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Estagiário de Edição:
Thiago Florêncio
Capa:
Sandra Cotta
2019 Editora Edições Superiores
Av. Miguel Perrela, 698 - Castelo - Belo Horizonte /MG CEP: 31.330-290
http://edicoessuperiores.com.br/
Impresso no Brasil/ Printed in Brazil
C846 Cotta, Francis Albert.
115p.
ISBN: 978-85-66165-47-0
CDU: 329:316.4
CDD: 323.4
Apresentação
APRESENTAÇÃO
PREFÁCIO
PRÓLOGO EN ESPAÑOL
1 INTRODUÇÃO
1.1. Contextualização e caracterização do objeto de pesquisa
1.2. Problema de pesquisa e hipóteses
1.3. Síntese do arcabouço teórico e conceitos
1.4. Breve percurso metodológico
1.5. Estruturação do trabalho e apresentação dos dados
2 CONSTRUINDO UMA BASE INTERPRETATIVA
2.1. Ressentimentos Sociais: em busca de um conceito
2.2. Discursos e ações dialógicas e comunicativas
2.3. Longa duração nos processos históricos
3 UMA HISTÓRIA DE NEGAÇÃO À PALAVRA E À ESCUTA
3.1. Processo sócio-histórico brasileiro e os ressentimentos sociais
3.2. Democracia e ressentimentos sociais
3.3. Ciências Sociais e Memória Coletiva
4 PLURALIDADE DE FALAS E AÇÕES
4.1. Imagens que falam: “Cartazes de Protesto”
4.2. Outras falas “nas ruas” e “redes” de expressão
4.3. Massa e multidão: violência coletiva num sistema violento
5 AS JORNADAS DE JUNHO NA CAPITAL DE MINAS GERAIS
5.1. A cidade e a lei: construções sócio-históricas
5.2. Discursos da lei e a instrumentalização das forças de segurança
5.3. Ações dialógicas na esfera pública: um exercício possível
5.4. Discursos da lei e a instrumentalização das forças de segurança
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
AGRADECIMENTOS
LISTA DE ILUSTRAÇÕES
LISTA DE GRÁFICOS E QUADRO
1. INTRODUÇÃO
1 A Copa das Confederações é um campeonato internacional de futebol organizado pela FIFA. Esse torneio é
realizado de quatro em quatro anos, nos anos anteriores ao da Copa de Mundo de Futebol. Participam da Copa
das Confederações oito seleções, que representam as seis confederações de futebol, mais o país sede da Copa do
Mundo e o último campeão mundial da Copa do Mundo. Os jogos acontecem sempre no país que irá sediar a Copa
do Mundo no ano seguinte.
2 Revista Placar. 1º de fevereiro de 2012. Disponível em: <http://placar.abril.com.br/materia/fifa-lanca-logotipo-
-oficial-da-copa-das-confederacoes>
Cenário de guerra no entorno do Mineirão mostra o que espera o Brasil em Belo Horizonte
O teste final para esperar o Brasil em Belo Horizonte mostrou que a capital mineira está
preparada para duas copas: a das Confederações e a das Manifestações.
A velocidade do japonês Honda e a habilidade do mexicano Chicharito (autor dos dois
gols) desfilavam em campo no 2 a 1 que marcou a despedida de japoneses e mexicanos.
Ambos os times entraram em campo eliminados. Tudo no padrão Fifa, horário do jogo
respeitado, fair play e estádio cheio e animado.
A poucos quilômetros dali, a indignação e os protestos de manifestantes desfilavam
entre o Centro e a Avenida Antônio Carlos, que
leva à Pampulha, região do Mineirão. Tudo no novo
padrão social brasileiro: maioria pacífica, porém
com confrontos violentos na tentativa de invadir o
perímetro proibido pelo governo a pedido da Fifa.
Se configuram dois mundos distintos em uma
Figura 2 – Cenário de Guerra em torno do Mineirão. 22 Jun área muito próxima. Nas imediações do estádio
2013.
Fonte: Diário Catarinense. famílias, estrangeiros e muita organização; fora
dela, a tropa de choque entrando em ação para
impedir o avanço da multidão no perímetro de três
quilômetros reservado pelo governo do Estado.
Na mata que circunda a Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), também na
Pampulha, vizinha do Mineirão, homens da Força Nacional de Segurança, camuflados,
cuidavam para não haver invasão. Dentro do estádio, aproximadamente 45 mil torcedores.
Fora dele, 60 mil protestantes, segundo a Polícia Militar, 100 mil segundo anunciam as
redes sociais.
O uso de spray de pimenta e as bombas de gás foram constantes para dispersar a
multidão. Alguns mascarados atacavam com pedras e bombas caseiras. Quatro policiais
ficaram feridos, um deles hospitalizado ao ser atingido com uma pedra na cabeça. Três
manifestantes e um repórter fotográfico também foram atingidos.
Os protestos terminaram com um ferido grave, um adolescente de 16 anos que caiu
de um viaduto. Houve ainda depredações no bairro da Pampulha, com uma concessionária
de veículos destruída. A Cavalaria entrou em cena e mascarados atacavam com coquetéis
molotov. As cenas que aconteceram no jogo Taiti e Nigéria se repetiram. Novamente o
futebol perdeu de goleada para o momento delicado que vive Belo Horizonte na relação
com a Copa das Confederações3.
11 Debret era um parisiense expatriado, protegido do imperador Napoleão Bonaparte e aluno de Jacques-Louis David
(1748-1825) – grande artista neoclássico engajado no processo da Revolução Francesa, de seus primórdios ao período
napoleônico. Em 1816 foi contratado, pelo período de seis anos, como professor de pintura histórica na Real Escola de
Ciências, Artes e Ofícios, futura Academia Imperial de Belas Artes do Rio de Janeiro. Em julho de 1831 regressa à Paris,
onde, entre 1834 e 1839 publica a Voyage Pittoresque et Historique au Brésil, pela casa Firmin Didot. Nessa obra ele
retrata, por meio das aquarelas, a vida no Rio de Janeiro.
Para o sociólogo Hebert de Souza (1994, p. 27) “a nossa história escravocrata
não fez do negro um diferente, mas um desigual, dominado pelo branco e excluído
da sociedade por ser negro. No Brasil, a cultura dominante tenta ignorar e negar
essa desigualdade. Por isso sempre se diz que no Brasil não há racismo, que existe
democracia racial12.
Figura 6 – Castigo Público na Praia de Santana. Rio de Janeiro. Brasil. Início do século XIX.
Autor: Johann Moritz Rugendas. Viagem pitoresca através do Brasil. Paris, 1827 e 1835.
Figura 7 – Debret. O Negociante de Tabaco. Figura 8 – Luiz Morier. Blitz Policial. Rio de Janeiro.
Rio de Janeiro. Brasil. Início do século XIX. Brasil. 1982.
12 De acordo com dados apresentados por Flávio Lobo (2002), ainda hoje, a maioria dos negros vive em favelas e áreas
marginais da sociedade, sendo excluída da escolarização (o analfabetismo é três vezes maior entre os negros; a média de
estudo para jovens negros com menos de 25 anos é 6,1 anos contra 8,4 dos brancos; e constituem menos de 16% dos
graduados em universidades públicas), do mercado de trabalho (segundo o Dieese, os índices de desemprego em São
Paulo no ano de 2002 eram de 22% para negros e 16% para brancos) e de condições adequadas de vida (o Brasil ocupa o
74º lugar no ranking de qualidade de vida da ONU. Se se computasse apenas a população branca, subiria para o 43º. Se só
a negra, desceria para o 108º).
Obs.: Em termos da narrativa histórica, a partir da proposta da Longa Duração, observa-se
a permanência, em termos de mentalidade e mesmo de práticas culturais. A FIG. 7 mostra o
flagrante do fotógrafo Luiz Morier, tomado em 1982 durante uma blitz policial numa favela do
Rio de Janeiro. A imagem causou indignação à consciência republicana. Publicada na primeira
página do Jornal do Brasil, fez e ainda faz refletir sobre a perversa permanência de certas práticas
numa sociedade marcada pela experiência da escravidão.
Figura 13 – Lampião, Maria Bonita e seu bando. Figura 14– Cabeças de cangaceiros expostas
Início do século XX
Durante o governo do presidente Getúlio Vargas (1930-1945), mais
especificamente com o início da ditadura do Estado Novo (1937 a 1945) houve
um refinamento da violência por parte dos aparelhos estatais em nome de uma
determinada ordem política. Essa estratégia passou da “teatralização do poder”
para a atuação nas mentes e corações.
A esse respeito Eliana Dutra (1997), em seu livro “O Ardil Totalitário”, apresenta
o imaginário político no Brasil dos anos 30, ao mostrar como ele se organizou numa
dinâmica de imagens e operou com as oposições que articulam as forças efetivas.
Tudo se ligava a uma rede de significados a ser esclarecida : a simbologia do mal e
a do sagrado, as imagens da luz e da verticalidade, as representações relacionadas
ao bestiário, as metáforas orgânicas, mitos e utopias. Nessa lógica o ressentimento
pode ser orientado contra inimigos imaginários, designados pelo poder totalitário.
Sobre esse período o “Relatório sobre a Tortura”, elaborado pela Pastoral
Carcerária Nacional menciona que:
Para Herbert de Souza (1984) são cinco os princípios definidores de uma relação
democrática: liberdade, igualdade, participação, diversidade e solidariedade.
Figura 16 – Cartazes de Protesto - Jornada de Junho. 2013 Figura 17 – Faixa - Passeata dos Cem Mil.
Fonte: <http://www.aecapixaba.org.br/2014/02/instituicoes- 1968
-e-geracao-democratica-as.html> Fonte:< http://pcb.org.br/portal/>
14 A esfera do simbólico está no domínio das produções socializadas, utilizáveis em virtude das convenções que regem as
relações interindividuais (Aumont, 2001, p. 81).
Ao realizar uma análise comparativa entre manifestações ocorridas durante o
Regime Militar (Passeata dos Cem Mil, em 1968) e as Jornadas de Junho de 2013,
em termos de visibilidade, é possível compreender a novidade dos “cartazes de
protesto” em relação às tradicionais “faixas”. O indignado carrega seu cartaz com
suas próprias mãos. Os cartazes de protesto são uma mescla de indignação “racional”,
exteriorização de subjetividades, de emoções e de exteriorização de uma memória
coletiva.
Por sua vez, essas emoções exteriorizadas podem ser percebidas como um idioma
ou um código que define e negocia relações do eu com uma ordem social ou moral e
cujo significado não pode ser separado do papel que desempenham na interação social
ou das implicações do cenário cultural das quais participam. Assim, a maneira como os
indivíduos sentem em uma determinada situação não é, necessariamente, uma reação
natural, mas uma resposta socialmente esperada ou necessária.
Esse movimento que conduz à ação, à exteriorização esclarece-se ao considerar as
satisfações e benefícios secundários que os ressentimentos podem proporcionar. Os
sentimentos compartilhados de hostilidade são um fator eminente de cumplicidade
e solidariedade no interior dos grupos, e suas expressões, as manifestações podem
ser gratificantes para seus membros.
O ódio recalcado e depois manifestado cria uma solidariedade afetiva que,
extrapolando as rivalidades internas, permite a reconstituição de uma coesão, de
uma forte identificação de cada um com seu grupo. Daí a facilidade com a qual
indivíduos se reagrupam para gritar sua agressividade e inventar signos festivos
que exprimam seu desejo de vingança: apedrejar os símbolos do inimigo, queimar
personagens representadas em efígies.
Na Figura 15 observam-se “cartazes de protesto” que possuem componentes
que podem indicar traços de sentimentos de injustiças, sofridas ou percebidas.
A figura representa alguns sentimentos de manifestantes durante as Jornadas de
Junho de 2013. As frases escritas nos cartazes podem ser agrupadas em cinco áreas
temáticas: 1) sentimento de injustiça e de desrespeito à Constituição do Brasil; 2)
Falta de participação popular na vida da República e na vida democrática da Nação;
3) Insatisfação com a corrupção; 4) Necessidade de investimento em áreas básicas;
5) Reafirmação do valor individual e da força coletiva dos cidadãos.
1ª) Sentimento de injustiça e de desrespeito à Constituição do Brasil
“Todos os brasileiros são iguais, mas uns são mais iguais que os outros”.
“Igualdade, Liberdade, Justiça”.
“Ninguém respeita a Constituição, mas todos acreditam no futuro da Nação”
Não basta habitar a cidade. É preciso ter direitos que permitam a participação
na vida política do país. A cidadania, no aspecto político da liberdade, é o ápice das
possibilidades do agir individual (MACIEL, 2012, p. 336).
Até o século XIX, aqueles que tinham condições financeiras iam estudar na
Europa, especialmente em Coimbra. Uma das provas dessa assertiva é que as
primeiras escolas de ensino superior (Faculdades de Medicina e Direito) foram
institucionalizadas em terras brasileiras somente no século XIX, com a chegada
da Corte Portuguesa no Rio de Janeiro. Por outro lado, na América Espanhola as
universidades existiam desde o século XVI.
Figura 29 - Não quero Copa, quero Educação
Fonte: http://www.ebc.com.br/sites/default/files/mcsp061720130004.jpg
A capa do livro (FIG. 33), em que se vê uma mão que porta um telefone
móvel a registrar o flagrante de uma manifestação, possibilita compreender as
novas dinâmicas que as Jornadas de Junho apresentaram ao Brasil. Entre outras
interpretações, ressaltam-se a imediatez na troca de informações e a consequente
socialização das ações, que ultrapassam fronteiras, com uma celeridade nunca antes
vista. Não é mais o computador pessoal ou o notebok, são celulares que cabem nos
bolsos e estão conectados à internet com facilidade.
Os sentidos são bombardeados (“Vemos, ouvimos e lemos...”16) por meio de
redes sociais (Facebook, Whats App, Telegran, entre outros) que são acessadas
por um simples toque na tela dos aparelhos. Elas permitem a interação, críticas,
postagens e arranjos em fração de segundos; influenciar e ser influenciado; indignar-
se e provocar indignação; falar e ser ouvido.
Para Regina Silva (2014, p. 8) as Jornadas de Junho foram um acontecimento-
núcleo de diversas questões que se fundiram em um deteminado intervelo de tempo.
Nessa ótica, esclarece:
Vários tempos foram às ruas. Os tempos dos movimentos que
surgiram por volta dos anos 1960, de luta por direitos civis
como o LGBT e o das mulheres. Movimentos que seurgiram
nos anos 1990 ligados ao direito à cidade como Movimento
Passe Livre e também os movimentos por moradia que
surgiram na cena das lutas contra o déficit habitacional.
Grupos de ação direta ligados a movimentos anarquistas,
como os Black Blocs, que foram trazidos para o Brasil. E
grupos dispersos como o que ficou conhecido como o dos
“cochinhas”, que são principalmente jovens de classe média
que foram às ruas ou para a “festa” ou reinvindicar privilégios
e extinção de direitos coletivos.
16 Expressão de Sophia de Mello B. Andresen, em Cantata de Paz, citada por Carlos Fortuna, da Universidade de
Coimbra nas orelhas do livro Ruas e Redes.
4.3. Massa e Multidão: ações violentas num sistema violento
Ricci & Arley (2014, p. 33) afirmam que “o discurso e atos violentos que marcaram
o final de muitas manifestações gigantescas sugeriam a ruptura com a ordem, mas
não efetivavam”. Nessa lógica, a psicanalista Maria Kehl (2009), reportando-se ao
conceito de “revolta submissa”, elaborado por Pierre Bourdieu (1996, p. 196), afirma:
17 Atribui-se o contágio a ação recíproca exercida pelos membros de uma Multidão, uns sobre os outros, derivados do
fenômeno de sugestão (Freud, 2010).
Figura 35 - “Destruição de concessionárias de veículos em Belo Horizonte”. Minas Gerais. 26 Jun 2013.
Fontes:< http://www.df.superesportes.com.br/app/noticias/campeonatos/copa-das-confederacoes/copa2013-noti-
cias/2013/06/26/noticia,46101/clima-tenso-entre-manifestantes-e-pm-em-bh.shtml> <http://noticias.r7.com/mi-
nas-gerais/fotos/bh-serve-de-palco-para-destruicao-na-pampulha-durante-jogo-do-brasil-26062013#!/foto/1>
Pe l o
simples fato de formar parte da multidão, o homem desce vários escalões na escalada
da civilização. Isolado, talvez era um indivíduo culto, na multidão, um bárbaro.
Tem a espontaneidade a violência, a ferocidade, o entusiasmo e o heroísmo dos
seres primitivos (LE BON, 1980).
Figura 37 - “Destruição, lixo e pelo menos R$ 5,2 milhões em prejuízos”. 26 Jun 2013.
Fontes:<http://www.hojeemdia.com.br/polopoly_fs/1.140348.1372339304!/image/image.jpg_gen/derivati-
ves/landscape_714/image.jpg>< http://www.hojeemdia.com.br/horizontes/destruic-o-lixo-e-pelo-menos-
-r-5-2-milh-es-em-prejuizos-na-av-antonio-carlos-1.140340 <http://www.hojeemdia.com.br/horizontes/
Essa disposição legal, nem se fosse essa a sua intenção, não poderia superar o
texto constitucional que é reforçado e mais elaborado em normas internacionais
dos direitos humanos, que podem até ser analisadas por tribunais internacionais.
Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer
natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes
no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à
segurança e à propriedade, nos termos seguintes:
XVI - todos podem reunir-se pacificamente, sem armas, em locais
abertos ao público, independentemente de autorização, desde que
não frustrem outra reunião anteriormente convocada para o mesmo
local, sendo apenas exigido prévio aviso à autoridade competente;
...
§ 2º - Os direitos e garantias expressos nesta Constituição não
excluem outros decorrentes do regime e dos princípios por ela
adotados, ou dos tratados internacionais em que a República
Federativa do Brasil seja parte.
Figura 41 – Progresso.
Fonte: Lute, 2013.
A utilização das Forças Armadas deveria ser sempre o último recurso. A leitura
do art. 144, § 5º, em conjunto com o caput do art. 142, da Constituição da República
revela que a atribuição das Forças Armadas para preservação da ordem pública
deve ser exercida em caráter excepcional e subsidiário, e por iniciativa de um dos
poderes constitucionais. Além disso, quanto maior for o potencial de violência de
uma instituição, mais restrito deverá ser seu âmbito de atuação. As Forças Armadas
se valem de armamento pesado, que não pode ser utilizado por outras instituições
encarregadas de garantir a segurança pública (polícias militares, civis e federais).
A Lei Complementar nº 97, de 09 de junho de 1999, esclarece ainda mais
a situação: o emprego das Forças Armadas para a garantia da lei e da ordem é
medida excepcional que somente se justifica em casos de grave comoção interna,
devendo ficar demonstrado, no caso concreto, que as forças policiais estaduais
estão indisponíveis, são inexistentes ou insuficientes para fazer frente à situação.
Essa demonstração ensejará então que o Chefe do Executivo declare formalmente
a situação. Diante dessa declaração, o Presidente da República emitirá mensagem
autorizando o emprego daqueles órgãos militares para o fim pretendido, devendo
a autoridade competente transferir o controle dos órgãos de segurança pública à
autoridade encarregada das operações.
Sem a prática de qualquer dos atos antes descritos, não se terá verificado o
iter procedimental legalmente estabelecido, sendo inconstitucional o emprego das
Forças Armadas para a garantia da ordem pública. Ou seja, só a presença de grande
número de pessoas não justifica, por si só, a necessidade de emprego das Forças
Armadas.
Caso ocorra a utilização das Forças Armadas, esta deve ser bem fundamentada,
e essa fundamentação deve estar bem explícita para o público. Tendo em vista os
direitos e garantias constitucionais é importante avaliar as possibilidades de se
potencializar a força dos manifestantes pacíficos.
Não pode haver “acordo” para afastar direitos fundamentais. A montagem de
perímetros deve ser amparada tecnicamente em aspectos de segurança. As forças de
segurança devem possuir protocolos e diretrizes próprias de atuação, desvinculadas e
independentes da FIFA, além de buscar previsibilidade de ações por meio de um eficiente
serviço de Inteligência.
As Jornadas de Junho de 2013, em Belo Horizonte, foram compostas de três
grandes manifestações, ocorridas nos dias 17, 22 e 26. Cada uma delas reuniu mais
de 50 mil pessoas nas ruas. Elas saíram do centro da cidade de Belo Horizonte em
direção ao estádio de futebol Mineirão. Durante esses dias ocorreram conflitos,
feridos e óbitos.
Todas as caminhadas iniciaram-se pacificamente, tendo ocorrido os conflitos
nos momentos em que os manifestantes tentavam ultrapassar as barreiras policiais
que impediam o acesso ao estádio20.
20 Centro de Apoio Operacional das Promotorias de Justiça de Defesa dos Direitos Fundamentais, Igualdade Racial, Apoio
Comunitário e Fiscalização da Atividade Policial (CAO-DH). A experiência do Ministério Público do Estado de Minas Gerais/
CAO-DH nas manifestações populares.
Figura 42 – Manifestantes deslocando do centro de Belo Figura 43 – Encontro dos manifestantes com os cordões
Horizonte, pela Avenida Antônio Carlos, em direção ao de isolamento realizados pela Polícia Militar Fonte:
Estádio Mineirão. 2013. Ministério Público de Minas Gerais. Defesa dos Direitos
Fonte: Ministério Público de Minas Gerais. Defesa dos Humanos e Apoio Comunitário.
Direitos Humanos e Apoio Comunitário.
Obs.: No dia 22/6/13 um manifestante sofreu uma queda do viaduto José Alencar (Av.
Presidente Antônio Carlos / Av. Abrahão Caran), sendo assistido para o Hospital de Pronto
Socorro XXIII.
No dia 26/6/13 outro manifestante sofreu queda do viaduto José Alencar (Av. Presidente
Antônio Carlos / Av. Abrahão Caran), vindo a óbito. Na mesma data um manifestante foi vítima
de mal súbito em via pública (Avenida Carlos Luz / Coronel Oscar Pascoal). 26/6/13 - Policial
Militar vítima de pedrada que atingiu a cabeça, encaminhado para Posto Médico Avançado do
CBMMG no parque municipal.
26/6/13 – Incêndios: em frente a Concessionária OSAKA que pertence a empresa TOYOTA;
na Concessionária KIA com 04 veículos incendiados dentro da loja e 02 veículos do lado externo
da loja; em veiculo na Av. Presidente Antônio Carlos em frente à empresa Telha Norte; dentro da
empresa Minas Motos. Foi ateado fogo em 04 motocicletas que estavam na área externa da loja.
Foram registradas 56 ocorrências pela Delegacia de Eventos.
Fonte: http://www.otempo.com.br/infogr%C3%A1ficos/raio-x-do-manifestante-de-bh-1.669356
GRÁFICO 2 - Idade dos indivíduos presos durante as manifestações da Copa das Confederações em
Belo Horizonte – Minas Gerais. 2013
Deve ser alvo de zelo especial os grupos vulneráveis que estejam envolvidos
nas manifestações ou próximo ao local de sua ocorrência, incluindo idosos, pessoas
com deficiência, mulheres, crianças, dentre outros.
6. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Figura 18 - Fale agora ou cale-se para sempre. Não Sofra calado.São Paulo. 22
Jun2013. REUTERS/Junior Lago
Fonte: http://www.portugues.rfi.fr/brasil/20130628-le-monde-diz-que-
movimento-social-no-brasil-e-criativo-e-efervescente
Figura 32 – Livro “Nas Ruas: a outra política que emergiu em junho de 2013.
Fonte: http://www.editoraletramento.com.br/nasruas.html
Figura 41 – Progresso.
Fonte: Lute, 2013.
Gráfico 1 – Mortos e feridos nas Jornadas de Junho. Belo Horizonte – Minas Gerais
Gráfico 2 – Idade dos indivíduos presos durante as Manifestações da Copa das
Confederações em Belo Horizonte – Minas Gerais. 2013
Gráfico 3 – Escolarização dos indivíduos presos durante as manifestações da Copa
das Confederações em Belo Horizonte – Minas Gerais
Gráfico 4 – Total de Manifestantes em Minas Gerais (16 a 30 de junho de 2013)
Quadro 1 – Perfil dos manifestantes nas Jornadas de Junho de 2013 em Belo
Horizonte – Minas Gerais
SOBRE O AUTOR