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Artigo - PROVENIÊNCIA DOCUMENTAL NA MÚSICA
Artigo - PROVENIÊNCIA DOCUMENTAL NA MÚSICA
Resumo: O presente artigo apresenta uma diversidade de tipos de proveniência documental, com a
aplicação destes conceitos na área de acervos musicais. O trabalho partiu da observação realizada na
classificação e catalogação do Acervo João Mohana, custodiado pelo Arquivo Público do Estado do
Maranhão desde 1987. Nessa observação, uma série desses mesmos tipos de proveniência foram
detectados.
Palavras-chave: Proveniência documental. Acervos musicais. Acervo João Mohana.
Introdução
Entre os anos de 2017 e 2019 coordenei um projeto (ÁVILA, 2017) no qual foram
feitas cerca de vinte e quatro mil (24.000) digitalizações com posterior catalogação dos
documentos do Acervo João Mohana1. Para tal, foram realizadas quatro revisões de todo
acervo, onde as questões de proveniência dispensaram especial atenção, dado o seu estado de
organização em que o mesmo se encontrava. Inicialmente, poderia parecer fácil endereçar um
documento ao seu compositor, como o Inventário (MARANHÃO, 1997) dá a entender, porém,
durante as revisões pude ter uma visão mais panorâmica de todo acervo, o que implicou na
percepção de uma diversidade de casos em que as proveniências dos documentos foram
detectadas. Abaixo, a título de exemplo, um quadro resumo com alguns tipos de proveniência
detectadas no acervo:
Proveniência territorial
Variação da competência de organismos
Proveniências múltiplas e sucessivas
Proveniência múltipla
1. Proveniência territorial
1
Acervo advindo de uma coleção efetuada entre 1950 e 1987 por João Mohana com a temática musical
maranhense, vendido ao Governo do Estado do Maranhão em 1987.
detecção da proveniência documental. O pesquisador colaborou de forma efetiva na resolução
de problemas arquivísticos que se arrastavam por um largo tempo, com as inúmeras divisões
territoriais ocorridas desde sempre, mas que se multiplicaram no período pós-Segunda Guerra.
Segundo o seu entendimento, quando um território em conflito se divide e a documentação se
dispersa, ainda é possível manter a proveniência funcional de uma forma intelectual e não física.
Isso seria possível através da criação de um fórum especial de descrição, onde os vínculos de
proveniência sejam mantidos, via instrumentos de pesquisa. Dessa forma, mesmo com a
dispersão física e a ordem original desfeita, os conjuntos documentais ainda mantém suas
relações com as entidades produtoras, pois mantém suas relações intelectuais com os produtores
e locais de produção.
Belém, sim, é terra boa (reg. 1519/95); Heloisa Fernandes (reg. 1147)
O envelope 391 do Acervo João Mohana possui uma demonstração dessa mudança na
custódia de documentos musicais. Como é possível perceber, Pedro Gromwell não só absorveu
parte do arquivo musical de Antônio Rayol, como também reaproveitou seus papeis. A música
de Ignacio Cunha (1871+1955) Na Coroação de Maria (reg. 0742/95), tem como copista o
músico Pedro Gromwell. A antiga parte para trombone tem em seu verso uma Ave Maria,
escrita com a grafia de Antônio Rayol. Ela foi inutilizada através de riscos inseridos por Pedro
e rasgada ao meio e reaproveitada para as partes de Saxofone Alto e Clarinete.
Esse fenômeno sempre existiu, mas está se tornando cada vez mais prevalente e
aparente com os documentos eletrônicos, quando sistemas compartilhados
freqüentemente criam um único conjunto de documentos para múltiplas entidades
distintas (CUNNINGHAM, 2007, p. 79).
Um caso do Acervo João Mohana que espelha muito bem essa questão foi a produção
do documento musical utilizado por Olga Mohana em 1982 para a gravação do LP Música
Erudita Maranhense (MOHANA, 1982). Olga teria pedido emprestado uma seleção de fontes
musicais da coleção do seu irmão, João Mohana, durante o período em que a mesma foi diretora
da Escola de Música do Estado do Maranhão, entre 1979 e 1982. As fontes foram entregues a
Joseleno Moura, para que o então aluno da escola fizesse a transposição à tessitura vocal de
Olga (mezzo soprano), deixando a cópia das letras das músicas a cargo de Olga. Findada a
gravação do LP, Olga teria presenteado a Diretoria de Assuntos Culturais (DAC) da
Universidade Federal do Maranhão (UFMA) com uma encadernação contento os originais
desse documento. Foi um desafio compreender como a fotocópia de parte desse documento
chegou ao Acervo João Mohana.
Em 1993, quando o Acervo passava pela fase final de catalogação para a produção do
seu Inventário (MARANHÃO, 1997), Joseleno teria consultado o acervo para fotocopiar as
mesmas fontes que utilizou em 1982 para a produção do documento utilizado por Olga. Ele não
encontrou alguns daquelas músicas e se dirigiu ao DAC para fotocopiar as mesmas. Dessa
forma, Joseleno entregou essas cópias no Arquivo Público e, por acidente, elas teriam sido
erroneamente agregadas ao Acervo João Mohana. Nas minhas revisões do acervo eu não
detectei tal engano, pois as fotocópias possuem o carimbo com que João Mohana identificou
dota sua coleção. Foi somente com a ajuda do musicólogo Joaquim dos Santos Neto, quem me
comunicou o fato, que pude entrevistar o professor Joseleno para esclarecer o ocorrido. Ocorre
que, em algum momento, o colecionador João Mohana inseriu seu carimbo, o que dá a entender
que. Pelo fato do mesmo ter emprestado suas fontes para a produção do mesmo, ele também
teria direito em reivindicar a proveniência dessas cópias.
Eis aqui a demonstração de um caso claro de proveniências múltiplas e sucessivas. Em
primeiro lugar, há que se investigar de onde João Mohana comprou tais fontes, pois elas
indicariam aspectos de proveniência anteriores: autores, copistas, declarações de propriedade,
marcas de uso, etc. Uma segunda camada de proveniência certamente recai sobre João Mohana,
quem adquiriu esses documentos para a sua coleção. Possivelmente, pelo fato de Olga Mohana
ter residido com o irmão por cerca de quarenta anos na mesma residência; pelo fato de que os
mesmos não tiveram filhos; pelo fato de que Olga tenha sido a única pessoa autorizada a
emprestar essas fontes e ter sido o único membro da família a ter realizado um trabalho
estritamente musical com essas fontes, acredito que ela possa ser considerada uma terceira
camada na proveniência senão da coleção inteira de João Mohana, pelo menos dos documentos
produzidos para o seu LP. Além do mais, a letra dessas fontes foi copiada pelas suas mãos.
Como uma terceira camada de proveniência, o músico/copista Joseleno Moura também pode
reivindicar essas fontes num fundo intelectual não físico. Nós ainda teríamos a Diretoria de
Assuntos Culturais da UFMA como uma camada da proveniência, antes da entrada dessas
fotocópias no Acervo João Mohana. Abaixo, Por amor de uns olhos (reg. 329/95) de Antônio
Rayol.
4. Proveniência múltipla
Na imagem abaixo, é possível observar que Pedro Gromwell enxertou o pedaço de folha
faltante e a complementou com o texto musical guardado de memória.
http://apem.cultura.ma.gov.br/acervo/items/show/397
Conclusões
FLAHERTY, Robert J. Moana. Filme. Paramount Pictures, Estados Unidos da América, 1926.
MARANHÃO. Acervo João Mohana: partituras. Arquivo Público do Estado do Maranhão. São
Luís: Edições SECMA, 1997.
RAPOSO, Luiz Alexandre. Onofre Fernandes. Academia Vianense de Letras. Disponível em:
http://avlma.com.br/site/onofre-fernandes.