociais modernos são respostas à colonização
do mundo da vida e compreendem a percepção e o enfrentamento da patologias da
modernidade. É nesse contexto que Goldblatt (1996) vai alertar que podemos observar os
movimentos ambientalistas, assim como os demais movimentos sociais, como uma reação
crítica ao crescimento capitalista e suas drásticas consequências. Tais movimentos são
simultaneamente uma resistência à colonização do mundo da vida e uma luta por sua
descolonização, manifestada, sobretudo pelos jovens da classe média. Dessa forma, no plano
da teoria da ação comunicativa habermasiana, os movimentos ecológicos, incluindo os
partidos verdes, correspondem à uma reação à patologia da colonização do mundo da vida
que objetiva melhorias na qualidade de vida, maior participação política dos indivíduos,
respeito aos direitos humanos e ao mundo natural. Por isso os protestos e reivindicações são
direcionados ao consumo, aos processos de trabalho, à participação política e a diversos
outros aspectos da democracia colonizada e que resultam na degradação ambiental – daí a
emergência dos direitos da natureza e das gerações futuras.
Na teoria da sociedade de risco de Beck (2010) os conflitos políticos acerca do
ambiente, e também em relação aos demais riscos, são atribuídos à percepção social de que a
lógica do crescimento econômico e do desenvolvimento industrial é promotora de riscos e de
injustiças perante toda a sociedade. Assim, diante da insuficiência do Estado em atenuar a
explosividade social dos perigos característica das sociedades de risco, são os movimentos
ambientais (e também sociais) que assumem esse desafio, motivados pela percepção de riscos
presentes e futuros, e também pela sensibilidade quanto à perda da tradição. Contudo, para o
autor, a assimetria entre os avanços do conhecimento científico sobre a problemática
ambiental e a permanência da invisibilidade social da complexidade da degradação ambiental,
68
termina por enfraquecer a contestação cultural acerca da política ambiental. Mas, de uma
forma geral, para Beck (2010) é dos movimentos ambientalistas que emerge o interesse pelo
resgate das identidades e a reivindicação política por compromissos sociais mais amplos,
sobretudo tendo em vista o enfrentamento da degradação do ambiente.
Como visto, para Beck (1995) os riscos da modernidade representam um dos
principais desafios políticos contemporâneos, principalmente diante do vigor da apologia ao
desenvolvimento capitalista e da crença na capacidade do Estado e da ciência para o
enfrentamento das ameaças ecológicas. Dessa forma, o autor prescreve a democracia
ecológica, uma alternativa que atribui uma maior relevância à articulação prévia de um debate
crítico acerca dos impactos das inovações tecnológicas e das próprias decisões econômicas
nas sociedades e no ambiente. Além disso, essa alternativa também reivindica maior
democratização da ciência de forma a permitir identificar responsabilidades e avaliar
impactos ambientais decorrentes das mais diversas atividades, além de atribuir à ciência e à
justiça maior empenho perante a irresponsabilidade organizada. Convém ainda atentar que
Beck (2010) também observa as implicações da degradação do ambiente em termos de
conflitos políticos estabelecidos no interior do próprio capitalismo. Para o autor, a
intensificação dos danos ambientais nas sociedades de riscos repercutiu na economia política
industrial de forma que determinadas atividades tornaram-se inviabilizadas diante da escassez
de recursos naturais e pela alteração profunda no ambiente. Além disso, o autor observa que o
contexto foi marcado pelo surgimento de diversas novas atividades econômicas que se
consolidaram e se beneficiam da degradação ambiental, tais como a indústria da reciclagem, o
mercado farmacêutico etc.
Ao longo desta seção privilegiamos a teoria social em sua análise acerca da
degradação ambiental nas sociedades modernas de forma a compreender suas causas
estruturais a partir de diversas perspectivas. Como visto, apesar do reduzido interesse pela
relação sociedade e natureza manifestado pela sociologia clássica, seus teóricos foram
decisivos ao revelar a degradação do ambiente como consequência da estruturação social.
Portanto, foi a sociologia contemporânea que avançou de forma a compreender as causas e as
implicações desta degradação, sobretudo no contexto da modernidade, da globalização e das
sociedades de risco. Contudo, é com a emergência de uma importante sub disciplina, a
sociologia ambiental7, que tais questões se tornaram centrais na teoria social. A esse respeito,
7
De acordo com Dunlap (2000) a sociologia ambiental emergiu nos Estados Unidos, sobretudo diante da crise
energética que vigorou nos anos de 1970. A partir da década de 1990 esse campo de investigação avançou na
Inglaterra e depois em outros países do mundo. Há, contudo, sinalizações acerca das diferenças entre as
69
autores como Woodgate (2000), Cudworth (2005), Hannigan (2009), e sobretudo Dunlap
(2000), um dos fundadores da sociologia ambiental, são categóricos quando afirmam que a
disciplina sociologia negligenciou a relação entre as sociedades e seu meio físico,
manifestando interesse secundário pelas consequências ambientais da industrialização e da
urbanização.
Conforme Hannigan (2009), essa manifestação tardia do interesse sociológico pelas
causas estruturais da degradação do ambiente remonta ao final da década de 1970, quando
emergiu o campo da sociologia ambiental. O alinhamento de fatores como a expansão do
movimento ambientalista, a popularização e o crescimento de publicações científicas sobre a
degradação do ambiente, a acentuada crise energética nos Estados Unidos e os impactos
sociais decorrentes de graves acidentes ambientais (Bophal 8, Love Canal 9, Chernobyl10 ,
Three-Mile Island11 etc) que marcaram a década de 1980 foram decisivos para estimular esse
interesse sociológico, é o que assegura Dunlap (2000).
É importante ressaltar que a relevância da sociologia do ambiente reside em seu
empenho em contextualizar a problemática ecológica a partir do questionamento acerca da
responsabilidade humana, do papel da estrutura social e do poder político. Conforme Buttel
(2000), a sociologia ambiental vai esclarecer os fatores sociais que resultam na degradação do
ambiente, analisando as instituições sociais e as mudanças no ambiente. Outro ponto a ser
destacado, e que se torna evidente em White (2004), é que esse campo da sociologia, ao tratar
das questões ambientais como questões sociológicas, mostra-se relevante e revelador de como
as diferentes sociedades respondem, de forma específica, a problemáticas ambientais comuns.
correntes norte americana e a inglesa, sendo atribuída à primeira uma forte orientação empírica e política, apesar
da fraca integração à sociologia tradicional. Mais integrada à sociologia tradicional, a vertente inglesa
privilegiou um enfoque teórico. Ver mais em Dunlap (2000).
8
O desastre de Bophal, na Índia, ocorrido em 1984, desponta como uma das maiores tragédias ambientais já
ocorridas. Trata-se do vazamento em larga escola de gases tóxicos ocorrido na empresa de pesticidas Union
Carbide, de origem norte americana. Apesar da ampla dimensão desta tragédia, uma vez que as estimativas
mencionam cerca de 500 mil pessoas afetadas, com pelo menos 27 mil mortes, e também de sua causa estar
relacionada à negligência quanto à adoção de sistemas de segurança, a empresa não se posicionou de forma a
apresentar informações acerca da composição dos gases e de seus possíveis efeitos.
9
Love Canal corresponde a um dos mais graves desastres ambientais dos Estados Unidos. Essa área, situada
próximo às cataratas do Niágara, foi usada como depósito de lixo tóxico pela empresa Hooker Chemical durante
às décadas de 1940 e 1950. Após seu esgotamento a área foi aterrada, contudo, em meados da década de 1950
passou a acomodar um conjunto habitacional. Mais tarde, na década de 1970, a população passou a experimentar
uma série de distúrbios de saúde (câncer, aborto, má formação congênita, alterações no sistema nervoso etc)
decorrentes dos produtos tóxicos, então descobertos. Em 1978, a área foi finalmente evacuada e configurou um
dos mais emblemáticos casos relacionados à Justiça Ambiental.
10
Em 1986 a Usina Nuclear de Chernobil, situada na então URSS, foi palco do maior acidente nuclear da
história, tendo como provável causa a falha humana em sua operação e também erros estruturais em seu projeto.
11
Antecessor à tragédia de Chernobil, o acidente nuclear de 1979, na usina Three Mile Island, situada na
Pensilvânia, Estados Unidos, foi decorrente de falha humana.
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12
Trata-se de um relatório publicado em 1972, elaborado por especialistas do Instituto de Tecnologia de
Massachusetts (MIT) a pedido do Clube de Roma, uma associação integrada por empresários, cientistas e lideres
governamentais. Em síntese, o relatório sinalizava acerca dos problemas relacionados ao desenvolvimento,
ressaltando a incapacidade da Terra suportar a demanda por recursos naturais e energéticos, além do aumento
das externalidades da produção (poluição, degradação ambiental etc) e do crescimento populacional. Usualmente
o relatório é referenciado como Relatório Meadows, em função de sua coordenadora Donella Meadows. Ver
mais em Meadows, Meadows e Randers (1972).
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72
73
13
O Relatório Brundtland é, na verdade, o documento intitulado Nosso Futuro Comum, elaborado pela
Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, promovida pela ONU e foi apresentado em 1987.
O documento é resultado de um debate acerca da incompatibilidade entre os padrões de produção e consumo
então vigentes, propondo o desenvolvimento sustentável como alternativa capaz de conciliar crescimento
econômico e preservação ambiental. Essa comissão teve como líder a primeira-ministra da Noruega Gro Harlen
Brundt.
74
75
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77
construcionismo social além de ser uma perspectiva teórica para a análise da degradação
ambiental nas sociedades modernas, é também uma abordagem relevante à compreensão das
disputas políticas sobre tal problemática.
Na visão construcionista o meio ambiente, sua degradação e as relações com ele
estabelecidas são concebidos como uma construção social que se desenvolve no plano do
discurso e que manifesta os interesses sobre o mesmo. Conforme Dunlap (2000), a noção de
natureza é uma construção humana que ultrapassa sua objetividade material e sua
independência em relação às sociedades. Muito embora, o autor reconheça que abordagens
variantes mais recentes já atribuem um caráter realista aos problemas ambientais, assumindo
investigações empíricas acerca da degradação ambiental como base para as análises das
disputas políticas e discursivas acerca do ambiente. Nesse sentido, o construcionismo social
se tornou mais cauteloso, menos interessado por compreender as causas estruturais da
degradação ambiental, mas em analisar os atores sociais e as disputas pela legitimação de suas
representações acerca do ambiente e de sua problemática objetivamente manifestada
(DUNLAP, 2000).
Assim, no construcionismo social a degradação do ambiente está relacionada à
componente cultural das sociedades e suas diversas configurações no espaço e tempo.
Conforme Cudworth (2005), sob essa perspectiva sociológica, a crise ecológica é
compreendida como um conjunto de disputas políticas pelo ambiente, sobretudo marcadas
pelo caráter ideológico das mais diversas construções discursivas. Portanto, a partir do
construcionismo social a problemática do ambiente traduz as percepções dos mais diversos
atores e forças sociais (vítimas e responsáveis) acerca da degradação, que resultam, por sua
vez, em disputas sociais pela contestação legal e pela reivindicação política para esse
enfrentamento (WHITE, 2004).
Rikoon (2009) valoriza o construcionismo social como aporte teórico relevante à
sociologia do ambiente, considerando que nas sociedades capitalistas modernas prevalece o
poder político e econômico, de onde decorrem os mais diversos conflitos de interesses. Assim,
é importante observar que a transformação material da natureza atende aos interesses
hegemônicos pelos mais diversos recursos naturais e que tais interesses traduzem os sistemas
de valores culturais de determinados grupos sociais - suas construções discursivas a respeito
do meio ambiente. Portanto, conforme o autor, as disputas pelo ambiente, seja para assegurar
sua proteção, seja para legitimar sua apropriação, são conflitos de interesses ambientais que
traduzem conflitos da esfera social e econômica. Nesse sentido, o que se torna evidente é que
esta perspectiva concebe a degradação e os conflitos ambientais como disputas pela validação
78
de argumentos sobre o mundo natural, em que o poder dos atores que disputam legitimar suas
representações, percepções e interesses sobre o ambiente torna-se mais relevante do que a
própria “interferência objetiva e material”.
É importante reconhecer a oposição entre o construcionismo social e o realismo crítico,
perspectiva fundante do campo da sociologia ambiental. De uma forma geral, o realismo
crítico, apoiado no novo paradigma ecológico, concebia o meio ambiente como uma realidade
material dotada de especificidades e que exercia influência sobre as sociedades, embora
também suscetível a suas interferências. Conforme Cudworth (2005), essa percepção dialética
entre sociedade e natureza ressaltava a ampla capacidade das sociedades interferirem e
comprometerem os ecossistemas. Neste caso, para essa perspectiva, interessavam não
somente as relações de poder e legitimação de discursos sobre o ambiente e sua degradação,
mas as consequências objetivas destes sobre o mundo natural, o que terminou por denunciar o
capitalismo industrial como causa estrutural da degradação do ambiente. Com o
construcionismo social, conforme observado, apesar de sua recente aproximação com esta
premissa de existência material do mundo natural e de sua degradação, fora relegada a ideia
de natureza como um conjunto físico e objetivo de elementos, em favor de uma percepção do
ambiente enquanto um conjunto de narrativas culturais (CUDWORTH, 2005). Dessa forma, o
prejuízo das atividades humanas sobre o mundo natural torna-se menos relevante do que as
percepções e as disputas sociais em torno das questões ambientais.
Franklin (2002) defende que mais produtivo do que se deter no conflito entre estas
duas abordagens acerca da compreensão da degradação ambiental, é perceber que são ambas
capazes de oferecer relevantes contribuições ao debate ambiental contemporâneo. Enquanto o
realismo crítico orienta as preocupações ambientalistas, manifestando um forte apelo
emocional diante da destruição material da natureza em decorrência da ação social, tornando-
se decisivo para reivindicar uma ética ambiental, o construcionismo social, ao privilegiar a
degradação ambiental enquanto disputas pelas construções de significados que orientam os
valores e as atitudes sobre o mundo natural, torna-se revelador do papel da mídia, da ciência,
dos movimentos ambientalistas e das mais diversas instituições no debate político em torno
das questões ecológicas.
79
1
Neste trabalho, adotamos a noção de discurso como “[...] o uso de linguagem como forma de prática social e
não como atividade puramente individual ou reflexo de variáveis situacionais.” (FAIRCLOUGH, 2001, p.90).
Assim, há uma compreensão de que a significação construída no discurso deve ser intersubjetiva, fazer sentido
no contexto social. Na seção relativa aos discursos ambientais desenvolvemos acerca desta perspectiva.
2
A Comunicação de Risco é observada por Cox (2010) como a área da comunicação ambiental que contempla
os alertas e avisos técnicos sobre estratégias de comunicação de ameaças à saúde, mas também os estudos sobre
a compreensão dos riscos na percepção pública.
80
3
David Brower foi um dos mais influentes ambientalistas contemporâneos. Sua atuação a frente do Sierra Club,
uma organização ambiental criada por John Muir, foi decisiva para a consolidação do movimento ambientalista
moderno. Brower foi fundador da rede global de ativismo ambiental Amigos da Terra (Friends of the Earth) e do
81
discurso da comunicação ambiental está, desde a sua origem, bastante vinculado ao campo do
jornalismo impresso.
Além desse contexto remoto, Jurin, Roush e Danter (2010) destacam os esforços de
autores contemporâneos que contribuíram diretamente para a constituição do campo de
investigação da comunicação ambiental: a publicação do livro Primavera Silenciosa4, de
Rachel Carson, em 1962; a divulgação de fotos da Terra vista a partir da nave Apollo em
1968, e que motivou à metáfora da nave terra; o artigo publicado por Shoenfeld5 em 1969,
lançando o termo comunicação ambiental; os estudos sobre mídia de massa e comunicação
ambiental publicados em 1973, a exemplo do artigo elaborado por Gerhart Wiebe 6 ; o
surgimento da Environmental Media Association (EMA)7, em 1989; a criação do Journal of
Nature and Culture, em 2007.
É importante observar que, embora possamos reconhecer essas contribuições, é
somente nas décadas de 1970 e 1980 que se dá a emergência da comunicação ambiental,
enquanto a década seguinte assegura sua expansão, sobretudo com a proliferação de estudos
sobre jornalismo e a comunicação de massa em sua influência nas percepções e atitudes
Earth Island Institute, uma organização dedicada a apoiar projetos de cunho ambiental ao redor do mundo.
Brower é considerado com um dos pioneiros no uso da mídia na comunicação acerca da conservação ambiental e,
devido ao seu intenso ativismo, foi duas vezes indicado ao Prêmio Nobel da Paz. Ver mais em
www.browercenter.org, www.foe.org e www.earthisland.org.
4
Nesta obra emblemática, Rachel Carson denuncia os impactos ambientais decorrentes do uso de pesticidas
químicos na agricultura, nomeadamente aqueles compostos por DDT (Dicloro-Difenil-Tricoroetano). A autora
contempla esta discussão desenvolvendo uma fábula em que o uso de pesticidas em uma determinada
comunidade resultou na contaminação do ambiente de tal forma que as flores não surgiram na primavera. Essa
fábula é, portanto, pano de fundo para o desenvolvimento da obra que passa a se orientar por dados científicos.
No centro de sua obra esta o questionamento acerca do poder do homem em modificar a natureza, quando
relaciona o uso de pesticidas à contaminação dos recursos hídricos, ao desequilíbrio das cadeias alimentares e
também à interferência no processo de seleção natural, além de atingir a saúde humana. Dai resulta sua defesa
pelo uso de soluções biológicas. De forma geral a autora teve papel relevante no estímulo ao ambientalismo
moderno, revelando as relações de poder em suas consequências ambientais. Ver mais em Carson (1969).
5
Clarence A. Schoenfeld foi editor e fundador do Journal of Environmental Education, cuja edição inaugural
foi publicada em 1969. Ao lançar mão do termo comunicação ambiental, Schoenfeld ressaltava a capacidade da
comunicação despertar sensibilidade e envolvimento ambiental, ou seja, atuar na educação acerca do meio
ambiente e sua problemática. Ver mais em Jurin, Roush e Danter (2010).
6
O artigo em tela é denominado de Mass media and man’s relationship to his environment e foi publicado no
periódico Journalism and Mass Communication Quarterly, dedicado à pesquisa em jornalismo e comunicação
de massa. Nele, Wiebe ocupa-se da representações do meio ambiente na cobertura noticiosa revelando haver
uma incapacidade da mídia em promover uma interelação entre informação e ação, uma vez que o ambiente é
comumente representado como algo externo e alheio, desprovido de implicações na constituição de sua
identidade e individualidade.
7
A Environmental Media Association (EMA) é uma organização sem fins lucrativos criada por Cindy Horn
(atriz), Alan Horn (atual presidente dos estúdios Disney), Lyn Lear (ativista ambiental) e Norman Lear (roteirista
e produtor), em 1989, com o objetivo de estimular, na indústria do entretenimento, a produção de obras capazes
de despertar a consciência ambiental na audiência. Anualmente, a organização realiza o EMA Awards, uma
premiação que valoriza personalidades, produções audiovisuais e musicais que comunicam relevantes
mensagens ambientais em seu conteúdo. Além disso, ela também atribui o EMA Green Seal Awards, um “selo
verde” às produções e corporações que adotam práticas ambientais em seus processos de produção. Ver mais em
www.green4ema.org .
82
públicas. É também nesse período que diversas conferências e fóruns sobre a comunicação
ambiental se proliferam, principalmente na internet. Para Cox (201), o aumento no número de
publicações e o surgimento de diversas associações envolvendo pesquisadores, a exemplo da
Society of Environmental Journalist, em 1990, foram cruciais para estimular a realização de
uma série de conferências dedicadas à comunicação ambiental. A International
Environmental Communication Association (IECA)8, criada em 2011, constitui um marco
relevante do alcance global deste campo de investigação.
Jurin, Roush e Danter (2010) observam que, durante a década de 1990 houve um
crescimento exponencial do campo de investigação em comunicação ambiental, estimulado,
sobretudo, pela celebração do primeiro Dia da Terra9. Ainda de acordo com os autores, é
possível perceber três ciclos de evolução do discurso do meio ambiente que acabaram
trazendo contributos para a constituição da comunicação ambiental: o primeiro ciclo (1969 –
1974), marcado por protestos sociais e pela emergência das pressões por uma legislação
antipoluição e em favor da gestão ambiental na indústria; o segundo (1989-1994), em função
da retomada de interesse pelas questões ambientais, refere-se à emergência de movimentos
ambientais em celebração dos 20 anos do Dia da Terra e da realização da Conferência
ECO92; e, finalmente, o terceiro ciclo (a partir de 2002), caracterizado pela consagração das
questões ambientais na pauta política e midiática, pela expansão das publicações em
comunicação ambiental, e pela criação de um Índice Ambiental10 que abriga sua catalogação.
Face ao exposto, observamos que foi na primeira década do século atual que o campo
da comunicação ambiental assumiu uma maior diversidade e complexidade de assuntos e
8
A IECA é uma associação criada em 2011 e que resultou dos desdobramentos da Conferência em
Comunicação e Meio ambiente (COCE - Conference on Communication and Environment), realizada em 1991.
Atualmente ela congrega a ECN (Environmental Communication Network), uma comunidade de pesquisadores,
ativistas e profissionais relacionados à comunicação ambiental, a COCE, que tem periodicidade bienal e o
periódico Environmental Communication: A Journal of Nature and Culture. Em linhas gerais, a IECA objetiva
promover interação e colaboração entre seus membros de forma a estimular pesquisas e práticas em
comunicação ambiental capazes de enfrentar as suas diversas problemáticas. Ver mais em http://theieca.org.
9
O Dia da Terra, comemorado no dia 22 de abril, foi celebrado como uma data nacional nos Estados Unidos,
no ano de 1970, despontando como marco simbólico do movimento ambientalista moderno. Ela resultou do
empenho do então senador Gaylord Nelson, tendo como inspiração os movimentos contra culturais estudantis
anti-guerra deste período, estimulado pelo vazamento de óleo ocorrido na Califórnia em 1969. Sua campanha
culminou com a adesão de cerca de 22 milhões de pessoas nos EUA, quando o primeiro Dia da Terra foi na
verdade um grande protesto em favor da sustentabilidade do Planeta. A consequência imediata deste protesto foi
a criação da Agência de Proteção Ambiental (EPA). A partir de 1992 ele passou a ser celebrado em âmbito
global, estimulando, sobretudo, práticas de reciclagem. Mais tarde, em 2009, a Organização das Nações Unidas
(ONU) adotou esta data como o Dia Internacional da Mãe Terra, no sentido de destacar a necessidade de atuação
coletiva frente as problemáticas ambientais. Ver mais www.earthday.org/earth-day-history-movement.
10
Conforme os autores, trata-se de um banco de dados relativo às publicações sobre o meio ambiente, as quais
são classificadas a partir dos mais diversos assuntos (agricultura, energia, tecnologia ambiental, legislação
ambiental, comunicação ambiental etc). Este índice de classificação é adotado pela EBSCO Information Services,
um dos principais agregadores de periódicos, nomeadamente em sua base de dados Environmental
Knowledgebase OnLine.
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86
caráter comunitário (estímulo à adoção de estilos de vida verde etc), corporativo (mercado da
sustentabilidade, defesa de uma imagem ambiental etc) e científico associados à defesa do
meio ambiente. Para os autores, a dinâmica que permeia a relação entre a mídia de massa e os
eventos e campanhas ambientais (elaboração de documentos, implementação de legislação,
divulgação de conhecimento científico etc) fez emergir um vocabulário 12 relativo à
comunicação sobre o ambiente e resultou em forte influência da mídia na orientação da
percepção e da relação entre o homem e o mundo natural. Dessa forma, atuando na percepção
e na compreensão da problemática ambiental, a comunicação ambiental tanto pode apresenta-
la como uma questão de natureza técnica e científica, ou como uma questão política, social e
moral (CARVALHO, 2011). Isso significa perceber como a comunicação ambiental comporta
em si um poder sobre os discursos deflagrados sobre o meio ambiente.
Mas, conforme defende Hansen (2010), o principal papel da mídia na comunicação
ambiental reside no despertar do interesse social por uma determinada questão ambiental e
assim estabelecer reivindicações políticas para o seu enfrentamento. Conforme exemplifica o
autor, é através da mídia que catástrofes naturais rotineiramente percebidas como fenômenos
da natureza, logo imprevisíveis e alheios ao controle humano, assumem uma significação
social a partir das mais diversas construções discursivas, sobretudo empenhadas em atribuir-
lhe responsabilidade e enfrentamento. Mas, apesar dessa centralidade, a mídia não é o fórum
exclusivo da construção social da problemática ambiental, pois também é marcante a atuação
das esferas política e científica. Contudo, Hansen (2010) enfatiza que a comunicação
ambiental midiática é decisiva para a internalização de uma problemática ambiental em uma
agenda pública e política. Portanto, convém reconhecer que a mídia desempenha um papel
fundamental na orientação das questões ambientais, pois além de promover a sua visibilidade,
também influencia e direciona o seu debate.
Observamos uma abordagem semelhante em Carvalho (2011), quando de sua análise
do papel da mídia na comunicação acerca das questões relativas às alterações climáticas. De
acordo com a autora, através da visibilidade midiática, diversos atores sociais, sejam eles
políticos, cientistas, corporações ou mesmo os grupos ativistas, procuram influenciar o
debate ambiental, sobretudo o próprio discurso da mídia na comunicação ambiental. Além
disso, a autora ressalta que a mídia não somente reproduz tais discursos, mas também
empreende suas próprias perspectivas discursivas. Dessa forma, a autora defende que a
questão crucial é a centralidade dos discursos midiáticos na promoção de uma significação
12
Uma relevante discussão acerca da eco linguística pode ser encontrada em Fill e Mühlhäusler (2001).
87
pública para as questões ambientais e sua posterior repercussão na ação política. Dada a essa
relevância, observamos que é através da mídia que a multiplicidade de atores sociais
envolvidos no debate ambiental busca legitimar suas atitudes e percepções sobre o mundo
natural.
Carvalho (2011) chama atenção acerca das principais diferenças entre as estratégias de
comunicação midiática dos grupos ambientalistas e das corporações. O Greenpeace13 e várias
outras ONGs ambientais empreendem táticas de visibilidade midiática pautadas na
espetacularidade e na dramaticidade, o que, segundo a autora, frequentemente resulta em uma
comunicação superficial acerca da problemática em questão, uma vez que é a própria ação por
elas realizadas que se torna mais discutida na mídia. Apesar de recorrente no discurso
corporativo, muitas das estratégias de comunicação ambiental das empresas correspondem ao
chamado greenwashing, uma forma de “engajamento” ambiental que somente ocorre no plano
comunicacional e não na atuação propriamente dita das corporações. Conforme discutiremos
mais adiante nesta seção, é na publicidade que estas estratégias se manifestam com maior
intensidade.
Assim como Cox (2010) destacou o caráter persuasivo da comunicação ambiental,
Hansen (2010) ressalta o seu forte caráter ideológico, mais especificamente quando investiga
o papel da comunicação na construção social da problemática ambiental. De acordo com o
autor, na mídia, um problema ambiental (assim como os demais problemas sociais) resulta de
estratégias que visam delimitar sua interpretação e percepção. Dessa forma, apesar da
diversidade de interesses manifestados pelos diferentes atores sociais, são os recortes
específicos de aspectos relativos ao problema ambiental observado (sua construção,
responsabilização e resoluções propostas) que prevalecem na delimitação e sustentação de um
determinado enquadramento, sobretudo, alinhados a reivindicações relacionadas. Tais
recortes são feitos e determinados ideologicamente, por isso não necessariamente significam
atenção aos principais problemas da questão ambiental contemplada.
Para Hansen (2010) esse caráter ideológico da comunicação ambiental torna-se
evidente a partir da seletividade e da hierarquia dos atores sociais e das representações do
meio ambiente. Enquanto disputa discursiva pela construção simbólica de uma determinada
13
O Greenpeace é uma organização internacional sem fins lucrativos, criada em 1971, e que atua em defesa de
causas ambientais. Sua visibilidade decorre principalmente de suas estratégias em estabelecer campanhas que
expõem crimes ambientais e seus responsáveis. Atualmente a organização atua em 41 países e conta com 2,8
milhões de sócios, estando sediada em Amsterdam, na Holanda. Ao longo de sua atuação várias conquistas
foram alcançadas envolvendo questões diversas, seja no embate contra governos ou contra empresas. Seu navio-
bandeira é um dos símbolos mais emblemáticos de sua atuação, o Rainbow Warrior (Guerreiro do Arco-Íris),
uma alusão aos lendários índios norte-americanos da tribo Cree. Ver mais em www.greenpeace.org.
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89
Sobre as narrativas melodramáticas, Cox (2010) reconhece haver uma clara polarização moral
entre os atores sociais representados nos conflitos das “histórias” apresentadas nas mídias. Por
isso elas são cruciais em contextos marcados pela manipulação da opinião pública a partir do
mascaramento e de distorções em torno de determinadas problemáticas ambientais,
constituindo, enquanto dispositivos retóricos, perspectivas mais críticas aos atores sociais, ao
passo que as narrativas apocalípticas enfatizam as críticas ao contexto estrutural da crise
ambiental.
Convém ainda atentar que Cox (2010) entende as metáforas e os gêneros retóricos
como recursos de linguagens bastante relevantes ao exercício da função pragmática da
comunicação ambiental – a orientação de posturas e atitudes sobre o ambiente. Contudo, para
o autor, as retóricas visuais também se mostram cada vez mais recorrentes neste campo, como
é o caso do uso de fotografias como recurso valioso para despertar emoções e sentimentos no
público, além do sentido de urgência para uma dada problemática. O autor ressalta que as
imagens da luta do urso polar pela sobrevivência foram cruciais para o sucesso da
comunicação acerca do aquecimento global. Nesse sentido, o projeto realizado por Subhanker
Banerjee, retratando em fotografias a biodiversidade do Refúgio Nacional da Vida Selvagem
no Ártico, exemplifica o poder da retórica visual em constituir uma estratégia de
argumentação política contrária à exploração econômica da região.
Assim, são esses dispositivos retóricos que se revestem de um poder ideológico na
comunicação ambiental. Nosty (2008), ao tratar do contexto da promoção da sustentabilidade,
adverte que, de forma geral, a mídia opera neutralizando as perspectivas mais inquietantes e
ameaçadoras aos discursos hegemônicos, esforçando-se por reestabelecer sua “normalidade”.
Dessa forma, reconhece que as principais reivindicações discursivas acerca da defesa do meio
ambiente estão associadas aos atores sociais marginalizados neste debate, a exemplo dos
grupos ambientais.
Sobre os impactos da comunicação ambiental, Nosty (2008) aponta que ela ainda se
mostra incapaz de estimular uma postura ambientalmente crítica na opinião pública. Apesar
de sua significativa expansão, a comunicação sobre o meio ambiente ainda esbarra na “[...]
passividade, indiferença, resignação, impotência, incredulidade social [...]” (NOSTY, 2008, p.
36), uma vez que os sistemas midiáticos contemporâneos refletem as próprias contradições
das sociedades que, mesmo diante de sérias problemáticas decorrentes da ação do homem
sobre o meio ambiente, manifesta uma reduzida capacidade reivindicativa.
De acordo com o autor, as formas midiáticas de construção da realidade resultam na
"esterilização" do processo de formação do senso crítico acerca das questões ambientais (e
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91
da questão (indivíduo, sociedade, cultura), de forma a atentar para fatores como "[...] normas
sociais, regulação governamental, expectativas da comunidade, recursos monetários e tempo"
(CORBETT, 2006, p. 84), os quais constituem obstáculos à ação do indivíduo, conforme
preconizam determinadas iniciativas de comunicação sobre o meio ambiente.
Na verdade, o que Corbett (2006) quer ressaltar é que a vida moderna é marcada por
uma desconexão entre a preocupação com o meio ambiente e a adoção de estilo de vida
(trabalho, consumo, lazer etc). Há, em consequência do primado do desenvolvimento e do
progresso, uma compartimentalização do meio ambiente como algo distante do nosso
cotidiano, sobretudo excluído de nossas rotinas de trabalho. Para Corbett (2006), o sucesso da
função pragmática da comunicação ambiental depende de uma reorientação na percepção
social da natureza de forma a superar a ideia de que esta constitui espaços externos que
apenas usamos para a recreação, em favor de situá-la diretamente em nossos trabalhos e em
nossa vida diária. Assim, torna-se importante descortinar a representação de natureza
romantizada e encarar sua apropriação enquanto fonte de recursos que acomoda todas as
nossas atividades nas mais diversas esferas sociais. E provavelmente esta visão romântica da
natureza ainda prevaleça nos meios de comunicação e na condução da opinião pública.
O que ganha relevo no pensamento da autora é a alienação da natureza nas sociedades
industriais modernas como principal desafio a ser enfrentado pela comunicação ambiental.
Essa alienação, segundo Corbett (2006), está impregnada nas próprias relações de trabalho,
em que este se encontra associado ao alcance de satisfação e conforto, mas a partir de uma
relação entre aumento de rendimentos e elevação de consumo. Esse ciclo de trabalho e
consumo torna-se desconectado de nossa percepção acerca dos impactos ambientais que
proporcionamos, muito embora seja bastante revelador de ideologia ambiental dominante.
Nesse contexto, nossas práticas de consumo são expressões relevantes de nossa relação
ambiental e decorrem do privilégio à esfera econômica e à realização pessoal (atendimento
das necessidades materiais). Para autora, os padrões de consumo da vida moderna comunicam
nossa perspectiva ambiental e também nossa fragilidade em termos de privilegiar interesses
públicos mais amplos para além das demandas materiais individuais. Dessa forma, a
comunicação ambiental encontra-se limitada pelas próprias estruturas sociais, sendo
fortemente orientada pelos interesses dominantes, apesar da crescente participação dos grupos
de contestação.
Perspectiva semelhante é apresentada por Chapman et al. (2003) quando analisaram,
de forma comparativa, a comunicação ambiental na Índia e na Inglaterra. Conforme os
autores, o contexto histórico e cultural de cada sociedade é decisivo na configuração e no
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93
17
Em Cox (2010) mainstream é empregado para designar práticas midiáticas tradicionais, a exemplo do
jornalismo impresso, da publicidade televisiva etc. Conforme o autor, a mídia online constitui alternativas a este
contexto, favorecendo a manifestação de atores sociais então marginalizados nas práticas midiáticas tradicionais.
Trata-se, portanto, de uma definição permeada por relações de poder, sendo a mídia mainstream intimamente
relacionada aos discursos hegemônicos - mídia hegemônica.
94
jornalística ambiental está pautado pela ideia de sua maior influência na opinião pública.
Nesse contexto, observamos que em meio à crescente contribuição de uma variedade de
recursos midiáticos, tais como, documentários televisivos, filmes e os desenhos animados
(ponto central nas discussões dos capítulos seguintes), é no campo do jornalismo que a
comunicação ambiental ainda assume maior relevância na construção social das questões
sobre o meio ambiente e sua problemática.
Entre as principais discussões acerca do jornalismo ambiental, destacamos aquelas
relacionadas ao seu papel na construção social da questão ambiental (HANNIGAN, 2009;
HANSEN, 2010), ao seu caráter cíclico, traduzido em termos de interesse pelos problemas
ambientais (CARVALHO, 2011; FRIEDMAN, 2004 e 2015; HANNIGAN, 2009; HANSEN,
2010), aos seus constrangimentos estruturais e organizacionais (CARVALHO, 2011;
CORBETT, 2006; COX, 2010; CHAPMAN, 2003; HANSEN, 2010) e aos seus impactos na
audiência (HANSEN, 2010).
Entre as suas diversas contribuições, o jornalismo ambiental, segundo Hansen (2010),
é decisivo para o agendamento do interesse público e político das questões relacionadas ao
meio ambiente. Conforme observa Hannigan (2009), essa relevância decorre do fato de que a
notícia desponta como uma realidade construída, determinada a constituir significados sociais,
decisivamente orientada por fatores políticos e culturais que configuram suas rotinas
organizacionais. Dessa forma, na comunicação ambiental, fatores com as fontes privilegiadas
e a adoção de ângulos específicos para as estórias traduzem o alinhamento ideológico da
argumentação acerca de uma determinada problemática empenhado em atribuir-lhe sentido
junto ao público. Para tanto, o enquadramento das notícias se apoia no uso de metáforas, de
exemplos, de frases feitas, de imagens visuais, da análise de causa, de consequências e em
apelos morais, com o objetivo de alinhar-se aos pacotes de interpretação (progresso,
responsabilidade pública etc). Assim, o alcance dessas notícias é significativo, mas, em boa
medida, o seu olhar crítico não.
Enquanto arena central na promoção de visibilidade e aceitação de narrativas
ambientais (histórias e enquadramentos), o jornalismo ambiental impõe desafios aos diversos
argumentadores que contemplam a inserção de uma determinada problemática ambiental na
agenda midiática. Hannigan (2009) ressalta que o sucesso desses argumentadores resulta do
alinhamento de seus enquadramentos das questões ambientais aos conceitos e valores
culturais existentes, de sua articulação com as agendas políticas e científicas, de sua
apresentação enquanto drama social, de sua proximidade com o contexto presente e de um
plano de ação de caráter imediato. Consequentemente, evitar o confronto com os valores
95
culturais enraizados, apelar para a emoção a partir do confronto entre heróis, vilões e vítimas,
contextualizar impactos da problemática no presente e articular um plano de ação com
resultados imediatos despontam como estratégias de sucesso no agendamento midiático de
questões ambientais. Por isso Hansen (2010) vai afirmar que o caráter ideológico do
jornalismo ambiental assenta-se na previsibilidade de seus scripts (retórica, léxico, metáforas,
referenciais etc), daí quanto mais afinidades uma determinada formulação de problemática
ambiental assumir com valores culturais enraizados, maior sua chance de aceitação e
visibilidade.
Nesse contexto, embora a cobertura jornalística desponte como um espaço de disputa
simbólica entre diversos argumentadores e seus oponentes, Hannigan (2009) observa que são
as perspectivas alinhadas à ideologia hegemônica (progresso e desenvolvimento) que
orientam o alinhamento das notícias aos códigos culturais dominantes. Essa perspectiva
também é apontada por Hansen (2010) quando observa que a cobertura jornalística ambiental
tanto resulta em legitimidade e credibilidade dos argumentadores, como atua criticamente
para negativá-los e marginalizá-los. Portanto, enquanto arena pública, o jornalismo ambiental
atua de forma ativa nas construções sociais da problemática ambiental, definindo
decisivamente o seu enquadramento.
Dessa forma, incorporando no seu discurso os interesses e representações dos grupos
hegemônicos, o jornalismo ambiental, recorrentemente, possibilitou um processo de
hierarquização e seletividade das questões ambientais. Hansen (2010) diferencia entre atores
insiders, aqueles politicamente alinhados com a perspectiva ambiental hegemônica, e
outsiders, aqueles que manifestam orientações diferentes (muitas vezes contestatórias) aos
primeiros. Enquanto os cientistas, as autoridades públicas, os representantes do governo e das
corporações desfrutam de maior acesso midiático, grupos ambientalistas como o Greenpeace,
por exemplo, precisam recorrer à dramaticidade social como estratégia de visibilidade
midiática, propondo a espetacularização de suas ações (não apenas na arena midiática) em
busca de atenção, apoio e legitimidade em suas reivindicações (HANSEN, 2010;
HANNIGAN, 2009).
Mas, apesar da inovação e da criatividade para despertar o interesse do jornalismo
ambiental, sobretudo a partir do apelo visual e do espetáculo, o sucesso midiático dos grupos
outsiders também decorre de sua circulação em outros fóruns de discussão. Hansen (2010)
defende que é preciso haver uma vinculação destes grupos a instituições, eventos e pessoas já
estabelecidas em outros fóruns. Além disso, o autor ressalta que a apropriação da internet se
mostra decisiva para tais grupos, permitindo-lhes superar as limitações de acesso à cobertura
96
midiática. Assim, embora ainda incapaz de abalar as relações de poder da mídia tradicional, a
internet favorece a visibilidade de tais grupos, resultando em maior diversidade de
argumentos, eventos e debates sobre as questões ambientais, e, consequentemente, no
questionamento da credibilidade da mídia hegemônica.
De forma geral, no jornalismo o interesse pela problemática ambiental assume um
caráter cíclico, alternando entre momentos de aproximação, sobretudo quando da ocorrência
de desastres ambientais, e de posterior distanciamento. Conforme observam Cox (2010) e
Hannigan (2009), foi a partir dos anos de 1970 que as questões ambientais emergiram como
uma categoria diferenciada na cobertura jornalística em decorrência de uma maior
consciência e compreensão dos argumentos ambientais pela mídia, motivadas, por exemplo,
por eventos como a celebração do Dia da Terra. Contudo, ao longo dessa década esse
interesse foi reduzido e a cobertura jornalística representou os problemas ambientais enquanto
eventos isolados, desconectados e desprovidos de um enfoque global. Os autores destacam
que somente nos anos de 1980 e 1990 o jornalismo ambiental passa a ter mais visibilidade,
assumindo uma abordagem mais global e complexa. Contudo, Hannigan (2009) ressalta que
esse aprofundamento na cobertura do jornalismo ambiental não foi capaz de superar o hiato
entre questões ambientais, questões políticas e de desenvolvimento.
Em sua análise acerca da cobertura ambiental no jornalismo norte americano,
Friedman (2004) estabelece uma caracterização relativa a três décadas de atuação – 1970,
1980 e 1900 (até o início da década de 2000), evidenciando as principais mudanças neste
período. Conforme a autora, nas duas primeiras décadas o interesse recaiu sobre tragédias e
desastres ambientais de graves proporções (Love Canal, Bophal, Exxon Valdez18, Chernobyl
etc), tratados como eventos, uma vez que não foram discutidas causas de tais ocorrências em
favor do privilégio pelo sofrimento das vítimas relacionadas. Para Friedman (2004), neste
período, o jornalismo ambiental mais confundiu que esclareceu acerca de tais problemáticas.
Na terceira década, este contexto sofreu profundas alterações: o jornalismo ambiental tornou-
se uma especialidade, a internet favoreceu o acesso a uma maior diversidade de fontes
(sobretudo aos grupos ambientalistas) e também trouxe mais visibilidade às notícias (surgiram
versões online dos veículos de jornalismo impresso) e a Society of Environmental Journalists,
18
Trata-se do desastre ecológico ocorrido em 1989, em uma área de preservação ambiental situada na costa do
Alasca, relativo ao derramamento de cerca de 40 milhões de litros de petróleo quando do encalhamento do navio
petroleiro Exxon Valdez, pertencente a companhia ExxonMobil que foi então penalizada pela infração das leis
ambientais. O desastre foi o maior derramamento de petróleo nos EUA e teve dimensões alarmantes já que
resultou na morte de milhares de animais. A partir deste episódio, navios petroleiros com o mesmo tipo de casco
foram proibidos pela União Europeia. O desastre também foi marcado pelo embate entre a empresa responsável
e grupos ambientalistas em torno do reconhecimento das condições ambientais da área afetada. Ver mais em
http://www.greenpeace.org/brasil/pt/Noticias/desastre-do-exxon-valdez-uma/
97
19
O autor ressalta que os dois Prêmios Pulitzer obtidos pelo jornalismo ambiental foram obtidos no ano de
1990: o primeiro atribuído ao The Seattle Times pela cobertura do desastre ecológico Exxon Valdez; o seguido
obtido pelo Washington (NC) Daily em função da cobertura acerca da contaminação local da água com
substancias cancerígenas. Ainda conforme o autor, ao longo da década de 1990, a cobertura jornalística
ambiental recebeu vários outros Pulitzers, com exceção das edições de 1991, 1995 e 1999, embora neste último
caso três produções foram finalistas. Convém observar que, antes disso, o último Pulitzer relacionado ao meio
ambiente ocorreu no ano de 1980. Ver mais em www.pulitzer.org/awards/1990
98
declínio não foi exclusivo da cobertura jornalística, pois também foi marcante na
programação ambiental televisiva dedicada, sobretudo aquela dedicada ao entretenimento.
Entretanto, no contexto dos Estados Unidos, a controversa política energética do
governo Bush, mesmo diante da repercussão do atentado de 11 de setembro de 2001,
assegurou a permanência do interesse midiático pelas questões ambientais, ainda que bastante
reduzida em relação ao contexto do início da década anterior. A centralidade da cobertura em
eventos ambientais ainda persistiu, assim como a ausência de ligações entre estes e suas
causas (consumo, explosão demográfica, uso da terra etc). Da mesma forma, as
responsabilidades das corporações e da legislação ambiental, sobretudo em se tratando dos
riscos ambientais, retomou a timidez na cobertura ambiental jornalística.
Analisando esses ciclos de atenção às questões ambientais no jornalismo, Friedman
(2015) ressalta que, apesar das limitações observadas, foi através desses ciclos que o
jornalismo ambiental estabeleceu uma diversidade temática, de forma a contemplar questões
como as mudanças climáticas e a sustentabilidade, entre outras. Contudo, várias são as críticas
que evidenciam as limitações do jornalismo ambiental, sobremaneira relacionadas aos
constrangimentos organizacionais e suas implicações na cobertura acerca do meio ambiente.
Hannigan (2009), Corbett (2006), Cox (2010), Carvalho (2011) e Anderson (1997)20
reconhecem haver uma significativa incompatibilidade entre as rotinas da produção
jornalística e a natureza dos problemas ambientais. Conforme os autores, os principais
desafios na cobertura ambiental, decorrentes dos constrangimentos do jornalismo, e também
dos jornalistas, estão relacionados à economia política da mídia, ao gatekeeping, aos critérios
de méritos da notícia (noticiabilidade) e ao enquadramento, normas de objetividade e balanço
das abordagens. Nesse contexto, ressaltam que: as notícias ambientais não se encaixam
facilmente na estrutura editorial das redações; os repórteres generalistas encontram
dificuldades em compreender as questões ambientais em sua complexidade; os interesses
econômicos e políticos dos jornais privilegiam o sensacionalismo e uma cobertura alinhada
com os patrocinadores e anunciantes; o ideal de objetividade privilegia mais a evidência
científica e menos os conflitos ambientais.
Consequentemente, em função de sua lógica de produção, a comunicação ambiental
na cobertura jornalística manifesta-se, portanto, limitada. Daí resulta o enquadramento de
20
É importante ressaltar o pioneirismo da autora para a compreensão da comunicação ambiental, sobretudo
acerca do contexto de sua emergência. Seu enfoque sociológico foi crucial à medida que se empenhou em
relacionar o pensamento ecológico, a teoria social e os estudos acerca da mídia e da cultura. Anderson (1997)
contribuiu decisivamente para a valorização das disputas ideológicas no contexto das representações do meio
ambiente.
99
100
editorial de que o interesse público pelas questões ambientais seja reduzido, coberturas
jornalísticas mais complexas parecem emergir diante dos desafios da problemática
relacionada às mudanças climáticas. Essa perspectiva é defendida por Carvalho, Pereira e
Cabecinhas (2011), ao observarem que a problemática das alterações climáticas, apesar de
ainda privilegiadas por uma cobertura jornalística orientada a eventos, suscitou uma maior
compreensão de sua complexidade e de sua multidimensionalidade (aspectos sociais, políticos,
econômicos, científicos etc).
Referente aos efeitos do enquadramento (framming) das questões ambientais na
cobertura jornalística, é importante perceber, conforme Anderson (1997), que além de
privilegiar eventos ambientais a partir de critérios como impacto emocional, apelo visual,
conflitos e proximidade, as questões afetadas por regulamentações ambientais são
frequentemente enquadradas ou emolduradas de forma a manifestar plena sintonia com os
interesses econômicos dos proprietários dos jornais, quando são empreendidas simplificações
do mundo, tendo em vista um modelo de interpretação e compreensão da audiência. Por isso a
autora vai destacar que além da visibilidade midiática, as disputas entre os mais diversos
atores sociais recaem sobre a legitimidade dos enquadramentos adotados nas notícias.
É nesse contexto que Corbett (2006) vai ressaltar que a disputa pela influência na
agenda midiática é assimétrica. Sendo as questões ambientais dotadas de um significado
anticomercial, os diferentes atores sociais que disputam legitimidade em tais questões
recebem atenções diferenciadas, com nítida preferência pelas fontes oficiais ou mesmo pelas
informações ambientais institucionais ou pelos relatórios elaborados por relações públicas
corporativas (CARVALHO & PEREIRA, 2011). Assim, diante dos interesses econômicos
relacionados, o agendamento jornalístico é decisivamente orientado a proteger valores
culturais hegemônicos. Para Corbett (2006) as normas jornalísticas são reveladoras deste
processo de decisão acerca do que é ambientalmente noticiável, em que prevalece uma
cobertura em defesa da maestria humana sobre a natureza, bem como da defesa do progresso
e da ciência, o que resulta em uma representação da natureza como um discurso científico.
Corbett (2006) é bastante categórica ao afirmar que na definição de questões
ambientais no jornalismo, as escolhas (gatekeeper) decorrem dos interesses econômicos e
ideológicos da organização midiática, uma vez que sua agenda ambiental não pode resultar
em conflito com os anunciantes do veículo. Assim, as matérias, abrigadas em espaços
reduzidos, se revestem de objetividade, clareza e balanço das fontes para obscurecer as
escolhas ideológicas dos editores. Conforme a autora, a cobertura acerca das mudanças
climáticas é exemplar desta perspectiva, em que o jornalismo atribuiu espaços semelhantes
101
para grupos minoritários de cientistas contrários às evidências apresentadas pelo grande grupo
consensual. Esse balanceamento de vozes contraditórias e socialmente diferenciadas
evidencia a força dos interesses corporativos em inserir as vozes céticas no debate desta
problemática, em que o jornalismo ambiental desponta, nitidamente, como disputa discursiva
de caráter ideológico (CARVALHO et al, 2011).
As disputas envolvendo a apropriação e legitimidade dos termos “mudanças climáticas”
e “aquecimento global” evidenciam as contestações anteriormente assinaladas. Conforme
Lakoff (2010), elas traduzem a relação entre interesses políticos e econômicos e o
enquadramento midiático. Sobre essas disputas, vale lembrar que ao empregar
deliberadamente o segundo termo na cobertura midiática o governo do então presidente dos
Estados Unidos, W. Bush, manifestou explicitamente seu objetivo em ofuscar a origem
antropogênica da questão, a fim de não afrontar questões políticas e econômicas do seu
interesse.
Lakoff (2010) observa as limitações da cobertura jornalística sobre o ambiente
relacionando o processo de enquadramento midiático ao sistema de enquadramento
ideológico no indivíduo. Conforme o autor, na comunicação ambiental, os estímulos
midiáticos são deliberadamente orientados (através da linguagem ideológica) para alinhar-se
às estruturas de cognição previamente estabelecidas entre os indivíduos, nas quais desponta,
de forma hegemônica, a ideia de natureza como algo desconectado do homem. Tais quadros
cognitivos ofuscam a percepção das interações socioambientais com o sistema econômico
vigente. É nesse contexto que, a partir do jornalismo ambiental, as instituições oficiais e as
corporações reforçam uma percepção ambiental sintonizada com práticas culturais
conservadoras, portanto, resistentes até mesmo às constatações científicas acerca das mais
diversas problemáticas ambientais. Ainda de acordo com o autor, as dificuldades da cobertura
jornalística ambiental (da comunicação ambiental em geral) em promover um novo
enquadramento da natureza e um efetivo engajamento social em favor do meio ambiente
decorrem da constante ativação desta estrutura ideológica consolidada.
Nesse sentido, Lakoff (2010) ressalta que a cobertura jornalística pautada no
esclarecimento racional dos fatos ambientais, como no caso das mudanças climáticas, é
incapaz de promover mudanças nas estruturais conceituais dos indivíduos acerca do meio
ambiente e sua problemática. O sucesso na construção de novos quadros conceituais, no
contexto da comunicação ambiental, prescinde da superação da hegemonia do sistema moral
conservador que legitima o domínio do homem sobre a natureza, a sua apropriação utilitária, a
autoregulamentação dessas atividades pelo mercado e que rejeita os discursos que denunciam
102
os impactos ambientais como consequências das práticas humanas. Assim, o autor sugere um
amplo e recorrente uso da linguagem visual (em oposição ao vocabulário técnico) e um
privilegio à cobertura com forte apelo emocional, sobretudo diante de questões do cotidiano,
ao invés de abordagens racionais em oposição ao sistema ideológico vigente. Defende-se,
portanto, outro sistema moral, menos hierárquico, centrado na responsabilidade humana, com
mais empatia pelo mundo natural, em defesa de sua preservação e em favor de uma ética
ambiental. Dado a esse caráter idealista e moral, Lakoff (2010) defende uma maior
participação dos movimentos ambientalistas na cobertura ambiental.
Novamente, é o caso das mudanças climáticas que se mostra bastante ilustrativo e
emblemático, diante dos desafios enfrentados pelo jornalismo ambiental apontados por Lakoff
(2010). Hansen (2010), ao analisar a influência da comunicação ambiental na opinião pública
e na arena política a partir do agendamento (agenda-setting), do enquadramento (framming),
da teoria do cultivo e sua hipótese da cobertura quantitativa, ressalta que a imprensa obtém
mais sucesso em estabelecer uma agenda ambiental do que na orientação de seu
enfrentamento, e que uma maior cobertura resulta em maior influência na opinião pública.
Mas, conforme o autor, a cobertura das mudanças climáticas está centrada no histerismo, na
promoção do pânico público. Assim, o privilégio por notícias assustadoras e narrativas
ameaçadoras mostra-se incapaz de estabelecer novos enquadramentos ambientais nos
indivíduos.
Contudo, no contexto em que a cobertura jornalística ambiental se mostra distante dos
interesses públicos, Corbett (2006) também alerta que a mídia se mostra conservadora,
empenhada em assegurar a legitimidade e o poder para os atores sociais dominantes. Ou seja,
de acordo com a autora, a mídia tem se mostrado como um agente de controle social, de
forma a garantir a permanência das estruturas de poder e dominação, sobretudo no contexto
das questões ambientais. Para Chapman et al (2003), os interesses editoriais resultam em
distorções deliberadas de significados daquilo que se torna divulgado. Consequentemente,
dado aos constrangimentos citados, os grupos ambientais falham em suas tentativas de
mobilização social para as mudanças estruturais necessárias.
É face à emergência da mídia online que esse contexto sofre nova transformação em
decorrência dos seus impactos no papel do jornalismo, daí Cox (2010) afirmar que a mídia
online constituiu uma alternativa relevante à comunicação ambiental, ampliando
decisivamente a oferta de informação acerca do meio ambiente, além de constituir um espaço
valioso para os grupos ambientalistas. Na verdade, com o avanço da internet o jornalismo
perde sua hegemonia enquanto fonte de informação ambiental diante da visibilidade online de
103
outras representações da natureza e de sua problemática nas mais diversas produções culturais.
Conforme destaca Friedman (2015), uma das principais contribuições da internet para o
debate ambiental foi a visibilidade de outros atores sociais (ONGs, empresas, indivíduos etc).
Neste sentido, a mídia online parece constituir uma alternativa crucial à superação das
limitações profissionais do jornalismo ambiental tradicional no que diz respeito às barreiras
normativas, éticas e estruturais (SHINAR, 2008).
Contudo, Carvalho e Pereira (2011) advertem que apesar da relevância da internet, é a
mídia hegemônica que ainda desempenha papel crucial para a atuação do movimento
ambientalista em busca de legitimidade perante a opinião pública. Para as autoras, a internet
deve ser melhor compreendida mais como uma alternativa de acesso à grande mídia
(jornalismo e televisão) do que uma nova forma de poder comunicacional. Em Scharl (2004)
também se observa essa cautela, quando o autor afirma que a internet é marcada por
desigualdades de acesso, tanto por parte da audiência, quanto por parte dos atores envolvidos
na disputa ambiental.
Friedman (2015) entende que a internet e as mídias sociais impulsionaram a
comunicação ambiental realizada pelos mais diversos atores sociais através da apropriação de
blogs, de bancos de imagens, de websites, de podcasts e de plataformas de redes sociais.
Nesse contexto, defende que, diante da crise do jornalismo tradicional, a internet também
favoreceu a expansão e a diversificação do jornalismo ambiental, sobretudo em termos de
público. Além disso, a consolidação da internet resultou em uma fonte relevante de
informações ambientais. O autor observa que o meio ambiente tornou-se destaque em
diversas publicações online a exemplo de The Huffington Post22 e do Grist23, inclusive nas
versões online de revistas que circulam em versão impressa, tais como E-The Environment
Magazine24, Earth First Journal25 e National Geographic26. Além disso, diante do baixo
22
Trata-se de um portal de notícias que agrega blogs sobre os mais diversos temas e que foi criado em 2005,
nos EUA, por Arianna Huffington e Kenneth Lerer. O portal agrupa seu conteúdo por temas, entre eles o meio
ambiente (seção Green) que, por sua vez, é subdivido em sub temas como energia, animais, Dia da Terra,
mudança climática etc. Sua versão brasileira foi criada em 2011. Atualmente, conforme dados da plataforma de
auditória de tráfego na web Alexa, o portal ocupa a 111ª posição no ranking mundial dos sites mais populares, a
33ª entre os sites mais populares nos EUA e a 400ª entre os sites brasileiros. Ver mais em
www.huffingtonpost.com/news/environment
23
Grist é um portal de notícias ambientais criado em 1999, nos Estados Unidos, e que conta com cerca de 2
milhões de seguidores. Ele desponta como uma relevante fonte de notícias ambientais sobre as mais diversas
temáticas (mudança climática, energia, política, cidade etc). Ver mais em grist.org
24
The Environment Magazine é um revista de cunho ambiental criada em 1990, quando da comemoração do
20º aniversário do Dia da Terra. A revista contempla informações acerca das mais diversas questões ambientais.
A partir de 2013 ela tornou-se disponível exclusivamente em versão digital. Em seu web site todas suas edições
estão disponíveis para download gratuito. Ver mais em www.emagazine.com
104
interesse dos agregadores de notícias por conteúdo ambiental, a exemplo do Google News e
do Yahoo News, outros serviços se destacaram (Greenwire, ClimateWire e Environmental
News Service).
Assim, apesar de manifestar problemas estruturais tradicionais, o jornalismo ambiental
na internet recebeu contribuições substanciais dos recursos multimídia e dos mecanismos de
interação com a audiência, resultando na emergência de uma cobertura mais investigativa.
Conforme o autor citado, o papel da Society of Environmental Journalist27 mostra-se crucial
para esta reorientação do jornalismo ambiental, sobretudo na superação da ênfase no medo
que ainda vigora em boa parte da cobertura jornalística.
Convém ainda observar que, conforme defende Scharl (2004), a principal contribuição
da internet para a comunicação ambiental foi a superação das abordagens ecologicamente
moralistas em favor da visibilidade de diferentes pontos de vistas e das mais diversas
dimensões das problemáticas ambientais. Além disso, o autor reconhece que na internet o
agendamento passou a ser orientado para contemplar públicos-alvo segmentados. Portanto, ao
favorecer o acesso público a informações ambientais, a comunicação ambiental online
estimulou o engajamento e a educação ambiental na audiência, aproximando-se, dessa forma,
dos preceitos da Declaração Sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento, elaborada na
Conferência RIO 91. Nesses termos, o jornalismo online possibilitou uma maior participação
de diferentes atores sociais no debate ambiental. Em linhas gerais, na trajetória histórica da
comunicação ambiental, o jornalismo é a área que mais tem dado visibilidade ao tema do
meio ambiente, embora se observe contributos da publicidade e do cinema.
Este tópico propõe uma breve análise da relação entre publicidade e debate ambiental.
Convém atentar, de partida, que face à sua relação com o imaginário popular, centralidade e
relevância na orientação dos comportamentos sociais, sobretudo com a natureza e ao mundo
25
Earth First! Newswire é um portal de notícias ambientais criado pelo movimento ambiental Earth First! cujo
foco é a preservação ambiental a partir de uma perspectiva radical, centrada na ecologia profunda – o homem
desponta como agente de perturbação dos ecossistemas. Ver mais em earthfirstjournal.org
26
A National Geographic Magazine é uma publicação da The National Geographic Society, uma organização
científica e educacional sem fins lucrativos, criada em 1888, com ênfase na conservação ambiental. Em seu
website são disponibilizadas conteúdo de suas edições impressas contando ainda com recursos de multimídia.
Ver mais em www.nationalgeographic.com
27
Trata-se de uma associação norte americana criada em 1990 e que congrega jornalistas que atuam na
cobertura ambiental. Atualmente, a The Society of Environmental Journalists, SEJ, possui mais de 1200
associados, entre jornalistas e estudantes de mais de 27 países. Sua atuação objetiva à promoção do jornalismo
ambiental. Ver mais em www.sej.org/about-sej/vision-and-mission
105
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108
popular, corporações, política etc) no empenho do consumo como forma hegemônica de vida.
Assim, na publicidade, há uma inversão da natureza que, ao invés de despontar como
oposição ao consumo, estabelece uma estratégia para encorajá-lo, a partir de estratégias de
vendas que privilegiam a conveniência e a utilidade do mundo natural para a satisfação
humana. É diante deste contexto, sobretudo marcado pela ubiquidade, que a autora vai
assinalar que as representações da natureza na publicidade são decisivas para a manutenção
de uma percepção de natureza desconectada da vida humana, ou, em outros termos,
desconectada dos problemas ambientais advindos do nosso estilo de vida. Reservadas as
especificidades, o curso da comunicação ambiental na publicidade, assim como no cinema,
deflagra um campo fértil para a discussão das questões ambientais, embora bem menos
expressivo e com pouca visibilidade frente ao campo jornalístico.
109
28
No contexto dessa tese, é importante ressaltar que a análise ecocrítica é compreendida em sintonia com a
perspectiva da comunicação ambiental apresentada por Cox (2010). Portanto, tomamos por ecocrítica as análises
da representação da natureza e de sua problemática no campo do audiovisual, e não apenas aquelas confinadas
no domínio dos estudos culturais. Contudo, atentamos para as sinalizações de Glotfelty (1996) que remonta a
Ecocrítica enquanto campo de investigação da representação da natureza e da crise ambiental originariamente
dedicado à produção literária. Conforme defende a autora, reconhecendo o pioneirismo dessa perspectiva, a
Ecocrítica deu origem ao campo da comunicação ambiental, quando o interesse pelas obras literárias estimulou
investigações acerca dos mais diversos produtos culturais de apelo popular, a exemplo do audiovisual. Assim,
quando ela revela que a preocupação geral da Ecocrítica reside na compreensão da representação da natureza e
de sua problemática, na identificação e na análise de suas estratégias de estimular posturas ambientalmente
favoráveis nos destinatários das obras, observamos que, no campo do audiovisual, esta compreensão traduz a
análise das funções constitutivas e pragmáticas sistematizadas por Cox (2010) e discutidas na seção anterior.
110
29
A obra Chinese Ecocinema: In the Age of Environmental Challenge, publicada pela Universidade de Hong
Kong, em 2009, constitui um exemplo desta perspectiva. Nela, são examinadas as representações acerca dos
conflitos relativos às políticas hídricas, das transformações das paisagens e do espaço urbano, da bioética e de
alternativas biocêntricas no cinema chinês. Ver mais em Lu & Mi (2009).
30
Uma importante discussão acerca da relação entre produção cinematográfica, consumo de recursos naturais e
seus impactos ambientais é apresentada por Bozak (2012), em The Cinematic FootPrint: Lights, Camera,
Natural Resourses. Nela, a autora observa, de forma comparativa, os impactos ambientais do cinema analógico e
do cinema "livre de carbono". Assim, a autora analisa o cinema sob a ótica da economia de energia e diante da
expansão da chamada economia da imagem.
111
daquelas apontadas por Rust e Monani (2013), sobretudo ao reconhecer o pioneirismo dos
estudos interessados na produção literária (a Ecocrítica) e a diversificação quanto às obras
contempladas (documentários, que abordam a natureza e a vida selvagem, o cinema
experimental (também chamado de cinema avant-garde), introduzindo temas de meio
ambiente; e o cinema hegemônico, com suas representações de animais e de discursos
ambientais. Portanto, evidencia-se que o ecocinema é um desdobramento da expansão do
debate ambiental na produção literária, que começou a promover perspectivas críticas sobre a
questão ambiental em outras áreas.
A partir de suas observações quanto ao desenvolvimento do campo, Ivakhiv (2008)
também se mostra consensual com Rust e Monani (2013), ao reconhecer que, no contexto da
ecocrítica, o filme revela uma capacidade de estimular na audiência uma empatia com as
representações do mundo natural. Assim, observa que devido a sua natureza espetacular e
cinemática, o filme torna-se diferenciado diante das demais mídias em termos de capacidade
educacional e de potencialidades para o despertar de uma consciência ambiental. Contudo,
Ivakhiv (2008) adverte que a economia política do audiovisual31 implica constrangimentos
quanto ao seu uso em favor de tais questões. Isto significa que, assim como o jornalismo e a
publicidade, também o cinema é orientado por questões políticas e econômicas, o que o torna
refém de interesses que, por vezes, divergem da problemática ambiental.
Na verdade, Ivakhiv (2008) realiza uma análise arqueológica da ecocrítica do cinema,
sistematizando compreensões significativas acerca das potencialidades e limitações tanto dos
documentários, do cinema hollywoodiano quanto do cinema experimental. Acerca dos
documentários sobre o mundo natural e a vida selvagem, o autor ressalta que a maior parte
dessas produções oferece uma visão distorcida da natureza, motivada, sobretudo, pelos
interesses comercias estabelecidos. Há um predomínio de representações descontextualizadas
em que determinadas espécies são privilegiadas (predomínio do carisma pela megafauna),
mas destituídas de sua complexidade e ignoradas quanto às relações e impactos decorrentes
das atividades humanas. Conforme o autor, é marcante o voyeurismo no enquadramento de
uma natureza espetacularizada enquanto objeto disponível, embora reconheça que muitos
destes filmes constituam oportunidades únicas de apresentação das espécies contempladas.
31
Ao longo desse trabalho, a economia política do audiovisual, do cinema ou da mídia assume um sentido
crítico, fortemente alinhado à perspectiva marxiana ao considerar o poder do capital sobre as relações sociais.
Portanto, assumimos que nas relações estabelecidas no contexto da produção audiovisual, e midiática em geral,
os interesses econômicos resultam em constrangimentos diversos infligidos aos profissionais relacionados, e,
consequentemente, orientam decisivamente o alinhamento ideológico das abordagens. Ver mais em PAULO
NETTO e BRAZ (2008).
112
32
No capítulo seguinte há uma exposição detalhada a respeito deste conceito.
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118
Riverglass: A River ballet in Four Seasons (1997), de Andrej Zdravic, são ilustrativas desse
contexto, em que as belezas das paisagens naturais são apresentadas em sequencias inteiras de
forma a reivindicar atenção da audiência, ainda que constituam um desafio de leitura ao
próprio filme. De forma geral, esta exploração não convencional se empenha na promoção de
um sentido de preservação para determinados lugares, espaços e espécies.
Acresce a isso, que tal utilização das paisagens naturais também funcionou como
estratégia para instigar o sentimento de pertencimento, de preservação dos recursos naturais,
sobretudo em relação aos rios dos Estados Unidos, que foram constantemente retratados em
vários filmes experimentais. De acordo com MacDonald (2004), em comum, estas produções
subverteram as convenções hollywoodianas, usando planos longos, silenciosos e em preto e
branco para enquadrar a natureza. Nesse contexto, o autor vai destacar as estratégias criativas
do cinema avant-garde norte americano nas décadas de 1960 e 1970, valorizando,
nomeadamente, Peter Hutton36 e suas obras In Titan´s Goblet (1991) e Study of a River (1997).
Hutton ocupou-se do rio Hudson, explorando a contradição marcada pela intensa exploração
industrial (instalação de cais, pontes, parques industriais, usinas de energia) e pela existência
de áreas ainda intocadas. Posicionando-se criticamente a respeito da harmonia entre homem e
natureza, Hutton explorou os conflitos relativos aos usos do rio, denunciando-os como
ameaça ao seu futuro a fim de estimular desdobramentos políticos a partir do engajamento da
audiência.
De forma geral, MacDonald (2004) destaca, por parte da avant-garde norte-americana,
a busca por novas representações fílmicas criativas, sobretudo na construção de narrativas.
Em realizadores como James Benning37 a preferência pela geografia americana resultou em
explorações visuais inusitadas acerca do tempo e do espaço, a partir do contraste entre
paisagens sociais e paisagens naturais. Assim, em obras como 11x14 (1977), One Way Boogie
Woogie (1977), Grand Opera: An Historical Romance (1978), Deseret (1995) e sua trilogia
de documentários sobre a Califórnia, El Valley Centro (1999), Los (2001) e Sogobi (2002), a
paisagem é direcionada como elemento de engajamento com diversos temas e problemas
sociais, sobretudo os ambientais. Tais obras, fazendo uso não convencional do som e da
montagem, enfatizam as transformações da geografia, celebrando sua exuberância, e ao
mesmo tempo, expondo a degradação ambiental a que foram submetidas, resultado das
disputas entre os mais diversos atores sociais. Para MacDonald (2004), o cinema experimental
destaca-se por produções orientadas pela “consciência ambiental”, empenhadas em evidenciar
36
Ver mais sobre o realizador em http://www.imdb.com/name/nm0404660/?ref_=fn_al_nm_1
37
Ver mais sobre esse realizador em http://www.imdb.com/name/nm0072159/
119
a exploração das áreas selvagens e também em denunciar os impactos sobre a vida selvagem
decorrentes da produção industrial. Conforme o autor, é importante observar que no cinema
experimental, a própria opção por filmes curtos e em 16mm ao invés da bitola de 35mm,
traduzia uma consciência ambiental que permeava seus realizadores, os quais produziam os
seus filmes adotando uma postura de menor impacto ambiental.
Se Ingram (2010) é revelador da diversidade da temática ambiental manifestada no
cinema hollywoodiano, em Brereton (2005) observamos especificidades nas representações
da natureza relativas a gêneros específicos, nomeadamente o Western, os Road Movies, os
precursores da ficção científica (filmes B38 da década de 1950) e os filmes de ficção científica
realizados mais recentemente. Convém ressaltar que a perspectiva de ecocinema adotada pelo
autor é mais ampla que aquela adotada por Ingram (2010), contemplando tanto filmes em que
a natureza desponta em primeiro plano da narrativa (orientada a estimular uma reflexão
ambiental) como também aqueles em que ela é apenas pano de fundo para os conflitos
melodramáticos.
De forma geral, nos filmes em que o meio ambiente é explicitamente representado,
Hollywood privilegia representações românticas, de forma a estabelecer, conforme ressalta
Brereton (2005), uma celebração terapêutica de uma natureza pura e sagrada em oposição a
uma realidade marcada por sua intensa apropriação e transformação pelas sociedades
industriais contemporâneas. Nesse contexto, em que os efeitos especiais asseguram esta
perspectiva, o cineasta Steven Spielberg é assinalado como expoente da internalização de
aspectos ecológicos no cinema mainstream (embora suas obras nem sempre resultam em
estímulo direto sobre a audiência), perspectiva semelhante a que observamos anteriormente
em Ivakhiv (2008). Jurassic Park: Parque dos Dinossauros (1993) é novamente celebrada
como uma das mais relevantes representações ecológicas – no contexto hollywoodiano, em
sua distopia acerca da interferência humana sobre a natureza, ainda que sua continuação (O
Mundo Perdido: Jurassic Parque, de 1997) apresente um encerramento utópico centrado na
necessidade de livrar o mundo natural da interferência humana. Para o autor, filmes inseridos
nessa perspectiva exploram representações da natureza como benevolente e favorável ao
nosso envolvimento, mas também como ameaçadora.
Brereton (2005) reconhece que há valiosas representações da natureza em filmes
westerns e em road movies realizados a partir da década de 50, considerando-os precursores
38
Na discussão do autor, o termo designa filmes de baixo orçamento que foram produzidos neste período
sobretudo contemplando temas fantásticos e apelativos, os quais despontam como os precursores dos filmes de
ficção científica.
120
dos filmes ambientais contemporâneos. Ressalta que ambos os gêneros celebram a paisagem
em sua configuração romântica, mas orientando perspectivas distintas. Em filmes westerns a
paisagem está aberta ao desbravamento e às aventuras do homem (o herói branco) em busca
de constituir uma nova civilização. Em geral, ela é inicialmente revelada em sua beleza e
bondade, em seguida se transforma em ameaça e desafio. Conforme o autor, diferentemente
de produções anteriores, a partir de 1960 a representação estereotipada dos povos nativos
(como selvagens irracionais e violentos) cedeu espaço para narrativas empenhadas em
evidenciar o saber ecológico dos povos nativos como ideal de relação com o mundo natural.
Brereton (2005) destaca como exemplos obras como Rastros do Ódio (1956)39 e Dança com
Lobos (1990).
Para Murray e Heumman (2009), nesse gênero as representações do ecoterrorismo no
cinema hegemônico são mais substanciais, uma vez que elas tanto vilanizam os agentes
empreendedores da degradação do ambiente como também buscam estabelecer uma
alternativa política para as questões relacionadas, sobretudo a partir da eliminação dos agentes
da degradação mediante uso da força e da violência como forma de conter a degradação em
um momento marcado pelas limitações dos sistemas legais vigentes. Conforme os autores,
vários desses filmes contemplam contextos de exploração ambiental no século XIX,
sobretudo a partir da perspectiva da sustentabilidade ambiental contemporânea. O Cavaleiro
Solitário (1985), de Clint Eastwood, é referenciado como exemplo dessa abordagem,
envolvendo as disputas pela exploração de ouro, opondo práticas extremamente impactantes
como a mineração hidráulica, adotadas pelos grandes exploradores, e aquelas de caráter
sustentável, adotadas pelos pequenos mineradores.
Acerca dos road movies, é o papel das paisagens40 (e do mundo natural em geral)
sobre o indivíduo que se mostra ambientalmente relevador nas viagens e jornadas em busca
do autoconhecimento. Conforme observa Brereton (2005), sob influência direta dos
movimentos contra culturais norte americanos da década de 1960, em muitos desses filmes é
nítida a rejeição à tecnologia, à vida urbana e a diversos aspectos e valores culturalmente
39
Sob o título original The Searchers (1956), o filme foi dirigido por John Ford e trata da questão dos
costumes e do racismo relacionado aos índios que habitavam os Estados Unidos.
40
Em Cinema and Landscape, Rayner e Harper (2010) observam que as representações de paisagens no
cinema visam explorar os seus mais diversos significados culturais. Conforme os autores, as paisagens
cinematográficas estão sujeitas a uma percepção direta, quando de sua representação literal, metonímica, quando
os elementos descritos almejam dotá-las de significados específicos, ou metafórica, quando almejam associar as
paisagens a questões relacionadas a outros planos sociais. Nesse sentido, observamos que no cinema as
paisagens podem representar valores e desejos diversos, além de mostrarem-se relevantes à compreensão da sua
exploração por parte do homem e também dos mais diversos aspectos culturais representativos de um
determinado país. Ver mais em Rayner e Harper (2010).
121
hegemônicos por parte dos protagonistas que se lançam na estrada em busca de novos valores
e também de liberdade – a contemplação e o envolvimento com a paisagem é crucial para tal
objetivo. Percebe-se, portanto, que a partir desse envolvimento metafísico com a natureza,
road movies manifestam, ainda que de forma indireta, questões relativas à busca por
legitimidade na exploração e controle do mundo natural. Sem Destino (1968)41, Thelma &
Louise (1991) 42 , Grand Canyon: Ansiedade de uma Geração (1991) 43 e História Real
(2000)44 são ilustrativos desse contexto.
Filmes de ficção científica e thrillers de conspiração 45 são, de forma geral,
reconhecidos por privilegiarem representações acerca das interações entre homem e
tecnologia, por isso Brereton (2005) reconhece em tais gêneros uma afinidade para acomodar
questões ecológicas. Conforme o autor, a partir de 1950 os filmes B manifestaram críticas ao
domínio da natureza em favor do progresso das sociedades, sobretudo no contexto de Guerra
Fria, marcado pela constante ameaça nuclear. Muitos desses filmes exploraram o que o autor
denomina de eco paranoia (medo de ameaças químicas, nucleares, abusos ecológicos), uma
abordagem que foi vigorosa até a década de 1970. Brereton (2005) acredita que a emergência
de uma perspectiva holística do planeta (após publicação de fotos da terra vista do espaço)
influenciou decisivamente o gênero, quando questões relacionadas ao crescimento
populacional e à escassez de alimentos e recursos, tornaram-se recorrentes em narrativas
como No Mundo de 2020 (1973)46 e Fuga no Século 23 (1976)47. Questões relacionadas à
necessidade de uma eco harmonia cósmica também foram exploradas, a exemplo de O
incrível homem que encolheu (1957) 48 e, mais tarde, em Contato (1998), além da eco-
conspiração despontar em filmes mais recentes, a exemplo de A morte vem do céu (1982)49
41
Easy Rider (1968) é o título original desse filme que retrata a saga de dois motoqueiros pelo sul dos Estados
Unidos.
42
Dirigido por Ridley Scott, o filme trata da história de duas amigas que encontram na estrada a saída para a
monotonia de suas vidas.
43
Dirigido por Lawrence Kasdan é uma drama sobre pessoas enfrentando suas crises pessoas, retratados de
forma interligada.
44
Seu título original é Real The Straight Story, filme que retrata crônicas acerca da jornada de sua personagem
central pelo interior dos Estados Unidos.
45
Conforme o autor, o gênero thriller é marcado pelo suspense e pela tensão, sendo o thriller de conspiração
um subgênero que estabelece uma narrativa em que o protagonista necessita desvendar algum segredo, o que
culmina em ameaça aos conspiradores. Há, em grande medida, uma nítida oposição entre vilões e heróis nestas
tramas.
46
Soylent Green é o título original desse filme dirigido por Richard Fleischer e que retrata a Terra em um
contexto futuro, marcado por profundas crises ecológicas e sociais.
47
Trata-se da versão brasileira do título original do filme Logan´s Run. O filme retrata o planeta Terra em um
contexto marcado pela abundância e pela qualidade de vida, contudo, 30 anos é a idade máxima permitida para
assegurar a manutenção dessa situação.
48
O filme, dirigido por Jack Arnold, contempla uma narrativa acerca do impacto da contaminação radioativa
sobre os humanos, representando uma personagem que, exposto a radiação, encolhe e se torna vulnerável.
49
Dirigido por Alan Rudolph, seu título original é Endangered Species.
122
123
Heumann (2009), filmes como o documentário The River (1937)50, de Pare Lorentz, e a ficção
Rio Violento (1960)51, de Elia Kazan, ambos inscritos no contexto do New Deal52, estavam
empenhados em legitimar as políticas norte-americanas de construção de barragens para
controle de inundações. Para esses autores, tais filmes, contando com financiamento público,
defendiam as barragens como forma de controlar os rios e assegurar o progresso econômico, e
são valiosos por que exploram políticas públicas relativas ao uso da terra e da água, diante das
graves consequências da ação humana sobre o ambiente, apesar de celebrarem o controle da
natureza pelo homem. Convém atentar que em Rio Violento as inundações às margens do
Tennessee são representadas como fenômenos naturais, enquanto em The River são vistas
como degradação decorrente da ação humana. Em um contexto mais recente, essa última
perspectiva é observada na série de documentários Os Diques se Romperam (2006)53, de
Spike Lee, quando o diretor destaca os impactos do furacão Katrina em New Orleans, no ano
de 2005, discutindo acerca das responsabilidades e do papel do governo diante da questão.
Ainda conforme os autores, a aproximação de Hollywood com os movimentos
ambientais nos anos de 1970 resultou em uma série de produções centradas na representação
de perspectivas apocalípticas sobre uma diversidade de questões ambientais. É importante
perceber que se trata, antes de tudo, de uma estratégia dedicada a assegurar sucesso de
bilheteria a partir da exploração de questões ambientais. Uma narrativa típica desse período
envolvia uma forte nostalgia relativa a tempos anteriores em que a Terra era celebrada como
sublime e primitiva diante de um cenário futuro, em que o planeta se encontrava ameaçado
em decorrência do progresso e da tecnologia. Conforme Murray e Heumann (2009), todas
essas abordagens centravam-se em eco heróis que se auto-sacrificavam para restabelecer a
ordem ambiental, além de suscitarem na audiência uma reflexão acerca de sua contribuição
ecológica e do contexto político, sobretudo no sentido de alertar para a necessidade de
controle da tecnologia. Nesse período, filmes como No Mundo de 2020 (1973) contemplaram
questões relacionadas à explosão demográfica e à crise de alimento; Corrida Silenciosa
(1972) focou os impactos da devastação das florestas; e A Última Esperança da Terra
50
Trata-se de um documentário acerca da relevância do rio Mississipi, observando sua degradação em favor da
promoção do progresso no contexto da Grande Depressão americana.
51
Com o título original Wild River, o filme retrata os conflitos e disputas em torno da construção de barragens
ao longo do Rio Tennessee, durante à década de 1930.
52
O New Deal compreende as políticas de intervenção estatal implementadas nos Estados Unidos, no período
entre 1933 e 1937, sob o governo de Franklin Delano Roosevelt. Tais políticas almejavam resgatar a economia
dos Estados Unidos da grande crise instaurada pela Grande Depressão. Foi um período marcado por grandes
investimentos em obras públicas, pela intervenção do Estado na economia estabelecendo uma política de
controle de preços e pela criação de diversas agências federais.
53
Com o título original When the Levees Broke: A Requiem in Four Acts, a série contou com cinco episódios
que foram veiculados na rede HBO de televisão.
124
54
Com o título original Omega Man, o filme, dirigido por Boris Sagal, retrata um contexto em que o planeta
Terra é acometido por uma guerra biológica que resulta em grave ameaça aos humanos.
55
Dirigido por Danny Boyle, com o título original de 28 Days Later, o filme retrata um contexto em que
pesquisas cientificas realizadas com macacos terminam por constituir uma grave ameaça, quando animais
infectados põem em risca a vida humana.
56
Sob o título original The Day After Tomorrow e contando com a direção de Roland Emmerich, o filme
retrata o planeta em um contexto marcado pelos impactos das alterações climáticas.
57
Children of Men é o título original desse filme que teve como diretor Alfonso Cuarón. Sua trama retrata um
futuro em que as mulheres se tornaram inférteis e que a permanência humana se torna ameaçada.
58
The Toxic Avenger é uma obra que explora comédia, terror e ficção científica. Dirigido por Michael Herz e
Lloyd Kaufman, o filme retrata uma vítima da contaminação química que adquiri superpoderes, tornando-se o
vingador tóxico que luta para combater o crime.
59
Naked Gun 2 ½ é uma comédia dirigida por David Zucker, mais conhecida pela atuação de Leslie Nielsen e
Priscilla Presley. O filme retrata os conflitos em torno do uso e das descobertas de formas alternativas de energia,
sobretudo explorando os interesses da indústria petrolífera.
60
Who Framed Roger Rabbit é um filme que mescla animação e ação ao vivo, dirigido por Robert Zemeckis e
por Richard Williams. O filme retrata a interação entre personagens dos dois mundos, em uma trama em que
compostos químicos de extrema toxidade despontam como ameaças aos personagens do mundo dos cartoons.
61
Com o título original Eight Legged Freaks, o filme, dirigido por Ellory Elkayem, reúne terror, comédia e
ação, retratando aranhas contaminadas por radiação decorrente de um acidente tóxico como monstros que
ameaçam a população de uma pequena cidade.
125
Segunda Guerra Mundial, apesar dos alertas recorrentes dos impactos ambientais dai
decorrentes. Nomeadamente, são os filmes que celebram a cultura do automóvel os principais
alvos da crítica de Murray e Heumman (2009). Para eles, tais produções permanecem
centradas na defesa de uma transformação das paisagens naturais (construção de estradas) e
no consumo de recursos (combustíveis fósseis), sem oferecer questionamentos acerca dos
impactos ambientais (aquecimento global, escassez de combustíveis fosseis, entre outros).
Assim, ignoram totalmente o ambiente natural outrora existente, além das consequências da
cultura instaurada em favor de uma supervalorização do consumo (automóveis, acessórios
automotivos, vídeo games, roupas e produtos diversos) como forma de empoderamento e
diversão. Os filmes Velozes & Furiosos62, tanto a versão de 1955 quanto a de 2001, e suas
continuações +Fast +Furious (2003) e Velozes & Furiosos: Desafio em Tokyo (2006) são,
conforme os autores, exemplos de produções ambientalmente irresponsáveis, pois
representam a degradação ambiental como uma consequência necessária ao progresso, à
democracia e à liberdade. E, sendo assim, naturalizam a violência contra o meio ambiente, tão
presente na vida moderna.
Finalmente, observamos a questão relacionada ao alinhamento entre discurso
ambiental no contexto da narrativa e das práticas de produção cinematográfica hollywoodiana.
De acordo com Murray e Heumann (2009), é com o documentário Uma Verdade
Inconveniente (2006) que este alinhamento vai se estabelecer, embora apareça mais como um
caso específico do que uma tendência. Para os autores, a produção resgata a nostalgia que
marcou os filmes da década de 1970 para representar a complexa problemática acerca das
mudanças climáticas. Contudo, observam que essa nostalgia assume novos contornos, uma
vez que ela decorre do resgate de eco memórias coletivas (imagens do planeta visto do
espaço) e individuais (imagens da família de Al Gore em contato com o mundo natural),
como forma de evidenciar a degradação ambiental e conectar apelo emocional e
conhecimento científico em torno do fenômeno. Assim, apesar de constituir um documentário,
a obra se mostra complexa ao articular elementos dos filmes de eco desastre e de eco
conspiração. Além disso, de acordo com os autores, trata-se de uma produção que adotou na
prática o discurso ambiental, resultando de uma parceria entre a Paramount e a empresa
NativeEnergy 63 , responsável pelo cálculo da sua pegada de emissão de carbono e por
62
A versão de 2001 de The Fast and the Furious foi dirigida por Rob Cohen e trata de gangues que disputam
corridas de ruas. Seu homônimo de 1955, dirigido por John Ireland e Edward Sampson, retrata um homem em
fuga da polícia e que participa de uma corrida de carro para ter sucesso em seu objetivo de chegar ao México.
63
A NativeEnergy é uma empresa fundada no ano de 2000, nos Estados Unidos, com o objeto de oferecer
consultoria empresarial para orientar na adoção de práticas sustentáveis de produção de forma a neutralizar as
126
emissões de carbono. Além de estimular a adoção de medidas compensatórias, como o plantio de árvores, a
empresa também recorre a medidas mitigatórias a exemplo do uso de fontes de energia renovável,
reaproveitamento de água, reciclagem de material etc. Entre os principais clientes atendidos estão o ebay,
National Geographic, Timberland, Paramount Films, Walt Disney Company etc. Ver mais em
www.nativeenergy.com/home.html
127
sinalizando que prevalecem representações em que o mundo natural é desenhado como plano
secundário, constituindo apenas cenário para os filmes, e também de forma estereotipada em
que a natureza selvagem ameaçada e onipresente suporta os conflitos maniqueístas em que
heróis e vilões disputam sua conquista ou o seu salvamento. Para a autora, é apenas em um
reduzido número de filmes que a natureza assume um plano principal das narrativas, muito
embora permeada de significados antropocêntricos.
Uma segunda generalização delimitada pela autora ressalta que a maioria dos filmes
que enfatiza a natureza termina por privilegiar animais. Trata-se de uma descontextualização
que cria predileções a determinadas espécies de forma simplista (usualmente o topo da cadeia
alimentar), ignorando suas especificidades e interações com o ecossistema. Além disso, tais
narrativas apresentam resoluções bastante simplistas ao associar o salvamento de um
indivíduo ao de toda a espécie. Para Corbett (2006), as representações fílmicas do mundo
natural resultam em estereótipos e distorções da realidade ambiental das espécies retratadas,
sobretudo acerca do comportamento de muitas delas, o que leva o público a ignorar que o
enquadramento fílmico não traduz o mundo natural, mas sim uma representação atípica e
artificial. Nesse sentido, a intimidade estabelecida através do enquadramento da câmera
desponta como autêntica para a audiência, sobretudo em filmes documentários sobre a vida
selvagem. Conforme a autora, é importante observar que tais representações simbólicas da
natureza predominam sobre a experiência direta com o mundo natural, mas apresentam
lacunas quando ignoram as interações entre a vida selvagem e os seres humanos.
Finalmente, Corbett (2006) apresenta uma terceira generalização acerca da
comunicação ambiental no cinema: o uso da câmera como narrador resulta em uma percepção
distorcida da realidade. Embora desponte como um observador imparcial do mundo natural,
seja em filmes sobre a vida selvagem ou mesmo filmes de ficção, a câmera e as escolhas de
enquadramento resultam em fragmentação e objetividade, destituindo a percepção acerca das
inter-relações existentes para além do foco do enquadramento e, nesse contexto, até mesmo os
eventos naturais raros são exibidos como recorrentes. Para Corbett (2006) o enquadramento
reforça o domínio humano sobre a natureza, e, já que ele traduz o ponto de vista humano,
frequentemente representa uma forma de conquista da natureza. Ainda conforme observa a
autora, seja no cinema animado, no documentário ou na ficção, a sobrevivência da natureza se
encontra sempre na dependência do salvamento ou da conquista humana.
Acerca da categorização da temática ambiental no cinema, Corbett (2006) propõe uma
tipologia que contempla nove categorias temáticas, são elas:
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Vale ressaltar que tal tipologia, em conjunto com outros elementos e abordagens,
servirá de orientação para a elaboração dos indicadores da análise de discurso das animações
contempladas nesse trabalho, e que serão, posteriormente no último capítulo, analisadas. É
coerente, porém, enfatizar sobre essa tipologia que é apenas na última categoria que Corbett
(2006) se refere aos filmes de animação, ignorando que as demais temáticas também se
relacionem a tais produções, conforme discutiremos na seção seguinte. A autora destaca
filmes como Procurando Nemo (2003), Formiguinhas (1998), Bambi (1942), FernGully: A
última Floresta Tropical (1992) e Rei Leão (1994) enquanto representações relevantes acerca
dos ecossistemas, mas adverte que terminam por atribuir motivações humanas às ações das
personagens. Para Corbett (2006), essa apropriação antropomorfizada da natureza a partir do
cinema animado é sempre idealizada e perigosa, uma vez que termina por sustentar uma
perspectiva dominante (supremacia do homem sobre a natureza, e o mundo natural que
necessita ser salvo, gerenciado ou estudado). Assim, observa que o cinema de animação
também resulta em sérias distorções na compreensão simbólica da natureza. De forma geral,
quando confrontadas com a realidade natural, as construções da natureza no audiovisual
muitas vezes resultam em choque e até mesmo em decepção da audiência.
Diante do exposto nas seções anteriores, a comunicação ambiental deve ser
compreendida como um campo de disputas discursivas em que a problemática ambiental
assume os mais diversos tipos de enquadramentos e perspectivas. Assim, são os mais diversos
atores sociais que buscam legitimidade pela definição hegemônica acerca das questões
ambientais. Hannigan (2009) observa que, diante dessa multiplicidade discursiva, a
comunicação ambiental assume seis enfoques principais: objetivismo científico (ênfase na
neutralidade apoiando-se em argumentos científicos); engajamento (ênfase nos dramas e
impactos sociais manifestando uma perspectiva social e política); econômico
(compatibilização entre crescimento econômico e proteção ambiental); conflitos (disputas
entre ambientalistas e seus opositores com forte negativação social dos primeiros);
apocalíptico (ênfase nas metáforas médicas para destacar o estado terminal do planeta);
institucional (meio ambiente como política pública permeada pelo debate entre políticos e
cientistas). Para Hannigan (2009), o principal desafio da comunicação ambiental passa pelo
abandono do enfoque pontual e do conflito em favor do reconhecimento de suas
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proposta por Fairclough (2001), uma vez que no contexto da comunicação ambiental são
valorizadas as relações entre discurso, poder e ideologia ambiental, e também a dialética entre
discursos e constituição dos sujeitos e das estruturas sociais. Além disso, elas também
dialogam com a abordagem do discurso proposta por Maingueneau (1984), em que este
desponta como sistema geral que orienta as produções de enunciados em um dado contexto
histórico. Embora se oponha a Fairclough (2001), reconhecendo no sujeito um papel passivo
diante dos discursos, Maingueneau (1984) é esclarecedor acerca da atuação dos discursos nas
mais diversas dimensões sociais, constituindo as entidades do mundo físico, os sujeitos, as
relações e as estruturas conceituais.
Fairclough (2001) concebe o discurso como uma prática social, despontando
simultaneamente como uma forma de agir sobre o mundo e um processo de representa-lo e de
significa-lo, de modo a construir as identidades sociais (ethos) e as posições de sujeitos, as
relações sociais e também os sistemas de crenças e de conhecimento. Assim, enquanto prática
social, o discurso encontra-se enraizado nas estruturas sociais, assumindo uma relação
dialética com as mesmas, uma vez que ele tanto decorre dessas estruturas - contribuindo para
sua reprodução, como também assegura sua condição de existência - incorrendo em sua
transformação. Nesse contexto, é a linguagem que constitui o plano através do qual o discurso
opera na construção e significação de mundo, nomeadamente através das interações entre suas
funções ideacional (os sistemas de crenças e conhecimento), identitária (as posições dos
sujeitos) e relacional (as relações sociais).
O que se torna central no pensamento do autor é o reconhecimento do discurso em sua
capacidade de transformação social e também de orientar as práticas políticas e ideológicas.
Fairclough (2001) valoriza a relação entre discurso e instituições, considerando que são as
estruturas sociais materiais e concretas que orientam a prática social a partir da constituição
discursiva da sociedade. O autor defende que as instituições e as estruturas sociais são dotadas
de convenções e normas (ordens do discurso) que sustentam práticas discursivas (produção,
circulação e interpretação dos discursos) as quais, por sua vez, orientam práticas sociais sob
os mais diversos domínios. Tais práticas discursivas são então naturalizadas, mas não isentas
de contestações e lutas que podem resultar em mudanças sociais e culturais, ou seja, as
mudanças nas práticas discursivas podem incorrer em mudanças nas próprias instituições.
Evidente se torna, nessa dialética entre prática discursiva e estrutura social, que as mudanças
de linguagem relacionam-se com mudanças nas estruturas sociais. Além disso, essas
potencialidades contraditórias resultam das interelações entre ordens de discurso locais e
societárias, sobretudo em função do grau de naturalização das convenções ai estabelecidas.
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Em síntese: as estruturas sociais definem as práticas dos seus membros, mas tais práticas
também podem afetar as estruturas, suas relações e as lutas sociais.
Fairclough (2001) também reconhece que os discursos podem ser permeados por
relações de poder, estabelecendo significados de mundo assentados em tais relações. Nesse
sentido, devemos perceber que as práticas discursivas se esforçam para naturalizar
determinada relação de poder e sua ideologia, ou para neutralizar tais relações a partir da
contestação e da luta. Portanto, é em torno das práticas discursivas que as disputas ideológicas
se configuram, ora em termos da hegemonia, ora na luta contra hegemônica. Assim, as
práticas discursivas são decisivas para a constituição ideológica dos sujeitos, sendo as
ideologias compreendidas pelo autor enquanto significações da realidade construídas sob
várias formas e sentidos das práticas discursivas e que empenham na produção, manutenção
ou contestação das relações de poder e domínio. É, portanto, a ordem ideológica que
estabelece os contrastes discursivos, diferenciando entre aqueles empenhados em assegurar a
reprodução das estruturas sociais (da ordem de discurso) e aqueles de caráter transformador.
Para o autor, diferentemente de Althusser, é preciso reconhecer que os sujeitos não são
ideologicamente assujeitados, pois são capazes de reagir de modo a reestruturá-las, além disso,
são constituídos por um complexo ideológico permeado por uma diversidade de perspectivas.
Ainda acerca da relação entre discurso e poder, o autor apoia-se na noção de
hegemonia de Gramsci que a concebe enquanto forma de dominação da sociedade, seja na
esfera econômica, política, cultual ou ideológica. Trata-se de um processo consolidado através
de alianças e consentimento, mas que constitui um contexto instável, suscetível às investidas
das lutas hegemônicas. Dessa forma, é no limite da ordem de discurso que a luta hegemônica
se configura e reflete sua instabilidade de modo que esta luta é traduzida na prática discursiva.
Para Fairclough (2001), em um determinado discurso, suas relações de poder estão sempre
relacionadas às hegemonias vigentes, revelando, portanto, o investimento ideológico de suas
práticas discursivas. Nesse contexto, conforme o autor, as mudanças discursivas resultam dos
dilemas e contradições entre as convenções estabelecidas pelas práticas discursivas
hegemônicas e aquelas reivindicadas pelas novas perspectivas, sobretudo quando tais
contradições repercutem nas estruturais sociais, resultando na reconfiguração das convenções
vigentes (ordem de discurso).
Fairclough (2001) ainda ressalta a hegemonia como decisiva na orientação da relação
que um discurso estabelece com os demais discursos e seus textos – com a representação dos
outros discursos. Assim, destaca que ela delimita as possibilidades intertextuais – as relações
que um texto estabelece com seus antecedentes e subsequentes, e também suas relações
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quais são então produzidos em conformidade com esse sistema – a superfície discursiva.
Além disso, o autor reconhece o discurso como um processo histórico que o define e redefine
enquanto espaço de regularidades enunciativas.
Para Maingueneau (1984) o discurso é constituído em um processo dialógico com
outros discursos em circulação, estabelecendo alianças ou concorrências com as diversas
formações discursivas relacionadas a uma mesma função social. Há, portanto, uma ênfase na
heterogeneidade constitutiva relativa a este dialogismo, uma vez que é o interdiscurso – o
diálogo com outros discursos, que estabelece a relação entre o discurso e os demais,
delimitando o dizível e o interdito que constituirá seu sistema semântico. Uma vez constituído
aquilo que pode e deve ser dito (a formação discursiva), o discurso ganha suporte linguístico e
assume competência discursiva, o que lhe permite a produção de enunciados (a manifestação
linguística) filiados, sobretudo pelo uso de dispositivos retóricos e pelas apropriações de
gêneros e estilos. Nesse sentido, é nítida a distinção entre discurso como sistema de restrições
semânticas, e discurso como suporte linguístico.
Ainda conforme o autor, um mesmo sistema de restrições semânticas pode acomodar
diferentes discursos em função das transformações que empreendem em suas estruturas. Em
cada caso, emerge uma semântica global que caracteriza e especifica o discurso em suas
várias dimensões, seja na intertextualidade (relações com outros textos), seja no vocabulário
(privilégios e disputas pelo uso de termos) ou nos temas contemplados, sendo estes os palcos
das disputas entre discursos conflitantes. Acerca da validade de um discurso, Maingueneau
(1994) ressalta que esta decorre da sua subjetividade enunciativa, qual seja sua condição de
estabelecer um estatuto entre enunciador e destinatário. Logo, é a partir da chamada cena de
enunciação – localização espaço-tempo em uma enunciação, que um discurso assegura sua
autorização e sua legitimidade. Para o autor, é neste contexto que o discurso assume o modo
de dizer (modo de enunciação) de suas enunciações, sobretudo manifestando-se a partir dos
gêneros privilegiados, e também estabelece uma forma de estar no mundo – orientando as
relações entre os sujeitos.
Acerca das negociações e conflitos entre discursos, Maingueneau (1984) valoriza o
interdiscurso, observando que o processo de interação semântica entre eles recorre a
estratégias distintas no que diz respeito a interpretação que um discurso faz acerca dos outros.
Assim, revela-se que a tradução que um discurso empreende sobre outro assume um caráter
de simulacro, traduzindo-o sob seus próprios termos, seja evocando-o criticamente
(dialogismo), seja rejeitando diretamente (estabelecendo polêmica) seu sistema de restrições
semânticas.
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questões ambientais, e também suas implicações, assumem um caráter simbólico, pois são
construídas, interpretadas, discutidas e analisadas, seja com o objetivo de estabelecer políticas
ambientais, seja no sentido de orientar estilos de vidas.
Em linhas gerais, Dryzek (2004) observa os discursos ambientais como disputas pela
apropriação/defesa do mundo natural, sendo então marcados pelo direcionamento de críticas
aos discursos oponentes. Assim, ressalta que essas diferentes formas de perceber as
problemáticas ambientais, a despeito da intensa rivalidade, estabelecem pouco diálogo, apesar
da complementariedade existente. Além disso, quanto aos seus impactos e desdobramentos,
observa que os discursos ambientais podem resultar em políticas do ambiente, seja no âmbito
governamental, seja no âmbito institucional, e também incidir diretamente no nível individual,
resultando em impactos culturais sem necessariamente passar pela esfera política, a exemplo
dos movimentos ambientalistas que reivindicam mudanças nos estilos de vida de forma a
estimular a adoção de práticas ambientalmente favoráveis.
Acerca do contexto atual, o autor observa que é o industrialismo o discurso dominante
na arena ambiental, orientando uma representação/apropriação utilitária da natureza em favor
do crescimento econômico e da produção material. Dessa forma, Dryzek (2004) defende que
os discursos ambientais que emergiram com maior diversidade na década de 1960 são mais
bem percebidos se consideradas suas posições diante da hegemonia do industrialismo, sejam
eles reformistas, quando endossam a lógica social vigente sem reivindicar mudanças
estruturais, sejam radicais, quando denunciam a incompatibilidade entre capitalismo e meio
ambiente, suscitando mudanças nas instituições sociais. Além dessa gravitação em torno do
industrialismo, o autor observa que os discursos ambientais também se diferenciam na forma
como percebem as questões ambientais, sejam elas encaradas como constrangimentos à
política e à economia industrial (discursos prosaicos), sejam como oportunidades para sua
manutenção (discursos imaginativos). Sob essa perspectiva, são duas as dimensões para
classificar os discursos ambientais: na primeira, em relação ao industrialismo, eles podem ser
reformistas ou radicais; na segunda, em relação às questões ambientais, podem ser prosaicos
ou imaginativos.
Assim, Dryzek (2004) propõe quatro principais categorias de discursos ambientais:
discursos centrados na resolução de problemas ambientais a partir de ajustes políticos e
econômicos, a exemplo da adoção de uma legislação ambiental (reformista e prosaico);
discursos focados no reconhecimento/negação de limites ambientais dos ecossistemas para
atender as necessidades humanas (radical e prosaico); discursos da sustentabilidade sinalizam
para a manutenção do crescimento econômico a partir da internalização do meio ambiente de
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Tabela 01: Alinhamento dos discursos ambientais Dryzek (2004) e Corbett (2006)
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diversos termos e conceitos para designar ações, problemas ou entidades naturais, os quais
são postos em circulação no contexto da comunicação de mensagens ambientais. Através das
construções simbólicas, essa disputa discursiva se manifesta no plano da língua, quando os
atores sociais relacionados recorrem aos diversos meios de comunicação e entretenimento na
tentativa de moldar percepções e atitudes da sociedade acerca do meio ambiente.
As considerações acerca dos discursos ambientais em Dryzek (2004), Corbett (2006) e
Cox (2010) alinham-se as perspectivas de Fairclough (2001) e Maingueneau (1984), uma vez
que tais discursos são reconhecidos em seu papel constitutivo de nossos sistemas de crenças e
conhecimento sobre o mundo natural, e também na orientação de nossas relações com a
natureza. A disposição dos discursos ambientais em termos ecocêntricos e antropocêntricos
proposta por Corbett (2006) enfatiza orientações discursivas acerca da natureza marcadas pela
oposição: uma reconhece a subjetividade da natureza, rejeita a superioridade do homem sobre
a mesma e suscita relações pautadas pela ética ambiental; a outra reconhece a natureza apenas
enquanto recursos disponíveis para a satisfação humana, portanto, destituída de diretos.
Na discussão de Dryzek (2004), o que se torna mais evidente é exatamente a dialética
entre discursos ambientais, estruturas sociais e relações de poder estabelecidas através desses
discursos, uma vez que sua tipologia ressalta diferentes reivindicações de mudanças nas
estruturas econômicas e políticas das sociedades modernas, sejam elas pautadas em ações
reformistas empenhadas em assegurar o status quo (o vigor do capitalismo industrial), sejam
elas radicais, empenhadas em estabelecer transformações estruturais abrangentes, em termos
políticos, econômicos ou culturais. Cox (2010) também valoriza a dialética entre discurso e
estrutura social, uma vez que enfatiza a oposição entre discursos dominantes e discursos
insurgentes, os quais disputam legitimidade social a partir da comunicação ambiental, em que
pese o privilégio midiático aos discursos dominantes em detrimento daqueles manifestados
pelos movimentos ambientalistas. Em todo caso, os autores reconhecem a linguagem
enquanto materialização dos discursos, destacando a comunicação ambiental como arena
decisiva para a circulação dos discursos ambientais, desenvolvendo, através das mais diversas
ações simbólicas, suas funções ideacional, identitária e relacional.
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entretenimento. Reconhecer, conforme o fazem Denis (2010), Pikkov (2010) e Furniss (2007),
que a animação privilegia o animismo e a humanização, atribuindo “vida” ao inanimado e
representando criaturas antropomorfizadas (objetos, elementos da fauna e da flora) que
permeiam mundos imaginários não implica afirmar a animação como uma arte desconectada
do mundo físico e sociocultural2, confinada ao universo infantil. Pelo contrário, trata-se,
acima de tudo, de valorizar seu estreito diálogo com o imaginário, percebido enquanto
manifestação das subjetividades dos autores e da audiência em geral, de forma a subvertê-lo
sob os mais diversos interesses (DENIS, 2010).
Para Wells (2003), é necessário perceber que, mesmo quando desprovida de realismo
visual, as representações de mundo manifestadas pela animação são potencialmente reais, por
isso devem ser questionadas e analisadas enquanto posicionamentos ideológicos. Na verdade,
conforme sinalizam Barrier (2003), Klein (1998) e Nogueira (2010), na animação, a
plausibilidade das representações decorre de fatores relacionados ao desenvolvimento de suas
narrativas e das performances dos personagens, podendo também ser manifestada em
animações abstratas e caricaturais. Valoriza-se, portanto, não apenas a capacidade de
representação do mundo, mas sobretudo de criticar, de subverter e de contestar, conforme
fizeram diversas produções independentes, experimentais e até mesmo comerciais, como no
caso das animações da Warner Brothers, da MGM e da UPA, entre tantas outras que
emergiram na Europa no pós Segunda Guerra Mundial.
Convém observar que a recorrente e ainda vigorosa associação da animação com a
fantasia (fábulas morais conversadoras) e com o entretenimento infantil, ou mesmo familiar,
decorre principalmente da hegemonia estabelecida pela Disney quando do seu surgimento em
1925, e que perdurou durante as décadas de 1930, 1940 e 1950 - a chamada primeira “fase de
ouro da animação”, conforme definem Stabile e Harrison (2003), Barrier (2003) e Klein
(1998). Essa hegemonia resultou naquilo que Wells (2006) denomina de animação ortodoxa
ou canônica, também denominada de animação total (full animation), caracterizada pela busca
de um profundo realismo (composição visual, movimento e atuação das personagens)
assentado em fábulas cujas narrativas valorizam o uso intenso de diálogos.
Para Pikkov (2010) a Disney instituiu como padrão da animação a narrativa linear
estruturada na apresentação de personagens e seus contextos, na apresentação do conflito ou
do desafio e em sua resolução. Esse reconhecimento da hegemonia da verossimilhança-
2
Whitley (2012) valoriza a noção de plasmatic estabelecida por Eisenstein que diz respeito à capacidade
dinâmica da estética do filme animado em assumir as mais diversas formas, remodelando e subvertendo a
realidade.
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4
Durante a Segunda Guerra Mundial, os principais estúdios norte-americanos foram contratados pelas forças
armadas para a realização de filmes dedicados à instrução dos soldados quanto ao uso de equipamentos bélicos.
Além disso, vários filmes foram requisitados para legitimar a atuação do país no combate aos alemães. Algumas
das principais animações desse período foram realizadas pela Disney a exemplo de Donald Gets Drafted (1942),
Education for Death (1943), Der Fuehrer's Face (1943), além do longa metragem Victory Through Air Power
(1943), ambos dotados de um forte apelo ideológico. Contudo, o governo desse período também requisitou a
produção de animações de caráter didático de forma a garantir condições de saúde pública. Um dos filmes mais
celebrados é o documentário animado em curta metragem So Much for so Little, escrito por Friz Freleng e
dirigido por Chuck Jones. A animação foi lançada em 1949 e, em 1950, foi premiada com um Oscar. Sobre a
produção animada realizada neste contexto, ver Barrier (2003) e Klein (1998).
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curta metragem, marcadas pelas fábulas morais – a série The Silly Simphonies (1929 a 1939).
Conforme Lucena (2005) e Klein (1998), nessa mesma década surgem diversos outros
estúdios, os quais buscam estabelecer uma concorrência a partir da oposição ao estilo Disney.
Entre estes, destacam-se o Fleischer Studios (Betty Boop, Popeye), a Warner Bros. (Looney
Tunes, Merrie Melodies), a MGM (Tom e Jerry) e, mais tarde, a UPA (Mister Magoo). Ao
invés de fábulas, piadas de situação marcadas pela irreverência, humor, sarcasmo e pela
violência entre os personagens, majoritariamente animais antropomorfizados, além da auto
reflexibilidade5 (personagens animados interagindo com o animador de forma a evidenciar a
natureza de sua criação). Ao invés de narrativas lineares, subversão estrutural dessa
abordagem em função de perspectivas cíclicas ou multilineares, como revela Pikkov (2010).
Assim, vigorosas até o final da década de 1950, quando da chegada da televisão, tais
produções subverteram os cânones estabelecidos pela Disney (que passou a dominar de forma
praticamente exclusiva a produção de longas metragens animados), introduzindo, ainda que
de forma superficial e gradativa, novas perspectivas ideológicas e politicamente críticas para
abrigar diversas questões sociais (WELLS, 2003). De acordo com Barrier (2003), são elas que
configuram a animação enquanto gênero6 audiovisual, os cartoons com duração de 7 a 8
minutos, exibidos nos cinemas, não menos orientados para o sucesso comercial que as
produções da Disney.
Com o advento da televisão, no final da década de 1950, emergiu uma produção
animada que se opôs não apenas aos padrões clássicos da Disney, mas também aos já
tradicionais cartoons. Nesse contexto, ao invés de manifestar a diversidade de opiniões e
perspectivas dos seus realizadores, a animação alinha-se aos interesses da economia política
da mídia (STABILE & HARRISON, 2003; WELLS, 2003), cuja lógica comercial a confina a
um público infanto-juvenil e a orienta como instrumento de merchandising e de publicidade.
Conforme Mittel (2004), seu agendamento é estabelecido para as manhãs de sábado de forma
a abrigar novas produções com foco no público infantil, quando surgem diversas séries
animadas com episódios de 30 minutos de duração, marcadas, sobremaneira, por uma
5
Um dos principais expoentes dessa abordagem é a animação Duck Amuck, realizada em 1953, sob a direção
de Chuck Jones, nos estúdios da Warner Bros. O filme é protagonizado por Patolino (Daffy Duck), personagem
concebido por Tex Avery, em 1937, o qual é constante submetido à intervenção do animador que altera
intencionalmente os cenários, assim como seu figurino, a fim de desestabilizar sua atuação. Ao longo do
desenvolvimento da animação, Patolino tenta negociar com o “animador desconhecido” que se utiliza dos mais
diversos recursos técnicos e artísticos da animação para silencia-lo e confundi-lo (apagando seu corpo,
removendo seu bico, imprensando-o com a câmera etc). O filme é encerrado sem que Patolino descubra quem
estava a frente da mesa de desenho – Pernalonga é revelado apenas para a audiência. Ver mais em Cubitt (2013).
6
Whitley (2012) identifica dois gêneros de animações: os cartoons e os contos de fadas em longa metragem da
Disney.
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assistido por South Park, transitando com grande sucesso de merchandising entre um público
predominantemente adulto (60% acima dos 18 anos).
Portanto, embora a televisão tenha consolidado a animação junto a um público adulto,
cerca de 40% da audiência, segundo Morrow e McMahan (2003), e que diversas séries
tenham surgido a reboque do sucesso de Os Simpsons, a exemplo de Family Guy, criada 1999
por Seth MacFarlane, Futurama (1999 a 2003), de Mat Groening, Capital Critters, criada por
Steven Bochco em 1992, Fish Police, criada por Steve Moncuse em 1992, Family Dog, criada
por Brad Bird em 1993, The Critic (1994 a 1995), criada por Al Jean e Mike Reiss, The PJs
(1999 a 2002), criada por Eddie Murphy e Daria (1997 a 2002), criada por Glenn Eichler e
Susie Lewis, é importante considerar, conforme ressalta Farley (2003), que a animação prime
time não deve ser confundida com animação “séria” e de forte apelo intelectual, mas
principalmente como um complexo de filmes marcados por uma estética própria (estilo visual
autoral), pela forte presença da música, da violência, da irreverência, da imaginação e da
fantasia, objetivando, acima de tudo, a diversão da audiência. E, é claro, o sucesso comercial.
Diante desse estatuto comercial alcançado pela animação após a década de 1990,
convém observarmos a persistência e a relevância de uma vertente autoral e independente que
desponta à margem dessa lógica de mercado, respondendo, conforme defendem autores como
Denis (2010) e Wells (2003), pelo maior volume de produções e pela maior diversidade
estética e ideológica, sobretudo quando se trata de curtas metragens. Embora não privilegiem
de forma exclusiva ou mesmo explícita uma função didática e ideológica, é nesse contexto
que a animação se torna mais livre dos constrangimentos produtivos assinalados na vertente
comercial, alinhando busca por inovação expressiva, contestação de valores socioculturais
vigentes e a representação de assuntos ditos mais “sérios”, a exemplo das questões ambientais.
Evidentemente, não se trata de ignorar a proximidade e a relevância da animação
clássica, hegemônica e comercial - os cartoons e os longa metragens animados, na veiculação
de tais questões7. Afinal, como defende o próprio Wells (2002), dado ao seu estigma enquanto
produto cultural periférico, a animação é privilegiada em sua capacidade de exposição da
diversidade e das contradições relativas aos valores sociais, sobretudo quando atinge de forma
7
Uma discussão acerca das representações de questões de gênero e raça na animação, em termos de
problemática sociocultural, é proposta por Furniss (2007), ao retratar as transformações em tais representações
na animação, sobretudo a partir da década de 1950, quando o racismo e a opressão à mulher são preteridos pelas
estratégias de mascaramento de conflitos e de homogeneização cultural. Para o autor, é somente na década de
1990 que a diversidade cultural e o papel das mulheres na sociedade assumem um lugar de destaque na animação,
a exemplo das obras como Daria, Garotas Super Poderosas, Dora Aventureira, Kim Possible, Os Simpsons,
South Park etc. Lehman (2007), por sua vez, estabelece uma discussão mais aprofundada sobre as representações
dos negros norte americanos na animação, revelando a trajetória do racismo a partir dos estereótipos
representados nas animações.
155
intermitente e com elevado grau de liberdade, seu público infanto-juvenil. Nesse sentido,
ainda como nos faz perceber o autor, a animação, qualquer que seja sua vertente, é melhor
compreendida como um texto ideológico, seja empenhado em assegurar a ordem vigente, seja
dedicada a subvertê-la, pois é sempre um modo de expressão capaz de estabelecer
engajamento espiritual, intelectual ou estético acerca de aspectos da vida cotidiana e não
apenas para representá-los de forma fantasiosa.
Na verdade, quando a Disney consagrou a “narrativa do final feliz”, o fez com base
em uma forte apologia ao progresso e às condições sociais conservadoras vigentes,
estabelecendo um forte viés educativo empenhado na manutenção dessa ordem social a partir
da representação de sua homogeneidade ao invés de sua diversidade. Conforme discutido
anteriormente, também é importante perceber que as animações prime time, assim como os
cartoons clássicos, foram marcados pela intensa satirização de condições sociais diversas,
mas prevaleceram interesses comerciais sobre objetos ideológicos, sobretudo no contexto
mais recente.
Wells (2003), Denis (2010) e Nogueira (2010) ressaltam que a exploração das
potencialidades ideológicas e politicamente críticas da animação, de forma a contemplar as
diversas questões socioculturais, emergiu com maior intensidade no leste europeu,
particularmente na antiga União Soviética, Iugoslávia, Tchecoslováquia, Polônia e Hungria, e
também no Canadá, com a marcante influência do animador Norman McLaren junto ao
National Film Board of Canada (NFB)8, além da animação japonesa que viria a se consolidar
a partir da década de 1950. Para Pikkov (2010) e Kriger (2012), a animação também
demonstrou essa capacidade ao manifestar narrativas não ficcionais naquilo que constitui o
chamado documentário animado9. Conforme os autores, obras como Waltz with Bashir (2008),
animada por Yoni Goodman, resgatando memórias dos tempos de guerra em Israel, ou
mesmo a precursora Sinking of the Lusitania (1918) de Winsor McCay, retratando o trágico
naufrágio deste navio, são exemplares dessa perspectiva em que a animação supera a
representação das fábulas e da fantasia para contemplar questões sociais diversas, ainda que
8
Trata-se de uma agência de cinema criada e mantida pelo governo canadense, fundada em 1939 tendo como
diretor o cineasta John Grierson. Conforme sinaliza o site oficial, o NFB já produziu mais de 13000 obras, sendo
73 delas indicadas ao Oscar, quando 12 foram consagradas em categorias diversas, sobretudo os curtas animados.
O NFB é um das escolas mais influentes no campo da animação, contribuindo para a difusão e à formação de
animadores do mundo todo. Ver mais em https://www.nfb.ca/.
9
Kriger (2012) discute questões relativas ao realismo na animação em defesa do reconhecimento das
possibilidades do documentário animado. Conforme o autor, seja explorando questões intimistas, como no caso
da animação Ryan (2004), uma biografia do animador canadense Ryan Larkin, realizada por Chris Landreth, seja
diante de questões sociais como a guerra no Líbano e seus desdobramentos, retratada em Waltz with Bashir
(2008), o documentário animado já desfruta de amplo reconhecimento, inclusive pela premiação do Oscar –
Ryan foi vencedor entre os curtas animados na premiação de 2004.
156
desprovidas de realismo visual. A partir desses autores, convém atentar que embora a
televisão tenha contribuído, na década de 1990, de forma decisiva para a consagração da
animação destinada ao público adulto, sobretudo na vertente socialmente crítica e de caráter
irônico, são os festivais especializados e também a web que melhor traduziram e traduzem a
efervescência da animação subversiva.
Uma sistematização geral desse contexto da animação enquanto instrumento
ideológico é apresentada por Denis (2010) ao ressaltar que: a produção hegemônica da
animação, liderada pela Disney, empenhou-se na promoção e legitimação da ideologia do
progresso que vigorou após a Segunda Guerra Mundial; a produção contra hegemônica
assinalada por animadores como Tex Avery, Chuck Jones, Fritz Freleng, pela UPA, MGM e
Warner Bros. posicionou-se criticamente sobre essa ideologia, sem necessariamente rejeitá-la
por completo; no leste europeu emergiu uma produção de caráter humanista, social e
politicamente engajada, empenhada em denunciar problemáticas relacionadas ao capitalismo,
manifestando críticas anti-imperialistas, anti-modernistas e de cunho pacifista, as quais
também ecoaram na França, na Itália na Alemanha e no Canadá; no Japão a animação foi
decisiva para estimular o nacionalismo. Convém atentar que, à exceção das animações contra-
hegemônicas norte-americanas representadas pelos cartoons, as quais se consagraram
enquanto curta metragens destinados ao cinema e à televisão, nos demais casos foram os
festivais especializados que constituíram o principal espaço de circulação.
157
158
primeira discussão acerca da representação da natureza, uma vez que consiste em uma
estratégia recorrente e que fora estabelecida de forma pioneira pelo animador Winsor McCay
(LUCENA, 2005; WELLS, 2003; PIKKOV, 2010), consolidada pelo personagem Gato Félix,
criado em 1919, e ratificada pela Disney quando da criação do Mickey Mouse, contribuindo
de forma essencial para sua hegemonia (NOGUEIRA, 2010; ATKINSON, 2005,
COLLIGNON, 2008). Sua presença na animação é, conforme defende Bliss (2012), uma
herança de produtos culturais anteriores, sobretudo das fábulas clássicas. Em termos
conceituais, Collignon (2008) define o antropomorfismo como a atribuição de características
humanas a animais e objetos inanimados, dotando-os de pensamentos, sensibilidades,
intenções, inteligência etc. De forma geral, trata-se de um fenômeno complexo, com
implicações diversas sobre a audiência, especialmente em termos de contribuição para a
construção simbólica dos animais representados, atribuindo valores e orientando nossas
relações como os mesmos.
É importante observar que a criação da Environmental Media Association (EMA), em
1989, foi fundamental para estimular a inserção da temática ambiental no cinema, na televisão,
e, sobremaneira nas animações. Sua premiação Environmental Media Awards, iniciada em
1991, contempla obras em que a comunicação ambiental se mostra relevante à consciência e
ao engajamento ambiental. Já nessa primeira edição o reconhecimento da animação como
mídia ambiental se fez presente com destaque para a série Capitão Planeta (1990 a 1996), Os
Simpsons e Tiny Toons Adventure (1990 a 1992). Desde então, diversas animações foram
reconhecidas nas mais diversas abordagens temáticas, muitas das quais, inclusive, não
desfrutam desse mesmo reconhecimento no campo acadêmico, conforme discutiremos adiante.
Entre as animações premiadas pela EMA, destacamos os longa metragens FernGully: As
Aventuras de Zack e Crysta na Floresta Tropical (1992), Pocahontas (1995), Spirit: O corcel
indomável (2002), A Era do Gelo (2002), Hapy Feet (2006), as séries animadas Família
Dinossauros (1991 a 1994), Futurama (1999 a 2003), Lilo & Stitch (2003 a 2006) e o curta
documentário animado The Meatrix (2003).
Quanto às discussões acerca da estreita relação entre animação e antropomorfismo, as
mesmas sinalizam para uma série de motivações, sendo possível observar um consenso
envolvendo a maioria delas. Atkinson (2005), Wells (2009) e Nogueira (2010) consideram,
antes de tudo, que o antropomorfismo na animação emergiu como estratégia para superar os
desafios técnicos e artísticos para a representação de expressões e movimentos humanos.
Contudo, quando a técnica da animação fora consolidada, permitindo a superação destas
dificuldades, foram as potencialidades expressivas que justificaram a permanência do
159
160
humana. Para Atkinson (2005), na animação os animais são tomados como símbolos do
próprio homem, favorecendo sua representação caricaturada em contextos sociais diversos.
Jardim (2013), por sua vez, recorre a animações como A Revolução dos Bichos (1954)10 e à
série Gato Félix para destacar o antropomorfismo em sua capacidade de exercício da crítica
social e de propor questionamentos como forma de reivindicação de mudanças. Acerca desse
papel subversivo, o entendimento de Wells (2009) é bastante revelador ao destacar que
antropomorfismo permite à animação representar questões sociais diversas (raça, gênero,
classe etc) escapando de constrangimentos políticos e morais acerca dos temas retratados.
Para o autor, o antropomorfismo bem sucedido, aquele em que a caracterização dos
personagens e a atribuição de motivações humanas é convincente, permite ao filme animado
estabelecer representações das mais diversas aspirações humanas. Contudo, Jardim (2013)
ressalta que, quando adotado para satirizar a sociedade, o antropomorfismo apresenta temas
como violência, sexo e racismo de forma velada para um público infanto-juvenil,
empenhando-se mais no humor do que na subversão das condições sociais hegemônicas.
Embora o antropomorfismo seja reconhecido como valioso na representação da
condição humana, em seus mais diversos aspectos sociais, surgem vários alertas de
implicações simbólicas negativas acerca dos animais. É importante observar que nos cartoons
foi recorrente a atribuição de comportamentos violentos, agressivos e não éticos aos
personagens antropomorfizados, sobretudo nas produções da Warner Bros., da MGM, de
Walter Lentz, da Hanna-Barbera, entre outros estúdios, além da própria Disney. Para Bliss
(2012), essas caracterizações deliberadas resultaram em representações equivocadas dos
animais, associando-os a conceitos prejudiciais e promovendo uma intensa
descontextualização desses em relação aos seus habitats e comportamentos naturais. Por isso
o pessimismo de Collignon (2008) ao afirmar que a animação em geral esteve sempre
destituída de interesses em representações consistentes da natureza.
Leventi-Perez (2011), quando analisa o antropomorfismo na obra da Disney,
sobretudo nas animações em longa metragem realizadas no período compreendido entre o ano
de 2000 a 2010, é ainda mais contundente acerca do prejuízo para a representação da natureza.
Para o autor, na Disney há uma forte presença dos animais como forma de estabelecer vínculo
emocional com as crianças e com a família, e assegurar a vitalidade moral de suas fábulas,
10
Trata-se do filme lançado em 1954, sob a direção de Joy Batchelor e John Halas, cujo título original é
Animal Farm. O filme é uma adaptação do livro publicado em 1954 por George Orwell, um romance que satiriza
a Revolução Russa de 1917.
161
uma vez que personagens antropomorfizados assumem uma validade universal, destituindo
ligações confinadas a determinados grupos ou tipos sociais.
Além disso, os animais são empregados para perpetuar valores sociais conservadores11,
legitimando as configurações tradicionais de família, ideias de sexismo, de patriarcalismo,
estereótipos raciais e étnicos, dentre outros. Especificamente acerca da representação dos
animais na Disney, o autor ressalta que esse estúdio: cria um ranqueamento de espécies,
estimulando a valorização de algumas em detrimentos de outras; legitima o domínio dos
homens sobre os animais, enfatizando como imprescindíveis o cuidado e a proteção a partir
de sua domesticação; legitima a inferioridade dos animais, quando a condição animal é
imposta como forma de punição aos personagens humanos; reforça estereótipos12 nocivos
sobre determinadas espécies tais como porcos (nojentos, gordos, comilões), aranhas (más e
perigosas), sapos (nojentos e repulsivos), peixes (passivos), galinhas (histéricas), coelhos
(divertidos) etc. Para Leventi-Perez (2011) as produções da Disney no período assinalado não
favorecem a valorização dos animais, traduzindo um discurso que enfatiza o afastamento
homem e natureza. Além disso, dada a ênfase na superioridade humana, termina por se
distanciar das questões relativas aos direitos dos animais. Curiosamente, trata-se de um
período (2000 a 2010) marcado pela ampla visibilidade das questões relativas ao meio
ambiente.
Em The Animated Bestiary: Animals, Cartoons, and Culture, obra lançada em 2009,
Paul Wells apresenta uma análise acerca das implicações do antropomorfismo na animação.
Embora não enfatize explicitamente a comunicação ambiental, Wells (2009) é bastante
revelador da relação entre antropomorfismo e comunicação acerca dos animais. Assim como
Leventi-Perez (2011), o autor reconhece que a Disney enfatizou estereótipos diversos,
recorrendo ao senso comum para resgatar valores simbólicos já construídos sobre
determinadas espécies. Contudo, defende que em diversas de suas fábulas, a Disney estimulou
uma aproximação entre a audiência e o meio ambiente, representando animais não
antropomorfizados inseridos em uma natureza idílica, sagrada, romantizada e ingênua.
Além disso, Wells (2009) vai evidenciar que um dos grandes desafios da animação é
conciliar o uso do antropomorfismo e da representação dos animais às questões ambientais
11
Acerca desse alinhamento ideológico da Disney ver Dofmann e Martelat (2010) os quais apresentam uma
leitura crítica acerca de seu imperialismo cultural, sobretudo no contexto da circulação de suas revistas em
quadrinhos no Chile.
12
No trabalho Comunicação Ambiental no Cinema de Animação: uma análise da representação da natureza
no longa-metragem “Rio”, publicado no INTERCOM em 2011, Cerqueira e Aguiar (2011) identificam essa
abordagem na animação em tela, sobretudo quando as personagens macacos são orientados por motivações
humanas e reconhecidas como “trombadinhas”, manifestando características como malandragem, jogo de cintura
e desrespeito (furtos e violência) perante os humanos e as demais espécies animais.
162
163
Na crítica intitulada Things That Suck: The SMOGGIES, postada em 2004, Jaime
Weinman cunhou um termo que começa a ser apropriado por vários outros autores, a exemplo
de Pike (2010) e Murray e Heumann (2011), interessados na comunicação ambiental na
animação. Trata-se do termo enviro-toon usado para designar animações explicitamente
vinculadas ao debate ambiental. Em seu ensaio, Weinman (2004a) se refere diretamente a
animações que objetivam “ensinar” às crianças acerca dos problemas ambientais,
manifestando duras críticas às séries animadas Capitão Planeta e The Smoggies (1989 a
1991), autovinculadas ao ambientalismo. Para o autor, as enviro-toons são anteriores à década
de 1980, contudo, a partir desse período elas se tornaram problemáticas, sobretudo por
privilegiarem o doutrinamento da audiência a partir da defesa de uma moralidade em
particular, em detrimento do esclarecimento dos fatos relacionados aos problemas ambientais
retratados. Conforme Weinman (2004a), as duas animações são ilustrativas, pois exploram
conflitos maniqueístas entre vilões e heróis, sendo os primeiros reconhecidos pelo simples
desejo de poluir. Portanto, elas não contextualizam as questões ambientais em termos de
práticas sociais, mascarando causas estruturais da degradação ambiental, e também
desconsideram as motivações políticas quando afirmam que “Não há nada a ganhar poluindo
e não há nada a perder não poluindo”.
Em uma crítica seguinte, no ensaio A Good Enviro-Toon, também de 2004, Weinman
(2004b) apresenta um contra exemplo às duas séries anteriormente criticadas, o que nos
permite uma maior generalização da noção de enviro-toon. Weinman (2004b) analisa o curta
animado Lumber Jerks, dirigido por Fritz Freleng13 em 1955, realizado na Warner Bros. De
13
Trata-se de um dos animadores mais profícuos da Warner Bros, contribuindo para as séries Looney Tunes e
Merrie Melodies, quando concebeu uma diversidade de personagens que se tornaram clássicos a exemplo de
Patolino, Coiote, Frajola etc. Entre suas produções independentes o grande destaque é a Pantera Cor de Rosa.
164
acordo com o autor, esse cartoon não assume explicitamente um engajamento ambiental, não
manifesta um tom pedagógico, e também não se empenha no doutrinamento moral unilateral
da audiência, mas desenvolve uma narrativa relevadora do sentido utilitário da natureza – os
dois personagens principais são esquilos antropomorfizados que perdem suas “casas” quando
a floresta é devastada para alimentar a produção de móveis e diversos outros objetos. Assim,
considera que mesmo destituída de intenção ambientalista, Lumber Jerk se insere no contexto
das enviro-toons, uma vez que apresenta fatos significativos: o meio ambiente é degradado
para sustentar a produção material utilizada em nossa vida cotidiana, e não por pessoas más
(vilões); a devastação das florestas almeja a produção de móveis, mas resulta em prejuízo
para diversas espécies; a audiência está inserida nesse processo, consumindo produtos
relacionados.
Diante do exposto, observamos que Weinman (2004b) desenha uma noção de enviro-
toon capaz de abrigar animações que põem em relevo o meio ambiente e as relações com ele
estabelecidas, ainda que as narrativas privilegiem os mais diversos conflitos de seus
personagens, sejam eles antropomorfizados ou não, ou até mesmo que não assumam um
caráter pedagógico e ativista. Nesse contexto, nos apropriamos desta perspectiva, concebendo
por enviro-toon um continuum relativo à diversidade de representações do meio ambiente na
animação, polarizado entre abordagens em que as questões ambientais são explícitas e
assumem um tom didático, e aquelas em que essa vinculação é menos evidente, sendo então
mais sutil.
Na verdade, essa denominação ou categoria de animações contempla uma diversidade
de produções, sejam elas as enquadradas como prime time, como as séries Os Simpsons e
South Park, incluindo suas precursoras como Os Flintstones e Os Jetsons (1962 a 1987),
animações em longa metragem destinadas aos cinemas, tais como, FernGully, Happy Feet,
Era do Gelo, Rio (2011), Wall-E (2008) e Madagascar, clássicos da Disney, a exemplo de
Branca de Neve e Os Sete Anões (1937) e Bambi (1942), cartoons da Warner Bros., da MGM
e da UPA, séries televisivas ambientalmente vinculadas, como Capitão Planeta, The
Smoggies, Natureza Sabe Tudo (1995) e também o universo heterogêneo das animações
autorais que circulam em diversos festivais especializados e na web, a exemplo dos festivais
ambientais que integram a rede Green Film Network, sob a qual delimitamos nosso corpus de
investigação. Contudo, autores como Starosielski (2011) privilegiam a denominação de
animação ambiental para abrigar as produções que tomam as questões ambientes como ponto
central da narrativa, portanto, claramente vinculadas ao debate acerca do meio ambiente. Mas,
se por um lado o termo animação ambiental contempla animações realizadas sob as mais
165
diversas técnicas e não apenas os cartoons, por outro, torna-se restrito aos filmes
ambientalmente engajados.
Deidre Pike, em Enviro-toons How Animated Media Communicate Environmental
Themes, tese doutoral publicada em 2010, também diferencia enviro-toons moralmente
doutrinadoras daquelas capazes de estimular uma compreensão mais ampla e
multidimensional das questões ecológicas. Conforme o autor, as animações empenhadas em
doutrinar a audiência são, de forma geral, marcadas por representações idealizadas da
natureza, mas principalmente por desenvolver narrativas maniqueístas marcadas pela forte
oposição entre natureza/cultura ou homem/máquina. Pike (2010) endossa a sinalização de
Weinman (2004a) acerca da série Capitão Planeta, a qual considera como uma animação que
promove a hegemonia ideológica desenvolvimentista dos EUA, nomeadamente a perspectiva
da sustentabilidade ambiental – adoção de reformas políticas que internalizam questões
ambientais que não impliquem prejuízo na produção e no lucro.
Pike (2010) identifica que as animações ambientalmente doutrinadoras são
caracterizadas ainda pela forte ênfase na tragédia, representada através dos conflitos entre
homem e natureza, e pelo privilégio pela exposição de uma única perspectiva acerca desse
contexto, especificamente no que diz respeito à resolução (simplista) dos conflitos. Por outro
lado, ressalta que animações ambientalmente críticas expõem enfoques plurais sobre as
questões ambientais, suscitando não apenas interesse pela resolução, mas pelas causas e
motivações (políticas, econômicas, científicas etc). Além disso, observa que embora a
tragédia possa integrar tais narrativas, é a comédia que normalmente abriga tais
representações. Nesse contexto, valoriza animações dedicadas a um público adulto,
enfatizando a relevância ambiental de episódios das séries animadas South Park e de longas
animados como Os Simpsons: O filme (2007) e Wall-E (2008), da Disney/Pixar.
Acerca do surgimento de enviro-toons como forte sentido ativista, Denis (2010)
ressalta o caráter precursor da produção independente, autoral e experimental. De acordo com
o autor, que não adota o termo enviro-toon, preferindo reconhecê-las simplesmente pela
adjetivação de animações ambientalmente engajadas, foi a ameaça nuclear, em sua
capacidade de destruição do planeta que emergiu no pós Segunda Guerra Mundial e fora
intensificada durante a Guerra Fria, que motivou essa aproximação entre animação e meio
ambiente. Assim como ocorrera em filmes de ação ao vivo desse período, conforme discutido
na seção anterior, esse tema tornou-se dominante em diversas animações, a exemplo de O
166
14
Essa animação em stop motion retrata a relação entre ciência e política, ressaltando tanto as contribuições da
ciência para a vida moderna, mas também os perigos de sua apropriação para o atendimento de interesses
políticos, sobretudo no contexto da luta pela conquista espacial.
15
É uma metáfora acerca dos virtudes humanas e dos descaminhos da humanidade diante da ameaça nuclear.
16
Retrata os impactos ambientais e sociais decorrentes uma guerra nuclear.
17
No Japão esse termo é empregado para designar toda e qualquer animação, contudo, no ocidente ele
descreve as animações japonesas, as quais abrigam uma diversidade de gêneros e que se mostra plenamente
consolidada e diversificada na cultura do país. Ver mais em Lamarre (2009).
18
Trata-se de um dos mais influentes animadores japoneses, cujas contribuições foram decisivas para a cultura
japonesa do pós II Guerra Mundial. Tezuka explorou diversos temas em suas obras e suas animações se tornaram
popular ao redor do mundo. Astro Boy é um dos seus personagens mais conhecidos. Ver mais em
http://tezukaosamu.net
19
Miyazaki, foi colaborador de Tezuka na década de 1970. Na década de 1980 fundou o renomado estúdio
japonês de Animação, o Studio Ghibli. Sua empresa é uma das mais relevantes no que diz respeito à animação
japonesa, e seu reconhecimento mundial se deu com o lançamento do longa Princesa Mononoke, em 1997, cujo
enredo transita entre a ecologia e as guerras, um tema já há tempos explorado pelo animador. Miyazaki obteve o
Oscar de melhor animação em 2001, com o filme a Viagem de Chihiro. Ver mais em
http://site.studioghibli.com.br/diretores/hayao-miyazaki/
167
168
20
Esse curta foi produzido no NFB e teve como diretores Les Drew e Kaj Pindal. Trata-se de uma crítica à
cultura do automóvel, sendo indicado ao Oscar de melhor curta animado em 1967.
21
Animação dirigida por Yvon Mallette e que retrata o desenvolvimento urbano dos Estados Unidos.
22
Sob a direção de Hugh Foulds, esse curta animado trata da passividade das instituições diante da degradação
ambiental.
23
Animação também proveniente do NFB, dirigida por Zlatko Grgic, aborda a degradação ambiental do
planeta em favor do progresso.
24
Dirigida por Chuck Jones e Maurice Noble, trata-se de uma sátira social acerca do progresso, sobretudo de
sua consolidação hegemônica.
169
25
Trata-se aqui do filme piloto para a famosa série da Hanna-Baberba. Nele, a construção da arca voadora
resulta de um contexto em que degradação ambiental do Parque Florestal Yellowstone se agrava e os animais
necessitam de um novo lugar para viver.
26
Aqui nos referimos ao musical animado escrito por Dr. Seuss e dirigido por Hawley Pratt e que retrata a
devastação florestal.
27
Dirigida por Kevin Gillis e Paul Schibli, essa animação retrata a devastação das florestas.
28
É uma série televisiva realizada em conjunto pela França e pelo Canadá e que tem um viés ambientalista.
Suas personagens, ao longo dos episódios, enfrentam uma diversidade de poluidores para assegurar a integridade
ambiental do planeta.
29
A série contou com 60 episódios, sendo uma das mais celebradas no Canadá. Ela também retrata a
devastação das florestas.
30
Trata-se de uma série animada criada por Ted Turner e que retrata uma liga de jovens eco heróis que
enfrentam os mais diversos eco vilões para assegurar a integridade de Gaia, o espirito da Terra.
31
Essa série animada foi dirigida por Tom Burton foi direcionada a um público infantil, tendo com apelo
central a temática ambiental e o engajamento, sobretudo enfatizando os riscos da poluição.
32
Animação centrada na sátira, dirigida por Lloyd Kaufman, também retrata conflitos maniqueístas entre eco
heróis e eco vilões.
33
Longa metragem dirigido por Jannik Hastrup e que trata dos impactos da poluição sobre a humanidade
34
Produzido por Laura Helter, trata da necessidade da preservação das florestas.
170
Trees (1993), The Land Before Time (1988)37, Bernardo e Bianca na Terra dos Cangurus
(1990), O Rei Leão (1994) e Pocahontas (1995).
Para Starosielski (2011), é nessa segunda onda que a animação tem seu potencial
ambiental socialmente reconhecido. Na verdade, a autora enfatiza o sucesso do longa
metragem FernGully: As Aventuras de Zack e Crysta na Floresta Tropical (1992), cuja
narrativa retrata a luta contra a destruição da floresta. A animação, uma produção
independente que foi distribuída pela Fox, obteve sucesso de público em todo o mundo e
também atraiu a atenção política, sendo, inclusive, exibida na Conferência Rio 92.
Acerca de FernGully, apesar de despontar como marco da animação ambiental
empenhada em estimular o ativismo ambiental em sua audiência, conforme defende a autora,
algumas críticas evidenciam as limitações de seu discurso, com destaque para a análise de
Smith e Parsons (2012). Os autores reconhecem que o filme se alinha com o discurso da
conservação da natureza, assumindo um tom didático em defesa das florestas. Contudo,
ressaltam que o ativismo suscitado é bastante limitado, pois estabelece uma perspectiva
maniqueísta que ignora os conflitos políticos que permeiam a apropriação das florestas.
Assim, defendem que em FernGully a responsabilidade pela degradação das florestas recai
sobre uma criatura sobrenatural, e, portanto, a natureza não é reconhecida em sua
subjetividade, mas como indispensável para a sobrevivência humana, daí a necessidade de
preservá-la. Para os autores, o filme é doutrinador ao defender um cuidado com a natureza
habitada por criaturas mágicas (FernGully, a protagonista, é uma fada), mas é uma natureza
feminizada, frágil e suscetível à opressão masculina. Nesse contexto, questões sobre
biodiversidade e políticas ambientais são totalmente ignoradas, resultando em um ativismo
simplista. É importante destacar, conforme Ingram (2000), que a animação é, provavelmente,
uma estratégia de greenwashing de sua produtora, a australiana FAI Films (Fire and All Risks
Insurance), integrante de um conglomerado relacionado à exploração de carvão.
Finalmente, acerca da terceira onda, a autora ressalta que sua repercussão no contexto
das discussões ambientais fora bastante limitada em relação à onda anterior. Para Starosielski
(2011), essa terceira onda manifesta os dois aspectos estéticos das ondas anteriores, a
mutabilidade e a interação ambiental, contudo, se apoia no estatuto do fotorrealismo
estabelecido pela computação gráfica (CGI) para explorar o papel da imagem na construção
35
Dirigido por Juergen Haacks, trata-se de um curta que retrata acerca dos riscos ambientais decorrentes de
resíduos tóxicos.
36
Trata-se de um documentário animado dirigido por Frédéric Back e que retrata a degradação do rio St.
Lawrence, situado no Canadá, em decorrência da ação humana.
37
Sob a direção de Don Bluth, esse longa metragem trata da saga de dinossauros em fuga da devastação
ocasionada pelos vulcões e terremotos. Dado ao seu sucesso, a animação deu origem a uma série animada.
171
172
sociais. Assim, apesar de séries como Capitão Planeta se apresentarem bastante limitadas, a
autora valoriza a capacidade da animação de abrigar narrativas e discursos ambientais e de
oferecer representações imaginativas para a superação das suas mais diversas problemáticas.
Assim, defende que é a capacidade do filme animado de despertar uma resposta emocional na
audiência e de explorar as contradições sociais através da comicidade, que a habilita à
introdução de discussões ambientais. Para a autora, produções da Disney e alguns episódios
da série Os Simpsons são ilustrativos dessa abordagem.
De forma geral, é importante considerar que ao longo de sua história a animação
manifestou uma capacidade de representar animais e ambientes diversos, de reproduzir seus
sistemas e interações naturais ou de forjá-los em contextos artificiais. Segundo Yong, Fam e
Lum (2011), a animação mostra-se relevante na representação dos mais diversos espaços
naturais, na educação acerca da biodiversidade e na comunicação de problemas ambientais,
tanto em termos ideológicos quanto científicos. Os autores ratificam as sinalizações de
Starosielski (2011) e valorizam outros aspectos dessas animações ambientais, tais como: a
diversidade estética; a alargada audiência; a constituição de uma indústria globalmente
reconhecida e premiada, sobretudo pelo Environmental Media Awards. Além disso,
reconhecem que é o antropomorfismo que favorece uma ligação direta da animação com
questões acerca da conservação da biodiversidade, ainda que essa não seja explicitamente
manifestada pela narrativa.
Para os autores, o sucesso da animação ambiental decorre da empatia estabelecida
com a audiência, e esse envolvimento é obtido a partir das personagens apresentadas. Assim,
quando são adotadas personagens representativas de espécies carismáticas ou em extinção, a
empatia pode despertar uma consciência ambiental no público acerca destas espécies e dos
seus habitats, sobretudo no sentido de estimular a conservação da biodiversidade, embora
também possa resultar apenas em uma compreensão superficial dos mesmos. Yong, Fam e
Lum (2011) destacam as animações em longa metragem como Madagascar 2: A Grande
Escapada (2008), Rango (2011), Kung Fu Panda (2008) e Rio (2011) como exemplos dessas
possibilidades, sendo que nesse último caso o comércio ilegal de animais silvestres é o tema
central da narrativa que toma uma espécie em extinção como protagonista. Os autores
admitem que nessas produções as representações ambientais costumam ser idealizadas, a
exemplo de Rio e Madagascar que retratam florestas nativas intocadas, negligenciando o
verdadeiro grau de devastação e ameaça sofridos. Ou, como no caso da franquia A Era do
Gelo (2002; 2006; 2009; 2012), em que animais de épocas distintas coexistem em um mesmo
período pré-histórico. Contudo, observam que em Procurando Nemo (2003), filme que
173
representa o comércio de peixes ornamentais, e Happy Feet (2006), animação que aborda a
poluição dos oceanos e a caça predatória, as questões ambientais são mais explícitas em suas
narrativas, além de representarem visualmente a biodiversidade dos ecossistemas e
explorarem as interelações entre seus personagens.
Para os autores, apesar dessas potencialidades na comunicação acerca do ambiente, a
lógica comercial que orienta a produção da animação parece revelar uma apropriação
capitalista dos discursos ambientais representados. Como já observamos, a apropriação da
animação enquanto estratégia de licenciamento de produtos, ao privilegiar o lucro, termina
por estimular o consumo nos espectadores, “neutralizando” a própria mensagem ambiental
veiculada. Pode resultar, portanto, em um desalinhamento entre a sua função constitutiva, que
enfatiza uma valorização do meio ambiente, e sua função pragmática, já que a ênfase no
consumo de produtos licenciados é, muitas vezes, paradoxal ao engajamento ambiental. Nesse
contexto, a animação ambiental poderia revelar uma estratégia de greenwashing, embora
acreditamos ser mais coerente considerarmos as limitações nos discursos ambientais
associados, tais como a sustentabilidade e a modernização ecológica.
Yong, Fam e Lum (2011) também chamam atenção para o fato de que a lógica de
consumo estabelecida pela estratégia de licenciamento de brinquedos e produtos que
exploram as personagens das animações, também se traduz como estímulo à comercialização
de exemplares das espécies representadas. Assim, observam que a chamada “Síndrome de
Bambi”, entendida como o forte vínculo emocional entre o público e os personagens
antropomorfizados, inaugurado com esse filme da Disney, termina por influenciar o desejo de
possuir animais apresentados nas animações. De acordo com os autores, filmes como Jurassic
Park: Parque dos Dinossauros (1993), Tartarugas Ninja (1987-1996) e Procurando Nemo
(2003) tiveram impactos na comercialização, respectivamente, de iguanas, tartarugas e peixe
palhaço, neutralizando o próprio discurso ambiental representado. Nesse contexto, os autores
ressaltam a necessidade de parcerias entre estúdios de animação e organizações não-
governamentais relacionadas à conservação ambiental e à biodiversidade, de forma a
compatibilizar os objetivos financeiros das produções com os objetivos ecológicos, sobretudo
diante de uma audiência cada vez mais ampla e diversa.
Entre os trabalhos que discutem a animação ambiental, sem dúvida alguma, é a obra
Tha´ts All Folks? Ecocritical Readings of American Animated Features, publicada em 2011,
por Robin Murray e Joseph Heumann, que se mostra mais abrangente e reveladora. Os autores
se apoiam na definição de enviro-toon apresentada por Jaime Weinmann, analisando
animações em que as questões ambientais são relevantes, sejam elas explícita ou
174
175
aventuras de Winnie e Pooh (1977), A Pequena Sereia (1989) e Lilo e Stitch (2002), o poder
da natureza fora destacado, assim como a necessidade de seu domínio a partir da tecnologia.
O segundo padrão de representação da natureza na animação observado por Murray e
Heumann (2011) já manifesta uma preocupação com os impactos da atividade humana sobre
o meio ambiente. Conforme os autores, diversos curtas animados da década de 1930,
influenciados pelas políticas do New Deal nos EUA, manifestaram um discurso em que
prevalece a ideia de ambiente como um sistema vivo e interdependente, e ressaltaram a
necessidade de uma intervenção controlada de forma a assegurar sua existência e também os
interesses humanos. Para os autores, uma possível explicação para a predominância dessa
representação da natureza decorre da instituição do Motion Picture Productions Code (The
Hays Code), uma espécie de censura estabelecida pelo governo dos Estados Unidos, de forma
a estabelecer um padrão de moralidade nas narrativas dos filmes, inclusive em termos de
justiça e respeito pelo meio ambiente. Daí essa abordagem ser marcante em animações
produzidas entre os anos de 1934 e 1938, em que o estímulo ao progresso suscita a
interdependência homem e natureza, e que, portanto, reivindica uma maior harmonia.
Para Murray e Heumann (2011), esses padrões de representação da natureza não
correspondem a ciclos encerrados, mas ao invés disso, eles se perpetuam e se combinam em
animações realizadas em diversos momentos, inclusive nos dias atuais. O Episódio do Gato
Félix, Neptune Nonsense (1936) enfatiza a ordem natural do oceano, e animações como
Seapreme Court (1954), valorizam e ensinam acerca da vida marinha, Molly Moo Cow and
the Butterflies (1935) celebra a natureza idílica a partir da exaltação da beleza das borboletas,
e o episódio Tree´s Knees (1931), da série Bosko, defende a preservação da floresta, são todos
eles marcados por narrativas que valorizam a interdependência entre as espécies retratadas.
Segundo os autores, esse segundo padrão de representação da natureza ecoou em várias
produções futuras, incluindo animações da Disney e da Dreamworks, algumas delas recentes.
São exemplos, curtas como Mr. Bug Goes to Town (1941), A Bela Adormecida (1959), The
Incredible Mr. Limpet (1964), Aristogatas (1970), O Cão e a Raposa (1981), Uma Cilada
Para Roger Rabbit (1988) e Bee Movie: A história de uma Abelha (2007).
A crítica ao progresso econômico e ao consumo como promotores da degradação da
natureza é o que caracteriza o discurso ambiental da terceira abordagem identificada por
Murray e Heumann (2011). Assim, é o pós Segunda Guerra Mundial que estimula o
surgimento de enviro-toons que se aproximam da filosofia conservacionista de Aldo
Leopoldo, “denunciando” as consequências ambientais decorrente da cultura norte americana,
sobretudo a recreação ao ar livre e o turismo ambiental. Nesse contexto, ganham destaque
176
177
comunicação ambiental da animação, os autores revelam que vários outros aspectos estão
circunscritos nessas discussões ambientais. São eles:
178
39
Murray & Heumann (2011) defendem que Wall-E recupera o enfoque apocalíptico apresentado em filmes da
década de 1970, como Omega Man (1971), Soylent Green (1973) e Corrida Silenciosa (1972). De acordo com
os autores, Wall-E enfrentou campanhas suscitando seu boicote, alertando acerca da hipocrisia de seus
realizadores, tendo em vista a contradição de sua narrativa e a o estímulo ao consumo realizado pela Disney
quando da exploração comercial de produtos derivados do filme.
180
Ainda sobre a série Os Simpsons, convém observar acerca das potencialidades de seu
tom satírico para as questões ambientais. Conforme Pike (2010), sua ênfase no humor
contempla a representação de múltiplas vozes (atores sociais) e, no caso do longa animado Os
Simpsons: O Filme (2007), ela é relevante para ressaltar a complexidade do desastre
ambiental representado, sendo, portanto, uma crítica direta à classe média norte americana em
sua cumplicidade com a degradação ambiental. Para o autor, o filme enfatiza e satiriza a
responsabilidade humana acerca das catástrofes ambientais representadas – a contaminação
do lago da cidade de Springfield, destacando o engajamento ambiental (personagem Lisa
Simpson), a irresponsabilidade ambiental (evidente em Homer Simpson) e também as
limitações e insensibilidades políticas. Na verdade, a centralidade da questão ambiental nesse
seriado animado é atestada já na ocupação laboral do próprio Homer Simpson, empregado de
uma usina nuclear. Além disso, temas como mutação genética, reciclagem, grupos
ambientalistas, e a própria sustentabilidade, foram contemplados em vários episódios.
No caso do longa metragem, autor sugere que seu principal diferencial reside no fato
de que a questão do desastre ambiental - contaminação química do principal rio da cidade, é
atribuída não somente a Homer, mas ao governo e às empresas. Assim, Pike (2010) valoriza a
multiplicidade de vozes inserida na problemática do meio ambiente, dentre elas a da mídia,
dos políticos, da população civil, das crianças, dentre outros atores sociais. Emerge, portanto,
uma intensa sátira sobre os conflitos que representam a sociedade contemporânea.
Essa mesma perspectiva é observada pelo autor em relação à série animada South
Park, em que a sátira social abriga uma multiplicidade de discursos, ainda que não haja
privilégio em relação a um deles. Em South Park Pike (2010) identifica relevantes e
contundentes críticas às contradições sociais, inclusive aos discursos ambientais, conforme
Rainforest Schmainforest (1999)40, episódio que satiriza estereótipos da natureza selvagem
intocada. Já o progresso e suas externalidades são criticados em Smug Alert (2006)41, quando
enfatiza a adoção de carros híbridos como forma de enfrentamento à poluição atmosférica, e
os alertas ambientais de Al Gore em seu filme Uma Verdade Inconveniente são centrais em
ManBearPig (2006)42. Para o autor, não se trata de neutralizar ou ridicularizar os discursos
ambientais, mas de alertar acerca das contradições de representações de uma natureza ingênua,
40
Nesse episódio as personagens se perdem na Floresta durante uma viagem à Costa Rica.
41
No episódio a sátira decorre do fato de que o crescimento no uso de carros híbridos é seguido pelo aumento
no número de fumantes, uma vez que esses mesmos motoristas começam a fumar após adquiri-los. A turma
adota carros híbridos após uma nuvem de fumaça tóxica encobrir a cidade de São Francisco na Califórnia.
42
No episódio uma sátira a abordagem de Al Gore é apresentada quando uma renomada autoridade insiste em
convencer a população de que bizarra criatura (uma mistura de homem, porco e urso) é a maior ameaça a vida
humana. O foco aqui é retratar a busca por visibilidade como mais relevante do que a própria questão que se
revela.
181
desprovida de perigos e ameaças aos homens. No segundo episódio citado, essa hipocrisia
social é destacada através do uso de carros híbridos, sem, no entanto, introduzir qualquer
mudança nos estilos de vida individualizados, e no terceiro caso, se evidencia as contradições
que envolvem o uso de celebridades em questões ambientais, enfatizando suas
responsabilidades individuais acerca das mudanças climáticas, em específico, sem também
discutir a responsabilidade das grandes corporações.
Retornando ao contexto da Disney, a despeito de sua hegemonia na animação em
longa metragem na chamada “era de ouro” da animação, e que fora retomada na década de
1990, Murray e Heumann (2011) dedicam atenção pontual, sobretudo evidenciando seu
privilégio por representações que opõem natureza e sociedade e exploram esses conflitos,
apesar de também celebrar a interdependência entre espécies que habitam uma natureza
idílica, sagrada e ingênua. Para os autores, a Disney se furta em problematizar a exploração
utilitária do mundo natural. Como vimos, Jardim (2013) também se posiciona criticamente
acerca da obra mais recente da Disney, reconhecendo que suas representações da natureza
privilegiam determinadas espécies, perpetuam estereótipos nocivos e são conservadoras
quanto ao domínio do homem sobre a natureza. Uma defesa, entretanto, é feita por Whitley
(2012), que busca esclarecer as contribuições da Disney para a comunicação ambiental.
De acordo com Whitley (2012), a natureza sempre foi um tema central na obra da
Disney, marcada, em especial, por representações em que ela desponta como oposição ao
mundo social, perspectiva essa alinhada às observações assinaladas por Murray e Heumann
(2011). Contudo, conforme destaca o autor, suas estratégias de privilégio a um engajamento
emocional em sua audiência, assim como sua ortodoxia estética pautada no realismo, suscitam
grande parte da crítica acadêmica direcionada a sua obra, denunciada como uma estética
desprovida de autenticidade, dada a sua vinculação conservadora.
Observando o contexto do discurso ambiental na Disney, Whitley (2012) se mostra
mais flexível que outros autores, ressaltando que o apelo sentimental manifestado nas
narrativas dramáticas apresentadas pelo estúdio mostra-se favorável à exposição e à
exploração das mais diversas questões ambientais, principalmente diante de um público
infanto-juvenil. Na verdade, o autor reconhece que o humor e as emoções são cruciais para a
animação superar suas limitações estruturais, quais sejam, as representações simplificadas das
problemáticas apresentadas e a simples transmissão de ideologias sociais para orientar as
ações da audiência. Além disso, defende que o realismo na Disney assume diferentes
orientações, seja para acomodar uma narrativa moralmente relacionada ao ethos
conservacionista – a vilanização da caça em Bambi, por exemplo, seja para manifestar uma
182
183
43
De acordo com Whitley (2012) Eisner também foi um dos fundadores da Environmental Media Association
(EMA).
44
Conforme Whitley (2012), dado ao contexto de seu lançamento, em plena Segunda Guerra Mundial, Bambi
somente obteve sucesso de público, além de reconhecimento de seu valor ambiental, na década de 1950.
184
45
Um remake desse filme está previsto para ser lançado no ano presente, também em animação, mas
utilizando-se da técnica em 3D.
185
por isso pode incorrer tanto em engajamento ambiental como no despertar do interesse em
possuir aquários, fenômeno já alertado por Yong, Fam e Lum (2011).
Whitley (2012), assim como Murray e Heumann (2011), ressalta que depois de Bambi,
Wall-E é a mais relevante animação ambiental da Disney. Observa que essa animação retrata
a catastrófica exploração da natureza, representando os impactos de um estilo de vida pautado
na intensa produção e consumo, em uma perspectiva apocalíptica e distópica. Para Whitley
(2012), a nostalgia em sua narrativa estabelece uma empatia em favor do resgate da
interdependência homem/natureza, e de uma ética ambiental como condição de sobrevivência.
Contudo, reconhece haver uma contradição entre a abordagem ambiental representada e as
próprias práticas de licenciamento de produtos e brinquedos exploradas pelo estúdio, as quais
são, na verdade, um forte estímulo ao consumo.
De forma geral, considera que a temática ambiental persiste em obras recentes da
Disney. A Princesa e o Sapo (2009), por exemplo, ressalta a beleza e a vitalidade do mundo
natural, quando evidencia a jornada das personagens humanas convertidas em sapos,
Ratatouille (2008) explora a interface entre humanos e não humanos, enquanto Selvagem
(2006)46 observa a relação entre cultura e sociedade a partir do conflito que ocorre quando
animais do zoológico são reinseridos na natureza. Mesmo em Up: Altas Aventuras (2009),
torna-se evidente um discurso em defesa dos direitos dos animais, nomeadamente aqueles que
vivem em ambientes isolados.
Conforme exposto anteriormente, duas das principais referências nas discussões
acerca da comunicação ambiental no cinema de animação contemplam sua vertente comercial
norte-americana. Enquanto Whitley (2012) procura valorizar a temática ambiental em longas
metragens animados pela Disney, Murray e Heumann (2011) a observam em um contexto
mais amplo, contemplando algumas dessas produções, mas também uma diversidade de
cartoons autorais não menos comerciais que as fábulas da Disney. Além disso, o crescimento
do interesse acadêmico pela temática ambiental na animação parece caminhar, ainda que
lentamente, em direção aos animes japoneses, situando-os, de uma forma geral, como
representações ambientais mais inovadoras e complexas. Mas, conforme ressaltam Smith e
Parsons (2012), ainda há uma ênfase maior nas particularidades estéticas autorais do que na
dimensão ambiental propriamente dita, sobre as quais apenas discussões pontuais são
evidenciadas.
46
O longa, dirigido por Steve Williams, é uma coprodução da Disney com a canadense C.O.R.E Animation.
Sua trama retrata Leões criados em zoológicos em conflito com seus instintos naturais.
186
No sentido de encerrar esse capítulo, convém observarmos, mesmo que de forma geral,
que Ozamu Tezuka e Hayao Miyazaki, dois grandes expoentes da animação japonesa,
conforme já destacamos anteriormente, são considerados militantes ecológicos, cujas obras
assumem relevância ambiental, sendo ambos herdeiros da vertente de animações autorais
engajadas que emergiram na Europa, no período do pós Segunda Guerra Mundial,
estimuladas, sobretudo, pela ameaça nuclear. Para Denis (2010), Tezuka deve ser considerado
como o precursor da animação enquanto denúncia acerca das contradições do mundo
moderno, especialmente em sua dimensão ecológica, dedicando-se à valorização das florestas,
como nos revelam obras como A Lenda da Floresta, de 1988. Pikkov (2010), por sua vez,
observa que Miyazaki, responsável pelo aclamado estúdio Ghibli, atribuiu centralidade ao
conflito homem e natureza, empenhando-se em expor sua complexidade e também em
resgatar relações mais harmonias.
Diferentemente das abordagens ambientalistas marcantes nas animações ocidentais, as
quais enfatizam as resoluções dos conflitos homem/natureza a partir de valores
antropocêntricos, as produções japonesas são caracterizadas por suas orientações filosóficas e
espirituais no enfrentamento dos problemas ambientais. Dessa forma, Wells (2009) ressalta
que o antagonismo entre natureza e cultura é melhor resolvido em animações japonesas, como
aquelas realizadas por Ozamu Tezuka, principalmente em função da força da tradição
japonesa na cultura moderna, que valoriza a natureza como fonte espiritual. Para o autor, a
série animada Kimba, the White Lion (1965 a 1967), exemplifica como esse animador buscou
representar o mundo natural como repositório de valores que são expressos através dos
animais.
Contudo, dada a vitalidade do estúdio Ghibli e de seu acentuado reconhecimento pelo
público ocidental, é a temática ambiental em Miyazaki que desperta maior interesse. Em
linhas gerais, as animações de Miyazaki são celebradas pelo resgate de valores culturais da
tradição japonesa e por manifestar questionamentos filosóficos sobre o mundo, apoiando-se
em representações marcadas pela interação entre deuses mitológicos, demônios, animais e
seres humanos. É o que defende Wells (2009) ao destacar que: em Meu Amigo Totoro (1988),
o personagem Totoro representa o espírito da floresta, um protetor que estimula o imaginário
e a espiritualidade nas duas crianças protagonistas; Porco Rosso: O Último Herói Romântico
(1992) apresenta como personagem central uma criatura que é um misto de homem e porco, e
que manifesta a desilusão diante da modernidade do pós-guerra; Princesa Mononoke (1997)
ressalta o poder da natureza a partir de um discurso totêmico, representando animais e
homens em conflitos “ideológicos”, em uma crise pela disputa sobre o ambiente. Enquanto
187
Wells (2009) atribui a Miyazaki uma representação do mundo natural em sua pureza, algo
difícil à compreensão humana, sobretudo na cultura ocidental, Whitley (2012) defende que o
fato de os animais representados na maioria dos seus filmes não falarem, são menos
antropomorfizados que na produção ocidental, o que traduz o respeito do diretor pela natureza,
uma abordagem que visa assegurar sua integridade representativa.
Em Miyazaki também são reconhecidas contribuições para o estímulo ao ativismo
ambiental na audiência, nomeadamente em decorrência das representações de questões
ambientais que valorizam as políticas do ambiente. Smith e Parsons (2012) consideram a
animação Princesa Mononoke (1997) como uma das obras mais importantes acerca dessa
perspectiva. De acordo com os autores, o filme se assemelha à animação FernGully (1992),
uma vez que seu tema é a representação da devastação das florestas, observada a partir de um
perspectiva mística e fantástica, como espaço que abriga os mais diversos deuses. Outra
semelhança reside na ênfase da degradação como resultado da ação de forças sobrenaturais,
mais do que das ações humanas (a mineração também é representada), e ainda pelo fato de
que a personagem que assume a defesa do meio ambiente é motivada por envolvimento
afetivo, mais que pelo reconhecimento da subjetividade da natureza.
Contudo, Smith e Parsons (2012) observam que Princesa Mononoke desenvolve a
problemática ambiental de uma forma contrastante, sob os mais diversos aspectos, com as
animações ambientais ocidentais: ao invés de desenvolver um melodrama maniqueísta entre
vilões destruidores da floresta e heróis defensores, enfatiza a problemática ambiental tendo
em vista a diversidade de interesses e também de suas contradições, representando a
mineração como atividade que resulta em beneficio para seus trabalhadores, mas também em
prejuízo para a natureza; ao invés de persistir na defesa moral do discurso conservacionista,
valoriza temas como justiça ambiental e políticas do ambiente; ao invés de uma natureza
utilitária que deve ser preservada para assegurar a vida humana, valoriza uma natureza
sublime, mística e subjetiva, mas indispensável à sobrevivência das sociedades. Assim, para
os autores, sua narrativa é complexa, pois enfatiza os paradoxos da intervenção humana sobre
o mundo natural. Nela, a destruição não é detida, e a floresta é intensamente degradada, mas
logo dá sinais de sua capacidade de auto-restauração. É diante desse contexto que Pikkov
(2010) vai assinalar que em Miyazaki, a animação ambiental, em sua vertente autoral, é mais
questionadora, e seu sucesso de público representa um contraponto às perspectivas
reformistas das animações comerciais hegemônicas.
Conforme discutido ao longo deste capítulo, notamos que a inserção da temática
ambiental na animação assumiu diferentes contornos e significados, mostrando-se relevante
188
apesar da contradição que reside no fato de a animação, em sua vertente mais popular,
despontar como produto cultural comercial intimamente vinculado ao consumo dos mais
diversos produtos licenciados, sobretudo brinquedos derivados das personagens animadas. Na
verdade, essa contradição é própria das sociedades capitalistas e traduz o desafio principal do
debate ambiental contemporâneo, qual seja conciliar sociedade e natureza a partir de relações
mais harmoniosas. Nesse sentido, não podemos deixar de reconhecer, conforme ressaltam
Smith e Parsons (2012), que a valorização da temática ambiental na animação comercial,
sobretudo a partir da década de 1990, favoreceu as expectativas da educação ambiental,
depositando no público infanto-juvenil (a geração futura!) a esperança de estabelecer as
mudanças necessárias nas percepções e atitudes em relação ao mundo natural.
Para os autores, o crescimento e a diversificação da animação ambiental assinalam um
fenômeno denominado de enviro-tainment, em que filmes animados conciliam sua função de
entretenimento com a manifestação das mais variadas questões ambientais, inclusive sobre as
políticas de ambiente, tornando-se fundamental em um contexto marcado pela ideologia do
progresso - a natureza como recursos. Embora reconheçam que a animação ambiental
encontra-se em expansão tanto na cultura ocidental como em países como o Japão, destacam
que ambos os casos oferecem perspectivas diferentes para o enfrentamento de problemáticas
ambientais semelhantes, sendo esse último caso, marcado por questionamentos mais
profundos acerca de nossas relações com o meio ambiente, sobretudo em termos políticos.
Além disso, conforme defende Todd (2015), a despeito dessa diversidade de temas e
abordagens na animação ambiental, é importante considerar, acima de tudo, o valor simbólico
e ideológico do filme animado, uma vez que a animação é uma arena relevante para a
construção de significado para as mais diversas questões sociais e políticas, inclusive para
aquelas relacionadas ao meio ambiente. Na verdade, dada a sua diversidade estética e de
motivações de produção (entretenimento, pedagógico, ideológico etc) a animação deve ser
mais bem compreendida como um espaço demarcado por disputas. Dessa forma, de acordo
com o autor, sua circulação entre uma ampla e variada audiência (adultos e crianças) e sua
capacidade de recriar "realidades alternativas”, sobretudo a partir do ponto de vista da
natureza (personagens animais) são características que lhe conferem posição privilegiada no
debate ambiental.
Além disso, suas representações centradas na comicidade são favoráveis à
autorreflexão da audiência, de modo a inseri-la e posicioná-la nas problemáticas ambientais.
Dessa forma, alinhando-se às sinalizações de Robert Cox, Todd (2015) observa a animação
como um produto cultural capaz de responder às crises ambientais, estimulando a consciência
189
sobre os mais diversos riscos da modernidade, seja criticando os estilos de vida e ressaltando
suas consequências apocalípticas, seja satirizando-os de forma a valorizar a necessidade de
interdependência com o mundo natural. Contudo, adverte que é necessário superar algumas
limitações, como as narrativas melodramáticas pautadas em heróis, que, sozinhos, resolvem
os problemas de ordem ambiental, mesmo se evidenciando a necessidade de participação
coletiva.
Sendo o cinema comercial intimamente vinculado aos interesses comerciais, portanto,
menos favoráveis à veiculação de críticas estruturais, resultando mais em estímulo a um
“engajamento” ambiental reformista, é na produção autoral e independente que os enfoques
ambientais mais críticos e complexos encontram maiores possibilidades. Nesse sentido,
percebemos que, da mesma forma que a criação da EMA contribuiu para a inserção da
temática ambiental nas narrativas da animação comercial, estimulando ainda inovações
ambientalmente favoráveis nos processos de produção e distribuição do audiovisual - vários
estúdios adotaram políticas de neutralização de carbono, a exemplo da Disney e da Fox. Os
festivais especializados nessa temática, por exemplo, mostram-se cruciais para a produção
independente, constituindo espaço privilegiado de audiência e de crítica. É nesse sentido que
situamos nossa pesquisa, analisando os discursos e representações da natureza em animações
veiculadas em festivais ambientais realizados no Brasil, cujos desdobramentos são
apresentados no capítulo seguinte.
190
191
Tabela 03: Ano de realização, animações, festival contemplado e total por ano (1999-2014)
FESTIVAL TOTAL
ANO ANIMAÇÃO
CONTEMPLADO ANIMAÇÕES
1999 A Lenda da Árvore Sagrada FICA 01
2000 Entrevista com o Morcego FICA 02
Não Fique Pilhado FICA
2004 Filme Ilhado FICA 01
2005 Rap dos Bichos FICA 02
Tainá-Kan, A Grande Estrela FestCineAmazonia
2006 A Esperança e a Última que Morde FestCineAmazonia 04
A princesa do Vale FestCineAmazonia
Dias de Sol FestCineAmazonia
Vida Maria FestCineAmazonia
2007 Alegria de Macaco FICA 03
Consumidouro Filmambiente/FICA
Mapinguari o Protetor da Floresta FestCineAmazonia
2008 Bumba Meu Peixe FestCineAmazonia 02
PAJERAMA FICA
2009 Buba e o Aquecimento Global FestCineAmazonia 03
Fundo FICA
Perfeito FestCineAmazonia
2010 A folha da Samauma FICA 05
Consciente Coletivo: Aquecimento Global FICA
Consciente Coletivo: Resíduos FICA
Gente Grande Filmambiente
O Jardineiro - Com Feliciano Esperança FestCineAmazonia
2011 Água é para todos FICA 09
De onde vem a água do Rio FICA
Dia Estrelado FICA
Essência FICA
O cangaceiro e o leão Filmambiente
O Diário da Terra FestCineAmazonia
Peixe FestCineAmazonia/FICA
Peixe Frito em Uma Aventura Rupestre FICA
Tamanduabandeira Filmambiente/FICA
2012 Desabrigados FICA 07
Destimação FICA
Escalada FICA/Filmambiente
Eta Bicho homem FestCineAmazonia
Hainá:O Filtro FICA
O Rei Gastão FICA/Filmambiente
Os sustentáveis FICA
2014 O Menino e o Mundo FICA 01
192
1
De uma forma geral, é importante considerar que a produção audiovisual nordestina ainda se mostra
incipiente em relação ao contexto da região sudeste do país, embora tenha assistido a uma sensível expansão nas
duas últimas décadas. No caso específico da animação, a emergência tardia de cursos de graduação em
audiovisual pode constituir um fator relevante para a compreensão dessa pequena participação de produções
nordestinas no corpus analisado.
193
2
Ricardo de Podestá é um dos expoentes da nova geração de animadores goianos. Atualmente é sócio da
produtora Mandra Filmes, tendo várias de suas obras reconhecidas por diversos festivais de animação, a exemplo
do AnimaMundi. Ver mais em http://janela.art.br/especiais/a-arte-do-desafio-a-animacao-em-
goias/?doing_wp_cron=1448988622.6445310115814208984375
3
Diego Viegas é um premiado animador brasileiro, autor do curta Josué e o Pé de Macaxeira, vencedor como
Melhor Curta-Metragem Brasileiro pelo Júri Popular, no AnimaMundi de 2009, e também do Kikito de Melhor
Curta-Metragem em Gramado, nesse mesmo ano. Viegas é também proprietário do Viegas estúdio. Ver mais em
http://www.animamundi.com.br/diogo-viegas-e-cria-do-anima-mundi-de-monitor-do-estudio-aberto-a-ganhador-
de-2012/
4
Arnaldo Galvão é um animador brasileiro com vasta experiência em cartuns e ilustrações. É um dos
fundadores da Associação Brasileira de Cinema de Animação (ABCA). Ver mais em
http://site.videobrasil.org.br/acervo/artistas/artista/37686
5
Luiza Falcão é presidente do Ponto de Cultura Associação Mundo Animado das Artes - AMANDA, Fortaleza
(CE). Ver mais em http://www.premioculturaviva.org.br/2edicao_interprogramas.php
194
Coletivo: Aquecimento Global, ressaltam a problemática quanto aos hábitos alimentares dos
indivíduos. Evidentemente, uma análise mais detalhada acerca das demais produções desses
realizadores, para além do contexto desses festivais, extrapolaria os objetivos dessa pesquisa.
Assim, seria prematuro aqui reconhecê-los como animadores essencialmente engajados com
as questões ambientais.
Além da autoria, também observamos a participação de produtoras de audiovisual na
realização das animações da amostra. Assim, identificamos que 27 delas, 67% dos casos,
mencionam produtoras associadas, enquanto 13 obras figuram como produções autorais
independentes. A Mandra Filmes, um estúdio de animação de Goiás, é a produtora que
concentra o maior número de animações no corpus, totalizando quatro obras: Destimação,
Peixe Frito: uma aventura rupestre, Tamanduabandeira e Filme Ilhado. Entre as várias
outras produtoras identificadas, prevalecem estúdios de animação a exemplo da Lunarte (CE)6,
Mono 3D (SP)7, Estúdio OpenTheDoor (SP)8, Estúdio Birdo (SP)9, Buba Filmes (SP)10,
Cartunaria Desenhos (RS) 11 , ambas integradas ao mercado, sobretudo de animação
publicitária e para a web. Destaca-se ainda a premiada produtora Filme de Papel (SP)12,
especializada em obras ficcionais, responsável pelo longa O Menino e o Mundo. Também
figuram na amostra produções resultantes de oficinas de animação, como o curta A folha da
Samauma (2010), produzido por crianças indígenas da Aldeia Guarani Tekoa Pyau, as
animações A princesa do vale (2006) e Bumba Meu Peixe (2008), produzidas por alunos da
Associação Mundo Animado das Artes (AMANDA), uma entidade cearense sem fins
lucrativos com foco na capacitação profissional em animação, e também Consumidouro
(2007), elaborado durante um curso realizado pelo animador Paulo Munhoz.
Conforme assinalado, a maior parte das animações da amostra foi realizada por
produtoras e a maioria delas contou com apoio ou patrocínio, sobretudo de instituições
públicas, seja no âmbito estadual ou nacional. Identificamos que ao menos 12 animações
contaram com recursos do Ministério da Cultura e pelo menos dez obtiveram recursos para
sua realização a partir de leis estaduais de incentivo à cultura. Entre outros patrocinadores
públicos despontam a Petrobras, o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e
Tecnológico, CNPq, a Fundação de Amparo à pesquisa do estado de Minas Gerais
6
Ver mais em www.lunart.com.br
7
Ver mais em http://mono3d.com
8
Ver mais em https://www.facebook.com/estudioopenthedoor/
9
Ver mais em http://www.birdo.com.br
10
Ver mais em http://bubafilmes.blogspot.pt/p/sobre-nos.html
11
Ver mais em http://cartunaria.blogspot.pt
12
Ver mais em http://filmedepapel.blogspot.com.br
195
13
Trata-se de um edital que contemplou com recursos da ordem de R$ 20 mil propostas de curtas-metragens
animados sobre temática ambiental previamente estabelecida. Além de assegurar a produção, o edital também
assegurou a inserção das obras contempladas no circuito Tela Verde do Ministério do Meio Ambiente e na grade
de programação das emissoras públicas de tevês. O primeiro edital do programa foi lançado em 2009, assumindo
como tema as Mudanças Climáticas. A edição de 2010 teve como tema Consumo Sustentável e Biodiversidade
em 1 minuto. Ver mais em http://www.mma.gov.br/informma/item/6529-mma-e-minc-lancam-edital-para-
curtas-de-animacao-cine-ambiente
14
Ver mais em http://www.cultura.gov.br/o-dia-a-dia-da-cultura/-
/asset_publisher/waaE236Oves2/content/circuito-tela-verde-de-cinema-ambiental/10883
196
15
Consideramos aqui o seu ano de lançamento no Brasil.
197
16
O Menino e o Mundo foi exibido em salas de cinemas de mais de 80 países e circulou em mais de 150
festivais internacionais de audiovisual. O filme recebeu mais de 45 premiações, a maioria como melhor filme de
animação. Em alguns desses festivais essa animação também foi reconhecida como melhor roteiro, melhor trilha
sonora etc. O Menino e o Mundo também foi indicado ao Oscar de melhor animação, na edição 2016. Ver mais
na fanpage oficial no Facebook.
https://www.facebook.com/124747370946197/photos/a.324789884275277.79117.124747370946197/914027972
018129/?type=3
198
199
aquelas em que o meio ambiente e sua problemática assumem centralidade e são apresentados
de forma explícita, as quais iremos designar por enviro-toons em que o meio ambiente é
protagonista (animações sobre o ambiente), e aquelas em que tais questões são indiretamente
representadas, enviro-toons em que o meio ambiente é coadjuvante (animações no ambiente).
A primeira abordagem foi identificada em 26 casos, quando questões ambientais diversas
emergem diretamente das interações entre as personagens e o mundo natural e assumem
centralidade nas narrativas, marcadas, sobretudo, pela ênfase nos impactos dos primeiros
sobre esse último. Na verdade, nesses casos, a problemática ambiental se confunde com o
próprio conflito da narrativa - o desafio a ser superado, seja pelas personagens, seja pela
audiência. Na segunda abordagem, relativa aos demais 14 casos da amostra, o ambiente e suas
problemáticas são indiretamente representados, pois servem apenas como contexto para o
desenvolvimento das narrativas, despontando, ora como evento “motivador” para uma
diversidade de conflitos de ordem social ou psicológica nas personagens, ora quando é
considerado entre tantas outras consequências de eventos que orientam a evolução das
histórias, ou ainda, simplesmente quando da caracterização e contextualização das
personagens a partir da valorização de suas atitudes sobre o mundo natural. Assim,
distinguimos entre animações que desenvolvem histórias sobre o ambiente e animações que
desenvolvem histórias no ambiente.
Se considerarmos a distribuição dessas duas formas de representação da temática
ambiental pelos festivais contemplados, notamos que apenas no FestCineAmazonia o
quantitativo de “animações sobre o ambiente” exibidas (7 casos) é praticamente o mesmo de
“animações no ambiente” (6 casos), uma vez que nos demais festivais há uma nítido
predomínio das primeiras. De forma geral, é no FestCineAmazonia que notamos uma maior
“flexibilidade” quanto aos critérios de identificação de temáticas ambientais nas obras
selecionadas, por isso ele despontar não somente como o festival com maior número de filmes
exibidos por edição, mas também como aquele em que predominam animações “não
ambientais” e “animações no ambiente”.
Já em termos de região de produção das animações da amostra, notamos que nos casos
do Nordeste e do Centro Oeste as “animações no ambiente” superam, em números absolutos,
as produções explicitamente ambientais, enquanto nos casos do Sudeste e do Sul, ocorre o
inverso. Na verdade, no corpus desta pesquisa, apenas 25% das animações ambientais
produzidas no Sudeste não se configuram como “animações sobre o ambiente”, enquanto esse
percentual é ainda menor entre as obras da região Sul, apenas 20% de seus casos.
200
201
202
i. Indígenas: Pajemara tem como protagonista uma criança indígena “lutando” pela
sobrevivência diante do avanço da cidade sobre a floresta em que vive com alguns
poucos remanescentes de sua tribo. Em Tainá-Kan, a Grande Estrela, é uma jovem
índia de uma tribo Carajás quem “descobre” o segredo da agricultura que lhe é
revelado pelos deuses de sua mitologia;
ii. Antigos povos africanos: A Lenda da Árvore Sagrada retrata a escravização dos
negros e também a tirania e a opressão dos colonizadores sobre a cosmologia tribal e
também sobre o meio ambiente;
iii. Cidadão comum: Alegria de Macaco é sobre indivíduos maravilhados com a aquisição
de um produto recém lançado no mercado. Os dois episódios Consciente Coletivo
representam cidadãos ordinários enquanto consumidores que contribuem para o
aquecimento global e para o acúmulo de resíduos descartáveis no planeta. Em
Consumidouro é um indivíduo consumista que empreende toda a degradação do
planeta. Os Sustentáveis apresentam o cidadão ordinário como uma séria ameaça à
sustentabilidade ambiental do planeta;
iv. Crianças: Vida Maria é um drama sobre uma menina que cresce em meio às
adversidades sociais (analfabetismo, gravidez precoce etc) que afligem comunidades
no semiárido nordestino. Em O Diário da Terra uma menina denuncia as
consequências da ação humana no planta, a partir das transformações negativas do seu
cotidiano. No caso de Gente Grande é uma criança quem decide cuidar do planeta
para garantir o futuro de todos. O Cangaceiro e o Dragão é sobre um menino que
“investiga” o aquecimento global para realizar uma tarefa escolar. Em O Menino e o
Mundo um garoto da área rural vive uma jornada à procura de seu pai na cidade
grande;
v. Profissionais e trabalhadores: Desabrigados expõe madeireiros devastando uma
floresta. Eta Bicho Homem e Mapinguari, o Protetor da Floresta também contam
histórias em que madeireiros são os antagonistas do ambiente. Em Entrevista com o
Morcego um jovem cientista explica os impactos da intervenção humana no habitat
203
dos morcegos. Nesse mesmo filme, são os operários de uma usina hidrelétrica os
principais antagonistas ambientais.
204
205
206
Convém destacar que esses tipos de histórias ambientais não são mutuamente
excludentes nas animações contempladas. Na verdade, observamos que, usualmente, cada
narrativa privilegia um tipo de história ambiental, contudo elas se mostram híbridas,
207
208
210
natural e suas sobre a floresta em que habita. compromete por completo a vida
implicações para indígena e a própria natureza.
populações indígenas
Consumismo Estilos de vida Alegria de Macaco: Em Amsterdam, Direta/A cidade sofre uma
modernos e na Holanda, a sociedade deposita sua catástrofe ambiental (inundação)
degradação ambiental satisfação pessoal nas práticas de decorrente do excesso de resíduos
consumo, tornando-se alheia e descartados em seus canais.
vulnerável aos riscos ambientais
relacionados.
Consumidouro: O estilo de vida Direta/Seus hábitos resultam na
consumista de um jovem alienado degradação total do planeta.
que vive confinando em sua casa
(área rural) resulta diretamente em
sérios problemas ambientais.
Exploração de Apropriação irrestrita Escalada: Um grupo de “homens” Direta/O intenso consumo de
Recursos Naturais dos recursos naturais estabelece uma disputa pela recursos naturais leva ao
e o comprometimento construção do maior esgotamento do planeta.
da sustentabilidade do empreendimento, levando ao extremo
planeta o consumo de recursos naturais.
Filme Ilhado: Um náufrago anseia Indireta/O resgate não ocorre e a
por resgate, mas logo percebe que degradação ambiental avança e
todos estão alheios não somente à sua atinge a ilha em que se encontra o
necessidade, mas também à náufrago.
degradação ambiental.
Animais da floresta Eta Bicho Homem: Um grupo de Direta/A degradação culmina com
ameaçados pela homens, motivados por interesses sérias implicações à floresta e aos
intervenção humana econômicos, devasta uma floresta animais.
para extrair madeira e também para
se apropriar de espécies. animais
Desabrigados: Pecuaristas derrubam Direta/A degradação culmina com
uma floresta para ampliar a produção a expulsão dos animais que se
extensiva. refugiam nas poucas árvores
existentes.
O Rei Gastão: Um rei se apropria de Direta/Depois de profundas
uma diversidade de recursos naturais interferências o rei se solidariza aos
para construir o seu castelo e o seu animais vitimados, acolhendo-os
reino, afetando a vida de diversos enquanto restaura o ambiente ao
animais e transformando estágio inicial.
drasticamente a paisagem.
Animais do cerrado Rap dos Bichos: Diversos animais do Direta/A degradação se intensifica
brasileiro ameaçados cerrado denunciam os impactos da e ameaça de extinção os animais
pela intervenção intensa degradação do bioma, além apresentados. A audiência é
humana no bioma de sua própria extinção. alertada acerca do ritmo e das
consequências da devastação.
Animais e povos Mapinguari, O Protetor da Floresta: Direta/As lágrimas do Mapinguari
indígenas ameaçados Um grupo de homens interfere na se transformam em chuva e
pela intervenção na dinâmica de uma floresta, derrubando recompõem a natureza de toda a
floresta árvores, realizando queimadas, destruição.
caçando animais, contaminando rios
e ameaçando índios, deixando triste o
Mapinguari – uma criatura protetora
da floresta.
Equilíbrio A intervenção humana Entrevista com o morcego: Um velho Direta/Com a destruição de seu
Ecológico no mundo natural morcego concede uma entrevista em habitat os morcegos migraram para
afeta drasticamente o que relata as consequências da as cidades e passaram a constituir
equilíbrio ecológico e intervenção (inundação de cavernas um problema de saúda pública – a
resulta em ameaça à para criação de barragens) humana raiva.
saúde humana em seu habitat.
Animais de A comercialização de Destimação: Uma criança, ansiosa Direta/Ao descobrir sobre os maus
Estimação animais de estimação por possuir um animal de estimação tratos dos animais comercializados
incorre em maus se decepciona com a experiência em pet shops, termina por adotar
tratos aos mesmos vivida quando do aprisionamento de um cão abandonado.
papagaio que apareceu em sua casa, e
211
Embora tenhamos identificado que essa categoria de história ambiental marcada pela
Denúncia de abuso na exploração/intervenção do mundo natural ocorre em 21 animações da
amostra, ele somente é central em 19 desses casos, cujas histórias contemplam denúncias
sobre oito temas principais: relação homem/natureza; consumismo; exploração de recursos
naturais; equilíbrio ecológico; animais de estimação; descarte e lançamento de resíduos;
aquecimento global; sociedades inviáveis.
A exploração de recursos naturais é o tema mais recorrente, contemplado por sete
animações. Em duas delas o enquadramento é sobre a insustentabilidade do planeta a partir de
uma perspectiva apocalíptica que enfatiza a irresponsabilidade humana em sua incessante
212
necessidade por recursos naturais. Mas, ambas as denúncias retratam apenas as implicações
da degradação ambiental no mundo social: Escalada trata dessa problemática de forma direta,
quando as duas personagens levam o planeta a exaustão completa, ao colapso; Filme Ilhado
pulveriza a degradação ambiental ao longo de sua narrativa, tratando-a de forma indireta e
secundária, quando enfatiza como conflito principal um náufrago em busca de resgate, mas
que é sempre preterido quando seus possíveis salvadores estão mais preocupados com seus
interesses por recursos naturais.
As demais cinco animações que contemplam a temática da exploração de recursos
naturais são lamentos sobre a exploração de recursos naturais em determinados biomas, com
ênfase no drama da vida animal: Desabrigados denuncia o avanço da pecuária extensiva
sobre a floresta, representando animais acuados na pequena área restante; contexto que
assume um tom apocalíptico em Eta Bicho Homem, quando não restam alternativas aos
poucos animais sobreviventes; mas é representado de forma otimista em Mapinguari, o
protetor da floresta, quando essa lendária criatura sobrenatural expulsa os madeireiros e
reverte toda a degradação do ambiente em favor dos animais e da tribo indígena outrora
ameaçados; e também em O Rei Gastão, quando após interferir drasticamente na floresta,
derrubando árvores, alterando cursos de rio, removendo montanhas, entre outras
interferências para a viabilizar a criação do seu castelo, o rei é sensibilizado pelos animais por
ele vitimados, passando então a renunciar (parcialmente) do seu projeto pessoal para
recuperar a floresta e proteger os animais; em o Rap dos Bichos o bioma representado é o
cerrado, e são os próprios animais da fauna local que denunciam a iminência de sua extinção,
prenunciando o futuro apocalíptico que os aguarda.
Entre essas animações que denunciam a exploração de recursos naturais identificamos
apenas características das enviro-toons da primeira onda destacada por Starosielski (2011),
dentre elas: crítica ao capitalismo, que desponta como oposição ao ambiente (indústria
madeireira, pecuária etc); o reconhecimento do ambiente como sendo dotado de vida própria e
de interações; a ênfase em denúncias destituídas de propostas de solução para as mesmas (em
Mapinguari a recuperação da floresta decorre de magia, embora em O Rei Gastão a mudança
na sensibilidade seja apresentada); o predomínio do tom de lamento; a centralidade na questão
da derrubada de florestas; a ausência de especificação espaço-tempo.
Denúncias sobre a opressão de povos nativos e suas implicações no comprometimento
de relações harmoniosas com mundo natural (e de sua própria integridade) são apresentadas
por duas animações. Em A lenda da árvore sagrada o drama da escravização de antigas tribos
africanas é a questão central da narrativa, que, de forma secundária, revela a harmonia, o
213
respeito e a integração desses povos em relação mundo natural, uma perspectiva totalmente
oposta a dos colonizadores ocidentais, representados em sua avidez por recursos naturais e
pela mão de obra escrava. Mas, nesse caso, a lamentação assume um tom otimista,
valorizando a capacidade de resistência das gerações africanas descendentes desses escravos
de reconquistar sua liberdade e sua integração com o ambiente. Quanto à segunda animação
que apresenta essa temática, Pajerama a problematiza de forma mais direta, retratando, sob a
ótica de um jovem índio, os impactos do crescimento espacial e avassalador da cidade
(inferimos tratar-se da cidade de São Paulo), denunciado em sua franca insensibilidade
perante o mundo natural, transformado em função dessa intensa demanda por espaços e por
recursos naturais que ignora e compromete a vida indígena, também representada como
ambientalmente harmoniosa. Em Pajerama o tom da denúncia é apocalíptico quanto às
possibilidades de permanência tanto dos indígenas, quanto do mundo natural. Assim como as
animações da temática anteriormente discutida, essas duas animações apresentam uma clara
vinculação com a primeira onda das animações ambientais apresentada por Starosielski
(2011): uma forte ênfase no capitalismo e na tecnologia como oposição ao ambiente; o tom de
lamento; a denúncia destituída de solução; a ênfase na poluição e na derrubada das florestas; a
representação de transformações do ambiente; seu reconhecimento como dotado de vida
própria.
O consumismo é outro tema contemplado pelas animações com histórias que
denunciam a exploração/intervenção humana no mundo natural. Duas animações da amostra
privilegiam essa temática, e, apesar de compartilharem o tom apocalíptico em suas narrativas,
apresentam enfoques bastante diferentes: Em Alegria de macaco as personagens vivem em
espaço urbano (Amsterdam) e apesar de haver um protagonista, é a população da cidade que
se faz representada enquanto consumidores alienados, seduzidos pelos estímulos publicitários
que anunciam a chegada de um produto (fictício) recém-lançado. Na narrativa, tanto o ciclo
de obsolescência quanto o lançamento de sucessivas versões desse produto são
intencionalmente dramatizados (aceleração temporal), sobretudo para acentuar o rápido
acúmulo de material descartado (em favor da aquisição de novas versões) que obstrui os
canais da cidade e provoca uma catástrofe ecológica – a inundação total de Amsterdam;
Consumidouro, por sua vez, apresenta uma narrativa menos precisa em termos espaço-
temporais, mas que encadeia uma sucessão de impactos ambientais, locais e globais,
diretamente com as práticas de consumo de uma única personagem. Assim, a narrativa apela
para o exagero, dramatizando as transformações do ambiente em termos temporais, tratando
diversas questões ambientais enquanto eventos instantâneos, ao invés de processos
214
215
constituído de madeira, se utiliza de ferramentas para esculpir um dos blocos de madeira que
compõe o seu mundo, delimitado por pequeno plano que lhe sustenta. Contudo, como sua
obra não consegue atender as suas expectativas, o trabalho persiste e se torna cada vez mais
intenso, produzido, como efeito colateral, a destruição quase que por completo de sua base de
sustentação. Trata-se de uma representação simbólica, e também subjetiva, da condição
humana no planeta, com uma perspectiva apocalíptica sobre o intenso consumo de recursos
naturais que orienta um projeto antropocêntrico. Nesse caso, as motivações da personagem
são subjetivas, e a degradação ambiental também é simbólica, desprovida de solução, apenas
empenhada em estabelecer uma denúncia. No caso de O Menino e o Mundo, único longa
metragem da amostra, a narrativa é reveladora das transformações das sociedades agrárias em
industriais, expostas através da jornada da personagem central, uma criança em busca de seu
pai que abandonara o campo e a família em busca de oportunidades na cidade. Na narrativa da
animação, realismo e fantasia se alternam no empenho por contextualizar o conflito pessoal
da personagem central com os mais diversos conflitos sociais que caracterizam e denunciam
uma sociedade intensamente globalizada. O longa é, acima de tudo, um denúncia da
inviabilidade social da vida moderna, testemunhada pela criança em seu jornada pessoal.
Assim, tecnologia, capital e máquinas são traduzidos à luz do desemprego, das precárias
condições de vida, do consumo, da opressão da classe trabalhadora, da perda da subjetividade
e, finalmente, culminam com a crise ecológica. Nesse sentido, apesar do tom apocalíptico
quando da representação da cidade e suas instituições, observamos uma valorização do
mundo rural para o qual se refugia novamente o “menino” no sentido de realimentar suas
esperanças. Na história, a inviabilidade da sociedade encontra solução na reinserção do
homem com o mundo natural, manifestando simultaneamente uma denúncia heideggeriana do
ataque da tecnologia e da ciência ao mundo natural, e também sua valorização enquanto fonte
de bondade, nos termos rousseaneano. De forma geral, são nitidamente duas animações que
herdam aspectos essenciais da primeira onda de enviro-toons: a forte crítica ao capital e à
tecnologia; o lamento; a denúncia; a ausência de solução.
Curiosamente, apenas duas animações privilegiam histórias empenhadas em denunciar
a ação humana enquanto causalidade do aquecimento global, principal agenda do debate
ambiental atual, sobretudo no contexto das mudanças climáticas. Esses dois casos
problematizam diretamente essa questão denunciando a responsabilidade humana, contudo,
diferentes enfoques são privilegiados: Em O Cangaceiro e o Leão o aquecimento global é
inicialmente contextualizado como problemática ambiental central na agenda pública, cujos
efeitos se estendem por todo o planeta, mas que se encontra em vias de resolução. Na
216
narrativa, sua exploração ocorre no âmbito da tarefa escolar a ser desenvolvida pela
personagem central, uma criança. Contudo, a narrativa assume um tom de fantasia, traduzindo
para a audiência o imaginário da personagem em que um dragão é inicialmente
responsabilizado pela onda de calor na cidade, mas termina por revelar o homem como
origem do fenômeno, intimando assim o garoto a cuidar do meio ambiente. Nesse caso, a
personagem é representada como causa do problema e também como parte essencial para sua
solução, embora as motivações apresentadas sejam todas elas doutrinadoras; O Diário da
Terra é uma animação experimental, e, assim como no caso anterior, também se utiliza de
uma personagem criança para denunciar as causas e consequências do aquecimento global.
Contudo, nessa animação a criança não é responsabilizada pelo problema ambiental, mas
apresentada como vítima do mesmo. Além disso, a problemática se faz próxima do seu
mundo, uma vez que ela relata mudanças em seu cotidiano diretamente relacionadas às
mudanças climáticas em seus mais diversos eventos e não somente relacionados ao
aquecimento do clima. Nesse caso, a denúncia também assume um caráter mais geral, pois
embora direcionada à produção industrial não apresenta as motivações que orientam essa
produção. Contudo, apesar de tratar o problema com uma maior abrangência, apenas impactos
sobre a vida humana são ponderados, sobretudo em um tom apocalíptico. Ambos os casos
também são filiados à primeira fase das envirotoons, pois manifestam críticas gerais ao
capitalismo, enfatizam a poluição e a derrubada de florestas e o tom de lamento. Contudo, o
fazem a partir de uma temática maior, o aquecimento global, somente apresentada em enviro-
toons da terciara onda, conforme Starosielski (2011).
Finalmente, os dois últimos casos de animações que manifestam denúncias acerca da
intervenção humana no ambiente o fazem a partir do enquadramento da temática dos animais
de estimação e do equilíbrio ecológico. Em Destimação a problemática é contextualizada a
partir do desejo de uma criança solitária, que vive com seu pai em um pequeno apartamento,
por possuir um animal de estimação. Contando apenas com envolvimentos simbólicos com o
mundo natural, mediados pelos programas de televisão, suas primeiras experiências diretas
com animais são frustrantes. Primeiro quando se apropria de um papagaio perdido que,
aprisionado em uma gaiola, manifesta pouca interação. Em seguida, quando tenta adquirir um
animal em uma pet shop, descobre o sofrimento decorrente das péssimas condições que são
submetidos. Dessa forma, a animação é um lamento sobre o drama dos animais, seja quando
representa as dificuldades de readaptação do papagaio ao mundo natural, seja quando retrata o
sofrimento, a morte e o abandono de vários outros animais destinados à comercialização.
217
Tabela 07: Temas ambientais, enquadramentos, animações, contextos, modo de problematização e resolução das
histórias que enfatizam a Necessidade de controle da intervenção humana no mundo natural (valorização da
interdependência).
218
economizar água.
O Aquecimento Global Consciente Coletivo-Aquecimento Direta/Orientado pelo narrador, o
enfrentado a partir de Global: Os hábitos alimentares de um personagem modifica seus hábitos
mudanças nas hábitos jovem (e da população em geral) são de consumo de forma a contribuir
alimentares relacionados à promoção do para o enfrentamento do
aquecimento global. aquecimento global.
A reciclagem de Consciente Coletivo-Resíduos: Os Direta/Orientado pelo narrador, a
embalagens hábitos de consumo de um jovem (e da personagem modifica seus hábitos
descartáveis como população em geral) são relacionados de descarte de embalagens, sendo
forma de assegurar a ao intenso descarte irregular de resíduos ainda encorajado pela tartaruga
qualidade de vida inorgânicos no mundo natural com
humana e a integridade impacto direto na vida das tartarugas
de espécies marinhas marinhas.
O Aquecimento Global Buba e o Aquecimento Global: Na era Direta/A concentração de metano
como ameaça a vida na pré-histórica um homem e seu eleva a temperatura e ambos são
Terra deve ser dinossauro de “estimação” se divertem pulverizados com o calor, mas
combatido com a com suas “emissões” de metano que permanecem vivos e seguem
participação de todos terminam por elevar a temperatura do “poluindo” .
planeta.
Direito dos A construção de Tamanduabandeira: Um tamanduá Indireta/Ao acordar do seu sonho, o
Animais estradas em áreas bandeira sonha enfrentar os desafios tamanduá atravessa a estrada
silvestres deve para atravessar uma rodovia para ir ao tranquilamente pela passagem
considerar mecanismos encontro de sua parceira. subterrânea existente.
que assegurem a
integridade dos animais
Fonte: Elaborado pelo autor.
219
220
problemática no contexto da evolução humana, mas é o otimismo que prevalece, tanto para a
personagem quanto para audiência, uma vez que a reciclagem de embalagens é apresentada
como solução definitiva. Aqui também a personagem demonstra compreender a explicação do
narrador, aceitando sua chamada para um engajamento e enfrentamento da problemática,
sobretudo quando a natureza também se faz vigilante, pois, ao final da narrativa, a tartaruga,
outrora ameaçada, o interpela no espaço urbano, entregando-lhe uma sacola de uso
permanente.
Tamanduabandeira destoa das demais animações dessa categoria de história
ambiental, não apenas em função da temática abordada, mas porque busca representar
exclusivamente o ponto de vista da natureza como argumento para reivindicar mudanças na
intervenção humana sobre o ambiente. Seu contexto é bastante peculiar e retrata, de forma
cômica, a vulnerabilidade de um tamanduá-bandeira (parcialmente antropomorfizado) quando
este necessita atravessar uma estrada rodoviária que corta o seu habitat. Nesse caso, a
abordagem também é otimista e a estratégia da narrativa é embutir a problemática no plano do
imaginário da personagem, surpreendendo a audiência, que, somente ao final da animação
descobre tratar-se apenas de um sonho do tamanduá. Assim, ao acordar ele revela à audiência
que essa problemática já fora resolvida, dada a existência de um túnel que permite sua
passagem de forma segura. A animação expõe, ainda que de forma secundária na narrativa, a
possibilidade de compatibilização dos interesses humanas com os direitos dos animais,
quando do compartilhamento de um mesmo ambiente, nesse caso a floresta.
As cinco animações que valorizam a interdependência entre homem e mundo natural
que observamos anteriormente são todas elas vinculadas à segunda onda de enviro-toons,
conforme Starosielski (2011) uma vez que ambas manifestam otimismo quanto às
possibilidades de mudanças na intervenção humana, enfatizam a necessidade de participação
social nesse processo, sobretudo apresentando um chamado para envolvimento pragmático da
audiência, além de situarem as problemáticas de forma mais próximas da vida real.
Evidentemente, em Buba e o Aquecimento Global essas características são menos evidentes,
dado ao seu caráter doutrinador e pouco realista sobre a questão.
As seis animações cujas histórias ressaltam a necessidade de controle da intervenção
humana no mundo natural considerando exclusivamente a necessidade de assegurar a
sobrevivência humana são sistematizadas na tabela a seguir.
221
Tabela 08: Temas ambientais, enquadramentos, animações, contextos, modo de problematização e resolução das
histórias que valorizam a Necessidade de controle da intervenção humana no mundo natural para assegurar
exclusivamente a sobrevivência humana.
222
da criança, ao mesmo tempo que revela que sua atitude parece pouco influenciar sua
vizinhança e mesmo seus familiares. Nesse caso, ressalta-se que mais importa agir do que
esperar pelos outros; Não fique pilhado enfatiza a necessidade de combate ao descarte
irregular de pilhas, sobretudo valorizando as implicações dessa prática à saúde humana. Na
verdade, a animação é uma justaposição de situações diversas envolvendo personagens que
contribuem para essa problemática. Embora represente a contaminação química atingindo
diversos animais, a questão central é o ingresso dessas substâncias tóxicas na cadeia alimentar,
mais especificamente do seu retorno para o próprio homem, quando do consumo de alimentos
contaminados. No filme essa contaminação é simbólica, representada através da substituição
das pupilas de personagens contaminados por sinais de cargas elétricas (positivo e negativo).
Notamos, portanto, que a narrativa não problematiza verdadeiramente acerca das
consequências e dos efeitos da contaminação química nos humanos, embora acentue sua
rápida proliferação ao longo da cadeia alimentar – uma alusão ao texto Primavera Silenciosa,
de Rachel Carson, e culmine com um chamado pragmático da audiência para reciclar suas
pilhas usadas.
Os Sustentáveis é, na verdade, uma vinheta de apresentação de seus protagonistas, três
eco heróis que integram uma ONG fictícia empenhada em salvar o planeta. A narrativa
assume, em um primeiro momento, uma abordagem fantasiosa, em que criaturas sobrenaturais
despontam como vilões responsáveis pela degradação do planeta, embora desprovidos de
motivações claras que orientem suas atitudes. Na animação, até mesmo fenômenos climáticos
como o El Niño e La Niña são antropomorfizados e vilanizados, imbuídos de interesses
destruidores da Terra. Contudo, a narrativa rapidamente assume uma virada logo após a
derrota dos eco vilões sobrenaturais, passando a ressaltar personagens humanas como os
inimigos mais difíceis de combater devido aos seus hábitos ambientalmente insustentáveis a
exemplo do desperdício de energia, de água e do uso intensivo de sacolas descartáveis. Nesse
caso, observamos que não há uma interpelação direta da audiência para a adoção de hábitos
sustentáveis, mas uma estratégia que busca identificá-la com os comportamentos apresentados.
A necessidade de “preservação” de água é o tema central de Essência, um curta
metragem animado experimental cuja narrativa é um lamento filosófico acerca das
implicações de sua escassez, uma vez que se trata de um elemento vital, inclusive na
composição metafísica do homem. A narrativa é “protagonizada” por uma criatura
antropomorfizada que sai de uma piscina vazia à procura de água pelas diversas torneiras da
casa. Suas motivações não são reveladas de modo a explorar a expectativa da audiência, e sua
procura por água se encerra quando ela finalmente a encontra, em pequena quantidade, no
223
224
Tabela 09: Temas ambientais, enquadramentos, animações, contextos, modo de problematização e resolução das
histórias que enfatizam a Necessidade de conquista do mundo natural para atender necessidades humanas.
225
Tabela 10: Temas ambientais, enquadramentos, animações, contextos, modo de problematização e resolução das
histórias que enfatizam a Valorização do mundo natural.
As quatro animações destacadas na tabela anterior são todas elas histórias que
representam a valorização do mundo natural no contexto de suas personagens. Contudo, as
226
temáticas identificadas são desenvolvidas em um plano secundário das narrativas, as quais são
desprovidas de problematizações explícitas sobre as mesmas, uma vez que outros conflitos
específicos envolvendo as protagonistas são privilegiados.
A temática do valor estética da natureza se torna evidente em dois filmes: A Folha da
Samaúma, uma animação experimental baseada em uma lenda indígena, é uma breve história
sobre o surgimento do respeito e da admiração pela árvore da Samauma em uma tribo. Nesse
caso, a “discriminação” é o foco da história, o drama da personagem, um jovem índio cuja
aparência física diferente dos demais resulta em sua expulsão da tribo, levando-o a esconder-
se na copa de uma grande Samauma. Ali escondido, seu canto atrai a atenção dos demais
índios e desponta como elemento de resolução da narrativa, pois não somente resulta em sua
descoberta e aceitação, mas, sobretudo, desperta em todos uma profunda admiração pela
Samauma, cuja valorização estética implicou sua inserção no imaginário da tribo; No caso de
Peixe Frito: Uma Aventura Rupestre, o valor estético da natureza é sutilmente revelado ao
longo de uma história permeada por trapaças e conflitos de interesses relacionados à criação
de um parque arqueológico voltado para a exploração do turismo ecológico. Contudo, essa
questão é secundária na animação cuja narrativa culmina com a descoberta da falsificação das
pinturas rupestres, por parte das duas crianças protagonistas contando ainda com a ajuda de
dois índios dotados de poderes mágicos. Nesse caso, o valor estético da natureza é inferido do
contexto da trama em que o parque arqueológico é apresentado como um espaço marcado
pelo forte interesse turístico.
O senso de pertencimento associado à experiência direta com o mundo natural é
representado em Bumba Meu Peixe. Apesar de a narrativa enfatizar sua protagonista, uma
pequena menina, empenhando-se na resolução de uma tarefa escolar, a animação é reveladora
da relevância e da influência do ambiente em sua vida, e também no seu contexto social, uma
pequena colônia de pescadores. Assim, ao longo de seu desenvolvimento, quando a
protagonista procura por alternativas para o desenvolvimento de sua tarefa escolar – uma peça
de artesanato, são valorizados o contato direto e constante da personagem com o ambiente, a
presença do mar na cultura e no folclore da comunidade e também a presença desta no
ambiente – uma intervenção comedida a partir da pesca de subsistência. A animação é acima
de tudo uma celebração da cultura popular, mas o sentimento de pertencimento é marcante,
embora não problematizado, sobretudo quando a narrativa culmina com a apresentação
coletiva das peças de artesanato realizadas pelos alunos da escola comunitária.
Finalmente, ainda nessa categoria de histórias ambientais que privilegiam a
valorização do mundo natural, observamos a temática da natureza como provedora,
227
Tabela 11: Temas ambientais, enquadramentos, animações, contextos, modo de problematização e resolução das
histórias que apresentam a Natureza como fenômeno.
228
pedagógico acerca do ciclo da água, cuja narrativa descritiva é apresentada por uma criança
que desponta como narrador externo. A animação centra-se na “neutralidade científica” de
modo a representar “objetivamente” a dinâmica da água do rio como um sistema natural
completamente apreendido e sistematizado pelo saber humano. Assim, a dimensão visual da
animação é apenas ilustrativa da descrição verbal acerca do ciclo da água, representando, ao
longo da evolução do curso da água, diversos contextos sociais, sobretudo enfatizando sua
apropriação humana. Contudo, nesse caso, a narrativa não estabelece qualquer tipo de
problematização acerca do elemento central do fenômeno descrito, a água. Portanto, sua
descrição manifesta uma celebração da compreensão científica da “lei da natureza”, mas
termina por valorizar a água (o rio) como um recurso disponível ao homem (navegação,
pescaria, recreação etc). Neste caso, a dicotomia ciência e natureza não fora ultrapassada, uma
vez que o diálogo não fora estabelecido no sentido de conciliar uso e proteção. Trata-se de
episódio de uma série animada denominada de “Universidade das Crianças”, realizada pela
Universidade Federal de Minas Gerais.
229
230
231
e o Mundo; comerciantes de animais de estimação, a partir das pet shops, são entidades
sociais centrais na discussão acerca do tráfico de animais em Destimação.
Entre as demais entidades sociais observadas, é importante considerar as
representações de tribos indígenas, de povos nativos africanos e de comunidades tradicionais,
as quais totalizam quatro animações. Essas entidades sociais são representadas a partir da
ideia de harmonia e envolvimento com o mundo natural, uma nítida oposição à apropriação
da natureza enquanto recurso tão marcante nas sociedades ocidentais. São ilustrativos desse
contexto as animações Eta Bicho Homem e Pajerama, em que indígenas são vítimas das
sociedades modernas, A Lenda da Árvore Sagrada e A princesa do Vale, em que a
colonização desponta como um violento processo de dominação dos nativos, e também do
mundo natural, por parte do colonizador português. Já em Bumba Meu Peixe a ideia central é
a da harmonia entre habitantes de uma pequena colônia de pescadores e o mundo natural,
enquanto em A folha da Samauma o foco recai sobre a harmonia entre indígenas e o mundo
natural.
Os agentes/atores sociais, conforme sinalizado por Dryzek (2004), são cruciais para a
compreensão dos discursos ambientais, sobretudo a partir de suas motivações em relação à
apropriação/defesa do mundo natural e das especificidades no reconhecimento e na
construção das problemáticas ambientais. Tomando-se as categorias de atores sociais
propostas por Cox (2010), e discutidas no segundo capítulo, notamos, no corpus, que o
cidadão ordinário é o agente mais recorrente, contemplado por 28 animações, seguido das
corporações/empresas/capital, as quais aparecem em 22 animações.
Quando consideramos as motivações desses agentes/atores sociais para a
apropriação/degradação/preservação do mundo natural, sobretudo nas animações que
representam diretamente questões ambientais, duas generalizações se tornam possíveis. A
primeira delas diz respeito ao cidadão comum, quando prevalece a ideia de que este contribui
para a degradação do ambiente em função de sua ignorância quanto aos impactos ambientais
de suas atitudes e comportamentos cotidianos, sobretudo no consumo desmedido de água e de
energia, no descarte irregular de resíduos, e mesmo em termos de hábitos alimentares. Água é
para todos, Essência, Gente Grande, Consciente Coletivo: Aquecimento Global, Os
Sustentáveis, Não Fique Pilhado, Consciente Coletivo: Resíduos são exemplos de animações
com essa perspectiva. São poucos os casos em que o estilo de vida pautado no consumo se
torna a principal “motivação” para a degradação do ambiente, com destaque para as
animações Consumidouro, Alegria de Macaco e Consciente Coletivo: Resíduos. A segunda
generalização diz respeito às representações das motivações que orientam a apropriação dos
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235
Conforme Dryzek (2006), essa categoria discursiva é marcada por duas perspectivas
cujos focos são respectivamente a promoção de mudanças de comportamento nos indivíduos
(consciência verde) e também nas instituições sociais e coletivas (políticas verdes) em relação
ao meio ambiente, de forma a reconhecer a subjetividade e a sensibilidade do mundo natural.
São, portanto, propostas diferentes que compõem a chamada Esfera Verde, marcada pelo
engajamento individual e coletivo, sobretudo a partir dos movimentos ambientalistas, em
favor da promoção de relações mais harmoniosas com o mundo natural. É essa orientação que
236
desponta como elemento central nas crenças e conhecimentos sobre a natureza que permeiam
os sistemas de restrições semânticas dessa categoria discursiva.
No plano ideacional, os discursos centrados na consciência verde alimentam a ideia de
natureza como um ser vivo sensível em diversos níveis, seja a partir de indivíduos, das
espécies ou dos ecossistemas. Quanto às identidades dos sujeitos, essa significação de
natureza, destituída da hierarquia antropocêntrica, reivindica dos indivíduos um ethos
ambiental marcado pela compreensão de seu lugar no mundo, suscitando uma postura mais
humilde e menos destrutiva não somente em relação à natureza, mas também com os demais
indivíduos, prevalecendo, portanto, uma relação de igualdade homem/homem e também entre
o homem e as demais espécies do mundo natural. Em termos políticos, Dryzek (2004) ressalta
que essa concepção considera cada indivíduo em sua própria condição de modificar sua
relação com o mundo natural e com os demais seres humanos.
As políticas verdes compreendem discursos que, no plano ideacional, concebem a
natureza como um sistema complexo dotado de sensibilidade, cujo equilíbrio necessita do
reconhecimento de limites para sua exploração. Consequentemente, valorizam visões e
crenças menos hierárquicas sobre o mundo natural e também mais centradas na igualdade
entre os indivíduos. Quanto ao ethos ambiental defendido por esses discursos, ressalta-se que
embora considerando-se externo à natureza, o homem não deve situar-se em um patamar
dominante.
Convém atentar que assim como o discurso da consciência verde, as políticas verdes
valorizam a consciência ecológica individual, mas reconhecem que ela não se mostra
suficiente para o enfrentamento das questões ecológicas, uma vez que a estrutura social é
reconhecidamente preponderante em sua influência na orientação do ethos ambiental dos
indivíduos. Portanto, esses discursos estão focados em transformações no âmbito da estrutura
social, sobretudo nas instituições políticas e econômicas, uma vez que predomina a ideia de
que a crise socioambiental decorre de uma plenitude de fatores, e sua resolução é atribuída à
esfera política e às mudanças estruturais. Daí a necessidade de participação de uma série de
atores sociais nessa reestruturação política, ressaltando que o papel central de gerir as
políticas verdes é orientado pelos atores coletivos, sejam elas movimentos sociais, partidos
políticos ou estados.
Em relação à consciência verde, notamos que três animações do corpus vinculam-se
diretamente a essa perspectiva discursiva, são elas: Água é para todos; Fundo; Destimação. Já
os discursos das políticas verdes são representados em oito obras: Desabrigados; O Rap dos
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Tabela 12: Questões ambientais, impactos, responsabilização e soluções propostas em animações filiadas ao
discurso da Consciência Verde
241
interferência nos sistemas naturais que, por sua vez, resulta em um contexto de desequilíbrio e
ameaça à vida animal. Assim, ao invés de propor alternativas à problemática representada, seu
discurso privilegia a crítica ao capitalismo, ressaltando as consequências de sua ignorância
quanto aos limites ambientais. Nesse contexto, seu apelo recorre à exposição da
vulnerabilidade dos animais quando da degradação da floresta, reivindicando uma
sensibilidade quanto aos seus direitos. É, portanto, essa sensibilidade ecológica que desponta
como motivação central para o questionamento acerca da atividade econômica representada.
Contudo, trata-se de um discurso que privilegia a denúncia do capitalismo em sua
responsabilidade pela problemática ambiental, mas que negligencia acerca das motivações e
dos interesses que permeiam os mais diversos atores sociais relacionados à exploração das
florestas, seja em termos de sua transformação em bens de consumo, seja em sua
comercialização.
Em O Rap dos Bichos a temática ambiental é o desmatamento do cerrado brasileiro,
enquadrado como um problema ecológico decorrente da intensa exploração capitalista desse
bioma, cuja consequência mais grave é a perda de biodiversidade, uma vez que várias
espécies animais encontram-se em vias de extinção. Em seu discurso, a animação reitera a
ideia de que a ausência de limites ecológicos na exploração utilitária do cerrado resultou em
uma degradação que se processa em ritmo alarmante e que perdura em sua insensibilidade
quanto aos direitos dos animais que encontram nesse bioma o seu habitat. Nesse caso, a
relação interdiscursiva é também com o discurso prometeico, denunciado em sua
responsabilidade pela problemática, uma vez que configura uma compreensão de natureza
apenas como recursos à disposição das necessidades humanas. Na animação, não são
especificados atores sociais nem mesmo atividades relacionados à exploração do cerrado, uma
vez que o discurso é impessoal, atribuindo ao “desmatamento” essa responsabilidade.
Portanto, prevalece a ideia de que o desmatamento degrada o cerrado, mas não são revelados
quem e porque esse desmatamento persiste. Nesse caso, também é a sensibilidade quanto aos
direitos dos animais que constitui o apelo central do discurso. Aqui, são os próprios animais
que denunciam (a partir do rap dos bichos) a exploração e a degradação do bioma de forma a
reivindicar sua proteção.
A ideia central em Tamanduabandeira é sobre a importância do estabelecimento de
limites na intervenção humana no ambiente, especificamente quando homens e animais
necessitam de compartilhar um mesmo espaço geográfico, como no caso das estradas que
cruzam áreas florestais. Assim, quando representa a autoestrada em termos de ambiguidade,
como uma necessidade humana, mas também como uma ameaça aos animais, seu discurso
242
reivindica o reconhecimento dos diretos desses últimos no contexto das definições de políticas
relacionadas ao tráfego e à circulação de veículos. Contudo, em certa medida,
Tamanduabandeira pode ser considerada como um discurso reducionista, por que negligencia
acerca dos diversos impactos ambientais que resultam da construção de estradas. Nesse caso,
ela não se opõe à intervenção humana no mundo natural, mas preconiza uma compatibilização
dos interesses humanos com a necessidade de assegurar a integridade e o direito à vida dos
animais. É, portanto, essa sensibilidade diante da vida animal que desponta como
argumentação central na reivindicação de mudanças nas relações homem/natureza no discurso
de Tamanduabandeira. Convém ressaltar que, diferentemente dos casos anteriores, o discurso
dessa animação não privilegia a denúncia de responsabilidade pela problemática ambiental,
mas se volta para a valorização de soluções de enfrentamento, representadas, evidentemente,
em conformidade com sua filiação discursiva, ou seja, no plano político – instância social
responsável pela construção de estradas. Ressalta-se ainda que essa animação também
representa o discurso da consciência ecológica, sobretudo valorizando a ideia de que
incêndios em áreas florestais são decorrentes da negligencia e da insensibilidade ambiental de
cidadãos que nelas transitam, reivindicando, dessa forma, uma reorientação de atitudes
individuais – lançamentos de cigarros nas margens das rodovias, excesso de velocidade e
atropelamento de animais etc.
Rei Gastão problematiza a relação homem natureza, denunciando sua apropriação
utilitária como promotora de profundas consequências sobre mundo natural que afetam a
fauna, a flora, os cursos d’água e a própria paisagem, de forma a reivindicar uma
sensibilidade ambiental no âmbito estrutural da sociedade. Seu discurso recorre a uma
alegoria de um rei ambientalmente insensível, ávido por recursos naturais para sustentar o seu
projeto de reinado (uma metáfora do projeto de sociedade ocidental industrial), dessa forma,
sustenta a ideia de uma natureza harmoniosa, vítima da intervenção humana e que necessita
de ser respeitada em sua sensibilidade. Essa animação defende, em seu modo retórico, a ideia
de que a natureza é dotada de subjetividade e que a intervenção humana no mundo natural
deve considerar introduzir perturbações mínimas em seu equilíbrio, sobretudo de forma a
respeitar os direitos dos animais, as principais vítimas do homem. Não se trata apenas de
reorientar suas intervenções futuras, mas também de emprenhar-se em reverter a degradação
já empreendida. Nesse caso, é a ideia de uma relação menos hierárquica entre o homem e o
mundo natural que se torna contundente. Quanto ao reconhecimento dos atores sociais em
suas responsabilidades sobre essa problemática, Rei Gastão adota a figura do Rei de forma
simbólica, uma estratégia para representar o modelo de sociedade pautado na percepção da
243
natureza meramente como recurso – uma crítica direta ao capitalismo industrial que não passa
pela responsabilização de um ator social em específico. Nesse sentido, entendemos que é a
estrutura social (em sua lógica de extração da natureza) que é apresentada como responsável
pela degradação do ambiente, e por isso mesmo é nessa dimensão social que as
transformações na relação homem/natureza passam a ser reivindicadas. Rei Gastão representa
o discurso prometeico, empenhando-se em responsabilizá-lo pela problemática ambiental, e
também recorre à vitimização dos animais como apelo central.
Pajerama problematiza acerca do avanço das sociedades capitalistas industriais sobre
o mundo natural, ressaltando a ideia de que não há limites ambientais quando se trata de
satisfazer suas demandas por recursos naturais. Em seu discurso, a sociedade capitalista é
caracterizada pela inovação tecnológica em favor da apropriação utilitária da natureza
(florestas, animais, água etc) e por uma intensa e acelerada urbanização. Nesse caso, a
expansão do perímetro urbano sobre as áreas naturais situadas em seu entorno e a intensa
produção de externalidades nos processos industriais são as questões centrais nessa animação.
Portanto, o capitalismo é reconhecido como causa estrutural da transformação do ambiente,
uma vez que apenas o concebe como um conjunto de recursos indispensáveis à lógica de
acúmulo de riquezas.
Pajerama elabora seu discurso descrevendo a expansão da cidade de São Paulo e as
profundas transformações na Mata Atlântica nativa a partir da perspectiva indígena,
apresentada como vítima/testemunho principal desse processo. Na animação, ganha destaque
a transformação do ambiente a partir da criação de linhas de metrô, de autoestradas, de usinas
de energia e da rápida industrialização da região. Em geral, essa problematização da relação
homem/ambiente reconhece nas instituições sociais capitalistas a responsabilidade pela
transformação do ambiente, ressaltando, dessa forma, a necessidade de mudanças estruturais
profundas em várias dimensões: políticas de transportes, econômicas, energéticas, midiática
etc. Nessa animação, a cidade e suas atividades correspondem à representação do discurso
prometeico e o indígena traduz o discurso ambiental dos povos nativos, dada a harmonia e
integração em relação à natureza. Assim, além de sua crítica à sociedade moderna, urbana e
industrial, há um forte apelo para uma sensibilidade ambiental a partir dos valores dos povos
nativos cujos direitos constitui uma das pautas centrais da reivindicação de limites ecológicos
no interior da sociedade capitalista. Aqui, a estratégia discursiva consiste na oposição entre
esses dois modos de compreensão e de atitude sobre o meio ambiente.
Mapinguari, o protetor da floresta também sustenta a ideia de que a intervenção
humana na natureza implica sérias ameaças ao mundo natural, uma vez que a apropriação
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246
emergência das sociedades capitalistas agrárias, marcadas pelo domínio do mundo natural e
por sua apropriação como recurso a ser transformado através da incipiente mecanização; e a
passagem para as sociedades capitalistas industriais, representadas pelo completo afastamento
em relação ao mundo natural, pela sua irrestrita comodificação e pela intensa produção de
externalidades (poluição atmosférica, derrubada de florestas, poluição das águas etc). Nessa
animação, ganha centralidade a problemática da exploração do indivíduo (trabalhador e
consumidor) e de sua perda de subjetividade ao longo desse processo histórico. Contudo,
simultaneamente a essa problemática, há também um reconhecimento de uma grave crise
ecológica, ambas atribuídas à estrutura social moderna, cuja lógica de acúmulo de riquezas
resulta em processos de subjetivação pautados em estilos de vida orientados pela alienação e
pelo consumo, destituídos de limites quanto à necessidade de garantias ao equilíbrio dos
ecossistemas (sociais e ambientais). Nesse contexto, alimenta-se a ideia de que as sociedades
capitalistas industriais ignoram por completo a necessidade de uma orientação menos
antropocêntrica e destrutiva em relação ao mundo natural.
O Menino e o Mundo apresenta um discurso mais empenhado em expor uma causa
estrutural para a degradação do ambiente, por isso enfatiza a estrutura política e econômica da
sociedade em sua responsabilidade pela problemática ecológica, ao invés de atribuí-la
exclusivamente aos cidadãos ordinários. Nesse caso, revela-se a lógica capitalista em sua
abrangente institucionalização, relacionada tanto à tecnologização da produção material,
como também ao poder político, à esfera midiática etc. Esse discurso reconhece na estrutura
social uma diversidade de fatores que contribuem para a crise socioambiental, contudo, não se
propõe a oferecer alternativas pontuais e reformistas. Seu enfoque é mais profundo, uma vez
que animação evidencia a necessidade de reorientação da percepção hegemônica sobre a
natureza de forma a destituir seu caráter utilitário em favor da valorização de um
envolvimento que se aproxima com a perspectiva da ética ambiental heideggeriana - cuidado
e habitação do planeta. Nesse caso, ganha visibilidade a ideia de natureza primordial, cujo
valor se mostra possível apenas quando de sua perda, como apelo central nesse discurso. O
Menino e o Mundo manifesta o pessimismo rousseaneano acerca das sociedades industriais,
valoriza uma percepção romântica de natureza e defende o resgate de uma relação harmoniosa
e sensível em relação ao mundo natural. Assim, ao invés de apresentar soluções para causas
diretas da degradação do ambiente, se volta para uma reorientação estrutural da sociedade
frente os desafios decorrentes da crise ecológica – uma profunda transformação do ethos
ambiental dos sujeitos.
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248
das populações urbanas. Em ambos os casos, e também em Rei Gastão, ainda que de forma
bastante tímida, a degradação do ambiente traduz relações de poder e interesses materiais,
resultando, portanto, de um todo social, e não apenas da ação de um grupo restrito de homens
ambientalmente insensíveis. Nesses termos, crise ecológica e crise social são intrinsecamente
relacionadas. Na tabela a seguir ressaltamos acerca dos discursos dessas animações.
Tabela 13: Questões ambientais, impactos, responsabilização e soluções propostas em animações filiadas ao
discurso das Políticas Verdes
249
Conforme Dryzek (2004) essa categoria envolve dois tipos de discursos os quais
manifestam entre si uma nítida oposição quanto à percepção da capacidade dos ecossistemas
atenderem as demandas por recursos naturais no sentido de assegurar o desenvolvimento das
sociedades: o discurso da sobrevivência e o discurso prometeico. Em comum, esses discursos
compartilham de uma mesma função ideacional, pois valorizam uma compreensão
antropocêntrica e utilitária da uma natureza percebida exclusivamente enquanto recursos
disponíveis à transformação pelo homem, mediante uso de energia e de conhecimento. Em
ambos os casos emerge a valorização de um ethos ambiental que sustenta a ideia de
superioridade humana sobre o mundo natural.
De acordo com Dryzek (2004), o discurso da sobrevivência ressalta a necessidade de
conter as demandas sociais por recursos naturais, considerando, inclusive, a possibilidade de
estacionar o desenvolvimento e o crescimento econômico de forma a evitar o colapso social,
uma vez que mesmo utilitária, a natureza é percebida com um conjunto de ecossistemas e de
interelações cuja interferência humana suscita moderação. Esse discurso privilegia histórias
ambientais com apelo dramático, com ênfase na abordagem apocalíptica. O discurso
prometeico, por sua vez, compreende que os recursos naturais são ilimitados ou infinitos, e
que novos recursos naturais são encontrados quando requisitados. Nessa perspectiva, o mundo
natural não passa de commodities e o crescimento econômico está garantido pela capacidade
do homem de manipular o mundo a partir de sua inovação tecnológica. Para Dryzek (2004) é
esse o discurso mais influente nas instituições sociais da economia capitalista, as quais
despontam como promotoras do crescimento e do desenvolvimento das sociedades.
Sob nossa perspectiva analítica, observamos que duas animações da amostra mostram-
se vinculadas ao discurso prometeico: A princesa do Vale e De onde vem a água do Rio.
Nesses dois casos, as narrativas não desenvolvem questões ambientais, mas valorizam a ideia
de uma natureza disponível como recurso, cuja apropriação deve orientar o progresso
econômico e material. Mas, enquanto A princesa reconhece formas mais harmoniosas de
envolvimento com o mundo natural – os povos indígenas, De onde vem apenas manifesta uma
compreensão cartesiana do mundo natural. Quanto ao discurso da sobrevivência, seis
animações mostram-se vinculadas a esta perspectiva, são elas: Alegria de Macaco,
Consumidouro, Escalada, Filme Ilhado, O Diário da Terra e Perfeito. Nesses casos, seus
discursos enfatizam a necessidade de adoção de limites ambientais (extração de recursos,
produção de externalidades etc) de modo a assegurar a continuidade das sociedades. Além
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251
Tabela 14: Questões ambientais, impactos, responsabilização e soluções propostas em animações filiadas ao
discurso prometeico
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253
central que motiva essa reivindicação, mas sim a necessidade de assegurar a continuidade da
própria sociedade.
Consumidouro também ressalta a necessidade de conter o consumismo,
representando-o como uma grave ameaça ambiental, capaz de empreender o esgotamento dos
recursos naturais e a completa destruição da natureza, comprometendo, dessa forma, a
permanência da própria sociedade. Nesse caso, também é o estilo de vida consumista
responsabilizado pelo apocalipse do planeta, mas, sobretudo em decorrência de sua
intensificação a partir do comércio eletrônico. Assim, diferentemente do caso anterior, em que
se valoriza uma causa estrutural para a crise ambiental – as instituições sociais (publicidade,
política e mercado) nas sociedades da economia capitalista, aqui o privilégio é pelo
reconhecimento apenas de uma causa direta da degradação do ambiente, o consumo.
Consequentemente, é o cidadão ordinário responsabilizado diretamente pela crise ecológica.
Em seu discurso, a animação reconhece a natureza enquanto um sistema suscetível à
intervenção humana, contudo, essa perspectiva é apenas explorada no plano descritivo, de
modo a representar as consequências da degradação ambiental, uma vez que seu apelo central
não privilegia o reconhecimento da sensibilidade do mundo natural como motivação para a
reorientação da interferência humana. Nesse sentido, predomina a ideia de uma natureza
como recurso, cuja apropriação necessita ser contida exclusivamente para evitar o
esgotamento do planeta. Assim, trata-se de uma perspectiva antropocêntrica de proteção do
ambiente de forma a não inviabilizar as sociedades. Nesse caso, a mudança nos padrões de
consumo denunciados não necessariamente significa uma mudança na forma como o meio
ambiente é percebido.
Em Consumidouro são as ideias de Giddens (1991) acerca da globalização e dos
perigos ecológicos decorrentes da produção industrial, sobre os estilos de vidas modernos, e
sua compreensão de que atividades locais resultam em impactos ambientais em zonas
geograficamente distantes, que se fazem representadas. Da mesma forma que a animação
anterior, há uma representação do discurso prometeico em sua responsabilidade pela
problemática ambiental, enquanto promotor de estilos de vida extremamente impactantes
sobre a natureza, os quais necessitam de ser freados para assegurar a permanência humana no
planeta.
Escalada caracteriza as sociedades capitalistas como sendo marcadas por uma intensa
demanda por recursos naturais, ressaltando a necessidade de conter essa perspectiva no
sentido de evitar o colapso total do planeta. Trata-se de uma denúncia indireta, uma vez que a
animação recorre à metáfora da competição para representar a sociedades contemporâneas, a
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Tabela 15: Questões ambientais, impactos, responsabilização e soluções propostas em animações filiadas ao
discurso da sobrevivência
258
planeta/apocalipse consumo e o
reconhecimento da
Responsável causal: o cidadão comum (estilo de vida) finitude dos
Responsável enfrentamento: não explicita recursos naturais
Escalada Esgotamento dos recursos naturais e colapso total do Não explicita:
planeta: apocalipse infere-se o
A intensa demanda por recursos naturais Responsável causal: mercado/concorrência reconhecimento da
Responsável enfrentamento: não explicita finitude dos
recursos naturais
Filme Ilhado Ameaça à vida humana, a permanência e a manutenção Não explicita:
dos níveis de crescimento e desenvolvimento: infere-se o
Demanda por recursos naturais e produção apocalipse reconhecimento da
de externalidades industriais Responsável causal: extração de petróleo, indústria finitude dos
madeireira e a produção industrial em geral; recursos naturais
Responsável enfrentamento: não explicita
O Diário da Terra A intervenção humana no planeta é cada vez mais Não explicita:
intensa, resultou em alterações no clima, as quais têm infere-se o
Mudanças climáticas: demanda por recursos impactado diretamente no cotidiano das pessoas, e reconhecimento da
naturais e produção de externalidades avança para o apocalipse do planeta finitude dos
industriais Responsável causal: a produção industrial e a recursos naturais
exploração madeireira;
Responsável enfrentamento: a sociedade em geral;
Perfeito Comprometimento pleno do planeta, ameaça a vida Não explicita
humana: apocalipse
Esgotamento dos recursos naturais Responsável causal: a interferência no planeta;
Responsável enfrentamento: não explicita;
Fonte: Elaborado pelo autor.
Conforme Dryzek (2004) são três os discursos situados nessa categoria: racionalismo
administrativo; pragmatismo democrático; racionalismo econômico. No plano ideacional,
seus sistemas de restrições semânticas compartilham da valorização utilitária da natureza,
embora reconhecida como um conjunto de ecossistemas, e da compreensão da problemática
ambiental como consequência da intervenção humana no mundo natural. Além disso, no
plano identitário, da constituição do ethos ambiental, a soberania do homem diante da
natureza é reivindicada por ambos os discursos. Contudo, as soluções para o enfrentamento da
problemática ambiental se baseiam em percepções distintas, orientando, portanto, diferentes
atuações no plano inter-relacional – os atores sociais em sua articulação diante da crise
ecológica.
O racionalismo administrativo compreende que a problemática ambiental deve ser
resolvida a partir da atuação de especialistas, valorizando o papel do governo e de suas
instituições na adoção de práticas e metodologias para a resolução de problemas ambientais
(gerenciamento de recursos, agências de controle de poluição, instrumentos de regulação
política, departamento de avaliação de impacto ambiental, comissões de conselhos de
259
260
vida humana. Buba constrói seu discurso recorrendo a uma explicação científica da
problemática, e também a partir da representação do discurso prometeico, caracterizando-o
enquanto perspectiva alheia aos problemas ambientais.
Convém observar que seu discurso desloca o contexto real do problema ambiental
representado, negligenciando acerca das verdadeiras fontes de produção dos gases de efeito
estufa (tráfego de veículos, produção industrial, pecuária extensiva etc) quando recorre ao
homem pré-histórico como promotor do aquecimento global. Assim, relegando as mais
diversas atividades sociais em suas contribuições para o aquecimento global, a animação não
apenas evita expor as causas estruturais dessa problemática, como também termina por
suscitar um engajamento ambiental vazio na audiência. Afinal, quando a interpela a
“combater o aquecimento global”, não deixa claro de que forma esse combate pode ser
realizado. Nesse caso, o ambientalismo defendido parece mais uma estratégia voltada à uma
transferência de responsabilidade pela crise ambiental, e, sobretudo, para ofuscar a origem e a
natureza dessa problemática.
Consciente Coletivo: Aquecimento Global assemelha-se à animação anterior, pois
também enfatiza a intervenção humana no mundo natural como problemática, considerando,
da mesma forma, o aquecimento global em termos antropogênicos, como resultado das
elevadas emissões de metano. Contudo, sua abordagem ganha especificidade, quando a
pecuária extensiva é a atividade relacionada à degradação do ambiente. Nesse caso, a
aquecimento global é situado, a partir da representação do discurso científico, como um
problema ambiental abrangente, marcado por alterações drásticas no clima do planeta cujas
consequências são catastróficas, a exemplo das enchentes.
Nesse discurso, a pecuária é explicada em termos de impactos ambientais, não apenas
no que diz respeito à intensa produção de metano pelo rebanho bovino, mas também a partir
de diversos problemas secundários, a exemplo do redução da cobertura florestal, do comércio
ilegal de madeira etc. Contudo, uma vez delimitada essa problemática ambiental – a pecuária
extensiva como causa direta do aquecimento global, a animação sustenta a ideia de que são os
hábitos de consumo (alimentação a base de carne) dos cidadãos comuns que contribuem para
essas mudanças no clima, pois é o consumo de carne que desponta como responsável pela
ampliação da pecuária, e, consequentemente, desponta como causa direta do aquecimento
global. Dessa forma, relegando as motivações dos demais atores representativos das estruturas
sociais capitalistas, atribui ao indivíduo ordinário (consumidor) uma dupla responsabilidade –
ele é parte do problema e por isso também deve ser parte da solução. Assim, dada a sua
vinculação ao pragmatismo democrático, a solução proposta para esse enfrentamento é
261
reformista, sugerindo apenas ajustes pontuais nos hábitos alimentares dos indivíduos,
deixando intacta a estrutura social. Além disso, o enfrentamento do problema objetiva, acima
de tudo, assegurar a presença humana no planeta e não os direitos dos animais.
O segundo episódio da série animada Consciente Coletivo contemplado pelo corpus,
Resíduos, enquadra o descarte irregular de resíduos recicláveis como uma das principais
problemáticas ambientais das sociedades capitalistas industriais. Dessa forma, observa essa
problemática a partir de desdobramentos como a contaminação dos solos e das águas, e
também em termos de impactos sobre a vida marinha. Nesse discurso, a sociedade industrial é
compreendida como um estágio natural da evolução humana, sendo a produção e o consumo
de produtos industrializados decorrentes da cultura e do conhecimento humano, principais
diferenciais entre os homens e o mundo natural. Contudo, a produção de externalidades (os
resíduos recicláveis) também desponta como característica essencialmente humana, em que o
acúmulo e o descarte irregular despontam como problemática ambiental crescente e que
necessita urgentemente de ser enfrentado.
Mas, o que se torna claro nesse discurso é a responsabilização exclusivamente do
indivíduo ordinário por essa problemática ambiental, a qual decorre de hábitos de consumo
que não são problemáticos em si mesmos, mas apenas quando resultam em acúmulo de
embalagens descartáveis/reaproveitáveis. Consequentemente, há uma ideia de que é somente
no estágio de utilização de bens de consumo que esses resíduos são problemáticos, uma vez
que as etapas de produção industrial não são enquadradas pela animação. Nesse contexto, a
solução para essa problemática também recai sobre o indivíduo, responsabilizado pelo envio
de resíduos para a reciclagem. Aqui também é relegada a responsabilidade dos atores
representativos das estruturas sociais capitalistas, quando simples ações no cotidiano do
cidadão são reivindicadas, ao invés de mudanças estruturais. Nesse caso, o papel do Estado é
representado de forma ambígua, ora ele se mostra incapaz de assegurar um descarte adequado
dos resíduos – o que resulta na contaminação dos mares, ora desponta como provedor de um
eficiente sistema reciclagem. Além disso, a defesa do ambiente, de sua preservação, assume
uma motivação antropocêntrica, uma vez que a Terra é enquadrada como único planeta
“disponível” ao homem e por isso mesmo deve ser protegida, embora também sejam
reconhecidos impactos do descarte de embalagens sobre a vida animal – ameaça a vida de
tartarugas marinhas.
Essência enquadra a escassez de água como um grave problema ambiental que ameaça
às sociedades, uma vez que se trata de um recurso essencial à vida humana. O discurso dessa
animação não avança em termos explicativos e descritivos dessa questão, relegando o
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Exceto nesses dois últimos casos, predominam discursos reducionistas acerca das
problemáticas representadas. São, portanto, estratégias que terminam por ofuscar as causas
estruturais da degradação do ambiente, reconhecendo os indivíduos como causa direta, sobre
os quais recai a responsabilidade pelo enfrentamento da crise, destituindo, dessa forma, as
participação dos demais atores sociais. No caso dos episódios Consciente Coletivo, apesar de
reconhecida a estrutura social em sua interseção com a crise ecológica, seja na pecuária
extensiva, seja na produção de bens de consumo, e no descarte de suas respectivas
embalagens, notamos também que é sobre o individuo ordinário que recai a responsabilidade
pela crise do ambiente. Nos discursos dessas animações, são desconsideradas as forças da
estrutura social que atuam na subjetivação dos indivíduos, sobretudo na promoção de hábitos
de consumo ambientalmente impactantes. Notamos, portanto, que essa estrutura segue
inalterada, inimputável pela crise ecológica. Assim, necessidade de mudanças na lógica de
produção capitalista apenas recaem no último estágio da cadeia produtiva – o consumidor
final. Em qualquer desses casos, seus discursos não valorizam a natureza em sua
subjetividade, mas simplesmente suscitam sua proteção de forma a assegurar a sobrevivência
das sociedades em suas lógicas desenvolvimentistas. A tabela 16, a seguir, sistematiza acerca
dessa caracterização.
Tabela 16: Questões ambientais, impactos, responsabilização e soluções propostas em animações filiadas ao
Pragmatismo Democrático
266
267
uma sensibilidade ambiental, mas para valorizar sua disponibilidade para o atendimento de
necessidades humanas. Portanto, o foco desse discurso não é problematizar acerca da
construção das usinas, mas na explicação acerca das implicações dessa inevitável
interferência no equilíbrio ecológico.
Embora sua estratégia argumentativa apele aos direitos dos animais, representando os
morcegos como vítimas da intervenção do homem em seu habitat, esse discurso termina por
apresentar a transmissão da raiva ao homem como uma espécie de “vingança da natureza”.
Por isso ressaltamos que não se trata de despertar uma sensibilidade ambiental na audiência,
mas sobretudo em explicar as consequências de nossa intervenção (inevitável) no mundo
natural, não apenas em termos de impactos sobre as espécies animais, mas principalmente
sobre nós mesmos.
Tabela 17: Questões ambientais, impactos, responsabilização e soluções propostas em animações filiadas ao
Racionalismo Administrativo
268
vida humana, sobretudo aos habitantes das grandes cidades, os quais estarão expostos a um
calor extremamente inconveniente.
Em seu discurso, a responsabilização pela problemática ambiental é atribuída
genericamente ao ser humano, nomeadamente em decorrência de suas atividades industriais,
do uso de automóveis e da derrubada de florestas. Contudo, as motivações para essa
interferência no mundo natural não são contextualizadas. Quando se trata de enfrentamento, é
o cidadão ordinário que ganha relevo, responsabilizado pela preservação das plantas e das
árvores. Nesse contexto, a ideia de enfrentamento do aquecimento global não recai sobre a
necessidade de mudanças e reorientações das atividades promotoras, mas na ênfase de que é
preciso minimizar essa interferência no ambiente a partir de medidas compensatórias – o
aumento na cobertura verde, por exemplo. Contudo, não se faz claro o engajamento individual
reivindicado nesse discurso. Além disso, é também valorizada a atuação dos cientistas, atores
sociais representados em sua capacidade de impedir a proliferação dos efeitos dessa
problemática.
Dessa forma, conciliando a ação da ciência com o engajamento do cidadão ordinário,
o discurso dessa animação reivindica tão somente mudanças pontuais na estrutura social, de
forma a enfrentar a problemática ambiental sem comprometer os níveis de crescimento e
desenvolvimento. Nesse caso, é o sentido utilitário do meio ambiente que motiva a sua
proteção, cuja finalidade é assegurar a presença humana no planeta. Nessa animação, é o
discurso científico representado de forma a explicar e descrever o aquecimento global
enquanto alteração na composição da atmosfera. Aqui, dois tipos de discursos ambientais
centrados na resolução de problemas são representados, o pragmatismo democrático, quando
valoriza o engajamento do cidadão ordinário nesse enfrentamento e a racionalidade
administrativa, quando enfatiza o papel da ciência e dos especialistas. A tabela a seguir
sistematiza acerca dessa animação.
Tabela 18: Questões ambientais, impactos, responsabilização e soluções propostas em animações filiadas ao
Racionalismo Administrativo/Pragmatismo Democrático
269
270
o discurso dessa animação situa o industrialismo, de uma forma geral, como responsável pela
problemática ecológica representada, sem relacionar a natureza da atividade poluidora com
um contexto real. Contudo, ressalta que as motivações para seu enfrentamento resultam de
imposições de restrições ambientais por atores externos a tais instituições, uma alusão ao
movimento ambientalista e suas negociações com o mercado em favor da adoção de
tecnologias “verdes”.
Nesse contexto, notamos que essa animação vincula-se ao discurso da modernização
ecológica quando valoriza a internalização de preocupação ambiental no contexto da
produção industrial a partir da cooperação entre ambientalistas (representados pela bruxa
protagonista) e produção industrial, além da forte ênfase na capacidade da tecnologia
contribuir para esse enfrentamento. Também é marcante a ideia de que a proteção do
ambiente deve ser conciliada com a necessidade de assegurar a manutenção dos atuais níveis
de produção. Assim, em seu discurso, Haina defende que simples mudanças, a exemplo da
implantação de filtros para chaminés industriais, são suficientes para conter a poluição,
perdurar o desenvolvimento e restaurar o equilíbrio ambiental. A tabela a seguir sistema
acerca dessa animação.
Tabela 19: Questões ambientais, impactos, responsabilização e soluções propostas em animações filiadas à
Modernização Ecológica
Conservacionismo e Preservacionismo
272
273
recreação e lazer, dada a sua beleza e disponibilidade (qualidade da água, topografia do rio
etc). Há, portanto, um duplo sentido utilitário nessa representação de natureza e uma
hierarquia homem/natureza de caráter antropocêntrico, dai a filiação dessa animação ao
preservacionismo proposto na tipificação de Corbett (2006).
Em Peixe, o apelo retórico consiste em uma abordagem nostálgica e romântica de uma
natureza duplamente abundante como forma de criticar o contexto presente, marcado pela
urbanização e pela insalubridade dos rios urbanos. Contudo, apesar da contrastar esses dois
contextos sócio ambientais, seu esforço é menos empenhado em atribuir responsabilidades ou
soluções para o enfretamento de uma problemática relacionada à contaminação de cursos de
água, e mais centrado em valoriza o sentido utilitário do rio. Dessa forma, a animação
sustenta a ideia de que a esgotamento de um rio no contexto da expansão urbana não
representa apenas a morte dos seus peixes, mas a interrupção de uma série de “serviços” que o
mesmo outrora oferecia. Portanto, a proteção do ambiente é, acima de tudo, enquadrada como
uma condição necessária à manutenção dessa oferta, não um sensibilidade quanto ao direito à
vida natural.
A segunda animação do corpus vinculada ao preservacionismo ambiental é Peixe
Frito, Uma Aventura Rupestre. Seu discurso valoriza o meio ambiente em termos estéticos,
científicos e econômicos. Nesse caso, são os sítios arqueológicos que despontam como a
natureza apropriada pelo homem, cuja intervenção para preservação resulta da convergência
de interesses de três atores sociais distintos: os arqueólogos; a indústria do turismo ecológico;
o cidadão comum, enquanto turista ambiental. Assim, a animação ressalta que, no plano da
ciência, essa natureza assume um valor objetivo, especificamente para a arqueologia, pois
desponta como importante fonte de conhecimento sobre o passado remoto. No plano estético
a natureza é reconhecida em seu poder contemplativo, uma vez que as pinturas arqueológicas,
uma vez circunscritas em um espaço natural, se mostram atraentes aos interesses artísticos do
público. Finalmente, no plano econômico, a exploração comercial desses sítios arqueológicos
se apresenta como uma atividade lucrativa, sem representar necessariamente uma ameaça à
sua integridade. Na verdade, o discurso dessa animação legitima essa tripla exploração da
natureza como condição para a sua permanência. Evidencia-se, dessa forma, a representação
do preservacionismo, uma vez que essas diferentes motivações de apropriações do mundo
natural são simultaneamente legitimadas.
274
275
também uma natureza sagrada, integrando não apenas o plano da terra, mas, sobretudo, dos
céus e das estrelas. Nesse caso, a natureza envolvente compreende a floresta, os animais, os
rios, mas também todos os corpos celestes. Embora não deixe de despontar como um conjunto
de recursos disponíveis à satisfação das necessidades dos indígenas, esse sentido utilitário da
natureza esta vinculado ao caráter sagrado que envolve sua concepção. Aqui, a ideia é de que
sendo a natureza uma dádiva sagrada, cabe então seu respeito, de forma que as tribos apenas
retiram-lhe o que é essencial à sua sobrevivência, com o intuito maior de respeitar sua
integridade e equilíbrio. Na animação, o tema central é a emergência da agriculta nessa tribo
indígena, mas mesmo essa atividade assume um caráter divino, pois é apresentada como um
segredo revelado por Tainá-Kan, uma das divindades dessa cosmologia. Dessa forma, ao
invés de representar o controle e o domínio da natureza, a agricultura desponta como um
presente divino em favor da fixação da tribo na floresta, consequentemente, uma forma de
aproximar ainda mais os vínculos de envolvimento entre os indígenas e o mundo natural.
Em A Lenda da Árvore Sagrada a cosmologia africana antiga é representada a partir
da valorização da integração entre o homem e as demais espécies do mundo natural, e não
apenas em relação às espécies animais, mas sobretudo às árvores. Seu discurso constrói a
ideia de que os nativos africanos eram dotados de uma concepção sagrada de natureza,
marcada pelo forte respeito pelas florestas, pelos animais e corpos celestes, e também
possuidores de uma sensibilidade em relação a essas entidades, sendo, inclusive, capazes de
estabelecer um diálogo com todas elas. Ressalta-se, desta forma, haver uma relação de
irmandade entre os nativos e o mundo natural, uma compreensão da natureza como bondade,
harmonia e proteção.
Contudo, sua estratégia discursiva difere das duas animações anteriores, pois ao invés
de apelar exclusivamente para o modo descritivo da relação do nativo com o mundo natural,
essa animação desenvolve seu apelo a partir da representação de relações homem/natureza
contrastantes, confrontando o sentido sagrado da natureza na cultura africana antiga com a
perspectiva meramente utilitária do mundo natural que orienta a visão de mundo dos
colonizadores ocidentais. Dessa forma, ao representar essa apropriação da natureza enquanto
recurso, ressaltando a perspectiva ambiental ocidental (a representação do discurso
prometeico) em sua avidez por madeira, minerais, animais etc, adjetiva essa perspectiva
ambiental ocidental como um ataque ao mundo natural, cuja marca principal é a violência e a
tirania sobre as demais formas de vida. Além disso, esse discurso ressalta a ideia de que essa
insensibilidade ambiental ocidental, em seu estranhamento diante envolvimento indissociável
dos africanos com a natureza, transformou o próprio homem em recurso, iniciando um
276
perverso ciclo de escravização dos negros. Convém atentar que a representação do discurso
prometeico em A Lenda da Árvore Sagrada é uma estratégia retórica decisiva para o discurso
apresentado.
A Esperança é a Última que Morde, Vida Maria e Dia Estrelado são animações cujos
discursos e argumentação se mostram bastante semelhantes, pois não se voltam para a
definição de uma problemática ambiental, mas para alimentar a ideia de dependência do
homem em relação ao mundo natural, a partir de um contexto específico, o da seca,
explorando implicações da escassez de água, de alimentos e de políticas públicas de caráter
social. Diferentemente de outras animações analisadas anteriormente, nesses filmes não é a
intensa exploração de recursos naturais que ganha centralidade, mas exatamente a sua
carência, a sua indisponibilidade à extração de forma a atender aos interesses humanos,
nomeadamente aqueles mais elementares.
Dessa forma, ao relacionar pobreza e miséria social a uma natureza adversa à fixação
do homem, essas animações ressaltam o homem em sua dependência ambiental, em sua
necessidade de recursos essenciais à sobrevivência – não contemplam a ideia de recursos
enquanto matéria-prima à produção industrial, e também enfatizam a ausência de interesse, no
plano estrutural das economias políticas capitalistas, por uma natureza que se mostra
indisponível a uma exploração utilitária. Assim, esses três filmes valorizam a ideia de que
quando a natureza se mostra disponível à extração ela é plenamente transformada em favor do
progresso e do desenvolvimento econômico e social, mas, caso contrário, resta então o “atraso”
e a precariedade para aqueles que vivem em regiões ambientalmente “não atraentes”. Em
síntese, revela-se, em tais discursos, que vigora no pensamento ocidental a ideia de que onde a
natureza não se mostra “rentável” aos interesses econômicos, também não convém investir
em intervenções favoráveis ao bem estar do homem.
De forma geral, essas três animações reivindicam alguma intervenção no ambiente
representado de forma a permitir que seus habitantes sejam capazes de superar as
adversidades dai decorrentes, seja na garantia de acesso a recursos elementares como água e
alimentos, conforme A esperança é a última que morde e Dia Estrelado, seja na garantia de
direitos essenciais como educação e cidadania, como no caso de Vida Maria. Contudo,
inferimos, a partir dos contextos desses filmes, tratar-se de uma defesa em favor de uma
277
278
estar em casa, aspectos valorizados por Corbett (2006). Em Bumba, a paisagem, uma praia do
Ceará, é representada como promotora de enraizamento emocional e de valorização do meio
ambiente por parte da população local, tantos dos jovens quantos dos adultos. Dessa forma, é
a cultura local que assume esse papel de transmissão de um envolvimento e de uma percepção
subjetiva do espaço, perpetuando essa identidade ambiental entre as gerações. Nesse caso,
valoriza-se também o protagonismo da educação, alimentando-se a ideia de que ela desponta
como arena crucial para a manutenção de tradições ambientalmente favoráveis.
Nessa animação, há uma representação desse modo de vida comunitário como sendo
dotado de simplicidade material, relativamente isolada dos estilos de vida vigentes nas
sociedades capitalistas industriais, e também alheio ao mundo midiático e consumista. Assim,
ressalta-se que, à margem da produção industrial e das relações de produção e consumo, a
ideia de pertencimento ao mundo natural aqui representada nessas comunidades valoriza uma
compreensão da natureza que, apesar de assumir um caráter instrumental, pois a pesca é uma
prática de subsistência familiar e uma atividade mercantil, é também dotada de um sentido
estético e espiritual, o que resulta em seu uso comedido e de sua influencia decisiva para as
identidades culturais locais.
Em linhas gerais, entre essas animações relacionadas à tipologia de Corbett (2006)
notamos não haver um apelo direto à audiência em favor da adoção de atitudes ou
comportamentos ambientalmente favoráveis. Assim, não se tratam de discursos centrados
numa reivindicação de um ambientalismo pragmático, uma vez que essa perspectiva
ambientalista aparece apenas na animação Jardineiro, cujo discurso, embora sutil, alerta para
a necessidade de cuidado do planeta. Peixe, apesar de representar a degradação dos rios, não
supera o tom de lamento nostálgico, considerando essa “morte da natureza” como
consequência natural da modernidade, por isso não oferece questionamentos ou propostas
diante dessa questão. No caso de Peixe Frito, parece haver mais empenho em explorar o
ambiente como cenário para a sua narrativa cômica do que em representar o seu valor
científico – o parque arqueológico, uma vez que nem mesmo é privilegiada uma breve
contextualização da arqueologia enquanto ciência que encontra no ambiente seu objeto de
estudo.
Em relação às animações que representam envolvimento e integração de antigos povos
nativos com o meio ambiente, é importante considerar que tanto A Folha da Samauma como
Tainá-Kan estão empenhadas na representação das lendas que constituem suas narrativas, e,
embora sejam reveladoras do respeito e da integração desses povos em relação à natureza, não
manifestam um discurso em favor da valorização dessas perspectivas ambientais no contexto
279
atual. É somente em A Lenda da Árvore Sagrada que essa representação assume um valor
sintonizado com uma perspectiva ambientalista, uma vez que se trata de uma oposição
comparativa entre duas percepções do ambiente, a ocidental e a africana antiga. Nesse
discurso, a natureza primordial heideggeriana é confrontada com a natureza utilitária
cartesiana, em uma abordagem que contextualiza a origem da sujeição africana à
ocidentalização, conforme observamos em Dabiré (1993), no capítulo primeiro desse trabalho.
Nas três animações que representam a problemática da seca, embora seus discursos
reconheçam a dependência do homem em relação ao mundo natural, valorizando, dessa
forma, a natureza em seu papel provedor da vida humana, não é a relação homem/ambiente
que é privilegiada, mas sim a relação homem/homem, das quais resultam os problemas sociais
representados e denunciados nesses filmes. Nesses casos, dada à ênfase em questões sociais
estruturais como a fome, a miséria e o analfabetismo que caracterizam boa parte das
populações dessas regiões nordestinas, é reforçado o estereotipo dessas regiões de caatinga
(bioma cujo clima é o semiárido, nesse caso o nordestino) como biomas pobres,
negligenciando, portanto, acerca da diversidade e da riqueza de sua flora e sua fauna, e
mesmo acerca da devastação dessas regiões. Assim, prevalece tão somente a ideia de
ambiente como adversidade.
Finalmente, Dias de Sol é um discurso que representa a valorização seletiva da
natureza tão marcante na cultura ocidental. Em seu discurso, quando a animação representa o
dia de chuva como um dia triste ou ruim, manifesta uma percepção negativa da natureza, uma
oposição ao que se considera como ideal, bom e satisfatório. Assim, notamos que essa
associação de um dia de chuva a um dia de tristeza, aproxima-se de outras valorações da
natureza ressaltadas por Gonçalves (2006, p. 25) ao enfatizar que “[...] burro, cachorro,
cavalo, vaca, piranha e veado são todos nomes de animais, de seres da natureza tomados –
em todos os casos – em sentido negativo, em oposição a comportamentos considerados cultos,
civilizados, e bons”.
280
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Estas notas conclusivas almejam uma “resposta”, dentre outras possíveis, ao problema
de pesquisa aqui proposto, cujo foco era entender em que se fundamentam os discursos
ambientais presentes nos filmes de animação veiculados nos festivais brasileiros
contemplados. A tese sustentada era de que, mesmo diante da complexidade e da diversidade
discursiva, havia uma representação significativa dos discursos nas animações orientada para
uma lógica hegemônica do meio ambiente, centrada em perspectivas reformistas de
acomodação ao grande capital.
O seu desdobramento foi de grande contribuição para ampliar o debate em torno da
comunicação ambiental e dos discursos ambientais, bem como do cinema animado, revelando
neste cruzamento pontos relevantes: (i) a animação, de forma geral, estabeleceu uma relação
cada vez mais próxima das questões ambientais, principalmente quando da emergência dos
movimentos ambientalistas na década de 1960 e, mais adiante, ao longo das décadas de 1980
e 1990; com a popularização do debate em torno do meio ambiente e de sua problemática, ela
se configurou como uma relevante mídia na comunicação ambiental sobre os diversos temas e
para os mais diversos públicos, tornando-se inclusive bastante recorrente o termo enviro-toons
no contexto da investigação acadêmica; (ii) a animação despontou como um termômetro
decisivo dos discursos utilitaristas presentes nas sociedades capitalistas industriais, tão
frequentes principalmente no contexto da produção audiovisual norte americana,
especificamente em sua vertente comercial. Inclusive a esse respeito é emblemática a
personagem Pica Pau, concebida por Walter Lantz, não sendo raros os episódios em que
empreendia uma intensa degradação de florestas, assumindo motivações banais, seja
simplesmente para irritar seus adversários, pelo desejo insano de eliminar centenas de árvores
para confeccionar um único palito de dentes, ou para infernizar o trabalho de um ativista
ambiental; (iii) mesmo veiculadas em festivais especializados em temas ecológicos, e
passíveis de uma maior abertura para as produções independentes e contra-hegemônicas, as
animações não apresentaram, de forma significativa, ligação direta com os discursos
ambientais contestatórios, não revelando uma representação crítica e conjuntural acerca do
meio ambiente e das suas problemáticas.
O debate teórico revelou a animação como um produto cultural peculiar, marcado por
uma linguagem própria, rica e dinâmica, capaz de estabelecer uma dialética entre realidade e
fantasia, além de desfrutar de uma ampla penetração social, não apenas diante de um público
281
infanto-juvenil, mas também de uma crescente audiência composta por adultos. Portanto, a
animação deve ser vista como uma linguagem poderosa e abrangente, capaz de abrigar uma
diversidade de gêneros, temas e abordagens, gozando de um sucesso comercial e de público e
que se encontra em franca ascensão, em decorrência da popularização das tecnologias de
computação gráfica e de expansão de espaços de circulação na internet. Aliado a isso, cresce
também a sua importância na comunicação ambiental, ainda que o reconhecimento acadêmico
do cinema animado seja tímido quando comparado com outras áreas.
No que se refere aos festivais de audiovisual ambiental contemplados para a
delimitação do corpus, ao menos no contexto da circulação de enviro-toons brasileiras, nossa
investigação revela que apresentam sérias limitações enquanto um fórum de debate acerca do
meio ambiente. A “flexibilidade” nos critérios adotados para a seleção das obras resulta na
visibilidade de animações em que o meio ambiente é apenas pano de fundo, ou quando,
sequer, se mostra representado. De forma a ilustrar acerca desse contexto, na tabela a seguir
apresentamos esses casos e suas respectivas descrições.
Tabela 20: Animações “não ambientais” veiculadas nos festivais contemplados (2002-2013).
TÍTULO DA ANIMAÇÃO DESCRIÇÃO
A Árvore do Dinheiro Um homem firmou um pacto com o diabo para casar-se com a filha de um rico
fazendeiro – Conto de cordel, natureza apenas cenário.
A Fábula da Corrupção Fábula sobre corrupção – animais antropomorfizados substituem humanos.
A Última reunião Dançante O Narrador e suas memórias das amizades nos tempos de escola
A Vida não Vive Colagem fotográfica para ilustrar um texto de Theodor Adorno - crítica à sociedade
moderna – não é animação
As Desventuras de um Dia Uma jornalista vive uma rotina estressante, enfatizando a alienação e a opressão social
Balanços e Milk-shakes Lembranças de um amor nos tempos de crianças – natureza como cenário
Ballons Dois homens voam pelo céu pendurados em bexigas de ar e travam uma batalha pelo
domínio desse espaço
Cabelos de Ouro Lenda sobre um encanto que ocorre em uma floresta misteriosa - natureza como cenário
Calango Um calango é submetido a uma série de desventuras quando busca capturar um grilo
astuto
Carrapatos e Catapultas - A Carrapatos vivem em uma galáxia distante: animais atuando como humanos para
caixa de luz desenvolver uma sátira social sobre a dependência em relação à programação televisiva
Céu, Inferno e Outras Partes do Um cachorro antropomorfizados e os conflitos de sua vida afetiva
Corpo
Doutor Meu Filho é Animador Um garoto é submetido a um diagnóstico médico que atesta sua condição de “animador”
É Uma Vez Uma criança exposta a conflitos familiares
Eduarda Fissura do Átomo Vídeo clipe da música homônima da banda Mundo Livre S/A –uma crítica à sociedade
em rede e a alienação na comunicação interpessoal
ENGOLELOGOUMAJACAE Uma sucessão de vinhetas desconectas e experimentais – non sense
NTÃO
Espetáculo - O Mágico e a Um casal de artistas circenses se apresentam envoltos a uma briga de relacionamento
Domadora
Faroeste: Um Autêntico A saga de um Urubu cangaceiro e sua gangue – animais atual como humanos
Western
282
283
sobretudo aquelas em que espaços naturais são tomadas como cenários para os conflitos das
narrativas; (ii) animações que apresentam animais antropomorfizados parecem assumir
relevância nessa concepção de temática ambiental, ainda que sejam tomados em substituição
aos humanos, em narrativas que são metáforas da vida social e que desenvolvem conflitos
relacionados a temas não ambientais; (iii) parece mais apropriado entender a inscrição dessas
animações em festivais especializados na temática ambiental como uma estratégia de busca
por ampliação da circulação e visibilidade por parte dos seus realizadores, ao invés de traduzir
“equívocos” de enquadramento de mensagens ambientais. Conforme foi possível identificar,
grande parte dessas obras foram agraciadas com premiações nos festivais aqui contemplados e
em diversos outros festivais audiovisuais (não ambientais) nacionais e internacionais, o que
sugere, dentre outras motivações, a busca por visibilidade que suscita em seus realizadores
uma “valorização de conexões ambientais“ nas narrativas de suas obras.
Diante do exposto, é curioso perceber que, mesmo filiados à Green Film Network,
associação que compartilha entre seus associados um vasto acervo de obras ambientais
veiculadas em diversos festivais realizados ao redor do mundo, ainda é marcante, mais
especificamente no FICA e no FestCineAmazonia, a presença de animações cujas narrativas
se distanciam de questões e temas ambientais. Focando, por outro lado, nos filmes animados
estudados, ficou evidente que as representações dos discursos ambientais, dirigidos à
natureza e à sua problemática, confirmam a ideia aqui defendida de que a relação
homem/natureza é apresentada sem problematizações consistentes, sendo predominantemente
limitada a responsabilizar o indivíduo, sem atribuir maiores responsabilidades à estrutura
social. Predomina, portanto, a representação de natureza em oposição à sociedade - frágil,
desprotegida e distante, mas que não prescinde do papel do homem para protegê-la. Além
disso, é marcante o caráter doutrinador, em que a proteção do meio ambiente desponta como
uma imposição moral, o que termina por ofuscar sua compressão.
Entretanto, esse mapeamento das características gerais dos discursos analisados,
observado à luz da discussão teórica acerca das enviro-toons realizadas no contexto
internacional, oferece algumas contribuições para a problematização nesse campo de
investigação: (i) a categorização de narrativas proposta por Murray e Heumman (2011),
centrada em três tipos de histórias ambientais, mostrou-se limitada diante de um corpus que
terminou por revelar outros quatro tipos de histórias sobre o ambiente; (ii) diante da
sistematização e caracterização estético-narrativa das animações ambientais realizadas por
Starosielski (2011), notamos que, em se tratando de uma produção tardia, o contexto
brasileiro ainda sofre grande influência das animações que marcaram a primeira fase
284
identificada pela autora, embora dialoguem com as duas fases seguintes, o que indica que
temos uma animação ambiental ainda incipiente quando consideramos o contexto estético e
narrativo global; (iii) já em relação às discussões acerca da comunicação ambiental em geral,
essa emergência de enviro-toons brasileiras, ao longo do final das últimas duas décadas,
parece refletir a expansão da produção midiática, assinalada por Cox (2010), dedicada às
questões ambientais, e que impulsionou uma das principais áreas de investigação – a da mídia
e a do jornalismo ambiental; (iv) apesar das significativas contribuições de Corbett (2006)
para o campo de investigação, sobretudo acerca da produção e da compreensão das
mensagens ambientais no contexto da produção audiovisual, os resultados que identificamos
sugerem que o confinamento da animação à categoria temática designada por animais que
imitam seres humanos, conforme procede a autora, não se mostra condizente com a relevância
da animação enquanto mídia ambiental, pois ignora não somente as animações que não
representam animais, mas também a diversidade de enfoques e temas quando os mesmos se
fazem presentes.
Quanto à análise do objeto de estudo, podemos levantar em síntese as seguintes
observações. Primeiro, apesar de contemplarem variados temas ambientais, nas animações
ainda prevalecem questões relacionados a uma natureza distante, afastada do cotidiano dos
cidadãos, com destaque para a derrubada de florestas e para a degradação de outros biomas
não habitados, ou selvagens, como insistem as representações, e sempre com ênfase nos
impactos sobre a vida animal. As questões ambientais que assumem centralidade na agenda
ambiental atual são periféricas a esse corpus, a exemplo das mudanças climáticas, as quais
são praticamente ignoradas, juntamente com uma série de riscos decorrente das externalidades
das atividades sociais, tais como a poluição atmosférica e das águas, a contaminação química
dos solos, dos alimentos, o crescimento desordenado das cidades etc. Embora seja relevante o
número de casos que retratam o acúmulo de resíduos no espaço urbano em decorrência das
práticas de consumo, assim como o desperdício de energia, verifica-se que as narrativas de
temas e questões ambientais ainda revelam as fragilidades das abordagens, sobretudo em
termos de impactos e consequências.
Segundo, a escassez de temas ambientais relacionados ao cotidiano da audiência é
agravada pela descontextualização no desenvolvimento dos demais temas. A contextualização
das problemáticas, em geral, é superficial, pois traz pouco esclarecimento acerca do espaço e
tempo em que se desenvolvem, além dos próprios impactos decorrentes. Via de regra, vigora
uma representação muito reducionista das questões contempladas, com uma visível
negligência quanto às sinalizações científicas acerca dos mesmos, o que implica problema
285
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287
problemas ambientais não são representados, o tom nostálgico e o lamento recaem sobre a
natureza distante, e ocorre de forma seletiva, com predileção para certas espécies animais.
A quinta e última observação refere-se às soluções apresentadas para os problemas
ambientais tratados, tornando-se ainda mais explícito o caráter reformista dos discursos
ambientais do corpus. Como ressaltamos, a centralidade do cidadão ordinário enquanto
responsável pela degradação e pelo seu enfrentamento, resulta, consequentemente, no
reconhecimento de soluções nesse plano social, ao invés da estrutura. É preocupante essa
perspectiva de que a degradação ambiental relacionada ao plano estrutural das sociedades seja
representada com uma espécie de ônus necessário ao progresso e ao conforto das sociedades,
não cabendo maiores intervenções que possam comprometer sua lógica, e que,
consequentemente, apenas se volta para enfatizar mudanças pontuais no plano individual. Em
certa medida, as atitudes valorizadas como defesa, conservação e proteção do meio ambiente,
reforçam o próprio discurso do industrialismo e dos discursos ambientais reformistas,
ignorando que elas visam tão somente a realimentação do sistemas de produção. Enfim, esse
“empoderamento” do indivíduo diante de questões ambientais complexas e multidimensionais,
das quais ele é, sem dúvida alguma, corresponsável, é duplamente preocupante: primeiro por
que ofusca a compreensão das causas estruturais da degradação; e segundo, por legitimar a
hierarquia antropocêntrica da natureza, valorizando o papel protetor e de superioridade do
homem em relação ao mundo natural. Diante disso, as soluções apresentadas mergulham em
ações desprovidas de engajamento político para o seu enfrentamento. Na verdade, as
representações das questões ambientais no corpus manifestam o que Bakhtin (2006) vai
denominar de monologismo, uma vez que vigora nos textos animados uma única perspectiva
ou voz ideológica – aquela que percebe a natureza no plano utilitário. Apesar da diversidade
de personagens e atores sociais presentes nas animações, as narrativas não configuram a
polifonia bakhtiniana, não representam vozes ideologicamente conflitantes.
Por fim, tais desdobramentos comprovam a tese em questão, demonstrando que as
representações dos discursos ambientais presentes nas animações se caracterizam por
narrativas reformistas, ainda que divulgadas em espaços considerados não hegemônicos,
capazes de comportar uma diversidade de discursos e formas de engajamento, como é o caso
dos festivais. Portanto, apesar de não confinadas aos constrangimentos produtivos tão
marcantes na animação hegemônica e comercial, a liberdade e a independência criativa que
caracterizam o corpus não resultou em internalização dos discursos ambientais de caráter
contestatório, menos antropocêntricos e, portanto, mais críticos à estrutura social. Pode-se
dizer que prevalecem contradições discursivas que marcam as representações da natureza e de
288
sua problemática, não apenas no corpus, mas no próprio funcionamento da esfera pública
ambiental, onde estão inseridos os festivais, e também os agentes de fomento ao audiovisual
ambiental, ligados, por exemplo, ao Ministério do Meio Ambiente. Inclusive as limitações na
compreensão das questões ambientais refletem de certa forma a superficialidade com que o
tema é tratado por parte dos próprios realizadores dos eventos, que configuram o
constrangimento próprio dessa produção autoral e independente. Daí a relevância de parcerias
desses com ONGs que se destacam e se empenham no debate ambiental, e também com
cientistas e instituições que desenvolvem estudos nesta área. Para além dessas críticas, as
animações aqui analisadas, em suas contradições discursivas, a despeito do ambientalismo
ambivalente, traduzem a própria complexidade dos discursos, dos quais seus realizadores são
refratários.
Apesar das limitações discursivas observadas nesse corpus, a emergência de
animações ambientais brasileiras se torna relevante e reveladora dessa capacidade de refratar
e refletir as contradições e disputas que caracterizam o debate ambiental no contexto nacional.
Além disso, dado ao caráter recente dessa produção e à transitoriedade das respostas
apontadas nessa nota final, resta ainda saber se essa aproximação da animação com a temática
ambiental, é, nos casos observados, reveladora de sua consolidação enquanto contexto para a
manifestação de discursos ambientais, ou se o meio ambiente é meramente um pretexto para a
realização de filmes animados.
Finalmente, convém ressaltar que essa tese não configura uma denuncia no sentido de
revelar aqueles envolvidos com o objeto investigado como responsáveis por ofuscar uma
compreensão mais ampla e coerente acerca do meio ambiente e de suas mais diversas
problemática, sobretudo em termos políticos. Na verdade, almejamos tão somente contribuir
para ampliar a compreensão da comunicação ambiental no cinema de animação brasileiro, um
fenômeno complexo e ainda academicamente negligenciado, de forma a estimular e auxiliar
novas pesquisas, questionamentos e discussões sobre as representações da natureza na
animação, suas motivações, potencialidades e limitações, sua circulação, consumo e impactos
na audiência, principalmente no que diz respeito à multidimensionalidade da problemática
ambiental e ao seu engajamento.
289
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NÃO Fique Pilhado. Direção: Joao G. Amorim; Vicente Amorim; Carlos Duba. Animação,
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setembro de 2014.
O JARDINEIRO: Com Feliciano Esperança. Direção: Robson dos Santos. Animação, 4’.
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PEIXE Frito em Uma Aventura Rupestre. Direção: Ricardo Podestá. Animação, 11’51”.
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RAP dos Bichos. Direção: Daniel Lima. Animação, 4’. Disponível em:
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309
APÊNDICE A:
QUADRO EXPLICATIVO/CODIFICAÇÃO DO CORPUS (SPSS)
TITULO ANO AUTORIA01 AUTORIA02 AUTORIA03 PRODUTORA REGIÃO DE TIPO DE FILME TIPOFIL
REA ORIGEM ME
LIZ
AÇÃ
O
A Esperança e a Ultima que Morde 2006 Neil Armstrong Lunarte Brasil - CE Curta - ficção animais sofrimento diante da seca curta
A folha da Samauma 2010 Ariene Porto Animação feita por crianças da Aldeia Brasil - SP curta
Indígena Guarani Tekoa Pyau de São
Paulo (Oficina Bem-te-vi).
A Lenda da Árvore Sagrada 1999 Eládio Garcia Sá Teles Paulo Caetano Pégasus Produções Brasil - GO Curta - mitologia africana, celebração do orgulho negro. curta
A princesa do Vale 2006 Luiza Falcão Produtora AMANDA Brasil - CE Curta - Ficção História de um município cearense. Filme realizado por artistas da AMANDA, Curso curta
profissionalizante de Desenho e Animação. O filme foi realizado no NIT em Limoeiro do Norte no
Ceará, entre Abril e Agosto de 2005 e finalizado em 2006. Foi dedicado à memória dos índios
massacrados pelos portugueses em 1699.
Água é para todos 2011 Diogo Viegas Independente Brasil - RJ Curta - Campanha Hábitos Sustentáveis, denuncia de consequências. curta
Alegria de Macaco 2007 Amir Admoni Brasil - Holanda Curta - ficção - metáfora de problemas ambientais curta
Buba e o Aquecimento Global 2009 Eduardo Nakamura Mono 3D Brasil - SP Curta - envirotoons - didático sobre efeito estufa, chamada para ação curta
Bumba Meu Peixe 2008 Luiza Falcão Produtora AMANDA Brasil - CE Curta - Celebração da Cultura Popular em colônias de pescadores e rendeiras - abertura de Premiação. curta
Consciente Coletivo: Aquecimento 2010 Pedro Luá e Analúcia Godoi Brasil - RJ Curta - didático/expositivo acerca das problemática do aquecimento global, estimulo habito sustentável curta
Global
Consciente Coletivo: Resíduos 2010 Pedro Luá e Analúcia Godoi Brasil - RJ Curta - didático/expositivo acerca da problemática do descarte irregular de embalagens na natureza curta
Consumidouro 2007 Felipe Grosso Felipe Po, Jack Jack Lamb, Brasil - PR Curta - Reflexão sobre o impacto do homem no planeta a partir do consumo. curta
Lamb, Walkir Walkir
Fernandes Fernandes
De onde vem a água do Rio 2011 Mateus di Mambro Brasil - MG Curta - Didático (aparenta ser episódio de uma série realizada em projeto de extensão da UFMG - curta
universidade das crianças)
Desabrigados 2012 Alexandre Costa Independente Brasil - MG Curta - Denúncia curta
Destimação 2012 Ricardo de Podestá Mandra Filmes Brasil - GO curta
Dia Estrelado 2011 Nara Normande Garça Torta, trincheira Brasil - PE curta - ficção curta
Dias de Sol 2006 Luciano Lagares OpentheDoor Brasil - PR Curta - ficção - natureza como pano de fundo, na verdade evento natural CHUVA curta
Entrevista com o Morcego 2000 Dustan Oeven Moisés Cabral Etnia produções cinematográficas Brasil - GO Curta Envirotoons - natureza fala curta
Escalada 2012 Paulo Muppet Luciana Eguti Estúdio Birdo Brasil - SP Curta - Reflexão sobre o impacto do homem sobre o planeta. curta
Essência 2011 Daniel Rabanea Brasil - SP Curta - Reflexão Ambiental (lamento), Chamada para ação (preservar água) curta
Eta Bicho homem 2012 Marcelo Branco Animare e F7 Filmes Brasil - MG Curta - Reflexão sobre o impacto do homem no planeta. curta
Filme Ilhado 2004 Paulo Guilherme Costa Miranda Mandra Filmes Brasil - GO Curta - alerta/indireta curta
Fundo 2009 Yannet Brigglier Omago Realizações Brasil - SC Curta - Reflexão sobre o impacto do homem no planeta. curta
Gente Grande 2010 Walkir Fernandes Caroline Santos SputnikStudio: Animação, Ilustração e Brasil - PR Curta - Solução de problemas Ambientais curta
Quadrinhos
Haiana:O Filtro 2012 Arnaldo Galvão LM FILMES Brasil - SP Curta - Solução de problemas curta
Mapinguari o Protetor da Floresta 2007 Cao Cruz Brasil - BA Curta - Denuncia curta
Não Fique Pilhado 2000 João Amorim Vicente Amori Carlos Duba Synapse Produções Ltda Brasil - RJ Curta - Denuncia comportamento antiambiental - uso de pilhas e descarte irregular curta
O cangaceiro e o leão 2011 Arnaldo Galvão Buba Filmes Brasil - PE curta - ficção: um garoto se aventura pela sua imaginação e descobre sobre o aquecimento global curta
O DIÁRIO DA TERRA 2011 Diogo Viegas Brasil - RJ Curta - Reflexão sobre o impacto do homem no planeta. curta
O Jardineiro - Com Feliciano Esperança 2010 Robson dos Santos Brasil - MG Curta - reflexão sobre preservação da natureza e compromisso com gerações futuras curta
O Menino e o Mundo 2014 Alê Abreu Filme de Papel Brasil - SP Longa Metragem - longa
O Rei Gastão 2012 Diogo Viegas Viegas Estúdio Brasil - RJ Curta - Fábula - Reflexão do impacto do homem sobre a natureza - Solução de problemas curta
Os sustentáveis 2012 Lisandro Santos Cartunaria Desenhos Brasil - RS Curta - Campanha para adoção de postura ambientalmente favorável. Chamada para um série animada curta
ambiental
PAJERAMA 2008 Leonardo Cadaval Brasil - SP Curta - Sociedade X Povos Indígenas Tradicionais curta
PEIXE 2011 Rogério Nunes, Irai Amana, Karmatique Imagens Brasil - SP Curta - Depoimento Lamentação - Nostalgia Natureza Perdida curta
José Silveira, Janice D'ávila
Peixe Frito em Uma Aventura Rupestre 2011 Ricardo de Podestá Mandra Filmes Brasil - GO Curta Ficção - Ambiente como pano de fundo curta
PERFEITO 2009 MAURICIO BARTOK Brasil - RJ Curta - Ficção - Não Environtoon. Subjetivamente trata da condição humana. curta
Rap dos Bichos 2005 Daniel Lima UM Filmes Brasil - GO curta
Tainá-Kan, A Grande Estrela 2005 Adriana Figueiredo Kino Produções Ltda Brasil - RJ Curta - adaptação de conto-lenda de povos indígenas curta
Tamanduá Bandeira 2011 Ricardo de Podestá Mandra Filmes Brasil - GO Curta - ficção sobre o devaneio de um tamanduá curta
Vida Maria 2006 Márcio Ramos VIACG, TrioFilms Brasil - CE curta
TITULO SONORO VOZ OFF VOZOFF_FUNCAO DIÁLOGO DIALOGOVERBALALTERNATIVA TÉCNICA ANIMADA TIPOANIMACAO
VERBAL
A Esperança e a Ultima que Morde sim não sim Híbrido: 3D Digital, 2D Desenho Digital (menor parte) animação limitada
A folha da Samauma sim sim externo - descreve a história, mas torna-se diegético não Híbrido: Stop Motion com massa de modelar, desenho de recortes animação limitada
A Lenda da Árvore Sagrada sim sim externo - descreve toda a história não 2D Grafismo (Motion Graphics) animação limitada
A princesa do Vale sim sim externo - descreve toda a história não 2D Desenho Animado Digital animação limitada
Água é para todos sim não não 2D Desenho Animado Digital animação limitada
Alegria de Macaco sim não sim Híbrido: 3D Digital com imagens de ação ao vivo animação limitada
Buba e o Aquecimento Global sim sim externo - descreve o fenômeno não 3D Digital animação total
Bumba Meu Peixe sim não não 2D Desenho Animado Digital animação limitada
Consciente Coletivo: Aquecimento sim sim externo - descreve a história, mas torna-se diegético não Stop Motion: recortes animação limitada
Global
Consciente Coletivo: Resíduos sim sim externo - descreve a história, mas torna-se diegético não Stop Motion: recortes animação limitada
Consumidouro sim não não 2D Desenho Animado Digital animação limitada
De onde vem a água do Rio sim sim externo - descreve o fenômeno não 2D Desenho Animado Digital animação limitada
Desabrigados sim não não 2D Desenho Animado Digital animação total
Destimação sim não sim 2D Desenho Animado Digital animação limitada
Dia Estrelado sim não não Stop Motion: massa de modelar animação limitada
Dias de Sol sim não não 2D Desenho Animado Digital animação limitada
Entrevista com o Morcego sim não sim Stop Motion: massa de modelar animação limitada
Escalada sim não sim entre os personagens com língua própria Híbrido: 2D e 3D Digital animação total
Essência sim não não cartela Stop Motion: recortes papelão animação limitada
Eta Bicho homem sim sim avalia os personagens não 2D Desenho Animado Digital animação limitada
Filme Ilhado sim não não 2D Desenho Animado Digital animação limitada
Fundo sim não não 2D Desenho Animado Digital animação total
Gente Grande sim não sim 2D Desenho Animado Digital animação limitada
Haiana:O Filtro sim não não 2D Desenho Animado Digital animação limitada
Mapinguari o Protetor da Floresta sim não não Híbrido: 2D Digital, recortes e ilustração animação limitada
Não Fique Pilhado sim não não Híbrido: 3D Digital com figuras e colagens em 2D animação limitada
O cangaceiro e o leão sim não sim 3D Digital animação limitada
O DIÁRIO DA TERRA sim sim personagem descreve a história não Híbrido: 2D Desenho Digital, 3D animação total
O Jardineiro - Com Feliciano Esperança sim não a música orienta a narrativa não Narrativa Musicada 2D Desenho Animado Digital animação limitada
O Menino e o Mundo sim não sim Híbrido: 2D Desenho Digital com 3D animação limitada
O Rei Gastão sim sim a música desenvolve a narrativa não Narrativa Musicada 2D Desenho Animado Digital animação limitada
Os sustentáveis sim sim externo - descreve toda a história não 2D Desenho Animado Digital animação limitada
PAJERAMA sim não não 3D Digital animação total
PEIXE sim sim depoimento nostálgico de um antigo morador e sim Híbrido: 2D Recortes de papel, edição ação ao vivo animação limitada
frequentador do rio
Peixe Frito em Uma Aventura Rupestre sim não sim Entre os personagens 2D Desenho Animado Digital animação limitada
PERFEITO sim não não 3D Digital animação limitada
Rap dos Bichos sim não sim Narrativa Musicada (ritmo) 2D Desenho Animado Digital animação limitada
Tainá-Kan, A Grande Estrela sim não sim 3D Digital animação limitada
312
Tamanduá Bandeira sim não não 3D Digital animação limitada
Vida Maria sim não sim 3D Digital animação limitada
TÍTULO TEMA_PRINCIPAL@ TEMA AMBIENTAL TEMAAMBIENTAL_QUESTOES TEMA_SE_IMPLICITO @TIPOCONFLITO CONFLITOPADR PERSONAGENS PROTAGONISTA ANTAGONISTA
AO_OK
A Esperança e a Ultima que Natureza: Adversidades A seca no nordeste: animais e seca e a vida animal, cadeia alimentar (urubus, uma metáfora da sociedade: Natureza X Homem vaca (prestes a morrer), cadela (amiga da vaca), urubus (esperando a
Morde ambientais com implicação no a sobrevivência no contexto carniça), poder público (descaso com a seca) homem x homem (descaso morte), políticos (D. Pedro II, Juscelino)
mundo animal da seca nordestina político com a seca no
nordeste)
A folha da Samauma Natureza: Valor Contemplativo A lenda é sobre exclusão: um natureza exuberante índio feio se abriga na mata Homem X Homem Índios
índio feio que se refugia em em função de sua exclusão
uma bela Samauma
A Lenda da Árvore Sagrada Relação Homem e Natureza: Natureza pano de fundo: Cosmologia africana que maniqueísta - ser humano Natureza X Homem Africanos nativos, colonizadores brancos, saci, natureza (arvores,
Povos Nativos X Sociedade escravização dos negros integra homem, animais e "colonizador" X tribos animais e pedras)
Ocidental arvores, além das pedras em africanas e Natureza
um todo da natureza.
Perspectiva oposta ao
utilitarismo e tirania do
colonizador
A princesa do Vale Exploração desenfreada de Natureza pano de fundo: a integração dos povos tradicionais com a contrastes entre formas de maniqueísta - ser humano Natureza X Homem Povos Indígenas antigos (grupos em harmonia com a natureza),
recursos naturais: promoção do constituição do município a natureza, domínio da natureza pelos colonos relação com a natureza: "colonizadores" X natureza e Colonizadores (devastadores da natureza), animais (vitimas do
progresso partir da transformação do portugueses, natureza edênica, natureza antiga índios x colonizadores povos indígenas colonizador). Colonizador Cristóvão (Regulador governo),
espaço exuberante, natureza transformada, progresso e portugueses Fazendeiro (Corporações, prosperidade), Igreja (Regulador), cidadão
prosperidade, natureza domesticada comum (contribui para a ordem social).
Água é para todos Estimulo adoção de hábitos Água: recurso natural consumo excessivo, desperdício, direito dos maniqueísta - ser humano Homem X Natureza Homem no banho, animais no lago
sustentáveis para natureza, saúde animais "cidadão" X natureza
e bem estar
Alegria de Macaco Consumo e descarte irregular de O foco é o consumismo e a mídia e consumo, homem e excesso de Natureza X Homem consumidor (homem), publicidade (estimuladora do consumo),
resíduos alienação: a natureza é pano consumismo, alienação consumo, alienação e mídia anunciadora de problemas sociais
de fundo quando mostrada ambiental, descarte irregular problema ambiental
como depósito para os
produtos descartados pelo
homem
Buba e o Aquecimento Global Aquecimento Global: explicação Aquecimento Global: produção excessiva de gás metano e de co2: não há conflito explícito: Descrito: sem Buba (homem das cavernas), Dragão de estimação,
didática do fenômeno explicar o fenômeno sem relação com a vida moderna descreve o fenômeno do conflito
aquecimento global (sem
contextualizar a ordem
social)
Bumba Meu Peixe Relação Homem e Natureza: Natureza pano de fundo: o tradição cultural de uma colônia de pescadores, cultura de colônias de motivação por objetivo Interno Marina (criança), Família de Marina (Pai pescador, mãe rendeira e
Colônia Pescadores modo de vida simples de uma folclore, integração ambiental em comunidades pesquisadores dotada de pessoal: realizar trabalho irmão bebê), Moradores da Colônia (demais pescadores e rendeiras),
colônia de pescadores e ribeirinhas, senso de pertencimento saber ambiental escolar Professora, Colegas de Escola
rendeiras
Consciente Coletivo: Estimulo adoção de hábitos Aquecimento global pecuária e suas consequências para o clima: coloca o consumo humano Homem X Natureza Jovem consumidor de carne, as vacas, vendedor de móvel
Aquecimento Global sustentáveis para natureza, saúde derrubada de florestas, gases metano produzido como causador de impactos (eventual), criador de gado (não aparece), motorista de trator
e bem estar pelo rebanho, produção de gás carbônico pelo ambientais (a vida das (derruba floresta), motorista de carro de carne (não aparece),
transporte e pela derrubada de floresta, tartarugas): homem x açougueiro (no mercado e no frigorifico), senhora compradora de
consumo humano de carne como estimulador, natureza carne no mercado
mudanças climáticas (sem maiores
consequências), consumo consciente
Consciente Coletivo: Resíduos Estimulo adoção de hábitos Descarte de resíduos na reciclagem, impacto dos resíduos descartáveis coloca o consumo humano Homem X Homem Jovem consumidor (produtor de resíduos), tartarugas vítima dos
sustentáveis para natureza, saúde natureza sobre a vida marinha como causador de mudanças resíduos, consumidor em geral (brasileiros), homem histórico
e bem estar climáticas: homem X homem (homem das cavernas, bisavó), motorista do caminhão de lixo,
pescador, homem genérico (afetado pelo excesso de resíduos no
planeta)
Consumidouro Consumo e descarte irregular de Estilo de vida: consumo e perda de biodiversidade, aquecimento global, maniqueísta - homem x Homem X Natureza Homem no banheiro, homem na rede, homem pescando, homem no
resíduos degradação do ambiente esgotamento de rios, poluição, consumismo, natureza; homem consumista iglu, homem nos moinhos, animais diversos
alienação social e tecnológica exaurindo o planeta
De onde vem a água do Rio Natureza: sistemas científico Água: ciclo da água do rio não problematiza não há conflito: descritivo do Descrito: sem Existem personagens apenas ilustrativos das interações homem e rio.
(ciclo da água) fenômeno conflito O Rio desponta como próprio personagem. Há uma criança que
interage com o rio constantemente (brincando com um barco de
papel) e que demonstra curiosidade pelo ciclo da água. Outra criança
brinca na cachoeira, um casal de namorados sobre um ponte da
cidade, pescador, piloto de barco, idoso contemplado o mar)
Desabrigados Exploração desenfreada de Floresta: interferências derrubada de floresta, ameaça a biodiversidade, maniqueísta - ser humano Homem X Natureza Onça, Macaco, serrador e demais animais.
recursos naturais: promoção do humanas no Ecossistema pecuária extensiva "madeireiro" X natureza
progresso
313
Destimação Animais de Estimação: A trama é em torno da animais silvestres em cativeiro, comercio de animais são vitimas do Homem X Natureza criança, pai da criança, vendedor de animais de estimação, animais
comércio e posse criança e seu desejo por um animais de estimação, maus tratos aos animais homem em busca de possuir
animal de estimação e adoção um bicho de estimação, seja
pelos maus tratos em lojas,
seja pelo condicionamento
que o ambiente domestico lhe
aplica
Dia Estrelado Natureza: Adversidades O ambiente é pano de fundo: o ambiente é mostrado como Natureza X Homem Uma família em pobreza extrema
ambientais com implicação a região árida é cenário para a desafio à condição de vida, a
social narrativa que é a fome e a aridez como dificuldades,
luta por sobrevivência fome e sobrevivência humana
Dias de Sol Natureza: Adversidades Natureza pano de fundo: pai percepção de natureza (chuva) como obstáculo pai e filho transformam a não há conflito: pai e filho Interno Crianças da rua (brincando), Criança e seu Pai, pessoas da cidade,
ambientais com implicação e filho inventores usam a ao conforto moderno, mas de um obstáculo chuva em uma oportunidade saem da rotina inventando compradores de guarda-chuva, a chuva
social chuva como mote para suas para a vida cotidiana ela pode constituir uma de negócios. Ambos são guarda-chuvas
criações e para lucrar com as oportunidade para inovação nos produtos, criativos e desenvolvem
mesmas customização de guarda-chuvas que podem vários modelos de guarda-
representar um motivo lúdico para aproveita-la chuvas.
Entrevista com o Morcego doenças humanas: interferência Desequilíbrio ecológico: Interferência do homem no habitat dos maniqueísta - ser humano Homem X Natureza morcego entrevistado, morcegos em bando, humanos capacetes de
no equilíbrio ecológico interferência do homem no morcegos, desequilíbrio ambiental, meio "desenvolvimento" X plástico, jovens na caverna
habitat dos morcegos ambiente e saúde natureza
Escalada Exploração desenfreada de Sustentabilidade consumo intenso de recursos naturais, exaustão maniqueísta - ser humano x Homem X Natureza Criaturas não humanas (empreendedores e operários)
recursos naturais: promoção do recursos, insustentabilidade ser humano x natureza
progresso
Essência Estimulo adoção de hábitos Escassez de Água economizar água, preservar natureza não há conflito explícito: Homem X Natureza Criatura de papelão
sustentáveis para natureza, saúde descreve uma criatura em
e bem estar busca de água
Eta Bicho homem Exploração de Recursos Natureza: apropriação da derrubada da floresta, ameaça a biodiversidade, maniqueísta - ser humano Homem X Natureza Homem (engenheiro, operador de trator, lenhador), natureza
Naturais com Impacto na vida natureza como recursos e os direito dos animais "capitalista" X natureza (animais, árvores), Homem genérico (ponto de reflexão)
animal impactos do homem sobre o
mundo natural
Filme Ilhado Degradação do Planeta Terra: Questão Ambiental: como poluição industrial (atmosfera), derrubada e muito descontextualizado e homem lutando por Homem X Natureza homem ilhado, mulher na praia, soldado atirador, homem do resgate
genérico pano de fundo para o homem queimada de floresta, derramamento de óleo no subjetivo sobrevivência (metáfora para
ilhado mar, derretimento da calota polar o ser humano?)
Fundo Consumo e descarte irregular de Poluição descarte de sacolas plásticas na natureza (mar, não há conflito explícito: Homem X Natureza Aves, Tartaruga, Mar, Barco
resíduos ar e terra) descreve a trajetória da sacola
plástica na natureza
Gente Grande Estimulo adoção de hábitos Hábitos Sustentáveis descarte adequado de lixo, uso racional de não há conflito explícito: Homem X Homem Garota (protagonista), seus pais, vizinho, motorista do carro
sustentáveis para natureza, saúde água, eletricidade descreve uma garotinha
e bem estar protegendo o meio ambiente
(combatendo desperdício,
economizando recursos)
Haiana:O Filtro Soluções sustentáveis para Poluição: Atmosférica poluição industrial maniqueísta - heróis X vilões Homem X Natureza A Bruxa Haina e a Fábrica
natureza, saúde e bem estar ambientais
Mapinguari o Protetor da Exploração de Recursos Floresta: interferências derrubada da floresta, extração de madeira, maniqueísta - ser humano Homem X Natureza Mapinguari (Defensor da Floresta), Jovens índios (Defensores da
Floresta Naturais com Impacto na vida humanas no Ecossistema ameaça a biodiversidade, lixo, queimadas, caça "madeireiro" X natureza Floresta), Homem (invasor e ameaça à natureza), animais (vítimas
animal de animais silvestres, contaminação de cursos do homem), árvores (Vitima do homem).
de águas, saber ambiental tradicional
Não Fique Pilhado Estimulo adoção de hábitos Descarte irregular de pilhas, contaminação química dos solos, águas, não há conflito explícito: Descrito: sem Garoto da casa, cachorro, mulher ao volante, vacas, pescador,
sustentáveis para natureza, saúde baterias e eletrônicos animais e alimentos, reciclagem, cadeia descreve o fenômeno do conflito peixes, ordenhador, vendedor de frutas e verduras, dona de casa
e bem estar alimentar, contaminação industrial, risco contaminação química da (cozinheira), personalidades diversas
ambiental, alienação, consumo, tecnologia natureza
O cangaceiro e o leão Aquecimento Global: Aquecimento Global causas diretas do aquecimento global (carros, não há conflito, apenas Sobrenatural X garoto, avo, mãe, dragão (vilão)
antropogênico (carros, indústria) derrubada de florestas, industrias), ciência explicação do fenômeno: Natureza
como resolutora dos problemas causalidade apontada homem
x homem: interfere no clima
do planeta
O DIÁRIO DA TERRA Aquecimento Global: Desequilíbrio ecológico: mudanças climáticas: com efeitos sobre a vida maniqueísta - homem x Homem X Natureza Menina, Terra, Pinguins, Homem Histórico (primitivo, egípcios,
antropogênico interferência do homem no humana apenas; produção industrial como natureza gregos), Homem Moderno
planeta poluidora; derrubada de florestas; queimadas;
O Jardineiro - Com Feliciano Soluções sustentáveis para Dependência do homem em preservação da natureza - as flores como não há conflito: alerta Descrito: sem O Jardineiro, O planeta, Os jardins
Esperança natureza, saúde e bem estar relação à natureza metáfora necessidade de preservação conflito
(plantar flores)
O Menino e o Mundo Sociedades Inviáveis o foco é crise do mundo emprego, exploração, homem e transformação do Homem X Homem menino, mãe, pai, trabalhadores, moradores da cidade
moderno em sua amplitude a pobreza, superprodução, mundo natural a partir de sua
partir da experiência do consumo, degradação apropriação enquanto recurso
menino em sua jornada ambiental, poluição, para o desenvolvimento e o
derrubada de florestas, progresso das cidades
esgotos etc.
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O Rei Gastão Exploração de Recursos Natureza: apropriação da derrubada de floresta, desvio de cursos de água, maniqueísta - ser humano Homem X Natureza Rei Gastão (Vilão), Animais (são as vítimas)
Naturais com Impacto na vida natureza como recursos e os ameaça a biodiversidade, poluição atmosférica "rei" X natureza
animal impactos do homem sobre o
mundo natural
Os sustentáveis Estimulo adoção de hábitos Sustentabilidade lixo orgânico, lixo inorgânico, embalagens maniqueísta - heróis X vilões Sobrenatural X Vilões: Lixeiro Louco, Cataclísmicos Gêmeos El nino e La nina,
sustentáveis para natureza, saúde descartáveis, desperdício de água, desperdício ambientais Natureza Cocozila e o Cidadão Sem Noção (Cidadão Comum). Heróis:
e bem estar de energia Reciclope (Reciclador), Eólica (Energia Renováveis), Alienígena
Vegano (Come alimentos orgânicos).
PAJERAMA Relação Homem e Natureza: Natureza: apropriação da transformação do meio ambiente pela oposição homem maniqueísta - homem Homem X Natureza Jovem Índio , Índio Adulto, Natureza (Floresta, animal caçado,
Povos Nativos X Sociedade natureza como recursos e os sociedade moderna; meio ambiente e os povos moderno/tribo indígena moderno x índio-natureza água, fauna e flora), Homem Social (trem, construções, helicóptero,
Ocidental impactos do homem sobre o primitivos - ocupação espacial eletricidade, transmissão, propaganda, cidade, veículos, estradas)
mundo natural
PEIXE Consumo e descarte irregular de Morte dos rios: urbanização recreação na natureza (rios), natureza como maniqueísta - homem Homem X Natureza Depoente, Natureza (águas, peixes), Crianças pescadoras
resíduos como promotora da provedora (pesca), biodiversidade (perda) moderno (urbanização) X
contaminação das águas natureza (rios e peixes)
(esgoto)
Peixe Frito em Uma Aventura Natureza: Valor Contemplativo Natureza como cenário parque arqueológico, ecoturismo, povos nativos Natureza é cenário: plano de maniqueísta - empresário x Homem X Homem Avó, Guita, Aninha, Tião (Dono do Sítio), Américo (Arqueólogo),
Rupestre fundo para uma trama em arqueólogos x crianças dois arqueólogos, índios e o homem da cabana.
torno dos interesses pela
exploração turística de um
sítio arqueológico:
ecoturismo
PERFEITO Sociedades Inviáveis Natureza como cenário: perfeccionismo na busca pela beleza, alienação antropocentrismo "homem" não há conflito: destaca o Homem X Natureza A criatura de madeira
metáfora do planeta do homem, "antropocentrismo" centrado em si ignora as antropocentrismo e suas
(inferido) consequências dos seus atos consequências em relação ao
próprio homem
Rap dos Bichos Degradação de Bioma: Cerrado Destruição do cerrado perda da biodiversidade animal do cerrado animais vítimas da destruição Homem X Natureza diversos animais protagonizam o curta
(várias espécies) do cerrado (impessoal)
Tainá-Kan, A Grande Estrela Relação Homem e Natureza: Natureza pano de fundo: foco descoberta da agricultura, cosmovisão, relações maniqueísta - homem x Homem X Homem Tribo Carajás (protagonista), Tainakan (protagonista!), Maioro,
Povos Nativos na mitologia de povos sociais, relação com o mundo natural homem Denake, Pajé, demais índios
Indígenas, conflito humano
(relação afetiva)
Tamanduá Bandeira Soluções sustentáveis para Natureza como cenário: é como pano de fundo: mostra como pano de fundo: o Homem X Natureza Tamanduá Bandeira macho, Feema, adversário, motoristas de carro
natureza, saúde e bem estar palco do sonho e da aventura a intervenção humana em homem se opõe a natureza
em busca de uma parceira áreas silvestres (estradas e (impede o sucesso do
amorosa cigarros), mas é pano de tamanduá)
fundo, pois é apenas um
sonho do personagem
Vida Maria Natureza: Adversidades Tema é social: continuidade natureza como obstáculo e desafio O nordeste é retrata com uma Natureza X Homem
ambientais com implicação de tradição que excluía as região atrasada em termos de
social crianças da escola, e as desenvolvimento, abriga uma
meninas nos trabalhos cultura em que a escola e o
domésticos letramento é preterido, em
favor do trabalho familiar na
propriedade
TITULO ANIMACA ATORES SOCIAIS (VOZES)CIDADÃOS, GRUPOS DE MEIO AMBIENTE, ATORES SOCIAIS (VOZES)CIDADÃOS, GRUPOS ATORESSOCIAIS0 ATORES ATORE ATORE ATORE ATORESSO ATORE ATORESS
O_AMBIE GRUPOS CONTRA MEIO AMBIENTE, CIENTISTAS, CORPORAÇÕES, DE MEIO AMBIENTE, GRUPOS CONTRA MEIO 1 SOCIAIS SSOCIA SSOCIA SSOCIA CIAIS06 SSOCIA OCIAIS08
NTAL REGULADORES - GOVERNO AMBIENTE, CIENTISTAS, CORPORAÇÕES, 02 IS03 IS04 IS05 IS07
REGULADORES - GOVERNO
Água é para todos Explícita Cidadão comum desperdiçador de recursos; Grupos Ambientalistas aparecem a partir dos animais que cidadão comum . grupos . . . . .
interpelam o homem para economizar agua ambienta
is
Desabrigados Explícita Corporações (Madeireira e criador de gado) . . . . . corporações . .
Rap dos Bichos Explícita natureza fala, homem (denunciado de forma geral pelos bichos) a sociedade em geral . . . . . corporações . .
Tamanduá Implícita Cidadão Comum (motoristas desatentos com os animais e com a floresta), animais como o capitalismo em geral cidadão comum . . . . corporações . .
Bandeira cidadão comum (namoro)
A princesa do Implícita Indígenas em harmonia com o mundo natural, colonizadores portugueses como Políticos são mencionados cidadão comum grupos . grupos . corporações políticos .
Vale exploradores da natureza, fazendeiro (cria a prosperidade), igreja (Assegura a ordem e o sociais contra o
progresso), cidadãos (homens de bem que asseguram a ordem social e o progresso), meio
cangaceiros ambiente
Alegria de Implícita Cidadão comum consumidor, mídia estimuladora de consumo via publicidade, empresas cidadão comum . . . . corporações políticos mídia
Macaco promotoras de consumo
Consumidouro Explícita Cidadão Comum (do banheiro, da rede e da pescaria), Homem do Moinho (cidadão cidadão comum . . . . . . mídia
comum ou empreendedor), natureza (animais e arvores)
De onde vem a Explícita Rio é o personagem que representa a natureza, mas vemos o cidadão comum como A ciência é a voz do narrador cidadão comum . . . cientistas . . .
água do Rio beneficiário direto do rio em diversos contextos (pesca, recreação, alimento)
Escalada Explícita indiretamente temos o capitalismo representado . . . . . corporações . .
Eta Bicho homem Explícita Trabalhadores devastando o mundo natural; Implícitos: homem capitalista indiretamente é uma alusão a todo o capitalismo . . . . . corporações . .
315
Filme Ilhado Implícita o cidadão comum, ilhado indiretamente temos as fábricas, o capital em geral cidadão comum . . . . corporações . .
O cangaceiro e o Explícita o cidadão comum (o garoto e o avo), a sociedade em geral (fabricas, derrubadas de cidadão comum . . . cientistas corporações . mídia
leão florestas, carros) não especifica um ator em si; a mídia (divulgando); a escola (discutindo);
os cientistas (resolvendo)
O DIÁRIO DA Explícita Cidadão Comum (menina), Pinguins (meio ambiente), Planeta Terra (Meio Ambiente), indiretamente temos o capitalismo com um todo cidadão comum . . . . corporações . .
TERRA Homem Moderno (Agente de degradação ambiental), Homem antigo (harmonia)
PERFEITO Implícita a sociedade em geral . grupos . . . . . .
sociais
Buba e o Explícita Cidadão comum (representado como homem das cavernas), poluidor Cientistas: a narração é a ciência cidadão comum . . . cientistas . . .
Aquecimento
Global
Consciente Explícita Cidadão Comum Consumidor e degradador (jovem e senhora consumidores de carne), Os cidadão comum grupos . . . corporações . .
Coletivo: humanos em geral (carnívoros), Criador de Gado (implícito), Trabalhadores ligados a sociais
Aquecimento carne (motorista do trator que derruba a floresta, motorista que transporta carne - estes não
Global aparecem, açougueiro, vendedor de móveis de madeira)
Consciente Explícita Cidadão Comum (jovem consumidor), os humanos em geral; A politica parece implícita quando dos funcionários cidadão comum grupos . . . corporações políticos .
Coletivo: descartando lixo (regulador, legislador, poder público); sociais
Resíduos
Essência Explícita indiretamente temos o cidadão comum cidadão comum . . . . . . .
Gente Grande Explícita Cidadão comum (pais, vizinho, motorista do carro, garota), Ambientalista (Garota), cidadão comum . . . . . . .
Poluidores (vizinho, pai, motorista do carro)
Haiana:O Filtro Explícita fábrica como grupo contra o meio ambiente; Implícitos: grupos ambientalista indiretamente temos uma presença de grupos ambientalistas . . grupos . . corporações . .
em função Haina (cidadão comum, grupo ambiental, ambienta
reguladores), is
Não Fique Explícita cidadão comum, comerciantes, corporações (fabrica), produtor de leite, mídia cidadão comum . . . . corporações . .
Pilhado (personalidades midiáticas), políticos
O Jardineiro - Explícita Cidadão comum (o jardineiro) como protetor do ambiente indiretamente temos a sociedade como um todo cidadão comum . . . . . . .
Com Feliciano
Esperança
O Rei Gastão Explícita Poluidores (Homem em geral, a civilização), o Cidadão Comum (Povos Nativos), o gestor indiretamente temos a sociedade como um todo . grupos . . . . . .
(Rei), a natureza (animais vitimados) sociais
Os sustentáveis Explícita Cidadãos Ordinários, Grupos Ambientais grupos antiambientalistas são representados pelos eco cidadão comum . grupos grupos . . . .
vilões ambienta contra o
is meio
ambiente
A Esperança e a Explícita Políticos Brasileiros, atuais e do passado, como negligentes com o problema da seca Cidadão Comum apresentados a partir dos animais e cidadão comum . . . . . políticos .
Ultima que Morde também mencionado quando se trata de população em geral
Dia Estrelado Implícita família, pai, mãe, quatro filhos, em condições de pobreza cidadão comum . . . . . . .
Vida Maria Implícita Família pobre e numerosa, Maria é a garota que vemos a vida passar a escola é implícita, sua ausência é o conflito do filme cidadão comum grupos . . . . . .
sociais
A folha da Implícita Indígenas marcados de envolvimento ambiental . grupos . . . . . .
Samauma sociais
A Lenda da Implícita Colonizadores portugueses degradam o ambiente, africanos nativos como protetores da . grupos . grupos . . . .
Árvore Sagrada natureza sociais contra o
meio
ambiente
Bumba Meu Peixe Implícita Cidadão Comum (Harmonia com a natureza, proteção), Escola (resgate e manutenção da . grupos . . . . . .
tradição) sociais
Destimação Explícita cidadão comum (garoto e seu pai), comerciante de animais (dono da loja), mídia cidadão comum . . . . corporações . mídia
(entretenimento sobre a natureza)
Dias de Sol Implícita Cidadão comum, empreendedores, cidadão ordinário indiretamente temos o capital, eles montam uma empresa cidadão comum . . . . corporações . .
Entrevista com o Explícita Natureza (morcego entrevistado, morcegos jovens), ciência (o jovem mestre em biologia), indiretamente são mencionados os SEM TETO, a cidadão comum grupos . . cientistas corporações . .
Morcego o cidadão comum (jovem do direito, leigo e pelo senso comum), corporações e governo Faculdade sociais
(construtora da barragem), trabalhadores (capacetes azuis), cidadão comum (vitimas dos
morcegos na cidade), sem teto (citado no discurso do jovem advogado)
Fundo Explícita barco (homem pescador) indiretamente temos o cidadão comum conforme sacola cidadão comum . . . . corporações . .
(homem poluidor) ou mesmo as corporações
Mapinguari o Explícita Povos Nativos (índios), Protetor da natureza (Mapinguari), Corporações (Homem . grupos grupos . . corporações . .
Protetor da madeireiro) sociais ambienta
Floresta is
O Menino e o Implícita cidadão comum, trabalhadores, sistema de produção, mídia, publicidade, empresários, cidadão comum grupos . . . corporações políticos mídia
Mundo forças militares, esportistas, moda, sociais
PAJERAMA Explícita Índios (ambientalistas), Homem Social (Antiambientalista), Corporações, Reguladores, . grupos . . . corporações . mídia
Governo e Cientistas (Indiretamente representados quando dos seus empreendimentos), sociais
Natureza
PEIXE Explícita (Cidadão comum), Natureza indiretamente a sociedade como um todo cidadão comum grupos . . . . . .
sociais
316
Peixe Frito em Implícita Cidadão comum (avó, crianças e o homem da cabana), Comunidade Nativa (os índios), cidadão comum grupos . . . corporações . mídia
Uma Aventura Reguladores e Cientistas (Os arqueólogos que avaliam o sítio arqueológico), Corporação sociais
Rupestre (Tião e o interesse comercial do sítio - a indústria do turismo)
Tainá-Kan, A Implícita Índios . grupos . . . . . .
Grande Estrela sociais
40 40 40 40 28 16 4 3 4 22 5 7
TÍTULO NARRATIVA NARRATIVA NARRATIVA NARRATIVAA NTROPOMORFISMO_OBS ABRANGENCI ABRANGENCI ABRANGENCI ESPACIALIDADE DA NARRATIVA
PERSONAGENS PERSONAGENS ANTROPOMORFISMO AE A A PROBLEMÁTICA ESPACIALIDADE01_OK
REPRESENTATIVO REPRESENTATIVO SPACIALDAPR ESPACIALDA ESPACIALDA (LOCAL, REGIONAL,
S01_OK S02_OK OBLEMATICA PROBLEMATI PROBLEMATI NACIONAL OU GLOBAL)
01_OK CA02_OK CA03_OK
A Esperança e a Ultima que Natureza Humano animais interagem com os animais em estado natural, mas com envolvimento com . regional . o estado do Ceará natural, urbano
Morde humanos, usam artefatos e humanos
hábitos humanos
A folha da Samauma Humano . não há antropomorfização local . . uma tribo genérica natural
A Lenda da Árvore Sagrada Humano . não há antropomorfização animais naturais . regional . África Antiga natural, urbano
A princesa do Vale Humano . não há antropomorfização animais naturais local . . Município de Limoeiro do natural, urbano
Norte: margens do Rio
Jaguaribe,
Água é para todos Humano Natureza animais com comportamento expõe o ponto de vista do animal acerca da problemática local . . Uma residência doméstica, natural, urbano
humano em habitat natural (furiosos) uma lago próximo
Alegria de Macaco Humano . não há antropomorfização a criatura é metáfora humana local . . Amsterdam urbano
Buba e o Aquecimento Global Humano Natureza não há antropomorfização dinossauro como animal de estimação . . global planeta na era pré-histórica: natural
homem primitivo
Bumba Meu Peixe Humano . não há antropomorfização animais de rua local . . Uma colônia de pescadores urbano
genérica
Consciente Coletivo: Humano Natureza não há antropomorfização não maior parte do tempo as vacas estão ao natural, mas ao . regional global o caso é do Brasil: mas relata natural, urbano
Aquecimento Global final uma delas está no transporte, interage com o jovem e todo o planeta
usa um guarda-chuva - o ponto de vista da natureza (a vaca
dá um guarda-chuva ao jovem)
Consciente Coletivo: Resíduos Humano Natureza não há antropomorfização não maior parte do tempo o animal (tartaruga) está em . regional global o caso é do Brasil: mas relata natural, urbano
estado natural, mas ao final ela aparece no coletivo, todo o planeta
interpela o jovem e lhe devolve a sacola e o presenteia com
uma reaproveitável (o ponto de vista da natureza)
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Consumidouro Humano . não há antropomorfização animais naturais local regional global diversos: casa do personagem, natural, urbano
entorno e outras regiões do
planeta - inclusive hemisfério
norte
De onde vem a água do Rio . . não há antropomorfização animais naturais . regional . Um curso de um rio natural, urbano
Desabrigados Humano Natureza não há antropomorfização animais naturais local . . Uma Floresta: não especificado natural
Destimação Humano Natureza animais interagem com o papagaio interage como humano, o cachorro adotado é local . . uma cidade genérica urbano
humanos, usam artefatos e em estado natural
hábitos humanos
Dia Estrelado Humano Natureza não há antropomorfização animais naturais local . . uma região não definida rural
Dias de Sol Humano . não há animais local . . Uma cidade genérica, mas urbano
fantasiosa (vampiros etc.).
Entrevista com o Morcego Humano Natureza animais interagem com morcegos entrevistado: voz da natureza mas com local . . Uma cidade genérica urbano
humanos, usam artefatos e motivações humanas (vingança, lamento, pena etc)
hábitos humanos
Escalada Humano . não há animais, mas humanoides . . global Planeta Terra: metáfora em urbano
mundo geométrico abstrato
Essência Humano . não há animais local . . Um casa - não definida urbano
Eta Bicho homem Humano Natureza não há antropomorfização animais naturais local . global Uma floresta genérica do natural
Brasil
Filme Ilhado Humano . não há antropomorfização animais naturais (peixes que morrem pelo petróleo) local . global uma ilha genérica, todo o natural, urbano
planeta
Fundo Humano Natureza não há antropomorfização animais naturais local . . região genérica natural
Gente Grande Humano . não há animais local . . Um rua genérica urbano
Haiana:O Filtro Humano . não há animais local . . Fábrica impacta seu entorno: natural, urbano
não especificada
Mapinguari o Protetor da Humano Natureza não há antropomorfização animais naturais local . . Floresta Amazônica natural
Floresta
Não Fique Pilhado Humano Natureza não há antropomorfização animais naturais local regional global são vários lugares, embora natural, urbano
genéricos: área rural, cidade,
locais de pesca, pastos de
criação de animais.
O cangaceiro e o leão Humano Sobrenatural animais interagem com o dragão inicialmente é vilão, mas é usado para explicar o local regional global todo o planeta: Antártida e natural, urbano
humanos, usam artefatos e fenômeno do aquecimento global (dada ao seu imaginário grandes cidades
hábitos humanos como cospe fogo)
O DIÁRIO DA TERRA Humano Natureza local regional global Planeta Terra: inferido o natural, urbano
hemisfério norte onde a garota
vive
O Jardineiro - Com Feliciano Humano . não há animais local . global Uma estrada genérica, o natural, urbano
Esperança Planeta Terra
O Menino e o Mundo Humano . não há antropomorfização local regional global uma cidade genérica, uma área natural, urbano
rural genérica
O Rei Gastão Humano Natureza animais com comportamento leve: expõe o ponto de vista do animal acerca da . regional . Reino Distante: não natural
humano em habitat natural problemática (tristes, felizes e amistosos) especificado
Os sustentáveis Humano Sobrenatural não há animais local . global Planeta Terra, Cidade genérica, urbano
Ecossistema genérico
PAJERAMA Humano . não há antropomorfização . regional . Não especificada; inferida pela natural, urbano
linha do metro SUMARÉ (São
Paulo)
PEIXE Humano Natureza não há antropomorfização animais naturais local . . não especificado: uma área da urbano
cidade de São Paulo (sem
precisão)
Peixe Frito em Uma Aventura Humano . não há antropomorfização animais naturais local . . Um parque ecológico: não natural
Rupestre especificado
PERFEITO Humano . não há antropomorfização criatura semelhante ao humano . . global Não especificada: lugar fictício urbano
(metáfora planeta)
Rap dos Bichos . Natureza animais com comportamento todos os animais se apresentam, falam e mostram atributos . regional . cerrado brasileiro urbano
humano em habitat natural semelhantes aos humanos (sucesso, porte físico, beleza,
cuidado)
Tainá-Kan, A Grande Estrela Humano . não há antropomorfização animais naturais local . . Não especifica: uma aldeia na natural
região da Amazônia
Tamanduá Bandeira Humano Natureza animais interagem com não apresenta humanos diretamente, apenas veículos local . . uma floresta genérica natural, urbano
humanos, usam artefatos e trafegando em alta velocidade, há motivações humanas,
hábitos humanos pois o tamanduá está em busca de uma parceira afetiva, há
descontextualização (são bípedes, ardilosos, medrosos),
não sabem caçar direito
Vida Maria Humano . não há antropomorfização local . . interior do nordeste rural
319
TITULO ENTIDADES NATURAIS ENTIDADES SOCIAIS ENTIDADESNATURAI ENTIDADESSOCIAIS_CENTR RELAÇÃOENTIDADESNATURAIS_SOCIAIS
S_CENTRAIS AIS
Água é para todos Lago, Animais (pato, peixes e Banheiro, banheira Agua, Animais Sociedade A água é um recurso que deve ser usado com moderação, dela dependem outros animais
jacaré)
Desabrigados Árvores, Animais Selvagens, Motosserra, caminhões, cercas Animais/Floresta Empresas Pecuaristas Os Espaços Naturais, os animais (gado), são recursos disponíveis aos homens e devem ser livremente explorados
Animais Confinados
Rap dos Bichos cerrado, bioma, animais e flora o homem (espécie) de forma geral, não Cerrado/Animais Sociedade Capitalista cerrado é um bioma que está sendo cada vez degradado (não esclarece por que nem para que)
(implícito) enfatiza
Tamanduá Bandeira Floresta, Animais silvestres Carros, estradas Animais Silvestres Sociedade/Empresas Pano de fundo: o homem interfere nos espaços naturais (estradas) de forma a impactar na vida de outras espécies
(tamanduá)
A princesa do Vale Várias - floresta, rio, espécies Armas, Embarcações, fortes, fazendas, Mundo Natural Tribo Indígena, Sociedade A natureza, antes abrigo de povos indígenas marcada por uma relação harmoniosa, fora transformada e apropriada
nativas da fauna e da flora. casas, igrejas, imagens sagradas, cidade, Ocidental Colonizadores para assegurar progresso econômico e desenvolvimento
Natureza transformada pelo paisagem urbana, bicicleta, veículos,
homem, campos de plantação, folclore etc.
pastagens para criação do gado.
Alegria de Macaco rios, mar, canais mercado, mídia, transporte, residência, Agua Sociedade Consumista foco é o consumo: mas enfatiza a falta de compromisso ambiental, descarte irregular no ambiente e retorno para o
tecnologia próprio homem
Consumidouro Arvores, rios, planeta, animais, Casa, carro, banheiro, pneu no mar, vara de Mundo Natural/Planeta Consumidores, Tecnologia, Mídia O homem mantém uma relação utilitária com a natureza, exaurindo a mesma
minhoca, céu, sol, nuvens pesca, computador, televisão
De onde vem a água do Rio Rios, Espaço rural das cidades, Cidades, pontes, canais de escoamento de Rio Sociedade em Geral O Rio é um recurso com diversas utilidades para o homem (alimentação, transporte, recreação)
nascente do rio, mata ciliar, água, embarcações, fonte de água)
cachoeira, foz, mar, lua, chuvas,
Escalada Há metáfora em que os blocos As torres, as máquinas de pagamento, as Mundo Natural/Planeta Capitalismo A Natureza é fonte de recursos e deve ser usada de forma mais racional para evitar o colapso do mundo
representam os mais diversos máquinas de extração de recursos,
recursos naturais. Há nuvens e tecnologia de construção (gruas e roldanas),
água, além de um espaço que helicópteros
sustenta as criaturas.
Eta Bicho homem Floresta brasileira (fauna e flora) Homem, maquinas para derrubar a floresta, Mundo Madeireiras/Capitalismo Natureza é valiosa não apenas para os homens, ela abriga diversas outras formas de vida, a intervenção humana
machado, dinheiro Natural/Floresta/Animais resulta em prejuízo às demais espécies e a destruição da natureza afeta seu sistema econômico.
Filme Ilhado Ilha, Peixes, Oceano Helicóptero, navios petroleiros, cidade, Florestas/Oceanos/Atmosf Capitalismo/Sociedade metáfora: homem se apropria do planeta como recurso, trazendo impactos diversos (morte dos peixes, mudanças no
garrafa, revistas era clima etc.)
O cangaceiro e o leão Antártida, árvores, planeta terra escola, automóvel, mídia, computador, nave Clima/Floresta Sociedade, Mídia, Ciência, O homem se descuidou da natureza, se apropriando desta (florestas), e também estabeleceu mudanças no clima
Industria (pelos gases dos carros e da indústria), de forma a afetar a vida dos animais na Antártida e também sua vida nas
grandes cidades
O DIÁRIO DA TERRA Planeta Terra, florestas, praia, Livro, Caderno, lápis, pirâmides, clave, Planeta/Clima/Florestas/A Sociedade, Industria O planeta deve se preservado por que é necessária aos humanos
montanha, neve, chuva, vento, templos, cadeira de praia, óculos, roupas, nimais
sol, calor fabrica, fogo
PERFEITO Apenas um espaço de vida - Ferramentas e a criação Planeta Sociedade Capitalista metáfora social: O homem se apropria de tudo em seu projeto, ignorando as consequências de seus atos sobre o
metáfora do planeta planeta
Buba e o Aquecimento Global Animais pré-históricos, vulcão, Roupas Clima Sociedade, Industria Gases como CO2 e Metano provocam o aquecimento do planeta, aumentando o efeito estufa comprometendo a vida
floresta, montanhas no planeta
Consciente Coletivo: Aquecimento Floresta, rebanho de gado, Transporte público coletivo, automóveis, Floresta, Gado, Clima Consumidores, Empresas O homem se apropria e interfere na natureza (derruba floresta para pecuária e para uso de madeira), e esta
Global atmosfera, planeta máquinas, restaurantes, mercado, tecnologia apropriação resulta em mudança climática
(celular)
Consciente Coletivo: Resíduos Cursos d’água, tartarugas, Transporte público coletivo, embalagens Oceanos Consumidores, Tecnologia O homem impacta no mundo natural, afeta a vida de tartarugas, quando do descarte irregular de embalagens
oceano descartáveis, transporte, tecnologia descartáveis (não desenvolve acerca dos impactos na produção, ou contaminação de solos etc.)
(maquina de reciclar), embalagens
recicladas
Essência Água (no objeto), plantas mortas Casa, piscina, vaso de plantas, moveis, Agua Sociedade Natureza (água) é indispensável ao homem (que não é só um ser natural, mas cultural), deve preservar, pois está se
(no vaso) ferramentas diversas, malas, maquina de esgotando
datilografia, filmes de cinema
Gente Grande árvores, plantas, sol, água Casas, ruas, prédios, postes eletricidades, Agua Sociedade/Adultos O homem deve economizar recursos naturais (água e eletricidade), e deve descartar o lixo adequadamente (sem
automóveis, utensílios como mangueira, explicar por que)
vassoura, sombrinha, sacola de lixo, toneis
de coleta seletiva, objetos de casa
Haiana:O Filtro Céu, Espaço Natural Fábrica Atmosfera/Arvores Fabricas A qualidade do ar deve ser preservada pelas empresas
Não Fique Pilhado Arvores, áreas rurais, pastagens, casa, câmera fotográfica, cidade, televisão, Mundo Natural Sociedade A contaminação química da natureza afeta o próprio homem (ao se alimentar de produtos contaminados)
vacas, frutas, chuva, sol, lua, cao leite industrializado, geladeira, loja de
de estimação produtos,
O Jardineiro - Com Feliciano Esperança Flores, Jardins, Planeta Homem, Estradas, Jardins Planeta Sociedade O Planeta deve ser preservado para garantir a vida humana, o homem deve protege-lo
O Rei Gastão Floresta, Rio, Colinas, Paisagem Castelo, Reino e tecnologia para extração da Mundo Tecnologia, Sociedade Natureza é valiosa não apenas para os homens, ela abriga diversas outras formas de vida, por isso é necessário
natural, Animais, Água, Peixes natureza Natural/Florestas/Animais/ cuidado em sua intervenção de forma a evitar prejuízo as demais espécies
Rios
Os sustentáveis Animais, Ecossistemas, Lagos Cidade, Supermercado, Humanos, Ecossistemas/Lagos/Atmo Sociedade, Tecnologia, Mercado Natureza como todo o planeta, envolve ecossistemas diversos e os seres humanos precisam preserva-la para garantir
Tecnologia sfera sua sobrevivência
A Esperança e a Ultima que Morde Pastos, Animais (vaca, cadela, Cidade, Pastos, Avião, Sistema Politico Clima Semiárido Sistema Politico, Sociedade O homem nordestino habita uma região marcada por períodos de seca extrema, o que impacta em sua vida e na dos
urubu) Vitimada animais que ele cria (homem se apropria da natureza, mas sofre com seus eventos) e precisa de apoio politico para
assegurar sua permanência
Dia Estrelado o semiárido a família Clima Semiárido Família A seca: O ambiente árido como incapaz de assegurar o sustento de uma família
320
Vida Maria Clima, semiárido, propriedade Família, propriedade rural familiar Clima Semiárido Família/Escola/Propriedade rural
rural, agua
A folha da Samauma floresta, árvore da samauma Floresta/Mundo Natural Tribo Indígena
A Lenda da Árvore Sagrada Floresta, africanos nativos, Cidade do colonizador, caravelas, armas Mundo Natural Tribo Indígena, Sociedade A natureza cosmológica na tradição africana integrava o homem e era uma relação harmoniosa. Na visão ocidental
animais e flora nativas Ocidental Colonizadores do colonizador ela é recurso utilitário, inclusive os africanos
Bumba Meu Peixe Praia, pássaros, coqueiros Canoas, redes de pesca, casa rústica, Mundo Natural Colônia de Pescadores, Família, A natureza, praia, abriga uma colônia de pescadores e constitui recursos para sua sobrevivência (pesca), mas suscita
mobiliário do lar rustico, garrafa de pet, Escola envolvimento, gerando uma integração e harmonia que emerge em um saber próprio e que repercute na cultural
vilarejo, escola, instrumentos musicais local
Destimação pássaros silvestres, animais cidade, apartamento, televisão, gaiolas Animais Mídia, Família, Empresas animais são aprisionados e capturados para serem tomados com animais de estimação
diversos, cachorro
Dias de Sol Chuva Cidade, casas, ruas, maquinas, guarda- Clima/Chuva Sociedade/Família/Empresa A chuva é um obstáculo, pois cria um desconforto para os homens, mas ela motiva criatividade e inovação em
chuvas etc. produtos como guarda-chuvas, que, uma vez customizados estimulam sair na chuva
Entrevista com o Morcego morcegos, cavernas dos usina hidrelétrica, cidades, pontes, ciência, Morcegos/Agua Empresas/Ciência/Sociedade Natureza possui um equilíbrio e a ação humano resulta em alteração deste estado, trazendo consequências negativas
morcegos, agua para o homem e para outras espécies
Fundo Aves, Tartarugas, oceano Barco, sacola plástica Mar/Animais Sociedade A natureza é vítima do homem (depósito de descarte)
Mapinguari o Protetor da Floresta Floresta, árvores, Espécies Tratores, armas, fogo, machado e motosserra Floresta/Fauna/Rios Empresas Madeireiras Natureza é valiosa não apenas para os homens, ela abriga diversas outras formas de vida, por isso é necessário
animais, rios cuidado em sua intervenção de forma a evitar prejuízo as demais espécies
O Menino e o Mundo campo, plantações, rios, cidade, casas, fábricas, sistemas de Área Industria, Cidade, Moda, Exercito, o foco é a estrutura social: mas evidencia a natureza como recurso e como depósito
pássaros transporte, moda, mídia Rural/Fauna/Flora/Plantaç Mídia,
ão de Algodão
PAJERAMA Floresta, Fauna e Flora, Índio Cidades, estradas, prédios, ônibus, metro, Floresta/Animais Sociedade Capitalista, Publicidade A Natureza é fonte de recursos e foi transformada pela sociedade moderna; A natureza integrava a vida humana (os
rede de esgoto, propaganda, dinheiro, ouro, índios) e demais espécies, servindo de abrigo, e provedora da vida
helicóptero, motos, sinais de transito,
eletricidade, comunicação em massa (redes
de transmissão)
PEIXE Rio, árvores, peixes Homem, artefatos de pesca, cidade Rio/Peixes Cidades Os rios sofrem com o impacto da urbanização; O envolvimento antigo com a natureza (rio como recreação, pescaria)
é rompido com a urbanização (torna-se deposito de esgotos e lixo)
Peixe Frito em Uma Aventura Rupestre paisagens naturais diversas, sítio automóvel, estrada, residências, skate, Área Natural de Parque Turismo, Legisladores Espaços naturais, no caso dos sítios arqueológicos, constituem um objeto científico para a arqueologia, mas também
arqueológico, animais silvestres patins, Ecológico um recurso contemplativo que pode ser comercialmente explorado.
Tainá-Kan, A Grande Estrela Estrelas, floresta, rio, peixes, taba, aldeia, roupas e adereços, agricultura, Floresta/Mundo Natural Tribo Indígena A natureza cosmológica na tradição da tribo retratada, homem integra o ambiente com os demais animais, agindo de
frutas, legumes, lua, sol, nuvens arco e flecha, artesanato forma comedida, através da pesca e também da agricultura.
TITULO RESPONSABILIDADE(S) PELO(S) PROBLEMA(S) RESPONSÁVEISPROBLE RESPONSÁVEISPR RESPONSÁVEISPR RESPONSÁVEISP RESPONSÁVEISPR RESPONSÁ RESPONSÁVEISPROBLEMAS07
MAS01 OBLEMAS02 OBLEMAS03 ROBLEMAS04 OBLEMAS05 VEISPROBL
EMAS06
Água é para todos O homem - cidadão comum Cidadão Comum . . . . . .
Desabrigados O homem (indústria madeireira e pecuária) . . . . . Empresas - .
pecuarista
Rap dos Bichos o homem espécie . Ser Humano - a espécie . . . . .
como um todo
(antropocentrismo)
Tamanduá Bandeira Indiretamente: o cidadão comum (motorista) Cidadão Comum Políticos . . . . .
A princesa do Vale O colonizador introduziu mudanças no mundo natural . . Dominadores- . . . .
transformadores da
Natureza:
colonizadores
portugueses
Alegria de Macaco o consumidor, a mídia, a produção Cidadão Comum: Empresas: sistema de Mídia . . . .
consumidor alienado produção
Consumidouro Homem cidadão comum Cidadão Comum: . . . . . .
consumidor alienado
De onde vem a água do Rio não problematiza: descreve . . . . . . .
Escalada Os homens (capitalistas) e suas necessidades produtivas . . . . Ser Humano - a espécie . Empresas - construtores capitalistas
como um todo (metáfora)
(antropocentrismo)
Eta Bicho homem Homem Capitalista Ser Humano - a espécie como . . . Ser Humano - a espécie . Empresas - capitalistas em geral,
um todo (antropocentrismo) como um todo madeireiros, pecuaristas
(antropocentrismo)
Filme Ilhado Não aponta: inferimos o homem genérico, já mostra o vento ocorrido . . . . . . .
O cangaceiro e o leão Na narrativa é o dragão a suspeita, mas recai sobre o ser humano Cidadão Comum Ser Humano - a espécie . . . . .
como um todo
(antropocentrismo)
O DIÁRIO DA TERRA Homem genérico do tempo presente Ser Humano - a espécie como Empresas - uma fábrica . . . . .
um todo (antropocentrismo) genérica
PERFEITO Homem genérico Ser Humano - a espécie como . . . . . .
um todo (antropocentrismo)
Buba e o Aquecimento Global Homem (cidadão comum) Cidadão Comum: homem Natureza: animais . . . . .
pré-histórico (dinossauro de
estimação)
Consciente Coletivo: Homem cidadão comum e a vaca: consumidor de carne estimula a Cidadão Comum: Natureza: as vacas e . . . . .
Aquecimento Global pecuária (é o aumento no consumo a causa), a vaca em seu metabolismo consumidor alienado seu metabolismo
(outra causa) (metano)
Consciente Coletivo: Resíduos Homem cidadão comum: embora relate em termos históricos, reforça que Cidadão Comum: . . . . . .
o problema é do homem moderno que ele descarta de forma irregular as consumidor alienado
embalagens daquilo que consome (não é a industrialização, mas sua falta
de consciência ecológica), não considera politicas publicas, empresas etc.
322
Essência Homem em geral (não apresenta culpados), o vídeo é uma metáfora Ser Humano - a espécie como . . . . . .
poética da escassez da água. um todo (antropocentrismo)
Gente Grande Os adultos em geral, exclui as crianças, ignora contexto de formação das Cidadão Comum: geração . . . . . .
crianças enquanto consumidores massivos passada (adultos)
Haiana:O Filtro Fábrica genérica . . . Empresas - uma . . .
fábrica genérica
Não Fique Pilhado Homem - cidadão comum Cidadão Comum . . . . . .
O Jardineiro - Com Feliciano Homem . . . . Ser Humano - a espécie . .
Esperança como um todo
(antropocentrismo)
O Rei Gastão O Homem (rei) . . . . Ser Humano - a espécie . .
como um todo
(antropocentrismo)
Os sustentáveis Cidadão Comum e Entidades genéricas Cidadão Comum Vilões Poluidores - Vilões Poluidores - . . . .
Sobrenaturais Humanos
A Esperança e a Ultima que No filme a seca é uma questão política (descaso) Políticos . . . . . .
Morde
Dia Estrelado . . . . . . .
Vida Maria não problematiza . . . . . . .
A folha da Samauma . . . . . . .
A Lenda da Árvore Sagrada homem branco . . Dominadores- . . . .
transformadores da
Natureza:
colonizadores
portugueses
Bumba Meu Peixe não problematiza: descreve a comunidade perpetua a tradição, sendo a . . . . . . .
escola um local privilegiado para esta valorização. A educação como
veículo ambiental.
Destimação o homem espécie: o criados domestico, o vendedor Cidadão Comum . . . . . Empresa: comerciante de animais
Dias de Sol . . . . . . .
Entrevista com o Morcego O homem (capacetes azuis como trabalhadores e construtores e governo) . . . . . . Empresas - construtores capitalistas
(metáfora)
Fundo A sacola plástica como produto humano - aponta de forma relacional Ser Humano - a espécie como . . . . . .
um todo (antropocentrismo)
Mapinguari o Protetor da Homem (madeireira) . . . . . . Empresas - Madeireiros
Floresta
O Menino e o Mundo a sociedade como um todo; o sistema . . O sistema como um . . . .
todo
PAJERAMA Sociedade Moderna - O capital Ser Humano - a espécie como . . . . . .
um todo (antropocentrismo)
PEIXE Homem (urbanização): implícito Ser Humano: implícito . . . . . .
Peixe Frito em Uma Aventura O homem (indústria do turismo) . . . . . . .
Rupestre
Tainá-Kan, A Grande Estrela Colonizador . . . . . . .
TITULO RESPONSABILIDADE(S) PELA(S) SOLUÇÃO(ÕES) RESPONSAVELSOLUCAO01 RESPONSAVELSOL RESPONSAVELSOLU RESPONSAVELSOLUCA RESPONSAVELSOLU RESPONSAVELSOLUCAO06
UCAO02 CAO03 O04 CAO05
Água é para todos O homem (cidadão comum) Cidadão Comum: audiência- . . . . .
economize água
Desabrigados Não atribuída . . . . implícito - Ser humano, .
capitalismo
Rap dos Bichos pede proteção ao Cerrado . . . . implícito - Ser humano, .
capitalismo
Tamanduá Bandeira Construção de tuneis em estradas que cruzam áreas silvestres . . . . implícito - Ser humano, .
capitalismo
A princesa do Vale O colonizador alterou o mundo natural, não enfatiza necessidade de . . . . . .
mudanças
Alegria de Macaco Não resolve na narrativa, culmina com uma catástrofe . . . . . .
Consumidouro Não apresenta solução, apenas retrata o impacto do consumismo no . . . . . .
ambiente; infere-se o próprio cidadão consumidor
De onde vem a água do Rio não problematiza: descreve . . . . . .
Escalada Não atribuída . . . . implícito - Ser humano, .
capitalismo
Eta Bicho homem Homem (tanto o capital como o cidadão comum) . . . . implícito - Ser humano, .
capitalismo
Filme Ilhado não aponta: deixa o homem genérico a partir dos eventos de suas . . . . implícito - Ser humano, .
atividades capitalismo
O cangaceiro e o leão Cidadão Comum . . . . .
323
O DIÁRIO DA TERRA não aponta, mas sugere o homem . . . Ser humano - a espécie de . .
uma forma geral
PERFEITO Não apresenta: apenas descreve a busca pela perfeição . . . Ser humano - a espécie de . .
uma forma geral
Buba e o Aquecimento Global Homem (cidadão comum), audiência Cidadão Comum: audiência- . . . . .
combater o aquecimento global,
proteger a natureza
Consciente Coletivo: Aquecimento Homem deve consumir de forma "consciente": consumir pensando na Cidadão Comum . . . . .
Global origem dos produtos de forma a escolher o que traz menos impacto (força
no individuo)
Consciente Coletivo: Resíduos Homem deve consumir de forma "consciente" e descartar apropriadamente Cidadão Comum . . . . .
suas embalagens (reciclagem) - força no individuo)
Essência A audiência deve preservar água e também os sonhos. OU preservar água . . . Cidadão Comum: audiência- . .
para preservar a si mesmo. economize água
Gente Grande As crianças devem agir e também conscientizar os adultos Cidadão Comum: a geração futura . . . . .
(gente miúda)
Haiana:O Filtro Bruxa (Cidadão Comum, Regulador) . . Entidade Sobrenatural - . implícito - Ser humano, .
Bruxa Haina capitalismo
Não Fique Pilhado Homem (cidadão comum), audiência (adotar a reciclagem) Cidadão Comum: audiência- . . . . .
combater o aquecimento global,
proteger a natureza
O Jardineiro - Com Feliciano Homem - deve despertar seu lado jardineiro . . . Ser humano - a espécie de . .
Esperança uma forma geral
O Rei Gastão O Homem (rei) . . . . implícito - Ser humano, .
capitalismo
Os sustentáveis Super Heróis e Cidadão Comum Cidadão Comum Superheróis - ONG . . . .
A Esperança e a Ultima que Morde Os políticos em geral Políticos . . . . .
Dia Estrelado . . . . . .
Vida Maria Politica . . . . implícito - Ser humano, .
capitalismo
A folha da Samauma . . . . . .
A Lenda da Árvore Sagrada Não apresenta, apenas retrata a revolta em busca da liberdade, a . . . . . .
resistência
Bumba Meu Peixe não problematiza: a escola contribui para a educação ambiental . . . . . .
Destimação A criança termina por adotar um animal Cidadão Comum . . . . .
Dias de Sol não há problema - a chuva pode se tornar em algo lucrativo, estimulando . . . . . .
produtos
Entrevista com o Morcego Não apresenta: apenas descreve o problema e sugere mitigação com . . . . . .
interesse na saúde humana
Fundo De forma indireta - o homem . . . Ser humano - a espécie de . .
uma forma geral
Mapinguari o Protetor da Floresta A natureza (Mapinguaari) . . Entidade Sobrenatural - . implícito - Ser humano, .
Mapinguari capitalismo
O Menino e o Mundo Não resolve na narrativa, culmina com a crise agravada . . . . implícito - Ser humano, .
capitalismo
PAJERAMA Não apresenta: apenas retrata a transformação da natureza e sua . . . . implícito - Ser humano, .
apropriação, seu impacto na vida indígena capitalismo
PEIXE Não aponta, não desenvolve . . . . . .
Peixe Frito em Uma Aventura O homem (os reguladores - arqueólogos), muito embora o papel do . . . . . .
Rupestre cidadão comum é mais relevante, pois são as crianças que descobrem a
farsa.
Tainá-Kan, A Grande Estrela Um Deus ensina a agricultura aos índios de forma a permitir que tenham . . . . . .
alimentação abundante e constante, e que se tornem fixos na região
TÍTULO TEMPORALIDADE DA PROBLEMÁTICA FESTIVAL EXIBIDO ANO EXIBIÇÃO MOSTRAS COMPETITIVA MOSTRA FESTIVAL EXIBIDO ANO MOSTRAS COMPETITIVA
INFANTIL EXIBIÇÃO
A Esperança e a Ultima que Morde Passado e Presente FestCineAmazonia - VIII 2010 Sim + Mostras - Cinema na Escola .
A folha da Samauma passado FICA - XIV 2012 Não Sim .
A Lenda da Árvore Sagrada Passado: período da escravidão FICA - I 1999 Sim .
A princesa do Vale Recorte histórico: desde o ano de 1699 até os dias atuais FestCineAmazonia - VIII 2010 Mostras - Cinema na Escola, Mostra Paralela .
Água é para todos Presente: deduzido pelas práticas sociais FICA - XIV 2012 Não Sim .
Alegria de Macaco presente FICA - X 2008 Sim .
Buba e o Aquecimento Global Passado Remoto FestCineAmazonia - VIII 2010 Sim + Mostras - Cinema no Circo, Cinema de .
Bairro, Cinema na Escola
Bumba Meu Peixe Presente: deduzido pelas práticas sociais FestCineAmazonia - VIII 2010 Mostras - Cinema na Escola .
Consciente Coletivo: Aquecimento Presente: deduzido pelas práticas sociais (inclusive FICA - XIII 2011 .
Global mostra como evento, não cumulativo, mas imediato)
328
Consciente Coletivo: Resíduos Presente e Passado: mas sobretudo com agravamento no FICA - XIII 2011 .
presente
Consumidouro Presente: deduzido pelas práticas sociais Filmambiente - I 2011 Sim - Curtas FICA - IX 2007 Sim
De onde vem a água do Rio Presente: deduzido pelas práticas sociais FICA - XIV 2012 Não Sim .
Desabrigados Presente: deduzido pelas práticas sociais FICA - XIV 2012 Não Sim .
Destimação presente FICA - XIV 2012 Não Sim .
Dia Estrelado presente FICA - XIV 2012 sim + + mostra Goiás .
Dias de Sol não definido FestCineAmazonia - VIII 2010 Mostras - Cinema na Escola .
Entrevista com o Morcego Presente: deduzido pelas práticas sociais FICA - II 2000 Sim .
Escalada Presente: deduzido pelas práticas sociais FICA - XIV 2012 Não Sim Filmambiente - III 2013 Sim - Curtas
Essência Presente: deduzido pelas práticas sociais FICA - XIV 2012 Não Sim .
Eta Bicho homem presente FestCineAmazonia - XI 2013 Sim .
Filme Ilhado Presente FICA - VI 2004 Sim .
Fundo Não fica evidente FICA - XVI 2014 Sim .
Gente Grande Presente: deduzido pelas práticas sociais Filmambiente - I 2011 Sim - Curtas .
Haiana:O Filtro Presente: deduzido pela fábrica FICA - XIV 2012 Não Sim .
Mapinguari o Protetor da Floresta Presente: deduzido pelas práticas sociais FestCineAmazonia - V 2007 Não - Convidado como vídeo Institucional do .
Festival
Não Fique Pilhado Presente: deduzido pelas práticas sociais FICA - III 2001 Sim .
O cangaceiro e o leão Presente Filmambiente - II 2012 Sim - Curtas .
O DIÁRIO DA TERRA Presente: deduzido pelas práticas sociais FestCineAmazonia - IX 2011 Sim .
O Jardineiro - Com Feliciano Relação Passado/Presente FestCineAmazonia - VIII 2010 Mostra Paralela .
Esperança
O Menino e o Mundo presente FICA - XVI 2014 Sim Sim .
O Rei Gastão Indefinido: passado e presente em função reino e da FICA - XIV 2012 Não Sim Filmambiente - III 2013 Sim - Curtas
tecnologia usada pelo rei
Os sustentáveis Presente: deduzido pelas práticas sociais FICA - XIV 2012 Não Sim .
PAJERAMA Diálogo entre passado e presente FICA - X 2008 Sim .
PEIXE Diálogo entre passado e presente FestCineAmazonia - IX 2011 Sim FICA - XIV 2012 Não - Só infantil
Peixe Frito em Uma Aventura Presente: deduzido pelas práticas sociais FICA - XIV 2012 Não Sim .
Rupestre
PERFEITO não definido FestCineAmazonia - IX 2011 Sim .
Rap dos Bichos passado e presente FICA - VII 2005 Sim .
Tainá-Kan, A Grande Estrela Passado remoto: inferido, pois não situa o tempo da FestCineAmazonia - V 2007 Sim .
narrativa
Tamanduá Bandeira Presente: deduzido Filmambiente - II 2012 Sim - Curtas FICA - XIII 2011 Sim
Vida Maria Presente: deduzido FestCineAmazonia - V 2007 .
TÍTULO RECONHECIMENTO_PREMIAÇÃO
A Esperança e a Ultima que Morde
A folha da Samauma
A Lenda da Árvore Sagrada Prêmio de melhor produção goiana da primeira edição do Festival Internacional de Cinema e Vídeo Ambiental (Fica)
A princesa do Vale
Água é para todos
Alegria de Macaco prêmios / awards: 32a. MOSTRA INTERNACIONAL DE CINEMA (Brasil), - melhor curta-metragem nacional / best brazilian short. INTERNATIONAL AMSTERDAM FILM FESTIVAL (The Netherlands), - melhor curta holandês / best dutch short,
FESTIVAL GRANIMADO (Brasil), - melhor filme / best film, 11a. MOSTRA LONDRINA DE CINEMA (Brasil), - melhor montagem / best editing, KLIK! AMSTERDAM ANIMATION FESTIVAL (The Netherlands), - filme de abertura / opening movie
Buba e o Aquecimento Global Curta-metragem desenvolvido com os personagens para testar a estética do projeto. O curta foi selecionado para diversos festivais e comprovou sua eficácia ganhando diversos prêmios: Up to 3 Toronto-Canadá 2010, Animiami, EUA, 2010, FestCineAmazonia,
2010, SIBGRAPI, RS, 2010, Uma Amazonas, 2010. Direcionado para meninos e meninas de 06 a 11 anos, a mensagem educacional e a estética e narrativa atuais permitem a abrangência também do público adulto.
Bumba Meu Peixe Feito para lançamento da 2ª edição do Prêmio Cultura Viva, tendo como tema: Cultura, Educação na, e para a Comunidade
Consciente Coletivo: Aquecimento Global 2011 World Best Television & Film Winner
Consciente Coletivo: Resíduos 2011 World Best Television & Film Winner
Consumidouro
De onde vem a água do Rio
Desabrigados
Destimação Melhor Trilha Sonora ABD
Dia Estrelado
Dias de Sol Currículo do filme: - Animamundi 2006, - Mostra Fime Livre – 2009, - Cinesul 2010, - Festival Internacional de Cinema Infantil 2010, - Festa Locomotiva 2010
Entrevista com o Morcego
Escalada um dos projetos vencedores do edital Cine Ambiente de 2011, uma iniciativa conjunta entre os Ministérios da Cultura e o do Meio Ambiente para curtas-metragens com temáticas ambientais.
Essência Primeiro lugar no Animamundi 2011. Concurso "Água em Movimento"; 1ºlugar no Concurso Nacional de Animação para Internet - CCBB em 2011 Prêmio Aquisição Porta Curtas no Festival Nacional 5 Minutos em 2011; Concurso Nacional de Animação para
Internet - CCBB (2011) Festival Nacional 5 Minutos (2011) FestAfilm (2011); sobre o animador: Daniel Rabanéa é formado em Audiovisual no Brasil e na Espanha. Sua produção, polivalente, já lhe rendeu prêmios nacionais e internacionais. Realiza vídeos
institucionais para empresas no Brasil e exterior, além de videoclipes, curtas em stop motion e vídeos experimentais.
Eta Bicho homem
Filme Ilhado
Fundo projeto Vencedor do Edital Catarinense de Cinema 2009; Ecozine. Fica;
Gente Grande Prêmio de melhor animação no Green Nation Fest 2012 - Melhor Animação - Juri Oficial; Animação premiada no edital Cine Ambiente em parceria com o Ministério do Meio Ambiente e Ministério da Cultura.
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Haiana:O Filtro
Mapinguari o Protetor da Floresta
Não Fique Pilhado Prêmios: 2º lugar na Escolha da Audiência, Anima Mundi, Rio de Janeiro/ São Paulo 2000. Prêmio do Público, Cuiabá 2000.
O cangaceiro e o leão
O DIÁRIO DA TERRA
O Jardineiro - Com Feliciano Esperança
O Menino e o Mundo melhor longa-metragem da 13.ª edição da Monstra ? Festival de Cinema de Animação de Lisboa; O filme recebeu os troféus Carmo Bernardes, como melhor longa-metragem; Imprensa, escolhido pela mídia especializada; além de ser eleito pelo júri popular.
O Rei Gastão Festival de Annecy 2013 - participou da mostra competitiva
Os sustentáveis
PAJERAMA Melhor Curta de Animação no FestCine Amazônia em 2008, Melhor Curta de Animação no Festival Audiovisual Mercosul em 2008, Melhor Curta de Animação no Festival de Curtas de Sergipe - Cine SE em 2008, Melhor Curta Metragem no Festival
Internacional de Curtas de Belo Horizonte em 2008, Melhor Curta-metragem para a Juventude no Festival Internacional de Oberhausen em 2008, Melhor Edição de Som no Festival de Cinema e Vídeo de Cuiabá em 2008, Melhor Trilha Sonora no Festival
Guarnicê de Cinema do Maranhão em 2008, Melhor Trilha Sonora Original no Festival Audiovisual Mercosul em 2008, Melhor Trilha Sonora Original no Granimado Festival Brasileiro de Animação em 2008
PEIXE
Peixe Frito em Uma Aventura Rupestre
PERFEITO 2º Lugar - Melhor 3D no AnimaSerra - Festival Nacional de Cinema de Animação de Teresópolis em 2009, Melhor Animação no Mostra UPto3 em 2009, Melhor Curta - Jurí Oficial no Fia 09 em 2009, Melhor Curta - Júri Popular no Fia 09 em 2009, Prêmio
Aquisição Porta Curtas no Sem Tabu em 2009
Rap dos Bichos
Tainá-Kan, A Grande Estrela
Tamanduá Bandeira Melhor filme goiano no 13ºFICA em 2011
Vida Maria Prêmio Major Reis: Melhor Animação do FestCineAmazonia, 2007;Melhor filme goiano: ?VIDA MARIA? é um filme curta-metragem em animação realizado com recursos do edital ?3o. PRÊMIO CEARÁ DE CINEMA E VÍDEO?, realizado pelo Governo do
Estado do Ceará, onde recebeu nota máxima na categoria ?FICÇÃO-ANIMAÇÃO-FILME?. O curta se consagrou nos festivais de cinema em 2007 e encerrou o ano como o filme mais premiado do Brasil.
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