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Resumo
A temática envolvendo as políticas de formação de professores que atuam na Educação
Básica na modalidade da Educação Profissional e Tecnológica vem se configurando
como um campo rico de debates e estudos acerca da formação e desenvolvimento
profissional dos docentes. Nessa direção, a urgência do aprofundamento de estudos por
parte dos sujeitos envolvidos nessa modalidade de ensino é necessária para a construção
de políticas de formação continuada específicas para a Educação Profissional e
Tecnológica e que venham ao encontro das necessidades destes professores. Assim, este
artigo tem como objetivo discutir os processos de formação pedagógica dos professores
que atuam na especificidade da Educação Profissional e Tecnológica no contexto da
Educação Básica. Desse modo, problematizamos a formação continuada desses
profissionais que atuam nos Institutos Federais de Educação, Ciência e Tecnologia e de
que maneira eles compreendem a necessidade de formação pedagógica para sua atuação
como docentes. Para tanto, utilizando-nos dos princípios da pesquisa qualitativa e da
abordagem sociocultural fundamentada nas narrativas dos professores a respeito da
formação pedagógica, trouxemos reflexões sobre os embates, desafios e possibilidades
inerentes a estas práticas. Os referenciais teóricos que nos auxiliaram na construção
deste artigo foram os estudos de Moura (2008), Imbernom (2010), Kuenzer (2008),
Ferry (2004), Nóvoa (1999), Isaia e Bolzan (2008) dentre outros. Assim, as reflexões
decorrentes deste trabalho nos possibilitam afirmar que é essencial pensar em
programas que favoreçam o desenvolvimento profissional dos docentes que atuam na
Educação Profissional e Tecnológica. Neste contexto, mudanças significativas
aconteceriam se ações relativas às questões éticas, afetivas e político-sociais fossem
contempladas nos programas de formação docente.
Palavras chaves: Formação continuada. Formação pedagógica de professores.
Educação profissional e tecnológica.
Introdução
A temática referente à formação e ao desenvolvimento de docentes da Educação
Profissional e Tecnológica é ainda um campo de investigação carente de estudos e
acompanhamento contínuo, principalmente em relação à formação pedagógica desses
profissionais. Moura (2008a) destaca que essa discussão não é novidade, no entanto,
menciona que tentativas empreendidas em momentos anteriores não obtiveram
resultados satisfatórios.
Nesse sentido, a discussão a respeito da formação desses docentes, no atual
contexto da Educação Profissional e Tecnológica, é praticamente inexistente, pois
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poucos estudos teóricos e empíricos relatam o que vem sendo realizado neste campo.
A implantação dos Institutos Federais de Educação, Ciência e Tecnologia (IFS)
é uma iniciativa das políticas de Estado que propõem uma reestruturação dos antigos
Centros Federais de Educação Tecnológica (CEFETs), bem como das Escolas
Agrícolas. Estes institutos devem atender as demandas crescentes de formação
profissional existentes em cada região onde estiverem inseridos.
Assim, a Lei. 11892 de 29 de dezembro de 2008 (BRASIL, 2008), a qual cria a
Rede Federal de Educação Profissional e Tecnológica coloca como um dos objetivos
dos Institutos Federais a destinação de no mínimo 50% de suas vagas para a Educação
Básica. Estes cursos devem ser destinados, principalmente, ao Ensino Médio integrado à
educação profissional técnica de nível médio, para os concluintes do Ensino
Fundamental e para o público da Educação de Jovens e Adultos.
Além disso, uma das premissas dos novos Institutos Federais é a de superar as
barreiras entre o ensino técnico e o científico de modo que seja possível articular
trabalho, ciência e cultura em uma perspectiva de emancipação humana (BRASIL,
2010). Os IFS estão também se comprometendo com a oferta de cursos superiores de
tecnologia, licenciatura, bacharelado, programas de Pós-graduação lato e stricto sensu e
cursos para a formação inicial e continuada de trabalhadores nas áreas em que a ciência
e a tecnologia são determinantes.
Ao considerarmos as especificidades e a estreita articulação entre os diferentes
níveis e modalidades de ensino, pontuamos a necessária formação continuada dos
profissionais. Assim, essa realidade exige que atentemos para os modos como vêm
sendo constituídos os processos formativos dos docentes que atuam nos Institutos
Federais.
Neste sentido, Nóvoa (1999) pontua que a formação continuada é um processo
individual de apropriação que depende da capacidade do sujeito de integrar um conjunto
de possibilidades e informações, de assim transformar isso em material de formação, de
conhecimento, de tornar-se professor. O autor aponta ainda que as práticas de formação
precisam levar em conta dimensões coletivas, que possam contribuir para a
emancipação profissional e para a autonomia dos docentes.
Ao considerarmos esses aspectos, buscamos discutir a formação pedagógica do
docente na especificidade da Educação Profissional e Tecnológica no contexto da
Educação Básica. Assim, problematizamos a questão de como os docentes que atuam
nos Institutos Federais de Educação, Ciência e Tecnologia compreendem a relevância
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Eu esperava mais da formação pedagógica. O curso está muito voltado para a educação
infantil, que não é o publico de educação profissional, é outro. [...] Eu gosto mais das
disciplinas da área da filosofia e da sociologia do que das pedagógicas. Eu tenho a
percepção que qualquer aprendizado nos torna melhores, mas o curso que realizei não
impactou de forma significativa a minha forma de ser professor (Professor A).
No entanto, as falas de dois dos seis docentes participantes, vão ao encontro das
necessidades formativas desses professores, conforme as narrativas dos professores C e
L.
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[...] apoiar, criar e potencializar uma reflexão real dos sujeitos sobre sua
prática docente nas instituições educacionais e em outras instituições de
modo que lhes permitisse examinar suas teorias implícitas, seus esquemas de
funcionamento, suas atitudes, etc., estabelecendo de forma firme um processo
constante de autoavaliação do que se faz e por que se faz.
Constitui um conjunto de ações que visam dar ao indivíduo (professor que cursa) um
embasamento fundamental para a realização da prática docente (Professor D).
Está relacionado aos aspectos da atuação como docente. Como preparar aula, entender o
aluno, construir conhecimento juntos, métodos de avaliação, etc... (Professor E).
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Dimensões conclusivas
A reflexão sobre a literatura da área e as aprendizagens na análise das narrativas
dos professores participantes do estudo nos permitem afirmar que é essencial pensar em
programas capazes de favorecer o desenvolvimento profissional dos docentes que atuam
na Educação Profissional e Tecnológica. Assim, um maior número de ações neste
contexto contribuiria para que mudanças significativas acontecessem, trazendo mais
qualidade ao trabalho realizado por professores da EPT.
Ressaltamos que esta formação não deve ser construída apenas para responder a um
aparato legal, ou então ficar limitada aos aspectos práticos (didáticos ou metodológicos)
do cotidiano da sala de aula, todavia precisaria abranger dimensões relativas às questões
éticas, afetivas e político-sociais envolvidas no fazer docente.
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Referências Bibliográficas
BOLZAN, D. P. V.; ISAIA, S. M. de A. Pedagogia universitária e processos
formativos: a construção do conhecimento pedagógico compartilhado. In: XIV
Encontro Nacional de Didática e Práticas de Ensino. Porto Alegre, RS: 2008 (anais).
BRASIL. Lei n. 11.892, de 29 de dezembro de 2008. Institui da Rede Federal de
Educação Profissional, Científica e Tecnológica, cria os Institutos Federais de
Educação, Ciência e Tecnologia e dá outras providências. Diário Oficial [da]
República Federativa do Brasil, Brasília, DF, 30 dezembro, 2008. Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2007-2010/2008/Lei/L11892.htm. Acesso em
15 fev. 2012.
BRASIL. Lei n. 9.394, de 20 de dezembro de 1996. Estabelece as diretrizes e bases da
educação nacional. Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil, Brasília, DF,
20 dezembro, 1996. Disponível em:
http://portal.mec.gov.br/seed/arquivos/pdf/tvescola/leis/lein9394.pdf. Acesso em 15 fev.
2012.
BRASIL. Ministério da Educação. Conselho Nacional de Educação. Conselho Pleno.
Resolução n. 1, de 18 de fevereiro de 2002. Institui Diretrizes Curriculares Nacionais
para a Formação de Professores da Educação Básica, em nível superior, curso de
licenciatura, de graduação plena. Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil,
Brasília, DF, 18 fevereiro, 2002. Disponível em:
http://portal.mec.gov.br/seesp/arquivos/pdf/res1 2.pdf. Acesso em: 12 jul. 2011.
______. Câmara de Educação Superior. Parecer n. 5, de 4 de abril de 2006. Aprecia
Indicação CNE/CP nº 2/2002 sobre Diretrizes Curriculares Nacionais para Cursos de
Formação de Professores para a Educação Básica. Diário Oficial [da] República
Federativa do Brasil, Brasília, DF, 4 abril, 2006.
BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria da Educação Profissional e Tecnológica.
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A Educação profissional destina-se ao aluno matriculado no ensino fundamental, médio ou
superior ou egresso deles, bem como ao trabalhador em geral, jovem ou adulto. Para tanto, apresenta-se
em três níveis: básico, técnico e tecnológico. No nível básico está voltado para pessoas de qualquer nível
de instrução, independente de escolarização prévia; no nível técnico voltado a proporcionar habilitação
profissional a alunos matriculados ou egressos do ensino médio, podendo ser realizado de forma integrada
ou subsequente; e no nível tecnológico refere-se a cursos de nível superior na área tecnológica, podendo
ser realizado como graduação ou pós-graduação.
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Tradução livre: [...] uma formação não se recebe. Nada pode formar o outro. Não se pode falar
em um formador e de um formado. Falar de um formador e de um formado é afirmar que há um pólo
ativo, o formador, o um pólo passivo, aquele que é formado [...] o sujeito se forma só e por seus próprios
meios.
iii
Tradução Livre: a experiência de um trabalho profissional não pode ser formadora para aquele
que a leva a cabo, salvo se encontra os meios de voltar, de rever o que fez, de fazer um balanço reflexivo.
iv
Maciel (2009b, p. 64) ajuda-nos a compreender ambiência, quando, a partir de sua Tese de
Doutorado, afirma que os espaços onde o docente do Ensino Superior exerce sua docência são “contextos
que podem vir a ser dinamizados como ambiência profissionalizante, mediante processos mediadores,
predominantemente sócio simbólico-culturais”.
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