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CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DE GUANAMBI – CESG

CENTRO UNIVERSITÁRIO UNIFG

HÉLEN LARISSA DA COSTA MENDES

MEGAESÔFAGO ADQUIRIDO IDIOPÁTICO EM CANINO


DA RAÇA PERDIGUEIRO: RELATO DE CASO

Guanambi-BA
HÉLEN LARISSA DA COSTA MENDES

MEGAESÔFAGO ADQUIRIDO IDIOPÁTICO EM CANINO


DA RAÇA PERDIGUEIRO: RELATO DE CASO

Trabalho de Conclusão de Curso


apresentado ao curso de graduação em
Medicina Veterinária do Centro
Universitário UNIFG, como requisito
parcial para obtenção do título de
Bacharel.

Orientador: Prof. Rodrigo Brito de Souza, Me.

Co-orientador (a): Diana de Oliveira Azevedo Carvalho Rocha, Esp.

Guanambi-BA
2022
HÉLEN LARISSA DA COSTA MENDES

MEGAESÔFAGO ADQUIRIDO IDIOPÁTICO EM CANINO


DA RAÇA PERDIGUEIRO: RELATO DE CASO

Este trabalho de Conclusão de Curso foi


julgado adequado à obtenção do título de
Bacharel em Medicina Veterinária e
aprovado em sua forma final pelo curso de
Medicina Veterinária do Centro
Universitário UNIFG.

Guanambi, 01 de dezembro de 2022.

_______________________________________________________
Prof e orientador Rodrigo Brito de Souza, Me.
Centro Universitário UNIFG

_________________________________________________________
Prof e Co-orientadora: Diana de Oliveira Azevedo Carvalho Rocha, Esp.
Centro Universitário UNIFG

_______________________________________________________
Prof. João Marcos Leite Santos, Me.
Centro Universitário UNIFG

____________________________________________________
Prof. Lorena Augusta Marques Fernandes, Esp.
Centro Universitário UNIFG
Aos meus pais Délio e Lucinalva,
e a meu irmão Délio D’ Luca.
AGRADECIMENTOS

Meu agradecimento inicial a Deus, por ter sido meu principal patrocinador e
companhia ao longo da minha jornada. Ele me capacitou e me alcançou com bondade
e fidelidade para a realização desse sonho, me ensinou sobre o verdadeiro significado
de paciência e me instruiu em todos os momentos de dificuldade.
Aos meus pais, Délio e Lucinalva, a quem tem todo meu amor e respeito.
Palavras seriam insuficientes para descrever minha gratidão, como sou agraciada em
tê-los como referenciais, obrigada por toda dedicação e instruções para que eu
chegasse até aqui, quantas lágrimas, esforço e desafios, valeu a pena, espero poder
retribuí-los em honra e atitudes tudo que me proporcionaram.
Ao meu irmão Délio D’ Luca, por sempre acreditar que eu chegaria até aqui.
Obrigada por todo seu companheirismo e cuidado.
A minha vozinha Emília, obrigada por ser fonte de conforto e apoio diário, por
ter me encorajado a nunca desistir.
A minha família, tios, tias, primos, vocês sabem que eu serei eternamente grata
por tudo que semearam em minha vida ao longo desses anos.
Agradeço aos meus orientadores Diana e Rodrigo, por terem sido
direcionadores nesse processo e acreditarem em meu potencial. Obrigada por toda
paciência e amizade.
A minha banca João Marcos e Lorena, como sou grata por fazerem parte da
minha trajetória, pelas oportunidades e pelo privilégio de ter sido aluna de profissionais
tão competentes, obrigada por transmitirem o saber com tanta responsabilidade.
A Guavet Pet, que é referência em comprometimento e amor pelos animais.
Muito obrigada pela oportunidade ao longo dos anos e por terem cedido o caso clínico
para realização desse trabalho. Gratidão a toda equipe!
A minha amiga Gracielle, por todo incentivo e contribuições a esse trabalho,
por não ter soltado a minha mão.
Ao meu eterno Grupo de Pesquisa em Infectologia e Saúde Veterinária, em
especial, agradeço a pessoa do Professor Robson por ter me ingressado na Iniciação
Científica e por ter contribuído tanto na minha vida profissional e pessoal.
Agradeço todos meus amigos e companheiros da graduação, por
proporcionarem leveza aos meus dias e pelo partilhar das experiências. Em especial,
Adônis, Alana Graziella, Allana Rachel, Ana Clara B., Bruno, Beatriz, Fernanda S.,
Grace, Joanne e Jailton. Vocês foram e são essenciais!
A turma da Unifg, embora não tenha dividido todo o curso com vocês, me
fizeram sentir acolhida em tão pouco tempo.
Gostaria de expressar meus agradecimentos também à Anclivepa-SP (zona
sul), por terem contribuído de forma exponencial em meu crescimento profissional e
pessoal. Gratidão por cada experiência e amizade proporcionada.
Agradeço à tutora Luíza por gentilmente autorizar o caso clínico do seu pet para
desenvolvimento do meu trabalho de conclusão de curso.
Agradeço a minha comunidade cristã de Guanambi/Ba e Cruz das Almas/Ba,
por sempre me abraçarem em oração e palavras de esperança.
E aos meus amigos, que de forma muito presente tem sido fonte de amparo,
encorajamento e sorrisos nessa caminhada.
“Quando os pés estão corretos, todo o resto nos acompanha.”
C.S. Lewis
RESUMO

O megaesôfago é uma alteração caracterizada pelo hipoperistaltismo e dilatação


esofágica difusa ou focal, podendo ser de origem congênita ou adquirida. Possui
predisposição sugerida nos cães da raça Dogue Alemão, Pastor Alemão, Golden
Retriever, Shar-Pei, Terra Nova, Labrador, Fox Terrier, Schnauzer, Setter Irlandês e
Greyhound, podendo acometer também felinos e outras espécies. Os sinais clínicos
mais frequentes cursam como regurgitação constante, emagrecimento progressivo,
pneumonia, tosse e halitose. Distúrbios endócrinos, paraneoplásicos, gastrointestinais
e tóxicos podem estar associados ao megaesôfago adquirido. O presente trabalho
tem como objetivo relatar um caso de Megaesôfago adquirido idiopático em um
canino, da raça Perdigueiro, fêmea, com 3 anos de idade, atendido no Hospital
Veterinário Guavet Pet (BA). O animal foi responsivo ao tratamento proposto.

Palavras-chave: Megaesôfago. Cães. Regurgitação constante.


ABSTRACT

Megaesophagus is an alteration characterized by hypoperistalsis and diffuse or focal


esophageal dilation, which may be congenital or acquired. It has a predisposition
suggested in Great Dane, German Shepherd, Golden Retriever, Shar-Pei,
Newfoundland, Labrador, Fox Terrier, Schnauzer, Irish Setter and Greyhound, and can
also affect felines and other species. The most frequent clinical signs are constant
regurgitation, progressive weight loss, pneumonia, cough and halitosis. Endocrine,
paraneoplastic, gastrointestinal and toxic disorders may be associated with acquired
megaesophagus. The present study aims to report a case of idiopathic
megaesophagus acquired in a 3-year-old female Perdigueiro breed, treated at the
Guavet Pet Veterinary Hospital (BA). The animal was responsive to the proposed
treatment.

Keywords: Megaesophagus. Dogs. Constant regurgitation.


LISTA DE FIGURAS

Figura 1 - Projeção laterolateral direita.............................................................17


Figura 2 - Projeção ventrodorsal.......................................................................17
Figura 3 - Ingestão hídrica e alimentar de forma vertical..................................18
Figura 4 - Mucosa gástrica alterada com presença de enantemas
moderados.........................................................................................................19
Figura 5 - Projeção laterolateral (cervical).........................................................20
Figura 6 - Projeção laterolateral (torácico).........................................................20
LISTA DE TABELAS

Tabela 1 - Resultados do hemograma.............................................................16


Tabela 2 - Resultados dos Bioquímicos...........................................................16
SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO...............................................................................................13
2. MATERIAIS E MÉTODOS.............................................................................14
3. RESULTADOS E DISCUSSÃO.....................................................................14
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS ..........................................................................21
REFERÊNCIAS..................................................................................................22
ANEXO A - AUTORIZAÇÃO VOLUNTÁRIA PARA USO DOS DADOS
EM ENSINO E PESQUISA.................................................................................25
13

1. INTRODUÇÃO

O esôfago é um órgão tubular, de aspecto colabável, liga a faringe ao


estômago, possui camadas diferentes que compreende mucosa, submucosa,
adventícia (porção torácica) e muscular (DYCE, 2010). É constituído de uma
musculatura estriada na região da bifurcação da traqueia e por musculatura lisa desta
região até a cárdia. A principal função esofágica é transportar o alimento, desde a
faringe até o estômago, vale ressaltar que, não apresenta função digestiva ou
absorção (FEITOSA, 2014). Tal função se faz possível devido a uma série de
músculos, esfíncteres e ramos autônomos presentes no nervo vago desse órgão
(WASHABAU, 2004).
O megaesôfago é descrito como a alteração mais comum que resulta em
regurgitação, caracterizada como uma dilatação esofágica difusa ou focal, quando
diagnosticado, classificado como idiopático ou secundário (SOUZA, 2020). Essa
patologia pode ser de origem congênita ou adquirida. A etiologia do megaesôfago que
se iniciam na fase adulta ainda não está elucidada, sendo intitulado de megaesôfago
idiopático adquirido, este ocorre de forma espontânea, principalmente em cães entre
os 7 e 15 anos de idade (CRIVELLENTI; BORIN-CRIVELLENTI, 2015), no idiopático
o cão apresenta dilatação esofágica em toda sua extensão (SANTOS e ALESSI, 2016;
TOMIO et al., 2016), mas segundo Souza (2020), o mecanismo fisiopatológico dessa
afecção pode ocorrer em animais de qualquer idade.
Entende-se que as fibras aferentes capturam o estímulo de passagem do
alimento, envia a informação para o centro da deglutição do bulbo, através do nervo
vago, e responde com estímulos aos nervos eferentes, para realização da contração
do músculo liso e estriado do esôfago. Quando ocorre quaisquer alterações nesse
trajeto, pode resultar em redução e distensão da motilidade esofágica (SOUZA, 2020).
Os sinais clínicos mais recorrentes são regurgitação, dispneia, polifagia e
emagrecimento progressivo. Exames complementares tornam-se essenciais para
elucidação, dos quais incluem radiografia simples, esofagograma e além disso,
destaca-se em alguns casos a realização de endoscopia para a possibilidade de
diagnosticar comorbidades do megaesôfago (TANAKA et al., 2010).
O tratamento mais eficaz para essa afecção é o manejo dietético conservador
e preconiza-se também a terapêutica medicamentosa, sendo que em alguns casos,
técnicas cirúrgicas faz-se necessário, porém não há métodos que melhore a
14

motilidade esofágica, apenas ameniza a gravidade do megaesôfago. Quanto ao


prognóstico, pode ser apresentado como reservado ou ruim, mas animais que se
adaptam bem ao manejo podem viver com êxito por anos (SOUZA, 2020).
Diante da relevância dessa enfermidade para a rotina clínica de pequenos
animais, o objetivo do trabalho foi relatar o caso clínico de um canino, de 3 anos,
diagnosticado com megaesôfago adquirido idiopático.

2. MATERIAIS E MÉTODOS

O presente trabalho tratou-se de um relato de caso, com abordagem descritiva


e qualitativa, referente ao megaesôfago adquirido idiopático em um canino, fêmea,
raça perdigueiro, três anos, 19 Kg, atendido no Hospital Veterinário Guavet Pet,
localizado na cidade de Guanambi-Bahia, em fevereiro de 2022.
Os dados sobre o animal foram obtidos por meio de prontuário clínico do
Hospital Veterinário Guavet Pet, onde foi atendido, além das informações adquiridas
dos exames complementares realizados. As variáveis analisadas foram os dados do
paciente, anamnese, exame físico, exames complementares, tratamento utilizado
com acréscimo de imagens, tendo termo assinado de consentimento livre e
esclarecido pelos proprietários, no qual autorizaram a utilização dos dados do
prontuário, como exames e imagens do animal (Anexo A). As informações foram de
dados secundários, não implicando em consequências de caráter ético e terceiros,
não sendo necessário à submissão ao Comitê Nacional de Ética em Pesquisa (CNS
466/2012).
Informações foram descritas sobre a evolução até a alta médica do paciente,
tendo em vista o tratamento pelo período estipulado. Para a discussão foram utilizados
artigos do tipo revisão e estudos observacionais. As bases principais foram o PubMed,
Scientific Eletronic Library Online (SciELO) e Medline, foram inclusas publicações em
inglês e português dos últimos vinte anos (2002 a 2022).

3. RESULTADOS E DISCUSSÃO

O presente relato, trata-se de um perdigueiro, de 19 kg, 3 anos, não sendo


citada pela literatura dentre as raças com maior incidência. Segundo Andrade (2007),
raças como Fox Terrier, Schanauzer, Pastor Alemão, Dogue Alemão, Golden
15

Retriever e Setter Irlandês possui predisposição para o desenvolvimento da


enfermidade, porém ele ressalta que em cães de médio a grande porte é comum
ocorrer, o que justificaria a ocorrência do caso.
Com base no histórico do animal e anamnese, a tutora relatou que o animal
apresentava vômito de ração apenas quando se alimentava, não foi descrito sobre
coloração e odor, mas foi relatado que o conteúdo apresentava ração não digerida, o
que caracteriza e diferencia o vômito da regurgitação, sendo uma informação
importante a ser observada como sinal clássico do megaesôfago (GERMAN, 2005).
Referiu também que o animal possui protocolo de vacinação atualizado, alimentação
a base de ração, faz uso do Bravecto para o controle de ectoparasitas e não é
castrado.
Para o diagnóstico o histórico clínico é imprescindível. Ao exame físico,
observou-se temperatura normal de 38,2ºC, mucosas normocoradas, linfonodos,
tempo de preenchimento capilar (TPC), palpação abdominal e ausculta
cardiorrespiratória sem alterações. Com base na anamnese e exame físico,
diagnósticos diferenciais foram determinados como megaesôfago, corpo estranho,
intussuscepção e erliquiose. Assim, foram solicitados exames complementares:
laboratoriais hemograma e bioquímicos no qual foram mensurados a alanina
aminotransferase (ALT), fosfatase alcalina (FA), transaminase glutâmico-pirúvica
(TGP), proteína total, creatinina e uréia, sendo os resultados apresentados dentro dos
valores de referência, exceto o leucograma apresentando leucocitose, e a FA abaixo
do valor de normalidade; raio-X simples e ultrassonografia para determinação de um
diagnóstico definitivo.
De acordo com Washabau (2003), o hemograma e o perfil bioquímico
completos são imprescindíveis, pacientes com megaesôfago não possuem alterações
tão significativas nos exames laboratoriais e devem ser realizados para que causas
secundárias sejam descartadas (TOMIO, et al., 2016).
É importante ressaltar, que as alterações laboratoriais a partir do hemograma
(Tabela 1) e perfil bioquímico (Tabela 2) do paciente são condizentes com o citado na
literatura. A título de exemplo, a leucocitose com neutrofilia apresentada no
hemograma do paciente foi observada por diversos autores (WASHABAU, 2003;
ASSUMÇÃO, 2016; SOARES, 2019; DE SOUZA, et al., 2022). Essa alteração pode
ser justificada por pneumonia aspirativa e/ou inflamação de esôfago, sendo esta
16

última observada no presente caso clínico. Quanto à fosfatase alcalina, a alteração


não foi significativa e diante dos resultados laboratoriais foi descartada a erliquiose.

Tabela 1 – Resultados do hemograma


PARÂMETROS RESULTADO VALORES DE REFERÊNCIA

Eritrócitos 6,2/mm³ 5,5 a 8,5 milhões/mm³


Hemoglobina 15,1 g/dL 12,0 a 18,0 g/dL
Hematócrito 46 % 37 a 55 %
VCM 74 fl 60 a 72 fl
HCM 24 pg 10 a 23 pg
CHCM 33% 31 a 37%
RDW 14,5 % 12 a 15%
Leucócitos 28.700/mm³ 6.000 a 17.000 mm³
Linfócitos 2.870 /mm³ 1.000 a 4.800 mm³
Monócitos 574/ mm³ 150 a 1.350 mm³
Eosinófilos 0/ mm³ 50 a 1.250 mm³
Basófilos 0/mm³ 0 a 50 mm³
Neutrófilos 25.256/ mm³ 3.000 a 11.500 mm³
segmentados
Plaquetas 422.000/mm³ 166.000 a 500.000 mm³
Fonte: Elaboração do autor, 2022.

Tabela 2 – Resultados dos bioquímicos


PARÂMETROS RESULTADO VALORES DE REFERÊNCIA

Creatinina 1,06 mg/dL 0,50 a 1,50 mg/dL


Fosfatase Alcalina 13 U/L 20 a 150 U/L
TGP 20 UI/L 10 a 109 UI/L
Uréia 40 mg/dL 21 a 60 mg/dL
Proteínas totais 7,5 g/dL 6,0 a 8,0 g/dL
Fonte: Elaboração do autor, 2022.

Radiografia simples, radiografia contrastada (esofagograma) e endoscopia são


os meios de diagnósticos mais atuais e disponíveis na clínica médica veterinária de
pequenos animais, que possibilitam a visualização da dilatação esofágica pontual ou
difusa e auxiliam na identificação de causas locais, diferenciação de corpo estranho
ou avaliação da motilidade esofágica (SOUZA, 2020). Apesar do exame radiográfico
contrastado ser o de eleição (FARROW, 2003), é discutido por Tanaka et al., (2010),
que uma radiografia simples pode sugerir tal afecção, sendo assim, foi solicitado
radiografia simples da região do esôfago, em projeções laterolateral direita – LLD
(Figura 1) e ventrodorsal – VD (Figura 2).
17

Figura 1- Projeção laterolateral direita Figura 2 – Projeção ventrodorsal

Fonte: Arquivo pessoal, 2022. Fonte: Arquivo pessoal, 2022.

O laudo do raio-X trouxe as seguintes informações: silhueta cardiovascular e


campos pulmonares dentro dos limites de normalidade radiográfica; topografia
esofágica com alteração, moderada dilatação esofágica de segmentos cervical e
torácico, por conteúdo gasoso, com maior evidência de seus limites dorsal e ventral,
discreto desvio ventral da traqueia, confirmando a suspeita clínica de megaesôfago
adquirido idiopático. Importante ressaltar que na região torácica além de observar
desordens esofágicas, pode ser identificado a parte respiratória. Segundo Souza et
al. (2022), cães acometidos com megaesôfago apresentam posteriormente
complicações pulmonares, sobretudo a pneumonia aspirativa, devido à possível
aspiração do conteúdo durante as regurgitações, configurando um padrão de
megaesôfago adquirido secundário, já sendo descartada nesse caso clínico.
Após exames complementares e seus respectivos resultados, o animal foi
liberado para casa, com prescrição medicamentosa e instituído tratamento dietético.
O tutor foi instruído a alimentar o animal em plataforma elevada (Figura 3), de forma
vertical para facilitar a passagem do alimento do esôfago até o estômago, assim, o
esôfago cervical e o torácico permanecem em posição vertical durante a ingestão do
alimento, orientando-o a manter o animal na posição indicada por um intervalo de 5 a
10 minutos após a alimentação, fracionando as refeições, 3 a 4 vezes ao dia, de
preferência pastosa em pequenas quantidades, a fim de que a retenção do alimento
18

no esôfago fosse evitado. Corroborando com o tratamento prescrito, Nelson e Couto


(2015); Willard (2015); Lima et al., (2022) descrevem tais afirmações.

Figura 3 - Ingestão hídrica e alimentar de forma vertical

Fonte: Arquivo pessoal, 2022.


De acordo De Souza, et al., (2022), o tratamento medicamentoso consiste no
uso de pró-cinéticos, com o intuito de estimular o peristaltismo esofágico ou reduzir o
tônus do esfíncter esofágico inferior. O uso de antibióticos que contemplem a
microbiota respiratória também é recomendado, principalmente para doenças
secundárias, como quadros de pneumonia aspirativa (CRIVELLENTIN & BORIN-
CRIVELLETIN, 2015). Há relatos de eficácia na utilização de citrato de sildenafil,
vasodilatador, que facilita no esvaziamento do esôfago (QUINTAVALLA et al., 2017;
CAMPOS et al., 2018). O tratamento suporte é de grande importância, o uso de
cristaloides para correção dos distúrbios hidroeletrolíticos e ácidos básicos,
preferencialmente o ringer com lactato é priorizado, protetores gástricos,
expectorantes, a nebulização com soro fisiológico é benéfica nestes casos. Sendo
assim, o tratamento instituído a princípio foi sucrafilm 0,5-1g/animal, BID, VO, por 10
dias; metoclopramida, 0,3 mg/kg, TID, VO, por 3 dias; cimetidina 5mg/kg, BID, VO,
por 3 dias. A metoclopramida também foi utilizada por Pimentel (2018); Lima et al.,
19

(2022) e obteve significativa eficácia no quadro clínico supracitado com o


medicamento administrado.

Após 15 dias, o paciente retornou ao Hospital Veterinário, apresentou


significativa evolução do quadro clínico supracitado, com o tratamento prescrito para
megaesôfago adquirido idiopático não apresentando regurgitação, porém a tutora
referiu a presença de vômitos contínuos. Com isso, foi solicitado o exame de
endoscopia para identificar a causa. A endoscopia não é necessária para o
diagnóstico de megaesôfago em si, mas é útil no diagnóstico de enfermidades
associadas ao megaesôfago (JERICÓ et al., 2014), distúrbios gastrointestinais são
comumente consequência do megaesôfago na maioria dos casos (MACE; SHELTON;
EDDLESTONE, 2012). Ramos et al., (2018) utilizou esse método e afirma ter sido de
fundamental importância para o diagnóstico.
O laudo apresentou na região de esôfago cranial presença de conteúdo
espumoso e no distal, discretos pontos amarronzados de distribuição multifocal
compatível com hiperplasia de glândula submucosa secundária a esofagite de refluxo,
sendo relatada em casos de megaesôfago e descrita como possível consequência
pelos autores (JERICÓ et al., 2014; NELSON & COUTO, 2015). A esofagite é uma
afecção inflamatória do esôfago, ocorre quando o alimento fica retido e por conta do
refluxo gastroesofágico que insiste, quando esse estímulo agressivo é persistente,
ocorre a lesão (TANAKA et al., 2010; NELSON & COUTO, 2015). Pela endoscopia
também foi possível observar a mucosa gástrica, descrevendo gastrite grau 3-4
moderado (Figura 4).

Figura 4 – Mucosa gástrica alterada com presença de enantemas moderados

Fonte: Arquivo pessoal, 2022.


20

Fragmentos foram retirados para a análise histopatológica, com resultado


positivo para pesquisa de Helicobacter pylori. De acordo Santos (2016), apesar da
Helicobacter pylori ser relevante na patogenia da úlcera gástrica ou péptica no ser
humano, o papel de bactérias do gênero Helicobacter como agentes etiológicos de
gastrite e de úlceras gástricas em cães e gatos ainda não foram elucidados. No
entanto, Helicobacter spp. é um habitante comum do estômago em cães sem
nenhuma patologia associada, essa situação é semelhante à encontrada no homem
(VEIT, 2009). Diante da afirmação de Quinn et al., (2005) o significado da infecção por
Helicobacter spp. em distúrbios gastrintestinais de carnívoros domésticos não tem
sido claramente estabelecido, direcionando esse achado clínico como uma possível
consequência da afecção relatada a princípio. Foi prescrito para o tratamento da
Helicobacter sp. antibioticoterapia: metronidazol 15 mg/kg, VO, BID, 10 dias,
associado a amoxicilina + clavulonato de potássio 22 mg/kg, VO, BID, 20 dias e o
omeprazol 1 mg/kg, VO, SID, por 20 dias, conforme descrito por Crivellentin & Borin-
crivelletin (2015).
Após 2 meses, o animal foi encaminhado novamente ao Hospital Veterinário
Guavet Pet para reavaliação clínica. O tutor referiu que o paciente obteve melhora e
não apresentou episódio de regurgitação frequente, sendo assim foi solicitado exame
radiográfico de controle, no qual apresentou característica radiográficas usuais (Figura
6; figura 7). Segundo Nelson e Couto (2015), o prognóstico pode variar de reservado
a desfavorável, mas vale ressaltar que, quando a mesma é diagnosticada em um
período curto e tratada pode apresentar um melhor prognóstico. Segundo Willard
(2006), alguns cães conseguem retomar a função e o tamanho do esôfago aos níveis
normais, a título de exemplo, o paciente do presente relato.

Figura 5 – Projeção laterolateral (cervical) Figura 6 – Projeção laterolateral (torácica)

Fonte: Arquivo pessoal, 2022. Fonte: Arquivo pessoal, 2022.


21

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Embora o megaesôfago seja uma afecção relativamente comum, percebe-se


uma carência de dados em literatura que elucidem aspectos mais específicos da
enfermidade e sua classificação. Nessa perspectiva, com o relato de caso, espera-se
que o estudo acerca da patologia seja expandido, para fins de ascensão e construção
de raciocínio clínico durante o processo de diagnóstico da doença. Além disso,
espera-se que os exames disponíveis e solicitados pelo profissional, Médico
Veterinário, sejam capazes de esclarecer as suspeitas levantadas durante a
anamnese e exame clínico do paciente. Nesse relato a junção do histórico do paciente
e exames complementares foram imprescindíveis para se alcançar o diagnóstico do
megaesôfago adquirido idiopático. Sendo assim, o manejo dietético conservativo
realizado de acordo com as recomendações do profissional e a cooperação do tutor
no processo do tratamento clínico asseguram um prognóstico favorável.
22

REFERÊNCIAS

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cadela da raça Pastor Alemão. Semina: Ciências Agrárias, v. 28, n. 3, p. 477-482,
2007. Disponível em: https://www.redalyc.org/pdf/4457/445744085022.pdf. Acesso
em: 25 de set. 2022.

ASSUMÇÃO, Rômulo et al. Megaesôfago adquirido secundário à persistência do


quarto arco aórtico direito em cães das raças pastor alemão e pastor canadense:
relato de casos. enciclopédia biosfera, v. 13, n. 24, 2016.

CAMPOS, Rammy et al. Citrato de sildenafil no tratamento de megaesôfago canino-


relato de caso. Anais do Salão Internacional de Ensino, Pesquisa e Extensão, v.
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CRIVELLENTI, L. Z.; CRIVELLENTI S. F. Casos de Rotina em Medicina Veterinária


de Pequenos Animais. 2a edição. São Paulo - SP. MedVet, p. 152, 153, 159-160,
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DE OLIVEIRA, Janderson Ananias. Clínica de Pequenos Animais. 2007. Trabalho


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DE SOUZA¹, Iam Ramos et al. Megaesôfago em cães: Revisão. Pubvet, 2022. DOI:
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25

ANEXO A – AUTORIZAÇÃO VOLUNTÁRIA PARA USO DOS DADOS EM ENSINO


E PESQUISA

Fonte: Arquivo pessoal, 2022.

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