Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Campus Gama
Especialização em Ensino de Ciências e Matemática para o Ensino Fundamental
Brasília
2022
MARIA EDUARDA ROCHA BRAGA
SOFIA MARCELINO MARTINS SILVA
THAYNÁ STHÉFANY ROCHA ALMEIDA
Brasília
2023
[INSIRA AQUI A FICHA CATALOGRÁFICA]
MARIA EDUARDA ROCHA BRAGA
SOFIA MARCELINO MARTINS SILVA
THAYNÁ STHÉFANY ROCHA ALMEIDA
BANCA EXAMINADORA
Eu, Maria Eduarda Rocha Braga, agradeço ao único que é digno de ser louvado por
toda eternidade pois "Ninguém pode receber coisa alguma, se não lhe for dada do céu". Que
todo conhecimento que eu possa obter seja utilizado para ajudar o próximo em serviço ao Teu
santo nome, e que todas minhas ações testemunhem a Ti.
Agradeço à minha família como um todo por todo auxílio nas diversas esferas que
sequer consigo elencar. Expresso minha gratidão especialmente à minha mãe Raimunda, que
um dia eu consiga devolver toda força que você me empresta diariamente a 25 anos.
Agradeço a todos os professores e servidores do IFB, foi uma grata surpresa ser aluna
de uma instituição tão humana e de tamanha excelência.
A empreitada de realizar esse curso no meio de uma rotina caótica de aulas e diversas
responsabilidades foi desafiadora e não consigo citar o nome de todos que me emprestaram
seu colo e ombro para que eu pudesse descansar, sendo assim agradeço a todos ligados a essa
conquista por mais indiretamente que seja.
Por fim, agradeço a professora Daniela pela cuidadosa orientação e pelas minhas
companheiras de escrita Thayná e Sofia, nem em um milhão de vidas conseguiria escolher
parceiras mais competentes e capazes de acalmar o mar como fizeram tantas vezes. Amo
vocês.
Eu, Thayná Sthéfany Rocha Almeida, agradeço a Deus por sua infinita bondade e
misericórdia que em meio a tantas provações se mostra presente em minha vida, a Nossa
Senhora por seu amparo e sua incessante intercessão.
Agradeço a minha família que acredita no meu potencial e me incentiva a buscar
sempre o melhor, obrigada por serem meu alicerce e minha fortaleza. Um agradecimento
especial a minha mãe que dividiu comigo todas as voltas pra casa as 22 horas da noite,
obrigada por todo auxílio.
Agradeço a todos os professores, servidores e colegas do IFB, com certeza foi uma
experiência enriquecedora todas as trocas que tive durante o curso.
Agradeço ao meu namorado, Eduardo, e minhas amigas, Eleoenaia, Jhennifer, Rafaela
e Natália, que tiveram que ouvir todas as minha preocupações e angústias durante este
processo que não foi fácil, obrigada por serem um porto seguro.
Por fim, agradeço a nossa orientadora Daniela, por nos dar luz quando estávamos
perdidas, e as minhas parceiras Madu e Sofia que foram fortaleza e calmaria, não só na escrita
do TCC mas durante todo curso, vocês foram essenciais para que tivesse forças para chegar
até aqui, minha eterna gratidão.
Nada sobre nós, sem nós.
— Romeu Kazumi Sassaki
RESUMO
Entende-se por Deficiência Visual (DV) uma condição física na qual os indivíduos não
apresentam nenhuma percepção de estímulos luminosos ou a apresentam de forma parcial. O
Centro de Ensino Especial de Deficientes Visuais de Brasília CEEDV é a única instituição
educacional do Distrito Federal especializada no atendimento aos estudantes com DV e é
considerado um centro de referência na Educação Especial por proporcionar a inclusão e o
respeito à diversidade. A instituição, por meio da disciplina Atividades da Vida Autônoma e
Social (AVAS), visa promover o desenvolvimento global dos seus estudantes para a formação
de um cidadão crítico, capaz de interagir com o mundo e com as questões que o cercam. A
Biologia, ampla área do conhecimento, integra questões políticas, econômicas e culturais da
sociedade, sendo portanto presente no cotidiano de todo indivíduo, inclusive dos estudantes
com deficiência visual. Visando mapear de que forma a Biologia se expressa na vida desses
estudantes, o presente trabalho teve como grupo amostral três professores atuantes no
CEEDV. Os docentes responderam a uma entrevista e os dados obtidos foram classificados
usando os preceitos estabelecidos por Bardin. O resultado indicou que os assuntos da Biologia
mais presentes no cotidiano dos estudantes com DV dizem respeito à Ecologia, à Fisiologia
Humana, à Zoologia e à Botânica, sendo esses considerados primordiais para o bem-estar e
inclusão social dos alunos. A vivência dos professores demonstra também a importância e
predominância das metodologias ativas no processo de ensino e aprendizagem do CEEDV.
Visual Impairment (VI) is understood as a physical condition in which individuals do not have
any perception of light stimuli, or present it partially. The Special Education Center for the
Visually Impaired in Brasília CEEDV is the only educational institution in the Federal District
specialized in assisting students with VI and is considered a reference center in Special
Education for providing inclusion and respect for diversity. The institution, through the
discipline Activities of Autonomous and Social Life (AVAS), aims to promote the global
development of its students for the formation of a critical citizen, capable of interacting with
the world and with the issues that surround him. Biology, a broad area of knowledge,
integrates political, economic and cultural issues of society, therefore being present in the
daily life of every individual, including students with visual impairments. Aiming to map how
Biology is expressed in the lives of these students, the present work had as a sample group
three professors working at CEEDV. The professors answered an interview and the data
obtained were classified using the precepts established by Bardin. The result indicated that the
subjects of Biology most present in the daily lives of students with VI concern Ecology,
Human Physiology, Zoology and Botany, which are considered essential for the well-being
and social inclusion of students. The experience of teachers also demonstrates the importance
and predominance of active methodologies in the teaching and learning process of CEEDV.
DV Deficiência Visual
1. INTRODUÇÃO 13
2. OBJETIVOS 14
2.1 Objetivo Geral 14
3. METODOLOGIA DE PESQUISA 15
4. DISCUSSÃO E RESULTADOS 16
Capítulo I. Breve histórico da concepção social das pessoas com deficiência 16
Capítulo IV. Deficiência Visual e Educação Especial de pessoas com deficiência visual em
Brasília 23
Capítulo VI. Metodologias ativas e o ensino de Biologia para estudantes com deficiência
visual 30
5.CONCLUSÃO 34
REFERÊNCIAS 35
APÊNDICE A — TRANSCRIÇÃO DA ENTREVISTA COM O PROFESSOR
FERNANDO RODRIGUES 38
APÊNDICE B — TRANSCRIÇÃO DA ENTREVISTA COM A PROFESSORA
GABRIELA DE OLIVEIRA PASSOS 43
APÊNDICE C — TRANSCRIÇÃO DA ENTREVISTA COM A PROFESSORA
JUSSARA SANTOS 49
13
1. INTRODUÇÃO
2. OBJETIVOS
Cada um dos objetivos específicos, descritos acima, foi utilizado como ponto de
partida e referência para a elaboração dos capítulos do tópico Discussão e Resultados.
16
3. METODOLOGIA DE PESQUISA
Ao realizar a categorização dos dados obtidos, por meio da entrevista focalizada, foi
possível identificar a concordância entre os professores acerca da importante presença da
Biologia na vida dos alunos com DV. Os dados foram agrupados em quatro categorias
(Quadro 1).
Fonte: Autoras
4. DISCUSSÃO E RESULTADOS
Relatos que datam da Idade Média até o final do Século XVII, mostram que a
deficiência era concebida, na sociedade, de maneira bastante cruel, como uma deformação
humana, uma condição imutável de anormalidade e até mesmo uma manifestação dos deuses
ou do demônio. Pessoas com deficiência eram, muitas vezes, exterminadas ou exorcizadas
com base em crenças sobrenaturais supersticiosas de uma sociedade intolerante e, acima de
tudo, ignorante (GUGEL, 2015).
No século XVIII, com o fortalecimento do Humanismo e do Cristianismo, a sociedade,
que enxerga o homem como imagem e semelhança de Deus, passa a conceber a deficiência
como uma oportunidade de purificação para ganhar o Reino dos céus. Em uma atitude de
conformismo piedoso, as pessoas com deficiência passam a ser assistidas em abrigos e casas
de caridade com teor filantrópico (GUGEL, 2015).
No século XIX, com o advento da Revolução Científica, a deficiência passou a ser
vista como uma sequela, lesão e/ou diminuição da capacidade de um órgão em consequência
de doenças. Pessoas com deficiência tornaram-se passíveis de tratamento e controle. Neste
período, surgiram estudos renomados da Psicologia e da Medicina e muitas foram as
pesquisas, inclusive genéticas, desenvolvidas (PACHECO; ALVES, 2007).
Por fim, apenas nos séculos XX e XXI, marcados pela discussão social e política e
pela integração e conquista de direitos fundamentais em nível global, a deficiência passa a ser
encarada como uma perda total ou parcial, temporária ou permanente, de uma função
psicológica, fisiológica ou anatômica (AMIRALIAN, 2000).
Com o advento de importantes eventos internacionais - como por exemplo, a
Convenção Internacional das Pessoas com Deficiência ou a Conferência Mundial de
Educação Especial - muitos acordos, tratados e declarações - como a Declaração de
Salamanca em 1994, a Declaração da Guatemala em 1999 e a Convenção sobre os Direitos da
pessoa com Deficiência em 2006 - tiveram seus princípios acatados pelo Brasil, e trouxeram
significativas mudanças em favor das pessoas com deficiência ao promover dignidade de vida
e condições de ensino mais justas para esta parcela considerável da população (JANNUZZI,
2004).
Conhecer, mesmo que brevemente, o histórico das concepções sociais acerca da
deficiência nos possibilita reconhecer quão recente é a conquista dos direitos das pessoas com
18
deficiência (PcD) e compreender a realidade atual de muitos estudantes brasileiros, bem como
o porquê deles, ainda hoje, passarem por muitas dificuldades e desvantagens sociais na escola.
Este conhecimento deve motivar a criação e implementação constante de políticas
públicas e ações que visem fortalecer os direitos das pessoas com deficiência e eliminar todas
as formas de preconceitos, intolerância e discriminação dentro e fora das escolas. Ressaltamos
a importância da inclusão dos indivíduos com deficiência no processo de criação das políticas
públicas, a fim de que as suas vivências sejam verdadeiramente consideradas, bem como suas
opiniões, como muito bem sintetiza Sassaki (2007) “Nada sobre nós, sem nós“.
19
Para melhor entendimento, em seu Art. 2º, a referida Lei considera pessoa com
deficiência:
Aquela que tem impedimento de longo prazo de natureza física,
mental, intelectual ou sensorial, o qual, em interação com uma ou mais
barreiras, pode obstruir sua participação plena e efetiva na sociedade em
igualdade de condições com as demais pessoas (BRASIL, 2015) .
A mesma Política, afirma que: ‘‘O movimento mundial pela inclusão é uma ação
política, cultural, social e pedagógica, desencadeada em defesa do direito de todos os alunos
de estarem juntos, aprendendo e participando, sem nenhum tipo de discriminação’’ (BRASIL,
20008).
Para Fábio Adiron (2011), membro do projeto DIVERSA, uma iniciativa do Instituto
Rodrigo Mendes, não existem escolas inclusivas. Adiron considera que:
''Escola inclusiva só vai existir quando a educação passar
por uma transformação profunda, valorizando a individualidade e as
potencialidades de cada aluno e quando, ao invés de concessões,
houver uma ruptura no sistema atual que conduza a uma escola que
não estabeleça condições para matricular os alunos (com e sem
deficiência) e quando as mudanças beneficiarem toda e qualquer
pessoa''.
''Eu não gosto da palavra inclusão. Pra mim, inclusão não existe.
Né? Então assim, no Brasil, está muito longe pra existir a inclusão.
A gente foi se incluindo na marra’’ [Trecho da entrevista com o
professor Fernando].
Em acréscimo, Mitler (2003, p.16) considera que a inclusão não diz respeito a colocar
os estudantes com deficiência nas escolas regulares, mas a mudar as escolas para torná-las
mais responsivas às necessidades de todos. Para o autor, a inclusão também perpassa por
ajudar todos os professores a aceitarem a responsabilidade à aprendizagem de todos os
estudantes que estão atual e correntemente excluídos das escolas por qualquer razão. E não
apenas aqueles com necessidades educacionais especiais. Dessa forma, o Ensino inclusivo
está intimamente relacionado à aprendizagem cooperativa, isto é, um espaço em que alunos
com diferentes interesses possam aprender.
23
Capítulo IV. Deficiência Visual e Educação Especial de pessoas com deficiência visual
em Brasília
Entende-se por Deficiência Visual (DV) uma condição física na qual os indivíduos não
apresentam nenhuma percepção de estímulos luminosos, ou apresentam de forma parcial a
percepção destes estímulos. Estes fenômenos são nomeados, respectivamente, como cegueira
e baixa visão (SAMPAIO, 2013).
materiais didáticos adequados à educação desses estudantes, como previsto pela Constituição
Federal, pela Lei 9.394, de 20 de dezembro de 1996, que estabelece as Diretrizes e Bases da
Educação Nacional.
Quanto à estrutura física, a escola está funcionando, desde 1973, em um prédio
compartilhado com o Centro de Ensino Especial no 02 de Brasília na Asa Sul, onde
atualmente atende 395 estudantes com idades variadas.
De acordo com o Projeto Político Pedagógico (PPP) do CEEDV, a escola se propõe a:
A ciência estuda fenômenos que podem ser abstratos em alguns aspectos, o que torna
mais difícil a compreensão, mesmo para alunos videntes (SIQUEIRA, 2021). De acordo com
Krasilchik (1987), a Ciência reflete questões políticas, culturais e econômicas da sociedade,
sendo portanto imprescindível que todos tenham acesso ao ensino adequado dessa matéria
com tantas implicações sociais.
“Então tem uma parte da casa e a cozinha, nessa cozinha, quando eu ministrei aula
lá, eu criei essa oportunidade de fazer uma horta vertical. O espaço é pequeno,
então assim, com alguns alunos que tinham mais interesse e precisavam desse
contato com a terra e tudo que eu achei que era importante a gente fez mas mais
com temperos” [Trecho da entrevista com a professora Gabriela].
Veras et al. (2012) defende que, a partir do momento que todos têm direito a uma vida
saudável e em harmonia com a natureza, é responsabilidade coletiva trabalhar para que isso
27
seja alcançado. Uma das formas de trabalho se dá a partir da Educação Ambiental, uma vez
que essa direciona os esforços para o cerne da questão, isto é, a mudança dos valores que
guiam nossas atitudes cotidianas.
A presença da Educação Ambiental no CEEDV fica ainda mais evidente na
perspectiva dos trabalhos realizados sobre o tratamento de resíduos por outros profissionais,
como mencionado pela mesma educadora:
“mas ele tava fazendo a coleta de lixo reciclado, então a gente tava fazendo uma
coleta de lixo reciclado (...) a gente tem um dia de descarte consciente e ele tava
recolhendo porque nós temos dois alunos que trabalham com resíduos, ele estava
ensinando esses alunos a desmontar algum eletroeletrônico pra poder aproveitar
melhor os componentes (...)”[Trecho da entrevista com a professora Gabriela].
amostral, justamente pela facilidade como esse assunto pode ser contextualizado por todas
esferas da sociedade (DURÉ; ANDRADE; ABÍLIO, 2018).
De acordo com Scheley, Silva e Campos (2014), essa área recebe tamanha atenção por
estar atrelada à saúde, sendo considerada indissociável da realidade do estudante e promotora
de dignidade humana, a qual é, por sua vez, um princípio fundamental preconizado na
Constituição da República Federativa do Brasil de 1988.
Considerando ainda que os problemas encarados no Ensino de Biologia, para alunos
com DV e alunos sem DV, estão intimamente ligados à suas vivências, vemos a necessidade
de se procurar sempre novas maneiras de lecionar tanto a Educação Ambiental como outras
áreas da Biologia e de outras disciplinas, como fica claro no trecho da entrevista:
“Sim, mas é que eu percebo que eles têm muita dificuldade, como eu falei da
questão das plantas então é que eu percebo a mesma coisa com os bichos, a parte da
fauna também é muito complexa (...) tinha uma arara, tinha uma cobra, tinha coelho,
então tipo assim pra eles... pra gente é diferente porque você poder botar a mão num
bicho assim...saber como realmente é a pelagem, como é entendeu? É muito
diferente, apesar da gente saber que já não é tão real porque não é o bicho vivo
né”[Trecho da entrevista com a professora Gabriela].
1
Entrevista concedida por Santos, Jussara. Depoimento [Outubro. 2022]. Entrevistadores: S. M. Martins e M. E.
R. Braga. Brasília: IFB - Gama. 2022. Entrevista concedida para elaboração do TCC da pós graduação em
Ensino de Ciências e Matemática
29
Outro ponto que integra essa disciplina é a sua grande fragmentação de conteúdos,
dentre elas a Botânica, também intimamente presente no cotidiano dos alunos em geral. A
botânica, bem como as demais áreas da Biologia sofre com a alta abstração observada por
Ferreira (2010), e essa abstração é utilizada como justificativa para a alta valorização das
habilidades visuais nas aulas (DURÉ; ANDRADE; ABÍLIO, 2018). Essa supervalorização
das habilidades visuais impacta, diretamente, no processo de ensino-aprendizagem dos alunos
com DV, inclusive na interação com organismos vegetais, como observado pela educadora
Gabriela:
“Eles têm muita dificuldade com essa questão de ver o processo de entender o
processo, tipo como de uma semente...sem ser aquela história do feijãozinho sabe?
Uma coisa real, um processo de como aquilo vai acontecer, porque assim, como
você vai entender que um pequi está lá em cima sem ver? Como ele não sobe na
árvore... isso pra eles é muito complicado, fazer essa, imaginar como é esse todo,
isso é uma percepção minha tá?” [Trecho da entrevista com a professora Gabriela].
“[...] Então tem uma parte da casa e a cozinha, nessa cozinha, quando eu ministrei
aula lá, eu criei essa oportunidade de fazer uma horta vertical. O espaço é pequeno,
então assim, com alguns alunos que tinham mais interesse.[...]”[Trecho da entrevista
com a professora Gabriela].
Enquanto isso, Sorrel et al. (2017) elaborou uma exibição artística sobre as pesquisas
científicas realizadas na universidade, nessa exposição um software descrevia as imagens
microscópicas apresentadas pelos pesquisadores, promovendo a dinamização do ensino e a
inclusão dos alunos com DV em um momento de divulgação científica. Sendo assim, essas
metodologias, que permitem o protagonismo discente, podem contribuir para um aprendizado
de sucesso.
31
Capítulo VI. Metodologias ativas e o ensino de Biologia para estudantes com deficiência
visual
De acordo com Brito, para que o aluno esteja envolvido de forma ativa em seu
processo de aprendizagem ele deve “ler, escrever, perguntar, discutir ou estar ocupado em
resolver problemas e desenvolver projetos” e o uso dessas metodologias tem contribuído para
que o aluno seja o protagonista do seu conhecimento onde o mesmo possa “interagir desde da
produção do conhecimento até os resultados da aprendizagem”(BRITO; SARDINHA, 2022).
Porém, para a implementação das metodologias ativas são necessários esforços para
criar e reconstruir atividades didáticas trazendo como referência métodos bem fundamentados
e que serão redefinidos em cada cenário encontrado, ou seja, a prática dessa metodologia não
não é estática, e não se trata de simples regras determinadas e fáceis de reproduzir em sala de
aula (BES, et.al, 2019).
Acredita-se que as metodologias ativas possam ser capazes de promover a inclusão das
pessoas com deficiências, já que as atividades realizadas estimulam a interação tanto entre os
32
próprios alunos como entre o professor e o aluno (BERTOLINI, et. al, 2019). É necessário
que as crianças com DV tenham oportunidades de aprender em um ambiente onde o seu
desenvolvimento possa ser estimulado por intermédio “de experiências sensoriais
compensatórias e convívio social” e caso isso não ocorra, poderá levar a falta de segurança na
adaptação ao meio social (LOPES, et. al, 2018).
É uma metodologia na qual os alunos lidam com tarefas e desafios para solucionar
problemas ou desenvolver projetos que estejam associados a sua vida fora da sala de aula.
Nesse processo os alunos se envolvem com temas interdisciplinares e tomam decisões
podendo agir sozinhos ou interagindo em equipes (BACICH; MORAN, 2018)
Essas metodologias contam com a facilitação por parte dos professores, que são
chamados de tutores e a interação dos alunos em pequenos grupos, possibilitando o convívio
entre os mesmos, podendo trazer benefícios não só para a aprendizagem, mas também para
aceitação da sua realidade, assim como é observado pelo educador Fernando Rodrigues do
CEEDV:
“É o contato com os pares que fortalece mais a pessoa com deficiência. Porque você
vai aceitar a sua deficiência. Porque quando você só convive com pessoas ditas
“normais’’, porque não existe ninguém normal, então você acha que você é um
33
normal também né. Na verdade, você não é. Você em contato com outra pessoa com
deficiência vai aprender o que é ser uma pessoa com deficiência. O que é ser cego. O
que é ser baixa visão.” [Trecho da entrevista com o professor Fernando].
“[...]A gente trabalha higiene pessoal, a gente percebe isso acontecendo, eles não
tem noção se uma roupa tá limpa ou não até ter o cheiro, e até você ter o cheiro é
uma coisa que já extrapolou todo processo de higiene pessoal.” [Trecho da entrevista
com a professora Gabriela].
34
“[...]Você quer arrumar a sua cama ou você quer comer? Né? Então assim todo
mundo, do pequeno ao mais velho quer se virar sozinho na cozinha, então assim
quando isso acontece a gente percebe, vai fazer sei lá um café, aí a gente começa a
perceber não dá pra ser uma xícara, o ideal é uma caneca de fundo reto, coisas que
no dia a dia eles vão percebendo e no final eles dizem “ah isso aqui é difícil pra
mim”. Aí por exemplo você vai por uma sobremesa num pires? Jamais. É em uma
cumbuca ou até mesmo em um copo, é melhor de comer num copo porque aí vai
fazer menos sujeira e se sente mais confortável. [...]” [Trecho da entrevista com a
professora Gabriela].
“[...] Às vezes a gente recebe uma coisa diferente, por exemplo, tamarindo, então
vem a frutinha lá e a gente vai ensinar a descascar porque muitos deles recebem
muitas coisas na mão... aquela família que é mais atuante, ele recebe as coisas na
mão, então ele recebe a banana picada, ele não sabe como é uma banana. Ele sabe o
que é uma banana né, pelo gosto, pelo cheiro, ele assim ó você dá uma fruta pra ele e
ele fala “isso é banana” aí você fala “descasque” e ele não faz a menor noção de
como isso acontece, então pra esse tipo de atividade temos a disciplina de vida
autônoma para que o professor possa ensinar.” [Trecho da entrevista com a
professora Gabriela].
“[...] Dentro disso, dentro da questão também da ecologia para falar do consumo de
água, que é uma coisa super importante e eles têm muita dificuldade né? E eles têm
muita dificuldade. Porque por exemplo, vão lavar uma louça, pra ter certeza que a
louça tá bem lavada, gasta muito mais tempo, então da gente estar sempre ensinando
a esfregar e lavar a água só uma vez e perceber isso e passar a mão pra perceber se
realmente não tem gordura, se tiver coloca ali pra ensaboar novamente, e fazer a
separação dentro da cuba, né? Priorizar os vidros primeiro para que você tenha
menos riscos, se acontecer de quebrar um vidro, como que vai proceder? Como que
vai recolher isso? Porque uma coisa é a gente que enxerga, outra coisa é alguém que
não enxerga.[...]” [Trecho da entrevista com a professora Gabriela].
5.CONCLUSÃO
REFERÊNCIAS
AMIRALIAN, Maria LT et al. Conceituando deficiência. Revista de Saúde Pública, v. 34, n.
1, p. 97-103, 2000.
BACICH, L.; MORAN, J.. Metodologias ativas para uma educação inovadora: uma
abordagem teórica-prática. (Desafios da educação) . Grupo A, 2018. E-book. ISBN
9788584291168. Disponível em:
https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9788584291168/. Acesso em: 27 dez. 2022.
BRASIL. Congresso Nacional. Lei nº. 13.146, de 6 de julho de 2015, Lei da Inclusão da
Pessoa com Deficiência.
BUENO, José Geraldo Silveira; MENDES, Geovana Mendonça Lunardi; DOS SANTOS,
ROSELI ALBINO. Deficiência e escolarização: novas perspectivas de análise. Junqueira &
Marin Editores, 2008.
GUGEL, Maria Aparecida. A pessoa com deficiência e a sua relação com a história da
humanidade. Ampid (Associação Nacional dos Membros do Ministério Público de Defesa
dos Direitos dos Idosos e Pessoas com Deficiência), 2015. Disponível em:
<http://www.ampid.org.br/ampid/Artigos/PD_Historia.php>. Acesso em 18 de dezembro de
2022.
MACIEL, J. et al. Metodologias de uma educação ambiental inclusiva. Porto Alegre: 2016.
MITLER, Peter. Educação Inclusiva–Contextos sociais. trad. Windy Brazão Ferreira. Porto
Alegre: Artmed, 2003
SÁ, Elizabet Dias; CAMPOS, Izilda Maria; SILVA, Myriam Beatriz Campolina. Atendimento
educacional especializado: deficiência visual. MEC, SEESP, 2007.
SANTOS, Eurico Cabreira dos. Horta sensorial como apoio aos professores de ciências
naturais no contexto da educação inclusiva. 2015. xi, 136 f. Dissertação (Mestrado
profissional em Ensino de Ciências Naturais) - Universidade Federal de Mato Grosso,
Instituto de Física, Cuiabá, 2015.
SASSAKI, Romeu Kazumi. Nada sobre nós, sem nós: Da integração à inclusão - Parte 1.
Revista Nacional de Reabilitação, ano 2007, n. 57, jul./ago. 2007, p. 8-16.
39
SCHELEY, Thayssa Rabelo; SILVA, Camila Rocha Pergentino; CAMPOS, Luciana Maria
Lunardi. A motivação para aprender biologia: O que revelam os alunos do ensino médio.
Revista da SBEnBio, v.1, n.7. 2014.
SIQUEIRA, Karine Pinheiro et al. Modelos atômicos para alunos com deficiência visual:
desafios e possibilidades, 2021.
SOLER, Miquel Albert. Didáctica multisensorial de las ciencias: Un nuevo método para
alumnos ciegos, deficientes visuales, y también sin problemas de visión. Barcelona: Ediciones
Paidós Ibérica, 1999.
SOUSA, Sandra Maria Zákia Lian e PRIETO, Rosângela Gavioli. A educação especial. In:
OLIVEIRA, Romualdo Portela de e ADRÃO, Theresa (Orgs.). Organização do ensino no
Brasil: níveis e modalidades na Constituição Federal e LDB. 2. ed. São Paulo: Xamã, 2002, p.
123-135
SORREL, Melanie et al. Creating an online scientific art exhibit formatted for people with
visual impairment. Journal of Web Librarianship, v. 11, n. 2, p. 105-123, 2017.
VERAS, Polliana Farias et al., Atividades de Educação Ambiental para alunos com
Deficiência Visual: um relato de experiência In: VII CONGRESSO NORTE NORDESTE DE
PESQUISA E INOVAÇÃO, 2012, Tocantins.
Legenda:
F= Fernando Rodrigues.
S = Sofia Marcelino.
F: Fernando Rodrigues.
F: Pedagogo.
F: Dezessete anos.
F: Dezessete anos.
F: Dezessete anos.
M: E nesta escola?
F: Dezessete anos.
F: Isso.
F: Tranquilo.
S: Fique à vontade. Parece que você foi aluno aqui na escola, né?
F: Isso. Fui alfabetizado aqui no… na antiga… era Escola de Deficientes Visuais, depois se
transformou em Centro de Ensino Especial de Deficientes Visuais, né? E aí entrei aqui com
dez anos de idade fui alfabetizado né? E aqui tinha até a segunda série, depois eu retornei fui
41
pro ensino regular e fiz o curso magistério que era a escola normal de Taguatinga. Retornei…
né… concursado pra ministrar aulas aqui.
S: Que carreira bonita! E tem alguém aqui da sua época que ainda está trabalhando aqui com
você?
F: Não, já aposentaram.
F: Eu trabalho com Soroban. Soroban é um aparelho, um ábaco adaptado onde a gente faz os
cálculos matemáticos.
F: Trabalhei com Soroban e outra disciplina que é a formação de pais. Então... onde as
famílias né..vem e aí a gente dá aula de braille, de soroban, como lidar com seu filho, né?
Com o marido, a esposa, né? Dos familiares. Então eu fiquei três anos trabalhando nessa área
também.
S: Legal.
F: E além de dar cursos também pra professores. Ministrei cursos né…mais de cinco anos.
F: Sim, todas as idades. Eu dou aula de zero a noventa anos. Meu aluno mais velho tem
setenta e três anos.
F: Então aí a gente trabalha muito com o contexto né? Se o estudante trabalha na zona rural,
algum lugar e a gente trabalha com aquele contexto dele, né? E… a matemática em si e
também a questão de comércio, né? Sistema de medida… tudo isso envolve.
M: Você lembra de algum caso onde o contexto levava a biologia diretamente? Alguma coisa
relacionada à saúde humana ou ao meio ambiente, algo do tipo?
M: Então você também não se lembra se já trabalhou com Ecologia em si, né?
M: Mas você gostaria de trabalhar com isso em algum momento? Você consegue imaginar
algum contexto que isso seria relevante pra algum aluno, por exemplo?
F: Sim né. Trabalhar sistema de medida, ele poderia medir lá a profundidade, né? E com a
uma uma régua adaptada pro deficiente visual então isso seria interessante trabalhar também.
A questão de pedras, buracos, isso tudo.
M: A próxima pergunta é justamente o que dentro do conteúdo você acredita que seria
relevante pros alunos? Você já comentou das aplicações, né?
F: Isso ó, sistema de medida, né? Também o peso. Pesar a questão de terra , né? E tudo. Tudo
isso em volta também né? Todos os tipos de pedras né? A qualidade da pedra que pedra… o
tamanho… que pedra é aquela e a contagem. Que a gente precisa contar as pedras, né?
M: Então, essa é a principal relação que você faz entre o ensino de ecologia com a as
possíveis necessidades dos alunos aqui do centro, certo?
F: Isso. Certo.
S: Mas por exemplo, hoje está um dia super quente. Aí se os meninos perguntam assim,
nossa, esse calor, eles conseguem relacionar isso de alguma forma com a natureza, com a
poluição, com o aquecimento global?
F: Sim… tem comentários né… ah!! Por que o homem estragou demais né…Então eles
comentam sim.
S: Então você consegue identificar que eles têm essas noções, né? De ecologia…
F: Tem sim, mesmo que a gente não trabalhe diretamente, mas eles têm essa noção.
M: E quando você pensa na possibilidade de trabalhar esses aspectos que você comentou que
seriam relevantes, você imagina que teria alguma dificuldade pontual?
F: Então, a dificuldade é deslocar, né? Deslocamento… a gente, né? Eu, principalmente, sou
pessoa com deficiência visual, eu preciso do apoio do educador social, do monitor e no
momento no período da tarde não tem esse apoio. Ou de outra pessoa vidente, porque a gente
também trabalhar por si só não dá certo. Tem que ter um apoio sempre logístico, né?
M: Sim. Então é isso. Eu acho que a gente encerra por aqui as perguntas, mas a gente está
muito feliz com a sua participação. Muito obrigada pela sua disponibilidade.
F: Tranquilo.
F: Obrigado.
S: O nosso objetivo é fazer, inicialmente, um trabalho um pouco mais teórico, essa cartilha
com as instruções e que indo tudo bem a gente venha trazer uma aplicação prática.
F: Ai eu peço pra vocês que antes, eu preciso dar uma lidinha nessa cartilha pra dar sugestões
pra vocês.
43
F: Por que eu vejo uma coisas que o pessoal faz por aí… O pessoal tem boa intenção mas tem
que consultar alguém. Tem um lema chamado ‘‘ Nada sobre nós, sem nós.’’ Significa fizer
que a pessoa com deficiência visual deve ter acesso. Tem que participar.
F: Ai seria importante dar uma lida na LBI que é a Lei 13146 de 2015 onde fala de educação
como basicamente será esse fazer né? A partir do artigo 26. E dar uma lida também na LDB a
partir do artigo 59 né? Pra vocês terem um embasamento bacana.
S: Maravilha.
S: Sim.
F: E tem várias formas de trabalhar. Se você trabalhar mal feito né? Se tiver algum
constrangimento seu projeto não vai pra frente. Não gera resultado nenhum.
S: Não vai gerar resultado. Ainda vai ser constrangedor pra pessoa né.
F: Então assim, eu não gosto da palavra inclusão. Pra mim, inclusão não existe. Né? Então
assim, no Brasil, está muito longe pra existir a inclusão. É o contato com os pares que
fortalece mais a pessoa com deficiência. Porque você vai aceitar a sua deficiência. Porque
quando você só convive com pessoas ditas ‘’normais’’, porque não existe ninguém normal,
então você acha que você é um normal também né. Na verdade, você não é. Você em contato
com outra pessoa com deficiência vai aprender o que é ser uma pessoa com deficiência. O que
é ser cego. O que é ser baixa visão.
F: Somos setenta e quatro mil pessoas com deficiência visual no DF e dessas sessenta e oito
mil são são pessoas com baixa visão. Surdo cegueira acho que a gente tem por volta de mil
né. Então você tem que trabalhar a baixa visão. A retinose. O que que é retinose? A pessoa só
vê no meio, né? Na lateral ela não consegue enxergar então você tem que trabalhar nesse
campo e tem que avaliar isso também.
F: E baixa visão? Então e a letra? Como voce vai trabalhar a letra? As cores das bengalas…
verde… pra que serve a verde? Pra que serve a branca? Pra que serve a vermelha? Tudo isso
tem que ser trabalhado.
F: É. Cego total. Verde é baixa visão e vermelha é surdo cegueira. Tudo isso tem que
trabalhar né?
F: Por exemplo, vocês estudantes para pegar o passe livre não precisam comprovar nenhuma
renda, se é baixa ou se é pouca. A gente precisa. Se a gente ganhar acima de 3 salários
44
mínimos a gente não tem passe livre. Igual eu, né? Que que eu fiz? Coloquei renda per capita.
Então, peguei eu e meus filhos e dividi. Né? Então vocês pode ganhar três milhões, pode
ganhar um milhão e pode andar de graça.
F: Pois é e aí a gente precisa comprovar renda. Essa é a exigência lá. O transporte público é
uma questão de acessibilidade, né?
S: Sim.
F: E aí o Artigo 2 da Lei 13146 fala das barreiras. Então é considerado se aumentar a minha
barreira, a minha deficiência aumenta. Então quando diminui a barreira, não deixa de ser
pessoa com deficiência mas você faz melhor… então aqui na Secretaria de Educação
mesmo… professor com deficiência, a gente escolhe a turma primeiro. Por que? Porque se for
pela pontuação a gente vai ficar em uma situação… tem uma situação aqui que uma
companheira pegou uma turma com 3 alunos com paralisia cerebral, só piscava o olho. Como
um professor deficiente visual vai dar aula pra esses alunos? Mas o grupo de professores dito
normais acha que a gente quer folga né? Mas ninguém sabe o dia de amanha. Ai a gente foi lá
e criou uma Lei para ter isso. Antes era via portaria e a portaria caiu porque é um grupo de
professores né? Os outros professores eh falou que a gente queria folga.
F: É a gente correu atrás e a gente conseguiu a lei se não a gente estava aí.
F: Sim, mas foi uma briga. Com muita luta. Por isso que eu falo que não existe inclusão. A
gente foi se incluindo na marra.
45
Legenda:
G= Gabriela de Oliveira.
S = Sofia Marcelino.
Identificação: Meu nome é Gabriela de Oliveira Passos, sou professora e autorizo a gravação
desse áudio para o trabalho das meninas do IFB.
G: Na educação há 21 anos.
G: Sim, aqui eu já trabalhei com braille, com AVAS, Atividades da Vida Autônoma e Social,
trabalhei com alfabetização de adultos que foi a primeira mas essa turma foi extinta não existe
mais.
46
S: Ah que pena.
G: Foi em 2012.
M: Você já incluiu algum conteúdo relacionado à Biologia em alguma das suas aulas?
G: Hoje, na verdade, não. Como eu trabalho com educação visual seria bem interessante, mas
as aulas são muito curtas, são só 45 minutos. Quando eu trabalhava com alfabetização de
adultos eu tinha ele todos os dias da semana, na mesma sala, então acabava tendo uma
oportunidade maior de ter isso. Em AVAS eu consegui fazer uma horta vertical.
G: A gente tem uma cozinha, depois a gente pode ver, não sei se vocês conheceram a sala, a
gente pode ir la dar uma voltinha mesmo o professor não estando aí, a gente pode la dar uma
volta pra vocês conhecerem, entenderem como é isso porque é uma disposição como se fosse
uma casa, uma pequena kitnet. Então tem uma parte da casa e a cozinha, nessa cozinha,
quando eu ministrei aula lá, eu criei essa oportunidade de fazer uma horta vertical. O espaço é
pequeno, então assim, com alguns alunos que tinham mais interesse e precisavam desse
contato com a terra e tudo que eu achei que era importante a gente fez mas mais com
temperos, é essa parte de temperos que depois a gente poderia estar usando já na própria
cozinha, a intenção era essa. Ah e por vezes a gente faz visitas aqui no Centro 2, a escola aqui
do lado, tem uma horta né, aí a gente leva os alunos lá para conhecer e, para poder
experienciar uma coisa mais real, principalmente com essa relação de temperos e de frutos
porque eles precisam conhecer o cheiro e ter o tato do que eles estão vamos dizer assim,
potencialmente, comendo. A gente recebe algumas doações de frutos, por exemplo outro dia a
gente recebeu um cacau.
S: Diferente né?
G: Isso, diferente, uma coisa que a gente atualmente não tem. Então como é o cacau? Todo
mundo manuseou, a semana inteira ficou o cacau rodando pra todo mundo pegar o cacau, ai
depois tem que abrir, aí a gente vai estudar tem que falar um pouco disso, então o professor da
disciplina fala da fruta até chegar no chocolate in natura ou o que a gente consome que já é
uma coisa é uma coisa produzida com açúcar e tanananã. Às vezes a gente recebe uma coisa
diferente, por exemplo, tamarindo, então vem a frutinha lá e a gente vai ensinar a descascar
porque muitos deles recebem muitas coisas na mão... aquela família que é mais atuante, ele
recebe as coisas na mão, então ele recebe a banana picada, ele não sabe como é uma banana.
Ele sabe o que é uma banana né, pelo gosto, pelo cheiro, ele assim ó você dá uma fruta pra ele
e ele fala “isso é banana” aí você fala “descasque” e ele não faz a menor noção de como isso
acontece, então pra esse tipo de atividade temos a disciplina de vida autônoma para que o
professor possa ensinar.
47
M: Dentro da ecologia, tem algum tema que você lembra de trabalhar? Em algum
momento?... Algo relacionado a poluição? Ao meio ambiente?
G: A gente já trabalhou isso, lá naquela disciplina o professor tentou instituir isso mas não
deu muito certo ainda mais esse ano foi bem atípico ainda porque estávamos voltando da
pandemia ainda e foi bem delicado, mas ele tava fazendo a coleta de lixo reciclado, então a
gente tava fazendo uma coleta de lixo reciclado, então a gente tem um dia de descarte
consciente então ele tava recolhendo porque nós temos dois alunos que trabalham com
resíduos, então ele estava ensinando esses alunos a desmontar algum eletroeletrônico pra
poder aproveitar melhor os componentes, entendeu? O professor, ele era formado em
engenharia eletrônica, aí ele ficou deficiente visual aos 40 anos e aí ele fez pedagogia, então
ele tem uma noção bem bacana de como montar e desmontar o equipamento e qual tipo de
equipamento vai ter mais valor.
- interrupção
G: Então ele queria ter aumentado isso. No primeiro semestre ele até conseguiu fazer na
própria sala, mas ele queria ter aumentado isso na escola, mas foi muito complicado até
porque ele também é um professor temporário.
G: Esse primeiro semestre, esse ano ainda. Quando ele detectou, quando ele percebeu que
tinham esses dois alunos que mexiam com resíduos ele resolveu atuar nesse sentido, então é
isso.
G: Sim. É o que eu falei que seria interessante vocês conversarem com ele mas hoje
eventualmente ele não está aqui, uma pena, vocês vão gostar demais de conversar com ele, vai
ser enriquecedor.
M: Assim e dentro da Ecologia, tem algum assunto que você não trabalhou ainda, mas que
você acha que seria interessante trabalhar com os alunos por algum motivo específico?
S: As vezes algo que você observa aqui diariamente na escola, alguma demanda que partiu
deles.
G: Eles têm muita dificuldade com essa questão de ver o processo de entender o processo,
tipo como de uma semente...sem ser aquela história do feijãozinho sabe? Uma coisa real, um
processo de como aquilo vai acontecer, porque assim, como você vai entender que um pequi
está lá em cima sem ver? Como ele não sobe na árvore... isso pra eles é muito complicado,
fazer essa, imaginar como é esse todo, isso é uma percepção minha tá?
- interrupção
S: É a gente já mencionou.
48
G: Com certeza, assim pra eles faria uma grande diferença, não só na ecologia na biologia no
geral.
S: Sim, até que você falou que tem uma especialização em saúde, né?
G: Isso.
G: Sim, mas é que eu percebo que eles têm muita dificuldade, como eu falei da questão das
plantas então é que eu percebo a mesma coisa com os bichos, a parte da fauna também é
muito complexa.
G: Também é trabalhado nessa disciplina, mas é total. A gente trabalha higiene pessoal, a
gente percebe isso acontecendo, eles não tem noção se uma roupa tá limpa ou não até ter o
cheiro, e até você ter o cheiro é uma coisa que já extrapolou todo processo de higiene pessoal.
S: E nessa parte da fauna, da interação com animais, não teve nenhum projeto aqui que trate
disso não?
G: Não.
S: Tipo se eles estão por exemplo passeando e eles encontram um cachorro, como eles
identificam? Escutando?
G: Eu acho que... é que a parte auditiva é a que funciona mais. A gente teve aqui uma
exposição, eu acho que se não me engano em 2018, o Fernando que é bom de data, é
excelente de data, e eles trouxeram alguns animais empalhados.
G: Foi muito bacana, eu não tenho certeza se era do zoológico ou da UnB, aí tinha um onça
inclusive, então foi uma coisa muito assim, e eles puderam passar a mão foi muito
maravilhoso... tinha uma arara, tinha uma cobra, tinha coelho, então tipo assim pra eles... pra
gente é diferente porque você poder botar a mão num bicho assim...saber como realmente é a
pelagem, como é entendeu? É muito diferente, apesar da gente saber que já não é tão real
porque não é o bicho vivo né....
- interrupção
G: Então assim, é importante a gente estar trabalhando, agora assim, a parte de higiene
pessoal é fundamental!
- Interrupção.
G: Sim, a gente trabalhou a parte, por exemplo, a parte de cortar a garrafa pet, a parte de
construir porque eu coloquei assim numa madeirinha. eu fiz como uma floreira, pra poder
ela ter mais espaço pra eles porque assim pro deficiente visual é ruim coisas pequenas, quanto
mais espaço tem mais conforto eles tem pra trabalhar, quando for fazer um trabalho de montar
uma horta é bom fazer uso de um vaso maior. Mesmo que seja uma planta pequena, mas que
tenha mais espaço pra ele manusear porque muitas vezes você também tem que entrar com a
sua mão pra ajudar então ficou uma coisa muito bacana.
S: Você já tinha esse olhar? Ou você percebeu isso depois que você aplicou?
G: Na verdade assim, eu comecei a viver isso dentro da disciplina. Todos querem cozinhar,
porque é uma coisa básica. Você quer arrumar a sua cama ou você quer comer? Né? Então
assim todo mundo, do pequeno ao mais velho quer se virar sozinho na cozinha, então assim
quando isso acontece a gente percebe, vai fazer sei la um café, aí a gente começa a perceber
não dá pra ser uma xícara, o ideal é uma caneca de fundo reto, coisas que no dia a dia eles vão
percebendo e no final eles dizem “ah isso aqui é difícil pra mim”. Aí por exemplo você vai
por uma sobremesa num pires? Jamais. É em uma cumbuca ou até mesmo em um copo, é
melhor de comer num copo porque aí vai fazer menos sujeira e se sente mais confortável. E
daí tem todo um contexto. Dentro disso, dentro da questão também da ecologia para falar do
consumo de água, que é uma coisa super importante e eles têm muita dificuldade né? E eles
têm muita dificuldade. Porque por exemplo, vão lavar uma louça, pra ter certeza que a louça
tá bem lavada, gasta muito mais tempo, então da gente estar sempre ensinando a esfregar e
lavar a água só uma vez e perceber isso e passar a mão pra perceber se realmente não tem
gordura, se tiver coloca ali pra ensaboar novamente, e fazer a separação dentro da cuba, né?
Priorizar os vidros primeiro para que você tenha menos riscos, se acontecer de quebrar um
vidro, como que vai proceder? Como que vai recolher isso? Porque uma coisa é a gente que
enxerga, outra coisa é alguém que não enxerga. Fica o caquinho lá, ela vai passar a mão?
Então assim ter a noção de que ela vai ter um pão velho nem que seja pra ajuntar isso pq esse
pão vai pro lixo, entendeu? O miolo que vai juntar porque gruda ali, se você fizer isso numa
esponja e depois espremer, vai sair o caco de vidro e machucar... São noções que são. a mas
vai desperdiçar o pão. antes o pão do que um machucado que, eventualmente, pode ser muito
mais difícil da gente controlar. São coisas assim, aí a família começa a dizer “gasta muito
pão” “gasta muito detergente”, “gasta muita água”, então da gente estar sempre relembrando
essas questões que não são só econômicas mas que perpassam a questão da natureza e dentro
do desperdício, que eu acho super importante a gente estar sempre conscientizando porque
não é só aquilo ali
G: Total, a primeira coisa que você vai ver que uma família faz, que se sente segura, é dar a
louça pra lavar ou pra secar... diferente do restante porque a cama nunca fica igualzinha, o
lençol não fica esticado, fica pendurado, porque não tem noção. passando a mão se tá liso, tá
esticado tá ótimo, se tem uma ponta maior que a outra não vai fazer sentido porque ninguém
sai passando uma régua, mas a gente que enxerga que é uma coisa mais ou menos nivelada,
pra eles é outro contexto, tá esticado, tá lindo.
50
S: Aqui, na escola, tem os reservatórios de lixo por exemplo, eles sabem identificar, eles
ficam sempre no mesmo lugar? Eles têm essa autonomia?
G: Isso, todo mundo descarta, e era isso que a gente queria, ter lugar de lixos separados, que
eu acho que eventualmente isso pode ser uma proposta inclusive de vocês juntamente com o
professor da gente fazer um local com descarte já consciente, plástico em tal lugar – ligação
S: Legal, isso é interessante porque é uma dificuldade que vocês já vivenciam então poderia
melhorar e a gente pode contribuir de alguma forma.
G: Até pra melhorar, a gente tem ali uma coleta de restos de alimento que uma das servidoras
leva porque ela tem uma criação de porcos, então ela leva toda semana ela leva, vou mostrar
ali pra vocês os baldes como eles ficam acondicionados né, não pode ser dentro da cozinha
então ficam de um outro lado, mas tipo é importante a gente falar sobre isso por exemplo, ele
tá comendo aqui e ele joga no mesmo descarte que jogou a latinha, e que jogou a garrafa pet,
que jogou o papel e que a gente poderia estar fazendo, vamos dizer assim, uma separação é
uma coisa consciente que eventualmente a gente vai ajudar até economicamente alguém que
tá vivendo desse resíduo. Então acho que é super importante, relevante e primordial para
nossa existência, minha gente, primordial.
51
Legenda:
J= Jussara Santos.
S = Sofia Marcelino.
J: Meu nome é Jussara, sou professora de artes visuais do CEEDV e autorizo a gravação.
J: Jussara.
J: Aqui no CE2 eu trabalhei muitos anos, no CE1, você entendeu? Então você como, como
temporária, você passa de escola em escola, depende a carência que você pega né.
J: É… Temporária.
J: Artes visuais.
J: Já… Administrei braile, ministrei alfabetização, ministrei… que mais… artes visuais
também, já.
52
M: Ah sim. E em alguma dessas disciplinas você já incluiu algum conteúdo relacionado com
a biologia?
J: Eu acho que… a interdisciplinaridade do dia a dia né, você … é muito ampla né.
S: Sim.
J: Então você… (fala?) todas disciplinas né, por que o aluno ele vem pra escola pra … pra
bater papo.
S: Socializar.
J: Ele vem pra escola pra aprender, você entendeu, ele vem pra socialização, e nessa
socialização nunca deixa de existir oportunidades que … que você trabalha né, todas as áreas,
e biologia está incluso, certo?
J: Ahhhh, muitas vezes, por que o que a gente trabalha com eles é mais com o descartável né,
no caso as garrafas que a gente utiliza, que isso ai quando vai ao lixo ela fica né, é uma coisa
que.. que traz, é…
J: Mais um valor né, de… de… de… de limpeza né, é… a gente trabalha com resto de
retalhos você está entendendo ? São muitas coisas né? É… retalhos de… de EVA, né, que
você utiliza pra… pro… pro mosaico né, trabalho deles de… da coordenação motora, da
lateralidade, eu acho que seria mais isso mesmo.
S: Perfeito.
M: Ótimo. E assim, o que dentro da biologia, já que a senhora disse que não trabalhou muito
até agora, você considera que seria relevante trabalhar com eles, mas não teve a oportunidade
ainda?
M: Tem alguma coisa que você teria vontade de fazer mas não fez ainda? Algum projeto
relacionado à sustentabilidade? Algo que não tirou do papel?
J: Não… eu não tenho acesso, não tive acesso a nada assim não.
M: Sim.
J: Na área de biologia.
M: E das vezes que você trabalhou com sustentabilidade com esses materiais, teve alguma
dificuldade específica?
S: Não, é isso.