Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
LAVRAS-MG
2020
HELAINE CRISTINA AMARO CALIXTO
LAVRAS-MG
2020
HELAINE CRISTINA AMARO CALIXTO
LAVRAS-MG
2020
AGRADECIMENTOS
Minha gratidão a Deus, que por sua onipotência conduziu-me durante esta trajetória para
a concretização de um sonho.
Aos meus pais que me ensinaram desde muito cedo a lutar pelos meus ideais.
Ao meu filho amado, fonte de inspiração, que me fez buscar o crescimento pessoal e
profissional; fez-me querer ser uma pessoa melhor e querer fazer do mundo um lugar melhor.
Ao meu marido, que sempre me incentivou a estudar e tornar-me independente.
Agradeço pela compreensão e paciência ao longo desse percurso, pois foi privado em muitos
momentos da minha companhia e atenção.
Ao meu irmão, que mesmo distante, sempre torceu pelo meu sucesso.
Aos colegas do Mestrado Profissional em Educação que cruzaram o meu caminho na
UFLA, meus sinceros agradecimentos e reconhecimento pelo quanto aprendi com cada um de
vocês.
Às minhas companheiras, amigas e guerreiras mestrandas de Nepomuceno, que ao longo
deste ano tivemos a oportunidade de compartilhar sorrisos, piadas, tristezas, cansaço e
dificuldades... Confortamo-nos umas às outras e nos fortalecemos nos obstáculos enfrentados.
À UFLA por disponibilizar o Mestrado Profissional em Educação e pela honra de ser
aluna desta nobre e renomada instituição, que ocupa um lugar de destaque na educação nacional
e mundial pela qualidade do ensino que presta no nosso país.
A todos os professores do Mestrado Profissional em Educação que muito contribuíram
com seus conhecimentos para a construção dos meus.
Minha gratidão especial à Prof. Drª Ilsa do Carmo Vieira Goulart, minha orientadora, e,
sobretudo, uma pessoa de extrema sensibilidade humana e competência profissional. Agradeço
por ter dedicado o seu tempo a me orientar mesmo nos momentos de seu descanso e por ter
depositado a sua confiança em mim não somente para realizar este trabalho, mas ao longo de
toda a trajetória de estudo e pesquisa.
Às professoras que participaram da minha banca: Gladys Sá, Maria Emília Tôrres e
Helena Ferreira, pelo desprendimento e dedicação. Muito obrigada!
Por um processo de formação e transformação, dedico este
trabalho às pessoas responsáveis por me enxergarem,
destruindo os olhos que haviam visto e produzindo outros para
novas visões, mas sendo sempre a mesma, sempre outra, meu
filho Augusto Henrique, meus pais Sebastião Carlos e Maria
Helena, meu irmão Vitor Lúcio e meu marido Antônio
Fernandes.
Dedico
PARA REFLEXÃO
Paulo Freire
12 de novembro de 1981
RESUMO
A presente pesquisa desenvolve-se a partir do acompanhamento e da reflexão do trabalho de
um professor alfabetizador com gêneros textuais em suportes impressos e digitais. Diante disso,
objetiva-se analisar a aplicação da sequência didática no desenvolvimento de atividades
pedagógicas com o gênero textual cantiga, visando-se observar o impacto dessa prática
diferenciada no processo de aquisição da escrita e de promoção do letramento. Para tal, optou-
se por fazer uma pesquisa ação, de abordagem qualitativa, a partir da aplicação de atividades
com crianças do terceiro ano do Ensino Fundamental de uma escola da rede pública municipal.
Para discorrer sobre a importância do uso dos gêneros textuais na alfabetização busca- se
subsídios teóricos em Dolz e Schneuwly (1995,1999,2004), que discorrem sobre os gêneros
escolares: das práticas de linguagem aos objetos de ensino, Street (1984-2014) e Barton e
Hamilton (2004) que exploram os letramentos como fenômenos sociais, Soares
(2005/2017)que aborda os letramentos, Rojo (2012) que amplia os estudos sobre os
multiletramentos, Coscarelli (2005) sobre o letramento digital, Cristóvão (2001) que permeia
o campo da sequência didática, Marcushi (2002-2003) que explora o conceito de gêneros
textuais, Castanheira(2008) que explora as práticas de leitura e escrita , entre outros. A pesquisa
observa como efeitos das sequências didáticas desenvolvidas a ampliação do léxico e do
conhecimento geográfico, por meio da interação entre as crianças e o processo de ensino e
aprendizagem; o impacto na formação do aluno, por meio da motivação para a realização das
atividades propostas e os reflexos na formação do professor alfabetizador com a produção e
desenvolvimento e metodologias de ensino. Constitui-se produto do mestrado Profissional em
Educação a aplicação de sequências didáticas desenvolvidas no decorrer da pesquisa em uma
turma do 3º Ano do ensino fundamental, nas dimensões linguística e de apropriação do sistema
da escrita.
This research is developed from the monitoring and reflection of the work of a literacy teacher
with textual genres in printed and digital media. Therefore, the objective is to analyze the
application of the didactic sequence in the development of pedagogical activities with the
textual genre canting, aiming to observe the impact of this differentiated practice in the process
of acquiring writing and promoting literacy. To this end, it was decided to carry out a field
research, with a qualitative approach, based on the application of activities with children in the
third year of elementary school at a public school in the city. To discuss the importance of using
textual genres in literacy, theoretical subsidies are sought in Dolz and Schneuwly
(1995,1999,2004) that discuss school genres: from language practices to teaching objects,
Street (1984-2014) and Barton and Hamilton (2004) who explore literacies as social
phenomena, Soares (2005/2017) which addresses literacies, Rojo (2012) who expands studies
on multi-literacies, Coscarelli (2005) on digital literacy, Cristóvão (2001 ) that permeates the
field of didactic sequence, Marcushi (2002-2003) that explores the concept of textual genres,
Castanheira (2008) that explores the practices of reading and writing, among others. The
research observes as effects of the didactic sequences developed the expansion of the lexicon
and of the geographic knowledge, through the interaction between the children and the teaching
and learning process; the impact on student training, through motivation to carry out the
proposed activities and the reflexes on the training of the literacy teacher with the production
and development and teaching methodologies. A product of the Professional Master's in
Education is the application of didactic sequences developed during the research in a class of
the 3rd year of elementary school, in the linguistic and appropriation dimensions of the writing
system
Keywords: Textual Genres; Literacy; Literacies; Following teaching; Teacher training.
SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO.......................................................................................................11
2.4 Multiletramentos...................................................................................... 30
4 METODOLOGIA..................................................................................................51
5 RESULTADOS E DISCUSSÕES..........................................................................59
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS.................................................................................85
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS......................................................................88
ANEXOS......................................................................................................................93
11
1. INTRODUÇÃO
A partir da minha formação docente que se iniciou no curso de Magistério (1992-1994)
fui percebendo, aos poucos, que a educação seria o caminho profissional a ser seguido.
Confesso que, inicialmente, senti muito medo, insegurança e incerteza, mas paulatinamente
novos horizontes foram se abrindo e então passei a enxergar o quão grande e nobre é o processo
de educar e de se educar.
Durante o estágio foi possível aprofundar melhor os estudos, conhecer o dia a dia de
uma sala de aula; a realidade concreta de um espaço escolar. Entretanto, quanto mais se
conhecia, maior também se fazia presente a afinidade com a profissão, a certeza plena e absoluta
de que ali era o lugar ideal, o ambiente em que sempre fora a razão pela qual me fazia ter a
educação como um grande valor social e cultural. Mas também surgiam as incógnitas sobre o
porquê da dificuldade de aprendizagem de alguns alunos e como contribuir para a mudança
destas realidades.
Por isso, as questões corriqueiras me fizeram buscar novos caminhos, ir ao encontro de
novas estratégias, uma vez que, naquele contexto já não bastava, nem atualmente basta, para a
escola ensinar a codificação e a decodificação. Era, e hoje ainda é, imprescindível ir além de
ações de mero cumprimento curricular, pois, do ponto de vista de uma educação de qualidade,
é preciso que os alunos saibam fazer uso da habilidade da leitura e da escrita em práticas sociais.
Assim, estar presente em um ambiente educacional, ao lado de tantas crianças com uma
imensa vontade de aprender, fez-me ser inquieta e cada vez mais comprometida com a prática
educativa, o que me levou a aprimorar meus conhecimentos em dois cursos de graduação:
Letras (2001), que proporcionou-me conhecer sobre o funcionamento da Língua Portuguesa e
Pedagogia (2016), que subsidiou a minha compreensão em torno da aprendizagem da leitura e
escrita na fase de alfabetização. No interstício de 2002 a 2012 busquei três cursos de
especialização em “Metodologia do Ensino Aprendizagem em Língua Portuguesa” (2003), o
qual aprimorou meus conhecimentos sobre como trabalhar as questões da nossa língua dentro
da sala de aula; em “Práticas de Alfabetização e Letramento” (2010), que fez surgir em mim
novas dúvidas em relação à formação inicial dos professores alfabetizadores e muito auxiliou a
minha conduta pedagógica no ambiente escolar; em “Supervisão Escolar” (2011), que foi feito
a partir da necessidade de minha atuação como gestora escolar, pois me oportunizou estudar
sobre as legislações que fundamentam o ensino.
Também fiz vários cursos de extensão e atualização, dentre eles o de tutoria do
“Programa de Formação Continuada de Professores dos Anos iniciais do Ensino Fundamental-
12
literatura infantil, curiosidade científica, sinopse, lenda, cantiga folclórica e poema, quando a
informação está localizada no meio ou ao final do texto; de identificar o referente de um
pronome pessoal do caso reto em textos como tirinha e poema narrativo; de inferir relação de
causa e consequência em textos verbais como piada, fábula, fragmentos de textos de literatura
infantil e texto de curiosidade científica, com base na progressão textual; de buscar informação
em textos como história em quadrinhos, tirinha, piada, poema e cordel; assunto em textos de
divulgação científica e fragmento de literatura infantil; e de construir sentido de expressão de
uso cotidiano em textos como poema narrativo, fragmentos de literatura infantil, de curiosidade
científica e tirinha.
Vencidas essas habilidades anteriormente elencadas para cada nível, tem-se o nível 4,
que refere-se à capacidade de identificar o referente de: pronome possessivo em poema e
cantiga; advérbio de lugar em reportagem; pronome demonstrativo em fragmento de texto de
divulgação científica para o público infantil; pronome indefinido em fragmento de narrativa
infantil; e pronome pessoal oblíquo em fragmento de narrativa infantil; como também, de
identificar relação de tempo entre ações em fábula e os interlocutores de um diálogo em uma
entrevista ficcional; Inferir sentido de expressão não usual em fragmento de texto de narrativa
infantil.
De posse dessas descrições sobre os níveis da Avaliação Nacional de Alfabetização, é
oportuno destacar os resultados da ANA (BRASIL, 2016) que mostram que:
54,73% dos estudantes acima dos 8 anos, faixa etária de 90% dos
avaliados, permanecem em níveis insuficientes de leitura. Encontram-
se nos níveis 1 e 2 (elementares). Na avaliação realizada em 2014, esse
percentual era de 56,1. Outros 45,2% dos estudantes avaliados
obtiveram níveis satisfatórios em leitura, com desempenho nos níveis 3
(adequado) e 4 (desejável). Em 2014, esse percentual era de 43,8.
Diante do exposto, são concretos os resultados que as crianças com oito anos, que
cursam o Ensino Fundamental anos iniciais, não conseguem ler um texto fluentemente,
apresentam dificuldades para compreender, interpretar e produzir um texto. Também são
alarmantes os dados para os níveis da escrita, o que aponta ANA (BRASIL, 2016) descrito no
PNA (BRASIL, 2019, P.10):
o nível 2 é descrito por meio da escrita alfabética de palavras, porém com trocas , alterações
ou omissão de letras; no nível 3 sabem escrever ortograficamente palavras com estrutura
silábica, com algumas irregularidades ortográficas em palavras com estruturas silábicas mais
complexas; já no nível 4 provavelmente escrevem ortograficamente palavras com diferentes
estruturas silábicas. Em relação à produção de textos, os alunos avaliados possivelmente
conseguem dar continuidade a uma narrativa, embora possam não considerar todos os
elementos da narrativa e/ou partes da história a ser contada. Sabem ligar as partes do texto com
o uso de conectivos, mas não utilizam os sinais de pontuação de modo inadequado. Ainda, o
texto pode apresentar poucas irregularidades ortográficas e de segmentação que não atrapalham
na compreensão e no nível 5 há o domínio da escrita ortográfica de palavras com diferentes
estruturas silábicas. Em se tratando de produção de textual, provavelmente sabem dar
continuidade a uma narrativa, destacando uma situação inicial, central e final, articulando as
partes do texto com conectivos, recursos de substituição lexical e outros articuladores textuais.
sociedade letrada, a partir do uso proficiente da leitura e da escrita, nos diversos contextos de
uso.
Assim, compreende-se que a relação do aluno com a escrita, no contexto da escola, ou
mediada pela escola, vai estar relacionada com a língua e linguagem nos diversos grupos sociais
e com a compreensão de letramento que a escola assume, atentando que essas ligações, segundo
Street (2014), são sempre relações de poder.
Nessa relação de poder, entendemos que o papel da escola é de estabelecer
aproximações com o contexto social, visto que trabalhar com uma variedade de gêneros textuais
em sala de aula possibilita ter em mãos objetos de ensino que auxiliam no processo de ensino e
aprendizagem, pois se trata de padrões que circulam na sociedade e torna possível ao aluno
conhecer e dominar práticas de linguagem reais que acontecem efetivamente na vida social,
além do favorecimento da competência comunicativa adequada a cada situação de comunicação
entre as pessoas.
Por isso, para promover competência comunicativa adequada a cada situação de
comunicação por meio da interação entre as pessoas é necessário investimento do professor na
sala de aula em um trabalho sistematizado com os gêneros textuais a partir da exploração das
dimensões linguísticas e de apropriação do sistema da escrita. É interessante considerar as
experiências do aluno como cidadão fora do ambiente escolar que, ao ter domínio da leitura em
anos/séries superiores, não tem interesse pelos textos literários explorados nas obras didáticas.
Os professores devem investir em atividades para as quais tenha significado fazer, avaliando as
tentativas manifestadas para se aproximar da leitura com o auxílio de outros e de forma
autônoma é necessária para que todo esse esforço consiga resultado.
Frente a isso, destacamos as indagações que norteiam esta pesquisa: De que modo o
trabalho pedagógico com o gênero textual cantigas, em diferentes suportes, pode contribuir para
o processo de letramento de crianças em fase de alfabetização? Outro ponto a ser destacado é
de que forma as crianças do 3º ano do Ensino Fundamental interagem com textos impressos e
digitais?
Para responder tais inquietações, essa pesquisa tem por objetivo geral analisar a
aplicação da sequência didática no desenvolvimento de atividades pedagógicas com o gênero
textual cantiga, visando-se observar o impacto dessa prática diferenciada no processo de
aquisição da escrita e de promoção do letramento.
Para concretização do objetivo principal, nos propusemos aos seguintes objetivos
específicos: a) Observar os eventos de letramento a que os alunos são expostos no contexto da
escola; b) Identificar as formas de interação da criança com gêneros textuais impressos e
17
digitais; c) Identificar quais práticas a escola desenvolve que propiciam a ampliação do (s)
letramento (s) e quais letramentos a escola privilegia nas suas práticas; d) Analisar atividade
prática inovadora na alfabetização com o gênero textual cantiga em suporte impresso; uma
atividade prática inovadora na alfabetização com cantiga em suporte digital.
Diante disso, para a realização da presente pesquisa optamos pela abordagem qualitativa
por meio de uma pesquisa de campo a partir da aplicação de atividades com crianças do terceiro
ano do Ciclo da Alfabetização do Ensino Fundamental de uma escola pública municipal. Esta
instituição escolar está localizada em uma cidade do Sul de Minas Gerais, em um bairro
periférico, que atende a Educação Infantil e Ensino Fundamental anos iniciais.
Com a investigação desse tema, esperamos compreender a interação e o processo de
apreensão social das atividades da leitura e escrita na alfabetização, e por se tratar de uma
pesquisa ação de abordagem qualitativa visa contribuir para a melhoria e mudança da prática
pedagógica do professor alfabetizador na condução de atividades voltadas para o uso dos
gêneros textuais nos suportes impresso e digital.
Dessa forma, no capítulo I discorremos sobre o Letramento como prática social baseado
nos teóricos Street (1984, 2010, 2014), Rojo (2008) que enfatizam o aprendizado da leitura e
da escrita nos usos sociais. Esse capítulo é dividido em quatro subtópicos: o primeiro sobre a
concepção do termo letramentos e os autores que serão apontados Soares
(1998/2005/2009/2017), Batista (2008), Kleiman (1995/1998), Tfouni (1995), Lopes (2004).
O segundo destaca sobre o Letramento social a partir da concepção proposta por Soares
(2004/2006), Goulart (2003); Street (1984/2014); Tôrres (2003 2009); o terceiro abrange
Letramento digital e tem como pesquisadores Coscarelli (2005), Coscarelli e Ribeiro (2017),
Xavier (2002), Prenski (2001) Tapscott (2010) e, por fim, o quarto discorre sobre os
Multiletramentos com os aportes teóricos de Rojo (2012/2013), dentre outros.
No capítulo 2, discutimos sobre a questão dos gêneros textuais e está dividido em quatro
subtópicos: (1) “Da compreensão de texto à conceituação dos gêneros textuais “, abordamos
sobre o conceito dos gêneros textuais e optamos pelas fundamentações teóricas de Marcuschi
(2005/2008) e Dolz e Schneuwly (1999/2004) (2) “A perspectiva do ensino na alfabetização a
partir dos gêneros”, temos as contribuições teóricas de Santos (2007) , Batista (2008), Dolz e
Schneuwly (1995) e o PNAIC (2012/2016); (3) para o subtópico: “Compreensão do processo
de aquisição da leitura e da escrita a partir dos gêneros textuais”, apresentamos os estudos de
Soares (2001/2018), Ferreiro e Teberosky(2000), em diálogo com os documentos
RCNEI(1998), PCN(1997) , PNAIC(2012) e PNA (2019) e em (4) “Sequências didáticas:
compreendendo a proposta pedagógica no gênero textual cantiga”, trazemos uma reflexão
18
conceitual apoiada nos estudos de Cristóvão (2001) e Dolz, Noverraz e Schneuwly (2004),
dentre outros.
No capítulo 3 apresentamos a Metodologia: os procedimentos metodológicos, os
colaboradores da pesquisa e a apresentação da sequência didática utilizada para a realização
desta pesquisa e foram escolhidos os referenciais Ludke e André (1986), Bogdan e Biklen
(2010), Hernandez (2013), Thiolent (1985/1986), Brandão (1999), Gajardo (1986) e Gil (2003)
por darem suporte para compreensão e nortearem este processo.
Como parte final deste trabalho, apresentamos as considerações finais a que chegamos
em nossa pesquisa, esperando que contribuam para uma reflexão sobre os modos que os gêneros
textuais são explorados em sala de aula para a promoção das práticas de letramento e formação
de professores.
19
Torres (2009, p.3), explicita que ao concebermos o texto como objeto social, evidencia-
se a opção por um modelo de letramento que valoriza as práticas contextualizadas da escrita,
por compreendermos que estas são enformadas pelos valores, atitudes e crenças que permeiam
o uso da escrita pelos indivíduos ou comunidades que dela se utilizam.
maior que é a cultura escrita”. O letramento escolar, segundo Soares, define-se em sua forma
institucionalizada de ensino que ocorre nos ambientes escolares e tem o objetivo de possibilitar
ao aluno a compreensão e a utilização dos símbolos linguísticos para a sua alfabetização. O
letramento escolar, a que Street (1984) designa de letramento autônomo, ligado às
representações de leitura e escrita que os professores apresentam de suas histórias de leitura e
que nos mostram, afinal, seus graus de letramentos, podem ser fatores importantes na
preparação do entendimento de leitura como prática social, visto que acreditamos que estão
diretamente ligadas às suas práticas com o texto escrito.
Já o letramento social, de acordo com Soares, acontece no meio social, ou seja, na
vivência e experiência do ambiente em que os alunos entram em contato, ou seja, nos
supermercados, nas igrejas, nos programas de televisão, nos desenhos, nos jornais, revistas,
contos folclóricos.
Para aprofundar sobre os Letramentos Sociais, duas questões atravessam a proposta de
Street: a de um modelo autônomo de letramento, por ele criticado, e a de um modelo ideológico
de letramento, assumido. O autor que inspira e amplia o conhecimento para o campo dos
letramentos, Street (1984, 2010, 2014), aborda o termo como “práticas sociais de leitura e
escrita”, indicando que se considere o letramento sob a visão de dois modelos: o Autônomo e
o Ideológico. De tal modo, contesta-se à evidência em um “Letramento” indiferente e único
considerado como Autônomo, cujos resultados não dependem do contexto e indica outro
modelo, a que chamou de Ideológico, que se dá nas e pelas práticas letradas estabelecidas nas
relações de poder.
Street (2014, p. 30), assegura que uma nova forma de perceber o letramento “implica
reconhecer a multiplicidade de práticas letradas”, sendo necessário considerar as relações de
poder embutidas nessas práticas. Segundo o autor, essa percepção remete a “uma consideração
maior do letramento como uma prática social e uma perspectiva transcultural” (STREET, 2014,
p. 17).
Street (2014, p.13), quando destaca sobre a condição social do letramento, ampara uma
categoria de modelo ideológico, que reconhece que as práticas de leitura e escrita são resultados
não apenas de uma cultura, mas das argumentações ideológicas sobre o que narra como
letramento e as relações de poder a ela associadas e as práticas de letramento mudam segundo
o contexto. Jung (2003, p.60) completa esta ideia, definindo que: “[...] o modelo ideológico
propõe observar o processo de socialização das pessoas na construção de significado pelos
participantes. Além disso, esse modelo está interessado nas instituições sociais gerais e não
apenas nas educacionais, como se observa no modelo autônomo”.
24
propostas cotidianamente nas salas de aula a partir de uma formação continuada adequada para
que os professores consigam incutir esses novos conhecimentos, tenham domínio e segurança
para utilizar no seu planejamento cotidiano. Entende-se que a tecnologia digital é uma das
principais formas de linguagem que se materializam em nosso meio, principalmente entre as
crianças, adolescentes e jovens.
Porém, é preciso considerar que o letramento digital não se restringe apenas aos avanços
tecnológicos, mas também a uma nova mentalidade, ou seja, novas formas de fazer os trabalhos
do dia a dia e a inserção de novas práticas pedagógicas. Essa realidade retrata um processo
educacional ligado a uma mudança de postura entre os professores que são chamados de
“imigrantes digitais” e os alunos tidos como “nativos digitais”.
De acordo com o renomado autor Prensky (2001, p. 1), os alunos considerados nativos
digitais são caracterizados como os que nasceram a partir de 1990 e estão rodeados pelas TDIC.
O universo digital é parte integrante de suas vidas, o grande volume de interação com a
tecnologia, os alunos de hoje pensam e processam as informações bem diferentes das gerações
anteriores. Eles têm familiaridade com computadores, relacionam-se por meio das redes
sociais, conseguem buscar e abstrair informações para a construção do conhecimento realizam
muitas tarefas ao mesmo tempo na frente de um computador, notebook, celular ou tablet além
de estarem habituados a receber e trocar informações rapidamente.
No entanto, os “imigrantes digitais” - os professores - são os que fazem parte de uma
geração que não teve um livre acesso ao computador ou às possibilidades de aprendizagem do
mundo digital, ou seja, os formados na época analógica e que agora estão aprendendo a fazer o
uso destas tecnologias. Com essa classificação Prensky (2001), queria chamar atenção do
sistema educacional, fundamentalmente, gestores e professores para a importância e urgência
de se atentar para a transformação do contexto de ensino e aprendizagem para o letramento
digital, além de criticar a resistência para admitir a mudança no comportamento dos alunos, o
que pede a inovação de práticas pedagógicas inovadoras com o uso da tecnologia digital.
Presnky (2001, p. 2) aponta:
Assim sendo, faz-se necessário ampliar o contexto da escola, propondo novos desafios,
passando o professor a ser um mediador do conhecimento, em que junto dos alunos passará a
se apropriar da aprendizagem digital, pois a integralização na escola do mundo globalizado por
meio dos recursos digitais é imprescindível para desenvolver nos sujeitos a competência de
utilizá-los a seu favor dentro e fora do ambiente escolar, o que possibilitará o letramento digital.
Para que os professores desenvolvam o letramento digital, eles precisam e devem ter
momentos destinados à realização de práticas que os auxiliem a dominar o uso de diferentes
recursos tecnológicos digitais para implantação de diferentes estratégias de ensino, de forma
segura na sala de aula, além de equipamentos eficientes com acesso à internet em todas as
classes.
Perante o exposto, é útil destacar que o avanço em termos de infraestrutura tecnológica
também é um importante desafio a ser vencido no Brasil, porém o trabalho voltado para o
letramento digital não pode ser reduzido ao acesso. É necessário investimentos na formação do
professor, concebendo-o como “sujeito” em toda a sua complexidade, que necessita de
formação adequada para modificar e inovar a forma de direcionamento de suas aulas e não
apenas continuar agindo como uma máquina pronta para o exercício de sua prática pedagógica
de maneira mecanicista.
Diante do explicitado acima, é essencial que se tenha equilíbrio para articulação dos
recursos tecnológicos digitais disponíveis, do livro didático, do giz, da aula expositiva
dialogada e, principalmente, do papel do professor que deixa de ser o “sabe tudo” e passa a ser
o articulador da construção do conhecimento, visto que é nítido o contexto de transição pela
qual estamos passando da cultura escrita para a digital.
Sabe-se que há muitas incógnitas em relação aos benefícios e prejuízos dos recursos
tecnológicos digitais para o processo de ensino e aprendizagem, porém há a certeza de que
mesmo diante destas transformações, o professor continuará sendo essencial porque o toque
“humano” para aprender, para ser direcionado é fundamental, pois é na escola e por meio dela
e das mãos do mestre que se “faz” a construção do conhecimento para uma nova sociedade.
E ao se vislumbrar esta nova sociedade, os documentos oficiais como Parâmetros
Curriculares Nacionais (PCNs), as Diretrizes Curriculares da Educação Básica (DCNs) também
trazem seus apontamentos para a utilização da tecnologia digital nos ambientes escolares e na
abordagem dos conteúdos disciplinares. A Base Nacional Comum Curricular (BNCC), que está
em fase de implantação nas escolas brasileiras, aborda a importância do uso da tecnologia
digital para o desenvolvimento do processo de ensino aprendizagem para o letramento digital.
30
2.4 Multiletramentos
Baseado na historicidade vê-se que o termo Multiletramentos não é fenômeno tão novo,
nem tão antigo, pois em 1996 houve um manifesto de pesquisadores de um Grupo de Nova
Londres por uma Pedagogia do multiletramento. Conforme as hipóteses deste grupo e das
pesquisas que se adotaram sobre os multiletramentos, o discurso, independentemente de sua
modalidade, agrupa relações de poder, assim sendo, não imparcial ou imune de ideologias. A
partir de estudos realizados acerca da escolha deste termo, o Grupo de Nova Londres (2006)
citado por Silva (2012, p.5) explicita:
aprendendo na escola e (...) o que estão aprendendo na escola tem pouco ou nenhum valor para
contribuir com o que eles são depois que soa o sinal”.
Diante do exposto, é fundamental investimento sistemático no processo de ensino
aprendizagem através da exploração e uso dos multiletramentos, especificamente em textos
multimodais, isto é, os que veiculam pelos meios de comunicação que têm como marcas duais
ou mais modalidades linguísticas, privilegiam o debate e o desenvolvimento do letramento dos
alunos, além da inclusão do leitor no mundo atual, mas para isto é preciso que o professor saiba
fazer uso destes recursos, além de estar preparado para mediar e intervir neste processo.
Por isso, as práticas pedagógicas devem incorporar o trabalho voltado para o
multiletramento, conforme traz a BNCC em sua abordagem, onde enfatiza que é não só ensinar
a usar as tecnologias de vídeo, áudio, tratamento da imagem, edição e publicação, porém
orientar os alunos para produzir estratégias de ingresso às informações e situações de que
tenham significados para a construção do conhecimento.
Rojo (2013), em uma entrevista para o Grupo de Pesquisa da Relação Infância,
Adolescência e Mídia da Universidade Federal do Ceará (GRIM) destaca que é necessária uma
formação dos professores para a contemporaneidade, ou seja, precisam deixar os palcos do
século XIX, de uma educação transmissiva e pensem como funciona a vida social hoje. É
basicamente, oferecer suportes e materiais adequados para os professores, pois ainda não há nas
escolas nem conexões, nem materiais. É “urgente, sério e importante” investir na educação e
proporcionar formação porque o professor é de outra geração e sente-se inseguro de entrar nesse
“mundo” de ver a escola como um espaço que possa transformar-se.
Pensando neste contexto, é essencial que haja uma transformação na concepção do
ensino e investimento nos recursos digitais para o processo de ensinar e aprender na escola. É
saudável citar um dos recursos tecnológicos comuns para os alunos, o celular, que traz grandes
possibilidades de aprendizagem, mas para muitas instituições escolares o seu uso é proibido na
sala de aula, segundo a legislação Regimentar do estabelecimento.
Conforme aponta ROJO (2013, p.7) mencionado por Silva (2016, p.53),
De tal modo, é preponderante considerar que a leitura não pode ser centralizada apenas
na escrita, mas deve abranger a presença de imagens, cores e, se possível, som. Quando se tem
uma ferramenta de ensino digital, sendo bem orientado o seu uso pelo professor, esta passa a
ser utilizada para explorar a pesquisa em diversas disciplinas, para criação de filmes pelos
alunos, estudo do vocabulário, produção de texto digital, além de ser um diagnóstico para
verificar se o aluno sabe utilizar esta tecnologia em prol da sua própria formação.
Assim, durante este percurso acadêmico, ao estabelecer uma relação com as concepções
que estão sendo estudadas por meio das discussões realizadas em aulas expositivas dialogadas,
leituras, práticas pedagógicas vivenciadas e argumentadas, cotidianamente, nos instrumentaliza
a refletir sobre a urgência e necessidade de uma transformação da prática pedagógica exercida
nas instituições educacionais. Também é preciso uma mudança na concepção do planejamento
e currículos nos cursos de formação inicial e continuada de professores para exploração dos
multiletramentos na sala de aula.
Logo para a atualidade, a citação do pensamento de Freire (1996, p.36) é bastante
pertinente: “É pensando criticamente a prática de hoje ou ontem que se pode melhorar a
próxima prática”, isto é, ser professor exige uma constante “ação, reflexão, ação” da sua
formação atrelada à sua experiência e às mudanças necessárias para uma nova concepção de
educação para este século, pois as transformações ecoam na aprendizagem e na forma como as
relações interpessoais e as “aprendizagens” ocorrem dentro e fora do ambiente escolar.
Enfim, dizer sobre multiletramentos é dizer sobre a apropriação dos usos da escrita de
textos multissemióticos que circulam na sociedade multicultural contemporânea, através dos
quais as sociedades se comunicam. Conforme Rojo (2012), os termos multimodalidade e
multiletramentos estão intrinsecamente ligados e fortemente direcionados ao contexto de ensino
mediado pela tecnologia digital, consequentemente cabe à escola estar conectada a estas
transformações para gerir aprimoramento nas práticas pedagógicas aplicadas nas salas de aula.
35
Neste aspecto compreende-se que o trabalho com os gêneros textuais é uma ferramenta
importante de se lidar com a língua nos seus mais diversos usos do cotidiano e um mesmo
gênero pode se apresentar em vários suportes, que implica em distintas estratégias de leitura e,
consequentemente, desiguais aprendizagens, visto que a maneira como o gênero se materializa
é que vai modificar a sua finalidade.
Com o surgimento, em 1998, dos referenciais nacionais do ensino de línguas, os
Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs), essa tendência teórica metodológica apresenta
como ponto de partida do ensino os gêneros textuais e considera que: “Todo texto se organiza
dentro de um determinado gênero em função das intenções comunicativas, como parte das
condições de produção dos discursos os quais geram usos sociais que os determinam”
(BRASIL, 1998, p.21).
Assim, ao se desenvolver um trabalho voltado para o uso dos diferentes gêneros textuais
como proposta de ensino aprendizagem de textos vivenciados pelos sujeitos em práticas sociais,
vislumbra-se a integração da escrita e leitura escolar e social, pois, segundo os PCNs tanto a
alfabetização quanto o estudo profundo da linguagem escrita devem acontecer a partir dos
gêneros textuais que são aprendidos, vivenciados ou já conhecidos pelos alunos. Santos (2018,
p14) destaca:
entre falantes, o que pode ser um instrumento para colocar a escrita como prática social dirigida
a cada contexto específico. Portanto, compreende-se que há um envolvimento e mobilização
tanto dos conhecimentos linguísticos sobre a língua, quanto do contexto onde acontece a
interação em relação ao que se quer alcançar e a situação vivenciada, além é claro, do uso das
habilidades desta modalidade linguística em que acontece o desenvolvimento da escrita e
leitura.
Refletindo sobre o que foi exposto, nota-se que a aprendizagem da leitura e da escrita
passa, certamente, pela integração e sistematização entre o código escrito e as práticas de
letramento, o que pode acontecer dentro ou fora do ambiente escolar. Por tal razão, muitos
educadores acabam isolando os termos letramento e alfabetização, como que se estes
sucedessem independentemente um do outro, sendo a alfabetização um componente do
letramento.
É conveniente, nesse sentido, a informação de Soares (2004, p.15) de que “[...] a
alfabetização não precede o letramento, os dois processos são simultâneos, nem tão simples,
nem tão óbvio”. Embora configurem definições diferentes são processos complementares e
indissociáveis que viabilizam uma aprendizagem voltada para a aquisição do código e a
compreensão de como usá-lo socialmente a partir da relação entre os conhecimentos prévios
dos alunos atrelados ao uso de diferentes gêneros textuais que circulam em nosso meio.
Parafraseando Santos (2007, p.21), trabalhar com gêneros textuais requer a mobilização
de diferentes tipos de conhecimentos e habilidades porque não é possível seguir o mesmo
padrão "para todo e qualquer gênero a ser estudado", entende-se que um mesmo gênero pode
se apresentar em vários suportes, mas a maneira em que ele se apresenta em cada um é que vai
modificar a sua finalidade.
No entanto, é necessário trabalhar em sala de aula atividades que vão possibilitar ao
aluno compreender a relação da leitura e da escrita em diferentes gêneros textuais e a função
dos mesmos na comunicação entre as pessoas. Santos (2007, p.22) descreve:
torna impossível determinar sua quantidade, visto que novos surgem a cada necessidade e
outros deixam de existir.
Introduzir e trabalhar sistematicamente os gêneros textuais na alfabetização, com a
finalidade de consolidá-los, favorece a compreensão do contexto, do receptor e assunto que está
sendo abordado. Também desenvolve a fluência na leitura e a interpretação compreensiva de
textos por meio de atividades significativas em que o aluno é motivado a buscar pistas textuais,
intertextuais, além de enriquecer o seu vocabulário. No PNAIC (Brasil, 2012) foi recomendado
o uso dos diferentes gêneros textuais como mola-mestra para o trabalho de alfabetização
agregado ao letramento para favorecer uma formação para a cidadania.
Neste contexto de diferentes situações e desafios vivenciados por inúmeros professores
nas escolas brasileiras na tentativa de construir um país alfabetizado e letrado, tornou-se
evidente, a importância de se trabalhar as relações entre a leitura e a produção de texto
aproveitando o que é vivenciado pelos alunos. Também o PNAIC (2016) possibilitou métodos
formativos, bem como trouxe sugestões de atividades enriquecedoras que os professores
puderam utilizar em sala de aula.
Logo, a exploração dos diferentes gêneros textuais far-se-á de maneira sistematizada,
concisa e abrangente, pois há um leque de possibilidades que norteiam estratégias eficientes de
ensino-aprendizagem através do uso de recursos adequados para a sua concretização.
Em virtude do que foi mencionado é de suma importância o papel do professor
alfabetizador na exploração produtiva dos diferentes textos na classe e a sua postura de
intervenção coerente com o desenvolvimento das capacidades necessárias para a leitura e para
a escrita que foram propostas. Marcuschi (2007, p.60) destaca que “em seu contexto de
produção e de circulação, o gênero textual atende a exigências, necessidades ou propósitos
discursivos de sujeitos historicamente situados”.
método para ajustar as variações na quantidade de letras e, ainda, pelo fato de reunir a atenção
na variação fonética das palavras.
A partir deste conflito há a garantia da abertura para o nível “silábico-alfabético”, que
sinaliza a passagem entre diagramas anteriores de representação da palavra inserindo uma letra
por sílaba e diagramas posteriores de mais de uma letra por sílaba, variando a quantidade de
letras por sílabas conforme as palavras. Estes conflitos demonstram contradições no
procedimento da criança e nos quais se observa a perda de segurança do nível anterior, bem
como a não organização do nível posterior. (FERREIRO, 2000)
Sequencialmente, registra-se o terceiro estágio da hipótese “alfabética”, em que a
criança observa que não há simetria na quantidade de letras nas sílabas, pois há sílabas com
uma, duas três ou mais letras. Mais uma dificuldade que a criança defrontar-se-á são as dúvidas
ortográficas, em que não há correlação entre som e letra, outras em que uma letra concebe
diversos sons e de que um mesmo som pode ser representado por várias letras. (FERREIRO,
2000)
No entanto, a caracterização de cada nível é variável, nada fechado, visto que a criança
pode estar numa dada hipótese e misturar conceitos do nível antecessor, o que indica que a sua
hipótese está inadequada às suas concepções, o que não exclui os progressos e retrocessos
dentro dos níveis de alfabetização. (FERREIRO, 2000)
A partir desse ponto, se formam novas dificuldades: pelo lado quantitativo não satisfaz
apenas uma letra por sílaba, pelo qualitativo ela encarará os problemas ortográficos: a relação
do fonema não garante analogia ao grafema, nem o grafema corresponde ao fonema. Nesse
momento o esforço é para que o aluno atinja o nível ortográfico da escrita.
Para tal, é preciso, por parte do professor, o investimento em atividades contextualizadas
que auxiliem os alunos a avançarem no seu nível de aprendizagem por meio de um processo de
apropriação da leitura e da escrita em que haja a oferta de oportunidades de questionar sobre a
escrita, debruçando-se na hipercorreção de palavras que apresentam irregularidades
ortográficas como “cachecou” ao invés de cachecol, "chegol” no lugar de chegou, sendo
motivados a realizar pesquisas no dicionário ou nos suportes de correção digital.
Nesse sentido, a proposta de um trabalho pedagógico a partir do letramento requer tanto
o conhecimento das hipóteses de escrita pela criança, quanto um trabalho de uso social das
atividades de ler e escrever, ou seja, sistematizar os conhecimentos relativos à produção e à
compreensão de textos orais e escritos favorecendo o contato dos alunos com textos diversos
para o uso em práticas sociais.
46
ou em outro contexto que não a sala de aula. Para se conseguir desenvolver nelas a apropriação
das características sobre estilos, usos e finalidades dos textos.
Quando se trabalha o ensino da escrita e da leitura com ênfase no conhecimento social,
a criança exercita o aprender. O professor não possui um papel de detentor do saber, mas o de
um mediador do conhecimento. Assim, os professores, em especial, os alfabetizadores
desempenham a função de aventureiras no pensamento das crianças, pois procuram elementos
que tornem a associação de letras e sons uma sentença textual. Logo, se vê a ciência, a
psicologia e o desenvolvimento humano.
Assim o papel do professor se mostra o de despertar o interesse, o desejo de o aluno
aprender, pois o ato de educar não é o da transmissão e reprodução de saberes, mas está
interligado com a troca, com a mediação, com a relação que professores e alunos estabelecem
em um ambiente educativo.
Enfim, o professor comprometido e que conhece as fases do desenvolvimento da
criança, bem como da escrita e da leitura é a grande diferença para conduzir o processo de
aprendizagem de forma criativa e crítica, pois ele vai saber intervir no sentido de fazer com que
os alunos percebam a capacidade que tem de pensar, realizar ações, tomando consciência de
que são capazes de usar sua inteligência e de ampliá-la pelo seu esforço, buscar e resolver uma
situação problema, mas sempre agindo com autonomia para escolher a solução e a sua maneira
de atuação.
4. METODOLOGIA
das atividades de ensino voltadas para a alfabetização e letramento com metodologias ativas
que pudessem colocá-los como protagonistas da construção do conhecimento.
Daí surgiu a ideia de incorporar atividades impressas e digitais para observar como
ocorre a interação dos alunos com os textos impressos e digitais. Tendo em vista a não
consolidação da apropriação do sistema de escrita alfabética, por grande parte da turma,
preferimos aplicar e analisar uma sequência didática com os gêneros textuais cantigas.
Para a realização das atividades com as crianças optamos pela sequência didática, pois
esta metodologia de ensino, que sugerida a partir dos Parâmetros Curriculares Nacionais
(PCNs), possibilitou se trabalhar por etapas, o que auxiliou a professora a acompanhar os
avanços e retrocessos dos alunos.
Nessa turma do 3º ano, composta por 21 alunos, foram aplicadas três sequências
didáticas compostas por diversas atividades, entretanto o número de participação de crianças
em cada uma delas foi variado, devido à frequência escolar visto que estas ações aconteceram
entre duas e três vezes por semana, durante o primeiro e segundo semestres de 2019,
possibilitando refletir sobre as práticas inovadoras na alfabetização e contemplando os seus
efeitos no processo de leitura e escrita.
Foram aplicadas três sequências didáticas com o gênero textual cantigas num período
de oito meses. Cada sequência didática era composta por várias atividades correspondentes aos
módulos propostos por Dolz, Noverraz e Schneuwly (2004), com ênfase na leitura e na
produção escrita. As atividades foram digitalizadas exemplificando a proposta de análise das
dificuldades das crianças como um todo. Para uma análise mais aprofundada, optamos por
apresentar duas sequências didáticas, nas quais obtivemos uma participação mais significativa
aos objetivos propostos por essa pesquisa: “Meu Galinho” e “A Linda Rosa Juvenil”.
59
5 RESULTADOS E DISCUSSÕES
A escolha da atividade foi motivada pelo fato de as cantigas fazerem parte do repertório
infantil, propiciar a exploração da consciência fonológica, além de ser analisada a partir do
contexto dos alunos, ou seja, como e onde eles podem fazer o uso desse gênero textual no meio
social. A sequência didática se concretizou por meio de módulos, conforme preconizam Dolz,
Noverraz e Schneuwly (2004), organizados partir de várias ações, que denominamos aqui de
“atividades”, as quais foram desenvolvidas em momentos distintos de aplicabilidade, de
motivação, de mediação e de reflexão. As atividades foram identificadas como: a. atividade
introdutória de averiguação do saber sobre o gênero cantigas; b. atividade de exploração oral
de gênero cantiga; c. atividade de exploração do texto escrito do gênero cantiga; d. produção
escrita em suporte digital; e reescrita da produção textual; f. atividade final de exposição ou
apresentação do texto.
a. Atividade introdutória
Para a introdução da atividade foi solicitado que os alunos se organizassem em círculo
para ser feito o levantamento dos conhecimentos prévios sobre as cantigas, momento em que
as crianças responderam às questões propostas oralmente. Para a coleta de informações, por
meio do diário de campo, a professora fez o primeiro questionamento:
Professora:
- Algum de vocês já ouviu falar sobre cantigas?
Aluno A respondeu:
- São textos cantados.
O aluno B disse:
- São versinhos.
Alguns demonstraram ter contato com estes textos no seu cotidiano, mas outros não
conseguiram identificar. Em seguida, foi levantada a segunda questão:
Professora:
- Para que serve a cantiga?
O aluno C respondeu:
- Para pular corda.
O aluno C completou:
- Para brincar de pique.
O aluno D falou:
-Para aprender a ler.
60
Fonte: https://youtu.bes08qC4LQOMQ
Ao final da apresentação em vídeo foi realizada a aula expositiva dialogada, em que os
alunos puderam identificar as imagens, recontar a história da cantiga na sequência dos fatos
ocorridos, participando ativamente da conversa em sala de aula.
Por ser uma proposta pedagógica com o gênero cantigas, referente a um texto que parte
de marcação oral, de uso mais expressivo da oralidade, da memorização, da expressividade,
percebemos que houve maior identificação das crianças com o tema que o texto trouxe, bem
como as relações com o que sabiam sobre as cantigas de roda. Diante disso, a sequência didática
explorou aspectos da oralidade, o que foi possível desenvolver nos alunos habilidades de
62
Isto é corroborado por Rojo (2012, p.23), “uma das principais características dos novos
(hiper) textos e (multi) letramentos é que eles são interativos”.
Em seus estudos sobre letramentos, Street (2014), defende o letramento social no
modelo ideológico, uma vez que confia que o aprendizado da escrita se dá concebendo as
práticas reais e sociais, pois estas as práticas letradas são frutos da cultura, da história e do
discurso. Foi o autor que inseriu em nosso meio o termo “Letramento Social” que se relaciona
às ações de leitura e escrita praticadas fora do campo da instituição escolar, integrados ao
contexto situacional e ao contexto sócio-histórico-cultural de uma dada sociedade e que deve
ser considerado dentro do planejamento do professor para se vislumbrar a promoção dos
letramentos como práticas sociais.
Em consonância com o modelo ideológico de letramento/letramento social, proposto
por Street (2014), buscamos nas atividades realizadas privilegiar as práticas de letramento, ou
seja, as crianças relacionaram os fatos ocorridos com o contexto social para a interpretação
63
desta cantiga, além do envolvimento de cada aluno presente para realizar e participar das
atividades propostas pela professora.
Ao comentarem sobre as cenas novamente visualizadas e cantadas, disse o aluno E:
- Primeiro o dono perdeu o galinho. Ficou sem dormir e depois foi procurar.
O aluno F destacou:
O galinho era bonito, colorido, branco, amarelo.
- O aluno G inferiu:
- O galinho foi para longe. Pode ter ficado com fome...
Aluno H concluiu:
- Ele teve que procurar o galinho muito longe. Andou muito para chegar ao sertão do
Ceará.
Com base nas respostas apresentadas pelos alunos, a professora propôs a realização de
uma pesquisa para conhecerem melhor sobre o sertão do Ceará. Também, levou para a sala de
aula o mapa do Brasil para que os alunos pudessem observar e identificar a localização do
Ceará. Assim, eles puderem fazer a ampliação do léxico e conhecimento geográfico.
Acerca de toda essa explanação percebe-se que o letramento é um processo contínuo
que vai acontecendo durante cada experiência vivenciada por cada aluno e que deve ir atingindo
graus de dificuldades maiores, na medida em que são postos em situações diversas e necessitam
compreender as circunstâncias dos fatos na sua relação com toda a sociedade. Tomando as
palavras de Soares (2012, p.72), podemos destacar que o “letramento é o que as pessoas fazem
com as habilidades e conhecimentos de leitura e escrita, em determinado contexto”, isto é, como
as pessoas estabelecem as relações entre essas habilidades e conhecimentos às suas
necessidades e práticas sociais cotidianas.
64
Assim, para conhecer sobre as práticas sociais vivenciadas pelos alunos, durante a
realização das atividades de pesquisa, eles foram convidados a participar ativamente de todas
as etapas das sequências didáticas aplicadas. A professora foi colhendo os conhecimentos
prévios deles para valorar o letramento social que cada um possuía e ampliar o repertório de
aprendizagem dos mesmos. Dessa maneira, evidenciou-se que uma atividade pode ser
explorada não apenas para o letramento escolar, mas ela ganha significado quando está
sincronizada com o contexto dos alunos e com o que fazem no seu dia a dia.
E essa participação ativa dos alunos deixou clara a percepção que possuíam sobre os
diferentes gêneros de textos que circulam em nosso meio, não sabendo classificá-los
corretamente, porém verbalizaram sobre onde muitos são encontrados e a finalidade dos
mesmos.
Isso também ocorreu ao explanarem sobre as diferentes formas e suportes que o texto
“Meu Galinho” foi trabalhado, comprovando que a variedade dos modos de comunicação
existentes, ou seja, as multimodalidades é uma nova ferramenta a favor do processo de ensino
e aprendizagem, desde que tenha objetivos claros e possa ser cada vez mais interativa.
Fonte:http://cdn.editorasaraiva.com.br/wp-
content/sites/24/2016/06/09005917/12V1Por_2016_pro.pdf
65
Outra atividade consistiu na reflexão sobre o uso dos recursos tecnológicos para a
produção escrita. Os alunos assistiram novamente ao vídeo e foram convidados a falar qual a
modalidade do texto digital, utilizada pela professora para trabalhar essa cantiga tinha sido mais
significativa ou interessante para eles e o porquê.
A maioria dos alunos destacou que o recurso digital é melhor porque é “mais bonito”,
“dá pra ver as cores”, “os desenhos são coloridos e bonitos” “a música ficou mais alegre”;
outros falaram que “gostaram dos dois porque podia colorir o desenho impresso igual ao do
vídeo”.
66
A partir dessa atividade proposta, evidencia-se que ser parte ou não do grupo dos
“nativos digitais” não determina ter o domínio das habilidades de usar as tecnologias digitais
de maneira consciente e para realizar tarefas de estudo ou trabalho. Para ser capaz de agir no
mundo atual, em que as informações são muito velozes e as relações “líquidas” (BAUMAN,
2001) é necessário mais do que ter nascido e crescido em frequente contato com os artefatos
tecnológicos. O emprego consciente das tecnologias carece de ser ensinado e aprendido, como
qualquer outra habilidade cognitiva.
Para tal, é bom retomar que o letramento abrange a apropriação das competências de
leitura e escrita num processo de ampliação da alfabetização. Como diz Soares (2001, p.47),
alfabetização é “[...] a ação de ensinar a ler e escrever” e letramento é “[...] o estado ou condição
de quem não apenas sabe ler e escrever, mas cultiva e exerce práticas sociais que usam a
escrita”. Logo, consideramos que o letramento digital abarca a habilidade de utilização dos
recursos informacionais e da internet para ler e escrever em situações diversas de contato com
a leitura e escrita também no meio digital, mas para ser um letrado digital é também necessário
desenvolver capacidades que permitam compreender e dominar a linguagem codificada e
subjacente à cibercultura (LEVY, 1999).
Enfim, o letramento digital compreende ações do sujeito com um artefato digital, que
requer um conhecimento de procedimentos ensináveis, que ocorre em interação, em que o
professor exerce o papel de mediador do processo de ensino e aprendizagem, em que o
letramento digital vai além do domínio da funcionalidade operacional das tecnologias, pois
abarcam os usos sociais da leitura e da escrita efetivadas nesses contextos.
e) Reescrita da produção textual
Posterior à escrita com o recurso do notebook, no dia seguinte, a professora levou para
a turma o texto digitado por eles para ser comparado com o texto impresso estudado nas aulas
anteriores. Muitos alunos conseguiram identificar os “erros” durante a digitação e comentaram
69
sobre ser mais difícil o uso do recurso digital para processamento do texto porque ainda não
dominam.
MEU GALIH0
NO SERTO DOÇEARA
Essa atividade proposta, permitiu observar que os alunos necessitam “provar” situações
que os façam refletir sobre essas práticas, percebendo a alfabetização além da apropriação de
um código ou o treino de traçados e letras, mas como um meio de atividades que privilegiem
os gêneros textuais e as práticas sociais presentes nos seus cotidianos.
Por fim, foi criado um vídeo em movie maker pela professora com as atividades de
produção escrita, com ilustração e com gravação de áudio, realizados pelos alunos para ser
exibido aos colegas da escola e professores. Destacamos a participação ativa de todos os alunos
presentes para a realização da atividade, a intervenção constante da professora nos grupos de
trabalho e do trabalho realizado individualmente, para o desenvolvimento das atividades
propostas e, principalmente, o entusiasmo na brincadeira de roda.
72
a. Atividade introdutória
Para dar início a exploração da cantiga “A linda Rosa Juvenil”, todos os alunos foram
convidados a se sentarem em um círculo e fecharem os olhos. A professora levou a cantiga em
áudio para a turma e solicitou que apenas ouvissem em silêncio.
Em seguida, os alunos puderam descrever sobre as sensações que tiveram ao ouvir a
cantiga e narrar os fatos ocorridos. Muitos alunos citaram que já tinham ouvido esta cantiga e
a achavam legal porque tinha bruxa, fada e príncipe.
O aluno A pediu a palavra e logo questionou:
- Essa Rosa parece com a Rapunzel, professora?
Para compreender a hipótese levantada pelo aluno, a professora perguntou:
- O que te levou a relacionar “A Linda Rosa Juvenil” à história da Rapunzel?
- O aluno respondeu que foi quando o mato cresceu e a Linda Rosa ficou sozinha no
meio e a Rapunzel também ficava sozinha presa no castelo.
- O aluno B interrompeu e disse:
- Se parece mais com a história da Branca de Neve porque teve um príncipe para
salvar a princesa.
Posta na dimensão do gênero, as cantigas populares como as canções são, segundo Costa
(2002, p.107, “(...) um gênero híbrido, de caráter intersemiótico (...) pois resultam ‘da
conjugação de dois tipos de linguagens’, a verbal e a musical (ritmo e melodia) ”, o que torna
prazeroso para os alunos as brincadeiras de roda realizadas.
Tendo em vista a situação de serem práticas reais e prazerosas que se apresentam, a
priori, na tradição oral, as cantigas trabalhadas com a turma, selecionadas para a pesquisa, foram
resgatadas tanto oralmente quanto sob a forma da escrita.
Os alunos foram convidados a experenciar as brincadeiras de roda com as cantigas. A
seguir, sentados em círculo, falaram dos seus sentimentos ao estarem participando do momento
de resgate das brincadeiras de roda. O brincar de roda, permitiu a compreensão do uso social
de um determinado gênero textual de uso cultural.
Observamos que se sentiram bastante empolgados com as cantigas e brincadeiras porque
é notório que a musicalidade e o ritmo despertam a atenção dos alunos. A professora propôs,
ainda, que os alunos falassem ou cantassem outras cantigas conhecidas.
Também, durante a exploração da oralidade percebemos que a assimilação da letra das
cantigas ocorreu de maneira mais fácil, pois a sonoridade das canções favoreceu a sua
memorização. Numa etapa posterior, desenvolvemos tanto um trabalho de simulação de leitura
quanto uma atividade de escrita do texto memorizado, de modo a relacionar o oral e o escrito.
A explanação dessa aluna foi muito interessante porque, mesmo que ela não soubesse
falar corretamente sobre a estrutura da cantiga em versos e estrofes, ela conseguiu fazer uma
comparação entre os dois gêneros textuais, demonstrando os seus conhecimentos prévios sobre
o gênero notícia.
Diante da situação a professora retomou o assunto sobre a estrutura do gênero cantiga
explicando as características que esse apresenta.
Em seguida, foi proposto que os alunos circulassem os personagens da cantiga e
criassem rimas para as palavras repetidas no final de cada verso.
Em uma aula posterior, os alunos retomaram a leitura da cantiga e brincaram de roda. A
professora mostrou um cartaz com a letra da cantiga e fichas com palavras para completar os
espaços em branco.
Com esta atividade a professora objetivou trabalhar com os alunos aspectos relacionados
à construção do texto ao completar com as palavras faltosas, bem como aspectos gramaticais –
ortografia correta de palavras da Língua Portuguesa por meio de análise da escrita.
Foi um momento para refletir e analisar coletivamente sobre as similaridades sonoras
entre o U e L na formação de palavras, como nas palavras: JUVENIL, PALMAS e
DESPERTOU. Nas similaridades sonoras das letras S, Ç, como nas palavras DANÇAR,
ADORMECEU, e na sonoridade da letra Z e S: ROSA, PRESA, PUSERAM.
Em seguida, foi entregue um texto impresso individual para os alunos, que fizeram as
atividades propostas preenchendo as lacunas com as palavras faltosas sem recorrerem à letra da
cantiga.
Durante a realização da atividade, a professora foi circulando entre as carteiras e
observando se os alunos estavam conseguindo fazer a atividade proposta e analisar o domínio
das regularidades e irregularidades ortográficas desenvolvidas por eles.
77
Com estas atividades acima citadas, pode-se relacionar ao que Castanheira (2008,
p.49/50), afirma na explanação que faz sobre topologia de organização das atividades, em que
há as atividades abertas que possibilitam desenvolver as habilidades cognitivas das crianças
de análise e reflexão como conduta para o entendimento de certos conceitos e definições e as
atividades fechadas, que apresentam conhecimentos que serão aplicados (repetidos) pelos
alunos.
Conforme o exposto, o papel do professor na condução das atividades em sala de aula é
mediar o processo de reflexão para a construção do conhecimento pelo aluno por meio de
atividades diversificadas, bem planejadas e sistematizadas, que dão oportunidade de
aprendizado para todos.
Afinal, parafraseando Barbosa (1994, p.129), ao direcionar bem o processo de ensino e
aprendizagem, a escola apresenta uma experiência rica de situações de uso da escrita,
beneficiando, sobretudo, àquelas crianças que não tiveram a oportunidade de viver estes
experimentos em seu meio social e familiar. As crianças que emanam de ambientes povoados
78
Figura 12: Cantiga “A linda Rosa Juvenil”, digitada pelos alunos no notebook.
percebam a tonicidade das palavras, ou seja, oralmente podem ser incentivados a pronunciarem
a sílaba mais forte das palavras. Como afirma CAGLIARI (1997, p. 61):
Para outro momento foi entregue a letra da cantiga pela professora dividida em quadros.
Os alunos, primeiramente, em pequenos grupos, fizeram a leitura. Foi pedido que eles
relatassem em voz alta, um de cada grupo, o que acontecia em cada estrofe/parte. Encerradas
as considerações colocadas pelos alunos foi o momento de registrarem com desenhos a
narrativa.
Foi proposto, ao término da atividade, que os alunos apresentassem seus desenhos para
os demais colegas da classe e em seguida afixassem no mural da sala para ser visto pela turma
do segundo turno.
Para uma nova atividade proposta com esta cantiga, após a retomada de todas as ações
já realizadas, os alunos tiveram como desafio a construção de um livro para ser lido por eles
para os irmãos, pais, colegas e familiares. Antes de iniciarem o desafio todos puderam folhear
diversos livros disponíveis e tirarem suas dúvidas.
Para a construção do livro, foi lembrado pela professora da importância da caligrafia
bem traçada, ortografia correta, estrutura composicional adequada para o gênero, domínio da
segmentação das palavras, respeito às margens da folha, capricho para que o outro pudesse ler
o que está escrito com interesse, como afirma Cagliari (2003, p. 102), “Ninguém escreve ou lê
sem motivo, sem motivação”.
Posteriormente, a professora fez a entrega de uma capa “padrão” xerocada para todos
os alunos colorirem. Depois receberam folhas sulfite para ir confeccionando as demais páginas
de acordo com a cantiga. Diante na ação proposta, é plausível destacar Barbosa (1994, p. 128)
ao se referir ao papel do professor nos primeiros momentos da aprendizagem não à transmissão
do conhecimento; seu papel é o de criar situações significativas que deem condições à criança
de se apropriar de um conhecimento ou de uma prática. A figura abaixo corresponde à atividade
de produção escrita realizada pelos alunos para a confecção de um livro como oportunidade
para as práticas de letramentos.
Figura 14: Confecção do livro a partir da Cantiga "A Linda Rosa Juvenil"
82
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Frente ao objetivo de analisar os efeitos da aplicação da sequência didática no
desenvolvimento de atividades pedagógicas com o gênero textual cantiga, nós observamos o
impacto dessa prática inovadora no processo de aquisição da escrita e de promoção do
letramento. Analisamos as atividades que compuseram duas sequências didáticas com gêneros
textuais numa turma do 3º ano, composta por 21 alunos, durante o ano letivo de 2019.
Foram selecionadas duas sequências didáticas com cantigas realizadas por meio de
módulos, segundo descrevem Dolz, Noverraz e Schneuwly (2004), organizadas a partir de
várias ações, as quais alcunha-se “atividades”, que aconteceram em momentos distintos de
aplicabilidade, de motivação, de mediação e de reflexão. Identificamos como: (1) atividade
introdutória, em que se averiguou o que as crianças sabiam sobre o gênero cantigas; (2)
atividade de exploração oral de gênero cantiga; (3) atividade de exploração do texto escrito do
gênero cantiga; (4) produção escrita em suporte digital; (5) reescrita da produção textual; (6)
atividade final de exposição ou apresentação do texto.
A partir do estudo proposto, foi possível destacar duas observações: na primeira
destacamos a questão do letramento escolar como forma institucionalizada de ensino que tem
como finalidade possibilitar ao aluno a compreensão e a utilização dos símbolos linguísticos
para a sua alfabetização (SOARES, 2004). E do letramento autônomo, ligado às representações
de leitura e escrita que os professores apresentam de suas histórias de leitura e que nos mostram,
afinal, seus graus de letramentos, podem ser fatores importantes na preparação do entendimento
de leitura como prática social, que estão diretamente ligadas às suas práticas com o texto escrito
(STREET, 1984).
Nesse sentido, o texto escrito das cantigas foi trabalhado tanto na versão impressa
quanto na versão digitalizada, uma vez que considerarmos o letramento digital na relação do
sujeito-leitor com texto, escrito em diferentes suportes, pois acontece na relação de um sujeito
que sabe utilizar os recursos tecnológicos digitais, compreende qual o objetivo da informação
pesquisada e aplica este conhecimento para a construção de um novo aprendizado. Diante disso,
constamos que letramento digital se constitui um saber a ser desenvolvido, pois estar inserido
numa cultura digital, não significa saber usar as tecnologias digitais, compreendê-las ou
transformá-las em modos de escrever e ler.
A segunda refere-se ao conhecimento do gênero textual perpassa por questões sociais
de uso, ou seja, de letramento. Embora as crianças fossem naturais de uma cidade de pequeno
porte, em que há a predominância das atividades rurais, o contexto social e cultural em que
86
estavam inseridas, não as colocaram em proximidades com brincadeiras de roda, a não ser por
meio de atividades propostas pelo universo escolar, o que permite pensar na função da escola
de promover a relação das crianças com gêneros textuais de cunho cultural, como no caso das
cantigas, parlendas, advinhas, entre outras.
O trabalho com os gêneros textuais, no caso com as cantigas, se mostrou uma ferramenta
eficaz para uma reflexão entre oralidade e língua escrita, entre os usos do cotidiano e os vários
suportes, o que implica em distintas estratégias de leitura e, consequentemente, desiguais
aprendizagens, visto que a maneira como o gênero se materializa é que vai modificar a sua
finalidade.
Evidenciamos a necessidade de uma mudança nas práticas pedagógicas, o que pode ser
favorecida com cursos de formação docente, que promova a reflexão da prática exercida dentro
da sala de aula, visto que os alunos têm um grande potencial para a produção do conhecimento,
mas para que isto ocorra os sistemas educacionais e professores precisam atualizar sua maneira
de “conceber” e direcionar o processo de ensino e aprendizagem.
Movidas pelo interesse de analisar os efeitos da sequência didática no desenvolvimento
de atividades pedagógicas com o gênero textual cantiga, visando-se observar o impacto dessa
prática diferenciada no processo de aquisição da escrita e promoção do letramento,
consideramos que os efeitos de integração à atividade e de reflexão de uso da leitura e da escrita
mostraram ações mais acessíveis ao processo de ensino e aprendizagem das crianças.
Destacamos como efeitos das sequências didáticas desenvolvidas a ampliação do léxico
e do conhecimento geográfico, por meio da interação entre a crianças e o processo de ensino e
aprendizagem do sistema de escrita alfabético e de produção escrita. Outro efeito observado foi
o impacto na formação do aluno, por meio da motivação para a realização das atividades
propostas e do incentivo do docente para participarem da socialização aos colegas, em forma
de apresentação em auditórios, como efeitos das práticas de letramento. Ressaltamos, ainda,
como efeito os reflexos na formação do professor alfabetizador com a produção e
desenvolvimento e metodologias de ensino, no caso, da aplicação das sequências didáticas ao
longo do ano letivo.
É importante explorar textos de gêneros que predominem o verbal, mas que haja a
multimodalidade e a identificação das diversas culturas, logo é preciso ponderar sobre a
percepção necessária quando se pretende trazer a tecnologia enquanto instrumento pedagógico,
pois esta esbarra na não formação adequada do professor para saber lidar com as tecnologias
presentes e, mais preocupante, em sua maioria, não saber mediar o processo de ensino e
aprendizagem por meio destes recursos.
87
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ALVES, Rubem. O Desejo de Ensinar e a Arte de Aprender. Campinas: Fundação
EDUCAR DPaschoal, 2004.
BAKHTIN, M. Estética da criação verbal. Trad. P. Bezerra. 4.ed. São Paulo: Martins
Fontes, 2003.
BARTON, D.; HAMILTON, M. La literacidad entendida como práctica social. In: ZAVALA,
V.; NIÑO-MURCIA, M.; AMES, P. (Ed.). Escritura y sociedad: nuevas perspectivas teóricas
y etnográficas. Lima: Red para el DESARROLLO DE LAS CIENCIAS SOCIALES EN EL
PERU, 2004. p. 109-139
BRANDÃO, C. R. (Org.). Pesquisa participante. 18. ed. São Paulo: Brasiliense, 1999
CASCUDO, Luís da Câmara. Dicionário do folclore brasileiro. 10. Ed. São Paulo: Editora
Global, 2001.
COSTA, Nelson Barros da. As letras e a letra: o gênero canção na mídia literária. In:
DIONÍSIO, Ângela Paiva; MACHADO, Anna Rachel; BEZERRA, Maria Auxiliadora (orgs).
Gêneros textuais e ensino. Rio de Janeiro: Editora Lucerna, 2002, cap. 8.
GERALDI, João Wanderley (Org.). O texto na sala de aula. 4. ed. São Paulo, SP: Ática,
2006. 136 p. (Na sala de aula)
GILNA. C. Como elaborar projetos de pesquisa. 4.ed. São Paulo: Atlas, 2002
KLEIMAN, A. Ação e mudança na sala de aula: uma pesquisa sobre letramento e interação.
In: ROJO, R. (Org.). Alfabetização e letramento: perspectivas linguísticas. Campinas:
Mercado de Letras, 1998, p. 173-203.
PRENSKY, M. From digital nativesto digital wisdom: hopefulessays for 21st Century
learning. Thousand Oaks: Corwin, 2012.
SAMPIEIRI, H., Roberto, COLLADO, Fernández, C., LUCIO, B., Pilar, M. D. Metodologia
de Pesquisa. [Minha Biblioteca]. Retirado
de https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9788565848367. Acesso feito em 27 de
maio de 2019
SANTOS, Flávio Renato dos. Alfabetização e letramento: a cultura escrita de alunos que
iniciam o ensino fundamental II. 2015. 112 p. Trabalho de conclusão de curso (licenciatura
- Pedagogia) - Universidade Estadual Paulista, Instituto de Biociências de Rio Claro, 2015.
Disponível em: <http://hdl.handle.net/11449/136616>.Acesso feito em 26 de maio de 2019
TAPSCOTT, Don. A hora da geração digital: como os jovens que cresceram usando a
internet estão mudando tudo, das empresas aos governos. (tradução de Marcelo Lino). Rio
de Janeiro: Agir Negócios, 2010.
http://repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/269080/1/Xavier_AntonioCarlosdosSantos_
D.pdf Acesso feito em 26 de outubro de 2019.
ZIMMER. Rosa. Denise Raquel. Douglas Corrêa da. As relações dialógicas na constituição
do gênero discursivo propaganda .Disponível em http://e-
revista.unioeste.br/index.php/travessias/article/download/12661/8795.Acesso feito em 18de
maio de 2019.
93
ANEXOS
94
95
96