Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Capa
Alceu Chiesorin Nunes
Ilustração do peixe
Ivan Kotliar/ Shutterstock
Preparação
Silvia Massimini Felix
Revisão
Adriana Bairrada
Ana Luiza Couto
Duvivier, Gregorio
Caviar é uma ova / Gregorio Duvivier. — 1a ed. — São Paulo
: Companhia das Letras, 2016.
isbn 978-85-359-2816-7
16-07514 cdd-869.8
Índice para catálogo sistemático:
1. Crônicas : Literatura brasileira 869.8
[2016]
Todos os direitos desta edição reservados à
editora schwarcz s.a.
Rua Bandeira Paulista, 702, cj. 32
04532-002 — São Paulo — sp
Telefone: (11) 3707-3500
Fax: (11) 3707-3501
www.companhiadasletras.com.br
www.blogdacompanhia.com.br
facebook.com/companhiadasletras
instagram.com/companhiadasletras
twitter.com/cialetras
Sumário
Triste balneário, 9
Desculpa, São Paulo, 11
O que aprendi com quem, 13
Serhumanidade, 15
Terra estrangeira, 17
Chupa, Dado, 19
Perdemos, 21
Estágios do assalto, 23
Ator e autor, 25
Sísifa feliz, 27
Empatia é quase amor, 29
Todos atentos olhando pra tv, 31
A cerimônia do adeus, 33
Sábado, 35
Capricha no chorinho, 37
Somos todos pinguins, 39
Viva a falta de respeito, 41
O grande romance do século xxi, 43
Minha avó Ivna, 45
Lembrar de esquecer, 47
Abraço caudaloso, 49
O sangue que corre nas nossas veias, 51
O céu fica aqui pertinho, 53
Haters gonna hate, 56
Neologismos, 58
Bíblia secreta — parábolas apócrifas, 60
Vergonha parcelada, 62
Viver pra postar, 64
Contra a corrupção!, 66
Calvofobia, 68
Álvaro, me adiciona, 70
Social das redes sociais, 72
Crônica de raiz, 74
O novo pau-de-selfie, 76
Que ódio, 78
Querido pastor, 80
A privada e a bicicleta, 82
rip Rio, 84
Não quer ajudar, não atrapalha, 86
Não entendo, 88
Por que odiar o pt, 90
Não era amor, era cilada, 92
Aquele mamão mofado, 94
Do outro lado da folha, 96
Luisa, 98
Mundo, Brasil, Rio, Casa, 101
O folgado e o ilunga, 103
Carteira cheia, carteira vazia, 105
Só neste país é que se diz neste país, 107
Dois mil e crise, 109
A mesa de cabeceira, 111
Aforismos pra sabedoria de vida, 113
Achados e perdidos, 115
Alô. Som. Testando., 117
Contratempos, 119
O certo, o justo e o imbecil, 121
Adeus, Facebook, 123
Festa estranha, gente esquisita, 125
Os ignorantes do Leblon, 127
Até que a morte nos separe ainda mais, 129
Dietas do verão, 131
Carnaval: modo de usar, 133
Potenciais assassinos, 135
O bloco que não acabou, 137
Um dia vai ser muito estranho, 139
Dúvidas de um ignorante, 141
Do que é que se tem saudade, 143
O sequestro das palavras, 145
Festejando no precipício, 147
Amanhontem, 149
WhatsApp: modo de usar, 151
Nunca é tarde pra abrir os olhos, 153
Faltou combinar com os russos, 155
Permissão pra sonhar, 157
House of Soraya, 159
Não se mate ainda, não, 161
O que é que ele tem, 163
Barbara, 165
Cacarecos da língua, 167
O relacionamento aberto, 169
Lambança do Datafolha revela Folha mais conservadora que ca-
pitalista, 171
Dona Folha, tá difícil te defender, 173
Desculpe o transtorno, preciso falar da Clarice, 175
Triste balneário
9
Eduardo Paes importou a lei Cidade Limpa — paulistana.
Tirou todos os outdoors da cidade. Muito legal. Proibiu também
os cartazes na fachada do teatro. Menos legal. Fiquei meses em
cartaz, ironicamente sem cartaz. Pra piorar: no lugar dos cartazes,
o prefeito espalhou autopropaganda. Agora, nas eleições, degrin-
golou. A cidade está abarrotada de cavaletes políticos irregulares
— inclusive e principalmente dos cúmplices do prefeito que se
vangloria de ter feito o tal choque de ordem. Em São Paulo, a
prefeitura proibiu o outdoor. No Rio, ela garantiu o monopólio.
Enquanto em São Paulo a polarização se dá entre pt e psdb,
no Rio é entre o tráfico e a milícia. O carioca vota num candi-
dato pra evitar que o outro se eleja. “Vou votar no pastor pra não
ganhar o miliciano.” “Vou votar no traficante pra não ganhar
o homicida.” Já vi gente discutindo qual candidato era menos
assassino. “A diferença é que seu candidato mata. O meu é dife-
rente. Ele só manda matar.”
Resumindo a tragédia, a disputa atual se dá entre um can-
didato chamado Pezão e outro chamado Garotinho. Não, não é
uma história infantil de péssimo gosto. É terror da pior espécie.
O Haiti não é mais aqui. Ao contrário do Rio, o país mais
pobre da América já saiu da guerra civil e está passando por um
processo civilizatório. Já o Rio tem se transformado num califa-
do ultrarreligioso governado ora por traficantes, ora por milicia-
nos — onde um cafezinho ruim pode custar oito reais.
10
Desculpa, São Paulo
11
na cama te esculacho, coração do meu Brasil. Os hinos paulis-
tanos são muito mais modestos: a deselegância discreta de suas
meninas, São, São Paulo, quanta dor, não existe amor em sp,
entre você e a Angélica encontrei a consolação.
São Paulo inventou o um-beijinho-só, essa coisa de gênio.
O beijinho do cumprimento é uma formalidade que não envol-
ve nem prazer nem afeto real — então que passe rápido. Acordo
telepático: “Vamos combinar que é um beijinho só? Ótimo”.
São Paulo tem medidor de poluição nos relógios. Não vejo
nenhuma justificativa pra isso a não ser o prazer no autoflagelo.
O que vai mudar na sua vida agora que você sabe que o ar está
péssimo? Nada. Você não vai comprar uma máscara de oxigênio.
Não vai plantar uma árvore. Mas agora você pode reclamar que
o ar está péssimo. Ótimo.
O excesso de amor-próprio do carioca gerou uma cidade
insuportável — cega pros seus problemas. O hábito da autopicha-
ção acabou fazendo o paulistano ter sérios problemas de autoes-
tima. Deixa um carioca deslumbrado te amar, São Paulo.
12