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O Transtorno do Espectro Autista (TEA) vem sendo tema de debate em diversos espaços, e a
partir dos pressupostos e proposições da Reforma Psiquiátrica, tomando como de seus lócus de
intervenção o Centro de Atenção Psicossocial infantojuvenil (CAPSi). Deste modo, o presente
artigo tem como objetivo refletir sobre a importância da atuação do psicólogo junto a crianças
autistas atendidas no CAPSi. Para tal, foi empregada a metodologia de revisão bibliográfica do
tipo narrativa, onde foram realizados levantamentos em algumas bases de dados, tendo sido
encontrado um total de 19 artigos, que foram devidamente aproveitados na construção desta
pesquisa. Diante disso, observou-se que o psicólogo, como um dos profissionais integrantes das
equipes que compõem os CAPSi, pode atuar diante de pacientes com TEA, tomando como
ponto de partida o contexto da população atendida, fazendo a articulação com a rede de serviços
e também proporcionando suporte familiar.
ABSTRACT
Autistic Spectrum Disorder (TEA) has been the subject of debate in several spaces, and based
on the presuppositions and propositions of the Psychiatric Reform, taking as its intervention
locus the Center for Psychosocial Child and Adolescent Care (CAPSi). Thus, the present article
aims to reflect on the importance of the psychologist's performance with autistic children
attended at CAPSi. For this purpose, the methodology of bibliographic revision of the narrative
type was used, where surveys were carried out in some databases, and a total of 19 articles were
found, which were properly used in the construction of this research. Therefore, it was observed
that the psychologist, as one of the professional members of the teams that make up the CAPSi,
can act in front of patients with ASD, taking as a starting point the context of the population
served, articulating with the service network and family support.
1
Graduanda em Psicologia pelo Centro Universitário Tiradentes – UNIT/AL. E-mail: rhayycandido@hotmail.com
2Professora do curso de Psicologia do Centro Universitário Tiradentes- UNIT/AL. Mestre em Psicologia pela Universidade
Federal de Alagoas. E-mail:
A Reforma Psiquiátrica no Brasil apresentou diversas mudanças favorecidas aos seus
usuários e até mesmo os profissionais de saúde (BEZERRA JUNIOR, 2007). Segundo o
Ministério da Saúde, essa reforma levou a uma transformação nas práticas, saberes, valores
sociais e culturais de todos os sujeitos envolvidos (SALLES, 2011).
E resposta a essas mudanças, surgem então os Serviços Residenciais Terapêuticos
(SRTs), as Unidades Psiquiátricas em Hospitais Gerais (UPHG) e o Centro de Atenção
Psicossocial (CAPES) por meio da Política Nacional de Saúde Mental, apoiada pela Lei Nº
10.216/01 (BRASIL, 2011). Além disso, atualmente o Brasil tem diversos CAPS distribuído
em vários estados brasileiros classificado em: CAPS I, CAPS II, CAPS III. Esta classificação é
aplicada diante da complexidade e abrangência populacional, incluindo ainda os CAPSad
(designados para usuários de álcool e outras drogas) e o CAPSi, que é direcionado ao público
infantil (LEAL; ANTONIO, 2013).
Então, o CAPSi oferece atividades direcionadas às crianças com vários problemas,
incluindo aquelas diagnosticadas com o Transtorno do Espectro Autista (TEA). O TEA é um
transtorno do neurodesenvolvimento que acarreta uma grande impacto não só na vida das
crianças que possuem o TEA, como também na vida daqueles que as rodeiam, principalmente
os seus familiares, acarretando nestes últimos uma forte sobrecarga. Mediante a magnitude
desse transtorno, tornou-se necessária a criação de políticas públicas que ofertassem assistência
a esse público. O resultado disso foi que o Sistema Único de Saúde (SUS) passou a desenvolver
algumas estratégias de cuidado para os indivíduos autistas e para os seus familiares (LIMA et
al., 2017).
Até o início do Século XXI, os sujeitos com autismo (sejam criança, adolescentes ou
adultos) eram atendidos por instituições filantrópicas, em serviços onde eram apresentados
espaços que não conseguiam dar conta da complexidade do TEA. Isso porque esses serviços só
disponibilizavam alguns poucos serviços ambulatoriais e hospitalares, voltados unicamente
para a saúde mental (COUTO, 2004; BRASIL, 2015). Entretanto, a partir do ano de 2001,
quando houve a III Conferência Nacional de Saúde Mental, foi constituído um projeto do SUS
que abrangia o autismo, por meio da Portaria nº 336 (COUTO; DELGADO, 2015; LIMA et al.,
2017).
O TEA é capaz de interferir nas relações sociais dos indivíduos, incapacitando o
processo de empatia, impossibilitando-os de identificar crenças, pensamento e emoções de
outras pessoas (BARON-COHEN et al., 1985, BARON-COHEN et al., 2001). Além disso, os
autistas apresentam dificuldade em interpretar pistas não verbais, como por exemplo a
linguagem corporal (ATTWOOD, 2000).
O tratamento é apresentado de forma complexa, no entanto ele é em sua maioria por
meio de medicamentos que auxiliam na redução dos sintomas como: agitação, agressividade e
irritabilidade (ASSUMPÇÃO JÚNIOR; PIMENTEL, 2000). Além disso, o tratamento
medicamentoso concomitante ao tratamento interdisciplinar apresentam bons resultados
segundo Owen (2007). O mesmo autor também ressalta a importância da atuação ativa dos pais
nesse processo. Já Bosa (2006) descreve que um tratamento eficaz é necessário a atuação de
profissionais habilitados e capacitados para trabalhar em conjunto com os familiares. Esses
profissionais são: Enfermeiro, Médico, Assistente Social, Psicólogos e outros que compões os
CAPS e esses, por sua vez, são importantes no tratamento de todos os transtornos,
principalmente quando se trata de transtornos globais do desenvolvimento infantil.
A saber, o Psicólogo tem uma papel fundamental no tratamento do TEA (SOUZA et al.,
2004). Autores como SOUZA et. al. (2004) descrevem que:
O psicólogo, com sua formação específica e bem definida, deve estar inserido
nesse contexto, sendo também um conhecedor do desenvolvimento humano
normal para ter condições de detectar as áreas defasadas e comprometidas. Ele
precisa estar muito sensível às observações e relatos da família. (SOUZA et
al., 2004, p. 26)
No âmbito da saúde, no que diz respeito as políticas de atenção ao paciente autista foram
lançados pelo Ministério da Saúde (MS) dois documentos que tinham por objetivo fornecer
orientações para o tratamento das pessoas com transtorno do espectro autista, no SUS. Um deles
foi o documento intitulado: "Diretrizes de Atenção à Reabilitação da Pessoa com Transtorno
do Espectro Autista (TEA)" (BRASIL, 2014), cuja abordagem remete o autismo ao campo das
deficiências, direcionando a terapêutica pela via da reabilitação. O outro, a "Linha de Cuidado
para a Atenção às Pessoas com Transtornos do Espectro do Autismo e suas Famílias na Rede
de Atenção Psicossocial do Sistema Único de Saúde" (BRASIL, 2015), concebe o TEA como
um transtorno mental, atrelando as ações de cuidado à rede de atenção psicossocial, com
destaque para os CAPSi.
Neste ponto do levantamento, é dada ênfase, especificamente no que diz respeito aos
aspectos descritivos referentes à Rede de Atenção à Saúde Mental, que toma como diretrizes
para o cuidado, a integralidade, a garantia de direitos de cidadania, e os dispositivos para o
cuidado (BRASIL, 2015).
De acordo com o Ministério da Saúde (BRASIL, 2015), todos os equipamentos a rede
de atenção à saúde devem estar articulados, de modo que a rede de atenção psicossocial
encontra em sua composição: Atenção Básica à Saúde, Atenção Psicossocial estratégica,
atenção de urgência e emergência, atenção residencial de caráter transitório, atenção hospitalar,
estratégias de desinstitucionalização, estratégias de reabilitação psicossocial
A rede de atenção psicossocial é preconizada pela Política de Saúde Mental infanto-
juvenil, e esta traduz-se em uma rede de cuidados que concentra seus objetivos em atender as
necessidades de cuidados das crianças e adolescentes com transtornos mentais. Para isso, três
ações foram realizadas: a implantação de Centros de Atenção Psicossocial infanto-juvenil
(CAPSi); a articulação em rede dos serviços e dispositivos da rede de saúde, principalmente o
apoio à APS; e, a construção de estratégias para articulação intersetorial da Saúde Mental com
outros setores envolvidos, tais como a Educação, Justiça, Assistência Social etc. Destaca-se que
os CAPSi se transformaram em uma das principais referências para crianças que estão no TEA
(CARDELLINI et al., 2013; COUTO; DELGADO, 2005).
De acordo com a Cartilha “Linha de cuidado para a atenção às pessoas com transtornos
do espectro do autismo e suas famílias na rede de atenção psicossocial do Sistema Único De
Saúde”, publicada pelo Ministério da Saúde em 2015, configuram-se como equipamentos
centrais da rede de atenção psicossocial para crianças autistas os Núcleos de Apoio à Saúde da
Família (NASFs) e os Centros de Atenção Psicossocial Infantojuvenil (CAPSi), de modo que
na inexistência dos CAPSi em um dado município, deverá ser garantida a atenção a essa
população em outra modalidade existente de CAPS, respeitando-se os princípios e as diretrizes
do Estatuto da Criança e do Adolescente (BRASIL, 2015).
Garcia et al (2017), descrevem o CAPSi, conforme disposto na Portaria 3.088/2011,
como um serviço multidisciplinar que objetiva oferecer atenção diária e intensiva a jovens com
graves transtornos mentais. Embora o CAPSi não seja uma instituição exclusiva ao autismo,
pode-se dizer que este foi o primeiro passo na inclusão do Transtorno do Espectro Autista ao
campo da saúde mental no Brasil. Tendo o CAPSi como foco a popuação infantojuvenil em
sofrimento psiquiátrico intenso (DOMBI-BARBOSA et al, 2009), caracteriza-se pela base
territorial e forte articulação intersetorial, que oferecem atenção diária e intensiva
prioritariamente a crianças e adolescentes portadores de transtornos mentais graves (LIMA et
al., 2014).
Dentre essas psicopatologias, o autismo se destaca pelo seu início precoce e
por estar associado a intenso prejuízo no estabelecimento de laços sociais,
além da carga acarretada aos familiares ou outros responsáveis pelos
cuidados cotidianos dessa população. Desta forma, os CAPSi podem ser
considerados a primeira iniciativa a incluir o autismo, de modo destacado,
embora não especializado, no campo da saúde mental pública do Brasil.
(HOFFMAN, 2008, p. 716)
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A partir do presente estudo é possível apontar que ainda há um baixo quantitativo de
pesquisas e publicações voltadas para o cenário de práticas do psicólogo no CAPsi na atenção
à criança autista. Além disso, percebe-se a partir da literatura que há a necessidade da inserção
do psicólogo nas equipes dos Centros de Atenção Psicossocial, o que infelizmente ainda não
vem acontecendo de forma efetiva. Consequentemente, é de extrema importância que a
Psicologia se faça presente em casos de TEA, tendo em vista que a mesma dispõe de métodos
e instrumentos comprovadamente eficazes que podem proporcionar um tratamento efetivo
deste transtorno. Além disso, também é preciso que as políticas públicas incluam o sujeito
autista de forma a lhe proporcionar: qualidade de vida, educação, cultura, etc., no intuito de lhe
proporcionem adentrar em uma realidade que seja completamente possível a ele.
Portanto, a partir dos pressupostos problematizados nesta pesquisa, é possível pensar
numa prática que vá ao encontro dos contextos dos sujeitos envolvidos, das suas famílias, seus
contextos de vida, visando um desenvolvimento adequado para a sua faixa etária, e ainda, sua
inserção nos diversos espaços de circulação social, de modo a minimizar o impacto decorrente
do quadro clinico, e possibilitar recursos para os familiares no desenvolvimento do caso,
visando assim, uma prática mais emancipadora.
REFERÊNCIAS
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of Mental Disorders, 5th Edn. Washington, DC: American Psychiatric Association. 2013.
ATTWOOD, T. Strategies for improving the social integration of children with Asperger
syndrome. Autism, v. 4, n. 1, p. 85-100, 2000.
BARON-COHEN, S.; LESLIE, A. M.; FRITH, U. Does the autistic child have a “theory of
mind”?. Cognition, v. 21, n. 1, p. 37-46, 1985.
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