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de1988, inciso XXVII, artigo 5º e pela Lei de Direitos Autorais n.º 9.610/98. Sua reprodução
configura crime na forma do artigo 184 do Código Penal Brasileiro.
Sumário
Sinopse
Prólogo
Capítulo 1
Capítulo 2
Capítulo 3
Capítulo 4
Capítulo 5
Capítulo 6
Capítulo 7
Capítulo 8
Capítulo 9
Capítulo 10
Capítulo 11
Capítulo 12
Capítulo 13
Epílogo
Bônus 1
Bônus 2
Agradecimentos
Sobre a Autora
Contatos da Autora
Aos esperançosos que nunca desistem, pois sabem que um dia alcançarão a
vitória.
Deus é com vocês!
Sinopse
Roberta é uma menina sonhadora de 17 anos. Ela fez planos para um
futuro próximo. Assim como todas as adolescentes de sua idade, ela quer
experimentar o que de melhor a vida tem para lhe oferecer.
Mas, seu destino foi alterado após o diagnóstico de uma doença
complicada. Entre tratamentos, surtos da idade e muita força da família e
dos amigos, Roberta vai superar uma fase difícil.
Ela precisará da ajuda deles e onde menos ela espera encontrar apoio vai
mostrar que as aparências enganam.
Um bad boy desejado pelas meninas mais populares de sua escola vai
cruzar seu caminho e ela vai viver momentos que nunca imaginou.
Uma história de amor, amizade, superação e uma pitada de romance.
Prólogo
A esperança é o sonho do homem acordado.
Aristóteles
Eu queria me esconder.
Eu queria sair de casa e ver pessoas.
Eu queria voltar para casa e não ver pessoas.
Um misto de sentimentos confusos dominou a minha mente. Eu não me
reconheço mais.
Posso colocar a culpa nos remédios? Na minha doença? Posso! Mas, a
verdade é que essa sou eu.
A Roberta que tem medo de não alcançar os sonhos. A menina que
espera viver um grande amor, ainda que seja necessário quebrar a cara. Ou
que ela quebre a cara enquanto vive esse grande amor.
É difícil compreender?
Eu preciso muito das respostas ou logo estarão me colocando em uma
camisa de força.
— Eu não vou e pronto!
— Roberta! Agora não é hora de se tornar uma filha rebelde. Que isso,
filha? Você não é assim.
— Droga, mãe. Eu estou me sentindo um ser de outro universo. Acha
que é fácil para mim?
— Não, meu amor. — Ela sentou na cama ao meu lado e respirou fundo.
Ela vai me convencer, eu sinto... — Escuta... — E lá vamos nós.
— Prontas? — Meu pai aparece na porta e minha mãe apenas lhe dá um
olhar. Eu meio que suplico, mas ele é um traidor e me abandona. Ela volta
seu olhar para mim.
— Todos, sem exceção, estamos sujeitos a passar por um momento
crítico na vida. Um momento em que podemos sentir medo. A questão é se
você vai deixar o medo te bloquear ou se vai dizer para ele que está pronta
para o que der e vier.
— Eu sei... mãe. Mas, é que...
— Não permita que essa doença tire mais de você, do que está disposta
a entregar. Levanta a cabeça, respira fundo, pega sua roupa preferida e sai
para a vida.
— Por que é que a senhora sempre faz isso? — Não consigo esconder
meu melhor sorriso e minha mãe acaricia meu rosto.
— Porque eu te amo e tudo que eu mais desejo é te ver sorrindo. — Ela
toca na ponta do meu nariz. Desde que eu me entendo por gente, ela faz isso
quando eu sorrio para ela.
— Me ajuda a escolher uma roupa?
— Sim. Mas, agora você só tem mais cinco minutinhos.
Acho que consigo me virar em cinco minutos.
A escola é um lugar complexo.
Não é tão simples como tentam te empurrar. Requer domínio de
personalidade. Esperteza para lidar com os mais fortes e sabedoria para
lidar com os mais fracos.
Subordinação nem sempre é o que se espera. Os professores estão no
topo da cadeia alimentar e se você não dança conforme a música, você
“dança”. Entendeu?
Tem que ter lábia. Tem que marcar território. Tem que se tornar o líder
da tribo, caso queira sobreviver.
Quer saber onde eu me encaixo?
Faço parte do time da boa vizinhança, da turma do “deixa disso”, sou
política muitas vezes e quero sempre agradar a todos. Só que nem sempre
isso funciona.
Hoje é a prova dos nove. É o dia de ver quem é quem, saber quem são
nossos amigos de verdade.
Tirando a Ana Vitória e o Isaque, que estão no topo da hierarquia no que
se refere aos meus amigos, tenho outros com quem me relaciono muito bem
e outros de forma respeitável.
— Oi, amigaaaaaaa! — Aninha me encontra e vem correndo na minha
direção. Gritando, é claro!
— Oi — respondo não muito animada, pois estou com vergonha.
— O que houve?
— Eu não sei se foi uma boa ideia voltar para a escola.
— Deixa disso! Vamos ver onde caímos.
Ela enlaça nossos braços e caminhamos até o corredor do último ano. É
o corredor dos vitoriosos. Cujas paredes trazem as molduras com as fotos
dos alunos que passaram para uma boa faculdade, colégio militar, concurso
público. Enfim, é o local onde a nossa escola exibe seus pupilos especiais e
inteligentes.
— Um dia voltaremos aqui e veremos a foto do Isaque.
— Pode apostar! — E por falar nele...
— Isaqueeeeee. — A doida ataca outra vez.
Meu coração chega a doer quando olho para meu melhor amigo depois
de três meses sem poder vê-lo pessoalmente. Ele continua tão bonito como
antes e com aquela aura de pessoa maravilhosa e especial.
— Posso te abraçar? — Ele me questiona.
— Deve!
Saudade.
Tristeza.
Amor fraternal.
Tudo junto e misturado em um único abraço. Ele não me aperta, acho
que está com medo de me machucar. Eu não o questiono. Apenas aproveito
que ele é mais alto do que eu e me aconchego em seu peito.
Um perfume doce. Delicioso.
— Está tudo bem, não sente nada?
— Estou bem, não se preocupe. Os médicos me liberaram para a rotina.
— Graças a Deus. Eu já estava ficando louco sem poder te ver.
— Agora nós vamos colocar toda saudade em dia.
— Agora nós iremos checar nossas salas, isso sim!
— Deixa de ser chato, Isaque — reclama Aninha. — Vamos apenas
olhar as turmas e depois vamos fugir para a cantina.
— Desmiolada como sempre, garota. — Ele implica, mas sorri e não
nos impede.
Morri de saudade deles!
Checamos nossa sala e vamos bater perna pelos corredores. Hoje é a
famosa volta às aulas, então... a diretoria nos permite essa folguinha.
Tem muitos alunos novos conhecendo o lugar e eles não reclamam.
Depois eles reúnem todos os alunos na quadra e fazem a apresentação dos
professores.
A cantina é o point do ensino médio. Comemos, bebemos, conversamos
e tem aqueles casais que se grudam até o tocar da sirene. Daí eles se beijam
e partem cada um para sua respectiva sala de aula.
Eu sempre invejei esses casais. Sempre quis viver um amor de escola.
Aquele amor que você guarda nas memórias e conta pros amigos no futuro.
Minha mãe diz que teve um lance com um professor de educação física.
Acredita? Eu aqui que não consigo nem um colega de escola e ela se
agarrando com um professor. E de educação física.
Meu pai não esquenta quando ela conta essa história, mas eu sei que ele
morre de ciúme. Ele gostava dela, mas ela não dava bola.
— Muuuuuuu....
— Para com isso. — Eu a repreendo. — Vai que ela escuta.
— Azar é o dela. Toda a escola sabe que o Vinícius pega a Eloá. Tá com
ele porque é trouxa.
— Deixa quieto. Isso vai dar merda quando a Letícia souber.
— E eu quero assistir de camarote. — Aninha bate palmas. Minha
amiga é louca, só pode.
O Vinícius nem é essa Coca-Cola toda. Não sei como ele consegue
pegar duas meninas na mesma escola. A Letícia é tiro, bomba e porrada.
Quando ela souber..., tenho até pena da Eloá. Quero estar bem longe. Mas,
pelo visto eu sou a única.
— Adultério é pecado — diz o Isaque.
— Mas, eles não precisariam estar casados? — Uma pergunta
pertinente, eu acho. — Como funciona isso? — Preciso entender.
— Deus não criou o homem para uma vida de promiscuidade. O que ele
faz não é certo. Namoro é compromisso. Você escolhe a pessoa com quem
vai passar o resto da sua vida e faz com ela uma aliança.
— Tô fora! Quero me amarrar em ninguém, não. Sou uma alma livre,
quero curtir e provar quantos beijos eu puder. — Minha amiga é muito sem
noção. Acho que ela nem se escuta quando fala.
— Isso também é pecado.
— Guarde suas explicações para você, Isaque. — Ela se vira e vai
buscar alguma coisa na geladeira das bebidas. Fico observando, enquanto
ela anda até o caixa.
— E você? — Isaque me puxa dos meus pensamentos, ele me traz à
realidade. — Também quer sair por aí em um rodízio de beijos?
— Eu? — Penso na pergunta por alguns segundos. — Se eu conseguir
ao menos um, já estarei no lucro... diante da minha situação. — Minhas
últimas palavras saem sussurradas. Mas, ele me ouve.
— Tudo tem seu tempo.
Isaque tem razão.
Contudo, não sei se o meu tempo compreende que tenho sonhos que
gostaria de realizar.
Ele enlaça nossos dedos e eu aproveito o calor de suas mãos.
Meus amigos são tudo o que eu preciso para saber lidar com os dias
difíceis que virão. Sei que não vão ser dias fáceis. Eu ainda estou lutando
contra esta doença e uma imagem diferente do que sempre fui está me
incomodando neste exato momento.
Estou inchada por conta dos remédios. Usando uma boina por causa da
falta dos meus cabelos. Posso até não ser bonita como a Margot Robbie...
eu queria ser a Margot... enfim, o que vejo no espelho está longe de
conseguir ser ao menos um quinto do que ela é.
— Quer um suco?
— Quero. — Talvez melhore o meu humor.
Capítulo 3
“Onde quer que nos encontremos, são os nossos amigos que constituem o nosso mundo.”
William James
Faz um mês que estamos nos encontrando aqui. Sua casa da piscina
virou nosso ponto de encontro. Ele me espera na saída da escola e me traz
para seu “cantinho”.
Não fazemos nada além de nos beijarmos e nos abraçarmos com um
pouco mais de intimidade. Mas, não da forma que as pessoas imaginam.
Ele não me toca inapropriadamente. Tiro apenas minha camiseta da
escola e sua boca provoca sensações incríveis no meu pescoço.
Seus dedos tocam minhas costas com carinho e às vezes ele repousa sua
mão sobre minhas nádegas, só que logo ele se corrige.
— Opa! Escorregou.
— Estou achando que suas mãos têm vontade própria.
— Se elas tivessem. — Seu olhar me domina e eu fico presa, olhando
para seus lábios falantes que me hipnotizam. — Eu já teria lhe tocado
aqui... — Ele toca a renda do meu sutiã, isso mesmo, agora eu uso. — E...
— Ele desce, causando uma sensação gostosa em meu ventre, apenas com a
expectativa do que pode acontecer. — Aqui. — Ele enfia a mão pelo cós da
minha calça, mas segura meu cinto com força, se controlando.
— Eu lhe entregaria tudo.
— Eu sei... — Seus lábios tocam a ponta do meu nariz. — Vamos ver
televisão.
Ele se levanta e eu posso ver o quanto que ele está se segurando. Não
sou boba, sei muito bem o que acontece com um homem, quando ele tem
seu desejo reprimido. Eu já senti a pressão desse desejo e confesso que
gostei.
Televisão é sempre uma boa saída para dois jovens com tesão
acumulado.
Sempre um filme de ação. Mas, nem sempre escapamos das cenas
quentes e olhamos um para o outro e rimos.
— Vou te levar em casa.
De repente ele aperta o peito com a mão esquerda e eu corro em sua
direção.
— Renan.
— Não é nada.
Vejo sua fisionomia de dor e ele continua apertando. Consigo fazer com
que ele se sente e corro até a cozinha, pegando um dos comprimidos, dos
muitos que ele toma.
Abro a geladeira e pego uma garrafinha com água mineral. Corro até ele
e o faço ingerir o medicamento.
Renan é portador de uma doença hereditária das artérias coronárias. Ele
já fez uma cirurgia, mas não resolveu muito.
— Melhor?
— Sim. Obrigado.
— Posso ficar, ligo pros meus pais e digo que vou te fazer companhia.
— Não quero que tenha problemas com eles. Vou ficar bem.
— Então eu volto sozinha.
— Nem pensar. Vou te levar.
— Não, mesmo. Vou ligar para o meu pai e ele vem me pegar.
— Droga!
— Não esquenta. Acho melhor você dormir na sua mãe, vai ser melhor
pra você.
— Vou fazer isso.
Não demora muito e meu pai vem me pegar. Eu sinto um aperto tão
grande em meu coração. Fico com a sensação de que eu deveria ter ficado
com ele.
Nós nos despedimos no portão de sua casa. Sinto vergonha em beijá-lo
bem diante dos meus pais, mas eu estou preocupada e ele percebeu.
— Não fica assim. Vou ficar bem.
— Promete que me liga?
— Prometo.
Então ele me beija.
Entro no carro dos meus pais, que ficam de risinhos bobos.
— Ele está bem? — Minha mãe pergunta.
— Tomou o remédio e vai ficar na casa dos pais.
— Como assim casa dos pais?
Ops!
Só agora me dou conta da mancada que acabo de cometer.
Eu nunca disse para os meus pais que o Renan mora em uma casa
independente da mãe e do padrasto. Eles pensam que ficamos na sala da
casa deles, bem diante dos olhares dos adultos.
— Pai.
— Que história é essa, Roberta?
Ele para o carro e eu sei que a coisa ficou feia.
— O Renan mora numa espécie de casa da piscina, só que muito maior
e com muito mais conforto. Ele e o padrasto não se dão muito bem.
— E vocês ficam sozinhos nessa casa?
— Sim..., mas, não do jeito que você está pensando.
— Como sabe o que eu estou pensando? — Ele se vira para trás e nos
encaramos. Estou com vergonha, mas precisamos dessa conversa.
— Não fazemos sexo, se é o que te preocupa.
— Querida... — Minha mãe se vira para trás. — É que nos
preocupamos, você ainda é jovem e tem muito o que viver pela frente.
— Será?
Minha pergunta deixa meus pais constrangidos. Minha mãe me dá um
sorriso vazio e meu pai apenas me olha.
— Escuta... pai, nosso namoro é totalmente diferente dos outros jovens
que eu conheço. O Renan me respeita e eu confio nele. Não vou mentir,
dizendo que eu não quero. — Nessa hora ele muda seu semblante e tenta
interferir na conversa, apenas faço um gesto para que ele não me
interrompa. — O Renan está doente e não quer que eu tenha minha primeira
experiência com uma “bomba-relógio”.
Nessa hora eu não consigo evitar e meus olhos escorrem feito uma
cachoeira.
— Minha filha!
Minha mãe tira seu cinto de segurança e pula para o banco de trás. Ela
me conforta.
É triste, porém real.
Em casa, eu tomo um banho e vou direto para a cama. Pego meu celular
e leio a mensagem dele:
[22:17]: “O amor é uma companhia.
Já não sei andar só pelos caminhos,
Porque já não posso andar só.”
De quem é? :[22:25]
[22:25]: Fernando Pessoa.
É lindo! :[22:26]
[22:26]: Estou pensando em nós dois.
Sobre? :[22:26]
[22:27]: Sobre te amar.
Fico olhando para o telefone e não consigo acreditar no que eu acabei de
ler. Não consigo responder e de repente ele toca.
— Diz alguma coisa, eu sei que está parada e olhando para o celular.
— Não sei o que te dizer.
— Que sou correspondido já seria um ótimo caminho.
— Também sinto.
— Amor?
— Sim.
Um sorriso toma meu rosto e me pego refletindo sobre o peso dessa
palavra: Amor!
— Queria ter outras vidas e em cada uma delas eu desejaria passar ao
seu lado.
— Por que finge ser um bad boy? — Ouço sua risada.
— Não sei do que está falando.
— Você é tão doce. Gosta de ler e é tão carinhoso comigo.
— A culpa é sua, você me estragou. Acabou com minha fama.
— Acho que você se esconde.
— Pode ser. É mais fácil de encarar a realidade.
— Não precisa. Seja apenas você.
— Desejo ser apenas eu, quando você está ao meu lado.
— Gosto dessa versão.
— Quer viajar comigo, nas férias?
— É que...
Droga! Como digo para o meu namorado que planejei passar as férias
com meus melhores amigos e que essas férias já foram planejadas e pagas
há mais de um ano?
— Fez planos. Eu te entendo.
— Poderia vir junto.
— Não precisa. Vai curtir com seus amigos e quando voltar, matamos
nossa saudade.
Conversamos até que meus olhos pesaram e eu dormi. Não antes de
ouvi-lo dizer:
— Amo você.
Depois ele desligou.
Provas finais.
Trabalhos de conclusão e férias.
Renan e eu nos despedimos de uma forma tão melosa. Parecia que seria
nossa última despedida. Ele me deu um livro. As Cônicas de Nárnia. Uma
versão de luxo com a capa dura do Leão, a Feiticeira e o Guarda-roupa.
Eu adorei. Vi todos os filmes, mas sei muito bem que o livro é bem
melhor.
Embarco com meus amigos em uma louca aventura. Pagamos um carro
particular para nos levar até Angra dos Reis. Vamos aproveitar as ilhas
maravilhosas que tem naquele paraíso verde e fazer memórias para contar
aos nossos familiares.
A casa é bem localizada e tem dois quartos. Uma sala espaçosa e a
cozinha é jeitosinha.
Deixamos nossas malas e vamos andar pela cidade.
— Eu nem acredito que estamos aqui e... sem a supervisão dos nossos
pais. — A Aninha está de fato empolgada com nossas férias.
— Já somos adultos. — De forma enfática, Isaque responde, ele também
parece feliz, mas está reservado.
— Quero tirar muitas fotos. Está me ouvindo, Roberta?
— Oi... estou, sim.
Eu estava enviando uma mensagem para o Renan, queria dizer que
chegamos bem. Eu também preciso saber se ele está bem. Fiquei com a
sensação de que ele queria dizer alguma coisa, quando nos despedimos.
— Está tudo bem? — Isaque me pergunta.
— Está, sim. — Dou um sorriso forçado.
— Guarda esse celular e vamos comer alguma coisa. Estou azul de
fome.
Ela tem razão.
Coloco meu telefone no bolso da minha saia jeans e andamos pelas ruas
desconhecidas, a fim de encontrarmos um lugar para comermos alguma
coisa.
Capítulo 8
“E o que não posso e não quero exprimir, fica sendo o mais secreto dos meus segredos.”
Clarice Lispector
— Eu te amo.
— Eu te amo mais.
— Não, eu te amo mais...
Quem ganha essa guerra?
A questão não é se teremos um vencedor, mas se teremos duas pessoas
dispostas a superar todas as barreiras e a demonstrar em gestos, carinhos e
palavras, tudo o que sentem uma pela outra.
Subimos as escadas do nosso apartamento com muito cuidado. O Isaque
é daqueles maridos que se tornam pais e sua superproteção só aumenta.
Mas, assim que chegamos diante da nossa porta, ele me abraça e me beija.
A barriga não atrapalha em nada, damos o nosso jeitinho. Abro a porta,
enquanto ele acaricia minha barriga e beija meu pescoço, demonstrando que
está querendo algo a mais.
— Eu fui um tolo, amor. Assim que eu desci e entrei no carro, fiquei
pensando na burrada que eu fiz.
— Esquece isso, amor. Já estamos bem. — Coloco minhas mãos em seu
pescoço e acaricio, subindo para sua nuca e o puxando para que ele me
beije.
— Eu não queria sentir ciúme dele, mas eu sinto. Desculpa.
— Acabou!
— Eu te amo tanto, amor.
— Então me prova.
Ele me abraça com vontade e me conduz lentamente até o nosso quarto.
Depois, ele suspende meu vestido, tirando ele por cima da minha cabeça.
Eu não consigo olhar para o espaço vazio deixado pela cirurgia. Ele
percebe e começa com beijos pelo meu pescoço, descendo até meu ombro e
a ponta de seus dedos tocam minhas cicatrizes.
O local ficou dormente, então, eu não sinto nada. Ele sabe disso, mas
seu gesto indica que ele não se importa com o vazio que ficou.
Ele se inclina e beija as minhas cicatrizes. Uma lágrima desce por minha
face esquerda. Eu seco, não quero estragar nosso momento, mas meu
marido sente quando estou sensível.
Diante de mim, ele sorri e segura minhas duas bochechas com suas
mãos delicadas.
— Minha esposa perfeita. A mulher que eu amei desde o primeiro dia
que a vi, quando ainda éramos crianças.
Eu sou apaixonada por este homem. Meu marido é o ser humano mais
incrível do mundo e não há um só dia em que eu não agradeça a Deus por
ter sido abençoada com sua existência.
Ele foi meu melhor amigo e continua sendo até hoje.
Eu tiro sua roupa e acaricio seu peito, fazendo um caminho de beijos
que vão até seus lábios. Sinto a pele dele se arrepiar, o que me faz sentir
vitoriosa.
Sem roupa nenhuma, pelados como viemos ao mundo, nos deitamos em
nossa cama. O local onde fazemos amor todas as vezes que desejamos.
Isaque sempre foi carinhoso, ele sempre respeitou as preliminares. E eu
amo cada segundo dessas preliminares.
Sua boca tocando meu corpo, seus dedos provocando arrepios em minha
pele, as palavras de amor que ele sussurra em meu ouvido.
Ele já cantou para mim.
A gravidez me deixou mais sensível e meus gemidos ficaram mais altos.
Eu nunca fui escandalosa, sempre tivemos um relacionamento calmo e
saudável. Se engana quem pensa que devagar não dá prazer. Eu sinto e não
é pouco.
Sem falar que durante a gravidez ele ficou mais cauteloso ainda com
meu corpo. A médica nos explicou que o sexo não fazia mal para o bebê e
que tudo dependeria do meu conforto.
E falando em conforto, deitada é a última posição que eu quero na
minha vida na hora dos finalmentes. Não consigo respirar direito, então, nos
amamos comigo por cima, com ele recostado na cabeceira, beijando minha
boca e declarando seu amor por mim.
— Promete que nunca vai me abandonar, Roberta?
— Não começa, Isaque. — Eu rio em sua boca, enquanto falamos e nos
beijamos. — Já prometi isso, esqueceu?
— Fala de novo, amor.
— Prometo ser fiel até a morte e blá, blá, blá...
— Você está pisando no meu coração, esposa.
— Cala a boca e me beija agora, Isaque.
Meu ápice requer sua língua enfiada na minha boca, sempre! E ele sabe
disso.
Tudo pronto para a chegada do nosso Mateus.
Já deixei a bolsa da maternidade arrumada.
O Isaque me liga a cada meia hora. Ele fica preocupado, achando que
vou passar mal antes do dia da cirurgia, que já está marcada.
E quando o dia chega..., vamos todos para o hospital
No quarto particular eu fico deitada na cama, aguardando a hora da
minha cirurgia. Minha família está tão feliz, que eu não sinto medo.
Pela manhã, antes de sairmos de casa, meu esposo orou comigo e pelo
nosso filho. O mais incrível é que todas as vezes que o Isaque ora com a
boca na minha barriga, o Mateus fica se mexendo, é como se ele estivesse
compreendendo todas as palavras do pai.
Não preciso nem comentar sobre o que esse gesto do nosso filho causa
no meu esposo.
Minha sogra e minha mãe ficam conversando, enquanto meu esposo lê a
bíblia e meu pai faz palavras cruzadas. Meu sogro foi até a cantina para
comprar algo de beber.
Uma enfermeira aparece e logo, dois maqueiros. Eles me transferem
para uma outra cama.
Minha família se aproxima. Ele me abençoa e me beijam, um por vez.
Por último, meu esposo se debruça e me beija.
— Vai dar tudo certo, amor. Eu te amo.
— Também te amo — digo e sou conduzida.
A cirurgia começa.
Uma pequena anestesia local e depois a famosa anestesia que assusta
muitas mulheres.
Em poucos instantes eu não sinto mais nada da barriga para baixo.
Novo Tom está tocando bem baixinho. Foi o meu pedido, que eu
pudesse ouvir uma música que me tranquilizasse e a minha obstetra colocou
em seu celular. Sem dúvidas, o melhor lugar do mundo é aos pés do
Salvador. É em Deus que eu encontro esperança, a esperança que traz alívio
para o sofredor.
A canção me acalma e de repente eu ouço um choro forte.
— Bem-vindo, Mateus.
Minha médica diz e eu quero ver meu filho.
Na sala, todos se movimentam. Eu fico escutando a conversa. A pediatra
diz que ele é bem grande e parece muito saudável, sem falar que é uma
criança muito bonita.
— Quero ver.
— Já estou indo, mamãe. — Ela simula a voz de uma criança e eu
começo a chorar. — Sou um bebezão.
— Ele é lindo — digo sorrindo para meu filho —, é a cara do pai. —
Mateus puxou as feições do Isaque. Isso vai desmontar o meu marido.
— Que injusto, não é mesmo. — Ela brinca e volta com meu bebê para
um carrinho. — Assim que estiver bem, devolvo ele para que seja
amamentado. — No segundo em que termina a frase, ela se dá conta do que
acabou de me dizer. — Ai, desculpa!
— Não esquenta. — Estou tão feliz com a chegada do meu filho, que
não me importo com isso.
Fecho meus olhos e agradeço a Deus por ter sido abençoada com uma
família completa.
No quarto, todos me aguardam e quando eu entro, meu marido se
aproxima. Ele apenas acaricia meus cabelos e sorri todo feliz. Aposto que
ele viu nosso menino.
— Eu só posso te agradecer por ser esta mulher incrivelmente forte que
você é, amor. Eu tenho muito orgulho de você, Roberta. Se não fosse assim,
jamais poderia ver o rosto do nosso filho, ele é perfeito.
Aperto meus olhos, tentando desanuviar as lágrimas que me impedem
de enxergá-lo perfeitamente e tudo que eu mais quero é ver o lindo rosto do
meu esposo sorrindo para mim.
Durmo por algumas horas e acordo com a voz da médica que me
operou. Ela passa as recomendações para meu esposo e diz que preciso ficar
quietinha. Não é bom falar após uma cirurgia. Os gases não são nada legais
para quem tem uma cicatriz na barriga.
Mais tarde, abro meus olhos e só vejo meu esposo.
— Amor...
— Oi, querida. Precisa de algo, sente alguma coisa, quer que eu chame a
enfermeira? — Ele me atropela com seu excesso de cuidado.
— Estou bem. Fica tranquilo. Onde estão nossos pais?
— Eles foram descansar. Nossas mães disseram que você precisa se
recuperar com tranquilidade.
— Tá! Nosso bebê?
— Ele está dormindo no berçário. A enfermeira vai trazer ele só depois
que você conseguir sentar e comer alguma coisa.
— Não tenho fome.
— Hora do banho!
Uma senhora entra toda alegre em meu quarto. Não sei qual a razão da
alegria. Eu acabei de passar por uma cirurgia, mas o que parece é que um
caminhão passou por cima e depois deu a ré.
— Vai ver como fica melhor depois do banho.
— Pode apostar! — digo sarcástica e meu marido esboça um riso, ele
me conhece.
O banho é horrível.
Ficar de pé é horrível.
Eu quero voltar para a cama e não sair mais.
Contudo, eu venci mais esta etapa e o Isaque me vestiu uma roupa
melhor que a camisola hospitalar. Pelo menos a camisola que comprei não
deixa minha bunda de fora.
Minha barriga está preta e flácida.
Sem peitos e com a barriga horrorosa. Duvido ele me olhar e dizer que
sou perfeita e que está com tesão.
Ah! Eu duvido!
Mais dois dias no hospital e finalmente estamos em casa.
Isaque leva nosso bebê para o quarto, enquanto minha mãe vai para a
cozinha com a minha sogra. Nossos pais estão sentados no sofá, ouço a
televisão ligada e um jogo está passando.
Homens!
Eu só quero uma coisa: cama!
Deito na minha cama. Já estava com saudade dela.
— Precisa de algo?
— Dormir.
— Vou fechar a cortina e não se preocupa com o Mateus, vou cuidar
dele.
— Aham!
Ele sai e fecha a porta.
Eu me aconchego em minha cama e durmo.
Acordo sem saber que horas são. A cortina fechada não me deixa saber.
Parece tarde.
Levanto com muita calma e entro no banheiro do meu quarto. Depois de
usar a privada, lavo minhas mãos e olho para o meu rosto, esticando ele
com as duas mãos.
— Acho que envelheci.
— Continua linda.
— Que susto! —Viro para a porta e vejo meu marido sorrindo, ele está
escorado na porta, me observando.
— Desculpa. Vamos comer?
— Sim.
Na mesa de jantar, nossos pais conversam animados sobre política. Eu
apenas me sento e o Isaque se senta ao meu lado.
— Sente-se melhor, meu amor? — Minha mãe me pergunta e senta ao
meu lado.
— Estou. Eu precisava dormir em uma cama de verdade.
— Que bom.
— O que temos? — questiono levantando a tampa.
— Arroz branco, salada de legumes cozidos e frango cozido.
— O cheiro está ótimo.
— Vamos agradecer. — Meu marido atrai nossa atenção e todos param
o que estão fazendo.
Ele ora pela refeição e pela união da nossa família. E, claro, ele também
ora pelo nosso filho.
Almoçamos, falamos sobre os planos para o futuro, nossos pais se
despedem e nós ficamos sós.
— Gosto do silêncio — digo e meu marido segura minha mão.
— Você está bem?
— Estou. O que foi?
— Não sei, estou te achando preocupada com alguma coisa.
— É... — suspiro. — Não tenho como esconder nada do meu psicólogo
favorito — rio. — Eu me sinto dispensável. Toda mulher que amamenta, de
alguma forma é como se a criança dependesse dela para sobreviver. Sem os
seios eu me sinto dispensável. Qualquer pessoa pode cuidar do meu filho.
— Ele precisa de você, amor. Não é só a questão do leite. Sabia que ele
reconhece você pelo seu cheiro? Ele precisa de você, não basta que outra
pessoa o alimente.
— Sério? Não está dizendo isso para me deixar feliz?
— É para que se sinta feliz, mas é a mais pura verdade.
— Tenho medo de não ser uma boa mãe.
— Como não? Você abriu mão dos seus seios para que ele viesse ao
mundo. Eu sei muito bem que o aborto seria uma solução, mas você nem ao
menos cogitou essa hipótese, não conversamos sobre isso. Você abraçou a
gravidez e lutou pela vida do nosso filho.
Nessa hora eu não consigo controlar minhas emoções e acabo chorando.
Meu esposo é o melhor psicólogo, eu não preciso de outro profissional. Ele
sempre sabe como me ajudar, como tirar a tristeza de dentro do meu peito.
Eu me aproximo dele e deito minha cabeça em seu ombro. Sua mão
acaricia meus cabelos.
— Em minhas próximas férias faremos nosso primeiro passeio em
família. Aonde você gostaria de ir?
— Podemos ir para Angra? — Levanto a cabeça e olho para ele. Seus
olhos revelam excitação e confusão ao mesmo tempo.
— Por que Angra?
— Temos algo inacabado naquele lugar — sorrio para ele.
— Temos? — Seu sorriso se alarga e eu só quero beijá-lo.
— Temos sim...
Seguro seu rosto e o beijo.
Mas, logo somos interrompidos por um choro.
— Alguém está com ciúme. — Ele diz e se levanta.
— Deixa que eu cuido.
Caminhamos juntos até o quarto do nosso filho. Mateus tem um choro
forte. Eu pego meu menino em meus braços e o acalento. Canto para ele
uma canção de ninar e logo ele para de chorar. Aproveito para checar sua
fralda.
Suja! Muito suja!
Enquanto troco sua fralda, Isaque busca a fórmula para que eu alimente
nosso menino.
De fralda trocada e aquecido outra vez, eu me sento na poltrona e puxo
a almofada de amamentação. Apoio ele em meu braço e coloco a
mamadeira que o Isaque me dá.
Meu bebê é esfomeado. Ele puxa com vontade e fico pensando se
aquela sucção fosse em meu seio. Certamente ele arrancaria o bico do lugar.
Assim que termino de amamentá-lo, o Isaque pega ele para o fazer
arrotar. Levanto e vou arrumar a bagunça que fiz ao trocá-lo. Jogo a fralda
suja na lixeira e passo o lenço umedecido com álcool no trocador. Depois
eu guardo o restante das coisas no lugar.
Ele dorme.
Isaque o coloca no berço.
Abraço meu marido.
— Obrigada.
— Pelo quê? — Ele passa o braço por sobre minha cabeça e se vira para
me abraçar.
— Por ter aparecido e se tornado o meu grande amor.
— Não existiria um Isaque sem uma Roberta.
— Verdade. Alguém lá de cima te viu e falou: desce, você vai se tornar
um grande amor para a Roberta.
E foi desse jeito!
Epílogo
“Saber encontrar a alegria na alegria dos outros é o segredo da felicidade.”
Georges Bernanos
Cinco anos.
Parece mentira que meu bebê já vai fazer cinco anos.
Alugamos um salão de festas com tudo pronto. Tem muitos brinquedos
divertidos e o Mateus tem muitos coleguinhas. Tanto na escola, quanto na
igreja e mais os do nosso apartamento.
Meus pais juntaram dinheiro para fazerem uma viajem de lua de mel.
Eles estão completando quarenta anos de casados.
É quase meia vida juntos.
Então... logo depois da festa eles embarcam em uma nova lua de mel
para a Europa.
O Isaque finalmente comprou uma sala empresarial e montou seu
consultório de psicologia. Ele atende de segunda a sexta e só vive cheio. Eu
tentei ajudar no início, mas o Mateus suga minhas energias, ele é hiperativo.
Por fim, ele aceitou contratar uma secretária, alguém para cuidar da agenda
e fazer a ficha dos pacientes.
Uma senhora lá na nossa igreja estava com uma neta desempregada e
nós a abençoamos. Ela é muito dedicada e faz faculdade no turno da noite,
ela faz administração e além do salário, decidimos ajudar com metade da
faculdade dela.
O salão está cheio. Já cumprimentei mais da metade das pessoas e estou
cansada. Olho para a entrada e não acredito no que meus olhos veem.
— Ana?
— Betinha!
Ela corre em minha direção. A gente se abraça como dá.
— Por que não me contou?
— Eu queria fazer uma surpresa.
— E conseguiu!
Minha melhor amiga está com uma barriga linda. Eu nem acredito que
vou ser titia.
— Vai ficar quantos dias, desta vez.
— Todos!
— Como assim?
— Voltamos de vez.
Esta notícia não poderia ter chegado na melhor hora. Estou vivendo um
momento tão bom em minha vida, que só faltava ela para completar minha
alegria.
Festejamos por mais um ano de vida do nosso pequeno Mateus. Que de
pequeno só tem o singelo apelido.
Meu bebê é grande. A pediatra até passou uma dieta alimentar. Disse
que ele está acima do peso e que isso não é bom para uma criança de cinco
anos.
Mas, como faço quando ele chora me pedindo biscoito recheado? Ou
refrigerante?
Eu sei que não é certo dar essas coisas para uma criança. Só que
marinheiro de primeira viagem, de uma criança que foi praticamente um
milagre, alguém precisa nos dar um desconto!
Hoje é festa, ele vai comer tudo que ele quiser e depois vamos entrar na
dieta.
Pulamos, cantamos, brincamos. Meus sogros oram por nosso filho e o
Parabéns da Aline Barros começa a tocar.
Em casa, levamos todos os presentes para o quarto de Mateus, que corre
em desespero para abrir todos. São tantos que nem sabemos onde vamos
guardar.
— Mãe, mãe... Olha esse.
— Que lindo, meu amor. Mas, deixa a mamãe ver de quem são, assim
nós podemos agradecer.
— São muitos, amor.
— Eu sei, meu bem. Mas, temos que anotar tudo direitinho. As pessoas
se ofendem quando não agradecemos certinho. Elas compram com tanto
carinho.
— Tá certo! Vou pegar um bloco e te ajudar.
— Dinossauro! — Meu bebê grita empolgado.
— Uhulll! — comemoro com ele.
Mateus adora tudo que diz respeito aos dinossauros. Ele está muito
encantado com uma réplica bem grande de um Tiranossauro Rex.
Depois de tudo arrumado, em cada lugar estratégico para que ele tenha
acesso fácil aos brinquedos, eu me sento no chão e ele corre para me
abraçar.
— Quem é o bebezão da mamãe?
— Eu.
— Amor da mamãe, amanhã nós vamos começar nossa dietinha, tá
bom?
— Não quero.
— Já conversamos, Mateus.
— Não gosto de suco.
— Mas é importante, você sabe.
— Não quero.
— Então eu vou colocar o dinossauro lá em cima do guarda-roupa.
— Não, mamãe!
Eu não aguento a carinha que meu filho faz. É de partir o coração de
uma mãe. Mas, ele precisa entender que com a saúde não se brinca.
Na sala, eu ligo meu notebook para verificar nossas finanças e uma
chamada pelo Skype toca.
— Oi, linda!
— Oi, tia.
— Como estão todos?
— Estamos bem. Como foi a festa?
— Foi boa. Estou exausta, mas valeu a pena.
— Que bom. Tenho novidades.
— Conta.
— Minha avó vai me deixar passar as férias aí no Brasil.
— Jura?
— Posso ficar com você?
— Claro, meu amor.
— O tio não vai ficar chateado?
— Claro que não! — Isaque coloca a cara na frente da câmera e vejo o
sorriso de Roberta se alargar em seu rosto. — Vou pegar você no aeroporto.
— Vó! — Ela grita por Débora, que logo aparece. — Tio Isaque disse
que me pega no aeroporto, eu posso ir sozinha?
— Oi, Roberta.
— Oi, Débora.
— Vou pensar, prometo.
Eu que pensei que só teria o Mateus, agora tenho um casal. Foi o
presente que Renan deixou para mim. Ele queria muito que a gente se
aproximasse e quando ela completou oito anos, a Débora contou a história
de verdade, não aquele conto de fadas que o pai dela criou.
Ela quis muito me conhecer e fizemos uma chamada pelo computador.
Eu fiquei preocupada com o que o meu esposo ia pensar sobre isso, mas ele
me surpreendeu.
A verdade é que ele ficou encantado pela Roberta, minha versão em
miniatura, mesmo não sendo minha filha biológica. E como ele sonhou em
ter uma filha que também se parecesse comigo, a Robertinha caiu nas
graças dele.
Ela ficava um pouco retraída com ele, mas depois ela foi se soltando e
esse gesto dele hoje só a deixou mais feliz.
Ela chama o Mateus de irmãozinho. Não questionamos. Gostamos da
ideia de que eles se conheçam e convivam como se fossem uma família de
verdade.
O Renan foi especial e de todos os presentes que ele me deu, ela se
tornou meu preferido.
Alguém lá no céu também o escolheu para entregar um grande amor
para a Roberta, e esse amor veio na forma que eu jamais imaginei.
Uma criança linda e especial!
Bônus 1
A garota mais linda da sala era a minha melhor amiga. Eu era tímido e
não me enturmava muito bem. Com sua amizade veio a da Aninha, uma
menina esperta, decidida, sabia o que queria e não tinha medo de falar o que
pensava. Almas interligadas, contudo, opostas.
Crescemos juntos. Dividimos os piores e os melhores dias da nossa
infância, adolescência e o início da nossa fase adulta.
E com o amadurecimento veio o amor.
Ah! O Amor!
O mais completo e absoluto dos sentimentos.
Eu me descobri apaixonado pela Roberta na pré-adolescência. Eu não
sabia o que fazer e o medo tomou conta das minhas decisões.
Escrevi algumas cartas e depois rasguei. Tentei colocar em palavras,
tudo o que eu sentia por ela em meu coração.
Foi tão difícil que eu desisti.
Resolvi que ficar ao seu lado já seria o suficiente.
Mas ver outro homem tocar em seu corpo e ainda por cima beijar seus
lábios, isso não foi nada legal. Um sentimento de mágoa, ciúme e raiva
tomou posse do meu coração.
Eu fiquei com raiva da Roberta.
Como era possível que ela não interpretasse meus gestos de carinho.
Gestos que eu não repetia com a Aninha, e nem essa, ela também não
reparou. Se fosse o caso, já teria me questionado ou falado com a Roberta.
Frustrado!
Foi como eu me tornei. Um rapaz frustrado aos dezoito anos e sem
coragem de revelar os próprios sentimentos pela melhor amiga.
Tal sentimento só não venceu para o sentimento de abandono, o que eu
tive, quando a Roberta ficou isolada do mundo. Sem poder ver seu rosto,
ouvir sua voz e sua risada gostosa. Eu precisava me esforçar para não fazer
cara de bobo todas as vezes que ela ria.
Pobre coração!
Em nossas férias eu decidi que revelaria tudo, mas bastava ela estar
perto, que eu tremia por dentro e minha valentia se esvaía.
Ao ser confrontado por ela, minha única solução foi confessar meu amor
e não pensar demais. Apenas agir!
E eu agi. Mas, sua rejeição me fez pensar na besteira que eu havia feito.
Ela estava comprometida e minha atitude ia contra tudo aquilo que eu
acreditava. Eu respeitava os relacionamentos e se eu estivesse são, não teria
agido pelo desespero de lhe confessar meu amor por ela.
Eu fui um tolo.
Os meses passaram, comecei a estudar e aos poucos fui resgatando
nossa amizade. O meu amor só aumentou ainda mais.
Saber que ela estava sozinha me deixou feliz. Eu me sentia egoísta
quase que o tempo todo, pois eu sabia que ela estava sofrendo pela partida
mal explicada do Renan.
Fiz o que um melhor amigo poderia ter feito: ofereci meu ombro,
recolhi suas lágrimas, dei palavras de consolo e a abracei em todas as vezes
que ela me permitiu. Algumas vezes rolou um certo constrangimento, mas
não me deixei abater.
Se eu estava na chuva..., deveria me encharcar.
Não esqueço do dia que me enchi de coragem e lhe pedi em namoro.
“— Você está estranho. — Seu sorriso só aumentava meu nervosismo.
— Impressão sua — tentei disfarçar, mas foi em vão.
— Eu te conheço, Isaque. Fala de uma vez. O que está... — Não permiti
que completasse e respirando fundo, falei:
— Quer namorar comigo?”
Ela ficou chocada. Não dizia uma única palavra e acho até que parou de
respirar. Eu me senti culpado. Achei que estava pressionando ela de alguma
maneira. Fiquei sem saber como agir e passei a mão pelo cabelo, na
tentativa de falar alguma coisa, mas para a minha surpresa, foi ela que
quebrou aquele silêncio constrangedor ao dizer que sim.
Levei alguns segundos para acreditar e somente quando ela sorriu e me
beijou no rosto foi que eu voltei ao normal.
Não foi um processo fácil. Roberta ainda estava sentida pelo abandono
do Renan, sem falar da luta que ainda travava contra o câncer.
Fomos nos relacionando aos poucos. Trocando olhares e sorrisos bobos,
dividindo o mesmo sofá na hora do filme, conversando sobre o futuro, os
estudos, nossos planos.
Nosso primeiro beijo, como namorados, foi estranho. Estávamos
sentados no sofá de sua casa, seus pais estavam na cozinha. A tia Viviane
sempre inventava alguma coisa para fazer e praticamente obrigava o tio
Lucas a ir com ela. Aquele gesto deixava a Roberta muito constrangida.
“— Gostou do filme? — perguntei, segurando sua mão sobre a almofada
que nos separava.
— Sim. Eu não sabia que eles sofreram tanto por causa de sua fé.
— Os cristãos foram muito perseguidos e Paulo fez parte dessa
perseguição.
— Ainda bem que ele se arrependeu, não foi? — Seu olhar se prendeu
no meu e eu não resisti.
— Eu quero muito te beijar, Roberta — disse, com meus lábios quase
tocando os dela. Senti sua respiração.
— A... — Seus olhos se fecharam, seus lábios se entreabriram e eu
avancei.”
Eu queria continuar beijando seus lábios. Um dos motivos, além de ser
maravilhoso, era de que eu não estava preparado para encarar seus olhos,
depois daquele beijo.
Eu era um covarde.
Os passos dos pais da Roberta, indicando que estavam vindo em nossa
direção, me fizeram interromper nosso beijo. Eles entraram na sala com
algumas bebidas e refeições e arrumaram a mesa de jantar.
Foi observando seus pais, a interação que eles tinham, como a minha
amada se sentia ao lado deles, seus sorrisos e sua alegria juvenil, que eu
tomei a maior decisão da minha vida: Roberta seria minha esposa.
Eu me esforcei, eu estudei, arrumei um trabalho e quando ela ficou
curada do Linfoma, eu a pedi em casamento.
Minha mulher!
Minha esposa!
“Com a costela que havia tirado do homem, o SENHOR Deus modelou
uma mulher e a conduziu até ele”.
Assim que a marcha nupcial tocou, meu coração quase parou.
Literalmente eu segurei ele. Coloquei a mão direita sobre meu peito e dei
leves batidas, sussurrei para que ele se acalmasse, pois depois daquele dia
nada e ninguém poderia nos separar.
“Por isso, o homem deixará pai e mãe, e se unirá à sua mulher, e os
dois serão uma só carne? De modo que eles já não são dois, mas uma só
carne. Portanto, o que Deus uniu, o homem não separe.”
Eu recitava em pensamento!
E ela entrou...
Perfeita!
Minha!
Acompanhada por seu pai, o véu que cobria seu rosto não me impedia
de ver seu sorriso. Ela estava linda e perfeita com aquele vestido de noiva.
Minhas batidas se aceleraram e eu precisei respirar fundo e soltar o ar bem
devagar.
“— Pode beijar a noiva! — Ele disse!”
Mas, o que eu ouvi mesmo foi: “se acalme, ela já é sua”.
Acho que foi o meu próprio subconsciente tentando me tranquilizar.
Eu amei cada parte do corpo da minha mulher. Não consegui me segurar
e assim que ela adormeceu, após nossa primeira vez como marido e mulher,
em nossa lua de mel, eu a admirei.
Gravei cada detalhe em minha mente. Tive medo de que ela partisse, me
deixasse, ou qualquer outra coisa absurda que só existia dentro da minha
cabeça. Então, eu observei cada curva do seu corpo, as pintinhas em suas
costas, o arrepio em sua pele, quando sem poder mais controlar, eu a toquei
de leve. O cheiro dos seus cabelos, da sua pele, mas o que mais me atraíram
foram os seios.
Pequenos, empinados e com os bicos rosados. Eram perfeitos e eu não
resistia a eles. Roberta adorava ser tocada em seus seios. Eu me perdia no
prazer que ela sentia.
Arrancá-los não foi fácil.
Contudo, minha esposa se demonstrou a mulher mais especial, corajosa
e decidida. Ela tomou a mais dura das decisões por amor. Amor ao nosso
filho.
Eu sou o homem mais realizado da face da terra. Fui abençoado por
Deus, quando ele a separou por esposa para a minha vida. Seu corpo
mudou, seus seios naturais foram substituídos por artificiais, o que não
mudou em nada tudo que eu sinto por ela.
Vê-la feliz, realizada e feminina é a única coisa que me importa.
— Confessa, você gostou dos turbinados. — Ela sorri, ao olhar para os
novos seios pelo espelho.
— Não vou negar, mas você sabe que eu gostava dos outros e mesmo
sem eles você ainda continuava perfeita.
— Tá. — Ela revira os olhos e sorri, toda boba após a nova cirurgia.
— São lindos. — Afasto seus cabelos do ombro e a beijo no pescoço. —
Como você.
Quando Mateus completou dois anos, Roberta fez a cirurgia para
reconstruir as mamas. Ela usou duas próteses com trezentos mililitros em
cada. Recobrando parte de sua autoestima. Mas, ainda faltava algo, que nós
conseguimos recentemente.
A nova cirurgia devolveu o brilho original aos seus olhos, de quando ela
se olhava no espelho e se enxergava como mulher de verdade.
As novas próteses das aréolas e dos mamilos devolveram o sorriso
verdadeiro no rosto da minha esposa. Até o sexo mudou e eu não tenho do
que reclamar.
Se os seios representam sua feminilidade, tudo que eu mais quero é que
ela curta esta nova fase da sua vida, pois eu agradeço todos os dias a Deus
por ela estar viva e ao meu lado.
Minha Roberta, o grande amor da minha vida!
Agradecimentos
Agradeço a Deus por me abençoar com o dom de uma mente criativa.
Pois o intuito é criar fantasias que nos permitam sonhar. Agradeço a toda
minha família por me apoiar. Agradeço aos meus leitores do Wattpad, onde
essa história começou a ser desenvolvida. Principalmente ao grupo de
WhatsApp Wattpadianos.
Agradeço às escritoras do Projeto AmazonasBooks por toda ajuda no
processo de divulgação do material de trabalho.
Meu muito obrigada a todos!
Sobre a Autora