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UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO

CENTRO DE ARTES E COMUNICAÇÃO


DEPARTAMENTO DE COMUNICAÇÃO SOCIAL
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM COMUNICAÇÃO

Jean Fábio Borba Cerqueira

DA NATUREZA DA ANIMAÇÃO À ANIMAÇÃO DA NATUREZA:


DISCURSOS AMBIENTAIS EM “ENVIRO-TOONS” BRASILEIRAS
VEICULADAS NOS FESTIVAIS FICA, FESTCINEAMAZÔNIA E
FILMAMBIENTE

Recife
2016
UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO
CENTRO DE ARTES E COMUNICAÇÃO
DEPARTAMENTO DE COMUNICAÇÃO SOCIAL
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM COMUNICAÇÃO

DA NATUREZA DA ANIMAÇÃO À ANIMAÇÃO DA NATUREZA:


DISCURSOS AMBIENTAIS EM “ENVIRO-TOONS” BRASILEIRAS
VEICULADAS NOS FESTIVAIS FICA, FESTCINEAMAZÔNIA E
FILMAMBIENTE

JEAN FÁBIO BORBA CERQUEIRA

Tese apresentada ao Programa de Pós-Graduação


em Comunicação, da Universidade Federal de
Pernambuco, para obtenção do título de Doutor em
Comunicação, sob a orientação da Profa. Dra.
Profa. Dra. Isaltina Maria de Azevedo Mello
Gomes.

Recife
2016
Catalogação na fonte
Bibliotecário Jonas Lucas Vieira, CRB4-1204

C416d Cerqueira, Jean Fábio Borba


Da natureza da animação à animação da natureza: discursos ambientais
nas “Enviro-toons” brasileiras veiculadas nos festivais Fica,
Festcineamazônia e Filmambiente / Jean Fábio Borba Cerqueira. – 2016.
329 f.: il., fig.

Orientadora: Isaltina Maria de Azevedo Mello Gomes.


Tese (Doutorado) – Universidade Federal de Pernambuco, Centro de
Artes e Comunicação. Comunicação, 2016.

Inclui referências e apêndices.

1. Comunicação de massa. 2. Festivais de cinema. 3. Meio ambiente.


4. Análise do discurso. 5. Análise de conteúdo (Comunicação). I. Gomes,
Isaltina Maria de Azevedo Mello (Orientadora). II. Título.

302.23 CDD (22.ed.) UFPE (CAC 2016-165)


JEAN FÁBIO BORBA CERQUEIRA

TÍTULO DO TRABALHO: DA NATUREZA DA ANIMAÇÃO À ANIMAÇÃO DA


NATUREZA: DISCURSOS AMBIENTAIS EM “ENVIRO-TOONS” BRASILEIRAS
VEICULADAS NOS FESTIVAIS FICA, FESTCINEAMAZÔNIA E FILMAMBIENTE.

Tese apresentada ao Programa de Pós-Graduação


em Comunicação, da Universidade Federal de
Pernambuco, para obtenção do título de Doutor
em Comunicação, sob a orientação da Profa. Dra.
Isaltina Maria de Azevedo Mello Gomes.

Aprovada em: 07/04/2016

BANCA EXAMINADORA

_______________________________________________________
Profa. Dra. Isaltina Gomes (Orientadora)
Universidade Federal de Pernambuco

_______________________________________________________
Prof. Dr. Jeder Janotti Jr.
Universidade Federal de Pernambuco

_______________________________________________________
Prof. Dr. Rodrigo Carreiro
Universidade Federal de Pernambuco

_______________________________________________________
Profa. Dra. Sonia Aguiar Lopes
Universidade Federal de Sergipe

_______________________________________________________
Prof. Dr. Diego Andres Salcedo
Universidade Federal de Pernambuco
Este trabalho é dedicado aos grandes amores da
minha vida: Sonia, Sofia, Lúcia, Cau e Normando,
meu saudoso pai.
AGRADECIMENTOS

Mesmo correndo o risco de esquecimento, gostaria de registrar minha gratidão àqueles que
manifestaram estímulo, confiança e apoio ao longo dessa caminhada.
À professora Isaltina pela confiança, generosidade, paciência e cuidado na orientação desta
tese, e por me inserir em um grupo de jovens pesquisadores que ainda acreditam na produção
de um conhecimento científico indispensável à minimização das desigualdades, sobretudo das
injustiças ambientais. Foram valiosas e encorajadoras as provocações e questionamentos tão
marcantes em nossas reuniões!
À professora Anabela Carvalho pela determinação e empenho tão marcantes em suas
investigações no campo da comunicação ambiental, sou grato pela valiosa acolhida na UMinho.
Aos professores do PPGCOM pelas importantes contribuições acadêmicas e pela dedicação e
cooperação manifestadas, mesmos após encerrado o convício durante as disciplinas.
Aos colegas de disciplinas com os quais compartilhei momentos de dúvidas e descobertas,
especialmente Karolina Calado, Luis Celestino, Natalia Flores e Robério Coutinho, os quais
“misteriosamente” se tornaram amigos para toda uma vida.
À secretaria do PPGCOM, Cláudia, Roberta e Zé, sempre atenciosos e prestativos com as
minhas demandas – sem vocês os ritos burocráticos me atropelariam.
À CAPES cuja bolsa de pesquisa permitiu a realização do estágio doutoral no exterior.
À PROPESQ por todo o empenho em viabilizar a implementação da bolsa.
À minha família, pela paciência, incentivo e confiança, sobretudo pela compreensão diante da
ausência que tantas vezes se fez necessária. Minha pequena Sofia, que mesmo tão jovem
participou dessa jornada, embarcando em meus planos sem qualquer chance de recusa – as
animações nos aproximaram ainda mais. Lúcia, minha mãe, sempre tão perto de mim mesmo
quando estávamos separados por milhares de quilômetros de distância. Meu irmão Cláudio,
pelas calorosas discussões políticas – foram pausas forçadas, mas valiosas!
A Sonia Cristina, minha amiga, esposa e parceira! Sem o seu amor, atenção, incentivo e
compreensão essa tese seria um desafio ainda maior. Obrigado por toda a paciência nos
momentos de maior tensão e ... por me resgatar da informática!
À professora Sônia Aguiar pela generosidade com que compartilha suas experiências e
conhecimento. Pela coragem que orienta sua luta por uma universidade mais justa e atuante. E
por me apresentar o fascinante campo da Comunicação Ambiental.
A Suzana Amado, criadora e diretora do festival Filmambiente, pela disponibilidade em
colaborar com a pesquisa.
Aos amigos de longa data: Janisson, Abelardo, Guilherme, Cissa, Meire, Lucas, Bia, Ana, Iris,
Marcão, Carlos, Lino e João Dantas. Não são muitos, mas são os que mereço!
Ao professor Milton Menezes por me apresentar ao mundo acadêmico!
Finalmente, agradeço a todos os animadores, afinal, são as animações a razão desse trabalho.
“Não existe mais algo como a natureza – esse outro mundo que
não é negócio, arte ou desjejum, agora não é mais outro
mundo, e nada mais resta além de nós.”
Bill Mckibben.
RESUMO

Neste trabalho analisamos as representações dos discursos ambientais em animações


brasileiras veiculadas em três dos mais relevantes festivais internacionais realizados no país e
com foco no audiovisual ambiental: Festival Internacional de Cinema e Vídeo Ambiental
(FICA), Festival Latino Americano de Cinema Ambiental (FestCineAmazônia) e Festival
Internacional do Audiovisual Ambiental (Filmambiente). Considerando que no cinema de
animação as questões ambientais ganharam maior atenção a partir do final do anos 1990,
quando essa temática passou a ser representada de forma mais intensa em produções
comerciais hollywoodianas, e com mais vigor na vertente autoral e independente, entendemos
que a animação comporta, no seu conjunto, uma diversidade de discursos e de problemáticas
ambientais, compondo filmes que representam as relações entre homem e natureza, cujas
abordagens mais críticas foram convencionalmente chamadas de enviro-toons. Contudo,
diante da polissemia do termo natureza, da complexidade e multidimensionalidade das
questões ambientais e da diversidade de discursos acerca do ambiente, sustentamos a tese de
que predomina nas animações uma representação significativa dos discursos orientada para a
perspectiva hegemônica do meio ambiente, antropocêntrica e reformista, de acomodação ao
capitalismo industrial globalizado. A análise das 40 animações do corpus, veiculadas nas
edições dos festivais realizadas no período compreendido entre 1999 a 2014, reforça a
hipótese aqui defendida. Pois apesar de revelar a emergência de uma animação ambiental
brasileira caracterizada por uma diversidade técnica, estética, temática e autoral, torna
evidente que as representações dos discursos ambientais valorizam histórias em que as
relações homem/ambiente são desenvolvidas sem problematizações consistentes. Sendo
predominantemente limitadas a responsabilizar o indivíduo, sem atribuir maiores
responsabilidades à estrutura social. Por outro lado, observamos que as limitações discursivas
observadas nesse corpus revelam a animação ambiental brasileira em sua capacidade de
refratar e refletir as contradições e disputas que caracterizam o debate ambiental no contexto
nacional. Fundamentalmente, a pesquisa adotou como suporte teórico os estudos de Rousseau,
Descartes e Heidegger sobre a natureza, ambos no campo da filosofia, de Goldblatt, Dunlap e
Hannigan sobre as causas estruturais da problemática ambiental, ambos no campo da
sociologia ambiental, de Corbett, Hansen e Cox acerca das singularidades da comunicação
ambiental, dos trabalhos de Ingram, MacDonald e Ivakhiv sobre o cinema ambiental, os
estudos de Murray e Heumann, Starosielski, Whitley e Wells sobre a animação e o meio
ambiente, além dos estudos de Dryzek e Corbett sobre os discursos ambientais, e de
Fairclough e Maingueneau, acerca da constituição, circulação, poder e ideologia nos discursos.

Palavras-chave: Comunicação Ambiental. Animação Ambiental. Enviro-toons. Discurso


Ambiental. FICA. FestCineAmazônia. Filmambiente.
ABSTRACT

This study analyzes the representations of environmental discourses of Brazilian animations


broadcasted in three important international festivals of environmental audiovisual films held
in Brazil: Festival Internacional de Cinema e Vídeo Ambiental (FICA), Festival Latino
Americano de Cinema Ambiental (FestCineAmazônia) and Festival Internacional do
Audiovisual Ambiental (Filmambiente). Considering that environmental issues have gained
greater attention on animated cinema. From the late 1990s, when this issue started to be
represented more often in Hollywood commercial productions, and strongly by independent
audiovisual productions, we understand that animation movies have a diversity of discourses
and environmental issues, making films that represent and question the relationship between
man and nature, whose most critical approaches have been conventionally called enviro-toons.
However, given the polysemy of the term nature, as well as the complexity and
multidimensionality of environmental issues and the diversity of speeches about the
environment, we maintain the hypothesis that the predominant representation of the
discourses of animations have hegemonic, anthropocentric and environmental reformist
perspectives that tend to accommodation to globalized industrial capitalism. The analysis of a
corpus of 40 animations broadcasted in the editions of the festivals held in the period 1999-
2014 reinforces our hypothesis. Despite revealing the emergence of a Brazilian environmental
animation characterized by a technical, aesthetic, thematic and authorial diversity, the analysis
makes it clear that their representations of environmental discourses value stories in which the
man/environment relationships are developed without consistent problematizations. The
discourses are predominantly limited to blame the individual, without giving more
responsibility to the social structure. On the other hand, we observed that the discursive
limitations observed in this corpus reveal the Brazilian environmental animation in its ability
to refract and reflect the contradictions and disputes that characterize the environmental
debate in the wider context, the green public sphere. Fundamentally, we adopted as theoretical
support studies about the nature of Rousseau, Descartes and Heidegger, both in the field of
philosophy, Goldblatt, Dunlap and Hannigan about the structural causes of environmental
problems, both in the field of environmental sociology, Corbett, Hansen and Cox about the
singularities of environmental communication, of Ingram works, MacDonald and Ivakhiv
about environmental cinema, of Murray and Heumann, Starosielski, Whitley and Wells about
animation and environment, in addition to the Dryzek and Corbett studies about
environmental discourses, and Fairclough and Maingueneau about the circulation, power and
ideology in discourses.

Keywords: Environmental Communication. Environmental animation. Enviro-toons.


Environmental discourse. FICA. FestCineAmazônia. Filmambiente.
LISTA DE QUADROS E TABELAS

TABELA 01: Alinhamento dos discursos ambientais Dryzek (2004) e Corbett (2006) ............... 142

TABELA 02: Fases da Animação Ambiental: caracterização de 1960 a 2006 ............................ 167

TABELA 03: Ano de realização, animações, festival contemplado e


total por ano (1999-2014) ............................................................................................................ 191

TABELA 04: Padrões de histórias ambientais nas enviro-toons .................................................. 206

TABELA 05: Temas ambientais, enquadramentos, animações, contextos, modo de


problematização e resolução das histórias em que predomina a natureza como adversidade ao
homem ........................................................................................................................................ 208

TABELA 06: Temas ambientais, enquadramentos, animações, contextos, modo de


problematização e resolução das histórias sobre denúncia de abuso na exploração/intervenção
do mundo natural ........................................................................................................................ 209

TABELA 07: Temas ambientais, enquadramentos, animações, contextos, modo de


problematização e resolução das histórias que enfatizam a necessidade de controle da
intervenção humana no mundo natural (valorização da interdependência) ................................... 218

TABELA 08: Temas ambientais, enquadramentos, animações, contextos, modo de


problematização e resolução das histórias que valorizam a necessidade de controle da
intervenção humana no mundo natural para assegurar exclusivamente a sobrevivência humana
............................................................................................................................................................. 221

TABELA 09: Temas ambientais, enquadramentos, animações, contextos, modo de


problematização e resolução das histórias que enfatizam a necessidade de conquista do mundo
natural para atender necessidades humanas .................................................................................... 224

TABELA 10: Temas ambientais, enquadramentos, animações, contextos, modo de


problematização e resolução das histórias que enfatizam a valorização do mundo natural
..................................................................................................................................................... 225

TABELA 11: Temas ambientais, enquadramentos, animações, contextos, modo de


problematização e resolução das histórias que apresentam a natureza como fenômeno ................ 227

TABELA 12: Questões ambientais, impactos, responsabilização e soluções propostas em


animações filiadas ao discurso da Consciência Verde ............................................................... 240

TABELA 13: Questões ambientais, impactos, responsabilização e soluções propostas em


animações filiadas ao discurso das Políticas Verdes ................................................................. 248

TABELA 14: Questões ambientais, impactos, responsabilização e soluções propostas em


animações filiadas ao discurso prometeico ................................................................................ 252

TABELA 15: Questões ambientais, impactos, responsabilização e soluções propostas em


animações filiadas ao discurso da sobrevivência ....................................................................... 257

TABELA 16: Questões ambientais, impactos, responsabilização e soluções propostas em


animações filiadas ao Pragmatismo Democrático ..................................................................... 265

TABELA 17: Questões ambientais, impactos, responsabilização e soluções propostas em


animações filiadas ao Racionalismo Administrativo ................................................................. 267

TABELA 18: Questões ambientais, impactos, responsabilização e soluções propostas em


animações filiadas ao Racionalismo Administrativo/Pragmatismo Democrático ..................... 268

TABELA 19: Questões ambientais, impactos, responsabilização e soluções propostas em


animações filiadas à Modernização Ecológica .......................................................................... 270

TABELA 20: Animações “não ambientais” veiculadas nos festivais contemplados (2002-
2013) .......................................................................................................................................... 281
SUMÁRIO

INTRODUÇÃO .......................................................................................................................... 14
Justificativa da escolha do objeto de estudo ................................................................................ 18
Entendendo as escolhas metodológicas ..................................................................................... 19
A estrutura da tese ....................................................................................................................... 30

1. BASES PARA UMA COMPREENSÃO DA NATUREZA E DA DEGRADAÇÃO DO


AMBIENTE ................................................................................................................................. 32
1.1. Da natureza essencial ao desafio da “habitação poética” do planeta ............................... 32
1.2. Concepções tradicionais de natureza .................................................................................. 44
1.3. Causas da degradação do ambiente nas sociedades modernas: considerações
a partir da sociologia ambiental .......................................................................................... 57

2. COMUNICAÇÃO AMBIENTAL E DISCURSOS SOBRE A NATUREZA .................... 79


2.1. Comunicação Ambiental: considerações sobre o campo e a prática ................................. 79
2.2. Jornalismo Ambiental ........................................................................................................... 93
2.3. Comunicação Ambiental na publicidade ............................................................................ 104
2.4. O meio ambiente no audiovisual: notas sobre o caso do cinema ....................................... 108
2.5. Discursos sobre o meio ambiente: uma configuração tipológica ....................................... 130

3. COMUNICAÇÃO AMBIENTAL NO CASO PARTICULAR DO CINEMA DE


ANIMAÇÃO ............................................................................................................................... 145
3.1. Cinema de Animação: desdobramentos de um produto audiovisual .................................. 145
3.2. Animação, meio ambiente e antropomorfismo ................................................................... 156
3.3. Enviro-toons: o meio ambiente na animação ...................................................................... 163

4. REPRESENTAÇÕES DOS DISCURSOS AMBIENTAIS EM ENVIRO-TOONS


BRASILEIRAS ........................................................................................................................... 190
4.1. Um quadro explicativo acerca do corpus ........................................................................... 190
4.1.1. Aspectos autorais, técnicos e estéticos das enviro-toons ............................................ 191
4.1.2. Aspectos narrativos das enviro-toons ......................................................................... 198
4.1.3. Elementos discursivos do corpus ................................................................................ 228
4.2. Discursos Ambientais nas enviro-toons ............................................................................. 234
4.2.1. Discursos Radicais Verdes: Consciência verde e Políticas verdes ............................ 235
4.2.2. Discursos de reconhecimento ou negação de limites ambientais ............................... 249
4.2.3. Discursos voltados para a solução de problemas ambientais .................................... 258
4.2.4. Discursos da Sustentabilidade .................................................................................... 269
4.2.5. Discursos ambientais não relacionados às “políticas da Terra” ............................... 270

CONSIDERAÇÕES FINAIS .................................................................................................... 280


REFERÊNCIAS ......................................................................................................................... 289
APÊNDICE A ............................................................................................................................. 309
14

INTRODUÇÃO

Contradições e disputas marcam o debate do meio ambiente. Na busca por


legitimidade, os discursos ambientais são proferidos nos diversos meios de comunicação,
influenciando percepções e atitudes acerca do meio ambiente. Com intensa produção
midiática e considerável quantitativo de ações comunicativas, os discursos ambientais vêm
ganhando espaço, cada vez mais, nas mídias visuais. Nesse contexto, observa-se também um
crescente número de estudos voltados para as representações da natureza na TV, no cinema,
nos quadrinhos etc. Entretanto, prevalece o interesse pelo cinema de ação ao vivo, a exemplo
de publicações como Green Screen: Environmentalism and Hollywood Cinema, de David
Ingram, cuja primeira edição data do ano de 2000 e Hollywood Utopia, lançada em 2005, por
Pat Brereton.
Apesar de sua consolidação no contexto da produção audiovisual, considerando-se seu
sucesso comercial nas bilheterias mundiais, e da crescente internalização de temas ambientais
em várias dessas produções marcadas pelo grande alcance de público, o cinema de animação
ainda tem despertado pouco interesse como objeto de estudo, sobretudo, no que diz respeito a
suas contribuições para o debate sobre o meio ambiente. Dados apresentados por Yong, Fam e
Lum (2011) são reveladores acerca do desempenho de bilheteria de algumas das principais
animações comerciais com temáticas ambientais: Happy Feet, de 2006, lançado pela Warner
Bros. Pictures, arrecadou mais de U$ 370 Mi; A Era do gelo 2: O Degelo, desse mesmo ano,
lançada pela Blue Sky Studios, superou os U$ 620 Mi; Bee Movie: A história de uma Abelha,
de 2007, lançado pela Dreamworks Animation teve arrecadação superior a U$ 280 Mi; Os
Simpsons: O Filme, lançado em 2007 pela Twentieth Century Fox, superou as cifras de
U$ 525 Mi; Avatar, de 2009, também da Fox, estabeleceu o recorde na indústria do
audiovisual, aproximando-se de U$ 3 Bi; Rio, lançado em 2011 pela Blue Sky Studios,
arrecadou mais de U$ 470 Mi. Contudo, mesmo diante desse contexto, relega-se a relevância
e amplitude da animação como expressão audiovisual, e, consequentemente, no contexto das
práticas discursivas sobre o ambiente.
No que diz respeito à animação brasileira essa realidade também se configura. Há falta
de investigações sistemáticas sobre filmes animados nacionais e, em particular, sobre aqueles
cujo foco é a comunicação ambiental. Convém ressaltar que, no país, ainda é marcante o
descompasso entre o ritmo de expansão da produção de animações e sua contemplação no


15

contexto de investigação acadêmica1, sobretudo se considerarmos avanços significativos tais


como: a consagração do AnimaMundi como um dos mais respeitados festivais de animação do
mundo; a inserção e o reconhecimento do animador brasileiro Carlos Saldanha pela indústria
da animação norte americana, assumindo a direção do longa metragem Rio, na Blue Sky
Studios; o sucesso internacional de séries animadas brasileiras como Peixonauta e Meu
Amigãozão; a consolidação de diversos festivais de audiovisual com forte inserção de
animações autorias e independentes, a exemplo dos três selecionados para o corpus desta
pesquisa, o Festival Internacional de Cinema e Vídeo Ambiental (FICA), O Festival Latino
Americano de Cinema Ambiental (FestCineAmazônia) e o Festival Internacional do
Audiovisual Ambiental (Filmambiente); a instituição do Programa de Fomento à Produção e
Teledifusão de Séries de Animação Brasileiras (AnimaTV), um programa do Ministério da
Cultura, lançado em 2004, empenhado em estimular e difundir à produção de séries animadas
brasileiras; e mais recentemente, o reconhecimento mundial do longa metragem O Menino e o
Mundo, dirigido por Alê Abreu, obra premiada como melhor filme estrangeiro no Annie
Awards 2016, considerado o “Oscar da Animação” e selecionada para concorrer ao Oscar de
melhor animação em longa metragem.
Por outro lado, observa-se que as questões ambientais assumiram uma visibilidade
maior no cinema de animação, compondo produções que representam de forma crítica as
relações entre homem e natureza, convencionalmente chamadas de enviro-toons que, no seu
conjunto, comportam uma diversidade de discursos e de problemáticas ambientais. Conforme
Starosielski (2011), ao contrário de perspectivas que ignoram o potencial do cinema animado
para além do entretenimento, é preciso reconhecer que as especificidades estéticas e
narrativas da animação mostram-se capazes de acomodar diferentes estratégias discursivas,
seja para manutenção de práticas socioambientais hegemônicas, seja para sua contestação.
Portanto, inserido no campo da comunicação ambiental, e, mais precisamente na área
que Cox (2010) denomina de Estudos da Mídia Ambiental, este trabalho assume como
problema de pesquisa o seguinte questionamento: como o cinema de animação brasileiro
representa o ambiente e sua problemática, sobretudo no contexto das produções veiculadas
nos festivais FICA, FestCineAmazônia e Filmambiente, fóruns relevantes à circulação e às
disputas entre os mais diversos discursos ambientais que orientam nossas ações e percepções

1
De forma geral, essa riqueza no campo da prática ainda se mostra tímida quando traduzida para o campo de
investigação, e, apesar da emergência de estudos pontuais, sobretudo artigos publicados em congressos, são raras
as obras de maior amplitude, com destaque para o estudo de Antonio Moreno, publicado em 1978 e que oferece
um panorama histórico da animação brasileira (inclusive com menção a obras com temas ambientais) e para a
obra de Sérgio Nesteriuk, dedicada à dramaturgia de série de animação. Ver mais em Moreno (1978), Nesteriuk
(2011).


16

acerca do ambiente? Assume-se, portanto, como objetivo geral, analisar as representações dos
discursos ambientais no cinema de animação nacional, nomeadamente nas produções em
curta metragem de caráter independente e autoral, de forma a compreender as relações de
sentido estabelecidas sobre a natureza e sua problemática. Quanto aos objetivos específicos,
pretendemos: 1) Identificar e caracterizar as animações brasileiras veiculadas nos festivais
contemplados pela pesquisa, levando-se em consideração: (i) aspectos autorais; (ii) aspectos
técnicos; (iii) aspectos da inserção nos festivais; (iv) aspectos da narrativa ambiental; (v)
elementos discursivos; 2) Analisar os discursos ambientais a partir de suas estratégias de
representação e significação do ambiente e de suas problemáticas nas animações
contempladas; 3) Analisar a filiação dos discursos ambientais representados nas animações a
partir das tipologias teóricas que categorizam os paradigmas dominantes e insurgentes.
De forma geral, a tese aqui proposta reconhece que é na vertente autoral e
independente da animação, dada à sua liberdade e autonomia criativa, que as questões
ambientais encontram um contexto mais favorável à representação de perspectivas com teor
contestatório, constituindo, dessa forma, uma oposição àquelas de caráter reformistas no que
concerne às problemáticas relacionadas ao meio ambiente. Assim, diferentemente das
produções do cinema de animação hegemônico, essa vertente animada estaria desvinculada da
lógica comercial em que a temática ambiental se traduz enquanto estratégia de sucesso de
público, sobretudo quando tais produções estão fortemente relacionadas à comercialização de
produtos licenciados, comprometidas e dependentes em relação ao consumo, um dos
principais aspectos contestados pelos movimentos ambientalistas. Dessa forma, destituída
destes constrangimentos, consideramos que a animação autoral e independente desponta com
maior potencialidade crítica, seja para a reconhecimento dos atores sociais em suas
responsabilidades ambientais, seja na compreensão da dimensão e dos impactos das mais
diversas problemáticas ai inseridas, e até mesmo na propositura de enfrentamento.
Nesse sentido, este estudo se apoia na convergência das abordagens de discurso
ambiental estabelecidas por Dryzek (2004) e Corbett (2006), em que esse discurso é
compreendido como uma visão de mundo, compartilhada entre indivíduos, que orienta
significados, percepções e atitudes sobre o mundo natural e sobre as diversas questões
relacionadas. Assim, entendemos, conforme Cox (2010), que é a comunicação ambiental
midiática uma relevante arena de produção, circulação e consumo de uma diversidade de
mensagens sobre o meio ambiente, sobretudo de forma a legitimar apropriações do mundo
natural alinhadas aos interesses dos mais diversos atores sociais (políticos, corporações,
grupos ambientalistas, cientistas, dentre outros).


17

Ao tratar dos discursos ambientais, Dryzek (2004) considera que: (i) cada discurso
ambiental reconhece o mundo a partir de entidades específicas, pois enquanto alguns
identificam o mundo natural a partir de ecossistemas, outros apenas o consideram como um
conjunto de recursos a ser explorado; (ii) os discursos ambientais também estabelecem quais
relações entre as entidades naturais e sociais são tidas como “naturais”, sejam elas entre o
homem e o meio ambiente, dos homens entre si, ou entre as entidades do mundo natural.
Dessa forma, considera que essas relações podem estabelecer e legitimar hierarquias diversas,
seja entre gêneros, espécies ou mesmo no âmbito do poder político. Por exemplo, entre os
diferentes discursos, a natureza ou a sociedade podem ser reconhecidas a partir da cooperação
ou da competição pela sobrevivência, por recursos etc. (iii) as histórias estabelecidas pelos
discursos ambientais também consideram os atores ou agentes, sejam eles seres humanos ou
suas instituições, sejam a natureza e suas entidades. E os atores sociais estão sempre
relacionados a suas motivações e interesses em relação ao meio ambiente; (iv) finalmente, os
discursos ambientais se apoiam em metáforas para buscar legitimidade e aceitação na arena
ambiental (planeta terra como “espaçonave”, “natureza como uma máquina destinada ao
homem”, “natureza como organismo vivo”, “natureza como fonte de bondade”, “natureza
dotada de inteligência”). São, conforme o autor, dispositivos retóricos, uma vez que almejam
a persuasão, juntamente com as mais diversas estratégias de apelo, a exemplo do apelo à
sensibilização sobre os direitos dos animais, à crítica à sociedade industrial, à valorização do
modo pastoral (natureza bucólica e romântica), à valorização de histórias apocalípticas, à
vilanização de determinados atores sociais em detrimento da celebração de outros (povos
nativos x sociedade moderna). Para ele, isso resulta em quatro elementos estruturantes das
histórias sobre o ambiente: as entidades naturais e sociais reconhecidas ou construídas pelos
discursos (árvores, animais, água, solos, rios, cidades, camada de ozônio, clima, indústrias,
grupos sociais, indivíduos etc); as premissas sobre as relações estabelecidas entre essas
entidades (homem em competição com o mundo natural, natureza como um sistema de
cooperação, superioridade da espécie humana etc); os agentes sociais ou naturais e suas
motivações (atores sociais, entidades naturais); as metáforas e os dispositivos retóricos
(estratégias persuasivas).
Portanto, a animação, tratada aqui enquanto discurso, é compreendida como um
produto cultural que ganha cada vez mais relevância, tornando-se proeminente, para os
objetivos desta pesquisa, compreender o alinhamento de seus discursos ambientais com
aqueles que perpassam as práticas sociais vigentes. Assim, reconhecendo que esses “textos
animados” se vinculam a um determinado discurso ambiental, ou mesmo a um conjunto deles,


18

almejamos compreender quais discursos são legitimados e/ou contestados pelas animações
ambientais que compõem o corpus desta pesquisa.

Justificativa da escolha do objeto de estudo

Delimitei o objeto de estudo a partir de um tema ainda muito carente de investigação


no Brasil: a animação ambiental ou enviro-toons. A minha proximidade com essa temática
decorreu da junção da minha experiência acadêmica na graduação em ciência da
computação, na vida profissional, desenvolvendo filmes publicitários baseados em
computação gráfica e animação, e dos anos de estudo no mestrado em “Sociedade,
desenvolvimento e meio ambiente”, com ênfase na sustentabilidade e na agricultura familiar.
Contudo, foi a participação como pesquisador no Laboratório Interdisciplinar de
Comunicação Ambiental (LICA), no qual me encontro inserido, o principal catalizador desse
interesse, quando estabeleci uma base teórica para trabalhar com comunicação ambiental, e,
de forma mais específica, para pensar os discursos ambientais em filmes animados. Estes,
comumente estigmatizados como filmes “para crianças”, acabam sendo relegados na sua
importância enquanto discursos legitimadores de práticas e ideias, o que provoca uma
infantilização do gênero e dos seus temas abordados.
No LICA, foi o interesse acerca da visibilidade de animações ambientais brasileiras
na plataforma de vídeo Youtube que orientou nossas primeiras pesquisas, resultando,
inclusive em algumas publicações científicas. Em seguida, contemplamos análises sobre a
comunicação ambiental em produções específicas, a exemplo do longa metragem Rio e das
séries Capitão Planeta e os Planetários, Natureza Sabe Tudo e Os Pinguins de Madagascar.
Nessa a trajetória, a submissão de um projeto de pesquisa ao Programa de Pós-graduação em
Comunicação Social (PPGCOM) da Universidade Federal de Pernambuco despontou como
um dos principais desdobramentos da minha atuação junto ao LICA.
Contudo, no desenvolvimento do doutorado o desafio se revelou ainda maior.
Embora o meio ambiente e suas problemáticas despertem interesse acadêmico e dos próprios
meios de comunicação, ainda o seu estudo em filmes animados é praticamente incipiente, e
isso vale também para os trabalhos publicados em língua inglesa. Portanto, considero que, ao
longo dessa pesquisa, houve um esforço de um trabalho de quebra-cabeça para montar um
pouco da história da animação ambiental, além, é claro, de contribuir para um debate acerca
das representações da relação homem/natureza nos filmes de animação. Aliado a isso,
convém enfatizar, acresce-se o fato de trazer um levantamento de tais animações a partir de


19

três importantes festivais internacionais de meio ambiente, tornando visível também uma
reflexão sobre esses espaços que em si comportam instrumentos de fala.

Entendendo as escolhas metodológicas

A constituição do corpus de pesquisa sempre demanda um exercício complexo de


familiaridade com o objeto de estudo, deflagrando um movimento constante de idas e vindas,
de acertos e erros à procura de uma realidade que possa direcionar respostas para o problema
de pesquisa levantado. De fato, requer uma maturação teórica e metodológica, algo que foi
desenvolvido a partir das curiosidades e inquietações em torno do tema. Como o foco eram os
filmes animados, restava então definir onde e como selecioná-los.

Delimitação do corpus de pesquisa

Optei em selecionar um locus que a priori expressasse um espaço significativo de


vozes, e que pudesse ser pensado também como um canal não hegemônico, ou mesmo contra-
hegemônico de comunicação ambiental. Outro aspecto que também considerava relevante
para tal definição, era a questão da sua importância para o campo da animação ambiental.
Diante dessas exigências, os festivais de audiovisual especializado nessa temática, de forma
geral, se mostravam apropriados para atender ao debate do meio ambiente e ao
direcionamento metodológico da pesquisa. No seu conjunto, revelam-se como instâncias
importantes para a disputa em torno do meio ambiente, uma vez que aparecem como espaços
privilegiados na circulação de discursos ambientais diversos. Assim, despontam como
possibilidades de superação de assimetrias, como espaços de “empoderamento” de
determinados atores sociais, outrora marginalizados na mídia mainstream.
Para a definição do corpus de pesquisa recorremos aos festivais FICA,
FestCineAmazônia e Filmambiente, considerando que são estes os festivais de audiovisual
brasileiros vinculados à Green Film Network (GFN) 2 , uma das mais relevantes redes
internacionais que congrega os principais festivais mundiais de audiovisual que assumem
como tema central o meio ambiente e sua problemática. Buscamos contemplar toda a
abrangência temporal destes festivais, tendo o ano de 1999 como ponto de partida, quando foi

2
Green Film Network (GFN) é uma rede que congrega os principais festivais de audiovisual que assumem
como tema central o meio ambiente e sua problemática. A rede se empenha na circulação de tais produções ao
redor do mundo, além de coordenar eventos e projetos relacionados ao meio ambiente. No Brasil, os três
festivais associado à rede são contemplados nessa pesquisa. Ver mais em http://greenfilmnet.org


20

realizada a primeira edição do FICA, festival sediado na cidade de Goiás. Nesse sentido,
procuramos, inicialmente, delimitar uma amostra de animações representativas de todas as
edições dos festivais, portanto, do período compreendido entre os anos de 1999 e 2014,
quando da finalização da coleta de dados. Além dessa amplitude temporal, também
almejávamos definir um corpus constituído por todas as animações veiculadas nesses festivais.
Para tanto, recorremos a uma pesquisa documental, em que os sites dos festivais3, assim como
os relatórios de trabalho disponibilizados, foram tomados como fontes primárias para a
identificação das animações exibidas, e também para uma compreensão acerca da circulação
das mesmas (premiações, menção honrosa, mostras contempladas etc).
No caso do Filmambiente, o mais recente dos festivais, no próprio site oficial4 foi
possível localizar informações sobre as obras selecionadas e premiadas em cada uma de suas
edições, todas elas realizadas na cidade do Rio de Janeiro. Em relação ao FICA5, os relatórios
de atividades disponibilizados não permitiram a identificação das obras selecionadas. Foi
preciso recorrer a fontes secundárias, sobretudo sites de notícias em que foram publicadas
notas e matérias a respeito do festival, uma vez que no site oficial do evento não
identificamos a programação, nem mesmo relatórios, de todas as suas edições. Quanto ao
FestCineAmazonia 6 , festival sediado na cidade de Porto Velho, a identificação da
programação foi ainda mais problemática, uma vez que os relatórios de atividades não foram
localizados no site oficial, mas na plataforma de compartilhamento de conteúdo ISSUU7, após
consultas a partir do motor de busca do Google. Nesse caso, mesmo recorrendo a fontes
secundárias, apenas foi possível identificar as obras selecionadas a partir de sua 5ª edição,
ocorrida em 2007, exceto a edição de 2009, cujo relatório de atividades não estava disponível
quando da coleta de dados. Em síntese, a cobertura temporal dessa primeira amostra abrangeu
as 16 edições do FICA (1999 a 2014), as 4 edições do Filmambiente (2011-2014) e somente 7
das 12 edições do FestCineAmazonia (2007 a 2013), uma vez que a edição de 2014 fora
realizada em novembro, portanto, após encerramento da coleta de dados da pesquisa.


3
Consideramos aqui não somente os websites oficiais, mas também os perfis e fanpages disponibilizadas em
plataformas sociais como Facebook. Além disso, também privilegiamos contato via e-mail oficial dos festivais
de forma a identificarmos como maior segurança os dados relativos às programações dos eventos em suas
diversas edições, sobretudo com o intuito de obtermos cópias das animações. Contudo, apenas no caso do
Filmambiente tivemos um feedback, que, nesse caso, sinalizava acerca das restrições de direitos de veiculação e
distribuição das animações inscritas e selecionadas.
4
Ver www.filmambiente.com
5
Ver http://fica.art.br/
6
Ver www.cineamazonia.com e também em issuu.com/festcineamazonia
7
ISSU é uma plataforma de distribuição de conteúdo digital, nomeadamente publicações editoriais,
acadêmicas e de caráter técnico. Ver mais em https://issuu.com


21

Convém destacar que esta pesquisa documental permitiu somente a identificação das
animações selecionadas e exibidas nos festivais, uma vez que esses filmes não foram
localizados para exibição nos sites oficiais8 dos eventos. Tornou-se então necessária a adoção
de estratégias para “aquisição” das mesmas. Assim, quando possível, privilegiamos o contato
direto (via e-mail) com os produtores realizadores das animações, alguns do quais nos
enviaram links e senhas de acesso9 para download das obras. Contudo, na maioria dos casos,
foi preciso recorrer às plataformas de vídeo Youtube10 e Vimeo11 para localizar as produções.
Essa primeira tentativa de delimitação da amostra resultou na identificação de 96
animações (produções brasileiras, majoritariamente em curta metragem) veiculadas nos
festivais contemplados, considerando, inclusive, aquelas exibidas em mostras de caráter não
competitivo. Contudo, onze dessas animações não foram localizadas para download12 de
modo que uma primeira amostra em potencial fora constituída por 85 obras, as quais foram
previamente analisadas - submetidas a uma triagem de forma a observarmos sua adequação ao
referencial teórico sobre animação adotado e, sobretudo, sua vinculação à temática ambiental
propriamente dita. Durante essa etapa, várias produções foram descartadas, o que, finalmente,
resultou, no corpus de pesquisa. Na verdade, esse filtro teórico e conceitual foi decisivo para
considerarmos apenas obras que atribuem centralidade e relevância aos aspectos e entidades

8
Ambos os festivais possuem canais de vídeo no Youtube em que constam reportagens, clipes e vinhetas sobre
as edições e eventos realizados. Contudo, nesses canais, ou mesmo nos sites oficiais dos festivais, não
localizamos as animações que foram veiculadas em suas mostras.
9
No contexto desta pesquisa foi inusitado constatar que os festivais contemplados não disponibilizam as
animações para o acesso do público em geral através de seus websites, nem mesmo incluem links de acesso para
repositórios mantidos pelos autores das produções. Na verdade, vários destes filmes não são disponibilizados
para acesso público pelos seus realizadores, sendo então necessária, para o desenvolvimento desta pesquisa, a
obtenção prévia de senhas de acesso para as plataformas de vídeo em que se encontram hospedadas, mediante
justificativa de interesse etc. Um dos motivos alegados é a preservação dos direitos de exibição decorrente de
interesses por contratos com emissoras de tv. Aqui, notamos uma contradição em ambos os casos: como
contemplar um tema de interesse público e que exige, sobretudo, a ação plena da sociedade para seu
enfrentamento, tornando esses discursos inacessíveis a considerável parcela de indivíduos?
10
O Youtube, criado em 2005, é uma plataforma de compartilhamento de vídeos que conecta pessoas ao redor
do mundo. Embora seja adotado para distribuição de conteúdo audiovisual por produtores integrados ao mercado
e também por anunciantes, é a produção amadora que constitui a maior parte do seu acervo. Segundo estatísticas
de acesso do próprio Youtube, a plataforma conta com mais de 1 bilhão de usuários e o total de visualizações
diárias ultrapassa essa quantidade. Ver mais em http://www.youtube.com/yt/press/pt-BR/statistics.html
11
O Vimeo surgiu em 2004 com o objetivo de promover a divulgação de produções audiovisuais
independentes. Dada a essa origem, a plataforma é privilegiada por profissionais e técnicos da área para a
circulação e comercialização de suas obras, contando com um amplo acerco de documentários e de curtas
experimentais. Assim como o Youtube, a plataforma oferece vídeo sob demanda, os quais podem ser assistidos
mediante pagamento. Ver mais em https://vimeo.com
12
Até o período de encerramento de coleta do corpus, as animações Na linha do Horizonte (IV FICA, 2004),
Zoo (VIII FICA), A Origem das Espécies (XIV FICA, 2012), Da banca para fora (VIII FestCineAmazonia,
2010), Engole ou Cospervilha (XI FestCineAmazonia, 2013), Luzes Da Madrugada (III FICA, 2001), Ser
Humano (VIII FestCineAmazonia, 2010), Solitário Não Quer Solidão (XI FestCineAmazonia, 2013),
Soterópolis de Ruy (IX FestCineAmazonia, 2011), Um Passo Para Frente e Dois para Trás (VII FICA, 2005) e
Viagem na Chuva (XVI FICA, 2014) não foram localizadas nas principais plataformas de compartilhamento de
vídeo, ou, conforme o caso, não foram remetidas por e-mail pelos seus realizadores/produtores.


22

do mundo natural, às relações e implicações entre mundo social e mundo natural - as


problemáticas ambientais. Além disso, desconsideramos obras que não fossem caracterizadas
pela especificidade técnica da produção animada (elaboração quadro a quadro), a exemplo de
filmes que apenas apresentam uma sucessão de fotogramas estáticos, apesar de sua validação
enquanto filme animado pelos festivais. Dessa forma, 45 animações foram descartadas dessa
amostra preliminar, o que resultou em um corpus constituído por 40 obras.
Sobre essa redução quantitativa da amostra inicialmente delimitada para o corpus da
pesquisa, e, considerando-se o fato dos três festivais apresentarem um discurso13 que valoriza
critérios de seleção que consideram a relevância dos assuntos ambientais e das abordagens
apresentadas pelas animações inscritas, algumas considerações se fazem relevantes acerca dos
critérios adotados: (i) o Filmambiente parece adotar critérios de seleção dos filmes inscritos
para as mostras competitivas (longas e curtas) e para as mostras temáticas14 que sintonizam
com nossa concepção de temática ambiental, de forma que todas as seis animações
identificados em suas edições permaneceram no corpus; (ii) o FICA é composto por mostras
competitivas específicas que contemplam longas, médias, curtas metragens e séries televisivas,
e pela mostra de Cinema Goiano (ABD-GO), além de contar com mostras paralelas tais como
a mostra Fica na Comunidade e a mostra infantil FICA Animado - em todos esses casos,
inclusive na mostra competitiva, observamos que a “temática ambiental” é percebida de
forma mais “alargada” e flexível em relação à nossa perspectiva, considerando, inclusive,
obras em que o meio ambiente é meramente cenário ou paisagem para as narrativas, ou
mesmo quando o mundo natural não é representado, mas sim questões urbanas como
violência, relação interpessoal e crises afetivas assumem centralidade; (iii) o
FestCineAmazonia apresenta, além da mostra competitiva, filmes convidados que são

13
O Filmambiente, na seção de curadoria de seus relatórios de atividades, explicita entre seus critérios de
seleção, “[...] a qualidade da produção, a relevância dos assuntos tratados no cenário atual e a sua pertinência
para a plateia brasileira [...]” (FILMAMBIENTE, 2011, p. 4). Além disso, destaca que sua seleção ocorre “[...]
entre as melhores e mais premiadas produções contemporâneas do gênero e aborda, em diferentes linguagens,
questões relevantes do meio ambiente e do desenvolvimento sustentável.” (FILMAMBIENTE, 2013, p. 5).
Relatórios de atividades do júri de seleção do FICA também esclarecem acerca dos critérios de avaliação das
obras inscritas, ressaltando “[...] 2º - adequação do filme a temática ambiental; 3º - originalidade, criatividade e
relevância na abordagem do tema; [...]” (FICA XIII, 2011). No caso do FestCineAmazonia observamos que os
critérios de seleção são mais genéricos, “[...] curta e média metragens, de ficção, documentários, animações e
experimentais, com temática ambiental, produzidas em qualquer parte do mundo [...]” (FESTCINEAMAZONIA,
2007, p. 33).
14
Na primeira edição do festival, realizada em 2011, identificamos 4 mostras temáticas: Instituto Francês,
Filmes de Floresta, Clima, Cultura e Mudança, e ECOMOVE. Em 2012 foram 7 as mostras temáticas: Água,
Poluição, Escassez e Solução, Povos Nativos, Cotidiano de Alto Risco, Empreendedorismo e Sustentabilidade,
Geração 92, Panorama e Família ECO. Em 2013 foram realizadas 5 mostras, Do DDT e Hormônios à
Segurança Alimentar, Será Mesmo Ficção, Planeta Ultrajado, Agir & Mudar e Carta Branca: National Film
Board. Em 2004 as mostras foram Mostra Cine´Eco 20 anos, O Futuro Chegou, Senhores de seus Destinos,
Mostra Suíça e Mostra Nacional nas Naves do Conhecimento.


23

exibidos na abertura do evento e entre as exibições competitivas, e também realiza mostras


temáticas (cinema nos terreiros, cinema nos bairros, cinema no circo, mostra arco-íris etc) -
nesse caso, observamos haver uma flexibilidade ainda maior que a do FICA quanto ao
reconhecimento e enquadramento das obras sob a “temática ambiental”. Em síntese,
ressaltamos que entre as 45 animações “descartadas” na primeira amostra, 33 foram exibidas
no FestCineAmazonia (V, VII, VIII, IX e XI edições), enquanto as 12 restantes foram
veiculadas no FICA (VII, IX, XIV, XV e XVI edições).
É pertinente destacar que esses festivais, mesmo não ocupando aqui a centralidade do
debate desta pesquisa, configuram-se como espaço em potencial de disputas discursivas, e
nesse caso, entre discursos ambientais legítimos. São, portanto, fóruns relevantes à arena
ambiental, viabilizando e promovendo a circulação das mais diversas obras para um público
abrangente. Nesse sentido, observamos esses festivais como espaços privilegiados para o
estabelecimento de condições para as práticas discursivas, portanto, decisivos, enquanto
prática social (FAIRCLOUGH, 2001), à produção e ao consumo de “textos animados”
associados aos discursos ambientais.

Plano analítico da pesquisa

De natureza qualitativa, a pesquisa empreendeu uma abordagem indutivo-comparativa


(GIL, 2008) para analisar como os discursos ambientais estavam representados nos filmes
animados veiculados nos festivais de audiovisual contemplados, cujo intuito era ressaltar
similaridades e diferenças discursivas entre eles. Para tanto, o plano analítico da pesquisa
contou com duas etapas.
Na primeira etapa, tipificamos o corpus através das dimensões autoral, técnica,
estética, de circulação, narrativa e discursiva (elementos constitutivos), descrevendo-as a
partir de estatísticas simples dos indicadores delimitados, das distribuições de frequências das
categorias identificadas e das tabelas de referências cruzadas entre vários desses indicadores.
E na segunda, observando os discursos ambientais que permeiam esse corpus, fez-se o exame
das suas configurações e características tomando como referência a análise crítica de discurso
de Norman Fairclough.


24

Primeira etapa: a tipificação das animações ambientais

Para o desenvolvimento da análise foi delimitado um quadro explicativo constituído


por indicadores que configuraram a base de codificação do corpus da pesquisa. Essa etapa
compreendeu a investigação exploratória do corpus, a fim de identificar e de tipificar seus
aspectos gerais e também das representações do meio ambiente inscritos nos filmes
selecionados. Trata-se, sobretudo, de apontar as características gerais dessas animações e dos
seus discursos ambientais a partir da transcrição do material audiovisual para “[...] um
conjunto de dados que se preste a uma análise cuidadosa e a uma codificação.” (ROSE, 2000,
p. 348), transladando e simplificando a complexidade das animações.
Nesse sentido, ainda apoiando-se em Rose (2000), quando ela ressalta que a tradução
prescinde de decisões acerca do que será descrito nesse processo, optamos por contemplar a
identificação e a codificação dos elementos que estruturam o “todo do sentido” das histórias
ou narrativas, tomando-se aqui a sua macroestrutura (temas, personagens e conflitos)
enquanto unidade primeira de análise para o objetivo proposto. Assim, os dados decorrentes
da transcrição, os aspectos narrativos, foram codificados juntamente com aqueles relativos
aos aspectos autorais, técnicos e estéticos das produções, considerando ainda aspectos
relativos à circulação das animações e aos elementos discursivos, conforme seguem abaixo:

• autoral: realizadores, produtoras, ano de realização, região de produção, patrocínio


e apoio obtidos;
• técnico/estético: duração, técnica animada empregada, tipo de movimento
estabelecido, uso de recursos sonoros, formato/gênero;
• de circulação: festivais veiculados, ano de inscrição, mostras e premiações
contempladas;
• narrativos: temas, personagens, espacialidade, temporalidade, conflitos, resolução
dos conflitos e sucessão de eventos (sinopse);
• discursivos: temas ambientais, atores sociais, entidades do mundo natural,
problemáticas ambientais identificadas, desdobramentos (tempo e espaço) das
problemáticas, responsabilidades causais, responsabilidade pelo enfrentamento,
soluções adotadas, discurso ambiental vinculado;


25

Também adicionamos ao quadro explicativo indicadores que nos permitissem


compreender a comunicação ambiental dessas animações em relação às discussões acerca do
cinema ambiental e das enviro-toons. Dessa forma, consideramos a codificação do corpus a
partir das temáticas ambientais no audiovisual apresentadas por Corbett (2006), dos padrões
narrativos de temáticas ambientais no cinema de animação estabelecidos por Murray e
Heumann (2011), e também a partir dos modos retóricos (lamentação, otimista e apocalíptico)
que orientam as histórias ambientais, conforme Cox (2010) aponta. Vale ainda sinalizar que
as categorias relativas aos indicadores previamente estabelecidos foram definidas durante a
própria dinâmica de transcrição do corpus, sendo a priori adotada a proposta de Cox (2010)
acerca das vozes e interesses sociais que orientam a comunicação ambiental: cidadãos, grupos
sociais, grupos ambientais, cientistas, empresas, lobistas, grupos antiambientalistas, mídia,
legisladores e reguladores.
Nessa lógica, muito embora seja evidente a especificidade da animação enquanto
complexo multimodal, dotado de um código semiótico particular (LEEUWEN, 2008), cuja
produção de sentidos decorre das interações entre suas dimensões verbal e visual (ROSE,
2000), é necessário atentar, conforme Penafria (2009), para o fato de que a análise de um
filme deve levar em consideração os objetos maiores de uma pesquisa. Sendo assim,
alinhamos nosso estudo a uma abordagem não cinematográfica, mas que se interessa por uma
compreensão do filme no que diz respeito ao conteúdo temático, ou seja, sobre o que ele diz a
respeito de determinado tema (PENAFRIA, 2009). Com base nessa estratégia, utilizamos o
conceito de narrativa audiovisual de Bordwell e Thompson (2001), os quais a entendem como
uma forma de contar histórias que é adotada nos mais diversos produtos audiovisuais, sejam
eles filmes de ficção, de ação ao vivo, documentários, obras experimentais e também
animações, podendo ser longa ou curta metragem. Para os autores, no audiovisual, os eventos
de uma narrativa são tanto aqueles que integram o plot da história (o que é explicitamente
mostrado à audiência, o que é visível e audível), como também aqueles que são inferidos pela
audiência. Consideram ainda que o plot da narrativa inclui tanto os elementos diegéticos,
aqueles que fazem parte do mundo da história, como aqueles não diegéticos, a exemplo das
trilhas sonoras, dos créditos, dentre outros. Assim, como a codificação é multidimensional
(ROSE, 2000), privilegiamos aspectos da história a partir de sua superfície (atributos
narrativos), consideramos os aspectos visuais das animações.
Nesse sentido, tomamos a narrativa audiovisual como um encadeamento de eventos
relacionados a partir de causalidade (causa-efeito), os quais se desenvolvem em um contexto
espaço-temporal estabelecido. Disso decorre que os eventos são usualmente desenvolvidos e


26

experimentados pelas personagens, sejam elas seres humanos, animais ou objetos


antropomorfizados. Também pode haver uma diversidade de eventos, inclusive aqueles de
ordem natural, tais como catástrofes ou fenômenos ambientais. Assim, numa narrativa são as
ações das personagens que produzem consequências, e estas, por sua vez, estimulam novas
ações, estabelecendo a ideia de encadeamento de eventos. Sob essa perspectiva, o tempo e o
espaço se mostram cruciais, pois situam os eventos e suas consequências. Conforme os
autores, observamos que o tempo da história corresponde à ordem dos fatos percebida pela
audiência, que pode ser a ordem temporal do plot da narrativa, tanto recorrendo a flashback
(apresentação de eventos passados) quanto a flashforward (antecipação de eventos futuros); e
corresponde à duração temporal, o tempo que envolve o início e o fim dos eventos
relacionados à história, e à frequência de exibição de determinados eventos, a frequência
temporal. O espaço também, neste caso, suporta e contextualiza todos os eventos numa
narrativa.
Portanto, aqui a narrativa não se resume às falas. Pelo contrário, as imagens, as
alterações de iluminação, a trilha sonora, o enquadramento, dentre outros elementos, foram
todos considerados em relação à sua atuação para o desenvolvimento das narrativas. Trata-se,
portanto, de um processo aberto em que a tradução pressupõe a simplificação do audiovisual,
levando-o de uma linguagem à outra (ROSE, 2000). Nesse caso, do plano multimodal da
animação para o plano da narrativa.
Convém observarmos que, ciente da complexidade do texto animado, tendo em vista
sua natureza semiótica, adotamos a narrativa como instrumento analítico do discurso
ambiental. Dessa forma, tomando a estratégia de desconstrução e reconstrução do objeto, os
discursos ambientais das animações foram apreendidos a partir das unidades estruturais de
suas narrativas, conforme a perspectiva de Bordwell e Thompson (2001), considerando a
evolução cronológica dos eventos, sua espacialidade e temporalidade, as personagens em suas
caracterizações, motivações e transformações, os conflitos e seus fechamentos, e o seu caráter
organizador, o que permitiu identificar e analisar, além dos temas ambientais, atores sociais,
suas percepções e atitudes sobre o mundo natural, suas responsabilidades diante das
problemáticas, seus impactos e desdobramentos, entre outros aspectos, conforme sugere
Carvalho (2000).
Esse entendimento crítico da narrativa aponta para dois focos de interesse nessa tese.
O primeiro recai sobre o plano da expressão textual (a superfície do texto), caracterizado
pelas personagens, ações e conflitos desenvolvidos e resolvidos na macroestrutura da
narrativa (o filme em sua totalidade) e também pelos seus desdobramentos internos (a


27

microestrutura da narrativa); já o segundo foco consiste no plano da “história”, dos


significados e das representações desenvolvidas pela narrativa acerca do ambiente e das suas
questões. Esta etapa empreendeu, portanto, uma análise quantitativa e também qualitativa do
corpus, explorando descrições estatísticas simples das categorias delimitadas e análises das
narrativas, de modo a tipificar as animações quanto aos aspectos propostos. Com base nessa
tipificação, foi possível a identificação de similaridades e diferenças entre as animações
observadas, no sentido de estabelecer um primeiro passo em sua ordenação e caracterização
(BAUER, 2000). A codificação dos dados foi realizada utilizando-se o software SPSS, tendo
como ponto de partida a transcrição das animações no NVIVO.

Segunda etapa: a análise dos discursos ambientais

A partir da tipificação das narrativas realizadas no primeiro momento, esta segunda


etapa pretendeu estruturar os discursos ambientais presentes nas animações, tomando como
base o instrumental da análise crítica de discurso e as tipologias dos discursos ambientais
apresentadas por Dryzek (2004) e Corbett (2006). Com base nessas abordagens, foi possível
conjugar os seus elementos discursivos como categorias essenciais ao exame das histórias
ambientais animadas, conforme as tipologias dos discursos ambientais contempladas no
terceiro capítulo.
Convém observar que a opção pelas duas tipologias se faz apropriada à
heterogeneidade das animações contempladas. A tipologia de Dryzek (2004) permite-nos
observar de forma mais explícita como os discursos ambientais reconhecem e atribuem
responsabilidades pela causa e também pelo enfrentamento dos problemas ambientais, sendo,
então, importante para compreender o discurso ambiental a partir de sua dimensão política,
enquanto aquela apresentada por Corbett (2006) ocupa-se das relações homem/natureza em
um contexto diferente, relacionado às hierarquias aí estabelecidas. Dessa forma, assumimos
que essas tipologias se complementam, sendo possível observar os discursos ambientais a
partir de três dimensões: (i) aproximação ou afastamento em relação à estrutura social e
econômica vigente (industrialismo), podendo assumir uma orientação reformista ou radical
diante dos mesmos; (ii) percepção das questões ambientais e suas implicações na estrutura
social, sejam como problemas ou entraves (prosaico) ou alternativas de mudanças
(imaginativo); (iii) hierarquia entre homem e natureza, antropocentrismo ou ecocentrismo.
Assim, ao considerarmos essas duas tipologias, favorecemos a análise de discursos ambientais
não somente em animações que discutem explicitamente problemas ambientais, mas também


28

naquelas em que o meio ambiente é contemplado de forma secundária, com ênfase na


representação de valores e atitudes do homem sobre o ambiente.
Em conformidade com essa perspectiva ambiental, adotamos os pressupostos teóricos
da análise crítica do discurso desenvolvida por Norman Fairclough, sobretudo pelo seu
empenho em reconhecer e evidenciar relações entre o discurso, o poder e a ideologia,
exercidas sobre o contexto social (FAIRCLOUGH, 2001). Conforme essa perspectiva, o
discurso é tomado como prática social, como modo de ação sobre o mundo e também como
um modo de representá-lo, estabelecendo uma relação dialética com a estrutura social, pois
tanto deve ser percebido como efeito dessa estrutura quanto como condição de sua existência.
Sob essa orientação teórico-metodológica de Fairclough (2001), que concebe o
discurso como um processo de representação e significação do mundo, e que constrói
identidades e relações sociais, bem como sistemas de crenças e conhecimento, é possível
entender os discursos ambientais, os quais são impregnados de conflitos de poder, o que
resulta em uma pluralidade de discursos, cujas disputas e negociações direcionam para uma
hegemonia15 instável e dinâmica. Conforme ressalta Gil (2000), a análise crítica de discurso
tornou-se bastante popular nos estudos da mídia e assume como eixo central a rejeição da
neutralidade da linguagem, destacando sua relevância à construção da vida social. Fairclough
(2001), por sua vez, entende que a análise de discurso não impõe uma prática padrão, mas se
mostra suscetível e flexível às particularidades das propostas e dos analistas. Contudo,
evidencia que o pesquisador deve levar em consideração a tridimensionalidade analítica, uma
vez que a análise de discurso é simultaneamente uma análise dos textos, das práticas
discursivas (intertextualidade e interdiscursividade) e da prática social, na qual se encontram
inseridas.
Em conformidade com a análise de discurso de Fairclough (2001), foi possível
confrontar particularidades discursivas de um determinado tipo de discurso (sistema de
restrição semântica) e examinar tais elementos na amostra estabelecida, mediante adoção de


15
É a noção gramsciniana de hegemonia que sustenta a perspectiva teórico-metodológica desse trabalho. Nesse
contexto, hegemonia desponta como poder exercido por uma determinada classe social sobre a sociedade como
um todo, assegurado através do consenso e da liderança nas esferas política, ideológica e cultural. Trata-se,
portanto, de um poder exercido, sobretudo, através da influência ideológica. Além disso, tal poder é instável e
necessita atuar constantemente na construção de alianças dada a emergência de pontos críticos que ameaçam as
relações de dominação e subordinação - a ideologia dominante. No plano midiático, onde encontra-se inserido
este trabalho, essa perspectiva gramsciniana orienta as noções de discurso hegemônico (aquele empenhado em
assegurar a hegemonia estabelecida, a ordem do poder e da dominação), contra-hegemônico (aquele que se
orienta pela tensão direta com o discurso hegemônico, opondo-se ao mesmo, reivindicando mudanças nesta
ordem hegemônica - de poder) e não-hegemônico (aquele que não necessariamente configura um confronto
com a ordem de poder estabelecida, embora ofereça alternativas no contexto social relacionado). Ver mais em
Gruppi (1978).


29

categorias analíticas que permitiram identificar revestimentos políticos e ideológicos. Portanto,


considerei nas análises as três dimensões propostas por Fairclough (2001): a dimensão do
texto, caracterizada pela função ideacional (a construção da realidade, das crenças e
significados) e pela função interpessoal (construção de identidades e relações sociais); a
dimensão da prática discursiva, centrada na interdiscursividade (discursos marcados no texto)
e na intertextualidade (textos marcados); e na dimensão da prática social, focada na relação
ideológica e política do texto com a matriz hegemônica desse tipo de discurso.
Apoiando-se também nos argumentos de Cox (2010) acerca das funções da
comunicação ambiental, observando que a comunicação constitutiva (relacionada à
representação do mundo natural e de sua problemática) e a comunicação pragmática (que
objetiva uma determinada prática sobre o meio ambiente) se estabelecem no cinema de
animação, enquanto locus onde circula uma ampla variedade de discursos, especialmente no
contexto da legitimidade da problemática ambiental, quando entram em disputa os mais
diversos atores sociais. Daí nosso interesse em situar o cinema de animação ambiental a partir
dessa perspectiva, visando compreender suas operações discursivas na representação e
significação do meio ambiente a partir da análise crítica do discurso. Em síntese, partimos
destes autores para analisar os elementos discursivos nas animações, tentando observar e
identificar o tema do meio ambiente e suas questões presentes, direta e indiretamente,
enfatizando suas relações hierárquicas (CORBETT, 2006), suas relações políticas (DRYZEK,
2005) e suas orientações hegemônicas e contra-hegemônicas (COX, 2010).
Dessa forma, entendemos o discurso ambiental enquanto prática social que orienta as
relações entre a sociedade e a natureza, que se materializa a partir de uma diversidade de
textos linguísticos ou semióticos, os quais se encontram inseridos em variadas configurações
de interações relativas à sua produção e interpretação. Assim, considerando que o discurso
atravessa os mais diversos textos e não apenas os linguísticos (LEEUWEN, 2008), situamos
os filmes animados delimitados no corpus da pesquisa como nosso texto de análise empírica.
Portanto, tomando essa estrutura epistemológica, teórica e metodológica, espera-se
com este trabalho contribuir para a compreensão das representações do ambiente e de suas
problemáticas no cinema de animação, apresentando a relação do corpus com os diversos
discursos ambientais que orientam nossas ações e percepções, enfatizando a relevância do
cinema de animação brasileiro, relegado em grande medida nos estudos acadêmicos, para a
legitimidade de discursos diversos, a exemplo dos discursos ambientais. Entender como se
estruturam estes discursos no cinema animado brasileiro é condição salutar para se pensar a


30

relação homem/natureza em estratégias marcadas por categorias temáticas como: poder,


hegemonia, naturalização de hierarquias, vilanização, individualização e sobrevivência.

A estrutura da tese

O trabalho foi estruturado em quatro capítulos. O primeiro, intitulado Bases para uma
compreensão da natureza e da degradação do ambiente, teve como objetivo discutir
transformações nos dignificados da natureza e as implicações da degradação ambiental nas
sociedades modernas. Para tanto, inserimos de início um debate sobre o conceito de natureza,
trazendo as contribuições da filosofia de Rousseau, Foucault, Descartes e Heidegger. A partir
desses autores, evidencia-se a polissemia do termo e como este foi marcado por profundas
mudanças nas relações entre o homem e o meio ambiente. O debate da noção de natureza
segue examinando a tradição ambiental de sociedades que adotam valores e atitudes
alternativos ao modelo ambiental ocidental, a exemplo da China, Japão e África. O capítulo
finaliza com algumas abordagens sociológicas a respeito das causas estruturais da degradação
ambiental nas sociedades ocidentais modernas.
No segundo capítulo, Comunicação ambiental e discursos sobre a natureza, fez-se
uma análise acerca da representação da natureza a partir da comunicação ambiental. No
primeiro momento, situamos o campo e a prática da comunicação ambiental, tomando como
referência Jurin, Roush e Danter (2010) e Cox e Depoe (2015). O texto segue com um debate
sobre a relação entre meio ambiente e as diversas áreas específicas da comunicação,
destacando trabalhos voltados para o jornalismo (CORBETT, 2006, HANSEN, 2010,
HANNIGAN, 2009, DRYZEK, 2004, COX, 2010), entre outros; para a publicidade
(CORBETT, 2006; HANSEN, 2010); e para o cinema (INGRAM, 2010; MACDONALD,
2004; IVAKHIV, 2008). Finaliza-se o capítulo abordando as tipologias dos discursos
ambientais de Dryzek (2004) e de Corbett (2006), entrecruzando com a análise de discurso de
Fairclough (2001) e de Maingueneau (1984).
O terceiro capítulo, A comunicação ambiental no cinema de animação, foi
desenvolvido com o objetivo de evidenciar a questão ambiental no caso particular do cinema
animado. Aqui iniciamos o debate mostrando a animação como um produto cultural,
enfatizando seus aspectos conceituais, seu valor e sua potencialidade estética e discursiva,
além da sua perspectiva comercial (predominantemente hegemônica), autoral e experimental.
Neste ponto, as contribuições teóricas mais importantes foram de Wells (2003; 2006), Stabile
e Harrison (2003), Lucena (2005), Furniss (2007), Nogueira (2010) e Denis (2010). Focando


31

no tema do meio ambiente no cinema de animação, com destaque para o antropomorfismo e


para as animações ambientais ou envirotoons, adotamos como referencial Jardim (2013),
Leventi-Perez (2011), Collignon (2008), Atkinson (2005), Bliss (2012) e Wells (2009);
ampliando o debate, sobretudo no que se refere às potencialidades e limitações das
representações da natureza no cinema de animação, apresentamos as abordagens de Pike
(2010), Murray e Heumann (2011), Weinman (2004), Starosielski (2011) e Whitley (2012).
Apoiado nos capítulos anteriores, o último capítulo, Representações dos discursos
ambientais em enviro-toons brasileiras, traz os resultados da pesquisa empírica. Com o
intuito de entender os discursos ambientais presentes no cinema de animação brasileiro, parte-
se do corpus de investigação das enviro-toons veiculadas nos festivais aqui contemplados. O
foco é saber as conexões que se instituem entre os discursos ambientais e as animações
brasileiras, que vêm progressivamente se destacando em nível internacional. A fim de
entender os elementos discursivos na produção de sentido das animações, a análise foi
desdobrada em duas etapas: uma que se destinou à tipificação das representações do meio
ambiente, caracterizando o corpus nos seus aspectos autorais, técnicos, estéticos e discursivos,
conforme indicadores estabelecidos; e a outra, centrada na análise dos discursos ambientais,
tomando como parâmetro as tipologias dos discursos ambientais de Dryzek e Corbett, além
das contribuições da comunicação ambiental de Cox e da análise crítica de discurso de
Fairclough. Considerando este ser o último capítulo, o debate aqui levantado incorpora em si
um fechamento da pesquisa nos seus resultados e proposições.


32

1 BASES PARA UMA COMPREENSÃO DA NATUREZA E DA DEGRADAÇÃO DO


AMBIENTE

Neste capítulo objetivamos estabelecer uma compreensão acerca das causas da


degradação ambiental nas sociedades ocidentais modernas. Analisamos incialmente algumas
noções de Natureza1 a partir da filosofia, principalmente em Rousseau, Foucault, Descartes e
Heidegger, de forma a observar não apenas a polissemia instalada no termo, mas também
como tais mudanças implicaram novas e decisivas relações entre o homem e o meio ambiente,
particularmente com o advento do cartesianismo. Em seguida, nos apoiamos em análises
acerca da ideia de natureza que constitui a tradição ambiental de diversas sociedades tais
como a China, o Japão, a África etc, de modo a contextualizar outras formas de relação
homem natureza que manifestam valores e atitudes alternativos à perspectiva ambiental
ocidental. Finalmente, nos apoiamos na sociologia, com maior atenção ao campo da
sociologia ambiental, de forma a contemplar diferentes perspectivas quanto ao
reconhecimento das causas estruturais da degradação do ambiente nas sociedades modernas.
Dessa forma, torna-se evidente não apenas a noção de natureza enquanto uma construção
cultural, mas também a própria delimitação daquilo que constitui um problema ambiental.

1.1 Da natureza essencial ao desafio da “habitação poética” do planeta

Diante da emergência e da relevância do debate sobre os impactos das atividades


humanas sobre o planeta, atualmente a palavra natureza é recorrente nos mais variados
discursos e contextos. A disputa pela legitimação do seu uso configurou uma polissemia no
termo “natureza” e muitos dos seus significados passaram a se manifestar em relação a
diversas outras palavras do vocabulário ambiental ou ecológico. Mas, apesar da hegemonia da
noção de natureza correspondente a uma realidade material externa ao espaço social e que
constitui uma (in)esgotável fonte de recursos para suprir as necessidades humanas, trata-se,
conforme revelam Ginn e Demeritt (2008), de um conceito contestado, sobretudo pelos
movimentos ambientalistas. Entre os principais significados envolvidos nessa contestação, é a


1
Ao longo desta tese distinguimos as noções de natureza e de meio ambiente. Adotamos natureza como
sinônimo de mundo natural, considerando sua autonomia e suas mais diversas entidades e relações, já o meio
ambiente ganha sentido em um contexto político, transitando nos diferentes discursos relacionados à apropriação
e/ou defesa do mundo natural, ou seja, na disputa pela representação da própria natureza. Contudo, sempre que
possível, fazemos uso indistinto dos termos, deixando a cargo do contexto evidenciar o sentido adotado.


33

noção de uma natureza essencial, simultaneamente reconhecida em sua existência objetiva e


autônoma e também como caráter normativo capaz de harmonizar a integração do homem às
demais espécies, que reivindica legitimidade frente a uma natureza compreendida como
mundo exterior ao homem e que pode ser apreendida e controlada a partir da racionalidade
científica.
A seguir, recorremos ao pensamento filosófico para compreender acerca das
transformações na ideia de natureza e também nas relações com ela estabelecida. A rigor, não
se trata de buscar abrigo na filosofia da natureza, mas de contemplar contribuições da
filosofia, em diferentes escolas e filiações históricas, de forma a compreender aspectos
norteadores da transformação das significações de natureza. Conforme Gonçalves (2006), foi
o obscurecimento do pensamento filosófico que resultou no afastamento de outras formas de
pensar a natureza, sobretudo daquelas marcadas por um maior envolvimento e harmonia entre
o homem e o mundo natural. Assim, apoiamo-nos em Rousseau (2012) e sua percepção de
uma natureza essencial bondosa capaz de assegurar a harmonia entre os homens e entre estes
e as demais espécies, em Foucault (2006) e a natureza como tecnologia de subjetivação, uma
forma de permanência da natureza essencial nas sociedades antigas, em Descartes (2001) e a
consagração da natureza universal, acessível através do conhecimento científico e que
encontra no homem o seu legítimo mandatário e, finalmente, na metafisica da natureza de
Martin Heidegger, que observa a degradação ambiental como consequência da apreensão da
natureza sob a ótica da ciência e da técnica contemporâneas, e que reivindica um novo
envolvimento com a natureza a partir da noção de habitação.
No Discurso sobre a origem e os fundamentos das desigualdades entre os homens,
Rousseau (2012) manifesta seu pessimismo diante das sociedades industriais emergentes,
recorrendo a uma noção de natureza que nos remete a um estado essencial da existência
humana que fora marcada pela bondade, sensibilidade, harmonia e igualdade entre os homens
e os demais seres vivos. Nesse contexto, a desnaturação do homem (abandono de sua bondade
funcional e da compaixão) é um processo intensificado pela sociedade industrial emergente e
que viola a liberdade, a integridade e a harmonia entre os homens, resultando no primado das
desigualdades sociais. Mas, é importante observar que, de forma precursora, o autor também
alertou acerca das consequências ambientais decorrentes do afastamento do homem civil de
sua natureza essencial: as desigualdades sociais não somente resultaram na tirania dos homens
entre si, mas destes sobre o mundo natural.
Em Rousseau (2012), a natureza essência manifesta uma espécie de direito natural que
assegura compromisso e respeito dos homens perante os demais seres vivos. Integrado à


34

natureza, ele reconhece as demais espécies como seus semelhantes, evitando que fossem
inutilmente maltratadas. Apesar dessa integração, o homem natural é diferenciado por sua
capacidade de raciocínio e de aperfeiçoamento. Mais organizado, encontrava maior vantagem
de sobrevivência no mundo natural, muito embora não constituísse um estado de conflito com
as demais espécies. Assim, observamos que a natureza rousseauneana é marcada pela
integração e identificação entre homem e demais seres. Na ausência de separação
homem/mundo natural, este não era temido, nem despontava como espetacular ou utilitário.
A constatação da incompatibilidade entre a sociedade e a manutenção da harmonia do
homem com o mundo natural é um dos pilares que sustenta o pessimismo de Rousseau (2012).
Conforme o autor, os vícios e as paixões sociais corrompem nossa relação com a natureza,
privilegiando o sentimento de amor, comprometendo o sentimento de piedade natural com as
demais espécies. O fim da natureza essencial é o fim da própria harmonia, do respeito aos
demais seres, e do senso de identificação com um todo. A natureza rousseauneana, em
oposição aos dogmas e à racionalidade social, é, antes de tudo, um estado que orienta a
virtude humana.
Observamos que no desenvolvimento da noção de natureza essencial, Rousseau
(2012) vai situá-la como causa estrutural da harmonia e igualdade entre os homens e destes
com o mundo natural. De forma contrária, é a sociedade que surge como causa estrutural das
desigualdades sociais e da supremacia do homem sobre o mundo natural (o que mais tarde
viria a ser considerado como degradação do ambiente). Assim, foi diferenciando-se dos
demais animais que o homem fragilizou a harmonia natural e “[...] tornou-se com o tempo o
senhor de uns, o flagelo de outros” (ROUSSEAU, 2012, p. 82). A sociedade, sob essa
perspectiva, é então um projeto de consagração da superioridade humana sobre as demais
espécies, apoiada pela instituição da propriedade privada, pelo desenvolvimento da
comunicação e da linguagem.
É importante ressaltar que a crítica rousseauneana sobre a corrupção da natureza
essencial não deve ser confundida com uma nostalgia prescritiva de uma volta a um estágio
anterior de existência humana precedente à vida social moderna. Mais do que isso, o que
ganha relevo no autor são as contribuições que podem resultar de uma maior integração do
homem ao mundo natural. Aspectos como a propriedade privada, os sistemas de
reconhecimento e de consideração alheia como parâmetro de distinção social, a sujeição do
homem às suas mais diversas necessidades, o seu domínio sobre seus semelhantes e a
centralidade da vida na aquisição de bens, poder, beleza, habilidade e mérito, são todos
atribuídos ao afastamento do homem moderno da natureza essencial. Além disso, Rousseau


35

(2012) já observava a política e o Estado em seu empenho por assegurar as desigualdades


entre os homens, e, consequentemente, o domínio sobre o mundo natural.
Também é evidente na leitura do Discurso de Rousseau que ao romper com a natureza
essencial o homem civil, em seu projeto de sociedade, empreendeu sua retirada do mundo
natural, relegando à natureza uma orientação exclusivamente dedicada às exigências do
empreendimento humano. Nesse contexto, em que as desigualdades morais corrompem o
direito natural, o impacto da vida social sobre a natureza é implicitamente revelando pelo
autor. Assim, interligando problemas como êxodo rural, miséria urbana, abandono de terras
outrora cultivadas, devastação de florestas, acúmulo de lixo, valorização da posse de bens
(consumo), Rousseau (2012) observa não apenas a problemática social, mas ressalta a
degradação do ambiente como testemunha da insatisfação da vida moderna. Evidentemente,
devido ao seu contexto e propósito, o Discurso não desenvolve noções acerca da degradação
ambiental, mas ao reiterar desigualdades entre os homens a partir do seu afastamento do
mundo natural, permite-nos contextualizar as consequências dessa tirania em relação à
natureza, sobretudo com a apropriação do mundo natural que se intensifica com o advento das
sociedades industriais capitalistas.
Conforme discutiremos mais adiante nesta tese, o lamento de Rousseau (2012) parece
ecoar em vários dos discursos ambientais vigentes e que reivindicam nossa reaproximação
com a natureza essencial como condição indispensável para o reequilíbrio entre os homens e o
mundo natural, sobretudo advertindo acerca da impossibilidade da razão e da ciência
empreenderem esse resgate. De forma geral, a filosofia rousseauneana revela a sociedade
como causa estrutural de uma dupla problemática: ela institui as desigualdades entre os
homens, uma vez que os progressos da razão e do espírito humano consolidam seu
afastamento da natureza essencial; ela assegura a corrupção da natureza, pois orienta a tirania
dos homens sobre o mundo natural. Em Rousseau (2012), ainda que de forma implícita, a
degradação ambiental já é sinalizada como problemática social.
Mas o pessimismo rousseauneano diante da corrupção de uma natureza que se
confunde com a própria essência humana, tamanha integração entre ambos, não recai apenas
sobre as sociedades industriais modernas, ele se aplica às sociedades em geral. Na verdade, é
o homem civil que é denunciado em sua superficialidade – sua valorização do trabalho, da
reputação, do poder e da riqueza, resultou na alienação de sua liberdade, no seu afastamento e
sua opressão sobre a natureza. Contudo, conforme revela Foucault (2006), essa natureza
rousseauneana não desapareceu de imediato e por completo com o advento das sociedades, o


36

que efetivamente ocorrerá a partir da consagração do cristianismo e da racionalidade


científica.
Segundo Foucault (2006), a natureza essencial, fonte de valores e princípios,
permaneceu relevante nos processos de subjetivação e veridicção ocidental destinados à
formação do ethos (maneira de ser, atitudes, reflexões etc) do sujeito social. É o que podemos
observar nas análises do autor acerca das transformações históricas na noção de cuidado de si,
um conjunto de ações e práticas transformadoras nos mais diversos campos de existência do
sujeito (moral, cultural, espiritual etc) e que objetivam conduzi-lo à verdade, ao conhecimento
e a uma melhor conduta da sua vida. Na genealogia do sujeito foucaultiana, tais práticas são
denominadas de tecnologia de si (tecnologia de subjetivação).
Dessa forma, é importante observar que as tecnologias de subjetivação foram
inicialmente destinadas à preparação do ethos dos jovens que almejavam o governo das
cidades, sobretudo no período socrático (do século V ao século IV a.C.). Contudo, elas
deixaram de ser uma condição exclusiva de acesso à vida política, passando a constituir um
conjunto de práticas destinadas a qualificar o viver coletivo no período helenístico-romano
(do século IV a.C. ao século V d.C.). É nesse contexto que observamos que a natureza
essencial despontou como importante tecnologia de subjetivação. No primeiro período
assinalado, a realização de um estágio na vida camponesa era uma prática de subjetivação
bastante comum. Essa experiência com o modo de vida camponesa era observada como
exercício pessoal em que a proximidade e a reintegração à natureza mostravam-se reveladoras
das necessidades mais elementares do sujeito, propiciando progresso e avanço no “cuidado de
si”. Portanto, a natureza despontava novamente como lugar revelador de valores essenciais à
existência do sujeito, contribuindo sobremaneira para orientar sua atuação política no espaço
social urbano, suscitando uma reflexão sobre a existência, sobre necessidades de mudanças e
ajustes em direção a uma conduta ética e justa.
No período helenístico-romano, o “cuidado do si” é preterido por uma ideia de
conversão que reivindica um retorno do sujeito para si próprio, desviando seu olhar do mundo
exterior para empreender um exame de si e do seu movimento no mundo, e não mais
exclusiva à preparação para a atividade política. Foucault (2006) revela a conversão como
uma série de práticas que operam na subjetivação e que ainda contemplam a natureza como
relevante para orientar a conduta humana. Contudo, não se trata mais de reconhecer a
natureza essencial que orienta o campesinato, mas de atribuir à natureza um valor estético
para “[...] sentir prazer com o espetáculo calmo, reconfortante que podemos assistir ao nosso
redor quando lá estamos.” (FOUCAULT, 2006, p.270). É esse caráter contemplativo que


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define a natureza enquanto tecnologia de subjetivação neste período, em que a valorização da


relação homem e natureza ressalta a integridade do ambiente como condição indispensável
para assegurar a integridade humana. Convém atentar que a vinculação estética e até mesmo
religiosa com o mundo natural também vai ecoar em discursos ambientes vigentes nas
sociedades contemporâneas.
Foucault (2006) permite-nos observar que a natureza, ainda no contexto das
tecnologias de subjetivação, também assumiu o papel de revelar o conhecimento útil à
constituição do sujeito. Nos séculos I e II a.C., a conversão do sujeito sobre si mesmo
observava a aproximação da natureza como caminho de acesso ao verdadeiro conhecimento.
Conforme o autor, emergiu uma percepção de uma natureza filosófica objetiva que escondia o
que não se era necessário conhecer, mostrando ao homem apenas o que é útil, o que realmente
modifica sua maneira de ser. Portanto, a natureza assumiu um sentido normativo do
conhecimento humano, reveladora dos “segredos” da existência, fato que justificava sua
aproximação.
Em linhas gerais, em Foucault (2006) podemos moderar o pessimismo rousseauneano
acerca da relação homem e natureza essencial, evidenciando que esta não desapareceu por
completo com o advento das sociedades. E mesmo com à emergência de um sentido
materialmente utilitário, o sentido essencial, juntamente com o sentido estético da natureza
coexistiram, sobretudo no contexto das tecnologias de subjetivação (formação do ser do
sujeito), revelando o meio ambiente como dimensão importante na constituição do ethos do
sujeito no período que antecedeu às transformações do cuidado de si pelo cristianismo e pela
ciência. Assim, a genealogia do sujeito e das tecnologias de si apresentadas por Foucault
(2006) revelam a valorização de uma natureza essencial como sendo indispensável à ética
humana, mas também como um meio físico que abriga uma manifestação espetacular da vida,
além de despontar como fonte de um conhecimento relacional do homem sobre o seu meio,
concedendo-lhe um sentido de comunidade na qual habita e constitui um ambiente comum às
demais espécies.
Convém observar que o cristianismo e a ciência modificaram drasticamente a noção
de conversão do sujeito tão marcante no período helenístico-romano, de forma que os
processos de subjetivação passaram a ser operados por verdades exteriores - Texto, Palavra e
Revelação, no Cristianismo do século III d.C., e a lógica e a racionalidade científica, no
“momento cartesiano no século XVII d.C. Assim, Foucault (2006) permite-nos observar que o
abandono do “cuidado de si”, em cujas tecnologias de subjetivação a natureza essencial e
estética era indispensável à orientação ética do sujeito, em favor da aquisição do saber


38

“verdadeiro”, “revelador” e “justificador” da existência, também resultou na consagração do


afastamento homem e natureza. Dessa forma, tanto a ciência como a Criação destituíram a
dimensão ambiental rousseauneana da subjetivação, consolidando a ruptura “definitiva” entre
a sociedade e o mundo natural.
Em termos ambientais, como visto em Foucault (2006), o advento do cartesianismo
vai comprometer de forma drástica os processos de subjetivação, e, consequentemente, a
relação homem e natureza essencial. Nesse novo contexto, outra orientação passa a vigorar,
consolidando um sentido estritamente utilitário ao mundo natural. Ao propor seu Discurso do
Método, em 1637, René Descartes inaugura uma nova perspectiva científica em que a razão
humana desponta como percurso absoluto em busca da verdade. Assim, o cartesianismo
estabeleceu um novo significado para a natureza e também as bases da relação homem e
natureza que se configurou nas sociedades industriais e que perdura de forma hegemônica no
mundo contemporâneo. A ciência cartesiana, através da matemática e da experiência,
despontou em sua capacidade de desvendar os segredos da natureza de forma a promover
benefícios e progressos coletivos a partir do seu domínio.
A natureza cartesiana, assim como a natureza rousseauneana, também corresponde à
essência do mundo, mas ao invés de orientar valores e princípios morais que asseguram a
integração do homem à natureza, ela corresponde a um vasto conjunto de leis gerais
estabelecidas por um criador superior, infinito e perfeito – Deus. Segundo esta essência, a
razão e o bom senso distinguem naturalmente os homens dos demais animais e a natureza é
um laboratório cujos fenômenos encontram-se matematicamente codificados. Para Descartes
(2001), o seu método é um caminho favorável ao aumento gradativo do conhecimento acerca
de tais fenômenos – acesso ao ponto mais alto da verdade.
Na racionalidade cartesiana o pensamento é uma faculdade exclusivamente humana e
corresponde à verdadeira essência da alma. Contudo, apesar de situar o homem no interior da
natureza, Descartes (2001) termina por hierarquiza-la antropocentricamente ao diferenciar
natureza inteligente da natureza corporal. Ou seja, a natureza cartesiana é o ponto de origem
de todas as coisas e espécies, mas a espécie humana é privilegiada diante das demais. O
homem cartesiano é um ser excepcional cujas ideias e noções são provenientes de Deus e por
isso devem ser contempladas como verdadeiras, daí ser o único capaz de perseguir a verdade
divina que a natureza codifica e manifesta. Conforme o autor, ao homem (principal criação
divina) é permitida a compreensão e o domínio da natureza e suas leis, e a partir dessa
premissa e orientado pelo seu método, Descartes (2001) empreendeu uma série de
observações: sol, estrelas, planetas, cometas, terra, corpos diversos e, finalmente, o próprio


39

homem. Portanto, nessa perspectiva, a natureza é a normativa do universo que assegura a


criação e a conservação do mundo, explicando tanto os corpos inanimados das plantas, os
animais e o homem.
Sob a ótica do cartesianismo, a integração homem e natureza é de ordem fisiológica,
pois assim como os animais ele é naturalmente concebido como uma máquina explicável a luz
da mecânica. Na natureza cartesiana, ambos são dotados de órgãos e de funções que
independem da razão - Descartes investiga o corpo humano para compreender suas partes
componentes, a exemplo do coração e de sua fisiologia. Além disso, embora apreendida pelas
leis da matemática, a natureza é uma concepção divina que manifesta a supremacia e a
perfeição através das leis naturais.
A centralidade humana na natureza cartesiana é explicada a partir da distinção entre
“espíritos animais” e “alma racional”. O homem é dotado de alma racional independente que
além de atribuir movimento ao seu corpo produz sentimentos diversos e é imortal. Os animais,
por sua vez, percebidos como mais engenhosos que o homem, mas que apenas manifestam
movimentos mecânicos. Conforme Descartes (2001), sua alma é de natureza diversa da
humana, é desprovida da faculdade de expressar pensamento, destituída por completo de
razão. Para o autor, o uso da linguagem para expressão de pensamentos (a capacidade de
compor um discurso) e da razão como instrumento universal para todas as circunstâncias são
a expressão máxima da diferenciação entre o homem e a natureza.
Ferry (1993) nos alerta que a física cartesiana consagrou a supremacia do homem
sobre a natureza (antropocentrismo) e resultou na destituição de qualquer tipo de direito à
natureza, sobretudo dos animais. A natureza cartesiana, segundo o autor, assinala o fim do seu
animismo, uma vez que a quantificação objetiva ignorou as questões relativas à vida,
privilegiando uma apreensão mecânica dos animais. Dessa forma, apesar de contemplar a
perfeição divina desse maquinário, emergiu uma percepção da natureza desprovida de
subjetividade e de sensibilidade (animais desprovidos de sofrimento).
É ciente dessa condição que Descartes fundamenta sua filosofia, apoiando-se na física
e na matemática para conceber uma postura menos especulativa, mais prática e útil ao
enfrentamento de uma diversidade de dificuldades humanas a partir da descoberta das leis da
natureza. Embora reconheça a vastidão e a diversidade da natureza, admite que somente ao
homem foram designadas as chaves para sua compreensão. Convém observar que o
cartesianismo se apoiou inicialmente na tradição hierárquica Deus/Homem/Natureza, mas ao
situar o homem como espécie privilegiada pela criação divina, Descartes (2001) vai contribuir
para a emergência de uma nova significação da natureza, orientando relações até então


40

impensável. Nesse sentido, o domínio da natureza pela ciência e seu valor utilitário ganhou
em Descartes um verdadeiro alicerce, cuja orientação inicial para fins coletivos fora, mais
tarde, subvertida pelas sociedades capitalistas industriais, traduzindo-se um contexto de uma
vasta degradação do ambiente e desigualdades sociais.
O sentido utilitário atribuído à natureza a partir do primado da ciência e da técnica,
observada enquanto abandono da natureza essencial e da bondade funcional rousseauneana,
intensificou o projeto da dominação do homem sobre o mundo natural. Em Martin Heidegger
observamos uma reflexão crítica e contundente sobre essa problemática relação homem e
natureza, em que a técnica ocidental desponta como causa estrutural da degradação do
ambiente. Conforme defende Foltz (2000), no pensamento do filósofo alemão é possível
observarmos uma vanguarda na compreensão da crise ambiental que viria rapidamente se
manifestar como principal ameaça à humanidade.
Ainda conforme Foltz (2000), em Heidegger a crise ambiental traduz a relação homem
e natureza na cultura ocidental. A degradação do ambiente é atribuída ao estatuto da
tecnologia que impera nas sociedades industriais e que orienta a revelação (uma forma de
veridicção na ótica foucaultiana) e a compreensão do mundo, definindo os “modos de ser” da
natureza. Dessa forma, a tecnologia, herança cartesiana, representa a celebração da retirada do
homem da natureza, seu confinamento a um sentido de extração e de rendimento. Diante da
legitimação da técnica enquanto controle e domínio da natureza, as sociedades apenas
reconhecem o mundo decorrente da construção humana.
Heidegger (2002) observa a ciência como “ataque à natureza” orientado pela
objetividade e pela calculabilidade da investigação científica. Essa natureza revelada pela
tecnologia e pela ciência torna-se apenas um recurso permanentemente disponível à
exploração, e as consequências desse “ataque” Heidegger vai denominar de devastação
ambiental. Portanto, para o autor, a auto emergência da natureza (Physis), sua habilidade em
emergir por si própria, escapa ao desvendamento por parte da tecnologia e da ciência moderna,
sendo por estas ameaçadas.
Heidegger (2004) define a terra como o lugar da Physis, onde emergem as coisas
naturais e também as criações humanas, ignorando a separação e a oposição entre o natural e
o social. Contudo, assegura que o domínio tecnológico do mundo implica uma rede de
significação e de veridicção (um discurso) de uma natureza utilitária e instrumental que
ignora a Physis e orienta a forma como estabelecemos nosso envolvimento com o mundo que
nos cerca (meio envolvente) através do pensamento ocidental. É nessa perspectiva que
Heidegger (1992) vai estabelecer seu estatuto da natureza, reconhecendo os seguintes


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sentidos: a natureza vista como simples presença das coisas naturais e que é transformada em
dados objetivos pela ciência (natureza objetiva); a natureza útil para uma determinada
finalidade humana e que assume um sentido de produção e eficiência tecnológica (natureza
produtiva); a natureza independente e autônoma que manifesta seus mais diversos fenômenos,
despertando uma contemplação estética, moral e espiritual (natureza primordial). Para o
filósofo alemão, cada um desses significados traduz o tipo de preocupação e de envolvimento
estabelecidos com o mundo natural.
De acordo com Foltz (2000), esses diferentes sentidos de natureza são cuidadosamente
elaborados ao longo da obra de Heidegger. Em linhas gerais, a natureza objetiva é aquela
“atacada” pela investigação científica e que é pulverizada enquanto objeto de investigação.
Assim constituída, a natureza é dissolvida em representações matemáticas, reconhecida pela
ciência quando de sua visibilidade enquanto evento científico objetivo e desprovida de
qualquer outro sentido ou envolvimento. Corresponde à natureza cartesiana que emana da
teoria científica e que por ela é sistematizada. Heidegger (2002) adverte acerca das limitações
das ciências naturais modernas para superar essa concepção de natureza, ultrapassando as
projeções científicas em direção ao reconhecimento de sua existência autônoma.
A noção de natureza produtiva ou tecnológica consiste na compreensão da natureza
enquanto fonte de recursos. Trata-se de uma natureza sempre presente e à disposição, cujo
acesso deve ser constante e em favor dos interesses humanos, daí ser muda e indiferente a
auto emergência. Nesse contexto, a tecnologia desponta como uma séria ameaça ao tornar-se
discurso hegemônico de revelação do mundo, orientando a relação homem e natureza. Para
Heidegger (2002), a tecnologia, quando privilegia um sentido de recursos e fonte de matérias-
primas, tanto nos afasta da natureza como ofusca outros possíveis significados e
envolvimento.
De acordo com Foltz (2000), Heidegger define a natureza primordial reconhecendo
seu sentido poético associado à constituição de cenários e paisagens românticas, mas que
somente é revelada na tristeza de sua perda. Em certa medida a natureza primordial se
confunde com a natureza perdida, mas seu significado é mais amplo pois corresponde à
natureza estética com a qual estabelecemos sentimentos e identidade, por isso se aproxima da
natureza essencial de Rousseau. Diante da degradação ambiental, Heidegger assinala a
natureza primordial como a natureza prioritária, ressaltando sua relevância enquanto
envolvimento anterior à emergência dos sentidos objetivo e produtivo. Contudo, adverte que
somente a arte (o conhecimento não científico), e não a tecnologia e a ciência, constitui uma


42

forma de revelação capaz de estabelecer uma “habitação da terra” que seja mais próxima da
natureza primordial.
Observamos que a proposta heideggeriana de “habitar a terra”, fundada em sua noção
de natureza primordial, traduz uma perspectiva ambiental profunda e de caráter poético.
Conforme ressaltado por Foltz (2000), ela reivindica a emergência de uma natureza pátria, em
que suas paisagens assumem significados diversos e decorrentes da proximidade e do
envolvimento dos seus habitantes. Heidegger (2002) sugere um reconhecimento sagrado (não
teológico) da natureza, sobretudo da Physis como origem de uma pluralidade de fenômenos.
Dessa forma, a morada ou habitação na natureza compreende uma convivência com o planeta
pautada no cuidado e no envolvimento, onde o ser humano é, em essência, aquele que mora
sobre a terra. Assim, ser é morar, e esta morada deve ser percebida como um estada
permanente que deve ser assegurada pela vigilância, pelo cuidado e pela conservação da
natureza. Para Heidegger (2002), morar sobre a terra significa salvá-la, por isso entende que
as soluções de salvação (reciclagem, replantio etc) decorrentes do domínio tecnológico são
tentativas que visam tão somente ampliar o próprio domínio tecnológico sobre a natureza.
Alinhado com essa perspectiva, Gonçalves (2006) assinala como um paradoxo assumir que a
lógica promotora da crise ambiental, pautada no pragmatismo, imediatismo, na produtividade
e na eficácia, desponte como promotora de mudanças substanciais na relação homem e
natureza.
Convém ainda observar que a morada e a habitação filosófica da natureza reivindica
uma nova noção de ethos que ultrapasse o sentido de hábito ou de costume e assuma um
sentido de comportamento poético perante os demais seres e entidades. Amplia-se, portanto, a
noção de ética moderna para além do humano de forma a abarcar todas as entidades naturais,
uma vez que a ética moderna resultou na falência da natureza. Para Heidegger (2002), o
ambiente deve ser percebido como a parte do mundo que se faz mais próxima do homem, e
não apenas como objeto de investigação e curiosidade. Nesse projeto, o poético defendido
pelo filósofo alemão é uma oposição ao tecnológico e científico, conforme adverte Foltz
(2000), e é indispensável à consciência ecológica – a poesia é mais verdadeira que a ciência.
Heidegger não rejeita a tecnologia, mas reivindica sua reorientação de forma a estabelecer
novas relações com a natureza a partir do poético e da sensibilidade, tarefa cara ao
ambientalismo vigente.
A perspectiva do sistema-Terra, resultante dos desdobramentos da natureza cartesiana
a luz da ciência contemporânea, inclusive no contexto da ecologia, mostra-se compatível com
a noção de natureza objetiva apresentada por Heidegger. Allègre (1993) observa que a


43

perspectiva do sistema-Terra define a natureza e seus fenômenos como um sistema complexo


e dinâmico que compreende a atmosfera (gases), a hidrosfera (água sólida e líquida), a
litosfera (a superfície do planeta) e a biosfera (os seres vivos) de forma a explicar sua
anatomia e fisiologia. Além disso, a partir da ecologia essa percepção da natureza passou a
considerar o mundo natural como sendo dotado de equilíbrio global resultante das interações
entre seus componentes físicos e biológicos. Trata-se, portanto, de uma perspectiva sistêmica
em que a natureza compreende uma multiplicidade de fenômenos interligados cuja dinâmica
assegura a vida no planeta. Apesar de sua distância em relação à natureza primordial
heideggeriana, essa compreensão científica da natureza definida como sistema-Terra
reconhece a espécie humana em sua capacidade de promover perturbações relevantes nesse
sistema (destruição da camada de ozônio, mudanças climáticas, chuvas ácidas, poluição do ar
e dos solos, redução da biodiversidade etc).
Assim, Allègre (1993) adverte que na natureza sistema-Terra o homem é um elemento
externo, pois suas relações e atividades são compreendidas como um sistema específico
denominado de noosfera. Sob este enfoque, o ataque à natureza denunciado por Heidegger
corresponde ao seu domínio utilitário que decorre da supremacia da economia na noosfera.
Dessa forma, a natureza sistema-Terra é tanto a natureza objetiva como a natureza utilitária,
representam respectivamente a compreensão das leis naturais e a sua apropriação destinada a
assegurar o crescimento econômico e o progresso das sociedades. Conforme o autor, desta
apropriação implicam graves ameaças à natureza (a tirania sobre a natureza é a própria
degradação ambiental).
Contudo, diante de tais ameaças, a perspectiva científica da natureza sistema-Terra
não preconiza qualquer manifestação de envolvimento que se aproxime da noção
heideggeriana de habitação ética do planeta e de resgate da natureza essencial rousseauneana.
Conforme sinaliza Allègre (1993), a partir da ciência emerge uma reivindicação em favor da
integração do homem ao sistema-Terra, mas no sentido de instituir uma moral ambiental. Ao
invés de despontar como intruso perturbador da natureza, seu estatuto da racionalidade e da
produção material devem reconduzi-lo ao seu interior, orientando a superação do antagonismo
(parasitismo) em favor da harmonia e do respeito ecológico. Assim, ao invés de privilegiar a
ética ambiental conforme Heidegger, a conciliação entre economia e ecologia, ou entre a
sociedade e a natureza, segundo o autor, deve assegurar o equilíbrio da natureza sistema-Terra
de forma a garantir a continuidade da existência humana.


44

1.2 Concepções tradicionais de natureza

De acordo com Gonçalves (2006), a construção cultural do conceito de natureza, uma


noção social basilar, é empreendida de forma diferente entre as sociedades e acomoda não
somente as relações sociais, mas toda a sua produção cultural e, principalmente, material.
Conforme o autor, a separação entre cultura e natureza que impera nas sociedades ocidentais é
resultado de um processo histórico marcado pela disputa entre os mais diversos modos de
pensar, agir e sentir a natureza. Na seção anterior, observamos que o advento da sociedade
instituiu as desigualdades sociais (o abandono da natureza essencial) e os progressos do
cartesianismo viabilizaram a Revolução Industrial e a consolidação do domínio do mundo
natural a partir da ciência e da técnica. Assim, torna-se evidente que é nas sociedades
industriais modernas que o homem constitui uma séria ameaça à natureza, decorrente de
condições socioculturais particulares que resultam em uma profunda transformação do
ambiente.
Contudo, Bourg (1993) adverte sobre a necessidade de superação da polaridade que
orienta o debate ambiental atual e que reside na oposição entre as sociedades ocidentais,
marcadas pela centralidade do homem e por sua nocividade à natureza, e àquelas não
antropocêntricas, reconhecidas pela existência de uma maior harmonia com o mundo natural.
De acordo com autor, para uma melhor compreensão da relação homem e natureza na
modernidade, é importante considerar que não é o antropocentrismo a causa estrutural da
problemática ecológica, mas sua configuração apoiada na confluência do cristianismo, do
cartesianismo e da expansão da noosfera – o complexo que envolve todas as atividades
humanas.
Na verdade, é importante considerarmos que o antropocentrismo é inerente a todas as
sociedades e não apenas ao contexto ocidental. Para o autor, sua centralidade é de ordem
prática, por isso está imbricado nas ações e nos discursos, assegurando uma inalienação da
posição central do homem em suas atividades que orienta todos os seus sistemas de valores.
Nesse sentido, observamos que em se tratando da integração homem e natureza, o
antropocentrismo acarreta impossibilidade de um sistema jurídico não antropocêntrico
conforme preconizam Christopher Stone (expoente da defesa dos direitos dos objetos
naturais) e Aldo Leopoldo (idealizador de uma ética da terra).
Dessa forma, observamos que a centralidade humana é dominante em todas as culturas,
havendo, portanto, uma diversidade de olhares sobre a natureza. Embora civilizações como a
chinesa e a africana manifestem uma concepção de natureza em que o homem encontra-se


45

inscrito, submetido às suas regras, elas também abrigam a natureza como ambiente
envolvente e utilitário (BOURG, 1993). Para o autor, esse antropocentrismo de cunho prático
se apoia na compreensão de uma natureza utilitária, mas há um antropocentrismo especulativo
que compreende uma dimensão cultural em que a centralidade humana é destituída apenas
através de construções discursivas.
Diante desse reconhecimento da inexistência de culturas plenamente não
antropocêntricas, convém então reconhecermos que algumas formas de antropocentrismo
tornaram-se mais ameaçadoras para o meio ambiente. Para Bourg (1993), não se trata apenas
das sociedades industriais modernas, uma vez que diversas civilizações ancestrais
empreenderam profundos impactos no ambiente: desflorestamento na China Antiga;
desertificação da Grécia Antiga; desflorestamento do Líbano em função de sua demanda por
navios de guerra; desertificação da Mesopotâmia em decorrência de seu sistema de irrigação;
desflorestamento empreendido pelos Maias etc. São todos exemplos que remontam a
degradação ambiental à Antiguidade, muito embora decorrentes da ignorância das
consequências ambientais em povos desprovidos de uma consciência de centralidade humana.
Acerca das sociedades modernas, em que são observados os maiores prejuízos à
relação homem e natureza, trata-se, conforme já assinalado anteriormente, de um contexto
antropocêntrico particular. Conforme Gonçalves (2006), o cartesianismo foi decisivo para a
supremacia do homem sobre a natureza, permitindo às sociedades modernas engendraram sua
organização social em função da centralidade da produção material regida pela lógica
capitalista pautada na intensa apropriação dos recursos naturais (natureza como objeto de
produção). Consequentemente, a interferência humana no equilíbrio do planeta - domínio da
biosfera a partir da ciência - suscitou a percepção das próprias limitações humanas e, ao invés
de libertar-se da natureza, o homem a transformou em um encargo, assumindo a
responsabilidade de assegurar os sistemas de regulação do planeta (BOURG, 1993).
Nesse sentido, observamos as sociedades contemporâneas a partir de um
antropocentrismo reflexivo, em que a ampliação do domínio do homem sobre a natureza foi
reveladora das próprias limitações desse domínio, uma vez que a degradação do ambiente
também resultou em ameaça a própria existência humana. Para Bourg (1993), apesar desse
contexto acentuar a necessidade de prudência na relação com a natureza, na cultura ocidental,
face a absoluta centralidade humana, ela permanece relegada à condição de recurso disponível.
Sob a ótica das reinvindicações ecológicas, esse contexto de degradação ambiental
traduz, sob a perspectiva dos movimentos ambientalistas, o resgate de aspectos culturais de
sociedades anteriores, sobretudo no que concerne à solidariedade com a natureza, de forma a


46

reorientar os modos de socialização vigentes (trabalho e necessidades matérias). Trata-se,


segundo o autor, de fazer emergir o arcaico diante do moderno para viabilizar o
enfrentamento das consequências da “profanação da natureza” nas sociedades industriais
capitalistas. Entre as tradições culturais em que as relações homem e natureza se
manifestaram mais harmoniosas, destacamos: a natureza na tradição japonesa, compreendida
como harmonia e integridade do cosmos, fonte de bondade e virtudes para os homens; a
natureza na tradição africana, pautada no totemismo e na integração do homem com o seu
meio, orientada por uma relação de simbiose, de conservação e proteção do mundo natural; a
natureza na tradição chinesa, compreendida como um cosmos espontâneo marcado pela
alternância de fenômenos e que inclui o homem e a sociedade em sua totalidade; a natureza
sagrada, concebida como morada humana na tradição do Islamismo; a natureza no hinduísmo
marcada pela integração do homem.
Pons (1993) observa que na tradição japonesa a natureza era concebida sob uma
perspectiva cosmológica que integrava o homem e mundo natural com o qual ele deveria
viver em harmonia e simbiose. Essa noção de natureza não comportava uma separação
substancial entre o divino e o selvagem, o que resulta em um envolvimento afetivo e uma
percepção da natureza em termos de bondade. São relevantes as noções de coexistência e de
identificação entre o homem e o meio, e também a crença em uma origem natural do planeta.
Trata-se de uma perspectiva animista que ainda se manifesta através do Xintoísmo2 japonês e
que evoca um forte sentimento de pertença do homem à natureza, sendo esta percebida
enquanto conjunto de sujeitos ao invés de simples objetos. Essa centralidade da natureza
também é marcante na cultura japonesa em decorrência das influências de suas tradições
religiosas, principalmente do budismo e do seu sentido de efemeridade. Nele, a natureza opera
no plano moral, despontando como um caminho para o equilíbrio e à salvação, e também
reveladora da fragilidade e dos limites da existência humana – uma clara vinculação à
natureza rousseauneana.
Na tradição africana vigorava uma concepção particular de natureza que também era
marcada por uma perspectiva animista de mundo. De acordo com Dabiré (1993), essa
natureza abrigava um vasto conjunto de seres dotados de características humanas e era
caracterizada por uma simbiose da qual participavam todas as entidades do mundo. Nessa
visão de natureza o homem era apenas mais um dos elementos, despontando com o mais

2
De acordo com Corbett (2006) trata-se de uma religião indígena dos antigos povos japoneses marcada pelo
panteísmo e pelo animismo e que ainda constitui uma forte espiritualidade no Japão. No Xintoísmo todas as
entidades do mundo são igualmente concebidas pela criação divina e a natureza é considerada como morada dos
deuses, daí seu valor enquanto discurso ambiental.


47

frágil dentre eles. E é diante dessa fragilidade que surge o temor perante uma natureza
misteriosa. De uma maneira geral, no continente africano não havia uma ideia de
supremacia do homem sobre o mundo natural uma vez que este era percebido como moradia,
abrigo e garantia de sobrevivência. Dessa forma, destituído de um sentido utilitário da
natureza, o homem africano primava pela comunhão, uma “[...] sabedoria que recomendava o
¨princípio de realidade¨, impondo a coexistência, a solidariedade, a comunhão, em resumo, a
vida em simbiose com o ambiente.” (DABIRÉ, 1993, p. 93). Daí decorre a visão mítica e
religiosa da natureza que vigorava entre os mais diversos povos do continente.
Convém ressaltar que na mitologia africana a criação humana decorre da natureza,
pois o homem surge da terra, de onde é retirado e concebido. Essa origem lhe confere
parentesco com o mundo natural e assegura o seu mais elevado respeito. Por extensão, esse
respeito à terra se aplica à natureza como um todo, tanto ao reino animal como ao vegetal, e
também aos demais homens. Além disso, esse sistema de parentesco entre homem e natureza
se manifestava através de um totemismo em que determinadas espécies despontavam como
verdadeiros tabus e desfrutavam de status sagrado. Dabiré (1993) ressalta que a
heterogeneidade do totemismo entre as numerosas tribos africanas foi decisiva para a
preservação de inúmeras espécies. Conforme o autor, o totemismo impunha uma deontologia
da caça que impedia o abate excessivo, favorecia a preservação de fêmeas em gestação e
também estabelecia uma sacralização de determinadas espécies de árvores - a não obediência
desta deontologia estava sujeita a penalizações por parte da natureza, sempre vigilante e
severa. Observamos que a força dessa mitologia impunha o respeito à natureza enquanto
convicção ideológica na cultura africana, em que o homem tornando-se responsável pela
desordem quando interferia drasticamente no meio, empenhava-se por assegurar a harmonia
natural temendo à revolta da natureza.
Acerca da natureza na tradição chinesa, Gentelle (1993) ressalta não haver distinção
em relação à ideia de sociedade. Trata-se da noção de cosmos, uma unidade marcada pela
alternância de fenômenos, em que a natureza é espontânea e desprovida de um criador. Essa
alternância compreende a noção de fluxo e ciclo, e envolve a ideia de movimento ao invés de
mera repetição de eventos. Assim, na natureza chinesa todos os fenômenos estão inscritos
nessa alternância, correlacionados entre si, tais como o dia e a noite, as estações do ano etc.
Além disso, essa alternância também reconhece haver uma transição entre os estágios
extremos que delimitam tais fenômenos, estabelecendo uma noção de natureza que
compreende ciclos infinitos e imutáveis e que são favoráveis ao homem.


48

Tamanha é a inscrição do homem na natureza da tradição chinesa que a vida humana


somente se torna plena quando estabelece uma relação de respeito ao mundo natural.
Conforme observa Gentelle (1993), nessa tradição, a base da civilização chinesa é a
compreensão da natureza enquanto processo contínuo, uma perspectiva metafísica que não
exclui seu caráter utilitário para o atendimento das necessidades humanas. Há, portanto, na
cultura chinesa, uma natureza polissêmica que abriga as intervenções humanas, mas que
ressalta que é da qualidade desse uso que depende o funcionamento do cosmos, sendo,
portanto, a sociedade responsável direta por suas interferências. Dessa forma, as catástrofes
naturais são, na tradição chinesa, concebidas com sinal de quebra de harmonia entre homem e
natureza.
Essa antiga tradição chinesa mostra-se ainda influente a partir da ecologia do taoísmo
que orienta um agir sobre a natureza em consonância com suas leis, considerando-a como
causa de todo o ordenamento da vida. Conforme afirma o autor, trata-se de uma natureza
disposta à assegurar a prosperidade do homem, sob a condição de respeito aos seus ciclos.
Além disso, no taoísmo chinês também emerge um sentido comunitário da natureza que
justifica sua preservação. Gentelle (1993) adverte que essas tradições persistem na China,
ainda que de forma limitada, articulando religião e ecologia a partir do reconhecimento da
natureza como fonte de recursos cujo equilíbrio pressupõe uma relação harmoniosa.
No contexto da tradição cultural islã, Meddeb (1993) reconhece não existir uma noção
de natureza explícita no Alcorão, sendo esta percebida como tudo aquilo que fora concebido
divinamente para a satisfação do homem. Dessa forma, a Criação Divina oferece o mundo
natural e todos os seus fenômenos opostos (dia e noite, luz e trevas etc) para constituir a
morada humana. Nesta percepção sagrada da natureza no Alcorão, em que o homem desponta
como criatura suprema, é a água que assume lugar de destaque. E como expoente da criação,
a água torna-se o elemento natural central na cultura islâmica, em torno da qual se
inscreveram profundas questões de poder. Além do seu valor intrinsicamente naturalista e
vitalista, a água assume ainda um forte valor moral no Islã, pois é através dela que se efetua a
purificação das pessoas antes do contato direto com o Livro Sagrado.
No Alcorão, a natureza é também valorizada a partir do significado especial atribuído
aos jardins, um paraíso terrestre que antecede o paraíso divino, no qual a sombra, a água e as
árvores são celebrados. Através dos jardins o homem reproduz a Criação Divina
aproximando-se da natureza essência rousseauneana (e também da natureza como tecnologia
de subjetivação), uma vez que a “[...] concentração das maravilhas da natureza, num espaço
fechado e ordenado, ajuda o iniciado a encontrar matéria para a elaboração dos seus


49

exercícios espirituais.” (MEDDEB, 1993, p.83). Portanto, na contemplação dos jardins torna-
se possível acessar a epifania da Criação, a partir da percepção dos movimentos naturais.
Convém ressaltar que o Alcorão não estabelece apenas o direito de usufruto da
natureza. Nele, esse direito está associado ao sentido de dever e compromisso com a Criação
e que se traduz em um senso de governo em favor da natureza. Conforme Meddeb (1993),
trata-se de reconhecer uma vinculação moral do homem à Criação Divina que orienta sua
interferência no mundo natural, muito embora a natureza assuma um caráter metafísico,
destituída de autonomia, criada para servir ao homem. Portanto, essa natureza essencial à vida
humana é simultaneamente sagrada e utilitária. Nesse sentido, os cataclismos não são
observados apenas como fenômenos naturais, mas, sobretudo, percebidos como
consequências do desregramento da ação humana no cuidado com a natureza.
Na antiga tradição hindu3 a oposição natureza e cultura não se manifesta tal qual
ocorre nas sociedades ocidentais, conforme revela Galey (1993). A noção de casta, basilar
nestas sociedades, aplica-se não somente ao contexto social, mas se estende a todo o domínio
da natureza, envolvendo tanto a vida vegetal, animal e humana. Na verdade, a denominação
das castas sociais resulta da hierarquização do mundo natural, e, segundo o autor, os nomes e
apelidos das castas superiores estão relacionados aos animais e metais mais prestigiados,
enquanto as inferiores adotam nomes de minerais e das cores escuras. Apesar dessa
hierarquização, o autor ressalta que o hinduísmo parece superar a distinção entre natureza e
cultura ao considerar indistintamente a existência da fauna, da flora e das realizações humanas,
enquanto processo de alternância e simultaneidade entre sujeito e objeto. Assim, são ambos
decorrentes da retração e da expansão que perpassam os fluxos do universo interligando os
homens à natureza.
Na índia, observamos que a relação homem e natureza mostra-se bastante complexa,
uma vez que não se trata de uma concepção de oposição entre estes. Para Galey (1993), dada
a sua particularidade, nem a perspectiva totêmica (tomar espécies naturais para empreender
uma reordenação social), nem o animismo (dotar a natureza de valores e atitudes
antropocêntricas) se mostram pertinentes à sua compreensão. Dessa forma, adverte que o
movimento Chipko 4 , em que mulheres abraçavam árvores para reivindicar proteção às


3
Referimo-nos aqui às atitudes sobre o meio ambiente, considerando, conforme Selin e Kalland (2003), que
havia uma visão religiosa de mundo que integrava sociedades humanas e natureza em uma mesma ordem
cosmológica, denominada de “Thou”, semelhante às perspectivas da China antiga e dos povos aborígenes. De
forma geral, considerava que todas as entidades do mundo manifestavam a presença divina. Conforme os autores,
essa perspectiva eco teológica Hindu é pouco evidente no contexto atual da Índia.
4
Trata-se de um movimento de resistência pacífica criado em 1973 para combater a devastação das florestas
do Himalaia, cuja estratégia de seus participantes residia em, juntos, abraçarem árvores para impedir sua


50

florestas e à vida selvagem do Himalaia, e que ficou bastante conhecido nos anos 1980, não
deve ser compreendido como a expressão de surgimento de uma perspectiva ecológica recente.
Ao invés disso, o que emerge e ganha visibilidade é própria tradição hindu, em sua
particularidade de orientação da existência, da integração entre cultura e natureza.
As tradições apresentadas anteriormente são reveladoras de relações “harmoniosas”
entre homem e natureza que orientaram as culturas de diversos povos antigos. Nelas,
observamos que as percepções cosmológica, religiosa ou mesmo utilitária da natureza, nos
contextos socioculturais estabelecidos, reivindicavam algum tipo de cuidado e
responsabilidade no envolvimento e na interferência do homem no mundo natural. Nesse
contexto, as sociedades ocidentais modernas são, de forma geral, assinaladas como aquelas
em que essa responsabilidade com o mundo natural (a natureza primordial heideggeriana) fora
negligenciada em decorrência do privilégio por uma natureza utilitária (objetiva e produtiva),
exclusivamente destinada à exploração humana, plenamente destituída de subjetividade -
reivindicação crucial na filosofia ambiental de Guattari (1990).
Assim, considerando a natureza como uma construção cultural relevante à orientação
das relações sociais e da produção material de uma sociedade (GONÇALVES, 2006),
observamos que o binômio capitalismo/industrialismo traduz uma compreensão cultural de
natureza (valores, crenças e atitudes) que resulta e legitima, apesar das contestações dos
movimentos ambientalistas, profundas transformações no ambiente. Conforme Bourg (1993),
a expansão dessa perspectiva ocidental de natureza empreendeu profundas alterações em
sociedades cujas tradições comportavam uma maior integração entre homem e o meio.
Embora nossa discussão acerca da causa estrutural da degradação do ambiente nas sociedades
industriais modernas seja realizada na seção seguinte, observaremos, a seguir, que a
ocidentalização do mundo é assinalada por diversos autores como responsável pelo abandono
dessas tradições ambientais.
Pons, P. (1993) observa que o sentimento da natureza na tradição cultural japonesa
não impediu sua intensa degradação frente ao crescimento econômico do país assistido na
década de 1960 e que privilegiou uma ocupação do território japonês marcada pelo
desequilíbrio ecológico e pela poluição, sobretudo das áreas costeiras. Conforme o autor, a
natureza ainda assume posição relevante no imaginário japonês, mas sua cultura é atualmente
ambígua no que diz respeito à relação a ser estabelecida com o meio ambiente. Enquanto o

derrubada. Contudo, esta estratégia não deve ser tomada como reflexo do ambientalismo moderno ocidental,
uma vez que remonta ao século XVIII, quando mulheres de uma comunidade tribal situada em Rajasthan, na
Índia, foram cortadas juntamente com as árvores que abraçavam no sentido de impedir sua derrubada. Contudo,
foi o movimento recente que ganhou visibilidade internacional. Ver mais em Selin e Kalland (2003).


51

plano cultural manifesta esse apego estético a uma natureza representada por elementos
selecionados do ambiente natural, elaborada em imagens abstratas e subjetivas que cristalizam
um conjunto de convenções, o cotidiano é marcado por uma relação extremamente predatória.
Assim, há uma coexistência de uma natureza harmoniosa tradicional, agora confinada no
plano cultural, com uma natureza objetiva, de ordem prática e disponível enquanto recurso,
em que se consolida uma intensa degradação.
Trata-se, de acordo com Pons, P. (1993), de um apego seletivo ao mundo natural que
decorre de um contexto marcado pela intensa adoção de tecnologias ocidentais de produção e
que implica privilégio pela defesa de uma natureza culturalmente construída em detrimento da
proteção da natureza ecológica, de existência material. Esse avanço da degradação do
ambiente que emana da expansão do capitalismo no Japão é ofuscado pela celebração de uma
natureza harmoniosa, aliada à noção de que o sacrifício do mundo natural é indispensável
para assegurar a permanência da espécie humana. Dessa forma, segundo o autor, a cultura
japonesa manifesta uma “consciência vacilante” face à destruição da natureza. Embora essa
destruição assuma um sentido de fatalidade para as vítimas diretas da degradação ambiental,
ela é encarada com apatia pela população em geral. Por um lado a fatalidade decorre do
conflito direto entre a tradição e a percepção da violação do equilíbrio do ambiente, por outro,
a apatia está relacionada à dependência da sociedade em relação aos próprios empreendedores
da destruição do ambiente, os geradores de emprego e riquezas para a prosperidade da nação
japonesa. Apesar disso, foi nesse contexto que emergiu a consciência ecológica japonesa face
à industrialização do país, alicerçada em uma herança de resistências camponesas e com forte
apelo moral.
Em relação ao abandono da natureza que vigorava na tradição africana, é importante
observar que foi o projeto ocidental de exploração da África que impulsionou esse abandono,
ofuscando toda uma mitologia ambientalmente favorável. Dabiré (1993) observa que
mudanças drásticas na cultura africana decorreram dessa sujeição à ocidentalização. Dessa
forma, a mudança cultural dos africanos, atendendo às imposições de uma ordem civilizadora,
privilegiou a supremacia da racionalidade humana sobre o mundo natural resultando numa
visão utilitária da natureza que consagrou o abandono da deontologia natural e do caráter
simbiótico que prevaleceu. Na África, o triunfo da ciência e da técnica empreendido pela
colonização foram os propulsores da uma nova ideologia no continente, marcada pela intensa
apropriação e transformação da natureza.
É importante ressaltar que a transformação da relação homem e natureza no contexto
africano era indispensável para assegurar uma exploração (colonial e pós-colonial) dos seus


52

recursos destinados a atender objetivos externos ao modo de vida africano. A ocidentalização


do continente trouxe profundas consequências para o meio ambiente, incorrendo
comprometimento das próprias condições de existência dos seus povos, uma vez que a intensa
exploração da natureza resultou no abandono das antigas tradições, despertando a nostalgia e
o ressentimento, sobretudo, diante do novo contexto marcado pela desertificação voraz, pelas
catástrofes naturais, pelas proliferações de pragas e insetos etc. Conforme o autor, pobreza,
fome e doenças estimulam um ressentimento perante uma natureza que os abandonara e ao
“homem branco” explorador. Assim, abandonados pela natureza que outrora o abrigava e
acolhia, o africano desenvolveu uma insensibilidade ecológica diante da crise ambiental,
perpetuando a falta de respeito e cuidado com mundo natural. Para Dabiré (1993) a África
padece a todos os tipos de problemas ambientais, uma vez que a extrema pobreza apenas
coloca de imediato a luta pela sobrevivência, deixando o mito da simbiose em um plano tão
distante quanto às iniciativas de reparação aos danos causados à natureza.
Na China atual, embora suas tradições ambientais ainda permaneçam no imaginário
popular, foi a modernização consagrada pelo socialismo de mercado que intensificou a
apropriação e a degradação da natureza. É que o atesta Gentelle (1993), ao ressaltar que desde
a vitória comunista em 1949 este fenômeno se intensificou e resultou na transformação geral
da paisagem chinesa, no crescimento e na expansão das cidades. As mudanças sociais e
políticas na sociedade chinesa repercutiram diretamente em sua relação com o meio ambiente,
culminando com o abandono de suas antigas tradições (a natureza cosmológica). Nesse
contexto, observamos que a ideologia comunista chinesa mostrou-se alicerçada na crença de
um progresso irrestrito assegurado pela exploração de uma natureza utilitária infinita. Apesar
de se opor ao capitalismo ocidental, a China comunista manifestou semelhante contexto de
poluição das águas, do ar, de intensa devastação das florestas etc, comprometendo a natureza
e à qualidade de vida nas cidades.
O que se torna evidente em Gentelle (1993) é que o socialismo chinês estabeleceu uma
relação predatória irrestrita com à natureza. Apesar de se opor ao capitalismo e de constituir
uma alternativa à superação do subdesenvolvimento, os progressos contemplados
negligenciaram os custos sociais e ambientais, ignorando suas graves consequências ao meio
ambiente. Portanto, não apenas o capitalismo desponta como catalizador do rompimento das
sociedades com suas antigas tradições ambientais, uma vez que o socialismo também se
revelou incapaz de assegurar uma relação harmoniosa entre as sociedades e o mundo natural.
No mundo árabe, a noção de natureza tradicionalmente manifestada pelo Alcorão
também fora modificada. Contudo, Meddeb (1993) observa que foi o advento da ciência árabe


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no século XVI que empreendeu outra concepção de natureza no Islamismo, introduzindo um


reconhecimento da sua autonomia em oposição à perspectiva de uma natureza sagrada e
dependente do cuidado e da intervenção humana. Assim, através do enfoque científico a
natureza tornou-se objeto de estudo e classificação no mundo árabe, resultando numa
polissemia capaz de abrigar uma concepção de natureza objetiva, autônoma e independente,
dotada de valor intrínseco e que precede à civilização, mas ao mesmo tempo tangível e
divinamente concebida para tornar-se acessível e útil ao homem.
Atualmente, a problemática em torno da relação homem e natureza no mundo árabe é
consequência da recente intensificação do nomadismo de suas populações. De acordo com
Meddeb (1993), esse movimento de abandono do campo em direção às cidades resultou no
afastamento do povo árabe dos espaços naturais implicando esvaziamento do sentimento
tradicional pela natureza. Dessa forma, as cidades que passaram a constituir um significado de
sobrevivência ante as adversidades do clima da região, também representaram o
enfraquecimento do valor estético dos jardins, da água, da sombra e da frescura da natureza.
Além destas sinalizações acerca da ocidentalização (expansão capitalista e socialista)
como ameaça e superação das tradições ambientais nas sociedades observadas, a colonização
da Austrália e dos Estados Unidos, assim como o processo de expansão do território da Rússia,
também evidenciam a degradação do ambiente a partir do conflito e da superação dos valores
que permeavam as relações homem e natureza nas tradições de seus povos nativos pelas
imposições da colonização. De uma forma geral, a emergência tardia de uma consciência
acerca dessa problemática também é observada como consequência desse processo em que o
pensamento ecológico aparece intimamente relacionado ao resgate dessas tradições. É o que
nos revelam Pons, X. (1993), acerca da tirania ocidental sobre a tradição ambiental aborígene
durante a colonização da Austrália, Mandrillon (1993), acerca dos impactos ambientais
promovidos pelo Regime Comunista instalado no início do século XX5 na Rússia e Conan
(1993), em sua análise sobre a constituição da identidade ambiental norte americana.


5
A Revolução Russa, deflagrada em outubro de 1917 sob a liderança de Lenin, culmina com a implantação do
regime socialista no país e, consequentemente, com a implantação da URSS (União das Repúblicas Socialistas
Soviéticas). De uma forma geral, a principal característica deste regime foi a centralidade (monopólio) do poder
no partido comunista tendo como objetivo o estabelecimento da justiça, da igualdade a partir do fim da
propriedade privada e da exploração capitalista. Após a Segunda Guerra Mundial, essa perspectiva se expandiu
pela Europa oriental, na China, em Cuba e também em países asiáticos. Durante o Regime Comunista a URSS
assistiu a um elevado crescimento industrial, despontando como potência mundial frente aos Estados Unidos. O
Regime vigorou até o início da década de 1990 e durante este período teve como lideranças Stalin, Khrushchov,
Brejnev, Andopov, Chernenko e Mikhail Gorbachev. Foi sob o comando deste último governo que ocorreu o
desmembramento da URSS e fim do regime na Rússia. Ver mais em Groppo (2008).


54

A respeito da colonização australiana, aos olhos dos colonos ingleses sua natureza
mostrava-se totalmente hostil e estranha, tanto estética como espiritualmente. Nesse contexto,
a colonização da Austrália resultou na sujeição completa da natureza e dos aborígenes nativos
aos anseios europeus, pois “[...] tratava-se de um inimigo que era preciso dominar e, se
necessário, destruir. Havia necessidade de transformar um ambiente improdutivo, logo, algo
ilegítimo, em fonte de lucros.” (PONS, X., 1993, p.110). Portanto, esse projeto de domínio de
uma natureza estranha ao colonizador relegava por completo o modo de vida dos povos
aborígenes, sobretudo no que diz respeito à sua relação de interdependência com a natureza.
A tradição ambiental nativa, marcada por um saber-fazer tradicional que, embora orientasse
uma intensa atividade sobre o meio natural e fosse desprovida da noção de preservação,
mostrava-se mais comedida e respeitosa com os equilíbrios naturais. Assim, conforme
defende o autor, não era somente a paisagem natural que se mostrava estranha ao colono,
despertando-lhe horror e melancolia, mas também a própria concepção nativa de uma
natureza religiosa e espiritual que assegurava a integração entre o homem aborígene e o seu
meio.
De acordo com Pons, X. (1993), esse conflito histórico, marcado pela tirania dos
colonizadores ocidentais diante de uma natureza que lhes era estranha e desafiadora e de uma
tradição aborígene fortemente relacionada ao ambiente, orientou à formação de uma cultura
australiana “pouco sentimental” (PONS, X., 1993, p. 107) em relação à natureza – a Austrália
mesmo contando com uma das mais baixas densidades demográfica do mundo empreendeu
uma intensa degradação do seu ambiente. Nesse contexto, a consciência ecológica, a
percepção da intensidade e da gravidade desta degradação decorrente do acelerado
desenvolvimento econômico ao qual fora submetido o país, é um fenômeno recente. De
acordo com o autor, esse processo de conscientização ecológica observa a crise ambiental
como consequência do abandono da tradição aborígene em favor de valores ocidentais.
Consequentemente, ele reivindica um resgate dessas tradições principalmente como reação às
imposições da indústria da exploração mineral (ferro, urânio e bauxita) sobre as tribos
remanescentes. Assim, o apego espiritual e os valores ambientais dos aborígenes tornaram-se
referências no enfrentamento ecológico australiano.
No que diz respeito às transformações na noção de natureza na Rússia, Mandrillon
(1993) observa que a concepção tradicional de natureza remonta aos antigos povos eslavos e
estava associada à uma complexa cosmologia pagã que orientava uma harmonia (simbiose
primordial) entre o homem e o meio, em que a natureza era compreendida como o seu reino.
Conforme o autor, essa tradição fora rompida com o avanço do cristianismo no século X,


55

resultando em sincretismo religioso que predominou, sobretudo, entre os camponeses russos


até o século XX. Nesse contexto, o autor ressalta que vigorou uma noção de natureza
antropomorfizada, marcada pelo abandono da simbiose primordial em favor de uma natureza
espiritualizada e povoada por uma diversidade de “demônios” ameaçadores.
Contudo, durante a expansão do povoamento do país, marcada pela intensa
mobilidade russa, o contato com vastas áreas de florestas, estepes e planícies também
contribuiu para o enfraquecimento da perspectiva tradicional de natureza cosmológica. Para
Mandrillon (1993), a conquista da Sibéria no século XVI foi decisiva para a consolidação de
uma percepção de natureza utilitária, rica, inesgotável e disponível à exploração de suas
riquezas. Desta coexistência das perspectivas tradicional, sagrada e utilitária, a natureza
tornou-se ambivalente – pródiga e bela, mas também ameaçadora, conforme demonstrava o
frio rigoroso. Nesse sentido, observamos que a Sibéria constituiu um ponto de ruptura cultural
que resultou na orientação de diversas relação entre homem e natureza: uma postura
predatória manifestada pelos novos conquistadores sobre uma natureza utilitária; o
envolvimento cosmológico herdado dos antigos povos historicamente instalados na região; a
contemplação de uma natureza espiritualizada e antropomorfizada.
Na Rússia, a instalação do Regime Comunista consagrou de forma hegemônica o
sentido utilitário da natureza, ofuscando as demais concepções tradicionais. Na verdade, a
Revolução impôs a superação da sociedade camponesa, privilegiando um projeto de intensa
urbanização e industrialização que resultou na transformação do homem e também da
natureza. Mandrillon (1993) afirma que a modernização russa, promovida pelo regime
marxista-leninista, privilegiou o progresso material e o desenvolvimento econômico,
resultando em uma devastação ambiental tão intensa quanto nos estados capitalistas
ocidentais. Portanto, a queda da URSS expos tanto as implicações do nacionalismo pautado
no choque étnico cultural, como também o seu desastre ecológico, revelando que a crise
econômica e a tensão política da Rússia não estavam desvinculadas de uma crise de ordem
ambiental.
Assim como na Austrália, a preocupação ambiental na Rússia é um fenômeno recente
e também uma reação aos impactos das políticas desenvolvimentistas sobre o ambiente, neste
caso em defesa dos camponeses remanescentes. Por isso é que também é marcante na
reivindicação ecológica russa o resgate das antigas tradições ambientais camponesas,
valorizando a integração entre homem e natureza. A crítica ecológica na Rússia emergiu
(entre 1962 e 1964) para denunciar um projeto socialista vinculado à teologia do progresso e
que empreendia uma profunda transformação da paisagem e também do comportamento


56

social. Tratava-se de uma crítica estrutural dirigida ao sistema e sua visão desenvolvimentista
e, conforme Mandrillon (1993), norteava um ecologismo com forte conotação de resistência
moral, mas que fora sufocado pela ditadura em 1964. Contudo, esse movimento avançou na
década de 1970, denunciando a ocidentalização da Rússia em suas múltiplas dimensões: o
fracasso político do socialismo; o comprometimento da identidade russa a partir do abandono
da antiga visão do campo e da ordem natural; os impactos ambientais promovidos por
projetos de intervenção militares. Assim, a fragmentação da URSS favoreceu a expansão do
ecologismo russo em diversos grupos e associações, muito embora o eco nacionalismo daí
resultante mostrou-se debilitado (MANDRILLON, 1993).
Finalmente, observamos a tradição ambiental norte americana a partir do processo de
colonização dos Estados Unidos da América. Da mesma forma que na Austrália, o contato do
colono inglês com a natureza norte americana também suscitou estranhamento. Contudo, no
contexto da colonização dos Estados Unidos houve uma “reconversão do homem pela
natureza” (CONAN, 1993, p. 190), suscitando mudanças substanciais nos hábitos do colono
inglês de forma que o espírito americano nasceu desse contato com uma “nova” natureza.
Para os primeiros colonos (século XVII) a natureza selvagem americana apresentava-se
oposta à visão edênica propaganda na Inglaterra, constituindo um desafio a ser conquistado e
domesticado mediante trabalho intenso. Nessa percepção puritana a natureza selvagem era
ameaçadora à integridade moral do homem e sua conquista era observada como condição para
a “salvação”.
Aliada a essa prescrição religiosa que orientava a conquista da natureza selvagem, o
contexto norte americano mostra-se relevante para assegurar os ideais de igualdade e
independência tão ameaçados pelo desenvolvimento da Inglaterra. É nesse contexto que o
autor observa que o mundo natural influenciou decisivamente à formação da consciência
americana de modo que a pastoral americana decorreu da valorização da vida rural, sobretudo,
como alternativa à problemática vida urbana. Para Conan (1993), os índios nativos, embora
reconhecidos por sua crueldade e violência, contribuíram para a cultura americana quando do
reconhecimento de suas virtudes no cuidado com a natureza. Assim, a pastoral americana
abrigou uma noção ambivalente de natureza, ora utilitária e disponível ao domínio do homem,
ora sagrada e indispensável ao alcance da pureza moral. De forma geral, observamos que a
inserção e a relevância da natureza na constituição cultural americana também persistiram
durante o período de crescimento das cidades e o vigor de uma dinâmica social marcada pelo
estatuto da técnica e da racionalidade.


57

Nesse contexto, emergiu um apelo nostálgico que, conforme o autor, culminou com a
invenção de uma cultura amplamente estimulada pela estética da paisagem, sobretudo na arte
americana, e que fora consolidada pela literatura. Assim, na cultura nacional a estética do
sublime e do pitoresco (uma natureza apreciável na arte, mas não na realidade objetiva)
consagrou o mito da pastoral americana. Mas, apesar dessa celebração de uma natureza
destinada ao reestabelecimento moral do homem americano, o que fora enaltecido foi a
necessidade de sua conquista visando a uma aproximação com o Deus criador. Esse situação
favoreceu o surgimento da escola filosófica transcendental, liderada por Henry David Thoreau,
que conferiu um aspecto metafísico à relação homem e natureza, afirmando que o contato
irrestrito com o mundo natural favorecia à compreensão dos princípios gerais do universo.
Contudo, de acordo com Conan (1993) essa admiração religiosa da paisagem não suscitou
críticas ao estatuto da técnica, defendendo-a como necessária à interação com as leis divinas.
A expansão da cultura visual da paisagem também foi decisiva para a consolidação
simbólica da natureza na cultura americana. O rio Hudson, as cataratas do Niágara e os
parques nacionais de Yellowstone e Yosemite são exemplos dessa simbologia, que apesar de
inicialmente destinados ao encontro com o sublime, terminaram por viabilizar uma
exploração da natureza destinada ao turismo de entretenimento. Assim, apesar da relevância
da natureza na cultura de paisagem americana ela não impediu um contexto de degradação
ambiental. Por outro lado, Conan (1993) observa que essa cultura visual também estimulou
ideais de conservação e de equilíbrio da natureza, orientando uma exploração racional dos
seus recursos e também a criação de reservas naturais (Yosemite em 1864 e Yellowstone em
1870). Além disso, suscitou uma oposição à exploração utilitária da natureza e ao progresso
técnico, culminando com movimentos ecológicos com forte reivindicação do resgate da
percepção tradicional de natureza sagrada e divina (ecologia profunda, relação ambiental dos
índios nativos da América etc).

1.3 Causas da degradação do ambiente nas sociedades modernas: considerações a partir


da sociologia ambiental

Conforme visto ao longo das seções anteriores, entre as diferentes concepções de


natureza foi a perspectiva utilitária e instrumental estabelecida a partir do primado da
racionalidade científica e da técnica que se consagrou nas sociedades capitalistas industriais
modernas. Embora a degradação do ambiente não seja um fenômeno recente e nem mesmo
exclusivo de tais sociedades, considerando que profundas alterações no ambiente também


58

foram empreendidas pelas sociedades capitalistas agrárias, é importante observar que foi sob
esta perspectiva de natureza que a interferência humana sobre o ambiente assumiu proporções
e implicações sem precedentes.
Dessa forma, diferentemente do envolvimento e da integração entre homem e
ambiente que orientava o significado da natureza em diversas tradições ambientais, a natureza
utilitária foi decisiva para o projeto das sociedades modernas, marcadas pela intensa produção
industrial, por hábitos de consumo e modos de vida que resultaram em um contexto em que
Mckibben (1990) vai identificar o fim da natureza. Ou seja, com sua retirada do mundo
natural, o homem estabeleceu uma série de transformações no ambiente de forma a alterar e
comprometer a integridade do sistema-Terra, resultando na morte semântica da noção de
ambiente autônomo independente. Conforme o autor, o domínio absoluto do homem moderno
sobre a natureza incorreu em sua nova significação - a natureza não é mais independente, pois
agora é suscetível à ação humana; a natureza não é mais previsível (sua compreensão
matemática), pois sua regularidade fora comprometida por fenômenos como as mudanças do
clima, a redução da camada de ozônio etc.
Para observamos as causas estruturais da degradação ambiental nas sociedades
industriais modernas, recorremos à sociologia, e de forma mais específica à sociologia
ambiental, no sentido de compreendermos as condições primeiras que orientaram a
apropriação utilitária da natureza em tais sociedades. Ao invés de nos determos nas causas
diretas da degradação ambiente (uso do automóvel, produção de resíduos sólidos, lançamento
de externalidades nos rios etc) nos voltamos para uma compreensão social da degradação do
ambiente. Assim, apoiamo-nos em Goldblatt (1996) e Hannigan (2009) em suas análises da
discussão acerca da crise ambiental na teoria social clássica. Recorremos também a alguns
dos teóricos sociais contemporâneos celebrados por sua contribuição para o debate ambiental,
a exemplo de Giddens, Gorz, Habermas e Beck e, finalmente, discutimos a problemática do
ambiente a partir da sociologia ambiental, guiando-nos por autores como Redclift e Woodgate
(2000), Hannigan (2009), Dunlap (2000) e Buttel (2000), entre outros.
Para iniciar, convém ressaltar que apesar de suas limitações, a teoria social clássica
manifestou uma dimensão ambiental relevante para o debate contemporâneo. Conforme
Goldblatt (1996) e Hannigan (2009), esta dimensão ambiental nos trabalhos dos teóricos
clássicos da sociologia foi negligenciada pela maior parte das análises seguintes de suas obras.
Contudo, para os autores, é importante perceber que Durkheim, Weber e Marx afastaram-se
dos determinismos geográficos e biológicos em suas análises sobre os fenômenos sociais,


59

reconhecendo de forma precursora os impactos ecológicos decorrentes da transformação do


mundo natural como consequência das estruturas das sociedades modernas.
Conforme Hannigan (2009), na sociologia vinculada aos determinismos geográfico e
biológico havia uma supervalorização da influência do ambiente geográfico e da natureza
sobre a sociedade. Thomas Buckle, por exemplo, atribuía ao ambiente geográfico (a estética
da natureza, o clima etc) papel relevante no desenvolvimento da inteligência dos povos,
enquanto Hebert Spencer explicava a sociedade a partir dos conceitos evolucionistas de
Darwin. Dessa forma, foi na economia que análises sobre a relação sociedade/ambiente se
manifestaram de forma precursora, quando Malthus e Stuart Mill analisaram o crescimento
econômico sob o reconhecimento de limites naturais. Para Goldblatt (1996) foi somente a
partir da rejeição destes determinismos que especificidades nas relações entre as sociedades e
o mundo natural foram assinaladas na sociologia.
Nas análises de Goldblatt (1996) e de Hannigan (2009) sobre as questões ambientais
em Durkheim, Weber e Marx, as divergências são apenas quanto à acentuação desta
vinculação em cada um deles. Enquanto Marx é consensual quanto à sua contribuição
diferenciada, o pensamento de Weber é apontado por Goldblatt (1996) como aquele mais
afastado das questões ecológicas, enquanto Hannigan (2009) o faz acerca de Durkheim,
sobretudo, em função do seu empenho em elaborar um método sociológico centrado nos fatos
sociais e na consciência coletiva. Neste caso, o afastamento das questões ambientais resultou
na percepção da sociedade a partir da noção de solidariedade orgânica - equilíbrio social
assegurado pela interdependência decorrente da divisão social do trabalho - que, segundo o
autor, é influenciada pelo darwinismo social e desprovida de interesses ecológicos.
Já a conexão de Max Weber com as questões ambientais decorre de suas observações
sobre as disputas por recursos naturais no contexto da história das religiões. Hannigan (2009),
apoiando-se em Buttel (2002) e West (1984), observa que Weber percebeu a racionalização
da sociedade como causa da reorientação da sua relação com a natureza em que esta passou a
despontar como recurso a ser explorado e dominado pelo homem. Weber caracteriza a
economia capitalista a partir da racionalidade (primado do conhecimento técnico e científico),
uma forma de assegurar altos níveis de eficiência à produção industrial, mas que ignora
qualquer perspectiva ecológica. Esta percepção reconhece haver uma irracionalidade
ecológica que se manifesta em desastres ambientais decorrentes do privilégio pelo
desenvolvimento tecnológico. Além disso, conforme Hannigan (2009), Weber também
destacou a centralidade da racionalidade intelectual, reconhecendo os especialistas como


60

atores sociais privilegiados em um contexto marcado pela crença ilimitada nos progressos da
própria ciência.
Apesar do interesse reduzido pela degradação do ambiente, a obra de Karl Marx, entre
os teóricos clássicos, é aquela de maior relevância ao pensamento ambiental contemporâneo.
Para Hannigan (2009), Marx observa o capitalismo e sua expansão como promotores de
alienação das pessoas em relação ao mundo e à natureza, causador de doenças, da
superpopulação, do desgaste dos solos em função da agricultura mecanizada etc, e que
deveria ser substituído por uma outra ordem social. Dessa forma, o marxismo oferece
relevantes contribuições à compreensão da atual crise ecológica, sobretudo em função de sua
crítica à expansão capitalista e de seu reconhecimento da necessidade de se estabelecer uma
relação metabólica entre a sociedade e natureza. Defende-se que Marx tanto reconhece e
valoriza essa interdependência orgânica como também denuncia o capitalismo como
empreendedor do afastamento do homem da natureza. Assim, é a teoria marxista que sinaliza
que nas sociedades capitalistas a economia política legitima a degradação ambiental em favor
do acúmulo de riquezas e do crescimento econômico. Portanto, Marx, além de pioneiro
defensor de uma agricultura orgânica, desponta como teórico sociológico que aproximou o
pensamento da sociologia para as questões ecológicas.
Goldblatt (1996), diferentemente de Hannigan (2009), atribui a Weber as maiores
limitações quanto às questões ambientais, uma vez que apesar de evidenciar impactos
ecológicos decorrentes do nomadismo e da produção agrária, seu interesse recaiu sobre a
propriedade e à produção. Dessa forma, em Marx e Durkheim são reconhecidas maior clareza
acerca das interações entre a sociedade e a natureza, sobretudo pela ênfase atribuída à
economia e à demografia em suas obras. Conforme o autor, a noção de economia de Marx
compreende a transformação do mundo natural através da produção material.
Ainda de acordo com Goldblatt (1996), Marx e Durkheim revelaram que a sociedade
industrial moderna não enfrentou constrangimentos quanto aos limites ambientais. Assim,
com eles observamos que o capitalismo industrial, em sua fase inicial, assegurou um
desenvolvimento econômico empreendendo profundas transformações na organização social e
também no meio ambiente, mas os impactos ambientais dos métodos de produção não
constituiriam uma problemática para o seu avanço. Marx reconheceu ameaças como o
esgotamento dos solos e o uso intensivo dos recursos naturais, mas foram os
constrangimentos decorrentes da organização social em curso que constituíram a principal
pauta da teoria social marxista e não as questões ecológicas. Para Goldblatt (1996), apesar
desse reduzido interesse teórico pela relação sociedade e ambiente, foi Marx, entre os teóricos


61

sociais clássicos, quem avançou significativamente nesse questionamento. Contudo, ressalta-


se que tais abordagens foram limitadas pela incipiente compreensão acerca dos impactos da
economia e da produção sobre o mundo natural e pela observação das questões ecológicas no
contexto da influência do ambiente nas sociedades pré-modernas e na superação de suas
imposições pelas sociedades modernas.
Mas, a teoria social clássica não foi relevante apenas por identificar a problemática
ambiental como consequência da estrutura social. Suas análises acerca dos conflitos políticos
contribuem significativa para à compreensão das políticas ambientais contemporâneas e da
emergência dos movimentos ambientalistas, é o que defende Goldblatt (1996). Durkheim
concebia a emergência dos conflitos políticos como consequência da divisão social do
trabalho, assinalando que as divergências de interesses demarcavam a mobilização política.
Para Marx, não somente os interesses mas também os ideais orientavam a mobilização
política, uma vez que esta traduzia a luta de classes e o enfretamento da injustiça decorrente
do sistema moral estabelecido pela transformação cultural ideologicamente estabelecida. Para
Weber a mobilização política decorria dos conflitos de interesses políticos e econômicos
estabelecidos, mas era limitada quanto à capacidade da classe trabalhadora superar essas
desigualdades de interesses. Em meio ao ceticismo weberiano acerca das potencialidades da
mobilização política, Marx e Durkheim acreditavam em sua capacidade de minimizar as
desigualdades sociais.
Nesse sentido, apesar de a teoria social clássica mostrar-se insuficiente à compreensão
das relações entre a sociedade e o ambiente, suas concepções acerca da mobilização política
revelam a estrutura social em sua influência na determinação de interesses políticos e
econômicos, e também sobre a dinâmica do desenvolvimento cultural nas sociedades
modernas. Além disso, o reconhecimento dos movimentos socialistas enquanto forças de
oposição política é relevante à compreensão dos movimentos sociais e ambientalistas que
mais tarde viriam a se manifestar.
Esse breve panorama acerca da interface entre a teoria social clássica e as questões
ambientais orienta-nos a perceber, conforme acentua Goldblatt (1996), a degradação
ambiental simultaneamente como problemática econômica, política e demográfica, cujo
enfrentamento deve resultar da mobilização política em favor de uma causa moral da
preservação da natureza, reivindicando menos imposições por parte dos interesses
econômicos e políticos. Para Hannigan (2009), embora não seja consensual o reconhecimento
das contribuições dos clássicos para o debate ambiental, sobretudo pela sociologia dedicada a
compreender a modernização das sociedades e que vigorou nas décadas de 1950 e 1970, foi


62

com a emergência da sociologia do ambiente que tais contribuições passaram a ser


valorizadas. Dessa forma, foi a partir dessas contribuições que a teoria social contemporânea
contemplou a ecologia com maior ênfase, seja através das questões econômicas, culturais ou
políticas.
Entre o distanciamento da sociologia clássica em relação às questões ambientais até a
centralidade destas na sociologia ambiental, é importante considerar que a teoria social
contemporânea foi decisiva para o debate ambiental, sobretudo a partir de suas contribuições
para a compreensão das origens, dos impactos e das condições políticas para o enfrentamento
da problemática do ambiente nas sociedades modernas. Dessa forma, apoiando-nos em
Goldblatt (1996), recorremos a Giddens, Beck, Gorz e Habermas no sentido de observarmos
suas contribuições para a compreensão das causas estruturais da degradação ambiental e
também das motivações que resultaram na mobilização em torno da política do ambiente.
Autores como Dunlap (2000), Cable, Shriver e Mix (2009), McCarthy e King (2009) e
Goldblatt (1996) ressaltam esses teóricos da sociologia por suas relevantes influências na
sociologia do ambiente.
Anthony Giddens observa a degradação do ambiente a partir de suas análises sobre a
modernidade – um contexto marcado por uma configuração particular do capitalismo,
industrialismo, fiscalização do estado e poder militar. Conforme o autor, a lógica capitalista
(GIDDENS, 2001) e o industrialismo (GIDDENS, 1991) configuram as causas estruturais da
degradação ambiental nas sociedades capitalistas industriais modernas.
O que se torna central no pensamento do autor é a ideia de que o industrialismo
permitiu à expansão do capitalismo, estimulando seu crescimento a partir da superação dos
constrangimentos ambientais. Dessa forma, a dinâmica do industrialismo moderno, marcada
pela intensa mecanização em busca do aumento da produtividade industrial, expandiu os
mercados e a produção, mas também resultou no crescimento populacional, na intensificação
da poluição e no maior consumo de recursos naturais. Giddens (1991) ressalta que nas
economias capitalistas industriais o poder transformador da tecnologia se tornou mais intenso,
assegurando um grau inédito de interferência no meio ambiente.
A partir da noção de Globalização, Giddens (1991) assinala que o industrialismo
globalizado introduziu impactos ambientais de ordem global (mudanças climáticas, chuva
ácida etc), reconhecendo que acontecimentos ambientais localizados podem repercutir em
todo o planeta. Trata-se de observar a degradação ambiental considerando a diversidade
geográfica dos ecossistemas em suas diferentes condições de suportar e reagir aos impactos
ambientais. Além disso, e ainda mais importante, é que ao reconhecer que as origens e as


63

consequências da degradação ambiental não estão confinadas em uma mesma região, o autor
torna evidente a assimetria entre processos sociais e degradação. Assim, na perspectiva do
autor, a modernidade (economia capitalista mundial) pode ser compreendida como um
contexto marcado por diferenças políticas e econômicas que configuram as consequências
ecológicas atuais e que resultam em uma assimetria quanto ao poder de degradação e o poder
de enfrentamento de suas consequências entre as nações.
Em linhas gerais, para Giddens (1991), o industrialismo globalizado é responsável
pela degradação ambiental na modernidade. Consequentemente, observa-se que a
Globalização estabelece impactos não apenas na esfera econômica e produtiva, mas sobretudo
na vida cotidiana, quando a intensificação da degradação do ambiente resulta na apreensão do
mundo moderno como um contexto de graves riscos e ameaças ecológicas. Assim, a
degradação do ambiente traduz, acima de tudo, os impactos das inovações tecnológicas
estabelecidas no interior da produção industrial nas sociedades modernas.
Em Gorz (1980) a degradação ambiental nas sociedades modernas está associada à
economia política pós-industrial6, caracterizada pelo empenho dos sistemas políticos em
assegurar o crescimento da produção industrial, o consumo e o acúmulo de riquezas.
Defende-se que esta lógica de crescimento da produção, que também fora internalizada por
economias socialistas como a China e a Rússia, orienta-se exclusivamente por interesses
econômicos, mas termina por ser incapaz de assegurar a prosperidade a longo prazo e também
o equilíbrio ecológico. Gorz (1985) é contundente ao ressaltar que o capitalismo nem
manifesta uma orientação moral nem reconhece limites do mundo natural.
Sob a perspectiva da economia política observada por Gorz (1980) a degradação do
ambiente também é fortemente influenciada pela dimensão cultural das sociedades ocidentais
pós-industriais. Conforme o autor, não é apenas a elevação da produção industrial que ameaça
a natureza, mas também o aumento nos níveis de consumo que caracteriza os estilos de vidas
destas sociedades. Dessa forma, a esfera do consumo desponta como fator relevante para o
agravamento da crise ambiental, orientando-nos a perceber que o enfrentamento desta crise
não passa apenas pela imposição de mudanças na dinâmica produtiva, mas pela adoção de
mudanças no plano cultural de forma a estabelecer uma reorientação moral tanto em relação
ao consumo quanto à vida política.


6
Andre Gorz ressalta os impactos da tecnologia na produção capitalista, sobretudo as implicações decorrentes
da revolução do micro chip e da informática. A esse contexto marcado por profundas alterações no mercado de
trabalho, na organização e no controle da produção, em que a inovação tecnológica desponta como elemento de
transformação social, o autor denomina de sociedade pós-industrial. Ver mais em Gorz (1980).


64

Nesse contexto, a crise ecológica estabelece um dos maiores desafios à manutenção do


capitalismo, conforme observa Gorz (2013). Para o autor, os danos ambientais decorrentes da
expansão capitalista estabeleceram um impasse entre crescimento econômico e
reconhecimento de limites ambientais, sobretudo face aos impactos da internalização dos
custos socioambientais – elevação da tributação sobre a produção capitalista. Nesse contexto,
o capitalismo passa a ser observado em sua tendência de expandir a produção e também à
degradação, enquanto ao Estado cabe o papel de reconhecer e internalizar os custos sociais e
ambientais dai decorrentes. Convém atentar que autor acentua as inovações tecnológicas e
não as relações capitalistas como causa estrutural da degradação do ambiente nas sociedades
pós-industriais.
No que diz respeito à Teoria da Ação Comunicativa de Habermas, Goldblatt (1996)
ressalta que a degradação ambiental nas sociedades industriais pode ser compreendida como
uma das patologias da modernidade. Em síntese, Habermas (2012) compreende as sociedades
modernas a partir do paradoxo moral em torno do abandono da ética tradicional e do desafio
da busca por normas morais em si mesmas. Como alternativa para essa estruturação da ética
moderna, o autor valoriza a ação linguística defendendo que a racionalidade comunicativa - o
emprego da linguagem (atos comunicativos) para coordenar as ações humanas – é condição
para uma mútua compreensão entre os indivíduos. Contudo, de acordo com o autor, esse
potencial é raramente manifestado nas sociedades modernas o que resulta em um
desenvolvimento unilateral e patológico, sobretudo pela ênfase atribuída ao sucesso material e
pela negligencia em relação aos progressos morais. Em sua perspectiva, o progresso social
deveria ser orientado por normas morais e de justiça, pela busca do consenso entre as diversas
perspectivas e pelos potenciais da racionalidade comunicativa de forma a assegurar uma visão
mútua do mundo.
Ainda de acordo com esta perspectiva, as sociedades modernas são descritas por
sistemas (a política e a economia) que privilegiam poder e riqueza em detrimento de
referenciais éticos e normativos com base no ato da comunicação (o mundo da vida). Dessa
forma, Habermas (1980) observa essa racionalização sociocultural do “mundo da vida” como
causa das patologias da modernidade, em um contexto em que o próprio Estado-previdência
vai legitimar as ações econômicas e enfraquecer a ação do indivíduo em favor do crescimento
econômico. A esse processo de reprodução da racionalidade da modernidade Habermas
(1980) vai denominar de colonização do mundo da vida, em que o privilégio pelos sistemas
econômicos resulta na desarticulação dos interesses políticos e econômicos com os anseios
coletivos, além do empobrecimento cultural e da consciência fragmentada do quotidiano.


65

Nesse contexto, a degradação ambiental pode ser observada como uma das patologias da
modernidade quando do privilegio ao desenvolvimento capitalista e do consequente impacto
da política e da economia sobre o meio ambiente, sobretudo legitimada pela cultura
decorrente do mundo da vida racionalizado. Em Habermas é a racionalidade capitalista a
causa estrutural da degradação ambiental, não o industrialismo como o desponta em Gorz e
Giddens.
A perspectiva da Sociedade de Risco de Beck (2010) desponta como uma das mais
influentes abordagens sociológicas contemporâneas acerca da degradação do ambiente. Para
Beck (2010), as sociedades contemporâneas são caracterizadas por um contexto de riscos e
ameaças decorrentes da intensa industrialização. Trata-se de uma modernidade reflexiva, pois
as transformações tecnológicas que orientam o crescimento econômico se revelam
responsáveis pela degradação ambiental, introduzindo riscos de alcance global e com elevada
toxidade (destruição da camada de ozônio, mudanças climáticas etc). Assim, as sociedades de
risco são marcadas pela percepção de perigos e ameaças provenientes da ação humana sobre o
planeta, um contexto complexo em função das dificuldades de mensuração e previsibilidade
acerca de tais ameaças. Contudo, há uma invisibilidade social quanto ao reconhecimento e
associação das origens, consequências e agentes promotores dos riscos, e também sérias
limitações na capacidade dos sistemas legais de responsabilização e punição. Na verdade,
para Beck (2010), é a ciência que assume centralidade na interpretação e enfrentamento
(oferecendo alternativas tecnológicas) diante desta complexidade dos riscos na modernidade
reflexiva, uma vez que ela também desponta como responsável pela degradação do ambiente
(ao impulsionar o desenvolvimento tecnológico).
É interessante observar que Beck (2010) analisa a economia política da modernidade a
partir das noções de irresponsabilidade organizada e explosividade social do perigo. O autor
considera que o Estado, incapaz de enfrentar a dinâmica capitalista e sua orientação pautada
nos riscos e na insegurança social, se esforça por negar a degradação ambiental,
empreendendo uma legislação ambiental abrangente, mas desinteressada (ou incapaz) em
atribuir responsabilidades. Dada a essa irresponsabilidade generalizada, a ineficiência dos
sistemas jurídicos-políticos constitui um mecanismo decisivo para assegurar a invisibilidade
social dos riscos em sua complexidade. Além disso, a ocorrência de problemas ecológicos
com abrangência global resulta em ameaça à estabilidade social, afetando atitudes e
comportamentos, sobretudo em decorrência de catástrofes ambientais (Chernobyl, Love Canal
etc). Assim, essa explosividade social dos perigos expõe a fragilidade do Estado em assegurar
um contexto de segurança. Em linhas gerais, em Beck (Sociedade de Risco) é a economia


66

política nas sociedades modernas, aliada a um contexto de tecnologias ameaçadoras, que


constitui a causa estrutural da degradação ambiental contemporânea.
Convém ressaltar que estes autores da teórica social clássica não observam apenas as
causas estruturais da degradação ambiental, mas, conforme defende Goldblatt (1996), eles
também contribuem para a compreensão acerca da emergência dos movimentos
ambientalistas e das políticas do ambiente na modernidade. Giddens (2003), por exemplo,
enfatiza o enfraquecimento das tradições e do sentimento pelo mundo natural decorrentes da
expansão da urbanização como origem de reivindicação pelas políticas ambientais, mas
atribui às ameaças dos riscos ambientais como principal motivação dessa política nas
sociedades globalizadas. Essa última perspectiva é também defendida por Beck (2010),
enquanto Gorz (1980) atribui a emergência das políticas do ambiente apenas ao contexto da
atuação do Estado, e Habermas (2012) permite-nos compreender o movimento ambiental
(assim como os movimentos sociais) como reação às patologias da modernidade, em que as
políticas ambientais resultam da crítica às consequências da modernidade capitalista (a
colonização do mundo da vida).
Nas análises de Giddens (2003) acerca da política na modernidade, os movimentos
ambientalistas e as políticas do meio ambiente podem ser observados como uma reação às
implicações ecológicas das sociedades industriais modernas e da globalização. Com o advento
do Estado-nação, a partir da expansão do capitalismo industrial, a reorganização espacial das
cidades foi orientada pelo trabalho, pelo mercado e pela habitação, resultando no abandono
das tradições e no afastamento em relação ao campo. Dessa forma, para Giddens (2001),
quando o espaço urbano despontou como local de experiências culturais na vida moderna, o
urbanismo enfraqueceu o sentimento pelo mundo natural. Esse rompimento com a tradição
resultou em crise cultural que, por sua vez, estimulou uma reação ao industrialismo a partir de
uma reivindicação política (movimentos ambientalistas incipientes) pelo resgate do valor
estético e moral do mundo natural.
Acerca da modernidade globalizada, Giddens (2003) observa que é a percepção acerca
dos perigos ecológicos que resulta na emergência do movimento ambientalista e nos conflitos
em torno da políticas do ambiente. Conforme o autor, o reconhecimento do impacto ambiental
da modernidade ocidental decorrente da atividade industrial e dos estilos de vida, estimulou
uma reorientação cultural de forma a (re)abrigar um envolvimento moral com o mundo
natural. Para o autor, os protestos ambientais, sobretudo empreendidos pela classe média para
denunciar os danos ambientais existentes e impedir novos danos futuros, estão sintonizados


67

com as demais reivindicações por políticas da vida em favor de uma nova estruturação social
pautada na realização pessoal e na reformulação dos modos de viver modernos.
Em Gorz (1980) não emerge uma discussão capaz de revelar acerca da política do
ambiente nas sociedades modernas (pós-industriais). Contudo, apesar de atribuir às
instituições estatais a gestão e o enfrentamento da crise ambiental, ignorando assim a
emergência do poder dos movimentos políticos contestatórios, Gorz (1985) vai defender uma
reorientação da produção e do trabalho a partir de uma perspectiva social e não apenas
econômica. Este desafio cultural, que desponta como ponto crucial em determinados
discursos do movimento ambientalista contemporâneo, consiste no estabelecimento de um
novo significado para as noções de riqueza, bem estar e consumo, de forma a minimizar a
degradação do ambiente mediante reformulação moral e cultural.
Em Habermas (1981), os movimentos sociais modernos são respostas à colonização
do mundo da vida e compreendem a percepção e o enfrentamento da patologias da
modernidade. É nesse contexto que Goldblatt (1996) vai alertar que podemos observar os
movimentos ambientalistas, assim como os demais movimentos sociais, como uma reação
crítica ao crescimento capitalista e suas drásticas consequências. Tais movimentos são
simultaneamente uma resistência à colonização do mundo da vida e uma luta por sua
descolonização, manifestada, sobretudo pelos jovens da classe média. Dessa forma, no plano
da teoria da ação comunicativa habermasiana, os movimentos ecológicos, incluindo os
partidos verdes, correspondem à uma reação à patologia da colonização do mundo da vida
que objetiva melhorias na qualidade de vida, maior participação política dos indivíduos,
respeito aos direitos humanos e ao mundo natural. Por isso os protestos e reivindicações são
direcionados ao consumo, aos processos de trabalho, à participação política e a diversos
outros aspectos da democracia colonizada e que resultam na degradação ambiental – daí a
emergência dos direitos da natureza e das gerações futuras.
Na teoria da sociedade de risco de Beck (2010) os conflitos políticos acerca do
ambiente, e também em relação aos demais riscos, são atribuídos à percepção social de que a
lógica do crescimento econômico e do desenvolvimento industrial é promotora de riscos e de
injustiças perante toda a sociedade. Assim, diante da insuficiência do Estado em atenuar a
explosividade social dos perigos característica das sociedades de risco, são os movimentos
ambientais (e também sociais) que assumem esse desafio, motivados pela percepção de riscos
presentes e futuros, e também pela sensibilidade quanto à perda da tradição. Contudo, para o
autor, a assimetria entre os avanços do conhecimento científico sobre a problemática
ambiental e a permanência da invisibilidade social da complexidade da degradação ambiental,


68

termina por enfraquecer a contestação cultural acerca da política ambiental. Mas, de uma
forma geral, para Beck (2010) é dos movimentos ambientalistas que emerge o interesse pelo
resgate das identidades e a reivindicação política por compromissos sociais mais amplos,
sobretudo tendo em vista o enfrentamento da degradação do ambiente.
Como visto, para Beck (1995) os riscos da modernidade representam um dos
principais desafios políticos contemporâneos, principalmente diante do vigor da apologia ao
desenvolvimento capitalista e da crença na capacidade do Estado e da ciência para o
enfrentamento das ameaças ecológicas. Dessa forma, o autor prescreve a democracia
ecológica, uma alternativa que atribui uma maior relevância à articulação prévia de um debate
crítico acerca dos impactos das inovações tecnológicas e das próprias decisões econômicas
nas sociedades e no ambiente. Além disso, essa alternativa também reivindica maior
democratização da ciência de forma a permitir identificar responsabilidades e avaliar
impactos ambientais decorrentes das mais diversas atividades, além de atribuir à ciência e à
justiça maior empenho perante a irresponsabilidade organizada. Convém ainda atentar que
Beck (2010) também observa as implicações da degradação do ambiente em termos de
conflitos políticos estabelecidos no interior do próprio capitalismo. Para o autor, a
intensificação dos danos ambientais nas sociedades de riscos repercutiu na economia política
industrial de forma que determinadas atividades tornaram-se inviabilizadas diante da escassez
de recursos naturais e pela alteração profunda no ambiente. Além disso, o autor observa que o
contexto foi marcado pelo surgimento de diversas novas atividades econômicas que se
consolidaram e se beneficiam da degradação ambiental, tais como a indústria da reciclagem, o
mercado farmacêutico etc.
Ao longo desta seção privilegiamos a teoria social em sua análise acerca da
degradação ambiental nas sociedades modernas de forma a compreender suas causas
estruturais a partir de diversas perspectivas. Como visto, apesar do reduzido interesse pela
relação sociedade e natureza manifestado pela sociologia clássica, seus teóricos foram
decisivos ao revelar a degradação do ambiente como consequência da estruturação social.
Portanto, foi a sociologia contemporânea que avançou de forma a compreender as causas e as
implicações desta degradação, sobretudo no contexto da modernidade, da globalização e das
sociedades de risco. Contudo, é com a emergência de uma importante sub disciplina, a
sociologia ambiental7, que tais questões se tornaram centrais na teoria social. A esse respeito,


7
De acordo com Dunlap (2000) a sociologia ambiental emergiu nos Estados Unidos, sobretudo diante da crise
energética que vigorou nos anos de 1970. A partir da década de 1990 esse campo de investigação avançou na
Inglaterra e depois em outros países do mundo. Há, contudo, sinalizações acerca das diferenças entre as


69

autores como Woodgate (2000), Cudworth (2005), Hannigan (2009), e sobretudo Dunlap
(2000), um dos fundadores da sociologia ambiental, são categóricos quando afirmam que a
disciplina sociologia negligenciou a relação entre as sociedades e seu meio físico,
manifestando interesse secundário pelas consequências ambientais da industrialização e da
urbanização.
Conforme Hannigan (2009), essa manifestação tardia do interesse sociológico pelas
causas estruturais da degradação do ambiente remonta ao final da década de 1970, quando
emergiu o campo da sociologia ambiental. O alinhamento de fatores como a expansão do
movimento ambientalista, a popularização e o crescimento de publicações científicas sobre a
degradação do ambiente, a acentuada crise energética nos Estados Unidos e os impactos
sociais decorrentes de graves acidentes ambientais (Bophal 8, Love Canal 9, Chernobyl10 ,
Three-Mile Island11 etc) que marcaram a década de 1980 foram decisivos para estimular esse
interesse sociológico, é o que assegura Dunlap (2000).
É importante ressaltar que a relevância da sociologia do ambiente reside em seu
empenho em contextualizar a problemática ecológica a partir do questionamento acerca da
responsabilidade humana, do papel da estrutura social e do poder político. Conforme Buttel
(2000), a sociologia ambiental vai esclarecer os fatores sociais que resultam na degradação do
ambiente, analisando as instituições sociais e as mudanças no ambiente. Outro ponto a ser
destacado, e que se torna evidente em White (2004), é que esse campo da sociologia, ao tratar
das questões ambientais como questões sociológicas, mostra-se relevante e revelador de como
as diferentes sociedades respondem, de forma específica, a problemáticas ambientais comuns.


correntes norte americana e a inglesa, sendo atribuída à primeira uma forte orientação empírica e política, apesar
da fraca integração à sociologia tradicional. Mais integrada à sociologia tradicional, a vertente inglesa
privilegiou um enfoque teórico. Ver mais em Dunlap (2000).
8
O desastre de Bophal, na Índia, ocorrido em 1984, desponta como uma das maiores tragédias ambientais já
ocorridas. Trata-se do vazamento em larga escola de gases tóxicos ocorrido na empresa de pesticidas Union
Carbide, de origem norte americana. Apesar da ampla dimensão desta tragédia, uma vez que as estimativas
mencionam cerca de 500 mil pessoas afetadas, com pelo menos 27 mil mortes, e também de sua causa estar
relacionada à negligência quanto à adoção de sistemas de segurança, a empresa não se posicionou de forma a
apresentar informações acerca da composição dos gases e de seus possíveis efeitos.
9
Love Canal corresponde a um dos mais graves desastres ambientais dos Estados Unidos. Essa área, situada
próximo às cataratas do Niágara, foi usada como depósito de lixo tóxico pela empresa Hooker Chemical durante
às décadas de 1940 e 1950. Após seu esgotamento a área foi aterrada, contudo, em meados da década de 1950
passou a acomodar um conjunto habitacional. Mais tarde, na década de 1970, a população passou a experimentar
uma série de distúrbios de saúde (câncer, aborto, má formação congênita, alterações no sistema nervoso etc)
decorrentes dos produtos tóxicos, então descobertos. Em 1978, a área foi finalmente evacuada e configurou um
dos mais emblemáticos casos relacionados à Justiça Ambiental.
10
Em 1986 a Usina Nuclear de Chernobil, situada na então URSS, foi palco do maior acidente nuclear da
história, tendo como provável causa a falha humana em sua operação e também erros estruturais em seu projeto.
11
Antecessor à tragédia de Chernobil, o acidente nuclear de 1979, na usina Three Mile Island, situada na
Pensilvânia, Estados Unidos, foi decorrente de falha humana.


70

De forma geral, a sociologia ambiental resultou dos esforços de William Catton e


Riley Dunlap por uma nova percepção sociológica do mundo, orientada pelo reconhecimento
da dependência do homem em relação ao meio ambiente. Esse Novo Paradigma Ecológico
surge como alternativa ao Paradigma Social Dominante que privilegiava a excepcionalidade
da espécie humana. Conforme Dunlap (2000), a partir desse enfoque a sociologia do ambiente
dedicou-se a analisar os impactos das sociedades sobre o meio ambiente e também a
influencia da natureza sobre o social, o que resultou em uma diversidade de temas de interesse
(movimento ambiental, riscos, recursos naturais etc).
Convém destacar que este novo paradigma ecológico rompe com a tradição
sociológica que privilegiava as estruturas sociais de forma a contemplar a influência da
natureza sobre as sociedades. Assim, ele traduz uma noção mais ampla de meio ambiente de
forma a acomodar um conjunto de condições que asseguram a existência humana e das
demais espécies, valorizando as interelações entre o meio físico e os seres vivos, é o que
defende Cudworth (2005). Portanto, o que favorece o avanço da sociologia ambiental e sua
relevância teórica é sua compreensão do meio ambiente como um complexo que integra o
espaço natural, o espaço social (crenças e valores culturais estabelecidos) e também a
natureza modificada pelo homem, situado como uma dentre as várias outras espécies. Trata-se
de uma tentativa de superar a oposição entre sociedade/cultura e natureza/meio ambiente no
pensamento sociológico. Nesse contexto, o relatório Meadows12 exerceu uma forte influência
na sociologia do ambiente, aliado a percepção da modernidade como um contexto marcado
por novas formas de degradação e de alcance cada vez mais amplo, e da dinâmica social
como ameaçadora ao ambiente e ao próprio homem. É por isso que a sociologia ambiental
desponta como uma perspectiva crítica que traduz um ambientalismo reflexivo
(WOODGATE, 2000) dotada de um forte sentido de engajamento político (BUTTEL, 2000).
Diferentemente de outros campos científicos, a sociologia do ambiente observa essa
problemática a partir da relação entre cultura, política e economia, denunciando a degradação
ambiental como consequência direta da organização social vigente – valores, crenças,
motivações, interesses, regulamentação sobre o uso dos recursos etc. Dessa forma, a luz deste
campo sociológico, os desastres e as ameaças ecológicas são relacionados às decisões


12
Trata-se de um relatório publicado em 1972, elaborado por especialistas do Instituto de Tecnologia de
Massachusetts (MIT) a pedido do Clube de Roma, uma associação integrada por empresários, cientistas e lideres
governamentais. Em síntese, o relatório sinalizava acerca dos problemas relacionados ao desenvolvimento,
ressaltando a incapacidade da Terra suportar a demanda por recursos naturais e energéticos, além do aumento
das externalidades da produção (poluição, degradação ambiental etc) e do crescimento populacional. Usualmente
o relatório é referenciado como Relatório Meadows, em função de sua coordenadora Donella Meadows. Ver
mais em Meadows, Meadows e Randers (1972).


71

políticas, sejam eles eventos explícitos (derramamento de petróleo, poluição de rios,


inundações etc), sejam eles invisíveis (mudança climática, poluição do ar, contaminação dos
solos etc). Diante do exposto, apoiamo-nos em McCarthy e King (2009) para ressaltar as
principais contribuições da sociologia ambiental para o debate e o enfrentamento da crise
ecológica: nas sociedades modernas são as decisões políticas que legitimam os interesses pelo
meio ambiente, sobretudo aqueles que resultam na sua degradação; as mudanças climáticas e
diversos outros problemas ambientais devem ser percebidos como fenômenos antropogênicos
que resultam do privilégio pelo interesse econômico sobre as decisões sociais.
A seguir, recorremos às diferentes abordagens teóricas desenvolvidas no campo da
sociologia do ambiente para compreendermos a problemática ambiental contemporânea,
sobretudo suas causas estruturais. A diversidade de perspectivas, muitas vezes conflitantes
entre si, é reveladora das diferentes capacidades de transformação do ambiente que decorrem
dos mais diversos interesses e necessidades sociais. A partir de Woodgate (2000), Hannigan
(2009), White (2004), McCarthy e King (2009), Dunlap (2000), Cudworth (2005), Buttel
(2000), Schnaiberg e Gould (2009), Redclift e Woodgate (2000), Cable e Shriver (2009),
Irwin (2000), Foster (2009) e Mol (2000) observamos um conjunto significativo de
contribuições dos enfoques teóricos da sociologia do ambiente, especificamente no que diz
respeito às seguintes abordagens: ecologia humana; economia política; modernização
ecológica; sociedade de risco; construcionismo social; e realismo crítico.
A ecologia humana foi uma das primeiras perspectivas sociológicas dedicas a
compreender a degradação ambiental. Conforme Hannigan (2009), ela resulta da concepção
de uma ecologia social que considera a especificidade cultural do homem como condição
diferenciada para o exercício de seu domínio da natureza. Nessa concepção ecológica, o meio
ambiente atende a três necessidades gerais das sociedades: ele constitui um espaço para viver,
desponta como depósito de recursos e também como depósito dos resíduos decorrentes das
atividades humanas. Sob esta abordagem, a degradação do ambiente decorre do conflito entre
essas três funções, das implicações mútuas que elas estabelecem. Para o autor, não são
privilegiadas considerações acerca das relações de poder nem dos valores culturais que
implicam em tal contexto. Cudworth (2005) ressalta que a ecologia humana é uma herança do
darwinismo social e que apenas acentua a influência do ambiente sobre a sociedade.
A perspectiva da economia política assinala a problemática ambiental como
consequência do empenho da estrutura social e suas instituições em assegurar o crescimento
econômico contínuo. Defensores desta perspectiva, Schnaiberg e Gould (2009) reconhecem
que a lógica de acumulação capitalista é incompatível com interesses ecológicos, destacando


72

que a necessidade de expansão dos lucros, apoiada no aumento da produção e da eficiência


industrial, resulta na intensificação do consumo de recursos naturais e também na produção de
externalidades cada vez mais nocivas ao ambiente e às sociedades. Ainda conforme os autores,
é a partir do atuação do Estado em privilegiar o crescimento econômico que o capitalismo
industrial desponta como causa estrutural da degradação ambiental, sendo a produção
industrial o instrumento direto para tal projeto (causa direta da degradação).
Hannigan (2009) também observa que os interesses capitalistas são conflitantes com
as capacidades de suporte dos diversos ecossistemas às interferências que lhes são infligidas.
Nesse contexto, os Estados capitalistas industriais são confrontados com a dialética que
decorre da necessidade de assegurar crescimento econômico e ampliação da produção, mas
também de regular os impactos dessas atividades sobre o ambiente. Contudo, Hannigan
(2009) é categórico ao reconhecer que para não interferir no desenvolvimento econômico, a
atuação do Estado para enfrentar a degradação do ambiente é mínima. Portanto, conforme
revela Buttel (2000), é o crescimento econômico que orienta as demandas políticas de forma a
assegurar a expansão capitalista. No capitalista competitivo o Estado assegura suas receitas
tributárias e a manutenção do poder político subsidiando os custos sociais e ambientais para
garantir ampliação da produção industrial privada. Assim, a economia capitalista pode ser
compreendida como um sistema social de produção que atende aos interesses hegemônicos e
que orientada as estruturas sociais vigentes.
Diante da centralidade na produção e da autorregulamentação do mercado, a natureza
é reduzida a um conjunto de recursos a ser explorado, e as externalidades da produção são
observadas como sacrifícios necessários à manutenção do desenvolvimento, conforme
defende Foster (2009). Consequentemente, o capitalismo desponta como sistema que
reorienta drasticamente as relações não somente entre os homens, mas destes com o mundo
natural. Além disso, como vimos anteriormente, ele não internaliza os custos ambientais na
produção, repassando-os para a sociedade em geral, de modo a assegurar o predomínio dos
interesses capitalistas e sua incessante inovação tecnológica sem internalizar interesses
ambientalmente favoráveis.
Foster (2009) também destaca que a economia política mundial é marcada pelo
predomínio de interesses de um grupo reduzido de corporações e que as inovações
tecnológicas não se restringem à produção industrial, pois também se destinam a incrementar
a produtividade e o lucro em atividades capitalistas agrícolas, conforme evidenciada pela
modernização da agricultura – que também resultou em graves consequências ambientais.
Nesse sentido, o pós-guerra (Segunda Guerra Mundial) foi um marco da emergência de um


73

sistema de produção extremamente prejudicial ao ambiente, sobretudo diante da expansão da


indústria petroquímica, automobilística e da biotecnologia. Assim, tanto a indústria como o
agronegócio foram contemplados por tais inovações em busca da ampliação de sua eficiência,
de forma que ambos representam causas diretas da degradação ambiental, instrumentalizados
pelo capitalismo.
Em McCarthy e King (2009) observamos que o enfoque da economia política
apresentado por Allan Schnaiberg, em sua obra The Environment: from Surplus to Scarcity,
de 1980, estimulou várias perspectivas eco socialistas. Estas, fortemente influenciadas por
uma orientação marxista, atribuem ao capitalismo a responsabilidade pela degradação do
ambiente, ressaltando que a hierarquia social pautada em classes, raças e gêneros, também se
reflete na relação das sociedades industriais modernas com o meio ambiente. Conforme
defendem os autores, tais discussões resultaram em uma perspectiva ambiental socialmente
crítica que ressaltou a necessidade de ampliação da democracia de forma a assegurar uma
maior participação da sociedade nas decisões sobre a economia.
Em linhas gerais, a relevância da perspectiva da economia política consiste em sua
denuncia às contradições do capitalismo, o que, segundo Buttel (2000), traduz uma nítida
influência neo malthusiana e neo marxista. Ela também nos permite observar a globalização
como um contexto de ampla competição no capitalismo internacional, em que os interesses do
mercado se sobrepõem aos interesses das nações e das sociedades. Assim, a degradação do
ambiente é um reflexo do crescimento da força do mercado sobre os atores políticos.
A perspectiva da modernização ecológica pode ser observada como uma resposta a
abordagem anterior, pois valoriza a capacidade do capitalismo internalizar o meio ambiente
nos processos de produção e consumo. Há, conforme destaca Buttel (2000), uma percepção de
que nem toda interferência no ambiente é nociva, o que resulta na valorização das inovações
tecnológicas em sua capacidade de promover intervenções ecologicamente benéficas. É
importante observar que é com a publicação do relatório Brundtland13 que a modernização
ecológica assume uma relevância sociológica significativa. Em linhas gerais, no contexto da
modernidade reflexiva, a modernização ecológica é reveladora da influencia da degradação
ambiental na estrutura social, reorientando seus sistemas de produção (MOL, 2000).


13
O Relatório Brundtland é, na verdade, o documento intitulado Nosso Futuro Comum, elaborado pela
Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, promovida pela ONU e foi apresentado em 1987.
O documento é resultado de um debate acerca da incompatibilidade entre os padrões de produção e consumo
então vigentes, propondo o desenvolvimento sustentável como alternativa capaz de conciliar crescimento
econômico e preservação ambiental. Essa comissão teve como líder a primeira-ministra da Noruega Gro Harlen
Brundt.


74

De acordo com Mol (2000), a modernização ecológica revela como as sociedades


industriais enfrentam a crise ambiental contemporânea, considerando que elas são capazes de
enfrentar e minimizar a degradação ambiental, sobretudo a partir da ciência e da tecnologia
moderna. Trata-se de uma valorização da relação entre tecnologia, economia e Estado para
implementar uma reforma ecológica na economia (economia ecológica), uma vez que a
articulação entre mercado, sociedade e Estado é a base da reforma ambiental defendida pela
ecologia modernizadora. Mol (2000) adverte que apesar do papel relevante do Estado na
formulação de uma política ambiental preventiva, sob a perspectiva da modernização
ecológica, a internalização do ambiente na economia é um diferencial competitivo que
emerge do ampliação do mercado verde. Além disso, há também uma forte valorização das
contribuições dos movimentos ambientalistas para orientar as transformações ecológicas
necessárias. Contudo, adverte que é o mercado que desempenha papel fundamental na
reestruturação ambiental, promovendo inovações tecnológicas (processos e produtos)
ambientalmente favoráveis, reduzindo tanto a demanda por recursos naturais como também a
emissão de externalidades.
Para Hannigan (2009), na modernização ecológica o desenvolvimento sustentável
desponta como possibilidade de manutenção da lógica capitalista (produção e consumo) a
partir da modernização das tecnologias produtivas, de forma a contemplar uma produção
ambientalmente favorável. Da mesma forma que Mol (2000), Hannigan (2009) ressalta que é
marcante o otimismo tecnológico e a valorização da atuação do mercado em promover um
capitalismo ambientalmente responsável. Ambos alertam que esta abordagem negligencia
acerca dos entraves políticos e sociais para a promoção da sustentabilidade, e também ignora
as necessidades de transformações estruturais na sociedade de forma a enfrentar a degradação
do ambiente, uma vez que as pressões sociais e do Estado são cruciais para viabilizar uma
política de aprimoramento tecnológico.
Mas, conforme já observamos, o principal objetivo ressaltado pela modernização
ecológica, conciliar expansão produtiva e interesses ambientalmente favoráveis, desponta
como um paradoxo nas sociedades capitalistas industriais modernas (GORZ, 2013). A esse
respeito, Redclift e Woodgate (2000) acentuam ainda mais as contradições e limitações que
constituem o desafio da economia política apesentado por Hannigan (2009). Os autores são
categóricos ao assinalar que a economia ecológica (o mercado verde) não resultou em
diferencial competitivo entre as corporações, pois não se traduziu em estímulo para a
reestruturação tecnológica a partir do próprio mercado, comprometendo a capacidade e às


75

pressões em favor da internalização na economia global das externalidades da produção de


forma a conciliar interesses ambientais e econômicos.
De forma geral, torna-se evidente que sem a ação do Estado para articular um contexto
de regulamentação ambiental as questões ambientais dificilmente serão internalizadas na
produção capitalista. Também há obstáculos de outra ordem que não dizem respeito apenas à
inovação tecnológica tais como: a reprodução mundial de padrões sociais de consumo e
produção de países europeus; a regulamentação ambiental confinada em setores específicos
de produção; a incapacidade da ciência, do Estado e da economia assegurar um contexto de
segurança ambiental. Assim, Redclift e Woodgate (2000) advertem que a internalização do
ambiente na economia somente ocorrerá se for traduzida em vantagens mercadológicas,
sobretudo em ganhos econômicos. Dado ao caráter reducionista dessa perspectiva, McCarthy
e King (2009) consideram que o enfrentamento da degradação ambiental defendido pela
modernização ecológica é bastante contestado pelos movimentos ambientalistas.
A abordagem teórica da sociedade de risco, discutida anteriormente recorrendo à obra
de Ulrich Beck, é apontada por Mol (2000) como um desdobramento sociológico da
perspectiva da modernização ecológica. Mas, para Hannigan (20009) a valorização da
abordagem da sociedade de risco na sociologia ambiental decorre de seu reconhecimento da
necessidade dos Estados se empenharem em assegurar a proteção ambiental nas sociedades
modernas, marcadas pela intensa produção de perigos e ameaças que traduzem as limitações
institucionais diante dos impactos tecnológicos. A perspectiva da sociedade de risco identifica
não somente a emergência de uma forte percepção de riscos ambientais na modernidade, mas
também o enfraquecimento da racionalidade científica decorrente de uma forte crítica ao
pregresso econômico e material.
Diferentemente de Beck, em que a economia política torna-se a causa estrutural da
degradação ambiental, a leitura da sociedade de risco na sociologia ambiental, conforme
observamos em Irwan (2000), vai ressaltar que é a ciência e as tecnologias de produção que
despontam como causas estruturais da insegurança, das ameaças e dos riscos ecológicos nas
sociedades modernas. Além disso, os estilos de vida ocidentais também são destacados, uma
vez que eles manifestam a percepção do ambiente que vigora na lógica capitalista – a natureza
utilitária, fonte de recursos e destino das externalidades da produção industrial.
Convém que nesta abordagem teórica, os riscos das sociedades modernas remontam
ao final da Segunda Guerra Mundial, quando fora intensificado o uso de produtos químicos,
de metais pesados e de materiais radioativos. Além disso, evidencia-se que durante a Guerra
Fria o empenho dos especialistas em promover inovações tecnológicas resultou no


76

desenvolvimento da indústria petroquímica e nuclear, amplamente dependentes de substâncias


de elevado teor de nocividade ao ambiente e à saúde humana (mercúrio, cromo, níquel, urânio
etc). Dessa forma, Cable, Schiver e Mix (2009) reiteram o papel da ciência para a
constituição desse contexto de riscos, ressaltando que os especialistas assumiram um papel
preponderante nas decisões sobre as questões ambientais, sobretudo diante do empenho da
ciência e da tecnologia em assegurar crescimento econômico. Dada a essa centralidade dos
especialistas, e diante da complexidade dos riscos e das ameaças ecológicas, as sociedades
modernas são analisadas como sendo dotadas de amplas restrições às informações acerca do
ambiente, o que termina por ofuscar a capacidade do indivíduo identificar e avaliar os riscos
aos quais se encontra submetido. Nesse sentido, conforme defende Irwan (2000), o principal
desafio das sociedades de risco reside na promoção de sua reorientação estrutural para o
enfrentamento de forma a superar a fragilidade da democracia no que diz respeito às decisões
acerca das causas estruturais da degradação ambiental – a tecnologia e sua aplicação sob a
orientação capitalista.
Sobre o desenvolvimento dessa abordagem no campo sociológico, McCarthy e King
(2009) ressaltam que ao abordar ciência e tecnologia como responsáveis pelos riscos da
modernidade, a teoria da sociedade de risco estimulou interesses pela compreensão das
consequências dos riscos para a saúde humana, dedicando-se a analisar a influência da
degradação ambiental sobre as sociedades. Assim, reconhecem que, nesse contexto de riscos,
é cada vez mais significativa a participação de indivíduos não cientistas na produção e no uso
de dados acerca da problemática ambiental para as quais se encontram expostos. Sobretudo,
em decorrência desse comprometimento da saúde pública, nas sociedades de risco os
movimentos ambientais estão cada vez mais engajados e influentes na internalização das
questões ambientais na esfera política. Contudo, essa perspectiva parece negligenciar os
conflitos de interesses capitalistas diante dos riscos e assim supervalorizar as possibilidades
de reformulação da política e da ciência em favor de um democracia ambientalmente mais
favorável e em sintonia com os anseios de segurança das sociedades, conforme sinaliza
Hannigan (2009).
Por fim, observamos a degradação do ambiente a partir do construcionismo social,
uma perspectiva da sociologia tradicional dedicada à analise dos problemas sociais que se
tornou amplamente influente na sociologia ambiental recente. Para Hannigan (2009) esta
abordagem se orienta menos pelas evidencias físicas da degradação ambiental, privilegiando,
ao invés disso, analisar o empenho, as estratégias e o sucessos dos mais diversos atores
sociais na definição e enfrentamento da problemática ecológica. Conforme o autor, o


77

construcionismo social além de ser uma perspectiva teórica para a análise da degradação
ambiental nas sociedades modernas, é também uma abordagem relevante à compreensão das
disputas políticas sobre tal problemática.
Na visão construcionista o meio ambiente, sua degradação e as relações com ele
estabelecidas são concebidos como uma construção social que se desenvolve no plano do
discurso e que manifesta os interesses sobre o mesmo. Conforme Dunlap (2000), a noção de
natureza é uma construção humana que ultrapassa sua objetividade material e sua
independência em relação às sociedades. Muito embora, o autor reconheça que abordagens
variantes mais recentes já atribuem um caráter realista aos problemas ambientais, assumindo
investigações empíricas acerca da degradação ambiental como base para as análises das
disputas políticas e discursivas acerca do ambiente. Nesse sentido, o construcionismo social
se tornou mais cauteloso, menos interessado por compreender as causas estruturais da
degradação ambiental, mas em analisar os atores sociais e as disputas pela legitimação de suas
representações acerca do ambiente e de sua problemática objetivamente manifestada
(DUNLAP, 2000).
Assim, no construcionismo social a degradação do ambiente está relacionada à
componente cultural das sociedades e suas diversas configurações no espaço e tempo.
Conforme Cudworth (2005), sob essa perspectiva sociológica, a crise ecológica é
compreendida como um conjunto de disputas políticas pelo ambiente, sobretudo marcadas
pelo caráter ideológico das mais diversas construções discursivas. Portanto, a partir do
construcionismo social a problemática do ambiente traduz as percepções dos mais diversos
atores e forças sociais (vítimas e responsáveis) acerca da degradação, que resultam, por sua
vez, em disputas sociais pela contestação legal e pela reivindicação política para esse
enfrentamento (WHITE, 2004).
Rikoon (2009) valoriza o construcionismo social como aporte teórico relevante à
sociologia do ambiente, considerando que nas sociedades capitalistas modernas prevalece o
poder político e econômico, de onde decorrem os mais diversos conflitos de interesses. Assim,
é importante observar que a transformação material da natureza atende aos interesses
hegemônicos pelos mais diversos recursos naturais e que tais interesses traduzem os sistemas
de valores culturais de determinados grupos sociais - suas construções discursivas a respeito
do meio ambiente. Portanto, conforme o autor, as disputas pelo ambiente, seja para assegurar
sua proteção, seja para legitimar sua apropriação, são conflitos de interesses ambientais que
traduzem conflitos da esfera social e econômica. Nesse sentido, o que se torna evidente é que
esta perspectiva concebe a degradação e os conflitos ambientais como disputas pela validação


78

de argumentos sobre o mundo natural, em que o poder dos atores que disputam legitimar suas
representações, percepções e interesses sobre o ambiente torna-se mais relevante do que a
própria “interferência objetiva e material”.
É importante reconhecer a oposição entre o construcionismo social e o realismo crítico,
perspectiva fundante do campo da sociologia ambiental. De uma forma geral, o realismo
crítico, apoiado no novo paradigma ecológico, concebia o meio ambiente como uma realidade
material dotada de especificidades e que exercia influência sobre as sociedades, embora
também suscetível a suas interferências. Conforme Cudworth (2005), essa percepção dialética
entre sociedade e natureza ressaltava a ampla capacidade das sociedades interferirem e
comprometerem os ecossistemas. Neste caso, para essa perspectiva, interessavam não
somente as relações de poder e legitimação de discursos sobre o ambiente e sua degradação,
mas as consequências objetivas destes sobre o mundo natural, o que terminou por denunciar o
capitalismo industrial como causa estrutural da degradação do ambiente. Com o
construcionismo social, conforme observado, apesar de sua recente aproximação com esta
premissa de existência material do mundo natural e de sua degradação, fora relegada a ideia
de natureza como um conjunto físico e objetivo de elementos, em favor de uma percepção do
ambiente enquanto um conjunto de narrativas culturais (CUDWORTH, 2005). Dessa forma, o
prejuízo das atividades humanas sobre o mundo natural torna-se menos relevante do que as
percepções e as disputas sociais em torno das questões ambientais.
Franklin (2002) defende que mais produtivo do que se deter no conflito entre estas
duas abordagens acerca da compreensão da degradação ambiental, é perceber que são ambas
capazes de oferecer relevantes contribuições ao debate ambiental contemporâneo. Enquanto o
realismo crítico orienta as preocupações ambientalistas, manifestando um forte apelo
emocional diante da destruição material da natureza em decorrência da ação social, tornando-
se decisivo para reivindicar uma ética ambiental, o construcionismo social, ao privilegiar a
degradação ambiental enquanto disputas pelas construções de significados que orientam os
valores e as atitudes sobre o mundo natural, torna-se revelador do papel da mídia, da ciência,
dos movimentos ambientalistas e das mais diversas instituições no debate político em torno
das questões ecológicas.


79

2 COMUNICAÇÃO AMBIENTAL E DISCURSOS SOBRE A NATUREZA

Neste capítulo objetivamos empreender uma compreensão acerca da representação do


ambiente no contexto da Comunicação Ambiental. Para tanto, desdobraremos o debate
situando o campo e a prática da comunicação ambiental a partir de Jurin, Roush & Danter
(2010) e Cox & Depoe (2015), destacando problemas e questões que circunscrevem o tema
do meio ambiente no jornalismo, apoiando-se nos trabalhos de Corbett (2006), Hansen (2010),
Hannigan (2009), Dryzek (2004), Cox (2010), entre outros, na publicidade (CORBETT, 2006;
HANSEN, 2010) e também no cinema, (INGRAM, 2010; MACDONALD, 2004; IVAKHIV,
2008). Ao final do capítulo, contemplamos os discursos ambientais a partir de recortes
tipológicos de Dryzek (2004) e Corbett (2006), os quais são observados a partir das
perspectivas discursivas de Fairclough (2001) e Maingueneau (1984).

2.1 Comunicação Ambiental: considerações sobre o campo e a prática

Conforme Cox e Depoe (2015), a Comunicação Ambiental é uma disciplina recente


que vem se desenvolvendo como uma área particular de interesse na comunicação, sobretudo
motivada por estudos que emergiram nas décadas de 1970 e 1980, nos Estados Unidos e na
Europa, dedicados a compreender a relação da mídia com questões acerca do meio ambiente.
De acordo com Cox (2010), esse campo emergiu a partir das pesquisas na área da retórica,
nomeadamente em estudos sobre conflitos pela apropriação do mundo natural e discursos1 de
grupos ambientalistas. Em seguida, sua expansão contemplou pesquisas acerca do papel da
ciência, da mídia e da indústria nas questões relativas à saúde e à segurança da sociedade,
com forte interesse pela comunicação de risco 2 e pela construção de uma imagem
institucional ecologicamente favorável.
Nesse contexto, o campo da comunicação ambiental se consolidou em torno da
problemática da construção simbólica da natureza e do meio ambiente, e das relações
ideológicas ai estabelecidas, manifestando, desde então, uma perspectiva normativa em favor


1
Neste trabalho, adotamos a noção de discurso como “[...] o uso de linguagem como forma de prática social e
não como atividade puramente individual ou reflexo de variáveis situacionais.” (FAIRCLOUGH, 2001, p.90).
Assim, há uma compreensão de que a significação construída no discurso deve ser intersubjetiva, fazer sentido
no contexto social. Na seção relativa aos discursos ambientais desenvolvemos acerca desta perspectiva.
2
A Comunicação de Risco é observada por Cox (2010) como a área da comunicação ambiental que contempla
os alertas e avisos técnicos sobre estratégias de comunicação de ameaças à saúde, mas também os estudos sobre
a compreensão dos riscos na percepção pública.


80

de uma maior integração entre homem e natureza e do enfrentamento da problemática


ambiental, conforme revelam Cox e Depoe (2015). Seu crescente interesse por questões
relativas aos discursos ambientais dominantes, sua reprodução e contestação, e também pelos
efeitos da comunicação ambiental na audiência (relação entre sistemas de valores e crenças
com ações sobre o ambiente), resultou em significativa ampliação do campo (estudos de
comunicação de risco, de tradições ambientais de povos indígenas e orientais, de discursos
ambientais etc). Essa diversidade de interesses traduziu o principal objetivo da comunicação
ambiental: analisar o papel de produção simbólica na constituição de nossa percepção acerca
da natureza e na orientação das relações que estabelecemos sobre o mundo natural.
Jurin, Roush e Danter (2010) sintetizam uma relevante cronologia acerca da
configuração do campo de investigação em comunicação ambiental, recorrendo a um contexto
ainda mais remoto. Conforme os autores, as raízes da comunicação ambiental se encontram
nos primeiros escritos que comunicaram sobre o meio ambiente, mesmo não sendo
produzidos por estudiosos e especialistas dessa área. Portanto, são trabalhos precursores que
já encaminhavam as primeiras questões relativas a esse contexto, assunto ou objeto de
interesse. Assim, os escritos de Henry David Thoreau, John Muir, Gifford Pinchot, Roosevelt
e Aldo Leopoldo são reconhecidos como importantes análises sobre a relação entre os
americanos e os recursos naturais dos Estados Unidos, sobretudo de forma a orientar decisões
políticas motivadas pela preocupação com o meio ambiente – um traço comum entre esses
autores, ambos empenhados em assegurar sua conservação.
Nessa lógica, observamos que as origens da comunicação ambiental estão assentadas
em cinco principais tipos de textos: os escritos sobre a natureza, realizados por John Muir e
Thoreau, cujas descrições das novas terras descobertas (paisagens, animais e todo tipo de
eventos naturais) se constituem como os primeiros vestígios da comunicação ambiental; os
escritos sobre viagens e recreação ao ar livre que se popularizam em diversos jornais durante
os processos de migração nos Estados Unidos (a corrida para o Oeste); os escritos científicos
do século XIX, também no contexto dos Estados Unidos, visando à popularização da ciência,
sobretudo do conhecimento sobre o mundo natural; as reportagens sobre assuntos públicos
abrigadas no jornalismo investigativo como força de mudança social (poluição nas cidades,
explosão demográfica etc); publicações editadas por ativistas ambientais e orientadas a
exercer pressão política, a exemplo de David Brower3. Evidencia-se, dessa forma, que o


3
David Brower foi um dos mais influentes ambientalistas contemporâneos. Sua atuação a frente do Sierra Club,
uma organização ambiental criada por John Muir, foi decisiva para a consolidação do movimento ambientalista
moderno. Brower foi fundador da rede global de ativismo ambiental Amigos da Terra (Friends of the Earth) e do


81

discurso da comunicação ambiental está, desde a sua origem, bastante vinculado ao campo do
jornalismo impresso.
Além desse contexto remoto, Jurin, Roush e Danter (2010) destacam os esforços de
autores contemporâneos que contribuíram diretamente para a constituição do campo de
investigação da comunicação ambiental: a publicação do livro Primavera Silenciosa4, de
Rachel Carson, em 1962; a divulgação de fotos da Terra vista a partir da nave Apollo em
1968, e que motivou à metáfora da nave terra; o artigo publicado por Shoenfeld5 em 1969,
lançando o termo comunicação ambiental; os estudos sobre mídia de massa e comunicação
ambiental publicados em 1973, a exemplo do artigo elaborado por Gerhart Wiebe 6 ; o
surgimento da Environmental Media Association (EMA)7, em 1989; a criação do Journal of
Nature and Culture, em 2007.
É importante observar que, embora possamos reconhecer essas contribuições, é
somente nas décadas de 1970 e 1980 que se dá a emergência da comunicação ambiental,
enquanto a década seguinte assegura sua expansão, sobretudo com a proliferação de estudos
sobre jornalismo e a comunicação de massa em sua influência nas percepções e atitudes


Earth Island Institute, uma organização dedicada a apoiar projetos de cunho ambiental ao redor do mundo.
Brower é considerado com um dos pioneiros no uso da mídia na comunicação acerca da conservação ambiental e,
devido ao seu intenso ativismo, foi duas vezes indicado ao Prêmio Nobel da Paz. Ver mais em
www.browercenter.org, www.foe.org e www.earthisland.org.
4
Nesta obra emblemática, Rachel Carson denuncia os impactos ambientais decorrentes do uso de pesticidas
químicos na agricultura, nomeadamente aqueles compostos por DDT (Dicloro-Difenil-Tricoroetano). A autora
contempla esta discussão desenvolvendo uma fábula em que o uso de pesticidas em uma determinada
comunidade resultou na contaminação do ambiente de tal forma que as flores não surgiram na primavera. Essa
fábula é, portanto, pano de fundo para o desenvolvimento da obra que passa a se orientar por dados científicos.
No centro de sua obra esta o questionamento acerca do poder do homem em modificar a natureza, quando
relaciona o uso de pesticidas à contaminação dos recursos hídricos, ao desequilíbrio das cadeias alimentares e
também à interferência no processo de seleção natural, além de atingir a saúde humana. Dai resulta sua defesa
pelo uso de soluções biológicas. De forma geral a autora teve papel relevante no estímulo ao ambientalismo
moderno, revelando as relações de poder em suas consequências ambientais. Ver mais em Carson (1969).
5
Clarence A. Schoenfeld foi editor e fundador do Journal of Environmental Education, cuja edição inaugural
foi publicada em 1969. Ao lançar mão do termo comunicação ambiental, Schoenfeld ressaltava a capacidade da
comunicação despertar sensibilidade e envolvimento ambiental, ou seja, atuar na educação acerca do meio
ambiente e sua problemática. Ver mais em Jurin, Roush e Danter (2010).
6
O artigo em tela é denominado de Mass media and man’s relationship to his environment e foi publicado no
periódico Journalism and Mass Communication Quarterly, dedicado à pesquisa em jornalismo e comunicação
de massa. Nele, Wiebe ocupa-se da representações do meio ambiente na cobertura noticiosa revelando haver
uma incapacidade da mídia em promover uma interelação entre informação e ação, uma vez que o ambiente é
comumente representado como algo externo e alheio, desprovido de implicações na constituição de sua
identidade e individualidade.
7
A Environmental Media Association (EMA) é uma organização sem fins lucrativos criada por Cindy Horn
(atriz), Alan Horn (atual presidente dos estúdios Disney), Lyn Lear (ativista ambiental) e Norman Lear (roteirista
e produtor), em 1989, com o objetivo de estimular, na indústria do entretenimento, a produção de obras capazes
de despertar a consciência ambiental na audiência. Anualmente, a organização realiza o EMA Awards, uma
premiação que valoriza personalidades, produções audiovisuais e musicais que comunicam relevantes
mensagens ambientais em seu conteúdo. Além disso, ela também atribui o EMA Green Seal Awards, um “selo
verde” às produções e corporações que adotam práticas ambientais em seus processos de produção. Ver mais em
www.green4ema.org .


82

públicas. É também nesse período que diversas conferências e fóruns sobre a comunicação
ambiental se proliferam, principalmente na internet. Para Cox (201), o aumento no número de
publicações e o surgimento de diversas associações envolvendo pesquisadores, a exemplo da
Society of Environmental Journalist, em 1990, foram cruciais para estimular a realização de
uma série de conferências dedicadas à comunicação ambiental. A International
Environmental Communication Association (IECA)8, criada em 2011, constitui um marco
relevante do alcance global deste campo de investigação.
Jurin, Roush e Danter (2010) observam que, durante a década de 1990 houve um
crescimento exponencial do campo de investigação em comunicação ambiental, estimulado,
sobretudo, pela celebração do primeiro Dia da Terra9. Ainda de acordo com os autores, é
possível perceber três ciclos de evolução do discurso do meio ambiente que acabaram
trazendo contributos para a constituição da comunicação ambiental: o primeiro ciclo (1969 –
1974), marcado por protestos sociais e pela emergência das pressões por uma legislação
antipoluição e em favor da gestão ambiental na indústria; o segundo (1989-1994), em função
da retomada de interesse pelas questões ambientais, refere-se à emergência de movimentos
ambientais em celebração dos 20 anos do Dia da Terra e da realização da Conferência
ECO92; e, finalmente, o terceiro ciclo (a partir de 2002), caracterizado pela consagração das
questões ambientais na pauta política e midiática, pela expansão das publicações em
comunicação ambiental, e pela criação de um Índice Ambiental10 que abriga sua catalogação.
Face ao exposto, observamos que foi na primeira década do século atual que o campo
da comunicação ambiental assumiu uma maior diversidade e complexidade de assuntos e

8
A IECA é uma associação criada em 2011 e que resultou dos desdobramentos da Conferência em
Comunicação e Meio ambiente (COCE - Conference on Communication and Environment), realizada em 1991.
Atualmente ela congrega a ECN (Environmental Communication Network), uma comunidade de pesquisadores,
ativistas e profissionais relacionados à comunicação ambiental, a COCE, que tem periodicidade bienal e o
periódico Environmental Communication: A Journal of Nature and Culture. Em linhas gerais, a IECA objetiva
promover interação e colaboração entre seus membros de forma a estimular pesquisas e práticas em
comunicação ambiental capazes de enfrentar as suas diversas problemáticas. Ver mais em http://theieca.org.
9
O Dia da Terra, comemorado no dia 22 de abril, foi celebrado como uma data nacional nos Estados Unidos,
no ano de 1970, despontando como marco simbólico do movimento ambientalista moderno. Ela resultou do
empenho do então senador Gaylord Nelson, tendo como inspiração os movimentos contra culturais estudantis
anti-guerra deste período, estimulado pelo vazamento de óleo ocorrido na Califórnia em 1969. Sua campanha
culminou com a adesão de cerca de 22 milhões de pessoas nos EUA, quando o primeiro Dia da Terra foi na
verdade um grande protesto em favor da sustentabilidade do Planeta. A consequência imediata deste protesto foi
a criação da Agência de Proteção Ambiental (EPA). A partir de 1992 ele passou a ser celebrado em âmbito
global, estimulando, sobretudo, práticas de reciclagem. Mais tarde, em 2009, a Organização das Nações Unidas
(ONU) adotou esta data como o Dia Internacional da Mãe Terra, no sentido de destacar a necessidade de atuação
coletiva frente as problemáticas ambientais. Ver mais www.earthday.org/earth-day-history-movement.
10
Conforme os autores, trata-se de um banco de dados relativo às publicações sobre o meio ambiente, as quais
são classificadas a partir dos mais diversos assuntos (agricultura, energia, tecnologia ambiental, legislação
ambiental, comunicação ambiental etc). Este índice de classificação é adotado pela EBSCO Information Services,
um dos principais agregadores de periódicos, nomeadamente em sua base de dados Environmental
Knowledgebase OnLine.


83

abordagens. Novas questões e interesses de investigação foram incorporados, dentre eles, os


discursos sobre alimentação, mudanças climáticas, retórica ambiental visual, binômio
cultura/natureza (COX, 2010; COX & DEPOE, 2015). Conforme os autores, a problemática
sobre as mudanças climáticas, dentre essas questões, se constituiu como um campo específico
de investigação, já que se tornou um tema recorrente nos meios de comunicação, passando a
ser um campo também bastante estudado, cujo intuito de um modo geral, é entender a sua
apropriação pela audiência. Entretanto, os estudos acerca das representações visuais do meio
ambiente apenas se tornariam uma área relevante a partir do final dos anos 2000, embora
antes já manifestem uma diversidade de interesses - imagens da natureza em anúncios
publicitários, em programas de televisão, no cinema, entre outros.
Considerando a expansão e diversificação do campo, Cox (2010) sistematiza a
comunicação ambiental em sete grandes áreas de interesse: Retórica e Discursos Ambientais -
área precursora dedicada aos modos de persuasão e às mudanças nos discursos ambientais
dominantes; Mídia e Jornalismo Ambiental - ocupa-se das representações da natureza e da
problemática ambiental na mídia e dos seus efeitos na atitude pública (área na qual se
concentra o trabalho em questão); Participação pública nas decisões ambientais - estudos
sobre as agências governamentais e a participação pública (comunidade, cientistas,
ambientalistas etc) nas decisões sobre o meio ambiente; Marketing Social e campanhas de
defesa ambiental – focada no papel da educação pública e das campanhas ambientais na
mudança de comportamento; Colaboração Ambiental e resolução de conflitos - observa a
participação pública na resolução de disputas ambientais; Comunicação de risco – estudos
sobre estratégias de comunicação de risco à saúde e sobre sua percepção pública;
Representações da natureza na cultura popular e no mercado verde – ocupa-se da
representação da natureza na cultura popular e na compreensão da sustentação do discurso
desenvolvimentista através das mídias populares.
Em linhas gerais, convém observar ainda que a expansão do campo da comunicação
ambiental não resultou em um contexto consensual de investigação11. Na verdade, ela tanto
foi marcada pelo aprimoramento de pesquisas anteriores, de forma a atribuir-lhes maior
consistência, como também pelo surgimento de inúmeras controvérsias entre estudos diversos.
Contudo, importante é perceber, conforme defendem Cox e Depoe (2015), que a comunicação
ambiental desponta como uma "disciplina de crise", orientando-se por aspectos éticos e

11
No artigo Comunicação ambiental como campo de práticas e de estudos, publicado em 2012 na Revista
Comunicação & Inovação, Aguiar e Cerqueira (2012) apresentam uma análise comparativa entre obras basilares
da comunicação ambiental, constituindo, portanto, um relevante panorama acerca do desenvolvido desse campo
de investigação.


84

normativos de forma a favorecer transformações sociais necessárias ao enfrentamento da


problemática ambiental. Portanto, não se trata apenas de um campo marcado pela delimitação
de questões e assuntos de investigação. A esse respeito, Cox (2010, p. 12) se posiciona de
forma bastante otimista, enfatizando que a “Comunicação Ambiental procura despertar a
habilidade da sociedade para responder de forma apropriada aos sinais ambientais relevantes
ao bem estar dos seres humanos e dos sistemas naturais.”
Diante desse contexto de consolidação da comunicação midiática acerca do meio
ambiente e de sua problemática, Cox (2010), Hansen (2010) e Hannigan (2009) reconhecem a
comunicação ambiental como uma arena pública crucial para o debate acerca do meio
ambiente. Ambos os autores defendem que a comunicação ambiental é a principal fonte de
informação sobre o meio ambiente, e que, embora atue de forma significativa na promoção da
educação ambiental (influenciando a constituição do ethos ambiental do sujeito
contemporâneo), torna-se mais influente na definição de uma agenda pública de interesses.
Trata-se, portanto, de um reservatório cultural que abriga diferentes e conflitantes significados
de meio ambiente, de forma a orientar compreensões distintas sobre sua problemática,
sobretudo em se tratando de enfrentamento político (HANSEN, 2009). Conforme defende
Cox (2010), essa multiplicidade de apropriações simbólicas da natureza e de concepções de
meio ambiente revela uma disputa pela legitimação de interesses sociais e econômicos de
diversos atores (políticos, empresários, ambientalistas e da própria mídia, entre outros). Dessa
forma, enquanto arena pública, a comunicação ambiental desponta como espaço de disputas
simbólicas e discursivas pela apropriação material da natureza e pelo estabelecimento de
limites para a ação do homem. Assim, os diferentes meios de informação e de entretenimento
são cruciais para estabelecer conhecimento e orientar atitude ambiental associados às
diferentes percepções e interesses sobre o mundo natural. Nesse contexto, o que prevalece são
conflitos e negociações, a fim de atender à diversidade dos discursos.
Portanto, percebida como arena pública relevante, a comunicação ambiental não se
restringe à simples transmissão de informações, pois há um forte caráter persuasivo
manifestado nas diversas formas de ação simbólica. Para Cox (2010), ela se inscreve na esfera
pública ambiental - um conjunto de práticas e de fóruns em que as diferentes manifestações
de ação simbólica exercem suas influências na percepção sobre a natureza (selvagem, bela,
ameaçadora, utilitária, objetiva) e de sua problemática (oportunidades de crescimento
econômico, restrições à expansão da produção, subjetividade da natureza, defesa dos direitos
dos animais, dentre outros), constituindo um contexto de disputas por legitimidade discursiva.


85

De acordo com o autor, essa diversidade de vozes que orientam a comunicação


ambiental pode ser agrupada em sete principais interesses: 1) os Cidadãos e Grupos Sociais -
aqueles eficientes na mobilização em favor de mudanças ambientais, atuando contra a
redução de área verde nas cidades, contra a poluição etc; 2) os Grupos Ambientais (em
expansão em todo o mundo) - são relevantes na comunicação ambiental, pois manifestam
diferentes enfoques e estratégias em defesa do meio ambiente; 3) os Cientistas - desenvolvem
e comunicam pesquisas relevantes à consciência pública e ao debate sobre a política
ambiental, mas seu discurso é frequentemente combatido e ignorado quando atinge as crenças
e interesses dominantes; 4) as Empresas e Lobistas - são apontados como promotores de
riscos e ameaças à saúde, e, juntos, enfrentam as regulamentações ambientais que implicam
redução do uso dos recursos naturais ou que ameaçam seus interesses econômicos; 5) os
Grupos Antiambientalistas - se opõem à proteção ambiental quando esta se traduz em
prejuízo ao crescimento econômico; 6) a Mídia e o Jornalismo Ambiental - são as vozes
decisivas na cobertura de questões ambientais e na definição de uma agenda pública (quais
aspectos e questões são mais importantes), conduzindo ainda outras vozes que procuram
influenciar a opinião pública; e 7) os Legisladores e Reguladores - compreendem políticos
(legisladores), dirigentes e representantes dos órgãos públicos de regulamentação ambiental,
os quais buscam assegurar a conciliação dos interesses das diversas vozes no debate
ambiental e garantir o cumprimento da lei.
Hannigan (2009) defende que essa diversidade de atores traduz a relevância política da
comunicação ambiental, uma vez que a visibilidade midiática da problemática ambiental
torna-se crucial para sua inserção na esfera pública e também nos processos políticos. Na
verdade, a comunicação ambiental através da mídia de massa constitui um cenário para as
mais diversas campanhas, o que resulta em maior atenção política para a problemática
ambiental. Para Hansen (2010), é no debate midiático, a partir das disputas em torno das
questões ambientais, que esta problemática passa a ser endereçada, contestada, e até mesmo
enfrentada. Assim, a comunicação ambiental não somente tem promovido uma maior
influência na percepção pública e na esfera da decisão política sobre o meio ambiente, mas
também orientando uma maior compreensão pública do conhecimento científico e de suas
controvérsias acerca da problemática ambiental.
Além de relevância política, convém observar que a expansão da comunicação
ambiental resultou em influência significativa nas mais diversas dimensões sociais
relacionadas ao meio ambiente a exemplo da economia, da saúde, do entretenimento, dentre
outros. Conforme observam Senecah et al (2004), a comunicação ambiental assumiu um forte


86

caráter comunitário (estímulo à adoção de estilos de vida verde etc), corporativo (mercado da
sustentabilidade, defesa de uma imagem ambiental etc) e científico associados à defesa do
meio ambiente. Para os autores, a dinâmica que permeia a relação entre a mídia de massa e os
eventos e campanhas ambientais (elaboração de documentos, implementação de legislação,
divulgação de conhecimento científico etc) fez emergir um vocabulário 12 relativo à
comunicação sobre o ambiente e resultou em forte influência da mídia na orientação da
percepção e da relação entre o homem e o mundo natural. Dessa forma, atuando na percepção
e na compreensão da problemática ambiental, a comunicação ambiental tanto pode apresenta-
la como uma questão de natureza técnica e científica, ou como uma questão política, social e
moral (CARVALHO, 2011). Isso significa perceber como a comunicação ambiental comporta
em si um poder sobre os discursos deflagrados sobre o meio ambiente.
Mas, conforme defende Hansen (2010), o principal papel da mídia na comunicação
ambiental reside no despertar do interesse social por uma determinada questão ambiental e
assim estabelecer reivindicações políticas para o seu enfrentamento. Conforme exemplifica o
autor, é através da mídia que catástrofes naturais rotineiramente percebidas como fenômenos
da natureza, logo imprevisíveis e alheios ao controle humano, assumem uma significação
social a partir das mais diversas construções discursivas, sobretudo empenhadas em atribuir-
lhe responsabilidade e enfrentamento. Mas, apesar dessa centralidade, a mídia não é o fórum
exclusivo da construção social da problemática ambiental, pois também é marcante a atuação
das esferas política e científica. Contudo, Hansen (2010) enfatiza que a comunicação
ambiental midiática é decisiva para a internalização de uma problemática ambiental em uma
agenda pública e política. Portanto, convém reconhecer que a mídia desempenha um papel
fundamental na orientação das questões ambientais, pois além de promover a sua visibilidade,
também influencia e direciona o seu debate.
Observamos uma abordagem semelhante em Carvalho (2011), quando de sua análise
do papel da mídia na comunicação acerca das questões relativas às alterações climáticas. De
acordo com a autora, através da visibilidade midiática, diversos atores sociais, sejam eles
políticos, cientistas, corporações ou mesmo os grupos ativistas, procuram influenciar o
debate ambiental, sobretudo o próprio discurso da mídia na comunicação ambiental. Além
disso, a autora ressalta que a mídia não somente reproduz tais discursos, mas também
empreende suas próprias perspectivas discursivas. Dessa forma, a autora defende que a
questão crucial é a centralidade dos discursos midiáticos na promoção de uma significação


12
Uma relevante discussão acerca da eco linguística pode ser encontrada em Fill e Mühlhäusler (2001).


87

pública para as questões ambientais e sua posterior repercussão na ação política. Dada a essa
relevância, observamos que é através da mídia que a multiplicidade de atores sociais
envolvidos no debate ambiental busca legitimar suas atitudes e percepções sobre o mundo
natural.
Carvalho (2011) chama atenção acerca das principais diferenças entre as estratégias de
comunicação midiática dos grupos ambientalistas e das corporações. O Greenpeace13 e várias
outras ONGs ambientais empreendem táticas de visibilidade midiática pautadas na
espetacularidade e na dramaticidade, o que, segundo a autora, frequentemente resulta em uma
comunicação superficial acerca da problemática em questão, uma vez que é a própria ação por
elas realizadas que se torna mais discutida na mídia. Apesar de recorrente no discurso
corporativo, muitas das estratégias de comunicação ambiental das empresas correspondem ao
chamado greenwashing, uma forma de “engajamento” ambiental que somente ocorre no plano
comunicacional e não na atuação propriamente dita das corporações. Conforme discutiremos
mais adiante nesta seção, é na publicidade que estas estratégias se manifestam com maior
intensidade.
Assim como Cox (2010) destacou o caráter persuasivo da comunicação ambiental,
Hansen (2010) ressalta o seu forte caráter ideológico, mais especificamente quando investiga
o papel da comunicação na construção social da problemática ambiental. De acordo com o
autor, na mídia, um problema ambiental (assim como os demais problemas sociais) resulta de
estratégias que visam delimitar sua interpretação e percepção. Dessa forma, apesar da
diversidade de interesses manifestados pelos diferentes atores sociais, são os recortes
específicos de aspectos relativos ao problema ambiental observado (sua construção,
responsabilização e resoluções propostas) que prevalecem na delimitação e sustentação de um
determinado enquadramento, sobretudo, alinhados a reivindicações relacionadas. Tais
recortes são feitos e determinados ideologicamente, por isso não necessariamente significam
atenção aos principais problemas da questão ambiental contemplada.
Para Hansen (2010) esse caráter ideológico da comunicação ambiental torna-se
evidente a partir da seletividade e da hierarquia dos atores sociais e das representações do
meio ambiente. Enquanto disputa discursiva pela construção simbólica de uma determinada


13
O Greenpeace é uma organização internacional sem fins lucrativos, criada em 1971, e que atua em defesa de
causas ambientais. Sua visibilidade decorre principalmente de suas estratégias em estabelecer campanhas que
expõem crimes ambientais e seus responsáveis. Atualmente a organização atua em 41 países e conta com 2,8
milhões de sócios, estando sediada em Amsterdam, na Holanda. Ao longo de sua atuação várias conquistas
foram alcançadas envolvendo questões diversas, seja no embate contra governos ou contra empresas. Seu navio-
bandeira é um dos símbolos mais emblemáticos de sua atuação, o Rainbow Warrior (Guerreiro do Arco-Íris),
uma alusão aos lendários índios norte-americanos da tribo Cree. Ver mais em www.greenpeace.org.


88

problemática e perspectiva ambiental, há esforço consciente nas escolhas realizadas de forma


a assegurar sua ressonância na esfera pública. Assim, tanto o enquadramento das questões
ambientais quanto as escolhas lexicais são deliberadas e visam à vinculação da prática
comunicativa a um determinado discurso ambiental, dos argumentos aos interesses dos
argumentadores. Para tanto, vocabulário e visualização gráfica constituem recursos decisivos
para esse alinhamento. Um bom exemplo são os termos “buraco” e “aquecimento global”
utilizados pela mídia de forma recorrente para se referir à ação antropogênica sobre a camada
de ozônio e em relação às mudança climática (HANSEN, 2010).
É importante observar que as especificidades das estratégias retóricas adotadas na
comunicação ambiental acabam persuadindo e influenciando atitudes e comportamentos no
debate público sobre o meio ambiente, ainda que demarcado por uma diversidade de discursos.
Cox (2010) observa como é comum o uso de metáforas e de determinados gêneros retóricos,
de modo a estabelecer um forte apelo emocional a partir de uma variedade de ações
comunicativas. Entre as metáforas predominantes, o autor destaca construções adotadas pelos
discursos ambientalmente favoráveis tais como “mãe natureza”, “espaçonave Terra” e “Teia
da vida”. Tais metáforas surgem à medida que novas abordagens vão emergindo, a exemplo
dos “pontos de virada”, termo utilizado pelos cientistas que pesquisam sobre o aquecimento
global e mudanças climáticas; ou da “pegada”, este usado pelas companhias petrolíferas para
minimizar o impacto de suas atividades nas áreas exploradas. Quanto aos gêneros retóricos,
Cox (2010) os observa como tipos de falas que orientam as histórias ambientais: narrativas
apocalípticas (reconhecimento de uma profunda crise ambiental em função da reduzida
mobilização social e científica); narrativas melodramáticas (procuram esclarecer os conflitos
ambientais a partir de disputas de forças, mas também observam caminhos para resoluções); e
narrativas de lamentação (despontam como denúncias de atitudes ambientalmente
impactantes e das consequências de sua permanência). Todas essas narrativas estão orientadas
na contestação do progresso (supremacia do homem sobre a natureza), embora variem em
maior ou menor grau na culpabilidade do indivíduo ou da estrutura social. Também é
pertinente sinalizar que devido à complexidade do tema ambiental, essas classificações das
narrativas, embora sirvam de parâmetro para análise, em situações diversas elas não podem
ser tomadas separadamente, mas em conjunto.
É importante observar que as narrativas ambientais apocalípticas não necessariamente
evidenciam um final catastrófico da humanidade, mas, sobretudo, questionam de forma
contundente a apologia do progresso. Dessa forma, seu principal desafio, segundo o autor,
reside no ceticismo social e científico acerca das consequências da crise ambiental assinalada.


89

Sobre as narrativas melodramáticas, Cox (2010) reconhece haver uma clara polarização moral
entre os atores sociais representados nos conflitos das “histórias” apresentadas nas mídias. Por
isso elas são cruciais em contextos marcados pela manipulação da opinião pública a partir do
mascaramento e de distorções em torno de determinadas problemáticas ambientais,
constituindo, enquanto dispositivos retóricos, perspectivas mais críticas aos atores sociais, ao
passo que as narrativas apocalípticas enfatizam as críticas ao contexto estrutural da crise
ambiental.
Convém ainda atentar que Cox (2010) entende as metáforas e os gêneros retóricos
como recursos de linguagens bastante relevantes ao exercício da função pragmática da
comunicação ambiental – a orientação de posturas e atitudes sobre o ambiente. Contudo, para
o autor, as retóricas visuais também se mostram cada vez mais recorrentes neste campo, como
é o caso do uso de fotografias como recurso valioso para despertar emoções e sentimentos no
público, além do sentido de urgência para uma dada problemática. O autor ressalta que as
imagens da luta do urso polar pela sobrevivência foram cruciais para o sucesso da
comunicação acerca do aquecimento global. Nesse sentido, o projeto realizado por Subhanker
Banerjee, retratando em fotografias a biodiversidade do Refúgio Nacional da Vida Selvagem
no Ártico, exemplifica o poder da retórica visual em constituir uma estratégia de
argumentação política contrária à exploração econômica da região.
Assim, são esses dispositivos retóricos que se revestem de um poder ideológico na
comunicação ambiental. Nosty (2008), ao tratar do contexto da promoção da sustentabilidade,
adverte que, de forma geral, a mídia opera neutralizando as perspectivas mais inquietantes e
ameaçadoras aos discursos hegemônicos, esforçando-se por reestabelecer sua “normalidade”.
Dessa forma, reconhece que as principais reivindicações discursivas acerca da defesa do meio
ambiente estão associadas aos atores sociais marginalizados neste debate, a exemplo dos
grupos ambientais.
Sobre os impactos da comunicação ambiental, Nosty (2008) aponta que ela ainda se
mostra incapaz de estimular uma postura ambientalmente crítica na opinião pública. Apesar
de sua significativa expansão, a comunicação sobre o meio ambiente ainda esbarra na “[...]
passividade, indiferença, resignação, impotência, incredulidade social [...]” (NOSTY, 2008, p.
36), uma vez que os sistemas midiáticos contemporâneos refletem as próprias contradições
das sociedades que, mesmo diante de sérias problemáticas decorrentes da ação do homem
sobre o meio ambiente, manifesta uma reduzida capacidade reivindicativa.
De acordo com o autor, as formas midiáticas de construção da realidade resultam na
"esterilização" do processo de formação do senso crítico acerca das questões ambientais (e


90

também das demais questões sociais), sobretudo quando privilegiam representações


espetacularizadas e individualizadas do meio ambiente. Além disto, Nosty (2008) ressalta que,
durante muito tempo, o apoio midiático aos movimentos ambientais foi bastante limitado.
Segundo o autor, mesmo no contexto performático do Greenpeace, a comunicação ambiental
manifesta efeitos reduzidos e limitados, decorrentes do esforço de neutralização das
perspectivas ambientais contestadoras. Nosty (2008) ressalta, por exemplo, que o
documentário Uma Verdade Inconveniente, lançado por Al Gore em 2006, resultou em maior
interesse midiático (jornalismo ambiental) sobre a figura de um vice-presidente enquanto
"apóstolo da sustentabilidade" (NOSTY, 2008, p.37) do que pelo discurso ambiental do
documentário. Assim, destaca que é o tom de neutralidade da mídia que acaba prejudicando o
próprio debate ambiental, e reforçando o poder de decisão dos grupos dominantes.
Jurin, Roush e Danter (2010) defendem que a comunicação ambiental deve associar a
informação sobre o meio ambiente e sua problemática a uma série de outros valores humanos,
uma vez que não é apenas a informação sobre o ambiente que se faz relevante, mas, sobretudo,
os sentimentos que ela é capaz de despertar, de forma a favorecer envolvimento e
identificação entre as pessoas às mensagens ambientais. Conforme os autores, o contexto
atual é particularmente marcado pela necessidade de uma nova abordagem comunicativa, que
promova essa aproximação e identificação, superando a segmentação de ideias, o excesso de
ruídos e a distração sobre a complexa problemática ambiental. Observam que este é o
principal desafio da comunicação ambiental, articular as funções constitutivas e pragmáticas,
traduzindo informações ambientais relevantes em maior aproximação e identificação entre a
natureza e o mundo social, político e econômico, no qual vivemos.
Como visto, apesar de sua relevante atuação na sensibilização para as questões
ambientais (função constitutiva), é no campo da promoção de atitudes ambientalmente
favoráveis (função pragmática) que residem os maiores entraves à comunicação midiática
sobre o meio ambiente. É o que defende Corbett (2006) ao reconhecer que o relevante sucesso
da comunicação na sensibilização para as questões ambientais não se traduz em adoção de
ações ambientalmente favoráveis por parte da audiência. Conforme a autora, apesar da
relevância das mensagens midiáticas e das experiências que orientam nossas crenças
ambientais, nossas atitudes e comportamentos em relação ao meio ambiente emergem de um
contexto social e psicologicamente complexo. Além disso, a autora adverte sobre as
limitações de práticas de comunicação ambiental que visam reorientar a ação ambiental a
partir da responsabilização exclusivamente direcionada ao indivíduo. Assim, a autora defende
que a reorientação de práticas ambientais passa pela consideração da multidimensionalidade


91

da questão (indivíduo, sociedade, cultura), de forma a atentar para fatores como "[...] normas
sociais, regulação governamental, expectativas da comunidade, recursos monetários e tempo"
(CORBETT, 2006, p. 84), os quais constituem obstáculos à ação do indivíduo, conforme
preconizam determinadas iniciativas de comunicação sobre o meio ambiente.
Na verdade, o que Corbett (2006) quer ressaltar é que a vida moderna é marcada por
uma desconexão entre a preocupação com o meio ambiente e a adoção de estilo de vida
(trabalho, consumo, lazer etc). Há, em consequência do primado do desenvolvimento e do
progresso, uma compartimentalização do meio ambiente como algo distante do nosso
cotidiano, sobretudo excluído de nossas rotinas de trabalho. Para Corbett (2006), o sucesso da
função pragmática da comunicação ambiental depende de uma reorientação na percepção
social da natureza de forma a superar a ideia de que esta constitui espaços externos que
apenas usamos para a recreação, em favor de situá-la diretamente em nossos trabalhos e em
nossa vida diária. Assim, torna-se importante descortinar a representação de natureza
romantizada e encarar sua apropriação enquanto fonte de recursos que acomoda todas as
nossas atividades nas mais diversas esferas sociais. E provavelmente esta visão romântica da
natureza ainda prevaleça nos meios de comunicação e na condução da opinião pública.
O que ganha relevo no pensamento da autora é a alienação da natureza nas sociedades
industriais modernas como principal desafio a ser enfrentado pela comunicação ambiental.
Essa alienação, segundo Corbett (2006), está impregnada nas próprias relações de trabalho,
em que este se encontra associado ao alcance de satisfação e conforto, mas a partir de uma
relação entre aumento de rendimentos e elevação de consumo. Esse ciclo de trabalho e
consumo torna-se desconectado de nossa percepção acerca dos impactos ambientais que
proporcionamos, muito embora seja bastante revelador de ideologia ambiental dominante.
Nesse contexto, nossas práticas de consumo são expressões relevantes de nossa relação
ambiental e decorrem do privilégio à esfera econômica e à realização pessoal (atendimento
das necessidades materiais). Para autora, os padrões de consumo da vida moderna comunicam
nossa perspectiva ambiental e também nossa fragilidade em termos de privilegiar interesses
públicos mais amplos para além das demandas materiais individuais. Dessa forma, a
comunicação ambiental encontra-se limitada pelas próprias estruturas sociais, sendo
fortemente orientada pelos interesses dominantes, apesar da crescente participação dos grupos
de contestação.
Perspectiva semelhante é apresentada por Chapman et al. (2003) quando analisaram,
de forma comparativa, a comunicação ambiental na Índia e na Inglaterra. Conforme os
autores, o contexto histórico e cultural de cada sociedade é decisivo na configuração e no


92

desenvolvimento de suas práticas de comunicação acerca do meio ambiente, sobretudo em


sua capacidade de orientar as percepções e atitudes sobre o mundo natural e sua problemática.
Portanto, diferentes contextos de percepção e relação com o mundo natural são decisivos para
o papel da mídia na comunicação ambiental. Dessa forma, advertem que a atuação da mídia
está sempre associada ao contexto social, marcado pelas práticas e crenças culturais, pela
configuração e ação do Estado, e da própria mídia, e pela base tecnológica estabelecida. É
nesse contexto que as diferentes percepções ambientais tornam-se relevantes.
Hansen (2010) mostra-se mais otimista, reconhecendo uma relevância da comunicação
ambiental na formação de uma consciência ambiental junto à opinião pública e também nas
decisões políticas. Conforme o autor, ela estimula um interesse cada vez maior pelas
informações acerca da natureza e também da ciência e da tecnologia, apesar dos ciclos
temporais do interesse da mídia pelo meio ambiente. De forma geral, mesmo reconhecendo a
crescente importância do debate ambiental, o autor ressalta que são eventos específicos que
ainda orientam e estimulam o interesse do público, a exemplo do lançamento do
documentário Uma Verdade Inconveniente e que resultou na premiação do seu autor Al Gore
com o Nobel da Paz14 em 2007, juntamente com o Painel Intergovernamental sobre Mudanças
Climáticas (IPCC)15. Assim como Nosty (2008), o autor também valoriza as contribuições de
organizações ambientais como o Greenpeace e a WWF 16 , situando-as enquanto vozes
contestadoras.
É por isso que Hansen (2010) vai defender que a comunicação ambiental assume
perspectivas diferentes entre as mídias hegemônicas e alternativas, e também em relação à sua
dimensão espacial (mídias locais, regionais, nacionais e internacionais). Para o autor, é na
mídia hegemônica que prevalece o tom de autoridade, estabelecido a partir da objetividade
científica e da apresentação de dados quantitativos, enquanto as mídias alternativas são

14
Ver mais em www.nobelprize.org/nobel_prizes/peace/laureates/2007/
15
O IPCC (Intergovernmental Panel on Climate Change ou Painel Intergovernamental sobre Mudanças
Climáticas) surgiu em 1988, criado em conjunto pelo PNUMA, Programa das Nações Unidas para o Meio
Ambiente (United Nations Environment Programme, UNEP) e pela Organização Meteorológica Mundial (World
Meteorological Organization, WMO) com o objetivo de avaliar cientificamente as mudanças climáticas e seus
impactos no planeta, tendo em consideração a sua origem antropogênica. O IPCC é constituído por um corpo de
cientistas que apresenta relatórios acerca deste contexto, apoiando-se nas pesquisas científicas divulgadas, uma
vez que o órgão não produz pesquisas nem monitoramentos. O primeiro relatório foi publicado em 1990, sendo
que os demais, ambos denominados de Relatórios de Avaliação: Mudança Climática, foram realizados em 1995,
2001, 2007, 2003 e 2014. Ver mais em www.ipcc.ch.
16
Sediada na Suíça, a organização não governamental ambientalista WWF (World Wide Fund For Nature), ou
Fundo Mundial para a Natureza, foi criada em 1961 e, atualmente, é uma rede mundial em defesa do meio
ambiente. Hoje, sua atuação se estende por mais de 100 países, possuindo cerca de 5 milhões de associados. Seu
preocupação inicial recaia sobre a preservação local das florestas e de espécies em extinção, contudo, com sua
expansão global, ela passou a contemplar uma diversidade de questões ambientais de forma a estimular o uso
sustentável dos recursos naturais. No Brasil, ela é representada pela WWF-Brasil, criada em 1996 e com sede em
Brasília. Ver mais em wwf.org.


93

representativas de uma maior diversidade de vozes, dedicadas a temas qualitativos e às


contestações políticas das questões ambientais. Nesse contexto, Hansen (2010) adverte que as
vozes marginalizadas recorrem às mídias alternativas em busca de visibilidade, entretanto,
para despontar na mídia hegemônica, estas vozes ajustam suas reivindicações ambientais à
conformidade com os padrões culturais dominantes. Isto resulta em uma ação tímida, limitada
e controlada das vozes não hegemônicas.
Cox (2010) também observa diferenças na comunicação ambiental manifestadas na
mídia mainstream17 e na mídia online. Conforme o autor, enquanto a mídia tradicional
assegura a visibilidade dos discursos ambientais hegemônicos (perpetuando a supremacia do
homem sobre o mundo natural), é na mídia online que os discursos alternativos se manifestam
com maior intensidade, sendo esta considerada como uma das principais impulsionadoras do
crescimento e da diversidade de enfoques na comunicação ambiental, sobretudo a partir da
década de 2000. Para Cox (2010) a mídia mainstream polarizou a natureza enquanto sublime
e traiçoeira, sobretudo na programação não jornalística, representando a natureza ora como
vítima (um paciente doente), ora como um recurso, ou como um problema social. Assim,
situando a natureza entre a admiração e o ódio, a mídia hegemônica foi marcada pelo esforço
discursivo em favor da domesticação de uma natureza necessária ao homem, cuja fragilidade
tornava a intervenção humana indispensável à sua proteção, controle e gerenciamento. Por
isso a mídia hegemônica desponta como espaço privilegiado para representações
antropocêntricas pautadas no otimismo tecnológico sobre a natureza, o que legitima a forma
utilitarista de ver o meio ambiente.

2.2 Jornalismo Ambiental

De forma geral, os estudos de comunicação ambiental, apesar da expansão do campo


conforme assinalado anteriormente, ainda manifestam uma centralidade na produção e
circulação das notícias, destacando, portanto, a atuação do jornalismo ambiental. No limite,
podemos dizer que coube a essa atuação jornalística o protagonismo no que se refere à
comunicação do meio ambiente. Autores como Hansen (2010), Hannigan (2009), Cox (2010),
Carvalho & Pereira (2011) e Corbett (2006) observam que esse relevo da cobertura


17
Em Cox (2010) mainstream é empregado para designar práticas midiáticas tradicionais, a exemplo do
jornalismo impresso, da publicidade televisiva etc. Conforme o autor, a mídia online constitui alternativas a este
contexto, favorecendo a manifestação de atores sociais então marginalizados nas práticas midiáticas tradicionais.
Trata-se, portanto, de uma definição permeada por relações de poder, sendo a mídia mainstream intimamente
relacionada aos discursos hegemônicos - mídia hegemônica.


94

jornalística ambiental está pautado pela ideia de sua maior influência na opinião pública.
Nesse contexto, observamos que em meio à crescente contribuição de uma variedade de
recursos midiáticos, tais como, documentários televisivos, filmes e os desenhos animados
(ponto central nas discussões dos capítulos seguintes), é no campo do jornalismo que a
comunicação ambiental ainda assume maior relevância na construção social das questões
sobre o meio ambiente e sua problemática.
Entre as principais discussões acerca do jornalismo ambiental, destacamos aquelas
relacionadas ao seu papel na construção social da questão ambiental (HANNIGAN, 2009;
HANSEN, 2010), ao seu caráter cíclico, traduzido em termos de interesse pelos problemas
ambientais (CARVALHO, 2011; FRIEDMAN, 2004 e 2015; HANNIGAN, 2009; HANSEN,
2010), aos seus constrangimentos estruturais e organizacionais (CARVALHO, 2011;
CORBETT, 2006; COX, 2010; CHAPMAN, 2003; HANSEN, 2010) e aos seus impactos na
audiência (HANSEN, 2010).
Entre as suas diversas contribuições, o jornalismo ambiental, segundo Hansen (2010),
é decisivo para o agendamento do interesse público e político das questões relacionadas ao
meio ambiente. Conforme observa Hannigan (2009), essa relevância decorre do fato de que a
notícia desponta como uma realidade construída, determinada a constituir significados sociais,
decisivamente orientada por fatores políticos e culturais que configuram suas rotinas
organizacionais. Dessa forma, na comunicação ambiental, fatores com as fontes privilegiadas
e a adoção de ângulos específicos para as estórias traduzem o alinhamento ideológico da
argumentação acerca de uma determinada problemática empenhado em atribuir-lhe sentido
junto ao público. Para tanto, o enquadramento das notícias se apoia no uso de metáforas, de
exemplos, de frases feitas, de imagens visuais, da análise de causa, de consequências e em
apelos morais, com o objetivo de alinhar-se aos pacotes de interpretação (progresso,
responsabilidade pública etc). Assim, o alcance dessas notícias é significativo, mas, em boa
medida, o seu olhar crítico não.
Enquanto arena central na promoção de visibilidade e aceitação de narrativas
ambientais (histórias e enquadramentos), o jornalismo ambiental impõe desafios aos diversos
argumentadores que contemplam a inserção de uma determinada problemática ambiental na
agenda midiática. Hannigan (2009) ressalta que o sucesso desses argumentadores resulta do
alinhamento de seus enquadramentos das questões ambientais aos conceitos e valores
culturais existentes, de sua articulação com as agendas políticas e científicas, de sua
apresentação enquanto drama social, de sua proximidade com o contexto presente e de um
plano de ação de caráter imediato. Consequentemente, evitar o confronto com os valores


95

culturais enraizados, apelar para a emoção a partir do confronto entre heróis, vilões e vítimas,
contextualizar impactos da problemática no presente e articular um plano de ação com
resultados imediatos despontam como estratégias de sucesso no agendamento midiático de
questões ambientais. Por isso Hansen (2010) vai afirmar que o caráter ideológico do
jornalismo ambiental assenta-se na previsibilidade de seus scripts (retórica, léxico, metáforas,
referenciais etc), daí quanto mais afinidades uma determinada formulação de problemática
ambiental assumir com valores culturais enraizados, maior sua chance de aceitação e
visibilidade.
Nesse contexto, embora a cobertura jornalística desponte como um espaço de disputa
simbólica entre diversos argumentadores e seus oponentes, Hannigan (2009) observa que são
as perspectivas alinhadas à ideologia hegemônica (progresso e desenvolvimento) que
orientam o alinhamento das notícias aos códigos culturais dominantes. Essa perspectiva
também é apontada por Hansen (2010) quando observa que a cobertura jornalística ambiental
tanto resulta em legitimidade e credibilidade dos argumentadores, como atua criticamente
para negativá-los e marginalizá-los. Portanto, enquanto arena pública, o jornalismo ambiental
atua de forma ativa nas construções sociais da problemática ambiental, definindo
decisivamente o seu enquadramento.
Dessa forma, incorporando no seu discurso os interesses e representações dos grupos
hegemônicos, o jornalismo ambiental, recorrentemente, possibilitou um processo de
hierarquização e seletividade das questões ambientais. Hansen (2010) diferencia entre atores
insiders, aqueles politicamente alinhados com a perspectiva ambiental hegemônica, e
outsiders, aqueles que manifestam orientações diferentes (muitas vezes contestatórias) aos
primeiros. Enquanto os cientistas, as autoridades públicas, os representantes do governo e das
corporações desfrutam de maior acesso midiático, grupos ambientalistas como o Greenpeace,
por exemplo, precisam recorrer à dramaticidade social como estratégia de visibilidade
midiática, propondo a espetacularização de suas ações (não apenas na arena midiática) em
busca de atenção, apoio e legitimidade em suas reivindicações (HANSEN, 2010;
HANNIGAN, 2009).
Mas, apesar da inovação e da criatividade para despertar o interesse do jornalismo
ambiental, sobretudo a partir do apelo visual e do espetáculo, o sucesso midiático dos grupos
outsiders também decorre de sua circulação em outros fóruns de discussão. Hansen (2010)
defende que é preciso haver uma vinculação destes grupos a instituições, eventos e pessoas já
estabelecidas em outros fóruns. Além disso, o autor ressalta que a apropriação da internet se
mostra decisiva para tais grupos, permitindo-lhes superar as limitações de acesso à cobertura


96

midiática. Assim, embora ainda incapaz de abalar as relações de poder da mídia tradicional, a
internet favorece a visibilidade de tais grupos, resultando em maior diversidade de
argumentos, eventos e debates sobre as questões ambientais, e, consequentemente, no
questionamento da credibilidade da mídia hegemônica.
De forma geral, no jornalismo o interesse pela problemática ambiental assume um
caráter cíclico, alternando entre momentos de aproximação, sobretudo quando da ocorrência
de desastres ambientais, e de posterior distanciamento. Conforme observam Cox (2010) e
Hannigan (2009), foi a partir dos anos de 1970 que as questões ambientais emergiram como
uma categoria diferenciada na cobertura jornalística em decorrência de uma maior
consciência e compreensão dos argumentos ambientais pela mídia, motivadas, por exemplo,
por eventos como a celebração do Dia da Terra. Contudo, ao longo dessa década esse
interesse foi reduzido e a cobertura jornalística representou os problemas ambientais enquanto
eventos isolados, desconectados e desprovidos de um enfoque global. Os autores destacam
que somente nos anos de 1980 e 1990 o jornalismo ambiental passa a ter mais visibilidade,
assumindo uma abordagem mais global e complexa. Contudo, Hannigan (2009) ressalta que
esse aprofundamento na cobertura do jornalismo ambiental não foi capaz de superar o hiato
entre questões ambientais, questões políticas e de desenvolvimento.
Em sua análise acerca da cobertura ambiental no jornalismo norte americano,
Friedman (2004) estabelece uma caracterização relativa a três décadas de atuação – 1970,
1980 e 1900 (até o início da década de 2000), evidenciando as principais mudanças neste
período. Conforme a autora, nas duas primeiras décadas o interesse recaiu sobre tragédias e
desastres ambientais de graves proporções (Love Canal, Bophal, Exxon Valdez18, Chernobyl
etc), tratados como eventos, uma vez que não foram discutidas causas de tais ocorrências em
favor do privilégio pelo sofrimento das vítimas relacionadas. Para Friedman (2004), neste
período, o jornalismo ambiental mais confundiu que esclareceu acerca de tais problemáticas.
Na terceira década, este contexto sofreu profundas alterações: o jornalismo ambiental tornou-
se uma especialidade, a internet favoreceu o acesso a uma maior diversidade de fontes
(sobretudo aos grupos ambientalistas) e também trouxe mais visibilidade às notícias (surgiram
versões online dos veículos de jornalismo impresso) e a Society of Environmental Journalists,

18
Trata-se do desastre ecológico ocorrido em 1989, em uma área de preservação ambiental situada na costa do
Alasca, relativo ao derramamento de cerca de 40 milhões de litros de petróleo quando do encalhamento do navio
petroleiro Exxon Valdez, pertencente a companhia ExxonMobil que foi então penalizada pela infração das leis
ambientais. O desastre foi o maior derramamento de petróleo nos EUA e teve dimensões alarmantes já que
resultou na morte de milhares de animais. A partir deste episódio, navios petroleiros com o mesmo tipo de casco
foram proibidos pela União Europeia. O desastre também foi marcado pelo embate entre a empresa responsável
e grupos ambientalistas em torno do reconhecimento das condições ambientais da área afetada. Ver mais em
http://www.greenpeace.org/brasil/pt/Noticias/desastre-do-exxon-valdez-uma/


97

criada em 1990, consolidou-se como catalizadora do jornalismo ambiental, ao despontar


como fonte relevante de informação e orientação de temas e abordagens. Ainda de acordo
com a autora, a cobertura jornalística sobre o meio ambiente tornou-se mais ampla e
complexa. Novos temas e abordagens mais profundas contemplaram problemas ambientais
maiores e mais amplos, observados sob a ótica científica, social, política e econômica,
requisitando, consequentemente, maior habilidade por parte dos jornalistas.
Observamos, a partir da autora, que a década de 1990 assistiu a uma intensificação da
cobertura ambiental no jornalismo, quando houve mais espaços nas notícias ambientais e
maior cobertura sobre o meio ambiente (mais jornalistas e espaço na mídia impressa e
televisiva). Friedman (2004) adverte que emergiu uma compreensão mais ampla do meio
ambiente (não apenas no que se refere à poluição, mas também aos mais diversos impactos da
vida humana sobre o ambiente), sobretudo em decorrência do atual estilo de vida. Além disso,
houve aumento e diversificação nas fontes usadas no jornalismo ambiental, ainda que se
privilegiassem as fontes governamentais, emergindo histórias de caráter investigativo, as
quais foram, inclusive, agraciadas com premiações renomadas 19 . Também questões
ambientais locais se destacaram como foco da cobertura, orientando o ângulo sobre questões
ambientais internacionais. Outro elemento novo foi o uso de gráficos e imagens, tornando-se
mais recorrente, assim como o apoio editorial, que embora enfraquecido, passou a ser
marcante.
Na verdade, embora a década de 90 expresse um momento de avanço para o
jornalismo ambiental, a autora também a encara como um período de instabilidade no que diz
respeito à cobertura ambiental tanto no jornalismo, quanto na arena pública em geral. A
expansão, diversificação e complexidade inicialmente observadas, foram sucedidas pelo
declínio da cobertura ambiental na mídia. Esse declínio afetou o espaço e o tempo dedicados
às notícias ambientais e teve como causas principais: ausências de desastres ambientais de
grandes proporções; ausência de controvérsias nas políticas de ambiente; os efeitos da crise
econômica no jornalismo (redução de quadros, encerramento de veículos impressos,
repórteres generalistas na cobertura ambiental etc). Conforme observa Cox (2010), esse


19
O autor ressalta que os dois Prêmios Pulitzer obtidos pelo jornalismo ambiental foram obtidos no ano de
1990: o primeiro atribuído ao The Seattle Times pela cobertura do desastre ecológico Exxon Valdez; o seguido
obtido pelo Washington (NC) Daily em função da cobertura acerca da contaminação local da água com
substancias cancerígenas. Ainda conforme o autor, ao longo da década de 1990, a cobertura jornalística
ambiental recebeu vários outros Pulitzers, com exceção das edições de 1991, 1995 e 1999, embora neste último
caso três produções foram finalistas. Convém observar que, antes disso, o último Pulitzer relacionado ao meio
ambiente ocorreu no ano de 1980. Ver mais em www.pulitzer.org/awards/1990


98

declínio não foi exclusivo da cobertura jornalística, pois também foi marcante na
programação ambiental televisiva dedicada, sobretudo aquela dedicada ao entretenimento.
Entretanto, no contexto dos Estados Unidos, a controversa política energética do
governo Bush, mesmo diante da repercussão do atentado de 11 de setembro de 2001,
assegurou a permanência do interesse midiático pelas questões ambientais, ainda que bastante
reduzida em relação ao contexto do início da década anterior. A centralidade da cobertura em
eventos ambientais ainda persistiu, assim como a ausência de ligações entre estes e suas
causas (consumo, explosão demográfica, uso da terra etc). Da mesma forma, as
responsabilidades das corporações e da legislação ambiental, sobretudo em se tratando dos
riscos ambientais, retomou a timidez na cobertura ambiental jornalística.
Analisando esses ciclos de atenção às questões ambientais no jornalismo, Friedman
(2015) ressalta que, apesar das limitações observadas, foi através desses ciclos que o
jornalismo ambiental estabeleceu uma diversidade temática, de forma a contemplar questões
como as mudanças climáticas e a sustentabilidade, entre outras. Contudo, várias são as críticas
que evidenciam as limitações do jornalismo ambiental, sobremaneira relacionadas aos
constrangimentos organizacionais e suas implicações na cobertura acerca do meio ambiente.
Hannigan (2009), Corbett (2006), Cox (2010), Carvalho (2011) e Anderson (1997)20
reconhecem haver uma significativa incompatibilidade entre as rotinas da produção
jornalística e a natureza dos problemas ambientais. Conforme os autores, os principais
desafios na cobertura ambiental, decorrentes dos constrangimentos do jornalismo, e também
dos jornalistas, estão relacionados à economia política da mídia, ao gatekeeping, aos critérios
de méritos da notícia (noticiabilidade) e ao enquadramento, normas de objetividade e balanço
das abordagens. Nesse contexto, ressaltam que: as notícias ambientais não se encaixam
facilmente na estrutura editorial das redações; os repórteres generalistas encontram
dificuldades em compreender as questões ambientais em sua complexidade; os interesses
econômicos e políticos dos jornais privilegiam o sensacionalismo e uma cobertura alinhada
com os patrocinadores e anunciantes; o ideal de objetividade privilegia mais a evidência
científica e menos os conflitos ambientais.
Consequentemente, em função de sua lógica de produção, a comunicação ambiental
na cobertura jornalística manifesta-se, portanto, limitada. Daí resulta o enquadramento de


20
É importante ressaltar o pioneirismo da autora para a compreensão da comunicação ambiental, sobretudo
acerca do contexto de sua emergência. Seu enfoque sociológico foi crucial à medida que se empenhou em
relacionar o pensamento ecológico, a teoria social e os estudos acerca da mídia e da cultura. Anderson (1997)
contribuiu decisivamente para a valorização das disputas ideológicas no contexto das representações do meio
ambiente.


99

questões ambientais sob a forma de eventos (catástrofes, marcos históricos, acontecimentos


legais) desprovidos de contextos mais abrangentes, a exemplo do interesse pelas histórias
humanas relacionadas aos dramas das vítimas das catástrofes e ao simbolismo das
celebridades e políticos envolvidos com eventos e marcos relacionados ao meio ambiente.
Nota-se também a ênfase na responsabilidade individual (mesmo quando contempla
corporações) pelas catástrofes, ao invés das decisões sociais e políticas em seu contexto
histórico e, finalmente, a forte presença das fontes oficiais nas notícias. Para Hannigan (2009)
é diante de tais constrangimentos que questões complexas e relevantes como as mudanças
climáticas são destituídas dos seus termos políticos, reduzidas apenas aos impactos sobre o
cotidiano dos consumidores.
As críticas manifestadas por Hannigan (2009) aparecem de forma consensual entre
vários outros autores. Para Shinar (2008), apesar de despontar como uma das mídias mais
influentes na conscientização pública frente às questões ambientais, o jornalismo ambiental
ainda não superou o desafio de assegurar uma pluralidade de vozes e opiniões e de estimular
uma mobilização social capaz de exercer pressão política. De acordo com o autor, as
limitações estruturais da cobertura jornalística (valor da notícia associado aos interesses dos
proprietários da mídia) resultam em marginalização midiática do meio ambiente, suprimindo
uma comunicação ambiental panfletária e ativista.
Cox (2010) enfatiza que os constrangimentos estruturais do jornalismo repercutem
diretamente nas percepções e comportamentos da audiência, sobretudo em decorrência da
frágil ligação das problemáticas ambientais com a vida cotidiana, manifestada na cobertura
ambiental. Para o autor, quando privilegia a dramaticidade e o sensacionalismo, o interesse da
cobertura recai sobre eventos ambientais pontuais e manifesta uma forte influência de
perspectivas científicas na análise da problemática ambiental. Dessa forma, há uma
negligência quanto às questões ambientais que não são percebidas de forma mais imediata - a
exemplo a poluição e das mudanças climáticas que são processos lentos e diacrônicos, e
também em relação à associação entre tais questões e o modelo de desenvolvimento vigente
nas sociedades.
Contudo, é importante observar, conforme adverte o autor, que abordagens de
problemas ambientais enquanto eventos discretos não são apenas manifestadas por grupos
hegemônicos, pois também são marcantes em grupos ambientalistas, como o Greenpeace, que
recorrem aos chamados “eventos de imagens”21. Além disso, embora haja uma forte crença

21
Discussões acerca da espetacularização como estratégia de visibilidade midiática do Greenpeace podem ser
encontradas em Morais & Rezende (2008), Cox & Schwarze (2015) e Corbett (2006).


100

editorial de que o interesse público pelas questões ambientais seja reduzido, coberturas
jornalísticas mais complexas parecem emergir diante dos desafios da problemática
relacionada às mudanças climáticas. Essa perspectiva é defendida por Carvalho, Pereira e
Cabecinhas (2011), ao observarem que a problemática das alterações climáticas, apesar de
ainda privilegiadas por uma cobertura jornalística orientada a eventos, suscitou uma maior
compreensão de sua complexidade e de sua multidimensionalidade (aspectos sociais, políticos,
econômicos, científicos etc).
Referente aos efeitos do enquadramento (framming) das questões ambientais na
cobertura jornalística, é importante perceber, conforme Anderson (1997), que além de
privilegiar eventos ambientais a partir de critérios como impacto emocional, apelo visual,
conflitos e proximidade, as questões afetadas por regulamentações ambientais são
frequentemente enquadradas ou emolduradas de forma a manifestar plena sintonia com os
interesses econômicos dos proprietários dos jornais, quando são empreendidas simplificações
do mundo, tendo em vista um modelo de interpretação e compreensão da audiência. Por isso a
autora vai destacar que além da visibilidade midiática, as disputas entre os mais diversos
atores sociais recaem sobre a legitimidade dos enquadramentos adotados nas notícias.
É nesse contexto que Corbett (2006) vai ressaltar que a disputa pela influência na
agenda midiática é assimétrica. Sendo as questões ambientais dotadas de um significado
anticomercial, os diferentes atores sociais que disputam legitimidade em tais questões
recebem atenções diferenciadas, com nítida preferência pelas fontes oficiais ou mesmo pelas
informações ambientais institucionais ou pelos relatórios elaborados por relações públicas
corporativas (CARVALHO & PEREIRA, 2011). Assim, diante dos interesses econômicos
relacionados, o agendamento jornalístico é decisivamente orientado a proteger valores
culturais hegemônicos. Para Corbett (2006) as normas jornalísticas são reveladoras deste
processo de decisão acerca do que é ambientalmente noticiável, em que prevalece uma
cobertura em defesa da maestria humana sobre a natureza, bem como da defesa do progresso
e da ciência, o que resulta em uma representação da natureza como um discurso científico.
Corbett (2006) é bastante categórica ao afirmar que na definição de questões
ambientais no jornalismo, as escolhas (gatekeeper) decorrem dos interesses econômicos e
ideológicos da organização midiática, uma vez que sua agenda ambiental não pode resultar
em conflito com os anunciantes do veículo. Assim, as matérias, abrigadas em espaços
reduzidos, se revestem de objetividade, clareza e balanço das fontes para obscurecer as
escolhas ideológicas dos editores. Conforme a autora, a cobertura acerca das mudanças
climáticas é exemplar desta perspectiva, em que o jornalismo atribuiu espaços semelhantes


101

para grupos minoritários de cientistas contrários às evidências apresentadas pelo grande grupo
consensual. Esse balanceamento de vozes contraditórias e socialmente diferenciadas
evidencia a força dos interesses corporativos em inserir as vozes céticas no debate desta
problemática, em que o jornalismo ambiental desponta, nitidamente, como disputa discursiva
de caráter ideológico (CARVALHO et al, 2011).
As disputas envolvendo a apropriação e legitimidade dos termos “mudanças climáticas”
e “aquecimento global” evidenciam as contestações anteriormente assinaladas. Conforme
Lakoff (2010), elas traduzem a relação entre interesses políticos e econômicos e o
enquadramento midiático. Sobre essas disputas, vale lembrar que ao empregar
deliberadamente o segundo termo na cobertura midiática o governo do então presidente dos
Estados Unidos, W. Bush, manifestou explicitamente seu objetivo em ofuscar a origem
antropogênica da questão, a fim de não afrontar questões políticas e econômicas do seu
interesse.
Lakoff (2010) observa as limitações da cobertura jornalística sobre o ambiente
relacionando o processo de enquadramento midiático ao sistema de enquadramento
ideológico no indivíduo. Conforme o autor, na comunicação ambiental, os estímulos
midiáticos são deliberadamente orientados (através da linguagem ideológica) para alinhar-se
às estruturas de cognição previamente estabelecidas entre os indivíduos, nas quais desponta,
de forma hegemônica, a ideia de natureza como algo desconectado do homem. Tais quadros
cognitivos ofuscam a percepção das interações socioambientais com o sistema econômico
vigente. É nesse contexto que, a partir do jornalismo ambiental, as instituições oficiais e as
corporações reforçam uma percepção ambiental sintonizada com práticas culturais
conservadoras, portanto, resistentes até mesmo às constatações científicas acerca das mais
diversas problemáticas ambientais. Ainda de acordo com o autor, as dificuldades da cobertura
jornalística ambiental (da comunicação ambiental em geral) em promover um novo
enquadramento da natureza e um efetivo engajamento social em favor do meio ambiente
decorrem da constante ativação desta estrutura ideológica consolidada.
Nesse sentido, Lakoff (2010) ressalta que a cobertura jornalística pautada no
esclarecimento racional dos fatos ambientais, como no caso das mudanças climáticas, é
incapaz de promover mudanças nas estruturais conceituais dos indivíduos acerca do meio
ambiente e sua problemática. O sucesso na construção de novos quadros conceituais, no
contexto da comunicação ambiental, prescinde da superação da hegemonia do sistema moral
conservador que legitima o domínio do homem sobre a natureza, a sua apropriação utilitária, a
autoregulamentação dessas atividades pelo mercado e que rejeita os discursos que denunciam


102

os impactos ambientais como consequências das práticas humanas. Assim, o autor sugere um
amplo e recorrente uso da linguagem visual (em oposição ao vocabulário técnico) e um
privilegio à cobertura com forte apelo emocional, sobretudo diante de questões do cotidiano,
ao invés de abordagens racionais em oposição ao sistema ideológico vigente. Defende-se,
portanto, outro sistema moral, menos hierárquico, centrado na responsabilidade humana, com
mais empatia pelo mundo natural, em defesa de sua preservação e em favor de uma ética
ambiental. Dado a esse caráter idealista e moral, Lakoff (2010) defende uma maior
participação dos movimentos ambientalistas na cobertura ambiental.
Novamente, é o caso das mudanças climáticas que se mostra bastante ilustrativo e
emblemático, diante dos desafios enfrentados pelo jornalismo ambiental apontados por Lakoff
(2010). Hansen (2010), ao analisar a influência da comunicação ambiental na opinião pública
e na arena política a partir do agendamento (agenda-setting), do enquadramento (framming),
da teoria do cultivo e sua hipótese da cobertura quantitativa, ressalta que a imprensa obtém
mais sucesso em estabelecer uma agenda ambiental do que na orientação de seu
enfrentamento, e que uma maior cobertura resulta em maior influência na opinião pública.
Mas, conforme o autor, a cobertura das mudanças climáticas está centrada no histerismo, na
promoção do pânico público. Assim, o privilégio por notícias assustadoras e narrativas
ameaçadoras mostra-se incapaz de estabelecer novos enquadramentos ambientais nos
indivíduos.
Contudo, no contexto em que a cobertura jornalística ambiental se mostra distante dos
interesses públicos, Corbett (2006) também alerta que a mídia se mostra conservadora,
empenhada em assegurar a legitimidade e o poder para os atores sociais dominantes. Ou seja,
de acordo com a autora, a mídia tem se mostrado como um agente de controle social, de
forma a garantir a permanência das estruturas de poder e dominação, sobretudo no contexto
das questões ambientais. Para Chapman et al (2003), os interesses editoriais resultam em
distorções deliberadas de significados daquilo que se torna divulgado. Consequentemente,
dado aos constrangimentos citados, os grupos ambientais falham em suas tentativas de
mobilização social para as mudanças estruturais necessárias.
É face à emergência da mídia online que esse contexto sofre nova transformação em
decorrência dos seus impactos no papel do jornalismo, daí Cox (2010) afirmar que a mídia
online constituiu uma alternativa relevante à comunicação ambiental, ampliando
decisivamente a oferta de informação acerca do meio ambiente, além de constituir um espaço
valioso para os grupos ambientalistas. Na verdade, com o avanço da internet o jornalismo
perde sua hegemonia enquanto fonte de informação ambiental diante da visibilidade online de


103

outras representações da natureza e de sua problemática nas mais diversas produções culturais.
Conforme destaca Friedman (2015), uma das principais contribuições da internet para o
debate ambiental foi a visibilidade de outros atores sociais (ONGs, empresas, indivíduos etc).
Neste sentido, a mídia online parece constituir uma alternativa crucial à superação das
limitações profissionais do jornalismo ambiental tradicional no que diz respeito às barreiras
normativas, éticas e estruturais (SHINAR, 2008).
Contudo, Carvalho e Pereira (2011) advertem que apesar da relevância da internet, é a
mídia hegemônica que ainda desempenha papel crucial para a atuação do movimento
ambientalista em busca de legitimidade perante a opinião pública. Para as autoras, a internet
deve ser melhor compreendida mais como uma alternativa de acesso à grande mídia
(jornalismo e televisão) do que uma nova forma de poder comunicacional. Em Scharl (2004)
também se observa essa cautela, quando o autor afirma que a internet é marcada por
desigualdades de acesso, tanto por parte da audiência, quanto por parte dos atores envolvidos
na disputa ambiental.
Friedman (2015) entende que a internet e as mídias sociais impulsionaram a
comunicação ambiental realizada pelos mais diversos atores sociais através da apropriação de
blogs, de bancos de imagens, de websites, de podcasts e de plataformas de redes sociais.
Nesse contexto, defende que, diante da crise do jornalismo tradicional, a internet também
favoreceu a expansão e a diversificação do jornalismo ambiental, sobretudo em termos de
público. Além disso, a consolidação da internet resultou em uma fonte relevante de
informações ambientais. O autor observa que o meio ambiente tornou-se destaque em
diversas publicações online a exemplo de The Huffington Post22 e do Grist23, inclusive nas
versões online de revistas que circulam em versão impressa, tais como E-The Environment
Magazine24, Earth First Journal25 e National Geographic26. Além disso, diante do baixo


22
Trata-se de um portal de notícias que agrega blogs sobre os mais diversos temas e que foi criado em 2005,
nos EUA, por Arianna Huffington e Kenneth Lerer. O portal agrupa seu conteúdo por temas, entre eles o meio
ambiente (seção Green) que, por sua vez, é subdivido em sub temas como energia, animais, Dia da Terra,
mudança climática etc. Sua versão brasileira foi criada em 2011. Atualmente, conforme dados da plataforma de
auditória de tráfego na web Alexa, o portal ocupa a 111ª posição no ranking mundial dos sites mais populares, a
33ª entre os sites mais populares nos EUA e a 400ª entre os sites brasileiros. Ver mais em
www.huffingtonpost.com/news/environment
23
Grist é um portal de notícias ambientais criado em 1999, nos Estados Unidos, e que conta com cerca de 2
milhões de seguidores. Ele desponta como uma relevante fonte de notícias ambientais sobre as mais diversas
temáticas (mudança climática, energia, política, cidade etc). Ver mais em grist.org
24
The Environment Magazine é um revista de cunho ambiental criada em 1990, quando da comemoração do
20º aniversário do Dia da Terra. A revista contempla informações acerca das mais diversas questões ambientais.
A partir de 2013 ela tornou-se disponível exclusivamente em versão digital. Em seu web site todas suas edições
estão disponíveis para download gratuito. Ver mais em www.emagazine.com


104

interesse dos agregadores de notícias por conteúdo ambiental, a exemplo do Google News e
do Yahoo News, outros serviços se destacaram (Greenwire, ClimateWire e Environmental
News Service).
Assim, apesar de manifestar problemas estruturais tradicionais, o jornalismo ambiental
na internet recebeu contribuições substanciais dos recursos multimídia e dos mecanismos de
interação com a audiência, resultando na emergência de uma cobertura mais investigativa.
Conforme o autor citado, o papel da Society of Environmental Journalist27 mostra-se crucial
para esta reorientação do jornalismo ambiental, sobretudo na superação da ênfase no medo
que ainda vigora em boa parte da cobertura jornalística.
Convém ainda observar que, conforme defende Scharl (2004), a principal contribuição
da internet para a comunicação ambiental foi a superação das abordagens ecologicamente
moralistas em favor da visibilidade de diferentes pontos de vistas e das mais diversas
dimensões das problemáticas ambientais. Além disso, o autor reconhece que na internet o
agendamento passou a ser orientado para contemplar públicos-alvo segmentados. Portanto, ao
favorecer o acesso público a informações ambientais, a comunicação ambiental online
estimulou o engajamento e a educação ambiental na audiência, aproximando-se, dessa forma,
dos preceitos da Declaração Sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento, elaborada na
Conferência RIO 91. Nesses termos, o jornalismo online possibilitou uma maior participação
de diferentes atores sociais no debate ambiental. Em linhas gerais, na trajetória histórica da
comunicação ambiental, o jornalismo é a área que mais tem dado visibilidade ao tema do
meio ambiente, embora se observe contributos da publicidade e do cinema.

2.3 Comunicação Ambiental na publicidade

Este tópico propõe uma breve análise da relação entre publicidade e debate ambiental.
Convém atentar, de partida, que face à sua relação com o imaginário popular, centralidade e
relevância na orientação dos comportamentos sociais, sobretudo com a natureza e ao mundo

25
Earth First! Newswire é um portal de notícias ambientais criado pelo movimento ambiental Earth First! cujo
foco é a preservação ambiental a partir de uma perspectiva radical, centrada na ecologia profunda – o homem
desponta como agente de perturbação dos ecossistemas. Ver mais em earthfirstjournal.org
26
A National Geographic Magazine é uma publicação da The National Geographic Society, uma organização
científica e educacional sem fins lucrativos, criada em 1888, com ênfase na conservação ambiental. Em seu
website são disponibilizadas conteúdo de suas edições impressas contando ainda com recursos de multimídia.
Ver mais em www.nationalgeographic.com
27
Trata-se de uma associação norte americana criada em 1990 e que congrega jornalistas que atuam na
cobertura ambiental. Atualmente, a The Society of Environmental Journalists, SEJ, possui mais de 1200
associados, entre jornalistas e estudantes de mais de 27 países. Sua atuação objetiva à promoção do jornalismo
ambiental. Ver mais em www.sej.org/about-sej/vision-and-mission


105

natural, a publicidade passou a despertar o interesse de pesquisadores no campo de


investigação da comunicação ambiental. A esse respeito, contemplaremos algumas das
principais sinalizações apresentadas por Hansen (2010; 2015) e Corbett (2006).
Hansen (2010) observa que na publicidade a comunicação ambiental desponta como
estratégia de neutralização de discursos e ideologias ambientalmente favoráveis, de forma a
legitimar e justificar percepções e comportamentos ambientais sintonizados com a lógica do
consumo. A flexibilidade do termo natureza assume, no contexto publicitário, uma simbologia
diversa, empenhada na venda de produtos, serviços e imagens corporativas. Conforme
Hansen (2015a), a publicidade recorre à natureza para estabelecer ligações entre valores como
pureza, bondade, autenticidade e seus mais diversos interesses, sobretudo para formular um
sentido de responsabilidade e compromisso ético e sustentável em relação ao meio ambiente.
O autor estabelece uma análise comparativa do apelo ambiental na publicidade
veiculada globalmente, ressaltando que diante da homogeneização cultural, tanto os anúncios
veiculados nos Estados Unidos, quanto àqueles que circulam no Japão e na Coréia do Sul,
manifestam categorias semelhantes que se traduzem em manipulação da natureza, identidade
com a natureza e submissão da natureza. Assim, Hansen (2010) ressalta que prevalece a
representação de uma natureza pura, sossegada e constantemente associada à constituição de
uma identidade nacional. Nos anúncios em geral, a natureza assume um sentido retrospectivo,
representada de forma nostálgica, romântica, idílica, mística e também associado ao
sentimento de comunidade, de pertencimento e de identidade.
Em Hansen (2015a), podemos evidenciar que a década de 1970 marcou uma
importante mudança na representação da natureza na publicidade. A ênfase no seu domínio a
partir da ciência e da tecnologia como forma de promoção de progresso social fora
direcionada para celebrar uma recuperação da harmonia e da autenticidade comprometida.
Assim, a celebração e o controle da natureza foram sucedidos pela percepção de sua
destruição, sobretudo reconhecendo as práticas de produção e consumo modernas como
responsáveis diretos. Por isso a década de 1980 assistiu ao surgimento de estratégias
explicitas de associação de produtos e corporações ao meio ambiente na publicidade. Os
“anúncios verdes” passaram então a evidenciar a responsabilidade ambiental das empresas, o
reduzido impacto ambiental de seus produtos, além de estimular práticas de reciclagem e
comportamento ambientalmente responsável na audiência. Dessa forma, ressalta que o apelo
visual deixou de contemplar o aparato tecnológico para celebrar as paisagens naturais de
forma nostálgica e idealizada, com forte valorização do primitivo (estereótipo do bom


106

selvagem) e da harmonia entre homem e natureza como alternativa paradoxal à problemática


ambiental da modernidade, uma vez que esta não é rejeitada.
Apesar do resgate da natureza na publicidade, sobretudo a partir de sua relação com as
representações das identidades nacionais, cujo fim era estimular o consumo de produtos com
um menor impacto ambiental, é pertinente destacar, ainda segundo Hansen (2015a), alguns
aspectos que circunscrevem este contexto: a ocidentalização cultural, que faz emergir uma
representação estereotipada da natureza, marcada pela valorização de povos indígenas nos
Estados Unidos e de tradições ambientais em diversos outros países; e o resgate da natureza
idílica, que resultou também no resgate de identidades sociais nas dimensões de classe,
gênero e raça, com forte visão etnocêntrica. Para o autor, muitas dessas representações são
enganadoras das verdadeiras práticas ambientais das companhias e de seus produtos, portanto,
são designadas com estratégias de greenwashing.
Corbett (2006) sistematiza as representações da natureza que são privilegiadas em
anúncios publicitários em geral, pontuando, assim, quatro principais tipos: natureza como
cenário ou pano de fundo; natureza como atributos para produtos “verdes”; natureza como
vinculação de corporações ao meio ambiente (“imagens corporativas verdes”); natureza como
estímulo ao engajamento. De forma geral, são estes os pontos também observados por Hansen
(2010; 2015), contudo, Corbett (2006) descortina com mais propriedades a problemática
relativa a cada uma destas estratégias.
Na publicidade em geral, de acordo com Corbett (2006), é a representação da natureza
como cenário que prevalece, principalmente, como estratégia de transferir valores e
qualidades do mundo não humano para os produtos, serviços ou instituições anunciadas,
sobretudo a partir dos sentidos ressaltados por Hansen (2015a) – natureza pura, bondosa etc.
Portanto, Corbett (2006) alerta para o fato de que não são estes valores, ou mesmo a natureza,
que são vendidos nas mensagens publicitárias, pois este reforço de qualidades “verdes”
objetiva estimular, em especial, o consumo, associando-o a um estilo de vida “verde”,
ambientalmente responsável. A imagem corporativa “verde”, presente nos anúncios
publicitários, corresponde a uma estratégia para valorizar a responsabilidade ambiental das
empresas, e, consequentemente, promover o consumo dos seus produtos, a partir da
valorização de doações financeiras dessas instituições para grupos ambientais, da promoção
de reciclagem, entre outros. Finalmente, Corbett (2006) observa que representações de
natureza adotadas para incentivar ações ambientais (e também para manifestar uma defesa
ambiental) na audiência, são amplamente utilizadas em contextos de disputas, quando os
anunciantes visam neutralizar os argumentos contrários a sua atuação.


107

Nesse contexto, é importante observar que a publicidade “verde” apresenta diversas


lacunas, pois uma vez empenhada em reforçar produtos ou serviços atribuindo-lhes
qualidades “verdes”, comporta em si uma estratégia deliberada e que não esclarece ao
consumidor os reais custos ambientais relacionados. Quando buscam criar uma imagem
institucional “verde”, muitas vezes os anúncios incorrem no Greenwashing, visto que boa
parte das empresas não manifestam ações ambientais concretas. Corbett (2006) também
ressalta que as representações da natureza em publicidades como forma de manifestar uma
defesa ambiental ou o engajamento, não somente são adotadas pelas corporações, mas
também por diversos grupos ambientalistas como o Greenpeace, como forma de legitimidade
social. Há de atentar que a publicidade, enquanto forte aliada do consumo, e este, enquanto
grave amaça ao meio ambiente, parece incorporar um discurso vazio da problemática
ambiental, já que comumente os anúncios trazem uma visão distorcida da natureza e se
sustentam no apelo constante ao consumo.
Nessa mesma via, os animais também estão mal representados. Para Corbett (2001),
os animais são frequentemente valorizados em seus atributos e qualidades (sensualidade,
proteção, família, poder etc) nas estratégias publicitárias. Assim, predominam estereótipos das
mais diversas espécies a partir de uma ampla vinculação a rótulos antropocêntricos (astúcia,
perspicácia etc), com forte privilégio pelos mamíferos, uma vez que os mesmos são
representados como metáforas das famílias humanas e seus papéis sociais (pais provedores e
protetores, família feliz). Para a autora, tais representações traduzem uma autoimagem das
sociedades e decorrem da falta de conhecimento sobre os animais, seus habitats e sobre os
impactos que a vida moderna lhes impõe. Daí a generalização e o estereótipo, e também a
predileção por espécies com as quais nos julgamos semelhantes, quando não pelos animais
mais dramáticos e espetaculares.
Conforme observa Hansen (2015a), é possível afirmar que na publicidade permanece
uma diversidade de representações da natureza, desde a perspectiva de uma natureza a ser
explorada até a ideia de natureza divina e bondosa. Contudo, nos anúncios é a ideia de
natureza romântica que vigora, dentre as mais diversas representações (espiritualidade, abrigo,
proteção, fragilidade). Segundo Corbett (2006), temos que considerar que uma das principais
problemáticas das representações da natureza na publicidade decorre de sua orientação para a
promoção da satisfação pessoal e para a venda de bens e serviços privados. E, portanto, o
meio ambiente comum e os bens coletivos, como a água e o ar, são enquadrados de forma
antropocêntrica e narcisista, constituindo um fundo privado. Para a autora, o poder da
publicidade decorre de sua articulação com diversas outras instituições sociais (mídia, cultura


108

popular, corporações, política etc) no empenho do consumo como forma hegemônica de vida.
Assim, na publicidade, há uma inversão da natureza que, ao invés de despontar como
oposição ao consumo, estabelece uma estratégia para encorajá-lo, a partir de estratégias de
vendas que privilegiam a conveniência e a utilidade do mundo natural para a satisfação
humana. É diante deste contexto, sobretudo marcado pela ubiquidade, que a autora vai
assinalar que as representações da natureza na publicidade são decisivas para a manutenção
de uma percepção de natureza desconectada da vida humana, ou, em outros termos,
desconectada dos problemas ambientais advindos do nosso estilo de vida. Reservadas as
especificidades, o curso da comunicação ambiental na publicidade, assim como no cinema,
deflagra um campo fértil para a discussão das questões ambientais, embora bem menos
expressivo e com pouca visibilidade frente ao campo jornalístico.

2.4. O meio ambiente no audiovisual: notas sobre o caso do cinema

Conforme ressaltamos na seção anterior, o campo de investigação em comunicação


ambiental configurou-se recentemente, emergindo nos anos de 1970 e vindo a se expandir e
diversificar na década de 1990, sobretudo com destaque para a área que Cox (2010) designa
por Mídia e Jornalismo Ambiental. Contudo, esta área de interesse fora marcada pelo
privilégio à cobertura jornalística ambiental em detrimento de outros contextos midiáticos,
tais como o cinema e a publicidade. Portanto, o debate acerca da comunicação ambiental no
audiovisual é ainda incipiente, sobretudo no cinema de animação, seja pela própria escassez
de questões em torno da representação da natureza, seja pela oposição marginal que ocupa
frente a estudos acadêmicos que privilegiam o cinema documental e ficcional. Nesse sentido,
abordaremos nesta seção, algumas das principais discussões acerca da temática ambiental no
chamado cinema ambiental (ecocinema), recorrendo às contribuições de Rust e Monani
(2013), Ingram (2010), Ivakhiv (2008), Brereton (2005), MacDonald (2004) e Corbett (2006),
de forma que dedicaremos o capítulo seguinte exclusivamente à animação ambiental.
Em Ecocinema Theory and Practice, obra basilar quando se trata dos estudos críticos
acerca do cinema ambiental, Rust e Monani (2013) apresentam um panorama geral e também
alguns desdobramentos deste campo de investigação. De acordo com os autores, trata-se de
um campo tardio, pois foi somente nos anos de 1990 que os estudos acerca do cinema
contemplaram sua atuação na comunicação ambiental, quando surgiu um conjunto de
pesquisas dedicadas a compreender a representação ambiental no cinema e seus impactos na
audiência. Esta perspectiva, inserida no campo dos estudos culturais, denominada por


109

ecocrítica do cinema, recebeu contribuições de diversas disciplinas, sobretudo observando


gêneros fílmicos distintos.
Conforme os autores, dessa heterogeneidade constitutiva resultou uma noção de
ambiente e de natureza não menos diversa nas investigações do ecocinema, envolvendo tanto
o meio físico quanto as construções culturais, extrapolando, portanto, a polarização entre
natureza não humana e sociedade/cultura. Sob esta perspectiva, é compatível a premissa de
que os filmes em geral despontam como textos cinematográficos que representam pessoas e
seus habitats e que são dotados de capacidade de influenciar nossa percepção do mundo e
nossas ações sobre o mesmo. Na verdade, foi esta diversidade de abordagens ambientais
manifestada no cinema que estimulou uma variedade de pesquisas e estudos acerca do seu
discurso ambiental.
Desta forma, Rust e Monani (2013) defendem que o ecocinema não comporta apenas
filmes que manifestam explicitamente uma “consciência ambiental”, pois como um campo
amplo é marcado por conflitos e disputas empenhados na delimitação do filme ambiental (eco
filme) e, consequentemente, empenhados na delimitação da abrangência do próprio campo.
Para os autores, nessa disputa algumas abordagens defendem como eco filme apenas
produções independentes, de caráter ativista e não comercial, enfatizando, sobretudo, os
documentários não hollywoodianos, enquanto outras defendem produções mais abrangentes,
reconhecendo que todo filme pode resultar em percepção e atitude ambiental, pois ainda que
manifestem um alinhamento explícito com as ideologias dominantes do progresso, do
desenvolvimento e do consumo, podem estimular uma percepção das contradições que
envolvem as relações entre os homens e entre estes e o mundo natural. Assim, o campo é
marcado por sua considerável amplitude quanto aos filmes contemplados, uma vez que, em
certa medida, todo filme pode constituir uma oportunidade de análise ecocrítica28.
Acerca da expansão do campo do ecocinema, Rust e Monani (2013) observam haver
um interesse crescente e diverso nos estudos dessa área, conforme evidenciam as recentes


28
No contexto dessa tese, é importante ressaltar que a análise ecocrítica é compreendida em sintonia com a
perspectiva da comunicação ambiental apresentada por Cox (2010). Portanto, tomamos por ecocrítica as análises
da representação da natureza e de sua problemática no campo do audiovisual, e não apenas aquelas confinadas
no domínio dos estudos culturais. Contudo, atentamos para as sinalizações de Glotfelty (1996) que remonta a
Ecocrítica enquanto campo de investigação da representação da natureza e da crise ambiental originariamente
dedicado à produção literária. Conforme defende a autora, reconhecendo o pioneirismo dessa perspectiva, a
Ecocrítica deu origem ao campo da comunicação ambiental, quando o interesse pelas obras literárias estimulou
investigações acerca dos mais diversos produtos culturais de apelo popular, a exemplo do audiovisual. Assim,
quando ela revela que a preocupação geral da Ecocrítica reside na compreensão da representação da natureza e
de sua problemática, na identificação e na análise de suas estratégias de estimular posturas ambientalmente
favoráveis nos destinatários das obras, observamos que, no campo do audiovisual, esta compreensão traduz a
análise das funções constitutivas e pragmáticas sistematizadas por Cox (2010) e discutidas na seção anterior.


110

investigações dedicadas ao cinema transnacional29 e suas preocupações culturais e ambientais;


ao cinema de engajamento político, a exemplo das produções relativas às questões de gênero
a partir do discurso do eco feminismo; ao cinema relacionado à justiça ambiental, à produção,
circulação e recepção do ecocinema, e à configuração da chamada pegada ecológica30 da
indústria cinematográfica. Para os autores, tais estudos se voltam basicamente para quatro
vertentes principais do campo:

• A teoria do ecocinema: compreende os aspectos teóricos do ecocinema;


• A prática do ecocinema no filme documentário: compreende a promoção de
engajamento a partir da consciência ambiental;
• A prática do ecocinema no contexto hollywoodiano ficcional: contempla a produção
cinematográfica dominante e suas limitações na representação das questões ambientais
diante de seus apelos comerciais e populares;
• Os estudos para além dos filmes: se voltam para os festivais de filmes ambientais e
para os aspectos técnicos e estéticos na representação de dados científicos.

Diante dessa configuração do campo de investigação, torna-se evidente que os estudos


do ecocinema não estão confinados a um gênero fílmico, nomeadamente o documentário
dedicado à promoção de uma consciência ambiental. Além disso, a expansão do campo, tanto
em termos teóricos quanto em termos de práticas investigativas, revela a diversidade e a
importância do eco filme na representação de outras formas de perceber e atuar no mundo,
constituindo alternativas ao modelo antropomórfico de relações com a natureza. Notamos,
contudo, que apesar destes desdobramentos, o cinema de animação ainda não configurou uma
área consistente de estudos ecocríticos, embora seja crescente e relevante o empenho de
determinados autores nessa direção.
Ivakhiv (2008) também desenvolve um panorama geral acerca do estado da arte em se
tratando de análise do cinema ambiental. Em linhas gerais, suas observações se aproximam


29
A obra Chinese Ecocinema: In the Age of Environmental Challenge, publicada pela Universidade de Hong
Kong, em 2009, constitui um exemplo desta perspectiva. Nela, são examinadas as representações acerca dos
conflitos relativos às políticas hídricas, das transformações das paisagens e do espaço urbano, da bioética e de
alternativas biocêntricas no cinema chinês. Ver mais em Lu & Mi (2009).
30
Uma importante discussão acerca da relação entre produção cinematográfica, consumo de recursos naturais e
seus impactos ambientais é apresentada por Bozak (2012), em The Cinematic FootPrint: Lights, Camera,
Natural Resourses. Nela, a autora observa, de forma comparativa, os impactos ambientais do cinema analógico e
do cinema "livre de carbono". Assim, a autora analisa o cinema sob a ótica da economia de energia e diante da
expansão da chamada economia da imagem.


111

daquelas apontadas por Rust e Monani (2013), sobretudo ao reconhecer o pioneirismo dos
estudos interessados na produção literária (a Ecocrítica) e a diversificação quanto às obras
contempladas (documentários, que abordam a natureza e a vida selvagem, o cinema
experimental (também chamado de cinema avant-garde), introduzindo temas de meio
ambiente; e o cinema hegemônico, com suas representações de animais e de discursos
ambientais. Portanto, evidencia-se que o ecocinema é um desdobramento da expansão do
debate ambiental na produção literária, que começou a promover perspectivas críticas sobre a
questão ambiental em outras áreas.
A partir de suas observações quanto ao desenvolvimento do campo, Ivakhiv (2008)
também se mostra consensual com Rust e Monani (2013), ao reconhecer que, no contexto da
ecocrítica, o filme revela uma capacidade de estimular na audiência uma empatia com as
representações do mundo natural. Assim, observa que devido a sua natureza espetacular e
cinemática, o filme torna-se diferenciado diante das demais mídias em termos de capacidade
educacional e de potencialidades para o despertar de uma consciência ambiental. Contudo,
Ivakhiv (2008) adverte que a economia política do audiovisual31 implica constrangimentos
quanto ao seu uso em favor de tais questões. Isto significa que, assim como o jornalismo e a
publicidade, também o cinema é orientado por questões políticas e econômicas, o que o torna
refém de interesses que, por vezes, divergem da problemática ambiental.
Na verdade, Ivakhiv (2008) realiza uma análise arqueológica da ecocrítica do cinema,
sistematizando compreensões significativas acerca das potencialidades e limitações tanto dos
documentários, do cinema hollywoodiano quanto do cinema experimental. Acerca dos
documentários sobre o mundo natural e a vida selvagem, o autor ressalta que a maior parte
dessas produções oferece uma visão distorcida da natureza, motivada, sobretudo, pelos
interesses comercias estabelecidos. Há um predomínio de representações descontextualizadas
em que determinadas espécies são privilegiadas (predomínio do carisma pela megafauna),
mas destituídas de sua complexidade e ignoradas quanto às relações e impactos decorrentes
das atividades humanas. Conforme o autor, é marcante o voyeurismo no enquadramento de
uma natureza espetacularizada enquanto objeto disponível, embora reconheça que muitos
destes filmes constituam oportunidades únicas de apresentação das espécies contempladas.


31
Ao longo desse trabalho, a economia política do audiovisual, do cinema ou da mídia assume um sentido
crítico, fortemente alinhado à perspectiva marxiana ao considerar o poder do capital sobre as relações sociais.
Portanto, assumimos que nas relações estabelecidas no contexto da produção audiovisual, e midiática em geral,
os interesses econômicos resultam em constrangimentos diversos infligidos aos profissionais relacionados, e,
consequentemente, orientam decisivamente o alinhamento ideológico das abordagens. Ver mais em PAULO
NETTO e BRAZ (2008).


112

De acordo com Hansen (2010), as mídias populares, a exemplo do cinema e da


televisão, são cada vez mais relevantes na representação do meio ambiente e de sua
problemática. Contudo, grande parte dos documentários e da programação televisiva acerca
da vida selvagem empreende uma comunicação ambiental apenas vinculada ao
entretenimento dos expectadores. Elas relegam as questões políticas e os conflitos de
interesses sobre o meio ambiente de forma deliberada, legitimando uma representação cultural
sobre este assunto bastante limitada, como é o caso dos filmes sobre a vida selvagem,
realizados pela Disney na década de 50, os quais revelam a sua explícita afinidade com os
valores culturais hegemônicos norte americanos (a apologia ao progresso econômico). O foco,
segundo o autor, é apresentar uma natureza romântica, bela, pura e sublime, de forma a
libertar a América das memórias da Guerra da década anterior. Trata-se, segundo Hansen
(2010), de representar a natureza em conformidade com valores ideológicos fortemente
consolidados na democracia e na moralidade norte americana, tais como família, religião,
gênero, ordem social, daí a comunicação ambiental na Disney privilegiar um ambiente
harmonioso, idílico, primitivo e intocado, desprovido até mesmo da violência animal. O meio
ambiente, portanto, seria mais um elemento para compor o cenário românico do mundo
encantado da Disney.
Ainda de acordo com o autor, nos anos de 1960, os filmes sobre a vida selvagem
sofreram uma grande mudança em relação à década anterior. Em um contexto marcado pela
domesticação da natureza e pelo turismo, emergiu uma representação antropomorfizada32 do
meio ambiente, agora dotada de carinho e personalidade. Tal representação se encontra
marcada pela visitação de parques florestais, tomando a natureza como aliada, sem despertar
qualquer crítica ao desenvolvimento, em plena sintonia com as finalidades mercadológicas,
apesar das pressões empreendidas pelo movimento ambientalista. No final dos anos de 1970,
constata-se uma outra mudança na comunicação audiovisual acerca da natureza, de modo a
relegar as ideias de harmonia e equilíbrio para privilegiar uma representação de uma natureza
violenta e dramática. Para Hansen (2010), mesmo com toda pressão sofrida pelo movimento
ambientalista norte-americano, evidencia-se a insistência pela predileção de programas
centrados em representações dramáticas da natureza, a partir da exploração do sexo e da
violência no reino animal, desconsiderando as questões políticas e econômicas que envolvem
a temática.


32
No capítulo seguinte há uma exposição detalhada a respeito deste conceito.


113

Em linhas gerais, Hansen (2010) ressalta que as convenções de narrativas acerca da


vida selvagem estabelecidas pela Disney se tornaram vigorosas e persistem até os dias atuais,
em que a natureza é explorada em construções dramáticas que valorizam o seu estado
primitivo, sendo vista como intocada e destituída de conflitos humanos. Essa perspectiva,
denominada de "Blue-Chip" 33 , apoia-se nas seguintes características: representação da
megafauna (os grandes predadores); exploração de visual esplendoroso; emprego de
narrativas dramáticas; distanciamento político e histórico; ausência de pessoas e ausência da
ciência. Aliado a isso, temos atualmente também a ênfase na exploração visual da natureza,
em detrimento da exploração tradicional da narrativa.
Segundo Ivakhiv (2008), é importante perceber que o cinema hollywoodiano, de
forma geral, é marcado por uma diversidade de ideologias e discursos ambientais, sejam eles
radicais ou reformistas. Contudo, para ele predomina o discurso prometeico – legitima o
domínio do homem sobre o mundo natural a partir do aparato tecnológico, dada a sua
associação direta aos interesses comercias da indústria cinematográfica. Nesse sentido, o
autor é bastante categórico ao ressaltar que diversas pesquisas em ecocinema apontam que o
predomínio de abordagens ambientais superficiais traduzem esses filmes como estratégias de
greenwashing, cujas animações, como FernGully: As Aventuras de Zack e Crysta na Floresta
Tropical (1992), O Rei Leão (1994) e Pocahontas (1995), são exemplos ilustrativos.
Entretanto, Ivakhiv (2008) reconhece que o cinema hegemônico mostra-se relevante
para estimular a consciência ambiental, observando que filmes veiculados durante a Guerra
Fria foram um marco desta perspectiva, quando retrataram ameaças não naturais para a vida
humana, como as catástrofes nucleares. Mais tarde, filmes como Corrida Silenciosa (1972) 34
e Blade Runner, o Caçador de Androides 35 (1982) traduziram em espetáculo visual distopias
ecológicas relacionadas à corrupção de uma natureza sublime. Com Steven Spielberg,
nomeadamente em Jurassic Park: Parque dos Dinossauros (1993) e sua continuação em O
Mundo Perdido: Jurassic Parque (1997), torna-se popular uma representação de uma
natureza espetacular e também se tornam visíveis as consequências da intervenção humana
sobre a mesma (o caso da engenharia genética). Tais produções, porém, fazem Ivakhiv (2008)

33
No contexto dos documentários sobre a vida selvagem, a expressão blue-chip diz respeito aos programas
marcados pelo elevado valor de produção, normalmente destinada à circulação em um mercado internacional de
televisão. Conforme ressalta Kilborn (2006), devido aos altos custos, tais produções têm sido preteridas em favor
de produções mais baratas, realizadas sob a forma de coprodução.
34
O título original é Silent Running. O filme foi dirigido por Douglas Trumbull e retrata um contexto em que a
natureza fora devastada, restando apenas alguns dos exemplares da fauna e da flora conservados em espaços
artificiais longe da terra.
35
O título original é Blade Runner. Dirigido por Ridley Scott, retrata um contexto em que robôs mais ágeis e
com inteligência semelhante aos humanos se tornam uma grande ameaça e necessitam de ser exterminados.


114

questionar se a ênfase recai sobre o reconhecimento do poder da natureza ou sobre o exercício


do poder do cinema celebrado em seus efeitos visuais.
A respeito do cinema experimental, Ivakhiv (2008) destaca a representação da
natureza no contexto norte-americano. E, nesse intuito, observa uma valorização da vertente
avant-garde na promoção de mudanças nas percepções acerca do mundo natural, sobretudo
apoiando-se em uma visualidade que enfatiza lugares, paisagens, rios e diversos fenômenos
naturais. Conforme o autor, vários filmes sobre lugares foram realizados, abandonando as
convenções da narrativa convencional em favor de novas explorações fílmicas na
representação de paisagens e seus diversos usos, muitas vezes focando os conflitos e as
consequências. Mas, apesar dessa potencialidade, tais produções resultaram em impactos
sociais reduzidos, principalmente em função de sua escassa circulação (poucas cópias e
bitolas não comerciais como a 16mm).
De um modo geral, Ivakhiv (2008) adverte acerca do distanciamento, da objetificação,
da descontextualização e da comodificação do mundo através da câmera, o que resulta em
destituição do papel de participante do expectador. Assim, defende que o enquadramento
visual do cinema favorece a contemplação da natureza enquanto movimento, ocasionando
uma representação do sublime que tanto pode estimular o domínio ou o engajamento. Dessa
forma, enquanto produto cultural, o audiovisual traduz significados que se manifestam em sua
forma e no seu conteúdo, por isso, conforme o autor, o filme pode resultar em efeitos diversos
quanto a sua mediação, seja sobre lugares, pessoas ou animais. Ele tanto pode promover
popularização ou o desprezo, a valorização ou desvalorização destes aspectos, educando ou
não a sua audiência. Além disso, Ivakhiv (2008) ressalta que as questões ambientais também
foram inseridas no contexto do cinema enquanto prática produtiva, orientando, sobremaneira,
a produção hollywoodiana e a adoção de uma série de perspectivas ambientalmente
favoráveis. A criação da Environmental Media Association (EMA) desponta como iniciativa
para estimular esta prática e também para encorajar o cinema enquanto educação acerca dos
problemas ambientais, possibilitando, por vezes, o estímulo ao seu enfrentamento.
Uma discussão mais exaustiva e minuciosa acerca das representações do meio
ambiente no cinema hollywoodiano é apresentada por David Ingram em sua obra Green
Screen: Environmentalism and Hollywood Cinema, publicada incialmente em 2000. Ao
contemplar uma extensa lista de filmes que retratam questões relativas à natureza, aos animais
selvagens e às políticas de uso da terra, Ingram (2010) define por cinema ambiental as obras
em que as questões ambientais são conscientemente representadas e assumem posição central
nas narrativas. Mas, apesar dessa especificidade na delimitação de filme ambiental, o autor


115

não descarta a relevância das representações do meio ambiente no cinema, conforme


sinalizado por Rust e Monani (2013). Para o autor, a natureza não humana está presente em
uma grande diversidade de filmes, e, embora desponte quase exclusivamente como pano de
fundo para o desenvolvimento de dramas humanos, as estratégias de omissão e negação de
questões ambientais também se mostram relevante.
Ingram (2010) assume uma concepção de natureza enquanto realidade física
independente das atividades humanas, mas que tanto influencia as práticas sociais como
também sofre influência das mesmas, uma nítida filiação a perspectiva da sociologia
ambiental. Nesse sentido, contempla como cinema ambiental filmes em que se torna evidente
a manifestação de ideologias e discursos empenhados em estabelecer uma conceituação
cultural de natureza e meio ambiente (valores e atitudes sobre o meio ambiente). Porém, o
autor ressalta que os filmes ambientais não devem ser traduzidos como representações
intelectuais coerentes, sérias, complexas e profundas das questões retratadas, uma vez que, a
exemplo da produção hollywoodiana, são marcados por constrangimentos ideológicos
decorrentes do apelo comercial instituído. Para Ingram (2010), tais imperativos comerciais
resultam em abordagens que privilegiam o entretenimento, destituindo as polêmicas
relacionadas em favor de ângulos dramáticos, destituídos também de coerência política e
ideológica. Esse cinema ambiental é nomeadamente demarcado, segundo o autor, pelo cinema
ambiental hegemônico (cinema hollywoodiano), compreendido como uma aglomeração
ideológica caracterizada por discursos contraditórios que disputam e anseiam legitimar
determinadas relações entre homem e natureza.
De forma geral, são as estratégias estéticas hollywoodianas – alinhadas à economia
política do cinema – que aparecem como maior obstáculo à representação de questões
ambientais. Ingram (2010) observa a problemática ambiental contemporânea (destruição da
camada de ozônio, radiação nuclear, mudanças climáticas, dentre outras questões) como um
contexto complexo, uma vez que tais fenômenos são lentos, muitas vezes invisíveis, de difícil
resolução e cuja responsabilidade não se faz claramente identificável. Assim, o melodrama
hollywoodiano, marcado pela simplificação de questões sociais e políticas e pela adoção de
resoluções fáceis para as mais diversas problemáticas, parece ser uma resposta incompatível
com as questões que emergem do meio ambiente. Portanto, conforme defende Ingram (2010),
os conflitos maniqueístas geram uma representação individualizada de problemas ambientais
que são coletivos, opondo heróis e vilões, enfatizando culpa e responsabilidade e adotando
uma resolução bastante simplista em relação à crise ambiental do mundo real. Enquanto
revelação moral e emocional, o melodrama hollywoodiano resulta em construções distorcidas


116

da realidade, sobretudo da atuação dos principais grupos de interesses no debate ambiental,


embora possa também indicar alguma relevância para a visibilidade popular de novas
questões ambientais.
No cinema ambiental as narrativas melodramáticas e seus conflitos maniqueístas
resultam em implicações particulares a respeito do meio ambiente. Conforme Ingram (2010),
é comum nos filmes ambientais a oposição entre heróis inocentes, identificados com a
natureza, e vilões (caçadores e capitalistas) motivados pela ambição. Da mesma forma, o
autor aponta que nesses filmes, presentes em especial na década de 60, a tecnologia industrial
aparece como a principal ameaça da natureza e das comunidades tradicionais. O certo é que,
neste momento, os discursos ambientais recorrentes nos filmes se fundam na dicotomia entre
heróis e vilões, cuja moralidade dos heróis influencia percepções de responsabilidade sobre o
meio ambiente, estimulando o engajamento da audiência contra a degradação. Todavia, esta
orientação é distorcida, uma vez que mascara responsabilidade a partir de sua generalização
(uso do “nós” ou do “eles”), visto que embora identifique a tecnologia como vilã, não
especifica na prática quem são estes vilões. Essa perspectiva maniqueísta também assinala os
conflitos ambientais como conflitos individuais, cuja resolução recai sobre o indivíduo e não
sobre a ação política coletiva. Os problemas ambientais, portanto, são tratados como eventos
isolados, descontextualizados e pouco problematizados, desconectados das causas estruturais.
Contudo, não somente o melodrama apresenta-se problemático na representação de
questões ambientais no cinema. Conforme Ingram (2010), de um modo geral, a retórica
realista (filmes baseados em fatos reais ou que estabelecem uma estética que incorpora
elementos da realidade) também resulta de decisões deliberadas que visam explorar aspectos
melodramáticos em sua estética e narrativa, sobressaindo ideias já assinaladas, como as de
heróis, vilões, emoção, moralidade. Na verdade, para o autor, a combinação entre realismo e
fantasia também é bastante requisitada na representação de questões ambientais, sobretudo em
narrativas apocalípticas que acentuam a vingança da natureza sobre os seres humanos, a
exemplo dos filmes de desastres naturais e de ataques de animais selvagens. Em tais filmes, é
valorizado o poder do indivíduo em deter o apocalipse ambiental e assim mudar o futuro,
embora este quase nunca seja claramente indicado. Há, portanto, em tais casos, um
predomínio pela ação do indivíduo e não do coletivo em resoluções simplistas de problemas
ambientais complexos. Dessa forma, o modo narrativo apocalíptico em filmes de
entretenimento mostra-se incapaz de estimular a reivindicação de uma nova ideologia
ambiental em oposição ao progresso econômico e científico. Noutros termos, há um esforço
mesmo de disfarçar as condições objetivas dos problemas ambientais, não esclarecendo a


117

complexidade do fenômeno, fundado em aspectos políticos, econômicos e sociais, e assim,


não há uma articulação nos filmes acerca dos interesses comerciais e de mercado. A recepção
dessa visão perante a audiência promove posturas individualistas para tratar dos problemas
ambientais, resultando em um tipo de engajamento limitado, que condena a degradação
ambiental, mas não condena o consumo.
Em Ingram (2010), percebemos que os filmes ambientais hollywoodianos tomam as
questões ambientais como base para representação dramatizada das relações sociais com a
natureza selvagem. Nesse sentido, mais do que o mundo natural, o interesse destas produções
é, prioritariamente, de ordem comercial, por isso sua ênfase antropocêntrica nos dramas
humanos. Em geral, este cinema ambiental assume um caráter social terapêutico, reforçando a
hegemonia do homem americano branco a partir de sua renovação mediante contato com uma
natureza pura e sagrada, cujo objetivo é o relaxamento e a contemplação pela vida moderna.
Além disso, insere a tecnologia em um contexto paradoxal, marcado pela nostalgia diante de
uma modernidade que alterou drasticamente a relação homem e natureza, mas que reivindica
soluções tecnológicas para os problemas ambientais, apolíticos e que ignoram as relações de
produção e consumo. Por isso o autor vai afirmar que, em se tratando de questões ambientais,
o cinema entretenimento se empenha mais em domesticar e dissipar as problemáticas sociais
do que resolvê-las.
Conforme já observado, sendo o cinema comercial hegemônico (ficcional e
documentário) marcado por limitações na representação do meio ambiente e sua problemática,
é no cinema experimental que esforços de superação destas limitações têm sido
implementados. Neste sentido, MacDonald (2004) assinala que o cinema não comercial
passou a contemplar, nas últimas décadas, maior envolvimento com o mundo natural,
empenhando-se em estimular uma nova percepção da natureza na audiência, em nítida
oposição ao consumismo vigente que tanto desponta no cinema hegemônico. Por cinema não
comercial, o autor destaca produções que subvertem as abordagens usuais do audiovisual e,
portanto, o ecocinema aí inserido dedica-se a oferecer à audiência uma percepção de
processos naturais diversos.
Para MacDonald (2004) o cinema experimental refere-se ao “jardim edênico” das
representações ambientais. Um dos principais aspectos de tais produções consiste na
subversão das convenções hegemônicas de exploração visual de paisagens naturais. Neste
modelo experimental de fazer cinema, a natureza é apresentada como elemento integrante das
narrativas, diferente do cinema hegemônico, que a utiliza apenas como pano de fundo e
paisagem, cujo foco são os personagens e seus melodramas. Conforme o autor, obras como


118

Riverglass: A River ballet in Four Seasons (1997), de Andrej Zdravic, são ilustrativas desse
contexto, em que as belezas das paisagens naturais são apresentadas em sequencias inteiras de
forma a reivindicar atenção da audiência, ainda que constituam um desafio de leitura ao
próprio filme. De forma geral, esta exploração não convencional se empenha na promoção de
um sentido de preservação para determinados lugares, espaços e espécies.
Acresce a isso, que tal utilização das paisagens naturais também funcionou como
estratégia para instigar o sentimento de pertencimento, de preservação dos recursos naturais,
sobretudo em relação aos rios dos Estados Unidos, que foram constantemente retratados em
vários filmes experimentais. De acordo com MacDonald (2004), em comum, estas produções
subverteram as convenções hollywoodianas, usando planos longos, silenciosos e em preto e
branco para enquadrar a natureza. Nesse contexto, o autor vai destacar as estratégias criativas
do cinema avant-garde norte americano nas décadas de 1960 e 1970, valorizando,
nomeadamente, Peter Hutton36 e suas obras In Titan´s Goblet (1991) e Study of a River (1997).
Hutton ocupou-se do rio Hudson, explorando a contradição marcada pela intensa exploração
industrial (instalação de cais, pontes, parques industriais, usinas de energia) e pela existência
de áreas ainda intocadas. Posicionando-se criticamente a respeito da harmonia entre homem e
natureza, Hutton explorou os conflitos relativos aos usos do rio, denunciando-os como
ameaça ao seu futuro a fim de estimular desdobramentos políticos a partir do engajamento da
audiência.
De forma geral, MacDonald (2004) destaca, por parte da avant-garde norte-americana,
a busca por novas representações fílmicas criativas, sobretudo na construção de narrativas.
Em realizadores como James Benning37 a preferência pela geografia americana resultou em
explorações visuais inusitadas acerca do tempo e do espaço, a partir do contraste entre
paisagens sociais e paisagens naturais. Assim, em obras como 11x14 (1977), One Way Boogie
Woogie (1977), Grand Opera: An Historical Romance (1978), Deseret (1995) e sua trilogia
de documentários sobre a Califórnia, El Valley Centro (1999), Los (2001) e Sogobi (2002), a
paisagem é direcionada como elemento de engajamento com diversos temas e problemas
sociais, sobretudo os ambientais. Tais obras, fazendo uso não convencional do som e da
montagem, enfatizam as transformações da geografia, celebrando sua exuberância, e ao
mesmo tempo, expondo a degradação ambiental a que foram submetidas, resultado das
disputas entre os mais diversos atores sociais. Para MacDonald (2004), o cinema experimental
destaca-se por produções orientadas pela “consciência ambiental”, empenhadas em evidenciar

36
Ver mais sobre o realizador em http://www.imdb.com/name/nm0404660/?ref_=fn_al_nm_1
37
Ver mais sobre esse realizador em http://www.imdb.com/name/nm0072159/


119

a exploração das áreas selvagens e também em denunciar os impactos sobre a vida selvagem
decorrentes da produção industrial. Conforme o autor, é importante observar que no cinema
experimental, a própria opção por filmes curtos e em 16mm ao invés da bitola de 35mm,
traduzia uma consciência ambiental que permeava seus realizadores, os quais produziam os
seus filmes adotando uma postura de menor impacto ambiental.
Se Ingram (2010) é revelador da diversidade da temática ambiental manifestada no
cinema hollywoodiano, em Brereton (2005) observamos especificidades nas representações
da natureza relativas a gêneros específicos, nomeadamente o Western, os Road Movies, os
precursores da ficção científica (filmes B38 da década de 1950) e os filmes de ficção científica
realizados mais recentemente. Convém ressaltar que a perspectiva de ecocinema adotada pelo
autor é mais ampla que aquela adotada por Ingram (2010), contemplando tanto filmes em que
a natureza desponta em primeiro plano da narrativa (orientada a estimular uma reflexão
ambiental) como também aqueles em que ela é apenas pano de fundo para os conflitos
melodramáticos.
De forma geral, nos filmes em que o meio ambiente é explicitamente representado,
Hollywood privilegia representações românticas, de forma a estabelecer, conforme ressalta
Brereton (2005), uma celebração terapêutica de uma natureza pura e sagrada em oposição a
uma realidade marcada por sua intensa apropriação e transformação pelas sociedades
industriais contemporâneas. Nesse contexto, em que os efeitos especiais asseguram esta
perspectiva, o cineasta Steven Spielberg é assinalado como expoente da internalização de
aspectos ecológicos no cinema mainstream (embora suas obras nem sempre resultam em
estímulo direto sobre a audiência), perspectiva semelhante a que observamos anteriormente
em Ivakhiv (2008). Jurassic Park: Parque dos Dinossauros (1993) é novamente celebrada
como uma das mais relevantes representações ecológicas – no contexto hollywoodiano, em
sua distopia acerca da interferência humana sobre a natureza, ainda que sua continuação (O
Mundo Perdido: Jurassic Parque, de 1997) apresente um encerramento utópico centrado na
necessidade de livrar o mundo natural da interferência humana. Para o autor, filmes inseridos
nessa perspectiva exploram representações da natureza como benevolente e favorável ao
nosso envolvimento, mas também como ameaçadora.
Brereton (2005) reconhece que há valiosas representações da natureza em filmes
westerns e em road movies realizados a partir da década de 50, considerando-os precursores


38
Na discussão do autor, o termo designa filmes de baixo orçamento que foram produzidos neste período
sobretudo contemplando temas fantásticos e apelativos, os quais despontam como os precursores dos filmes de
ficção científica.


120

dos filmes ambientais contemporâneos. Ressalta que ambos os gêneros celebram a paisagem
em sua configuração romântica, mas orientando perspectivas distintas. Em filmes westerns a
paisagem está aberta ao desbravamento e às aventuras do homem (o herói branco) em busca
de constituir uma nova civilização. Em geral, ela é inicialmente revelada em sua beleza e
bondade, em seguida se transforma em ameaça e desafio. Conforme o autor, diferentemente
de produções anteriores, a partir de 1960 a representação estereotipada dos povos nativos
(como selvagens irracionais e violentos) cedeu espaço para narrativas empenhadas em
evidenciar o saber ecológico dos povos nativos como ideal de relação com o mundo natural.
Brereton (2005) destaca como exemplos obras como Rastros do Ódio (1956)39 e Dança com
Lobos (1990).
Para Murray e Heumman (2009), nesse gênero as representações do ecoterrorismo no
cinema hegemônico são mais substanciais, uma vez que elas tanto vilanizam os agentes
empreendedores da degradação do ambiente como também buscam estabelecer uma
alternativa política para as questões relacionadas, sobretudo a partir da eliminação dos agentes
da degradação mediante uso da força e da violência como forma de conter a degradação em
um momento marcado pelas limitações dos sistemas legais vigentes. Conforme os autores,
vários desses filmes contemplam contextos de exploração ambiental no século XIX,
sobretudo a partir da perspectiva da sustentabilidade ambiental contemporânea. O Cavaleiro
Solitário (1985), de Clint Eastwood, é referenciado como exemplo dessa abordagem,
envolvendo as disputas pela exploração de ouro, opondo práticas extremamente impactantes
como a mineração hidráulica, adotadas pelos grandes exploradores, e aquelas de caráter
sustentável, adotadas pelos pequenos mineradores.
Acerca dos road movies, é o papel das paisagens40 (e do mundo natural em geral)
sobre o indivíduo que se mostra ambientalmente relevador nas viagens e jornadas em busca
do autoconhecimento. Conforme observa Brereton (2005), sob influência direta dos
movimentos contra culturais norte americanos da década de 1960, em muitos desses filmes é
nítida a rejeição à tecnologia, à vida urbana e a diversos aspectos e valores culturalmente


39
Sob o título original The Searchers (1956), o filme foi dirigido por John Ford e trata da questão dos
costumes e do racismo relacionado aos índios que habitavam os Estados Unidos.
40
Em Cinema and Landscape, Rayner e Harper (2010) observam que as representações de paisagens no
cinema visam explorar os seus mais diversos significados culturais. Conforme os autores, as paisagens
cinematográficas estão sujeitas a uma percepção direta, quando de sua representação literal, metonímica, quando
os elementos descritos almejam dotá-las de significados específicos, ou metafórica, quando almejam associar as
paisagens a questões relacionadas a outros planos sociais. Nesse sentido, observamos que no cinema as
paisagens podem representar valores e desejos diversos, além de mostrarem-se relevantes à compreensão da sua
exploração por parte do homem e também dos mais diversos aspectos culturais representativos de um
determinado país. Ver mais em Rayner e Harper (2010).


121

hegemônicos por parte dos protagonistas que se lançam na estrada em busca de novos valores
e também de liberdade – a contemplação e o envolvimento com a paisagem é crucial para tal
objetivo. Percebe-se, portanto, que a partir desse envolvimento metafísico com a natureza,
road movies manifestam, ainda que de forma indireta, questões relativas à busca por
legitimidade na exploração e controle do mundo natural. Sem Destino (1968)41, Thelma &
Louise (1991) 42 , Grand Canyon: Ansiedade de uma Geração (1991) 43 e História Real
(2000)44 são ilustrativos desse contexto.
Filmes de ficção científica e thrillers de conspiração 45 são, de forma geral,
reconhecidos por privilegiarem representações acerca das interações entre homem e
tecnologia, por isso Brereton (2005) reconhece em tais gêneros uma afinidade para acomodar
questões ecológicas. Conforme o autor, a partir de 1950 os filmes B manifestaram críticas ao
domínio da natureza em favor do progresso das sociedades, sobretudo no contexto de Guerra
Fria, marcado pela constante ameaça nuclear. Muitos desses filmes exploraram o que o autor
denomina de eco paranoia (medo de ameaças químicas, nucleares, abusos ecológicos), uma
abordagem que foi vigorosa até a década de 1970. Brereton (2005) acredita que a emergência
de uma perspectiva holística do planeta (após publicação de fotos da terra vista do espaço)
influenciou decisivamente o gênero, quando questões relacionadas ao crescimento
populacional e à escassez de alimentos e recursos, tornaram-se recorrentes em narrativas
como No Mundo de 2020 (1973)46 e Fuga no Século 23 (1976)47. Questões relacionadas à
necessidade de uma eco harmonia cósmica também foram exploradas, a exemplo de O
incrível homem que encolheu (1957) 48 e, mais tarde, em Contato (1998), além da eco-
conspiração despontar em filmes mais recentes, a exemplo de A morte vem do céu (1982)49

41
Easy Rider (1968) é o título original desse filme que retrata a saga de dois motoqueiros pelo sul dos Estados
Unidos.
42
Dirigido por Ridley Scott, o filme trata da história de duas amigas que encontram na estrada a saída para a
monotonia de suas vidas.
43
Dirigido por Lawrence Kasdan é uma drama sobre pessoas enfrentando suas crises pessoas, retratados de
forma interligada.
44
Seu título original é Real The Straight Story, filme que retrata crônicas acerca da jornada de sua personagem
central pelo interior dos Estados Unidos.
45
Conforme o autor, o gênero thriller é marcado pelo suspense e pela tensão, sendo o thriller de conspiração
um subgênero que estabelece uma narrativa em que o protagonista necessita desvendar algum segredo, o que
culmina em ameaça aos conspiradores. Há, em grande medida, uma nítida oposição entre vilões e heróis nestas
tramas.
46
Soylent Green é o título original desse filme dirigido por Richard Fleischer e que retrata a Terra em um
contexto futuro, marcado por profundas crises ecológicas e sociais.
47
Trata-se da versão brasileira do título original do filme Logan´s Run. O filme retrata o planeta Terra em um
contexto marcado pela abundância e pela qualidade de vida, contudo, 30 anos é a idade máxima permitida para
assegurar a manutenção dessa situação.
48
O filme, dirigido por Jack Arnold, contempla uma narrativa acerca do impacto da contaminação radioativa
sobre os humanos, representando uma personagem que, exposto a radiação, encolhe e se torna vulnerável.
49
Dirigido por Alan Rudolph, seu título original é Endangered Species.


122

retratando o uso de pesticidas e A salvo (1995), sobre doenças decorrentes de ameaças


químicas.
As produções mais recentes, no que diz respeito à ficção científica, exploram as
questões ambientais a partir de uma perspectiva niilista, marcada, sobretudo pelo pessimismo
quanto ao futuro da humanidade. Conforme Brereton (2005), a natureza assumiu centralidade
em narrativas distópicas, permeadas pela superioridade dos cyborgs em relação aos homens, e
que exploram a problemática ambiental a partir da tecnofobia. Para o autor, mesmo primando
por enfatizar o espetáculo visual, vários filmes comerciais de ficção científica resultam em
representações ambientalmente relevantes, destacando a necessidade de mudanças em favor
de um maior afeto com o meio ambiente como forma de assegurar um futuro sustentável. Em
Blade Runner: o Caçador de Androides (1982), o autor reconhece umas das mais relevantes
produções acerca das implicações do progresso tecnológico sobre o meio ambiente, enquanto
decorrência do capitalismo avançado, e sinaliza que O Exterminador do Futuro 2: O
Julgamento Final (1991) manifesta uma crítica antinuclear, representando um futuro
ecologicamente distópico somente possível de ser evitado a partir do empenho de um cyborg
transgressor. Em linhas gerais, Brereton (2005) destaca o empenho da ficção científica em
oferecer modelos ecológicos utópicos/distópicos capazes de estimular uma ética ambiental em
favor de um futuro sustentável.
Murray e Heumann (2009), em Ecology and Popular Film: Cinema on the edge,
estabelecem uma análise ecocrítica do cinema hegemônico, valorizando tanto produções em
que as questões ambientais são representadas de forma intencional ou não intencional,
considerando que ambas as vertentes refletem (e também refratam) valores culturais relativos
ao meio ambiente no contexto em que se encontram inseridas. Os autores, de modo geral,
empreendem uma análise temática acerca da representação ambiental, sobretudo, focada em
questões relacionadas aos eco desastres, às políticas ambientais, à valorização da relação
homem e natureza, ao apocalipse ambiental, ao ecoterrorismo, à cultura do automóvel e ao
alinhamento entre adoção de práticas de produção audiovisual e narrativas ambientalmente
favoráveis.
É importante considerar que, no cinema, as políticas ambientais são contempladas de
forma diversa. Além de ressaltar impactos e amplitude de problemas ambientais, os filmes
podem ainda estabelecer uma perspectiva crítica acerca de suas responsabilidades no contexto
político, legitimando ou contestando políticas específicas e seus atores sociais. Para Murray e


123

Heumann (2009), filmes como o documentário The River (1937)50, de Pare Lorentz, e a ficção
Rio Violento (1960)51, de Elia Kazan, ambos inscritos no contexto do New Deal52, estavam
empenhados em legitimar as políticas norte-americanas de construção de barragens para
controle de inundações. Para esses autores, tais filmes, contando com financiamento público,
defendiam as barragens como forma de controlar os rios e assegurar o progresso econômico, e
são valiosos por que exploram políticas públicas relativas ao uso da terra e da água, diante das
graves consequências da ação humana sobre o ambiente, apesar de celebrarem o controle da
natureza pelo homem. Convém atentar que em Rio Violento as inundações às margens do
Tennessee são representadas como fenômenos naturais, enquanto em The River são vistas
como degradação decorrente da ação humana. Em um contexto mais recente, essa última
perspectiva é observada na série de documentários Os Diques se Romperam (2006)53, de
Spike Lee, quando o diretor destaca os impactos do furacão Katrina em New Orleans, no ano
de 2005, discutindo acerca das responsabilidades e do papel do governo diante da questão.
Ainda conforme os autores, a aproximação de Hollywood com os movimentos
ambientais nos anos de 1970 resultou em uma série de produções centradas na representação
de perspectivas apocalípticas sobre uma diversidade de questões ambientais. É importante
perceber que se trata, antes de tudo, de uma estratégia dedicada a assegurar sucesso de
bilheteria a partir da exploração de questões ambientais. Uma narrativa típica desse período
envolvia uma forte nostalgia relativa a tempos anteriores em que a Terra era celebrada como
sublime e primitiva diante de um cenário futuro, em que o planeta se encontrava ameaçado
em decorrência do progresso e da tecnologia. Conforme Murray e Heumann (2009), todas
essas abordagens centravam-se em eco heróis que se auto-sacrificavam para restabelecer a
ordem ambiental, além de suscitarem na audiência uma reflexão acerca de sua contribuição
ecológica e do contexto político, sobretudo no sentido de alertar para a necessidade de
controle da tecnologia. Nesse período, filmes como No Mundo de 2020 (1973) contemplaram
questões relacionadas à explosão demográfica e à crise de alimento; Corrida Silenciosa
(1972) focou os impactos da devastação das florestas; e A Última Esperança da Terra

50
Trata-se de um documentário acerca da relevância do rio Mississipi, observando sua degradação em favor da
promoção do progresso no contexto da Grande Depressão americana.
51
Com o título original Wild River, o filme retrata os conflitos e disputas em torno da construção de barragens
ao longo do Rio Tennessee, durante à década de 1930.
52
O New Deal compreende as políticas de intervenção estatal implementadas nos Estados Unidos, no período
entre 1933 e 1937, sob o governo de Franklin Delano Roosevelt. Tais políticas almejavam resgatar a economia
dos Estados Unidos da grande crise instaurada pela Grande Depressão. Foi um período marcado por grandes
investimentos em obras públicas, pela intervenção do Estado na economia estabelecendo uma política de
controle de preços e pela criação de diversas agências federais.
53
Com o título original When the Levees Broke: A Requiem in Four Acts, a série contou com cinco episódios
que foram veiculados na rede HBO de televisão.


124

(1971)54 representou a ameaça biológica. De acordo com os autores, tais abordagens se


perpetuam em filmes recentes como Extermínio (2002)55, O Dia Depois de Amanhã (2004)56
e Filhos da Esperança (2006)57.
É interessante observar que Hollywood não explora eco desastres apenas a partir de
narrativas centradas no medo apocalíptico. Além da ficção e do documentário, eles também
foram representados sob a forma de comédia, retratando questões como contaminação
química, consumo de energia e efeitos da radiação. Murray e Heumman (2009) analisam o
que denominam de “ecocomédia”, ressaltando que uma de suas principais contribuições para
o debate ambiental é a inversão do foco hegemônico nas narrativas de eco desastres, em que o
ataque da natureza sobre o homem é invertido para o ataque do homem sobre a natureza.
Além disso, em meio à sátira, vários desses filmes enfatizam aspectos políticos nas decisões
acerca dos problemas retratados e exacerbam as falhas dos seus heróis, o que ressalta a
necessidade de uma ação conjunta para o enfrentamento de questões ambientais. Assim,
valorizam a comédia como gênero capaz de explorar as contradições sociais, sobretudo
aquelas relativas ao meio ambiente. Conforme os autores, tais filmes surgiram a partir dos
anos de 1950, mas se diversificaram a partir da década de 1980, a exemplo da série O
Vingador Tóxico (1985)58, Corra que a Polícia vem ai 2 e ½ (1990)59 e Uma Cilada para
Roger Rabbit (1998)60, além de Malditas Aranhas (2002)61.
Apesar dessas considerações sobre o cinema hegemônico na promoção de questões
ambientais, os autores revelam que vários filmes de sucesso de bilheteria permanecem
centrados na promoção da ideologia do progresso que marcara o American Way of Life do pós


54
Com o título original Omega Man, o filme, dirigido por Boris Sagal, retrata um contexto em que o planeta
Terra é acometido por uma guerra biológica que resulta em grave ameaça aos humanos.
55
Dirigido por Danny Boyle, com o título original de 28 Days Later, o filme retrata um contexto em que
pesquisas cientificas realizadas com macacos terminam por constituir uma grave ameaça, quando animais
infectados põem em risca a vida humana.
56
Sob o título original The Day After Tomorrow e contando com a direção de Roland Emmerich, o filme
retrata o planeta em um contexto marcado pelos impactos das alterações climáticas.
57
Children of Men é o título original desse filme que teve como diretor Alfonso Cuarón. Sua trama retrata um
futuro em que as mulheres se tornaram inférteis e que a permanência humana se torna ameaçada.
58
The Toxic Avenger é uma obra que explora comédia, terror e ficção científica. Dirigido por Michael Herz e
Lloyd Kaufman, o filme retrata uma vítima da contaminação química que adquiri superpoderes, tornando-se o
vingador tóxico que luta para combater o crime.
59
Naked Gun 2 ½ é uma comédia dirigida por David Zucker, mais conhecida pela atuação de Leslie Nielsen e
Priscilla Presley. O filme retrata os conflitos em torno do uso e das descobertas de formas alternativas de energia,
sobretudo explorando os interesses da indústria petrolífera.
60
Who Framed Roger Rabbit é um filme que mescla animação e ação ao vivo, dirigido por Robert Zemeckis e
por Richard Williams. O filme retrata a interação entre personagens dos dois mundos, em uma trama em que
compostos químicos de extrema toxidade despontam como ameaças aos personagens do mundo dos cartoons.
61
Com o título original Eight Legged Freaks, o filme, dirigido por Ellory Elkayem, reúne terror, comédia e
ação, retratando aranhas contaminadas por radiação decorrente de um acidente tóxico como monstros que
ameaçam a população de uma pequena cidade.


125

Segunda Guerra Mundial, apesar dos alertas recorrentes dos impactos ambientais dai
decorrentes. Nomeadamente, são os filmes que celebram a cultura do automóvel os principais
alvos da crítica de Murray e Heumman (2009). Para eles, tais produções permanecem
centradas na defesa de uma transformação das paisagens naturais (construção de estradas) e
no consumo de recursos (combustíveis fósseis), sem oferecer questionamentos acerca dos
impactos ambientais (aquecimento global, escassez de combustíveis fosseis, entre outros).
Assim, ignoram totalmente o ambiente natural outrora existente, além das consequências da
cultura instaurada em favor de uma supervalorização do consumo (automóveis, acessórios
automotivos, vídeo games, roupas e produtos diversos) como forma de empoderamento e
diversão. Os filmes Velozes & Furiosos62, tanto a versão de 1955 quanto a de 2001, e suas
continuações +Fast +Furious (2003) e Velozes & Furiosos: Desafio em Tokyo (2006) são,
conforme os autores, exemplos de produções ambientalmente irresponsáveis, pois
representam a degradação ambiental como uma consequência necessária ao progresso, à
democracia e à liberdade. E, sendo assim, naturalizam a violência contra o meio ambiente, tão
presente na vida moderna.
Finalmente, observamos a questão relacionada ao alinhamento entre discurso
ambiental no contexto da narrativa e das práticas de produção cinematográfica hollywoodiana.
De acordo com Murray e Heumann (2009), é com o documentário Uma Verdade
Inconveniente (2006) que este alinhamento vai se estabelecer, embora apareça mais como um
caso específico do que uma tendência. Para os autores, a produção resgata a nostalgia que
marcou os filmes da década de 1970 para representar a complexa problemática acerca das
mudanças climáticas. Contudo, observam que essa nostalgia assume novos contornos, uma
vez que ela decorre do resgate de eco memórias coletivas (imagens do planeta visto do
espaço) e individuais (imagens da família de Al Gore em contato com o mundo natural),
como forma de evidenciar a degradação ambiental e conectar apelo emocional e
conhecimento científico em torno do fenômeno. Assim, apesar de constituir um documentário,
a obra se mostra complexa ao articular elementos dos filmes de eco desastre e de eco
conspiração. Além disso, de acordo com os autores, trata-se de uma produção que adotou na
prática o discurso ambiental, resultando de uma parceria entre a Paramount e a empresa
NativeEnergy 63 , responsável pelo cálculo da sua pegada de emissão de carbono e por


62
A versão de 2001 de The Fast and the Furious foi dirigida por Rob Cohen e trata de gangues que disputam
corridas de ruas. Seu homônimo de 1955, dirigido por John Ireland e Edward Sampson, retrata um homem em
fuga da polícia e que participa de uma corrida de carro para ter sucesso em seu objetivo de chegar ao México.
63
A NativeEnergy é uma empresa fundada no ano de 2000, nos Estados Unidos, com o objeto de oferecer
consultoria empresarial para orientar na adoção de práticas sustentáveis de produção de forma a neutralizar as


126

empreender seu retorno em créditos ambientais (uso de energia renovável na produção,


material reciclado em sua distribuição etc).
Diante do exposto ao longo desta seção, é possível reconhecer a inserção das
representações ambientais no cinema hegemônico, mas, conforme assinalam Murray e
Heumman (2009), ainda há pouca atenção para problemas relacionados à vida cotidiana, ao
ambiente urbano, e há, principalmente, um descompasso entre aumento de mensagens
ambientais nos filmes e adoção de práticas ambientais no processo produtivo. Portanto, para
os autores, embora filmes como O Dia Depois de Amanhã (2004) sejam problemáticos do
ponto de vista científico, sobretudo pelo exagero apocalíptico acerca das mudanças climáticas
em favor da espetacularização audiovisual, eles traduzem o vigor da representação ambiental
hollywoodiana, e apontam para mudanças em suas narrativas, principalmente a partir de uma
nova manifestação de eco-heróis, agora mais transparentes e empenhados em salvar seus
entes queridos das ameaças ambientais produzidas pelo próprio homem. E dessa forma, ao
invés de enfrentar oponentes, lutam contra causas da problemática ambiental; ao invés de
defender a comunidade ou o planeta, se empenham em salvar seus próximos (filhos, amigos
etc); ao invés do agir global, eles atuam localmente; ao invés de controlar a natureza,
preconizam-se novas relações de domínio com a mesma; ao invés do auto sacrifício para
salvar o planeta, apoiam-se no conhecimento para salvar a si próprio. Assim, observamos que
as mudanças nas narrativas fílmicas acerca da relação homem e natureza traduzem mudanças
no plano cultural em que as produções se encontram inseridas, cujo foco é comumente o
indivíduo e a sua satisfação pessoal.
No sentido de encerrar esta contextualização geral acerca do cinema ambiental,
observamos a perspectiva apresentada por Corbett (2006) e suas principais ponderações sobre
a comunicação ambiental no cinema e em filmes televisivos. Interessa-nos, sobremaneira, sua
tipologia da temática ambiental em tais produções. De acordo com a autora, o cinema e a
televisão são os mais relevantes produtos culturais dedicados ao entretenimento nas
sociedades modernas, sendo, portanto, decisivos para orientar as percepções e valorações do
meio ambiente.
Corbett (2006) estabelece algumas generalizações acerca do cinema ambiental. A
primeira delas ressalta a relevância do meio ambiente e de sua problemática nas narrativas,


emissões de carbono. Além de estimular a adoção de medidas compensatórias, como o plantio de árvores, a
empresa também recorre a medidas mitigatórias a exemplo do uso de fontes de energia renovável,
reaproveitamento de água, reciclagem de material etc. Entre os principais clientes atendidos estão o ebay,
National Geographic, Timberland, Paramount Films, Walt Disney Company etc. Ver mais em
www.nativeenergy.com/home.html


127

sinalizando que prevalecem representações em que o mundo natural é desenhado como plano
secundário, constituindo apenas cenário para os filmes, e também de forma estereotipada em
que a natureza selvagem ameaçada e onipresente suporta os conflitos maniqueístas em que
heróis e vilões disputam sua conquista ou o seu salvamento. Para a autora, é apenas em um
reduzido número de filmes que a natureza assume um plano principal das narrativas, muito
embora permeada de significados antropocêntricos.
Uma segunda generalização delimitada pela autora ressalta que a maioria dos filmes
que enfatiza a natureza termina por privilegiar animais. Trata-se de uma descontextualização
que cria predileções a determinadas espécies de forma simplista (usualmente o topo da cadeia
alimentar), ignorando suas especificidades e interações com o ecossistema. Além disso, tais
narrativas apresentam resoluções bastante simplistas ao associar o salvamento de um
indivíduo ao de toda a espécie. Para Corbett (2006), as representações fílmicas do mundo
natural resultam em estereótipos e distorções da realidade ambiental das espécies retratadas,
sobretudo acerca do comportamento de muitas delas, o que leva o público a ignorar que o
enquadramento fílmico não traduz o mundo natural, mas sim uma representação atípica e
artificial. Nesse sentido, a intimidade estabelecida através do enquadramento da câmera
desponta como autêntica para a audiência, sobretudo em filmes documentários sobre a vida
selvagem. Conforme a autora, é importante observar que tais representações simbólicas da
natureza predominam sobre a experiência direta com o mundo natural, mas apresentam
lacunas quando ignoram as interações entre a vida selvagem e os seres humanos.
Finalmente, Corbett (2006) apresenta uma terceira generalização acerca da
comunicação ambiental no cinema: o uso da câmera como narrador resulta em uma percepção
distorcida da realidade. Embora desponte como um observador imparcial do mundo natural,
seja em filmes sobre a vida selvagem ou mesmo filmes de ficção, a câmera e as escolhas de
enquadramento resultam em fragmentação e objetividade, destituindo a percepção acerca das
inter-relações existentes para além do foco do enquadramento e, nesse contexto, até mesmo os
eventos naturais raros são exibidos como recorrentes. Para Corbett (2006) o enquadramento
reforça o domínio humano sobre a natureza, e, já que ele traduz o ponto de vista humano,
frequentemente representa uma forma de conquista da natureza. Ainda conforme observa a
autora, seja no cinema animado, no documentário ou na ficção, a sobrevivência da natureza se
encontra sempre na dependência do salvamento ou da conquista humana.
Acerca da categorização da temática ambiental no cinema, Corbett (2006) propõe uma
tipologia que contempla nove categorias temáticas, são elas:


128

• O homem como destruidor ou salvador da natureza, enfatizando os dois principais


papéis do homem em relação ao mundo natural - destruidor ou protetor. Essa categoria
tanto pode ser predominante ou parcialmente desenvolvida nos filmes;
• A ciência como poder para resolver problemas ambientais e salvar o ambiente,
destacando a habilidade e a autoridade da ciência como indispensável à sobrevivência
da natureza. Essa perspectiva justifica a dominação humana sobre o mundo natural,
sobretudo em sua capacidade de gerenciar as demais espécies. Além disso, é a figura
do cientista que desponta no salvamento do meio ambiente;
• A natureza como uma prova ou um desafio para o homem, reportando o mundo
natural como um reino de superação de conflitos pelos heróis e heroínas. A natureza e
seus eventos são desafios e provas que são superados com as habilidades dos heróis;
• Os eventos naturais como eventos demoníacos, também celebram as habilidades
humanas em superar os desafios da natureza, mas a ênfase recai sobre as mais diversas
catástrofes naturais;
• A importância dos limites entre animais e humanos e seu respeito enfoca o
reconhecimento de que homem e natureza devem permanecer separados e que esta
deve ser respeitada e mantida intocada. Assim, romper esses limites resulta em
prejuízos para ambos (invasão de animais, desequilíbrio do ecossistema, entre outros);
• A batalha da natureza como alegoria do progresso, retratando os impactos do
progresso e do desenvolvimento sobre o mundo natural, sobretudo observando o
desafio da sobrevivência de determinadas espécies diante da industrialização. Em
certa medida, nessa metáfora o progresso é dado como inevitável e o homem mostra-
se distante de tais efeitos;
• A natureza na conquista do oeste, representando a exploração e a colonização
marcante na conquista do oeste norte americano. Assim, enaltece a coragem e a
bravura dos colonizadores e celebra a harmonia que estabeleceram com a terra
colonizada. A natureza desponta como uma disputa em que os mais justos são os
vencedores;
• O tribal como sinônimo de natureza, enfatizando a vida tribal como reveladora de
maior conexão e envolvimento com o mundo natural e suas criaturas. Dessa forma,
celebra formas de vida social mais simples, muito embora apresentam estereótipos e
distorções quanto aos povos nativos e suas tradições;


129

• Animais atuando como humanos, correspondendo às representações em que os


animais são antropomorfizados, agindo e falando como humanos nas mais diversas
situações.

Vale ressaltar que tal tipologia, em conjunto com outros elementos e abordagens,
servirá de orientação para a elaboração dos indicadores da análise de discurso das animações
contempladas nesse trabalho, e que serão, posteriormente no último capítulo, analisadas. É
coerente, porém, enfatizar sobre essa tipologia que é apenas na última categoria que Corbett
(2006) se refere aos filmes de animação, ignorando que as demais temáticas também se
relacionem a tais produções, conforme discutiremos na seção seguinte. A autora destaca
filmes como Procurando Nemo (2003), Formiguinhas (1998), Bambi (1942), FernGully: A
última Floresta Tropical (1992) e Rei Leão (1994) enquanto representações relevantes acerca
dos ecossistemas, mas adverte que terminam por atribuir motivações humanas às ações das
personagens. Para Corbett (2006), essa apropriação antropomorfizada da natureza a partir do
cinema animado é sempre idealizada e perigosa, uma vez que termina por sustentar uma
perspectiva dominante (supremacia do homem sobre a natureza, e o mundo natural que
necessita ser salvo, gerenciado ou estudado). Assim, observa que o cinema de animação
também resulta em sérias distorções na compreensão simbólica da natureza. De forma geral,
quando confrontadas com a realidade natural, as construções da natureza no audiovisual
muitas vezes resultam em choque e até mesmo em decepção da audiência.
Diante do exposto nas seções anteriores, a comunicação ambiental deve ser
compreendida como um campo de disputas discursivas em que a problemática ambiental
assume os mais diversos tipos de enquadramentos e perspectivas. Assim, são os mais diversos
atores sociais que buscam legitimidade pela definição hegemônica acerca das questões
ambientais. Hannigan (2009) observa que, diante dessa multiplicidade discursiva, a
comunicação ambiental assume seis enfoques principais: objetivismo científico (ênfase na
neutralidade apoiando-se em argumentos científicos); engajamento (ênfase nos dramas e
impactos sociais manifestando uma perspectiva social e política); econômico
(compatibilização entre crescimento econômico e proteção ambiental); conflitos (disputas
entre ambientalistas e seus opositores com forte negativação social dos primeiros);
apocalíptico (ênfase nas metáforas médicas para destacar o estado terminal do planeta);
institucional (meio ambiente como política pública permeada pelo debate entre políticos e
cientistas). Para Hannigan (2009), o principal desafio da comunicação ambiental passa pelo
abandono do enfoque pontual e do conflito em favor do reconhecimento de suas

130

especificidades, das implicações políticas, econômicos e científicas, engajadas com a


educação ambiental e com a promoção de reformas na esfera política.

2.5 Discursos sobre o meio ambiente: uma configuração tipológica

Como visto ao longo deste capítulo, os discursos ambientais assumem centralidade no


debate acerca da comunicação ambiental. Conforme defende Cox (2010), a comunicação
ambiental midiática é uma das mais relevantes arenas para a produção, circulação e consumo
de uma diversidade de mensagens sobre o meio ambiente e suas problemáticas. Enquanto
espaço discursivo, a comunicação ambiental é permeada por uma diversidade de ações
simbólicas estabelecidas a partir dos mais variados textos, a exemplo das notícias, dos
anúncios publicitários, dos filmes de ficção, documentários, animações, de imagens, pinturas
etc. Trata-se, portanto, de um contexto marcado pela disputa discursiva em que os mais
diversos atores sociais almejam legitimidade dos seus interesses sobre o mundo natural, quais
sejam sua apropriação ou preservação.
Em autores como Julia Corbett, John Dryzek e Robert Cox observamos uma maior
atenção aos discursos ambientais, inclusive estabelecendo perspectivas tipológicas sobre os
mesmos, a exceção deste último autor. Em linhas gerais, estes autores compartilham de uma
mesma definição dos discursos ambientais, percebendo-os como uma visão de mundo
compartilhada entre indivíduos e que orienta percepções e significados, concordâncias e
discordâncias sobre as mais diversas questões relacionadas ao mundo natural. Além disso, há
um consenso entre eles quando afirmam que mensagens ambientais são produzidas,
compreendidas ou contestadas a partir dos mais diversos discursos ambientais, os quais
contemplam todos os cidadãos e não somente os políticos e ambientalistas. As abordagens
tipológicas acerca dos discursos ambientais que iremos discutir nesta seção são esclarecedoras
acerca das diferentes percepções e interesses que permeiam o debate em torno do meio
ambiente, além de se mostrarem relevantes para fins analíticos, uma vez que a análise de
discurso é cada vez mais influente nesse campo de investigação (HANNIGAN, 2009).
É importante observamos que essas concepções de discurso ambiental convergem para
uma ideia de discurso que extrapola o plano da linguagem e do texto, e desponta como um
sistema complexo que orienta as práticas sociais, atuando na constituição dos sujeitos, de suas
posições sociais, das crenças, dos conhecimentos, das relações sociais etc, e também das
estruturas sociais, seja empenhado em assegurar sua manutenção, seja reivindicando suas
transformações. Nesse sentido, assume relevância a perspectiva da análise crítica do discurso


131

proposta por Fairclough (2001), uma vez que no contexto da comunicação ambiental são
valorizadas as relações entre discurso, poder e ideologia ambiental, e também a dialética entre
discursos e constituição dos sujeitos e das estruturas sociais. Além disso, elas também
dialogam com a abordagem do discurso proposta por Maingueneau (1984), em que este
desponta como sistema geral que orienta as produções de enunciados em um dado contexto
histórico. Embora se oponha a Fairclough (2001), reconhecendo no sujeito um papel passivo
diante dos discursos, Maingueneau (1984) é esclarecedor acerca da atuação dos discursos nas
mais diversas dimensões sociais, constituindo as entidades do mundo físico, os sujeitos, as
relações e as estruturas conceituais.
Fairclough (2001) concebe o discurso como uma prática social, despontando
simultaneamente como uma forma de agir sobre o mundo e um processo de representa-lo e de
significa-lo, de modo a construir as identidades sociais (ethos) e as posições de sujeitos, as
relações sociais e também os sistemas de crenças e de conhecimento. Assim, enquanto prática
social, o discurso encontra-se enraizado nas estruturas sociais, assumindo uma relação
dialética com as mesmas, uma vez que ele tanto decorre dessas estruturas - contribuindo para
sua reprodução, como também assegura sua condição de existência - incorrendo em sua
transformação. Nesse contexto, é a linguagem que constitui o plano através do qual o discurso
opera na construção e significação de mundo, nomeadamente através das interações entre suas
funções ideacional (os sistemas de crenças e conhecimento), identitária (as posições dos
sujeitos) e relacional (as relações sociais).
O que se torna central no pensamento do autor é o reconhecimento do discurso em sua
capacidade de transformação social e também de orientar as práticas políticas e ideológicas.
Fairclough (2001) valoriza a relação entre discurso e instituições, considerando que são as
estruturas sociais materiais e concretas que orientam a prática social a partir da constituição
discursiva da sociedade. O autor defende que as instituições e as estruturas sociais são dotadas
de convenções e normas (ordens do discurso) que sustentam práticas discursivas (produção,
circulação e interpretação dos discursos) as quais, por sua vez, orientam práticas sociais sob
os mais diversos domínios. Tais práticas discursivas são então naturalizadas, mas não isentas
de contestações e lutas que podem resultar em mudanças sociais e culturais, ou seja, as
mudanças nas práticas discursivas podem incorrer em mudanças nas próprias instituições.
Evidente se torna, nessa dialética entre prática discursiva e estrutura social, que as mudanças
de linguagem relacionam-se com mudanças nas estruturas sociais. Além disso, essas
potencialidades contraditórias resultam das interelações entre ordens de discurso locais e
societárias, sobretudo em função do grau de naturalização das convenções ai estabelecidas.


132

Em síntese: as estruturas sociais definem as práticas dos seus membros, mas tais práticas
também podem afetar as estruturas, suas relações e as lutas sociais.
Fairclough (2001) também reconhece que os discursos podem ser permeados por
relações de poder, estabelecendo significados de mundo assentados em tais relações. Nesse
sentido, devemos perceber que as práticas discursivas se esforçam para naturalizar
determinada relação de poder e sua ideologia, ou para neutralizar tais relações a partir da
contestação e da luta. Portanto, é em torno das práticas discursivas que as disputas ideológicas
se configuram, ora em termos da hegemonia, ora na luta contra hegemônica. Assim, as
práticas discursivas são decisivas para a constituição ideológica dos sujeitos, sendo as
ideologias compreendidas pelo autor enquanto significações da realidade construídas sob
várias formas e sentidos das práticas discursivas e que empenham na produção, manutenção
ou contestação das relações de poder e domínio. É, portanto, a ordem ideológica que
estabelece os contrastes discursivos, diferenciando entre aqueles empenhados em assegurar a
reprodução das estruturas sociais (da ordem de discurso) e aqueles de caráter transformador.
Para o autor, diferentemente de Althusser, é preciso reconhecer que os sujeitos não são
ideologicamente assujeitados, pois são capazes de reagir de modo a reestruturá-las, além disso,
são constituídos por um complexo ideológico permeado por uma diversidade de perspectivas.
Ainda acerca da relação entre discurso e poder, o autor apoia-se na noção de
hegemonia de Gramsci que a concebe enquanto forma de dominação da sociedade, seja na
esfera econômica, política, cultual ou ideológica. Trata-se de um processo consolidado através
de alianças e consentimento, mas que constitui um contexto instável, suscetível às investidas
das lutas hegemônicas. Dessa forma, é no limite da ordem de discurso que a luta hegemônica
se configura e reflete sua instabilidade de modo que esta luta é traduzida na prática discursiva.
Para Fairclough (2001), em um determinado discurso, suas relações de poder estão sempre
relacionadas às hegemonias vigentes, revelando, portanto, o investimento ideológico de suas
práticas discursivas. Nesse contexto, conforme o autor, as mudanças discursivas resultam dos
dilemas e contradições entre as convenções estabelecidas pelas práticas discursivas
hegemônicas e aquelas reivindicadas pelas novas perspectivas, sobretudo quando tais
contradições repercutem nas estruturais sociais, resultando na reconfiguração das convenções
vigentes (ordem de discurso).
Fairclough (2001) ainda ressalta a hegemonia como decisiva na orientação da relação
que um discurso estabelece com os demais discursos e seus textos – com a representação dos
outros discursos. Assim, destaca que ela delimita as possibilidades intertextuais – as relações
que um texto estabelece com seus antecedentes e subsequentes, e também suas relações


133

interdiscursivas - ou seja, aquelas estabelecidas com as convenções e regras discursivas


relacionadas. Na verdade, a hegemonia procura assegurar, através da ordem do discurso, sua
manutenção, seja estabelecendo a forma como textos passados são absorvidos pelo texto atual,
seja na antecipação dos textos futuros ou ainda na forma como um discurso configura seus
elementos constitutivos (gênero, estilo, tipo de atividade etc).
Essa percepção de discurso enquanto prática social, constituído e constituinte das
estruturas sociais, permeado por relações de poder e dominação através do seu revestimento
ideológico, mas suscetível a conflitos e transformações, mostra-se apropriada à compreensão
dos discursos ambientais na perspectiva da comunicação ambiental apresentada por Dryzek
(2004), Corbett (2006) e Cox (2010). Permite-nos, portanto, compreender o discurso
ambiental como constituinte dos sistemas de crenças e valores acerca do mundo natural e das
relações com ele estabelecidas, mas também as disputas travadas entre discursos ambientais
hegemônicos, a exemplo do industrialismo, e perspectivas ambientais contestadoras,
principalmente aquelas manifestadas pelos movimentos ambientalistas.
Além disso, a perspectiva de Fairclough (2001) favorece a compreensão das mudanças
na ordem de discurso (nas convenções e regras discursivas) dos discursos ambientais
hegemônicos, como forma de “negociação” entre eles e as perspectivas contestadoras, o que
resulta em variantes discursivas que internalizam, ainda que de forma superficial, interesses
pelas questões ambientais, a exemplo do discurso da sustentabilidade que se tornou
hegemônico a partir da década de 1970. É nesse contexto que a oposição entre discursos
ambientais reformistas e radicais ganha sentido, sinalizando para o grau de aproximação ou
afastamento com as normas e regras discursivas dominantes, no que diz respeito a ideologia
do progresso e crescimento econômico, e também à oposição entre discursos antropocêntricos
e ecocêntricos, os quais se contrapõem no que concerne, mais especificamente, à significação
do mundo natural.
Enquanto Fairclough (2001) mostra-se revelador do discurso enquanto prática social,
ocupando-se de suas relações de poder, a partir da identificação de seu revestimento político e
ideológico, Maingueneau (1984) é decisivo quando se trata da compreensão da origem
(gênese) dos discursos, especificamente da configuração de suas formações discursivas,
embora apresente uma certa negligência quanto à dialética entre prática discursiva e prática
social. Contudo, assim como Fairclough (2001), Maingueneau (1984) percebe o discurso
como um sistema complexo e multidimensional, em que a língua é apenas uma de suas
instancias. No centro de sua abordagem está a noção de formação discursiva, um sistema de
regras (restrições semânticas) que estabelece especificidade a um conjunto de enunciados os


134

quais são então produzidos em conformidade com esse sistema – a superfície discursiva.
Além disso, o autor reconhece o discurso como um processo histórico que o define e redefine
enquanto espaço de regularidades enunciativas.
Para Maingueneau (1984) o discurso é constituído em um processo dialógico com
outros discursos em circulação, estabelecendo alianças ou concorrências com as diversas
formações discursivas relacionadas a uma mesma função social. Há, portanto, uma ênfase na
heterogeneidade constitutiva relativa a este dialogismo, uma vez que é o interdiscurso – o
diálogo com outros discursos, que estabelece a relação entre o discurso e os demais,
delimitando o dizível e o interdito que constituirá seu sistema semântico. Uma vez constituído
aquilo que pode e deve ser dito (a formação discursiva), o discurso ganha suporte linguístico e
assume competência discursiva, o que lhe permite a produção de enunciados (a manifestação
linguística) filiados, sobretudo pelo uso de dispositivos retóricos e pelas apropriações de
gêneros e estilos. Nesse sentido, é nítida a distinção entre discurso como sistema de restrições
semânticas, e discurso como suporte linguístico.
Ainda conforme o autor, um mesmo sistema de restrições semânticas pode acomodar
diferentes discursos em função das transformações que empreendem em suas estruturas. Em
cada caso, emerge uma semântica global que caracteriza e especifica o discurso em suas
várias dimensões, seja na intertextualidade (relações com outros textos), seja no vocabulário
(privilégios e disputas pelo uso de termos) ou nos temas contemplados, sendo estes os palcos
das disputas entre discursos conflitantes. Acerca da validade de um discurso, Maingueneau
(1994) ressalta que esta decorre da sua subjetividade enunciativa, qual seja sua condição de
estabelecer um estatuto entre enunciador e destinatário. Logo, é a partir da chamada cena de
enunciação – localização espaço-tempo em uma enunciação, que um discurso assegura sua
autorização e sua legitimidade. Para o autor, é neste contexto que o discurso assume o modo
de dizer (modo de enunciação) de suas enunciações, sobretudo manifestando-se a partir dos
gêneros privilegiados, e também estabelece uma forma de estar no mundo – orientando as
relações entre os sujeitos.
Acerca das negociações e conflitos entre discursos, Maingueneau (1984) valoriza o
interdiscurso, observando que o processo de interação semântica entre eles recorre a
estratégias distintas no que diz respeito a interpretação que um discurso faz acerca dos outros.
Assim, revela-se que a tradução que um discurso empreende sobre outro assume um caráter
de simulacro, traduzindo-o sob seus próprios termos, seja evocando-o criticamente
(dialogismo), seja rejeitando diretamente (estabelecendo polêmica) seu sistema de restrições
semânticas.


135

Maingueneau (1984) também articula acerca da relação entre discurso e estrutura


social, ressaltando a imbricação entre discurso e instituição, considerando que ambos são
regidos pelo sistema de restrição semântica. Contudo, diferentemente de Fairclough (2001), o
autor supervaloriza o papel das instituições no estabelecimento das condições de uso e de
circulação de um discurso. Assim, considera que é dessa relação com as instituições que o
discurso qualifica seus sujeitos enquanto enunciadores, compreendendo tanto a textualidade
quanto os aspectos não textuais. Em outros termos, é dessa interelação entre inscrição social e
inscrição semântica, entre aspectos textuais e institucionais, que um discurso estabelece sua
prática discursiva, orientando, dessa forma, a estruturação de uma visão de mundo (crenças,
sistemas de valores, conhecimento, relações sociais etc). Consequentemente, essa prática
discursiva resulta na coexistência de textos em diferentes campos semióticos, mas sempre em
conformidade com seu sistema de restrições semânticas.
Finalmente, convém atentar que em Maingueneau (1984) a relação do discurso com o
contexto social afasta-se da perspectiva de ideologia e hegemonia apresentada por Fairclough
(2001). Maingueneau (1984) considera o discurso enquanto estrutura autônoma, mas aberta
ao espaço interdiscursivo. Assim, observa que a relação do discurso com os diversos campos
sociais resulta de sua múltipla exploração semântica em um dado contexto histórico, e não em
decorrência das relações de poder e das ideologias que disputam sua constituição. Portanto,
considera haver nas restrições semânticas sistemas de isomorfismo que favorecem e
asseguram tais explorações semânticas, resultando em sua dominância em um campo
específico, garantindo-lhe uma instancia ideológica dominante. Ao invés de a ideologia
condicionar o discurso, sendo este resultado das forças e disputas políticas, o autor reconhece
que são os princípios elementares de seu sistema de restrições semânticas que estabelecem
sua hegemonia ideológica.
De toda forma, a perspectiva do discurso em Maingueneau (1984) permite-nos
observar os discursos ambientais a partir das especificidades de seus sistemas de restrições
semânticas. De uma forma geral, tais sistemas se posicionam e se diferenciam quanto à forma
como significam o mundo natural, sendo um deles empenhando em assegurar a exploração
dos recursos naturais, no caso do industrialismo, enquanto o outro esforça-se por sua proteção,
no caso dos discursos reivindicados pelos movimentos ambientalistas. Assim,
antropocentrismo e ecocentrismo são as orientações que diferenciam a compreensão da
natureza entre estes dois sistemas, o primeiro orientando-se pela percepção utilitária da
natureza e o segundo reconhecendo sua subjetividade.


136

Nesse contexto, compreendemos que as disputas entre os discursos ambientais são


marcadas pelas tentativas de neutralização dos discursos oponentes. Em ambos os casos os
simulacros são constituídos, seja quando o ambientalismo rejeita o industrialismo, acusando-o
de promover a degradação ambiental e de perturbar o equilíbrio do planeta, seja quando o
industrialismo celebra a transformação da natureza como indispensável para o atendimento
das necessidades humanas, acusando o ambientalismo de impedir o crescimento econômico e
o progresso material. Além disso, quando ressalta a intercompreensão entre os discursos,
Maingueneau (1984) permite-nos compreender que os conflitos entre os principais discursos
ambientais estimularam a emergência de discursos que, embora sejam originários desses dois
principais sistemas de restrições semânticas, negociam entre os interesses desenvolvimentistas
e ambientalistas, a exemplo da sustentabilidade.
Em todo caso, a questão temática também se faz pertinente, uma vez que a
comunicação ambiental, enquanto arena, é um campo discursivo permeado por diversos
discursos ambientais que disputam legitimidade social, marcado por privilégio por temas
específicos tais como economia sustentável, ética ambiental, biodiversidade, subjetividade da
natureza, direito dos animais etc. É nesse contexto que esses discursos ambientais
desenvolvem suas práticas discursivas, contemplando textos cada vez mais variados, tais
como as notícias jornalísticas, a produção audiovisual, os anúncios publicitários etc.
Quanto às tipologias discursivas propriamente ditas, Dryzek (2004) baseia-se nas
transformações no debate ambiental e na política do ambiente apresentadas ao longo das
últimas quatro décadas, que, segundo o autor, foram marcadas por disputas pela definição de
questões ambientais, por soluções e enfrentamentos, pela apropriação de novos termos e
conceitos relacionados aos mais diversos temas e questões (ecossistemas, vida selvagem,
natureza, ecoterrorismo etc). Para o autor, a diversidade de discursos ambientais decorre da
complexidade e da multidimensionalidade relacionadas a tais questões, uma vez que elas
abrigam múltiplos e variados elementos e interações do/entre o mundo natural e os sistemas
sociais.
Dryzek (2004) considera que os discursos ambientais acomodam julgamentos e
suposições que orientam intepretações particulares, por vezes conflitantes, por vezes
complementares, mas sempre em sintonia com interesses políticos e econômicos dos atores
sociais. Assim, é o discurso que habilita a construção de “histórias” sobre as mais diversas
questões ambientais, e, enquanto alguns se dedicam a problemáticas específicas (discurso
sobre chuva ácida, sobre mudanças climáticas etc), outros contemplam termos mais gerais a
exemplo da percepção da natureza. Dessa forma, reconhece que é através da linguagem que as


137

questões ambientais, e também suas implicações, assumem um caráter simbólico, pois são
construídas, interpretadas, discutidas e analisadas, seja com o objetivo de estabelecer políticas
ambientais, seja no sentido de orientar estilos de vidas.
Em linhas gerais, Dryzek (2004) observa os discursos ambientais como disputas pela
apropriação/defesa do mundo natural, sendo então marcados pelo direcionamento de críticas
aos discursos oponentes. Assim, ressalta que essas diferentes formas de perceber as
problemáticas ambientais, a despeito da intensa rivalidade, estabelecem pouco diálogo, apesar
da complementariedade existente. Além disso, quanto aos seus impactos e desdobramentos,
observa que os discursos ambientais podem resultar em políticas do ambiente, seja no âmbito
governamental, seja no âmbito institucional, e também incidir diretamente no nível individual,
resultando em impactos culturais sem necessariamente passar pela esfera política, a exemplo
dos movimentos ambientalistas que reivindicam mudanças nos estilos de vida de forma a
estimular a adoção de práticas ambientalmente favoráveis.
Acerca do contexto atual, o autor observa que é o industrialismo o discurso dominante
na arena ambiental, orientando uma representação/apropriação utilitária da natureza em favor
do crescimento econômico e da produção material. Dessa forma, Dryzek (2004) defende que
os discursos ambientais que emergiram com maior diversidade na década de 1960 são mais
bem percebidos se consideradas suas posições diante da hegemonia do industrialismo, sejam
eles reformistas, quando endossam a lógica social vigente sem reivindicar mudanças
estruturais, sejam radicais, quando denunciam a incompatibilidade entre capitalismo e meio
ambiente, suscitando mudanças nas instituições sociais. Além dessa gravitação em torno do
industrialismo, o autor observa que os discursos ambientais também se diferenciam na forma
como percebem as questões ambientais, sejam elas encaradas como constrangimentos à
política e à economia industrial (discursos prosaicos), sejam como oportunidades para sua
manutenção (discursos imaginativos). Sob essa perspectiva, são duas as dimensões para
classificar os discursos ambientais: na primeira, em relação ao industrialismo, eles podem ser
reformistas ou radicais; na segunda, em relação às questões ambientais, podem ser prosaicos
ou imaginativos.
Assim, Dryzek (2004) propõe quatro principais categorias de discursos ambientais:
discursos centrados na resolução de problemas ambientais a partir de ajustes políticos e
econômicos, a exemplo da adoção de uma legislação ambiental (reformista e prosaico);
discursos focados no reconhecimento/negação de limites ambientais dos ecossistemas para
atender as necessidades humanas (radical e prosaico); discursos da sustentabilidade sinalizam
para a manutenção do crescimento econômico a partir da internalização do meio ambiente de


138

forma a redefinir desenvolvimento e crescimento (reformista e imaginativo); os discursos


radicais verdes rejeitam a estrutura social vigente propondo nova interpretação do homem, da
natureza e do mundo (radical e imaginativo), sobretudo enfatizando a subjetividade do mundo
natural.
Convém destacar que cada uma dessas categorias se desdobra em tipos específicos de
discursos. A resolução de problemas ambientais compreende os discursos do racionalismo
administrativo (ênfase no papel do governo e das instituições na resolução de problemas
ambientais), o pragmatismo democrático (ênfase no diálogo social e na participação pública
para orientar a resolução dos problemas) e o racionalismo econômico (ênfase no mercado e na
privatização da natureza para assegurar a ordem ambiental). Quanto ao
reconhecimento/negação de limites ambientais temos os discurso da sobrevivência
(necessidade de frear a demanda por recursos naturais para evitar o colapso/apocalipse social)
e o prometeico (acredita na natureza como fonte ilimitada de recursos naturais e enfatiza a
capacidade tecnológica das sociedades para manipular o mundo). A sustentabilidade abriga os
discursos do desenvolvimento sustentável (propõe mudanças na exploração de recursos
naturais de forma a assegurar o crescimento econômico indefinidamente) e da modernização
ecológica (criação de um “mercado verde” pautado em critérios ambientais para conter a
degradação ambiental, mas capaz de maximizar os lucros). Finalmente, os discursos radicais
verdes compreendem perspectivas orientadas por valores e pela ética ambiental (direito dos
animais e ética da terra), ideologias transformadoras (sensibilidade ecológica, ecologia
profunda, ecologia social, eco feminismo e as ideologias dos povos nativos dos EUA) e as
tradições orientais. Exceto nesse último caso, as demais categorias são marcadas pela crença
na supremacia do homem sobre a natureza e seu sentido utilitário não sofre mudanças em
relação ao industrialismo.
Corbett (2006) compartilha a definição de discurso ambiental de Dryzek (2006),
considerando-o como a forma de pensarmos o mundo natural e suas espécies e de
justificarmos nossas ações sobre os mesmos. Focando na comunicação ambiental midiática e
interpessoal, ao invés das políticas ambientais, a autora ressalta o discurso ambiental como a
lente através da qual a comunicação ambiental, seja ela midiática ou cotidiana, se manifesta.
Dessa forma, observa que a filiação de um indivíduo a um dado discurso é um processo
complexo e decorre de fatores diversos tais como suas experiências com o mundo natural
ocorridas na infância, o contexto histórico e cultural no qual se encontra inserido, a
constituição do seu sentimento de pertencimento e, sobretudo, a partir de suas interações com
a comunicação ambiental midiática.


139

Sua tipologia de discursos ambientais, diferentemente da proposta por Dryzek (2006)


que assume o industrialismo como referência primeira, considera a diversidade discursiva a
partir das hierarquias estabelecidas entre homem e natureza, embora também observa suas
relações com o status quo social. Dessa forma, organiza os discursos ambientais a partir de
um espectro polarizado entre perspectivas antropocêntricas, aqueles que assumem o homem
como centralidade - uma espécie superior, dominante e externa ao mundo natural, e
ecocêntricas, cujos discursos destituem a hierarquia entre as espécies do mundo natural,
situando os seres humanos apenas como uma, dentre tantas outras espécies integradas ao
mundo natural. Para Corbett (2006), os discursos antropocêntricos foram historicamente
constituídos tendo como marcos relevantes do afastamento do homem em relação ao mundo
natural a descoberta da agricultura, o surgimento das cidades, do cristianismo e da ciência
cartesiana, tornando-se então hegemônicos em detrimento dos discursos ecocêntricos.
Corbett (2006) considera seis categoriais de discursos ambientais: Instrumentalismo
Irrestrito (percebe os recursos naturais como instrumentos para atender a satisfação humana e
que devem ser usados de forma irrestrita); Conservacionismo (sugere a adoção de restrições
no uso dos recursos naturais de forma a não esgota-los e assim comprometer as necessidades
humanas); Preservacionismo (sugere a preservação dos recursos naturais considerando não
apenas aspectos econômicos, mas também científicos, estéticos e religiosos); Discursos
orientadas por valores e pela ética (valorizam a natureza e suas entidades reconhecendo seu
valor intrínseco, independente de sua utilidade humana); Discursos Transformadores (são
propostas que objetivam transformações radicais na relação do homem com o mundo natural
– novas formas de estar no mundo); Tradições orientais (reconhecem as antigas cosmologias
orientais - budismo, taoísmo, xintoísmo - como perspectivas destituídas de hierarquias entre
homem e natureza, marcadas pela compaixão, respeito e amor pela natureza não humana).
Os discursos orientados por valores e pela ética ambiental situam-se na transição
entre o antropocentrismo e o ecocentrismo, uma vez que objetivam estabelecer orientações
morais e éticas na relação homem e natureza baseados em critérios humanos. Essa categoria
assume variantes em discursos como o zoocentrismo (privilégio pela natureza animal em
detrimento das comunidades e dos ecossistemas, defendendo ainda a preservação de
determinadas espécies a partir de critérios humanos), a ética da terra (a natureza é respeitada
em sua autonomia, percebida como um conjunto de ecossistemas cujo equilíbrio dinâmico e a
integridade devem ser garantidos e preservados livre da interferência humana) e os direitos
dos animais (amplia o direito à vida para diferentes espécies animais enfatizando a relação
homem-animal).


140

Os discursos transformadores também se subdividem em outros tipos,


compreendendo os discursos da sensibilidade ecológica (prima pela ética da não interferência,
pelo respeito e uso comedido da natureza de forma a assegurar sua diversidade, complexidade
e integridade a partir da ideia de coabitação do mundo), a ecologia profunda (reconhece a
subjetividade da natureza e reivindica sua inserção nos mais diversos níveis da vida social de
forma a cessar a interferência humana no mundo natural), o eco-Marxismo (ressalta a
incompatibilidade entre capitalismo e meio ambiente enfatizando que as diferenças de classes
se traduzem em diferentes graus de exposição à degradação ambiental), a ecologia social
(reivindica mudanças nas relações de poder das sociedades, denunciando a crise ecológica
como consequência das hierarquias sociais as quais devem ser superadas através da justiça
social), o eco feminismo (denuncia a hierarquia de gênero como legitimadora da opressão
sobre o mundo natural) e os discursos dos povos nativos dos EUA (valorizam as interações
entre os povos nativos e o meio ambiente, ressaltando a ausência de hierarquias
homem/natureza e valorizando a orientação espiritual como promotora de harmonia).
Nessa categorização o instrumentalismo irrestrito é o discurso ambiental mais
antropocêntrico, seguido pelo conservacionismo e pelo preservacionismo, sendo esses últimos,
juntamente com os discursos orientados por valores e pela ética ambiental, destacados como
perspectivas reformistas, pois apenas reivindicam ajustes nas estruturas sociais vigentes. Os
discursos orientados por valores e pela ética e os discursos transformadores estão mais
próximos do ecocentrismo, sendo os primeiros situados na transição entre antropocentrismo e
biocentrismo. Assim, são as tradições ambientais orientais consideradas pela autora como as
perspectivas plenamente biocêntricas. Estas, juntamente com alguns dos discursos
transformadores reivindicam mudanças mais radicais nas estruturas sociais vigentes.
Convém observar que ao evidenciar as diferenças entre os discursos ambientais e
valorizar as perspectivas filiadas ao ecocentrismo, Corbett (2006) reconhece a
impossibilidade de adoção de percepções puramente biocêntricas no contexto das sociedades
industriais contemporâneas, dado ao caráter radical das mudanças reivindicadas na estrutura
social, política e econômica vigente. O que a autora sugere é que tais discursos podem
contribuir para o enfrentamento das problemáticas ambientais atuais, oferecendo “lições
ambientais” valiosas, a exemplo das perspectivas outrora manifestadas pelas populações
nativas dos EUA ou nas cosmologias orientais. Para a autora, tais discursos, assim como os
discursos que Dryzek (2005) denomina por radicais imaginativos, transitam entre diversos
movimentos ambientalistas, mas encontram dificuldades para serem exercidos no contexto da
vida cotidiana individual e constituírem alternativas frente ao discurso dominante.


141

Na verdade, observamos que a estrutura social e suas instituições (religião, mercado,


sistemas legais, mídia etc) atuam de forma coercitivas sob as escolhas e as atitudes dos
indivíduos, assegurando a manutenção do discurso ambiental dominante, ofuscando as causas
da degradação ambiental (os riscos ambientais nos termos de Ulrich Beck), o que inviabiliza
mudanças estruturais capazes de reorientar nossas percepções e atitudes sobre o mundo
natural. Nesse contexto, ganham força e legitimidade perspectivas reformistas, sobretudo o
discurso do desenvolvimento sustentável, que vigora como uma espécie de ambientalismo das
corporações, dispostas a negociar interesses ambientais desde que asseguradas as condições
de perpetuação de seus negócios e lucros. A esse respeito Hannigan (2009), apoiando-se em
Robert Brulle, observa que a diversidade de discursos ambientais é percebida em termos de
fragmentação e enfraquecimento dos movimentos ambientalistas diante do industrialismo
vigente.
Robert Cox, em Environmental communication and the public sphere, obra publicada
em 2010, não estabelece uma tipologia dos discursos ambientais a exemplo de Dryzek e
Corbett, embora contemple o conservacionismo e o protecionismo ambiental no contexto das
histórias dos movimentos ambientais nos EUA. O que autor vai ressaltar é a ideia de uma
esfera pública ambiental marcada por disputas entre os mais diversos discursos ambientais,
em que a mídia desponta como arena das mais relevantes e influentes, dando visibilidade a
uma multiplicidade de fontes, as quais configuram um contexto de luta pela definição da
percepção e das atitudes sobre o mundo natural. Contudo, Cox (2010) adverte que apesar
dessa multiplicidade de fontes contempladas pela comunicação ambiental, mais
especificamente no jornalismo, são os discursos ambientais dominantes que dispõem de maior
atenção, o que resulta em sua legitimidade social, e, consequentemente, na manutenção das
estruturas vigentes.
Apesar de não estabelecer uma tipologia, Cox (2010) diferencia entre discursos
ambientais dominantes e insurgentes de forma a situar os atores sociais e seus interesses nas
disputas simbólicas/materiais pelo meio ambiente. Na verdade, conforme o autor, as disputas
simbólicas são, antes de tudo, disputas pela apropriação ou preservação da natureza. Nesse
sentido, os discursos dominantes são aqueles que se encontram culturalmente consolidados,
legitimando práticas diversas sobre o meio ambiente, daí sua invisibilidade social, tamanha a
naturalização de sua ordem do discurso. Eles constituem o que o autor denomina de
Paradigma Social Dominante (DSP) que corresponde a uma visão de mundo que sustenta o
domínio do homem sobre a natureza, a exemplo do que ocorre no instrumentalismo irrestrito
apontado por Corbett (2006) e no industrialismo observado por Dryzek (2004).


142

Os discursos insurgentes são aqueles conflitantes com os discursos dominantes, e que


reivindicam novas percepções e atitudes sobre o mundo natural, de forma a constituir
alternativas, muitas vezes opostas, ao modelo vigente. À diversidade desses discursos
insurgentes o autor denomina de Novo Paradigma Ambiental (NEP), uma perspectiva
marcada pela crítica ao modelo desenvolvimentista vigente e pela rejeição do
antropocentrismo. É interessante observar que esse Novo Paradigma contempla tantos os
discursos radicais como os reformistas (DRYZEK, 2004), sejam eles antropocêntricos ou
ecocêntricos (CORBETT, 2006), por isso Cox (2010) considerar o capitalismo ambiental
como uma dessas perspectivas que propõem relações mais sustentáveis entre pessoas,
sociedades e mundo natural. Dessa forma, observamos, em linhas gerais, que o autor valoriza
os discursos ambientais a partir dos seus efeitos persuasivos, em consonância com os
interesses dos atores sociais contemplados pela comunicação ambiental. Assim, na obra do
autor o discurso é um padrão recorrente, seja na fala, nos textos, nas imagens ou nos mais
diversos produtos culturais desenvolvidos socialmente.
No quadro a seguir propomos uma relação de “equivalência” entre os discursos
apresentados nas tipologias anteriormente observadas. Notamos que ambas as classificações
compartilham noções semelhantes para identificar abordagens reformistas e radicais em seu
posicionamento em relação ao status quo social. Dessa forma, adotamos como critério de
paridade o grau de hierarquia homem/natureza estabelecido –
antropocentrismos/ecocentrismo, procurando então identificar na classificação de Dryzek
(2004) as principais orientações assinaladas acerca dessa questão de forma a compatibilizar
sua tipologia com aquela apresentada por Corbett (2006). A seguir, apresentamos o diálogo
que estabelecemos entre as duas abordagens.

Tabela 01: Alinhamento dos discursos ambientais Dryzek (2004) e Corbett (2006)

DISCURSOS AMBIENTAIS NAS DISCURSOS AMBIENTAIS PAUTADOS NA


“POLÍTICAS DA TERRA” (DRYZEK) HIERARQUIA HOMEM/NATUREZA (CORBETT)
Discursos que reconhecem ou ignoram os Instrumentalismo Irrestrito;
limites ambientais: discurso da sobrevivência e
discurso prometeico;
Discursos voltados para a solução dos Conservacionismo;
problemas ambientais: racionalismo Preservacionismo;
administrativo; pragmatismo democrático; e
racionalismo econômico;
Discursos da sustentabilidade: desenvolvimento
sustentável e modernização ecológica;
Discursos Radicais Verdes: consciência verde Ideologias orientadas por valores e pela ética: direito dos
(ecologia profunda, eco feminismo, animais e ética da terra


143

bioregionalismo, cidadão ecológico, estilo de Ideologias Transformadoras: sensibilidade ecológica, ecologia


vida verde, eco-teologia) e políticas verdes profunda, ecologia social, eco feminismo e as ideologias dos
(partidos verdes, ecologia social, vermelho e povos nativos dos EUA
verde, justiça ambiental, ambientalismo dos
Tradições orientais
pobres, antiglobalização e justiça global,
liberação animal.
Fonte: Elaborado pelo autor.

Os discursos situados no topo do quadro são de cunho antropocêntrico enquanto na


base situam-se aqueles de caráter ecocêntrico, entre ambos estão os discursos que assinam a
transição entre essas posturas hierárquicas, assumindo configurações mais equilibradas em
relação a ambos os polos discursivos. Observamos que o instrumentalismo irrestrito de
Corbett (2006) está diretamente relacionado aos discursos que reconhecem ou ignoram os
limites ambientais apresentadas por Dryzek (2004). Ambos compreendem percepções
fortemente antropocêntricas em que a natureza é apenas uma fonte de recursos naturais. Essa
aproximação é maior em relação ao discurso prometeico. Portanto, antropocentrismo e
utilitarismo são características privilegiadas nesse alinhamento.
Dryzek (2004) “pulveriza” o conservacionismo e o preservacionismo apresentados por
Corbett (2006) em duas abordagens reformistas: os discursos voltados para a resolução dos
problemas ambientais e a sustentabilidade. Essas categorias sugerem alternativas e
motivações que, embora distintas, mostram-se empenhadas em orientar gerenciamentos dos
recursos naturais no sentido de assegurar condições necessárias à manutenção do crescimento
econômico. São, portanto, visões com nítida filiação antropocêntrica, mas que estimulam
diferentes valorações do mundo natural.
Os discursos orientados por valores e pela ética, a exemplo do direito dos animais e
da ética da terra apresentados por Corbett (2006), assim como todas suas concepções
definidas como ideologias transformadoras e tradições orientais relacionam-se com
discursos abrigados sob a denominação de radicais verdes apresentados por Dryzek (2004).
São discursos que almejam a tomada de uma consciência ambiental como norteadora de
novas relações do homem com o mundo natural, de forma a promover uma redução ou
mesmo destituição da hierarquia antropocêntrica, seja em função de uma ética ambiental
seletiva, seja a partir do reconhecimento da subjetividade do mundo natural e de suas
entidades, tanto no plano político quanto individual.
É diante dessa multiplicidade discursiva que Cox (2010) vai observar haver uma
esfera pública ambiental, em que as mais diversas arenas, sobretudo a política e a mídia, são
permeadas pelos conflitos entre discursos, o que se traduz em disputa pela legitimação de


144

diversos termos e conceitos para designar ações, problemas ou entidades naturais, os quais
são postos em circulação no contexto da comunicação de mensagens ambientais. Através das
construções simbólicas, essa disputa discursiva se manifesta no plano da língua, quando os
atores sociais relacionados recorrem aos diversos meios de comunicação e entretenimento na
tentativa de moldar percepções e atitudes da sociedade acerca do meio ambiente.
As considerações acerca dos discursos ambientais em Dryzek (2004), Corbett (2006) e
Cox (2010) alinham-se as perspectivas de Fairclough (2001) e Maingueneau (1984), uma vez
que tais discursos são reconhecidos em seu papel constitutivo de nossos sistemas de crenças e
conhecimento sobre o mundo natural, e também na orientação de nossas relações com a
natureza. A disposição dos discursos ambientais em termos ecocêntricos e antropocêntricos
proposta por Corbett (2006) enfatiza orientações discursivas acerca da natureza marcadas pela
oposição: uma reconhece a subjetividade da natureza, rejeita a superioridade do homem sobre
a mesma e suscita relações pautadas pela ética ambiental; a outra reconhece a natureza apenas
enquanto recursos disponíveis para a satisfação humana, portanto, destituída de diretos.
Na discussão de Dryzek (2004), o que se torna mais evidente é exatamente a dialética
entre discursos ambientais, estruturas sociais e relações de poder estabelecidas através desses
discursos, uma vez que sua tipologia ressalta diferentes reivindicações de mudanças nas
estruturas econômicas e políticas das sociedades modernas, sejam elas pautadas em ações
reformistas empenhadas em assegurar o status quo (o vigor do capitalismo industrial), sejam
elas radicais, empenhadas em estabelecer transformações estruturais abrangentes, em termos
políticos, econômicos ou culturais. Cox (2010) também valoriza a dialética entre discurso e
estrutura social, uma vez que enfatiza a oposição entre discursos dominantes e discursos
insurgentes, os quais disputam legitimidade social a partir da comunicação ambiental, em que
pese o privilégio midiático aos discursos dominantes em detrimento daqueles manifestados
pelos movimentos ambientalistas. Em todo caso, os autores reconhecem a linguagem
enquanto materialização dos discursos, destacando a comunicação ambiental como arena
decisiva para a circulação dos discursos ambientais, desenvolvendo, através das mais diversas
ações simbólicas, suas funções ideacional, identitária e relacional.


145

3 COMUNICAÇÃO AMBIENTAL NO CASO PARTICULAR DO CINEMA DE


ANIMAÇÃO

Neste capítulo objetivamos revelar a animação como um produto cultural que se


mostra relevante na comunicação ambiental, manifestando, direta ou indiretamente, diversos
discursos sobre a natureza e sua problemática. Nesse sentido, abordaremos inicialmente
acerca de sua configuração enquanto produto audiovisual, destacando aspectos conceituais,
seu valor e potencialidade estética e discursiva, e também os desdobramentos de suas
vertentes comercial (hegemônica) e autoral/experimental, a partir das reflexões apresentadas
por Wells (2003; 2006), Stabile e Harrison (2003), Lucena (2005), Furniss (2007), Nogueira
(2010) e Denis (2010). Como o foco deste capítulo é a relação entre meio ambiente e cinema
de animação, dedicaremos a este assunto atenção especial, destacando as contribuições de
Jardim (2013), Leventi-perez (2011), Collignon (2008), Atkinson (2005), Bliss (2012) e
Wells (2009) acerca do antropomorfismo e suas implicações, e, de forma mais específica, às
animações ambientais ou enviro-toons, observando discussões relacionadas às potencialidades
e limitações da representação de questões ambientais no cinema de animação. Nesse sentido,
recorremos a Pike (2010), Murray e Heumann (2011), Weinman (2004), Starosielski (2011) e
Whitley (2012).

3.1 Cinema de Animação: desdobramentos de um produto audiovisual

A animação compreende um campo do audiovisual dotado de especificidades


expressivas, produtivas e de circulação em relação ao chamado cinema de ação ao vivo.
Marcada por profundas transformações ao longo de sua história, a animação é proeminente na
cultura visual contemporânea, constituindo uma indústria altamente lucrativa, marcada pela
ubiquidade (televisão, cinema, vídeo game, celular, internet etc), pela diversidade estética, de
público e de representações, as quais contemplam, de forma cada vez mais intensa e
recorrente, questões socialmente relevantes como aquelas relacionadas à problemática
ambiental. Contudo, apesar desse contexto, a animação ainda se depara com o desafio de
superar o estigma de produto audiovisual “inferior”, destinado ao entretenimento de um


146

público infanto-juvenil, confinado às fábulas, à fantasia e ao humor gratuito, o que resulta em


resistência de público e de crítica, além de um campo de investigação acadêmica tardio1.
De forma geral, é esse panorama ambíguo (marginalização x reconhecimento) que
emerge das discussões apresentadas por autores como Wells (2003; 2006), Barrier (2003),
Lamarre (2009), Lucena (2005), Kriger (2012), Pikkov (2010), O´Pray (1998), Denis (2010),
Nogueira (2010), Furniss (2007), Stabile e Harrison (2003), Mittel (2004), Morrow e
McMahan (2003), Valente (2001), Farley (2003), Alters (2003), Klein (1998), Lehman (2007),
aos quais recorreremos para delimitar uma breve contextualização da animação (sua definição,
seu valor e potencialidade discursiva) antes de nos determos ao ponto central desta seção – as
representações da natureza.
Do ponto de vista conceitual a animação é polissêmica, pois acomoda definições
diversas as quais acentuam aspectos específicos, desde critérios técnicos, estéticos e artísticos.
Assim, enquanto técnica, Wells (2003) e Furniss (2007) descrevem a animação como um
filme em que o movimento resulta da captura individual dos quadros (frames). Lucena (2005),
Nogueira (2010) e Valente (2001), por sua vez, enfatizam a animação como arte de atribuir
vida e personalidade a objetos inanimados. Contudo, uma definição mais abrangente e
apropriada considera a animação como uma arte de transformar a realidade, de representar o
mundo em sua diversidade de significados para além de sua realidade física, ao invés de
simplesmente reproduzi-lo, conforme defendem Wells (2003), Nogueira (2010), Pikkov
(2010).
Ressalta-se, portanto, a animação como uma arte, uma forma de expressão criativa e
versátil, e são essas particularidades que asseguraram o seu sucesso e estimularam sua
revalorização a partir da década de 1990, sobretudo no contexto da televisão. Conforme
destacam Nogueira (2010) e Wells (2002; 2006), trata-se de uma linguagem interdisciplinar
(tecnologia, artes plásticas, dança, música, teatro, filmes etc) dotada de convenções e códigos
particulares, cuja essência experimental resultou em uma diversidade de explorações. Daí
Kriger (2012) e Denis (2010) reconhecerem haver na animação não apenas um potencial para
o entretenimento, mas também para a educação e a expressão artística.
Contudo, a capacidade de abrigar o imaginário, a fantasia e o surreal, uma
característica marcante da animação, é um dos pontos principais nas contestações acerca de
suas limitações quanto ao realismo e de sua capacidade de extrapolar sua função de

1
O´Pray (1998) considera três campos de estudos em animação. Os estudos precursores contemplaram sua
compreensão histórica e as especificidades dos estúdios, enquanto as questões discursivas acerca da
representação de gênero, raça e meio ambiente são mais recentes. Essa mesma perspectiva é reforçada por
Lamarre (2009).


147

entretenimento. Reconhecer, conforme o fazem Denis (2010), Pikkov (2010) e Furniss (2007),
que a animação privilegia o animismo e a humanização, atribuindo “vida” ao inanimado e
representando criaturas antropomorfizadas (objetos, elementos da fauna e da flora) que
permeiam mundos imaginários não implica afirmar a animação como uma arte desconectada
do mundo físico e sociocultural2, confinada ao universo infantil. Pelo contrário, trata-se,
acima de tudo, de valorizar seu estreito diálogo com o imaginário, percebido enquanto
manifestação das subjetividades dos autores e da audiência em geral, de forma a subvertê-lo
sob os mais diversos interesses (DENIS, 2010).
Para Wells (2003), é necessário perceber que, mesmo quando desprovida de realismo
visual, as representações de mundo manifestadas pela animação são potencialmente reais, por
isso devem ser questionadas e analisadas enquanto posicionamentos ideológicos. Na verdade,
conforme sinalizam Barrier (2003), Klein (1998) e Nogueira (2010), na animação, a
plausibilidade das representações decorre de fatores relacionados ao desenvolvimento de suas
narrativas e das performances dos personagens, podendo também ser manifestada em
animações abstratas e caricaturais. Valoriza-se, portanto, não apenas a capacidade de
representação do mundo, mas sobretudo de criticar, de subverter e de contestar, conforme
fizeram diversas produções independentes, experimentais e até mesmo comerciais, como no
caso das animações da Warner Brothers, da MGM e da UPA, entre tantas outras que
emergiram na Europa no pós Segunda Guerra Mundial.
Convém observar que a recorrente e ainda vigorosa associação da animação com a
fantasia (fábulas morais conversadoras) e com o entretenimento infantil, ou mesmo familiar,
decorre principalmente da hegemonia estabelecida pela Disney quando do seu surgimento em
1925, e que perdurou durante as décadas de 1930, 1940 e 1950 - a chamada primeira “fase de
ouro da animação”, conforme definem Stabile e Harrison (2003), Barrier (2003) e Klein
(1998). Essa hegemonia resultou naquilo que Wells (2006) denomina de animação ortodoxa
ou canônica, também denominada de animação total (full animation), caracterizada pela busca
de um profundo realismo (composição visual, movimento e atuação das personagens)
assentado em fábulas cujas narrativas valorizam o uso intenso de diálogos.
Para Pikkov (2010) a Disney instituiu como padrão da animação a narrativa linear
estruturada na apresentação de personagens e seus contextos, na apresentação do conflito ou
do desafio e em sua resolução. Esse reconhecimento da hegemonia da verossimilhança-


2
Whitley (2012) valoriza a noção de plasmatic estabelecida por Eisenstein que diz respeito à capacidade
dinâmica da estética do filme animado em assumir as mais diversas formas, remodelando e subvertendo a
realidade.


148

fantasia, decorrente da credibilidade alcançada pela Disney, é manifestado em diversos


autores, a exemplo de Nogueira (2010), Lucena (2005), Denis (2010), Stabile e Harrison
(2003), Klein (1998), entre outros. Nesse contexto, embora a Disney desponte como interesse
principal da crítica especializada e da investigação acadêmica sobre animação, conforme
ressalta Wells (2003), observamos que não menos importante é sua centralidade nas
discussões acerca do ofuscamento das potencialidades e diversidade expressiva que
emergiram e consolidaram a animação.
Evidentemente, a Disney é um dos capítulos mais importantes da história da animação,
consagrando-se, sobretudo, na produção de longas metragens. Mesmo com o declínio do
interesse por tais produções, que resultou da diversificação e da concorrência que marcou a
indústria da animação com a chegada da televisão, a Disney também conseguiu se estabelecer
nesse novo contexto, conforme nos revelam Lucena (2005) e Wells (2003). Além disso, com
a aquisição da Pixar3, a Disney reassumiu a hegemonia na produção de animações em longa
metragem, liderando sua produção no contexto digital frente a produtoras como Dreamworks
Animation e Blue Sky (FURNISS, 2007). Contudo, tão importante quanto esse
reconhecimento, é ultrapassarmos a hegemonia da Disney para observarmos toda uma
diversidade de produções que emergiu e constituiu alternativas significativas para a audiência
de massa (cinema e televisão), mas principalmente aquelas que circularam nos festivais
especializados dedicados ao público adulto.
A despeito dessa oposição entre animação hegemônica e animação contra hegemônica,
autores como Lucena (2005), Barrier (2003), Wells (2003), Nogueira (2010) e Klein (1998),
estabelecem uma tipologia bastante esclarecedora de suas especificidades. Wells (2003),
Klein (1998) e Lucena (2005) delimitam por hegemônica as produções de caráter comercial e
que se empenham no sucesso de público e arrecadação, e definem animação experimental
como aquela de caráter autoral, orientada pela experimentação (muitas vezes destituídas de
narrativas capazes de constituir significados imediatos), mas também com forte reação às
convenções narrativas e estilísticas estabelecidas nesse campo. Conforme Nogueira (2010), a
animação autoral foi decisiva para assegurar uma diversidade de estilos e de funções no filme
animado, de forma a superar o entretenimento explorado pela Disney. Por isso Denis (2010)
ressalta que além da animação empenhada no sucesso comercial, emergiu uma vertente de

3
Uma análise bastante detalhada acerca da constituição e da evolução da Pixar é apresentada por Price (2009).
O autor revela aspectos dos bastidores da empresa, valorizando a parceria estabelecida entre seus fundadores,
Edwin Catmull e John Lasseter, e também suas principais transformações, sobretudo quando empenhada em
produzir software e hardware para efeitos especiais em computação gráfica, tornando-se uma das mais
inovadoras produtoras de filmes animados. O autor contempla o período desde a sua fundação até sua aquisição
pela Disney, em 2006. Ver mais em Price (2009).


149

cunho utilitário, destinada a comunicar mensagens políticas e ideológicas, e também uma


animação autoral, menos vinculada à lógica comercial e mais empenhada na inovação e na
contestação. Conforme o autor, a animação também manifestou uma dimensão pedagógica
quando fora utilizada para estimular a aprendizagem acerca dos mais diversos assuntos,
sobretudo no contexto das duas grandes guerras do século passado – instruindo4 acerca de
cuidados sanitários e também acerca da montagem e do manuseio de armas, equipamentos
bélicos etc.
De forma geral, podemos abrigar sob a perspectiva da animação contra hegemônica
(considerada em relação à ortodoxia Disney) os cartoons que circularam nos cinemas no
período entre as décadas de 1930 e 1950; as animações destinadas ao público infantil e que
foram exibidas inicialmente na programação televisiva (saturday morning animation); as
animações destinadas ao horário nobre televisivo (prime time animation), veiculadas na
década de 1960, e com maior intensidade a partir dos anos de 1990 na programação das
emissoras de tv a cabo; e, finalmente, as produções autorais amplamente divulgadas nos
festivais especializados. Diante desse contexto, convém ressaltar que, em grande medida, esse
caráter de contra hegemonia do cinema animado não destituiu seus realizadores de objetivos
comerciais, o que apenas efetivamente ocorre em filmes autorais destinados aos festivais ou
mesmo à web. Portanto, o que os autores citados anteriormente delimitam por animação
contra hegemônica é melhor compreendido se percebermos a complexidade aí estabelecida,
uma vez que são várias as configurações estéticas, funcionais e ideológicas daí decorrentes.
Assim, em relação à ortodoxia Disney, notamos que emergiu uma diversidade de produções,
cuja recusa ou oposição fora manifestada de forma difusa, ora apenas em uma das dimensões
assinaladas, ora em mais de uma delas.
Embora a hegemonia plena da Disney se estabeleça no campo das animações em
longa metragem, quando do lançamento de Branca de Neve e os Sete Anões, em 1937, o
primeiro longa metragem animado colorido, sonoro e dotado de uma narrativa realista, sua
consagração como padrão industrial já estava firmada, sobretudo através das animações em


4
Durante a Segunda Guerra Mundial, os principais estúdios norte-americanos foram contratados pelas forças
armadas para a realização de filmes dedicados à instrução dos soldados quanto ao uso de equipamentos bélicos.
Além disso, vários filmes foram requisitados para legitimar a atuação do país no combate aos alemães. Algumas
das principais animações desse período foram realizadas pela Disney a exemplo de Donald Gets Drafted (1942),
Education for Death (1943), Der Fuehrer's Face (1943), além do longa metragem Victory Through Air Power
(1943), ambos dotados de um forte apelo ideológico. Contudo, o governo desse período também requisitou a
produção de animações de caráter didático de forma a garantir condições de saúde pública. Um dos filmes mais
celebrados é o documentário animado em curta metragem So Much for so Little, escrito por Friz Freleng e
dirigido por Chuck Jones. A animação foi lançada em 1949 e, em 1950, foi premiada com um Oscar. Sobre a
produção animada realizada neste contexto, ver Barrier (2003) e Klein (1998).


150

curta metragem, marcadas pelas fábulas morais – a série The Silly Simphonies (1929 a 1939).
Conforme Lucena (2005) e Klein (1998), nessa mesma década surgem diversos outros
estúdios, os quais buscam estabelecer uma concorrência a partir da oposição ao estilo Disney.
Entre estes, destacam-se o Fleischer Studios (Betty Boop, Popeye), a Warner Bros. (Looney
Tunes, Merrie Melodies), a MGM (Tom e Jerry) e, mais tarde, a UPA (Mister Magoo). Ao
invés de fábulas, piadas de situação marcadas pela irreverência, humor, sarcasmo e pela
violência entre os personagens, majoritariamente animais antropomorfizados, além da auto
reflexibilidade5 (personagens animados interagindo com o animador de forma a evidenciar a
natureza de sua criação). Ao invés de narrativas lineares, subversão estrutural dessa
abordagem em função de perspectivas cíclicas ou multilineares, como revela Pikkov (2010).
Assim, vigorosas até o final da década de 1950, quando da chegada da televisão, tais
produções subverteram os cânones estabelecidos pela Disney (que passou a dominar de forma
praticamente exclusiva a produção de longas metragens animados), introduzindo, ainda que
de forma superficial e gradativa, novas perspectivas ideológicas e politicamente críticas para
abrigar diversas questões sociais (WELLS, 2003). De acordo com Barrier (2003), são elas que
configuram a animação enquanto gênero6 audiovisual, os cartoons com duração de 7 a 8
minutos, exibidos nos cinemas, não menos orientados para o sucesso comercial que as
produções da Disney.
Com o advento da televisão, no final da década de 1950, emergiu uma produção
animada que se opôs não apenas aos padrões clássicos da Disney, mas também aos já
tradicionais cartoons. Nesse contexto, ao invés de manifestar a diversidade de opiniões e
perspectivas dos seus realizadores, a animação alinha-se aos interesses da economia política
da mídia (STABILE & HARRISON, 2003; WELLS, 2003), cuja lógica comercial a confina a
um público infanto-juvenil e a orienta como instrumento de merchandising e de publicidade.
Conforme Mittel (2004), seu agendamento é estabelecido para as manhãs de sábado de forma
a abrigar novas produções com foco no público infantil, quando surgem diversas séries
animadas com episódios de 30 minutos de duração, marcadas, sobremaneira, por uma


5
Um dos principais expoentes dessa abordagem é a animação Duck Amuck, realizada em 1953, sob a direção
de Chuck Jones, nos estúdios da Warner Bros. O filme é protagonizado por Patolino (Daffy Duck), personagem
concebido por Tex Avery, em 1937, o qual é constante submetido à intervenção do animador que altera
intencionalmente os cenários, assim como seu figurino, a fim de desestabilizar sua atuação. Ao longo do
desenvolvimento da animação, Patolino tenta negociar com o “animador desconhecido” que se utiliza dos mais
diversos recursos técnicos e artísticos da animação para silencia-lo e confundi-lo (apagando seu corpo,
removendo seu bico, imprensando-o com a câmera etc). O filme é encerrado sem que Patolino descubra quem
estava a frente da mesa de desenho – Pernalonga é revelado apenas para a audiência. Ver mais em Cubitt (2013).
6
Whitley (2012) identifica dois gêneros de animações: os cartoons e os contos de fadas em longa metragem da
Disney.


151

simplificação estilística denominada de animação limitada (movimentos cíclicos, expressão


simplificada e uso intenso de diálogos), tornando-se bastante influente a produção realizada
pelos estúdios Hanna-Barbera. Acerca desse período que Mittel (2004, p.33) denomina de
“grande exílio da animação”, Stabile e Harrison (2003) observam a chegada da televisão
como o fim da idade de ouro da animação, enquanto Klein (1998) reconhece como o
encerramento da animação clássica, possivelmente o fechamento de consagrados estúdios de
animação (MGM em 1957, Warner Bros. em 1964) e também pela entrada da própria Disney
no mercado televisivo da animação.
Na verdade, com o surgimento da televisão a animação fora amplamente enfatizada
pela indústria da mídia como um produto para entretenimento infantil, o que resultou em sua
forte marginalização frente ao cinema ao vivo, estigma que ainda perdura, conforme
sinalizamos no início desta seção. Contudo, Wells (2003) nos faz perceber que a
reconfiguração da animação (cartoons) pela televisão não apenas estimulou novas estratégias
estéticas, mas terminou por revisitar produções anteriores a partir de sua reinserção na grade
de programação, apesar do apelo adulto revelado pela violência e pelo humor. Ainda
conforme o autor, a partir da década de 1960, a televisão estimulou o surgimento de
animações para um público adulto ou familiar, a exemplo da série Os Flintstones (1960-1966),
que instalou a animação no horário nobre televisivo. Tais animações, reconhecidas por prime
time animations (MITTEL, 2004; STABILE & HARRISON, 2003; MORROW &
MCMAHAN, 2003; FARLEY, 2003; ALTERS, 2003), assinalam a retomada do caráter
socialmente satírico e irônico que vigorou na idade de ouro, inaugurando um estilo de
animação que vai se consagrar e diversificar a partir dos anos de 1990, em séries como Os
Simpsons, desde 1990 e South Park, a partir de 1997.
Contudo, se extrapolarmos o contexto da emergência da televisão e considerarmos o
surgimento dos canais de tv a cabo nos anos 1990, observamos com maior amplitude e
relevância o impacto da televisão na animação tradicional e hegemônica. Ela não somente
favoreceu uma estética caricatural e esquemática em detrimento do realismo e da mimese da
Disney, conforme destaca Nogueira (2010), estabelecendo Hanna-Barbera e sua animação
limitada como hegemonia na televisão, mas também resultou em diversificação e
segmentação de público e de produção. Para Nogueira (2010) o canal Cartoon Network, ao
privilegiar a veiculação de animações, modificou seu valor cultural, atribuindo-lhe maior
respeito e legitimidade. Conforme Larson (2003), juntamente com os canais FOX Kids e
Nickelodeon, o Cartoon Network impulsionou a produção independente, consolidando a


152

animação infantil, mas, sobretudo estimulando produções ao estilo prime time,


ideologicamente críticas e subversivas.
Stabile e Harrison (2003) defendem que esse contexto configura as particularidades de
forma e conteúdo de uma categoria de animação que resgata as comédias de situação
(sitcoms) e se aprofunda na sátira social, na ironia aos valores e às concepções tradicionais e
conservadoras de família em vigor nos Estados Unidos. Conforme já destacado, Os Simpsons
tornam-se um desses expoentes. Para Stabile e Harrison (2003), a série subverte a tradicional
sitcom manifestando uma intensa intertextualidade com a própria mídia, além de sua bi
modalidade, pois contempla tanto para um público adulto como juvenil.
Alters (2003) observa que nessa série animada são recorrentes os questionamentos
sobre os mais diversos aspectos sociais, alinhando-se, sobretudo, com as perspectivas
ideológicas das classes trabalhadoras. Wells (2003) ressalta que Os Simpsons (concebido por
Matt Groening) e South Park (concebido por Trey Parker e Matt Stone) satirizam a sociedade
americana de forma contundente, explorando contradições e tabus em um tom que revigora a
anarquia característica de animadores como Chuck Jones e Tex Avery (MGM e Warner Bros).
Para Wells (2003), essas produções, assim como a série animada Super Mouse (1944 a 1961),
concebido por Izzy Klein, Beavis and Butt-Head (1993 a 1997), criada por Mike Judge, são
subversivas em relação aos próprios cartoons feitos para a televisão. Sobre South Park,
Stabile e Harrison (2003) afirmam se tratar de uma das animações satíricas mais
emblemáticas, devido ao teor obsceno dos seus temas, abordados sempre de forma
escancarada. Além disso, Ott (2003) reconhece que o sucesso imediato da série decorre da
constante e sarcástica representação da violência e de questões étnicos raciais, despontando
como primeira animação televisiva classificada como destinada à audiência adulta.
De forma geral, os impactos da televisão na animação, tanto na década de 1960 quanto
na década de 1990 - período reconhecido como a nova fase de ouro da animação – resultam
mais dos esforços e das transformações empreendidas pela indústria da mídia, agendamento
de horário e segmentação de público, do que das mudanças no texto animado propriamente
dito. Conforme nos revela Mittel (2004), embora as animações veiculadas em horário nobre
sejam inovadoras, elas circulam entre várias outras produções, entre aquelas dedicadas ao
público infantil ou em meio às reprises de clássicos animados. Para o autor, embora a
animação corresponda, de uma forma mais ampla, a uma especificidade técnica do fazer
fílmico, é sob a forma do cartoon que ela se configura enquanto gênero, agora endereçadas
para todos os públicos, amplamente distribuídas nas redes de televisão, e não apenas para o
entretenimento infantil, mas também como produto para a família e para um público adulto,


153

sobretudo como forma de expressão de humor, inteligência e de drama (MITTEL, 2004).


Observa-se, portanto, que a animação passa a ter visibilidade especialmente pelo espaço que
vem ocupando na programação televisiva, e que, mesmo incorporando um discurso
“subversivo”, em alguns casos, torna-se alvo constante do mercado, disposto a torná-la
lucrativa, seja através do alto índice de audiência, seja pela comercialização de produtos
licenciados.
Na verdade, se a estética da Disney fora contestada pela animação televisiva, sua
hegemonia na narrativa, no realismo pictórico e comercial não fora destituída, senão
momentaneamente ofuscada. Conforme Larson (2003), o domínio da Disney no campo das
animações em longa metragem fora revigorado nos anos 1990, sobretudo com o advento da
computação gráfica que resultou em elevado realismo pictórico (PIKKOV, 2010). Além disso,
Larson (2003) reconhece que essa década marca o fortalecimento e a consagração da
estratégia de branding que fora estabelecida pela própria Disney quando da concepção do
personagem Mickey Mouse, em 1928, e mais tarde com a criação do parque temático
Disneylândia. Trata-se, segundo o autor, de um conjunto de estratégias que visam transformar
o estúdio e as personagens de suas animações em marcas capazes de estimular um lucrativo
mercado de licenciamento de produtos. Ainda conforme o autor, para cada U$ 1,00
arrecadado nas bilheterias com um longa metragem, a Disney assegurava, nos dois anos
seguintes à exibição no cinema, ao menos U$ 10,00 com a comercialização de cópias e a
exibição na televisão.
Portanto, é nesse contexto que a Disney retoma seu posto hegemônico, quando seu
modelo comercial estabelece uma lucrativa vinculação entre a animação para o cinema e seus
desdobramentos no mercado da televisão. Conforme nos revela Larson (2003), é esse modelo
de negócios que orienta a produção animada inserida na televisão, permeando até mesmo sua
vertente autoral e experimental, agora empenhada em atender a economia política do
audiovisual. Stabile e Harrison (2003) revelam que no Cartoon Network, essa estratégia do
branding resulta de seu amplo esforço em segmentar a audiência – na ocasião, composta por
32% de adultos, 68% de crianças e adolescentes, o que por sua vez se traduz na lucrativa
promoção de sua marca e de personagens como As Garotas Super Poderosas e Samurai Jack,
ambas realizadas in house, do seu acervo animações da MGM, sobretudo o Pica Pau, da
Warner Bros (Looney Tunes), da Hanna-Barbera (Scooby Doo) e de produções japonesas a
exemplo de Drangonball Z. Dados revelados por Larson (2003) apontam que já em 2003 The
Simpsons haviam ultrapassado a quantia de U$ 1 bi em licenciamento de produtos (camisetas,
brinquedos, DVDs etc). Conforme Ott (2003), esse mesmo desempenho comercial fora


154

assistido por South Park, transitando com grande sucesso de merchandising entre um público
predominantemente adulto (60% acima dos 18 anos).
Portanto, embora a televisão tenha consolidado a animação junto a um público adulto,
cerca de 40% da audiência, segundo Morrow e McMahan (2003), e que diversas séries
tenham surgido a reboque do sucesso de Os Simpsons, a exemplo de Family Guy, criada 1999
por Seth MacFarlane, Futurama (1999 a 2003), de Mat Groening, Capital Critters, criada por
Steven Bochco em 1992, Fish Police, criada por Steve Moncuse em 1992, Family Dog, criada
por Brad Bird em 1993, The Critic (1994 a 1995), criada por Al Jean e Mike Reiss, The PJs
(1999 a 2002), criada por Eddie Murphy e Daria (1997 a 2002), criada por Glenn Eichler e
Susie Lewis, é importante considerar, conforme ressalta Farley (2003), que a animação prime
time não deve ser confundida com animação “séria” e de forte apelo intelectual, mas
principalmente como um complexo de filmes marcados por uma estética própria (estilo visual
autoral), pela forte presença da música, da violência, da irreverência, da imaginação e da
fantasia, objetivando, acima de tudo, a diversão da audiência. E, é claro, o sucesso comercial.
Diante desse estatuto comercial alcançado pela animação após a década de 1990,
convém observarmos a persistência e a relevância de uma vertente autoral e independente que
desponta à margem dessa lógica de mercado, respondendo, conforme defendem autores como
Denis (2010) e Wells (2003), pelo maior volume de produções e pela maior diversidade
estética e ideológica, sobretudo quando se trata de curtas metragens. Embora não privilegiem
de forma exclusiva ou mesmo explícita uma função didática e ideológica, é nesse contexto
que a animação se torna mais livre dos constrangimentos produtivos assinalados na vertente
comercial, alinhando busca por inovação expressiva, contestação de valores socioculturais
vigentes e a representação de assuntos ditos mais “sérios”, a exemplo das questões ambientais.
Evidentemente, não se trata de ignorar a proximidade e a relevância da animação
clássica, hegemônica e comercial - os cartoons e os longa metragens animados, na veiculação
de tais questões7. Afinal, como defende o próprio Wells (2002), dado ao seu estigma enquanto
produto cultural periférico, a animação é privilegiada em sua capacidade de exposição da
diversidade e das contradições relativas aos valores sociais, sobretudo quando atinge de forma

7
Uma discussão acerca das representações de questões de gênero e raça na animação, em termos de
problemática sociocultural, é proposta por Furniss (2007), ao retratar as transformações em tais representações
na animação, sobretudo a partir da década de 1950, quando o racismo e a opressão à mulher são preteridos pelas
estratégias de mascaramento de conflitos e de homogeneização cultural. Para o autor, é somente na década de
1990 que a diversidade cultural e o papel das mulheres na sociedade assumem um lugar de destaque na animação,
a exemplo das obras como Daria, Garotas Super Poderosas, Dora Aventureira, Kim Possible, Os Simpsons,
South Park etc. Lehman (2007), por sua vez, estabelece uma discussão mais aprofundada sobre as representações
dos negros norte americanos na animação, revelando a trajetória do racismo a partir dos estereótipos
representados nas animações.


155

intermitente e com elevado grau de liberdade, seu público infanto-juvenil. Nesse sentido,
ainda como nos faz perceber o autor, a animação, qualquer que seja sua vertente, é melhor
compreendida como um texto ideológico, seja empenhado em assegurar a ordem vigente, seja
dedicada a subvertê-la, pois é sempre um modo de expressão capaz de estabelecer
engajamento espiritual, intelectual ou estético acerca de aspectos da vida cotidiana e não
apenas para representá-los de forma fantasiosa.
Na verdade, quando a Disney consagrou a “narrativa do final feliz”, o fez com base
em uma forte apologia ao progresso e às condições sociais conservadoras vigentes,
estabelecendo um forte viés educativo empenhado na manutenção dessa ordem social a partir
da representação de sua homogeneidade ao invés de sua diversidade. Conforme discutido
anteriormente, também é importante perceber que as animações prime time, assim como os
cartoons clássicos, foram marcados pela intensa satirização de condições sociais diversas,
mas prevaleceram interesses comerciais sobre objetos ideológicos, sobretudo no contexto
mais recente.
Wells (2003), Denis (2010) e Nogueira (2010) ressaltam que a exploração das
potencialidades ideológicas e politicamente críticas da animação, de forma a contemplar as
diversas questões socioculturais, emergiu com maior intensidade no leste europeu,
particularmente na antiga União Soviética, Iugoslávia, Tchecoslováquia, Polônia e Hungria, e
também no Canadá, com a marcante influência do animador Norman McLaren junto ao
National Film Board of Canada (NFB)8, além da animação japonesa que viria a se consolidar
a partir da década de 1950. Para Pikkov (2010) e Kriger (2012), a animação também
demonstrou essa capacidade ao manifestar narrativas não ficcionais naquilo que constitui o
chamado documentário animado9. Conforme os autores, obras como Waltz with Bashir (2008),
animada por Yoni Goodman, resgatando memórias dos tempos de guerra em Israel, ou
mesmo a precursora Sinking of the Lusitania (1918) de Winsor McCay, retratando o trágico
naufrágio deste navio, são exemplares dessa perspectiva em que a animação supera a
representação das fábulas e da fantasia para contemplar questões sociais diversas, ainda que

8
Trata-se de uma agência de cinema criada e mantida pelo governo canadense, fundada em 1939 tendo como
diretor o cineasta John Grierson. Conforme sinaliza o site oficial, o NFB já produziu mais de 13000 obras, sendo
73 delas indicadas ao Oscar, quando 12 foram consagradas em categorias diversas, sobretudo os curtas animados.
O NFB é um das escolas mais influentes no campo da animação, contribuindo para a difusão e à formação de
animadores do mundo todo. Ver mais em https://www.nfb.ca/.
9
Kriger (2012) discute questões relativas ao realismo na animação em defesa do reconhecimento das
possibilidades do documentário animado. Conforme o autor, seja explorando questões intimistas, como no caso
da animação Ryan (2004), uma biografia do animador canadense Ryan Larkin, realizada por Chris Landreth, seja
diante de questões sociais como a guerra no Líbano e seus desdobramentos, retratada em Waltz with Bashir
(2008), o documentário animado já desfruta de amplo reconhecimento, inclusive pela premiação do Oscar –
Ryan foi vencedor entre os curtas animados na premiação de 2004.


156

desprovidas de realismo visual. A partir desses autores, convém atentar que embora a
televisão tenha contribuído, na década de 1990, de forma decisiva para a consagração da
animação destinada ao público adulto, sobretudo na vertente socialmente crítica e de caráter
irônico, são os festivais especializados e também a web que melhor traduziram e traduzem a
efervescência da animação subversiva.
Uma sistematização geral desse contexto da animação enquanto instrumento
ideológico é apresentada por Denis (2010) ao ressaltar que: a produção hegemônica da
animação, liderada pela Disney, empenhou-se na promoção e legitimação da ideologia do
progresso que vigorou após a Segunda Guerra Mundial; a produção contra hegemônica
assinalada por animadores como Tex Avery, Chuck Jones, Fritz Freleng, pela UPA, MGM e
Warner Bros. posicionou-se criticamente sobre essa ideologia, sem necessariamente rejeitá-la
por completo; no leste europeu emergiu uma produção de caráter humanista, social e
politicamente engajada, empenhada em denunciar problemáticas relacionadas ao capitalismo,
manifestando críticas anti-imperialistas, anti-modernistas e de cunho pacifista, as quais
também ecoaram na França, na Itália na Alemanha e no Canadá; no Japão a animação foi
decisiva para estimular o nacionalismo. Convém atentar que, à exceção das animações contra-
hegemônicas norte-americanas representadas pelos cartoons, as quais se consagraram
enquanto curta metragens destinados ao cinema e à televisão, nos demais casos foram os
festivais especializados que constituíram o principal espaço de circulação.

3.2 Animação, meio ambiente e antropomorfismo

No contexto dessa pesquisa, são as representações da natureza e das questões


ambientais na animação que despontam como ponto de maior interesse. Contudo, é
importante perceber que apesar de chegar aos dias atuais amadurecida e dotada de forte
capacidade simbólica, um reconhecimento exaltado por Nogueira (2010) quando enfatiza que
seus regimes de representação visual transitam entre a fidelidade realística do mundo em seus
detalhes (mimese) e as expressões esquemáticas, por vezes caricatural e destituída de
fidelidade visual, a animação ainda se encontra diante do desafio de superar sua
marginalização, seja no plano da crítica especializada, seja no campo da investigação
acadêmica (FURNISS, 2007; WELLS, 2002). Conforme sinalizamos na seção inicial deste
capítulo, no campo da comunicação ambiental são as notícias que são valorizadas como mídia
ambiental por excelência e, em se tratando do audiovisual, são os filmes de ficção, assim
como os documentários, que despontam como mediações sérias e relevantes às questões. Por


157

isso Starosielski (2011) afirma que a animação permanece associada a veiculação de


narrativas simples, fantasiosas e reducionistas, inapropriadas, portanto, à representação das
complexas discussões ambientais. Porém, convém lembrar que essa falta de clareza e análise
mais profunda acerca da temática do meio ambiente percorre a comunicação ambiental em
seu conjunto, ainda que se evidencie em maior proporção nos filmes animados, já que são
estigmatizados há muito por um caráter de entretenimento e não de drama e crítica. O
resultado disso é a escassez de bibliografia especializada sobre animação ambiental – e não
apenas em língua portuguesa, o que revela ser um forte indicador dessa negligência.
Murray e Heumann (2011), autores basilares da ecocrítica da animação, advertem que
apesar do recente crescimento desse campo de estudos, principalmente com a publicação de
obras relevantes como Understanding Animation (1998), Animation and America (2002),
ambas de Paul Wells, Hollywood Cartoons (1999), de Michael Barrier e Seven Minutes
(1993), de Norman Klein, discussões relativas à representação da natureza são ainda
incipientes. Dai a relevância da investigação dos autores acerca do discurso ambiental na
animação, sobretudo no sentido de estimular nesse campo a emergência de trabalhos como
aqueles já consistentes no cinema, a exemplo das publicações de David Ingram, Scott
MacDonald, Pet Brereton, entre outros, os quais discutimos no capítulo anterior.
Evidentemente, contribuições para esse debate acerca da potencialidade da animação
enquanto mídia ambiental são observadas em autores empenhados em discutir a história da
animação e as especificidades dos principais estúdios, alguns dos quais já apresentados aqui
neste capítulo. Contudo, são as discussões especificamente centradas na investigação da
comunicação ambiental na animação, ou na ecocrítica do cinema animado (MURRAY &
HEUMANN, 2011), que se mostram mais consistentes. Daí privilegiarmos trabalhos de
Murray e Heumann (2009; 2011), Whitley (2012) e Starosielski (2011), que se esforçam em
estruturar um debate sobre o meio ambiente na animação, e também abordagens apresentadas
por Pike (2010), Leventi-Perez (2011), Collignon (2008), Atkinson (2005), Wells (2009),
entre outros, as quais tratam de questões ambientais em obras específicas, sejam elas clássicas,
contemporâneas, independentes, autorais ou comerciais. Contudo, é pertinente ressaltar que,
em grande medida, a ênfase de tais análises recai na produção hegemônica, dada a sua
centralidade quando se trata de sucesso de público e comercial. De qualquer forma, vale
também destacar algumas produções japonesas e alguns poucos filmes autorais, que começam
a assumir relevância nesse contexto.
Entre os autores que contemplam investigações acerca da animação em seu contexto
mais amplo, são as considerações acerca do antropomorfismo que tomaremos como uma


158

primeira discussão acerca da representação da natureza, uma vez que consiste em uma
estratégia recorrente e que fora estabelecida de forma pioneira pelo animador Winsor McCay
(LUCENA, 2005; WELLS, 2003; PIKKOV, 2010), consolidada pelo personagem Gato Félix,
criado em 1919, e ratificada pela Disney quando da criação do Mickey Mouse, contribuindo
de forma essencial para sua hegemonia (NOGUEIRA, 2010; ATKINSON, 2005,
COLLIGNON, 2008). Sua presença na animação é, conforme defende Bliss (2012), uma
herança de produtos culturais anteriores, sobretudo das fábulas clássicas. Em termos
conceituais, Collignon (2008) define o antropomorfismo como a atribuição de características
humanas a animais e objetos inanimados, dotando-os de pensamentos, sensibilidades,
intenções, inteligência etc. De forma geral, trata-se de um fenômeno complexo, com
implicações diversas sobre a audiência, especialmente em termos de contribuição para a
construção simbólica dos animais representados, atribuindo valores e orientando nossas
relações como os mesmos.
É importante observar que a criação da Environmental Media Association (EMA), em
1989, foi fundamental para estimular a inserção da temática ambiental no cinema, na televisão,
e, sobremaneira nas animações. Sua premiação Environmental Media Awards, iniciada em
1991, contempla obras em que a comunicação ambiental se mostra relevante à consciência e
ao engajamento ambiental. Já nessa primeira edição o reconhecimento da animação como
mídia ambiental se fez presente com destaque para a série Capitão Planeta (1990 a 1996), Os
Simpsons e Tiny Toons Adventure (1990 a 1992). Desde então, diversas animações foram
reconhecidas nas mais diversas abordagens temáticas, muitas das quais, inclusive, não
desfrutam desse mesmo reconhecimento no campo acadêmico, conforme discutiremos adiante.
Entre as animações premiadas pela EMA, destacamos os longa metragens FernGully: As
Aventuras de Zack e Crysta na Floresta Tropical (1992), Pocahontas (1995), Spirit: O corcel
indomável (2002), A Era do Gelo (2002), Hapy Feet (2006), as séries animadas Família
Dinossauros (1991 a 1994), Futurama (1999 a 2003), Lilo & Stitch (2003 a 2006) e o curta
documentário animado The Meatrix (2003).
Quanto às discussões acerca da estreita relação entre animação e antropomorfismo, as
mesmas sinalizam para uma série de motivações, sendo possível observar um consenso
envolvendo a maioria delas. Atkinson (2005), Wells (2009) e Nogueira (2010) consideram,
antes de tudo, que o antropomorfismo na animação emergiu como estratégia para superar os
desafios técnicos e artísticos para a representação de expressões e movimentos humanos.
Contudo, quando a técnica da animação fora consolidada, permitindo a superação destas
dificuldades, foram as potencialidades expressivas que justificaram a permanência do


159

antropomorfismo (WELLS, 2009; JARDIM, 2013; DENIS 2010). Assim, personagens


antropomorfizados, sobretudo animais, mostraram-se decisivos para estabelecer envolvimento,
identificação e empatia entre a audiência e as narrativas animadas (ATKINSON, 2005; BLISS,
2012; COLLIGNON, 2008), e para favorecer o humor (WELLS, 2009) e as narrativas
carregadas de moralidade, como as fábulas da Disney.
É importante observar que o antropomorfismo ocorre em diferentes níveis, os quais
podem coexistir em uma mesma obra a partir dos diversos personagens representados.
Collignon (2008) identifica três estratégias recorrentes na animação: animais pensando como
humanos, mas representados em sua forma natural, herdando apenas a psique humana, a
exemplo de Gato Felix e de Pluto; animais habitando espaços urbanos, preservando sua
anatomia, mas herdando costumes e hábitos humanos (roupas por exemplo); animais
plenamente antropomorfizados, tanto na anatomia quanto no comportamento. Jardim (2013)
também propõe três níveis de antropomorfização de animais, porém é mais esclarecedor
quanto à configuração dos mesmos. Para o autor, em um primeiro nível os animais
apresentam comportamentos humanos, mas preservam seus aspectos físicos e também o seu
habitat natural; o segundo nível compreende as representações de animais interagindo com
humanos, usando artefatos sociais diversos; o terceiro nível corresponde aos animais
substituindo os humanos, povoando seus espaços ou estabelecendo alternativas aos mesmos.
Conforme o autor, cada um desses níveis pode explorar aspectos específicos tanto dos animais
quanto dos humanos e de sua vida social. Além disso, ressalta que na maior parte dos casos as
dimensões físicas dos animais não são drasticamente alteradas em relação às espécies naturais,
mas o uso de roupas é recorrente e também o bipedismo.
Para Jardim (2013) animações como Procurando Nemo (2003) e O Rei Leão (1994)
são exemplos que exploram o primeiro nível do antropomorfismo, uma vez que representam
animais em seus habitats naturais, mas que manifestam habilidades humanas. A série My
Little Poney, criada em 2010 por Lauren Faust, por sua vez, é ilustrativa do último nível de
antropomorfismo, em que os personagens são animais que habitam um mundo social similar
ao humano, estabelecendo uma metáfora das sociedades e suas motivações. O mesmo ocorre
em diversas animações em que os personagens possuem cabeças de animais habitando corpos
humanos, o mais elevado grau de antropomorfismo defendido pelo autor.
Evidencia-se, portanto, a relevância do antropomorfismo como importante estratégia
adotada pela animação no sentido de estabelecer metáforas sociais. Bliss (2012), por exemplo,
ressalta que ao adotar o antropomorfismo a animação não visa a banalização dos animais, mas
enfatizar aspectos culturais diversos, colocando em relevo as motivações e a personalidade


160

humana. Para Atkinson (2005), na animação os animais são tomados como símbolos do
próprio homem, favorecendo sua representação caricaturada em contextos sociais diversos.
Jardim (2013), por sua vez, recorre a animações como A Revolução dos Bichos (1954)10 e à
série Gato Félix para destacar o antropomorfismo em sua capacidade de exercício da crítica
social e de propor questionamentos como forma de reivindicação de mudanças. Acerca desse
papel subversivo, o entendimento de Wells (2009) é bastante revelador ao destacar que
antropomorfismo permite à animação representar questões sociais diversas (raça, gênero,
classe etc) escapando de constrangimentos políticos e morais acerca dos temas retratados.
Para o autor, o antropomorfismo bem sucedido, aquele em que a caracterização dos
personagens e a atribuição de motivações humanas é convincente, permite ao filme animado
estabelecer representações das mais diversas aspirações humanas. Contudo, Jardim (2013)
ressalta que, quando adotado para satirizar a sociedade, o antropomorfismo apresenta temas
como violência, sexo e racismo de forma velada para um público infanto-juvenil,
empenhando-se mais no humor do que na subversão das condições sociais hegemônicas.
Embora o antropomorfismo seja reconhecido como valioso na representação da
condição humana, em seus mais diversos aspectos sociais, surgem vários alertas de
implicações simbólicas negativas acerca dos animais. É importante observar que nos cartoons
foi recorrente a atribuição de comportamentos violentos, agressivos e não éticos aos
personagens antropomorfizados, sobretudo nas produções da Warner Bros., da MGM, de
Walter Lentz, da Hanna-Barbera, entre outros estúdios, além da própria Disney. Para Bliss
(2012), essas caracterizações deliberadas resultaram em representações equivocadas dos
animais, associando-os a conceitos prejudiciais e promovendo uma intensa
descontextualização desses em relação aos seus habitats e comportamentos naturais. Por isso
o pessimismo de Collignon (2008) ao afirmar que a animação em geral esteve sempre
destituída de interesses em representações consistentes da natureza.
Leventi-Perez (2011), quando analisa o antropomorfismo na obra da Disney,
sobretudo nas animações em longa metragem realizadas no período compreendido entre o ano
de 2000 a 2010, é ainda mais contundente acerca do prejuízo para a representação da natureza.
Para o autor, na Disney há uma forte presença dos animais como forma de estabelecer vínculo
emocional com as crianças e com a família, e assegurar a vitalidade moral de suas fábulas,


10
Trata-se do filme lançado em 1954, sob a direção de Joy Batchelor e John Halas, cujo título original é
Animal Farm. O filme é uma adaptação do livro publicado em 1954 por George Orwell, um romance que satiriza
a Revolução Russa de 1917.


161

uma vez que personagens antropomorfizados assumem uma validade universal, destituindo
ligações confinadas a determinados grupos ou tipos sociais.
Além disso, os animais são empregados para perpetuar valores sociais conservadores11,
legitimando as configurações tradicionais de família, ideias de sexismo, de patriarcalismo,
estereótipos raciais e étnicos, dentre outros. Especificamente acerca da representação dos
animais na Disney, o autor ressalta que esse estúdio: cria um ranqueamento de espécies,
estimulando a valorização de algumas em detrimentos de outras; legitima o domínio dos
homens sobre os animais, enfatizando como imprescindíveis o cuidado e a proteção a partir
de sua domesticação; legitima a inferioridade dos animais, quando a condição animal é
imposta como forma de punição aos personagens humanos; reforça estereótipos12 nocivos
sobre determinadas espécies tais como porcos (nojentos, gordos, comilões), aranhas (más e
perigosas), sapos (nojentos e repulsivos), peixes (passivos), galinhas (histéricas), coelhos
(divertidos) etc. Para Leventi-Perez (2011) as produções da Disney no período assinalado não
favorecem a valorização dos animais, traduzindo um discurso que enfatiza o afastamento
homem e natureza. Além disso, dada a ênfase na superioridade humana, termina por se
distanciar das questões relativas aos direitos dos animais. Curiosamente, trata-se de um
período (2000 a 2010) marcado pela ampla visibilidade das questões relativas ao meio
ambiente.
Em The Animated Bestiary: Animals, Cartoons, and Culture, obra lançada em 2009,
Paul Wells apresenta uma análise acerca das implicações do antropomorfismo na animação.
Embora não enfatize explicitamente a comunicação ambiental, Wells (2009) é bastante
revelador da relação entre antropomorfismo e comunicação acerca dos animais. Assim como
Leventi-Perez (2011), o autor reconhece que a Disney enfatizou estereótipos diversos,
recorrendo ao senso comum para resgatar valores simbólicos já construídos sobre
determinadas espécies. Contudo, defende que em diversas de suas fábulas, a Disney estimulou
uma aproximação entre a audiência e o meio ambiente, representando animais não
antropomorfizados inseridos em uma natureza idílica, sagrada, romantizada e ingênua.
Além disso, Wells (2009) vai evidenciar que um dos grandes desafios da animação é
conciliar o uso do antropomorfismo e da representação dos animais às questões ambientais

11
Acerca desse alinhamento ideológico da Disney ver Dofmann e Martelat (2010) os quais apresentam uma
leitura crítica acerca de seu imperialismo cultural, sobretudo no contexto da circulação de suas revistas em
quadrinhos no Chile.
12
No trabalho Comunicação Ambiental no Cinema de Animação: uma análise da representação da natureza
no longa-metragem “Rio”, publicado no INTERCOM em 2011, Cerqueira e Aguiar (2011) identificam essa
abordagem na animação em tela, sobretudo quando as personagens macacos são orientados por motivações
humanas e reconhecidas como “trombadinhas”, manifestando características como malandragem, jogo de cintura
e desrespeito (furtos e violência) perante os humanos e as demais espécies animais.


162

relacionadas, de forma a superar a oposição natureza/cultura. Conforme o autor, a animação


Madagascar (2005) é ilustrativa dessa dicotomia que o autor vai designar por Problema de
Madagascar. O filme estabelece uma narrativa pautada na autorreflexão dos seus personagens,
enfatizando a voz da natureza, mas que se desenvolve a partir de objetivos externos ao mundo
natural representado, enfatizando interesses da audiência. Para Wells (2009), no filme o
dilema natureza/cultura é evidente quando animais do zoológico, reinseridos no mundo
selvagem, “abdicam” dos seus instintos e das “leis naturais” em favor de continuarem a
experimentar valores humanos como amizade, fama, sucesso. Essa construção de natureza
como selvagem traduz a visão hierárquica que prevalece nas animações, cuja caracterização
humana confere aos animais habilidades físicas, intelectuais e emocionais tomadas como
superiores. A transição da pureza instintiva para o status de ser social e cultural, ainda que de
forma fragmentada, estabelece a hierarquia inscrita no antropomorfismo.
Na verdade, Wells (2009) estabelece uma análise mais alargada do antropomorfismo
na animação, analisando significados, motivações e práticas dos animadores, além de
questões filosóficas e políticas relacionadas aos animais. Para o autor, mais coerente é
observar o antropomorfismo na animação a partir de sua ambivalência discursiva. Assim,
ressalta que animação desponta como espaço relevante para a circulação dos mais diversos
discursos sobre os animais, sejam aqueles que valorizam a vida animal, respeitando sua
perspectiva (subjetividade), e estimulam a reconexão cultura e natureza, sejam aqueles que os
expressam em termos de exploração, ignorando suas identidades, de forma a legitimar sua
dominação. Nesse sentido, ressalta que o sucesso do antropomorfismo parece melhor traduzir
uma reação da sociedade ante o afastamento do mundo natural estabelecido a partir de sua
condição industrial – e por isso, para Wells (2009), a Disney recorre ao antropomorfismo
como reação aos males da vida moderna. Defende, portanto, que a partir do antropomorfismo
a animação não apenas oprime e distorce os animais, mas também manifesta respeito pelos
mesmos, vinculando-se a suas causas. O autor insere a animação Happy Feet (2006) nesse
contexto, valorizando seu antropomorfismo auto reflexivo empenhado em inserir uma
discussão política acerca dos efeitos da vida humana sobre o habitat dos pinguins. Conforme
Wells (2009), apesar dessa potencialidade de legitimar e estimular agendas de políticas
ambientais, o antropomorfismo na animação, na maioria dos casos, não alcança esse objetivo,
sendo mais revelador da complexidade que permeia a relação homem e animais, além de
constituir uma estratégia favorável à construção de novos significados e relações.
Contudo, apesar das implicações simbólicas do antropomorfismo na animação, seu
potencial para a comunicação ambiental decorre de um conjunto de estratégias estéticas, de


163

conteúdo e de desenvolvimento de suas narrativas, sejam elas ficcionais ou documentais,


sejam explícitas ou implicitamente pedagógicas. De acordo com a primeira seção deste
capítulo, a relevância da animação enquanto mídia ambiental resulta do seu empenho em
manifestar as duas funções sinalizadas por Robert Cox, a constitutiva e a pragmática. Portanto,
são as construções de significados e valores sobre o mundo natural, assim como os estímulos
e orientações para engajamento e ações sobre o mesmo, que revelam a vinculação do filme
animado a um determinado discurso ambiental.

3.3 Enviro-toons: o meio ambiente na animação

Na crítica intitulada Things That Suck: The SMOGGIES, postada em 2004, Jaime
Weinman cunhou um termo que começa a ser apropriado por vários outros autores, a exemplo
de Pike (2010) e Murray e Heumann (2011), interessados na comunicação ambiental na
animação. Trata-se do termo enviro-toon usado para designar animações explicitamente
vinculadas ao debate ambiental. Em seu ensaio, Weinman (2004a) se refere diretamente a
animações que objetivam “ensinar” às crianças acerca dos problemas ambientais,
manifestando duras críticas às séries animadas Capitão Planeta e The Smoggies (1989 a
1991), autovinculadas ao ambientalismo. Para o autor, as enviro-toons são anteriores à década
de 1980, contudo, a partir desse período elas se tornaram problemáticas, sobretudo por
privilegiarem o doutrinamento da audiência a partir da defesa de uma moralidade em
particular, em detrimento do esclarecimento dos fatos relacionados aos problemas ambientais
retratados. Conforme Weinman (2004a), as duas animações são ilustrativas, pois exploram
conflitos maniqueístas entre vilões e heróis, sendo os primeiros reconhecidos pelo simples
desejo de poluir. Portanto, elas não contextualizam as questões ambientais em termos de
práticas sociais, mascarando causas estruturais da degradação ambiental, e também
desconsideram as motivações políticas quando afirmam que “Não há nada a ganhar poluindo
e não há nada a perder não poluindo”.
Em uma crítica seguinte, no ensaio A Good Enviro-Toon, também de 2004, Weinman
(2004b) apresenta um contra exemplo às duas séries anteriormente criticadas, o que nos
permite uma maior generalização da noção de enviro-toon. Weinman (2004b) analisa o curta
animado Lumber Jerks, dirigido por Fritz Freleng13 em 1955, realizado na Warner Bros. De


13
Trata-se de um dos animadores mais profícuos da Warner Bros, contribuindo para as séries Looney Tunes e
Merrie Melodies, quando concebeu uma diversidade de personagens que se tornaram clássicos a exemplo de
Patolino, Coiote, Frajola etc. Entre suas produções independentes o grande destaque é a Pantera Cor de Rosa.


164

acordo com o autor, esse cartoon não assume explicitamente um engajamento ambiental, não
manifesta um tom pedagógico, e também não se empenha no doutrinamento moral unilateral
da audiência, mas desenvolve uma narrativa relevadora do sentido utilitário da natureza – os
dois personagens principais são esquilos antropomorfizados que perdem suas “casas” quando
a floresta é devastada para alimentar a produção de móveis e diversos outros objetos. Assim,
considera que mesmo destituída de intenção ambientalista, Lumber Jerk se insere no contexto
das enviro-toons, uma vez que apresenta fatos significativos: o meio ambiente é degradado
para sustentar a produção material utilizada em nossa vida cotidiana, e não por pessoas más
(vilões); a devastação das florestas almeja a produção de móveis, mas resulta em prejuízo
para diversas espécies; a audiência está inserida nesse processo, consumindo produtos
relacionados.
Diante do exposto, observamos que Weinman (2004b) desenha uma noção de enviro-
toon capaz de abrigar animações que põem em relevo o meio ambiente e as relações com ele
estabelecidas, ainda que as narrativas privilegiem os mais diversos conflitos de seus
personagens, sejam eles antropomorfizados ou não, ou até mesmo que não assumam um
caráter pedagógico e ativista. Nesse contexto, nos apropriamos desta perspectiva, concebendo
por enviro-toon um continuum relativo à diversidade de representações do meio ambiente na
animação, polarizado entre abordagens em que as questões ambientais são explícitas e
assumem um tom didático, e aquelas em que essa vinculação é menos evidente, sendo então
mais sutil.
Na verdade, essa denominação ou categoria de animações contempla uma diversidade
de produções, sejam elas as enquadradas como prime time, como as séries Os Simpsons e
South Park, incluindo suas precursoras como Os Flintstones e Os Jetsons (1962 a 1987),
animações em longa metragem destinadas aos cinemas, tais como, FernGully, Happy Feet,
Era do Gelo, Rio (2011), Wall-E (2008) e Madagascar, clássicos da Disney, a exemplo de
Branca de Neve e Os Sete Anões (1937) e Bambi (1942), cartoons da Warner Bros., da MGM
e da UPA, séries televisivas ambientalmente vinculadas, como Capitão Planeta, The
Smoggies, Natureza Sabe Tudo (1995) e também o universo heterogêneo das animações
autorais que circulam em diversos festivais especializados e na web, a exemplo dos festivais
ambientais que integram a rede Green Film Network, sob a qual delimitamos nosso corpus de
investigação. Contudo, autores como Starosielski (2011) privilegiam a denominação de
animação ambiental para abrigar as produções que tomam as questões ambientes como ponto
central da narrativa, portanto, claramente vinculadas ao debate acerca do meio ambiente. Mas,
se por um lado o termo animação ambiental contempla animações realizadas sob as mais


165

diversas técnicas e não apenas os cartoons, por outro, torna-se restrito aos filmes
ambientalmente engajados.
Deidre Pike, em Enviro-toons How Animated Media Communicate Environmental
Themes, tese doutoral publicada em 2010, também diferencia enviro-toons moralmente
doutrinadoras daquelas capazes de estimular uma compreensão mais ampla e
multidimensional das questões ecológicas. Conforme o autor, as animações empenhadas em
doutrinar a audiência são, de forma geral, marcadas por representações idealizadas da
natureza, mas principalmente por desenvolver narrativas maniqueístas marcadas pela forte
oposição entre natureza/cultura ou homem/máquina. Pike (2010) endossa a sinalização de
Weinman (2004a) acerca da série Capitão Planeta, a qual considera como uma animação que
promove a hegemonia ideológica desenvolvimentista dos EUA, nomeadamente a perspectiva
da sustentabilidade ambiental – adoção de reformas políticas que internalizam questões
ambientais que não impliquem prejuízo na produção e no lucro.
Pike (2010) identifica que as animações ambientalmente doutrinadoras são
caracterizadas ainda pela forte ênfase na tragédia, representada através dos conflitos entre
homem e natureza, e pelo privilégio pela exposição de uma única perspectiva acerca desse
contexto, especificamente no que diz respeito à resolução (simplista) dos conflitos. Por outro
lado, ressalta que animações ambientalmente críticas expõem enfoques plurais sobre as
questões ambientais, suscitando não apenas interesse pela resolução, mas pelas causas e
motivações (políticas, econômicas, científicas etc). Além disso, observa que embora a
tragédia possa integrar tais narrativas, é a comédia que normalmente abriga tais
representações. Nesse contexto, valoriza animações dedicadas a um público adulto,
enfatizando a relevância ambiental de episódios das séries animadas South Park e de longas
animados como Os Simpsons: O filme (2007) e Wall-E (2008), da Disney/Pixar.
Acerca do surgimento de enviro-toons como forte sentido ativista, Denis (2010)
ressalta o caráter precursor da produção independente, autoral e experimental. De acordo com
o autor, que não adota o termo enviro-toon, preferindo reconhecê-las simplesmente pela
adjetivação de animações ambientalmente engajadas, foi a ameaça nuclear, em sua
capacidade de destruição do planeta que emergiu no pós Segunda Guerra Mundial e fora
intensificada durante a Guerra Fria, que motivou essa aproximação entre animação e meio
ambiente. Assim como ocorrera em filmes de ação ao vivo desse período, conforme discutido
na seção anterior, esse tema tornou-se dominante em diversas animações, a exemplo de O


166

Átomo da Encruzilhada (1947), de Lhotk e Duba, Science Friction (1959) 14 , de Stan


Vanderbeek, The Little Island (1959) 15 , de Richard Williams e também em produções
seguintes como When The Wind Blows (1980)16, de Jimmy T. Murakami. Denis (2010) aponta
o Japão como país precursor da animação ambiental, ressaltando que dada a persistência
vigorosa dos efeitos da bomba atômica no imaginário japonês, essa temática tornou-se
recorrente nos animes17. Obras como Godzila, O Monstro do Oceano Pacífico (1954), de
Ishirō Honda, expressam essa perspectiva que se perpetuou em diversas produções nas
décadas seguintes, nomeadamente entre os consagrados animadores Ozamu Tezuka18 e Hayao
Miyazaki19.
Se o pós II Guerra Mundial foi crucial para estimular a representação explícita e
formal da temática ambiental na vertente da animação independente, foi no contexto da
década de 1960, marcado pela emergência dos movimentos ambientais e pela centralidade de
temas relacionados à natureza, ecologia e meio ambiente na agenda política e midiática, que
os discursos ambientais passaram a refletir com maior intensidade na animação comercial.
Para Starosielski (2011) esse período, particularmente o início da década seguinte, inaugura o
que denomina de primeira onda de animações inseridas no circuito comercial, televisivo ou
cinematográfico, explicitamente vinculadas às questões ambientais. Da mesma forma, Murray
e Heumann (2011) reconhecem que a emergência dos movimentos ambientalistas foi crucial
para estimular enviro-toons de caráter mais explícito. Ambos os autores oferecem análises
significativas acerca desse período, de forma que Starosielski (2011) permite-nos
compreender a dinâmica da animação ambiental até os dias atuais, enquanto Murray e
Heumann (2011) são reveladores de uma trajetória histórica mais ampla da temática


14
Essa animação em stop motion retrata a relação entre ciência e política, ressaltando tanto as contribuições da
ciência para a vida moderna, mas também os perigos de sua apropriação para o atendimento de interesses
políticos, sobretudo no contexto da luta pela conquista espacial.
15
É uma metáfora acerca dos virtudes humanas e dos descaminhos da humanidade diante da ameaça nuclear.
16
Retrata os impactos ambientais e sociais decorrentes uma guerra nuclear.
17
No Japão esse termo é empregado para designar toda e qualquer animação, contudo, no ocidente ele
descreve as animações japonesas, as quais abrigam uma diversidade de gêneros e que se mostra plenamente
consolidada e diversificada na cultura do país. Ver mais em Lamarre (2009).
18
Trata-se de um dos mais influentes animadores japoneses, cujas contribuições foram decisivas para a cultura
japonesa do pós II Guerra Mundial. Tezuka explorou diversos temas em suas obras e suas animações se tornaram
popular ao redor do mundo. Astro Boy é um dos seus personagens mais conhecidos. Ver mais em
http://tezukaosamu.net
19
Miyazaki, foi colaborador de Tezuka na década de 1970. Na década de 1980 fundou o renomado estúdio
japonês de Animação, o Studio Ghibli. Sua empresa é uma das mais relevantes no que diz respeito à animação
japonesa, e seu reconhecimento mundial se deu com o lançamento do longa Princesa Mononoke, em 1997, cujo
enredo transita entre a ecologia e as guerras, um tema já há tempos explorado pelo animador. Miyazaki obteve o
Oscar de melhor animação em 2001, com o filme a Viagem de Chihiro. Ver mais em
http://site.studioghibli.com.br/diretores/hayao-miyazaki/


167

ambiental na animação americana, ressaltando filmes precursores e produções


contemporâneas.
Starosielski (2011) assinala que a história da animação ambiental é marcada pela
emergência de três grandes ondas, considerando-se o privilégio por especificidades em suas
práticas representacionais (estética, narrativa e discurso): a primeira onda inicia-se no final da
década de 1960 e começo da década seguinte; a segunda inicia-se no final da década de 1980;
a terceira emerge a partir de 2006. De acordo com a autora, essas ondas são marcadas por
configurações estéticas distintas, cuja ênfase recai ora na mutabilidade ambiental
(environmental mutability), ora nas interações ambientais (environmental interaction) ou
ainda na construção visual do ambiente. Por mutabilidade ambiental, a autora compreende a
representação do ambiente em constante movimento e transformação, resultando em uma
estética da transformação espacial, seja em função dos fenômenos naturais, seja através da
ação humana, o que favorece a compreensão dos fenômenos ou entidades contempladas. As
interações ambientais surgem como estratégia de representar as relações entre os personagens
e o meio ambiente, sobretudo para evidenciar seu caráter dialético, uma vez que as
personagens modificam o meio, mas também são influenciadas pelo mesmo. Além disso, elas
também são capazes de despertar interações cognitivas no espectador. Para a autora, a
representação da mutabilidade e das interações ambientais evidencia o meio ambiente
enquanto construção cultural em detrimento de uma visão de uma natureza simplesmente
existente, distante e selvagem.
O quadro a seguir sintetiza as especificidades estéticas da animação ambiental ao
longo das três fases identificadas pela autora, oferecendo sua caracterização geral nos
períodos assinalados.

Tabela 02: Fases da Animação Ambiental: caracterização de 1960 a 2006

I FASE: FINAL DOS ANOS 1960 ATÉ O INÍCIO DO ANOS 1970


Características Limitações
• Crítica ao capitalismo e à tecnologia; • Ênfase na denúncia ambiental,
• Ênfase nas personagens, natureza em plano secundário; ausência de propositura de mudanças;
• Preferência pelos “eco vilões”; • Problemáticas retratadas em espaços
• Ambiente em transformação (metamorfose); ficcionais;
• Meio ambiente independente, mas aberto e sujeito à interação • Tom de lamento diante da destruição
humana; da natureza;
• Predomínio de interações imaginativo ou “impossíveis” entre • Oposição: Natureza X Tecnologia;
personagens e meio ambiente;
II FASE: DO FINAL DO ANOS 1980 ATÉ O INÍCIO DOS ANOS 1990
Características Limitações


168

• Ênfase nas interações sociais-raciais na questão ambiental; • Estereótipos de raças e nações;


• Tecnologia como aliado;
• Crítica ao capitalismo e à tecnologia perde intensidade;
• Narrativas mais precisas, crise ambiental delimitada no espaço-
tempo;
• Preferência pelos heróis ambientais “eco heróis”;
• Intensificação da estética do exagero na representação das
interações personagens e natureza;
• Reconhecimento da animação ambiental – discurso centrado
devastação das florestas;
III FASE: A PARTIR DE 2006
Características Limitações
• Ênfase no simbolismo visual – imagem e construção do meio • Reduzida repercussão (impacto
ambiente; político e social) para as questões
• O Estatuto do fotorrealismo – computação gráfica; ambientais representadas;
• Uso da imagem para estimular reflexões acerca das
transformações ambientais;
• Deslocamento das derrubadas das florestas para a mudança
climática;
• Crescimento e diversificação das produções animadas;
Fonte: Elaborado pelo autor a partir de Starosielski (2011).

A primeira onda, conforme estabelece a autora, é marcada pela crítica ao capitalismo e


à tecnologia, enfatizando a relação entre industrialização e poluição amplamente destacada
pelo ambientalismo vigente. Em comum, as animações desse período ressaltaram mais suas
personagens do que a própria natureza, mas representaram a transformação do ambiente (uso
de efeitos de morphing e de aceleração do tempo) pelos mais diversos atores sociais. Contudo,
várias foram as limitações na comunicação acerca do meio ambiente: ênfase na denúncia da
degradação, mas ausência de possibilidades de mudanças; problemas ambientais
representados em espaços ficcionais, distantes da geografia real; oposição natureza/tecnologia
em defesa de uma natureza pura e intocada; o discurso do lamento da perda da natureza diante
do progresso e da racionalidade. Animações canadenses, a exemplo de What on Earth!
(1966)20, Boomsville (1968)21, Citizen Harold (1971)22 e Deep Threat (1977)23, e dos Estados
Unidos, tais como, The Bear That Wasn’t (1967)24, A Arca do Zé Colméia (1972)25 e The
Lorax (1972)26, são representativas deste contexto.


20
Esse curta foi produzido no NFB e teve como diretores Les Drew e Kaj Pindal. Trata-se de uma crítica à
cultura do automóvel, sendo indicado ao Oscar de melhor curta animado em 1967.
21
Animação dirigida por Yvon Mallette e que retrata o desenvolvimento urbano dos Estados Unidos.
22
Sob a direção de Hugh Foulds, esse curta animado trata da passividade das instituições diante da degradação
ambiental.
23
Animação também proveniente do NFB, dirigida por Zlatko Grgic, aborda a degradação ambiental do
planeta em favor do progresso.
24
Dirigida por Chuck Jones e Maurice Noble, trata-se de uma sátira social acerca do progresso, sobretudo de
sua consolidação hegemônica.


169

De acordo com Starosielski (2011), a segunda onda se desenvolveu em um contexto


marcado pelo ativismo ambiental internacional, pelo “engajamento” ambiental nas
corporações e pelo avanço da produção global. Assim, nessas animações foram valorizadas as
interações raciais, étnicas e sociais para a resolução dos conflitos ambientais, destacando a
necessidade de diálogo entre nações e povos. Apesar da forte crítica ao progresso, a
tecnologia passou a constituir possibilidades de enfrentamento da problemática ambiental e a
convocação da audiência para a preservação do ambiente tornou-se recorrente, sinalizando
para as possibilidades de mudança. A autora destaca ainda que vigorou a estética realista da
Disney para representar problemas ambientais mais próximos da vida cotidiana, com
narrativas precisas no espaço-tempo. Contudo, apesar da ênfase na interação ambiental, dada
a centralidade das interações entre personagens e meio ambiente, seja para promover a
degradação, seja para propor soluções, foi marcante e prejudicial a adoção de estereótipos de
raças e nações, e a estética do exagero para representar interações imaginativas que
extrapolam as possibilidades reais.
A segunda onda foi também marcada pela expansão de produções televisivas e de
filmes acerca da temática ambiental. Assim como na onda anterior, o Canadá foi destaque na
produção de séries televisivas, a exemplo de The Christmas Raccoons (1980) 27 , The
Smoggies (1988 a 1991)28 e The Raccoons (1985 a 1991)29, assim como os Estados Unidos,
país com expressivo crescimento da produção animada, com destaque para Capitão Planeta e
Os Planetários (1990 a 1996) 30 , Widget, the World Watcher (1990 a 1992) 31 e Toxic
Crusaders (1991 a 1993) 32 , Os Simpsons, Dreaming of Paradise (1987) 33 , Ana in the
Rainforest (1991)34, The White Hole (1991)35, The Mighty River (1993)36, Revenge of the


25
Trata-se aqui do filme piloto para a famosa série da Hanna-Baberba. Nele, a construção da arca voadora
resulta de um contexto em que degradação ambiental do Parque Florestal Yellowstone se agrava e os animais
necessitam de um novo lugar para viver.
26
Aqui nos referimos ao musical animado escrito por Dr. Seuss e dirigido por Hawley Pratt e que retrata a
devastação florestal.
27
Dirigida por Kevin Gillis e Paul Schibli, essa animação retrata a devastação das florestas.
28
É uma série televisiva realizada em conjunto pela França e pelo Canadá e que tem um viés ambientalista.
Suas personagens, ao longo dos episódios, enfrentam uma diversidade de poluidores para assegurar a integridade
ambiental do planeta.
29
A série contou com 60 episódios, sendo uma das mais celebradas no Canadá. Ela também retrata a
devastação das florestas.
30
Trata-se de uma série animada criada por Ted Turner e que retrata uma liga de jovens eco heróis que
enfrentam os mais diversos eco vilões para assegurar a integridade de Gaia, o espirito da Terra.
31
Essa série animada foi dirigida por Tom Burton foi direcionada a um público infantil, tendo com apelo
central a temática ambiental e o engajamento, sobretudo enfatizando os riscos da poluição.
32
Animação centrada na sátira, dirigida por Lloyd Kaufman, também retrata conflitos maniqueístas entre eco
heróis e eco vilões.
33
Longa metragem dirigido por Jannik Hastrup e que trata dos impactos da poluição sobre a humanidade
34
Produzido por Laura Helter, trata da necessidade da preservação das florestas.


170

Trees (1993), The Land Before Time (1988)37, Bernardo e Bianca na Terra dos Cangurus
(1990), O Rei Leão (1994) e Pocahontas (1995).
Para Starosielski (2011), é nessa segunda onda que a animação tem seu potencial
ambiental socialmente reconhecido. Na verdade, a autora enfatiza o sucesso do longa
metragem FernGully: As Aventuras de Zack e Crysta na Floresta Tropical (1992), cuja
narrativa retrata a luta contra a destruição da floresta. A animação, uma produção
independente que foi distribuída pela Fox, obteve sucesso de público em todo o mundo e
também atraiu a atenção política, sendo, inclusive, exibida na Conferência Rio 92.
Acerca de FernGully, apesar de despontar como marco da animação ambiental
empenhada em estimular o ativismo ambiental em sua audiência, conforme defende a autora,
algumas críticas evidenciam as limitações de seu discurso, com destaque para a análise de
Smith e Parsons (2012). Os autores reconhecem que o filme se alinha com o discurso da
conservação da natureza, assumindo um tom didático em defesa das florestas. Contudo,
ressaltam que o ativismo suscitado é bastante limitado, pois estabelece uma perspectiva
maniqueísta que ignora os conflitos políticos que permeiam a apropriação das florestas.
Assim, defendem que em FernGully a responsabilidade pela degradação das florestas recai
sobre uma criatura sobrenatural, e, portanto, a natureza não é reconhecida em sua
subjetividade, mas como indispensável para a sobrevivência humana, daí a necessidade de
preservá-la. Para os autores, o filme é doutrinador ao defender um cuidado com a natureza
habitada por criaturas mágicas (FernGully, a protagonista, é uma fada), mas é uma natureza
feminizada, frágil e suscetível à opressão masculina. Nesse contexto, questões sobre
biodiversidade e políticas ambientais são totalmente ignoradas, resultando em um ativismo
simplista. É importante destacar, conforme Ingram (2000), que a animação é, provavelmente,
uma estratégia de greenwashing de sua produtora, a australiana FAI Films (Fire and All Risks
Insurance), integrante de um conglomerado relacionado à exploração de carvão.
Finalmente, acerca da terceira onda, a autora ressalta que sua repercussão no contexto
das discussões ambientais fora bastante limitada em relação à onda anterior. Para Starosielski
(2011), essa terceira onda manifesta os dois aspectos estéticos das ondas anteriores, a
mutabilidade e a interação ambiental, contudo, se apoia no estatuto do fotorrealismo
estabelecido pela computação gráfica (CGI) para explorar o papel da imagem na construção

35
Dirigido por Juergen Haacks, trata-se de um curta que retrata acerca dos riscos ambientais decorrentes de
resíduos tóxicos.
36
Trata-se de um documentário animado dirigido por Frédéric Back e que retrata a degradação do rio St.
Lawrence, situado no Canadá, em decorrência da ação humana.
37
Sob a direção de Don Bluth, esse longa metragem trata da saga de dinossauros em fuga da devastação
ocasionada pelos vulcões e terremotos. Dado ao seu sucesso, a animação deu origem a uma série animada.


171

do meio ambiente. É, portanto, na ênfase do simbolismo visual, apesar da força da narrativa


ambiental, que a animação desse período estimula reflexões acerca das transformações
ambientais, as quais são representadas com maior realismo, sobretudo no que diz respeito ao
fenômeno das mudanças climáticas. Desse período, são exemplares animações como A Era do
gelo 2: O Degelo (2006), Happy Feet (2006), Os Sem-Floresta (2006), Os Simpsons: O Filme
(2007), Avatar (2009) 38 , A Fuga das Galinhas (2000), O Bicho Vai Pegar (2006) e O
Fantástico Sr. Raposo (2009). Além disso, a autora considera que esse período também fora
assinalado pela expansão de produções animadas, sobretudo na vertente independente, as
quais passaram a desfrutar de uma ampla circulação na web, sobretudo através das
plataformas de redes sociais.
Avatar (2009), apesar do seu caráter híbrido, uma vez que se utiliza simultaneamente
de atores reais e personagens animados em CGI, é observada pela autora como animação-
chave do simbolismo visual dessa terceira onda. Apesar de retomar a temática do salvamento
das florestas que fora marcante na primeira fase, sua relevância para o debate ambiental
decorre de sua capacidade de representar as interações entre personagens e ambiente,
enfatizando visualmente a floresta como uma rede de memórias, de imagens e histórias, o que
se faz plausível a partir da inovação visual da CGI.
A relevância do simbolismo visual de Avatar é também apontada por Pike (2010) ao
ressaltar que sua ênfase em imagens de alta resolução e em 3D resultaram em uma
representação realística e envolvente de um ambiente natural imaginário – o planeta Pandora.
Para o autor, sua narrativa trágica enfatiza as consequências da intensa exploração da natureza
na Terra, e também a busca pela manutenção dessa perspectiva de natureza utilitária em outro
planeta. Trata-se de uma perspectiva apocalíptica sobre a humanidade e que recorre à
representação da natureza selvagem, a qual inclui os povos nativos de Pandora, como forma
de estabelecer o engajamento da audiência. Contudo, Pike (2010) considera que o filme
estabelece uma abordagem simplista para a complexa problemática representada,
privilegiando apenas a perspectiva do medo diante do apocalipse ambiental.
Diante dessa discussão, Starosielski (2011) defende a animação em sua potencialidade
estética de despontar como mídia ambiental, representando o ambiente como algo vivo e
mutável, com o qual estamos em constante interação, de forma a estimular na audiência sua
percepção enquanto uma construção humana – valores e atitudes que norteiam as práticas

38
Conforme Harry & Heumann (2011), Avatar foi uma obra marcada pela inovação técnica no uso da CGI que
terminou por responder por cerca De 60% do filme. Além do intenso uso de captura de movimento humano para
atribuir aos modelos digitais dos personagens, o filme desenvolveu um sistema particular de captura em 3D, de
forma a simular a percepção no olho humano.


172

sociais. Assim, apesar de séries como Capitão Planeta se apresentarem bastante limitadas, a
autora valoriza a capacidade da animação de abrigar narrativas e discursos ambientais e de
oferecer representações imaginativas para a superação das suas mais diversas problemáticas.
Assim, defende que é a capacidade do filme animado de despertar uma resposta emocional na
audiência e de explorar as contradições sociais através da comicidade, que a habilita à
introdução de discussões ambientais. Para a autora, produções da Disney e alguns episódios
da série Os Simpsons são ilustrativos dessa abordagem.
De forma geral, é importante considerar que ao longo de sua história a animação
manifestou uma capacidade de representar animais e ambientes diversos, de reproduzir seus
sistemas e interações naturais ou de forjá-los em contextos artificiais. Segundo Yong, Fam e
Lum (2011), a animação mostra-se relevante na representação dos mais diversos espaços
naturais, na educação acerca da biodiversidade e na comunicação de problemas ambientais,
tanto em termos ideológicos quanto científicos. Os autores ratificam as sinalizações de
Starosielski (2011) e valorizam outros aspectos dessas animações ambientais, tais como: a
diversidade estética; a alargada audiência; a constituição de uma indústria globalmente
reconhecida e premiada, sobretudo pelo Environmental Media Awards. Além disso,
reconhecem que é o antropomorfismo que favorece uma ligação direta da animação com
questões acerca da conservação da biodiversidade, ainda que essa não seja explicitamente
manifestada pela narrativa.
Para os autores, o sucesso da animação ambiental decorre da empatia estabelecida
com a audiência, e esse envolvimento é obtido a partir das personagens apresentadas. Assim,
quando são adotadas personagens representativas de espécies carismáticas ou em extinção, a
empatia pode despertar uma consciência ambiental no público acerca destas espécies e dos
seus habitats, sobretudo no sentido de estimular a conservação da biodiversidade, embora
também possa resultar apenas em uma compreensão superficial dos mesmos. Yong, Fam e
Lum (2011) destacam as animações em longa metragem como Madagascar 2: A Grande
Escapada (2008), Rango (2011), Kung Fu Panda (2008) e Rio (2011) como exemplos dessas
possibilidades, sendo que nesse último caso o comércio ilegal de animais silvestres é o tema
central da narrativa que toma uma espécie em extinção como protagonista. Os autores
admitem que nessas produções as representações ambientais costumam ser idealizadas, a
exemplo de Rio e Madagascar que retratam florestas nativas intocadas, negligenciando o
verdadeiro grau de devastação e ameaça sofridos. Ou, como no caso da franquia A Era do
Gelo (2002; 2006; 2009; 2012), em que animais de épocas distintas coexistem em um mesmo
período pré-histórico. Contudo, observam que em Procurando Nemo (2003), filme que


173

representa o comércio de peixes ornamentais, e Happy Feet (2006), animação que aborda a
poluição dos oceanos e a caça predatória, as questões ambientais são mais explícitas em suas
narrativas, além de representarem visualmente a biodiversidade dos ecossistemas e
explorarem as interelações entre seus personagens.
Para os autores, apesar dessas potencialidades na comunicação acerca do ambiente, a
lógica comercial que orienta a produção da animação parece revelar uma apropriação
capitalista dos discursos ambientais representados. Como já observamos, a apropriação da
animação enquanto estratégia de licenciamento de produtos, ao privilegiar o lucro, termina
por estimular o consumo nos espectadores, “neutralizando” a própria mensagem ambiental
veiculada. Pode resultar, portanto, em um desalinhamento entre a sua função constitutiva, que
enfatiza uma valorização do meio ambiente, e sua função pragmática, já que a ênfase no
consumo de produtos licenciados é, muitas vezes, paradoxal ao engajamento ambiental. Nesse
contexto, a animação ambiental poderia revelar uma estratégia de greenwashing, embora
acreditamos ser mais coerente considerarmos as limitações nos discursos ambientais
associados, tais como a sustentabilidade e a modernização ecológica.
Yong, Fam e Lum (2011) também chamam atenção para o fato de que a lógica de
consumo estabelecida pela estratégia de licenciamento de brinquedos e produtos que
exploram as personagens das animações, também se traduz como estímulo à comercialização
de exemplares das espécies representadas. Assim, observam que a chamada “Síndrome de
Bambi”, entendida como o forte vínculo emocional entre o público e os personagens
antropomorfizados, inaugurado com esse filme da Disney, termina por influenciar o desejo de
possuir animais apresentados nas animações. De acordo com os autores, filmes como Jurassic
Park: Parque dos Dinossauros (1993), Tartarugas Ninja (1987-1996) e Procurando Nemo
(2003) tiveram impactos na comercialização, respectivamente, de iguanas, tartarugas e peixe
palhaço, neutralizando o próprio discurso ambiental representado. Nesse contexto, os autores
ressaltam a necessidade de parcerias entre estúdios de animação e organizações não-
governamentais relacionadas à conservação ambiental e à biodiversidade, de forma a
compatibilizar os objetivos financeiros das produções com os objetivos ecológicos, sobretudo
diante de uma audiência cada vez mais ampla e diversa.
Entre os trabalhos que discutem a animação ambiental, sem dúvida alguma, é a obra
Tha´ts All Folks? Ecocritical Readings of American Animated Features, publicada em 2011,
por Robin Murray e Joseph Heumann, que se mostra mais abrangente e reveladora. Os autores
se apoiam na definição de enviro-toon apresentada por Jaime Weinmann, analisando
animações em que as questões ambientais são relevantes, sejam elas explícita ou


174

implicitamente representadas, analisando um contexto que compreende produções clássicas,


estúdios específicos como a Disney, UPA, Pixar, DreamWorks e produções isoladas. Murray
e Heumann (2011) também se apoiam nos escritos de Paul Wells quando reconhecem a
animação em seu papel de abrigar uma diversidade de pontos de vista sobre os mais diversos
aspectos da vida social, sobretudo no que diz respeito às questões ambientais. Dessa forma,
considerando por enviro-toons as animações em que a ecologia se torna central, destacam que
a animação revela as transformações no pensamento ambiental norte americano
(conservacionismo, preservacionismo etc), internalizando suas questões e objetivos,
acomodando também os discursos hegemônicos, marcados pela superioridade humana sobre o
mundo natural.
De forma geral, Murray e Heumann (2011) identificam três grandes abordagens
ambientais (padrões estéticos e de narrativa) nas animações veiculadas a partir de 1930 e até
os dias atuais. O primeiro padrão corresponde ao reconhecimento do poder da natureza sobre
os homens, o segundo sinaliza para a interdependência entre homem e mundo natural de
forma a reivindicar seu cuidado e, finalmente, o terceiro padrão compreende a crítica à
apropriação do mundo natural. Para os autores, a filiação, ou mesmo a coexistência desses
padrões, resulta do contexto histórico e cultural das animações e seus produtores, e também
das ideologias dos mesmos, sendo o contexto atual marcado pela apropriação da animação
como produto lucrativo explorado das mais diversas formas. Além disso, o que se torna
evidente é que a animação ambiental, na vertente comercial, não é um fenômeno recente, do
qual despontam Happy Feet (2006) e Wall-E (2008), pois embora sutil, remonta ao período
clássico da animação, ainda na década de 1930.
Acerca do primeiro padrão de representação da natureza, os autores destacam que a
animação da década de 1930 traduz a oposição entre natureza e cultura que fora acentuada a
partir da industrialização, sendo esta compreendida, ora como recurso a ser explorado, ora
como inimigo ou ameaça. A série Gato Félix reflete essa perspectiva, representando os
conflitos entre homem e natureza, sobretudo evidenciando a força de eventos como
tempestades, inundações, entre outros. Na década seguinte, essa polarização persiste e a série
Superman (1941 a1943), criada pelo estúdio Feischer, explorou o poder do homem sobre o
mundo natural em um contexto marcado pela intensificação no uso e desenvolvido da
tecnologia. Não são apenas vilões que são combatidos, mas a própria força da natureza, a
exemplo de erupções vulcânicas. A Disney também aproximou-se dessa abordagem, pois
várias de suas animações em curta metragem como Flores e Árvores (1932), a série do Pato
Donald (1947 a 1954), e em longa metragens como Alice no País das Maravilhas (1951), As


175

aventuras de Winnie e Pooh (1977), A Pequena Sereia (1989) e Lilo e Stitch (2002), o poder
da natureza fora destacado, assim como a necessidade de seu domínio a partir da tecnologia.
O segundo padrão de representação da natureza na animação observado por Murray e
Heumann (2011) já manifesta uma preocupação com os impactos da atividade humana sobre
o meio ambiente. Conforme os autores, diversos curtas animados da década de 1930,
influenciados pelas políticas do New Deal nos EUA, manifestaram um discurso em que
prevalece a ideia de ambiente como um sistema vivo e interdependente, e ressaltaram a
necessidade de uma intervenção controlada de forma a assegurar sua existência e também os
interesses humanos. Para os autores, uma possível explicação para a predominância dessa
representação da natureza decorre da instituição do Motion Picture Productions Code (The
Hays Code), uma espécie de censura estabelecida pelo governo dos Estados Unidos, de forma
a estabelecer um padrão de moralidade nas narrativas dos filmes, inclusive em termos de
justiça e respeito pelo meio ambiente. Daí essa abordagem ser marcante em animações
produzidas entre os anos de 1934 e 1938, em que o estímulo ao progresso suscita a
interdependência homem e natureza, e que, portanto, reivindica uma maior harmonia.
Para Murray e Heumann (2011), esses padrões de representação da natureza não
correspondem a ciclos encerrados, mas ao invés disso, eles se perpetuam e se combinam em
animações realizadas em diversos momentos, inclusive nos dias atuais. O Episódio do Gato
Félix, Neptune Nonsense (1936) enfatiza a ordem natural do oceano, e animações como
Seapreme Court (1954), valorizam e ensinam acerca da vida marinha, Molly Moo Cow and
the Butterflies (1935) celebra a natureza idílica a partir da exaltação da beleza das borboletas,
e o episódio Tree´s Knees (1931), da série Bosko, defende a preservação da floresta, são todos
eles marcados por narrativas que valorizam a interdependência entre as espécies retratadas.
Segundo os autores, esse segundo padrão de representação da natureza ecoou em várias
produções futuras, incluindo animações da Disney e da Dreamworks, algumas delas recentes.
São exemplos, curtas como Mr. Bug Goes to Town (1941), A Bela Adormecida (1959), The
Incredible Mr. Limpet (1964), Aristogatas (1970), O Cão e a Raposa (1981), Uma Cilada
Para Roger Rabbit (1988) e Bee Movie: A história de uma Abelha (2007).
A crítica ao progresso econômico e ao consumo como promotores da degradação da
natureza é o que caracteriza o discurso ambiental da terceira abordagem identificada por
Murray e Heumann (2011). Assim, é o pós Segunda Guerra Mundial que estimula o
surgimento de enviro-toons que se aproximam da filosofia conservacionista de Aldo
Leopoldo, “denunciando” as consequências ambientais decorrente da cultura norte americana,
sobretudo a recreação ao ar livre e o turismo ambiental. Nesse contexto, ganham destaque


176

produções da Warner Bros. e do estúdio Fleischer, as quais, conforme já observadas neste


capítulo, são marcadas pela piada, anarquia, pela sátira social e rejeição à estética hegemônica
da Disney, sobretudo ao seu discurso conservador. Os autores destacam o episódio Hare
Conditioned (1945), dirigido por Chuck Jones, em que o personagem Perna Longa satiriza a
recreação ao ar livre, evidenciando sua artificialidade e mercantilização. A animação Fox Pop
(1942), também dirigida por Chuck Jones para a Warner Bros., é celebrada como expoente
dessa terceira abordagem de representação da natureza, denunciando a publicidade em seu
estímulo ao consumo de roupas confeccionadas com pele de raposa.
Convém observarmos que na década de 1950 o consumo de bens materiais e as
interações entre os homens e as diversas máquinas que representavam o progresso na vida
cotidiana tornaram-se alvo de sátiras em diversas animações. Embora a temática ambiental
não despontasse como interesse principal em muitas das animações desse período, elas são
reveladoras de uma natureza que assume cada vez mais um valor utilitário, portanto, são obras
que se encontram inseridas na terceira perspectiva de representação da natureza. Entre as
animações que expressam essa perspectiva, Murray e Heumann (2011) destacam que o curta
Porky Chops (1950), dirigido por Arthur Davis, expõe os impactos da intervenção humana na
natureza, retratando a domesticação dos animais e os impactos da derrubada da floresta a
partir da ação do personagem Gaguinho (Porky Pig). Boob in the Woods (1949), também da
série Looney Tunes da Warner Bros., por sua vez, revela os impactos ambientais decorrentes
da recreação ao ar livre, retratados a partir de Patolino (Daffy Duck) e Gaguinho. Os autores
consideram que o episódio Lumber Jerks (1955), da série Goofy Gophers, constitui um dos
mais consistentes exemplos de enviro-toons. Os autores, da mesma forma que Weinmann
(2004a), consideram que Lumber Jerk diferencia-se entre as demais enviro-toons, por situar o
progresso em sua ambivalência - a oferta de bens materiais e a degradação do mundo natural,
posicionando-se criticamente acerca do consumo, e, consequentemente, do domínio do
homem sobre a natureza.
Murray e Heumann (2011) ressaltam que as três abordagens das enviro-toons, além de
traduzirem as mudanças no contexto cultural no que concerne às percepções ambientais,
constitui, sobretudo nessa última perspectiva, uma potencialidade de contestar a ideologia
hegemônica alicerçada na apologia ao progresso. Portanto, defende que a animação ambiental,
ao invés de representar o meio ambiente como cenário, expõe as complexas relações
estabelecidas nos mais diversos contextos históricos e culturais. Para os autores, a diversidade
de produções situadas entre Bambi (1941) e Wall-E (2008) atesta que a crítica ambiental na
animação se faz relevante e vigorosa. Além de identificar os padrões estéticos e narrativos na


177

comunicação ambiental da animação, os autores revelam que vários outros aspectos estão
circunscritos nessas discussões ambientais. São eles:

• a ideologia dos estúdios em sua percepção da modernidade orienta diferentes


representações da natureza: Bambi (1941), da Disney, acentua a oposição
sociedade/natureza, evidenciando uma natureza intocada, harmoniosa e paradisíaca,
cuja presença humana representa morte e sofrimento; Mr. Bug Goes to Town (1941),
dos Fleischers, enfatiza a interdependência entre sociedade e natureza, resolvendo o
conflito entre seus personagens (homens e besouros). Ambas as perspectivas são
influentes em filmes seguintes, Procurando Nemo (2003) pauta-se na oposição,
enquanto Monstros S.A. (2001), Happy Feet (2007) e Wall-E (2008) enfatizam a
interdependência;
• o discurso dos direitos e do bem estar dos animais foi marcante em filmes da Disney,
sobretudo nas décadas de 1940 e 1950, apesar do privilégio a determinadas espécies
tomadas em favor da ênfase moral. A Ratinha Valente (1982) centraliza sua narrativa
contra os experimentos com animais e contra os maus-tratos no campo, o que ecoa em
animações como Bee Movie: A história de uma Abelha (2007);
• a diluição dos limites entre cultura/natureza, que somente ocorre na obra da Disney
nas décadas de 1960 e 1970, quando sua ortodoxia sobre valores familiares enfatizam
e valorizam a domesticação de animais como garantia de segurança para os mesmos,
mas incapaz de destituir suas condições naturais/selvagens, torna-se evidente em
Aristogatas (1970), em que há uma preferência pela vida doméstica ao invés da vida
selvagem, ou em Bernardo e Bianca (1977), quando há uma valorização de ambas as
condições a partir das escolhas dos personagens, e em O Cão e a Raposa (1981), que
representa a interdependência entre as duas condições, valorizando vínculos entre
animais selvagens e domésticos e a necessidade da proteção humana sobre a natureza;
• os limites entre natureza/cultura reassumem centralidade na obra da Disney a partir da
década de 1980, quando a interdependência é relegada e os conflitos com o mundo
natural são destituídos de críticas, conforme ilustram animações como A Pequena
Sereia (1992), A Bela e a Fera (1992), Mulan (1998), Tarzan (1999), com exceção de
Pocahontas (1995), que enfatiza os impactos dos humanos sobre a natureza;
• entre as inovações da UPA emergiu uma abordagem filosófica em defesa da
interdependência sociedade/natureza como condição de assegurar a prosperidade de


178

ambos, a exemplo das animações 1001 Arabian Nights (1959), valorizando a


tecnologia e o mundo natural, e A Gata dos Meus Sonhos (1962), reivindicando a
reconexão da vida urbana com valores pastorais;
• o estúdio Rankin/Bass consagrou uma perspectiva crítica acerca dos avanços
tecnológicos e seus impactos ambientais na animação em stop-motion. Seus quatro
longa metragens animados, Willy McBean and His Magic Machine (1965) e A Festa
do Monstro Maluco (1967) ilustram as potencialidades do uso construtivo da
tecnologia, enquanto No Mundo Encantado dos Sonhos (1966) e O Último Unicórnio
(1982) evidenciam seus impactos catastróficos, reivindicando uma ética (humana e
ambiental) em seu uso;
• narrativas centradas na ética ecológica são apresentadas em filmes que representam
dinossauros. Em Busca do Vale Encantado (1988) e Jurassic Park: Parque dos
Dinossauros (1993) despontam como animações que evidenciaram narrativas acerca
da evolução das espécies, e, consequentemente, da sobrevivência. No primeiro caso o
foco é a cadeia evolutiva e a interdependência entre as espécies, no segundo são
questionados os experimentos genéticos e a superioridade humana sobre o mundo
natural, além da representação da família e da comunidade como estratégias de
adaptação.

Os autores também analisam as representações da natureza em produções realizadas


por estúdios criados recentes, os quais passaram a disputar o mercado de animações,
constituindo-se como alternativa à Disney, a partir da década de 1990, nomeadamente a
DreamWorks, a Pixar e a Fox Films. Na DreamWorks, estúdio com explícita oposição à
ortodoxia da Disney, o filme Spirit: O corcel indomável (2002) evidencia os direitos dos
animais e a interdependência homem e natureza no contexto da expansão da fronteira dos
Estados Unidos e seus impactos sobre os nativos. Duas outras produções relevantes, as quais
discutem questões ambientais contemporâneas, são Os Sem-Floresta (2006), que evidencia a
separação homem/natureza a partir da crítica ao desenvolvimento e ao consumo e suas
implicações no meio ambiente, e Bee Movie: A história de uma Abelha (2007), que reforça a
importância da simbiose homem/natureza, a partir da valorização das abelhas para a
manutenção da agricultura.
No caso da Pixar, os autores sinalizam que suas representações da natureza também
são mais críticas e não ortodoxas como as da Disney. Vida de Inseto (1998), por exemplo,
ressalta a interdependência como condição de sobrevivência do homem e da natureza, embora

179

valorize a individualidade e subverta a lógica do mundo natural (cadeia alimentar). Em


Procurando Nemo (2003) há uma representação hiper-realista do ecossistema marinho,
evidenciando o conflito homem/natureza, com ênfase na captura de peixes ornamentais. Para
Murray e Heumann (2011), a animação Carros (1996) é problemática porque resgata a cultura
do automóvel de forma nostálgica, celebrando a transformação da paisagem pelo homem
(abertura de estradas, construção de cidades etc), a exemplo dos Road Movies. Finalmente,
consideram Wall-E (2008) 39 como uma abordagem mais complexa – a mais relevante entre as
produções da Disney e da Pixar, em que a nostalgia é estabelecida em um contexto distópico,
ressaltando questões de adaptação frente à destruição do mundo natural pelos humanos. Em
Wall-E, o conflito homem/natureza é enfatizado a partir dos impactos ambientais decorrentes
do consumismo e do capitalismo, sendo então valorizadas a conservação e a interdependência
– a capacidade humana de restaurar o mundo natural. Para os autores, a filosofia da Pixar
favorece a manifestação das perspectivas ambientais distintas em função da liberdade criativa
concedida aos diretores, ao invés de prevalecer a ideologia do estúdio.
Ainda conforme os autores, as animações Os Simpsons: O filme (2007) e Avatar
(2009), ambas da Fox Films, manifestam críticas diretas à exploração do mundo natural, que
também são endossadas por Happy Feet (2006), da Warner Bros, interelacionando a defesa
dos direitos dos animais, a interdependência homem/natureza e a conservação do mundo
natural. No caso de Happy Feet (2006), conforme Wells (2009) ressaltou anteriormente, é
marcante o caráter auto-reflexivo da narrativa, uma vez que são os próprios animais
(pinguins) que denunciam sua condição. O filme ressalta os impactos da poluição das mares e
da caça predatória sobre a comunidade de pinguins, defendendo uma reorientação da
intervenção humana em favor da sobrevivência dos animais. Os Simpsons se apoiam na
temática ambiental para desenvolver uma sátira acerca dos riscos ambientais, representando a
incapacidade política e social para enfrentar desastres ambientais, especificamente no caso da
contaminação dos rios pelo lançamento de resíduos tóxicos. Avatar, por sua vez, ressalta a
natureza como uma comunidade biótica, valorizando a interdependência entre povos nativos e
o ambiente – o mundo de Pandora. Nesse contexto, denuncia que a apropriação utilitária da
natureza incorre em forte ameaça a esse equilíbrio. Assim, articula ainda direitos dos animais
e a ética da terra celebrada na filosofia de Aldo Leopoldo.


39
Murray & Heumann (2011) defendem que Wall-E recupera o enfoque apocalíptico apresentado em filmes da
década de 1970, como Omega Man (1971), Soylent Green (1973) e Corrida Silenciosa (1972). De acordo com
os autores, Wall-E enfrentou campanhas suscitando seu boicote, alertando acerca da hipocrisia de seus
realizadores, tendo em vista a contradição de sua narrativa e a o estímulo ao consumo realizado pela Disney
quando da exploração comercial de produtos derivados do filme.


180

Ainda sobre a série Os Simpsons, convém observar acerca das potencialidades de seu
tom satírico para as questões ambientais. Conforme Pike (2010), sua ênfase no humor
contempla a representação de múltiplas vozes (atores sociais) e, no caso do longa animado Os
Simpsons: O Filme (2007), ela é relevante para ressaltar a complexidade do desastre
ambiental representado, sendo, portanto, uma crítica direta à classe média norte americana em
sua cumplicidade com a degradação ambiental. Para o autor, o filme enfatiza e satiriza a
responsabilidade humana acerca das catástrofes ambientais representadas – a contaminação
do lago da cidade de Springfield, destacando o engajamento ambiental (personagem Lisa
Simpson), a irresponsabilidade ambiental (evidente em Homer Simpson) e também as
limitações e insensibilidades políticas. Na verdade, a centralidade da questão ambiental nesse
seriado animado é atestada já na ocupação laboral do próprio Homer Simpson, empregado de
uma usina nuclear. Além disso, temas como mutação genética, reciclagem, grupos
ambientalistas, e a própria sustentabilidade, foram contemplados em vários episódios.
No caso do longa metragem, autor sugere que seu principal diferencial reside no fato
de que a questão do desastre ambiental - contaminação química do principal rio da cidade, é
atribuída não somente a Homer, mas ao governo e às empresas. Assim, Pike (2010) valoriza a
multiplicidade de vozes inserida na problemática do meio ambiente, dentre elas a da mídia,
dos políticos, da população civil, das crianças, dentre outros atores sociais. Emerge, portanto,
uma intensa sátira sobre os conflitos que representam a sociedade contemporânea.
Essa mesma perspectiva é observada pelo autor em relação à série animada South
Park, em que a sátira social abriga uma multiplicidade de discursos, ainda que não haja
privilégio em relação a um deles. Em South Park Pike (2010) identifica relevantes e
contundentes críticas às contradições sociais, inclusive aos discursos ambientais, conforme
Rainforest Schmainforest (1999)40, episódio que satiriza estereótipos da natureza selvagem
intocada. Já o progresso e suas externalidades são criticados em Smug Alert (2006)41, quando
enfatiza a adoção de carros híbridos como forma de enfrentamento à poluição atmosférica, e
os alertas ambientais de Al Gore em seu filme Uma Verdade Inconveniente são centrais em
ManBearPig (2006)42. Para o autor, não se trata de neutralizar ou ridicularizar os discursos
ambientais, mas de alertar acerca das contradições de representações de uma natureza ingênua,

40
Nesse episódio as personagens se perdem na Floresta durante uma viagem à Costa Rica.
41
No episódio a sátira decorre do fato de que o crescimento no uso de carros híbridos é seguido pelo aumento
no número de fumantes, uma vez que esses mesmos motoristas começam a fumar após adquiri-los. A turma
adota carros híbridos após uma nuvem de fumaça tóxica encobrir a cidade de São Francisco na Califórnia.
42
No episódio uma sátira a abordagem de Al Gore é apresentada quando uma renomada autoridade insiste em
convencer a população de que bizarra criatura (uma mistura de homem, porco e urso) é a maior ameaça a vida
humana. O foco aqui é retratar a busca por visibilidade como mais relevante do que a própria questão que se
revela.


181

desprovida de perigos e ameaças aos homens. No segundo episódio citado, essa hipocrisia
social é destacada através do uso de carros híbridos, sem, no entanto, introduzir qualquer
mudança nos estilos de vida individualizados, e no terceiro caso, se evidencia as contradições
que envolvem o uso de celebridades em questões ambientais, enfatizando suas
responsabilidades individuais acerca das mudanças climáticas, em específico, sem também
discutir a responsabilidade das grandes corporações.
Retornando ao contexto da Disney, a despeito de sua hegemonia na animação em
longa metragem na chamada “era de ouro” da animação, e que fora retomada na década de
1990, Murray e Heumann (2011) dedicam atenção pontual, sobretudo evidenciando seu
privilégio por representações que opõem natureza e sociedade e exploram esses conflitos,
apesar de também celebrar a interdependência entre espécies que habitam uma natureza
idílica, sagrada e ingênua. Para os autores, a Disney se furta em problematizar a exploração
utilitária do mundo natural. Como vimos, Jardim (2013) também se posiciona criticamente
acerca da obra mais recente da Disney, reconhecendo que suas representações da natureza
privilegiam determinadas espécies, perpetuam estereótipos nocivos e são conservadoras
quanto ao domínio do homem sobre a natureza. Uma defesa, entretanto, é feita por Whitley
(2012), que busca esclarecer as contribuições da Disney para a comunicação ambiental.
De acordo com Whitley (2012), a natureza sempre foi um tema central na obra da
Disney, marcada, em especial, por representações em que ela desponta como oposição ao
mundo social, perspectiva essa alinhada às observações assinaladas por Murray e Heumann
(2011). Contudo, conforme destaca o autor, suas estratégias de privilégio a um engajamento
emocional em sua audiência, assim como sua ortodoxia estética pautada no realismo, suscitam
grande parte da crítica acadêmica direcionada a sua obra, denunciada como uma estética
desprovida de autenticidade, dada a sua vinculação conservadora.
Observando o contexto do discurso ambiental na Disney, Whitley (2012) se mostra
mais flexível que outros autores, ressaltando que o apelo sentimental manifestado nas
narrativas dramáticas apresentadas pelo estúdio mostra-se favorável à exposição e à
exploração das mais diversas questões ambientais, principalmente diante de um público
infanto-juvenil. Na verdade, o autor reconhece que o humor e as emoções são cruciais para a
animação superar suas limitações estruturais, quais sejam, as representações simplificadas das
problemáticas apresentadas e a simples transmissão de ideologias sociais para orientar as
ações da audiência. Além disso, defende que o realismo na Disney assume diferentes
orientações, seja para acomodar uma narrativa moralmente relacionada ao ethos
conservacionista – a vilanização da caça em Bambi, por exemplo, seja para manifestar uma


182

perspectiva ambiental mais complexa, a exemplo da interelação entre turismo e degradação


ambiental, conforme o hiper-realismo de Procurando Nemo (2003).
Não é somente a centralidade da temática ambiental na Disney que se torna evidente,
mas seu pioneirismo em dotar a animação de uma capacidade de abordá-la de forma mais
ampla e atraente para a audiência. Para Whitley (2012), ao lançar o primeiro longa metragem
animado, Branca de Neve e os Sete Anões, em 1937, Disney não apenas demostrou novos
potenciais para a animação, como também estabeleceu uma estrutura narrativa capaz de
explorar uma diversidade temática, com ênfase nos ambientes naturais, especificamente na
natureza selvagem. Dessa forma, defende-se que a natureza passou a constituir um tema
central no estúdio, relacionado à ideia de lar, revelando a interdependência entre os humanos
e o mundo natural como condição primordial. De acordo com Whitley (2012), Disney
ressaltou, sobretudo nas animações pautadas em fábulas que foram desenvolvidas nas décadas
de 1940 e 1950, as interações entre humanos e animais, destacando as aquelas idealizadas, em
que os animais se mostram prestativos e solícitos aos humanos. Segundo o autor, Branca de
Neve (1937), Bambi (1942) e Fantasia (1940) são exemplos dessa perspectiva.
Na verdade, a temática ambiental é inicialmente abordada pela Disney dotando suas
narrativas de uma visão pastoral – o modo de vida camponês, e Branca de Neve constitui um
modelo que fora posteriormente explorado em suas variantes. Conforme defende Whitley
(2012), a ideia de pastoral da Disney alinha-se com a perspectiva de Thoureau, em que a
valorização da natureza selvagem, e também da vida rural, assume um sentido moralmente
normativo – a ideia de tecnologia de subjetivação em Foucault. Assim, observa que a
persistência do modo pastoral na Disney, em sua visão idealizada da natureza, traduz uma
postura nostálgica, mas, acima de tudo, crítica no que se refere às transformações na relação
sociedade/natureza na modernidade. O que também fora sinalizado por Wells (2009) acerca
do significado do antropomorfismo na obra do estúdio. Essa orientação da perspectiva
pastoral justifica a recorrente oposição entre natureza e sociedade nas representações da
Disney, além da ênfase sentimental, bucólica e idealizada, embora também seja evidente a
valorização da interdependência, sobretudo nas interações entre natural e doméstico.
De forma geral, Whitley (2012) observa que a exploração da temática ambiental na
Disney é contrastante, se considerarmos o período entre 1937 e 1966 (sob a direção do
próprio Walt Disney), e entre 1994 e 2005 (sob a direção de Michael Eisner), embora algumas
obras manifestem algum tipo de continuidade, inclusive no contexto da Pixar, adquirida pela
Disney em 2006. Essas fases traduzem seus respectivos contextos históricos,
conservacionismo se torna marcante no primeiro momento e a sustentabilidade ambiental no


183

segundo, e também as perspectivas dos diretores, sendo Disney de origem rural e


conservadora, enquanto Eisner43 assumiu uma maior proximidade com as questões ambientais.
Whitley (2012) ressalta que as categorias elementares de animações desenvolvidas pela
Disney com temas ambientais não foram alteradas no segundo período - adaptações de contos
de fadas, a natureza selvagem da América do Norte e os ambientes tropicais, mas foram
alteradas as agendas ambientais com as quais tais produções foram vinculadas.
No caso das animações relativas a adaptações de contos de fadas, observa-se que os
dois períodos assinalam representações do mundo natural com nítida oposição entre si. Para
Whitley (2012), as fábulas adaptadas por Disney já eram dotadas de forte simbolismo
ambiental: em Branca de Neve há uma aproximação e uma harmonia entre natureza e cultura,
sendo a primeira associada à ideia de segurança e conectada com o espaço doméstico – uma
natureza inocente, livre de sofrimento e da competição; já Cinderela (1950) ressalta a
interdependência enfatizando a domesticação da natureza; e A Bela Adormecida (1959)
desenvolve um modo pastoral mais tradicional, ressaltando a simbiose homem e natureza.
Adaptações seguintes como A Pequena Sereia (1989) e A Bela e a Fera (1991), por sua vez,
exploraram conflitos entre o mundo natural e os humanos. No primeiro filme a oposição entre
cultura e natureza (vida marinha) explora questões relativas à pesca e ao caráter predatório
dos humanos, e no segundo caso, a natureza selvagem é associada ao medo e ao terror (a fera
e a floresta), e por isso deve ser domesticada. Em ambas as animações, o autor ressalta que é a
aproximação homem/natureza que é valorizada.
Acerca das animações relacionadas às representações da natureza selvagem norte
americana, mudanças entre os dois períodos da Disney reside na forma como a
contextualização histórica é estabelecida. Bambi (1942)44 explora o envolvimento sentimental
da audiência com a personagem, de forma a estabelecer seu engajamento com o discurso do
conservacionismo. Para Whitley (2012), essa é a animação mais significativa na
representação da natureza dentre as obras da Disney, pois, embora seja marcante a oposição
entre natureza selvagem, representada em sua inocência idílica em decorrência da ausência de
predadores naturais, e os humanos, representados como ameaça (caçadores), a obra retrata o
ciclo da vida animal, estimulando a percepção da multiplicidade de significados da vida
selvagem, a partir da identificação emocional com o protagonista. Vincula-se, portanto, aos


43
De acordo com Whitley (2012) Eisner também foi um dos fundadores da Environmental Media Association
(EMA).
44
Conforme Whitley (2012), dado ao contexto de seu lançamento, em plena Segunda Guerra Mundial, Bambi
somente obteve sucesso de público, além de reconhecimento de seu valor ambiental, na década de 1950.


184

direitos dos animais, embora a problemática não seja historicamente contextualizada,


conforme evidencia a ausência de povos nativos e até mesmo da imagem do próprio caçador.
No segundo período, momento marcado pela pressão de grupos ambientalistas, filmes
como Pocahontas (1995) e Irmão Urso (2003) enfatizam disputas em torno do ambiente.
Pocahontas valoriza, de forma romântica e mitológica, a integração dos índios nativos dos
EUA com o mundo natural, explorando, de forma maniqueísta, os conflitos entre os
colonizadores e os nativos no que diz respeito à percepção do mundo natural. Embora seja
marcante uma visão idealizada dos índios (destituídos de violência), Whitley (2012) defende
que Pocahontas mostra-se crítico ao capitalismo e ao sentido utilitário da natureza. Para o
autor, Irmão Urso enfatiza o envolvimento moral e espiritual com o mundo natural,
valorizando, sobremaneira, o ponto de vista dos animais. Apesar de reconhecer a forte
antropomorfização das personagens, atribuindo-lhes o sentimento de amor pelos seres
humanos, o autor ressalta que sua defesa e respeito pelo mundo natural resultam da carga
emocional estabelecida na narrativa.
Finalmente, no que diz respeito aos ambientes tropicais, o autor confronta a
representação da natureza da animação Mogli: O Menino Lobo (1967)45 com obras mais
recentes, a exemplo de Tarzan (1999) e Procurando Nemo (2003). Assim, destaca que na
maior parte desses filmes vigora a ideia de tropical como exótico e harmonioso, mas há
divergências acerca da integração humana. Mogli: O Menino Lobo aborda a questão da
sobrevivência de uma criança selvagem, enfatizando as oposições entre homem e natureza,
mas valorizando a interdependência entre ambos, desenvolvendo o ambiente como uma ideia
de lar, morada e proteção. Em Tarzan, Whitley (2012) reconhece uma nítida oposição entre
cultura e natureza, mas observa que a animação estimula o envolvimento emocional com os
animais a partir da ênfase na ancestralidade comum entre ambos (gorilas e humanos), ainda
que a ideia de uma grande família envolvendo diferentes espécies se mostre fantasiosa.
Procurando Nemo, apesar de atribuir motivações humanas aos personagens
antropomorfizados, favorece uma compreensão do ambiente marinho a partir do realismo
pictórico e dos movimentos, além do tom pedagógico decorrente de explicações científicas
(correntes marítimas, migração etc). Além disso, ao explorar a perspectiva dos animais,
estabelece empatia entre estes e a audiência. Para o autor, o filme é complexo por apresentar
discursos ambientais conflitantes - direitos dos animais e exploração do ambiente marinho,


45
Um remake desse filme está previsto para ser lançado no ano presente, também em animação, mas
utilizando-se da técnica em 3D.


185

por isso pode incorrer tanto em engajamento ambiental como no despertar do interesse em
possuir aquários, fenômeno já alertado por Yong, Fam e Lum (2011).
Whitley (2012), assim como Murray e Heumann (2011), ressalta que depois de Bambi,
Wall-E é a mais relevante animação ambiental da Disney. Observa que essa animação retrata
a catastrófica exploração da natureza, representando os impactos de um estilo de vida pautado
na intensa produção e consumo, em uma perspectiva apocalíptica e distópica. Para Whitley
(2012), a nostalgia em sua narrativa estabelece uma empatia em favor do resgate da
interdependência homem/natureza, e de uma ética ambiental como condição de sobrevivência.
Contudo, reconhece haver uma contradição entre a abordagem ambiental representada e as
próprias práticas de licenciamento de produtos e brinquedos exploradas pelo estúdio, as quais
são, na verdade, um forte estímulo ao consumo.
De forma geral, considera que a temática ambiental persiste em obras recentes da
Disney. A Princesa e o Sapo (2009), por exemplo, ressalta a beleza e a vitalidade do mundo
natural, quando evidencia a jornada das personagens humanas convertidas em sapos,
Ratatouille (2008) explora a interface entre humanos e não humanos, enquanto Selvagem
(2006)46 observa a relação entre cultura e sociedade a partir do conflito que ocorre quando
animais do zoológico são reinseridos na natureza. Mesmo em Up: Altas Aventuras (2009),
torna-se evidente um discurso em defesa dos direitos dos animais, nomeadamente aqueles que
vivem em ambientes isolados.
Conforme exposto anteriormente, duas das principais referências nas discussões
acerca da comunicação ambiental no cinema de animação contemplam sua vertente comercial
norte-americana. Enquanto Whitley (2012) procura valorizar a temática ambiental em longas
metragens animados pela Disney, Murray e Heumann (2011) a observam em um contexto
mais amplo, contemplando algumas dessas produções, mas também uma diversidade de
cartoons autorais não menos comerciais que as fábulas da Disney. Além disso, o crescimento
do interesse acadêmico pela temática ambiental na animação parece caminhar, ainda que
lentamente, em direção aos animes japoneses, situando-os, de uma forma geral, como
representações ambientais mais inovadoras e complexas. Mas, conforme ressaltam Smith e
Parsons (2012), ainda há uma ênfase maior nas particularidades estéticas autorais do que na
dimensão ambiental propriamente dita, sobre as quais apenas discussões pontuais são
evidenciadas.


46
O longa, dirigido por Steve Williams, é uma coprodução da Disney com a canadense C.O.R.E Animation.
Sua trama retrata Leões criados em zoológicos em conflito com seus instintos naturais.


186

No sentido de encerrar esse capítulo, convém observarmos, mesmo que de forma geral,
que Ozamu Tezuka e Hayao Miyazaki, dois grandes expoentes da animação japonesa,
conforme já destacamos anteriormente, são considerados militantes ecológicos, cujas obras
assumem relevância ambiental, sendo ambos herdeiros da vertente de animações autorais
engajadas que emergiram na Europa, no período do pós Segunda Guerra Mundial,
estimuladas, sobretudo, pela ameaça nuclear. Para Denis (2010), Tezuka deve ser considerado
como o precursor da animação enquanto denúncia acerca das contradições do mundo
moderno, especialmente em sua dimensão ecológica, dedicando-se à valorização das florestas,
como nos revelam obras como A Lenda da Floresta, de 1988. Pikkov (2010), por sua vez,
observa que Miyazaki, responsável pelo aclamado estúdio Ghibli, atribuiu centralidade ao
conflito homem e natureza, empenhando-se em expor sua complexidade e também em
resgatar relações mais harmonias.
Diferentemente das abordagens ambientalistas marcantes nas animações ocidentais, as
quais enfatizam as resoluções dos conflitos homem/natureza a partir de valores
antropocêntricos, as produções japonesas são caracterizadas por suas orientações filosóficas e
espirituais no enfrentamento dos problemas ambientais. Dessa forma, Wells (2009) ressalta
que o antagonismo entre natureza e cultura é melhor resolvido em animações japonesas, como
aquelas realizadas por Ozamu Tezuka, principalmente em função da força da tradição
japonesa na cultura moderna, que valoriza a natureza como fonte espiritual. Para o autor, a
série animada Kimba, the White Lion (1965 a 1967), exemplifica como esse animador buscou
representar o mundo natural como repositório de valores que são expressos através dos
animais.
Contudo, dada a vitalidade do estúdio Ghibli e de seu acentuado reconhecimento pelo
público ocidental, é a temática ambiental em Miyazaki que desperta maior interesse. Em
linhas gerais, as animações de Miyazaki são celebradas pelo resgate de valores culturais da
tradição japonesa e por manifestar questionamentos filosóficos sobre o mundo, apoiando-se
em representações marcadas pela interação entre deuses mitológicos, demônios, animais e
seres humanos. É o que defende Wells (2009) ao destacar que: em Meu Amigo Totoro (1988),
o personagem Totoro representa o espírito da floresta, um protetor que estimula o imaginário
e a espiritualidade nas duas crianças protagonistas; Porco Rosso: O Último Herói Romântico
(1992) apresenta como personagem central uma criatura que é um misto de homem e porco, e
que manifesta a desilusão diante da modernidade do pós-guerra; Princesa Mononoke (1997)
ressalta o poder da natureza a partir de um discurso totêmico, representando animais e
homens em conflitos “ideológicos”, em uma crise pela disputa sobre o ambiente. Enquanto


187

Wells (2009) atribui a Miyazaki uma representação do mundo natural em sua pureza, algo
difícil à compreensão humana, sobretudo na cultura ocidental, Whitley (2012) defende que o
fato de os animais representados na maioria dos seus filmes não falarem, são menos
antropomorfizados que na produção ocidental, o que traduz o respeito do diretor pela natureza,
uma abordagem que visa assegurar sua integridade representativa.
Em Miyazaki também são reconhecidas contribuições para o estímulo ao ativismo
ambiental na audiência, nomeadamente em decorrência das representações de questões
ambientais que valorizam as políticas do ambiente. Smith e Parsons (2012) consideram a
animação Princesa Mononoke (1997) como uma das obras mais importantes acerca dessa
perspectiva. De acordo com os autores, o filme se assemelha à animação FernGully (1992),
uma vez que seu tema é a representação da devastação das florestas, observada a partir de um
perspectiva mística e fantástica, como espaço que abriga os mais diversos deuses. Outra
semelhança reside na ênfase da degradação como resultado da ação de forças sobrenaturais,
mais do que das ações humanas (a mineração também é representada), e ainda pelo fato de
que a personagem que assume a defesa do meio ambiente é motivada por envolvimento
afetivo, mais que pelo reconhecimento da subjetividade da natureza.
Contudo, Smith e Parsons (2012) observam que Princesa Mononoke desenvolve a
problemática ambiental de uma forma contrastante, sob os mais diversos aspectos, com as
animações ambientais ocidentais: ao invés de desenvolver um melodrama maniqueísta entre
vilões destruidores da floresta e heróis defensores, enfatiza a problemática ambiental tendo
em vista a diversidade de interesses e também de suas contradições, representando a
mineração como atividade que resulta em beneficio para seus trabalhadores, mas também em
prejuízo para a natureza; ao invés de persistir na defesa moral do discurso conservacionista,
valoriza temas como justiça ambiental e políticas do ambiente; ao invés de uma natureza
utilitária que deve ser preservada para assegurar a vida humana, valoriza uma natureza
sublime, mística e subjetiva, mas indispensável à sobrevivência das sociedades. Assim, para
os autores, sua narrativa é complexa, pois enfatiza os paradoxos da intervenção humana sobre
o mundo natural. Nela, a destruição não é detida, e a floresta é intensamente degradada, mas
logo dá sinais de sua capacidade de auto-restauração. É diante desse contexto que Pikkov
(2010) vai assinalar que em Miyazaki, a animação ambiental, em sua vertente autoral, é mais
questionadora, e seu sucesso de público representa um contraponto às perspectivas
reformistas das animações comerciais hegemônicas.
Conforme discutido ao longo deste capítulo, notamos que a inserção da temática
ambiental na animação assumiu diferentes contornos e significados, mostrando-se relevante


188

apesar da contradição que reside no fato de a animação, em sua vertente mais popular,
despontar como produto cultural comercial intimamente vinculado ao consumo dos mais
diversos produtos licenciados, sobretudo brinquedos derivados das personagens animadas. Na
verdade, essa contradição é própria das sociedades capitalistas e traduz o desafio principal do
debate ambiental contemporâneo, qual seja conciliar sociedade e natureza a partir de relações
mais harmoniosas. Nesse sentido, não podemos deixar de reconhecer, conforme ressaltam
Smith e Parsons (2012), que a valorização da temática ambiental na animação comercial,
sobretudo a partir da década de 1990, favoreceu as expectativas da educação ambiental,
depositando no público infanto-juvenil (a geração futura!) a esperança de estabelecer as
mudanças necessárias nas percepções e atitudes em relação ao mundo natural.
Para os autores, o crescimento e a diversificação da animação ambiental assinalam um
fenômeno denominado de enviro-tainment, em que filmes animados conciliam sua função de
entretenimento com a manifestação das mais variadas questões ambientais, inclusive sobre as
políticas de ambiente, tornando-se fundamental em um contexto marcado pela ideologia do
progresso - a natureza como recursos. Embora reconheçam que a animação ambiental
encontra-se em expansão tanto na cultura ocidental como em países como o Japão, destacam
que ambos os casos oferecem perspectivas diferentes para o enfrentamento de problemáticas
ambientais semelhantes, sendo esse último caso, marcado por questionamentos mais
profundos acerca de nossas relações com o meio ambiente, sobretudo em termos políticos.
Além disso, conforme defende Todd (2015), a despeito dessa diversidade de temas e
abordagens na animação ambiental, é importante considerar, acima de tudo, o valor simbólico
e ideológico do filme animado, uma vez que a animação é uma arena relevante para a
construção de significado para as mais diversas questões sociais e políticas, inclusive para
aquelas relacionadas ao meio ambiente. Na verdade, dada a sua diversidade estética e de
motivações de produção (entretenimento, pedagógico, ideológico etc) a animação deve ser
mais bem compreendida como um espaço demarcado por disputas. Dessa forma, de acordo
com o autor, sua circulação entre uma ampla e variada audiência (adultos e crianças) e sua
capacidade de recriar "realidades alternativas”, sobretudo a partir do ponto de vista da
natureza (personagens animais) são características que lhe conferem posição privilegiada no
debate ambiental.
Além disso, suas representações centradas na comicidade são favoráveis à
autorreflexão da audiência, de modo a inseri-la e posicioná-la nas problemáticas ambientais.
Dessa forma, alinhando-se às sinalizações de Robert Cox, Todd (2015) observa a animação
como um produto cultural capaz de responder às crises ambientais, estimulando a consciência


189

sobre os mais diversos riscos da modernidade, seja criticando os estilos de vida e ressaltando
suas consequências apocalípticas, seja satirizando-os de forma a valorizar a necessidade de
interdependência com o mundo natural. Contudo, adverte que é necessário superar algumas
limitações, como as narrativas melodramáticas pautadas em heróis, que, sozinhos, resolvem
os problemas de ordem ambiental, mesmo se evidenciando a necessidade de participação
coletiva.
Sendo o cinema comercial intimamente vinculado aos interesses comerciais, portanto,
menos favoráveis à veiculação de críticas estruturais, resultando mais em estímulo a um
“engajamento” ambiental reformista, é na produção autoral e independente que os enfoques
ambientais mais críticos e complexos encontram maiores possibilidades. Nesse sentido,
percebemos que, da mesma forma que a criação da EMA contribuiu para a inserção da
temática ambiental nas narrativas da animação comercial, estimulando ainda inovações
ambientalmente favoráveis nos processos de produção e distribuição do audiovisual - vários
estúdios adotaram políticas de neutralização de carbono, a exemplo da Disney e da Fox. Os
festivais especializados nessa temática, por exemplo, mostram-se cruciais para a produção
independente, constituindo espaço privilegiado de audiência e de crítica. É nesse sentido que
situamos nossa pesquisa, analisando os discursos e representações da natureza em animações
veiculadas em festivais ambientais realizados no Brasil, cujos desdobramentos são
apresentados no capítulo seguinte.


190

4 REPRESENTAÇÕES DOS DISCURSOS AMBIENTAIS EM ENVIRO-TOONS


BRASILEIRAS

Neste capítulo dedicamo-nos a analisar os discursos ambientais no cinema de


animação brasileiro, tomando como corpus de investigação as enviro-toons veiculadas nos
três festivais contemplados pela pesquisa: FICA, FESTCINEAMAZONIA e
FILMAMBIENTE. Buscamos, portanto, compreender as relações de sentido estabelecidas
sobre o meio ambiente e suas problemáticas de forma a contribuir para o debate acerca da
comunicação ambiental na animação, revelando, sobretudo, sua configuração no contexto da
produção brasileira, que ganha cada vez mais visibilidade no cenário internacional, tendo em
vista que os três festivais são vinculados à rede Green Film Network.
Conforme já sinalizado na introdução deste trabalho, quando da delimitação da nossa
orientação metodológica, optamos por dividir nossa análise em duas etapas: a primeira,
empenhada em analisar o corpus em termos mais gerais, a partir de sua caracterização
(chamaremos de um quadro explicativo) quanto aos aspectos autorais, técnicos, estéticos e
discursivos, conforme indicadores estabelecidos; a segunda, voltada exclusivamente para a
compreensão dos discursos ambientais, observa as construções de significado em torno do
meio ambiente, das problemáticas ambientais, em sua abrangência e implicações, de
responsabilidades causais e de enfrentamento, e também das soluções propostas. Iniciaremos,
portanto, apresentando nosso quadro explicativo acerca do corpus, em seguida, avançamos
para a análise dos discursos propriamente dita.

4.1 Um quadro explicativo acerca do corpus

Nesta seção, buscaremos caracterizar as 40 animações que constituem o corpus da


pesquisa, ressaltando indicadores de aspectos autorias, técnicos e estéticos, tais como o ano de
realização, autoria, região de produção, contemplação de financiamento público e/ou privado,
técnica animada, duração, estilo estético dos movimentos adotados e a filiação a um
determinado gênero audiovisual, entre outros aspectos. Além disso, observamos aspectos
narrativos das histórias ambientais apresentadas e também destacamos os principais
elementos norteadores de seus discursos ambientais.


191

4.1.1 Aspectos autorais, técnicos e estéticos das envirotoons

Considerando que o corpus é representativo de um período de 16 anos (1999 a 2014),


observamos que a maior parte dessas animações é recente, uma vez que mais da metade da
amostra (22 produções) foi realizada a partir do ano de 2010. Na tabela abaixo relacionamos
todas as animações da amostra e seus respectivos anos de produção.

Tabela 03: Ano de realização, animações, festival contemplado e total por ano (1999-2014)
FESTIVAL TOTAL
ANO ANIMAÇÃO
CONTEMPLADO ANIMAÇÕES
1999 A Lenda da Árvore Sagrada FICA 01
2000 Entrevista com o Morcego FICA 02
Não Fique Pilhado FICA
2004 Filme Ilhado FICA 01
2005 Rap dos Bichos FICA 02
Tainá-Kan, A Grande Estrela FestCineAmazonia
2006 A Esperança e a Última que Morde FestCineAmazonia 04
A princesa do Vale FestCineAmazonia
Dias de Sol FestCineAmazonia
Vida Maria FestCineAmazonia
2007 Alegria de Macaco FICA 03
Consumidouro Filmambiente/FICA
Mapinguari o Protetor da Floresta FestCineAmazonia
2008 Bumba Meu Peixe FestCineAmazonia 02
PAJERAMA FICA
2009 Buba e o Aquecimento Global FestCineAmazonia 03
Fundo FICA
Perfeito FestCineAmazonia
2010 A folha da Samauma FICA 05
Consciente Coletivo: Aquecimento Global FICA
Consciente Coletivo: Resíduos FICA
Gente Grande Filmambiente
O Jardineiro - Com Feliciano Esperança FestCineAmazonia
2011 Água é para todos FICA 09
De onde vem a água do Rio FICA
Dia Estrelado FICA
Essência FICA
O cangaceiro e o leão Filmambiente
O Diário da Terra FestCineAmazonia
Peixe FestCineAmazonia/FICA
Peixe Frito em Uma Aventura Rupestre FICA
Tamanduabandeira Filmambiente/FICA
2012 Desabrigados FICA 07
Destimação FICA
Escalada FICA/Filmambiente
Eta Bicho homem FestCineAmazonia
Hainá:O Filtro FICA
O Rei Gastão FICA/Filmambiente
Os sustentáveis FICA
2014 O Menino e o Mundo FICA 01


192

Fonte: Elaborado pelo autor.

A animação mais antiga é A Lenda da Árvore Sagrada (1999), exibida na primeira


edição do FICA, e a mais recente é o longa metragem O Menino e o Mundo, de 2014, exibido
na XVI edição desse mesmo festival, ambos veiculados em mostras competitivas. O ano de
2011 é o que concentra o maior número das animações da amostra (nove produções), seguido
de 2012, com sete produções e de 2010, com cinco obras. De forma geral, notamos que a
maior parte dessas animações foi exibida em edições dos festivais realizadas no mesmo ano
de sua produção, contudo há casos em que essa exibição somente ocorreu no ano seguinte ao
da produção. Além disso, entre as animações que foram exibidas em mais de um festival,
constam edições realizadas em anos subsequentes. O curta metragem Consumidouro é única
produção da amostra que em que o intervalo de tempo entre produção e exibição no festival é
alargado, uma vez que ele foi exibido na mostra competitiva do Filmambiente de 2011, após
participar do IX FICA em 2007, ano de sua realização.
Quando consideramos a origem geográfica das animações contempladas, observamos
que predomina a região Sudeste, concentrando pouco mais da metade das obras, 52,5% dos
casos. Nove dessas animações foram realizadas no estado de São Paulo, oito no Rio de
Janeiro e quatro em Minas Gerais. A região Nordeste1 responde por 17,5% da amostra, sendo
uma animação da Bahia, quatro do Ceará e duas de Pernambuco. O Centro Oeste é a região de
origem de sete animações, todas elas de Goiás. E apenas 12,5% desses filmes foram
produzidos na região Sul do país, sendo três do Paraná, um do Rio Grande do Sul e um Santa
Catarina. É importante destacar que a centralidade da região Sudeste na produção audiovisual
brasileira também se verifica na amostra, mas também chama atenção a elevada
representatividade de produções goianas no corpus, o que se justifica pela existência de uma
mostra competitiva especificamente destinada ao audiovisual produzido em Goiás, realizada
nas edições do FICA. Também chama atenção o fato de que na amostra constam apenas obras
de 11 estados da federação, sendo marcante ainda a ausência de animações produzidas na
região Norte, sobretudo se considerarmos as problemáticas relativas ao desmatamento da
Floresta Amazônica e aos conflitos agrários.


1
De uma forma geral, é importante considerar que a produção audiovisual nordestina ainda se mostra
incipiente em relação ao contexto da região sudeste do país, embora tenha assistido a uma sensível expansão nas
duas últimas décadas. No caso específico da animação, a emergência tardia de cursos de graduação em
audiovisual pode constituir um fator relevante para a compreensão dessa pequena participação de produções
nordestinas no corpus analisado.


193

Quanto à autoria das animações da amostra, observamos uma diversidade de


realizadores assinando as produções. Considerando-se as obras realizadas em regime de
coautoria, identificamos 50 autores distintos, sendo que sete deles respondem por 35% dos
filmes contemplados em nossa amostra: Ricardo de Podestá 2 assina três animações
(Destimação, Peixe Frito: uma Aventura Rupestre e Tamanduabandeira), Diogo Viegas3
também assina três filmes (Água para todos, O Diário da Terra e Rei Gastão), Arnaldo
Galvão4 é autor de duas animações (O Cangaceiro e o Leão e Hainá: o filtro), assim como
ocorre com Luiza Falcão5 (A Princesa do Vale e Bumba Meu Peixe), Pedro Luá e Analúcia
Godoi (coautores dos episódios Consciente Coletivo: Aquecimento Global e Consciente
Coletivo: Resíduos) e Walkir Fernandes, autor de Gente Grande, em coautoria com Caroline
Santos, e Consumidouro, com Jack Lamb e Felipe Po.
É importante destacar a diversidade de temas ambientais contemplados pelas
animações desses realizadores e, sobretudo, a diversidade de temas/enfoques que permeia a
obra de um mesmo autor. Podestá, por exemplo, transita da problemática do tráfico de
animais, representada em Destimação, para as necessidades de limites entre homem e mundo
natural, conforme Tamanduabandeira. Viegas, por sua vez, retrata o desperdício de água
(Água é para todos), o aquecimento global (O Diário da Terra) e a apropriação da natureza
como recursos (Rei Gastão). Walkir Carvalho, cujo trabalho mais antigo retratou implicações
ambientais do consumismo (Consumidouro), passou a contemplar a adoção de hábitos
sustentáveis no cotidiano, tema central em Gente Grande. Além disso, mesmo quando
compartilham de um mesmo tema, esses animadores, que respondem com mais de uma
animação na amostra, o fazem de forma diferente, como é o caso do aquecimento global:
Galvão, em O Cangaceiro e o Leão, enfatiza apenas o aumento das temperaturas nas cidades;
Viegas, em O Diário da Terra, aborda uma amplitude maior de problemas de modo a
contemplar diversos eventos climáticos dai decorrentes; Luá e Godoi, em Consciente


2
Ricardo de Podestá é um dos expoentes da nova geração de animadores goianos. Atualmente é sócio da
produtora Mandra Filmes, tendo várias de suas obras reconhecidas por diversos festivais de animação, a exemplo
do AnimaMundi. Ver mais em http://janela.art.br/especiais/a-arte-do-desafio-a-animacao-em-
goias/?doing_wp_cron=1448988622.6445310115814208984375
3
Diego Viegas é um premiado animador brasileiro, autor do curta Josué e o Pé de Macaxeira, vencedor como
Melhor Curta-Metragem Brasileiro pelo Júri Popular, no AnimaMundi de 2009, e também do Kikito de Melhor
Curta-Metragem em Gramado, nesse mesmo ano. Viegas é também proprietário do Viegas estúdio. Ver mais em
http://www.animamundi.com.br/diogo-viegas-e-cria-do-anima-mundi-de-monitor-do-estudio-aberto-a-ganhador-
de-2012/
4
Arnaldo Galvão é um animador brasileiro com vasta experiência em cartuns e ilustrações. É um dos
fundadores da Associação Brasileira de Cinema de Animação (ABCA). Ver mais em
http://site.videobrasil.org.br/acervo/artistas/artista/37686
5
Luiza Falcão é presidente do Ponto de Cultura Associação Mundo Animado das Artes - AMANDA, Fortaleza
(CE). Ver mais em http://www.premioculturaviva.org.br/2edicao_interprogramas.php


194

Coletivo: Aquecimento Global, ressaltam a problemática quanto aos hábitos alimentares dos
indivíduos. Evidentemente, uma análise mais detalhada acerca das demais produções desses
realizadores, para além do contexto desses festivais, extrapolaria os objetivos dessa pesquisa.
Assim, seria prematuro aqui reconhecê-los como animadores essencialmente engajados com
as questões ambientais.
Além da autoria, também observamos a participação de produtoras de audiovisual na
realização das animações da amostra. Assim, identificamos que 27 delas, 67% dos casos,
mencionam produtoras associadas, enquanto 13 obras figuram como produções autorais
independentes. A Mandra Filmes, um estúdio de animação de Goiás, é a produtora que
concentra o maior número de animações no corpus, totalizando quatro obras: Destimação,
Peixe Frito: uma aventura rupestre, Tamanduabandeira e Filme Ilhado. Entre as várias
outras produtoras identificadas, prevalecem estúdios de animação a exemplo da Lunarte (CE)6,
Mono 3D (SP)7, Estúdio OpenTheDoor (SP)8, Estúdio Birdo (SP)9, Buba Filmes (SP)10,
Cartunaria Desenhos (RS) 11 , ambas integradas ao mercado, sobretudo de animação
publicitária e para a web. Destaca-se ainda a premiada produtora Filme de Papel (SP)12,
especializada em obras ficcionais, responsável pelo longa O Menino e o Mundo. Também
figuram na amostra produções resultantes de oficinas de animação, como o curta A folha da
Samauma (2010), produzido por crianças indígenas da Aldeia Guarani Tekoa Pyau, as
animações A princesa do vale (2006) e Bumba Meu Peixe (2008), produzidas por alunos da
Associação Mundo Animado das Artes (AMANDA), uma entidade cearense sem fins
lucrativos com foco na capacitação profissional em animação, e também Consumidouro
(2007), elaborado durante um curso realizado pelo animador Paulo Munhoz.
Conforme assinalado, a maior parte das animações da amostra foi realizada por
produtoras e a maioria delas contou com apoio ou patrocínio, sobretudo de instituições
públicas, seja no âmbito estadual ou nacional. Identificamos que ao menos 12 animações
contaram com recursos do Ministério da Cultura e pelo menos dez obtiveram recursos para
sua realização a partir de leis estaduais de incentivo à cultura. Entre outros patrocinadores
públicos despontam a Petrobras, o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e
Tecnológico, CNPq, a Fundação de Amparo à pesquisa do estado de Minas Gerais


6
Ver mais em www.lunart.com.br
7
Ver mais em http://mono3d.com
8
Ver mais em https://www.facebook.com/estudioopenthedoor/
9
Ver mais em http://www.birdo.com.br
10
Ver mais em http://bubafilmes.blogspot.pt/p/sobre-nos.html
11
Ver mais em http://cartunaria.blogspot.pt
12
Ver mais em http://filmedepapel.blogspot.com.br


195

(FAPEMIG), a TV Brasil, o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social,


BNDES, o Ministério de Ciência, Tecnologia e Inovação, os Governos dos Estados do Ceará,
Pernambuco, Santa Catarina, São Paulo e Minas Gerais etc. Quanto aos patrocinadores do
setor privado, figuram o Canal Futura e a HP, os quais, juntamente com o Instituto Akatu,
patrocinaram os dois episódios Consciente Coletivo (2011), a Companhia Hidrelétrica São
Patrício (CHESP) e A. Camargo Peças Agrícolas, ambas constando em animações realizadas
pela Mandra Filmes, em Goiás.
Convém ressaltar que pelo menos seis animações foram contempladas com recursos
do Ministério do Meio Ambiente, com destaque para o edital do programa Cine Ambiente13,
realizado em conjunto com o Ministério da Cultura, para financiar curtas-metragens animados
com temática ambiental: Os Sustentáveis (2012), Desabrigados (2012), O Diário da Terra
(2011), O Rei Gastão (2012), Gente Grande (2010) e Escalada (2012). A animação O
Menino e o Mundo (2014), único longa metragem da amostra, aparece com o maior número
de entidades patrocinadoras. Obra selecionada pelo edital Petrobras Cultural, teve patrocínio
do BNDES, do Fundo Setorial do Audiovisual e da Sabesp, além de contar com o apoio do
Programa de Fomento ao Cinema Paulista, através da Secretaria Municipal de Cultura e do
Governo do Estado de São Paulo, do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação, através da
Financiadora de Estudos e Projetos, FINEP, e da Agência Nacional de Cinema (ANCINE).
De forma geral, a amostra é reveladora da dependência da produção animada, assim
como o audiovisual brasileiro em geral, em relação ao financiamento público. Contudo,
também nos permite observar a valorização da animação em sua potencialidade na
comunicação acerca do meio ambiente, conforme o Circuito Tela Verde14, lançado pelo
Ministério do Meio Ambiente e que contempla a Mostra Nacional de Produção Audiovisual
Independente com Temática Socioambiental e o edital Cine Ambiente, para animações de um
minuto.
Quanto à duração das animações, exceto O Menino e o Mundo, as demais 39
animações são todas elas curtas-metragens. Água é para todos (2011) é o filme mais curto,


13
Trata-se de um edital que contemplou com recursos da ordem de R$ 20 mil propostas de curtas-metragens
animados sobre temática ambiental previamente estabelecida. Além de assegurar a produção, o edital também
assegurou a inserção das obras contempladas no circuito Tela Verde do Ministério do Meio Ambiente e na grade
de programação das emissoras públicas de tevês. O primeiro edital do programa foi lançado em 2009, assumindo
como tema as Mudanças Climáticas. A edição de 2010 teve como tema Consumo Sustentável e Biodiversidade
em 1 minuto. Ver mais em http://www.mma.gov.br/informma/item/6529-mma-e-minc-lancam-edital-para-
curtas-de-animacao-cine-ambiente
14
Ver mais em http://www.cultura.gov.br/o-dia-a-dia-da-cultura/-
/asset_publisher/waaE236Oves2/content/circuito-tela-verde-de-cinema-ambiental/10883


196

contando com apenas 44 segundos de duração, enquanto O Menino e o Mundo (2014)15


possui 80 minutos. Além desse longa metragem, apenas três animações apresentam mais de
10 minutos de duração, enquanto 17 possuem duração de até 3 minutos, 13 possuem duração
acima de 3 minutos e até 6 minutos e sete situam-se na faixa acima de 6 minutos e até 10
minutos de duração. A amostra totaliza cerca de 5 horas de exibição. Mais adiante, quando
abordaremos as narrativas e as histórias ambientais apresentadas pelo corpus, observaremos
que a duração dessas animações implica diretamente as explorações das temáticas
contempladas.
Quanto à técnica de produção, 18 casos da amostra são desenhos animados em 2D,
sete são animações com modelagem em 3D e cinco são stop motion que usam recortes de
papel ou massa de modelar. Nos demais casos, prevalece o hibridismo que resulta da
combinação de variadas possibilidades de realização, sobretudo desenhos animados, modelos
digitais em 3D, personagens em recortes de papel, além do uso de stop motion com sementes,
grãos e pessoas (pixelation), e da sobreposição de animação em clipes de vídeo de ação ao
vivo. Notamos, portanto, que a amostra é permeada pela diversidade de técnicas reconhecidas
por Pikkov (2010), Nogueira (2010) e Valente (2001), e manifesta sintonia com as
sinalizações de Wells (2003) e Lucena (2005) que valorizam a animação autoral e
independente em sua diversidade técnica e sua natureza híbrida.
Considerando-se a fluidez dos movimentos, um dos aspectos mais relevantes na
estética animada (LAMARRE, 2009; MITTEL, 2003), o estilo predominante na amostra é o
da animação limitada, observado em 84% dos casos, em que os movimentos das personagens
são menos realísticos e naturais, marcados por uma representação mecânica e fragmentada
dos gestos e ações. Apenas sete filmes apresentam movimentos realísticos típicos da
animação ilimitada, com destaque para O Diário da Terra (2011), Pajerama (2008), Escalada
(2012), Buba e o Aquecimento Global (2009) e O Menino e o Mundo (2014). É importante
ressaltar que a opção pela animação limitada reduz drasticamente a quantidade de desenhos
necessários a um filme animado e, consequentemente, implica economia de recursos e de
tempo para sua realização, embora também possa decorrer de limitações técnicas do próprio
animador. De qualquer forma, para os objetivos desta pesquisa, mais importante é considerar
que qualidade de uma animação resulta da configuração dos seus mais diversos aspectos, e
não apenas da fluidez dos movimentos, conforme defende Lamarre (2009).


15
Consideramos aqui o seu ano de lançamento no Brasil.


197

Acerca do regime de representação visual, prevalecem na amostra abordagens


representativas de caráter esquemático, caricatural e mesmo simbólico, em detrimento de um
realismo visual, sendo Buba e o Aquecimento Global (2009) e Pajerama (2008) animações
em que observamos essa última perspectiva, ambas realizadas em computação gráfica 3D.
Mas, é importante ressaltar que as animações da amostra manifestam uma diversidade de
expressões plásticas, a exemplo de pinturas em aquarela, traços em grafite, desenhos em giz
de cera, colagens de papel etc, algumas destas com uma estética peculiar, de cunho autoral, a
exemplo do longa metragem O Menino e o Mundo (2014)16, de Alê Abreu. Além disso, apesar
de não privilegiarem representações foto realísticas e da ênfase em movimentos limitados,
prevalece um realismo temático (DENIS, 2010) na amostra, uma vez que as narrativas
manifestam vínculos diversos com o mundo real, conforme abordaremos mais adiante,
quando da análise das narrativas.
Todos os filmes da amostra são sonoros, mas em apenas 12 deles suas personagens
desenvolvem diálogos verbais. Quatro animações apresentam narrativas musicadas para
descrever ou orientar as ações das personagens e 11 animações se utilizam de um narrador
externo à história para descrever os conflitos ou problemas ambientais retratados.
Observamos que na maior parte desses casos o narrador é um recurso destinado a atribuir um
tom didático às narrativas, sobretudo quando se tratam de abordagens históricas, como no
caso das animações A Lenda da Árvore Sagrada (1999) e A Princesa do Vale (2006), ou de
enfoques “científicos” como ocorre em Buba e o Aquecimento Global (2009), Consciente
Coletivo: Aquecimento Global e Consciente Coletivo: Resíduos, ambos de 2010, De onde
Vem a água do Rio (2011) e O Diário da Terra (2011). Em animações como Peixe (2011) e
Eta Bicho Homem (2012) o narrador é um recurso enfático, é testemunho de lamento pela
degradação ambiental.
Finalmente, é importante destacar que nos festivais observados não há mostras
competitivas específicas para filmes animados, uma vez que elas apenas levam em
consideração o formato/duração das obras (curta, média e longa metragens). Nesses casos,
observamos que o termo animação apenas classifica e diferencia esse conjunto de produções
dos filmes documentários e de ficção. Assim, em tais festivais há apenas uma ênfase da


16
O Menino e o Mundo foi exibido em salas de cinemas de mais de 80 países e circulou em mais de 150
festivais internacionais de audiovisual. O filme recebeu mais de 45 premiações, a maioria como melhor filme de
animação. Em alguns desses festivais essa animação também foi reconhecida como melhor roteiro, melhor trilha
sonora etc. O Menino e o Mundo também foi indicado ao Oscar de melhor animação, na edição 2016. Ver mais
na fanpage oficial no Facebook.
https://www.facebook.com/124747370946197/photos/a.324789884275277.79117.124747370946197/914027972
018129/?type=3


198

animação enquanto técnica de produção audiovisual (DENIS, 2010), o que resulta em


negligência quanto às suas potencialidades de abrigar uma diversidade de gêneros
(BORDWELL & THOMPSON, 2001). Contudo, como esta pesquisa adota uma definição de
animação que é ambivalente, pois tanto designa uma técnica de produção fílmica oposta ao
cinema de ação vivo, como também corresponde a gêneros do audiovisual bastante
específicos – cartoons, fábulas animadas em longa metragem, prime time animations etc,
reconhecemos que a animação é capaz de acomodar esquemas narrativos cristalizados nos
mais diversos gêneros (aventura, documentário, drama, comédia, ficção científica, western,
sitcom etc), conforme Bordwell e Thompson (2001).
Dessa forma, observamos entre as animações da amostra, que a maioria delas, 19
obras, desenvolve narrativas ficcionais - pautadas em personagens que lutam pela superação
de conflitos e cujas ações culminam com a resolução dos mesmos, cinco são exposições
didáticas sobre questões e fenômenos ambientais, duas são de cunho documental, duas são
campanhas de estímulo à adoção de hábitos sustentáveis e uma animação é um musical. Além
disso, observamos que 11 animações são produções de caráter experimental, cujas narrativas
fogem aos padrões usuais.
Em linhas gerais, essa breve caracterização do corpus revela uma animação ambiental
recente, marcada pela heterogeneidade técnica, estética e autoral, embora não representativa
da produção audiovisual brasileira, uma vez que apenas 11 estados da federação se fazem
presentes. Notamos que a temática ambiental parece suscitar interesse entre vários
realizadores, sobretudo em produtoras já integradas ao mercado e com acesso a fontes de
recursos para viabilizar suas produções. Contudo, prevalecem produções em curta-metragem,
de forma mais específica, obras com duração bastante reduzida, que embora sejam capazes de
abrigar relevantes mensagens ambientais (a maior parte dos filmes publicitários possuem
apenas 30 segundos!), suscitam questionamentos acerca de suas potencialidades na
comunicação de temas ambientais, em favor de abordagens não reducionistas e coerentes com
a multidimensionalidade e a complexidade relativas à compreensão e ao engajamento diante
das diversas problemáticas relacionadas ao meio ambiente. São esses questionamentos que
irão orientar nossa discussão nas sessões seguintes.

4.1.2. Aspectos narrativos das enviro-toons

Quando observamos a visibilidade da temática ambiental nas narrativas das animações


que compõem a amostra, diferenciamos essas enviro-toons em duas formas de representação:


199

aquelas em que o meio ambiente e sua problemática assumem centralidade e são apresentados
de forma explícita, as quais iremos designar por enviro-toons em que o meio ambiente é
protagonista (animações sobre o ambiente), e aquelas em que tais questões são indiretamente
representadas, enviro-toons em que o meio ambiente é coadjuvante (animações no ambiente).
A primeira abordagem foi identificada em 26 casos, quando questões ambientais diversas
emergem diretamente das interações entre as personagens e o mundo natural e assumem
centralidade nas narrativas, marcadas, sobretudo, pela ênfase nos impactos dos primeiros
sobre esse último. Na verdade, nesses casos, a problemática ambiental se confunde com o
próprio conflito da narrativa - o desafio a ser superado, seja pelas personagens, seja pela
audiência. Na segunda abordagem, relativa aos demais 14 casos da amostra, o ambiente e suas
problemáticas são indiretamente representados, pois servem apenas como contexto para o
desenvolvimento das narrativas, despontando, ora como evento “motivador” para uma
diversidade de conflitos de ordem social ou psicológica nas personagens, ora quando é
considerado entre tantas outras consequências de eventos que orientam a evolução das
histórias, ou ainda, simplesmente quando da caracterização e contextualização das
personagens a partir da valorização de suas atitudes sobre o mundo natural. Assim,
distinguimos entre animações que desenvolvem histórias sobre o ambiente e animações que
desenvolvem histórias no ambiente.
Se considerarmos a distribuição dessas duas formas de representação da temática
ambiental pelos festivais contemplados, notamos que apenas no FestCineAmazonia o
quantitativo de “animações sobre o ambiente” exibidas (7 casos) é praticamente o mesmo de
“animações no ambiente” (6 casos), uma vez que nos demais festivais há uma nítido
predomínio das primeiras. De forma geral, é no FestCineAmazonia que notamos uma maior
“flexibilidade” quanto aos critérios de identificação de temáticas ambientais nas obras
selecionadas, por isso ele despontar não somente como o festival com maior número de filmes
exibidos por edição, mas também como aquele em que predominam animações “não
ambientais” e “animações no ambiente”.
Já em termos de região de produção das animações da amostra, notamos que nos casos
do Nordeste e do Centro Oeste as “animações no ambiente” superam, em números absolutos,
as produções explicitamente ambientais, enquanto nos casos do Sudeste e do Sul, ocorre o
inverso. Na verdade, no corpus desta pesquisa, apenas 25% das animações ambientais
produzidas no Sudeste não se configuram como “animações sobre o ambiente”, enquanto esse
percentual é ainda menor entre as obras da região Sul, apenas 20% de seus casos.


200

Conforme indicado nos procedimentos metodológicos, assumimos a narrativa como


instrumento analítico de forma a desconstruir e reconstruir os textos animados, traduzindo-os
para uma perspectiva adequada ao nosso objetivo - a apreensão dos discursos ambientais
representados. Nesse sentido, apoiando-nos na abordagem acerca da narrativa audiovisual
estabelecida por Bordwell e Thompson (2001), transladamos as animações a partir da
elaboração de suas respectivas sinopses, de forma a sistematizar o fluxo de eventos das
histórias, considerando sua causalidade, as personagens envolvidas e seus desdobramentos no
tempo e espaço. Assim, tomadas como sínteses das narrativas, essas sinopses foram
codificadas a partir de seus elementos principais: conflito central, personagens e suas
motivações, contexto espacial, evolução e desenvolvimento temporal do conflito e sua
resolução. Convém ressaltar que não objetivamos aqui nesta pesquisa identificar e
sistematizar os padrões narrativos apresentados pelas animações, relegando, assim, uma
análise narratológica (no sentido estrito) acerca das estratégias de desenvolvimento das
histórias. Ao invés disso, visamos tão somente apreender os elementos narrativos de modo a
identificarmos temas e seus desdobramentos nas histórias ambientais apresentadas pelas
animações.
O primeiro aspecto observado nas narrativas da amostra foi o conflito central das
histórias, usualmente o desafio ou problema principal experimentado pelas personagens
(BORDWELL & THOMPSON, 2001). Em linhas gerais, classificamos os conflitos
“ambientais” em cinco categorias principais: i) humanos versus natureza; ii) humanos versus
humanos; iii) seres sobrenaturais versus natureza; iv) natureza versus humanos; v) internos ou
dramas psicológicos. Na maior parte da amostra (31 casos) prevalecem narrativas com
enfoques maniqueístas, sendo que 20 desses casos são conflitos do tipo i) humanos versus
natureza, quando personagens humanas são representadas como “vilões ambientais” (eco
vilões) cuja apropriação e transformação do mundo natural implicam graves ameaças
ecológicas, sobretudo à vida animal. Esse tipo de abordagem é marcante nas animações
explicitamente ambientais (animações sobre o ambiente) e resulta em uma vitimização de
uma natureza representada como vulnerável e indefesa diante da insensibilidade e do egoísmo
humano.
Outros nove casos apresentam conflitos maniqueístas do tipo ii) humano versus
humanos, sejam em histórias que evidenciam confrontos entre povos nativos (índios e
africanos) e colonizadores ocidentais, seja nas histórias que reconhecem implicações da
degradação ambiental exclusivamente sobre a vida humana. Nesses casos observamos haver
simultaneamente a vilanização e a vitimização do próprio homem, uma vez que são histórias


201

que evidenciam o rompimento de modos antigos de envolvimento com o mundo natural, ou


mesmo personagens “enfrentando” outros humanos (poluidores) de forma a assegurar a
sustentabilidade do planeta. Além disso, duas animações apresentam histórias maniqueístas
do tipo iii) seres sobrenaturais versus natureza, em que os vilões ambientais não são seres
humanos, mas criaturas sobrenaturais que ameaçam o equilíbrio ambiental da Terra e,
consequentemente, comprometem a vida do homem no planeta.
Entre os outros nove casos observados temos: três animações em que é a natureza que
desponta como “ameaça” à vida humana – todas elas enfatizam o sertão nordestino como
adversidade; duas centradas em personagens superando desafios pessoais internos
(psicológicos) com algum tipo de vinculação ao ambiente; uma animação experimental
acerca da condição humana no planeta; três animações cujas narrativas são meramente
descritivas, desprovidas, portanto, de conflitos entre os personagens, mas empenhadas em
descrever fenômenos e problemas ambientais. Convém destacar que, com exceção desses três
últimos casos, a temática ambiental é contemplada de forma indireta, uma vez que a ênfase da
narrativa recai sobre conflitos de ordem pessoal ou social, portanto, são “animações no
ambiente”.
Acerca das personagens relacionadas às narrativas da amostra, identificamos tratar-se
de uma matriz que compreende uma diversidade de entidades do mundo natural (animais),
tipos humanos e criaturas fantásticas, sobrenaturais. Embora em diversos casos as histórias
apresentem alternância quanto ao agenciamento dos seus eventos, apresentando
simultaneamente interações entre humanos e entidades naturais, a maior parte das narrativas
privilegia histórias marcadas pelo agenciamento de personagens humanas. Entre esses, alguns
tipos mais recorrentes são: i) indivíduos representativos de tribos indígenas brasileiras em
contextos que manifestam contemplação ou harmonia com o mundo natural, conflitos
decorrentes da opressão dos colonizadores portugueses, ou ameaçados pelo avanço das
cidades; ii) indivíduos representativos de antigas tribos africanas que, submetidos à
exploração por parte de colonizadores ocidentais, afastam-se de sua integração ao mundo
natural; iii) cidadãos ordinários enquadrados, ora enquanto consumidores, ora como
indivíduos alheios ao meio ambiente, ou ainda como vítimas da degradação ambiental; iv)
profissionais e trabalhadores diversos, tais como arqueólogos, lenhadores, madeireiros,
cientistas, operários etc, ambos representados em atividades ambientalmente impactantes, ou
em situações de exploração capitalista; v) crianças, ora denunciando ou enfrentando
problemas ambientais, ora submetidas a contextos de vulnerabilidade social em decorrência
de adversidades ambientais. Convém destacar que um pequeno número de animações são


202

protagonizadas por personagens esquematicamente representadas (criaturas


antropomorfizadas), de onde inferimos tratar-se de metáforas das sociedades humanas. A
seguir, exemplificamos algumas manifestações das categorias de personagens observadas nas
animações do corpus:

i. Indígenas: Pajemara tem como protagonista uma criança indígena “lutando” pela
sobrevivência diante do avanço da cidade sobre a floresta em que vive com alguns
poucos remanescentes de sua tribo. Em Tainá-Kan, a Grande Estrela, é uma jovem
índia de uma tribo Carajás quem “descobre” o segredo da agricultura que lhe é
revelado pelos deuses de sua mitologia;
ii. Antigos povos africanos: A Lenda da Árvore Sagrada retrata a escravização dos
negros e também a tirania e a opressão dos colonizadores sobre a cosmologia tribal e
também sobre o meio ambiente;
iii. Cidadão comum: Alegria de Macaco é sobre indivíduos maravilhados com a aquisição
de um produto recém lançado no mercado. Os dois episódios Consciente Coletivo
representam cidadãos ordinários enquanto consumidores que contribuem para o
aquecimento global e para o acúmulo de resíduos descartáveis no planeta. Em
Consumidouro é um indivíduo consumista que empreende toda a degradação do
planeta. Os Sustentáveis apresentam o cidadão ordinário como uma séria ameaça à
sustentabilidade ambiental do planeta;
iv. Crianças: Vida Maria é um drama sobre uma menina que cresce em meio às
adversidades sociais (analfabetismo, gravidez precoce etc) que afligem comunidades
no semiárido nordestino. Em O Diário da Terra uma menina denuncia as
consequências da ação humana no planta, a partir das transformações negativas do seu
cotidiano. No caso de Gente Grande é uma criança quem decide cuidar do planeta
para garantir o futuro de todos. O Cangaceiro e o Dragão é sobre um menino que
“investiga” o aquecimento global para realizar uma tarefa escolar. Em O Menino e o
Mundo um garoto da área rural vive uma jornada à procura de seu pai na cidade
grande;
v. Profissionais e trabalhadores: Desabrigados expõe madeireiros devastando uma
floresta. Eta Bicho Homem e Mapinguari, o Protetor da Floresta também contam
histórias em que madeireiros são os antagonistas do ambiente. Em Entrevista com o
Morcego um jovem cientista explica os impactos da intervenção humana no habitat


203

dos morcegos. Nesse mesmo filme, são os operários de uma usina hidrelétrica os
principais antagonistas ambientais.

É importante destacar que quando as personagens são entidades do mundo natural


predominam animais, sobretudo representados como vítimas do homem e que buscam escapar
da degradação do ambiente, usualmente a derrubada e a queimada de florestas. Em algumas
animações as personagens são animais que reivindicam (interpelando diretamente!) dos
homens um maior cuidado quanto ao uso de recursos naturais compartilhados entre ambos, e
também menor interferência destes em seus habitats. Noutros casos, identificamos ainda
personagens que são animais de estimação submetidos a contextos de maus-tratos, e também
animais que protagonizam histórias de luta pela sobrevivência, seja diante da intervenção
humana, seja diante da adversidade climática. Em número mais reduzido, algumas animações
apresentam como personagens entidades sobrenaturais, a exemplo de uma bruxa que elimina
a poluição atmosférica produzida por uma indústria, de uma criatura fantástica que expulsa
madeireiros da floresta e recupera a área degradada, e de eco-heróis que enfrentam “monstros”
poluidores. Além disso, a própria Terra também desponta como personagem
antropomorfizada, uma vítima adoentada que agoniza enquanto necessita de cuidados
humanos. Abaixo, apresentamos alguns exemplos dessas duas outras categorias de
personagens em animações do corpus:

• Entidades do mundo natural: A Esperança e a Última que Morde é protagonizado por


animais antropomorfizados ameaçados pela seca no semiárido nordestino. Em Água é
para todos são os animais vitimados pelo desperdício de água que reivindicam sua
econômica por parte dos humanos. O mesmo ocorre nos dois episódios Consciente
Coletivo, em que animais “cobram” dos humanos mais respeito a partir da adoção de
práticas ambientalmente. Em Destimação é a relação entre animais de estimação e as
personagens humanas que movimenta a história sobre o tráfico de animais;
• Entidades sobrenaturais: Em Hainá, o Filtro uma bruxa detém a poluição atmosférica
de uma fábrica, instalando um filtro “ambiental”. Os Sustentáveis é protagonizado por
eco heróis que integram uma ONG vigilante e atuante diante dos mais diversos eco
poluidores. Em o Cangaceiro e o Leão um dragão desponta como personagem que
oferece uma explicação acerca das causas do aquecimento global.


204

Entre as animações da amostra, observamos que o antropomorfismo não é uma


estratégia predominante. Das 31 animações que apresentam personagens animais, 23 não
adotam representações antropomorfizadas dos mesmos. Nos demais casos, observados a luz
dos níveis de antropomorfização defendidos por Collignon (2008), identificamos que cinco
animações apresentam animais que interagem com humanos, usam seus artefatos e
manifestam hábitos sociais, enquanto três animações apresentam animais com comportamento
humano, mas em seus habitats naturais. Naquelas que apresentam a primeira abordagem, o
antropomorfismo favorece o diálogo entre personagens animais e humanos acerca das
problemáticas representadas. Na segunda perspectiva, quando prevalecem animais
representados em seus próprios habitats, o antropomorfismo configura uma voz da natureza
(WELLS, 2009) que denuncia seus abusos, como ocorre em Rap dos Bichos e Água é para
todos, por exemplo.
Também observamos representações estereotipadas de animais antropomorfizados, em
sintonia com a problemática ressaltada por Bliss (210): em A esperança é a última que morde
os urubus são estereotipados como animais sorrateiros, frios e aproveitadores; em Entrevista
com o Morcego, as personagens morcegos agem a partir de motivações humanas, e
transmissão da raiva é enquadrada enquanto manifestação de desejo de vingança; em Rap dos
Bichos diversos animais são representados, mas enquanto alguns, a exemplo do lobo guará e
da anta, buscam superar o estereotipo que permeia o senso comum (negando a construção de
lobo mau e de anta estúpida), alternativas não menos estereotipadas são desenvolvidas –
pavão como narcisista etc.
Quando observamos acerca do contexto espaço-temporal das narrativas das animações
da amostra, notamos que a maioria dos casos não se empenha em precisá-lo para além dos
mundos ficcionais, em termos de vinculação ao mundo real. Assim, considerando-se as
práticas sociais relacionadas, inferimos que prevalecem nas histórias eventos e questões
ambientais representativos do momento presente, mesmo quando as narrativas são fantasiosas,
como no caso de Hainá, o Filtro, Os Sustentáveis ou O Cangaceiro e o Leão. Na verdade,
todas as animações que representam diretamente problemas ambientais são histórias
contemporâneas, com exceção de Buba e o Aquecimento Global, cujo contexto é o do homem
pré-histórico, e O Rei Gastão, uma fábula sobre um reino antigo. Assim, histórias que
remontam a tempos passados são menos recorrentes na amostra, apresentadas mais
especificamente nas animações que retratam povos nativos em conflitos com a colonização
ocidental, ou nas adaptações de lendas e contos, a exemplo da Folha da Samaúma, A Lenda
da Árvore Sagrada e Tainá-Kan, A Grande Estrela.


205

Apesar de prevalecer uma “imprecisão” do contexto temporal nas narrativas,


observamos que algumas animações articulam implicações temporais entre os eventos
ambientais representados, seja relacionando-os enquanto consequências de ações no passado,
seja considerando suas consequências em eventos futuros. Entre os casos que apresentam
como causalidade eventos anteriores ao tempo da narrativa destacamos: A Esperança é a
última que morde, em que as personagens vivem o drama de um período de seca presente,
mas o reconhecem enquanto consequência de uma negligencia histórica sobre diversas
ocorrências passadas; no documentário animado A Princesa do Vale a exaltação de um
presente “glorioso” de um município cearense é representada como resultado de uma sucessão
histórica de conquistas e dominação da natureza e dos índios nativos por parte dos
colonizadores portugueses; em Entrevista com o Morcego a raiva desponta como uma ameaça
à saúde pública de populações urbanas no tempo presente, mas é contextualizada como
consequência de antigas interferências humanas no habitat dos morcegos. Nos casos em que a
narrativa considera implicações futuras de eventos presentes, enquadram-se, sobretudo,
animações que se apresentam como “campanhas” pela adoção de hábitos sustentáveis na
audiência, de forma a preservar as condições de vida do planeta. É o que observamos em O
Diário da Terra, Os Sustentáveis, Água é para todos, Rap dos Bichos, Gente Grande etc.
Sobre o contexto espacial das narrativas, observamos haver uma diversidade de
espaços e regiões ficcionais contempladas. Contudo, assim como observamos acerca do
tempo nas narrativas, prevalecem abordagens em que os espaços ficcionais não se fazem
claramente precisos em relação ao mundo físico e geográfico. Entre os diversos espaços
representados constam áreas florestais, interiores de residências urbanas, espaços urbanos
abertos, colônias de pescadores, praias, rios, ilhas, fábricas, rodovias, parques ecológicos,
regiões áridas etc, usualmente apresentadas de forma a sustentar uma abordagem generalizada
quanto à ocorrência dos problemas e fenômenos ambientais contemplados. Entre os espaços
que assumem maior precisão despontam o semiárido do estado do Ceará, o município de
Limoeiro, também no Ceará, a cidade de Amsterdam, na Holanda, a cidade de São Paulo, uma
floresta africana, a floresta Amazônica e o cerrado brasileiro.
Em linhas gerais, observamos que em 17 animações as narrativas contemplam
simultaneamente espaços urbanos e áreas naturais, em 12 delas apenas os espaços urbanos são
contemplados, nove se desenvolvem exclusivamente em espaços naturais, e, finalmente, duas
animações contemplam exclusivamente áreas rurais. Além disso, dada a marcante imprecisão
espaço-tempo das narrativas, observamos que a maior parte dos casos do corpus manifesta
características da primeira onda de animações ambientais ressaltada por Starosielski (2011),


206

em que problemas ambientais são representados de forma mais distante do cotidiano da


audiência, sem especificidade de lugar, apenas confinados aos espaços ficcionais.
Essa breve descrição dos principais elementos estruturantes das narrativas da amostra
- conflitos, personagens, espaço e tempo, cujas configurações particulares resultam em
coerência e sentido das enviro-toons, permite-nos apreender acerca das histórias ambientais
apresentadas, um dos objetivos cruciais desta pesquisa. Para tanto, apoiamo-nos inicialmente
nas categorias de narrativas ambientais animadas propostas por Heumann e Murray (2011), as
quais foram discutidas no capítulo anterior - Natureza como ameaça ao homem, Necessidade
de controle da intervenção humana no mundo natural e Denúncia de abuso na exploração da
natureza. Contudo, ao logo do processo de análise do corpus, novas categorias emergiram,
assim como se tornou necessário reconfigurar as categorias acima, de modo a torna-las mais
específicas. Dessa forma, identificamos sete principais “tipos” de histórias ambientais entre as
40 animações contempladas, conforme apresentado no quadro a seguir:

Tabela 04: Padrões de histórias ambientais nas enviro-toons.


PADRÃO DE HISTÓRIA AMBIENTAL DESCRIÇÃO
Natureza como adversidade ao homem Histórias em que eventos ou especificidades
ambientais apresentam-se como desafios às
personagens
Denúncia de abuso na exploração/intervenção no Histórias que enfatizam as consequências da
mundo natural degradação ambiental, seja decorrente da ação das
personagens, seja quando estas são vitimadas
Necessidade de controle da intervenção humana no Histórias que enfatizam a necessidade de minimizar
mundo natural (valorização da interdependência) a intervenção/exploração do mundo natural de
forma a assegurar a sobrevivência humana e
também das demais espécies
Necessidade de controle da intervenção humana no Histórias que enfatizam a necessidade de minimizar
mundo natural (assegurar sobrevivência humana) a intervenção/exploração do mundo natural
considerando-se exclusivamente a necessidade de
assegurar a sobrevivência humana
Necessidade de conquista do mundo natural (atender Histórias que enfatizam a necessidade de controle
necessidades humanas) humano sobre o mundo natural de forma a
assegurar a satisfação de suas necessidades
Valorização do Mundo Natural Histórias que manifestam contemplação ou
integração do homem com o mundo natural
Natureza como fenômeno Histórias que descrevem entidades, aspectos ou
eventos do mundo natural
Fonte: Elaborado pelo autor.

Convém destacar que esses tipos de histórias ambientais não são mutuamente
excludentes nas animações contempladas. Na verdade, observamos que, usualmente, cada
narrativa privilegia um tipo de história ambiental, contudo elas se mostram híbridas,


207

manifestando simultaneamente mais de um tipo de representação ambiental. Consideremos,


por exemplo, que algumas narrativas que se desenvolvem como uma história da natureza
como uma adversidade ao homem terminam por valorizar a necessidade de controle humano
sobre o mundo natural, outras apenas enfatizam seus impactos na vida humana. Outros casos,
em que as narrativas apresentam histórias que denunciam abuso na exploração do mundo
natural tanto pode haver uma ênfase na necessidade de controle dessa exploração em favor
da interdependência homem/natureza, ou apenas em favor da sobrevivência humana, como
também podem estar destituídas de sinalizações quanto à necessidade de controle. Da mesma
forma, narrativas que privilegiam histórias sobre a valorização do mundo natural podem
contemplar denúncias de abuso do mundo natural, suscitar a necessidade de sua conquista ou
simplesmente explorar aspectos dessa valorização.
Apesar do hibridismo de padrões de histórias ambientais no corpus, optamos por
classificá-lo a partir do padrão predominante. Assim, identificamos que quatro animações
enfatizam a natureza como adversidade ao homem, a denúncia de abuso na
exploração/intervenção do mundo natural é privilegiada em 19 casos, a necessidade de
controle da intervenção humana no mundo natural (valorização da interdependência) é
central em cinco casos, a necessidade de controle da intervenção humana no mundo natural
(assegurar sobrevivência humana) desponta em seis casos, a necessidade de conquista do
mundo natural (atender necessidades humanas) é ressaltada em 1 animação, a valorização da
natureza, em 4 casos e, em apenas 1 caso valoriza a natureza como fenômeno.
A partir desses tipos de histórias ambientais nas narrativas, passamos então a observar
acerca dos temas, dos seus enquadramentos e contextos em que são representados nas
animações, sejam elas “animações sobre o ambiente”, sejam “animações no ambiente”.
Conforme já mencionado anteriormente, a maior parte do corpus é formada por animações
que representam diretamente questões ambientais, uma vez que elas protagonizam os
conflitos principais das personagens, as quais contribuem para seu agravamento, são
vitimadas pela degradação, ou mesmo atuam para seu enfrentamento, inclusive suscitando
engajamento da audiência. E também sobre as animações em que as problemáticas ambientais
são indiretamente desenvolvidas ou se tornam secundárias, já ressaltamos que são
privilegiados conflitos de ordem não ambiental. Contudo, essas narrativas consideram, ainda
que de forma pontual, a influência/relação de eventos ambientais sobre as personagens – o
ambiente é coadjuvante. Diante dessa perspectiva, passamos então a observar a configuração
das histórias ambientais na amostra.


208

Na tabela a seguir, relacionamos temas, enquadramentos, contextos, modos de


problematização do ambiente (direto ou indireto) e suas resoluções nas animações cujo padrão
de história ambiental predominante é o da Natureza como adversidade ao homem.

Tabela 05: Temas ambientais, enquadramentos, animações, contextos, modo de problematização e


resolução das histórias em que predomina a Natureza como adversidade ao homem.
NATUREZA COMO ADVERSIDADE AO HOMEM
Tema Enquadramento Animação/Contexto Problematização/Resolução
Seca no Impõe desafios à A Esperança é a última que morde: Direta/Padecem diante da seca,
semiárido sobrevivência animal e Animais antropomorfizados lutam enquanto mantém viva a esperança em
nordestino humana pela sobrevivência em um contexto seu enfrentamento.
de seca extrema e lamentam pela
negligencia política sobre suas
condições.
Impõe desafios à Dia Estrelado: Uma família luta pela Indireta/A família padece frente às
sobrevivência humana sobrevivência em um contexto rural adversidades, sobretudo diante da fome.
de extrema pobreza, escassez de água
e de alimentos.
Vida Maria: A trajetória de vida de Indireta/Juntamente com a adversidade
menina que mora em uma climática, a problemática social persiste
propriedade familiar no semiárido e passa às meninas da geração seguinte.
nordestino é marcada pela
perpetuação da pobreza, do
analfabetismo, do trabalho infantil e
pela gravidez precoce e recorrente.
Chuva no Constitui um evento Dias de Sol: Pai e filho se deparam Indireta/Ambos transformam a chuva
espaço natural que afeta com o desafio de impedir que a em uma oportunidade econômica
urbano negativamente a chuva transforme a dinâmica social criativa – um ateliê de guarda-chuvas
dinâmica social da cidade em monotonia. customizados.
Fonte: Elaborado pelo autor.

O tipo de história ambiental apresentado no quadro anterior é predominante em quatro


animações do corpus, e, entre elas, dois temas ganham destaque nas representações. A seca no
semiárido nordestino é a temática principal em A esperança é a última que morde, Dia
Estrelado e Vida Maria, contudo apenas no primeiro caso sua problematização é diretamente
desenvolvida pela narrativa, uma vez que nos outros dois casos a seca é pano de fundo, um
contexto para conflitos de caráter social que enfatizam a fome, a miséria, o analfabetismo, a
gravidez precoce, entre outros. Há, portanto, nítidas diferenças de enquadramento desse tema,
pois Dia Estrelado e Vida Maria tratam exclusivamente de implicações da seca na vida
humana, enquanto A esperança é a última que morde contempla simultaneamente o drama
humano e animal, culminando, inclusive, com um segundo padrão de história ambiental, o da
Necessidade de controle da intervenção humana no mundo natural (valorização da
interdependência). Mas, em comum, essas três animações manifestam lamentação sobre
dramas ambientalmente relacionados: em A esperança é a última que morde animais padecem
diante da seca, reconhecem o sofrimento humano diante dessa problemática, denunciam o

209

descaso e a negligencia para seu enfrentamento, mas se empenham em manter viva a


esperança na sobrevivência, pois a seca pode ser “resolvida”; Dia Estrelado é uma história
que explora o drama de uma família em condições de pobreza absoluta e que culmina com a
fome extrema, um contexto que não é resolvido na narrativa; Vida Maria também segue essa
mesma perspectiva, explorando o drama da personagem ao longo de todo o seu ciclo de vida,
culminando com sua perpetuação nas gerações seguintes.
Acerca do tema chuva no espaço urbano, explorado em Dias de Sol, trata-se apenas de
um evento causal para o conflito particular de suas personagens. Nesse caso, a chuva não é
objeto de problematização na narrativa, ela simplesmente dispara a história que se inicia com
as personagens submetidas à monotonia de um dia chuvoso, que, assim como os demais
moradores da cidade, permanecem confinados ao interior de suas casas, impedidos de brincar
e transitar pelos espaços abertos etc, e que se desenvolve em torno do empenho de ambos em
superar esse contexto. Aqui a “adversidade ambiental” é enfrentada com otimismo, dada a
resolução do conflito da narrativa.
Em linhas gerais, parece apropriado reconhecer que Dia Estrelado, Vida Maria e Dias
de Sol são essencialmente animações sobre conflitos humanos que contemplam o
ambiente/eventos naturais como causalidade ou contexto. A esperança é a última que morde,
por sua vez, é uma animação que além de representar um fenômeno ambiental como
causalidade na narrativa, torna-o tema central, o problema (conflito) de seu desenvolvimento,
contemplado diretamente pelas personagens. Sob a perspectiva de Starosielski (2011), são
todas elas animações que manifestam aspectos da primeira onda de animações ambientais,
sobretudo pelo predomínio do lamento diante das problemáticas representadas, pela ênfase na
denúncia (ainda que indireta) e não na propositura de soluções, e também pela ausência de
especificação espaço-temporal.
Na tabela a seguir relacionamos as animações cujo padrão de história ambiental mais
evidente é o da Denúncia de abuso na exploração/intervenção do mundo natural.

Tabela 06: Temas ambientais, enquadramentos, animações, contextos, modo de problematização e


resolução das histórias sobre Denúncia de abuso na exploração/intervenção do mundo natural.
DENÚNCIA DE ABUSO NA EXPLORAÇÃO/INTERVENÇÃO DO MUNDO NATURAL
Tema Enquadramento Animação/Contexto Problematização/Resolução
Relação A escravização de A lenda da árvore sagrada: Uma Indireta/A escravização africana
Homem/Natureza povos nativos e o aldeia de nativos africanos é invadida sepultou sua cosmologia ambiental,
rompimento da por colonizadores que os escravizam mas despertou uma resistência
harmonia e se apropriam dos recursos naturais. histórica em busca da conquista da
homem/natureza liberdade africana.
A expansão das Pajerama: Um jovem índio Direta/A expansão da cidade sobre
cidades sobre o mundo testemunha o avanço das cidades o mundo natural é incontrolável e


210

natural e suas sobre a floresta em que habita. compromete por completo a vida
implicações para indígena e a própria natureza.
populações indígenas
Consumismo Estilos de vida Alegria de Macaco: Em Amsterdam, Direta/A cidade sofre uma
modernos e na Holanda, a sociedade deposita sua catástrofe ambiental (inundação)
degradação ambiental satisfação pessoal nas práticas de decorrente do excesso de resíduos
consumo, tornando-se alheia e descartados em seus canais.
vulnerável aos riscos ambientais
relacionados.
Consumidouro: O estilo de vida Direta/Seus hábitos resultam na
consumista de um jovem alienado degradação total do planeta.
que vive confinando em sua casa
(área rural) resulta diretamente em
sérios problemas ambientais.
Exploração de Apropriação irrestrita Escalada: Um grupo de “homens” Direta/O intenso consumo de
Recursos Naturais dos recursos naturais estabelece uma disputa pela recursos naturais leva ao
e o comprometimento construção do maior esgotamento do planeta.
da sustentabilidade do empreendimento, levando ao extremo
planeta o consumo de recursos naturais.
Filme Ilhado: Um náufrago anseia Indireta/O resgate não ocorre e a
por resgate, mas logo percebe que degradação ambiental avança e
todos estão alheios não somente à sua atinge a ilha em que se encontra o
necessidade, mas também à náufrago.
degradação ambiental.
Animais da floresta Eta Bicho Homem: Um grupo de Direta/A degradação culmina com
ameaçados pela homens, motivados por interesses sérias implicações à floresta e aos
intervenção humana econômicos, devasta uma floresta animais.
para extrair madeira e também para
se apropriar de espécies. animais
Desabrigados: Pecuaristas derrubam Direta/A degradação culmina com
uma floresta para ampliar a produção a expulsão dos animais que se
extensiva. refugiam nas poucas árvores
existentes.
O Rei Gastão: Um rei se apropria de Direta/Depois de profundas
uma diversidade de recursos naturais interferências o rei se solidariza aos
para construir o seu castelo e o seu animais vitimados, acolhendo-os
reino, afetando a vida de diversos enquanto restaura o ambiente ao
animais e transformando estágio inicial.
drasticamente a paisagem.
Animais do cerrado Rap dos Bichos: Diversos animais do Direta/A degradação se intensifica
brasileiro ameaçados cerrado denunciam os impactos da e ameaça de extinção os animais
pela intervenção intensa degradação do bioma, além apresentados. A audiência é
humana no bioma de sua própria extinção. alertada acerca do ritmo e das
consequências da devastação.
Animais e povos Mapinguari, O Protetor da Floresta: Direta/As lágrimas do Mapinguari
indígenas ameaçados Um grupo de homens interfere na se transformam em chuva e
pela intervenção na dinâmica de uma floresta, derrubando recompõem a natureza de toda a
floresta árvores, realizando queimadas, destruição.
caçando animais, contaminando rios
e ameaçando índios, deixando triste o
Mapinguari – uma criatura protetora
da floresta.
Equilíbrio A intervenção humana Entrevista com o morcego: Um velho Direta/Com a destruição de seu
Ecológico no mundo natural morcego concede uma entrevista em habitat os morcegos migraram para
afeta drasticamente o que relata as consequências da as cidades e passaram a constituir
equilíbrio ecológico e intervenção (inundação de cavernas um problema de saúda pública – a
resulta em ameaça à para criação de barragens) humana raiva.
saúde humana em seu habitat.
Animais de A comercialização de Destimação: Uma criança, ansiosa Direta/Ao descobrir sobre os maus
Estimação animais de estimação por possuir um animal de estimação tratos dos animais comercializados
incorre em maus se decepciona com a experiência em pet shops, termina por adotar
tratos aos mesmos vivida quando do aprisionamento de um cão abandonado.
papagaio que apareceu em sua casa, e


211

quando se depara com o contexto de


maus tratos de animais
comercializados em pet shops.
Descarte e O descarte irregular Fundo: Uma sacola plástica viaja Direta/A sacola termina sua
lançamento de de sacolas pela terra, pelo ar e pelo mar, trajetória no mar.
resíduos descartáveis como ameaçando uma diversidade de
ameaça à vida animais.
marinha
A urbanização e a Peixe: Um antigo morador rememora Direta/Com a expansão da cidade o
promoção da morte os tempos de abundância e vitalidade rio urbano fora completamente
dos rios urbanos de um rio da região metropolitana de transformado em esgoto.
São Paulo, ressaltando as
possibilidades de recreação, pescaria
e a sua biodiversidade.
Aquecimento Global Aquecimento global O cangaceiro e o leão: Um garoto Direta/A criança descobre acerca
como problema embarca, juntamente com seu avô, das causas do problema
antropogênico em uma aventura (fantasia) para (aquecimento do planeta), da
depende da ciência realizar uma tarefa escolar sobre o importância da atuação dos
para seu aquecimento global. cientistas para seu enfrentamento,
enfrentamento além da necessidade de seu próprio
engajamento no cuidado das
árvores.
O aquecimento global O Diário da Terra: Uma menina Direta/A criança aponta várias das
é um fenômeno relata sua preocupação com as causas do fenômeno e alerta que o
antropogênico e mudanças climáticas destacando seus planeta está em vias de destruição.
ameaça a vida do efeitos sobre seu dia a dia.
planeta
Sociedades Inviáveis As sociedades O Menino e o Mundo: Um menino Indireta/A criança percebe as
industrializadas e suas vive uma jornada em busca de seu transformações do mundo e
consequências pai, abandonando a vida no campo, testemunha a degradação do
ecológicas marcada por seu envolvimento com o ambiente como ápice da crise do
mundo natural, em direção à cidade. mundo globalizado, termina por
Ao longo desse percurso se depara “retornar” ao campo, tempos
com o mundo moderno, permeado depois, e reviver suas lembranças
pelas máquinas e também por uma de infância.
diversidade de problemas, inclusive
ecológicos.
Antropocentrismo e Perfeito: Uma criatura Indireta/Durante a transformação
comprometimento da (antropomorfizada) transforma do espaço surgem consequências
integridade do planeta incessantemente o espaço ao seu que são ignoradas, mas acabam
redor de forma a satisfazer seus comprometendo a existência da
interesses. própria criatura.
Fonte: Elaborado pelo autor.

Embora tenhamos identificado que essa categoria de história ambiental marcada pela
Denúncia de abuso na exploração/intervenção do mundo natural ocorre em 21 animações da
amostra, ele somente é central em 19 desses casos, cujas histórias contemplam denúncias
sobre oito temas principais: relação homem/natureza; consumismo; exploração de recursos
naturais; equilíbrio ecológico; animais de estimação; descarte e lançamento de resíduos;
aquecimento global; sociedades inviáveis.
A exploração de recursos naturais é o tema mais recorrente, contemplado por sete
animações. Em duas delas o enquadramento é sobre a insustentabilidade do planeta a partir de
uma perspectiva apocalíptica que enfatiza a irresponsabilidade humana em sua incessante


212

necessidade por recursos naturais. Mas, ambas as denúncias retratam apenas as implicações
da degradação ambiental no mundo social: Escalada trata dessa problemática de forma direta,
quando as duas personagens levam o planeta a exaustão completa, ao colapso; Filme Ilhado
pulveriza a degradação ambiental ao longo de sua narrativa, tratando-a de forma indireta e
secundária, quando enfatiza como conflito principal um náufrago em busca de resgate, mas
que é sempre preterido quando seus possíveis salvadores estão mais preocupados com seus
interesses por recursos naturais.
As demais cinco animações que contemplam a temática da exploração de recursos
naturais são lamentos sobre a exploração de recursos naturais em determinados biomas, com
ênfase no drama da vida animal: Desabrigados denuncia o avanço da pecuária extensiva
sobre a floresta, representando animais acuados na pequena área restante; contexto que
assume um tom apocalíptico em Eta Bicho Homem, quando não restam alternativas aos
poucos animais sobreviventes; mas é representado de forma otimista em Mapinguari, o
protetor da floresta, quando essa lendária criatura sobrenatural expulsa os madeireiros e
reverte toda a degradação do ambiente em favor dos animais e da tribo indígena outrora
ameaçados; e também em O Rei Gastão, quando após interferir drasticamente na floresta,
derrubando árvores, alterando cursos de rio, removendo montanhas, entre outras
interferências para a viabilizar a criação do seu castelo, o rei é sensibilizado pelos animais por
ele vitimados, passando então a renunciar (parcialmente) do seu projeto pessoal para
recuperar a floresta e proteger os animais; em o Rap dos Bichos o bioma representado é o
cerrado, e são os próprios animais da fauna local que denunciam a iminência de sua extinção,
prenunciando o futuro apocalíptico que os aguarda.
Entre essas animações que denunciam a exploração de recursos naturais identificamos
apenas características das enviro-toons da primeira onda destacada por Starosielski (2011),
dentre elas: crítica ao capitalismo, que desponta como oposição ao ambiente (indústria
madeireira, pecuária etc); o reconhecimento do ambiente como sendo dotado de vida própria e
de interações; a ênfase em denúncias destituídas de propostas de solução para as mesmas (em
Mapinguari a recuperação da floresta decorre de magia, embora em O Rei Gastão a mudança
na sensibilidade seja apresentada); o predomínio do tom de lamento; a centralidade na questão
da derrubada de florestas; a ausência de especificação espaço-tempo.
Denúncias sobre a opressão de povos nativos e suas implicações no comprometimento
de relações harmoniosas com mundo natural (e de sua própria integridade) são apresentadas
por duas animações. Em A lenda da árvore sagrada o drama da escravização de antigas tribos
africanas é a questão central da narrativa, que, de forma secundária, revela a harmonia, o


213

respeito e a integração desses povos em relação mundo natural, uma perspectiva totalmente
oposta a dos colonizadores ocidentais, representados em sua avidez por recursos naturais e
pela mão de obra escrava. Mas, nesse caso, a lamentação assume um tom otimista,
valorizando a capacidade de resistência das gerações africanas descendentes desses escravos
de reconquistar sua liberdade e sua integração com o ambiente. Quanto à segunda animação
que apresenta essa temática, Pajerama a problematiza de forma mais direta, retratando, sob a
ótica de um jovem índio, os impactos do crescimento espacial e avassalador da cidade
(inferimos tratar-se da cidade de São Paulo), denunciado em sua franca insensibilidade
perante o mundo natural, transformado em função dessa intensa demanda por espaços e por
recursos naturais que ignora e compromete a vida indígena, também representada como
ambientalmente harmoniosa. Em Pajerama o tom da denúncia é apocalíptico quanto às
possibilidades de permanência tanto dos indígenas, quanto do mundo natural. Assim como as
animações da temática anteriormente discutida, essas duas animações apresentam uma clara
vinculação com a primeira onda das animações ambientais apresentada por Starosielski
(2011): uma forte ênfase no capitalismo e na tecnologia como oposição ao ambiente; o tom de
lamento; a denúncia destituída de solução; a ênfase na poluição e na derrubada das florestas; a
representação de transformações do ambiente; seu reconhecimento como dotado de vida
própria.
O consumismo é outro tema contemplado pelas animações com histórias que
denunciam a exploração/intervenção humana no mundo natural. Duas animações da amostra
privilegiam essa temática, e, apesar de compartilharem o tom apocalíptico em suas narrativas,
apresentam enfoques bastante diferentes: Em Alegria de macaco as personagens vivem em
espaço urbano (Amsterdam) e apesar de haver um protagonista, é a população da cidade que
se faz representada enquanto consumidores alienados, seduzidos pelos estímulos publicitários
que anunciam a chegada de um produto (fictício) recém-lançado. Na narrativa, tanto o ciclo
de obsolescência quanto o lançamento de sucessivas versões desse produto são
intencionalmente dramatizados (aceleração temporal), sobretudo para acentuar o rápido
acúmulo de material descartado (em favor da aquisição de novas versões) que obstrui os
canais da cidade e provoca uma catástrofe ecológica – a inundação total de Amsterdam;
Consumidouro, por sua vez, apresenta uma narrativa menos precisa em termos espaço-
temporais, mas que encadeia uma sucessão de impactos ambientais, locais e globais,
diretamente com as práticas de consumo de uma única personagem. Assim, a narrativa apela
para o exagero, dramatizando as transformações do ambiente em termos temporais, tratando
diversas questões ambientais enquanto eventos instantâneos, ao invés de processos


214

cumulativos. Nesse caso, é importante destacar que as implicações da degradação do


ambiente são representadas não apenas no contexto da vida humana, mas também sobre
diversas entidades do mundo natural, além de apresentar uma aproximação com as
sinalizações de Giddens (1991) acerca da globalização – eventos locais resultam em
degradação de ambientes geograficamente afastados.
Nesses dois casos, identificamos aspectos das três ondas das animações ambientais
observadas por Starosielski (2011): da primeira fase temos a tecnologia e o capitalismo como
oposição ao ambiente, a ênfase em sua transformação, o privilégio pelo denúncia ao invés da
solução, sobretudo em Consumidouro; da segunda fase os problemas ambientais são
apresentados mais próximos do mundo real, como em Alegria de Macaco, mas também pelo
exagero na transformação do ambiente; da terceira onda, destaca-se a diversidade de temas,
que vão desde a derrubada de florestas até as mudanças climáticas, como ocorre em
Consumidouro.
Duas animações apresentam histórias que denunciam o descarte e o lançamento
irregular de resíduos no meio ambiente, mas são distintos os enquadramentos: impactos
ambientais decorrentes de sacolas descartáveis; e a morte de um rio em consequência da
intensa urbanização. Fundo é uma animação experimental desprovida de personagens, mas
que desenvolve um registro visual da trajetória de uma sacola plástica que viaja através do
mundo natural. A animação explora o alcance da sacola em seu movimento pelo ar, pela terra
e pelo mar, destacando a possibilidade de atingir uma diversidade de animais. Nesse caso, a
problematização da questão é sutil, embora central, e o risco apesar de iminente não se
concretiza, trata-se apenas de um alerta. Peixe, por sua vez, assume um tom apocalíptico ao
retratar a morte de um rio urbano em consequência da urbanização acelerada e do intenso
lançamento de esgoto doméstico. Sua narrativa abriga um depoimento nostálgico de um
antigo morador de uma região não especificada da cidade de São Paulo que apresenta
histórias de sua infância, quando o rio se mostrava vigoroso, favorecendo atividades de
recreação e a pescaria. Trata-se, portanto, de um duplo lamento, pela morte do rio, e pela a
impossibilidade de interação homem/ambiente. A filiação dessas duas animações à primeira
fase proposta por Starosielski (2011) também se faz clara: a primazia do tom de lamento; a
industrialização como sinônimo de poluição (embora representada de forma indireta a partir
do esgoto e da sacola plástica); a ênfase na denúncia; e a generalização espaço-temporal.
Denúncias de caráter mais geral acerca da inviabilidade das sociedades modernas são
centrais nas histórias apresentadas por duas animações, havendo também entre elas diferenças
sensíveis nas abordagens. No caso de Perfeito a única personagem, uma espécie de escultor


215

constituído de madeira, se utiliza de ferramentas para esculpir um dos blocos de madeira que
compõe o seu mundo, delimitado por pequeno plano que lhe sustenta. Contudo, como sua
obra não consegue atender as suas expectativas, o trabalho persiste e se torna cada vez mais
intenso, produzido, como efeito colateral, a destruição quase que por completo de sua base de
sustentação. Trata-se de uma representação simbólica, e também subjetiva, da condição
humana no planeta, com uma perspectiva apocalíptica sobre o intenso consumo de recursos
naturais que orienta um projeto antropocêntrico. Nesse caso, as motivações da personagem
são subjetivas, e a degradação ambiental também é simbólica, desprovida de solução, apenas
empenhada em estabelecer uma denúncia. No caso de O Menino e o Mundo, único longa
metragem da amostra, a narrativa é reveladora das transformações das sociedades agrárias em
industriais, expostas através da jornada da personagem central, uma criança em busca de seu
pai que abandonara o campo e a família em busca de oportunidades na cidade. Na narrativa da
animação, realismo e fantasia se alternam no empenho por contextualizar o conflito pessoal
da personagem central com os mais diversos conflitos sociais que caracterizam e denunciam
uma sociedade intensamente globalizada. O longa é, acima de tudo, um denúncia da
inviabilidade social da vida moderna, testemunhada pela criança em seu jornada pessoal.
Assim, tecnologia, capital e máquinas são traduzidos à luz do desemprego, das precárias
condições de vida, do consumo, da opressão da classe trabalhadora, da perda da subjetividade
e, finalmente, culminam com a crise ecológica. Nesse sentido, apesar do tom apocalíptico
quando da representação da cidade e suas instituições, observamos uma valorização do
mundo rural para o qual se refugia novamente o “menino” no sentido de realimentar suas
esperanças. Na história, a inviabilidade da sociedade encontra solução na reinserção do
homem com o mundo natural, manifestando simultaneamente uma denúncia heideggeriana do
ataque da tecnologia e da ciência ao mundo natural, e também sua valorização enquanto fonte
de bondade, nos termos rousseaneano. De forma geral, são nitidamente duas animações que
herdam aspectos essenciais da primeira onda de enviro-toons: a forte crítica ao capital e à
tecnologia; o lamento; a denúncia; a ausência de solução.
Curiosamente, apenas duas animações privilegiam histórias empenhadas em denunciar
a ação humana enquanto causalidade do aquecimento global, principal agenda do debate
ambiental atual, sobretudo no contexto das mudanças climáticas. Esses dois casos
problematizam diretamente essa questão denunciando a responsabilidade humana, contudo,
diferentes enfoques são privilegiados: Em O Cangaceiro e o Leão o aquecimento global é
inicialmente contextualizado como problemática ambiental central na agenda pública, cujos
efeitos se estendem por todo o planeta, mas que se encontra em vias de resolução. Na


216

narrativa, sua exploração ocorre no âmbito da tarefa escolar a ser desenvolvida pela
personagem central, uma criança. Contudo, a narrativa assume um tom de fantasia, traduzindo
para a audiência o imaginário da personagem em que um dragão é inicialmente
responsabilizado pela onda de calor na cidade, mas termina por revelar o homem como
origem do fenômeno, intimando assim o garoto a cuidar do meio ambiente. Nesse caso, a
personagem é representada como causa do problema e também como parte essencial para sua
solução, embora as motivações apresentadas sejam todas elas doutrinadoras; O Diário da
Terra é uma animação experimental, e, assim como no caso anterior, também se utiliza de
uma personagem criança para denunciar as causas e consequências do aquecimento global.
Contudo, nessa animação a criança não é responsabilizada pelo problema ambiental, mas
apresentada como vítima do mesmo. Além disso, a problemática se faz próxima do seu
mundo, uma vez que ela relata mudanças em seu cotidiano diretamente relacionadas às
mudanças climáticas em seus mais diversos eventos e não somente relacionados ao
aquecimento do clima. Nesse caso, a denúncia também assume um caráter mais geral, pois
embora direcionada à produção industrial não apresenta as motivações que orientam essa
produção. Contudo, apesar de tratar o problema com uma maior abrangência, apenas impactos
sobre a vida humana são ponderados, sobretudo em um tom apocalíptico. Ambos os casos
também são filiados à primeira fase das envirotoons, pois manifestam críticas gerais ao
capitalismo, enfatizam a poluição e a derrubada de florestas e o tom de lamento. Contudo, o
fazem a partir de uma temática maior, o aquecimento global, somente apresentada em enviro-
toons da terciara onda, conforme Starosielski (2011).
Finalmente, os dois últimos casos de animações que manifestam denúncias acerca da
intervenção humana no ambiente o fazem a partir do enquadramento da temática dos animais
de estimação e do equilíbrio ecológico. Em Destimação a problemática é contextualizada a
partir do desejo de uma criança solitária, que vive com seu pai em um pequeno apartamento,
por possuir um animal de estimação. Contando apenas com envolvimentos simbólicos com o
mundo natural, mediados pelos programas de televisão, suas primeiras experiências diretas
com animais são frustrantes. Primeiro quando se apropria de um papagaio perdido que,
aprisionado em uma gaiola, manifesta pouca interação. Em seguida, quando tenta adquirir um
animal em uma pet shop, descobre o sofrimento decorrente das péssimas condições que são
submetidos. Dessa forma, a animação é um lamento sobre o drama dos animais, seja quando
representa as dificuldades de readaptação do papagaio ao mundo natural, seja quando retrata o
sofrimento, a morte e o abandono de vários outros animais destinados à comercialização.


217

Contudo, a narrativa é resolvida de forma otimista, quando a criança adota um cão


abandonado.
Quanto ao tema do equilíbrio ecológico, representado em Entrevista com o morcego,
observamos que nesse caso é a própria natureza quem denuncia a intervenção humana no
mundo natural. Nessa animação, cuja narrativa é protagonizada por um morcego
antropomorfizado, a história é contada sob a forma de uma entrevista concedida pelo mesmo,
que estabelece um resgate histórico do processo de transformação do seu habitat quando da
construção de uma usina hidrelétrica que inundou diversas cavernas da região. Na verdade, a
narrativa sobrepõe duas histórias paralelas que convergem para as implicações da quebra do
equilíbrio ecológico para a saúde humana, especificamente a proliferação de casos de raiva: a
história central é o drama particular do morcego e também de outros indivíduos de sua
espécie, na verdade um lamento rancoroso que explica a transmissão da raiva como um ato
vingativo da natureza; a segunda história estabelece um enfoque científico acerca dos
morcegos, em que uma personagem que é cientista explica acerca das características, da
diversidade e também sobre as condições em que os morcegos podem constituir riscos à saúde
humana. Nesse caso, apesar de a natureza ganhar “voz” na narrativa, a problemática é
resolvida a partir da atribuição de motivações humanas (vingança) aos animais
antropomorfizados.
Ambos os filmes abordam problemas ambientais mais próximos do mundo real, mas
Destimação parece mais vinculado às enviro-toons da segunda onda, sobretudo por apresentar
solução para a problemática representada (a adoção de animais). No caso de Entrevista com o
Morcego, dada a ênfase na tecnologia e na industrialização como “oposição” ao meio
ambiente, a primeira fase se faz mais influente.
Na tabela a seguir sistematizamos as animações cujas histórias se empenham em
ressaltar a necessidade de controle da intervenção humana no mundo natural a partir da
valorização da interdependência homem/natureza.

Tabela 07: Temas ambientais, enquadramentos, animações, contextos, modo de problematização e resolução das
histórias que enfatizam a Necessidade de controle da intervenção humana no mundo natural (valorização da
interdependência).

NECESSIDADE DE CONTROLE DA INTERVENÇÃO HUMANA NO MUNDO NATURAL (VALORIZAÇÃO


DA INTERDEPENDÊNCIA)
Tema Enquadramento Animação/Contexto Problematização/Resolução
Adoção de A necessidade de Água é para todos: Durante um banho Direta/Animais interpelam o
hábitos economizar água de prolongado um homem desperdiça água homem que passa a evitar o
sustentáveis forma a compatibilizar e afeta o nível de água de um rio desperdício, o nível do rio é
necessidades humanas e próximo comprometendo seu uso por prontamente restaurado. A
animais vários animais. audiência é requisitada a


218

economizar água.
O Aquecimento Global Consciente Coletivo-Aquecimento Direta/Orientado pelo narrador, o
enfrentado a partir de Global: Os hábitos alimentares de um personagem modifica seus hábitos
mudanças nas hábitos jovem (e da população em geral) são de consumo de forma a contribuir
alimentares relacionados à promoção do para o enfrentamento do
aquecimento global. aquecimento global.
A reciclagem de Consciente Coletivo-Resíduos: Os Direta/Orientado pelo narrador, a
embalagens hábitos de consumo de um jovem (e da personagem modifica seus hábitos
descartáveis como população em geral) são relacionados de descarte de embalagens, sendo
forma de assegurar a ao intenso descarte irregular de resíduos ainda encorajado pela tartaruga
qualidade de vida inorgânicos no mundo natural com
humana e a integridade impacto direto na vida das tartarugas
de espécies marinhas marinhas.
O Aquecimento Global Buba e o Aquecimento Global: Na era Direta/A concentração de metano
como ameaça a vida na pré-histórica um homem e seu eleva a temperatura e ambos são
Terra deve ser dinossauro de “estimação” se divertem pulverizados com o calor, mas
combatido com a com suas “emissões” de metano que permanecem vivos e seguem
participação de todos terminam por elevar a temperatura do “poluindo” .
planeta.
Direito dos A construção de Tamanduabandeira: Um tamanduá Indireta/Ao acordar do seu sonho, o
Animais estradas em áreas bandeira sonha enfrentar os desafios tamanduá atravessa a estrada
silvestres deve para atravessar uma rodovia para ir ao tranquilamente pela passagem
considerar mecanismos encontro de sua parceira. subterrânea existente.
que assegurem a
integridade dos animais
Fonte: Elaborado pelo autor.

As animações que privilegiam histórias ambientais que destacam essa perspectiva de


necessidade de mudanças na intervenção humana no ambiente contemplam duas grandes
temáticas: a adoção de hábitos sustentáveis (personagens/audiência); a necessidade de
internalização dos direitos dos animais nos projetos de transformação do ambiente.
Entre as quatro animações relacionadas à adoção/promoção de hábitos sustentáveis
pelas personagens/cidadãos, o tom das abordagens é marcado pelo otimismo quanto aos
resultados e as possibilidades de mudanças a partir das propostas apresentadas.
Duas dessas animações enquadram suas personagens no contexto da problemática do
aquecimento global: Buba e o Aquecimento Global, cuja narrativa é descontextualizada em
relação à situação real da questão, apresenta um narrador explicando, de forma simplista,
sobre a dinâmica do aquecimento global, mas exclusivamente em termos físico-químico e
com foco no gás metano, sem apresentar causas e consequências relacionadas às práticas
sociais vigentes. Nesse caso, o filme explora a recorrente flatulência de um homem pré-
histórico e seu dinossauro de “estimação” de forma a ilustrar o fenômeno de forma cômica,
negligenciando, portanto, acerca de motivações e consequências iminentes. A narrativa
culmina com a rápida elevação da temperatura da região, consequentemente, com
desintegração de ambas as personagens, que mesmo reduzidas a pó permanecem vivas e
“atuantes”. A partir dessa resolução do conflito, o narrador convoca a audiência a proteger


219

toda a vida do planeta e a combater o aquecimento global; no episódio Aquecimento Global,


da série Consciente Coletivo, o contexto dessa problemática ambiental é mais preciso e atual,
e sua abordagem é predominantemente documental e argumentativa. Aqui também há um
narrador descrevendo o aquecimento global, mas ao invés de um enfoque físico-químico,
enfatiza sua dimensão social, especificamente no âmbito da pecuária extensiva. Na animação,
a problemática ambiental é apresentada como consequência direta de hábitos alimentares
socialmente legitimados, ilustrada a partir de sua personagem central, um jovem consumidor
de carne. Nesse episódio a narração é um elemento diegêtico, pois seu narrador integra o
mundo da trama e alcança tanto a audiência quanto a personagem, que demonstra, ao final da
narrativa, compreender a explicação apresentada (a dependência humana e dos demais
animais em relação ao ambiente) passando a empenhar-se pela redução do seu consumo de
carne bovina.
De forma geral, é nítida a diferença quanto às alternativas e ao engajamento propostos,
pois enquanto Buba e o aquecimento global se mostra apenas doutrinadora, sem qualquer tipo
de orientação pragmática consistente, Consciente Coletivo estabelece um conexão entre a
audiência e problemática, apontando caminhos específicos para o enfrentamento.
Ainda sobre a temática dos hábitos sustentáveis, o enquadramento da economia de
água é observado na animação Água é para todos, uma curta vinheta que expõe a dependência
dos homens e dos animais em relação à água. Nesse caso, a abordagem recorre ao exagero
como elemento de dramaticidade, amplificando a causalidade do banho da personagem, cuja
implicação é a drástica e instantânea redução do nível de água de um lago, afetando,
consequentemente, a vida de vários animais ai presentes. Além de apelar para o exagero, a
animação também recorre à surpresa da audiência, quando são os próprios animais que se
manifestam e interpelam o homem, reivindicando economia de água. Nessa narrativa, o
otimismo é marcante, pois não somente o homem muda facilmente seus hábitos de banho,
como também o nível do lago é prontamente restaurado.
O episódio Resíduos, também da série Consciente Coletivo, completa o grupo de
animações dessa temática, enfatizando a necessidade de enfrentamento da problemática
relacionada ao descarte irregular de embalagens recicláveis. Nesse episódio, a estrutura
narrativa é similar aquela anteriormente observada, contudo o narrador explica acerca dos
hábitos do consumo da personagem (o mesmo jovem do episódio anterior), enfatizando a
excessiva quantidade de embalagens que ele (e toda a sociedade) adquiri e descarta no
ambiente, considerando, sobretudo, suas implicações para a vida de uma tartaruga marinha.
Torna-se evidente o lamento do narrador quando desenvolve um panorama histórico da


220

problemática no contexto da evolução humana, mas é o otimismo que prevalece, tanto para a
personagem quanto para audiência, uma vez que a reciclagem de embalagens é apresentada
como solução definitiva. Aqui também a personagem demonstra compreender a explicação do
narrador, aceitando sua chamada para um engajamento e enfrentamento da problemática,
sobretudo quando a natureza também se faz vigilante, pois, ao final da narrativa, a tartaruga,
outrora ameaçada, o interpela no espaço urbano, entregando-lhe uma sacola de uso
permanente.
Tamanduabandeira destoa das demais animações dessa categoria de história
ambiental, não apenas em função da temática abordada, mas porque busca representar
exclusivamente o ponto de vista da natureza como argumento para reivindicar mudanças na
intervenção humana sobre o ambiente. Seu contexto é bastante peculiar e retrata, de forma
cômica, a vulnerabilidade de um tamanduá-bandeira (parcialmente antropomorfizado) quando
este necessita atravessar uma estrada rodoviária que corta o seu habitat. Nesse caso, a
abordagem também é otimista e a estratégia da narrativa é embutir a problemática no plano do
imaginário da personagem, surpreendendo a audiência, que, somente ao final da animação
descobre tratar-se apenas de um sonho do tamanduá. Assim, ao acordar ele revela à audiência
que essa problemática já fora resolvida, dada a existência de um túnel que permite sua
passagem de forma segura. A animação expõe, ainda que de forma secundária na narrativa, a
possibilidade de compatibilização dos interesses humanas com os direitos dos animais,
quando do compartilhamento de um mesmo ambiente, nesse caso a floresta.
As cinco animações que valorizam a interdependência entre homem e mundo natural
que observamos anteriormente são todas elas vinculadas à segunda onda de enviro-toons,
conforme Starosielski (2011) uma vez que ambas manifestam otimismo quanto às
possibilidades de mudanças na intervenção humana, enfatizam a necessidade de participação
social nesse processo, sobretudo apresentando um chamado para envolvimento pragmático da
audiência, além de situarem as problemáticas de forma mais próximas da vida real.
Evidentemente, em Buba e o Aquecimento Global essas características são menos evidentes,
dado ao seu caráter doutrinador e pouco realista sobre a questão.
As seis animações cujas histórias ressaltam a necessidade de controle da intervenção
humana no mundo natural considerando exclusivamente a necessidade de assegurar a
sobrevivência humana são sistematizadas na tabela a seguir.


221

Tabela 08: Temas ambientais, enquadramentos, animações, contextos, modo de problematização e resolução das
histórias que valorizam a Necessidade de controle da intervenção humana no mundo natural para assegurar
exclusivamente a sobrevivência humana.

NECESSIDADE DE CONTROLE DA INTERVENÇÃO HUMANA NO MUNDO NATURAL (ASSEGURAR A


SOBREVIVÊNCIA HUMANA)
Tema Enquadramento Animação/Contexto Problematização/Resolução
Adoção de A água como essência Essência: Uma criatura Direta/Quando finalmente encontra
Hábitos da vida humana antropomorfizada procura água ela a despeja em um jarro com
Sustentáveis desesperadamente por água no interior uma planta de forma a restaurar a
de uma residência. natureza, mas, sobretudo, para
garantir sua própria sobrevivência.
A sustentabilidade do Gente Grande: Uma menina adota uma Direta/As pessoas do seu convívio
planeta assegurada série de hábitos sustentáveis, não abandonam seus hábitos, mas a
pelas atitudes das “consertando” as posturas garota promete cuidar do mundo
crianças ambientalmente insustentáveis de sua por eles.
família e de sua vizinhança.
O descarte de pilhas no Não fique Pilhado: Pessoas, em Direta/As substâncias químicas das
meio ambiente e o diversos contextos sociais, descartam pilhas ingressam na cadeia
comprometimento da diretamente no ambiente pilhas alimentar e contaminam todas as
saúde humana retiradas dos seus aparelhos eletrônicos, pessoas. A reciclagem é proposta à
contaminando água, solo e animais, e audiência.
também a si mesmas.
O desperdício de Os Sustentáveis: Eco heróis enfrentam Direta/Os eco vilões são facilmente
energia elétrica, de três eco vilões sobrenaturais que derrotados, mas os humanos ainda
água e o uso excessivo ameaçam os ecossistemas, mas também são negligentes no cuidado do
de embalagens enfrentam os humanos que descuidam planeta.
descartáveis como do planeta.
ameaça ao planeta
Soluções Adoção de filtros para Haina-O filtro: A fumaça da chaminé Direta/A bruxa instala um filtro
Sustentáveis combater a poluição de uma fábrica atinge a casa de uma colorido na chaminé da fábrica que
para a produção industrial da atmosfera bruxa situada em uma colina do logo deixa de emitir fumaça e passa
industrial entorno. a irradiar flores coloridas.
Garantia das A qualidade futura do O Jardineiro-com Feliciano esperança: Indireta/O jardineiro assegura com
Gerações planeta depende das Um jardineiro segue plantando flores ao suas flores a integridade do planeta.
Futuras ações do homem no longo do planeta.
presente
Fonte: Elaborado pelo autor.

Nessa categoria de histórias ambientais identificamos três grandes temáticas: a


necessidade de adoção de hábitos sustentáveis por partes dos indivíduos; a necessidade de
internalização de soluções ambientalmente favoráveis no contexto da produção industrial; a
garantia do ambiente para as gerações futuras.
Quatro dessas animações ressaltam necessidades de adoção de hábitos sustentáveis por
parte dos indivíduos, sendo três marcadas pelo otimismo quanto aos resultados das propostas
apresentadas nas narrativas, e uma delas manifestando um lamento acerca da escassez de água.
Os enfoques e os contextos são bastante diferentes: Em Gente Grande, o protagonismo é
exercido por uma garotinha que assume para si a responsabilidade de cuidar do planeta e
assegurar o futuro de todos os humanos. Para tanto, ela se põe vigilante e não hesita em agir
mesmo quando todos a sua volta persistem desperdiçando água, energia e descartando
resíduos de forma irregular. A história supervaloriza o poder ambiental das ações cotidianas


222

da criança, ao mesmo tempo que revela que sua atitude parece pouco influenciar sua
vizinhança e mesmo seus familiares. Nesse caso, ressalta-se que mais importa agir do que
esperar pelos outros; Não fique pilhado enfatiza a necessidade de combate ao descarte
irregular de pilhas, sobretudo valorizando as implicações dessa prática à saúde humana. Na
verdade, a animação é uma justaposição de situações diversas envolvendo personagens que
contribuem para essa problemática. Embora represente a contaminação química atingindo
diversos animais, a questão central é o ingresso dessas substâncias tóxicas na cadeia alimentar,
mais especificamente do seu retorno para o próprio homem, quando do consumo de alimentos
contaminados. No filme essa contaminação é simbólica, representada através da substituição
das pupilas de personagens contaminados por sinais de cargas elétricas (positivo e negativo).
Notamos, portanto, que a narrativa não problematiza verdadeiramente acerca das
consequências e dos efeitos da contaminação química nos humanos, embora acentue sua
rápida proliferação ao longo da cadeia alimentar – uma alusão ao texto Primavera Silenciosa,
de Rachel Carson, e culmine com um chamado pragmático da audiência para reciclar suas
pilhas usadas.
Os Sustentáveis é, na verdade, uma vinheta de apresentação de seus protagonistas, três
eco heróis que integram uma ONG fictícia empenhada em salvar o planeta. A narrativa
assume, em um primeiro momento, uma abordagem fantasiosa, em que criaturas sobrenaturais
despontam como vilões responsáveis pela degradação do planeta, embora desprovidos de
motivações claras que orientem suas atitudes. Na animação, até mesmo fenômenos climáticos
como o El Niño e La Niña são antropomorfizados e vilanizados, imbuídos de interesses
destruidores da Terra. Contudo, a narrativa rapidamente assume uma virada logo após a
derrota dos eco vilões sobrenaturais, passando a ressaltar personagens humanas como os
inimigos mais difíceis de combater devido aos seus hábitos ambientalmente insustentáveis a
exemplo do desperdício de energia, de água e do uso intensivo de sacolas descartáveis. Nesse
caso, observamos que não há uma interpelação direta da audiência para a adoção de hábitos
sustentáveis, mas uma estratégia que busca identificá-la com os comportamentos apresentados.
A necessidade de “preservação” de água é o tema central de Essência, um curta
metragem animado experimental cuja narrativa é um lamento filosófico acerca das
implicações de sua escassez, uma vez que se trata de um elemento vital, inclusive na
composição metafísica do homem. A narrativa é “protagonizada” por uma criatura
antropomorfizada que sai de uma piscina vazia à procura de água pelas diversas torneiras da
casa. Suas motivações não são reveladas de modo a explorar a expectativa da audiência, e sua
procura por água se encerra quando ela finalmente a encontra, em pequena quantidade, no


223

interior de um souvenir - um globo de viagem. Considerando-se sua natureza experimental e


filosófica, a narrativa apresenta uma solução ambivalente, uma vez que a água, uma vez
localizada, não é ingerida pela criatura, mas depositada em um jarro com plantas secas e
murchas. Contudo, quando é apresentada uma cartela de textos advertindo acerca da
necessidade de preservação da água, torna-se evidente tratar-se de sua valorização no
contexto da sobrevivência humana. Nesse caso, observamos que a planta é um elemento
simbólico da vida do planeta como um todo, mas é a necessidade humana de água e de toda
uma atividade sócio-cultual que ela sustenta que justifica o apelo à preservação que é
defendido.
Haina: o filtro expõe a necessidade de combate à poluição atmosférica decorrente da
produção industrial, oferecendo ainda uma solução carregada de simbolismo. Nessa animação
a problemática ambiental é transposta para o plano da fantasia, quando a personagem afetada
pela fumaça expelida pela chaminé de uma indústria é uma bruxa e não um ser humano.
Dessa forma, o contexto é genérico, sem precisar acerca da natureza da fábrica, da
composição e dos efeitos da fumaça que avança sobre a casa da personagem, única entidade
afetada na história. A resolução da narrativa também é situada no plano da fantasia, quando a
própria bruxa afetada soluciona o problema, inserindo uma grande rolha (o filtro!) na chaminé
da indústria que, consequentemente, cessa de imediato a poluição, contudo, sem interromper
sua produção. Além disso, o desfecho da narrativa é marcado pelo simbolismo, quando um
segundo “filtro” é instalado na chaminé, sobreposto ao primeiro, que logo passar a expelir
flores coloridas que rapidamente se espalham pela região. Nessa animação, a necessidade de
assegurar a sobrevivência humana é duplamente defendida: primeiro pela necessidade de
assegurar a qualidade do ar; segundo pela ênfase na continuidade da fábrica.
A última animação dessa categoria de histórias ambientais é O Jardineiro: com
Feliciano esperança. A animação é marcada pela simplicidade, pois se restringe a repetir um
ciclo de caminhada da “personagem”, alternando-se apenas os planos de fundo. Na verdade,
trata-se de uma animação experimental, poética e simbólica, que, ao invés de desenvolver
uma narrativa tradicional centrada em ações da personagem, oferece um registro visual de um
jardineiro semeando flores ao longo de sua caminhada por estradas diversas. A narrativa é
musicada e enfatiza (verbalmente) a necessidade de agir no presente para assegurar o futuro,
uma alusão direta à necessidade de garantir o ambiente para as gerações futuras. Nesse
sentido, o filme toma o jardineiro como elemento simbólico que pode ser traduzido como uma
ênfase na necessidade de manifestarmos cuidado com o planeta (o jardim de Feliciano) de
forma assegurar a continuidade da vida humana.


224

Entre as seis animações centradas na necessidade de controle da intervenção humana


no mundo natural anteriormente apresentadas, notamos que predominam características das
animações ambientais da segunda onda proposta por Starosielski (2011). Mas, embora todas
elas manifestem o otimismo marcante nas enviro-toons da segunda onda, não há
especificações quanto ao espaço-tempo ficcional marcante neste período. Contudo,
prevalecem exposições de problemáticas ambientais seguidas de propostas de enfrentamento,
a exceção de Essência e O Jardineiro, as quais são mais subjetivas. A estética do exagero da
segunda onda também se faz presente, sobretudo em Não fique pilhado (a contaminação da
cadeia alimentar é instantânea) e Haina (a fumaça e a poluição desaparecem
instantaneamente). Notamos ainda uma ênfase no ativismo social e no chamamento para o
enfrentamento das problemáticas, uma vez que Gente Grande suscita e valoriza o
engajamento ambiental das crianças, Não Fique Pilhado é imperativo quanto à reciclagem e
Os Sustentáveis o faz em relação à economia de recursos, além de ponderar o papel das
organizações não governamentais nas questões ambientais. Haina também manifesta
vinculação ao ativismo ambiental das empresas que predominou nas enviro-toons da segunda
fase, quando a tecnologia (o filtro) desponta como aliada para o enfrentamento dos problemas
ambientais.

Tabela 09: Temas ambientais, enquadramentos, animações, contextos, modo de problematização e resolução das
histórias que enfatizam a Necessidade de conquista do mundo natural para atender necessidades humanas.

A NECESSIDADE DE CONQUISTA DO MUNDO NATURAL PARA ATENDER NECESSIDADES HUMANAS


Tema Enquadramento Animação/Contexto Problematização/Resolução
Exploração de A conquista da natureza A Princesa do Vale: O município Indireto/Os índios foram
Recursos é necessária para cearense Limoeiro surgiu da dizimados, a paisagem foi
Naturais assegurar o progresso colonização portuguesa que transformada e a presença do
econômico e social empreendeu uma intensa exploração colonizar resultou em um
dos seus recursos naturais e suplantou o município próspero.
modo de vida indígena em favor do
progresso e do desenvolvido da
localidade .
Fonte: Elaborado pelo autor.

Na tabela anterior, observamos a única animação da amostra cuja história enfatiza a


necessidade de conquista do mundo natural. Trata-se de A princesa do Vale, um
documentário animado que representa a história de um município cearense. A narrativa é rica
em detalhes, tanto em relação ao período que antecedeu a chegada dos colonizadores
portugueses, ao processo de colonização propriamente dito, quanto ao contexto mais recente
em que a prosperidade do município é celebrada. Apesar de assumir um tom de lamento
quando apresenta o massacre dos índios e a apropriação do mundo natural pelos portugueses,


225

a narrativa enaltece a conquista da natureza, enquadrando a colonização como sinônimo de


progresso e o ambiente como recurso indispensável para sua viabilização. Na verdade, na
narrativa não há uma personagem central, mas sim uma alternância de eventos históricos que
culminaram com a prosperidade da região. Dessa forma, a animação não desenvolve um
conflito central como ocorrem em narrativas canônicas, nem problematiza a interferência
humana no ambiente. Ao invés disso, celebra de forma otimista o progresso econômico da
região. Não se trata, portanto, de uma animação “sobre o meio ambiente”, mas de uma
“animação no ambiente” que revela, como pano de fundo, as transformações da paisagem
(surgimento das capitanias hereditárias, das fazendas, da agricultura, da pecuária, do vilarejo
etc). Dessa forma, sua única vinculação a classificação de enviro-toons estabelecida por
Starosielski (2011) reside na representação do ambiente como sendo dotado de vida própria (a
fauna e a flora nativa), e também por representar sua transformação a partir de uma
diversidade de personagens, ambas marcantes na primeira onda.

Tabela 10: Temas ambientais, enquadramentos, animações, contextos, modo de problematização e resolução das
histórias que enfatizam a Valorização do mundo natural.

VALORIZAÇÃO DO MUNDO NATURAL


Tema Enquadramento Animação/Contexto Problematização/Resolução
Valor estético da A exuberância da A Folha da Samauma: Um jovem índio, Indireto/Atraídos pela beleza da
natureza natureza discriminado pelos demais, se refugia Sumaúma, terminam por descobrir
no topo de uma Sumaúma. Ali a autoria do canto. A árvore passa a
escondido, seu canto atrai a atenção da povoar o imaginário da tribo.
tribo.
Parques arqueológicos Peixe Frito em uma aventura rupestre: Indireto/”Auxiliados” por índios
como oportunidades ao Duas crianças embarcam juntamente com poderes mágicos, as crianças
turismo ambiental com seu avó para uma aventura no sítio descobrem que o sítio é uma
arqueológico de um amigo que esta grande farsa, o parque ecológico é
prestes a obter licença para exploração interditado.
turística.
Senso de O mundo natural e sua Bumba Meu Peixe: Uma menina que Indireto/A menina confecciona
Pertencimento influencia no senso de vive em uma pequena colônia de uma peça de artesanato
experiências pertencimento e a pescadores, marcada pela riqueza das reaproveitando materiais e assim
com o mundo integração tradições culturais e pelo folclore com participa das festividades da escola
natural homem/homem e ampla celebração do mar, desenvolve local.
homem/natureza um artesanato para apresentação nas
festividades escolares.
Natureza O surgimento da Tainá-Kan, a grande estrela: Uma Indireto/Com Tainá-Kan a jovem
provedora agricultura no contexto jovem índia da tribo Carajás conquista índia tem vários filhos, e quando
dos povos indígenas o amor do deus Tainá-Kan com quem seguros da condição de
se casa. Este a revela o segredo da sobrevivência da aldeia, trocam a
agriculta que logo é passada para a vida na terra para habitarem o
tribo, assegurando a fartura de plano dos deuses.
alimentos para a aldeia.
Fonte: Elaborado pelo autor.

As quatro animações destacadas na tabela anterior são todas elas histórias que
representam a valorização do mundo natural no contexto de suas personagens. Contudo, as


226

temáticas identificadas são desenvolvidas em um plano secundário das narrativas, as quais são
desprovidas de problematizações explícitas sobre as mesmas, uma vez que outros conflitos
específicos envolvendo as protagonistas são privilegiados.
A temática do valor estética da natureza se torna evidente em dois filmes: A Folha da
Samaúma, uma animação experimental baseada em uma lenda indígena, é uma breve história
sobre o surgimento do respeito e da admiração pela árvore da Samauma em uma tribo. Nesse
caso, a “discriminação” é o foco da história, o drama da personagem, um jovem índio cuja
aparência física diferente dos demais resulta em sua expulsão da tribo, levando-o a esconder-
se na copa de uma grande Samauma. Ali escondido, seu canto atrai a atenção dos demais
índios e desponta como elemento de resolução da narrativa, pois não somente resulta em sua
descoberta e aceitação, mas, sobretudo, desperta em todos uma profunda admiração pela
Samauma, cuja valorização estética implicou sua inserção no imaginário da tribo; No caso de
Peixe Frito: Uma Aventura Rupestre, o valor estético da natureza é sutilmente revelado ao
longo de uma história permeada por trapaças e conflitos de interesses relacionados à criação
de um parque arqueológico voltado para a exploração do turismo ecológico. Contudo, essa
questão é secundária na animação cuja narrativa culmina com a descoberta da falsificação das
pinturas rupestres, por parte das duas crianças protagonistas contando ainda com a ajuda de
dois índios dotados de poderes mágicos. Nesse caso, o valor estético da natureza é inferido do
contexto da trama em que o parque arqueológico é apresentado como um espaço marcado
pelo forte interesse turístico.
O senso de pertencimento associado à experiência direta com o mundo natural é
representado em Bumba Meu Peixe. Apesar de a narrativa enfatizar sua protagonista, uma
pequena menina, empenhando-se na resolução de uma tarefa escolar, a animação é reveladora
da relevância e da influência do ambiente em sua vida, e também no seu contexto social, uma
pequena colônia de pescadores. Assim, ao longo de seu desenvolvimento, quando a
protagonista procura por alternativas para o desenvolvimento de sua tarefa escolar – uma peça
de artesanato, são valorizados o contato direto e constante da personagem com o ambiente, a
presença do mar na cultura e no folclore da comunidade e também a presença desta no
ambiente – uma intervenção comedida a partir da pesca de subsistência. A animação é acima
de tudo uma celebração da cultura popular, mas o sentimento de pertencimento é marcante,
embora não problematizado, sobretudo quando a narrativa culmina com a apresentação
coletiva das peças de artesanato realizadas pelos alunos da escola comunitária.
Finalmente, ainda nessa categoria de histórias ambientais que privilegiam a
valorização do mundo natural, observamos a temática da natureza como provedora,


227

contemplada exclusivamente na animação Tainá-Kan, a grande estrela. Nesse caso também


não observamos uma problematização acerca de questões ambientais. Contudo, quando o
conflito principal se desenvolve e evolui - uma disputa entre duas jovens índias, irmãs, pelo
amor do deus Tainá-Kan, a narrativa revela a natureza como provedora da subsistência
indígena, através da pesca, da caça e da coleta de alimentos. Mas, após a resolução do conflito
central, quando uma das jovens se casa com a divindade, a narrativa se torna descritiva da
lenda sobre a descoberta da agricultura pela tribo Carajás – revelada aos mesmos através de
Tainá-Kan. Assim, a animação representa uma natureza fértil e abundante, cuja intervenção
indígena, sábia e comedida, assegurou-lhes sua subsistência e, consequentemente, sua fixação
na região.
Entre os casos abordados anteriormente, acerca das histórias sobre valorização do
mundo natural, considerando-se a ausência de problematizações explícitas das temáticas, a
identificação de filiações às três ondas de enviro-toons apresentadas por Starosielski (2011)
não se faz pertinente. Contudo, observamos algumas características das animações da segunda
onda: no caso de Peixe Frito, há uma representação estereotipada de povos indígenas, pois
despontam como criaturas dotadas de poderes mágicos; Tainá-Kan também apresenta
distorções na representação dos povos indígenas, os quais despontam como dotados de inveja,
de preconceito, de traição, ansiosos por casamento etc; No caso de Bumba Meu Peixe,
observamos uma sutil oposição entre ambiente e tecnologia, nítida da primeira fase das
envirotoons, uma vez que é uma pequena comunidade, marcada pela ausência de produtos
tecnológicos que configura um cenário de harmonia e equilíbrio com o mundo natural; A
Folha da Samauma, indiretamente, é também um chamado para a preservação da árvore
relacionada.

Tabela 11: Temas ambientais, enquadramentos, animações, contextos, modo de problematização e resolução das
histórias que apresentam a Natureza como fenômeno.

NATUREZA COMO FENÔMENO


Tema Enquadramento Contexto Problematização/Resolução
O ciclo da água O ciclo da água como De onde vem a água do rio: Um Indireto/A explicação é meramente
um sistema narrador explica sobre o ciclo da descritiva acerca do ciclo da água.
cientificamente água ,valorizando o rio no contexto dos
compreendido serviços que oferece aos humanos.
Fonte: Elaborado pelo autor.

Finalmente, contemplamos a animação cuja história ambiental privilegia a


representação da natureza como fenômeno, conforme esquematizado na tabela anterior. Nela,
observamos que a animação De onde vem a água do rio desenvolve um enfoque nitidamente


228

pedagógico acerca do ciclo da água, cuja narrativa descritiva é apresentada por uma criança
que desponta como narrador externo. A animação centra-se na “neutralidade científica” de
modo a representar “objetivamente” a dinâmica da água do rio como um sistema natural
completamente apreendido e sistematizado pelo saber humano. Assim, a dimensão visual da
animação é apenas ilustrativa da descrição verbal acerca do ciclo da água, representando, ao
longo da evolução do curso da água, diversos contextos sociais, sobretudo enfatizando sua
apropriação humana. Contudo, nesse caso, a narrativa não estabelece qualquer tipo de
problematização acerca do elemento central do fenômeno descrito, a água. Portanto, sua
descrição manifesta uma celebração da compreensão científica da “lei da natureza”, mas
termina por valorizar a água (o rio) como um recurso disponível ao homem (navegação,
pescaria, recreação etc). Neste caso, a dicotomia ciência e natureza não fora ultrapassada, uma
vez que o diálogo não fora estabelecido no sentido de conciliar uso e proteção. Trata-se de
episódio de uma série animada denominada de “Universidade das Crianças”, realizada pela
Universidade Federal de Minas Gerais.

4.1.3. Elementos discursivos do corpus

No tópico anterior objetivamos tipificar e analisar as categorias ou tipos de histórias


ambientais apresentadas nas animações que integram o nosso corpus de pesquisa. Essa
sistematização permitiu-nos acessar os temas, enquadramentos, contextos, modos de
representação de problemas ambientais e também suas resoluções ao longo das narrativas
consideradas. Com o objetivo de compreendermos os discursos ambientais representados
nessas animações, esforço principal dessa pesquisa, levando em consideração as tipificações
adotadas na metodologia, encerraremos esta seção do capítulo observando os elementos
centrais que configuram tais discursos, conforme checklist proposto por Dryzek (2004), quais
sejam: as entidades naturais/sociais; os atores sociais e suas motivações; as relações entre
mundo social/natural; dispositivos retóricos/metáforas. Após essa discussão, passaremos, na
seção seguinte, a analisar a vinculação do corpus aos tipos de discursos sistematizados por
Dryzek/Corbett.
Em relação às entidades naturais e sociais representadas pelas animações,
considerando-se exclusivamente aquelas que assumem relevância no contexto das questões
ambientais e não sua mera presença como cenário ou paisagem, notamos que o corpus é
marcado pela diversidade. Entre as entidades naturais mais recorrentes destacam-se a água
(cursos d’água, água consumida nas residências etc), contemplada por 21 animações,


229

indivíduos representativos de uma diversidade de espécies animais, representados em 25


animações, e biomas específicos, a exemplo de florestas, do semiárido e do cerrado brasileiros,
representados em 17 animações. Outros casos relevantes são os eventos climáticos (seca,
chuva, ondas de calor etc) e a atmosfera de uma forma genérica. Além disso, observamos que
em vários casos a entidade natural contemplada é o planeta Terra, tratado como uma entidade
única.
Convém observarmos que há uma preferência por representações reducionistas dessas
entidades naturais, uma vez que as narrativas estão mais empenhadas em situá-las como
recursos/vítimas da ação humana, do que reconhecer e valorizar suas especificidades
enquanto sistemas naturais. Conforme observamos, embora algumas animações valorizem a
interdependência entre homem e mundo natural, ressaltando a necessidade de uso comedido
de recursos e de interferências menos nocivas na atmosfera e nas florestas, por exemplo, a
ideia de um sistema natural e de ecossistema somente se torna evidente, ainda que forma
superficial, em casos específicos: Rap dos Bichos reconhece a interdependência entre fauna,
flora, solo, água, o ar no contexto do cerrado; De onde vem a água do rio enfatiza o ciclo da
água como um sistema dinâmico; O Diário da Terra e Consciente Coletivo: Aquecimento
Global reconhecem o clima como um sistema sujeito à ação humana; Não Fique Pilhado
valoriza a natureza enquanto cadeia alimentar em sua suscetibilidade à contaminação
química; Entrevista com o Morcego concebe a natureza a partir da ideia de equilíbrio
ecológico, ressaltando as interferências humanas como perturbações.
Além disso, quando é o próprio planeta Terra que desponta como entidade natural
central nas animações, notamos não se tratar de uma compreensão relacionada ao modelo
sistema-Terra reconhecido em sua dinâmica e equilíbrio – a abordagem das esferas conforme
Allègre (1993), (hidrosfera, biosfera, atmosfera, litosfera, estratosfera), ou da hipótese de
Gaia proposta por James E. Lovelock, mas sim de uma ideia genérica de suporte à vida,
sobretudo à vida humana, em sintonia com a perspectiva de uma natureza enquanto recurso,
provedora de água, ar, madeira, alimentos etc.
Quanto às entidades sociais representadas nas animações, também há um conjunto
bastante heterogêneo, marcado pela presença de seres humanos, tomados como atores
individuais (cidadão ordinário), e também por instituições e agregações sociais a exemplo das
indústrias, empresas, da família, da mídia, de instituições políticas, povos nativos etc. A
sociedade capitalista, tomada como um todo estruturante, também desponta como ator social
relevante, seja quando representada explicitamente nas narrativas, ou quando inferida a partir
dos contextos dessas histórias. Ao menos 12 animações manifestam essa última perspectiva,


230

enquadrando a sociedade capitalista como um “ator social”, usualmente caracterizado pelo


consumo, pela intensa exploração de recursos naturais e que responde diretamente pela
devastação do planeta. Outros quatro casos tomam como ator social a sociedade em geral,
sem caracterizá-la quanto ao modo de produção, mas apenas como um conjunto de indivíduos
marcado pela intensa demanda de recursos naturais, nomeadamente água e energia. Quando
se trata da representação de indivíduos isolados e não de seus agrupamentos coletivos,
também prevalece a ideia de egoísmo quanto ao consumo de recursos naturais, mas agora
associado à insensibilidade perante o mundo natural, sobretudo quando do descarte irregular
de resíduos sobre o mesmo, embora em alguns casos os indivíduos despontem como vítimas
da degradação do ambiente.
As categorias de entidades sociais anteriormente ressaltadas podem ser exemplificadas
a partir dos seguintes casos: Escalada e Perfeito são narrativas que reforçam a ideia do
comprometimento do planeta em função da exploração desenfreada de recursos naturais pela
sociedade como um todo; Rap dos Bichos, O Cangaceiro e o Leão, Filme Ilhado, Entrevista
com o Morcego, Alegria de Macaco, O Menino e o Mundo, e Pajerama são todas elas
animações cuja ideia central é de que a sociedade capitalista é ambientalmente insensível; já
em Consumidouro, Água é para todos, Buba e o Aquecimento Global, Essência, Gente
Grande, Destimação, por exemplo, é o indivíduo comum a entidade social principal,
associada à ideia de egoísmo quanto ao consumo de recursos naturais e de insensibilidade em
relação às demais espécies.
Outra entidade social relevante nas animações são as fábricas, representadas em seis
casos, mas sempre em caráter genérico, sem vinculação direta de suas atividades ao contexto
real, seja em termos de produção, de localização etc. Em O Diário da Terra, O Cangaceiro e
o Leão, Filme Ilhado, Haina: O Filtro, por exemplo, são fábricas genéricas as responsáveis
pela degradação ambiental, nomeadamente a poluição atmosférica e o aquecimento global.
No caso de Entrevista com o Morcego foi a implantação de uma usina hidrelétrica que
resultou em desequilíbrio ecológico e, consequentemente, em ameaça à saúde humana, em
decorrência da expulsão dos morcegos do seu habitat. Contudo, somente em alguns poucos
casos as atividades industriais e econômicas assumem maior especificidade: a indústria
madeireira é diretamente representada, e também criminalizada, em Desabrigados, Eta Bicho
Homem, Consciente Coletivo: Aquecimento Global e Mapinguari o Protetor da Floresta; a
indústria petrolífera é uma das entidades sociais centrais em Filme Ilhado; os pecuaristas são
o foco da denúncia ambiental em Desabrigados; a indústria têxtil é enquadrada em O Menino


231

e o Mundo; comerciantes de animais de estimação, a partir das pet shops, são entidades
sociais centrais na discussão acerca do tráfico de animais em Destimação.
Entre as demais entidades sociais observadas, é importante considerar as
representações de tribos indígenas, de povos nativos africanos e de comunidades tradicionais,
as quais totalizam quatro animações. Essas entidades sociais são representadas a partir da
ideia de harmonia e envolvimento com o mundo natural, uma nítida oposição à apropriação
da natureza enquanto recurso tão marcante nas sociedades ocidentais. São ilustrativos desse
contexto as animações Eta Bicho Homem e Pajerama, em que indígenas são vítimas das
sociedades modernas, A Lenda da Árvore Sagrada e A princesa do Vale, em que a
colonização desponta como um violento processo de dominação dos nativos, e também do
mundo natural, por parte do colonizador português. Já em Bumba Meu Peixe a ideia central é
a da harmonia entre habitantes de uma pequena colônia de pescadores e o mundo natural,
enquanto em A folha da Samauma o foco recai sobre a harmonia entre indígenas e o mundo
natural.
Os agentes/atores sociais, conforme sinalizado por Dryzek (2004), são cruciais para a
compreensão dos discursos ambientais, sobretudo a partir de suas motivações em relação à
apropriação/defesa do mundo natural e das especificidades no reconhecimento e na
construção das problemáticas ambientais. Tomando-se as categorias de atores sociais
propostas por Cox (2010), e discutidas no segundo capítulo, notamos, no corpus, que o
cidadão ordinário é o agente mais recorrente, contemplado por 28 animações, seguido das
corporações/empresas/capital, as quais aparecem em 22 animações.
Quando consideramos as motivações desses agentes/atores sociais para a
apropriação/degradação/preservação do mundo natural, sobretudo nas animações que
representam diretamente questões ambientais, duas generalizações se tornam possíveis. A
primeira delas diz respeito ao cidadão comum, quando prevalece a ideia de que este contribui
para a degradação do ambiente em função de sua ignorância quanto aos impactos ambientais
de suas atitudes e comportamentos cotidianos, sobretudo no consumo desmedido de água e de
energia, no descarte irregular de resíduos, e mesmo em termos de hábitos alimentares. Água é
para todos, Essência, Gente Grande, Consciente Coletivo: Aquecimento Global, Os
Sustentáveis, Não Fique Pilhado, Consciente Coletivo: Resíduos são exemplos de animações
com essa perspectiva. São poucos os casos em que o estilo de vida pautado no consumo se
torna a principal “motivação” para a degradação do ambiente, com destaque para as
animações Consumidouro, Alegria de Macaco e Consciente Coletivo: Resíduos. A segunda
generalização diz respeito às representações das motivações que orientam a apropriação dos


232

recursos naturais e, consequentemente, à promoção da degradação do ambiente por parte das


empresas/corporações/capital. Nesse contexto, prevalece uma ideia de que são essas as
instituições promotoras da degradação ambiental, mas considerando sua voracidade por
recursos naturais de forma desconectada com relação aos sistemas de produção e consumo
vigentes, ou simplesmente pela pura intenção de poluir e degradar como sua atividade fim.
Convém observar que, no corpus, não são valorizadas interações entre esses dois tipos
de agentes/atores sociais, o que somente é representado nos dois episódios Consciente
Coletivo: Aquecimento Global e Resíduos e na animação Alegria de Macaco. Nesses casos, é
na interação entre produção e consumo, corporações e cidadãos, que emergem as questões
ambientais. Além disso, atores sociais cruciais na arena ambiental, conforme observamos no
segundo capítulo deste trabalho, a exemplo da mídia, dos representantes políticos, dos
cientistas e dos grupos ambientais, raramente são representados no corpus, principalmente
quando se trata de animações que não estão explicitamente relacionadas as questões
ambientais. Em Consumidouro e Alegria de Macaco, por exemplo, a mídia é representada
como instituição promotora de consumo, consequentemente, diretamente associada à
degradação ambiental. Em O Cangaceiro e o Leão, sua atuação na comunicação ambiental
torna-se evidente, uma vez que o aquecimento global é revelado como pauta jornalística local.
Já em O Menino e o Mundo e Pajerama a mídia desponta apenas como promotora da
alienação social, portanto, não relacionada diretamente às questões ambientais. Políticos e
Legisladores também raramente são contemplados pelo corpus, sendo diretamente
representados apenas em A Esperança é a última que morde, quando são responsabilizados
pelos graves impactos da seca no semiárido nordestino, em A princesa do Vale, quando
celebrados pela criação de condições necessárias à apropriação do mundo natural em favor do
progresso econômico do município de Limoeiro, e em Alegria de Macaco, quando se
mostram alheios aos problemas socioambientais.
Contudo, apesar dessa lacuna em se tratando da representação dos atores sociais mais
relevantes no debate ambiental contemporâneo, as animações que tratam de questões
ambientais de forma secundária são aquelas que manifestam, em conjunto, uma maior
diversidade de agentes/atores sociais, quando despontam, por exemplo, representantes da
igreja católica, tribos indígenas, povos nativos, escolas, colonizadores etc, os quais abrangem
16 animações. Notamos que nesses casos as motivações em relação ao meio ambiente são
representadas mais especificamente no contexto das tribos indígenas e sua integração ao
mundo natural e dos colonizadores portugueses, ávidos pelos recursos naturais das colônias
africanas e do Brasil.


233

Quanto ao reconhecimento e à legitimação de relações entre as diferentes


entidades/atores sociais e naturais reconhecidas, valorizadas ou questionadas pelas animações
do corpus, prevalecem representações que enfatizam a apropriação utilitária do mundo natural
pelos homens e suas instituições. Assim, é a ideia de superioridade do homem sobre a
natureza que predomina nas representações, abrangendo 36 animações. Ao menos vinte
dessas animações expõem essa relação hierárquica de forma a enquadrar a natureza como
vítima da ação humana, enquanto outros casos revelam o próprio ser humano como vítima de
sua apropriação restritamente utilitária da natureza. Portanto, nesses casos evidenciamos
relações de hierarquia entre homem e mundo natural representadas a partir de consequências
negativas para ambos. O Rei Gastão, Água é para todos, Desabrigados, Rap dos Bichos e
Consumidouro são exemplos de animações em que a natureza desponta simultaneamente com
recurso e como vítima da ação humana. Consciente Coletivo: Aquecimento Global, Não Fique
Pilhado, Jardineiro: com Feliciano esperança, por sua vez, exemplificam animações que
ressaltam ideia do homem como vítima da intervenção no mundo natural. Em todos esses
casos prevalece uma ideia de natureza marcada por relações harmoniosas entre as espécies
representadas. De onde vem a água do rio é o único caso que descreve a natureza com um
fenômeno, na verdade um sistema auto regulamentado que assegura a permanência do ciclo
da água.
Quanto aos dispositivos retóricos e as metáforas desenvolvidas pelas animações da
amostra, notamos que prevalecem apelos maniqueístas, em que natureza harmoniosa e
bondosa é representada como vítima da ação humana. Dessa forma, uma estratégia retórica
recorrente é a busca por convencer a audiência de que a intervenção ou degradação do
ambiente é moralmente inaceitável, sobretudo quando se trata do cidadão comum. Contudo,
dada à imprecisão das abordagens em relação ao contexto real das problemáticas ambientais
representadas, notamos uma retórica com forte inclinação doutrinadora, pois apenas se
empenha em reivindicar mudanças pontuais nas atitudes sobre o ambiente. É importante
destacar que outra estratégia retórica recorrente é o apela para o reconhecimento dos direitos
dos animais, a exemplo das animações Água é para todos, Desabrigados, Rap dos Bichos,
Eta Bicho Homem, Consciente Coletivo: Resíduos, O Rei Gastão, Destimação, Fundo e
Mapinguari, o Protetor da Floresta, muito embora prevalece a argumentação sustentada em
uma perspectiva antropocêntrica. No caso de Rap dos Bichos e de Água é para todos são os
próprios animais que protagonizam as histórias e reivindicam respeito aos seus direitos à vida.
Já entre as animações que contemplam questões ambientais de forma indireta, é recorrente a
crítica à sociedade industrial a partir da valorização de cosmologias antigas, indígenas e


234

tribais - em que a natureza é representada de forma exuberante, idílica ou mesmo sagrada, ou


ainda do modo de vida rural, a exemplo de O Menino e o Mundo.
Finalmente, ressaltamos que as metáforas mais recorrentes no debate contemporâneo
acerca do meio ambiente não se fazem presentes nas animações, a exemplo da ideia de espaço
nave Terra, da Mãe Natureza etc. Dentre as metáforas observadas, destacamos a ideia de uma
natureza máquina-sistema, conforme De Onde Vem a água do Rio e do planeta enquanto
indivíduo, um paciente adoentado em estado terminal, como ocorre em O Diário da Terra.
Em Consumidouro, por exemplo, o planeta Terra é representado a partir da ideia de um
supermercado, cujos recursos são adquiridos sistematicamente pelos consumidores até o seu
completo esgotamento.

4.2 Discursos Ambientais nas enviro-toons

Ao longo da seção anterior, procuramos desdobrar nosso corpus de pesquisa,


identificando, sobretudo, aspectos-chave de suas narrativas, de modo a acessarmos seus
elementos discursivos. Percorrido esse caminho revelador dos principais aspectos dessas
enviro-toons, tomadas enquanto prática discursiva - produção, distribuição e consumo de
histórias ambientais, passamos agora a “reconstruir” esse objeto, observando as configurações
particulares dos elementos constantes do checklist de discursos ambientais identificados
anteriormente, de modo a compreender os discursos ambientais por eles representados,
analisando esses filmes animados a partir de sua interdiscursividade, ou seja, de suas filiações
a um ou mais dos discursos ambientais que integram as tipificações de Dryzek (2004).
Nos casos em que as narrativas contemplam explicitamente problemas ambientais (as
animações sobre o ambiente) recorreremos à estratégia adotada por Carvalho (2011),
desenvolvendo uma análise acerca de como essas problemáticas são reconhecidas em termos
de impactos, de atribuição de responsabilidades - tanto em termos de promoção das
problemáticas como também de seu enfrentamento, além das soluções propriamente ditas.
Nos demais casos, em que o meio ambiente e suas questões são apenas representadas de
forma implícita (as animações no ambiente), recorreremos à tipificação dos discursos
ambientais de Corbett (2006), de modo a reconhecer os discursos dessas animações a partir
das hierarquias homem/natureza representadas e do significado geral que assume o mundo
natural.
Em ambos os casos, buscaremos compreender a comunicação ambiental nas
animações contempladas a partir da perspectiva da análise crítica do discurso, conforme


235

Fairclough (2001), privilegiando entender os sistemas de crenças e conhecimentos acerca do


mundo natural e suas problemáticas (função ideacional), as construções dos sujeitos (ethos)
em sua identidade ambiental (função identitária) e as relações entre estes (função relacional).
Nesse sentido, reconhecendo os discursos ambientais desses textos animados
simultaneamente como uma prática discursiva e social, interessa-nos identificar a filiação dos
discursos da amostra em relação ao discurso normativo e hegemônico – o industrialismo,
compreendendo também seus possíveis revestimentos políticos e ideológicos. Nesse sentido,
apoiamo-nos também em Maingueneau (1984), atentando para as relações interdiscursivas
manifestadas nas narrativas do corpus quando empreendem sua comunicação dos temas
ambientais.
De forma geral, notamos que são as representações dos discursos que Dryzek (2004)
denomina de Radicais Verdes aquelas com maior representatividade no corpus, abrangendo
um total de 11 animações, 27,5% dos casos. Os discursos ambientais reformistas voltados
para as soluções de problemas ambientais abrangem nove animações (22,5% dos casos),
seguidos dos discursos de reconhecimento e negação da existência de limites ambientais,
representados em oito filmes (20% dos casos). Apenas uma animação se mostrou vinculada
aos discursos da sustentabilidade. Entre as demais 11 animações que totalizam o corpus
prevalecem discursos ambientais não vinculados à tipologia de Dryzek (2004), uma vez que
suas narrativas não se voltam para a representação de questões ambientais. Nesses casos,
notamos uma diversidade dos discursos ambientais sinalizados por Corbett (2006), a exemplo
das perspectivas reformistas e antropocêntricas do conservacionismo e do preservacionismo,
mas também de discursos menos antropocêntricos, como os discursos ambientais dos povos
nativos. A seguir, passamos a analisar tais discursos nas animações contempladas.

4.2.1 Discursos Radicais Verdes: Consciência verde e Políticas verdes

Conforme Dryzek (2006), essa categoria discursiva é marcada por duas perspectivas
cujos focos são respectivamente a promoção de mudanças de comportamento nos indivíduos
(consciência verde) e também nas instituições sociais e coletivas (políticas verdes) em relação
ao meio ambiente, de forma a reconhecer a subjetividade e a sensibilidade do mundo natural.
São, portanto, propostas diferentes que compõem a chamada Esfera Verde, marcada pelo
engajamento individual e coletivo, sobretudo a partir dos movimentos ambientalistas, em
favor da promoção de relações mais harmoniosas com o mundo natural. É essa orientação que


236

desponta como elemento central nas crenças e conhecimentos sobre a natureza que permeiam
os sistemas de restrições semânticas dessa categoria discursiva.
No plano ideacional, os discursos centrados na consciência verde alimentam a ideia de
natureza como um ser vivo sensível em diversos níveis, seja a partir de indivíduos, das
espécies ou dos ecossistemas. Quanto às identidades dos sujeitos, essa significação de
natureza, destituída da hierarquia antropocêntrica, reivindica dos indivíduos um ethos
ambiental marcado pela compreensão de seu lugar no mundo, suscitando uma postura mais
humilde e menos destrutiva não somente em relação à natureza, mas também com os demais
indivíduos, prevalecendo, portanto, uma relação de igualdade homem/homem e também entre
o homem e as demais espécies do mundo natural. Em termos políticos, Dryzek (2004) ressalta
que essa concepção considera cada indivíduo em sua própria condição de modificar sua
relação com o mundo natural e com os demais seres humanos.
As políticas verdes compreendem discursos que, no plano ideacional, concebem a
natureza como um sistema complexo dotado de sensibilidade, cujo equilíbrio necessita do
reconhecimento de limites para sua exploração. Consequentemente, valorizam visões e
crenças menos hierárquicas sobre o mundo natural e também mais centradas na igualdade
entre os indivíduos. Quanto ao ethos ambiental defendido por esses discursos, ressalta-se que
embora considerando-se externo à natureza, o homem não deve situar-se em um patamar
dominante.
Convém atentar que assim como o discurso da consciência verde, as políticas verdes
valorizam a consciência ecológica individual, mas reconhecem que ela não se mostra
suficiente para o enfrentamento das questões ecológicas, uma vez que a estrutura social é
reconhecidamente preponderante em sua influência na orientação do ethos ambiental dos
indivíduos. Portanto, esses discursos estão focados em transformações no âmbito da estrutura
social, sobretudo nas instituições políticas e econômicas, uma vez que predomina a ideia de
que a crise socioambiental decorre de uma plenitude de fatores, e sua resolução é atribuída à
esfera política e às mudanças estruturais. Daí a necessidade de participação de uma série de
atores sociais nessa reestruturação política, ressaltando que o papel central de gerir as
políticas verdes é orientado pelos atores coletivos, sejam elas movimentos sociais, partidos
políticos ou estados.
Em relação à consciência verde, notamos que três animações do corpus vinculam-se
diretamente a essa perspectiva discursiva, são elas: Água é para todos; Fundo; Destimação. Já
os discursos das políticas verdes são representados em oito obras: Desabrigados; O Rap dos


237

Bichos; Tamanduabandeira; Rei Gastão; Pajerama; Mapinguari, o protetor da floresta; Eta


Bicho Homem; O Menino e o Mundo.
Enquanto discurso ambiental vinculado à consciência verde, Água é para todos
contempla a questão do desperdício de recursos naturais, ressaltando a necessidade de
reconhecimento de igualdade de direitos entre homem e animais no contexto do uso da água,
um recurso valorizado em sua indispensabilidade para ambos os seres. Nesse caso, torna-se
central a reivindicação de uma consciência e de uma sensibilidade ecológica no cidadão
ordinário, suscitando uma redefinição de suas práticas cotidianas, nomeadamente a economia
de água durante o banho, de forma assegurar os direitos dos animais a esse recurso. A
animação adota como estratégia principal a representação do discurso prometeico, expondo o
desperdício de água em suas consequências sobre a vida animal como resultado de uma
perspectiva claramente hierárquica (antropocêntrica) e utilitária do mundo natural, em que as
demais espécies são destituídas de subjetividade quando se trata do atendimento das
necessidades humanas por recursos naturais. Evidentemente, essa animação assume um
enfoque pontual, privilegiando o banho, entre diversas outras circunstâncias no cotidiano do
cidadão ordinário em que o consumo de água se mostra problemático em relação ao mundo
natural. De qualquer forma, a dupla responsabilização do indivíduo nessa narrativa, seja como
causador da problemática ambiental – a privação dos animais do acesso à água, seja como
ator decisivo para seu enfrentamento, a partir da valorização da redução do tempo de banho,
atestam a filiação dessa animação ao discurso da consciência verde, sobretudo quando a
motivação central para essa reorientação é o respeito aos direitos do mundo natural – apelo
central em seu modo de representação. Ainda que de forma tímida, notamos nessa animação
uma valorização do ethos ambiental heideggeriano, marcado pela vigilância e pelo cuidado
com a natureza que integra um projeto de habitação e moradia filosófica da natureza.
Fundo é outra animação vinculada ao discurso ambiental da consciência verde. Nesse
caso, é o descarte irregular de sacolas plásticas que é enquadrado como uma problemática
ambiental, uma vez que incorre em séria ameaça à natureza, impactando diretamente no
habitat de uma diversidade de animais, sobretudo aqueles que habitam os ecossistemas
marinhos. Seu enfoque a respeito dessa problemática é predominantemente descritivo,
relegando explicações causais e também acerca dos impactos reais das sacolas plásticas sobre
as espécies representadas (tartarugas e aves marinhas), enfatizando, acima de tudo, que
atitudes locais (o descarte de sacolas plásticas) podem constituir ameaças a ecossistemas
distantes. Nesse sentido, o modo retórico dessa animação reside no apelo em favor dos diretos
dos animais quando representa diversos indivíduos das espécies mencionadas em condições


238

de vulnerabilidade – aves e tartarugas confundem a sacola com peixes, quando buscam


alimento. Assim, em seu discurso, Fundo ressalta a necessidade de reconhecimento do mundo
natural como um conjunto de ecossistemas sensíveis, cuja intervenção humana deve ser
minimizada de forma assegurar a integridade das espécies animais. Além disso, também
reivindica reconhecimento de igualdade de direitos entre homem e animais, uma vez que o
mar é concebido simultaneamente como provedor de alimentos (peixes) para as espécies e
representadas e também para o homem (na figura do pescador). Nesse contexto, sustenta-se a
ideia de que ignorar as implicações do descarte irregular de sacolas plásticas sobre a vida
marinha é uma forma de egoísmo do homem em relação ao mundo natural. Por isso sua
valorização da sensibilidade e da consciência ambiental e, nesse caso, a sacola plástica
representada em sua trajetória no ambiente simboliza o cidadão ordinário, cuja atitude deve
ser reorientada.
Destimação apresenta como problemática ambiental a criação e a comercialização de
animais de estimação, enfatizando a necessidade de reconhecimento do mundo natural em seu
direito à vida e à liberdade. Seu discurso contempla situações do cotidiano, explorando a
criação doméstica de pássaros silvestres e a comercialização ilegal de exemplares de diversas
espécies animais, ressaltando tais práticas e atividades como abordagens bastante nocivas às
espécies representadas. Nesse caso, descreve-se acerca das dificuldades de adaptação de um
papagaio à vida em cativeiro, quando confinado em uma gaiola situada em um pequeno
apartamento, descontruído, dessa forma, o idealismo romântico que permeia o senso comum,
em que esses animais despontam como criaturas falantes e dispostas à interação com os
humanos, especialmente com as crianças. Assim, não somente essa percepção que permeia o
senso comum ocidental é questionada, sobretudo denunciada como uma construção midiática
decorrente da programação televisiva acerca da vida selvagem, como também destacam-se as
implicações do condicionamento desses animais quando aprisionados, enfatizando as
dificuldades de sua reintegração ao mundo natural.
Em seu discurso, Destimação avança de modo a contemplar um fenômeno cultural
mais recente, a comercialização de animais em lojas especializadas, as pet shops. O que se
torna evidente é a diversificação do interesse humano por animais de estimação, que passou a
abranger uma série de espécies “exóticas” como répteis, anfíbios e peixes ornamentais. Nesse
sentido, sustenta-se a ideia de que essa forma de apropriação estética e material da natureza, e
que constitui uma atividade econômica bastante rentável, mostra-se bastante insensível aos
animais, os quais são submetidos a um contexto de negligencia e maus tratos, que resulta na
morte de vários indivíduos. Assim, enquanto discurso ecológico, a animação responsabiliza


239

diretamente o cidadão ordinário e os comerciantes de animais pelas problemáticas ambientais


representadas. Contudo, preconiza uma solução baseada apenas na ação do cidadão comum,
perspectiva característica desse tipo de discurso, marcado pela ênfase na ação individual.
Dessa forma, ao descrever e explicar acerca das implicações da criação e da comercialização
de animais, Destimação apela aos direitos dessas espécies para reivindicar uma sensibilidade
perante o seu sofrimento, suscitando o reconhecimento do seu direito à vida. Aqui, é a adoção
de animais abandonados a alternativa proposta para o enfrentamento dessa problemática, um
reconhecimento ambíguo e seletivo dos direitos dos animais, uma vez que se legitima a
apropriação humana de determinadas espécies, a exemplo dos cães (mesmo em espaços
bastante reduzidos para os mesmos) – cujo cuidado e proteção humana se fazem necessários,
e recrimina-se quando se trata da criação de várias outras espécies. De uma forma geral,
apesar de suscitar um grau de consciência e de sensibilidade quanto aos direitos dos animais,
em seu discurso Destimação parece não se esforçar por destituir um sentimento de posse do
homem sobre determinada parcela do mundo natural.
Acerca dessas três animações vinculadas aos discursos da consciência verde, notamos
que ambas compartilham de um mesmo apelo à consciência ambiental, a valorização dos
diretos dos animais a partir da exposição do discurso prometeico em sua negligencia e
insensibilidade perante o mundo natural. Essas animações privilegiam estratégias de
comunicação ambiental mais centradas na função pragmática, uma vez que suscitam
objetivamente a reorientação de atitudes na audiência a partir do apelo emocional e mesmo
dramático de condições de vulnerabilidade dos animais em decorrência da ação humana.
Nesses casos, os discursos operam majoritariamente na dimensão identitária, estimulando a
aquisição de um ethos ambientalmente favorável ao enfrentamento das problemáticas
relacionadas, reivindicando, respectivamente, um cidadão empenhado na economia de água,
cuidadoso com o descarte de sacolas plásticas e sensível à adoção de animais, ao invés de sua
aquisição em lojas especializadas. De uma forma geral, dada a centralidade do indivíduo, em
tais discursos há uma lacuna no que diz respeito às dimensões ideacional e interelacional
acerca das questões ambientais relacionadas. Existe, portanto, uma ênfase apenas nas causas
diretas das problemáticas ambientais, exceto em Destimação, quando sua argumentação se
mostra mais ampla, problematizando a mercantilização da natureza. Enfim, são discursos,
conforme sintetizamos na tabela a seguir, que se mostram radicais quanto à proposta de
valorização dos diretos dos animais, mas que são apenas reformistas quando se trata de crítica
à estrutura social.


240

Tabela 12: Questões ambientais, impactos, responsabilização e soluções propostas em animações filiadas ao
discurso da Consciência Verde

ANIMAÇÃO/QUESTÃO AMBIENTAL IMPACTO/ SOLUÇÃO


RESPONSABILIZAÇÃO PROPOSTA
Água é para todos Promove o esgotamento de um rio local e ameaça a Economizar água
vida animal durante o banho
Desperdício de água no banho: Responsável causal: cidadão ordinário
insensibilidade quanto aos direitos dos Responsável enfrentamento: cidadão ordinário
animais
Fundo Atinge os ecossistemas marinhos e constitui uma Não explicita
ameaça à integridade da fauna
Descarte irregular de sacolas plásticas: Responsável causal: não explicita
insensibilidade quanto aos direitos dos Responsável enfrentamento: não explicita
animais
Destimação Criação doméstica de animais silvestres inflige Privilegiar a adoção
sofrimento e ameaça sua capacidade de reintegração ao de animais
Comercialização de animais silvestres e mundo natural; abandonados
criação de animais domésticos: Comercialização de animais em pet shops impõe
insensibilidade quanto aos direitos dos sofrimento e morte;
animais Responsável causal: cidadão ordinário e pet shops
Responsável enfrentamento: cidadão ordinário
Fonte: Elaborado pelo autor.

Quanto às animações filiadas ao discurso das políticas verdes, notamos que em


comum, todas elas empreendem uma crítica contundente ao discurso prometeico,
representando as questões ambientais em termos de negligencia e insensibilidade quanto aos
direitos dos animais, ressaltando, dessa forma, a necessidade de estabelecimento de limites
ecológicos em atividades econômicas que afetam/comprometem diretamente a sobrevivência
de diversas espécies. Além disso, essas animações, de forma geral, não oferecem alternativas
aos problemas ambientais representados, pois privilegiam a sua delimitação e a denúncia de
responsabilidades. Contudo, elas diferem quanto à forma de representação dessas atividades,
pois enquanto algumas são pontuais, tratando da pecuária, por exemplo, outras são mais
gerais, referindo-se apenas à questão do desmatamento sem especificar a origem e às
motivações dessa degradação. Contudo, é o apelo à proteção do ambiente a partir do
reconhecimento da sensibilidade do mundo natural e a denúncia da problemática ambiental
como decorrente da estrutura social vigente que sugerem à vinculação discursiva dessas
animações.
Desabrigados contempla a problemática do avanço da pecuária extensiva sobre as
áreas florestais, alimentado a ideia de que a ausência de limites ambientais nessa atividade
reduz a cobertura florestal e compromete o habitat de uma diversidade de espécies animais ai
presentes. De forma a evidenciar essa opressão e insensibilidade do capitalismo quando se
trata da apropriação do mundo natural em favor do acúmulo de riquezas, essa animação
recorre a uma representação do discurso prometeico como sendo marcado por uma drástica


241

interferência nos sistemas naturais que, por sua vez, resulta em um contexto de desequilíbrio e
ameaça à vida animal. Assim, ao invés de propor alternativas à problemática representada, seu
discurso privilegia a crítica ao capitalismo, ressaltando as consequências de sua ignorância
quanto aos limites ambientais. Nesse contexto, seu apelo recorre à exposição da
vulnerabilidade dos animais quando da degradação da floresta, reivindicando uma
sensibilidade quanto aos seus direitos. É, portanto, essa sensibilidade ecológica que desponta
como motivação central para o questionamento acerca da atividade econômica representada.
Contudo, trata-se de um discurso que privilegia a denúncia do capitalismo em sua
responsabilidade pela problemática ambiental, mas que negligencia acerca das motivações e
dos interesses que permeiam os mais diversos atores sociais relacionados à exploração das
florestas, seja em termos de sua transformação em bens de consumo, seja em sua
comercialização.
Em O Rap dos Bichos a temática ambiental é o desmatamento do cerrado brasileiro,
enquadrado como um problema ecológico decorrente da intensa exploração capitalista desse
bioma, cuja consequência mais grave é a perda de biodiversidade, uma vez que várias
espécies animais encontram-se em vias de extinção. Em seu discurso, a animação reitera a
ideia de que a ausência de limites ecológicos na exploração utilitária do cerrado resultou em
uma degradação que se processa em ritmo alarmante e que perdura em sua insensibilidade
quanto aos direitos dos animais que encontram nesse bioma o seu habitat. Nesse caso, a
relação interdiscursiva é também com o discurso prometeico, denunciado em sua
responsabilidade pela problemática, uma vez que configura uma compreensão de natureza
apenas como recursos à disposição das necessidades humanas. Na animação, não são
especificados atores sociais nem mesmo atividades relacionados à exploração do cerrado, uma
vez que o discurso é impessoal, atribuindo ao “desmatamento” essa responsabilidade.
Portanto, prevalece a ideia de que o desmatamento degrada o cerrado, mas não são revelados
quem e porque esse desmatamento persiste. Nesse caso, também é a sensibilidade quanto aos
direitos dos animais que constitui o apelo central do discurso. Aqui, são os próprios animais
que denunciam (a partir do rap dos bichos) a exploração e a degradação do bioma de forma a
reivindicar sua proteção.
A ideia central em Tamanduabandeira é sobre a importância do estabelecimento de
limites na intervenção humana no ambiente, especificamente quando homens e animais
necessitam de compartilhar um mesmo espaço geográfico, como no caso das estradas que
cruzam áreas florestais. Assim, quando representa a autoestrada em termos de ambiguidade,
como uma necessidade humana, mas também como uma ameaça aos animais, seu discurso


242

reivindica o reconhecimento dos diretos desses últimos no contexto das definições de políticas
relacionadas ao tráfego e à circulação de veículos. Contudo, em certa medida,
Tamanduabandeira pode ser considerada como um discurso reducionista, por que negligencia
acerca dos diversos impactos ambientais que resultam da construção de estradas. Nesse caso,
ela não se opõe à intervenção humana no mundo natural, mas preconiza uma compatibilização
dos interesses humanos com a necessidade de assegurar a integridade e o direito à vida dos
animais. É, portanto, essa sensibilidade diante da vida animal que desponta como
argumentação central na reivindicação de mudanças nas relações homem/natureza no discurso
de Tamanduabandeira. Convém ressaltar que, diferentemente dos casos anteriores, o discurso
dessa animação não privilegia a denúncia de responsabilidade pela problemática ambiental,
mas se volta para a valorização de soluções de enfrentamento, representadas, evidentemente,
em conformidade com sua filiação discursiva, ou seja, no plano político – instância social
responsável pela construção de estradas. Ressalta-se ainda que essa animação também
representa o discurso da consciência ecológica, sobretudo valorizando a ideia de que
incêndios em áreas florestais são decorrentes da negligencia e da insensibilidade ambiental de
cidadãos que nelas transitam, reivindicando, dessa forma, uma reorientação de atitudes
individuais – lançamentos de cigarros nas margens das rodovias, excesso de velocidade e
atropelamento de animais etc.
Rei Gastão problematiza a relação homem natureza, denunciando sua apropriação
utilitária como promotora de profundas consequências sobre mundo natural que afetam a
fauna, a flora, os cursos d’água e a própria paisagem, de forma a reivindicar uma
sensibilidade ambiental no âmbito estrutural da sociedade. Seu discurso recorre a uma
alegoria de um rei ambientalmente insensível, ávido por recursos naturais para sustentar o seu
projeto de reinado (uma metáfora do projeto de sociedade ocidental industrial), dessa forma,
sustenta a ideia de uma natureza harmoniosa, vítima da intervenção humana e que necessita
de ser respeitada em sua sensibilidade. Essa animação defende, em seu modo retórico, a ideia
de que a natureza é dotada de subjetividade e que a intervenção humana no mundo natural
deve considerar introduzir perturbações mínimas em seu equilíbrio, sobretudo de forma a
respeitar os direitos dos animais, as principais vítimas do homem. Não se trata apenas de
reorientar suas intervenções futuras, mas também de emprenhar-se em reverter a degradação
já empreendida. Nesse caso, é a ideia de uma relação menos hierárquica entre o homem e o
mundo natural que se torna contundente. Quanto ao reconhecimento dos atores sociais em
suas responsabilidades sobre essa problemática, Rei Gastão adota a figura do Rei de forma
simbólica, uma estratégia para representar o modelo de sociedade pautado na percepção da


243

natureza meramente como recurso – uma crítica direta ao capitalismo industrial que não passa
pela responsabilização de um ator social em específico. Nesse sentido, entendemos que é a
estrutura social (em sua lógica de extração da natureza) que é apresentada como responsável
pela degradação do ambiente, e por isso mesmo é nessa dimensão social que as
transformações na relação homem/natureza passam a ser reivindicadas. Rei Gastão representa
o discurso prometeico, empenhando-se em responsabilizá-lo pela problemática ambiental, e
também recorre à vitimização dos animais como apelo central.
Pajerama problematiza acerca do avanço das sociedades capitalistas industriais sobre
o mundo natural, ressaltando a ideia de que não há limites ambientais quando se trata de
satisfazer suas demandas por recursos naturais. Em seu discurso, a sociedade capitalista é
caracterizada pela inovação tecnológica em favor da apropriação utilitária da natureza
(florestas, animais, água etc) e por uma intensa e acelerada urbanização. Nesse caso, a
expansão do perímetro urbano sobre as áreas naturais situadas em seu entorno e a intensa
produção de externalidades nos processos industriais são as questões centrais nessa animação.
Portanto, o capitalismo é reconhecido como causa estrutural da transformação do ambiente,
uma vez que apenas o concebe como um conjunto de recursos indispensáveis à lógica de
acúmulo de riquezas.
Pajerama elabora seu discurso descrevendo a expansão da cidade de São Paulo e as
profundas transformações na Mata Atlântica nativa a partir da perspectiva indígena,
apresentada como vítima/testemunho principal desse processo. Na animação, ganha destaque
a transformação do ambiente a partir da criação de linhas de metrô, de autoestradas, de usinas
de energia e da rápida industrialização da região. Em geral, essa problematização da relação
homem/ambiente reconhece nas instituições sociais capitalistas a responsabilidade pela
transformação do ambiente, ressaltando, dessa forma, a necessidade de mudanças estruturais
profundas em várias dimensões: políticas de transportes, econômicas, energéticas, midiática
etc. Nessa animação, a cidade e suas atividades correspondem à representação do discurso
prometeico e o indígena traduz o discurso ambiental dos povos nativos, dada a harmonia e
integração em relação à natureza. Assim, além de sua crítica à sociedade moderna, urbana e
industrial, há um forte apelo para uma sensibilidade ambiental a partir dos valores dos povos
nativos cujos direitos constitui uma das pautas centrais da reivindicação de limites ecológicos
no interior da sociedade capitalista. Aqui, a estratégia discursiva consiste na oposição entre
esses dois modos de compreensão e de atitude sobre o meio ambiente.
Mapinguari, o protetor da floresta também sustenta a ideia de que a intervenção
humana na natureza implica sérias ameaças ao mundo natural, uma vez que a apropriação


244

utilitária do meio ambiente ignora os sistemas ecológicos em sua sensibilidade, contemplando


apenas os interesses humanos por recursos naturais. Na animação, enfatiza-se que a presença
do homem (não indígena) na floresta Amazônica representa um grave desequilíbrio, pois é
motivada pelo interesse pela madeira e por uma diversidade de espécies animais. Assim, essa
intervenção humana é traduzida como degradação do bioma, seja pela derrubada das árvores,
pela caça, pelas queimadas ou pela contaminação dos solos e das águas. Além disso, ressalta-
se que a ameaça à floresta é também uma ameaça às populações indígenas que
tradicionalmente habitam a floresta.
Mapinguari credita exclusivamente aos madeireiros a responsabilidade pela
devastação florestal, representando sua apropriação e interferência na natureza como
destituída de qualquer reconhecimento de limites e implicações relacionadas ao
comprometimento do equilíbrio da floresta. São, portanto, caracterizados por uma
insensibilidade quanto aos diretos do mundo natural. Nesse discurso, a figura fantástica do
Mapinguari representa a bondade, fragilidade e a passividade da floresta como um todo, e
desponta como uma estratégia de apelo ao reconhecimento dos diretos do mundo natural.
Nesse caso, trata-se de um ambiente exuberante e harmonioso, sendo o homem o elemento de
perturbação.
Assim, dada a ênfase na exploração do ambiente em suas implicações sobre as
espécies que habitam a floresta, o que se torna evidente nesse discurso é a necessidade de uma
relação mais harmoniosa com o mundo natural. Esse reconhecimento de uma atividade
econômica como promotora da degradação ambiental nos coloca diante de uma esfera
institucional para seu enfrentamento. Nesse caso, não é o cidadão ordinário que desponta
como responsável pela solução do problema ambiental, mas a esfera econômica, enquadrada
como promotora da degradação do ambiente. Há, portanto uma crítica ao privilégio pelos
interesses econômicos em detrimento do respeito e valorização do mundo natural – os
madeireiros representam o discurso prometeico, a ausência de limites quando se trata de
extração da natureza. Contudo, notamos que nesse discurso as motivações para essa
apropriação da floresta enquanto repositório de recursos naturais não são explicadas, restando
apenas uma vilanização dos madeireiros, qualificados pelo interesse em promover a
degradação em si mesma. Além disso, há uma supervalorização da capacidade de auto
restauração da floresta – após a expulsão dos madeireiros o Mapinguari provoca uma chuva
intensa que prontamente reestabelece a exuberância da floresta. Essa abordagem parece mais
uma manifestação otimista acerca do enfrentamento dessa problemática.


245

Eta Bicho Homem, a exemplo de Mapinguari, denuncia a apropriação material e


utilitária do mundo natural pelas sociedades capitalistas como uma perspectiva
ambientalmente insensível, promotora de graves impactos sobre as florestas e as espécies
animais nela ai habitam. Dessa forma, sustenta a ideia de que o capitalismo, em seu modelo
de progresso e riqueza que reduz à natureza apenas ao estatuto de recurso disponível,
necessita de mudanças de forma a reconhecer os direitos dos animais e assegurar a integridade
dos ecossistemas. Trata-se, portanto, de um discurso que reivindica o reconhecimento da
natureza em sua subjetividade e a necessidade de estabelecimento de limites para sua
exploração. Contudo, apesar da ênfase na derrubada da floresta, a exemplo da animação
anteriormente observada, aqui essa degradação é explicitamente associada à ideia de natureza
enquanto commodities, sobretudo quando configura uma visão de mundo pautada na
transformação irrestrita do mundo natural exclusivamente em favor do crescimento
econômico.
Nesse contexto, é o homem/sociedade capitalista, tomado de uma forma genérica, que
desponta como principal responsável pela degradação do ambiente, sobretudo se
considerarmos a estratégia adotada por essa animação para associar essa perspectiva social a
um sentido utilitário do mundo natural, quando a natureza (animais) é representada em
cédulas monetárias de Real. Portanto, o apelo central que orienta esse discurso é a crítica ao
discurso ambiental prometeico, denunciado em sua completa negligência quanto aos direitos
dos animais e à sensibilidade da floresta – embora não se empenhe em esclarecer acerca dos
problemas ambientais ai relacionados (perda de biodiversidade, aquecimento global, poluição
etc). Dada a essa ênfase no valor intrínseco do mundo natural como motivador do
reconhecimento das necessidades de reorientação da esfera econômica, em sua intervenção no
mundo natural, observamos que essa animação vincula-se diretamente ao discurso das
políticas verdes. Contudo, notamos também que ela recorre ao argumento de que o fim da
natureza é também o fim do próprio homem, não ignorando, por completo, o valor utilitário
do mundo natural.
O Menino e o Mundo enquadra a degradação ambiental como uma das mais graves
crises das sociedades industriais capitalistas, sustentando a ideia de que o advento da
sociedade industrial capitalista resultou em uma completa insensibilidade perante o mundo
natural. Em seu discurso, a animação ressalta transformações substancias na relação homem
natureza, considerando o processo histórico que contempla: as sociedades pré-capitalistas,
enquadradas como dotadas de maior proximidade homem/natureza, sobretudo pelo
sentimento de pertencimento em relação ao mundo físico e pela sensibilidade ecológica; a


246

emergência das sociedades capitalistas agrárias, marcadas pelo domínio do mundo natural e
por sua apropriação como recurso a ser transformado através da incipiente mecanização; e a
passagem para as sociedades capitalistas industriais, representadas pelo completo afastamento
em relação ao mundo natural, pela sua irrestrita comodificação e pela intensa produção de
externalidades (poluição atmosférica, derrubada de florestas, poluição das águas etc). Nessa
animação, ganha centralidade a problemática da exploração do indivíduo (trabalhador e
consumidor) e de sua perda de subjetividade ao longo desse processo histórico. Contudo,
simultaneamente a essa problemática, há também um reconhecimento de uma grave crise
ecológica, ambas atribuídas à estrutura social moderna, cuja lógica de acúmulo de riquezas
resulta em processos de subjetivação pautados em estilos de vida orientados pela alienação e
pelo consumo, destituídos de limites quanto à necessidade de garantias ao equilíbrio dos
ecossistemas (sociais e ambientais). Nesse contexto, alimenta-se a ideia de que as sociedades
capitalistas industriais ignoram por completo a necessidade de uma orientação menos
antropocêntrica e destrutiva em relação ao mundo natural.
O Menino e o Mundo apresenta um discurso mais empenhado em expor uma causa
estrutural para a degradação do ambiente, por isso enfatiza a estrutura política e econômica da
sociedade em sua responsabilidade pela problemática ecológica, ao invés de atribuí-la
exclusivamente aos cidadãos ordinários. Nesse caso, revela-se a lógica capitalista em sua
abrangente institucionalização, relacionada tanto à tecnologização da produção material,
como também ao poder político, à esfera midiática etc. Esse discurso reconhece na estrutura
social uma diversidade de fatores que contribuem para a crise socioambiental, contudo, não se
propõe a oferecer alternativas pontuais e reformistas. Seu enfoque é mais profundo, uma vez
que animação evidencia a necessidade de reorientação da percepção hegemônica sobre a
natureza de forma a destituir seu caráter utilitário em favor da valorização de um
envolvimento que se aproxima com a perspectiva da ética ambiental heideggeriana - cuidado
e habitação do planeta. Nesse caso, ganha visibilidade a ideia de natureza primordial, cujo
valor se mostra possível apenas quando de sua perda, como apelo central nesse discurso. O
Menino e o Mundo manifesta o pessimismo rousseaneano acerca das sociedades industriais,
valoriza uma percepção romântica de natureza e defende o resgate de uma relação harmoniosa
e sensível em relação ao mundo natural. Assim, ao invés de apresentar soluções para causas
diretas da degradação do ambiente, se volta para uma reorientação estrutural da sociedade
frente os desafios decorrentes da crise ecológica – uma profunda transformação do ethos
ambiental dos sujeitos.


247

Assim como as animações enquadradas na categoria dos discursos da consciência


verde, entre as animações vinculadas aos discursos ambientais das políticas verdes notamos
que predominam denúncias acerca da violação dos direitos dos animais. Seis das animações
analisadas nessa categoria discursiva manifestam um apelo em defesa de uma diversidade de
espécies, representados em contextos de vulnerabilidade à interferência humana em seus
habitats. Nesses casos, a mesma estratégia de representação do discurso prometeico se faz
presente quando várias atividades humanas são enquadradas como ambientalmente nocivas,
tendo em conta sua insensibilidade quanto ao mundo natural. Assim, ao invés de valorizar
mudanças no ethos dos indivíduos, esses discursos reconhecem a necessidade de reorientação
de atividades econômicas relacionadas à pecuária extensiva, ao desmatamento do cerrado e à
exploração madeireira na floresta amazônica.
Contudo, embora reveladores da degradação ambiental em uma dimensão institucional
– no âmbito de instituições econômicas (atores sociais representativos do mercado), cuja
resolução passa, consequentemente, pela esfera política, notamos que predominam discursos
empenhados apenas na vilanização do homem diante de uma natureza vitimada.
Desabrigados, Rap dos Bichos, Eta bicho Homem, Mapinguari e Rei Gastão são exemplos
dessa abordagem que, mesmo denunciado a apropriação prometeica da natureza enquanto
recursos disponíveis – o ataque à natureza produtiva e a busca de extração e rendimento, nos
termos heideggerianos, destinado ao acúmulo de riquezas de seus empreendedores, limitam-se
tão somente a enquadrá-los como “vilões ambientais”, apontando suas atividades como causas
diretas da degradação do ambiente. Nesses casos, apenas a apropriação da natureza é
contemplada, evitando-se o enquadramento de um contexto mais amplo que envolve as
transformações desses recursos em bens que alimentam a demanda social. Em suma, a maior
parte das animações cujos discursos são representativos das políticas verdes, parece sustentar
a ideia de que determinadas atividades ambientalmente impactantes são encabeçadas por
homens maus, insensíveis à natureza. Negligencia-se, dessa forma, a ideia de que a sociedade
em geral se estrutura em torno de atividades ambientalmente degradantes.
Pajerama e O Menino e o Mundo são os dois casos em que esses discursos ambientais
se mostram mais consistentes. Nelas, ao invés da vilanização de uma determinada atividade
econômica ou de uma intervenção humana no mundo natural em específico, a degradação
ambiental é enquadrada em um contexto estrutural. Portanto, ao invés de problematizar uma
causa direta, são reveladores das motivações da apropriação do meio ambiente, reconhecendo
haver uma lógica social – o capitalismo industrial, que orienta toda uma cadeia de extração de
recursos naturais, sua transformação em bens e energia disponíveis, sobretudo ao consumo


248

das populações urbanas. Em ambos os casos, e também em Rei Gastão, ainda que de forma
bastante tímida, a degradação do ambiente traduz relações de poder e interesses materiais,
resultando, portanto, de um todo social, e não apenas da ação de um grupo restrito de homens
ambientalmente insensíveis. Nesses termos, crise ecológica e crise social são intrinsecamente
relacionadas. Na tabela a seguir ressaltamos acerca dos discursos dessas animações.

Tabela 13: Questões ambientais, impactos, responsabilização e soluções propostas em animações filiadas ao
discurso das Políticas Verdes

ANIMAÇÃO/QUESTÃO AMBIENTAL IMPACTO/ SOLUÇÃO


RESPONSABILIZAÇÃO PROPOSTA
Desabrigados Redução da cobertura florestal e comprometimento do Não explicita: alerta
habitat de uma diversidade de espécies animais
Avanço da pecuária extensiva sobre as Responsável causal: pecuaristas
áreas florestais: capitalismo e Responsável enfrentamento: não explicita
insensibilidade quanto aos direitos dos
animais
O Rap dos Bichos Perda de biodiversidade do cerrado brasileiro Não explicita: alerta
Responsável causal: não especifica (impessoal)
Exploração desenfreada do cerrado
Responsável enfrentamento: não explicita
brasileiro: capitalismo e insensibilidade
quanto aos direitos dos animais
Tamanduabandeira Atropelamentos e incêndios ameaçam a vida animal; Construção de
passagens
Construção de Estradas em áreas florestais Responsável causal: cidadão comum (motoristas em subterrâneas para
geral); assegurar a
Responsável enfrentamento: não explicita integridade animal
Rei Gastão Compromete a fauna, a flora, os cursos d’água e a Reverter a
própria paisagem natural degradação já
Apropriação utilitária da natureza: Responsável causal: antropocentrismo, sociedade estabelecida;
antropocentrismo e insensibilidade quanto capitalista; Minimizar às
aos direitos dos animais Responsável enfrentamento: sociedade capitalista; perturbações no
mundo natural
Pajerama Exaustão de recursos naturais, expulsão de povos Não explicita: alerta
nativos, degradação ambiental, perda de biodiversidade
Crescimento urbano, industrialização e e da cobertura florestal na Mata Atlântica;
degradação ambiental nas sociedades Responsável causal: o capitalismo industrial em termos
capitalistas industriais estruturais;
Responsável enfrentamento: não explicita;
Mapinguari, o protetor da floresta Ameaça à vida animal, redução da cobertura florestal, Expulsar os
contaminação dos solos e das águas madeireiros da
A exploração madeireira na floresta Responsável causal: Madeireiros; floresta;
Amazônica Responsável enfrentamento: O Mapinguari;
Eta Bicho Homem Redução da cobertura florestal e ameaça à vida animal Não explicita: alerta

Apropriação utilitária da floresta: Responsável causal: homem em geral;


comodificação da natureza e Responsável enfrentamento: não explicita;
insensibilidade quanto aos direitos dos
animais
O Menino e o Mundo Afastamento do homem do mundo natural, Resgate de uma
comodificação da natureza, grave e profunda crise sensibilidade e de
A consolidação da sociedade capitalista socioambiental; uma ética
industrial e a intensificação da apropriação Responsável causal: Sociedade capitalista industrial em socioambiental
utilitária do mundo natural termos estruturais;
Responsável enfrentamento: não explicita;
Fonte: Elaborado pelo autor.


249

4.2.2 Discursos de reconhecimento ou negação de limites ambientais

Conforme Dryzek (2004) essa categoria envolve dois tipos de discursos os quais
manifestam entre si uma nítida oposição quanto à percepção da capacidade dos ecossistemas
atenderem as demandas por recursos naturais no sentido de assegurar o desenvolvimento das
sociedades: o discurso da sobrevivência e o discurso prometeico. Em comum, esses discursos
compartilham de uma mesma função ideacional, pois valorizam uma compreensão
antropocêntrica e utilitária da uma natureza percebida exclusivamente enquanto recursos
disponíveis à transformação pelo homem, mediante uso de energia e de conhecimento. Em
ambos os casos emerge a valorização de um ethos ambiental que sustenta a ideia de
superioridade humana sobre o mundo natural.
De acordo com Dryzek (2004), o discurso da sobrevivência ressalta a necessidade de
conter as demandas sociais por recursos naturais, considerando, inclusive, a possibilidade de
estacionar o desenvolvimento e o crescimento econômico de forma a evitar o colapso social,
uma vez que mesmo utilitária, a natureza é percebida com um conjunto de ecossistemas e de
interelações cuja interferência humana suscita moderação. Esse discurso privilegia histórias
ambientais com apelo dramático, com ênfase na abordagem apocalíptica. O discurso
prometeico, por sua vez, compreende que os recursos naturais são ilimitados ou infinitos, e
que novos recursos naturais são encontrados quando requisitados. Nessa perspectiva, o mundo
natural não passa de commodities e o crescimento econômico está garantido pela capacidade
do homem de manipular o mundo a partir de sua inovação tecnológica. Para Dryzek (2004) é
esse o discurso mais influente nas instituições sociais da economia capitalista, as quais
despontam como promotoras do crescimento e do desenvolvimento das sociedades.
Sob nossa perspectiva analítica, observamos que duas animações da amostra mostram-
se vinculadas ao discurso prometeico: A princesa do Vale e De onde vem a água do Rio.
Nesses dois casos, as narrativas não desenvolvem questões ambientais, mas valorizam a ideia
de uma natureza disponível como recurso, cuja apropriação deve orientar o progresso
econômico e material. Mas, enquanto A princesa reconhece formas mais harmoniosas de
envolvimento com o mundo natural – os povos indígenas, De onde vem apenas manifesta uma
compreensão cartesiana do mundo natural. Quanto ao discurso da sobrevivência, seis
animações mostram-se vinculadas a esta perspectiva, são elas: Alegria de Macaco,
Consumidouro, Escalada, Filme Ilhado, O Diário da Terra e Perfeito. Nesses casos, seus
discursos enfatizam a necessidade de adoção de limites ambientais (extração de recursos,
produção de externalidades etc) de modo a assegurar a continuidade das sociedades. Além


250

disso, em comum, essas animações também manifestam um apelo ao drama apocalíptico em


suas narrativas.
Enquanto discurso ecológico prometeico, A Princesa do Vale não se empenha em
construir uma problemática ambiental, mas em valorizar a transformação do mundo natural
como garantia de progresso econômico e de desenvolvimento, sustentando essa perspectiva a
partir da celebração da colonização brasileira. A ideia central de seu discurso é de que o
mundo natural constitui, exclusivamente, uma fonte de recursos cuja apropriação se mostra
imprescindível ao progresso. É o que revela sua representação da atuação dos colonizadores
portugueses no Brasil colônia, compreendida como marco inaugural de um percurso histórico
que assegurou condições favoráveis ao surgimento de municípios prósperos, a exemplo de
Limoeiro, no Ceará.
Convém ressaltar que, nessa animação, os índios que habitavam o Brasil pré-colonial
são representados como dotados de uma relação menos antropocêntrica e, consequentemente,
mais harmoniosa com o mundo natural, este valorizado em sua exuberância e pela harmonia
entre as diversas espécies. Contudo, notamos que essa representação dos discursos ambientais
dos povos nativos mostra-se paradoxal, por que ao mesmo tempo em que valoriza essa relação
menos hierárquica entre os indígenas e a natureza, lamentando acerca da tirania e da violência
dos colonizadores sobre esses povos e sobre o mundo natural, termina por defender a ideia de
que essa dupla apropriação – da natureza e do indígena, fora uma condição essencial para o
estabelecimento das bases da prosperidade material e cultural do país. Assim, torna-se clara a
representação do discurso prometeico nessa animação, sobretudo ressaltando a conquista do
ambiente como uma batalha pelo progresso, em que perspectivas menos hierárquicas
homem/natureza precisaram ser sacrificadas em nome do desenvolvimento, cuja
transformação da natureza e sua apropriação enquanto recurso torna-se imprescindível.
A vinculação dessa animação ao discurso prometeico é também reforçada quando da
representação positiva do discurso do catolicismo, a partir da valorização da ideia de uma
natureza divinamente concebida para atender as necessidades do homem (espécie superior em
relação às demais), e, principalmente, pela forte ênfase na tecnologia como promotora de um
futuro cada vez mais próspero. Há, nessa animação, uma concepção de natureza em plena
sintonia com a perspectiva cartesiana, um discurso desprovido de qualquer reconhecimento
quanto às necessidades de estabelecimento de limites na exploração ambiental.
Em De onde vem a água do rio também não há um empenho em delimitar
problemáticas ambientais relacionadas ao uso da água, mas um ênfase na descrição “científica”
acerca do ciclo da água enquanto um fenômeno natural. Aqui também emerge uma


251

representação da natureza em termos cartesianos, em que o ciclo da água é explicado como


um conjunto de dados objetivos, como sistema relacionado a uma sucessão de eventos. Essa
representação da perspectiva cartesiana da natureza é uma estratégia empenhada em valorizá-
la em sua utilidade humana, reconhecendo como legítima sua apropriação, seja para a
recreação, para pescaria, para consumo, para a navegação ou mesmo para uma contemplação
estética, uma referência direta à noção de natureza produtiva heideggeriana, disponível à
extração. Reconhecemos, nesse caso, uma filiação ao discurso prometeico que resulta da
confluência da atribuição de um sentido utilitário à natureza, do não reconhecimento de
ecossistemas aquáticos e também de problemas relacionados à sua exploração/intervenção -
não há, por exemplo, representações da apropriação da água em atividades industriais. Nesse
sentido, a ideia do ciclo da água como um sistema perpétuo converge para a ideia da água
como um recurso ilimitado, permanentemente à disposição ao projeto humano de crescimento
e progresso econômico.
De uma forma geral, essas duas animações vinculadas ao discurso prometeico
convergem em diversos aspectos, sobretudo quando celebram a conquista da natureza, seja
como garantia de crescimento e progresso, seja a partir da racionalidade científica que
assegura seu desvendamento e sua dominação. Além disso, nesses dois casos não há um
discurso relacionado à problematização da relação homem/natureza, prevalecendo uma
compreensão hierárquica e antropocêntrica do mundo natural. Contudo, as animações
divergem quanto à representação do mundo natural, pois enquanto A Princesa do Vale o
percebe como um sistema harmonioso, constituído por diversas espécies e sensível à
interferência humana, De onde vem a água do Rio o observa apenas como um conjunto
objetivo de dados. Mas, ambos os casos legitimam “ataques” ao mundo natural no termo
heideggeriano, sendo marcante no primeiro caso o uso da força e da violência, e, no segundo,
o uso do conhecimento científico. É, portanto, acentuada a perspectiva de uma natureza
objetiva (sistema de conhecimento) em consonância com a ideia de uma natureza produtiva,
sempre disposta a extração e ao rendimento, apesar dos contextos diferentes abordados pelas
animações. Dessa forma, torna-se nítida a ausência de reconhecimento de limites na ação
humana sobre o mundo natural. A tabela a seguir sistematiza acerca das características
discursivas dessas animações.

Tabela 14: Questões ambientais, impactos, responsabilização e soluções propostas em animações filiadas ao
discurso prometeico

ANIMAÇÃO/QUESTÃO AMBIENTAL IMPACTO/ SOLUÇÃO


RESPONSABILIZAÇÃO PROPOSTA


252

A princesa do Vale A apropriação do mundo natural e o domínio dos Domínio e controle


povos indígenas asseguraram o progresso e o da natureza
Controle, domínio e transformação da desenvolvimento econômico da região
natureza durante o processo de colonização Responsável causal: colonizadores e empreendedores
brasileiro Responsável enfrentamento: não se aplica
De onde vem a água do Rio Enquanto ciclo renovável, a água desponta como um Compreensão,
recurso relevante, inesgotável e disponível para as mais domínio e controle
Compreensão científica do ciclo da água: o diversas atividades humanas da natureza
rio enquanto recurso Responsável causal: ciência
Responsável enfrentamento: não se aplica
Fonte: Elaborado pelo autor.

Alegria de Macaco manifesta uma vinculação ao discursos da sobrevivência,


sobretudo por ressaltar a necessidade de conter a intervenção humana no mundo natural,
enfatizando, particularmente, o consumismo (suas implicações enquanto acúmulo e de
descarte de resíduos sólidos) como uma grave ameaça ambiental, cujos níveis atuais se
mostram capazes de conduzir a sociedade a uma autodestruição. Nesse caso, a lógica de
produção capitalista, representada pelas esferas da produção e do consumo, com ênfase nas
estratégias de obsolescência programada, é colocada em xeque, responsabilizada por
catástrofes ambientais. A mídia, mais especificamente a publicidade, é enquadrada como
instituição que legitima a lógica capitalista, despontando como principal agente promotor de
estilos de vida pautados no consumo, contribuindo, dessa forma, diretamente para a crise
ambiental. Outra ideia marcante no discurso dessa animação é a reflexividade da problemática
ambiental, uma vez que é a própria região promotora da degradação ambiental aquela que
sofre diretamente seus impactos.
Nessa animação também estão representadas as noções de explosividade social do
perigo e da irresponsabilidade organizada marcantes no pensamento de Ulrich Beck (2010)
sobre a Sociedade de Risco, as quais se tornam evidentes quando se associa a catástrofe
ambiental à sociedade industrial, sendo esta caracterizada pela incapacidade do Estado em
conter os riscos, pela ausência de preocupação ambiental na lógica capitalista e pelo
desenvolvimento e expansão de tecnologias ameaçadoras. Na verdade, na animação, a
principal estratégia discursiva consiste em representar o discurso prometeico como
responsável pela problemática ambiental, uma vez que ele estimula a adoção de um estilo de
vida consumista como condição para a produção de riquezas. Mas, em seu apelo apocalíptico,
quando o acúmulo de resíduos decorrentes do descarte irregular de produtos obsoletos se
intensifica e promove uma catástrofe ambiental devastadora, evidencia-se que são esses
padrões que devem ser reorientados de forma a respeitar a capacidade de o planeta sustentar a
permanência humana. Portanto, nessa animação, não é a sensibilidade ambiental o aspecto


253

central que motiva essa reivindicação, mas sim a necessidade de assegurar a continuidade da
própria sociedade.
Consumidouro também ressalta a necessidade de conter o consumismo,
representando-o como uma grave ameaça ambiental, capaz de empreender o esgotamento dos
recursos naturais e a completa destruição da natureza, comprometendo, dessa forma, a
permanência da própria sociedade. Nesse caso, também é o estilo de vida consumista
responsabilizado pelo apocalipse do planeta, mas, sobretudo em decorrência de sua
intensificação a partir do comércio eletrônico. Assim, diferentemente do caso anterior, em que
se valoriza uma causa estrutural para a crise ambiental – as instituições sociais (publicidade,
política e mercado) nas sociedades da economia capitalista, aqui o privilégio é pelo
reconhecimento apenas de uma causa direta da degradação do ambiente, o consumo.
Consequentemente, é o cidadão ordinário responsabilizado diretamente pela crise ecológica.
Em seu discurso, a animação reconhece a natureza enquanto um sistema suscetível à
intervenção humana, contudo, essa perspectiva é apenas explorada no plano descritivo, de
modo a representar as consequências da degradação ambiental, uma vez que seu apelo central
não privilegia o reconhecimento da sensibilidade do mundo natural como motivação para a
reorientação da interferência humana. Nesse sentido, predomina a ideia de uma natureza
como recurso, cuja apropriação necessita ser contida exclusivamente para evitar o
esgotamento do planeta. Assim, trata-se de uma perspectiva antropocêntrica de proteção do
ambiente de forma a não inviabilizar as sociedades. Nesse caso, a mudança nos padrões de
consumo denunciados não necessariamente significa uma mudança na forma como o meio
ambiente é percebido.
Em Consumidouro são as ideias de Giddens (1991) acerca da globalização e dos
perigos ecológicos decorrentes da produção industrial, sobre os estilos de vidas modernos, e
sua compreensão de que atividades locais resultam em impactos ambientais em zonas
geograficamente distantes, que se fazem representadas. Da mesma forma que a animação
anterior, há uma representação do discurso prometeico em sua responsabilidade pela
problemática ambiental, enquanto promotor de estilos de vida extremamente impactantes
sobre a natureza, os quais necessitam de ser freados para assegurar a permanência humana no
planeta.
Escalada caracteriza as sociedades capitalistas como sendo marcadas por uma intensa
demanda por recursos naturais, ressaltando a necessidade de conter essa perspectiva no
sentido de evitar o colapso total do planeta. Trata-se de uma denúncia indireta, uma vez que a
animação recorre à metáfora da competição para representar a sociedades contemporâneas, a


254

partir da ideia de livre mercado. Nesse sentido, valoriza a importância do reconhecimento da


finitude dos recursos naturais por parte do mercado, percebido como principal responsável
pela iminente crise ambiental. De forma geral, essa animação privilegia uma descrição da
competição por recursos naturais em termos de implicação ambiental, evitando uma
argumentação acerca dos processos sociais mais amplos relacionados a esse contexto. Assim,
ela se mostra mais como uma crítica pontual ao esgotamento do planeta e, conforme os casos
anteriores, é com o discurso prometeico que essa animação estabelece sua relação
interdiscursiva, rejeitando-o ao representa-lo como característico das sociedades capitalistas
marcadas pela competição acirrada por recursos naturais, pela ausência de limites na
exploração do meio ambiente, pela forte hierarquia homem/natureza e por ignorar o mundo
natural em sua sensibilidade.
Filme Ilhado apresenta um discurso que ressalta a necessidade de conter a intensa
demanda por recursos naturais e também a produção de externalidades industriais nas
sociedades capitalistas de forma a evitar o colapso total do planeta. Nesse sentido, alimenta a
ideia de que o capitalismo é promotor de uma série de problemas ambientais, tais como a
poluição atmosférica, a devastação de florestas, a contaminação dos mares ou mesmo o
aquecimento global. As atividades econômicas diretamente representadas nesse contexto são
a extração de petróleo, a indústria madeireira e a produção industrial de uma forma geral.
Em seu discurso, o cidadão ordinário é representado apenas como vítima da
degradação ambiental, incapaz de mudar esse contexto, condição valorizada apenas enquanto
potencialidade no âmbito dos atores sociais representativos do próprio capitalismo. O discurso
prometeico configura a relação interdiscursiva manifestada nessa animação, rejeitado ao ser
representado como característico das sociedades capitalistas, marcado pela intensa demanda
por recursos naturais, pela ausência de limites na exploração do meio ambiente, pela forte
hierarquia homem/natureza e por ignorar o mundo natural em sua sensibilidade. Nessa
animação, a metáfora da ilha é empregada de forma a ressaltar que o agravamento da crise
ambiental compromete cada vez mais a sobrevivência humana no planeta, reduzindo suas
possibilidades de permanência e de manutenção do crescimento e do progresso. Trata-se,
portanto, de um apelo ambiental de caráter antropocêntrico, que reconhece a degradação do
ambiente apenas como uma ameaça a vida humana, ignorando suas implicações sobre uma
natureza não humana, marcada por uma diversidade de espécies e entidades. Assim, enquanto
discurso da sobrevivência, a animação se empenha em denunciar a iminência de um
apocalipse social, caso permaneçam os atuais níveis de exploração de recursos naturas.


255

O Diário da Terra também enfatiza a necessidade de frear a intervenção humana no


mundo natural como forma de respeitar os limites do planeta e evitar o apocalipse social. Seu
discurso se volta para a ideia de que a presença humana no planeta se tornou problemática em
um contexto recente, sobretudo com o advento do industrialismo, uma vez que é a produção
fabril e a exploração madeireira que são enquadradas como causas diretas da degradação
ambiental. Além disso, tanto reconhece a capacidade humana de promover problemas
ambientais pontuais, mas também de interferir no clima do planeta e, consequentemente, de
provocar sua completa devastação.
Contudo, nessa ênfase apocalíptica da ação humana, os indivíduos ordinários não são
responsabilizados pela problemática, nem são valorizados em sua capacidade de enfrenta-la.
Outro aspecto marcante da filiação dessa animação ao discurso da sobrevivência reside no
fato de que o reconhecimento da necessidade de frear a exploração dos recursos naturais
reside na argumentação de que planeta é vital para a vida humana, seja enquanto recurso, seja
do ponto de vista contemplativo e estético. Portanto, uma perspectiva antropocêntrica, embora
seja reconhecida a sensibilidade do mundo natural (simbolizado pela metáfora do planeta
como um paciente doente), seus sistemas de equilíbrio e sua relevância para a vida animal. O
discurso prometeico é marcante na configuração da relação interdiscursiva nessa animação,
rejeitado em sua associação às sociedades industriais, marcadas pela intensa intervenção no
mundo natural, pela ausência de limites nessa exploração e pela forte hierarquia
homem/natureza.
O Diário da Terra adota duas estratégias principais para desenvolver seu apelo
discursivo: a primeira reside no testemunho de uma criança que adverte que os impactos da
intervenção humana no ambiente repercutem no seu cotidiano, afetando, sobretudo, seu bem
estar e sua recreação; a segunda consiste em representar o planeta Terra como um paciente
doente, em estágio terminal, vítima do descaso humano. Dessa forma, apesar de descrever
uma série de impactos da degradação ambiental, enfatiza que a reorientação da ação humana
no planeta deve privilegiar assegurar a integridade da Terra para suportar a vida humana em
suas necessidades. Nesse caso, apenas causas diretas da degradação ambiental são
representadas, desconsiderando a problemática do ambiente em termos estruturais. Por isso o
industrialismo despontar, isoladamente, como causa da degradação, não se fazendo
acompanhado de outros atores sociais, a exemplo dos próprios consumidores. Assim, frear a
intervenção humana não se traduz em sensibilidade ambiental, mas em garantia de
permanecia do homem no Planeta, sobretudo em termos de desenvolvimento. Nesses termos,
são as atividades econômicas representadas aquelas em que se faz necessário interferir no


256

sentido de minimizar os problemas ambientais relacionados, reiterando a ideia de que basta


tão somente a substituição dos “homens maus” por “amigos do planeta”.
Perfeito, a última animação do corpus em que observamos uma vinculação aos
discursos da sobrevivência, enquadra o antropocentrismo como um projeto que responde pelo
esgotamento dos recursos naturais e pelo comprometimento do planeta, com ênfase na
ameaça à permanência da vida humana. Dessa forma, sugere que a interferência humana no
planeta é marcada pela negação de limites do mundo natural, uma perspectiva empenhada na
manutenção de uma sociedade inviável, cujo enfrentamento se faz necessário de forma a
evitar um destino apocalíptico das sociedades. Nesse caso, não há uma responsabilização
direta de atores sociais específicos pelo esgotamento do planeta, mas uma referência à lógica
de apropriação irrestrita do mundo natural em favor do atendimento das necessidades
humanas, uma clara representação do discurso prometeico, que se torna explicitamente
rejeitado. Perfeito é uma animação poética e subjetiva que explora a metáfora do homem
narcisista para estabelecer sua crítica à sociedade antropocêntrica, cuja negligencia com as
limitações da natureza resulta em intensa degradação ambiental. Mas, acima de tudo, é mais
um reconhecimento da necessidade de limitar essa intervenção no mundo natural como
condição de garantia da permanência humana, do que em favor dos direitos do mundo natural.
Em síntese, as seis animações vinculadas aos discursos da sobrevivência,
sistematizados na tabela 15, a seguir, apresentam histórias sobre apocalipse ambiental. Em
comum, são todas elas denúncias acerca da ausência de limites no que diz respeito à
intervenção humana no mundo natural. Mas, enquanto Escalada e Perfeito operam no plano
mais abstrato e genérico, evitando atribuir responsabilização pela degradação ambiental a um
determinado ator social, apenas sinalizando acerca da necessidade de reconhecimento de
limites quanto ao consumo de recursos naturais e também da transformação do ambiente,
Consumidouro, Alegria de Macaco, Diário da Terra e Filme Ilhado são mais específicos.
Alegria de Macaco e Consumidouro observam a crise ambiental como consequência dos
padrões de consumo vigentes, mas enquadram essa problemática de forma diferente. Em
Alegria de Macaco, o consumismo é observado de forma estrutural, ele está associado à
lógica social, resulta da fragilidade da esfera política diante dos interesses da indústria que
encontra na publicidade seu maior aliado. Nesse caso, os estilos de vida são observados
enquanto promotores de graves catástrofes ambientais, pois, apesar de intensificarem o uso do
ambiente como fonte de recurso, mostra-se mais problemático ao tomar o ambiente enquanto
depósito de resíduos.


257

Em Consumidouro ele situa-se apenas no plano direto da degradação do ambiente.


Aqui o consumo está associado especificamente à extração de recursos e não a problemas
ambientais relacionados às demais etapas da produção industrial. Além disso, no discurso
dessa animação é o indivíduo ordinário o principal responsável pela crise ambiental,
relegando, portanto, a estrutura social em sua força sobre esse individuo, nomeadamente na
promoção de seus estilos de vida. Assim, ambas as animações privilegiam redução no
consumo, mas enfatizam níveis distintos de enfrentamento. Em Diário da Terra, por sua vez,
o industrialismo é a causa da degradação ambiental, especificamente atividades relacionadas à
derrubada de florestas. Já em Filme Ilhado além da derrubada das florestas, a exploração
petrolífera é também responsabilizada pela crise ambiental.
Notamos que em todos esses casos predomina uma ideia de natureza produtiva, apenas
enquanto recurso disponível à extração humana. Acerca da dimensão das problemáticas
ambientais representadas, apenas Diário da Terra contempla a agenda ambiental atual,
enquadrando as mudanças climáticas, uma das mais preocupantes questões ecológicas. De
qualquer forma, em todos os casos as problemáticas ambientais são representadas apenas
enquanto eventos diretos, ao invés de fenômenos duradouros e cumulativos. Também não são
privilegiadas soluções para o enfrentamento da crise ecológica, apenas prevalecendo o tom de
denúncia da ausência de limites na interferência do homem no mundo natural. Assim,
observamos que a ênfase no drama apocalítico termina por ofuscar uma compreensão mais
ampla dos contextos que retratam as crises do ambiente, a exceção de Alegria de macaco. Em
linhas gerais, essas animações são discursos que despertam o alarme da crise ecológica, mas
que terminam por engessar o cidadão comum (a audiência) diante do medo e do temor do
apocalipse iminente. Além disso, alimenta-se a ideia de que resta pouco a fazer diante dos
rumos das sociedades.

Tabela 15: Questões ambientais, impactos, responsabilização e soluções propostas em animações filiadas ao
discurso da sobrevivência

ANIMAÇÃO/QUESTÃO AMBIENTAL IMPACTO/ SOLUÇÃO


RESPONSABILIZAÇÃO PROPOSTA
Alegria de Macaco O acúmulo de resíduos sólidos decorrente do intenso Não explicita:
descarte de produtos estimulado pela obsolescência infere-se a
Consumismo programada acarreta graves catástrofes ambientais: mudanças na
inundação/apocalipse relação produção e
Responsável causal: sociedade capitalista industrial em consumo e o
termos estruturais (mercado, política e mídia) reconhecimento da
Responsável enfrentamento: não explicita finitude dos
recursos naturais
Consumidouro Esgotamento dos recursos naturais e a completa Não explicita:
destruição da natureza, uma vez compreendida com infere-se mudanças
Consumismo recursos disponíveis à extração: esgotamento do nos padrões de


258

planeta/apocalipse consumo e o
reconhecimento da
Responsável causal: o cidadão comum (estilo de vida) finitude dos
Responsável enfrentamento: não explicita recursos naturais
Escalada Esgotamento dos recursos naturais e colapso total do Não explicita:
planeta: apocalipse infere-se o
A intensa demanda por recursos naturais Responsável causal: mercado/concorrência reconhecimento da
Responsável enfrentamento: não explicita finitude dos
recursos naturais
Filme Ilhado Ameaça à vida humana, a permanência e a manutenção Não explicita:
dos níveis de crescimento e desenvolvimento: infere-se o
Demanda por recursos naturais e produção apocalipse reconhecimento da
de externalidades industriais Responsável causal: extração de petróleo, indústria finitude dos
madeireira e a produção industrial em geral; recursos naturais
Responsável enfrentamento: não explicita
O Diário da Terra A intervenção humana no planeta é cada vez mais Não explicita:
intensa, resultou em alterações no clima, as quais têm infere-se o
Mudanças climáticas: demanda por recursos impactado diretamente no cotidiano das pessoas, e reconhecimento da
naturais e produção de externalidades avança para o apocalipse do planeta finitude dos
industriais Responsável causal: a produção industrial e a recursos naturais
exploração madeireira;
Responsável enfrentamento: a sociedade em geral;
Perfeito Comprometimento pleno do planeta, ameaça a vida Não explicita
humana: apocalipse
Esgotamento dos recursos naturais Responsável causal: a interferência no planeta;
Responsável enfrentamento: não explicita;
Fonte: Elaborado pelo autor.

4.2.3 Discursos voltados para a solução de problemas ambientais

Conforme Dryzek (2004) são três os discursos situados nessa categoria: racionalismo
administrativo; pragmatismo democrático; racionalismo econômico. No plano ideacional,
seus sistemas de restrições semânticas compartilham da valorização utilitária da natureza,
embora reconhecida como um conjunto de ecossistemas, e da compreensão da problemática
ambiental como consequência da intervenção humana no mundo natural. Além disso, no
plano identitário, da constituição do ethos ambiental, a soberania do homem diante da
natureza é reivindicada por ambos os discursos. Contudo, as soluções para o enfrentamento da
problemática ambiental se baseiam em percepções distintas, orientando, portanto, diferentes
atuações no plano inter-relacional – os atores sociais em sua articulação diante da crise
ecológica.
O racionalismo administrativo compreende que a problemática ambiental deve ser
resolvida a partir da atuação de especialistas, valorizando o papel do governo e de suas
instituições na adoção de práticas e metodologias para a resolução de problemas ambientais
(gerenciamento de recursos, agências de controle de poluição, instrumentos de regulação
política, departamento de avaliação de impacto ambiental, comissões de conselhos de


259

especialistas etc). No pragmatismo democrático a resolução de problemas ambientais resulta


da estrutura institucional das democracias capitalistas liberais e se baseia na atuação de todos
os indivíduos, a partir de uma multiplicidade de perspectivas e dispositivos (consulta pública,
mediação na resolução de conflitos, diálogos nas definições políticas, pesquisa pública para
elaboração de projetos ambientais etc). Sua ênfase é na cooperação entre indivíduos e entre
esses e as instituições. O racionalismo econômico, por sua vez, é um discurso que privilegia o
desenvolvimento de mecanismos de mercado para a regulagem das questões ambientais. Em
geral, conforme o autor, são discursos que não reivindicam alterações substanciais na
estrutura do sistema industrial capitalista, ou uma maior sensibilidade perante o mundo
natural.
No corpus, identificamos oito animações vinculadas ao pragmatismo democrático,
sendo uma delas simultaneamente associada ao racionalismo administrativo. Buba e o
aquecimento global, Consciente Coletivo: Aquecimento Global, Consciente Coletivo:
Resíduos, Essência, Gente Grande, Não Fique Pilhado, e Os Sustentáveis são ilustrativas da
primeira perspectiva, enquanto O Cangaceiro e o Leão manifesta o hibridismo assinalado.
Além desse caso, outra animação legitima o discurso ambiental do racionalismo
administrativo, porém de forma exclusiva, trata-se de Entrevista com o morcego.
Enquanto discurso ecológico do pragmatismo democrático, Buba e o aquecimento
global é uma “eco comédia” que reconhece que a intervenção humana no ambiente revela-se
problemática, situando, de forma mais específica, o aquecimento global em sua origem
antropogênica, decorrente das elevadas emissões de metano e dióxido de carbono. Embora
reconheça essa problemática como uma grave ameaça ao planeta, apresenta um
enquadramento parcial, restrito apenas à promoção de elevação das temperaturas, relegando,
portanto, a diversidade e a complexidade relacionadas aos demais eventos climáticos
extremos que lhe são característicos. Além disso, em seu discurso, a animação reconhece
exclusivamente o indivíduo ordinário como ator social responsável pela problemática,
descartando a estrutura social e as instituições capitalistas.
Nesse contexto, a ideia sustentada pela animação é de que a solução para o
aquecimento global é o engajamento individual, ao invés do reconhecimento de necessidades
de mudanças substanciais na estrutura social vigente. Portanto, sua vinculação ao
pragmatismo democrático resulta da ênfase na solução da problemática ambiental a partir da
supervalorização do papel do indivíduo, ainda que afastado de sua atuação na esfera política.
Além disso, não há apelo no sentido de contestar o reconhecimento da natureza meramente
como recurso, uma vez que a proteção reivindicada decorre da necessidade de assegurar a


260

vida humana. Buba constrói seu discurso recorrendo a uma explicação científica da
problemática, e também a partir da representação do discurso prometeico, caracterizando-o
enquanto perspectiva alheia aos problemas ambientais.
Convém observar que seu discurso desloca o contexto real do problema ambiental
representado, negligenciando acerca das verdadeiras fontes de produção dos gases de efeito
estufa (tráfego de veículos, produção industrial, pecuária extensiva etc) quando recorre ao
homem pré-histórico como promotor do aquecimento global. Assim, relegando as mais
diversas atividades sociais em suas contribuições para o aquecimento global, a animação não
apenas evita expor as causas estruturais dessa problemática, como também termina por
suscitar um engajamento ambiental vazio na audiência. Afinal, quando a interpela a
“combater o aquecimento global”, não deixa claro de que forma esse combate pode ser
realizado. Nesse caso, o ambientalismo defendido parece mais uma estratégia voltada à uma
transferência de responsabilidade pela crise ambiental, e, sobretudo, para ofuscar a origem e a
natureza dessa problemática.
Consciente Coletivo: Aquecimento Global assemelha-se à animação anterior, pois
também enfatiza a intervenção humana no mundo natural como problemática, considerando,
da mesma forma, o aquecimento global em termos antropogênicos, como resultado das
elevadas emissões de metano. Contudo, sua abordagem ganha especificidade, quando a
pecuária extensiva é a atividade relacionada à degradação do ambiente. Nesse caso, a
aquecimento global é situado, a partir da representação do discurso científico, como um
problema ambiental abrangente, marcado por alterações drásticas no clima do planeta cujas
consequências são catastróficas, a exemplo das enchentes.
Nesse discurso, a pecuária é explicada em termos de impactos ambientais, não apenas
no que diz respeito à intensa produção de metano pelo rebanho bovino, mas também a partir
de diversos problemas secundários, a exemplo do redução da cobertura florestal, do comércio
ilegal de madeira etc. Contudo, uma vez delimitada essa problemática ambiental – a pecuária
extensiva como causa direta do aquecimento global, a animação sustenta a ideia de que são os
hábitos de consumo (alimentação a base de carne) dos cidadãos comuns que contribuem para
essas mudanças no clima, pois é o consumo de carne que desponta como responsável pela
ampliação da pecuária, e, consequentemente, desponta como causa direta do aquecimento
global. Dessa forma, relegando as motivações dos demais atores representativos das estruturas
sociais capitalistas, atribui ao indivíduo ordinário (consumidor) uma dupla responsabilidade –
ele é parte do problema e por isso também deve ser parte da solução. Assim, dada a sua
vinculação ao pragmatismo democrático, a solução proposta para esse enfrentamento é


261

reformista, sugerindo apenas ajustes pontuais nos hábitos alimentares dos indivíduos,
deixando intacta a estrutura social. Além disso, o enfrentamento do problema objetiva, acima
de tudo, assegurar a presença humana no planeta e não os direitos dos animais.
O segundo episódio da série animada Consciente Coletivo contemplado pelo corpus,
Resíduos, enquadra o descarte irregular de resíduos recicláveis como uma das principais
problemáticas ambientais das sociedades capitalistas industriais. Dessa forma, observa essa
problemática a partir de desdobramentos como a contaminação dos solos e das águas, e
também em termos de impactos sobre a vida marinha. Nesse discurso, a sociedade industrial é
compreendida como um estágio natural da evolução humana, sendo a produção e o consumo
de produtos industrializados decorrentes da cultura e do conhecimento humano, principais
diferenciais entre os homens e o mundo natural. Contudo, a produção de externalidades (os
resíduos recicláveis) também desponta como característica essencialmente humana, em que o
acúmulo e o descarte irregular despontam como problemática ambiental crescente e que
necessita urgentemente de ser enfrentado.
Mas, o que se torna claro nesse discurso é a responsabilização exclusivamente do
indivíduo ordinário por essa problemática ambiental, a qual decorre de hábitos de consumo
que não são problemáticos em si mesmos, mas apenas quando resultam em acúmulo de
embalagens descartáveis/reaproveitáveis. Consequentemente, há uma ideia de que é somente
no estágio de utilização de bens de consumo que esses resíduos são problemáticos, uma vez
que as etapas de produção industrial não são enquadradas pela animação. Nesse contexto, a
solução para essa problemática também recai sobre o indivíduo, responsabilizado pelo envio
de resíduos para a reciclagem. Aqui também é relegada a responsabilidade dos atores
representativos das estruturas sociais capitalistas, quando simples ações no cotidiano do
cidadão são reivindicadas, ao invés de mudanças estruturais. Nesse caso, o papel do Estado é
representado de forma ambígua, ora ele se mostra incapaz de assegurar um descarte adequado
dos resíduos – o que resulta na contaminação dos mares, ora desponta como provedor de um
eficiente sistema reciclagem. Além disso, a defesa do ambiente, de sua preservação, assume
uma motivação antropocêntrica, uma vez que a Terra é enquadrada como único planeta
“disponível” ao homem e por isso mesmo deve ser protegida, embora também sejam
reconhecidos impactos do descarte de embalagens sobre a vida animal – ameaça a vida de
tartarugas marinhas.
Essência enquadra a escassez de água como um grave problema ambiental que ameaça
às sociedades, uma vez que se trata de um recurso essencial à vida humana. O discurso dessa
animação não avança em termos explicativos e descritivos dessa questão, relegando o


262

reconhecimento e a atribuição de responsabilidades, sejam em termos de atores sociais ou de


atividades relacionadas. Dessa forma, a escassez de água é uma questão simplesmente
apresentada sem referencia a sua origem, causa, amplitude etc. Assim, é no modo
argumentativo que seu discurso se apoia, reivindicando do cidadão comum o enfrentamento
do problema, atuando, sobretudo na conservação desse recurso. Esse curta animado vincula-se
ao pragmatismo democrático a partir dessa valorização da colaboração da sociedade e dos
indivíduos, pela busca de soluções reformistas para a problemática e na consideração da
natureza meramente enquanto recurso indispensável às realizações humanas, embora
reconhecida como um sistema cuja integridade também não pode prescindir da água.
Gente Grande reconhece como problemática a cultura humana pautada no uso
irrestrito de recursos naturais, ressaltando que comportamentos cotidianos como o descarte
irregular de resíduos, o desperdício de recursos como a água e a energia elétrica por parte do
cidadão ordinário comprometem o meio ambiente em sua disponibilidade para as
necessidades humanas. Contudo, em seu discurso, a animação não se empenha em explicar
acerca das consequências ambientais decorrentes desses desperdícios de recursos e também
não faz qualquer alusão aos riscos decorrentes do esgotamento dos mesmos. Além disso, não
são enquadrados impactos ambientais decorrentes das mais diversas atividades que
caracterizam as sociedades capitalistas. Ao invés disso, a animação sustenta a ideia de que,
sendo o principal responsável pela problemática ambiental relacionada, cabe ao próprio
indivíduo enfrenta-la, adotando uma postura ambientalmente responsável – o uso consciente
dos recursos e também maior vigilância diante das atitudes dos demais cidadãos.
Nesse caso, notamos que prevalece a atribuição de responsabilidade exclusivamente
ao cidadão comum, tanto pelo problema quanto pela solução, uma vez que não são
contemplados outros atores sociais representativos das sociedades capitalistas. Contudo, em
Gente Grande, essa responsabilização é hierarquizada, uma vez que os indivíduos adultos são
representados como cidadãos que contribuem para a problemática ambiental, enquanto as
crianças são valorizadas em sua condição de soluciona-lo. Além disso, conforme sua
vinculação ao discurso do pragmatismo democrático, além de recorrer a uma representação
negativa do discurso prometeico – a partir da representação de cidadãos que ignoram a
problemática ambiental, as propostas de enfrentamento legitimadas pela animação consistem
em ajustes pontuais nas ações cotidianas, a exemplo da adoção do hábito da separação de
resíduos para a reciclagem, da economia de água e de energia elétrica.
Não Fique Pilhado também observa como problemática a intervenção humana no
ambiente, considerando exclusivamente ações cotidianas dos indivíduos, nomeadamente o


263

descarte irregular de pilhas elétricas e a contaminação química do ambiente. Nesse discurso, o


ambiente é apresentado como um conjunto de ecossistemas cuja interferência humana se faz a
partir da contaminação química dos solos, das águas e, consequentemente, das espécies
relacionadas. Nesse caso, é irresponsabilidade individual quanto ao descarte de pilhas que se
faz problematizada.
Contudo, essa animação reconhece que os impactos dessa contaminação química do
ambiente apenas comprometem a vida humana, ressaltando a natureza em sua capacidade de
absorvê-la sem maiores consequências. Portanto, reconhece somente como problemático o
retorno dessa contaminação do ambiente para o próprio homem, através da cadeia alimentar –
o consumo de alimentos contaminados. Além disso, enfatiza-se, exclusivamente, o cidadão
ordinário como agente promotor dessa problemática, e também como principal responsável
por seu enfrentamento, relegando qualquer enquadramento estrutural das sociedades
capitalistas. Para tanto, sugere apenas ajustes pontuais, como a destinação de pilhas usadas
para a reciclagem como solução para o problema, ainda que considere a crescente
dependência social de equipamentos eletrônicos a base de pilhas e baterias. Notamos que,
dada a sua vinculação ao discurso do pragmatismo democrático, essa animação representa
negativamente o discurso prometeico – cidadãos que ignoram a problemática ambiental e
descartam pilhas de forma irregular, e as propostas legitimadas para enfrentamento da crise
ecológica consistem em ajustes pontuais nas ações cotidianas - a reciclagem. Nesse contexto,
o papel do Estado e do mercado, no sentido de oferecer pontos de coleta de pilhas usadas, se
faz representado.
Os Sustentáveis é a última animação do corpus em que observamos haver uma
exclusividade na filiação ao discurso do pragmatismo democrático. Essa animação ressalta a
ideia de que a intervenção do homem no mundo natural compromete os ecossistemas,
mostrando-se problemática sob uma diversidade de aspectos: o excesso de resíduos
produzidos; o intenso consumo de recursos naturais (água e energia); interferências no clima
do planeta. Mas, quando seu discurso se empenha por significar essa problemática, apesar de
considerar essas três dimensões da degradação ambiental, não desenvolve explicações ou
descrições acerca de seus desdobramentos em termos de impactos e implicações dai
decorrentes, sejam elas sobre o homem, sejam sobre o mundo natural. Além disso, o único
ator social explicitamente responsabilizado pela problemática é o cidadão ordinário, quando a
animação se empenha por representa-lo como uma grave ameaça ao planeta, em decorrência
do desperdício de recursos e pelo uso recorrente de embalagens descartáveis.


264

Acerca do enfrentamento e da resolução desses problemas ambientais, é também sobre


o cidadão comum que recai a responsabilidade no discurso dessa animação. Contudo, ganha
visibilidade não somente o engajamento individual, mas também o empenho coletivo,
nomeadamente a partir da atuação de Organizações não governamentais de caráter ambiental
(ONGs). Nesse sentido, sua retórica não se esforça por estimular um engajamento da
audiência com o ambientalismo, mas por assegurar-lhe que não é necessário se preocupar com
“outras questões ambientais”, uma vez que ONGs ecológicas já se fazem vigilantes. Além
disso, essas questões que “fogem” à atuação do cidadão ordinário, são todas elas atribuídas a
entidades fantásticas (monstros eco vilões) e não a atores sociais relevantes, como o mercado
e a indústria. Dessa forma, sustenta-se apenas a necessidade de adoção de simples mudanças
no cotidiano do cidadão ordinário (economia de água, energia e reutilização de sacolas
recicláveis), relegando a necessidade de mudanças estruturais na sociedade, ou mesmo em
favor do reconhecimento da natureza em sua sensibilidade. Aqui também o discurso
prometeico é representado, quando da representação da ausência de limites e de preocupações
com o mundo natural despontam como motivações da problemática.
De forma geral, a característica marcante dessas animações é o reconhecimento de
questões ambientais relacionados às atitudes cotidianas de cidadãos ordinários. Além disso,
em todas elas notamos a representação do discurso prometeico como estratégia de denunciar
como problemática as mais diversas intervenções humanas no mundo natural. A partir de
contextos específicos, seus discursos “privilegiam” a reorientação do ethos ambiental da
audiência, seja para a adoção de práticas de consumo consciente, para o cuidado com o
descarte irregular de resíduos, passando a enfatizar a reciclagem de embalagens e de pilhas,
seja para a economia de água, de energia e também para a manutenção de um estado de
vigilância constante na proteção do ambiente. Quanto à dimensão, origem e amplitude das
questões ambientais representadas, notamos que predominam representações
descontextualizadas, que negligenciam tais aspectos em favor de abordagens pontuais sobre
as mesmas. Essência, Gente Grande e Os Sustentáveis apenas apresentam a problemática de
forma a sustentar suas reivindicações de mudanças de atitudes. Não Fique Pilhado trata a
problemática apenas no plano simbólico, ignorando as graves consequências da contaminação
química dos ecossistemas e também do próprio homem. De forma semelhante, Buba e o
Aquecimento Global trata da problemática ambiental de forma descontextualizada. Assim, é
somente em Consciente Coletivo que as problemáticas ambientais são contextualizadas de
forma mais coerente, situadas em termos de origem e de consequências.


265

Exceto nesses dois últimos casos, predominam discursos reducionistas acerca das
problemáticas representadas. São, portanto, estratégias que terminam por ofuscar as causas
estruturais da degradação do ambiente, reconhecendo os indivíduos como causa direta, sobre
os quais recai a responsabilidade pelo enfrentamento da crise, destituindo, dessa forma, as
participação dos demais atores sociais. No caso dos episódios Consciente Coletivo, apesar de
reconhecida a estrutura social em sua interseção com a crise ecológica, seja na pecuária
extensiva, seja na produção de bens de consumo, e no descarte de suas respectivas
embalagens, notamos também que é sobre o individuo ordinário que recai a responsabilidade
pela crise do ambiente. Nos discursos dessas animações, são desconsideradas as forças da
estrutura social que atuam na subjetivação dos indivíduos, sobretudo na promoção de hábitos
de consumo ambientalmente impactantes. Notamos, portanto, que essa estrutura segue
inalterada, inimputável pela crise ecológica. Assim, necessidade de mudanças na lógica de
produção capitalista apenas recaem no último estágio da cadeia produtiva – o consumidor
final. Em qualquer desses casos, seus discursos não valorizam a natureza em sua
subjetividade, mas simplesmente suscitam sua proteção de forma a assegurar a sobrevivência
das sociedades em suas lógicas desenvolvimentistas. A tabela 16, a seguir, sistematiza acerca
dessa caracterização.

Tabela 16: Questões ambientais, impactos, responsabilização e soluções propostas em animações filiadas ao
Pragmatismo Democrático

ANIMAÇÃO/QUESTÃO AMBIENTAL IMPACTO/ SOLUÇÃO


RESPONSABILIZAÇÃO PROPOSTA
Buba e o aquecimento global Provoca o aquecimento global, consequentemente, Combater o
Aquecimento global: aumento nas emissões resulta em elevação excessiva da temperatura no aquecimento global
de metano planeta e incorre em grave ameaça à vida humana (genérico)
Responsável causal: cidadão comum
Responsável enfrentamento: cidadão comum
(audiência)
Consciente Coletivo: Aquecimento Global Resulta em perda da cobertura florestal (área de Reorientação dos
Aquecimento global: expansão da pecuária pastagem), aumento nas emissões de CO2 (transporte) hábitos alimentares
extensiva e o aumento do rebanho implica elevação na – privilegio por
concentração de metano na atmosfera, fornecedores de
consequentemente, aquecimento global, provocando carne produzida
alterações globais no clima, gerando catástrofes como com menor impacto
as inundações ambiental
Responsável causal: cidadão comum (hábitos
alimentares)
Responsável enfrentamento: cidadão comum
Consciente Coletivo: Resíduos Contaminação dos solos e das águas com sérias Destinar os resíduos
Descarte irregular de resíduos recicláveis implicações na vida humana, impactos sobre a vida sólidos para a
marinha, reciclagem
Responsável causal: cidadão comum (hábito de
consumo que termina no acúmulo de embalagens)
Responsável enfrentamento: cidadão ordinário
Essência Inviabiliza e compromete o projeto humano, tanto no Conservação da
Escassez de água plano biológico quanto no metafísico água


266

Responsável causal: não explicita


Responsável enfrentamento: cidadão ordinário, a
audiência
Gente Grande Não explicita impactos Separação de
Descarte irregular de resíduos, desperdício Responsável causal: o cidadão ordinário resíduos para a
de água e de energia elétrica Responsável enfrentamento: as crianças reciclagem,
economia de água e
de energia elétrica
Não Fique Pilhado Contaminação química do ambiente e do próprio Reciclagem de
Descarte irregular de pilhas e baterias no homem, quando as substancias ingressam na cadeia pilhas
ambiente alimentar: não são apresentadas os efeitos reais da
contaminação
Responsável causal: o cidadão ordinário
Responsável enfrentamento: o cidadão ordinário
Os Sustentáveis Compromete os ecossistemas, resulta em alterações no Cidadão: economia
Intervenção humana no mundo natural: clima do planeta: não apresenta especificidades dos de água, energia e
produção de resíduos, desperdício de água e impactos e implicações reutilização de
de energia Responsável causal: o cidadão ordinário e criaturas sacolas recicláveis.
sobrenaturais ONGs: resolver as
Responsável enfrentamento: o cidadão ordinário e questões mais graves
ONGs ambientalistas - mudanças climáticas
Fonte: Elaborado pelo autor.

Entrevista com o Morcego é a única animação do corpus em que observamos haver


uma centralidade do discurso do racionalismo administrativo. Seu discurso ressalta impactos
ambientais relacionados à construção de usinas hidrelétricas, enquadrando especificamente a
questão do desequilíbrio ecológico. Mas, apesar da amplitude e da diversidade dos problemas
ambientais relacionados a tais empreendimentos, a animação apenas observa seus impactos
sobre o habitat dos morcegos, de forma a ressaltar prejuízos à saúde humana a partir do
aumento na incidência da transmissão da raiva. Dessa forma, a animação reconhece como
problemática a intervenção do homem no ambiente, mas sustenta a ideia de que essa
interferência é necessária para atender as necessidades energéticas das sociedades. Dado a
esse sentido utilitário da natureza, o desequilíbrio ecológico representado desponta como uma
externalidade inevitável, um ônus a ser pago em nome do progresso e do desenvolvimento.
Em Entrevista o discurso ambiental, conforme sugere a tabela 17, assegura que não há
alternativa à transformação humana do ambiente, cabendo tão somente a mitigação de suas
externalidades a partir da solução pontual dos problemas ambientais daí decorrentes. Nesse
caso, defende-se que cabe aos especialistas (sob a tutela do Estado) empreender a intervenção
no ambiente, viabilizando a criação de usinas, mas também a adoção de ações mitigatórias
para os problemas resultantes, quer seja estimulando estudos científicos sobre os morcegos e
seus riscos à saúde humana, quer orientando a população quanto à exposição a tais riscos.
Notamos que a animação se empenha por descrever e explicar a natureza como sendo dotada
de um equilíbrio cuja intervenção humana se torna problemática, não como forma de suscitar


267

uma sensibilidade ambiental, mas para valorizar sua disponibilidade para o atendimento de
necessidades humanas. Portanto, o foco desse discurso não é problematizar acerca da
construção das usinas, mas na explicação acerca das implicações dessa inevitável
interferência no equilíbrio ecológico.
Embora sua estratégia argumentativa apele aos direitos dos animais, representando os
morcegos como vítimas da intervenção do homem em seu habitat, esse discurso termina por
apresentar a transmissão da raiva ao homem como uma espécie de “vingança da natureza”.
Por isso ressaltamos que não se trata de despertar uma sensibilidade ambiental na audiência,
mas sobretudo em explicar as consequências de nossa intervenção (inevitável) no mundo
natural, não apenas em termos de impactos sobre as espécies animais, mas principalmente
sobre nós mesmos.

Tabela 17: Questões ambientais, impactos, responsabilização e soluções propostas em animações filiadas ao
Racionalismo Administrativo

ANIMAÇÃO/QUESTÃO AMBIENTAL IMPACTO/ SOLUÇÃO


RESPONSABILIZAÇÃO PROPOSTA
Entrevista com o morcego Necessária ao progresso, resulta, inevitavelmente em Mitigação:
Construção de usinas hidrelétricas e desequilíbrio no habitat dos morcegos, tornando a esclarecimento
desequilíbrio ecológico raiva uma ameaça a saúde humana social acerca da
Responsável causal: progresso industrial prevenção da raiva
Responsável enfrentamento: Estado e ciência
Fonte: Elaborado pelo autor.

Finalmente, entre as animações cujo discurso predominante situa-se na categoria dos


discursos voltados para a solução de problemas ambientais, notamos que O Cangaceiro e o
Leão manifesta uma dupla vinculação, pois tanto legitima o racionalismo administrativo
como o pragmatismo democrático. Em seu discurso, a animação reconhece o aquecimento
global como uma problemática decorrente da intervenção humana no mundo natural,
enquadrando-a como uma questão ambiental de origem antropogênica, resultante do
excessivo número de fábricas, veículos e de árvores derrubadas.
A animação ressalta essa problemática como uma das principais pautas do debate
ambiental atual, valorizando sua ampla presença no contexto midiático. Mas, assim como
observamos em Buba e o Aquecimento Global, apenas a enquadra em termos do fenômeno de
elevação das temperaturas, ignorando os demais eventos extremos do clima daí decorrentes.
Além disso, apesar de reconhecer impactos sobre os animais, especificamente aqueles que
habitam a Antártida, a ênfase recai sobre a percepção do aquecimento global como ameaças à


268

vida humana, sobretudo aos habitantes das grandes cidades, os quais estarão expostos a um
calor extremamente inconveniente.
Em seu discurso, a responsabilização pela problemática ambiental é atribuída
genericamente ao ser humano, nomeadamente em decorrência de suas atividades industriais,
do uso de automóveis e da derrubada de florestas. Contudo, as motivações para essa
interferência no mundo natural não são contextualizadas. Quando se trata de enfrentamento, é
o cidadão ordinário que ganha relevo, responsabilizado pela preservação das plantas e das
árvores. Nesse contexto, a ideia de enfrentamento do aquecimento global não recai sobre a
necessidade de mudanças e reorientações das atividades promotoras, mas na ênfase de que é
preciso minimizar essa interferência no ambiente a partir de medidas compensatórias – o
aumento na cobertura verde, por exemplo. Contudo, não se faz claro o engajamento individual
reivindicado nesse discurso. Além disso, é também valorizada a atuação dos cientistas, atores
sociais representados em sua capacidade de impedir a proliferação dos efeitos dessa
problemática.
Dessa forma, conciliando a ação da ciência com o engajamento do cidadão ordinário,
o discurso dessa animação reivindica tão somente mudanças pontuais na estrutura social, de
forma a enfrentar a problemática ambiental sem comprometer os níveis de crescimento e
desenvolvimento. Nesse caso, é o sentido utilitário do meio ambiente que motiva a sua
proteção, cuja finalidade é assegurar a presença humana no planeta. Nessa animação, é o
discurso científico representado de forma a explicar e descrever o aquecimento global
enquanto alteração na composição da atmosfera. Aqui, dois tipos de discursos ambientais
centrados na resolução de problemas são representados, o pragmatismo democrático, quando
valoriza o engajamento do cidadão ordinário nesse enfrentamento e a racionalidade
administrativa, quando enfatiza o papel da ciência e dos especialistas. A tabela a seguir
sistematiza acerca dessa animação.

Tabela 18: Questões ambientais, impactos, responsabilização e soluções propostas em animações filiadas ao
Racionalismo Administrativo/Pragmatismo Democrático

ANIMAÇÃO/QUESTÃO AMBIENTAL IMPACTO/ SOLUÇÃO


RESPONSABILIZAÇÃO PROPOSTA
O Cangaceiro e o Leão Resultou no Aquecimento Global, fenômeno marcado Cidadão:
Intervenção humana no mundo natural: pela elevação das temperaturas (um calor preservação das
externalidades decorrentes da produção inconveniente nas cidades) e que também ameaça a árvores.
industrial, excesso de veículos e degradação vida no Planeta Ciência: impedir a
das florestas Responsável causal: o homem em geral (audiência) proliferação dos
Responsável enfrentamento: cidadão ordinário e os efeitos do
Cientistas aquecimento
Fonte: Elaborado pelo autor.


269

4.2.4 Discursos da Sustentabilidade

Essa categoria discursiva valoriza a possibilidades de manutenção do crescimento


econômico a partir da resolução de dilemas e impasses sobre as questões ambientais. Dryzek
(2004) considera haver dois tipos de discursos relacionados à sustentabilidade, o
desenvolvimento sustentável e a modernização ecológica. Em sua dimensão ideacional, o
desenvolvimento sustentável percebe a natureza apenas como repositório de recursos, um
capital natural à disposição das necessidades humanas. Dessa forma, o ethos ambiental ai
relacionado é plenamente antropocêntrico e hierárquico, pois é a sobrevivência humana que
necessita de ser assegurada e não a do mundo natural. Esse discurso reconhece limites na
exploração da natureza, mas valoriza a adoção de tecnologia e de políticas em sua capacidade
de assegurar crescimento econômico infinito. Há, portanto, uma forte relação entre
crescimento econômico, proteção ambiental e justiça social, uma vez que a pobreza é
ressaltada em sua incapacidade de internalizar a proteção do mundo natural.
O discurso da modernização ecológica também concebe a natureza como um
repositório de recursos a serviço da prosperidade humana, embora reconheça o meio ambiente
como um sistema vivo. Dessa forma, sustenta a necessidade da internalização de critérios
ambientais no âmbito das atividades capitalistas, tanto na economia quanto na política,
compreendendo que o enfrentamento da degradação ambiental favorece um mercado “verde”
altamente lucrativo. Além disso, esse discurso reforça as relações de cooperação entre
governo, ambientalistas moderados, mercado e cientistas para readequar as políticas das
economias capitalistas aos termos ambientais.
No corpus de pesquisa, não identificamos a representação do discurso do
desenvolvimento sustentável, nos termos assinalados por Dryzek (2004). Já o discurso da
modernização ecológica, notamos que o mesmo é contemplado pela animação Haina, o Filtro,
que observa as externalidades da produção industrial, nomeadamente a poluição da atmosfera,
como problema ambiental que necessita ser resolvido, uma vez que compromete a
sobrevivência humana. Portanto, seu discurso valoriza a internalização de critérios ambientais
no âmbito da produção industrial.
Haina é predominantemente descritivo e pontual quando retrata essa problemática,
uma vez que não são contempladas explicações acerca de sua amplitude e intensidade, nem
mesmo são considerados outros tipos de externalidades ou problemas ambientais relacionados
à produção industrial capitalista, a exemplo do lançamento de efluentes não tratados, do
intenso consumo de recursos naturais e de energia etc. Quanto aos atores sociais relacionados,


270

o discurso dessa animação situa o industrialismo, de uma forma geral, como responsável pela
problemática ecológica representada, sem relacionar a natureza da atividade poluidora com
um contexto real. Contudo, ressalta que as motivações para seu enfrentamento resultam de
imposições de restrições ambientais por atores externos a tais instituições, uma alusão ao
movimento ambientalista e suas negociações com o mercado em favor da adoção de
tecnologias “verdes”.
Nesse contexto, notamos que essa animação vincula-se ao discurso da modernização
ecológica quando valoriza a internalização de preocupação ambiental no contexto da
produção industrial a partir da cooperação entre ambientalistas (representados pela bruxa
protagonista) e produção industrial, além da forte ênfase na capacidade da tecnologia
contribuir para esse enfrentamento. Também é marcante a ideia de que a proteção do
ambiente deve ser conciliada com a necessidade de assegurar a manutenção dos atuais níveis
de produção. Assim, em seu discurso, Haina defende que simples mudanças, a exemplo da
implantação de filtros para chaminés industriais, são suficientes para conter a poluição,
perdurar o desenvolvimento e restaurar o equilíbrio ambiental. A tabela a seguir sistema
acerca dessa animação.

Tabela 19: Questões ambientais, impactos, responsabilização e soluções propostas em animações filiadas à
Modernização Ecológica

ANIMAÇÃO/QUESTÃO AMBIENTAL IMPACTO/ SOLUÇÃO


RESPONSABILIZAÇÃO PROPOSTA
Haina, o Filtro Poluição atmosférica em âmbito local: não expõem Instalação de filtros
impactos e implicações de forma contextualizada de chaminé
As externalidades decorrentes da produção industrial
Responsável causal: a indústria (genérica)
industrial: emissão de poluentes na
Responsável enfrentamento: ambientalistas e
atmosfera
cientistas/tecnologia (implícito)
Fonte: Elaborado pelo autor.

4.2.5 Discursos ambientais não relacionados às “políticas da Terra”

Entre as animações do corpus, identificamos que 11 delas representam discursos


ambientais que não se mostram diretamente vinculados à tipificação proposta por Dryzek
(2004), ou seja, não estabelecem um enfoque político em torno das disputas pela construção
simbólica das questões ambientais. Nesses casos, prevalecem representações de natureza mais
empenhadas em enfatizar seu valor para o mundo social, reveladores das diferentes
hierarquias na relação entre homem e meio ambiente, seja no contexto das sociedades
ocidentais, de povos nativos ou em configurações sociais específicas, a exemplo da
espiritualidade de antigos povos orientais. Dessa forma, tais animações representam discursos

271

mais empenhados em justificar a necessidade de proteção do ambiente do que em reconhecer


uma problemática específica, quer seja pela atribuição de responsabilidade aos atores sociais
relacionados, pela delimitação da amplitude dessa problemática ambiental, ou na propositura
de soluções, o que nos leva a buscar na tipificação de Corbett (2006) a identificação da
vinculação discursiva desses textos animados.
Em síntese, notamos que o discurso do conservacionismo é representado pela
animação O Jardineiro, com Feliciano Esperança e o preservacionismo é contemplado por
duas animações, Peixe e Peixe Frito, Uma Aventura Rupestre. Perspectivas ambientais dos
povos nativos são representadas pelas animações A Folha da Samaúma, Taina-Kán, A Grande
Estrela e A Lenda da Árvore Sagrada. Finalmente, identificamos cinco animações cujos
discursos ambientais se mostram difusos, uma vez que manifestam configurações
interdiscursivas particulares e heterogêneas, relacionadas a uma diversidade de discursos do
ambiente.

Conservacionismo e Preservacionismo

Conforme observamos em Corbett (2006), a base do sistema de restrições semânticas


do discurso do conservacionismo ambiental reside na compreensão de que a exploração do
meio ambiente deve ser assegurada a partir do estabelecimento de ressalvas quanto ao uso dos
recursos naturais, no sentido de atender, e continuar atendendo, as necessidades humanas.
Dessa forma, predomina uma visão utilitária da natureza, baseada na ideia de uso comedido
do meio ambiente de forma a não esgota-lo ou destruí-lo, uma perspectiva antropocêntrica,
pois está centrada nos interesses humanos e não no reconhecimento da sensibilidade do
mundo natural. Torna-se evidente nesse discurso que não são necessárias grandes mudanças
de atitudes no âmbito individual e institucional para ser estabelecido um uso racional e
prudente dos recursos naturais, bastando tão somente a adoção de ações (reciclagem,
compensação pela emissões de CO2 etc) que assegurem a permanência do homem,
consequentemente, do progresso e do desenvolvimento econômico.
Filiada ao conservacionismo ambiental, a animação O Jardineiro: com Feliciano
Esperança valoriza a ideia de que o cuidado com o planeta é uma condição necessária para
assegurar a permanência do homem na Terra. Seu discurso não se esforça por construir
questões ambientais, apontando problemas, implicações, soluções e agentes responsáveis, mas
em sustentar a ideia de necessidade de conservação do ambiente de forma a não esgotá-lo, e
consequentemente, a não comprometer a vida humana. Há, portanto, uma compreensão da


272

natureza como recurso, um sentido utilitário voltado ao atendimento das necessidades


humanas. Nessa animação, não é delimitado um contexto relacionado às atividades sociais,
portanto, não há descrições ou explicações sobre causalidade relacionadas aos problemas
ambientais reais. Na verdade, seu discurso é poético, empenhado em enfatizar, de uma forma
genérica, implicações causais entre as escolhas e atitudes tomadas no contexto presente e seus
desdobramentos futuros. Assim, sua estratégia discursiva apela a ideia do planeta como um
grande jardim, cujo cuidado e proteção se fazem imprescindíveis para o seu florescer. Nesse
caso, o jardineiro é a representação da espécie humana e a proliferação dos jardins representa
a conservação do meio ambiente, a garantia de sua continuidade. Contudo, apenas a
dependência humana em relação ao meio ambiente se torna evidente, o que revela a
representação do discurso do conservacionismo, uma perspectiva antropocêntrica e utilitária
do mundo natural, cuja proteção não privilegia uma sensibilidade ecológica.
Acerca do preservacionismo, Corbett (2006) o observa como uma ramificação do
discurso ambiental conservacionista. Conforme a autora, ambos são originários de um mesmo
sistema de restrições semânticas, e por isso compartilham da mesma percepção da natureza
enquanto recurso disponível à satisfação das necessidades humanas. Como vimos, também
alimentam a ideia de que a intervenção no mundo natural deve ser orientada de forma a não
comprometer essa capacidade de assegurar o progresso econômico e material das sociedades.
Nesse sentido, a principal diferença do preservacionismo em relação ao conservacionismo
decorre das motivações que justificam a proteção do ambiente. Nesse caso, a autora ressalta
que a natureza é percebida não apenas como recurso a ser transformado pela produção
industrial, mas também dotada de valor estético, espiritual e científico. Assim, assinala que
sob a ótica científica, o selvagem ou natural é percebido como um “armazém” de espécies,
genes, mecanismo de regulação climática etc. Na dimensão estética a preservação considera o
meio ambiente em seu valor contemplativo e em seu poder de restauração terapêutica do
individuo, assumindo, muitas vezes, um sentido romântico e bucólico. Por fim, sob a ótica
religiosa, determinados contextos ambientais assumem um significado de sagrado, são
percebidos como espaços destinados ao encontro do homem com suas entidades religiosas ou
espirituais.
Na animação Peixe observamos a representação desse discurso da preservação
ambiental, uma vez que ela privilegia simultaneamente a valorização de uma natureza
abundante e esteticamente relevante. Seu discurso descreve os rios como ecossistemas
marcados pela biodiversidade, cuja abundância de vida destina-se ao atendimento das
demandas humanas, mas que além desse valor utilitário também desponta como ambiente de


273

recreação e lazer, dada a sua beleza e disponibilidade (qualidade da água, topografia do rio
etc). Há, portanto, um duplo sentido utilitário nessa representação de natureza e uma
hierarquia homem/natureza de caráter antropocêntrico, dai a filiação dessa animação ao
preservacionismo proposto na tipificação de Corbett (2006).
Em Peixe, o apelo retórico consiste em uma abordagem nostálgica e romântica de uma
natureza duplamente abundante como forma de criticar o contexto presente, marcado pela
urbanização e pela insalubridade dos rios urbanos. Contudo, apesar da contrastar esses dois
contextos sócio ambientais, seu esforço é menos empenhado em atribuir responsabilidades ou
soluções para o enfretamento de uma problemática relacionada à contaminação de cursos de
água, e mais centrado em valoriza o sentido utilitário do rio. Dessa forma, a animação
sustenta a ideia de que a esgotamento de um rio no contexto da expansão urbana não
representa apenas a morte dos seus peixes, mas a interrupção de uma série de “serviços” que o
mesmo outrora oferecia. Portanto, a proteção do ambiente é, acima de tudo, enquadrada como
uma condição necessária à manutenção dessa oferta, não um sensibilidade quanto ao direito à
vida natural.
A segunda animação do corpus vinculada ao preservacionismo ambiental é Peixe
Frito, Uma Aventura Rupestre. Seu discurso valoriza o meio ambiente em termos estéticos,
científicos e econômicos. Nesse caso, são os sítios arqueológicos que despontam como a
natureza apropriada pelo homem, cuja intervenção para preservação resulta da convergência
de interesses de três atores sociais distintos: os arqueólogos; a indústria do turismo ecológico;
o cidadão comum, enquanto turista ambiental. Assim, a animação ressalta que, no plano da
ciência, essa natureza assume um valor objetivo, especificamente para a arqueologia, pois
desponta como importante fonte de conhecimento sobre o passado remoto. No plano estético
a natureza é reconhecida em seu poder contemplativo, uma vez que as pinturas arqueológicas,
uma vez circunscritas em um espaço natural, se mostram atraentes aos interesses artísticos do
público. Finalmente, no plano econômico, a exploração comercial desses sítios arqueológicos
se apresenta como uma atividade lucrativa, sem representar necessariamente uma ameaça à
sua integridade. Na verdade, o discurso dessa animação legitima essa tripla exploração da
natureza como condição para a sua permanência. Evidencia-se, dessa forma, a representação
do preservacionismo, uma vez que essas diferentes motivações de apropriações do mundo
natural são simultaneamente legitimadas.


274

Perspectivas ambientais de Povos Nativos

Corbett (2006) considera as percepções ambientais características dos povos nativos,


com uma referência mais direta aos indígenas nativos da América do Norte, como
perspectivas ambientais de caráter mais transformador em relação ao discurso ambiental
hegemônico. Conforme a autora, entre essas diversas tribos nativas, não somente dos Estados
Unidos, mas também da África e da América do Sul, havia um sentido comum de que a Terra
é um sistema vivo, sensível. Nessa perspectiva, é inexistente a hierarquia centrada no homem
e não há distinção entre o que é ou não religião, pois tudo é religioso e espiritual no mundo
natural. Assim, esses discursos são marcados por uma clara integração da natureza com a
espiritualidade, resultado em uma relação harmoniosa entre as pessoas e as coisas vivas. Há,
portanto, uma aproximação homem e natureza, com reconhecimento de uma estreita relação
entre as mais diversas entidades, ambas filhas de uma mesma “mãe natureza”, um todo vivo,
sensível e equilibrado.
Sob a nossa perspectiva analítica, notamos que as animações A Folha da Samaúma,
Tainá-Kan, A Grande Estrela e A Lenda da Árvore Sagrada são filiadas aos discursos
ambientais dos povos nativos. Nesses três casos, aspectos relacionados ao envolvimento de
diferentes povos com o mundo natural são valorizados, sendo que nos dois primeiros deles o
foco são tribos indígenas brasileiras, enquanto a última animação enfatiza relações entre
tribos africanas e a natureza envolvente. Além disso, em todas essas animações são contextos
passados que são valorizados. Em A Folha da Samaúma uma antiga tribo indígena (Guarani
Tekoa Pyau) é caracterizada pelo respeito, envolvimento e admiração por uma natureza
exuberante e harmoniosa. De forma mais específica, é o valor estético que a árvore da
Samaúma assume no imaginário religioso dessa tribo que é enfatizado, sobretudo em
decorrência de sua exuberância – altura elevada, abundância de ramos e pela grande dimensão
de suas folhas. Nessa animação, o discurso se empenha em ressaltar que a beleza e a
imponência do mundo natural se revestem de mistério no âmbito da espiritualidade indígena,
suscitando o respeito e a contemplação pela natureza.
Tainá-Kan, A Grande Estrela apresenta um discurso que valoriza o lugar da natureza
na cosmologia dos Carajás, ressaltando que dada a integração entre dessas tribos com o
mundo natural, sua intervenção se mostrava comedida, limitando-se à coleta e à pesca apenas
como forma de assegurar sua subsistência. Além de caracteriza-las como datadas de um senso
de cuidado e proteção com a fauna e a flora da região, em seu discurso, essa animação
também enfatiza tratar-se de uma perspectiva ambiental em que a natureza provedora era


275

também uma natureza sagrada, integrando não apenas o plano da terra, mas, sobretudo, dos
céus e das estrelas. Nesse caso, a natureza envolvente compreende a floresta, os animais, os
rios, mas também todos os corpos celestes. Embora não deixe de despontar como um conjunto
de recursos disponíveis à satisfação das necessidades dos indígenas, esse sentido utilitário da
natureza esta vinculado ao caráter sagrado que envolve sua concepção. Aqui, a ideia é de que
sendo a natureza uma dádiva sagrada, cabe então seu respeito, de forma que as tribos apenas
retiram-lhe o que é essencial à sua sobrevivência, com o intuito maior de respeitar sua
integridade e equilíbrio. Na animação, o tema central é a emergência da agriculta nessa tribo
indígena, mas mesmo essa atividade assume um caráter divino, pois é apresentada como um
segredo revelado por Tainá-Kan, uma das divindades dessa cosmologia. Dessa forma, ao
invés de representar o controle e o domínio da natureza, a agricultura desponta como um
presente divino em favor da fixação da tribo na floresta, consequentemente, uma forma de
aproximar ainda mais os vínculos de envolvimento entre os indígenas e o mundo natural.
Em A Lenda da Árvore Sagrada a cosmologia africana antiga é representada a partir
da valorização da integração entre o homem e as demais espécies do mundo natural, e não
apenas em relação às espécies animais, mas sobretudo às árvores. Seu discurso constrói a
ideia de que os nativos africanos eram dotados de uma concepção sagrada de natureza,
marcada pelo forte respeito pelas florestas, pelos animais e corpos celestes, e também
possuidores de uma sensibilidade em relação a essas entidades, sendo, inclusive, capazes de
estabelecer um diálogo com todas elas. Ressalta-se, desta forma, haver uma relação de
irmandade entre os nativos e o mundo natural, uma compreensão da natureza como bondade,
harmonia e proteção.
Contudo, sua estratégia discursiva difere das duas animações anteriores, pois ao invés
de apelar exclusivamente para o modo descritivo da relação do nativo com o mundo natural,
essa animação desenvolve seu apelo a partir da representação de relações homem/natureza
contrastantes, confrontando o sentido sagrado da natureza na cultura africana antiga com a
perspectiva meramente utilitária do mundo natural que orienta a visão de mundo dos
colonizadores ocidentais. Dessa forma, ao representar essa apropriação da natureza enquanto
recurso, ressaltando a perspectiva ambiental ocidental (a representação do discurso
prometeico) em sua avidez por madeira, minerais, animais etc, adjetiva essa perspectiva
ambiental ocidental como um ataque ao mundo natural, cuja marca principal é a violência e a
tirania sobre as demais formas de vida. Além disso, esse discurso ressalta a ideia de que essa
insensibilidade ambiental ocidental, em seu estranhamento diante envolvimento indissociável
dos africanos com a natureza, transformou o próprio homem em recurso, iniciando um


276

perverso ciclo de escravização dos negros. Convém atentar que a representação do discurso
prometeico em A Lenda da Árvore Sagrada é uma estratégia retórica decisiva para o discurso
apresentado.

Dependência humana em relação ao mundo natural: Natureza como adversidade e Senso de


Pertencimento

A Esperança é a Última que Morde, Vida Maria e Dia Estrelado são animações cujos
discursos e argumentação se mostram bastante semelhantes, pois não se voltam para a
definição de uma problemática ambiental, mas para alimentar a ideia de dependência do
homem em relação ao mundo natural, a partir de um contexto específico, o da seca,
explorando implicações da escassez de água, de alimentos e de políticas públicas de caráter
social. Diferentemente de outras animações analisadas anteriormente, nesses filmes não é a
intensa exploração de recursos naturais que ganha centralidade, mas exatamente a sua
carência, a sua indisponibilidade à extração de forma a atender aos interesses humanos,
nomeadamente aqueles mais elementares.
Dessa forma, ao relacionar pobreza e miséria social a uma natureza adversa à fixação
do homem, essas animações ressaltam o homem em sua dependência ambiental, em sua
necessidade de recursos essenciais à sobrevivência – não contemplam a ideia de recursos
enquanto matéria-prima à produção industrial, e também enfatizam a ausência de interesse, no
plano estrutural das economias políticas capitalistas, por uma natureza que se mostra
indisponível a uma exploração utilitária. Assim, esses três filmes valorizam a ideia de que
quando a natureza se mostra disponível à extração ela é plenamente transformada em favor do
progresso e do desenvolvimento econômico e social, mas, caso contrário, resta então o “atraso”
e a precariedade para aqueles que vivem em regiões ambientalmente “não atraentes”. Em
síntese, revela-se, em tais discursos, que vigora no pensamento ocidental a ideia de que onde a
natureza não se mostra “rentável” aos interesses econômicos, também não convém investir
em intervenções favoráveis ao bem estar do homem.
De forma geral, essas três animações reivindicam alguma intervenção no ambiente
representado de forma a permitir que seus habitantes sejam capazes de superar as
adversidades dai decorrentes, seja na garantia de acesso a recursos elementares como água e
alimentos, conforme A esperança é a última que morde e Dia Estrelado, seja na garantia de
direitos essenciais como educação e cidadania, como no caso de Vida Maria. Contudo,
inferimos, a partir dos contextos desses filmes, tratar-se de uma defesa em favor de uma


277

intervenção mínima sobre o mundo natural, situada no plano da subsistência e de garantias


sociais elementares.
Na animação Dias de Sol também não observamos um discurso empenhado na
construção de uma problemática ambiental, mas em revelar uma percepção da natureza como
um problema ou entrave e que é bastante recorrente no contexto das sociedades urbanas
ocidentais. Em síntese, nesse discurso o que se torna evidente é a oposição entre sociedade e
natureza, cujo espaço urbano representa o ápice de um movimento de afastamento e separação
do homem em relação ao mundo natural. Nesse caso, a natureza, de forma mais específica um
dos seus eventos – a chuva, é representada como oposição, uma adversidade à vida social, em
termos de comprometimento de tempo, de trabalho, de lazer, e, consequentemente, de
produção. Em Dias de Sol a chuva não é representada no contexto de riscos ambientais
(poluição, alagamentos, inundações e políticas públicas de gerenciamento de riscos etc), mas
simplesmente no plano estético, quando significa monotonia, confinamento das pessoas em si
mesmas, no interior de suas casas, afetando drasticamente a recreação e toda uma dinâmica
social relacionada à circulação das pessoas, o comércio etc.
Nesse caso, a chuva deixa de ser reconhecida em sua indispensabilidade à vida, dada a
sua imprescindível atuação para a manutenção do ciclo da água, perdendo inclusive seu um
valor utilitário (manutenção de reservatórios de água para abastecimento humano, irrigação
etc), despontando apenas como uma adversidade. Revela-se, portanto, que quando a natureza
não favorece ao homem ela se mostra como um entrave, um obstáculo a ser superado. Assim,
é clara a oposição entre percepções de dias de sol – alegres e produtivos, e dias de chuva,
tristes e improdutivos. Além disso, nessa perspectiva, a animação ressalta que a produção e a
atividade social não podem parar, por isso a chuva é ela mesma transformada em uma
atividade econômica lucrativa, cuja necessidade de enfrentamento suscita criatividade e
inovação – emerge uma indústria de guarda-chuvas customizados cuja posse estimula a saída
e a circulação das pessoas em tempos chuvosos. Aqui, é um envolvimento antropocêntrico
com o mundo natural que se torna evidente, uma natureza destituída de sentido estético,
espiritual etc, apenas utilitária, nas mais diversas instâncias.
Bumba Meu Peixe, a última animação contemplada em nossa análise, apresenta um
discurso que valoriza o sentido de lugar, a relação de pertencimento do homem em relação ao
ambiente, a partir do contexto de uma pequena comunidade de pescadores. Embora não
privilegie discutir e problematizar acerca desse pertencimento do homem ao meio envolvente,
a animação procura sustentar a ideia de que em tais comunidades prevalece um envolvimento
com um mundo natural que pode ser traduzido em sentimento de segurança, de conforto e de


278

estar em casa, aspectos valorizados por Corbett (2006). Em Bumba, a paisagem, uma praia do
Ceará, é representada como promotora de enraizamento emocional e de valorização do meio
ambiente por parte da população local, tantos dos jovens quantos dos adultos. Dessa forma, é
a cultura local que assume esse papel de transmissão de um envolvimento e de uma percepção
subjetiva do espaço, perpetuando essa identidade ambiental entre as gerações. Nesse caso,
valoriza-se também o protagonismo da educação, alimentando-se a ideia de que ela desponta
como arena crucial para a manutenção de tradições ambientalmente favoráveis.
Nessa animação, há uma representação desse modo de vida comunitário como sendo
dotado de simplicidade material, relativamente isolada dos estilos de vida vigentes nas
sociedades capitalistas industriais, e também alheio ao mundo midiático e consumista. Assim,
ressalta-se que, à margem da produção industrial e das relações de produção e consumo, a
ideia de pertencimento ao mundo natural aqui representada nessas comunidades valoriza uma
compreensão da natureza que, apesar de assumir um caráter instrumental, pois a pesca é uma
prática de subsistência familiar e uma atividade mercantil, é também dotada de um sentido
estético e espiritual, o que resulta em seu uso comedido e de sua influencia decisiva para as
identidades culturais locais.
Em linhas gerais, entre essas animações relacionadas à tipologia de Corbett (2006)
notamos não haver um apelo direto à audiência em favor da adoção de atitudes ou
comportamentos ambientalmente favoráveis. Assim, não se tratam de discursos centrados
numa reivindicação de um ambientalismo pragmático, uma vez que essa perspectiva
ambientalista aparece apenas na animação Jardineiro, cujo discurso, embora sutil, alerta para
a necessidade de cuidado do planeta. Peixe, apesar de representar a degradação dos rios, não
supera o tom de lamento nostálgico, considerando essa “morte da natureza” como
consequência natural da modernidade, por isso não oferece questionamentos ou propostas
diante dessa questão. No caso de Peixe Frito, parece haver mais empenho em explorar o
ambiente como cenário para a sua narrativa cômica do que em representar o seu valor
científico – o parque arqueológico, uma vez que nem mesmo é privilegiada uma breve
contextualização da arqueologia enquanto ciência que encontra no ambiente seu objeto de
estudo.
Em relação às animações que representam envolvimento e integração de antigos povos
nativos com o meio ambiente, é importante considerar que tanto A Folha da Samauma como
Tainá-Kan estão empenhadas na representação das lendas que constituem suas narrativas, e,
embora sejam reveladoras do respeito e da integração desses povos em relação à natureza, não
manifestam um discurso em favor da valorização dessas perspectivas ambientais no contexto


279

atual. É somente em A Lenda da Árvore Sagrada que essa representação assume um valor
sintonizado com uma perspectiva ambientalista, uma vez que se trata de uma oposição
comparativa entre duas percepções do ambiente, a ocidental e a africana antiga. Nesse
discurso, a natureza primordial heideggeriana é confrontada com a natureza utilitária
cartesiana, em uma abordagem que contextualiza a origem da sujeição africana à
ocidentalização, conforme observamos em Dabiré (1993), no capítulo primeiro desse trabalho.
Nas três animações que representam a problemática da seca, embora seus discursos
reconheçam a dependência do homem em relação ao mundo natural, valorizando, dessa
forma, a natureza em seu papel provedor da vida humana, não é a relação homem/ambiente
que é privilegiada, mas sim a relação homem/homem, das quais resultam os problemas sociais
representados e denunciados nesses filmes. Nesses casos, dada à ênfase em questões sociais
estruturais como a fome, a miséria e o analfabetismo que caracterizam boa parte das
populações dessas regiões nordestinas, é reforçado o estereotipo dessas regiões de caatinga
(bioma cujo clima é o semiárido, nesse caso o nordestino) como biomas pobres,
negligenciando, portanto, acerca da diversidade e da riqueza de sua flora e sua fauna, e
mesmo acerca da devastação dessas regiões. Assim, prevalece tão somente a ideia de
ambiente como adversidade.
Finalmente, Dias de Sol é um discurso que representa a valorização seletiva da
natureza tão marcante na cultura ocidental. Em seu discurso, quando a animação representa o
dia de chuva como um dia triste ou ruim, manifesta uma percepção negativa da natureza, uma
oposição ao que se considera como ideal, bom e satisfatório. Assim, notamos que essa
associação de um dia de chuva a um dia de tristeza, aproxima-se de outras valorações da
natureza ressaltadas por Gonçalves (2006, p. 25) ao enfatizar que “[...] burro, cachorro,
cavalo, vaca, piranha e veado são todos nomes de animais, de seres da natureza tomados –
em todos os casos – em sentido negativo, em oposição a comportamentos considerados cultos,
civilizados, e bons”.


280

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Estas notas conclusivas almejam uma “resposta”, dentre outras possíveis, ao problema
de pesquisa aqui proposto, cujo foco era entender em que se fundamentam os discursos
ambientais presentes nos filmes de animação veiculados nos festivais brasileiros
contemplados. A tese sustentada era de que, mesmo diante da complexidade e da diversidade
discursiva, havia uma representação significativa dos discursos nas animações orientada para
uma lógica hegemônica do meio ambiente, centrada em perspectivas reformistas de
acomodação ao grande capital.
O seu desdobramento foi de grande contribuição para ampliar o debate em torno da
comunicação ambiental e dos discursos ambientais, bem como do cinema animado, revelando
neste cruzamento pontos relevantes: (i) a animação, de forma geral, estabeleceu uma relação
cada vez mais próxima das questões ambientais, principalmente quando da emergência dos
movimentos ambientalistas na década de 1960 e, mais adiante, ao longo das décadas de 1980
e 1990; com a popularização do debate em torno do meio ambiente e de sua problemática, ela
se configurou como uma relevante mídia na comunicação ambiental sobre os diversos temas e
para os mais diversos públicos, tornando-se inclusive bastante recorrente o termo enviro-toons
no contexto da investigação acadêmica; (ii) a animação despontou como um termômetro
decisivo dos discursos utilitaristas presentes nas sociedades capitalistas industriais, tão
frequentes principalmente no contexto da produção audiovisual norte americana,
especificamente em sua vertente comercial. Inclusive a esse respeito é emblemática a
personagem Pica Pau, concebida por Walter Lantz, não sendo raros os episódios em que
empreendia uma intensa degradação de florestas, assumindo motivações banais, seja
simplesmente para irritar seus adversários, pelo desejo insano de eliminar centenas de árvores
para confeccionar um único palito de dentes, ou para infernizar o trabalho de um ativista
ambiental; (iii) mesmo veiculadas em festivais especializados em temas ecológicos, e
passíveis de uma maior abertura para as produções independentes e contra-hegemônicas, as
animações não apresentaram, de forma significativa, ligação direta com os discursos
ambientais contestatórios, não revelando uma representação crítica e conjuntural acerca do
meio ambiente e das suas problemáticas.
O debate teórico revelou a animação como um produto cultural peculiar, marcado por
uma linguagem própria, rica e dinâmica, capaz de estabelecer uma dialética entre realidade e
fantasia, além de desfrutar de uma ampla penetração social, não apenas diante de um público


281

infanto-juvenil, mas também de uma crescente audiência composta por adultos. Portanto, a
animação deve ser vista como uma linguagem poderosa e abrangente, capaz de abrigar uma
diversidade de gêneros, temas e abordagens, gozando de um sucesso comercial e de público e
que se encontra em franca ascensão, em decorrência da popularização das tecnologias de
computação gráfica e de expansão de espaços de circulação na internet. Aliado a isso, cresce
também a sua importância na comunicação ambiental, ainda que o reconhecimento acadêmico
do cinema animado seja tímido quando comparado com outras áreas.
No que se refere aos festivais de audiovisual ambiental contemplados para a
delimitação do corpus, ao menos no contexto da circulação de enviro-toons brasileiras, nossa
investigação revela que apresentam sérias limitações enquanto um fórum de debate acerca do
meio ambiente. A “flexibilidade” nos critérios adotados para a seleção das obras resulta na
visibilidade de animações em que o meio ambiente é apenas pano de fundo, ou quando,
sequer, se mostra representado. De forma a ilustrar acerca desse contexto, na tabela a seguir
apresentamos esses casos e suas respectivas descrições.

Tabela 20: Animações “não ambientais” veiculadas nos festivais contemplados (2002-2013).
TÍTULO DA ANIMAÇÃO DESCRIÇÃO
A Árvore do Dinheiro Um homem firmou um pacto com o diabo para casar-se com a filha de um rico
fazendeiro – Conto de cordel, natureza apenas cenário.
A Fábula da Corrupção Fábula sobre corrupção – animais antropomorfizados substituem humanos.
A Última reunião Dançante O Narrador e suas memórias das amizades nos tempos de escola
A Vida não Vive Colagem fotográfica para ilustrar um texto de Theodor Adorno - crítica à sociedade
moderna – não é animação
As Desventuras de um Dia Uma jornalista vive uma rotina estressante, enfatizando a alienação e a opressão social
Balanços e Milk-shakes Lembranças de um amor nos tempos de crianças – natureza como cenário
Ballons Dois homens voam pelo céu pendurados em bexigas de ar e travam uma batalha pelo
domínio desse espaço
Cabelos de Ouro Lenda sobre um encanto que ocorre em uma floresta misteriosa - natureza como cenário
Calango Um calango é submetido a uma série de desventuras quando busca capturar um grilo
astuto
Carrapatos e Catapultas - A Carrapatos vivem em uma galáxia distante: animais atuando como humanos para
caixa de luz desenvolver uma sátira social sobre a dependência em relação à programação televisiva
Céu, Inferno e Outras Partes do Um cachorro antropomorfizados e os conflitos de sua vida afetiva
Corpo
Doutor Meu Filho é Animador Um garoto é submetido a um diagnóstico médico que atesta sua condição de “animador”
É Uma Vez Uma criança exposta a conflitos familiares
Eduarda Fissura do Átomo Vídeo clipe da música homônima da banda Mundo Livre S/A –uma crítica à sociedade
em rede e a alienação na comunicação interpessoal
ENGOLELOGOUMAJACAE Uma sucessão de vinhetas desconectas e experimentais – non sense
NTÃO
Espetáculo - O Mágico e a Um casal de artistas circenses se apresentam envoltos a uma briga de relacionamento
Domadora
Faroeste: Um Autêntico A saga de um Urubu cangaceiro e sua gangue – animais atual como humanos
Western


282

Graffiti Dança Personagens de grafites de rua dançam ao som de Bolero


História de Guerra Memórias de um guerreiro em seu leito de morte – natureza como cenário
Homem Estátua Um artista de rua (homem estátua) e a luta para horar seus compromissos financeiros
Izamara Sentimentos de uma mulher em meio a um relacionamento em crise
Leonel Pé de Vento Um garoto especial e sua inclusão social – natureza com cenário
Mágoa de Vaqueiro Uma jovem foge de casa para viver um grande amor – adaptação de um conto literário
que tem a natureza como cenário
Menina da Chuva Uma história sobre diferença e exclusão social a partir de uma garota especial
Meu Amigãozão: Fofurinha Lili em busca de seu balão perdido (10º episódio da série) – natureza como cenário
(Episódio)
Meu Amigãozão: Tempo Matt tem como dever de casa realizar uma reportagem sobre o tempo (9º episódio da
Fechado (Episódio) série) - natureza como cenário
Minhocas Um conflito maniqueísta entre minhocas e um tatu-bola
Mirantes da Ilha Um documentário sobre a arquitetura e a paisagem urbana de Santa Catarina - Não é
animação, apenas slides e cartelas
Muragens: crônicas de um Crônicas urbanas ambientadas no entorno do muro de um cemitério na cidade do Belém
muro do Pará
Musicaixa Experimental: figuras ao ritmo de uma caixa de música
Na corda Bamba Uma fábula sobre a vida moderna, trabalho e apatia social
No Baque Animação ilustrativa do vídeo clipe da música no Baque, da artista Soatá
O Mapinguari de Marão Vinheta com o personagem Mapinguari, mascote do FestCineAmazonia
O retorno de saturno Um jovem em meio a reviravoltas de sua vida: desemprego, astrologia e descoberta de
paternidade
Oh! Oh! Oh! Uma historieta de Uma criança desvenda em seu pai o segredo do papai noel
Natal
Pedra como Passagem Experimentação poética e filosófica acerca da pedra e seus múltiplos significados
Primeira Paróquia do Cristo Comédia non sense sobre apocalipse religioso
Sintético
Primeiro Movimento Encontro amoroso entre uma moradora local e um artista de circo
Quando as cores Somem Garota desenhista intrigada com a mudança nas cores de suas pinturas quando ficam no
escuro
RÁI SOSSAITH Uma sátira ao colunismo social
Reconhecimento Jovem casal vive um drama da violência urbana na cidade de Brasília
Tinha a Gata Gioconda Nostalgia sobre os tempos de infância - não é animação, sequencia de slides
Tyger Um tigre avança pela cidade grande revelando sua realidade - adaptação de um poema
Um Fio de Esperança A trajetória de um jovem ao entrar para o mundo do crime
Yansan Uma atualização urbana acerca da mitologia dos orixás: conflito amoroso
Fonte: Elaborado pelo autor.

Nota-se a partir destes casos que há realmente uma superficialidade e ausência de


questões ambientais em suas narrativas, e que isso traduz fragilidades nos critérios de seleção
e enquadramento adotados. Sobre este último, são pertinentes algumas considerações: (i) dada
a amplitude e a complexidade que envolvem as questões ambientais, os movimentos
ambientalistas e os discursos sobre o meio ambiente, a temática ambiental parece despontar,
para diversos realizadores e também para o corpo de jurados dos festivais, como um “tema
guarda-chuva” capaz de abrigar uma diversidade de abordagens, tais como violência urbana,
afeto, relações amorosas, opressão, alienação e exclusão social, corrupção, dentre outras,


283

sobretudo aquelas em que espaços naturais são tomadas como cenários para os conflitos das
narrativas; (ii) animações que apresentam animais antropomorfizados parecem assumir
relevância nessa concepção de temática ambiental, ainda que sejam tomados em substituição
aos humanos, em narrativas que são metáforas da vida social e que desenvolvem conflitos
relacionados a temas não ambientais; (iii) parece mais apropriado entender a inscrição dessas
animações em festivais especializados na temática ambiental como uma estratégia de busca
por ampliação da circulação e visibilidade por parte dos seus realizadores, ao invés de traduzir
“equívocos” de enquadramento de mensagens ambientais. Conforme foi possível identificar,
grande parte dessas obras foram agraciadas com premiações nos festivais aqui contemplados e
em diversos outros festivais audiovisuais (não ambientais) nacionais e internacionais, o que
sugere, dentre outras motivações, a busca por visibilidade que suscita em seus realizadores
uma “valorização de conexões ambientais“ nas narrativas de suas obras.
Diante do exposto, é curioso perceber que, mesmo filiados à Green Film Network,
associação que compartilha entre seus associados um vasto acervo de obras ambientais
veiculadas em diversos festivais realizados ao redor do mundo, ainda é marcante, mais
especificamente no FICA e no FestCineAmazonia, a presença de animações cujas narrativas
se distanciam de questões e temas ambientais. Focando, por outro lado, nos filmes animados
estudados, ficou evidente que as representações dos discursos ambientais, dirigidos à
natureza e à sua problemática, confirmam a ideia aqui defendida de que a relação
homem/natureza é apresentada sem problematizações consistentes, sendo predominantemente
limitada a responsabilizar o indivíduo, sem atribuir maiores responsabilidades à estrutura
social. Predomina, portanto, a representação de natureza em oposição à sociedade - frágil,
desprotegida e distante, mas que não prescinde do papel do homem para protegê-la. Além
disso, é marcante o caráter doutrinador, em que a proteção do meio ambiente desponta como
uma imposição moral, o que termina por ofuscar sua compressão.
Entretanto, esse mapeamento das características gerais dos discursos analisados,
observado à luz da discussão teórica acerca das enviro-toons realizadas no contexto
internacional, oferece algumas contribuições para a problematização nesse campo de
investigação: (i) a categorização de narrativas proposta por Murray e Heumman (2011),
centrada em três tipos de histórias ambientais, mostrou-se limitada diante de um corpus que
terminou por revelar outros quatro tipos de histórias sobre o ambiente; (ii) diante da
sistematização e caracterização estético-narrativa das animações ambientais realizadas por
Starosielski (2011), notamos que, em se tratando de uma produção tardia, o contexto
brasileiro ainda sofre grande influência das animações que marcaram a primeira fase


284

identificada pela autora, embora dialoguem com as duas fases seguintes, o que indica que
temos uma animação ambiental ainda incipiente quando consideramos o contexto estético e
narrativo global; (iii) já em relação às discussões acerca da comunicação ambiental em geral,
essa emergência de enviro-toons brasileiras, ao longo do final das últimas duas décadas,
parece refletir a expansão da produção midiática, assinalada por Cox (2010), dedicada às
questões ambientais, e que impulsionou uma das principais áreas de investigação – a da mídia
e a do jornalismo ambiental; (iv) apesar das significativas contribuições de Corbett (2006)
para o campo de investigação, sobretudo acerca da produção e da compreensão das
mensagens ambientais no contexto da produção audiovisual, os resultados que identificamos
sugerem que o confinamento da animação à categoria temática designada por animais que
imitam seres humanos, conforme procede a autora, não se mostra condizente com a relevância
da animação enquanto mídia ambiental, pois ignora não somente as animações que não
representam animais, mas também a diversidade de enfoques e temas quando os mesmos se
fazem presentes.
Quanto à análise do objeto de estudo, podemos levantar em síntese as seguintes
observações. Primeiro, apesar de contemplarem variados temas ambientais, nas animações
ainda prevalecem questões relacionados a uma natureza distante, afastada do cotidiano dos
cidadãos, com destaque para a derrubada de florestas e para a degradação de outros biomas
não habitados, ou selvagens, como insistem as representações, e sempre com ênfase nos
impactos sobre a vida animal. As questões ambientais que assumem centralidade na agenda
ambiental atual são periféricas a esse corpus, a exemplo das mudanças climáticas, as quais
são praticamente ignoradas, juntamente com uma série de riscos decorrente das externalidades
das atividades sociais, tais como a poluição atmosférica e das águas, a contaminação química
dos solos, dos alimentos, o crescimento desordenado das cidades etc. Embora seja relevante o
número de casos que retratam o acúmulo de resíduos no espaço urbano em decorrência das
práticas de consumo, assim como o desperdício de energia, verifica-se que as narrativas de
temas e questões ambientais ainda revelam as fragilidades das abordagens, sobretudo em
termos de impactos e consequências.
Segundo, a escassez de temas ambientais relacionados ao cotidiano da audiência é
agravada pela descontextualização no desenvolvimento dos demais temas. A contextualização
das problemáticas, em geral, é superficial, pois traz pouco esclarecimento acerca do espaço e
tempo em que se desenvolvem, além dos próprios impactos decorrentes. Via de regra, vigora
uma representação muito reducionista das questões contempladas, com uma visível
negligência quanto às sinalizações científicas acerca dos mesmos, o que implica problema


285

semelhante aqueles observados na cobertura ambiental jornalística e também no cinema


ficcional hollywoodiano – uma abordagem pautada em eventos ao invés de processos,
limitada, portanto, quanto ao esclarecimento acerca dos riscos ambientais em sua
multidimensionalidade e complexidade. Aliado a isso, a predileção por histórias apocalípticas
e de lamento são indicativos substanciais do reformismo ambiental que permeia a maior parte
do corpus. Enquanto o lamento parece estimular um sentimento de nostalgia ambiental, o
apocalipse resulta mais em medo e na inércia diante do catastrófico e inevitável fim da
natureza, mais especificamente da própria sociedade.
Terceiro, acerca das responsabilidades, peça-chave para uma compreensão da
dimensão política das problemáticas representadas, há uma tendência forte nas animações de
não tratar a questão ambiental relacionada à perspectiva estrutural, pois apesar da recorrente
referência ao capitalismo e ao industrialismo como empreendedores da degradação do
ambiente, ambos são tratados superficialmente, uma vez que não se privilegia esclarecer as
atividades e as motivações para a apropriação utilitária e impactante do mundo natural. Disso
decorre que as animações comportam uma valorização de narrativas maniqueístas – uma forte
herança do melodrama hollywoodiano, de onde predomina uma vilanização da degradação,
atribuída a eco vilões, cujas atividades relacionadas são apenas pretextos para a destruição
gratuita da natureza. Há, portanto, um ofuscamento dos interesses sociais e das disputas de
poder que norteiam a apropriação da natureza enquanto recurso. Neste sentido, a ausência de
relação entre a degradação do ambiente e a lógica capitalista, principalmente sua relação com
o sistema de produção e consumo, termina por ofuscar as causas estruturais da crise ambiental
em favor das causas diretas, como a poluição do ar, a expulsão dos animais do seu habitat, a
perda de biodiversidade, o acúmulo de lixo etc. Por outro lado, enquanto a estrutura social
mostra-se pouco contestada em sua lógica incompatível com a proteção do ambiente,
predominam discursos centrados na responsabilização do cidadão ordinário pela crise
ecológica. Apesar de representações de discursos ambientais mais radicais, a sensibilidade
ambiental valorizada também não se faz seguida de críticas à estrutura social.
Consequentemente, sendo o cidadão comum o responsável pela crise ecológica, e
mesmo nos casos em que a crise é decorrente dos eco vilões, é também o cidadão ordinário
endereçado como principal, senão exclusivo ator social responsável pelo seu enfrentamento.
Notamos que o cidadão comum é o ator social que predomina nas atribuições de
responsabilidade pelo enfrentamento da crise ecológica, independentemente dos discursos
ambientais representados. Mas, devido às fragilidades nas contextualizações das questões
ecológicas e, sobretudo, por figurarem também como principais responsáveis pela degradação


286

do ambiente, o cidadão ordinário é valorizado quanto à adoção de posturas ambientalmente


favoráveis, com ênfase para ações pontuais e limitadas, a exemplo das práticas de reciclagem
de lixo, da conservação e da proteção de plantas e animais, da economia de energia etc. O que
se torna problemático são os esforços discursos centrados no estímulo de um ethos ambiental
reformista na audiência, limitado a um engajamento ecológico cuja abrangência contempla
apenas as causas diretas dos problemas representados. Portanto, os discursos presentes nos
filmes animados apresentam uma assimetria no reconhecimento de responsabilidades, dada a
forte ênfase no papel do cidadão comum e a negligência acerca dos demais atores sociais,
sobretudo aqueles que respondem pelo maior consumo de recursos naturais e pela degradação
do ambiente, a exemplo das empresas de grande poder político e comercial, e aqueles que
definem as políticas ambientais e os estudos neste campo, como o Estado e a ciência. Nesse
sentido, essas limitações quanto à responsabilização dos atores sociais, são as mesmas
observadas na animação hegemônica, quando as causas estruturais da crise ambiental são
evitadas.
A quarta observação aponta para o caráter problemático da ideia de natureza que
prevalece no corpus da pesquisa, pois perpetua a percepção de homem enquanto elemento
externo, e de sociedade como oposição ao mundo natural. A predileção pela natureza animal,
embora frequentemente relacionada ao apelo em defesa dos seus direitos, é negligente ao
relegar uma visão de natureza como ecossistema, portanto, complexa, independente e não
apenas em termos de suscetibilidade à interferência humana. Por isso, notamos uma
valorização seletiva do mundo natural, com privilégios pela sensibilização da audiência diante
de algumas espécies representadas como vulneráveis e indefesas ao ataque humano.
Consequentemente, ao desconsiderar a natureza em sua totalidade e complexidade, persiste
uma abordagem enquanto selvagem e distante, harmoniosa, mas ameaçada pela presença
humana. Por outro lado, a recorrente denúncia de sua apropriação enquanto recurso, e da
própria degradação, não avança para revelar desdobramentos dessa percepção em um
contexto mais preciso. Noutros termos, quando transitam entre essas representações, o corpus
não se configura como um discurso acerca das disputas pela natureza – essa ideia de natureza
distante e que deve ser mantida intocável ofusca a percepção de uma natureza próxima,
presente no cotidiano das sociedades e que é constantemente atacada para atender à dinâmica
social em sua necessidade material. A ambivalência dessa perspectiva é que direciona um
engajamento ambiental raso, valorizando um sentido de proteção para uma natureza distante,
mas legitimando sua apropriação em um contexto de proximidade. E mesmo os filmes em que


287

problemas ambientais não são representados, o tom nostálgico e o lamento recaem sobre a
natureza distante, e ocorre de forma seletiva, com predileção para certas espécies animais.
A quinta e última observação refere-se às soluções apresentadas para os problemas
ambientais tratados, tornando-se ainda mais explícito o caráter reformista dos discursos
ambientais do corpus. Como ressaltamos, a centralidade do cidadão ordinário enquanto
responsável pela degradação e pelo seu enfrentamento, resulta, consequentemente, no
reconhecimento de soluções nesse plano social, ao invés da estrutura. É preocupante essa
perspectiva de que a degradação ambiental relacionada ao plano estrutural das sociedades seja
representada com uma espécie de ônus necessário ao progresso e ao conforto das sociedades,
não cabendo maiores intervenções que possam comprometer sua lógica, e que,
consequentemente, apenas se volta para enfatizar mudanças pontuais no plano individual. Em
certa medida, as atitudes valorizadas como defesa, conservação e proteção do meio ambiente,
reforçam o próprio discurso do industrialismo e dos discursos ambientais reformistas,
ignorando que elas visam tão somente a realimentação do sistemas de produção. Enfim, esse
“empoderamento” do indivíduo diante de questões ambientais complexas e multidimensionais,
das quais ele é, sem dúvida alguma, corresponsável, é duplamente preocupante: primeiro por
que ofusca a compreensão das causas estruturais da degradação; e segundo, por legitimar a
hierarquia antropocêntrica da natureza, valorizando o papel protetor e de superioridade do
homem em relação ao mundo natural. Diante disso, as soluções apresentadas mergulham em
ações desprovidas de engajamento político para o seu enfrentamento. Na verdade, as
representações das questões ambientais no corpus manifestam o que Bakhtin (2006) vai
denominar de monologismo, uma vez que vigora nos textos animados uma única perspectiva
ou voz ideológica – aquela que percebe a natureza no plano utilitário. Apesar da diversidade
de personagens e atores sociais presentes nas animações, as narrativas não configuram a
polifonia bakhtiniana, não representam vozes ideologicamente conflitantes.
Por fim, tais desdobramentos comprovam a tese em questão, demonstrando que as
representações dos discursos ambientais presentes nas animações se caracterizam por
narrativas reformistas, ainda que divulgadas em espaços considerados não hegemônicos,
capazes de comportar uma diversidade de discursos e formas de engajamento, como é o caso
dos festivais. Portanto, apesar de não confinadas aos constrangimentos produtivos tão
marcantes na animação hegemônica e comercial, a liberdade e a independência criativa que
caracterizam o corpus não resultou em internalização dos discursos ambientais de caráter
contestatório, menos antropocêntricos e, portanto, mais críticos à estrutura social. Pode-se
dizer que prevalecem contradições discursivas que marcam as representações da natureza e de


288

sua problemática, não apenas no corpus, mas no próprio funcionamento da esfera pública
ambiental, onde estão inseridos os festivais, e também os agentes de fomento ao audiovisual
ambiental, ligados, por exemplo, ao Ministério do Meio Ambiente. Inclusive as limitações na
compreensão das questões ambientais refletem de certa forma a superficialidade com que o
tema é tratado por parte dos próprios realizadores dos eventos, que configuram o
constrangimento próprio dessa produção autoral e independente. Daí a relevância de parcerias
desses com ONGs que se destacam e se empenham no debate ambiental, e também com
cientistas e instituições que desenvolvem estudos nesta área. Para além dessas críticas, as
animações aqui analisadas, em suas contradições discursivas, a despeito do ambientalismo
ambivalente, traduzem a própria complexidade dos discursos, dos quais seus realizadores são
refratários.
Apesar das limitações discursivas observadas nesse corpus, a emergência de
animações ambientais brasileiras se torna relevante e reveladora dessa capacidade de refratar
e refletir as contradições e disputas que caracterizam o debate ambiental no contexto nacional.
Além disso, dado ao caráter recente dessa produção e à transitoriedade das respostas
apontadas nessa nota final, resta ainda saber se essa aproximação da animação com a temática
ambiental, é, nos casos observados, reveladora de sua consolidação enquanto contexto para a
manifestação de discursos ambientais, ou se o meio ambiente é meramente um pretexto para a
realização de filmes animados.
Finalmente, convém ressaltar que essa tese não configura uma denuncia no sentido de
revelar aqueles envolvidos com o objeto investigado como responsáveis por ofuscar uma
compreensão mais ampla e coerente acerca do meio ambiente e de suas mais diversas
problemática, sobretudo em termos políticos. Na verdade, almejamos tão somente contribuir
para ampliar a compreensão da comunicação ambiental no cinema de animação brasileiro, um
fenômeno complexo e ainda academicamente negligenciado, de forma a estimular e auxiliar
novas pesquisas, questionamentos e discussões sobre as representações da natureza na
animação, suas motivações, potencialidades e limitações, sua circulação, consumo e impactos
na audiência, principalmente no que diz respeito à multidimensionalidade da problemática
ambiental e ao seu engajamento.


289

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<https://www.youtube.com/watch?v=dpoDSZl16d0>. Acesso em setembro de 2014.

O JARDINEIRO: Com Feliciano Esperança. Direção: Robson dos Santos. Animação, 4’.
Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=FkTtiQKv8T0>. Acesso em setembro
de 2014.

O MENINO e o Mundo. Direção: Alê Abreu. Animação, 1’25”. Disponível em:


<https://www.youtube.com/watch?v=3EfJonQW6Pw>. Acesso em setembro de 2014.

O REI Gastão. Direção: Diogo Viegas. Animação, 1’. Disponível em:


<https://www.youtube.com/watch?v=7FTko7M8FRo>. Acesso em setembro de 2014.


308

OS SUSTENTÁVEIS. Direção: Lisando Santos. Animação, 1’. Disponível em:


<https://www.youtube.com/watch?v=ZV7VXjBR6_E>. Acesso em setembro de 2014.

PAJERAMA. Direção:. Leonardo Cadaval. Animação, 9’. Disponível em:


<https://www.youtube.com/watch?v=dMVu6pqLZHA>. Acesso em setembro de 2014.

PEIXE. Direção: Rogério Nunes. Animação, 2’14”. Disponível em:


<https://vimeo.com/28731005>. Acesso em setembro de 2014.

PEIXE Frito em Uma Aventura Rupestre. Direção: Ricardo Podestá. Animação, 11’51”.
Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=YWzfYEoQzAI>. Acesso em setembro
de 2014.

PERFEITO. Direção: Maurício Bartok. Animação, 3’. Disponível em:


<https://www.youtube.com/watch?v=ImowkpTfAw4>. Acesso em setembro de 2014.

RAP dos Bichos. Direção: Daniel Lima. Animação, 4’. Disponível em:
http://www2.camara.leg.br/camaranoticias/tv/materias/CURTAS-NA-TV/168194-CURTA-
METRAGEM-O-RAP-DOS-BICHOS-(DIRETOR-DANIEL-LIMA).html>. Acesso em
setembro de 2014.

TAINÁ-KAN, A Grande Estrela. Direção: Adriana Figueiredo. Animação, 15’. Disponível


em: <http://portacurtas.org.br/filme/default.aspx?name=tainakan_a_grande_estrela>. Acesso
em setembro de 2014.

TAMANDUÁBANDEIRA. Direção: Ricardo de Podestá. Animação, 7’58”. Disponível em:


<https://www.youtube.com/watch?v=msNU70uL_O0>. Acesso em setembro de 2014.

VIDA Maria. Direção: Márcio Ramos. Animação, 9’. Disponível em:


<https://www.youtube.com/watch?v=k-A-g-BfGrI >. Acesso em setembro de 2014.


309

APÊNDICE A:
QUADRO EXPLICATIVO/CODIFICAÇÃO DO CORPUS (SPSS)


TITULO ANO AUTORIA01 AUTORIA02 AUTORIA03 PRODUTORA REGIÃO DE TIPO DE FILME TIPOFIL
REA ORIGEM ME
LIZ
AÇÃ
O
A Esperança e a Ultima que Morde 2006 Neil Armstrong Lunarte Brasil - CE Curta - ficção animais sofrimento diante da seca curta
A folha da Samauma 2010 Ariene Porto Animação feita por crianças da Aldeia Brasil - SP curta
Indígena Guarani Tekoa Pyau de São
Paulo (Oficina Bem-te-vi).
A Lenda da Árvore Sagrada 1999 Eládio Garcia Sá Teles Paulo Caetano Pégasus Produções Brasil - GO Curta - mitologia africana, celebração do orgulho negro. curta
A princesa do Vale 2006 Luiza Falcão Produtora AMANDA Brasil - CE Curta - Ficção História de um município cearense. Filme realizado por artistas da AMANDA, Curso curta
profissionalizante de Desenho e Animação. O filme foi realizado no NIT em Limoeiro do Norte no
Ceará, entre Abril e Agosto de 2005 e finalizado em 2006. Foi dedicado à memória dos índios
massacrados pelos portugueses em 1699.
Água é para todos 2011 Diogo Viegas Independente Brasil - RJ Curta - Campanha Hábitos Sustentáveis, denuncia de consequências. curta
Alegria de Macaco 2007 Amir Admoni Brasil - Holanda Curta - ficção - metáfora de problemas ambientais curta
Buba e o Aquecimento Global 2009 Eduardo Nakamura Mono 3D Brasil - SP Curta - envirotoons - didático sobre efeito estufa, chamada para ação curta
Bumba Meu Peixe 2008 Luiza Falcão Produtora AMANDA Brasil - CE Curta - Celebração da Cultura Popular em colônias de pescadores e rendeiras - abertura de Premiação. curta
Consciente Coletivo: Aquecimento 2010 Pedro Luá e Analúcia Godoi Brasil - RJ Curta - didático/expositivo acerca das problemática do aquecimento global, estimulo habito sustentável curta
Global
Consciente Coletivo: Resíduos 2010 Pedro Luá e Analúcia Godoi Brasil - RJ Curta - didático/expositivo acerca da problemática do descarte irregular de embalagens na natureza curta
Consumidouro 2007 Felipe Grosso Felipe Po, Jack Jack Lamb, Brasil - PR Curta - Reflexão sobre o impacto do homem no planeta a partir do consumo. curta
Lamb, Walkir Walkir
Fernandes Fernandes
De onde vem a água do Rio 2011 Mateus di Mambro Brasil - MG Curta - Didático (aparenta ser episódio de uma série realizada em projeto de extensão da UFMG - curta
universidade das crianças)
Desabrigados 2012 Alexandre Costa Independente Brasil - MG Curta - Denúncia curta
Destimação 2012 Ricardo de Podestá Mandra Filmes Brasil - GO curta
Dia Estrelado 2011 Nara Normande Garça Torta, trincheira Brasil - PE curta - ficção curta
Dias de Sol 2006 Luciano Lagares OpentheDoor Brasil - PR Curta - ficção - natureza como pano de fundo, na verdade evento natural CHUVA curta
Entrevista com o Morcego 2000 Dustan Oeven Moisés Cabral Etnia produções cinematográficas Brasil - GO Curta Envirotoons - natureza fala curta
Escalada 2012 Paulo Muppet Luciana Eguti Estúdio Birdo Brasil - SP Curta - Reflexão sobre o impacto do homem sobre o planeta. curta
Essência 2011 Daniel Rabanea Brasil - SP Curta - Reflexão Ambiental (lamento), Chamada para ação (preservar água) curta
Eta Bicho homem 2012 Marcelo Branco Animare e F7 Filmes Brasil - MG Curta - Reflexão sobre o impacto do homem no planeta. curta
Filme Ilhado 2004 Paulo Guilherme Costa Miranda Mandra Filmes Brasil - GO Curta - alerta/indireta curta
Fundo 2009 Yannet Brigglier Omago Realizações Brasil - SC Curta - Reflexão sobre o impacto do homem no planeta. curta
Gente Grande 2010 Walkir Fernandes Caroline Santos SputnikStudio: Animação, Ilustração e Brasil - PR Curta - Solução de problemas Ambientais curta
Quadrinhos
Haiana:O Filtro 2012 Arnaldo Galvão LM FILMES Brasil - SP Curta - Solução de problemas curta
Mapinguari o Protetor da Floresta 2007 Cao Cruz Brasil - BA Curta - Denuncia curta
Não Fique Pilhado 2000 João Amorim Vicente Amori Carlos Duba Synapse Produções Ltda Brasil - RJ Curta - Denuncia comportamento antiambiental - uso de pilhas e descarte irregular curta
O cangaceiro e o leão 2011 Arnaldo Galvão Buba Filmes Brasil - PE curta - ficção: um garoto se aventura pela sua imaginação e descobre sobre o aquecimento global curta
O DIÁRIO DA TERRA 2011 Diogo Viegas Brasil - RJ Curta - Reflexão sobre o impacto do homem no planeta. curta
O Jardineiro - Com Feliciano Esperança 2010 Robson dos Santos Brasil - MG Curta - reflexão sobre preservação da natureza e compromisso com gerações futuras curta
O Menino e o Mundo 2014 Alê Abreu Filme de Papel Brasil - SP Longa Metragem - longa
O Rei Gastão 2012 Diogo Viegas Viegas Estúdio Brasil - RJ Curta - Fábula - Reflexão do impacto do homem sobre a natureza - Solução de problemas curta
Os sustentáveis 2012 Lisandro Santos Cartunaria Desenhos Brasil - RS Curta - Campanha para adoção de postura ambientalmente favorável. Chamada para um série animada curta
ambiental
PAJERAMA 2008 Leonardo Cadaval Brasil - SP Curta - Sociedade X Povos Indígenas Tradicionais curta
PEIXE 2011 Rogério Nunes, Irai Amana, Karmatique Imagens Brasil - SP Curta - Depoimento Lamentação - Nostalgia Natureza Perdida curta
José Silveira, Janice D'ávila
Peixe Frito em Uma Aventura Rupestre 2011 Ricardo de Podestá Mandra Filmes Brasil - GO Curta Ficção - Ambiente como pano de fundo curta
PERFEITO 2009 MAURICIO BARTOK Brasil - RJ Curta - Ficção - Não Environtoon. Subjetivamente trata da condição humana. curta
Rap dos Bichos 2005 Daniel Lima UM Filmes Brasil - GO curta
Tainá-Kan, A Grande Estrela 2005 Adriana Figueiredo Kino Produções Ltda Brasil - RJ Curta - adaptação de conto-lenda de povos indígenas curta
Tamanduá Bandeira 2011 Ricardo de Podestá Mandra Filmes Brasil - GO Curta - ficção sobre o devaneio de um tamanduá curta
Vida Maria 2006 Márcio Ramos VIACG, TrioFilms Brasil - CE curta

TITULO PADRAONA DESCRICOANARRATIVA01 DESCRICOANARRATI PATRO PATRO PATROCÍNIO E APOIO DURAÇÃO


RRATIVO VA02 CINIO CINIO
APOIO APOIO
PRIVA PUBLI
DO CO
A Esperança e a Ultima que ficção ficção - animais e a busca da sobrevivência em épocas de seca nordestina . sim Apoio: Lei estadual de incentivo a cultura, 2006 - Ceará 0:05:00
Morde
A folha da Samauma ficção ficção: retrata uma lenda indígena . . 0:04:03
310
A Lenda da Árvore Sagrada documental ficção/documental - mitologia/resistência negra . sim Apoio: Núcleo de pesquisa prática e divulgação da Capoeira de Angola. Pegasus Produções, 0:05:25
Studio Gráfico, PARLAMUNDI
A princesa do Vale documental documental - história da constituição histórica do município cearense Limoeiro do Norte . sim Apoio Cultural - Governo do Estado do Ceará/Secretaria da Ciência e Tecnologia, ENTEC 0:09:55
(Instituto Centro de Ensino Tecnológico). Produção - AMANDA - Associação Mundo
Animado das Artes. Coprodução - Luiza Falcão Produções Artísticas LTDA. Agradecimentos -
ENTEC, Limoeiro (Prefeitura), Reluz, Fundação ABRINQ, Garagem Digital e HP invent. Um
filme dedicado à memória dos povos indígenas, Paiacu e Jandium, massacrados pelos
colonizadores portugueses em 1699.
Água é para todos campanha resolução de problema ambiental: estímulo à adoção de hábitos sustentáveis pelo cidadão alerta consequências abuso . . não consta 0:00:44
quando ao uso dos recursos naturais do uso dos recursos
naturais
Alegria de Macaco ficção ficção/experimental: crítica à sociedade de consumo . . 0:08:16
Buba e o Aquecimento didático didático - piloto para um projeto com os personagens voltado ao público infantil sim . Apoio Cultural: Portal do Holanda (notícias) 0:01:13
Global
Bumba Meu Peixe ficção ficção - celebração da cultura popular: comunidade de pescadores . sim Feito em parceria com o Ministério da Cultura - Programa Cultura Viva, CENPEC, Canal 0:03:43
Futura e Petrobras para o lançamento da 2ª educação do Prêmio Cultura Viva, tendo como
tema: Cultura, Educação na, e para a Comunidade
Consciente Coletivo: didático didático/Expositivo - científico: consumo humano e aquecimento global (carne, sim . parceria entre o Instituto Akatu, Canal Futura e a HP do Brasil 0:02:00
Aquecimento Global pecuária)/estímulo de postura sustentável
Consciente Coletivo: didático didático/Expositivo - científico: consumo humano e o descarte irregular de embalagens sim . parceria entre o Instituto Akatu, Canal Futura e a HP do Brasil 0:02:00
Resíduos descartáveis em seu impacto ambiental/estímulo de postura sustentável
Consumidouro ficção ficção - consumidor alienado ao ambiente sátira sobre o estilo de . . Elaborado durante um curso ANIMATIBA coordenado por PAULO MUNHOZ 0:03:40
vida, consumo
De onde vem a água do Rio didático didático - científico: o ciclo da água . sim FAPEMIG (Fundação de Amparo a Pesquisa do Estado de Minas Gerais), CNPq, Centro de 0:02:45
Comunicação da UFMG.
Desabrigados experimental ficção - relação homem/natureza: denúncia acerca do impacto do homem no mundo natural . sim Secretaria Federal do Audiovisual, Ministério do Meio Ambiente e Ministério da Cultura 0:01:27
a partir de sua exploração como fonte de recursos
Destimação ficção ficção: uma criança e seu desejo por apossuir uma animal estimação adoção é foco sim sim Patrocínio: Lei Goyazes - AGEPEL - Agência Goiana de Cultura Pedro Luduvico Teixeira. Lei 0:13:00
Municipal de Cultura - Secretaria de Cultura de Goiânia. Chesp - Companhia Hidrelétrica São
Patrício. A Camargo - Peças Agrícolas
Dia Estrelado ficção ficção - a luta pela sobrevivência em um ambiente inóspito uma família tenta . sim incentivo: FUNCULTURA, FUNDARPE -Fundação do Patrimônio Histórico e Artístico de 0:17:00
sobreviver em uma região Pernambuco, sec. Educar do Governo Estadual de Pernambuco, prefeitura do recife
árida
Dias de Sol experimental ficção - pai e filho inventam os mais diversos guarda-chuvas rotina de uma cidade muda . sim Obra realizada com recursos federais. TVE Brasil, Secretaria do Audiovisual, Ministério da 0:01:24
com a chuva Cultura, Governo Federal
Entrevista com o Morcego didático ficção - didático: natureza fala (morcegos impactados pelo homem) sim sim Patrocínio: Secretaria do meio ambiente, dos recursos hídricos e da habitação, colégio 0:05:44
dimensão. Apoio: Agencia Ambiental de Goiás, IGPA (Instituto de Pré-história e
antropologia), Museu Antropológico, RTV/FACOMB/UFG, Ideia Produções, Filme contou
com assessoria ambiental
Escalada experimental relação homem/natureza: uma história sobre o impacto do homem no mundo natural a partir alerta consequências abuso . sim foi um dos projetos vencedores do edital Cine Ambiente de 2011, uma iniciativa conjunta entre 0:01:00
de sua exploração como fonte de recursos do uso dos recursos os Ministérios da Cultura e o do Meio Ambiente para curtas-metragens com temáticas
naturais ambientais
Essência experimental experimental - saga de uma criatura em busca de água . . Não Consta 0:03:31
Eta Bicho homem experimental ficção - relação homem/natureza: denúncia acerca do impacto do homem no mundo natural produzido em oficina de sim sim Patrocínio Cultural: Politriz, Governo de Minas (Lei Estadual de Incentivo à Cultura - Cultura 0:01:07
a partir de sua exploração como fonte de recursos animação Fazenda), Junc
Filme Ilhado ficção ficção/denuncia - limite do planeta/um homem ilhado tenta desesperadamente conseguir ser uma metáfora da situação . . 0:06:00
resgatado do homem atual - ilhado
em seu planeta diante da
degradação ambiental,
como se ninguém estivesse
ligando
Fundo experimental experimental - "a viagem de uma sacola plástica pela natureza" . sim PREMIO CATARINENSE DE CINEMA, FCC, Governo De Santa Catarina, Secretaria de 0:09:00
Estado do Turismo, da Cultura e do Esporte.
Gente Grande ficção ficção - garotinha resolvendo problema ambiental: Hábitos sustentáveis . sim Patrocínio/Apoio: Secretaria do Audiovisual, Ministério da Cultura, Secretaria de Articulação 0:01:30
Institucional e Cidadania Ambiental, Ministério do Meio Ambiente, Governo Federal,
Haiana:O Filtro experimental ficção - resolução de problema ambiental: necessidade de combater à poluição atmosférica . sim Governo de São Paulo, PROAC Programa de Ação Cultural do Estado de São Paulo 0:01:00
Mapinguari o Protetor da ficção relação homem/natureza: denúncia acerca do impacto do homem no mundo natural a partir . . Não constam 0:04:06
Floresta da derrubada da floresta
Não Fique Pilhado experimental experimental - denuncia impactos ambientais/campanha estímulo reciclagem . . Não Consta 0:03:20
O cangaceiro e o leão ficção ficção - didático/expositivo: no imaginário de uma criança, juntamente com seu avo, expõe de forma didática . sim TV Brasil, Curta Criança, Secretaria do Audiovisual, Ministério da cultura, Governo Federal; 0:13:00
descobrem sobre o aquecimento global sobre o fenômeno e cobra
vigilância da criança
O DIÁRIO DA TERRA experimental denuncia - relação homem/natureza: denúncia acerca do impacto do homem no mundo . sim Patrocínio: Ministério do Meio Ambiente, Secretaria do Audiovisual, Ministério da Cultura 0:01:13
natural
O Jardineiro - Com Feliciano experimental reflexão acerca da necessidade de preservar o mundo para assegurar um futuro do planeta . . Não constam 0:04:00
Esperança
311
O Menino e o Mundo ficção ficção: jornada de um menino que deixa a área rural em busca de seu pai na cidade grande o choque entre os dois . sim Agencia Nacional de Cinema, Fundo Setorial do Audiovisual, Apoio do Governo do Estado de 1:20:00
mundos São Paulo, Petrobras Cultural (foi selecionado), BNDES, Secretaria de Cultura de São Paulo,
Programa de Ação Cultural de São Paulo, FINEP, Ministério de Ciência, Tecnologia e
Inovação e SABESP
O Rei Gastão ficção fábula - relação homem/natureza: uma fábula sobre o impacto do homem no mundo natural . sim Secretaria Federal do Audiovisual, Ministério do Meio Ambiente e Ministério da Cultura 0:01:15
a partir de sua exploração como fonte de recursos
Os sustentáveis campanha resolução de problema ambiental: estímulo à adoção de hábitos sustentáveis pelo cidadão . sim Secretaria Federal do Audiovisual, Ministério do Meio Ambiente e Ministério da Cultura: 0:01:06
quando ao uso dos recursos naturais edital Cine Ambiente, sobre "Consumo Sustentável e Biodiversidade" - um dos 20
contemplados
PAJERAMA ficção ficção - autoral: povos indígenas diante da sociedade industrial o estranhamento do índio . sim Patrocínio/Apoio: Secretaria do Audiovisual, Ministério da Cultura, Apoio: Suprisul 0:09:00
diante das transformações
do mundo natural
PEIXE experimental experimental - lamento nostálgico sobre a perda (morte) de um rio urbano . . Não Consta 0:02:14
Peixe Frito em Uma Aventura ficção ficção - episódio de uma série animada sim sim Governo de Goiás, Lei Estadual de Incentivo à Cultura (Lei Goiazes), A. Camargo, Cia 0:11:50
Rupestre Hidroelétrica de São Paulo (CHESP)
PERFEITO experimental ficção - consequências do perfeccionismo . . Não constam 0:03:00
Rap dos Bichos musical musical: animais do cerrado entoam um rap pela sobrevivência natureza fala . . 0:06:00
Tainá-Kan, A Grande Estrela ficção ficção - adaptação de conto sobre a lenda dos povos Carajás . sim Secretaria do Audiovisual, Ministério da Cultura, Rede Brasil 0:15:00
Tamanduá Bandeira ficção ficção - devaneio de um tamanduá (desafios para encontrar uma parceira) . sim Apoio Cultura: A. Camargo 0:08:05
Patrocínio: Agencia Goiana de Cultura (Pedro Ludovico Teixeira), Lei Gorazes (Lei Estadual
de Incentivo à Cultura), CHESP (Companhia Hidroelétrica São Patrício).
Vida Maria ficção ficção: a sina das mulheres de uma família nordestina (afastamento da escola) sociocultural, nordeste e . sim Governo do Ceará, Lei estadual de Cultura 0:08:00
tradição no distanciamento
da escola

TITULO SONORO VOZ OFF VOZOFF_FUNCAO DIÁLOGO DIALOGOVERBALALTERNATIVA TÉCNICA ANIMADA TIPOANIMACAO
VERBAL
A Esperança e a Ultima que Morde sim não sim Híbrido: 3D Digital, 2D Desenho Digital (menor parte) animação limitada
A folha da Samauma sim sim externo - descreve a história, mas torna-se diegético não Híbrido: Stop Motion com massa de modelar, desenho de recortes animação limitada
A Lenda da Árvore Sagrada sim sim externo - descreve toda a história não 2D Grafismo (Motion Graphics) animação limitada
A princesa do Vale sim sim externo - descreve toda a história não 2D Desenho Animado Digital animação limitada
Água é para todos sim não não 2D Desenho Animado Digital animação limitada
Alegria de Macaco sim não sim Híbrido: 3D Digital com imagens de ação ao vivo animação limitada
Buba e o Aquecimento Global sim sim externo - descreve o fenômeno não 3D Digital animação total
Bumba Meu Peixe sim não não 2D Desenho Animado Digital animação limitada
Consciente Coletivo: Aquecimento sim sim externo - descreve a história, mas torna-se diegético não Stop Motion: recortes animação limitada
Global
Consciente Coletivo: Resíduos sim sim externo - descreve a história, mas torna-se diegético não Stop Motion: recortes animação limitada
Consumidouro sim não não 2D Desenho Animado Digital animação limitada
De onde vem a água do Rio sim sim externo - descreve o fenômeno não 2D Desenho Animado Digital animação limitada
Desabrigados sim não não 2D Desenho Animado Digital animação total
Destimação sim não sim 2D Desenho Animado Digital animação limitada
Dia Estrelado sim não não Stop Motion: massa de modelar animação limitada
Dias de Sol sim não não 2D Desenho Animado Digital animação limitada
Entrevista com o Morcego sim não sim Stop Motion: massa de modelar animação limitada
Escalada sim não sim entre os personagens com língua própria Híbrido: 2D e 3D Digital animação total
Essência sim não não cartela Stop Motion: recortes papelão animação limitada
Eta Bicho homem sim sim avalia os personagens não 2D Desenho Animado Digital animação limitada
Filme Ilhado sim não não 2D Desenho Animado Digital animação limitada
Fundo sim não não 2D Desenho Animado Digital animação total
Gente Grande sim não sim 2D Desenho Animado Digital animação limitada
Haiana:O Filtro sim não não 2D Desenho Animado Digital animação limitada
Mapinguari o Protetor da Floresta sim não não Híbrido: 2D Digital, recortes e ilustração animação limitada
Não Fique Pilhado sim não não Híbrido: 3D Digital com figuras e colagens em 2D animação limitada
O cangaceiro e o leão sim não sim 3D Digital animação limitada
O DIÁRIO DA TERRA sim sim personagem descreve a história não Híbrido: 2D Desenho Digital, 3D animação total
O Jardineiro - Com Feliciano Esperança sim não a música orienta a narrativa não Narrativa Musicada 2D Desenho Animado Digital animação limitada
O Menino e o Mundo sim não sim Híbrido: 2D Desenho Digital com 3D animação limitada
O Rei Gastão sim sim a música desenvolve a narrativa não Narrativa Musicada 2D Desenho Animado Digital animação limitada
Os sustentáveis sim sim externo - descreve toda a história não 2D Desenho Animado Digital animação limitada
PAJERAMA sim não não 3D Digital animação total
PEIXE sim sim depoimento nostálgico de um antigo morador e sim Híbrido: 2D Recortes de papel, edição ação ao vivo animação limitada
frequentador do rio
Peixe Frito em Uma Aventura Rupestre sim não sim Entre os personagens 2D Desenho Animado Digital animação limitada
PERFEITO sim não não 3D Digital animação limitada
Rap dos Bichos sim não sim Narrativa Musicada (ritmo) 2D Desenho Animado Digital animação limitada
Tainá-Kan, A Grande Estrela sim não sim 3D Digital animação limitada
312
Tamanduá Bandeira sim não não 3D Digital animação limitada
Vida Maria sim não sim 3D Digital animação limitada

TÍTULO TEMA_PRINCIPAL@ TEMA AMBIENTAL TEMAAMBIENTAL_QUESTOES TEMA_SE_IMPLICITO @TIPOCONFLITO CONFLITOPADR PERSONAGENS PROTAGONISTA ANTAGONISTA
AO_OK
A Esperança e a Ultima que Natureza: Adversidades A seca no nordeste: animais e seca e a vida animal, cadeia alimentar (urubus, uma metáfora da sociedade: Natureza X Homem vaca (prestes a morrer), cadela (amiga da vaca), urubus (esperando a
Morde ambientais com implicação no a sobrevivência no contexto carniça), poder público (descaso com a seca) homem x homem (descaso morte), políticos (D. Pedro II, Juscelino)
mundo animal da seca nordestina político com a seca no
nordeste)
A folha da Samauma Natureza: Valor Contemplativo A lenda é sobre exclusão: um natureza exuberante índio feio se abriga na mata Homem X Homem Índios
índio feio que se refugia em em função de sua exclusão
uma bela Samauma
A Lenda da Árvore Sagrada Relação Homem e Natureza: Natureza pano de fundo: Cosmologia africana que maniqueísta - ser humano Natureza X Homem Africanos nativos, colonizadores brancos, saci, natureza (arvores,
Povos Nativos X Sociedade escravização dos negros integra homem, animais e "colonizador" X tribos animais e pedras)
Ocidental arvores, além das pedras em africanas e Natureza
um todo da natureza.
Perspectiva oposta ao
utilitarismo e tirania do
colonizador
A princesa do Vale Exploração desenfreada de Natureza pano de fundo: a integração dos povos tradicionais com a contrastes entre formas de maniqueísta - ser humano Natureza X Homem Povos Indígenas antigos (grupos em harmonia com a natureza),
recursos naturais: promoção do constituição do município a natureza, domínio da natureza pelos colonos relação com a natureza: "colonizadores" X natureza e Colonizadores (devastadores da natureza), animais (vitimas do
progresso partir da transformação do portugueses, natureza edênica, natureza antiga índios x colonizadores povos indígenas colonizador). Colonizador Cristóvão (Regulador governo),
espaço exuberante, natureza transformada, progresso e portugueses Fazendeiro (Corporações, prosperidade), Igreja (Regulador), cidadão
prosperidade, natureza domesticada comum (contribui para a ordem social).
Água é para todos Estimulo adoção de hábitos Água: recurso natural consumo excessivo, desperdício, direito dos maniqueísta - ser humano Homem X Natureza Homem no banho, animais no lago
sustentáveis para natureza, saúde animais "cidadão" X natureza
e bem estar
Alegria de Macaco Consumo e descarte irregular de O foco é o consumismo e a mídia e consumo, homem e excesso de Natureza X Homem consumidor (homem), publicidade (estimuladora do consumo),
resíduos alienação: a natureza é pano consumismo, alienação consumo, alienação e mídia anunciadora de problemas sociais
de fundo quando mostrada ambiental, descarte irregular problema ambiental
como depósito para os
produtos descartados pelo
homem
Buba e o Aquecimento Global Aquecimento Global: explicação Aquecimento Global: produção excessiva de gás metano e de co2: não há conflito explícito: Descrito: sem Buba (homem das cavernas), Dragão de estimação,
didática do fenômeno explicar o fenômeno sem relação com a vida moderna descreve o fenômeno do conflito
aquecimento global (sem
contextualizar a ordem
social)
Bumba Meu Peixe Relação Homem e Natureza: Natureza pano de fundo: o tradição cultural de uma colônia de pescadores, cultura de colônias de motivação por objetivo Interno Marina (criança), Família de Marina (Pai pescador, mãe rendeira e
Colônia Pescadores modo de vida simples de uma folclore, integração ambiental em comunidades pesquisadores dotada de pessoal: realizar trabalho irmão bebê), Moradores da Colônia (demais pescadores e rendeiras),
colônia de pescadores e ribeirinhas, senso de pertencimento saber ambiental escolar Professora, Colegas de Escola
rendeiras
Consciente Coletivo: Estimulo adoção de hábitos Aquecimento global pecuária e suas consequências para o clima: coloca o consumo humano Homem X Natureza Jovem consumidor de carne, as vacas, vendedor de móvel
Aquecimento Global sustentáveis para natureza, saúde derrubada de florestas, gases metano produzido como causador de impactos (eventual), criador de gado (não aparece), motorista de trator
e bem estar pelo rebanho, produção de gás carbônico pelo ambientais (a vida das (derruba floresta), motorista de carro de carne (não aparece),
transporte e pela derrubada de floresta, tartarugas): homem x açougueiro (no mercado e no frigorifico), senhora compradora de
consumo humano de carne como estimulador, natureza carne no mercado
mudanças climáticas (sem maiores
consequências), consumo consciente
Consciente Coletivo: Resíduos Estimulo adoção de hábitos Descarte de resíduos na reciclagem, impacto dos resíduos descartáveis coloca o consumo humano Homem X Homem Jovem consumidor (produtor de resíduos), tartarugas vítima dos
sustentáveis para natureza, saúde natureza sobre a vida marinha como causador de mudanças resíduos, consumidor em geral (brasileiros), homem histórico
e bem estar climáticas: homem X homem (homem das cavernas, bisavó), motorista do caminhão de lixo,
pescador, homem genérico (afetado pelo excesso de resíduos no
planeta)
Consumidouro Consumo e descarte irregular de Estilo de vida: consumo e perda de biodiversidade, aquecimento global, maniqueísta - homem x Homem X Natureza Homem no banheiro, homem na rede, homem pescando, homem no
resíduos degradação do ambiente esgotamento de rios, poluição, consumismo, natureza; homem consumista iglu, homem nos moinhos, animais diversos
alienação social e tecnológica exaurindo o planeta
De onde vem a água do Rio Natureza: sistemas científico Água: ciclo da água do rio não problematiza não há conflito: descritivo do Descrito: sem Existem personagens apenas ilustrativos das interações homem e rio.
(ciclo da água) fenômeno conflito O Rio desponta como próprio personagem. Há uma criança que
interage com o rio constantemente (brincando com um barco de
papel) e que demonstra curiosidade pelo ciclo da água. Outra criança
brinca na cachoeira, um casal de namorados sobre um ponte da
cidade, pescador, piloto de barco, idoso contemplado o mar)
Desabrigados Exploração desenfreada de Floresta: interferências derrubada de floresta, ameaça a biodiversidade, maniqueísta - ser humano Homem X Natureza Onça, Macaco, serrador e demais animais.
recursos naturais: promoção do humanas no Ecossistema pecuária extensiva "madeireiro" X natureza
progresso
313
Destimação Animais de Estimação: A trama é em torno da animais silvestres em cativeiro, comercio de animais são vitimas do Homem X Natureza criança, pai da criança, vendedor de animais de estimação, animais
comércio e posse criança e seu desejo por um animais de estimação, maus tratos aos animais homem em busca de possuir
animal de estimação e adoção um bicho de estimação, seja
pelos maus tratos em lojas,
seja pelo condicionamento
que o ambiente domestico lhe
aplica
Dia Estrelado Natureza: Adversidades O ambiente é pano de fundo: o ambiente é mostrado como Natureza X Homem Uma família em pobreza extrema
ambientais com implicação a região árida é cenário para a desafio à condição de vida, a
social narrativa que é a fome e a aridez como dificuldades,
luta por sobrevivência fome e sobrevivência humana
Dias de Sol Natureza: Adversidades Natureza pano de fundo: pai percepção de natureza (chuva) como obstáculo pai e filho transformam a não há conflito: pai e filho Interno Crianças da rua (brincando), Criança e seu Pai, pessoas da cidade,
ambientais com implicação e filho inventores usam a ao conforto moderno, mas de um obstáculo chuva em uma oportunidade saem da rotina inventando compradores de guarda-chuva, a chuva
social chuva como mote para suas para a vida cotidiana ela pode constituir uma de negócios. Ambos são guarda-chuvas
criações e para lucrar com as oportunidade para inovação nos produtos, criativos e desenvolvem
mesmas customização de guarda-chuvas que podem vários modelos de guarda-
representar um motivo lúdico para aproveita-la chuvas.
Entrevista com o Morcego doenças humanas: interferência Desequilíbrio ecológico: Interferência do homem no habitat dos maniqueísta - ser humano Homem X Natureza morcego entrevistado, morcegos em bando, humanos capacetes de
no equilíbrio ecológico interferência do homem no morcegos, desequilíbrio ambiental, meio "desenvolvimento" X plástico, jovens na caverna
habitat dos morcegos ambiente e saúde natureza
Escalada Exploração desenfreada de Sustentabilidade consumo intenso de recursos naturais, exaustão maniqueísta - ser humano x Homem X Natureza Criaturas não humanas (empreendedores e operários)
recursos naturais: promoção do recursos, insustentabilidade ser humano x natureza
progresso
Essência Estimulo adoção de hábitos Escassez de Água economizar água, preservar natureza não há conflito explícito: Homem X Natureza Criatura de papelão
sustentáveis para natureza, saúde descreve uma criatura em
e bem estar busca de água
Eta Bicho homem Exploração de Recursos Natureza: apropriação da derrubada da floresta, ameaça a biodiversidade, maniqueísta - ser humano Homem X Natureza Homem (engenheiro, operador de trator, lenhador), natureza
Naturais com Impacto na vida natureza como recursos e os direito dos animais "capitalista" X natureza (animais, árvores), Homem genérico (ponto de reflexão)
animal impactos do homem sobre o
mundo natural
Filme Ilhado Degradação do Planeta Terra: Questão Ambiental: como poluição industrial (atmosfera), derrubada e muito descontextualizado e homem lutando por Homem X Natureza homem ilhado, mulher na praia, soldado atirador, homem do resgate
genérico pano de fundo para o homem queimada de floresta, derramamento de óleo no subjetivo sobrevivência (metáfora para
ilhado mar, derretimento da calota polar o ser humano?)
Fundo Consumo e descarte irregular de Poluição descarte de sacolas plásticas na natureza (mar, não há conflito explícito: Homem X Natureza Aves, Tartaruga, Mar, Barco
resíduos ar e terra) descreve a trajetória da sacola
plástica na natureza
Gente Grande Estimulo adoção de hábitos Hábitos Sustentáveis descarte adequado de lixo, uso racional de não há conflito explícito: Homem X Homem Garota (protagonista), seus pais, vizinho, motorista do carro
sustentáveis para natureza, saúde água, eletricidade descreve uma garotinha
e bem estar protegendo o meio ambiente
(combatendo desperdício,
economizando recursos)
Haiana:O Filtro Soluções sustentáveis para Poluição: Atmosférica poluição industrial maniqueísta - heróis X vilões Homem X Natureza A Bruxa Haina e a Fábrica
natureza, saúde e bem estar ambientais
Mapinguari o Protetor da Exploração de Recursos Floresta: interferências derrubada da floresta, extração de madeira, maniqueísta - ser humano Homem X Natureza Mapinguari (Defensor da Floresta), Jovens índios (Defensores da
Floresta Naturais com Impacto na vida humanas no Ecossistema ameaça a biodiversidade, lixo, queimadas, caça "madeireiro" X natureza Floresta), Homem (invasor e ameaça à natureza), animais (vítimas
animal de animais silvestres, contaminação de cursos do homem), árvores (Vitima do homem).
de águas, saber ambiental tradicional
Não Fique Pilhado Estimulo adoção de hábitos Descarte irregular de pilhas, contaminação química dos solos, águas, não há conflito explícito: Descrito: sem Garoto da casa, cachorro, mulher ao volante, vacas, pescador,
sustentáveis para natureza, saúde baterias e eletrônicos animais e alimentos, reciclagem, cadeia descreve o fenômeno do conflito peixes, ordenhador, vendedor de frutas e verduras, dona de casa
e bem estar alimentar, contaminação industrial, risco contaminação química da (cozinheira), personalidades diversas
ambiental, alienação, consumo, tecnologia natureza
O cangaceiro e o leão Aquecimento Global: Aquecimento Global causas diretas do aquecimento global (carros, não há conflito, apenas Sobrenatural X garoto, avo, mãe, dragão (vilão)
antropogênico (carros, indústria) derrubada de florestas, industrias), ciência explicação do fenômeno: Natureza
como resolutora dos problemas causalidade apontada homem
x homem: interfere no clima
do planeta
O DIÁRIO DA TERRA Aquecimento Global: Desequilíbrio ecológico: mudanças climáticas: com efeitos sobre a vida maniqueísta - homem x Homem X Natureza Menina, Terra, Pinguins, Homem Histórico (primitivo, egípcios,
antropogênico interferência do homem no humana apenas; produção industrial como natureza gregos), Homem Moderno
planeta poluidora; derrubada de florestas; queimadas;
O Jardineiro - Com Feliciano Soluções sustentáveis para Dependência do homem em preservação da natureza - as flores como não há conflito: alerta Descrito: sem O Jardineiro, O planeta, Os jardins
Esperança natureza, saúde e bem estar relação à natureza metáfora necessidade de preservação conflito
(plantar flores)
O Menino e o Mundo Sociedades Inviáveis o foco é crise do mundo emprego, exploração, homem e transformação do Homem X Homem menino, mãe, pai, trabalhadores, moradores da cidade
moderno em sua amplitude a pobreza, superprodução, mundo natural a partir de sua
partir da experiência do consumo, degradação apropriação enquanto recurso
menino em sua jornada ambiental, poluição, para o desenvolvimento e o
derrubada de florestas, progresso das cidades
esgotos etc.
314
O Rei Gastão Exploração de Recursos Natureza: apropriação da derrubada de floresta, desvio de cursos de água, maniqueísta - ser humano Homem X Natureza Rei Gastão (Vilão), Animais (são as vítimas)
Naturais com Impacto na vida natureza como recursos e os ameaça a biodiversidade, poluição atmosférica "rei" X natureza
animal impactos do homem sobre o
mundo natural
Os sustentáveis Estimulo adoção de hábitos Sustentabilidade lixo orgânico, lixo inorgânico, embalagens maniqueísta - heróis X vilões Sobrenatural X Vilões: Lixeiro Louco, Cataclísmicos Gêmeos El nino e La nina,
sustentáveis para natureza, saúde descartáveis, desperdício de água, desperdício ambientais Natureza Cocozila e o Cidadão Sem Noção (Cidadão Comum). Heróis:
e bem estar de energia Reciclope (Reciclador), Eólica (Energia Renováveis), Alienígena
Vegano (Come alimentos orgânicos).
PAJERAMA Relação Homem e Natureza: Natureza: apropriação da transformação do meio ambiente pela oposição homem maniqueísta - homem Homem X Natureza Jovem Índio , Índio Adulto, Natureza (Floresta, animal caçado,
Povos Nativos X Sociedade natureza como recursos e os sociedade moderna; meio ambiente e os povos moderno/tribo indígena moderno x índio-natureza água, fauna e flora), Homem Social (trem, construções, helicóptero,
Ocidental impactos do homem sobre o primitivos - ocupação espacial eletricidade, transmissão, propaganda, cidade, veículos, estradas)
mundo natural
PEIXE Consumo e descarte irregular de Morte dos rios: urbanização recreação na natureza (rios), natureza como maniqueísta - homem Homem X Natureza Depoente, Natureza (águas, peixes), Crianças pescadoras
resíduos como promotora da provedora (pesca), biodiversidade (perda) moderno (urbanização) X
contaminação das águas natureza (rios e peixes)
(esgoto)
Peixe Frito em Uma Aventura Natureza: Valor Contemplativo Natureza como cenário parque arqueológico, ecoturismo, povos nativos Natureza é cenário: plano de maniqueísta - empresário x Homem X Homem Avó, Guita, Aninha, Tião (Dono do Sítio), Américo (Arqueólogo),
Rupestre fundo para uma trama em arqueólogos x crianças dois arqueólogos, índios e o homem da cabana.
torno dos interesses pela
exploração turística de um
sítio arqueológico:
ecoturismo
PERFEITO Sociedades Inviáveis Natureza como cenário: perfeccionismo na busca pela beleza, alienação antropocentrismo "homem" não há conflito: destaca o Homem X Natureza A criatura de madeira
metáfora do planeta do homem, "antropocentrismo" centrado em si ignora as antropocentrismo e suas
(inferido) consequências dos seus atos consequências em relação ao
próprio homem
Rap dos Bichos Degradação de Bioma: Cerrado Destruição do cerrado perda da biodiversidade animal do cerrado animais vítimas da destruição Homem X Natureza diversos animais protagonizam o curta
(várias espécies) do cerrado (impessoal)
Tainá-Kan, A Grande Estrela Relação Homem e Natureza: Natureza pano de fundo: foco descoberta da agricultura, cosmovisão, relações maniqueísta - homem x Homem X Homem Tribo Carajás (protagonista), Tainakan (protagonista!), Maioro,
Povos Nativos na mitologia de povos sociais, relação com o mundo natural homem Denake, Pajé, demais índios
Indígenas, conflito humano
(relação afetiva)
Tamanduá Bandeira Soluções sustentáveis para Natureza como cenário: é como pano de fundo: mostra como pano de fundo: o Homem X Natureza Tamanduá Bandeira macho, Feema, adversário, motoristas de carro
natureza, saúde e bem estar palco do sonho e da aventura a intervenção humana em homem se opõe a natureza
em busca de uma parceira áreas silvestres (estradas e (impede o sucesso do
amorosa cigarros), mas é pano de tamanduá)
fundo, pois é apenas um
sonho do personagem
Vida Maria Natureza: Adversidades Tema é social: continuidade natureza como obstáculo e desafio O nordeste é retrata com uma Natureza X Homem
ambientais com implicação de tradição que excluía as região atrasada em termos de
social crianças da escola, e as desenvolvimento, abriga uma
meninas nos trabalhos cultura em que a escola e o
domésticos letramento é preterido, em
favor do trabalho familiar na
propriedade

TITULO ANIMACA ATORES SOCIAIS (VOZES)CIDADÃOS, GRUPOS DE MEIO AMBIENTE, ATORES SOCIAIS (VOZES)CIDADÃOS, GRUPOS ATORESSOCIAIS0 ATORES ATORE ATORE ATORE ATORESSO ATORE ATORESS
O_AMBIE GRUPOS CONTRA MEIO AMBIENTE, CIENTISTAS, CORPORAÇÕES, DE MEIO AMBIENTE, GRUPOS CONTRA MEIO 1 SOCIAIS SSOCIA SSOCIA SSOCIA CIAIS06 SSOCIA OCIAIS08
NTAL REGULADORES - GOVERNO AMBIENTE, CIENTISTAS, CORPORAÇÕES, 02 IS03 IS04 IS05 IS07
REGULADORES - GOVERNO
Água é para todos Explícita Cidadão comum desperdiçador de recursos; Grupos Ambientalistas aparecem a partir dos animais que cidadão comum . grupos . . . . .
interpelam o homem para economizar agua ambienta
is
Desabrigados Explícita Corporações (Madeireira e criador de gado) . . . . . corporações . .
Rap dos Bichos Explícita natureza fala, homem (denunciado de forma geral pelos bichos) a sociedade em geral . . . . . corporações . .
Tamanduá Implícita Cidadão Comum (motoristas desatentos com os animais e com a floresta), animais como o capitalismo em geral cidadão comum . . . . corporações . .
Bandeira cidadão comum (namoro)
A princesa do Implícita Indígenas em harmonia com o mundo natural, colonizadores portugueses como Políticos são mencionados cidadão comum grupos . grupos . corporações políticos .
Vale exploradores da natureza, fazendeiro (cria a prosperidade), igreja (Assegura a ordem e o sociais contra o
progresso), cidadãos (homens de bem que asseguram a ordem social e o progresso), meio
cangaceiros ambiente
Alegria de Implícita Cidadão comum consumidor, mídia estimuladora de consumo via publicidade, empresas cidadão comum . . . . corporações políticos mídia
Macaco promotoras de consumo
Consumidouro Explícita Cidadão Comum (do banheiro, da rede e da pescaria), Homem do Moinho (cidadão cidadão comum . . . . . . mídia
comum ou empreendedor), natureza (animais e arvores)
De onde vem a Explícita Rio é o personagem que representa a natureza, mas vemos o cidadão comum como A ciência é a voz do narrador cidadão comum . . . cientistas . . .
água do Rio beneficiário direto do rio em diversos contextos (pesca, recreação, alimento)
Escalada Explícita indiretamente temos o capitalismo representado . . . . . corporações . .
Eta Bicho homem Explícita Trabalhadores devastando o mundo natural; Implícitos: homem capitalista indiretamente é uma alusão a todo o capitalismo . . . . . corporações . .
315
Filme Ilhado Implícita o cidadão comum, ilhado indiretamente temos as fábricas, o capital em geral cidadão comum . . . . corporações . .
O cangaceiro e o Explícita o cidadão comum (o garoto e o avo), a sociedade em geral (fabricas, derrubadas de cidadão comum . . . cientistas corporações . mídia
leão florestas, carros) não especifica um ator em si; a mídia (divulgando); a escola (discutindo);
os cientistas (resolvendo)
O DIÁRIO DA Explícita Cidadão Comum (menina), Pinguins (meio ambiente), Planeta Terra (Meio Ambiente), indiretamente temos o capitalismo com um todo cidadão comum . . . . corporações . .
TERRA Homem Moderno (Agente de degradação ambiental), Homem antigo (harmonia)
PERFEITO Implícita a sociedade em geral . grupos . . . . . .
sociais
Buba e o Explícita Cidadão comum (representado como homem das cavernas), poluidor Cientistas: a narração é a ciência cidadão comum . . . cientistas . . .
Aquecimento
Global
Consciente Explícita Cidadão Comum Consumidor e degradador (jovem e senhora consumidores de carne), Os cidadão comum grupos . . . corporações . .
Coletivo: humanos em geral (carnívoros), Criador de Gado (implícito), Trabalhadores ligados a sociais
Aquecimento carne (motorista do trator que derruba a floresta, motorista que transporta carne - estes não
Global aparecem, açougueiro, vendedor de móveis de madeira)
Consciente Explícita Cidadão Comum (jovem consumidor), os humanos em geral; A politica parece implícita quando dos funcionários cidadão comum grupos . . . corporações políticos .
Coletivo: descartando lixo (regulador, legislador, poder público); sociais
Resíduos
Essência Explícita indiretamente temos o cidadão comum cidadão comum . . . . . . .
Gente Grande Explícita Cidadão comum (pais, vizinho, motorista do carro, garota), Ambientalista (Garota), cidadão comum . . . . . . .
Poluidores (vizinho, pai, motorista do carro)
Haiana:O Filtro Explícita fábrica como grupo contra o meio ambiente; Implícitos: grupos ambientalista indiretamente temos uma presença de grupos ambientalistas . . grupos . . corporações . .
em função Haina (cidadão comum, grupo ambiental, ambienta
reguladores), is
Não Fique Explícita cidadão comum, comerciantes, corporações (fabrica), produtor de leite, mídia cidadão comum . . . . corporações . .
Pilhado (personalidades midiáticas), políticos
O Jardineiro - Explícita Cidadão comum (o jardineiro) como protetor do ambiente indiretamente temos a sociedade como um todo cidadão comum . . . . . . .
Com Feliciano
Esperança
O Rei Gastão Explícita Poluidores (Homem em geral, a civilização), o Cidadão Comum (Povos Nativos), o gestor indiretamente temos a sociedade como um todo . grupos . . . . . .
(Rei), a natureza (animais vitimados) sociais
Os sustentáveis Explícita Cidadãos Ordinários, Grupos Ambientais grupos antiambientalistas são representados pelos eco cidadão comum . grupos grupos . . . .
vilões ambienta contra o
is meio
ambiente
A Esperança e a Explícita Políticos Brasileiros, atuais e do passado, como negligentes com o problema da seca Cidadão Comum apresentados a partir dos animais e cidadão comum . . . . . políticos .
Ultima que Morde também mencionado quando se trata de população em geral
Dia Estrelado Implícita família, pai, mãe, quatro filhos, em condições de pobreza cidadão comum . . . . . . .
Vida Maria Implícita Família pobre e numerosa, Maria é a garota que vemos a vida passar a escola é implícita, sua ausência é o conflito do filme cidadão comum grupos . . . . . .
sociais
A folha da Implícita Indígenas marcados de envolvimento ambiental . grupos . . . . . .
Samauma sociais
A Lenda da Implícita Colonizadores portugueses degradam o ambiente, africanos nativos como protetores da . grupos . grupos . . . .
Árvore Sagrada natureza sociais contra o
meio
ambiente
Bumba Meu Peixe Implícita Cidadão Comum (Harmonia com a natureza, proteção), Escola (resgate e manutenção da . grupos . . . . . .
tradição) sociais
Destimação Explícita cidadão comum (garoto e seu pai), comerciante de animais (dono da loja), mídia cidadão comum . . . . corporações . mídia
(entretenimento sobre a natureza)
Dias de Sol Implícita Cidadão comum, empreendedores, cidadão ordinário indiretamente temos o capital, eles montam uma empresa cidadão comum . . . . corporações . .
Entrevista com o Explícita Natureza (morcego entrevistado, morcegos jovens), ciência (o jovem mestre em biologia), indiretamente são mencionados os SEM TETO, a cidadão comum grupos . . cientistas corporações . .
Morcego o cidadão comum (jovem do direito, leigo e pelo senso comum), corporações e governo Faculdade sociais
(construtora da barragem), trabalhadores (capacetes azuis), cidadão comum (vitimas dos
morcegos na cidade), sem teto (citado no discurso do jovem advogado)
Fundo Explícita barco (homem pescador) indiretamente temos o cidadão comum conforme sacola cidadão comum . . . . corporações . .
(homem poluidor) ou mesmo as corporações
Mapinguari o Explícita Povos Nativos (índios), Protetor da natureza (Mapinguari), Corporações (Homem . grupos grupos . . corporações . .
Protetor da madeireiro) sociais ambienta
Floresta is
O Menino e o Implícita cidadão comum, trabalhadores, sistema de produção, mídia, publicidade, empresários, cidadão comum grupos . . . corporações políticos mídia
Mundo forças militares, esportistas, moda, sociais
PAJERAMA Explícita Índios (ambientalistas), Homem Social (Antiambientalista), Corporações, Reguladores, . grupos . . . corporações . mídia
Governo e Cientistas (Indiretamente representados quando dos seus empreendimentos), sociais
Natureza
PEIXE Explícita (Cidadão comum), Natureza indiretamente a sociedade como um todo cidadão comum grupos . . . . . .
sociais
316
Peixe Frito em Implícita Cidadão comum (avó, crianças e o homem da cabana), Comunidade Nativa (os índios), cidadão comum grupos . . . corporações . mídia
Uma Aventura Reguladores e Cientistas (Os arqueólogos que avaliam o sítio arqueológico), Corporação sociais
Rupestre (Tião e o interesse comercial do sítio - a indústria do turismo)
Tainá-Kan, A Implícita Índios . grupos . . . . . .
Grande Estrela sociais
40 40 40 40 28 16 4 3 4 22 5 7

TITULO PROBLEMÁTICA AMBIENTAL PROBLEMAAMBIENTAL


Água é para todos O desperdício de água é uma prática quotidiana do cidadão comum (banho) e termina por comprometer outras espécies, sobretudo Direta: O desperdício de água é uma prática quotidiana do cidadão comum (banho) e termina por comprometer outras espécies,
aquelas que vivem nas massas de água que abastecem as cidades. sobretudo aquelas que vivem nas massas de água que abastecem as cidades.
Desabrigados A expansão da agropecuária (pecuária extensiva) resulta na derrubada da floresta que por sua vez implica na ameaça de espécies da Direta: A expansão da agropecuária (pecuária extensiva) resulta na derrubada da floresta que por sua vez implica na ameaça de
fauna nativa. espécies da fauna nativa. A apropriação humana da natureza como recurso para satisfazer suas necessidades e interesses implica
graves prejuízos para o mundo natural
Rap dos Bichos genérico: animais denunciam a redução do bioma e pedem proteção aos homens Direta: A exploração Bioma do Cerrado implica grave perda de biodiversidade, extinção de diversas espécies
Tamanduá Bandeira Um tamanduá tem que superar a estrada e o incêndio florestal para encontrar uma parceira Indireta: a interferência do homem em áreas silvestres (estradas, batuca de cigarro) compromete a vida animal, mas soluções
podem ser realizadas para remediar
A princesa do Vale Não há em plano primeiro - de forma secundária ele retrata a superação do saber ambiental nativo pela perspectiva utilitária do Indireta: descreve a apropriação humana da natureza com recurso econômico para assegurar progresso e desenvolvimento
colonizador, mas isso não representa problema e sim a ordem e os sacrifícios em direção ao progresso econômico.
Alegria de Macaco o foco é o consumo: o descarte irregular dos produtos geram impacto ambiental Direta: o consumismo resulta em intenso descarte irregular de produtos obsoletos, seu acumulo resulta em catástrofes ambientais
graves. Aqui é mais metafórico, a mídia e o capital alimentam o desejo por novos produtos supérfluos, rapidamente obsoletos,
incorrem em crise ambiental.
Consumidouro Esgotamento dos recursos naturais e interferência na natureza (clima, cadeia alimentar) a partir do consumo Direta: o consumismo e a alienação resultam em degradação do ambiente, Esgotamento dos recursos naturais e interferência na
natureza (clima, cadeia alimentar) a partir do consumo, gerando impactos ao redor do mundo
De onde vem a água do Rio Não desenvolve, apesar de explicar o ciclo do rio o filme não evidencia problemas apenas o descreve. Os problemas relativos à Indireto: não problematiza: descreve o fenômeno em termos científicos
relação homem e rio não são contemplados, nem mesmo a relação entre o rio e as demais formas de vida. Apenas o rio desponta como
sendo vital para a vida humana em suas diversas atividades - uso utilitário diverso.
Escalada As necessidades humanas demandam consumo exaustivo de recursos, que, por sua vez, resulta no comprometimento e na destruição Direta: A apropriação humana da natureza como recurso para satisfazer suas necessidades materiais e estéticas implica colapso do
do planeta. mundo
Eta Bicho homem Em meio ao paradigma do progresso o homem apenas observa a natureza como recurso a ser explorado e transformado em riquezas. Direta: A apropriação humana da natureza como recurso para satisfazer suas necessidades materiais e estéticas implica graves
Essa ênfase está comprometendo o planeta, sobretudo a vida do próprio homem; derrubada da floresta, queimadas. prejuízos para o mundo natural e ao seu sistema econômico. Em meio ao paradigma do progresso o homem apenas observa a
natureza como recurso a ser explorado e transformado em riquezas. Essa ênfase está comprometendo o planeta, sobretudo a vida do
próprio homem; derrubada da floresta, queimadas.
Filme Ilhado No filme o homem está ilhado (metáfora para os problemas que ameaçam a humanidade e o Planeta) Indireta: problemas ambientais (poluição do ar, derrubada e queimada, poluição dos mares - petróleo, derretimento da calota polar).
No filme o homem está ilhado (metáfora para os problemas que ameaçam a humanidade e o Planeta)
O cangaceiro e o leão No filme: o aquecimento global (no imaginário da criança, na escola e na mídia) Direto: O Aquecimento Global é antropogênico, decorre das fábricas e dos veículos, os humanos são seus responsáveis e precisam
cuidar do planeta, das arvores e plantas principalmente
O DIÁRIO DA TERRA A ação do homem sobre o planeta é marcada pela degradação - mudanças no clima, poluição, derrubada de florestas. Direto: o homem está destruindo a terra, mudando o clima e sofrendo as consequências
PERFEITO Não manifesta de forma direta, mas podemos inferir a questão da condição humana centrada em si mesmo enquanto ser supremo da Indireto: inferimos o antropocentrismo e o esgotamento do planeta
criação. O homem como senhor do seu destino e capaz de conceber a natureza, a vida. A supremacia e a tirania do homem diante do
mundo.
Buba e o Aquecimento Global Aquecimento global - decorrente da produção de metano Direta: O efeito estufa é uma ameaça ao planeta
Consciente Coletivo: Aquecimento O aquecimento global como resultado da pecuária extensiva (só existe por que há quem coma carne) Direta: A pecuária (o consumo de carne) é o principal responsável pelas mudanças climáticas, mas é o consumo de carne pelo
Global homem que estimula a pecuária e promove o aquecimento global
Consciente Coletivo: Resíduos O descarte irregular de resíduos descartáveis é problemático para a vida natural (tartarugas) Direta: O descarte irregular de embalagens descartáveis (pelo consumidor) promove impactos ambientais (afeta a vida das
tartarugas)
Essência Escassez de água Direta: não problematiza, apenas evidencia a necessidade humana de água, e a sua escassez. o homem depende de agua para tudo,
não só para o corpo, mas para sustentar o mundo que lhe serve
Gente Grande De uma forma geral trata da sustentabilidade - coleta seletiva de lixo, uso racional de agua e energia. Direta: O descarte irregular de lixo, o desperdício de água e eletricidade; a falta de hábitos sustentáveis; o homem desperdiça
recursos naturais, mas as gerações futuras precisam agir para mudar esse contexto.
Haiana:O Filtro Poluição Atmosférica - As fábricas poluem a atmosfera Direta: As fábricas poluem a atmosfera, mas isso pode ser resolvido a partir de adoção de filtros, sem interromper a produção
Não Fique Pilhado Descarte irregular de pilhas e baterias resulta na contaminação dos solos, das aguas e dos alimentos. No dia a dia, diversas pessoas Direta: O descarte de pilhas e a contaminação química da natureza, sobretudo do próprio homem
necessitam de pilhas e baterias para usar diversos objetos. Contudo, as mesmas são descartadas de forma irregular, contaminando a
agua, os solos, os animais e, consequentemente, o homem. Assim, o homem está sendo vitima de suas próprias escolhas, esta se
tornando pilhado, contaminado pelas substancias químicas. Uma problemática secundaria que aparece mas não é desenvolvida é a
contaminação das aguas e do ar pelas industrias.
O Jardineiro - Com Feliciano Esperança A preservação da natureza - a metáfora do jardim. A relação entre as ações do passado e seus impactos no presente e a necessidade de Indireta: Cuidar do Planeta para Assegurar o futuro do homem
agir no presente para assegurar impactos positivos no futuro. O compromisso entre gerações na preservação da natureza.
O Rei Gastão O homem se apropria deliberadamente dos recursos naturais para satisfazer suas necessidades (Uso de água e a alteração dos cursos Direta: A apropriação humana da natureza como recurso para satisfazer suas necessidades materiais e estéticas implica graves
dos rios, derrubada de florestas, mudança do espaço físico, urbanização) prejuízos para o mundo natural
Os sustentáveis Sustentabilidade - A Terra é ameaçada pela falta de hábitos sustentáveis por parte dos cidadãos comuns (Uso embalagens descartáveis, Direta: O desperdício de energia e de agua, o abuso de embalagens descartáveis, a produção de lixo orgânico e inorgânico
uso de fontes de energias não-renováveis, produção de lixo orgânico, desperdício de água e de energia), uma prática que demanda
participação de todos os cidadãos.
A Esperança e a Ultima que Morde A seca aflige secularmente o nordeste, comprometendo a vida dos animais e dos seus habitantes (há um descaso político) Direta: A seca nordestina é um problema que configura uma grande adversidade a fixação humana, além disso se torna mais grave
em função do histórico de descaso político (atinge animais e habitantes)
Dia Estrelado Indireta: Seca é uma adversidade a fixação humana, um desafio à vida humana que resulta da escassez de alimentos e de água
Vida Maria A seca faz do semiárido nordestino um desafio a fixação humana, resultado em adversidades sociais (trabalho infantil, pobreza, Indireta: A seca faz do semiárido nordestino um desafio a fixação humana, resultado em adversidades sociais (trabalho infantil,
analfabetismo, ausência de planejamento familiar) pobreza, analfabetismo, ausência de planejamento familiar)
A folha da Samauma não contempla Indireta: o envolvimento e o respeito com o mundo natural caracteriza indígenas antigos
317
A Lenda da Árvore Sagrada Rompimento com tradição ambiental a partir da escravização do homem negro. A visão dominante se sobrepõem ao saber ambiental, Indireta: revela a apropriação humana da natureza com recurso econômico para assegurar progresso e desenvolvimento, oposição a
ignorando em favor de um uso utilitário da natureza e do próprio homem. visão cosmológica africana. Rompimento com tradição ambiental a partir da escravização do homem negro. A visão dominante se
sobrepõem ao saber ambiental, ignorando em favor de um uso utilitário da natureza e do próprio homem.
Bumba Meu Peixe Há uma valorização da Educação Ambiental - Não se trata de uma problemática ambiental, mas de uma valorização do sentimento de Indireto: não problematiza mas descreve a vida da colônia de pescadores em sua relação com a natureza (recurso e respeito), o
pertença manifestado por uma colônia de pescadores. Do contato direto com a natureza (o mar) emerge uma cultura própria em que sentimento de pertencimento
elementos da natureza despontam como cruciais no imaginário local. Há, portanto, um reforço da integração entre homem e natureza
nestas comunidades. Embora utilitária, a natureza não é esgotada ao limite, e também manifesta valores outros como o de
contemplação. Mais que uma fonte de exploração ela desponta como uma provedora (alimentos, imaginário etc.)
Destimação criação de animais de estimação: condicionamento de animais silvestres, maus tratos quando comercializados, e necessidade de Direta: Domesticação de animais pode resultar em impactos negativos sobre os mesmos, sendo a adoção um caminho mais
adoção interessante
Dias de Sol Não desenvolve em primeiro plano - mas retrata a natureza (o evento da chuva) em uma oportunidade de negócios criativos. Indireta: representa a chuva como evento negativo à dinâmica urbana, resulta em monotonia aos moradores, sobretudo pelo seu
Aproveitam a demanda por guarda-chuva para criar modelos inusitados e customizados. confinamento em casa
Entrevista com o Morcego A construção de usinas hidrelétricas resulta em desequilíbrio ambiental, sobretudo para os morcegos que tem suas cavernas inundadas Diretos: Impactos ambientais decorrentes da construção de usinas hidrelétricas: compromete o habitat dos morcegos e resulta em
e assim são forçados a migraram para os espaços urbanos, introduzindo doenças, e uma percepção negativa dos mesmos, vistos apenas risco a saúde humana
enquanto ameaças a saúde humana e não como vitimas de intervenções humanas em seus habitats.
Fundo Descarte irregular de sacolas descartáveis despontam como ameaça a natureza (animais marinhos e aves) e também compromete a Indireta: retrata que sacolas plásticas descartadas na natureza atingem os animais (mas não se aprofunda em causa e efeito)
própria atividade da pesca
Mapinguari o Protetor da Floresta A floresta amazônica é seriamente ameaçada pelo homem. Seu interesse por madeira e por espécies selvagens resulta em ampla Direta: A apropriação humana da natureza como recurso para satisfazer suas necessidades e interesses implica graves prejuízos
devastação da floresta e das espécies ali existente. Além disso, o desrespeito resulta em uma série de práticas extremamente graves tais para o mundo natural
como a caça de animais silvestres, os incêndios criminosos e a contaminação dos rios, além do lançamento de resíduos diversos.
Assim, ameaçam a vida silvestre e das populações tradicionais.
O Menino e o Mundo vida urbana x vida rural: apropriação da natureza enquanto recurso e sua degradação decorrente de um modelo de sociedade Indireta: a sociedade moderna e suas contradições sociais e ambientais (apropriação da natureza como recurso, produção de
externalidades), a apropriação do mundo natural tornou-se intensa, foi consagrada pelo capitalismo e culminou com transformações
na condição humana, culminando com a crise ambiental
PAJERAMA A natureza como recurso para atender e sustentar o crescimento das cidades e da modernidade, perspectiva que termina por oprimir Direta: A natureza como recurso para atender e sustentar o crescimento das cidades e da modernidade, perspectiva que termina por
severamente os grupos indígenas. OU oposição entre apropriação da natureza pelas sociedades industriais e por grupos nativos oprimir severamente os grupos indígenas. OU oposição entre apropriação da natureza pelas sociedades industriais e por grupos
tradicionais. nativos tradicionais. A apropriação humana da natureza como recurso para satisfazer suas necessidades e interesses implica graves
prejuízos para o mundo natural e para os povos indígenas;
PEIXE A urbanização resultou na contaminação das águas (rios, córregos etc.) no curso das cidades. Com a contaminação das águas também Direta: a urbanização resulta na morte dos rios urbanos
houve um afastamento homem e natureza, uma vez improprias para a pesca e para a recreação, todo um envolvimento fora superado.
O imaginário também se esvai com a poluição.
Peixe Frito em Uma Aventura Rupestre Não perece centrar na questão ambiental, mas no conflito dos personagens - Como pano de fundo temos o Crime contra o patrimônio Indireto: não problematiza, retrata a apropriação humana da natureza como objeto científico, e como recurso estético a ser
arqueológico - Os sítios arqueológicos são espaços relevantes que tem sido usados para fins turísticos, atraindo visitas de forma a comercialmente explorado.
gerar divisas sobretudo necessárias à sua manutenção. Assim, as pinturas rupestres, apesar do crescente interesse por parte dos
turistas, devem ser preservadas, sobretudo em função de sua relação com a história primitiva. A interferência humana em tais áreas
deve ser cuidadosa, tanto para preserva-la, quanto para respeitar as populações tradicionais ai residentes.
Tainá-Kan, A Grande Estrela Não traz uma problemática, mas evidencia aspectos culturais de uma tribo indígena , sobretudo sua cosmologia. Indireto: não problematiza, descreve envolvimento homem/natureza em tribos indígenas

TÍTULO NARRATIVA NARRATIVA NARRATIVA NARRATIVAA NTROPOMORFISMO_OBS ABRANGENCI ABRANGENCI ABRANGENCI ESPACIALIDADE DA NARRATIVA
PERSONAGENS PERSONAGENS ANTROPOMORFISMO AE A A PROBLEMÁTICA ESPACIALIDADE01_OK
REPRESENTATIVO REPRESENTATIVO SPACIALDAPR ESPACIALDA ESPACIALDA (LOCAL, REGIONAL,
S01_OK S02_OK OBLEMATICA PROBLEMATI PROBLEMATI NACIONAL OU GLOBAL)
01_OK CA02_OK CA03_OK
A Esperança e a Ultima que Natureza Humano animais interagem com os animais em estado natural, mas com envolvimento com . regional . o estado do Ceará natural, urbano
Morde humanos, usam artefatos e humanos
hábitos humanos
A folha da Samauma Humano . não há antropomorfização local . . uma tribo genérica natural
A Lenda da Árvore Sagrada Humano . não há antropomorfização animais naturais . regional . África Antiga natural, urbano
A princesa do Vale Humano . não há antropomorfização animais naturais local . . Município de Limoeiro do natural, urbano
Norte: margens do Rio
Jaguaribe,
Água é para todos Humano Natureza animais com comportamento expõe o ponto de vista do animal acerca da problemática local . . Uma residência doméstica, natural, urbano
humano em habitat natural (furiosos) uma lago próximo
Alegria de Macaco Humano . não há antropomorfização a criatura é metáfora humana local . . Amsterdam urbano
Buba e o Aquecimento Global Humano Natureza não há antropomorfização dinossauro como animal de estimação . . global planeta na era pré-histórica: natural
homem primitivo
Bumba Meu Peixe Humano . não há antropomorfização animais de rua local . . Uma colônia de pescadores urbano
genérica
Consciente Coletivo: Humano Natureza não há antropomorfização não maior parte do tempo as vacas estão ao natural, mas ao . regional global o caso é do Brasil: mas relata natural, urbano
Aquecimento Global final uma delas está no transporte, interage com o jovem e todo o planeta
usa um guarda-chuva - o ponto de vista da natureza (a vaca
dá um guarda-chuva ao jovem)
Consciente Coletivo: Resíduos Humano Natureza não há antropomorfização não maior parte do tempo o animal (tartaruga) está em . regional global o caso é do Brasil: mas relata natural, urbano
estado natural, mas ao final ela aparece no coletivo, todo o planeta
interpela o jovem e lhe devolve a sacola e o presenteia com
uma reaproveitável (o ponto de vista da natureza)
318
Consumidouro Humano . não há antropomorfização animais naturais local regional global diversos: casa do personagem, natural, urbano
entorno e outras regiões do
planeta - inclusive hemisfério
norte
De onde vem a água do Rio . . não há antropomorfização animais naturais . regional . Um curso de um rio natural, urbano
Desabrigados Humano Natureza não há antropomorfização animais naturais local . . Uma Floresta: não especificado natural
Destimação Humano Natureza animais interagem com o papagaio interage como humano, o cachorro adotado é local . . uma cidade genérica urbano
humanos, usam artefatos e em estado natural
hábitos humanos
Dia Estrelado Humano Natureza não há antropomorfização animais naturais local . . uma região não definida rural
Dias de Sol Humano . não há animais local . . Uma cidade genérica, mas urbano
fantasiosa (vampiros etc.).
Entrevista com o Morcego Humano Natureza animais interagem com morcegos entrevistado: voz da natureza mas com local . . Uma cidade genérica urbano
humanos, usam artefatos e motivações humanas (vingança, lamento, pena etc)
hábitos humanos
Escalada Humano . não há animais, mas humanoides . . global Planeta Terra: metáfora em urbano
mundo geométrico abstrato
Essência Humano . não há animais local . . Um casa - não definida urbano
Eta Bicho homem Humano Natureza não há antropomorfização animais naturais local . global Uma floresta genérica do natural
Brasil
Filme Ilhado Humano . não há antropomorfização animais naturais (peixes que morrem pelo petróleo) local . global uma ilha genérica, todo o natural, urbano
planeta
Fundo Humano Natureza não há antropomorfização animais naturais local . . região genérica natural
Gente Grande Humano . não há animais local . . Um rua genérica urbano
Haiana:O Filtro Humano . não há animais local . . Fábrica impacta seu entorno: natural, urbano
não especificada
Mapinguari o Protetor da Humano Natureza não há antropomorfização animais naturais local . . Floresta Amazônica natural
Floresta
Não Fique Pilhado Humano Natureza não há antropomorfização animais naturais local regional global são vários lugares, embora natural, urbano
genéricos: área rural, cidade,
locais de pesca, pastos de
criação de animais.
O cangaceiro e o leão Humano Sobrenatural animais interagem com o dragão inicialmente é vilão, mas é usado para explicar o local regional global todo o planeta: Antártida e natural, urbano
humanos, usam artefatos e fenômeno do aquecimento global (dada ao seu imaginário grandes cidades
hábitos humanos como cospe fogo)
O DIÁRIO DA TERRA Humano Natureza local regional global Planeta Terra: inferido o natural, urbano
hemisfério norte onde a garota
vive
O Jardineiro - Com Feliciano Humano . não há animais local . global Uma estrada genérica, o natural, urbano
Esperança Planeta Terra
O Menino e o Mundo Humano . não há antropomorfização local regional global uma cidade genérica, uma área natural, urbano
rural genérica
O Rei Gastão Humano Natureza animais com comportamento leve: expõe o ponto de vista do animal acerca da . regional . Reino Distante: não natural
humano em habitat natural problemática (tristes, felizes e amistosos) especificado
Os sustentáveis Humano Sobrenatural não há animais local . global Planeta Terra, Cidade genérica, urbano
Ecossistema genérico
PAJERAMA Humano . não há antropomorfização . regional . Não especificada; inferida pela natural, urbano
linha do metro SUMARÉ (São
Paulo)
PEIXE Humano Natureza não há antropomorfização animais naturais local . . não especificado: uma área da urbano
cidade de São Paulo (sem
precisão)
Peixe Frito em Uma Aventura Humano . não há antropomorfização animais naturais local . . Um parque ecológico: não natural
Rupestre especificado
PERFEITO Humano . não há antropomorfização criatura semelhante ao humano . . global Não especificada: lugar fictício urbano
(metáfora planeta)
Rap dos Bichos . Natureza animais com comportamento todos os animais se apresentam, falam e mostram atributos . regional . cerrado brasileiro urbano
humano em habitat natural semelhantes aos humanos (sucesso, porte físico, beleza,
cuidado)
Tainá-Kan, A Grande Estrela Humano . não há antropomorfização animais naturais local . . Não especifica: uma aldeia na natural
região da Amazônia
Tamanduá Bandeira Humano Natureza animais interagem com não apresenta humanos diretamente, apenas veículos local . . uma floresta genérica natural, urbano
humanos, usam artefatos e trafegando em alta velocidade, há motivações humanas,
hábitos humanos pois o tamanduá está em busca de uma parceira afetiva, há
descontextualização (são bípedes, ardilosos, medrosos),
não sabem caçar direito
Vida Maria Humano . não há antropomorfização local . . interior do nordeste rural
319
TITULO ENTIDADES NATURAIS ENTIDADES SOCIAIS ENTIDADESNATURAI ENTIDADESSOCIAIS_CENTR RELAÇÃOENTIDADESNATURAIS_SOCIAIS
S_CENTRAIS AIS
Água é para todos Lago, Animais (pato, peixes e Banheiro, banheira Agua, Animais Sociedade A água é um recurso que deve ser usado com moderação, dela dependem outros animais
jacaré)
Desabrigados Árvores, Animais Selvagens, Motosserra, caminhões, cercas Animais/Floresta Empresas Pecuaristas Os Espaços Naturais, os animais (gado), são recursos disponíveis aos homens e devem ser livremente explorados
Animais Confinados
Rap dos Bichos cerrado, bioma, animais e flora o homem (espécie) de forma geral, não Cerrado/Animais Sociedade Capitalista cerrado é um bioma que está sendo cada vez degradado (não esclarece por que nem para que)
(implícito) enfatiza
Tamanduá Bandeira Floresta, Animais silvestres Carros, estradas Animais Silvestres Sociedade/Empresas Pano de fundo: o homem interfere nos espaços naturais (estradas) de forma a impactar na vida de outras espécies
(tamanduá)
A princesa do Vale Várias - floresta, rio, espécies Armas, Embarcações, fortes, fazendas, Mundo Natural Tribo Indígena, Sociedade A natureza, antes abrigo de povos indígenas marcada por uma relação harmoniosa, fora transformada e apropriada
nativas da fauna e da flora. casas, igrejas, imagens sagradas, cidade, Ocidental Colonizadores para assegurar progresso econômico e desenvolvimento
Natureza transformada pelo paisagem urbana, bicicleta, veículos,
homem, campos de plantação, folclore etc.
pastagens para criação do gado.
Alegria de Macaco rios, mar, canais mercado, mídia, transporte, residência, Agua Sociedade Consumista foco é o consumo: mas enfatiza a falta de compromisso ambiental, descarte irregular no ambiente e retorno para o
tecnologia próprio homem
Consumidouro Arvores, rios, planeta, animais, Casa, carro, banheiro, pneu no mar, vara de Mundo Natural/Planeta Consumidores, Tecnologia, Mídia O homem mantém uma relação utilitária com a natureza, exaurindo a mesma
minhoca, céu, sol, nuvens pesca, computador, televisão
De onde vem a água do Rio Rios, Espaço rural das cidades, Cidades, pontes, canais de escoamento de Rio Sociedade em Geral O Rio é um recurso com diversas utilidades para o homem (alimentação, transporte, recreação)
nascente do rio, mata ciliar, água, embarcações, fonte de água)
cachoeira, foz, mar, lua, chuvas,
Escalada Há metáfora em que os blocos As torres, as máquinas de pagamento, as Mundo Natural/Planeta Capitalismo A Natureza é fonte de recursos e deve ser usada de forma mais racional para evitar o colapso do mundo
representam os mais diversos máquinas de extração de recursos,
recursos naturais. Há nuvens e tecnologia de construção (gruas e roldanas),
água, além de um espaço que helicópteros
sustenta as criaturas.
Eta Bicho homem Floresta brasileira (fauna e flora) Homem, maquinas para derrubar a floresta, Mundo Madeireiras/Capitalismo Natureza é valiosa não apenas para os homens, ela abriga diversas outras formas de vida, a intervenção humana
machado, dinheiro Natural/Floresta/Animais resulta em prejuízo às demais espécies e a destruição da natureza afeta seu sistema econômico.
Filme Ilhado Ilha, Peixes, Oceano Helicóptero, navios petroleiros, cidade, Florestas/Oceanos/Atmosf Capitalismo/Sociedade metáfora: homem se apropria do planeta como recurso, trazendo impactos diversos (morte dos peixes, mudanças no
garrafa, revistas era clima etc.)
O cangaceiro e o leão Antártida, árvores, planeta terra escola, automóvel, mídia, computador, nave Clima/Floresta Sociedade, Mídia, Ciência, O homem se descuidou da natureza, se apropriando desta (florestas), e também estabeleceu mudanças no clima
Industria (pelos gases dos carros e da indústria), de forma a afetar a vida dos animais na Antártida e também sua vida nas
grandes cidades
O DIÁRIO DA TERRA Planeta Terra, florestas, praia, Livro, Caderno, lápis, pirâmides, clave, Planeta/Clima/Florestas/A Sociedade, Industria O planeta deve se preservado por que é necessária aos humanos
montanha, neve, chuva, vento, templos, cadeira de praia, óculos, roupas, nimais
sol, calor fabrica, fogo
PERFEITO Apenas um espaço de vida - Ferramentas e a criação Planeta Sociedade Capitalista metáfora social: O homem se apropria de tudo em seu projeto, ignorando as consequências de seus atos sobre o
metáfora do planeta planeta
Buba e o Aquecimento Global Animais pré-históricos, vulcão, Roupas Clima Sociedade, Industria Gases como CO2 e Metano provocam o aquecimento do planeta, aumentando o efeito estufa comprometendo a vida
floresta, montanhas no planeta
Consciente Coletivo: Aquecimento Floresta, rebanho de gado, Transporte público coletivo, automóveis, Floresta, Gado, Clima Consumidores, Empresas O homem se apropria e interfere na natureza (derruba floresta para pecuária e para uso de madeira), e esta
Global atmosfera, planeta máquinas, restaurantes, mercado, tecnologia apropriação resulta em mudança climática
(celular)
Consciente Coletivo: Resíduos Cursos d’água, tartarugas, Transporte público coletivo, embalagens Oceanos Consumidores, Tecnologia O homem impacta no mundo natural, afeta a vida de tartarugas, quando do descarte irregular de embalagens
oceano descartáveis, transporte, tecnologia descartáveis (não desenvolve acerca dos impactos na produção, ou contaminação de solos etc.)
(maquina de reciclar), embalagens
recicladas
Essência Água (no objeto), plantas mortas Casa, piscina, vaso de plantas, moveis, Agua Sociedade Natureza (água) é indispensável ao homem (que não é só um ser natural, mas cultural), deve preservar, pois está se
(no vaso) ferramentas diversas, malas, maquina de esgotando
datilografia, filmes de cinema
Gente Grande árvores, plantas, sol, água Casas, ruas, prédios, postes eletricidades, Agua Sociedade/Adultos O homem deve economizar recursos naturais (água e eletricidade), e deve descartar o lixo adequadamente (sem
automóveis, utensílios como mangueira, explicar por que)
vassoura, sombrinha, sacola de lixo, toneis
de coleta seletiva, objetos de casa
Haiana:O Filtro Céu, Espaço Natural Fábrica Atmosfera/Arvores Fabricas A qualidade do ar deve ser preservada pelas empresas
Não Fique Pilhado Arvores, áreas rurais, pastagens, casa, câmera fotográfica, cidade, televisão, Mundo Natural Sociedade A contaminação química da natureza afeta o próprio homem (ao se alimentar de produtos contaminados)
vacas, frutas, chuva, sol, lua, cao leite industrializado, geladeira, loja de
de estimação produtos,
O Jardineiro - Com Feliciano Esperança Flores, Jardins, Planeta Homem, Estradas, Jardins Planeta Sociedade O Planeta deve ser preservado para garantir a vida humana, o homem deve protege-lo
O Rei Gastão Floresta, Rio, Colinas, Paisagem Castelo, Reino e tecnologia para extração da Mundo Tecnologia, Sociedade Natureza é valiosa não apenas para os homens, ela abriga diversas outras formas de vida, por isso é necessário
natural, Animais, Água, Peixes natureza Natural/Florestas/Animais/ cuidado em sua intervenção de forma a evitar prejuízo as demais espécies
Rios
Os sustentáveis Animais, Ecossistemas, Lagos Cidade, Supermercado, Humanos, Ecossistemas/Lagos/Atmo Sociedade, Tecnologia, Mercado Natureza como todo o planeta, envolve ecossistemas diversos e os seres humanos precisam preserva-la para garantir
Tecnologia sfera sua sobrevivência
A Esperança e a Ultima que Morde Pastos, Animais (vaca, cadela, Cidade, Pastos, Avião, Sistema Politico Clima Semiárido Sistema Politico, Sociedade O homem nordestino habita uma região marcada por períodos de seca extrema, o que impacta em sua vida e na dos
urubu) Vitimada animais que ele cria (homem se apropria da natureza, mas sofre com seus eventos) e precisa de apoio politico para
assegurar sua permanência
Dia Estrelado o semiárido a família Clima Semiárido Família A seca: O ambiente árido como incapaz de assegurar o sustento de uma família
320
Vida Maria Clima, semiárido, propriedade Família, propriedade rural familiar Clima Semiárido Família/Escola/Propriedade rural
rural, agua
A folha da Samauma floresta, árvore da samauma Floresta/Mundo Natural Tribo Indígena
A Lenda da Árvore Sagrada Floresta, africanos nativos, Cidade do colonizador, caravelas, armas Mundo Natural Tribo Indígena, Sociedade A natureza cosmológica na tradição africana integrava o homem e era uma relação harmoniosa. Na visão ocidental
animais e flora nativas Ocidental Colonizadores do colonizador ela é recurso utilitário, inclusive os africanos
Bumba Meu Peixe Praia, pássaros, coqueiros Canoas, redes de pesca, casa rústica, Mundo Natural Colônia de Pescadores, Família, A natureza, praia, abriga uma colônia de pescadores e constitui recursos para sua sobrevivência (pesca), mas suscita
mobiliário do lar rustico, garrafa de pet, Escola envolvimento, gerando uma integração e harmonia que emerge em um saber próprio e que repercute na cultural
vilarejo, escola, instrumentos musicais local
Destimação pássaros silvestres, animais cidade, apartamento, televisão, gaiolas Animais Mídia, Família, Empresas animais são aprisionados e capturados para serem tomados com animais de estimação
diversos, cachorro
Dias de Sol Chuva Cidade, casas, ruas, maquinas, guarda- Clima/Chuva Sociedade/Família/Empresa A chuva é um obstáculo, pois cria um desconforto para os homens, mas ela motiva criatividade e inovação em
chuvas etc. produtos como guarda-chuvas, que, uma vez customizados estimulam sair na chuva
Entrevista com o Morcego morcegos, cavernas dos usina hidrelétrica, cidades, pontes, ciência, Morcegos/Agua Empresas/Ciência/Sociedade Natureza possui um equilíbrio e a ação humano resulta em alteração deste estado, trazendo consequências negativas
morcegos, agua para o homem e para outras espécies
Fundo Aves, Tartarugas, oceano Barco, sacola plástica Mar/Animais Sociedade A natureza é vítima do homem (depósito de descarte)
Mapinguari o Protetor da Floresta Floresta, árvores, Espécies Tratores, armas, fogo, machado e motosserra Floresta/Fauna/Rios Empresas Madeireiras Natureza é valiosa não apenas para os homens, ela abriga diversas outras formas de vida, por isso é necessário
animais, rios cuidado em sua intervenção de forma a evitar prejuízo as demais espécies
O Menino e o Mundo campo, plantações, rios, cidade, casas, fábricas, sistemas de Área Industria, Cidade, Moda, Exercito, o foco é a estrutura social: mas evidencia a natureza como recurso e como depósito
pássaros transporte, moda, mídia Rural/Fauna/Flora/Plantaç Mídia,
ão de Algodão
PAJERAMA Floresta, Fauna e Flora, Índio Cidades, estradas, prédios, ônibus, metro, Floresta/Animais Sociedade Capitalista, Publicidade A Natureza é fonte de recursos e foi transformada pela sociedade moderna; A natureza integrava a vida humana (os
rede de esgoto, propaganda, dinheiro, ouro, índios) e demais espécies, servindo de abrigo, e provedora da vida
helicóptero, motos, sinais de transito,
eletricidade, comunicação em massa (redes
de transmissão)
PEIXE Rio, árvores, peixes Homem, artefatos de pesca, cidade Rio/Peixes Cidades Os rios sofrem com o impacto da urbanização; O envolvimento antigo com a natureza (rio como recreação, pescaria)
é rompido com a urbanização (torna-se deposito de esgotos e lixo)
Peixe Frito em Uma Aventura Rupestre paisagens naturais diversas, sítio automóvel, estrada, residências, skate, Área Natural de Parque Turismo, Legisladores Espaços naturais, no caso dos sítios arqueológicos, constituem um objeto científico para a arqueologia, mas também
arqueológico, animais silvestres patins, Ecológico um recurso contemplativo que pode ser comercialmente explorado.
Tainá-Kan, A Grande Estrela Estrelas, floresta, rio, peixes, taba, aldeia, roupas e adereços, agricultura, Floresta/Mundo Natural Tribo Indígena A natureza cosmológica na tradição da tribo retratada, homem integra o ambiente com os demais animais, agindo de
frutas, legumes, lua, sol, nuvens arco e flecha, artesanato forma comedida, através da pesca e também da agricultura.

Titulo_OK Causas da Problemática Consequências da Problemática


Água é para todos O desperdício de água no dia a dia (banho) especificada: redução do nível dos rios e ameaça à fauna dos rios e lagos
Desabrigados O homem e seu interesse comercial na expansão da pecuária especificada: ameaça à sobrevivência da fauna local, redução da cobertura ambiental
Rap dos Bichos o homem genérico (não apresenta motivações) perda de biodiversidade: os animais estão desaparecendo com a degradação do bioma
Tamanduá Bandeira Estradas e homem ameaçam a vida de animais silvestres Tamanduá sofre risco ao atravessar estradas movimentadas que corta seu habitat, além de correrem risco em função de possíveis incêndios causados pelo homem
A princesa do Vale O homem colonizador rompeu com o saber ambiental tradicional, se não problematiza: retrata a opressão sobre os povos indígenas, sobre a natureza primitiva e exuberante, mas revela com um curso natural a transformação do ambiente para o desenvolvimento.
apropriado da natureza de forma utilitária para assegurar progresso e
desenvolvimento
Alegria de Macaco o consumismo: gera excesso de resíduos afeta a vida humana: entupimento dos canais, inundação da cidade
Consumidouro Homem (cidadão comum) em seus hábitos de consumo O consumismo resulta em esgotamento do recursos naturais, destruição da natureza e do próprio homem
De onde vem a água do Rio não problematiza: descreve não problematiza: descreve
Escalada Consumo excessivo de recursos naturais ignorando a sua finitude especificada: comprometimento da vida humana
Eta Bicho homem O homem motivado por interesses (comerciais, estéticos) se apropria e especificada: esgotamento dos recursos impacta na economia, e também na vida animal
transforma espaços naturais
Filme Ilhado trata de forma subjetiva: deixa inferir o homem como um todo de forma indireta vemos: derretimento da calota polar, derramamento de petróleo com mortandade dos peixes, queimada e derrubada de floresta - mas não vemos motivações
O cangaceiro e o leão O homem genérico (fábricas, automóveis, derrubada de floresta) Aquecimento do planeta, ameaça a vida na terra (homens e animais)
O DIÁRIO DA TERRA Homem (espécie): menciona fábrica e outras atividades, mas é genérico - sem Destruição da Terra: ameaça ao homem
motivações explícitas
PERFEITO O homem Destruição do seu mundo
Buba e o Aquecimento Homem (espécie): produz metano com seus gases (puns) - não há relação com Aquecimento do planeta, comprometimento da vida na terra: restrito ao aquecimento e não contempla eventos extremos do clima
Global atividades sociais, com o capitalismo, indústria e consumo
Consciente Coletivo: A pecuária promove mudança climática, desenvolve efeito cascata (necessita apenas causa direita: a pecuária resulta em derrubada de floresta, produção de metano e de CO2 (tanto pela emissão dos veículos que transportam carne, mas também pelo metano produzido pelo
Aquecimento Global derrubar árvores, resulta em transporte de madeira e carne) mas a pecuária é rebanho, pela perda da floresta que deixa de absorver o CO2), produz mudanças no clima (apenas chuvas e inundações)
estimulada pelo consumidor
Consciente Coletivo: A falta de consciência ambiental no cidadão que não se preocupa em descartar apenas causa direta: o descarte irregular de embalagens descartáveis interfere na vida de animais marinhos (a tartaruga), mas minimiza quando mostra que ela não morreu
Resíduos de forma apropriada as embalagens decorrentes de seus hábitos de consumo
Essência Não aponta: apenas descreve a questão (infere o homem) Ameaça a sobrevivência do Homem: a água é indispensável
Gente Grande Cidadão comum e seus hábitos insustentáveis (desperdício energia e água), Não aponta: sugere que é errado, e que prejudica o planeta mas não mostra nem discute consequências
descarte de lixo inadequadamente
Haiana:O Filtro A chaminé de uma Fábrica especificada: poluição do ar e comprometimento da natureza
Não Fique Pilhado Homem (ordinário) e o descarte irregular de pilhas e baterias Contaminação dos solos, da agua e dos alimentos resulta em contaminação do próprio homem
O Jardineiro - Com Feliciano O Homem (espécie): não especifica atividade, mas sugere o progresso especificada: comprometimento do futuro do homem
Esperança
O Rei Gastão O Rei Gastão em sua intervenção no mundo natural especificada: comprometimento da dinâmica da vida natural (floresta, animais e rios)
Os sustentáveis Ações cotidianas dos cidadãos genérica: insustentabilidade do Planeta
321
A Esperança e a Ultima que A seca é um evento natural, mas enfatizado no filme em termos de descaso A seca culmina com a morte de animais, (favorece a cadeia alimentar dos urubus), e compromete a permanência do homem no local
Morde político secular
Dia Estrelado Não Problematiza fome, sede, miséria e morte
Vida Maria não problematiza a seca com adversidade, problemas sociais decorrentes da falta de apoio politico
A folha da Samauma natureza exuberante, integrante da vida indígena
A Lenda da Árvore Sagrada O homem colonizador rompeu com o saber ambiental tradicional, se colonização e domínio do homem e apropriação da natureza
apropriado da natureza de forma utilitária para assegurar progresso e
desenvolvimento
Bumba Meu Peixe não problematiza: celebra integração e o sentimento de pertencimento não problematiza: retrata modos de vida mais integrados à natureza, em que essa habita a cultura e o folclore da comunidade.
Destimação o homem em sua vontade de possuir um animal de estimação sofrimento e maus tratos aos animais: condicionamento e perda de instinto em animais silvestres, maus tratos e morte em animais diversos
Dias de Sol Não há uma problemática, apenas evento da chuva A chuva atrapalha as atividades humanas - o lazer, a circulação etc.
Entrevista com o Morcego a construção de usinas hidrelétricas expulsa os animais para áreas urbanas A interferência humana no habitat dos morcegos resulta em desequilíbrio de seu habitat e também em ameaça a saúde humana
Fundo Homem (espécie): descarte irregular de sacolas plásticas Interferência Humana no habitat natural: ameaça à natureza, aves, tartarugas, compromete à própria pesca.
Mapinguari o Protetor da O Homem motivado por interesses (madeiras, animais) se apropria e especificada: comprometimento da dinâmica da vida natural (floresta, animais e rios), e da vida de povos indígenas
Floresta transforma espaços naturais
O Menino e o Mundo a sociedade moderna industrial escravização do individuo; degradação ambiental;
PAJERAMA Homem (capitalista): a lógica do progresso, o acumulo de riquezas, o especificada: a tomada da natureza como recursos naturais resultou em sua intensa transformação, impactando as demais espécies e ameaçando os povos nativos
consumo e a tecnologia.
PEIXE O homem (urbanização) promoveu morte da natureza (rios) A urbanização resultou em afastamento do envolvimento homem e natureza, promoveu a contaminação das águas, suprimiu recreações em atividades como pesca e recreação
Peixe Frito em Uma Aventura O homem motivado por interesses (científicos, comerciais, estéticos) se não problematiza: retrata a transformação do espaço natural, interferência na vida de povos nativos.
Rupestre apropria e transforma espaços naturais
Tainá-Kan, A Grande Estrela Não Problematiza tribos indígenas marcadas pelo envolvimento com o mundo natural

TITULO RESPONSABILIDADE(S) PELO(S) PROBLEMA(S) RESPONSÁVEISPROBLE RESPONSÁVEISPR RESPONSÁVEISPR RESPONSÁVEISP RESPONSÁVEISPR RESPONSÁ RESPONSÁVEISPROBLEMAS07
MAS01 OBLEMAS02 OBLEMAS03 ROBLEMAS04 OBLEMAS05 VEISPROBL
EMAS06
Água é para todos O homem - cidadão comum Cidadão Comum . . . . . .
Desabrigados O homem (indústria madeireira e pecuária) . . . . . Empresas - .
pecuarista
Rap dos Bichos o homem espécie . Ser Humano - a espécie . . . . .
como um todo
(antropocentrismo)
Tamanduá Bandeira Indiretamente: o cidadão comum (motorista) Cidadão Comum Políticos . . . . .
A princesa do Vale O colonizador introduziu mudanças no mundo natural . . Dominadores- . . . .
transformadores da
Natureza:
colonizadores
portugueses
Alegria de Macaco o consumidor, a mídia, a produção Cidadão Comum: Empresas: sistema de Mídia . . . .
consumidor alienado produção
Consumidouro Homem cidadão comum Cidadão Comum: . . . . . .
consumidor alienado
De onde vem a água do Rio não problematiza: descreve . . . . . . .
Escalada Os homens (capitalistas) e suas necessidades produtivas . . . . Ser Humano - a espécie . Empresas - construtores capitalistas
como um todo (metáfora)
(antropocentrismo)
Eta Bicho homem Homem Capitalista Ser Humano - a espécie como . . . Ser Humano - a espécie . Empresas - capitalistas em geral,
um todo (antropocentrismo) como um todo madeireiros, pecuaristas
(antropocentrismo)
Filme Ilhado Não aponta: inferimos o homem genérico, já mostra o vento ocorrido . . . . . . .
O cangaceiro e o leão Na narrativa é o dragão a suspeita, mas recai sobre o ser humano Cidadão Comum Ser Humano - a espécie . . . . .
como um todo
(antropocentrismo)
O DIÁRIO DA TERRA Homem genérico do tempo presente Ser Humano - a espécie como Empresas - uma fábrica . . . . .
um todo (antropocentrismo) genérica
PERFEITO Homem genérico Ser Humano - a espécie como . . . . . .
um todo (antropocentrismo)
Buba e o Aquecimento Global Homem (cidadão comum) Cidadão Comum: homem Natureza: animais . . . . .
pré-histórico (dinossauro de
estimação)
Consciente Coletivo: Homem cidadão comum e a vaca: consumidor de carne estimula a Cidadão Comum: Natureza: as vacas e . . . . .
Aquecimento Global pecuária (é o aumento no consumo a causa), a vaca em seu metabolismo consumidor alienado seu metabolismo
(outra causa) (metano)
Consciente Coletivo: Resíduos Homem cidadão comum: embora relate em termos históricos, reforça que Cidadão Comum: . . . . . .
o problema é do homem moderno que ele descarta de forma irregular as consumidor alienado
embalagens daquilo que consome (não é a industrialização, mas sua falta
de consciência ecológica), não considera politicas publicas, empresas etc.
322
Essência Homem em geral (não apresenta culpados), o vídeo é uma metáfora Ser Humano - a espécie como . . . . . .
poética da escassez da água. um todo (antropocentrismo)
Gente Grande Os adultos em geral, exclui as crianças, ignora contexto de formação das Cidadão Comum: geração . . . . . .
crianças enquanto consumidores massivos passada (adultos)
Haiana:O Filtro Fábrica genérica . . . Empresas - uma . . .
fábrica genérica
Não Fique Pilhado Homem - cidadão comum Cidadão Comum . . . . . .
O Jardineiro - Com Feliciano Homem . . . . Ser Humano - a espécie . .
Esperança como um todo
(antropocentrismo)
O Rei Gastão O Homem (rei) . . . . Ser Humano - a espécie . .
como um todo
(antropocentrismo)
Os sustentáveis Cidadão Comum e Entidades genéricas Cidadão Comum Vilões Poluidores - Vilões Poluidores - . . . .
Sobrenaturais Humanos
A Esperança e a Ultima que No filme a seca é uma questão política (descaso) Políticos . . . . . .
Morde
Dia Estrelado . . . . . . .
Vida Maria não problematiza . . . . . . .
A folha da Samauma . . . . . . .
A Lenda da Árvore Sagrada homem branco . . Dominadores- . . . .
transformadores da
Natureza:
colonizadores
portugueses
Bumba Meu Peixe não problematiza: descreve a comunidade perpetua a tradição, sendo a . . . . . . .
escola um local privilegiado para esta valorização. A educação como
veículo ambiental.
Destimação o homem espécie: o criados domestico, o vendedor Cidadão Comum . . . . . Empresa: comerciante de animais
Dias de Sol . . . . . . .
Entrevista com o Morcego O homem (capacetes azuis como trabalhadores e construtores e governo) . . . . . . Empresas - construtores capitalistas
(metáfora)
Fundo A sacola plástica como produto humano - aponta de forma relacional Ser Humano - a espécie como . . . . . .
um todo (antropocentrismo)
Mapinguari o Protetor da Homem (madeireira) . . . . . . Empresas - Madeireiros
Floresta
O Menino e o Mundo a sociedade como um todo; o sistema . . O sistema como um . . . .
todo
PAJERAMA Sociedade Moderna - O capital Ser Humano - a espécie como . . . . . .
um todo (antropocentrismo)
PEIXE Homem (urbanização): implícito Ser Humano: implícito . . . . . .
Peixe Frito em Uma Aventura O homem (indústria do turismo) . . . . . . .
Rupestre
Tainá-Kan, A Grande Estrela Colonizador . . . . . . .

TITULO RESPONSABILIDADE(S) PELA(S) SOLUÇÃO(ÕES) RESPONSAVELSOLUCAO01 RESPONSAVELSOL RESPONSAVELSOLU RESPONSAVELSOLUCA RESPONSAVELSOLU RESPONSAVELSOLUCAO06
UCAO02 CAO03 O04 CAO05
Água é para todos O homem (cidadão comum) Cidadão Comum: audiência- . . . . .
economize água
Desabrigados Não atribuída . . . . implícito - Ser humano, .
capitalismo
Rap dos Bichos pede proteção ao Cerrado . . . . implícito - Ser humano, .
capitalismo
Tamanduá Bandeira Construção de tuneis em estradas que cruzam áreas silvestres . . . . implícito - Ser humano, .
capitalismo
A princesa do Vale O colonizador alterou o mundo natural, não enfatiza necessidade de . . . . . .
mudanças
Alegria de Macaco Não resolve na narrativa, culmina com uma catástrofe . . . . . .
Consumidouro Não apresenta solução, apenas retrata o impacto do consumismo no . . . . . .
ambiente; infere-se o próprio cidadão consumidor
De onde vem a água do Rio não problematiza: descreve . . . . . .
Escalada Não atribuída . . . . implícito - Ser humano, .
capitalismo
Eta Bicho homem Homem (tanto o capital como o cidadão comum) . . . . implícito - Ser humano, .
capitalismo
Filme Ilhado não aponta: deixa o homem genérico a partir dos eventos de suas . . . . implícito - Ser humano, .
atividades capitalismo
O cangaceiro e o leão Cidadão Comum . . . . .
323
O DIÁRIO DA TERRA não aponta, mas sugere o homem . . . Ser humano - a espécie de . .
uma forma geral
PERFEITO Não apresenta: apenas descreve a busca pela perfeição . . . Ser humano - a espécie de . .
uma forma geral
Buba e o Aquecimento Global Homem (cidadão comum), audiência Cidadão Comum: audiência- . . . . .
combater o aquecimento global,
proteger a natureza
Consciente Coletivo: Aquecimento Homem deve consumir de forma "consciente": consumir pensando na Cidadão Comum . . . . .
Global origem dos produtos de forma a escolher o que traz menos impacto (força
no individuo)
Consciente Coletivo: Resíduos Homem deve consumir de forma "consciente" e descartar apropriadamente Cidadão Comum . . . . .
suas embalagens (reciclagem) - força no individuo)
Essência A audiência deve preservar água e também os sonhos. OU preservar água . . . Cidadão Comum: audiência- . .
para preservar a si mesmo. economize água
Gente Grande As crianças devem agir e também conscientizar os adultos Cidadão Comum: a geração futura . . . . .
(gente miúda)
Haiana:O Filtro Bruxa (Cidadão Comum, Regulador) . . Entidade Sobrenatural - . implícito - Ser humano, .
Bruxa Haina capitalismo
Não Fique Pilhado Homem (cidadão comum), audiência (adotar a reciclagem) Cidadão Comum: audiência- . . . . .
combater o aquecimento global,
proteger a natureza
O Jardineiro - Com Feliciano Homem - deve despertar seu lado jardineiro . . . Ser humano - a espécie de . .
Esperança uma forma geral
O Rei Gastão O Homem (rei) . . . . implícito - Ser humano, .
capitalismo
Os sustentáveis Super Heróis e Cidadão Comum Cidadão Comum Superheróis - ONG . . . .
A Esperança e a Ultima que Morde Os políticos em geral Políticos . . . . .
Dia Estrelado . . . . . .
Vida Maria Politica . . . . implícito - Ser humano, .
capitalismo
A folha da Samauma . . . . . .
A Lenda da Árvore Sagrada Não apresenta, apenas retrata a revolta em busca da liberdade, a . . . . . .
resistência
Bumba Meu Peixe não problematiza: a escola contribui para a educação ambiental . . . . . .
Destimação A criança termina por adotar um animal Cidadão Comum . . . . .
Dias de Sol não há problema - a chuva pode se tornar em algo lucrativo, estimulando . . . . . .
produtos
Entrevista com o Morcego Não apresenta: apenas descreve o problema e sugere mitigação com . . . . . .
interesse na saúde humana
Fundo De forma indireta - o homem . . . Ser humano - a espécie de . .
uma forma geral
Mapinguari o Protetor da Floresta A natureza (Mapinguaari) . . Entidade Sobrenatural - . implícito - Ser humano, .
Mapinguari capitalismo
O Menino e o Mundo Não resolve na narrativa, culmina com a crise agravada . . . . implícito - Ser humano, .
capitalismo
PAJERAMA Não apresenta: apenas retrata a transformação da natureza e sua . . . . implícito - Ser humano, .
apropriação, seu impacto na vida indígena capitalismo
PEIXE Não aponta, não desenvolve . . . . . .
Peixe Frito em Uma Aventura O homem (os reguladores - arqueólogos), muito embora o papel do . . . . . .
Rupestre cidadão comum é mais relevante, pois são as crianças que descobrem a
farsa.
Tainá-Kan, A Grande Estrela Um Deus ensina a agricultura aos índios de forma a permitir que tenham . . . . . .
alimentação abundante e constante, e que se tornem fixos na região

TITULO_OK RESOLUÇÃO SOLUÇÕES RESOLUÇÃONARRATIVA SOLUÇÃOPROBLEMAAMBIENTAL


Água é para todos Economizar água no banho O cidadão precisa economizar água Cidadão comum deve economizar água
Desabrigados não resolve: alerta não resolve: alerta Inferido: Interromper a derrubada de florestas para assegurar a biodiversidade
Rap dos Bichos proteger o Cerrado (sem especificar como) O homem precisa proteger o cerrado Proteger o cerrado
Tamanduá Bandeira Na narrativa, túneis devem ser construídos para permitir a travessia de animais em áreas a construção de túneis em estradas que cruzam áreas silvestres construção de túneis para permitir a passagem de animais silvestres em áreas cruzadas por estradas
de estradas
A princesa do Vale A cidade e as atividades econômicas são a solução para a superação do modo de vida não problematiza: o domínio da natureza assegurou o progresso da não problematiza: a transformação da natureza não é tida como problemática, pois trouxe progresso
primitivo e arcaico. região
Alegria de Macaco Na narrativa não há resolução, culmina com uma catástrofe ambiental não há resolução, culmina com catástrofe ambiental não desenvolve: apresenta as consequências ambientais do consumo
Consumidouro Não propõe - apenas ressalta o impacto do estilo de vida consumista não resolve: apenas expõe causa e efeito não propõe: expõe o fenômeno
De onde vem a água do Rio não problematiza: descreve não problematiza: descreve não problematiza: descreve
Escalada não resolve: alerta não resolve: alerta Inferido: Usar racionalmente os recursos naturais
Eta Bicho homem Sugere uma reflexão sobre o esgotamento dos recursos. Mas, não uma solução não resolve: alerta Inferido: Interromper a derrubada de florestas para assegurar a biodiversidade, o direito dos animais,
propriamente dita. da floresta
324
Filme Ilhado Não apresenta solução, mostra o resgate do homem apos muita inercia O homem é retirado da ilha quase no limite: uma alusão a não é explicito: o homem deve enfrentar sua condição de ameaça ao ambiente e em vias de extinção
necessidade de agir imediato
O cangaceiro e o leão Cuidar do planeta (das plantas, árvores) O homem precisa cuidar das plantas e das árvores (não especifica genérica: cuidar da natureza, das plantas e das árvores (as crianças devem faze-lo)
como)
O DIÁRIO DA TERRA Cuidar do planeta, mas não especifica como não resolve: apenas expõe causa e efeito inferido: cuidar do planeta (genérico)
PERFEITO Não aponta, não desenvolve não resolve: apenas expõe causa e efeito não problematiza: expõe a crise da centralidade humana
Buba e o Aquecimento Global Não propõe - apenas ressalta que deve combater o aquecimento global não resolve: apenas expõe causa e efeito não propõe: expõe o fenômeno, convida audiência à ação (sem especificar como)
Consciente Coletivo: Aquecimento Global Consumo consciente: escolha de produtos com menor impacto (não propõe de forma o consumidor da narrativa: passa a refletir melhor em seus hábitos o consumidor deve orientar seu consumo de forma sustentável (consciente dos impactos de suas
clara a diminuição do consumo de carne, mas de atentar para sua origem) de consumo alimentar escolhas alimentares)
Consciente Coletivo: Resíduos Descarte de resíduos de forma consciente: consumindo o necessário (um conceito o consumidor da narrativa: passa a refletir sobre o descarte que deve o consumidor deve ser mais "consciente" em seu consumo, e sobretudo, descartar adequadamente
relativo), usando até o fim (a obsolescência programada não entra na questão), e direcionar as embalagens que resultam de seu consumo seus resíduos, encaminhando-os para reciclagem
destinando para reciclagem as embalagens
Essência Preservar água - e sonhos preservar preservar: infere-se usar com moderação, economizar
Gente Grande Realizar coleta seletiva, economizar agua e energia. Ficar vigilante e agir. Ela não orienta descartar adequadamente o lixo, economizar água e energia, ficar reciclagem e econômica: descarte adequado é a solução (ser sustentável)
as pessoas, não educa, ela age por eles. vigilante e agir pelo outro (não esperar pelo outro)
Haiana:O Filtro As fábricas necessitam de filtros para evitar a poluição atmosférica A bruxa Haina afetada pela poluição atmosférica instalou filtros na A instalação de filtros na chaminé pode reduzir a poluição atmosférica
chaminé da fábrica poluidora
Não Fique Pilhado A reciclagem é a solução reciclagem: descarte adequado é a solução reciclagem: descarte adequado é a solução
O Jardineiro - Com Feliciano Esperança Criar Jardins (metáfora para cuidar da natureza) preservar a natureza: criar jardins como metáfora preservar a natureza: criar jardins como metáfora
O Rei Gastão Replantio de florestas nativas, recuperação dos cursos d'água, recuperação da paisagem O Rei, ao perceber que estava prejudicando os animais, resolve O homem pode reverter seu impacto no mundo natural, reconstruindo a natureza em suas mais
destruída desfazer suas intervenções na natureza, replantando árvores, diversas dimensões. Deve mudar sua relação predatória com o mundo natural. Ultrapassar o sentido
devolvendo o curso dos rios, reconstruindo colinas destruídas, e de natureza utilitária.
também responsabilizando-se pela tutela dos animais até a natureza
se reestabelecer
Os sustentáveis Cidadãos devem adotar medidas sustentáveis: economizar água, energia e evitar uso de Super heróis derrotam os eco vilões e "mobilizam" coercitivamente Cidadão comum deve adotar práticas sustentáveis
embalagens descartáveis. O Lixo deve ser reciclado, energias eólicas necessitam de ser engajamento ambiental dos cidadãos
adotados e o lixo orgânico precisa ser tratado.
A Esperança e a Ultima que Morde Atuação política para enfrentar a seca: não explica Atuação política para enfrentar a seca: não explica A seca é um problema político: o filme não desenvolve
Dia Estrelado
Vida Maria
A folha da Samauma
A Lenda da Árvore Sagrada a resistência como forma de luta pela liberdade. valorização do saber ambiental tradicional
Bumba Meu Peixe não problematiza: valoriza o saber local e o papel da natureza neste saber. não problematiza: valoriza a vida ribeirinha não problematiza: valoriza a vida ribeirinha
Destimação adotar animais, ao invés de comprar ou de aprisionar animais silvestres a criança adota um cachorro abandonado Adoção de animais de estimação
Dias de Sol Não há problemas - chuva como oportunidade de negócios
Entrevista com o Morcego Não desenvolve não resolve: explica o problema, alerta sobre cuidados com a saúde não propõe, explica: sugere mitigação relacionada à saúde humana
Fundo Não apresenta - recai reside sobre as sacolas, não fica claro se é o reuso ou sua não resolve: apenas expõe causa e efeito inferido: evitar o descarte (genérico)
substituição por outros produtos
Mapinguari o Protetor da Floresta O Mapinguari reconstitui a devastação. Ele, através da chuva, restaura a ordem e a O Mapinguari apaga o incêndio florestal e afasta os madeireiros da Inferido: Interromper a derrubada de florestas para assegurar a biodiversidade, a integridade dos
exuberância natural. O homem deixou a natureza apenas motivado pelo medo da criatura. floresta cursos d’água e a vida de povos nativos
Ou seja uma natureza que intimida.
O Menino e o Mundo Na narrativa não há resolução, culmina com o agravamento da crise de produção não há resolução, culmina com o agravamento da crise social e não desenvolve: apresenta as consequências ambientais do consumo e da sociedade industrial
ambiental
PAJERAMA Sugere uma reflexão sobre a tomada da natureza como recurso. Mas, não uma solução não resolve: apenas expõe causa e efeito não propõe: o capitalismo desprovido de limites, o espaço dos índios cada vez mais reduzido e
propriamente dita. afetado
PEIXE Não apresenta não resolve: apenas expõe o fenômeno não propõe: expõe o fenômeno
Peixe Frito em Uma Aventura Rupestre O uso comercial comedido das áreas rupestres de forma a evitar a interferência no Os protagonistas desmascaram as intervenções criminosas em Pinturas rupestres devem ser preservadas, os sítios arqueológicos constituem espaços relevantes ao
património arqueológico ai existente. pinturas rupestres turismo ecológico
Tainá-Kan, A Grande Estrela

TITULO_OK DISCURSOAMBIENTAL_SINTESE_OK TIPODISCURSO_OK REPRESENTAÇÃO DA NATUREZA (AMÁVEL OU VINGATIVA)


Água é para todos O homem necessita minimizar sua intervenção no mundo natural de modo a Discursos Orientados por Valores e pela ética (direito dos animais), não Vítima e Recurso: o homem deve usar de forma coerente com o direito de uso deve ser estendido aos animais
respeitar as demais espécies. avança para outras questões econômicas etc.
Desabrigados O homem necessita minimizar sua intervenção no mundo natural de modo a Discursos Orientados por Valores e pela ética (direito dos animais) Vítima e recurso: os animais sofrem as consequências das apropriação do homem sobre a natureza, ele deve assegurar sua
respeitar as demais espécies. integridade, respeitar sua subjetividade, mas gerenciar seu uso.
Rap dos Bichos A natureza é vitima do homem, este deve protege-la direito dos animais; Vitima: o homem está destruindo o cerrado e ameaçando a vida dos animais
Tamanduá Bandeira O homem necessita minimizar sua intervenção no mundo natural de modo a * Não problematiza diretamente: mas revela a sustentabilidade, uma Vítima: a construção de estradas põem em risco a vida de animais silvestres (atropelamento e incêndio)
respeitar as demais espécies. aproximação secundária com os direitos dos animais
A princesa do Vale O colonizador português apropriou-se da natureza nativa, imprimiu mudanças * Não problematiza diretamente: Valoriza o Instrumentalismo Irrestrito Exuberante, Sagrada, Vítima e Recurso: exuberante e edênica (criada por Deus), harmoniosa e acolhedora (do ponto de
de forma a garantir progresso material e desenvolvimento (natureza utilitária divinamente construída trouxe desenvolvimento); vista do índio e dos animais representados), vítima do colonizador mas disponível como recurso (do ponto de vista do
Mostrou a superação dos Discursos Ambientais dos índios Nativos colonizador) esta ultima é indispensável ao progresso e a realização humana, afinal a cidade e feliz e livre de problemas.
Alegria de Macaco A sociedade do consumo ignora seus impactos ambientais, e está sujeita as denuncia o consumismo, soa como um discurso da sobrevivência para Vítima e Recurso: expõe a natureza como recurso para a produção diversa, mostra que o homem altera seu equilíbrio (mas
consequências de sua intervenção no ambiente impor limites a produção e ao consumo, não contempla entidades naturais a vitima é o próprio homem, não ha subjetividade da natureza)
Consumidouro O modo de vida moderno toma a natureza como recurso utilitário, mas esse Instrumentalismo irrestrito (denunciado); ênfase na discurso da Vítima e recurso: é recurso (madeira, água, peixes-alimento, matéria-prima) levado à exaustão, também abriga outras
consumo intenso da natureza resulta em sua destruição (do próprio homem) sobrevivência formas de vida que são afetadas pelo homem (consumo)
De onde vem a água do Rio A natureza (rio) é um fenômeno bem compreendido cientificamente, o ciclo da * Não problematiza diretamente: Discurso científico que revela a natureza Recurso: natureza objetiva (o rio é um sistema cientificamente explicado, dotado de uma lógica)
agua, também é um recurso disponível às necessidades humanas como recurso, sintoniza com o prometeico e com instrumentalismo
irrestrito
325
Escalada A produção capitalista precisa racionalizar o consumo de recursos naturais para Discurso da Sobrevivência; Desenvolvimento Sustentável Recurso: natureza é utilitária e deve ser gerida de forma racional
não exaurir os recursos o planeta
Eta Bicho homem A produção industrial necessita de se preocupar com o meio ambiente, mas não Discurso da Sobrevivência; Direitos dos Animais; Vítima e Recurso: o homem deve usar de forma coerente com o direito de uso deve ser estendido aos animais
necessita de maiores mudanças estruturais
Filme Ilhado O homem está comprometendo o planeta: mas isso não é explicado, apenas * crítica ao instrumentalismo irrestrito, ênfase na sobrevivência Recurso: deve ser gerenciado de forma a garantir sua exploração;
aparece de forma ilustrativa para problematizar a vida do homem ilhado
O cangaceiro e o leão O homem está interferindo no clima do planeta, comprometendo a si a outras Discurso da sobrevivência, parar a produção e Racionalismo científico Recurso e vítima: deve ser gerenciado de forma a garantir sua exploração, enquanto vítima menciona animais do polo sul;
espécies; mas o foco é sobre preservar o homem; para resolver a questão: não menciona solução por parte do cidadão, mas o
responsabiliza pela mesma.
O DIÁRIO DA TERRA A natureza é dotada de equilíbrio ecológico, interrompido pelo homem. O que Centrado no discurso da sobrevivência Vítima e Recurso: natureza é recurso usado pelo homem, a natureza é estética (crianças gostam de animais e de aproveitar
resulta em implicações sérias sobre o próprio homem praia, sol, neve), vítima do homem que a destrói
PERFEITO * * Não problematiza diretamente: Um discurso sobre perfeccionismo Cenário: metáfora de uma natureza suscetível ao homem
(inferimos o antropocentrismo com apropriação do mundo); discurso da
sobrevivência necessidade de limites
Buba e o Aquecimento O homem está produzindo um aquecimento do planeta (sem contextualizar) Desenvolvimento Sustentável, Preservação; Conservação o planeta para o Vítima: homem (pré-histórico) ameaça o planeta
Global homem
Consciente Coletivo: O homem é capaz de afetar o clima do planeta (pecuária como causa guarda- Traz uma explicação científica do fenômeno; Valoriza o Desenvolvimento Recurso: deve ser usado de forma racional, pois práticas problemáticas mudam o clima e ameaçam a vida humana.
Aquecimento Global chuva), trazendo efeitos indesejáveis para si (pontua apenas aumento das Sustentável (considera cuidado ambiental, mas centrado na manutenção da Natureza não tem subjetividade, é apenas recurso
chuvas e inundação), desconsidera implicações para os animais, as questões espécie humana)
espaciais (a globalização da problemática ambiental e injustiça ambiental, mas
o homem também é capaz de reduzir sua interferência, mudando sutilmente
seus hábitos de consumo.
Consciente Coletivo: O homem, como ser social (industrializado), diferente da natureza, precisa se Traz uma explicação científica do fenômeno; Valoriza o Desenvolvimento Vítima e Recurso: é recurso por que o homem é um ser industrial e não natural, mas ela é vitima por que o homem a
Resíduos apropria desta para satisfazer suas necessidades materiais, e com isso, deve Sustentável (considera cuidado ambiental, mas centrado na manutenção da prejudica quando descarta de forma irregular embalagens descartáveis; há, ainda que levemente, uma natureza vingativa (a
ficar atento para minimizar o seu impacto no mundo natural (tartarugas), espécie humana), embora ressalte o direito dos animais tartaruga devolve a embalagem) e também educa o consumidor
cuidado do descarte das embalagens (cuidado ambiental no final da cadeia
produtiva)
Essência A natureza (água) é um recurso vital para o homem e deve ser preservado Preservação; se preservarmos agua podemos seguir com nossos sonhos Recurso: apenas como recurso, pois observa nossa dependência por agua
Gente Grande O homem necessita minimizar seu impacto no planeta (não específica) Desenvolvimento Sustentável Vítima e Recurso: é recurso (água e energia) para o homem, sofre impacto da atividade humana (desperdício e lixo de
alguma forma)
Haiana:O Filtro A produção industrial necessita de se preocupar com o meio ambiente, mas não Modernização Ecológica Vítima: o homem polui o ar, por isso deve proteger e gerenciar a natureza
necessita de maiores mudanças estruturais
Não Fique Pilhado O homem necessita minimizar sua intervenção no mundo natural de modo a Preservação; Conservação; Vítima e Recurso: é recurso (alimento) para o homem, sofre impacto da atividade humana
garantir suas condições de existência
O Jardineiro - Com O homem necessita minimizar sua intervenção no mundo natural de modo a Conservacionismo, Preservacionismo, Desenvolvimento Sustentável Recurso: deve ser gerida de forma racional
Feliciano Esperança garantir suas condições de existência
O Rei Gastão O homem necessita minimizar sua intervenção no mundo natural de modo a Discursos Orientados por Valores e pela ética (direito dos animais, ética Vítima e recurso: os animais sofrem as consequências das apropriação do homem sobre a natureza, ele deve assegurar sua
respeitar as demais espécies, destituindo sua hierarquia sobre o mundo natural. da terra, ecologia profunda), denuncia o prometeico integridade, respeitar sua subjetividade, mas gerenciar seu uso.
Os sustentáveis O Cidadão Comum deve Cuidar da natureza para proteger a humanidade, Desenvolvimento Sustentável Vítima e Recurso: ecossistemas são vítimas do "homem", este deve proteger e gerenciar a natureza, pois ela lhe é
modificando hábitos simples no seu cotidiano (descarte de lixo) e economia de necessária (recurso)
recursos, outros atores sociais (ONGS) é que atuam em problemas mais
abrangentes. Não é necessário mudança estrutural, apenas atenção para ações
corriqueiras. Aqui é nítida a questão de garantir um futuro, a geração futura.
A Esperança e a Ultima que O homem necessita controlar a natureza para permitir sua inserção em regiões Racionalismo administrativo para resolver a seca com um problema Recurso: deve ser gerenciado de forma a garantir sua exploração, inclusive os animais são postos como recursos ao
Morde como o nordeste brasileiro. * enfatiza aspecto político da seca; dialoga com ambiental. apesar dos animais presentes, eles estão em um sentido homem (vaca=pecuária, cao=vigilante);
vários discursos da apropriação da natureza, com mais precisão para o utilitário
prometeico (controle do mundo natural)
Dia Estrelado O ambiente como desafio para a vida humana: alimentação * Não problematiza diretamente: não se filia a um discurso ambiental em Recurso: uma região incapaz de oferecer recursos para a sobrevivência humana
termos de problemática ambiental, apenas retrata o ambiente como desafio
e clama por resolução do problema social
Vida Maria * Não problematiza diretamente: apenas expõe a natureza como Cenário: lugar que orienta práticas culturais em função da ausência de desenvolvimento.
adversidade, mas provedora e modificada pelo homem, revela descaso
politico indiretamente
A folha da Samauma A natureza é bela e exuberante * Não problematiza diretamente: apenas revela a natureza em sua Cenário: exuberância estética contemplada pelos índios;
exuberância estética sob a ótica de povos nativos
A Lenda da Árvore Sagrada A cosmologia africana integrava homem e natureza, assegurando uma relação * Não problematiza diretamente: Valoriza discursos ambientais de povos Exuberante, Sagrada, Vítima e Recurso: exuberante, sagrada, harmoniosa e provedora (do ponto de vista do africano e dos
harmoniosa. A perspectiva utilitária do colonizador resultou na apropriação da nativos (africanos) X Denuncia o Instrumentalismo Irrestrito (colonizador) animais representados), vítima do colonizador mas disponível como recurso (do ponto de vista do colonizador) esta ultima
natureza e dos povos africanos. é indispensável ao progresso e a realização humana, afinal a cidade e feliz e livre de problemas.
Bumba Meu Peixe Natureza é provedora da vida, deve ser respeitada para assegurar esta * Não problematiza diretamente: Discursos ambientais de povos nativos Cenário: recurso a ser usado com cautela, suscita envolvimento e valorização como provedora da vida
capacidade, ela é fonte de um vida tranquila e culturalmente rica (comunidade de pescadores)
Destimação A natureza é vitima do homem, este deve protege-la, assegurar sua Centra no homem, no direito de possuir animais, mas evidencia, de forma Vitima e recurso: pode ser usada para fins de entretenimento e de contemplação (animais domésticos), mas devemos evitar
sobrevivência secundária, acerca de seus direitos maus tratos (embora seja restrito às lojas), pois a criança cuida com coleira dentro de casa
Dias de Sol Chuva é um obstáculo para o homem, mas pode constitui oportunidade de lucro * Não problematiza diretamente: Apenas a chuva como oportunidade Natureza apenas como evento: a chuva
mercantil
Entrevista com o Morcego A natureza é dotada de equilíbrio ecológico, interrompido pelo homem. O que * Não problematiza diretamente: Discurso científico: natureza como Vítima, Recurso, Ameaça/Vingativa: homem se apropria como recurso, interfere em seu equilíbrio, a natureza se "vinga"
resulta em implicações para o mundo natural e para o homem. sistema; Plano de fundo: Instrumentalismo Irrestrito (transformação do com consequências sobre os humanos
mundo natural para o progresso)
Fundo O homem necessita minimizar sua intervenção no mundo natural de modo a Direitos dos Animais (de forma mais geral); Vítima e Recurso: é recurso (peixe) para o homem, mas é sistema que abriga outras vidas e que sofre impacto da atividade
respeitar as demais espécies. humana
326
Mapinguari o Protetor da O homem necessita minimizar sua intervenção no mundo natural de modo a Discursos Orientados por Valores e pela ética (direito dos animais); Vítima e recurso: os animais e os povos nativos sofrem as consequências da intervenção humana no mundo natural. Mas é
Floresta respeitar as demais espécies, inclusive os povos indígenas, destituindo sua Saberes Ambientais de Povos Nativos dotada de poder de auto-restauração.
hierarquia sobre o mundo natural.
O Menino e o Mundo A sociedade do consumo ignora seus impactos ambientais Denuncia o instrumentalismo irrestrito, não propõe solução mas um Recurso: ora como recurso de integração e de sentido (na vida rural), ora como recurso para produção, ora como deposito
retorno ao mundo rural de externalidades
PAJERAMA O modo de vida moderno opõe-se ao modo tribal em termos de relação e Discursos ambientais de povos nativos (remanescentes); denuncia o Vítima, Exuberante e Recurso: outrora abundante, habitada pelos índios, tornou-se recurso para a sociedade moderna,
reconhecimento do mundo natural instrumentalismo irrestrito (a modernidade capitalista) sendo vítima da transformação do mesmo; índio como natureza; sociedade oposta à natureza;
PEIXE O modo de vida moderno marcado pelo impacto no mundo natural Preservação; Conservação; Vítima: a urbanização comprometeu os rios e os peixes
Peixe Frito em Uma Sítios Arqueológicos são cientificamente relevantes e podem constituir uma * não problematiza : Desenvolvimento Sustentável: uso racional do Enquanto espaço natural ela é passiva e sujeita a ação humana. Mas enquanto povos primitivos, estes são místicos,
Aventura Rupestre oportunidade de exploração comercial a partir do turismo ou ecoturismo, ainda ambiente de forma a assegurar sua preservação e exploração comercial; dotados de poderes mágicos, mas incapazes de atuar diante da problemática retratada. Seus poderes mágicos podem ser
que nele possam habitar povos nativos. uteis mas o enfrentamento cabe ao cidadão comum.
Tainá-Kan, A Grande * Não problematiza diretamente: Valorização do saber ambiental de povos Cenário: Sagrada, abundante, harmoniosa, provedora e amável (cosmovisão indígena)
Estrela nativos- uso comedido, embora como provedora

TITULO_OK CATEGORIADISCURSO CATEGORIADISCURSOREJEITADO_DRYZEK_O CATEGORIACORBETT_OK CATEGORIATEMATICAAUDIOVISUAL_CORBETT01 CATEGORIATEMATICAAUDIOVISUAL_CORBET


ENDOSSADO_DRYZEK_ K T02
OK
Água é para todos radical e imaginativo . Direito dos Animais Homem Salvador Destruidor da Natureza .
Desabrigados radical e imaginativo . Direito dos Animais batalha da natureza como alegoria do progresso .
Rap dos Bichos radical e imaginativo . Direito dos Animais batalha da natureza como alegoria do progresso .
Tamanduá Bandeira radical e imaginativo . Direito dos Animais Homem Salvador Destruidor da Natureza batalha da natureza como alegoria do progresso
A princesa do Vale radical e prosaico . Povos nativos batalha da natureza como alegoria do progresso .
Alegria de Macaco radical e prosaico . . Homem Salvador Destruidor da Natureza .
Consumidouro radical e prosaico . . batalha da natureza como alegoria do progresso .
De onde vem a água do Rio radical e prosaico . Instrumentalismo Irrestrito . .
Escalada radical e prosaico . . batalha da natureza como alegoria do progresso .
Eta Bicho homem radical e prosaico . Direito dos Animais batalha da natureza como alegoria do progresso .
Filme Ilhado radical e prosaico . . Homem Salvador Destruidor da Natureza .
O cangaceiro e o leão radical e prosaico . . Homem Salvador Destruidor da Natureza .
O DIÁRIO DA TERRA radical e prosaico . . batalha da natureza como alegoria do progresso .
PERFEITO radical e prosaico . . batalha da natureza como alegoria do progresso .
Buba e o Aquecimento Global reformista e imaginativo . Conservacionismo Homem Salvador Destruidor da Natureza .
Consciente Coletivo: Aquecimento Global reformista e imaginativo . . Homem Salvador Destruidor da Natureza .
Consciente Coletivo: Resíduos reformista e imaginativo . Direito dos Animais Homem Salvador Destruidor da Natureza .
Essência reformista e imaginativo . Preservacionismo Homem Salvador Destruidor da Natureza .
Gente Grande reformista e imaginativo . . Homem Salvador Destruidor da Natureza .
Haiana:O Filtro reformista e imaginativo . . Ciência em seu poder de resolver problemas ambientais e salvar .
o planeta
Não Fique Pilhado reformista e imaginativo . Conservacionismo Homem Salvador Destruidor da Natureza .
O Jardineiro - Com Feliciano Esperança reformista e imaginativo . Conservacionismo Homem Salvador Destruidor da Natureza .
O Rei Gastão reformista e imaginativo . Direito dos Animais Homem Salvador Destruidor da Natureza .
Os sustentáveis reformista e imaginativo . . Homem Salvador Destruidor da Natureza .
A Esperança e a Ultima que Morde reformista e prosaico . . Natureza como prova ou desafio .
Dia Estrelado reformista e prosaico . . Natureza como prova ou desafio .
Vida Maria reformista e prosaico . . Natureza como prova ou desafio .
A folha da Samauma . . Povos nativos tribal como sinônimo de natureza .
A Lenda da Árvore Sagrada . radical e prosaico Povos nativos tribal como sinônimo de natureza Homem Salvador Destruidor da Natureza
Bumba Meu Peixe . . Povos nativos tribal como sinônimo de natureza .
Destimação . . Direito dos Animais Homem Salvador Destruidor da Natureza .
Dias de Sol . . . Natureza como prova ou desafio .
Entrevista com o Morcego . . Instrumentalismo Irrestrito importância de limites entre humanos e animais animais atuando como humanos
Fundo . . Direito dos Animais Homem Salvador Destruidor da Natureza .
Mapinguari o Protetor da Floresta . radical e prosaico Direito dos Animais Homem Salvador Destruidor da Natureza .
O Menino e o Mundo . radical e prosaico Sensibilidade Ecológica batalha da natureza como alegoria do progresso .
PAJERAMA . radical e prosaico Povos nativos batalha da natureza como alegoria do progresso Homem Salvador Destruidor da Natureza
PEIXE . radical e prosaico Sensibilidade Ecológica batalha da natureza como alegoria do progresso .
Peixe Frito em Uma Aventura Rupestre . . Conservacionismo Homem Salvador Destruidor da Natureza .
Tainá-Kan, A Grande Estrela . . Povos nativos tribal como sinônimo de natureza .

TITULO_OK PADRAONARRATIVAPRINCIPAL_OK PADRAONARRATIVASECUNDARIA_ TEMACENTRAL_OK TEMACENTRAL_ENQUADRAMENTO_OK


OK
Água é para todos Necessidade de Controlar a Intervenção - interdependência Denuncia de Abuso da Exploração da Adoção de Hábitos Sustentáveis A necessidade de economizar agua de forma a compatibilizar necessidades humanas e animais
Natureza
Desabrigados Denuncia de Abuso da Exploração da Natureza . Exploração de Recursos Naturais Animais da floresta ameaçados pela intervenção humana
Rap dos Bichos Denuncia de Abuso da Exploração da Natureza Necessidade de Controlar a Intervenção - Exploração de Recursos Naturais Animais do Cerrado brasileiro ameaçados pela intervenção humana no bioma
interdependência
327
Tamanduá Bandeira Necessidade de Controlar a Intervenção - interdependência . Direito dos Animais A construção de estradas em áreas silvestres deve considerar mecanismos que assegurem integridade
dos animais
A princesa do Vale Necessidade de Intervenção - em favor do homem Valorização da Natureza Exploração de Recursos Naturais A conquista da natureza é necessária para assegurar o progresso econômico e social
Alegria de Macaco Denuncia de Abuso da Exploração da Natureza . Consumismo Estilos de vida modernos e degradação ambiental
Consumidouro Denuncia de Abuso da Exploração da Natureza Necessidade de Controlar a Intervenção - Consumismo Estilos de vida modernos e degradação ambiental
interdependência
De onde vem a água do Rio Natureza como fenômeno . O ciclo da água O ciclo da agua com um sistema cenicamente compreendido
Escalada Denuncia de Abuso da Exploração da Natureza . Exploração de Recursos Naturais Apropriação Irrestrita dos recursos naturais e o comprometimento da sustentabilidade do planeta
Eta Bicho homem Denuncia de Abuso da Exploração da Natureza . Exploração de Recursos Naturais Animais da floresta ameaçados pela intervenção humana
Filme Ilhado Denuncia de Abuso da Exploração da Natureza . Exploração de Recursos Naturais Apropriação Irrestrita dos recursos naturais e o comprometimento da sustentabilidade do planeta
O cangaceiro e o leão Denuncia de Abuso da Exploração da Natureza Necessidade de Controlar a Intervenção - em Aquecimento Global O aquecimento global como problema antropogênico depende da ciência para seu enfrentamento
favor do homem
O DIÁRIO DA TERRA Denuncia de Abuso da Exploração da Natureza Necessidade de Controlar a Intervenção - em Aquecimento Global O Aquecimento Global é um fenômeno antropogênico que ameaça a vida do planeta
favor do homem
PERFEITO Denuncia de Abuso da Exploração da Natureza . Sociedades Inviáveis Antropocentrismo e comprometimento da integridade do planeta
Buba e o Aquecimento Global Necessidade de Controlar a Intervenção - interdependência . Adoção de Hábitos Sustentáveis O Aquecimento Global como ameaça a vida na Terra deve ser combatido com a participação de todos
Consciente Coletivo: Aquecimento Global Necessidade de Controlar a Intervenção - interdependência . Adoção de Hábitos Sustentáveis O Aquecimento Global enfrentado a partir de mudanças nos hábitos alimentares
Consciente Coletivo: Resíduos Necessidade de Controlar a Intervenção - interdependência Denuncia de Abuso da Exploração da Adoção de Hábitos Sustentáveis A reciclagem de embalagens descartáveis para assegurar a qualidade de vida humana e a integridade
Natureza de espécies marinhas
Essência Necessidade de Controlar a Intervenção - em favor do . Adoção de Hábitos Sustentáveis Agua como essência da vida humana
homem
Gente Grande Necessidade de Controlar a Intervenção - em favor do . Adoção de Hábitos Sustentáveis A sustentabilidade do planeta assegurada pelas atitudes das crianças
homem
Haiana:O Filtro Necessidade de Controlar a Intervenção - em favor do . Soluções Sustentáveis para a produção industrial Adoção de filtros para combater a poluição industrial da atmosfera
homem
Não Fique Pilhado Necessidade de Controlar a Intervenção - em favor do . Adoção de Hábitos Sustentáveis O descarte de pilhas no meio ambiente e o comprometimento da saúde humana
homem
O Jardineiro - Com Feliciano Esperança Necessidade de Controlar a Intervenção - em favor do . Garantia das gerações futuras A qualidade futura do planeta depende das ações do homem no presente
homem
O Rei Gastão Denuncia de Abuso da Exploração da Natureza Necessidade de Controlar a Intervenção - Exploração de Recursos Naturais Animais da floresta ameaçados pela intervenção humana
interdependência
Os sustentáveis Necessidade de Controlar a Intervenção - em favor do . Adoção de Hábitos Sustentáveis O desperdício de energia elétrica, de agua e o uso excessivo de embalagens descartáveis como
homem ameaça ao planeta
A Esperança e a Ultima que Morde Natureza como "adversidade" ao homem Necessidade de Intervenção - em favor do Seca Semiárido Nordestino Impõe desafios a sobrevivência humana e vida animal
homem
Dia Estrelado Natureza como "adversidade" ao homem . Seca Semiárido Nordestino Impõe desafios a sobrevivência humana e vida animal
Vida Maria Natureza como "adversidade" ao homem . Seca Semiárido Nordestino Impõe desafios a sobrevivência humana
A folha da Samauma Valorização da Natureza . Valor estético da natureza A exuberância da natureza
A Lenda da Árvore Sagrada Denuncia de Abuso da Exploração da Natureza Valorização da Natureza Relação Homem? Natureza A escravização de povos nativos e o rompimento da harmonia homem e natureza
Bumba Meu Peixe Valorização da Natureza . Senso de pertencimento e experiências com o O mundo natural e sua influencia no senso de pertencimento
mundo natural
Destimação Denuncia de Abuso da Exploração da Natureza Necessidade de Controlar a Intervenção - Animais de Estimação A comercialização de animais de estimação incorre em maus tratos aos mesmos
interdependência
Dias de Sol Natureza como "adversidade" ao homem . Chuva e espaço urbano Constitui um evento natural que afeta negativamente a dinâmica social
Entrevista com o Morcego Denuncia de Abuso da Exploração da Natureza Necessidade de Controlar a Intervenção - Equilíbrio Ecológico A intervenção humana no mundo natural afeta drasticamente o equilíbrio ecológico e resulta amaça a
interdependência saúde humana
Fundo Denuncia de Abuso da Exploração da Natureza . Descarte e Lançamento de resíduos O descarte irregular de sacolas descartáveis como a ameaça a vida marinha
Mapinguari o Protetor da Floresta Denuncia de Abuso da Exploração da Natureza . Exploração de Recursos Naturais Animais e Povos indígenas ameaçados pela intervenção na floresta
O Menino e o Mundo Denuncia de Abuso da Exploração da Natureza Valorização da Natureza Sociedades Inviáveis As Sociedades industrializadas e suas consequências ecológicas
PAJERAMA Denuncia de Abuso da Exploração da Natureza Valorização da Natureza Relação Homem? Natureza A expansão das cidades sobre o mundo natural e suas implicações para populações indígenas
PEIXE Denuncia de Abuso da Exploração da Natureza . Descarte e Lançamento de resíduos A urbanização e a promoção da morte de rios urbanos
Peixe Frito em Uma Aventura Rupestre Valorização da Natureza . Valor estético da natureza Parques Ecológicos com oportunidade de turismo ambiental
Tainá-Kan, A Grande Estrela Valorização da Natureza . Natureza provedora O surgimento da agricultura no contexto de povos indígenas

TÍTULO TEMPORALIDADE DA PROBLEMÁTICA FESTIVAL EXIBIDO ANO EXIBIÇÃO MOSTRAS COMPETITIVA MOSTRA FESTIVAL EXIBIDO ANO MOSTRAS COMPETITIVA
INFANTIL EXIBIÇÃO
A Esperança e a Ultima que Morde Passado e Presente FestCineAmazonia - VIII 2010 Sim + Mostras - Cinema na Escola .
A folha da Samauma passado FICA - XIV 2012 Não Sim .
A Lenda da Árvore Sagrada Passado: período da escravidão FICA - I 1999 Sim .
A princesa do Vale Recorte histórico: desde o ano de 1699 até os dias atuais FestCineAmazonia - VIII 2010 Mostras - Cinema na Escola, Mostra Paralela .
Água é para todos Presente: deduzido pelas práticas sociais FICA - XIV 2012 Não Sim .
Alegria de Macaco presente FICA - X 2008 Sim .
Buba e o Aquecimento Global Passado Remoto FestCineAmazonia - VIII 2010 Sim + Mostras - Cinema no Circo, Cinema de .
Bairro, Cinema na Escola
Bumba Meu Peixe Presente: deduzido pelas práticas sociais FestCineAmazonia - VIII 2010 Mostras - Cinema na Escola .
Consciente Coletivo: Aquecimento Presente: deduzido pelas práticas sociais (inclusive FICA - XIII 2011 .
Global mostra como evento, não cumulativo, mas imediato)
328
Consciente Coletivo: Resíduos Presente e Passado: mas sobretudo com agravamento no FICA - XIII 2011 .
presente
Consumidouro Presente: deduzido pelas práticas sociais Filmambiente - I 2011 Sim - Curtas FICA - IX 2007 Sim
De onde vem a água do Rio Presente: deduzido pelas práticas sociais FICA - XIV 2012 Não Sim .
Desabrigados Presente: deduzido pelas práticas sociais FICA - XIV 2012 Não Sim .
Destimação presente FICA - XIV 2012 Não Sim .
Dia Estrelado presente FICA - XIV 2012 sim + + mostra Goiás .
Dias de Sol não definido FestCineAmazonia - VIII 2010 Mostras - Cinema na Escola .
Entrevista com o Morcego Presente: deduzido pelas práticas sociais FICA - II 2000 Sim .
Escalada Presente: deduzido pelas práticas sociais FICA - XIV 2012 Não Sim Filmambiente - III 2013 Sim - Curtas
Essência Presente: deduzido pelas práticas sociais FICA - XIV 2012 Não Sim .
Eta Bicho homem presente FestCineAmazonia - XI 2013 Sim .
Filme Ilhado Presente FICA - VI 2004 Sim .
Fundo Não fica evidente FICA - XVI 2014 Sim .
Gente Grande Presente: deduzido pelas práticas sociais Filmambiente - I 2011 Sim - Curtas .
Haiana:O Filtro Presente: deduzido pela fábrica FICA - XIV 2012 Não Sim .
Mapinguari o Protetor da Floresta Presente: deduzido pelas práticas sociais FestCineAmazonia - V 2007 Não - Convidado como vídeo Institucional do .
Festival
Não Fique Pilhado Presente: deduzido pelas práticas sociais FICA - III 2001 Sim .
O cangaceiro e o leão Presente Filmambiente - II 2012 Sim - Curtas .
O DIÁRIO DA TERRA Presente: deduzido pelas práticas sociais FestCineAmazonia - IX 2011 Sim .
O Jardineiro - Com Feliciano Relação Passado/Presente FestCineAmazonia - VIII 2010 Mostra Paralela .
Esperança
O Menino e o Mundo presente FICA - XVI 2014 Sim Sim .
O Rei Gastão Indefinido: passado e presente em função reino e da FICA - XIV 2012 Não Sim Filmambiente - III 2013 Sim - Curtas
tecnologia usada pelo rei
Os sustentáveis Presente: deduzido pelas práticas sociais FICA - XIV 2012 Não Sim .
PAJERAMA Diálogo entre passado e presente FICA - X 2008 Sim .
PEIXE Diálogo entre passado e presente FestCineAmazonia - IX 2011 Sim FICA - XIV 2012 Não - Só infantil
Peixe Frito em Uma Aventura Presente: deduzido pelas práticas sociais FICA - XIV 2012 Não Sim .
Rupestre
PERFEITO não definido FestCineAmazonia - IX 2011 Sim .
Rap dos Bichos passado e presente FICA - VII 2005 Sim .
Tainá-Kan, A Grande Estrela Passado remoto: inferido, pois não situa o tempo da FestCineAmazonia - V 2007 Sim .
narrativa
Tamanduá Bandeira Presente: deduzido Filmambiente - II 2012 Sim - Curtas FICA - XIII 2011 Sim
Vida Maria Presente: deduzido FestCineAmazonia - V 2007 .

TÍTULO RECONHECIMENTO_PREMIAÇÃO
A Esperança e a Ultima que Morde
A folha da Samauma
A Lenda da Árvore Sagrada Prêmio de melhor produção goiana da primeira edição do Festival Internacional de Cinema e Vídeo Ambiental (Fica)
A princesa do Vale
Água é para todos
Alegria de Macaco prêmios / awards: 32a. MOSTRA INTERNACIONAL DE CINEMA (Brasil), - melhor curta-metragem nacional / best brazilian short. INTERNATIONAL AMSTERDAM FILM FESTIVAL (The Netherlands), - melhor curta holandês / best dutch short,
FESTIVAL GRANIMADO (Brasil), - melhor filme / best film, 11a. MOSTRA LONDRINA DE CINEMA (Brasil), - melhor montagem / best editing, KLIK! AMSTERDAM ANIMATION FESTIVAL (The Netherlands), - filme de abertura / opening movie
Buba e o Aquecimento Global Curta-metragem desenvolvido com os personagens para testar a estética do projeto. O curta foi selecionado para diversos festivais e comprovou sua eficácia ganhando diversos prêmios: Up to 3 Toronto-Canadá 2010, Animiami, EUA, 2010, FestCineAmazonia,
2010, SIBGRAPI, RS, 2010, Uma Amazonas, 2010. Direcionado para meninos e meninas de 06 a 11 anos, a mensagem educacional e a estética e narrativa atuais permitem a abrangência também do público adulto.
Bumba Meu Peixe Feito para lançamento da 2ª edição do Prêmio Cultura Viva, tendo como tema: Cultura, Educação na, e para a Comunidade
Consciente Coletivo: Aquecimento Global 2011 World Best Television & Film Winner
Consciente Coletivo: Resíduos 2011 World Best Television & Film Winner
Consumidouro
De onde vem a água do Rio
Desabrigados
Destimação Melhor Trilha Sonora ABD
Dia Estrelado
Dias de Sol Currículo do filme: - Animamundi 2006, - Mostra Fime Livre – 2009, - Cinesul 2010, - Festival Internacional de Cinema Infantil 2010, - Festa Locomotiva 2010
Entrevista com o Morcego
Escalada um dos projetos vencedores do edital Cine Ambiente de 2011, uma iniciativa conjunta entre os Ministérios da Cultura e o do Meio Ambiente para curtas-metragens com temáticas ambientais.
Essência Primeiro lugar no Animamundi 2011. Concurso "Água em Movimento"; 1ºlugar no Concurso Nacional de Animação para Internet - CCBB em 2011 Prêmio Aquisição Porta Curtas no Festival Nacional 5 Minutos em 2011; Concurso Nacional de Animação para
Internet - CCBB (2011) Festival Nacional 5 Minutos (2011) FestAfilm (2011); sobre o animador: Daniel Rabanéa é formado em Audiovisual no Brasil e na Espanha. Sua produção, polivalente, já lhe rendeu prêmios nacionais e internacionais. Realiza vídeos
institucionais para empresas no Brasil e exterior, além de videoclipes, curtas em stop motion e vídeos experimentais.
Eta Bicho homem
Filme Ilhado
Fundo projeto Vencedor do Edital Catarinense de Cinema 2009; Ecozine. Fica;
Gente Grande Prêmio de melhor animação no Green Nation Fest 2012 - Melhor Animação - Juri Oficial; Animação premiada no edital Cine Ambiente em parceria com o Ministério do Meio Ambiente e Ministério da Cultura.
329
Haiana:O Filtro
Mapinguari o Protetor da Floresta
Não Fique Pilhado Prêmios: 2º lugar na Escolha da Audiência, Anima Mundi, Rio de Janeiro/ São Paulo 2000. Prêmio do Público, Cuiabá 2000.
O cangaceiro e o leão
O DIÁRIO DA TERRA
O Jardineiro - Com Feliciano Esperança
O Menino e o Mundo melhor longa-metragem da 13.ª edição da Monstra ? Festival de Cinema de Animação de Lisboa; O filme recebeu os troféus Carmo Bernardes, como melhor longa-metragem; Imprensa, escolhido pela mídia especializada; além de ser eleito pelo júri popular.
O Rei Gastão Festival de Annecy 2013 - participou da mostra competitiva
Os sustentáveis
PAJERAMA Melhor Curta de Animação no FestCine Amazônia em 2008, Melhor Curta de Animação no Festival Audiovisual Mercosul em 2008, Melhor Curta de Animação no Festival de Curtas de Sergipe - Cine SE em 2008, Melhor Curta Metragem no Festival
Internacional de Curtas de Belo Horizonte em 2008, Melhor Curta-metragem para a Juventude no Festival Internacional de Oberhausen em 2008, Melhor Edição de Som no Festival de Cinema e Vídeo de Cuiabá em 2008, Melhor Trilha Sonora no Festival
Guarnicê de Cinema do Maranhão em 2008, Melhor Trilha Sonora Original no Festival Audiovisual Mercosul em 2008, Melhor Trilha Sonora Original no Granimado Festival Brasileiro de Animação em 2008
PEIXE
Peixe Frito em Uma Aventura Rupestre
PERFEITO 2º Lugar - Melhor 3D no AnimaSerra - Festival Nacional de Cinema de Animação de Teresópolis em 2009, Melhor Animação no Mostra UPto3 em 2009, Melhor Curta - Jurí Oficial no Fia 09 em 2009, Melhor Curta - Júri Popular no Fia 09 em 2009, Prêmio
Aquisição Porta Curtas no Sem Tabu em 2009
Rap dos Bichos
Tainá-Kan, A Grande Estrela
Tamanduá Bandeira Melhor filme goiano no 13ºFICA em 2011
Vida Maria Prêmio Major Reis: Melhor Animação do FestCineAmazonia, 2007;Melhor filme goiano: ?VIDA MARIA? é um filme curta-metragem em animação realizado com recursos do edital ?3o. PRÊMIO CEARÁ DE CINEMA E VÍDEO?, realizado pelo Governo do
Estado do Ceará, onde recebeu nota máxima na categoria ?FICÇÃO-ANIMAÇÃO-FILME?. O curta se consagrou nos festivais de cinema em 2007 e encerrou o ano como o filme mais premiado do Brasil.
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