Vilarejo do mar, 7 de março de 2019.

Prezado leitor,

No decorrer da minha vida, eu conheci os mais diversificados heróis que o cinema e as HQ’s me
apresentaram – desde o que veste uma armadura, até o que empunha um martelo. Assisti a eles
salvarem seus mundos tantas vezes, que me senti acolhida pela mensagem virtuosa que cada um
passava. Mas minha verdadeira heroína não saiu das HQ’s nem veste uma roupa de alta tecnologia.
Cristal é uma voluntária que luta em causas por crianças ao redor do mundo e tem uma vontade
inexplicável de fazer a diferença.
A inspiração de Cristal para se tornar uma voluntária sempre foram as pessoas que lutaram e
lutam até hoje contra a opressão das crianças e jovens e pelo direito de todos à educação. Isso foi o que
sempre lhe impulsionou e lhe deu forças para perseguir os seus ideais.
Quando pensamos em mundo melhor, deparamo-nos com um usual vilão: o descaso. Ele é
egocêntrico, manipulador e está sempre disposto a dominar tudo o que há à sua frente, deixando crianças
com fome, pessoas refugiadas, cidades destruídas e dor por onde passa. E eu sempre sonhei com uma
heroína que transformasse o descaso em pó, uma heroína genuína que estivesse preparada para
qualquer desafio, que em seu coração o amor dominasse mais que a ganância. E cá estou eu, escrevendo
uma carta sobre ela, e espero que você seja tão gentil e corajoso como minha heroína.
Em seu planeta, crianças vivem em condições precárias devido à guerra incessante. Muitas
tiveram suas vidas dilaceradas pela dor e pela miséria. A calamidade grita e o choro é abafado. Para
amenizar esse sofrimento, Cristal oferece atendimento psicológico para essas crianças, utilizando a
leitura de mensagens de apoio e compaixão, escritas por outras crianças de todo o mundo. Mensagens
que ajudarão essas crianças a reconfortarem seus corações em meio ao caos em que vivem.
O índice de crianças morrendo por falta de alimento e medicação em seu planeta é absurdamente
alto. Muitas dessas crianças não têm vestimentas nem calçados, não sabem ler nem escrever, e seus
olhos brilham pedindo amor e atenção. Através da educação, Cristal busca ensinar essas crianças a
lutarem pelo que elas acham certo. Ela as ensina a escrever no papel, mas deseja que essas crianças
escrevam sua nova história de vida, que deixem a miséria do seu passado no mais distante lugar do seu
subconsciente. Minha heroína demonstra o poder das palavras, como elas podem mudar o mundo de
alguém e o quão fortes elas podem ser – capazes de ferir e de curar.
Cristal viajou por diversos locais, viu a guerra, viu pessoas em estados desumanos, mas também
viu a força dos povos que tentam superar suas perdas, sua fome e sua dor. Ela presenciou reencontros
e despedidas, presenciou o luto e a felicidade. Ela sabe que uma parte de sua população não tem acesso
a uma sala de aula e bons professores, lugares remotos cheios de pessoas simples, mas que escondem
dentro de si uma força e inteligência incomparável. Ela luta para que a educação seja um direito garantido
a todos, que seja assegurado até no lugar mais frio, se lá existirem mentes pensantes, pois não existe
força maior que a educação. E, quando o mundo descobre o quão transformadora a educação pode ser,
o descaso não tem vez, não tem voz, não tem força.
Uma vez alguém me disse: “Você pode criar o herói que quiser e fazê-lo real se assim desejar.”
Eis, então, a Cristal – a minha heroína, a personificação pura da esperança! Sua aura é limpa e brilhante,
não usa capa, não voa: ela espalha amor. É a heroína que o mundo precisa, alguém humano o bastante
para entender que as situações degradantes em que deixamos as pessoas viverem não é certo, que suas
vidas e suas escolhas devem ser livres, que a paz deve ser dada e não comprada ao custo de suas vidas.
“Eu tenho um sonho”, disse Martin Luther King em seu feroz discurso sobre segregação racial. Cristal
também tem um sonho: que os direitos essenciais à vida devem ser assegurados efetivamente às
crianças, pois, se elas morrerem nas mãos do descaso, o mundo inteiro padecerá.
Portanto, caro leitor, peço que faça a minha heroína real, para que nós possamos acreditar em
um lugar melhor para se viver – em um lugar melhor para as crianças viverem. Mantenha viva a
esperança de um mundo melhor, de uma sociedade mais justa e da transformação dos nossos sonhos
em realidade! Nós podemos ver o mundo como novos olhos, um mundo no qual a educação seja o pilar
transformador e que o amor seja cada vez mais demonstrado.
Sim, nós podemos! Todos nós podemos ser heróis, podemos fazer a diferença no mundo de
alguém, e nada pode ser tão gratificante quanto nos levantar para ajudarmos outras pessoas a se
levantarem também!
Sejamos, então, os super-heróis de um novo mundo!

Esperançosamente,
O Girassol de Van Gogh

(Carta de Camile Doarte – vencedora estadual 2019)