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A Transmissão Musical em Documentos de Arquivos Mineiros
A Transmissão Musical em Documentos de Arquivos Mineiros
INTRODUÇÃO
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Graduando, atsf.tenorio@yahoo.com.br
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Doutor, Universidade Federal de São João Del Rei, modestoflavio@hotmail.com.
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Arquivos musicais de Viçosa e região, assim como de São João del-Rei e Campo das Vertentes.
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Analisando as informações sobre documentos que transmitem música para este ofício,
são conhecidas, em Minas Gerais, as composições de José Joaquim Emerico Lobo de
Mesquita (século XVIII), José Maria Xavier (século XIX) e José Rodriguez Dominguez de
Meirelez (XIX).
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tais como mínimas, breves e longas, além de uso de terminologias tais como tiple, altus e
baixa, ao se referir às vozes de soprano, contralto e baixo86, torna esta obra conveniente
enquanto objeto de demonstração pedagógica da metodologia proposta para obtenção dos
resultados aqui propostos.
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Trata-se de obra musical possivelmente proveniente da Europa e composta em fins da Renascença ou início do
Barroco.
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daquilo que está fixado nas fontes que transmitem a obra a ser editada. Sendo essencialmente musicológica,
baseia-
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Considerando o princípio do respeito aos fundos, cada documento receberá um código de identificação
possibilitando, desta forma, ter a informação de sua procedência.
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Orquestras Lira Sanjoanense e Ribeiro Bastos em São João del-Rei, Lira Ceciliana em Prados e Ramalho em
Tiradentes, além de outras na região do Campo das Vertentes.
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Na distribuição dos ramos é factível ao coro cantar uma ou duas antífonas sem salmos,
com repetição conforme a duração da função. Uma oração pronunciada pelo Sacerdote
encerra a cerimônia (Idem, p. 428). Em seguida tem-se o início da procissão, com saída e
retorno à mesma igreja após realizadas suas celebrações. Ao retornar canta-se o Hino a Cristo
Rei (Gloria Laus) e o Responsório Ingrediente Domino, encerrando a função (Idem, p. 430).
Diferente das missas no período da Quaresma, na de Domingo de Ramos não se canta o
Gloria in Excelsis, devido a seu caráter não conveniente à cerimônia. Outro aspecto pontual
na Missa de Domingo de Ramos é o ato de se cantar a Paixão de São Mateus após o Tracto
(Idem, p. 435).
MÚSICA E DIPLOMÁTICA
documentos eclesiásticos.
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FONTES DOCUMENTAIS
No total foram analisadas vinte e duas fontes, sendo que a mais antiga delas é estimada
como do século XVIII e a mais recente do XX, segundo Castagna (2000, p. 425). Os
manuscritos que transmitem o Officio de Domingo de Ramos utilizados nesta pesquisa são
copias de diversos autores. Dentre as fontes analisadas 16 pertencem à Orquestra Lira
Sanjoanense (OLS), da cidade de São João del Rei, e 6 aos arquivos da cidade de Viçosa,
Minas Gerais. Os manuscritos sob custodia da OLS foram produzidos em localidades tais
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como Piranga, São José do Barroso, Guaraciaba, Guiricema, Jeceaba e Santa Barbara, todos
das do referido Estado.
O elemento gráfico cabeça de nota possui 6 sub-elementos que após a análise gerou o
resultado de 81% das fontes mantendo a cabeça da nota escrita na forma oval. No elemento
1.2 apenas 4,5% das fontes possuíam a cabeça da nota inclinada. No sub-elemento 1.3, apenas
9% das fontes apresentam a cabeça da nota escrita de forma inclinada. Nos elementos 1.4 e
1.6, foi observado que 80% das fontes mantém a mesma forma de grafia, breve oval e cabeça
da nota escrita com clareza. E por fim no elemento 1.5, em somente uma fonte foi constatada
a grafia da cabeça da nota em forma de losango.
A haste da nota possui cinco subelementos e percebeu-se que mais da metade das
fontes, 68% mantém um padrão ao ter a haste da nota grafada no sentido vertical, 46,67% das
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fontes apresenta a grafia correta em relação ao lado em que se escreve a haste, 95% das
fontes, escrevendo a haste para dentro do pentagrama e 100% das fontes mantém a grafia
correta da haste na terceira linha, acompanhando preferencialmente as hastes das notas
vizinhas. A bandeirola possui cinco subelementos que analisados apresentaram alto índice de
variações na sua forma de escrita a bandeirola, variações. 36% das fontes apresenta a
bandeirola grafada para direta, 80,00% estão escritas na forma ondulada, e 45,3% mantém a
forma correta de grafia.
Quanto aos Sinais de Alteração em 95% das fontes, o sinal de alteração é escrito à
esquerda da nota. Em 100% das fontes o sustenido, o bemol e o bequadro estão no formato
único. Em relação à clareza do sinal de alteração escrito no pentagrama somente 36%
apresentam uma escrita clara.
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no pentagrama. Em 86% das fontes a fórmula de compasso é escrita uma única vez no início
da música, e em 77% há uma barra dupla antes da nova fórmula de compasso. Por fim em
27,2% das fontes, se há mudança de compasso no fim do pentagrama a forma era escrita ali e
no início do pentagrama seguinte.
Em relação à distribuição das notas e pausas no compasso foi observado que em 32%
das fontes o espaço a direita da nota e proporcional a duração da mesma, no entanto, em
100% a semibreve é escrita no centro ou a esquerda do compasso. Em nenhuma fonte há a
ligação dos tempos quando se une as bandeirolas. Quando no compasso quaternário o
segundo tempo se prolonga até o terceiro, usa-se ligadura e não ponto de aumento em 72,7%
das fontes. A pausa soma tempos em 100% dos casos e em nenhuma ocorreu o mesmo entre o
segundo e terceiro tempos.
A análise da grafia da Música Vocal permitiu constatar que em 68% das fontes vozes
femininas e infantis (tiple) se escreve em clave do sol. Vale ressaltar que algumas fontes não
tinham partituras vocais. Em 32% das fontes as vozes masculinas estão escritas em clave de
Fá. Quanto às bandeirolas em 36% das fontes elas foram ligadas, saindo assim da forma
padrão de se escrever partituras vocais. Em 41% as bandeirolas foram unidas com cuidado em
escrever as sílabas sob as notas correspondentes, assim como o texto é escrito sob o
pentagrama em 86,3% das fontes. Verificou-se igualmente que nas polissílabas as silabas são
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separadas por pequenos traços e quando uma silaba se prolonga por várias notas, estas são
unidas por uma linha curva que as une em 4,5 % das fontes.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Com o resultado dos dados coletados através das análises das fontes, foi possível
constatar que alguns itens da escrita musical grafados nos manuscritos se conservaram mais
que outros. A cabeça da nota oval, direção da haste para dentro, sustenido, bequadro e bemol
em formato único, sinal de alteração escrito à esquerda da nota, armadura escrita à direita da
clave, a dimensão gráfica dos compassos, igual ou proporcional ao número de notas de cada
um, a semibreve escrita no centro ou à esquerda do compasso, mudança de andamento
precedida de barra dupla de compasso são alguns dos elementos que mais se conservaram na
grafia musical entre todas as fontes analisadas.
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novas cópias da obra elencada para esta pesquisa foram produzidas em diferentes localidades,
por diversos copistas permitindo sua permanência por um período tão longo, se tornando,
portanto, relevante exemplar musical na história da música de Minas Gerais e do Brasil.
REFERÊNCIAS
CASTAGNA, Paulo. O estilo antigo na prática musical religiosa paulista e mineira dos
séculos XVIII e XIX. v.3.Tese de Doutorado. Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências
Humanas. São Paulo:Universidade de São Paulo, 2000.
DUPRAT, Régis; BIASON, Mary Ângela (Org.). Acervo de manuscritos musicais: Coleção
Francisco Curt Lange. v. 3: Compositores anônimos. Belo Horizonte: Universidade Federal
de Minas Gerais; Ouro Preto: Museu da Inconfidência, 2002.
FIGUEIREDO, Carlos Alberto. Música sacra e religiosa brasileira dos séculos XVIII e XIX:
teorias e práticas editoriais. Rio de Janeiro: edição do autor, 2014.
LACERDA, Osvaldo. Regras da Grafia Musical. São Paulo: Editora Irmãos Vitale, 1974.
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