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A Espiritualidade e a Sexualidade

Terceira Edição – Dezembro de 2016

Correção: Ana Glaubia de Souza Paiva

Diagramação: Marcos de Souza Borges

Capa: Eurípedes Mendes

Revisão Geral: Marcos de Souza Borges

Todos os direitos reservados. Nenhuma parte da edição deste livro


deve ser reproduzida de forma alguma sem a autorização, por
escrito, da editora, exceto em casos de citações

curtas em artigos críticos ou em resenhas.


Dados Internacionais de
Catalogação na Publicação (CIP)

© Borges, Marcos de Souza

A Espiritualidade e a Sexualidade –

Almirante Tamandaré, PR: Editora

Jocum Brasil, 2015.

192 páginas; 135mm X 205mm.

ISBN: 978-85-60363-38-4

1. Vida cristã 2. Espiritualidade

bíblica. 3. Aconselhamento pastoral.

Edição, Impressão
e Acabamento
4. Teologia. 5. Sexualidade.

Editora Jocum Brasil

I. Borges, Marcos - II. Título. CDD 240

Distribuição e Vendas:

Editora Jocum Brasil

Índide para catálogo sistemático:

www.editorajocum.com.br

1. Ética cristã e Teologia devocional – 240

Fone: |55| 41 3657-2708

ÍNDICE

Autor.........................................................................................07

Introdução...............................................................................09

Parte I - Noções básicas sobre espiritualidade Capítulo 1 - O que


a Bíblia nos ensina sobre o mundo dos
espíritos...........................................17

Capítulo 2 - A paternidade divina e o princípio da maldição......45

Parte II - Entendendo a construção de um quadro de


Homossexualidade

Capítulo 3 - Revolução sexual.................................................73


Capítulo 4 - Espiritualidade e herança....................................99

Capítulo 5 - Fatores determinantes na construção da


homossexualidade.......................................125

Capítulo 6 - Discernimento fundamentais.. . . . . . . . . . . . . . 153

Capítulo 7 - O drama de Ló e sua família - Saindo do cativeiro do


abuso e da homossexualidade......165

AUTOR

Pr Marcos (Coty) e Pra Raquel estão no campo missionário desde


Janeiro de 1986, quando também se casaram. Desde então, vêm
atuando nacionalmente e internacionalmente com intercessão,
treinamento, aconselhamento, mobilização missionária, cruzadas
evangelísticas por todo território nacional e outros países da
America Latina e Africa, implantação e pastore-amento de igrejas e
também de muitas outras formas continuam servindo
interdenominacionalmente o Corpo de Cristo.

Eles lideram uma importante base de Jovens Com Uma Missão na


região metropolitana de Curitiba, no sul do Brasil, que tem sido uma
referência na formação de conselheiros e treinamento de pastores.
Em torno de 1500 pessoas são treina-das anualmente dentre elas
uma grande quantidade de líderes e pastores vindos de todas as
regiões do país.

O Pr Marcos é autor de vários livros: “A Face Oculta do Amor”,


“Raízes da Depressão”, “O Obreiro Aprovado”, “A Oração do Justo”,
“O Avivamento do Odre Novo”, “Cura e Edificação do Líder”, “A
Espiritualidade e a Sexualidade”, “Pastoreamento Inteligente”, “A
Lei, a Moral e os Conflitos Conjugais”, “Dinâmica da Personalidade”,
“Tipos de Família”. Ele é diretor da Editora Jocum no Brasil e
também conferencista internacional tendo ministrado os seus
ensinamentos em mais de 30 nações.
INTRODUÇÃO

As questões da sexualidade abrangem todas as esferas de


influência da sociedade e merecem uma abordagem específica por
parte de cada uma delas. Dependendo do papel social que uma
pessoa desempenhe, a forma como se explica e interpreta a
homossexualidade pode assumir ênfases totalmente diferentes
quando vem, por exemplo, de um jurista, ou de um político, ou de
um cientista, ou de um antropólogo, ou de um repórter de noticiário,
ou de um assistente social, etc.

Esta abordagem é essencialmente de uma perspectiva cristã do


aconselhamento pastoral. A moral cristã demanda que sejamos
mais que “politicamente corretos”, ou seja, certos valores e
princípios não podem ser negligenciados ou negociados; algumas
interrogações requerem respostas absolutas.

Ao oferecer este estudo bíblico, o meu principal objetivo é


aprofundar a discussão, dando assim uma contribuição teológica e
pastoral sobre o tema da homossexualidade que é, sem dúvida, o
mais crítico e controverso da atualidade.

Base epistemológica

Epistemologia significa o estudo das diferentes lentes que podem


ser usadas para enxergar o mundo ou interpretar a realidade
humana. Dependendo da ótica filosófica e

10 - Marcos de Souza Borges cultural, pode-se chegar a conclusões


bem diferentes, até opostas sobre determinado assunto, que
correspondem ou não à verdade. Nem toda forma de enxergar a
realidade nos aproxima da verdade. Assim como a lente certa serve
para corrigir a visão, a lente inadequada só faz distorcer.

Esta elaboração fundamenta-se em uma cosmovisão escriturística,


onde convergimos sociologia, psicologia e espiritualidade bíblicas. O
discernimento das leis e dos princípios contidos na Bíblia é a lente
epistemológica que usamos para interpretar a realidade. Os
princípios fundamentais de toda ciência humana podem ser
fartamente encontrados nas Escrituras Sagradas, o mais fidedigno
“ma-nual de funcionamento” para todo indivíduo e sociedade.

“Examinais as Escrituras, porque vós cuidais ter nelas a vida eterna,


e são elas que de mim testificam” (Jo 5:39);

“Errais, não conhecendo as Escrituras, nem o poder de Deus” (Mt


22:29).

Sabendo que toda comprovação científica converge com o


discernimento bíblico, também aplicamos o princípio da observação
e pesquisa, formal e informalmente, levando em conta a história
pessoal, cultural e principalmente o sistema familiar. As conclusões
estabelecidas neste material se fundamentam na observação de
incontáveis casos ao longo de muitos anos de experiência pastoral
intensa, nas informações compartilhadas de ministérios parceiros e
cole-gas, onde interagimos com os bastidores da vida de muitas
pessoas, envolvendo uma grande diversidade de situações.

Introdução - 11

As exceções

Em relação à sexualidade, também existem aqueles casos mais


raros, envolvendo anomalias do aparelho reprodutor ou deficiências
orgânicas, que merecem uma atenção especial sob vários aspectos,
principalmente o aspecto médico, científico. Este não será o nosso
foco. São situações difíceis, onde fatores bioquímicos, genéticos,
vocacionais e espirituais podem se misturar, e conclusões
precipitadas que ignoram a especificidade de cada situação
certamente irão produzir diagnósticos infelizes.

Jesus resumiu essas exceções no campo da sexualidade se


referindo a essas pessoas como “eunucos”:
“Porque há eunucos que assim nasceram do ventre da mãe; e há
eunucos que foram castrados pelos homens; e há eunucos que se
castraram a si mesmos, por causa do reino dos céus. Quem pode
receber isto, receba-o” (Mateus 19:12).

Eunuco é uma pessoa que se priva ou é privada da vida conjugal


por algum motivo orgânico, político, religioso, etc., dedicando-se
integralmente à uma vocação. São casos realmente excepcionais.
Obviamente, isso não significa que a pessoa tenha “nascido
homossexual”, e também não serve de pretexto para tal.

A palavra “eunuco” na Bíblia, no literal “sá-

ris”, se origina do costume de colocar homens

castrados em determinadas posições chaves do governo


(Concordância Strong ref. 5631).

12 - Marcos de Souza Borges É quando a vocação se sobrepõe ao


plano conjugal e familiar. Do ponto de vista bíblico, Jesus estabelece
três situações possíveis em relação à castração sexual, ou seja:

• Nascimento - “assim nasceram do ventre da mãe” :

Por exemplo, fatores congênitos como deficiências nas rotas


metabólicas dos esteroides ou alterações hipofisárias ou supra-
hipofisárias, ou seja, pessoas que nasceram com alguma disfunção
sexual orgânica, que inviabiliza o casamento. Alguns entendem
essa realidade como um chamado divino ao ministério.

• Cativeiro - “foram castrados pelos homens” : Pessoas que por


alguma razão cultural ou situacional (escravidão, cativo de guerra -
II Re 20:18, Dn 1:7) foram literalmente castradas trabalhando como
escravos no harém, camareiros, administradores, copeiros e outros
serviços prestados a um rei.
• Consagração - “se castraram a si mesmos“: Pessoas que para se
dedicarem a Deus e ao serviço integral do Seu reino; ou a um
governo como um ministro de Estado; ou a uma religião qualquer,
optaram pelo celibato trabalhando como oficiais do templo. Um tipo
de castidade voluntária. Como Jesus disse: “Quem pode receber
isto, receba-o”.

Espiritualidade bíblica

Muitos terapeutas, estudiosos e as pessoas em geral não


conseguem perceber a forte carga espiritual contida na sexualidade.
A grande maioria dos sexólogos simplesmente aliena

Introdução - 13

o campo da espiritualidade e tende a uma racionalização científica e


hedonista. É importante ressaltar que a principal religião do
Ocidente é o Hedonismo. Em raras vezes da história humana o
prazer e a autogratificação foram tão cultuados.

A espiritualidade bíblica implica em uma integridade moral no campo


da sexualidade que a nossa sociedade, cada vez mais permissiva,
repele, rejeita, banaliza, execra. O meu intuito é trazer um
discernimento de como a espiritualidade e a sexualidade estão
consistentemente relacionadas, estabelecendo conceitos, princípios,
discernimentos, diagnósticos e, consequentemente, soluções que
podem nos alinhar com o propósito eterno de Deus.

Portanto, antes de mergulhar nosso entendimento no processo de


construção de um quadro de homossexualidade, gostaria de
compartilhar, de forma bem sucinta, uma noção básica de
espiritualidade para que possamos ativar uma cosmovisão bíblica
mais depurada, que é a grande chave para lidarmos com uma
questão tão complexa como a homossexualidade. Vamos fechar
essa introdução com-partilhando um discernimento primordial.

A homossexualidade e a rejeição
É essencialmente estratégico entender que uma das principais
cadeias que algemam pessoas na homossexualidade é a rejeição.
Normalmente, toda confusão psicológica e também toda distorção
que a pessoa experimenta na identidade, na autoimagem é
resultado de um sobrepeso sustentado por algum tipo de sofrimento
emocional. A dor emocional quando sistematizada sempre implica
em sérias lesões que podem refletir em muitos tipos de desordens
crônicas.

14 - Marcos de Souza Borges A perseguição homossexual


naturalmente é acom-panhada e reforçada por fortes doses de
incompreensão, rejeição e abuso.

A rejeição, quando correspondida com amargura, estabelece uma


ferida que deixa a pessoa ainda mais vulnerável e subjugável ao
seu conflito. A história que tenho ouvido de muitas pessoas que
desenvolveram questões de caráter homossexual desde a infância
inclui um doloroso e crítico processo de “esfolamento”
psicoemocional.

Apesar de a Igreja Cristã ser um dos grupos sociais mais amistosos


e solidários ao indivíduo homossexual, naturalmente não estamos
totalmente preparados para lidar com essas situações. Precisa ficar
claro que agindo com discriminação, exclusão, rejeição, estamos
fortalecendo as verdadeiras barreiras internas que prendem a
pessoa na homossexualidade. Estamos caindo na armadilha
proposta estrategicamente pelo espírito de rejeição, nos aliando a
ele, em detrimento da pessoa em questão, a quem Deus ama. É
algo muito sutil.

O primeiro passo para lidarmos com a questão da


homossexualidade é valorizar a pessoa, aceitá-la, estimá-

-la como imagem e semelhança de Deus, reconhecer suas virtudes,


fazer com que ela se sinta incluída, constrangida por um amor puro
que não usa, nem abusa, mas serve, ama desinteressadamente.
Porém, para cumprirmos integralmente a lei do amor não podemos
negociar a verdade bíblica de que a prática homossexual é
pecaminosa e po-tencialmente destrutiva.
PARTE I
NOÇÕES BÁSICAS
SOBRE ESPIRITUALIDADE

Capítulo 1

O QUE A BÍBLIA NOS ENSINA

SOBRE O MUNDO DOS ESPÍRITOS

Quem são os demônios, e como eles estão relacionados com o


propósito de Deus?

“Tu crês que há um só Deus; fazes bem. Também os demônios o


creem, e estremecem” (Tg 2:19).

Ao construirmos o paradigma bíblico sobre espiritualidade, esta se


torna uma das questões mais básicas:

Por que Deus não destruiu imediatamente Lúcifer e

os demais anjos que se rebelaram?

Apesar da Bíblia não dar informações diretas e detalhadas sobre a


queda de Lúcifer e como se deu a sua rebelião nos Céus – apenas
uma analogia com a ascensão e queda do famoso Rei de Tiro1 –
podemos estabelecer algumas conclusões inquestionáveis que
ajudam a desfazer alguns preconceitos e superstições.
18 - Marcos de Souza Borges Demônios são seres espirituais,
morais, hierarquizados, criados originalmente por Deus como anjos,
arcanjos, serafins, querubins... Decaídos da sua glória original
adqui-riram uma natureza maligna e uma terrível habilidade de
enganar. Transformaram-se na personificação da escolha que
fizeram. Porém, a despeito da sua natureza, os demô-

nios prestam contas a Deus, submetendo-se inteiramente aos seus


propósitos, como não poderia ser diferente.

Ao se rebelarem, foram condenados, desarraigados dos Céus e


lançados sobre a terra. Isso ganhou maior relevância ainda com a
queda da raça adâmica. Herdamos um mundo caído e uma
condição espiritual destituída da glória de Deus.

Com isso, os demônios passaram a transitar entre a dimensão física


e a dimensão espiritual, incumbidos de desempenhar,
essencialmente, dois papéis: “Tentar o homem” e “punir o pecado”.
Vejamos isso mais de perto.

1. Tentar o homem, ou seja, provar o seu caráter

O primeiro desígnio dos demônios é tentar o caráter humano. Por


incrível que pareça, isso está em harmonia com a natureza do
propósito divino. O homem foi criado à imagem e semelhança moral
de Deus, um ser livre e, portanto, responsabilizável.

O poder de escolha, do livre arbítrio, exige um sistema de provação.


Esta é a lógica de todo ser moral: não existe caráter sem tentação.
A formação ou deformação do caráter está relacionada às nossas
escolhas, mediante as tentações. O próprio Jesus ao se identificar
com a raça humana foi sujeito a isso. Por intensos 40 dias ele foi
tentado por Satanás (Lc 4:2)2.

O que a Bíblia nos ensina sobre o mundo dos espíritos - 19


“Porque não temos um sumo sacerdote que não possa compadecer-
se das nossas fraquezas; porém, um que, como nós, em tudo foi
tentado, mas sem pecado” (Hb 4:15).

É um princípio do tratamento de Deus entender que o nosso


relacionamento com Ele não está seguro até que passemos por
alguns testes, provas, que Ele mesmo tem determinado para nos
purificar e fortalecer. Isto se aplica tanto aos anjos como aos seres
humanos. Relacionamentos precisam ser testados. A tentação
promove caráter; caráter gera confiança; e confiança produz
legítima intimidade.

Nisto residiu o louvor que Jesus dispensou à igreja de Éfeso:

“... e puseste à prova os que dizem ser apóstolos, e o não são, e tu


os achaste mentirosos” (Ap 2:2).

Muitas provações estão implícitas no longo processo de tornarmo-


nos participantes da natureza divina. Caráter é como ouro: custa
caro, precisa ser provado – “Aconselho-te que de mim compres
ouro provado no fogo...” (Ap 3:18). Há um preço a pagar! A
santidade só pode ser obtida pelo exercício correto da vontade
mediante as adversidades e provas.

Portanto, vamos desenvolver brevemente um conteúdo enfatizando


dois conceitos essenciais da vida cristã: a tribulação e a tentação.

• Tribulação: “Em tudo somos atribulados, mas não angustiados...”


(II Co 4:8)

Todos conhecemos muito bem o sentido da palavra tribulação, que é


sinônimo de adversidade, dificuldade, so-

20 - Marcos de Souza Borges frimento, aperto, resistência, etc. O


aspecto curioso desta palavra é que ela se origina do termo
“tribulum” , nome dado a uma ferramenta agrícola em forma de uma
cama de pregos invertida usada para “escovar” o trigo colhido,
separando o grão da palha. O tribulum tem a utilidade de arrancar a
palha, deixando apenas o trigo, o fruto, que alimenta, nutre e
fortalece. A palha para nada serve senão para ser queimada (Mt
3:12)3.

Portanto, a tribulação serve para nos libertar da hipo-crisia religiosa,


da falsa espiritualidade, da aparência sem virtude, dos
pseudoestereótipos de justiça, da vanglória, da soberba. A
tribulação arranca a palha, aquilo que não tem peso espiritualmente
e nada mais é que vaidade, falsidade, sofisticação. A tribulação
exibe o verdadeiro fruto, exalta o trigo e condena o joio. Certamente
a “escova” das tribula-

ções está constantemente passando pela nossa alma, nosso


ministério, nossas motivações, fazendo o discernimento entre o que
é fruto e o que é palha.

Em Romanos 8:38,39, o apóstolo Paulo destrinça melhor a natureza


da tribulação classificando alguns poderes que servem para testar a
nossa fé: “Porque estou certo de que nem a morte, nem a vida, nem
os anjos, nem os principados, nem as potestades, nem o presente,
nem o porvir, nem a altura, nem a profundidade, nem alguma outra
criatura nos poderá separar do amor de Deus, que está em Cristo
Jesus, nosso Senhor!”

• Tentação: “ Bem-aventurado o homem que suporta a tentação;


porque, quando for provado, receberá a coroa da vida, a qual o
Senhor tem prometido aos que o amam” (Tg 1:12).

O que a Bíblia nos ensina sobre o mundo dos espíritos - 21

De forma geral, damos ao conceito de tentação uma ênfase


negativa que distorce o seu propósito. Há alguns anos atrás,
ouvindo uma mensagem pregada por Miles Monroe, pude entender
o conceito de “tentação” de outra forma, mais positiva, edificante e
objetiva.
O termo “tentar” no Novo Testamento é também associado ao
processo romano de fabricação de espadas. Os romanos
descobriram uma maneira para beneficiar o aço revolucionando a
qualidade de suas armas, aumentando ainda mais a superioridade
do seu exército. Aprendi isso há muitos anos atrás estudando
engenharia mecânica.

Depois de moldado na forma de uma espada, o aço era novamente


aquecido até aquela cor avermelhada incan-descente, conhecido
tecnicamente como temperatura de

“austenitização”4. Nesta temperatura a estrutura molecular sofre


uma alteração tornando-se também maleável. Segue-

-se, então, a conformação física ao bater e rebater o aço com uma


pesada marreta. Com isso, as moléculas tornam-se mais coesas, as
falhas e trincas microscópicas vão se fechando, e a estrutura do aço
fortalece. Esse processo de fogo e marreta se repete várias e várias
vezes, até que todas as imperfeições sejam totalmente eliminadas.
Esse processo é tecnicamente conhecido como “conformação
mecânica”.

Por fim, vem um “tratamento térmico” conhecido como “têmpera”5.


O aço, depois de aquecido acima da temperatura crítica de 727ºC, é
abruptamente resfriado na água. Isso novamente muda a estrutura
molecular do aço, deixando-o mais duro e afiável.

Esse processo contínuo de sujeitar o aço a fogo, marreta e água;


fogo, marreta e água; fogo, marreta e água...

22 - Marcos de Souza Borges era conhecido como “tentar” o aço,


até que ele se trans-formasse em uma arma confiável, sem defeitos
estruturais, bem mais forte e cortante. Como nos ensina o profeta
Isaias referindo-se às provações comuns a todos:

“Quando passares pelas águas estarei conti-go, e quando pelos


rios, eles não te submergirão; quando passares pelo fogo, não te
queimarás, nem a chama arderá em ti” (Isaías 43:2).

A tentação, do ponto de vista bíblico, não destrói, apenas fortalece.


Serve para lidar com as nossas fragilidades morais, nos tornar
confiáveis, perseverantes, resilien-tes e penetrantes no
cumprimento do propósito divino.

O conceito da tentação tem o sentido essencial de fortalecer pela


adversidade, purificar pelo fogo do sofrimento, tornar santo pela
obediência, mesmo em face dos prazeres transitórios do pecado.
Santidade é uma condição que depende totalmente da escolha
humana em virtude da graça dispensada por Deus mediante as
provas.

A ênfase não tem que estar no “tentador”, mas nos efeitos positivos
que isso pode causar no caráter humano, principalmente quando
pensamos em uma perspectiva de eternidade. Portanto, apesar de
Deus não tentar ninguém, e da tentação ter um caráter demoníaco,
o princípio é divino:

“Ninguém, sendo tentado, diga: De Deus sou tentado; porque Deus


não pode ser tentado pelo mal, e a ninguém tenta” (Tiago 1:13).

O que a Bíblia nos ensina sobre o mundo dos espíritos - 23

2. Punir o pecado e toda injustiça

Curiosamente, os demônios foram também incluídos no sistema


correcional estabelecido por Deus e, por incrível que pareça, eles
estão cooperando com o Seu propósito.

Deus estabeleceu uma forma de usar a rebelião de Satanás para


lidar com a rebelião humana.

C.T. Study disse: “Deus provavelmente tem usado Satanás mais que
qualquer outro ser criado”. Ou seja, Deus é soberano e inteligente.
Ele sabe falar a língua daqueles que se desviam, endurecem, se
ensurdecem, se obstinam e ainda arrogantemente pensam que
estão sendo esper-tos. Ele resiste ao soberbo e exalta os humildes.
Para cada rebelde existe um demônio. Deus sabe como abalar o
que é abalável na realidade de cada indivíduo, de forma que o que é
eterno se estabeleça.

Para esse tipo de situação humana é que a Bíblia nos revela


“Satanás”6, não apenas como “Adversário” (Lit.

hebraico), estabelecendo dificuldades que servirão para legitimar a


nossa espiritualidade, mas também como “Diabo”, que significa no
original grego “Acusador”7 (Ap 12:10)8, onde teremos que enfrentar
com humildade e verdadeiro arrependimento os nossos pecados e
injustiças.

Portanto, ao contrário do que muitos pensam, não existe uma


disputa de poder entre Deus e os demônios. Se fosse assim, eles já
teriam sido instantaneamente aniquilados desde o primeiro
momento em que se rebelaram. Não haveria nem poeira deles.
Portanto, Deus não está em uma queda de braços com Satanás
tentando ser mais forte que ele. Isso é ridículo. Não tem como
comparar o poder e a sabedoria do Supremo Criador e Sustentador
de Todas as Coisas com os

24 - Marcos de Souza Borges limitados recursos de Satanás. Este


tipo de perspectiva produz ênfases teológicas distorcidas e uma
ideia completamente tosca e errada de como o mundo espiritual
funciona.

O paradoxo entre o bem e o mal

A Bíblia nos mostra Deus como o supremo e idôneo governante do


Universo; o homem como o maior protagonista da sua própria
história; e os demônios, simplesmente como agentes espirituais do
julgamento divino. Portanto, Deus chama para si mesmo toda a
responsabilidade em relação ao bem e ao mal:
“Eu formo a luz, e crio as trevas; eu faço a paz, e crio o mal; eu, o
SENHOR, faço todas estas coisas” (Is. 45:7).

A palavra criar aqui tem o sentido ou perspectiva de criar em virtude


de uma desobediência, maldade, injustiça ou rebelião praticadas
sistematicamente. Deus é expert em lidar com o coração endurecido
e a alma rebelde do ser humano.

Ele é um Pai que sabe corrigir adequadamente os seus filhos.

Embora muitas vezes a “maldade” seja proposta e executada por


Satanás, ela é autorizada a partir do trono de Deus, o qual é
fundamentado em justiça, juízo, verdade e misericórdia (Sl 89:14)9.
O mal não se fundamenta em um ataque de Satanás aleatório à
justiça ou aos planos de Deus para uma pessoa. A rigor, é
responsabilidade divina punir a injustiça e a transgressão.

Você pode observar na Bíblia que todas as vezes que o povo de


Deus se corrompia, os inimigos se levantavam. O

O que a Bíblia nos ensina sobre o mundo dos espíritos - 25

livro de Juízes se resume em uma demonstração histórica dessa


verdade: O povo se esquecia de Deus, era oprimido e subjugado
por diversos inimigos, clamava a Deus e era restabelecido.

Filisteus, amonitas, babilônicos, assírios, etc. foram usados como


instrumentos da correção divina. Acho interessante quando o
próprio Deus fala: “Moabe é a minha bacia de lavar” (Sl 60:8). Os
moabitas eram um dos maiores inimigos de Israel que sempre
prevaleciam quando a nação precisava de uma profunda
purificação. Hoje não é diferente. A opressão do Inimigo é
diretamente proporcional ao distanciamento de Deus. Em
contrapartida, quando alguém agrada a Deus, ele faz com que essa
pessoa tenha paz até com os seus inimigos:
“Sendo os caminhos do homem agradáveis ao SENHOR, até a seus
inimigos faz que tenham paz com ele” (Pv 16:7).

Portanto, a origem dos conceitos de luz e trevas, bem e mal vem de


Deus. Deus chama para si toda a responsabilidade em relação à
sua criação. Ele não culpa ao diabo pelas trevas ou pelo mal. O
diabo não é o protagonista das tragédias humanas, mas o próprio
homem quando dá as costas ao seu Criador. O aspecto central do
mal é a transgressão. O diabo só é um agente colateral que Deus
usa para punir o mal e tentar restabelecer o ser humano dentro do
Seu propósito.

Aqui os conceitos de bem e mal se tornam, motiva-cionalmente,


relativos. Assim como pode haver um “bem”

26 - Marcos de Souza Borges motivado pelo “mal”, também pode


haver um “mal” motivado pelo “bem”. Quando se tem que lidar com
a rebelião do ser humano e tudo aquilo que deturpa a sua natureza
e distorce o seu caráter, o “mal” pode se tornar na estratégia para
promover o “bem”.

Portanto, existe um “mal” que se fundamenta na transgressão da lei


divina e faz com que muitas pessoas inocentes sejam prejudicadas.
E também existe um outro tipo de

“mal”, motivado pelo “bem”, que do ponto de vista da justiça divina


não tem aquele caráter maligno do pecado, e que se fundamenta na
punição divina e visa restabelecer a retidão.

É importante dizer que, originalmente, Deus não criou o “mal”, mas


apenas a “possibilidade de se conhecer o mal”, ou seja, a
possibilidade de desobedecê-lO: “O Senhor Deus fez brotar da terra
toda sorte de árvores ... e a árvore da ciência do bem e do mal” (Gn
2:9).

O que significa conhecer o bem e o mal? O pecado traz esse tipo de


experiência. Quando alguém desobedece a uma lei divina, vai
experimentar não apenas o “bem” do mal, ou seja, o prazer efêmero
do pecado, mas certamente irá conhecer também o “mal” desse
bem, ou seja, a an-gústia da punição.

Deus estava explicando para Adão como funciona a sua


paternidade. Este é o simples paradoxo da correção: Ele transforma
ou usa o mal como um mecanismo para produzir justiça e retidão.

Toda criação moral de Deus está sujeita à oportunidade de se


corrigir evitando assim um destino trágico. “Porque o Senhor corrige
o que ama, e açoita a qualquer que recebe por filho” (Hb 12:6). A
questão é que a grande maioria das

O que a Bíblia nos ensina sobre o mundo dos espíritos - 27

pessoas não tem maturidade suficiente para perceber a correção


como legítima expressão do amor paterno de Deus.

Portanto, a essência deste segundo papel exercido pelos demônios,


por incrível que pareça, coopera com a natureza do propósito divino
no sentido de corrigir, ou purificar o caráter humano. Assim como o
livre arbítrio exige um sistema para provar o caráter humano, da
mesma forma exige um sistema de punição para os transgressores.

O salário do pecado é a morte (Gn 2:17)10. É uma lei divina. É


imutável. Nessa brecha Satanás projeta todos os seus esforços e
ações que se resumem, como Jesus mencionou, em matar, roubar e
destruir (Jo 10:10).11 O pecado pessoal, a injustiça social e a
iniquidade geracional serão julgados.

“O homem não se estabelecerá pela impiedade...” (Sl 12:3).

O objetivo maior de Deus é corrigir o homem e reconciliá-lo com o


seu propósito original. Disso emana o conceito de verdadeira paz e
realização (Hb 12:11).12 Antes de ser o Juiz de toda a Terra, Deus é
um Pai que não abre mão de corrigir ao filho que ama (Hb 12:5-
7)13.
Uma das lições que aprendemos na parábola do filho pródigo (Lc
15:12)14 é que Deus, apesar de nos respeitar e amar, até mesmo
quando estamos fazendo as escolhas mais erradas da nossa vida,
Ele não se constrange em nos corrigir. Ele não nos poupa de nos
entregar aos nossos caminhos tortuosos, deixando-nos ir para uma
longínqua terra de fome, sofrendo necessidades a ponto de desejar
comer a comida de porcos e nem isso poder. Ele sabe como abalar
a nossa obstinação. Porém, sempre estará aguar-dando o nosso
arrependimento e retorno, o que pode ou não acontecer. Somos
seres morais, livres.

28 - Marcos de Souza Borges Quem prepara a nossa cama no


inferno somos nós mesmos. O juízo mais severo de Deus é quando
ele entrega alguém à obstinação do próprio coração. A arrogância
produz um tipo de engano no coração humano que confunde
loucura com sabedoria: “Dizendo-se sábios, tornaram-se loucos”
(Rm 1:22). Isso é destrutivo. Portanto, ainda que a correção divina
não intencione destruir a pessoa que transgride, isto pode
perfeitamente acontecer.

“O homem que repetidas vezes é repreendido e endurece a sua


cerviz, será repentinamente quebrado sem que haja cura” (Pv 29:1).

O TRONO DIVINO - UM TRIBUNAL INVISÍVEL

Ampliando o nosso raciocínio, vamos entender mais


especificamente a natureza do papel exercido pelos demô-

nios a partir de uma revelação bíblica do trono de Deus. O

governo divino se fundamenta em uma sábia integração de quatro


valores: misericórdia, verdade, justiça e juízo.

“Justiça e juízo são a base do teu trono; misericórdia e verdade irão


adiante do teu rosto”

(Sl 89:14).
A Bíblia nos revela o trono de Deus como um supremo e
incorruptível tribunal. Este, na verdade, é um dos aspectos mais
centrais do mundo espiritual. O texto acima simplifica a maneira
como Deus governa a humanidade, permitindo-nos tirar algumas
conclusões:

O que a Bíblia nos ensina sobre o mundo dos espíritos - 29

• Deus olha para todos com misericórdia, ou seja, se colhêssemos


imediatamente e na mesma proporção todo o mal que semeamos, já
teríamos sido destruídos: “As misericórdias do SENHOR são a
causa de não sermos consumidos” (Lm 3:22);

• Deus jamais ignora ou negligencia, antes, perscruta toda verdade.


Ele tem o conhecimento pleno de todas as motivações e ações
humanas. “... todas as coisas estão nuas e patentes aos olhos
daquele com quem temos de tratar” (Hb 4:13). Apesar da justiça
humana ser cega, limitada às evidências, nada escapa aos olhos da
justiça divina.

• Portanto, Deus exerce justiça, aplicando de forma apropriada a


sua lei. Esse é o objetivo maior de qualquer tribunal.

• Deus é sábio, imparcial e soberano ao trazer juízo, correção,


punição e retidão sobre a Terra.

Obviamente, um tribunal é constituído de algumas partes


essenciais: Um juiz e um corpo de jurados imparciais; o réu; uma
bancada de defesa; e uma mesa de acusação.

Para tudo isso funcionar é necessária uma força policial e um


sistema penitenciário. Esta é uma estrutura bem simples e familiar
para qualquer tipo de sociedade ou pessoa.

Espiritualmente falando, Deus é o Juiz de toda a Terra (Sl 75:7)15;


Jesus, ao completar sua missão (Is 53:12)16, foi constituído não
apenas como advogado, mas como redentor, justo, e justificador de
todo aquele que nele crê (Rm 3:26)17; e, por sua vez, Satanás faz
um amplo moni-toramento policial, rodeando a Terra (Jó 1:7)18,
exercendo

30 - Marcos de Souza Borges basicamente dois papéis: o papel de


acusador dos que estão sob juízo (Ap 12:10)8 e também de algoz,
carcereiro, verdugo, carrasco em virtude de uma decisão
estabelecida judicialmente (Mt 18:34)19.

Para uma tarefa tão abrangente, Satanás detém um reino


organizado, hierarquizado, territorializado, se estendendo em uma
rede global de ação. Lembra quando Caim assassinou Abel? A
acusação chegou rapidamente à mesa do Juiz: “... A voz do sangue
do teu irmão clama a mim desde a terra (Gênesis 4:10).
Imediatamente o inquérito foi aberto.

Ou também quando Deus perguntou a Satanás de onde ele vinha


(Jó 1:7; 2:2)18. Parafraseando a resposta de Satanás: ”Venho de
rodear a terra, estou monitoran-do o planeta, sei de tudo o que está
acontecendo, estou fazendo meu dever de casa, estou pronto para
qualquer audiência com quem quer que seja”. Ninguém está so-
zinho. Espiritualmente falando, não existe delito sem testemunha ou
crime perfeito!

Os demônios também são excelentes agentes penitenciários


cumprindo as decisões e ordens judiciais do tribunal divino. Essa é a
mensagem central que Jesus traz na história do credor
incompassivo: “E, indignado, o seu senhor o entregou aos
atormentadores, até que pagasse tudo o que devia” (Mt 18:34). Mais
que ninguém, os demônios têm uma habilidade de punir, atormentar,
aprisionar, destruir, enganar, matar... A vida sem o temor de Deus
realmente não é fácil. Obviamente que a ação demoníaca é restrita
à misericórdia divina.

Deus tem vários instrumentos para exercer os seus ju-

ízos: as autoridades estabelecidas (Rm 13:3-5)20, as nações


O que a Bíblia nos ensina sobre o mundo dos espíritos - 31

(Sl 108:9)21, os governos (Is 45:1,2)22... e também os demô-

nios. Vamos dar uma rápida olhada em alguns episódios onde Deus
soberanamente intervém com juízo e correção.

É importante notar que a Bíblia não fala muito sobre Satanás e seus
anjos, ou seja, essa não deve ser a ênfase da vida cristã. Porém, na
grande maioria das vezes, os demônios aparecem cumprindo
restritamente ordens resultantes de um tribunal divino, como
veremos a seguir.

O julgamento da casa de Ceva

Esse foi um dos mais famosos episódios que marcou a história da


igreja primitiva:

“Respondendo, porém, o espírito maligno, disse: Conheço a Jesus,


e bem sei quem é Paulo; mas vós quem sois? E, saltando neles o
homem que tinha o espírito maligno, e assenhoreando-se de todos,
pôde mais do que eles; de tal maneira que, nus e feridos, fugiram
daquela casa” (At 19:15-17).

Apesar de todas as evidências, muitos religiosos judeus recusavam


reconhecer a Jesus como Ele deve ser reconhecido, ou seja, o tão
esperado Messias. Veja bem, apesar de serem uma família
sacerdotal, os filhos de Ceva vinham exercendo ilegitimamente o
ministério, usando o nome de Jesus como um mero “amuleto”:
“Esconjuro-vos por Jesus a quem Paulo prega” (At 19:13).

Chegou um momento em que Deus resolveu dar um basta nisto,


abalando toda aquela rígida estrutura religiosa que sustentava uma
fé cega e engessada em tantas tradi-

32 - Marcos de Souza Borges ções desnecessárias. Foi quando a


situação inverteu-se, e o próprio demônio que eles estavam
tentando expulsar assumiu o controle da situação, primeiramente
dando uma lição de coerência espiritual: “Respondendo, porém, o
espí-

rito maligno, disse: Conheço a Jesus, e bem sei quem é Paulo; mas
vós quem sois? E depois, literalmente, uma surra: “...

de tal maneira que, nus e feridos, fugiram daquela casa” .

O Senhor açoita o que ama... Se Deus usou alguém na vida daquela


família, esse alguém foi aquele espírito maligno. Imagino que isso
tenha mudado cirúrgica e definitivamente a postura espiritual deles
em relação a Jesus. Deus sabe como tornar benigna a ação de um
espírito maligno!

Muitas vezes Deus age assim, Ele usa as coisas loucas para
confundir as sábias: a “pregação da mula” que confrontou a teimosia
de Balaão (Nm 22:28)23, a “pregação da prostituta” Raabe que
fortaleceu a fé dos espias (Js 2:9-11)24, a “pregação de Faraó” que
colocou Abraão novamente no curso da vontade de Deus (Gn
12:18), e aqui temos a

“pregação do demônio”, o julgamento da casa de Ceva, que por


incrível que pareça, foi tão coerente e impactante, que trouxe o
temor de Deus e um grande avivamento sobre toda aquela região:
“E foi isto notório a todos os que habitavam em Éfeso, tanto judeus
como gregos; e caiu temor sobre todos eles, e o nome do Senhor
Jesus era engrandecido”.

S oa estranho dizer isto, mas surpreendentemente temos aqui, pelo


menos por alguns instantes, um demônio

“avivalista”. Na prática, algumas pessoas ouvem mais os demônios


do que os pregadores! Os demônios são ministros de Deus muito
eficientes. Diante de um caso tão perverso de incesto dentro da
igreja, esta foi a solução que Paulo dis-
O que a Bíblia nos ensina sobre o mundo dos espíritos - 33

cerniu: “Seja entregue a Satanás para destruição da carne, para que


o espírito seja salvo no dia do Senhor Jesus.” (I Co 5:5). Não estou
sugerindo que façamos disto uma doutrina, mas esta é uma
perspectiva presente na Bíblia.

Lembro-me de um amigo contando sua experiência de conversão ao


Evangelho. Ele estava bebendo com alguns companheiros em um
bar, quando surgiu um assunto relacionado aos demônios. Então,
arrogantemente, desafiou ao Diabo com muitas palavras que
também ofendiam aos cristãos. Poucos minutos depois quando foi
ao toalete, ao olhar-se no espelho, foi fortemente golpeado com um
tapa no rosto. Como não havia mais ninguém ali, ele ficou
apavorado! Fugiu do banheiro segurando as calças pelas mãos! Ele
entendeu a mensagem.

No outro dia estava entregando sua vida a Jesus em uma igreja


próximo à sua casa! Isso é o que eu chamo de evangelismo efetivo!
Muitas pessoas já haviam falado de Jesus para ele, mas só foi
realmente convencido quando teve uma experiência com o Mal.
Com um único “tapa” o Diabo consertou a sua vida levando-o para o
caminho da Salvação!

Não estou dizendo que o Diabo é bonzinho; de forma alguma. Muito


pelo contrário, por ser tão pilantra e maligno ele se torna tão
eficiente para confrontar a rebelião humana. Se ele não fosse tão
mal como é, não seria também tão eficiente em nos convencer que
“o crime não compensa”.
O tribunal de Acabe
Um outro episódio que nos ajuda a entender como o mundo
espiritual funciona aconteceu através do ministério profético de
Micaías. Deus deu a Micaías uma visão

34 - Marcos de Souza Borges do Seu tribunal no momento crítico


quando o Governo da nação estava sendo julgado. Antes que
muitas coisas se concretizem na Terra, elas acontecem no mundo
espiritual.

Acabe e Jezabel não apenas contaminaram a terra com a sua


idolatria, como também derramaram o sangue dos santos. Centenas
de profetas haviam sido assassinados.

Houve uma chacina tão grande, que Elias chegou a pensar que só
ele havia sobrado. A medida dos pecados do Rei Acabe subiram até
os Céus e produziu um veredito divino, uma sentença de morte, que
um demônio, literalmente falando, foi divinamente incumbido de
cumprir. Veja o texto:

“E disse o SENHOR: Quem induzirá Acabe, para que suba, e caia


em Ramote de Gileade?

E um dizia desta maneira e outro de outra. En-tão saiu um espírito,


e se apresentou diante do SENHOR, e disse: Eu o induzirei. E o
SENHOR lhe disse: Com quê? E disse ele: Eu sairei, e serei um

espírito de mentira na boca de todos os seus profetas. E ele disse:


Tu o induzirás, e ainda prevalecerás; sai e faze assim. Agora, pois,
eis que o SENHOR pôs o espírito de mentira na boca de todos estes
teus profetas, e o SENHOR falou o mal contra ti”. (I Re 22:20-23)

Em virtude deste veredito do mundo invisível, naquele mesmo dia,


Acabe, engodado pelos seus profetas, decide ir à guerra e uma
flecha, atirada a ermo, o atinge fatalmente.

O julgamento de Acabe e Jezabel mudou os céus da nação


trazendo um tempo de refrigério e restauração.

O que a Bíblia nos ensina sobre o mundo dos espíritos - 35

O tribunal da família de Jó

A mesma participação de Satanás é observada no livro de Jó. Uma


aproximação mais cuidadosa nos faz perceber que tudo gira em
torno de um “julgamento” que aconteceu no mundo espiritual acerca
da sua família. Deus sabia como e onde ele precisaria tocar para
lidar com uma questão que, como tudo indica, tinha chegado ao
extremo.

“E num dia em que os filhos de Deus vieram apresentar-se perante


o SENHOR, veio também Satanás entre eles.. E disse o SENHOR a
Satanás: Observaste tu a meu servo Jó?” (Jó 1:6,8).

Uma questão simples: Satanás frequenta a presença de Deus?


Onde Deus está, o Diabo também pode estar?

Sim ou não? Obviamente que sim. Como poderia haver um


julgamento justo sem uma mesa de acusação? Portanto, quando
Satanás se apresenta, Deus não cruza os dedos em forma de cruz e
grita dizendo: Sai, Satanás! Não, ele fora convidado para aquelas
“audiências”. Veja bem que quem sempre toma a iniciativa e conduz
o diálogo é Deus, e não o Acusador. Deus é o Juiz de toda a Terra.

Vejamos algumas pressuposições. Logo no início do livro de Jó, a


Bíblia oferece um panorama da sua família.

Jó, o homem mais rico e poderoso do Oriente, apesar de ser


considerado reto, fica bem claro que o seu conhecimento de Deus
era superficial. Ele mesmo endossa essa realidade humildemente
reconhecendo ao final de todo o doloroso processo que passou: “Eu
só te conhecia de ouvir falar...” (Jó 42:5).

36 - Marcos de Souza Borges A esposa de Jó, por sua vez, diante


da provação, revelou um coração tão apegado à vida confortável
quanto distante de um verdadeiro compromisso com Deus: “Então
sua mulher lhe disse: Ainda reténs a tua sinceridade? Amaldiçoa a
Deus, e morre” (Jó 2:9). Os filhos deles, como se diz na gíria, viviam
de “balada” em “balada”, de festa em festa.

“E iam seus filhos à casa uns dos outros e faziam banquetes cada
um por sua vez; e man-davam convidar as suas três irmãs a
comerem e beberem com eles” (Jó 1:4).

Era um estilo de vida tão degradante, que depois de cada festa, Jó


precisava derramar suas preocupações em intercessões, temendo
que eles viessem a ser destruídos.

Isso é tão verdade, que quando o juízo veio, ele confessa:

“Porque aquilo que temia me sobreveio; e o que receava me


aconteceu” (Jó 3:25).

Sem dúvidas, Jó era um homem íntegro, que temia a Deus,


desviando-se do mal e também um grande intercessor,
principalmente da sua família. Como todos os seus filhos viviam
uma vida pródiga, estava constantemente oferecendo sacrifícios
pelos pecados que eles cometiam (Jó 1:5)25.

Provavelmente, todo o julgamento que veio sobre a sua casa foi


fruto das suas próprias intercessões. É duro admitir, mas algumas
vezes Deus responde às nossas orações de uma forma que jamais
imaginaríamos e que menos gostaríamos. Porém, sempre podemos
descansar na suficiência da sua graça, sabendo que Ele sabe o que
faz.

O que a Bíblia nos ensina sobre o mundo dos espíritos - 37


Concluindo, sem ter a pretensão de perscrutar todos os motivos que
levaram Deus a agir como ele agiu, é inquestionável que o tema
central do livro de Jó pode ser resumido no julgamento da sua casa.

Olhando de forma geral e objetiva, é importante entender como


Satanás acabou desempenhando um papel fundamental que
marcou a história de Jó, trazendo uma profunda reforma na sua
família, nas suas amizades, na sua sociedade, visto que seu círculo
de influência abrangia todo o Oriente, e, principalmente, uma
reforma na sua própria vida espiritual, deixando, assim, uma
memorável revelação da correção divina para todas as gerações.
Como o salmista afirma: “Ele é o SENHOR nosso Deus; os seus
juízos estão em toda a terra” (Sl 105:7).

O tribunal da casa de Saul

Assim como muita gente, Saul foi um rei que come-

çou bem, mas terminou muito mal. Diante da postura esperada por
um governante ungido por Deus, tamanha foi a rebelião de Saul,
que isto trouxe uma terrível sentença espiritual sobre a sua vida:

“Porque a rebelião é como o pecado de feitiçaria, e o porfiar é como


iniquidade e idolatria.

Porquanto tu rejeitaste a palavra do SENHOR, ele também te


rejeitou a ti, para que não sejas rei”

(I Sm 15:23).

Ele chegou a ser tão obstinado e resistente que se tornou um rival


de Deus.

38 - Marcos de Souza Borges

“E o Espírito do SENHOR se retirou de Saul, e atormentava-o um


espírito mau da parte do SENHOR” (1 Sm 16:14).
Este texto revela uma das formas mais extremas de Deus tratar com
uma pessoa. Ele não apenas retirou a Sua presença de Saul, como
também um espírito mau passou a atormentá-lo. É interessante
como a Bíblia faz questão de enfatizar esse detalhe, ou seja, o
espírito maligno que passou a confrontar a rebelião de Saul vinha da
parte do Senhor. Ele estava cumprindo uma ordem judicial divina, e
não um plano do inferno.

Esse terrível veredito finalmente veio após um longo e acentuado


declínio da liderança de Saul, quando, apesar de todo apoio e
intercessão de Samuel, sendo reprovado em praticamente todas as
provas a que foi submetido, rejeitando a Palavra do Senhor, ele
acabou sendo rejeitado como rei da nação. A decisão divina foi tão
firme que Deus, inclusive, já tinha escolhido o rei que substituiria
Saul.

“Então disse o SENHOR a Samuel: Até quando terás dó de Saul,


havendo-o eu rejeitado, para que não reine sobre Israel? Enche um
chifre de azeite, e vem, enviar-te-ei a Jessé o belemita; porque
dentre os seus filhos me tenho provido de um rei” (I Sm 16:10).

Saul, além de exercer uma liderança controladora e populista, onde


sempre se mostrou decidido a manipular a aceitação do povo mais
do que temer ao Senhor, também

O que a Bíblia nos ensina sobre o mundo dos espírito 39

s - 39

cometeu vários crimes, principalmente em relação aos gibeonitas.


Após a sua morte, um severo julgamento veio sobre a sua família, a
qual Deus chamou de casa sanguiná-

ria, quando sete dos seus descendentes foram enforcados para


aplacar a fome que castigava a cidade de Jerusalém durante o
reinado de Davi (II Sm 21:1)26.
Resumindo, a situação espiritual de Saul tornou-se tão degradante,
que Deus não apenas retirou-se dele, como enviou sobre ele um
espírito mau. A presença demoníaca é sempre proporcional à
rebelião humana.

Tudo isso, nada mais foi que Deus castigando o filho que ama, indo
até as últimas instâncias para salvar a sua alma. Saul estava sendo
duramente confrontado e corrigido por Deus, na tentativa de que,
pelo menos, sua vida fosse salva. Infelizmente, sua agonia terminou
em uma trágica derrota para os filisteus, culminando no seu suicídio.

O julgamento da casa de Saul trouxe um novo tempo e um novo


Céu sobre toda a nação de Israel. Ao contrário de Saul, Davi foi o rei
que demonstrou maior sensibilidade à presença e à voz de Deus.
Sua devoção e coragem produziram vitórias heroicas, fazendo com
que o propósito divino para a nação atingisse o seu apogeu.

Algumas conclusões básicas

1. Todo ser humano possui um valor inestimável por ser


imagem e semelhança de Deus. Todo ser humano deve ser
tratado com dignidade. De igual forma, todo ser humano é
intrinsecamente responsável.

Deus ama a liberdade e respeita o poder de escolha

40 - Marcos de Souza Borges de cada indivíduo, porém toda


escolha produz consequências.

2. Como o homem além de físico é também um ser moral,


eterno (Ec 3:11)27, ele está sujeito a uma realidade espiritual. A
realidade material foi criada a partir do mundo invisível: “Pela fé
entendemos que os mundos pela palavra de Deus foram criados; de
maneira que aquilo que se vê não foi feito do que é aparente”
(Hebreus 11:3). Este é o elo perdido da origem do universo físico
que mantém os cientistas em várias teorias inconclusivas. A lógica
bíblica da gênesis do mundo físico é simples: A matéria veio da luz,
e a luz veio do som, não um som qualquer, mas a voz, a palavra do
Criador (Gn 1:3).

3. Deus não é indiferente à injustiça. Quando estudamos na Bíblia


sobre a ira de Deus, chegamos facilmente a essa conclusão. A ira é
um sentimento que exerce o papel de quebrar a indiferença à
injustiça, e a tolerância ao mal. O salmista afirma que “Deus é juiz
justo, um Deus que se ira todos os dias” (Sl 7:11). O pecado, a
transgressão, o crime, a maldade, a imoralidade, a corrupção, a
injustiça... , em qualquer instância que seja, não ficarão impunes.
Como diz o salmista: “Visto que amou a maldição, ela lhe
sobrevenha, e assim como não desejou a bênção, ela se afaste
dele” (Sl 109:17).

4. Deus é altamente criativo e sábio quando se trata de corrigir


a sua criação. O principal aspecto da paternidade divina é a
capacidade de corrigir e redimir.

A motivação de toda correção é o amor, em uma perspectiva


pessoal e coletiva.

5. Não existe uma disputa de poder entre Deus e o diabo. Todo


poder e toda autoridade pertencem a Deus e emanam d’Ele.
Qualquer tipo de poder exercido por Satanás vem de Deus, e
podemos dizer que normalmente se fundamenta no coração
endurecido pelo pecado ou pela ignorância espiritual.

“Porque nele foram criadas todas as coisas que há nos céus e na


terra, visíveis e invisíveis, sejam tronos, sejam dominações, sejam
principados, sejam potestades. Tudo foi criado por ele e para ele”
(Cl 1:16).

42 - Marcos de Souza Borges NOTAS

1 ”Tu eras o querubim, ungido para cobrir, e te estabeleci; no monte


santo de Deus estavas, no meio das pedras afogueadas andavas.
Perfeito eras nos teus caminhos, desde o dia em que foste criado,
até que se achou iniquidade em ti” (Ez 28:14-15)

“Como caíste desde o céu, ó estrela da manhã, filha da alva! Como


foste cortado por terra, tu que debilitavas as nações! E tu dizias no
teu coração: Eu subirei ao céu, acima das estrelas de Deus exaltarei
o meu trono, e no monte da congregação me assentarei, aos lados
do norte. Subirei sobre as alturas das nuvens, e serei semelhante ao
Altíssimo. E, contudo, levado serás ao inferno, ao mais profundo do
abismo” (Is 14:12-15).

“E houve batalha no céu; Miguel e os seus anjos batalhavam contra


o dragão, e batalhavam o dragão e os seus anjos; mas não
prevaleceram, nem mais o seu lugar se achou nos céus. E foi
precipitado o grande dragão, a antiga serpente, chamada o Diabo, e
Satanás, que engana todo o mundo; ele foi precipitado na terra, e os
seus anjos foram lançados com ele” (Ap 12:7-9).

2 “E quarenta dias foi tentado pelo diabo, e naqueles dias não


comeu coisa alguma; e, terminados eles, teve fome” (Lc 4:2).

3 “Em sua mão tem a pá, e limpará a sua eira, e recolherá no celeiro
o seu trigo, e queimará a palha com fogo que nunca se apagará” (Mt
3:12).

4 Tratamento térmico onde o metal é aquecido acima da


temperatura crítica (727ºC) em média, para efetuar a dissolução do
carbono no ferro CFC, formando assim a austenita.

5 Têmpera é um dos processos utilizados no tratamento térmico de


metais para aumentar a dureza e consequente resistência dos
mesmos. O processo da têmpera consiste em duas etapas:
aquecimento e esfriamento rápido.

6 A palavra Satanás significa adversário, acusador. Assim como o


ára-be shaitan, derivam de uma raiz semítica, significando ser hostil,
acu-
O que a Bíblia nos ensina sobre o mundo dos espírito 43

s - 43

sar. O Tanakh utiliza o termo Satanás para se referir a adversários


ou opositores no sentido geral assim como opositores espirituais.

7 Diabo significa “acusador”, do grego diabolos, e pode se referir ge-


nericamente a qualquer pessoa que acusa e se opõe a outra.

8 “... porque já o acusador de nossos irmãos é derrubado, o qual


diante do nosso Deus os acusava de dia e de noite” (Ap 12:10).

9 “Justiça e juízo são a base do teu trono; misericórdia e verdade


irão adiante do teu rosto” (Sl 89:14).

10 “Mas da árvore do conhecimento do bem e do mal, dela não


comerás; porque no dia em que dela comeres, certamente
morrerás”

(Gn 2:17).

11 “O ladrão não vem senão a roubar, a matar, e a destruir; eu vim


para que tenham vida, e a tenham com abundância” (Jo 10:10).

12 “E, na verdade, toda a correção, ao presente, não parece ser de


gozo, senão de tristeza, mas depois produz um fruto pacífico de
justiça nos exercitados por ela” (Hb 12:11).

13 “E já vos esquecestes da exortação que argumenta convosco


como filhos: Filho meu, não desprezes a correção do Senhor, E não
desmaies quando por ele fores repreendido; Porque o Senhor
corrige o que ama, E açoita a qualquer que recebe por filho. Se
suportais a correção, Deus vos trata como filhos; porque, que filho
há a quem o pai não corrija?” (Hb 12:5-7).
14 “E o mais moço deles disse ao pai: Pai, dá-me a parte dos bens
que me pertence. E ele repartiu por eles a fazenda” (Lc 15:12).

15 “Mas Deus é o Juiz: a um abate, e a outro exalta” (Sl 75:7).

16 “Por isso lhe darei a parte de muitos, e com os poderosos


repartirá ele o despojo; porquanto derramou a sua alma na morte, e
foi conta-do com os transgressores; mas ele levou sobre si o pecado
de muitos, e intercedeu pelos transgressores” (Is 53:12).

17 “Para demonstração da sua justiça neste tempo presente, para


que ele seja justo e justificador daquele que tem fé em Jesus” (Rm
3:26).

18 “Então o SENHOR disse a Satanás: Donde vens? E Satanás


respondeu ao SENHOR, e disse: De rodear a terra, e passear por
ela”

(Jó 1:7).

19 “E, indignado, o seu senhor o entregou aos atormentadores, até


que pagasse tudo o que devia” (Mt 18:34).

20 “Porque os magistrados não são terror para as boas obras, mas

44 - Marcos de Souza Borges para as más. Queres tu, pois, não


temer a potestade? Faze o bem, e terás louvor dela. Porque ela é
ministro de Deus para teu bem. Mas, se fizeres o mal, teme, pois
não traz debalde a espada; porque é ministro de Deus, e vingador
para castigar o que faz o mal. Portanto é necessário que lhe estejais
sujeitos, não somente pelo castigo, mas também pela consciência”
(Rm 13:3-5).

21 “Moabe a minha bacia de lavar; sobre Edom lançarei o meu


sapato, sobre a Filístia jubilarei” (Sl 108:9).
22 “Assim diz o SENHOR ao seu ungido, a Ciro, a quem tomo pela
mão direita, para abater as nações diante de sua face, e descingir
os lombos dos reis, para abrir diante dele as portas, e as portas não
se fecharão. Eu irei adiante de ti, e endireitarei os caminhos
tortuosos; quebrarei as portas de bronze, e despedaçarei os
ferrolhos de ferro”

(Is 45:1-2).

23 “Então o SENHOR abriu a boca da jumenta, a qual disse a


Balaão: Que te fiz eu, que me espancaste estas três vezes?” (Nm
22:28).

24 “E disse aos homens: Bem sei que o SENHOR vos deu esta terra
e que o pavor de vós caiu sobre nós, e que todos os moradores da
terra estão desfalecidos diante de vós. Porque temos ouvido que o
SENHOR

secou as águas do Mar Vermelho diante de vós, quando saíeis do


Egito, e o que fizestes aos dois reis dos amorreus, a Siom e a Ogue,
que estavam além do Jordão, os quais destruístes. O que ouvindo,
desfaleceu o nosso coração, e em ninguém mais há ânimo algum,
por causa da vossa presença; porque o SENHOR vosso Deus é
Deus em cima nos céus e em baixo na terra” (Js 2:9-11).

25 “Sucedia, pois, que, decorrido o turno de dias de seus


banquetes, enviava Jó, e os santificava, e se levantava de
madrugada, e oferecia holocaustos segundo o número de todos
eles; porque dizia Jó: Talvez pecaram meus filhos, e amaldiçoaram
a Deus no seu coração. Assim fazia Jó continuamente” (Jó 1:5).

26 “E houve nos dias de Davi uma fome de três anos consecutivos;


e Davi consultou ao SENHOR, e o SENHOR lhe disse: É por causa
de Saul e da sua casa sanguinária, porque matou os gibeonitas” (2
Sm 21:1).
27 “Tudo fez formoso em seu tempo; também pôs o mundo no
coração do homem, sem que este possa descobrir a obra que Deus
fez desde o princípio até ao fim” (Ec 3:11).

Capítulo 2
A PATERNIDADE DIVINA
E O PRINCÍPIO DA MALDIÇÃO

ENTENDENDO A CORREÇÃO, DESMISTIFICANDO A


MALDIÇÃO

“Correção severa há para o que deixa a vereda, e o que odeia a


repreensão morrerá” (Pv 15:10).

Vamos ampliar um pouco mais o nosso entendimento sobre


espiritualidade. Para isso, acredito que alguns conceitos bíblicos
precisam passar por uma verdadeira

“reforma” teológica. É exatamente isso que proponho neste capítulo


em relação à “Maldição”. Ao nos depararmos com a compreensão
destas verdades podemos dar um salto em direção ao propósito de
Deus em todos os aspectos da vida.
Em busca da maturidade
Paulo resume todo o seu empenho ministerial dizendo: “...
ensinando a todo o homem em toda a sabedoria; para que
apresentemos todo o homem perfeito em Jesus

46 - Marcos de Souza Borges Cristo” (Cl 1:18). A palavra perfeito,


no grego “teleios” , aponta para o fato de ser inteiro, completo, ou
melhor ainda, maduro.

Poderíamos alistar vários fatores que determinam a maturidade


cristã:

• Inclusividade: Convivência sadia com as diferen-

ças; a capacidade de hospedar no coração a diversidade de


pessoas, culturas, temperamentos, ministérios, dons, etc.

• Temor a Deus: Desenvoltura moral de amar o que Deus ama e


aborrecer o que Ele aborrece; o bom senso em aceitar as pessoas e
reprovar o pecado.

• Domínio próprio: Saber conciliar firmeza e ternura em momentos


de conflito.

• Equilíbrio entre individualidade e relacionamento: Superar os


extremos do isolamento e da dependência emocional.

• Proatividade: Saber amortecer os golpes emocionais, as rejeições,


não reagindo, mas agindo em virtude dos valores e princípios
corretos.

• Coerência: Não exigir dos outros o que não exige de si mesmo.

Dentre estes e outros fatores, o mais elevado aspecto para se


avaliar a maturidade humana é o “amor à correção” .
Sem dúvidas, esse é o aspecto mais tenso e desconfortável dos
relacionamentos. Quando os pais corrigem suas crianças, por
exemplo, normalmente elas reagem chorando, fazem pirraça,
exatamente porque são infantis. É da natureza de uma pessoa
imatura não entender, e muito menos tolerar a

A paternidade divina e o princípio da maldição - 47

correção. Murmuração, rebelião, maledicência, obstinação, boicote,


amargura... são expressões grotescas de imaturidade.

Ou seja, o principal critério para se avaliar a maturidade de uma


pessoa é pela maneira como ela reage ao ser corrigida.

Esta é uma das declarações que mais me impactam na Bíblia:


“Bem-aventurado é o homem a quem tu castigas, ó SENHOR, e a
quem ensinas a tua lei” (Sl 94:12). Esta é a fala de um homem
genuinamente maduro, sábio, tolerante, quebrantado, humilde,
alguém que valorizou a correção divina. Apesar do seu adultério e
das duras consequências que vieram sobre ele e sua casa, esta
declaração de Davi expressa uma grandeza espiritual incomum, e
explica porque ele, apesar de toda a sua tragédia, se tornou no
homem segundo o coração de Deus. O amor à correção é o sintoma
mais evidente da maturidade.

Em um mundo decaído subjugado ao pecado, amar a correção é a


maior virtude e a principal maneira de investir na saúde da alma.
Assim edificamos nosso maior patrimônio: o caráter.

Para entendermos a paternidade divina, precisamos entender a


correção; e não podemos entender completamente o ensino bíblico
sobre correção enquanto não compreendemos o princípio da
maldição. O princípio da maldição procede da lei, e a lei procede de
um Deus que se revela como Pai.

O animismo e o conceito da maldição


Infelizmente, nas igrejas cristãs em geral ainda existe muito
desequilíbrio na compreensão, no ensino e na prática ao se lidar
com o conceito das maldições. Nem os próprios cristãos têm
conseguido libertar esse conceito das distorções

48 - Marcos de Souza Borges infringidas pelo animismo praticado


por muitas religiões antigas como hinduísmo, budismo, wicca, etc.
através dos séculos, com cosmovisões antagônicas aos
ensinamentos bíblicos. Por isso, costumo dizer que é necessário
“quebrar a maldição da maldição”.

No Brasil, a cultura animista praticada nas religiões indí-

genas e africanas se infiltrou na cosmovisão cristã, praticada


primeiramente pelos cristãos católicos, onde os mesmos santos
cultuados na pajelança, umbanda, candomblé, etc. eram adorados,
apenas com nomes e roupas diferentes. O cristianismo virou uma
mistureba tão grande, que enquanto alguns evangélicos preferiram
banir o conceito da maldição, outros não conseguiram se relacionar
com ele sem descontaminá-lo.

O animismo pode ser definido como o comportamento religioso de


“mistificar” e “mitificar” certos elementos e princípios, sendo assim, a
base da feitiçaria e do ocultismo: simpatias, macumbas, despachos,
vodus, rezas, pragas, etc. Ou seja, animismo significa atribuir ânimo,
vida e poder a elementos e práticas que não têm em si mesmos
essas propriedades, estabelecendo um tipo de religião que se impõe
pelo medo e pela manipulação. Os conceitos de bênção e maldição
são negociados através de oferendas às entidades por pessoas em
busca de favores pessoais, principalmente aqueles que envolvem
prejudicar outros, ou manipular alguém contra a sua vontade
natural. Até as igrejas evangélicas estão cheias disso.

Obviamente, tudo isso é praticamente oposto ao que a Bíblia nos


ensina sobre o conceito de maldição. Portanto, na tentativa de
aprofundar a nossa compreensão acerca da espiritualidade bíblica,
vamos desvendar a natureza e o importante papel desempenhado
pela maldição. Passo a passo, vamos

A paternidade divina e o princípio da maldição - 49

construir uma compreensão adequada, desmistificando esse


conceito tão significativo na realidade humana.

1. A palavra “maldição” é uma palavra bíblica.

Antes de mais nada, precisamos dizer que o conceito da

“maldição” não vem originalmente do ocultismo; pelo contrário, é


uma palavra bíblica, com mais de 200 ocorrências, ou seja, não é
algo que deva ser menosprezado. Portanto, por mais estigmatizada
que esteja a palavra “maldição”, e por mais que não gostemos dela,
que não caia bem, que nos desagrade, independentemente de tudo
isso, é uma palavra bíblica, que merece nosso esforço de
compreensão.

Vemos vários posicionamentos que se resumem na tentativa de


sustentar que a maldição não existe ou foi invalidada.

Este é um argumento muito antigo. Deus apresentou o princípio da


maldição a Adão dizendo: “Mas da árvore do conhecimento do bem
e do mal, dela não comerás; porque no dia em que dela comeres,
certamente morrerás” (Gn 2:17). O primeiro a dizer que a maldição
não existe foi a serpente, o diabo: “Então a serpente disse à mulher:
Certamente não morrereis” (Gn 3:4).

Eles desobedeceram, e desde então as consequências disso têm


afligido terrivelmente a raça humana.

2. O significado bíblico da maldição.

Existem várias palavras na Bíblia com sentidos específicos para


designar a palavra traduzida em português como “maldição”.
Basicamente, todas essas palavras resumem três significados:

50 - Marcos de Souza Borges 1. “O castigo advindo da quebra de


um mandamento, uma aliança com Deus, ou quebra de uma
promessa ou juramento” . A palavra que tem este sentido no Antigo
Testamento é Alah, e no Novo Testamento temos a palavra
Anathema, que também significa “aquilo que é proibido por força de
punição, castigo ou destruição” .

2. “Uma situação ativa de aflição ou perseguição estabelecida, onde


algo ou alguém, uma pessoa, um casamento, uma família, uma
geração, uma linhagem está presa, impedida, cativa” . É exatamente
a condição oposta àquela promovida pelo favor de Deus. O
vocábulo usado para isso é a palavra hebraica Arar, se referindo ao
próprio estado de maldição ou um castigo em cumprimento.

O significado de Arar (maldição) é exatamente o contrário de Barak


(bênção). Enquanto Barak libera espiritualmente o indivíduo para
“prosperar”, uma Arar irá prendê-lo, impedi-lo.

3. “Maldição advinda por falar mal, praguejar, di-famar, execrar,


xingar, desejar mal” . No Antigo Testamento temos as palavras
Qalal, Qabab,

Naqab e Za’am que têm, basicamente, este mesmo significado. No


Novo Testamento temos as palavras Kataraomai, Kakologeo e
Raca (xinga-mento). Este é o tipo de maldição que procede do falar,
e que não se cumpre sem causa. Sobre isso Jesus nos advertiu,
dizendo: “A ninguém amaldi-

çoeis” . Também devemos abençoar aqueles que nos amaldiçoam.

A paternidade divina e o princípio da maldição - 51

3. Quase todas as vezes que a palavra maldição

ocorre na Bíblia, ela aparece contextualizada ao


povo da aliança, e não aos descrentes ou ímpios.

Este fato normalmente surpreende a muitos. É natural concluir que


uma pessoa ímpia, descrente, esteja em uma condição espiritual
desfavorável, sob algum tipo de maldição. A maldição parece não
ser muito apropriada para caracterizar a vida de uma pessoa
“crente”.

Porém, na Bíblia, a palavra maldição quase sempre aparece


associada ao povo da aliança, o povo que deveria ser guardião dos
preceitos e mandamentos divinos. As bênçãos que desfrutamos por
causa da Bíblia não são uma herança permanente. Nossas escolhas
determinam se nós continuamos seguros nelas ou não.

Toda aliança carrega consigo uma maldição, assim como todo


mandamento, lei ou princípio. Não existe lei sem maldição. A lei sem
maldição é conselho, ou seja, um outro conceito. Um conselho você
obedece opcional-mente; uma aliança, mandamento, lei ou
princípio, não.

A força da lei é a maldição, que pode ser entendida como punição,


aflição, prisão, perseguição, castigo, etc. Ou seja, as respectivas
consequências virão em virtude da nossa dureza de ouvidos e
coração:

“Será, porém, que, se não deres ouvidos à voz do SENHOR, teu


Deus, não cuidando em cumprir todos os seus mandamentos e os
seus estatu-tos que, hoje, te ordeno, então, virão todas estas
maldições sobre ti e te alcançarão” (Dt 28:15).

52 - Marcos de Souza Borges Ao dizer estas palavras, Deus não


estava se referindo aos povos ímpios, mas ao seu povo, mostrando
a responsabilidade implícita em uma aliança com Ele.

Quando estudamos as bênçãos e maldições implícitas na aliança de


Deus com a nação de Israel percebemos uma verdadeira aula de
paternidade. A extensa lista de maldições descrita em Deuteronômio
28 não é uma ladainha de morte vinda de um Deus iracundo,
emocionalmente descontrolado, pronto a se vingar dos pecadores.
De forma alguma! Esta é a mais autêntica revelação de um pai
amoroso educando zelosamente os seus filhos, indicando o que
poderia acontecer com eles em virtude de suas escolhas erradas.

O conceito de maldição é a essência da disciplina que expressa de


forma completa o amor de Deus. Por mais estranho que pareça, a
maldição na perspectiva bíblica está relacionada com amor e
paternidade. É um conceito relacionado aos filhos, aos aliançados.

A possibilidade da maldição vem no pacote da alian-

ça. Talvez você pense: isso é coisa do Antigo Testamento; porém, o


escritor da carta aos hebreus mostra a que ponto pode chegar a
consequência de macular a Nova Aliança:

“É impossível, pois, que aqueles que uma vez foram iluminados, e


provaram o dom celestial, e se tornaram participantes do Espírito
Santo, e provaram a boa palavra de Deus e os poderes do mundo
vindouro, e caíram, sim, é impossível outra vez renová-los para
arrependimento, visto que, de novo, estão crucificando para si
mesmos o Filho de Deus e expondo-o à ignomínia” (Hb 6:4-6).

A paternidade divina e o princípio da maldição - 53

Lógico que este texto tem um contexto bem específico, que não
deve ser futilmente generalizado. Uma maneira forte de confrontar
boa parte da igreja hebreia que estava apostatando do cristianismo
para o legalismo judaico. O

importante é que de forma ainda mais grave, o Novo Testamento


reforça a responsabilidade implícita do crente em relação à sua
aliança com Deus.

4. O principal papel da maldição é denunciar as


desordens espirituais agregadas ou
acumuladas
pessoal, geracional ou territorialmente.

Talvez este seja o aspecto mais importante sobre o conceito bíblico


da Maldição. Se não discernirmos isso, jamais iremos desfrutar da
vida plena disponibilizada em Cristo sob todos os aspectos.
Vejamos como a maldição desempenha um ministério fundamental
na realidade humana.

A vida e a natureza possuem vários dispositivos que nos avisam


quando algo está em desacordo com o seu propósito.

Assim, podemos avaliar a realidade sendo salvaguardados de uma


iminente destruição. Por exemplo, o nosso organismo possui uma
série de mecanismos de alerta que se manifestam quando a nossa
saúde está em risco. Poderíamos mencionar alguns como a dor, a
febre, a ânsia de vômito, uma reação alérgica, etc. Obviamente,
essas reações orgânicas, apesar de muito desconfortáveis, servem
para nos advertir em relação às desordens, doenças ou
enfermidades presentes.

Vamos tomar o principal mecanismo de advertência que resume


todos os outros: a dor. Vem a questão: A dor é ruim ou a dor é boa?
Quando perguntamos isso para uma

54 - Marcos de Souza Borges plateia, a primeira resposta que as


pessoas dão é resultado do tipo de sensação que a dor provoca, ou
seja, a dor é ruim. Aos poucos, as pessoas vão percebendo que a
dor cumpre um papel importante e admitem que ela também é boa.
Então, se chega a uma conclusão importante: “a dor é tão ruim, que
por isso acaba se tornando tão boa!

Na verdade, se ela não fosse tão ruim, não seria tão boa!”
Uma dramática verdade é que ser bom nem sempre significa ser
agradável. A dor, obviamente, não é agradável, e por isso mesmo é
capaz de cumprir um papel vital. Quando você tem uma dor, isso
simplesmente indica que existe uma desordem exatamente naquele
local, ou que está sendo refletida ali. A dor nos avisa que
precisamos tratar do problema. Se não fosse por esse alarme, a
desordem (doença) poderia evoluir a ponto de colocar a vida da
pessoa em risco. As doenças mais perigosas são as silenciosas,
que nos destroem sem dar o mínimo aviso.

Pensando desta forma, não temos dúvidas que a dor é


inteligentemente boa, terapêutica, exatamente por ser muito
desagradável. Força-nos a um processo de restaura-

ção (correção e educação) que reconduz à saúde.

Em vista disso, fica mais fácil entender a maldição como um


mecanismo divino e não essencialmente demoníaco, como o
animismo pinta. A maldição – que pode vir na forma de
perseguições, enfermidades, colapsos, explorações demoníacas,
etc. – denuncia a existência de desordens espirituais,
transgressões, em relação às quais não tomamos ainda as devidas
providências. A maldição é simplesmente um chamado ao
quebrantamento, à correção, ao arrependimento, ao sacerdócio, à
intercessão!

A paternidade divina e o princípio da maldição - 55

Quando entendemos o ministério que a maldição exerce, chegamos


à conclusão que, no fundo, a maldição, por incrível que pareça, é
uma bênção! Este é um dos paradoxos mais importantes da vida.
Paradoxo é uma verdade escondida em uma contradição aparente.

A maldição revela a Deus como um Pai que não abre mão de nos
corrigir e nos ajudar a lidar com os nossos pecados, erros,
transgressões, vícios, incontinências. O princípio divino da maldição
carrega uma mensagem de amor, verdadeiro amor e não bajulação.
Na verdade, não poderia ser diferente. A maldição é um princípio
divino e exerce a nobre função de nos alertar, corrigir, redimir,
salvar.

Portanto, a maldição nos guia severamente pelo caminho de volta a


um concerto com Deus, a partir do qual nossa vida retoma o seu
sentido eterno. Isso produz obediência, maturidade e um verdadeiro
sacerdócio.

Por exemplo, quando lidamos com uma questão de-pressiva. A


depressão não é o problema em si; é apenas o sintoma de que há
muito tempo a pessoa vem vivendo sistematicamente de uma
maneira que agride a sua natureza. Não adianta apenas aliviar os
sintomas da depressão sem interagir com os fatores que
construíram e sustentam o quadro. Seria uma terapia burra,
ineficiente.

Da mesma forma, quando alguém sofre distúrbios na sexualidade,


apresentando, por exemplo, uma compulsão sexual precoce, desde
a infância, associada à tendência homossexual, ou tendência à
pedofilia, ou tendência à zoo-filia. Fica bem claro que existe uma
perseguição espiritual vigente, uma infiltração de conotação
maligna, que certamente se fundamenta em muitas desordens
espirituais na

56 - Marcos de Souza Borges família e, principalmente, na linhagem


dessa pessoa. Sem elucidar essas situações e redimir
sacerdotalmente essas iniquidades a situação tende a se tornar
aprisionante.

5. A essência do conceito da maldição é o castigo.

O verbo “castigar” vem do latim e significa no literal purificar pelo


sofrimento. O objetivo da maldição, por incrível que pareça, é
corrigir os nossos caminhos. “Porque o Senhor corrige o que ama, e
açoita a qualquer que recebe por filho” (Hb 12:6). Temos a tendência
de pensar na maldição como algo negativo que obrigatoriamente se
repete na vida das pessoas como um karma.

Porém, na Bíblia, a palavra maldição não tem uma conotação


fatalista; muito pelo contrário, a maldição é uma mensagem que nos
ajuda a discernir as desordens espirituais e reparar pessoalmente e
sacerdotalmente os erros.

Todas as esferas do universo são regidas por leis. Quando alguém


desobedece à uma lei, certamente vai sofrer as respectivas
consequências. Uma pessoa que intencionalmente ou
acidentalmente coloca a sua mão no fogo sofrerá uma queimadura.
Não é que Deus esteja amaldiçoando a pessoa. Ela, apenas, está
sofrendo a consequência de não respeitar o limite estabelecido por
uma lei existente. Espiritualmente, as coisas funcionam da mesma
forma, porém com agentes diferentes.

Porém, a Bíblia não apresenta um conceito de expia-

ção onde o castigo é dispensado com exatidão. Se fosse assim,


ninguém subsistiria. As leis de Deus são razoáveis.

Seus mandamentos não são apenas proibições negativas, mas


salvaguardas para todos. Quando a lei divina proíbe

A paternidade divina e o princípio da maldição - 57

o furto, isso resguarda o direito de propriedade. Para que uma lei


tenha valor de lei, é necessário que haja castigo para os infratores.
O objetivo da sansão é evitar que o ato seja praticado novamente. O
mais importante aspecto da lei é coibir desobediências futuras. Está
claro também que as leis de Deus são justas e boas para todos,
sem exceção, e por isso Ele espera a nossa obediência. Portanto,
sempre haverá castigo (maldição) para os transgressores.

Um reino moral exige um sistema de julgamento, correção e


punição. O ser humano é intrinsecamente responsabilizável. Dizer
que não existe maldição é afirmar que pecado não traz
consequências, o que é ridículo de admitir.

Algumas pessoas dizem: “Posso pecar à vontade porque Deus já


me perdoou em Cristo”. Isso até pode ser verdade em um sentido,
porém esse tipo de sofisma ignora as consequências que
certamente visitarão ou permanecerão sobre a própria vida,
casamento, filhos e áreas específicas da vida cujos princípios estão
sendo violados. A fatura certamente virá, mais cedo ou mais tarde.

É preciso dizer que ainda que a motivação divina através do


princípio da maldição seja nos alertar, corrigir e salvar, existe a
possibilidade de sermos destruídos. Foi o que aconteceu com as
dez tribos de Israel exiladas na Assíria. Elas não entenderam o
castigo, não se submeteram à correção. Ninguém se posicionou
espiritualmente para fechar a brecha que as levou àquela situação.
Em um grito desesperado, o Pai expressa a sua frustração:

“E busquei dentre eles um homem que estivesse tapando o muro, e


estivesse na brecha

58 - Marcos de Souza Borges perante mim por esta terra, para que
eu não a destruísse; porém a ninguém achei” (Ez 22:30).

Nunca mais retornaram para o lugar onde as promessas de Deus


para eles se cumpririam. Foram destruídos, terminaram como as
dez tribos perdidas da casa de Israel.

6. O princípio da maldição parte de Deus,

e não do diabo.

“Eu formo a luz, e crio as trevas; eu faço a paz, e crio o mal; eu, o
SENHOR, faço todas estas coisas”

(Is. 45:7).
Isso também surpreende alguns. Muitos acham que enquanto Deus
é o autor das bênçãos, o diabo é o autor das maldições; mas não é
isso o que a Bíblia diz. Quem estabeleceu a maldição como
princípio para a humanidade foi a lei, e quem estabeleceu a lei foi
Deus. Quem fere a terra com maldição é Deus, a sua lei, e não o
diabo. Quem governa e corrige a Criação em todas as suas
dimensões é Deus. O diabo é apenas um agente espiritual. Não
deve ser desprezado e nem supervalorizado. O caráter essencial do
seu papel é punir a transgressão humana. Satanás serve a Deus
não apenas como um agente da justiça divina, mas, principalmente
da injustiça, da imoralidade e da rebelião humanas.

Deus está afirmando através do profeta Malaquias que é Ele mesmo


o principal mentor da maldição: “... ele converterá o coração dos
pais aos filhos e o coração dos

A paternidade divina e o princípio da maldição - 59

filhos a seus pais, para que eu (Deus) não venha e fira a terra com
maldição” (Ml 4:6).

Também, como já falamos, não existe uma disputa de poder entre


Deus e o diabo. Isso é indiscutível. O destino de todos aqueles que
escolhem o mal já está selado – as escolhas determinam o caráter,
e o caráter determina o destino.

Demônios são periféricos, colaterais. A Bíblia não revela Satanás


como o protagonista da história do ser humano. Pelo contrário, ele
aparece pouco na Bíblia, e sempre perifericamente, como Pedro diz:
“O diabo, vosso adversário, anda em derredor, como leão que ruge
procurando alguém para devorar” (I Pe 5:8), apenas se
oportunizando da desobediência humana.

7. A essência da maldição reside na

desconexão geracional.
Voltando ao texto de Malaquias 4:6, isso fica bem claro. Esta
informação bíblica é essencial. Quando os pais não se convertem
aos filhos e os filhos aos pais... Quando injustiça, abandono,
imoralidade, abuso, etc. dos pais é correspondido com rebelião e
desonra dos filhos... Ou seja, nesta desconexão entre as gerações,
a maldição se instala através de infortúnios e perseguições
espirituais, possibilitando que o insucesso dos pais se repita na
realidade dos filhos.

Essa é a brecha das gerações, quando os pais provocam os filhos à


ira e os filhos não ouvem os pais, sendo espiritualmente
desnorteados pela amargura e pela rebelião. Essa foi a história de
Caim, Esaú, Absalão e de muitos

60 - Marcos de Souza Borges de nós. Essa quebra de


relacionamentos entre pais e filhos distorce a identidade, danifica a
capacidade emocional de estabelecer relacionamentos saudáveis e
endemoninha a herança da posteridade, fazendo com que os filhos
incor-ram nos mesmos erros dos pais.

Fica claro, porém, que esses legados familiares não devem ser
interpretados de maneira fatalista, mas, antes, como realidades que
podem e devem ser sacerdotalmente redimidas e pessoalmente
mudadas por uma nova postura em Cristo de quebrantamento,
reconciliação e intercessão.
Resumo
Resumindo, podemos apresentar esse paralelo demonstrando as
características do conceito animista e do conceito bíblico em relação
ao princípio da maldição: P R I N C Í P I O D A M A L D I Ç Ã O
CONCEITO ANIMISTA
CONCEITO BÍBLICO

• Fatalista

• Correcional

• Enfatiza uma aceitação

• Enfatiza a lógica do arre-

passiva da situação

pendimento, da mudança

• Reencarnacionista

• Justificação em Cristo

• Ênfase no mal / demoníaco • Ênfase na paternidade

• Fundamenta-se em um

• Fundamenta-se em um

mecanismo de destruição

mecanismo de advertência

• Ênfase no medo

• Ênfase no amor

• Estigmatizante, deforma a • Restaurador, alinha ao imagem e o


propósito
propósito original

• Excluidor, preconceituoso, • Visa à reconciliação e in-ex: sistema


de castas

clusão de todos

A paternidade divina e o princípio da maldição - 61

Como não lidar com a maldição

Primeiramente, precisamos deixar claro como é lidar


inapropriadamente com o conceito da maldição.

As duas teorias mais comuns se fundamentam no “novo


nascimento” ou em uma oração de quebra de maldições feita no
“nome de Jesus” que confronta o sintoma sem interagir com as
verdadeiras causas. De forma alguma quero desmerecer a
importância do novo nascimento ou o poder de uma oração feita em
nome de Jesus, mas precisamos entender mais sobriamente como
a obra da Cruz se dá em nossas vidas, de forma bíblica, e não
mística.

Não se deve usar o nome de Jesus como um amuleto ou fazer do


novo nascimento o único argumento contra as maldições. Assim
como se oferece um conceito animista sobre a maldição, por
consequência também se oferece uma solução mística, superficial.
Não é apropriado “quebrar uma maldição” sem lidar diretamente
com as desordens espirituais inerentes, e também sem enfrentar as
devidas consequências interagindo com os princípios corretos. Isso
seria a nossa ingenuidade e ignorância colocando-nos na
contramão do propósito divino.

Culpa e consequência

Todo pecado estabelece duas condições: uma “culpa”


pessoal, moral, intransferível, e também “consequências”

que têm um caráter não apenas pessoal, mas coletivo, social. Lidar
com a culpa do pecado é fácil, mas o pecado estabelece
consequências, que podem deixar sequelas irreversíveis. Por isso
não gosto muito dessa expressão

“quebrar a maldição”.

62 - Marcos de Souza Borges No novo nascimento Deus perdoa a


nossa culpa, mas isso não nos isenta de termos que enfrentar
corajosamente, com o favor de Deus, as consequências ou
maldições, de uma vida pregressa tortuosa. O fato de termos uma
nova vida em Cristo não significa que não tenhamos que lidar com
certos encargos da velha vida sem Deus, evolvendo dí-

vidas, crimes, acidentes, inimizades, imoralidades, vícios...

Por exemplo, uma pessoa que praticou a glutonaria a vida inteira


não vai emagrecer imediatamente ou ser isenta dos problemas de
saúde que contraiu simplesmente porque nasceu de novo e foi
perdoada deste e de outros pecados. Certamente ela vai ter que
aprender a exercitar domínio próprio e uma disciplina que nunca
conseguiu ter, mas que agora deve ser conquistada em Cristo.

Como interagir apropriadamente com a maldição?

Quando temos algum problema com a Justiça ou a Lei, a primeira


coisa que precisamos fazer é falar com o nosso advogado, alguém
credenciado para oferecer o tipo de ajuda necessária. Obviamente
Jesus é mais que um advogado; Ele é também o nosso redentor.
Para receber tal ajuda precisamos buscar ao Senhor nos
posicionando com um coração honesto e quebrantado.

Como vencer a maldição da lei pela graça de Cristo?


O pensamento que resume o ensino de Paulo no capítulo 8 da Carta
aos Romanos é que a “graça”, apesar de ser um favor imerecido,
que jamais poderíamos obter de outra forma que não fosse pela
bondade de Deus, não nos isenta de certas responsabilidades,
principalmente a de viver no Espírito: “Portanto, agora nenhuma
condenação há para

A paternidade divina e o princípio da maldição - 63

os que estão em Cristo Jesus, que não andam segundo a carne,


mas segundo o Espírito” (Rm 8:10).

Não podemos interpretar a graça de Deus como uma licença para


violar a lei. A graça se manifesta pelo perdão de Deus, mas
principalmente pela capacitação espiritual para vencermos o
pecado. É o poder de Deus vencendo o poder do pecado em nossas
vidas.

Vejamos alguns passos importantes para lidarmos com a maldição:

1. Discernimento das respectivas desordens espirituais


(pecados, injustiças, imoralidades, inimizades, iniquidades... nas
perspectivas pessoal, familiar, geracional e territorial).

O primeiro passo em direção à restauração invariavelmente se


fundamenta no diagnóstico correto. Um discernimento claro e
detalhado das respectivas desordens espirituais que estão
sustentando o quadro de maldição presente demonstra que estamos
falando a língua do Es-pírito Santo que é nos convencer do pecado,
da justiça e do juízo. Esse é um dos aspectos mais importantes e ao
mesmo tempo mais ignorado do ministério sacerdotal.

2. Amar a correção, decidir mudar

Enfrentar os nossos próprios erros, pecados e rebeliões, assumindo


as responsabilidades que precisamos assumir.
O princípio mais elevado para lidar com a maldição, ou seja, com o
castigo, é o amor à correção. Sem isso, o processo simplesmente
estaciona e tende a regredir. Todas

64 - Marcos de Souza Borges as vezes que tentamos lidar com as


consequências de uma desordem espiritual sem lidar com a própria
desordem em si, nos colocamos em rebelião ao propósito de Deus.

Ou seja, querer quebrar uma maldição sem lidar com as respectivas


transgressões, por mais espiritual que pareça, é rebelião. A principal
chave para lidar apropriadamente com a maldição é o amor à
correção.

Precisamos de uma atitude genuína de quebrantamento onde


decidimos mudar e concertar o que está errado em nossas vidas,
relacionamentos, casamentos, famílias, cidades, nações. Isso é
sempre um processo que demanda verdadeira conversão à vontade
de Deus, humildade, obediência, perseverança, disciplina,
intercessão (II Cr 7:14).

3. Submeter-se ao castigo, de bom coração Aqui o processo fica


ainda mais estreito. Em muitas situações, não apenas precisamos
demonstrar nossa maturidade amando a correção, mas também nos
submetendo a um tempo de castigo que está implícito, ou sendo
pro-posto para a nossa restauração. Muita gente fala que ama a
correção, mas não se submete à disciplina, ao castigo.

Certamente, todos nós já passamos pela situação onde nosso pai


ou mãe nos colocou de castigo, determinando um tempo e um lugar
para isso. Tipo assim: uma semana sem sair de casa! A solução não
é outra, senão obedecer.

Fugir do castigo só aumenta a surra. O melhor é entender esse


tempo e lugar, e submeter-se a eles.

Com Deus não é diferente. Analisando o tratamento de Deus com


alguns de seus filhos: Moisés cumpriu sua sentença de assassinato
durante 40 anos no “Reformató-

A paternidade divina e o princípio da maldição - 65

rio” de Jetro. Jacó, depois de roubar a herança do irmão mais velho


foi disciplinado por 20 anos no “Reformatório”

de Labão...

Trabalhando com aconselhamento, vejo constantemente pessoas


em situações, que podem ser melhor descritas como “um tempo de
castigo”. Veja bem, a pessoa semeou a vida inteira tudo de ruim, e
agora quer um processo de libertação que reverta isso
magicamente. Porém, essas coisas não funcionam como uma chave
liga-desliga.

Estão sendo disciplinadas, reformadas. Muitas têm dificuldade em


entender isso e estão à procura de uma solução rápida, quando o
que elas mais precisam é de entender a correção divina.

Foi o que aconteceu com Israel quando foram desterrados para a


Babilônia. Por várias gerações a nação vinha praticando a idolatria.
Como um Pai zeloso, Deus foi avisan-do através dos profetas que
se eles não se arrependessem seriam castigados, entregues nas
mãos dos seus inimigos e desterrados. Eles simplesmente não
ouviram: “Também vos enviou o SENHOR todos os seus servos, os
profetas, madrugando e enviando-os, mas vós não escutastes, nem
inclinastes os vossos ouvidos para ouvir” (Jr 25:4).

Então veio a decisão divina de que ficariam 70 anos de castigo na


Babilônia. Um castigo de 70 anos parece ser muito longo para uma
pessoa, mas quando consideramos o tempo de vida de uma nação,
parece razoável:

“E toda esta terra virá a ser um deserto e um espanto; e estas


nações servirão ao rei de Babilônia setenta anos” (Jr 25:11).
66 - Marcos de Souza Borges Deus ainda explicou que quem não
fosse para esse tempo de castigo na Babilônia, quem tentasse
escapar da disciplina, iria morrer, ou seja, seria bem pior:

“O que ficar nesta cidade há de morrer à espada, ou de fome, ou de


pestilência; mas o que sair, e se render aos caldeus, que vos têm
cercado, viverá, e terá a sua vida por despojo” (Jr 21:9).

Como eu disse, aquele que aborrece a correção acaba se


colocando em um caminho de morte. A maldição, o castigo, a
correção não é para destruir ninguém, mas, dependendo de como a
pessoa lida com isso, é o que acaba acontecendo: “Correção severa
há para o que deixa a vereda, e o que odeia a repreensão morrerá”
(Pv 15:10).

Como o pecado da nação era a idolatria, eles foram subjugados e


levados em cativeiro para a Babilônia, a terra dos ídolos: “...s ervirão
ao rei de babilônia setenta anos” . Ou seja, receberam como castigo
uma overdose de idolatria. É interessante notar que após estes
setenta anos de castigo, Israel teve outros problemas, mas não com
idolatria. Foram radicalmente disciplinados, imuni-zados contra isso.

A maldição pode ser definida como as consequências implícitas na


prática do pecado. É importante entender que algumas escolhas
pecaminosas podem deixar sequelas irreversíveis. Lógico que Deus
tem um caminho nessas situações no sentido de sempre trazer
algum tipo de benefício, ou seja, esse paradoxo, onde a maldição
acaba sendo a estratégia divina para uma vida abençoada.

A paternidade divina e o princípio da maldição - 67

Pense em uma pessoa que tenha cometido um assassinato.


Obviamente, o novo nascimento ou uma oração de quebra de
maldições não irá isentá-la das consequências sociais, legais,
espirituais acarretadas por um homicídio.
Vejamos isso na realidade do grande ícone da igreja do primeiro
século. Pense bem, todos passamos por persegui-

ções por amor ao Evangelho, mas a história de perseguição e


sofrimento vivida por Paulo está longe de ser “normal”.

A “maldição” de Paulo

“E, para que não me exaltasse pela excelência das revelações, foi-
me dado um espinho na carne, a saber, um mensageiro de Satanás
para me esbofetear, a fim de não me exaltar. Acerca do qual três
vezes orei ao Senhor para que se desviasse de mim. E disse-me: A
minha graça te basta, porque o meu poder se aperfeiçoa na
fraqueza. De boa vontade, pois, me gloriarei nas minhas fraquezas,
para que em mim habite o poder de Cristo” (II Co 12:7-9).

Você já se perguntou por que Deus não respondeu a oração de


Paulo sobre o que ele chamou de “espinho na carne” ? Ele
reconhece esse “espinho na carne” como sendo um “mensageiro de
Satanás” , ou seja, um grupo de judeus tão malignamente
obstinados pelo ódio que decidiram persegui-lo por todos os lugares
com a implacável intenção de matá-lo: “... porque mais de quarenta
homens de entre eles lhe andam armando ciladas; os

68 - Marcos de Souza Borges quais se obrigaram, sob pena de


maldição, a não comer nem beber até que o tenham morto...” (Atos
23:21).

Analisando melhor essa situação, devemos levar algumas coisas


em consideração. Primeiro, Saulo havia sido o mais tenaz
perseguidor da Igreja. Ele foi responsável pela prisão e morte de
muitos, inclusive a de Estêvão. Um homem carregado do sangue e
da dor dos santos. Depois, quando ele se converte em virtude de
uma intervenção sobrenatural de Jesus, o próprio Deus deixa claro
que Paulo enfrentaria as consequências desse passado de violência
e crimes religiosos: “E eu lhe mostrarei quanto deve padecer pelo
meu nome” (Atos 9:16).
O grande perseguidor, aquele que prendia e assassi-nava os
cristãos, agora passa a ser perseguido na pele de um cristão. Não é
difícil perceber que esse grupo radical de judeus inspirados por
Satanás era também a expressão de um necessário castigo divino.
Como o próprio apóstolo reconhece, isso o salvou do orgulho
religioso e da soberba espiritual: “... para que não me exaltasse pela
excelência das revelações” .

Paulo se submeteu a essa disciplina, aprendendo com o próprio


Deus a transformá-la em uma oportunidade de desfrutar da graça de
Deus exercitando humildade e compaixão. Ele chega ao ponto de se
condoer tanto da cegueira dos judeus, que humildemente, apesar de
todo sofrimento, intercede por eles: “Porque eu mesmo poderia
desejar ser anátema de Cristo, por amor de meus irmãos, que são
meus parentes segundo a carne” (Rm 9:3).

Não sei dizer exatamente quanto tempo esta ferrenha disciplina,


esse tempo de perseguição e castigo durou,

A paternidade divina e o princípio da maldição - 69

talvez até o final de sua vida. O mais importante foram os benditos


efeitos que essa “maldição” causou na vida de Paulo transformando-
o em um genuíno homem de Deus que impactou a sua geração e
marcou a história da humanidade.

4. Reconciliação

Toda quebra de relacionamento fere a lei do amor. A falta de perdão


aciona espiritualmente uma lei que faz com que repitamos com
outros aquilo que fizeram conosco.

“E pela cruz reconciliar ambos com Deus em um corpo, matando


com ela as inimizades” (Ef 2:16).

Um dos princípios mais elevados para lidar com as maldições reside


na reconciliação: entre pais e filhos, entre marido e esposa, entre
líder e liderado, entre raças, entre nações, etc. Não se “quebra” uma
maldição em nome de Jesus independentemente de se desfazer o
crédito de injustiça e amargura agregado aos relacionamentos.

5. Intercessão

A intercessão entra em cena quando envolve outras pessoas que


integram o mesmo corpo que nós também integramos. Aqui estão
implícitos o quebrantamento, o perdão, a identificação de tal forma
que confessamos os pecados de outros como se fossem os nossos
próprios, inspirados pela compaixão divina. Esse é um dos mais
elevados níveis de sacerdócio. Foi exatamente o que Jesus fez por
nós, e pelo mesmo princípio podemos e devemos fazer por outros.

70 - Marcos de Souza Borges Apenas quando alguém decide


pessoalmente ou intercessoriamente se colocar nesse lugar onde
Deus espera nos encontrar, a brecha, confessando e perdoando as
iniquidades geracionais, redimindo o pecado dos pais e a desonra
dos filhos, reconciliando os corações, remediando as feridas, é que
as maldições começam a ser aplacadas.
PARTE II
ENTENDENDO A
CONSTRUÇÃO DE UM QUADRO
DE HOMOSSEXUALIDADE

Capítulo 3

REVOLUÇÃO SEXUAL

UM DISCERNIMENTO HISTÓRICO

DAS NOSSAS HERANÇAS CULTURAIS

“Venerado seja entre todos o matrimônio e o leito sem mácula;


porém, aos que se dão à prostituição, e aos adúlteros, Deus os
julgará”

(Hebreus 13:4).

A saúde e o futuro de qualquer sociedade dependem, básicamente,


de uma só coisa: como essa sociedade define o casamento. Um dos
aspectos mais importantes da bênção divina é que ela está
vinculada não ao indivíduo, mas à família:

“… em ti serão benditas todas as famílias da terra” (Gn 12:3).

Quando o matrimônio perde esse lugar de veneração, a família se


desconstrói resultando em uma dinâmica multigeracional de
propagação de iniquidades. Dessa forma, o crescimento se opõe à
qualidade de vida, naufragando a sociedade em imoralidade sexual,
pobreza, violência e insegurança.
74 - Marcos de Souza Borges Desse quadro atual surgem as
questões: Como podemos dar respostas espirituais para os
problemas sociais e os dilemas sociológicos? Como podemos
edificar a igreja, se o mais importante alicerce social está
culturalmente danificado e banalizado? “Destruídos os fundamentos,
o que poderá fazer o justo?” (Sl 11:3) Para compreendermos melhor
quais são as influências que mais têm afetado a nossa geração, de
onde elas vêm, como começaram e se desenvolveram, acho
fundamental mencionarmos as quatro grandes revoluções que
aconteceram na história humana no campo da sexualidade e que
produziram repercussões globais. Com isso podemos ter em mãos
uma abordagem histórica e sociológica acerca do matrimônio e,
principalmente, um discernimento específico das heranças culturais
que mais influenciam o comportamento desta presente geração.

As quatro principais revoluções sexuais 1. Jesus e a Igreja


Primitiva

2. Movimento Monástico

3. Lutero e a Reforma Protestante

4. A Revolução Sexual de 1960 - USA

1. Jesus e a Igreja Primitiva

A primeira grande revolução e restauração sexual que precisa ser


mencionada iniciou-se na mensagem de João Batista (Lc 1:17), e
teve o seu auge no ministério de Jesus, alcançando profundidade,
estabilidade e abrangência com o crescimento e o enorme impacto
causado pela Igreja Primitiva.

Revolução Sexual - 75

Jesus libertou a mulher, tirando-a de uma posição de inferioridade


relativa ao homem, resgatando o seu valor como imagem e
semelhança de Deus, varoa, aquela que é tirada do varão, e
auxiliadora idônea. Idônea significa à mesma altura, aquela que olha
nos olhos, de igual para igual, capaz de ajudar, e não inferior; que
permanece ao lado, não atrás e nem à frente.

Jesus restaurou os direitos da mulher confrontando diretamente a


cultura sacerdotal contemporânea de divórcio e adultério, e
indiretamente condenou a poligamia praticada formal e
informalmente pela maior parte do mundo, restabelecendo o
propósito original de Deus em relação ao matrimônio monogâmico.
Ele confrontou a classe religiosa reportando-se ao início da criação:
No princípio não era assim... O sentido etimológico da palavra
restaurar é devolver algo ao seu estado ou propósito original.

Jesus também restaurou o sacerdócio da mulher. Mulheres


participavam de forma direta no ministério de Jesus, e
posteriormente são percebidas ativamente na vida da Igreja
Primitiva, cuidando de igrejas e atuando no ministério com os
apóstolos.

Enquanto a poligamia desvaloriza a mulher e en-fraquece os filhos,


o movimento social que libertou as mulheres foi o Cristianismo: o
casamento como uma união permanente e exclusiva entre um
homem e uma mulher deu às mulheres poder exclusivo sobre seus
maridos e filhos. O fator fidelidade conjugal fortalece a mulher física,
intelectual, social e moralmente, nutrindo crianças seguras, homens
maduros, comunidades sadias e nações fortes.

76 - Marcos de Souza Borges 2. Movimento Monástico

O movimento monástico começou em resposta à po-litização da


Igreja, após Constantino no Século III. Muitos cristãos, com o intuito
de preservarem sua espiritualidade, optaram por um estilo de vida
que propunha o isolamento da contaminação mundana.

A perspectiva de moralidade desenvolvida pelos mo-násticos foi o


que mais afetou os conceitos relacionados à sexualidade. O
isolamento do mundo ímpio acabou construindo ao longo dos anos
uma cultura religiosa rigi-damente celibatária.

Um aspecto marcante no movimento monástico foi a abertura e o


cultivo da racionalidade. Fazia parte da vida nos mosteiros estudar
várias disciplinas como matemática, física, astronomia, artes,
línguas, etc., fazendo com que o pensamento científico fosse
aprimorado ao longo dos séculos.

Enquanto os monges orientais estavam isolados no deserto, se


esvaziando mentalmente, meditando passivamente na beleza da
natureza, se desmaterializando, os monges ocidentais estavam
exercitando a mente e sofisticando tecno-logias que geram recursos
e aprimoram a qualidade de vida.

Partia-se do princípio de que todas as vocações carregam um


sacerdócio perante Deus, ou seja, qualquer profissão quando
exercida para a glória de Deus é sagrada, e trará como recompensa
a dignidade e o sustento de que necessitamos.

Em relação aos valores humanitários, muitas Ordens cristãs se


esforçavam arduamente trabalhando na assistência social, no
cuidado com os pobres, órfãos, idosos, enfim, construindo um
alicerce de valorização da vida nas comunidades.

Revolução Sexual - 77

Apesar de todos os aspectos positivos do Movimento Monástico, a


prática da espiritualidade reduziu-se tanto na busca por solidão,
fazendo com que o conceito de santidade se baseasse
fundamentalmente na abstinência sexual e conjugal. O sexo passou
a ser visto como algo carnal, inconciliável com a espiritualidade.
Com o passar do tempo, isso produziu uma grande mudança social
e religiosa no Ocidente, mantida até hoje pelos sacerdotes católicos
– uma cultura sacerdotal celibatária.

3. Lutero – 1522
Lutero viveu em uma das épocas de maior escuridão espiritual. Na
verdade, o seu ministério ajudou a demarcar o fim de uma época
conhecida como “os mil anos de trevas”

(500 DC - 1500 DC), quando a Igreja foi sendo paulatinamente


despojada de praticamente todas as verdades que corrobo-ravam a
vida cristã autêntica. Até mesmo os princípios mais rudimentares do
Evangelho, como a Salvação, haviam sido perdidos e deturpados.
Para termos uma ideia, a corrupção religiosa estava tão
generalizada que naquela época a salva-

ção só era oferecida mediante o pagamento de indulgências.

Não é necessário dizer o impacto social que ocorreu quando Lutero


redescobriu a verdade bíblica que somos salvos e justificados por
Deus mediante a fé no sacrifício perfeito de Jesus. Um duro golpe
nos cofres e nos abusos da igreja, trazendo uma libertação
financeira e religiosa. Esse foi um dos motivos porque a Reforma de
Lutero fez tanto sucesso: o forte impacto que ela causou no bolso
da população.

Porém, o aspecto principal da Reforma veio no campo da


sexualidade e da família, quando Lutero confrontou o

78 - Marcos de Souza Borges conceito de santidade praticado pela


Igreja que se fundamentava na abstinência conjugal.

Sofrendo muitas retaliações, Lutero se refugiou no Castelo de


Wartburg, na Alemanha, dedicando-se inten-samente ao estudo das
Escrituras e à tradução do NT para o Alemão. Uma nova leitura da
Bíblia mostrou-lhe que o movimento monástico foi construído sobre
uma crença errada: a de que a santidade requeria a virgindade
perpétua e que o sexo e o casamento eram “carnais”.

Porém, ao se deparar com Gn 2:24, pôde compreender que o


matrimônio, na sua forma original estabelecida por Deus, constituía-
se no mais poderoso mecanismo divino para produzir caráter e
maturidade no ser humano.

O casamento é, portanto, a expressão mais original possível do


propósito divino para a raça humana. Ele foi instituído antes mesmo
do pecado entrar no mundo, ou de existirem governos ou a Igreja.

Essa foi a conclusão a que o próprio Deus chegou na Criação.


Depois de tantas vezes expressar a sua satisfação dizendo que tudo
que criara era bom, ele percebe um problema: “… não é bom que o
homem esteja só” (Gn 2:18). Lutero redescobriu essa mesma
percepção divina.

Ele entendeu claramente que apesar do sucesso dos mosteiros em


desenvolver a racionalidade, eles não estavam cultivando caráter, o
que haviam sido criados para fazer.

Ficou evidente para ele que o princípio original de Deus para


produzir santidade de caráter e maturidade emocional está
associado ao casamento e à procriação, cuja participação dos
líderes religiosos estava proibida.

Concluindo que o sexo era parte da criação boa e perfeita

Revolução Sexual - 79

de Deus, o conceito de santidade pregado pela cultura vigente dos


monastérios baseado na abstinência conjugal estava
essencialmente equivocado.

Lutero levou esse entendimento muito a sério, inclusive decidindo


casar-se com uma ex-freira chamada Kathari-na Von Bora,
discipulando as pessoas a partir da sua família.

Isso se tornou uma arma nas mãos de seus adversários para atacar
a Reforma. Diziam que a Reforma era apenas a racionalização do
desejo pecaminoso de Lutero por sexo.
Lutero respondeu dizendo que, muito pelo contrário, agora sim, ele
estava galgando a verdadeira santidade. Ele disse:

“Um ano de casamento me santificou mais que dez anos

de monastério!”

Casamento traz à tona o que há de pior em nós, mas também nos


refina. O casamento monogâmico desafia o caráter humano,
estabelecendo uma aliança por toda a vida, onde temos que
aprender a conviver com uma pessoa, de sexo oposto, totalmente
diferente de nós, exercitando fidelidade, confiança, compromisso,
transparência e muitos outros valores implícitos na natureza divina.
Um verdadeiro xeque-mate no egoísmo e nas limitações de caráter
e comportamento.

Lutero propagou a ideia radicalmente nova de que o casamento,


não o mosteiro, é a verdadeira “escola do caráter”, produzindo
pessoas sadiamente emancipadas e maduras. O sexo matrimonial,
não o celibato, constrói uma cultura forte. Hoje, mais do que nunca,
é evidente que o celibato gera muitas distorções e abusos,
misturando religiosidade com imoralidade (I Tm 4:3).

Também estava muito claro para ele que assim como o sexo restrito
ao matrimônio monogâmico produz indi-

80 - Marcos de Souza Borges víduos, famílias e comunidades


fortes, a atividade sexual extramonogâmica, sem as restrições de
moralidade e sabedoria, é altamente destrutiva.

Ao defender o casamento, Lutero estava promovendo a ideia


moralmente exigente de uma relação de amor exclusivo e ao longo
de toda a vida entre um homem e uma mulher. O sexo dentro do
casamento é sagrado e honrado, mas fora do casamento é
pecaminoso e destrutivo. Lutero restabelece os valores bíblicos para
o casamento, os quais civilizaram a Europa.
A monogamia é difícil porque não pode ser sustentada sem uma
espiritualidade que ordena o amor acima da luxúria; submissão
como segredo da legítima autoridade; fidelidade conjugal como base
da confiança e da intimidade; mansidão como a fonte de serviço e
conquista. Realmente, como uma escola que aprimora a índole
humana, a monogamia é difícil.

É por isso que nenhuma cultura na história a tornou obrigató-

ria. Essa é uma ideia peculiar do NT, enraizada nas Escrituras


judaicas: Adão e Eva deveriam ser permanentemente “um” , aquilo
que Deus uniu, não separe o homem.

Imagine como a maioria dos sacerdotes na Europa, que eram todos


celibatários, recebeu a pregação de Lutero demonstrando
biblicamente que o casamento, não a abstinência familiar, prepara
ainda melhor o ser humano para servir a Deus! Para uma grande
maioria era tudo o que eles queriam ouvir! Viva Lutero!

Antes de Lutero, os sacerdotes europeus não se casa-vam. Essa


nova compreensão sobre o casamento libertou aquela geração de
pessoas que queriam servir a Deus, mas se sentiam oprimidas pelo
voto de castidade e pobreza.

Revolução Sexual - 81

Esse conceito da fidelidade matrimonial associado ao ministério


cristão espalhou-se por todo o mundo, especialmente na Inglaterra e
noutros países do norte europeu, com o ímpeto de uma grande e
consistente revolução a partir da casa de Lutero, em Wittenberg.

Com essas bases familiares já bem fortalecidas é que os puritanos


britânicos, juntamente com suas famílias, fugindo da perseguição
religiosa, chegam à América do Norte em busca de liberdade e de
uma Nova Inglaterra.
Esse aspecto da estrutura familiar levada pelos ingle-ses afetou
profundamente a forma como a colonização se deu. É uma longa
história, mas, sociologicamente falando, o resultado é que a
sociedade que melhor definiu e experimentou o modelo divino para
a família foi a sociedade ocidental (anglo-saxônia e norte-
americana), por isso tornaram-se incomparavelmente mais fortes,
propagando o Evangelho para o mundo todo.

Porém, isso permaneceu até aproximadamente o ano 1960, desde


quando um crescente retrocesso tem ocorrido. Para
compreendermos melhor esta mudança, vamos fazer um breve
apanhado histórico da desfuncionalização familiar que está cada vez
mais globalizada. Assim, podemos construir um discernimento
espiritual das principais heranças culturais que estão moldando o
nosso mundo e homogeneizando a cultura.

4. REVOLUÇÃO SEXUAL DE 1960

O fútil legado americano - a hollywoodização do mundo Para


Lutero, o sexo era para o prazer, a procria-

ção e uma ligação familiar em unidade permanente. A

82 - Marcos de Souza Borges revolução sexual de 1960 separou os


prazeres do sexo do papel que essa ligação desempenha na
construção de relações estáveis e seguras. Isto está transformando
homens em meninos (playboys), que assumem pouca ou nenhuma
responsabilidade com as mulheres que amam ou os filhos que
geram. Também está transformando as mulheres fortes do Ocidente
em mães solteiras e donas de casa desesperadas ( Desperates
Housewives – seriado americano).

Entre 1999 e 2004, a taxa de suicídio nos USA aumen-tou 19,4%


para homens e 31% para mulheres de 45 a 54

anos. Uma pesquisa recente no Brasil denunciou que os homens


em geral estão chegando à fase adulta apenas aos 45 anos de
idade, em média, um retardamento moral e emocional crônico.

A maioria dos sociólogos concordam que o Ocidente se tornou mais


forte do que outras civilizações porque suas mulheres e famílias se
tornaram mais fortes que as mulheres e famílias orientais; porém,
desde os anos 60

esta realidade está mudando tragicamente.

Podemos estabelecer duas principais fases que de-marcaram a


Revolução Sexual de 1960:

FASE 1: Mudanças sociais

1. Ascenção americana

Abalada por ser o palco de tantas guerras na primeira metade do


Século XX, a Europa deixa de ser a grande po-tência mundial,
dando lugar aos USA. Acontece uma transferência geográfica de
potência. Beneficiados pelas guerras

Revolução Sexual - 83

no continente europeu, os Estados Unidos transformam-se na maior


potência econômica, energética, científica e bélica do mundo,
seguida pela Rússia.

O crescimento do país atingiu muitas outras áreas, dentre elas a


indústria cinematográfica, a comunicação, o entretenimento, e
principalmente a expertise em propaganda e marketing.
Rapidamente a América transforma-se no maior país exportador de
cultura do planeta, fazendo com que as mudanças que passaram a
ocorrer assumissem proporções globais. Inicia-se o massificante
processo de secularização ou “hoolywoodização” do mundo.
2. O Movimento Feminista
Juntamente com a recuperação econômica dos Estados Unidos,
acontece um desequilíbrio social durante a Segunda Guerra
Mundial, quando cinquenta milhões de americanos são enviados
para a guerra. Essa enorme lacuna deixada por pais e maridos
causou um deslocamento social fazendo com que a mulher
migrasse de dentro do lar para o campo de trabalho.

Sem o suporte do marido em casa e todo esse vazio social deixado


pelos homens enviados para a guerra, em busca de
sustentabilidade, a mulher americana tornou-se a grande força da
mão de obra nas fábricas e empresas, principalmente as de cunho
bélico. Com isso, rapidamente as mulheres levantam a economia
nacional e conquistam a sua independência financeira. É
interessante mencionar que aqui começa uma nova demanda
industrial em produzir os eletrodomésticos para substituir a mulher
nos seus deveres no lar.

84 - Marcos de Souza Borges Depois de conquistar a sua


independência financeira, sem depender mais da provisão do
homem, a mulher parte em direção à sua independência sexual,
colocando em cheque o casamento e a família. Aqui começa o
Movimento Feminista.

Quando os milhões de homens retornam da guerra, encontram uma


mulher diferente, independente, secula-rizada, sexualmente livre,
com uma nova proposta de vida fora do lar. A natureza é simples,
nove meses após uma relação sexual vai nascer um bebê. O
resultado disso foi a geração dos “babyboomers” (crianças que
nasceram no pós-guerra, entre 1946 e 1964) e que foram os
protagonistas do Movimento Hippie nos anos 60 e 70. Uma
verdadeira explosão dos filhos da morte do matrimônio.

O Poder da Pílula
A independência sexual da mulher ganha um novo avanço com a
descoberta da pílula. A pílula ajudou a trazer uma transformação na
vida americana - na estrutura familiar, comportamento sexual,
definição de papéis, e local de trabalho. Ainda que a pílula tenha
sido criada para as mulheres pobres dos países considerados
subdesenvolvi-dos com o objetivo de conter a explosão
demográfica, as que mais consumiram foram mulheres de classe
média e alta dos USA e Europa.

A pílula foi introduzida num tempo quando as pessoas já tinham


começado a mudar suas atitudes em relação ao sexo. Uma revolta
geracional, um aumento no número de jovens que estavam tomando
um novo rumo, o movimento feminista lutando por igualdade – e a
pílula – tudo isso

Revolução Sexual - 85

contribuiu para o que se tornou conhecido como Revolução Sexual.


A maior contribuição da pílula foi a separação de causa e
consequências de reprodução – sexo e descendência.

O movimento feminista deu grandes saltos nos anos 60, uma


década quando milhões de mulheres americanas começaram a usar
a pílula. A pílula foi um tema comum em debates públicos sobre a
mudança do papel da mulher. As mulheres podiam escolher o
momento e a frequência para engravidar de acordo com a demanda
de trabalho fora do lar. Sem a pílula e outros contraceptivos, o
crescimento dramático do número de mulheres na força de trabalho
americana teria sido bem menor.

3. A cultura do Divorce no fault

O Ocidente foi capaz de sustentar a monogamia apenas enquanto


acreditou que o amor era um dom da graça, um fruto do Espírito. As
pessoas passaram a ser ensinadas que o espírito não existe e que o
amor é apenas química. Uma vez que a química muda, você não
consegue amar a mesma pessoa. A química é egoísta, e a vida
espiritual não negocia o auto-sacrifício pela química. Com esse
ensino, o divórcio se tornou comum. Com isso veio a
descriminalização social do adultério e a famosa cultura do “divorce
no fault” (divórcio sem culpa) nos USA, uma crescente desde os
anos 60.

4. Banalização do casamento

Quando a consciência social americana acerca do divórcio foi


cauterizada, a vida sexual começou a perder os limites causando
um grande impacto no estilo de vida dos jovens e adolescentes.
Juntamente com o movimento

86 - Marcos de Souza Borges de contracultura que confrontava a


política americana da guerra, entra em cena a “cultura do não
casamento” : sexo livre, drogas e rock and roll.

A tragédia espiritual só não foi maior devido ao Jesus Moviment, um


grande avivamento que se alastrou por toda a América,
conseguindo resgatar milhões de perdidos. Muitos dos grandes
pregadores e missionários da atualidade são filhos desse mover
divino nos anos 70.

Resumindo essa primeira fase, o que Lutero restaurou em 1522 o


Ocidente começou a perder a partir da Revolu-

ção Sexual de 1960.

FASE 2 – As consequências sociais - Anos 70

“Um abismo chama outro abismo, ao ruído das tuas catadupas...”


(Sl 42:7).

1. Epidemia de adolescentes grávidas e pais precoces Cada vez


mais cedo as pessoas passam a ter uma vida sexual ativa. A dura
escravidão produzida pela permissividade se infiltra disfarçada de
liberdade, paz e amor. A década de 70 é caracterizada por uma
explosão de gravi-dezes indesejadas. O problema agora se torna
epidêmico.

As transformações sociais trazidas pelo Movimento Feminista


começam a produzir profundas feridas na sociedade. As duras
consequências da inconsequência começam a surgir. Uma das
capas da Revista Time nos anos 70 trazia essa preocupante
denúncia estampada na foto de uma adolescente grávida.

Revolução Sexual - 87

2. A Indústria do aborto

Com o crescente aumento das concepções precoces e indesejadas,


a solução dada pela sociologia espiritualmente cética e cega foi o
aborto, transformando-o em uma das maiores e mais sinistras
indústrias do planeta, onde milhões de crianças têm sido
assassinadas pelas próprias pessoas que mais deveriam aceitá-las,
protegê-las e amá-

-las. É difícil avaliar o crédito de injustiça que tem sido


espiritualmente acumulado com tanto derramamento de sangue
inocente.

Desde então, o aborto é ensinado aos jovens e adolescentes nas


escolas americanas. O que muitos não cogitaram é a diferença
entre a teoria e a prática do aborto. Apesar da teoria ser convincente
e tudo parecer normal e seguro, quando uma adolescente passa
pela experiência de destruir um feto assassinando seu próprio filho,
a devastação é total.

Além das duras implicações espirituais, essas pessoas multiplicam


as chances de sofrerem severos distúrbios emocionais e orgânicos,
como problemas depressivos, esterilidade, culpa crônica, etc.

3. Aumento exponencial das desordens


psicoemocionais
Todos esses fatores foram produzindo uma total desproteção
espiritual sobre o indivíduo e a sociedade.

As predisposições aos distúrbios emocionais cresceram


alarmantemente. O crédito de injustiça, imoralidade, orfandade,
aborto, divórcio, apostasia… acumulado pelos filhos da Revolução
Sexual de 60 começa a cobrar um alto preço, destruindo a saúde
física e psicoemocional de muitos.

88 - Marcos de Souza Borges Pesquisas apontam que em trinta


anos o percentual de pessoas com distúrbios depressivos subiu de
3% para 30% na população americana. Grande parte da população
ocidental está vivendo à base de antidepressivos, ansiolíticos,
psicotrópicos, tratamentos psicológicos e psiquiátricos.
4. Abuso infantil
A fragmentação familiar trouxe consigo a perda dos vínculos
familiares (existenciais), elevando epidemicamen-te os índices de
abuso e violência. Mães solteiras, pais marginalizados, filhos
vulneráveis, famílias miseráveis.

Esta é a receita para a proliferação da pedofilia, da prostituição


infantil, da pornografia e de todo tipo de violência e perversão
sexual.

Na verdade, as pessoas que pagam o maior preço na separação


familiar são os filhos. Sem o convívio e a prote-

ção dos pais, eles ficam vulneráveis a abusos físicos, morais e,


principalmente, abusos sexuais.

5. Confusão entre correção e violência Devido ao elevadíssimo


índice de abusos, tentando proteger as crianças, o governo decidiu
interferir diretamente na forma como os pais ou responsáveis
educam os filhos. Entra em cena uma questão dificílima. Um sério
conflito entre duas esferas de autoridade: família e governo. Como
diferenciar a correção do abuso? Deve-se tirar a autoridade dos pais
para corrigir os filhos tentando prevenir os abusos? Como controlar
a forma como pais e responsáveis tratam os filhos?

Um dos resultados desse dilema é que temos uma

Revolução Sexual - 89

geração superprotegida pela lei que cresce sem correção e cada


vez menos respeita os pais ou qualquer outro tipo de autoridade.

Quando a nova geração não é corrigida, ela tende à delinquência.


Essa foi a transgressão de Eli, ele não teve força moral para corrigir
os seus filhos. Mesmo sabendo que eles praticavam imoralidades e
roubavam das ofertas, não os repreendeu. Deixou que eles
continuassem minis-trando no tabernáculo. Os resultados foram
trágicos: a presença de Deus deixou a nação ( Icabode); Eli e seus
filhos morreram; sua casa foi removida do ministério sacerdotal; e a
sua descendência foi tragicamente amaldiçoada.

Uma mãe zelosa em uma igreja nos USA onde eu mi-nistrei estava
sendo ameaçada de perder a guarda do seu filho. O motivo é
porque usava uma varinha para corrigi-lo.

Depois de explicar biblicamente por que agia dessa forma,


perguntou ao policial que a confrontava: Sabe por que uso a vara
para corrigir o meu filho quando isso é necessário? Ele respondeu:
Por quê? Ela disse: Está vendo esse cassetete pendurado no seu
cinto? Sim, disse ele. Se eu não corrigir o meu filho com esta vara,
daqui a pouco, quem vai bater nele com esse cassetete é você!

6. Delinquência: distorções no campo da moralidade e


sexualidade

Nunca se viu tanta gente carregando uma perseguição homossexual


como atualmente. Na verdade, o homossexualismo não é
simplesmente uma ideia, filosofia ou um estilo de vida que cai de
paraquedas na vida de uma pessoa.

Em muitos casos que atendemos, constata-se um esquema

90 - Marcos de Souza Borges multigeracional de propagação de


abusos e imoralidades, praticados caladamente, na surdina.

O problema da perversão sexual é que parece que ela nunca tem


fim. Sempre se encontra um jeito de piorar e distorcer ainda mais a
imagem do propósito divino. Esta é a lógica do hedonismo, da
idolatria ao prazer.

O matrimônio, por sua vez, estabelece a inteligente lógica do prazer


submetido à responsabilidade moral, congregando os mais
importantes elementos que constro-em uma sociedade sadia:
fidelidade, respeito, confiança, integridade, reprodução, proteção,
amor sacrificial, maturidade, intimidade, domínio próprio,
convivência...

Não se iluda, a homossexualidade não é o maior problema; só é o


efeito colateral de uma cultura de fornicação e adultério que
desconstroém a família ao longo das gerações. Como estamos
demonstrando historicamente, o legado homossexual vem como a
consequência da consequência, da consequência, da
consequência... da morte do matrimônio, que teve seu início no
Movimento Feminista.

É um processo de decadência levado ao extremo. Basta estudar um


pouco sobre a queda das grandes civilizações para constatar que
isso nunca termina bem.

As consequências da delinquência

• Frustração

A homossexualidade é o resultado de um longo processo de


apostasia e decadência moral. É um estágio avançado de uma
linhagem familiar e ou uma sociedade saturada e contaminada
espiritualmente pela insaciabilidade sexual, o

Revolução Sexual - 91

principal eixo do hedonismo. No fundo, nada mais é que a


delinquência passivamente aprovada por alguns e aceita por outros.
Porém, toda delinquência vai parar em uma sólida parede de
frustração: “O que ama os prazeres padecerá necessidade” (Pv
21:17).

Esta é uma lei espiritual pouco conhecida e muito ex-perimentada


por esta geração, a “lei da frustração”: Quanto mais o prazer é
buscado e praticado sem limites, tanto mais o indivíduo e a
sociedade são conduzidos ao sofrimento.

Todo prazer buscado e praticado em detrimento da responsabilidade


espiritual e social só faz aumentar a ansiedade e a frustração. Esta
desgovernada busca pelo prazer, ao longo de gerações, tem
gradativamente conduzido o ser humano ao extremo da inversão e
mutilação da identidade sexual, descaracterizando a essência do
indivíduo. A que ponto uma sociedade pode chegar embalada pela
cobiça?

“Como o inferno e a perdição nunca se fartam, assim os olhos do


homem nunca se satisfazem” (Pv 27:20).

• Rejeição (apedrejamento)

Outra face das consequências trazidas pela perversão sexual é um


outro tipo espiritual de perseguição, a rejeição, um tipo de
apedrejamento emocional, psicológico e social.

Por mais que se faça um grande movimento de conscientização


para aplacar preconceitos humanos e a fúria do mundo espiritual
contra pedófilos, prostitutas, gays, etc., a tendência é que isso
nunca acabe definitivamente.

O pêndulo fica se movendo de um para o outro extremo.

Agora estamos no momento da ditadura homossexual. O

princípio da ditadura se estabelece pela falta de discernimento

92 - Marcos de Souza Borges entre aceitação e aprovação.


Aceitação é incondicional, ligada ao valor intrínseco do ser humano;
porém, a aprovação é condicional e depende do caráter, ou seja,
das escolhas.
Aceitar a pessoa independentemente das suas escolhas é uma
questão de civilidade; ser obrigado a aprovar uma conduta que fere
os valores próprios é abuso. Apesar de aceitarem a pessoa em
questão, os que não aprovam a conduta homossexual, por exemplo,
são ostensivamente marginalizados e discriminados, tudo em nome
do preconceito. Com isso o processo de anarquia social apenas
piora.

7. Conceito de família sem casamento

Este é o fundo do fundo do poço de uma sociedade rumo à


destruição. Praticamente já se institucionalizou um conceito de
família sem o casamento, ou seja, sem lealdade, sem compromisso,
sem confiança, sem amor sacrificial, sem verdade. Todos esses
valores e mecanismos que nos fazem participantes da natureza
divina estão cada vez mais excluídos, fragilizando ainda mais os
alicerces da sociedade. Sem este alicerce, toda tentativa de lidar
com a rebelião, violência, criminalidade, imoralidade das
decorrentes gerações é como enxugar gelo.

Esse sofisma tem-se propagado tanto que, atualmente, além dos


heterossexuais não quererem se casar, os homossexuais estão
brigando pelo direito de casar. Os solteiros estão vivendo como
casados e os casados como solteiros. As prostitutas, agora, são
apenas profissionais do sexo. A fidelidade conjugal tornou-se motivo
de chacota, quadradice, enquanto o adultério é abertamente incenti-
vado pela mídia... Todos querem uma família, porém ao

Revolução Sexual - 93

excluir o matrimônio, as próximas gerações pagarão um preço cada


vez mais elevado.

O matrimônio e a economia – A crise europeia David Cameron,


Primeiro Ministro da Inglaterra, usou um artigo de jornal no Dia dos
Pais para defender o estilo de vida familiar tradicional, descrevendo
que esta é a “pedra de esquina da nossa sociedade”.
Cameron tem feito um diagnóstico interessante sobre a crise
financeira na Europa. Ele diz que a Inglaterra está se transformando
em um país de famílias fragmentadas. Na verdade, esta não é
apenas uma realidade na Inglaterra, mas no Ocidente de forma
geral. O conceito de família que transformou a Inglaterra em uma
das mais poderosas nações do mundo está se desmoronando, e
explica como isso afeta principalmente a economia do país.

Em uma nação onde aproximadamente cinquenta por cento dos


filhos são concebidos fora do casamento, na luxúria e na
irresponsabilidade, e tantos outros, por uma série de outros motivos,
principalmente o divórcio, vão crescer sem o cuidado de um dos
pais ou de ambos, o problema sócioeconômico assume proporções
gigantescas.

Em muitos casos, quando um marido abandona a esposa, o


resultado é que, ou ela acaba naufragando em algum tipo de
colapso, ou precisa se desdobrar para sustentar os filhos, fazendo
com que esses percam não só o pai, mas também a mãe. Cameron
denuncia as consequências quando um pai abandona a esposa e os
filhos, dizendo que essas mulheres têm uma enorme propensão ao
alcoolismo e à depressão, enquanto os filhos tendem a
delinquência,

94 - Marcos de Souza Borges vícios, marginalidade, criminalidade,


acidentes, etc., gerando altos custos com saúde física, emocional,
psicológica, sistema penitenciário, etc.

Em um país de primeiro mundo como a Inglaterra, quem paga essa


conta? Obviamente é o sistema previden-ciário, ou seja, o Governo.
Esses gastos estão se tornando tão elevados que, supostamente,
isso está quebrando a economia, não apenas da Inglaterra, mas de
muitos outros países. Cameron defende a ideia de que pais
divorciados deveriam pagar mais impostos, pois eles custam
extremamente caro para os cofres do Governo.
Esse é o mesmo raciocínio que tem levado o Brasil a uma
campanha tão pesada contra o cigarro, por exemplo, onde o motivo
principal é financeiro. Com a diminuição do tabagismo, o Governo
brasileiro economiza milhões que deveriam ser investidos no
tratamento do câncer e outros problemas relacionados ao fumo.

Veja o que David Cameron, em uma reportagem no Dia dos Pais


disse ao Daily Mall, Sábado, 18 de Junho de 2011: O Primeiro
Ministro da Inglaterra disse que

“pais fujões” estavam sendo “incompetentes”

em sua função de pai e deveriam sentir a vergonha total de suas


ações. Ele reafirmou o seu compromisso com a diminuição de
impostos para casados. Há muito tempo atrás pais que deixavam
suas famílias eram estigmatizados e totalmente envergonhados, ele
acrescentou. Eles deveriam ser tratados da mesma maneira que
motoristas bêbados e pagar mais impostos.

Revolução Sexual - 95

Esses pais precisam entender esta mensa-

gem, de todas as partes de nossa cultura, que aquilo que eles estão
fazendo é errado – deixando mães solteiras, que fazem um trabalho
heroico diante de todas as desigualdades, para terem que se virar
sozinhas, isto é simplesmente inaceitável.

O Primeiro Ministro acredita que há muitas crianças crescendo na


Grã-Bretanha que nunca receberão o amor de um pai. E nós
sabemos, também, as consequências disto: Quando os pais não
estão ali pelas suas crianças, elas são mais propensas a viver na
pobreza, fracassando na escola, acabando na prisão e
desempregadas no final da vida. Ele disse: Não podemos ignorar
isto. Na verdade, seria um abandono de dever se os políticos o
fizessem.
O Primeiro Ministro insistiu que o Governo teria que “começar a
atacar” o sistema de benefícios, então pais não perderiam dinheiro
se ficassem juntos. “E sim, eu quero que todos nós possamos
reconhecer o casamento no sistema de impostos, para mostrarmos
o quanto valorizamos o compromisso”.

Aproveito para acrescentar os resultados das pesquisas, divulgados


no mesmo jornal inglês:

1. Pais não casados estão seis vezes mais pro-pensos a se


separarem quando as suas crianças completam cinco anos do que
aqueles que são casados, diz pesquisadores. Parceiros amasia-

96 - Marcos de Souza Borges dos encaram um “desproporcional”


risco de se separarem nos primeiros anos de vida de seus filhos. O
estudo que foi feito pela Jubilee Centre reacende a preocupação de
que rapidamente a Grã-Bretanha está se tornando uma nação de
lares desfeitos.

2. O tópico é particularmente preocupante, pois outros


pesquisadores mostram que crianças vindas de casais,
especialmente casados, são mais propensas a fazerem as coisas
melhor do que as que vêm de pais solteiros.

3. Ano passado, o Secretário do Trabalho Ian Duncan Smith alertou


que crianças vindas de lares desfeitos têm nove vezes mais
chances de virem a cometer um crime quando grandes do que as
vindas de famílias estáveis. Pesquisadores de Cambridge
analisaram 14.000 casas e 22.265 adultos.

4. Entre pais que vivem juntos e tiveram a sua primeira criança, 37%
se separaram quando seu filho completou cinco anos. Para pais
casados este número cai para 6%.

5. Completando 16 anos de idade, o número de divórcios entre pais


casados passa para 16%.
Entre pais que vivem juntos esse número fica quatro vezes mais
alto; ele vai para 66%.

6. Para casais que intencionalmente vivem juntos e depois se


casam este risco fica em 7%

enquanto o filho tem 5 anos, e 29% quando completa 16.

Revolução Sexual - 97

Dr. John Hayward, diretor da pesquisa disse:

“Todas as evidências apontam que famílias dirigidas pelo


casamento, com pais biológicos que não viviam juntos antes do
casamento, proporcionam um melhor ambiente para ambas as
pessoas e filhos. Isto tem incríveis consequências para todos nós
como indivíduos, sociedades, economia e política.”

O Escritório Nacional de Estatísticas mostra que uma entre três


crianças mora somente com o pai ou com a mãe.

A última esperança, que nunca morre

Este breve resumo histórico nos faz lembrar onde nós caímos: a
sociedade tropeçou no altar do matrimônio e o tombo tem sido
grande. Só existe uma única esperan-

ça: a Igreja de Cristo, a coluna da firmeza e da verdade, dispondo-


se a uma nova revolução sexual. O despertar divino de uma nova
geração pura que tem a ousadia de se guardar para o matrimônio!
Uma revolução moral capaz de restaurar os alicerces da família e do
casamento!

Deus certamente está levantando esse povo. Milhares e milhares já


estão engajados nessa linha de frente. Fico empolgado com a
enorme quantidade de pessoas, ministérios e igrejas que têm
trabalhado seriamente em prol da restauração familiar no Brasil.
Não apenas temos quórum, mas temos o Poder em Pessoa
conosco para uma grande virada social, uma nova Reforma!

Esse é o soar de um toque afinado da trombeta de Deus chamando-


nos para um campo de batalha específi-co, o casamento, onde
certamente todas as batalhas são

98 - Marcos de Souza Borges decididas! Quem tem ouvidos ouça! O


Noivo se aproxima!

Prepare-se para o Casamento!

“E o Espírito e a noiva dizem: Vem. E quem ouve, diga: Vem. E


quem tem sede, venha; e quem quiser, tome de graça da água da
vida”

(Ap 22:17).

A lealdade no casamento é maior prova

que estamos preparados para a volta de Jesus!

Se não somos fiéis ao nosso cônjuge, como po-

deremos estar nas bodas com o Cordeiro?

Mediante todo esse discernimento, resta-nos uma grande


responsabilidade: a possibilidade de uma nova revolução sexual,
uma revolução moral onde, como Igreja, vamos restaurar os valores
divinos para o casamento e a família, refundando os alicerces da
nossa sociedade.

Fontes de pesquisa:

- Verdade e Transformação - Vishal Mangalwadi (www.

editorajocum.com.br)
- Museu da História Americana em Washington DC - USA

- Daily Mall, Sábado, 18 de Junho de 2011 - Londres

Capítulo 4
ESPIRITUALIDADE
E HERANÇA

A homossexualidade, a espiritualidade e as heranças


espirituais

Depois de estabelecido um discernimento histórico das nossas


heranças culturais podemos entender melhor porque a sociedade
está cada vez mais saturada de pessoas sofrendo com o
desvirtuamento da identidade sexual.

De forma bem simplificada, a homossexualidade pode ser definida


como uma “desordem pneumocomportamental” resultante da
desmoralização do matrimônio e a consequente desconstrução e
desfuncionalização familiar.

A proposta fundamental desenvolvida a partir da Revolução Sexual


de 1960 desencadeada pelo Movimento Feminista resume-se no
modelo de família que banalizou o matrimônio. Este é um dos
maiores e mais destrutivos sofismas da atualidade: “o conceito de
família sem o casamento”.

100 - Marcos de Souza Borges Quando você tira o casamento da


família, você aniquila a fidelidade, o compromisso, o respeito, a
confiança, o altruísmo, a aliança. Estes são exatamente os mesmos
valores que quando exercitados nos fazem participantes da
natureza divina alicerçando uma sociedade saudável.

Tudo isto tem sido negociado em prol do hedonismo e da


permissividade moral, fazendo com que as próximas gera-

ções paguem um preço cada vez mais elevado.

A morte do matrimônio está produzindo uma sociedade duramente


caracterizada pela perda dos vínculos familiares, o que compromete
profundamente o referencial de identidade e sexualidade, colocando
cada vez mais em cena o homossexualismo, que cresce e se impõe
não só como filosofia, mas como uma ditadura, uma nova revolução
sexual.

Depois desta olhada macrossocial, vamos analisar a


homossexualidade focalizando-a sob a perspectiva micros-social, do
ponto de vista do sistema familiar. A dificuldade para se lidar com
esse tipo de questão é que a perseguição sexual e homossexual
precisa ser entendida sob dois parâ-

metros facilmente impercebíveis:

• O parâmetro da espiritualidade

• O parâmetro da herança

1. O PARÂMETRO DA ESPIRITUALIDADE

Comparo o “paradigma da espiritualidade” ao “paradigma dos


micróbios”. Antes da Teoria dos germes ser conhecida, os médicos
não entendiam a natureza de muitas doenças e como elas se
proliferavam. Inclusive, eles mesmos,

Espiritualidade e Herança - 101

em muitas ocasiões, eram os agentes que promoviam


contaminações fatais. Quando o mundo invisível dos micróbios foi
descoberto, a medicina deu o seu maior salto. De igual forma,
quando entendemos o mundo invisível dos espíritos, da forma
correta, bíblica, discernimos respostas e soluções cruciais. É como
alguém que era cego e passou a enxergar.

A ciência e a espiritualidade

Atualmente existem vários segmentos da ciência in-teressados no


campo da espiritualidade. É uma tendência científica relativamente
nova, mas crescente. Vejamos resumidamente a evolução histórica
de como a Ciência e a Filosofia1 vêm se relacionando com a
espiritualidade, principalmente, neste último século. Todos esses
sistemas de pensamento possuem adeptos na sociedade hoje:

• MONOTEÍSMO: Existe um só Deus, infinito e pessoal, o Supremo


Criador não criado, Pai de todos nós.

• POLITEÍSMO: Existem muitos deuses, cada um com sua própria


área de domínio e poder.

• ATEÍSMO: Não existe deus nenhum. A

ideia de um Criador não passa de uma criação da imaginação


humana. Uma longa história de apostasia e abusos protagonizada
pelo catolicismo, principalmente durante a idade das trevas (500

- 1500 DC), e no século passado a ferida aberta pelas guerras


mundiais estabeleceu um poderoso manto de desilusão religiosa na
Europa, dando início a um forte movimento ateísta.

102 - Marcos de Souza Borges

• HUMANISMO ATEÍSTA: Se existe um deus,

esse deus é o próprio homem. O Homem é deus.

Rapidamente esta ideologia foi frustrada.

• RACIONALISMO ATEÍSTA: Exercitando sua

divindade, o homem aponta a razão como o úni-co meio para se


conhecer a verdade. Mais outra frustração.

• EXISTENCIALISMO ATEÍSTA: O homem dá

um salto não racionalista a planos situados fora da mente, para


buscar ali um sentido pessoal para sua existência. Um
reconhecimento final por uma perspectiva racional que o ser
humano não consegue ser Deus.

• OCULTISMO: O homem entra no mundo

invisível, não sensorial, com o objetivo de descobrir sua identidade e


encontra-se com outro deus que se intitula “o príncipe deste
mundo”, ou Satanás. Ele é tão astuto, que muitos dos que o servem
nem ao menos creem na sua

existência.

São tantas as evidências que sustentam cientificamente a existência


do sobrenatural que muitos cientistas estão se tornando “crentes”.
Cada vez mais a Ciência avança em direção ao campo da fé,
fazendo incansáveis investigações sobre paranormalidade,
extraterrestres, parapsicologia, mediunidade, vida após a morte, etc.
Mesmo usando paradigmas equivocados, fico impressionado com a
fé exibida por tantos cientistas usando inclusive textos bíblicos na
tentativa de validar os seus argumentos.

Espiritualidade e Herança - 103

Todas essas visões de mundo – com exceção da primeira, o


monoteísmo – mostram o homem distanciando-

-se de um relacionamento pessoal com o Criador, que se revelou a


Moisés como o “Eu sou” , em busca de respostas.

No politeísmo, ele considera divindades as entidades criadas que


fazem parte da sua vida, isto é, o sol, as árvores, o vento, etc. No
ateísmo, ele diz para o “Eu sou”: “Tu não és” . Consequentemente, é
obrigado a concluir: “O único

“Eu sou” que existe, com certeza, sou eu” , isto é, o homem.
Com Deus fora de cena, o próprio homem tenta ser deus, no
pensamento do humanismo e do racionalismo ateístas.

No existencialismo, vemos o ser humano afastar-se do racionalismo,


desligar-se das questões centrais da vida e buscar outra forma de
dar sentido à sua existência. Mas ele logo esgota seus recursos
interiores de auto-identificação e daí, para entrar no mundo dos
espíritos e descobrir outra força ou influência, é apenas um passo.
Sutilmente, ele acaba penetrando nos domínios do “deus deste
século” (II Co 4:4)2 escorregando para o ocultismo.

Todo esse distanciamento de Deus tem gradativamente aberto


espaço para infiltrações demoníacas que distorcem a natureza
humana criada à imagem e semelhança divina produzindo
realidades chocantes.

A Bíblia e a espiritualidade

É difícil escrever sobre espiritualidade sem perder o equilíbrio e


diminuir o senso de responsabilidade. Sempre evito o
posicionamento de satanizar qualquer situação que seja. Isso
subtrai a pessoa da sua soberania e, normalmente, gera mais
constrangimentos que soluções. Porém, em

104 - Marcos de Souza Borges muitas realidades humanas, ignorar


a ação demoníaca pode ser tão desastroso quanto supervalorizá-la.

A imoralidade sexual cada vez mais é aclamada e se agiganta como


um ídolo global. O sexo tem sido, talvez, o campo de batalha onde o
Tentador tem conquistado suas maiores vitórias. Satanás tem
encontrado facilidades cada vez maiores para seduzir, descontrolar,
escravizar, manipular e distorcer a natureza humana por meio dessa
área.

Por mais que se tente dizer o contrário, a tendência homossexual é


antinatural, “alienígena”, diz respeito a infiltrações de caráter
espiritual, literalmente demoníacas. Não me entendam mal; ao dizer
isso não estou estigmatizando essas pessoas como
“endemoninhadas”. Digo isso porque o que está maiormente em
questão não são os demônios, mas as desordens pessoais e
sistêmicas associadas a família e linhagem, como veremos no
próximo capítulo.

Infelizmente, vivemos em um mundo tão hedonista e moralmente


passivo, que essas desordens relativas ao propósito divino não são
vistas como desordens, tornando o problema indiscernível. Esta foi
a denúncia feita por Paulo em relação à pervertida sociedade greco-
romana, mostrando o aspecto moral e espiritual em relação à
homossexualidade: “Dizendo-se sábios, tornaram-se loucos ...

Pois mudaram a verdade de Deus em mentira, e honraram e


serviram mais a criatura do que o Criador... Por isso Deus os
abandonou às paixões infames” (Rm 1:22;25,26).

Temos aqui um outro paradigma. O conflito da homossexualidade


tem um aspecto predominantemente

pneumocomportamental. Ou seja, existe uma componente


espiritual ( pneumo) que funciona como o corpo do iceberg,

Espiritualidade e Herança - 105

a parte não aparente, mas que faz emergir e sustenta os tormentos


psicoemocionais e as “manipulações orgânicas”

e comportamentais ligadas à homossexualidade.

Um distúrbio pneumossomático pode ser definido como o resultado


orgânico de uma desordem espiritual crônica, ou a alteração física
causada por um espírito maligno em virtude de certas transgressões
morais que desfuncionalizam a família e ferem a natureza do
indivíduo.

Ciência versus espiritualidade


Em um mundo científico cada vez mais cético e igno-rante
espiritualmente este tipo de diagnóstico é descarta-do, sendo
taxativamente interpretado como absurdo, algo medieval, arcaico,
ridículo. O iluminismo3 baniu qualquer possibilidade de conciliação
entre a verdadeira Ciência e a espiritualidade, estabelecendo muitas
lacunas e deixando muitos becos sem saída na compreensão das
ciências humanas e das questões psicossociológicas.

Porém, existe uma dimensão invisível, o elo perdido da Ciência com


leis e agentes espirituais que regem a natureza humana, um mundo
espiritual, divino, eterno, discernido pela Bíblia e apenas percebido
pela fé:

“Não atentando nós nas coisas que se veem, mas nas que se não
veem; porque as que se veem são temporais, e as que se não veem
são eternas”

(II Co 4:18).

“Porque nele foram criadas todas as coisas que há nos céus e na


terra, visíveis e invisíveis, sejam tronos, sejam dominações, sejam
princi-

106 - Marcos de Souza Borges pados, sejam potestades. Tudo foi


criado por ele e para ele” (Cl 1:16).

Todo ser humano, independentemente de sua religião, está sujeito a


uma realidade espiritual. As leis espirituais, quando conhecidas e
obedecidas, nos fazem experimentar o favor de Deus, e quando
ignoradas e desobedecidas trarão as respectivas consequências
com o intuito de nos alertar e corrigir.

O principal erro da Ciência é a sua insistência em tentar explicar


realidades espirituais usando argumentos naturais. O espiritual
precede o material, cronologicamente e funcionalmente. O mundo
físico foi criado a partir de um mundo espiritual pré-existente. A
matéria nada mais é que a Palavra de Deus de segunda mão4.
Obviamente, muitas situações têm um caráter essencialmente
natural (físico ou orgânico) e devem ser discernidas naturalmente.
Entretanto, muitas outras são essencialmente morais, espirituais.
Nestes casos, apesar do espiritual afetar o orgânico, este impacto,
por mais que influencie ou justifique determinado comportamento
humano, é apenas colateral.

Por exemplo, quando se analisa um “cérebro normal” e um “cérebro


esquizofrênico”, obviamente, são percebidas alterações orgânicas.
Surge a questão: Essas alterações físicas resumem o motivo da
esquizofrenia, ou seriam elas os efeitos colaterais de uma desordem
espiritual instalada há tempos? Descartando a possibilidade de um
diagnóstico espiritual, a Ciência simplesmente estabelece um
veredito bioquímico, descartando

Espiritualidade e Herança - 107

a possibilidade de uma cura definitiva. Entra por um beco sem


saída.

No caso da esquizofrenia, observam-se três componentes básicos


que estabelecem uma atmosfera espiritual maligna que submerge a
pessoa neste tipo de perturbação: 1. O abuso sistemático (físico,
moral, sexual, espiritual, religioso, etc.) e, principalmente, a forma
como a pessoa reagiu a isso; 2. Um legado familiar e o
envolvimento com o ocultismo (satanismo, espiritismo, mediunidade,
bruxaria, kardecismo, idolatria, etc.); 3. O uso precoce e compulsivo
de drogas (principalmente as alucinógenas).

Na verdade, estes três fatores são convergentes, e em virtude da


passividade (tolerância ao abuso) do indivíduo, pode-se produzir um
quadro de perseguição espiritual caracterizada por alucinações
auditivas e visuais, induzindo a pessoa a um caminho de destruição
– incluindo assassinatos ou suicídio. Entendendo a origem e a
mecânica destas desordens a partir da perspectiva do
aconselhamento pastoral, surge uma esperança, onde um caminho
de restauração pode ser viabilizado.

Vamos, agora, abrir um parêntesis para esclarecermos melhor


alguns conceitos elementares do mundo espiritual.

A natureza da ação demoníaca

“Em que noutro tempo andastes segundo o curso deste mundo,


segundo o príncipe das potestades do ar, do espírito que agora
opera nos filhos da desobediência” (Ef 2:20).

108 - Marcos de Souza Borges A fonte da ação descrita no texto é


um espírito que também exerce um principado, ou seja, seres
morais organizados “militarmente” que, apesar de invisíveis, interfe-
rem na realidade humana. Satanás é descrito como príncipe dos
poderes do ar. Quando se trata de espiritualidade, não existe um
vácuo. Na mesma proporção que uma pessoa ou sociedade rejeita
a presença e os valores divinos, este espaço passa a ser
preenchido e controlado pelas forças obscuras do engano e da
maldade.

O verbo “opera”, que designa a natureza da ação demoníaca no


texto, vem do grego “energeo”, que significa energizar, ser
invisivelmente ou remotamente ativo, eficiente. Também temos o
termo “energon”, que significa

“energizar ou trabalhar dentro, internamente”.

O termo “filhos da desobediência” estabelece a jurisdição na qual


Satanás energiza, controla, infiltra, trabalha internamente, de forma
direta ou remota, indicando tipos incomuns de territórios, ou seja, o
corpo, a alma e até mesmo o espírito humano. Quando o apóstolo
Paulo fala aos efésios, “nem deis lugar ao diabo” , a palavra lugar no
original é topos, ou seja, jurisdição, indicando assim um território,
uma área específica de descontrole, subjugada ao poder exercido
por Satanás.
É impossível acreditar na Bíblia e ao mesmo tempo ignorar a ação e
influência dos demônios no comportamento humano. Em vários
episódios constatamos exemplos reais de como isso acontece. A
ação demoníaca pode se manifestar na forma de diferentes
enfermidades físicas (Lc 8:2; Jó 2:7, Lc 13:11); produzir diferentes
tipos de transtornos, colapsos e surtos (Mt 15:22, Mc 5:2); incitar a
vontade hu-

Espiritualidade e Herança - 109

mana (I Cr 21:1); induzir ao erro (I Re 22:20-22); subjugar pessoas a


comportamentos impróprios e imorais, como prostituição (Lc 8:2),
ciúmes (Nm 5:24), homicídio, etc.

Como os demônios fazem essas coisas? Como um espírito de


enfermidade mantém deformada a estrutura óssea de uma mulher
durante 18 anos, a ponto de encurvá-

-la totalmente? Como um espírito maligno destrói a saúde


psicoemocional de alguém? Como os demônios seduzem pessoas à
prática de comportamentos impróprios e pervertidos? Como um Rei
pode ser assombrado por um espírito mau a ponto de começar a ter
tendências homicidas (I Sm 18:10,11)? Como um espírito maligno
dá forças para um ser humano esmigalhar correntes e despedaçar
cadeias de ferro (Mc 5:4)? Não sei como eles fazem isso, só sei que
eles fazem. A palavra que o apóstolo Paulo usou para esse tipo de
ação é “energeo” .

O que se percebe é que o mesmo tipo de energização espiritual


pode ocorrer em relação a qualquer sistema do organismo humano,
inclusive o hormonal, alterando toda a psicologia relacionada à
sexualidade. Não quero dizer que todo transtorno sexual tem uma
origem demoníaca, mas essa é uma possibilidade que precisa ser
levada bem a sério.

O princípio da vontade, ou seja, da liberdade e responsabilidade, é


soberano. Apesar de Satanás não ser, de forma alguma, o
protagonista do destino humano, na realidade de muitos, o palco
está cada vez mais montado para que exatamente isso aconteça.

Como nos mostra o texto, a autoridade demoníaca, seu poder de


influência, sua capacidade de intervenção são diretamente
proporcionais ao comportamento humano

110 - Marcos de Souza Borges baseado na passividade, na vontade


enfraquecida, na alma rendida ao prazer transitório do pecado, na
consciência cauterizada, na moral transgredida, na cobertura
familiar desmoralizada, na cultura corrompida.

Satanás, como um espírito que é, a partir de uma sujeição humana


à sua natureza maligna, energiza, mantém ativa uma tentação que
afeta de várias formas — opressão, sedução, obsessão, distorção,
trauma, lesão, possessão, etc. — as diversas áreas da vida e os
diversos sistemas que compõe o organismo humano — psicológico,
nervoso, digestivo, respiratório, hormonal, etc. deixando a Ciência
em muitos becos sem saída.

A memória do prazer – o princípio do vício A memória, por ser


um mecanismo que guarda as nossas experiências de vida, pode
desempenhar um papel negativo quando temos que lidar com áreas
de prazer. O

conceito do pecado se fundamenta no desejo ou sentimento não


dominado. É aquela famosa distância entre a fome e a gula, a sede
e a bebedice, a ambição e o roubo, o sexo e a imoralidade, o zelo e
o ciúmes, o sono e a preguiça, etc. Existe uma lógica ou razão que
nos leva a estabelecer limites para que o prazer seja desfrutado de
forma saudável e responsável, caso contrário o prazer torna-se
potencial-mente destrutivo.

Quando o prazer prevalece sobre a razão, o resultado é o vício. O


vício faz com que a pessoa perca o controle sobre o seu
comportamento. Certa vez, um rapaz viciado em craque me disse:
“Pastor, eu vou chorando para a
“boca”. No fundo, eu não quero ir, eu tento resistir, sei que o craque
está destruindo toda a minha vida e família,

Espiritualidade e Herança - 111

mas me sinto dominado. Todo meu organismo clama por aquela


sensação de prazer. Eu reluto, brigo, choro, mas vou para a boca” .

É exatamente isto que Jesus quis dizer: “... em verdade vos digo
que todo aquele que comete pecado é servo do pecado” (Jo 8:34).
Aquela sensação torna-se cativante, obstinante. A dinâmica do
pecado fundamenta-se obviamente na fervente sensação que ele
produz, que tende a fazer com que todo o nosso organismo conspire
contra a nossa vontade, escravizando-a.

A memória do prazer é um poderoso mecanismo da mente que, não


apenas afeta o comportamento, mas está sujeito ao mundo
espiritual. O que Tiago explica sobre a incontinência verbal vale
para qualquer comportamento vicioso:

“A língua também é um fogo; como mundo de iniquidade, a língua


está posta entre os nossos membros, e contamina todo o corpo, e
inflama o curso da natureza, e é inflamada pelo inferno” (Tg 3:6).

Assim como a palavra frívola, o desejo vicioso “inflama o curso da


natureza, e é inflamado pelo inferno”. Portanto, o prazer quando
experimentado em detrimento das nossas responsabilidades
pessoais e relacionais estabelece:

• Um “fogo” , um desejo ardente, aprisionante, uma memória latente


que instiga organicamente a mesma sensação de prazer cultivada.

• Um “mundo de iniquidade” , uma compulsão pecaminosa, viciosa,


dominante, propagante, inconsequente.

112 - Marcos de Souza Borges


• Uma “contaminação” espiritual física, pneumossomática, de
natureza correspondente ao prazer; uma jurisdição maligna, uma
área de descontrole. Uma infiltração espiritual que se vale dos
sistemas orgâ-

nicos da pessoa.

• Uma “inflamação” espiritual. Esta é uma realidade tão relevante,


que com o intuito de reforçar a ideia, Tiago usa um trocadilho: “... e
inflama o curso da natureza, e é inflamada pelo inferno”. A palavra
inflamação vem do Latim inflammatio, significa “atear fogo” . É um
tipo de manipulação demoníaca, infernal, que faz com que aquele
prazer se alastre, devastando como fogo a vontade da pessoa,
afetando a sua natureza. Todo comportamento vicioso desnaturaliza
e até desuma-niza a pessoa naquela área específica, deformando
parâmetros fundamentais da identidade.

Por exemplo, quando um homem pratica sexo anal com outro


homem, esta experiência de prazer fica regis-trada no cérebro da
pessoa, fazendo com que todo o seu organismo seja ativado e
mobilizado em virtude desta memória. Os instintos sexuais
começam a orbitar em torno desta sensação prendendo a pessoa
neste tipo de comportamento. É como uma programação
bioquímica, também inflamada por entidades espirituais. É a
vontade tornando-se inflamavelmente seduzível e compulsiva.

Na prática, não podemos simplesmente deletar esses arquivos da


nossa mente. Aqui entra a importância de uma experiência
sobrenatural com a cruz de Cristo e com o poder do Espírito Santo.

Espiritualidade e Herança - 113

A Teologia Comportamental da Desordem

Pneumo-psico-somática
“E o mesmo Deus de paz vos santifique em tudo; e todo o vosso
espírito (pneumo), e alma (psico), e corpo (soma), sejam
plenamente con-servados irrepreensíveis para a vinda de nosso
Senhor Jesus Cristo” (1 Ts 5:23).

É importante perceber que a tendência homossexual tem um caráter


indiretamente orgânico. Ao mesmo tempo em que se manifesta
organicamente, não é essencialmente orgânico; é espiritual. Ou
seja, é o reflexo de uma manipulação psicoemocional ativa, não
evidente do sistema hormonal. Demônio e hormônio, espiritual e
comportamental, pneumático e somático.

Diagnosticamos isto como uma “contaminação”


pneumocomportamental, um tipo de “hormônio espiritual”, invisível.
Sem um discernimento espiritual, jamais resol-veremos estas
questões e situações. Ficamos com mais perguntas do que
respostas.

Não estou dizendo que existe um hormônio da homossexualidade,


mas uma manipulação demoníaca da bioquímica, e quem sabe até
da genética humana em virtude do comportamento pessoal e
geracional. Não é algo meramente orgânico, meramente psicológico
ou meramente psicossomático. É pneumático, espiritual. Esse é o
motivo pelo qual a Ciência não encontrou e certamente não vai
encontrar subsídios que apoiem a existência de uma natureza ou
raça homossexual, apenas especulações.

114 - Marcos de Souza Borges Apesar de existirem evidências


científicas baseadas na observação de inúmeros casos, prefiro
apresentar isto como uma teoria, ou melhor, uma teologia que
denomino de “Teologia comportamental da desordem pneumo-
psico-

-somática” que pode exercer um poder não apenas sobre a área da


sexualidade, mas também sobre qualquer outra relacionada à vida
humana.
Uma desordem pneumo-psico-somática pode ser definida como
uma contaminação espiritual que produz alterações no campo da
mente e das emoções, aflorando organicamente de forma a induzir
comportamentos associados a essa mesma contaminação
espiritual.

Ao mesmo tempo que não existe um hormônio, gene ou


cromossomo da homossexualidade, essa situação lateja
geracionalmente, ou seja, sustenta uma atmosfera espiritual
contaminada que afeta os instintos da descendência.

Cada vez mais aumentam os casos de pessoas que desde a


infância crescem cativas de uma saliência sexual precoce,
caracterizada por tendências obsessivas à bestialidade, à
homossexualidade, à pedofilia, ao incesto...

Uma reportagem recente feita na Alemanha e ampla-mente


divulgada na internet denunciou a existência de aproximadamente
cem mil pessoas “praticantes” da bestialidade no país. Estima-se
que quinhentos mil animais morrem por ano na Alemanha por
consequência desta prática. O Governo se viu obrigado a criar uma
legislação contra isso. Por mais que tentem chamar isso de natural,
é doentio, maligno e propa-gativo. Este é o legado estabelecido pela
dinâmica do pecado.

Portanto, nas questões de sexualidade, o que se percebe, como


Paulo adverte, é uma energização, uma apri-

Espiritualidade e Herança - 115

sionadora manipulação psicoemocional associada a uma ativação


maligna da bioquímica humana em detrimento da natureza e da
identidade do indivíduo.

Assim como em uma marionete, os botões certos são apertados, as


devidas cordas vão sendo puxadas provocando bloqueios,
compulsões, seduções, alterações e distor-
ções de caráter maligno, instigante, acumulativo, insistente,
invisivelmente visíveis, sem diagnóstico científico.

Isto é tão real que homens se feminizam e mulheres se


masculinizam, até mesmo, sem um “tratamento” hormonal.
Acompanhei a história de uma mulher que após sofrer vários abusos
sexuais na infância, decidiu que nunca mais seria vulnerável à
covardia dos homens. A partir disso, começou a desenvolver um
comportamento com o intuito de se tornar “forte” para se proteger da
brutalidade de possíveis agressores, optando sexualmente pelo
lesbianismo.

O curioso é que ela foi se masculinizando tanto, que a sua


menstruação nunca aconteceu.

Ao conhecer Jesus, após um processo de aconselhamento,


libertação e reeducação, já com mais de 30 anos de idade,
surpreendentemente, pela primeira vez sua menstruação veio e seu
corpo começou a tomar feição feminina. O organismo, em muitas
situações, é apenas o palco onde os efeitos colaterais de conflitos
mais profundos se manifestam.

Fator Mistério

Biblicamente, o aspecto espiritual inerente aos distúrbios sexuais é


revelado como o MISTÉRIO do sistema anticristão apontado em Ap
17:5 — “E, na sua testa, estava

116 - Marcos de Souza Borges escrito o nome: Mistério, a grande


Babilônia, a Mãe das

prostituições e abominações da Terra”.

“...uma besta de cor escarlate, que estava cheia de nomes de


blasfêmias...” (Ap 17:3).
A testa, ao mesmo tempo em que é um ponto cego para nós, é o
ponto de maior visibilidade para os outros.

O homossexualismo é uma afronta contra a imagem e semelhança


divina, onde o indivíduo não se enxerga. É da identidade desse
sistema satânico e anticristão, cada vez mais global, blasfemar,
adulterar, prostituir a identidade humana, principalmente no seu
aspecto mais fundamental e estratégico, que é a sexualidade, a
reprodução. Nesse conflito, a nossa luta não é apenas contra carne
e sangue.

Não sejamos ingênuos.

Este é um tipo de “marca da besta” , um nome de blasfêmia, a


numeração da personalidade incompleta –

666 – (Ap 13:18)5, a identidade prostituída, a sexualidade invertida,


o relacionamento satanizado, o altar da família profanado, o coração
confuso, a imagem divina distorcida, estampada na testa. Uma
simbiose entre o humano e o demoníaco. O homossexualismo é o
inimigo “número 1”

da identidade humana.

O homossexualismo é o tipo de mistério que só se explica pela


espiritualidade. Não é raça, não é gênero, não é organicamente
genético, não é cromossômico. Conflita com a natureza, com a
anatomia, com a vontade, com a identidade, com a consciência,
com a sociedade, com a fé. É

aprisionador e exerce uma saga infiltrativa e perseguidora.

Espiritualidade e Herança - 117

Enfraquece a natureza masculina e feminina, conspirando contra o


mais elevado princípio estabelecido por Deus, que é o matrimônio. É
uma entidade espiritual, almática, filosófica, hormonal, geracional,
que corrói os alicerces da personalidade resultando em um dos
piores conflitos existenciais.

O homossexualismo, antes de ser um comportamento, é uma


entidade espiritual.

2. O PARÂMETRO DA HERANÇA

Um aspecto essencial da existência é que não somos seres


isolados. Reprodução, etimologicamente, significa produzir alguém
da mesma espécie, sujeita a condições similares. Somos resultado
de uma dinastia, uma estrutura familiar multigeracional, que pode
ser descrita organicamente por uma árvore genealógica.
Precisamos entender o indivíduo e as influências que o moldam sob
o aspecto de um sistema familiar planejado por Deus, que pode se
tornar funcional ou desfuncional.

Ou seja, esse aspecto corporativo da existência onde somos parte


de um todo é uma componente essencialmente importante. Isso
determina a Lei da Herança, que abrange múltiplos aspectos da vida
que influenciam o comportamento e as decisões humanas. O
conceito bíblico da Herança é um dos mais abrangentes da vida
humana.

Estamos sujeitos a vários tipos de heranças: genética, material,


cultural, linguística, social, nacional, tribal. . e, principalmente,
espiritual, a menos reconhecida, principalmente pelos conselheiros
e pastores.

118 - Marcos de Souza Borges Herança X Responsabilidade –


Encontrando o ponto de equilíbrio

“Que pensais, vós, os que usais esta parábola sobre a terra de


Israel, dizendo: Os pais comeram uvas verdes, e os dentes dos
filhos se embotaram?
Vivo eu, diz o Senhor DEUS, que nunca mais direis esta parábola
em Israel” (Ez 18:2-3).

Muitas pessoas pegam esse texto para aniquilar o princípio bíblico


das heranças e perdem o entendimento do que está ocorrendo. Um
olhar mais cuidadoso mostra que, na verdade, o que está em
cheque, aqui, não é o ditado em si, mas a interpretação que aquela
geração estava dando a ele.

Primeira questão: Este ditado é certo ou errado? As escolhas dos


pais afetam ou não os filhos? Os pecados dos pais fazem ou não os
filhos sofrerem? Por exemplo, o comportamento alcoólatra, imoral,
violento, abusivo de um pai é ou não prejudicial? Lógico que sim. É
inaceitável dizer o contrário, e esse ditado enfatiza a
responsabilidade da postura dos pais na criação e no ambiente que
os seus filhos terão que enfrentar.

Portanto, esse ditado é correto, e por séculos foi corretamente


usado; porém, aquela geração, em vista do trauma do cativeiro,
começou a torcer o seu significado, fazendo dos erros e iniquidades
das gerações passadas uma desculpa para a mesma idolatria e
imoralidade que eles, agora, estavam praticando. Isso é moralmente
inaceitável.

Deus foi tão radical contra essa ideia permissiva de transferir a


responsabilidade para os antepassados, que não apenas a rejeitou,
como decidiu proibir o ditado. Ele

Espiritualidade e Herança - 119

erradicou a interpretação errada junto com o ditado, ainda que esse


fosse certo. Porém, é importante estabelecer um ponto de equilíbrio
na balança das heranças espirituais.

Primeiro prato da balança: Jamais devemos desmerecer o tipo de


influência que estamos herdando, porque tendemos a nos amoldar a
ela, muitas vezes despercebidamente. Uma tolerância não divina
pode produzir, aos poucos, uma total inversão de valores. Quando
você tolera, você se amolda. É

como uma pessoa bem intencionada que entra no mundo da


política, e aos poucos vai se acostumando com as práticas
indevidas, corruptas, tolerando o que não deve, e no final se vê
praticando comportamentos que ela mesma repugnava.

Segundo prato da balança: Uma influência nunca é uma


obrigação, e não pode ser usada como desculpa. Jamais podemos
fazer das heranças espirituais um pretexto para a irresponsabilidade
moral, para a perversão sexual, a violência, o vício ... Precisamos
amar a correção de Deus, perdoando os erros dos nossos pais, e
vencendo, com a graça de Deus, os pecados que eles não
venceram.

“Portanto, eu vos julgarei, cada um conforme os seus caminhos, diz


o Senhor DEUS. Tornai-vos, e convertei-vos de todas as vossas
transgressões, e a iniquidade não vos servirá de tropeço” (Ez
18:30).

Portanto, a bagagem moral, espiritual, cultural, etc., pode ou não ser


endossada pessoalmente, ou absorvida em uma medida maior ou
menor, por cada indivíduo em

120 - Marcos de Souza Borges questão. Por isso não temos como
estabelecer uma equa-

ção de causa e efeito que ocorre precisamente em relação às


heranças espirituais. Cada caso é um caso.

Vários fatores podem interferir na suscetibilidade a uma perseguição


homossexual vigente, como temperamento, momento de maior ou
menor fragilidade, rejeição ou proteção familiar, traumas específicos,
modelos de autoridade, e até fatores orgânicos, bioquímicos.
Porém, todo processo de aconselhamento que permite que a
pessoa se desobrigue de sua responsabilidade pessoal ou que
exalta mais a necessidade emocional da pessoa que a sua
responsabilidade de enfrentar o pecado é desastroso.

O discernimento entre tendência e

prática homossexual

A homossexualidade é algo que se estabelece pela fragmentação e


desfuncionalização familiar. A primeira coisa a discernir nesse
sentido é a diferença entre a “influência ou tendência homossexual”
e a “prática homossexual”:

• A tendência homossexual fundamenta-se em uma perseguição, é


involuntária, conflitante, espiritual.

• A prática homossexual é moral, pecaminosa, resultado de uma


escolha ou decisão tomada, a vontade rendida.

Portanto, o fator “tendência homossexual” não está

“essencialmente” ligado às escolhas ou ao “merecimen-

Espiritualidade e Herança - 121

to” da pessoa em questão, mas às desordens morais e sexuais


associadas à ascendência, cultura e ao tipo de sistema familiar.
Neste sentido podemos diagnosticar a homossexualidade como
uma “esquizofrenia sexual”, ou seja, uma perseguição espiritual
demoníaca caracterizada por transtornos psicoemocionais que
conspiram contra a identidade sexual.

Uma conclusão comum entre terapeutas cristãos que lidam com


conflitos relacionados à homossexualidade é que esses sintomas,
em quase que na totalidade dos casos, iniciam-se na primeira
infância, antes dos seis anos de idade, quando a criança, mesmo
que já tenha uma noção do que é certo ou errado, ainda não tem
maturidade suficiente para ser responsabilizada.

Ou seja, enquanto a prática homossexual está ligada às escolhas


morais do indivíduo, a tendência homossexual está ligada,
principalmente, às heranças espirituais e culturais.

Está cada vez mais fácil observar que uma pesada influência
homossexual resulta de uma linhagem familiar contaminada
moralmente pela perversão no campo da sexualidade. Os próprios
pais, tios, avôs, primos e outras pessoas da família podem se tornar
os protagonistas de uma devastadora história de abusos, adultério,
prostitui-

ção, ocultismo e muitas outras influências pervertidas e


deformantes. A questão é que, na maioria das vezes, esses
episódios vergonhosos são abafados, ou simplesmente ocorrem de
forma calada e velada.

A genética que está em questão aqui não é orgâni-ca, mas


espiritual. Para cada pecado existe um espírito

122 - Marcos de Souza Borges demoníaco de natureza


correspondente que assume um respectivo poder de influência que
contamina o ambiente familiar e atua, energiza a descendência.

Não temos como isolar sexualidade, espiritualidade e reprodução


(heranças). As escolhas no campo da sexualidade determinam o
tipo de influência espiritual que será propagada às próximas
gerações. As disfunções e transgressões sexuais tendem a ser
endossadas ao longo do processo de reprodução, manifestando-se
na forma de malignas e acirradas perseguições.
Concluindo
Vamos concluir este capítulo enfatizando duas perspectivas: 1.
Enquanto a “tendência” homossexual é uma desordem, a “prática”
homossexual é uma transgressão. Pode parecer que não, mas são
situações diferentes. Ambas, podem e devem ser espiritualmente
redimidas e trabalhadas no aconselhamento pastoral, isso sempre
em acordo com a vontade do indivíduo em questão.

Qualquer tipo de ajuda deve partir sempre do aconselhado, nunca


do conselheiro.

Existe uma distância entre a tendência e a prática homossexual. A


tendência, apesar de neste caso ser uma influência interna, uma
influência não é uma obrigação, principalmente se está
fundamentada em uma desordem. Ela deve ser encarada como um
mecanismo de alerta, um aviso de que a pessoa necessita de uma
restauração.

Espiritualidade e Herança - 123

2. Homossexualidade é comportamental,

mas não apenas comportamental. É também

espiritual. Muita gente tenta resumir a tendência homossexual


meramente em uma simples escolha que a pessoa está fazendo
para a sua vida e pronto. Mas, dando uma olhada mais de perto e
com mais cuidado, não é bem assim que as coisas acontecem.
Obviamente, não queremos tirar o mérito do poder de escolha
nessas situações, mas antes de uma pessoa resolver “sair do
armário”, existe toda uma construção.

Não poucos, desde a mais tenra infância, vêm lutando


desesperadamente de todas as formas possíveis contra esses
instintos homossexuais estranhos, cuja origem e motivos a pessoa
desconhece. Ela se vê em um poço de dúvidas, controvérsias,
confusão. Tudo o que ela queria era não ter que assumir
pessoalmente e socialmente um comportamento sexual que conflita
diretamente com a sua identidade.

Ninguém planeja ser um homossexual. Por

isso a situação é tão delicada. Esse tipo de guerra interior envolve


aflições e conflitos que transtor-nam todos os aspectos da vida.
Quem dera isso não estivesse acontecendo, mas infelizmente está!
Esse é o tipo de situação que está além da-quilo que qualquer um
escolheria para si mesmo.

O que está em questão não é apenas a escolha pessoal, mas uma


construção geracional de desestrutura familiar, imoralidade e
perversão

124 - Marcos de Souza Borges sexual, que precisa ser desfeita. A


essência da questão não é apenas psicológica ou sociológica; é
espiritual. Esse é um ponto cego para muitos que enfrentam ou
interagem com a situação. Ao ignorarmos isso, bem como as
demandas sacer-dotais de lidarmos com esses legados, vamos,
apenas bifurcar pelos becos sem saída:

– Ou, da rejeição a essas pessoas, um comportamento homofóbico;

– Ou, da aprovação do que é pervertido e antagônico ao propósito


divino, um comportamento homólatra.
NOTAS
1 Paredes do Meu Coração - Bruce Thompson - Editora Jocum
Brasil 2 “Nos quais o deus deste século cegou os entendimentos
dos incré-

dulos, para que lhes não resplandeça a luz do evangelho da glória


de Cristo, que é a imagem de Deus” (2 Coríntios 4:4).

3 Iluminismo ou “Era da Razão” foi um movimento cultural da elite


dos intelectuais do século XVIII, na Europa, que procurou mobilizar
o poder da razão a fim de reformar a sociedade e o conhecimento
prévio. Promoveu o intercâmbio intelectual e foi contra a intolerância
e os abusos da Igreja e do Estado.

4 Declaração feita por Jim Stier (Fundador da Jocum no Brasil).

5 “Aqui há sabedoria. Aquele que tem entendimento, calcule o


núme-ro da besta; porque é o número de um homem, e o seu
número é seiscentos e sessenta e seis” (Ap 13:18).

Capítulo 5
FATORES DETERMINANTES
NA CONSTRUÇÃO
DA HOMOSSEXUALIDADE
Estando bem cientes do empenho necessário para compreender de
forma adequada todos os aspectos que podem fundamentar cada
caso, um dos principais objetivos deste capítulo é auxiliar
conselheiros na construção de um diagnóstico correto. O processo é
uma lei. Tudo na vida envolve um processo, uma construção.
Restaurar demanda, muitas vezes, desconstruir e reeducar. Para
desconstruir precisamos entender como se deu a construção.

Sabendo que a revelação da verdade é, em muitas situações,


progressiva, e que a homossexualidade é uma construção que
envolve a combinação de uma série de fatores associados à
desfuncionalização familiar e às heranças espirituais, vamos
desvendar aqueles que merecem maior atenção.

126 - Marcos de Souza Borges FATORES FREQUENTES NO


PROCESSO DE CONSTRUÇÃO

DE UM QUADRO DE HOMOSSEXUALIDADE
1. Orfandade paterna
O que observamos na prática é que, em geral, pessoas sujeitas à
tendência homossexual pertencem a um sistema familiar
caracterizado por alguma forma crítica de orfandade paterna, ou
seja, um déficit moral e emocional crônico em relação à figura de
autoridade do pai. Este é o eixo em torno do qual a identidade
sexual dos filhos orbita.

Na cobertura familiar, enquanto a mãe nutre os relacionamentos, o


pai desempenha a função de afirmar a consciência moral e sexual
dos filhos. Tanto a masculinidade do filho quanto a feminilidade da
filha pode ser afirmada ou duvidada, esclarecida ou confundida, em
virtude da postura paterna em oferecer segurança ou carência res-
pectivamente.

Homossexualismo e lesbianismo estão intimamente associados ao


“déficit de referencial paterno”. Ou seja, o mais relevante no
desempenho da função do pai, por incrível que pareça, não é a sua
presença, mas o seu significado, o senso de segurança,
responsabilidade, provisão e fidelidade associado ao seu estilo de
vida comunicado aos filhos.

Todo homem adulto carrega a responsabilidade de construir vários


referenciais: masculinidade, paternidade,

“conjugalidade”..., que quando desvirtuados afetam a capacidade


dos filhos construírem uma personalidade sadia.

A ausência do referencial paterno produz um déficit de direção,


limites e segurança, que são os papéis pressupos-tamente a serem
desempenhados pela figura do pai. Tudo

Fatores determinantes na construção da homossexualidade - 127


isso afeta ideologicamente e espiritualmente a maneira como os
filhos irão desenvolver a sua sexualidade.

A grande maioria dos homens é “educada” culturalmente com bases


no hedonismo e na irresponsabilidade familiar. As principais
pessoas a sentirem o maior impacto disso são os filhos que esses
pais estão gerando.

Uma pesquisa recente veiculada pelos meios de comunicação


denunciou que os homens em geral só estão chegando à
maturidade, em média, aos 45 anos de idade.

Ou seja, até então, eles vão levando uma vida “adultecente” de


playboys que focaliza apenas os paradigmas da independência e da
autogratificação.

Esse retardamento emocional dos pais sacrifica o casamento e a


família, e acaba custando extremamente caro para os filhos. Ao
invés de protegidos, na sua grande maioria, os filhos acabam
abandonados, vulneráveis, vítimas de abusos, violência, alcoolismo
e muitas outras diferentes formas de rejeição, que produzem um
profundo sentimento de desproteção e uma debilidade afetiva crô-

nica que resulta em desordens no campo da sexualidade.

Confusão entre afetividade e imoralidade A imoralidade impõe


um estilo de vida tão frustrante quanto viciante. Em um mundo de
carência e deficiência emocionais, o amor puro, a confiança, a
lealdade, o compromisso tornam-se utopia. A esperança na
suficiência de um amor genuíno definha juntamente com a pessoa,
anulando o significado maior da sua existência.

A rejeição paterna, seja passiva ou ativa, produz um vazio espiritual


devastador na vida dos filhos. Situações de
128 - Marcos de Souza Borges

abandono, abuso e rejeição acabam sendo correspondidas com


amargura, desonra e rebelião, causando as mais diversas e severas
distorções no desenvolvimento da personalidade.

Rejeição produz carência e ansiedade. A tendência é compensar


um déficit emocional com um crédito de concupiscência (figura). Ao
buscar o amor não recebido do pai em outro homem, tudo o que a
pessoa vai encontrar é o mesmo tipo de carência, resultando em
imoralidade e perversão. Por mais que se tente romantizar este tipo
de carência, rotulando a homossexualidade de “homoafetivi-dade”, o
que sobra é imoralidade, impureza e “sacanagem”, desculpe o
termo.

Quando a afetividade se confunde com a imoralidade, o que


realmente importa é o desejo realizado a qualquer pre-

ço, seja subjugando ou sendo subjugado, traindo ou sendo traído...


Assim, os relacionamentos tendem a se tornarem descartáveis,
deixando um buraco existencial cada vez maior e um profundo
rastro de frustrações e condenação.

2. Colapso dos papéis no casamento

Este é um efeito colateral direto do item anterior. O


que está em foco neste ponto é a marginalização moral e social do
pai correspondida com a superproteção da mãe.

Fatores determinantes na construção da homossexualidade - 129

Esta é também uma característica fundamental de um sistema


familiar que proporciona a infiltração homossexual na vida dos
filhos.

Precisamos entender a mecânica emocional do relacionamento


conjugal e os seus efeitos na vida dos filhos.

O homem e a mulher têm estruturas diferentes que estabelecem


necessidades emocionais diferentes. Enquanto a principal
necessidade emocional do homem é se “sentir respeitado”, a da
mulher é se “sentir segura”. Enquanto o homem luta por respeito, a
mulher luta por segurança. A verdadeira fonte de respeito é a
integridade, enquanto a verdadeira fonte de segurança é a
confiança.

Esta é a dinâmica de uma família funcional: um marido confiável,


responsável e amoroso que nutre a sua esposa com segurança;
uma esposa segura que respeita, coopera e se entrega inteiramente
ao marido; e tudo isso produzindo um ambiente emocional de
incentivo, proteção e descanso em torno dos filhos. Vejamos a
principal e mais comum maneira desta dinâmica familiar se
corromper.

A parábola do pai pródigo

Em geral, a cultura machista induz o homem a se au-toafirmar na


sua virilidade em busca do respeito alheio e do orgulho próprio. O
machismo estabelece três condições para o homem supostamente
alcançar isso: 1. Tornando-se imoralmente predador, mulherengo,
adúltero; 2. Provando sua coragem no alcoolismo e nas drogas; 3.
Impondo sua autoridade e manipulando respeito através da
violência.
Para muitos, isso funciona como uma cobrança social contínua, que
se impõe de maneira formal ou informal.

130 - Marcos de Souza Borges Muitos homens, literalmente,


sentem-se diminuídos na sua masculinidade por não praticarem
esses comportamentos impostos pela cultura machista. Quanto
mais mulheres ele conquista, quanto mais consegue impressionar
outros pela sua loucura nos vícios e nas “baladas”, quanto mais
intimida e se impõe pela violência, mais ele se sente aumentado na
sua masculinidade. Essa é a utopia destrutiva do machismo, que
marginaliza o homem e coloca a família em colapso.

O impacto causado por adultério, alcoolismo e violência praticados


pelo marido destrói a sua credibilidade, mata o casamento e
desestrutura emocionalmente a mulher.

Alguém já disse que “um demônio nada mais é que um anjo fora do
seu lugar”. Quando Lúcifer batalhou por um lugar que não lhe cabia,
mas pertencia a Deus, ele decaiu do seu principado, dando início ao
ministério do inferno.

Quando um homem casado quer viver como solteiro, na contramão


da maturidade, abdicando do seu lugar de sacerdócio e
responsabilidade, ele se torna um “demônio”, e pode transformar a
família em um inferno. Vejamos os dois principais resultados disso:

1. A marginalização do marido inocula inseguran-

ça na esposa. Como o grande ponto fraco de qualquer mulher é não


se sentir segura, a sua reação imediata vem na forma de
descontrole emocional e desrespeito ao marido. Nada pior para uma
mulher que um homem moralmente fraco, sem iniciativa, “banana”,
desleal, irresponsável, imaturo.

Por sua vez, o grande ponto fraco do homem é não se sentir


respeitado. Sofrendo esse tipo de
Fatores determinantes na construção da homossexualidade - 131

impacto, ele tende a se marginalizar ainda mais, produzindo mais


insegurança na mulher, que reage com desrespeito ao marido, que
igualmente se marginaliza ainda mais. Dessa forma, o
comportamento familiar é aprisionado dentro de um ciclo altamente
destrutivo, um anticasamento, onde marido e mulher entram em
uma competição para ver quem consegue fazer o outro mais infeliz.
(figura)

Ou seja, a marginalização do marido destrói a sua credibilidade e


autoridade, tornando-o uma pessoa nula, totalmente desfuncional,
sem significado, um zero à esquerda. A esposa, ao compensar sua
insegurança com agressividade, tentando carregar o lar nas costas,
acaba se transformando no “sargento” da casa. Essa subversão de
papéis traumatiza o desenvolvimento dos filhos, gerando carência
emocional, deficiência espiritual e conflitos no campo da
sexualidade. O resultado são os

“bebês emocionais de 90 Kgs”, os adultecentes, os cres-cidos que


não cresceram emocionalmente, ancorados em vários traumas,
ansiosamente carentes, vulneráveis a terríveis perseguições e
distorções de cunho sexual.

2) Quando o pai prodigamente abdica do seu lugar de autoridade e


sacerdócio, abandona o filho,

132 - Marcos de Souza Borges deixando todo o encargo da situação


com a mãe, o impacto é devastador.
O instinto materno, em muitas situações, leva a mulher a compensar
essas perdas idolatrando e superprotegendo o filho. Um
relacionamento de co-

-dependência entre mãe e filho, caracterizado por excesso de


afetividade, escassez de limites e falta de correção, mantém uma
brecha aberta para a confusão e perversão sexual. Nesses casos, a
total complacência da mãe com o comportamento imoral do filho
gera um modelo de relacionamento fundamentado em
possessividade mútua e perversão.

Portanto, a ausência do referencial paterno com-pensada com uma


superproteção materna pode ser a receita para a delinquência e a
distorção da identidade sexual do(a) filho(a). É fundamental
considerar esta dinâmica na construção de um quadro de
homossexualidade.

3. Concepção fora do casamento - bastardia Outro importante


aspecto das heranças espirituais que influi na questão da
homossexualidade reside na concepção humana. A sexualidade
está implícita na concepção. A histó-

ria da concepção é o âmago da gênesis espiritual de qualquer


indivíduo. Vários fatores podem ser decisivos nesse sentido, mas
todos eles orbitam em torno do eixo da aliança de casamento. O
não casamento deslegitima espiritualmente o filho. Daqui vem o
complexo conceito da bastardia.

O sexo é algo altamente espiritual. Deus desenhou a anatomia


humana de tal forma que está implícito no

Fatores determinantes na construção da homossexualidade - 133

relacionamento sexual um compartilhamento de sangue.

O sangue tem propriedades espirituais, ou seja, ele liga o mundo


físico ao mundo espiritual, e estabelece uma aliança que vai
determinar a proteção ou desproteção da família.

Ou seja, filhos e família são algo tão sagrado, que só podemos


gerar através de um pacto de sangue, uma aliança fundamentada
na fidelidade sexual, que deve perdurar por toda a vida.

Esta é uma linguagem para dizer que a condição conjugal dos pais
vai determinar o tipo de atmosfera espiritual que vai ser estabelecida
em relação à vida dos filhos, principalmente no aspecto da
sexualidade. Observamos dois tipos de desordem que os filhos
sofrem devido à ile-gitimidade espiritual do casamento dos pais:
Desordem pneumoemocional

Pais não casados tendem a comprometer a integridade emocional


do filho. Ou seja, um tipo de rejeição que se fundamenta na
imoralidade sexual em detrimento da responsabilidade moral de
assumir o filho. Na maioria das vezes, quando um filho é fruto de
uma aventura sexual, ele acaba sendo rejeitado ou até mesmo
refugado, por abandono ou aborto.

Normalmente, quando uma mulher não casada recebe a notícia de


que está grávida, a reação imediata é o desespero, tanto por parte
dela quanto do pai da criança.

Esse tipo de desespero pode desencadear uma série de ações que


induzem os pais a lidarem com o “problema”

rejeitando o filho. Isto pode acontecer de inúmeras maneiras,


inclusive verbalizando a intenção de abortá-lo ou

134 - Marcos de Souza Borges até mesmo implementando


tentativas nesse sentido. Esse veredito de rejeição e morte por parte
de pais autoriza a ação de um espírito demoníaco de segregamento
e abuso, subjugando a criança a um sentimento crônico de rejeição
e isolamento que se manifesta empurrando o filho para o gueto da
imoralidade e da violência.
Entenda que a verdadeira natureza do problema não é emocional,
mas espiritual. Não tente simplificar dizendo que a pessoa tem
apenas um problema emocional. Na verdade, ela está sendo
atormentada emocionalmente por um espírito demoníaco que se
infiltrou pela rejeição dos pais.
Desordem pneumocomportamental
Assim como o casamento promove um pacto que legitima e protege
espiritualmente os filhos, o não casamento contamina malignamente
a sexualidade da criança desde a sua concepção. Quer gostemos
ou não, essa é uma lei do mundo espiritual.

Se a relação sexual é espiritualmente imoral, envolvendo fornicação,


adultério, prostituição, incesto ou estupro, a criança concebida fica
refém de uma aliança de sangue com espíritos malignos de
natureza correspondente à mesma imoralidade praticada na
concepção. Isto é evidenciado pela constante perseguição sexual
que a pessoa sofre desde a infância.

Como já explicamos anteriormente, esse tipo de infiltração maligna


ativa (energiza) o sistema hormonal e outros sistemas relacionados
à sexualidade da criança, podendo colocar os seus instintos sexuais
em choque direto com a sua natureza e idade. Um dado
interessante é que quase

Fatores determinantes na construção da homossexualidade - 135

100% dos filhos gerados fora da aliança do casamento sofrem


algum tipo de abuso ou molestamento sexual e ou homossexual na
infância. Esta é uma estatística científica, colhida de centenas de
atendimentos.

Ou seja, essas crianças manifestam uma saliência sexual “precoce”,


podendo ser caracterizada também por uma tendência
homossexual. A cultura do não casamento está gerando uma
terrível revolução sexual, fazendo com que as pessoas tenham vida
sexual ativa cada vez mais cedo e cada vez mais desvirtuada.

É assustadora a constatação de tantas crianças com manias


sexuais. Inúmeros casos de crianças, antes mesmo dos seis anos
de idade, praticando masturbação compulsiva, lesbianismo,
manifestando trejeitos homossexuais, ou abusando de crianças
menores, e por incrível que pareça, maiores que elas, apenas
confirmam um maligno quadro de perseguição.

Os que ignoram essas verdades relacionadas ao mundo espiritual


acabam se conformando com a natureza pervertida destas
entidades, tendo que conviver com muitas outras consequências
envolvendo passividade moral, baixa autoestima, insegurança, ódio
de si mesmo, rejeição e segregamento. Infelizmente, esse é o duro
legado imposto pela bastardia 1.

4. Legado de perversão sexual na linhagem familiar A prática


geracional da imoralidade vai construindo um crédito de injustiça
que respalda a influência demoníaca. Isso não apenas autoriza o
mesmo tipo de perseguição como estabelece encobertamente uma
cultura de perversão sexual na linhagem. Pecados como incesto,

136 - Marcos de Souza Borges bestialidade, homossexualismo,


pedofilia e outras perversões tendem a ser praticados
encobertamente, deixando a descendência ainda mais refém de
uma influência espiritual em relação a esses mesmos
comportamentos. Esse tipo de legado é fundamental de ser
averiguado ao se tratar de uma situação de tendência homossexual.

Muitos pais envolvidos na imoralidade ou que foram abusados


sexualmente e homossexualmente na infância, por exemplo, nos
procuram apenas quando e porque os filhos começam a apresentar,
precocemente, os mesmos sintomas da perseguição homossexual
que eles mesmos sofreram.

5. Prática de relacionamentos incestuosos na infância Esse é


um aspecto fundamental de se investigar quando se trata de um
quadro de perseguição homossexual. O incesto sempre foi uma
prática altamente preocupante. Acontece em uma frequência muito
maior que muitos imaginam, principalmente nas famílias
fragmentadas, aglutinadas (sem privacidade) ou moralmente
desestruturadas onde os filhos ficam mais expostos. Ainda que
neste tópico não estejamos considerando a possibilidade de um
abuso, ou seja, o relacionamento sexual de um familiar adulto com
uma criança, o impacto produzido pelo incesto2 consensual é
devastador.

Ainda que algumas situações até possam ser considera-das


irrelevantes, outras, porém, principalmente as de caráter
sistemático, são extremamente destruidoras. Certos limites morais
são quebrados de tal forma que o resultado não é outro senão a
infiltração espiritual de vários tipos de perversão sexual, dentre elas
a tendência homossexual. Isso tem sido claramente constatado em
vários casos que atendemos.

Fatores determinantes na construção da homossexualidade - 137

6. Situação de adultério na vida dos pais Em muitos casos, a


perversão dos filhos é o efeito colateral da imoralidade oculta dos
pais. Mesmo que não venha ao conhecimento da família, o adultério
praticado por pai ou mãe faz com que algo se quebre
espiritualmente, abalando a intimidade do casal e desprotegendo os
filhos.

Tenho feito uma pesquisa informal com pessoas que sofreram


abuso sexual na infância e acabaram experimen-tando uma
saliência sexual e/ou homossexual precoces.

A constatação que fazemos é que na mesma época em que esses


ataques aconteceram, pai ou mãe estavam em adultério, alguns
encobertamente e outros já em um processo de separação e
divórcio envolvendo sérias brigas e episódios de violência.

A impartição do espírito de adultério e imoralidade acrescida da dor


de um divórcio, o sentimento de insegurança, abandono, solidão e
falsa culpa deixam a criança em uma tremenda desvantagem
espiritual. Ou seja, tudo isso pode facilmente servir de alavanca
para motivar envolvimentos errados e distorções no campo da
sexualidade.

7. Rejeição do sexo da criança por pais ou parentes, que


verbalizam sua frustração, agridem ou duvidam da sua
identidade sexual

Certas declarações feitas por pais e autoridades têm um poder


maior que muitos de nós imaginamos de se concreti-zarem. O
princípio ativo da criação fundamenta-se na verbalização: “E disse
Deus” (Gn 1:1-3). Assim como Deus chama à existência as coisas
que não existem pela sua Palavra, pelo mesmo princípio, criamos o
nosso próprio mundo pelas pala-

138 - Marcos de Souza Borges vras que falamos ou deixamos de


falar. O Evangelho de João começa com essa revelação: “O verbo
se fez carne” , ou seja, a palavra afeta a natureza humana, a
identidade. A tendência da palavra verbalizada é “habitar entre nós”
(Jo 1:14).

Não temos espaço para uma reflexão bíblica mais profunda nesse
sentido, mas o que queremos enfatizar é a relevância das
declarações de rejeição envolvendo a identidade sexual de uma
criança, especialmente as que são provenientes dos próprios pais
ou modelos de autoridade significativos.

Certa vez atendi uma situação que me impactou muito. Apesar


dessa pessoa ter construído uma base ministerial com grande
projeção, vinha sofrendo colapsos emocionais fortíssimos com
tendências ao suicídio. Jamais poderia imaginar que aquele
precioso irmão em Cristo convivia com este tipo de conflito. Fazendo
o caminho de volta à origem do problema, evidenciou-se que o start
de todos aqueles anos de luta interior se resumia em uma palavra
abusiva de rejeição da sua identidade sexual por parte de um tio,
muito chegado a ele.
Temos a tendência de acreditarmos nas palavras das pessoas que
acreditamos, ainda que essas palavras sejam mentirosas e
condenáveis. Toda rejeição é uma falsa profecia que precisa ser
rejeitada e crucificada, porém muita gente não sabe disso,
principalmente na infância.

Pelo simples fato de estar casualmente brincando com as meninas,


como qualquer criança faz, o tio o humilhou pu-blicamente com
palavras degradantes que colocavam a sua masculinidade em
dúvida. Ele me disse que após aquela dura experiência nunca mais
conseguiu acreditar e descansar no

Fatores determinantes na construção da homossexualidade - 139

fato de que Deus o criara como macho, homem. Essa dúvida


existencial era como uma ferida que não sarava.

O conflito se intensificou tanto e desequilibrou tão severamente seu


senso de identidade e sexualidade, chegando ao ponto de colocar
seu casamento e sua própria vida em risco. Situações como essa
podem ser parte importante nas questões que induzem alguém à
homossexualidade, e precisam ser corajosamente enfrentadas e
tratadas.

Toda palavra libera ou alimenta um espírito (Ec 10:20), seja ele


divino ou demoníaco. Criar expectativas sobre o sexo de um bebê
pode ser um prato cheio para os espíritos de homossexualismo, ou
seja, uma porta aberta para a frustração do pai/mãe externalizar-se
na rejeição do sexo do(a) filho(a).

A rejeição da identidade sexual, independentemente de ser


conhecida ou não pela vítima, pode produzir uma perseguição
homossexual implacável. Quando um pai, por exemplo, depois de
se sentir frustrado em relação ao sexo de uma filha, expressa isso
verbalmente, ou rejeita abertamente a criança por esse tipo de
motivo, mesmo que essa menina nunca tenha sido informada do
ocorrido ou se conscientizado desta atitude, ela passa a se
comportar como sendo “o garoto do papai”, contraindo trejeitos e
tendências masculinizadas.

É algo estranhamente curioso, mas real na história de muitas


mulheres que acabaram tomando o caminho do lesbianismo.

8. Consagrações religiosas e envolvimentos diretos com


entidades espirituais que desempenham a tarefa de perverter a
identidade sexual

É muito comum pessoas apelarem para o sobrenatural com o intuito


de manipular favores sentimentais e sexuais

140 - Marcos de Souza Borges através de pactos, simpatias, rituais,


banhos e diversos outros tipos de trabalhos e consagrações.
Algumas dessas entidades demoníacas desempenham a tarefa
específica de perverter e confundir a sexualidade humana. Essas
entidades se travestem religiosamente de várias formas, podendo
ser identificadas no sincretismo religioso brasileiro (ver na internet),
por exemplo, como Pomba-giras, Exus, Santo Antonio, etc.

Vamos tomar o principal exemplo que é Oxumaré, conhecido como


deus da ambiguidade, simbolizado pelo arco-íris, que
coincidentemente é a marca mundial do movimento homossexual.

Este ponto está mais associado ao contexto afro-

-brasileiro, mas ao estudarmos sobre o sincretismo, percebemos


que essa entidade demoníaca só muda de nome, roupagem cultural,
estereótipo religioso e rótulo filosófico, manifestando-se de forma
global. Oxumaré pode dar as caras como orixá, santo, filosofia ou
um pretexto artístico e cultural. Ele se movimenta com sagacidade.
É o pai da homossexualidade e o inspirador do homossexualismo.

Oxumaré é uma das diversas expressões de Satanás, um deus


ambíguo, duplo, que pertence à água e à terra, que é macho e
fêmea. No Candomblé, Oxumaré é metade Homem e metade
mulher, ele existe nessas duas formas, uma parte masculina e outra
feminina. Quando incorpora-do, pode se manifestar dançando ou
rastejando como uma cobra. Algumas pessoas ao se tornarem filhos
de Oxumaré experimentam essa mudança de ciclo no ano: seis
meses funcionam sexualmente como homem e os outros seis
meses funcionam como mulher. Esse é um dos principais

Fatores determinantes na construção da homossexualidade - 141

motivos porque praticamente todo babalorixá3 acaba ade-rindo ao


comportamento homossexual.

Oxumaré é também representado na figura de um ser metade


homem, metade serpente, envolto em um arco-

-íris. Da cintura para cima, homem; da cintura para baixo, serpente,


expressando o aprisionamento da sexualidade.

Uma simbiose, uma aliança espiritual entre o humano e o


demoníaco, uma confusão entre o masculino e o feminino, o
humano e o diabolicamente animal em um mesmo ser.

Normalmente, os casos que atendemos de pessoas que tiveram


envolvimentos diretos com Oxumaré são fortemente caracterizados
não apenas pela tendência homossexual, como também por
extravagantes trejeitos homossexuais.

O perfil de Oxumaré podia ser notado no famoso personagem


artístico Jorge Laffond (Vera Verão). Arame de Ricardo conta
poeticamente sua história em samba, sem deixar de mencionar no
refrão que Vera Verão era filho de Oxumaré:

...Laffond a sua vida e suas glórias | Hoje o arame conta a sua


história | Nasceu no Rio de Janeiro, ariano e guerreiro | Humorista
que chamou muita atenção | Diamantina a mãe querida | O seu
orgulho e sua paixão (ô, ô) | Ô ô Oxumaré consuza o seu filho de
fé | Que seja luz que traz axé...
9. Pornografia
Atualmente, presenciamos uma erotização cultural através da
pornografia. O sexo cada vez mais se agiganta

142 - Marcos de Souza Borges como um ídolo. O cérebro é o


principal órgão sexual do ser humano. Não existe limite para as
fantasias sexuais. Essas fantasias podem evoluir para neuroses, se
transformando nas mais terríveis cadeias demoníacas. Podemos
constatar três principais tipos de impactos gerados pela pornografia:
1. A pornografia é viciante, tende a se tornar uma prática altamente
compulsiva. Pessoas literalmente se perdem no tempo quando
entram no mundo da pornografia.

2. O prazer sexual migra de dentro para fora do casamento,


produzindo impotência marital e, consequentemente, adultério,
infidelidade. Para a maioria dos homens, o sexo visual dá mais
prazer que a própria relação em si. Como o principal sentido sexual
para o homem é a visão, o sexo pornográfico acaba substituindo o
coito conjugal, fazendo com que esse perca totalmente a graça.

3. Distorce a natureza do prazer sexual produzindo perversão. Essa


tem sido uma constatação nova para mim, e é este ponto que quero
destacar aqui.

Já é estatístico dizer que muitas pessoas, tanto homens como


mulheres, que não tinham nenhuma tendência para a
homossexualidade passaram a ter através do uso compulsivo da
pornografia, que vai, aos poucos, conduzindo a pessoa pela ladeira
da depravação, destruindo limites internos, provocando curiosidades
insaciáveis e despertando instintos contrários à natureza, dentre
eles um estranho desejo de experimentar a homossexualidade.

Fatores determinantes na construção da homossexualidade - 143


10. Aliciamento sóciocultural

Na ausência de respostas para a questão da homossexualidade,


muitas sociedades estão acolhendo essa situação não como uma
desordem ou transgressão, mas como uma opção viável, normal. O
mesmo tem se dado com outros comportamentos como adultério,
divórcio, uso da maconha, etc.

Quando em nome da modernidade ou da civilidade governos,


escolas, instituições científicas com o apoio massivo da mídia,
ensinam formalmente para uma criança de 6 anos de idade que ela
pode escolher a sua opção sexual, mesmo que não tenha nenhum
conflito neste sentido, desperta-se uma curiosidade maligna que
acaba levando muitas dessas pessoas a experimentar a
homossexualidade. As estatísticas de pessoas que se envolvem
com práticas homossexuais por serem aliciadas dessa forma
crescem absurdamente.

Como está implícito na intimidade sexual um pacto de sangue com


implicações espirituais, a partir de uma

“inofensiva” experiência homossexual, cadeias invisíveis são


estabelecidas na alma da pessoa impondo a dinâmica que envolve
uma compulsão pecaminosa.

11. Abuso ou molestamento homossexual na infância Este é o


golpe fatal que leva muitos a se enveredarem pelo caminho da
homossexualidade. Independentemente dos outros fatores
mencionados, uma criança abusada ou molestada sexualmente tem
enormes chances de se envolver na homossexualidade.
Indiscutivelmente, a homossexualidade está intimamente ligada com
algum tipo de abuso (visual ou físico) ou molestamento sexual na
infância.

144 - Marcos de Souza Borges Um dos grandes ícones da


homossexualidade no Brasil, o polêmico estilista e apresentador de
televisão Clodovil Hernandes, em uma matéria publicada pouco
antes da sua morte, comentou sobre a sua primeira experiência
sexual. A narrativa denuncia como ele foi vítima de um abuso
homossexual na sua infância ao presenciar seu próprio pai (adotivo)
relacionando-se homossexualmente com o seu tio (irmão de sua
mãe).

Isto parece ter sido um fator determinante no conflito existencial


vivido por ele.

Este tipo de episódio, cada vez mais normal no contexto familiar e


social, é altamente abusivo, invasivo, per-turbador, assolador para
qualquer criança, que carece de referenciais e proteção. Este tópico
é altamente relevante para a construção de um quadro de
homossexualidade e demanda um cuidadoso processo de
aconselhamento pastoral. Vamos resumir as mais comuns
implicações espirituais do abuso sexual:

• Passividade destrutiva - a “dinâmica da estática”

O abuso sexual é o mais grave ato de violência e humilhação que


alguém pode sofrer. Nem o espancamento físico causa danos tão
profundos e duradouros quanto o abuso sexual. A desvalorização
que a pessoa sofre pode se refletir em sentimentos cortantes de
culpa, inferioridade e até ódio de si mesma.

Normalmente, o abusador usa sua vantagem física e intelectual para


manipular e seduzir. Seu alvo é sempre alguma criança que se
encontra vulnerável, descuidada pela família ou desatenta.
Fatores determinantes na construção da homossexualidade - 145

O abusador, maliciosamente, utiliza algumas estraté-

gias para explorar a ingenuidade de sua vítima, tirando-a da sua


razão sexual. Coisas como presentes, promessas, pornografia e até
mesmo bebidas alcoólicas são frequen-temente usadas de forma
desafiadora no processo do abuso infantil. Geralmente, um pedófilo
sabe muito bem como seduzir a sua vítima, porque também já foi
seduzido e abusado, e agora, só está sagazmente repetindo o
mesmo processo do qual foi vítima.

Na maioria das vezes, depois de concretizar o seu intento, o


abusador tenta calar sua vítima com o intuito de se preservar e
também de perpetuar uma situação de exploração.

Todo tipo de argumento e pressão emocional são impostos


estrategicamente num tom de ameaças com o intuito de intimidar e
culpar a criança: “Você não pode contar isso para ninguém!”, “Se
alguém ficar sabendo será pior ainda para você”, “Sua mãe vai
morrer se ficar sabendo!” “Se você falar alguma coisa, eu conto para
todo mundo que você é gay!”, etc. A tendência de uma pessoa
abusada é se fechar na mentira que a culpa do que está
acontecendo é dela.

Assim sendo, a criança cada vez mais não consegue dizer não às
novas investidas. Quando a pessoa abusada se cala, aceitando
essa mordaça moral, fica totalmente à mercê de situações ainda
mais absurdas. Muitas entidades

146 - Marcos de Souza Borges demoníacas se alimentam desse


silêncio. Simplesmente vai se acostumando e, por fim, acaba até
gostando da humilhação e dos maus tratos. É algo sinistro. Com o
tempo, a pessoa abusada passa a assimilar uma tolerância absurda
aos mais repugnantes níveis de abuso, violência e perversão sexual
(ver figura).
Essa tolerância ao intolerável, ao abusivo, ao pecaminoso, é a
passividade, que acaba migrando para muitas outras áreas da vida,
debilitando a vontade e produzindo flacidez moral, uma consciência
cauterizada. O abuso sexual viola a identidade sexual que é a
espinha dorsal da personalidade, fazendo emergir um perfil de
personalidade subjugável, carente, dependente, sem reação moral.

• Impõe uma perseguição sexual intensa

Novas pessoas surgem do nada com as mesmas intimidações e


abusos. Isto pode conduzir a pessoa a uma vida de
homossexualismo e/ou prostituição, trazendo inclusive uma
infestação demoníaca. A vontade fica acorrentada pela sexolatria.

Lembro-me de um homem que aconselhei. Ele fora


persistentemente abusado dos 5 aos 12 anos. Um detalhe
importante neste caso é que sua principal lembrança da infância era
o medo que todos em casa sentiam do pai, um homem
extremamente rígido, severo e ameaçador.

Isto se tornou o eixo de cada abuso que passou a sofrer.

Mesmo quando se mudava de endereço, pessoas que não


conheciam a sua história o abordavam, e com as mesmas ameaças
conseguiam sustentar o abuso: “Se você contar isto para alguém, o
seu pai te mata”.

Fatores determinantes na construção da homossexualidade - 147

• Disfunção matrimonial

O abuso sexual hospeda uma entidade demoníaca que deprava


relacionamentos ilícitos e bloqueia, com frigidez e impotência, o
relacionamento conjugal (lícito). Antes do casamento a pessoa
desenvolve uma compulsão sexual se envolvendo em inúmeros
relacionamentos errados, e depois que se casa, essa compulsão se
transforma em aversão, colocando o casamento em risco.
Observamos em diversas situações que o abuso sexual pode gerar
também um bloqueio em relação ao gênero sexual do abusador. Por
exemplo, meninas abusadas pelo próprio pai passam a odiar tanto a
figura masculina, que acabam optando pelo lesbianismo ou se
tornam frígidas no casamento. Com a quantidade de meninas
abusadas atualmente isto é epidêmico.

• Conflito interior infernal

Os sintomas na vida de uma criança abusada são claros. Elas


evitam os pais, se isolam, perdem a vontade de brincar
normalmente, perdem o apetite, machucam-se anormalmente, etc.
Esta luta pode ser tão grande, que algumas crianças recalcam a
vergonha e a dor que sentem a ponto praticarem uma autoaminésia.
Isso funciona como uma arma dormente que poderá ser ativada a
qualquer momento no futuro causando a destruição do casamento e
da família.

O abuso sexual destrói a capacidade da pessoa se relacionar


consigo mesma e com os outros. A consciência entra em colapso.
Entram muitos ingredientes tóxicos como culpa, falsa culpa, muita
vergonha, ódio de si mes-

148 - Marcos de Souza Borges ma, autorrejeição, inferioridade,


possessividade, etc. Os relacionamentos invariavelmente passam a
ser doentios e demoniacamente manipulados ( energizados). Tudo
isso pode, inclusive, culminar em uma porta escancarada para
atitudes extremas envolvendo manias de perseguição e
esquizofrenias caracterizadas por tendências ao homicídio e
suicídio.

• Constrói um caráter de abusador

Este é o princípio da pedofilia que está inundando a sociedade,


principalmente famílias e igrejas. Do abuso sexual surge o
demoníaco desejo pela pedofilia, que pode desencadear um
processo fulminante de rebelião, seguido de desequilíbrio mental,
possessividade, sadismo e criminalidade. Muitos criminosos e
psicopatas carregam uma história hedionda de abuso sexual
sistemático.

• Tráz uma devastação espiritual na vida da pessoa

A devastação provocada pelo abuso sexual é proporcional aos


agravantes contidos na situação e também à forma como a pessoa
reage, ou não reage. No processo do aconselhamento pastoral
essas situações precisam ser constatadas, enfrentadas e redimidas.
Seguem alguns dos principais agravantes:

1. Quando o abuso sexual é de caráter incestuoso.

O pior tipo de abuso ou molestamento vem por parte de pais ou


avôs. Isso destrói e perverte não apenas o senso de identidade,
como também a noção de autoridade e intimidade. Tenho atendi-

Fatores determinantes na construção da homossexualidade - 149

do várias pessoas, na sua maioria mulheres, que quando se


convertem ao Evangelho, devido ao quadro de abuso, passam a
sofrer um constante ataque, tendo pensamentos de sexo com Deus.
A pessoa se vê presa e atormentada pelo espírito de blasfêmia que
se infiltrou no incesto. A falsa culpa baseada nesse tipo de agressão
espiritual destrói ainda mais a autoestima, o senso de paternidade e
espiritualidade da pessoa. Apesar de praticarem uma religião,
muitos acabam desistindo de um relacionamento pessoal com Deus,
que é a essência da vida cristã.

2. Quando é de caráter homossexual. Confunde a identidade. A


sexualidade é a principal base da identidade: “...homem e mulher os
criou” (Gn 1:27). Esta é a primeira pergunta da vida em rela-

ção a qualquer indivíduo: “É homem ou mulher?”

Antes mesmo do nome, é necessário saber o sexo.


O abuso homossexual na infância é literalmente o assassinato da
identidade.

3. Quando caracterizado por ameaça: como já vimos, este é o


princípio da passividade, onde a vontade moral é mutilada.

4. Quando se torna prolongado, sistematizado. Pode produzir


distorções psicoemocionais e orgânicas que, sem uma intervenção
sobrenatural de Deus, deixa sequelas humanamente irreversíveis.

5. Quando a criança tenta contar e é desacreditada. É simplesmente


aterrador quando a criança, pedindo socorro, revela que está sendo
agredida

150 - Marcos de Souza Borges sexualmente, porém, é


desacreditada, principalmente por alguém que é diretamente
respon-sável por ela. Esta é, na verdade, outra forma de abuso.
Passa a ser vítima de uma violência ainda maior. Em casos de
incesto, quando, por exemplo, o pai ou padrasto abusa da filha, e a
mãe encobre e até mesmo “desmente” a filha.

O abuso torna-se duplo, cruel, afoga a pessoa na injustiça,


produzindo amargura e causando lesões psicoemocionais graves,
difíceis de serem superadas ou revertidas.

Resumindo, o abuso sexual afeta a criança de 4 formas: 1. Traição:


Abuso sexual é um ultimato de traição para o relacionamento pai-
filho. É uma mensagem clara que os pais não estão cumprindo o
seu papel de protegê-la. O fracasso dos pais e do casamento
produz um vazio existencial que distorce o conceito de autoridade,
promovendo uma plataforma de insegurança, medo e suspeita.

Quando os pais participam no abuso, a criança se sente duplamente


traída e desenvolve uma desconfiança natural de todos os adultos.
Isso pode evoluir, refletindo uma descrença generalizada ao tentar
estabelecer os seus relacionamentos futuros.
2. Sentimento de impotência: O abuso sexual ensina a criança
que ela não tem controle sobre o que acontece a ela. Ela não tem
controle até mesmo sobre o seu próprio corpo. Está sujeita a ser
objeto de capricho ou fantasia de

Fatores determinantes na construção da homossexualidade - 151

outros. Esta ausência essencial de controle e o frequente


sentimento de impotência constrói uma sensação crônica de
vulnerabilidade, destruindo sua capacidade de reagir e proteger-se.
Isso deixa a criança susceptível a sofrer abusos prolongados, os
quais, invariavelmente, têm um potencial de depravar a sua
personalidade.

3. Estigmatização: Porque o abuso sexual não acontece com


todos, a criança começa a reconhecer que é diferente de outras
crianças. Este sentimento de ser diferente gradualmente se
transforma em vergonha. Mesmo sendo vítima, ela internaliza a
ideia de que é, de alguma forma, responsável pelo abuso sexual.
Isto pode ser reforçado pelas mensagens manipulativas do
abusador, que tenta prendê-la afirmando que o abuso é culpa dela.
Uma falsa culpa é sempre um problema verdadeiro, gerando cren-

ças e rótulos destrutivos que distorcem sua autoimagem, identidade


e relacionamentos.

4. Sexualização iníqua: O abuso sexual ensina à criança um tipo


de comportamento sexual que é inapropriado para a sua idade e
para a fase de desenvolvimento mental, sujeitando-a a um ciclo
vicioso de culpa e prazer.

Ela aprende a responder ao seu mundo e às pessoas que vivem


nele de forma predominantemente sexual. Agrega uma tendência de
confundir carinho com imoralidade.

Também, o abuso sexual ensina para a criança que sexo envolve


poder e controle, portanto, é permitido para a pessoa que está em
uma posição de poder manipular outros sexualmente.

152 - Marcos de Souza Borges Conclusão final

Todos estes fatores mencionados podem se sobrepor, engendrando


uma perseguição homossexual que conflita com a vontade da
pessoa e fere traumaticamente a identidade. Sem uma perspectiva
divina de redenção, essa é uma “guerra injusta” onde a vontade
acaba sendo vencida.

A tendência se transforma em prática homossexual.


Notas
1 Para obter um maior conteúdo sobre esse tópico e sobre como
tratar dessa situação sugiro uma aula em DVD de minha autoria
intitulada

“O Trauma de Jefté” (www.editorajocum.com.br).

2 Ver Levíticos 18 – relacionamentos sexuais incestuosos.

3 Babalorixá: sacerdote e líder de um centro de culto ou terreiro de


candomblé.

Capítulo 6

DISCERNIMENTOS
FUNDAMENTAIS
Após toda esta abordagem, onde pudemos compreender um pouco
melhor os elementos normalmente presentes e implícitos na
construção de um quadro de homossexualidade, penso que é o
momento de chegarmos a algumas definições.

Os discernimentos que apresentaremos estabelecem alguns


fundamentos e referenciais que balizam e assegu-ram o
encaminhamento pastoral das situações envolvendo a
homossexualidade.

Cada uma dessas questões oferece sutilezas, dúvidas e alternativas


conceituais que podem nos levar a rumos totalmente diferentes,
determinando aonde vamos chegar, ou não, em um
aconselhamento. São interrogações que não podemos deixar em
aberto. Indefinições nesse sentido só agravam o quadro de
confusão e luta, comprometendo severamente o processo de
restauração da identidade sexual.

154 - Marcos de Souza Borges 1. Natureza humana ou


Perseguição espiritual?

Primeiramente, é necessário estabelecer a sutil e ao mesmo tempo


grotesca diferença entre a “natureza homossexual”, que não existe,
e a “perseguição espiritual de caráter homossexual”.

Por ter uma conotação existencial, esta questão torna-

-se ainda mais difícil. Parece razoável aceitar que uma pessoa que
desde que se entende por gente sente uma atração sexual por
pessoas do mesmo sexo simplesmente conclua que isso
definitivamente faz parte da sua natureza, sendo explicado por
alguma alteração cromossômica ou algo parecido.
Porém, a Ciência, por mais que já tenha pesquisado, nunca
conseguiu provar a existência de uma natureza, hormônio, ou um
gene relacionado à homossexualidade.

Esta é uma questão tão séria, que hoje já existe toda uma
construção filosófica que se fundamenta nessa teoria, ou seja, uma
crença de que existe uma “natureza homossexual”. Uma teoria que
não pode ser comprovada cientificamente passa a ser uma crença,
ou meramente um sofisma. Portanto, esse posicionamento está
muito mais no campo da fé do que da ciência. No fundo, isto nada
mais é que o homossexualismo professado como religião.

Estabelecendo esse posicionamento como base ideológica,


ignorando o aspecto espiritual, toma-se um caminho onde a pessoa
fica existencialmente presa ao conflito, mutilando sua própria
natureza. Eu diria que, sem Deus, esta e tantas outras questões da
vida humana tornam-se um beco sem saída.

De fato, uma coisa é a identidade sexual, ser “macho”

ou ser “fêmea”. Outra é a perseguição espiritual e a prática

Discernimentos Fundamentais - 155

sexual. A identidade é intrínseca à natureza; a prática pode ser


deturpada a partir de uma série de fatores. Ainda que a prática
sexual seja opcional e cogite variadas influências e alternativas, a
identidade sexual não é opção – é criação:

“Criou pois Deus o homem a sua imagem e semelhança, macho e


fêmea os criou” (Gn 1:27).

Por sua vez, a perseguição homossexual, como já vimos, é real,


intensa, consistente, mas não tem um caráter determinista; antes,
pode ser eliminada através dos mecanismos adequados de
salvação, libertação e reeducação da identidade sexual,
providenciadas pela graça de Deus através do Evangelho de Cristo.
Como Paulo afirma: “Porque a palavra da cruz é loucura para os
que perecem; mas para nós, que somos salvos, é o poder de Deus”
(I Co 1:18).

A libertação, nestes casos, consiste essencialmente na


desconstrução do quadro, de forma específica, levando em
consideração todos os pontos abordados no capítulo anterior, bem
como alguma outra situação inusitada, interagindo com os princípios
bíblicos de libertação e reeducação da identidade. Aconselho o
estudo de um dos meus livros, o intitulado “Pastoreamento
Inteligente” que estabelece toda uma compreensão de como esses
princípios devem ser harmonizados e aplicados. Obviamente, esse
tipo de mudança demanda acompanhamento, sabedoria e muito
esforço e perseverança, onde o maior inimigo a ser vencido é a
passividade.

2. Homossexualidade e Homossexualismo Outro importante


discernimento que precisa ser feito é entre homossexualidade e
homossexualismo. Enquanto

156 - Marcos de Souza Borges a homossexualidade é a opção de


se relacionar sexualmente com alguém do mesmo sexo, o
homossexualismo é a filosofia, a apologia a esse tipo de
relacionamento. O

sufixo “ismo” puxa o conceito para o campo ideológico.

Nem toda pessoa que pratica a homossexualidade pratica o


homossexualismo, ou seja, defende e propaga este tipo de estilo de
vida.

Portanto, quando usamos o termo “homossexualidade” estamos


falando da opção sexual e quando usamos o termo
“homossexualismo” estamos nos referindo à filosofia ou apologia à
conduta homossexual.
Sem desmerecer as agressões gratuitas sofridas por muitos
homossexuais, o problema maior do homossexualismo é que ele
tem sido manifestado de forma ditatorial e essencialmente
preconceituosa, por exigir incondicional-mente uma aprovação
comportamental. Na realidade, é o mesmo espírito do abuso
impondo um comportamento abusivo através da pessoa abusada.

A tendência de toda pessoa abusada é abusar. A histó-

ria está repleta de pessoas que foram politicamente abusadas ou


socialmente oprimidas, exploradas por governos injustos e
acabaram praticando abusos ainda maiores dos que os que
sofreram. De onde nascem facções extremistas e terroristas como o
IRA, Resbolá, Comando Vermelho, Sendero Luminoso, ASFARC e
tantos outros? Tudo isso nada mais é que um tipo de resposta ao
abuso sofrido. Todos esses movimentos apenas reforçam essa
realidade de que uma pessoa abusada tem uma grande
possibilidade de se tornar cruelmente abusadora. Esse é o grande
feitiço da amargura: a rebelião, uma vingança contraditória.

Discernimentos Fundamentais - 157

Por favor, não estou comparando homossexuais com esses grupos


mencionados; estou apenas reforçando o princípio de que a falta de
perdão, o abuso não redimido, a amargura incontida levam a pessoa
a justificar uma postura injusta praticando um zelo cego, incoerente,
implacavel-mente destrutivo.

O conceito de liberdade fundamenta-se na atitude de expressar


convicções próprias sobre procedimentos alheios, sem, todavia,
desrespeitar ou agredir a pessoa ou grupo em questão. A liberdade
de discordar aprimora as ideias. Debater ideias é fundamental para
se chegar às melhores conclusões e soluções.

O homossexualismo não aceita isso. Simplesmente interpreta tudo


como rejeição e discriminação, mesmo o que não é. Com isso, o
homossexualismo, em nome do preconceito, discrimina qualquer um
que não aprove o comportamento homossexual,
independentemente de se estar respeitando o indivíduo. Esta é a
incoerente maneira de lidar com o preconceito sendo
preconceituoso, o que só piora ainda mais as coisas, produzindo
mais tensão, rejeição e conflito.
3. Homofobia X Homolatria
Etimologicamente, Homofobia vem de homo, prefixo relativo à
homossexualidade, e fobia vem do grego “fobos”, que significa
“medo”, “aversão irreprimível”. Por sua vez, a Homolatria significa o
“culto” ou a “adoração” ao comportamento homossexual. Tanto a
aversão irreprimível quanto a adoração ao comportamento
homossexual são extremos altamente tóxicos e inapropriados ao
convívio moral e cí-

vico. O próximo discernimento nos esclarece isso melhor.

158 - Marcos de Souza Borges 4. Aceitação X Aprovação

A perfeição divina fundamenta-se na tolerância.

Quando Jesus desafiou os seus discípulos dizendo: “Sede perfeitos


como perfeito é o vosso Pai Celestial” , ele acabara de fazer um
sermão sugerindo os mais elevados níveis de tolerância e paciência.
Ele disse: “Não resistais ao perverso... Se um romano (os judeus
estavam subjugados ao império romano naquela época) te obrigar a
carregar a sua sacola de feira uma milha, ande duas milhas com
ele; se te tomar a capa, dá a túnica também; se te bater em uma
face, oferece a outra. Ore por aquele que te persegue, abençoe
aquele que te maldiz...”

A perfeição divina não comunga com a intransigência, e muito


menos se confunde com uma rigidez religiosa baseada em dogmas
e preceitos amorais. A perfeição divina está alicerçada em um
conceito de verdade e justiça que se conduz por tolerância,
longanimidade, perdão. O grande baluarte da perfeição é a
paciência.

Portanto, o princípio da tolerância precisa equilibrar essas duas


respostas em relação às pessoas: aceitação e aprovação.
• A aceitação é incondicional, está ligada ao valor intrínseco de todo
ser humano, valoriza a singularidade do indivíduo; é absoluta.

• Por sua vez, a aprovação é condicional, está ligada às escolhas da


pessoa, avalia as motivações e atitudes; é relativa ao
comportamento.

Uma coisa muito importante no que diz respeito à ética bíblica ao


lidar com a questão homossexual é ter o

Discernimentos Fundamentais - 159

equilíbrio de desaprovar o comportamento sem deixar de


demonstrar aceitação e afeto pelo indivíduo.

A aprovação está condicionada às motivações, princípios e


comportamentos. A Bíblia desaprova a homossexualidade. Portanto,
como pastor e líder espiritual não posso deixar em aberto este tipo
de interrogação, deixando brechas para certas concessões. É
importante ficar bem claro que a prática homossexual é pecaminosa
e tida como abominável por Deus por ser prejudicial e destrutiva
para o ser humano como indivíduo, família, e raça. Este filme já
passou em várias épocas da história e sabemos qual é o final:
destruição da sociedade.

Por sua vez, a aceitação de uma pessoa é incondicional, e está


ligada ao valor intrínseco do indivíduo, criado à imagem e
semelhança de Deus. Portanto, uma aceitação incondicional que
também responsabiliza a pessoa pelas consequências das suas
escolhas expressa fielmente o amor de Deus, que pode transformar
qualquer situação e coração.

Esse é um ponto crítico no terrível conflito que essas pessoas


ligadas à homossexualidade passam. Precisamos, como Igreja,
amá-las com esse amor que elas não conhecem, que as aceita, as
respeita, as valoriza, as recebe, sem preconceito e sem ter que
levá-las para a cama. Só o amor de Deus pode restaurá-las ao
propósito eterno da sua existência!

Sob a ótica do mundo invisível, não existe nenhuma possibilidade


de realização humana dentro de um comportamento homossexual.
Não é uma questão de

“preconceito”, mas de “conceito”. A prática homossexual

160 - Marcos de Souza Borges é pecaminosa. “Ora, o aguilhão da


morte é o pecado, e a força do pecado é a lei” (I Co 15:56). A
homossexualidade mutila a identidade sexual, levando aos níveis
mais abomináveis de corrupção e perdição: “Com homem não te
deitarás, como se fosse mulher; abominação é”

(Lv 18:22).

Mesmo com toda campanha da mídia, por mais que parte da


sociedade aprove e até aplauda a conduta homossexual, essas
pessoas continuarão sendo espiritualmente, emocionalmente e até
fisicamente rejeitadas, abomina-das, apedrejadas e mortas. Não é
apenas uma questão meramente sociológica; não é carne e sangue,
mas uma inflexível sansão do mundo invisível:

“Se um homem se deitar com outro homem, como se fosse com


mulher, ambos terão praticado abominação; certamente serão
mortos; o seu sangue será sobre eles” (Lv 20:13).

5. União civil X Casamento

Este é outro discernimento conceitual vital para qualquer sociedade.


Ou seja, não existe matrimônio homossexual; apenas uma união.
Seja ela estável ou não. Na verdade, muito raramente uma relação
homossexual se torna “estável”, no sentido literal da palavra.

Não devemos separar o que Deus uniu, e muito menos unir o que
Deus separou. Na verdade, estes são os dois extremos opostos ao
propósito divino estabelecido no matrimônio, principalmente quando
cogitamos as respectivas influências na vida dos filhos:

Discernimentos Fundamentais - 161

• O divórcio, ou seja, “separando o que Deus uniu”. Isto é


essencialmente traumático.

• A união homossexual, ou seja, “unindo o que Deus separou”. Isso


é essencialmente confuso, inadequado, “desfuncionalizante”.
Aniquila os referenciais necessários para uma construção saudável
da personalidade e da sociedade.

O termo “casamento gay” é conceitualmente antagônico,


essencialmente contraditório. União civil é mais genérico. Pessoas
se unem para vários tipos de propósitos, sejam eles lícitos ou
ilícitos, morais ou imorais.

Essa também não é uma questão de preconceito humano, mas de


conceito moral, cívico, bíblico. Olhando sociologicamente para a
história humana desde os dias de Ló, esse discernimento não vem
de uma conclusão imatura ou irresponsável. Também não é uma
questão que está associada às pessoas, ou à rejeição delas, mas
ao campo das ideias. Isso pode parecer irrelevante, mas este
entendimento exerce um papel sócio-político fundamental para a
preservação de qualquer sociedade.

Tudo aquilo que culturalmente descaracteriza o ser humano em


relação à sua identidade sexual é abominável, deve ser rejeitado
moralmente e socialmente: “Não haverá traje de homem na mulher,
e nem vestirá o homem roupa de mulher; porque, qualquer que faz
isto, abominação é ao SENHOR teu Deus” (Dt 22:50). A questão
aqui não é o traje em si, mas aquilo que desfigura a identidade
sexual diante da sociedade. Algumas pessoas estão tentando
enquadrar a união homossexual no conceito de “diversidade”, mas
162 - Marcos de Souza Borges é totalmente inadequado. Existe
uma linha que separa a diversidade da aberração.

Biblicamente falando, o conceito de casamento está intrinsecamente


associado a certos princípios inegociáveis: aliança de fidelidade até
a morte de um dos cônjuges; emancipação e aprovação dos pais;
heterossexualidade; procriação. Portanto, a união homossexual não
pode ser definida como casamento ou matrimônio. Esse não é o
termo apropriado. Podemos chamá-la de qualquer outra coisa,
menos matrimônio.

6. Tentação X Prática homossexual

Na verdade, nenhum ser humano enquanto vive em seu corpo


terreno estará totalmente imune em relação à tentação. Isso porque
o princípio do pecado se fundamenta em um apelo aos desejos e
sentimentos intrínsecos à nossa natureza. Ou seja, os desejos e
sentimentos instigados pela tentação estão dentro de nós, podendo
ser satisfeitos em concordância com a vontade de Deus ou em
detrimento dela: “Mas cada um é tentado, quando atraído e
engodado pela sua própria concupiscência. Depois, havendo a
concupiscência concebido, dá à luz o pecado; e o pecado, sendo
consumado, gera a morte” (Tg 1:14-15).

Tiago deixa bem claro que o aspecto central da tentação funciona


de dentro para fora, e não o contrário; isso sem querer tirar o mérito
de Satanás, que é descrito como tentador. Antes de o diabo tentar
Eva, ela foi instigada pelos seus sentidos, pelo seu desejo.

Podemos diminuir consideravelmente a força de uma tentação ou a


tendência ao descontrole ao investirmos em

Discernimentos Fundamentais - 163

uma vida espiritual dedicada ao temor do Senhor. Isso pode


funcionar como um tipo de imunização ao pecado, mas não em
relação à tentação. A libertação em Cristo, apesar de poder corrigir
e diminuir a tentação, não nos isenta dela.

Portanto, a despeito das tentações, é perfeitamente possível


construir um caráter de obediência onde se quebra o domínio
outrora exercido pelo pecado: “O pecado não terá domínio sobre
vós, porque não estais debaixo da lei, mas debaixo da graça” (Rm
6:14).

É importante entender que ser livre da prática do pecado não


significa ser livre da tentação do pecado. O

próprio Jesus foi tentado em todas as coisas, porém sem pecado. O


aspecto positivo disso é que somos levados a um estilo de vida de
quebrantamento, humildade, dependência e devoção a Deus. E,
quanto mais estreitamos nossa intimidade com Ele, mais
experimentamos a sua graça e o significado real da nossa
existência.

Ao avaliar a natureza dos nossos desejos e sentimentos, podemos


dizer que algumas tentações são naturais e outras são pervertidas.
Ou seja, no contexto que estamos desenvolvendo essa ideia, a
atração heterossexual pode ser classificada como normal, enquanto
a atração homossexual, ou pedofílica, ou zoofílica, etc. seriam
classificadas como anormais e malignamente deturpadas.

Teoricamente, após um processo de libertação e restauração, esse


tipo de desejo classificado como anormal deveria desaparecer, mas
na realidade não é sempre isso o que ocorre. Aqui entra o poder das
consequências.

Algumas pessoas vêm de uma prática homossexual extremamente


prolongada, o que pode provocar alterações

164 - Marcos de Souza Borges ou sequelas irreversíveis,


principalmente em relação à memória do prazer. Uma vez que os
instintos, sentimentos e a bioquímica orgânica envolvidos na prática
da homossexualidade foram ativados na vida da pessoa de maneira
tão sistemática, pode ocorrer que ela não será livre deste tipo de
tentação pelo restante de sua vida, ou que essa restauração do
desejo à normalidade demore bastante tempo, talvez anos.

O mais importante, e o que realmente quero enfatizar neste


discernimento é que ainda que a pessoa não esteja ausente da
tentação homossexual, pode, todavia, com a graça de Deus, tornar-
se totalmente livre dessa prática.

É possível aprendermos a conviver vitoriosamente com qualquer


tipo de tentação. Nisto reside o poder de um estilo de vida
crucificado. Um dos principais aspectos da maturidade reside na
firmeza em colocarmos limites para os nossos desejos e
sentimentos, combinando renúncia com voluntariedade.

Assim como um ex-adúltero pode se tornar totalmente livre da


prática do adultério, apesar das tentações que continua sofrendo, da
mesma forma, um ex-homossexual também pode se tornar
totalmente livre dessa prática, mesmo que continue sendo tentado.
O mesmo poder que nos faz prevalecer sobre um pecado nos
possibilita a vencer qualquer outro.

Capítulo 7

O DRAMA DE LÓ E SUA FAMÍLIA

SAINDO DO CATIVEIRO DO ABUSO E


DA PERSEGUIÇÃO HOMOSSEXUAL

Algo precisa ficar bem claro. Uma genuína restauração só é


possível quando entendemos o plano divino para a redenção
humana. “Este é o mistério que esteve oculto desde todos os
séculos, e em todas as gerações, e que agora foi manifesto aos
seus santos: Cristo em vós a esperança da glória!” (Cl 1:26,27). Ou
seja, todos podemos experimentar Jesus vivendo em nós através do
Espírito Santo!

O plano de Deus não é apenas uma religião recheada de práticas e


regras que regem o nosso comportamento, mas a glória de Deus, a
soma de todos os Seus atributos, a sobre-excelente grandeza do
seu poder, a Sua natureza, a plenitude da Sua pessoa, o viver de
Cristo em nós, que restaura a nossa identidade e dá total sentido à
nossa existência.

166 - Marcos de Souza Borges Sem cultivarmos uma vida cheia do


Espírito Santo entramos em uma guerra injusta contra o pecado e
as suas duras consequências. Sem Cristo em nós, por mais que nos
esforcemos, o único resultado acaba sendo engano, religiosidade e
frustração.

ENFRENTANDO OS DIAS DE LÓ (Lc 17:28)

“Mas antes que se deitassem, cercaram a casa os homens da


cidade, isto é, os homens de Sodoma, tanto os moços como os
velhos, sim, todo o povo de todos os lados; e, chamando a Ló,
perguntaram-lhe: Onde estão os homens que entraram esta noite
em tua casa? Traze-os cá fora a nós, para que os conheçamos” (Gn
19:4,5).

O episódio bíblico mais clássico e inspirador que nos permite


discernir os princípios divinos para se lidar com a questão da
homossexualidade é a história da família de Ló.
Apesar de Sodoma não existir mais fisicamente, essa é uma
“cidade” que existe espiritualmente, em uma dimensão paralela,
invisível, internalizada na realidade de muitas pessoas, famílias e
relacionamentos. Os portões de Sodoma têm avançado por todo o
mundo, até dentro da Igreja, ocupando os territórios cedidos pela
destruição familiar.

Em alguns lugares, ao invés da Igreja prevalecer contra as portas do


inferno, tem ocorrido exatamente o contrário.

Dentre as fronteiras que mais se alargam no mundo estão: a do


adultério, do divórcio, do abuso sexual, da pedofilia, da prostituição
infantil e, consequentemente, a do homossexualis-

O Drama de Ló e sua Família - 167

mo. Na situação de Sodoma, este mal se tornou generalizado:

“... os homens de Sodoma, tanto os moços como os velhos, sim,


todo o povo de todos os lados” . É nesse tipo de fortaleza que uma
quantidade inumerável de “justos e crentes”, como Ló, está sitiada e
aprisionada com seus casamentos e famílias.

Analisando a história do julgamento divino sobre Sodoma e a forma


como Deus se esforçou para livrar Ló e sua família de uma iminente
destruição, vamos ressaltar os princípios implícitos na restauração
de um quadro de abuso sexual e/ou homossexualidade.

Princípio 1. Intercessão

Para cada Sodoma e para cada Ló Deus tem um Abraão.

“Disse ainda Abraão: Ora, não se ire o Senhor, pois só mais esta
vez falarei. Se porventura se acharem ali dez? Ainda assentiu o
Senhor: Por causa dos dez (justos) não a destruirei” (Gn 18:32).
Quando uma sociedade está sob condenação espiritual, quando a
iniquidade de um povo chega até os céus, o que está em pauta não
é a quantidade e a crueldade dos ímpios, mas a inexistência de
justos.

Em várias ocasiões mencionadas na Bíblia, percebemos esse


princípio: quando os justos são extintos de uma sociedade é certo
que esta sociedade será destruída. Foi o que ocorreu nos dias de
Noé, nos dias de Jeremias (Jr 5:1)... e como estamos vendo, nos
dias de Ló: “Mas no dia em que Ló saiu de Sodoma choveu do céu
fogo e enxofre, e os consumiu a todos” (Lc 17:29).

168 - Marcos de Souza Borges Aqui entra o papel da Igreja como


coluna e firmeza da verdade. O valor espiritual de uma congregação
não reside na quantidade de membros, mas na capacidade de
expressar e praticar a justiça. O maior problema de uma terra é
quando Deus tenta achar os justos e não encontra; é quando Deus
procura um intercessor e não consegue achar; é quando ele olha
para as brechas de uma sociedade e não existe alguém que saiba
deter a destruição.

Sinceramente, a minha maior preocupação não é o crescimento do


homossexualismo, mas a falta de intercessores providos de
compaixão e sabedoria no exercício do seu chamado. É o
despreparo de muitos, a falta de entendimento para praticar a justiça
nesses dias que podemos entender espiritualmente como “os dias
de Ló” .

O meu maior objetivo através desse conteúdo é despertar o


verdadeiro sacerdócio da Igreja, entender a natureza da nossa
missão, discernir o caráter espiritual das desordens humanas e
sociais, fechar a brecha da desconstrução familiar, alcançando
assim a nossa geração para Jesus.

Sou inspirado a crer que Deus sempre tem um Abraão para cada
Ló. Muitas vezes serão necessárias a intercessão e a intervenção
de alguém. Abraão se posiciona em favor de Ló, que se encontrava
subjugado espiritualmente em Sodoma, o domicílio do abuso
homossexual, e sem perspectiva alguma de conseguir sair dali.

Toda pessoa que foi imersa em um ambiente de abuso, em algum


momento irá precisar da ajuda de um conselheiro, um amigo
espiritualmente maduro, compassivo, como também da ajuda
sobrenatural de Deus. Precisa de intercessão, aceitação, apoio. O
mais importante é que esta

O Drama de Ló e sua Família - 169

ajuda existe e pode ser viabilizada através de um processo


consistente de aconselhamento e intercessão.

Abraão é a tipologia da fé genuína e de um relacionamento íntimo


com Deus que pode e deve existir em cada um de nós. Se você é
um “Abraão”, uma pessoa provada, madura, encouraçada pela fé,
amigo de Deus, entenda qual é a “Sodoma” que você precisa
interceder. Talvez seus parentes estejam lá. Provavelmente, existe
um “Ló” que é sua responsabilidade! Humilhe-se, quebrante-se,
compadeça-se, profetize, esforce-se, clame a Deus por eles!

Se você se vê como um “Ló”, cercado, acomodado na imoralidade,


subjugado à tendência homossexual, confuso, sem saída, sem
esperança, saiba que Deus tem preparado um “Abraão” para você!
Sua fuga, sua restauração já estão planejadas e em andamento.
Tão somente não ignore a provisão e o tempo da visitação de Deus
sobre sua vida!

Princípio 2. Hospitalidade e transparência

Hospedar os anjos. Para cada Ló, Deus envia dois anjos.

Para cada “Ló”, para cada família em risco onde existe um justo,
Deus provê uma ajuda sobrenatural. Ele envia os seus anjos. Ou
seja, para cada Ló, Deus tem não apenas
“um Abraão”, mas “dois anjos”.

A missão destes anjos foi primariamente averiguar o que estava


acontecendo. Na verdade, a maneira como nos relacionamos com a
ajuda divina vai determinar se seremos protegidos ou destruídos.
Esta é a questão da hospitalidade, da transparência, da
acessibilidade à correção divina.

Por isso a Bíblia diz: “Não vos esqueçais da hospitalidade,

170 - Marcos de Souza Borges porque por ela alguns, não o


sabendo, hospedaram anjos”

(Hb 13:2). Onde os enviados de Deus serão recebidos? Na praça da


cidade ou no aconchego do lar? Serão tratados com desprezo ou
acolhidos no quebrantamento do coração?

O processo de libertação requer um acesso íntimo à história e aos


relacionamentos familiares, às perseguições, abusos e bloqueios na
área sexual que a pessoa, o casamento ou os filhos estão sofrendo
ou a ponto de sofrer.

Hospedar alguém significa você se expor a ser plenamente


conhecido na sua intimidade familiar. Exige humildade e até mesmo
humilhação. Como alguém já disse: É bem melhor ser o “bobo da
corte da luz” do que o “príncipe das trevas”!

A casa de Ló não é apenas uma tipologia do que possa estar


ocorrendo com a própria família, mas também demonstra o que está
acontecendo no interior do indivíduo.

Sodoma não está fora, mas dentro da pessoa. Isso se refere a uma
alma sitiada, a ponto de ser violentada pelo inimigo.

Hospitalidade gera transparência. Hábitos e segredos são


descortinados. Isso pode ser terrivelmente doloroso, mas
poderosamente saudável. A verdade sobressai. Transparência gera
purificação. Esta foi a coisa mais acertada que Ló conseguiu fazer.
Sua justiça foi revelada nesse ato.

Na verdade, este foi praticamente o único ponto onde ele não errou.
Vejamos isso um pouco mais detalhadamente:

“À tarde chegaram os dois anjos a Sodoma.

Ló estava sentado à porta de Sodoma e, vendo-os, levantou-se para


os receber; prostrou-se com o rosto em terra, e disse: Eis agora,
meus senhores, entrai, peço-vos em casa de vosso servo, e passai
nela a

O Drama de Ló e sua Família - 171

noite, e lavai os pés; de madrugada vos levantareis e ireis vosso


caminho. Responderam eles: Não; antes na praça passaremos a
noite. Entretanto, Ló insistiu muito com eles, pelo que foram com ele
e entraram em sua casa; e ele lhes deu um banquete, assando-

-lhes pães ázimos, e eles comeram” (Gn 19:1-3).

Antes que as coisas escureçam de vez e que as chances se


esgotem, “à tarde”, o socorro divino sempre chega.

Antes que o juízo se concretize, vem um tempo divino de


oportunidade. Como já mencionamos, é essencial discernir o tempo
da visitação de Deus. Quantos anjos, quanta ajuda divina já tem
sido enviada e, talvez, simplesmente, ignorada?

A ajuda de Deus vem para preservar o que é justo e destruir o que é


condenável. A salvação demanda posicionamentos. O grande
dilema aqui é que certas escolhas erradas podem transformar uma
possibilidade de liberta-

ção em condenação.
O problema das perseguições homossexuais é que alguns se
acostumaram tanto com esse cativeiro, que não querem que Deus o
destrua. Ao mesmo tempo em que mutila a natureza humana e
angustia a alma, é sedutor.

Outros já perderam a esperança de que as coisas podem mudar.


Porém, é bem possível que a ajuda de Deus esteja batendo à sua
porta agora mesmo! Como Jesus disse à Laodiceia, um tipo de
igreja que estava sendo repugnada:

“Eis que estou à porta, e bato; se alguém ouvir a minha voz, e abrir
a porta, entrarei em sua casa, e com ele cearei, e ele comigo” (Ap
3:20).

172 - Marcos de Souza Borges Tudo que precisamos fazer é não


recusar a visitação divina. Este é o poder da transparência. Jesus
não apenas quer entrar no nosso conflito, como também nos
mostrar a saída pela nossa comunhão com ele.

Não existe nada mais terapêutico e restaurador do que um legítimo


relacionamento com Deus. É quando a religiosidade é
desmascarada e a ilusão do pecado perde o seu brilho.

A única pessoa que pode satisfazer a insaciabilidade da alma


humana é Deus. No fundo, a cura para as paixões e distorções
infames parte de um legítimo relacionamento com a pessoa de
Jesus.

Sodoma significa o ambiente interno produzido pela perversão


sexual, a mente escrava, o espírito contaminado, a identidade
confusa que afogou, asfixiou o espírito da pessoa. Sodoma não está
fora, mas dentro dela; é a tendência homossexual com todos os
elementos que provocam esses instintos deturpados, a
vulnerabilidade aos abusos.

Esse é o ponto onde o Evangelho precisa chegar, cortar, extirpar e


fazer a diferença. Deus sabe como entrar na Sodoma da alma e
julgar, redimindo o que precisa ser purificado e aniquilando o que
precisa ser destruído.

O momento é já, como disse Ló: “Eis agora, meus senhores, entrai,
peço-vos em casa de vosso servo, e passai nela a noite.” Não se
pode perder a oportunidade de corresponder com a ajuda
disponibilizada, tendo uma atitude de submissão, quebrantamento,
humildade, cooperação.

Estes anjos representavam a ajuda divina em resposta à


intercessão de Abraão, e Ló os recebeu em sua casa.

Para sair de Sodoma é necessário se abrir para uma ajuda

O Drama de Ló e sua Família - 173

sacerdotal. Compartilhar as situações íntimas com alguém maduro,


de confiança, enviado de Deus.

Este é um aspecto fundamental no aconselhamento: a porta precisa


ser aberta de dentro para fora: “... entrai, peço-vos” . Isso é o que
diferencia o aconselhamento do abuso espiritual ou emocional. Os
detalhes mais secretos da sua vida, família, casa, relacionamentos
serão totalmente desnudados. Isso não pode ser imposto.

Hospitalidade significa ter acesso às áreas e situações ocultas,


obscuras: “passai nela a noite” . Expor o que tem sido feito nas
trevas, na calada espiritual da noite. Estar dis-posto a tirar as
mordaças, quebrar o silêncio da consciência, a timidez espiritual, se
desvencilhar dos votos internos que nos lançaram em uma cova de
trevas. Abrir a boca, falar, deixar a verdade entrar e a dor sair.

Este é o ponto de prova da transparência, quando os anjos


estranhamente recusam o convite de Ló: “Não; antes na praça
passaremos a noite” . Pode parecer por alguns momentos que Deus
não quer nos ajudar, mas ele quer saber se queremos mesmo ser
ajudados. A base da santificação é a vontade sujeita à verdade.
“Entretanto, Ló insistiu muito com eles, pelo que foram com ele e
entraram em sua casa”. Este posicionamento de Ló, a sua
insistência em receber os enviados de Deus na intimidade da sua
realidade familiar, salvou sua vida e sua família, pelo menos
momentaneamente.

É necessário insistência em pagar o preço da transparência: “ele


lhes deu um banquete, assando-lhes pães asmos”. Não existe
libertação sem uma genuína comunhão, sem os “asmos da
sinceridade e da verdade” .

174 - Marcos de Souza Borges

Princípio 3. Perdoar os abusos e lidar com a falsa culpa

Cegar os inimigos e manietá-los.

“Aqueles homens, porém, estendendo as mãos, fizeram Ló entrar


para dentro da casa, e fecharam a porta; e feriram de cegueira os
que estavam do lado de fora, tanto pequenos como grandes, de
maneira que cansaram de procurar a porta” (Gn 19:10,11).

Existem duas armas espirituais que neutralizam a ação demoníaca:


a transparência, que acabamos de mencionar, e o perdão. Esse é o
tipo de luz que ofusca totalmente a visão do Inimigo. É importante
lembrar que a tendência homossexual tem um caráter
pneumocomportamental. Os espíritos de abuso sexual são
terrivelmente intimidadores, cercam, invadem, tentando produzir um
desespero paralisante. A transparência fecha a porta da casa para o
inimigo, mas isso não é tudo.

Na verdade, a grande amarra da prática homossexual é o duro fardo


de ódio, ressentimentos e rejeição que se acumula devido à rotina
de abusos. Este pesado déficit emocional infecciona espiritualmente
a alma e lesiona a autoestima. Para lidar com toda essa memória
ferida é vital reagir com perdão.
A Ciência ensina que possuímos um sistema límbico que funciona
como uma memória experiencial. Ou seja, ele grava nossas
reações, desde a infância nos aprisionando a elas. Ele continua
informando as nossas reações mesmo na idade adulta. A tendência
é que dores não resolvidas da infância sempre venham à tona e
voltem a ferir.

O Drama de Ló e sua Família - 175

O sistema límbico têm três maneiras de reagir a medos e feridas


que estão associadas com nossa sobrevivência bá-

sica: Lutar, fugir ou congelar (anestesiamento emocional).

Essas reações podem se tornar crônicas e comprometer


severamente a saúde emocional produzindo diversas
consequências destrutivas.

A pessoa precisa compartilhar sua dor, culpa, vergonha,


renunciando a mágoa, a falsa culpa, recebendo a graça de Deus
para também perdoar a si mesma, sabendo que já foi perdoada por
Deus. Muitas entidades demoníacas se alimentam tanto da culpa
calada quanto da amargura da alma. Não adianta declarar apenas o
perdão de boca para fora; é necessário disciplinar as emoções,
sabendo que não podemos oferecer aos nossos agressores uma
graça aquém daquela recebida de Deus.

Apesar de esta ser uma teoria que todos sabem, na prática, é onde
muitos atolam e sucumbem. Uma das primeiras tarefas do
conselheiro é levar a pessoa a uma profunda e genuína experiência
de perdoar. É nesse ponto que a batalha começa a virar; o Inimigo
perde o acesso, não acha mais a porta: “de maneira que cansaram
de procurar a porta” .

O abuso sexual é o estupro da identidade, a real tentativa de


“homicídio da alma e da autoestima”.
Imprime dores profundas e uma vergonha existencial.

É necessário crucificar tudo isso deixando que a graça de Deus


conduza a pessoa a um processo completo de cicatrização da
ferida, deixando definitivamente na Cruz as lembranças e
sentimentos do abuso. Só assim o Inimigo perde o acesso.

176 - Marcos de Souza Borges De abusado a abusador

É necessário ressaltar o perigo deste tipo de dinâmica.

Quando não perdoamos, incorremos na mesma injustiça de que


fomos vítimas. A amargura nos transforma na pessoa que nos feriu.
Muitas vezes, além de abusadas, encontramos não poucas pessoas
que têm a coragem de confessar que também abusaram
sexualmente de alguém. Depois de abusadas, tornaram-se
abusadoras.

Foi exatamente o que Ló acabou fazendo com as pró-

prias filhas: “Meus irmãos, rogo-vos que não procedais tão


perversamente; eis aqui, tenho duas filhas que ainda não
conheceram varão; eu vo-las trarei para fora, e lhes fareis como
bem vos parecer” (Gn 19:7,8).

Ló, neste momento, se autodegrada, negocia o inegociável,


demonstrando a índole de um abusador. Oferece suas filhas aos
habitantes de Sodoma. Uma terrível brecha de pedofilia estava
aberta em sua vida. Depois de ser abusado moralmente pelos
habitantes de Sodoma, abusou de suas filhas expondo-as a eles, e
por fim deixou-se ser embriagado e abusado por elas. Um terrível e
destruidor ciclo de abusos que se fundamentava em uma ferida
aberta, não tratada.

Princípio 4. Não à passividade

Não demorar mais neste lugar.


“E ao amanhecer os anjos apertavam com Ló, dizendo: levanta-te,
toma tua mulher e tuas duas filhas que aqui estão, para que não
pereças no castigo da cidade. Ele, porém, se demorava; pelo

O Drama de Ló e sua Família - 177

que os homens pegaram-lhe pela mão a ele, à sua mulher, e às


suas filhas, sendo-lhe misericordioso o Senhor. Assim o tiraram e o
puseram fora da cidade” (Gn 19:15,16).

Este é o aspecto mais difícil e contundente ao se lidar com o abuso


e a tendência homossexual. O maior inimigo está dentro da própria
pessoa: a sua passividade, a inércia espiritual, a descrença, a
indolência, a falta de esperança e reação! A passividade é, talvez, a
maior resistência ao processo de uma possível e real libertação.

Este é o ponto do arrependimento, a decisão íntima e irrevogável de


reagir, mudar, não demorar, não permanecer mais em Sodoma, o
domicílio do abuso e da perversão.

Aqui é onde Deus nos pressiona: “os anjos apertavam com Ló”.
Esse é o ministério do Espírito Santo: convencer-nos do pecado, da
justiça e do juízo, conduzindo-nos ao arrependimento. A decisão é
nossa. Se ficarmos em Sodoma, seremos destruídos com ela.

Arrepender demanda uma mudança radical, irredutível, persistente


de mentalidade e propósito. É resolver, definitivamente, que o que
você fazia não vai fazer mais, com a graça de Deus. É quando você
decide dentro de si mesmo: Nem que eu tenha que suar sangue,
não vou mais cair neste pecado! Chega! É um pacto de mudança e
perseverança!

Ainda que a tendência homossexual persista, a prática nunca mais!


Este é o ponto sobrenatural da intervenção divina, onde o pecado
deixa de ter domínio sobre as nossas vidas, e somos plenamente
capacitados pela graça de Deus que vem por uma vida crucificada.
178 - Marcos de Souza Borges É estritamente necessária uma
amputação de todas as fontes de tentação que sustentam o
comportamento vicioso de imoralidade, seja ele de natureza hetero
ou homossexual. Como Jesus disse:

“E, se a tua mão te escandalizar, corta-a; melhor é para ti entrares


na vida aleijado do que, tendo duas mãos, ires para o inferno, para o
fogo que nunca se apaga” (Mc 9:43).

Esta é uma medida radical que funciona como um divisor de águas.


Jesus repete esta receita de libertação mencionando não apenas a
“mão” , como também o “pé”

e o “olho” , ou seja, algumas coisas que tocamos e fazemos; alguns


lugares, relacionamentos e caminhos que frequenta-mos; e algumas
coisas que vemos precisam ser amputadas, excluídas radicalmente
da nossa convivência. Este passo determinado em direção a uma
santificação radical é a chave do genuíno arrependimento.

Quando alguém afirma que tentou, mas não conseguiu deixar a


homossexualidade, apenas está denunciando a sua passividade.
Ainda não experimentou ou certamente está negligenciando o
elemento mais essencial da vida cristã: a cruz de Cristo!

Infelizmente, muitos perdem a batalha nesse posicionamento, por


ignorarem que a intervenção sobrenatural de Deus na natureza
humana depende do arrependimento humano. A Bíblia menciona
que “Ele (Ló), porém, se demorava”. Uma estranha passividade
parecia superar as forças de Ló e de sua família impedindo sua
decisão.

O Drama de Ló e sua Família - 179

Apesar disso, ele recebeu uma ajuda sobrenatural: “pelo que os


homens pegaram-lhe pela mão a ele, à sua mulher, e às suas filhas,
sendo-lhe misericordioso o Senhor. Assim o tiraram e o puseram
fora da cidade” (Gn 19:16).
Princípio 5. Domínio próprio

Processo de mortificação do desejo pecaminoso: Não olhar para


trás e não parar na campina.

“Quando os tinham tirado para fora, disse um deles: Escapa-te,


salva tua vida; não olhes para trás de ti, nem te detenhas em toda
esta planície”

(Gn 19:17).

Este texto nos dá duas chaves de como escapar do ambiente


produzido pelo comportamento homossexual:

1. ...”não olhes para trás de ti”

Isso não quer dizer que devemos ignorar o passado, mas resolver o
passado, fechar os arquivos que ficaram em aberto; lidar não
apenas com a dor e a vergonha residu-ais, mas também com a
dependência emocional e sexual nutrida pelos relacionamentos
pervertidos; cortar definitivamente esses laços de iniquidade;
descartar as “cebolas do Egito”, tendo a consciência de que o prazer
transitório do pecado custa caro demais: é um preço de eternidade.

Pode ser necessário um desligamento físico e também de alma em


relação a todas as pessoas com quem a pessoa se ligou
sexualmente ou homossexualmente. Relembrando que um perdão
genuíno deve ser oferecido a todos que

180 - Marcos de Souza Borges abusaram e rejeitaram. O


desligamento de alma é completo quando todo tipo de dependência
emocional e os constrangimentos provenientes de uma memória
ferida são substituídos por paz e segurança.

2. ...” nem te detenhas em toda esta planície”


Essa é a planície da cobiça, o território do amor ao prazer, que
outrora havia seduzido a família de Ló, separando-os de Abraão, o
arquétipo da fé, fazendo com que Ló deixasse de ser guiado pela
visão divina e passasse a ser guiado pelo desejo carnal, colocando
seu domicílio em Sodoma. Aqui Ló fora traído pelos seus olhos (Gn
13:10) e perdera o rumo do seu chamado.

Essa planície significa o ambiente da sedução, do descontrole


imposto pelo pecado e pelas descompensações sexuais. Para sair
de Sodoma é necessário não olhar para trás e não parar nesse
processo onde precisamos lidar com a compulsão imoral. Uma
pequena parada pode nos seduzir e destruir. Esse é o princípio da
queda, onde a família de Ló se desfez. Foi aqui que a esposa de Ló
fracassou, tornando-se ícone da apostasia, uma estátua de sal, uma
mensagem para não ser jamais esquecida, como Jesus advertiu:
“Lembrai-vos da mulher de Ló” .

Temos aqui outro grande ponto de prova. É o ponto de morrer para


a carnalidade. Este pode ser um campo muito extenso, como
também curto. Depende da qualidade do arrependimento e da
nossa determinação. O desejo precisa ser persistentemente
vencido, dominado.

Este é um campo habitado pelo tentador, de muita dor e falsos


confortos. Satanás tenta seduzir com lem-

O Drama de Ló e sua Família - 181

branças de prazer e paixão. Muitas memórias feridas por orfandade,


medo, incredulidade que se misturam com desejos compulsivos de
imoralidade. Esse campo precisa ser atravessado, de uma vez, sem
parar. Só há uma resposta: a disciplina da Cruz!

Princípio 6. Disciplina espiritual

Reeducação da vontade e da identidade. Ir para o monte designado


pelos anjos.
“...Escapa-te lá para o monte, para que não pereças” (Gn 19:17).

Não podemos deixar de mencionar que foi neste ponto que Ló


definitivamente fracassou. Talvez este tenha sido o seu maior erro.
Ao invés de ir para o monte indicado pelos anjos, ele os convenceu
a ir para um lugar mais confortável.

O sedentarismo moral, a indolência e a passividade da alma


prevaleceram. Veja o texto:

“Eis que agora o teu servo tem achado graça aos teus olhos,
...salvando-me a vida; mas eu não posso escapar-me para o monte;
não seja caso me apanhe antes este mal, e eu morra. Eis ali perto
aquela cidade, para a qual eu posso fugir, e é pequena. Permite que
eu me escape para lá (porventura não é pequena?), e viverá a
minha alma.

Disse-lhe: Quanto a isso também te hei atendido, para não


subverter a cidade de que acabas de falar” (Gn 19:19:21).

182 - Marcos de Souza Borges Ló pensou que não conseguiria


sobreviver naquele monte. É um terrível engano quando pensamos
que determinados posicionamentos que possibilitam a reeducação
da identidade, da vontade, da sexualidade, da espiritualidade são
inalcançáveis. Ló escolheu não subir o monte de Deus.

Acabou saindo de um lugar condenado e indo para outro.

Quando Ló percebeu que não poderia continuar em Zoar, já estava


contaminado. Mudou-se para uma caverna onde passou a viver
isolado com as filhas. Esta situação de fragilização foi um prato feito
para uma retaliação demoníaca fatal.

“E subiu Ló de Zoar, ... e habitou numa caverna, ele e as suas duas


filhas” (Gn 19:30).
Ao invés de obedecer aos anjos, Ló insistiu em ir para Zoar, uma
pequena cidade que também deveria ter sido destruída, e que não
foi por causa da permanência de Ló.

Zoar significa a raiz que deveria ter sido arrancada, extirpa-da, e


não foi, devido à ociosidade espiritual. Também pode representar
relacionamentos doentios e manipulativos que deveriam ter sido
erradicados, e não foram; os costumes da terra que deveriam ser
condenados, mas que continuaram sendo tolerados.

O espírito de Sodoma foi se reinfiltrando no que so-brou da família,


e por fim, quando Ló decide sair de Zoar, estava abalado,
profundamente vulnerável, contaminado.

O cerco novamente se fecha em um golpe fatal. Ló simplesmente se


deixa embriagar pelas próprias filhas, aceitando o incesto como
resposta para suas carências. Em um tipo

O Drama de Ló e sua Família - 183

estranho de abuso consentido, ele gera com as próprias filhas


aqueles que se tornariam os piores inimigos dos descendentes de
Abraão deixando um complexo problema para as futuras gerações.

“Então a primogênita disse à menor: Nosso pai é já velho, e não há


varão na terra que entre a nós, segundo o costume de toda a terra;
vem, demos a nosso pai vinho a beber, e deitemo-nos com ele, para
que conservemos a descendência de nosso pai ... Assim as duas
filhas de Ló conce-beram de seu pai” (Gn 19:31-38).

As quatro escaladas: Indo para os lugares altos

1. Reeducação

Ir para os lugares altos fala de uma reeducação profunda visando à


máxima restauração possível da identidade sexual. Submeter a
acompanhamento e ajuda de alguém para corrigir atitudes, trejeitos
e comportamentos descom-pensados. Esta é uma grande escalada.
Após a campina, existe um monte a subir. Certos posicionamentos
mediante conselhos e princípios que podem elevar a pessoa acima
do juízo de Deus.

Isso pode ser exaustivo, demanda muito esforço, disciplina,


perseverança. Esta é a poderosa lógica da Cruz que deve ser
assimilada como um estilo de vida e produz resultados
surpreendentes. Enquanto isto não acontece, o processo de
restauração não estabiliza, e ainda corre certos riscos. Este foi o
erro fatal de Ló, foi onde ele definitivamente desistiu.

184 - Marcos de Souza Borges

2. Referencial correto de liderança

Ir para os lugares altos significa também se realinhar com o


propósito original de Deus, reconciliando os relacionamentos
quebrados. Voltar para a cobertura de Abraão.

Abraão morava nos montes, nos carvalhais de Manre (Gn 13:18).


Deus tem um Abraão para cada Ló. Isto fala não apenas de
referencial de liderança, cobertura, prestação de contas, mas pode
significar também uma profunda reconciliação com pais e líderes, ou
com o próprio conceito divino de autoridade e paternidade.
3. Vida devocional
Outra importante escalada está relacionada à nossa vida
devocional, à nossa intimidade com Deus, com o Seu caráter e as
Suas verdades. Uma vida responsável de meditação na Palavra
possibilitando um exercício contínuo de fé e obediência.

Assim aprendemos a julgar as profecias, lidar com as falsas


crenças, condenar as sugestões e tentações malignas, sendo
nutridos e fortalecidos pela palavra de Deus, sempre viva e eficaz.
Um dos princípios essenciais para a transformação se fundamenta
na renovação da mente.

Valores mudam e o condicionamento imposto pelos anos vividos em


Sodoma é sobrenaturalmente desarticulado.

A convivência com o pecado é diretamente proporcional a uma vida


devocional escassa, ausente. Quem vive na prática do pecado
certamente desconhece o poder do relacionamento devocional com
a Palavra de Deus. Assim como o pecado é uma ladeira que nos
leva ao fundo de um buraco, a vida devocional é uma escalada para
a liberdade,

O Drama de Ló e sua Família - 185

e demanda muito compromisso e disciplina. Até pegarmos o ritmo é


necessário um esforço muito grande, e isso faz com que muitos
desistam. Foi aqui que Ló fracassou. Sem uma vitória nesta área, a
tendência é retroceder e naufra-gar novamente no lamacento poço
do vício sexual.

4. Pacto de transparência

Outro aspecto é manter um estilo de vida comprome-tido com a


transparência. Este é um dos principais aspectos que vai garantir
uma escalada para o lugar seguro de Deus, mantendo-nos distantes
das campinas de Sodoma.

“Tinha saído o sol sobre a terra, quando Ló entrou em Zoar. Então o


Senhor, da sua parte, fez chover do céu enxofre e fogo sobre
Sodoma e Gomorra. E subverteu aquelas cidades e toda a planície,
e todos os moradores das cidades, e o que nascia da terra”
(Gn19:24-26).

Quando o sol se levanta. Quando o Dia se manifesta, quando há luz


e transparência, quando tudo é enfrentado, confessado, renunciado
e restituído; quando se mantém uma atitude de prestação de contas,
sem dissimulação, sem ocultar nada, a destruição do Inimigo
acontece, de dentro para fora.

A pedido do seu pastor, acompanhei, por um tempo, um precioso


irmão que vinha de uma história de vinte anos de
homossexualidade. Apesar de desejar sinceramente uma vida com
Deus e já frequentar a igreja por aproximadamente sete anos, vinha
sofrendo frequentes quedas.

186 - Marcos de Souza Borges Quando muito, conseguia


permanecer em torno de uns quinze dias apenas sem recorrer à
prática homossexual.

Apesar disso, desejava ardentemente uma libertação.

Depois de um produtivo tempo de aconselhamento, uma grande


libertação começou a desabrochar. Não podemos ser ingênuos
pensando que uma restauração total acontece de forma imediata e
mágica. É uma conquista que demanda muito esforço. Vinte anos
de prática homossexual não é brincadeira. Ele, a partir de agora,
precisaria se manter nesta postura ordenada pelos anjos de “não
olhar atrás”,

“não parar na campina” e “escapar lá para o monte” . Sabia que não


seria fácil para ele manter a sua libertação.
Expliquei a ele a importância de um “pacto de transparência”.
Portanto, qualquer acidente de percurso, qualquer tropeço ou
queda, ele me comunicaria imediatamente. Ele concordou
prontamente com a minha sugestão.

Ineditamente, depois de conseguir permanecer firme por mais de


três meses, estava sentindo-se tão confiante, que decidiu ir à casa
de um ex-parceiro para evangelizá-lo.

Isso realmente foi precipitado. Resumindo, essas visitas acabaram


em uma queda.

Porém, ele reagiu rapidamente, como eu havia lhe recomendado.


No mesmo dia do ocorrido, em obediência ao pacto de
transparência, ele me contatou, confessando humildemente o seu
fracasso. Sem desanimar, voltamos à estaca zero, tratamos
apropriadamente da situação re-tomando os posicionamentos
iniciais.

Juntos, transformamos aquela derrota em uma importante


experiência, assumindo uma postura mais pru-dente. Ficou muito
claro para mim como esse pacto de

O Drama de Ló e sua Família - 187

transparência salvou o processo, ajudando-o a alcançar


posteriormente a estabilidade espiritual tão esperada.

Avaliação final

Em nenhum lugar da Bíblia a homossexualidade é tratada como


uma situação especial, que não esteja sujeita à lei moral divina;
muito pelo contrário, é tida como repugnante e abominável assim
como o adultério, a prostituição, o incesto e outras perversões
sexuais.
Pensando na história da família de Ló e todo o esforço feito por
Deus, no final de tudo, a conclusão que chegamos é que, apesar de
Deus ter tirado Ló de Sodoma, Ele não conseguiu tirar Sodoma de
Ló, e muito menos de sua esposa e filhas.

Sodoma é um território condenado. Julgamento virá, mais cedo ou


mais tarde. O mesmo juízo que destrói as entidades demoníacas da
perversão sexual também pode destruir as pessoas. Banalizar,
ridicularizar, ignorar as muitas advertências divinas pode ser fatal.

Para alguns que conseguem escapar, podem ficar sequelas. O pior


deste tipo de situação é que pessoas são lançadas numa falta de
perspectiva em relação ao chamado de Deus. Fico me perguntando:
Por que Ló não voltou para a comunidade de Abraão? Por que
escolheu Zoar?

Por que ele se isolou com suas filhas, optando por um estilo de vida
depressivo? Por que ele preferiu não reagir escondendo-se em uma
caverna, refugiando-se no álcool e na imoralidade? O fracasso
diante destas questões o lançou no cativeiro novamente. O espírito
de perversão e abuso sexual retornou. Foi abusado pelas próprias
filhas.

188 - Marcos de Souza Borges Não precisamos cometer os


mesmos erros que Ló e sua família cometeram! O infinito amor de
Deus demonstrado no sacrifício de Jesus pode transformar qualquer
situação e coração, quando se decide responder ao Evangelho de
Jesus! Só uma profunda e sincera conversão à vontade de Deus
restaura a nossa identidade, faz-nos experimentar a verdadeira
liberdade e dá total sentido à nossa existência!

Não basta apenas ter um rótulo religioso ou frequentar uma igreja. O


plano de Deus não é apenas uma religião recheada de práticas e
regras que regem o nosso comportamento. Mas, é quando, em
sujeição plena à vontade de Deus, em uma profunda e contínua
atitude de quebrantamento e humildade, experimentamos a Sua
glória, a soma de todos os Seus atributos, a sobre-excelente
grandeza do Seu poder, a Sua natureza, a plenitude da Sua pessoa,
o mesmo poder que ressuscitou a Jesus dentre os mortos, o viver
de Cristo em nós!

“Mas aquele que beber da água que eu lhe der nunca terá sede,
porque a água que eu lhe der se fará nele uma fonte de água que
salte para a vida eterna” (Jo 4:14).

189

APÊNDICE

Estudo sobre a fisiologia do sexo anal De acordo com as


Escrituras, sou um defensor da prática sexual restrita ao casamento
heterossexual e monogâmico. Dentro destas fronteiras não
encontramos na Bíblia restrições para a intimidade sexual e penso
que quando um pastor ou conselheiro se acha no direito de querer
doutrinar a vida sexual alheia pode incorrer em abuso. Nunca me
colo-quei em uma posição de querer ditar o que um casal pode ou
não fazer na sua intimidade sexual. Porém, quando se trata do sexo
anal e prática homossexual, seria muito importante avaliar a
abordagem da Dra. Anete Guimarães. Você pode assistir o vídeo
pelo link (http://www.youtube.

com/watch?v=G1rtzQZ6DyY&sns=tw) ou fazer a leitura: Sexo anal é


normal? É biologicamente viável? Todo mundo deveria
experimentar? É bastante prazeroso se fizer direito? As revistas
fazem uma propaganda positiva do sexo anal dizendo que é normal,
que é uma prática bastante satisfatória, que tem uma forma correta
de fazer, etc. Os sites pornográficos têm vários contos e fantasias
dizendo que esta é uma experiência extraordinária, e que as
mulheres inclusive gostam muito quando decidem experimentar.
Será isto verdade?

A Dra Anete Guimarães trabalhou em uma enfermaria de pacientes


terminais do vírus da AIDS. Havia ali 20 pacientes e todos eram
homossexuais. Como ela precisava fazer sua monografia, ela
decidiu escrever sobre a AIDS - Quais as doenças oportunistas que
acontecem com o vírus da AIDS. Nesta época ainda não havia o
coquetel e o número de doenças oportunistas era muito maior do
que é hoje.

Então, eles pegaram todos os prontuários dos 20 pacientes e


pegaram também 100 prontuários de pacientes anteriores e fizeram
a listagem estatística das doenças.

Em primeiro lugar, estava a “endocardite bacteriana”. Todos, os 120


pacientes escolhidos eram portadores desta doença, ou seja, tinham
uma colonização bacteriana das válvulas cardíacas. Segundo lugar,
pneumonia, tuberculose, etc. Ao mostrar esses resultados para o
professor, ele riscou a endocardite bacteriana afirmando que não
estava correto. Então, ela foi nas outras enfermarias com pacientes
homossexuais aidéticos e constava que todos eles tinham
endocardite bacteriana. Tudo levava à esta conclusão que todo
aidético tem

190 - Marcos de Souza Borges endocardite bacteriana. É uma


doença que vem com a AIDS. Todo paciente imuno-deprimido
produz inicialmente endocardite bacteriana. O professor disse: Não
e pediu que ela fosse nas enfermarias com pacientes terminais com
câncer e outras doenças degenerativas.

Nenhum deles tinha endocardite bacteriana. Todos estavam imuno-

-deprimidos. Depois ela foi à área imunológica e também nenhum


paciente tinha endocardite bacteriana. Se a endocardite bacteriana
não é uma complicação que pessoas imuno-deprimidas têm, então
seria o que? Foi quando o professor explicou a ela os fatos reais.
Ele disse que isto, na verdade, não era decorrente da AIDS, mas do
sexo anal.

O aparelho reprodutor feminino é composto basicamente por vagina,


útero, ovário. O aparelho digestório é composto pela boca, esôfago,
estômago, intestino delgado, intestino grosso, reto e esfíncter.

A única coisa que eles têm em comum é serem cavidades. A vagina


é uma cavidade que faz parte da função sexual. É um órgão criado
para o ato sexual. Foi projetado para isto. Já os órgãos do aparelho
digestivo foram projetados com a função de absorção de alimentos.
Não foram projetados como objeto sexual.

A vagina possui 16 camadas celulares, 7 camadas musculares,


células caliciformes que produzem muco aquoso. Já o tubo digestivo
possui apenas 1 camada celular, células colonares, 1 camada com
células ciliares no topo, o tecido conjuntivo em baixo, e depois o
plexo esplênico que são aquelas veias que carregam tudo para a
veia cava e distribui para o coração. Temos também no tubo
digestivo células caliciformes que produzem muco, mas não muco
aquoso e sim muco seroso. O muco seroso tem por função proteger
o tubo digestivo dos ácidos estomacais.

Quando se faz autópsia, o médico tem que usar todo um aparato de


proteção para não sofrer queimaduras graves. Um bife mastigado
quando cai no estômago vira líquido. Os ácidos estomacais são
altamente corrosivos. Por isso o estômago possui uma camada
brilhante, o muco seroso, que o protege dos ácidos. O muco seroso
além de proteger dos ácidos, aumenta o atrito, para que o alimento
não passe muito depres-sa. O alimento tem que passar devagar
para que os nutrientes sejam absorvidos, os açúcares, as proteínas,
as vitaminas, etc. Então o muco seroso aumenta o atrito, enquanto o
muco aquoso diminui o atrito.

Veja bem, enquanto a vagina tem 16 camadas celulares, o reto tem


apenas uma. O tubo digestivo tem apenas uma camada muscular

191

circundante responsável pelos movimentos peristálticos que


empurra o bolo alimentar ao logo do tubo digestivo e no final você
tem o es-fíncter, que é um nervo que serve para reter as fezes. O
esfíncter não tem outra função. Quando se compara a vagina com o
esfíncter fica claro que são totalmente diferentes.

O que acontece no ato sexual? Atrito intenso. Quando o atrito ocorre


na vagina não tem problema, mas quando você atrita o tubo
digestivo, o que acontece? Por exemplo, quando uma pessoa vai
fazer uma cirurgia onde existe o risco de abrir o intestino, ela precisa
fazer uma lavagem intestinal criteriosa, porque se cortar o intestino
e estas bactérias entrarem na corrente sanguínea, a pessoa pode
morrer de septicemia. Quem faz uma lavagem intestinal antes de
praticar sexo anal? Quando você fizer atrito no ato sexual só existe
uma camada celular que será facilmente rompida, produzindo um
sangramento e a consequente contaminação. Obviamente, não é
bom que as fezes entrem na corrente sanguínea.

Em volta do tubo digestivo você tem os linfonodos, ou gânglios


linfáticos que atuam na defesa do organismo humano e produzem
anticorpos. Quando vêm estas bactérias, eles aumentam de
tamanho, gerando uma granulação, incidindo na formação de
hemorroidas, produzindo um crescimento e dilatação de muitas
veias da região e dificuldades gerais nesta musculatura. Esta
ruptura constante faz com que estas bactérias superem a ação dos
linfonodos e entrem na corrente sanguínea, indo para a veia cava
que vai direto para o coração.

Estas bactérias presentes nas fezes chegam ao coração e


colonizam as válvulas cardíacas provocando a endocardite
bacteriana.

Portanto, não é a AIDS que causa a endocardite bacteriana, mas a


prática do sexo anal. Isso pode acontecer tanto com homossexuais
quanto heterossexuais. A possibilidade da endocardite é
proporcional ao nível da prática do sexo anal. Com os
homossexuais, a incidência é maior porque é a única forma de
relação sexual. Por isso todos os pacientes homossexuais
apresentavam endocardite. Com a AIDS, a endocardite evolui para
a pericardite, sendo necessária uma punção pericárdia, tirando o
líquido inflamatório do coração, evitando que o paciente morra por
asfixia, contrição cardíaca. Inclusive, é muito comum a insuficiência
cardíaca entre homossexuais mais idosos que chega a 68%,
diferente da população normal que é de 8%.

192 - Marcos de Souza Borges Além disso, esta lesão constante


provoca alteração da morfolo-gia destas células provocando
displasia, uma má formação. Displasia rima com neoplasia. A
neoplasia é o termo que designa alterações celulares que acarretam
um crescimento exagerado destas células, ou seja, proliferação
celular anormal, sem controle, autônoma, na qual reduzem ou
perdem a capacidade de se diferenciar, em consequência de
mudanças nos genes que regulam o crescimento e a diferenciação
celulares. A neoplasia pode ser maligna ou benigna.

Enquanto a incidência de câncer retal na população é de 3 a 4%,


entre os homossexuais chega a 32%. Portanto, existe uma relação
direta entre a prática do sexo anal e a incidência do câncer retal.
Além disso, a mulher não tem terminais nervosos de sensibilidade
nesta área, então a grande maioria delas não sente prazer, apenas
dor com esta prática sexual. A não ser que a mulher use anestésico
e lubrificantes artificiais para neutralizar o muco seroso para permitir
que este acesso se faça com mínimas lesões, o sexo anal é uma
prática humilhante, dolorosa e violadora.

No caso do homossexual, encostado ao reto do homem existe a


próstata. A parte da frente da próstata que dá para os corpos
cavernosos tem uma camada córnea, espessa, de tecido
cartilaginoso.

Como no ato sexual ocorrem impactos frontais, esta camada córnea


protege a próstata durante o ato sexual. Mas quando o impacto na
próstata é por trás, não existe esta camada córnea protetiva. O ato
sexual tem que ser necessariamente violento para conseguir atingir
a próstata, fazendo com que ela sangre, produzindo células
inflamatórias, fazendo com que ela inche. Se ela inchar e a pessoa
bater com força suficiente durante o sexo, o feixe nervoso que está
ligado aos corpos cavernosos é atingido provocando estímulo
sexual e ereção. Ou seja, uma possível ejaculação só acontece pela
hiperplasia da próstata, ou seja, se ela estiver inchada. Com o
passar do tempo estes múltiplos traumatismo da próstata faz com
que ela produza células displásicas também, e o resultado pode ser
o câncer. O índice de câncer de próstata na população é grande.
Tem chegado entre 18 e 20% nas pessoas em geral, mas entre os
homossexuais é de 68%.

Todo incentivo à prática do sexo anal está baseada nos contos


pornográficos. Tudo o que se tem aqui é alguém obtendo prazer
com o sofrimento de outro ser humano, colocando em risco a saúde
de ambos.
Impressão, Acabamento e Distribuição:

Gráfica e Editora Jocum Brasil

Fone / Fax: 55 41 3657-2708 | 3657-5982


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Este livro foi composto e impresso pela Editora Jocum Brasil, na


fonte Calibre, em papel Off Set 70 g/m2.

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