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João Pessoa
2021
SORAYA GONÇALVES CELESTINO DA SILVA
João Pessoa
2021
Para Jaerson, meu esposo, minha neta,
Clarisse, Lara e meus filhos, que me
impulsionaram a continuar mesmo diante de
tantos obstáculos, que me ensinam todos os
dias que o amor não tem barreiras e que a vida
é única.
AGRADECIMENTOS
Agradeço a Deus, que é meu tudo, que me deu o dom da vida e outra oportunidade de
continuar a viver, que me guia e me permite alcançar novos sonhos a cada dia.
Aos meus pais, Gonçalves e Marinalva, por sempre me apoiarem e torcerem por cada
etapa e sucesso em minha vida. Posso ser quem sou hoje por tudo o que vocês fizeram e são
para a minha vida. A toda a minha família, irmãos, cunhadas e sobrinhos pelo amor, carinho e
apoio, de perto ou de longe, na realização deste projeto. Em especial a meus irmãos, vocês são
parte desta conquista. Muito obrigada!
A Jaerson meu tudo, amigo, esposo, pelo apoio, pelo incentivo, pela paciência
(principalmente nas oscilações de humor), pela compreensão e pelo afeto cotidiano e contínuo,
te amo muito. E a meus filhos que amo imensamente. As minhas netas: Lara – que amo calada;
para você desejo tudo de bom – e Clarisse, que me desafia, a cada dia, a ser uma pessoa melhor,
e cuja paciência com o processo de doutorado foi amiga e cúmplice de todos os momentos, o
meu amor por você é sem igual.
À minha querida e estimada mentora e orientadora Evangelina Faria, que desde o início
do mestrado me incentivou na vida acadêmica, me leva a pensar e refletir a minha realidade.
Acreditou no potencial deste trabalho, mesmo sendo uma área um tanto nebulosa e
desconhecida! Obrigada pela parceria e amizade, pelo seu apoio, paciência, disponibilidade,
confiança e humildade que me ensina e me faz crescer pessoal, acadêmica e profissionalmente.
Gratidão à profª. Mariane Cavalcante pelos seus ensinamentos e orientações, a amiga-
irmã de Evangelina. Mary, você é uma pesquisadora por excelência nos critérios acadêmicos e
ser igualmente inteligente e incansável, afetiva e alegre, sou uma pessoa melhor por te conhecer.
Aos professores Giorvan Ânderson e à sua esposa, Profª. Isabelle Cahino, pessoas muito
queridas e admiráveis em todos os sentidos. À Profª. Carla Reichmann, pelas trocas de leituras,
vivências na disciplina na pós-graduação em Linguística Aplicada, à Profª. Fátima Almeida
meu muito obrigada por dividir sua paixão por Bakhtin. Prof.ª. Aparecida Valentin uma pessoa
belíssima e competente, minha gratidão.
Um agradecimento especial à Prof.ª. Drª. Betânia Passos Medrado, por me aceitar no
seu grupo de pesquisas, o ALDEI, onde tive a oportunidade de conhecer pessoas fantásticas,
meu muito obrigada a todos.
A todos os docentes do PROLING, em especial, àqueles com quem tive a oportunidade
de cursar disciplinas e/ou minicursos e aos que me auxiliaram, de algum modo, a construir este
trabalho e na minha imersão nos conhecimentos linguísticos.
Ao coordenador e ao vice coordenador do PROLING, respectivamente, Prof. Dr. José
Ferrari Neto e Prof. Dr. Márcio Martins Leitão, por resolverem dúvidas e questões
administrativas prontamente, por estarem sempre disponíveis para me atender.
Aos secretários do PROLING, Ronil e Valberto, que me auxiliaram com orientações,
desde o processo seletivo até a agilidade, em todas as etapas burocráticas do curso. Minha
sincera gratidão a vocês pelo suporte ofertado a todos os estudantes desse programa.
Aos meus amigos da UFPB: Jonh Herbert; Jocielly Alfredo; Cesar Rodrigues; Daniel e
Layse; Edclecia; Jaciara Dantas; Janielle Santos; Cássio Kennede; Marilene Gomes e seus
gêmeos que são umas fofuras, você é uma guerreira, amiga. São tantos parceiros na
universidade... Wilder Santana que, muito gentil e atencioso, traduz meus resumos. Obrigada
pela amizade e pelos inúmeros momentos compartilhados
A minha amiga irmã Fábia Sena, que, conheci no doutorado, minha companheira
inestimável que me apoia em todas as decisões acadêmicas e pessoais. Uma pessoa com a qual
você pode contar, companheira de muitos trabalhos, uma amiga que entende meus silêncios e
sempre me apoia quando os outros não entendem. Você tem um valor imensurável para mim.
Gratidão à equipe gestora Rejane Dantas e Daniela, à professora Adna, da escola
municipal de Olinda pelo espaço cedido e pela contribuição dada para a construção desta
pesquisa. Vocês são guerreiras!
O agradecimento mais especial vai para meu aluno autista participante da pesquisa, que,
por suas características, podem não saber a quão grata sou por ter a oportunidade de conhecê-
lo e participar um pouco de sua vida. Por questões éticas, não posso identificá-lo, sem você
nada do que está apresentado neste trabalho poderia existir. Você é a razão deste trabalho.
Obrigada à mãe por ter permitido a minha aproximação e me apoiado durante todo o processo
dessa pesquisa. Os laços construídos aqui permanecerão. Sou eternamente grata!
RESUMO
Quadro 01 – Trabalho do Estudo da Arte que foram relevantes para a pesquisa ................................25
Quadro 02 – Relação entre DSM-IV e CID 10......................................................................................33
Quadro 03 – Classificação das subdivisões do TEA da CID 11...........................................................34
Quadro 04 – Sinais e sintomas no autista nos primeiros anos de vida .................................................35
Quadro 05 – Nível de severidade do Tea de acordo com DMS-V .......................................................36
Quadro 06 – Quadro evolutivo biológico-genético ...............................................................................39
Quadro 07 – Fatores ambientais e seus agentes .....................................................................................42
Quadro 08 – Visão dos autores para neurodiversidade .........................................................................42
Quadro 09 – Terapias comportamentalistas para o autista ....................................................................51
Quadro 10 – Legislação de amparo legal do TEA.................................................................................55
Quadro 11 – Alterações da linguagem ...................................................................................................71
Quadro 12 – Perfil de escolarização do aluno com TEA ....................................................................109
Quadro 13 – Coleta de dados de 2018 a 2020......................................................................................111
Quadro 14 – Dados da coleta do ano de 2018......................................................................................116
Quadro 15 – Dados da coleta do ano de 2019......................................................................................117
Quadro 16 – 1ªSequência didática – .....................................................................................................119
Quadro 17 – 2ª Sequência didática – ....................................................................................................121
Quadro 18 – Eixo produção de textos escritos dos direitos de aprendizagem ...................................123
Quadro 19 – Campo Temático de atuação -Produção de Texto do 1º aos 5º anos da BNCC ..........124
Quadro 20 – Transcrição do 1º módula da 1ª SD ................................................................................127
Quadro 21 – Comparativo escrita inicial e atual da 1ª SD ..................................................................135
Quadro 22 – Transcrição do 4º Módulo da 1ª SD................................................................................137
Quadro 23 – Transcrição de Atividade com pareamento de grafema fonema e imagem .................142
Quadro 24 – Identificação dos sinais de trânsito no vídeo .................................................................144
Quadro 25 – Transcrição da figura .......................................................................................................148
Quadro 26 – Comparativo escrita inicial e atual da 2ª SD ..................................................................148
LISTA DE TABELAS
1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................17
2 TRANSTORNO DO ESPECTRO AUTISTA: da esquizofrenia ao TEA ...............................29
2.1 Contextualização histórica, definição e diagnóstico do autista ................................................29
2.2 Etiologia do autismo ........................................................................................................................38
2.2.1 1º grupo: Paradigma biológico-genético .......................................................................................39
2.2.2 2º grupo: Paradigma Relacional ....................................................................................................41
2.2.3 3º grupo: Paradigma Ambiental ................................................................................................41
2.2.4 4º grupo: Paradigma da Neurodiversidade....................................................................................42
2.2.5 5º grupo: Paradigma Neurobiológico ............................................................................................43
2.3 A Linguagem do TEA .....................................................................................................................45
2.3.1 Abordagens terapêuticas para o TEA ............................................................................................50
2.3.2 Abordagem comportamentalista....................................................................................................51
2.4 Políticas públicas que amparam o TEA.......................................................................................55
2.4.1 A mediação do professor do AEE e o TEA ..................................................................................59
2.4.2 A importância da adaptação curricular no AEE do TEA.............................................................61
3 AQUISIÇÃO DA ESCRITA: DO DESENHO AO TEXTO ......................................................67
3.1 Concepção da escrita .......................................................................................................................67
3.1.1 Vigotsky, a pré-história da escrita: do gesto a escrita...................................................................71
3.1.2 A escrita da criança.........................................................................................................................76
3.2 Alfabetização/letramento do TEA ................................................................................................83
3.2.1 Multimodalidade e os multiletramentos em benefício do TEA...................................................89
3.2.2 Gêneros textuais no letramento do TEA .......................................................................................93
3.2.3 Sequência didática no letramento do TEA....................................................................................95
3.3 O uso de tecnologia no AEE do TEA em ambiente digital .......................................................98
4 DOS PROBLEMAS A PROCURA DE SOLUÇÕES: Percurso Metodológico ...................104
4.1 Delineamento da pesquisa ............................................................................................................104
4.1.1 Local da pesquisa..........................................................................................................................106
4.1.2 Caracterização da unidade escolar da pesquisa ..........................................................................106
4.2 Seleção dos participantes / informantes da pesquisa ...............................................................108
4.2.1 Caracterização do participante da pesquisa com TEA – Estudo de caso..................................109
4.2.2 Período da pesquisa ......................................................................................................................111
4.2.3 Amostra: critérios de elegibilidade, escolha e caracterização....................................................112
4.3 Aspectos éticos ................................................................................................................................112
4.4 Instrumentos utilizados.................................................................................................................113
4.4.1 O corpus ........................................................................................................................................114
4.4.2 Procedimentos de coleta dos dados – Percursos – Sequências Didáticas .................................115
4.4.3 – 1ª – Sequência didática –...........................................................................................................118
4.4.4 2ª Sequência didática: ...................................................................................................................120
4.4.5 Critérios de aná1ises .....................................................................................................................122
5 ANÁLISES DE PERCURSOS TRILHADOS DE UMA PESQUISA ...................................127
5.1 Sequência didática 1 – ...................................................................................................................127
5.2 Sequência didática 2 – ...................................................................................................................139
5.2.1 Produção inicial ............................................................................................................................139
APÊNDICE A – SINAIS PRECOCES PARA IDENTIFICAR A PEA EM
RELAÇÃO AO DESENVOLVIMENTO.............................................................................171
APÊNDICE B – ESTÁGIOS DE DESENVOLVIMENTO DA LINGUAGEM NA
COMUNICAÇÃO SOCIAL ...................................................................................................173
APÊNDICE C: OBJETIVOS PARA O SUPORTE TRANSACIONAL........................175
APÊNDICE D: INDICADORES CLÍNICOS DE RISCO PARA O
DESENVOLVIMENTO INFANTIL.....................................................................................177
APÊNDICE E: AVALIAÇÃO PARA RELACIONAMENTOS,
COMUNICAÇÃO E PENSAMENTO..................................................................................178
ANEXO A – PARECER CONSUBSTANCIAL DO CEP / UFPB ..................................179
ANEXO B – CARTA DE AUTORIZAÇÃO PARA REALIZAÇÃO DA
PESQUISA..................................................................................................................................180
ANEXO C: CARTA DE ANUÊNCIA DA ESCOLA MUNICIPAL DE OLINDA......181
ANEXO D – CARTA DE ANUÊNCIA DA SECRETARIA MUNICIPAL DE
EDUCAÇÃO, ESPORTES E JUVENTUDE DE OLINDA..............................................182
ANEXO E – TCLE DO PROFESSOR DO AEE DA SRM...............................................183
ANEXO F – TCLE DO RESPONSÁVEL PELO ALUNO PESQUISADO ..................184
ANEXO G – TERMO DE ASSENTIMENTO PARA PARTICIPANTE MENOR
DE IDADE ALUNO..................................................................................................................185
17
1 INTRODUÇÃO
1
No texto, os termos TEA e Autismo serão considerados sinônimos e ambos contemplam o Transtorno Autista,
a Síndrome de Asperger e o Transtorno Invasivo do Desenvolvimento Não-Especificado.
2
Levando-se em consideração as diferentes formas de escrita do nome do estudioso russo Lev Semenovich
Vigotski (1896-1934) – Vygotsky, Vigotsky, Vygotski, Vigotskii, Vigotski, entre outras –, a forma usual neste
trabalho será Vigotsky, exceto as citações e referências, as quais serão escritas conforme a grafia do texto
original.
18
sentido e façam parte da vida do aluno. Soares (2006) sugere o uso do termo no plural –
letramentos – pois uma única definição não contempla as práticas de leitura e de escrita que
ocorrem nas culturas letradas.
Elucida-se que o termo letramentos vai além dos aspectos relacionados à leitura e à
escrita e que, ao excedê-los, outras demandas conduzem esse letramento em outros contextos e
em diversos suportes. Esse termo foi redefinido devido à multiplicidade de sistemas semióticos
e de modalidade de comunicação e a diversidade linguístico-cultural.
Em 1996, um grupo de pesquisadores3 dos letramentos de Nova Londres (GNL),
participaram de um manifesto intitulado “A Pedagogy of Multiliteracies“. Esse grupo apontava
que os alunos dispunham, há mais de quinze anos, de ferramentas de acesso à comunicação e à
informação e de agência social que acarretavam novos letramentos, de caráter multimodal ou
multissemiótico. Esse manifesto alega a necessidade de a escola reconhecer os novos
letramentos emergentes da sociedade contemporânea, levando em conta as novas Tecnologias
da Informação e Comunicação (TIC) e incluir, nos currículos, a grande variedade de culturas já
presentes em sala de aula de um mundo globalizado.
Rojo (2013, p. 8) afirma que “[...] se os textos da contemporaneidade mudaram, as
competências/capacidades de leitura e produção de textos exigidas para participar de práticas
de letramentos atuais não podem ser as mesmas“. Nesse cenário, a escola, consequentemente,
é convocada a ser um espaço de multiletramentos, socializando saberes da cultura escrita e da
cibercultura (ROJO, 2012). Atualmente, já se sabe que o uso de multiletramentos semióticos
propicia a estimulação visual, auditiva e cognitiva de alunos típicos e atípicos, o que reforça a
presença de textos multimodais nas instituições de ensino (SILVA; FARIA, 2021).
Acreditamos que o processo de letramento desse aluno com TEA, através de um
planejamento fundamentado na pedagogia dos multiletramentos com o suporte de recursos
tecnológicos em ambiente digital, favorecerá o seu desenvolvimento nesse processo. Nesse
seguimento, a Base Nacional Comum Curricular - BNCC (BRASIL, 2018) favorece o
desenvolvimento das competências e habilidades relacionadas ao uso das tecnologias digitais
tanto de forma transversal quanto presentes em todas as áreas do conhecimento com recursos
tecnológicos e linguagem digital, para uso e desenvolvimento de TDIC nas práticas sociais,
como evidencia a Competência 5:
3
Dentre eles, Courtney Cazden, Bill Cope, Mary Kalantzis, Norman Fairclough, Jim Gree, Gouther Kress, Allan
e Carmen Luke, Sara Michaels e Martin Nakata.
19
4
O atendimento educacional especializado – AEE tem como função identificar, elaborar e organizar recursos
pedagógicos e de acessibilidade que eliminem as barreiras para a plena participação dos alunos, considerando
suas necessidades específicas (BRASIL, 2008).
20
diagnosticada com espectro autista naquele país. A ONU (Organização das Nações Unidas)
declara que 1% do total da população mundial pode ser diagnosticado com autismo. Em 2010,
esse percentual foi reafirmado pelo então secretário-geral Ban Ki-moon no documento do painel
de discussão do Dia Mundial de Conscientização do Autismo de 2013. No Brasil, ainda não há
dados oficiais sobre o autismo, e existe um projeto de lei tramitando no Legislativo Federal
desde 2018, a proposta tornaria obrigatória a coleta de dados e informações sobre autismo nos
censos demográficos realizados. Desse modo, se formos calcular, de acordo com a população
brasileira de 213,3 milhões de habitantes conforme dados do Instituto Brasileiro de Geografia
e Estatística (IBGE, 2021), teríamos em torno de 2,13 milhões de pessoas com esse diagnóstico.
Compreende-se o TEA como um distúrbio do neurodesenvolvimento caracterizado por
déficits relevantes em habilidades sociocomunicativas, pela presença de interesses restritos e
comportamentos repetitivos e estereotipados (APA5, 2013; PAULA; CUNHA; SILVA;
TEIXEIRA, 2017). O Manual Diagnóstico e Estatístico dos Transtornos Mentais em sua 5ª
edição (DSM-5 – APA, 2013) propôs que interesses restritos no espectro autista variam seus
sintomas em três níveis de gravidade – leve, moderado ou grave. O TEA apresenta variações
quanto ao nível de desenvolvimento intelectual, havendo também alterações de
comportamento, comprometimento da comunicação e da interação social, o que se reflete nas
atividades escolares, manifestando interesse por poucas temáticas e uma aprendizagem
fundamentada no pensamento concreto. Isto é, cada autista é único.
Também já se sabe que o autista tem inúmeras capacidades a serem desenvolvidas. O
autista, no caso dessa criança, é um sujeito com sonhos, desejos e direitos. Durante anos,
mostrou-se aberto a novos relacionamentos, a descobertas e a se sentir feliz com as conquistas
realizadas na escola, principalmente na sala de AEE. Isso nos faz vê-lo como sujeito de seu
conhecimento. As limitações descritas, com um processo de mediação apropriado, não serão
barreiras para um desenvolvimento de suas capacidades, como se verá no decorrer deste
trabalho.
O interesse de investigar sobre a aquisição da escrita pela criança autista no contexto
escolar, em ambiente digital, instigou-nos pela escolha do tema ora tratado e que faz parte do
nosso percurso nos caminhos da educação especial. Discorremos, nessa tese, acerca dos
principais resultados discutidos em uma pesquisa que busca compreender os percursos da
5
American Psychiatric Association é uma organização de psiquiatras que trabalham em conjunto para garantir
atendimento humano e tratamento eficaz para todas as pessoas com doenças mentais, incluindo transtornos por
uso de substâncias.
21
escolarização de uma criança autista no ensino regular nos anos iniciais do ensino fundamental
e na aquisição da escrita em ambiente tecnológico com ênfase na produção textual.
Paralelamente ao crescimento do uso da tecnologia na sociedade, houve, na escola, um
direcionamento para o acolhimento das diferenças através das políticas públicas inclusivas.
Santarosa e Conforto (2015, p. 350) entendem que “a diversidade humana e os dispositivos
móveis (laptops e tablets) começam a imprimir as possibilidades e os desafios relacionados à
presença de estudantes com deficiência na escola regular“. Essas políticas possibilitaram
pesquisas no campo da Informática na Educação Especial (SANTAROSA; CONFORTO;
VIEIRA, 2014), de modo que se percebe que as tecnologias digitais, quando acessíveis a alunos
com ou sem deficiência, leva o professor ao empoderamento, e isto impulsiona novas práticas
pedagógicas.
Esses cenários remetem à reflexão quanto aos caminhos percorridos pela educação
especial no processo de inclusão, à sistematização da escola e mais ao entendimento de como
esses aspectos interferem na prática pedagógica que viabiliza avanços no seu desenvolvimento.
Evidenciamos os conflitos encontrados na relação que a escola estabelece com o ensino da
linguagem escrita para um sujeito com TEA.
Para conhecermos um pouco das pesquisas científicas realizadas sobre o objeto de
estudo, aquisição da escrita, alfabetização/letramento, tecnologia e autismo, admitimos
inclusive a elaboração do Estado da Arte6. Para a construção desse estado do conhecimento,
adotamos um protocolo que contempla um conjunto de questões de pesquisa: um panorama
histórico dos últimos dez anos (2011 – 2021) de produção científico-acadêmica; as bases de
dados contempladas; os descritores da pesquisa; um conjunto de critérios de inclusão e
exclusão; o método de análise e compilação dos dados.
O escopo dessa pesquisa aborda as publicações nacionais disponíveis nas bases
eletrônicas de dados, a saber: Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior
(CAPES); Scientific Electronic Library Online (SCIELO); Google Acadêmico e alguns
repositórios, notadamente:
• Repositório institucional do Programa de Pós-Graduação em Linguística da
Universidade Federal da Paraíba (PROLING/ UFPB);
• Repositório institucional da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE);
• Repositório institucional da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM);
6
O Estado da Arte tem como objetivo fazer um levantamento, mapeamento e análise do que se produz
cientificamente por área do conhecimento, período cronológico, espaço, forma e condição de produção
(FERREIRA, 2002; ROMANOWSKY e ENS, 2006).
22
Gráfico 01 – Distribuição dos artigos por ano de publicação e suas bases de dados
8
6
4
2
0
2011201220132014
2015 2016 2017 2018
2019 2020 2021
Houve uma quantidade expressiva de 38 artigos nos quatro últimos anos (2018, 2019,
2020 e 2021), sendo notória a lacuna de publicações nessa área para os anos de 2011 a 2013. O
aumento de interesse pela tríade “alfabetização, tecnologia e TEA“, ganha relevância com a
publicação da Lei Berenice Pianna Nº 12.764/2012, que “criou a Política Nacional de Proteção
dos Direitos da Pessoa com Transtorno do Espectro Autista [...] e dispõe sobre o acesso à
educação e à proteção social; ao trabalho e a serviços que propiciem a igualdade de
oportunidades“. Essa lei foi publicada em dezembro de 2012, pois justifica o início de
publicações a partir de 2014; o ano de 2013 foi de sua implantação e divulgação.
Acompanharemos, na Tabela 02, o quantitativo de publicações por descritores dos
artigos inclusos nesse estudo. Para identificação dos descritores iremos denominar: Descritor 1
(D1): Aquisição de linguagem escrita e TEA; Descritor 2 (D2): Alfabetização, tecnologia e
24
• 25 produções científicas que envolvem os três descritores (D1- 4, D2- 13, D3- 8), a
exemplo disso, observemos algumas produções (dez) no Quadro 01 a seguir.
Laurindo Atendimento educacional Verificar a evolução das habilidades de leitura e Estudo de caso
(2018). especializado da criança escrita de uma criança autista, a partir da escrita
Artigo com transtorno do digital, por meio da aplicação de uma sequência
espectro autista: uma didática adaptada para esse tipo de atendimento.
proposta com os
multiletramentos
Silva; Dias; Educação especial, Analisar de que forma a Multimodalidade Estudo de caso
Corrêa (2019). transtorno do espectro poderia contribuir no processo de ensino-
Artigo autista e multimodalidade: aprendizagem de uma criança diagnosticada
uma análise do processo com o Transtorno do Espectro Autista (TEA)
de alfabetização
Dias; Sales; O uso da tecnologia no Analisar os ganhos no processo de alfabetização Estudo de caso
Paula (2019). processo de alfabetização de um indivíduo com TEA, após implementação
Artigo de um autista: estudo de de ferramentas tecnológicas como instrumentos
caso de intervenções.
Silva; Faria Uma proposta com Analisar o processo de aquisição da linguagem Pesquisa-ação no
(2021). multiletramentos no escrita de uma criança autista em ambientes estudo de caso
Artigo atendimento educacional tecnológicos, a partir dos multiletramentos
especializado na
alfabetização do aluno
autista
Kliemann Autismo, tecnologia e Realizar uma Experimentação Pedagógica com Experimentação
(2018). aprendência: de ritornelo e cinco estudantes autistas e uma investigação Pedagógica pesquisa-
Tese de polifonia. sobre educação inclusiva e o emprego da ação.
Tecnologia de Comunicação Digital (TCD).
Santos Lima Gamificação na educação Investigar se a escola tem utilizado (ou não) a Estudo exploratório
(2021). especial: jogos digitais e gamificação no ensino-aprendizagem de
Monografia não digitais no ensino- estudantes autistas pelo que reverberam os
aprendizagem de professores dos anos iniciais de uma escola
estudantes autistas. pública municipal da cidade de Maceió/ AL.
Candido (2020). Aplicativo assistivo como Objetivou a construção de um aplicativo Uma pesquisa de
Artigo auxiliador da produção assistivo visando dar auxílio às pessoas com caráter exploratório e
textual de alunos com autismo nas suas produções de textos descritivo
TEA
Rocha (2018). Por dentro da linguagem Destacar as práticas pedagógicas lúdicas e Pesquisa de campo
Monografia lúdica do autismo: interdisciplinares como mediação para o
políticas e práticas no desenvolvimento e aprendizagem de uma
ensino fundamental criança autista na Escola Básica da Universidade
Federal da Paraíba.
Weishemer Escrita de aluno com Analisar como alunos com Transtorno do A pesquisa é do tipo
(2019) transtorno do espectro Espectro Autista leve (doravante, TEA leve) qualitativa descritiva e
Dissertação autista leve. manuseiam a linguagem em registro escrito na interpretativista.
escola.
Fonte: Dados da Pesquisa (2021)
26
Essas publicações sinalizam que o fato de terem sido localizados artigos, TCC,
dissertações e teses – todos com a busca vinculada ao TEA/autista e autismo – mostra que foi
possível identificar que a aquisição da escrita pelo aluno autista em ambientes digitais, com
ênfase na produção de texto, evidencia que não tem havido publicações sobre esse transtorno
quanto aos aspectos linguísticos que fazem parte do processo de aquisição da escrita, o que
justifica a elaboração de produções nessa área, como este trabalho.
Apresentando um outro viés, este texto quer mostrar a importância da multimodalidade
para a criança autista em processo de aquisição da escrita, evidenciando dificuldades e
particularidades no processo que podem ser superadas por meio de uma boa mediação do
professor do AEE entre metodologias apropriadas, materiais adaptados e o auxílio de
tecnologias.
No caso do nosso trabalho, as hipóteses sobre essa perspectiva são as de que alfabetizar
pessoas com autismo a ler e escrever pode ser um desafio: devido ao cumprimento das leis, as
dificuldades no processo de inclusão, as limitações e os conflitos vividos na escola podem
obstar a construção de práticas pedagógicas capazes de promover o avanço e o desenvolvimento
do autista. Essa hipótese será aprofundada na discussão dos resultados.
Assim, as questões de pesquisa desse estudo consistem em: 1) Como ocorre o
desenvolvimento da leitura e escrita da criança com TEA no ensino regular? 2) A utilização do
recurso tecnológico facilitará o desenvolvimento da escrita da criança com autismo no
atendimento educacional especializado?
A tese aqui defendida tem por objetivo geral compreender o processo de aquisição da
escrita de uma criança autista em ambiente digital a partir dos precursores da escrita de
Vigotsky. Para alicerçar todos os fatores que envolvem o nosso objetivo geral, delineamos os
seguintes objetivos específicos:
• Desenvolver sequências didáticas em ambiente digital para a aquisição da escrita em
criança autista;
• Observar estratégias construídas pela criança autista para a aquisição da escrita;
• Descrever o envolvimento da criança autista com o ambiente digital;
• Analisar as produções escritas, identificando habilidades consolidadas e as em processo;
O estudo, de natureza qualitativa, baseado na metodologia de pesquisa-ação,
desenvolveu-se a partir da sequência didática (quatro módulos), elaborada através da pedagogia
dos multiletramentos e aplicada no Atendimento Educacional Especializado com um aluno
27
7
Estereotipias no autismo, as condutas devem: reproduzir um padrão fixo de atividade, movimento ou
vocalização; possuir características morfológicas semelhantes; obedecer a uma cadência de movimento, ritmo e
sons; ser realizadas com ou sem objetos; ter uma constância; permanecer, sem pausas, num tempo próprio fora
do domínio exterior e, aparentemente, não ter um objetivo determinado ou responder a algum estímulo do
meio. (BARROS; FONTE, 2015).
30
S4). O termo “autismo infantil precoce“ foi usado por Kanner, porque os sintomas já eram
evidentes na primeira infância. Entre 1950 e 1960, a hipótese de Kanner que ficou conhecida
como “mãe geladeira “, uma das crenças mais comum era que o autismo era causado por mães
não responsivas emocionalmente por seu(a) filho(a). Essa teoria se mostrou totalmente
infundada e criticada na comunidade médica. Kanner se retrata em seu livro “Em Defesa das
Mães“, afirmando ter sido mal compreendido.
Ainda em 1943, o psiquiatra também austríaco Hans Asperger definiu uma síndrome
denominada de Síndrome de Asperger, destacando a ocorrência preferencial em meninos, que
apresentam falta de empatia, baixa capacidade de fazer amizades, conversação peculiar,
pobreza de expressões faciais, de gestos, com movimentos estereotipados e inteligência normal
ou acima da média com foco intenso em algumas habilidades. Moraes (2014, p.3) reforça que
Hans Asperger sugeriu que o autismo era como uma hipertrofia das características
inatas masculinas. Anos mais tarde em 1980 o psicólogo Baron-Cohen8 postulou que
a principal característica do autismo fora um grande déficit quanto à teoria da mente.
Uma década depois Baron-Cohen reformula seus axiomas e postula que o autismo
seria uma tendência de hiper sistematização. Mais recentemente a teoria foi de novo
revista, o que em alguma medida fez reviver a teoria de Asperger, com o conceito de
autismo como sendo uma hiper masculinização do cérebro (extreme male brain),
nesse sentido, autistas seriam dotados de baixa empatia e alta sistematização.
Em algumas ocasiões, o autismo é visto como retardo mental. Nos esclarece Moraes
(2014, p. 04) que “[...] o autismo se diferencia das demais síndromes de retardo mental, por
gerar proporcionalmente maiores déficits de linguagem e outras habilidades sociais, como
também um dano à capacidade de linguagem expressiva”. As grandes diferenças entre Kanner
e Asperger consistem na revelação de competências linguísticas e cognitivas mais elevadas nos
indivíduos, como a Síndrome de Asperger (LIMA, 2012). Destacamos aqui, como exemplo, a
Temple Grandin que, em 1965, foi diagnosticada com Síndrome de Asperger, e mais tarde criou
a “Máquina do Abraço“, aparelho que simulava um abraço e acalmava pessoas com autismo,
sempre recebeu apoio da família e foi muito estimulada pela mãe. Ser autista não é um rótulo,
é um ser capaz de aprender e se desenvolver através de uma boa estimulação e mediação, como
é o caso do nosso sujeito da pesquisa.
Faremos uma breve caminhada nos DMS a respeito do autismo e suas evoluções
conceituais. A Associação Americana de Psiquiatria [APA] (1952), publica a primeira edição
do Manual Diagnóstico e Estatístico de Doenças Mentais (DSM-I). Ele traz os diversos
8
Simon Baron-Cohen, nascido em 1958, é psiquiatra e psicólogo da Universidade de Cambridge, suas principais
pesquisas discorrem sobre a psicobiologia do dimorfismo de gênero e autismo.
31
Os critérios apontados pelos autores não diferem de outros autores, tais como: distúrbio
de relacionamento social caracterizado por pobreza no contato através do olhar, distúrbios da
fala e da linguagem que se estendem desde um mutismo até a ecolalia, distúrbios de
desenvolvimento.
Rutter (1968), em seu primeiro estudo, procurou diferenciar, o autismo da esquizofrenia
e da psicose infantil; essas terminologias estão relacionadas às diferenças existentes entre
abordagem psicogênica e orgânica e interligando, essa última, aos estudos do sistema nervoso
central-SNC (ANDRADE, 2017). Dez anos depois, Rutter (1978), em seus estudos, observa o
32
De acordo com Klin (2006, p. 1), o autismo e a Síndrome de Asperger são “entidades
diagnósticas em uma família de transtornos de neurodesenvolvimento, nas quais ocorre uma
ruptura nos processos fundamentais de socialização, comunicação e aprendizado “. Ademais, o
transtorno acompanha comumente numerosas outras manifestações inespecíficas, por exemplo:
fobias, perturbações de sono ou da alimentação, crises de birra ou agressividade
(autoagressividade).
A ONU, em 2007, instituiu o dia 2 de abril como o “Dia Mundial da Conscientização
do Autismo“ com o intuito de chamar a atenção da população mundial para o autismo porque
afetava cerca de 70 milhões de pessoas no mundo todo, de acordo com a OMS. Onze anos
depois, em 2018, o Brasil sanciona a Lei 13.652/2018, que institui o 2 de abril como o Dia
Nacional de Conscientização sobre o Autismo.
Em 2009, o Conselho Nacional de Educação (CNE) lança uma Resolução CNE/CEB nº
4/2009 em seu Art. 4º, II, que detalha sobre o TGD,
[...] alunos com transtornos globais do desenvolvimento são aqueles que apresentam
um quadro de alterações no desenvolvimento neuropsicomotor, comprometimento
nas relações sociais, na comunicação ou estereotipias motoras. Incluem-se nessa
definição alunos com autismo clássico, síndrome de Asperger, síndrome de Rett,
transtorno desintegrativo da infância (psicoses) e transtornos invasivos sem outra
especificação. (BRASIL, 2009, p. 17)
ser usados para determinar outros distúrbios e para verificar se há genética ou problemas
neurológicos que às vezes ocorrem concomitantemente com TEA (CHRISTENSEN; BAIO;
VAN NAARDEN BRAUN K et al., 2016). Esse diagnóstico também pode ser feito por
exclusão, por exemplo: surdez, outras síndromes etc. A avaliação abrangente é uma revisão
completa do comportamento da criança e seu desenvolvimento, e podem incluir exames
clínicos, observação, relatos dos pais, histórias de saúde, testes psicológicos, discurso e
avaliações de linguagem. Alguns profissionais podem realizar avaliações abrangentes,
incluindo professores, assistentes sociais, enfermeiros, psicólogos, médicos e fonoaudiólogos.
De acordo com os critérios diagnósticos do DSM-V, houve redução de três domínios
para dois, compostos por comunicação social e comportamentos restritos e repetitivos. Além
disso, seu início não precisa ser mais até os três anos de idade, podem ser iniciados até a
primeira infância (HARRIS, 2018; HOSSEINI; MOLLA, 2020). Acrescentaram-se também
três níveis de severidade nos especificadores do comprometimento cognitivo e linguístico.
Observem os níveis de severidade do TEA, no Quadro 05.
Para o diagnóstico do TEA, não se deve levar em conta somente os aspectos clínicos do
transtorno, e sim, apenas, seus aspectos epistemológicos. Dessa maneira, o autismo pode
interação e
comunicação
social
Comportamento
TEA
Fonte: Elaborada pelas autoras (2022).
A figura 01, representa muito bem o sujeito da pesquisa que se encaixa perfeitamente
no nível 2 de severidade do TEA, precisa ser mediado em boa parte das interações e
comunicações sociais e comportamento, como também nas atividades escolares.
Realizada a contextualização histórica e o diagnóstico do autismo, nos foi oportunizado
uma inserção na dimensão dos conceitos e critérios diagnósticos no intervalo de um século, de
modo que os autistas deixaram de ser esquizofrênicos e agora fazem parte do grupo de pessoas
que têm o Transtorno do Espectro do Autismo. De agora em diante, temos que nos remeter ao
autismo por sua sigla: TEA.
38
Olha como o diagnóstico não é suficiente, no caso do nosso sujeito da pesquisa, ao ser
estimulado ele aprende e nós professores aprendemos com ele, a nos superar para atender todas
as suas demandas e o resultado é incrível, uma boa mediação e não rotulagem dessas crianças
e enxergá-lo como um aluno cheio de possibilidades de evolução e desenvolvimento cognitivo,
comportamental e social é só acreditar.
Em contrapartida, o diagnóstico do TEA pode ser acompanhado de habilidades
surpreendentes, a exemplo, de facilidade para aprender visualmente, muita atenção aos detalhes
e à exatidão; capacidade de memória acima da média e interesse específico em uma área durante
um longo período. Cada indivíduo dentro do espectro apresenta suas especificidades e vai
influenciar como ele se relaciona, se expressa e se comporta. Logo, cada autista é único, e
devemos tratá-los como sujeitos aprendentes. Explanaremos sobre a etiologia do autismo.
Nessa subseção da tese, partindo do princípio de que cada autista é único, o espectro do
autismo diz respeito à forma de apresentação clínica de cada criança e da variação de cada caso.
O espectro é um termo que agrega as causas mais variadas, realidade essa que conduz os
pesquisadores do mundo a investigarem a etiologia específica do autismo.
O CDC (Centers for Disease Control and Prevention) publicou que há uma criança
autista para cada 68 crianças, na faixa etária de oito anos, numa correlação de 4,5 meninos para
uma menina, estima-se que esse aumento se deve à mudança no critério diagnóstico do DSM
V (CDC, 2014), de acordo com os dados estatísticos brasileiros, cerca de 1% da população tem
autismo, como inteirado na introdução.
É importante destacar desde logo que, além das pesquisas, ainda não há um consenso
sobre a concepção da etiologia do autismo (BACARO, 2020; FADDA; CURRY, 2016;
FREITAS et al., 2014; SANDIN et al., 2014, SHIBUKAWA, 2020).
O autismo é um distúrbio complexo e geneticamente heterogêneo, não apresenta uma
tipologia típica, o que complica a identificação de sua etiologia em cada paciente, fazendo com
que cada caso seja único, o que tornar ainda mais multifacetado o estudo e investigação das
suas causas.
Fadda e Curry (2016) pesquisaram a respeito da etiologia do autismo a partir de revisão
de literatura cientifica, e elegeu por usar o conceito de paradigma de (KUHN, 1978 apud
FADDA; CURRY 2016; p. 412), que definiu como uma “constelação de crenças, valores,
técnicas etc., partilhadas pelos membros de uma comunidade determinada“ que indicam
39
9
Projeto de pesquisa da Universidade de São Paulo (USP) que usa a técnica da reprogramação celular. Quem
está à frente das investigações do projeto são os biólogos Patrícia Braga e Alysson Muotri, que o divulgam no
site http://www.projetoafadadodente.com.br/index1.html.
41
Portanto, por não se tratar de doença, o autista não será curado, e se este for medicado,
o faz por conta de agentes mitigadores de um quadro específico de comorbidades associadas,
como: Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) Transtorno Opositor
Desafiador (TOD), problemas digestórios, respiratórios e outros.
Cada grupo de paradigma traz sua etiologia, e nelas as limitações têm sido evidenciadas
principalmente em alguns casos de TEA, e essas definições vão implicar, necessariamente, a
forma como se atua sobre o autismo. Temos que conhecer as definições e limitações para
traçarmos o prognóstico dessas crianças na escola. Consideramos o olhar para a criança autista,
como um aluno com potencial para desenvolver-se em todas as áreas e, ao incluí-lo com seus
45
pares, ele evolui consideravelmente, pois não se deve subestimar sua capacidade cognitiva, de
modo que possamos explorar todas as potencialidades e as conexões que se estabelecem dentro
das possibilidades atuais do autista com uma boa intervenção dentro do âmbito escolar. A
seguir, mostraremos o comprometimento da linguagem do TEA.
À vista disso, compreendemos que toda ação da criança é constituída pela interação com
seus pares, com o adulto e com os objetos a sua volta, decorrendo, do mesmo modo, o decurso
da aquisição da linguagem. O ambiente escolar se qualifica, para o autista, como um espaço
importante para esse processo de AL.
Neste contexto, nosso estudo contempla a abordagem sociointeracionista vigotskyana,
que compreende a aprendizagem como plena interação do homem com o outro e, além do mais,
a mediação como interação entre o homem e o mundo, um sempre agindo sobre o outro e por
conseguinte, transformando-o.
É necessário considerar que, na concepção de Hobson (1989), o primeiro fator que
interfere no desenvolvimento da criança com autismo é a falta de um componente afetivo de
ação e reação que a ajudaria a desenvolver relações pessoais recíprocas com outras pessoas.
Anos depois, ele afirma que as relações interpessoais são o “berço“ do pensamento. Nesta linha
de pensamento, o autor afirma que, para o desenvolvimento da vida mental, que ocorre antes
do surgimento da linguagem, é imprescindível o engajamento social com o outro, como algo
mais primitivo, e que este engajamento apresenta um potencial formativo, que inicia o ser
humano na linguagem (HOBSON, 2002).
46
Parte do pressuposto que o engajamento afetivo emocional com as pessoas é algo inato
que propicia a compreensão de si e dos outros. Hobson (2002) afirma que essas formas de
engajamento pessoal vêm antes do pensamento, ou seja, as ligações emocionais ligam as
pessoas pela mente, permitindo que haja início ao pensamento.
Com o crescente aumento de estudos sobre aquisição de linguagem, existem diversas
teorias com diferentes abordagens que embasam essas pesquisas (DEL RÉ, 2015;
CAVALCANTE; FARIA, 2011; ABAURRE; FIAD, MAYRINK-SABINSON, 1997;
BARROS; FONTES, 2016; LOPES, 2011), justifica-se o interesse que convergem para fatores
que abrangem os diversos resultados de pesquisas com as mais variadas problemáticas,
notadamente: relação aquisição/aprendizagem; aquisição/ desenvolvimento cognitivo;
aquisição/ distúrbios. A aquisição da linguagem como fator de relevância é uma área
multidisciplinar, ou seja, várias são as áreas do conhecimento que se interessam por estudá-la.
Del Ré (2015) diz que originalmente a aquisição da linguagem é uma subárea da
psicolinguística, e afirma que na AL vão ser discutidas várias temáticas: a aquisição de língua
materna (oral) em crianças, sem e com distúrbios de linguagem (típicos e atípicos); aquisição
de segunda língua em crianças e em adultos e aquisição da escrita (letramento/ alfabetização,
relação fala/escrita). Neste trabalho, vamos explorar o letramento do autista com enfoque na
aquisição da escrita e nos apoiaremos nos precursores da escrita de Vigotsky.
Ademais, o ser humano vai adquirindo, a partir do momento em que nasce, meios de se
expressar verbalmente e/ou não verbalmente para interagir com o outro, devido ao interesse de
manifestar seus desejos e necessidades. A linguagem é um aprendizado dos mais complexos
que o homem desenvolve, e sua aprendizagem estende-se por toda vida. Harmonizando-se com
o pensamento de Vigotsky (1993, p. 117), que diz “a linguagem surge, inicialmente como um
meio de comunicação entre as crianças e as pessoas em seu ambiente“.
Ao estudar o desenvolvimento da criança atípica, Luria (1974, p. 33-34) pautou os
prejuízos que ela pode ter em relação aos processos de aprendizagem e de desenvolvimento.
Acontece porque o funcionamento cerebral dela é insuficiente, o que a impede de alcançar as
habilidades psíquicas superiores.
Essa perda faz com que as ligações formadas sejam instáveis, como toda influência
acidental prejudica os sistemas complexos, reduz a eficiência do córtex cerebral e
torna as conexões que foram estabelecidas fragmentárias e rígidas. Essas condições
patológicas destroem a possibilidade de participação da linguagem na organização dos
processos mentais e a linguagem é a base das conexões mais complicadas do segundo
sistema de sinais. A complicação das conexões da linguagem requer um equilíbrio e
uma labilidade particular dos processos nervosos e sua disfunção torna impossível a
formação deste segundo sistema complexo de conexões. [...] em suma mesmo um
47
No que diz respeito ao desenvolvimento de crianças sem o TEA, isto é, uma visão dessa
relação entre mamãe-bebê, Cavalcante (2012) aponta para os eventos importantes nessa
aquisição da linguagem, porque, é justamente no decorrer dessas interações com a mãe que o
bebê é apresentado aos diversos tipos de gestos através da produção verbal e gestual da mãe.
Barros e Fontes (2015, p. 751) corroboram essa argumentação no caso específico da
criança autista haja vista que, segundo elas “a linguagem pode ser caracterizada pela ausência
de oralidade, atraso na aquisição, presença de alterações sintáticas e semânticas, o modo gestual
da linguagem surge como aspecto relevante na constituição do sujeito e na significação da
linguagem “.
A maioria das crianças com TEA, apresenta uma característica linguística chamada
ecolalia, com repetições em eco da fala do outro, classificando-a em dois grupos a ecolalia
imediata e a ecolalia tardia (BLESZYNSKI, 2009). Na ecolalia imediata, o indivíduo repete,
em seguida, algo que foi dito; na ecolalia tardia, o indivíduo reproduz o que foi dito após um
48
período maior. Nos estudos sobre o autismo, a ecolalia surge como uma característica marcante
da linguagem (KANNER, 1943; BLESZYNSKI, 2009; SAAD; GOLDFELD, 2009; DSM I ao
V, 1954 a 2013).
Em seus estudos, Saad e Goldfeld (2009) ampliam a classificação da ecolalia de
Bleszynski (2009) para imediata, tardia e mitigada. A ecolalia mitigada seria o uso adaptado ou
modificado de falas de outros em situação adequada, demostrando um uso funcional da
linguagem. Nos estudos de linguagem do autismo, a ecolalia mitigada raramente aparece.
Relativamente às ecolalias tardia e imediata, a repetição pode ser exata ou parcial, e nem sempre
é possível identificar a funcionalidade do comunicado (SAAD; GOLDFELD, 2009).
Cada indivíduo com o TEA possui diferentes formas de se comunicar e específicas
habilidades de comunicação. A criança autista do estudo marca seu lugar na linguagem a partir
de produções verbais com palavras isoladas na maioria das vezes ecolálicas e pequenas frases
com algumas alterações fonológicas quando estimulado a falar, também apresenta movimentos
gestuais (estereotipias) que marcam suas emoções, sentimento e o uso do apontar em
substituição de palavras.
Destaca-se que a regressão de linguagem, especificamente mais a perda de palavras, tem
sido destacada como um potencial indicador precoce do TEA (APA, 2013). É fundamental a
investigação do diagnóstico para que, de agora em diante, pais e profissionais passem a lidar de
forma adequada com as limitações apresentadas pelo autista, viabilizando dessa maneira seu
desenvolvimento. É preciso atentar que o diagnóstico de TEA não pode ser uma barreira para
o tratamento da criança e sim um auxiliar, já que erroneamente tem-se a ideia de que a criança
diagnosticada com autismo deve ter sua participação e atuação social limitada (ANDRADE,
2017).
Em seus estudos, Barros e Fonte (2015), indagam a respeito de dois sujeitos, com
capacidades e limitações diferentes, recebem o mesmo tratamento por terem recebido o mesmo
diagnóstico de autismo, o que pode fazer com que as habilidades individuais presentes em cada
sujeito sejam deixadas de lado. Sobre essa problemática Barros e Fontes (2015, p. 746) apontam
que:
A Lei nº 12.746/12 traz, em seus artigos 2º, III e 3º, III, b, a obrigatoriedade do
fornecimento de atendimento multiprofissional ao paciente diagnosticado com autismo. Esse
atendimento envolve médicos, fonoaudiólogos, fisioterapeutas, terapeutas ocupacionais,
psicólogos, psicopedagogos e nutricionistas. Essas terapias são essenciais para propiciar mais
qualidade de vida, e para ajudar a melhorar a comunicação e a concentração. Será que só a
existência da Lei é suficiente, vários pais brigam com os planos de saúde por um atendimento
multidisciplinar, e aqueles que não têm condições e dependem unicamente do SUS (Sistema
Único de Saúde), ficam na fila de espera, e quando começam o tratamento, muitas vezes, em
duas ou três terapias, o que de fato acontece é que o contrato do profissional acaba e o
atendimento é interrompido, desestabilizando o autista.
51
10
O PECS (Picture Exchange Communication System) é atualmente um dos programas de comunicação mais
utilizados mundialmente para indivíduos autistas não verbais [...] esse sistema é composto por
figuras/fotografias selecionadas de acordo com o repertório lexical de cada indivíduo e envolve não apenas a
substituição da fala por uma figura, mas também incentiva a expressão de necessidades e desejos (TUCHMAN,
2009; BONDY, 2009; GANZ, EARLES-VOLRATH, PARKER, RISPOLI, DURAN, 2012; TIAN, 2008).
52
11
Essa nomenclatura se refere ao TEA e é utilizada em Portugal.
53
12
Destacamos o uso da terminologia “pré-verbal“ para gestos e balbucios; e “verbal“ para a linguagem. Mais
uma vez, afirmamos nosso posicionamento teórico de que para nós não há tal concepção, sendo tudo
linguagem (LOPES, 2011)
13
Traduzido pela Unidade de Autismo Centro de Desenvolvimento da Criança – Hospital Pediátrico de Coimbra
Autorização Diana Robins.
14
A INRI foi elaborada por brasileiros, tem coordenação de Maria Eugênia Peraso, com coordenação cientifica
de Alfredo Jerusalinsky e coordenação nacional de Maria Cristina Kupfer e conta com o Grupo Nacional de
Pesquisa.
54
pensamento, declaram que existem comportamentos específicos, que seriam de risco para o
autismo (Anexo F)
Na educação, o aluno não é só o diagnóstico, este é alusivo a uma intervenção
pedagógica. O diagnóstico precoce da criança para a atuação do professor da educação infantil
é importante tanto para escola quando para família, para elaboração de estratégias pedagógicas
que viabilizem a aprendizagem e a superação dos impedimentos que porventura apareçam.
Lembrando que o trabalho é mais eficaz na inclusão e desenvolvimento das crianças com TEA
quando a família anda lado a lado com a escola.
Essa abordagem visa o sujeito da/na linguagem e tomam por base DIR/ Floortime
(Development Individual Diference Relationship-based Model), quer dizer, Desenvolvimento
funcional emocional; Diferenças Individuais e Relacionamento. Criado no final da década de
1980, o método DIR/Floortime foi patenteado pelos pesquisadores norte-americanos Greenspan
e Wieder (2006).
Essa abordagem tem o objetivo de permitir que a criança forme um sentido de si como
indivíduo intencional, interativo de modo que desenvolva capacidades linguísticas e sociais,
comenta Lampreia (2007). Para que a criança adquira as habilidades necessárias, que sirvam de
base para o desenvolvimento infantil, Greenspan e Wieder (2006) criaram essas habilidades:
• Habilidade dupla de autorregulação e de interesse pelos sons, paisagens e sensações do
mundo, essas habilidades são primordiais para evoluir para as demais;
• Relacionamento com outras pessoas, sendo os pais os primeiros com os quais as crianças
interagem,
• Envolvimento em comunidade em dois ciclos;
• Aumento do número de ciclos para solucionar problemas;
• Representação simbólica e representação de ideias;
• Pensamento lógico.
A primeira habilidade serve de base para evoluir para as demais, a segunda pode ser
associada à interação mamãe/bebê descrita por Cavalcante (1999) com a interação face a face,
o bebê já estabelece a relação dialógica interativa. A terceira está associada aos jogos
interacionais com a mãe, interação face a face, sorrisos, balbucios e expressões faciais. A quarta
é a ampliação dos ciclos de comunicação, quando a criança consegue solucionar problemas:
pegar alimento ou um brinquedo, entre outros. Na quinta, entram as brincadeiras do faz de
55
É importante ressaltar que as pessoas com TEA têm os mesmos direitos garantidos a
todos os cidadãos do país pela Constituição Federal (1988) e outras leis nacionais. Dessa forma,
o autista, em todas as suas fases da vida, serão amparados pelas leis vigentes no país, por
exemplo: o Estatuto da Criança e do Adolescente (Lei 8.069/90) e o Estatuto do Idoso – Lei
10.741/2003. A partir de agora, vamos adentrar de forma cronologia nas políticas públicas que
amparam os autistas. Evidenciamos, no Quadro 09, todas as leis protetoras das pessoas
deficientes, todos os direitos relacionados, contemplam também as pessoas autistas.
Em 2012, é sancionada a Lei 12.764/12, que disciplina os direitos das pessoas com
autismo no Brasil, independentemente do nível, raça, gênero e condição socioeconômica. No
seu art. 2º, dispõe sobre as diretrizes e, no art. 3º, seus direitos. Esta lei estabeleceu, para todos
os efeitos legais, que os autistas são pessoas com deficiência. Assim, são contemplados na Lei
Brasileira de Inclusão com todos os direitos.
Em 2015, a Lei (13.145/15) cria o Estatuto da Pessoa com Deficiência, que aumenta a
proteção a pessoa com TEA ao definir “a pessoa com deficiência é aquela que tem impedimento
de longo prazo de natureza física, mental, intelectual ou sensorial“. E por último, a Lei Nº
13.977, de 8 de janeiro de 2020, que traz, em seu Art. 1º:
57
Esta Lei, denominada “Lei Romeo Mion“, altera a Lei nº 12.764, de 27 de dezembro
de 2012 (Lei Berenice Piana), e a Lei nº 9.265, de 12 de fevereiro de 1996 15 (Lei da
Gratuidade dos Atos de Cidadania), para criar a Carteira de Identificação da Pessoa
com Transtorno do Espectro Autista (Ciptea), de expedição gratuita. (BRASIL, 2020,
p.1).
Apesar de todas as políticas públicas que amparam o TEA, ainda existe muito
preconceito, discriminação, desinformação sobre esse tema. Será que elas são de fato efetivas?
Trazem benefícios para esses autistas? Quando de sua efetivação, são adequadas ao
atendimento das reais necessidades? Essas questões levantadas servem para estudos posteriores.
Dentre as especificidades, as crianças com TEA estão amparadas pela Lei nº 12.764/2012,
a qual institui a Política Nacional de Proteção dos Direitos da Pessoa com Transtorno do
Espectro Autista. Essas pessoas estão enquadradas no Art. 1º, §1, como pessoas portadoras da
síndrome clínica, caracterizada nos incisos I e II:
O citado normativo legal se compatibiliza com a Lei 13.146/15, em seu artigo 27, ao
esclarecer que a educação não é um favor, tampouco um quê com caráter assistencialista; trata-
se de um direito da pessoa com deficiência.
Art. 27. A educação constitui direito da pessoa com deficiência, assegurado sistema
educacional inclusivo, em todos os níveis de aprendizado ao longo de toda a vida, de
forma a alcançar o máximo desenvolvimento possível de seus talentos e habilidades
físicas, sensoriais, intelectuais e sociais, segundo suas características, interesses e
necessidades de aprendizagem.
Parágrafo único. É dever do Estado, da família, da comunidade escolar e da sociedade
assegurar educação de qualidade à pessoa com deficiência, colocando-a a salvo de
toda forma de violência, negligência e discriminação.
15
Lei (9.265/1996) em Art. 1º, Inciso VII – o requerimento e a emissão de documento de identificação
específico, ou segunda via, para pessoa com transtorno do espectro autista.
58
Nem toda escola tem esse profissional de apoio e, quando o tem, são estagiários de
graduação, e o quantitativo nunca comtempla todos que necessitam desse apoio, a escolha é por
exclusão de necessidades. E o cumprimento da lei? As vezes o Ministério Público intervém por
solicitação dos pais na solicitação do apoio escolar, só assim se faz cumprir a lei.
Ainda sobre as políticas públicas na inclusão dos alunos deficientes em relação às
avaliações externas, por exemplo, SAEB, que “além de avaliar a qualidade da educação básica,
59
Esse decreto estabelece que esses alunos devem ter a dupla matrícula no ensino regular
e na Sala de Recursos Multifuncionais – SRM. Esta se caracteriza como “ambientes dotados de
equipamentos, mobiliários e materiais didáticos e pedagógicos para a oferta do atendimento
educacional especializado“ (BRASIL, 2011, p. 01), isto é, contam com o auxílio de novas
tecnologias. A União propôs o AEE, que é “compreendido como o conjunto de atividades,
recursos de acessibilidade e pedagógicos organizados institucional e continuamente“ (BRASIL,
2011. p. 01), com seus atendimentos no contraturno do ensino regular, em consonância com
propostas educativas, dão suporte ao ensino e à aprendizagem desse público.
Ainda conforme o documento anteposto, o AEE é um espaço reconhecido legalmente e
faz parte do Projeto Político Pedagógico (PPP) da escola para atender às necessidades
específicas de cada uma dessas crianças. Seguindo essa linha de reflexão, Pletsch e Glat (2013,
p. 21) dia que “a avaliação desses alunos é uma estratégia norteadora para organizar o Plano de
Ensino Individualizado (PEI), que direciona uma proposta de organização curricular que norteia
a mediação pedagógica do professor do AEE e o professor de sala regular“. Em muitas escolas,
o PEI não se dá de forma plena, pois a comunicação entre os professores possui muitas lacunas,
na medida em que alguns professores não acompanham e não reforçam em sala de aula o PEI,
o que deveria ser trabalhado em conjunto com o professor do AEE.
Em algumas escolas, há duas vertentes que prosseguem sem se tocar. Tartuci; Silva e
Freitas (2013) destacam que, muitas vezes, o profissional da educação especial assume a
responsabilidade solitária pelo processo de escolarização dos alunos público-alvo da educação
especial. Dentre as várias funções e atribuições do professor do AEE, destacamos essas do Art.
3º: são objetivos do atendimento educacional especializado:
Declaração de Salamanca UNESCO (BRASIL, 1994), descreve que a escola inclusiva é aquela
que “reconhece e satisfaz as necessidades diversas dos seus alunos, adaptando-se aos vários
estilos e ritmos de aprendizagem, de modo a garantir um bom nível de educação para todos“.
Sobre inclusão no Brasil, Montoan (2009) em seus estudos, retifica que a escola deve
elaborar um plano educacional especializado para cada estudante, com o propósito de diminuir
as barreiras específicas de todos os alunos deficientes. Logo, surge a necessidades refletirmos
o papel do currículo nesse sentido. Nos estudos de (MENDES, 2002; FERREIRA, 1998),
constataram e reafirmam a necessidade de o processo de inclusão ser uma questão a ser
trabalhada por toda a comunidade escolar, e não ficar somente sob responsabilidade do
professor que recebe o aluno.
De acordo com Sacristán (2000, p. 125), o currículo se liga à palavra latina currere,
“correr“, e se refere a “carreira, curso, percurso que deve ser realizado“. Logo, o currículo
escolar pode ser compreendido como um processo amplo e contínuo de construção, em que se
percebe a escola em constantes modificações que, em diferentes tempos, possui uma concepção
que direciona o seu currículo.
O currículo, em seu conteúdo e nas formas através das quais se nos apresenta e se
apresenta aos professores e aos alunos, é uma opção historicamente configurada, que
se sedimentou dentro de uma determinada trama cultural, política, social e escolar;
está carregado, portanto, de valores e pressupostos que é preciso decifrar.
(SACRISTÁN, 2000, p. 17)
[...] pelo currículo que a escola assumiu uma posição ímpar na instauração de novas
práticas cotidianas, de novas distribuições e novos significados espaciais e temporais.
Pelo currículo que a escola contribuiu decisivamente para crescente abstração do
tempo e do espaço e para o estabelecimento de novas articulações entre ambos. Isso
foi tão mais decisivo na medida em que tanto a escola faz do currículo seu eixo central
quanto ele própria tomou a si a tarefa de educar setores cada vez mais amplos e
numerosos da sociedade.
É importante que ao olhar para o currículo, não se olhe com simplicidade, olhe para ele
num contexto social e cultural. Todavia, Silva (2009, p. 30), agrega valor ao “currículo e
salienta para as teorias críticas o importante não é desenvolver técnicas de como fazer currículo,
63
mas desenvolver conceitos que nos permitem compreender o que o currículo faz“. Nessa
perspectiva, o currículo deve ser pensado com extremo cuidado, visto que é uma das vias de
produção de sujeitos que deverão atuar na sociedade.
Quando nos referimos à criança com TEA e suas especificidades, atentamo-nos que
tanto a estrutura curricular quanto a sequência cronológica dos currículos propostos não
atendem de forma inclusiva às suas individualidades. Diante do exposto, em se tratando do
autista, depreende-se que eles precisam de adaptações curriculares, de modo que a estrutura e a
cronologia precisam ser revisadas continuamente.
Para desenvolver atividades para o TEA, é primordial que existam adaptações
curriculares, flexibilizações e as devidas adequações. As adaptações curriculares são intrínsecas
ao novo conceito de currículo. Veremos, a partir de agora, algumas definições acerca das
adaptações curriculares:
Ainda, sobre
de decisões com respeito ao que é, ao que o aluno ou aluna deve aprender, como e quando e
qual é a melhor forma de organizar o ensino para que todos saiam beneficiados” (MANJÓN,
1995, p. 82).
A LDB (BRASIL, 1996) destina um capítulo exclusivo à educação especial, o que
garante o direito à educação pública para os alunos com necessidades especiais. Como destaca
Ferreira (1998, p. 14),
[...] a presença ampliada da educação especial na nova Lei pode sinalizar a presença
mais perceptível da área nas novas discussões, assumindo que sua contribuição
específica visa mais do que à simples afirmação do “especialismo“ educativo ou
burocrático [...] os discursos da educação para todos e da escola inclusiva ocorrem
num contexto de exclusão social ampliada, o que aumenta os desafios para assegurar
os direitos das pessoas denominadas portadoras de necessidades especiais.
Para o professor de sala regular, ao receber alunos deficientes, se constitui uma grande
barreira e desespero em ter que ensiná-los, configurando com isto, uma lacuna na formação dos
educadores para a escola inclusiva. Merece um destaque, para a reformulação de cursos de
graduação e especialização em Educação Especial, pois foi considerada uma adequação às
Diretrizes Nacionais de Educação (BRASIL, 2001).
Há uma discussão a respeito da formação do professor para a Educação Especial se
aplicar-se-ia ser oferecida na graduação ou na pós-graduação. Alguns autores defendem que,
como na realidade brasileira “a maioria dos cursos de especialização se encontram em
universidades privadas, seria conveniente garantir a possibilidade de formação do professor em
Educação Especial ainda na graduação, pois esse nível potencializaria uma melhor qualificação
do profissional“ (MENDES, 2002b, p. 14).
Ao discorrermos sobre esse tema, distinguimos com clareza que cada aluno tem
peculiaridades especiais e específicas e que, para assisti-los, às vezes temos que efetuar as
adaptações no currículo regularmente de acordo com os diferentes níveis de escolaridade, de
forma a assegurar as condições necessárias para ter acesso ao conteúdo de maneira igual aos
seus pares na sala de aula.
Segundo Mendes (2002), para atender aos alunos com necessidades educacionais com
qualidade, a escola deve se modificar:
• no aspecto político (construção de uma rede de suporte capaz de formar pessoal e
promover serviços na escola, na comunidade e na região);
• no aspecto educacional (capacidade de planejar, programar e avaliar programas para
diferentes alunos em ambientes da escola regular) e
65
Apesar do autor mencionar esses três aspectos eu acrescentaria mais outro aspecto:
• o aspecto arquitetônico do prédio (adequação do espaço físico para deficiente físico,
sinalizações específicas para deficiente visual e a hipersensibilidade do autista etc.).
Ao refletir sobre tudo isso, enxergamos com clareza que cada aluno tem peculiaridades
específicas, especiais e que, para atendê-las às vezes temos que fazer as adaptações no currículo
com regularidade para os diferentes níveis de escolaridade, de forma a garantir as condições
que lhes são necessárias para acessar o conhecimento disponível como qualquer um de seus
demais colegas.
A adaptação curricular representa a convergência com as condições do aluno e a
correspondência com as finalidades da educação na dialética do ensino-aprendizagem
(PACHECO, 2007). Tarefa complexa, mas sem dúvida, necessária e possível de fazer. Somos
capazes de definir as adaptações curriculares com modificações que são necessárias em diversos
componentes do currículo básico no intuito de adequar as diferentes situações, grupos e pessoas
para as quais se aplicam. É extremamente significativo que a sensibilidades desse professor e
sua percepção na relação com seu aluno lhe sirvam para elaborar as estratégias de reorganização
das atividades e da flexibilidade dele.
As formações precisam ser continuadas englobando troca de experiências e intercâmbio,
como também, na própria escola nos encontros pedagógicos com atividades repassadas aos
professores pela equipe pedagógica sob forma de discussão de temas relacionados, com
atividades exemplificadoras e enumeração de casos de alunos com dificuldades de
aprendizagem, casos de alunos com necessidades especiais e que precisam de adaptação para
estar na escola que é seu direito.
Convocamos a atenção dos professores para a elaboração da adaptação curricular que,
em muitas escolas que são contempladas com SRM, boa parte dos professores recorrem e
pedem orientação à professora do AEE, no intuito de aprenderem a fazer tais adaptações.
Sempre direcionamos os professores a refletir sobre seu aluno, em relação a alguns critérios: O
que ele deve aprender? Como deve aprender? De que forma a adequação do conteúdo é mais
eficaz para esse processo de ensino-aprendizagem/ E como e quando avaliar?
66
Esclarecemos que o conteúdo não pode ser diferente dos demais alunos, e não pode ser
infantilizado. Nunca devemos subestimar o potencial de aprendizagem desse aluno. Ainda
convidamos que os professores se coloquem no lugar do aluno (empatia), para perceberem a
real dificuldade de entender o discente em suas fragilidades. Trabalhem com materiais
concretos e que façam parte da vivência da criança. Tudo que for planejado para as adequações
dos materiais é importante, e devemos nos lembrar das especificidades do aluno, não existe
receita pronta, pois os docentes é que vão adequando e reorganizando as atividades de acordo
com os feedbacks. O progresso o autista vai ser o termômetro do sucesso dos professores.
67
A palavra escrita vem do verbo latino scribere, que significa traçar caracteres, escrever,
fazer letras (BERWANGER; LEAL, 1995 apud GUERRERO, 2013). Segundo Guerrero
(2013), Voltaire define a escrita como “pintura da voz”; Diringer a define como “a expressão
gráfica do discurso, a fixação da linguagem falada de forma permanente ou semipermanente” e
Higounet a define como “expressão gráfica da linguagem” e Vigotsky (1998, p. 128)”, os gestos
têm o significado de uma escrita no ar.
A pesquisa está alicerçada na perspectiva sociointeracionista de Vigotsky (1993; 1998;
2000; 2007), a qual é fundamentada na interação verbal, no diálogo da criança com o adulto,
ou seja, o desenvolvimento da linguagem e do pensamento têm origens sociais, externas e nas
trocas comunicativas entre os dois interlocutores.
Segundo Vigotski (2007, p. 126)
Além desse autor, buscamos teóricos que estudam a aquisição da linguagem falada e
escrita na mesma perspectiva (ABAURRE, 1996; CAVALCANTE, 2012; 2018;
CAVALCANTE; FARIA, 2021; FIAD; MAYRINK-SABINSON, 1997; LEMOS, 2002; RÉ,
2014; SOARES, 2006).
Neste estudo, iremos trabalhar com a concepção da escrita na perspectiva interacionista
de linguagem, segundo a qual a escrita constitui um modo de interação entre as pessoas,
postulando que quem escreve, o faz sabendo para que e para quem. Faria (2008, p. 120)
argumenta que, “ao escrever, o sujeito enuncia seu pensamento, com algum propósito, para si
ou para o outro”. Contudo, é difícil para a criança aprender um sistema de representação tão
abstrato como a representação dos sons da fala em grafias e traços (SOARE, 2006).
É importante destacar a concepção de escrita de Fayol (1991 apud DOLZ; GAGNON;
DECÂNDIO, 2010, p. 15); segundo ele: “a escrita mobiliza múltiplos componentes cognitivos,
e, é um instrumento de relevância centrado na construção do pensamento”. Diante do exposto,
a escrita pode ser pensada com uma atividade mental pois, ao escrever, o aluno precisa de
conhecimento sobre o tema a ser trabalhado, mas também de instrução e domínio sobre a língua
e sobre as práticas sociais que configuram o texto a ser redigido.
Não há como pensar a aquisição da escrita pela criança sem analisar como ela atua na
sociedade em que o sujeito está inserido (LUIZ, 2022). Dessa forma,
[...] a apropriação da escrita pela criança não se limita à aprendizagem de sons, como
simples soletração, mas deve ser compreendida como um processo de apropriação de
um complexo sistema de desenvolvimento das funções superiores advindo do
percurso histórico-cultural da criança. (DANGIÓ; MARTINS, 2015, p. 212)
porém, as condições de produção, tais como: finalidade; destinatário; gênero textual; situação
de interação; entre outros. O texto é um todo significativo, é uma unidade de sentido que não
depende apenas de seu autor, mas da relação entre leitor – texto – autor (FARIA, 2008).
A par do processo de aquisição da escrita, os estudos de Abaurre (1999, 2002) designam
uma etapa importante no que se relaciona às investigações sobre a relação que o sujeito
estabelece com a linguagem durante a fase de apropriação da escrita. Segundo Abaurre (1999,
p. 22): “[...] a aquisição da escrita é um momento particular de um processo mais geral de
aquisição da linguagem. Em contato com a representação escrita da língua que fala, o sujeito
reconstrói a história de sua relação com a linguagem”.
Conforme a criança vai desenvolvendo sua escrita, os erros na sua grafia/leitura,
indicam tratar-se de um termômetro para nós, professores, e nos permitem reelaborar nosso
planejamento, porque o que importa é o processo na alfabetização. Ainda de acordo com
Abaurre (1999, p. 16): “[...] os erros de escrita/leitura são preciosos indícios de um processo
em curso de aquisição da representação escrita da linguagem, registros dos momentos em que
a criança torna evidente a manipulação que faz da própria linguagem”.
Neste sentido, Chacon (2021, p. 4) afirma que a fala e escrita são dois modos de
produção e de atribuição de sentido, que são constituídos com base em diferentes semioses,
esclarece,
[...] que (1) a acústico-auditiva, na fala; e (2) a gráfico-visual, na escrita. Portanto, fala
e escrita, nessa perspectiva, são atos de linguagem que se assentam em semioses
distintas. Nesses atos, a produção e a atribuição de sentidos se dariam com base em
diferentes articulações entre elementos de dois planos essenciais da linguagem: (i) a
língua e (ii) as práticas discursivas orais e letradas. Em síntese, na perspectiva que
aqui vimos expondo, a abordagem dos atos de fala e dos atos de escrita configura-se
como linguístico-discursiva. (CHACON, 2021, p. 4)
De acordo com a interação verbal, a língua será modelada de uma forma particular e
profunda. Nessa perspectiva teremos uma escrita com interação social (Figura 03):
compartilhada Escrita
Interesse pelo
Vários sentidos
processo
Impropriedade
Forma Variada
das hipóteses
Produto de
sentido
Nessa escrita interacional, o sentido está na interação entre autor, texto e leitor, bem
como através da escrita compartilhada, pela qual o produtor e o leitor virtual constroem o texto.
O sentido é efetivado pelo trabalho cognitivo baseado em hipóteses, e a apresentação da escrita
vai depender da situação de interlocução e pelos elementos que mostram o percurso escolhido
para a construção de sentido, e não pelo produto.
A linguagem possui interesse nas relações sociais, posto que os sujeitos fazem parte do
diálogo com alguém ou com o texto (BAKHTIN, 1992). Diante dessa concepção interacionista,
“qualquer escrita nasce da fonte de outras vozes” (FARIA, 2008, p. 121).
Os pressupostos teóricos desse estudo remontam à escrita como processo de interação.
De acordo com Bakhtin (1992, p.71), “onde não há texto, não há objeto de pesquisa e
pensamento”.
A escrita como atividade sociocognitiva considera, de um lado, as condições de
produção e, de outro, os processos cognitivos envolvidos nessa atividade. Varia também de
acordo com a relação estabelecida entre o escritor e o seu possível leitor.
Neste estudo, trabalharemos com a vertente da escrita de uma criança autista em
ambiente multimodal e tecnológico, com o intuito de destacar a importância da
71
pesquisadoras pois mostraram [...] que a questão crucial da alfabetização inicial é de natureza
conceitual” (FERREIRO; TEBEROSKY, 1999, p. 07-08).
Nesta tese, admitindo desde o início a perspectiva teórica interacionista, concordamos
com Bosco (2001), ao questionarmos sobre o rompimento definitivo entre desenho e escrita
como necessários à construção da escrita infantil na psicogênese da escrita de Ferreiro e;
Teberosky (1985). Bosco (2001) buscou (re)interpretar a relação entre desenho e escrita,
reconhecendo a possibilidade de a letra advir do desenho. No nosso estudo, buscamos trabalhar
com os precursores da escrita de Vigotsky, que consistiu na experimentação de usar o gesto, o
desenho e o jogo como andaimes para a entrada de um aluno autista na escrita.
Em função da aquisição da escrita, o indivíduo estabelece as relações com o meio que
as tornam mais complexas, dado que a linguagem se integra a todas as funções superiores, pois
possibilita a criança desenvolvimento/compreensão da função simbólica16. É graças a essa
maior complexidade das relações que é possível ao indivíduo compreender a função simbólica
da linguagem.
A percepção simbólica da linguagem é o que propiciará ao sujeito, adiante, compreender
a linguagem escrita, enquanto signos semióticos, tudo isso, após várias mediações
qualitativamente intensas. Portanto, essa compreensão passa por um processo ao qual Vigotsky
atribuiu o nome de “A pré-história da linguagem escrita17”, que diz respeito às fases precursoras
da escrita.
Para Vigotsky (2007, p. 126) a escrita “é um sistema simbólico de segunda ordem que
é constituída por um sistema de signos que designam os sons e as palavras da língua falada, as
quais por sua vez são signos das relações e entidades reais”. Pouco a pouco, a relação
intermediária da linguagem falada é abolida, e a linguagem escrita torna-se “um sistema de
signos que simbolizam diretamente as entidades reais e as relações entre elas” Vigotsky (2007,
p. 126). Essa aptidão é o resultado, na criança, de um longo processo de desenvolvimento de
funções comportamentais complexas.
Para investigar funções como a escrita, Vigotsky e seus colaboradores (BUHLER,
HETZER, 1926, LEONTIEV,1968; LURIA, 1976; SULLY, 1985) optaram por investigações
experimentais/instrumentais com o objetivo de estabelecer a concepção da função psíquica.
16
Para Vigotsky (2007), a linguagem nasce com uma função social e comunicativa. A criança fala para se
comunicar com os outros e, por sua vez, desenvolve a função simbólica no contexto social.
17
Nos referenciamos, no livro de Vigotsky (2007), à “[...] formação social da mente: o desenvolvimento dos
processos mentais superiores.
73
Esclarecendo que as Funções Psíquicas Superiores (FPS)18 são inerentes às duas categorias
fundamentais na obra de Vigotsky: a cultural e a social. Essas FPS são todas aquelas ações e
habilidades intelectuais que foram desenvolvidas ao longo da história por meio da cultura e da
interação social. Melhor dizendo, os indivíduos se apropriam dos conhecimentos construídos
historicamente através da interação social e do contato com a cultura. Vigotsky (2000) chama
o desenvolvimento histórico da humanidade de filogênese e o desenvolvimento do indivíduo,
inserido no meio histórico-cultural, de ontogênese.
As FPS estabelecem dois grupos diferentes qualitativamente, mas inseparáveis. De um
lado, a linguagem, a escrita, a aritmética, entre outros, integram o grupo das funções que
pertencem ao domínio dos meios externos. Por outro lado, a atenção voluntária, a memória
lógica e a formação de conceitos compõem o grupo das funções superiores especiais ou
internas, estas funções representam novos sistemas psicológicos. Vigotsky nos esclarece:
18
Para Vigotsky (2000), as funções psíquicas superiores, ou seja, aquelas funções mentais que caracterizam o
comportamento consciente do homem – atenção voluntária, percepção, a memória e o pensamento constituiriam
uma perspectiva metodológica que acenava para a compreensão de diversos aspectos da personalidade do
homem.
74
[...] domínio de um nível mais elevado na esfera dos conceitos científicos também
eleva o nível dos conceitos espontâneos. [...] Poder-se-ia dizer que o desenvolvimento
dos conceitos espontâneos da criança é ascendente, enquanto o desenvolvimento dos
seus conceitos científicos é descendente, para um nível mais elementar e concreto.
Isso decorre das diferentes formas pelas quais os dois tipos de conceitos surgem.
(VYGOTSKY, 1993, p 92, 93).
Primeiro, que a escrita pode ser ensinada para crianças de tenra idade. Argumenta que,
se a criança é capaz de entender a função simbólica no desenho, quando rabisca a flor,
ou no jogo, quando usa um pedaço de pau como cavalo, ela também é capaz de
compreender que a escrita pode representar a fala; segundo, que a escrita deve ser
ensinada como uma linguagem, como uma atividade cultural complexa e uma
necessidade, ou seja, que esse ensino possa fazer a criança entender que precisa usar
a escrita, escrita como parte da própria vida e não apenas como tarefa de escola;
terceiro, a necessidade de a escrita ser ensinada naturalmente, isto significa que as
crianças descubram as habilidades de leitura e escrita durante as situações de
brincadeiras, para isso é necessário que as letras se tornem elementos da vida da
criança, assim como a fala. (VIGOTSKY, 2007, p. 142-144 apud SILVA; FARIA,
2021)
semente contém um futuro carvalho. Como se tem corretamente dito, os gestos são a
escrita no ar, e os signos escritos são, frequentemente, simples gestos que foram
fixados. Os gestos poderiam ainda, exercer influências em outros dois momentos
dessa aquisição: no desenho e no brinquedo. (VIGOTSKY, 1998, p. 128-129)
[...] no segundo momento, trata do simbolismo do brinquedo, essa atividade une os
gestos e a linguagem escrita é a dos jogos das crianças. Para elas, alguns objetos
podem, de pronto, denotar outros, substituindo-os e tornando-se seus signos; não é
importante o grau de similaridade entre a coisa com que se brinca e o objeto denotado.
O mais importante é a utilização de alguns objetos como brinquedos e a possibilidade
de executar, com eles, um gesto representativo. Essa é a chave para toda a função
simbólica do brinquedo das crianças. (VIGOTSKY, 2007, p. 129-130)
[...] o terceiro momento, notamos que quando uma criança libera seus repositórios de
memória através do desenho, ela o faz à maneira da fala, contando uma história. A
principal característica dessa atitude é que ela contém um certo grau de abstração,
aliás, necessariamente imposta por qualquer representação verbal. Vemos, assim, que
o desenho é uma linguagem gráfica que surge tendo por base a linguagem verbal.
Nesse sentido, os esquemas que caracterizam os primeiros desenhos infantis lembram
conceitos verbais que comunicam somente os aspectos essenciais dos objetos. Esses
fatos nos fornecem os elementos para passarmos a interpretar o desenho das crianças
como um estágio preliminar no desenvolvimento da linguagem escrita. (VIGOTSKY,
2007, p. 135-137)
[...] e o quarto e último momento, caracterizado pela aquisição do simbolismo
na escrita, surgia então uma nova relação para esses rabiscos tornavam-se símbolos
mnemônico, sendo marcado pela descoberta de que se pode desenhar e de que o
domínio desse novo simbolismo pode transmitir idéias, pensamentos, informações, ou
seja, que a criança pode comunicar-se por um novo código lingüístico, carregado de
simbolismos e definições conceituais. (VIGOTSKY, 2007, p. 138-140)
Olhando para esses quatro momentos, percebe-se que ajudam a entrada da criança na
escrita, e como as formas precoces da linguagem escrita são tidas como representações
simbólicas no brinquedo e no desenho. Para André (2007, p.38) “[...] o desenvolvimento da
escrita não ocorre por etapas sucessivas e sua aprendizagem não depende unicamente da
transmissão escolar”, elas estão relacionadas ao desenvolvimento das crianças não só da parte
mecânica, mas da linguagem escrita que deve ser apresentada às crianças sob essa nova
perspectiva de atividade cultural complexa.
O que são o gesto, o desenho e o jogo senão formas iniciais de representar o próprio
pensamento? Não jogar e não desenhar, segundo Vigotsky (1993), freia o processo de
desenvolvimento da escrita. O aluno da pesquisa, ao desenhar libera seu repertório de memória,
e o fez com propriedade do tema abordado, no Capítulo 5, sobre a análise dos dados.
Bosco (2001, p. 174-175), traz uma experiência de sua tese, a respeito do desenho de
uma criança, em relação à escrita do nome,
[...] que entre o desenho da montanha e a letra “B” do sobrenome da criança que
desenhou, a relação que se estabelece não coloca em cena categorias prévias – se
desenho ou letra escrita –, mas apenas algo da ordem do escrito – a letra – posto em
cena no processo associativo que se instaura. A relação entre desenho e letra escrita
tomados como significantes permite o surgimento do fragmento “B” que, incorporado
à cena do desenho, nela se textualiza como “letra-desenho”.
76
Nossa suposição é a de que a letra propriamente dita aparece no desenho, e ela representa
o início da escrita inicial dessa criança, quando ela se apropriar do funcionamento linguístico-
discursivo da escrita, movimenta-se nessa estrutura (gesto – escrita) e, com isso, faz aparecer
semelhanças e diferenças entre o desenho e a letra, então, surge o nome da criança [a escrita].
As origens deste processo remontam há muito tempo, pois, na pré-história, o
desenvolvimento das formas superiores do comportamento infantil deixou vestígios; podemos
até mesmo dizer que quando uma criança entra na escola, ela já adquiriu um patrimônio de
habilidades e destrezas que a habituará a aprender a escrever em um tempo relativamente curto
(LURIA, 2003, p. 143).
Observamos que a maioria das pesquisas abordam experiência com crianças típicas, e
pouco se fez investigações no alcance do desenvolvimento da aquisição da escrita com crianças
atípicas, destacando o TEA. Uma boa parte das pesquisas encontradas abordam: aplicativos;
software; comunicação ampliada (GOBBO; BARBOSA; MORANDINE; MAFORTE, 2019;
FRANE, 2018; GARCIA, 2018) dentre outros. Esse fato é compreensivo, devido à classificação
do DMS V (2013), que divide o TEA em três níveis, relacionando também à linguagem,
destacamos o TEA não verbal que, para educação, ainda é um desafio e que nesses casos a
tecnologia é uma aliada.
No que tange ao desenho e à escrita, no nosso estudo, através das atividades de
sequência didática, utilizamos todos os precursores, com destaque para o desenho e, como o
sujeito da pesquisa apresentava habilidade para desenhar, esse desenho tem um papel do
concreto para o abstrato, quer dizer, “desenho-escrita” que alcançou a produção da escrita,
texto.
Logo, é importante a escola valorizar essas demandas práticas e ensinar, às crianças, a
linguagem escrita e não apenas as letras. Passamos então ao processo da escrita da criança.
Quando falamos sobre internalização, deve-se ressaltar que é um processo que envolve
uma série de transformações que se referem ao indivíduo e às relações sociais. Segundo
Vigotsky (1998), percebe-se que a internalização é um processo que acontece de forma externa
e sofre modificações, deixando de ser interpessoal, ou seja, deixando de ser uma relação social,
para ser incorporado pelo indivíduo, por meio do diálogo consigo mesmo. As interações sociais,
por sua vez, fornecem meios para o desenvolvimento das funções psicológicas superiores, e a
modificação da atividade psicológica a partir da atividade mediada por signos e instrumentos
(SILVA; NICOLAU, 2017).
O signo, por outro lado, não altera em nada o objeto da operação psicológica. “Constitui
um meio da atividade interna dirigido para o controle do próprio indivíduo; o signo é orientado
internamente, e essas atividades são tão diferentes uma da outra, que a natureza dos meios por
elas utilizados não pode ser a mesma” (VIGOTSKY, 1998, p.72-73).
A teoria sócio-histórica de Vigotsky contribui para a investigação no que tange ao
processo de desenvolvimento e aprendizado. Para o desenvolvimento de sua teoria, Vigotsky
se utiliza de conceitos que traduzem seu pensamento sobre a compreensão do processo de
construção do conhecimento. Dividindo, assim, as concepções que tratam do aprendizado e sua
relação com o desenvolvimento em três grandes posições teóricas, que são elas:
A explanação das três condições teóricas possibilita entender que, na primeira posição,
o aprendizado é um suporte para o desenvolvimento; na segunda posição, não se considera o
conteúdo, o ler, o escrever, a aritmética etc., pois o aprendizado é inseparável e misturado ao
desenvolvimento; e, na terceira e última posição, por exemplo, a criança, ao dar um passo no
aprendizado, dá dois no sentido do próprio desenvolvimento, noutros termos, o aprendizado e
o desenvolvimento não coincidem, não progridem harmonicamente.
79
De acordo com Vigotsky, as crianças nascem com poucas funções mentais básicas –
atenção, sensação, percepção, memória e o pensamento, por exemplo –, as quais acontecem por
meio da interação da criança com o outro. Tomando por base o aprendizado através da
mediação, nasce a concepção de Zona de Desenvolvimento Proximal (ZDP). De acordo com
Vigotsky (2007, p.97) a ZDP
De acordo com Luria (1980, apud FRAWLEY, 2000), para esclarecer o processo do
pensamento superior, ele descreve a organização do cérebro em três níveis funcionais: o tônus
– associado a estruturas neurais de nível inferior; o processamento de informações – mecanismo
cognitivos e representacionais e associado a estruturas corticais; e a regulação, dedicada ao
controle e à seleção de informações e associada aos lobos frontais.
O trecho descrito acima indica a importância dos processos de origem biológica, embora
Vigotsky não desprezasse a dimensão social em seus estudos, ela aparece com maior relevância
pois oportuniza a mediação do sujeito com o mundo.
Vigotski (2007) afirma que é importante o entendimento dos processos mentais do
indivíduo para delinear as propostas educacionais que poderão desenvolver ao máximo suas
FPS. Para que o campo da significação das crianças com TEA possa evoluir, é necessário um
mediador que possibilite a ampliação das trocas estabelecidas em ações partilhadas, em práticas
culturais, que ocorrem pela utilização social da linguagem.
Para entender como o desenvolvimento da aprendizagem de crianças com TEA poderá
auxiliar na diminuição de suas dificuldades sociais, é fundamental conhecer o conceito de Zona
de Desenvolvimento Proximal (ZDP). A partir desse conceito, entende-se a importância da ação
conjunta para o desenvolvimento mental dessas crianças, ressaltando o fato de que há ações que
uma criança não realiza sozinha, mas pode fazê-lo com o auxílio de alguém mais competente
(adulto ou mesmo outra criança mais desenvolvida).
Destacamos a importância de os docentes terem a plena consciência da Zona de
Desenvolvimento Proximal (ZDP), conceito presente em Vigotsky, pois assim será possível
traçar as melhores intervenções pedagógicas de modo que a criança autista avance em suas
aprendizagens (CARVALHO, 2020; KANASHIRO; SEABRA JUNIOR, 2018; KLEIMANN,
2018; MENEZES, 2021; OMENA, 2021; PINHO, 2018; SILVA; FARIA, 2021).
81
Vigotsky (1998) afirmava que todo o ensino deveria ser voltado à ZDP, ou seja, ao
futuro e não apenas envolver funções psicológicas já desenvolvidas pelas crianças. Ainda sobre
a ZPD “[...] torna-se um conceito poderoso nas pesquisas do desenvolvimento, conceito este
que pode aumentar de forma acentuada a eficiência e a unidade de aplicação de métodos
diagnósticos do desenvolvimento mental e problemas educacionais” (VIGOTSKY, 2007, p.
97).
Tendo em vista a importância da mediação para essas crianças autistas, no que se refere
à significação das pistas sociais e das trocas culturais estabelecidas, é importante refletir sobre
as práticas culturais adotadas para promover seu aprendizado. Muitas vezes, pela falta de
compreensão do comportamento das crianças autistas, os mediadores centram-se na diminuição
de idiossincrasias inadequadas, deixando de investir em ações que promovam sua participação
social e sua convivência com pares.
Mesmo em situações em que esse desenvolvimento seja interrompido e, assim, afetado,
os sistemas que se encontram parcialmente prejudicados poderão reagir positivamente, se
houver estímulo adequado. Isso possibilita modificações a partir das experiências vivenciadas
cotidianamente. Diante do que já foi apresentado neste trabalho, a necessidade do professor
conhecer o seu aluno e sua zona de desenvolvimento proximal, e por conseguinte, considerando
o interesse do autista fazer as adaptações necessárias (BACARO, 2020; BOHRER, 2020;
CARVALHO, 2020; LIMA 2019; PINHO, 2018; SILVA; FARIA, 2021;), visto que atividades
adaptadas a partir das preferências desses alunos, aproximam os discentes dos docentes,
aumentando seu engajamento e o foco nas atividades (BOHRER, 2020; PINTO, 2010; SILVA;
FARIA, 2021).
Assim, a partir do conceito de FPS na aquisição da escrita, Vigotsky propõe outros
conceitos com igual importância, como são os conceitos envolvendo a relação pensamento e
linguagem, a mediação, a Zona de Desenvolvimento Proximal (ZDP) e ainda a relação entre o
desenvolvimento e a aprendizagem.
A partir dos conceitos de aprendizagem e desenvolvimento, o autor destaca o conceito
da ZPD, que configura como chave para a compreensão da noção de gênero como ferramenta
na sequência didática. Assim, para Vigotsky, as formas iniciais de aprendizagem, que seria o
acesso da criança aos objetos de conhecimento, se dão de forma mediática, oportunizada pelos
sistemas semióticos, evidenciando-se o papel da linguagem (VIGOTSKY, 1998).
Destacamos também o diálogo proposto pela pesquisadora com o aluno, observando o
potencial do aluno e sua zona de desenvolvimento proximal, que segundo Vigotsky (1997) é o
espaço entre o que a criança realiza sozinha e o que realiza com mediação. É a zona de
82
O trabalho no âmbito da escrita alfabética é uma via potente e possível quando se trata
da escolarização de crianças com TEA, pois possibilita a reordenação do campo
simbólico com um usufruto das produções escritas para que a criança possa dizer de
si e dirigir seu texto a um outro que a reconhece e a autêntica.
Neste meio tempo, não podemos esquecer que esse processo de alfabetização/letramento
requer mais tempo, mais adequações e mudança de estratégias que vão se adaptando à ZDP do
autista, sem esquecer da importância da mediação do professor do AEE.
Portanto, é preciso nos remetermos ao termo “letramento”. Para Soares (2004, p. 96), o
“[...] letramento surgiu da necessidade de configurar e nomear comportamentos e práticas
sociais na área da leitura e da escrita que ultrapassem o domínio do sistema alfabético e
ortográfico”, ou seja, a alfabetização em si, definida por Soares (2016, p. 37 e 38) como a faceta
linguística da alfabetização, isto é: “[...] a dimensão do processo da língua escrita que se volta
84
19
A pedagogia dos multiletramentos é uma proposta/movimento educacional desenvolvida pelo Grupo de Nova
Londres (New London Group) – GNL entre 1995 e 1996. Diferentemente de um método ou abordagem de
ensino, essa pedagogia é voltada para uma educação apropriada para contemporaneidade, especialmente uma
educação linguística (ROJO, 2012).
85
meio da mediação e com materiais adaptados. Interessante observar a relação entre o desenho
e a escrita no processo de alfabetização da criança, o que ocorre no instante em que o sujeito
passa a relacionar elementos icônicos e não icônicos (BOHRER, 2020, p. 24).
Para Vigostky (2007), a escrita é um sistema de representação do campo simbólico,
mediando a criança a falar de si e conduzir seu texto a um outro que o reconhece e o
compreende. Assim, Vigotsky parte dos pressupostos das relações psicológicas, em que o aluno
conecta a cognição e o afeto ao papel e, ao fazê-lo, toma a consciência como ser social. Ferreiro
(2011, p. 44) afirma que “[...] a escrita não é um produto escolar, mas sim um objeto cultural,
resultado do esforço coletivo da humanidade”.
Percebe-se que a imersão das crianças cada vez mais cedo no mundo da escrita em seu
papel social, ao imitarem os mais velhos quando leem ou escrevem, o fazem utilizando revistas,
gibis, livros, rótulos, embalagem etc. Elas, ao brincarem, valem-se da leitura e da escrita para
imitar a ação do adulto. Mais tarde, ao modificar o papel desempenhado, utilizam o código
alfabético na escrita como marcas culturalmente convencionadas.
A escrita deve ter sentido para a criança, deve ser provocada por necessidade natural,
como uma tarefa vital que é imprescindível. Unicamente então, estaremos seguros de
que se desenvolverá na criança, não como um hábito de suas mãos e dedos, e sim
como um tipo realmente novo e complexo de linguagem. (VYGOTSKI, 2000, p. 201)
Assim, os professores trabalharão com a linguagem escrita como uma necessidade dos
seus alunos, com sentido para sua vida escolar e social. O ensino deve ser sistematizado, de
maneira que a leitura e a escrita se tornem necessárias para as crianças.
Com esse pressuposto, aponta-se para a entrada da criança em uma escrita significativa,
apoiada em aspectos multimodais do gesto, do desenho e do jogo. E como isso se enquadra com
crianças com TEA? No processo de apropriação da escrita, algumas crianças com TEA, não
verbais, utilizam o desenho para se comunicar ou os gestos e vocalizações. No caso do aluno
da pesquisa, há bastante desenvoltura com o desenho, em que contextualiza sua fala. Portanto,
o desenho é um estágio preliminar quanto à aquisição da linguagem escrita (VYGOTSKI,1998).
Os autistas, mesmo amparados por leis, citadas no segundo capítulo do subitem 2.4 desta
tese, ainda enfrentam muitas dificuldades em seu processo de aquisição da escrita e
aprendizagem, que se dá na maioria das vezes de forma tardia. Existe um panorama carente em
pesquisas direcionadas a ambientes digitais na prática pedagógica, principalmente, relacionadas
à produção de textos: a maioria das pesquisas usam software, aplicativos e jogos para alfabetizar
86
(KLEIMAN, 2018; DIAS; SALES; PAULA, 2019; FRANKE, 2019; SILVA, 2020; YUSKA;
SARAIVA; TARDIF; GALY, 2018) dentre outros.
Olhem como nossa pesquisa é diferente! Nosso objetivo é compreender o processo de
aquisição da escrita de uma criança autista em ambiente digital a partir dos precursores da
escrita de Vigotsky. Para tal, usamos os multiletramentos e a multimodalidade apoiados no
suporte tecnológico com adaptação curricular e adequação dos materiais através da mediação
da pesquisadora para atender às necessidades do sujeito da pesquisa. No trecho descrito no livro
“A formação social da mente: o desenvolvimento dos processos psicológicos superiores”,
Vigotsky (2007) afirma que o caminho do objeto até a criança e desta até o objeto passa por
outra pessoa. Por isso, o conceito de aprendizagem mediada confere um papel privilegiado ao
professor que, no caso da pesquisa, foi a professora do AEE, que fez uso de sequências didáticas
para alcançar o objetivo proposto.
O processo de produção da escrita e da leitura sofre mudanças nas maneiras de produzir
sentido ao longo do tempo, com os elementos novos em suas composições, assim, surgem novas
formas de organizar e expor o texto. Segundo Rojo e Moura (2019) a escrita de fato está se
ressignificando. Na sociedade da informação, muito mais que produzir textos meramente
verbais, desenvolver-se no processo de alfabetização significa lançar mão de estratégias
multimodais de composição do texto, para atendermos às especificidades do autista, seus textos
sempre serão multimodais, de modo que devemos utilizar os multiletramentos.
É indispensável, portanto, inter-relacionar a alfabetização e o letramento na prática
pedagógica, oportunizando experiências estimulantes, de forma que o letramento seja
emergente e significativo, buscando sempre direcionar sua aprendizagem ao seu centro de
interesse. Sobre isso, Soares (2004, p. 97) elucida a questão nos seguintes termos:
propicia a estimulação visual, auditiva e cognitiva de alunos típicos e atípicos, o que reforça a
presença de textos multimodais nas instituições de ensino.
Ainda em relação à escrita e ao letramento, deve-se compreender que não são sinônimos,
assim como fala/oralidade; sobre isto, Chacon (2021, p. 4) nos esclarece
então escreveu o nome” lua nova” e olhou rapidamente para a pesquisadora, por alguns
segundos.
Considerando a multimodalidade dento dos aspectos ligados à referenciação a qual
compreende os gestos (e outros movimentos especiais) e a interação do olhar fazem parte de
um conjunto de recursos sociocognitivos que são mobilizados no intuito da realização da
propriedade referencial (MONDADA, 2005; 2006; 2008 e ANDRADE, 2017). Os movimentos
espaciais são as estereotipias. Agora, vamos adentrar na multimodalidade e nos
multiletramentos no intuito de configurar o funcionamento linguístico do autista, significando-
o como sujeito cultural e social.
estudiosos da área com foco de pesquisas que trazem uma perspectiva multimodal de língua
(CAVALCANTE, 1994; 1999; 2010; 2015; ANDRADE; FARIA, 2017; ANDRADRE, 2017;
BARROS; FONTE, 2016; CAVALCANTE; FARIA; SILVA; BEZERRA, 2021; FELIZ;
FONTE, 2020; SILVEIRA, 2015).
Ao despontar como um tema que auxilia a compreender o processo de linguagem em
sua completude – a multimodalidade – contribui para pessoas que apresentam dificuldade de
linguagem, para uma melhor inserção na comunicação no seu quotidiano. Situando o TEA
dentre os que apresentam essas dificuldades, levando-se em consideração os déficits na
comunicação e de interação social que lhes são correlacionados, o estudo acerca da
possibilidade de que o sujeito com TEA utilize a multimodalidade como alternativa de
comunicação é relevante do ponto de vista acadêmico.
As autoras Barros e Fonte (2016, p. 745) constatam, em seus estudos, que as
estereotipias e vocalizações com sentido de negação colocam o autista na linguagem.
20
Desdobramento á produzida uma versão em que a comunicação desaparece quase totalmente em prol da
objetivação, e o gênero torna-se uma pura forma linguística, cujo domínio é o objetivo (Dolz; Schneuwly
(2004).
94
Considerar os estudos sobre o ensino da escrita a partir dos gêneros, evidenciados nas
publicações de Bakhtin (1979), Marcuschi (2002), Rojo (2005), Schneuwly e Dolz (2004) e
suas contribuições para o uso desses gêneros no ensino-aprendizagem dos alunos. Em outras
palavras Marcuschi (2002, p. 4), afirma que “são os textos que encontramos em nossa vida
diária e que apresentam algumas propriedades funcionais e organizacionais características,
concretamente realizadas”. Para tal fim, são sinalizados alguns gêneros textuais rotineiros na
vida social de uma criança para serem trabalhados ao longo do Ensino Fundamental, como
narrativas, listas, poemas, receitas, quadrinhos, bilhetes, convites, entre diversos outros.
Conciliamos tudo isso ao pensarmos no ensino para crianças autistas, ou com outras
deficiências, usamos todos os tipos de gêneros adequados ao nível da sua turma, mediante a
BNCC, e destacamos que a forma de explicar e solicitar sejam adaptadas as suas
especificidades. Perceba-se como é diferente a perspectiva sobre a qual se funda essa pesquisa:
apoiamo-nos em gêneros e nos precursores da escrita de Vigotsky, para que o autista como
aprendente tenha acesso ao conteúdo. O reconhecimento do conteúdo, da organização
convencional e das sequências didáticas, que, segundo Dolz e Schneuwly (1996), compõem as
dimensões essenciais à elaboração de um gênero, contribuem para um maior planejamento e
melhoria da produção textual dos aprendizes.
Ademais, Soares (2021) destaca gêneros que são correspondentes aos interesses das
crianças, que possibilitam momentos de lazer e de prazer, incentivando a fantasia, o imaginário,
ampliando a visão de mundo e compreensão do ser humano. São textos que geralmente
incentivam a relação que a criança pode fazer entre o verbal e o visual, adentrando assim na
escrita.
Os gêneros abrem uma porta de entrada para as práticas de linguagem que constituem
um ponto de comparação ao situá-las, ao evitar que delas se tenha uma imagem fragmentada
no momento de sua apropriação. De acordo com Bakhtin (1984), os gêneros podem ser
considerados como instrumentos que fundam a possibilidade de comunicação. Um gênero para
ser designado como suporte de uma atividade de linguagem tem que apresentar três dimensões
essenciais, de acordo com Dolz e Schneuwly (2004, p. 64):
95
O conceito de Sequência Didática (SD) para Dolz, Noverraz e Schneuwly (2004, p. 82)
“é um conjunto de atividades escolares organizadas, de maneira sistemática, em torno de um
gênero textual oral ou escrito”. Além disso, na construção de um texto escrito devemos levar
em consideração as condições de produções. Os autores chamam de “gêneros de textos”,
quando escrevemos de forma semelhante, com características e em situações semelhantes.
Dolz, Noverraz e Schneuwly (2004, p. 83) reiteram que “a sequência didática tem,
precisamente, a finalidade de ajudar o aluno a dominar melhor um gênero textual, permitindo-
lhe, assim, escrever ou falar de maneira mais adequada numa dada situação de comunicação”.
Considerando a importância da sequência didática no ensino-aprendizagem da
linguagem falada e escrita, Bohrer (2020, p. 91), colabora ao relatar que “na sequência,
apresenta-se os diagnósticos realizado e, após, as atividades elaboradas a partir do diagnóstico
e, para finalizar, o instrumento utilizado para avaliar os avanços do participante”. Dando
96
3
Fonte: Dolz, Noverraz e Schneuwly (2004, p. 83)
De acordo com Dolz, Noverraz e Schneuwly (2004), as etapas devem ser detalhadas
para os alunos, como explicitado a seguir:
Produção inicial Os alunos tentam elaborar um primeiro texto oral ou escrito, e assim, oportuniza o professor
conhecer as capacidades e dificuldades de sua turma, adaptando as atividades previstas na
SD;
Módulos Tratam de trabalhar os problemas que aparecem na produção inicial e dá aos alunos os
instrumentos e suportes necessários para superá-los;
• Weisheimer (2019), pesquisa com TEA leve (6º ao 9º ano) do Ensino Fundamental anos
finais, situada na linguística aplicada, através de produção escrita elaborada nas em
quatro escolas em situação de aula, os textos foram analisados que compõem o corpus
considerando os três elementos constitutivos dos gêneros do discurso: o conteúdo
temático, a construção composicional e o estilo e a escrita autística;
• Bolrer (2020), analisar o nível de letramento e de alfabetização de um aluno com TEA,
para fazer um diagnóstico de seu nível de conhecimento; e elaborar e aplicar práticas
pedagógicas direcionadas ao letramento e à alfabetização de um aluno com TEA,
desenvolvendo um manual com atividades práticas que possam contribuir com o
processo de letramento e de alfabetização de crianças autistas. Para tal, elaborou uma
SD com um aluno a partir de cinco encontros.
• Laurindo (2018) o objetivo desse artigo é contribuir para a compreensão do processo de
ensino-aprendizagem da leitura e escrita, através de reflexões e discussões teóricas e da
proposição de atividades de lecto-escrita dispostas em uma sequência didática com o
gênero lista para o AEE do TEA.
Apenas esses três trabalhos, fazem referência à SD para o autista, embora todos
trabalhem com a escrita. O viés dessa pesquisa é outro, a aquisição da escrita por meio dos
precursores da escrita de Vigotsky, onde o desenho serve de andaime para a escrita.
É importante ressaltar que, em 2012, o MEC lançou o Pacto Nacional pela Alfabetização
na Idade Certa (PNAIC), com o seu término em 2018, sem perspectiva de retorno por parte do
governo federal. A partir do PNAIC, foram desenvolvidas ações que buscavam contribuir para
um debate sobre direitos de aprendizagem de crianças do ciclo de alfabetização, processo de
avaliação e acompanhamento da aprendizagem, planejamento e avaliação de situações didáticas
e conhecimentos sobre o uso de materiais distribuídos pelo MEC. Destacamos, aqui, o ano de
2016, em que o PNAIC deu ênfase aos aspectos de implementação de estratégias didáticas e
pedagógicas para permitir às crianças a consolidação das competências e habilidades de leitura,
escrita e Matemática previstas para serem alcançadas em cada ano do ciclo de alfabetização.
Reconhecemos que o PNAIC repercutiu em todo contexto educacional no Brasil, e que a
prática docente do ciclo de alfabetização foi ressignificada, e reforçaram o trabalho de sequências
didáticas voltadas para o ensino da escrita, na área de língua portuguesa.
98
Entre tantos métodos de intervir, a SD se caracteriza como um meio eficaz para conduzir
o professor ne elaboração e aplicação para apropriação do gênero em estudo, isto é o professor
mediador de todo o processo de escrita e leitura. Assim, “os gêneros textuais, compreendidos
como eixos norteadores das sequências didáticas, são instrumentos de importante mediação
para o ensino da leitura e escrita” (DUARTE, 2019), e, para estruturar as atividades de estudos
com os gêneros textuais, as sequências didáticas têm se mostrado aliadas de valor, pois elas
possibilitam trabalhar materiais e métodos de modo sistematizado através da mediação do
professor na articulação das ações necessárias ao aprendizado (BRAIT, 2017).
Assim, os gêneros textuais de acordo com Duarte (2019, p 7), são compreendidos como
eixos norteadores das sequências didáticas, são instrumentos de importante mediação para o
ensino da leitura e escrita; nelas, podem-se explorar os vários tipos de gêneros para direcionar
a leitura e a escrita dos alunos típicos e atípicos.
Os caminhos didáticos traçados nesta sequência nos apontam para o que Kalantzis e
Cope (2006 apud ROJO, 2013, p.18) chamam de prática situada, caracterizada pela escolha de
suportes pedagógicos que partem do interesse do aluno e que fazem parte do seu cotidiano, nas
duas sequências didáticas aplicadas no estudo cujo tema foram: “As fases da Lua” e o “Caminho
da escola”, atendendo às especificações do contexto cultural do aluno e nos propulsionou a
utilização de vários gêneros textuais.
Com a proposta de viabilizar a execução da pesquisa, e tendo em vista as dificuldades
de se realizar uma sequência didática com aluno com TEA, no prazo habitual de uma sala de
aula regular (6 aulas a 10 aulas), adequamos o tempo de execução da SD de acordo com as
especificidades do aluno, nessa circunstância dilatamos o prazo para quatro meses para cada
sequência aplicada. Vamos incluir as tecnologias na sequência didática no AEE do autista.
Neste tópico, buscamos dialogar com autores que pesquisam a inserção das tecnologias
digitais nas produções escritas. Com o intuito de estabelecer uma discussão, embasada na
produção textual dos alunos do Ensino Fundamental anos iniciais, analisaremos o processo da
aquisição da escrita até as produções textuais de um aluno autista com o viés sociointeracionista
de Vigotsky (1993; 1998; 2000; 2007).
Atualmente, os alunos possuem uma afinidade para a utilização das tecnologias digitais,
pois a cultura digital é permeada pelos multiletramentos (ROJO; MOURA, 2012; 2013) o que
possibilita as diversidades culturais e semióticas na escola e na sociedade.
99
O nosso sujeito da pesquisa usava o tablet e o celular da mãe para jogar, mas nunca
tinha utilizado o teclado do computador / notebook. Antes de usar o computador, houve a
necessidade de apresentar o mouse e como movimentá-lo, e explicar o uso do teclado nas suas
funções básicas. O autista reconhecia as letras, mas não a ordem alfabética, foi através do
teclado do computador que conseguiu aprendê-la reescrevendo a sequência que ficava no
trenzinho na parede da SRM. Frade (2004, p. 4) diz que “o alfabetizado que aprende a digitar é
diferente do aprendiz das primeiras letras (e dos primeiros textos!) que digita enquanto aprende
a registrar um sistema”.
Os recursos digitais e tecnológicos propiciados no processo de alfabetização e
letramento e o uso desses recursos mostram-se positivos e exitosos pelo fato de disporem de
ferramentas atraentes, com estímulos visuais e sonoros, tais como: imagens; cores; sons e jogos,
os quais tornam a aprendizagem mais lúdica, prazerosa e interativa. Considerando, neste
contexto, que alunos com TEA têm necessidade de experiências concretas devido a sua
dificuldade de abstração.
Destacam-se estudos que apresentam como estratégias no processo de alfabetização
com uso das tecnologias e dos jogos digitais para estimular o interesse dos alunos (CANDIDO,
2020; FREITAS, MELO, ÁVILA-NOBREGA, 2022; LEFFA, 2015; LUIZ, 2022; ROJO,
MOURA, 2019; SILVA, 2019; TRAJANO, 2019). As discussões desses autores são pertinentes
e atuais com fundamentação que tratam o tema proposto com o olhar para a acriança com o
espectro do autista em ambiente tecnológico.
Argumentam Vilas Boas e Vallin (2013, p. 63) sobre “os recursos tecnológicos que
oferecem contribuições significativas para a aprendizagem e, [...] colaboram com a evolução
dos alunos com atrasos no processo de leitura e escrita, trazendo uma roupagem nova para o
trabalho com essas crianças”.
A tecnologia digital apresentou forte influência para a construção de discursos coesos e
coerentes e para a construção dos enunciados dos alunos. Pelo simples fato de lidar com o texto
em ambiente digital, os alunos se sentiam mais motivados para escrever e para ler. Ao
considerar a produção de textos na escola, serem influenciadas pelas tecnologias digitais,
conciliamos com as ideias de que voltamos a discutir sobre o aprendizado da vida do aluno que
divergem do aprendizado da escolar, visto que se torna um aprendizado artificial (COPE;
KALANTZIS, 2008), frisamos a importância em se criar contextos de aprendizagem dentro do
mundo digital. Para Silva (2019, p. 73), no que tange à produção textual, “escrever textos que
não se enquadrem na realidade do aluno, não só descaracteriza o processo de produção em suas
etapas, mas também como um processo de letramento”.
100
Ted’s Ice Cream Adventure (Aventura do Sorvete do Ted): é um jogo que incentiva o
autista ao contato visual, ele vai aprender a direcionar o olhar para quem estiver olhando, e
assim ele olha de volta. “O jogo os personagens de ursinho de pelúcia, não faz contato visual
insistindo “olhe para mim”, mas faz disso um processo gradual. O jogo reforça com palavras-
chave “olhe”, “olhando”, “olhos” que pais e professores podem generalizar em situações reais”
(BARBOSA; ARTONI; FELINTO, 2020, p .667).
ABC Autismo é um jogo disponível no Google Play e no Play Store, seu objetivo é
contribuir de forma lúdica como ferramenta de apoio de crianças e adolescentes com TEA no
101
Farias, Silva e Cunha (2020) explicitam que cada nível corresponde a um nível de
trabalho TEACCH e suas fases tratam a atividade de transpor figuras de uma área denominada
Área de Armazenamento (metade esquerda da tela) até a Área de Execução (metade direita da
tela). Possuem auxiliadores, como cores, disposição dos elementos, categorização etc.
Existe uma gama de aplicativos direcionados para o autista, mas as crianças que não
têm TEA, sem dúvida, podem se beneficiar: Ron Get Dressed – Ron se veste; Rufus goes to
School – Rufus vai para Escola; Robbie the Robot – Robbie, o robô; Florence, the Frog –
Florence, o sapo; ComFim; ACA – Aprendendo com Comunicação Alternativa; TEAMAT;
OTO – Olhar, Tocar, Ouvir; Aplicativo Autismo Projeto Integrar; Brainy Mouse – Rato
Inteligente; G-TEA; Lina Educa (FARIA; SILVA; CUNHA, 2020)
A gamificação é capaz de proporcionar efeitos positivos no processo de ensino-
aprendizagem, pois visa a um melhor aproveitamento de conhecimentos e contribui para a
construção da autonomia dos sujeitos (PIMENTEL, 2017). Através da realização de ações –
que anteriormente não poderiam extrair tanto estímulo dos alunos com o auxílio da gamificação
– torna-se possível obter maior motivação e prazer, assim como lograr aprimoramentos e
descobertas de novas habilidades, tais como a ampliação do letramento digital (COSCARELLI;
RIBEIRO, 2017) e as práticas dos multiletramentos na escola (ROJO, 2012).
Além disso, conforme destacam Santarosa e Comforto (2015), a utilização de recursos
tecnológicos pode promover novas práticas, potencializando o desenvolvimento da autonomia
dos alunos com autismo. Para Pellanda e Demolly (2014), o encontro dos sujeitos autistas com
os recursos tecnológicos pode ajudar a compreender uma nova configuração de seu sistema
cognitivo.
102
Neste contexto, renovar a educação é fundamental para atender à realidade dos alunos
com TEA, para que sejam utilizadas estratégias de ensino com adaptações adequadas a esse
processo, já que a tecnologia que tem muito a oferecer, uma vez que:
[...] no ensino da escrita para crianças autistas, o computador pode aparecer como um
recurso bastante motivador. Pois, como muitas delas têm dificuldade em controlar o
movimento das mãos, fica muito difícil conseguirem fazer letras bem desenhadas. E
o computador vai diminuir bastante o esforço das crianças, além de lhes proporcionar
o prazer de escrever de forma mais clara e rápida, através da digitação. (SAMPAIO;
OLIVEIRA, 2017, p. 361)
Entendemos, com base na nossa prática de ensino, que é essencial reconhecer, que a
maioria das ações pedagógica com ou sem recurso tecnológico, somente serão exitosas com a
elaboração adequada do PDI de alunos com deficiências, mediante uma eficiente mediação
docente. Agora será desenhado o percurso metodológico.
103
O Caderno
Toquinho
104
Esta pesquisa se caracteriza por uma abordagem qualitativa que trabalha com o mundo
dos significados, das crenças, dos valores e das atitudes e com elementos constitutivos do
universo humano, como as questões complexas (MINAYO, 2012).
A pesquisa se distingue como estudo de caso, de modo que se torna importante delimitar
os sujeitos, os cenários e ter claramente desenhados os limites específicos para o propósito do
estudo de caso (YIN, 2015). Quanto à finalidade, esta pesquisa é descritivo-exploratória,
esclarece Vergara (1997), que as pesquisas descritivas são as que expõem as características de
determinada população ou fenômeno, e as exploratórias investigam uma área onde há pouco
conhecimento sistematizado. Dialogando com Minayo (2000), a fase exploratória da pesquisa
é tão importante pois compreende a etapa da escolha do tópico de investigação, de delimitação
do marco teórico conceitual, dos instrumentos para coleta de dados e da exploração de campo.
Contribui Yin (2015) ao mencionar que pesquisas exploratórias e descritivas fazem melhor uso
de estudo de caso como estratégia de pesquisa. Segundo Silva e Menezes (2000, p.21),
Elaborar a
pesquisa
Analisar e
Coletar
refletir os
dados
resultados
Pesquisação
Avaliar
Implementar
dados e
ações durante
planejar
o processo
ações
Nossos dados foram coletados numa Escola da Rede Pública do Município de Olinda
em Pernambuco, situada em um bairro de classe socioeconômica que oscila entre as classes D
e E, na região metropolitana norte da cidade do Recife/PE. A referida Escola Municipal de
Olinda receberá a sigla EMO neste estudo.
funciona com os três segmentos (atende da educação infantil ao ensino superior devido à sua
transversalidade).
A EMO funciona sem recreio, devido ao longo percurso que os responsáveis e alunos
tem que percorrer, tem localidade que dá mais de uma hora de caminhada; as turmas da escola
são liberadas para a merenda uma a uma sem interferir na rotina das outras salas de aula.
Consideraremos o quantitativo de alunos matriculados aos longos dos anos de 2018 a 2021 e o
quantitativo de alunos especiais, para compor essa tabela, usamos a sigla EI -Educação Infantil,
na Tabela 03.
Entre 2018 e 2019, o quantitativo de alunos atípicos houve uma oscilação de 0,25% e
2,29% de alunos atípicos em comparação aos alunos típicos por ano de escolaridade. Em 2020
e 2021, o percentual apresentou um aumento significativo no total de alunos típicos de 3,20%
e 3,56% em relação ao total de aluno. Essa EMO que apresenta uma procura muito grande por
vagas para alunos atípicos e típicos, aproximadamente todo ano ficam 100 alunos na fila de
espera por uma desistência. O bairro expandiu muito e o número de escolas públicas é o mesmo
desde 2000. Agora veremos o quantitativo de professores efetivos e contratados.
De acordo com a tabela 04, percebe-se que o número de professores contratados supera
o de professores efetivos. Mas, também, na assistência educacional ofertada aos alunos, quando
o contrato acaba, o professor é desligado, podendo haver um hiato até a chegada do próximo e
108
deverá ocorrer uma adaptação do professor à escola, dele aos alunos. E sabemos da dificuldade
de alguns alunos atípicos às mudanças. Podendo haver perda no avanço escolar, fato verificado
com o aluno da pesquisa. A causa da educação do município é uma política pública que não se
efetiva.
A seleção do sujeito participante da pesquisa foi motivada por seu diagnóstico e por sua
presença no 3º ano do Ensino Fundamental, no turno da tarde, a sua turma em 2018, tinha vinte
e oito alunos e dentre eles um autista. O fato de o aluno estar matriculado no contraturno na
Sala de Recurso Multifuncional, onde atua a professora pesquisadora foi fator imprescindível.
Os participantes da pesquisa foram, em princípio 2 (dois), a saber;
• O aluno diagnosticado com TEA, trata-se de um menino calmo, sociável, com
estereotipias, ecolalia, vocabulário pobre, baixa concentração e atenção e grande
dependência do apoio escolar para realizar atividades. Para esse estudo, no intuito de
manter a sua integridade de participante, foi nomeado de Leo, nas transcrições do ELAN
recebeu a siglas Leo, verifica-se os anos de escolaridades, no Quadro 11;
• A professora do AEE da SRM da referida escola e pesquisadora, cuja prática demandava
estudos que necessitavam de soluções para desenvolver métodos e metodologias para a
alfabetização dessa criança, para esse estudo será tratada como: professora do AEE,
pesquisadora e Prof. S nas transcrições do ELAN;
Os informantes da pesquisa foram, a princípio 3 (três), a saber;
• A genitora, participou no início, dos levantamentos de dados para responder a
Anamnese, e no comprometimento com o projeto, quando mencionada no texto será
citado como: genitora e mãe;
• A professora da sala de aula regular do 3º ano, ano 2018, turno da tarde, também
participou no início para informar as competências e habilidades de ”Leo“ e o que ele
ainda não conseguia realizar, o comportamento e sua integração, durante todo ano
letivo, participou na implementação do que foi trabalho na SRM, receberá o nome de
Profª. R.
• A professora do 4º ano, em 2019, se recusou a participar do estudo, fato que está previsto
no TCLE.
Descrevemos, no Quadro 12, o perfil de escolarização do aluno:
109
Como mostra o Quadro 12, o seu ingresso na escola pública foi em 2015 na referida
escola do estudo EMO em 2016 e permanece até o momento. Acompanharemos seu Estudo de
caso.
No que diz respeito ao aluno Leo, a mãe da criança relatou, na coleta de informações
iniciais, feita no início da pesquisa em agosto de 2018, que houve intercorrências durante a
gestação a partir do oitavo mês, teve sangramento e contrações, mas nasceu aos nove meses e
a criança nasceu de parto normal. Quando bebê, chorava muito, mamava muito, não se
assustava com barulho, apresentava sensibilidade quanto à luz, pois não dormia. A mãe notava
que ele era diferente, mas não achava que fosse autista.
Leo fez uma bateria de exames e, aos dois anos de idade, a pediatra falou que ele
apresentava traços de autismo. O seu laudo foi concluído com o CID 10 F-84 + F-78.121, aos 6
anos, naquela época, frequentava a educação infantil. Sua vida escolar foi conturbada,
frequentou algumas escolas particulares, durante o período da educação infantil mudou de
escola três vezes, sem êxito e sem evolução na socialização e no cognitivo, sua permanência na
escola era até a hora do intervalo.
Aos 7 anos, ingressou na escola pública municipal de Olinda, no 1º ano do Ensino
Fundamental, a comunidade escolar o recebeu com muito carinho, sendo que em princípio ele
rejeitava o espaço escolar, tinha dificuldade com a rotina escolar: sentar-se na carteira escolar,
brincar com os demais alunos. Incluía um comportamento agitado, com estereotipias (pulava e
21
CID 10 – F78.1. Outro retardo mental – comprometimento significativo do comportamento, requerendo
vigilância ou tratamento; CID 10 – F84.0. Autismo infantil.
110
balançava as mãos repetidas vezes), saia da sala de aula sempre que a porta abria, dificuldade
de merendar devido a sua restrição alimentar, com exceção da laranja.
Esforço para fazer a pega no lápis, quando o faz o traço é tão leve que não dá para ver,
no entanto, gosta de desenhar no quadro com o lápis piloto de quadro branco. A sala de aula
era grande, e Leo pegava os brinquedos do armário da educação infantil e ficava andando no
meio das salas, ou deitava-se em cima de duas bancas para tocar os órgãos sexuais, não tinha
autonomia para usar o banheiro, foi um ano de muitas adaptações, sua fala apresentava ecolalia
e seu vocabulário era muito pobre.
Devido ao empenho da equipe escolar e da professora do AEE, foi implantada uma
rotina diária e solicitado um apoio escolar, pedimos para a mãe deixar ele passar o turno inteiro
na escola (13:00h às 17:20h), e trazê-lo para formar a fila da entrada, ele sempre era o primeiro
da fila e seguia para sala com a professora da sala regular, com a chegada do apoio escolar para
aplicação das atividades (adaptadas e direcionadas ao seu nível), as saídas da sala diminuíram,
quando ele ficava agitado, o apoio escolar/estagiário foi orientado para conduzi-lo para uma
volta no pátio e em seguida para a biblioteca, então, depois de um tempo, Leo se levantava e
seguia para a sala.
O aluno usava fralda, e foi solicitado que ele viesse para escola sem fralda e depois de
um tempo conseguimos ensiná-lo a usar o banheiro.
Leo começou a frequentar a SRM no contraturno, após seu ingresso na escola, foi
encaminhado pela professora do AEE para o CAPS Infantil do município de Olinda, passou um
ano na fila de espera, aos 8 anos, foi avaliado pelo psiquiatra infantil, que o encaminhou para
terapias multidisciplinares: fonoaudiologia, psicologia e terapia ocupacional, essas terapias
duraram doze meses, devido à saída do psiquiatra e sua equipe. Atualmente, está sem terapias.
Teve seu horário ampliado de 2 para 3 atendimentos por semana na SRM.
Com 8 anos, em razão de sua insônia, a mãe o levou para consulta com o neurologista
pediátrico que, após exame, emitiu um novo laudo, de modo que, atentando aos critérios do
DMS-V, identificamos o CID 10 F84.0 + F-79.022, que apresenta a nova nomenclatura do
Transtorno do Espectro Autista, esse laudo foi o último emitido até o momento. Leo faz uso de
22
CID 10 – F79.0. Retardo mental não especificado – menção de ausência de ou de comprometimento mínimo
do comportamento.
111
23
Calmam – é um remédio fitoterápico indicado no tratamento da ansiedade, depressão, irritabilidade, distúrbios
de sono como insônia ou para o tratamento da enurese noturna, em adultos e crianças. Disponível
em:https://www.bulas.med.br/p/bulas-de-medicamentos/bula/4000/calman.
112
Nosso projeto de pesquisa foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) do
Centro de Ciências da Saúde da UFPB, através do parecer nº 3.293.348 (anexo A). Para a
aprovação desse projeto, são solicitados alguns documentos para compor os pré-requisitos.
Nesses documentos, foram elucidados os objetivos da pesquisa, os riscos e os benefícios que
podem ser gerados com esse tipo de investigação, além do esclarecimento acerca da
possibilidade de desistir em qualquer etapa do processo.
• Carta de autorização para realização da pesquisa da instituição de ensino
PROLING/UFPB, encontra-se no anexo B;
• Duas cartas de anuências:1- Carta de Anuência da Secretaria Municipal de
Educação, Esportes e Juventude de Olinda; 2- Carta de anuência da escola
municipal de Olinda; ambas autorizando a realização da pesquisa. Anexos C e
D;
• Dois Termos de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE), de acordo com a
Resolução nº466/2012 do CONEP/MS: 1- Responsável pela criança menor de
idade; 2 -Professor pesquisador. Foi previamente lido e entregue à mãe do aluno
e ao professor. Anexos F e G;
113
Esse sujeito pode ser aluno, cliente e paciente, além disso, a anamnese pode ser realizada
por vários profissionais da área de saúde, psicólogos, psicopedagogos, neuropsicopedagogos,
fonoaudiólogo, terapeutas e alguns profissionais da educação etc. Na pesquisa, a professora do
AEE e pesquisadora utilizam a mesma anamnese do psicopedagogo, uma prática comum, na
investigação da história de vida do aluno é analisada com o objetivo de rastrear informações
relevantes para a construção do seu PDI.
Com o PDI sendo executado, adentramos nas elaborações das situações didáticas cujo
objetivo era a escrita em ambiente tecnológico, na verdade, foram coletadas no período de
2018.2 e 2019.2, um texto para cada semestre, do qual foi gerado um total de duas produções.
Com a proposta de viabilizar a execução da pesquisa, e tendo em vista as dificuldades
de se realizar uma sequência didática com aluno com TEA, no prazo habitual de uma sala de
aula regular (6 aulas a 10 aulas). Adequamos o tempo de execução da SD de acordo com as
especificidades do aluno; nessa circunstância dilatamos o prazo para 4 meses para cada SD
aplicada.
De um modo geral, pode-se afirmar que as entrevistas se dividem em: entrevistas
estruturadas – são aquelas que predeterminam, em maior grau, as respostas a serem obtidas, e
as semiestruturadas, que são desenvolvidas de forma mais espontânea (GIL, 2008). No entanto,
utilizaremos a entrevista semiestruturada que compreender a subjetividade do entrevistado por
meio de seus depoimentos, pois se trata do modo como ele observa o pesquisado. Podem-se
combinar perguntas fechadas e abertas. Segundo Minayo (2010), nesse tipo de entrevista existe
uma margem de liberdade para que o entrevistado se coloque favoravelmente ou não ao
conteúdo, sem fugir do tema da pergunta formulada. A seguir, os procedimentos de coleta de
dados.
4.4.1 O corpus
Como corpus da pesquisa, serão utilizadas as duas sequências didáticas, compostas por
quatro módulos cada uma, totalizando oito módulos. Para cada módulo aplicado, houve uma
variação dos números de atividades: (i) primeiro módulo – quatro atividades; (ii) segundo
módulo – cinco atividades; (iii) terceiro módulo - foi um experimento; (iv) quarto módulo –
produção textual, contabilizando um total de 20 atividades e dois experimentos. Poderão ser
acompanhados com mais detalhes nos procedimentos de coletas dos dados, bem como no
capítulo 6.
115
No quadro 12, no subitem 4.2.2, deste estudo, está descrita a coleta de dados
correspondendo a um total de 8 meses. Em agosto de 2018, foram realizadas duas entrevistas,
a primeira com a genitora para formalizarmos o preenchimento da anamnese e a segunda com
a professora da sala de aula regular do 3º ano do EF anos iniciais, cujo objetivo era apresentar
o projeto de pesquisa, os TCLE e os esclarecimentos acerca da duração das 62 sessões. Nesse
contato inicial, também informamos que todas as coletas seriam realizadas na EMO, no horário
do atendimento de Leo na SRM, da referida escola.
O projeto previa, inicialmente, que a coleta fosse efetivada com dois atendimentos
semanais, e que a filmagem e as fotos acontecessem durasse esses atendimentos, e estas seriam
realizadas pela pesquisadora. Tentamos respeitar todas as especificidades de Leo,
experienciamos colocar uma pessoa para realizar a filmagem, o aluno ficou descompensado
com a presença de uma terceira pessoa e não conseguia se regular, ficava em pé o tempo todo,
e as estereotipias se acentuavam, até que fosse solicitada a saída dessa pessoa, tentamos por
duas semanas, sem êxito.
As filmagens tiveram um intervalo entre (0.30 segundos a 14 minutos), elas ocorriam
quando a pesquisadora percebia que o aluno evoluía na realização das atividades propostas, por
conseguinte, a pesquisadora comunicava ao aluno que iriam refazer a atividade para poder
filmar ou fotografar e, só então, repetiam a atividade para finalmente filmar. No início,
acontecia de ele se recusar e era respeitado em seu tempo. Então, a pesquisadora começou a
filmar e, quando terminava, logo em seguida, entregava o celular para que ele assistisse o vídeo,
ao reconhecer-se no vídeo ele abria um sorriso e começava a pular nos quatro cantos da sala
realizando as estereotipias, que nesses momentos, eram demonstração de contentamento. Nesse
momento, a pesquisadora percebeu uma forma de atrair a atenção de Leo, filmava as cenas das
atividades, mostrava ao aluno imediatamente, no final do atendimento enviava para sua mãe
via WhatsApp que passava para o seu tablet, em casa, ele assistia inúmeras vezes as cenas. No
próximo atendimento, revisávamos o conteúdo da sessão anterior, e, para nossa surpresa, ao
refazer a última atividade, ele começou a falar com autonomia, sem que a pesquisadora
estimulasse sua fala, e incorporou a fala da pesquisadora como sua, ao realizar a mesma
116
atividade com eficiência. Desde então, o seu progresso foi evidente, a partir desse momento,
passamos a chamar esses vídeos de “vídeo modelagem24“.
Conforme apresentamos no Quadro 13 abaixo, nem sempre foi possível realizar a coleta
na data prevista, devido às intercorrências com o aluno, celebração de algumas datas
comemorativas ou projetos da escola.
A duração das filmagens, conforme mencionada, tiveram intercorrências do tipo:
medicação fora do horário, quando então o aluno ficava sonolento em decorrência desse fato;
quando ele não se alimentava, não conseguia produzir e ficava irritado; devido a sua insônia,
também, o aluno encontrava-se sonolento. Houve filmagens cuja duração chegava a 14 minutos,
e até duas ou mais filmagens no mesmo dia, quando foi necessário capturar a sua desenvoltura
no andamento das atividades ou quando realizamos alguns experimentos propostos na pesquisa.
Foi combinado que as coletas ocorreriam em ambiente escolar, na SRM, observem nos
Quadros 14 (28 sessões) e no Quadro 15 (34 sessões).
24
Vídeo modelagem (MV)– é considerada uma prática baseada em evidências para indivíduos com TEA pelo
fato desta população preferir e responder melhor às estratégias de ensino por meio de pistas
visuais. https://observatoriodoautista.com.br/2020/07/28/video-modelagem-mv-para-ensino-de-habilidades-de-
comunicacao/
117
Esse tema surgiu da necessidade de introduzir o tema “As fases da Lua” no AEE, para
atender à necessidade de adequação ao conteúdo de ciências ensinado pela Profa. R do 3º ano
do EF anos iniciais. O tempo de duração dessa 1ª SD foi de agosto a dezembro de 2018.
O que o aluno poderá aprender com esta SD: Desenvolver habilidades de leitura e de
escrita; conhecer as fases da lua; compreender os movimentos que a lua faz em volta da terra;
realizar observações; realizar pesquisas; desenvolver atitudes de interação, de colaboração e de
troca de experiências; produzir texto com auxílio; produzir texto com autonomia.
119
25
Memes – criado pelo zoólogo e escritor Richard Dawkins, em 1976, quando escreveu no livro “The Selfish
Gene” (O Gene Egoísta) que tal como o gene, o meme é uma unidade de informação com capacidade de se
multiplicar, através das ideias e informações que se propagam de indivíduo para indivíduo.
120
A semana do trânsito acontece desde 1997, e foi instituída por meio do artigo 326 do
Código de Trânsito Brasileiro (CTB). Desde então, é comemorada anualmente entre os dias 18
e 25 de setembro a semana do trânsito nas escolas. Nesse período, são realizadas ações em todo
o País com o objetivo de conscientizar todos os envolvidos no dia a dia do trânsito, sejam eles
motoristas, passageiros, motociclistas, ciclistas ou pedestres.
Esse conteúdo foi escolhido, porque nossa escola trabalhou com um “Projeto Trânsito
Seguro” no mês de setembro de 2019, elaboramos uma SD com esse conteúdo no AEE do aluno
autista, para atender à necessidade de adequação ao conteúdo do 4º ano do EF anos iniciais. O
tempo de duração dessa 2ª SD foi de agosto a dezembro de 2019.
O que o aluno poderá aprender com esta SD:
• Ler diferentes textos de forma autônoma ou com ajuda;
• Estimular a conscientização da criança sobre hábitos seguros no trânsito, de modo que
possa influenciar sua família;
• Desenvolver atitudes de interação, de colaboração e de troca de experiência;
• Para que servem as placas de trânsito? Leitura e escrita, Interpretação de sinais,
Percepção de semelhanças e diferenças, Identificação de placas de trânsito mais
importantes;
• Aprender algumas Leis de Trânsitos;
• Desenvolver atitudes de interação, de colaboração e de troca de experiências;
Duração das atividades: trinta e quatro (34) atendimentos de 50 min cada distribuídas
em quatro (4) módulos.
121
Recursos materiais para SD: papel ofício, papel contato, papel crepom, lápis,
emborrachado EVA, tesoura, estilete, lápis de cor, papelão, carrinho, palitos, cola, de EVA,
cola branca, celular, impressora e notebook.
Recursos humanos: pesquisadora, Leo, apoio escolar em algumas ocasiões para filmar.
Materiais de apoio: na elaboração das atividades propostas na SD a seguir, foram
utilizados: Direitos de aprendizagem e a BNCC de forma interdisciplinar.
Os objetivos propostos foram:
• Sistema de apropriação da escrita por meio da prática de produção de texto: com auxílio
do professor do AEE e/ou sem auxílio do professor do AEE;
• Ler textos com auxílio do professor do AEE;
• Utilizar diferentes gêneros textuais e digitais (música, vídeo, relato pessoal, jogos digitais,
hino) em atividades relacionadas ao tema;
• Apreender assunto/tema tratado em textos de diferentes recursos: tablets; smartphones;
notebooks; softwares; jogos digitais e maquete interativa.
.
123
26
os sujeitos que nasceram na década de 1990, que integram o grupo intitulado de Geração Z e são retratados
como peculiarmente familiarizados com as novas tecnologias de informação e comunicação.
124
Quadro 19 – Campo Temático de atuação -Produção de Texto do 1º aos 5º anos da BNCC (Continua...)
Unidades Objetos de Conteúdos Habilidades BNCC (objetivos
Campo
Temáticas Conhecimento específicos)
Temático
(eixos)
Planejamento de * Produção oral com (EF15LP05) Planejar, com a ajuda
texto destino escrito; do professor, o texto que será
* Texto coletivo com produzido, considerando a situação
o professor como comunicativa, os interlocutores
escriba; (quem Escreve/para quem
* Sistema de escreve); a finalidade ou o
apropriação da escrita propósito (escrever para quê); a
por meio da prática de circulação (onde o texto vai
produção de texto; circular); o suporte (qual é o
* Revisão textual (oral portador do texto); a linguagem,
e escrito); organização e forma do texto e seu
* Coesão e coerência; tema, pesquisando em meios
Produção *Estrutura textual e impressos ou digitais, sempre que
de textos noções de pontuação. for preciso, informações
Todos os
(escrita necessárias à produção do texto,
campos de
compartilha organizando em tópicos os dados e
atuação
da e as fontes pesquisadas.
autônoma) Revisão de * Produção oral com (EF15LP06) Reler e revisar o texto
textos destino escrito; produzido com a ajuda do
* Texto coletivo com professor e a colaboração dos
o professor como colegas, para corrigi-lo e aprimorá-
escriba; lo, fazendo cortes, acréscimos,
* Sistema de reformulações, correções de
apropriação da escrita ortografia e pontuação.
por meio da prática de
produção de texto;
* Revisão textual (oral
e escrito); – Coesão e
coerência; – Estrutura
refacção textual.
125
Quadro 19 – Campo Temático de atuação -Produção de Texto do 1º aos 5º anos da BNCC (Conclusão.)
Edição de textos * Produção e edição (EF15LP07) Editar a versão final
de textos; do texto, em colaboração com os
* Organização de colegas e com a ajuda do
ideias de forma professor, ilustrando, quando for o
constante e caso, em suporte adequado,
progressiva; manual ou digital.
* Domínio da
linguagem oral:
sequência e clareza na
exposição de ideias;
* Estrutura Textual:
legibilidade, parágrafo
e pontuação,
maiúscula e
Produção
minúscula, ortografia,
de textos
Todos os coerência e coesão,
(escrita
campos de clareza;
compartilha
atuação * Sistema de
da e
apropriação da escrita
autônoma
por meio da prática de
produção de texto.
Utilização de * Sistema de (EF15LP08) Utilizar software,
tecnologia apropriação da escrita inclusive programas de edição de
digital por meio da prática de texto, para editar e publicar os
produção de texto; textos produzidos, explorando os
* Revisão textual (oral recursos multissemióticos
e escrito); disponíveis.
* Coesão e coerência;
* Estrutura textual;
* Noções de
pontuação;
* Utilização de
tecnologia digital.
Fonte: Elaborado pela autora com base na BNCC (2017)
Para tanto, iniciamos o nosso estudo trazendo as análises do percurso na nossa pesquisa,
percorrendo as duas sequências didáticas, descritas nos itens 5.4.3, 5.4.4, 6.1 respectivamente,
atendendo aos critérios da BNCC (BRASIL, 2017) e aos Direitos de aprendizagem do ciclo de
alfabetização da língua portuguesa (BRASIL, 2012), culminando a nossa abordagem com a
relação entre os campos de experiências descritos no referido documento citado que contempla
essa aquisição da escrita.
126
Aquarela (Toquinho)
Numa folha qualquer Giro um simples compasso
Eu desenho um Sol amarelo E, num círculo, eu faço o mundo
E, com cinco ou seis retas Um menino caminha
É fácil fazer um castelo E caminhando chega no muro
Corro o lápis em torno da mão E ali logo em frente, a esperar
E me dou uma luva Pela gente, o futuro está
E, se faço chover, com dois riscos E o futuro é uma astronave
Tenho um guarda-chuva Que tentamos pilotar
Se um pinguinho de tinta Não tem tempo, nem piedade
Cai num pedacinho azul do papel Nem tem hora de chegar
Num instante, imagino Sem pedir licença
Uma linda gaivota a voar no céu Muda nossa vida
Vai voando, contornando E depois, convida
A imensa curva norte-sul A rir ou chorar
Vou com ela viajando Nessa estrada, não nos cabe
Havaí, Pequim ou Istambul... Conhecer ou ver o que virá
Pinto um barco à vela O fim dela, ninguém sabe
Branco navegando Bem ao certo onde vai dar
É tanto céu e mar Vamos todos
Num beijo azul Numa linda passarela
Entre as nuvens vem surgindo De uma aquarela que, um dia, enfim
Um lindo avião rosa e grená Descolorirá
Tudo em volta colorindo Numa folha qualquer
Com suas luzes a piscar Eu desenho um Sol amarelo
Basta imaginar, e ele está partindo Que descolorirá
Sereno e lindo E, com cinco ou seis retas
E, se a gente quiser É fácil fazer um castelo
Ele vai pousar Que descolorirá
Numa folha qualquer Giro um simples compasso
Eu desenho um navio de partida E, num círculo, eu faço o mundo
Com alguns bons amigos Que descolorirá
Bebendo, de bem com a vida Que descolorirá
De uma América a outra
Eu consigo passar num segundo
127
Este capítulo é destinado às análises e discussões dos resultados das situações didáticas
realizadas durante um período longitudinal de 2018 a 2020. Para uma melhor distribuição nas
apresentações e análises destes dados, dividimos este capítulo em três seções. Na primeira,
dissertaremos sobre o desenvolvimento e a análise dos dados da SD – “Olhando para o céu”.
Na segunda, entraremos na análise da segunda SD – “A caminho da escola “.
A análise desta SD, aplicada no AEE do aluno com TEA, se dará por seu
desenvolvimento da entrada da aquisição na escrita e em ambiente tecnológico. Primeiro,
resgatamos os conhecimentos prévios deste aluno sobre os corpos celestes envolvidos nas fases
da lua. Em seguida, foi entregue uma ficha com quatro (4) desenhos das fases da lua para que
o aluno Leo fizesse sua escrita espontânea sem recurso e sem auxílio.
27
Essa transcrição não foi realizada pelo software ELAN, haja vista o fato de o aluno tê-la excluído por acidente;
os demais foram transcritos pelo ELAN.
128
Observou-se que o aluno necessita de estímulo verbal para realizar a atividade, uma vez
que ele não tem autonomia para falar. Na segunda linha, fica clara a ecolalia na sua fala, pois
ele repete o final da frase da pesquisadora, linha 2 da transcrição 1, “Vê no céu?”. Partindo da
contextualização da escrita, foi pedido que o aluno tentasse materializar no desenho as
realidades do dia a dia em relação ao tema. Deixou-se que o aluno falasse sua opinião para
trabalhar com ele os direitos de aprendizagem, que propõe “Participar de interações orais em
sala de aula, questionando, sugerindo, argumentando e respeitando os turnos de fala” (BRASIL,
2012a, p. 46) e “Relacionar textos verbais e não verbais, construindo sentido” (BRASIL, 2012a,
p. 49). Vejamos o desenho da lua.
Em relação ao desenho da lua cheia que o aluno fez, percebeu-se que ele sempre utiliza
amarelo quando a lua é cheia, e cores escuras quando a lua é nova, relacionando-as com a
realidade. Nesse momento, ele não escreveu, então, foram aplicadas algumas atividades para
reforçar a aquisição da linguagem escrita.
desenho das luas e os nomes. O aluno, com o auxílio da leitura da pesquisadora, enumerava de
acordo com o nome de cada lua (nova, cheia, crescente e minguante).
Na segunda atividade, trazia o desenho da lua e os quadradinhos, demarcando a divisão
silábica para que o aluno realizasse a escrita inicial, isto é, produção inicial, como preconizam
Dolz, Noverraz e Schneuwly (2004, p. 86), “[...] pois permite circunscrever as capacidades de
que os alunos já dispõem e, consequentemente, suas potencialidades”. Isso define como
professores devem intervir e planejar as outras etapas, de forma que o aluno conseguisse evoluir
processualmente. Nestas atividades, tivermos a oportunidade de trabalhar o conteúdo
“Produção oral com destino escrito” de acordo com a BCCC (2017).
A atividade 02 da Figura 11 serviu de base para elaborar a terceira atividade, na qual, o
aluno pudesse ter acesso às segmentações silábicas, que foram misturadas e, a partir da leitura
da imagem e a mediação da pesquisadora, depois de várias tentativas, ele colocou as sílabas no
local correto. Essa atividade nos oportunizou trabalhar os direitos de aprendizagem no eixo da
leitura “Reconhecer as finalidades de textos lidos (pelo professor ou pelas crianças)”.
A atividade 3 da figura 12 serviu de modelo para a quarta atividade na figura 11, que
oportunizou o “sistema de apropriação da escrita por meio da prática de produção de texto”
(BNCC, 2017). Foi solicitado que o aluno construísse a escrita dos nomes das luas a partir do
alfabeto móvel serviu de suporte para a atividade, as letras são postas em desordem. Para a
execução, foi utilizado um recurso tecnológico, ao qual se deu o nome de vídeo modelagem.
Atividade 04
Fonte: Dados da Pesquisa (2018)
Após a atividade, a pesquisadora enviou o vídeo para o celular da mãe e ela repassou
para o tablet do aluno; ele assistiu ao vídeo diversas vezes e o resultado na evolução na sua
130
Houve a leitura de um jornal eletrônico “O Estadão” que propiciou o contato com texto
eletrônico pouco utilizado por crianças, o que fez com que o aluno percebesse as características
do gênero textual reportagem, e identificasse mais um formato da Lua – lua sangrenta. Em
seguida, foi feita a leitura de alguns memes e a identificação da palavra “lua” neles.
Procurou-se garantir mais um direito de aprendizagem, que propõe “Ler textos não
verbais, em diferentes suportes” e “Compreender o texto lido por outra pessoa, de diferentes
gêneros e com diferentes propósitos garantindo sua evolução processual” (BRASIL, 2012a, p.
49).
Em relação ao desenvolvimento da atividade proposta: ao acompanhar a leitura da
reportagem e ver as fotos nos memes, o aluno Leo começou a chamar a lua sangrenta de “lua
de sangue”; ele foi instruído a identificar o nome “lua” nos memes e a grifá-los. O aluno leu a
palavra lua falando as letras “L”, “U”, “A”, e repetia lua; para uma maior sistematização,
vivenciou-se a leitura de vários memes que traziam a escrita da palavra lua, e essa
contextualização ajudou no processo de consolidação da escrita, Figura 13. Mais uma vez,
comprovou-se a teoria de Vigotsky, que evidencia o valor da mediação tanto do ser humano
como dos objetos semióticos.
131
No intuito de consolidar as fases da lua, a pesquisadora optou por uma atividade lúdica,
excelente recurso para aprender determinados conteúdos, Figura 14. Ela confeccionou um jogo
de memória com os corpos celestes (as fases da Lua, Sol e Terra), o qual foi montado com a
ajuda do aluno para que ele sentisse que era parte integrante da atividade. As regras do jogo
foram criadas em conjunto, da seguinte forma: primeiro jogou-se com as cartelas viradas,
mostrando as figuras para facilitar o reconhecimento dos pares, por exemplo, (Sol/Sol); após a
consolidação da primeira etapa, reviraram-se as cartelas, enumeraram-se os pares (frente/Sol,
verso/número 1) e assim por diante em todas as figuras; quando ele compreendeu a forma
correta de jogar, retiraram-se as numerações das cartelas e jogou-se normalmente.
Essa foi a primeira vez que Leo usou o computador, a aprendizagem começou com o
toque inibido no mouse, no teclado, com a aprendizagem dos comandos básicos: toque nas
letras para escrever, a barra de espaço, a tecla Enter para mudar de linha; a escolha e tamanho
da fonte, trabalhamos sempre com a tecla CapsLk ligada, porque o aluno usa sempre letras
maiúscula (letra bastão), toda atividade foi mediada pela professora do AEE. De acordo com
Frade (2004) diz-se que é necessário conhecer os gestos e as especificidades dos suportes
tecnológicos, e isto já pode ser tratado na alfabetização escolar. Notemos, na Figura 16, a
transcrição do vídeo, e como foi conduzida essa escrita.
Essa primeira escrita com recursos tecnológicos, foi um aprendizado que Leo vai levar
para sua vida escolar e social. Na alinha 8 da transcrição, a pesquisadora dá o comando “Dê um
espaço”, e o aluno aplica a orientação. Frade (2004, p. 03) afirma que,
133
Ao ser constatado que o aluno reconheceu e nomeou todas as fases da lua, decidiu-se
realizar um experimento com o intuito de aprofundar e consolidar o conteúdo estudado por
meio da escrita dos nomes das fases da lua. Naquele momento, optou-se por fazer um
experimento no qual ele pudesse participar das observações através da interação, da
colaboração e da troca de experiências.
Para o experimento, tomou-se como referência as posições dos três corpos celestes: Sol
(lanterna), Lua (bola) e Terra (aluno). O birô foi colocado no meio da sala, a bola na metade do
birô (retangular), sobre um copo descartável, e a lanterna em numa das extremidades do birô,
na altura dos olhos do aluno. A Figura 17 serviu de referência para o aluno, como um motivador
para esse entendimento.
Em seguida, com a sala pronta para o experimento, foi mostrado ao aluno que seria
necessário apagar a luz para que ele pudesse visualizar o efeito do Sol (lanterna) na Lua (bola)
iluminada e identificar, em relação a sua posição na sala (Terra), qual fase da lua ele visualizava
e reconhecia nos quatro cantos da sala (Figura 17). Inicialmente, a pesquisadora pegou na mão
do aluno e apagou a luz pela primeira vez, quando ele estremeceu. A pesquisadora explicou
mais uma vez, e voltou a apagar a luz, desta vez sem segurar a sua mão. Depois o conduzi-o ao
134
outro lado da sala, e avisou que iria apagar a luz novamente. Esse procedimento foi repetido
várias vezes até que Leo ficasse acomodado no escuro.
Para darmos início ao experimento, fizemos vários treinos, primeiro explicamos que ele
seria a terra; a lanterna, o sol e, a bola de isopor, a lua. Fizemos primeiro com a luz acesa, e
perguntando sempre: Cadê a terra? Ele levantava o braço. Cadê a lua? Ele apontava para bola
de isopor. E, por último, perguntávamos: Cadê o sol? Ele apontava para a lanterna acessa do
celular e repetia sempre a pergunta, para introjetar o que se pede.
Segundo, iniciamos apagando a luz e conduzindo o aluno aos quatro cantos da sala, e
perguntando? Qual lua você vê? Identificando, as fases da lua, esse procedimento foi repetido
algumas vezes. Por último, realizamos o experimento completo, o aluno andava sozinho na sala
e observava a fase da lua no escuro, em seguida, a luz era acessa para que ele desenhasse a lua
identificada e escrevesse o nome dela. Assim foi repetido três vezes para cada fase da lua,
desenhando e escrevendo seus nomes (Figura 19); naturalmente, após várias tentativas, ele
realizou o experimento com êxito. Nessa perspectiva, Vigotsky (1998, p. 136) afirma “que o
desenho é uma linguagem gráfica que surge tendo por base a linguagem verbal”.
Figura 18 – Experimento da 1º SD
sua compreensão teórica se aplicou na prática, dentro e fora do espaço escolar. A proposta de
trabalho foi pensada para atender esse autista na alfabetização, apoiando-o nas suas dificuldades
com ludicidade e com ambiente adequado, bem como alterando e ressignificando o percurso
para garantir sua aprendizagem.
No quadro 21, é possível observar a evolução da escrita, tomando como parâmetro sua
escrita inicial.
Verificou-se, com esse experimento, que o aluno, além de desenhar, escreveu as palavras
“lua nova” convencionalmente, o que demonstra uma evolução da atividade da escrita inicial
(linha 1 do Quadro 1). Em relação às palavras “lua gia” (cheia), ele ainda não conseguiu
apropriar-se do fonema “ch”, mas escreveu a palavra lua. Também houve uma evolução na
escrita de “lua qcte” (crescente). No entanto, em lua minguante, o resultado foi surpreendente
devido ao recurso do vídeo modelagem.
Vigotsky (1998, p. 126) relata que:
Depois de explorar o desenho com perguntas ao aluno e de entender a história que ele
criou, orientou-se que ele escrevesse a história do desenho utilizando uma ferramenta móvel, o
notebook, com o propósito de atender aos direitos de aprendizagem, no eixo da produção de
texto “Compreender e produzir textos destinados à organização e socialização do saber
escolar/científico e à organização do cotidiano escolar e não escolar” (BRASIL, 2012a, p. 39).
É também nesta fase que a criança chega à ideia de usar o desenho como meio de
recordar e, pela primeira vez, este começa a convergir para uma atividade intelectual complexa.
O desenho se transforma, passando de simples rabiscos aleatórios para a representação de algo.
A partir daí, o intelecto adquire um instrumento novo e poderoso na forma da primeira escrita
diferenciada.
Para essa análise, será apresentado o trecho da transcrição do diálogo ocorrido nessa
etapa do 4º módulo.
137
Importante observar que a pesquisadora faz perguntas sobre o desenho construído e que
a história da ilustração serviu de andaime para a história escrita. A mediação da pesquisadora
ajuda na organização das ideias colocadas no desenho. Esses dois suportes auxiliaram na
transposição da história contada através do desenho para a escrita. É um texto com início,
desenvolvimento e fim, seguindo o percurso desenhado. Segue a escrita do texto no
computador, que pode ser vista na Figura 21.
Como é possível verificar, há muito mais em sua escrita do que a simples repetição de
letras. Vejamos a transcrição da pesquisadora: “A noite a lua nova no céu terra subiu o menino
subiu lua chegou na lua e caiu”, mostra uma produção textual, que ele desenvolveu com
autonomia a partir do desenho do painel. Para Vigotsky (1995), a aquisição da escrita é a própria
138
história do desejo de expressão da criança – que começa com o gesto e se manifesta pelo
desenho, pela fala, pelo faz-de-conta e chega à linguagem escrita. Assim, compreende-se que o
desenho e o faz-de-conta são representações simbólicas de uma etapa anterior, a qual leva à
linguagem escrita.
A figura 22 apresenta a reescrita desse primeiro texto (escrito em novembro de 2018),
foi realizada na SRM da escola, em ago./ 2019. Depois de uma revisão do conteúdo trabalhado
na 1º SD, foi entregue o painel e questionado sobre o desenho, Leo respondeu de acordo com o
primeiro texto, então se dirigiu ao notebook e reescreveu. Observamos que a construção da
segmentação silábica de algumas palavras como, por exemplo, “OITE” por “NOITE”, “CEO”
por “CEU”, “EIO” por “MENINO”, enriqueceram o texto, melhorando a sua construção.
Durante a sequência didática, a pesquisadora conseguiu que o aluno participasse de
todas as atividades; ora ele era capaz de realizá-las com autonomia, ora precisava de ajuda.
Nesse momento, destaca-se a importância do trabalho dos profissionais de educação que
respeitam as especificidades dessas crianças. Na história escrita por Leo, percebeu-se um
grande avanço da sua escrita inicial, pois ele foi além de palavras e construiu texto. Não é
preciso lembrar a dificuldade existente na produção textual no processo de alfabetização, sendo
que, no caso, lidou-se com um autista.
O fundamental nessa etapa é compreender a escrita como uma atividade complexa. À
luz de Vigotsky (1995, p. 183) “o domínio da linguagem escrita significa para a criança dominar
um sistema de signos simbólicos extremamente complexo” e, para a pesquisadora, o maior
desafio é ensinar ao autista a linguagem escrita, não as letras. Naturalmente, a mediação da
pesquisadora é parte essencial desse processo. Diante do exposto, é fundamental que o docente
analise seus alunos autistas de maneira singular, para que possa encontrar o melhor método de
fazê-los desenvolver-se nesse sistema simbólico.
139
Fizemos uma análise a respeito dos conhecimentos prévios deste aluno sobre o trânsito
e, em seguia, foi entregue uma ficha com quatorze (14) desenhos de meios de transporte para
que ele fizesse uma escrita espontânea sem recursos e sem o auxílio da mediadora (escrita
inicial).
140
Essa escrita inicial nos guiou para aprofundarmos e melhor o ampararmos na sua
linguagem escrita, pois a compreensão dos fatos linguísticos subtendidos na ortografia dessa
criança, tipo “erros”, como esclarece Chacon (2016),
[…] acertos nem sempre significam ou podem ser vistos como índices de
conhecimento – de fato, muitas vezes, sobretudo na escrita inicial de crianças, o que
se mostra como acerto pode ser fruto do acaso ou da memória visual de palavras ou
de estruturas linguísticas, sem análise, por parte da criança, dos vínculos entre os
grafemas e os fonemas que a eles correspondem na escrita dessas palavras ou
estruturas. Analogamente, o erro não significa nem pode ser visto como índice de
ausência de conhecimento – já que […] raramente ele foge a algo que, de certo modo,
não seja suscitado pela própria língua ou pelas regras que orientam a correspondência
grafema/fonema. (CHACON et al., 2016, p. 110)
Concordamos com Chacon (2016), pois de fato esses erros fazem parte dessa construção
da escrita, e cabe a nós professores elaborar atividades que induzem a criança a reconhecer o
“erro”, visto que, “a escrita é um dos modos de se colocar uma língua em uso” (CHACON,
2016, p. 184). Não obstante, procuramos atender aos Direitos de Aprendizagem (BRASIL,
2012), “[...] planejar a escrita de textos considerando o contexto de produção: organizar roteiros,
planos gerais para a tender a diferentes finalidades, com ajuda de escriba”. Também
contemplamos a BNCC (2018), com o conteúdo “sistema de apropriação da escrita por meio
da prática de produção de texto”; da unidade temática “Produção de textos (escrita
compartilhada e autônoma)”. Passaremos para o 1º módulo.
A finalidade deste módulo é identificar e construir o nome dos meios de transporte, dando
ênfase na segmentação em sílabas e na relação grafema/fonema. A partir do suporte da escrita
inicial, usamos as mesmas figuras para dar seguimento nas atividades: a) realizar uma leitura
das imagens dos meios de transporte; b) pareamento da figura com o seu nome escrito através
141
da leitura; c) construção dos nomes das imagens a partir dos segmentos oral e manual dos
nomes em sílabas – atividade está de natureza manual (de forma concreta); d) usando, como
modelo, os nomes da atividade “c” utilizamos o alfabeto móvel para o pareamento de grafemas
fonemas para compor o nome das imagens. Observaremos algumas dessas atividades, Figura
24.
Esse mesmo processo foi replicado para as placas de trânsito (2º módulo) e os nomes dos
lugares (3º módulo), durante a execução da SD. Em todas as sessões revisávamos o conteúdo
por meio da leitura de imagem e dos nomes, aproveitávamos para estimular a fala espontânea
de Leo. Todo os processos eram mediados pela pesquisadora, mesmo que fosse como
observadora de suas autonomias.
Figura 24 – Pareamento dos meios de transporte e placas de trânsito com seus nomes
Atividade 1 Atividade 2
Fonte: Dados da Pesquisa (2019).
Para executarmos essa análise, apresentaremos o trecho das transcrições ocorridas nessa
primeira atividade. O aluno foi levado até a mesa da SRM da escola; pedimos que olhasse para
a imagem do “taxi” e, em seguida, foi-lhe solicitado que pegasse o nome “taxi” e o incentivamos
a ler a palavra; a partir daí, podemos observar as respostas transcritas no Quadro 23.
Ele responde, “XI”. Leo, por prontidão, completa a palavras “taxi”, antecipando a sílaba “XI”.
Relativamente à aprendizagem da leitura e da escrita.
Do mesmo modo acontece em relação à sílaba em sua estrutura quanto à aquisição, que
progride da mais simples para as mais complexas. Corroboram tal argumento os escritos de
Abaurre (2001) e Miranda e Matzenauer (2010), ao partilhar que tal qual acontece na aquisição
da linguagem oral das crianças, do mesmo modo acontece na aprendizagem da escrita
alfabética. Vicente (2022, p. 156-157) destaca que “a) as crianças parecem dominar
rapidamente a grafia de sílabas (CV), mas (b) a grafia de sílabas complexas é problemática”.
De acordo com Miranda e Matzenauer (2010, p. 374-375), para o Português brasileiro, entre os
formatos silábicos ramificados, CCV e CVC, a estrutura CVC, com coda, é “o tipo de sílaba
cuja grafia se apresenta mais difícil à criança que se encontra no nível alfabético de
conceituação da escrita”. Esse processo foi identificado com o nosso sujeito da pesquisa.
Incentivar o aluno a ler e escrever através das imagens das placas de trânsito, foi o que a
atividade 2, nos oportunizou: primeiro, a mediadora entregava uma placa ao aluno, e, ao
identificar a placa, ele falava com autonomia; esse processo foi repetido com todas as placas;
segundo, a mediadora organizava as placas na mesa e entregava um nome da placa ao aluno,
ele lia algumas sozinho e outras com o auxílio da mediadora, então ele efetuava o pareamento
(nome - imagem.); terceiro, a mediadora colocou as placas na mesa com os nomes misturados,
e começou a solicitar, do aluno, por exemplo: placa de “Área Escolar”, Leo procurava primeiro
a imagem e depois o nome e a entregava à pesquisadora.
Em todas as etapas, ocorreram alguns erros, então, repetíamos a atividade, e, na seguinte
sessão, repetíamos o procedimento.
Na terceira atividade, Leo assistiu a um vídeo no YouTube de nome “Agente de trânsito,
educação segura rodoviária para crianças, em desenho animado” (AGENTE, 2018) no qual
aparecem várias placas, travessia na faixa de pedestres, cinto de segurança, guarda de trânsito,
e uma pequena história sobre não obedecer às placas de trânsito. Esse vídeo tem uma duração
de 4:50 minutos, a opção pelo vídeo, se deu por ser curto o suficiente para prender a sua atenção.
Após assistir a primeira vez, conversamos sobre o vídeo, e voltamos a assisti-lo
novamente só que, desta vez, fizemos pausas, e fomos questionando o aluno, no Quadro 24 a
seguir.
144
Analisamos que Leo conseguiu usufruir dos seus direitos de aprendizagem (BRASIL,
2012, p. 8) no que se refere a “estabelecer relações lógicas entre partes de textos de diferentes
gêneros e temáticas, lidos pelo professor ou por outro leitor experiente”. Isto foi contextualizado
com o conteúdo aprendido em sala de aula. Acerca do assunto, Silva (2019, p.104), lembra que
Aplicamos essas atividades para que o aluno pudesse expressar oralmente o seu
entendimento para cada situação de trânsito e, em seguida, escrevê-las de forma autônoma. Na
primeira atividade, a partir da sua interpretação, ele realiza a atividade e estrutura a sua escrita
de forma que dê para entender sua mensagem. Nas frases seguintes: MENINA DE BICICLETA
NA PISTA; MOTO EM VELOCIDADE; USE CINTO; PARE; DIRIGINDO; FAIXA DE
PEDESTRE, toda a escrita de Leo é feita em letras bastão, de modo que apresenta dificuldades
com a letra cursiva; neste ponto, concebemos que o que é realmente mais importante é o
processo e a construção da sua alfabetização do que preocupar-se com a estética do formato da
letra. De acordo com a BNCC (BRASIL, 2012, p. 9), Leo chegou a “produzir textos de
diferentes gêneros com autonomia, atendendo a diferentes finalidades”.
As atividades 2 e 3 correspondem ao que determina a BNCC (2018), a saber: um sistema de
apropriação da escrita por meio da prática de produção de texto. Essas atividades foram
executadas para um aprofundamento do conteúdo trabalhado. Leo apresentou uma
aplicabilidade dos conteúdos estudados e elaborou frases inteiras: Atividade 2: “MENINA
PASSOU SINAL VERMELHO E O FUSCA BATEO”; Atividade 3: “POLICIAL DEU MUTA
PARA O MOTORISTA”.
Ainda no segundo módulo, foi uma imersão no mundo tecnológico, com a aplicabilidade
de tudo o que foi aprendido em relação ao tema. Tendo em vista o desenvolvimento do aluno,
a mediadora planejou colocar em prática os seus conhecimentos de forma digital; logo, foi
necessário a adoção de um notebook para a realização da sessão. Primeiro – jogos educativos/
memória do trânsito –, Leo precisa identificar os pares das placas de trânsito. Observamos que
nesse jogo – manejado de forma digital –, o aluno ficou mais calmo; identificamos que pelo
fato de ele ser o único jogador, na primeira SD, ele não respeitava as regras, não queria ceder a
vez de jogar para a mediadora, só o fez depois de várias tentativas.
146
Na terceira atividade, jogo do Trânsito Legal – acontece uma situação real de trânsito com
carros, bicicletas, charretes, caminhões etc. Nele, o aluno deve colocar a sinalização do trânsito
corretamente e de forma interativa. De início, Leo estranhou porque, naquela quadra em que se
passa o jogo, a movimentação não para em nenhum momento. Em seguida, ele assimilou todo
o processo do jogo e o executou.
No recurso dos jogos, dos desenhos, do computador, constatamos que os elementos
multimodais ajudam no processo da entrada da escrita. Além disso, vale ressaltar o
envolvimento dessa criança com os recursos digitais. É um potencial que não se pode desprezar.
Passemos para o 3º módulo.
No terceiro módulo, fizemos outro experimento: uma maquete interativa que foi
montada e organizada pela pesquisadora com o auxílio do aluno, que se dedicou
excepcionalmente ao projeto. Para a realização desse módulo, foi necessário adquirir alguns
objetos: papelão; EVA; cola; carrinhos; bicicletas; motos; caminhão; impressora para imprimir
as sinalizações de trânsito e os personagens, palitos.
147
Antes de iniciar a confecção, fizemos todo o percurso da casa de Leo até a escola, e
fomos perguntando o que ele estava vendo; ele mora no centro do bairro onde há: frigorífico;
sorveteria; lanchonete; igreja; supermercado; academia de ginástica; lojinhas; uma quadra de
futebol; a praça e a escola. Na primeira tentativa de construir a maquete, começamos colocando
as casas e as lojas de pé; depois fizemos o primeiro treino, Leo não conseguia visualizar as
ocorrências no trânsito, devido à altura dos imóveis. Desmanchamos e recomeçamos, só que,
desta vez, ficou planificada, e muito melhor para o entendimento do aluno, observe a Figura
28.
Experienciamos a organização de uma situação de trânsito, de forma concreta. Leo e a
professora do AEE (que o auxiliou) começaram a montar as sinalizações: a professora pegava
uma placa e perguntava: – Leo, que placa é essa? E ele respondia: – Vire à esquerda. Logo, a
mediadora solicitava que ele colocasse a placa no local correto. E assim, ocorreu com as demais
sinalizações de trânsito: semáforos; carros; bicicletas; motos e pessoas.
Ao estabelecer critérios para distinguir o brincar da criança de outras formas de
atividades, Vigotski (2007, p. 109) chega a
[...] concluir que no brinquedo a criança cria uma situação imaginária. Essa não é uma
ideia nova, à medida que as situações imaginárias sempre foram reconhecidas; no
entanto sempre foram vistas como um tipo de brincadeira. A situação imaginária não
era considerada como uma característica definidora do brinquedo em geral, mas era
tratada como um atributo de subcategorias específicas do brinquedo.
Todo esse processo ocorreu na oralidade; a proposta do trabalho visou promover sua
fala espontânea, como defende a BNCC (2019) e correspondente à habilidade estabelecida pelo
código EF15LP13: “Identificar finalidades da interação oral em diferentes contextos
comunicativos (solicitar informações, apresentar opiniões, informar, relatar experiências etc.)”.
Na Figura 29, é possível observar a sua evolução na escrita se tomarmos, como parâmetro, a
sua escrita inicial.
Através da análise do quadro 26, temos um comparativo das escritas inicial e final, de
modo que podemos observar uma segmentação silábica de grafemas e fonemas bem evoluída,
em se tratando de autista, suas escrita está mais estruturada ao passo que aprofundamos a SD.
É importante mencionar que, durante a escrita do texto, o aluno refez o percurso com os
personagens, passo a passo, e voltava para o notebook para escrever. Vamos acompanhar o
texto na figura abaixo.
150
Esta Tese teve, como objetivo principal, compreender o processo de aquisição da escrita
de uma criança autista em ambiente digital a partir dos precursores da escrita de Vigotsky. Em
relação ao processo da escrita, verificou-se, de forma clara, o quanto os precursores serviram
de andaimes para o desenvolvimento das habilidades escritas.
Diante desses dados, é necessário relembrar que essa criança chegou à escola sem saber
segurar o lápis de forma correta; é de fato um progresso. Leo está inserido no processo de
aquisição do sistema de escrita alfabética e nos letramentos.
Na primeira sequência, trazemos o Quadro 22, comparativo desse desenvolvimento. No
quadro comparativo da escrita inicial e final das palavras estudadas (na primeira sequência
didática), vimos um desenvolvimento notável das habilidades. Sua escrita evoluiu quanto à
segmentação em sílabas e na relação grafema-fonema do tipo: silábicas “CV” e algumas “CVC”
nas palavras. No segundo módulo, utilizamos os gêneros notícia de jornal e memes, de modo
que Leo acompanhou a leitura da mediadora sobre a lua de sangue, lemos os memes e foi
possível a identificação do nome “LUA”. Na realização do terceiro módulo, do experimento,
Leo se superou, pois conseguiu abstrair que ele era a terra e que precisava girar em torno do sol
para observar, em sua posição, qual a fase da lua que se apresentava para ele. Essas ações ainda
ocorreram no escuro.
No quarto módulo da sequência, mostrou a presença desse sujeito no mundo. Sua
percepção da lua, que está no céu, muito acima da terra, por isso precisa de uma escada para
subir. Também como ele, a criança cai e volta à terra. Uma escrita que revela visão de mundo
externa de si mesmo. Escrita que insere Leo nos discursos que se materializam na história.
Na segunda sequência didática, o Quadro 26, traz um comparativo entre as duas escritas
(inicial e final), exibe um progresso considerável – em relação à segmentação em sílabas e na
relação grafema/fonema – e nas construções de palavras do tipo: silábicas “CV” e algumas
“CVC” nas palavras; apresenta, ainda, algumas dificuldades em segmentos CVCC na sua
escrita e em alguns segmentos nasalizados. No primeiro módulo, o objetivo foi ampliar o
vocabulário e aperfeiçoar a leitura e a escrita dos nomes dos meios de transporte, lugares e
placas de trânsito. Foram utilizados, também, recursos visuais e digitais. No segundo módulo,
mergulhamos nos recursos tecnológicos com a aplicabilidade de tudo o que foi aprendido em
relação ao tema. Manuseamos aplicativos que possibilitaram, a Leo, aplicar seu conhecimento
quanto ao entendimento: do trânsito legal; dos jogos educativos (smartkids), bem como todos
os relacionados ao trânsito. Ele gostou, participou e aprendeu sobre o tema.
153
No terceiro módulo, uma maquete interativa foi montada e organizada pela pesquisadora
com o auxílio do aluno, que se dedicou excepcionalmente ao projeto. A organização de uma
situação de trânsito foi vivenciada de forma concreta: sinalização das placas de trânsito,
semáforos, carros, bicicletas, motos e pessoas que fazem parte do percurso da casa de Leo para
a escola. Todo esse processo se iniciou a partir do trajeto que fizemos de sua casa para a escola.
No quarto módulo, referente à produção textual, aproveitamos a maquete interativa de
forma “concreta” para servir de andaime para a aquisição da escrita. Foi emocionante quando
Leo nomeou os personagens com o nome do seu melhor colega e da mãe dele – outra abstração.
Ele escreveu o texto de forma digital ao mesmo tempo em que colocava os personagens no
percurso descrito. O resultado foi a elaboração de um texto com textualidade e riqueza de
detalhes.
Pontos importantes observados no trabalho desenvolvido: 1) Nas sequências elaboradas,
os dois pilares da alfabetização-aquisição do sistema de escrita alfabética e letramento
caminharam como processos complementares; 2) Partiu-se sempre do letramento para
apresentar, com dedicada atenção, as atividades que desenvolveram o domínio do sistema
alfabético; 3) A discussão do conteúdo se iniciou sempre a partir do conhecimento prévio do
aluno; 4) Nos dois textos elaborados pela criança, o desenho e a maquete interativa serviram de
andaimes para a produção escrita, isto é, houve uma transição de um tipo de linguagem escrita
para outro; 5) A escrita teve significado para a criança; 6) A escrita foi vista como uma atividade
complexa e não como uma simples escrita de letras; 7) O processo de mediação foi fundamental
para o resultado alcançado.
Como se vê, os estudos de Vigotsky nortearam toda proposta do percurso didático. A
relevância dessa tese pode ser reconhecida por diversos aspectos, porém, queremos destacar
dois: a validade dos precursores e a importância da mediação.
Nos quadros apresentados, o desenvolvimento das habilidades encontra respaldo no
trabalho realizado com os precursores: o jogo de olhar a lua no céu; no pátio da escola; a
simulação da lua na SRM no escuro; no desenho; na maquete; etc. A culminância, com a
produção textual, expõe um autor, noutros termos, um sujeito que tem o que dizer. A introdução
de uma criança com uma escada para chegar à lua parte de seu conhecimento de mundo. É um
Leo que diz o que pensa e sente na sua forma de dizer. Ao descrever seu caminho até a escola,
introduz seu lanche: batata frita e refrigerante. Leo se coloca nos textos produzidos. Essa é uma
característica da escrita compreendida por Leo.
Voltemos para o segundo aspecto: a mediação. Destacamos o papel da professora do
AEE como mediadora, construindo as sequências didáticas apresentadas no tempo do autista,
154
passam-se rapidamente quatro meses para leitura e escrita do texto de cada uma SD. Para
realizá-las, no entanto, foram necessários sessenta e dois (62) atendimentos de cinquenta (50)
minutos cada. Sublinhamos a importância desse trabalho ser realizado no contraturno, para
garantir o acesso desse aluno à sala de aula regular. A especificidade desse atendimento
demanda tempo para a criação de laços com Leo, para o conhecimento da família, para o
planejamento, para a construção do material adaptado. Torna-se complexo especificar um
número exato de tempo utilizado, porque o importante foi a evolução no desenvolvimento
cognitivo, social e emocional do aluno.
O que foi essencial no processo? Acreditamos que o fato de a criança autista ter sido
perscrutada quanto a aspectos do seu potencial de desenvolvimento e não, em um diagnóstico,
foi necessário para a elaboração de uma estratégia didática mais acurada, mas não como um
rótulo capaz de paralisar ações. Ao lado da direção do olhar, está a mediação. Na caminhada,
foram necessárias leituras marcadas por criatividade e enfrentamento de desafios; dentre eles:
ganhar a confiança da criança; conhecer a família; conceber estratégias; construir materiais para
os experimentos, notadamente: fichas com nomes; imagens; carrinhos; bola de isopor; EVA
dentre outros. Aqui entra o poder da mediação que construiu todo o processo. Mediação em
saber falar, ouvir, observar, orientar, mudar as estratégias, recomeçar. Foi um aprendizado
também. Em particular, queremos destacar o papel do professor do AEE, que atuou como um
mediador durante o processo de aprendizagem marcado por incentivar, modelar e reinventar
estratégias voltadas a atender às especificidades de cada aluno com deficiência, no nosso caso,
um autista, introduzindo-o em sua linguagem escrita.
Essa Tese foi constituída para escola e para o professor. Compreendemos que o
ambiente escolar se qualifica como um lugar importantíssimo de interação para todas as
crianças. É um espaço coletivo, de cooptação e de expansão do saber. Leo recebeu aquilo que
a instituição está preparada para dar: escuta; respeito; dignidade e lugar. A escola não se faz
apenas de instrumentos e de ambiente. É feita de sujeitos.
Queremos concluir socializando que, hoje, Leo é uma criança que gosta de ler. A vida
segue em frente. Fomos mediadores para a entrada da criança na aquisição da língua escrita.
Que outros mediadores continuem fazendo Leo descobrir outras belezas na vida.
155
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