Olá, hoje eu estou aqui para falar um pouco sobre o
livro quarto de despejos diário de uma favelada da autora carolina maria de jesus. Meu gosto para literaturas é um tanto clássico, gosto de ler sobre a filosofia de escritores que viveram em séculos passados, já pus em minha frente muitos livros como Nietzsche, Immanuel Kant, Simone De Beauvior, Virginia Woolf mas nunca li algo tão real e pré disposto a falar de uma filosofia única de uma maneira tão simples. Quando soube que deveríamos ler sobre o quarto de despejos na escola meus olhos se reviravam pois não dava tantos créditos as literaturas indicadas, pois sempre se despunham a falar sobre um mundo místico, um conto de fadas sobre seres sobrenaturais que aprendiam lições simples sobre; amor, confiança, amizade etc. A cada página que se passava sobre meus olhos percebia o quanto não queria parar de ler, percebia o quanto todos os ideais que estava procurando nos livros sobre pessoas ´´importantes`` haviam aparecido sobre minha frente em palavras vindas de uma favelada. Por todas as histórias de povos que se propuseram a lutar por seus direitos e liberdades que foram escritas em livros por pessoas que apenas sabiam da existência dessas lutas, pude me lembrar da mais básica de todas as minhas ideias; ´´Apenas se pode entender uma dor quando contada a partir de alguém que já presenciou tal sentimento``. Veio a mim a imagem de todas as mulheres pretas como Carolina que lutam todos os dias para simplesmente poder ter o direito a água e comida. Como posso dizer que sou livre e feliz enquanto existem pessoas com a mesma pele que eu, e vindas do mesmo povo que eu mas que são tratadas como nada além de algo que possa ser descartado. A realidade assombrosa que Carolina nos mostra sobre como realmente funciona a política por um lado escuro e medonho, revelando a verdadeira face de todas as pessoas que já se propuseram a saber sobre o sofrimento de tamanha gente mas simplesmente ignorar. Quantas promessas de um futuro melhor já foram lindamente detalhadas e feitas mas nunca verdadeiramente cumpridas? Quarto de despejos para mim é uma ferida, uma ferida feita não a partir do momento em que pude ler o livro mas sim uma ferida feita por volta de 1530. Quando um povo chegou em nosso país e ao se deparar com tamanha cultura diferente de seus costumes portugueses se viu no direito de superioridade e dominância perante aqueles que aqui já estavam. A história de Carolina e as pessoas a sua volta é só mais uma entre as várias, algumas que não puderam ser contadas, historias de pessoas pretas que puderam presenciar como um mundo pode ser tão desigual, julgando o que deveria ser julgado de maneira justa a mercê da cor de pele que alguém possui. Carolina mostra seu orgulho por ser uma mulher preta, mas também percebe as dores que essas palavras carregam. Além de todas as dificuldades que teve de enfrentar ainda teve em seu coração gélido e sozinho, achou de uma maneira inexplicável forças para criar seus filhos com amor. O amor de uma mãe solteira disposta a andar descalço ou passar fome para que seus filhos pudessem comer. Uma mulher solteira que não se via a necessidade de um homem, que em si própria achava forças para lutar, sem o auxílio nem mesada que o pai dos seus filhos deveria dar-lhes. Uma mulher só com um amor que por muitos inconcebível por seus filhos. Quando me vem a mente o fato de que exista pelo mundo mulheres solteiras como Carolina que além de ter de criar seus filhos sem apoio financeiro ou ate mesmo paterno me pego pensando no quanto as mulheres podem ser fortes e aguentar não só a ausência mas também os olhares e julgamentos de uma sociedade baseada no ideal de uma família ideal. Estes devem esquecer que não existe um padrão para se chamar alguém de família, o simples amor já quebra todos os padrões ou ideais lançados a partir de tal conceito. A existência de lugares como as favelas hoje no Rio de Janeiro, São Paulo e demais lugares me fazem pensar no que levou essas pessoas a estarem tão divididas das outras parcelas da sociedade, quando o nome ´´favela`` vem a tona em uma conversa várias imagens podem ser imaginadas na cabeça das pessoas. Sejam estas, pensamentos sobre higiene sanitária, tráfico, fome, casas entoadas umas as outras por falta de estrutura mas a única coisa em que deveria estar conjugando o pensamento seria a pergunta que quase ninguém se faz quando se imagina tal lugar. Como essas pessoas chegaram a viver a esse ponto? A abolição da escravatura ocorreu em 1888 por mais que agora depois de tantos anos de sofrimento os escravos brasileiros pudessem ser livres, para onde iriam? A escravidão não lhes tirou apenas o direito a liberdade mas sim o direito de poder construir sua própria historia, mesmo que livres teriam de eles próprios construir seus lares e achar uma maneira de sobreviver, pois assim como hoje em dia as pessoas que vivem nas favelas como Candirú não esperam mais nada que possa lhes ajudar daqueles acima os escravos também não esperavam. É importante entendermos os fatores históricos que levaram a sociedade a ser organizada a partir de uma divisão de raças, como foi o caso da escravidão que ate mesmo nos dias atuais ainda esta presente na forma de racismo contra povos ou etinias que no passado também foram desfavorecidas. Carolina Maria de Jesus foi uma mulher que serviu de inspiração e motivação para muitas pessoas, demonstrando uma realidade completamente diferente do que se poderia esperar naquela época. Mas tamanha luta ainda não chegou ao fim, pois ainda existem muitas pessoas como ela, por isso é importante entendermos nosso privilegio e nos opor a um sistema opressor que não é feito de maneira igualitária para todos os cidadãos. Lute como Carolina fez.
Identificados Pelo Carrinho: o protagonismo sociopolítico de catadores e catadoras de materiais recicláveis em suas lutas por direitos, cidadania e reconhecimento