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Mais Um Entre Bilhões

Me lembro das histórias que me contavam quando criança sobre grandes


cavaleiros montados em cavalos de guerra corajoso prontos para salvar a
princesa do mago maligno ou dragão tirano, sem temer o desafio à sua
frente e sempre se levantado depois de derrotado pelo bem maior. Eu
segui à risca como esses heróis foram em suas histórias, me tornei algo
que meus pais se orgulhariam talvez, más por que minha armadura não
brilha como a deles?
Não lembro do momento que nasci, porém lembro de como me senti
seguro e amado, se você parar para pensar, conhecer o amor como seu
primeiro conceito na vida significa que teve muito sorte logo de primeira.
Muito provavelmente uma mãe que te ame está com você nos braços
nesse momento e um pai que fará de tudo para proteger vocês dois está
observando a poucos metros dali com medo de machucar algo tão belo e
mágico como um ser vindo ao mundo. Eu tive a sorte de nascer nessa
família, com pais que queriam o meu bem a cima do deles, era algo
indescritível para mim as coisas que vivi e senti quando ainda aprendia a
andar, más nem tudo na minha foram coisas belas, o mundo que me
aguardava era cruel demais para meus pais conseguirem me proteger.
Mesmo que sacrificassem tudo que tinham, o universo não me daria
preferência, eu era apenas mais um entre bilhões e precisava lutar pelo
meu espaço.

Capítulo 1: Se Alcançar as Estrelas, Posso Sonhar?

Que minha vida não era perfeita isso era certeza, graças a situação das
favelas de Gdansk meus pais tinham que correr grande perigo todos os
dias para que eu pudesse dormir tranquilo todas as noites, eles me
ensinaram desde cedo que para pessoas como nós não restava tempo
para sonhar e sim lutar por mais um dia vivo, então sempre que ia dormir
eu olhava pela janela quebrada quarto para as estrelas e questionava se
fosse possível sair da lama e alcançar as estrelas, poderia sonhar com algo
a mais do que sobreviver? Hoje tenho uma resposta muito boa para isso.
Por sorte meus pais sempre conseguiram manter nossa família a salva de
qualquer problema da periferia graças as posições que ocupavam. Meu
pai era um médico que cuidava de todos da periferia a um preço
relativamente baixo comparando com seus concorrentes e para ganhar
uns ouras extras ele fez questão de aprender como mexer com cromos se
tornando um medicânico descente, já minha mãe era uma pessoa mais
comum nesse tópico, ela trabalhava em uma fábrica de químicos até um
incêndio a deixar com queimaduras que precisavam de muito para
recuperar, oque ocasionou na perda do seu emprego. A partir desse ponto
as coisas foram desmoronando ainda mais, próximo de completar seis
anos eu estava mais do que apto a trabalhar nas indústrias espalhadas
pela periferia e se eles não me entregassem por bem, seria por mal. As
corporações por trás daquelas fábricas pagavam bem as gangues que
trouxessem crianças para servi de mão obra, afinal por mais que
produzissem menos, o custo para mantê-las era ridiculamente menor do
que um adulto e elas eram mais fáceis de submeter. Foi uma luta
tremenda a procura de uma forma de me salvar desse destino até que
eles buscaram uma gangue como seu ultima recurso, meu pai se ofereceu
como médico dela em troca de proteção e assim conheci o grupo de
pessoas que teria uma influência decisiva no meu destino. Gdansk era
comandada por cinco poderosas gangues locais sendo quatro delas
escravagistas loucos por dinheiro e poder e uma lutando contra esse
sistema pobre, não preciso dizer qual escolhemos. Os “Wotjeck” eram
talvez a única gangue que estaria a disposta em confrontar as corporações
para salvar crianças de um futuro infeliz e quando entramos em contato,
eles nos aceitaram de braços abertos. O líder do grupo se chamava Heiko
Kaminsk enquanto seu braço direito e amor de sua vida se chamava
Anninka Kaminsk, devo admitir que a relação desses dois rivaliza com a do
meus pais, nunca vi duas pessoas tão apaixonadas sendo tão jovens. Pelos
anos que se passaram depois de nossa entrada os “Wotjeck” foram meus
heróis tirados de histórias em quadrinhos, eu os vi libertar crianças,
alimentar os que precisavam, dar segurança e conforto da maneira que
podia para todos em seu território, más é claro que não sabia na época a
parte ruim de ser membro de uma gangue. O sangue que sujava suas
mãos era interminável.
Capitulo 2: Apenas o Gatilho Mudou Tudo

Um ano havia passado sobe a segurança da gangue e tenho que dizer, foi
o ano mais calmo da minha vida, muitos membros tinham família então
existia várias crianças para fazer amizade, havia também uma escola e por
mais que ela fosse improvisada fazia seu trabalho da melhor maneira
possível. Foi nessa época que conheci as pessoas que chamaria de amigos,
uma coisa curiosa era que eles não tinham sobrenomes, apenas apelidos
que refletiam a sua essência da melhor maneira que conseguiam com sua
mente infantil. Assim conheci Patrick “Big Eye”, ele tinha esse apelido
porque sempre arranja briga e acabava ficando com um grande olho roxo,
diplomacia nunca foi seu forte, porém seu coração era puro e usava a
força para tentar fazer o certo mesmo se estivesse em desvantagem, em
segundo lugar tinha uma garota chamada Ksenia “Wind”, ela era uma
garota bem silenciosa porque perdeu a capacidade para falar, compensou
isso sendo uma garota bem expressiva e animada, silenciosa como o vento
e confortável como uma brisa, A terceira pessoa que conheci foi um
garoto chamado Blaise “Dirt”, sempre em busca de aventura nas
construções abandonadas da cidade, então voltava sujo de poeira e
serragem todas as vezes que voltava para casa, sua curiosidade pelo
mundo era algo admirável, por ultimo a pessoa que com certeza nos
manteve vivos enquanto brincávamos fora da zona segura, Yuliya “Sly” era
um ano mais velha que todos nós e tinha uma sagacidade de invejar até os
adultos, nós ensinou os melhores esconderijos e rotas fora da zona
segura. Essas crianças me mostraram como o mundo podia ser belo
mesmo tão ferrado na época, será impossível esquecer qualquer um
deles. Quando completei 8 anos de idade acreditei de coração que o
sonho onde eu vivia no momento nunca acabaria. Heiko e Anninka me
tratavam como um irmão mais novo enquanto me ensinavam mais e mais
sobre várias coisas uteis, como mexer em um computador ou celular,
entretanto eles nunca me ensinaram a atirar ou manusear qualquer outra
arma, de acordo com o líder o mundo que ele estava tentando criar era
para que eu não precisasse derramar sangue para sobreviver, um mundo
onde todos podiam viver com alguma igualdade. Meus pais se adaptaram
bem a vida com a gangue, minha mãe tinha virado uma mecânica eficiente
e meu pai se aperfeiçoou na arte de curar e cromar. Naquele mesmo ano
eu experimentei algo que marcaria meu ser para sempre, a sensação de
como era matar alguém, de como apenas o gatilho pôde mudar tudo. A
minha curiosidade me levou a um caminho se volta quando me separei
dos amigos para seguir alguns membros da gangue pareciam estar em
alguma tarefa, sempre quis saber para onde iriam e o que faziam então
esperei até todos se distraírem brincando e segui os membros buscando
algo divertido e emocionante, queria ver eles batendo nos vilões, salvando
pessoas ou algo heroico, eu queria ser como eles. Chegando no local me
deparei com uma espécie de negociação com outra gangue da cidade, até
hoje eu não conheço o conteúdo desse acordo, porém observando tudo
aquilo de longe eu percebi mais homens se aproximando furtivamente da
reunião deixando clara a armadilha. Conhecia os homens que iam morrer
naquele dia, sabia de suas famílias e do quão felizes eram naquele inferno,
então meu corpo respondeu por mim e corri na direção deles gritando
para avisa-los da emboscada. Enquanto me aproxima a onda de choque de
uma granada me jogou para o chão fazendo tudo dentro da minha cabeça
zunir, estava atordoado e o tiroteio não parava deixando tudo ainda mais
caótico para mim. Com toda a adrenalina do mundo corri em direção ao
carro mais próximo em busca de proteção contra as balas que passando
perto de ceifar minha vida, corri mais naqueles segundos do que na minha
vida toda e mesmo assim não senti cansaço. Foi ali que comecei a traçar o
caminho no qual estou agora, no momento em que um dos traficantes
inimigos foi atingido jogando seu revólver em minha eu direção eu
congelei de medo, aquela era a primeira vez que vi alguém morrendo tão
perto de mim e o estrago de uma bala saindo da sua boca era tremendo.
Esconder-se da melhor maneira possível foi a melhor ideia que tive, os
membros da gangue que me ajudou começaram a recuar, más um deles
estava carregando o outro que claramente estava ferido e para se
posicionar melhor procurando um abate rápido um traficante procurou
proteção no carro a minha frente, pronto para matar um deles. Não
pensava em anda além de salvar uma vida, rapidamente peguei a arma do
chão, mirei na cabeça dele e puxei o gatilho. Eles acharam que reforços
haviam chegado e não queria arriscar mais baixas, então correram entre
os becos e sumiram. Naquele dia salvei uma vida, entretanto perdi
qualquer inocência que me restava sobre o mundo, matar aquele homem,
ele sendo ruim ou não, me fez questionar se eu era melhor que qualquer
traficantesinho que matava por prazer, a vida era algo precioso demais
para alguém como eu tirar, chorei por dias e não consegui dormi por um
bom tempo depois daquilo.
Capitulo 3: Por que Tenho Que Perder Sempre?

A recuperação foi algo demorado, passei meses sendo assombrado pela


imagem daquele homem que matei, más minha família e amigos me
tiraram do mais profundo abismo mostrando uma luz tão acalentadora
que não pude fazer nada além de ama-los mais por me salvar. Um ano
depois de tudo isso, aos nove anos, eu estava recuperado e vivendo feliz,
fiquei ainda mais feliz quando recebi a noticia que Anninka estava grávida
tudo ficou mais iluminado, as coisas finalmente pareciam funcionar e
todos sorriam de felicidade, menos Heiko é claro, que passou uns bons
minutos preocupado em com iria cuidar de uma criança naquele lugar,
más foi uma visão engraçada. Tudo estava bem, pelo menos foi oque
achei pelos meses que se passaram, não tinha como prever oque
aconteceria depois disso tudo, mesmo querendo mudar oque houve eu sei
que não posso e nem devo. Dias depois da notícia estávamos festejando a
noticia de uma nova vida nascendo, já tínhamos até os nomes, se fosse
garoto seria Michal pois ele traria esperança a esse mundo sombrio, se
fosse garota Karol pois ela traria amor a esse mundo vazio. Lembro de
uma frase que representa bem as horas a seguir, “quando a sentinela se
distrai, seus inimigos o apunhalam”. Sai da festa para jogar o lixo fora e
tudo que me lembro foi de sentir um grande impacto na minha cabeça,
deixando tudo escuro milésimos depois. Quando acordei deparei-me com
uma cena terrível, nossa gangue estava cercada e rendida pelas outras
facções rivais, más isso não fazia sentindo, passaram anos lutando entre si
e agora se juntaram do nada para nos aniquilar, como aquilo era possível?
Perguntas e mais perguntas enchiam minha mente até que a aparição de
um corp no meio dos lideres rivais me fez perceber algo, dinheiro junta
até os piores. Naquele momento era obvio, você ferra com uma
corporação e ela ferra de volta cem vezes pior, os “Wotjeck” sabiam no
que se meteram quando decidiriam lutar contra as corporações locais, isso
tudo já estava destinado a acontecer mais cedo ou mais tarde. Presenciei
mães e pais serem torturados e executados a sangue frio naquele dia, as
risadas daqueles que fizeram tais coisas não sai da minha mente até hoje,
porém essa não foi a pior parte. Patrick acertou um dos inimigos e tentou
correr para salvar sua família, apenas para ser pulverizado por uma
escopeta bem na minha frente, não sobrou nada do seu rosto para ser
reconhecível, depois disso Anninka e Heiko foram executados e
decapitados, assim suas cabeças servissem de exemplo para os próximos
que tentarem desafiar as indústrias, no meio de todo esse caos meus pais
gritaram para mim que iria ficar tudo bem e até tentaram sorrir para me
acalmar, más eu sabia oque que estava próximo, minha vida e a de todos
que eu amava acabou ali, por que eu tenho que perder sempre? Não
podia ter uma vida simples e feliz, não queria poder ou dinheiro, eu só
queria viver. Quando minha vontade de viver acabou e aceitei o destino
um impacto na minha cabeça me apagou antes que pudesse ver o destino
de meus pais. Acordei dentro de uma sala escura com várias outras
crianças, minutos depois homens estranhos nos tiraram dali e nos
colocaram na frente de grandes máquinas. Finalmente a realidade me
bateu e mesmo tentando fugir por todos esses anos fui condenado a algo
mais baixo que um rato, um escravo.
Capitulo 4: Nada Mais Que Uma Ferramenta

Passei dois anos naquele inferno, trabalhando para comer pão velho e
beber água suja. Fui separado dos meus amigos de infância e não consegui
saber o que aconteceu com eles, entretanto olhando ao meu redor pude
deduzir oque acontecei. Muitas crianças morriam de exaustão ou dos
ferimentos causados pelos ferimentos de tortura, que eram infligidos
quando diminuíssemos mesmo que um pouco nosso ritmo de trabalho.
Naquelas fábricas eu morri e oque renasceu dentro de mim era algo
criado do meu ressentimento e ódio, não me importava os meios que eu
tivesse, iria fazer cada corp sofrer e matar cada pessoa corrompida por
esse mundo. Eu queria ser um herói, lembrado por gerações pela sua
resiliência e coragem, igual aos cavaleiros de armadura prateada dos
contos infantis. Como se o universo ouvisse meu clamor por vingança, a
fábrica no qual trabalhava foi invadido e tomada, más não por gangues e
sim um grupo treinado e melhor equipado, os revolucionários. Quando
eles olharam para mim e perguntaram meu nome eu já não era mais
ninguém, porém aquilo pareceu um convite para fazer uma nova vida,
reconstruir oque foi perdido e seguir com meu objetivo, queria trazer
esperança a esse mundo, então olhei para o soldado e disse “Michal”. Me
alistei para a rebelião com doze anos, lá eles me ensinaram a matar e
sobreviver nesse mundo dominado por grandes corporações, me
mostraram que eu podia fazer a diferença e que sem mim o mundo não
podia ser um lugar melhor, foi ali que me ofereci como ferramenta de
ação do bem maior. Com treze anos eles testaram a compatibilidade de
cada integrante da célula polonesa com a partícula-deus, quando eu dei
noventa e oito porcento de compatibilidade foi colocado em meus ombros
o peso da revolução e da esperança, eles olhavam para mim e viam um
deus ou um santo. Não era isso que eu queria, más se fosse o necessário
para salvar essas pessoas e outras mais da vida que eu tive nas mãos dos
corps, aceitaria sem reclamar. Assim fui preparado por 2 anos para entrar
na Academia Nova Gênesis. Iria fazer que todos os sacrifícios que foram
feitos para que eu chegasse até lá não fossem em vão.

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