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Resumo: O desenvolvimento da Abordagem Centrada na Pessoa foi dividido em fases que apresentam as
atitudes que fazem parte da relação terapêutica, independente do público atendido. Contudo, na especificidade
da psicoterapia infantil, o desenvolvimento teórico e prático da própria abordagem aponta para a existência
de peculiaridades. Este estudo tem como objetivo apresentar, através de uma revisão narrativa de literatura,
fundamentada na hermenêutica filosófica de Gadamer, as possíveis características relativas ao atendimento
de crianças a partir de um retorno às fases da ACP. Discutimos os fundamentos iniciais do atendimento com
crianças em Rogers ena perspectiva clássica de Axline, compreendendo como a ludoterapia com crianças
se caracteriza nas fases não-diretiva, reflexiva, experiencial e pós-rogeriana. Discutimos sobre propostas
contemporâneas nos contextos europeu, estadunidense e brasileiro. Concluímos que essa delimitação do
atendimento infantil possibilita uma percepção mais clara das mudanças e aprimoramentos em relação aos
trabalhos pioneiros de Rogers e Axline, sempre tendo como eixo a dimensão relacional e a tendência ao
crescimento como motor do processo terapêutico.
Palavras-chave: Psicologia humanista; Terapia centrada no cliente; Psicoterapia da criança; Ludoterapia.
Abstract: The development of the Person-Centered Approach was divided into phases that presents the at-
titudes that are part of therapeutic relationship, regardless of the public served. However, in the specificity
of child psychotherapy, the theoretical and practical development of the approach points to the existence
of peculiarities. This study aims to present, through narrative literature review, based on Gadamer’s phil-
osophical hermeneutics, the possible characteristics related to the child therapy, starting from a return to
the PCA phases. We discuss the foundations of child therapy in Rogers and Axline’s classic perspective,
understanding how child play therapy is characterized in non-directive, reflective, experiential and post-Ro-
gerian phases. We discuss contemporary proposals in the European, American, and Brazilian contexts. We
conclude that this delimitation enables a clearer perception of changes and improvements amongst to the
Rogers and Axline’s pioneering work, always having as its axis the relational dimension and the tendency to
growth as a motor of the therapeutic process.
Keywords: Humanistic psychology; Client centered therapy; Child psychotherapy; Play therapy.
Resumen: El desarrollo del Enfoque Centrado en la Persona se dividió en fases que presentan las actitudes
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Da Ludoterapia Não-Diretiva à Ludoterapia Centrada na Criança –Desenvolvimento Histórico
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Rosa Angela Cortez de Brito, José Célio Freire, Lucas Guimarães Bloc & Virginia de Saboia Moreira Cavalcanti
fases da ACP discutidas por Segrera (2002) e Moreira e de outros espaços relevantes na vida da criança.
(2010), realizamos a leitura, a contextualização Em obra posterior, Rogers (1942/2005) discutirá que
e a discussão crítica dos textos de acordo com as estes contextos têm implicação direta para o sucesso
características da psicoterapia apresentadas em cada ou fracasso do acompanhamento psicológico da
fase da abordagem, buscando uma inteligibilidade e criança.
sistematização para o desenvolvimento histórico da Para Rogers (1939/1978), o ser humano é
Ludoterapia Centrada na Criança. entendido como um organismo com potencial
A discussão desse artigo se dará através positivo de desenvolvimento e com necessidades
do desenvolvimento da teoria e da prática que vão além do fisiológico: a necessidade de
da Ludoterapia tanto na construção de seus resposta afetiva e de reconhecimento e a necessidade
fundamentos iniciais quanto em cada uma das fases de satisfação. Essa compreensão inicial acerca do
da Abordagem Centrada na Pessoa. Destacamos organismo, de seu potencial e das necessidades que
ainda que nos deteremos às três fases da teoria lhe são inerentes podem ser entendidos, segundo
referentes à psicoterapia – não-diretiva, reflexiva Telles, Boris, & Moreira (2014), como aporte inicial
e experiencial –, bem como a fase pós-rogeriana, da noção de tendência atualizante, que é fundamento
apontadas por Segrera (2002) e Moreira (2010). da ACP (Rogers, 2005/1980).
Como a finalidade desse estudo tem relação direta Também verificamos que Rogers (1939/1978)
com a psicoterapia, optamos por não trabalhar com a preconiza que a criança precisa ser vista para
fase coletiva/interhumana pelo fato de Rogers ter se além dos problemas de ordem comportamental:
voltado para contextos diferentes do psicoterápico “abordaremos a criança, e não os sintomas
(Moreira, 2010). comportamentais [...] existem crianças – meninos
e meninas – com backgrounds e personalidades
Fundamentos Iniciais do diferentes [...] é com a criança que devemos lidar,
não com a generalização que fazemos a seu respeito
Atendimento de Crianças na ACP de seu comportamento” (p. 20-21). Compreendemos
(1939-1942) que essa forma de reconhecimento da criança retira
Rogers iniciou o trabalho clínico com o foco no sintoma e no problema e propõe um acesso
crianças no Institute for Child Guidance, realizando à criança tal como ela se apresenta no contato com
psicodiagnóstico e atendimento de crianças, bem a psicóloga, o que parece se apresentar como uma
como orientação de pais. Pela impossibilidade perspectiva diferente dos modelos vigentes à época
de trabalho com a psicoterapia, atuação à época de publicação da obra.
restrita ao campo da Psiquiatria, Rogers atendia A ênfase na criança nos remete ainda à atitude
no modelo de aconselhamento psicológico, no de consideração positiva incondicional, descrita
qual realizava as intervenções clínicas (Rogers, por Rogers (1957/1994), como uma experiência que
1961/2001). Em seguida, trabalhou na Society “implica em uma forma de apreciar o cliente como
for the Prevention of Cruelty to Children, onde uma pessoa individualizada, a quem se permite ter
conduzia psicodiagnósticos com base no referencial os próprios sentimentos, suas próprias experiências”
psicanalítico (Kirschenbaum, 2007). A visão crítica (p. 163). Essa atitude será mencionada apenas
de Rogers acerca da psicanálise que ele praticava futuramente na obra rogeriana, como condição
e o contato com autores neofreudianos (Branco, necessária e suficiente para a mudança, a partir do
Vieira, Cirino, & Moreira, 2016) fomentaram a processo de psicoterapia (Rogers, 1957/1994; Kinget
perspectiva apresentada em O Tratamento Clínico & Rogers, 1962/1977).
da Criança Problema (Rogers, 1939/1978). Nesta As alterações comportamentais decorrentes
obra, Rogers discute a avaliação e o tratamento de do atendimento psicológico dependeriam, para
crianças com problemas comportamentais e ressalta Rogers (1939/1978), mais da qualidade interacional
possibilidades de compreensão da criança, de seu da profissional e da criança do que das técnicas
comportamento e do tratamento, bem como aponta realizadas. Essa interação depende de qualificações
elementos para o acompanhamento com a família e que são descritas como necessárias para o sucesso
a escola. do tratamento: a capacidade da psicoterapeuta
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Da Ludoterapia Não-Diretiva à Ludoterapia Centrada na Criança –Desenvolvimento Histórico
da Abordagem Centrada na Pessoa (Sollod, 1978; para expressar-se através dos materiais e jogos. Caso
Moreira, 2010; Branco, Vieira, Cirino, & Moreira, fosse necessário o acompanhamento conjunto para
2016). Além disso, consideramos relevante citá-la os pais e a criança, a ludoterapia com a criança e
pela importância dos apontamentos iniciais acerca a escuta dos pais deveria ocorrer separadamente e
do acompanhamento com crianças e sua influência com profissionais diferentes (Rogers, 1942/2005).
no desenvolvimento posterior da prática clínica. Esses posicionamentos nos apontam uma
Compreendemos que as contribuições do trabalho tentativa de formular uma metodologia da prática
clínico com crianças apresentadas por Rogers de atendimentos com a família e com a criança,
(1939/1978) são um ponto de partida fundamental na buscando garantir a eficácia da escuta psicológica.
ACP em que são cunhados importantes fundamentos Nesse período de sua teoria, Rogers (1942/2005)
não apenas para a psicoterapia com crianças, mas ressaltava a importância da busca de uma eficácia
para a abordagem como um todo. dos atendimentos. Nessa busca, apontou também
possíveis fatores que, segundo o autor, poderiam
A Ludoterapia na Fase Não-Diretiva contribuir para o fracasso da psicoterapia com o
público infantil: a dependência afetiva da criança
(1940-1950) em relação a seus pais; a sujeição dela ao controle
familiar; a permanência da criança no lar, no decorrer
A Ludoterapia Não-Diretiva de Rogers do acompanhamento psicológico. Além disso, ele
Na obra Psicoterapia e Consulta Psicológica, de considera que a psicoterapia considerada eficaz
1942, Rogers compreendia a consulta psicológica implicaria necessariamente no tratamento conjunto
como facilitadora de uma maior independência e dos pais. A terapia realizada somente com a criança
integração do indivíduo. A terapia não seria uma poderia levá-la a uma posição de radicalidade diante
preparação para a mudança, mas sim a própria dos pais, o que contribuiria, segundo o autor, para
mudança (Rogers, 1942/2005; Melo, Lima, & o agravamento do problema. Os pais poderiam
Moreira, 2014). A Ludoterapia é descrita no mesmo também se tornar ciumentos por causa da relação
livro como uma terapia de natureza expressiva, que estabelecida entre a terapeuta e a criança.
se desenvolve mais através das ações do que de Como elementos característicos dos
palavras. Apesar de destacar essa diferença, Rogers atendimentos com crianças discutidos por
compreendia o atendimento de crianças como Rogers nesse período, apontamos a ênfase em um
similar à consulta psicológica do adulto: tratamento psicológico eficaz, a busca de critérios
para o tratamento da criança e dos pais e dos
Embora a ludoterapia possa parecer a alguns fatores que conduziriam ao sucesso ou ao fracasso
uma experiência de um tipo muito diferente dos atendimentos. Na medida em que a criança
da consulta psicológica de estudantes era vista como alguém dependente da família, o
ou da terapia com pais e adultos, as suas sucesso da psicoterapia estaria diretamente ligado à
estruturas revelam-se muito semelhantes psicoterapeuta e também à participação da família no
(...). A diferença mais notável está em que na tratamento. Vale ressaltar que o posicionamento que
ludoterapia a relação é definida muito mais Rogers assume possibilita um olhar mais amplo para
através de ações do que das palavras. (Rogers, a psicoterapia infantil, através da descentralização
1942/2005, p. 94-95) do problema e do entendimento da criança que
se apresenta como participante ativo na consulta
Nesse interim, Rogers (1942/2005) buscou psicológica.
formular critérios indicativos da necessidade de
terapia, tanto para os pais quanto para a criança. A Ludoterapia Autodiretiva de Axline
O acompanhamento seria aconselhável quando Virginia Mae Axline, aluna e colaboradora de
as seguintes condições ocorressem: os problemas Rogers, publicou em Ludoterapia – A dinâmica interior
da criança tivessem relação com a interação da infância, de 1947, os elementos característicos
familiar; a criança não fosse afetiva e espacialmente deste tópico. Apesar de influenciada pelo referencial
independente de sua família; os pais ou a criança não-diretivo rogeriano, Axline afirma que o termo
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percebessem a necessidade de apoio, o que criaria o “auto-diretiva” (Axline, 1947/2013, p.26) seria mais
contexto para o acompanhamento terapêutico. condizente para caracterizar sua prática do que o
Os pais seriam considerados “tratáveis” (grifo termo “não-diretiva”. Para Axline (1947/2013), a
no original) caso apresentassem: a) satisfação em brincadeira é o meio natural de expressão da criança,
suas relações sociais e conjugais; b) estabilidade que comunica e expressa seus sentimentos através
(Rogers não desenvolve essa noção em seu texto); dos brinquedos.
c) nível intelectual médio ou superior; d) certa Em Ludoterapia – A dinâmica interior da
juventude para se adaptar a situações novas. A infância, Axline apresenta sua compreensão
criança era considerada “tratável” (grifo no original) de personalidadepela noção de ajustamento da
se apresentasse: a) estabilidade fisiológica; b) nível criança. Seu pressuposto central é uma poderosa
intelectual médio ou superior; c) idade suficiente
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força, existente em cada indivíduo, direcionada Os oito princípios propostos por Axline
para uma completa autorrealização, maturidade, (1947/2013), são: o desenvolvimento de um
independência e autodireção. Estes são parte do relacionamento com a criança, para que se estabeleça
crescimento da criança, considerado dinâmico o rapport; a aceitação da criança como ela é; o
e marcado pelas experiências ao longo de sua estabelecimento do sentimento de permissividade na
vida. Essa caracterização se assemelha à noção ludoterapia, para que a criança expresse livremente
de tendência atualizante, que será apontada seus sentimentos; a terapeuta deve estar sempre
por Rogers em momento posterior de sua obra alerta para identificar os sentimentos expressos pela
(Rogers, 1951/1992), na fase reflexiva. Para Axline criança e para refleti-los para ela; o respeito pela
(1947/2013), vários fatores influenciam a dinâmica capacidade da criança de assumir a responsabilidade
de crescimento, como os acontecimentos cotidianos e resolver seus problemas; não dirigir as ações ou
da vida da criança e a sua interação com as pessoas conversas da criança de forma alguma, deixando
com quem ela convive. que ela indique o caminho; não abreviar a duração
Ainda segundo a autora, a criança possui da terapia; o estabelecimento de limites mínimos
necessidades básicas e busca satisfazê-las. Quando necessários para o desenvolvimento da terapia.
essa satisfação ocorre de maneira direta, a criança Assim como Rogers, Axline afirmava que a conduta
está ajustada. A situação de desajuste da criança dos pais, em muitos casos, poderia agravar os
é discutida por Axline quando a busca por problemas da criança. No entanto, ela se diferenciou
satisfação é bloqueada de alguma maneira. Assim, por não exigir que os pais iniciassem psicoterapia
a criança continua buscando satisfação, mesmo enquanto a criança estivesse em atendimento.
que em sofrimento. A satisfação encontrada pela Axline considerou a importância da participação
criança na condição de desajuste seria distorcida dos pais no processo da criança (Stulmaker & Jayne,
e desencadeadora de sofrimento emocional. 2017) e, ainda que não exigisse, não descartava que
Verificamos que, apesar de Axline ter publicado a psicoterapia da criança poderia ser otimizada caso
sua obra no período de não diretividade da o atendimento dos pais ocorresse simultaneamente
perspectiva rogeriana, ela antecipa algumas noções (Axline, 1947/2013).
acerca do desenvolvimento da personalidade Em Ludoterapia – A dinâmica interior da
que Rogers apresentará posteriormente (Rogers, infância, Axline avança em discussões apresentadas
1957/1994; Kinget & Rogers, 1962/1977), tais por Rogers (1942/2005). Mesmo denominando sua
como: o desenvolvimento do eu, a necessidade de Ludoterapia de não-diretiva, a autora diferencia-se em
consideração positiva de si, o desenvolvimento de seus posicionamentos, o que sugere, segundo Brito e
um modo de avaliação condicional e o desacordo Paiva (2012), uma transição entre a fase não-diretiva
entre experiência e self (Brito & Paiva, 2012). e a reflexiva da obra rogeriana. A compreensão
A base da Ludoterapia de Axline é a de sobre as implicações do processo terapêutico para
que a criança tem a capacidade de resolver a criança e seus pais difere das descritas por Rogers
satisfatoriamente seus problemas (Landreth, na fase não-diretiva. Compreendemos que Axline
2001/2012). A ludoterapeuta estabelece com a antecipa, ainda, algumas formulações publicadas
criança uma comunicação pela brincadeira e cria um posteriormente por seu mentor acerca da teoria
espaço de expressão dos sentimentos acumulados e da personalidade e das condições necessárias e
de ampliação de sua consciência. A ludoterapeuta suficientes para a psicoterapia, ainda que não
não se apresenta como figura de autoridade ou avance, conforme apontado por Brito e Paiva (2012),
como substituto dos pais. Ele está sempre alerta para que a consideremos uma autora representativa
ao que a criança expressa de forma genuinamente da fase reflexiva (Segrera 2002; Moreira, 2010).
interessada, o que se manifesta na terapia através de Consideramos que a Ludoterapia proposta por
atitudes e não de técnicas (Axline, 1947/2013). Axline pode representar uma fase específica, dada
Apesar de apresentar a criança e a terapeuta em a sua relevância no campo da psicoterapia com
uma posição de maior atividade no desenvolvimento crianças (Baggerly, Ray & Bratton, 2010; Landreth,
dos atendimentos, é conferido a essa segunda um 2001/2012; Bratton, Purswell & Jayne, 2015; Glover
papel diferenciado, já que, para Axline (1947/2013), o & Landreth, 2016). Propomos que essa fase seja
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personalidade e da Terapia Centrada no Cliente, West (2000) ressalta, com base na perspectiva de
bem como as implicações da teoria em contextos Dorfman, a importância da atitude de abertura da
diversos, dentre eles a psicoterapia com crianças. psicoterapeuta para o que a criança apresenta no
Pouco citada na literatura sobre psicoterapia com desenvolvimento das sessões e enfatiza o potencial
crianças, Dorfman (1951/1992; 1958) discutiu sobre terapêutico dessa disponibilidade. Em Dorfman, os
essa prática a partir da perspectiva rogeriana descrita limites relacionam-se diretamente com a participação
na fase reflexiva e pesquisou sobre as mudanças de subjetiva da terapeuta na relação, característica da
personalidade a partir da ludoterapia. fase reflexiva (Segrera, 2002; Moreira, 2010).
Para Dorfman, a base para a Ludoterapia é Como consequência da psicoterapia, a criança
a capacidade do indivíduo para o crescimento, passa a realizar a “transferência de comportamentos”
desenvolvimento e autodireção (Wilson & Ryan, da Ludoterapia para as situações cotidianas. Os
2008). Sobre as atitudes da criança e a indicação limites, portanto, além de sustentarem a atitude de
de terapia, a autora lança um olhar para as suas aceitação da terapeuta, têm potencial socializante,
formas de comportamento: “Por mais inadequados estruturam o espaço psicoterapêutico e conferem
que possam ser, são a maneira dela [da criança] de segurança, promovendo a redução da ansiedade da
resolver seus problemas” (Dorfman, 1951/1992, p. criança (Dorfman 1958).
273). Neste sentido, a psicoterapia pode contribuir No trabalho de Dorfman, apesar de a autora ter
diante das manifestações apresentadas pela desenvolvido apenas dois trabalhos, ressaltamos a
criança, mas se o real problema não for cuidado, a importância da manutenção da atitude de aceitação
contribuição seria apenas temporária, o que confere diante da criança, o que sinaliza o destaque da
mais atenção à criança do que a quem a encaminha. participação subjetiva da terapeuta no processo,
À medida que o trabalho com as crianças – algo não preconizado anteriormente nem por Rogers
sem o contato com os pais – acontecia com êxito, nem por Axline.
Dorfman passou a questionar-se sobre como as
crianças conseguiriam lidar com seus conflitos A Ludoterapia na Fase Experiencial
sem que seu ambiente mudasse (Dorfman, 1958;
West, 2000). A autora verificou que as mudanças
(1957 - 1970)
A compreensão da psicoterapia como processo,
vivenciadas pela criança na Ludoterapia são
o foco na experiência vivida, tanto do cliente
inevitavelmente percebidas em seus contextos:
como da terapeuta e a relação como promotora de
“Uma vez que a criança é percebida de maneira
crescimento, são características da fase experiencial
diferente, a reação a ela também é diferente, e essa
(Segrera, 2002; Moreira, 2010; Melo et al., 2014) que
diferença no tratamento pode levá-la a mudar ainda
são verificadas na obra de Clark Moustakas. Aluno
mais” (Dorfman, 1951/1992, p. 274).
de Axline, Moustakas foi influenciado diretamente
Para Dorfman (1951/1992), a criança deve ter
por sua professora e também por Rogers (Moustakas,
papel ativo na ludoterapia e certas condições são
1953; Blau, Bach, Scott, & Rubin, 2013; Crenshaw
comunicadas para que ela se sinta segura no ambiente
& Kenney-Noziska, 2014). Autor de diversas obras
terapêutico. As condições a serem comunicadas são:
sobre atendimento infantil, Moustakas propôs
a atitude de respeito (quando a terapeuta cria uma
a ênfase no desenvolvimento da interação entre
relação de compreensão, aceitação e segurança); o
a terapeuta e a criança e no estabelecimento de
fato de que a terapia pertence à criança (não cabendo
atitudes com a finalidade de aprofundamento da
à terapeuta exercer um papel de liderança); a atitude
relação terapêutica (Crenshaw & Kenney-Noziska,
de aceitação pela criança, não tentando moldá-la em
2014).
uma forma socialmente aprovada (West, 2000).
A psicoterapia infantil, para Moustakas, é
O setting terapêutico, para Dorfman, não deve
considerada uma relação de ajuda e uma experiência
ser pedagogizante, mas também não tem liberdade
de crescimento, na qual um se disponibiliza para
ilimitada. Os limites apresentados têm relação com
ajudar e o outro aceita ser ajudado. A relação
o comportamento da criança. A expressão verbal dos
terapêutica com a criança, através da brincadeira,
sentimentos da criança é totalmente livre, ainda que
representa um ato receptivo e não o posicionamento
não haja “permissão para que alguns sentimentos
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confiança, aceitação e respeito, ocorre a ênfase na alguma das fases do pensamento rogeriano e o
expressividade e na clarificação dos sentimentos da diálogo com outras perspectivas. Isso significa
criança. O autor considera que o desenvolvimento que essas novas teorias sofrem influências que as
da relação ocorre a partir da noção de presença que diferenciam epistemológica e metodologicamente da
é entendida como o comprometimento e a atenta teoria de Rogers, assumindo uma identidade própria
escuta do que a criança expressa. (Segrera, 2002; Moreira, 2010; Berh & Cornelius-
A participação dos pais e familiares no White, 2008; Branco & Cirino, 2017).
atendimento infantil possibilitava que eles A Ludoterapia Centrada na Criança
pudessem aprender e aplicar os valores da desenvolvida contemporaneamente também
ludoterapia com seus filhos. Antes de receber a apresenta mudanças. Verificamos que os autores
criança para atendimento, ele atendia os pais. propõem desenvolvimentos a partir dos seguintes
Após esse momento, atendia a criança por três ou eixos: metodologia de atendimento, atitudes da
quatro sessões, traçando um planejamento que psicoterapeuta e qualidade da relação. Apontaremos
poderia incluir sessões conjuntas com a família, alguns trabalhos considerados relevantes em três
mas com foco na criança atendida. Após as sessões contextos: europeu, norte-americano e brasileiro.
conjuntas, os pais iniciariam um processo de A especificidade na escolha de contextos se
“treinamento” e aprendizado sobre a conduta deve ao reconhecimento da origem das fontes
com a criança. Sinalizamos aqui as primeiras bibliográficas. Verificamos significativa produção
alusões ao estabelecimento de uma metodologia de sobre Ludoterapia desenvolvida nos Estados
atendimento infantil, elemento que será bastante Unidos, especialmente com ênfase no método
discutido contemporaneamente (Moustakas, 1959; para o atendimento de crianças com necessidades
2007). específicas. Entretanto, é importante ressaltar que
Moustakas (2007) se afastou da proposta de o desenvolvimento metodológico, reconhecido no
Axline e desenvolveu um modelo de Ludoterapia contexto norte-americano, também se apresenta na
fundamentado na relação. Desde suas primeiras obras, Europa e no Brasil.
Moustakas (1953; 1959) aponta a influência de Otto
Rank e Jesse Taft como base para enfatizar a relação Ludoterapia Centrada na Criança – Europa
com a criança mais do que a não-direção desenvolvida Considerado um dos autores contemporâneos
por sua mentora (Johnson, 2016). Todavia, apesar da Ludoterapia (Schaefer & Kaduson, 2006;
do afastamento de Axline, percebemos na obra de Berh & Cornelius-White, 2008; Bratton, Ray,
Moustakas uma manutenção da proximidade com as Lindo & Landreth, 2014), Goetze apresenta a
ideias de sua mentora, especialmente nas atitudes Ludoterapia Centrada na Pessoa como um modelo
vivenciadas pela ludoterapeuta na relação com a preventivo, curativo e pós-curativo de atendimento,
criança. A confiança, a aceitação, o respeito, bem caracterizado por atitudes da terapeuta na interação
como a importância dos limites, são parte dos oito e por atividades desenvolvidas com a criança
princípios de Axline (1947/2013) parecem se manter (Goetze, 1994). Essa interação é processual e
inalterados (Landreth, 2001/2012; Johnson, 2016). dinâmica, indo de um inicial distanciamento à uma
O avanço em relação à proposta de Axline posterior proximidade entre a criança e aterapeuta.
e a aproximação da perspectiva rogeriana na fase Esse modelo de estágios é descritivo de um processo
experiencial aparecem quando o autor sublinha a descrito como “natural” (p. 64) na Ludoterapia
relevância da presença e da experiência da terapeuta Centrada na Pessoa, mas também normativo, por
na relação com a criança. Moustakas (1959; 2007) prever diferentes ações da terapeuta do processo.
ressalta ainda a importância da experiência Os quatro estágios apresentados por
mútua e ativa da terapeuta e do cliente na relação Goetze (1994) são: não-pessoal – vinculação e
como fundamentos para o desenvolvimento da reconhecimento entre cliente e terapeuta; não-
psicoterapia. diretivo– caracterizado pelos oito estágios de Axline
Verificamos na obra de Moustakas convergências (1947/2013); centrado no cliente – integração de
com aspectos da fase experiencial rogeriana, como a informações sobre a criança e desenvolvimento de
ênfase na qualidade da interação pessoa a pessoa, técnicas com a finalidade de resolução de problemas;
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pelas noções de presença, de diálogo e de construção e estágio centrado na pessoa – maior participação
da relação. Moustakas é citado como importante da terapeuta e maior integração das experiências
autor da Ludoterapia Centrada na Criança por sua vividas na terapia com a vida real, considerada uma
contribuição teórica e prática (Lin & Bratton, 2014; etapa de finalização da terapia.
Johnson, 2016). Os elementos de estágio anteriores podem
continuar em estágios posteriores. A comunicação
A Ludoterapia na Fase Pós- com a criança é mantida com foco na sua capacidade
de resolução de problemas (Döring, 2008). As
rogeriana (1987 – dias atuais) técnicas utilizadas podem ser de outras perspectivas
Os trabalhos contemporâneos em Abordagem
teóricas, como o Psicodrama ou a Gestalt-terapia
Centrada na Pessoa têm como ponto de partida
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Da Ludoterapia Não-Diretiva à Ludoterapia Centrada na Criança –Desenvolvimento Histórico
(Goetze, 1994). Compreendemos, assim como Berh outra direção. Ao colocar a ênfase do trabalho
e Cornelius-White (2008), que o trabalho de Goetze psicoterapêutico na qualidade da interação entre
busca o estabelecimento de etapas que sistematizem terapeuta e criança, na imediaticidade de seu
o desenvolvimento da Ludoterapia. acontecimento, promovem uma compreensão de que
Ainda no contexto europeu, a proposta de Behr o processo de mudança na criança está diretamente
(2003), diferente de Goetze, discute uma extensão da relacionada à qualidade do encontro. Aqui, Berh
Ludoterapia Centrada na Criança a partir da ênfase assume uma postura de atenção ao aprofundamento
na imediaticidade da relação terapeuta-criança. relacional a partir da forma como a criança se
A partir da brincadeira, ocorre o estabelecimento apresenta no atendimento psicoterapêutico.
de um contato imediato, promotor da redução
da incongruência da criança e que seriam pouco Ludoterapia Centrada na Criança – América do Norte
acessíveis pela comunicação verbal. Esse contato No contexto estadunidense verificamos que
foi descrito por Behr como compromisso relacional os estudos apresentam aprimoramentos teórico-
chamado de ressonância interativa. metodológicos para o atendimento infantil.
A noção de ressonância interativa, apresentada Além das reformulações, os autores ressaltam a
por Berh (2003), nos permite compreender uma discussão acerca da eficácia da Ludoterapia para
aproximação com a dimensão de intersubjetividade, o acompanhamento de problemáticas específicas
através da experiência da criança e da psicoterapeuta, (Baggerly, Ray & Bratton, 2010; Lin & Bratton, 2014;
na relação interpessoal psicoterápica. Na brincadeira O’Connor, Schaefer & Braverman, 2016), tal como
com a criança, a psicoterapeuta responde à desenvolvido por Rogers (1942/2005; 1951/1992).
brincadeira tanto pelas palavras, como pelas ações. Para este tópico, discutimos os trabalhos de Landreth
Isso possibilita à psicoterapeuta manter-se em (2001/2012) e VanFleet, Sywulak e Sniscak (2010).
não-diretividade e promover novas alternativas de
experiências na relação. A ressonância interativa A Ludoterapia Centrada na Criança de Garry
aprimora e modifica, segundo Behr (2003), a Landreth
atitudede empatia, relacionando-se também com Garry Landreth, um dos primeiros autores a
a autenticidade e com a aceitação. Estas atitudes influenciar contemporaneamente a Ludoterapia
representariam apenas parcialmente as intervenções na Abordagem Centrada na Pessoa (Wilson &
com a criança. Já a ressonância teria uma ótica mais Ryan, 2008), publicou em Play Therapy – The Art
compreensiva e de aprofundamento da relação com of Relationship uma proposição de ampliação da
a criança. Em reação ao que a criança faz, a terapeuta Ludoterapia Centrada na Criança, abordando a
demonstra presença e envolvimento pessoal na ênfase na qualidade da relação como promotor
relação (Berh & Cornelius-White, 2008). de mudança infantil (Lin & Bratton, 2014). Esse
No atendimento, a partir dos padrões de livro trata da relação entre terapeuta e criança,
interação apresentados pela criança, a terapeuta considerando que, ao invés de desenvolver técnicas
oferece ressonância, verbal e não verbal, à forma de no atendimento, a ludoterapeuta deve demonstrar
agir da criança (Döring, 2008). Para tal, a terapeuta profundo compromisso com a criança e sua
comunica verbalmente sua compreensão empática, capacidade de crescimento, maturidade, resiliência e
atenta aos afetos da criança para espelhá-los de autodireção. Os comportamentos apresentados pela
forma não literal, mas ativa no contato com a criança criança indicam a percepção dela sobre si mesma.
(Behr, 2003). Essa percepção provê a base para o funcionamento
Percebemos que o trabalho de Goetze da criança em suas experiências (Shottelkorb, Swan,
enfatiza a proposição de estágios para o processo & Ogawa, 2015).
terapêutico, assim como as diferentes ações e Para Landreth (2001/2012), uma teoria da
técnicas desenvolvidas na relação com a criança personalidade centrada na criança seria estruturada
em psicoterapia. O entendimento da Ludoterapia em três construtos: a Pessoa, representada por tudo
em uma perspectiva preventiva/curativa/pós- o que a criança é: pensamentos, comportamentos,
curativa chama a atenção para uma possível sentimentos e o seu ser físico; o Campo fenomenal,
ênfase na dimensão de adoecimento. Além disso, o compreendido como tudo o que a criança experiencia,
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o respeito aos seus limites; a aceitação da sua declarações devem expressar empatia e compreensão
vontade; a escuta do interior da criança; o foco do mundo da criança. Os questionamentos são
em suas necessidades; a liberdade da criança considerados diretivos e podem causar mudanças na
para determinar a direção a ser vivenciada; a natureza da brincadeira, por solicitarem da criança
oportunidade para que ela faça escolhas; a paciência uma explicação que não partiu dela (Ray, 2014).
com o processo (Landreth, 2001/2012; Shottelkorb, Além da revisão dos princípios de Axline,
Swan, & Ogawa, 2015; Glover & Landreth, 2016). VanFleet et al. (2010) propõem quatro habilidades
Com base nessa psicoterapia e no estabelecimento que demonstram à criança que ela é compreendida
de uma relação intersubjetiva com a criança, os em seus sentimentos, comportamentos e desejos.
objetivos esperados são: a facilitação dos esforços da As habilidades são: a estruturação; a escuta
criança para enfrentamento e resolução dos atuais empática; a brincadeira imaginária e os limites do
e futuros problemas que se apresentem; ajudar a setting terapêutico (VanFleet & Tophan, 2016). A
criança no aprendizado de uma liberdade expressiva estruturação auxilia a criança na compreensão de
responsável; a aceitação de seus sentimentos e o que a relação com a ludoterapeuta é diferenciada
controle responsável destes; a responsabilização das outras de sua vida, estabelecendo o clima
por si mesma; a busca de criatividade (Landreth, necessário para a Ludoterapia. A escuta empática
2001/2012; Glover & Landreth, 2016). é apresentada como uma mistura da consideração
A Ludoterapia proposta por Landreth (2016) positiva incondicional e da congruência, e comunica
traz como ênfase a qualidade da relação estabelecida a aceitação, a compreensão e a sintonia do terapeuta
como fundamento para o desenvolvimento do com a criança (Ray, 2014; Stulmaker, Lertora &
processo com a criança, pois “a ludoterapia Garza, 2015). As atitudes facilitadoras de empatia,
centrada na criança é uma relação pessoal na qual consideração positiva incondicional e congruência,
o ludoterapeuta se dedica o mais completamente apesar de se entrelaçarem na escuta terapêutica, não
possível na imediaticidade da relação” (p. VII). foram postuladas como uma mistura. Dessa forma,
Isso confere ao contato psicoterapêutico um a escuta empática apresentada por VanFleet et al.
aprimoramento do contato e da presença da (2010) não nos é claramente compreensível.
psicoterapeuta. A brincadeira imaginária, segundo VanFleet e
Tophan (2016), é um tipo de encenação que envolve
A Ludoterapia Centrada na Criança em VanFleet, o mundo da imaginação da criança. A terapeuta
Sywulak e Sniscak desempenha um papel imaginário, seguindo o
VanFleet et al. (2010) partem da percepção caminho dado pela criança. Ocorre via solicitação
da ausência de uma metodologia de atendimento da terapeuta, com a participação deste. Quanto aos
na teoria de Axline, pois a autora “não descreveu limites estabelecidos, estes seriam mínimos, como
metodologias em detalhes em seus escritos” (p. os de Axline, e objetivam preservar a atmosfera de
42). Partindo dessa ausência realizam uma leitura segurança.
crítica dessa teoria propondo uma sistematização Os trabalhos descritos no contexto
metodológica. Os princípios de Axline são estadunidense apresentam objetivos diferentes
revisitados pelos autores, com exceção do quinto e para a Ludoterapia Centrada na Criança. O trabalho
do oitavo que, em seguida, apresentam a adição de de Landreth (2001/2012) enfatiza em sua obra a
habilidades a serem manifestas pela ludoterapeuta. qualidade da relação estabelecida entre terapeuta e
Para que o estabelecimento do rapport, primeiro criança. Há uma ênfase na postura de compromisso
princípio, aconteça satisfatoriamente, o terapeuta e respeito com a criança e não na busca de
deve estar atento empaticamente, em sintonia com desenvolvimentos técnicos. O reconhecimento de
as necessidades da criança. A aceitação da criança, como a criança se percebe e de como se relaciona com
segundo princípio, deve ser comunicada através das o mundo são o mote para as dimensões terapêuticas
respostas empáticas. Isso mostra que o terapeuta que se desenvolvem na situação do encontro, no
está em sintonia com o que a criança apresenta (Le aqui e agora, com a criança.
Vay, 2016). VanFleet et al. (2010) propõem uma metodologia
No terceiro princípio, a permissividade da de atendimento infantil, a partir da releitura de
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terapeuta deve ser expressa a partir do interesse alguns princípios da obra de Axline. Verificamos
genuíno, pela atitude não julgadora e empática. que o foco do trabalho dos autores é a busca de
O quarto princípio passa a ser descrito por uma sistematização e o desenvolvimento de uma
VanFleet et al. (2010) pela noção de empatia ou metodologia de atendimento na Ludoterapia. Para
reflexo de sentimentos. Estas noções são descritas tal, estabelecem uma compreensão particular das
indistintamente, apresentando características da atitudes da psicoterapeuta na relação com a criança.
compreensão empática e da resposta reflexa (Brito & Ainda que para Rogers (1957/1994) exista uma
Freire, 2014), apesar de estas não serem sinônimas. interdependência entre as atitudes, cada uma delas
Para que a criança mostre o caminho, sexto apresenta conceituações que as diferenciam. Não
princípio, as perguntas devem ser evitadas. As verificamos uma diferenciação clara das atitudes
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Da Ludoterapia Não-Diretiva à Ludoterapia Centrada na Criança –Desenvolvimento Histórico
apresentadas nem de como estas, no formato como se a família e com a criança. Contudo, a autora não
apresentam no texto dos autores, contribuiriam para aprofunda na temática e nem na articulação com a
a qualidade da relação com a criança. O componente psicoterapia.
relacional na psicoterapia é citado pelos autores, Campos e Cury (2009), em pesquisa sobre
mas não enfatizado. atenção psicológica em uma creche, e Giaxa,
Tavares, Oliveira, Eying e Burda (2019), em estudo
Ludoterapia Centrada na Criança – contexto sobre a dimensão terapêutica dos jogos no processo
brasileiro de hospitalização de crianças apresentam, em
No Brasil, os trabalhos se apresentam em perspectivas diferentes, como o trabalho clássico de
menor quantidade, quando comparamos com outros Axline tem relevância na discussão e compreensão
contextos (Brito & Freire, 2014; Silva & Barroso, do trabalho com crianças em contextos que
2017). O desenvolvimento da Abordagem Centrada extrapolam a prática da Ludoterapia como prática
na Pessoa no Brasil tem ocorrido em articulação psicológica clínica.
com vertentes fenomenológicas e existenciais Brito e Freire (2014) propõem uma releitura
(Moreira, 2010; Vieira & Pinheiro, 2013; Branco, da Ludoterapia Centrada na Criança, a partir da
Matos, Sampaio & Amaral, 2017). Os trabalhos fenomenologia filosófica de Emmanuel Lévinas,
que discutem a Ludoterapia Centrada na Criança discussão já realizada anteriormente entre essa
desenvolvida no Brasil, seguindo a mesma direção, fenomenologia e a Abordagem Centrada na Pessoa
tem se articulado com a fenomenologia (Campos (Vieira & Freire, 2006; Vieira & Pinheiro; 2013). As
& Cury, 2009; Brito & Freire, 2014), assim como atitudes e habilidades do terapeuta são revistas
enfatizam a qualidade da relação estabelecida para que haja espaço para a responsabilidade
entre psicoterapeuta e criança. Na discussão (habilidade de resposta) ao chamado da Outro e
acerca do desenvolvimento da Ludoterapia em para a experiência traumática e desalojadora na
contexto brasileiro, esse artigo seguirá a direção Ludoterapia. Estes elementos são promotores de uma
da apresentação de estudos que propõem revisões relação facilitadora e promotora de crescimento.
mais breves do trabalho de Axline, sem maiores Compreender um possível espaço para a
compromissos de aprofundamentos conceituais alteridade na Ludoterapia Centrada na Criança
ou metodológicos; estudos que, inspirados pelo exige da psicoterapeuta o reconhecimento de suas
trabalho de Axline, apontam a relevância de seus ideias de infância e o posterior afastamento dessas
princípios em contextos diversos; e estudos que, em compreensões. Assim, é possível perceber o quanto
diálogo com a perspectiva fenomenológica, propõem há de abertura à alteridade ou do quanto encaixa-se
uma releitura da Ludoterapia Centrada na Criança. a criança em critérios familiares. O reconhecimento
Reconhecemos também a existência do e afastamento das preconcepções promove abertura
desenvolvimento de trabalhos que discutem e disponibilidade à imprevisibilidade e à diferença,
intervenções com crianças a partir da perspectiva de possibilitando a afetação da psicoterapeuta e da
Axline, articuladas com o proposto por Rogers em criança na relação (Brito, 2012; Brito & Freire, 2014).
momentos posteriores de sua teoria. Branco (2001) Essa abertura exige da ludoterapeuta a saída de
desenvolve um estudo de caso sobre a inserção uma comunicação que “encaixe” a fala da criança
da literatura como possibilidade interventiva na nos parâmetros do adulto para um movimento
Ludoterapia Centrada na Criança. Nesse trabalho, contrário, no qual a terapeuta aproxima-se da
discutiu a prática da Ludoterapia articulando as criança como ela se apresenta, o que nos direciona
condições necessárias de Rogers, os princípios da para uma outra compreensão acerca da infância e
ludoterapia de Axline e as atitudes de Landreth – de sua condição de estrangeira (Frota, 2018). O
estas últimas discutidas no subtópico anterior. Essas estabelecimento de comunicação se dá a partir de
perspectivas foram apresentadas conjuntamente e a vias de “estranhamento”, que exigem da psicóloga
discussão acerca dos diferentes períodos nos quais reconfigurações, ‘traumatismos’. O encontro com a
essas propostas se apresentavam foi pouco explorada criança é a lida com a alteridade em sua absoluta
no estudo. radicalidade (Brito & Freire, 2014).
Garcia (2002) apresenta diretrizes de um Na ocorrência desse encontro na ludoterapia,
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Ludoterapia Centrada na Criança e organiza seu como descrito por Brito (2012) é necessário colocar-
estudo como uma revisão descritiva da obra se em diaconia (serviço), pela disponibilidade
Ludoterapia – a dinâmica interior da infância de organísmica do terapeuta. Essa atitude diz respeito à
Axline, apresentando seus princípios e outros qualidade de escuta, à resposta verbal, mas também
elementos discutidos pela autora clássica para o à disponibilidade física. Nosso organismo torna-se
desenvolvimento de uma Ludoterapia na Abordagem um instrumento terapêutico (Andrade & Cavalcante
Centrada na Pessoa. Ressaltamos uma ampliação de Jr., 2008; Brito & Freire, 2014) que passa a fazer parte
seu trabalho em relação ao proposto por Axline: da brincadeira, para responder à criança em suas
a construção de uma breve discussão acerca dos experiências lúdicas.
elementos metodológicos das primeiras sessões com Para compreender essa forma de contato
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Rosa Angela Cortez de Brito, José Célio Freire, Lucas Guimarães Bloc & Virginia de Saboia Moreira Cavalcanti
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