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D.

PEDRO II N O PARANÁ 1880

UMA VIAGEM NO TEMPO

O
s passos históricos de dom Pedro II no Paraná, em 1880, riador: "Estamos muito orgulhosos. Ele sempre teve muita vontade
foram registrados com entusiamo pelos jornais da época. que o povo paranaense soubesse de sua história".
Esse marcante momento está gravado no livro de David Quanto a grafia incorreta do nome do autor (Davi, impres-
Carneiro, publicado por volta de 1930, que a Gazeta do Povo sa na capa do livro), o advogado da família, Maurício de Paula
reproduz, a partir de hoje, como parte das comemorações dos 150 Soares Guimarães, explica que se deve ao português da época. Para
Anos da Emancipação Política do Estado do Paraná.
preservar a originalidade, o texto está da forma como foi escrito por
Os familiares d&autpr - que elaborou a obra como forma de
Carneiro, ipsis litteris, que seguiu a gramática do período, inclusive
gratidão ao imperador que emancipou a Província do Paraná -
mantendo os erros de digitação.
autorizaram a publicação, mas não sabem, com exatidão, a editora
e o ano em que o livro foi publicado. Os registros perderam-se no O livro foi transformado numa série que compreende cinco
tempo. fascículos, agora publicados, diariamente, na Gazeta do Povo até o
A neta do escritor, a jornalista Elisa Marília Prado Carneiro, dia 19 de dezembro.
elogia a iniciativa, considerando um reconhecimento ao histo- Boa leitura!

O A U T O R O P E R S O N A G E M

N ascido na Rua Mateus


Leme, em Curitiba, no
ano de 1905, David Carneiro -
D om Pedro II, ou melhor,
Pedro de Alcântara João
Carlos Leopoldo Salvador Bi-
filho de um coronel, de quem biano Francisco Xavier de Paula
herdou o nome - morou em Leocádio Miguel Gabriel Rafael
Campinas e Rio de Janeiro, na Gonzaga. Esse é o nome comple-
adolescência, para completar to do filho de dom Pedro I e D.
seus estudos. Retorna à capital . Maria Leopoldina, que se tornou
do Paraná em 1923, deixa a o segundo imperador do Brasil.
carreira militar e ingressa na Nascido em 2 de dezembro de
Faculdade de Engenharia Civil. 1825, no Palácio Quinta da Boa
Porém, em 1928, seu pai Vista, Rio de Janeiro, tinha ape-
morre. Assim, David assume a nas 5 anos quando o pai abdicou
responsabilidade pela família e a da Ervateira Americana (negó- o trono, retornando a Portugal. Herdeiro do trono imperial, o
cio tocado pelo pai). Dez anos depois, a direção da indústria é menino Pedro ficou sob a tutoria de José Bonifácio de Andrada e
passada às mãos de seu irmão. Desse modo pôde, enfim, realizar Silva até assumir o poder aos 15 anos incompletos.
o desejo de tornar-se professor. Dom Pedro II casou-se com D. Teresa Cristina Maria de
Em 1950, inicia sua carreira na Faculdade de Ciências Bourbon, embora tivesse diversas amantes e uma paixão: a
Econômicas, quando passa a resgatar e a registrar a História Condessa de Barral. Durante seu governo de quase 50 anos, o país
Universal, do Brasil e do Paraná, constituindo um valoroso acer- registrou grande progresso, a supressão do tráfico de escravos e a
vo particular de objetos de expressiva importância. . abolição da escravatura. Foram também estendidas as linhas
É autor de dezenas de títulos publicados em mais de meio telegráficas e construídas as primeiras ferrovias.
século. Alguns considerados "ousadia para a época". Derrubado pela Constituição da República, em 15 de
O historiador e escritor David Carneiro ganhou prêmios novembro de 1889, dom Pedro II terminou a vida exilado na
nacionais e internacionais, resultado de preciosas e exaustivas Europa. O segundo imperador brasileiro faleceu no dia 5 de
pesquisas, demonstrando sempre um orgulho especial por sua dezembro de 1891, em Paris. Trinta anos depois, seus restos mor-
cidade. Foi colunista diário da Gazeta do Povo até a sua morte tais retornaram ao Brasil para serem depositados na Catedral de
(em agosto de 1991), aos 86 anos. Petrópolis (RJ).

A E V O L U Ç Ã O D A L I N G U A P O R T U G U E S A

A obra de David Carneiro conta a História com a visão e a


linguagem das primeitas décadas após 1900, época em que
o Brasil ainda sofria forte influência da Espanha, o que se reflete
explica. "Hoje, com a aglutinação temos a palavra quente".
O português caminha, atualmente, para o imediatismo da
comunicação, o que cria sistemas novos, que economizam
no vocabulário, modificado com o passar do tempo. tempo e, conseqüentemente, a riqueza da língua. "Hoje a lin-
Segundo a professora de Lingüística Aplicada da Pontifícia guagem é artigo de luxo, que nem todos dominam perfeita-
Universidade Católica do Paraná (PUCPR), Arlene SantAnna, mente", assinala. "Houve também uma passagem da aliança
mesmo sendo sempre o português a língua oficial do país, as Portugal-Espanha para os imperialismos francês, inglês e, agora,
palavras espanholas tinham grande vigência. "Em 1100 existia a o norte-americano. Essa última influência está clara nas con-
palavra caliente, que depois se transformou em calente, daí em trações do vocabulário atual, gírias e palavras relacionadas à alta
caente e, na época de dom Pedro II, já era utilizado o queente", tecnologia", conclui.

Expediente - A Espetacular Viagem de Dom Pedro II ao Paraná é uma série de cinco fascículos especiais da Gazeta do Povo. Projeto desenvolvido pela Redação, em parceria com os departamentos de Marketing e Cometcial.
• Diretor de Redação: Arnaldo Cruz; Coordenação: Nádia Fontana; Edição: Andréa Sorgenfrei; Textos: Juliana Girardi, Adriano Justino e Carlos Viceíli; Coordenação Gráfica: Ricardo Humberro; Diagramação: Marcos
Tavares; Revisão: Adamascor Marques. Rua Pedro Ivo, 459 • Centro • Curitlba-PR • CEP 80010-020'Fones (41)321-5000 (geral); 321-5431, 321-5494, 321-5495 (Redação) e fax 321-5471/5472; 321-5285 (Comercial)
e fax 321-5300; 321-5325 (Marketing) e fax 321-5870 • leitor@gazetadopovo.com.br • Não pode ser vendido separadamente • Os fascículos circulam diariamente do dia 15/12 a 19/12.

GAZETA DO POVO
DAVI CARNEIRO

PREFACIO
Fonseca, de Castro), e, números que faltavam da coleção,

O
Paraná, embora sendo o mais novo dos elementos
vivos que compõe o Brasil, visto só foi província obtidos no Arquivo Paranaense; (encarregou-se da cópia
emancipada em 1 8 5 3 , tem uma vida muito intensa destas notícias o Dr. José de Miranda Ramos). A coleção do
de tradições, desde os tempos coloniais, desde quando ainda Cruzeiro que poderia parecer indispensável não estava na
era comarca de Paranaguá e Curitiba, parte da extensa capita- Biblioteca Nacional; entretanto, melhor talvez do que ela, tí-
nia de São Paulo. nhamos o livro "Coisas do meu tempo" de Ernesto Matozo,
Nos seus fastos de glória, tão poucas vezes rememorados o repórter que da parte daquele jornal, acompanhou D . Pedro
com justeza, conta páginas de epopéia que ainda não tiveram ao Paraná.
o seu Tasso, embora já tivesse tido os seus Tucídides entre os A coleção da Revista Ilustrada, que dava a nota cômica
quais me coloco, mesmo sendo dos mais pobres; conta tam- , ou ridícula no conjunto da viagem imperial (também copia-
bem com páginas de curiosidade sociológica ainda não da pelo Dr. José de Miranda Ramos) e enfim, os números
espostas à luz do dia para que delas como história concreta, se esparsos dos jornais O Paranaense e Eco do Paraná.
possam tirar ilações abstratas de valor maior, diretrizes e tri- Depoimentos pessoais, memórias corrigindo os noti-
lhos para os condutores de homens de hoje e do futuro. ciários rígidos das conveniências oficiais, foram também
a

Entre as páginas curiosas estariam as viagens descritas colhidos: Felinto Braga, Anibal Carneiro, D . Alice Suplicy de
a

pelos homens doutos, e as realizadas pelos políticos de Lacerda, D . Elfrida-Pereira, e tantos outros deram-me ele-
renome, viagens estas que, si não foram relatadas por um só, mentos valiosos, bem como foram consultados artigos publi-
com suficiência, ficaram estampadas em crônicas esparsas dos cados na Ilustração Paranaense, entre os quais um, especial-
jornais ou em folhetos dispersos de tiragem restrita. mente citado no texto, do Comandante Dídio Costa.
Está no primeiro caso a viagem de Saint Hilaire em
***
1820, à comarca de Curitiba. Está no segundo a viagem de D .
Pedro II.° à província do Paraná em 1 8 8 0 . Não tendo a menor simpatia por D . Pedro II como
Dois pontos de referência magníficos para a nossa imperador do Brasil, pela atuação que teve em face do con-
história! junto americano, constituindo-se exceção retrograda onde
Entre esses dois marcos, que ficarão sempre como focos devia ser (como queria aparecer) elemento de destaque pro-
de luz a refletir com precisão os costumes, os nomes, as coisas gressivo, eliminando as chagas sociais da escravatura, e deter-
notáveis do Paraná, outros "fulcra" para o estabelecimento das minando o congraçamento entre as nações da América do
a

diretrizes dinâmicas podem ser tomados com menos precisão, Sul, nutro, entretanto, como paranaense, pelo filho de D .
capazes, entretanto, de determinar o evoluir da nossa gente Leopoldina de Habsburgo e do doudivanas nascido na Sala
dentro da evolução integral do Brasil como parcela da Amé- D . Quexote do palácio de Queluz, a mais funda gratidão.
rica e do Mundo. Sem D , Pedro II seríamos ainda parte de São Paulo, e
Pode parecer aos espíritos menos avisados, que a viagem estaríamos vegetando à sua sombra, como vegetaram os nos-
imperial de 1880 à Província do Paraná seja um fato de sos heróis das guerras do Sul, e os nossos bandeirantes. Sem
pequena importância no conjunto histórico e sociológico D . Pedro II não teríamos tido, talvez nem tivéssemos até hoje
deste recanto brasileiro. Efetivamente, porém, só as bandeiras sinão como território, de passagem, estradas de ferro que
do final do século X V I I I e do início do século seguinte, — e constituíssem alavancas do nosso progresso, surgidas só para
mais tarde os trabalhos de emancipação, e ainda logo a guer- êle. Sem D . Pedro II, depois de 1 8 8 9 , ficamos esquecidos
a

ra do Paraguai, são determinantes de impulsos mais decisivos politicamente, como si fôssemos de novo a 5 . comarca de S.
na vida da comarca e da província. Paulo, embora a bravura dos heróis da Lapa salvasse a
Para citar um exemplo, colho o caso dos nossos homens República de uma derrocada, em 1 8 9 4 . Sem D . Pedro II
notáveis, que pareceram dignos de prêmio e foram visados ficamos com os nossos pró-homens sem a possibilidade de
pela munificência imperial. ação, através das pastas ministeriais embora muitos deles pos-
O Paraná teve três grandes derramas de comendas e suíssem valor efetivo do quilate de Vicente Machado e
títulos: A primeira logo após a atuação do Barão de Antonina Generoso Marques.
junto aos elementos proeminentes da Comarca de Curitiba D . Pedro II deu ao Paraná três pastas ministeriais e fêz
para que estes não se manifestassem favoráveis à rebelião de três ministros de Estado; deu, aos homens do Paraná como a
Sorocaba, e não apoiassem o brigadeiro Rafael Tobias de Eufrázio Correia e João José Pedrosa, províncias importantís-
Aguiar, comprovinciano admirado por todos e amigo de simas a governar; deu ao Paraná sua emancipação política;
muitos; a segunda por ocasião da guerra do Paraguai, aos que deu-lhe estradas de ferro; deu-lhe colonização eficiente; deu-
auxiliaram o levantamento de voluntários prestando outros lhe a honra da sua visita!
serviços de nota, ou aos que por bravura, nos campos de Si ponho restrições muito grandes ao D . Pedro II
batalha foram salientes; a terceira depois da visita de D . Pedro imperador, como brasileiro e sul-americano, estando longe de
II, nos anos seguintes a 1880. o julgar com as irrestrições e â abundância de adjetivação com
que o tratam Pedro Calmon, Tobias Monteiro, Ouro Preto,
** * Max Fleiuss e tantos outros, cp mo.paranaense sou inclinado a
c

Para o presente trabalho várias fontes foram consultadas achá-lo o mais benemérito dos homens que, como gover-
e constituíram elemento primordial: Foram elas, as coleções nantes poderosos, do centro, com oü sem centralização,
do "Jornal do Comércio" e da Gazeta de Notícias de 1 8 8 0 , olharam para a minha terra dos pinheirais.
existintes na Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro; (encar- E é como paranaense que eu aqui encaro a D . Pedro II,
regou-se da cópia dessas notícias o Dr. Orlando de Lacerda ao recompor, passo a passo a sua histórica viagem de 1 8 8 0 ,
Rocha). A coleção de 19 de Dezembro (parte esparsa da que entre ovações e festas, recebendo a prova da gratidão dos fi-
guardará o veterano voluntário da Pátria, capitão João José da lhos da província que em boa hora emancipou!

IISHC Viver sem fronteiras


DAVI CARNEIRO

PREFÁCIO
Fonseca, de Castro), e, números que faltavam da coleção,

O
Paraná, embora sendo o mais novo dos elementos
vivos que compõe o Brasil, visto só foi província obtidos no Arquivo Paranaense; (encarregou-se da cópia
emancipada em 1 8 5 3 , tem uma vida muito intensa destas notícias o Dr. José de Miranda Ramos). A coleção do
de tradições, desde os tempos coloniais, desde quando ainda Cruzeiro que poderia parecer indispensável não estava na
era comarca de Paranaguá e Curitiba, parte da extensa capita- Biblioteca Nacional; entretanto, melhor talvez do que ela, tí-
nia de São Paulo. nhamos o livro "Coisas do meu tempo" de Ernesto Matozo,
Nos seus fastos de glória, tão poucas vezes rememorados o repórter que da parte daquele jornal, acompanhou D . Pedro
com justeza, conta páginas de epopéia que ainda não tiveram ao Paraná.
o seu Tasso, embora já tivesse tido os seus Tucídides entre os A coleção da Revista Ilustrada, que dava a nota cômica
quais me coloco, mesmo sendo dos mais pobres; conta tam- ou ridícula no conjunto da viagem imperial (também copia-
bém com páginas de curiosidade sociológica ainda não da pelo Dr. José de Miranda Ramos) e enfim, os números
espostas à luz do dia para que delas como história concreta, se esparsos dos jornais O Paranaense e Eco do Paraná.
possam tirar ilações abstratas de valor maior, diretrizes e tri- Depoimentos pessoais, memórias corrigindo os noti-
lhos para os condutores de homens de hoje e do futuro. ciários rígidos das conveniências oficiais, foram também
a

Entre as páginas curiosas estariam as viagens descritas colhidos: Felinto Braga, Anibal Carneiro, D . Alice Suplicy de
a

pelos homens doutos, e as realizadas pelos políticos de Lacerda, D . Elfrida- Pereira, e tantos outros deram-me ele-
renome, viagens estas que, si não foram relatadas por um só, mentos valiosos, bem como foram consultados artigos publi-
com suficiência, ficaram estampadas em crônicas esparsas dos cados na Ilustração Paranaense, entre os quais um, especial-
jornais ou em folhetos dispersos de tiragem restrita. mente citado no texto, do Comandante Dídio Costa.
Está no primeiro caso a viagem de Saint Hilaire em
** *
1820, à comarca de Curitiba. Está no segundo a viagem de D .
Pedro II.° à província do Paraná em 1 8 8 0 . Não tendo a menor simpatia por D . Pedro II como
Dois pontos de referência magníficos para a nossa imperador do Brasil, pela atuação que teve em face do con-
história! junto americano, constituindo-se exceção retrograda onde
Entre esses dois marcos, que ficarão sempre como focos devia ser (como queria aparecer) elemento de destaque pro-
de luz a refletir com precisão os costumes, os nomes, as coisas gressivo, eliminando as chagas sociais da escravatura, e deter-
notáveis do Paraná, outros "fulcra" para o estabelecimento das minando o congraçamento entre as nações da América do
a

diretrizes dinâmicas podem ser tomados com menos precisão, Sul, nutro, entretanto, como paranaense, pelo filho de D .
capazes, entretanto, de determinar o evoluir da nossa gente Leopoldina de Habsburgo e do doudivanas nascido na Sala
dentro da evolução integral do Brasil como parcela da Amé- D . Quexote do palácio de Queluz, a mais funda gratidão.
rica e do Mundo. Sem D , Pedro II seríamos ainda parte de São Paulo, e
Pode parecer aos espíritos menos avisados, que a viagem estaríamos vegetando à sua sombra, como vegetaram os nos-
imperial de 1880 à Província do Paraná seja um fato de sos heróis' das guerras do Sul, e os nossos bandeirantes. Sem
pequena importância no conjunto histórico e sociológico D . Pedro II não teríamos tido, talvez nem tivéssemos até hoje
deste recanto brasileiro. Efetivamente, porém, só as bandeiras sinão como território, de passagem, estradas de ferro que
do final do século XVIII e do início do século seguinte, - e constituíssem alavancas do nosso progresso, surgidas só para
mais tarde os trabalhos de emancipação, e ainda logo a guer- êle. Sem D . Pedro II, depois de 1 8 8 9 , ficamos esquecidos
a

ra do Paraguai, são determinantes de impulsos mais decisivos politicamente, como si fôssemos de novo a 5 . comarca de S.
na vida da comarca e da província. Paulo, embora a bravura dos heróis da Lapa salvasse a
Para citar um exemplo, colho o caso dos nossos homens República de uma derrocada, em 1 8 9 4 . Sem D . Pedro II
notáveis, que pareceram dignos de prêmio e foram visados ficamos com os nossos pró-homens sem a possibilidade de
pela munificência imperial. ação, através das pastas ministeriais embora muitos deles pos-
O Paraná teve três grandes derramas de comendas e suíssem valor efetivo do quilate de Vicente Machado e
títulos: A primeira logo após a atuação do Barão de Antonina Generoso Marques.
junto aos elementos proeminentes da Comarca de Curitiba D . Pedro II deu ao Paraná três pastas ministeriais e fêz
para que estes não se manifestassem favoráveis à rebelião de três ministros de Estado; deu, aos homens do Paraná como a
Sorocaba, e não apoiassem o brigadeiro Rafael Tobias de Eufrázio Correia e João José Pedrosa, províncias importantís-
Aguiar, comprovinciano admirado por todos e amigo de simas a governar; deu ao Paraná sua emancipação política;
muitos; a segunda por ocasião da guerra do Paraguai, aos que deu-lhe estradas de ferro; deu-lhe colonização eficiente; deu-
auxiliaram o levantamento de voluntários prestando outros lhe a honra da sua visita!
serviços de nota, ou aos que por bravura, nos campos de Si ponho restrições muito grandes ao D . Pedro II
batalha foram salientes; a terceira depois da visita de D . Pedro imperador, como brasileiro e sul-americano, estando longe de
II, nos anos seguintes a 1880. o julgar com as irrestrições e a abundância de adjetivação com
que o tratam Pedro Calmon, Tobias Monteiro, Ouro Preto,
*** Max Fleiuss e tantos outros, cftmo,paranaense sou inclinado a
Para o presente trabalho várias fontes foram consultadas achá-lo o mais benemérito dos homens que, como gover-
e constituíram elemento primordial: Foram elas, as coleções nantes poderosos, do centro, com oü sem centralização,
do "Jornal do Comércio" e da Gazeta de Notícias de 1 8 8 0 , olharam para a minha terra dos pinheirais.
existintes na Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro; (encar- E é como paranaense que eu aqui encaro a D . Pedro II,
regou-se da cópia dessas notícias o Dr. Orlando de Lacerda ao recompor, passo a passo a sua histórica viagem de 1880,
Rocha). A coleção de 19 de Dezembro (parte esparsa da que entre ovações e festas, recebendo a prova da gratidão dos fi-
guardará o veterano voluntário da Pátria, capitão João José da lhos da província que em boa hora emancipou!

H S B C "CZ^ Viver sem fronteiras


D.PEDRO II NO PARANÁ 1 8 8 0

OS PRIMEIROS CONSTAS E OS MOTIVOS


DA VIAGEM IMPERIAL
À PROVÍNCIA DO PARANÁ EM 1880

S
. M. I. o Sr. D . Pedro II.° tinha vivo interesse pelas representada nesta Província pelo abaixo assinado, cum-
coisas da Província do Paraná. Levado por uma jus- pre o grato dever de convidar V. Exa. para com sua pre-
tificável vaidade, desejava propugnar pelo seu pro- sença abrilhantar este ato. Escritório da gerência da
gresso, e tanto quanto estivesse nas suas mãos, queria Estrada de ferro do Paraná — em Paranaguá, 24 de
fazê-la passar à frente das outras províncias, afim de que novembro de 1873. (a) diretor gerente - Pedro Aloys
ela por si própria justificasse a emancipação, pela qual S. Scherer."
M. era (ou devia ser) responsável, ou para que esta pro- Vê-se pela data da inauguração - 2 de dezembro -
víncia que era obra do segundo imperador, desse a êle, dia do aniversário de D. Pedro II.°, que este prestava
sozinha, mais glória do que todas as outras juntas ao pri- atenção aos serviços da estrada de ferro. Não há, dúvida
meiro imperador, seu pai, como obra daquele. que êle ficaria satisfeito com a gentileza da companhia
Desde 1865 se falara numa estrada de ferro que inaugurando ela os seus trabalhos em data que era grata
atravessasse a nova província. Obra de gigantes, ela não a S. Magestade, cúmo fêz.
foi sequer elemento de cogitações sérias por parte do go- Em seguida, foi a "Compagnie chemins de fer
verno imperial, quando Jesuino Bresiliens" que teceu os seus pauzi-
Marcondes ministro da agricultura nhos, para trazer D . Pedro ao
poz o problema. No fim da guerra "Notícias da CÔrte dão COITIO muito Paraná. Não há dúvida que as sim-
do Paraguai, porém, em junho de pTOVávél ü Viagem de S. M. O impe- patias imperiais, e vários outros
1871, um contrato foi firmado radOT O esta pTOVÍncia, pOT OCÜSião motivos secundários estariam
entre o Sr. Barão de Mauá e conces- i
s e (i) tmbalflOS determinando o desejo de S. M. de
n a u g u r a r e m s c o s

sionários de estrada de ferro entre c o n s t r u ç ã o d a


& f W> mas também não há dúvida de
e s t r a d a d e erro

Antonina e Curitiba, (engenheiros , . que o motivo poderoso, aquele que


Antônio P. Rebouças filho, Fran- de Paranaguá a esta capital. „ , „ >. ,
3

cisco Antônio Monteiro Tourinho e moveu a montanha , foi a estrada


de ferro.
Maurício Schwarz) "para exploração e estudos da via Já a 27 de janeiro aparecem constas discretos no
afim de fixá-la no terreno por um projeto que permitia jornal oficial da Província do Paraná, o 19 de Dezembro.
orçamento com suficiente exatidão". A notícia aparecia num canto, obscura, como um desejo
Mauá interessou D. Pedro II e graças à boa vonta- de transformar-se em verdade e o grande receio de vir a
de de homens influentes como eles, a construção não tar- ser mentira. Dizia:
dou em ser iniciada. "Viagem imperial — (O Imperador vivia viajando)
Já em 1873 os trabalhos da estrada de ferro entre — Notícias da corte dão como muito provável a viagem
Paranaguá e Morretes eram inaugurados. Um convite de S. M. o imperador a esta província, por ocasião de se
original que possue o Museu Cel. David Carneiro, diz o inaugurarem (sic) os trabalhos de construção da estrada
seguinte: de ferro de Paranaguá a esta capital".
"limo. Snr.: Estando marcado o dia 2 de dezembro Logo, porém, que se vão transformando em possi-
às 10 horas da manhã, para ter lugar a inauguração dos bilidades quase palpáveis e concretas, os constas vem
trabalhos da estrada de ferro desta cidade à de Morretes, com a nota especial: "S. M., manifestando o desejo de vir
bem como dos melhoramentos do porto, a diretoria à província, recomenda para que faça constar, que reali-

GAZETAD0P0V0
DAVI CARNEIRO

zando a viagem, não deseja de modo algum que haja fes- política, a não ser a resposta à fala do trono, que parece
tas de recepção ou que se façam despesas por sua causa." ter dicidido S. M. a partir quanto antes para a Província
No Rio só os constas aparecem nos jornais em do Paraná, afim de não ouví-la..."
começos de maio de 1880, portanto nas vésperas da via- Os jornais, porém, desde os primeiros dias de maio,
gem, com as liberdades de linguagem e o fino senso crí- para uso interno, sabiam de fonte segura, que a viagem
tico que a província não poderia ter, máxime num caso sairia, e quando. É essa a idéia que se tem lendo-se
como esse. Ernesto Matoso em seu livro "Coisas do meu tempo":
O "Jornal do Comércio" de 12 de maio na seção "Nos primeiros dias de maio de 1880, ao chegar à
"Gasetilha", e com subtítulo de Viagem Imperial, notí- redação do Cruzeiro, da qual tinha a honra de fazer
cia: "Dizem-nos que SS. M M . partem para a Província parte, encontrei sobre a minha mesa de trabalho, um
do Paraná no dia 7 do corrente, às 8 horas da manhã. memorandum da administração comunicando haver-me
Acompanham os augustos viajantes, além dos seus sema- ela designado para acompanhar (na qualidade de redator
nários, os senhores ministros da agricultura, deputado do Cruzeiro) a SS. M M . em sua próxima viagem à pro-
Manoel Alves de Araujo, o representante da Compagnie víncia do Paraná. Na véspera o redator Eudoro Berlink
Chemins de Fer Bresiliens, Paul De la Lante e represen- havia combinado com a administração da casa, a minha
tantes da imprensa." designação. Ele recebera uma carta oficial do conselheiro
Acontece, porém, que o Jornal do Comércio era um Buarque de Macedo, ministro da Agricultura, na qual
jornal sisudo, sério, que se não podia meter em brincadei- mais ou menos dizia: "S. M . o Imperador, que deve
ras, de forma que o seu consta já tinha foros de certeza. seguir no dia 17 do corrente (maio de 1880) em visita à
A Gazeta de Notícias, porém, começou a veicular província do Paraná para inaugurar os trabalhos da
os boatos da viagem desde 2 de maio: "S. M . o Im- Estrada de Ferro de Curitiba, tem muito prazer em que
perador, segundo nos informam, partirá para a Província a ilustrada redação do Cruzeiro o faça acompanhar por
do Paraná no dia 17 deste mês." No dia 6 aparecia um um dos seus redatores."
anúncio curioso no mesmo jornal: "S. M. o Imperador A Revista Ilustrada, que não recebeu convite, só
leva para o Paraná 200 paco- soube do caso depois do dia
tes do precioso chocolate 20, e as piadas foram através
Andaluza, para oferecê-los a Estão dadas as ordens para que a das notícias do Cruzeiro, da
personagens de sua estima." marinhagem dos navios de guerra surtos Gazeta e do Jornal do
Não faltaram, no meio na baía, prestem a SS. MM. as honras de Comércio. Ernesto Matoso
desses constas, algumas crí- deu notícia da representação
estilo, se o paquete Rio Grande tiver içado
ticas pesadas de fundo polí- jornalística nessa imperial
o pavilhão imperial no mastro grande.
tico, feitas por gente que se escursão: "O jornal do Co-
escondia atrás de pseudôni- mércio mandou o seu repór-
mos. Um, nessas condições, aparecia a 17 de maio, assi- ter J . Tinoco; a Gazeta de Notícias e o Cruzeiro enviaram
nado por um Rio Negro, nestes termos: redatores: Pela primeira foi o comandante José Carlos de
"Será certo que S. M . para sua viagem a Paranaguá Carvalho, e pelo Cruzeiro, como já ficou dito, o enviado
vai tirar um paquete de uma linha regular, prejudicando fui eu."
os interesses do comércio e das populações de diversas A 15 de maio o "Jornal do Comércio" publicou
Províncias? Pois não há transporte em vazos de guerra uma notícia da Província: "Grandes preparativos para a
que possam conduzí-lo? Divirta-se S. M . e fique aos recepção de SS. M M . II! Na cidade da Lapa foram
povos o imprestável, o velho, o podre!..." nomeados membros da comissão que deverá dirigir os
D. Pedro II.° tinha nessa ocasião alguns problemas festejos. São eles os Srs. João Manoel da Silva Braga,
graves de política interna a resolver. A fala do trono de Major Manoel Pacheco de Carvalho, Major Antônio
1879 determinara queda de gabinete e mudança de par- Alves de Oliveira, Tte. Joaquim Rezende Corrêa de
tido, provocando, como era natural, oposição respeitável Lacerda, e o dr. Manoel Pedro dos Santos Lima." (1)
no Senado e na Câmara, onde os "lideres" de oposição Enfim as coisas se entrozaram, coordenaram-se as
nas respostas à fala, argumentavam cerrado contra a vontades, disciplinaram-se os desejos pelo impulso da
situação. vontade imperial, e já ninguém mais duvidava da parti-
A "Revista Ilustrada" que levava tudo na pândega, da de D . Pedro. Na véspera da viagem a "Gazeta" noti-
dizia nas caricaturas excelentes: "Nada de importante em ciava:

T j ç p p éWh 1
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D.PEDRO II NO PARANÁ 1880

"SS, M M . II. seguem amanhã para a Província do Como alfinetadas, espécies de carapuças aos bajula-
Paraná a bordo do paquete Rio Grande, sob o comando dores daquele tempo, aparecem notícias que só o conhe-
do capitão de fragata José Alvim. cimento dos bastidores, numa retrospectiva ação de fan-
Estão dadas as ordens para que a marinhagem dos tasia maliciosa poderia elucidar.
navios de guerra surtos na baía, prestem a SS. M M . as "Dizia-se ontem... que em homenagem a "provín-
honras de estilo, se o paquete Rio Grande tiver içado o cia do Paraná" a câmara não se reuniria, para poder ir
pavilhão imperial no mastro grande. encorporada ao botafora do Sr. Alves de Araujo, que
Este paquete,deve atracar hoje no cais do arsenal de acompanha S. M. o Imperador...
marinha, afim de receber SS. M M . que pretendem "Também se diz... (continua a "Gazeta de Notícia");
embarcar amanhã às 8 horas da manhã." que o Sr. Alves de Araujo, além do discurso de sábado,
Aparecem nas vésperas os nomes de alguns mem- leva para o Paraná a intensão de lhe restituir os ervais que
bros da comitiva imperial: a província de Santa Catarina lhe tem surrupiado...: (3)
"Exma. Sra. Baronesa da Fonseca Costa; o camaris- Seria a questão de limites? Alguma referência à lutai
ta Sr. Visconde de Tamandaré; o vereador Sr. conselheiro entre os estados de Paraná e Santa Catarina que não pôdeí
José Caetano de Andrade Pinto; o médico Sr. Barão de explodir no tempo do império e que teve epílogo depoisj
Maceió; o Sr. Conselheiro Buarque de Macedo, ministro de 36 anos de discussões e trabalhos, num dia aziago dei
da Agricultura, e os representantes da imprensa." Além 1916?
desses o deputado Alves de Araujo, Dr. Dantas Filho e a Si assim fôr, bem se vê que o 2.° império foi pai
a
dama da Imperatriz D . Leopoldina Werna de Magalhães desta Província, enquanto a República foi, deste nosso
Barbosa. (2) Estado, apenas madrasta.

Afamíla imperial em 1880.

6
GAZETA DO POVO
DAVI C A R N E I R O

II

AS NOTICIAS DO EMBARQUE. - AS IMPRESSÕES DE VIAGEM.


- A MORDACIDADE DA REVISTA ILUSTRADA.
- OS CONVITES EM PARANAGUÁ

D
os jornais que noticiaram o embarque, foi o "Achava-se a bordo para receber no portaló os
"Jornal do Comércio" aquele que deu mais por- augustos viajantes o comandante do vapor, capitão de
menores, aquele que julgou mais importante a fragata José Alvim, Visconde de Figueiredo e comenda-
cerimônia desse adeus provisório do Imperador à sua dor Gonçalves, ambos gerentes de companhias de paque-
Corte. Aliás, já os políticos, como o povo e mais a corte e tes, e os representantes da imprensa.
os cortesãos do Rio de Janeiro deviam ter-se habituado às "Às 8 e meia levantou âncora o Rio Grande. Um
viagens de SS. M M . Houve quem criticasse esse gosto de bond(sic) marítimo, levando os Exmos. conselheiros
D. Pedro, como se êle pudesse ter algo de prejudicial. De Dantas, Pedro Assis, Barão de Iguatemí, Beaurepaire
minha parte não o censuro; esse prazer do imperante bra- Rohan, Benedito de Almeida Torres, Major Novaes e
sileiro, tenho para mim que só o podia elevar no conceito outras pessoas, largou do cais do arsenal, seguindo nas
dos homens de equilíbrio, porque viajar é aprender con- águas do Rio Grande.
cretamente, viajar é ter os olhos abertos a novos e a mais "Quando o paquete passou pelo canal da ilha das
dilatados horizontes. Cobras, todos os navios de guerra tinham gente nas ver-
O "Jornal do Comércio" assim descreve a manhã de gas e a fragata-escola com os aspirantes sobre o tombadi-
17 de maio de 1880: lho, fizeram a SS. M M . II. as
"Viagem Imperial continências de estilo. Quan-
"Ontem às 8 horas da
"No cais da alfandega e do largo do paço houve do chegou ao poço já a Gua-
manhã chegaram SS. M M . grande afluência de povo, que nabara havia dado volta e
II. ao arsenal de marinha, se conservou até que o Rio Grande seguia-lhe nas águas.
onde' já os aguardavam os desaparecesse ao Sul." "S. M. o Imperador
Exmos. presidente do con- subindo então ao tombadi-
selho, ministros do império, da marinha e interino da lho tirou o chapéu correspondendo assim aos cumpri-
guerra, de estrangeiros e interino da agricultura, inspetor mentos que de todos os lados lhe eram feitos.
e vice-inspetor do arsenal, ajudantes generais da armada e "O bonde marítimo, não podendo acompanhar a
do exército; condes de Iguaçu e Baependi, Viscondes de marcha veloz que levava o Rio Grande, fêz os últimos
Bom Retiro e de Barbacena, Barões de Nogueira da cumprimentos, a que se dignou a corresponder S. M., e
Gama, de Ivinhema, de Jaguarão, de Iguatemí, da Laguna regressou ao arsenal.
e de TefFé, almirante Delamare, conselheiros Paranaguá, "Às 8 horas e 4 0 minutos, o Rio Grande passava em
Fontes, senadores Cândido Mendes e Correia, comenda- frente à fortaleza de Villegaignon, e às 8 e 50 em frente
dor Wilkens de Matos, capitão do porto, capitão de mar a fortaleza de Santa Cruz, singrando barra fora. Nessa Conselheiro Jesuino Marcondes
e guerra Salgado, deputado Sérgio de Castro, comandan- ocasião salvaram as fortalezas e os navios de guerra. de Oliveira e Sá, ministro da
te e oficialidade do 7.° batalhão, oficialidade da marinha, "Os Exmos. ministros da justiça e de estrangeiros e Agricultura, em 1865, filho do
oficiais de diferentes cargos e grande concurso de povo. senador Correia dirigiram-se para a estação telegráfica do Barão do Tlbagi e sua mulher a
"Durante os cumprimentos feitos a SS. M M . II., arsenal de marinha, e passaram vários telegramas. Viscondessa do Tibagl por título
tocaram o hino nacional as bandas do 10.° batalhão e de "No cais da alfandega e do largo do paço houve posterior à viajem de 1880.
fuzileiros navais, que faziam a guarda de honra. grande afluência de povo, que se conservou até que o Rio Retrato a carvão da autoria do
"SS. M M . II. despediram-se de todos, seguindo logo Grande desaparecesse ao Sul." Visconde de Taunay, existente
para bordo do Rio Grande, que estava atracado ao arsenal. A "Gazeta de Notícias" diz muito pouca coisa sobre no Museu do Estado do Paraná.

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D.PEDRO II NO PARANÁ 1 8 8 0

o ato do embarque mas dá por estenso o teor dos telegra- "Antonina - Do presidente da província ao conse-
mas trocados entre os homens da corte e o presidente da lho da Liga operária:
Província. Embora seja demasiado monótona essa trans- "Agradeço a saudação assim como aceito em nome
crição, não quero deixar de fazê-la figurar aqui, como da florescente província do Paraná, as felicitações que
documento: dirige o conselho da Liga operária, por ocasião de ser
"A estação telegráfica de Paranaguá: inaugurada nesta província a importante via férrea que
"Convide o presidente da província para vir falar há de ligar o porto de Paranaguá a Curitiba tanto mais
com os ministros da agricultura, interino, de estrangeiros quanto este acontecimento auspicioso vai ter lugar na
e da justiça, senador Correia e outros cidadãos na estação augusta presença de SS. M M . II., que se dignam honrar
de Paranaguá, dizendo-lhe desde já que SS. M M . acabam esta província onde são esperadas. M. P. S. Dantas
de partir no Rio Grande, indo-lhes nas águas a corveta Filho."
Guanabara". "Do presidente da província do Paraná ao Exmo.
"Dos Exmos. conselheiros Dantas e Pedro Lins ao Sr. ministro da justiça:
presidente da Província do Paraná: "Acho-me na estação de Antonina. Vou partir para
"Nós cumprimentamos o digno presidente da pro- Paranaguá dentro de algumas horas. Renovo os agradeci-
víncia do Paraná e os cidadãos paranaenses pela honrosa mentos em nome da província a V. Exa. e seus ilustres
visita de SS. M M . II. a essa florescente província. colegas, e ao Sr. Senador Correia pela felicitação que
"O senador Correia manifesta o seu pesar por não enviaram a esta florescente e rica província."
poder acompanhar SS. M M . , porque como membro da Ernesto Matoso (o do Cruzeiro) no seu livro de
comissão de resposta à fala do trono, tem necessidade de Reminiscências, diz pouco:
estar presente à discussão." "A 17 de maio a bordo do paquete Rio Grande
"Ao presidente da província do Paraná: comandado pelo cap. de fragata José Alvim, seguiram SS.
"Os ministros Dantas e Pedro Lins e o senador M M . e comitiva para Paranaguá, comboiados pela corve-
Correia congratulam-se ta Guanabara. Pelas 9 horas da
com a província do Pa- manhã, paquete e corvete
raná pelo futuro brilhante "Os ministros Dantas e Pedro Lins transpuzeram a barra, ouvindo
que se lhe antolha com a e o senador Correia congratulam-se com a as salvas de todas as fortalezas
inauguração da importan- província do Paraná pelo futuro brilhante do porto."
te via férrea, com que vai que se lhe antolha com a inauguração Em compensação Matoso
ser dotada essa província. nos conta coisas da viagem —
da importante via férrea, com que
Nossos entusiásticos para- esses bastidores, cheios de ridí-
béns."
vai ser dotada essa província.
culo tremendo. Passo-lhe a
"Ao presidente da
Nossos entusiásticos parabéns." palavra escrita, sem comentá-
província do Paraná: rios:
"O conselho da Liga operária saúda a S. Exa., feli- "O monarca havia convidado para essa excursão o
citando-o e aos paranaenses, pela honrosa visita que vão Dr. Joaquim Pizzarro, lente de botânica da Escola de Me-
receber e pela estrada de ferro iniciada na província cujos dicina, e por seu turno a Companhia de Navegação
benefícios serão incalculáveis e também saúda aos operá- Brasileira designara o seu gerente, comendador J .
rios que trabalharam para levar a efeito tão importante Gonçalves, para acompanhar o Imperador, na viagem.
melhoramento. Viva a província do Paraná". "À hora do almoço a bordo, no dia da saída do Rio,
"Antonina, às 10 horas da manhã: deceram SS. M M . e toda a comitiva para o salão das
"Do presidente do Paraná aos Exmos. Srs. ministros refeições, ficando na tolda o comandante Alvim, e nós
da justiça e de estrangeiros, e ao Sr. Senador Correia: três jornalistas, que iríamos comer na câmara do coman-
"Em nome da Província do Paraná aceito as congra- dante. Quando para aí nos encaminhávamos veiu ao
turações que me dirigem os Exmos. Srs. ministros e o Sr. nosso encontro o marquês de Tamandaré dizendo: "Sua
Senador Correia, pela honrosa visita que vai ter esta pro- Magestade o Imperador chama para sua mesa o Sr.
víncia de SS. M M . II., bem como ao auspicioso futuro comandante Alvim, o Sr. José Carlos, o Sr. Tinoco e o Sr.
que se lhe entolha com a inauguração da importante via Matoso."
férrea de Paranaguá a Curitiba, da qual muito tem a espe- "Ao chegarmos ao salão de jantar estavam todos
rar esra florescente e rica província. Dantas Filho." ainda de pé esperando-nos e vendo o monarca que nos

GAZETA DO POVO
D A V I C A R N E I R O

encaminhávamos para a ponta oposta da mesa, chamou tava ela um ponto quase invisível no horizonte; só
o comandante Alvim: "Seu Alvim venha sentar-se aqui, à quem estivesse muito habituado a ver ao longe, no
cabeceira; o senhor é o dono da casa, venha portanto oceano, poderia bem distinguí-la."
para o seu lugar". Colocado José Alvim à cabeceira, ficou "Coisas de um cômico irrisistível deram-se entre o
a imperatriz à sua esquerda e o Imperador à direita; ao pessoal de serviço da corte imperial, nessa viagem ao
todo éramos 14 pessoas à mesa. Paraná.
"As honras da conversação cabiam quase que exclu- "A bordo mesmo do R I O GRANDE, observei e
sivamente ao soberano, ainda que também falava muito como eu diversos da comitiva, uma discussão das mais
o desembargador Andrade Pinto. acaloradas entre o camarista e o médico dos monarcas.
"Em certo momento tendo a palestra imperial Estávamos todos na tolda, em pequenos grupos, e com o
enveredado pela magistratura o Imperador fêz alusão Imperador estavam a Imperatriz, a sua dama, o veador
a boa remuneração pecuniária dos magistrados em Andrade Pinto, o médico barão de Maceió e o Dr.
certos países. O senhor Andrade Pinto teve a infelici- Joaquim Pizzarro, estando ausente o camarista marquês
dade de dizer que a magistratura no Brasil era bem de Tamandaré, que momentros antes havia descido à
paga. câmara do navio.
"Nego, Sr. Andrade Pinto, retorquiu D . Pedro II "D. Pedro procurou-o com o olhar por toda a
com certa energia, e emprazo-o voltarmos ao assunto parte.
em meu regresso. — Quer alguma coisa, meu Senhor? perguntou o
"Quando fôr a S. Cristóvão hei de provar-lhe o barão de Maceió.
quanto é errada a sua proposição." — Tenho sede.
"Imediatamente redigi um telegrama ao C R U - — Quer una limonada?
Z E I R O narrando o caso e o transmiti logo à chegada — Quero água.
em Paranaguá. "O barão correu ao salão e êle próprio trouxe-a
"Ao ler o estupendo conceito de um magistrado, num copo com salva de prata. Quando o Imperador aca-
toda a ilustre classe, naturalmente, voltou-se contra o bava de beber e descansava o copo na salva, que o médi-
colega. (*) co Maceió lhe apresenta-
"Quando recebemos, em va, aparecia o marquês de
viagem pelo interior da pro-
"Quem lhe deu a confiança de Tamandaré.
víncia, os jornais da corte, servir água a Sua Magestade? "Ao afastar-se o mé-
ficou o Sr. Andrade Pinto alta- Não sabe que o camarista sou eu? dico, caminho do salão
mente contrariado e sem para depositar a salva e o
poder esconder o seu mau humor, veio a mim estra- copo, seguiu-o o camarista Tamandaré, o que eu e outros
nhando, dizia, que eu pelo simples desejo de fazer igualmente fizemos, certos de que algo curioso ia passar-
bonito (sic) houvesse chamado contra si a odiosidade se, tais eram a fisionomia e os gestos do marquês, remun-
de uma classe inteira, fazendo público uma opinião gando e seguindo o seu colega do paço.
sua, externada na mesa imperial. "A primeira pergunta do velho almirante Taman-
"Não foi essa a minha intenção, respondi. Não daré ao barão de Maceió, quando distanciados do Im-
telegrafei para fazer conhecida a sua opinião, porque perador, foi a seguinte:
estou certo não interessava ela ao jornal, que tenho a "Quem lhe deu a confiança de servir água a Sua
honra de representar. Fí-lo sim, para fazer conhecida Magestade? Não sabe que o camarista sou eu?
da magistratura e de todo o país a opinião do chefe do "A isto seguiu-se uma série de injúrias recíprocas,
Estado, o que é do mais alto valor para o interesse entre as quais o barão de Maceió chamou de reles grume- Conseíheiro Manoel Francisco

geral da nação." te ao nobre almirante marquês de Tamandaré, que por Correia (Correia, o moço)

"A primeira vez que a mim falou (o Imperador) seu turno chamou Maceió, lente da Escola de Medicina, ministro do Exterior e da

foi à popa do R I O G R A N D E quando eu admirava a de reles alveitar! Agricultura do Império. Figura de

péssima marcha da GUANABARA, que distanciava "Incrível! Um horror! Dois algarvios na praia do representação na corte,

de nós muitas milhas. Nessa ocasião de fato represen- peixe não diriam mais do que esses dois brasileiros dis- filho de Paranaguá.

'*) Naquele tempo um desembargador tinha os vencimentos de 6:000$000 por ano; Um marechal de exército comandando exército percebia um total de 18:116$000.

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D.PEDRO II NO PARANÁ 1880

tintos, homens superiores, tudo por tolos ciúmes nos que veio enjoado como um folhetim da Sra. Maria Amália."
seus excessos de sentimentos áulicos. Estas e outras mui-
tas manifestações de incabível humildade perante o
imperador, humildade, que agora na República é tam- Os convites que, para a inauguração dos trabalhos
bém aplicada em vasta escala, sob a denominação de da Estrada de Ferro, com a presença de SS. M M . II., foram
engrossamento, foram certamente as razões pelas quais distribuídos a 17 de maio, deixaram toda a população da
D. Pedro II, tão pouca importância dava geralmente aos Província de sobreaviso, para os festejos, cuja imponência
seus semanários." devia ser única. Sem dúvida as vestes de gala se prepararam;
A "Revista Ilustrada" foi de uma mordacidade estu- as casacas foram escovadas; os vestidos se fizeram com
penda. Os seus chistes, curtos embora, sempre foram esmero único, luxuosíssimos; as cartolas, os borzeguins, as
incisivos. Sob o título de "correspondência por telegra- fardas... Tudo o que pouco se usa, luziu de novo.
ma", diz: Heis o teor do convite, de que existe um único exem-
"Antes de tudo, S. M. a imperatriz eu e o plar no Museu Cel. Davi Carneiro:
Imperador fizemos excelente viagem. O "Rio Grande" "limo. Exmo. Snr.
corria bem; mas a "Guanabara", lá no horizonte, de vez "A Compagnie Générale de Chemins de Fer
em quando, dizia-nos adeus! nós respondíamos adeus! — Brésiliens tem a honra de convidar a V. Exa. e sua Exma.
uma pândega - o imperador ficava muitro sério; mas a família, para assistir a inauguração dos trabalhos da Estrada
imperatriz achava muita graça e ria-se muito. Uma boa de Ferro de Paranaguá a Curitiba que terá lugar nesta cida-
senhora a Imperatriz. Se eu fosse imperador, havia de ser de, na Augusta Presença de SS. M M . Imperiais, e ao
bom assim. mesmo tempo assistir ao copo d'água que a companhia
"Comemos muito bem a bordo, S. M. a imperatriz, terá a honra de oferecer.
eu, o imperador e todos os outros, excepto o Sr. Buarque Paranaguá, 17 de maio de 1880".

Do nosso correspondente especial: Depois de


uma feliz viagem a bordo do Rio Grande escolta-
do pela corveta Guanabara - Chegamos...

10

GAZEIA DO POVO
D A V I C A R N E I R O

PARANAGUÁ

íi
D.PEDRO II N O PARANÁ 1880

III

CHEGADA. - PROGRAMA GERAL. - FESTEJOS INICIAIS.


- PERTURBAÇÕES DE PROGRAMA.
- PESSOAS ILUSTRES DE PARANAGUÁ

D
isse a "Gazeta de Notícias", noticiando a che- nima clemência, piedosa caridade, incessante civismo e
gada de SS. M M . II., pela pena do seu corres- solicitude, tem-no constituído um monarca respeitado
pondente especial: "Chegamos hoje, 18 de entre as nações civilizadas e com a mais severa justiça,
maio, às 6 horas da manhã ao porto de Paranaguá, o primeiro cidadão do império, cujos destinos lhe
tendo feito viagem magnífica. As 6 horas desembarca- estão felizmente confiados.
mos. A cidade recebeu os augustos visitantes entre "A Província do Paraná, cobre-se, pois, de gala.
entusiásticas festas. A seu encontro vieram dois vapo- "Ao lado de S. M . o Imperador e completando a
res à entrada do porto, a bordo dos quais achavam-se o honra dessa visita aí vem S. M. a Imperatriz, recomen-
presidente da Província e várias deputações, que acom- dável por tantos títulos à nossa veneração.
panharam SS. M M . no desembarque a que concorreu "Recolherá esta província a data memorável desta
grande número de cidadãos. A corveta Guanabara visita entre os seus melhores dias, e sente-se orgulhosa
ficou fora da barra, devendo entrar amanhã; fêz agora que um novo e mais risonho horizonte vai abrir-
excelente viagem, demons- se ao seu brilhante futuro, porque
trando ter marcha superior à ela sabe que esperanças lhe inspira
do Rio Grande. Por diversas "A viagem foi boa, esta visita; e por tanto se ensober-
vezes passou por este e che- apesar de ter bece ao anunciar que se acham no
gou à fala, saudando os impe- seu seio os Augustos Imperantes da
havido aguaceiro
rantes. SS. M M . II. demorar- Nação Brasileira.
e vento, desde
se-ão dois dias nesta cidade "Saudamos reverentes a SS.
e estão hospedadas em casa
a madrugada até à tarde."
M M . II."
do Sr. Barão de Nácar." (4) O mesmo jornal, número de
O "Jornal do Comércio" foi ainda mais lacônico 24 de maio, dá a seguinte notícia da chegada:
do que a "Gazeta". Dá entretanto, uma informação "Realizou-se a 18 do corrente a chegada de SS.
curiosa: "A viagem foi boa, apesar de ter havido agua- M M . II. a esta província, efetuando seu desembarque
ceiro e vento, desde a madrugada até à tarde." em Paranaguá às 6 1/2 horas da tarde.
O "19 de Dezembro", de 19 de maio de 1880, faz "Apenas o telégrafo marítimo (5) anunciou que
uma saudação a SS. M M . : os transportes imperiais transpunham a barra, parti-
"Ontem transmitiu-nos o telégrafo a faustosa ram da cidade, onde atroaram logo milhares de fogue-
notícia da chegada de SS. M M . II. ao porto de tes, os dois vapores da companhia Progressista Iguaçu
Paranaguá. e Marumbí, embandeirados, indo a bordo do Iguaçu,
"Parabéns à Província do Paraná! elegantemente preparado para receber os Augustos
"Constituída há 2 7 anos entre suas irmãs, como hóspedes, S. Ex. o Sr. Dr. presidente da Província,
uma das 2 0 estrelas da constelação Brasileira, já era seus secretários e ajudante de ordens, o Exmo. barão
tempo de merecer o Paraná a honrosa visita do seu de Nácar, o presidente da Câmara Municipal, capitão
estremecido soberano, cujos sentimentos de acrisolado do porto, inspetor de saúde, inspetor da alfândega,
patriotismo, tantas vezes provado por atos de magnâ- autoridades, funcionários e cidadãos mais grados, com

(4) (5) Vide anexos.

14

GAZETA DO POVO
D A V I C A R N E I R O

3 das mais disti itas senhoras daquela cidade; e no fazer idéia de como teriam sido tratadas SS. M M . II.
Marumbí, também coberto de flâmulas, uma banda de Mas voltemos aos festejos de chegada.
música e todos os cidadãos que se apresentaram em Num programa do dia 15 de maio, transmitido
número superior a tresentos, representando as diferen- ao Rio de Janeiro, pelo telégrafo, comunicavam ao
tes classes da população, e se encaminharam para o "Jornal do Comércio": — "Logo que o telégrafo anun-
canal da barra do sul, onde ao passar o vapor em que ciar o aparecimento no horizonte, do paquete em que
vinham SS. M M . II. foram de bordo do Iguaçu levan- vêm SS. M M . II., a fortaleza da barra dará 21 tiros e
tados muitos vivas, rompendo o hino nacional de partirão logo os dois vapores Iguaçu e Marumbí, e
bordo do Marumbí, assim como inúmeros foguetes e todos os escaleres da capitania do porto, da companhia
vivas, e navegando então nas águas do transporte apro- de aprendizes marinheiros, da alfândega, e da polícia e
ximou-se este da cidade, que já então iluminada, ofe- muitas outras embarcações particulares, todas emban-
recia o mais brilhante aspecto. deiradas e vistosamente enfeitadas, e farão alas por
"Para o desembarque passaram SS. M M . e sua entre as quais passará o referido paquete no meio de
comitiva para bordo do Iguaçu, que os transportou ao saudações, vivas, salvas e foguetes.
cais. "No Iguaçu, comandado pelo capitão de mar e
"Sabemos que apesar do mau tempo a população guerra Fonseca, irá o presidente da província e sua
daquela cidade estava aglomerada sobre os cais, nas comitiva, os membros da câmara municipal, os repre-
janelas e ruas do trajeto, estando toda cidade coberta sentantes da imprensa, as comissões das diversas asso-
de galas, enfeitada de arcos triunfais, bandeiras, flâmu- ciações literárias e as de saudações e festejos.
las, legendas e completamente iluminada. "O Iguaçu e Marumbí, como testas das colunas e
"A câmara municipal reunida no cais do desem- sendo de enchente a maré na hora de entrada do
barque apresentou a SS. M M . II. os cumprimentos de paquete, ficarão acima da ponte da cruz da ilha
boa vinda, oferecendo-lhes as chaves da cidade. Cotinga em frente à qual tem de seguir nas águas do
"Uma coorte de meni- paquete o Marumbí.
nas, todas de branco e cingi- "Fundeado o paquete no
das de uma faxa auriverde "Logo que o telégrafo ancoradouro da ilha da Cotin-
com as letras de cada um anunciar o aparecimento ga, atracará a estibordo o Igua-
dos municípios da provín- no horizonte, do paquete çu, que tem de transportar SS.
cia, espargiam flores sobre em que vêm SS. MM. II., M M . II. e sua comitiva até o
os nossos Augustos Im- cais de desembarque.
a fortaleza da barra dará 21 tiros
perantes no momento de "Este cais, preparado pe-
e partirão logo os dois vapores
pisarem terras da províncias. las comissões de festejos, está
Iguaçu e Marumbí situado em excelente local, ca-
"Acompanhados de
grande multidão de povo, prichosamente adornado, ten-
que entoava entusiásticos vivas, dirigiram-se SS. M M . do no topo interno um elegante e magestoso arco rica-
II. para o palacete do Exmo. Sr. barão de Nácar, onde mente enfeitado, sobre o qual flutuam as bandeiras
foram dignamente hospedados." brasileiras, francesas e italianas. O efeito deste arco,
A respeito da hospedagem por parte do Visconde como peça de ornamentação, é realmente o mais agra-
de Nácar, quase nenhum pormenor nos foi possível dável que se pode desejar.
colher, salvo as referências ao conforto oferecido aos "Logo acima deste arco, na extrema da pequena
imperadores e à sua comitiva no seu magestoso palácio. ladeira da rua Independência, ergue-se outro não
Entretanto, Ernesto Matoso referindo-se ao que menos elegante e vistoso, em cujas fachadas destacam-
particularmente lhe dizia respeito, informa: "Nos nos- se os seguintes dísticos:
sos aposentos, além de todo o necessário de toilete, "Na do Norte, Viva e Conselheiro Correia; na de
tínhamos em profusão papel almaço, papel para car- leste, Vivam os iniciadores da Estrada de Ferro do
tas, para telegramas, variados envelopes, caixas de Paraná; na do sul, vivam SS. M M . II.; na de oeste Viva
penas, lápis, tudo enfim de que pudesse precisar um o Conselheiro Sinimbu.
jornalista." "Concluídas as saudações no ato de desembarque,
Si os jornalistas assim eram recebidos, podemos seguirão SS. M M . II. acompanhadas de sua comitiva e

15
D.PEDRO II NO PARANÁ 1880

dos mencionados funcionários públicos e comissões mais de 2 . 5 0 0 " (Extremo oposto, sem di'vida...).
diversas, e do povo, pela rua do cais, e subindo a "Em vista destes displantes oficiais, á não admi-
pequena ladeira ao sul da praça do mercado, atravessa- ramos que alguém dissesse a S. M . o Imperador, segun-
rão a rua de Paisandú, e, passando pela rua Direita che- do nos informam, que esta cidade continha apenas 500
garão ao largo do Conselheiro Sinimbu, onde entrarão casas, quando a estatística de 1 8 7 1 , já lhe dava 7 6 3 !
na matriz sob a invocação do Rosário, assistindo então "Em conhecimentos geográficos, ou isto... ou
ao Te-Deum em ação de graças pela próspera viagem e perguntar-se a um alemão se Berlim tem tanta popula-
;
auspiciosa chegada. ' ção como Paranaguá..."
"Em todas as ruas há coretos. Inúmeras são as As senas de "gaucherie", as ridicularias curiosas
demonstrações de entusiasmo, com que a Província do não teriam faltado certamente. A mordacidade da
Paraná se ufana de receber os augustos viajantes. Revista Ilustrada não escapariam por sem dúvida, tais
"O palacete do barão de Nácar, situado na melhor senas grotescas, mas o correspondente só estava presen-
localidade, luxuosamente mobiliado e provido de tudo te através dos colegas dos outros jornais. Apesar disso,
quanto é mister, servirá de residência a SS. M M . II. entretanto, veio este comentário ferino:
"Na noite de 18 a câmara municipal oferecerá um "Mas foi sobretudo ao saltarmos em terra, que
grande baile aos Augustos viajantes. nos regalamos de festas e ovações.
"No lugar em que há de ser construído o edifício "Os indígenas, que já estavam à nossa espera, vie-
da estação da estrada de ferro está agora levantado um ram logo receber-nos cheios do mais justificado júbilo
grande palanque, bem ornado e embandeirado, e pre- e de bandas poucos justificáveis por sua desafinação. As
para-se um profuso lunch ou almoço para mais de 100 paranaenses, alegres e viçosas, agitavam seus lenços; e
talheres. os paranaenses, todos em grande gala, davam sinceros
"O almoço foi contratado por 1 0 : 0 0 0 $ 0 0 0 , à casa e correspondidos vivas. Não cabiam em si de conten-
Carceller, da corte. tes... nem nas casacas de tão
"Reina grande ale- apertadas. Eles ficaram incha-
" S S . MM. chegaram
gria, e cada qual que está dos com a minha visita e a de
sôfrego pela vinda de S. às 4 1/4 da tarde, embarcaram S S . M M . Beijaram a mão à
Magestade." no ancoradouro da Cotinga e Sra. imperatriz com grande
De fato as demons- desembarcaram nesta reverência e muitas mesuras.
trações de regozijo pela cidade às 6 1/6. Muito regozijo Achei bonito isso... O impe-
chegada de SS. M M . de- no desembarque. rador não deu a mão a beijar.
viam ter sido enormes. "Nem eu. Não achas que
Havia de 900 a 1000 pessoas.
Um telegrama do "19 de fiz bem, imitando o meu
0 temporal felizmente cessou."
Dezembro", faz as se- soberano?
guintes referências: — Certamente! a
"SS. M M . chegaram às 4 1/4 da tarde, embarca- modéstia é uma virtude."
ram no ancoradouro da Cotinga e desembarcaram
nesta cidade às 6 1/6. Muito regozijo no desembarque.
Havia de 9 0 0 a 1000 pessoas. O temporal felizmente
cessou." Com relação ao programa, ao itinerário completo
Houve desgosto por causa da pobreza dessas ava- da viagem, encontramos em Ernesto Matoso o seguin-
liações e o "Eco do Paraná", efêmero periódico da cida- te comentário:
de litorânia fazendo-se "éco" desse desgosto, publicou "O Sr. de Lahante, representante da então
o seguinte comentário curioso: Compagnie Imperiale des Chemins de fer du Brésil,
"No telegrama dirigido pelo Sr. delegado desta quando na Corte, havia procurado o ministro Buarque
cidade, ao Sr. chefe de polícia, houve completo erro de de Macedo e o Imperador para saber o itinerário de SS.
apreciação, quanto ao concurso de povo que assistiu ao M M . e conhecer exatamente o dia designado para a
desembarque de SS. M M . inauguração dos trabalhos da ferrovia.
"O Sr. delegado de polícia orçou em cerca de 9 0 0 "D. Pedro II havia-lhe dito de entender-se com o
pessoas o povo ali reunido, quando se pode afiançar, ministro das obras públicas, que lh'o fixaria. Por sua
mesmo por um cálculo baixo, que subia esse número a vez o conselheiro Buarque, sem consultar o monarca

16
GAZETA DO POVO
D A V I C A R N E I R O

sobre o itinerá; ,o, deixou essa organização aos cuida- province, disse-lhe D . Pedro.
dos da presidência da província, como era muito natu- "— Je vous prie, Sire, insistiu o Sr. de Lahante, la
ral. Em Paranaguá pouco antes de jantar, foi apresen- Compagnie m'a chargé d'offrir à Votre Majesté le
tado a S. M. o itinerário preparado pelo presidente. déjeuner qui est tout préparé pour recevoir l'honneur
"Pedro II que não havia sido consultado previa- de votre présence demain.
mente, entendeu patentear quanto mal andou o presi- "— A mon retour, repetiu o monarca.
dente da província assim procedendo e, sem tirte nem "Pardonnez-moi d'insister, Sire, começou repli-
guarte, alterou todo o programa da excursão, come- cando o representante da Companhia já quase desnor-
çando por fazer a inauguração dos trabalhos da estrada teado, quando D . Pedro atalhando-o retorquiu com
de ferro na sua volta e não no dia seguinte como esta- visível enfado:
va marcada, e bem assim em vez de sair muito cedo, no " — Mais., je ne veux pas., monsieur.
dia 2 0 , diretamente para Curitiba, iria antes visitar a "Após tão peremptória recusa o Sr. de Lahante
cidade de Antonina e dormiria em caminho para che- fêz respeitosa reverência e retirou-se repetindo, em
gar no dia imediato à capital da província. paródia, o dito de Luís X I : "Que la volonté de... ce
" D . Pedro sempre solícito em mostrar que não grande seigneur soit faite".
cedia a mais insignificante parcela de suas prerogativas, "E assim foi feito. O suntuoso banquete prepara-
ou talvez com o injustificado receio de que aceitando do para o dia seguinte foi saboreado pelos trabalhado-
um itinerário organizado sem o seu prévio consenti- res da estrada.
mento, fizessem dúvidas no espírito público sobre a "O descontentamento foi geral; o único conten-
sua soberania ou por outro qualquer motivo só dele te era o Imperador; os seus fins estavam satisfeitos.
conhecido, alterou profundamente tudo quanto "Por um capricho amargamente pueril, só para
haviam feito o Dr. Manoel Dantes Filho e a comissão fazer sentir ao ministro e ao presidente da província
de festejos, a despeito de que se não sujeitava a fazer
todas as razões e dos o que estes queriam, só
extraordinários embaraços "E assim foi feito. para mostrar-lhes que se
em que os colocava, como 0 suntuoso banquete preparado não deviam esquecer de que
por exemplo, determinar era êle o soberano, o
para o dia seguinte foi saboreado
que se dormisse na Serra da Imperador não vacilou em
pelos trabalhadores da estrada.
Graciosa, no ponto deno- organizar um novo progra-
minado Rio do Meio, onde ma de viagem cheio de difi-
só existia um rancho de tropas e uma casa de negócio, culdades de execução".
uma venda pertencente a uma velha, viúva, e uma Depois desse incidente, ficou estabelecido defi-
outra casa menos confortável ainda. nitivamente o itinerário publicado pela "Gazeta de
"O Sr. de Lahante, no dia seguinte, como havia Notícias", da forma que segue:
sido marcada pelo presidente, visto estar encomendado "SS. M M . II. passarão todo o dia 19 na cidade de
e pronto pela casa "Leão de Ouro" do Rio de Janeiro, Paranaguá, devendo assistir a um Te-Deum solene, e
um lauto almoço de 2 0 0 talheres oferecido pela com- em seguida irão visitar os principais estabelecimentos
panhia francesa a SS.MM., banquete esse ajustado por da cidade. À noite assistirão a um grande baile que
cerca de 30 contos de réis, sem contar o que estava pre- lhes é oferecido pelas pessoas gradas do lugar, a inau-
parado para todo o pessoal menor da estrada de ferro, guração da estrada de ferro ficou transferida para
operários, trabalhadores, etc. quando SS. M M . regressarem do interior da provín-
"Sendo justo o pedido do Sr. de Lahante, julgáva- cia.
mos todos que o Imperador o atenderia. "A cidade está toda iluminada e reina grande ani-
"Chamado para o salão imperial esse cavalheiro mação nas ruas.
pediu humildemente à S. M . a graça de proceder à "Sua Magestade marcou o seguinte programa
inauguração no dia seguinte, conforme lhe havia sido para sua viagem ao interior da província:
marcado. "No dia 2 0 partirá às 7 horas da manhã para a
" — Ça sera pour mon retour de l'intérieur de la cidade de Antonina, onde almoçará em casa do depu-

(6) Vide anexos.

17

H S B C ^
D.PEDRO II NO PARANÁ 1 8 8 0

tado Alves de Araújo, seguindo depois de pequena ou na ponte dos Papagaios, e pern< itará em
demora para Curitiba, devendo pernoitar no Rio do Palmeira. A 2 6 segue para Ponta Grossa; a 27 visita-
Meio. rá os núcleos dos colonos russos-alemães; seguirá via-
"No dia 21 continuará sua viagem, partindo às 8 gem para Castro a 2 8 , e dali regressará para Ponta
horas da manhã; visitará em caminho a Cia. Florestal Grossa a 2 9 . a 30 partirá para Palmeira e a 31 irá à
Paranaense, e espera chegar em Curitiba às 3 horas da Lapa. No dia 1 de junho voltará para Curitiba, onde
tarde. assistirá à cerimônia do assentamento da pedra fun-
?
"No dia 2 2 visitará o$ principais estabelecimen- damental para a penitenciária que ali se vai construir;
tos da capital, o museu, a chácara Capanema e assisti- a 3 partirá para o litoral; a 4 examinará o porto de
rá a inauguração de um novo hospital. Antonina, partindo em seguida para Morretes; visita-
"A 2 3 irá examinar as colônias dos arredores de rá as colônias América, Sesmaria, Engenho Central,
Curitiba; a 2 4 partirá para os Campos Gerais, per- devendo regressar no dia 5 para a cidade de
noitando em Campo Largo; seguirá viagem a 2 5 , Paranaguá, onde assistirá à inauguração dos trabalhos
partindo às 7 horas da manhã; almoçará em S. Luiz da estrada de ferro".

S. M. chegou a Paranaguá onde foi


recebido com vivas, foguetes, música,
flores, estusiasmo, delírio, etc...

.ZETA DO POVO
D A V I C A R N E I R O

If

OS DIAS DE PARANAGUÁ. - O BANQUETE NO PALÁCIO DO


BARÃO DE NÁCAR. - O BAILE E AS VISITAS DE SS. MM. II.
- DESCRIÇÃO FINAL DA ESTADIA EM PARANAGUÁ

O
dia da chegada de SS. M M . II. foi sem dúvi- — Tenho essa honra, respondeu o patriota par-
da dos mais cheios. A primeira idéia que se nanguára, e V. M . há de convir em que não me pode-
havia tido, fora de se lhe oferecer um baile ria jamais esquecer dela, como bom brasileiro que me
nesse mesmo dia de chegada, mas o Imperador tam- prezo de ser.
bém perturbou este programa; deixando as danças — Pois saiba, voltou o imperador, que me cau-
para o dia seguinte. sou muitas preocupações e desassossegos.
Quanto à inauguração dos trabalhos da Estrada — Faço idéia!... retrucou Manoel Ricardo, mas
de Ferro, objetivo principal da viagem, essa ficou para V. M . por certo faria o que fizemos si estivesse por
o dia 5 de junho, e o "Jornal do Comércio" noticiou aqui.
assim, lacônicamente, essa perturbação, entre vários Dizem que D . Pedro não contestou esta afirma-
assuntos como que para mostrar desprezo pelos con- tiva, e gostou da firmeza de Manoel Ricardo
tos de réis perdidos no banquete da companhia cons- Carneiro, um dos indicados especiais para a comenda
trutora: da Rosa, depois da viagem.
"A inauguração dos trabalhos... foi adiada para
o dia 5 de junho próximo.
A corveta Guanabara não
entrou a barra. Só entrará "0 Paraná pode enfim orgulhar-se Não será avançar
à noite". de ver realizada a preciosa promessa demasiado si afirmarmos
Enfim... foi um da inestimável visita dos nossos que SS. M M . II se deita-
almoço de menos!... augustos Soberanos. ram cedo, nesse dia. Aliás
O jantar no palácio pode-se deduzir a hora de
do Barão de Nácar foi um deitar pelas atividades
sucesso. Matoso a êle se refere incidentalmente: matinais do dia seguinte. O "Jornal do Comércio"
"Após o jantar em casa do Barão de Nácar, jantar esse noticia (19 de maio):
em que éramos cento e poucas pessoas à mesa, por "SS. M M . acompanhadas de seus semanários,
ocasião do champagne, o Barão, brindando os seus do Presidente da Província, dos membros da Câmara
augustos hóspedes fêz notar ao Imperador que, das Municipal e de outras pessoas gradas, visitaram hoje
cento e tantas pessoas presentes a esse banquete, exce- a Matriz (onde fizeram oração), o paço da Câmara, a
ção feita de SS. M M . e sua comitiva, as demais eram alfândega (colégio dos jesuítas?), a biblioteca, o hos-
seus filhos, noras, genros e netos." pital de misericórdia, a companhia de aprendizes
Foi durante esse jantar que D . Pedro conversou marinheiros, a cadeia (que ficou célebre em 1 8 9 4 —
com Manoel Ricardo Carneiro, genro do barão e pre- demolida anos depois), os chafarizes da cidade, a
sidente da Câmara Municipal de Paranaguá, a respei- repartição do telégrafo, e o local da futura estação da
to do caso do cruzador Cormorant. (6) estrada de ferro."
— Então o Senhor foi um dos autores daquela A descrição do jornal local (o "19 de
rapaziada? (perguntou o Imperador). Dezembro"), é mais cheia de pormenores. Aliás o

JriSBC dü^
D.PEDRO I I NO PARANÁ 1 8 8 0

número que notícia traz nova saudação aos imperan- dãos distintos e cerca de 100 senhoras das mais dis-
tes: tintas famílias.
i^ãTãmTprjdFTnfimT orgulhar-se de ver reali- "Esteve digna da corporação que obsequiava essa
zada a preciosa promessa da inestimável visita dos manifestação de regozijo, que deu perfeitamente a co-
nossos augustos Soberanos. nhecer o elevado grau de polidez e educação do anti-
"Ainda bem que tanto quanto esteve nas suas go e nobre município de Paranaguá".
forças, não houve nem haverá demonstração de júbi- Si o "Jornal do Comércio" foi demasiadamente
lo e entusiasmo que lhes não comprove o entranhado lacônico, o 19 também não primou pela prolixidade.
amor e as lisongeiras esperanças que esta nova provín- O "Eco do Paraná", porém, enche a lacuna, relatando
cia sente por tão fausto acontecimento. que houve troca de discursos do seguinte teor:
"Melhor que nós fale o povo, aí no tripúdio "SENHOR.
vivo, incessante, público, em que por mil maneiras "A Câmara Municipal desta cidade por si e por
testifica o júbilo que é nosso e dele, de todos sem seus, munícipes tem a honra de saudar a V. M . I. e a
exceção alguma. Sua Digníssima Esposa, nossa Excelsa Imperatriz.
"Mais uma vez, acompanhando os votos da "Ufamos e cheios de verdadeiro júbilo pela
população paranaense, congratulamo-nos com ela, muita subida honra que W . M M . II. tão benigna-
saudando a SS. M M . II. mente nos dispensavam vindo a esta cidade, pedimos
"Vivam SS. M M . Imperiais. a W . M M . II. que se dignem aceitar as nossas cor-
"Viva a Nação Brasileira. diais homenagens e a segurança de nosso inabalável
"Viva a Província do Paraná". respeito, amor, e fidelidade às augustas pessoas de W .
Como noticiário diz: M M . II. de cujas preciosas existências tanto há mister
"No dia 19, pelas 7 horas da manhã, visitou S. a Nação Brasileira."
M. o Imperador alguns estabelecimentos, viu a matriz Essa saudação foi lida pelo Sr. Manoel Ricardo
onde fêz oração, a praça dos Santos, e continha a assi-
do mercado, fonte de S. natura dos seguintes camaris-
Benedito, estação da "Esteve digna da corporação que tas: Joaquim Mariano
estrada de ferro, fonte obsequiava essa manifestação de regozijo, Ferreira, Dr. Leocadio J .
nova, estação telegráfica que deu perfeitamente a conhecer o elevado Correia, Presciliano da S.
e câmara municipal. Correia, Antônio L. Bitten-
grau de polidez e educação do antigo
"Às 9 horas almo- court, Manoel B . Pereira,
e nobre município de Paranaguá".
çou e em seguida saiu a João C. de Sousa, Francisco
visitar escolas, compa- J . de Oliveira e José Rodri-
nhia de menores, santa casa, alfândega. gues Branco. (7)
"Por toda a parte, as casas enfeitadas de sanefas, Continua o "Eco do Paraná":
as ruas de arcos festivais, senhoras e homens, vivas e "À esta felicitação dignou-se S. M . o Imperador
foguetes. responder, por intermédio do Sr. ministro da agricul-
"Às 5 horas recolheu-se S. M . para jantar, e às 7 tura, pela forma seguinte:
horas saiu com S. M . a Imperatriz, para assistir ao Te- limos. Snrs.
Deum que em ação de graças por sua feliz chegada "Por determinação de S. M . o Imperador, agra-
mandou celebrar a câmara municipal. deço a essa câmara as felicitações que dirigiu manifes-
Manoel Ricardo Carneiro, "Às 9 horas, apesar do medonho temporal de tando o júbilo de que se acha possuída com seus
veterano do embate do trovões e chuvas, que desde as 7 havia começado, munícipes, pela presença do mesmo Augusto Senhor
Cormorant, em Paranaguá, impedindo a concurrência do povo às festividades, nesta província.
presidente da Câmara dignou-se S. M . o Imperador assistir ao esplêndido "Prevaleço-me da oportunidade para significar a
Municipal da mesma cidade, baile que lhe ofereceu a câmara municipal, e onde se W . SS. os seus sentidos de consideração.
encarregado do discurso de demorou até meia noite. Deus Guarde a W . S S .
recepção. Foi comendador da "Com S. M . estiveram no baile SS. Exs. o Sr. "limos. Snrs, presidente e mais membros da
Rosa, depois da viagem impe- ministro da agricultura, presidente da província, vis- câmara municipal de Paranaguá.
rial de 1880. Retrato a óleo da conde de Tamandaré, barão de Maceió, e todos os Curitiba, 23 de maio de 1 8 8 0 .
autoria de Andersen. ilustres hóspedes de SS. M M . bem como muitos cida- "Manoel Buarque de Macedo."

20
GAZETA DO POVO
D A V I C A R N E I R O

À câmara, sem dúvida teria chamado a atenção figurarem ali, e... para inglês ver... segundo a frase
do imperador, porque além do retrato a óleo do modernamente adotada."
imperante, possuía o do Conselheiro Sinimbu, inau- Também a "Revista Ilustrada", calcando suas
gurado a 16 de maio, desse mesmo ano, retrato esse informações nas notícias da "Gazeta", nota o imperial
de grandes proporções. presente:
D . Pedro ao que contam, não deixava que os dis- "O imperador deu quinhentos mil réis à santa
cursos longos fossem pronunciados em sua presença, casa daqui e distribuiu setecentos em outras esmolas.
e o tamanho da saudação de Manoel Ricardo agradou Ainda neste outro ponto, afastei-me do seu progra-
mais uma vez a S. M., que logo teve notícia de um ma: mas creio não ter feito grande mal, hein?
terceiro motivo de agrado e simpatia pelo futuro — Oh!... Ninharias.
comendador. Foi o do edital seguinte: "Tem chovido muito, o que não é nada agradá-
"A Câmara Municipal desta Cidade de vel, pois torna o caminho lamacento e o mais, agua-
Paranaguá & . . . Faz saber aos habitantes do seu do, como os romances de Sílvio Dinarte.
Município, que em comemoração da visita de SS. "O imperador parte para Antonina; iremos jun-
MM. I I . a esta cidade, se denominem - Rua tos, até um de nós cançar".
Imperatriz - a antiga rua direita, e — Rua do A noite de 19 de maio foi cheia. Paranaguá ofe-
Imperador - a rua de Paisandú; ficando a rua Rosa receu um balei a SS. M M . I I .
denominada — Rua de Paisandú - . Do que para cons- A "Gazeta" diz: "Esteve brilhante o baile ontem
tar mandou lavrar o presente que será afixado e publi- oferecido aos imperantes e foi extraordinariamente
cado pelas imprensa. Paço da Câmara Municipal de concorrido. As danças prolongaram-se até às 3 horas
Paranaguá em sessão extraordinária..." da madrugada. S. M . a Imperatriz não pôde compa-
SS. M M . II. também andaram pela Santa Casa a . recer por achar-se ligeiramente indisposta."
fazer esmolas, assim como A "Revista Ilustrada"
às 6 horas da tarde ouvi- dá uma caricatura do baile
ram Te Deum cantado, na "Ainda assim, a concorrência oferecido pelas pessoas
matriz. foi extraordinária dentro e fora "gradas e graúdas do
a notícia do Eco a do edifíficio - fora então!... 0 imperador lugar", mas além da crítica
respeito das esmolas é dançou especialmente com as senhoras em desenho, vem com esta
digna de ser meditada casadas, neste ponto, eu divergi dele, piada:
pelos entrelinhas. "Ofereceram-nos
dando previdência às solteiras, aliás bem
S. M . o Imperador, ontem um baile, que S S .
interessantes - que bonitas boquinhas
mandou distribuir nesta M M . aceitaram com espe-
cidade algumas esmolas,
tem elas! Parece que é o hábito cial agrado e eu também.
não se esquecendo o seu de chupar o mate na bomba. Esteve esplêndido...
magnânimo coração do Infelizmente a imperatriz
hospital de caridade, que foi contemplado com a não pôde comparecer por ligeiros incômodos.
quantia de quinhentos mil réis, auxílio do maior "Ainda assim, a concorrência foi extraordinária
apreço nesta oportunidade, em que esta pia institui- dentro e fora do edifíficio - fora então!... O impera-
ção, forçada pela penúria de suas circunstâncias, tem dor dançou especialmente com as senhoras casadas,
se recusado receber alguns enfermos. neste ponto, eu divergi dele, dando previdência às
"A assembléia provincial consignou em sua últi- solteiras, aliás bem interessantes — que bonitas boqui-
ma sessão para auxílio da Santa Casa a quantia de nhas tem elas! Parece que é o hábito de chupar o mate
quatro contos de réis, mas com este óbulo destinado na bomba.
ao alívio dos infelizes, talvez aconteça o mesmo que "Vê se te habituas, Margot, a também tomar na
até agora tem acontecido com outras quantias vota- cuia... *j=r. ^
das para a mesma aplicação. Inscrevem-se nos orça- Não podemos deixar de fazer referência entre
mentos provinciais, mas... quase simplesmente para tantas descrições repetidas às piadas e às brejeirices da

(7) Vide anexos.

21

HSBC«^
D.PEDRO II NO PARANA 1 8 8 0

seção "Dizia-se ontem..." da "Gazeta de Notícias". acompanhado do ministro da agricultura presidente


São as seguintes: da Província Dr. Manoel Dantas Filuo, presidente ds
"Dizia-se... câmara municipal major Carneiro, semanários e
" . . . que o Sr. Conselheiro Dantas, falando no grande concurso de povo, saiu a passeio pela cidade
Senado sobre a viagem imperial, afirmou que o de Paranaguá. É esta uma cidade antiga; de povoaçãc
Paraná está como um brinco... que era, fundada por Teodoro Ébano Pereira, foi eri-
...que o Sr. Conselheiro Correia (Manoel gida em vila aos 2 9 de julho de 1 6 4 8 .
Francisco Correia -T- Q M o ç o ) está esperando a votação A primeira eleição de juízes ordinários e verea-
da fala do trono para ir ver o seu brinco natal... dores da câmara foi feita a 25 de dezembro do mesmo
" . . . que o Sr. Buarque telegrafou ao Sr. Sérgio de ano, como consta do provimento do Dr. Rafael Pires
Castro comunicando-lhe haver percebido que o Sr. Pardinho, começando a funcionar a câmara em 1 6 4 9 .
Alves de Araujo tem mais influência no Paraná, do Foi elevada a cidade pela lei provincial de S. Paulo n.°
que S. E . . . 5 de 5 de fevereiro de 1 8 4 2 . Dista da capital da pro-
" . . . que o Sr. Sérgio víncia 17 léguas (112 qui-
afirma o contrário, alegan- lômetros). Hoje é uma
do, como prova, o haver lá bonita cidade, com ruas
ficado para defender a pro- "As 11 1/4 o imperador acompanhado bastante largas e ventila-
víncia natal". (8) de seu camarista o Visconde de Tamandaré, das constantemente. A
Até o "Jornal do temperatura, na atua\
ministro da agricultura, presidentes da
Comércio", mesmo em estação, é quase mais
província e da câmara e outras autoridades, agradável do que na corte.
meio da sua disciplina de
gelo, pôs um pouco de sal tornou a sair a visitar as três escolas, "O imperador visi-
nas crônicas leves, para as fábricas de sabão e velas, a Santa Casa tou o mercado, a capita-
dizer, comentando os traba- de Misericórdia, cujas enfermarias nia onde examinou o
lhos e as canceiras do e dependências percorreu, a alfândega, estado do porto de Pa-
Presidente da Província e a coletoria e a companhia de aprendizes ranaguá, a cadeia, a ma-
Chefe de Polícia do Paraná, triz onde fêz oração, as
marinheiros.
que "corre por aqui (pela fontes chamadas do
Corte naturalmente) que os Campo e Nova, que estão
Srs. presidente e chefe de situadas fora da cidade, o
Polícia, logo que termine a viagem imperial, pedirão lugar onde será construída a estação da estrada de
dispensa dos respectivos cargos..." ferro, o edifício da câmara municipal, o telégrafo,
A descrição minuciosa e séria do "Jornal do onde examinou os livros de observações tomadas pelo
Comércio", a respeito do tempo gasto por S S . M M . respectivo funcionário.
II. em Paranaguá, é a seguinte: "Acabadas estas visitas, durante as quais percor-
"A iluminação é geral na cidade, levantaram-se reu todas as dependências dos estabelecimentos, sua
arcos em diversas ruas, as quais estão na maior parte magestade retirou-se para o palacete Nácar, onde
embandeiradas, apresentando a cidade um aspecto almoçou.
muito agradável. "Às 11 1/4 o imperador acompanhado de seu
"Do cais dirigiram-se SS. M M . a pé para o pala- camarista o Visconde de Tamandaré, ministro da
cete do Sr. Barão de Nácar, onde se hospedaram, bem agricultura, presidentes da província e da câmara e
como os semanários, o sub-gerente da companhia dos outras autoridades, tornou a sair a visitar as três esco-
paquetes e os três representantes da imprensa. Os las, as fábricas de sabão e velas, a Santa Casa de
Exmos. Ministro da Agricultura e Dr. Álvaro de Misericórdia, cujas enfermarias e dependências per-
Araújo e Pizzaro hospedaram-se em casa do Sr. coro- correu, a alfândega, a coletoria e a companhia de
nel Pereira Alves. (9) aprendizes marinheiros.
"Às 7 horas da manhã de 19, S. M . o Imperador, "Pouco antes das 4 horas, S. M . recolheu-se ao

(8) (9) Vide anexos.

22
GAZETA DO POVO
D A V I C A R N E I R O

palácio, onde logo depois serviu-se o jantar, findo o "Às 9 horas da noite a câmara municipal ofereceu
qual o Sr. barão de Nácar brindou SS. M M . a SS. M M . no seu salão, um esplêndido baile, que se
"Às 6 horas da tarde SS. M M . dirigiram-se à prolongou até a madrugada, reinando sempre muita
matriz onde se cantou solene Te Deum pela sua chega- animação. Ao baile e ao Te Deum compareceram tam-
da. bém o comandante e oficiais da corveta Guanabara.
"Foram cumprimentar SS. M M . às 8 horas da "SS. M M . embarcaram hoje às 7 horas no vapor
noite os cônsules alemão, inglês, francês, oriental, Iguaçu e deste passaram para o paquete Rio Grande,
argentino, chileno holandês e dinamarquês. que seguiu para Antonina pouco depois".
D.PEDRO II N O PARANÁ 1880

Igreja da Ordem A ESPETACULAR Santa Cândida

VIAGEM DE
D. PEDRO AO
PARANÁ

N
o primeiro fascículo da série
"A espetacular viagem de D.
Pedro II ao Paraná", publica-
da ontem pela Gazeta do Povo, foi
feita a apresentação e reproduzidos o
prefácio e os capítulos I, II e III, que
abordam os seguintes temas:
Capítulo I - Os primeiros constas e os
motivos da viagem imperial à provín-
cia do Paraná em 1880.
Capítulo II - As notícias do embar-
que. - As impressões de viagem. - A
mordacidade da revista Ilustrada. - Os
convites em Paranaguá.
Capítulo III (PARANAGUÁ)- Che-
gada. - Programa geral. - Festejos inici-
ais. - Perturbações de programa. - Pes-
soas ilustres de Paranaguá.
• Nesta edição, de Antonina a
Curitiba.
O imperador dom Pedro II esteve presente • Na próxima, a continuação da visi- Dom Pedro II, quando esteve em Curi-
na reinauguração da Igreja da Ordem, em ta a capital e o relato dos aconteci- tiba, no ano de 1880, visitou a casa do imi-
1880. Nos registros da igreja, há a mentos em Campo Largo e Palmeira. grante Franciszek Wos. Como retribuição
informação da existência de dois lustres, • Essa série compreende a publicação ao tratamento e a acolhida, doou para a
com 42 luzes, comprados em Paris para a de cinco fascículos encartados diaria- Capela da colônia a imagem de Santa
reforma. Muitos acreditam que foram mente na Gazeta do Povo, de 12 a 15 Cândida que havia comprado em Lisboa,
ofertados pelo imperador, em sua visita ao de dezembro, e faz parte das come- Portugal. A imagem se encontra até hoje
local. Os lustres se encontram ainda hoje morações dos 150 Anos da Eman- na Igreja de Santa Cândida, que foi cons-
na parte central da igreja. cipação Política do Estado do Paraná. truída no local da antiga capela.

Santa Casa de Misericórdia de Curitiba

Aproveitando sua estada na cidade em 1880, dom Pedro II inaugurou, no dia 22 de maio daquele ano, o atual prédio histórico da Santa
Casa de Misericórdia de Curitiba, na Praça Rui Barbosa. No local, existe uma placa em mármore que confirma a presença do imperador e
sua comitiva. Dizia-se, na voz do povo, que na época - fato que não pôde ser confirmado - dom Pedro II afirmara: "O hospital é muito
bom, pena que é tão longe da cidade".

Expediente - A Espetacular Viagem de Dom Pedro II ao Paraná é uma série de cinco fascículos especiais da Gazeta do Povo. Projeto desenvolvido pela Redação, em parceria com os departamentos de Marketing e Comercial. • Diretor
de Redação: Arnaldo Cruz; Coordenação: Nádia Fontana; Edição: Andréa Sorgenfrei; Textos: juliana Girardi, Adriano Justino e Carlos Viceili; Coordenação Gráfica: Ricardo Humberto; Diagramação: Marcos Tavares; • Digitação: João
Carlos S. Araújo e Nicanor Pedro da Costa • Revisão: Adamastor Marques. Rua Pedro Ivo, 459 • Centro • Curitiba-PR • CEP 80010-020'Fones (41)321-5000 (geral); 321-5431, 321-5494, 321-5495 (Redação) e fax 321-5471/5472;
321-5285 (Comercial) e fax 321-5300; 321-5325 (Marketing) e fax 321-5870 ' leitor@gazetadopovo.com.br' Não pode ser vendido separadamente • Os fascículos circulam diariamente do dia 15/12 a 19/12.

GAZETA DO POVO
DAVÍ CARNEIRO

ANTONINA

3
D.PEDRO II NO PARANÁ 1880

-V-

VIAGEM DE PARANAGUÁ A ANTONINA,


PELA BAÍA DE PARANAGUÁ. - SUAS BELEZAS ATRAVÉS DA
PROCURA IMPERIAL. - CHEGADA A ANTONINA.
- FESTAS E EPISÓDIOS. - PARTIDA PARA O RIO DO MEIO.
- PROGRAMA DE FESTEJOS EM CURITIBA.

A
20 de maio (diz o "19 de Dezembro") pelas 6 vapor. Todas as providências foram tomadas para que a
horas da manhã, embarcaram SS. M M . II. 4 de junho se faça um reconhecimento no porto de
para a cidade de Antonina, transportando-se Antonina, visto que S. M. o Imperador deseja ter
no vapor Iguaçu para o paquete Rio Grande, sendo conhecimento exato das condições dele".
acompanhados a essa cidade por muitos cidadãos e dis- Continua a "Gazeta":
tintas senhoras de Paranaguá, oficialidade da marinha, "As cidades de Paranaguá e Antonina devem estar
capitão do porto e autoridades superiores das mesmas orgulhosas das esplêndidas festas que preparam para a
localidades. recepção de SS. M M . II.: subindo de valor este justo
"A bordo do Rio Grande, às 8 hora serviu-se um contentamento por terem sido realizadas todas as despe-
profuso e delicado almoço para o qual S. M. dignou-se sas e expensas particulares.
convidar todas as pessoas que se achavam a bordo e às 8 "Ao Ex. barão de Nácar, em Paranaguá, e comenda-
1/2 desembarcaram SS. M M . em Antonina, debaixo de dor Antônio Alves de Araujo, (10) em Antonina, devem-
viva e brilhante manifestação de se as brilhantes manifestações pro-
entusiasmo. movidas naquelas duas cidades do
As
"Apesar da chuva, achava-se " cidades de Paranaguá e l i t o r a l

no cais do desembarque toda a flor Antonina devem estar orgulhosas O comandante da corveta
da população da cidade, grande düS esplêndidas festas QUe preparam Guanabara e parte de sua oficiali-
número de senhoras, um grupo de para C recepção de SS. MM. II: dade acompanharam SS. M M . até
meninas, e uma banda de música aquele porto e tiveram a honra de
subindo de valor este justo
que entoou o hino nacional, acom- tomar assento à mesa do almoço
contentamente por terem sido
panhando todos a SS. M M . depois dado a bordo do paquete.
que a Câmara Municipal reunida
realizadas todas as despesas "Durante a viagem que
no porto, ofereceu suas homena- e expensas particulares. durou 1 hora e 50 minutos por
gens aos Augustos Soberanos. causa do reboque que o Rio
"Depois de ligeiro descanço partiram SS. M M . Grande teve de dar ao vapor Iguaçu que carregava a
para o Rio do Meio, onde deviam pernoitar." bagagem e devia servir para se fazer o desembarque em
A "Gazeta de Notícias" relata assim: Antonina, S. M. o Imperador consultava um velho
"Às 6 horas da madrugada SS. M M . II. com a mapa de Mouchez a respeito das condições das duas
comitiva e pessoas gradas tomaram o paquete Rio baías, indicando os seus detalhes, cotas de sondagens e
Grande, que só deverá partir dentro de uma hora, segui- as belezas dos variados panoramas aos Snrs. presidente
do do Iguaçu, para Antonina, de onde após pouca da província, conselheiros Buarque, Andrade Pinto e o
demora seguirão SS. M M . para o Rio do Meio. Tem barão de Maceió.
chovido abundantemente, e todos são concordes em "Quando o Rio Grande passou por junto da Gua-
dizer que as estradas estão em péssimo estado. nabara, sua guarnição subiu às vergas e deu os vivas do
"O comandante da Guanabara com respectiva ofi- estilo seguidos das respectivas continências com a ban-
cialidade acompanhou SS. M M . até Antonina, devendo deira.
regressar a Paranaguá onde se conserva fundeado o seu "Nesta viagem, S. M. o Imperador tirou em seu

GAZETA DO POVO
DAVÍ CARNEIRO

livro de notas, com muita facilidade, alguns "croquis" "Antonina, antes do almoço.
dos mais belos pontos da magestosa baía de "Chegamos a imperatriz, eu, o imperador; mas não
Paranaguá, entre eles o da montanha denominada - tive tempo ainda nem para lavar o rosto.
Gigante. "Decemos com a nossa comitiva em casa do
"Apenas o Rio Grande passou a linha divisória das comendador Araujo, pai do Maneco, que nos preparou
duas baías, isto é, a que vai da ilha Teixeira e a ponta um lauto almoço. Espera ser promovido a barão e mere-
Grossa de todos os pontos de Antonina, fizeram subir ce; o vinho é magnífico, e uns doces...
ao ar milhares de foguetes acompanhados de salvas pre- "— Cá estou a cuspir de tanta água na boca".
paradas com minotas abertas nas pedreiras próximas à O "Eco do Paraná" também deu notícia:
cidade. "No dia 20 do corrente às 7 horas da manhã, SS.
"O Rio Grande deu fundo muito distante ao cais, M M . II. acompanhadas das pessoas a que nos referimos
devido isso às mas condições do porto, apesar da maré em o nosso número passado, embarcaram no vapor
ser de enchente, sendo preciso fazer-se baldeação para Iguaçu com destino à Antonina.
bordo do vapor Iguaçu. "Deste vapor passaram para o Rio Grande que os
"Ao desembarcar foram SS. M M . II. recebidas com esperava na enseada da Cutinga, de onde largou às 8
imenso contentamento por parte de toda população, horas da manhã, dando reboque ao Iguaçu.
(pode-se assim dizer), daquela importante cidade que, "A corveta de guerra Guanabara, ancorada em
levada pelo seu prestimoso chefe o benemérito cidadão nossa baía, no momento em que por ela enfrentava o Rio
Antônio Alves de Araujo, levantavam-se como um só Grande, fêz com o pavilhão imperial as continências
homem para saudar o monarca que a visitava. devidas a SS. M M .
"Depois de curta demora na casa daquele cava- "Nessa ocasião a marinhagem da corveta, achando-
lheiro, onde SS. M M . , sua comitiva e representantes do se a postos sobre as vergas e gurupés, saudou a SS. M M .
"Jornal do Comércio", "Cruzeiro" e "Gazeta de No- com entusiásticos - Vivas — tocando em seguida o hino
tícias" e gerente da companhia de Navegação Nacional nacional.
receberem as mais distintas "Às 8 1/2 foi servido à
provas de apreço, deu-se SS. M M . um lauto almoço,
começo, debaixo de uma "Quando S. M. a Imperatriz ao qual tiveram a honra de
carga d'água muito regular, foi informada de que se passava assistir as pessoas que as
à segunda parte da viagem, em frente da capela do Rocio, levantou- acompanhavam.
delineada e realizada por "Depois do almoço S.
se e fêz uma oração mental à Virgem Senhora
conta dos cofres público. M. o Imperador subiu nova-
protetora dos navegantes.
"Não foi pequena a mente à coberta do vapor, e
confusão, para arranjar-se o aí se conservou durante a
comboio, atendendo às exigências de uns, os arrependi- viagem consultando o mapa da baía com verdadeiro inte-
mentos de outros e o mal estar, pode-se assegurar, de resse.
todos. "Quando S. M . a Imperatriz foi informada de que
"E não era para menos desde que se tinha de aten- se passava em frente da capela do Rocio, levantou-se e fêz
der à longa e vagarosa subida da serra, à dificuldade que uma oração mental à Virgem Senhora protetora dos
se apresentava da bagagem acompanhar os carros da navegantes.
expedição, que bem se poderá chamar do — Desespero —; "Às 9 e 1/4 o vapor deu fundo no porto de
o receio ainda de se encontrar um pouso, ao menos regu- Antonina, vindo nessa ocasião a bordo uma comissão da
lar, por aquelas desertas paragens; enfim, milhares de câmara municipal cumprimentar SS. M M .
outros contratempos que sempre deixam bastante abala- "Nessa mesma ocasião foram dadas as salvas do
do o espírito mais acostumado às contrariedades da vida. estilo, e muitas girandolas de foguetes subiram ao ar,
"Depois de tudo isso, às 11 horas da manhã pôs-se tanto de terra como de bofcfo dos navios surtos no porto,
em marcha o comboio imperial, composto de 7 carros, que se achavam embandeirados.
dos quais o que conduzia SS. M M . era seguido de um "Do Rio Grande passaram SS. M M . para o Iguaçu,
piquete do corpo de valaria em serviço nesta província". indo este atracar à ponte de desembarque.
Também a "Revista Ilustrada" faz alusão à hospeda- "Aí se acharam presentes todas as autoridades locais
gem em Antonina, com a sua habitual modacidade: e grande número de cidadãos que, com entusiástico júbi-

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D.PEDRO II NO PARANÁ 1880

lo saudaram a SS. M M . II. das chaves da cidade, findo o qual seguirão SS. M M . a
"SS. M M . seguiram até a casa de residencia do pé debaixo dó pálio, que será conduzido pelos membros
comendador Antonio Alves de Araujo, onde se demora- da municipalidade até o Paço.
ram o tempo necessário a que se aprontassem os carros "VIII - No trajeto se observará o seguinte:
de viagem, e seguio para ir pernoitar no lugar denomina- "Depois de SS. M M . e sua comitiva seguirão as
do Rio do Meio e chegar no dia seguinte à capital." senhoras, autoridades civis e militares, membros da
Assim que SS. M M . e respectivos acompanhantes comissão, batalhões patrióticos e cavaleiros, na ordem
deixaram Paranaguá, em Curitiba se soube do programa em que vão colocados.
de festas, transmitido logo, por telegrama, para todos os "IX - O cortejo imperial percorrendo a rua da
pontos do país, sem esquecer a Corte: Graciosa, decerá pela rua Direita, passando pelas ruas do
"I — Logo que a comissão tiver notícia oficial da Riachuelo, Flores, Palácio até o Paço.
chegada de SS. M M . em Paranaguá, o anunciará à popu- "X— Se SS. M M . desejarem fazer oração do palácio
lação da capital, mandando soltar três girándolas de se encaminhará o préstito pela rua do Rosário, entrará na
foguetes com intervalo de cinco minutos de uma a outra, rua Fechada até à Igreja de S. Francisco das Chagas e daí
no coreto da praça da matriz. seguirá para o Paço pela mesma rua Fechada, e lado da
"II — O faustoso dia em que SS. M M . II. deverão praça onde está o edifício da municipalidade.
chegar a esta cidade, será também anunciado por uma "XI - A porta do Paço os augustos imperantes serão
salva de artilharia dada às 6 horas da manhã, na praça do recebidos pela comissão e senhoras para esse fim convi-
novo hospital de caridade. dadas.
"III - Pelas 11 holas desse dia reunir-se-ão no largo "XII — Feitas, nessa ocasião, as continências devi-
do Paço, os batalhões partióticos, cavaleiros e pessoas a das pela guarda de honra, postada em frente ao Paço, os
pé que quiserem concorrer à recep- cavaleiros ao lado direito deste,
ção de SS. M M . que, pernoitando formar-se-ão em linha, ao lado
no Rio do Meio, aqui deverão che- "IX - 0 cortejo imperial esquerdo e do mesmo modo, os
gar às 2 ou 3 horas da tarde. percorrendo a rua da Graciosa, batalhões patrióticos; em frente, as
"IV - A 1 hora da tarde segui- pessoas a pé.
decerá pela rua Direita,
rão todos em ordem e para os pon- "XIII — Recolhendo-se SS.
passando pelas ruas do
tos designados pelos membros da M M . II. ao Paço dispersar-se-á o
comissão, e aí aguardarão a passa- Riachuelo, Flores, cortejo, depois de feitas as conti-
gem dos ilustres hóspedes formando Palácio até o Paço. nências de estilo, se não se tiver
alas para facilitar-lhes o trânsito. anunciado que SS. M M . se digna-
"V — A essa mesma hora as rão reconhecer nessa mesma oca-
autoridades civis e militares, os membros da comissão e sião as pessoas que desejarem apresentar-lhe suas respei-
as Exmas. senhoras, todos os quais são convidados para tosas homenagens.
estarem com antecedência no Paço Imperial, seguirão "XIV - As 6 e 1/2 horas da tarde desse mesmo dia
também com direção ao centro, digo, coreto, levantado se formarão os batalhões partióticos no largo do conse-
pela câmara municipal, na entrada da cidade, e aí aguar- lheiro Zacarias, donde virão em colunas cerradas, até ao
darão a chegada de SS. M M . Paço saudar os augustos Hóspedes.
"VI — D o bairro alto será anunciada a aproximação "XV - Durante a estada de SS. M M . II. nesta capi-
dos Augustos Visitantes, soltando-se uma girándola, a tal haverá iluminação geral à noite, para cujo fim a
que corresponderão imediatamente outras, colocadas em comissão pede a todos os habitantes da cidade que ilumi-
distâncias convenientes, até esta cidade; repicando na nen a frente de suas casas e façam outras demonstrações
mesma ocasião os sinos das igrejas. de público regozijo.
"VII - Chegando à cidade, dignar-se-ão SS. M M . "XVI - Nessas noites de iluminação geral, as ban-
descer do carro, junto ao coreto da câmara municipal, e das de música tocarão no coreto do largo do Paço, depois
aí, presentes os membros da mesma câmara, lerá o seu do hino nacional, em frente ao mesmo Paço.
presidente um discurso análogo à cerimónia da entrega "A comissão convida a todas pessoas nacionais e

(11) (12) (13) (14) Vide anexos.

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GAZETA DO POVO
DAVÍ CARNEIRO

estrangeiras, assim como as bandas de música particula- Também o procurador da Santa Casa, Joaquim
res, a concorrerem para festejar-se a visita de SS. M M . II., Antônio Gonçalves de Menezes, pôs no "19 de Dezem-
observando aquele programa. bro", o aviso:
"Foram designados para servirem na comissão de "O Dr. provedor da irmandade da misericórdia
recepção no Paço os Srs.: - Dr. Luiz Barreto Corrêa de manda convidar os respectivos irmãos, e aos habitantes
Menezes, Dr. Agostinho Ermelino de Leão, Ildefonso desta capital, para assistirem ao ato da inauguração do
Pereira Correia, João Batista Ribeiro, Dr. Francisco Alves hospital que terá lugar em dia e hora que S. M. o
Guimarães, Antônio Martins Franco, Dr. Antônio Pires Imperador designar, devendo os irmãos, comparecerem
de Albuquerque, Dr. Joaquim de Almeida Faria no referido edifício, duas horas antes da designada, para,
Sobrinho, Alfredo Caetano Munhoz e Dr. João José em corporação, receber S. M.
Pedrosa. (11) "Curitiba, 19 de maio de 1880".
"Na comissão de organização dos batalhões e A descrição da estadia de SS. M M . II. em
ordem no préstito, os Srs. tte. cel. Benedito Enéas de Antonina, feita pelo "Jornal do Comércio", é a
Paula, comendador Antônio R. dos Santos, Antônio seguinte:
Ricardo Lustosa de Andrade, dr. José Lourenço de Sá "No dia 2 0 , às 7 horas da manhã SS. M M . II.
Ribas e capitão Augusto Stellfeld. (12) partiram de Paranaguá para Antonina, a bordo do
"Na comissão dos festejos da praça os Srs. Dr. paquete nacional Rio Grande, e logo que este foi avis-
Tertuliano Teixeira de Freitas e alferes Florindo da M . tado do lugar chamado Ponta Grossa, que é a divisa
Bandeira e Silva. (13) dos municípios de Paranaguá e Antonina, subiram ao
"Comandante em chefe dos batalhões patrióti- ar muitas girandolas de foguetes, começando-se então a
cos, o major Luiz Manoel dar salvas, que só termina-
Agner." (14) ram quando SS. M M . segui-
Nem a inspetoria de "Estavam aí preparados ram viagem. Ao desembar-
tráfico daquele tempo (en- diversos carros para SS. MM., que concorreram grande
tão se chamava Secretaria mas, sabendo que era perto do cais número de senhoras, muitas
da Polícia) deixou de to- o palacete do comendador autoridades e numeroso
mar suas deliberações, e concurso de povo, sendo
Antônio Alves de Araujo,
determinou que se obser- recebidos os augustos impe-
que estava preparado para a recepção,
vassem as seguintes dispo- rantes com vivas e aclama-
sições básicas:
S. M. o imperador, declarou ções. SS. M M . passaram no
"S. Ex. o Sr. Dr. chefe que iria mesmo a pé com o povo. pavilhão do cais entre 2 alas
de polícia manda que, nos de meninos todos vestidos
dias 20 a 2 2 do corrente, se observe o seguinte: de branco que atiravam flores sobre os augustos viajan-
"Fica proibido nos ditos dias e trânsito de carros tes.
de cargas, carretas e carretões pelas ruas: do Comércio, "Estavam aí preparados diversos carros para SS.
Flores, Alegre, Riachuelo, Direita, Graciosa e Fechada; M M . , mas, sabendo que era perto do cais o palacete do
a
largos da Matriz, Conselheiro Zacarias e Ordem 3 . . comendador Antônio Alves de Araujo, que estava pre-
"Outrossim, fica também proibido nos referidos parado para a recepção, S. M . o imperador, declarou
dias estacionarem carros em qualquer praça e ruas da que iria mesmo a pé com o povo. Chegaram ali os
cidade, com exceção do largo do General Ozório em augustos viajantes ao som do hino nacional e foram
diante. tantos os vivas e os foguetes que parecia que o povo
"O trajeto desses carros se fará nesses dias, tanto estava em delírio. Após algum repouso e dispensado o
às subidas como às descidas, pelas ruas; entrada da almoço preparado, por já terem feito esta refeição a
Graciosa à sair na do Assunguí, Serrito com direção à bordo, SS. M M . seguiranrde carro para Curitiba.
Igreja dos protestantes, Assembléia até Loredo, Mato "De Antonina começa a estrada de rodagem cha-
Grosso e praça do General Ozório, em seguida. mada da Graciosa, que é macadamizada e galga a serra do
"Secretaria da Polícia do Paraná, 15 de maio de mar na altura de 850 mts. Tem esta estrada 81 quilôme-
1880. O secretário, Antônio Ludgero de Souza Cas- tros de extensão e é considerada a segunda estrada de
tro". rodagem do império."

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D.PEDRO II NO PARANÁ 1880

SÃO JOÃO DA GRACIOSA,


RIO DO MEIO E FLORESTAL

GAZETA DO POVO
DAVI CARNEIRO

-n-

A VIAGEM DE SUBIDA. - PERIPÉCIAS NO CAMINHO.


AS DESCRIÇÕES DA VIAGEM. - SÃO JOÃO DA GRACIOSA E A
NOITE PASSADA EM RIO DO MEIO. - CONTINUA A VIAGEM

P
elo que relata o "19 de Dezembro", naturalmente cumprimento rígido do itinerário, mas esse respeito pelos
interessado em encobrir todos os maus pedaços pas- horários e os programas não ia a ponto de provocar contra
sados por D. Pedro em território da nova Província si antipatias.
que êle honrava com sua presença, a subida da serra se real- A "Revista Ilustrada" comenta jocosamente o aperta-
izou sem incidentes. do do tempo:
"SS. M M . II. - diz o "19 de Dezembro" - transpuzer- "Vamos partir já. O jantar espera-nos em Curitiba e
am a serra "sem grande incômodo", depois de serem vitori- eu não gosto de fazer ninguém esperar. O imperador tam-
ados em S. João da Graciosa, que em toda sua extenção bém pensa como eu: Comida feita, companhia desfeita. E
embandeirada e em arcos elegantes, estava em festa. lá vamos todos... De Antonina para Curitiba, e de
"Aí os habitantes do lugar, muitos colonos e alguns Curitiba seguirá no seu galope infernal...
cidadãos de Morretes, entre os quais o Sr. Joaquim José "Seu programa está mais ou menos assim concebido:
Alves, saudaram SS. MM. com entusiasmo e regozijo." Almoçar com o Barão de Antonina, almoçar com o vis-
As lendas, muitas vezes surgidas conde de Chimarrão, ceiar com o
sem motivo que as pudessem justi- comendador Mate em pó; no dia
ficar, contribuem não raro para dar à "Vamos partir já. 0 jantar seguinte almoçar com outro barão,
verdadeira história um colorido espera-nos em Curitiba e eu não jantar com outro visconde, ceiar com
estranho, deixando difícil o julga- gosto de fazer ninguém esperar. outro comendador...
mento de homens e de fatos. A 0 imperador também pensa "Parece mais um menu de hotel
respeito da passagem do imperador do que um programa de viagem..."
como eu: Comida feita,
por S. João da Graciosa, como a O "Jornal do Comércio"
respeito, na sua volta para o litoral,
companhia desfeita.
aproveitou a oportunidade, ou a
de sua passagem pelo Porto de Cima, E lá vamos todos... ausência de matéria abundante para
surgiram lendas injustificáveis. dar algumas lições de corografia aos
Ouvi contar que D. Pedro não ia parar em S. João, e seus leitores, descrevendo entre as coisas da imperial
que desejara continuar viagem imediatamente para o Rio viagem, o aspecto físico do planalto de Curitiba, para
do Meio, desprezando as homenagens da gente do lugar; onde SS. M M . se dirigiam, saindo de Antonina:
que alguém, vendo a disposição dos condutores, jogara ao "A região montanhosa da província compreende as
chão a bandeira imperial, para que, assim, sob pena de comarcas de Curitiba, Campo Largo, Lapa, Castro e
crime de lesa pátria a carruagem do imperador fosse obriga- Guarapuava. Subindo a serra pela estrada da Graciosa,
da a fazer alto. encontra-se um campo a 819 metros acima do nível do
Ou todos os jornais omitem de propósito esse fato, mar. Este taboleiro forma a comarca de Curitiba e parte
pelo que êle pudesse ter de ofensivo ao imperante, ou êle (o da de Lapa com cerca de 29.176 quilômetros quadrados
que seria mais lógico pensar), nada tem de verdadeiro. A de superfície. O que é propriamente campo compreende
vontade de todos os membros da comitiva seria de multi- desde as cabeceiras do Rio Negro ao S. até 26 quilôme-
plicar as paradas, isso é certo, e a D. Pedro se devia o tros ao Norte de Curitiba com 121 quilômetros e 4 0 0

(*) Naquele tempo um desembargador tinha os vencimentos de 6:000$000 por ano; Um marechal de exército comandando exército percebia um total de 18:116S000.

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D.PEDRO II NO PARANÁ 1 8 8 0

metros de comprimento e 122 de largura, contados da ter a situação.


encosta da serra até a um ponto distante da cidade da "Como se arranjaram as pessoas que acompanharam
Lapa 26 quilômetros. A árvore característica desta parte SS. M M . até hoje não se sabe, o que é certo é que algumas
da província é o pinheiro (araucaria brasiliensis) que tomaram a resolução de alugar cavalos e porem-se em
cresce até a altura de 40 metros, formando os magestosos caminho para Curitiba, onde chegaram já com dia alto e
pinhais que se estendem a muito grande distancia. Aos depois de terem andado a bater de porta em porta às desta-
lados da estrada da Graciosa^ avistam-se constantemente cadas casas de comércio que se encontra pela estrada, para
florestas de erva-mate, principal riqueza da província e pedirem alguma coisa que lhes aquecesse o corpo.
que lhe dá um lucro anual de mais de 4.000:000$. "Na manha de 21 pôs-se a caminho a caravana
"A primeira povoação que se encontra na estrada da imperial em busca da capital, tendo apenas parado em
Graciosa é São João da Graciosa, distante 24 quilômet- viagem duas vezes: uma para se fazer a visita ao aban-
ros de Antonina. donado estabelecimento Florestal Paranaense, outra para
"Aí SS. M M . demoraram-se algum tempo sendo S. M. o Imperador apanhar uma parasita do mato."
recebidos ao som de girándolas. Quanto à colheita da parasita, como aliás, também,
"Pouco depois seguiram. Quase no alto da serra S. M. do pouso no Rio do Meio, Matoso no seu livro de
o Imperador por convite do deputado Alves de Araujo, "Coisas do meu tempo" diz:
apeou-se para admirar o esplêndido panorama que dali se "O tal pernoite no Rio do Meio, foi aborrecidíssi-
descortina. Viam-se as cidades de Morretes e Paranaguá, a mo para não dizer excessivamente cômico.
baía, barras, o farol, ilhas, e mais além no alto mar o paque- "O incansável Dr. Corrêa de Menezes, chefe de
te Cervantes que navegava para o Rio. A viagem continu- polícia da província, era quem tudo organizava sem
ou agradável até um pouso denominado Rio do Meio, regatear sacrifícios, sem medir dificuldades.
onde SS. M M . chegaram às 6 horas da tarde, hospedándo- "Fomos todos agasalhados no rancho e no casebre
se em casa da viúva Ramos e passando aí a noite de 20." n.° 2, tendo sido preparada a tal vendola para
O 19 diz, na sua descrição, sempre lavada em águas hospedagem dos imperantes. Que cômico palácio impe-
de açúcar, que "às 7 horas da rial provisório!
noite chegaram SS. M M . ao "Internamente as pare-
Rio do Meio, onde foram t o manhã de 21 pôs-se a caminho des da vendola tinham sido
recebidas entre vivas e a caravana imperial em busca da capital, decoradas com peças de
foguetes, estando o sítio tendo apenas parado em viagem duas vezes: morim, galões e cadarços de
coberto de arcos triunfais e uma para se fazer a visita ao abandonado côr. Uma mascarada da roça,
iluminado em grande exten- mas ainda assim decente,
estabelecimento Florestal Paranaense,
são. constituindo tudo um ver-
outra para S. M. o Imperador apanhar
"Aí pernoitaram SS. dadeiro milagre feito pelo
M M . II. dignando-se fazer
uma parasita do mato." dr. C. de Menezes.
sentar à sua mesa a propri- "Às 10 horas da noite,
etária da casa, viúva do cidadão Manoel Ramos." quando nos separamos, não para dormir, mas apenas
A "Gazeta de Notícias" foi menos condescendente, para passar a noite sob coberta enchuta, ao apertar-me a
e disse às claras: mão disse-me o meu sempre lembrado amigo consel-
"Afinal, depois de muitas peripécias grotescas, algu- heiro Buarque:
mas delas de um ridículo indiscritível, chegou-se ao dese- "Que capricho cruel!... Consolemo-nos... não há
jado pouso do Rio do Meio, hoje pouso Imperial, à remédio!"
margem esquerda da Estrada da Graciosa, serra do mar, "E' exato meu caro conselheiro, saber-se o que deve
no quilômetro 4 0 . fazer não é saber-se o que se fará, retorqui-lhe, também
"Os cômodos para SS. M M . foram arranjados na profundamente desiludido quanto ao conforto que
pequenina casa de negócio de uma viúva. esperava encontrar em toda a parte, visto fazer parte de
"A falta de conforto, a desordem no serviço de uma comitiva imperial.
mesa, o desespero que se tinha apoderado de todos, por
não saberem como passar o resto de uma noite chuvosa,
fria e de serração, que não permitia ver a um metro de "A partida do rio do Meio havia o Imperador mar-
distância, era o quadro triste que mais vinha comprome- cado-a para as 5 horas da manha.

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GAZETA DO P0V0
DAVI CARNEIRO

"Às 4 1/2 já estava posta a mesa de café, abundante Pedro bem a ouviu.
em doces, sandwiches, biscoitos e finas iguarias apro- "Quando voltou do... passeio, fê-lo às carreiras e
priadas à primeira refeição do dia, em mesa imperial, já com o chapéu de sol aberto, de sorte que privou-nos a
se vê. todos de observar-lhe a fisionomia."
"Outro milagre do Dr. C. de Menezes! No dia seguinte a viagem continua do Rio do
"A imperatriz exigiu que a dona da casa viesse à Meio a Florestal, e daí para Curitiba. Do "19" estraímos
mesa e a pobre velha teve que vir sentar-se junto dela. esta descrição:
Isto deu lugar ao seguinte diálogo, de um cômico "No dia seguinte depois de almoçarem partiram
inolvidável: SS. M M . às 8 horas, tendo sido tratados com a decência
"Então dormiu bem, perguntou-lhe a Imperatriz? e comodidade possíveis, em tal situação.
" - Não, minha senhora. "Em caminho pararam SS. M M . para visitar o
" - Por que? Esteve donete? estabelecimento da Florestal, a cuja entrada enfeitada de
" - Não; é que só possuo uma cama e é boa, que tive arcos festivais, se achavam o respectivo administrador e
de dar para W . M M . , de maneira que fui obrigada a empregados; todo o estabelecimento foi visitado, fazen-
dormir na esteira, no chão, e não preguei olho! do S. M . o Imperador algumas perguntas sobre o seu
"Os presentes riram-se bastante da sem cerimônia e estado econômico e outras questões correlativas.
franqueza da boa velha, cujos cachos de cabelos de "Depois de 15 minutos de demora continuou a
ambos os lados da fronte devam-lhe certa graça e ares de viagem sem acidente notável, mas oferecendo ao apro-
"vieille grande dame", como dizem os franceses. ximarem-se da capital aos Augustos Imperantes, as mais
Concluído o café, o que fêz-se (sic) em poucos minutos, vivas e significativas demonstrações já por arcos e ban-
o Imperador entrou a passear e palestrar com o conse- deiras em frente às habitações, já por girándolas periódicas
lheiro Buarque, pela pequena saleta da frente da casa, que atroavam os ares, pronunciando o termo da viagem.
mas com o relógio na mão, e logo que os ponteiros "Desde o Canguerí começaram a afluir numerosos
indicaram às 5 horas, voltan- cavalheiros que se incorpo-
do-se para todos nós, cortan- raram ao séquito imperial.
do mesmo a conversa com r o dia 21, às 8 horas da manhã, "Desde o romper da
seu ministro, repetia seguiram os augustos viajantes depois alvorada, foi a cidade desper-
azafamado: "São horas, va- de terem almoçado. Aí começaram tada pelo troar da artilharia,
mos, vamos." os caminhos maus da estrada Graciosa, pelo estrugir dos foguetes e
"Instantes depois de pelo repicar dos sinos, que
que até Curitiba está estragada,
deixarmos o triste pouso do anunciavam a próxima
apesar de tê-la mandado concertar ultimamente
Rio do Meio, na belíssima chegada de SS. M M . II."
estrada da Graciosa, o
o presidente da província, O "Jornal do Comér-
Imperador fêz parar a sua o Dr. Manoel Dantas Filho. cio" conta assim:
carruagem, apeou-se e "No dia 21, às 8 horas
abrindo um guarda-sol enveredou apressadamente pela da manhã, seguiram os augustos viajantes depois de terem
mata. Todos os carros da imensa comitiva pararam almoçado. Aí começaram os caminhos maus da estrada
igualmente, pois não se podia parar a frente do carro Graciosa, que até Curitiba está estragada, apesar de tê-la
imperial; era do protocolo. mandado concertar ultimamente o presidente da provín-
"A princípio supoz-se ser uma parada rápida para cia, o Dr. Manoel Dantas Filho. Dizem os habitantes do
descanso dos animais, mas depois, inquietos foram lugar que a causa disto são as chuvas prolongadas que tem
todos apeando-se e indagando o motivo da demora. caído, como já noticiei por telegrama, e o constante trân-
"O primeiro que, de um lado para o outro, per- sito, cerca de 700 carroções que conduzem erva mate para
guntava o que havia, era o marquês de Tamandaré. Antonina, além de outros veículos e tropas.
"Bem alto, provocando a mais franca hilariedade, "Em caminho .SS. M M . visitaram o estabelecimen-
disse o nosso excelente companheiro José Carlos de to da Cia. Florestal Paranaense, onde foram recebidos
Carvalho: pelo administrador, o alferes Chagas, que informou a
"Sossegue almirante; não é nada! S. M. foi ao SS. M M . haver ali cerca de 5000 pranchões de pinho,
mato... apanhar uma parasita! metade dos quais estão arruinados.
"O gargalhar de todos echoou pela floresta e D . "Depois de 57 quilômetros na estrada da Graciosa,

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D.PEDRO II N O PARANÁ 1880

começam a aparecer os campos, que se pode chamar de de pé, à entrada de um pouso, e segue para o Sul.
imensos lençóis verdes, tendo alguns capões, isolados no "Em caminho, quando o caso urge, destaca-se
centro e outros restingas, pontas de algum mato virgem da comitiva e vai ao mato apanhar parasitas. À
estreito, e comprido que se adiantam pelos referidos noite, dança e ouve discursos. Este é o único tempo
campos." de repouso que tem o atual ashaverus do Paraná:
Quando na Corte se soube do desconforto passado enquanto a retórica floresce, S. M . resona.
pela imperial comitiva no Rio do Meio, surgiram piadas "Depois do baile, S. M . chama pelo telégrafo o
v
e anedotas, lastimando S. M: à*lmperatriz. Sr. ministro do império. S. Ex. sobraça a pasta,
Uma crônica de Folhetim disse com muito espírito: prende-se ao fio telegráfico pelos das barbas, e
"S. Magestade o Imperador continua a passar sem chega a Curitiba. No palácio da capital, S. Ex. apre-
novidade em sua importante saúde. senta a S. M . o decreto de convocação da nova
"A virtuosa imperatriz continua a experimentar os assembléia geral, que S. M . rubrica com o seu impe-
rigores do artigo no código que diz que a mulher é obri- rial jamegão.
gada a acompanhar um marido por toda a parte. O códi- "Volta o Sr. Homem de Melo pelo telégrafo, cai
go não tinha previsto o caso do marido viajante, e urge no edifício da tipografia nacional ainda com os
reformá-lo neste sentido. tremores elétricos do fio, e no dia seguinte aparece o
"Na imperial comitiva há mortos e feridos, jorna- decreto no órgão do governo.
listas desmaiados, veadores distanciados, a etiqueta de "Que honra e que glória para o palácio de
chinelos, por já não pode aguentar as botas. Curitiba! O cavaignac do Sr. Sérgio de Castro teve
"Logo pela madrugada, S. M. o Imperador acorda uns arrancos de júbilo, e o Sr. Corrêa tomou nota do
antes de adormecer, vai almoçar ao Norte da província, caso para fazer sobre ele uma conferência na Glória."

S. M. pretende seguir para Rio do Meio ou para o meio do rio;

não estou bem certo; no próximo telegrama esclarecerei o negócio.

12

GAZETA DO POVO
DAVI' CARNEIRO

CURITIBA

13

HSBC < ^ÊÊÊÊÊSMÍ W


Ü
D.PEDRO II NO PARANÁ 1 8 8 0

—VII—

A CHEGADA A CAPITAL. - OS FESTEJOS.


- AS VISITAS. - OS DISCURSOS.
- A HOSPEDAGEM.

F
oi a 21 de maio de 1880 que os imperiais visitantes lugar acima mencionado, e aí, entre flores que juncavam
atingiram a "cidade sorriso" da chapa consagrada. o solo e fervorosas saudações que enchiam o espaço, SS.
Naquela época, porém, a capital da mais nova das M M . se dignaram descer do seu carro, recebendo S. M.
províncias do império era menos do que as menos o Imperador a chave da cidade, das mãos do presidente
importantes das suas atuais cidades do interior, cheia de da Câmara Municipal, (*) que com todas as autoridades
lama, pouco calçada, cheia de banhados e de sapos, sem e corporações superiores ali se achavam aguardando a
água e sem esgotos, sem outra luz, à noite, além da que chegada dos Augustos Soberanos.
lhe forneciam os ricos lampeões Belgas de torcida e "Em seguida SS. MM., debaixo das mais entusiás-
querozene. ticas demonstrações de regozijo da população que ali se
O "19 de Dezembro" descreve assim as festas da achava, tomaram lugar, de novo, no seu carro e dirigi-
chegada: ram-se para o Paço pelas ruas Direita, Riachuelo, Flores,
"As duas e meia horas da tarde, ao subir ao ar uma travessa das Flores e largo da Matriz até o Paço; não
girándola colocada no "Alto da Glória" última das que se tendo podido ser feito esse trajeto a pé, em conseqüência
achavam dispostas, de distância em distância, na exten- da unidade que havia, produzida pelas chuvas dos dias
são de uma légua, para anteriores.
anunciarem a aproxi- "As ruas acima men-
mação dos Augustos
"S. M. o Imperador dignou-se então cionadas achavam-se primo-
Viajantes e de sua ilustre declarar que às 7 horas da noite abriria os rosamente decoradas e é difícil,
comitiva, a população da salões do Paço às pessoas que quisessem se não impossível, descrever, o
capital, quase em sua cumprimentá-lo e à S. M. a Imperatriz. entusiasmo da população desta
totalidade, dirigiu-se pres- cidade que já tocava ao delírio,
surosa para junto do coreto da rua do Serrito, onde de- ao fazerem SS. M M . II. esse trajeto.
viam ser recebidas SS. M M . , pelas comissões para esse "No Paço foram SS. M M . recebidos pelas comis-
fim nomeadas. sões para tal fim organizadas e grande número de pessoas
"Neste lugar achavam-se convenientemente esta- gradas que ali os esperavam.
cionadas a guarda de honra respectiva e a população das "S. M. o Imperador dignou-se então declarar que às
21 colônias estabelecidas nas circunvizinhanças desta 7 horas da noite abriria os salões do Paço às pessoas que
capital; sendo cada uma representada por um sinal (ou quisessem cumprimentá-lo e à S. M. a Imperatriz.
emblema) conduzido por uma jovem colona e as suas "Às 5 horas da tarde S. M. o Imperador saiu a pas-
nacionalidades pelas bandeiras respectivas. seio e visitou a estação telegráfica onde examinou os
"Quinze minutos após p anúncio dado pela girán- aparelhos e tomou informações sobre a marcha do
dola, chegaram, acompanhados de um piquete de ca- serviço; voltando ao paço uma hora depois, foi sempre
valaria, de um esquadrão patriótico de alemães, e de acompanhado de grande número de pessoas que inces-
grande número de cavaleiros, os Augustos Viajantes ao santemente o saudavam.

{*) A C â m a r a dirigiu a S. M . I. n a entrada da cidade a seguinte fala: " S e n h o r ! A C â m a r a M u n i c i p a l desta Capital, c o m o fiel intérprete de seus munícipes, possuída de entusiasmo. Vos
franqueia a Cidade, entregando-Vos a sua chave. A Vossa M a g n a n i m i d a d e , e o r e n o m e que Tendes nas páginas douradas do Vosso S á b i o Reinado, admirado por todos os Vossos súbditos
e pelas nações cultas, são os títulos que Vos elevam à mais estima, distinta consideração e respeito que vos tributa o País inteitro. As manifestações que Vedes estão a q u é m da veneração
que devemos a Vossa Pessoa. Resebei-as, porém, c o m o simples h o m e n a g e m de u m povo livre ao seu S á b i o M o n a r c a . "

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GAZETA DO POVO
DAVf CARNEIRO

"Não é pa í os limites de uma notícia a descrição de mais árduos e delicados da civilização, que são os da hospital-
tudo quanto se exibiu de grandioso nessa ocasião. idade.
"Pode-se dizer que a rainha do Paraná, este oásis dos "Honra aos Monarcas Brasileiros!
campos do sul, o reino da araucária, de cujo nome se exalta, "Honra ao povo Paranaense!"
arreiou-se de todos os esplendores possíveis, para receber com Temos duas coisas a elucidar: Em primeiro lugar o caso
honra os nossos Soberanos. das chaves das cidades de Paranaguá e Curitiba. A primeira,
"Em todas as ruas e em todas as casas, raras sendo as não ao que parece, perdeu-se. A segunda não voltou aos pagos,
embandeiradas, sem distinção de nacionalidade, via-se uma como devia voltar, tendo permanecido no Museu Histórico
rica e deslumbrante iluminação, indiscritível, fantástica. Arcos Nacional, no Rio de Janeiro, apesar dos esforços que tem sido
triunfais e elas de pinheiros, simetricamente plantados, viam- expendidos para trazê-la novamente para Curitiba. (3) - Em
se em todas as ruas e largos. segundo lugar cumpre chamar a atenção dos leitores para a
"Magníficos transparentes, que difícil seria enumerar, se seguinte tradição.
achavam colocados à frente de diversas casas e edifícios públi- Ao pôr pé em ruas de Curitiba, devia o imperador ouvir
cos, em honra dos nossos Augustos Soberanos. um tremendo discurso laudatorio que havia sido preparado
"No centro do largo do Paço, todo ajardinado, sobresaía, pelo dr. Tertuliano Teixeira de Freitas. Consta, porém, que D.
com surpreendente beleza o Pavilhão, que ali fora primorosa- Pedro, num assomo, jogou-se contra o calhamasso volu-
mente levantado. mosíssimo, e arrancando-o das mãos do perplexo orador,
"Às 7 horas da noite, conforme havia S. M. declarado, apertou-lhe as mãos em sinal de agradecimento, e sorrindo
foram abertos os salões do Paço e para ali afluiram as massas com satisfação pela fácil vitória, tendo à mão a chave da
populares afim de cumprimentar o ilustre Monarca e sua vir- cidade, escondeu cautamente as laudas, e voltou para o carro
tuosa Esposa que, fazem honra a este esperançosíssimo País. entre aclamaçõesfrenéticasdo povo.
"Estava postada na Por ocasião da recepção
frente do Paço, a música do no Paço (casa do Sr. Antônio
corpo policial, que depois de Quem conheceu o palácio, Martins Franco - depois co-
ter tocado o hino nacional como era antes da última reforma, mendador da ordem da Rosa)
fazia ouvir harmoniosas peças à esquina de 1.° de Março com o largo da foi figurante central o menino
ensaiadas especialmene para Matriz - depois praça Tiradentes, Pretextato Taborda, envergan-
este fim. do soleníssima casaca de seda
saberá que o quarto junto ao saguão
"Às 7 e 1/2 horas, teve azul.
da entrada, uma alcova sem luz, foi o
lugar a mais completa e fer- Mas entre tantas notas
vorosa manifestação popular,
ocupado pelo Imperador. A Imperatriz tinha elucidativas, cumpre não esque-
de nacionais e estrangeiros, o seu com vista para a rua 1.° de Março. cer o que diz respeito ao quarto
sem distinção de classe, sobres- de SS. MM. II. Já estavam os
saindo entre outras a sociedade "Concórdia" composta de visitantes em caminho da cidade, vindos de Antonina, quan-
grande número de alemães residentes nesta capital que do o Chefe de Polícia, que viera em brasas, a romper cavalos
entoaram um cântico em honra de SS. MM. II., retirando-se pela estrada montanhosa, chegou à comissão de festejos e gri-
em passeio pela praça e ruas da cidade, iluminadas por tou, antes mesmo de saltar do palafrem: "O Imperador não
archotes e precedidos de sua banda de música. dorme na mesma cama da Imperatriz!, — Foi um reboliço!
"Duas outras bandas de música particulares, regidas Mudar tudo!? - Houve alguém de bom censo que lembrou:
pelos Srs. João Scheleder e Benedito Diniz, se fizeram ouvir O que se preparou que fique. Dona Tereza Cristina que use o
junto ao Paço desde o anoitecer até depois das 8 horas, quan- que para Ela se tem pronto. D. Pedro ficará na alcova, arran-
do principiou o povo a dispersar-se. jando-se-lhe uma cama em condições. Veio o alívio...
"Às 9 horas mais ou menos, retirou-se a música que se Quem conheceu o palácio, como era antes da última
achava postada à porta do Paço, pouco após a saída de S. Ex. reforma, à esquina de 1.° de Março com o largo da Matriz -
o Sr. Dr. presidente da província e mais autoridades que depois praça Tiradentes, saberá que"ò quarto junto ao saguão
acompanharam o Exmo. Sr. Ministro da agricultura, até o da entrada, uma alcova sem luz, foi o ocupado pelo
palácio da presidência. Imperador. A Imperatriz tinha o seu com vista para a rua
"O povo paranaense, jubiloso pela feliz chegada e hon- 1.° de Março.
rosa visita de seus amados soberanos, tem se mostrado à altura Foi aqui em Curitiba, que S. M. I. poude ler cheio
da honra recebida, porfiando em desempenhar os deveres de curiosidade, o que era a "verdade", em que consistia a

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D.PEDRO II NO PARANÁ 1 8 8 0

"verdade, em face do trono", segundo interpretação altivez e de resistência como males inere tes à liberdade.
curiosa do Dr. Justiniano de Melo, redator de "O "As mais das vezes as revoluções i ascem de uma
Paranaense". inexata ou errônea compreensão das exigências soci-
Por certo S. M . disse sorrindo ao ler o artigalhão: ais, antes que de uma defeituosa inteligência das
... Estes caipiras!!!... doutrinas políticas.
"Já se foram os tempos em que os tronos, levan- "Diz-se, e repete-se que os povos não refletem,
tados pelo poder das baionetas, e envolvidos na quando desfraldam novas bandeiras, e inhumam as
caligem dos preconceitos, populares, mal resistiam acr monarquias, e isto é mais uma verdade proclamada
choque das livres discussões, e à corrente das idéias. pela história, do que um fato atestado pela ciência psi-
"Estão felizmente sepultadas no imenso sarcófa- cológica.
go da história essas tristes épocas assinaladas pelo "Acostumamo-nos a ver na história os painéis que
deperecimento das liberdades públicas, e, mais que desenrolam os personagens e as nações, e não vamos
tudo, pela antipatia profunda, entre o poder, escuda- escrutar os mistérios que dormem no seio da alma
do na força, e a opinião, revigorada pelo direito. popular.
"Graças à imprensa, que chamaremos, pedindo "Julgamos que os fenômenos obedecem à uma
os termos da comparação ao mundo astronômico, — lei traçada pela provindência, e não levamos em
o centro do sistema moral e político das sociedades conta a elaboração contínua, persistente dos senti-
modernas, a luz das idéias, das opiniões, dos princípios mentos e das idéias, quando não se consubstanciam
penetra vívida e inten- num símbolo, ou num
sa nos tratos ínfimos acontecimento.
das populações, e jorra "Chamem embora
em caudais sobre as "instinto inconsciente"
atitudes do governo. esse embrião, que, se-
"O poder vem gundo um filósofo
apanhar nas praças o contemporâneo, deve
ideal de suas tranqüi- produzir as formas di-
las evoluções: o povo versas da vida política,
galga as escadarias dos religiosa e social: não*é
palácios reais para por menos certo que foi já
si mesmo julgar os proferida a última
monarcas, e regular as palavra dos povos em
suas reivindicações. A porta simbólica da cidade de Curitiba, onde a chave tradicional foi entregue ao Imperador. À direita, em quaisquer organizações
"Aliar, harmoni- traje de etiqueta, a Comissão da Câmara Municipal. porque se modelam os
zar com as aspirações Estados: "o direito de
da democracia as prerrogativas do trono, ou antes, todos à liberdade".
fazer que marchem paralelamente essas duas forças, "É esse direito que temos constantemente recla-
tão raramente acordes, - o ideal e a tradição, - eis mado das colunas da imprensa jornalística: é esse
em que consiste o problema, resolvido de tantos direito o que exercemos dizendo a verdade sobre os
modos diversos pela ciência, e tão repetidamente atos dos governos, e profligando os abusos, que, se
julgado insolúvel na prática. desacreditam a autoridade, não consolidam as monar-
"O que principalmente concorre para o antag- quias.
onismo dos dois elementos, sempre combatentes, é "Pela execução das leis, pela moralidade do poder
de um lado o desarrazoamento, a imprevidência dos público, - havemos, nós, conservadores, travado re-
soberanos, e do outro o servilismo, a impaciência nhidas batalhas; mas nem sempre a nossa palavra
dos povos. achou éco nas eminências do tronco, circundado pela
"Estes reagindo contra a fatalidade que os turba dos exploradores dos sofrimentos públicos.
esmaga, vêem nas suas angústias o vício de um "Hoje, não sabemos se nos escutará o Monarca;
princípio, muitas vezes estranho aos abusos do mas não será essa dúvida motivo para que não cor-
momento: aqueles, sentindo-se fortes pela resig- ramos a cortina às cenas pungentes para o patriotismo,
nação dos povos, traduzem todos os movimentos de que aí se reproduzem, enquanto os ministros de S. M.

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GAZETA DO POVO
DAVÍ CARNEIRO

garganteam^melódicas redondilhas sobre os milagres tributado a administração aos ídolos da enfesada e


da reforma eleitoral... clorótica política de campanário, - foram os elefantes
"O povo sabe que o seu Imperador colocou-se que arrastaram, em vertiginosa carreira, e para o abismo,
constitucionalmente à frente da cruzada em favor do as riquezas amontoadas por longos anos de estudo e de
sistema eleitoral por sufrágio direto: mas o que perseverança.
ninguém crê é que a razão imperial possa conceber a "O professorado vê cercadas as imunidades que
verdade das urnas sem a pureza dos costumes, a ilus- uma sábia prudência opoz ao vaivém dos interesses par-
tração dos cidadãos, a moralidade dos governos. tidários, à instabilidade das leis. As leis sucumbiram na
"E viu S. M., no seu rápido percurso pelas loca- luta com o arbítrio, ou antes serviram de pasto à corve-
lidades do interior da província, que a moralidade de jada do proselitismo político.
seus delegados pelo menos contrasta com o ideal dess- "São semelhantes fatos um sintoma de decadência,
es sertanejos, que se aproximaram respeitosos, mas ou traduzem antes a fase climatérica que atravessam as
altivos da pessoa inviolável: viu S. M . a pureza dos cos- instituições?
tumes representada por essa família, que enriqueceu "Se em algum tempo o trono teve necessidade de
para a desdita da colonização, e para descrédito do esta- aproximar-se do povo, nunca ela mais fortemente se
do; viu, finalmente, S. M. qual o grau de ilustração que denunciou do que na hora presente.
se pode esperar para a geração que desponta e cresce, "Se é um dever dos soberanos ouvirem os seus
visitando as escolas regidas por analfabetos, — nas quais povos, e coparteciparem das provanças que os afligem,
não se percebe um vislumbre de método e de aplicação. está nos interesses da monarquia procurar alento e vita-
"Perguntasse S. lidade no seio das po-
M. ao seu delegado, pulações ainda não
que pela primeira vez descrentes da solicitude
escursionou pelo interi- de seus monarcas.
or da província, as "E se em roda
causas do marasmo, do destes se aglomeram os
desponderamento, da áulicos, se formigam
franca decadência da em torno do trono os
instrução, e êle não mal intencionados e
ousaria dizer que colo- perversos, - abundam
cou à frente do ensino também os caracteres
público, transgredindo rígidos, os espíritos in-
a lei, e ferindo direitos dependentes, as almas
incontestáveis, um dos Casa do Comendador Antônio Franco, em Curitiba, onde em 1880 puras e imaleáveis que a
seus mais ferventes se hospedaram S.S.M.M.I.I. (Estado em 1935). verdade não trocam
apaniguados, que se pelo sorriso imperial, e
recomenda por títulos o povo não atraiçoam
de valor exclusivamente oficial; que elegeu professores por fementidas bajulações.
ignorantes, atacando prescrições regulamentares, para "Quando as revoluções precipitam os passos, a ver-
subservir à mesquinha e esterilisadora política dos cor- dade não pode ser ouvida.
rilhos; que não visitou uma só vez, nem mandou visi- "Digamo-la hoje toda inteira:
tar as aulas entregues à fiscalização de inspetores "Nunca esta grande pátria sentiu mais perto do
desidiosos e partidários; que, enfim, para tornarmos coração a ponta da espada que o punho da reação
mais curta a resenha de fatos geralmente notados, con- brandiu nos espasmos tremendos.
fiou à doidice das ondas o barco desgovernado da edu- "Nunca mais distante-dos ^cidadãos se colocou o
cação popular. trono de um monarca constitucional, que muita vez sa-
"O motivo que tantos, e tão incômodos balouços crificou às glórias da nação as satisfações da vida privada.
causou ao carro imperial, ao subir a serra da Graciosa, "Pois bem: ao Monarca saudamos como patriotas
produziu o enfadonho estado do ensino público na e como amigos do sistema: ao povo dizemos, como
província. Epicteto: "desfazei-nos de vossos deuses de lama, e
"A incúria culposa associada à veneração que tem para serdes livres, abri os olhos à verdade."

19

USBC<Z>
D.PEDRO II N O PARANÁ 1880

"A capital está situada no planalto le Curitiba,


rodeada por 19 colônias sendo 15 nos seuo arredores e
Pela comunicação telegráfica, o redator da 4 nas proximidades da vila de S. José dos Pinhais que
"Gazeta de Notícias" disse aos seus leitores da Corte: lhe fica perto.
"A recepção que os augustos viajantes tiveram nesta "A comissão de festejos, tendo à sua frente o
capital foi estrondosa e brilhante. As ruas estavam fes- chefe de polícia da província conseguiu obter grandes
tivamente adornadas de arcos, folhagens e bandeiras e as coisas para os festejos. Diz-se que só em foguetes con-
praças ricamente enfeitadas. sumiram-se cerca de 8 contos e talvez outros 2 contos
"Uma guarda de honra, os membros que com- de réis em 3 0 0 0 pinheiros novos, arrancados das
põem a Câmara Municipal, várias comissões e bandas encantadoras florestas para com eles se improvisarem
de música vieram receber SS. M M . e acompanhá-las avenidas.
ao trajeto. A população das colônias junto da cidade "Das informações obtidas sabe-se qué aprox-
seguia os imperantes com manifesta satisfação, e pro- imadamente só na capital despenderam-se 130
duziu uma impressão extraordinária a recepção que contos de réis e em toda a província, mais de 2 8 0
lhes fizeram as senhoras postadas em alas, empunhan- contos. A câmara municipal contraiu empréstimo
do estandartes, representando cada um uma colônia. de 8 0 , e a comissão de festejos gastou 3 0 contos
"Ao penetrarem na cidade foram SS. M M . acom- de seus haveres. Nos preparativos da estrada,
panhadas por uma guarda de honra formado por 50 afim de torná-la elegante foram empregados ou-
alemães, a cavalo, trazendo os estandartes alemão e tros 6 0 ! "
brasileiro, e fachas de cores da nacionalidade alemã. O "Jornal do Comércio" não foi menos erudito
Foi magestosa esta nas suas descrições
manifestação dos através da pena minu-
estrangeiros. ciosa dos seus corres-
"Cerca de 600 pondentes e comenta-
cavaleiros foram espe- ristas:
rar os augustos viajan- "Cerca de 6 qui-
tes fora da cidade, o lômetros antes de Cu-
que formava um sé- ritiba eram encontra-
quito brilhante e im- dos à margem da estra-
ponente. da sitiantes, colonos e
"SS. M M . hospe- imigrantes expontâ-
daram-se no palacete neos, saudando SS.
do capitalista portu- Curitiba em 1880, por ocasião da visita de S.S.M.M.I.I. As torres da igreja foram MM. II.
guês Martins Franco. desenhadas, segundo o projeto da Catedral, realizado mais tarde. "No lugar deno-
O ministro da agricul- minado Bairro Alto
tura, os representantes da imprensa e mais pessoas cerca de 4 0 0 alemães, tendo à frente as bandeiras
foram recebidos no palácio da presidência. Toda a alemã é brasileira, e a tiracolo uma fita com as cores
cidade agita-se de verdadeira alegria, e o contenta- das duas nações, esperavam S. M. na estrada, e todos
mento é geral. a cavalo, seguiam a caruagem imperial. Pouco a pouco
"O trajeto de antonina para Curitiba foi péssi- foram se agregando à comitiva mais meradores dos
mo, e a estrada graciosamente enfeitada e preparada, arredores de Curitiba, colonos e imigrantes, de modo
achava-se em mau estado. Ainda assim, na extensão de que a 3 quilômetros de distância de Curitiba, o
50 quilômetros desde o alto do Corvo até a Capital, a séquito era de mais de 1.000 cavaleiros, que acom-
chuva cessou felizmente." panharam SS. M M . até o lugar denominado Entrada
Pela comunicação epistolar, a descrição foi da Graciosa, começo da cidade.
menos breve e muito mais erudita: "Às 3 horas da "E difícil descrever a recepção que os imperantes
tarde fêz a comitiva imperial a sua entrada solene na tiveram em Curitiba. Flores, foguetes viam-se por
capital onde foi recebida de modo realmente toda cidade.
magestoso, à vista das circunstâncias excepcionais em "Milhares de dúzias de foguetes subiram ao ar e
que se encontra esta província. as saudações pareciam intermináveis. As ruas todas

20
GAZETA DO POVO
DAV.Í CARNEIRO

enfeitadas e c m arcos, o lugar da matriz todo ornado Curitiba, cada uma representada por uma colona
de bandeiras wnulticores e ajardinado, tendo no centro empunhando uma bandeira com o nome em letras
um elegante e alteroso pavilhão, que terminava em douradas. O Imperador e a Imperatriz dirigiram-se
torre, pintado de diferentes cores, que apresentava um com a maior afabilidade a cada uma delas.
lindo aspecto. "Pouco depois, muitos membros de sociedades
"SS. M M . chegaram às 3 horas da tarde ao largo, e alemãs aqui estabelecidas, tendo à sua frente as ban-
dirigiram-se para o palacete do capitalista português deiras alemã e brasileira, e levando archotes, dirigiram-
Antônio Martins Franco. Apeando-se da carruagem SS. se para o palácio onde cantaram coros a seco em ho-
MM. foram recebidas pela senhora do presidente da menagem a SS. M M .
província e por mais de cinqüenta senhoras trajando "Até às 10 horas da noite tocaram cinco bandas
ricas toiletes. O povo, que se aglomerava no largo em no largo da matriz, sendo uma em frente ao palácio,
frente ao palácio, era numerosíssimo, o largo cuja área é, outra no pavilhão e outras em passeiatas.
pouco mais ou menos igual à metade do campo da acla- "Curitiba, é uma linda cidade, edificada na fralda
mação do Rio, estava apinhado de moradores da cidade de um morro e de um clima mais frio que o de
e dos arredores e de cavaleiros. Petrópolis. Foi fundada a povoação em 1654, pelo
"Disseram-me que dos municípios de Votuverava, mesmo Teodoro Ébano Pereira, que fundara a de
Arraial Queimado e S. José dos Pinhais não vieram Paranaguá. Foi elevada a vila por iniciativa do povo
mais cavaleiros, porque só esperavam que SS. M M . que reuniu-se e nomeou as justiças e elegeu os oficiais
chegassem no dia 2 2 . Foi uma recepção magestosa, e, da câmara, como consta do auto lavrado em 1693. Em
posso dizer, sem receio de errar, que nas viagens que 1812 foi elevada à cabeça da comarca: Teve categoria
tenho acompanhado SS. M M . foi esta a mais deslum- de cidade pela lei provincial de São Paulo n.° 5 em 5
brante e aparatosa que tenho visto. de fevereiro de 1842, e de capital da província do
"Recolhendo-se ao palácio, bem como seus Paraná pela lei n.° 1 de 26 de julho de 1 8 5 4 , quando
semanários, que também se hospedaram no palacete presidente e fundador da Província o finado conse-
Franco, jantaram SS. M M . às 4 horas da tarde, saindo lheiro Zacarias de Góes e Vasconcelos.
o Imperador em curto passeio pela cidade acompa- "Chegou ontem aqui para esperar S. M . o
nhado pelos Srs. Visconde de Tamandaré e Barão de Conselheiro Jesuino Marcondes, ex-ministro da agri-
Maceió. cultura que acompanha os augustos viajantes aos
"A noite a iluminação foi geral na cidade, o pavi- Campos Gerais."
lhão tinha copinhos de várias cores e o largo lanternas D. Pedro II e Dona Tereza Cristina nunca imagi-
chinesas em toda sua extensão. naram que pudessem ser alvo de tanto amor e respeito.
"Às 7 horas da noite SS. M M . receberam todas as Por certo, também, eles acharam que melhor seria
pessoas que quiseram ter a honra de cumprimentá-los. menos respeito acompanhado de menos dose de
Entre outras, devo citar a visita de 21 colônias de caceteação!

S.M. pretende visitar a província apesar da chuva e do mau estado dos caminhos, o que

desespera a ilustre comitiva.

Os colonos alemães saudaram com entusiasmo o nosso Imperador.

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D.PEDRO II NO PARANÁ 1 8 8 0

-II-

CONTINUAÇÃO DOS FESTEJOS EM CURITIBA. - AS VISITAS. -


O MUSEU. - O INSTITUTO PARANAENSE. - A SANTA CASA. -
O DISCURSO DE INAUGURAÇÃO.

C
omo si não bastassem as descrições já feitas em S. M. Imperador a honra de uma expressão benévola e grata.
número anterior, volta o "19 de Dezembro" a dizer "Em seguida, estando deslumbrantemente iluminada a
as belezas do Paço Imperial, récem-construído, a cidade, começaram as manifestações populares que, ondas
fazer valer a hospitalidade. Diz o jornal, repetindo o que já sobre ondas, se precipitavam e sucediam para a frente do
haviam dito os jornais da corte: Paço, acompanhados de músicas, iluminados por archotes, e
"Externa e internamente adornado com capricho, requintando em delirante entusiasmo todas as vezes que SS.
elegância e aprimorado gosto, apresentava o Paço, que a M M . se dignavam apresentar-se à janela e com gestos expres-
Comissão de festejos recebera do proprietário, recentemente sivos agradecer às saudações.
acabado, porém despido, um outro e surpreendente aspecto. "Toda a cidade movia-se então, como que vibrada pela
"Com efeito, quanto é possível em vista do recurso de mesma fibra, e falando num só diapasão de frenético prazer.
que dispõe esta capital, foi preparado o edifício com um "Em nenhuma cidade do império, das que tem tido a
esplendor e esmero dignos dos Augustos Hóspedes, dita de tão honrosa visita, deu-se talvez jamais o espetáculo
"Si não em todas, ao menos em algumas peças, que aos olhos de SS. MM. se exibiu na Curitiba, em tais
quadros e móveis, é opinião de pessoas insuspeitas, que demonstrações, pelo fato de recebê-las de quase todas as
dificilmente será, em qualquer parte, igualado o arranjo e nações cultas da Europa, que por suas bandeiras eram repre-
decoração interna do Paço Imperial. sentadas nas diferentes agregações de colonos e imigrantes,
"— Às 6 horas da tarde, que porfiavam com os
saiu S. M . o Imperador, nacionais em testificar sèu
acompanhado de seus sema- "Toda a cidade movia-se então, regozijo para com os
nários, dos Exmos. Snrs. mi- como que vibrada pela mesma fibra, Soberanos de sua nova Pátria.
nistro da agricultura, presi- "Uma corporação de
e falando num só diapasão
dente da província, Dr. chefe alemães, em frente ao Paço,
de frenético prazer.
de polícia e outras autorida- entoou um hino que havia
des e pessoas gradas, com composto expressamente para
grande acompanhamento popular e deu um passeio pela dedicar à chegada de SS. M M . II.
cidade, que então se começava a iluminar, fazendo realçar "Grupos outros, de italianos e polacos, entoavam tam-
os atavios e esplendores com que significava seu intenso e bém cânticos festivos, como si todos, em seu próprio país,
vivo regozijo. estivessem, dando provas de amor e patriotismo para com
"Nas ruas onde passava, era S. M. vitoriado satisfazen- seus monarcas.
do a jubilosa anciedade da população, que se aglomerava "O largo do Paço conservou-se cercado de grande mul-
pressurosa pelas janelas e ruas para saudá-lo. tidão,extasiada, perante os vivas e magníficas cenas, que aí se
"Às 7 horas da noite, receberam SS. MM. no Paço, as passavam até depois de 10 horas da noite.
pessoas e comissões já desta capital, já dos vários municípios "Grande número de cidadãos e senhoras da mais ele-
da província, que queriam ter a honra de apresentar-lhes suas vada distinção, na província, estiveram no Paço, em cumpri-
homenagens e saudações, por si ou fazendo-se representar os mento a SS. M M . que a todos recebiam e ouviam com
cumprimentos de que estavam incumbidas. atenção delicada.
"As câmaras municipais de Curitiba, S. José dos Pinhais, "Nesse mesmo dia tiveram a subida horira de serem
Votuverava, Arraial Queimado, Porto de Cima, S. José da convidados para jantarem sempre com SS. M M . os Exms.
Boa Vista, Ponta Grossa e Castrofizeram-serepresentar nesse Srs. Ministros da agricultura, presidente da província e dr.
cortejo; sendo sempre benignamente ouvidos e recebendo de chefe de polícia."

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GAZETA DO POVO
DAVf CARNEIRO

A 22, d( de às 7 horas da manhã, SS. M M . II., "Não deixarei de mencionar aqui o nome do atual
•presidentedr. Dantas Filho que é elogiadoqadkmuir^anj-
nesse tempo era um dos raros existentes no Brasil. mação que tem dado ao museu."
"Pelas 7 horas da manhã, S. M. o Imperador acom- Depois da visita ao museu houve uma missa, e ne-
panhado de seus semanários, Exmo, ministro da agricul- nhum dos jornais deixou de contar da celebração. O " 1 9 "
tura, e presidente da província, dr. chefe de polícia e disse: "Em seguida dirigiu-se às 8 1/2 à Igreja de S.
vários cidadãos visitou o museu provincial, onde o esper- Francisco das Chagas onde ouviu a missa que mandara
avam os Drs. Ermelino de Leão, Constante Coelho, e celebrar por alma de um dos Augustos Parentes de S. M.
muitas pessoas, e aí conheceu muitos dos espécimens de a Imperatriz, que também a ela compareceu. Aí ouviram
riqueza de todos os reinos, de que se enche a província, também a missa o séquito imperial, autoridades supe-
mostrando-se solícito sobre as suas curiosidades, e mais riores e vários outros cidadãos."
uma vez dando provas de quanto conhece semelhantes O "Jornal do Comércio" também comentou: "As 8
estudos de que é um amador estremoso, reconhecido e 1/2 rezou-se uma missa na capela de S. Francisco das
sábio." Chagas, por alma de um irmão de S. M. a Imperatriz,
O "Jornal do Comércio" fêz detalhada descrição do cujo nome nenhum semanário soube me dizer."
museu, tal como êle era quatro anos após sua fundação. Em seguida houve a visita do Imperador às casas de
"S. M. o Imperador acompanhado dos semanários instrução. O "19 de Dezembro" contou o caso: —
Visconde de Tamandaré e do Barão de Maceió, ministro "Voltando ao Paço, almoçaram SS. M M . e em seguida
da agricultura e presidente da província, visitou o Museu saiu S. M. o Imperador para visitar o Instituto Para-
Paranaense, onde foi recebido pelo seu diretor dr. naense, onde foi recebido pelo dr. diretor da instrução
Ermelino de Leão. S. M, examinou as duas salas do pública, congregação dos lentes e grande número de
museu, que foi fundado a 25 de setembro de 1876 pelo cidadãos. S. M. assistiu a algumas lições, ouvindo e inter-
então presidente da província dr. Adolfo Lamenha Lins, e rogando alunos de diferentes aulas e mostrando-se satis-
organizado pelo diretor da associação de aclimação Dr. feito.
Ermelino de Leão e pelo finado dr. José Cândido da Silva "Daí dirigiu-se S. M. para a escola pública e colégio
Murici, um dos beneméritos de Curitiba. particular do professor Alexandre J . F. Rouxinol, onde se
"O museu compõe-se de duas salas. Na primeira demorou também ouvindo a alguns alunos.
estão coleções de cristais de rochas, minerais, cobras e "Retirando-se foi S. M. para o Paço onde recebeu S.
largatos em espírito, peles de animais, animais empalha- M. a Imperatriz para assistirem ao meio dia à inauguração
dos, insetos, erva mate, secção indígena, madeiras prin- do hospital de caridade."
cipais da província e amostras dos cereais. Na segunda O "Jornal do Comércio" também disse: "Recolhidas
existem alguns troféus da Guerra do Paraguai, secções de SS. M M . ao palácio, findo o almoço, o Imperador visitou
marinhas, médica e botânica, fósseis, sambaquis, grandes o Instituto Paranaense, que também foi criado pela lei n.°
urnas encontradas no lugar em que está hoje a colônia 456 de 12 de abril de 1876. O ensino é secundário e está
Assunguí e que pertenceram aos indígenas, amostras de confiado a hábeis professores, segundo me dizem.
pinhas do tamanho de uma melancia, coleções de selos e Visitou em seguida a escola pública chamada do
papel-moeda, e uma grande variedade de objetos antigos Rouxinol, onde examinou os alunos, o que também fiz-
tais como o n.° 182 do "Jornal do Comércio" de 20 de era no instituto.
julho de 1841, suplemento publicado no dia da sagração Mas foi sobre a inauguração da Santa Casa de
e coração do Sr. D. Pedro II, um açucareiro que fazia Misericórdia que os jornais se encheram.
parte do serviço do rei Luiz Felipe, o calção do último O "19 de Dezembro" contou assim a solenidade:
capitão mor de Paranaguá, uma caixa de relógio que per- "Então, saudados por uma salva de artilharia, chegaram
tenceu a Catarina Alves Paraguassú e depois aos ao meio dia SS. M M . ao novo hospital, que se achava
Visconde da Torre, e um sinete que pertenceu ao ditador soberbamente ornado interiormente e em toda a rua da
Lopes, presente feito ao museu pelo atual ministro de frente do edifício se viam arcos, bandeiras e sinais festivos.
estrangeiros, conselheiro Pedro Luiz. "A concurrencia popular era extraordinária nessa
Jb aqui voz corrente que o museu esta assim orga- ocasião. Seguramente 2000 pessoas se achavam no largo e
nizado, graças aos esforços do atual diretor e juiz de dire- dentro do edifício, a cuja porta foram SS. M M . recebidos
ito da comarca Dr. Ermelino de Leão que a êle tem-se pelo provedor da misericórdia dr. Pires de Carvalho e
dedicado com verdadeiro interesse. Albuquerque e respectivos irmãos, com suas insígnias.

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D.PEDRO II NO PARANÁ 1880

"Em dois coretos levantados, aos lados do portão do "O procurador leu a seguinte ata de ii auguração: No
jardim exterior, se achavam duas Bandas de^músIcaTado ano do nascimento de Nosso Senhor Jesus Cristo de 1880,
corpo policial e a do Sr. Schleder, que romperam simultanea- qüinquagésimo nono da independência e do Império às 12
mente no hino nacional ao apearem-se do carro os Augustos horas do dia 22 de maio, nesta cidade de Curitiba, capital da
Viajantes. . província do Paraná, antiga cabeça da antiga comarca de São
"Durante toda a solenidade revesavam-se as duas ban- Paulo, elevada à categoria de província pela lei de 12 de agos-
das de música em lindas e concertadas peças, com que divi- to de 1853 e instalada pelo seu primeiro presidente conse-
nisavam ainda mais a belíssima cena. lheiro Zacarias de Góes e Vasconcelos, achando-se reunidos
"Em seguida, celebrou-se na soberba e lindíssima no novo hospital da Misericórdia o respectivo provedor Dr.
capela do hospital a missa solene a que assistiram SS. MM. e Antônio Carlos Pires de Carvalho e Albuquerque, os irmãos
grande número de pessoas de distinção, autoridades e mesa funcionários com ós demais irmãos, o irmão provedor disse
da santa casa. que, havendo S. M. o Imperador se dignado de honrar o ato
"Concluída a missa foram SS. MM. para o salão de com sua augusta presença e a de S. M. a Imperatriz, desig-
recepção que se achava elegantemente ornado e aí, sentados nava todos os irmãos presentes para em corporação receber
no docel, que havia preparado, ouviram o discurso com que os augustos imperantes. À hora aprasada, chegando SS.
o digno provedor dr. Antônio Carlos Pires de Carvalho e MM. acompanhados de sua comitiva composta dos Exmos.
Albuquerque, saudava a SS. MM., exprimindo seus votos e Snrs. ministro da agricultura, Visconde de Tamandaré, con-
louvores para com aqueles, vivos e mortos, que se tinham selheiro José Caetano de Andrade Pinto, Barão de Maceió,
recomendado ao reconhecimento da santa casa e do público drs. presidente da Província Manoel Pinto de Souza Dantas
por seus esforços e serviços para com o novo hospital. Filho e deputado geral e presidente da assembléia provincial
"Em outro lugar e oportunidade publicaremos esse elo- Manoel Alves de Araujo, deputados provinciais, presidente e
qüente discurso do muito digno provedor dr. Pires de mais vereadores da câmara municipal, Rev. vigário geral
Albuquerque. forense e o da vara e mais sacerdote desta paróquia, drs. chefe
"Concluída essa solenidade, dignaram-se SS. M M . de polícia e juiz de direito da comarca, juízes de paz e con-
assinar a ata da inauguração que foi lançada em livro apro- selheiro Jesuino Marcondes de Oliveira e Sá, chefes e mais
priado, assinando em seguida todos os ilustres personagens, funcionários das repartições públicas, autoridades militares,
funcionários e autoridades que aí se achavam." representantes do "Jornal do Comércio", "Cruzeiro" e
O "Jornal do Comércio" comentou: "S. M. o "Gazeta de Notícias", os redatores do "Dezenove de
Imperador dirigiu-se ao palácio de onde foi com S. M. a Dezembro", "Província do Paraná" e "Paranaense" e muitas
Imperatriz à Santa Casa de Misericórdia assistindo ali a inau- outras pessoas gradas, foram SS. MM. recebidas solenemente
guração do respectivo hospital. Este estabelecimento foi pela irmandade, penetrando no recinto do edifício em cuja
construído as espensas da província e com alguns donativos capela ouviram missa. Terminada a missa, SS. M M . precedi-
particulares, entre os quais sobressaíram-se os do Barão de das do mesmo acompanhamento, dirigiram-se para o grande
Guarapuava. A obra está hoje concluída, graças a força de salão, no pavimento superior à direita do edifício e ali, depois
vontade e trabalho do finado dr. Muricy que reuniu os dona- de observadas as formalidades do estilo e concedida vénia de
tivos e deu começo às obras do hospital. S. M. o Imperador, o dr. Provedor leu um discurso análogo
"E' uma obra importante este edifício; é o primeiro ao ato, terminando o qual deu-se por inaugurado o hospital
estabelecimento de Curitiba. Pouco depois do meio dia, de misericórdia da capital do Paraná, franqueando-o aos
chegaram SS. MM. ao som de foguetes e do hino nacional, desvalidos.
executado por duas bandas de música, sendo recebidos à "(AA) - D. Pedro II - Tereza Cristina Maria — Manuel
entrada pela irmandade, autoridades e extraordinário con- Buarque de Macedo — Visconde de Tamandaré — José
curso de povo. Depois da missa da capela do hospital, que Caetano de Andrade Pinto - Barão de Maceió - Manoel P
estava todo enfeitado e tendo escudos com várias inscrições, de Souza Dantas Filho — e outras muitas assinaturas.
entre as quais li várias asserções latinas, foi-se para o salão "Em seguida SS. MM. percorreram as dependências
nobre. (Ver na notícia do "19 de Dezembro", adiante repro- do hospital, merecendo especial menção nesta notícia o ele-
duzida). vador que há para suspender o doente na cama, evitando
"Reunidas no referido salão muitas senhoras e pessoas assim dificuldades no transporte para os pavimentos supe-
do lugar, o provedor leu um discurso análogo ao ato, que ter- riores.
mina pedindo a proteção dos Imperantes para novo hospital. "Finda a visita, retiraram-se SS. MM., ficando em palá-

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GAZETA DO POVO
DAVÍ CARNEIRO

cio a Imperar z. O Imperador ainda visitou, antes do jantar, "Desde a rua do Aquidaban, onde vem começar a que
várias escolas b repartições públicas." leva ao edifício e que lhe fica a mais de 300 pessoas estendia-
A "Gazeta de Notícias" repetiu: "Depois das notícias se uma alameda de pinheiros e outras árvores ligadas, por
dadas em telegramas a respeito dos festejos, é digno de espe- arcos comflâmulasvariegadas e vistosos festões de flores, que
cial nota a inauguração do hospital de caridade, levantado na de espaço em espaço, estavam ali levantados.
praça Muricí, nome dado pela municipalidade em honra do "Em cada um desses arcos viam-se entre as bandeiras
grande cidadão dr. José Cândido da Silva Muricí, fundador de diferentes nações, abraçados por prolífico sentimento que
daquele importante estabelecimento. não distingue raças ou nações, escudos onde se liam cifras,
"O edifício, dotado de grandes proporções, é de uma datas ou legendas alegóricas.
arquitetura realmente bela, construção sólida, e feito com "Na entrada principal do portão que fecha o elegante e
todos os detalhes indispensáveis a uma casa de tal ordem. rico gradil de ferro, que se estende na frente do edifício e seu
"Além de uma linda capelinha, uma espaçosa sala de vasto parque, erguiam-se de cada lado pavilhões, figurando
recepção e um vestíbulo nobre, têm ainda em lugar conve- bosques, e de cujo estrado, com elevação de 2 metros, as duas
niente edificado um necrotério feito ao gosto do Rio de bandas de música, da polícia e do Sr. Schleder, se revesavam
Janeiro. em harmoniosas peças. Abraçava esses dois coretos o pavi-
"Contornando o edifício extendem-se bonitos jardins, lhão auri verde, de grandes dimensões, de envolta com ou-
e fechando toda área ocupada pelo hospital e mais tros de várias nacionalidades.
dependências um sólido gradil. "Ao meio dia em ponro, um parque de artilharia e cen-
"Ao atual Sr. presidente da província, o Dr. Dantas tenares de foguetes, assim como o hino nacional a um tempo
Filho, e ao prestimoso provedor da Santa Casa de executado pelas duas bandas de música, anunciavam a
Misericórdia, o Sr. Dr. Antônio Carlos Pires Carvalho e chegada de SS. MM. II. que foram, ao apear do carro, rece-
Albuquerque, deve a província do Paraná a conclusão do seu bidos entre estrepitosos vivas.
primeiro estabelecimento público, fundado em 1868 e que "Uma multidão compacta se apinhava nas imedi-
só hoje pode ser inaugurado. ações do edifício, a cuja entrada inúmeros cavalheiros e
"A cerimônia da inauguração correspondeu aos demais senhoras, autoridades e irmãos da misericórdia com seu
festejos havidos nestes dois dias na capital. digno provedor se achavam para receber os Augustos
"SS. MM. II. foram recebidos à entrada do hospital Soberanos.
pela irmandade da misericórdia e conduzidos à capela, onde "Dirigindo-se para a linda e incomparável capela do
disse missa o Rvdmo. Vigário geral. Em seguida passaram hospital, situada no centro interior do pavimento superior
para um salão devidamente ornamentado, onde o discurso do edifício, foram SS. MM. II. levados ao docel que aí se
inaugural foi proferido pelo dr, Pires, mordomo da Santa achava levantado, tendo então lugar com tocante solenidade
Casa e diretor do hospital, e finalmente assinaram com as uma missa cantada, a que além de SS. M M . assistiram o
pessoas presentes a ata de inauguração. Exmo. Sr. ministro da agricultura, presidente da província,
"Depois de percorrerem todo o estabelecimento, reti- dr. chefe de polícia, conselheiro Jesuino Marcondes, deputa-
raram-se SS. MM. II. com as devidas formalidades e con- do geral dr. Alves de Araujo, dr. Pizarro, sub-diretor do
tinências prestadas por uma guarda de honra, tirada do 2.° museu nacional, muitas senhoras, veador, mordomo e médi-
de cavalaria, pelas bandas de música do corpo de polícia, co de SS. MM., dr. provedor e muitos irmãos da santa casa,
Vinte Cinco de Março, dos Polacos, dos alemães, dos. com suas insígnias, muitas das mais distintas senhoras e cav-
Brasileiros, Clube Concórdia, Germânico e Italiano." alheiros dos de maior estofo da capital e outros pontos, assim
O "19 de Dezembro" entretanto sob título especial deu como estrangeiros.
outra notícia completa: - "Na Augusta presença de SS. MM. "Ao acabar a missa, foram SS. M M . ao vasto salão da
II. teve lugar, como dissemos no número passado, a solene inauguração, ao oeste da capela, onde um outro docel estava
inauguração do hospital de caridade desta cidade, no dia 22 preparado para esse ato.
do corrente. "Nesse salão, artisticamente decorado, viam-se o retra-
"Foi grande e cheia de piedoso encanto essa, como to em tamanho natural do S. M r e Imperador, e das paredes
todas as festas, que, de tamanho alcance, se celebram sob os pendiam entre belos quadros, escudos elegantes, com as
influxos do mais terno e amorável dos sentimentos cristãos. inscrições latinas, que passamos a extratar.
"Interna e externamente preparado em festa, com luxo, "A cada um dos lados do docel imperial liam-se as
elegância e gosto, apresentava o edifício e sítios adjacentes seguintes inscrições, nos respectivos escudos, sobre fundo de
um espetáculo atraente, grandioso e digno de ver-se. prata.

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RSBCm
D.PEDRO II N O PARANÁ 1 8 8 0

"Imperator, flagrans sancto patriae amore, oegri, in "E, pois, a Vossa vinda não podia deixa • de ser acolhi-
nomine charitatis sacro, te proclamam." da entre os aplausos e alvoroços de júbilo lo povo, e a
"Caridosa Brasiliae Imperatrix, sub conspectum et Irmandade da Misericórdia, da qual sois pelo compromisso
proesidium tuum, valent infirmi." o seu protetor, tem nalma generosa e filantrópica de W .
MM. o mais seguro penhor da proteção, que à W . M M .
"Além destas, liam-se mais, em outros escudos, as ousa pedir em favor do estabelecimento, que abre hoje as
seguintes: suas portas aos pobres desvalidos.
"O dia de hoje, Senhor, assinala ura grandioso acon-
"Salve, alma chariras,'tfgina orbis pulchra," tecimento nos fastos desta florescente e esperançosa
"Nulla sublimior charita te virtus." Província.
"Salve sacra sine íabe Domus; sanctarum aula legum." "A abundância e magnificências, que aprouve à
"Veneranda beneficientia oedes, teChristi amore alit natureza espalhar sobre a superfície deste ubérrimo e
Deus." abençoado torrão; os tesouros de inesgotável riqueza, que
irrompem e pululão das camadas fecundas da terra; as pre-
"A primeira pedra desse edifício foi lançada a 8 de ciosidades que palpitam nos seus refolhos e estranhas; a lu-
março de 1868, como se lia no primeiro dos arcos festivais xuriante e opulenta vegetação; a magestade dos rios e cas-
levantado na rua do Aquidaban; portanto, consumiram-se catas; um clima suave e ameno, que faz lembrar o belo clima
doze anos, de esforços, fadigas e intermitências para ser de Nice na Itália; o ouro, a prata, as gemas, e todos os pro-
acabado. dutos europeus, que formam a base das artes e indústrias;
"Por sobre a porta principal, uma pedra mármore tantas riquezas reunidas atraem a estas plagas os estrangeiros,
imbutida na parede, mostra a seguinte inscrição; que a elas se aventuram em busca de um futuro para si e suas
"Inaugurada a 22 de maio de 1880, na Augusta famílias.
Presença de SS. M M . II., sendo presidente da província o "Alguns encontram larga e generosa recompensa aos
Exmo. Snr. Dr. Manoel Pinto de Souza Dantas Filho e seus trabalhosa fadigas, tornando-se em pouco tempo sen-
provedor o limo. Sr. Dr. Antônio Carlos Pires de Carvalho e hores de grossas fazendas e crescidos capitais; outros mal
Albuquerque. ganham o sustento de cada dia; outros, finalmente, bas-
"Para dar uma ligeira idéia do edifício, cuja descrição tardos e engeitados da fortuna, espiam em uma vida
reclamaria uma competência muito especial, que nos falta, inteira de sofrimento o erro ou o desvario de um momen-
reproduziremos oportunamente a que em traços largos foi to; e, em vez de sonhos de riqueza, em que se embalara a
dada pelo seu imortal fundador o dr. Muricí, quando sua fantasia, em vez dos castos e suaves anhelos de uma
noticiava o levantamento da cumieira, a 9 de agosto de 1873. plácida e feliz existência ao lado da meiga e carinhosa
"Também publicaremos, em sua íntegra, a ata da inau- esposa, rodeados das rubras cores das rosas que vicejam
guração que foi lavrada no livro respectivo da santa casa da nos alegres e radiantes rostos dos inocentes filhinhos, só
misericórdia, e no qual se dignaram assinar SS. M M . II." lhes depara a sorte a mais horrível miséria, as lágrimas, a
O "Paranaense" reproduziu o discurso do Dr. Pires de fome e as moléstias, que lhes vão cruelmente roubando a
Carvalho e Albuquerque, concebido nestes termos: família, e traiçoeiramente arrancando um a um os elos que
o prendem à vida.
"SENHOR, SENHORA! "Nestas circunstâncias, a fundação de um hospital
onde o pobre enfermo recupere a saúde e a vida, preparan-
"A Augusta presença de W . M M . nesta modesta festa do-se novamente para as lutas do trabalho, e se proveja das
de caridade, enche de júbilo e de esperanças a Irmandade, que forças necessárias para angariar o pão que salvará da fome e
imerecidamente represento, como de entusiasmo e alegria é quiçá da infâmia e do crime, uma família honesta mas pobre,
para a população desta capital a Vossa auspiciosa visita. era uma necessidade e das mais palpitantes.
"Vós, Senhor, Monarca Ilustrado, espírito observador e "O que seria do pobre operário, que vive do seu salário,
reto, deixastes os cômodos e alegria do lar doméstico para si não tivera onde retemperar as forças e recobrar a saúde,
virdes tomar parte na inauguração dos trabalhos da via férrea quando o assaltasse a moléstia? O que seria do abandonado
desta Província, e para, reconhecendo as necessidades desta órfão que não tem um peito amigo, onde recoste a fronte
parte do vasto território do Vosso Império, providenciardes abrasada pela febre?
com a costumada solicitude de modo a serem elas remedi- "O que seria finalmente, da mulher, que outrora afo-
adas. gada em ondas de sedas, veludos e pedrarias, subjugando

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GAZETA DO POVO
DAVI CARNEIRO

com um lâng ãdo e terno volver de seus olhos àqueles que "Mas, Senhor e Senhora, porque esta comoção que
estáticos e fascinados as viam passar em custosas e deslum- diviso em todos os semblantes?! porque todos têem lágrimas
brantes carruagens, o que seria repito, dessas Messalinas nos olhos em tão solene momento?!
quando, desbotadas as rosas da face, apagado o brilho dos "Eles tem razão! e como eles pranteiam a falta do
olhos, desengastadas e caídas as pérolas que esmaltavam uns venerando Irmão Provedor dr. José Candido da Silva Muricí!
lábios de rubi, atrofiada a esplêndida musculatura, o que Este nome Senhor, traduz uma vida inteira de abnegação, de
seria delas enfim, quando a terrível fatalidade as prostasse no esforços, de nobres cometimentos, de sacrifícios, de dedi-
leito da dor? cação à causa da humanidade!
"A humanidade, a caridade, Senhor e Senhora, impu- "A população inteira desta capital sabe que à esse dis-
nham o dever de não sermos surdos aos gemidos, às lágrimas tinto cidadão deve a província o hospital que hoje se inau-
desses infelizes à estorcerem-se nas angústias dos sofrimentos. gura: todos sabem as dificuldades que êle teve que vencer,
"A irmandade de misericórdia desta capital, inspiran- assim como todos reconhecem que êle jamais esmorecera aos
do-se no santo e filantrópico pensamento de amor ao próxi- obstáculos que se lhe antolharam, e que prostado no leito
mo, procurou, a todo custo, criar um estabelecimento, onde dos sofrimentos, e já à apagar-se-lhe a luz da vida, ainda o seu
fossem acolhidos esses desgraçados, acoitados pela miséria, pensamento estava preso a esta grandiosa obra, para cuja
cercando-se dos cuidados e comodidades, a que deve ter realização pusera em contribuição todas as suas forças, a
direito aquele que, incauto ou estenuado de força, chega a ser saúde, a sua vida enfim.
colhido entre as subtis e enganosas malhas da rede do "Quem de todos os presentes não tem a palavra Muricí
infortúnio. gravada no íntimo do coração?
"A irmandade de misericórdia lutou e lutou muito! por "Qual a família a cujas alegrias e sofrimentos não este-
vezes tropeçou no caminho com obstáculos insuperáveis e ja esse nome intimamente ligado?
teve de estacar; mas, retemperada a coragem nas lágrimas, foi "Qual a morada luxuosa ou miserável mansarda, sobre
novamente impelida pelo amor do próximo, galgou esses a qual não tivesse adejado esse anjo de esperança e caridade,
obstáculos, e, com os olhos em Deus e a fé no futuro chegou restituindo à vida, ora o filho querido, ora o idolatrado espo-
ao termo de sua romagem, concluindo a sua missão!? que so, ora o terno e estremecido irmão?
digo?! Não! Senhor! Erga ela sim, a frente e caminhe por "Mas, não perturbemos a paz, que na mansão dos jus-
entre os gemidos das turbas e os sorrisos de Deus; descanse tos, entre os eleitos de Deus, deve gozar aquele que por suas
por um momento no marco miliário os membros fatigados, virtudes, rara abnegação e dedicação a humanidade, tão
sacuda o pó das sandálias, para recomeçar novas jornadas, querido e venerado foi na terra, onde tantos benefícios espa-
novas lutas e novos trabalhos, pois parar ou recuar, quando lhara; daquele que, nesta hora solene de lá nos dirige uma
no horizonte despontam os primeiros albores do dia, con- palavra de animação e coragem, e sorri-nos contemplando a
servar-se inativa, quando tudo é vida e movimento, no realização de sua obra.
rumorejar das brisas por sobre a coma verdejante dos nossos "E W . MM. permitirão que, ao concluir, agradeça em
pinheiros, no despenhar da cascata, no doce murmúrio dos nome da irmandade da misericórdia, a subida honra que lhes
rios, no rugir das tempestades, no bramido das feras, quan- conferistes, dignando-vos de abrilhantar com a vossa augus-
do todas as criações se movem e agitam à um aceno de Deus, ta presença esta modesta e humilde festa, e que, confiado na
fora inépcia ou requintado egoísmo? vossa magnanimidade me anime pedir a proteção de W .
"A irmandade se tem esforçado por cumprir a sua mis- MM. II. para este estabelecimento de dores e sofrimentos,
são, e sobraçada ao escudo da fé, obedecendo ao que lhe se- pedindo-vos ao mesmo tempo vénia para, em nome da
gredava a consciência, desfraldou o lábaro da caridade, e par- irmandade, consignar um voto de gratidão aos Exmos. Srs.
tiu à enxugar as lágrimas da humanidade levando-lhe o bál- presidente da província, dr. Manoel Pinto de Souza Dantas,
samo aos sofrimentos do corpo e a consolação e coragem ao Barão de Guarapuava que tão poderosa e eficazmente con-
lar doméstico. correram para a conclusão deste hospital, e bem assim às
"E quando mais tarde por entre as brumas do futuro, Assembléias Provinciais que generosas filantrópicamente se
na penumbra da glória, se lhe apresentar a figura de Deus, empenharam nesta obra de caridade e beneficência."
terá, é certo o fato, enlameado e rasgado nas sarças e espinhos Também já enjoa tanta Casa Santa, tanta misericórdia
do caminho, mas em compensação deporá aos seus pés a e tanta santa casa... Os mais enjoados teriam sido porém os
alma pura e brilhante dos justos, banhado nas doces e imperadores por certo, e D. Pedro II especialmente que não
inefáveis alegrias da gratidão, e aureolada com os esplendores poude evitar o longo discurso, nem dele fugir.
das benções da humanidade desvalida.

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DAVÍ CARNEIRO

livro de notas, com muita facilidade, alguns "croquis" "Antonina, antes do almoço.
dos mais belos pontos da magestosa baía de "Chegamos a imperatriz, eu, o imperador; mas não
Paranaguá, entre eles o da montanha denominada — tive tempo ainda nem para lavar o rosto.
Gigante. "Decemos com a nossa comitiva em casa do
"Apenas o Rio Grande passou a linha divisória das comendador Araujo, pai do Maneco, que nos preparou
duas baías, isto é, a que vai da ilha Teixeira e a ponta um lauto almoço. Espera ser promovido a barão e mere-
Grossa de todos os pontos de Antonina, fizeram subir ce; o vinho é magnífico, e uns doces...
ao ar milhares de foguetes acompanhados de salvas pre- "— Cá estou a cuspir de tanta água na boca".
paradas com minotas abertas nas pedreiras próximas à O "Eco do Paraná" também deu notícia:
cidade. "No dia 20 do corrente às 7 horas da manhã, SS.
"O Rio Grande deu fundo muito distante ao cais, M M . II. acompanhadas das pessoas a que nos referimos
devido isso às mas condições do porto, apesar da maré em o nosso número passado, embarcaram no vapor
ser de enchente, sendo preciso fazer-se baldeação para Iguaçu com destino à Antonina.
bordo do vapor Iguaçu. "Deste vapor passaram para o Rio Grande que os
"Ao desembarcar foram SS. M M . II. recebidas com esperava na enseada da Cutinga, de onde largou às 8
imenso contentamento por parte de toda população, horas da manhã, dando reboque ao Iguaçu.
(pode-se assim dizer), daquela importante cidade que, "A corveta de guerra Guanabara, ancorada em
levada pelo seu prestimoso chefe o benemérito cidadão nossa baía, no momento em que por ela enfrentava o Rio
Antônio Alves de Araujo, levantavam-se como um só Grande, fêz com o pavilhão imperial as continências
homem para saudar o monarca que a visitava. devidas a SS. M M .
"Depois de curta demora na casa daquele cava- "Nessa ocasião a marinhagem da corveta, achando-
lheiro, onde SS. M M . , sua comitiva e representantes do se a postos sobre as vergas e gurupés, saudou a SS. M M .
"Jornal do Comércio", "Cruzeiro" e "Gazeta de No- com entusiásticos — Vivas — tocando em seguida o hino
tícias" e gerente da companhia de Navegação Nacional nacional.
receberem as mais distintas "Às 8 1/2 foi servido à
provas de apreço, deu-se SS. M M . um lauto almoço,
começo, debaixo de uma "Quando S. M. a Imperatriz ao qual tiveram a honra de
carga d'água muito regular, foi informada de que se passava assistir as pessoas que as
à segunda parte da viagem, em frente da capela do Rocio, levantou- acompanhavam.
delineada e realizada por "Depois do almoço S.
se e fêz uma oração mental à Virgem Senhora
conta dos cofres público. M. o Imperador subiu nova-
protetora dos navegantes.
"Não foi pequena a mente à coberta do vapor, e
confusão, para arranjar-se o aí se conservou durante a
comboio, atendendo às exigências de uns, os arrependi- viagem consultando o mapa da baía com verdadeiro inte-
mentos de outros e o mal estar, pode-se assegurar, de resse.
todos. "Quando S. M. a Imperatriz foi informada de que
"E não era para menos desde que se tinha de aten- se passava em frente da capela do Rocio, levantou-se e fêz
der à longa e vagarosa subida da serra, à dificuldade que uma oração mental à Virgem Senhora protetora dos
se apresentava da bagagem acompanhar os carros da navegantes.
expedição, que bem se poderá chamar do — Desespero —; "Às 9 e 1/4 o vapor deu fundo no porto de
o receio ainda de se encontrar um pouso, ao menos regu- Antonina, vindo nessa ocasião a bordo uma comissão da
lar, por aquelas desertas paragens; enfim, milhares de câmara municipal cumprimentar SS. M M .
outros contratempos que sempre deixam bastante abala- "Nessa mesma ocasião foram dadas as salvas do
do o espírito mais acostumado às contrariedades da vida. estilo, e muitas girandolas de foguetes subiram ao ar,
"Depois de tudo isso, às 11 horas da manhã pôs-se tanto de terra como de bofdo dos navios surtos no porto,
em marcha o comboio imperial, composto de 7 carros, que se achavam embandeirados.
dos quais o que conduzia SS. M M . era seguido de um "Do Rio Grande passaram SS. M M . para o Iguaçu,
piquete do corpo de valaria em serviço nesta província". indo este atracar à ponte de desembarque.
Também a "Revista Ilustrada" faz alusão à hospeda- "Aí se acharam presentes todas as autoridades locais
gem em Antonina, com a sua habitual modacidade: e grande número de cidadãos que, com entusiástico júbi-

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D.PEDRO II NO PARANÁ 1 8 8 0

A ESPETACULAR VIAGEM DE D. PEDRO AO PARANA

E sta edição, terceira da série, mostra a continuação da visita de dom Pedro II por Ponta Grossa, Castro, Palmeira e Lapa.
do imperador a Curitiba e o relato dos acontecimentos em A série compreende a publicação, ipsis litteris, da obra "D.
Campo Largo e Palmeira. Nas anteriores, foram repro- Pedro II na província do' Paraná - 1880", do historiador e
duzidos os capítulos que contavam sobre o embarque no Rio de escritor David Carneiro, em cinco fascículos encartados diaria-
Janeiro, a chegada em Paranaguá, a estada em Antonina e o iní- mente na Gazeta do Povo, de 15 a 19 de dezembro de 2003, e
cio da visita à capital do estado. Na próxima edição, quarto suple- faz parte das comemorações dos 150 Anos da Emancipação
mento, será transcrito os capítulos que contam sobre a passagem Política do Estado do Paraná.

LIVRO DE VISITA SANTO ANTÔNIO DE ORLEANS

P ara a comunidade de Órleans, dom Pedro II deu dois pre-


sentes: um par de sinos, que até hoje toca avisando o
horário das missas, e uma imagem de Santo Antônio, que ficou
no altar da igreja até 1920, quando desapareceu. A paróquia
não soube informar qual o motivo do sumiço da imagem.

PERIODO
MONÁRQUICO

P intado por João Maxi-


miliano Mafra, no
século 19, esse quadro re-

E m Curitiba, o Museu Paranaense abriga um rico acervo


imperial e várias referências da sua passagem pelo Paraná.
No livro de visitas da instituição, que é o terceiro museu mais
presenta o imperador ain-
da novo e foi utilizado em
procissões pelas ruas de
antigo do país (construído em 1876), ainda figura a assinatu- Curitiba, durante ífperio-
ra do seu mais célebre visitante: dom Pedro II. do monárquico.

Expediente - A Espetacular Viagem de Dom Pedro II ao Paraná é uma série de cinco fascículos especiais da Gazeta do Povo editada em comemoração aos 150 anos de emancipação polílitca do Paraná. Projeto da Centra! RPC
de Marketing desenvolvido pela Redação da Gazeta do Povo. Apoio de pesquisa do Instituto Histórico e Geográfico do Paraná • Direror de Redação: Arnaldo Alves da Cruz. Textos: Juliana Girardi, Adriano Justino e Carlos Vicelli.
Coordenação Gráfica: Ricardo Humberto. Diagramação: Marcos Tavares. • Digitação: João Carlos S. Araújo e Nicanor Pedro da Costa • Revisão: Adamastor Marques. Rua Pedro Ivo, 459 • Centro • Curitiba-PR • CEP 80010-
020» Não pode ser vendido separadamente • Os fascículos circulam djariamenre do dia 15/12 a 19/12/2003.

2
GAZETA DO POVO
DAVÍ CARNEIRO

-IX

AS VISITAS CONTINUAM. - AS ESCOLAS. - A CHÁCARA


CAPANEMA. - O TE DEUM COM PANEGÍRICO DE CORPO
PRESENTE. - O DIA 13 DE MAIO.

A
festa da inauguração da Santa Casa de Misericórdia da província e dr. chefe de polícia.
teria sido tão grandiosa quanto cacete para SS. M M . "S. M. percorreu toda a importante chácara, observan-
II. do e apreciando com elevado gosto, todas as plantações,
Quem conhece os gostos de D. Pedro II pelo que dele indígenas e exóticas, que grande número e sistematicamente
se sabe através dos seus próprios panegiristas, sabe que o dispostas, ali existem, bem como as casas, estufas, viveiros e
Imperador só estava feliz ou quando exibia seus talentos de mais dependências.
filólogo hebreu, ou quando bancava detetive, cercando Aí davam o Exmo. conselheiro Capanema, assim
numa volta de caminho, numa nomeação que dependesse como o administrador da chácara, Sr. Augusto de Assis
da sua assinatura, a alguém que tivesse cometido em má Teixeira, toda as explicações que se faziam necessárias para
hora, alguma falta notória. Aliás D. Pedro dava um bom agradarem à curiosidade, justamente excitada de SS. M M . e
exemplo. Como marido era cauto... e assim desejava os seus ilustres visitantes, que tudo viram e examinaram com satis-
súditos. fação e minuciosidade.
A festa da inauguração da Santa Casa foi uma cacetada "Não é, entretanto, para uma crônica desta ordem a
de elogios a queima roupa, e D. Pedro já não fazia mais caso detalhada notícia que merece essa importante chácara,
de elogios — acostumado a ouvi-los. Sim! — Tudo acostuma jardim botânico, de primeira grandeza, digno de menção
neste mundo... entre os melhores que possue o império.
Saindo da Santa Casa D. "Às 7 horas da noite,
Pedro, como rei sábio que tendo regressado da chácara,
queria ser, fêz questão de visi- Quem conhece os gostos de D. Pedro II saíram SS. M M . do Paço para
tar escolas, medindo o pelo que dele se sabe através dos assistirem ao Te-Deum que
aproveitamento dos alunos. O em ação de graças por sua boa
seus próprios panegiristas, sabe que o
resultado não foi satisfatório. viagem e auspiciosa visita à
Imperador só estava feliz ou quando
Pudera! Mas logo foi ver na província, mandou celebrar a
chácara Capanema, um
exibia seus talentos de filólogo hebreu. câmara municipal na elegante
jardim botânico perfeito. Aí e redecorada igreja de S.
sim, S. M. exultou. Depois veio o Te Deum. Francisco das Chagas.
Inesperadamente, D. Pedro, inimigo de discursos massantes, "Aí se achavam todos os ilustres personagens do séquito
tomou com um, de corpo presente, em todos os tons. de SS. MM., o Exmo. ministro da agricultura, presidente da
O "19 de Dezembro" deu a notícia: — "Nesse mesmo província, dr. chefe de polícia, corporações civis e militares,
dia continuou S. M. o Imperador na visita as escolas públi- cidadãos grados e muitas senhoras, todas da maior distinção,
cas, notando que em todas elas faltava, mais ou menos, o desta capital e de outros pontos da província e do império.
grau de aproveitamento que era para desejar numa capital. "Em uma breve e bem preparada oração, saudou o
"Às 4 1/2 horas jantaram SS. MM., dirigindo-se as 5 revm. vigário da capital, pe. Agostinho Machado Lima, a SS.
horas para a chácara do Exmo. Sr. conselheiro Capanema, M M . II. congratulando-se com a igreja e a província pela
que ali os esperava. Com os Augustos Visitantes foram o vis- honrosa presença dos ínclitos Soberanos, naquela ocasião."
conde de Tamandaré, conselheiro Andrade Pinto, barão de A "Gazeta de Notícias", comunicou em telegrama: -
Maceió, Damas do Paço, ministro da agricultura, presidente "Às 2 horas da tarde S. M. o Imperador visitou as escolas, e

H S B C iZ>
D.PEDRO II NO PARANÁ 1880

às 4 horas seguiu para a chácara Capanema, onde examinou "No dia 23 pela manhã, visitou S. M. o imperador
tudo com atenção. acompanhado de seus semanários, dos Exmos, ministros da
"E uma propriedade primorosa e de grande valor. agricultura e presidente da província, dr. chefe de polícia e
"A estação de telégrafos e o serviço desta repartição bem alguns cidadãos, a cadeia da capital, cuja escrituração e esta-
como o das observações meteorológicas foram especialmente do de aceio mereceram de S. M. algumas palavras assaz
elogiados por S. M. o Imperador, pela ordem e boa organiza- denévolas: ouviu aos presos, de alguns dos quais teve pedidos
ção que ali se encontram. de clemência e nenhuma queixa.
"Às 6 horas da -tarde, os Augustos Viajantes assistiram "Daí dirigiu-se S. M., para o mercado público, que se
ao Te-Deum celebrado na igreja da Venerável Ordem achava muito provido de gêneros alimentícios e víveres, e a
Terceira. essa hora, com grande concurrência.
"Continua a iluminação da cidade e o movimento "Do mercado, dirigiu-se S. M. para o quartel de polí-
extraordinário nas ruas." cia, onde uma guarda de honra, do mesmo corpo, estava
Mas só o "Jornal do Comércio" comunicou em exten- postada para fazer as devidas continências, sendo recebido o
so comentário, como SS. MM. II. haviam gasto o seu dia. Augusto Visitante com o hino nacional e uma girandola de
"Depois do jantar SS. MM. dirigiram-se para a chácara foguetes.
do conselheiro Capanema, onde percorreram as extensas ruas "O tenente coronel comandante e sua oficialidade aí
que separam as árvores frutíferas nacionais e estrangeiras. S. estavam, para fazer as devidas honras.
M. o Imperador dignou-se aceitar maçãs iguais às da Europa, "Visitou S. M. todas as dependências do quartel, casa
e S. M. a Imperatriz duas lindas camélias. da ordem, secretaria, armamento e rouparia, mostrando-se
"A novidade da visita estava para bem dizer, na satisfeito do aceio e ordem, assim como das explicações que
exposição de dois lindos animais, de raça antiquíssima lhe foram dadas pelo comandante, sobre o estado do arma-
chamados cavalos de Dongola, importados do Egito. Não se mento velho e desusado, em depósito.
distingue esta raça pela corpulência, "Enquanto durou essa visita, a
nem pela altura, pois são de tamanho banda de música do corpo, com sua
regular, sobressai porém, pela elegân- "S. M. mostrou-se satisfeito pela reconhecida proficiência, executava
cia de formas e delicadeza dos mem- boa ordem e aceio que em tudo escolhidas peças de seu belíssimo
bros, sendo as qualidades que mais os encontrou, especialisando a escola repertório, merecendo que se dignasse
recomendam, a mansidão, a sobrieda- elementar, onde demorou-se algum S. M. manifestar-lhe o seu agrado e
de e sobretudo a velocidade. No inte- tempo para examinar um dos alunos perguntar quem era o professor da
rior da África - Kordofau, Darfur, banda.
mais adiantados, o qual respondeu
Núbia, Abissínia - servem-se deles os "Daí, saiu S. M. para a secre-
habitantes para caçar, na carreira,
satisfatoriamente às arguições
taria de polícia, onde revistando os
girafas e avestruzes, cuja velocidade é que lhe foram feitas. livros de óbitos e visitas da cadeia,
bem conhecida. Os dois animais são bem como o arquivo, dignou-se
um cavalo e uma égua, ambos castanhos, de frente aberta e declarar que achava tudo muito regular.
canelas finíssimas. Foram muito gabados pela beleza e são "Em seguida dirigiu-se ao quartel do 2.° corpo de ca-
propriedade do conselheiro Capanema que os mandou para valaria, onde chegou às 9 horas e, feitas as devidas continên-
aqui no paquete "Rio Negro". cias, foi S. M. recebido pelo tenente coronel comandante e
"Às 6 horas da tarde cantou-se solene Te-Deum, pela sua oficialidade, percorrendo os diversos alojamentos das
feliz chegada de SS. M M . à Curitiba e finda a cerimônia praças, o refeitório, o xadrez, reservas, a secretaria, casa da
recolheram-se os augustos viajantes a palácio, onde S. M. ordem a escola elementar, arrecadação do quartel mestre,
teve larga conferência com o deputado Alves de Araujo. cavalariças e dependências.
"A iluminação confinou hoje como fora na véspera. As "S. M. mostrou-se satisfeito pela boa ordem e aceio
bandas de música, precedidas de muitas pessoas, levando que em tudo encontrou, especialisando a escola elementar,
archotes, passearam pela cidade, dando vivas aos augustos onde demorou-se algum tempo para examinar um dos
viajantes em frente ao palácio, e assim continuaram até às 10 alunos mais adiantados, o qual respondeu satisfatoriamente
horas da noite." às arguições que lhe foram feitas. S. M. mostrou-se também
O dia 23 de maio foi ainda mais movimentado que o satisfeito para com a repartição do quartel mestre, onde
precedente. examinou o armamento à Spencer, de carregar pela culatra,
O "19 de Dezembro" descreveu assim as imperiais visitas: e bem assim os gêneros destinados à alimentação dos solda-

GAZETA DO POVO
DAVÍ CARNEIRO

dos. Notou ainda serem de boa qualidade os colchões e as sinceras demonstrações de satisfação dos habitantes da colô-
mantas de lã destinados às praças. nia.
"O quartel estava convenientemente preparado para "Em seguida, voltando à capital jantaram SS. MM.,
receber o Augusto Visitante. Na porta da entrada principal dignando-se receber às 6 1/2 no Paço, novos cumprimentos
estava erigido um coreto, de forma quadrilateral, em cujas de diferentes câmaras municipais, de uma comissão do foro
faces existiam diversas inscrições alusivas ao mesmo Augusto da capital, assim como da assembléia provincial, representa-
Senhor, à S. M. a Imperatriz, à Pátria e à Liberdade. da pelos deputados Dr. Manoel Alves de Araujo, padre João
"Depois de almoçar às 9 1/2, saíram de carro SS. M M . B. E Belo, Antônio Ricardo Lustosa de Andrade, Benedito
com seus semanários, ministro da agricultura, presidente da Enéas de Paula, dr. Francisco Terézio Porto e Joaquim
província, chefe de polícia, engenheiro chefe do serviço colo- Venura de Almeida Torres, e sendo então pelo Exmo. Sr. Dr.
nial, Dr. Olímpio Antunes, representantes da imprensa da Manoel Alves de Araujo, como presidente da assembléia, lida
corte, agente oficial de colonização, J. B. Brandão de Proença uma pequena mas frisante felicitação por parte da mesma.
e muitos cidadãos e estrangeiros a cavalo, e dirigiram-se à "Outros muitos cidadãos grados tiveram também a
colônia Santa Cândida, onde ouviram missa. honra de cumprimentar nessa ocasião aos augusto sobera-
"A capela da colônia achava-se enfeitada de flores e nos.
ramos naturais e esteriormente com arcos e bandeiras, Às 8 horas da noite, dignando-se aceitar o convite que
achando-se aí quase todos os colonos polacos e italianos lhesfizeraa comissão de recepção, estiveram com a comitiva
dessa e das colônias circunvizinhas, que deram vivas no salão do Museu.
demonstrações de regozijo e respeito a SS. MM. "Pela terceira vez, estava, nesta noite, iluminada com-
"Em seguida visitou S. M. alguns lotes, inquirindo os pletamente a cidade, notando-se sempre a mesma entusiásti-
colonos, quase um por um, e provando dos frutos, vinho e ca animação e concurrencia, emi todas as ruas, por parte da
pão de sua lavoura e indústrias. Mostrou-se S. M. o população.
Imperador solícito e minucioso, já em relação aos serviços, já "Junto ao Paço, e depois no largo do conselheiro
quanto à condição civil e moral dos colonos, dirigindo-se a Zacarias, durante o concerto, esteve sempre reunida uma
todos nas diferentes línguas de numerosa multidão".
sua nacionalidade, observan-
do-se que alguns com dificul- "A capela da colônia achava-se enfeitada
dade, se expressavam já no seu de flores e ramos naturais e esteriormente com
idioma pátrio, respondiam arcos e bandeiras, achando-se aí quase O caso da visita ao fer-
mais em "bras.", como costu- reiro Matias Miller, merece
todos os colonos polacos e italianos
mam dizer. especial atenção. Foi êle relata-
dessa e das colônias circunvizinhas.
"Visitaram ainda SS. do por um decendente deste,
MM. a colônia Argelina, a 2 da forma que segue:
quilômetros de Curitiba, percorrendo aí alguns lotes, cujos S. M. quis conhecer um colono enriquecido na terra,
proprietários interrogavam S. M. o Imperador, demorándo- mas cuja ventura na Pátria adotiva já estava emoldurada por
se, um pouco, na casa do alemão Wagner, colono nego- véus de crepe, por ter perdido decententes na guerra do
ciante, casado com francesa e chefe de família. Paraguai.
"Dirigindo-se para a capital, pararam SS. M M . em D. Pedro foi no velho alemão e perguntou-lhe risonho:
casa do cidadão inglês Frederico Tod, no Bacacheri, visitan- — É certo que v. achou uma panela de ouro, e que é muito
do a máquina de cortar capim e feno, e outras obras, deixan- ricor
do a êle e sua família e empregados surpresos e penhorados Miller respondeu com espírito:
pela franqueza e honrosa visita. — Rico, verdadeiramente rico, não sou, mas saiba V M.
"Ainda visitaram SS. M M . a oficina de ferraria do ca- que si achei uma panela de ouro, não foi em outra parte sinão
pitalista alemão M. Miller, estabelecido na província desde aqui, em cima desta minha bigorna, a malhar de sol a sol!
1822.
"Em seguida atravessando a cidade de Curitiba em
outra direção, SS. M M . e seu séquito se dirigiram à colônia
Dantas, 2 quilômetros ao sul da cidade. A "Gazeta" saltou sobre os comentários de 23, mas o
"Do mesmo modo que nas outras colônias, foram vi- "Jornal do Comércio" não os dispensou:
sitados quase todos os lotes, e recebidas as modestas mas "Ontem, às 7 horas da manhã o Imperador, sempre

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D.PEDRO II NO PARANÁ 1880

acompanhado das mesmas pessoas, visitou os quartéis, a "Não lhes posso assegurar quando irá outra carta. O
cadeia, a arrecadação de trens bélicos e o mercado. correio é irregular dos Campos para Curitiba. Hei de fazer
"Às 10 horas, S. M. seguiu para a colônia de Santa tudo quanto puder para que a terceira carta vá pelo Canova.
Cândida, uma das piores deste município, segundo me "P. S. — Tem reinado confusão em todos os trabalhos
dizem. Os colonos, na maior parte estão descontentes e preparativos para a continuação da viagem.
munidos de representações. "Hoje, às 9 horas da noite, não se sabia qual o número
"Na visita o Imperador percorreu vários lotes, onde se de carros, em que a comitiva deve seguir para os Campos
faz vinho e prepara o jèno., centeio e milho, também visitou Gerais."
o estabelecimento de Frederico de tal, onde há uma serraria D. Pedro numa inspeção cuidadosa, auxiliado, nas
de cortar capim. críticas severas que fazia, pela gente de prol que lhe servia de
"Visitou ainda a colônia Argelina, onde existem eco, verificou que nem tudo eram rosas e festas, foguetes e
colonos vindos de Argel e depois das 3 horas a colônia girândolas.
Senador Dantas. Havia muito serviço público censurável, muita repar-
"SS. M M . assistiram às 8 horas da noite, a um concer- tição deficiente.
to e baile, a que concorreu a flor da sociedade daqui, pro- A visita à cadeia velha de Curitiba, determina o lança-
longando-se a reunião até alta noite. mento da primeira pedra de uma penitenciária modelo, que
"Hoje, SS. MM. deram longo passeio pelo rocio de não chegou a levantar-se.
Curitiba, denominação dada aos arredores, que são muito À noite de 23 houve um concerto, já noticiado.
bonitos. Nele cantou-se um hino Guaíra. O "19 de Dezembro"
"Depois do almoço seguiram SS. M M . em uma carru- deu a notícia:
agem posta pelo conselheiro Jesuino Marcondes à disposição "Às 8 horas da noite, dignando-se aceitar o convite
dos Augustos Viajantes. que lhes fizera a comissão de recepção, foram SS. MM. e
"Antes de fechar esta carta, devo dizer que escolas, distinta comitiva ao salão do Museu assistir ao concerto
cadeia e arrecadação de trens não estão conservados como era musical e sarau dansante, em que se demoraram, retirando-
para desejar. se à meia noite, depois de servido o chá. Esteve animada essa
"Há na cadeia um preto chamado Pedro Joaquim da reunião, a que compareceram cerca de 200 cavalheiros e
Silva, que está preso a 26 anos. Aos 19, cometeu o crime de senhoras.
homicídio. Parece que, para mostrar arrependimento que "O hino do Guaíra (marcha triunfal concertante)
sente, aprendeu sozinho a ler, escrever e contar, e hoje é o composto e dedicado a SS. M M . o Imperador e a
mestre dos outros. O Imperador prometeu-lhe alguma coisa Imperatriz do Brasil, pelo dr. João Manoel da Cunha, e can-
em seu favor. Realmente merece. tado em suas augustas presenças no concerto que lhes foi
"Faz aqui um frio horrorozo. Ontem o termómetro oferecido, no museu desta capital, foi entregue ao digno e
marcou 10°C e às 10 horas da noite à janela 4°C. zeloso diretor do mesmo museu o Exmo. Sr. Dr. A.
"Dizem-me que nos campos gerais, 1000 metros a Ermelino de Leão, para ser guardado naquele estabeleci-
cima do nível do mar, o termómetro está, nesta estação, mento, como memória grata da auspiciosa visita de SS.
quase sempre abaixo de zero. M M . II. à província do Paraná".

6
GAZETA DO POVO
DAVÍ CARNEIRO

CAMPO LARGO
D.PEDRO II NO PARANÁ 1 8 8 0

NOTICIAS DE BAILE E ITINERARIO. - CAMPO LARGO.


A VIAJEM CONTINUA.

O
"19 de Dezembro" noticiou um baile para o dia "Pelo contrário!... Todavia a população é boa, paca-
21: — "A comissão de festejos prepara um ta, e tinha muito foguete para festejar nossa chegada.
grande baile para oferecer.no dia 2, a SS. M M . "Fizemos uma boa viagem, alegre e divertida,
II, em seu regresso dos Campos Gerais, e na véspera de acompanhados até bem longe pela gente boa do lugar -
sua partida desta capital, devendo êle efetuar-se no salão que boa gente!... Se o imperador me quisesse ceder o
grande do museu provincial. Paraná, palavra! que eu aceitava...
"Os drs. chefe de polícia, Ermelino de Leão e Faria
Sobrinho estão fazendo pessoalmente os respectivos con-
vites." E comunicou o itinerário dos imperantes: — "S.
M. o Imperador resolveu alterar para seu regresso, desta "De caminho visitamos em Tibagí, (sic) as grandes
capital, o itinerário que havíamos publicado, partindo fábricas de preparar mate, dos Srs. Correia & Cia., pa-
para Morretes diretamente no dia 3, às 7 1/2 horas da rentes do Correia das conferências; mas não houve dis-
manhã. curso, muitos vivas apenas e um calembourg de uma cri-
"No dia 4 seguirão SS. ança muito interessante que
M M . para Antonina, sain- trazendo mate para o imper-
do desta para a cidade de Não houve discurso, muitos vivas ador, disse:
Paranaguá no dia 5, pela "— Mate ao rei.
apenas e um calembourg de uma criança
manhã, devendo ter lugar, "E ninguém desmaiou!
muito interessante que trazendo
nesse dia, a inauguração dos "Coitadinha! Tão ga-
trabalhos da estrada de
mate para o imperador, disse: lante, tão jovem e já contam-
ferro, embarcando SS. "— Mate ao rei. inada pelas kaipirianas! Tu
M M . depois com destino à "E ninguém desmaiou! que achas? estou com von-
corte do império." tade de pedir a província do
A estadia em Campo Paraná ao imperador. Êle
Largo foi curta, mas a espera que fora grande havia deix-
ado em brasas o povo bom da pacata cidadezinha. Foi "— Pede, tolo; se êle não der, não perdes nada!
nomeado um mestre de ceremônias e SS. M M . puderam
ver que a boa vontade era muita.
Três escravos foram emancipados nessa ocasião em
Campo Largo. "Chegamos finalmente ao Campo Largo...
A "Revista Ilustrada", na Corte voltou a falar. Pouca "Campo Largo é uma vila, uma boa vila que nos fêz
coisa notou ridícula, e através da ironia se pode reco- uma brilhante manifestação de caráter inteiramente po-
Barão do Serro Azul (Decreto nhecer, o mordaz Rolando ficou admirando a boa fé da pular — como eu gosto. Somente soltaram foguete, e
1888 - agosto 8) cuja fábrica de gente paranaense. minha besta espantou-se.
• beneficiar erva mate foi visitada "No dia 2 4 , partimos de Curitiba para os Campos "Também que besta tola! há cinco dias que vê
íporS.S.M.M. I.l. em 1880. Gerais. O paranaense tem um grande zelo pelos seus foguetes — creio mesmo que há mais tempo — e ainda
Natural de Paranaguá, morto na Campos Gerais, e fala deles com tanto orgulho que eu, a pensa que são espirros do demo. - Uma besta da roça!
Serra do Mar - quilômetro 65, princípio, pensei que se tratava de alguma coisa como os mas é assim, é soltarem foguetes, está minha ela a pular e
em 20 de maio de 1894. Estados Gerais, da França; mas não é, não. o Tinoco em disparada atrás das flechas.

GAZETA DO POVO
DAVÍ CARNEIRO

"Esse Tinoco é outro... cas. Com regozijo geral a sociedade emancipadora liber-
"Que dois! hein? cada qual mais... tou 3 escravos, cujas cartas foram entregues por S. M. De
todas as festas é a que tem dado melhor proveito.
** * "SS. M M . hospedaram-se na casa do Sr. Capitão
Olinto Mendes e partirão hoje para Palmeira, onde terão
"Para solenizar nossa visita, deram 3 cartas de liber- hospedagem em casa da Sra. Baronesa de Tibagí, mãe do
dade ao imperador, e êle que não precisa disso, deu-as a Sr. Conselheiro Jesuino Marcondes. O frio é rigoroso."
três escravos, ficando muito contente com esta ação. Em detalhe foi dito pelo "Jornal do Comércio".
"Quis aproveitar o ensejo, do seu bom humor para "Vila de Campo Largo — 24 de maio às 11 horas da
pedir-lhe o Paraná; mas tinha tanta gente!... noite. — SS. M M . seguiram de Curitiba às 8 horas da
"Fomos jantar. Tudo comeu bem, bebeu melhor, manhã para Campo Largo. A pouca distância da cidade
v

riu-se muito; e eu pensei comigo — é agora, e zás! tomei visitaram o engenho modelo do Sr. Ildefonso P. Correia
o imperador num vão de janela e pedi-lhe o Paraná. Ele e Cia. para manipular a erva mate.
começou dizendo que havia de ver; mas eu objetando /'Enviei ontem um telegrama dizendo não terem
que tinha urgência, respondeu que havia jurado manter sido dadas as providências para conduções da comitiva, a
a integridade do império..." ponto de haver queixa contra o mau serviço. Disseram-
me que isso é proveniente da falta de ordem que tem
** * havido no serviço oficial. Relativamente ao particular
todos os elogios são poucos. O boato que corre põe culpa
"Ora, jurado! Achas que é uma razão? ao chefe de polícia por ser o presidente da comissão de
"— De certo que não. Quanto juramento faz a festejos, quando há aqui o conselheiro Jesuino
gente só para não cumprir! Marcondes e o dr. Pedrosa que acaba de administrar a
"Oh! mas êle arrepende-se... Aqui, não; mas deixa- província de Mato Grosso, que podiam ter feito coisa
me chegar ao Rio de Janeiro melhor. Realmente gas-
que estou republicano, e vere- tar-se 168:808$ para não
mos quem tem garrafas vazias ha aqui o conselheiro Jesuino Marcondes se fazer o que era de
para vender. Ah! êle quer meter- e o dr. Pedrosa que acaba de esperar, é ter posto fora o
se comigo! dinheiro. Tanto mais
administrar a província de Mato Grosso,
"Nem te digo nada. quanto asseguram-me
que podiam ter feito coisa melhor.
Adeus; nós ficamos aqui até que que o Imperador antes da
cheguem as casacas que servi- viagem fizera constar que
ram em Curitiba e que tem de vir para os daqui." desejava que não se fizessem despezas por causa dele.
O "Jornal do Comércio", pela Gazetilha, deu notí- Vamos à continuação da viagem, que é melhor.
cia por alto, da passagem em Campo Largo: "Partindo do engenho Correia seguiram para
"Hoje às 7 horas da manhã visitou o paiol, o tem- Campo Largo, sendo saudados em vários pontos do ca-
plo protestante e a hospedaria dos imigrantes. Apesar do minho pelos colonos de diferentes nacionalidades. A
natural cansaço por causa da pressa da viagem gozam estrada que vai de Curitiba para Campo Largo chama-se
saúde. Mato Grosso, e é tão suave como a da União e Indústria.
"Hoje, de madrugada, o termómetro desceu a um Viaja-se ali como quem passeia na rua do Ouvidor.
grau centígrado. Incontestavelmente é um dos grandes melhoramentos do
"De caminho para os Campos Gerais para onde Paraná.
não pode seguir hoje, S. M. visitará o engenho de mate, "SS. M M . chegaram a Campo Largo às 3 1/2 da
propriedade do sr. Ildefonso Correia, irmão do Senador tarde, e hospedaram-se em casa do capitão José Olinto
Correia. Às 70 léguas nos Campos Gerais serão feitas em Mendes de Sá e os representantes,dos jornais e o gerente
6 dias. da Cia. Francisco Gonçalves em casa do estimado nego-
"Tem-se desvanecido os boatos da retirada do pres- ciante Lino de Souza Ferreira.
idente da província e do chefe de polícia. "Foi uma festa toda popular e para o lugar pequeno
"SS. M M . chegaram a Campo Largo, tendo grande que é, o entusiasmo foi imenso.
recepção popular, com muito entusiasmo. S. M. o "Depois do jantar, SS. M M . fizeram oração na
Imperador notou que era mau o estado das escolas públi- matriz e o Imperador ainda visitou escolas, que estão

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D.PEDRO II N O PARANÁ 1880

deploráveis apesar de se gastar com elas um quinto do que saudaram com estrepitosos vivas aos Augustos
orçamento, como me disse o presidente da provincia. Imperantes.
"Assistiu ainda o Imperador uma reunião na "Hospedaram-se os Ilustres Viajantes na casa do Sr.
Sociedade Emancipadora, onde S. M. entregou a três li- capitão José Olinto Mendes de Sá, que para esse fim, fora
bertados as suas cartas, declarando ser um serviço preparada.
prestado à humanidade e louvando éste ato da "Na rua que dà entrada a está vida achava-se aglo-
sociedade." merada quase toda a população que com entusiasmo sau-
Foram as seguinte*-as notícis dadas pelo "19 de dava SS. M M . II.
Dezembro", relativas a Campo Largo, visitada pelo "Uma banda de música que no mesmo lugar aguar-
Imperador: dava a chegada dos nossos Soberanos, depois de tocar o
"Pelas 7 horas da manhã S. M. o Imperador visitou hino nacional, acompanhou-os assim como todo o povo
o templo protestante e paiol da pólvora. que os esperava, até a casa destinada para recebê-los.
"As 8 1/2 almoçou; às 9 horas partiu com destino Uma outra banda de música que se achava postada junto
à vila do Campo Largo: ao passar nos engenhos Tibagí e à porta do Paço, na ocasião em que SS. M M . apearam-
Iguaçu, do cidadão Ildefonso Pereira Correia, pararam se do carro, fêz ouvir lindas e variadas peças de seu
SS.S M M . e sua ilustre comitiva para visitá-los, o que fi- repertório, até 8 horas da noite.
zeram percorrendo ambas as fábricas e seus acessórios, "Depois do jantar S. M . o Imperador visitou as
vendo-as funcionarem, e sendo satisfeitas pelo proprie- escolas públicas e a igreja matriz.
tário as perguntas que fazia S. M. o Imperador. "Nessa mesma tarde, em sinal de apreço pela hon-
"Acompanharam os Augustos Viajantes e sua rosa visita de SS. M M . II., a associação emancipadora,
comitiva, o Exmo. Sr. Ministro da Agricultura, presi- cuja instalação teve lugar na augusta presença de nossos
dente da província e vários cidadãos, um esquadrão ilustres Soberanos, concedeu três cartas de liberdade que
patriótico de alemães e um piquete de cavalaria de linha. foram entregues por S. M. o Imperador.
"As 4 horas faziam SS. M M . sua entrada na vila de "Este ato comoveu a todos os circunstantes.
Campo Largo, sendo, 2 ou 3 quilômetros antes, rece- "Em seguida S. M. o Imperador fêz doação à
bidos por um crescido número de cavaleiros e carros, mesma associação da quantia de 1:800$000."

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GAZETA 00 POVO
DAVÍ CARNEIRO

PALMEIRA

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D.PEDRO II N O PARANÁ 1 8 8 0

CONTINUA A VIAGEM. - CONVITE DOS LAPEANOS.


- SÃO LUIZ DO PURUNÃ. - O CAPÃO DA ANTA.
- O COMENDADOR ROSEIRA.

A
25 de maio pela madrugada, apesar do frio, "Pouco depois, SS. M M . e a ilustre comitiva,
SS. M M . I I . continuaram caminho. O " 1 9 seguiram para o povoado de S. Luiz onde
de Dezembro" descreveu a viagem: almoçaram.
"Às 6 horas da manhã, os nossos imperantes e "Aí tiveram SS. M M . uma estrondosa recepção:
sua ilustre comitiva, continuaram a viagem, sem como na Serrinha, achava-se esta pequena povoação
incidente algum e pararam no alto da Serrinha, junto toda arborisada, destacando-se no entanto, um pri-
ao último paredão, onde S. M . o Imperador, apre- moroso arco, com a inscrição — Ave.
ciou o lindo panorama que apresenta o lugar, e "Depois do almoço e um pequeno descanço
tomou algumas notas em sua carteira. seguiram viagem até à ponte sobre o rio dos
"Pouco aquém da ponte achava-se um arco ele- Papagaios, onde SS. M M . apearam-se outra vez e S.
gantemente adornado e onde se M. o Imperador, desceu até o
lia a palavra — Salve. lageado que forma o leito do rio
"Pelo correr da mesma 0 Imperador no núcleo por baixo da ponte para bem
ponte, também se liam as palavras Capão da Anta e depois examinar a construção desta
- Viva D . Pedro II. de percorrer todo o sítio obra, que pode-se garantir, ser a
"Quando SS. MM. se da fazenda, indagou primeira deste gênero, na provín-
aproximaram deste lugar da parte cia, merecendo por isso ser elo-
dos colonos russos que ali
dos habitantes e cidadãos que aí giada por S. M . o Imperador e
se acham estabelecidos, qual era sua
se tinham reunido levantaram mais pessoas da comitiva.
plantação, assim como as condições "Depois de um minucioso
entre centenas de foguetes
estrepitosos vivas. outras de seu bem estar. exame na ponte dos Papagaios,
"Em uma grande extensão, dirigiram-se Nossos Soberanos
a Serrinha, achava-se toda arborisada, em sinal do e a ilustre comitiva, pela estrada velha, apeando-se
regozijo de que se achava possuído, por tão honrosa S. M . o Imperador no núcleo Capão da Anta e
visita, o pessoal da comissão do dr. Tourinho, chefe da depois de percorrer todo o sítio da fazenda, indagou
Dr. Francisco A. Monteiro estrada de Mato Grosso, na parte confiada a direção de dos colonos russos que ali se acham estabelecidos,
Tourinho, capitão do Estado seu ajudante, engenheiro G. Wieland. qual era sua plantação, assim como as condições out-
Maior de primeira clase, "Daí tomados os carros, dirigiram-se os viajantes ras de seu bem estar.
construtor da Estrada da até a casa do Sr. Hermes Costa, que fica situada já na "Continuando na sua jornada fizeram os
Graciosa e da S. Luiz do Purunã planície e aí dignaram-se tomar café. Neste ponto Augustos Viajantes uma pequena demora ao lugar
até Palmeira. Escritor ilustre achava-se uma comissão composta de cidadãos resi- chamado - Pugas - onde mais de 4 0 0 cavaleiros ti-
como prosador e como poeta. dentes na cidade da Lapa e que vinham expressamente nham vindQi.encontrá-los.
Acompanhou D. Pedro 11 na convidar SS. M M . II. para que se dignassem visitar "Depois de calorosas saudações prosseguiram
visita à ponte dos Papagaios e aquela cidade, na sua volta dos Campos Gerais. SS. M M . para a vila da Palmeira, onde chegaram às
aos arredores da "Ainda na casa do sr. Hermes, o deputado 4 1/2 horas da tarde, dignando-se hospedar-se na
Palmeira em 1880 provincial Domingos Cunha, em homenagem à visi- casa da Exma. Sra. Baronesa de Tibagí.
ta dos nossos imperantes, concedeu carta de liber- "Por todas as ruas da vila, por onde tiveram de
dade a um seu escravo. passar, até a casa em que foram hospedar-se, uma

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GAZETA DO POVO
DAVÍ CARNEIRO

banda de n isica e grande séquito de povo, que à entusiasmo pelos moradores. Com folhagens de pin-
entrada da vila, aguardavam a feliz entrada de Nossos heiros fizeram um arco, em cujo cimo lia-se a palavra
Soberanos, os acompanharam debaixo de muitos vivas — Salve - , SS. M M . aí se demoraram cerca de meia
e música. hora admirando o lindo panorama que se observa.
"Até às 9 horas da noite, a banda de música fêz-se "Antes de entrarmos nos campos devemos dizer o
ouvir junto a porta da casa onde se achavam hospeda- que é a Província do Paraná.
dos SS. M M . II." "A extensão, apenas habitada por cerca de
O "Jornal do Comércio" faz descrição especial e 1 5 0 . 0 0 0 almas, apresenta tantos climas diferentes
erudita, destinada aos leitores da Corte, flores de asfal- quantas são as variadas circunstâncias topográficas do
to que mesmo naquele tempo, só achavam que na solo. só pela situação geográfica esta parte está exposta
metrópole seria possível viver: aos raios de um sol tropical, outra em virtude da
"Partimos hoje para Palmeira, onde SS. M M . topografia sente os mesmos efeitos, ainda mesmo que
serão hóspedes da Baronesa de Tibagí, mãe do consel- esteja mais alguns graus ao sul, como aconteceu na
heiro Jesuino Marcondes, como já sabem os leitores do viagem de hoje e entretanto estamos a 9 0 0 e tantos
Jornal por telegrama. metros acima do nível do mar. Pode-se, contudo, dizer
"De Campo Largo SS. M M . seguiram viagem à que o inverno nesta província é bastante sensível. O
Palmeira às 6 horas da manhã, a partir de Curitiba por termômetro baixa a 4 ° C nas noites e nas manhãs o
uma estrada campal depois de Campo Largo começa o mais que sobe é 1 1 . Estou certo que no alto da
terreno a elevar-se e de repente aparece uma cordil- Serrinha a temperatura vacila entre 4 e 5°C abaixo de
heira escarpada por algumas dezenas de quilômetros. zero em junho.
O seu cume é de 1000 met- "A principal riqueza da
ros acima do nível do mar e província é a erva mate. Se
mais de 100 do que a Serra "A extensão, apenas habitada houvesse fáceis meios de trans-
do Mar e quase 2 0 0 do que porte, o pinho tomaria o lugar
por cerca de 150.000 almas,
a posição de Curitiba. do mate, e digo mais poderia
apresenta tantos climas diferentes
"Chega o viajante ao suprir todos os mercados do
cume. É aqui. A terra parece quantas são as variadas mundo dessa madeira em vez
uma esmeralda sem fim, o circunstâncias topográficas do solo. do Brasil receber dos Estados
céu uma safira infinita como só pela situação geográfica Unidos e da Suécia. Os outros
bem disse o finado dr. esta parte está exposta produtos são cereais europeus,
Muricí. O cume chama-se aos raios de um sol tropical trigo, centeio, cevada, além de
alto da Serrinha. Foi aí que feno, feijão, milho, cana, café,
SS. M M . pararam um pou- algodão, tabaco, baunilha, fru-
co para extasiar-se diante da prodigiosa natureza da tas do país e da Europa em grande quantidade, minas
província do Paraná. É um espetáculo deslumbrante. e outros.
De um lado vê-se, além da Serra do Mar, todos os ter- "Devo interromper aqui este assunto para noticiar
renos que ficam entre a parte denominada Campos que o Imperador, antes de partir de Campo Largo
Gerais e a região montanhosa, e do outro a imensidade entregou à comissão de festejos a quantia de 1:500$.
dos referidos campos, assim chamadas as Campinas, Sendo 1:000$ para a Sociedade Emancipadora de
quase infinitas, que começam no alto da Serrinha e Campo Largo, 300$ para esmolas e 2 0 0 $ para ajudar a
espalham-se para noroeste e.nordeste, ainda que com construção de um teatro que ali se projeta.
ondulações. A área desses campos mede em seu maior "O deputado provincial Domingos Antônio da
comprimento de sudoeste a nordeste a extensão de Cunha em sinal de regozijo por SS.MM. terem chega-
mais de 3 9 6 quilômetros, sendo a bifurcação contida do até ao alto da Serrinha, deu liberdade a uma das suas
nas matas marginais dos rios Cinzas e Tibagí, desde a escravas. A Sra. Baronesa de Tíbagí, já também havia
Serrinha de 2 6 4 quilômetros e a dos rios Cinzas e libertado três escravos, cumprindo assim a promessa de
Paranapanema de 3 3 0 quilômetros a partir das mesmas dar-lhes as cartas quando SS. M M . viessem a esta
vertentes. Vê-se, pois, que os campos são imensos. província.
"É do alto da Serrinha que começam os Campos "SS. M M . continuando a viagem, chegaram ao
Gerais. Foi ali que SS. M M . foram recebidas com pouso chamado S. Luiz, onde a comissão de Campo

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D.PEDRO II N O PARANÁ 1880

Largo lhes ofereceu um almoço, findo o qual segui- "É nos Campos Gerais que estão c . mais ricos
ram viagem até a Ponte dos Papagaios, denominação fazendeiros. Aqui na Palmeira residem importantes
tirada do nome do rio que por aí passa e que dista 2 0 criadores e entre eles sobressaem os que compõem a
• quilômetros da vila de Palmeiras, que é a primeira família do conselheiro Marcondes, ex-ministro da
povoação que se encontra depois da Serrinha. A agricultura; a agricultura é geral e consiste em milho
ponte é toda de granito, tem dois vãos em arco que e feijão nos matos lavradios".
medem 12 metros de largura e a ponte 2 7 palmos. É A "Gazeta de Notícias" comunicou por telegra-
nesse rio que consta por aqui haver diamantes em ma:
profusão. "A estrada para aqui é excelente, e por sua bela
"Depois da ponte dos Papagaios SS. M M . e risonha perspectiva, é muito semelhante à da União
pararam na fazenda do Capão dAnta, onde estão e Indústria; uma grande parte, na extensão de 4 5
estabelecidos sete casais russos-alemães, que cultivam quilômetros, foi construída durante a administração
o centeio e batata, mas só o necessário para sub- do dr. Rodrigo Otávio.
sistência. Dizem os entendidos que o terreno desta "SS. M M . partiram hoje, às 7 horas da manhã,
colônia é igual ao da mesma nacionalidade, chamada da vila de Campo Largo, aqui chegaram às 10 horas
Quero-quero; entretanto, estes prosperam e aqueles da manhã, tendo passado ao alto da Serrinha, onde
definham. Não posso deixar de mencionar o que me lhes foi preparada uma bonita recepção; por essa
disse um transeunte da estrada por onde viemos: - ocasião o cidadão Domingos Cunha depositou nas
Os terrenos que foram regeitados pelos Russos- mãos de S. M . o Imperador a carta de liberdade que
alemães que daqui saíram, foram mais tarde reavidos passou a uma escrava, afim de comemorar a vinda
pelos seus primeiros donos por menor quantia do dos Imperantes a este lugar.
que a que tinham dado. "A comissão encar-
Outro disse-me que isso regada desses festejos, real-
não se podia dar, sem mente brilhantes, é com-
A ponte é toda de granito,
autorização do corpo le- posta dos Srs. Augusto Lo-
gislativo, e que não houve
tem dois vãos em arco que
bo de Moura, coletor Mou-
permissão para fazê-lo. medem 12 metros de largura ra, coronel Domingos Cu-
"Uma légua antes de e a ponte 27 palmos. nha e tenente José Torres."
s

Palmeira pararam S S . E nesse rio que consta por Da "Gazeta", ainda,


M M . para serem muda- são as informações curiosís-
aqui haver diamantes em profusão.
dos os animais do carro simas a respeito da viagem
imperial, que foram subs- e dos viajantes, informa-
tituídos por quatro bonitos cavalos brancos todos ções que provocaram a crítica gráfica da "Revista
enfeitados com as cores nacionais, mandados pelo Ilustrada":
conselheiro Jesuino Marcondes. Mais de 1 0 0 0 ca- "Seguimos às 10 horas da manhã, para
«lililí valeiros esperavam SS. M M . neste lugar. Vieram de Palmeira. Em caminho ficaram estropiados e em
outras comarcas que não serão visitadas para acom- estado de não poder mais acompanhar aos augustos
panhar o séquito dos moradores da Palmeira e dos viajantes, o piquete de cavalaria, o esquadrão de
seus arredores alguns deles. Um sei que fêz 6 0 léguas patriotas e os colonos alemães. Vão ficando pelo
desde Palmas e fazia parte da comitiva. caminho os companheiros de viagem e parece que
"O mesmo piquete de honra que acompanhou a dificilmente atingirão ao fim. Talvez devido ao exces-
carruagem imperial em Curitiba continuou a viagem so e ao incômodo de tão acelerada viagem, uma cri-
até aqui e irá até Castro. J á fizeram 9 9 quilômetros ada de S. M . a Imperatriz, de nome Joana teve uma
Barão do Tibagí, o mais antigo com 93 que têm de fazer, e a cavalo, é preciso serem grande síncope.
titular do Paraná, decreto de 4 de muito dedicados à monarquia. "Todos da comitiva queixam-se da viagem pre-
agosto de 1858 e, que, falecido "À Palmeira chegaram SS.S M M . às 5 horas da cipitada a que são obrigados pelo itinerário marcado
em 1863, não poude hospedar tarde, com grande entusiasmo da população. por S. M . o Imperador. Os semanários o conselheiro
S.S.M.M.I.Í., cabendo a honra a Hospedaram-se em casa da Baronesa de Tibagí, mãe Buarque de Macedo e o presidente da Província, já
sua esposa, depolsVIscondessa do conselheiro Jesuino. Uma banda de música per- caminham quase arrastados à força.
do Tibagí. correu à noite as ruas da vila que se iluminou. "Ficaram mortos na estrada quatro cavalos e 16

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GAZETA DO POVO
DAVÍ CARNEIRO

foram deix; los por incapazes de prosseguir." não consentiu que êle o servisse, e fê-lo sentar-se ao
Em seguida a "Gazeta" dá a descrição telegráfi- seu lado, e junto à senhora Baronesa do Tibagí.
ca da recepção na Palmeira: A respeito do caso do Capão da Anta, trans-
"Aqui chegamos às 5 horas da tarde, tendo feito crevemos aqui as impressões de Ernesto Matoso, do
longa viagem, felizmente por uma boa estrada. livro "Coisas.do meu tempo":
"A recepção que tiveram os augustos viajantes "A viagem de Curitiba para Palmeira, através de
foi esplêndida e esteve imponente a festa verdadeira- extensos pinheirais, matas cerradas da frondosa
mente popular. Araucária brasiliensis, foi realmente encantadora. A
"Mais de quinhentos cavaleiros foram esperar guarda de honra dada por mais de 2 0 0 cavaleiros,
SS. M M . a duas léguas de distância da povoação e quase que exclusivamente comerciantes da capital da
entre vivas entusiásticos o acompanhavam: forman- província, todos uniformisados, calças brancas e
do colunas. Fazem parte da comissão de festejos os paletós pretos, com a facha auri-verde passada a tira-
Exmos. conselheiro Jesuino Marcondes, Major colo, com botas de montar de cano alto e polimento,
Marcondes e Padre Camargo. todos a galopar atrás da carruagem imperial, que rá-
"S. M . o Imperador visitou a colônia do Capão pida corria pela estrada aberta no coração de florestas
e a do Dantas quase abandonadas pelos colonos rus- de alterosos pinherais, à imensa fila de carros con-
sos. duzindo a comitiva cada vez mais numerosa, os
"Os Srs. Conselheiro Buarque de Macedo e o múltiplos piquetes de cavalaria policial da província,
presidente da província dr. M . Dantas não acompan- acompanhando as carruagens, tudo ocupava uma
haram S. M . em sua visita à colônia porque se havi- extensão de uns dois quilômetros de estrada e o
am perdido em caminho da comitiva imperial. espetáculo, que se apresentava a meus olhos, quando
"Por muito tempo S. do alto de alguma colina
M . o Imperador andou os volvia para esse fantásti-
inteiramente só pela co cortejo, era realmente
"A viagem de Curitiba para
estrada. deslumbrante.
"As terras por aqui
Palmeira, através de extensos "Satisfazendo os dese-
são visivelmente más e os pinheirais, matas cerradas jos reiteradamente mani-
colonos imprestáveis. da frondosa Araucária brasiliensis, festados pelo monarca, fo-
"S. M., o visconde de foi realmente encantadora. mos visitar as célebres ter-
Tamandaré e a dama de S. ras do "Capão d'Anta",
M. a Imperatriz hospeda- que na administração pro-
ram-se em casa do Sr. conselheiro Jesuino Marcon- vincial do dr. Rodrigo Otávio, o presidente do con-
des; o Sr. barão de Maceió em casa do Sr. Pinto: os selho e ministro da agricultura, Cansanção de
representantes da imprensa da corte e o sr. Sinimbu, havia mandado comprar para nelas instalar
Delahande em casa do sr. major Marcondes, onde os colonos russos-alemães, vindos do Volga para o
tiveram excelente acolhimento. Brasil.
"A noite, as ruas da localidade, brilhantemente "Essas celebérrimas terras, impróprias para toda
iluminadas, oferecem um lindo aspecto e acham-se e qualquer cultura, terra pedregoza, que nem capim,
apinhadas de povo. Houve uma significativa mani- nem erva daninha produzia, uma espécie de ilha de
festação à imprensa da corte. O tempo está magnífi- São Vicente, em Cabo Verde, foram vendidas por um
co, e devemos aproveitando-o, seguir viagem amanhã potentado político liberal, ex-ministro, e compradas,
para Ponta Grossa." como já disse, por ordem formal do presidente do
Na Palmeira ficou uma tradição curiosa, relati- conselho.
va ao primeiro almoço servido a SS. M M . II. "De tal qualidade eram as.famosas terras que os
Querendo a comissão dar prova de apreço aos próprios colonos, em poucos dias, as abandonaram,
imperiais visitantes, nomeou o capitão Stockler, ve- indo mendigar pelas estradas e essa notícia chegou
terano da campanha do Paraguai, para ser o copeio até à Corte.
de SS. M M . "O malogro dessa magnífica colonização causou
O imperador porém, quando deu com o servi- ao imperador a mais penosa impressão.
dor tendo ao peito tantas medalhas de campanha, "Uma vez no Capão d'Anta, presidente mesmo

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HSBCm
D.PEDRO II N O PARANA 1880

o vendedor das terras, o Imperador mandou um solda- do com os mais seguros dados, mesn o antes de
do revolver a terra aqui e ali com a espada, dizendo: chegar a Curitiba, em minhas correspondências
"Isto não dá nem capim. Isto é cascalho não é terra. No para o C R U Z E I R O entrei a ocupar-me do lamen-
Volga esses pobres homens tinham muito melhores ter- tável caso.
ras: não precisavam vir tão longe!" "Desejando o imperador que o acompanhassem
"Um dos amigos do vendedor do Capão d'Anta redatores dos grandes órgãos da imprensa da corte e
ousou retorquir: "Foram os próprios colonos que pedi- tendo eu sido destacado para junto do imperador, na
ram estas terras. Muita gente os aconselhou a que não qualidade de representante do C R U Z E I R O , entendi
viessem para cá, mas eles insistiram." que outra era a minha missão do que noticiar apenas a
"— Quem os aconselhou, quem? perguntou D . hora em que o imperador se deitava, ou comia, ou con-
Pedro. versava, e por isso comecei logo em minhas cartas a
"— Gente do povo, responderam. apreciar o que se havia feito pela colonização no Paraná
"— O povo não fala alemão nem russo e con- e sobretudo o que se passara com a perversa compra das
selho não se dá por intérpretes, replicou o imperador terras do Capão d'Anta e nelas instalados os infelizes
visivelmente contrariado. russo-alemães.
"Essas poucas palavras davam bem a conhecer a "As minhas primeiras correspondências publi-
sua indignação e coafirmavam o seu juízo favorável a cadas pelo C R U Z E I R O , alcançaram-nos ainda na
tudo quanto de mal se dizia relativamente a essa província e lendo-as, o imperador disse ao conselheiro
compra, por alto preço, de terras imprestáveis. Buarque, que m'o repetiu: "São muito sensatas as cor-
Senhor de tudo quanto se fêz para essa desastrada respondências do C R U Z E I R O sobre a colonização na
aquisição, pois fui informado com os mais seguros se província do Paraná. Tudo o que elas dizem é a
fêz para essa desastrada aquisição, pois fui informa- expressão da verdade."

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iiaiimoopovo
DAVÍ CARNEIRO

"Lison ,eado pela opinião do chefe da Nação, ficou completamente perante mim, porque após a
continuei a,ocupar-me tenazmente dos erros cometi- publicação de longos artigos dele e meus, exigindo
dos relativamente à colonização russo-alemã e os de mim o solene compromisso de não referir-me
meus artigos sobre o assunto continuaram a aparecer nem de leve ao que ia pôr sob meus olhos, mostrou-
mesmo depois de nosso regresso do Paraná. me um telegrama do ministro da agricultura orde-
"O assunto era complexo e os erros muitos. nando-lhe a compra das terras do Capão d'Anta, a
"O finado conselheiro Alfredo Chaves, então despeito de ter êle (Rodrigo Otávio) confidencial-
diretor de terras e colonização, como resposta a um mente informado ao governo da imprestabilidade de
dos meus artigos, escreveu nos entrelinhados do semelhantes terras e a incúria de uma tal aquisição.
J O R N A L D O C O M É R C I O uma rezenha do que "A palavra de honra dada naquela ocasião
oficialmente sabia sobre o caso e na qual dizia mais observei-a religiosamente até ontem, mas hoje dela
ou menos: — "achar extraordinário que o correspon- julgo-me desobrigado: Não existem mais nem
dente do C R U Z E I R O que parecia tão competente Rodrigo Otávio, nem Sinimbu, nem mesmo a
em assuntos de colonização apenas apontasse os erros monarquia, no domínio da qual deu-se o fato. É
da colonização russo-alemã, sem entretanto indicar tempo e dever meu de prestar à memória do dr.
os meios de remediá-los." Rodrigo Otávio, esse tributo de justiça à sua pro-
"A isso respondi em poucas linhas, no dia ime- bidade e à sua honesta administração.
diato, pelo C R U Z E I R O , com a seguinte "carta aber- "A política, a fatal política de todos os tempos
ta" ao senhor diretor geral de terras e colonização: forçou o venerando conselheiro Sinimbu o ordenar
"Apontar os erros da colonização russo-alemã, semelhante transação.
na província do Paraná, é meu duplo dever: como "O imperador, em seu regresso à corte teve
jornalista e como bra- ensejo de fazer bem sentir
sileiro; indicar porém, os o seu profundo descon-
meios de remediá-los, se- tentamento com a celebér-
"Como era de praxe após
ria provar ao governo im- rima compra.
as viajens imperiais o governo
perial inutilidade do cargo "Como era de praxe
que S. Ex. exerce. levou à assinatura do imperador após as viajens imperiais o
"Eu não faço." as graças concedidas aos que governo levou à assinatura
"Em certo dia, estan- mais haviam obsequiado os do imperador as graças
do eu de plantão na reda- soberanos na excursão ao Paraná. concedidas aos que mais
ção, procurou-me o ilustre haviam obsequiado os so-
dr. Rodrigo Otávio, que beranos na excursão ao
presidia a província do Paraná, quando deu-se o caso Paraná. Ao vendedor das famosas terras tinha o go-
que aqui venho narrando. Foram estas as suas verno assentado fazê-lo titular com nobreza, pois
primeiras palavras: "Quase os mesmos reparos que o fidalga e custosa hospedagem havia proporcionado,
senhor tem feito em suas correspondências, foram numa das cidades do interior, a SS. M M . e a comiti-
feitas no Senado, aos quais jamais quis responder; va. Ao ser apresentado ao imperador em despacho
agora entretanto, pelo modo cortez e alevantado ministerial, o decreto fazendo-o barão com grandeza,
com que o senhor tem-se ocupado da colonização disse o imperador ao ministro do Império:
russo-alemã, vou encetar a publicação de uma série " — Vamos reformar isto, Não quero dar ne-
de artigos em resposta aos seus, explicando bem o nhum título a esse senhor. Prefiro agraciar a mãe
que se deu." dele.
"Com imenso prazer contestei, acrescentando: " — J á é baronesa, retorquiu o ministro.
Vou entender-me hoje mesmo com a administração " — Pois faço-a viscondessa. Mande-me o decre-
da casa afim de que, gratuitamente, fiquem as nossas to para que eu assine. Faço-o^eom prazer; ao filho é
colunas às ordens de V. Ex., para responder-me. que não.
"E assim fêz-se. O referido estadista em polêmi- "E foi isto o que se fêz."
ca comigo, largamente escreveu sobre o caso e, si não Também o Sr. Justiniano de Melo no "O
ficou absolutamente justificado com o que publicou, Paranaense" escreveu um artigo sob o título de
devo dizer em honra à sua honrada memória, que o "Viajem Imperial-, comentando o caso do Capão da

19
HSBC « O
D.PEDRO II NO PARANÁ 1880

Anta: - " S . M . o Imperador passou pelo capão "Extensa repercussão tiveram no p. 's e fora dele
d'Anta, a célebre fazenda vendida por 9 5 : 0 0 0 $ para as arguições levantadas no seio do parla nento sobre
estabelecimento de russo-alemães. as decantadas compras de terras, que determinaram o
"Segundo informações que obtivemos de pes- malogro da colonização dos Campos Gerais, e fun-
soas criteriosas e insuspeitas, o augusto monarca damente abalaram os créditos do Estado.
manifestou o seu juízo sobre os areais e pedreiras que "O governo de S. M . revelou-se indiferente,
tanto concorreram para o desbarato da colonização impassível aos acentos da verdade proclamada pelas
encetada sob excelentes auspícios. tubas da imprensa, e parecia resolvido a velar sob
"A província tem o direito a saber qual o pro- espesso sendal as imoralidades praticadas à sombra
nunciamento do seu soberano sobre assunto que tão de tão censurável apatia.
imediatamente afeta os créditos do Estado, e intima- "Os indivíduos que vivem a explorar os cofres
mente prende-se ao progresso deste opulento torrão públicos, que se alimentam com o suor e as lágrimas
do império. do pobre arrecadadas pelo tesouro, encorajaram-se,
"Se não nos é dado devassar a consciência impe- prosseguiam destemidos na senda do crime, à vista
rial, nos é lícito sem dúvida comunicar a todos quan- do exemplo que descia das alturas do governo.
tos assistiram a pugna travada entre a oposição e o "O predomínio da família previlegiada devia
governo, e podiam nutrir dúvidas sobre o fundamen- crescer com a impunidade que resguardou os seus
to e alcance de nossas constantes acusações, o pensa- cometimentos. O patriotismo gemeu acocorado no
mento do imperante, que vem fechar o ciclo das dis- canto da cabana, enquanto nos doirados salões val-
cussões da imprensa, e corroborar os conceitos exter- savam os renegados da moralidade pública.
nados pela maioria da população da província. "Parecia que a onda de corrupção subindo,

Casa da fazenda do Comendador Manoel Gonçalves de Morais Roseira, onde esteve de visita o imperador D.
Pedro I I , em 1880 (Palmeira)

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GAZETA DO POVO
DAVÍ CARNEIRO

subindo ser pre, ia espraiar-se sobre todos os carac- "Paranaense! Amai a monarquia!
teres, e asfixiar as mais alentadas resistências. J . de M . "
"Aqueles que se atreveram, — santa temeridade! - Depois daestadia de SS.S M M . I I . na Palmeira,
a opor frágil dique à torrente dos abusos, foram D . Pedro resolveu visitar o comendador Roseira,
ameaçados na sua liberdade pela justiça dos domi- mesmo estando este no ostracismo, afastado do
nadores - que as mais das vezes se assemelha às zoinas poder. O " 1 9 de Dezembro" noticiou: - "Depois do
das ruas de Babilônia. almoço, às 10 1/2, puseram-se de novo a caminho
"Os prelos espatifados, os redatores metidos em com grande acompanhamento dos habitantes do
processos, os jornais arrebatados nas praças pelos lugar e apeando-se em SantaCruz, na fazenda do Sr.
instrumentos da polícia, os vexames, as flagelações, as Comendador Roseira, aí foram recebidos por êle e
perseguições sem conta e sem medida, formaram denso toda a família, em cuja casa SS.. M M . se dignaram
nevoeiro em cujo seio os vingadores da moral batal- aceitar o jantar, que lhes foi oferecido assim como à
haram contra os apóstolos da sordícia governamental. ilustre comitiva."
"Quem poderá cantar os epinícios da vitória? Justiniano de Melo, conservador vermelho,
"Os vendedores de terras, que empregaram escreveu a respeito o artigo "Monumento" no "O
todos os ardis e manobras para iludir a perspicácia Paranaense":
do Imperador, ou a oposição, que se limitou a apon- "Um exemplo a seguir, uma lição fecunda de-
tar os fatos susceptíveis de exame durante a rápida ram-nos os augustos imperantes na sua viagem ao
viagem do monarca? centro desta província. Ao exemplo e à lição
"As palavras do monarca são um consolo para chamaremos - monumento.
nós, um motivo de regozijo para a província. "Não um monumento de pedra, que o tempo
"Diante dos areais, derroca, mas um monu-
das montanhas de granito mento de magnanimidade,
que se levantam nos ter- que as gerações transmi-
renos do Capão dAnta, "a sociedade, ontem dúbia tirão às gerações, flor que
quais novos Adamastores, a e vacilante, sente-se agora convencida, trescalará perfumes en-
cuspirem zombarias sobre e fortalecida pelo apoio moral do quanto os prados se co-
as esperanças da coloniza- soberano, que condenou a prevaricação, brirem de neve, raio de luz
ção russo-alemã, S. M . pro- que se prolongará através
e tornou-se o fanal dos espíritos
feriu as seguintes palavras: das noites de nossa terra.
bafejados pelas auras serenas
"Na verdade lograram "Lembraram-se os
os russos." e puras da consciência. augustos hóspedes de que
"Eis terminada a ques- aqui, no meio da corrup-
tão agitada pela imprensa. ção reinante, havia uma
"A moralidade pública foi vingada pela sober- alma que escapara o assédio fatal das ambições políti-
ana imparcialidade do monarca. cas, que havia um nome que o sopro do egoismo não
"As administrações corruptas estão condenadas empanou, que mais rebrilha na sua modéstia, quanto
à eterna animadversão dos patriotas. mais densas são as trevas que descem das altas regiões.
"a sociedade, ontem dúbia e vacilante, sente-se "SS. M M . disseram à mocidade: eis alguma
agora convencida, e fortalecida pelo apoio moral do coisa de grande que podeis imitar: à velhice: eis uma
soberano, que condenou a prevaricação, e tornou-se preciosidade bem rara entre os que trazem cabelos
o fanal dos espíritos bafejados pelas auras serenas e brancos."
puras da consciência. "E os moços se puseram a olhar curiosos, como
"Sobre as ruínas melancólicas da catástrofe que procurando no passado as louçanias do futuro: e
ergue-se o lábaro da honra e da probidade! os anciãos, fitaram os olhos embaciados no horizon-
"Mocidade! alistai-vos sob a bandeira regene- te, como que neles vendo estampadas as grandezas
radora. que se foram.

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HSBcm
D.PEDRO II NO PARANÁ 1880

"Alguém que perguntasse nesse momento ao abertas pelo furor das facções, moralizou om a palavra
monarca qual o seu ideal do político, êle diria comovi- e com o exemplo os seus co-religionários.
do: "é um velho, que eu estou a contemplar: se "Mas, dirão: um é o chefe que passou e o outro é
quisessem saber o que S. M . deseja de melhor para este o chefe que domina.
império, a resposta seria: "uma mocidade como aquele "Este argumento seria muito valioso para os can-
velho". didatos à deputação: mas muito fraco, e talvez ridícu-
"Vou ver o sr. Roseira disse o Imperador ao sair lo para o Imperador.
da Palmeira. * "Entretanto, SS. M M . não foram acompanhados
"Diversos estratagemas, segundo nos infor- à casa do ilustre ancião pelos dois proprietários da
maram, foram empregados para que o monarca não província: os snrs. Alves de Araujo e Jesuino
satisfizesse o seu tão justo desejo. Marcondes.
"S. M., porém, quis ir, e foi. "Que pena! O monarca tem espírito. Com uma
"Quem escreve estas linhas achava-se no interior palavra poderia regenerar os ilustres chefes: — "Então
da província. Ali todos inquiriam os que chegavam de senhores, conhecem o comendador Roseira?"
baixo: "o Imperador foi à casa do comendador "A resposta seria, sem dúvida, esta, se aqueles dois
Roseira?... homens tivessem consciência, como pensamos que
"Finalmente ouvimos alguém dizer: " S . M . foi ter tem: "Não Senhor; este homem nos é inteiramente
com o velho comendador!" desconhecido."
"Não podemos deixar de esclamar cheios de júbi- "De fato: como explicar-se a conduta de uns
lo: "grande monarca!" E muitas pessoas do povo diante da conduta do outro?
bradaram em coro: Muito bem! Viva o Imperador! "Como supor que vivam tão próximos - o vende-
"Todos compreenderam que o primeiro dos dor de terras para russos-alemães e o desinteressado
brasileiros quis levantar um monumento à probidade, cidadão, que teve a honra tão disputada de uma visita
à honra, às virtudes cívicas e privadas no meio daque- imperial?
les mesmos campos que viram tantas misérias da alma "Vimos depois o nobre comendador, cheio de
humana. prazer, transbordando de entusiasmo, falar de seu
"Bem perto do Capão dAnta o comendador amado monarca.
Roseira!... "Nós, que nos achávamos face à face com o dis-
"Adiante da Palmeira, borbulhando de cobiça, o tinto paranaense, dissemos então: Não atribua tão
velho patriota, calmo, no meio de seus filhos e netos, grande honra mais à magnanimidade do imperador do
talvez ignorante de que existam cofres públicos!... que as suas virtudes, sr. comendador.
"Aqui o homem que se despojou pelos pobres: ali. "Vimos uma lágrima que rolou pelas faces do
o homem que os pobres enriqueceram! velho: e ouvimos ainda esta exclamação, que vale um
"Cá o partidário exaltado que brandiu a cimitar- hino, quando provocada pelo patriotismo:
ra, e despejou "fogo grego" sobre os proscritos; ali o "VIVA O I M P E R A D O R !
político que evangelisou a tolerância, ungiu as chagas J . de Mello".

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GAZETA DO POVO
DAVI CARNEIRO

S. M. tem visitado mais isto e mais aquilo. (Vide Jornal, Gazeta e Cruzeiro os que o tem).
Todas essas notícias são da maior importância para o respeitável público que as lê com grande interesse.

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HSBC<»
D.PEDRO II N O PARANA 1880

A ESPETACULAR VIAGEM DE D. PEDRO AO PARANA

A
Gazeta do Povo reproduz neste suplemento, quarto da Pedro II e sua comitiva imperai, e ainda a seção de Anexos, que faz
série, a viagem de dom Pedro II pelas cidades de Ponta parte do livro.
Grossa, Castro, Palmeira e Lapa. •••
Com a publicação das edições anteriores, o leitor conheceu
A série compreende a publicação, ipsis litteris, da obra "D.
como foi o embarque do imperador no Rio de Janeiro com desti-
Pedro II na província do Paraná - 1880", do historiador e escritor
no ao Paraná; sua chegada ao estado por Paranaguá; a estada em
David Carneiro, em cinco fascículos encartados diariamente na
Antonina, Curitiba e Campo .Largo.
Gazeta do Povo, de 15 a 19 de dezembro, e faz parte das comem-
No próximo fascículo, suplemento que encerra a coleção,
orações dos 150 Anos da Emancipação Política do Estado do
conta a reprodução do capítulo XV, tratando do retorno de Dom
Paraná.

POUSO
IMPERIAL

A ntigo ponto de passagem


dos tropeiros, Castro foi
elevada à cidade no ano de
1857, sendo uma das mais anti-
gas do Paraná. Foi roteiro da
visita de dom Pedro II em 28 de
maio de 1880, que permaneceu
no município por dois dias. A
casa em que o imperador se
hospedou, de propriedade do
juiz de direito Manuel da
Cunha Lopes Vasconcelos, está
até hoje conservada.

OS ESCRITOS E UM ACERVO
ASSENTO INSÓLITO PRESERVADO

O diário de dom Pedro II, em que fazia suas anotações


sobre sua hospedagem nos Campos Gerais e sua visi-
ta à chácara Baily (foto), onde sentou-se no famoso tron-
O Museu do Tropeiro, em Castro, abriga utensílios imperiais como
os conjuntos de pesos e medidas para secos & molhados e o texto
da lei que instituía o novo sistema. Espingardas, que levam o selo
co de osso de baleia, foi transcrito posteriormente e pub- imperial, foram trazidas pela comitiva de dom Pedro II, em 1880,
licado no ano de 1 9 5 9 , com o nome de Anuário do assim como belíssimas vestimentas para o padre da região, presen-
Museu Imperial. teadas, na época, pela imperatriz Tereza Cristina de Bourbon.

Expediente - A Espetacular Viagem de Dom Pedro II ao Paraná é uma série de cinco fascículos especiais da Gazeta do Povo editada em comemoração aos 150 anos de emancipação polílitca do Paraná. Projeto da Centrai RPC
de Markering desenvolvido pela Redação da Gazeta do Povo. Apoio de pesquisa do Instituto Histórico e Geogfáfico do Paraná • Diretor de Redação: Arnaldo Alves da Cruz. Textos: Juliana Girardi, Adriano Justino e Carlos Vtcelli.
Coordenação Gtáfica: Ricardo Humberto. Diagramação: Marcos Tavares. • Digitação: João Carlos S. Araújo e Nicanor Pedro da Costa • Revisão: Adamastor Marques. Rua Pedro Ivo, 459 • Centro • Curitiba-PR • CEP 80010-
020* Não pode ser vendido separadamente • Os fascículos circulam diariamente do dia 15/12 a 19/12/2003.

GAZEIA DO POVO
DAVÍ CARNEIRO

PONTA GROSSA

3
D.PEDRO II N O PARANÁ 1880

-XII-

PONTA GROSSA. - A CHEGADA. - A HOSPEDAGEM.


- AS VISITAS. - A CAMINHADA.

P
onta Grossa em 1880 não era o que é hoje, é claro, Paraná é proferir uma inverdade assombrosa.
nem era o que começou a ser desde que os trilhos "S. M. tem sido mal impressionado por tudo quan-
da Estrada de Ferro lhe chegaram à porta, 14 anos to tem visto, e igualmente partilha da opinião de todos
mais tarde. Não é para admirar que o imperador e sua os que o acompanham; chegando mesmo a apontar
comitiva tivessem demorado tão pouco na atual Princesa como causa do malogro da colonização russo-alemã três
dos Campos. O "19 de Dezembro" noticiou a chegada e grandes erros: — má administração, má escola e compras
o contacto com a cidade, de maneira pouco explícita, de terras e maus conselhos dados aos colonos.
gastando sobriamente comentários: - "Uma légua, mais "A excursão até aqui foi ainda muito incômoda e
ou menos, aquém da cidade de Ponta Grossa, em umâ dada a viagem vertiginosa, poucos companheiros che-
grande extensão arborizada, achava-se um bem acabado garam bons até ao termo. Tivemos cavalos mortos e
arco e cerca de 500 cavaleiros que aguardavam os estropiados, carros partidos, e todo pessoal muito cansado.
Augustos Viajantes. "Hoje, fizemos 45 quilômetros em visita das colô-
"Depois de muitas saudações, nias; em meio do caminho quase
seguiram para a cidade onde tombou o carro em que iam SS.
chegaram às 5 1/2 horas da tarde, "A excursão até aqui foi MM., do qual ficaram inutilizados
dignando-se hospedar-se em casa dois cavalos. S. M. a Imperatriz
ainda muito incômoda e dada
do Sr. major Domingos Ferreira sofreu um grande incômodo com o
a viagem vertiginosa, poucos
Pinto que aí com sua família^ esper- choque e teve de regressar para
avam os Augustos Hóspedes. companheiros chegaram casa, acompanhada de um veador e
"Desde a chegada de SS. M M . bons até ao termo. Tivemos o comandante do piquete. S. M . o
até às 8 1/2 horas da noite, e num cavalos mortos e estropiados, Imperador desceu do carro, mon-
coreto ricamente levantado, no carros partidos, tou imediatamente a cavalo e con-
pátio da matriz, fêz-se ouvir uma e todo pessoal muito cansado." tinuou a visita pelas colônias, fican-
bem concertada banda de música, do o resto da comitiva em camin-
notando-se grande entusiasmo e ho.
animação entre os habitantes.". "Regressamos à cidade às 6 horas da tarde. Os
A "Gazeta de Notícias" disse sobre a estadia em imperantes e o visconde de Tamandaré acham-se hospe-
Ponta Grossa, por telegrama: - "Aqui chegaram SS. dados em casa do major Ferreira Pinto; a comitiva foi
MM. II., ontem, às 7 horas da noite, tendo feito uma recebida em casa do Sr. Teixeira Alves.
ligeira paragem em caminho, na fazenda do comendador "SS. M M . devem seguir amanhã, às 6 horas da
Roseira. manhã para Castro, distante daqui 50 quilômetros, de
"S. M. distanciou-se quatro quilômetros da comiti- onde regressarão depois de amanhã. Poucos seguirão
va e teve uma lindíssima recepção, de caráter popular. viagem com SS. M M . , visto que acha-se muito reduzida
Hoje, visitou os núcleos coloniais Otávio, Taquarí e a comitiva."
Tavares Bastos, os quais oferecem um estado mais Como estadia a 27 de maio, o " 1 9 " completa: —
lisongeiro e são mais regulares que os outros até agora "No outro dia (27), S. M. o Imperador visitou as escolas
visitados, e que são verdadeiramente péssimos. públicas da cidade, e com S. M. a Imperatriz, ouviu
"Falar na prosperidade colonial da província do missa.

GAZETA DO POVO
DAVI CARNEIRO

"Depois do almoço, foram SS. M M . percorrer tino a esta cidade. Demoraram-se cerca de uma hora em
alguns núcleos coloniais estabelecidos nas circunvizi- casa do fazendeiro comendador Roseira, onde se dig-
nhanças da cidade. naram aceitar o lunch. Seguindo viajem, SS. M M .
"Neste lugar, e enquanto SS. M M . e sua comitiva pararam algum tempo por sobre a ponte do rio Tibagí
se dirigiam a visitar o núcleo Taquarí, S. M. a Imperatriz para admirar o lindo panorama que dali se descortina.
resolveu descançar em casa do cidadão José Branco, "Tem a ponte cerca de 5 0 0 palmos e é toda de
voltando dentro em pouco para a cidade em companhia madeira da província. O rio Tibagí nasce na Serrinha e
do seu veador e darriá."""" vai desembocar no Paranapanema, correndo uma
"S. M. o Imperador, para poder chegar a este extensão de 528 quilômetros pouco mais ou menos.
núcleo, teve de caminhar a pé, cerca de meia légua. Oferece navegabilidade até ao Paraná, mas é cheio de
"Visitou depois, a cavalo, o núcleo Tavares Bastos, embaraços pelas muitas corredeiras e resaltos que há em
sendo acompanhado pelo ministro da agricultura, presi- todo o seu curso.
dente da província, diretor do núcleo e outros cidadãos "SS. M M . chegaram em Ponta Grossa às 6 horas da
de sua digna comitiva. tarde, sendo recebidos a alguma distância da cidade por
"S. M . o Imperador voltou para a cidade às 6 horas um muito crescido número de cavaleiros. Ao entrarem
da tarde." na cidade as girandolas e os foguetes estouraram durante
O "Jornal do Comércio", em telegramas passados 9 minutos consecutivos. Talvez pareça que há exagero de
para a Corte, dizia: minha parte, mas, para fazer desaparecer esta suposição,
"Hoje os Augustos Viajantes pernoitarão na Ponta declaro que lembrando-me da recepção que tivemos
Grossa, em casa do major Domingos Ferreira Pinto, em aqui, tive a paciência de marcar a relógio o tempo que
caminho visitarão a fazenda do Capão da Anta e a colô- tais foguetes levavam a atroar os ares. Além disso, não fal-
nia dos russo-alemães. A distância a que, por alguns dias, taram nem flores, nem entusiasmo na recepção dos
vamos ficar das linhas telegráficas não me permitirá Augustos Viajantes aqui.
remeter telegramas. "A cidade de Ponta Grossa, situada num dos
"A inauguração da peni- pontos mais elevados dos
tenciária, na capital, foi mar- Campos Gerais, apresenta-
cada para o dia 2 de junho." "Já é tempo de criar na região se graciosa ao viajante
"Curitiba, 30 de maio propriamente dita dos desde à distância de 2 0
— Os Imperantes chegaram a Campos Gerais uma Cia. Pastoril, quilômetros. O território
Ponta Grossa quarta feira. A paroquial é maior do que o
que não poderia deixar
recepção foi entusiástica. da Palmeira.
de dar bons resultados."
Visitaram as colônias Uvara- "A criação de gado va-
nas, Taquarí e Tavares Bas- cum, cavalar e muar é que
tos; encontrando, a primeira abandonada pelos russos e faz a riqueza de todos os fazendeiros ali residentes.
as últimas em bom estado." "Já é tempo de criar na região propriamente dita
O comentarista do mesmo jornal, porém, foi mais dos Campos Gerais uma Cia. Pastoril, que não poderia
longo: — "Percorremos em pouco mais de 24 horas as 21 deixar de dar bons resultados.
léguas que separam Curitiba deste lugar, descontando a "Na Palmeira o clima é favorável ao cultivo de
noite de parada na Palmeira. árvores frutíferas, não só européas, como a nogueira,
"Nesta cidade, ontem, às 7 horas da manhã com amendoeira e outras, mas também laranjeiras e limeiras,
temperatura 9°C. S. M. o Imperador visitou a Matriz, as mas nenhuma medra tanto como a laranjeira.
escolas de ambos os sexos, a cadeia e a câmara. É muito "É tal a abundância delas que num dos arcos, que
satisfatório o estado dos alunos dessas escolas, tanto de se fizeram para a recepção dos Augustos Viajantes, as
um sexo como do outro. Na do masculino, o menino sanefas eram todas compostas de laranjas. Os produtos
arguido por S. M. respondeu muito bem; na do femini- mais importantes de Ponta Grossa são erva mate, lanifí-
no a aluna saiu-se ainda melhor, convindo notar que cios, xarque e outros derivados de gado. O rio Tibagí
ambas essas crianças são filhos de uma pobre senhora da passa a l O quilômetros da cidade.
Palmeira, que por falta de recursos os retira por vezes da "Em Ponta Grossa SS. M M . hospedaram-se em
escola para ajudá-la. S. M. sabendo disso afagou-os casa do Major Domingos Ferreira Pinto. Hoje o
muito. Ontem, às 11 horas partiram SS. M M . com des- Imperador acompanhado do conselheiro Buarque de

HSBC«>
D.PEDRO II NO PARANÁ 1880

Macedo é do presidente da província visitou a câmara, as interior da província para Curitiba. Em geral os colonos
escolas, a cadeia e a biblioteca e com a Imperatriz ouviu dali estão contentes. S. M . a Imperatriz não deu a honra
missa na matriz. Depois do almoço SS. M M . saíram da de sua presença às colônias, por terem-se cansado os ani-
cidade e visitaram algumas colônias russo-alemães que mais do carro. S. M. o Imperador fêz a viajem a cavalo.
foram estabelecidas nos arredores de Ponta Grossa. Na volta da colônia Tavares Bastos S. M. o Imperador
Causou lástima ver o estado desgraçado em que se dignou-se de aceitar uma chícara de café, que lhe ofere-
encontra a colonização no Paraná. Se por um lado há ceu o fazendeiro José Joaquim Ferreira Branco. Ali foi
colônias com terras boas, cujos moradores estão con- admirado um lindo cavalo de raça que é destinado para
tentes, por outro há núcleos abandonados de que não o pastor. Outro bonito animal, também de raça, per-
restam senão as casas e cujas plantações estão quase que tence ao negociante deste lugar José Pedro da Silva
completamente destruídas. Na colônia de Uvaranas a Carvalho. Vai se desenvolvendo aqui o gosto dos fazen-
primeira visitada, existem poucos russos, os quais pas- deiros pelos animais de raça. Na capital há dois cavalos
sam o dia dormindo ou vadiando. As terras não são puro sangue, propriedade do coronel Antônio Ricardo e
boas e por isso os cereais não são mais plantados, dizem uma égua, meio sangue, pertencente ao major Luiz
os colonos. Parece fora de dúvida que o que faltou à Manoel Agner. Enfim em toda a província já se contam
colonização foi direção. Outra questão muito impor- cerca de 40 cavalos de raça.
tante foi a qualidade dos terrenos distribuídos aos "Chegando a Ponta Grossa depois do jantar SS.
colonos. Algumas delas tem na superfície, em grande MM. receberam as pessoas que quiseram ter a honra de
extensão, um palmo de terra somente, e por baixo mor- cumprimentá-los.
ros de gréz. "À noite iluminou-se a cidade, tocando uma banda
"Atirada a semente ao solo, germina logo, mas não de música no largo em frente ao palácio.
havendo bastante porção de terreno para a planta desen- "SS. M M . partem amanhã às 7 horas da manhã
volver-se acaba morrendo. Daí o desânimo dos colonos. para a cidade de Castro. Voltam no dia seguinte para
"O município de Ponta Grossa."
Ponta Grossa é considerado Jocosamente, como
um dos que tem melhores sempre, a "Revista Ilustrada"
"0 imperador também prometeu;
terras, e entre elas há falou a respeito de Ponta
grande quantidade da céle-
mas os reis são tão ingratos!... Grossa: — "Em primeiro lugar
bre terra roxa, igual a de Pensas que ele agradece as festas e para que o país e tu dur-
São Paulo, tão boa para o que nos fazem aqui? não vê? mam tranqüilos, a impera-
café. Esta planta não pode- nem um "muito obrigado". triz, eu, e o imperador con-
ria desenvolver-se aqui por A imperatriz, sim, é muito afável." tinuamos sem novidade em
causa do frio intenso, mas a nossas importantes saudades;
doze léguas de Ponta todos bons felizmente; mas
Grossa no rio dos Patos, há excelente café e terra roxa que cançaço, arre!... O imperador com sua prosa de forte
magnífica. não tem parado no seu galopar infrene de quinze léguas
"Ninguém contestará que foram mal distribuídas, por dia! A imperatriz - muito boa - não se queixa; e eu
entre os colonos, as terras compradas pelo governo. Teria não tenho querido desgostar o imperador, recomendan-
sido melhor dar o terreno com pedra grés para pastagens do-lhe mais comedimento em suas correrias; mas afinal
de gado e os outros sem ela para cultura. Não foi entre- vejo que serei obrigado a dizer-lhe:
tanto isso o que se fêz. O atual presidente tentou dar ... és homem, pára! que isso também não vai a
providências para que cessassem as queixas que se levan- matar.
tavam de todos os lados, mas, apesar de sua boa vontade,
não pôde remediar o mal. ***
"Depois da colônia das Uvaranas S. M . o - > ~- in-

Imperador visitou as colônias Taquarí e Tavares Bastos, felizmente estamos aqui perfeitamente alojados
que são das melhores do município de Ponta Grossa. Ali em casa do major Ferreira Pinto — os outros devem estar
cultivam-se batatas, feijão, milho, feno, centeio e outros
na casa de algum sargento, tudo é relativo - santo
cereais. Há colonos que tem gado e não pouco numeroso
homem, incansável de agrados e cuidados sobretudo
e grandes carroções para o transporte de produtos do
com a imperatriz e comigo! Vê se lhe arranjas aí com o

GAZETA DO POVO
DAVÍ CARNEIRO

Dantas a sua promoção a coronel; êle merece e eu pelo trem da tarde... T ã o de cara à banda que o
prometi... Tinoco nem quis apanhar flechas!
"— Pois não! espera por isso! "Ele pensava que isto aqui era salão do Guedes...
"O imperador também prometeu; mas os reis são
tão ingratos!... Pensas que êle agradece as festas que nos
fazem aqui? não vê? nem um "muito obrigado". A
imperatriz, sim, é muito afável. "Eu tinha nutrido a esperança de que em Ponta
Grossa, ficaríamos a descançar beatamente suchando
os bons almoços do Ferreira Pinto - uns perus recheia-
dos e um vinho do Reno de a gente estalar a língua três
"Estamos ainda salvos; a imperatriz está boa, vezes e beber três pipas! - mas qual descançar!...
eu vou bem, o imperador sempre forte; mas que de "O imperador quis visitar os colonos - uma gente
cavalos mortos, de repórteres estropiados de comi- que nem paga as visitas que se lhes faz, nem tem vinho
tiva aguada! — os urubus jubilam, nunca tiveram do Reno para oferecer aos visitantes! - e largamo-nos
tanta carniça, os tratantes! e aliam-se de corpo e todos, uns de carro, outros a cavalo. O carro quebrou-
alma às manifestações que nos fazem os paranaens- se logo, e a imperatriz voltou; o Buarque e o Dantas
es. perderam-se, os repórters estropiaram-se; e seguimos
"Em viajem para Ponta Grossa, a imperatriz, sós, eu e o imperador, fortes como dois Atilas. Êle
eu e o imperador distanciamos a comitiva, e toda então procurando agradar-me, disse, aludindo aos out-
recepção foi para nós. Os outros, ao chegarem, ros:
ficaram todos com caras de banda, como quem vem "— Nós, sim! quando nos ajuntamos pintemos!"

S. M. continua a passear pelo interior da província do Paraná gozando de perfeita saúde.

Assim com os três representantes da imprensa da Corte que se juntaram

para espiar tudo quanto faz o nosso imperial Senhor.

HSBC 4 J >
D.PEDRO II NO PARANÁ 1880

CASTRO - PONTA GROSSA


E PALMEIRA

GAZETA DO POVO
DAVÍ CARNEIRO

-XIII-

CHEGADA A CASTRO. — NOTICIAS.- VOLTA.- O ATO DO MAJOR


FERREIRA. - O BARONATO. - MARCHA PARA PALMEIRA.

O
"Jornal do Comércio" noticia a recepção em lumes. À noite visitou a escola noturna de adultos.
Castro, cidade que havia completado o seu "No dia seguinte, às 7 horas da manhã, visitou as
centenário de fundação no ano anterior, mas escolas de ambos os sexos e a casa de um agricultor
cujo progresso vinha sendo lento. A descrição de Saint francês de nome Bailly, que cultiva cereais e faz excelente
Hilaire, si ainda quase serve para os nossos dias, serviria vinho.
com exatidão para 1880. Diz o "Jornal do Comércio": - "A comarca de Castro apresenta uma área de cerca
"Chegaram ontem SS. M M . II. da excursão, que fizeram de 174.000 quilômetros quadrados, sendo metade mais
à cidade de Castro, situada nos chamados Campos ou menos de mato virgem, e metade de campo. Ali se
Gerais, que dista de Ponta Grossa 7 léguas. Esta viagem acham as maiores fortunas da província segundo me
foi feita, como as outras, a carro tirado por cavalos, em informaram. O coronel Manoel Inácio do Canto e Silva,
geral nascidos na província. Devo dizer que o gado ca- que é o mais rico proprietário, tem muitas terras e
valar daqui é muito forte e valente para viagens. importantes fazendas. Antes da divisão de seus terrenos
"Uma grande berlinda posta à disposição de SS. aos seus filhos e genros tinha mais de 14.000 cabeças de
M M . pela Baronesa de Tibagí, e que pesa 46 arrobas, foi gado. Ao Dr. Feliciano Prates, hoje falecido, deve-se ali a
tirada por 4 cavalos, desde introdução dos carneiros de
Ponta Grossa até Castro, raça fina e outros melhora-
fazendo-se a viagem sem "A exportação de Castro consiste mentos.
mudas. Com outros carros em erva mate, gado, para Curitiba, para o "Hoje há muitos cria-
como coupés e caleças, litoral e para a província de São Paulo, dores de cavalos e entre ou-
aconteceu o mesmo. tros o fazendeiro Sebastião
principalmente para
"Nos Campos Gerais Madureira que possue um
a feira de Sorocaba."
há morros, como já disse em cavalo de meio sangue e mais
carta anterior. Ora, fazer-se nove animais de raça.
sete léguas em seis horas sem mudar animais, tendoi de "A exportação de Castro consiste em erva mate,
galgar morros, só tendo realmente muita força. gado, para Curitiba, para o litoral e para a província de
"SS. M M . partiram de Ponta Grossa ante-ontem às São Paulo, principalmente para a feira de Sorocaba.
7 horas da manhã e chegaram à cidade de Castro à 1 hora Cultivam-se muitos cereais, e faz-se cera muito boa.
da tarde, sendo recebidas a alguma distância da cidade Assim como em Palmeira há azougue, em Ponta Grossa
por muitos cavaleiros e hospedando-se em casa do juiz de há alúmen e carvão de pedra, cal e minas importantes de
direito dr. Lopes Vasconcelos. Depois do jantar o ferro e outros minerais. Agathas, cristais, coralinas,
Imperador visitou a cadeia, câmara municipal, que está topázios, brilhantes e outras pedras preciosas, acham-se
em uma das melhores casas da província, matriz e igreja em toda a extensão regada pelos rios e até mesmo nos
do Rosário, ponte do rio Iapó (a qual fica perto da cidade campos.
e tem 2 2 2 metros de comprimento), e a biblioteca, que "Um morador de Ponta Grossa achou num campo
está a cargo do juiz de direito e que já conta 1.200 vo- um brilhante, que conserva até hoje.

(*) Naquele tempo um desembargador tinha os vencimentos de 6:000$000 por ano; Um marechal de exército comandando exército percebia um total de 18:116$000.

n ç D r A
D.PEDRO II NO PARANÁ 1 8 8 0

"As matas contêm animais de todas as espécies, os cação é muito digna de louvor.
campos aves, principalmente a batuíra (a bacase dos "As 7 horas da manhã S. M. visitou de novo a
franceses). Apesar de estar por demais fria a estação aqui, câmara, o mercado e o matadouro. Às 8 1/2 almoçou e
enconta-se algum gado a pastar no campo e uma ou voltou à câmara.
outra ave o que é para admirar, pois no inverno costu- "Em vitude de regozijo pela chegada de SS. M M . à
mam entrar nas matas. Ponta Grossa, o major Domingos Ferreira Pinto deu
"Pelo lado dos vegetais encontra-se na zona tem- liberdade a seis escravos, aos quais S. M., a pedido do
perada do municipio de Castro a cabriuna, o jacarandá, mesmo major, entregou as cartas.
a cabriúva epintirro e outras, e na zona mais quente o ipê "S. M . mandou entregar em Ponta Grossa 500$
o jataí, o arriba, a cangerana, o angico e peroba que dá para a matriz, 500$ para a construção de uma escola para
canoas de 1 metro e 10 cents, de boca e 15 metros e 40 aula primária, 300$ para esmolas, 200$ para um escravo
cents, de pontal; nas margens do Tibagí e Paranapanema, de nome Marcelino, 100$ para a sociedade organizadora
o cedro, o óleo e muitas outras, aplicáveis à construção. do teatro e 50$ a Josefina Buron.
"As terras são, em geral, vermelhas, e roxas, e de "Em Castro S. M. a Imperatriz prometeu ao Pe.
uma fertilidade prodigiosa. Entretanto a nenhum colono Braz Magaldi, um paramento completo para os ofícios
deu-se terras em Castro; aos russos-alemães deram-se as da semana santa.
de Capão dAnta e outras do mesmo jaez, pelo que eles "SS. M M . partiram de Ponta Grossa às 10 horas,
as abandonaram por improdutivas, como já disse em regressando para a Palmeira.
outra carta. Hoje às 10 horas da manhã SS. M M . parti- "Palmeira, 30 de maio - SS. M M . Imperatriz de
ram de Castro com destino a Ponta Grossa, onde volta de Ponta Grossa, chegaram aqui às 4 horas da tarde
chegaram às 4 horas da tarde, sendo os representantes de e receberam as pessoas que quiseram ter a honra de
jornais as únicas pessoas que puderam acompanhá-las. cumprimentá-los.
"O resto da comitiva "S. M . o Imperador
atrazou-se por causa de um mandou dar 300$ para a
temporal, que caiu, em matriz, 300$ para casa de
"As terras são, em geral,
meia viagem, enlameando escola quando se construir e
as estradas.
vermelhas, e roxas, e de uma 200$ para esmolas."
"Por falar em estradas, fertilidade prodigiosa. Por um telegrama ainda
a província do Paraná, tem Entretanto a nenhum colono do "Jornal do Comércio", vê-
algumas estradas boas, man- deu-se terras em Castro." se o benefício enorme causa-
dadas fazer pelo atual presi- do à Província pela visita
dente dr. Dantas Filho e imperial: — "Os imperantes
construída pelos mesmos russos que abandonaram as regressaram da Palmeira no domingo, de volta de Castro
péssimas colônias. Ao menos houve essas utilidade em e Ponta Grossa. Visitaram muitas colônias abandonadas
bem da província, já que pelo lado da colonização nada pelos russos. O sr. ministro da agricultura mandou pro-
lucrou ela. longar o telégrafo de Guarapuava, passando por Campo
"S. M. o Imperador mandou entregar em Castro a Largo, Palmeira, Ponta Grossa e Castro."
quantia de 1:500$000 para ser distribuída assim: - 500$ Mas não foi só esse o benefício. Todas as cidades
para a matriz, 500$ para as obras de um edifício que tem visitadas, receberam de S. M. I. jogos métricos de pesos
de se construir para escola primária, 300$ para esmolas e e m ;didas, destinados à aferição municipal, e à substitui-
200$ para a igreja da vila de Tibagí. ção definitiva do sistema arcaico dos complexos.
"Em casa do Snr. major Domingos Ferreira Pinto, A "Gazeta de Notícias" da notícia da estadia em
depois do jantar, SS. M M . deram audiências e recepção. Castro, da seguinte forma: — "SS. M M . II. chegaram à
"Tanto em Castro como em Ponta Grossa os repre- cidade de Castro no dia 28 do corrente, às 2 horas da
sentantes dos jornais da Corte receberam agasalho muito tarde. Houve uma grande recepção aos augustos viajantes,
obsequioso em casa dos Srs. Olegário Rodrigues de que foram hospedados na casa do juiz de direito. Os rep-
Macedo e Manoel Ferreira Ribas. resentantes da imprensa foram hospedados em casa do sr.
"Em Ponta Grossa torna-se digna de nota a bi- Olegário Rodrigues de Macedo; o presidente da província
blioteca que já se compõe de 2400 volumes e está a cargo e conselheiro Buarque de Macedo em casa do sr. Jorge
do Sr. José Gonçalves dos Santos Sobrinho, cuja dedi- Marcondes, e os semanários em casa do sr. Jorge Maceió.

10
A™ —

GAIETA DO POVO
DAVÍ CARNEIRO

"S. M . o Imperador deu 500$ para as obras da toda parte festejadíssima, como o merecem nossos idola-
matriz, 300$ para serem distribuídos aos pobres, 500$ trados Monarcas."
para começo das obras do edificio da escola pública, Depois vieram notícias detalhadas e retardadas:
200$ para a igreja de Tibagí. "No dia 28, às 7 1/2 horas da manhã, partiram SS.
"S. M. a Imperatriz prometeu o paramento com- M M . de Ponta Grossa para a cidade de Castro, onde
pleto para a matriz." chegaram às 3 1/2 horas da tarde.
Continua depois, a contar da volta a Ponta Grossa: "Como para a recepção, numeroso e luzido acom-
— "Os augustos viajantes"regressaram para Ponta Grossa panhamento de cavaleiros, com música, vivas e todas as
no dia 2 9 , onde chegaram às 5 horas da tarde, havendo demonstrações de regozijo, tiveram os Augustos
uma bonita recepção. Viajantes, na sua partida, as provas inequívocas de entu-
"Em Ponta Grossa S. M. o Imperador deu 500$ siasmo da população dessa cidade.
para a matriz, 500$ para a escola, 300$ para esmolas, "Ao aproximar-se de Castro, meia légua mais ou
200$ para liberdades de escravos, 100$ para o teatro e menos, um grupo de 200 cavaleiros veio ao encontro dos
50$ para Dona Josefina Buron. Augusto Viajantes, que foram por eles recebidos com flo-
"O sr. Major Ferreira Pinto concedeu cartas de res, vivas, saudações e foguetes.
liberdade a seis escravos, fazendo S. M . a entrega das car- "Dignaram-se SS. M M . aceitar a hospedagem que
tas. Os imperantes saíram de Ponta Grossa no dia 30 às lhe foi oferecida pelo digno juiz de direito da comarca,
10 horas da manhã, chegando a Palmera às 5 horas da dr. Manoel da Cunha Lopes de Vasconcelos e sua família.
tarde. "A entrada da cidade uma banda de música e a
"Em Palmeira, S. M. o Imperador deu 300$ para a população aglomerada recebeu no meio de vivas acla-
matriz, 300$ para as escolas públicas, 200$ para esmolas; mações os Augustos Hóspedes, e sua brilhante comitiva.
ali encontramos jornais da corte cujas datas alcançam a "A importante cidade de Castro mais uma vez con-
25. SS. M M . partirão hoje firmava os foros de grande,
pela manhã para a Lapa, culta e adiantada, tanto
onde devem chegar às 7 "A distancia em que se acham quanto de antiga e notável,
a
horas da noite. as cidades de Ponta Grossa, Castro e Lapa, antes mesmo que a 5.
"Os animais acham-se não nos permite dar, por ora, descrição comarca tivesse a emanci-
estropiados em conseqüên- pação da lei de 12 de agosto
exata e completa, como seria possível,
cia da viagem que fizeram. de 1853, ela, com fundos
dos pormenores dessa importante
"Houve sempre gran- direitos, disputava as honras
des festas nos pontos por
e memoranda viagem." de capital da província.
onde passaram os augustos "Depois do jantar, SS.
viajantes." M M . visitaram a importante ponte sobre o rio Iapock
O "19 de Dezembro" começou "enchendo lin- (sic) câmara municipal, cadeia, mercado e escola notur-
guiças", para desculpar-se em seguida, da falta de notícias na.
pelas quais seus leitores anciosamene esperavam: - "Nas "Duas bandas de música, uma em frente a residên-
vilas de Campo Largo, Palmeira, e cidade de Ponta cia imperial, outra em frente à igreja, até às 9 horas da
Grossa, os foguetes, repiques de sinos e vivas, foram con- noite, fizeram ouvir lindas e bem executadas com-
stantes, estando elegantemente iluminados, esses lugares posições.
durante as noites, em que neles estiveram SS. M M . II. "No dia 29, pelas 7 horas da manhã, visitou S. M.
"Não podendo obter por ora as minuciosidades o Imperador, com sua comitiva, dr. presidente da provín-
dessa digressão ao interior, daremos no próximo número, cia e autoridades superiores da comarca, com muitos dos
e mais detalhadamente, as notícias que obtivermos de seus mais grandes habitantes, o estabelecimento agrícola
cada uma das localidades visitadas pelos Augustos do cidadão francês Bailli.
Soberanos, que sabemos terem sido entusiasticamente "Regressando à cidade ouviu missa e visitou as
recebidos por toda parte. escolas públicas, mostrando em tudo sua satisfação, e
"A distância em que se acham as cidades de Ponta recebendo por toda a parte as devidas demonstrações de
Grossa, Castro e Lapa, não nos permite dar, por ora, regozijo e respeito.
descrição exata e completa, como seria possível, dos por- "Depois de almoçar, às 10 horas, regressaram SS.
menores dessa importante e memoranda viagem, por M M . para Ponta Grossa, sendo ainda maior o acompa-

11
D.PEDRO II NO PARANÁ 1880

nhamento que da cidade de Castro veio fazer as despedi- como o Major Domingos Ferreira foi feitc barão. O
das aos Augustos Viajantes até muito distante da cidade. episódio é curioso, sobretudo quando se compara a ele-
"As 4 horas da tarde, sendo recebidos por mais de vação a viscondessa da Sra. Baronesa de Tibagí.
250 cavaleiros, com ruidosas manifestações de regozijo, "Na cidade de Ponta Grossa fomos recebidos todos
entraram, SS. M M . em Ponta Grossa, pernoitando aí. por um cidadão, que a todos cativou por sua fidalga
"No dia 30, visitou S. M. a casa da câmara, merca- hospedagem, mas despido de tudo quanto se ligava à
do e matadouro público. exigências protocolares.
"Depois de almoçar, em casa do prestimoso "Após o almoço, no dia da partida, o nosso anfitrião
cidadão maior Domingos Ferreira Pinto, que como na dirigindo-se a S. M. disse, mais ou menos, se não me falha
ida, tivera a honra de fazer a hospedagem aos Augustos a memória: "Senhor imperador! Eu podia ter feito mais
Viajantes e sua distinta comitiva, partiram estes às 10 alguma coisa; podia ter matado mais uma vitela, mais um
horas da manhã, com destino à Palmeira, onde chegaram peru, mas preferi assinalar por outro modo a vossa pas-
às 4 1/2 horas da tarde, sendo recebidos por grande sagem por esta terra e a honra de vir a esta vossa casa: lib-
número de cavaleiros e vivas demonstrações de prazer." ertei todos os meus escravos (mais de setenta) e peço a V.
Todos foram felicitados pelo brilho dos festejos. M. o favor de lhes entregar as cartas de liberdade!"
Aqueles porém, que tiveram carga e que iam ficando sem "Essa alocução tão simples quanto eloqüente, emo-
as honras, decidiram reclamar sua glória e talvez tam- cionou profundamente o imperador, que agradeceu o
bém, o seu direito. Foi o que aconteceu com a hospitaleia gesto de benemerênia do digno paranaense.
comissão de Castro, que, já em 12 de junho, protestava "Por ocasião das graças, o governo levou o decreto à
numa notícia sobre Viajem Imperial, nestes termos: — "o assinatura imperial fazendo esse capitão da guarda
dr. Juiz de Direito de Castro, de passagem nesta capital, nacional, oficial da ordem da Rosa. Ao apresentarem-lhe o
nos pede para retificarmos notícia que sob a epígrafe decreto disse o imperador ao ministro do império:
acima déramos, relativa à mesma cidade, e pela qual "— Isto é pouco para esse benemérito; faça-o barão.
parece que só o dr. Lopes "— Mas é quase um iletra-
Vasconcelos e a expensas suas, do, contestou-lhe o ministro.
hospedou em sua casa a SS. M M . "— Não será o primeiro, e
"Senhor imperador! Eu podia
II. e pessoas de sua comitiva. este é muito digno. Mande-me o
ter feito mais alguma coisa;
"Retificando, como nos pede decreto fazendo-o barão de
o digno magistrado, diremos que
podia ter matado mais uma vitela, Guaraúna.
na cidade de Castro organizou-se mais um peru, mas preferi assinalar "E assim foi feito.
uma comissão composta dos por outro modo a vossa passagem: "Mais uma ocasião em que
seguintes cidadãos: Dr. Manoel da libertei todos os meus escravos" manifestou-se o tal poder pessoal,
Cunha Lopes Vasconcelos (presi- mas quem o condenará?
dente), dr. Francisco Xavier da A "Revista Ilustrada" tam-
Silva, dr. Antônio Bley, Cel. Manoel Inácio do Canto e bém fala na viagem com graça e muitíssima verve: — "No
Silva, Olegário Rodrigues de Macedo e Antônio Duarte dia seguinte, partimos para Castro, e lá chegamos tendo
de Camargo. uma esplêndida recepção.
"Essa comissão agenciou donativos, esforçou-se em "Hospedamo-nos a imperatriz, eu e o imper-
comum, e concorreu toda para a hospedagem que o dr. ador em casa do juiz de direito que disse ter com
Vasconcelos e outras pessoas adrede preparadas, deram a isso imensa honra; respondi-lhe que não havia, de
SS. MM., Exmos. Snrs. ministro da Agricultura, presi- que; o imperador não respondeu nada e fomos jan-
dente da província, representantes da imprensa, oficial tar. Jantamos bem; recebemos depois as pessoas
comandante da guarda de honra e convidados outros do que nos vieram c u m p r i m e n t a r ; o imperador
séquito imperial. E assim fazendo, louvamos o honrado começou a dar dinheiro; quinhentos mil réis para
escrúpulo do digno dr. Vasconcelos, a quem larga parte as obras da matriz; tresentos para os pobres; quin-
coube na condigna recepção que fêz a cidade de Castro hentos para começo da escola pública e duzentos
aos Augustos Hóspedes." para a igreja de Tibagí. Cumpria-me também ser
Ernesto Matoso em Coisas do meu tempo diz generoso; mas como a imperatriz apenas prometeu

(4) (5) Vide anexos.

GAZETA DO POVO
DAVÍ CARNEIRO

dar para a 1 íatriz, eu também apenas prometi... "Fácil é imaginar-se a mágoa imensa que apode-
"... não dar para coisa alguma. E regressamos a rou-se do ilustre magistrado dr. Menezes, tendo absolu-
Ponta Grossa." ta certeza de que os jornais eram da presidência.
"Todas as explicações foram dadas, mas o impe-
*** rador estava convencido de que a razão estava com
Tinoco e às 10 1/2 da noite um criado da casa imperial
"Em Ponta Grossa, nova alegria, novas festas, "como veio procurar o nosso companheiro, a quem entregou
lhe foi de viagem?" tivemos muita saudade... o major uma parte dos jornais, dizendo que os demais números
Ferreira Pinto libertou seis escravos, o imperador tornou a S. M . mandaria na manhã seguinte.
dar mais esmolas, eu tornei a não dar; e seguimos para "De fato no dia imediato, pela manhã cedo, quan-
Palmeira, onde encontramos a "Revista Ilustrada" e outros do chegamos à ponte do Iguaçu, onde tínhamos de
jornais da corte..." almoçar, o Imperador logo ao descer da carruagem, veiu
Conta ainda Ernesto Matoso, um incidente com um a Tinoco entregar-lh'os dizendo bem alto: - "Senhor
jornalista da corte, em que o chefe de Polícia local ia levan- Tinoco aqui está o resto dos seus jornais!"
do a pior: "Calcula-se bem como deveria estar amargurado o
"Com o nosso companheiro, o popular Tinoco, do ilustre chefe de polícia paranaense; mas o íntegro ma-
"Jornal do Comércio", deu-se um episódio interessante na gistrado, quando chegamos a Curitiba, de volta da Lapa,
cidade de Palmeira: À boca da noite, quando aguardáva- onde fomos muito obsequiados pelo conselheiro
mos a hora do jantar, atravessou a praça em frente à nossa Manoel Alves de Araújo, lavou-se em águas de rosas,
residência, uma ordenança de cavalaria, a galope, porque conseguiu que o administrador do correio
sobraçando um pacote de jornais. Tinoco, que em Curitiba daquela capital, antes de entregar ao seu legítimo dono,
havia preparado tudo no senti- levasse intacto, ainda com o le-
do de ter, nos diversos pontos treiro de endereço ao Sr.
onde estivesse, os jornais da "Como lhe foi de viagem?" Tinoco, todos os jornais que
corte, antes de qualquer outra tivemos muita saudade... o major Ferreira do Rio a este haviam sido
pessoa, afim de ser assim o Pinto libertou seis escravos, dirigidos, provando assim
primeiro a oferecer o seu jornal diante de S. M. do presidente
o imperador tornou a dar mais
ao imperador, supôs que os da província, do chefe de polí-
esmolas, eu tornei a não dar;
diários trazidos pela ordenança cia e dos camaristas, que os
fossem os seus e partiu para o
e seguimos para Palmeira." jornais dados ao Imperador
palacete onde estavam SS. M M . para ler em Palmeira, eram da
hospedados e aí reclamou os do chefe de polícia, a quem o presidência e não de Tinoco.
soldado havia entregue. "Criançadas, criançadas", repetiu o imperador
"Esses jornais são da presidência, retorquiu-lhe o visivelmente aborrecido.
infatigável dr. Menezes. Fui eu quem estabeleceu mudas de "O que estava também patente é que o imperial
sela em diversos pontos afim de que S. M. tivesse os jornais viajante, desde o caso do itinerário, em Paranaguá, não
da corte com a máxima presteza." se mostrava muito contente com o alto funcionalismo
"Tinoco não se conformou com o alegado e da província, o que todos comentavam como uma pir-
enveredando pela casa foi até a sala de jantar onde esta- ronice incabível e injusta."
va o imperador lendo já os jornais e, em altas vozes, A "Revista Ilustrada" também comentou o ridícu-
disse: — "Imperial Senhor! os jornais, que V. M. está lo episódio:
lendo são meus. Em Curitiba preparei tudo para que "Todos queriam a "Revista" e ninguém queria o
como representante do "Jornal do Comércio" me fosse Cruzeiro, foi um barulho, foi uma rusga, um paranaense
dada a honra de oferecer esses números a V. M . O Sr. ofereceu um conto de réis por todo número da "Revista"
chefe de polícia vem fazer a V. M. barretadas com o meu que tratasse da nossa viagem imperial, a imperatriz riu-se
chapéu." muito, finalmente o imperador tomou os dois números da
"A essas palavras de indignação respondeu o "Revista Ilustrada" e foi saboreá-la nos seus aposentos...
Imperador: - "Pois bem, senhor Tinoco, logo que acabe "Foi um sucesso; o Carvalho e o Tinoco estão
de lê-los mandarei levar-lhe os seus jornais." ralando de inveja."

15
.1 | | J II
D.PEDRO II NO PARANÁ 1880

LAPA: CURITIBA

16
GAZETA DO POVO
DAVÍ CARNEIRO

-XIV

A PONTE DO CAIACANGA. - COLONIA JOANISDORF.


- LAPA. - FESTAS E MAIS FESTAS.

A
31 de maio pela manhã, SS. M M . , que haviam condições lhe mereceram as mais solícitas infor-
aceito o convite para visitar a cidade da Lapa, mações."
tomaram caminho pela estrada que liga O "Jornal do Comércio" depois de falar sobre a
Palmeira e Lapa, atravessando a ponte sobre o Iguaçu, mina de mercúrio de Palmeira que não poude ser vista
no Caiacanga, construída pelo velho Frederico na devida forma, conta a viagem para a Lapa com
Guilherme Virmond. todos os martírios dela decorrentes: "SS. M M . parti-
O "19 de Dezembro" deu a notícia: - "No dia ram da Palmeira às 6 1/2 horas da manhã, com desti-
seguinte, 3 1 , às 6 1/2 horas da manhã, saíram SS. no a esta cidade. Feitas 3 léguas de viagem pela estrada
M M . para a cidade da Lapa, demorando-se para geral, que é magnífica, começou o séquito a embren-
almoçar num elegante pavilhão preparado pela popu- har-se numa estrada que não mereceu como as outras,
lação de Palmeira, junto à ponte do magestoso Iguaçu. os cuidados das obras públicas. Não tem calderões
"Depois de um breve descanço nesse sítio poéti- nem precipícios mas dá solavancos que afinal abatem
co, e então cheio de vida e atrativos, seguiram sua as forças do mais intrépido viajante. Não é estrada feita
viagem os Augustos Imperantes, sendo a uma légua da como a de Mato Grosso, mas compõe-se de quatro ou
Lapa, no núcleo Joanisdorf povoado por colonos cinco trilhos com altos e baixos e que só dão passagem
russo-alemães, recebidos a cavaleiros e tropas. Foi um
por cerca de 4 0 0 cav- tormento esta viagem; os
aleiros, dessa cidade, que aí E' um verdadeiro tour de force que iam dentro dos carros
aguardavam os viajantes. esta excursão ao Paraná. Só conheço acotovelavam-se a cada
"Às 6 1/2 horas fazi- um homem capaz de resistir instante e os da boleia
am sua entrada na cidade. a estas evoluções: é o Imperador." andavam verdadeiramente
"Hospedaram-se S S . aos boléus.
M M . em casa do cel. Davi "Cavalos houve que,
dos Santos Pacheco". tendo toda a viagem nos Campos Gerais (70 léguas)
Continuou a 1.° de junho a descrever as visitas às ainda vieram até a Lapa, isto é, mais 9 léguas. Também
colônias, com parcimônia excessiva. já morreram nove cavalos, pertencentes a vários donos,
"No dia 1.° do corrente, visitou S. M . o e depois desta última viajem não sei o que terá havido.
Imperador a câmara municipal, escolas e cadeia, per- E' um verdadeiro tour de force esta excursão ao
correndo algumas ruas da cidade, cuja população fazia- Paraná. Só conheço um homem capaz de resistir a estas
lhe, como na véspera, entusiásticas saudações. evoluções: é o Imperador. A comitiva está na sua maior
"Às 8 3/4 partiu a Imperial comitiva para esta pate exausta. Só os representantes dos jornais da corte
capital. não deram parte de fracos; mas se a viagem durasse
"Chegando à colônia de russo-alemães, mais um mês, pela minha parte pedia dispensa da hon-
Mariental, às 10 horas SS. M M . se dignaram aceitar rosa incumbência de que me encarregaram. Isto é voar,
um lauto almoço que o povo da Lapa havia aí prepara- não é andar.
do, visitando em seguida alguns lotes da colônia, cujas "Ainda para coroar esta viagem de verdadeiro

(6) Vide anexos.

17

HSBC<X^
D.PEDRO II NO PARANÁ 1880

yankee, o carro de SS. M M . adiantou-se, como sem- "S. M. o Imperador deixou na Lapa 00$ para a
pre, e assim puderam os Augustos Viajantes chegar à casa da escola primária que se vai construir e 300$ para
Lapa ao lusco fusco, acompanhados tão somente do esmolas." Mas nenhum detalhe da recepção e dos fes-
Cons. Buarque, presidente da província, dr. Alves de tejos. Reação e mau humor conseqüentes do mau cam-
Araujo e Pizzarro, e comendador Francisco Gonçalves. inho...
O Visconde de Tamandaré, conselheiro Andrade Pinto A "Gazeta de Notícias" repete os mesmos quei-
e os 3 representantes dos jornais da corte, tiveram a xumes a respeito dos caminhos e dos sofrimentos:
infelicidade de perder-se nos campos logo ao escurecer. Gente do asfalto, fora do conforto!...
Começou aí o verdadeiro martírio. Gritos de socorro, Os festejos na Lapa não foram poucos. Houve
apitos, luzes, nada foi ouvido nem visto. recepção das moças, representação, simbolismo, e o
"À proporção que se adiantava a noite, aumenta- futuro Barão dos Campos Gerais, mostrou de que era
va a aflição. Imagina-se um paquete navegando em capaz a hospitalidade lapeana.
alto mar e tendo o comandante perdido a bússola e Ainda a 1.° de junho SS. M M . II. partem da Lapa
todos os aparelhos, que servem de guia. Era essa a à noite, e as peripécias se renovam. O " 1 9 " conta, exal-
nossa situação. tando as festas da recepção: - "Daí partindo chegaram
"Pouco depois das 7 horas da noite, não apare- a esta cidade os Augustos Viajantes, depois de meia
cendo na Lapa nenhum dos que faltavam na comitiva, noite.
começaram a partir portadores em número superior a "Por um luzido grupo de cavaleiros nacionais e
doze. Chuva, uma escuridão medonha, falta de con- alemães, acompanhados do dr. chefe de polícia, com
hecimento do caminho, tudo impedia a nossa chegada. um piquete de cavalaria, tendo archotes acesos, foram
Sentimo-nos imensamente pequenos diante daquela os Imperiais Viajantes recebidos a mais de meia légua,
enormidade dos campos. De vez em quando aparecia no lugar Capão Grande, sendo nesta cidade, ainda
uma luz no alto de uma quase toda iluminada, rece-
colina, repetiam-se gritos bidos por grande número
dados por cada um de nós Aumentava a aflição. Imagina-se de pessoas que em acla-
e pelos criados. Não eram um paquete navegando em alto mar mações de regozijo lhes
ouvidos. Desaparecia a luz, davam a boa vinda.
e tendo o comandante perdido a bússola
reaparecia outra, sempre as "Junto ao Paço uma
e todos os aparelhos, que servem de guia.
mesmas aflições. guarda de honra com a ban-
"Subitamente desapa- da de música da polícia fêz
receram os cocheiros dos nossos carros; indagando mo- as devidas continências ao apearem-se do carro os
tivo, soubemos que tinham corrido em socorro do com- Augustos Soberanos.
panheiro que guiava o carro da bagagem que cairá em "Acompanharam também SS. M M . alguns
um barranco. cavaleiros que dirigidos pelo incançável cidadão major
"Apareceu então um dos Colombos enviado em Luiz Manoel Agner, tomaram o empenho de fazer as
busca da comitiva, empunhando uma boa lanterna. honras aos Nossos Imperantes desde a sua chegada a
Sem cocheiros, que fazer? Substituiram-se os esta capital, e em toda sua viajem."
repórteres, que foram dirigidos pelo bom guia, cujo A "Gazeta de Notícias" afeiando os horrores da
nome não nos lembramos de indagar, e chegamos à viagem: — "Seguindo viagem SS. M M . II., para cujo
cidade às 9 1/2 da noite. carro passara o Sr. Visconde de Tamandaré, que até
"Quatro horas andamos perdidos? E como che- então viera a cavalo, ainda longe estava o pouso quan-
gamos molhados e enlameados do alto a baixo! Até meia do caiu a noite.
noite não houve notícia da carroça das bagagens nem "Apesar de ponderarem a S. M. o Imperador que
dos cocheiros que tinham abandonado os seus postos. continuar a viagem era difíciL^_atendendo às péssimas
"Da recepção de SS. M M . na Lapa nada posso informações que se obtivera do caminho, ainda assim
dizer porque à hora em que chegamos tudo estava seguiu a comitiva a sua derrota para a capital.
acabado. "Aí pode dizer-se que foi o ponto mais tormen-
"Hoje de manhã (1.° de junho) apareceram a car- toso da viagem.
roça das bagagens e um carro em que viajavam os cri- "Em caminho ficaram o veador de S.M., dois dos
ados da casa imperial. representantes da imprensa da corte, os criados e a

18

OApTfi 00 POVO
DAVÍ CARNEIRO

bagagem. A guns cavalos ficaram inutilizados e tiveram "Hospedado na Lapa, pelo prestimoso chefe
carros quebrados. A final só chegaram com SS. M M . à político liberal, conselheiro Manoel Alves de Araujo,
capital, às 2 horas da madrugada, o comandante do logo ao chegarem SS. M M . , pelas 8 horas da noite,
piquete de cavalaria, o Major Agner, e o representante estava pronto o suntuoso banquete, que aquele ilustre
da "Gazeta de Notícias", únicos que conseguiram paranaense oferecia, o Imperador porém não quis de
acompanhar o carro imperial fazendo 17 horas de modo algum sentar-se à mesa e a cada momento pedia
viagem sempre a cavalo. notícias nossas e indagava si já haviam sido expedidos
"Na capital vieram receber os Augustos Viajantes piquetes à nossa procura. Havia na verdade de que
200 cavaleiros armados de archotes." inquetar-se; alguns dos cocheiros, o do carro do mar-
O "Jornal do Comércio", volta à sua ponderação: quês de Tamandaré e do nosso, vendo que erraram o
- "As 9 horas da manhã seguiram viajem para Curitiba. caminho, abandonaram os carros, buscando seguir a
A estrada é em lugares boa devido ao construtor Walter pé para algum ponto onde encontrassem um vaque-
Joslin, que ainda trabalha nela, tendo já aprontado uma ano.
extensa ponte sobre o rio Iguaçu. SS. M M . não quiser- "Foi o nosso colega José Carlos de Carvalho
am pousar na freguezia do Iguaçu, preferindo conti- quem tomou assento na boléia do carro do marquês e
nuar a viagem até Curitiba, onde chegaram às 2 horas guiou-o, tal como eu guiei também o nosso.
da madrugada, viajando, portanto, 17 léguas seguidas. "A impaciência dos monarcas com a nossa demo-
Uma légua antes da cidade várias pessoas trazendo ra era tão extraordinária que molestou a todos da
archotes foram ao encontro de SS. M M . " comissão, visto que o Imperador por mais de uma vez
E Ernesto Matoso nas memórias conta o caso deixara escapar censuras ao modo porque era feito o
das viagens pavorosas: "Nessa viagem ao Paraná serviço de transporte da comitiva.
quando saímos de Palmeira com destino à Lapa, a "Chegamos à Lapa quase estropiados alta noite já
comissão deu-nos uns maus guias, de sorte que alguns e SS. M M . e todos da casa não haviam ainda jantado.
carros, já pela noite fora, perderam-se em plena A sua alegria ao ver-nos era patente e voltando-se para
campina. Em um deles ia o marquês de Tamandaré e nós dizia: — "Agradeçam aos responsáveis!"
o desembargador Andrade Pinto; em outro, nós da A "Revista Ilustrada", sempre jocosa, contou o
imprensa e o comendador Gonçalves; em outro a caso por sua vez:
criadagem de SS. M M . "A viagem para a Lapa foi um tormento. Chovia,

A viajem de S.S.M.M. Imperiais na província do Paraná

19
D.PEDRO II NO PARANÁ 1880

era quase noite, tudo perdeu-se, conseguindo apenas "MANIFESTAÇÃO D E A P R E Ç O : - A Câmara


acompanhar-nos o Carvalho da "Gazeta" e o major Municipal desta cidade, como prova de apreço e
Agnera... comemoração da auspiciosa visita Imperial, a esta
"Ceiamos e dormimos bem; o imperador recebeu província, resolveu que o - largo da Matriz se passe a
algumas pessoas; mas eu já não estava para maçadas, e chamar - Praça de Pedro II: - a rua das Flores - Rua
fui por em ordem minhas notas de viagem... da Imperatriz: e rua do Comércio - Rua do Imperador.
"Houve um baile esplêndido, de que nem vimos " - A Câmara Municipal da cidade de Paranaguá
o fim. No meio da terceira valsa, fomos logo polkando também em comemoração da visita de SS. M M . II.
até Morretes e de lá num galope infernal até Curitiba." àquela cidade resolveu a denominar - rua do
Imperador — a rua do Paissandú e — rua da Imperatriz
* * * - a rua Direita."
O dia 2 de junho, em Curitiba, foi dos mais " P E N I T E N C I Á R I A : - À hora que fôr marcada
cheios da viagem. por S. M. o Imperador deverá ter lugar, amanhã, a
Desde 1.° vários anúncios foram feitos para solenidade do lançamento da primeira pedra para o
encher os programas oficiais: edifício de penitenciária, que se vai erigir nesta ca-
"BAILE: — Amanhã deve ter lugar no salão do pital.
museu provincial, o baile que a comissão de festejos, "Pede-se a concurrência de todos os cidadãos,
em nome da sociedade Curitibana, oferece a SS. M M . nacionais e estrangeiros, corporações, funcionários e
II. pessoas do povo que queiram assistir a esse ato de subi-
"Espera-se a concurrencia dos cavaleiros e senho- da importância para o progresso moral da província."
ras convidados para o brilhantismo dessa festa de Desde Paranaguá SS. M M . II. vinham sendo
merecida homenagem aos Augustos Soberanos. perseguidos por pedidos lancinantes de justiça. O Éco
"Fazem as honras do salão as Exmas. Sras. D D . do Paraná" dera um grito em favor de um preso da
Maria Luiza Martins Dantas, Maria da Fé Matos de Fortaleza da Barra (4), e Benedito Carrão chamava a
Menezes, Josefina Muricí de Carvalho, Maria José atenção do Imperador para a má aplicação da lei na
Corrêa, Joaquina da Silva Pereira Faria, Escolástica província que visitava, acusando o dr. Emigdio
Martins Franco e Firmina Leopoldina de Godoy." Westfalen.

Hospital de Misericórdia de Curitiba, fundado pelo dr. José Cândido da Silva Muricí

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GAZETA DO POVO
DAVÍ CARNEIRO

Tratavf se de construir penitenciária, a lei não era sociedade Heimat, cuja direção os havia convidado
bem aplicaca. A campanha abolicionista de SS. M M . para assistir a uma representação e baile que em sua
II. dava frutos: - " S O C I E D A D E EMANCIPADORA: honra havia deliberado dar; e finda ela, retiraram-se
- No dia 23 do mês próximo findo, na vila de Campo SS. M M . como haviam sido recebidos, com vivas e
Largo, perante S. M . o Imperador teve lugar a insta- respeitosas demonstrações de regozijo da sociedade.
lação da sociedade emancipadora 2 4 de maio ali cria- "Dirigindo-se para o salão do Museu, dignaram-
da, dignando-se nessa ocasião o mesmo Augusto se assistir ao baile que a comissão de festejos desta cap-
Senhor fazer entrega de-três cartas de liberdade obtidas ital lhes oferecia em nome da sociedade curitibana,
com os recursos dessa associação. como sinal de homenagem, respeito e agradecimento
"S. M . o Imperador, aplaudindo serviço tão mer- pela honrosa visita de SS. M M . a esta província.
itorio, dirigiu benévolas expressões ao presidente da "À meia noite, retiraram-se SS. M M . sendo na
sociedade, Sr. Francisco Xavier de Almeida Garret em saída, como na entrada saudados pelo hino nacional e
em seguida ofereceu à mesma sociedade a quantia de continências prestadas pela guarda de honra postada
1:000$000." em frente ao edifício."
E no entanto os erros escravocratas ainda perdu- E pormenores: - "PENITENCIÁRIA: - No dia
rariam por quase dois lustros... 2, às 6 horas da tarde, como havíamos anunciado, teve
Seja como fôr, D . Pedro se divertia, e no momen- lugar a inauguração do edifício da Penitenciária desta
to bastava. capital, cuja primeira pedra foi, com as formalidades
O dia 2, como se disse foi cheio. religiosas e civis do estilo, colocada no lugar respecti-
O "19 de Dezembro" deu notícia geral: — "No dia vo, sendo conduzida por S. M. o Imperador, ministro
2, das 11 horas ao meio dia, visitou os colégios partic- da agricultura, presidente da província e dr. chefe de
ulares de Miss Bessie Braund e dos Srs. João José polícia.
Rodrigues Vieira e Nivaldo "Uma guarda de hon-
Teixeira Braga, apreciando ra do 2.° corpo de cavalaria,
o grau de inteligência e adi- comandada por um capi-
antamento dos menores "Nessa ocasião dignaram-se tão, achavávse com a
Práxedes Borba e Pretestato SS. MM. receber muitas pessoas respectiva banda de música,
Taborda Ribas, alunos dos que desejavam ter a honra fazendo as devidas con-
dois últimos colégios, de cumprimentá-los, ouvindo tinências.
dirigindo-lhes expressões "Apesar de ser quase
a muitos pobres que lhes faziam
afáveis e animadoras. noite, grande foi a afluência
pedidos, e se retiravam honrados
"Visitou S. M . o escri- de pessoas de todas as jerar-
tório da empresa da estrada
com a mais benévola atenção." chias que ali se achavam.
de ferro, sob a direção do "O sítio estava ilumi-
comendador A. Ferruci. nado, e davam-lhe toques
"Daí dirigiu-se à chácara do conselheiro de uma beleza singular decorações festivas de arcos e
Capanema, que mais uma vez desejava visitar. bandeiras.
"Regressando, jantaram SS. M M . II., saindo às 5 "Um altar levantado no sítio mais conveniente,
horas para assistirem ao lançamento da primeira pedra tendo uma cúpula de folhagens, serviu para a cerimô-
da penitenciária desta capital, de onde regressaram às nia religiosa a que assistiram três sacerdotes, incluído o
17 1/2. rvmo. vigário da paróquia.
"Nessa ocasião dignaram-se SS. M M . receber "Damos em seguida o auto de inauguração que
muitas pessoas que desejavam ter a honra de cumpri- foi lavrado pelo dr. secretário do governo, e depois dê
mentá-los, ouvindo a muitos pobres que lhes faziam assinado por S. M . o Imperador e mais pessoas gradas
pedidos, e se retiravam honrados com a mais benévola ali reunidas, foi com as moedas correntes do império e
atenção. gazetas do dia, depositado na caixa de mármore.
"Às 8 1/2 se dirigiram SS. M M . para o salão da "Dentro dessa urna estava depositada a pedra

(7) Vide anexos.

21

HSBCM
D . P E D R O II N O PARANÁ 1 8 8 0

fundamental com a seguinte inscrição: que concordes emprestam aos lugares c ide se espal-
"S. M. o Imperador aos 2 de junho de 1 8 8 0 , ham uma como que alma prasenteira, que parece der-
sendo presidente da província o dr. Manuel Pinto de ramar sobre todos os objetos que os cercam a ani-
Souza Dantas Filho, assentou a primeira pedra deste mação e a vida.
edifício, por iniciativa do dr. chefe de polícia Luiz "Sentia-se espargido no seu ambiente esse
Barreto Corrêa de Menezes." tenuíssimo fluído que por nós perpassando excita-nos
" S O C I E D A D E HEIMAT: - Teve lugar na noite às expansões do contentamento, e que sóe circular
de 2 do corrente a representação de quadros vivos e nessas festas em que se reúnem a fina educação, o
baile que a SS. M M . II. ofereceu a sociedade Heimat, regozijo comum e a homogeneidade de sentimentos
composta de alemães e brasileiros, no vasto salão da dos convivas.
casa do Sr. G. Messing, que se achava elegantemente "Essa mística influência não se fêz esperar
decorado. neste baile, e bem de pressa se estabeleceu essa cor-
"Anunciada a chegada dos augustos imperantes e rente de alegria comunicativa que dá a todos os
sua comitiva, uma comissão dirigiu-se à porta do semblantes o mesmo ar jubiloso, que aproxima
edifício e os acompanhou até o docel, que com muito numa cortês intimidade todos os gênios, todos os
gosto e simplicidade, estava preparado no fundo do temperamentos, todas as relações sociais, e os
salão. enleia numa mesma, sincera e franca expansão,
"Em seguida teve lugar a mencionada represen- prometedora de horas agradáveis de prazer. Pelas
tação de quadros vivos, que 10 horas, quando êle j á
correu bem, finda a qual, estava cheio de convida-
retiraram-se SS. M M . "A grande sala do museu dos, fizeram SS. M M . sua
acompanhadas da mesma achava-se preparada com esmero entrada no salão.
comissão. e elegância dignos da presença "Ao anúncio da au-
"Começou o baile, em dos Augustos Soberanos, gusta chegada duas comis-
seguida, às 10 horas, cor- e os seus adornos singelos, sões, uma de senhoras, e
rendo animadíssimo, e fin- outra de distintos cava-
porém de bom gosto,
dando-se às 2 1/2 da lheiros, já por nós no-
davam-lhe
manhã. meadas, foram receber SS.
"Honra à sociedade o aspecto dos melhores M M . à porta e acompa-
Heimat, cuja diretoria tan- salões de baile." nharam-os até o docel para
to concorreu para o bri- eles preparado, numa das
lhantismo dessa demonstração de homenagem aos faces do salão.
Augustos Imperantes, dando-lhes mais uma prova da "A frente da casa do baile estava postada uma
civilidade e distintos sentimentos da sociedade guarda de honra, e uma banda de música militar, que
curitibana, em cujas glórias tem a família alemã tão saudou SS. M M . com o hino nacional, o que também
notável e íntima participação." fêz a magnífica banda do corpo policial que tocava no
"BAILE: - Efetuou-se no dia 2 o baile a SS. salão.
M M . oferecido pela comissão de festejos em nome da "Logo depois S. M . o Imperador permitiu que se
sociedade curitibana. desse sinal para a primeira quadrilha, e animada
"Não faltaram luzes nem flores para abrilhantar começou a dança.
esta festa a que, com realçada delicadeza, concorreu a "As senhoras trajavam elegantes e custosas toil-
elite dos salões de Curitiba, em número superior a letes, e parecia que cada qual à porfia, havia-se esmer-
200 pessoas. ado em quanto tinha de aprimorado gosto afim de
"A grande sala do museu achava-se preparada concorrer para o brilhantismo desta festa, que se
com esmero e elegância dignos da presença dos tornou tão digna do fim que se propoz.
Augustos Soberanos, e os seus adornos singelos, "O serviço de buffet esteve abundante e delica-
porém de bom gosto, davam-lhe o aspecto dos me- do, e a esforço algum se poupou a digna comissão de
lhores salões de baile. festejos, presidida pelo Sr. Dr. chefe de polícia, para,
"Sobravam-lhe essas harmonias expressivas, esses preparando essa agradável soirée, demonstrar ainda
toques bem combinados que a arte sabe preparar, e uma vez o júbilo de que se achava possuída a

GAZETA DO POVO
DAVÍ CARNEIRO

sociedade curitibana pela honrosa visita de S S . Curitiba, onde examinou os planos da estrada, e
MM. com S. M . a Imperatriz voltou à chácara do con-
"À 1 hora retiraram-se S S . M M . ao som do selheiro Capanema.
Hino Nacional. "Às 6 horas, já noite, estando reunido
"A dança prolongou-se até às 2 horas e meia, grande número de cidadãos e de senhoras, S. M .
hora em que se retiraram os últimos convidados, e o Imperador assentou a pedra fundamental da
durante todo o baile reinou sempre a maior ani- Penitenciária, do que se lavrou o competente
mação. auto. Fica ela a 3 quilômetros da capital.
"Foi uma festa digna dos nossos Augustos "Às 8 horas S S . M M . I I . dignaram-se de assi-
Soberanos, e dos foros da sociedade curitibana." stir à exposição de quadros vivos, executados por
A "Gazeta" deu notícia: - " S S . M M . assisti- alemães e às 10 horas aceitar um baile que lhes
ram ontem a inauguração da penitenciária desta foi oferecido pela sociedade da capital.
capital; e à noite ao grande baile que lhes ofere- "3 de j u n h o " - S. M . o Imperador deixou em
ceu a comissão de festejos." Curitiba 5 0 0 $ para liberdades, 4 8 0 $ para uma
O "Jornal do C o m é r c i o " repete: — " S . M . o bomba de incêndio e 3 0 0 $ para esmolas."
Imperador visitou h o j e algumas escolas e o Entre os jornalistas da Corte j á se nota a
escritório da estrada de ferro Paranaguá a preguiça de escrever!

Casa dos barões dos Campos Gerais, onde se hospedaram

os imperadores, em 1880. Foto da época.

23

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D.PEDRO II NO PARANÁ 1 8 8 0

A ESPETACULAR VIAGEM DE D. PEDRO AO PARANA

O
retorno do imperador dom Pedro II à capital paranaense Campo Largo, Ponta Grossa, Castro, Palmeira e Lapa.
(depois de dias de viagens pelo interior do estado); as hom- A série, que se encerra hoje, compreende a publicação, ipsis
enagens e os acontecimentos que marcaram a sua despedi- litteris, da obra "D. Pedro II na província do Paraná - 1880", do
da do estado, então província, são fatos de destaque no quinto e historiador e escritor David Carneiro - uma genuína crônica
último suplemento da série "A Espetacular Viagem de D. Pedro ao sociopolítica que o autor escreveu com a ajuda das notícias de jor-
Paraná". nais da época sobre a vinda de dom Pedro. A obra ora encartada na
Nas edições anteriores, o leitsr «saheceu como foi o embar- Gazeta do Povo foi dividida em cinco fascículos diários, de 15 a 19
que do imperador no Rio de Janeiro com destino ao Paraná; sua de dezembro de 2003, e fez parte das comemorações dos 150 Anos
chegada ao Porto de Paranaguá; a estada em Antonina, Curitiba, da Emancipação Política do Estado do Paraná.

QUADROS HISTÓRICOS
No Palácio Iguaçu, sede do governo estadual, dois quadros retratam o período provincial do Paraná — um sobre a instalação da
província e outro sobre a posse do primeiro conselheiro, Zacarias de Góes e Vasconcelos. A obra "Instalação da Província do
Paraná", pintada em 1953 por Theodoro de Bona, está no Salão Nobre. Já o quadro "Chegada de Zacarias de Góes e Vasconcelos",
pintado por Arthur José Nísio, no ano de 1952, se encontra no Salão de Jantar, antigo Salão Vermelho.

ACERVO
IMPERIAL

L ouças com brasão do império, medalhas


de condecorações, moedas imperiais,
espadas, facas e pistolas usadas na época da
visita de dom Pedro II fazem parte do acervo
do Museu Paranaense. O aparelho de pesos e
medidas em exposição unificou o sistema,
substituindo a utilização das medidas braças e
pés, que não eram exatas.

Expediente - A Espetacular Viagem de Dom Pedro II ao Paraná é uma série de cinco fascículos especiais da Gazeta do Povo editada em comemoração aos 150 anos dc emancipação polílitca do Paraná. Projeto da Central RPC
de Marketing desenvolvido pela Redação da Gazeta do Povo. Apoio de pesquisa do Instituto Histórico e Geográfico do Paraná • Diretot de Redação: Arnaldo Alves da Cruz. Textos: Juliana Girardi, Adriano Justino e Carlos Vicelli.
Coordenação Gráfica: Ricardo Humberto. Diagfamação: Marcos Tavares. • Digitação: João Carlos S. Araújo e Nicanor Pedro da Costa • Revisão: Adamastor Marques. Rua Pedro Ivo, 459 • Centro • Cutitiba-PR • CEP 80010-
020* Não pode ser vendido separadamente • Os fascículos circulam diariamente do dia 15/12 a 19/12/2003.

GAZETA DO POVO
DAVÍ CARNEIRO

O REGRESSO

hsbc m B B I / i / l
D.PEDRO II N O PARANÁ 1880

-XY-

PARTIDA PARA MORRETES. - PORTO DE CIMA.


- OS DIAS 3 E 4 DE JUNHO. - ANTONINA.
- PARANAGUÁ. - DESPEDIDAS.

D
epois de um baile que durou até alta noite, uma que teve a honra de hospedar a SS. M M . II., e com sua
madrugada é sempre dura, sobretudo durante o família os aguardava, esmerando-se em proporcionar
inverno. Pois D. Pedro, para mostrar do que todos os cômodos possíveis para com os Augustos
era capaz, partiu para Morretes às 7 horas da manhã de Hóspedes e sua distinta comitiva, que toda recebeu
3 de junho. O "19", como sempre deu notícia: - "Às 7 hospedagem conveniente e confortável daquele cidadão
horas da manhã partiram para a cidade de Morretes, e seus amigos."
sendo acompanhados, no bota fora, por uma guarda de O povo de Porto de Cima, que esperava parasse S.
honra do 2.° corpo de cavalaria e muitos cidadãos a ca- M. I. para uma conversa e algum discurso (curto), ficou
valo. decepcionado ao ver que a carroça imperial continuou
"No largo Pedro II, em frente ao Paço, estava caminho sem siquer prestar atenção nas coisas da vila.
aglomerada, apesar da hora matinal, uma grande multi- Há que conte que o comendador Macedo, exasperado,
dão, que ainda por despedida saudava aos Augustos gritou :Viva a República" nas barbas do Imperador, para
Viajantes. demonstrar também êle, a sua coragem cívica, o seu
"Com SS. M M . foram também, além dos distintos protesto ante o desaponto.
personagens que tinham vindo em sua companhia, o Pois então Porto de Cima não era Brasil?
Exmo. Sr. Dr. Presidente da De fato, porém, isso não passa
Província e o Dr. Chefe de Polícia. de lenda. O Viva à República ficou
"Há que conte que o
"A viagem para a marinha, fêz- varado na garganta, e teria explodido
comendador Macedo, exasperado,
se felizmente, sem acidente algum, em surdina gemebunda e mal-
gritou -.Viva a República" nas dizente.
e sendo em todos os sítios povoados
por onde passavam os Augustos barbas do Imperador, para O Imperador soube da decep-
Soberanos, saudados pelos habi- demonstrar também ele, a sua ção que causara e procurou corrigir o
tantes, que entoando vivas, despe- coragem cívica, o seu protesto mau efeito, indo fazer visita especial.
diam-se dos Soberanos. ante o desaponto. Aí os gritadores deram altos vivas ao
"A 5 1/2 horas da tarde faziam imperador. O "19" noticiou assim o
SS. M M . , a sua entrada na cidade de Morretes. dia 4: - "Visitou S. M. o Imperador, as escolas, cadeia,
"Sabemos que foi esplêndida a recepção feita pela câmara municipal, matriz, cemitério, estação telegráfica,
população dessa cidade, tomando parte nela, toda a po- engenho central e vários lotes do núcleo sesmaria da colô-
pulação, já brasileira já estrangeira, representando colô- nia Nova Itália.
nias. "Pela manhã haviam SS. M M . e sua ilustre comitiva
"Grande era o número de cavaleiros e pessoas a visitado a vila de Porto de Cima, onde tiveram festiva
carro que desde S. João, aguardavam os Augustos recepção."
Viajantes e daí até Morretes se iam incorporando ao O "Jornal do Comércio" estende-se mais: — "Às 7
séquito para mais pomposa fazer a entrada nessa cidade. horas partiram SS. M M . com destino a Morretes. A
"Uma banda de música esteve sempre presente, e estrada da Graciosa, na maior parte, está má por causa
conservou-se até alta hora da noite junto à casa do das últimas chuvas. Do povoado S. João da Graciosa a
cidadão Joaquim José Alves, juiz municipal do termo, Morretes, segue-se por uma estrada que em nada é infe-

GAZETA DO POVO
DAVÍ CARNEIRO

rior à da União e Indústria. vila, e a qual conta 1.300 volumes.


"SS. M M . chegaram a Morretes à tarde, sendo rece- "A população teve grande desgosto .com a recusa de S. M.
bidos com entusiasmo pela população e hospedaram-se "As comissões da Câmara Municipal e do Clube
em casa dos Srs. José Miró de Freitas e Joaquim José Literário resolveram esperar os representantes da impren-
Alves. À noite iluminou-se a cidade e em frente a palácio sa da corte, convidaram-os a aceitar o profuso lunch que
tocou uma banda de música. fora preparado e levaram-os a visitar os estabelecimentos
"No dia seguinte S. M. o Imperador visitou as esco- e assinar a ata de instalação do clube. Houve grandes
las, o telégrafo, a cadeia, a câmara, o cemitério e a matriz. saudações aos representantes da imprensa da corte, aos
As 9 horas seguiu para a vila de Porto de Cima, onde não quais acompanhava o comendador Gonçalves. (Manoel,
tinha parado na véspera, por não ter sido avisado da Gonçalves Marques).
recepção que estava preparada. "Por este motivo chegamos a esta cidade uma hora
"Ali foram recebidos com todas as provas de con- depois de SS. M M . II.
tentamento e simpatia. Visitou o clube de leitura, elo- "S. M- o Imperador sabendo do desgosto da popu-
giando o presidente pelo bom estado da associação. lação de Porto de Cima, foi hoje pela manhã visitar
"Voltando a Morretes, visitou o engenho central aquele lugar e disse ao presidente da câmara que não
Nova Itália, situado a 1 quilômetro da cidade, proprie- recebera aviso da recepção.
dade do Sr. Antônio Ricardo dos Santos. Indagou das "A população recebeu a visita Imperial possuída de
condições em que estava funcionando o engenho e a grande contentamento.
moagem, animando muito o diretor. As colônias "S. M. deu em Morretes 300$ para a igreja, 300$
América e Rio do Pinto foram visitadas em seguida, para as escolas, 300$ para esmolas e 50$ a uma pobre."
reconhecendo-se por essa ocasião que nas colônias do A ida para Antonina foi noticiada por todos em
litoral é que se acha a ver- "termos semelhantes": -
dadeira colonização. Na Disse o "19": - "Às 2 horas
primeira viu um colono "Existem em Morretes grandes da tarde partiram SS. M M .
francês de nome Pierre fábricas para beneficiar a erva mate, para Antonina.
Verne que estava com um que vai para os mercados do "Chegando a esta ci-
abcesso na fossa ilíaca, e foi Rio da Prata e do Chile, que são dade, onde foram SS. M M .
julgado perdido pelo Sr. entusiasticamente recebidos,
os principais consumidores
Barão de Maceió. Deu S. M. podendo ainda dizer-se deli-
e para o de Antonina.
a quantia de 50$ à mulher rante a manifestação popu-
do colono para auxílio dos Colhem-se também ali café lar, hospedaram-se em casa
filhos. e muitos cereais." do Sr. Comendador Antônio
"Morretes é uma boni- Alves de Araujo, a qual,
ta cidade, banhada pelo rio Nhundiaquara, que a comu- como na vinda dos Augustos Senhores, estava rica e dig-
nica com os portos de Antonina e Paranaguá, por inter- namente preparada.
médio do povoado chamado Barreiros, donde saem "Aí visitou S. M. a câmara municipal, cadeia, enfer-
hiates e lanchões e os dois vapores Iguaçu e Marumbí, da maria do hospital de caridade; recolhendo-se para jantar.
companhia Progressista. Existem em Morretes grandes À noite continuaram as manifestações populares, com
fábricas para beneficiar a erva mate, que vai para os mer- grande movimento, música, vivas e foguetes, até depois
cados do Rio da Prata e do Chile, que são os principais das 10 horas.
consumidores e para o de Antonina. Colhem-se também "Hoje pela manhã, segundo telegrama que temos,
ali café e muitos cereais." visitou S. M. o mercado da cidade e escolas públicas;
Mas é a "Gazeta de Notícias" que conta em detalhe indo depois, com S. M. a Imperatriz, fazer oração na
o caso de Porto de Cima: - "Aqui chegaram SS. M M . , às igreja matriz.
5 1/2 horas da tarde. "Em seguida almoçaram SS. M M . , seguindo-se o
"S. M . o Imperador não quis parar na vila do Porto exame e sondagem do porto de Antonina, em presença
de Cima, onde lhe lhaviam preparado uma linda de S. M. o Imperador, autoridades superiores, oficiais de
recepção e cuja câmara municipal interessava-se para que marinha e alguns cidadãos.
S. M. visitasse a exposição de produtos agrícolas do Disse a "Gazeta": - "O comandante e oficiais da
município, o clube literário e a biblioteca que possue a corveta Guanabara vieram receber SS. MM., devendo

HSBC —.
D.PEDRO II NO PARANÁ 1880

seguir amanhã para esperar o "Rio Grande" fora da capitão soube que todas as vezes que a maré baixava o
barra. navio assentava no lodo.
"Examinaram o porto de Antonina, cuja planta "Regressando S. M. para terra, pouco tempo depois
levantaram e entregaram a S. M. o Imperador. embarcou-se de novo com S. M . a Imperatriz e grande
Depois o mesmo jornal comentou o assunto das acompanhamento para bordo do pequeno vapor Iguaçu
sondagens em Antonina: - "S. M . o Imperador, o con- que o trouxe para bordo do Rio Grande".
selheiro Buarque de Macedo e outras pessoas exami- O "Jornal do Comércio" repetiu: - "Às 2 horas da
naram o porto de Antonina, reconheceram a existência tarde SS. M M . partiram de Morretes para Antonina,
de pedras naquele lugar, e tiveram ocasião de ver aque- deixando na primeira cidade 500$ para a igreja, 300$
la onde bateu o brigue "Afrígio". Sondaram os baixios, para a escola e 300$ para esmolas.
o canal e o ancoradouro". Em notícia mais detalhada "A recepção em Antonina nada deixou a desejar:
disse: - "Em Antonina S. M . o Imperador acompa- flores, entusiasmo, foguetes, deslumbrante ovação enfim.
nhado dos Sr. conselheiro Buarque de Macedo, presi- "Os Augusto Viajantes hospedaram-se em casa do
dente da província, almirante Tamandaré, do capataz comendador Antônio Alves de Araujo. S. M . o
da capitania e de dois práticos, embarcou-se em um Imperador visitou a câmara, que preparou uma
escaler do Rio Grande e assistiu ao reconhecimento exposição de produtos do município, a cadeia, o clube
daquele porto, fazendo sondar tanto o canal e baixios Literário e a Santa Casa de Misericórdia.
como as muitas pedras que ali existem espalhadas, "No dia seguinte visitou escolas, mercado e telé-
umas completamente mergulhadas, outras apenas a grafo. Depois do almoço S. M . o Imperador, acompan-
tona dágua. hado do Sr. Visconde de
"Durante cerca de 3 horas de Tamandaré, do conselheiro
afanoso trabalho, S. M. o Imperador "0 Sr. Barão de Teffé Buarque de Macedo, do capitão do
procurou colher as informações pre- que também ali esteve mostrou-se porto e do capataz da alfândega,
cisas para conhecer da verdade sobre entusiasta pelo porto de Antonina percorreu alguns pontos do porto
o muito que se tem dito contra e à e conseguiu encarregar-se por de Antonina, verificando na
favor das condições de segurança,
muito tempo de melhorar as suas sondagem feita, haver pedras não
capacidade e praticabilidade do marcadas nas cartas."
condições fazendo arrebentar
porto de Antonina. A ida para Paranaguá foi
"Este porto foi condenado
várias pedras que lá existiam noticiada sem economia pelo "19":
pelos Srs. almirante barão de La- com fortes descargas de dinamite. — "Como disséramos no último
guna, vice-almirante barão de Igua- número, S. M . o Imperador fizera
temí, tenente-coronel Luiz Teixeira e Nascimento, drs. o exame do porto de Antonina, concluído o qual regres-
Morais e Aquino e o então 1.° tenente J . Carlos de Car- sou à terra.
valho, que ali foram em comissão em diversas épocas afim "Com pequena demora embarcaram SS. M M . II.
de estudá-lo. para a cidade de Paranaguá, ao 1/2 dia.
"O Sr. Barão de Teffé que também ali esteve "O vapor Iguaçu embandeirado, e com uma banda
mostrou-se entusiasta pelo porto de Antonina e con- de música a bordo, esperava no cais os Augustos
seguiu encarregar-se por muito tempo de melhorar as Senhores e sua comitiva, para transportá-los à bordo do
suas condições fazendo arrebentar várias pedras que lá Rio Grande.
existiam com fortes descargas de dinamite. "Por essa ocasião foi esplêndida e indiscretível a
"S. M. o Imperador viu o brigue Afrígio encalhado manifestação que o povo de Antonina, em sua totalidade
no lodo da praia, para onde foi levado depois que, baten^ fazia aos Nossos Soberanos, significando-lhes as suas des-
do em uma pedra das que não se acham mencionadas pedidas.
nos mapas do Sr. barão de Teffé, abriu água e foi a pique; "Grande número de pessoas das mais gradas dessa
assim como deu-se ao trabalho de sondar, outras pedras, cidade, contando-se algumas seahgras, acompanharam
que igualmente não se encontram no referido mapa. SS. M M . a Paranaguá, tomando passagem a bordo do
"Informado S. M. o Imperador de que o brigue Rio Grande.
Carolina, calando 10 pés e que se achava fundeado na "No trajeto de uma a outra cidade, que durou três
popa do Rio Grande, havia estado encalhado por muito horas, passou o tempo muito suavemente, já na contem-
tempo naquele mesmo lugar, dirigiu-se para ali, e seu plação dos belíssimos panoramas que ali ostenta a

GAZETA DO POVO
DAVf CARNEIRO

natureza; já pela animação que se notava a bordo, onde "Concluída a importante solenidade, dirigiram-se SS.
os passageiros, em uma animada conversação, ou M M . para o palacete do Sr. Barão de Nácar, onde jan-
entregues ao extasi da música, não sentiam que era mais taram.
rápida talvez do que desejaram a marcha do "Rio "Tiveram a elevada honra de sentar-se à mesa com
Grande". SS. MM., a sua comitiva, todas as pessoas gradas que os
"A Exma. Sra. Da. Rosalda cunhada do Dr. Grillo, haviam acompanhado, desta capital, Morretes e Antonina,
a convite de S. M. o imperador, foi mais de uma vez ao assim como o Exmo. Barão de Nácar e sua Exma. família,
belo piano, que tem a bordo do "Rio Grande", e aí fêz ouvir presidente da câmara e muitas pessoas de Paranaguá.
a sua extensa e melodiosa voz, em vários trechos escolhidos "Depois do jantar, teve lugar o embarque dos
que cantou, sendo unanimemente e vivamente apreciada. Augustos Viajantes, entre estrepitosas e delirantes manifes-
"Tocaram e cantaram também outras senhoras, sendo tações da população, às 4 1/2 da tarde, no vapor Marumbí.
assim divinizadas as horas de tão pitoresca e bela travessia. "Pouco depois estavam SS. M M . a bordo do Rio
"Ao passar o vapor no porto de D. Pedro II, ou da Grande, pronto a levantar ferros:
estrada de ferro, à pequena distância de Paranaguá, foram "Ao bota fora de SS. M M . além do Marumbí, onde
levantados muitos vivas e saudações a SS. M M . por dese- se achavam todas as autoridades superiores e locais, muitas
nas de pessoas que ali se achavam, estrugindo os ares senhoras e grande número de cidadãos foi tambérn o vapor
inúmeros foguetes. Iguaçu embandeirado e pejado de povo, que não cessava de
"Ao aproximar-se da cidade o transporte imperial, levantar vivas aos nossos Monarcas.
veio-lhe ao encontro o vapor "Ao embarcarem SS.
"Marumbí", pejado de caval- M M . fizeram com a maior
heiros de toda distinção e cordialidade as suas despedi-
"0 concurso de povo que
classes, que ao som do hino das, conservando-se à vista de
era então imenso, vivas, foguetes,
nacional e entre milhares de todos, a bordo do Rio Gran-
foguetes e vivas saudavam os
música, tudo concorreu para fazer de, a corresponder com o len-
Augustos Viajantes, com brilhantíssima a solenidade, ço, aos vivas e saudações que
febril entusiasmo. exprimindo de modo mais eloqüente se lhes faziam.
"Em Paranaguá a ani- os votos da população, não só dessa "Imediatamente partiu o
mação era extraordinária: cidade, como de toda a província." Rio Grande, sendo acompa-
parecia que a população se nhado pela corveta Guana-
multiplicava pela alegria, bara, que feitas as continências
precipitando-se nas ruas e cais e agrupando-se nas janelas, devidas, seguiu-lhe nas águas.
de sorte que raras vezes tão belo espetáculo terão visto olhos "Ao passarem na fortaleza da barra, foram SS. M M .
humanos. saudados com a salva de artilharia e continências de estilo."
"Feito o desembarque no vapor "Marumbí", segui- O "Jornal do Comércio" comentou parcimoniosa-
ram logo SS. M M . acompanhados de sua comitiva e imen- mente: - "A 1 hora da tarde embarcaram SS. M M . no
so séquito de povo, no delírio das manifestações, para o paquete Rio Grande, sendo vivamente saudados pelos
sítio da primeira estação urbana da estrada de ferro, afim de habitantes de Antonina, que achavam-se postados no cais.
ter lugar logo a respectiva inauguração. Chegaram a Paranaguá às 3 horas da tarde, sendo recebidos
"Aí, num pavilhão elegante e vistosamente enfeitado pelo Sr. Barão de Nácar, coronel Joaquim Guimarães e ou-
de variegadas bandeiras, teve lugar, na Augusta presença de tras pessoas de Paranaguá.
SS. MM., a bênção da primeira pedra, que foi depois con- "Passando SS. M M . de bordo do Rio Grande para o
duzida para o seu lugar por S. M. o Imperador, Exmo. Iguaçu, dirigiram-se ao cais onde se achava grande parte da
ministro da agricultura, Exmo. presidente da província e população e na frente 21 meninas, tendo ainda em uma
presidente da câmara municipal. fita a tiracolo o nome dos 21 municípios da província do
"O concurso de povo que era então imenso, vivas, Paraná. Dirigindo-se imediatamente ao local da futura
foguetes, música, tudo concorreu para fazer brilhantíssima estação da estrada de ferro de Paranaguá a Curitiba, assisti-
a solenidade, exprimindo de modo mais eloqüente os votos ram à inauguração da pedra fundamental.
da população, não só dessa cidade, como de toda a provín- "Recolhidos ao palácio do Barão de Nácar SS. M M .
cia, pela realização de tão desejado e grande melhoramen- jantaram ali e embarcaram no paquete Rio Grande, que
to. „ passou a barra de Paranaguá às 6 horas da tarde."

HSBC N
D.PEDRO II NO PARANA 1880

E a "Gazeta de Notícias" comunicou: — "À 1 hora da darão em vosso ser pensamentos, talvez alegres, talvez som-
tarde os Augustos Viajantes embarcaram no Rio Grande, brios.
que partiu logo para Paranaguá, onde chegaram às 2 1/2 da "A imagem suave de vossa Filha, da herdeira desse
tarde. sólio, que as vossas virtudes ergueram sobre corações
"Foram inaugurados, com toda a solenidade, os livres e impertérritos; a herdeira dessas glórias, que não
trabalhos da Estrada de Ferro desta cidade à Curitiba. Foi maculam invejas, nem disputam ambições mesquinhas,
esplêndida a cerimonia da bênção da comitiva, autoridades está bem longe de vós, e debalde alonga o olhar, procu-
principais da província e pessoas conceituadas que se rando achar-vos nesse céu que a imaginação cria nas
achavam presentes. Em seguida foi oferecido um suntuoso almas dos que padecem.
banquete à SS. M M . em casa do Barão de Nácar. "O futuro, que vemos sempre revestido de brumas,
"Em Antonina e Paranaguá foram ainda brilhantes os o passado que tantas vezes nos aparece orvalhado de
festejos para a recepção dos Augustos Viajantes. Em dores, atravessarão o vosso espírito, como estrelas erráti-
Antonina S. M. o Imperador deu 300$ de esmolas e 500$ cas, que fulgem e desmaiam no espaço.
para a escola; declarando, quando visitava esta, que notava "Se a história proclama os vossos serviços, Senhor;
a instrução pública pouco cuidada na província do Paraná, se as cidades festejam a vossa pessoa, se as nações procla-
onde não havia nenhum sistema de ensino sendo a isso de- mam os vossos méritos, não é menos certo que angústias
vida a causa do atrazo geral. íntimas, que decepções amargas, que âncias insofridas
"As 5 horas da tarde seguirão SS. M M . para a barra cruciam e laboram a alma das populações do vosso
afim de embarcarem no Rio Grande, a Guanabara ficou império.
esperando fora da barra. "Dae-nos, Senhor, a justiça, esse hidromel dos
"SS. M M . devem achar-se anjos, que não embriaga os homens,
nessa corte segunda-feira pela porque os regenera.
madrugada." "Dae-nos a justiça que emigrou
"0 rumor das ventanias,
Justiniano de Melo, em nome destas paragens, como os pássaros ao
o soluço das águas, os horizontes
da Província, cheia de saudades e de clarão dos incêndios.
gratidão, apresentou despedidas: azuis, estendidos sobre "Descrédito das instituições,
"SENHOR! SENHORA! um lençol de espumas, acordarão decadencias dos povos, e dos cos-
"Apagam-se-os últimos archo- em vosso ser pensamentos, tumes, - eis os efeitos da falta de
tes com que o povo iluminou a talvez alegres, talvez sombrios. justiça.
vossa entrada triunfal na primeira e "Que o vosso poder seja repre-
mais populosa das cidades da sentado na província por homens
província. sérios e experientes, por inteligências cultas, por caracteres
"Fenecem as flores espargidas sobre a vossa fronte, enrijados nas provanças da vida pública.
desadornada do diadema, mais bela, e mais magestosa "Que os delegados do trono não sejam dora avante
ainda nessa augusta simplicidade. mancebos precocemente corruptos, personificações per-
"Cessam as músicas, e silenciam as salvas que anun- feitas da indolência, do desmazelo, da ignorância e do ódio.
ciavam a vossa passagem por entre as multidões aglomer- "Que a instrução se derrame por todas as camadas
adas para ver e saudar o seu monarca. sociais, e para este resultado se aproveitem as vocações, que
"Os cidadãos entristecem-se com a vossa ausência, sobram, e se transfunda sangue novo no corpo anêmico do
Senhor, e todos pranteam a partida de sua virtuosa e amá- magistério.
vel Soberana. "Que as leis sejam respeitadas, que os direitos resistam
"Nacionais e estrangeiros, que acordaram num dos aos temporais das situações políticas, que o palácio do governo
mais lindos dias de maio, e correram pressurosos a con- seja o tempo aberto a todos osfilhosdeste ubérrimo território.
templar o primeiro cidadão do império, voltam às suas "Senhor! é tempo de rechaçaria corrupção que nos
fadigas quotidianas, em quanto os ecos longínquos invade e contamina... É tempo de apontar à juventude o ca-
repetem as últimas notas doloridas das orquestras. minho da honra, e de derribar de suas peanhas os ídolos da
"Em breve, Senhor, em breve Senhora, o marulho das intolerância e do egoismo partidário...
ondas anunciará a vossa partida das plagas paranaenses. "E, vós, Senhora, transmiti num desses sorrisos de santa,
"O rumor das ventanias, o soluço das águas, os hori- num desses olhares que geram virtudes, as idéias e aspirações
zontes azuis, estendidos sobre um lençol de espumas, acor- do povo que vos ama, ao vosso Augusto Consorte".

GAZETA DO POVO
DAVf CARNEIRO

-XW-

A VIAGEM DE VOLTA. - PARANAGUÁ.


- O BAILE. O DISCURSO ANTONINA. - ECOS

S
ó Ernesto Matoso, nas suas memórias, não se Itália, perto de Antonina. Essa gentil signorina cantou
esqueceu de relatar alguma coisa a respeito da volta com extraordinário sucesso uma linda canção napoli-
à Corte. O atropelo teria sido a causa determinante tana.
do silêncio quase geral, atropelo que determinou canças- "É indescritível a alegria e a emoção que revelou a
so, inércia e inopia mental. Ernesto Matoso esteve fora Imperatriz: ria-se, aplaudia e com lágrimas nos olhos
do caso, nas suas memórias, porque escreveu muito mais pedia que repetisse a canção: "Ma ripeti, prego ripeti, che
tarde e depois de ter passado a sua canseira. bellissima canzione," dizia a veneranda senhora em ital-
Sem dúvida, porém, apesar dos atropelos e da can- iano, tal a sua alegria ouvindo depois de tão longos anos,
seira, levaria aquela gente da comitiva, uma saudade que ausente da sua terra natal, cantar uma música deliciosa,
seria eterna, para muitos, dos dias magníficos passados que ouvira quando criança, na sua querida Napoli!"
na província, entre festas e risos. A inauguração dos serviços de E. de Ferro, o lança-
Alguns levariam o coração si não preso, ao menos mento oficial do marco zero, estiveram solenes.
abalado. Alguns teriam, entre baile A "Gazeta" deu notícia, sendo
e baile, feito vibrar corações, e não de notar: - "O "Rio Grande" seguiu
"É indescritível a alegria e a
se toca o alheio sem que o próprio para Paranaguá, procurando seu
emoção que revelou a Imperatriz: comandante guiar a navegação bem
vibre de alguma forma...
Como um eco do passado, ria-se, aplaudia e com lágrimas nos junto da costa do porto de D. Pedro
Matoso relatou: olhos pedia que repetisse a canção: II para mostrar a livre prática
"A Imperatriz não deixou, "Ma ripeti, prego ripeti, che daquele ancoradouro, onde deu
durante toda a nossa viagem, de bellissima canzione" fundo às 2 horas da tarde.
dispensar-nos as mais cativantes "De bordo do "Rio Grande"
provas de bondade, em o baile realizado em Curitiba, de passaram-se SS. M M . para o vapor "Marumbí" que os
volta da Lapa, cuja viagem quase toda eu havia feito a conduziu para terra.
cavalo, longas horas de marcha e quase a galope, quando "As festas preparadas em Paranaguá para a segunda
junto dela passei, após uma valsa, dignou-se de dizer-me recepção imperial estiveram brilhantes como em parte
S. M.: alguma da província se fizeram melhores.
" — O senhor ainda tem forças para dançar? "A cerimônia da colocação da pedra com que se
"— É serviço, Magestade; estou cumprindo um inauguraram os trabalhos da estrada de ferro, foi feita
dever, com todas as cerimônias de estilo, e já muito conhecidas
" — E de mocidade bem se vê, replicou ela sor- com uma única novidade apenas que vem a ser, ao passo
rindo. que nas outras ocasiões tais festas duram pelo menos
"Na nossa volta ao Rio, à noite, a bordo, em alto duas horas S. M. o Imperador conseguiu que fosse esta
mar, organizou-se um concerto, pois vinham diversas realizada em 1/4 de hora.
senhoras, entre as quais, me recordo, uma formosa se- "Em seguida reuniu-se em casa do Sr. Barão de
nhora neta do barão de Nácar, e uma signorina italiana, Nácar um esplêndido jantar para o qual foram convida-
filha do médico italiano também, da Colônia Nova- dos, além das pessoas que formavam a comitiva imperial,

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D.PEDRO II NO PARANÁ 1880

o superintendente e engenheiros da estrada de Para- e convidados, representando tudo o que de mais grado
naguá. tem a província, com o esplêndido concurso de cerca de
"Às 4 horas já o pequeno Iguaçu conduzia nova- 100 senhoras, ricamente toiletadas, começou a dança.
mente para bordo os Augustos Itinerantes e às 4,30 o "O baile correu animadíssimo até alta hora da
"Rio Grande" deixava o ancoradouro e seguia rumo a noite; sendo profuso e rico o serviço: e reinando a mais
barra de SE., entregando-se às 6 horas às iras do NE, intensa alegria, amabilidade da parte de todos, que a por-
duro, que obrigaria à todos os viajantes a passarem muito fia, requintavam já no distribuir os obséquios da hospi-
mal algumas horas." talidade, já em retribuí-los, na mesma elevação.
E depois comentou: - "A cidade de Paranaguá não "Mais uma vez a sociedade paranaguense exibiu-se
poupou esforços para destacar-se de todas as outras loca- com brilhantismo costumado, podendo jactar-se de que
lidades da província, que foram honradas com a visita de a sua festa esteve no mais alto nível da educação, elegân-
SS. M M . II. cia e civilidade.
"Ali tudo foi feito pelo povo, o que faz subir de "O dr. Leocádio Correia e sua Exma. Sra. fazendo
valor as deslumbrantes festas preparadas para a recepção as honras mais especialmente da casa, estiveram acima de
dos Augustos Viajantes. todo elogio, e somente a par de si mesmos.
"No dia da partida (5) de SS. M M . para esta corte, "É o que nos comunica um dos convidados, resi-
a sociedade de Paranaguá, promovendo um esplêndido dente nesta capital."
baile, festejou a inauguração dos trabalhos da estrada de E reproduziu o discurso da câmara de Antonina:
ferro que tem de ligar aquela cidade à capital. "SENHOR!
"Estiveram presentes o Sr. Presidente da Província e "A câmara municipal desta cidade, compartilhando
outras pessoas gradas de Curitiba, que vieram acompa- o justo entusiasmo que a presença de V. M . Imperial e de
nhar SS. M M . , o Sr. Barão de Nácar e o que há de mais S. M. a Imperatriz tem despertado em toda província,
distinto naquela boa e hospitaleira cidade. cheia de respeito, vem em comissão, perante o excelso
"Serviu-se à 1 hora da madrugada uma profusa ceia trono de V. M . I. manifestar os mais puros votos de amor
e nessa ocasião foram levantados entusiásticos brindes à patriótico, dedicação e lealdade, que tributam ao
SS. M M . II., conselheiros Magnânimo Filho do Imor-
Sinimbu, Buarque, presi- tal Fundador do Império.
dente da Província, povo "Nem sempre, Senhor, aqueles que cingem "Senhor, a visita de V.
paranaense, imprensa flumi- um diadema imperial tem a ventura como M. I., a esta cidade, marcará
nense, estrangeiros estabele- V. M., de, por vossa virtude, por Vosso saber, sem dúvida, uma nova era
cidos no Brasil, barão de por Vosso patriotismo, transpondo a altura de que ficará gravada, em carac-
Nácar e sua família e aos teres indeléveis, na memória
Vosso trono, alcançar fechar em uma mão os
engenheiros da estrada de de todos os antoninenses.
corações de todos os brasileiros!"
ferro. "Nem sempre, Senhor,
Às 3 horas da madru- aqueles que cingem um
gada terminou-se o baile, tendo-se até aquela hora repeti- diadema imperial tem a ventura como V. M., de, por
do as danças com extraordinária animação. vossa virtude, por Vosso saber, por Vosso patriotismo,
"Quando se teve conhecimento do telegrama pas- transpondo a altura de Vosso trono, alcançar fechar em
sado por S. M. o Imperador ao Sr. Barão de Nácar, o uma mão os corações de todos os brasileiros!
contentamento de toda sociedade foi imenso e a família "É por isso, Senhor, que o importante município
daquele ilustre e benemérito cidadão, que tanto tem feito de Antonina, descançando na Vossa justiça, tem fé, que
em favor de sua provínia natal, foi saudada com viva sa- não está longe de soar a hora feliz, em que um sopro de
tisfação." V. M. I., impelindo rápido desenvolvimento às comuni-
O "19 de Dezembro" falou sobre o baile de cações, faça elevar sua indústria, comércio, lavoura e
Paranaguá: — "Na noite de 5 do corrente, em casa do dr. riquezas naturais à altura de sua própria grandeza.
Leocádio Correia teve lugar um suntuoso baile dado pela "Senhor, se a recepção que voz faz este município,
sociedade paranaguense, em regozijo à inauguração dos pela escassez dos recursos de seus filhos, não se distingue
trabalhos da estrada de ferro. pela ostentação do luxo e pelo explendor das galas, dis-
"Às oito horas, achando-se presentes o Exmo. Sr. tingue-se pela singeleza, pela candura, que simboliza o
presidente da província, dr. chefe de polícia, autoridades cunho da sinceridade.

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GAZETA DO POVO
DAVÍ CARNEIRO

"À V. M . I., à Vossa Virtuosa Consorte, a Vossa difícil do que a de esmolas - que não foi nem fácil
esperançosa dinastia, de coração, invocamos ao Todo nem pequena, exigindo uma comissão para distribuí-
Poderoso uma não interrompida cadeia de venturas a las: "Com o fim de atender às numerosas petições
par de prolongados anos de existência. dirigidas a SS. M M . nesta cidade, já de esmolas, já de
"Paço da Câmara municipal da cidade de liberdade, fazendo a distribuição da quota, como mais
Antonina, 4 de junho 1 8 8 0 . justo lhe parecer, nomeou hoje S. Ex. o Sr. Presidente
(a) Antônio Alves de Araujo, João Manoel da Província a seguinte comissão: Dr. Agostinho
Ribeiro Viana, José cia-Gosta Pinto, Manoel Nunes Ermelino de Leão, Vigário Agostinho Machado Lima
Barbosa, José Marcelino de Mendonça Carneiro, João e dr. Joaquim de Almeida Faria Sobrinho.
Dias Barboza, Bento José de Carvalho, Antônio "Ao dr. Ermelino mandou S. Ex. fazer entrega da
Cristóvão e Pedro de Oliveira e Souza". quantia de 8 0 0 $ , que para aquele fim deixou S. M . o
Na viagem de volta, SS. M M . II. abaladas pelo Imperador."
enjôo, teriam ainda maior perturbação lembrando-se Aproveitemos a oportunidade para dar a con-
dos discursos e antesofrendo a necessidade de dis- hecer na íntegra a lista de beneficiários:— "Donativo
tribuir comendas e prêmios. feitos por SS. M M . II. nas diferentes localidades da
Ah! A distribuição de prêmios seria ainda mais província.

Paranaguá
Para a misericórdia 500$
Para Cesário, escravo do dr. Leocádio José Correia 100$
Para 1 escravo de Claro a. Guimarães . 100$
Para o escravo Manoel (assinou a rogo Caetano José Luiz) 100$
P/Paulina (escrava de João G. Guimarães) 100$
Para Maria Izabel Rosária 50$
P/Antônio Campagnolo 20$
P/David, escravo 100$

Entregue ao Barão de Nácar 1:070$

Campo Largo

P/a Sociedade Emancipadora 1:000$


P/esmolas 300$
P/o teatro 200$

1:500$

Castro

P/obras da igreja 50$$


P/esmolas 300$
P/casa de escolas primárias 500$

1:300$

H S B C <2>
D.PEDRO II NO PARANÁ 1880

Ponta Grossa
P/a matriz 500$
P/esmolas 300$
P/casa de escolas primárias 500$
P/Josefina Brou 50$
P/Marcelino, esc. de José da C. Guimarães 200$
P/Soc. Organizadora do Teatro 100$

1:650$

Palmeira

P/matriz 300$
Para esmolas 200$
P/casa de escola primária, quando se fizer 300$

800$

Lapa

P/casa de escola primária, qdo. se fizer 500$


P/esmolas 300$

800$

Curitiba

P/esmolas 500$
P/liberdades 300$
P/l bomba de apagar incêndios 480$
P/Dometilda Felicidade da Silva 50$

1:330$

Morretes

Em mão, à mulher de um moribundo. . 50$


P/a igreja 300$
P/esmolas 300$
P/casa de escolas, qdo. se fizer 300$
Entregue ao cónego José Jacinto de Linhares 900$
Antonina
P/esmolas 300$
P/casa de escola, qdo. se fizer 500$

800$

TOTAL 10:200$"

GAZETA DO POVO
DAVI' CARNEIRO

A "Revista Ilustrada" glosou o caso de uma esmo- comissão diretora dos festejos de recepção de SS. M M . -
la dada a um colono estrangeiro: - "Em Antonina, além Transmito a V. S. o incluso telegrama que me dirigiu o
de outras esmolas, o Imperador deu 50$ a um colono Exmo. Sr. Dr. Manoel Alves de Araujo, oferecendo duas
francês que estava doente.. Duas horas depois, tudo em apólices de conto de réis cada uma, com os respectivos
Antonina era colono francês e estava doente - Maganões! juros do semestre para ter aplicação sua importância às
de mim é que não pilham vintém... despesas com a recepção de SS. M M . II.
"— E não faltava mais que, além de honras fosse "Ao negociante desta praça Manoel Soares Gomes
levar-lhes a caixa da REYISTA. poderá V. S. dirigir-se para receber as aludidas apólices."
"Uff! não posso mais..."
Ela glosara antes o caso de Porto de Cima, sempre
com a mesma verve: - "De passagem, em Porto de Cima,
tivemos de recusar todos os agrados que nos haviam D. Pedro teve ao chegar ao Paraná, a notícia de
preparado, a população teve com isso grande desgosto - que o reservatório do Pedregulho rachara. Foi sua pre-
mas que fazer ? não podemos contentar a todos ! ocupação primeira, visitá-lo para certificar-se.
"As comissões, não querendo perder os seus gas- É o que diz Matoso: — "Na nossa volta, havia eu
tos, convidaram os representantes da imprensa e oferece- recebido, primeiro do que ninguém, um telegrama do
ram-lhes a festa — o bocado não é para quem o faz ! Cruzeiro anunciando-me a racha do Reservatório d'água
Desde que SS. M M . viraram as costas, cada um do Pedregulho. Estávamos em viagem, de carro. Um
queria ter contribuído mais para a recepção dos estafeta por mim contratado para levar-me os telegramas
Imperadores. Eu me lembrei muito dos revolucionários onde eu estivesse, partiu de Curitiba e alcançando-nos na
autênticos de 1930 !... serra entregou-me o despacho.
Surgiram notícias curiosas Passei-o às mãos do conselheiro
como esta : — "Entregue à comissão "Em Antonina, além de outras Buarque que imediatamente mos-
de recepção de SS. M M . pelo seu esmolas, o Imperador deu 50$ trou-o ao Imperador, cuja
proprietário, também membro dela, a um colono francês que estava contrariedade não pôde ocultar,
o Sr. Antônio Martins Franco, o doente.. DUÜS horas depOÍS, tudo em doendo que "custasse o que cus-
sobrado do largo de Pedro II, que A n t o n i m e m colono francês e estava -teSSe
1 d e v i a s e s a b e r u a l a c a u s a

iu de Paço, sabem todos que foi


serviu , „, , , . desse desastre."
\,, . ,, doente - Maganões! de mim e que «r, • . j
preciso arranjá-lo e decorá-lo com Pois bem, quando estava-
pletamente, até o ponto de servir não pilham vintém... m o s j á .R; ande,
e m b a r c a d o s n o 0 Gr

condignamente aos Augustos ao sairmos de Paranaguá, na tolda


Hóspedes, e sua comitiva, com a elegância, aceio, con- todos, disse o Imperador: "Ao chegar à Corte, antes
forto e comodidade, que eram de mister e que de fato mesmo de ir para o paço de S. Cristóvão, quero ir, de i
apresentava o Paço, que de um sobrado novo, belo, mas surpresa, visitar o Reservatório, e voltando-se para nós,
despido, passou pela brilhante transformação que todos representantes da imprensa, acrescentou: - "peço-lhes
apreciaram. que nada comuniquem para a corte."
"Grandes foram os esforços da comissão para esse "Um gesto nosso fêz compreender ao Imperador
resultado, como para o brilhantismo de todos os festejos, que sua vontade seria executada."
em que tomou parte toda a população nacional e É o que comenta a "Gazeta": — "Dizia-se ontem...
estrangeira, e de modo tão entusiástico. "... que o Sr. Pedro Luiz estava muito contrariado
"Manda porém a justiça que seja mencionado o com a hora de chegada de S. M., por ter de se levantar
nome do sr. major Joaquim Antônio Gonçalves de de madrugada para o acompanhar ao Pedregulho..."
Menezes, que a convite da comissão prestou-se a dirigir O " 1 9 " não noticia a recepção de SS. M M . II. na
os trabalhos do arranjo interno e decoração do mesmo corte; entretanto, dá, embora muito resumidamente,
Paço, o que foi feito, com muitos dias de aturado traba- conta de como chegaram a Curitiba os elementos gover-
lho, e com o bom gosto e perícia que sabe o major namentais da província. Quando estes se viram em casa,
Menezes desenvolver em trabalhos semelhantes." tomando um banho de salmoura, remédio eficassíssimo
E no expediente da presidência se publica: - "Ao contra canceiras, teriam dito: Arre ! Até que enfim !"
dr. Luiz Barreto Corrêa de Menezes, presidente da "No dia 7, às 7 horas da noite, regressando de sua

13

H S B C "€X^
D.PEDRO II N O PARANÁ 1880

viagem a Paranaguá, onde foram acompanhando SS. viagem efetuada à província do Paraná por SS. M M .
MM. II., chegaram a esta cidade o Exmo. Sr. Dr. Dantas II., e bem assim lhe, rogo se sirva louvar em nome deste
Filho, presidente da Província, e dr. Corrêa de Menezes, ministério o comandante desse mencionado paquete.
chefe de polícia. Ao encontro de SS. Excias, foram em "Deus Guarde a V. S. — M . Buarque de Macedo
três carros, além de pessoas de suas Exmas. Famílias, - Sr. Presidente da Companhia Nacional de Navegação
alguns dos seus distintos amigos desta capital." a Vapor."
A notícia do "Jornal do Comércio" sobre a chega- D. Pedro não esqueceu de comunicar atenciosa-
da a Corte, é a seguinte: - "Ontem, às 9 horas da mente ao Barão de Nácar a sua feliz chegada: - "Quinta
manhã, chegaram a esta corte SS. M M . II. acompa- Imperial, 7 de junho de 1880 às 4 horas e 30 minutos
nhados de sua comitiva, de volta de sua viagem à da tarde. - Ao Exmo. Sr. Barão de Nácar. Chegamos
província do Paraná, e desembarcaram no arsenal de bem às 8 horas e 30. Agradecemos D . Pedro."
marinha, seguindo logo para o Paço de São Cristóvão. À
entrada da barra salvaram as fortalezas." * **
A "Gazeta" detalha: - "SS. M M . II. regressaram
ontem da Província do Paraná, desembarcando no arse- Como eco da estada de SS. M M . II. no Paraná
nal da marinha às 9 horas da manhã, onde foram rece- veio a notícia da entrega ao arquivo público do
bidos pelo ministério, altos funcionários superiores do império, da chave de Curitiba: - "O ministério do
império e vários oficiais generais da armada e do exérci- império dirigiu ao diretor do arquivo público do
to, fazendo a guarda de honra os batalhões naval e 10.° império, para ali ser guardada, a chave desta cidade
de infantaria. que foi entregue à S. M. o Imperador por ocasião da
"Sobre a última parte da viagem de SS. M M . por visita por êle feita ultimamente a esta província."
aquela província trouxe o nosso correspondente especial E que teria sido feito da chave de Paranaguá ?
as seguintes notas: — A viagem de Paranaguá para este Estraviada ? Perdida ?
porto não foi das melhores; reinou sempre N E fresco e Ah - Si pudéssemos descobrí-la !?...
as águas coriam bastante para o Sul, de sorte que o Rio
Grande, cuja marcha normal é de 10 a 11 milhas por * * *
hora, a custo poude fazer sete e pouco.
"O mar de vagalhão fazia o vapor dar balanços D. Pedro mandou distribuir dinheiro para edifi-
fortes, o que fêz com que SS. M M . e mais pessoas da cação de escolas. Comissões foram nomeadas segundo
comitiva enjoassem bastante. noticia o "19": — "Com o fim de levar a efeito a edifi-
"O Rio Grande conduzido por um hábil mari- cação de casas escolares, conforme a iniciativa de S. M .
nheiro, uma das mais respeitáveis autoridades da nossa o Imperador, em sua recente visita à província, e
marinha de guerra, o capitão de fragata Melo e Alvim, fazendo aplicação dos donativos para esse fim deixa-
conseguiu apesar de tudo, confrontar, pela madrugada dos, pelo mesmo Augusto Senhor, acaba S. Ex. o Sr.
de 7, com a Marambaia, e às 8 horas investir a barra presidente da província de nomear as seguintes comis-
deste porto. sões.
"A corveta Guanabara navegou sempre a vista do
Rio Grande, e quando este vapor fundeava em frente ao ANTONINA
arsenal, ela amarrava-se à bóia no ancoradouro dos
navios de guerra. Comendador Antônio Alves de AraujOj presidente da
"As fortalezas salvaram com 21 tiros e os navios câmara.
de guerra surtos no porto, fazendo subir a gente às ver- Dr. Ernesto Francisco de Lima Santos.
gas, fizeram as continências de estilo." João Manoel Ribeiro Viana.
Houve um agradecimento à companhia de nave-
gação que ofereceu o vapor para a viagem. PONTA GROSSA
"Ministério dos Negócios da agricultura, comér-
cio e obras públicas - Gabinete - Rio de Janeiro 14 de Augusto Lustosa de Andrade Ribas, presidente da
junho de 1880. câmara.
"De ordem de S. M . o Imperador agradeço a V. Dr. Ascendino Vicente de Magalhães.
S. a oferta que fêz do paquete Rio Grande para a Major Domingos Ferreira Pinto.

16
GAZETA DO POVO
DAVÍ CARNEIRO

MORRETES PALMEIRA

José Ferreira de Loyola, presidente da câmara. Pe. José Antônio de Camargo e Araujo, presidente da
Joaquim José Alves. câmara.
José Jacinto de Linhares, cónego vigário. Cons. Jesuino Marcondes de Oliveira e Sá.
João Batista de Oliveira, vigário.
CASTRO
***

Jorge Marcondes de Albuquerque,


presidente da câmara. As discussões em torno da distribuição de comen-
Dr. Manoel da Cunha Lopes Vasconcelos. das e títulos teriam provocado da parte de D . Pedro, o
Antônio Duarte de Camargo. temor de injustiças e de esquecimentos.
Esse temor causou a carta escrita ao Barão
LAPA Homem de Melo, então Ministro e Secretário de Estado
dos Negócios do Império, estampada neste livro, em que
Dr. Manoel Pedro dos Santos Lima, D. Pedro visivelmente mostrava sua preocupação de ser
presidente da câmara. grato, premiando aos merecedores, incentivando e
Dr. Conrado Caetano Erichsen. esquecendo, segundo o seu critério de justiça, e o seu
Inácio de Almeida Faria e Souza, vigário. desejo de fazer amigos dedicados.

17
HSBC4»
D.PEDRO II N O PARANÁ 1880

CONCLUSÃO constituem documento importante para julgamento


sociológico, quer estático, quer dinâmico, de um esta-
Na viagem de D . Pedro II ao Paraná, em 1880, do qualquer.
descrita por um grupo de jornalistas da Província e da Saint Hilaire, Taynay, D . Pedro II são marcos
Corte, constitue por certo um amontoado de docu- documentários da província e da comarca, num perío-
mentos pessoais do imperador e de impressões do de 12 lustros, e podem servir para aferição dinâmi-
panorâmicas da terra e da sociedade local que ca como termos de uma progressão geométrica.
aparentemente se repetem. São por outro lado, demonstrações do estado
Esta descrição porém, não sendo um trabalho de em que em certo ponto da evolução da província ela se
valor literário, constitue sem dúvida um documento encontrava socialmente e politicamente, em todos os
histórico e social da antiga província, no que ela tinha sentidos.
de melhor na ocasião da passagem do terceiro para o Escrevendo sobre a História Militar de Portugal,
quarto quartéis do século X I X . Latino Coelho sentiu necessidade de se socorrer das
Reflete de toda a forma a grandeza e as fraque- descrições dos viajantes sempre que lhe falharam do-
zas do povo em formação política ebuliente, incapaz cumentos propriamente portugueses:
ainda, sem dúvida, de mostrar aos que de fora vinham, "A míngua de memórias e escritos contemporâ-
uma conduta uniforme. neos dos estadistas e homens notáveis daquele tempo,
As visitas às colônias, ainda não perfeitamente perlustramos as obras dos escritores estrangeiros, princi-
apegadas ao solo em que haviam sido postas, umas ten- palmente dos viajantes, que viram de perto os sucessos
dendo à ambientação, outras desejando voltar ao políticos, trataram os personagens principais, e falaram
nomadismo imposto pela tara primitiva; o exame dos com maior ou menor individuação das coisas por-
alunos nas escolas primárias, a falta de aproveitamento tuguesas na segunda metade do século XVIII."
aparente, mesmo quando o menino chamado a exibir- É isso o que se pode repetir para o século X I X para
se fosse um Emiliano Pernetta, a deixar clara a timidez o Brasil e especialmente para o Paraná.
e a inconsciência, ainda, da força social que represen-
tamos; o aulicismo dos homens de prol, as preocu- ***
pações anti-escravistas, as construções de vulto ini-
ciadas com a visita, as doações de D. Pedro para as O trabalho realizado não foi dos menos árduos,
escolas e os hospitais a serem iniciados ou a contin- mas tão pouco foi dos mais difíceis. A idéia de levar a
uarem funcionando, a distribuição de tradições termo essa descrição através dos jornais da época, acom-
históricas sui-generis do imperador, a derramar medi- panha-me há muito tempo.
das métricas de aferição em todas as municipalidades Fiquei com a glória de traduzir Saint Hilaire, na
visitadas, tudo isso, tudo sem dúvida, constitue valor parte do Paraná, popularizando-o no meu estado. Agora
documentário que mais cresce com a verificação dos forneço outro ponto de referência, aos leitores interessa-
homens importantes da província vistos na própria dos nos assuntos locais e aos que de fora desejam co-
província, ao tempo da visita. nhecer mais intimamente a atual Paraná.
Gomo foi dito no prefácio deste livro, as viagens (a) DAVID CARNEIRO

18
GAZETA DO POVO
DAVÍ CARNEIRO

ANEXOS

19
HSBC<Z»
ii
D.PEDRO II NO PARANÁ 1880

(1) - Barão, depois Visconde de Nácar - Manoel Antônio devolviam-na imediatamente aos seus súditos como prova do crédi-
Guimarães. Nasceu em Paranaguá a 15 de fevereiro de 1813. Filho to que a prova dada lhes merecia.
a
do capitão Joaquim Antônio Guimarães e de sua mulher D . Ana Com o correr dos tempos as cidades perderam as suas mural-
Maria da Luz. Casou em primeira núpcias a 9 de junho de 1833 com has. As cintas fortificadas ruiram, e as portas ficaram em nome ape-
a
D . Maria Clara Correia (+ 25 de maio de 1888), e em segundas com nas, nas cidades antigas e tradicionais da Europa. Como Paris,
a
sua cunhada D . Rosa Narcisa, ambas filhas do Tte. Cel. Manoel Londres, Dijon, etc.
a
Francisco Correia (Correia Velho) e de D . Joaquina Maria da Entretanto, para glória do gênero humano, as tradições,
Ascenção. adaptando-se embora as novas condições de vida, passaram, neste
Negociante forte, chefe político de prestígio, Coronel caso, á forma simbólica, e a entrega das chaves aos soberanos, embo-
Comandante da Guarda Nacional da Comarca de Paranaguá, prove- ra não tivesse realidade efetiva alguma, continuou a ser prova de fidel-
dor da Santa Casa de Misericórdia de^Pãrânaguá, deputado provin- idade e submissão.
cial em São Paulo em 1851, no Paraná em diversas legislaturas, vice- Mas, é preciso constatar com estranheza aliás, que o comple-
presidente da Província de 1873 a 1877, deputado geral pela mento, proveniente da recíproca cortezia, por desconhecimento,
a
Província do Paraná na 2 0 . legislatura (1886-1889), era ainda talvez, da tradição, nem sempre se levou a efeito.
Manoel Antônio Guimarães dignatário da imperial ordem da rosa, Aqui no Brasil, por exemplo, D. Pedro 2.° recebeu as chaves
comendador da de Cristo e Cavaleiro da do Cruzeiro. simbólicas de Recife, Porto Alegre e Curitiba, e não as devolveu aos
O título do barão foi por decreto de 21 de julho de 1876. O seus súditos.
de visconde, pelo de 31 de agosto de 1880, foi obtido logo após a É certo que estes poderiam recusá-las, esquivarem-se a recebê-
estadia de D. Pedro II.° em seu palácio. las, por ignorância da tradição, ou para se tornarem lembrados do rei
Nácar não chegou a registrar suas armas no rei de armas ou por uma prova material de significação.
no Arquivo Imperial da Corte. Algumas das peças de prata ainda em
uso entre seus descendentes exibem as seguintes armas de família:
Um escudo de campo vermelho
com um cabrito rompente de Si D. Pedro tivesse deixado
prata surgindo de três folhas a chave simbólica das suas fiéis
verdes, para a esquerda. Timbre o Os reis passavam por uma cidade cidades nas mãos dos seus não
cabrito do escudo. Outro em menos fiéis súditos, teria evitado que
campo branco com quinze mos- fiel, recebiam a chave e a devolviam-na agora andássemos a pedir como
queias, três lisonjas de ferro enci- imediatamente aos seus súditos curitibanos uma chave que nos per-
madas por um chefe de estrela de tence.
prata. Timbre um lobo de prata
como prova do crédito que Com efeito, a chave, sendo
com língua de ouro. a prova dada lhes merecia... simbólica embora, não diz que per-
tence a D. Pedro, mas diz textual-
...Aqui no Brasil, por exemplo,
(2) - O dr. Sérgio de mente que é de Curitiba: e sendo
Castro, bacharel pela Faculdade de D. Pedro 2° recebeu as chaves entregue a êle devia por ele próprio
Direito de São Paulo, era nascido simbólicas de Recife, Porto Alegre ter sido devolvida, imediatamente.
em Iguapé, mas logo depois de Houve engano, pois, de
formado veio para o Paraná e aqui e Curitiba, e não as devolveu quem deu a notícia de 9 de agosto,
constituiu família, casando-se com aos seus súditos. dizendo que a chave era de d. Pedro.
a
D. Francisca da Fonseca Castro. Não. Ela é de Curitiba, e aqui faço
Deputado pelo Paraná, na um apelo aos meus compatrícios de
Câmara, foi viver na corte. Recife e de Porto Alegre para que
a
Enviuvando, casou-se lá, com D . Hortência Jansen, senhora nascida através dos seus prefeitos ou dos interventores dos seus estados respec-
no Maranhão, pertencente a família antiga e riquíssima. O dr. Sérgio tivos, da mesma forma que estamos fazendo, pleiteiem a volta aos seus
de Castro, que teve influência política mesmo depois da queda da pagos de uma relíquia que, sem ter importância capital para o centro
monarquia, morreu esquecido, no Rio de Janeiro, aí pelo época do em que está, tem enorme para nós outros."
centenário da nossa independência, deixando numerosa descendência.
(4) - ECO DO PARANÁ" - 27 de maio de 1880.
(3) - A CHAVE DE CURITIBA. "A S.M. o Imperador.
"Conta uma tradição histórica que após a invasão dos nor- "Senhor!
mandos na Inglaterra, o Rei Ricardo recebeu, certa vez, de uma "O perdão é a desculpa de um erro, e o erro, especialmente
cidade pela qual passava, e como demonstração de fidelidade e leal- quando transpõe as raias da venialidade, deveria ser sempre indes-
dade, as chaves da sua grande porta. Conhecedor das tradições, culpável, a bem das conveniências da sociedade, que não pode permi-
Ricardo recebeu as chaves, louvou a lealdade dos anglo-saxões, e tir semelhantes afrontas à sua organização. Mas, si é esta a lógica fér-
devolveu-as imediatamaente, como prova dos créditos que junto a ele rea sugerida pela conservação da necessária harmonia social, há casos
tinha a cidade. excepcionais, em que a lógica puramente do coração se antepõe,
É sabido como essa tradição se foi modificando, e quantas benévola, a essa rigidez de raciocínio, a essas restritas imposições das
variantes ela teve... sociedades organizadas.
Uma das principais dizia respeito às chaves santas, feitas em "Um desgraçado, Senhor, se dirigiu, humildemente, a V.M.
bronze, e tendo um pedaço qualquer de pedra ou lenho sagrado, Imperial, para impetrar o perdão de um crime pelo qual foi condena-
incrustado. Aos poucos as relíquias rarearam e as chaves passaram a do a galés perpétuas e que expia há cerca de 24 anos na fortaleza da
sagrar-se por simples contacto com as relíquias. barra.
Mas a tradição temporal, que é a que nos interessa, continu- "Implora este infeliz o perdão de um crime, feio, horrendo,
ou tal qual: que repugna à natureza humana. Matou um seu semelhante e, além
Os reis passavam por uma cidade fiel, recebiam a chave e a disso, um seu camarada !

GAZETA DO POVO
DAVÍ CARNEIRO

(Trecho de um artigo do autor, publicado no jornal "Gazeta belo e útil exemplo do digno sr. conselheiro Manuel Francisco
do Povo"). Corrêa a respeito da obra de Pressensé, entrego nestas linhas à publi-
"É horrível, não há dúvida, e mais agravante se tornou cidade as observações, que o imperador escreveu a lápis à margem
lamentável sucesso, pela circunstância de haver sido praticado o ato das folhas, e que vão transcritas com todo o acatamento e a mais
criminoso por um militar que, quebrantando os rigores da disciplina, absoluta fidelidade.
implantou um terrível exemplo entre os seus camaradas... Como resumo das impressões gerais incutidas pela leitura,
"Porém, Senhor, o desgraçado cometeu o fato criminoso sob poz Sua Magestade na capa as seguintes lisonjeiras palavras, que
os cegos impulsos da ira alucinadora... Era um homem brioso, que reproduzo com desvanecimento e gratidão:."É muito interessante".
acatava escrupulosamente os„seus^deveres e do Averno surgira um À página 14, falando eu de um pretendido frade, morador
Iscarioth para perdê-lo ! largo tempo na Gruta Santa ou do Monge, disse o sr. d. Pedro II: -
"Quantos malvados destes não desaparecem da terra, com "Isto aumenta muito a minha curiosidade de conhecer a vida de uma
proveito da própria sociedade, que suportou as suas insídias provo- espécie de leigo-ermitão, que habita no pitoresco Mont Cassien,
cadoras ! ? perto de Cannes, onde escrevo estas linhas a 3 de julho de 1890."
"Pois, infelizmente para o impetrante, deparou=lhe a fatali- À página 15, reproduzindo eu a descrição da gruta do sertão
dade um destes Judas, que devendo ser-lhe companheiro fiel e leal, da Ribeirinha, feita pelo sr. Sebastião José de Madureira, observou
camarada sincero e dedicado, resolvera vendê-lo, acusando-o perante Sua Magestade: "Lembra Mammouth Cave, onde andei de todas as
um superior de falta que não cometera ! E o judas que também lhe maneiras, e que é atravessado por um rio. É uma das coisas mais
era superior em graduação, foi acreditado ! interessantes dos Estados Unidos."
"O pobre soldado entrou em um quadrado, aonde sofreu, À página 17, a respeito do andorinhão chamado tapema,
inocente, o castigo infamante da chibata... disse o imperador: "Virá de taba, aldêa, eim, sem ? Sem habitação ?"
À página 18, a propósito da denominação Gruta de
HORROR !... Tapirussú, acrescentou: - "Liga-
se o nome à Mitologia dos
"Saiu dali, daquele lugar do "Esta catadupa terá o nome caboclos. Ta, i-tá, pedra; pirá,
suplício degradante, mais. dolorido que foi; assú, assú, grande: Tapir
da alma, que das carnes, que tão dura
de Salto do Visconde do Rio Branco". Então, grande. Supunham que a anta
flagelação haviam sofrido... Sua alma uma saudade funda e travada de indizível fora uma pedra, ou talvez pedra
sangrava de dor... estava louco,
furioso... apetecia a vingança !... Viu,
gratidão pungiu o coração dos brasileiros que se signifiqueÀ massa." página 20, tendo eu
por fatalidade, naquela ocasião, de achavam naquelas solidões, e todas as posto resvaloso, emendou, com
desespero o Iscarioth que lhe levan-
grandezas da natureza inconsciente, aquelas razão resvaladio..
tara a enorme aleivosia e... lançando À página 21, falando-se
mão de uma espingarda disparou-a revoltas e estrondeantes águas, aquelas imensas da bela ponte dos Papagaios,
contra êle... rochas, aqueles solenes e colossais gigantes da construída em pane peio engen-
"Foi isso um crime ? heiro Francisco Antonio Mon-
"Foi dí-lo a própria con- floresta, tudo, tudo se abateu e ficou pequeno teiro Tourinho, anotou: "Vi essa
sciência e atestam-no as leis divinas e
humanas. Mas será um crime que
ante a estatura moral do estadista P o n t e e m
companhia dêk."
A página 24, a respeito
não mereça o perdão do poder mag-
da palavra Imbituba, explicou: .
nânimo que possue prerrogativas para estes atos reparadores?
"Imbi, cupim, tiba ou tuba, abundância." Adiante, apontando eu
"S.M. o Imperador, espírito altamente reto e justiceiro, se
Guarapuava para possível e futura capital da província dos Campos
dignará responder a esta questão.
Gerais, que se desanexaria da do Paraná apôs esta simples palavra:
"O preso a que nos referimos, Senhor, é o infeliz Francisco
"Pensar". E ao lado do elogio aos trabalhos da repartição telegráfica
da Silva Araújo, que há 24 anos está dando provas evidentes da sua
e ao seu chefe, conselheiro barão de Capanema, escreveu: "Com toda
morigeração e bons costumes, o que lhe tem merecido a estima de
a justiça". Ao nome Ivaí deu a etimologia: ''Ibá ou ubá, árvore,
todos que o conhecem e a bondade com que sempre tem sido trata-
madeira; hi, água, rio".
do pelos diversos comandantes da fortaleza da Barra."
À página 25, tendo eu empregado o vocábulo ancenúbio,
elegante e necessário neologismo proposto pelo dr. Castro Lopes,
'NOTAS DE D. PEDRO II ÀS "CURIOSIDADES
para exprimir o galicismo nuança, reparou o imperador: "Ê a
NATURAIS DO PARANÁ"
primeira vez que leio esta palavra. Parece significar nuvem e marco."
a
A página 26, referindo-me à fotografia da catadupa do rio
A 10 de abril de 1890 publiquei no tomo 53, parte 2. , da
dos Patos, que denominei Salto Visconde do Rio Branco, observou:
Revista Trimestral do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro,
"Não a conheço".
descrição um tanto minuciosa de várias Curiosidades naturais do
A página 27, escrevi "Valente e perdurável impressão tiveram
Paraná, que mais atenção me mereceram em minhas viagens, quan-
todos, quando voltando-me para os companheiros da excursão,
do presidente daquela circunscrição administrativa, de 28 de setem-
exclamei com voz forte: "Esta catadupa terá o nome de Salto do
bro de 1885 a 4 de maio de 1886.
Visconde do Rio Branco". Então, uma saudade funda e travada de
Mandando tirar exemplares em separado, enviei, a 31 de
indizível gratidão pungiu o coração dos brasileiros que se achavam
maio daquele ano de 1890, um desses folhetos à Sua Magestade, o
naquelas solidões, e todas as grandezas da natureza inconsciente,
sr. d. Pedro II, não só como respeitosíssimo preito ao ilustre exilado
aquelas revoltas e estrondeantes águas, aquelas imensas rochas, aque-
e ínclito soberano, mas também em obediência às ordens que me
les solenes e colossais gigantes da floresta, tudo, tudo se abateu e
dera de escrever quanto pudesse a respeito do Brasil, e logo lh'o
ficou pequeno ante a estatura moral do estadista, cuja recordação o
remetesse.
seu glorioso nome evocava no meio de ínvios sertões. Sua Magestade
Meses depois, recebi esse exemplar anotado, e, seguindo o
observou: "Tudo isto é muito justo. Os serviços que Paranhos

21
HSBC — É l / i . M I
D.PEDRO II NO PARANÁ 1880

prestou ao Brasil foram muitíssimos. Conheci-o desde quando o A página 46, a respeito do barão de Antonina (João da Silva
ouvi dar lição de Física na Academia Militar, vivendo êle por favor Machado), observou: "muito o conheci e apreciei." Itaúba, pedra-
em S. Bento e sendo já substituto da Escola de Marinha. Ainda não pau".
conheci pessoa mais inteligente e perspicaz, nem mesmo na Europa". A página 47, a propósito do nome Santa Rita Durão, que dei
À página 29, explicou a palavra Itaqui: - "Itá, pedra, cui, a um espraiado do rio Iguaçu, anotou: - "Prefiro o seu Caramuru ao
areia". Uruguay. Já o soube quase de cor, e para não encher papel não escre-
A página 31, a propósito dos horrorosos escândalos havidos vo aqui a descrição das frutas do Brasil... Brasil ! Quando olho de
na chamada colonização russa em 1878 e 1879, Sua Magestade Cannes o mar, logo dele me lembro, separado
declarou à margem: "por esse longo espaço, imenso d'água."
"Tem toda a razão, verifiquei por meus olhos os abusos, Parece que este verso do poema não acaba. E em nota:
embora procurassem arredar-me desses lugares. Não cessarei de "Visitei a casa onde nasceu", em Cata Preta, arraial de Nossa S. de
recomendar, ou antes, de aconselhar todo o cuidado com o serviço Nazareth do Infeccionado.
da imigração, e desejaria ser informado do que se houver feito e Como última nota à pág. 53, dizendo eu do Sr. Francisco
queiram fazer. Prestarei de bom grado os serviços que puder aqui". Fasce Fontana: "E um dos homens mais inteligentes, mais bem
A página 35, explicou as palavras lambari e tayabuçú, do intencionados e úteis de Curitiba", sua Magestade observou: "É.
seguinte modo: "Ará, dia, mbá, coisa; i água. Não será udra mbd Muito o conheci. Naquela cidade visitei o seu engenho de erva
habitante, mirim, pequeno, i, rio; pequeno habitante do rio ? O gen- mate."
itivo precede sempre. Tá ou itá, pedra, ia, tara e u-ara, comedor; uçú Ao terminar, tomo a deliberação de oferecer ao Instituto
e não uai, assú, grande ?" Histórico e Geográfico Brasileiro o presente exemplar, tornado pre-
A página 36, quando à gerivd: - "gê, amarelo, Ibá ou ubá, cioso pelas notas, ora transcritas.
árvore." Tenho por sem dúvida que essa Associação dedica vivo e
À página 37, a propósito de tacuára, poçáuna, e caraá: "Itá, constante empenho em zelar, com o máximo estremecimento, tudo
pedra, coara, buraco. Pó, mão, a ára sufixo agente; una, preto, de quanto se refere ao sr. d. Pedro II e à sua memória nutrindo ela jus-
mão fazedor apoio preto. Proponho somente. Não posso explicar a tos motivos de orgulho, gratidão e pungimento, por ter merecido
etimologia carará, corruptela já de outra corruptela carana por caarh- desse homem extraordinário, desse inolvidável soberano, incessantes
. na, a similhança do mato, falso mato". provas de entranhado afeto e do mais paternal carinho até aos últi-
A página 41, a palavra capivara explicou: "Caa, mato; pi, de mos momentos da sua excepcional existência, já no fastígio do poder
pé, uará, comedor, roedor". e rodeado das zumbaias da felicidade, já no duro exílio e nas horas
A página 42, ao vocábulo Potinga: "Mbo, coisa, tinga, bran- de crudelíssimas provações.
co; - camarada branco ? Guarapuava de U-ara, voador, puá, poan, A rememoração daquelas singelas e valiosas notas será mais
redondo (donde caápoan, capão; caá, mato, poan, redondo ou tam- uma homenagem ao espírito largo, amplo, magnânimo e à
bém paún, cercado, fechado), aba terminação indicativa de lugar, serenidade divinal de Quem, nas mais penosas vicissitudes, arredan-
isto é, pássaro redondo lugar". do de si todas as pretenções humanas, alheio a elas e entregue só aos
Ao vocábulo bugres, usado à pág. 43, observou: seus nobilíssimos pensamentos e às suas meditações repassadas de
"Creio que assim chamaram da palavra francesa, provinda sublime amor à pátria, grangeou a admiração e o enternecido
do nome do povo búlgaro, que tinha esses hábitos de vagabundagem respeito do Mundo inteiro - deslumbrante e nova coroação de uma
e correrias". vida, que faz a glória do Brasil e da Humanidade.
Nessa mesma página, dizendo eu do visconde de Guara-
puava: (Extraído da "Revista do Instituto Histórico e Geográfico
"E um brasileiro que honra o Brasil inteiro. Com a mais viva Brasileiro" - Tomo II - 1916 - Págs. 89 a 94").
satisfação aqui lhe fica prestada esta homenagem de elevadíssimo
apreço e admiração. O seu nome é Antônio de Sá Camargo". Sua
Magestade escreveu: "Tem razão".
A página 44, ao lado das ligeiras notas biográficas relativas ao • AGOSTINHO ERMELINO DE LEÃO - Filho do ma-
meu venerando pai Felix Emílio Taunay, barão de Taunay, falecido a gistrado e conselheiro do mesmo nome, nasceu em Paranaguá em 25
10 de abril de 1881, disse Sua Magestade: "Devo-lhe muitíssimo, de março de 1834 e falceu em Curitiba a 28 de junho de 1901.
principalmente quanto ao amor do belo e seu cultivo". E traduziu o Formou-se em direito em Recife (3-XII-57), foi juiz, vice-presidente
epitáfio por êle próprio feito e gravado na pedra mármore do seu da província, chefe de polícia, fundador do Museu Paranaense, do
túmulo (Cemitério S. João Batista): teatro S. Teodoro e de vários sodalícios literários. Homem útil e
modesto recusou os ttulos de conselheiro e de barão.
"Philologue, à demi poete,
Spectateur éternel du beau, • AGOSTINHO PEREIRA ALVES (Cel.) - O capitão,
Je perdis mon temps à sa quête... depois coronel Agostinho Pereira Aves era casado com Dona
Un doux regard sur mon tombeau." Balbina de Siqueira Pereira Aves. Filho de Antônio José Pereira, já
do seguindo modo: nascido em Paranaguá. Oficial da Guarda Nacional, prestou serviços
locais durante a guerra do Paraguai. Foi negociante e chegou a ser
iva, Filólogo, meio poeta, homem de posses, deixando nome respeitado.
lascido E do belo sempre cultor,
asado
Tempo perdi com essa meta... ALFREDO CAETANO MUNHOZ ......
Olhai-me a tumba com amor.'' a 4 de fevereiro de 1845. Foi funcionário fiscal e comendador da
elho
Ordem da Rosa. Publicou a revista "Luz" - e por sua causa teve opor-
oa
^' A página 45, a propósito do visconde de Beaurepaire tunidade de manter relações com cientistas estrangeiros. Faleceu em
10 de Roham, que elogiei, esboçando mui ligeiramente os traços biográfi- começo do presente século.
cos, acrescentou: "Nunca poderá dizer bastante de quem tanto esti-
mo." ANTÔNIO ALVES DE OLIVEIRA (Major) - Com este

22
GAZETA DO POVO
DAVI CARNEIRO

nome não se conhece nenhum major da Guarda Nacional no Paraná. irmão do Marquês da Gávea, e de sua mulher dona Libânia Carneiro
Talvez se trate de Antônio Caetano de Oliveira, cavaleiro da ordem da Silva, dona Joaquina da Fonseca Costa nasceu a 18 de novembro de
da rosa, irmão do conselheiro Jesuíno Marcondes, comerciante na 1808 e faleceu a 4 de junho de 1896, no Rio de Janeiro. Foi áia da
Palmeira e na Lapa, tendo exercido vários cargos públicos. Faleceu em imperatriz e dama a seu serviço desde 1846.
1886, tendo nascido em 1833 na Palmeira.
BENEDITO ENÉAS DE PAULA (Cel.) - Chefe libera.
ANTÔNIO ALVES DE ARAUJO - Irmão do ministro da Nasceu em Curitiba a 15 de fevereiro de 1825. Deputado provincial.
agricultura e conselheiro dr. Manoel Alves de Araujo, Antônio Alves Tesoureiro, vereador, presidente da Câmara, juiz de paz, proprietário,
era filho do capitão Hipólito J. Alves, comandante de milícias e riquís- residia à praça da Ordem, em Curitiba.
simo industrial em Morretes e Antonina. Deputado na Assembléia
Provincial foi, quase sempre escolhido para presidí-la. Formado em
direito em São Paulo, foi juiz suplente e delegado em Antonina. Foi
comandante da Guarda Nacional desde sua organização independente CAETANO GOMES HENRIQUES - Comerciante. Figura
em 1855, e mais tarde chegou a ser vice-presidente da província. Era influente da cidade em que viveu. Nascido em Portugal.
chefe liberal. Comendador das ordens de Cristo e Rosa, foi das pessoas
paranaenses mais viajadas do seu tempo, tendo falecido muito moço, CONSELHEIRO BUARQUE DE MACEDO - Ministro da
em 1888, na Palmeira, quando constituía uma grande esperança para a Agricultura. Manoel Buarque de Macedo, nasceu no Recife em 1837;
Província do Paraná. morreu em S. João Del Rey, em Minas Gerais, quando, ainda como
ministro da agricultura ia com d. Pedro II assistir à inauguração da
ANTÔNIO MARTINS FRANCO - Comerciante português estrada de ferro de Oeste, vítima de congestão pulmonar, em conse-
abastado, comendador da ordem da Rosa depois da viagem imperial. qüência de resfriado. Bacharel em matemática em 1856, pela Escola
Deixou no Paraná numerosa descendência. Central, era bacharel em leis por Bruxelas (Universidade). Professor do
Colégio Pedro II, deputado,
ANTÔNIO PIRES DE secretário ou adido de legação,
CARVALHO E ALBUQUERQUE escreveu várias obras técnicas,
- Doutor e general médico baiano econômicas e políticas.
que serviu muitos anos na guarnição Nota da Redação:
de Curitiba e constituiu família David Carneiro lista 41 maioriais D
a
esposando D. Iria Muricy que fora
casada anteriormente com o fundador da província, DANTAS FILHO (DR.)
da Santa Casa de Misericórdia. na época (1880). Entre eles, — Manoel Pinto de Souza Dantas
Filho. Presidente da Província do
ANTONIO RICARDO
Ermelino de Leão, Augusto Stellfeld, Paraná. Nascido em 1845, na
LUSTOSA DE ANDRADE - Ildefonso Correia (o barãodo Serro Azul), Bahia, era Souza Dantas estadista
Liberal. Nasceu em Curitiba em do fim do Impétio, e filho de
1823, filho do comendador Antônio
Leocádio Correia e o visconde estadista do mesmo nome.
Ricardo Lustosa de Andrade, tenente (mais tarde almirante) de Tamandaré, Fotmado em direito no Rio, foi
coronel da Guarda Nacional, comen- deputado várias vezes, presidindo
foaquim Marques Lisboa.
dador da Rosa, ocupou vários cargos várias províncias do império.
públicos de destaque e escreveu uma
monografia sobre a Igreja da Ordem
a
3. de São Francisco das Chagas de
Curitiba. Faleceu em 29 de novembro de 1884. FLORINDO DA MOTA BANDEIRA E SILVA - Alferes.
ANTÔNIO RICARDO DOS SANTOS - Comendador. Veterano da Guerra do Paraguai.
Nasceu em Morretes em 22 de novembro de 1819, filho do sargento mór FRANCISCO ALVES GUIMARÃES - Doutor. Foi juiz de
do mesmo nome. Industrial de mate, o homem mais rico do seu tempo. direito na Lapa e em Uruguaiana. Era filho de João Francisco
a
Vice-presidente da província, comendador da Rosa. Faleceu em 17 de Guimarães e de D . Francisca de Paula Santos. Formado em direito
novembro de 1888. em São Paulo, 1867. Deputado provincial e cavaleiro da ordem da
rosa. Nasceu em S. José dos Pinhais a 1.° de abril de 1845 e faleceu a
AUGUSTO STELLFELD - Capitão. Alemão, farmacêutico, vet- 3 de setembro de 1890.
erano da guerra da Dinamarca, naturalizado brasileiro, ocupou postos na
política, chegando a ser presidente da câmara de Curitiba. Foi benemérito FRANCISCO J. DE OLIVEIRA - Comerciante, brasileiro,
por ocasião da campanha do Paraguai. Teve a comenda da Rosa. irmão mais moço e sócio de Manoel José de Oliveira, outro compan-
heiro de Manoel Ricardo Carneiro no caso do Cruzador Cormorant.
B
I
BARÃO DE MACEIÓ - Dr. Antônio Teixeira da Rocha, for-
mado em medicina na Bahia, em 1846, sendo natural de Alagoas, foi ILDEFONSO PEREiRACORREIA - Barão do Serro Azul.
feito lente catedrático de histologia na Faculdade do Rio de Janeiro. É demasiado conhecida para que se detalhe sua vida nestas notas elu-
Médico da imperial câmara, e conselheiro de S.M. I. Comendador da cidativas.
ordem de Cristo e cavaleiro da Rosa.
J
BARONESA DA FONSECA COSTA - Depois viscondessa
do mesmo nome, com grandeza. Filha de José Maria da Fonseca Costa, JOÃO BATISTA RIBEIRO •

23

H S B C dü^
D.PEDRO II NO PARANÁ 1880

(ILUSTRAÇÃO)

Fac-simile da carta escrita pelo imperador ao Barão Homem de Mello, Ministro da Justiça, a respeito da distribuição de comendas no Paraná.

24
GAZETA DO POVO
DAVÍ CARNEIRO

fevereiro de 1848, na casa 67 da rua que tem seu nome em Paranaguá.


a
JOÃO CAETANO DE SOUZA - Comerciante paranaguense, Filho de Manoel José Correia e sua mulher D . Gertrudes Pereira
um dos companheiros de Manoel Ricardo dos Santos, digo, Carneiro, na Correia. Fêz curso de humanidades no seminário de São Paulo, e quan-
desafronta ao Cormorant como patriota exaltado. do estava para se ordenar resolveu estudar medicina, formando-se na
Faculdade do Rio a 20 de dezembro de 1873. Casou-se com sua prima
JOÃO JOSÉ PEDROSA - Paranaense ilustre. Foi presidente de dona Carmela de Cisneiros Correia a 29 de agosto de 1874. Foi médi-
sua província natal, e das províncias do Pará e Mato Grosso. Nasceu em co da Santa Casa e deputado provincial. Médico humanitário, literato
1845 e faleceu em 1882, quando lhe era oferecida a pasta da Justiça. Foi um notável, faleceu prematuramente, de febre perniciosa, a 18 de maio de
dos mais destacados presidentes do Paraná, (como província) propugnan- 1886 em Paranaguá.
do pela instrução pública primária.
LEOPOLDINA WERNA DE MAGALHÃES BARBOSA -
JOÃO MANOEL DA SILVA BRAGA - Tenente coronel da Aia da imperatriz e dama do paço. Não foi possível obter dados mais
a
Guarda Nacional da Lapa, comerciante abastado, nasceu na Lapa onde veio explícitos sobre esta senhora que acompanhou D . Tereza Cristina em
a
a contrair núpcias com D . Francisca Luiza da Cunha Braga. Deixou 1880.
grande descendência.
LUIZ BARRETO CORRÊA DE MENEZES - Doutor.
JOAQUIM MARIANO FERREIRA - Comerciante em
Paranaguá, sócio do Sr. Teodorico Júlio dos Santos. Mais tarde transferiu- LUIZ MANOEL AGNER - Major. Velho Maneco Padeiro,
se para Curitiba onde possuiu uma casa de comestíveis. veterano da guerra do Paraguai, estabelecido em Curitiba, vindo com
pouca idade da Alemanha.
JOAQUIM REZENDE CORRÊA DE LACERDA (Tenente)
- Nascido na Lapa a 29 de março de 1845, filho do português Manoel M
a
José Corrêa de Lacerda e D . Leocádia de Rezende, foi elemento presti-
giosíssimo da Lapa e do Estado do Paraná. Alferes da Guarda Nacional MANOEL ALVES DE ARAUJO - Conselheiro. Nasceu em
desde 1865, e encarregado da instrução militar dos que foram para a Morretes a 19 de março de 1836. Bacharel em direito pela Faculdade de
Guerra do Paraguai como voluntários e guardas nacionais, era êle São Paulo, formou-se em 1859. Advogado e jornalista em Paranaguá.
homem instruído — ex-aluno de Frederico Guilherme Virmond - saben- Deputado e presidente da Assembléia provincial do Paraná em várias
do francês e alemão, o desenho e a música, como discípulo de Artur legislaturas. Foi ministro da Agricultura, comércio e obras públicas em
Napoleão. Casado com senhora de supreendente beleza, oriunda da 1881. Foi conselheiro, comendador da ordem da Rosa, e presidiu a
Lagoa Vermelha - Rio Grande do Sul - só teve dela um filho, falecido província de Pernambuco. Chefe liberal importante, era casado, desde
em 1940. 1862, com Dona Maria Coleta dos Santos Araujo, filha do Barão dos
Comendador (por graça de 1889 - Outubro) da ordem da rosa, Campos Gerais. Deixou descendentes ilustres, entre os quais brilhou na
foi republicano exaltado, coronel arvorado para a defesa da República diplomacia o Dr. Embaixador Hipólito Alves de Araujo, ministro
a
contra a invasão federalista, foi comandante da 2 . brigada durante a penipontenciário e embaixador do Brasil, servindo em várias capitais da
resistência. Depois da morte do General Gomes Carneiro, capitulando Europa e da Ásia.
a praça a 11 de fevereiro de 1894, fugiu pelo Varadouro, para São Paulo O conselheiro Alves de Araujo erafilhodo abastado negociante
e Rio. Foi acusado, respondeu a conselho de guerra, e esmagou-com a
Cap. Hipólito José Alves e de D . Maria Rosa Alves. Neto paterno do
extrema superioridade aos seus acusadores, sendo nomeado coronel ho- capitão mór Manoel José Alves e neto materno do sargento mór Antônio
norário do exército por seus atos de valor durante o cerco da Lapa em José de Carvalho. Residiu também em Antonina, na chácara do Areião,
defesa da República. Patente do Marechal Floriano Peixoto. caminho do Itapema. Era irmão do comendador Araújo.
Foi mais tarde senador, e por pouco teria resultado da sua inter-
venção prestigiosa, um acordo de limites entre Paraná e Santa Catarina, MANOEL BERNARDINO PEREIRA - Comerciante em
menos injusto do que o que mais tarde foi aceito. Faleceu em 1905, de Paranaguá.
uma operação melindrosa, na mesma casa em que nasceu.
MANOEL PACHECO DE CARVALHO - Major.
JOAQUIM DE ALMEIDA FARIA SOBRINHO - Ex-presi- Desconhecido com esse nome. É possível que se haja mudado da Lapa,
dente da Província do Paraná. Comendador da rosa. Formando em de forma que os mais velhos do lugar, bem como Ermelino e Feo. Negrão
Direito, foi juiz e ingressando na política teve prestígio. não dão informações.

JOSÉ CAETANO DE ANDRADE PINTO - MANOEL PEDRO DOS SANTOS LIMA - Doutor. Médico
Desembargador da relação na corte e veador de S.M.I - , nascido no Rio ilustre, nascido na Lapa a 29 de junho de 1843, casou-se a 8 de janeiro
a
em 1834 e morto em 1890, bacharel em letras pelo Colégio Pedro II e de 1868 com D . Maria Clara de Oliveira Lima, tendo-se formado no
formado em direito em 1856, em São Paulo. Escreveu vários livros de Rio de Janeiro em 1865. Foi membro do partido liberal, presidente da
direito, em 1856 em São Paulo. Escreveu vários de direito, um sobre municipalidade de sua cidade natal, inspetor escolar e provecto professor
Atribuições dos presidentes de província e uma comédia, Adulação e o a ensinar sempre sem remuneração. Foi apóstolo de sua profissão, tomou
ouro. o partido federalista em 1894. Faleceu a 1.° de setembro de 1898.
Filho do Dr. José Gaspar dos Santos Lima o primeiro bacharel
JOSÉ LOURENÇO DE SÁ RIBAS (Dr.) - Bacharel. formado, do Paraná. (Foi juiz em Minas, São Paulo e Rio Grande), e
dona Ana Messias de Oliveira Lima - de Itú.
JOSÉ RODRIGUES - Filho do tenente José Rodrigues Branco
e por êle reconhecido em testamento de 16 de agosto de 1848, foi casa- P
a
do com D . Francisca Lobo. Era despachante da alfândega de Paranaguá
e camarista em 1880. PRESCILIANO DA SILVA CORREIA - Nasceu em Paranaguá
em 1851 e morreu fuzilado, a 20 de maio de 1894, no trágico quilômetro
L 65 da estrada de ferro Paranaguá-Curitiba. Filho de José Francisco Correia,
2.° filho do terceiro matrimônio de Manoel Francisco Correia - o velho.
LEOCÃDIO JOSÉ CORREIA (Dr.) - Nasceu a 16 de Foi republicano exaltado, e ativo industrial e comerciante.

H S B C <X> SE*
D . P E D R O II NO PARANÁ 1880

T Auto de visita de S.M.O. Imperador

TERTULIANO TEIXEIRA DE FREITAS - Filho do grande Aos vinte três de maio do Ano do Nascimento de Nosso Senhor
jurista autor do código civil (projeto). Foi juiz em Curitiba, professor de Jesus Cristo de mil otocentos e oitenta n esta Cidade de Curitiba, no Paço
matemática, chefe de polícia durante o período federalista de 1894. da Câmara Municipal compareceu Sua Magestade O Imperador afim de
visitar esta repartição e aí presente o Presidente da Câmara e os Vereadores
V abaixo assinados com os empregados desta Secretaria foi esta franqueada ao
mesmo Augusto senhor do que para constar eu Romão Rodrigues de
VISCONDE DE TAMANDARÉ - Joaquim Marques Lisboa. Oliveira Branco Secretário da Câmara o escrevi.
Almirante, depois conde e marques do mesmo título. Nasceu na província
do Rio Grande do Sul a 13 de dezembro de 1807 e faleceu no Rio a 29 de D. Pedro 2.°
marco de 1897. Voluntário na esquadra desde 1823, esteve em todas as M.P de Souza Dantas Filho
campanhas externas do Brasil, chegando a almirante por bravura. Ajudante Visconde de Tamandaré
de campo de S.M.I. - Conselheiro - Grão Cruz da Rosa de S. Bento de Luiz Barreto Corrêa de Menezes
Aviz, dignatário do Cruzeiro, medalha da restauração da Bahia, ouro de Tertuliano Teixeira de Freitas
Paisandú e Uruguaiana, geral da Campanha do Paraguai com passador de Floriando da Motta Bandeira e Silva
outro n.° 5. a
Romão Rodrigues 01iv . Branco.

SESSÃO EXTRAORDINÁRIA Ipiranga, 11 de outubro de 1939.


DE 7 DE MAIO DE 1880
Prezado am.° Heitor.
"O Presidente declarou que o motivo desta sessão era as resoluções Saúde e paz de espírito.
necessárias ao festejo que deve a Câmara fazer com a chegada de SS.MM.II. Aqui estou passando uma temporada n esta cidade, onde possuo
que deverão partir da Corte no dia 17 do corrente, e por isso indicava: 1.° — uma confortável vivenda.
que a Câmara tendo de tomar parte nos ditos festejos, designasse dois de seus Dando tratos a minha velha bola, consegui recordar-me da poesia
membros para os dirigir e nibricar as contas apresentadas. 2.° - Que a Câmara que, com um hino musical, cantamos nós, os discípulos da escola do
pusesse à disposição da Comissão de festejos e dos dois membros designados, saudoso professor José Agostinho dos Santos, ao Imperador D. Pedro 2.°,
uma quantia qualquer. 3.° - que os dois ajudantes de Engenheiro e este tra- por ocasião da visita Imperial a nossa tão amada Palmeira, isto à 62 anos
balhassem por esses dias auxiliando os festejos no que fôr exigido pelos passados, mais ou menos.
Vereadores designados de acordo com a comissão. 4.° - Que se convide os Os versos teriam sido feitos pelos maiorais da Palmeira àquele
, habitantes desta Cidade para iluminarem as frentes de suas casas nos três tempo.
primeiros dias da estada de SS.MM. Imperiais nesta Capital. A música do hino, é de autoria do nosso saudoso e grande
A Câmara por indicação do Vereador Lins Ferreira designou os musicista palmeirense Manoel Christino dos Santos.
Vereadores Teixeira de Freitas e Mota Bandeira e Silva para encarregar-se dos Conhecendo o acendrado amor que V vota a nossa Palmeira, ofe-
festejos de acordo com a Comissão respectiva. A Câmara resolveu que durante reço-lhe a poesia aludida e prometo em tempo conseguir a música do hino.
os festejos se tire o arame farpado que cerca a praça da matriz.
A Câmara pôs à disposição da Comissão defestejosa importância Abraços do seu velho am.°
de8:000$000."
Ata de 5 de junho de 1880. VICENTE F. DE CASTRO.
A Câmara dirigiu à S.M. Imperial na entrada da Cidade a seguinte
fala: Vae em separado a poesia.
"Senhor! A Câmara Municipal desta Capital, comofielintérprete Parece-me que devia dizer versos e, não poesia.
de seus munícipes, possuída de entusiasmo, Vos franqueia à Cidade entre-
gando-vos a sua cheve. A Vossa Magnanimidade, e o renome que tendes nas Salvo o dia venturoso
páginas douradas do vosso sábio reinado, admirado por todos os vossos De gratas recordações
súditos e pelas nações cultas, são os títulos que vos elevam na mais alta esti- Que este povo guardará
ma, distinta consideração e respeito que vos tributa o país inteiro. As man- Gravadas nos corações.
ifestações que vedes estão aquém da veneração que devemos à Vossa Pessoa.
Recebei-as, pois, como simples homenagem de um povo livre ao seu sábio Contentes entoemos
Monarca." Um hino de amor
Na mesma sessão foi lido um ofício do Snr. Ministro Unidos saudemos
dAgricultura, Comércio e Obras Públicas nos seguintes termos: "limos, O Augusto viajor.
Snrs. S.M.O Imperador manda agradecer a essa Câmara e a seus Munícipes
as demonstrações de regozijo que hão manifestado pela Sua estada nesta Deus conceda ao Soberano
Capital; o que faço com todo o prazer e em resposta a felicitação dirigida ao Robustez e, em longa idade
mesmo Augusto Senhor. Curitiba, 23 de maio de 1880". Para escudo da Nação
À 3 1/2 horas da tarde do dia 18 de maio entrou na barra o trans- E, apoio da liberdade.
porte que conduzia SS.MM. Imperiais, conforme telegrama passado nesse
dia, de Paranaguá, por M.E de Souza Dantas Filho. (Pres. da Prov.) Contentes etc. st
SS.MM.II. acabam de desembarcar 7 1/2 da tarde. Grandes demonstrações
de regozijo. M.R de Souza Dantas Filho. Seja o nosso Soberano
Sessão de 5 de junho de 1880. Reduto fortificado
Manifestação de apreço. "A Câmara Municipal desta Cidade como Forte arquivo de adesões
prova de aprêco e comemoração da auspiciosa visita Imperial a esta Ao Monarca idolatrado.
Província, resolveu que o largo da Matriz se passe a chamar "Praça de Pedro
2.°" — a rua das Flores "Rua da Imperatriz" e a rua do Comércio "Rua do Contentes etc.
Imperador".

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GAZETA DO POVO
DAVÍ CARNEIRO

ÍNDICE

A viagem de D . Pedro II ao Paraná em 1880

PÁGS.

Prefácio - 3
Constas e motivos da viagem imperial 5
Notícias do embarque; impressões; mordacidade da Revista Ilustrada e convites em Paranaguá 9
Paranaguá 15
Chegada a Paranaguá; programa geral; festejos iniciais; perturbações de programa; pessoas ilustres do lugar 17
Dias de Paranaguá, banquete do Barão de Nácar; baile a SS.MM.Il. e suas visitas; descrição final da estadia na cidade 23
Antonina 29
Viagem pela baía de Paranaguá e suas belezas. Chegada a Antonina. Festas e episódios; partida para o
Rio do Meio; programa de festejos em Curitiba 31
S. João - Rio do Meio - Florestal 37
Viagem de subida; peripécias e descrições. São João da Graciosa e a noite em Rio do Meio 39
Curitiba 45
Chegada à capital; discursos; hospedagem 47
Festejos em Curitiba; visitas, o museu, o instituto paranaense a Santa Casa; discurso de inauguração 55
Visitas continuam. Escolas. Chácara Capanema; te Deum com panegírico de corpo presente; o dia 13 de Maio 65
Campo Largo 71
Notícias de baile e itinerário; Campo Largo e a viagem continua 73
Palmeira 77
Convite dos lapeanos; S. Luiz do Purunã; o Capão da Anta; o Comendador Roseira 79
Ponta Grossa 89
Chegada a Ponta Grossa; hospedagem; visitas; caminhada 91
Castro-Ponta Grossa e Palmeira 97
Chegada a Castro; notícias; volta; o ato do Major Ferreira; o baronato; marcha para Palmeira 99
Lapa - Curitiba 105
Caiacanga; Colônia Joanisdorf; Lapa , 107
O Regresso 115
Partida para Morretes; Porto de Cima; os dias 3 e 4 de junho; Antonina; despedidas 117
A viagem de volta; Paranaguá; o baile; o discurso; ecos 125
Conclusão 133
Anexos 135
índice onomástico de maiorais da província em 1880 142

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HSBCm

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