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4815
•R277
1908
PRINCETON • NEW JERSEY
AS CONFERENCIAS
DO
REFUTAÇÃO
I —O Catholicisnio Protestante não é uma ne-
gação religiosa.
RIO DE JANEIRO
Typographia de G. MORAES & C, Rua de S. Pedro N. 192
1908
— :
PRIMEIRA CONFERENCIA
Senhores
Cicero, o grande tribuno da antiga Roma, assim defi-
*
* *
—5—
Oh! meus amigos, quem quer que vós sejaes, por
muito que eu vos respeite e ame, eu não seria digno do
meu apostolado, si não vos dissesse, com toda a franqueza
aceeitar similhantes principios, ainda que se não queiram
as suas consequências, é collaborar com o Protestantismo
—6—
no chefe e nos membros, não fora ouvido pelos papas e os
grandes concílios não tinham produzido nenhum fruto.
Nem os abusos diminuíram com o correr do tempo. A
corte de Roma extorquia grossos tributos das egrejas de
outros paizes ; o baixo clero era em grande parte negli-
gente, ignorante e desmoralizado, e tomava pouco ou ne-
nhum interesse na nova cultura e no espirito que delle
—9—
gação religiosa —é porque Luthero sustentou a doutrina
do livre exame das Sagradas Escripturas.
Pois bem, sob este ponto de vista, attendamos ao que
diz o illustradissimo Padre de Saint-Sulpice, o proeminente
assyriologo, F. Vigouroux, em sua obra clássica — La Bible
et les découvertes modernes — obra precedida de um enco-
miástico c approbante breve do Papa Leão XIII: — «O
racionalismo bíblico é filho de Luthero ;
porém, de Luthero
aos incrédulos de nossos dias, o caminho percorrido é im-
menso. O monge de Wittemberg rompeu com o Catholi-
cismo; os livres pensadores actuaes rejeitam toda a
religião.
— 10 —
Não, senhores, o Protestantismo não é, nunca foi uma
negação religiosa, muito pelo contrario, elle é a positiva
asserção do poder de Jesus Christo, único que é capaz
para salvar e sanctificar para sempre o pobre peccador.
Senhores, que o Protestantismo não é uma negação
religiosa, é intuitivamente provado com a simples leitura
dos 39 artigos da Confissão de fé, da Egreja Anglicana e
da Egreja Episcopal Americana. Basta que eu vos leia
— 11 —
gradas Escripturas, porque proclamou a plena liberdade de
consciência, — neste caso, o primeiro criminoso é S. Paulo!
A primeira negação religiosa são as suas Epistolas, porque
ahi se encontra esta ordem, este mandamento inspirado
pelo divino Espirito Sancto : — Examinae tudo, conservae
o que é bom! I Epistola aos Thess. cap. 5, v. 21, Novo
Testamento approvado pelo Papa Pio IX.
Mas, neste caso, Jesus Christo incidiu no mesmo pec-
cado, pois, ordenou aos judeus, ao povo que o ouvia
— Examinae as Escripturas, pois julgaes ter nellas a vida
eterna, e são ellas que dão testemunho de mim. Evangelho
de S. João 5:39. Novo Test. approvado pelo Papa Pio IX.
Não, senhores, a diffusão, a leitura, o exame das Sa-
gradas Escripturas, longe de produzir os damnosos efteitos
imaginados pelos sacerdotes romanos. «E' a Bíblia, disse
a gloriosa Rainha Victoria, o segredo da grandeza e pros-
peridade da Inglaterra.» E nós podemos acerescentar :
—
é o segredo e a grandeza de todos os paizes protestantes,
que são os mais cultos, os mais prósperos e os mais mora-
lizados do mundo
E que isto é verdade, vae nos dizer o eminente Se-
nador Ruy Barbosa :
— «Em toda a parte, até hoje, tem
sido o sentimento religioso a inspiração, a substancia, ou
— Vô —
A plebe é ignorante e crendeiva; as outras classes,
indifferentes ou incrédulas. Entrae numa casa de oração.
Lá está o luxo, a adoração mechanica, a devoção sensual
profundo recolhimento da alma deante de Deus vivo, não.
Observem os assistentes : distinguirão perfeitamente
o curioso distrahido, o conversador, o peralta, o beato, o
observador correcto das conveniências sociaes; mas o fiel,
— 14 —
eternos da humanidade, ninguém reflectidamente medita.
A não ser que o negror de alguma calamidade geral apa-
vore os ânimos ou que um desses golpes Íntimos, que
prostram o homem até ao pó, e enluctam o lar, enchem de
fel inconsolavelmente os corações, a não ser sob a pressão
deprimente da agonia ou a do terror, o culto não existe
sinão sob as suas apparencias pagãs.» O Papa e o Concilio.
religiosa
— 16 —
Que rriais ? Sim, era um homem de génio, um orador,
um escriptor, um monge, todos os poderes e todas as
gloriasestavam fechadas nessa mão de poucos annos!
Deixemol-o trabalhar na sua obra.
A obra deste homem está concluída, senhores... Onde,
porém, vou eu encontral-o? no sagrado recinto de uma
cella cenobita? não : — no lar domestico de uma habitação
vulgar, aquecendo-se a um fogão de família, com uma
mulher sentada a seu lado !...
— 17 —
apóstolos e os irmãos de Jesus, que fizeram o mesmo, tor-
prehensivelmente
Não, senhores, o celibato é que tem concorrido para
a negação do sentimento religioso. Innovação do século de
—
— 18 —
Gregorio VII, segundo o nobre e erudicto parecer do Padre
Diogo Feijó, Regente do Império, tem somente concorrido
para «a immoralidade publica». Disse-o elle em pleno
Parlamento ! E os factos o confirmam. Não serei eu quem
o afiirme, será o emérito brasileiro Dr. Ruy Barbosa :
—
«A politica é a paixão de Roma. Enlaçal-a por meio de
privilégios temporaes ao Governo do Estado é crear-lhe
— 19 —
E sào estes os homens que vociferam contra as leis
— 21 —
que haviam de render as indulgências em certas provín-
— 23 —
plicar-se que o Sr. Vigário durma, passeie e viva indiffe-
— 24 —
glorificar a maravilhosa republica Norte Americana ! Em
vez da dynamite, a explodir por entre manifestações de
odio, de oppressões, de tyrannias e injustiças nas nações
SEGUNDA CONFERENCIA
« Senhores
Refutando, e com o apoio de auctoridades catkolicas
romanas, de incontestável e justo renome, que o Protes-
tantismo não é, nunca foi, uma negação religiosa — mas,
antes, um victorioso esforço para que a Egreja se conserve
fiel aos puros e sanctos ensinamentos das Sagradas Escri-
pturas —a divina doutrinação, revelação da Egreja de
Nosso Senhor Jesus Christo; demonstrado que o Roma-
nismo, pelos seus dogmas absurdos, perante a própria
razão, contrários á lettra e ao espirito dos Sanctos Evan-
gelhos, por seus resultados funestissimos, patentes na con-
servação dos povos, em pleno século XX, com uma
porcentagem até mais de sessenta por cento de analpha-
betos ;
patentes na immoralidade attestada por mais
elevada porcentagem de filhos adulterinos que legitimos,
como em 1866, em Vienna d' Áustria, como em Roma
Papal, em 1876 ;
patentes e attestados no espirito revolu-
cionário, até o terrorismo, especialmente, entre os povos
—
— 26 —
considerados, os mais ultramontanos — sim, demonstrado
com factos, que plenamente se impõem, que o Romanismo,
a Egreja Papal é que verdadeiramente tem cultivado a
descrença e importa ama verdadeira negação religiosa,
hoje cumpre-me refutar a segunda asserção do Rev. Padre
Dr. Julio Maria, quando fria e calculadamente afiirmou
que o Protestantismo é uma negação da auctoridade da
Egreja.
Mais uma vez agradecendo a vossa benévola attenção,
e supplicando do Pae das Luzes seu divinal e gracioso
auxilio, principio.
* *
Actos 7:38; 3
o
Reis 8:14, 4 — Assembléa de pes-
etc.
o
.
— 28 —
coração, de toda nossa alma, de todo o nosso entendimento
e de todas as nossas forças — em Deus.
A Egreja também se chama christã, o que quer dizer
que a Egreja é de Christo. E nós igualmente cremos que
Jesus Christo é, como escreveu S. Paulo, Deus bemdicto
por todos os séculos.
E que Jesus Christo é a suprema auctoridade da
Egreja Evangélica, da Egreja Universal, é claríssimo das
Sagradas Escripturas, pois diz o Apostolo Paulo, fallando
de Jesus : — «E todas as cousas submetteu debaixo dos seus
pés, e a elle mesmo constituiu cabeça sobre toda a Egreja».
Ephesios 1:22. E, ainda nesta mesma Epistola, repete
« Submettidos uns aos outros no temor de Christo. As mu-
lheres sejam sujeitas a seus maridos, como ao Senhor,
porque o marido é a cabeça da mulher, assim como Christo
é a cabeça da Egreja ; e elle mesmo é o Salvador do seu
corpo. Assim como a Egreja está sujeita a Christo, assim
as mulheres o estejam em tudo a seus maridos». Ephesios
5:21-24. Logo, Jesus Christo é o soberano chefe, a su-
prema e verdadeira auctoridade da Egreja.
— 29 —
Jesus disse aos seus discípulos: — «Si vós me amaes,
guardae os meus mandamentos o que me ama guarda a —
minha palavra». Disse aos judeus que não queriam crêr no
seu caracter messiânico: — «Examinae as Escripturas, pois,
julgaes ter nellas a vida eterna e são ellas que dão teste-
munho de mim». Disse mais aos sadduceus do seu tempo:
— « Erraes, não sabendo as Escripturas nem o poder de
Deus »
Asseverou mais :
— «Nem só de pão vive o homem, mas
de toda a palavra que sahe da boca de Deus.» E que mais ?
Disse aos judeus tradicionalistas: — «E vós por que razão
transgredis o mandamento de Deus, por causa da vossa
tradição ?. . . Hypocritas, bem prophetizou de vós Isaias,
dizendo : este povo me honra com os lábios, mas o seu co-
ração está longe de mim. Em vão, pois, me honram elles,
de Deus, ordena :
— « Não farás para ti imagem de escul-
— — 30
pagina 72.
Pois bem, a Egreja Romana, em completa epntradicção
com essa divina auctoridade, faz imagens de tudo que ha
no céu, na terra e debaixo da terra, e até de maneira a
mais ridicula e desrespeitosa possivel. E' assim que a
imagem de Deus, o Pae, ella o representa como um velho
com os cabellos e barbas longas em completo desalinho.
Na verdade, não é a imagem de um venerando -pae, é a de
um papão! (Risos.)
Jesus Christo, ora tem o typo de um germano, tal o
manos !
— 31 —
Ainda essa infallivel e divina auctoridade da Egreja
Christã — a Biblia — por intermédio do grande Apos-
diz
continua a ser
Temos ainda outras auctoridades.
O Novo Testamento claramente revela que Deus em
sua Egreja, estabeleceu, apóstolos, prophetas, evangelis-
tas, doutores, bispos ou presbyteros e diáconos.
Ora, quanto aos apóstolos, prophetas e evangelistas,
segundo a significação restricta desses termos, já não exis-
tem mais na Egreja.
Mas existiram sempre os presbyteros ou bispos e os
diáconos.
Segundo a Sagrada Escriptura, os presbyteros ou
bispos eram de duas categorias, uns que ensinavam, ou-
tros que governavam.
— 32 —
Destes, os que eram docentes pregavam o Evangelho
ministravam os sacramentos e presidiam ao divino serviço
na Egreja.
Que o termo presbytero é synonimo de bispo, e que
o cargo ou officio de presbytero é o mesmo do de bispo,
provamos com a mesma auctoridade catholica romana do
Sr. Huré, em seu Diccionario de Philologia Sagrada,
vol. II, verbo — Episcopus, e vol. III, verbo — Presbyter.
E o próprio S. Pedro o confirma em a sua Primeira
Epistola, capitulo quinto, que assim começa :
— « Esta é,
na Egreja Apostólica?
Vae nos responder o Novo Testamento, approvado
pelo Papa Pio IX.
Abrindo os Actos dos Apóstolos, cap. VI e versiculos
3 a 7, lemos que os sete primeiros diáconos foram esco-
lhidos e « eleitos » pelos christãos, e foram ordenados, não
— 33 —
5°-9°. « — Os presbyteros deveriam ser eleitos», pois or-
dena o Apostolo : — «Si te deixei em Creta foi para que
regules o que falta e estabeleças presbyteros nas cidades,
do mesmo modo que eu te ordenei. «Elege » o que estiver
sem crime e for marido de uma só mulber, que tenha seus
filhos fieis, que não possam ser accusadoa de luxurias ou
insubordinados.»
Logo, fica bastante evidente que os presbyteros ou
bispos eram « eleitos » pelo povo, e ordenados, não por um
só bispo, mas pelo presbyterio, ou por um presbytero, de-
legado de um presbyterio.
Senhores, até o Apostolo Mathias foi apresentado e
escolhido pela Egreja, como se vê em Actos dos Após-
tolos 1:21.
— 34 —
da Egreja, entretanto não registre a Sagrada Escriptura
esse glorioso e sancto titulo ?
E que mais?
Curioso por saber o que o erudicto Sr. Huré dizia a
respeito desse sagrado termo, procurei-o em vão. Não dá
Não pertence, portanto, á philologia sagrada!... As
palavras papa, purgatório, limbo, missa, cardeal, além de
muitas outras, também ahi não se encontram, porque, de
facto, essas palavras representam auctoridades e logares
que absolutamente não têm razão de ser á luz da Palavra
de Deus
Não obstante, porém, a Egreja Romana assim define
— 35 —
dizendo a Pedro : Sobre ti Pedro edificarei a minha Egreja,
e as portas do inferno não prevalecerão contra ella »
— 36 —
Conseguinteniente, si S. Pedro tivesse sido de facto a
pedra fundamental da Egreja, jámais o poder, a tentação
de Satanaz haveria de prevalecer contra elle. Elie, Pedro,
guinte facto
— «Então lhes disse Jesus : — Todos vós padecereis
escândalos em mim, esta noite. Porque está escripto : fe-
— 38 —
assentado fora do pateo ; e chegou a elle unia servente, di-
zendo: — Tu também com Jesus Galileu Mas
estavas —
elle negou deante de todos, dizendo: Não sei o que tu
dizes. E sahindo elle á porta, outra servente o viu e disse
para os que alli estavam: Este também estava com Jesus
Nazareno. E segunda vez negou com juramento, dizendo
Não conheço esse homem. Pouco depois chegaram aquelles
que alli estavam e disseram a Pedro : Verdadeiramente tu
também és delles, porque a tua falia te dá a conhecer.
Então começou a fazer imprecações e a jurar, que não
havia conhecido aquelle Homem. E immediatamente
cantou o gallo». Versiculos 69 a 74.
Logo, o pobre Pedro, que tão tristemente cahiu na
tentação diabólica de negar, até com juramento, que co-
nhecia o seu Divino Mestre, — não é a pedra fundamental
— 39 —
Também os commentadores catholicos fazem uma so-
— 40 —
c não como judeu, por que obrigas os gentios a judaizar
Epist. de S. Paulo aos Gaiatas, 11:9-14.
S. Pedro, não procedendo, em uma questão de dou-
trina, de accordo com a verdade do Evangelho ; dissimu-
lando com os judaizantes, e arrastando Barnabé e outros a
tão triste quão perturbadora dissimulação, por tal modo
deixou prevalecer a tentação contra o seu caracter christão,
que o Apostolo Paulo foi constrangido a publicamente re-
prehendel-o ! Logo, Pedro peccou e falliu ! Peccou, porque
«dissimulou com os judaizantes» ;
falliu, porque judaizar
era praticamente manter a necessidade do ritualismo ju-
daico, que não mais tinha razão de ser, visto ter Jesus
— 41 —
Logo, Jesus foi, é e será impeccavel e infallivel!
— 43 —
que vos fiz? Vós me chamaes Mestre e Senhor; e dizeis
bem porque o sou. Si, pois, eu, sendo Senhor e Mestre,
vos lavei os pés, também vós deveis lavar os pés uns aos
outros. Porque vos dei o exemplo, para que assim como eu
vos fiz, assim também o façaes. Em verdade, em verdade
vos digo: Não é o servo maior que o seu senhor, nem o
enviado é maior que aquelle que o enviou. Si sabeis estas
cousas, bemaventurados sereis, si as praticardes.» Evan-
gelho de S João XIIL4-17 e S. Lucas, XXIL24-30.
Certamente, jamais desappareceu da memoria dos
apóstolos aquella tocante e impressionantíssima licção de
humildade
Oh ! Jesus, de joelhos, a lavar os pés de seus dis-
cípulos !
— 45 —
O commentario, feito a este versículo, pelo Padre
Glaire, diz: — «esta pedra é jesus. Coxvfronte-se Matheus
XXI:42-45.»
Attendendo á vontade do bom Padre, eis o que en-
contrámos : — «Jesus lhes disse : Nunca lestes nas Escri-
pturas: A pedra que reprovaram os que edificavam, essa
foi posta por cabeça do angulo. Pelo Senhor foi feito isto e
Por isso vos digo que vos será tirado o reino de Deus
e será dado a um povo que faça os fructos delle.
— 46 —
Logo, elles foram não só peccaveis mas extraordinária
e herecticamente falliveis ! Logo, as portas do inferno pre-
valeceram contra elles
— 47 —
Os Papas Gregorio Magno e Pelagio II protestaram
contra o Bispo de Constantinopla intitular-se Bispo Uni-
versal. Aquelles Papas disseram que similhante titulo era
quarta geração ;
apunhalou diversas vezes o cadáver,
mandou decepar a cabeça e, depois, ordenou que lanças-
no rio Tibre ! !
— 48 —
representante de Christo, mas por um fidelíssimo repre-
sentante do Diabo
Para coroar essa celeberrima infallibilidade de papas
e concílios, João IX em pleno concilio (Roma 898) annullou
tudo quanto fez o sancto e infallivel Estevão VI ! ! (Du-
creux, vol. III, pag. 364).
Ah ! senhores, lêde a historia ecclesiastica do século
decimo em diante, e vós vos horrorizareis dos monstros,
que occuparam a cadeira papal
Papas, filhos de papas, vassalos das desbriadas Maro-
sias e Theodoras ! !
— 49 -
Senhores, á luz dos escriptores evangélicos, jámais
S. Pedro esteve sequer em Roma ! !...
TERCEIRA CONFERENCIA
Senhores
Demonstrado histórica e escripturisticamente que o
Protestantismo jámais foi e não ê uma negação religiosa,
gação politica.
Cordealmente agradecendo a magnânima benevo-
lência de vossos corações em me dispensardes attenção,
— 52 —
para confundir aquellas que são, rogando-lhe seu illumi-
nador e divinal auxilio, nesta pugna pela verdade,
principio.
dições politicas.
Si o homem não tem o dever de respeitar a auctori-
dade da Egreja, não tem o dever de respeitar a auctori-
dade do Estado ; si não deve submetter-se a Deus, aos
poderes divinos, não deve submetter-se aos governos, aos
poderes humanos. Si a Inglaterra, diz o citado publicista,
não obstante o Protestantismo, conseguiu manter a ordem
constitucional, e parece assim desmentir o espirito peculiar
— 53 —
que o philosophismo protestante penetrasse nessa es—
phera.»
Ora muito bem. Desde que as premissas da argumen-
tação do Rev. Dr. Julio Maria são falsas, necessariamente
falsas hão de ser suas irrisórias conclusões.
Comprovado que o Protestantismo não é e nunca
foi uma negação religiosa, nem uma negação das legitimas
auctoridades da Egreja, como demonstrei em as duas con-
ferencias anteriores, segue-se, segundo a argumentação do
illustre redemptorista, que o Protestantismo não importa
uma negação politica
— 54 —
mento sinão aquelle indicado por Jesus Christo, quando
disse: — «A arvore se conhece pelos seus j rácios.»
Muito bem.
E quaes são os fructos do Catholicismo Evangélico
que attestem estar elle a apagar a influencia do Espirito
Sancto no coração do seu povo ?
«O Espirito Sancto, disse Jesus Christo, é o grande
ensinador da Egreja: «-Elie vos ensinará todas as cousas.»
S. João XIV:26.
Onde medra, onde se propaga o Catholicismo Evan-
gélico ou Protestante, ahi se multiplicam as escholas pu-
blicas e particulares de modo a se fazer luz nas intelligen-
cias que cultivam as sciencias reveladas na grande Biblia-
Natureza, como, igualmente, as sciencias naturaes e
exactas, philologicas e philosophicas, que se relacionam
com a Biblia-Revelada. Sim, a instrucção vence, anniquila
o analphabetismo, reduzindo-o a menos de um por cento,
como na Allemanha, na Suissa, na Suécia e Noruega, onde
não ha praticamente quem não saiba ler e escrever
e mais ! !
— 55 —
Ah ! Sr. Padre Julio Maria, si a luz que ha em vossa
reverendíssima é treva • — quão grande não serão, na ver-
dade, as trevas do Romanismo í !
Senhores, o Espirito Sancto não é só o illuminador do
espirito para que o homem comprehenda todas as cousas,
mas o é para que o homem paute, determine a sua con-
ducta e vida pelo caminho do bello, do justo e do bem.
O Espirito Sancto é o que converte, regenera c san-
ctifica o homem que, no uso de sua própria liberdade, não
resiste, não despreza os convites para a salvação.
Ora, em qual destes dous grandes grupos haverá mais
provas da influencia- do Espirito Sancto : será no Catholi-
cismo Romano ou no Catholicismo Evangélico ?
Sim, já vimos que, quanto á instrucção publica e par-
ticular, o Catholicismo Evangélico determina uma in-
fluencia bemdicta; emquanto que o Romanismo, pela
crassa ignorância do povo até o analphabetismo, em sua
maioria absoluta, está evidenciando a ausência da divina
illuminação do Espirito Sancto.
Já vimos também, em a primeira conferencia, que a
influencia do Romanismo nos costumes é também incom-
paravelmente peior que no Catholicismo Evangélico, em
cujos paizes a estatística de immoralidade accusa quatro
por cento de filhos illegitimos; emquanto que nos arraiaes
dominados pelo Papa e seu celibatário clero, a porcen-
tagem vae de vinte e cinco por cento até exceder, em
muito, a dos filhos legitimos
Naquella occasião, eu vos citei palavras do Sr. Dr.
Ruy Barbosa, em uma nota, somente na parte referente á
Áustria. Mas o illustradissimo Senador continua a mesma
nota, á pag. 241 de sua monumental Introducção, onde se
lê o seguinte :
— «O nivel, a força, a extensão do ultra-
montismo é indubitável que crescem continua e desemba-
raçadamente em França. Entretanto, o nivel da moralidade
!
— 5b —
baixa acceleradamente na mesma proporção. E' que o
Univers foi obrigado a confessar, a 9 de outubro de 1873,
á vista de documentos estatisticos da criminalidade na-
quelle paiz. Alli, no paiz por excellencia ultramontano,
aquelle orgam clerical chega a reconhecer (31 de dezembro
de 1874) que o nivel moral é inferior ao da provincia chi-
— 58 —
dulo?, os livres pensadores e os materialistas, e até mesmo
os maçons, fazem baptizar os seus filhos e têm missas suf-
— 59 —
que está escondido : e teu Pae que vê no escondido, te re-
— 60 —
solidéo e barrete á cabeça, naquella immovel posição de
autocrata soberano ? ! Sim, não está alli, em Sua Eminência,
um plenissimo e vivo attestado do majestoso orgulho hie-
rarckico do Romanismo?!
Orgulho I Ah! com certeza o Sr. Padre Julio Maria re-
Quanta humildade!!
3o — Diz ainda o Padre Julio Maria: «Que o Protes-
— 61 —
Jesus ordenou aos seus apóstolos
«Ide e prégae o Evangelho a toda a creatura* ; «Ide e
— 62 —
Catholico Romano não sabe recitar correctamente o
«Padre Nosso»
E aquelles que rezam o «Padre Nosso», o contradizem
em todas as suas petições. Basta citar este exemplo :
—
«Perdoa as nossas dividas assim como nós perdoamos os
nossos devedores. » O rosário, pendurado ao pescoço, em
suas múltiplas contas, está dizendo: — perdoa, perdoa!
Mas... a faca, na cava do collete ; o rewólver, no bolso tra-
zeiro ; o cacete, a carabina, o arsenal, que os nossos serta-
nejos e cangaceiros tantas vezes carregam, estão dizendo
o contrario: — «Não perdoa! não perdoa!!...» (Risos.)
pagina 64.
E que mais?
Senhores, esta disciplina chegou a ser feita com tão
elevada, summa e perfeita devoção — que chegou até o
suicídio !...
— 63 —
pelo jesuíta, e pelo clero romanista, seja a incontestável
indifferença religiosa que predomina em o nosso povo
Uma religião que eleva o suicídio, á virtuosa regalia
— 65 —
Si alguma pessoa, neste recinto, recebeu ou soube de
alguma outra que teve a 6orte de receber do Sr. seu Vigário
recebeu! Ninguém!
Senhores, eu já tive occasião de fazer similhante per-
gunta a muitos auditórios, grandes como este, desde esta
Capital, até Sancta Luzia de Goyaz, desde o Rio Grande do
Sul, até o Norte do Brasil e, por toda a parte, é este o
facto real : — o clero romanista absolutamente não se em-
penha, não promove esforços práticos e reaes para que o
povo leia e medite os Sanctos Evangelhos ! E nunca o fará,
— 66 —
Onde medra, porém, o Romanismo, ahi impera o des-
respeito á lei e á auctoridade, desde o soldado raso até o
soberano chefe da nação
Desde o simples delegado até o Supremo Tribunal de
Justiça
Dos paizes catholicos, e especialmente do nosso, diz-
se :
— «que as leis foram feitas para serem desobedecidas.»
Mas, dos paizes protestantes, se diz : — «que nelles ha, até,
a idolatria da lei! »
— 67 —
para alli immigraram ! Si uma só má ovelha põe um re-
— 68 —
Ahi, porém, quaes foram os iniciadores desses movi-
mentos bellicosos, sinão os Gruizes, os Orléans e os Prin-
— 69 —
Ma3, como fatal foi a sua pervertedora influencia nos
destinos da França, ficou bem patente nos dias da guerra
franco-prussiana que a fanática imperatriz Eugenia, inspi-
rada pelos Jesuitas, dizia :
— Esta é a minha guerra !
O desastre, porém, não podia ser maior do que foi
tembro de 1870
O Sr. Julio Maria jámais deveria ter citado a
França
Sim, e que mais nos ensina a França? Ensina-nos
que o clero, que o Romanismo é o maior corruptor da
politica
— 72 —
Foi este mesmo Demónio do Meio Dia, Phelippe II,
que tentou, com a sua grande Armada Invencível, anni-
quilar o poder da Reforma na Inglaterra.
Ao lado, porém, da gloriosa Rainha Isabel esteve,
omnipotente, o braço do Altissimo, que, com uma tem-
pestade, destruiu o poder e o prestigio do encarniçado
Demónio romanista inimigo dos protestantes
Senhores, essas guerras religiosas não conseguiram só
a liberdade para os protestantes, mas deram verdadeira-
mente vida ao grande movimento geral de emancipação
politica e religiosa que, desde então, poderosamente se
iniciou na Europa e só ha de finalizar quando tiver alcan-
çado a todo o mundo
O historiador portuguez Z. Consiglieri Pedroso, e que
não é muito sympathico aos protestantes, reconhece, como
consequências da Reforma, a proclamação da liberdade
de consciência, da liberdade philosophica e da liberdade
politica, as tres grandes acquisições dos tempos mo-
dernos no dominio do direito ; as tres grandes conquistas,
espada.»
— 75 —
Ainda, diante de Pilatos, quando os Judeus preten-
diam accusal-o de crime de sedição politica, disse-lhe Jesus
ramente — romano —
e... depois... brasileiro!
— 76 —
No dia em que o Evangelho, pela sua sanctificante
graça, levedar o caracter nacional, então, o nosso amado
Brasil se salientará pela pujança do talento e do caracter
do seu povo, como hoje se distingue pela grandeza, uber-
dade e opulência de sua natureza, sem rival, entre as mais
bellas do mundo
Oh ! permitte, Senhor Deus, que este bemaventurado
dia não esteja longe!
Amen.
(Ao descer da tribuna o orador foi muito felicitado e